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Porandubas Políticas

Por dentro da política.

Gaudêncio Torquato
quarta-feira, 5 de julho de 2006

Porandubas nº 60

  O BRASIL NA REAL Depois deste pesadelo de começo de inverno, a ressaca. Só agora, depois de desfeitas as expectativas, o Brasil cai na real. Para angústia, daqueles que esperavam faturar com a Taça. Lula, entre eles, já tinha fotografado na cachola a foto olímpica no Palácio do Planalto, rodeado da equipe sorridente e técnico esfuziante. Gorou a esperança. No frio dos escritórios, os internautas nos brindam com doses de humor e picardia. Uma pitada: Lula para técnico, Parreira para presidente. PNBINF CRESCE Uma verdade se pode extrair da derrota brasileira na Copa: o Produto Nacional Bruto da Infelicidade - fruto dos desesperos e das desesperanças cotidianas - cresceu nos últimos dias. Quer queira ou não, Lula será visto como pé frio. CAMPANHA VAI ÀS RUAS A campanha eleitoral ganha as ruas. Teremos massa menor de publicidade nas ruas. Sem outdoors, os muros não exibirão caras políticas. Mas os cartazes serão permitidos. A questão é: onde afixá-los? Os chamados "próprios públicos", entre os quais os postes, são catalogados como espaços proibidos. O aperto nos parafusos da comunicação propiciará soltar dois eixos da alavanca do marketing político: a articulação com a sociedade organizada e a mobilização de grupos. Lembre-se que os comícios continuam permitidos. A proibição foi para showmícios. LEMBO EM CARREIRA SOLO O governador Cláudio Lembo, a cada dia, passa a impressão de que deseja fazer uma carreira solo como barítono do PFL. Não dá bolas para as críticas da cúpula do partido, para quem está distanciado das campanhas de Geraldo Alckmin e José Serra, à presidência da República e ao governo do Estado, respectivamente. Lembo recebeu Lula em São Paulo com pompa, liturgia e muita deferência. O único prócer que parece fazer a cabeça do governador paulista é o senador Marco Maciel, com quem tem históricas ligações. A POLÍTICA NO LIXO A se confirmar uma nova lista de parlamentares suspeitos de terem participado da Operação Sanguessuga, cerca de 1/3 dos integrantes da Câmara Federal estariam comprometidos com bandalheira. Some-se esse contingente aos 2.900 nomes que o Tribunal de Contas da União entregou ao Tribunal Superior Eleitoral, e que seriam inelegíveis por terem processos na Justiça, para se distinguir o retrato por inteiro do lixo que suja o Brasil político. A SUBIDA DE ALCKMIN Quem acompanha regularmente as análises deste escriba conhece as razões para o crescimento de Geraldo Alckmin nas pesquisas. Além dos martelados argumentos sobre a expansão da visibilidade do candidato, via programas políticos do PSDB e PFL, há de se observar a recuperação do tucano, muito previsível, em nichos considerados mais sensíveis ao seu perfil, como o Sul e o Sudeste, que abrigam um eleitorado mais racional. Aliás, Alckmin, como temos observado, sob o aspecto teórico, ocuparia os maiores palanques do País, na medida em que correligionários seus são favoritos em colégios eleitorais de peso: José Serra, em São Paulo; Aécio Neves, em Minas; Sérgio Cabral, no RJ; Paulo Souto, na Bahia; Mendonça Filho, em Pernambuco, além dos três Estados do Sul (RS, SC e PR), onde já tem votação maior que a de Lula. A questão é: convencerá os aliados a vestir, sem hesitação, a sua camisa? ZORRA TOTAL As alianças para as eleições de outubro são uma zorra total. Correligionários do plano federal são adversários na esfera estadual. E coisas mais que esquisitas acontecem. César Maia, do PFL, está apoiando a deputada Denise Frossard, candidata ao governo pelo PPS. Os tucanos da Bahia são inimigos históricos do PFL de ACM e Paulo Souto. Geddel Vieira Lima, ex-trombeteiro-mor de FHC, apóia Lula. Fernando Bezerra, senador do RN, ex-presidente da Confederação Nacional da Indústria, é líder do governo Lula no senado. Roberto Requião fez acordo com o PSDB, no Paraná, mas abrirá palanque para Lula. E assim por diante... TV GLOBO E OS PREJUÍZOS Qual foi o prejuízo da TV Globo com a derrota brasileira na Copa? A Globo bancou a maior espetacularização esportiva de todos os tempos. Perde grande audiência. E toma prejuízo com a estrutura de cobertura que montou. CLASSES MÉDIAS NÃO VOLTAM As classes médias continuam a se desgarrar do colo de Lula. É pouco provável que voltem ao regaço lulista, mesmo com as medidas de agrado que o ministro Tarso Genro anda planejando. A divisão entre pobres e ricos continua no centro do discurso de Lula. Os meios da sociedade não aprovam esta abordagem. O PT NÃO RECUA Por mais que seja ameaçado de diminuir drasticamente a bancada no Parlamento, o PT não recua. Tem maior número de candidatos ao governo de Estados que o PMDB. Sem alianças fortes, a previsão é de porteiras fechadas para uma grande representação. HOMEM-SANDUÍCHE Pregar cartaz em poste, ponte e marquise será proibido. Mas o cartaz pode ser afixado na frente e nas costas de pessoas. O Brasil avança no campo da propaganda política: o homem-sanduíche. JINGLES NOS COMÍCIOS Música também será proibida nos comícios. Só jingles de candidatos poderão ser cantados. Mais um invento tupiniquim: comícios de uma nota só. ESSA É DE ARREPIAR Os materiais impressos terão de exibir o CNPJ da gráfica. Mais uma esquisitice desses alegres trópicos: propaganda política de gráficas. MANDIOCA NO PÃO O projeto do presidente da Câmara, Aldo Rebelo, de adição de farinha de mandioca no pão, tem chances de ser aprovado, apesar da oposição dos moinhos. O pãodioca é, pelo menos, uma invenção com rima. Não. Não pensem que a referência tem algo a ver com idiota. REFORMA GREGÁRIA Sai Roberto Rodrigues e entra Luis Carlos Guedes, ligado ao PT e ao MST, no Ministério da Agricultura. É o governo Lula fazendo reforma gregária. QUEM É ATILA, O MANO ? De Átila, o huno, a história conta grandes proezas. De Átila Russomano, nenhum registro histórico de maior significação. Do que se sabe, é apenas o mano. Alguém sabe de quem? Do deputado Celso Russomano. É o vereador escolhido para ser candidato a vice na chapa de Orestes Quércia. E assim caminha o Brasil.... DE PÁTRIA E DE CHUTEIRAS Em tempos idos, nossas orações agradeciam aos Céus pelas glórias da "Pátria de Chuteiras". Em tempos correntes, nossas mentes perplexas não contêm a indignação pela tétrica visão de "Chuteiras sem Pátria". ____________
quarta-feira, 28 de junho de 2006

Porandubas nº 59

GANHOU, MAS NÃO CONVENCEU Vitória de três a zero é vitória magnífica. Principalmente, quando o time vencedor dá show de bola. Não foi o que aconteceu. Gana passou mais tempo com a bola, teve melhor domínio de jogo, mas não soube aproveitar as boas oportunidades criadas. Quem entende de futebol diz que a tática de Parreira foi a de jogar na retranca. Quem não entende muito de futebol, como este escriba, acha que o time adversário jogou melhor. E não venham com essa de patriotismo maquiado. Jogo é jogo e a verdade está à vista de todos. Não há como firular. LEITURA LABIAL Ler a expressão das pessoas por meio dos lábios é invasão de privacidade ? Quando uma máquina flagra uma pessoa roubando está invadindo a privacidade ? Gravar conversas do PCC sobre ações de violência é invasão de privacidade ? O que há em comum entre esses gestos ? E o que há de diferente ? Para ajudar a pessoa a argumentar a resposta, urge a partir de conceitos como bem comum, interesse coletivo, defesa da sociedade. A invasão de privacidade é uma coisa relativa. O JOGO COMEÇOU O jogo eleitoral começou. As últimas alianças estão sendo fechadas. O PT sai perdendo. Terá apenas 6 minutos e alguns segundos de tempo para os programas eleitorais, contra mais de 9 minutos de Geraldo Alckmin. Mas Lula tem carisma e o tucano não tem. Porém, este é bom na expressão televisiva. Há quem aposte que ganhará a guerra midiática. Uma pergunta fica no ar : programa eleitoral faz a cabeça de quem ? De núcleos médios ? Do povão ? QUÉRCIA TIRA VOTOS DE QUEM ? Errada a premissa de que a candidatura de Orestes Quércia ao governo de São Paulo prejudicará mais o tucano José Serra. Tira votos também do petista Aloizio Mercadante. Quércia deve oscilar entre 8% a 12%. Se passar dessa margem, a campanha paulista poderá entrar na rota do segundo turno. Quércia fez de tudo para ser o vice de José Serra na chapa ao governo. Michel Temer era o preferido. Ambos fizeram o pacto : se Quércia não quer Michel, este não aceita nenhum outro nome indicado por Quércia para vice. TRIBUNAIS ELEITORAIS MAIS RÍGIDOS ? Os primeiros acentos dos Tribunais Eleitorais apontam para uma interpretação mais rigorosa da lei. Mas a lei será muito burlada. A partir de Lula, o presidente, que não poderá mais usar a máquina, e que o fará, claro, utilizando a estrutura governamental para fazer vistorias de obras. No Brasil, a lei oferece rotas alternativas para seu cumprimento. Afinal, estamos em um país tropical, onde o sim-sim-não-não cede lugar ao mais ou menos. P.S.: a própria convenção do PT, que consagrou o nome de Lula à reeleição, fez um showmício, coisa proibida pela lei eleitoral. A convenção é um evento eleitoral. Vejam que drible: outdoor está proibido. Mas pode ser afixado em propriedade privada, bem como propaganda em muros. Há um monte de dúvidas que o TSE ainda não conseguiu desvendar. A CPI DOS SANGUESSUGAS Será uma reportagem a CPI dos Sanguessugas e não uma novela. Essa é a interpretação do deputado Fernando Gabeira para a CPI que foi firmada pelo seu esforço pessoal. Significa que será mais objetiva, menos espetaculosa, mais informativa, menos dada a comícios e desfiles de egos. LULA E OS AUMENTOS Lula esperou para dar aumentos ao funcionalismo público no princípio da campanha eleitoral. Acertou um pacotão para os servidores do Judiciário. Conta com a ajuda da presidente do STF e com alguns ministros do TSE para vencer a luta contra o presidente do TSE, Marco Aurélio Mello. Se o aumento não for concedido, a culpa recairá no ministro. Esta é mais uma sinuca de bico que Lula está dando na oposição. REQUIÃO E RIGOTTO EM DOIS PALANQUES Roberto Requião, candidato à reeleição no Paraná, abrirá palanque para Lula mas não fecha o espaço paranaense para Geraldo Alckmin. O governador Germano Rigotto também fará a mesma coisa. Trata-se de uma estratégia inicial de campanha. A medida em que as coisas forem se definindo, penderão mais para um lado. FHC ATRAPALHA Se Fernando Henrique, o presidente schollar, quer ajudar o correligionário Geraldo Alckmin a decolar, precisa se afastar do dia-a-dia da campanha. Sua rejeição é muito alta. E tudo que Lula quer é ver FHC subindo ao palanque de Geraldo. JARBAS VESTE A CAMISA Jarbas Vasconcelos, ex-governador de Pernambuco, candidato ao senado na chapa liderada por Mendonça Filho, do PFL, vestiu definitivamente a camisa tucana. É razoável esperar pelo crescimento de Geraldo Alckmin nos índices de intenção de votos em Pernambuco, onde Lula tem cerca de 65% dos votos. COPA MENOS ALEGRE Esperava-se clima mais animado. A performance do Brasil na Copa deixa a desejar. O clima social não é de muito festejo. SUPLICY CALADÃO, AFIF NA MOITA O senador Eduardo Suplicy já foi mais falante. Perdeu a voz. Está por baixo no território petista. Mas assegurou a candidatura ao Senado. Atenção : Guilherme Afif, caso se confirme como candidato ao senado na chapa encabeçada por José Serra, é muito bom de telinha. Surpreenderá nos programas eleitorais. A conferir. KASSAB ABRE FRONTEIRAS O prefeito Gilberto Kassab, hábil articulador, começa a abrir fronteiras com vistas para o futuro. Tem o apoio do correligionário Cláudio Lembo, governador, para se candidatar à reeleição. Precisa apenas sair mais da sombra e submeter-se ao sol das ruas. UM TENTO DA SEGURANÇA PAULISTA O esquema de segurança de São Paulo surpreendeu o PCC. Prevenido, depois de gravar e acompanhar a mobilização de grupos bandidos, acabou evitando assaltos e chacinas. A morte de 13 suspeitos deve alterar a correlação de forças e encostar o comando do PCC na parede. Ponto para o secretário Saulo de Abreu Castro Filho. ____________
quarta-feira, 21 de junho de 2006

Porandubas nº 58

COPA MORNA A Copa prometia ser quente. Está mais para morna. O Produto Nacional Bruto da Infelicidade Nacional - amálgama dos problemas cotidianos - diminuiu apenas 2 pontos, quando, a esta altura, a expectativa era de uma baixa em torno de 5. A performance da seleção canarinha está aquém das expectativas. Os argentinos, nossos eternos rivais, é quem têm dado um show de bola. Até por isso, nossas alegrias estão contidas.  RONALDUCHO O presidente Lula, ao sugerir que iríamos ver o desempenho de um Ronalducho, falou por milhões de brasileiros. O jogador precisa diminuir uns três a quatro quilinhos. E demonstrar vontade de "comer a bola". Vamos esperar pela luta contra os japoneses de Zico, amanhã. Será a cartada final do (ex) Fenômeno. BU-SS-UNDA No palco vazio de lideranças, os nossos heróis são jogadores de futebol, artistas de TV, humoristas. Bussunda era um deles. Foi embora e deixa um oceano de risos presos. O Casseta & Planeta jamais será o mesmo. Que cara engraçado! Fez piada até no cemitério. Bater palmas para ele é aplaudir as sílabas de dois ícones da verve nacional, que escolheu para homenagear em seu desempenho casseta. MALA PRETA Mala preta é sinônimo de compra de votos em alguns currais do país. Já começa a aparecer nas mãos de candidatos-operadores. São os tipos que passam ao largo da legislação. Somam 50% da Câmara Federal. VOTO-LAMBANÇA Que vai haver um voto-lambança nas eleições de outubro, ah, isso vai. É o voto que mistura alhos com bugalhos. Lula será o mais beneficiado. Vejamos alguns votos-lambança: Lulécio - Voto em Lula e Aécio Neves, em Minas Gerais; Lulérgio, voto em Lula e Sérgio Cabral, no Rio de Janeiro; Lugaldi, voto em Lula e em Garibaldi Alves, no Rio Grande do Norte; Lulonça, voto em Lula e em Mendonça Filho, em Pernambuco; Luquião, voto em Lula e em Requião, no Paraná; Luique, voto em Lula e Luiz Henrique, em Santa Catarina; Luouto, voto em Lula e em Paulo Souto, na Bahia; Lássio, voto em Lula e em Cássio Cunha Lima, na Paraíba. Ocorre que todos esses candidatos ao governo de Estados estão apoiando Geraldo Alckmin. Se vestissem a camisa tucana, o voto não seria tão escu...lambado. SEGUNDO TURNO Façam-se as contas. Com mais 15 pontos, Alckmin chega a 35 pontos nas pesquisas de intenção de voto. Heloísa Helena (PSOL) poderá chegar aos dois dígitos, 10 pontos. Os outros candidatos - Cristovam Buarque (PDT), Luciano Bivar (PSL) e José Maria Eymael (PSDC) - podem chegar, juntos, a 5 pontos. Com essa marca, a disputa presidencial irá para o segundo turno. Muitos duvidam que Alckmin ganhe 15 pontos. Não será difícil. PT SEM PSB? Se o PSB, de Eduardo Campos, sobrinho de Miguel Arraes, não fizer coligação formal com o PT, Lula perde quase 2 minutos de tempo de TV. Coligando-se com o PSB e o PC do B, o PT terá 8 minutos e 5 segundos. O tucano Alckmin disporá de 9 minutos e 38 segundos. Nem sempre maior tempo significa maior eficácia. Tudo vai depender da qualidade do programa de TV e rádio. USO DA MÁQUINA A partir de 1o de julho, o presidente Luiz Inácio não poderá usar a máquina. Coisa relativa. Poderá usar o Aerolula, contanto que o PT faça o reembolso das despesas. Não poderá fazer inaugurações, mas um dia depois, poderá visitar a obra inaugurada. E com direito a mostrar a visita na telinha da TV. Legislação fajuta. MERCADANTE Não se espera uma vitória fácil de José Serra em São Paulo. O senador Mercadante tem discurso denso e crível. O veneno que contaminou o PT não chegou forte em suas veias. QUÉRCIA LUTA PARA SER VICE José Serra está ouvindo o pleito de Quércia, que deseja ser vice na chapa tucana. É a condição para o PMDB fechar acordo. Mas Serra e os tucanos rejeitam o nome. Prefeririam Michel Temer. Será difícil Quércia aceitar essa preferência. PFL VERSUS TUCANOS As querelas entre o PFL e os tucanos continuam em alguns Estados. Eis o calcanhar-de-Aquiles de Geraldo Alckmin. Enquanto isso, Lula nada de braçada. PTB COM SERRA O PTB reivindica a vice na chapa de Serra, porque alega ter uma bancada maior em São Paulo do que a bancada pefelista. Mas e o prestígio da sigla ? O PTB esteve no centro da crise do mensalão. TARSO COM A AGULHA Tarso Genro está com a agulha toda como ministro das Relações Institucionais. Fala com todos. Costurando acordos e desenhando cenários futuros. E de diálogo em diálogo, está tirando o atraso do governo Lula em matéria de articulação partidária e social. PPS APÓIA GERALDO. E NOS ESTADOS ? O PPS comandado pelo deputado Roberto Freire anuncia apoio informal a Geraldo Alckmin, candidato do PSDB à presidência da República. Nos Estados, a coligação informal PPS - PSDB deveria ocorrer. Em Roraima, a ex-prefeita de Boa Vista, Tereza Jucá, será candidata ao Senado pelo PPS, enquanto o marido, senador Romero Jucá, pleiteia o governo, pelo PMDB. Sinuca de bico: o governador Otomar Pinto (PSDB) é candidato à reeleição. Tereza, do PPS, terá de fazer campanha de Otomar, do PSDB, contra seu marido, do PMDB. Teoricamente. No Brasil, há um oceano de distância entre teoria e prática. CPI DOS SANGUESSUGAS Não dá para acreditar na eficácia da CPI dos sanguessugas. Em duas semanas, a campanha irá para as ruas. O Congresso ficará esvaziado. Mas há uma luta feroz de partidos que disputam a presidência e a relatoria. ____________
quarta-feira, 14 de junho de 2006

Porandubas nº 57

PALOCCI SUBMERSO O ex-ministro da Fazenda, Antônio Palocci, está submerso. Não apareceu na Convenção do PT, que ratificou o nome de Mercadante como candidato ao governo. Isola-se numa mansão em Brasília. Ainda não autorizou colocar seu nome na chapa de candidatos a deputado federal. Mas precisará do mandato. Será candidato. GERALDO CRESCERÁ ? Com o nome homologado pela convenção tucana, Geraldo Alckmin já começou a usar uma artilharia forte. Chamou Lula de "chefe dos 40 ladrões". O picolé de chuchu se transforma em faca amolada. Só que a carne de Lula é dura. Para crescer, precisa que os correligionários nos principais colégios eleitorais do país vistam sua camisa : José Serra, em SP; Sérgio Cabral com o apoio de Garotinho, no RJ; Aécio Neves em Minas; Paulo Souto com o apoio de ACM, na Bahia; Mendonça Filho, com o apoio de Jarbas Vasconcelos e José Jorge (candidato a vice), em PE; Germano Rigotto, no RS; Luiz Henrique, em Santa Catarina e (pasmem) Roberto Requião, que acaba de fechar coligação com o PSDB do senador Álvaro Dias. Para quem não sabe : estes colégios eleitorais somam, juntos, 68% dos votos nacionais. Nesses Estados, os favoritos estão todos na canoa de Geraldo Alckmin. O BRASIL JÁ EXISTIA Mais uma pérola da boca do D. Lula Primeiro e Único : "o Brasil já existia antes de mim. Mas era um lego desconjuntado". Não se trata de piada. O homem comunicou ao povo tupiniquim que, antes dele aparecer, o Brasil já tinha sido descoberto. Mas essa descoberta não valeu. O território só começou a funcionar quando os pedaços do brinquedo, o Brasil, foram montados um a um. Piedade, Senhor, piedade! RONALDUCHO E LULINGA Pois é, quem atira a primeira pedra acaba levando tijolada. Foi só Lula sugerir que Ronaldo está gordo para o fenômeno retrucar com a lembrança de que o presidente, segundo se comenta, adora uma pinga. Por conta de informação idêntica, um correspondente estrangeiro, Larry Rother, do New York Times, quase teve de trabalhar em outra freguesia. Ronaldo não agrediu. Trocou gentilezas. Não gostou de ser lembrado como Ronalducho, e o presidente deve abominar ser lembrado como Lulinga. DULCI NO COMANDO Luiz Dulci é um rapaz preparado. E, como mineiro, trabalha em silêncio. Um ótimo perfil para comandar a campanha de Lula. O momento político aconselha grandes silêncios. Em boca fechada, não entra mosca. Dulci foi bem escolhido. REALE NAS FINANÇAS Do lado tucano, escolheram o jurista Miguel Reale Jr. para a traumática e mais que sensível área de finanças da campanha. Pela postura ético-cívica deste advogado paulista, extrai-se uma foto preliminar da prometida campanha transparente do candidato tucano. SERRA E AÉCIO José Serra e Aécio Neves estão aguardando a manifestação do candidato Alckmin sobre reeleição para vestirem ou não a camisa do correligionário. Se Geraldo se comprometer publicamente com o fim da reeleição, irão a campo com boa disposição. Com um lembrete de acréscimo : Serra irá à luta com ânimo melhor do que Aécio. Já observaram os olhos do mineiro ? Nos últimos tempos, anda meio vesgo. O olho esquerdo enxerga Lula, enquanto o direito espia Alckmin. O ENXUGAMENTO E AGLUTINAÇÃO Não mais que oito siglas sobreviverão ao estatuto da cláusula de barreira. Das 29 siglas existentes, a maior parte desaparecerá. As grandes siglas terão de conviver com um a dois partidos amalgamados, que sairão das aglutinações inter-partidárias. Haverá espaço para a criação de um partido de proporções médias, localizado no centro-esquerda do espectro ideológico. Juntaria PSB, PDT, PPS, rebeldes do PMDB e até do PTB. APOSTEM FICHAS E se o Brasil perder a Copa ? Lula perderá pontos para Geraldo. Nada acontecerá. E se o Brasil ganhar a Copa ? Lula ganhará pontos deixando Geraldo bem para trás. Nada ocorrerá. Continuem apostando. Ao vitorioso, as batatas. Ao perdedor, uma banana. E a VEJA, HEIN ? A revista Veja continua fazendo capas de arrombar conceitos e arrebentar identidades. A desta semana sobre os PTbulls é uma das mais fortes deste ano. A revista comprou briga feia. Deve ter munição. TIRAGENS DA MÍDIA IMPRESSA Impressiona a pequena tiragem da mídia impressa. Os grandes jornais não ultrapassam a casa dos 300 mil exemplares. E não há mais revista que suba a escada dos 500 mil exemplares. Novos tempos, velhas tiragens. Os leitores estão andando em que trilhas, além da Internet ? Para as mídias ultra-especializadas do campo impresso ? Para as mídias fechadas - a cabo - dos canais eletrônicos ? O BOMBARDEIO DA COPA A maior cobertura de todos os tempos está elevando a Copa ao mais alto patamar da massificação de uma idéia no Brasil. Além da explicação de que somos a Pátria do Futebol, há outra explicação para esse verdadeiro massacre ? Há, sim. O descrédito na política e nas instituições. A esperança volta-se para outros signos. Os nossos heróis vestem calção e calçam chuteiras para correr atrás de uma bola. Claro, dão dribles, fazem firulas, molecagens e muitos gols. E não levam para a casa a fama de espertalhões. A palavra ladrão é até usada. Não dirigida a eles, os nossos heróis, mas aos árbitros das partidas. O DEDO DE DUDA Dante Matiussi, ex-colaborador de Duda Mendonça, com quem deve ter aprendido algumas artimanhas do marketing político, comandará o marketing da campanha de Mercadante ao governo de São Paulo. João Santana, também ex-sócio de Duda, comandará a campanha de Lula à presidência. Ou seja, Duda não morreu. O dedo de Duda continua empurrando a estrelinha vermelha do PT. O PEFELÊ NO PODER Uma dica para quem quiser saber como o PFL chegou ao centro do poder no Estado mais poderoso da Federação : o negócio é perguntar ao governador, que "lemba", pois o prefeito "nunca sabe". Brincadeira à parte, há quem distinga nesse prefeito Gilberto Kassab um dos mais hábeis articuladores do partido no país. SHOW BUSINESS Este colunista estará fazendo uma análise da conjuntura política e da campanha eleitoral, com as possibilidades e chances dos candidatos Lula da Silva e Geraldo Alclmin, no programa comandado por João Dória, Show Business, do próximo domingo, na Rede TV, a partir das 22 horas. CARGOS PARA O PMDB Nem bem decidiu retirar a candidatura própria à presidência da República, o velho PMDB de guerra correu em busca de cargos. Mas, atenção : os corredores pertencem à ala governista. Seus nomes : José Sarney e Renan Calheiros, figuras que já estavam à espera de Pedro Álvares Cabral, por ocasião da Descoberta do Brasil. Quando viram o grande capitão-navegador com aqueles trajes enfeitados e cheios de medalha de bronze no peito, chapéu de penacho, mais parecendo estátua viva, olharam-se e nem precisaram cochichar. Correram em direção a Cabral, aderindo de imediato à "causa cabralina", mesmo antes de saberem a que vinha o nosso Descobridor. Nascia ali o adesismo-fisiologista. PT VERSUS LULA O PT é contra a autonomia do Banco Central. Lula é a favor. O PT é contra nova reforma da Previdência Social. Lula é a favor. E tudo fica por isso mesmo. Porque o PT não tem coragem de dizer que é contra Lula. E este não tem vontade de contrariar o partido. ____________
quarta-feira, 7 de junho de 2006

