Estou agora a sobrevoar o norte do Estado, e ao sentir a brisa vindo em direção contrária, só penso em chegar logo. Se este ventinho me impede de ganhar mais velocidade, sei que mais força terei de dispensar. É para isso que vivemos em parte : tombar as adversidades.
As provações as quais o meu povo tem defrontado são dignas de serem cantadas pelos sábios gregos, sem exageros de minha parte. Uma epopéia de desencontros, conflitos silenciosos, de atos desconexos.
O que confere certa vitalidade para estes ocelos arregalados e asas já combalidas, é o coro que fazem todos aqueles que têm sede de justiça, como os migalheiros, que se ombrearam comigo neste embate.
Quisera eu ser somente um estatístico, a impingir dados e dados para uma suposta compreensão da realidade ! Mas o sangue insiste em correr em minhas capilares veias, figurando, desenhando um rosto em cada algarismo e percentagem.
Assim, chego a Mirassol.
E como nas andanças deste humilde doutor, nada é regido pelo acaso.
Ao dialogar com o nobre representante do Ministério Público, ainda espanta-me o amontoado de feitos, a precariedade da nossa logística judiciária. Por um instante, os dois, paramos, vislumbrando a pilha a nossa volta. Silêncio.
Meu espanto ao notar o número de ações criminais ligadas à juventude tornou-se deveras inquietante.
O que me faz indagar de forma contundente e indignada, se os nobres migalheiros permitirem : quando sairá da retórica e do lugar-comum a máxima de que somente a educação poderá decrescer o número de presídios ?
Quando os brados por uma governança mais humanista e menos econômica (apoiada somente em gráficos), serão ouvidos ? É preciso, diz o povo, que algo se faça ! É preciso ! Já não basta somente boa vontade.
Nos seus primórdios, Mirassol tinha o nome de “Matta Uma”. Como os vizinho de São José do Rio Preto, não se sabe o motivo, começaram a denominar a localidade de “Mata Um”, o fundador, Capitão Joaquim da Costa Penha, chateado, resolveu mudar o nome da cidade. Pôs-se a pensar em outro.
Diz a história que um dia, passeando a cavalo, pelo largo da capelinha, onde se cultivavam roças de arroz, um dos lavradores chamou-lhe a atenção para a existência no local, de grandes flores redondas de cor amarelo-ouro.
- É Girassol ! – disse o capitão.
No que o homem retrucou...
- Não e não, seu capitão, o nome dessa flor é Mirassol !
E por que não aprendemos com a história, que é a grande mestra ? Façamos como o capitão : vamos, com a gana que nos falta por vezes, escapar ou dobrar os estigmas da nossa face virulenta. Ao invés do “Matar uns aos outros”, vamos procurar a luz do sol. Em busca do belo, renegando nossa vocação para o Hades.
Este pobre pássaro está farto de projetos e arrastadas utopias.
Nada mais lindo, irão concordar os migalheiros, pessoas tão especiais, que devemos seguir o movimentos dos girassóis, seguir a luz onde quer que ela vá. E florirmos, como eles, durante todo o ano.