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Porandubas Políticas

Por dentro da política.

Gaudêncio Torquato
quarta-feira, 29 de novembro de 2006

Porandubas nº 77

COALIZÃO MAIS DENSA A coalizão governamental para sustentar o segundo mandato do presidente Lula é costurada com fios mais fortes do que a realizada em 2002. Lula participa diretamente das conversas. E tem um auxiliar com boa sensibilidade política: o ministro de Relações Institucionais, Tarso Genro, o melhor quadro do PT. Depois de consolidada, a base governista poderá abrigar entre 320 a 330 parlamentares, um grupamento considerável. O eixo da coalizão é o compromisso mais firme dos partidos com as políticas públicas do governo. TARSO GENRO Tarso Genro pensa alto. Propõe uma ampla coalizão suprapartidária para encaminhamento e discussão da reforma política. Crê que a aprovação da reforma política só se dará com o apoio das oposições. Defende a idéia de que o oposicionismo não arrefeça suas forças e deixe de fazer oposição, mas alerta para o fato de que matérias de interesse nacional carecem de amplo entendimento entre os partidos. Tarso tem sido a grata surpresa desses tempos de desconfiança e incredulidade. Em almoço, semana passada, no SEAC-SP, tivemos oportunidade de trocar idéias a respeito dos horizontes que se descortinarão ao país em 2007. PT CHEIO DE AMBIÇÃO Lula fez o alerta aos petistas : vocês têm de resgatar o ideário ético. Mais : devem se contentar com as gordas fatias que detêm na administração federal. O governo terá de ampliar os espaços do PMDB e dar boa acolhida aos outros aliados. Mas o PT quer continuar com o maior filão. Tem direito, convenhamos. Mesmo não fazendo o mesmo número de parlamentares do PMDB, ganhou a maior votação. E conta com o presidente Lula. Agora, quer também a presidência da Câmara. Muito difícil. O partido deveria se conformar com os ministérios e espaços da área social. A briga promete. JARBAS E OS INDEPENDENTES DO PMDB Jarbas Vasconcelos, que deixa o governo de Pernambuco para assumir uma cadeira de senador, passou os últimos anos no esconderijo regional. Já presidiu o PMDB e até parecia conformado em permanecer na surdina. Que nada. O novo senador quer liderar a bancada independente do PMDB na Câmara Alta. Diz que conta com seis senadores. Mas três deles, pelo menos, os senadores Garibaldi Alves (PMDB-RN), Joaquim Roriz (PMDB-DF) e Mão Santa (PMDB-PI) não fazem a linha de independência irrestrita. Estão dispostos a uma conversa. No fundo, a aparente oposição de alguns senadores se relaciona às questiúnculas regionais. Ressaca de campanha. SERRA / AÉCIO, CHAPA PURO SANGUE ? José Serra nem assumiu o governo de São Paulo e já é motivo de densa especulação. Desta feita, teria acertado com Aécio Neves o fim da reeleição. Em 2010, Serra encabeçaria a chapa para a presidência com Aécio Neves na vice. Em 2014, seria a vez do mineiro. É difícil acreditar. Aécio é tão mineiro quanto o avô Tancredo. Tem um olho no norte, outro no sul. Se o cavalo passar pela frente, pulará na montaria de 2010. Acerto com quatro anos de antecedência vale tanto quanto uma nota de R$ 4. SERRA EM 100 DIAS Imaginei que os tais programas de governo para 100 dias eram coisa do passado. Algo como factóides para chamar a atenção da população. Tentavam exprimir um ideário apontando para questões emergenciais, saneamento das contas, limpeza de canais, enxugamento administrativo, enfim, seriedade e zelo. Geralmente, essa programação de 100 dias era desfraldada por candidatos oposicionistas que venciam eleições. Eis que José Serra ressuscita o defunto. Mesmo não querendo, transmite a idéia de que o governo Geraldo Alckmin/Cláudio Lembo foi um desastre. E que o Estado de São Paulo vive uma calamidade. Se em 100 dias Serra criar um diferencial forte, será o início do take off, a decolagem para 2010. GARCIA E A IMPRENSA Marco Aurélio Garcia, o presidente do PT, quanto mais diz que não tem nada contra a imprensa, mais a condena. A razão é simples : no meio da defesa, faz acusações. Sobra a impressão de que o teor negativo é mais denso que o fio positivo. GEDDEL E EUNÍCIO Na disputa entre os peemedebistas Geddel Vieira Lima e Eunício Oliveira para presidir a Câmara dos Deputados, o baiano leva a melhor. O cearense Eunício não tem muita simpatia junto à bancada. Mas a presidência, dependendo da boa costura do presidente Luiz Inácio, poderá permanecer mesmo com Aldo Rebelo. APAGÃO AÉREO O que será da massa de turista que amargará horas nos aeroportos no final de ano ? Pois o "apagão aéreo", acreditem, só será "apagado" (nesse caso, equacionado) com soluções que abriguem melhores condições de trabalho e salariais para os controladores de vôo. Qualquer outra iniciativa, mesmo a de cunho militar, poderá causar boicote. Punição não é solução. É paliativo. NOVA ABERTURA DOS PORTOS Em 1808, o Brasil inaugurou a abertura dos portos e acabou com o monopólio do comércio português. O país precisa de uma nova abertura dos portos, desta feita no campo da reestruturação da infra-estrutura portuária. Os nossos portos são lastimáveis no que diz respeito ao turismo. Temos um dos maiores potenciais do mundo no campo do turismo. Um dos mais belos litorais do planeta. Mas, no interiorzão do país, lá pelo Planalto Central, concentra-se o maior oceano burocrático do mundo, onde águas turvas de portarias, resoluções e normas de conselhos se fundem à ambição de fiscais corruptos e grupos de controle que fazem tudo para fechar os portos aos cruzeiros marítimos. Mesmo comprimidos pela exagerada burocracia, os cruzeiros de final de ano aliviarão milhares de turistas que temem passar horas a fio nos aeroportos. AGRIPINO CEDERÁ A RENAN ? José Agripino, o aguerrido líder do PFL no Senado, quer disputar com Renan Calheiros a presidência do Senado. Mas teme perder o apoio dos tucanos. Confiar no tucanato é complicado. Trata-se de um tipo de ave que gosta de contemplar as próprias penas. Renan, por sua vez, tem o apoio de Lula e muitos espaços na administração federal. Agripino garante que vai lutar. Mas não tem vocação para suicida. PIZZA, PIZZA E MAIS PIZZA Que a pizza tinha uma grande camada de mussarela, já se sabia. Pensava-se, porém, que serviria não mais que uns 20 parlamentares. Que nada. São 70 parlamentares cujos processos estão praticamente parados nas instâncias parlamentares. Três senadores acabam de comer fatias grossas da pizza senatoriana. No Brasil, é assim : cometa o crime hoje, enrole o caso na folha seca do tempo e, depois de amanhã, abra o pacote da absolvição. Comemore com muita pizza. A IMAGEM DA PRESIDENTE A poderosa ministra presidente do Supremo Tribunal Federal quer aumentar os salários dos ministros e integrantes do Conselho Nacional de Justiça. Nem bem o país saiu da crise do mensalão e as altas Cortes já discutem aumentos dos supersalários. Não tem nada a ver uma coisa com outra, dizem alguns. Tem, sim. Trata-se de zelar pela res publica e seus valores. Aumentar salários em tempos de descrédito nas instituições parece um contra-senso. A boa imagem da ministra Ellen vai para o beléléu. Se já não foi. CABRAL, O ECUMÊNICO Sérgio Cabral, eleito governador do Rio de Janeiro, é o mais ecumênico dos peemedebistas. Abriga no secretariado pessoas do PT, PV, PFL e PSDB, ou seja, Benedita da Silva, Carlos Luppi, José Paulo Conde e Eduardo Paes, que são potenciais candidatos a prefeito do Rio de Janeiro. O que pretende Cabral ? Redescobrir o Brasil e atrair todos os índios, dando a eles espelhinhos de presentes ? E ALCKMIN, HEIN ? O que fará Geraldo Alckmin ? Diz-se que fará um "intensivão" no Exterior. É interessante. Sai da ressaca eleitoral, deixa os parceiros limpando a poeira e reorganizando o tucanato. Quando voltar, poderá ser candidato a prefeito. Não quer. Por hoje. Amanhã, quando lhe mostrarem as pesquisas que o deixarão léguas na frente de Gilberto Kassab, dirá: "se o povo me quer como candidato, não posso negar". Kassab não tem boa imagem de administrador. Pegou nele a pecha que também "queimou" a imagem de Marta Suplicy, a de pessoa com cabeça que só pensa em imposto. ____________
quarta-feira, 8 de novembro de 2006

Porandubas nº 76

LULA VAI À CAÇA Refeitas as energias, com a prainha isolada, Lula vai à caça dos aliados. Quer fazer uma coalizão parlamentar. Que não cometa o pecado de dezembro de 2002, quando desfez, publicamente, o acordo feito entre José Dirceu (então poderoso Chefe da Casa Civil) e Michel Temer, presidente do PMDB, pelo qual este partido entraria cheio no governo. Que a coalizão parlamentar seja tão bem que não se transforme em coalizão "pra lamentar". Precisa garantir aos partidos decisão nas políticas públicas. E os partidos devem dividir as responsabilidades pela ação governamental. QUEM VENCERÁ A QUEDA DE BRAÇO Lula vai deixar Henrique Meirelles na presidência do Banco Central, mas vai tirar alguns diretores considerados muito burocráticos. Quer aliviar o arrocho fiscal, ou seja, vai tentar baixar juros para manter a promessa de crescimento em torno de 5% do PIB. Muito bem. Mas a carga de gastos prevista para 2007, inclusive com a manutenção do Bolsa-Família para 11,5 milhões de famílias, pode estourar o orçamento. Ao mesmo tempo, promete-se freio nos gastos sociais. Se isso ocorrer, os contingentes lulistas protegidos pelo cobertor social vão se queixar do "frio" fora de hora. Leitura à vista: Lula ficará entre a cruz e a caldeirinha. O MAIÔ DE DONA MARISA A primeira dama poderia ter sido mais recatada. O maiô com a estrelona vermelha do PT, que desfilou na prainha deserta, ao lado do presidente descansando, foi uma logotipia extravagante com jeito de deboche. O PT foi bem votado, vale lembrar. Daí a ser elevado às alturas - melhor dizendo, elevado ao meio do corpo - parece um exagero do tamanho da crença de que continua a ser o ícone da ética. A propósito, a estrela vermelha plantada nos jardins do Palácio da Alvorada pegou muito mal. Mas a primeira dama teima em reconhecer o erro do passado. VOLTANDO AOS PRINCÍPIOS "Quando uma República está corrompida, não se pode remediar nenhum dos males que nascem, a não ser eliminando a corrupção e voltando aos princípios. Qualquer coisa ou é inútil ou é um novo mal". Essa lição é do velho Montesquieu, em "Do Espírito das Leis". Atualíssima. ENTRE A BORDUNA DOS CACIQUES E O TACAPE DOS ÍNDIOS O PMDB entrará firme e unido no governo Lula. Mas entrará forte ? Isso vai depender das pastas que conquistar. Ministérios pequenos não interessam ao partido. Para atrapalhar, há as figuras de Renan Calheiros e José Sarney, dois senadores que fazem a cabeça presidencial em matéria de PMDB. Pois bem : Renan quer se reeleger presidente do Senado. Para que isso ocorra, o partido, que fez a maior bancada de deputados (1989) terá de ceder a presidência da Câmara a outro partido. Sarney, por sua vez, quer uma cadeira ministerial para a filha derrotada, Roseana, que entraria no PMDB. Mas a sigla não aceita que ela entre no ministério usando seu guarda-chuva. Ou seja, Lula está entre a borduna dos caciques e o tacape dos índios. GEDDEL NA CÂMARA ? Esta coluna previu que Renan teria melhores condições de ser presidente do Senado do que Geddel Vieira Lima ser presidente da Câmara. Mas o baiano leva facilmente o apoio da ala oposicionista do PMDB, sendo um dos poucos nomes a unir o partido. Por isso, fazemos uma revisão das projeções. Renan continua a ter maior cacife, mas Geddel conta com os índios da Câmara, que, convenhamos, fazem mais barulho do que a banda do Senado. GOVERNADORES FAZEM O CERCO Na última Veja, Marcelo Carneiro apresentou o Lulômetro, com notas de 0 a 5 aos governadores. A maior nota coube aos petistas e a menor a José Serra, com perfil de maior opositor. A média, tirada por três análises - entre as quais uma feita por mim -, mostra que Lula iniciará o segundo mandato com o apoio de 20 governadores. Mas a fatura deverá ser alta. Os governadores querem melhorar o Caixa formado pelo ICMS. Alguns querem uma boa compensação. Lula quer que os governadores influenciem as bancadas federais. Vamos ver um cinturão de pressões por todos os lados. BRIGAS NO PT Lula vai reduzir o espaço do PT. E os vitoriosos do partido querem tomar o lugar dos derrotados. As tendências partidárias estão em pé de guerra : DS, Movimento PT, Campo Majoritário começam a preparar as armas. O médico Arlindo Chinaglia, da tendência centrista Movimento PT, quer ser ministro da saúde, mesmo ministério ambicionado pelo PMDB. Marta briga pelo Ministério das Cidades. O PT nordestino, este sim, ganhará um bom espaço. E a DS, Democracia Socialista, radical de esquerda, deverá diminuir de tamanho no Ministério, apesar de contar com a figura do deputado Walter Pinheiro (BA). Vamos assistir à luta de camarote. SANTANA SEM ESCRÚPULOS João Santana, o marqueteiro de Lula, chutou o pau da barraca. Contou tudo. Disse que iludiu o eleitorado. Usou o discurso da "privataria" contra Alckmin porque o inconsciente coletivo guardava a fé nacionalista. Usou e abusou dos simbolismos sagrados da alma coletiva. Foi corajoso. Marqueteiro que mostra as cartas do jogo ou quer aparecer como o grande vitorioso ou quer dizer o seguinte: "Não tenham ilusões, senhores. Somos todos manipuladores. Ganhamos a campanha com um feixe de ilusões". E Viva o Brasil! JOBIM NA JUSTIÇA Nelson Jobim está quase "sagrado" ministro da Justiça, "consagrado" que será pelo próprio PMDB. Quando presidente do STF, Jobim foi acusado de ser politiqueiro. Negou veementemente. Como ministro da Justiça, poderá ser um grande advogado do presidente. O que negará. A política anda nas curvas da versão para driblar as retas da verdade. Mas poderá ser um grande ministro da Justiça. Quem sabe....! ROSEANA VAI, ROSEANA VEM Roseana Sarney vai para o Ministério ? Se entrar, não será pela porta do PMDB, mas pela via do coração do pai, José Sarney, e pelo sentido de agradecimento de Lula aos "feitos" do senador na seara peemedebista. Ministério Roseânico seria algo como o do Meio Ambiente (que cairia melhor nos braços do irmão Zequinha Sarney, do PV), o das Mulheres. O Ministério das Cidades, o preferido, não deverá escapar das mãos de Marta Suplicy. A não ser que ... a briga do PT, a pressão do Sarney e o agradecimento de Lula tenham uma dimensão maior do que a nossa vista alcança. NOVO RE-PARTIDO Diz-se que José Serra está querendo formar um novo partido. Se não costurar as alas, essa sigla nascerá re-partida. O PPS de Roberto Freire, a banda mais conceitual do PMDB, com acentuação de esquerda, e os social-democratas do tucanato seriam bem abrigados sob a nova sigla. Serra tem medo de Aécio Neves e se prepara para engrossar a legenda para 2010. Aécio (esta Coluna já previu) poderá ser candidato à presidência pelo PMDB. Por isso, seria interessante desinflar, desde já, essa sigla. Serra tem cacife para tanto. Governará o Estado mais forte da Federação. ORGANICOM Hoje à noite, na Assembléia Legislativa, estarei abrindo o evento de Lançamento da Revista Brasileira de Comunicação Organizacional e Relações Públicas, com uma palestra sobre "Comunicação Pública e Governamental". Trata-se de uma Revista editada pela Associação Brasileira de Pesquisadores de Comunicação Organizacional e RP, dirigida pela Profª Margarida Kunsch. ÁGUA NO FEIJÃO No Catete, o repórter pergunta a Getulio Vargas: "Presidente, para vencer na política o que é preciso ?" O velho tascou : "Muita coisa, meu filho. Boa memória, por exemplo. A política é como água no feijão. O que não presta flutua. O que é bom repousa no fundo". Daqui a seis meses, vamos ver quem estará flutuando e quem repousará no fundo. A conferir. 100 ANOS DE ASSESSORIA DE IMPRENSA Sexta-feira, dia 10, estarei abrindo o Seminário Internacional "Eficiência e Práticas em 100 Anos de Assessoria de Imprensa", promovido pelo Sindicato dos Jornalistas do Estado de São Paulo e com programação que abriga as experiências na América do Norte, Europa, Ásia e América Latina. Será no World Trade Center São Paulo, Av. Nações Unidas, 12.551, a partir das 9 horas. DOSSIÊ, QUE DOSSIÊ ? Quem se lembra do tal dossiê falso contra os tucanos ? O interesse pelo caso foi pro brejo. Os integrantes da CPI que apura o caso estão desconsolados com a falta de interesse social a respeito do tema. VOTO DISTRITAL O voto distrital será um dos primeiros estatutos em discussão na pauta da reforma política. Tem tudo para ser aprovado. Há um busílis : como se definirá o distrito ? Vai ser uma briga de gente grande. E armada. Porque muita gente vai perder com o uso desse tipo de ferramenta. Útil para a democracia. DOIS PESOS E DUAS MEDIDAS ? Um turco se encontrou com um canibal, a quem acusou : "Sois muito cruéis, comeis os cativos que fazeis na guerra". O canibal retrucou : "O que fazeis dos vossos ?". O turco respondeu : "Nós os matamos, mas depois que estão mortos, não os comemos". O velho Montesquieu não perde a tirada : "Parece-me que não há povo que não tenha sua crueldade particular". CONSCIÊNCIA NEGRA O dia da Consciência Negra, 20 de novembro, me motiva para, em plena segunda-feira, homenagear todos os grupos e contingentes discriminados, desde os amarelos asiáticos aos cinzentos que trabalham com a fuligem em minas de carvão, aos brancos de medo da violência das cidades, entrando pela consciência dos verdes que lutam para salvar o planeta e chegando até a floresta dos pálidos de fome na África do lado de lá do oceano e nas pequenas áfricas próximas aos nossos estômagos. Não há povo que não tenha sua maneira particular de comemorar a discriminação.______________
quarta-feira, 1 de novembro de 2006

