Há alguns meses tive a oportunidade de assistir, "escondido", no fundo de uma sala do cinema, ao filme "Narradores de Javé".
Trata-se de um roteiro ótimo onde os moradores de uma cidadezinha se vêem às voltas com a construção de uma hidrelétrica, recebendo uma triste nota : terão de abandonar as suas casas, porque serão inundadas.
A história é deliciosa ! Com este ultimato, o que eles decidem?
Terão agora de mostrar que o povoado não merece ser destruído. Farão isso através de um documento no qual relatarão as "grandes" histórias que ocorreram na localidade. É um tributo à oralidade, aos costumes, à memória de um povo, mesmo que cada qual apresente a "sua" versão dos fatos, como acontece comicamente no transcorrer do filme. Este pássaro cinéfilo recomenda a película.
Mas já devem estar perguntando os migalheiros, entre os quais incluo o dr. Thiollier (mais sumido que....): que isto tem a ver com seu vôo, doutorzinho?
É que me encontro em Casa Branca, região onde muito antes da fundação dessa cidade de belo e alvo nome (nada a ver com a casa do Tio Sam) percorreu Anhanguera.
As narrativas dos personagens do filme me lembram às feitas pelos causídicos daqui. Claro que as histórias não se coadunam, tendo somente um ponto de convergência, que me fizeram lembrar do filme : a mudança que ocorre em uma comunidade a obra que seja estranha aos hábitos do povo.
No caso de Casa Branca, trata-se do presídio aqui erguido.
Os problemas avolumaram-se na medida em que foram se empilhando as execuções criminais. O feitos criminais tomaram, segundo os colegas causídicos, conta das pautas das audiências. Culpa dos nobres magistrados ? Decerto que não.
Os demais feitos, que também são vitais para a vida dos casa-branquenses, acabaram em segundo plano. Nos corredores do Fórum, pessoas à espera de julgamento transitam no meio do povo, alheio aos atos criminosos.
Não é só : a locomoção dos casa-branquenses, em dia de julgamento de pessoas de alta periculosidade, não é a mesma : o fórum é totalmente cercado.
O crime, ainda que encurralado, provoca feridas. Será que mais uma vez cansarei os seus atenciosos e generosos ouvidos, migalheiros, ao piar, quase à exaustão, por mais escolas ? Não me acusem de ingênuo : sei que os delitos são mais ou tão antigos quanto a roda e o uso do fogo.
Mas não é caro tentar amenizá-los. Falando o linguajar dos governos (adoram o termo "austeridade fiscal") não seria mais em conta um professor melhor remunerado que armas e câmeras ? Carteiras e livros do que cercas, celas e munições cada vez mais pesadas ?
Não sei. Não desejo ser utópico. Será isso - priorizar o homem - impossível ?
Notem que a vida de Casa Branca já não é a mesma. Não será isso o que ocorre hoje no resto do país ?
Nossa rotina alterada ao limite pela insegurança, fomentada pela inoperância complexa estatal.
E nós precisamos é arregaçar as mangas, ao contrário de - pusilânimes - somente arregalar os olhos, já enormes pelo espanto.
Quisera eu que nossa vida voltasse a ser tranqüila, assim como era a de Casa Branca, de belo nome, antes de ter sua rotina alterada.