Porandubas nº 56

  EFEITO RETARDADO A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) encaminha queixa-crime contra Lula, moeda de compensação por não ter aprovado pedido de "impeachment" do presidente. Mesmo atrasada, a notícia-crime terá algum impacto. Afinal de contas, trata-se de pedido de investigação sobre as ligações entre a Telemar e a empresa Gamecorp, do filho de Lula, Fábio Luiz da Silva, a omissão do presidente em relação ao mensalão e a suspeita de favorecimento ao banco BMG. A Ordem é uma das mais simbólicas entidades de representação civil da sociedade organizada. Certamente, o peso da entidade ajudará a oposição a reforçar seu discurso. A GLOBO E AS PESQUISAS A TV GLOBO usa, vez ou outra, o maior e mais qualificado espaço da mídia nacional - Jornal Nacional - para se defender de acusações. A tônica da defesa é sempre a mesma: a TV Globo se guia por critérios de impessoalidade, imparcialidade, significação social dos fatos etc. Há, porém, abordagens que causam suspeita. Por que a emissora passou a adotar o critério de dar o resultado de votos válidos ? Com o noticiário das pesquisas com os votos válidos alcançados por Lula, a Globo parece querer esticar a vantagem de Lula sobre Alckmin. Maneira sorrateira de fazer campanha a favor de um contra o outro. O que tem a ver o lobby da TV Digital com isso ? Aqueles que sabem a resposta, levantem a mão. Obrigado, os 95% da classe que levantaram a mão podem baixá-la. VEJA QUÉRCIA Dois sentidos para o título. O primeiro sentido é a querela jurídica que Quércia está enfrentando contra a Veja. Anúncios pagos nos principais jornais do país dão conta do processo que o ex-governador de São Paulo e presidente regional do PMDB está abrindo contra a revista, que o teria difamado. Uma briga que vai durar um bom tempo. O segundo sentido é um convite para acompanhar os passos de Quércia. Ele promete que será candidato ao governo do Estado. Se chegar aos 20%, pode empurrar a campanha ao governo de São Paulo para o segundo turno. Será difícil. O ex-governador condicionava sua candidatura ao governo à candidatura própria do PMDB à presidência da República. O PMDB não terá candidato próprio. Depois do encontro com Lula, parece ter mudado de opinião. Avisa que será candidato. Mas poderá fechar com José Serra e sair como candidato a senador. Em que acreditar ? RENOVAÇÃO PERO NO MUCHO Quem sonhar com grande renovação na Câmara dos Deputados, poderá ter uma decepção. Os mensaleiros, com raras exceções, voltarão ao Parlamento, a partir dos petistas João Paulo, José Mentor e Professor Luizinho, em São Paulo. José Genoino, o ex-presidente do PT, também estará de volta, com a força total do partido. E Antônio Palocci também se prepara, na moita, para voltar por cima. Os mensaleiros de outros Estados também estão se candidatando. O fato novo será o enxugamento do quadro partidário. Das 29 siglas registradas no TSE, apenas 8 ou 9 terão condições de passar pela cláusula de desempenho, que exige 5% dos votos para deputados federais em todo o território nacional, sendo 2% em pelo menos 9 Estados. CÉSAR MAIA, O MATADOR O ataque mais devastador nem sempre é desferido pelo inimigo feroz. Em política, freqüentemente o ataque parte dos correligionários. César Maia, especialista em factóides, fez uma campanha feroz contra o aliado Geraldo Alckmin. No seu ex-blog, factóide que chama a atenção pelo fato de ser um morto-vivo, Maia produziu 190 matérias que, pela negatividade, maltrataram o perfil e o conceito do candidato tucano apoiado pelo PFL. O CÚMULO DA DESFAÇATEZ Lula está de salto altíssimo. O candidato diz que ainda não decidiu ser candidato, mas faz campanha do alto do cargo presidencial, abrindo uma expressão eleitoral nunca vista. Usa o Palácio do Planalto para receber líderes partidários, a quem oferece o cargo de vice em sua chapa. Isso pode, ministro Marco Aurélio? Pior: desafia oposicionistas a colocar nos programas eleitorais a questão do mensalão. Por que o presidente faz esse desafio? Ora, porque o mensalão nunca existiu, os 40 nomes de uma quadrilha denunciada pelo Procurador Geral da República, Antônio Fernando de Sousa, são todos inocentes, os sanguessugas são invenção da imprensa, e ele, o presidente da República, é o mais ético dos brasileiros. É o cúmulo da desfaçatez. PENSATA DA BASE "A corrupção é uma prática comum a todos os partidos. Os políticos são todos iguais. A vida dos pobres melhorou no governo Lula. Os alimentos estão mais baratos e acessíveis. Lula é um dos nossos. Ruim por ruim, ficamos assim. Lula tem boas intenções. Os ruins são os políticos. O presidente foi traído por companheiros. Tenho medo de não ter esperança. Ele, Lula, está mais perto de nós. Quem é o outro candidato?" (Essa é a pensata que age no sistema cognitivo da base da pirâmide social). PENSATA DO MEIO "A insatisfação cresceu no meio em que vivo. O poder de compra diminuiu. O governo Lula, que tanto simbolizava mudanças, falhou. Estamos diante da maior rede de corrupção da nossa história política. O PT e Lula não mais representam a ética e a moral. Esse Bolsa Família para os pobres é uma demagogia. Os banqueiros estão ganhando os tubos no governo Lula. O governo mostrou-se covarde por ocasião do episódio da nacionalização do gás e do petróleo bolivianos. O Chávez passou a perna em Lula. O que Lula gosta é de fazer discurso. Não gosta de governar". (Essa é a pensata que age no sistema cognitivo do meio da pirâmide social). PENSATA GERAL As oposições têm sido ineficazes. Lula usa o carisma para se comunicar com as margens sociais, passando por cima do centro. Há um imenso vazio no meio da sociedade, que está sendo ocupado por uma gigantesca teia de organizações sociais. Lula conseguiu sustentar a estabilidade econômica, que foi meta do governo FHC. E fez isso com maior rigor. O núcleo duro do governo desfez-se. O presidente está isolado, sozinho. Dando graças a Deus, porque os denunciados foram todos embora, mesmo que ainda estejam bem ligados entre si. As brigas entre tucanos e pefelistas tiram força de Geraldo Alckmin. Falta a este um discurso forte. Geraldo precisa decolar. Ainda tem chances. Vamos esperar pelo horário eleitoral. (Pensata geral que age no sistema cognitivo de eleitores mais racionais). A COPA, O MAIOR PORRE A mídia respira Copa por todos os lados e em todos os programas. O porre de exposição/visibilidade será maior que o das eleições. Efeitos da ressaca: se o Brasil ganhar, o porre continuará por um bom tempo. E a dor de cabeça será suportada com aspirinas alcoólicas. Se o Brasil perder, ninguém conseguirá aliviar a dor de cabeça. E político que se apresentar com aspirina na mão, será enxotado. PESQUISAS E APOIOS As pesquisas mostram Lula estável e até crescendo e Alckmin mantendo a posição entre 18% a 20%. O Estado de São Paulo será o espaço da maior batalha. Lula acaba de passar o tucano em São Paulo. Será que José Serra vai vestir a camisa do correligionário? Apoios recentes a Geraldo: o governador Luiz Henrique (PMDB), de Santa Catarina e o ex-governador Garotinho (PMDB), do Rio de Janeiro. O tucano deverá ter apoios do PMDB em cerca de 15 Estados. Já os governistas do PMDB prometem apoio a Lula em 12 Estados. NOTA FISCAL ON LINE Um ovo de Colombo. É a Nota Fiscal on Line que a Prefeitura de São Paulo acaba de implantar. Disponibilizada a partir de hoje, 7 de junho, propiciará a quem usá-la créditos para desconto no pagamento do IPTU. Os credores serão prestadores e tomadores de serviços. As pessoas físicas que pagam por serviços formarão um imenso exército de 12 milhões de fiscais. Porque passarão a fiscalizar os prestadores de serviços. Pagarão menos impostos. A máquina administrativa será simplificada. Milhões de toneladas de papel serão economizadas. Processos burocráticos serão extintos. Todos ganharão. Pessoas físicas e jurídicas ingressarão na trilha da modernização. O Custo-Brasil é atacado de frente. Implanta-se, assim, o sistema de milhagem para os cidadãos na área do sistema tributário municipal. O prefeito Gilberto Kassab começa a dar as cartas na administração. ____________
quarta-feira, 31 de maio de 2006

Porandubas nº 55

  COMENDO PELAS BORDAS Lula continua faminto e comendo pelas bordas. Agora, quer expandir a Bolsa Família para os acampados do MST. Há um milhão de trabalhadores sem terra que podem ser beneficiados. Mas uma parcela mais ideológica do Movimento rejeita a idéia, temendo que os acampados fiquem sob o controle do Governo. BARULHO À VISTA Ganhando Lula ou Alckmin, o ano de 2007 será de muito barulho. Se Lula ganhar, só terá condições de governar se fizer ampla e irrestrita aliança com partidos médios e com o PMDB, que fará as maiores bancadas no Congresso e nas Assembléias Legislativas. Haverá muito barulho. Se Alckmin for o vitorioso, a onda barulhenta virá do campo por meio de maior mobilização de massas rurais de toda a história brasileira. Dizem que o MST torce por esta opção, para ele, um clima ideal para o prelúdio de uma "revoluçãozinha" no campo. LULA NÃO ESTÁ NEM AÍ Quanto mais o presidente do TSE, ministro Marco Aurélio de Mello, alerta sobre os perigos de campanhas feitas por candidatos à reeleição, mais Lula se movimenta. O presidente iniciou a decolagem rumo ao segundo mandato com tanto empenho que já não esconde o entusiasmo com as pesquisas que mostram sua imensa vantagem. ALCKMIN AJUSTA POSIÇÕES Os caciques tucanos tomaram a decisão de arrumar o meio de campo sob pena de jogar uma pelada com bola nas laterais todo tempo. FHC, Tasso e Aécio Neves reuniram-se com Geraldo. César Maia e a turma do pefelê mais rancorosa foi contida. Espera-se que, em junho, o ex-governador paulista conquiste preciosos 10 pontos. O PMDB de Pernambuco, com Jarbas Vasconcelos, já veio. Nada disso, porém, amedronta Lula. Que navega com os cofres cheios de promessas. A CAPA DA VEJA A máscara do GOE - Grupo de Operações Especiais - que a revista Veja colocou na cara do ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos e estampou na capa da última edição, tem mais força que um editorial. Veja engrossa o exército de opositores. Mas deve bala para tanto .... OKAMOTTO NA BERLINDA Paulo Okamotto, presidente do Sebrae, continuará na berlinda. A CPI dos Bingos vai indiciá-lo. Assim, as oposições ganharão mais uma pimentinha para colocar no menu contra Lula. Até o momento, tem havido uma reversão de expectativa em relação a Okamotto, Delúbio, Buratti etc. Ou seja, a sensação é a de que uma densa névoa encobre o céu da verdade. Por isso, muitos torcem para que a claridade ainda surja nos horizontes da campanha eleitoral. "ONDE ESTAVA DEUS ?" E, de repente, um grito de dor se ouve no meio da escuridão perversa do assassinato de 6 milhões de judeus : "Onde estava Deus ? Por que o Senhor se calou ? Como pode tolerar tudo isso ?" Era Bento XVI fazendo, em Auschwitz, na Polônia, a pergunta que cala fundo no coração e nas mentes de todos os universos religiosos. Se o Papa que é o representante do Senhor na Terra não sabe responder onde estava Deus naquele momento trágico, como nós, pecadores e pobres mortais, poderemos saber ? Eis a questão que nos angustiará até o momento da grande despedida. HELOÍSA HELENA, MAIS DE 10% ? Heloísa Helena, a guerreira solitária do PSOL, poderá ultrapassar a casa dos 10%. Se confirmar esta hipótese, a campanha atravessará o primeiro túnel em direção ao segundo. LULA, PÁRA-QUEDISTA E ALCKMIN, ALPINISTA No meu artigo de domingo, no Estadão, usei as imagens de Lula como pára-quedista e Geraldo Alckmin, como alpinista, o primeiro caindo rapidamente de pára-quedas no cume da reeleição e o segundo, subindo, devagar a montanha da eleição. Mas o arremate fechava com a hipótese : Lula não estará imune à enroscada do pára-quedas e Alckmin poderá se atrapalhar com as ferramentas do alpinista. Uma surpresa : constatar que mais de 70% dos leitores que me retribuíram com o feed-back do artigo já estarem com análises e planos para o segundo governo Lula. Depois da leitura, eles também ficaram surpresos. A CLASSE MÉDIA Observem bem os movimentos da classe média. Ela perdeu parcela de seu poder de compra. E não ficará de braços fechados no momento de votar. O PADRÃO DIGITAL JAPONÊS O Brasil já decidiu por adotar o padrão digital japonês. Houve muito acordo. E os ganhos do Japão incluem muitos compromissos, entre os quais investimentos numa planta industrial de semi-condutores. Há gente fazendo contas sobre a grana que deverá correr por baixo dos panos .... Que houve lobby, não há dúvida. E lobby de graça é história da carochinha. ROBERTO FREIRE O deputado Roberto Freire não suportará a pressão. O partido precisa ultrapassar a cláusula de barreira dos 5% dos votos para a Câmara Federal. Deverá desistir da candidatura à presidência pelo PPS. Tomará o trem de Alckmin. E O PMDB, HEIN ? Pedro Simon não deverá ir até o final de junho como candidato. Se desistir, Garotinho garante que tomará o lugar. A convenção partidária - a última - foi marcada para 29 de junho, data em que os candidatos do partido nos Estados já devem ter fechado alianças. Por isso, o resultado dessa convenção seria previsível : a candidatura própria não resistirá. Mas o deputado Michel Temer, presidente do PMDB, pretende chamar Garotinho, diante da desistência de Simon, e argumentar que ele não ganharia a convenção, sendo melhor a desistência imediata da idéia da candidatura própria. DE GREVES Os funcionários da ANVISA - Agência Nacional de Vigilância Sanitária - fizeram uma greve que causou US$ 700 milhões de prejuízo. Levantem as mãos aquele que sabia disso. Os auditores da Receia Federal estão em greve há um mês. Os prejuízos, só na Zona Franca de Manaus, chegam a US$ 750 milhões. Poucos sabem disso. As greves não abrem tanto espaço na mídia. Mas vejam : US$ 1,5 bilhão de prejuízos daria para consertar uma boa parte das estradas brasileiras. Ou ajudar e melhorar centenas de creches, asilos, sanatórios, escolas. (hospitais) O FURACÃO QUE VIROU PÓ Roberto Jefferson, o furacão que detonou o mensalão, virou pó. É a impressão que se tem dele, depois da sua exibição no programa Roda Viva na TV Cultura. Não causa mais impacto, não gera comoção. Continua a ser um bom ator. SETE A TRÊS Os policiais mortos na guerra do PCC levaram em média sete (7) tiros; os suspeitos, três (3). Que contagem macabra, hein ? Está nos laudos de corpos levados ao Instituto Médico-Legal Central. PENSAMENTO "O pão ensopado na adulação que engorda o servil envenena o digno. Este prefere perder um direito a obter um favor; mil danos lhe serão mais leves do que medrar indignamente. Qualquer ferida é transitória e pode doer uma hora; a mais leve domesticidade dará um remorso que durará toda a vida." (José Ingenieros, em "O Homem Medíocre"). _______________
quarta-feira, 24 de maio de 2006

Porandubas nº 54

  SIMON PELO PMDB? Trata-se de mais um sonho deste inverno. Pedro Simon, um timoneiro, respeitado e sem papas na língua, quer se candidatar pelo PMDB à presidência da República, na desistência do inusitado Itamar Franco. Os diretórios estaduais do PMDB, por maioria, queimarão sua candidatura. Querem continuar livres para fazer alianças a torto e a direito. Além disso, Lula continua intocável em sua posição de favorito. Quanto mais Lula segura a intenção de voto, mais consolida apoios. E o PMDB governista, liderado por Renan Calheiros e José Sarney, pelo que se vê, irá livre e solto para as urnas de 1o de outubro. GAROTINHO DE VICE O ex-governador Anthony Garotinho, depois da desastrada greve de fome, aceita ser vice numa chapa liderada por Pedro Simon. Maneira de enxugar a imagem. VEJA CONTINUA NO ATAQUE Como bem previu esta Coluna, a revista Veja continua no ataque a Lula, a partir da divulgação da bombástica entrevista dada por Daniel Dantas, do Opportunity. A última edição apresenta "suíte" (seqüência, continuidade) da reportagem anterior. Com o furo do encontro entre o ministro Márcio Thomaz Bastos e o banqueiro. Ao dar seqüência às denúncias, Veja quer dizer que sabe mais coisas. LEMBO SAI DO LIMBO Foi preciso dar umas fisgadas nos tucanos para sair do limbo, espaço amorfo entre o céu e o inferno. Assim, o governador Cláudio Lembo abriu espaços para dizer : penso, logo existo. A melhor de Lembo foi a lembrança de que Nova Iorque, onde quase todos os meses se refugiam Fernando Henrique e Aécio Neves, tornou-se a capital de São Paulo. Não por acaso, também estava por lá nesses dias o tucano de bico maior, o presidente do PSDB, Tasso Jereissatti. TASSO DE PASSO ERRADO No Ceará, o governador Lúcio Alcântara, tucano, não tem o apoio do presidente do tucanato, Tasso Jereissati, à reeleição. Tasso, caladão, apóia por baixo do pano o irmão do seu apadrinhado e amigo Ciro Gomes, candidato pelo PSB. Como Tasso vai explicar o passo errado? PERGUNTA QUE FICA NO AR Se o Brasil ganhar a Copa quem levantará o caneco? Lula ou Alckmin? Alguém tem dúvida? A recíproca é verdadeira. LULA COM O APOIO DE........DEUS Lula foi eleito pela inspiração divina. Pois bem, é o que se ouviu na reza de Lula durante o encontro com evangélicos. Alguém disse que o presidente está na presidência do Brasil não apenas por força humana. A mão de Deus agiu forte contra o adversário José Serra. Fé à parte, o nome de Deus em vão começa a aparecer nos bastidores da política. Quem disse que Deus deu apoio a Lula? Claro, o próprio. PFL E PSDB TRINCADOS Se os tucanos não são leais, como garantiu o governador do PFL, Cláudio Lembo, a aliança entre tucanos e pefelistas merece confiança? PESQUISA FOLHA-TV GLOBO A primeira pesquisa feita pelo Datafolha em parceria com a TV Globo deve confirmar a boa posição de Lula. Que continua nadando de braçada, sob o olhar atônito e o molejo ineficaz das oposições. Como as oposições são incompetentes... ALIANÇAS FEITAS O PT fechará alianças, em nível nacional, com o PC do B e o PSB. O PSDB fechou aliança com o PFL. PTB, PL, PP e PV querem ficar livres, sem alianças, para atingir a cláusula de desempenho de 5% dos votos para a Câmara Federal. O PMDB deverá ficar igualmente solto. PDT e PPS deverão, tudo indica, apresentarem candidaturas próprias à presidência. O tabuleiro está pronto para o jogo. Agora, resta apostar nos jogadores. SERRA AGUENTARÁ AS BALAS DO PCC ? José Serra será atingido (de leve ou de morte?) pelas balas do PCC. O calcanhar-de-aquiles do governo paulista - que atrapalhará os passos do ex-prefeito José Serra - será a questão da segurança. Os balaços poderão não ser mortais. Mas atingirão a candidatura. Mercadante, o senador mais preparado do PT, não será um peso leve. A conferir. JOSÉ JORGE NÃO FAZ CONTRAPONTO José Jorge, senador pernambucano do PFL, escolhido para compor a chapa de Geraldo Alckmin, prima pela discrição. Calado e na moita, é um clone de Marco Maciel, elogiadíssimo pela postura de "sombra" que manteve no governo FHC. Ocorre que Fernando Henrique era falastrão. Maciel fazia o contraponto. E Geraldo Alckmin fala para dentro. Assim como José Jorge. Quem disser que o primeiro parece picolé de chuchu e o segundo, um picolé de chuchu com jiló, não estará muito errado. Com todo respeito pelo senador e pela metáfora livre, sob custódia jornalística. AGRIPINO CONFORMADO ? José Agripino era, seguramente, o melhor perfil para compor a chapa de Geraldo. Firme, fluente e preparado, o líder do PFL no Senado faria o contraponto adequado para alavancar a chapa tucano-pefelista. Perdeu a chance, mas não a compostura. Conformado ("pero no mucho"), deverá fazer aliança no RN com o candidato do PMDB ao governo, Garibaldi Alves. Deverá indicar os nomes ao senado e a vice na chapa do peemedebista. Mais uma vez, o tucanato deu bicou fora do prato. FHC NA SOMBRA Fernando Henrique é um grande articulador. Começa, na sombra, a destravar a campanha de Geraldo Alckmin. Reúne companheiros, discute uma agenda, abre espaços no empresariado. O homem é muito respeitado. Mas não deve participar ativamente da campanha. Seu índice de rejeição nas pesquisas é muito alto. O PMDB, A NOIVA PREDILETA A cada dia, consolida-se a hipótese. Seja qual for o governante, não governará sem o apoio do PMDB. Como noiva cobiçada, todos o desejam. Alguns, na tentativa de selar uma aliança, logo, logo. Outros, no aguardo da Convenção partidária, marcada para 11 de junho. Que poderá ser adiada para o final de junho. O PMDB só quer casamento no segundo tempo. Melhor dizendo, no segundo turno. PRAZO FATAL Para anotar: dia 30 de agosto, quinze dias após a campanha eleitoral na TV rádio, Geraldo Alckmin precisa se posicionar entre 25% e 30% no índice de intenção de votos. Se permanecer na margem dos 18% a 20%, babau.... Ainda há condição - e haja condição - para se chegar ao ponto de ultrapassagem. Mas as oposições continuam navegando na incompetência. ____________
quarta-feira, 17 de maio de 2006

