Quando saí do meu pequeno, porém aconchegante lar, à cata da Verdade eu tinha idéia de que vislumbrar o estado das coisas ou as coisas do Estado, como vocês preferirem, iria mudar para sempre o rigor dos meus olhos.
Depois de voar sobre vastos alqueires, prédios diversos e lidar com vários e fabulosos sotaques (eu amo essa diversidade de sons do Brasil), criei algumas convicções.
Quando chego a Piedade, reafirmo algumas delas.
Para que vocês saibam, migalheiros : o Brasil agrícola ainda é importante, apesar de ser colocado às vezes como um sinal do nosso atraso. Não é !
Digo isso porque a agricultura aqui ainda é a maior fonte de renda, faz crescer o volume de negócios na cidade. Muito se têm falado em agro-negócio no país. Alguns por modismo, outros por conhecimento de causa.
De fato, se a estrutura agrícola fosse fomentada e motivada financeiramente falando até sua distribuição final, sem falar nos outros negócios que gera como matéria-prima, poderia ela ser uma das saídas (ao lado da tecnologia, claro) para amenizar esse nosso crônico complexo de "Terceiro Mundo" (nomenclatura hoje erroneamente usada, já que o Segundo Mundo, o socialista, sucumbiu no final da década passada).
Uma reforma agrária feita sem critério e cheia de buracos, incentivos negados ou quando oferecidos, abarrotados de preços altos, para que se pague juros e juros, conflitos gerados pela falta de diálogo e incompetência varrendo terras longínquas do poder formam parte de retrato desolador de nosso campo.
Em contraste, há um país de heróis do campo que a tudo vencem, de sol a sol, num diálogo solitário com a terra, o sol e a chuva. Afinal, eles se entendem de forma simples, como são todas as coisas da natureza.
Já que nem sempre a ajuda é vinda, o melhor que se faz é trabalhar. Passar a mão na terra e amaciá-la, passeando com carinho pelos seus sulcos.
Num movimento firme e habilidoso e com fé no coração, jogar a semente.
A paciência é amiga, fazendo a pausa para que a colheita venha robusta.
O que resta a este homem lutador, é o pedido de Piedade ao Senhor; piedade pelo que não somos, pelo que deixamos de ser, quando a criança indignada dentro de nós foi se apequenando, nos deixando estáticos perante os erros alheios.
Equívocos esses que não seriam nada demais fossem eles sem a intenção, que culpa.
Como vocês sabem, o dolo é um agravante fatal.
Se todo este descaso com o campo, com a atividade primária que nos alimenta, fosse sem pensar, até que seria desculpável.
Mas, não. Assim como nos Fóruns, nos campos, nas Câmaras e em outras plagas deste há o dolo movido à ganância e ânsia, pelo dinheiro e poder, respectivamente. Se mudarmos a ordem, também não fará diferença.
Só me resta pedir piedade ao Senhor. Piedade para esses homens e para nós, por encurtarmos cada vez mais nossa paciência.