Porandubas nº 75

RECADOS DE LULA As primeiras entrevistas de Lula, depois de eleito, começam a dar o tom do segundo mandato. Cordialidade e mais contato com a imprensa - na esfera da comunicação. Desenvolvimentismo/crescimento - na esfera econômica. Abertura do leque diplomático para além das fronteiras dos países do Terceiro Mundo - na esfera de política exterior. Coalizão governamental, a partir do engajamento do PMDB e de 17 a 20 governadores no seio do governo - na esfera política. Aperfeiçoamento e eliminação de distorções no Bolsa-Família - na esfera social. Mais modéstia, menos arrogância, mais abertura, menos empáfia, mais visão de conjunto, menos detalhes, mais cobrança, mais pressa na execução das ações - na esfera do comportamento pessoal. ASSOBIAR E CHUPAR CANA AO MESMO TEMPO Na área econômica, os atritos entre as bandas monetarista e desenvolvimentista mostram que o governo continua dividido. O presidente desautoriza Tarso Genro, que pregou o fim da era Palocci - mas, ao mesmo tempo, defende o crescimento e o rigor fiscal. Será complicada a operação de assobiar e chupar cana ao mesmo tempo. Teme-se que o lençol seja curto. Puxado cobre a cabeça, mas descobre os pés. O imbróglio na área econômica deverá ser desvendado um pouco mais adiante. O PT VOLTA À BRIGA O PT volta-se para uma grande disputa : o comando partidário. Ricardo Berzoini não pediu demissão, apenas licença. Será forçado a sair. Marco Aurélio Garcia quer continuar no cargo de assessor de política externa ou comandar uma embaixada. Luiz Dulci prefere ficar pertinho do presidente. A banda nordestina terá maior espaço, a partir da influência de Jaques Wagner e Marcelo Déda, novos governadores da Bahia e de Sergipe. Sob o empuxo da disputa interna, pode ser que o PT disperse forças no momento de exigir a manutenção de seus espaços no governo. TUCANOS AFINAM O BICO O PSDB vai administrar Estados que, juntos, chegam a 51% do PIB. José Serra e Aécio Neves não se incomodaram com a derrota de Geraldo Alckmin. Já abrem conversas com Lula. Alckmin está decepcionado com Aécio Neves, que lhe prometeu engordar os 40% de votos obtidos no primeiro turno. Surpresa: Geraldo perdeu 6% dos votos em vez de ganhar os 20% prometidos por Aécio. Serra começa a alçar vôo em direção a 2010, assumindo o comando do Estado mais forte da Federação. Vai haver bicada de todos os lados. Aécio quer ser a bola da vez e poderá, lá pela frente, entrar no velho PMDB. A conferir. PFL NO CANTO DO RINGUE O PFL foi o partido mais derrotado nas eleições. Elegeu um governador, José Roberto Arruda, do Distrito Federal. Fez a maior bancada no Senado, mas o velho PMDB se adianta, coopta três senadores para que Renan Calheiros possa continuar no comando. O partido enfrenta grandes dificuldades. Tem a prefeitura de São Paulo, cujo prefeito Gilberto Kassab, exímio articulador, não tem carisma. O governador Cláudio Lembo, por sua vez, está em fim de mandato. Sobra César Maia, um grande estudioso da política. O prefeito poderá se transformar na estrela maior da constelação pefelista. DIRCEU TRANQÜILO Domingo à noite, participei de debates na Rádio Bandeirantes com parlamentares como José Aníbal, Duarte Nogueira, Ricardo Berzoini e Rui Falcão, cada um fazendo a sua análise. Mas havia ali alguém surpreendentemente tranqüilo : José Dirceu. Enfrentou com galhardia as questões colocadas por José Paulo de Andrade. E aventurou-se a olhar o amanhã, quando um gigantesco movimento por sua anistia baterá na Câmara Federal, por meio de uma ação popular com mais de um milhão de assinaturas. José Dirceu está na ativa. INÍCIO DA CRISE Lembrei-lhe a articulação que fez, em dezembro de 2002, com o deputado Michel Temer, presidente do PMDB, pela qual o partido em peso entraria no governo. Articulação desfeita por Lula, no dia seguinte ao acordo que daria ao PMDB importantes ministérios. A desconstrução contribuiu para a crise política, porque Lula preferia administrar no varejo e não no atacado. O ex-ministro concordou com a análise. Quando se vê Lula, hoje, fazendo ele mesmo a articulação com o PMDB, a conclusão vem rápida : o presidente aprendeu com quantos paus se faz uma canoa. MINISTERIÁVEIS Marta Suplicy vai ganhar um Ministério, possivelmente o de Cidades. Marta poderá ser o trunfo petista para depois de amanhã. Ela saiu-se bem no comando da campanha lulista em São Paulo. Já Delfim Netto poderá ser consultor. O perfil de ministro poderia provocar seqüelas na imagem de um governo que se considera de esquerda. Jorge Gerdau é um nome forte. Mas o Nordeste poderá ter boa participação no ministério. E A FAMOSA PERGUNTA ? Afinal de contas, onde está a resposta para a famosa pergunta : de onde veio o dinheiro para a compra do falso dossiê contra os tucanos ? A essa altura, qualquer resposta não fará a mínima diferença. Lula eleito deve se deliciar com o drible que deu nos bicos dos tucanos e pefelistas. O que poderá dizer é : que a Justiça puna os culpados. Mais aplausos para ele. A conferir. AS PESQUISAS As pesquisas feitas durante o segundo turno para a presidência da República, principalmente as últimas, acertaram em cheio. Em alguns Estados, como no RN, as pesquisas mostraram uma queda na margem do ganhador. A diferença entre Vilma Faria (PSB) e Garibaldi Filho (PMDB), apontada pelo Ibope como sendo de 10%, na véspera da eleição, foi de menos de 5%. INTERNET MENOS BARULHENTA ? Com a vitória de Lula, os e-mails espalhafatosos sobre seu perfil, incluindo as piadas e charges, aliviarão a correspondência. Mas certos olhos observadores e questionadores deverão contemplar o cenário pelos próximos 4 anos. A conferir. LULA MENOS FALANTE Seria melhor para todos os ouvidos, se o presidente Lula, em seu novo mandato, falasse menos e agisse mais. Seria bom ver o presidente indo a canteiro de obras, supervisionando ações e programas, cobrando ministros, dando um cala-boca nos bajuladores de plantão. E MEIRELLES, HEIN ? Mesmo que continue, o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, desfilará com outro figurino. Não será tão independente como foi até agora. GEDEL COM FORÇA O deputado Geddel Vieira Lima, do PMDB, foi peça importante para a vitória de Jaques Wagner ao governo da Bahia. Poderia ser o nome do PMDB à presidência da Câmara. Uniria as duas alas do partido. Mas Renan Calheiros, que pleiteia a reeleição no Senado, é o obstáculo. Por isso, Geddel poderá ter uma vaga no Ministério. Se quiser, é claro. VÔOS PREOCUPAM Os céus brasileiros estão cheios de aviões. E as greves de controladores de vôo ameaçam dar pane no sistema. Não há mais céu de brigadeiro. A coisa está mais para céu de guerra nas estrelas. SERÁ QUE DÁ LIGA ? Mistura de cal com cimento dá liga. E equilíbrio fiscal com crescimento, o que dá ? Essa é a mistura que Lula está fazendo : cabeça de Antonio Palocci, corpo de Guido Mantega, boca de Tarso Genro, dedos de Henrique Meirelles, unhas de Paulo Bernardo e ouvidos de Delfim Netto. Com o sorriso de Dilma Rousseff. REFORMA POLÍTICA A reforma política abrirá o capítulo das reformas. O único estatuto que poderá ser consensual é o da fidelidade partidária. ONDE ESTÁ JUCELINO, HEIN ? Onde se esconde o médium Jucelino (sem s) Nóbrega da Luz, que registrou no 1º Cartório de Títulos e Documentos, de Londrina, a previsão de que Luiz Inácio Lula da Silva não seria reeleito presidente do Brasil ? Diz-se que o médium previu o desastre do avião da Gol e outros acidentes. E que seria respeitabilíssimo. Curiosidade : quando uma previsão como essa vai para o brejo, como fica a cara do sujeito, hein ? Que desculpas ele tem ? Será que ainda há gente na fila de consulta ? ____________
quarta-feira, 25 de outubro de 2006