Porandubas nº 53

  ESTADO DE GUERRA CIVIL É evidente que não há clima de guerra civil no país. Porém, o estado caótico em que se encontra São Paulo dá a entender que um "clima de guerra" paira sobre a sociedade. O quarto poder, o poder das gangues contra o primeiro poder, o poder do Estado. A situação por que passa o maior Estado da Federação merece uma boa reflexão. Constatações óbvias: 1. a falência do Poder Público para combater a violência; 2. a organização das gangues e bandidagem; 3. a arrogância das autoridades do Executivo paulista, que se negam a receber ajuda do governo federal; 4. a ampliação da insegurança e, conseqüentemente, do PNBinf (Produto Nacional Bruto da Infelicidade). TEMA DE CAMPANHA Se a campanha já continha um tema mais que evidente - corrupção - agora ganha outro de igual destaque : a criminalidade, a violência, o poder invisível. Mas não vingará a intenção de algum candidato/partido em querer ser dono exclusivo da temática. A sociedade sabe que, nesse momento de medo, os oportunistas chovem nas janelas de TV e rádio. ATAQUES IMPRESSIONANTES A estratégia atribuída ao PCC, de atacar núcleos vitais como escolas, o sistema de transporte e bancos, remete à inferência de que há uma "intelligentzia" por trás da violência que se abateu sobre São Paulo, com extensão em mais alguns Estados. A dedução leva em conta a "ideologização" do movimento, na esteira da impunidade aos políticos corruptos e pegos com a mão na botija. Portanto, haveria alguma ligação com a insatisfação social. NOVO CARANDIRU Comentário que se escutava em diversos ambientes: "São Paulo está precisando de um novo Carandiru!". É duro de ouvir. DIREITOS HUMANOS NAS CADEIAS Daniela Mercury, ao final do show em homenagem ao Dia das Mães, no Ibirapuera, domingo, depois de ouvir o mestre de cerimônia, Serginho Groisman, lembrar do momento difícil que a cidade atravessava: "vamos lutar pelos Direitos Humanos nas cadeias". Também é duro de ouvir. "DIREITO DOS MANOS" NAS RUAS E por falar em Direitos Humanos, o que a galera está querendo mesmo é o "Direito dos Manos". É o que se diz por aí. MORAL DA HISTÓRIA Uma cidade que é sinônimo de trabalho não merece passar pela calamidade de não saber como será o dia de amanhã. Gente digna e honesta, refém do pânico, com medo de andar nas ruas, de permanecer no serviço, cumprir as tarefas do dia-a-dia. A CONVENÇÃO DO PMDB Não surpreendeu a vitória dos governistas na Convenção, dia 13, que derrubou a candidatura própria do partido à presidência da República. Surpreendente foi a vitória por apenas 48 votos. Ou seja, com 25 votos puxados, as oposições podem reverter a decisão na convenção, essa definitiva, do dia 11 de junho. Mas, em se tratando de PMDB, tudo pode ocorrer : não haver convenção em decorrência de liminares interpostas; haver convenção com apenas uma banda do partido; haver convenção com nova vitória dos governistas; haver convenção com vitória dos oposicionistas. Tudo vai depender do quadro político. Se Lula mantiver os índices de hoje, cerca de 40% das intenções de voto, adeus à candidatura própria. GAROTINHO SERELEPE Quem ouviu o discurso de Garotinho, menos gordo 8 quilos, na Convenção do PMDB deve ter ficado fã da "greve de fome" a que se submeteu o marido da governadora Rosinha. Estava lépido. ITAMAR NA DÚVIDA Itamar "Cheio de Dúvidas" Franco continua sem saber o que fará. Não sabe se espera pela decisão do PMDB, dia 11 de junho. Não sabe se fechará posição com o PT para apoiar Lula. Não sabe se será candidato do PMDB ao Senado, por Minas Gerais, com o apoio de Aécio Neves. Nesse caso, teria de apoiar Geraldo Alckmin. Itamar não sabe como pentear o topete. VEM PESQUISA POR AÍ Mais uma rodada de pesquisas virá à tona. Sem grandes alterações no quadro. Nem Evo Morales conseguiu baixar a "moral" de Lula. Lula se aproveitou da crise com a Bolívia para tirar, mais uma vez, proveito : disse que o preço do gás não vai aumentar. KASSAB "KALADO" O prefeito Gilberto Kassab está menos do que monossilábico. Está rouco de tanto calar. Aparece sempre andando, balançando os braços de um lado para outro, acompanhando o governador Lembo. Em completo silêncio. Parece querer ficar oculto. SOBRANCELHAS AGRESSIVAS Com alguns milímetros a mais, as sobrancelhas do governador Cláudio Lembro furarão os olhos do interlocutor mais próximo. Quem disse que ele não manja coisas como marketing, imagem, estética etc ? É um logotipo ambulante. Duas gigantescas sobrancelhas circulando sobre uma cara meio assombrada. E SERRA, HEIN, OLHANDO DE CIMA DA MONTANHA O ex-prefeito José Serra, candidato favorito ao governo de São Paulo, está feliz da vida. Trabalhando menos, falando menos, cobrando menos de seus assessores e olhando mais a cena política. Serra está no alto de uma montanha de intenções de votos. Deve ter cuidado. Aloísio Mercadante é preparado, luta na mesma arena dele, domina a ferramenta do economês, e passa a impressão de um petista, digamos, mais asséptico. VEJA E OS DÓLARES DE LULA A revista Veja foi corajosa em veicular a reportagem sobre os dólares de Lula numa conta no exterior. Passou meses investigando o tema. Ouviu muita gente. Mas o depoimento de Daniel Dantas não foi convincente. Para Diogo Mainardi, deu indícios da aproximação do PT com segundas, terceiras e quartas intenções. Numa entrevista para a Folha de S.Paulo, foi menos taxativo. Dantas pode ter muita munição. A Veja não publicaria a matéria na forma como fez se não soubesse mais, muito mais. Vamos aguardar. UM NOME DE RESPEITO Antônio Fernando de Souza, procurador-geral da República, que denunciou uma organização criminosa a serviço de um partido político. QUEIMA DE ÔNIBUS E OS NEGÓCIOS Os cerca de 50 ônibus queimados significaram um bom negócio para o PCC. Parcela da estrutura de transporte por vans na capital é dominada pelo grupo. Se um terço da frota paulistana (5.100 veículos) deixou de circular, o transporte alternativo subiu a montanha. MISSÃO BANDIDA Parte dos 12 mil presos que receberam indulto, por ocasião do Dia das Mães, recebeu a missão de atacar ou ser castigado na volta para a prisão. Alguns cumpriram a missão do PCC. E morreram no confronto com a Polícia. HOMENAGEM AOS POLICIAIS MORTOS Todo o respeito aos policiais mortos. Na história do confronto com a bandidagem, páginas tristes : salários parcos, vida franciscana, falta de equipamentos, desentrosamento entre as Polícias, ausência de motivação. O consolo : o amor da família. Deixam para o futuro órfãos sem esperança. ____________
quarta-feira, 10 de maio de 2006

Porandubas nº 52

ITAMAR, O DÚBIO   O ex-presidente Itamar Franco carrega a dúvida na cachola. Diz que lutará até o fim pela candidatura própria do PMDB à presidência da República. Prometeu ao deputado Michel Temer que irá a Brasília, dia 13, sábado, para a Convenção do partido. Tem o apoio de Quércia, que condiciona sua candidatura ao governo de São Paulo apenas se Itamar for o candidato peemedebista à presidência. Mas há quem garanta : mesmo se ganhar a Convenção, Itamar desistirá. Receia ser cristianizado, como foi o velho Ulysses, quando candidato ao mesmo cargo. GAROTINHO, A FOME E A CONVENÇÃO O ex-governador Garotinho também prometeu ao presidente do PMDB, Michel Temer, que comparecerá à Convenção. Mas como sair da greve? Hoje, quarta-feira, amigos e correligionários farão um movimento, com barulho, em sua defesa. Michel Temer fará um apelo para que deixe a greve de fome em benefício da própria saúde. Garotinho não tem outra saída. Diante dos apelos, sairá da greve e chegará a Brasília, 6 quilos menos gordo, com cara de vítima e de sacrificado. Tudo indica que a Convenção sepultará a idéia de candidatura própria do PMDB. MAS E A CONVENÇÃO DE JUNHO ? Ocorre que está marcada para junho a Convenção que decidirá, em definitivo, sobre a candidatura do partido, aprovada na Convenção de 8 de dezembro de 2004. O Superior Tribunal de Justiça julgou, recentemente, o mérito daquela decisão, dando ganho de causa à oposição. Como se recorda, a decisão foi inicialmente questionada pela banda governista do partido, liderada por Renan Calheiros. O ex-presidente do STJ, Edson Vidigal, acolheu a representação, também de interesse de seu patrocinador, José Sarney. Portanto, a Convenção de junho dará a palavra final. Dica fundamental : se esta Convenção de sábado sepultar a candidatura própria, será difícil, para não dizer impossível, ressuscitá-la em junho. LULA IMPÁVIDO (I) Lula continua impávido. Como teflon, nada gruda nele. A bomba jogada por Silvio Pereira nem chamuscou a roupa. Por quê ? Respostas : 1) Lula continua falando para as massas, passando por cima do centro social; 2) Os escândalos foram banalizados e até os mais bárbaros não geram impacto; 3) As massas têm dificuldade de assimilar o imbróglio que envolve o sistema político - imaginam, até, que ladrões e corruptos tramam contra Lula; 4) Lula continua a desfraldar a bandeira do pobre que chegou ao Palácio do Planalto - isso comove; LULA IMPÁVIDO (II) 5) O presidente assumiu uma agenda positiva, de realizações e inaugurações, enquanto a agenda política é negativa, escandalosa; 6) A visibilidade de Lula é muito maior que a de todos os seus adversários, pela cobertura que a mídia confere à liturgia presidencial; 7) Lula transforma argumentos contrários a ele em bastiões de defesa - Exemplo : a paulada que o Brasil levou da Bolívia, com a expropriação da Petrobras (isso mesmo, expropriação) chega nas massas dessa forma: "O gás não vai aumentar, os pobres vão continuar com o gás barato etc". O povão não sabe o que é Bolívia, mas sente quando o gás aperta o bolso. GERALDO PÁLIDO (I) No contraponto, Geraldo Alckmin continua pálido. Por que não cresce nas pesquisas ? Respostas : 1) A campanha de rua e a propaganda eleitoral não começaram; 2) O perfil de Geraldo, de harmonia e equilíbrio, é canibalizado pela tormenta ao redor; 3) A pré-campanha tucana está meio bagunçada: não há discurso (um eixo); a estrutura inexiste (Geraldo está praticamente só); a logística é frágil (falta de agilidade na locomoção). Todos os dias, aparece lenha na fogueira da crise. Geraldo parece mais bombeiro. O que mais surpreende é a ausência de um discurso. A fala de Alckmin é obvia: críticas adjetivadas, propostas acacianas ("vamos resolver isso e aquilo", mas sem fundamentação) e boas intenções. Destas, o inferno está cheio. GERALDO PÁLIDO (II) Se José Serra não tivesse tanto interesse (inconfessável) de ver Geraldo amargando uma derrota para Lula; se Aécio Neves não torcesse tanto (inconfessável) para ver Geraldo na lona, em outubro próximo, as coisas seriam muito diferentes. Serra e Aécio alimentam sonhos de disputar a presidência em 2010. O horizonte ficaria mais claro para eles com a vitória de Lula. Por essa falta de rubor no rosto de dois tucanos emplumados, Alckmin continua pálido. E FIDEL, HEIN ? Depois de receber os comandantes Hugo Chávez e Evo Morales que, em Cuba, trocaram figurinhas sobre a estratégia de nacionalização, de cunho populista, que se implanta na Bolívia, Fidel Castro passou a alimentar o velho sonho de derrubar o "imperialismo norte-americano", menos com arroubo de oratória e mais com os dólares gerados por petróleo e gás dos países amigos da América do Sul. Para atrapalhar a confabulação, uma informação quente da revista Forbes, considerada a bíblia da análise das grandes fortunas no mundo. Pois bem, a revista diz com todas as letras que Fidel tem uma fortuna de US$ 900 milhões, maior que a da rainha da Inglaterra, Elizabeth II, que tem US$ 500 milhões. Entre os chefes de Estados mais ricos, Fidel é o nono. A séria e crível revista Forbes mente ? Pouco provável. MARTA VAI TRILHAR A CURVA Marta Suplicy perdeu para o senador Aloizio Mercadante a vaga para disputar o governo do Estado. E, incrível, não pretende ser candidata à deputada federal pelo PT. Teria uma grande votação e poderia puxar votos para a legenda. Quais as razões de Marta para ficar fora do pleito ? O discurso, caros(as) leitores(as). A ex-prefeita tinha um afiado discurso contra Serra : traiu os paulistanos, depois de se comprometer, por documento passado em cartório, que ficaria os quatros anos na administração. Comenta, a boca pequena, que Mercadante não poderá criticar Serra por essa razão, eis que o senador, caso seja eleito governador, deixará o mandato no Senado pela metade. Por isso, Marta não quer ser deputada. Dentro de dois anos e pouco, será candidatíssima à prefeita de São Paulo. Eleita deputada, perderia o discurso. Não gostaria de ser acusada de deixar o mandato no meio. Por isso, prefere trilhar uma curva em vez de uma reta. MAIS UM EXAGERO A Constituição Federal é clara: Medida Provisória só deve ser usada in extremis, na hipótese de urgência e relevância. Pergunta : onde estão a urgência e a relevância para justificar o uso de Medidas Provisórias promovendo alterações nas legislações trabalhista e sindical ? Reconhecer Central Sindical é questão de urgência e relevância ? Criar um Conselho Nacional de Relações de Trabalho é coisa urgente ? Lula, Lula, Lula, onde está o bom senso ? SILVIO E O AVISO Silvio Pereira, o ex-todo-poderoso secretário do PT, avisou : vocês tenham cuidado, posso soltar os cachorros. Silvio está estressado ? Pode ser. Silvio foi abandonado ? Pode ser. Silvio está mentindo ? Pode ser. Mas a história de Silvio Pereira no PT é seu próprio escudo. Uma pessoa estressada, abandonada, está mais próxima de um desabafo contando a verdade do que de um desatino interpretando a mentira. Se "Silvinho" - termo carinhoso usado pelo companheiro presidente - abrir mais a boca, uma aposta merece ser feita : Lula continuará ou não exibindo a capacidade de desgrudar da crise ? ____________
quarta-feira, 3 de maio de 2006

Porandubas nº 51

  UMA GREVE GAROTINHA Que falta faz uma boa assessoria. A decisão estapafúrdia do pré-candidato do PMDB, Anthony Garotinho, de fazer uma greve de fome, por se sentir injustiçado pela imprensa, é de uma inocência garotinha. Como uma pessoa que postula a presidência da República toma atitude tão populista-desesperada-cômica ? Até o momento, o projeto Come Zero de Garotinho só provoca deboche. Imaginem só apelar para organismos internacionais para que controlem o noticiário da imprensa brasileira? XEQUE-MATE O gesto de Garotinho equivale a suicídio. Ele não verá atendido seus pleitos, terá de mostrar que as denúncias contra ele não têm fundamento, não terá o apoio da maioria do PMDB no endosso a seu desastrado gesto. Sairá ridicularizado da greve, com alguns gramas de peso a menos. Aliás, uma boa sugestão para os políticos mais encorpados. E, ainda por cima, verá o naufrágio de sua pré-candidatura. Ou seja, Garotinho deu um xeque-mate em Anthony, ele mesmo. Quão triste é ver um político submeter a própria família a cenas de angústia explícita. A inocência da filha chorando dá pena. E raiva contra comete tão grande desatino. PMDB SEM CANDIDATO Com o sepultamento da candidatura de Garotinho, o PMDB fica mais próximo da não candidatura à presidência da República. Itamar é apenas um adereço, não um projeto a ser levado a sério. Ele quer é ser candidato a senador por Minas, coisa que o PMDB mineiro, até o momento, não deseja. A reunião da Executiva do Partido, dia 13 de maio, dará o rumo. Tudo indica que a candidatura própria está indo para o beleléu. Mas haverá, ainda, uma convenção em junho. Onde tudo se decidirá. O PT SEM ESCRÚPULOS Que o PT perdeu a vergonha, é sabido. Agora, deixar para apurar os escândalos que feriram o partido de morte apenas depois do pleito, é a maior desfaçatez que já se viu nesses tempos de frouxidão moral. Não dá para acreditar. Um Encontro de petistas felizes, longe das denúncias e de mensalões, dando lições de moral e até falando em ética, é um escárnio. Pois Lula disse naquele encontro que ninguém tem condições de dar lições de ética ao PT. O presidente é um ícone de muitas coisas, inclusive do caradurismo. "ALFININ" NO NORDESTE Geraldo Alckmin, repetindo Fernando Henrique, corre ao Nordeste para tentar ser conhecido e diminuir a grande diferença de Lula, que obtém, hoje, cerca de 70% dos votos da região. Comeu buchada de bode e carne seca. O Nordeste tem 28% dos votos. Para ser mais entendido na região, Alckmin deveria esquecer o sobrenome e massificar o nome, Geraldo. Geraldo é bem nordestino. Em sua andança pela região - Campina Grande (PB), Crato e Juazeiro (CE) - ouvia-se um estranho "alfinin" na boca do povo. Pois bem, trata-se de uma corruptela de alfenim, que, como a rapadura, mais leve e branco, faz parte do cotidiano nordestino. "Geraldim Alfinin bem que poderia popularizar o complicado Alckmin na região". 35% EM FINAL DE AGOSTO Se Geraldo Alckmin não conseguir atingir o patamar de 35% entre o meado e o final de agosto, será muito difícil emplacar um segundo turno. Para tanto, além de correr pelo território, o ex-governador paulista precisa urgente arrumar o discurso, falando coisas que batam direto no coração e na cabeça das pessoas. Precisa dominar as temáticas regionais/estaduais. Continua no chavão do "vamos chacoalhar as estruturas", que não diz nada. Voltou a repetir isso no Nordeste. LULA ALHEIO O fogo queima a pele e Lula não sente. O presidente faz de conta que não tem que ver com a crise. Usa cadeia nacional para dar o recado de 1o de maio. Faz um balanço do governo. Ou seja, faz campanha aberta. E os nossos juízes eleitorais vêem, mas só agem quando instados a julgar. Continua distante no patamar dos 40% de intenção de voto. E AGORA, COMPANHEIRO ? Pois é. O companheiro Lula queria ser o líder dos latino-americanos ou, pelo menos, da banda sul-americana. Mas Hugo Chávez, mais aguerrido, toma a dianteira. Leva a Cuba o irmão Evo Morales, que, no Brasil, prometia fazer parceria com a Petrobras. Sob as bênçãos de Fidel, Evo e Chávez decidem endurecer. Morales nacionaliza refinarias, na prática, a estatização de multinacionais. Lula, amigo de Morales, foi pego de calça curta. Vai se valer dos amigos comuns para tratativas mais amplas. Tudo na maior cordialidade. Afinal de contas, trata-se de ações de traição entre companheiros. Reverter a situação em favor da Petrobras é quase impossível. O NACIONALISMO RESSURGE COM FORÇA Evo Morales, na Bolívia, nacionalizando petróleo e gás; Hugo Chávez, na Venezuela, com suas diatribes contra o imperialismo norte-americano e adjacências; Ollanta Humana, em boas condições de ganhar o segundo turno das eleições, no Peru, contra o ex-presidente Alan Garcia - começam a desenhar uma tendência de reerguimento da bandeira nacionalista. Os três expressam discurso identificado com a soberania de seus países e as demandas populares. Mas a crise tem uma causa principal: a falência do sistema partidário. Os partidos políticos não têm conseguido levar adiante as mudanças tão exigidas pelo povo, que, em resposta, resgata a velha política populista, comandada por perfis identificados com a alma popular. O PACOTE TRABALHISTA Nos próximos dias, será apresentado o pacote trabalhista, que abriga a legalização das Centrais Sindicais e a formação de um Conselho Nacional de Relações do Trabalho. Mas há algo bem mais polêmico em jogo. Trata-se de um projeto que define atividade-fim e atividade-meio, com o qual o governo quer diminuir - e muito - os espaços da Terceirização. Os setores terceirizados se movimentam pela ação de sindicatos de empresários e trabalhadores. JUÍZES ELEITORAIS E A LIÇÃO DE CASA Os juízes eleitorais carecem fazer urgentemente a lição de casa, a partir das recomendações do Tribunal Superior Eleitoral. Procuradores e juízes eleitorais precisam chegar a um consenso sobre o que é propaganda governamental, propaganda eleitoral, propaganda governamental com viés eleitoral etc. Está havendo grande confusão, inclusive com a proibição do uso pelos governos de logomarcas nas campanhas governamentais. Um absurdo. OS PAPÉIS SE INVERTEM A Central Única dos Trabalhadores (CUT), comandada por João Felício, com história de oposição radical, agora virou governista. Amaciou o discurso. Irreconhecível. A Força Sindical, comandada por Paulo Pereira da Silva, conquistou o lugar da oposição. Ganhou identidade. Coisas do Brasil: o tigre perdeu os dentes e o boi manso virou fera. POR QUE LULA QUER O PMDB ? Lula avisa publicamente que quer o PMDB. Mudou ou foi mudado? Até parece que não foi ele o primeiro a queimar o partido. No final de 2002, José Dirceu procurou o presidente do PMDB, Michel Temer, em nome do presidente eleito, para fazer a aliança. Michel ouviu o partido e apresentou as reivindicações partidárias. Chegaram, até, a acertar os ministérios que caberiam ao partido. Foram conversas seguidas. Anunciaram conjuntamente, José Dirceu e Michel Temer, as bases da aliança. No dia seguinte, ao relatar a Lula o resultado das negociações e acertos, Dirceu ouviu um sonoro NÃO. Ou seja, influenciado por outros setores do tal núcleo duro, Luiz Inácio desfez o trato. Dirceu pediu desculpas a Temer. Que, a partir daí, não quis mais saber de acertos com o PT, sigla que passou a ser considerada por muitos, como Partido da Traição. Depois desse desacerto, vieram as alianças com os partidos do mensalão. E a crise estourou. Lula deve estar com dor de consciência. ____________
quarta-feira, 26 de abril de 2006

Porandubas nº 50

  NOVAS MOTIVAÇÕES DO EMPRESARIADO Que os negócios sejam o leit-motiv do mundo empresarial, não há dúvida. Mas o empresariado brasileiro começa a entrar fundo em searas como responsabilidade social, compromisso com o civismo, reformas fundamentais para a consolidação da democracia brasileira. Foi isso que vi de perto em Comandatuba, na Bahia, durante três dias da semana passada em que mais de 300 empresários procuraram passar o Brasil a limpo. Ao final, sobrou a impressão de que são apenas analistas e consultores políticos que acompanham de perto a cena brasileira. A BUROCRACIA O ministro Luiz Furlan, do Desenvolvimento, muito aplaudido, expressou números de grandeza. Transmitiu a idéia de um Brasil-Potência. Chega mesmo a acreditar na projeção de liderança do Brasil, ao lado da Rússia, Índia e China. Carecerá, claro, de reformas fundamentais. Como a reforma política. Criticou, e muito, a burocracia. Mas temos uma boa colocação no ranking de programas do futuro, a partir de eixos tecnológicos. Viu-se, ali, um ministro emocionado. Uma espécie de ilha de excelência do arquipélago de águas revoltas como se parece o governo Lula. POLÍTICOS CONSCIENTES Uma dezena de políticos - parcela de uma boa nata - também se fez presente. Alguns seriamente preocupados com o amanhã. E sem deixar de criticar fortemente o ambiente de solidário corporativismo, regado à pizza, da Câmara dos Deputados. REVOLUÇÃO NA EDUCAÇÃO Uma unanimidade: Viviane Senna, mulher de coragem, empunhando uma causa que gera emoção e comoção. Tira crianças do inferno do analfabetismo e das margens criminosas para o paraíso da esperança. Lidera um programa de educação básica que impacta pelos resultados: custos baixíssimos, resultados surpreendentes, crianças felizes, aplicação rigorosa de recursos, controles externos, parceria privada e muita discrição. Uma revolução silenciosa. Não foi sem propósito que ouvi seu nome indicado para ingressar numa chapa presidencial como vice. Um impacto no universo do gênero feminino. Um troféu da Seriedade a Serviço do Brasil! LULA E AS HIPÓTESES DE VITÓRIA Expus, nesse Fórum Empresarial, algumas hipóteses que poderão garantir a reeleição de Lula: usar o poder do carisma como anti-aderente e desgrudar-se da crise; continuar a ser percebido como um "igual", um homem do povo; demonstrar que fez um governo melhor que o de FHC; recuperar apoio de parte das classes médias, que dele se desgarraram; segurar, até 1o de outubro, a grande maioria do voto nordestino (28% dos votos do País. Lula tem, hoje, 70% desses votos); furar o Triângulo das Bermudas (São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, que têm 42% dos votos), cuja tendência é a de dar forte impulso a Geraldo Alckmin; pegar os apoios da maior parte dos candidatos a governador nos 27 entes federativos; alavancar os programas sociais e mantê-los como anzol de pesca do voto; demonstrar que o candidato oposicionista não conhece tão bem o Brasil como ele, Lula; pegar o apoio do PMDB. Lula é o favorito. Sabe falar para as massas e usar símbolos nacionais. ALCKMIN E AS HIPÓTESES DE VITÓRIA Geraldo Alckmin tem chances ancoradas nas seguintes hipóteses: identificação com o Novo, deixando Lula na retranca da banda velha; mostrar que a gestão em São Paulo foi exemplar, enquanto a gestão do PT foi catastrófica; fazer da ética uma batalha mais importante que a batalha da economia; garantir maioria expressiva no Triângulo das Bermudas, onde está o voto mais racional; segurar as classes médias, que se desgarraram de Lula, até o final da campanha; esperar que a indignação das classes médias com a lama da crise chegue até as margens sociais (efeito da pedra jogada no meio da lagoa); esperar que parte do voto nordestino vá na sua direção por conta da influência dos caciques e chefes locais, ou seja, pela influência das campanhas estaduais, mais favoráveis às oposições; esperar que o PMDB tenha candidato e que este, Garotinho ou outro, obtenha entre 15% a 20%, fazendo a campanha entrar no segundo turno; ter uma comunicação e uma organização de campanha eficientes; e esperar que o Produto Nacional Bruto da Infelicidade - mistura das insatisfações, desemprego, serviços sociais precários, violência, etc. - seja alto por ocasião da eleição. Aí Lula perderia. RIGOTTO AMARGURADO Germano Rigotto, governador do RS, continua amargurado. Foi o que se viu em Comandatuba. Não saiu de sua cabeça a idéia de que é o melhor quadro do PMDB à presidência. Perdeu a chance. E ganhou amargura. TEMER E A CANDIDATURA PRÓPRIA O presidente do PMDB, Michel Temer, é um obstinado defensor da candidatura própria do partido à presidência da República. Tem motivos para isso, a partir da crença de que o PMDB tem de estar no espaço central, não nas margens. FURLAN ESTRESSADO Por duas vezes, a emoção lacrimada flagrou o ministro Luiz Furlan no Fórum Empresarial de Comandatuba. A primeira, por ocasião da entrega do Prêmio Personalidade Empresarial Feminina, entregue a Viviane Senna. A segunda vez foi por ocasião de uma pergunta do deputado Michel Temer. O presidente do PMDB queria saber se a expansão do programa Bolsa Família de 8 milhões para 12 milhões denotava crescimento do País. Em sua lógica, quando se aumenta o programa para os pobres é porque os pobres estão aumentando. Furlan, estressado, parece ter entendido a pergunta como provocação pessoal. E respondeu quase raivoso. Quem conhece a ponderação que faz parte da índole de Temer concluiu que Furlan exibe um estado emocional para lá de estressado. MONTENEGRO APOSTA EM LULA O presidente do IBOPE, Carlos Augusto Montenegro, exibindo a tendência das pesquisas, apostou vivamente na vitória de Lula. Fiz o contraponto. Procurei mostrar que FHC, em 1994, saiu atrás e ganhou as eleições. Lembrei que Collor, em janeiro de 1989, era um desconhecido. Em junho, depois de três programas de TV, estava na frente das pesquisas. Diz-se que FHC ganhou em 1994 por causa do Plano Real. Portanto, o ano foi atípico. Faço um adendo: 2006 exibe o Plano Real do Mensalão. Da mesma forma, temos um ano atípico. Portanto, não se pode e nem se deve garantir nada em matéria de eleição. Como mineração, o resultado só se vê depois da apuração. _____________
quarta-feira, 19 de abril de 2006

