O sol atinge as minhas asas com vigor. Para me afastar dos golpes certeiros de seus raios, vôo mais rente à terra. Uma terra vermelha e que cheira à trabalho, que demonstra nunca ter ficado ociosa. Passo então por imensos treminhões carregados de cana. Se não me engano sei onde estou indo...
Quando vejo ao longe uma construção enorme, em forma de ferradura, vejo que cheguei em Barretos, mundialmente conhecida por sua Festa do Peão.
Há muitos anos, incentivado pela minha curiosidade geográfica sobre meu país, descobri que Barretos desenvolveu-se em diversos períodos, todos ligados à terra : agricultura (café e cana) e pecuária ; daí a importância da cultura do peão de boiadeiro.
Os peões que nas comitivas traziam tantas histórias no laço, quanto gado. Enfrentavam esse sol que fervilha furioso, que junto com a terra cor de cobre queima rostos e braços, mas não arrefece o ânimo.
Hoje, ainda que os motivos country tomem conta das fachadas das lojas e algumas casas, num inevitável efeito da globalização que tudo adapta e transforma, o peão de anteontem, sem chapéus de bang-bang, fez a fama da cidade. Mas tudo, penso eu, se transforma. Hoje, o turismo ganhou força e essa adequação ao country faz a linguagem ser universal.
Barretos. Terra vermelha que ferve. Cidade que vive do que a terra dá, assim como, se pensarmos a fundo, todos nós vivemos. Simples de pensar, quando temos tempo para pensar (tenho que aproveitar meu tempo livre para devaneios, pois o trabalho é árduo como o sol de Barretos e o severo Diretor de Migalhas, que do Fórum pede notícias).
E quando chego ao Fórum, noto que os cartórios trabalham em prédio diferente dos juízes ; magistrados e servidores em pontos distantes.
Fico também intrigado com o grande número de execuções. Um causídico me conta, então, que o alto valor do IPTU gera a inadimplência.
A terra, que gera sua riqueza, o chão da cidade, tem um preço elevado ! E o povo responde da maneira que pode.
Fico cá com meus botões (também sou um "enternado") a pensar por que do imposto ter seu valor tão alto...
Mas as fachadas country me lembram que os forasteiros, nos filmes de faroeste, não podem fazer muitas perguntas, nem se intrometer nos assuntos da localidade.
Creio que os barretenses sabem lutar por seus direitos ; como povo trabalhador que sempre fora e empunhando como laço uma história tão rica e importante não deixarão que lhe tirem o chão. Amansarão as dificuldades com galhardia.
O povo brasileiro, alegre e cheio de calor, já sabe que o dia de luta se alterna com o de festa, e que cada um valoriza e não vive sem o outro.