Porandubas nº 74

GERALDO NA DEFENSIVA A campanha de Lula está sendo bem mais eficaz no segundo turno do que a campanha de Geraldo. Além de programas eleitorais melhores, a campanha petista driblou os ataques tucanos do primeiro turno e colocou Alckmin no canto do ringue com o discurso contra a privataria. Uma onda nacionalista invadiu o País. Lula voltou ao discurso glorioso a ponto de dizer que os opositores deveriam "agradecer a Deus" por sua reeleição. Geraldo perdeu 10 dias - vitais - do segundo turno respondendo a Lula e assessores. AMORTECIMENTO SOCIAL Denúncias, mesmo as mais fortes, perderam força. Vejam as últimas: a ligação entre Gilberto Carvalho, secretário particular de Lula, e Lorenzetti, que comandou a compra do dossiê. Portanto, a suspeita de que o caso saiu da esfera presidencial não gerou grande impacto. E a matéria de capa da Veja sobre o "Ronaldinho de Lula", o filho Fábio, também não criou comoção. Ou seja, nem um tsunami tem condições de arrebentar os espaços consolidados de Lula. E isso ocorre porque uma onda maior tomou conta do País: a onda do amortecimento social. O povão está anestesiado. E AS CLASSES MÉDIAS ? Se o povão está anestesiado como está o povo do meio ? As classes médias começam a dar sinais de saturação. Querem resolver logo a parada. Não agüentam mais a "discurseira" dos dois candidatos. Parcela desses setores médios impregnou-se com o discurso nacionalista. Gente que criticava fortemente Lula aderiu. Francisco Oliveira, o professor-sociólogo que fez carga pesada contra o presidente no início do segundo turno, até subiu o palanque lulista. VAI HAVER TERCEIRO TEMPO ? Por mais que se pregue um terceiro tempo, ou seja, o ciclo pós-eleitoral do confronto nas malhas do Judiciário, será pouco provável que as oposições tenham sucesso. O vencedor contará com a legitimidade das urnas. Pelo que se conhece da cultura política, as bases congressuais tendem a arrefecer o discurso após as eleições. Político brasileiro é pragmático. Ajusta-se de acordo com as conveniências. Não haverá pedido de impeachment de Lula, mesmo que se comprove conhecimento prévio do presidente sobre a compra do falso dossiê. Pura bobagem pensar que PFL e PSDB terão forças para impedir a governabilidade. IMAGEM CORROÍDA Mas o segundo mandato de Lula começará sob um clima de suspeitas. A imagem do governo estará corroída. O presidente terá de fazer um esforço extraordinário para soerguer a identidade governamental. Terá de fazer um Ministério com grandes nomes, despetizar parcialmente a estrutura, falar menos e agir mais, ser menos arrogante. As ondas de invasão pelo MST, que passa uma temporada no esconderijo tático para não prejudicar a candidatura petista, voltarão com força. Parcela do PT ideológico se voltará contra o PT pragmático. Os conflitos, portanto, ocorrerão no próprio espaço dos ganhadores. ACOMODAÇÃO DAS PLACAS (1) Fiquemos, então, com as seguintes passagens dos eventos eleitorais. As oposições jogaram uma chuva de denúncias contra Lula, seus assessores e seu governo. O PT foi pego, mais uma vez, de calças curtas. Com imagens de dólares na cueca, mensaleiros, sanguessugas, valerioduto, processos éticos, afastamento de dirigentes petistas e dossiêgate, Lula, o vencedor, entrará no segundo mandato com as placas tectônicas do terremoto ainda se mexendo. Depois de algum tempo, se acomodarão. Entre três a quatro meses serão mais do que suficientes para o governo reunir os cacos quebrados. No segundo semestre de 2007, o governo começará a colocar os eixos programáticos no lugar. ACOMODAÇÃO DAS PLACAS (2) Um pouco antes, deverá patrocinar a reforma política. Os partidos chegaram ao fundo do poço do descrédito. Lula tentará formar uma aliança nacional. Lutará para cicatrizar as feridas abertas. Haverá ampla discussão sobre as reformas. O segundo semestre será também de votações importantes. Lula tentará dialogar de modo mais intenso com Aécio Neves e José Serra. Por uma questão tática: quer anular eventual oposição radical logo no início para evitar a antecipação do fim do seu governo. Os partidos pequenos se reaglutinarão aos grandes. O quadro partidário será mais transparente. Os movimentos sociais mais radicais enfrentarão a Polícia. A sociedade vai esperar um ano para começar a tomar posição mais forte em relação ao governo Lula. A ONDA LULA A onda Lula percorre o País de ponta a ponta, devastando terrenos de adversários lulistas. No Nordeste, os candidatos a governador apoiados por Lula estão na frente, com exceção da PB, onde o governador Cássio Cunha Lima, lidera a corrida. Em Pernambuco, Eduardo Campos está com um pé no Palácio das Princesas, onde seu avô, Miguel Arraes, reinou por duas vezes. No RN, Vilma Faria liderou no primeiro turno e entra no segundo com grandes possibilidades de vitória. Mas Garibaldi Alves poderá surpreender na reta final. No Maranhão, Roseana Sarney virou as costas ao seu partido, o PFL, e encosta na campanha de Lula. No Sul, cai a diferença de Yeda Crusius (PSDB) para Olívio Dutra (PT). Em SC, Luiz Henrique (PMDB) também diminui a diferença para Esperidião Amin (PFL). DEBATES O primeiro debate entre Lula e Geraldo foi quente. O segundo, no SBT, foi morno. O terceiro, na TV Record, teve alguns graus de quentura. Geraldo apresentou um semitom abaixo da melodia que entoou na Band e Lula um semitom acima. Foi um empate com momentos bons e regulares para um e outro. Ninguém mudou o voto por conta desse debate, que terminou tarde. E o quarto, na TV Globo, como será ? As regras são tão rígidas que ameaçam esfriar o que deveria ser o mais quente debate na TV. REFORMA POLÍTICA P, eis a letra inicial do alfabeto das reformas. A reforma Política abrirá a agenda das reformas. E os políticos terão de cortar um pouco a própria carne. Tudo indica que o estatuto da fidelidade partidária receberá a primeira aprovação. NORDESTE MAIS FORTE Com Jacques Wagner (PT), governador da Bahia, Eduardo Campos (PSB), governador de Pernambuco, Cid Gomes (PSB), governador do Ceará, Marcelo Déda (PT), governador de Sergipe e Wellington Dias (PT), governador do Piauí e, possivelmente, Vilma Faria (PSB), governadora do RN, o governo Lula terá forte sustentação no Nordeste. O PT vai afundando as raízes no Nordeste onde o PFL reinava absoluto nos tempos de outrora. COMUNICAÇÃO GOVERNAMENTAL César Maia gosta mesmo de comunicação governamental. É um estudioso da comunicação política. Ontem, fiz a palestra brasileira no Encontro Internacional de Comunicação Institucional na Esfera das Capitais e Grandes Cidades da América Latina e Europa Ibérica. César Maia abriu o Simpósio, que reuniu os profissionais e assessores de comunicação das Prefeituras de Capitais e cidades latino-americanas. Um evento que expressa a preocupação dos administradores públicos com a comunicação no ciclo da Espetacularização do Estado. TARSO CRASSO O que deu em Tarso Genro, o maior intelectual do PT, para cometer o erro crasso de achar que há clima para golpe ? Pois é o que está dizendo, quando sugere que, a qualquer momento, poderá emergir do buraco uma figura assemelhada a um dos seqüestradores de Abílio Diniz, em 1989, vestido com a camiseta de Lula. Tarso Genro quer dizer que as oposições tramam um golpe. Quanta ingenuidade em uma cabeça, que, se supunha, pensasse política raciocinando sobre um país sem climas para golpismo. Só pode ser mesmo conversa eleitoral com pitada terrorista. O ministro, quando ainda estava no RS, mandou-me uma coleção de seus textos, que apreciei com gosto. Era um tempo em que o pensador superava o político. MARTA PENSA ALTO Não se pense que Marta Suplicy se entusiasma com a possibilidade de voltar a ser prefeita de São Paulo. A hipótese até pode ser considerada, mas em última instância. Ela pretende ser a novidade petista no segundo mandato de Lula. Quer um Ministério que lhe dê visibilidade nacional, algo que possa mexer com as capitais e grandes cidades. Isso mesmo, o Ministério das Cidades. Que será o pilar para Marta pensar nas alturas do Palácio do Planalto em 2010. Se não aparecer perfil mais avançado, ela terá condições de se apresentar como primeira mulher com possibilidade real de comandar a República. Claro, esse é o discurso do ego martista. LULA IRÔNICO Lula foi irônico no debate na TV Record. Chamado à atenção, voltou ao normal. Mas teima em colocar nas entrelinhas o discurso de pobres contra ricos. Mais adiante, o feitiço virará contra o feiticeiro. PMDB NAS DUAS CASAS ? Será muito difícil que o PMDB consiga comandar as duas casas congressuais, mesmo se tiver as maiores bancadas no Senado e na Câmara. É mais provável que Renan Calheiros faça melhor articulação entre os senadores que Gedel Vieira Lima ou outro peemedebista entre os deputados. O presidente Michel Temer vai reunir a Executiva do partido logo após o segundo turno. Para avaliação das tendências. QUEM ACREDITA NESSAS HISTÓRIAS ? Correm histórias, casos, "causos" e versões nas antecâmaras da política, dos Poderes e de suas autarquias. Uma delas, recente, dá conta de um major que esqueceu de levar uísque na viagem de uma alta figura. Foi xingado com palavras de baixo calão. Não conseguiu se conter. Quis partir para a briga. Foi contido. A vida do major virou um inferno. Acredite, se quiser, mas a história é contada com detalhes. Até por bocas de gente séria da diplomacia. ____________
quarta-feira, 18 de outubro de 2006

Porandubas nº 73

TERRORISMO PEGOU O terrorismo político que os petistas praticam contra Geraldo Alckmin pegou de verdade. Ao dizer que o tucano vai privatizar Petrobrás, BB e Caixa Econômica, Lula consegue sensibilizar a maior parcela de eleitores de Heloísa Helena e Cristovam Buarque. Os tucanos, em vez de defenderem o êxito da privatização do sistema Telebrás - responsável pela massificação dos celulares no país e a performance vitoriosa da Vale do Rio Doce, conforme acentua o próprio presidente da empresa, Roger Agnelli - preferem permanecer na negativa: não farão isso, não farão aquilo. Incompetência. PROGRAMA DE LULA É MELHOR O programa eleitoral de Lula na TV é bem melhor que o de Alckmin. Foca comparações entre seu governo e o de FHC. Mostra números, tabelas, ganhos e avanços. Se é chute ou não, o fato é que o programa é denso, pleno de conteúdos. A apresentação de Geraldo é uma colcha de platitudes, uma espécie de genérico sem vitamina. Coisas como: vamos investir pesado; vamos trabalhar duro; vamos aumentar empregos; melhorar a saúde; melhorar a segurança. Há números esparsos, soltos, sem nexo. Um show de generalidades. Um texto ruim que não convence. Convenhamos, a equipe técnica parece perdida. TUCANOS CONTRA NORDESTINOS Não bastasse o confronto entre pobres e ricos, que Lula tenta de maneira enfática inserir na cachola das massas, agora é a raiva dos tucanos contra nordestinos. Essa foi a tônica do discurso de Lula, nesse começo de semana, em Campina Grande (PB) e Mossoró (RN). Para os jornalistas, diz que governa para todos. Na TV, gosta de dizer que a classe média está comprando mais, uma inverdade, eis que o poder de compra da classe média diminuiu cerca de 10% nos últimos 4 anos. Mas os entrevistadores rotineiros do presidente não têm dados para questionar ou simplesmente passam a bola pra frente, preferindo fazer novas perguntas. E, de firula a firula, Luiz Inácio engorda a urna do presidente Lula. LULA MAIS PERTO DA VITÓRIA A duas semanas das eleições, só mesmo um evento de alta relevância poderá evitar a derrota de Alckmin. Por exemplo, a resposta à pergunta: "De onde veio o dinheiro ?" A PF quer dar respostas para a questão apenas depois do dia 29, quando a fatura eleitoral estiver liquidada. Se uma bomba explodir nas imediações da intimidade de Lula, antes da eleição, a coisa ficaria complicada. Difícil de ocorrer. TARSO CONTRA A ÉTICA ? Tarso Genro já foi mais comedido. Acaba de dizer que o povo brasileiro está saturado do discurso ético. Para um político com perfil de intelectual, a observação criou forte ruído. Inacreditável. Como se a corrupção, de tão banalizada, não mais merecesse denúncia. SENADO CONTRA LULA ? Se Lula ganhar o segundo mandato, terá um Senado mais oposicionista que situacionista. PFL, PSDB e PDT somam 38 cadeiras. O mínimo para um pedido de CPI é 1/3, ou seja, 27 senadores. CÂMARA A FAVOR Já na Câmara Federal, Lula terá o apoio de cerca de 360 deputados, ou seja, um rolo compressor que funcionará a favor do governo. Mas a articulação com os partidos abriga uma negociação que implica mais espaços e decisões sobre políticas públicas. ESTADO DESPETIZADO ? Lula ganhando, o PT terá menos quadros na administração federal. É o preço do novo mandato. Os petistas incrustados no governo deixaram muito a desejar, principalmente aqueles que estiveram por trás de maracutaias, mensalões e dossiês. MINISTRO NA BERLINDA O ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, segundo a revista Veja, estaria patrocinando a ação para tirar Freud Godoy, o segurança de Lula, do meio da fogueira. O ministro desmente categoricamente. A PF afirma que não houve encontro entre Gedimar, o homem da mala, e Freud. O tiroteio que, há algum tempo, abala o perfil do ministro talvez seja motivo mais que suficiente para deixá-lo sem ânimo para continuar no governo em eventual segundo mandato de Lula. E HELOÍSA HELENA, HEIN ? O que fará Heloísa Helena no futuro imediato ? Dar aulas na Universidade poderá ser a alternativa mais certa. HH não está morta. O sucesso na política exige que se trilhe um caminho com muitas curvas. TUCANADA ATRAPALHADA Eduardo Paes, o secretário geral do PSDB, perdeu a eleição para o governo do Rio de Janeiro, e apóia Sérgio Cabral, do PMDB, que, agora no segundo turno, apóia Lula. Geraldo Melo, presidente do PSDB do RN, perdeu a campanha para o senado, e agora apóia a candidata à reeleição, governador Vilma Faria, que apóia Lula. Tasso Jereissatti, presidente do partido dos tucanos, fez corpo mole na campanha de seu correligionário Lúcio Alcântara (PSDB), no Ceará, sabendo-se que torceu para a eleição de Cid Gomes (PSB), irmão de Ciro Gomes. Como é que Alckmin quer ganhar a campanha se enfrenta oposição dentro do próprio partido ? UM PAÍS AMARGURADO Seja quem for o presidente, comandará no início de 2007 um país profundamente dividido e amargurado. Lula caprichou no discurso da divisão de classes e dos interesses divergentes de regiões. Em entrevista, faz questão de dizer que governa para todos. Nos comícios, como os desta semana no Nordeste, patrocinou a exaltação de ânimos, a partir da recorrência ao conflito de interesses entre regiões. DINHEIRO CRIMINOSO ? Se o dinheiro para a compra do dossiê tem origem criminosa, como garante o presidente da CPI dos Sanguessugas, deputado Antônio Carlos Biscaia (PT), por que não se aponta logo a origem do crime ? A GUERRA DAS PESQUISAS A guerra das pesquisas recomeçou. A fatura já está sendo entregue de maneira desbragada por Institutos regionais. A fatura é do tamanho do pagamento. Infelizmente, dirigentes e pesquisadores inescrupulosos mancham esse instrumento democrático. Os grandes Institutos - Datafolha, Ibope - precisam calibrar ainda mais os seus métodos para evitar especulações. A onda crítica contra as pesquisas poderá se expandir, caso erros crassos sejam cometidos neste segundo turno. Já há quem defenda uma Agência reguladora para os Institutos. Um retrocesso. OS DEBATES Ninguém aposta em contundência discursiva nos próximos debates. Mas que haverá certo confronto, ah, isso acontecerá com certeza. O debate da TV Globo, dia 27, será o termômetro final. ____________
quarta-feira, 11 de outubro de 2006

