dr. Pintassilgo

Ipiranga

A história do Ipiranga está profundamente ligada a própria História do Brasil, afinal foi nesta região que, em 1822, D. Pedro I proclamou a independência do País às margens do Ribeirão do Ipiranga. Os relatos sobre a origem do bairro começavam com o povoamento pelos índios Guaianazes.

Eles construíram suas moradas entre a margem direita do Ribeirão de Guapituva e a aldeia do cacique Tibiriça. O local ficou conhecido como Ypiranga ("água vermelha - água barrenta" na língua tupi), nome dado pelos índios ao riacho que cortava. O início da ocupação pelos brancos expulsou os Guaianazes para outras regiões e possibilitou a extensão territorial do Ipiranga que chegou ao final do século XVI a ter por volta de 1.500 habitantes, instalados principalmente em muitas chácaras, sítios e pequenas fazendas.

O passo seguinte na expansão da região aconteceu com a chegada dos imigrantes a partir da segunda metade do século passado. Desembarcando no Porto de Santos, estes estrangeiros eram levados para a Hospedaria dos Imigrantes do Brás, onde esperavam oportunidades de emprego.

Muitos, por não conseguir trabalho nas fazendas de café, iniciaram atividades nos locais próximos e o Ipiranga, que anteriormente servia apenas como uma parada de viajantes que percorriam pelo "Caminho do Mar", a partir de 1875, experimentou grande transformação na área social. Indústrias foram instaladas e os bairros operários se expandiam, onde moradias e estabelecimentos comerciais eram construídos.

As oportunidades de emprego eram geradas de várias maneiras. Alguns trabalhavam nas Oficinas Gerais da Light (surgidas com a instalação do bonde elétrico na cidade em 1900), e outros viviam da habilidade e as ferramentas de suas profissões de origem. O bairro passou a ter inúmeros sapateiros, barbeiros, cesteiros, fotógrafos, costureiras, mascates e ambulantes.

A integração das diversas nacionalidades que viviam na região aconteceu nos estabelecimentos de ensino. As primeiras escolas particulares do bairro foram fundadas a partir da última década do século XIX: "Bom Pastor" (1893), "Orphanato Christovam Colombo" (1895), "Asylo de Meninas Orphãs Nossa Senhora Auxiliadora"(1896), "Centro Ipiranga"(1910-1936) e Colégio da Sagrada Família (1912). Sobre as escolas públicas, o primeiro grupo que se tem notícia se encontra no ano de 1918, o "José Bonifácio".

O esporte também foi elemento importante nesta integração. O clube de futebol "Flor do Ypiranga" foi fundado logo após a chegada de Caetano de Domenico no bairro do Grito, em 1913. Na mesma década, foram abertos para a população, o "Vila Independência" e o "Silez F.C". O CAY (Clube Atlético Ipiranga) foi fundado em 1906, transferindo-se da Água Branca e instalando-se no Sacoman no final rua Bom Pastor.

Na área cultural, "Cine Theatro Brasil" é considerado o primeiro cinema do bairro, construído na rua Thabor em 1924. No local também se realizavam grandes bailes sob o comando do gerente Mansueto De Gregório.

O bonde a burro foi o primeiro meio de transporte coletivo colocado à disposição dos moradores da região. Criado em 1871 pelo engenheiro Nicolau Rodrigo França Leite, chegou ao Ipiranga em 1889 devido ao empenho do Doutor José Vicente de Azevedo. Para os bondes vencerem o limite entre o Cambuci e o Ipiranga, foi necessário o aterramento de parte da Rua Independência, região pantanosa da "Chácara da Glória".

Em 1904, foram inauguradas no bairro, as linhas percorridas por bondes movidos à tração elétrica: a linha "Ipiranga" e a linha "Fábrica", ofereceram serviços para a população até 1967. Em 1954, foram instaladas as linhas de ônibus elétrico que servem o bairro.

