dr. Pintassilgo

Bariri

Espero que os migalheiros compreendam que, “desta vez”, o título desta mensagem (Vôo n. 27) é apenas simbólico.

Explico.

Saindo de Pederneiras, tendo ouvido falar de uma cidade próxima, resolvi ir caminhando. Com isso, descansei minhas asas e estiquei minhas perninhas. Dessa forma, não foi, em verdade, um vôo, mas sim uma pernada.

Amigos migalheiros, cheguei em Bariri.

E ao flanar até o Fórum, sinto bater na minha fronte a vontade de refletir sobre o Tempo. Quando adentro no cartório, falo com causídicos, vejo os cartorários trabalhando, outros pensando, um intervalo sossegado na passagem das pessoas.

Seria o Tempo nosso vilão ? Ou para ele não somos nada? Assim, agora tenho mais vontade de falar sobre esse assunto.

Afinal, vejo nas ruas de Bariri como ele escorrega. Nem lento, nem rápido. Vai num ritmo que não sei precisar.

O povo, incluindo os colegas causídicos, marca o Tempo, os dias, para que se melhore a prestação jurisdicional. Eles têm esperança que em breve, ou talvez demore, não se sabe, que o futuro seja mais amistoso.

O tempo, o prazo, é um dos grandes elementos de todo o processo.

Fuçando no meu embornal, no qual carrego o compêndio dos grandes pensamentos, saco o grande Santo Agostinho:

“O que agora transparece é que, não há tempos futuros nem pretéritos. (...) Existem pois estes três tempos na minha mente que não vejo em outra parte: lembrança presente das coisas passadas, visão presente das coisas presentes e esperança presente das coisas futuras.”

Ou seja, minha visão presente talvez veja as coisas indo e vindo, meio que sem direção; essa espera da melhora (Oxalá ela venha, irmãos de Bariri), é salutar, mas confesso que chega a me incomodar, justamente pelo seu atraso. Notei que o Tempo, novamente ele, parece cair como um conta-gotas na Justiça.

E, tomando sorrateiramente perante vocês o pensamento do Santo filósofo, a esperança presente pelas coisas futuras se faz quando vejo as crianças atendidas pelo projeto social tão edificante que se pode ver pelas lentes que trouxe.

Eis, que lhes pergunto, migalheiros : Não seria neste ano, decisivo em momentos de turbulência na questão da Ética, Tempo para agirmos além de nosso resmungo secreto ?

Depois de tantos vôos, já não consigo aceitar que o Tempo passe e as coisas não se movam.

Os intervalos das pessoas no Fórum de Bariri, as pausas nas conversas que tive com os adoradores da terra, me fizeram volta e meia ler os trechos das idéias de Agostinho sobre o Tempo.

Para desejar bons tempos para todos nós, principalmente para os amigos gentis que fiz em Bariri, leio em voz alta fragmento do Eclesiastes :

Tudo tem seu tempo determinado, e há tempo para todo o propósito debaixo do céu: há tempo de nascer e tempo de morrer, tempo de plantar e tempo de arrancar o que se plantou, tempo de matar e tempo de curar, tempo de derribar e tempo de edificar, tempo de chorar e tempo de rir, tempo de prantear e tempo de saltar de alegria, tempo de espalhar pedras e tempo de juntar pedras, tempo de abraçar e tempo de afastar-se de abraçar, tempo de buscar e tempo de perder, tempo de guardar e tempo de deitar fora, tempo de rasgar e tempo de coser, tempo de estar calado e tempo de falar, tempo de amar e tempo de aborrecer, tempo de guerra e tempo de paz.

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