Porandubas nº 72

ALCKMIN APIMENTADO I Que Alckmin ganhou o primeiro debate, poucos duvidam. A vitória teria sido maior se o discurso não fosse tão "paulistizado". Falou muito de São Paulo. Deveria ter expressado programas e ações para as regiões brasileiras. As poucas referências feitas - hospitais do Rio de Janeiro, recriação da Sudene no Nordeste - foram canibalizadas pelo resgate de sua ação administrativa em São Paulo. A crise da agricultura - a maior nos últimos 40 anos - o aperfeiçoamento dos programas sociais e mesmo a questão energética poderiam ter merecido mais atenção. Alckmin colocou Lula no canto do ringue nos dois primeiros blocos. O presidente sentiu os golpes. Reagiu, sim, mas passando a impressão de que estava tonto. ALCKMIN APIMENTADO II O debate não traz muitos votos aos contendores. O maior impacto se observa na consolidação das posições. Os eleitores de Lula se distanciaram ainda mais de Alckmin e vice-versa. Os indecisos, esses sim, são mais afetados. O tucano deve ter conquistado votos nessa faixa. Mas a repercussão positiva do debate poderá melhorar a imagem do tucano junto a setores médios. Define com mais precisão seu perfil, motiva as bases, coopta de vez as cúpulas partidárias engajadas na campanha e abre espaços na mídia. LULA SEM TREINAMENTO Para o candidato que é palanqueiro por excelência, o desempenho foi um desastre. Lula quase não se dirigiu ao telespectador, quase não olhou para as câmeras, fez gestos e caretas - bem flagradas - de quem não estava gostando. O maior mérito de Geraldo foi colocar a agenda tucana sobre a agenda petista. Conduziu o debate, não foi conduzido. Lula mostrou-se enferrujado. O melhor orador das massas sentiu faltar discurso na goela. Não foi eficaz inclusive quando entrou no terreno da ironia. PEGADINHAS Pior foi entrar nas pegadinhas geraldinas. Quando Alckmin se referiu à crise do mensalão, lembrando a denúncia de Roberto Jefferson, usou o termo "compra de deputados". Aí Lula, escorregando na resposta, disse que a "compra" criminosa de deputados começou no governo FHC. Logo, reconheceu ter havido compra. Quando o tucano se referiu ao Aerolula, dizendo que, eleito, venderia o avião para fazer hospitais, Lula, irritado, caiu na armadilha, usando o mesmo termo negativo "Aerolula". Mas a irritação maior ocorreu quando Geraldo criticou o uso sigiloso dos cartões corporativos. A GRANDE PERGUNTA De onde veio o dinheiro? Eis aí a pergunta-chave que ditará o discurso das próximas semanas. AÉCIO, O FATOR DECISIVO PARA ALCKMIN Aécio Neves se apresenta, a cada dia, como o fator decisivo para uma eventual vitória de Geraldo Alckmin. Promete dar ao candidato tucano 60% dos votos válidos de Minas Gerais, um colégio eleitoral de 13 milhões. Geraldo teve naquele Estado 40% dos votos e Lula 50%. Esta semana, mobiliza 300 prefeitos em apoio ao tucano. Quer se mostrar mais eficaz que José Serra em São Paulo. JACQUES WAGNER, O FATOR DECISIVO PARA LULA Jacques Wagner, uma das maiores surpresas destas eleições, promete dar a Lula 80% dos votos da Bahia, colégio eleitoral de 10 milhões de eleitores, o quarto maior do País. Se isso ocorrer, Lula expandirá a votação no Nordeste, decisiva para sua eleição. ACM quer dar o troco, dizendo que vai melhorar a performance de Geraldo no Estado. Será uma briga de gigantes. A conferir. DELFIM, O FIM ? Por que Delfim Netto não se elegeu deputado federal? Já se disse que foi derrubado por Orestes Quércia, que quase acaba com o PMDB em São Paulo, com seu desempenho de menos de 5% dos votos. Mas há outra explicação. Delfim aderiu a Lula. Tirou fotos com Lula. O eleitorado tradicional do ex-ministro da Fazenda sentiu-se atraiçoado. Delfim jamais poderia ter aderido ao governo Lula, identificado que é com a mais refinada elite empresarial paulista. Que deu o troco. O voto de opinião delfinista desapareceu. DINHEIRO DO BICHO ? E se o dinheiro para a compra do dossiê veio mesmo do jogo do bicho, que bicho vai dar na semana antes do pleito de 29 de outubro ? Se der bode, será bode expiatório. Nesse caso, Lula estará seriamente ameaçado. Mas se for zebra, nesse caso Lula se salvará. Porque a zebra, na mata do dossiêgate, significaria algo como: "o dossiê foi armação para prejudicar Lula". Façam suas apostas. FREUD INOCENTADO ? Freud Godoy, o segurança de Lula, voltou à mídia. Nos últimos dias, a nota recorrente é a de que é inocente. Foi carimbado por Gedimar Passos, o homem que teria providenciado o dinheiro. Onde está a verdade ? VOTOS DE HELOÍSA E BUARQUE Cerca de 70% dos votos de Heloísa Helena e Cristovam Buarque deverão entrar na urna tucana. O restante irá para Lula e uma parte, menor, seguirá para a lata dos votos nulos. ACIRRAMENTO NO PR E RN Duas campanhas de segundo turno serão muito acirradas: PR e RN. No Paraná, Requião, do PMDB, disputa com Osmar Dias, do PDT. Estão, hoje, empatados em 45%. No RN, Vilma Faria, a governadora do PSB, disputa com o senador Garibaldi Alves, do PMDB. Estão igualmente empatados. A decisão virá dos votos de Natal (capital), Mossoró (a maior cidade) e Parnamirim, o terceiro maior colégio eleitoral, onde o prefeito Agnelo Alves, tio de Garibaldi, promete dobrar a votação do peemedebista. A conferir. NIVELAMENTO POR BAIXO O ministro Hélio Costa, das Comunicações, tentando sensibilizar os colegas de Ministério, lembrou que eles não são funcionários concursados, não são técnicos e, portanto, se Lula perder, eles também perderão os empregos. Baixo nível. Linguagem de apelação. CAMPOS MAIS PERTO DA VITÓRIA O deputado Eduardo Campos (PSB), ex-ministro de Lula e sobrinho de Miguel Arraes, está mais perto da vitória em Pernambuco. O pefelista Mendonça Filho, que tem o apoio do senador eleito Jarbas Vasconcelos, do PMDB, ameaça roer as cordas. O vice de Geraldo, José Jorge (PFL), pode amargar uma derrota em seu Estado. PRÓXIMOS DEBATES O saco de agressões ficou cheio no primeiro debate. Os próximos, apesar de contundentes, deverão aprofundar temáticas como segurança, educação, energia, saúde, transportes, assistência social. Os candidatos precisarão, agora, demonstrar conhecimento de causa. O MELHOR DEBATE O debate da TV Bandeirantes foi o melhor evento da temporada eleitoral. Mais que isso: foi o acontecimento político mais acirrado dos últimos tempos. PF NA BERLINDA A Polícia Federal está diante do dilema: dar a resposta para o dossiêgate antes ou depois do segundo turno ? Se a resposta vir antes, prejudicará Lula. Se o imbróglio for desvendado um dia depois do segundo turno já não servirá para Geraldo Alckmin. O que fazer ? As duas bandas da PF devem estar nervosas. IMPRECISÕES O primeiro debate foi também um show de imprecisões. Dados errados. Informações manipuladas. Abordagens desvirtuadas de ambas as partes. Questão: se um candidato quiser anular o outro, mostrando inverdades, o outro anulará o primeiro usando a mesma arma. Vai dar empate na soma dos erros. O BRASIL DIVIDIDO A impressão pode não ser correta, mas o debate entre Lula e Geraldo mostrou dois discursos: um, dirigido ao Brasil que mais paga; outro, voltado para o Brasil que mais recebe. Isso é muito ruim. Dois Brasis afastados, duas bandas que se distanciam. Um corpo só dilacerado. INSEGURANÇA Ninguém, em sã consciência, poderá dizer que Lula ganhará a campanha. Ninguém, no uso do senso, poderá garantir que Geraldo será o vitorioso. A insegurança é total. Dos candidatos, das bases, das cúpulas e também dos analistas. Inclino-me a dizer que, pela lógica aritmética, o vento ruma na direção de Geraldo, considerando-se a vantagem teórica que tem em SP, MG, RS, SC e PR. Mas Lula poderá comprovar a velha regra da política: tudo pode ocorrer. Principalmente se estourar o balão no Nordeste. DELEGADO OU ADVOGADO ? Lula comparou Geraldo a um "delegado de porta de cadeia". Pelo que se sabe, a expressão é usada para definir um tipo de advogado, geralmente o profissional que inicia a dura vida no ramo da advocacia. O delegado geralmente despacha em sua sala na Delegacia. ____________
quarta-feira, 4 de outubro de 2006

Porandubas nº 71

ALCKMIN 1 Geraldo Alckmin está mais perto de uma vitória do que de uma derrota. Claro, se a aritmética fosse o maior parâmetro para balizar uma campanha. São Paulo, com 28 milhões de votos, e Minas Gerais, com 13 milhões, somam 41 milhões de votos. Há dois meses, a distância que separava Lula de Alckmin, em Minas, era em torno de 25%. Perdeu por 10 pontos percentuais. Aécio teve 77% dos votos válidos de Minas. Há, portanto, amplas condições para o tucano ganhar esses pontos ou mesmo ultrapassar Lula. Em SP, Serra teve quase 58% dos votos válidos, enquanto Alckmin teve 54%. Com mais 4 pontos, igualando Serra, ou mesmo ultrapassando esse índice - o que não é difícil - Geraldo ultrapassaria Lula em 7 pontos percentuais. ALCKMIN 2 Há, ainda, o Sul, onde Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Paraná têm 15% dos votos do país. Geraldo venceu nessa região, com 22 pontos na frente de Lula no RS, 15 pontos no PR e 23 pontos percentuais em SC. Ora, as campanhas serão intensamente polarizadas. Yeda Crusius, tucana, uma surpresa, poderá levar a melhor no RS, aumentando a vantagem; em SC, Luiz Henrique é o favorito e vota em Geraldo. No Paraná, Requião é favorito e vota em Lula. Mas a polarização e federalização da campanha deverá melhorar a posição do senador Osmar Dias, candidato ao governo pelo PDT, que perdeu o primeiro turno por apenas 4 pontos. Ou seja, Geraldo deverá aumentar seu cacife na região. LULA 1 Lula precisará reforçar suas posições onde perdeu. Mas deverá encontrar fortalezas comandadas por Serra e Aécio e mais os prováveis vencedores do segundo turno na região Sul. Por isso, restará a Lula expandir sua votação no Nordeste. Tem dois grandes comandantes na região: Jacques Wagner que ganhou de maneira surpreendente na Bahia, derrotando o carlismo (ACM) e Ciro Gomes, no Ceará, eleito com a maior votação proporcional do Brasil. LULA 2 Mas o Nordeste todo tem um pouco mais do que a votação do Estado de São Paulo. Lula terá ainda muitas dificuldades, porque os candidatos que colaram a imagem nele não esperavam segundo turno. E os adversários não pediam votos para Alckmin, temerosos de uma derrota deste. Agora, os campos serão melhores definidos, cada candidato pedindo votos para um lado e para outro. Neste caso, a vantagem de Lula diminui. LULA 3 Teremos uma luta muito sangrenta. Vai haver uma guerra de dossiês. E os discursos deverão ganhar tons acima da escala. No primeiro momento, Alckmin ficará no ataque e Lula na defesa. Depois, Lula deverá partir para a briga mais feroz. As pesquisas qualitativas avaliarão os ânimos eleitorais. O voto dos pobres nunca esteve tão distanciado dos votos das classes médias. Ancorado nessa situação, Lula tentará se aproximar do meio da pirâmide social. Haverá tempo? Geraldo, por sua vez, deverá prometer aperfeiçoar a rede de proteção social. SURPRESAS Surpresa número 1: a eleição do petista Jacques Wagner, na Bahia; surpresa número 2: a posição de Yeda Crusius, no RS, para o primeiro lugar, deslocando Germano Rigotto para a terceira posição. Disputará com Olívio Dutra, do PT, e é a favorita; surpresa número 3: a grande votação, quase encostando no senador Suplicy, de Guilherme Afif Domingos, em São Paulo; surpresa número 4: o segundo turno no Paraná, onde se esperava que Requião levasse a melhor no primeiro turno. RORAIMA E AMAZONAS A maior vitória de Geraldo, em termos proporcionais, ocorreu em Roraima, onde conseguiu quase 60% contra 26% de Lula. E a maior vitória de Lula, em termos proporcionais, foi no Amazonas, onde ganhou de 78,07% contra 12,45%. MENSALEIROS E SANGUESSUGAS 6 dos 50 parlamentares sanguessugas voltarão ao Congresso; 5 dos 11 mensaleiros absolvidos pelo plenário da Câmara voltaram. Severino Cavalcanti, que prometia voltar em grande estilo, rodou. Delfim Netto, que saiu do PP para o PMDB, fica em casa. Valdemar Costa Neto, que renunciou ao mandato, ganha nova chance. A CULTURA POLÍTICA, COMO ELA É... Clodovil, o costureiro que agora vai tentar costurar o tecido político, revela a primeira grande aspiração: conhecer o ambiente do novo emprego, como chama. E chegará criticando o "terno de tergal" dos políticos. Vai chegar chiquérrimo. Levará, ao lado, um coronel de 70 anos, Paes de Lira, que teve 6.673 votos, puxado que foi pela votação de 493.951 votos. Um voto meio cacareco-televisivo-emotivo-debochado. A cultura política tupiniquim tem dessas coisas ... hilariantes e extremamente exóticas. E O SENADOR COLLOR, HEIN ? Como será a reapresentação do senador Fernando Collor ? O passado virá à tona ? E como será o engajamento de Collor na campanha de Lula, a quem já aderiu ? SERRA E AÉCIO Serra e Aécio se enfrentarão numa queda de braço. Ambos querem demonstrar mais força na alavancagem de Geraldo. O COMPROMISSO Os dois governadores tucanos esperam que Geraldo, caso vença, cumpra o compromisso tácito: queimar a reeleição e implantar um mandato de 5 anos. Como isso pode ocorrer se foram os tucanos que a criaram ? Sugestão que Alckmin poderá adotar: colocar o tema para a decisão do povo por meio de plebiscito ou referendo. A PROPAGANDA É VISTA A propaganda eleitoral está entre os cinco programas mais vistos da TV. No segundo turno, a audiência crescerá. O debate terá picos de audiência. Que os candidatos se preparem e ... se benzam. Amém! NO RN O segundo turno mais imprevisível ocorrerá no RN, onde disputam Vilma Faria, do PSB, atual governadora candidata à reeleição, e o senador Garibaldi Alves, do PMDB. Diferença de menos de dois pontos. Vilma está na frente, mas Garibaldi elegeu o senador. Interessante... AS PESQUISAS A campanha passou um bom tempo na geladeira. Quando isso ocorreu, as pesquisas detectaram muito bem a intenção de voto. Quando a campanha saiu do congelador para o forno quente da boca-de-urna, muitas pesquisas deram com os burros n'água. Mesmo Institutos como o Ibope caíram do cavalo. Rio Grande do Sul e Bahia estiveram longe dos acertos das pesquisas. Carlos Augusto Montenegro, o sério e atento dirigente do Ibope, deverá dar uma adequada explicação para o fato de as pesquisas não detectarem os últimos movimentos nervosos que se passam na moldura cognitiva do eleitorado. Haja dissonância....! O PMDB DIVIDIDO Renan e Sarney farão campanha do segundo turno para Lula. Michel Temer, Garotinho, Luiz Henrique e Jarbas Vasconcelos, entre outros, se desdobrarão para dar a vitória a Alckmin. Como sempre, o PMDB come nas duas beiradas. UMA AULA DE CIVISMO O Brasil deu uma aula de civismo e democracia. Mesmo levando alguns perfis manchados para o Congresso. A democracia não é um sistema perfeito. Mas ainda é o melhor sistema. Com já dizia Churchill: "Ninguém pretende dizer que a democracia seja perfeita ou sem defeitos. Tem-se dito que a democracia é a pior forma de governo sobre todas as demais formas que se têm experimentado; todavia, ainda não se criou melhor governo que o democrático." ____________
quinta-feira, 28 de setembro de 2006