Porandubas nº 49

  GAROTINHO MORDAZ O pré-candidato do PMDB à presidência da República atacou de maneira contundente o presidente Lula, ontem à noite no Programa Tribuna Independente da Rede Vida. Perguntei-lhe sobre o conhecimento de Lula a respeito do mensalão. Não se acanhou. Lula era o chefão, comandou o maior processo de corrupção de todos os tempos. E acusou o presidente de acobertar os negócios do filho, que teria recebido R$ 15 milhões de uma empresa de telecomunicações. GAROTINHO CONFIANTE O ex-governador estava muito confiante. Não acredita na polarização entre PT e PSDB. Não aceitou minha hipótese de que Geraldo Alckmin poderá levar a melhor no Triângulo das Bermudas : São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro, que detêm 42% dos votos. Rejeita o perfil de populista, apesar de ser flagrado na própria entrevista usando a linguagem mais que populista : Lula amarelou, vamos reduzir drasticamente a taxa de juros, o país vai voltar aos trilhos, o povo precisa de segurança etc. As soluções são simplistas, os termos são genéricos, a emoção irradia-se por todos os lados. Mas Garotinho rejeita o rótulo de populista. Que é bom comunicador, não se discute. ITAMAR FAZENDO O JOGO DO PT Quanto a Itamar Franco, que se mostra disposto a também ser candidato à presidência pelo PMDB, Garotinho deixa mais que claro que está fazendo o jogo de Lula. Não será candidato. Quer ser vice de Lula ou senador na vaga do PMDB em Minas. Não sabe, ainda, porque Quércia o rejeita. REUNIÃO EM BRASÍLIA Será interessante a reunião da Executiva do PMDB marcada para hoje em Brasília. Tanto Itamar quanto Garotinho defenderão a candidatura própria. Mas os candidatos a governador de 15 Estados, com possibilidades efetivas de serem eleitos, procurarão queimar a candidatura própria. Defendem liberdade para fazer alianças com todos os partidos. E candidatura própria poderia atrapalhar. O presidente do partido Michel Temer defenderá, por sua vez, as alianças brancas, que poderão ser feitas informalmente nos Estados. OKAMOTTO E TEIXEIRA RESISTIRÃO ? Paulo Okamotto resistirá ao tiroteio ? Paulo Teixeira continuará a resistir ao depoimento na CPI dos Bingos ? Ao ser comprovada a denúncia de que Okamotto foi o trem pagador da família Lula, a fogueira chegará ao presidente. Ele e o compadre de Lula, o advogado Roberto Teixeira, intimados para comparecer à Polícia Federal são os caminhos que chegam direto à sala íntima do presidente. APOSTAS Quem aposta que o efeito Teflon livrará Lula da crise do mensalão por ocasião do combate direto na campanha eleitoral ? Quem aposta que os dólares na cueca e os "recursos não contabilizados" prejudicarão Lula ? Façam suas apostas. Na primeira hipótese, Lula poderá já encomendar o terno da nova posse. Na segunda, um tucano posará nas árvores da Granja do Torto. ALCKMIN DESAJEITADO Geraldo Alckmin tem um perfil de equilíbrio e organização. Mas continua perdido. Não organizou, ainda, uma base mínima para enfrentar a mais contundente campanha da história contemporânea. IMPEACHMENT DE LULA O jovem advogado Luiz Carlo Crema ofereceu denúncia protocolada junto à Secretaria da Mesa Diretora da Câmara dos Deputados contra o presidente Lula. Acusações : a) desvio na aplicação de tributos vinculados - CIDE (Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico); b) favorecimento ilícito. O TCU apontou o cometimento, pelo Presidente da República, de crime de improbidade administrativa, requerendo, inclusive, que fosse oferecida denúncia pelo Ministério Público; c) violação aos princípios da legalidade, da impessoalidade e da moralidade. O presidente da República manifestou-se expressamente a favor da proibição da comercialização de armas de fogo e munição. Diante da decisão do presidente da Câmara em rejeitar a denúncia, Crema interpôs Recurso ao Plenário. E propôs MANDADO DE SEGURANÇA, protocolado no Supremo Tribunal Federal. ________ PALOCCI AMARGURADO Quem teve oportunidade de conversar com o ex-todo poderoso ministro Antônio Palocci, nos últimos dias, encontrou um homem amargurado e solitário. Ouviu que se sente traído. O poder afrodisíaco também mata. SERRA NA MOITA José Serra aprendeu que, às vezes, é melhor ficar na moita. Tem até um motivo: passou por uma cirurgia. Mas cirurgia do silêncio também faz bem. Ver a carruagem passar com muito barulho é melhor do que estar dentro dela. MARTA QUASE DESISTINDO Dizem que Marta Suplicy está quase capitulando. Lula já manifestou preferência pela candidatura de Mercadante ao governo de São Paulo. Marta voltaria à Câmara, em 2008, para tomar o lugar que hoje pertence ao prefeito Gilberto Kassab, ex-vice de Serra. FAMILIARES FORA DA CAMPANHA Lula instruiu seus articuladores no sentido de excluir das acusações disparadas pelo PT a família de Geraldo Alckmin. Teme que seus familiares sejam igualmente jogados no fogo. GENRO ESTÁ BEM Tarso Genro está desempenhando a contento a articulação política. Sensível, preparado, equilibrado, consegue dar credibilidade aos gestos e atitudes que toma. CAMPANHA CURTA Quanto menor a campanha, melhor para José Serra. Quem pode ganhar no primeiro turno, faz tudo para evitar o desgaste do tempo. Serra conseguirá segurar a barra até outubro? FAMILIARES FORA O Ministério Público de alguns Estados deu prazo - até de 90 dias - para que as Prefeituras e Tribunais dispensem os familiares de prefeitos e magistrados empregados sem concurso. Haverá uma enxurrada de dispensas. _____________
quarta-feira, 12 de abril de 2006

Porandubas nº 48

  EFEITO TEFLON A última Pesquisa Datafolha indica que Lula está imune à crise. Conserva a mesma base de votos das pesquisas anteriores. A crise Palocci não borrou o seu perfil. A questão é : Lula resistirá aos bombardeios que certamente serão mais fortes, ao correr da campanha ? Será que o teflon continuará a deixar limpa a sua panela ? Analisemos : Lula continua tendo alta visibilidade ; Alckmin foi submetido a intenso bombardeio nos últimos dias, em função de denúncias sobre amigos beneficiados com verbas de propaganda, vestidos doados à dona Lu Alckmin e sociedade do filho, Thomaz, com a filha do seu acupunturista em uma empresa ; Lula continua inaugurando obras e distribuindo bolsas família ; Alckmin ainda não conseguiu formar o batalhão da campanha e tem postura reativa ; ademais, a torrente de denúncias e escândalos envolvendo o PT e seus generais acabou gerando banalização dos fatos, atenuando os impactos. Lula tira proveito disso. OS PONTOS DE GAROTINHO Que Garotinho é populista, todos sabem. Que Garotinho defende o projeto Garotinho e não o projeto do PMDB, todos sabem. Que Garotinho não é o candidato da mídia massiva, todos sabem. Apesar de tudo isso, Garotinho sobe. Sobe na pesquisa Datafolha. Primeiro, porque sabe usar bem os espaços do PMDB nos spots publicitários. Segundo, porque a saturação - "petistas versus tucanos" - está abrindo espaço para uma candidatura alternativa. Garotinho soma essas coisas. Com mais cinco pontos, consolidaria uma posição de candidato do PMDB. Difícil de ser derrubada. É o que pensa, por exemplo, o senador do PMDB de Mato Grosso do Sul, Ramez Tebet. E é o que pensa, também, o presidente do partido, Michel Temer. ITAMAR DESISTIRÁ ? Garotinho falará, ainda hoje, com Itamar para pedir seu apoio. Henrique Hargreaves, que foi seu chefe da Casa Civil, garante : Itamar vai dizer a Garotinho que topa ser também candidato do PMDB à presidência. Garotinho está crescendo. Mas não tem as bases do partido. Já Itamar não está nas pesquisas. Mas tem parte das bases. SEM PALAVRA O deputado Wilson Santiago (PMDB-PB), que disputa com o deputado Valdemar Moka (PMDB-MS) a liderança do partido, assinou uma carta à direção partidária endossando a idéia de uma eleição para escolha do líder. Mas não esperou. Com uma lista nas mãos, derrubou a lista anteriormente apresentada pelo adversário. E a eleição ficou para as calendas. ALCKMIN E AS PESQUISAS Geraldo Alckmin é um crente. Acredita que as pesquisas lhe darão vantagem sobre Lula quando a campanha de TV e rádio começar. É possível. Lula será colocado dentro da crise. Imagens de dólares na cueca, queda dos generais do presidente, denúncias envolvendo familiares, tudo isso poderá sensibilizar as margens sociais. A conferir. Mas as denúncias atingirão também Alckmin. Os petistas procurarão responder à altura. Também a conferir. REJEIÇÕES Quem quiser ler bem pesquisas, olhe para as rejeições. Lula tem maior rejeição que Alckmin : 35,7% contra 33,5%, segundo a pesquisa CNT/Sensus. E Garotinho é campeão, com índice que chega a 50%. O ORÇAMENTO SEM VOTAÇÃO E o Orçamento, hein ? Ainda não foi votado. A crise atropela a discussão fundamental. O acessório toma o lugar do principal. É o Brasil. CENSURA PÚBLICA Acaba de chegar à Coluna uma representação do Ministério Público de Roraima contra o Estado e o governador Ottomar Pinto. Os promotores de Justiça João Paixão e Luiz Antônio Araújo, com olhos de lince, distinguiram na logomarca do governo, representada por três estrelas, conotação pessoal. Entendem que logomarca é brasão, bandeira, armas, selo oficial. Não conseguem, assim, distinguir a marca de um governo dos símbolos do Estado. Seria interessante ver esses dois membros do parquet "cassando" as logomarcas dos governos dos outros 26 entes federativos. Seriam seguramente "gozados" por outros operadores da Justiça. Mas Roraima é muito distante e lá, os olhos da Justiça, às vezes, são os olhos de cada promotor. Adendo : a logomarca do governo Ottomar é usada desde os tempos em que ele governou o Estado pela primeira vez. COBERTURA DA BAND Fernando Mitre, o diretor de jornalismo da Rede Bandeirantes, promete uma cobertura diferenciada. Chegou a vez do conteúdo. A cobertura privilegiará os programas dos candidatos. O conteúdo suplantará a forma. Um programa com os candidatos a presidente abrirá a campanha. Será entre 12 a 20 de julho. E um programa na esfera estadual mostrará as diferenças entre os candidatos, a partir de sua visão de problemas. Mitre ouvirá os partidos e estará de ouvidos atentos às demandas sociais. Ou seja, o marketing do espetáculo não terá muita vez na cobertura da Band. Um passo avançado. ________________
quarta-feira, 5 de abril de 2006

Porandubas nº 47

  ITAMAR VOLTARÁ À CENA ? Pois é, quando menos se esperava, o PMDB vai novamente se agitar. Desta feita, a aglomeração se dará em torno do ex-presidente Itamar Franco. Ele topa ser o candidato peemedebista à presidência da República. Difícil é, por enquanto, saber se o PMDB mineiro topa. Lá, a força está do lado do ex-governador Newton Cardoso. O autor da peripécia é o matreiro Orestes Quércia, disposto a se candidatar ao governo de São Paulo, caso Itamar passe no teste da Convenção partidária em junho. Quércia nunca foi com a cara de Garotinho, que ganhou, mas não levará as prévias do PMDB. O projeto de Garotinho é ele mesmo e não o projeto do PMDB. Trata-se de um novato no partido. Não tem a confiança dos velhos caciques. SONDAGENS Quércia sondou Itamar, que diz topar. Ligou para os caciques regionais, recebendo respostas afirmativas e simpáticas. Sarney disse que se trata de um grande nome. E que daria apoio. (Mas quem confia na palavra do também matreiro José Sarney ?) Renan Calheiros, o presidente do Senado, ficou quase sem fala (ele que está na linha de frente da candidatura de Lula) e disse que iria pensar. Jader Barbalho, do Pará, outro que teria bandeado para Lula, também garantiu endossar o nome de Itamar. Jarbas Vasconcelos, ex-governador de Pernambuco, garantiu que vai abrir palanque para Itamar em Pernambuco. Rigotto, governador do RS, está entusiasmado, o mesmo ocorrendo com Roberto Requião, do Paraná. Luiz Henrique, em Santa Catarina, foi mais reticente, mas não negaria o apoio. E o presidente do partido, Michel Temer, que tem agido como algodão entre cristais, se entusiasma com a idéia, eis que assumiu o compromisso da candidatura própria. E GAROTINHO TOPARÁ ? O matreiro Quércia também falou com Anthony Garotinho. Surpresa das surpresas. Ele não teria objeção, contanto que ....... sobrasse para ele a posição de vice na chapa de Itamar. Verdade ? Quércia poderá até negar, mas foi o que ouviu de Garotinho. Pode até ser que o ex-governador carioca, surpreso com a jogada quercista, não tenha negado apoio, no primeiro momento. Aventou a hipótese de ser candidato a vice apenas para despistar. Como é homem de luta, não desistirá fácil da candidatura à presidente. Resumo da ópera : se Itamar for o candidato do PMDB, a fogueira da eleição ficará mais alta. Será difícil ganhar, mas é bem provável que a decisão vá para o segundo turno. Portanto, as peças começam a ser jogadas no tabuleiro. LULA MAIS PERTO DO FOGO E o presidente Lula fica cada vez mais perto do fogo. A crise que redundou na renúncia-demissão de Palocci jogou mais lenha na fogueira. O ministro da Justiça sai queimado. Sabia também das articulações e da farsa montadas e comandadas pelo ex-ministro da Fazenda. É lógico supor que o presidente foi comunicado de todos os passos da operação "pressão sobre o caseiro". Lula quase chorou na despedida de Palocci. Lágrimas de crocodilo. Agora, querem mudar o Relatório de Osmar Serraglio que garante a existência do mensalão. Se trocarem o mensalão pelo uso do caixa 2 e se o presidente sabia de tudo isso, até porque recursos dessa caixa teriam entrado na conta da campanha presidencial, Lula poderá entrar na faixa do perigo. Poderia ser indiciado por crime de responsabilidade. Só assim, Luiz Inácio deixa o Olimpo, onde flutua, para descer à planície onde agruras o esperam. PMDB ABERTO ÀS CONVERSAÇÕES Apesar da movimentação de Orestes Quércia em torno de Itamar Franco, o PMDB está aberto às conversações. O presidente Michel Temer recebeu em sua casa o candidato tucano Geraldo Alckmin. Conversa vai, conversa vem, concluíram que o melhor, no momento, é aguardar as águas de abril e a enchente de maio, quando as coisas ficarem mais claras. Como estará Lula ? Com que pé andará a crise ? Quem ficará com quem nas esferas estaduais ? O PFL abriria espaço para uma candidatura do PMDB a vice na chapa de Alckmin ? Qual o nome mais palatável do PMDB ? Os caciques regionais tendem a ficar mais unidos ou mais repartidos ? O tempo é o senhor da razão. Esse lema dos tempos de Collor volta com força. PESQUISA Mais uma pesquisa sairá nos próximos dias. Está sendo muito aguardada. Mostrará se Lula continuará a exibir um corpo imune aos golpes das oposições. TRIÂNGULO DAS BERMUDAS A cada dia, a hipótese de que o pleito eleitoral será decidido no Triângulo das Bermudas ganha mais adeptos. São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais somam, juntos, 42% dos votos. Quem sair com uma maioria de 5 milhões de votos nesse perigoso Triângulo fica perto, bem perto da vitória. O NORDESTE DUVIDOSO Já o Nordeste dispõe de 27% dos votos. Nessa região, Lula chega a alcançar, hoje, perto de 60% dos votos. Mas o voto nordestino é volúvel. E emocional. Esse voto do Bolsa-Família poderá mudar na última hora. Pois o cabo eleitoral mais forte - o prefeito, o deputado, o governador - influenciará a decisão final. SUL MAIS RACIONAL O Sul do país, por sua vez, tem 15% dos votos. Trata-se de um voto mais racional. Sairá mais da cabeça do que do coração. Ou seja, é um voto que compara perfis, analisa histórias, coloca uma lupa nas promessas. NORTE E CENTRO-OESTE COM CONTROLES Da mesma forma que o Nordeste, o Norte e o Centro Oeste, somando entre 13% e 15% dos votos, possuem votos mais emotivos. Tem caciques fortes que influenciarão a decisão do eleitor. Mas tudo dependerá da federalização versus estadualização das campanhas. Lula tem votos mais emotivos que racionais. Alckmin, mais racionais que emotivos. E se Itamar emplacar - o que será difícil - poderá comer nas duas bandas. ALCKMIN MEIO PERDIDO Pois é, Geraldo Alckmin foi lançado candidato, mas continua meio perdido. Zonzo com a artilharia que começa a causar estragos na imagem - a partir dos 400 vestidos (ou 40 ?) dados pelo estilista Rogério Figueiredo a dona Lu Alckmin - o ex-governador não consegue formar equipe, não consegue arrumar um discurso nacional, não consegue gerar falas fortes. Geraldo deve se esforçar para "despindamonhangabar" a imagem (com todo o respeito aos pindenses, pois é assim que eles são conhecidos). Ou seja, um banho nas águas de outras regiões faria muito bem à saúde. Discorrer sobre a realidade brasileira, mesmo antes da campanha, ajudaria a compor um perfil mais nacional. E SERRA, ONDE ESTÁ ? Quem também desapareceu foi o ex-prefeito José Serra. Não se sabe por onde anda. Deve estar formando a equipe. O meio da sociedade paulista deverá votar maciçamente em José Serra. Mas as margens sociais estão dele afastadas. ________________  
quarta-feira, 29 de março de 2006

Porandubas nº 46

  CAIU O ÚLTIMO BASTIÃO Com a queda de Palocci, caiu a última fortaleza de Lula. O ex-ministro da Fazenda era, efetivamente, a mais poderosa alavanca de Lula. A economia não será afetada. Mas o futuro é incerto. Lula dará a linha da política econômica, como o verdadeiro ministro da Fazenda, e Guido Mantega, o executor. Mas o que será da economia a partir do próximo ano ? Palocci caiu porque mentiu. A verdade de "apenas um caseiro" (como fez questão de dizer Lula ao expressar a condição de um pobre coitado) derrubou a versão de um homem poderoso. A mentira não resiste à verdade. IMAGEM SERÁ AFETADA Os pontos positivos de imagem que Lula ganhou, nos últimos tempos, serão comidos pela crise que derrubou Palocci. Dificilmente Lula conseguirá se safar da "emboscada" que seus aliados lhe fizeram. O ex-presidente da CEF, Jorge Mattoso, ao entregar o extrato do caseiro a Palocci, abriu mais uma grande ferida no corpo já ensangüentado do governo Lula. Caso Lula resista ao tiroteio, entrará no Guinness como o governante que opera o milagre de ressuscitar seguidas vezes. A campanha ainda nem começou. Mas Lula ainda detém o poder de falar e convencer os fundões. O Brasil se prepara para assistir a mais acirrada luta política da contemporaneidade. A FORÇA DOS SISMOS Os tiros de canhão batem no Governo e ferem Lula. Mas o corpo de Geraldo Alckmin, o candidato tucano à presidência, não está imune aos estilhaços. A denúncia da Folha sobre patrocínios de publicidade a políticos e meios de comunicação derrubou o assessor especial, Roger Ferreira, e seguramente entrará no rol de denúncias que aparecerá na mídia eleitoral, quando a campanha for escancarada. Entre 0 a 10, a queda de Palocci repercutirá na imagem de Lula com a força de um sismo de grau 7 na escala tucano-pefelista. Já o sismo em torno de Alckmin atingirá sua imagem com o grau 2 na escala petista. LULA, UM GOVERNO DESNUDO A queda de Palocci revela, por inteiro, a moldura que ilustra a fotografia do governo. A verdade se escondeu. A ética desapareceu. Os homens fortes do governo e próceres partidários caíram um a um: José Dirceu, José Genoíno, Silvio Pereira, Delúbio Soares, Luiz Gushiken (perdeu o status de ministro), e, agora, Mattoso e Palocci. O marqueteiro Duda Mendonça caiu em desgraça. A cidadania é estuprada com a quebra de sigilo bancário de um homem simples. Desmancha-se a aura de grandeza que imantou o governo no início da gestão. Lula mudou de traje, trocando a camiseta de revolucionário socialista pela casaca de autêntico neoliberal. A malha de corrupção é gigantesca. A cooptação parlamentar, com dinheiro público, está fartamente documentada. Uma deputada feliz com a absolvição de um correligionário, com a maior desfaçatez e arrogância, ensaia a dança da pizza no plenário da Câmara, e fere a consciência da Nação. Os índices de crescimentos são medíocres. Lula não sabia de nada ? Pode dizer que, mais uma vez, foi traído. PALOCCI PRESO ? A imagem mais temida por Lula e, claro, pelo próprio, será a do ex-todo-poderoso ministro Antônio Palocci sendo preso. O Ministério Público de São Paulo não lhe dará tréguas. E o delegado Benedito Antonio Valencise, de Ribeirão Preto, está enquadrando o ex-ministro criminalmente por formação de bando ou quadrilha. Tudo por conta das acusações de corrupção na Prefeitura de Ribeirão, quando Palocci era prefeito. E OKAMOTTO, HEIN ? Tentando escapar do tiroteio, Paulo Okamotto, o trem-pagador da família de Lula, segundo farta divulgação da imprensa, mais uma vez, escapa de comparecer à CPI dos Bingos para ser acareado com o economista Paulo de Tarso Venceslau que conhece profundamente as entranhas do PT. O ministro Eros Grau, do STF, concedeu mais uma liminar livrando o presidente do Sebrae do constrangimento de ter de passar pela lupa dos senadores. Okamotto é a pedrinha que falta para se chegar na sala de estar da família Lula da Silva. AGRIPINO VERSUS JOSÉ JORGE O líder do PFL no Senado, o senador potiguar José Agripino, disputa com outro senador, também José, a vaga de vice na chapa encabeçada pelo tucano Geraldo Alckmin. Agripino tem maior visibilidade, melhor fluência, perfil que melhor se encaixa na chapa. Mas o senador pernambucano José Jorge tem o apoio do poderoso presidente do PFL, senador Jorge Bornhausen. Agripino conta com a força do senador baiano Antônio Carlos Magalhães. Como se pode aduzir, trata-se de uma briga de poderosos, onde a vaidade se faz presente. SERRA NO GOVERNO DE SP O projeto tucano fica mais claro. José Serra sairá da Prefeitura de São Paulo para disputar o governo. Torna-se, assim, por antecedência, um forte candidato à presidência da República em 2010. Se Lula ganhar, Serra não terá muito desconforto. Porque pode abocanhar o governo paulista e, assim, se credenciar a disputa em 2010. Se Alckmin levar a melhor, Serra trabalhará para derrubar a reeleição, compromisso pré-acertado com o próprio governador paulista. E será, da mesma forma, candidato à presidência. Ou seja, os horizontes de Serra se reabrem. PFL NUNCA ESTEVE TÃO BEM O PFL, hein, quem diria, chegou ao cume da montanha. Cláudio Lembo senta na cadeira do governo do Estado mais forte da Federação e Gilberto Kassab fica no comando da maior Prefeitura do país. Os dois pefelistas, caladinhos, discretos, sabem fazer política usando a capacidade de articulação. Só falta, agora, o PFL exigir um candidato próprio ao governo do Estado, sonho de Guilherme Afif Domingos. PMDB NA BERLINDA Os quadros governistas nos Estados - leia-se governadores e candidatos a governador - não querem uma candidatura própria à presidência da República. Defendem liberdade para fazer alianças a torto e a direito. Ou seja, querem viabilizar os candidatos do partido nas campanhas. Há 14 nomes com chances. AÉCIO SAI PERDENDO Quem sai perdendo com os últimos movimentos do PSDB é o governador Aécio Neves. Tem a reeleição quase garantida, e quer ser o próximo candidato à presidente da lista tucana. Serra ameaça tomar o lugar. ALCKMIN E O DISCURSO NACIONAL Calcanhar-de-Aquiles do candidato Geraldo Alckmin : o discurso nacional. O governador e candidato à presidente não consegue expressar um discurso nacional. Parece ainda muito voltado para a cultura (com todo respeito) de Pindamonhangaba, a cidade natal. E BURATTI, HEIN ? Se o advogado Rogério Buratti, que abriu a expressão contra Palocci, falar um pouquinho mais, a fogueira ficará mais alta. Diz-se que Buratti está muito chateado. Questões emocionais. CENSURA DO GOVERNO LULA O governo federal, pelas mãos do Ministério das Comunicações, fez intervenção na Rádio Difusora de Roraima AM, pertencente ao governo, único meio de comunicação que chega ao interior do Estado. O governador Otomar Pinto identifica no senador Romero Jucá (PMDB), seu adversário, a pessoa que fez gestões junto ao ministro Hélio Costa, senador também pelo PMDB, para calar a emissora. O senador Jucá estaria incomodado pelo fato de a emissora, muito popular na comunidade interiorana, divulgar os programas governamentais. Nem nos tempos da ditadura - lembra o governador - que é militar, brigadeiro aposentado, vê-se coisa semelhante. A Rádio Roraima tem 47 anos de existência. ________________  
quarta-feira, 22 de março de 2006

