dr. Pintassilgo

Marília

Dizem os que pelejaram na guerra, os que se viram em inúmeros embates, que mesmo no cenário de luta, inóspito, por vezes há espaço para a fraternidade ; uma pausa para que cada um encontre consigo mesmo em um intervalo para a paz.

Por que digo isso?

Porque chegando no limite de Marília (onde estou a competir pelo espaço com algumas aeronaves da Transportes Aéreos Marília), quero me refazer.

"Marília, tu chamas ?
Espera, que eu vou."

Perdoem-me os migalheiros que desejam somente a exposição dos percalços forenses. Um homem de batalha precisa cuidar das feridas. Este Pintassilgo, que enfrenta estilingues, também adora a folha de uma árvore.

Para me reerguer, vou aonde a beleza me leva. Vou rumo à suavidade do clássico.

Marília recebe este nome em razão da conhecida obra de Tomáz Antônio Gonzaga, "Marília de Dirceu".

Não irei, como o poeta, usar um pseudônimo nem me tornarei, em imaginação, um pastor grego. Não sou assim pretensioso!

Dirceu, o alter ego de Gonzaga ! O pastor que vive a suspirar de amor pela alva Marília, que em suas Liras muda a cor dos cabelos.

Talvez, perdoem-me os Mestres em Literatura, ele quisesse cantar em versos a graça de todas as mulheres, sejam elas de melenas negras, ruivas ou louras.

Marília inspira Dirceu com sua leveza, sua tez linda como as flores do campo que, em campo vasto, fascinam até o mais bruto, quando tocado pela paixão.

Seguindo uma estética clássica, com temas gregos, bucólicos, o Árcade Gonzaga teceu uma das mais sinceras e singelas odes às mulheres.

E fugindo à formalidade, ausente entre amigos, pergunto-lhes migalheiros : quantas vezes na vida fomos "Dirceus" ? A fitar platonicamente a bela figura que fazia nossos olhos cintilarem ?

E a vocês questiono, amigas migalheiras : quantas vezes, como "Marílias", arrancaram suspiros por aí ? De certo, entre flores e declarações, muitas vezes vocês eram a inspiração.

Viajando no bucolismo dos versos, me refaço para seguir a vida. Afinal, ela não se faz a ferro e fogo. Gonzaga bem o soube, vítima da embrutecida e conveniente política.

Quisera ele repousar para sempre junto à Marília, mas não foi assim que terminaram seus dias.

Sobrevôo os prédios marilienses pensando na vida, nas diversas Marílias, sejam mulheres ou cidades espalhadas por aí.

E só chego à uma conclusão : a paixão move o mundo. Seja pelas faces delicadas de tantas musas que amolecem os corações dos Dirceus, seja pela força que nos confere em qualquer atividade.

Um homem sem paixão não vive: passa pela vida, vive ao léu como as folhinhas que caem neste início de outono.

Qualquer paixão é vital : pelo Direito, pela Justiça, seja pela Ética, pelo que acreditamos.

Despeço-me dos amigos e das amigas, esperando que os "Dirceus" e as "Marílias" nunca adormeçam dentro de cada um. E, para não perder o costume, alço vôo assoviando alegremente :

Graças, migalheiros,

Graças ao amado Diretor !

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