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Porandubas Políticas

Por dentro da política.

Gaudêncio Torquato
quarta-feira, 17 de agosto de 2005

Porandubas nº 17

  A VINGANÇA: PERMANÊNCIA DE LULA Lula sabia. Não sabia tudo, mas da missa conhecia algumas rezas. Trata-se, reconhecidamente, de pessoa inteligente. O próprio Duda, quando o conheceu, dele dizia: Lula é com esponja, absorve tudo rapidamente. Dirceu comandava, de fato, o PT. Delúbio comandada as operações financeiras. Por fora e por dentro, usando, como operador, Marcos Valério. Isso era do conhecimento da cúpula. E a cúpula começa com o comandante, no caso, o próprio presidente. Não interessa, porém, expelir Lula. Quanto mais durar, mais desgaste para o PT. Não tenham dúvida: o maior castigo não seria o impeachment, mas a continuidade de um processo de desgaste, OU SEJA, A PERMANÊNCIA DE LULA NO MANTO PRESIDENCIAL COR DE SANGUE. É a vingança de ver um partido arrogante definhar de maneira lenta e gradual. LULA FORA DO PT Navegando nas ondas do carisma, Lula resiste. A oposição sabe que tirar Lula, nesse momento, seria um golpe no próprio oposicionismo. Haveria, sim, resistência social. Água mole em pedra dura... A regra vale também para o presidente. A cada episódio, mais escândalo, mais lama, mais informações escabrosas. Resta a Lula pular fora do PT. Dentro, será impossível continuar a gritar que nada sabia. Nas entrelinhas, diz que fundou um partido que tinha aliança com Deus. E que distingue um partido que fez pacto com o demônio. Caindo fora, não iria nem para o Céu nem para o Inferno. Passaria uma temporada pagando pecados no Purgatório, em prisão temporária. Essa é a melhor opção. Mais adiante, poderia, humilde, até pedir perdão para os velhos companheiros: "Pai, perdoai-os, eles não sabiam o que faziam". Mas o perdão social não será tão fácil. VISÃO DO AMANHÃ 1 Graças aos Céus e ao Tsunami sobre o PT, as eleições de 2006 serão menos mcdonalizadas, menos dudamendoncistas, ou ainda, menos espetacularizadas e carnavalizadas. As campanhas a la Duda Mendonça são muito bonitas: filmagens cinematográficas, cenas emocionantes, gritos cívicos, corações e mentes embalados por uma arquitetura de intensa mistificação das massas. Todas elas são muito iguais, daí a comparação com o sanduíche da casa americana. O molho é igual aqui ou na China. Mas a galera gosta. A forma suplanta o conteúdo. A versão sobre a verdade encobre a verdade. O discurso político se estraçalha sob o mosaico colorido da engenharia de encantamento das massas. VISÃO DO AMANHÃ 2 Teremos, em 2006, uma campanha mais objetiva. Menos estapafúrdia, menos espalhafatosa, menos enganosa, mais voltada para a essência do discurso. Em resumo: a semente da racionalidade renasce nas terras enlameadas da política. Candidatos assépticos, honestos, com passado limpo e vida decente, estarão na vanguarda do processo eleitoral. A vassoura da ética vai limpar do cenário alguns nomes, não todos. Porque a erva daninha e rasteira da corrupção é como cobra de duas cabeças: mesmo se matando uma, a cobra continua a viver. Pontos de uma reforma eleitoral urgente devem ser aprovados: proibição de showmícios, cenas externas para os programas eleitorais, transparência na captação e no uso dos recursos, e, possivelmente, até uma campanha mais curta.NOMES NO PMDB No PMDB, cresce o nome do governador Germano Rigotto, do Rio Grande do Sul. Boa fluência, passa imagem de sujeito asséptico. Nelson Jobim, o presidente do STF, poderia ser o nome peemedebista, mas cometeu o erro de pender para a banda governista do partido. É visto com desconfiança pela banda oposicionista, comandada pelo deputado Michel Temer, de quem, aliás, é amigo. Mas Temer vai cumprir rigorosamente a decisão da Convenção: candidatura própria à presidência da República, inspirando-se no sentimento das bases. A prévia partidária está marcada para 1o. de março de 2006. Poucos acreditam em Garotinho. É polêmico, a partir do viés populista-evangélico que encarna. José Sarney, ex-presidente da República, não une as duas alas. Fica melhor no figurino de conselheiro da Pátria. Renan Calheiros não emplaca. Perfil cheio de contradições. Requião é um poço de polêmicas. O DISCURSO DE SARNEY José Sarney, no auge da crise, pega o microfone do Senado e faz uma peroração de senador dos tempos romanos. É a liturgia do poder em ação. NOMES NO PSDB O cenário presidencial está à vista. Avoluma-se a onda Serra na sigla tucana. É o único que se apresenta, hoje, em condições de vencer Lula no segundo turno. Atente-se para o HOJE. Campanha política é, sobretudo, um jogo no campo das circunstâncias. FHC é carta fora do baralho. É um presidente que ainda está bem vivo, na alma da política econômica. Traz muita polêmica para o certame. Aécio Neves ainda se afoga nas águas nem sempre calmas da política. Parece arrebatado e sem muito equilíbrio. Geraldo Alckmin seria o segundo nome, depois de José Serra. Equilibrado. Falta-lhe uma idéia de país. É pouco arrojado. E escorregadio. Não demonstra autoridade, força, pulso. E sua visão de comunicação política se esgota no entendimento de que isso é sinônimo de assessoria de imprensa. NOMES NO PFL César Maia, não fosse tão chegado a factóides, seria um bom nome. Sua banda marqueteira come pedaço de sua banda de político e de administrador. Marco Maciel é um figurino de qualidade e competência, mas muito discreto. O melhor nome do PFL é, espantem-se, Guilherme Afif Domingos. Sabe dizer as coisas. Exerce liderança na área de pequenos e médios empresários. Mas está recolhido na Associação Comercial de São Paulo. Seu tiro, hoje, alcança os limites do território paulista. NOMES DO PT Lula, se continuar no partido e se este não tiver o registro suspenso. Difícil, mas não impossível. Palocci, pela idéia de segurança no vetor macroeconômico. O PT está muito resumido. Até nessas linhas. OUTROS NOMES Heloisa Helena, do PSOL (AL), pode ser a mulher guerreira do próximo pleito presidencial. Ou Denise Frossard, do PPS (RJ). As mulheres poderão se constituir em poderoso braço da política nos próximos tempos. Encarnam de maneira mais intensa os valores da probidade/dignidade, da seriedade, do zelo público e da crença nas instituições democráticas. EPÍLOGO I "Um homem se propõe à tarefa de desenhar o mundo. Ao longo dos anos, povoa um espaço com imagens de províncias, de reinos, de montanhas, de baías, de naus, de ilhas, de peixes, de moradas, de instrumentos, de astros, de cavalos e de pessoas. Pouco antes de morrer, descobre que esse paciente labirinto de linhas traça a imagem de seu resto". (Jorge Luis Borges, Buenos Aires, 31 de outubro de 1960) EPÍLOGO II "Um partido político se propõe à tarefa de desenhar um novo Brasil. (Palavras que escolheu para o desenho: Ética, moral, grandeza, progresso, justiça social, distribuição de renda, fome zero, bolsa família, civismo, bons costumes, avanços, fé e esperança.) Pouco antes de morrer, descobre que esse paciente amontoado de palavras traça a imagem de sua grande mentira." (Gaudêncio Torquato, São Paulo, 17 de agosto de 2005) _________________
quarta-feira, 10 de agosto de 2005

Porandubas nº 16

  A DEPRESSÃO Os discursos presidenciais exibem um presidente cheio de amargura. Enquanto se refugiava nas metáforas, Lula ainda conseguia expressar certa racionalidade. Agora, recorre com freqüência à mãe. E chora. Os psicanalistas de plantão começam a associar o verbo presidencial ao desespero, à solidão do poder, à necessidade do aconchego materno. Podemos discordar do presidente. Mas devemos respeitar o fator humano. O GOVERNO ILHADO O que faz o ministério de Lula ? Se faz alguma coisa, a mídia está simplesmente ignorando. Onde estão os programas, as ações, os feitos ? O presidente tem feito inaugurações, é certo. Mas alguém se recorda o que ele inaugurou ? O que fica no nosso sistema de cognição é o choro, é o gesto de limpar os olhos com um lenço, é o bordão repetitivo. O governo está ilhado. Há um novo ministro da Saúde. Um prêmio a quem expressar seu nome. Há um novo ministro das Comunicações. Outro prêmio para quem souber o que está fazendo.RENÚNCIAS SERÃO PUNIDAS Já há um movimento para não deixar a renúncia parlamentar sem punição. Renunciando, o parlamentar não terá direito a se candidatar em 2006. O presidente do Tribunal Superior Eleitoral, ministro Carlos Veloso, vai encontrar um mecanismo proibindo a recandidatura. É bom apostar nisso. VALÉRIO MAIS ABERTO Marcos Valério decidiu ser mais aberto, menos arrogante e mais atento às respostas. A nova atitude não tem nada de heroísmo. É orientação técnica. Já está a meio caminho da culpa. Quer apenas diminuir a pena, reconhecendo erros e ampliando o leque de envolvidos, quase cem pessoas. Valério se auto-designa ex (ex-publicitário, ex-empresário) e serve do recurso da exclusão para ser IN, ou seja, inserido no grupo dos colaboradores da CPI e da Justiça. SEVERINO APERTADO Severino já começara a fazer o jogo do governo. Pensava que o presidente da Câmara estava imune às pressões sociais e do próprio Parlamento. Procurou engavetar ou atrasar o recurso contra José Dirceu. Voltou atrás. A atual sociedade organizada é a maior força do Brasil de todos os tempos. MÍDIA COBRE BEM A mídia brasileira está fazendo uma cobertura admirável. Jornais e revistas estão deixando de lado idiossincrasias e posicionamentos partidários. Todos os que são denunciados ganham espaço. A mídia está fazendo a pauta política. A democracia brasileira deve muito aos meios de comunicação. CONGRESSO CONSTITUINTE Há uma proposta em curso: dar ao Parlamento a ser eleito, em outubro de 2006, poder constituinte, ou seja, o poder para reformar a Constituição. Realmente, parcela das mazelas políticas se deve à Carta Magna detalhista que temos. As reformas política, tributária e previdenciária em profundidade só poderão ser amplamente efetuadas dentro de uma nova Constituição. CIÚMES ENTRE CPIs Já começa a haver uma grande ciumeira entre as CPIs. Cada uma quer ser mais espetacular, mais impactante. Os integrantes, às vezes, dirigem-se mais aos telespectadores que aos depoentes. O Brasil-Espetáulo emerge por completo. A política até parece extensão do sentido lúdico que inspira nossa sociedade. Nesse sentido, é catarse, é riso, é choro, é lamento, é graça. Vejam que coisa: "Vossa Excelência é um canalha. Vossa Excelência é um mentiroso. Vossa Excelência conhece Jeane, a cafetina?".ATÉ ONDE CHEGAMOS A política é festa. Dois andares de um hotel de Brasília foram alugados para uma alegre festa. Parlamentares, quadros petistas e assessores na companhia de 23 prostitutas. E o PT, hein? Quem diria que a vestal da República iria aparecer brilhando nos palcos de um bacanal? PIZZA MEIO A MEIO Há um movimento entre os grandes partidos para se chegar a um número palatável de parlamentares condenados ao cadafalso. Entre um e cinco, em cada partido, é coisa razoável. Mais do que isso, a negociação pode abrir espaço para a morte súbita de muitos. O PSDB e o PFL têm interesse no jogo. O PMDB tem cinco nomes na relação. Os nomes do PT, PL, PP e PTB já foram divulgados. O CORDÃO DA PORTUGAL TELECOM Há quem aposte que o fio de novelo da Portugal Telecom será puxado. E aí, a coisa pega. Pega, não, bate. Bate no colo do presidente.OS CARTÕES CORPORATIVOS Os cartões corporativos poderão abrir nova frente de denúncias. A revelação desse ninho está sendo adiada. Por questões táticas. Há muita coisa sendo apurada. Não é interessante, nesse momento, desviar a atenção de situações que apenas começam a ser apuradas. Que os cartões corporativos são uma bomba, ninguém duvida.TARSO VAI FICAR? Tarso Genro não está muito firme na presidência do PT. Caso o trator Dirceu continue a passar por cima do novo comando partidário, Genro largará o boné. A conferir. E CIRO GOMES, O QUE QUER? Ciro Gomes não é mais o mesmo. Tinha credibilidade. Perdeu. Tinha discurso. Esfarelou-se. Ciro defende o governo Lula. Mais que os atacantes do PT. Está no PSB. Para onde irá Ciro Gomes? Está satisfeito com o governo Lula? Parece que sim. Está satisfeito com a política econômica? Parece que sim. Ciro é uma metralhadora velha. Enferrujada. É pena. Esqueceu de renovar cartuchos e limpar a arma. _______________
quarta-feira, 3 de agosto de 2005