Porandubas nº 45

  GAROTINHO NÃO LEVARÁ Como esta Coluna já previra, Garotinho ganhou as prévias do PMDB, transformadas em consulta informal, depois do ministro Edson Vidigal ter proibido sua realização. Ganhou pelo voto ponderado, pois Rigotto teve mais votos absolutos. Ganhou, mas não leva. O PMDB tem 14 candidatos em boas posições nos Estados. Para viabilizar sua vitória, precisa fazer alianças a torto e a direito. Por isso, não interessará ao partido aprovar a candidatura própria na Convenção de junho. NOMES VIÁVEIS DO PMDB AOS GOVERNOS Rio Grande do Sul - Rigotto ou o candidato indicado por eleSanta Catarina - Luiz HenriqueParaná - Roberto RequiãoMato Grosso do Sul - André PucinelliTocantins - Marcelo MirandaRio de Janeiro - Sérgio CabralEspírito Santo - Paulo HartungAlagoas - Renan Calheiros (se for candidato)Paraíba - José MaranhãoRio Grande do Norte - Garibaldi AlvesGoiás - Maguito VilelaPiauí - Mão SantaPará - Jader Barbalho (se for candidato)Amazonas - Eduardo Braga QUE VERGONHA O ministro Edson Vidigal, que preside o STJ, segunda Corte mais importante do país, diz que julga como juiz até se aposentar. É um direito. Vai entrar na política. Possivelmente para se candidatar ao governo do Maranhão pelo PSB. Julgar matéria política, de alto teor polêmico, praticamente 10 dias antes de se afastar do Poder Judiciário, não parece condizente com a ética. É uma vergonha. Como a politização do Judiciário arrebenta a instituição. QUANTO MAIS DIVIDIDO, MAIOR O PMDB está na ordem do dia. Disputado por Lula e pela oposição. Falam muito mal do PMDB. É uma Federação de partidos regionais. Tudo bem. Mas não se nega um fato : quanto mais dividido, maior fica. Este é o PMDB que desafia a aritmética. Tudo indica que sairá do pleito como o maior partido. ALCKMIN ENTRE OS ECONOMISTAS Os economistas fincaram raízes na seara política. Vem sendo assim desde os experimentos de Bresser Pereira e Dílson Funaro nos tempos ciclotímicos de José Sarney (1986 em diante). Hoje, continuam a disputar espaço. Quem vencerá a queda de braço para ser acolhido pelos braços de Geraldo Alckmin ? Economistas da PUC do Rio ou economistas da USP-SP ? O diabo é que ninguém agüenta mais essa linguagem : juros nominais, taxas de juros, superávit primário, metas de inflação, câmbio flutuante etc. O povo quer mais segurança, comida e transporte barato, escola qualificada, estradas boas e postos de saúde com serviços de qualidade. O candidato com essa linguagem fará o diferencial. LULA, AJUDANTE DE SÍSIFO (I) Sísifo, rei de Tebas, fez muitas estripulias na terra. Os deuses decidiram castigá-lo. Colocaram-no no Hades para purgar os pecados. Implorou para voltar à terra. Os deuses lhe concederam um passeio com tempo marcado para volta. Passou o tempo e nada. Os deuses mandaram capturá-lo. Sísifo, estabanado, tentava se esconder. Não teve jeito. Recebeu um castigo de monta : pegar uma imensa pedra, jogá-la sobre os ombros e depositá-la no topo de uma montanha. LULA, AJUDANTE DE SÍSIFO (II) O pobre homem tentava, tentava, tentava. Prestes a conseguir a façanha, eis que a pedra rola e Sísifo vai repetir o esforço ... por toda a eternidade. O povo elegeu Lula porque acreditava que ele poderia ser o ajudante de Sísifo. No momento exato, perto do cume, Lula daria um empurrão e conseguiria jogar Sísifo no topo. Os brasileiros iriam se fartar de alegria. Por toda a eternidade. Nada disso aconteceu. A pergunta é : Lula conseguirá se habilitar novamente a ser o ajudante de Sísifo, o homem capaz de promover a grande revolução da mudança ? SERRA SERÁ GUINDADO José Serra será candidato a governador. Tem boas condições de derrotar o candidato petista, seja Marta Suplicy, seja Aloysio Mercadante. Serra se arrependeu de ter aberto o caminho para Geraldo Alckmin. A pressão para assumir a candidatura ao governo de São Paulo é insuportável. NELSON JOBIM NA POLÍTICA Depois de desmentidos, Nelson Jobim já admite que vai entrar novamente no PMDB. Quer voltar para os braços mais abertos da política. Depois de uma experiência muito criticada no Judiciário. O TIRO SAIU PELA CULATRA Nildo, o Francenildo que tomava conta da Casa de nº 25, no Lago Sul, onde ocorriam festinhas e distribuição de dinheiro, é o herói da semana. O PT tentou desmoralizá-lo. Abriram as contas do caseiro na Caixa Econômica. Ele teve de mostrar as vísceras da intimidade para provar que recebeu dinheiro do pai que queria cooptá-lo, fugindo de uma paternidade. E ainda há quem ache que foi comprado, que recebeu dinheiro dos tucanos, dos pefelistas etc. Como o Brasil ainda está repleto de gente tapada. Em tempos de grampos e controles rígidos, o caseiro seria simplesmente triturado caso fosse flagrado em atos ilícitos. E esse Tião Viana, hein ? Que senador de discurso enviesado. O governo do PT deu um tiro no pé. ATÉ ONDE MÁRCIO IRÁ ? O ministro Márcio Thomaz Bastos é um homem sério. Deve estar recebendo muita pressão. Até quando o ministro resistirá ? O affaire Palocci poderá se complicar se as coisas não forem logo descobertas. PALOCCI SAINDO Se Palocci sair, a boataria vai se expandir. Por um tempo. Mas os impactos, no médio prazo, serão administrados. Lula perderá bastante. PALOCCI FICANDO Se Pallocci ficar, a boataria também se expandirá. E a fogueira continuará acesa por todo o tempo. Lula vai perder muito mais. Colocará a crise no colo. POR ONDE ANDARÁ JEANY MARY CORNER ? Por onde andará Jeany Mary Corner, intérprete das demandas mais íntimas de um poderoso eleitorado de Brasília ? A palavra dessa mulher, nesse momento, tem mais força que todos os verbos soltos para esconder verbas sujas. E QUE SONHOS TEM PALOCCI, HEIN ? O ministro Antonio Palocci está no meio do inferno astral. Poderoso, respeitado, fiel escudeiro da moeda forte de Lula, o ministro da Fazenda deve acordar aos sobressaltos nesses dias quentes de Brasília. Que sonhos povoam a mente palocciana ? A imagem é de fuga, medo ou harmonia ? E OKAMOTTO ? Tião Viana, senador, pediu a quebra do sigilo das contas do caseiro Nildo. Mas luta para esconder as contas do trem-pagador da família presidencial, Paulo Okamotto, ex-sindicalista e presidente do Sebrae. ________________  
quarta-feira, 15 de março de 2006

Porandubas nº 44

  O TUCANOSCAR VAI PARA ....................GERALDO ALCKMIN   Depois de levar a indecisão no bico por um bom tempo, os tucanos decidiram atribuir o "Prêmio Tucanoscar" a Geraldo Alckmin. Ele será o candidato à presidência da República. É o melhor candidato, conforme defendíamos nessa coluna. Menos conhecido, menos rejeitado, tem maior potencial de crescimento. Falta-lhe discurso nacional. Precisa rechear a identidade com uma visão de Brasil. Já o prefeito José Serra, ao impor a condição de não se submeter às previas, abriu mão da candidatura. Ora, ninguém pode ser contra prévias quando há dois pré-candidatos fortes disputando a vaga. Serra estava mesmo com medo de perder para Lula e fechar a história de sua carreira política. PERDENDO O BONDE Há sempre um caminho mais viável que outro para se alcançar o cume da montanha. O melhor caminho dos tucanos seria uma via com duas vicinais : Geraldo Alckmin para presidente ; José Serra para governador. Este teria ótimas chances de vencer Marta ou Mercadante, em São Paulo. Geraldo assumiria o compromisso de se candidatar apenas uma vez, desistindo de eventual reeleição. Serra, eleito governador, fazendo boa administração, seria um candidato viável. E se o governador perder a eleição para Lula ? Melhor ainda para Serra : seria o candidato natural, o anti-PT, em 2010. Portanto, esse caminho levaria Serra ao cume da montanha. A vaidade serrista afasta-o do bonde da história. Mas, quem sabe, poderá recuperar as chances, reelegendo-se prefeito, em 2008, ou postulando coisa maior dois anos depois. AÉCIO COM NUVENS Aécio Neves, diz-se, quer porque quer ser candidato à presidente da República em 2010. Para isso, Aécio deve exigir o mesmo compromisso de Geraldo Alckmin, ou seja, veto ao projeto de reeleição, caso ganhe de Lula. A questão não pára por aí. O jovem mineiro exibe um perfil muito nebuloso. Nuvens cinzentas atrapalham sua identidade. Diz-se que a vida privada do governador precisa ganhar nova feição, sob pena de ser tragado pelas fofocas que explodem de todos os lados, inclusive situações constrangedoras que teriam ocorrido no carnaval. PALOCCI AMEAÇA LULA Lula continua faceiro e perdendo peso. A lua-de-mel poderá passar logo, logo, caso o ministro Antonio Palocci seja colocado no centro da fogueira. A denúncia do caseiro, de nome Francenildo, é bombástica. Palocci era o chefe que comandava a turma de Ribeirão Preto e a distribuição de dinheiro, a partir da famosa casa de Brasília. Há tantos detalhes - inclusive o carro Peugeot prata, o sensor de luz que o ministro mandava apagar - que dão à história um caráter de verdade. Há um delegado que confirma o esquema de corrupção em Ribeirão Preto. Há um assessor, que fazia compras, que também confirmou tudo. Há um motorista garantindo que Palocci visitava a casa. E há Buratti, assessor de peso, que falou às escâncaras. Ou seja, há mais ataques do que defesa. E defesa frágil. Se ele cair, será um deus-nos-acuda. Lula ficará cada vez mais só. FITAS As fitas continuam a aparecer como previmos. As últimas mostraram conversas entre o empresário Tony Garcia e o advogado Roberto Bertholdo, envolvendo parlamentares e grana para aliviar depoimentos de donos de bingos. Haja corrupção. PRÉVIAS NO PMDB As prévias no PMDB vão acontecer mesmo no dia 19 próximo conforme garantiu esta Coluna. Garotinho está mais perto da vitória. Ganha. Mas leva ? Tudo indica que se a verticalização for mantida pelo STF, acolhendo-se o voto da ministra Ellen Gracie, o PMDB recuará e não indicará candidato na convenção de junho. Os governadores e candidatos a governador pelo partido serão chamados pelo presidente do PMDB, Michel Temer, e daí sairá a decisão. É claro que os candidatos querem liberdade para fazer alianças a torto e a direito. Uma candidatura à presidência atrapalharia essa intenção. MST O Movimento dos Sem-Terra apóia Lula e vai à luta, melhor dizendo, vai aos saques. Lula põe o boné vermelho do MST e abraça calorosamente João Pedro Stédile. O ministro do Desenvolvimento Agrário, Miguel Rossetto, condena as invasões. Lula fica calado. Mas tem o apoio de Stédile para se reeleger. Para entender tal química, só mesmo mergulhando nos escombros da matreira política. E ONDE FICA O BRASIL? O fulanismo continua abrindo espaço. Os fulanos e beltranos estão ganhando todas. E onde fica o Brasil nessa história ? Onde estão as idéias ? Será necessário abrir a campanha para se ouvir algo sobre o Brasil ? JOÃO PAULO, CASSAÇÃO À VISTA Será muito difícil, mesmo, para o ex-presidente da Câmara, deputado João Paulo, escapar da cassação. A indignação da opinião pública chegou ao clímax. JP aparece na curva da ferradura....lembram-se ? Uma no cravo (absolvição), outra na ferradura (condenação). PSDB PROCURA PMDB Não é só Lula que quer o PMDB integrando suas forças. O PSDB, idem. Há conversas de alto nível em torno de alianças, a partir da disputa para o governo estadual. QUATRO CANDIDATOS Se a verticalização for mantida, os candidatos prováveis à presidência da República serão: Lula (PT), Geraldo Alckmin (PSDB-PFL), Heloísa Helena (P-SOL) e Jefferson Peres e/ou Cristovam Buarque (PDT). Logo, a polarização será forte. BAND: COBERTURA MAIS FORTE O Grupo Band reuniu os partidos para anunciar a intenção de fazer uma cobertura eleitoral mais forte, privilegiando o ideário. Chegou a vez do conteúdo. A forma, a mentirinha, as firulas televisivas dos programas eleitorais estão dando adeus. Caíram no descrédito. Fernando Mitre já marcou o primeiro debate entre os presidenciáveis para dia 12 de julho. E SE O BRASIL GANHAR A COPA, HEIN ? Que candidato mais se beneficia se o Brasil ganhar a Copa ? 10 entre eleitores acertam a resposta. Como não há dúvidas, deixamos a questão em aberto. Agora, e se o Brasil perder, hein ? A recíproca é verdadeira. ________________  
quarta-feira, 8 de março de 2006

Porandubas nº 43

  A DOBRADINHA TUCANA Que é especulação, não há dúvida. Mas é uma especulação com cara de verdade. José Serra sairia da Prefeitura para disputar o governo e Geraldo Alckmin teria o caminho livre para concorrer à presidência. Seria uma boa jogada. Os tucanos não têm um bom candidato para o governo de São Paulo. Serra seria a solução. Geraldo tem maior potencial de crescimento do que o prefeito e, ainda, menor rejeição. Portanto, os tucanos sairiam numa boa da crise. E Geraldo Alckmin poderia comprovar que sabe sair de baixo e ganhar uma eleição. Lula é favorito. Mas quem nega a possibilidade de sair por cima numa campanha eleitoral ilustrada com dólares na cueca de petistas ? A DESCULPA DE SERRA A justificativa de Serra para sair da Prefeitura e disputar o governo não seria tão criticada. Permaneceria em São Paulo, perto dos problemas da municipalidade. Hoje, 50% dos paulistanos não querem que se afaste para disputar a presidência. E o prefeito, sem dúvida, enfrentaria um terceiro turno com Marta Suplicy. Para esta, o ideal seria que Serra deixasse a Prefeitura e concorresse à Presidência da República. Bateria nele, dizendo que não cumpriu o compromisso, atestado em cartório. Mas, no governo, o que iria dizer ? Serra poderá alegar que ficará em São Paulo, que deixou o governo nas mãos do vice, que o Estado e Prefeitura continuariam a trabalhar juntos etc. Mas o prefeito encontrará muitas barreiras, entre as quais a crítica por não ter um eixo, um programa-mor, uma idéia-central na Prefeitura. O programa-forte de Serra é o cofre. Arrumou as contas. Até aí tudo bem. Só que o acerto de contas pesou sobre as costas dos prestadores de serviços da Prefeitura. Que tiveram de suportar um calote. FITAS ANUNCIADAS Esta Coluna bem que antecipou a existência de fitas e mais fitas que expandem a esfera da corrupção. E tem mais. Haja munição! MAIS UM POLÍTICO NA RODA O senador Romero Jucá (PMDB-RR) tem uma ficha política cheia de curvas. Há processos contra ele no Conselho de Ética do Senado. Agora, apareceu uma fita com o depoimento de seu motorista, Roberto Marques, confessando ter sacado dinheiro do valerioduto. Jucá tentou se justificar dizendo que o motorista teria sido induzido por um assessor do governador de Roraima, Ottomar Pinto, a ler, em voz alta, uma nota previamente preparada para comprometê-lo. Questões : ler uma nota em voz alta a título de quê ? Para testar a performance vocal ? Ademais, um texto com diálogos entre o motorista e o interlocutor é bem diferente do que um texto corrido. Uma coisa é a narrativa sem interrupções e cacoetes de linguagem, outra coisa é uma interlocução entre duas pessoas. CONFUNDIRAM OS BOBs ? Problemas : o tal Roberto Marques, conhecido como Bob, apontado como sendo amigo de José Dirceu, se defende dizendo que cometeram uma "injustiça" contra ele. E o próprio ex-ministro José Dirceu promete reabrir seu caso junto ao STF, alegando que houve um erro de pessoa, quando o relator do processo no Conselho de Ética referiu-se a seu amigo Roberto Marques. Teriam confundido seu amigo com o outro Roberto Marques, amigo do senador Jucá. Ora, a questão pode ser resolvida, por meio da identificação da assinatura de quem pegou os R$ 50 mil no caixa do Banco Rural. O senador, que é candidato ao governo de RR, está no meio da roda. Se for comprovado que o Marques do valerioduto é o seu amigo, babau, dificilmente tem chances de continuar no páreo para o governo de RR. VERTICALIZAÇÃO E CRISE Se a verticalização for mantida pelo STF, a crise política abrirá mais um braço, desta feita, entre o Poder Legislativo e o Poder Judiciário. A questão ultrapassará a fronteira técnica, cujos limites abrigam o conceito da anualidade - para efeito de aplicação da lei - e a interpretação sobre a imediata vigência de uma Emenda Constitucional. Interessante é verificar que o mundo jurídico se reparte. Os pareceres contemplam as duas visões. O ex-ministro Paulo Brossard dará o tom do Congresso. Mais uma proposta de emenda constitucional, agora alterando o princípio da anualidade, seria desastrosa para o tecido institucional. O PROJETO DO PMDB E LULA Já se diz que Lula começa a desistir da quebra da verticalização, ante a possibilidade de o PMDB desistir, mais adiante, da candidatura própria. Analisemos. O PMDB marcou as prévias partidárias para 19 de março. Garotinho deve ganhar. Vitorioso, seria o candidato a ser consagrado pelo partido na Convenção de junho. Ocorre que a verticalização prejudica o projeto do PMDB de eleger cerca de 15 governadores. Para isso, o partido contaria com apoios de todos os lados. Com verticalização, isso não seria possível. E aí Garotinho poderia ser rifado. Sem candidato, o PMDB continuaria a fazer alianças a torto e a direito. E Lula, no plano federal, teria maiores chances de contar com o rolo compressor peemedebista. SEM VERTICALIZAÇÃO Se a verticalização cair no STF, o alívio será sentido principalmente junto aos partidos pequenos, que se esforçarão para vencer os obstáculos da cláusula de barreira : 5% dos votos apurados para a Câmara Federal em todo o território nacional para terem direito aos recursos do Fundo Partidário e ao tempo de mídia eletrônica. O PMDB ficaria mais confortável. O PT, menos confortável, porque aposta da polarização com o PSDB. O PFL também ficaria mais acomodado. Os partidos médios temem perder parcelas de suas bancadas. Com razão. Alguns até poderão desaparecer. E A NOVA CARTA DO PT, HEIN ? A nova Carta do PT ao Povo Brasileiro será um caso complicado. Fará críticas à política econômica do governo Lula ? Pedirá mudanças ? E se Lula não aceitar as críticas? Como será uma carta pedindo apoio a Lula, mas exigindo mudanças ? Lula ficará calado ? PALOCCI NA RODA ? Quem foi que disse que o ministro Antônio Palocci saiu da roda ? Se saiu, ameaça voltar. O depoimento do delegado Benedito Antonio Valencise sobre a gestão de Palocci na Prefeitura de Ribeirão Preto será muito quente. E o ministro começa a perder o lugar de coordenador da campanha de Lula. LULA COMO PINGÜIM Diz-se que Lula recusou usar casaca na recepção que lhe dará a rainha da Inglaterra. Teme parecer com um pingüim. Usará paletó comum. E mesmo o tradicional nó inglês da gravata não vingará. Prefere aquele nó grosso, que sufoca o pescoço. O cabra tem personalidade. Vamos aguardar as fotos. RODA VIVA, 10 Esta coluna fez, há semanas, críticas ao Programa Roda Viva da TV Cultura, na esteira da observação de que alguns entrevistadores tomam muito tempo, diminuindo o espaço do entrevistado. E sugeriu menos entrevistadores como forma de conferir maior visibilidade ao entrevistado. Mas o programa de segunda-feira merece um elogio público. Estava ali um médico, de altíssimo nível, dr. Miguel Srougi, urologista, respondendo de forma simples, sem firulas e meios termos, todas as questões. Uma belíssima aula. O programa merece um 10 com louvor. Se há uma crítica, não vai para os jornalistas, mas para um dos médicos presentes, que se estendeu nas considerações, antes de fazer uma pergunta singela. ________________  
quarta-feira, 22 de fevereiro de 2006

Porandubas nº 42

  BICADAS TUCANAS Os tucanos estão se bicando. O trio de arbitragem - FHC, Tasso Jereissati e Aécio Neves - cometeu o deslize de almoçar com Serra, sem a presença de Geraldo Alckmin. Ficou feio, pois deram a entender que tentaram puxar uma decisão do prefeito de São Paulo em direção à eleição presidencial. O governador Marconi Perillo, de Goiás, chiou. Para desfazer a gafe, almoçaram, ontem, com o governador paulista. A essa altura, as bandas serrista e alckmista estão em plena arena de disputa. As bicadas recíprocas são contundentes. Um show de incompetência. E assim Lula vai nadando de braçadas... LULA SAIU DO PURGATÓRIO Não há dúvida : o presidente Lula saiu do purgatório e caminha, célere, em direção aos Céus. Corre o Brasil inaugurando e, incrível, "reinaugurando" obras, como o aeroporto de Recife. Vai preparando pacotes de bondades para resgatar a confiança da classe média. As classes C, D e E já contam com o programa Bolsa Família. A classe média está na espreita. Não está dando certo a isenção tributária que Lula pensa dar para a contratação de empregadas domésticas. Os homens do cofre vetam a idéia. E os laboratórios maquiavélicos do Planalto continuam a trabalhar nesse sentido. (Mais uma vez, vale lembrar o recado que a classe média deu a Marta Suplicy, que pensava cooptar apoios com melhorias em ruas centrais e túneis). ALENCAR NA MOITA O vice-presidente José de Alencar bem que gostaria de continuar na chapa presidencial com Lula. Há uma vaga de Senado, em Minas, que também ganha sua preferência. Mas Itamar Franco lutará por ela, caso seu nome seja escolhido pelos peemedebistas em convenção. Ocorre que o ex-deputado e ex-prefeito de Uberlândia, o sério Zaire Rezende, também faz campanha pelo cargo. A vaga de governador estaria garantida para Aécio Neves, dentro do projeto reeleição. Assim, a vaga ainda mais acessível a José de Alencar é a de vice na chapa de Lula. BONO E LULA O vocalista do U2 é, reconhecidamente, um partidário do conceito "politicamente correto". Ergue alto grandes bandeiras - contra as guerras, contra a fome, contra as discriminações. Mas não está imune a gafes. A imagem de Lula, em um telão, foi recebida com vaias e apupos pela galera (75 mil pessoas) no estádio do Morumbi. Politizar eventos festivos nem sempre dá certo. PRÓXIMA PESQUISA A próxima pesquisa continuará a mostrar Lula crescendo. É o único pré-candidato em plena campanha. Esta semana, visita 6 Estados em 2 dias. Crescimento absolutamente previsível. CARNAVAL AMORNA A POLÍTICA As CPIs, que entraram em parafuso, já não provocam muito interesse. Os escândalos tornaram-se banais. A roubalheira, como a morte em Bagdá, é coisa comum. E, como droga para curar a cefaléia social, surge o carnaval. A política entra em banho-maria. No Brasil ciclotímico, os ciclos se revezam na esteira da improvisação. JORGE VIANA O governador Jorge Viana, do Acre, estará no centro da campanha lulista. Insiste em ficar no lugar, mas Lula quer por quer trazê-lo para o Planalto. BRIGA DE FOICE NO ESCURO As duas alas do PT - contra e a favor da política econômica do Governo - se preparam para uma mortífera guerra de foice no escuro. Crescimento versus estabilidade - essa será a dualidade que se verá na seara petista. Lula tentará apaziguar as duas alas, prometendo colocar um pé em cada canoa. Algo como assoviar e chupar cana ao mesmo tempo. QUAL É O PROJETO PARA O BRASIL ? Afinal de contas, qual é o projeto de Lula para o Brasil caso ganhe as eleições ? E qual é o projeto de Serra ? E o de Alckmin ? E o de Garotinho ? E o de Germano Rigotto ? Quem sabe o que pensam os pré-candidatos ? Um país não alcança o estágio de Nação quando a política é feita apenas com fulanos, beltranos e sicranos, não com idéias. O QUE MUDARÁ NAS CAMPANHAS ? Pergunta recorrente : o que mudará nas campanhas ? Muita coisa. O conteúdo prevalecerá sobre a forma. A comunicação de ênfase publicitária - chamativa, emotiva, com muita firulação, trucagens e invencionices - cederá lugar a uma comunicação mais centrada no discurso, na essência, nos conteúdos, nas propostas de candidatos. Os eleitores estão vacinados contra cenas de alto teor dramático, voltadas para amarrar psicologicamente o voto. Por isso, o voto está saindo do coração em direção à cabeça. Furas-filas, cenas de grávidas vestidas de branco correndo no gramado verde, candidatos em redor de mesas monitorando programas de governo - essa enganação toda estará sendo vigiada. A política - depois dos escândalos - volta um pouco ao seu leito natural. AGRIPINO VERSUS BORNHAUSEN O líder do PFL no Senado, José Agripino, reúne melhores condições do que o presidente do partido, senador Jorge Bornhausen, para figurar como vice na chapa encabeçada por um tucano. Seria o representante de uma região, o Nordeste, que tem 27,7% dos votos do país. Bornhausen, de Santa Catarina, não agregaria coisa nenhuma. César Maia diz que este é mais liberal do que Agripino, compondo uma chapa mais afinada com José Serra, enquanto Agripino estaria mais à vontade numa chapa com Geraldo Alckmin. Besteira. Nesse caso, o que conta é a representação regional. Somar o Sudeste (42,6%) com o Nordeste é mais vantajoso que somar o Sudeste com o Sul, que tem apenas 14,6% dos votos. UM PÁSSARO NA MÃO OU DOIS VOANDO ? O que vale mais ? Um pássaro na mão ou dois voando ? Quem gosta de arriscar, prefere atirar nos dois que voam. Quem é mais conservador prefere continuar com o pássaro na mão. É um, mas está agarrado. Façam as apostas : José Serra fica com o pássaro na mão ou atira nos dois que estão no ar ? A resposta abrirá ou fechará o caminho para Alckmin. REFLUXO DE RECURSOS Calcula-se em 40% o índice de queda nos recursos para campanhas. Teremos campanhas mais objetivas, menos espalhafatosas e exuberantes. O eleitor é quem ganha com isso. O caixa 2, que faz parte do DNA da política, continuará apesar de aberto com maior discrição. Desta feita, candidatos terão de pôr a mão no bolso. E muitos ficarão com papagaios na mão depois das eleições. ________________  
quarta-feira, 15 de fevereiro de 2006

