Estou em Cubatão.
Cidade industrial, onde caminhões abarrotados de metais, alguns reluzentes, outros opacos, matérias-primas ou tecnologia, não param de se cruzar. O céu caminha lento para findar o dia, parece-me pesado.
Nesta minha cruzada pelo Estado mais industrializado do país, pude tal qual um equilibrista na corda bamba, pender para dois lados, díspares, é verdade, mas que compõe o todo ; pude passear pelo bucólico, pairando suave com a brisa, sobre flores formosas e também me choquei com o aço, o diesel, a urgência desenfreada que nos impõe o capital. Este, deveras útil, mas às vezes, com segundas intenções nos telefones de sua agenda.
Cubatão encontra-se no segundo grupo. Trata-se de uma cidade de forja.
Notei, na história de sua fundação, que não houve por aqui uma fazenda, uma capela, uma ferrovia que originaria a cidade, como quase todas do interior. Não.
Nascida foi, provavelmente, de uma passagem de posto fiscal, alfandegária, que viria a ser depois um pólo de fixação.
O que não lhe traz nenhum demérito nascer sob tal circunstância, já que a essa altura o passado pouco importa. O que interessa é a sede do presente. E o agora tem seus jogos dúbios, como o próprio estado onde a flor insiste, toda orgulhosa por suportar tamanha pressão, em nascer no meio do concreto. Ao entrar no território, danço planando por momentos distintos.
Nuvem negra ! Fui impedido, novamente, de modo triste, de vislumbrar os trabalhos no Fórum e relatar a Verdade (haverá um surto de autoritarismo ? Preciso urgentemente relatar ao amado Diretor sobre a visível campanha pela poda de minhas asas!).
Este humilde pássaro, ao assumir essa árdua missão, achou ser desnecessária qualquer chancela, a fim de não macular seu trabalho.
A Verdade não poder advir com chancela, a não ser dela mesma. Caso contrário, seria ela caolha.
E se bem me recordo, a Justiça é cega.
Céu azul ! Os causídicos retratam que os trabalhos ocorrem de maneira satisfatória !
Nuvem negra (perdoem a minha tosse e meus olhos vermelhos) ! Em nome da segurança (preocupação louvável), não pude captar imagens nem depoimentos dentro do ambiente forense.
Céu azul ! A população, em sua maioria, está satisfeita com a prestação jurisdicional.
Mais uma nuvem negra, mais prejudicial que o famigerado dióxido de carbono ! A população local muitas vezes é olvidada para os novos postos de trabalho ! As empresas preferem aportar na localidade com os seus de confiança. Ora, será o pessoal de Cubatão inapto para o ofício ? Não creio, tal o movimento frenético de caminhões.
O povo é trabalhador. Persistente perante a maré contrária. A massa é faminta por justiça, sedenta de exemplos ; quando pensa que encontrou um modelo a ser seguido, cai em decepção, chora as mágoas, caladas, porém não menos sinceras as lágrimas que escoam. E a Justiça deveria ser sua aliada mais confiável, seu refúgio na tormenta.
E muitas vezes, parece-me que ela está tentando sair do encosto no qual estão os outros dois poderes, cheios de malvadeza, nos dizeres contundentes do combativo Diretor. Espero que possa ela então ser o exemplo tão esperado. Mas não com atitudes como esta de veto, de poda, que em nada acrescentam ao país.
Será, migalheiros, que a cruzada é árdua ? Sim, bem sei. Mas desembainhando com bravura a espada de sua confiança e o escudo de seus votos de fé, lutarei tenazmente.
Queria ver a flor brotar no concreto e aço de Cubatão. Nas portas das indústrias, na encosta das estradas onde os basculantes passam a mil. Queria ver a flor que destoa do cinza e óleo, para fazer o povo trabalhador, que “não tem o tempo livre de ser, de nada ter que fazer”, lançar seu sorriso perante sua delicadeza.
Queria ver flores perante o fórum de Cubatão. Para que não seja somente eficiente, mas acolhedor, sem deixar a severidade, como todo bom tutor.