Porandubas nº 15

    LIMPEZA DE ÁREA NA COMISSÃO DE MINAS E ENERGIA   Semana passada, entre quarta e quinta feira, sumiu um computador (com CPU e outros equipamentos) da Comissão de Minas e Energia da Câmara dos Deputados. Dizem que por esta Comissão passaram alguns membros "alvejados" pelas denúncias sobre mensalão, a partir do atual líder do PP, José Janene, que já a presidiu. Passou também por ela o deputado João Pizolatti, do PP. A Comissão é presidida, hoje, pelo deputado carioca Júlio Lopes, também do PP. Por que sumiu a CPU, quem teve interesse nisso? É a pergunta que se faz nos bastidores da Câmara. A Coluna notícia o sumiço em primeira mão.   SÓ MESMO O SEVERINO   Valdemar Costa Neto dá adeus ao mandato de deputado e à presidência do PL. Mas ninguém se iluda. Daqui a pouco, estará voltando à Câmara dos Deputados, beneficiado pelo artifício de uma renúncia que, em vez de ser considerada reconhecimento público de culpa, se transformará verdadeiramente em prêmio. Poderá se candidatar em 2006 e, como deputado de uma região que lhe dá votos às pencas (Mogi das Cruzes), voltará glorioso ao convívio parlamentar. Só não era esperado que fosse aplaudido em cena aberta por ....logo quem..... Severino Cavalcanti, presidente da Câmara dos Deputados, que não apenas elogiou a coragem valdemarina como garantiu que o povo a ele não faltará. Em suma, o culpado sai como herói. E a culpa merece as homenagens do terceiro homem público na escada de sucessão presidencial, Severino. Já imaginaram se Lula e José de Alencar, por algum motivo, estivessem fora do circuito presidencial? O Brasil não merece passar por tanta vergonha.   O CAMPO MAJORITÁRIO FERIDO   José Genoino, José Dirceu, João Paulo, prof. Luizinho e os capachos Delúbio, Silvio Pereira, Marcelo Sereno e mais alguns se retiram da cena principal do PT. Integravam o campo majoritário. Tarso Genro é o candidato desta ala à presidência do partido. De longe, é o melhor quadro do PT. Intelectual, preparado, modesto, sem arroubos de arrogância. Tem seus pecadilhos, entre eles o de ter feito campanha, no passado, pela renúncia de FHC. Só pelo fato de reconhecer que o PT tem culpa em cartório, já merece o respeito. E não nega que o campo majoritário está profundamente ferido. Pode não suportar as querelas e disputas internas e se retirar da liça. Até porque, como qualquer estrategista, tem fôlego de gato, mas não tem vocação de suicida.   MARTA SONHA ÀS ESCONDIDAS   Marta Suplicy joga às escondidas. A crise do PT derrubará muita gente. Marta, porém, até se beneficia. Se passar no teste das contas da Prefeitura, em São Paulo, poderá se habilitar novamente à Prefeitura. Deixará a disputa ao governo do Estado para Aloizio Mercadante, pois prospecta o violento tiroteio que se prepara contra o PT, na campanha paulista do próximo ano. Resguarda-se. Se José Serra sair para uma eleição presidencial, será uma forte candidata ao cargo de prefeita. Caso Serra continue, estará se preparando para enfrentá-lo mais adiante. Claro, se a imagem do tucano estiver corroída. Marta pode, ainda, disputar um mandato de deputada federal. É a opção mais tranqüila.   BORBA QUEIMADO   O PMDB assiste na moita a escalada da crise. As duas bandas do partido não querem participar da fogueira. O ex-líder do PMDB, o deputado José Borba, até o momento, é o único integrante da sigla com possibilidade de ser cassado. As duas bandas já se convenceram que Borba não tem salvação. Se não renunciar, ficará próximo da cassação.   MEIA PIZZA   Uma pizza gigante apresenta cerca de 50 a 60 fatias. Uma pizza média, entre 15 a 20 fatias. E uma pizza pequena abriga entre 8 a 10 fatias. Pois bem. O fogo está quente, mas a massa que está sendo preparada está mais para uma pizza média do que para uma pizza gigante. Se a combinação for para se repartir uma pizza pequena, a sociedade reagirá com uma baciada de ovos nas caras dos pizzaiolos. O forno das CPIs está esquentando a massa.   DIRCEU VAI ATÉ O FIM   Dirceu é um guerrilheiro. Sabe usar todo tipo de arma. E sabe também atirar no escuro. É o que começou a fazer no Conselho de Ética. Renúncia não é com ele. Se cair, baterá em muitos. E não se pense que vai deixar Lula na fogueira. Tem identidade afinada com a hierarquia. Mas, pelo andar da carruagem, deverá, ao final, ser queimado na fogueira. Aventou a possibilidade de ser cassado, ao dizer que prefere isso a renunciar. Mais ainda: adiantou a tese da defesa, ao dizer que os episódios ocorreram durante o período em que era ministro. Não era deputado. Assim, irá exigir respeito às leis. É uma estratégia.   CONTRADITÓRIO   O ex-chefe da Casa Civil rateou em alguns momentos. Ora, dizia que, como ministro, afastado do PT, não sabia dos empréstimos tomados para o partido. Ora, recitava com pleno domínio os recursos do partido, inclusive os seus débitos. Ora, dizia que, como ministro, não era o responsável pela costura política entre partidos. Assim, não foi o personagem central da articulação entre PT e PTB. Não acompanhou essa articulação, que implicava a entrega de R$ 20 milhões ao PTB pelo PT. Mas todas as indicações de partidos passavam pela Casa Civil. Ou seja, não fazia acordos, mas era a pessoa por quem passavam os acordos. Argumento frágil, quando se sabe que a missão precípua de Dirceu, em certo momento, era fazer articulação política, na esteira da qual saíam os cargos exigidos pelos partidos.   __________
quarta-feira, 27 de julho de 2005

Porandubas nº 14

  DIRCEU APARECEU O ex-poderoso ministro José Dirceu, da Casa Civil, acaba de ressuscitar, depois de dar sinais de vida por meio de notas à imprensa. Dona Renilda, mulher e sócia do publicitário Marcos Valério, disse à CPI dos Correios que Dirceu sabia de tudo e chegou mesmo a fazer reuniões com os bancos MBG e Rural para tratar da amortização dos empréstimos. Dirceu vivia repetindo: não faço nada que não seja do conhecimento do presidente Lula. Bom, a ser verdade a afirmação, Lula só poderia também saber. Alguém poderá objetar: Lula não tinha conhecimento do que se passava no PT. E Dirceu tinha? Já havia se afastado do partido. Era ministro. Mas mantinha relações estreitas com a cúpula. Diziam que, como ministro, continuava a dar as rédeas do partido. CLÍMAX E MORTE SÚBITA Tudo será esclarecido durante o mais que aguardado depoimento de Dirceu na CPI. Vai ter de confirmar que sabia ou negar tudo. E ai terá de, mais adiante, enfrentar o duelo com Roberto Jeferson, na mais espetacular sessão dos depoimentos. A rodada terá clima de final estonteante. O clímax atingirá um grau de contundência que já permite divisar a morte súbita de um ou dos dois contendores. O desfecho, porém, ainda é imprevisível. Jefferson poderá atirar um torpedo em direção ao presidente Lula. E ai será um "salve-se quem puder". LULA E A LUTA DE CLASSES Ao ir de encontro às velhas bases operárias, em eventos consecutivos, o presidente Lula comete ato falho. Demonstra a necessidade de procurar refúgio em um território que lhe é fiel. Mas exibe também a insegurança dos desesperados. No fundo, ele pretende avisar que, em caso de embate com as tais "elites", que tanto acusa, usará a pólvora acumulada nas bases da pirâmide social. Mas, ao fazer isso, Lula demonstra que age como um homem perdido na escuridão. Afinal de contas, ele mesmo, presidente, é quem está no topo da pirâmide política. Os banqueiros, que se fartam dos juros altos, estão no topo da pirâmide econômica. Quem lhe dá sustentação não é o operariado do ABC, mas o empresariado. Além da classe política, da qual uma parcela está sendo acusada de receber mensalão. A luta de classes, nessa moldura, está se dando entre categorias da elite.Com Lula fazendo o papel de elitista número um no centro da arena de combate. ANTECIPAR ELEIÇÕES É CASUISMO As instituições políticas e sociais estão funcionando normalmente. As investigações se desenvolvem em diversas esferas: Parlamento, Poderes Judiciário e Executivo (PF) e Ministério Público. A liberdade de expressão é total. Os meios de comunicação acompanham, atentos, a dinâmica da crise política. Se tudo caminha nos conformes normativos, por que razão se fala em antecipar eleições? Eleições em janeiro significam uma alternativa casuística, uma espécie de pizza para agasalhar paladares famintos, tanto de acusados quanto de acusadores. Seria uma saída nada honrosa para o sistema político. Um golpe, porque usurparia o poder conferido pelo povo aos representantes. Poder que tem um tempo para começar e uma data para terminar. PF SEM CORES Semana passada, registrei informação, dada por fonte categorizada, sobre as duas bandas da Polícia Federal, uma tucana, outra petista. Pois bem, o advogado Reginaldo Araújo, do alto de sua competência técnica e operacional, como delegado aposentado da PF, garante, de forma categórica, que essa divisão inexiste, na medida em que a Policia Federal "sempre foi e será apolítica, não se envolvendo, portanto, com cores partidárias, razão pela qual sempre gozou de credibilidade e confiança dos brasileiros, inclusive dos diversos partidos políticos". E arremata com um argumento muito forte: a ser verdade a existência das duas alas, "nós, policiais federais, não estaríamos amargando 8 anos sem aumento de salário, apesar de paralisações (greves) e reiteradas reivindicações". Registro feito. IMAGEM EM DECLÍNIO A última pesquisa Datafolha mostra que a crise política começa a borrar a imagem do governo Lula, com os primeiros respingos na figura presidencial. Não existe mistério nenhum na teoria dos círculos concêntricos. Jogando-se uma pedra no meio da lagoa, as marolas formadas chegarão às margens. Quanto maior o lago, maior a demora. Pois bem, as classes médias, que funcionam como a pedra no meio da lagoa, farão chegar aos fundões o seu pensamento, ai embutidas muita indignação, expectativas e angústias. É uma questão de tempo. O que elas pensam, hoje, sobre Lula e seu governo baterão no sistema cognitivo das classes C, D e E.Trata-se de balela dizer que alguém é imbatível ou é semelhante à panela anti-aderente: nela, a fritura não gruda. Besteira. Lula não é um Cristo (apesar de usar barba), está longe de ser Buda (apesar da aparência com a imagem), Ghandi, Maomé ou João Paulo II. E essa história de que é ícone das classes mais carentes faz lembrar a versão que mostrava Collor de Melo como São Jorge contra o dragão da maldade, o protetor dos descamisados. Ou seja, são histórias que não resistem a uma análise mais aguda.A RENÚNCIA DOS DEPUTADOS "MENSALADOS" A tal lista contendo o nome de 120 pessoas que teriam retirado quantias em bancos, indicadas por Marcos Valério, promete ser o ponto de chegada do processo investigativo. Ou seja, a lista pode comprovar a existência de mensalão. Para os indicados, caso sejam parlamentares, a resposta de que se trata de contribuição dada por empresa X ou Y para as campanhas, por intermédio das agências de Marcos Valério, soará como falsa. O próprio Valério se encarregará de fazer o desmentido. O caminho mais lógico, de acordo com a legislação e os códigos de conduta parlamentar, é a renúncia ao mandato. Por isso, pode-se aguardar renúncias, antes que haja alguma acusação junto ao Conselho de Ética da Câmara. Os parlamentares "mensalados", ao renunciarem, poderiam até vir a participar do pleito eleitoral de outubro de 2.006, como se nada houvesse acontecido. O Brasil é assim: a pessoa renuncia, confirmando a culpa, passa uma pequena temporada no limbo político, e ressuscita no céu, ao ser eleito novamente. Não passa pelo inferno.PFL E PSDB NA RODA A essa altura, não se pode dizer que os dois principais partidos de oposição - PSDB e PFL - sairão imunes do processo investigativo. Há parlamentares dos dois partidos envolvidos no esquemão de Marcos Valério. Vai ser difícil cortar a carne de outros, sem cortar a própria carne. A assepsia geral só será alcançada caso as facas sejam amoladas para cortar corpos putrefatos de todas as siglas. E SE O PT NÃO PAGAR? O PT já está nocauteado. Mas poderá ir direto para a sala mais perto do velório, caso Marcos Valério não consiga receber o dinheiro dos empréstimos que repassou ao ex-partido da ética e da dignidade. Valério, mais desesperado do que está, será um homem-bomba. E poderá se jogar no colo do próprio Lula.______________
quarta-feira, 20 de julho de 2005