Porandubas nº 41

  LEVANTA A POEIRA O PT está comemorando os 26 anos de vida sob a melodia do sambinha "levanta, sacode a poeira e dá volta por cima". Mesmo com Lula subindo nas pesquisas, é muito cedo para festejar. Há muitas curvas pela frente. Na primeira, o PT vai ter de se alinhar à política econômica do governo. Na segunda, terá de recuperar o discurso perdido. Já não é dono exclusivo da ética. Na terceira curva, procurará um discurso mais pragmático para substituir a proposta socialista. Afinal de contas, que socialismo o partido ainda pensa em desfraldar ? Nas curvas da campanha, se defrontará com coisitas como mensalão, valerioduto, delubioduto, etc. Conseguirá refazer a bancada de 90 deputados ? Vai ser difícil dar a volta por cima. Sacudir poeira pesada leva tempo.PONTOS NA FRENTEA última pesquisa CNT/Sensus coloca Lula 10 pontos na frente de Serra no segundo turno. Não é coisa que surpreende. Há mais de um mês que o presidente fatura fatos positivos. Economia vai bem, Bolsa Família segura as margens sociais, inaugurações pipocam por todos os lados, enquanto Lula, mais magro e faceiro, vai desfilando um bom humor nunca visto. Na outra margem, tucanos se bicam para fechar posições entre Serra e Alckmin, aquele mais preparado, porém mais sujeito às intempéries, este, mais light, porém com melhores condições de crescer em campanha. Lula, correndo sozinho, cercado de coisas boas, é para estar na frente mesmo. Se não, a campanha seria sem graça.PARA ONDE VAI A BIRUTA ?O empresariado está ansioso para saber qual a direção da biruta. A pergunta que mais se ouve de um empresário é : quem será o candidato do PSDB, Serra ou Alckmin ? E o complemento da pergunta : e quem tem mais condições de ganhar de Lula ? Nenhuma resposta satisfaz a curiosidade dos empresários. AFIF NAS ÁGUAS DE MARÇOGuilherme Afif espera as águas de março. Diz que está no seu cantinho, disposto a ir à luta se for convocado para a batalha pelo governo de São Paulo. O diabo é que o PFL já está com a Prefeitura de Serra (por dois anos) ou com final de governo de Alckmin nas mãos. O que tira a chance de Afif.QUÉRCIA NAS ÁGUAS DE ABRILSe a decisão dependesse exclusivamente de sua vontade, Orestes Quércia não seria candidato ao governo de São Paulo. A família não quer. Ele não gostaria de voltar ao centro da liça, pelo tipo de campanha que se faz hoje. Mas as bases peemedebistas querem vê-lo candidato. E Quércia ouve muito as bases. Sabe que uma candidatura do PMDB ao governo contribui para fazer uma bancada apreciável de parlamentares. Espera por abril.CLASSES MÉDIAS CONTINUAM DESCOLADASSe as classes C, D e E abrem os braços para Lula, o mesmo não ocorre com a classe média. Mais racional, não se abala ante os ventos favoráveis a Lula. Ao contrário, afasta-se mais quando vê o presidente usando o poder da caneta no caderno da pré-campanha. Acompanha a crise. Lê jornais. Vejam o que aconteceu com Marta Suplicy. A inauguração de obras no ano eleitoral não fez a classe média arredar um milímetro de seu posicionamento contrário à ex-prefeita. A CAMPANHA PELA TV GLOBOA cúpula jornalística da TV Globo reuniu-se, no Rio de Janeiro, com os presidentes de partidos políticos para acertar a cobertura de campanha. A emissora compromete-se a fazer uma cobertura ética e isenta. Mais ainda : vai abrir espaços para os candidatos a presidente nos principais telejornais. Mas quer preferência. E jogou pesado. Exigiu que os presidentes de partidos presentes assinassem compromisso de preferência pela TV Globo. O deputado Michel Temer, ponderado, fez ver que aquilo seria um atestado de submissão dos partidos ao grupo Globo. O que deveria ser um compromisso com a Globo acabou sendo uma comunicação sobre a estrutura que a emissora usará na campanha. Para se ter uma idéia, William Bonner e Fátima Bernardes ancorarão o programa pelo Brasil afora, a partir de 15 cidades estrategicamente escolhidas. Até os debates já estão agendados.PMDB VAI TER CANDIDATOPor maior que seja o esforço da dupla Sarney-Renan para evitar que o PMDB tenha candidato à presidência da República, tudo indica que as bases partidárias consolidarão a decisão da última Convenção, ou seja, vai haver, sim, candidatura própria. Garotinho montou um esquema de telemarketing que já contatou milhares de convencionais. Rigotto confia em sua identidade mais peemedebista. Começou tarde sua pré-campanha. Hoje, os presidentes dos diretórios estaduais do partido discutem em Brasília o formato das prévias. Questão polêmica : o peso do voto dos governadores e das lideranças e o peso de convencionais sem expressão partidária.RODA VIVA COM MUITA RODASemana passada critiquei o formato do programa Roda Viva. Disse que estava saturado. E está mesmo. Ante alguns e-mails pró e contra ao ponto de vista, reafirmo. Muitos entrevistadores acabam "horizontalizando" a entrevista. A possibilidade de rebater, aprofundar, dissecar o tema é pequena. As rodadas de perguntas criam um ambiente superficial. Há quem ache Roda Viva o melhor programa de entrevistas do Brasil. Na pasmaceira geral, é até possível. Mas, convenhamos, o formato arena-espetáculo seguramente não propicia verticalização temática.O PT PROCESSANDO FHCSerá um espetáculo hilário ver o PT processando Fernando Henrique. O PT vai dizer que não rouba. FHC vai juntar massa informativa da mídia para dizer o contrário. E, para arrematar, poderá dizer que o próprio Lula reconhece o roubo, quando diz: "errar é humano". Vai querer que Lula explique onde o PT errou. A propósito: será que o PT vai mesmo processar FHC ou faz onda ?CAMPANHA INDEFINIDAAfinal de contas, como será a campanha eleitoral ? O que será permitido, o que será proibido ? O parecer do deputado Moreira Franco, proibindo o uso de brindes como camisetas, bonés, canetas, chaveiros, além de showmícios, telemarketing e out-doors, tem 40 emendas e 4 subemendas a serem debatidas em plenário. O projeto, convenhamos, não moralizará a campanha. ________________  
quarta-feira, 8 de fevereiro de 2006

Porandubas nº 40

RODA "VIVACACIANA" Fernando Henrique já não tem mais novidades a contar. E os entrevistadores já não se esforçam para escarafunchar as idéias do ex-presidente. Foi assim a entrevista de FHC no programa de entrevistas Roda Viva, da TV Cultura. Esse programa já deu o que tinha de dar. Esgotou-se como modelo. O que se viu, na segunda à noite, foi um eco de vozes sobre perguntas e respostas há muito conhecidas. Os jornalistas fizeram perguntas que FHC já cansou de responder. Com o agravante de que o respeito pela figura do ex-presidente certamente conteve maior ímpeto dos entrevistadores. Ademais, FHC sabe tirar de letra, ou melhor, com sobra de letras, todas as questões que lhe são endereçadas. Dribla a pergunta, contorna a resposta, atenua qualquer impacto e, ao final, resta um xarope meio insosso. Um programa acaciano, com o termo significando, aqui, ingênuo, não pomposo. SERRA, ENTRE A CORAGEM E O MEDO José Serra, o prefeito de São Paulo, só não será o tucano candidato à presidente da República, se rejeitar todos os apelos nesse sentido. Firmou-se na posição, mesmo contra todas as projeções de que tem imagem mais velha que a de Geraldo Alckmin e, portanto, com maiores flancos para bombardeio. Serra está ajustando o sistema cognitivo à equação: "Se perder a eleição para Lula, tchau, vida pública. Se ganhar, um céu de horizontes azuis se abre". Serra poderá sair da Prefeitura, consagrado, no meio do segundo mandato, como um candidato fortíssimo à presidência em 2010. Mas pensa em antecipar este horizonte. Está inseguro entre assumir a coragem e enfrentar o medo. A política é um dos empreendimentos mais arriscados. Serra gosta de arriscar ? Olhem para sua história. ALCKMIN, ENTRE A CRUZ E A CALDEIRINHA Geraldo Alckmin, o governador de São Paulo, é refém de José Serra. A esta altura, sabe que a maior base tucana já optou por Serra. Que viaja aos Estados Unidos, em companhia do vice, Gilberto Kassab, em mais uma indicação de que poderá estar passando a administração ao pefelista. Para Alckmin, há duas alternativas, caso Serra aceite a candidatura : ficar até o final do governo ou sair para enfrentar Eduardo Suplicy, que reina absoluto na postulação ao Senado. Alckmin é o único que poderá derrotar Suplicy. A aflição : se decidir ser candidato a algo, tem de sair até o começo de abril. PFL POR CIMA DA CARNE SECA Se Serra e Alckmin saírem (presidência e senado), o PFL estará por cima da carne seca. Quem diria, hein, o velho PEFELÊ de guerra comandando as maiores estruturas administrativas do País, nos campos estadual e municipal. Tudo pode acontecer na política. Até o ex-quase-todo-nordestino PFL se transformar em partido paulista-paulistano. AFIF SOBRA Se isso ocorrer, Guilherme Afif perde a vez. O PSDB exigirá que o PFL dê apoio a seus candidatos à presidência da República e ao Senado, em São Paulo. AGRIPINO SE FORTALECE Quem deve ganhar com a decisão tucana - seja Serra ou Alckmin - é o senador José Agripino, do PFL do Rio Grande do Norte. Sabe-se que José Serra preferiria contar com Jorge Bornhausen, senador do PFL de Santa Catarina e presidente nacional do partido, enquanto a preferência de Alckmin recairia sobre Agripino. Mas a equação de vitória passa pela integração Sudeste/Nordeste. Seria pouco palatável uma chapa Sudeste/Sul. O José, que já foi governador do RN, sai, portanto, na frente. Mas nem sempre a lógica prevalece. A LISTA DE DIMAS A lista com nomes que teriam sido amparados financeiramente pelo ex-presidente de Furnas, Dimas Toledo, apadrinhado pelo governador Aécio Neves, contem minúcias que geram desconfiança. Quem dá dinheiro procura esconder detalhes. Ali estão nomes que efetivamente receberam grana, como o próprio Roberto Jefferson, que confessou o crime, parlamentares com endereço estadual errado, pessoas que não se candidataram em 2002, entre outros. Ou seja, o autor da farsa misturou verdades com mentiras, na esteira do refrão "todos são farinha do mesmo saco". Pergunta: A quem interessa mais usar essa tática ? LULA EM ALTO ASTRAL Lula vive momentos de bom astral. Menos pesado, mais suave, menos agressivo, mais feliz. Lula recupera parcela dos votos perdidos. Votos do fundão. A pesquisa mostra que a classe média continua arredia. Discurso para o estômago não faz muito a cabeça dos segmentos médios. Para estes, a expressão deve estar focada, isso mesmo, na cabeça, ou seja, o discurso é e sempre será racional. FURLAN DE OLHO NA FIESP O ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan, está de olho na FIESP. É um dos poucos com passaporte para viajar em um eventual segundo mandato de Lula. Mas olha para a FIESP, caso o petista vá para a casa. Mesmo com a arrumação feita por Paulo Skaf, que sabe mexer com os pauzinhos da articulação, Furlan é um peso pesado que tem todas as condições de ganhar na FIESP. Com um diferencial: juntaria as entidades irmãs CIESP e FIESP, dirigidas por Cláudio Vaz e Paulo Skaf. Tem muito jogo pela frente. DESTERCEIRIZAÇÃO PREOCUPA SETOR DE SERVIÇOS O governo Lula tem incentivado a desterceirização de serviços. Como se sabe, a terceirização de serviços é considerada uma tendência irreversível em todos os quadrantes. Os setores produtivos utilizam a terceirização como parte da solução de seus problemas, na medida em que esta propicia ganhos de produtividade mais elevados, maior eficiência e mais criatividade. Os governos, em todas as esferas, também começam a adotar fortemente a terceirização. Mas o governo petista, influenciado por alguns sindicatos, incham a máquina governamental com apadrinhados e massas amorfas. Milhares de terceirizados cedem lugar a funcionários que logo, logo, ingressam nos espaços adormecidos da burocracia. Os sindicatos e associações de serviços planejam ações de forte impacto contra o retrocesso do governo Lula. FÉ NA JUSTIÇA A desembargadora aposentada Ana Tereza Murrieta, do Pará, acusada pelo Ministério Público de movimentar 157 contas no Banco do Estado do Pará para receber depósitos feitos em juízo durante processos, desviando R$ 3 milhões, foi condenada em primeira instância a 12 anos, 11 meses e 10 dias de prisão. Pode ser que continue solta, graças aos recursos que impetrará. Mas que o conceito de Justiça está melhorando, ah, isso está. A CLASSE MÉDIA VAI AO PARAÍSO? Lula está preparando uma ação de impacto para abrir as portas do paraíso à classe média. Algo como amparo às dívidas bancárias. O Banco Central já teria sido instado a trabalhar nesse projeto. ________________  
quarta-feira, 1 de fevereiro de 2006

Porandubas nº 39

  BRASIL PERDENDO O BONDE O Fórum Econômico de Davos deu o alerta : o Brasil está ficando para trás. Os quatro integrantes dos BRICS - Brasil, Rússia, Índia e China - que, em 40 anos, teriam um PIB maior que o G-6 (EUA, Japão, Alemanha, França, Inglaterra e Itália), de acordo com um estudo da Goldman Sachs (2003), estão perdendo um dos países, exatamente o Brasil. E a razão é dura : o nosso país está patinando. Nos últimos 20 anos, teve crescimento medíocre. E para os próximos, as projeções não são otimistas. Por isso, os cenários econômicos desenhados em Davos excluíram o Brasil do painel das grandes potências do amanhã. Sob o tiroteio interno, onde vaidades desfilam em palanques de mandatários e ex-mandatários que comparam ninharias com quinquilharias. JOBIM, CORPO E ALMA NA POLÍTICA Esse presidente do Supremo Tribunal Federal vai sair mesmo do cargo com a imagem borrada : a de político que "esteve" ministro da mais alta Corte do país. Não assumiu o espírito dos tribunais. Nelson Jobim até poderá ser considerado, um dia, grande juiz. Mas a pecha de julgador com alma politiqueira banhará a sua imagem per secula seculorum. Agora, concede liminar para Paulo Okamotto, amigo de Lula e presidente do Conselho do Sebrae, impedindo que a CPI dos Bingos quebre seu sigilo bancário. Argumento : o pedido teria sido embasado por matérias jornalísticas. Com ou sem razão, Jobim parece decidir sempre na contramão da opinião pública. Tudo bem. O papel de um juiz contempla decisões justas, de acordo com a boa interpretação das leis. Ocorre que Jobim vive insinuando voltar ao assento partidário. O que não se coaduna com o espírito da justiça. FHC QUER CHAMAR LULA PARA O RINGUE A pré-campanha começa a esquentar. Fernando Henrique avisa que os tucanos não vão permanecer a reboque de Lula. Vão chamá-lo para o ringue. Lula foi aconselhado a cutucar os tucanos com vara curta, ou seja, fazendo a comparação entre os governos FHC e o seu. Mostrará o desempenho da economia, a renda dos pobres aumentando, as distâncias entre classes diminuindo, o maior salário mínimo dos tempos contemporâneos etc. Mas o tucanato vai puxar a onda da corrupção. Aposta na questão ética contra a questão econômica. A conferir. A FESTA DO ÓLEO A Petrobrás, sob o mando de Lula, está preparando a festa do óleo : o anúncio de que o Brasil é auto-suficiente em matéria de petróleo. Vai ser uma algazarra. Anúncios em mídia massiva, eventos, declarações ufanistas, tudo para realçar a imagem do Lula fazedor. Trabalha-se com o valor da auto-estima. Lula quer, mais uma vez, pegar os brasileiros pelo coração. A festa pode dar muitos resultados. É bom assinalar : as chances de Lula, hoje, são remotas, mas o homem não está morto. Vivinho da silva, poderá renascer, como Fênix, e alçar vôo. Tudo vai depender da (in) competência das oposições. TV RECORD NA SOMBRA DA GLOBO O novo Jornal da Record nasce velho. Trata-se de um repeteco do jornal da TV Globo. Nesse sentido, não apresenta novidades. Cores semelhantes, cenários parecidos, mostrando a redação ao fundo, dois apresentadores, um homem e uma mulher. Os correspondentes internacionais ganharam um bom espaço e isso pode ser considerado algo positivo. A apresentadora é graciosa, mas tem voz de repórter. Celso Freitas tem voz e timbre de apresentador e passa segurança. Quem ganha é o telespectador, com audiência aumentada para a TV controlada pela Igreja Macedônica (do bispo-empresário Edir Macedo). Agora, novidade é coisa que ali não se vê. ALCKMIN VERSUS SERRA Na última semana, inverteu-se a rota dos dois pré-candidatos tucanos. Geraldo Alckmin desceu um pouco mais a serra e José Serra subiu um pouco mais a montanha. Causas : o prefeito ficou agressivo; FHC abriu o bico e disse que Serra poderá ser candidato se o povo quiser; o juiz (o próprio FHC) e os dois bandeirinhas (Aécio Neves e Tasso Jereissatti) reuniram-se e decidiram levar o empate para os pênaltis. Quem vai chutar ? O povão. Ou seja, quem estiver melhor cotado nas pesquisas, um pouco mais adiante, ganhará a faixa de candidato tucano. Em tempo : mais uma razão para a escalada de Serra no ranking. Teria acertado com o juiz e os bandeirinhas que, eleito, não vai disputar a reeleição. É partidário da tese do mandato único, sem reeleição. Aécio vibrou. E, discretamente, aposta em Serra. ÉTICA VERSUS ECONOMIA E VOCÊ, HEIN, O QUE ACHA ? O TOM MAIOR DA CAMPANHA SERÁ DADO PELA TUBA DA ÉTICA OU PELO CLARINETE DA ECONOMIA ? CAMPANHA MAIS ACIRRADA A campanha será muito quente, seguramente uma das mais contundentes e acirradas de nossa história. Estará sob a lupa do Ministério Público, Polícia Federal, Tribunal Superior Eleitoral, Tribunais Regionais Eleitorais e até da Receita Federal. Acusações vão se chocar no ar. Perfis em processo de canibalização recíproca. Ninguém se engane : não vai ter bala de festim, mas não vai faltar munição de canhão. CASSAÇÕES A lupa nos próximos dias estará voltada para o plenário da Câmara. Que vai ter pizza, ah, isso vai. E que vai ter caldeirão fervendo, ah, isso também. VIDIGAL PENSANDO NO MARANHÃO Quem também pensa em retornar à política é o presidente do STJ, Edson Vidigal. Jornalista, já foi deputado federal. (E, curiosidade menor, aluno deste escriba, quando a USP promoveu um Curso Especial de Comunicação em convênio com a Fundação Universidade do Maranhão, lá pelos idos de anteontem. É claro que o ministro é um pouco mais velho. 30 dias em São Luis, sentindo de perto a influência francesa, admirando mosaicos portugueses e, grande surpresa, participando de um sarau literário, com direito a ouvir poesias recitadas por intelectuais e a um dueto de opera). Vidigal é inteligente, esperto e, claro, também tem alma política. Gostaria ele de governar o Estado onde a família Sarney pontifica. E DUDA, HEIN ? O QUE DIRÁ DUDA SE FOR CONVOCADO PARA DEPOR NOVAMENTE NA CPI DOS CORREIOS ? Uma coisa é certa : seu advogado, Tales Castelo Branco, é dos melhores do país. Entre outras qualidades, Tales é um mestre na arte da moderação. E A COPA DO MUNDO ? Anotem ai : se o Brasil ganhar a Copa, o candidato fulano vai levar a fama de pé quente. A recíproca é verdadeira. O candidato fulano é Lula. Lembram-se daquelas cenas ? Jogadores vitoriosos, sobre caminhões de bombeiros, desfilando nas ruas de São Paulo, Rio e Brasília ? Em Brasília, o candidato fulano estará abrindo a expressão roquenha para dizer o óbvio : que o Brasil merecia isso. Que o país do futebol e da alegria é o país do futuro. Eta, Brasil grande ! ________________  
quinta-feira, 26 de janeiro de 2006