Porandubas nº 70

SEGUNDO TURNO Se a lógica não for derrubada pela insensatez, a campanha presidencial ganhará o caminho do segundo turno. Lula consegue se proteger no escudo do Bolsa-Família, que abriga um universo de 45 milhões de pessoas. Escândalos em série explodem a seu redor, consumindo na fogueira da corrupção seus mais próximos assessores e amigos. Nada disso parece inquietá-lo. Mas o efeito pedrinha no meio da lagoa fazendo marolas até as margens dará o recado. A questão é o tempo. Será que a indignação com o dossiêgate chegará nas classes C, D e E? A pesquisa Ibope de ontem flagra esta situação. DEBATE NA GLOBO A última tentativa de Geraldo Alckmin de consolidar a ida para o segundo turno será o debate na TV Globo, hoje à noite. Se Lula comparecer, será bombardeado. Se não comparecer, idem. Terá de avaliar a menor perda. Sem dúvida, o comparecimento é a melhor alternativa, na demonstração de que não está encolhido. A conferir. O PAÍS DIVIDIDO Seja qual for o resultado eleitoral, o próximo presidente - com maior probabilidade para Lula - comandará um país cindido. Entre o voto do pobre e o voto do eleitor de classe média, o fosso é enorme. O maior desafio do mandatário será unir as duas bandas do país. DEBATES ESTADUAIS Terça-feira, a TV Globo promoveu os debates nos Estados, reunindo candidatos a governador. Candidatos que estão em grande vantagem não compareceram. O balanço geral mostra que, entre perdas e ganhos, todos se igualaram. Não houve um grande vencedor nem um grande derrotado. E quem não compareceu também não perdeu. TSE AGIRÁ COM MAIS RIGOR Políticos que têm contas a pagar na Justiça costumam limpar a ficha após as eleições, principalmente, se são vitoriosos. Desta feita, o TSE não deixará por menos. Candidatos vitoriosos poderão até ser impugnados. A Justiça é lerda, mas a Justiça Eleitoral quer mostrar que cumprirá rigorosamente sua missão. Lula, inclusive, tem coisas a dizer à Justiça. A conferir. AS BANDAS DA PF A conversa corre: a PF está dividida em duas bandas. A banda tucana quer mostrar resultados apurados do dossiêgate antes do domingo. A banda petista está segurando a onda. Já se sabe de onde vieram os dólares e onde foram aportar. Nos próximos dias, a Financeira paulista que os recebeu apontará os beneficiados. A entrada foi legal, mas e a saída? CRIMINALISTA NA JUSTIÇA Que o ministro Márcio Thomaz Bastos é um dos mais respeitados advogados brasileiros, disso não há dúvida. O Brasil tem um corpo de advogados criminalistas da melhor estirpe. Perfis que honram a galeria da advocacia internacional. Urge também dizer que o ministro Márcio desenvolve programa importante, a partir do reequipamento da PF. Mas o ministro Paulo Brossard, ex-ministro da Justiça e ex-ministro do STF, com sua picardia, faz uma observação curiosa. Os ministros da Justiça são geralmente grandes constitucionalistas. O governo Lula decidiu colocar ali um criminalista. Sem maiores comentários. ALIANÇAS PAULISTAS Se alguém tinha dúvidas, elas desapareceram após o debate entre os candidatos a governador na Rede Globo. Serra e Apolinário mostraram unidade de pensamento no ataque a Mercadante. Já Orestes Quércia e Aloizio Mercadante fizeram coro contra José Serra. A surpresa ficou por conta de Quércia. Em vez de lutar pelo segundo lugar, tentando ultrapassar Mercadante, faz agora o papel de linha-auxiliar do candidato petista. Indicação do apoio à Lula. OS NOVOS GOVERNADORES O PMDB deverá eleger entre 9 e 10 governadores, o PSDB, entre 5 e 6 e o PFL, entre 4 e 5. A maior dúvida do PMDB é no RN, onde o candidato, senador Garibaldi Alves, está sendo apertado pela candidata do PSB, a governadora Vilma Faria. As maiores votações irão para os tucanos, que elegerão Serra, em São Paulo, e Aécio Neves, em Minas. Os dois colégios eleitorais somam 41 milhões de votos. O PT fará os governadores do Acre, Piauí e Sergipe. E disputa bem no RS. E SE HOUVER SEGUNDO TURNO, HEIN? Se houver segundo turno e se a dinheirama do dossiêgate for descoberta - nomes, quantias, confabulações etc. - o visível nervosismo do presidente Luiz Inácio subirá a montanha. E Geraldo, vale inferir, passará a ter fortes chances. MAS E O POVO, HEIN? Mas, como reagirá o povo ? Como reagirão os movimentos sociais que recebem recursos do governo ? NA BOCA DA URNA Há candidatos nos fundões do norte do país que preparam fortes esquemas de boca de urna. Um deles, senador da República, é especialista em irrigar as ruas com dinheiro. Mas os Tribunais Eleitorais e o Ministério Público estão de olho. DUAS GRANDES VIRADAS Dois candidatos deram uma virada no páreo. Em Tocantins, Marcelo Miranda, do PMDB, passou o velho Siqueira Campos. E em Alagoas, o tucano Teo Vilela passou João Lira, usineiro rico que estava folgado na dianteira. Em Pernambuco, com a derrocada do candidato Humberto Costa, petista e ex-ministro da Saúde, melhora bem a situação do candidato pefelista Mendonça Filho. Resta saber se o neto de Miguel Arraes, Eduardo Campos, do PSB, consegue avançar e jogar a campanha no segundo turno. A CAMPANHA MAIS CÍVICA Mesmo com a aparente distância do povão do processo político, esta campanha se apresenta como a mais cívica. Há um sentimento de que o voto de 1º de outubro será decisivo para colocar o país no rumo do futuro ou deixá-lo patinando na mesmice da velha política. ____________
sexta-feira, 22 de setembro de 2006

Porandubas nº 69

MAROLAS DEMORARÃO O dossiêgate não causará abalos sísmicos na posição de Lula. A explicação é simples: a base da pirâmide social soma 70%; o meio da pirâmide, 25%, e o topo 5%. O meio está com Geraldo, mas Lula leva rebarbas. A base quase toda está com Lula. E o andar do topo é curto em votos. Quando as marolas feitas pelo meio chegarem às margens, Lula já estará eleito. Agora, se a massa informativa agregar novos escândalos - envolvendo diretamente a figura presidencial - aí, sim, a queda acentuada do presidente passa a ser considerada. PT VERSUS PT O maior adversário do PT, ao longo de uma história de quase três décadas, é o PT. O acervo negativo que o Partido acumula começa com o despreparo dos quadros. Lula levou um contingente despreparado para funções importantes na estrutura governamental. O deslumbramento ofuscou a visão. Parcela dos quadros veio do sindicalismo. Não se fez planejamento. Para garantir o futuro, as negociatas e acordos espúrios se multiplicaram. Deu no que deu. Mas o PT não está morto. Tem sangue de sobra para gastar. PMDB MAIS FORTE Novas projeções começam a ser feitas. O PT esperava continuar com a maior bancada na Câmara Federal. O mais recente escândalo deve lhe tirar bons votos. Mesmo assim, fará uma bancada perto de 70 parlamentares. A conferir. 5 PONTOS PERCENTUAIS Basta 5 pontos percentuais para a campanha entrar no segundo turno. Lula teria de perder 5 enquanto Alckmin precisa avançar 5 passos. Não será fácil, mas não é de todo improvável. A partir de hoje, os horizontes da nova crise mostrarão o movimento das nuvens. SERRA CONSOLIDADO É verdade que Mercadante estava em escala ascendente. Subiu 5 pontos em duas semanas. Agora, a projeção é a de estática e mesmo perda de alguns pontinhos. Consolida-se a posição de José Serra. CRISE MAIS ADIANTE Lula eleito, crise em ebulição. Este é o primeiro desenho que se faz após o impacto inicial do dossiêgate. As oposições ganharam novo ânimo. Lula entrará no segundo mandato com um pé na lama e outro na estrada esburacada. O SANGUE SUGADO Na Paraíba, o senador Ney Suassuna (PMDB), envolvido na operação sanguessuga, teve o sangue eleitoral sugado. Baixou o índice do candidato ao governo, José Maranhão (PMDB), e deu corda ao adversário, Cícero Lucena, tucano candidato ao Senado. A crise afeta, sim, candidaturas. LULA, UM INGÊNUO É muita ignorância de uma vez só. Lula não sabia de mensaleiros. Lula nunca tomou conhecimento de sanguessugas. Delúbio, o amigo, foi defenestrado. José Dirceu e Palocci, amigos, saíram, o primeiro cassado. Agora, o segurança e o churrasqueiro do presidente, muito amigos, são flagrados com a mão na botija. E o presidente, mais uma vez, apela para a perplexidade. É muita ingenuidade.....Quem acredita nisso, levante a mão... Nenhum dos presentes. E O PROJETO BRASILEIRO ? Quem viu, até o momento, o projeto brasileiro apresentado por um dos candidatos a presidente da República ? Os tais Planos de Governos não passam de metas setoriais, desconexas. Não se espere muita coisa do novo mandatário. Veremos mais do mesmo nas páginas do amanhã. E OS DÓLARES ? Vamos aguardar a origem dos dólares do dossiêgate. Estará aberta a pista dos autores da façanha. PROPAGANDA VELHA A programação eleitoral é um retrato velho na parede. Fulano fez, fulano fará mais. Sicrano é assim e será melhor. Filmes vistos, passados conhecidos, expressões rotas, imagens da velha política. O NOVO ? DEBATES O que poderia ser diferente na programação eleitoral ? Debates em todos os programas. Cada programa seria dedicado a um tema específico. Segurança, por exemplo. No mesmo espaço, os candidatos apresentariam suas propostas para equacionar as questões relativas ao tema. O eleitor conheceria melhor perfis e analisaria os posicionamentos. RISCO E MÍDIA A campanha do PT, sob o aspecto da organização, é exemplar. Tinha, até, uma área de "risco e mídia", comandada pelo churrasqueiro da Granja do Torto, Jorge Lorenzetti. Mas o homem da carne não previu nenhum risco com a compra de um dossiê para "queimar" adversários. Saiu chamuscado. NO RIO Chama a atenção o crescimento da candidata Denise Frossard (PPS) ao governo do Rio de Janeiro. Passou o pastor Marcelo Crivella (PRB), apoiado por Lula. NO RN O apoio de Lula a candidatos ao governo de alguns Estados não tem sido eficaz como se esperava. No Rio Grande do Norte, Vilma Faria (PSB), a governadora, esperava ultrapassar o senador Garibaldi Alves (PMDB) na reta final. Usa todos os dias a imagem do "Santo Lula" para subir a escada das pesquisas. Mas está atrás entre 5 a 7 pontos percentuais. EM RORAIMA Em Roraima, o candidato Romero Jucá (PMDB) tem 20% das intenções de voto contra Ottomar Pinto (PSDB), que tem 70%. Jucá entrou em desespero e partiu para a agressão, colocando no ar fitas antigas que mostram Ottomar sendo atacado por atuais correligionários. As pesquisas de ressonância apontam: quanto mais bate, mais Jucá desce na escada das pesquisas. SARNEY APERTADO José Sarney (PMDB), senhor todo poderoso do Maranhão, escolheu Amapá como o Estado para fazer política. Elegeu-se senador por esse Estado do Norte com muita folga. Mas, nesta campanha, está sendo apertado por Cristina Almeida (PSDB). A luta é de 47% contra 40%. Se Sarney perder, uma viga mestra do PMDB governista cai por terra. QUEM ENXERGA CÉU AZUL ? Olhem para o Céu. Está azul ou cheio de nuvens ? Nuvens plúmbeas, densas ou esparsas ? De acordo com a visão, favor avisar a Lula ou a Alckmin. Ou, se for o caso, a ambos.______________
quarta-feira, 13 de setembro de 2006

Porandubas nº 68

A CARTA DE FHC Fernando Henrique conseguiu o que queria com a carta que escreveu para a militância do PSDB: 1) voltar ao palco como principal crítico de Lula; 2) jogar a isca para o PT/Lula fisgá-la e criar polarização; 3) habilitar-se ao comando do partido mais adiante; 4) preparar terreno para José Serra no pleito de 2010; 5) decifrando os itens: FHC não quer se aposentar da política tão cedo. Prefere Serra a Aécio, que considera imaturo. Lava as mãos para uma eventual derrota de Geraldo Alckmin, como a dizer: bem que eu disse que vocês precisariam acender a fogueira. O fogo veio tarde. A CAMPANHA TUCANA Bem que Alckmin tem se esforçado. Corre de um lado e de outro. Começou a bater forte. Mas chegou tarde. Ele sempre acreditou que poderia ganhar a campanha presidencial apenas com um programa de TV. Falta-lhe uma visão estratégica do país. Um plano para abrigar os interesses nacionais. Um discurso de mobilização nacional. Uma expressão de estadista. É ineficaz o discurso: "Vamos fazer um grande programa de obras para gerar empregos". É esse tipo de platitude que se ouve dele. Onde estão os grandes temas, os grandes números, a grande mobilização ? LULA LÁ DE NOVO A classe média-média está longe de Lula. Perdeu poder de compra. O refluxo de classe média começou bem antes, desde o Plano Real de FHC. Já deixaram a classe média - foram expulsos - cerca de 5 milhões de pessoas na última década. A classe média votou em Lula contra FHC, enquanto parte do povão elegia FHC. A coisa se inverteu. E Lula, agora, tenta recuperar o voto da classe média. Mas amacia o colchão social, aumentando de 8 para mais de 11 milhões as famílias assistidas com o Bolsa-Família. Este voto está consolidado. Não haverá tempo para a indignação da classe média chegar até às margens sociais. Lula lá de novo é um slogan perto de se tornar realidade. SE AÉCIO QUISESSE Minas Gerais, sozinho, com 13 milhões de votos, poderia levar a campanha para o segundo turno. A cartada de FHC deixou Aécio Neves cabreiro. Agora é que não fará mesmo campanha para Alckmin. A hipótese de que o neto de Tancredo venha para o abrigo do PMDB ganha ampla condição de viabilidade. A conferir. TASSO SEM COMANDO Tasso Jereissatti, o presidente dos tucanos, demonstra não mandar no partido. Está isolado no interior do Ceará. E a tucanada está dispersa na floresta. O PFL NA OPOSIÇÃO MAIS FORTE O PFL já começa a ensaiar passos no sentido do oposicionismo mais feroz. Será o partido mais integrado da oposição. Passando o comando para o deputado Rodrigo Maia, o senador Jorge Bornhausen espera dar um choque de gestão e inovação. A tendência do PFL é a de se afastar do PSDB logo após as eleições. PMDB UNIDO OU MAIS DIVIDIDO ? José Sarney e Renan Calheiros, os senadores que querem levar de bandeja o PMDB para Lula, poderão vender, mais uma vez, gato por lebre. A parte oposicionista do partido, mais afinada com os princípios éticos, comandada pelo deputado Michel Temer, vai resistir aos salamaleques lulistas. Temer fará um esforço extraordinário para unir o partido. Se o PMDB decidir apoiar o governo, que o faça de maneira completa, participando também da definição de políticas e programas e não apenas por meio de ocupação fisiológica de cargos. É assim que pensa o atual presidente do partido. Essa era a concepção que pregava em dezembro de 2002, quando estabeleceu o acordo para o PMDB ingressar no governo. Mas Lula vetou a idéia, preferindo negociar com os partidos médios e pequenos. Um a um, na boca do Caixa. Deu no que deu. PROGRAMAS POUCO AFETAM A programação eleitoral no rádio e na TV já não gera impactos como antigamente. As razões: 1) a banalização da criminalidade na área política e a expansão da descrença geral; 2) a semelhança dos programas - obreirismo, auto-louvação, críticas, roteiros que propiciam o fenômeno "canibalização recíproca"; 3) a agonia lenta da esperança - chama que se apaga nos corações nacionais. Em relação à campanha de 2002, constata-se uma queda de 12% nos índices de audiência na programação eleitoral. REVISÃO DE PREVISÕES Previa-se que o PT iria conseguir eleger uma bancada com 50 a 55 deputados. Revisão na projeção: poderá fazer 75 parlamentares ou até mais. E quem puxa o carro eleitoral da campanha proporcional é a locomotiva de Lula. O PT terá uma forte bancada nordestina. Perderá espaço em São Paulo. O partido que já foi dos trabalhadores e dos intelectuais, ganha cores de partidão tradicional de grotões fisiológicos. Mas quem irá se incomodar com isso ? O que vale é voto. E no Congresso Nacional, não se distingue voto melhor ou pior. A FOGUEIRA DE UBIRATAN, O AGUIAR Como esta Coluna já avisara, há uma fogueira pronta para ser acesa na floresta de documentos sob domínio do ministro cearense Ubiratan Aguiar, do Tribunal de Contas da União. E o fogo poderá ser aceso com a palha dos cinco milhões de cartilhas encomendadas pela SECOM, das quais dois milhões teriam sido entregues diretamente ao PT. Que vai sair fogo, ah, isso sim. A dúvida é sobre a intensidade da fogueira e a quantidade de água que o governo despejará para acalmar as chamas. UBIRATAN, RETA FINAL Uma cortina de mistério cerca o assassinato do Cel. Ubiratan Guimarães, deputado do PTB paulista. Conhecido por ter comandado o massacre do Carandiru, quando morreram 111 presos, o deputado portava o número 14.111 como candidato, supostamente uma alusão ao passado. Um número cabalístico ? Um perfil de alto risco ? Uma vida atormentada ? Um crime passional ? As dúvidas se cruzam na reta final do destino. IBOPE O IBOPE virou sinônimo de credibilidade nos Estados. Não propriamente em função da metodologia das pesquisas que faz, mas por força da divulgação dos resultados apurados na TV Globo. A rodada de pesquisas a ser veiculada, a partir do dia 15 de setembro, será importante fator de agregação e mobilização de muitas campanhas. Diz-se, até, que o futuro de alguns candidatos está atrelado às pesquisas do Ibope. Tem muito exagero nessa história. Mas não se pode negar que IBOPE e Rede Globo, juntos, são verdadeiros tsunamis para algumas campanhas claudicantes. ____________
quarta-feira, 30 de agosto de 2006