Porandubas nº 13

DUAS ALAS NA PF Nos bastidores, as versões e interpretações rolam. Por exemplo, há uma versão de que a Polícia Federal está dividida em duas bandas: uma, petista, e outra, tucana. Lembre-se que o deputado José Dirceu, tempos atrás, já dissera - segundo noticiário - de que a PF era tucana. O que agora se diz é que a banda tucana faz investigação de maneira discreta e que a banda petista, ao contrário, escolheu o palanque pirotécnico. Expressam as correntes de situação e oposição, enfim, o modo de pensar e agir do sistema político. O confronto entre as duas alas poderá acirrar o debate na sociedade e sensibilizar, ainda mais, o espectro político. Infelizmente, o Estado-Espetáculo tem dessas coisas: O QUÊ, a substância, acaba sendo canibalizado pelo COMO, a forma. LULA NO MEIO DO TIROTEIO Infeliz, muito infeliz, a entrevista dada pelo presidente Lula a uma moça bonita, que trabalha como produtora de TV na França. Perguntas pré-fabricadas para respostas pré-planejadas. Ao dizer que o PT fez o que é feito no Brasil sistematicamente - ficando implícito o uso de dinheiro do caixa 2 - o presidente se jogou no meio da crise, da qual olimpicamente estava fora. Deu a conhecer que sabia dos métodos praticados. Reconheceu que o PT era igual aos outros. Ao saber do caixa 2 do PT, o presidente abre espaço para consolidar a versão de que também sabia do mensalão. Anexando-se a entrevista presidencial aos depoimentos de Marcos Valério e Delúbio Soares, extrai-se um posicionamento único, cujo leit-motiv é a transferência de um eventual crime para a esfera eleitoral. Ai, os desdobramentos e impactos seriam mais leves. A CRISE PAIRA SOBRE A ECONOMIA Começa a ficar mais forte a ameaça de impactos da crise política sobre a economia. A mídia internacional amplia os espaços para a crise brasileira, começando a abrir um discurso sobre o despenhadeiro que espera Lula e seu governo. A situação política nos Estados Unidos não é um mar de rosas. Bush inicia uma trajetória de descida. A Europa está muito preocupada e com atenção voltada para sua segurança. O discurso lulista de combate à fome no mundo aparece como um grito isolado no ar. O Brasil está perdendo a batalha pelo assento permanente no Conselho de Segurança na ONU. Analistas chegam a prever refluxo de setores da economia no segundo semestre. O trilhão de dólares que migra sobre os continentes, baixando e subindo, ao calor das nuvens políticas e tsunamis sociais, parece estar receoso de permanecer sobre os céus brasileiros. E o ministro Antônio Palocci entrará em seu longo inferno astral. O FUNIL DAS INVESTIGAÇÕES A torrente de depoimentos, perguntas e versões que jorra das fontes investigativas nas CPIs projeta a imagem de um funil. Quando se joga muita água em um funil, boa parte dela escapa e se perde. É isso que ocorrerá fatalmente com as CPIs. Os parlamentares, mesmo os mais atentos e interessados, não dispõem de muito tempo e até condições físicas para consumir e avaliar a montanha de documentos, provas e contra-provas que se acumulam nas gavetas. Ora, essa dificuldade acabará prejudicando o bom andamento dos trabalhos, não permitindo fazer os cruzamentos necessários e chegar a conclusões fechadas. Muita coisa ficará em aberto, no aguardo de mais investigações. O que fazer? Formar grupos de análise da documentação. Mas esse grupo não ganharia tanto os holofotes da mídia. Por isso, as coisas continuarão muito confusas nos palanques investigativos. O PODER É UMA GANGORRA A ser verdade que a esposa do deputado João Paulo Cunha teria ido ao Banco Rural retirar, a mando de Marcos Valério, R$ 50 mil - versão que ganha força com a notícia de que Cunha teria retirado o documento enviado à CPI dos Correios, onde conta outra história - a conclusão é a de que a política brasileira tem sido uma gangorra das mais ágeis. De um dia para outro, a força muda de lado. João Paulo Cunha era, até pouco tempo atrás, o todo-poderoso presidente da Câmara dos Deputados, e quase candidato à reeleição. Hoje, afunda no poço das denúncias e, meio escondido, parece um dândi na escuridão. QUEM PAGARÁ O PATO? Se a conta for de R$ 90 milhões( ou de R$ 166 milhões, de acordo com outros cálculos), o buraco é suficiente para afundar um partido. Dizem que passa disso. É a conta que o PT tem de pagar, no final de todos os atos do espetáculo. O dinheiro seria do Marcos Valério, que o tomou emprestado aos bancos, para repassar ao PT. Os R$ quase 40 milhões teriam dobrado, com os juros, mas Valério sempre soube que essa conta daria em zero, ao final, porque o dinheiro da propaganda superfaturada acabaria liquidando os débitos. E, agora, Josés (Dirceu, Genoino e companhia)? O que fazer para arrumar a dinheirama? Silvio Pereira, o ex-secretário, acaba de dizer que confia nas bases para resgatar os recursos em forma de dízimos. Deus do Céu, perdoai os ingênuos. Ou reservai a eles um cantinho no Purgatório. Que base é essa que tirará do bolso um dinheiro honesto (presume-se) para pagar contas desonestas? Será que Pereira está de olhos vendados? As bases do PT estão esfumaçando. IMAGEM COMEÇARÁ A DESCER A LADEIRA O presidente Lula deve se conter e não comemorar resultados de pesquisa que mostram sua condição de perfil imune aos abalos. Não há dúvida. A imagem presidencial começará a cair. Ninguém agüenta o tranco de tantas denúncias. Dizer que o presidente não se mistura ao PT é garantir que ele nunca foi metalúrgico. Lula e PT são como irmãos siameses. Um é outro e outro é um. Ele mesmo acaba de fazer contundente peroração em torno do seu partido. Pois bem: as versões que saem das correntes médias da sociedade começam a chegar nos fundões sociais. Piadas e desenhos sobre o presidente e o PT invadem as telas da Internet. Nunca o riso correu tão fácil por conta do humor e da visão satírica dos criadores internauticos. Essa zoada no meio vai gerar ainda muito barulho nas pontas. A conferir. SENTINDO O GOLPE "Quando vemos que um golpe está prestes a ser desferido sobre a perna ou o braço de outra pessoa naturalmente encolhemos e retiramos nossa própria perna ou braço; e, quando o golpe finalmente é desferido, de algum modo o sentimos e somos por ele tão atingidos quanto quem de fato o sofreu". Essa é uma pequena lição de Adam Smith, em Teoria dos Sentimentos Morais, servindo para explicar como o presidente Lula e seus mais próximos estão sentindo os golpes que esfrangalham o PT.______________
quarta-feira, 13 de julho de 2005

Porandubas nº 12

CENÁRIOS O cenário político, a partir da Delegacia de Polícia em que se transformou o Congresso Nacional, começa a abrir os seguintes cenários: 1. a imagem de Lula não permanecerá incólume até o final, ficando sujeito às intempéries, propiciando reais condições de vitória a um candidato de oposição; 2. Lula continuará blindado até as margens eleitorais, indo para o segundo turno com um candidato de oposição, mas ganhando com pequena margem; 3. Lula perderá pontos, mas terá forças suficientes para ganhar porque as oposições, no segundo turno, estarão rachadas; 4. Lula não será candidato à reeleição, cedendo lugar ao ministro Palocci. Nesse momento, o cenário 2 parece o mais provável;e o cenário 4, o mais improvável. PALOCCI CANDIDATO O ministro Antônio Palocci só seria candidato no cenário de queda de imagem de Lula em proporções alarmantes. Nesse caso, o PT caminharia fatalmente rachado para as eleições, na medida em que a política econômica de Palocci constitui, hoje, o principal divisor de águas entre grupos petistas. A cartilha econômica do ministro não lhe daria a vitória. Seria um candidato praticamente isolado, com o apoio de parcelas do sistema produtivo. Não de todo o sistema produtivo. PARTIDOS E MALAS O PT, abalado com o dinheiro encontrado numa sacola e na cueca de um assessor do líder do PT, na Assembléia do Ceará, irmão do ex-presidente petista José Genoino, ao sentir que as ondas críticas estavam ameaçando de maneira irrecuperável sua imagem, vê nas sete malas do deputado João Batista, bispo da Igreja Universal e do PFL de São Paulo, flagrado com R$ 10 milhões, uma tábua de salvação. Há quem aposte que vai expressar o discurso de que, mala por mala, a do PT ainda é a menor. Mais ainda: tentará alargar a rede de implicados. Quanto mais nomes envolvidos com as denúncias, melhor será para o PT. A estratégia é a de construir uma parede de mosaicos iguais. Quem vai notar a diferença entre um tijolo e outro? PFL ÁGIL O PFL agiu rápido e afastou de suas hostes o deputado João Batista. É difícil, porém, apagar por completo a mancha na imagem. O deputado era pefelista e essa ligação será repetida incessantemente. O flagrante certamente irá para os programas eleitorais de 2006. César Maia, se for candidato, vai ter de explicar que o dinheiro era da Igreja Universal. Mas a explicação já entra no sistema cognitivo do eleitor como ruído. DINHEIRAMA EM ALTOS REAIS O dízimo não paga imposto desde 1889, quando se instalou a República e o Estado separou-se da Igreja. Portanto, sem tributação, o dinheiro dos fiéis, por ocasião dos cultos, acaba sendo jogado em sacos e sacolas, seguindo, depois, para os cofres das Igrejas. Até ai tudo bem. Mas o lugar de depósito deveria ser o cofre dos bancos. Dinheirama em espécie, levada em sacos, precisa ser declarada. E comprovada. Uma pergunta que fica no ar: como se transformou uma montanha de pequenas contribuições - R$ 1, R$ 5, R$ 10 - em notas de R$ 50 e R$ 100? Nas sete malas da Igreja Universal, havia dinheiro pequeno. Mas, e o dinheiro grande? Qual foi a alquimia responsável pela transformação? UMA QUESTÃO FILOSÓFICA Quando um fiel tira do bolso o dízimo, oferece sua contribuição amparado na força da fé. Qual a rota do dízimo? Resposta conveniente: pagamento de despesas das igrejas, pagamento de salários dos colaboradores, aquisição de bens materiais e construção de mais igrejas etc. Ou seja, o dízimo é uma espécie de semente de perpetuação da fé dos crentes.Tudo dentro da lógica religiosa. E quando o dízimo é desviado para aquisição de coisas que extrapolam a fé? Quando as pirâmides de dízimos são usadas para aquisição de estruturas comerciais, que passam a negociar, por exemplo, interesses empresariais por intermédio de publicidade? Como podemos cognominar esse fenômeno? Outra questão: ao ingressar nessa transição, o Estado também contribui para o enriquecimento de grupos? Pistas: dinheiro do povo serve para adquirir sistemas de comunicação; as concessões para exploração de sistemas de comunicação são dadas pelo Estado. Logo, o Estado, com a ajuda do povo, e do povo mais humilde, acaba favorecendo grupos de comunicação de identidade religiosa. Que podem tranqüilamente semear searas privadas e burilar os negócios. Algum advogado aceita o desafio de destrinchar tais questões? MINISTÉRIO SEM MISTÉRIO O novo Ministério de Lula não apresentou nenhum mistério. Previsível e com feição mais técnica. Os ministros do PMDB entraram na troca de seis por meia dúzia. O partido ganhou três ministérios, e luta por um quarto. Ocorre que essa composição não gerará resultados eficazes. Vejamos: um ministro, Silas Rondeau, técnico, foi indicado pelo senador José Sarney. Não se tratou, portanto, de indicação institucional do partido. Outro ministro, o senador Hélio Costa, foi indicação da bancada do Senado, sob o patrocínio de Renan Calheiros. Institucionalmente, o partido não foi ouvido. O terceiro ministro, Saraiva Felipe, teria sido indicado pela bancada da Câmara? Não. Indicação de Renan Calheiros e José Sarney, que pensaram em desconstruir a banda oposicionista do partido. Lembrando: Saraiva era secretário geral do PMDB e disputava com José Borba a liderança, sob os auspícios da banda oposicionista onde estão o presidente Michel Temer, os 7 governadores e o ex-governador Garotinho, este mesmo um grande entusiasta da candidatura do deputado mineiro. Pois bem: ao aceitar o Ministério, Saraiva Felipe traiu o grupo da oposição. E os deputados da situação não contêm a indignação: "esse cara era da oposição, lutou contra nós, e agora é ministro? " Em resumo: dentro do PMDB, a impressão é a de que a emenda da reforma saiu pior que o soneto.HELIO DE COSTAS O ministro Helio Costa começou o seu mister dando as costas às operadoras de telefonia fixa. Pelo tom inicial, disse que iria lutar para acabar com o valor da assinatura. Ataca os valores cobrados pelas empresas. Depois, pareceu recuar, dizendo que não propôs acabar com a assinatura básica. Mas deixou em aberto a questão, quando expressou a condicional.... "não quero dar a impressão de que vamos acabar com essa taxa da noite para o dia". Quer debater o tema. No fundo, o ministro está pretendendo reverter uma situação combinada por ocasião da privatização do setor. A assinatura básica tem sua lógica na base tecnológica e de qualidade, fincada sobre o eixo da universalização de serviços, e seu desmonte representará um rude golpe nas operadoras. Uma medida com esse alcance terá fatalmente impacto sobre os negócios internacionais no Brasil, abrigando, ainda, grandes interrogações sobre os marcos regulatórios. OUTRO COSTA NA DESPEDIDA O petista Humberto Costa, ao se despedir do Ministério da Saúde, falou alto: "saio de cabeça erguida e mãos limpas". O sucessor, Saraiva Felipe (PMDB), depois de ouvir o discurso, suspendeu 80 portarias, que poderiam gerar um gasto de R$ 1 bilhão ao ano. Coisa suficiente para atormentar o ex-ministro Costa e produzir outra sugestão de despedida: "saio de cabeça quente e mãos sujas".______________
quarta-feira, 6 de julho de 2005

