Vôo baixo e tranqüilo. Saio de Penápolis com caraminholas na cabeça: na busca pela Verdade tenho me visto às turras com a complexidade dos infortúnios de meus irmãos brasileiros.
Mas não se abalem, migalheiros ! Meu vôo é ainda lotado de esperança ! Não há e nunca haverá empreitada sem desassossegos ! Meu sábio avô (sim, as aves também prezam seus ascendentes) dizia que a vida é um risco permanente, aqui, sempre presente. Portanto, não terei descanso enquanto minha terra não repousar, como uma aconchegante clareira.
Não me contaminarei pelo cansaço e estreitamento de futuro. Que venha o combate pelo justo.
Estou me antecipando, migalheiros, ressaltando que não fujo à luta, após presenciar a atuação da Justiça no município e comarca de Franco da Rocha. Cidade onde se localizam uma unidade da Febem, um presídio de segurança máxima, uma colônia penal (semi-aberto ?) e o afamado Juqueri, manicômio cuja fama atravessou as fronteiras do país : a "Casa Verde" paulista.
Medida de segurança. Segurança máxima.
Na era das balas perdidas, de parricídios e matricídios na classe média (o que causa comoção e espanto a todos ; sinto dizer que fatos tristes assim sorteiam-se em dias pares e ímpares nas classes mais baixas), ônibus incendiados, justiceiros posando de líderes comunitários, a palavra segurança máxima é de causar calafrios.
Brasil, necessitamos hoje de uma cadeia de segurança máxima ! Não progredimos ? Entramos com louvor, com direito a certificado de letargia, no que há de mais nefasto no capitalismo : sua fome predatória sem compaixão.
Em nossa pátria, profissionais do crime andam desnudos na face, portando armas que poderiam intimidar até um soldado de infantaria. Meninos ditos "laranjas", entrando numa vida cujo término é o escorrer do sangue de outros ou deles mesmos ; por falta de uma janela ou porta, golfados que são por um ambiente decadente, em que nasceram, cresceram, e não brincaram.
As razões, todos sabemos. Não há porque ponderar mais, e lhes importunar com reminiscências que já falamos aqui.
Nossos líderes não dão o bom tom. Seja representante do Estado seja da legalidade, alguns atos não condizem com tamanha envergadura.
E, por vezes, a população demonstra não distinguir uns e outros. Meliantes do andar de cima e de baixo, ignóbeis todos são.
Sendo assim, questiono de cara limpa : que Estado de direito é este em que um representante do Poder público tem receio de expor-se (e com razão para proteção dos seus), receio de falar ? Poderíamos condená-lo ? De forma alguma. O cenário é que preocupa.
Se nossos representantes se sentem tensos, o que dirá nós ?
Porém, não há porque ceder nossa terra, nosso sol, nosso verde, nosso sorriso, tornar refém nossa alegria de viver. Não ! Seria triste deixar nossa gana, a aspiração de vislumbrar nosso Brasil adiante em passos largos, à mingua, num bêbado desequilíbrio entre esperança fugaz e decepção angustiante.
A segurança máxima que desejamos é a certeza de Justiça em tudo : igualdade, oportunidades, a todos o que lhes é de direito.
E não essa voraz máquina de moer pessoas e sonhos, que presenciamos estupefatos.