Porandubas nº 67

LULA CONSOLIDA POSIÇÃO Lula consolida posições. Para a campanha pegar a carreira do segundo turno, serão necessários uns 8 milhões de votos a diferença, cerca de 8% dos votos que devem ser tirados da urna lulista. É muito difícil, mas não impossível. Heloísa Helena dá sinais de queda do 10o andar do edifício eleitoral para o 8o andar. Geraldo está entre o 25o e o 27o andar. E Lula já ultrapassou a faixa dos 51%. Alckmin precisa subir 10 andares para ter direito a contemplar novos horizontes. ALMOÇO PARA O TUCANO Poderá Geraldo Alckmin encontrar a estrada do segundo turno ? Conseguiria com discurso mais quente e campanha mais organizada. No almoço organizado por João Doria Jr., fez um discurso vibrante e competente. Com certeza, o melhor de sua campanha. Mas o discurso ficou restrito a um eleitorado fiel. O tucano está gelado na TV. Discurso para classe média. Não chega no povão. Será que as pesquisas qualitativas não flagram essa distorção UMA BOMBA ? Colóquios gerais : para Alckmin entrar no páreo, só mesmo uma bomba. Tasso Jereissati procurou por essa bomba nos documentos sigilosos do Tribunal de Contas da União, mas não a encontrou. Ou melhor, o ministro cearense, Ubiratan Aguiar, não quis mostrar-lhe. Dizem que há explosivos por lá no baú dos cartões corporativos. Guardados a sete chaves. Não há ninguém disposto a mostrar a pólvora. E quanto mais Lula sobe, mais escondida estará. SERRA Confortável no alto patamar de seus índices, José Serra se permite não comparecer a debates na TV (como o debate da TV Bandeirantes, segunda-feira) e a eventos para seus correligionários, como o almoço oferecido a Geraldo Alckmin, terça-feira, no Jockey Club de São Paulo, que contou com a presença de Fernando Henrique, do governador Cláudio Lembo e do prefeito Gilberto Kassab. Serra também está consolidando posições. Lula não está conseguindo alavancar a candidatura de Mercadante. QUÉRCIA PARADO Orestes Quércia também dá sinais de estagnação. Poderia levar a campanha para o segundo turno. Comenta-se que a chapa Lula-Quércia poderia ser incentivada, caso Mercadante dê sinais de cansaço. O eleitorado parece apático, indiferente, amorfo. Dizem que após a parada de 7 de setembro, os horizontes ficarão mais claros. REGIÕES As únicas regiões do País mais envolvidas no clima eleitoral são Sul e Centro-Oeste. Possivelmente, por conta dos danos da seca e do aperto no agronegócio. Sente-se aí um eleitorado mais participativo e consciente. No resto do País, até parece que mensaleiros e sanguessugas são coisas do passado. SEGUNDO MANDATO - COMO SERÁ Cenários e dúvidas à vista para um segundo mandato de Lula : crise começando mesmo antes do fim do ano, com divisões no PT e adjacências; cooptação do PMDB para a base governista; partido continuará rachado ? Dificuldades com os desajustes da economia gerados pelo rombo do orçamento; tensões ocasionadas pelas dúvidas: mais para a esquerda e inclinação para os movimentos populares ? Continuidade na política macroeconômica ? Governo liberto do PT e mais envolvido com o centrão ? Compromissos mais sérios com o crescimento econômico; freio de mão no Bolsa-Família para efeito de equilíbrio nas contas da área social; ministério mais apolítico. As indicações, mesmo ligeiras, correm nas interlocuções de grupos formadores de opinião. OPOSICIONISMO VERSUS SITUACIONISMO Seja qual for o presidente da República, o oposicionismo será mais compacto e menos frouxo que o atual. PSDB e PFL deixaram escorrer pelas mãos (e pela boca) a maior crise da contemporaneidade. Um erro histórico que poderá lhes valer fechamento de portas no curto prazo da política. VOTO ABERTO Aldo Rebelo fará de tudo para abrir o voto, que ainda é secreto, nas votações sobre cassações de mandato. O corpo parlamentar poderá reagir ? Sim, a depender do tamanho da lista de denunciados. O sentido de corpo ainda vinga nas casas parlamentares. Hoje, o voto aberto ganha. A conferir. INTELECTUAIS E A POLÍTICA A chamada intelligentzia tem momentos de extrema burrice. Como podem artistas, em que se espelham milhões de pessoas, defender abertamente a imoralidade na política ? Alguns estão dizendo que apenas identificaram a falta de ética, não a defenderam. Houve defesa, sim, como se todos fossem sebosos, malcheirosos, pérfidos e corruptos. Não é bem assim, galera artística. Os áulicos, inclusive os áulicos-artistas, chovem nos pântanos eleitorais, principalmente ante a perspectiva de se refestelarem na lama dos patrocínios estatais. O MARKETING INSOSSO O marketing político nesta campanha está insosso. Não há novidades. O discurso está preso na garganta dos candidatos. A forma também está rota, em andrajos. O desfile de caretas e trejeitos é extravagante. Os debates perderam força. Tudo está sem graça. E até as birutas que mostram nomes e números de candidatos não atraem. Não ficam um minuto no ar. Despencam, a mostrar que os políticos não se sustentam nem com os símbolos mais inovadores. FHC FORA DA CAMPANHA Fernando Henrique está fora da campanha. Os marqueteiros querem vê-lo longe dos palanques e palcos televisivos, possivelmente por conta da rejeição. Mas o sociólogo continua com o discurso afiado. Foi um dos mais aplaudidos na festa organizada para Alckmin, onde o toque mágico foi dado pela publicitária Cristina Carvalho Pinto, mulher de fibra, fluente, que brincou com a lógica e mexeu com a emoção. Fez um belíssimo discurso. LULA COM ARTISTAS O encontro de Lula com artistas ganhou a performance de Ariano Suassuna, romancista, poeta, cancioneiro popular, um homem simples que sabe usar palavras simples. Encontro com artistas e intelectuais, vale lembrar, não dá voto. E prestígio, que é bom, não se transfere com presença em eventos. Serve apenas como enfeite retórico. MÁRCIO FORA O ministro Márcio Thomaz Bastos avisa que estará de fora do próximo governo Lula, caso ele venha a ganhar o segundo mandato. O grande advogado criminalista teve momentos altos e baixos. Não se pode negar o eficiente desempenho da PF sob seu comando. Mas vai ser difícil apagar a imagem de um profissional do Direito que encostou a Justiça no paredão da política. ____________
quarta-feira, 23 de agosto de 2006

Porandubas nº 66

CRISE SUMIU A campanha eleitoral escondeu a maior crise política da atualidade brasileira. Muitos pontos para Lula. O spot publicitário que lembra mensaleiros e dólares na cueca é uma breve lembrança da crise. Os tucanos se valem de pesquisas qualitativas para evitar ataques. Os eleitores não gostam de campanhas negativas, mas positivas, de propostas. Há um porém nessa história. Quem bate costuma perder, mas quem não bate também perde. A questão é o tom do ataque e a maneira como fazê-lo. Diante de fatos e escândalos comprovados, o ataque ganha consistência. A campanha de Alckmin pela TV é morna. Se o tom não esquentar, será difícil segurar a onda lulista e uma vitória no primeiro turno. HH, A CHAVE A senadora Heloísa Helena é a grande revelação desta campanha. Incorpora o perfil de uma leoa. Ferida, a fera abocanha quem está perto. Passa a idéia de protetora dos humildes, de guerreira. Ganha votos dos andares de baixo e dos apartamentos de cima. Simboliza o voto da indignação. Para compensar o lado leoa, flores, muitas flores nas recepções. A banda feminina emerge com força. Heloísa Helena, a senadora de Alagoas, poderá ser a chave para abrir a porta do segundo turno. Basta acrescentar uns quatro a cinco pontinhos no índice de intenção de voto. MONÓLOGOS A política é o espaço do conflito. O que estamos assistindo na mídia eleitoral não é conflito e sim monólogos. Os candidatos apresentam, unilateralmente, suas propostas. Quem quiser acreditar, acredite. Dados são maquiados. Informações, deturpadas. Não há contestação. A nossa lei eleitoral é um embuste. Engessa as campanhas. Não há avanço em relação à campanha de 2002. Quanto mais muda, mais permanece a mesma coisa, diz o ditado francês. Quem vibra com a mesmice é o candidato Lula. SANGUESSUGAS Os sanguessugas têm esperança da absolvição. Por isso, não houve uma renúncia em massa como se anunciava. Depois de muita conversa e tomada de pulso, decidiram permanecer no cargo, na crença de que o ambiente político do início de 2007 afastará as nuvens pesadas sobre sua cabeça. A nova legislatura começará sob o signo da dignidade ou sob o véu da esculhambação? PESQUISAS IBOPE As pesquisas do Ibope são aguardadas com muita expectativa nos Estados. Os Institutos locais costumam dourar a pílula. Por conseguinte, o Ibope tira as dúvidas. Há diferenças de até 6 pontos entre pesquisas feitas por institutos locais e congêneres nacionais. A ferramenta pesquisa é usada pelo marketing para alavancar campanhas. Anima as bases dos candidatos e estimula grupos indecisos. A LUTA PAULISTA José Serra (PSDB) vem baixando de pontuação. Mas a posição de Aloizio Mercadante (PT) não incomoda tanto quanto a possibilidade de Orestes Quércia (PMDB) ultrapassar a faixa dos 15 pontos percentuais e jogar a decisão para o segundo turno. Serra foi o único dos candidatos a governador que participou do Baile dos Advogados, sábado passado, evento de muito sucesso. Ao deixarem de aparecer nesta festa, os outros candidatos perderam a oportunidade de bater centenas de fotografias. Advogadas e advogados ali presentes usaram suas maquininhas para um registro histórico. Serra pensou em ficar apenas 5 minutos na festa. Demorou duas horas e meia no evento que, segundo confessou ao prefeito Gilberto Kassab, foi, até o momento, o mais importante a que compareceu. QUÉRCIA E O SEGUNDO TURNO Em palestra em um importante sindicato do setor de serviços terceirizados - SEAC-SP - Quércia mostrou-se animado com as pesquisas qualitativas que o inserem na posição de "mais experiente". É difícil ultrapassar Mercadante, mas ele acredita que disputará com Serra o segundo turno. A conferir. Como o petista não está subindo, tudo é possível... CAMPANHA NORDESTINA A campanha eleitoral no Nordeste, até o momento, não deu nenhum ponto percentual a mais a Geraldo Alckmin. Na Bahia, com quase 10 milhões de votos, a crítica contra o tucano parte do correligionário Antônio Carlos Magalhães, que pede mais contundência no programa de TV. No Ceará, o tucano Lúcio Alcântara, candidato à reeleição, aplaude e é aplaudido por Lula. O comandante do tucanato, o senador Tasso Jereissatti, não consegue enquadrar nem o tucano de seu Estado quanto mais os outros. Alckmin continua muito isolado no Nordeste. CAMPANHA SULISTA Já no Sul, melhora a situação de Geraldo. Ganha três pontinhos, enquanto Lula perde cinco pontos no Rio Grande do Sul. Yeda Crusius, a tucana candidata ao governo, chega aos 15 pontos percentuais. E o petista Olívio Dutra cai para 21 pontos dos 26 que detinha. No segundo turno, Alckmin bate Lula por 45% contra 39%. Em Santa Catarina, Geraldo ganha bem. E no Paraná, é possível que chegue à frente de Lula. CAMPANHA NORTISTA Na região Norte, com exceção de Roraima, onde o governador tucano Ottomar Pinto dará vitória a Geraldo Alckmin, Lula terá boa vantagem. No Estado do Amazonas, o candidato Amazonino Mendes perderá a dianteira para o atual governador, Eduardo Braga, candidato à reeleição. Braga é lulista. TRIBUNAIS COM MAIS RIGOR Constatação: os Tribunais Regionais Eleitorais estão agindo com mais rigor. Começam a impugnar candidaturas. O ex-poderoso deputado João Paulo, que presidiu a Câmara dos Deputados, é um deles. Não está quite com a Justiça Eleitoral. Há contas não aprovadas de campanhas passadas. O TOM VAI SUBIR Se até o dia 10 de setembro, Geraldo Alckmin não subir nas pesquisas, o tom do discurso subirá alguns degraus. O tucano, porém, relutará. Diz-se um homem equilibrado que só sabe fazer campanha positiva. Mas, e a crise? Essa é a questão que desagrega quadros pefelistas e tucanos. CÉSAR MAIA César Maia pode ser até boquirroto, mas entende de marketing. Acompanha tendências do marketing contemporâneo. Por que não é ouvido? Porque tucanos e pefelistas são como água e azeite, não se misturam. Esse é o busílis da campanha de Alckmin. Para desfazer o nó, só muita alquimia ... Ahrrr. FRASES... Em 1998, Lula atacava Fernando Henrique por este se recusar a comparecer a debate. Eis o ataque: "Presidente que foge de debate mostra que prefere ficar escondido atrás de publicidade paga com dinheiro do povo, em vez de ir para o ringue lutar em igualdade de condições". Minha velha mãe, do alto de seus 90 anos, continua a dizer: "Meu filho, nunca diga - desta água não beberei". ____________
quarta-feira, 9 de agosto de 2006