Porandubas nº 11

A FOGUEIRA A fogueira começa a ganhar um excesso de lenha. O acervo de investigações nos diversos espaços da Câmara Federal aumenta a intensidade do fogo. Perfis são iluminados e outros são esmaecidos por conta do excesso de fumaça. A palavra de Jefferson continua sendo a mais forte. O PT está no fundo do poço. A cúpula dirigente do partido foi atingida com tiros de canhão. Seriamente envolvidos nas denúncias: José Janene (PP), Valdemar Costa Neto (PL), Pedro Henri e Pedro Correa (PP), José Borba (PMDB), José Dirceu (PT), Bispo Rodrigues (PL), e ele, mesmo, Roberto Jefferson (PTB). O tesoureiro Delúbio, que se afasta do cargo, dificilmente escapará de alguma punição. Silvio Pereira, secretário do PT, também afastado, vai ter de explicar muita coisa. O presidente José Genoino dá mostras de "ingenuidade". O pivô de muitas histórias, Marcos Valério, empresário de publicidade, para salvar a mão, vai ter que cortar alguns dedos. Quando as falas de membros da Diretoria de um partido começam a se atropelar, é porque chegou a hora do "cada um por si e Deus por todos". O PT nunca mais será o mesmo. O PT JOGA ERRADO O PT joga errado - e põe erro nisso - ao tentar desqualificar os depoimentos no âmbito da CPI dos Correios e do Conselho de Ética da Câmara. É visível a segurança dos depoentes e também é visível a tentativa dos petistas de flagrar contradições, entrando em detalhes que não tiram o peso das informações e observações feitas. O público que assiste aos depoimentos é formado basicamente por cidadãos de classe média e núcleos de formação de opinião. Ora, o olhar desses contingentes é mais racional, observador, apurado e crítico. Para estes, fica patente a vitória dos depoentes sobre a tática petista de desqualificação dos nomes que se sucedem no pinga-pinga das investigações. Em resumo: a defesa do PT é frágil. O ataque é forte. Delcídio Amaral, senador do PT e presidente da CPI dos Correios, e Osmar Serraglio, deputado do PMDB e relator, começam a navegar nas ondas de pressão da opinião pública e a desfazer a impressão de que ali estão para fazer a vontade do Governo e do PT. JOSÉ BORBA Uma pergunta que sempre ficou sem resposta na cabeça dos deputados peemedebistas que não rezam na cartilha do governo: por que o deputado José Borba, líder do partido na Câmara, dono de precários recursos de pensamento, expressão e linguagem, tem conseguido se sustentar na liderança do PMDB, enfrentando embates internos e revertendo situações negativas que, nos últimos tempos, quase o derrubaram? A informação da secretária de Marcos Valério, de que ele, Borba, também mantinha estreitos contatos com o empresário, começa a abrir a cabeça de alguns parlamentares. PMDB GANHANDO MAIS ESPAÇO Aprofundar o espaço do PMDB no governo é mais um erro que Renan Calheiros, presidente do Senado, José Sarney, ex-presidente da República, e Ney Suassuna, líder do partido no Senado, cometem. E a razão é simples: há uma decisão partidária que pede o afastamento dos filiados do partido de espaços da administração. O mérito ainda não foi votado, poderão alegar os três senadores. Ocorre que o PMDB quer ter candidato próprio à presidência da República. E essa decisão parece, a cada dia, mais irrevogável. Nesse caso, como ficarão os governistas ante a situação de uma candidatura peemedebista à presidência da República? Sairão meses antes da campanha? Lula quer que os novos ministros permaneçam até o final do governo. E, no apagar das luzes, esses ministros terão cara e coragem para combater o governo que os acolheu? Serão dissidentes? Como serão vistos, caso se aliem à Lula em sua campanha de reeleição? Com a palavra, Renan, Sarney e Ney Suassuna, padrinhos do casamento entre PMDB e PT. MARTA NÃO QUER Marta Suplicy é a primeira vice do PT. Se José Genoino se afastar - para se defender - o cargo de presidente será dela. Marta não quer por duas grandes razões: 1. é pré-candidata ao governo de São Paulo e teme receber impactos negativos da crise que continuará acirrada; 2. Roberto Jefferson foi o relator de seu projeto de união civil de pessoas do mesmo sexo. Ou seja, Jefferson considera-se amigo de Marta, diz que a preservou, por ocasião de sua campanha à prefeitura de São Paulo. E Marta não gostaria de estar na pele de presidente de um Partido violentamente acusado por Jefferson, seu amigo. Um imbróglio. CHUMBO GROSSO: DIRCEU versus JEFFERSON O clímax da CPI dos Correios será a acareação entre os deputados Roberto Jefferson e José Dirceu. Primeiro tempo: Jefferson resgata as histórias de encontros, reuniões, com circunstâncias e detalhes. Dirceu confirma algumas das histórias, mas conclui: "prove que fui indecente, cometi delito, pratiquei crime?" Segundo tempo: Jefferson utiliza um ou outro documento, dando conta de um outro acordo feito com Dirceu, particularmente no campo de escolhas de nomes, nomeação para cargos etc. Dirceu, assentado em base técnico-jurídica, indaga sobre a natureza do crime? Terceiro tempo: Dirceu parte para o ataque, insinuando desvios éticos e morais de Jefferson. O deputado sente-se atingido na honra e parte para o maior ataque verbal de sua peroração. Momento do apito final: placar sem previsão de resultados, mas a impressão, nesse momento, é de que o deputado carioca ganhará de goleada do deputado paulista. SEVERINO ESTÁ CALADO Se Severino Cavalcanti, o falante presidente da Câmara Federal, está calado, é porque isso é mais que conveniente nesse momento. Em circo pegando fogo, o melhor é sair correndo. Mas Severino não é homem de correr. O que ele quer mesmo é comer pelas bordas. Por isso, em silêncio, articula um pedaço do espólio do governo Lula para seu PP. Enquanto as chamas da fogueira não queimam seus companheiros pepistas Pedro Correa e Pedro Henry. O BINGO VEM AÍ A CPI dos Bingos vem aí. Para ajudar na fogueira que já queima parte das vestes de José Dirceu. Waldomiro Diniz será ressuscitado. O relator, senador Garibaldi Alves (PMDB), promete ir fundo. Já pediu toda a documentação reunida na CPI formada pela Assembléia do Rio de Janeiro. CELSO DANIEL Se o cadáver de Celso Daniel, ex-prefeito de Santo André, vítima de um assassinato até hoje não de todo esclarecido, for exumado por uma dessas CPIs em andamento, o que ocorrerá com o PT, líderes e adjacências ficará na esfera do SDS - Só Deus Sabe. O desenrolar dos acontecimentos vai depender, e muito, da disposição dos parentes do ex-prefeito. Se decidirem a reabrir a boca, será-um-deus-nos-acuda. CHEGARÁ NO COLO DE LULA? Pergunta recorrente: as bombas que começam a explodir por todos os lados chegarão no colo de Lula? Pistas: o PSDB não quer que isso ocorra; pretende disputar a eleição com um Lula sangrando; o PFL topa tudo pelo poder, mas deverá ser contido; nenhum partido da base governista desejará ver destroços no colo do presidente, pela óbvia razão de que seriam todos atingidos. O PMDB tem duas bandas: a governista até quer apoiar Lula e a oposicionista raciocina como os tucanos: é melhor um Lula fraco do que um Lula destruído. DELFIM COM FORÇA Delfim Neto é um homem que sabe ler o momento. Exibe triunfalmente a tese do déficit nominal zero em quatro ou cinco anos, com o objetivo de reduzir fortemente a relação dívida/PIB, ressurge como o idealizador da grande novidade no campo da economia, ganha aplausos de todos os lados, menos de setores da esquerda radical. E se dá ao luxo de recusar Ministérios. A força do pensamento quebra muitas resistências. _____________
quarta-feira, 29 de junho de 2005

Porandubas nº 10

PMDB, SEMPRE DIVIDIDO Que o PMDB é uma conglomeração de partidos regionais, disso ninguém duvida. Nos últimos tempos, o presidente do partido, Michel Temer, estava conseguindo chegar a um ponto de equilíbrio entre as duas bandas, a governista e a oposicionista. De repente, tudo parece voltar ao ponto zero. O convite de Lula para o partido aumentar o espaço no governo acirrou a divisão. A questão é : o que está por trás disso ? Os interesses em jogo de cada lado. OS FATOS 1 Vamos aos fatos: 1. os senadores terão menos a perder que os deputados, porque a eleição do próximo ano contemplará apenas a eleição de um senador por Estado; 2. Renan Calheiros, presidente do Senado, exerce o domínio da bancada, exatamente porque abre espaços para muitos senadores na administração federal; 3. Renan convidou os senadores para uma reunião em seu gabinete, oportunidade em que deles solicitou apoio à governabilidade. E saiu uma nota, preparada pelo líder Ney Suassuna e o próprio Renan, apoiando a governabilidade. O senador Ramez Tebet, do PMDB de Mato Grosso do Sul, diz que não assinou a nota. Ao ler os jornais de terça-feira, ficou surpreso com a análise da imprensa de que 20 senadores estavam querendo aumentar o espaço no governo. Não foi isso o que se decidiu, garante Tebet. Até porque o Diretório de Mato Grosso do Sul é contra o ingresso no governo. Se a questão se refere ao apoio à governabilidade, esse apoio também é endossado pela banda oposicionista. Portanto, está havendo fumaça nessa história. OS FATOS 2 4. Os governadores e a maioria dos Diretórios estaduais do PMDB se mostram contrários à participação mais forte na administração federal por motivos óbvios: querem preservar as candidaturas à reeleição, sabendo que o PT jamais irá apoiar os cerca de 20 candidatos peemedebistas com possibilidades de ganhar a o pleito, a partir de Germano Rigotto, no RS, e Luiz Henrique, em Santa Catarina; 5. os deputados estão divididos, mas, ao final do jogo, poderão se sensibilizar com os ventos da opinião pública e a pressão dos governadores, que acabarão dando as cartas; 6. se o PMDB decidir não aceitar o convite de Lula, isso não significará falta de apoio no Congresso. Já é sabido que apoio à governabilidade não faltará. Ocorre que há muitos congressistas que só pensam em fatia de poder. CONVENÇÃO, CONSELHO POLÍTICO OU PARLAMENTO? Se a decisão for tomada em Convenção Nacional - pouco provável em função do tempo - o PMDB rejeitará o convite de Lula. Se a questão ficar na esfera do Conselho Político, um grupo de 60 pessoas, a divisão das duas alas poderá se aprofundar. A decisão de limitar a decisão ao âmbito parlamentar satisfaz a vontade de Renan Calheiros e José Sarney, que só tem olhos para o plano imediato. Nesse caso, Lula poderá ganhar a parada. E o PMDB aprofundaria o campo da desmoralização. A essa altura, a única coisa que resta ao PMDB será a alternativa de convocação de uma Convenção, para derrubar ou ratificar a decisão da Convenção anterior, de dezembro passado, quando a maioria decidiu pela saída do governo. Esta é, aliás, a posição do presidente do partido, Michel Temer. LEITURA ERRADA É impressionante como alguns jornais e revistas continuam apostando errado, ou seja, mostrando - e até querendo comprovar com massa de recursos - que o PMDB entrará firme no governo. Nos últimos dias, um jornal que vem se caracterizando em produzir manchetes opinativas, mais parecendo jornal-laboratório de Escola de jornalismo, tem se especializado em demonstrar o tamanho da ambição peemedebista, sem considerar a equação eleitoral de 2006. Ora, é óbvia a conclusão de que o leit-motiv peemedebista é o quadro eleitoral do próximo ano, a perspectiva de eleger um elevado número de governadores e as maiores bancadas de deputados. Mas o jornal carioca decidiu marcar posição, colocando o PMDB no sacolão dos recursos. Que esse interesse existe, não há dúvida. Mas há outras razões. Sinal de que a cobertura é feita por amadores e analistas que se deleitam em enxergar o próprio umbigo, ou seja, enfeitiçando-se com a "maravilha" do próprio texto. CPIS, RECESSO E LDO Há uma grande interrogação no ar. Haverá ou não recesso parlamentar em julho? O recesso cairia como uma espécie de água fria sobre a fogueira que queima a imagem do governo e do PT. Mas há quem defenda suas operações durante o recesso. Mesmo assim, o clima estaria mais arrefecido. A resposta vai depender da votação da Lei de Diretrizes Orçamentárias. Não haverá recesso, enquanto não for votada. A votação da LDO condiciona o recesso parlamentar. Diz-se que até dia 10 de julho estaria votada. Esse é mais um motivo para a queda de braço entre governistas e oposicionistas. A IMAGEM BORRADA DO PT Seja qual for a conclusão a que chegarem as CPIs, o PT já está com a imagem intensamente borrada. Perdeu o discurso da ética. Desfraldou a bandeira do fisiologismo e, mais que isso, da propinagem do mensalão. A contratação de advogados, entre eles o ex-procurador geral Aristides Junqueria - que defenderá Delúbio Soares - terá efeitos no campo jurídico, não na esfera da imagem pública. Ou seja, podemos até ver os quadros petistas absolvidos de todas as acusações, mas sobrará a pesada sombra construída pela bateria violenta de críticas, denúncias e acusações de todos os tipos, que, a cada dia, se tornam mais convincentes. Junqueira, para quem não se lembra, foi o mesmo que ofereceu denúncia contra o então presidente Collor, no início dos anos 90. FHC ANIMADÍSSIMO Quem esteve mais recentemente com Fernando Henrique Cardoso confirma a impressão, que se generaliza, que o ex-presidente voltou a ter um olhar eleitoral. Dá corda a Aécio Neves, dá uma tapinha nas costas de Geraldo Alckmin, mas pisca, de soslaio, para o interlocutor à sua frente, matreiro como nunca esteve. E, acreditem, está pedindo para os correligionários não aumentarem a fogueira que incendeia o Planalto. Gosta mesmo é de fogo brando, desses que vão amaciando a carne, até o ponto exato de digestão. Em resumo, matar não. Sangrar até morrer, sim. OS MILHÕES DO MARCOS VALÉRIO Uma questão-chave a ser equacionada nos próximos dias: os mais de R$ 20 milhões sacados na boca do caixa do Banco Rural, a mando de Marcos Valério, o publicitário mineiro, estão sendo mapeados. Se não houver um rebanho de umas 30 mil cabeças de gado e mais um bom rebanho de cavalos, o Valério será apeado da montaria. Nesse caso, o mensalão terá uma cara mais concreta. Será a abertura mais escancarada da cerca. E ai os obas africanos poderão gritar a pleno pulmão: "enduro lêmin lenam aiê", que, na língua yarubá, é algo parecido com "abram as portas que vou arrasar com tudo".____________
quarta-feira, 22 de junho de 2005