Jafet e Samarone

Se o Ipiranga foi um forte bairro industrial a partir do início do século, deve isto a duas famílias de imigrantes: Jafet e Samarone. A primeira implantando duas unidades têxteis na região e a outra uma cerâmica. Juntas elas geraram mais de 10 mil empregos diretos. Hoje só restam os galpões das antigas fábricas de tecidos e onde era a cerâmica foram erguidos imóveis comerciais.

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  • Origem do nome

Segundo Martius, no tratado clássico sobre termos brasílicos, a denominação deriva da contração de duas palavras tupis Ypiranga que significa “água vermelha - água barrenta”. Com o dicionário de João Mendes, há outra interpretação: “Leito desigual e empinado”.

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Personagem

Benjamin Jafet

Benjamin Jafet foi o primeiro a chegar ao Brasil, em 1887, então com 20 anos. Ele morava no Líbano e teve um sonho de que deveria tentar a vida num outro País. Depois vieram os irmãos Basílio e João, Miguel e Nami. Benjamin passou a trabalhar com mercadorias compradas em Marselha e vendidas na região do Rio, São Paulo e Minas Gerais. Era conhecido como o mascate do Líbano.

Os irmãos Jafet, que trabalhavam no ramo de tecidos, notando que no Brasil havia poucas indústrias têxteis decidiram implantar uma fábrica no País e escolheram o Ipiranga, que ficava a cinco quilômetros do centro. A área escolhida era um brejo e houve um trabalho intenso para preparar o terreno e construir a fábrica, na rua dos Sorocabanos.

A fábrica se expandiu e a família instalou outra unidade na Vila Carioca, o Lanifício Jafet, também conhecido por "Jafetinho". Além da Fiação Itapeva, na Avenida Presidente Wilson. A tecelagem da Sorocabanos era chamada de "Jafetão”. A família trabalhou também nas áreas siderúrgicas e metalúrgicas. Com o decorrer do tempo as duas indústrias se tornaram conhecidas não só a nível nacional como fora do Brasil. Os Jafet, então, passaram a comprar grandes áreas de terras no Ipiranga e Vila Prudente.

As esposas dos diretores do grupo tinham forte atuação na área social e ajudaram na construção do Colégio Cardeal Motta, Hospital Leão XIII, Clube Atlético Ypiranga entre outras entidades. Um conjunto de prédios de apartamentos, existente até hoje, foi construído entre as ruas Manifesto e Patriotas para abrigar os operários, muitos deles vindos de outras regiões.

Com o passar do tempo as tradicionais indústrias fecharam suas portas porque os sucessores foram se desinteressando pelo ramo têxtil. A maioria das mansões da família Jafet no bairro foi vendida e outras estão alugadas.

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Américo Paschoalino Samarone

Em 1900 chegava ao Brasil, procedente da Itália, Américo Paschoalino Samarone que começou a trabalhar na cerâmica de um francês que acabou dando nome à região do Sacomã. O imigrante italiano foi recebendo promoções até chegar a sócio majoritário da indústria que ficava na região onde existe hoje um supermercado. Atrás da cerâmica existia uma enorme lagoa que ficou conhecida como "Buraco da União", e onde morria muita gente.

A cerâmica funcionou até 1950 e seu proprietário construiu um castelo à margem de um lago, onde atualmente é a Praça Altemar Dutra. O castelo foi derrubado em 1968. A família Samarone perdeu grande parte das terras devido as desapropriações pelo Estado e Município para obras do sistema viário.

Na época, contam, existia um enorme arco ligando a mansão à estrada do mar onde atualmente está a favela de Heliópolis. Naquela época, quando explorava a cerâmica, que ficava no ponto final do "Bonde Fábrica", a família construiu uma creche para os filhos de seus funcionários. Hoje os Samarone estão na quarta geração.

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Giovanni Moretti

Giovanni Moretti, italiano chega ao Brasil em 1875, indo morar na "Chácara da Glória", localizada no Ipiranga. Depois de participar da fundação, em 1877, de São Caetano do Sul, que também pertencia ao "bairro da independência", em 1882, ele instalando-se com um açougue na Rua H, a atual Silva Bueno.

Pedro Stebal, espanhol, tornou-se o primeiro corretor de imóveis do bairro, em 1888.