Porandubas nº 65

PCC E ELEIÇÕES Está mais que evidente que a terceira onda de ataques do PCC, em São Paulo, tem tudo a ver com o panorama eleitoral. Os alvos são Geraldo Alckmin e José Serra. Mas o eleitor atento coloca os governantes das esferas estadual e federal no mesmo plano. Ou seja, sobra bala para Alckmin e para Lula. É o que dizem as pesquisas. JOVENS DISPERSARÃO VOTOS Os jovens com idade entre 16 e 18 anos, com voto facultativo, somam mais de 3 milhões de votos. Podem decidir um pleito, no segundo turno. Mas a tendência é a de dispersão deste voto. Alienação, indiferença, apatia - são conceitos que, infelizmente, caracterizam esta geração "shopping center". E A MASSA DOS VELHINHOS ? Os aposentados somam cerca de 6% do eleitorado. Os eleitores acima de 70 anos também têm voto facultativo. Pesam na balança eleitoral. Em jogo, o reajuste de 5% para aposentados e pensionistas que ganham acima de um salário mínimo, concedido pelo Poder Executivo, contra os 16,6% que a Câmara quer dar. INTERNET COMO PROPAGANDA ELEITORAL Nunca foi tão intenso o uso da Internet como mídia eleitoral. Chovem e-mails dando conta de plataformas, piadas (algumas de extremo mau gosto), charges, enquanto multiplicam-se os blogs. O mais recente tem a assinatura do ex-ministro José Dirceu. Vejam a quantas andamos. A força da Internet, agora, é notícia nas colunas de jornais. Há um colunista de um grande jornal especializado em anotar as coisas pitorescas (e estapafúrdias) dos blogs. E O PSB, HEIN ? A denúncia do bom deputado Fernando Gabeira destrói o conceito do PSB, partido dirigido pelo neto de Miguel Arraes, Eduardo Campos, que é candidato ao governo de Pernambuco. E a CPI dos Sanguessugas joga sangue, ainda, na imagem do ex-ministro da Saúde, Humberto Costa, também candidato ao governo de Pernambuco, pelo PT. É o caso de descobrir quando efetivamente começou essa operação sanguinolenta. Alguns dizem que começou na era José Serra. A conferir. E NEY SUASSUNA ? Ney Suassuna, líder do PMDB no Senado, está em maus lençóis. Diz que não sabia de nada. E que tem como comprovar a inocência. Por que não convoca a imprensa e mostra os trunfos? Amir Lando, o relator da CPI das Sanguessugas, foi indicado por Ney. E está na corda bamba porque não quer indiciar seu líder. UM GOLPE DE MESTRE Lula deu um golpe de mestre com essa idéia de Constituinte exclusiva para produzir a reforma política. Constituinte exclusiva remete à questão de ruptura institucional. É isso que mostra a história das Constituições brasileiras. Mas o presidente foi hábil. Colocou o tema no centro do debate político. Todos falam sobre isso. E a OAB - onde a conversa teve início - agora rechaça a Constituinte exclusiva. ESCOPO DA REFORMA POLÍTICA Um grupo de estudiosos, analistas e pesquisadores da política começa a discutir a abrangência e a metodologia de uma reforma política no Brasil. A primeira reunião desse grupo ocorreu, ontem, em São Paulo, reunindo o prof. Francisco Weffort, Wellington Moreira Franco, Bolívar Lamounier e este escriba. Discutiram-se questões como o ambiente institucional e a crise, aspectos da reforma política, metodologia para implantação, abrangência etc. A idéia é a de produzir um documento que será apresentado aos candidatos à presidência da República. O VERMELHO DO PSOL E PCO Dois pequenos partidos vestem-se de vermelho nessa eleição: o PSOL, da guerreira Heloísa Helena, e o PCO, do Rui Pimenta. O PT abandonou a cor vermelha, quase por completo, para se vestir com as cores do Brasil. Adota, até, o azul, que era exclusividade tucana. Como se pode deduzir, o arco-íris partidário muda conforme a crise. PESQUISA IBOPE A mídia continua a ler erradamente as pesquisas. A última, do Ibope, ganhou as mesmas manchetes anteriores: Lula ganha no primeiro turno. Faço outra leitura: a pesquisa apresentou a mesma base de dados da anterior. Lula fixou-se no mesmo patamar, 44%; Geraldo Alckmin oscilou de 27% para 25%, portanto, dentro da margem de erro e Heloísa Helena subiu para 11%, também na margem de erro. Um dado passou despercebido: o índice de aprovação do governo caiu e o índice de desaprovação cresceu, resultando em queda de 5% na média dos dois. A questão é a de saber se essa queda reflete tendência ou não. Mais: a rejeição a Lula subiu, enquanto a rejeição a Geraldo caiu. Como esses dados se apresentarão na próxima pesquisa? ATAQUES BANALIZADOS Os ataques do PCC se tornam banais. São previsíveis. Os habitantes da metrópole paulistana começam a se sentir em Bagdá. E descrentes de segurança no curto prazo. NO PARANÁ Pesquisa IBOPE no Paraná, entre 2 e 4 de agosto, 1008 entrevistas: Lula, 35%. Alckmin, 28%. Heloísa Helena, 12%. Outros, 4%. Lula, 35% X demais, 44%.Segundo Turno: Alckmin, 42%. Lula, 40%. Rejeição: Lula, 35%. Heloísa Helena, 12%. Alckmin, 11%.Governador: Roberto Requião, 39%. Osmar Dias, 24%. Rubens Bueno, 7%. Outros, 4%.Requião, 39% X demais, 35%.Senador: Álvaro Dias, 54% X demais, 7%. EM SERGIPE Pesquisa IBOPE em Sergipe, entre 1 e 3 de agosto, 812 eleitores:Lula, 52%. Alckmin, 20%. Heloísa Helena, 10%. Outros, 4%.Lula, 52% X demais, 34%.Governador: Marcelo Deda, 44%. João Alves, 36%. Outros, 6%.Deda 44% X demais 42%.Senador: Maria do Carmo Alves, 44%. José Eduardo, 29%. Outros, 6%. PRIMEIRAS CONTAS Primeira prestação de conta de candidatos: Aécio Neves arrecadou R$ 2,460 milhões; José Serra, R$ 3,633 milhões; Mercadante, R$ 1,697 milhões; Palocci, R$ 385 mil; Valdemar Costa Neto, R$ 767 mil; Paulo Maluf, R$ 6 mil. Gastos de Maluf, R$ 13,25. BRASIL MUDANDO ? Temos de ser otimistas. A cena com dois presidentes de poderes com algemas é inédita. Sebastião Chaves, desembargador, presidente do Tribunal de Justiça e Carlão de Oliveira, presidente da Assembléia Legislativa, ambos de Rondônia, expressam a idéia de que os crimes do colarinho branco começam a pagar caro no Brasil. A CAMPANHA VAI ESQUENTAR Até o momento, a campanha eleitoral está morna. Ficará quente a partir de 15 de agosto, quando terá início a propaganda eleitoral na TV e no rádio. E pegará fogo na primeira semana de setembro. ____________
quarta-feira, 2 de agosto de 2006

Porandubas nº 64

  A RAZÃO DE LULA O presidente Luiz Inácio tem razão quando se queixa da dificuldade em separar a figura do candidato à reeleição do perfil de presidente da República. Se permanecer trancado no Palácio do Planalto, não faz campanha. Se sair correndo o país como candidato é criticado pelo fato de usar o manto presidencial para se reeleger. Na verdade, errada é a legislação que permite que candidatos à reeleição permaneçam no cargo. Deveriam se afastar três meses antes do pleito, no mínimo. Não seriam criticados por usarem a máquina. E poderiam fazer uma campanha menos exuberante e em posição igual aos adversários. Urge mudar a sistemática eleitoral para candidatos à reeleição na área majoritária. PT COM 3% Vejam como Lula está acima do PT. O partido só alimenta grandes esperanças de eleger governadores em três pequenas unidades da Federação : Acre, Piauí e Sergipe, cuja votação soma apenas 3% do eleitorado nacional. O PT corre sério risco de fazer uma bancada com a metade da que elegeu em 2002, algo em torno de 50 parlamentares. Tudo vai depender da mística de Lula e sua capacidade de angariar votos para o corpo petista. SANGUESSUGAS SE ESPALHAM Nunca o país viu tanto parlamentar envolvido em escândalos como no atual ciclo da crise. Já chega a 128 o número de deputados envolvidos com a "navegação" (termo mais apropriado para bichos aquáticos) sanguessuga. E passa de 400 o número de Prefeituras que teriam recebido ambulâncias superfaturadas. Até onde vai chegar a onda dos bichinhos aquáticos ? QUE MORAL TERÁ O CONGRESSO ? Digamos que ninguém seja cassado este ano. Digamos que os candidatos envolvidos na "navegação", usando os recursos a que terão direito, enfrentem as eleições e sejam eleitos. Um Congresso infestado por sanguessugas terá moral para extirpar os bichos que chuparam o sangue do corpo público ? Vai ser uma equação de difícil solução. A sorte está lançada. O Congresso poderá se redimir ou afundar de vez. KOTSCHO, CONSCIÊNCIA JORNALÍSTICA Quem conhece Ricardo Kotscho, que dá o sangue por uma boa reportagem, sabe que nem todos que fazem um jornalismo "chapa branca" vende a alma. Kotscho foi assessor de imprensa de Lula, de quem é amigo. Relata sua experiência no livro "Do Golpe ao Planalto", lançado ontem, em São Paulo. No posfácio, exibe a estupefação com a crise advinda pela via do mensalão. Eis um repórter que vende a força do seu trabalho, mas não a dignidade da consciência. BOLSA-FAMÍLIA ESTICADA Para chegar à casa dos 11,1 milhões de famílias, o valor médio do programa Bolsa-Família caiu 19%, ou seja, de R$ 75,43 para R$ 61,02. O governo decidiu alargar o curral de votos em busca da reeleição em outubro. Trata-se de um programa de distribuição de renda com viés assistencialista. Nessa esteira, os assistidos se acomodam, não se motivam a sair do sufoco e permanecem na bolsa da esmola. É quase nula a quantidade de famílias que deixam o esquema. A manutenção do status quo é a perspectiva no horizonte. CABO ELEITORAL FORTE Com as proibições feitas pela lei da minireforma eleitoral - outdoors, camisetas, bonés, showmícios, afixação de cartazes em prédios e instalações públicas - cresce o cacife dos cabos eleitorais. Estão sendo bem remunerados. O dinheiro economizado com as ações do marketing está sendo investido nas forças de campo. Ou seja, o caixa 2 continua, agora, direcionado à compra dos cabos eleitorais. CLASSE MÉDIA FRACA Nos últimos três anos, a classe média viu menos dinheiro no bolso. Pesquisas mostram que o peso de 15 itens subiu de 17% para 21% no bolso da população em geral, mas esse índice passa para 25% quando se faz um corte para a classe média. Eis aí um detalhe que terá influência nos índices eleitorais da campanha majoritária federal. PSIQUIATRA LOUCO ? O Estado de São Paulo mostrou há dias, em entrevista, que há mais loucos nesta terra tupiniquim que imagina a nossa vã filosofia. Um psiquiatra atestou a boa índole do bandido Champinha, aquele que, aos 16 anos, liderou a gangue que assassinou a jovem Liana e seu namorado. A jovem foi morta depois de muitos estupros. Hoje, o bandido tem 19 anos. CARÁTER DE MONGE Segundo o psiquiatra, Champinha tem condições de ir às ruas e ao convívio social. Poderia até ser monge, caso entrasse numa comunidade de monges. Trata-se do mesmo médico que recomendou a libertação do bandido da Luz Vermelha da Casa de Custódia e Tratamento de Taubaté, em 1997. Quatro meses depois de sair da prisão, o criminoso se envolveu em uma confusão e acabou morto. NO OLHO DA RUA Quando João Acácio Pereira da Costa, o Luz Vermelha, foi assassinado, em 1998, o primeiro vice-presidente do Tribunal de Justiça, Amador da Cunha Bueno Netto, chegou a dizer que os psiquiatras responsáveis pelo laudo de libertação do bando deveriam ir para "o olho da rua". SERRA MANTEM POSIÇÃO Mais uma pesquisa de intenção de voto - Estado/Ibope - atesta o favoritismo de José Serra, que hoje venceria a campanha ao governo no primeiro turno. O PT não cresceu nas últimas semanas, apesar da campanha de rua feita por Aloizio Mercadante. Ao que parece, persistem os atritos entre Marta e Mercadante. Suplicy, por sua vez, navega de braçadas. AFIF ISOLADO Guilherme Afif, que poderia surpreender, também não saiu do lugar em sua campanha para o senado. Trata-se de um ótimo comunicador. É imbatível no desempenho de TV. Mas Eduardo Suplicy transformou-se em ícone de São Paulo no Senado. E não recebe sujeira da lama que cobriu o PT. Por isso, bater Suplicy é tarefa quase impossível. MAIS UM GOLPE DO CASUÍSMO A cláusula de barreira é o primeiro passo para a moralização dos costumes políticos. Adotada nas eleições de outubro, enxugará as 29 siglas do Parlamento para 8, no máximo. Atenção, estão tramando um golpe contra ela. Aldo Rebelo, que verá desaparecer seu PC do B, com o apoio do presidente Lula, trama uma mini-reforma política, após o pleito, de forma a permitir a federação (integração) de siglas que não passaram pelo teste eleitoral. Mais uma da velhacaria política. ____________
quarta-feira, 26 de julho de 2006

