dr. Pintassilgo

Miguelópolis

Levado pelos ventos alísios, que me conduziam sem que fizesse grandes esforços com minhas asas, parti de Franco da Rocha cortando o Estado de São Paulo. Não. Não estou combalido. Meu trabalho segue de vento em popa. Mas não se pode desprezar uma ajuda de Éolo.

No nordeste de SP, na beira do grande rio Grande, observando as montanhas das Gerais (já sei, não posso, ainda, apoiado que sou pela OAB/SP, transpor os limites do Estado) encontro uma cidade relativamente jovem, cujo nome tem raízes celestiais.

Um pouco da luz divina hoje se faz necessária. Ou ela não seria bem-vinda em todos os dias ? Decerto que sim. Alguns já sabem de antemão, outros necessitam sentir na própria pele, que a carência da fé alquebra o homem. Como num cinema mudo, relembro agora, saudoso, meu vôo pela cidade de Tambaú (Vôo 7 - Clique aqui).

Mas falando no bicho homem, já sei que foram homens de fé que fundaram a cidade de Miguelópois, numa sacra homenagem ao arcanjo. Fuçando avidamente no meu embornal, procuro saber mais sobre este santo (perdoem meu estilo démodé, amigos, mas as modernas maletas poderiam dificultar meu vôo ; além disso, o amantíssimo Diretor considera que valises são, digamos, dispendiosas demais para servir a este pássaro).

Descubro então que o arcanjo Miguel é o protetor da Igreja Cristã, comandante supremo dos exércitos de anjos de Deus. É o arcanjo da fé, da proteção e da libertação do mal.

Em meu pequeno e modesto compêndio dos saberes humanos, leio que foram os apelos dirigidos pelos seres humanos a razão para que ele se aproximasse mais da Terra, com o desejo de atender a todos que necessitavam de seu auxílio. Este arcanjo é representado com uma espada ou com uma balança que pesa as almas dos mortos (esta figura não lhes é familiar, alados migalheiros ? ).

Podem sentir a ligação deste anjo de Primeiro Ordem com o Direito ?

Deixando as nuvens, chego ao chão propriamente dito. E, ao conversar com os adoradores da terra (para quem não se lembra, estes são os habitantes que amam a sua cidade), noto nas queixas a decepção pelo fato de Miguelópolis não possuir, há tempos, um juiz titular.

Mais um remexo no meu embornal e descubro na obra do saudoso mestre José Frederico Marques o ensinamento de que o juiz “é a figura principal da relação processual, uma vez que lhe cabe fazer a entrega da prestação jurisdicional”. A propósito do mestre, não estou muito distante de sua terra, Bom Jesus da Cana Verde, hoje Batatais. De fato, é ele batataense, conforme sentença lavrada em 16/11/05 (Migalhas 1.293clique aqui).

Seguindo o escólio do mestre, tem razão o povo quando clama pela presença de um juiz titular em Miguelópolis !

A cidade do arcanjo protetor está sem o anjo que ajudará aqueles que necessitam de seu auxílio ! Não digo que não há prestação jurisdicional na cidade, mas o povo implora (e olha que ele poderia é exigir!) a presença de um magistrado integrado ao seio da comunidade ! Torço, e até pio mais alto se for preciso, para que os miguelenses sejam ouvidos.

Um juiz titular seria de bom grado para cuidar das inúmeras execuções fiscais, que pipocam quase que em progressão geométrica (seria uma hipérbole de minha parte ?)

E, como oriundo das entranhas da natureza, aproveito para pedir também (retribuindo a boa acolhida que tive pelos miguelenses), pela vinda do magistrado para que sentencie nos tantos feitos sobre as questões ambientais, muitas vezes olvidados pelos transeuntes juízes que, não raro, ainda sentem o calor das bancas do concurso e, por isso, esquivam-se de intricados processos.

Destarte, tenham fé, migalheiros e miguelenses ! Rogo para que, em breve, um protetor da legalidade chegue até aqui, trazendo nos punhos a sua balança, dirimindo, assim, sua angústia.

Lembrem-se : homens de pouca fé são alquebrados.

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