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Giuseppe Dante

O garibaldino Giuseppe Dante veio para o Ipiranga em 1894. Residiu na "Casa do Grito", onde trabalhou como comerciante, carvoeiro, fabricante de vassouras e fornecedor de areia extraída dos rios Tamanduatei e Ipiranga para as construções do Museu Paulista.

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Padre José Marchetti

O padre José Marchetti chegando no bairro em 1895, fundou o "Orphanato Christovam Colombo".

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  • Locais Históricos

Estação Ferroviária

Inauguração: 1/4/1886

Uso atual: Estação de trens metropolitanos com trilhos

A São Paulo Railway - SPR ou popularmente "Ingleza" - foi a primeira estrada de ferro construída em solo paulista. Construída entre 1862 e 1867 por investidores ingleses, tinha inicialmente como um de seus maiores acionistas o Barão de Mauá. Ligando Jundiaí a Santos, transportou durante muito anos - até a década de 30, quando a Sorocabana abriu a Mairinque - Santos - o café e outras mercadorias, além de passageiros de forma monopolística do interior para o porto, sendo um verdadeiro funil que atravessava a cidade de São Paulo de norte a sul.

Em 1946, com o final da concessão governamental, passou a pertencer à União sob o nome de E. F. Santos-Jundiaí (EFSJ). O nome pegou e é usado até hoje, embora nos anos 70 tenha passado a pertencer à REFESA, e, em 1997, tenha sido entregue à concessionária MRS, que hoje a controla. O tráfego de passageiros de longa distância terminou em 1997, mas o transporte entre Jundiaí e Paranapiacaba continua até hoje com as TUES dos trens metropolitanos.

A estação do Ipiranga foi aberta em 1886, e um dos motivos para isso foi o descarregamento de material para a construção do Museu do Ipiranga. Mais tarde, foi transformada em estação de trens de subúrbio. Durante a revolução de julho de 1924, ela foi sede do 2o batalhão de artilharia das forças legalistas do Governo do Estado. Nos anos 50, foi reformada e ampliada. Hoje, num prédio completamente diferente do anterior, é estação de trens metropolitanos da CPTM.

Museu do Ipiranga

O prédio do Museu do Ipiranga foi construído às margens do riacho do Ipiranga, onde D. Pedro I declarou a independência do país em 1822. A majestosa construção, em estilo neoclássico renascentista, está situada ao fundo do Parque da Independência, conferindo ao local um ar de palácio europeu.

Com o objetivo de preservar o cenário da independência do Brasil, o presidente (como se chamava na época) do Estado de São Paulo, Américo Brasiliense, seguindo os conselhos de Alberto Loefgren, decidiu fundar o Museu Paulista ou Museu do Ipiranga. O local escolhido para a sua instalação foi o Palácio Ipiranga, destinado inicialmente a ser uma escola de engenharia. Com o intuito de aumentar o acervo, a Comissão Geográfica do Estado, responsável pela organização da entidade, comprou o Museu Sertório, fundado pelo coronel Joaquim Sertório, etnógrafo e colecionador.

Durante o governo do Bernardino de Campos, em 1895, o Museu Paulista foi inaugurado, ficando aos cuidados da Secretaria dos Negócios da Educação e Saúde Pública em 1931. No ano de 1935, passou a fazer parte da USP (Universidade de São Paulo) como Instituto de História e Antropologia.

Mais antigo museu de São Paulo, o museu expõe peças que contam a historia da sociedade brasileira entre os séculos XIX e XX. São esculturas, quadros, louças, jóias, móveis, armas, peças religiosas, automóveis, documentos e utensílios de bandeirantes e índios distribuídos pelo prédio.

Em frente, ficam os jardins, uma réplica em tamanho reduzido dos jardins do Palácio de Versailles, obra do paisagista Arsênio Puttemans. Encontra-se também a Casa do Grito, o Monumento da Independência e a capela Imperial Leopoldina. A iluminação especial noturna, que revela detalhes arquitetônicos do prédio, só ocorre em datas especiais, como 7 de setembro.