Porandubas nº 9

  O PMDB VAI OU NÃO VAI? O PMDB só topará aumentar o espaço no governo, caso as seguintes condições estejam garantidas: 1. o projeto do partido de candidatura própria à presidência deve ser preservado; 2. ministérios devem ser discutidos com o partido, em termos institucionais, não por via de patrocínios individuais, lendo-se aí os nomes de José Sarney e Renan Calheiros; 3. o PMDB não aceita a condição de "amante", convocada apenas em momentos especiais. Ou seja, o partido só toparia aumentar o espaço, caso a governabilidade passasse a ser discutida com ele, PMDB, significando participação no centro decisório; 4. os perfis técnicos se sobrepõem aos perfis políticos na indicação para ministérios; 5. tais condições deverão ser aprovadas pelas duas alas do partido, com voto decisivo dos 7 governadores. UM POR TODOS, TODOS POR UM A cúpula do PT decidiu fechar questão em torno da defesa de Delúbio, Silvio Pereira e Marcelo Sereno. Todos por um, um por todos. O sacrifício de um ou dois significaria a aceitação pública de culpa. Por isso, o partido formará um escudo de proteção coletiva. Conclusão a que se chega: Delúbio, Silvio e Marcelo só faziam o que a cúpula aprovava. José Dirceu, a se confirmar a enfática declaração de Roberto Jefferson, dava a palavra final. Dirceu disse uma vez: faço tudo combinado com o presidente Lula. A ser verdade, tira-se a conclusão: Lula sabia de tudo. E por que preservar a figura do presidente? Por questão de conveniência política. É estratégia de guerra. E guerra indireta, como as clássicas. É importante deixar Lula no governo. Vale comer pelas bordas. Fazer guerra de guerrilha. Corroer a imagem do governo até as eleições. Ganhar no voto. Esse é o jogo de interesses das oposições. Se Lula caísse, seria um deus-nos-acuda. Todos perderiam.  OS FIOS DO ROLO O rolo começa a ser desfiado. Previsão sobre as CPIs e investigação a cargo do Conselho de Ética e Corregedoria da Câmara: 1. profusão de denúncias e conseqüente canibalização recíproca, ou seja, a fumaça será tanta que o fogo central ficará em segundo plano. 2. questões secundárias deverão atenuar o impacto de questões centrais; 3. questões pessoais se agigantarão em detrimento de questões político-institucionais; 4. o "imbróglio" poderá gerar impasses; 5. a Câmara não tem vocação suicida - não haverá cassação de 80 pessoas, conforme prevê Jefferson; 5. a CPI dos Correios descambará no mensalão; 6. a situação mais perigosa, hoje, é a do deputado José Janene, líder do PP, sobre quem se acumulam denúncias. APPROBATO INDIGNADO O ex-presidente do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil, Rubens Approbato Machado, fez, possivelmente, a mais contundente peroração de sua vida na família forense, que já ultrapassa os 50 anos. Na segunda feira, por ocasião da Reunião do Conselho, Rubens mostrou toda a sua indignação contra a virulência da Polícia Federal na invasão de escritórios de advocacia, dizendo que viu muita arbitrariedade, desde os tempos da ditadura de Getúlio Vargas. Mas nada se compara aos tempos atuais, tempos em que o Brasil tem um presidente de origem popular e- pasmem - um ministro da Justiça, Marcio Thomaz Bastos, que já presidiu tanto o Conselho Federal da OAB quanto a Seccional Paulista. Resumo: os tempos de Lula e Bastos são mais virulentos e arbitrários que os tempos getulianos ou os anos pesados de chumbo dos militares. É difícil entender? Não. Muito fácil. O governo do PT gosta de pirotecnia. Trata-se de um governo que privilegia a forma em detrimento do conteúdo. É cosmética pura. Panis et circensis? Também, não. Falta pão e o circo nem trapézio tem. ESSA COISA DE "GOLPE DAS ELITES" Dizer que está em andamento um "golpe das elites" é a mais rematada bobagem que já li nesses tempos de extravagância petista. Lição para José Dirceu, José Genoino e adjacências: elite é uma minoria que detém o poder, em detrimento de uma maioria que dele se priva; uma classe superior que detém o poder político e o poder econômico.Simples, não? Pois bem: Lula é o presidente. O PT é o partido do governo e no governo. Conclusão: Lula e o PT detêm o poder político. O poder econômico nunca foi tão privilegiado como neste governo petista. Os bancos ganham montanhas de dinheiro. E o fator gerador é a política econômica de Palocci. Conclusão: poder econômico e poder político estão de mãos dadas. De onde vem esse golpismo? Quanta besteira, meu Deus! E ainda há pseudos analistas e políticos desmiolados que berram tal baboseira. Será o eco retardado da expressão chavista (o Chavez da vizinha Venezuela)? FREIRAS E VESTAIS Chamou a atenção o puxão de orelhas que Roberto Jefferson deu nos jornalistas que o entrevistaram no programa Roda Viva, da TV Cultura. Foi um dos melhores momentos da entrevista. Alguns deles passavam a impressão de que o estado de corrupção no país era algo absolutamente inédito. Escandalizados, faziam perguntas de como isso poderia ocorrer. Depois do puxão de orelhas - quando o deputado comparou-os a freiras de um convento - alguns procuraram se justificar dizendo que sua função era a de perguntar e a do deputado, a de responder. Ora, o foco jornalístico deveria ser para o como e não para o quê. Ou seja, os entrevistadores poderiam ter usado melhor seu tempo para saber como as coisas eram feitas, outros nomes do esquema, endereços, dias, horas, circunstâncias etc. A preocupação maior, porém, era a de "pegar" o deputado, flagrando alguma contradição.Isso até poderia balizar algumas perguntas, mas não deveria ser o foco central. Afinal, o pacote de denúncias de Jefferson, por si só, merece um esquadrinhamento. Outra inconveniência: as perguntas nem eram bem respondidas pelo deputado e já apareciam outras. As coisas foram ficando pela metade. ______________
quarta-feira, 15 de junho de 2005

Porandubas nº 8

GARGANTA PROFUNDA 1 O deputado Roberto Jefferson acaba de confirmar sua identidade de "Garganta Profunda". Diferente do "Garganta Profunda" norte-americano, Jefferson age abertamente. Saiu dos bastidores. Confirmou, em seu depoimento ao Conselho de Ética da Câmara, tudo que disse à Folha de S. Paulo. Mas colocou pimenta no caldo. Adicionou detalhes que tornaram sua fala mais convincente. Expressou o nome de interlocutores. Falou com José Dirceu e José Genoino 6 vezes. Mostrou onde teve uma reunião com Genoino, o tesoureiro do PTB, Delúbio e Marcelo Sereno: o prédio da Varig. Apontou as notas de R$ 50 e R$ 100 dentro de duas imensas malas. Falou do mensalão para Lula, que chorou. Defendeu de maneira contundente o presidente, um homem isolado e traído. Agindo como um "garganta profundo" destemido, Jefferson fez um discurso convincente. Só que não apresentou provas. Mesmo assim, não dá para descartar suas denúncias. GARGANTA PROFUNDA 2 Viu-se um advogado criminalista com o dom da palavra e dos simbolismos que emocionam platéias. O pano de fundo sentimental foi bem desenhado, com as citações à mulher, a filha e netos, aos apóstolos de Cristo, ao retirante nordestino Lula que passou fome, à educação que recebeu do pai, aos tempos em que foi execrado, passando, ainda, pelo linchamento dos deputados Ibsen Pinheiro e Roberto Cardoso Alves, pela revista Veja. Jefferson, ao se defender, atirou para todos os lados. GARGANTA PROFUNDA 3 No depoimento, foram alvo de ataques, entre outros, os seguintes personagens e entidades: Delúbio, Dirceu, Genoino, Marcos Valério (o homem da mala), Silvinho, Pedro Correa, Correios, IRB, Skymaster, Veja, um juiz de primeira instância do Distrito Federal, TV Globo, Revista Época, os arapongas da ABIN, a maioria parlamentar que não tem coragem, o deputado Luiz Phiaulino. O conjunto é bem representativo. A teia começa a se confirmar, a partir das primeiras declarações de deputada Raquel Teixeira (PSDB-GO) e da secretária do publicitário mineiro, que revelou ter ajudado a guardar o dinheiro na mala. O primeiro depoimento de Jefferson é uma prévia do debate mais aceso que ocorrerá na CPI. GARGANTA PROFUNDA 4 Ao fazer ressalva sobre a inocência do presidente Lula, Jefferson procura sensibilizar parcela da base governista, a partir da defesa feita do mandatário-mor. A maneira carinhosa com que se referiu a Lula teve alguns tons acima do esperado, revelando a tática de cooptação de simpatia. Viu-se ai o advogado advogando de maneira exuberante. GARGANTA PROFUNDA 5 Esperava-se um ataque duro entre Valdemar da Costa Filho, presidente do PL, ao presidente do PTB. Mas Jefferson soube responder com poucas sílabas à indignação do autor da representação contra ele no Conselho de Ética. Será difícil, muito difícil, cassar o mandato de Jefferson. Mas ele abriu um imenso flanco: disse que a maioria parlamentar é covarde. Essa covardia poderá tirar seu boné. GARGANTA PROFUNDA 6 No momento de maior contundência, Jefferson deixou uma questão no ar: se Dirceu não sair logo do governo, vai sobrar para Lula. O que isso quer significar? Algo como o fio do novelo desdobrado, que vai parar no colo presidencial. Foi um xeque no tabuleiro de xadrez de Dirceu. Dirceu já estaria limpando as gavetas.Há quem diga que o governador Jorge Viana, do Acre, estaria sendo convidado para administrar a Casa Civil e a crise. GARGANTA PROFUNDA 7 Com tantos detalhes e ambientação, os nomes envolvidos terão de rebolar para sair do rolo de denúncias. Quem pode dizer, por exemplo, se não estava presente numa reunião, quando havia mais de dois interlocutores? GARGANTA PROFUNDA 8 As notas do dinheiro - R$ 4 milhões - que o PTB recebeu do PT ainda não apareceram. Ou seja, o Caixa 2 foi denunciado. Só isso bastaria para apertar os dois partidos. GARGANTA PROFUNDA 9 Por diversas vezes, Jefferson defendeu a bancada do PT. Mas fez a ressalva: recebeu a oferta de Genoino e Delúbio para receber o mensalão. Genoino sai mal. O ataque vai acabar influindo na eleição para a presidência do PT, no segundo semestre. E mais: ao repetir que os deputados Pedro Correa, presidente do PP, e Valdemar Costa Neto, presidente do PL, tinham conhecimento e distribuíam o mensalão, jogou muita lenha na fogueira. Sabiam, ainda, o deputado Sandro Mabel e o bispo Rodrigues.GARGANTA PROFUNDA 10 O episódio Jefferson puxará a agenda negativa do governo para as margens próximas às eleições. A conferir.______________
quarta-feira, 8 de junho de 2005

Porandubas nº 7

  A CRISE 1 Roberto Jefferson, presidente do PTB, explodiu a bomba que já havia anunciado possuir. Os efeitos poderão ser sentidos no curto, médio e longo prazos. Vamos a eles. No curto prazo, a CPI mista para apurar as denúncias de corrupção nos Correios será instalada. E uma CPI exclusiva para apurar a existência do "mensalão" na Câmara é mais do que provável. Jefferson deve ter nomes para manifestar. Ou seja, tem mais bombas escondidas. Se for ameaçado, explodirá alguns perfis. Não se pode dizer que suas denúncias são conhecidas. Lula as conhecia. Ciro Gomes, idem. Miro Teixeira, que chegou, tempos atrás, a desconhecê-las, agora as reconhece. Há mais testemunhas, entre elas, o chefe de gabinete de Lula, Gilberto Carvalho. No médio prazo, a própria cassação de Jefferson está entre as grandes possibilidades. Poderá ficar isolado. O sentido de corpo parlamentar funcionará como escudo. Um morto bastaria. Por isso, a tendência é a do sacrifício de um nome só: o presidente do PTB. A crise se esticará por todo o segundo semestre. A imagem do governo continuará a cair. E, no longo prazo, os restos da explosão poderão cair no colo de Lula, comprometendo sua reeleição. A CRISE 2 Haverá muitos perdedores. O PT cairá no descrédito. A máscara caiu. O PTB será desinflado, com a saída de parlamentares para outras siglas. O PP de Severino também receberá pancadas. Pedro Correa, presidente, será chamado para um testa a testa com Jefferson. Será uma cena constrangedora. O PL de Valdemar Costa Neto, que quer se apresentar como vestal, também será impactado. Esses partidos passarão um bom no inferno do descrédito. Severino até poderá agüentar o rojão pelo poder que detém de presidente da Câmara. Mas sairá da lua-de-mel do prestígio para amargar momentos de angústia. PSDB já começou a faturar com a crise. O PFL vem logo atrás. E o PMDB, que tem uma banda governista, já dá sinais de completa independência. Renan Calheiros, por exemplo, fazendo correta leitura do impacto sobre a opinião pública, não quer ser mais fiador do governo. Recuou para uma linha intermediária. Faz o jogo da independência. A CRISE 3 Há coisas ainda mais graves a serem reveladas. Basta uma fitinha de gravador para acabar com o disse-não-disse. Já se começa a desconfiar que elas existem. Mas, a esta altura, os estragos já são enormes. O governo não é mais o mesmo. Está sob ataque. Lula precisaria efetivamente proporcionar um choque de credibilidade. Fazer uma reforma ministerial em profundidade. Tirar gente de partidos. Limpar todos os espaços. Apoiar CPIs. Com todos esses gestos no sentido da moralização, continuará ainda por bastante tempo sob o tiroteio das oposições e sob os holofotes da mídia. Fortes perguntas persistirão: por que Lula deu um cheque em branco a Roberto Jefferson? Por que a denúncia foi arquivada na época da presidência do deputado João Paulo? De onde vinha o dinheiro para pagar as mesadas dos deputados? A CRISE 4 Há muito tempo se falava das idas e vindas de Delúbio Soares pelo espaço dos negócios. O tesoureiro do PT é o responsável pela montanha de recursos formada com os dízimos mensais dos petistas. E certamente deveria ser o distribuidor de parcelas para candidatos petistas em eleições majoritárias e proporcionais. Delúbio tem o nome parecido com dilúvio. E haja tempestade... A CRISE 5 O PT desmentiu o PT. É a conclusão a que se chega depois da leitura da nota oficial do Partido desmentindo tudo. Mais tarde, as denúncias passaram a ser confirmadas. E a nota distribuída pela manhã ficou caduca. Para não dizer, desmoralizada. É o inferno astral de Genoíno. E Dirceu, na Europa, assiste a tudo pela Internet. A CRISE 6 Com a instalação em junho e recesso em julho, podemos projetar as primeiras apurações da CPI dos Correios lá para os meados de outubro. Antes disso, haverá uma imensa corrida de parlamentares em busca de novas siglas. A imagem se assemelhará a de "sobreviventes" correndo para pegar o salva-vidas. O PMDB poderá abrir espaços para abrigar os aflitos. A CRISE 7 O Jornal do Brasil colhe os louros. Foi o primeiro a noticiar sobre o "mensalão", denunciado em 24 de setembro de 2004, e, depois, desmentido por Miro Teixeira. Ganha pontos de credibilidade. A CRISE 8 Os tucanos fazem bem quando não partem para a queima de todos os cartuchos. Toda cautela é pouca. Pedir impeachment de Lula é algo exagerado. O presidente, com todos os defeitos que se pode apontar, ainda parece um homem comprometido com seus sonhos. Não gosta de decidir sobre pressão. Talvez essa maneira de querer empurrar as coisas com a barriga seja, em parte, responsável pelo andar da carruagem. A CRISE 9 O Senado federal atrai as luzes da boa visibilidade. Nesse instante, está com a imagem bem mais positiva que a da Câmara dos Deputados. Mas o senador Mercadante verá muita fumaça sobre seu caminho na direção do Palácio dos Bandeirantes. Aliás, a explosão da "bomba Jefferson" atingirá os redutos petistas em todo o país. O PT caiu no ranking de candidaturas nos Estados. O resgate da imagem será o calcanhar-de-aquiles pelos próximos meses. A CRISE 10 A Seccional Paulista da Ordem dos Advogados do Brasil está saindo com uma Conclamação aos Poderes da República, onde pede CPIs no Parlamento, apuração rigorosa na esfera do Executivo - Polícia Federal e Corregedoria Geral da União - e reforma política, já.______________
quarta-feira, 1 de junho de 2005

