Retorno à capital paulista depois de flutuar pelos ares e versos suaves de Marília.
Novamente na metrópole insone, chego ao bairro de Pinheiros, o mais antigo da cidade. Leva o nome da imponente árvore conífera, muito bonita por sinal. Atire a primeira pedra quem não goste de um pinheiro ! (Serão reminiscências dos Natais da infância ?).
E o assombro pela nossa imobilidade é arrebatador. São Paulo é um mosaico de gente, como enfaticamente todos o sabem ; basta ser aniversário da cidade para que as imagens da TV mostrem esta diversidade. Como em todos estes anos, ouvimos "Sampa", de Caetano. O que era lindo, pode resvalar no clichê (apesar do tocada à exaustão, ainda adoro essa música).
O que não vai de maneira alguma tornar-se clichê é meu discurso.
Sem pensar em próximos mandatos, precisamos de homens de projetos longos e uma visão de falcão, para o futuro.
Se o porvir está perante nossos olhos arregalados, vamos nos preparar para sua chegada e não buscá-lo utopicamente, sob pena de nunca alcançar.
Não nos tornemos, por favor, como Sísifo, condenado a empurrar a pedra eternamente até o topo do morro e vê-la rolar abaixo sempre, para recomeçar sua tortura. O slogan de país do futuro já começa a virar um anti-marketing !
Política da mesquinharia é coisa de homens pouco nobres, sejamos sinceros. Esta tendência a conchavos, nepotismos, a corrupção, ao individualismo extremado e nossa anuência calada podem e vão nos custar gerações e nos vexar no íntimo.
Um povo sem orgulho de si mesmo e sua história é cínico e gera tristes rascunhos de cidadãos.
Respeito às leis ? Respeito aos idosos ? Às instituições ? E às crianças ? As mulheres penam para conseguir um salário equivalente ao dos homens ; os mais humildes seguem cansados de fila em fila, nas Caixas da vida em busca de seguro-desemprego ou no INSS ; até mesmo nos Fóruns como este de Pinheiros a espera se faz necessária. Enquanto isso, os impostos crescem como ervas daninhas.
Posso estar enganado, mas chegará um momento em que saborear uma cara cervejinha com os amigos, torcer pelo seu time e viver um fervoroso Carnaval, não mais trarão satisfação ao brasileiro consciente.
Os meninos armados nos ameaçam duplamente : apontam armas e também, involuntariamente, onde está o problema. Não creio e nunca poderei acreditar que o revólver deva ser extensão de nossos braços, parte de nossas vidas. Não, espero que Pintassilgo Neto voe em ares mais brandos.
Parece que são dois países diferentes. Os governos em todas as suas esferas, lotados em suas preocupações e cerimônias que ganham ares vultosos à medida que outubro se aproxima ; o povo zanzando de casa ao trabalho, como se fosse máquina, Chico.
E espero ter fugido do lugar-comum, caros migalheiros. Se não fui feliz na minha verve ou atitude, me perdoem. Enquanto estou falando com vocês, minha pequena cabeça está à procura da esperança. Tenho certeza de que ela não está somente em mim, mas em vocês também.