Porandubas nº 38

  VERTICALIZAÇÃO DEVERÁ CAIR Como já prevíamos nesta Coluna, a Verticalização está prestes a cair por acordo entre os partidos (Porandubas políticas - 30/11/05 - "Prazo fatal" - clique aqui). O PSDB, mesmo a favor, deverá liberar sua bancada para derrubar esse instrumento que obrigaria os partidos, nos Estados, a adotar a mesma aliança feita no plano federal. E o PT deverá se conter mais, apesar do próprio interesse de Lula em pregar liberação geral para as alianças. O PMDB liderou esse processo. Ontem, à noite, a Câmara aprovou em primeiro turno (por 343 votos contra 143) a Emenda Constitucional que pretende dar cabo da Verticalização. QUEM GANHA, QUEM PERDE O PT perde com a quebra da verticalização, pois será obrigado a ceder espaços nos Estados a candidaturas mais fortes, que deverá apoiar. O sonho de Lula é ter parcela do PMDB a favor de sua candidatura, o que obrigaria o PT a apoiar nomes de peemedebistas em alguns Estados. O PMDB ganha com a quebra da verticalização, pois tem 15 nomes viáveis como candidatos a governador. O PFL, idem, pois poderá fazer alianças com o PMDB e outros partidos, mesmo fechando aliança, no plano federal, com o PSDB. O PSDB perde, pois será obrigado a ceder espaços para outros candidatos nos Estados. Os partidos pequenos ganham porque terão possibilidade de acender uma vela a Deus e outra ao diabo.LULA LEVANTA-SELula está se levantando no ringue, depois do bombardeio das CPIs e denúncias atingindo seus próximos. Corre aos Estados, monta palanques, faz discursos eleitoreiros, usa rede nacional de TV e rádio, enfim, cumpre a tal chamada agenda positiva e amplia a visibilidade. Só poderia mesmo se levantar. Está sendo vivíssimo. Quer deixar para junho a decisão final sobre sua candidatura. Claro, é uma maneira de burlar a ética. Não é proibido por lei de inaugurar obras ou, como ele diz, colher os frutos depois da água que colocou nos canteiros e jardins do país. Eticamente, o ato de correr Estados para montar palanques é condenável. Ocorre que FHC também fez o mesmo. Ou seja, Lula antecipa a campanha, como presidente-candidato, enquanto a indefinição partidária não chega a nomes. Lula aproveita espaços vazios.ALCKMIN SOBE, SERRA DESCEJosé Serra desce a serra e Geraldo Alckmin sobe a montanha. Serra está preso à administração paulista. Alckmin se solta das amarras governamentais e vai ao Nordeste para dizer que é baiano (risos!). A razão? Seus descendentes são portugueses. Logo... Na comunidade negra, poderia dizer que é africano. E nos Estados de maior população indígena, poderia resgatar os cromossomos índios. O que a política é capaz de fazer, hein? Saindo da esfera da galhofa para o terreno firme, Geraldo tem maior potencial de crescimento do que José. Aquele é mais asséptico, este, mais borrado. Por favor, é uma metáfora. Quer dizer que aquele, menos conhecido, tem flancos mais fechados para o ataque. Este, muito conhecido, tem flancos mais abertos às críticas. Agora, que José Serra é mais preparado, ah, isso é. Mas em política, nem sempre os melhores são os maiores.QUEM TEM MEDO DE DUDA ?Duda Mendonça é a bola da vez da denúncia. Trata-se de um profissional reconhecidamente competente. Ganhou muitas partidas políticas e perdeu, também, muitas. Ganhou muita grana. Com trabalho, urge reconhecer. Duda não tem papas na língua. Quem o conhece, sabe que diz o que pensa. Certamente, cometeu erros, pelos quais deverá pagar. Mas se continuarem a tratar Duda Mendonça como um dos bodes expiatórios da República, não tenham dúvida : Duda vai botar pra quebrar, ou seja, vai abrir o bico e contar o que sabe. Ganhou dinheiro de políticos de muitos partidos. E alguns perfis estão no centro das denúncias. Há gente com medo de Duda.A PESQUISA DA REVISTA ISTOÉPesquisa é coisa que não se discute. E o IBOPE é um instituto de renome, comandado, na área técnica, por uma competente profissional, Márcia Cavallari. A IstoÉ, por sua vez, é uma de nossas três grandes revistas semanais. Portanto, devemos acreditar na pesquisa que mostra Lula subindo e Serra descendo. É apenas o retrato de um bom momento para Lula. Até aí tudo bem. Agora, dizer que só o primeiro turno interessa, para efeito de avaliação, é cortar a verdade pela metade. Afirmar que o segundo turno daria margem a especulação, idem, é confundir verbos com advérbios. A mesma relação de nomes pesquisados no primeiro turno deverá servir à moldura do segundo turno. Ou seja, se temos uma eleição em dois turnos, a pesquisa deverá cobrir as probabilidades nos dois turnos, usando os mesmos nomes. O segundo turno afunila as respostas: fulano ou sicrano, fulano ou beltrano e, ainda, beltrano e sicrano. Ou isso não é lógico?PALOCCI NA CPIEstá chegando o dia "D" de Palocci. Hoje seria o dia do depoimento na CPI dos Correios, que serviria à consagração ou à condenação. Na data que será remarcada, se ele for bem poderá ser forte candidato a coordenador da campanha de Lula. Se tiver desempenho medíocre, sairá do Ministério para ser candidato a deputado federal. CASSAÇÕES A Câmara Federal deverá ser submetida a seu primeiro grande teste, em 2006, com o início do processo de cassação dos nomes indicados pela Comissão de Ética. Cada caso é um caso, estão dizendo. Querem dizer que Roberto Brant, do PFL mineiro, por exemplo, poderá ser cassado. O mesmo se diz de João Paulo Cunha, ex-presidente da Câmara. É difícil fazer qualquer projeção. Há uma coisa chamada opinião pública. Um nome absolvido poderá ser seguido de um nome condenado. A recíproca é verdadeira. Em política, curvas e retas estão muito próximas.MAIS FITAS RODANDOConta-se que há mais fitas gravadas escancarando conversas entre Delúbio e Marcos Valério. Coisas de arrepiar. Ouve-se de alguém importante: "Quem acha que o clima está esfriando, pode esperar uma quentura para as próximas semanas". A conferir.VALÉRIO IRÁ ATÉ ONDE ?Uma pessoa isolada, triste, amargurada, acusada, que passa a simbolizar o duto da corrupção, não tem muita coisa mais a perder na textura da imagem. Marcos Valério é esta pessoa. No estágio em que se encontra, só mesmo o purgatório poderá fazer bem a seu espírito. E purgar, nesse caso, significa confessar, abrir o jogo, contar o que sabe, apontar, indicar, constatar. Poderia passar pelos filtros da opinião pública que ele, Valério, deu uma de valente. _____________
quarta-feira, 18 de janeiro de 2006

Porandubas nº 37

LULA EM CAMPANHALula inaugurou a campanha. Correu Estados do Nordeste para ver como as máquinas nivelam as estradas com asfalto. Isso mesmo. Não se tratava de inauguração, mas início de obra. Ver o início de uma operação Tapa-Buracos é de uma pobreza mais que franciscana de imaginação. Mas com Lula, tudo pode acontecer. Inclusive, convidar políticos da região para subir ao palanque. Inclusive, dizer com a maior cara de pau que o foguetório que começa a subir aos céus, por conta de operações de marketing espetaculoso, nada tem a ver com campanha. Inclusive, mostrar em outdoors nas ruas de São Paulo o que fez no governo e continuar a repetir : isso não é campanha. E que diacho isso é ?TASSO E FHC, OS JUÍZESA querela entre José Serra e Geraldo Alckmin em torno da candidatura tucana à presidência terá dois juízes e um bandeirinha : o presidente do partido, Tasso Jereissati, o nome mais importante entre os tucanos, Fernando Henrique e o governador que pode esperar mais um pouco, Aécio Neves. Se houver embate com empate, os três indicarão o rumo e o nome. Hoje, os juízes estão divididos : Tasso é Alckmin, FHC é Serra. E Aécio Neves tem um olho no norte, outro no sul. Podendo trocar a posição dos olhos, de acordo com os horizontes mais azuis que enxergar. Sobre isso, vale a pena a inferência : uma derrota tucana seria ótimo para um Aécio reeleito governador e candidatíssimo à presidente em 2010. Donde surge a pergunta : quem é o pior candidato tucano para enfrentar Lula?ALCKMIN E A OPUS DEIA revista Época desta semana mostra a ligação entre a família do governador Geraldo Alckmin e a Opus Dei. O governador deve se preparar para enfrentar um tiroteio que virá de adversários e até do fogo amigo entrincheirado nas bandas da Prefeitura. Será difícil desconstruir a imagem de Alckmin, pela via da vinculação com uma corrente da Igreja Católica, que tinha a predileção especial do "santo" João Paulo II.GAROTINHO E A MÍDIAGarotinho faz um esforço extraordinário para atrair a simpatia da cabeça da imprensa brasileira. Começa a visitar redações. Não conseguirá limpar uma imagem borrada com as tintas do populismo, egocentrismo, messianismo e outros "ismos" negativos. O marido de dona Rosinha não é confiável. Tem projeto próprio. Será difícil, mas não improvável, levar a melhor nas prévias peemedebistas. Já se disse aqui : se ganhar, não levará. Rachará o partido. Além disso, a imagem de sua passagem pela administração pública, não é das mais limpas.RECORD VERSUS GLOBO A TV do "sábio" da Igreja Universal, Edir Macedo, está chamando a TV Globo para o ringue. Depois de tentar atrair nomes globais, como Sandra Annenberg (que recusou o convite), está contratando alguns repórteres e uma apresentadora regional da TV Globo. E está quase fechando com o repórter Carlos Dornelles, pelo qual a TV Record pagará uma multa de rescisão de R$ 2 milhões. Como se pode concluir, a igreja macedônica tem alta grana em caixa. Ou em caixas ? Além do Ibope, tem algo mais por trás dessa disputa ? Vamos monitorar a querela.MAIS BRIGA PELA FRENTEP.S. A propósito, Boris Casoy, após chegar das férias em Porto Rico, terá uma pauta com direito a entrevistas e muita polêmica. Vai ter de dizer algo sobre interesses escusos em sua demissão. Com ele, o grupo que saiu da TV Record discutirá uma estratégia de lutas. Dizem que o advogado escolhido (omitimos por enquanto o nome) é um craque na área trabalhista. E um exímio perito na arte de interpretar a lei do talião : "quem com ferro fere, com ferro será ferido".SARNEY ISOLADOO senador e ex-presidente da República, José Sarney, está cada vez mais isolado no PMDB. Quer porque quer adiar as prévias partidárias. Não consegue para esse intento nem mais o apoio do amigo e presidente do Senado, Renan Calheiros. Renan é matreiro : analisou as possibilidades de Lula. Não viu muito futuro. E está tirando devagar o corpo fora do território governista. Sarney sozinho não vai muito longe. P.S. : Depois de almoçar com Lula, Renan volta atrás e queima as prévias. Ou seja, Renan muda mais uma vez de posição. A conversa com Lula deve ter rendido. PROMESSAS NÃO CUMPRIDASHá um candidato a presidente da República que coopta candidatos a governador de seu partido nos Estados com a promessa de que ajudará a "bancar" a campanha deles. Um deles, desconfiado, confessa ao ouvido : "quem demitiu metade do staff no meio da campanha presidencial, dando um calote enorme nos assessores, pode ser confiável ? E de onde virá a dinheirama para financiar muitas campanhas de governadores" ?O CALOTE DE JOSÉ SERRAO setor de serviços em São Paulo está tiririca com o prefeito José Serra. Ao assumir, disse que pegou a Prefeitura completamente destroçada financeiramente. A ex-prefeita Marta havia cancelado os empenhos, com exceção de empenhos nas áreas de educação e saúde. Serra fez letra morta da decisão da antecessora. Chamou os credores e disse que mandaria pagar R$ 100 mil por contrato no primeiro ano, devendo o restante do débito ser pago em 7 anos. Pois bem: não paga nem os R$ 100 mil combinados. E o resto ? Não se fala do resto. Há empresas quebrando. O setor de serviços está surpreso com a descoberta de que a Prefeitura está nadando no lago azul das boas finanças. Há muito dinheiro em caixa. Empresários de serviços são taxativos : Serra mentiu.O BURACO VAI PARA O BOLSOEsse governo Lula é mesmo incompetente. Faz um esforço agigantado para resgatar a credibilidade, mas a tarefa é sempre incompleta. O Tapa-Buracos de Lula aumenta o buraco no bolso do consumidor. Estamos falando do aumento do preço do álcool. Que influi no aumento do preço da gasolina. Que influi no aumento geral dos preços dos transportes. Que aumenta o preço dos produtos. Aumentos que estouram o bolso do consumidor.
quarta-feira, 11 de janeiro de 2006

Porandubas nº 36

ALCKMIN JOGA BEM   Depois de passar um bom tempo meio perdido, sem saber tomar rumo, o governador Geraldo Alckmin encontrou o fio da meada. Disse que sairá do governo até 31 de março para viabilizar sua candidatura à presidência da República. E assim deu um xeque-quase-mate no prefeito José Serra, tucano que lidera as pesquisas. Serra está tonto. Pressionado pelos que desejam vê-lo candidato e pelos que o aconselham a permanecer no comando do quarto Orçamento da República. A situação está mais para Alckmin do que para Serra. O governador jogou pela janela o picolé de chuchu e assumiu o perfil de guerrilheiro. Foi corajoso. O PSDB está, hoje, dividido, mas chegará a um consenso. Sabe que qualquer um de seus dois pré-candidatos ganha de Lula.   AS CHANCES DE SERRA E ALCKMIN (1)   Mais uma vez, vale lembrar : pesquisa flagra o momento. E o flagrante do momento capta o perfil mais visível no espaço da fotografia. Serra é mais visível. O que não significa que teria mais votos que Alckmin. Campanha iniciada, aberta a tuba de ressonância da mídia eletrônica, um candidato passa a ser conhecido e, logicamente, ganha peso eleitoral. Urge verificar os potenciais de crescimento e queda de cada perfil.   AS CHANCES (2)   Os mais visíveis, pelas experiências de campanhas anteriores, no campo majoritário nacional, podem exibir certa fragilidade, porquanto seus defeitos já são conhecidos. Os menos conhecidos recebem uma roupagem mais asséptica. E tem melhores condições de crescimento, caso seus perfis se encaixem na moldura das demandas sociais. Nesse sentido, Alckmin teria maior potencial de crescimento do que Serra. Até porque sua rejeição é menor. O problema é um só : se não concorrer à presidência, Serra enterraria sua vida política na Prefeitura, para a qual poderá se candidatar à reeleição. Está com 63 anos. Ficaria mais 8 anos na espera de nova chance para a cadeira do Planalto ?    QUEBRANDO A POLARIZAÇÃO   A campanha entre um candidato tucano e o presidente Lula será muito previsível sob o aspecto da intensa polarização. Algo como um terceiro grande turno. Ocorre que o eleitorado brasileiro está saturado. A briga da tucanada com os petistas passa a impressão de que é coisa já vista, passada e arquivada. Por isso mesmo, só será aceitável caso inexista um perfil sério, competente, asséptico, experiente, crível e que seja capaz de romper a polarização. Este nome poderia sair do PMDB, que tem condições efetivas de eleger o maior número de governadores, nas eleições deste ano, entre 14 a 17.   QUE NOME ?   Qual seria o nome dos quadros peemedebistas em condições de emplacar como candidato alternativo? Anthony Garotinho, marido da governadora Rosinha, não é o nome. Pode até ganhar as prévias partidárias do partido, que deverão ser adiadas para 19 de março. Se ganhar, não leva. Ou seja, os governadores do PMDB aceitarão o fato, em um primeiro momento, mas, ao correr da campanha, se afastarão de Garotinho. Pesa sobre ele a imagem de populista, com projeto pessoal de poder, polêmico, messiânico, oportunista e demagogo. Não é crível. Germano Rigotto, governador do Rio Grande do Sul, exibe imagem séria. Mas tem um discurso acentuadamente econômico-tributarista, difícil de entrar na cachola das margens sociais. E está longe dos grandes centros. Também não seria um nome. Requião ? Não. Pouco crível. Jarbas Vasconcelos ? Isolado no Nordeste. Nelson Jobim, presidente do STF ? Tem imagem de magistrado politiqueiro. Será que o PMDB não tem um nome viável ? Aceitam-se sugestões.   QUÉRCIA EM SÃO PAULO   Será muito difícil acreditar na candidatura de Orestes Quércia ao governo de São Paulo. Hoje, o ex-governador lidera as pesquisas. Está bem de vida, administra um complexo empresarial de porte, domina a maior máquina partidária do PMDB no país, já se tratou (e curou) de doença grave. Por que iria para o meio do tiroteio, com o risco de receber tiros de todos os lados e ter sua história política devassada por observadores e catadores de denúncias ? Se aceitar a candidatura, é porque não terá conseguido se livrar das pressões das bases. Seria uma candidatura para engordar o partido - com o adensamento das bancadas estadual e federal - mas com poucas chances de vitória. Mas, se for candidato a deputado federal, Quércia arrebanharia uns 500 mil votos. A conferir a inferência.   FHC SE MOVIMENTANDO   O ex-presidente Fernando Henrique continua fazendo o jogo do qual é mestre : articulação. Age nos bastidores. Conversa com todos os lados. Ouve, analisa, fala. Dias desses, reuniu-se, em almoço, com uma bancada bem pesada de empresários brasileiros em fechadíssimo clube de Higienópolis. Onde as coisas começaram a ser bem avaliadas.   CANDIDATOS DE ENTIDADES   O espaço político-institucional abre ótimas oportunidades para candidaturas bancadas/patrocinadas por entidades e núcleos organizados. A democracia representativa está em crise. A democracia direta-participativa vive momentos auspiciosos com o fortalecimento da sociedade organizada. A organicidade social procura, ao seu modo, responder as promessas não cumpridas pela democracia representativa. Portanto, candidatos de ONGs e adjacências, mãos à obra.   ONDE ESTÁ O PROJETO BRASIL ?   Uma avalanche de candidatos encherá o oceano político. Os fulanos, beltranos e sicranos povoarão os espaços eleitorais. Mas, onde estão as idéias, os programas, projetos, ações ? Onde está o Projeto Brasil ? Eliezer Baptista, um dos maiores e melhores estrategistas do desenvolvimento brasileiro, faz falta. Onde está você, porta-voz do Brasil-potência ?   IMAGEM PARLAMENTAR NO FUNDO DO POÇO   A convocação extraordinária funcionou como o golpe final no corpo arquejante do Congresso Nacional. A imagem dos congressistas está no fundo do poço. Quem ainda devolveu os R$ 25 mil por conta da convocação poderá, no tempo eleitoral, dizer isso ao eleitor. Preparem-se, contudo, os candidatos proporcionais : a renovação poderá ultrapassar a margem histórica dos 2/3.   OS NOVOS NOMES DO STF   Se o presidente Lula indicar nomes oriundos dos quadros do PT para a mais alta corte do país, o Supremo Tribunal Federal, vai enfrentar uma forte barreira no Senado. Tanto o deputado Luiz Eduardo Greenhalgh quanto o ex-presidente do PT, Tarso Genro, são nomes muito polêmicos. Hoje, não passariam.  
quarta-feira, 4 de janeiro de 2006

Porandubas nº 35

LULA CAPENGANDO A entrevista de Lula, no último Fantástico da TV Globo, foi um show pirotécnico. Pedro Bial agiu como repórter. Incisivo, não se conformou com as respostas em fuga do presidente. O que ali se viu foi um entrevistado acossado, evasivo, atordoado e - ficou visível - com um olhar de extrema surpresa e medo. Não tinha respostas diretas. Sofismou. O ponto culminante e hilário foi quando disse que não sabe o que se faz no andar de baixo do Palácio do Planalto e nos Ministérios. Lula, até visualmente, pareceu um dândi perdido na escuridão.LULA VAI PARA A REELEIÇÃO Mas é claro que Lula será candidato à reeleição. A não ser que novas denúncias cheguem perto do coração presidencial. O PT não tem outro perfil à altura de Lula. Sangrando, o partido ainda pode sonhar com o futuro. E o futuro passa por Lula reeleito. Será difícil, mas em política não existe regra impossível. Lula será fortemente pressionado a aceitar. O que faz, hoje, é jogo de cena. Se confirmar, agora, a candidatura, antecipa o final de governo. E aumentará o cacife de aliados reais e potenciais. TOMA-LÁ-DÁ-CÁ A gigantesca pizza que está se formando no ambiente das CPIs tem como matéria prima a troca de favores. O PT se compromete a salvar parlamentares de outros partidos se os seus quadros também forem salvos. Dos 10 a 15 nomes com perspectiva de serem cassados, calcula-se que quase todos poderão sair ilesos. Osmar Serraglio, o relator da CPI dos Correios, já começa a acreditar que seu relatório não terá efeitos drásticos. DIRCEU NO CALVÁRIO A mídia dá conta da peregrinação gastro-etílico-comemorativa do ex-todo poderoso ministro José Dirceu em Betharram (França), nas cercanias dos Pirineus, recepcionado pelo romancista Paulo Coelho, autor idolatrado pela aura mística de livros vendidos em todo o mundo. Até uma feiticeira (que mora na floresta das vizinhanças) esteve presente ao rebu organizado para receber Dirceu. O ex-deputado fez questão de passar (e rezar) pelas 13 estações do Calvário, dedicando um pouco mais de tempo ao lugar da traição de Judas. R$ 1 para quem adivinhar o nome da pessoa que, nesse momento, agitou e lembrança de Dirceu. DIRCEU NO SABÁTICO Uma pequena informação, no pé de página, chama a atenção. Dirceu diz que curtirá dois anos sabáticos (ou seja, de férias continuadas). Como vai se sustentar ? Resposta : tem dinheiro guardado, além da proposta de um jornal carioca, que lhe ofereceu "muito dinheiro". Conclusão lógica : o homem deve ter mesmo informações muito quentes. A conferir. VERTICALIZAÇÃO CAINDO Como já havíamos previsto, a Verticalização deve cair. O ministro Marco Aurélio de Mello, que assumirá a presidência do TSE, acha que a identidade política dos Estados não pode ser interpretada como a realidade política da Federação ou vice-versa. A essa altura, nem mais ao PT interessa a decisão de se manter nos Estados a mesma aliança firmada no plano federal em torno das candidaturas presidenciais. BORIS CASOY, EX-TV RECORD É verdade que Boris Casoy inaugurou um estilo de jornalismo na TV. E que o seu ciclo na TV Record poderia estar esgotado. Ou seja, fechou um ciclo. Boris tinha independência editorial para fazer pontuação forte sobre fatos e personagens. Mas a especulação sobre a teia de interesses políticos em torno do perfil polêmico de Casoy tem até sentido. O vice-presidente da República, José Alencar, pertence ao partido dominado pela Igreja Universal - PMR - Partido Municipalista Renovador. Alencar teria pretensões ambiciosas. Boris incomodava. Basta lembrar as cobranças que fazia sobre o affaire Santo André (assassinato do prefeito Celso Daniel). O azeitamento da máquina televisiva faria parte da estratégia ? Será que o jornalista não estava mais "rendendo" o que o grupo esperava dele ? Será que se tornou um perfil caro ? Ou a saída de BC foi apenas uma questão de rotina ? P.S. Urge acompanhar de perto - com olhos de águia - os movimentos da Igreja de Edir Macedo. QUEIMA DE PARTIDOS A cláusula de barreira está chegando. Exigirá que os partidos, para continuarem com privilégios, obtenham pelo menos 5% dos votos para deputado federal em todo o país, e, ao mesmo tempo, 2% dos votos para deputado federal em 9 unidades da Federação. Conseguirão esses limites PSDB, PMDB, PFL e PT. Disputarão outras vagas PDT, PSB, PL, PTB, PP e PPS. Deverão perder as regalias P-Sol da senadora Heloisa Helena (ou alguém acredita que ela, como candidata, fará um estrondo no país ?), PC do B (do presidente da Câmara Aldo Rebelo), PV e outros nanicos. OS BILHÕES DE LULA O governo Lula vai dispor de muita grana para gastar esse ano. Terá R$ 14,7 bilhões do Orçamento deste ano, que se somarão a R$ 13 bilhões de restos a pagar. Vai haver obra para todos os lados. E quem acha que não vai haver Caixa 2 nos faturamentos e superfaturamentos do obreirismo, que levante a mão. Por favor, levantar a mão, não atirar a primeira pedra. AUTO-SUFICIÊNCIA DE PETRÓLEO A essa altura, a Petrobrás já está gastando por conta da farra estupenda que será feita nos próximos meses, quando anunciará a auto-suficiência no abastecimento de petróleo. Vamos ter hinos pátrios, slogans, climas agitados de civismo, tudo lembrando as "glórias" dos tempos varguistas do Petróleo é Nosso. E tome injeção de sangue eleitoral na candidatura lulista.
quarta-feira, 28 de dezembro de 2005