Porandubas nº 6

ESSA COISA DE PESQUISA   Resultado de pesquisa não se discute. Essa é a premissa aceita por muitos políticos e consultores. Até porque pesquisa é uma fotografia de um instante. Até ai tudo bem. O que é discutível é pesquisa encomendada para efeitos de reforço de imagem de uma instituição. No Brasil, esse tipo de pesquisa prolifera em momentos pré-eleitorais. Dito isto, vamos à ultima pesquisa Sensus/CNT. Na verdade, a CNT passou a ser mais conhecida porque divulga periodicamente pesquisas de cunho eleitoral. A última atestou queda da imagem do governo e do próprio presidente Lula. Queda insignificante, beirando os 3%, no quesito avaliação positiva. E mostra que Lula vence todos os possíveis candidatos, no primeiro turno, levando a campanha para o segundo turno, se o candidato fosse José Serra, prefeito de São Paulo. Trata-se de uma moldura plena de enganos e sofismas. Ninguém ganha por antecedência. As circunstâncias de hoje não serão as de amanhã. Os candidatos não estão posicionados. A rigor, só há um candidato até o momento: Lula. E Lula não pode perder para Lula. Trabalhar com hipótese é um exercício de ficção. Que, no Brasil, virou negócio. Pesquisa em campanha eleitoral, quando as coisas estão bem postas, aí sim, vale. O eleitor só poderá julgar quando vê os perfis nos ambientes de disputa. Então, para que vale a pesquisa hoje? Para dar visibilidade aos patrocinadores. E para mostrar o desempenho do governo. E, claro, para dar dinheiro aos Institutos de Pesquisa.   NA ÁREA DOS TUCANOS   Por que José Serra teve tanta exposição no Programa Nacional do PSDB, esta semana? Seria lógico que os espaços fossem mais espaçosos para Geraldo Alckmin, Aécio Neves e o próprio Fernando Henrique. O ex-presidente nem apareceu. Leitura óbvia: Serra não é carta fora do baralho. Poderá deixar a Prefeitura e concorrer à presidência da República, caso seja o melhor posicionado em junho de 2006. Aécio não apareceu em São Paulo. Foi combinado? Pelo visto, não. Foi mesmo deixado de fora. Mas apareceu no Rio de Janeiro, por exemplo, e no resto do país. Leitura: mineiros e paulistas já começam a brigar por espaço na chapa. FHC se preserva. Seria um tertius. Que entraria no campo em última hipótese, ou seja, se Lula estiver muito fraco. Alckmin começa a engrossar a fala, com um discurso mais duro contra o governo federal. Quer desfazer a imagem de picolé de chuchu, que, aliás, aceita de bom grado. Chuchu, convenhamos, é uma cucurbitácea muito sem graça.   O TAMANHO E A FORÇA DE UMA CPI   Aí vem mais uma CPI. Só que poderá não dar em nada, pois a maioria governista de seus membros ameaça sufocar a minoria oposicionista. De qualquer maneira, servirá para jogar lenha na fogueira pré-eleitoral que começa a ser acesa. Agora, se alguém desejar saber qual será seu tamanho e seu peso, basta seguir esta regrinha especialmente preparada para os nossos leitores. Uma CPI tem funções explícitas, a partir da função de apurar fatos ilegais determinados. Execra ou enaltece perfis. Às vezes, chega a esfolar, como no caso Ibsen Pinheiro, quase assassinado. Foi depois absolvido. Ex-presidente da Câmara, hoje é um modesto vereador em Porto Alegre. Pois bem. Há funções não tão explícitas. Funciona como mecanismo para pressão e contrapressão. Parlamentares ganham imensa visibilidade, a partir dos presidentes e relatores das CPIs. O peso de uma CPI depende da grandeza e importância dos perfis envolvidos e das conseqüências sobre a vida social e política. Um impeachment, por exemplo, é a conseqüência máxima que se pode esperar de uma CPI. No caso dos Correios, essa possibilidade é zero. Há, ainda, fatores de atração e chamamento, ou seja, a liturgia de uma CPI. Divida-se tudo isso pelo tempo em que ela se desenvolve - no máximo 120 dias - e mais o momento político (muito tenso, tenso, calmo, harmônico etc) para se chegar ao resultado. Com essa explicação, pode-se chegar a uma relativa posição sobre a CPI dos Correios.   PEQUENA GRAMÁTICA DE UMA CPI Funções explícitas - FE - investigação de fatos / desvios / corrupção - moralização da vida pública - relação incestuosa entre poder privado e poder público - racionalização de estruturas - execração / enaltecimento de perfis Funções latentes - FL - visibilidade na mídia - pressão - abertura de espaços na administração pública - contrapressão - anteparo contra pressões / ajustamento de imagem de parlamentares - proteção/passaporte para o céu ou para o inferno Valor/Peso de uma CPI - V - proeminência do tema investigado - proximidade da vida dos cidadãos - conseqüências sobre a vida social/política - raridade das denúncias - conflito de interesses - drama / comédia (amante, namorada etc) Fatores de atração - FT - elementos componentes - importância do parlamentar; alto clero, médio e baixo clero - formas de apresentação / divulgação de resultados - exclusividade, corredores do Congresso, sala da Comissão, informações vazadas - documentos sigilosos / curiosidade - fitas, bilhetes, cartas Equação de uma CPI: CPI = FE + FL + V + FT T + M Tempo + Momento Político / Social - T + M   ALENCAR TAMBÉM DE OLHO GRANDE   O vice-presidente da República tem sido um dos mais ácidos críticos da política econômica do governo do qual faz parte. Como ministro da Defesa do Brasil, está entre a cruz e a caldeirinha. Não tem recursos para atender aos reclamos das tropas de todas as armas e nem mesmo para aumentar os salários dos militares. É odiado pelas esposas dos militares que, vez ou outra, saem em passeata em Brasília. Pois bem: Alencar está também de olho grande na Presidência. Minas Gerais é o terceiro reduto eleitoral do Brasil, depois de São Paulo e Rio de Janeiro. Ele sairia com o prestígio mineiro. Mas isso vai depender da equação na cabeça de Lula: trocar o PL pelo PMDB como parceiro de chapa. Saindo como candidato do PL, Alencar faria uma campanha bonita: empresarial, profissional e rica. Sem usar o chapéu mendigando trocos de empresas.   SUPLICY E O MARKETING DA INGENUIDADE   O senador Eduardo Suplicy pode ser tudo, menos ingênuo. O fato de ter endossado, com sua assinatura, o pedido da CPI dos Correios foi uma bela jogada de marketing. Isola-se dentro do PT como ícone da moralidade e da grandeza cívica. E não fecha as portas do partido. Porque o PT não teria coragem de tira-lo da disputa para o Senado, em 2006, logo ele que é o único petista em São Paulo em condições de vencer o pleito. Vítima do PT, poderia sair candidato por outra sigla, mesmo que garanta não ter a disposição de abandonar seu partido. Terá até outubro para deixar a coisa rolar. Até lá, driblará as pressões e raivas. Inocente, jeito de anjo Gabriel com certa aparência de São Jorge lutando contra o dragão da maldade, Suplicy não é bobo. O marketing da pureza, convenhamos, não é mais inteligente que o marketing da sem-vergonhice?   MAIS BOMBAS   Comenta-se que virão mais bombas no campo de lutas das estatais. Como o PT não soube administrar a partilha, grupos que se consideram injustiçados estão armando as espoletas de novas bombas. É aguardar para ver onde explodirão. PRESIDÊNCIA E RELATORIA PARA GOVERNISTAS   Se os governistas ficarem com a presidência e relatoria da CPI dos Correios, irão enfrentar a Corregedoria da Opinião Pública. Que fará muito estardalhaço. Com a lupa da imprensa.   MINISTROS QUASE SAINDO   Há indícios de que há ministros em tom de despedida do governo. Esperam apenas um aceno presidencial._______________
quarta-feira, 25 de maio de 2005

Porandubas nº 5

  DEVASSA DA PF NÃO SERÁ ESCUDO   Quem pensa que a devassa que a Polícia Federal fará nos Correios será um escudo para proteger o governo Lula se engana. Não é a forma que, nesse caso, poderá ajudar o governo. É a substância, no caso, o resultado da investigação. Se as fraudes forem comprovadas, o governo não poderá dizer que não tem nada a ver com isso. Tem, sim. Afinal de contas, os nomes dos envolvidos são patrocinados por partidos, e, evidentemente, aprovados pelo governo. Se a CPI for adiante, o governo poderá ver antecipado o tom do debate eleitoral. A corrupção imantará a imagem do governo Lula. E não vai adiantar muito a propaganda mendoncista. (Duda Mendonça). O povo está vacinado. Olhem a população nas ruas de Porto Velho, Rondônia, indignada, brandindo discursos contra as autoridades. O Brasil está mudando. Mas a alavancagem cívica não vem de cima, mas de baixo, nascida nas bases sociais. Começo a enxergar um imenso buraco no meio da sociedade, que comporta o perfil de um candidato asséptico, honesto, experiente, bom de discurso, capaz de mobilizar imensos contingentes. Mais adiante, posso nomear um ou outro perfil. A questão é: quem tem bom perfil, não quer enfrentar a velha política.   AÉCIO OU GERALDO?   Há uma recorrente pergunta que me fazem: quem seria o melhor candidato tucano? Aécio Neves ou Geraldo Alckmin? Cada um tem qualidades e defeitos. Parece-me que Aécio exibe arrojo, disposição, vontade. Faz um governo exemplar, segundo se comenta, a partir do saneamento das finanças estaduais. O Estado dispõe, hoje, de uma montanha de recursos para investimentos. Ou seja, Aécio poderá usar uma ampla agenda positiva para fazer decolar sua candidatura. Mas é jovem e pode esperar a próxima eleição presidencial, na medida em que tem bem garantida a reeleição. Alckmin exibe perfil equilibrado. Tem fama de bom gerente. Mas começa uma pré-campanha errada. Os primeiros cartazes com a indicação da candidatura pregam: O Brasil precisa de um gerente. Geraldo para Presidente. Errado. O Brasil, hoje, precisa muito mais que um gerente. Precisa de um perfil iluminado pela ética, pela honestidade pessoal, comprometido com programas sociais fortes. Essa coisa de "vender"/embalar um candidato com qualificações adjetivas cheira a bolor. Ou seja, a pré-campanha de Geraldo começa errada. São Paulo está chegando aos 40 milhões de habitantes. E o que Geraldo tem a dizer ao maior contingente eleitoral do país? Certamente não é o aspecto gerencial que apresentará, na medida em que a FEBEM poderá desmontar o seu discurso. O Pacote do Bem que acaba de apresentar ao empresariado pode ser uma boa alavanca. Caso o pãozinho de final de linha consiga ter preço menor. E, mais ainda, caso o ultimo cidadão da última cidade paulista consiga identificar quem foi o paizão da idéia. Geraldo, sabe-se, não tem sistema de comunicação à altura do governo de São Paulo.Se conseguir ser ousado, determinado, firme e com programas bem claros, Alckmin poderá até avançar. Diz-se que, em se tratando de um homem de perfil tão pouco afeito a arrojos, mudar é tarefa quase impossível.   O EMPRESARIADO VAI ÀS COMPRAS   Pois é. O empresariado é muito pouco representado no Congresso Nacional. Os trabalhadores dão de 10 a zero na representação empresarial. A razão? Porque os trabalhadores organizados pensam e agem politicamente. Porque os trabalhadores, mesmo com as divisões entre contingentes - CUT, Força Sindical - conseguem eleger bancadas expressivas. A linguagem dessas bancadas atinge diretamente o estômago das massas. Os empresários, ao contrário, usam uma linguagem cifrada (com cifrões) para seus bolsos. Sabe-se que o empresariado, principalmente o pequeno empresariado, está no fundo do poço. E não tem adiantado o discurso de defesa dos micro, pequenos e médios empresários - que fazem a grandeza produtiva do Brasil. Estrangulado, cercado de impostos, tributos e muita burocracia, o empresariado pequeno começa a perder as esperanças. Essa é a razão pela qual movimentos de empresários acendem a vigilância, iniciando uma mobilização que poderá vir fortalecer a bancada empresarial na próxima legislatura. Ou seja, o empresariado está começando a perceber que vale a pena ir às compras no supermercado dos votos.   DIRCEU PEGA A TOALHA   As oposições desafiam o governo a José Dirceu pega a toalha. Vai à luta. Telefona para presidentes de partidos, fala com deputados, mostra as inconveniências de uma CPI, nesse momento, argumentando com a velha questão da governabilidade. Ou seja, na prática José Dirceu está assumindo a coordenação política do Governo. Esse será o seu maior teste. Se conseguir abortar a CPI dos Correios, receberá um abraço comovido de Lula, com a oferta: pega esse trem, que é todo seu. O trem é, claro, a coordenação política. Aldo Rebelo não vai ficar na rua da amargura. Será bem contemplado.   JEFFERSON VAI À LUTA   O deputado Roberto Jefferson, que está no centro das denúncias sobre corrupção nos Correios, não será facilmente derrubado. Usa expressão de advogado. Sabe lidar com o contraditório. Consegue juntar os contrários. Basta ver que era um candidato representante da direita, ex-trator de Collor. Hoje, orgulha-se de ser amigo de Lula e este, por sua vez, presta ampla solidariedade ao amigo. Lula cometeu um dos maiores erros de um mandatário: antecipar o julgamento. Se Jefferson for entrar no paredão, como Lula vai se explicar? O presidente se precipitou. Mas Jefferson não o deixará com a brocha na mão. Tem cacife para colocar mais gente no caso de gatos, caso a CPI vá adiante. É de esperar.   CASSOL CASSADO?   O episódio de Rondônia não ficará apenas na investigação sobre propinas cobradas pelos deputados estaduais ao governador tucano Ivo Cassol. Os deputados agirão com sentido de corpo. E ninguém quer ir para o buraco sozinho. Dizem que Cassol tem uma ficha não muito limpa, desde os tempos em que era prefeito. O Ministério Público está fazendo uma devassa geral e, a esta altura, já se começa a dizer que Cassol será cassado. A conferir.   UMA VERGONHA   A Câmara dos Deputados está parada. Uma vergonha. Atravancada por Medidas Provisórias. Faz muito tempo que não vota nada. E o que faz o rústico Severino? Atirar para todos os lados. E até barganhar. O homem não tem nenhum escrúpulo. Diz o que quer para quem não quer ouvir. Cobra o que deseja para quem não quer abrir mão do que tem. Severino é a ponta de lança da política como escada para o favorecimento pessoal. Trata-se do perfil, por excelência, do coronel da política da República Velha. O pior é que ele se acha isso mesmo._______________
quarta-feira, 18 de maio de 2005

