E aqui vou eu, com ânimo páreo para a imponência do sol (desculpem-me, amigos migalheiros, bem sabem vocês que não tenho arroubos de ausência de modéstia ; este é apenas um estalo de vitalidade).
Aliás, sol que não está para brincadeiras ; arde como se fosse meio-dia. Então, apurando meu inerente sentido de direção, vejo que estou no meio do Estado, na eqüidistância de seus extremos, na cidade de Bauru.
Algumas lembranças tomam conta deste pássaro, quando sobrevoa estes chãos, de planos longos, conhecida como "Cidade sem Limites". Há alguns anos atrás, realizava vôos noturnos agradabilíssimos sobre a Nações Unidas e a Rodrigues Alves. Boníssimas noites. Aprendi muito em Bauru e carreguei vários destes saberes no meu caminhar, antes de ser convocado para missões pelo amantíssimo Diretor, homem expansivo como esta cidade.
Historicamente, aliás, os limites destas paragens foram muito bem defendidos pelos aguerridos índios perante os intrépidos desbravadores, que penaram para aqui chegar. Tantos os nativos, quanto os forasteiros, pareciam saber que aqui algo cresceria.
Por ser sem limites, tudo agora acontece ao mesmo tempo.
Pessoas vêm para cá ; umas estudam, outras trabalham, algumas negociam e outras (para nivelar a balança do Direito) cumprem pena, graças ao belíssimo e exemplar, sem nenhuma ironia, presídio de regime semi-aberto aqui instalado, que em seu nome homenageia o grande - e tão saudoso - jurista Noé Azevedo. E que justa homenagem.
O conhecimento é valorizado, com a presença da Universidade de São Paulo, Universidade Estadual Paulista e a Universidade do Sagrado Coração.
E, suavizando um pouco o assunto perante o calor, conto para vocês que foi um rapaz oriundo daqui, que saiu em busca de conhecimento, quando aluno da Arcadas, levou o nome da cidade pelo Estado, ao ditar os ingredientes de seu aparentemente esdrúxulo lanche predileto. Uma iguaria que hoje tem o nome da cidade, o famoso Bauru. Reza a lenda que de tanto pedir o sanduíche, o batizou. Junto com a "peruada", foi das estudantadas dos acadêmicos do Largo de S. Francisco uma das mais saborosas ; a estudantada que virou nome de um clássico "sanduba".
Abrandando ainda mais o papo, vejo in loco trabalhos de assistência social, uma das maneiras de combater nossa fossa social. Quiçá cresçam trabalhos como este, que tenho ciência que existem não somente no Estado, mas por aí fora no país.
Irmãos cuidando de irmãos, sem imiscuir-se nas malvadezas da real politik, pois, para alguns de seus caciques, quando trabalhos como estes são necessários o mandato é um fardo ; já, para curtir as suas benesses, o mandato é agarrado e até a morte, se preciso. Eles não "gostam" muito de andar em ruas ainda de terra batida, onde crianças caminham ao largo de esgoto a céu aberto.
Já no fórum, noto que os limites são os mesmos de outras cidades : logística, funcionários, mais varas, tudo para alargar o limite do alcance da Justiça. Afinal, amigos, toda expansão tem seu preço, ao ver a ciranda de pessoas com seus diferentes motivos de aqui estar..
A jurisdição deve acompanhar, de forma proporcional - como sabem de pronto os caros migalheiros - o aumento das causas e, por conseguinte, das expectativas.
Deixo Bauru, onde flanei nos céus em noites sem limites, onde vi os limites se esparramarem como água. Onde os limites das pessoas também se alargam pelo trabalho, pela educação e até mesmo por uma digna segunda chance. Afinal, manejadores da "disciplina da convivência humana", devemos ter sede de Justiça, nunca de sangue.