Casa do Grito

Embora esta casa tenha sido vinculada à cena do "grito" de D. Pedro I pela independência do Brasil em 1822, data de 1884 o documento mais antigo sobre a sua origem. Desta forma, não é possível precisar o ano de sua construção e, consequentemente, comprovar a sua existência na época deste fato histórico.

Situada nas proximidades do Caminho do Mar e do Riacho do Ipiranga, foi originalmente construída em pau-a-pique, técnica que consistia no entrelaçamento de paus verticais fixados no solo, com vigas horizontais amarradas entre si por cipó, dando origem a um grande painel transfurado que, após ter os vãos preenchidos com barro, transformava-se em parede.

A casa guarda, entretanto, vestígios de diversas reformas realizadas por seus sucessivos moradores, revelados nos diferentes materiais de construção a ela incorporados, como tijolos e até mesmo uma pequena intervenção em concreto.

Desapropriada em 1936, permaneceu semi-abandonada até 1955, quando foi realizada uma restauração fantasiosa que procurava aproximá-la à casa representada na tela "O Brado do Ipiranga" de autoria de Pedro Américo, que se encontra no Salão Nobre do Museu Paulista (Museu do Ipiranga), a ponto de lhe ser aplicada uma falsa janela em uma de suas paredes, a fim de torná-la o mais fiel possível à representação do pintor. Foi nessa ocasião que o imóvel passou a ser conhecido como "Casa do Grito".

Finalmente, em 1981, a casa foi submetida a pesquisas arqueológicas e a obras de restauro que procuraram corrigir os excessos das intervenções anteriormente realizadas. Tombado em 1975 pelo CONDEPHAAT, este imóvel integra o acervo de Casas Históricas sob a responsabilidade do Departamento do Patrimônio Histórico.

Atividades: Exposições diversas com temas relacionados à cidade de São Paulo.

Parque da Independência

O Parque Independência, com 184.830 m² de área total, é um marco histórico nacional. Na Colina do Ipiranga, junto ao Riacho do Ipiranga, D. Pedro I declarou o país independente de Portugal em 1822. O Parque abriga o Museu do Ipiranga, além de uma estátua em homenagem ao grito do Ipiranga, de autoria do italiano Ettore Ximenez.

Os jardins franceses, localizados logo à frente do Museu, são caracterizados por topárias de buxos e azaléias, que delimitam canteiros de rosas, palmeiras e ciprestes.

Projetado em estilo francês une o museu e o monumento aos outros edifícios existentes no local, que abriga ainda um viveiro de plantas e um museu de zoologia.

Com duas bibliotecas e seções arquivística e iconográfica, oferece também laboratórios de conservação e restauro.

Monumento em homenagem à Independência

A idéia da construção do Monumento em homenagem à Independência surgiu alguns meses após a Proclamação, mas demorou cem anos até ser concretizada. A primeira sugestão que se tem notícia partiu de Antonio da Silva Prado, o Barão de Iguape, juntamente com um grupo de paulistas.

As obras começaram em outubro de 1825, sendo praticamente esquecidas a partir da renúncia de D.Pedro I, em 7 de abril de 1831. A construção só voltou a ser analisada com a visita de D. Pedro II e da imperatriz Tereza Cristina, ao local onde se iniciara a edificação do Monumento. Em 1875, durante o governo de João Theodoro, as obras foram reiniciadas.

No ano de 1917, foi aberto um concurso para escolher o arquiteto que iria encerrar as obras. O engenheiro Nicola Rollo venceu. Mas, devido a contratempos do vitorioso, o escultor italiano Ettore Ximenes foi quem finalizou a construção apesar de ter sofrido diversas críticas por parte de segmentos da sociedade. Com 1.600 m de estrutura global, 12 m de altura, 127 colunas que formam o maciço de concreto, granitos e peças de bronze trazidos da Itália, e trinta figuras em relevo relacionadas à História da Independência, o Monumento só ficou pronto em 1926.

Mas, a inauguração aconteceu no dia 7 de setembro de 1922 (Centenário da Independência), com desfiles militares, salvas de canhões e espetáculos com bandas de música.

Tocha Viva da Independência

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