Porandubas nº 4

A CRISE AUMENTA   Que o governo Lula está chegando ao cume da montanha da crise, não se duvida. A desarticulação da base governista é completa. Os partidos aliados já não sabem a quem recorrer. O ministro Aldo já não tem mais condições de permanecer no assento da Coordenação Política. O PT ganha desconfiança por todos os lados. O flagrante de corrupção na sala de um funcionário dos Correios, que embolsou a quantia de R$ 3 mil, exibe mais um elo da imensa cadeia de corrupção na administração federal, que mostrou as caras desde o episódio Waldomiro Diniz, assessor do ministro José Dirceu. E este, no programa Roda Viva, na segunda feira, na TV Cultura, bate no refrão: "este governo não rouba, nem deixa roubar". Roberto Jefferson usa a tribuna para dizer que é vítima de uma farsa. O Procurador Cláudio Fonteles, guardião cívico da Nação, quer apurar denúncias de falcatruas envolvendo o ministro da Previdência, Romero Jucá, e o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles. O presidente Lula dá um voto de confiança aos dois. Espera que sejam inocentados. As oposições pedem uma CPI para apurar a corrupção nas estatais. O PT mais à esquerda concorda. O que vai acontecer?   LENTIDÃO E LENIÊNCIA   A situação está mais do que confusa. Careceria ação mais que urgente do presidente da República. Decisões que deveria ter tomado em tempo hábil: a) afastamento do ministro Romero Jucá até a apuração completa das denúncias; b) afastamento do presidente Henrique Meirelles até provar que as denúncias são infundadas; c) mudança de comando na articulação política, não necessariamente com o afastamento do ministro Aldo Rabelo, mas com seu deslocamento para outro Ministério; d) mudança no sistema de articulação política, com a proposição de um comitê de líderes de partidos que deveriam ter um link direto com o presidente Lula; e) lavagem completa de roupa suja na própria lavanderia do PT, quando todos os grupos deveriam chegar a pontos convergentes, sob pena de a guerra interna inviabilizar uma estratégia consensual em torno da candidatura Lula; f) prioridade absoluta à articulação não apenas com as forças congressuais mas com as direções partidárias, que controlam as bases. São estas que aprovarão/desaprovarão a aliança dos partidos com o PT para o projeto de reeleição de Lula; g) reforma ministerial, com inclusão de perfis que possam contribuir para agregar forças no segundo tempo da administração petista. O projeto de reeleição de Lula passa pela formação de um governo de coalizão. O que significa abrir mesmo espaço para os partidos aliados. Há um problema nisso tudo: a lentidão do presidente da República. O homem não gosta de tomar posição no meio de uma crise. O que dá a impressão de leniência do governo para o estado geral de desorganização da base governista. Em resumo: Lula erra muito e aumenta a crise com sua indefinição. Assim como aumenta a auto-definição. Ao se comparar a Getúlio Vargas e a Juscelino Kubitschek, Lula coloca-se no mais alto panteão do reconhecimento nacional. O que, convenhamos, é muito cedo. Por isso, cada vez mais se proclama: "menos, Lula, menos".   O FOGO DE JEFFERSON   Roberto Jefferson entra no rol de solidariedade de Lula, até porque seu partido está unido na defesa do presidente do PTB. Dizem que tem bala para atirar, caso seja ferido gravemente. Por enquanto, atirou em dois coronéis ligados a uma empresa de informática. (será que os dois coronéis também não têm outras balas?) Trata-se de um orador muito bom e seu discurso na Câmara pode ter causado boa impressão. Mas sua ficha de adesista de todos os momentos corrói a força do discurso.   ALCKMIN SENADOR   O governador Geraldo Alckmin quer mesmo ser candidato à presidência da República. Até pouco tempo atrás, era o candidato mais forte do PSDB. A posição, hoje, voltou para Fernando Henrique. O ex-presidente assiste, deliciado, Lula começar a descer o despenhadeiro. Se a queda for grande, topará liderar a chapa tucana, sob a alegação: "se o povo assim quis, pelo bem da Pátria..." Aécio Neves já está em plena campanha em Minas Gerais, mas tem uma pontinha do olho virada para o plano federal. Mas Alckmin, se for deslocado de seu eixo principal, toparia bater chapa com Suplicy, na única vaga para senador, em São Paulo, em 2006. Corre uma pesquisa mostrando Alckmin batendo o senador petista. Porém, o ambiente de eleição tem outros ares...   RENAN EM ALAGOAS   O presidente do Senado, Renan Calheiros, está começando a desistir de defender apoio irrestrito ao projeto de reeleição de Lula. Convidado pelo governador de Alagoas, Ronaldo Lessa, a ser o candidato de uma ampla aliança partidária, começa a encarar positivamente a idéia. E já bombardeia para meio mundo o refrão de que "o PT não é confiável".   MARTA CRISTIANIZADA?   Em São Paulo, a ex-prefeita Marta Suplicy está em plena pré-campanha, correndo o Interior e fazendo o que outros pré-candidatos fazem bem menos: contatos com as bases. Vai ser difícil tirá-la do páreo petista. Mas a caneta de Lula e a mão de Zé Dirceu trabalharão intensamente pela candidatura do senador Aloizio Mercadante. João Paulo Cunha não terá vez. Ganhará um cargo de compensação. Para Marta, Lula tem uma Embaixada. Mas a ex-prefeita é dura na queda. Quem a viu em um programa de TV, tirando chapéus para políticos, sentiu que irá até o fim. A briga do PT, em São Paulo, será um tiro no pé. Quem for candidato, entrará na campanha enfraquecido. Até porque, a esta altura, começam a jogar sujo contra a ex-prefeita. Se ela não for a candidata, é pouco provável que trabalhe com afinco o nome escolhido.   SERRA PATINANDO   Já se vão lá cinco meses e o prefeito José Serra não decolou. Dizer que recebeu a Prefeitura destroçada é discurso para, no máximo, dois meses. A essa altura, a administração municipal deveria ter um eixo, uma identidade, uma linguagem. Não tem. Não se sabe o que é prioridade, o que é secundário. O caminho mais largo não foi aberto. Sanear finanças não pode ser programa principal. Isso é meio, não é fim. A identidade de uma gestão abriga algo como um guarda-chuva social, um sólido programa de investimentos na periferia, a recuperação da saúde etc. Se Serra não decolar nos próximos dois meses, estará enfraquecendo todo o projeto tucano para 2006, aí incluindo o projeto presidencial. Se decolar na beirada da eleição de 2006, poucos perceberão. Não dará tempo - como não deu tempo a Marta - que algum candidato tucano consiga votação massiva em São Paulo.   RIGOTTO EM AÇÃO   Começa a ganhar corpo a candidatura de Germano Rigotto, pelo PMDB, à presidência da República. Esbanja charme e densa expressão em matéria econômica. Jovem, sério, fluência na expressão, boa aparência. Não é muito conhecido, o que, nesse momento, de tanta massificação de perfis saturados, é algo positivo. Passa a impressão de assepsia. Garotinho, por sua vez, vive cercado de crises. E duas coisas limitam seu perfil: Rio de Janeiro e a religiosidade evangélica. Ou seja, trabalha em campos muitos limitados. A igreja evangélica tolhe seus movimentos em outras direções. E Rio de Janeiro é um monumento de beleza brasileira. Mas, associado a Garotinho, fica com cara de violência e insegurança social._________________
quarta-feira, 11 de maio de 2005

Porandubas nº 3

A PEDRA NO MEIO DA LAGOA   Os horizontes eleitorais de 2006 estão sendo escancarados com muita volúpia. Os discursos começam a entrar na esfera da polarização. Fernando Henrique ataca de todos os lados, na esteira da mobilização tucana. César Maia ocupa os espaços centrais dos tempos do PFL na mídia partidária. Garotinho avança corpos à frente de outros pré-candidatos do PMDB, até porque tem se colocado em posição de ataque ao governo federal. E Lula já não esconde que entrou no palanque, ao atacar, nos últimos dias, o governo anterior. Mas o que há de novo neste cenário cheio de grandes interrogações? A pedra jogada no meio da lagoa. A classe média está indignada contra Lula. A gota d'água foi a referência ao "traseiro" do brasileiro que se acomoda no bar tomando chope, em vez de reclamar os juros altos no banco. Como pobre quase não vai a banco, Lula atingiu em cheio a classe média. Foi a classe média que deu um voto pesado a Lula na campanha passada. O petista, que sempre foi acolhido pelas massas periféricas, conseguiu chegar ao coração de grandes contingentes do centro da sociedade. Pois bem: esses contingentes estão se desgarrando. Exibem, na ponta da língua, a indignação. O arrependimento é grande. Nas últimas semanas, com a seqüência de besteiras governamentais - inclusive a tal Cartilha para corrigir a linguagem popular - as críticas subiram de tom. Atenção: quando a classe média grita no meio da lagoa, o eco acaba chegando nas margens. Já não se considera Lula um candidato imbatível.   À PROCURA DE UM DISCURSO   Lula ganhou a campanha com o mote "a esperança venceu o medo". A esperança embutia o acervo de mudanças. O que mudou? Se algo mudou, foi um detalhe aqui, um pormenor ali, uma coisita acolá. A matéria econômica continua sendo elaborada com a argamassa da ortodoxia, escudada em juros altos e controle enérgico da inflação. A matéria social carece de substância. Fome zero ganhou um zero de reconhecimento social. O Programa Primeiro Emprego ficou apenas na promessa. Não tem recursos. O Bolsa Família parece herança da situação anterior. O campo da gestão governamental está esburacado. A articulação política do governo Lula é uma lástima. Qual será, então, o discurso de Lula? Se for o discurso da estabilidade, não fará impacto. Se for uma "revolução social", vai ter que dizer a razão pela qual ela ainda não foi feita. Vai ser uma pedreira o candidato Lula encontrar o fio da meada para resgatar um bom discurso. Mas e os tucanos? Também terão problemas. Se o núcleo do discurso abrigar a questão da estabilidade, a situação continuará zero a zero, porque o PT também baterá nesta tecla. Se a questão resvalar para a escalada dos juros, os governistas também encontrarão dados para justificar a escalada tributária no governo anterior. O que poderá dizer o PFL? Pelo que se observa, vai bater na gestão, mostrando a qualidade do governo César Maia. O PMDB, por sua vez, terá um discurso mais nacionalista. Dificuldade: o que é ser nacionalista, dentro de um mundo globalizado? Resumo da ópera: a procura de um discurso será crucial para os partidos e presidenciáveis de 2006.   ALDO ESTÁ QUASE SAINDO   O ministro Aldo Rabelo não tem mais condições de permanecer no Governo. A não ser que deseje ser cozinhado até os ossos. Não tem prestígio na máquina governamental. Não é apreciado pelos petistas. Não tem mais a confiança dos partidos aliados, porque, constata-se, "falta tinta em sua caneta". Trata-se de um homem preparado, educado, cortês nos gestos e palavras. Tive a oportunidade de conhecer seu pensamento mais a fundo, recentemente, e fiquei impressionado com o conhecimento que exibe a respeito dos problemas brasileiros. Confesso, mesmo, que tinha certo preconceito em relação ao ministro por sua filiação ao PC do B, partido que herdou uma visão mais fechada do comunismo. Aldo Rabelo está acima da média do Ministério quanto ao calibre técnico e ético. Ocorre que a política brasileira nem sempre caminha no terreno da racionalidade e dos princípios morais e éticos. Aldo sairá para dar abrigo a um quadro petista, podendo ser o deputado João Paulo Cunha, de Osasco, ex-presidente da Câmara, com imagem positiva junto aos pares, ou mesmo o ministro José Dirceu. Este, porém, apesar do poder, criou inimizades. Atrita com muita gente. Fica melhor no perfil de coordenador geral da campanha de Lula.   ROSEANA SARNEY NO MINISTÉRIO   Se há um perfil na República que tem verdadeira "adoração" pela liturgia do poder é o Senador José Sarney, ex-presidente da República. Nos últimos tempos, saiu do pedestal onde procurou abrigo - para se preservar das coisas da pequena política - e passou a freqüentar os balcões do fisiologismo. Era, até pouco tempo, interlocutor privilegiado de Lula. Agia como conselheiro. Lula prometeu um Ministério para Roseana, como forma de compensar o esforço de Sarney, que, junto com o ex-adversário Renan Calheiros, tem ajudado o presidente a conquistar uma fatia do PMDB. Na esteira da crise aberta com a barganha de Severino Cavalcanti, o presidente decidiu suspender a reforma ministerial, contentando-se em mexer em apenas duas pedras do tabuleiro. Roseana, quase ministra e também quase saindo do PFL, teve que se contentar com a espera. Vai ser contemplada. Sob pena de Sarney começar a destilar um veneno muito bem guardado. Mas a força de Roseana já não será a mesma. Conseguirá, mesmo assim, juntar forças para ser candidatar ao governo do Maranhão e derrotar o hoje ultra-inimigo, governador José Reinaldo. Portanto, o Ministério para Roseana não está descartado. Lula quer isso, mas tem dificuldade para demitir amigos. E Roseana deverá ir para a vaga de um amigo.     PERFIL PARA SÃO PAULO   Experiente, asséptico, honesto, passado limpo, vida decente. Um empresário com certa vivência política. Ou um político com certa experiência na vida empresarial. Ou ainda um político de posições firmes, destemidas. Um líder do campo associativo também é aceito. Capaz de dizer coisa com coisa. Capaz de comandar uma mobilização contra os juros altos e a escalada tributária. Capaz de falar a linguagem das classes médias, sem abandonar os apelos para as massas. Maduro, não muito jovem, nem muito velho. Esses são traços do perfil para governar São Paulo que pesquisas qualitativas começam a apurar. Traços negados: identificado com a velha política, matreiro, sem escrúpulos, nome envolvido em escândalos. Que conheça tão bem a capital como o Interior do Estado.   PRÉVIAS NO PMDB   O PMDB abrirá, no segundo semestre, o sistema de prévias. Uma pesquisa aferirá junto às bases a conveniência de uma candidatura própria à presidência da República. Os governadores do PMDB têm influência forte nas bases. Por isso mesmo, a tendência das bases é pela aceitação das decisões tomadas pelos governadores. Hoje, dos seis governadores, a maioria é pela candidatura própria. Tudo vai depender da situação de Lula. Se estiver bem nas pesquisas, os partidos aliados fecharão com o PT. Caso contrário, a alternativa é a candidatura própria.     CONGRESSISTAS EM BAIXA   A imagem dos congressistas está no fundo do poço. Pesquisas feitas nos últimos dias dão conta da gravidade. A maré baixa apareceu com a onda severina. Se as coisas continuarem como estão, 2006 será o ano recorde de votos nulos.     UMA COISA É UMA COISA...   Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa, como disse, há tempos, José Genoino. Aloizio Mercadante confia que fará decolar sua campanha, em 2006, a partir dos 10 milhões de votos conseguidos na eleição de senador. Ninguém atravessa um rio no mesmo lugar, diz o ditado. Não é que o filósofo Genoino cunhou a frase que acaba com a confiança de Mercadante?   MARÉ DE DENÚNCIAS   Se Marta Suplicy conseguir se safar da maré de denúncias, feitas por tucanos e pelo Ministério Público, vai sobrar acusação na mídia eleitoral de 2006. Claro, se ela for candidata. A conferir.___________________
quinta-feira, 5 de maio de 2005