Porandubas nº 34

2005 : O ANO POLÍTICO   Sob o prisma político, 2005 deixa a desejar. A entrevista-bomba de Roberto Jefferson sinalizava um ciclo de grandes eventos. No início da crise, há 7 meses, as perspectivas apontavam para a cassação de 30 parlamentares. A conta registra : 2 cassações, 2 absolvições e 4 renúncias. Muito pouco. O ano foi muito ruim na esfera dos projetos de lei. O pior dos últimos 10 anos. Aprovaram-se apenas 75 matérias. As CPIs até que trabalharam bem, mas não estão sabendo como chegar ao fim. Relatórios são questionados. Houvesse apenas uma CPI, com o objeto específico de investigar a corrupção e a malha de interesses entre Executivo e Legislativo, as coisas teriam funcionado melhor. Impressão geral : reversão de expectativas. De 0 a 10, a nota é 4.   2005 : O ANO EXECUTIVO   Na esfera do Poder Executivo Federal, 2005 também foi um ano de pequenos resultados. O país patinou. A administração foi caótica. Poucos ministros sobressaíram, particularmente Antonio Palocci, da Fazenda, Furlan, do Desenvolvimento, Indústria e Comércio e Roberto Rodrigues, da Agricultura. Mas este, coitado, ficou refém da febre aftosa. Não houve tempo para Dilma Roussef mostrar serviço. Mais da metade do Ministério de Lula é um imenso espaço em branco. Estradas esburacadas, crescimento pequeno do PIB, saúde devastada e identidade social do governo completamente destroçada. O Fome Zero ganha zero de nota. O Bolsa Família ainda oxigena o pulmão social, na medida em que distribui bolsas para cerca de 8 milhões de famílias. O programa, porém, é assistencialismo puro. Dá o peixe, mas não ensina a pessoa a pescar. E Lula passou quase todo ano palanqueando, jogando palavras ao vento em eventos escassos de multidões. De 0 a 10, a nota é 3.   2005 : O ANO JUDICIÁRIO   O Poder Judiciário passa a idéia de ter sido mais ágil. A Justiça está querendo se aproximar da sociedade, abrindo suas portas, facilitando a chegada dos cidadãos a seu Templo. Ocorre que certos perfis do Judiciário acabam inoculando a imagem da instituição. Veja-se o caso do presidente do Supremo Tribunal Federal, Nelson Jobim. Ex-deputado federal pelo PMDB-RS foi levado para a mais alta Corte por Fernando Henrique. E como presidente do STF, politizou bastante a atuação da Corte, dando, até, a impressão de que queria orientar e induzir os votos de seus pares, por exemplo, no caso José Dirceu. Há grandes figuras, algumas de identidade humanista e alta sensibilidade, como o ministro Ayres Brito, poeta e escritor, e outras conhecidas pela sabedoria jurídica e rigorosa interpretação da CF, como Marco Aurélio de Melo. Entre altos e baixos, o STF ganha a nota 6. Mas a estrutura do Judiciário, como um todo, merece uma nota maior, algo como 7,5.   2005 : O ANO SOCIAL   Se há um fenômeno que merece elogios é a organicidade social brasileira. A sociedade está atenta. Temos cerca de 500 mil organizações não governamentais, entre as quais 300 mil catalogadas pelo IBGE. Essas entidades de intermediação social estão dando respostas mais satisfatórias às demandas dos grupamentos sociais que a representação popular no Parlamento. A crise da democracia representativa - tão analisada por Norberto Bobbio em seus clássicos ensaios - tem seu contraponto na emergência de uma ação social mais ativa, algo que se aproxima ao ideal da democracia participativa. Ou seja, o Brasil começa a abrir os horizontes da democracia participativa. A indignação social, a raiva, a angustia, as expectativas frustradas, as demandas, as críticas e exigências fazem parte do menu rotineiro das classes sociais e dos grupamentos organizados. E quem está dando vazão a esse acervo, que podemos designar como Produto Nacional Bruto da Infelicidade (PNBinf), são as entidades intermediárias, as ONGs. Por isso, a esfera social ganha a nota 10.   ELEIÇÕES 2006   Quem estiver pensando que a campanha eleitoral de 2006 será semelhante à de 2002 cairá do cavalo. É claro que muitos ingredientes terão a mesma composição. Veremos, evidentemente, todas as pernas do marketing político se movimentando : a pesquisa, o discurso (propostas), a comunicação, a articulação política e a articulação com a sociedade e a mobilização de massas. Ocorre que alguns desses eixos ganharão ênfase, ao contrário de campanhas anteriores. Por exemplo: o discurso será priorizado. A firulação, a publicização exagerada com a cosmética mercadológica, com a transformação de candidatos em sabonete, estarão em plano secundário. A sociedade está mais atenta às mentiras e às falsificações. Não mais aceita comprar gato por lebre. Por isso, as campanhas serão mais objetivas, mais enxutas, mais transparentes e com diferencial no discurso, na proposta. O candidato terá o desafio, ainda, de comprovar a viabilidade do que está prometendo.   PT : 20 MILHÕES DE VOTOS A MENOS   Na campanha de 2002, o PT fez a maior bancada federal, elegendo 91 parlamentares. E conseguiu maioria na Assembléia Legislativa de 6 Estados. A previsão para 2006 é ruim para o PT. Calcula-se que o partido perderá uns 20 milhões de votos. Calcula-se em 50 parlamentares a bancada do PT. A não ser que o Partido consiga passar uma cera brilhante na estrelinha, passar água benta na imagem destroçada e ressuscitar como Lázaro. Ou seja, o PT precisa operar um milagre para voltar, no curto prazo, a ter a mesma força de 2002.   AGRIPINO MAIA COMO VICE   Seja qual for o candidato tucano à presidência, José Serra ou Geraldo Alckmin, a vaga de vice fica cada vez mais próxima do ex-governador do Rio Grande do Norte e hoje líder do PFL no Senado, José Agripino Maia. Os grupos pefelistas - o grupo baiano de ACM, o grupo pernambucano de Marco Maciel e o grupo do presidente Jorge Borhnausen - estão chegando à conclusão de que a performance de Agripino está lhe garantindo a posição. A questão é saber se a Verticalização cairá ou não. Pela Verticalização, as alianças feitas no plano federal devem ser seguidas na esfera estadual. Se não cair, fica complicada a aliança de José Agripino com o senador Garibaldi Alves (PMDB), candidato mais que favorito ao governo do RN.   QUEBRA CABEÇA EM RORAIMA   Aliás, se a Verticalização não cair, a prefeita de Boa Vista, Roraima, Tereza Jucá, mulher do senador Romero Jucá, ficará numa sinuca de bico. Ela pertence ao PPS. Tudo indica que o PPS, se não sair com candidato próprio à presidência, o próprio presidente Roberto Freire, fará aliança com o PSDB. Em Roraima, Jucá, do PMDB, será candidato a governador e Tereza disputará a vaga de senadora. Ocorre que o candidato situacionista é o governador Ottomar Pinto, do PSDB, que vai para a reeleição. Tereza, nesse caso, não caindo a Verticalização e se o PPS fizer aliança com os tucanos, teria de coligar com o candidato adversário do marido. Uma coisa, convenhamos, mais que exótica.   CIRO NO CEARÁ   Juntam-se forças de espectros variados em torno da candidatura de Ciro Gomes ao governo do Ceará. Um único porém : Ciro tornou-se mais petista que muitos petistas. E essa marca dá medo.   PALAVRAS DE ZARATUSTRA   E que 2006 seja para todos um ano de novas descobertas. Sob a inspiração do profeta Zaratustra: "Mil caminhos existem, que ainda não foram palmilhados, mil saúdes e ocultas ilhas da vida. Ainda não esgotados nem descobertos continuam o homem e a terra dos homens".   FELICIDADES, PROPERIDADE E PAZ!
quarta-feira, 21 de dezembro de 2005

Porandubas nº 33

  O ANO QUE PASSOU 2005 ficará marcado como um ano emblemático na história do Brasil. Será lembrado como o ano em que a vidraça do PT veio abaixo. O ano em que o mais forte animal político do PT, José Dirceu, foi retirado da cena política. Outros fenômenos que podem ser identificados com o ano : a política acompanhada de maneira mais atenta pelos grupamentos sociais; a descoberta da TV Senado e da TV Câmara; a popularização das Comissões Parlamentares de Inquérito; o afastamento de Lula das ruas e o distanciamento das massas; o aumento da taxa de racionalidade; e a percepção de que a política não tem regras fixas. Tudo pode acontecer. Como, por exemplo, o fato de o PFL terminar o ano com imagem mais positiva do que o PT. Ou seja, a direita ganhando mais respeito que a esquerda. (?) ALCKMIN TEM MELHOR PERFIL A percepção de que a candidatura do governador Geraldo Alckmin terá melhores condições de se firmar do que a candidatura do prefeito José Serra começa a se intensificar. Alckmin é menos conhecido do que Serra, mas pode tirar o atraso por ocasião da programação eleitoral. E a assepsia será valor fundamental para a escolha eleitoral. O governador paulista é muito bem avaliado pela população. Passa credibilidade. E começa a freqüentar os mais variados ambientes, inclusive os de festas de fim de ano. Além de intensificar contatos com importantes lideranças de outros partidos, como o PMDB. José Serra, saindo da Prefeitura, provocará grandes reclamações. O eleitorado paulistano, que está gostando de sua administração, não vai perdoar. Serra está na frente, mas Alckmin, pela lógica da política, tem melhores condições de bater Lula. O potencial de crescimento é maior. E a rejeição é menor do que a de Serra. De uma vez por todas : engana-se quem acha que o eleitorado quer ver um terceiro turno entre Serra e Lula. O eleitor quer andar em estradas novas. LULA PEDE FORÇA TOTAL Lula está pedindo força total aos ministros. Eis as recomendações. Primeiro : mandem os dados de cada ministério para fazermos a nossa campanha. Segundo : gastem muito e bem. Terceiro : falem a mesma linguagem. Quarto : me digam se serão candidatos nos Estados porque terei de arranjar novos nomes. Quinto : apresentem sugestões para a campanha. Sexto : quero o engajamento de todos. Com todos esses pedidos, Lula está mais candidato do que nunca. Por outro lado, o PT devastado não tem outro nome para colocar no lugar de Lula. QUÉRCIA ENTUSIASMADO Orestes Quércia sabia que estava bem cotado. Mas se surpreendeu com a pesquisa do Datafolha que o colocou na ponta da intenção de voto para governador de São Paulo. É claro que a fotografia retrata o atual momento. Quércia teve boa visibilidade na mídia. Conseguiu burilar a imagem. O voto em Quércia quer significar, ainda, a rejeição em petistas e tucanos. Há, sim, uma sensação de coisa já vista, de debate saturado, esse entre PT e PSDB. Quércia está fazendo essa leitura. E sabe que virá pela frente um tiroteio imenso sobre seu perfil. Por isso, só com muita insistência Quércia topará uma candidatura do governo. As bases do PMDB querem vê-lo candidato. E lançam Michel Temer, presidente nacional do PMDB, como candidato a senador. Michel resiste em trocar o certo pelo duvidoso. O nome de Temer também está no ranking peemedebista para a presidência da República. AFIF NO MEIO DA BRIGA TUCANA Guilherme Afif não perdeu as esperanças. Quer ser candidato do PFL ao governo de São Paulo com o apoio do PSDB. Mas os tucanos não querem abrir mão de uma candidatura, hoje disputada pela deputada federal Zulaiê Cobra, pelo secretário do prefeito José Serra, ex-deputado federal e ex-governador Aloysio Nunes Ferreira, pelo vereador José Aníbal, pelo ex-ministro da Educação Paulo Renato e pelos secretários do governador Geraldo Alckmin, Gabriel Chalita e Saulo Abreu, da Educação e Segurança Pública. ECONOMIA VERSUS ÉTICA Há quem aposte no fator econômico como o eixo central do discurso da campanha presidencial de 2006. E há quem considere o fator ético mais importante que o fator econômico. O sistema cognitivo nacional estaria mais propenso a escolher um nome que representasse estabilidade ou um perfil que encarnasse moralidade ? Um dado para reflexão : a estabilidade vem sendo moeda de troca desde a implantação do Plano Real. E a moralidade tem sido valor cada vez mais escasso. Incorporado a um perfil realizador, o valor da moral poderá ser decisivo. Quem tem esse perfil ? MERCADANTE NA MÍDIA Nos últimos dias, o senador Aloísio Mercadante tirou o atraso : apareceu intensamente na mídia. Deu entrevistas longas. Defendeu união das correntes do PT em torno da candidatura do partido ao governo de São Paulo. Marta Suplicy trabalha com o argumento de que é mais conhecida e tem coisas a mostrar, a partir dos Céus na prefeitura de São Paulo. Mercadante exibe 10 milhões de votos para senador. Será uma disputa árdua. A coisa está mais para Mercadante. AMIGO, PERO NO MUCHO Pois é, o cocaleiro Evo Morales é mais um perfil da esquerda que chega ao centro do poder. O presidente eleito da Bolívia, à semelhança de Lula, orgulha-se de não ter diploma. O que tem para mostrar é uma vida como catador de cana, sorveteiro, azulejista, padeiro, pastor de lhamas e ovelhas, trompetista de uma banda e líder dos plantadores de coca. Diz-se muito amigo do presidente do Brasil, que, por sua vez, vibrou com a vitória do companheiro boliviano. Entre as primeiras providências do novo chefe do governo : desbancar a Petrobrás, reestatizando duas refinarias da empresa brasileira, e rever os contratos de exploração do gás boliviano. Amigos, amigos, negócios à parte. PALOCCI DESMOTIVADO Já se começa a perceber certa desmotivação no ministro Palocci. Está amargurado com os constantes e sucessivos ataques dos próprios correligionários do PT. Não é de admirar se pedir as contas a Lula, por ocasião da reforma ministerial. QUE 2006 SEJA O ANO DA VERDADE Depois de ouvirmos uma batelada de mentiras no campo das denúncias que se abateram sobre o sistema político e de assistirmos a tantas versões, algumas estapafúrdias, no ano que passou, esperamos que 2006 seja, para todos os cidadãos, o ano das grandes descobertas. Que a verdade ilumine os espaços nacionais. Que os culpados sejam punidos. Que os melhores perfis sejam escolhidos. Que o eleitor se pronuncie com mais contundência e fervor cívico. E que a vida seja melhor para todos. São os meus votos pessoais para os brasileiros e, particularmente, para os leitores de Porandubas políticas. ______________
quarta-feira, 14 de dezembro de 2005

Porandubas nº 32

  A CABEÇA DE LULA   A Executiva Nacional do PT decide censurar publicamente a política econômica do governo Lula. O presidente do PT, Ricardo Berzoini, diz que o PT não é governo. Apenas integra a base de apoio ao governo. A ministra chefe da Casa Civil, Dilma Roussef, a mais próxima de Lula, faz críticas públicas ao ministro Palocci. O PFL e o PSDB, partidos da oposição, defendem com vigor a política econômica do governo Lula, até porque se trata de uma continuidade da gestão FHC. E o que diz presidente Lula sobre tudo isso? Diz que as oposições são golpistas. E o que vem a ser a oposição do petismo? Convenhamos, Lula não anda lá muito bem de cabeça.   DILMA, A GUERRILHEIRA   Segunda à noite, o grupo de Revistas Istoé (IstoÉ, IstoÉ Dinheiro, IstoÉ Gente) fez uma grande festa para homenagear as brasileiras e os brasileiros do ano em cada setor. A ministra Dilma Roussef foi escolhida como a brasileira do ano. Fez um discurso de agradecimento meio tucano meio petista radical. Começou elogiando a estabilidade econômica, argumentando com a responsabilidade do presidente Lula, e concluiu com a crítica à mesma política, argumentando que o país precisa voltar a crescer. Coisa meio lá meio cá. Uma no cravo, outra na ferradura. E terminou sua oração dedicando o prêmio aos presos políticos mortos e torturados pela ditadura. O tom guerrilheiro do final parecia incongruente com a política dos altos juros.   FHC TORCE POR .....FHC   Diz-se que FHC torce para que José Serra seja o candidato dos tucanos à presidente da República. Quem conhece bem o ex-presidente acha que ele torce mesmo é por ele, FHC. Gostaria de ver o circo pegar fogo para surgir de tertius.   OS TUCANOS ABREM O BICO   A briga entre o governador Geraldo Alckmin e o prefeito José Serra já começou. Depois que César Maia anunciou o apoio à Serra, Alckmin decidiu abrir o verbo. Lançou-se candidato no programa Roda Viva, de segunda feira, na TV Cultura. Passou a bola para o prefeito Serra, que terá de confirmar ou não o interesse na disputa. É claro que uma decisão, nesse momento, seria trágica para o prefeito José Serra. Deixaria a administração em pandarecos.   VERTICALIZAÇÃO, ESSA É A PALAVRA   Se a verticalização não cair, teremos uma campanha bem diferente do jogo com regras que valem tudo. Ou seja, caindo a verticalização a miscelânea partidária contribuirá para adensar o fenômeno de fulanização política. Não caindo, os sicranos e fulanos se esforçarão para fazer uma campanha mais programática e doutrinária. Já há clima para aprovação da emenda que derruba a verticalização. O próprio presidente Lula está interessado em derrubá-la. Um deputado muito chegado ao presidente teria ouvido, dias atrás, a contundência: "sou contra essa po...!"  Agora, não há quorum suficiente para garantir 308 votos. O Congresso começa a se esvaziar para as festas de final de ano.   A BASE FICA FROUXA   Lula já perdeu as classes médias. Continua muito forte na base da pirâmide social e a razão se deve aos programas assistencialistas do governo. Afinal de contas, 11 milhões de famílias recebem o Bolsa Família. Mas nem tudo está às mil maravilhas na base da pirâmide. Os movimentos sociais, alguns liderados por importantes organizações não governamentais, acabam de divulgar uma nota condenando o governo Lula. Chegam a chamar o presidente de traidor das causas sociais. Base estiolada, meios afastados e elites sem muito voto constituem, hoje, a moldura eleitoral para a reeleição de Lula.   O DILEMA DE RIGOTTO   O governador do Rio Grande do Sul, Germano Rigotto, tem um discurso mais fluente e mais denso que o ex-governador Garotinho, do Rio de Janeiro. Como candidato, seria mais crível e mais asséptico. A geografia o maltrata. Está muito longe dos grandes centros de irradiação opinião. Ademais, é muito discreto, ao contrário de Garotinho, que fala aos borbotões. Fala-se que o governador gaúcho tirará férias para correr os Estados na campanha para as prévias do PMDB. Mas teme perder para o esquema montado pelo marido da governadora Rosinha, que tem agitado as bases do PMDB nos Estados.   PERGUNTA PARA TEMER   Por onde anda, o presidente do PMDB, Michel Temer, é pressionado com a pergunta: "e por que não você?" Ante os nomes que circulam na mídia - Nelson Jobim, Anthony Garotinho, Germano Rigotto, Jarbas Vasconcelos, Roberto Requião - os interlocutores de Temer acabam se posicionando a seu favor, acreditando que tem o melhor perfil como candidato a presidente. Ao cumprir o papel de magistrado-coordenando o processo eleitoral no partido - Michel Temer se vê fora da disputa. Mas em política, o dia de amanhã é sempre cheio de novidades.   MERCADANTE MINISTRO ?   Se Aloizio Mercadante não se viabilizar como candidato a governador de São Paulo, pelo PT, será integrado ao ministério do governo Lula, na reta final do mandato. A não ser que não queira. Lula já começa a pensar em substituir cerca de 10 ministros, que serão candidatos nos Estados.      MARTA SERÁ CHAMADA   A ex-prefeita Marta Suplicy será convocada pela Comissão de Assuntos Econômicos do Senado para prestar depoimento sobre procedimentos considerados ilegais pelo ministério da Fazenda. Quem está tentando por panos quentes nesse depoimento é .... o senador Aloizio Mercadante. Faz o papel de bom moço, abrindo um crédito junto a Marta. Depois, virá a cobrança.   QUEM SE LEMBRA DA DENÚNCIA DE ONTEM ?   É tanta denúncia que poucos lembram os fatos escandalosos noticiados ontem. Uma notícia "canibaliza" a outra. E a banalização das denúncias acaba amortecendo a sensibilidade. __________  
quarta-feira, 7 de dezembro de 2005

Porandubas nº 31

  A CAMPANHA COMEÇOU    Lula deu início à campanha. É essa a interpretação que se pode fazer, a partir da decisão presidencial em abrir dois poços d'água na seara da colheita de votos. O primeiro jorrará água nos campos parlamentares. Cerca de R$ 1,1 bilhão será destinado a emendas de parlamentares. Algo como toma-lá-dá-cá. O segundo irrigará projetos fundamentais - e eleitoreiros, claro - na seara da infra-estrutura. Além das verbas já comprometidas nos Ministérios, haverá uma injeção de mais R$ 700 milhões para projetos prioritários. O X da questão : os parlamentares, mesmo beneficiados, só vestirão a camisa de Lula, caso esteja ele muito bem nas pesquisas. Lula começou a campanha com uma primeira reunião para tratar de quê ? De grana.      BASTIDORES DA CAMPANHA   Lula já começa a escolher o grupo assessor principal. Esbarra no busílis : quem comandará a campanha, com o capitão José Dirceu fora do jogo ? É evidente que Dirceu estará jogando, mas em posição secundária. Se ganhar visibilidade na campanha de Lula, poderá gerar efeito bumerangue. Palocci, como ministro, estaria fora do jogo. Luiz Dulci, perfil de professor, seria adequado ? Berzoini é um nome mais do que queimado. O marqueteiro sondado, João Santana, brigou com seu antigo parceiro, Duda Mendonça. Este, por sua vez, poderá integrar a "assessoria da moita", como já está sendo designado o grupo que vai ajudar na campanha, por baixo do pano, com receio de sujar a campanha de Lula com uma participação visível e ativa.   CLASSE MÉDIA, O FOCO   Lula acredita ter como certos os bolsões da pobreza e dos fundões do país que votaram maciçamente em seu nome. Por isso, o esforço maior estará voltado para a reconquista da classe média. Será uma tarefa difícil. E não haverá tempo para que projetos de interesse dessa classe provoquem efeitos eleitoreiros, como, por exemplo, a liberação do FGTS para pagamento de mensalidades escolares. Mesmo se isso acontecer, a classe média não recuará de seu distanciamento. A classe média é cooptada por conceitos, idéias, doutrina, perfil. Não tem muito entusiasmo ante qualquer apelo populista.   ALCKMIN VERSUS SERRA   A querela dos tucanos também já começou. A declaração do prefeito carioca César Maia, de que apóia o nome de José Serra, foi o som do sino para o início de uma luta de muitos rounds. Maia, ao ver o estrago, já começa a dizer que não disse o que disse. Alckmin, irritado, diz que Serra tem dito que não será candidato. Serra diz que não disse ser candidato, quando todos sabem que vive dizendo isso. Diante de tantos disse-não-disse, vejamos os pontos fracos e fortes de cada um.   SERRA : PONTOS FORTES   José Serra é um político bem mais experiente que Geraldo Alckmin. Veio antes. Foi um grande secretário de planejamento de Franco Montoro. Arrumou as finanças do Estado. Foi um parlamentar de excelente performance. Um dos mais ativos e produtivos parlamentares na Constituinte. Tem boa visão de economia - macro e micro economias. E uma visão adequada do mundo. Ou seja, é um grande técnico, que consegue aliar o conhecimento ao modo de gestão. Como gestor, seus feitos na área do Ministério da Saúde ganharam fama internacional. Sabe formar uma boa equipe. Cerca-se de bons assessores. E gosta de monitorar e cobrar as ações dos auxiliares. Enfim, é mais preparado que Geraldo Alckmin como candidato à presidência da República.   SERRA : PONTOS FRACOS   José Serra é uma figura que exprime arrogância. Passa a impressão daquele professor chato, que vive puxando a orelha dos alunos. Como professor "sabe tudo", não admite ser contestado por ninguém. Em termos de comunicação, dá ênfase à linguagem metalingüística, ou seja, às explicações didáticas e objetivas, às explanações que se tornam monótonas, apesar de claras. Essa forma de comunicação é típica de schollars em salas de aula. Serra também exprime frieza, distanciamento emotivo. Parece não se envolver com o interlocutor. Atire-se nele um saco de confetes de elogio ou jogue-se nele uma dúzia de ovos, que ele manterá a postura fria, de pessoa intocável, inatingível. Quanto ao índice de intenção de votos, a impressão é a de que sempre bate num teto histórico, não tendo capacidade de evoluir, crescer, expandir a taxa eleitoral. Seu mais alto índice de intenção de votos, entre os tucanos, explica-se : é ainda o nome mais lembrado, resultado da última campanha.    ALCKMIN : PONTOS FORTES   Geraldo Alckmin revelou-se quando o governador Mário Covas deu-lhe a atribuição de comandar o processo de privatização da malha das rodovias no Estado. Tornou-se um grande gerente. Calmo, equilibrado, discreto, sempre passou a impressão de ser um fiel executor de Covas. Um homem que se podia confiar a toda prova. Com a morte do grande líder, um perfil de grandeza, Alckmin chegou ao centro da política paulista, como governador e comandante de um processo. Tornou-se sinônimo de equilíbrio, harmonia, boa convivência com adversários. A discrição ajudou-a a sair de muitos tiroteios. Conhece bem a realidade socioeconômica de São Paulo, é capaz de discorrer sobre os mais variados assuntos de forma fluente, sem se atrapalhar e ficar nervoso diante de intervenções, queixas e acusações de adversários. O fato de ser menos conhecido do que Serra é um fator favorável, ao contrário do que se pode imaginar. Por isso, seu potencial de crescimento, em uma campanha, é maior do que o de Serra. Numa reta final, polarizada, poderá agregar mais.   ALCKMIN : PONTOS FRACOS   Alckmin não tem a ousadia, que é mais do que a coragem. Ter ousadia é saber aproveitar as deixas, subir montanhas, mesmo quando elas parecem insuperáveis. Sua fala não tem a contundência que o Brasil carece, nesse momento. Dilui-se na maré das expressões mais fortes que se ouvem por todo o território. É um paulista que não conhece muito bem o Brasil. Quando viaja pelos Estados, causa boa impressão, pela gentileza, capacidade de ouvir, pela maneira com que agrada o interlocutor, mesmo que não diga grandes coisas. Tem sido assim seu périplo de poucas viagens pelo país. E isso é o que chega aos nossos ouvidos de analistas e consultores políticos. Não se cerca de grandes assessores. Parece gostar de uma assessoria mais secundária, mais improvisada, menos profissional, mais jovem, menos politizada. Ultimamente, para aparecer, colocou um pouco de veneno nas falas. Mas não se ouve dele uma idéia forte sobre o Brasil. Geraldo Alckmin é um gerente muito bom e deixa transparecer o perfil de bom pai de família. Chega-se, até, a ouvir : Alckmin é o sogro que os jovens brasileiros gostariam de ter.   PTSUNAMI À VISTA ?   Esse envio de R$ 1 milhão, em dinheiro, para a Coteminas, empresa têxtil, pertencente ao vice-presidente da República, poderá ser mais uma grande dor de cabeça para o PT. A Coteminas reconhece ter recebido o dinheiro. O PT não reconhece o envio da quantia, apesar de reconhecer o débito de R$ 11 milhões à empresa. Se Delúbio Soares, irritado, abrisse a boca, o PT e Lula seriam tragados pela primeira ventania do ptsunami. Delúbio, porém, luta para evitar um dilúvio.   VERTICALIZAÇÃO CAI OU NÃO CAI?   Aviso aos navegantes : se a verticalização não cair, a campanha será uma. Se cair, será outra. Por exemplo : se continuar o mesmo sistema da última campanha, pelo qual as alianças nos Estados obedecerão ao esquema de alianças feito no plano federal, o PMDB não terá candidato próprio. Será quase impossível sustentar uma candidatura própria com o engessamento de alianças. Garotinho já pode começar a tirar o seu cavalo da chuva. O PMDB quer derrubar a verticalização. O esforço do presidente do partido, Michel Temer, é hercúleo. Mas os interesses partidários são muito divergentes.   JOBIM DÁ ADEUS AO SONHO   Se Nelson Jobim, presidente do STF, tinha o sonho de vir a ser o candidato de consenso do PMDB à presidência da República, também pode começar a expulsar a idéia do seu sistema cognitivo. Não por conta da manutenção eventual da verticalização. Mas por conta da postura politizada, e muito criticada, à frente da mais alta Corte do país.  ___________