Quando saiu de Porto Feliz?
Praticamente em 1956, para estudar. Levei "bomba" quando estava na 4ª série e meus pais me internaram em Campinas, no Colégio Diocesano, onde passei nove anos. Fiz o ginásio e os três anos do científico. Queria estudar Engenharia ou Administração de Empresa. Mas era muito ruim em matemática, como ainda sou. Então resolvi fazer Direito, até porque tinha influência da minha irmã, a Ceci (Habice), que já era advogada formada desde 1954. Meu cunhado Juca Santana, casado com a minha irmã mais velha, também era juiz e chegou a desembargador. Estava fazendo o colegial em Campinas e emendei com a faculdade. Fiz Direito na PUC. Voltei para Porto Feliz e advoguei lá por cinco anos. Em 1970 ingressei na magistratura e fiquei fora de Porto Feliz o tempo todo.
Direito é uma paixão?
É, tanto que tenho 44 anos em tempo de serviço contado e não me aposentei. Nem penso em parar. Só paro com a compulsória. Gosto da carreira, sempre gostei. Já cheguei a gostar mais, hoje um pouco menos.
Por quê?
O judiciário no Brasil é muito injustiçado. Dizem que é moroso, que é a bola da vez... Ele realmente é moroso, mas não tem a corrupção que você vê no legislativo e no executivo. Nunca se viu o judiciário com corrupção nesse quilate. Tem um ou outro juiz que sai da linha, mas é punido. Temos vários casos de juízes que prevaricaram e foram colocados na rua.
Esses casos, embora sejam poucos, acabam manchando todo o corpo?
Mancham. E o judiciário é muito procurado porque a Constituição Cidadã de 88 propiciou muitos direitos, fez muito bem. Isso provocou uma demanda muito grande do judiciário. A minha filha que é juíza em Itápolis, passou por Cachoeira Paulista e viu um caso interessante e me contou. Achei, para minha geração, surpreendente. Um rapaz trabalhava com um carrinho de lanches na rua. Constava que a prefeitura ia remover a barraca dele de um lugar para outro. Ele entrou com um mandado de segurança preventivo.
Como reverter esse congestionamento de processos?
Temos que simplificar nossa legislação, que é bem obsoleta. Nosso Código Penal é de 1940 e prevê algumas condutas que hoje em dia são risíveis. Por exemplo, seduzir mulher inexperiente menor de 18 anos... Qual mulher de 17 ou 18 anos hoje é inexperiente? O código prevê essa hipótese. Esse crime caiu em desuso, crime de sedução, adultério...
A demora nos processos acabou virando uma ferramenta da defesa?
Ferramenta para ganhar tempo, principalmente por parte do Estado. O Estado é o grande cliente do judiciário. Para se ter uma idéia, minha seção, que é de direito público, tem hoje cerca de 110 mil processos, em todos eles há interesse de uma das fazendas, ou a fazenda estadual ou a fazenda municipal. A fazenda recorre sistematicamente contra tudo. Muitos processos atravancam. Temos desapropriações, multas de trânsito...
E a formação dos novos profissionais da magistratura?
De forma geral é ruim, por causa do nível das faculdades que caiu muito. Hoje, no estado de São Paulo, exagerando, temos sete faculdades de primeira linha; as demais são fracas, e são mais de 100.
E a formação dos advogados?
Reclamam muito. Aqui na minha área, direito público, a advocacia é de primeira ordem. Aqui os advogados são qualificados. Mas a reclamação é muito grande. Meus filhos, que estão em contato mais direto com os advogados reclamam muito da má formação, que mal conseguem colocar no papel o que eles pretendem.