Porandubas nº 2

  O PT FAZ LIÇÃO DE CASA O PT começa a fazer a lição de casa para abrir o espaço eleitoral de 2006. Entre as lições que a cúpula petista está ministrando para os alunos das bases, algumas exibem forte conteúdo autoritário. A primeira delas é no sentido de abafar as discussões internas, evitando prévias partidárias entre os pré-candidatos petistas nos Estados. Quanto menor a dissensão interna, tanto maior será a capacidade da cúpula petista harmonizar os interesses em jogo. A orientação partiu do próprio presidente Lula, que está seriamente preocupado com o volume crescente de contrariedade nas bases do partido. A segunda lição tem por objetivo administrar a ambição de pré-candidatos petistas em Estados considerados estratégicos para o projeto de reeleição de Lula. Por exemplo: no Paraná ou em Santa Catarina, a cúpula do PT pretende apoiar os dois candidatos do PMDB, os governadores Requião e Luiz Henrique. A situação mais complicada será o RS, onde o petista Pont não quer abrir mão da candidatura para a reeleição do governador Rigotto. No Nordeste, a cúpula do PT tem interesse em apoiar a candidatura do ex-governador José Maranhão, do PMDB. E Lula até gostaria de ter como vice de sua chapa, o atual governador Jarbas Vasconcelos. Tudo por conta do apoio do PMDB à sua candidatura. Mas o PT está rachado, sendo pouco provável que a corrente majoritária consiga frear o impulso das bandas mais à esquerda. Resumo da ópera: a reeleição de Lula, antes de passar pelo crivo dos partidos aliados, depende, em primeiro lugar, da própria unidade petista. Ai está o busilis. FHC COMEÇA A SE ENTUSIASMAR Fernando Henrique subiu ao patamar privilegiado de "Pai da Pátria", título conferido, graciosamente, a ex-presidentes da República. Vaidoso, gosta de ser aplaudido nos ambientes que freqüenta, a partir de restaurantes finos. Preza e preserva a liturgia do poder, que tão bem faz ao coração do ex-presidente José Sarney. Ser reconhecido como um presidente dos mais importantes na história da modernização política do país seria, por si só, o maior presente, se não fosse a "mosca azul" do poder. A ONU poderia ser o lugar para o nosso ex-presidente. Mas ultrapassou a idade para vestir o figurino do cargo de secretário-geral da entidade. A secretaria geral da OEA é coisa pequena e acaba de ser preenchida por um chileno. Ademais, FHC não contaria com o apoio político do governo Lula para um cargo que necessitasse de tal amparo. Isolar-se no seu Instituto não faz bem à alma. Dar palestras a US$ 50 mil, cada, é um bom negócio, mas o schollar pode ter prestígio internacional e até enriquecer, mas não confere poder interno. Um coração vaidoso e uma cabeça eloqüente só se locupletam com o poder máximo. FHC começa a prospectar as linhas do horizonte. Percebe que as nuvens envolvendo Aécio Neves e Geraldo Alckmin estão muito turvas. Percebe que o céu de brigadeiro em que corria o avião de Lula também começa a se tornar plúmbeo, da cor de chumbo. Fernando vaidoso Henrique risonho Cardoso enche os pulmões da identidade com um sopro de boas lembranças. Quem sabe? Passa a se perguntar. Manhoso, só subiria a montanha do desafio se visse Lula caindo no despenhadeiro da descrença. A QUÍMICA DAS CHAPAS PRESIDENCIAIS O Sudeste tem cerca de 44% dos votos. O Nordeste, cerca de 27%. Sul, com 15%, Norte e Centro-Oeste, com quase 7%, cada, totalizam o eleitorado brasileiro. Pelos números, a equação eleitoral ideal deveria juntar a fome eleitoral do Nordeste com a vontade de comer do Sudeste. Uma chapa assim composta teria 71% dos votos. É claro que essa formação não implica necessariamente vitória da chapa, até porque os perfis dos candidatos se sobrepõem ao regionalismo. Não há dúvida, porém, que candidatos de regiões puxam um discurso com maior identificação às suas comunidades. Dito isto, vale projetar as chapas: qualquer candidato do Sudeste - Lula, Alckmin, Aécio, FHC, César Maia, Garotinho - gostaria de fechar a chapa com um candidato nordestino. Quem estaria disponível no Nordeste e com perfil para compor uma chapa majoritária federal? Vamos lá: senador Tasso Jereissatti (PSDB-CE), governador Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE), senador Renan Calheiros (PMDB-AL), senador José Agripino Maia (PFL-RN), Marco Maciel (PFL-PE), Ciro Gomes (ingressando no PSB-CE - mas fazendo o percurso para o Rio de Janeiro). A Bahia de ACM está confusa. Mas não se deve eliminar as possibilidades do Norte, Sul e Centro-Oeste, onde quadros como Jefferson Peres, Pedro Simon e outros se destacam. Já para um candidato do Sul - Germano Rigotto - o vice poderia sair tanto do Sudeste como do Nordeste. Chapa pura ou mista? A chapa mista tem a vantagem de somar forças partidárias. A chapa pura só tem possibilidades de vitória quando os nomes que a compõem são nacionalmente admirados, com assento permanente na galeria da grandeza nacional. REVISÃO DA CONSTITUIÇÃO COMEÇA A TER APOIOS A Constituição Federal já conta com 51 emendas. E há muitas em tramitação. Ou seja, a nossa Carta Magna está ilegível. Para acompanhar a leitura de seus artigos e incisos, há um manual anexado. O caminho da compreensão está cheio de curvas e desvios. Por isso mesmo, a revisão constitucional ganha adeptos a cada dia. Projetos de revisão começam a ser examinados. Algumas questões também ganham consenso, como a preservação dos capítulos dos direitos sociais e individuais. Mas as coisas emperram quando se considera a questão da operacionalidade. Que estatutos serão adequados para aprovar, junto à sociedade, a revisão constitucional? A discussão será aberta nas próximas semanas. O Parlamento começa a se mobilizar. O MARKETING PREVISÍVEL A entrevista coletiva concedida por Lula permite divisar o que virá mais adiante em termos de marketing eleitoral: o marketing da exacerbação emotiva. Vamos ver novamente a invencionice do "Lula paz e amor", das cantigas de crianças, do desfile de miseráveis, dos "feitos que mudaram o país" enfim, os velhos blábláblás. Vem aí novamente Duda Mendonça com seus estereótipos. O que ele e os petistas ainda não perceberam é que grande fatia do eleitorado lulista está indignada. Não votará mais em promessas. As esperanças foram enterradas no poço da descrença. E ninguém agüenta mais lorotas televisivas inventadas por Duda. Esse marketing - podem apostar - como o da Marta, funcionará como um bumerangue.___________________
segunda-feira, 25 de abril de 2005

Porandubas nº 1

  PARA ONDE VAI O PMDB?   O PMDB vai instituir, no Brasil, um estatuto idêntico às eleições primárias dos Estados Unidos, cuja implantação, prevista para outubro deste ano, servirá para permitir aos pré-candidatos do partido à presidência mobilizar as bases, expor plataformas de governo e fazer a campanha. O pré-candidato que obtiver maior votação nas Convenções Estaduais será o escolhido pelo Partido. Observe-se que a decisão da Convenção Nacional, realizada no início de dezembro de 2.004, continua valendo. A banda oposicionista do PMDB leva vantagem na disputa com o grupo situacionista. Espera-se que o julgamento do mérito, envolvendo a validade da Convenção, pelo plenário do Tribunal de Justiça do Distrito Federal, acolha a tese dos oposicionistas. Mais ainda: parcela ponderável da bancada peemedebista votará pela manutenção da verticalização, que engessa as alianças nos Estados, a partir da aliança federal. A motivação da verticalização, no caso, tem fundo maquiavélico: será mais difícil, neste caso, uma aliança entre PMDB e PT, a partir de Estados como Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná.   COMEÇO DE PRÉ-CAMPANHA   O governador Geraldo Alckmin começa a correr o país, iniciando sua pré-campanha. Tem ido ao Nordeste, foi ao Rio Grande do Sul e sua agenda já abre espaços para compromissos de cunho político-eleitoral. Mas o governador exibe um perfil reativo. Parece temer se apresentar com garra. Aécio Neves, por sua vez, prepara ampla estratégia de comunicação, a partir do mote: Minas Gerais e o choque de gestão. Bate forte no ponto fraco do governo petista: a ineficiência administrativa. César Maia também se animou, a partir da vitória conseguida sobre o Governo Federal, com a devolução dos hospitais para a esfera municipal.   CAMPANHA PAULISTA   A campanha ao governo de São Paulo será uma das mais renhidas de 2.006. O candidato mais provável do PT é Aloízio Mercadante, que exibirá os 10 milhões de votos que recebeu na eleição ao Senado.No PSDB, não há candidatos com perfil vigoroso, capazes de mobilizar as bases partidárias e sensibilizar o eleitorado, entre eles, Zulaiê Cobra, Arnaldo Madeira, José Aníbal (apesar do bom recall, a partir da ótima votação na capital, para vereador), e os secretários de Alckmin - Saulo de Castro Abreu e Gabriel Chalita. Há uma carta alta no baralho. Fernando Henrique, se assim o desejasse, seria um candidato "quase" imbatível. O "quase" fica por conta da situação do país. Se Lula estiver cantando aleluias e o povo feliz, o PT ganhará a parada. O PFL teria um forte candidato, se estivesse disposto a romper a aliança com o PSDB: Guilherme Afif Domingos, revigorado pela campanha contra a derrama. Afif, ao lado de lideres da sociedade civil organizada, como o presidente da OAB-SP, Luiz Flábio Borges D' Urso, foi um dos líderes da intensa mobilização que reuniu cerca de 1.500 entidades. Tem boa imagem, visibilidade e fluência discursiva. O PMDB poderá sair com Orestes Quércia ou Michel Temer. A posição do PMDB se fortalecerá, em São Paulo, caso o partido apresente candidatura própria à presidência da República. Hoje, o partido apresenta um conjunto de 17 nomes considerados bem viáveis para os governos estaduais.   REVISÃO DA CONSTITUIÇÃO   Depois de contabilizar mais de 50 emendas, a Constituição Federal está com o figurino desbotado e pronto para ganhar nova roupagem. O deputado Luiz Carlos Santos apresentou projeto, assinado por 174 parlamentares, para a Convocação de Assembléia de Revisão Constitucional. Recebeu um denso parecer do Constitucionalista Michel Temer, presidente do PMDB, que, após amplas considerações sobre a constitucionalidade do projeto, propõe um substitutivo, que se ampara nos seguintes eixos: a discussão da matéria se dará na esfera do sistema unicameral, mas a votação será feita, por maioria absoluta de votos nas duas Casas congressuais( no projeto original, a votação seria pelo sistema unicameral, nivelando-se votos de deputados e senadores); a reforma deverá ser submetida ao referendo popular - estatuto da democracia direta - "para que o povo, titular do poder constituinte originário, diga se está, ou não, de acordo com o texto revisado". Atente-se que a figura indicada é a do referendo e não o do plebiscito, porquanto este é meramente autorizativo, enquanto aquele - o referendo - é autorizativo-valorativo, razão pela qual o povo aprovará um texto pronto, perfeito e acabado, evitando o "cheque em branco" (com o plebiscito) aos eleitos. A Assembléia de Revisão Constitucional seria instalada em 1o de fevereiro de 2.007, com duração máxima de 12 meses, e, a cada 10 anos, seria autorizada Revisão Constitucional. ___________________