Porandubas nº 63

  SANGUESSUGAS Dúvida no ar: 107 políticos passeiam nas águas como sanguessugas. São 99 deputados, 3 senadores, 4 ex-deputados e 1 ex-senador. Já há provas incriminando 80. Levante a mão quem acredita que alguém será cassado. Índice de respostas: 80% acreditam que nenhum será cassado; 10% dizem que um ou outro será cassado; 5% afirmam que mais de 10 serão cassados; e 5% respondem a pergunta com gargalhadas. CAMPANHA ESCONDIDA A campanha eleitoral ainda está meio escondida. Postes limpos, muros sem outdoors, bandeiras escassas. Em São Paulo, até ontem, na região do parque do Ibirapuera, apenas três bandeiras vermelhas. De alguém do PT? Não. Do deputado, agora peemedebista, Delfim Netto. PMDB É + MAIS Não está clara a idéia do PMDB paulista com esse slogan: "É + mais". O que o partido quer dizer? Que é melhor do que outros? É mais o quê? Na leitura final - aquela que entra no sistema cognitivo - fica a impressão de que o PMDB quer mais. O PMDB de São Paulo inova, pois o PMDB nacional não usa tal slogan, que parece ter sido encomendado a um marqueteiro-especializado em contas. Lembrando: João Santana, marqueteiro de Lula, receberá R$ 8 milhões pela campanha. TOMOU, LEVOU Quem esperava do presidente Lula postura de Madre Tereza de Calcutá, o Lulinha Paz e Amor, pode tirar o cavalo da chuva. Pelos primeiros comícios, ressuscitou o Lula dos idos tempos metalúrgicos do João Ferrador: "Hoje, não tô bom". Lula diz que o PSDB, para voltar ao poder, terá de "roer o osso". Porque o filé mignon que o governo pôs na mesa já tem dono. RAIVA NO CONGELADOR Itamar Franco, sabe-se, conserva a raiva no congelador. E é de lá que vai tirando lasquinhas raivosas geladas para se vingar de Lula, que preferiu fazer alianças com o Newton Cardoso (PMDB), candidato ao senado com o apoio do PT, cuja história política não faz parte do livrinho de primeira comunhão. Juntar-se-á a Aécio Neves, tucano que tem a preferência de 75% dos mineiros como candidato à reeleição, e fará a campanha de Geraldo Alckmin. Minas tem 13 milhões de votos, o segundo maior colégio eleitoral do País. E DUNGA, HEIN? O que dizer de Dunga, o novo treinador da seleção brasileira? Que nunca foi técnico? Que não tem experiência? Ou que é um jogador-macho, de raça, um daqueles beques à moda antiga, que prefere dar o sangue a fazer corpo mole? A Seleção está precisando usar menos o campo como passarela para desfile de modelos e mais como arena de lutas. SUPLICY COBRA DE LULA Como o PT vai se engajar na campanha de um candidato petista que, vira e mexe, cobra do presidente Lula explicações sobre o mensalão? Pois esse é o senador Eduardo Suplicy, candidato à reeleição. Ele não se conforma com o silêncio de Lula sobre o mensalão. Com tanta insistência, o senador passa a idéia de que o presidente tem alguma culpa no cartório. SUASSSUNA, DO CÉU PARA O INFERNO O que deu em Ariano Suassuna, o autor de clássicos como "O Auto da Compadecida" e "A Pedra do Reino", para preferir a cena fechada do Plenário da Câmara dos Deputados aos aplausos em cena aberta do povo brasileiro? O grande teatrólogo e romancista nordestino, aos 79 anos, doente, deixa a quietude do mundo dos intelectuais-imortais para freqüentar a mesma galeria onde estão sanguessugas e mensaleiros. É candidato a deputado federal pelo PSB de Pernambuco. Os antigos latinos já diziam: poetis et pictoribus, omnia licet. Aos poetas e pintores, tudo é permitido. Inclusive, preferir o inferno ao céu. SANGUESSUGAS As sanguessugas nadam em águas poluídas desde os tempos de Fernando Henrique. É o que mostra um Relatório sobre as ambulâncias adquiridas por muitas Prefeituras na administração passada. HELOÍSA HELENA Heloísa Helena passará dos 15 pontos percentuais nas pesquisas de intenção de voto? Se conseguir esse feito, mesmo com menos de 1 minuto nos programas eleitorais gratuitos, estará provando a relatividade do efeito midiático. A LEI NO SEGUNDO TURNO As disposições eleitorais traçadas pelo TSE só fazem referências ao primeiro turno. Exige-se, por exemplo, prestar contas das doações em agosto e setembro. Não há referência às contas do segundo turno. Será que virá mais uma Resolução só para a segunda rodada? RENOVAÇÃO? Quem acredita em renovação no Congresso Nacional? O eleitor, na hora de votar, saberá quem foi mensaleiro ou quem é sanguessuga? Poderá haver, sim, troca de seis por meia dúzia. Quem arriscar em renovação do Congresso pela escolha de nomes de qualidade arrisca-se a cair do cavalo. CADEIRA VAZIA De quem será a cadeira vazia nos debates a serem promovidos pelas TV Globo e Bandeirantes? Lula não deverá participar de todos eles. A não ser que caia nas pesquisas. O debate será interessante no segundo turno com dois candidatos disputando palmo a palmo a vontade do eleitor. LEI DO JORNALISMO Lula deverá vetar a lei que engessa o jornalismo, essa que exige diploma para atividades como ilustrador, comentarista esportivo, críticos especializados etc. Trata-se, isso sim, de uma restrição ao direito de expressão. Mais que corporativista, a lei é burra. USO DA FROTA OFICIAL Já está havendo abuso por parte dos candidatos. Jornais começam a estampar fotografias de veículos oficiais nos comícios de candidatos. Onde está a Justiça Eleitoral? Como diz o próprio presidente do TSE, ministro Marco Aurélio, o Brasil é "o país do faz-de-conta". ____________  
quarta-feira, 19 de julho de 2006

Porandubas nº 62

SEGUNDO TURNO As previsões extrapolam o circuito de formação de opinião : o segundo turno está em marcha. Lula e Geraldo baterão o martelo apenas na segunda rodada. Lula tem a vantagem do favoritismo e a desvantagem de representar o perfil do "velho", do "batido". Geraldo tem a vantagem de representar o "novo" (pelo fato de ser menos conhecido) e a desvantagem do tempo para se consolidar a imagem. EXCESSO DE OTIMISMO Ao contrário do que se pode imaginar, a preocupação nos arraiais tucanos não é com o pessimismo ante a possibilidade de Lula ganhar já no primeiro turno. A preocupação é com o extraordinário crescimento de Geraldo nas pesquisas. Hoje, sua margem de intenção de votos está em 32%, 10 pontos percentuais abaixo de Lula. O comando teme crescimento tão rápido. Esperava-se que o candidato chegasse aos 35% apenas no dia 25 de agosto. Poderá chegar aos 40% nessa data. O ideal, para os tucanos, é que Geraldo fosse para o segundo turno numa posição um pouco inferior a de Lula, numa tendência de crescimento constante. Uma paradinha poderia dar idéia de que bateu no teto. SUL SECO E ÁCIDO O Sul do país, a partir do Rio Grande do Sul, passa por uma grande seca. A falta de chuvas se junta à falta de recursos do governo para o setor agrícola. Lula já perde por quase 15 pontos percentuais no RS. E a tendência é a de aumentar a diferença de Geraldo também em SC e no Paraná. Por isso, o comando petista decidiu investir pesado na região, alterando a agenda de Lula. SUDESTE, TESTE DE FOGO O Sudeste, a partir de São Paulo, será o teste de fogo para os dois candidatos. São Paulo tem quase 28 milhões de votos. Lula precisa tirar a diferença de Geraldo no Estado. Os petistas apostam no desgaste do tucano com a crise da segurança pública. Pesquisas mostram que tanto a população reparte a culpa entre os governos estadual e federal. Se José Serra mantiver o alto índice - 54% - a margem de Alckmin poderá aumentar. O tempo em São Paulo permanece ainda muito nublado. TEMER E GERALDO Michel Temer, presidente do PMDB, está levando 12 diretórios do partido para a seara tucana. Fechando dobradinhas a torto e direito em sua campanha para deputado federal, Michel é um dos que acreditam no segundo turno da campanha presidencial. CARTILHA DO "NÃO" O PT fez uma cartilha com 10 mandamentos para orientação da campanha de Lula. O "não" está presente em todos eles : não dar entrevistas, não participar de debates, não fazer campanha em colégios eleitorais pequenos, não freqüentar comitês do partido, não se envolver com temas polêmicos e por aí afora.... A VITÓRIA DOS GRANDES PARTIDOS O pleito de outubro será ganho pelos grandes partidos, independentemente dos resultados a serem alcançados por eles. PMDB deverá fazer a maior bancada, seguido do PSDB, PFL e PT. A dúvida é sobre o PT : conseguirá fazer 60 deputados dos mais de 90 que elegeu em 2002 ? E por que todos eles ganharão ? Porque a cláusula de barreira jogará em seus espaços as siglas que não obtiverem 5% dos votos para a Câmara Federal e 2% em, pelo menos, 9 Estados. Estão na marca do pênalti entre outros : PTB, PP, PDT, PL, PC do B e PSOL, afora os nanicos PCO, PSC, PTN e outros ajuntamentos de letras. Além dos quatro grandes, mais três, no máximo quatro, deverão passar no teste. Se não passarem, contrairão matrimônio com os grandes. AÉCIO COMEÇA A SAIR DO MURO O folgado governador de Minas Gerais, Aécio Neves, começa a pular do muro depois das férias na Europa. Viu que o correligionário Geraldo tem condições de ir ao segundo turno. E não quer ser o italiano da vez a receber cabeçada - melhor dizendo - bicadas de tucanos de porte grande. CASAMENTO EXTRAVAGANTE No Maranhão, terra de José Sarney, a filha candidata ao governo, Roseana (PFL) começa a campanha com faixas nas ruas apoiando Lula para presidente. É o casamento mais extravagante da campanha. TASSO TAMBÉM DECIDIU APOSTAR Tasso Jereissatti, depois de um início duvidoso, entra na campanha pra valer. Quer demonstrar que o presidente de todos os tucanos manda na floresta cearense. Vai correr todo o Estado para tirar a diferença de Lula e dar uma resposta ao seu correligionário tucano Lúcio Alcântara, que (pasmem) também incentiva uma chapa com Lula : a chapa LULU. MERCADANTE E QUÉRCIA Orestes Quércia garante que sua candidatura tira votos de José Serra em São Paulo e não de Aloizio Mercadante. Pode ser. Mas, na reta final, caso o eleitorado perceba uma polarização entre Serra e Mercadante, o eleitor de Quércia tende a embarcar mais na canoa tucana do que no barco petista. A conferir. UM PETISTA DE DIÁLOGO Um exemplo de petista com visão aberta e moderna : o delegado do Trabalho em São Paulo, Márcio Chaves Pires. Ouve setores produtivos, faz observações adequadas sobre questões polêmicas, abre amplos espaços de diálogo. Trata-se de um quadro dos mais competentes nas fileiras do PT. Tem futuro. HELOÍSA HELENA APLAUDIDA Por onde circula, a senadora Heloísa Helena é festejada. O desafio : transformar aplausos em votos. Se chegar aos 12%, será consagrada. Deixará forte marca. É uma guerreira admirável. QUE CAMPANHA FARÁ BRUNO ? Bruno Maranhão, o líder do MSLT, movimento que invadiu e quebrou as dependências da Câmara dos Deputados, foi solto. O PT está fazendo uma blindagem para o homem desaparecer do cenário eleitoral. Não quer vê-lo no palanque de Lula. A propósito, Lula vai aparecer em alguma foto com mensaleiro de qualquer partido ? 100 SANGUESSUGAS A lista logo, logo, aparecerá. Dizem que os sanguessugas (veja nota abaixo) podem chegar a 100 parlamentares. Os nomes divulgados encontrarão dificuldades para receber o voto, principalmente em espaços mais conscientes. OS OU AS ? A propósito, o certo é dizer a CPI das Sanguessugas, como diz a TV Globo, ou a CPI dos Sanguessugas como escrevem jornais e revistas? O dicionário recomenda : as sanguessugas. Quem entra nessa disputa, pode perder algumas gotas de sangue, melhor dizendo, de tempo. CUT E UNE PEDINDO VOTOS A CUT e a UNE vão pedir votos para Lula. Pelo andar da carruagem, não conseguirão ir além dos espaços corporativos que detêm. Sua imagem não é das melhores. Perderam o brilho do passado. Ninguém mais disCUTe a CUT e a UNE só desUNE. ____________
sexta-feira, 14 de julho de 2006

Porandubas nº 61

  ALCKMIN REAGE A última pesquisa Sensus também mostra que Geraldo Alckmin começa a subir. A expectativa na floresta tucana é de que, nos meados de agosto, quando começará a programação eleitoral no rádio e na TV, o candidato chegue aos 35%. O oceano lulista começa a se preocupar com a água que escorre nas marés do Sul e Sudeste. TEMER TOMA PARTIDO Michel Temer mostrou que o PMDB não está indo por inteiro para os braços de Lula. Como ocorreu nos últimos 3 anos, José Sarney e Renan Calheiros sempre prometem a encomenda, mas não a entregam. Dissera a Lula que cerca de 20 diretórios estaduais do partido fechariam com ele. Hoje, há uma divisão entre os 27 diretórios. Alckmin terá o apoio de, pelo menos, 11. Que poderão ser mais, caso o tucano melhore. PCC AGE POLITICAMENTE Não há dúvida. Os 75 ataques desferidos pelo PCC contra alvos policiais, ônibus, lojas e bancos, em mais de 40 cidades do Estado de São Paulo, têm um componente político. Objetivo: desmoralizar o governo paulista e pegar, por tabela, a imagem de Geraldo Alckmin. E OS TELEFONEMAS? É de arrepiar. Os criminosos continuam a usar celulares. A ordem para os últimos ataques veio de um telefonema dado do Centro de Detenção Provisória de Franco da Rocha, na Grande São Paulo. O CONGRESSO ESVAZIADO A partir desta semana, as casas congressuais estarão vazias. O recesso branco deixa, mais uma vez, no ar a aprovação da Lei de Diretrizes Orçamentárias, que servirá de base para a proposta de Orçamento de 2007. CPI DO ORÇAMENTO O senador Antonio Carlos Magalhães conseguiu 34 assinaturas para instalar a CPI do Orçamento. Ele quer provar que as verbas orçamentárias estão sendo usadas com interesses eleitoreiros por Lula. A batalha de ACM também é pela aprovação do Orçamento Impositivo, que impede mudanças por parte do Executivo. O que se aprova deve se cumprir. SENSAÇÃO NO AR Começa a se espraiar a sensação de que a tão cantada e decantada vitória de Lula no pleito de outubro não será tão fácil. Nos meios de formação de opinião, as falas já admitem a possibilidade de Alckmin emplacar no segundo turno. CAMPANHA ENGESSADA Nunca os advogados eleitorais foram tão demandados. Os comitês perguntam todo tempo o que pode e o que não pode ser feito. Até eventos festivos ou de apoio, como almoços e jantares, são sujeitos a uma bateria de cuidados: onde será, quem patrocinará? Organizações que dependem de contribuições de associados, por exemplo, não podem ceder seus espaços. A não ser que sejam locados. O TSE eleitoral promete rigor. Terá condições de fiscalizar os ilícitos? Mas a queixa maior é a de que a campanha está muito engessada. AÉCIO VESTIRÁ A CAMISA? O colégio eleitoral de Minas Gerais é o segundo maior do país, com mais de 13 milhões de votos. Será decisivo para a alavancagem de Geraldo Alckmin. Aécio ainda está em dúvida. Assume por inteiro a campanha presidencial tucana ou deixará a coisa rolar? Ele será peça fundamental na equação. José Serra já tomou a iniciativa de vestir a camisa por inteiro. MONTORO, 90 ANOS Fosse vivo, Franco Montoro comemoraria, hoje, sexta-feira, 90 anos. Em sua lembrança, filhos e netos convidam para uma missa às 11 horas, na Igreja São José, rua Dinamarca, 32, Jd. Europa, São Paulo. Era um símbolo de dignidade. Um caráter nobre. Quanta falta faz... APOSENTADOS CONTRA LULA Se Lula continuar no veto contra o aumento de 16,67% aos aposentados, receberá uma avalanche de votos contrários. Que se destinarão, claro, aos adversários. Essa é a razão pela qual Lula pensa em conceder um abono para complementar o reajuste de 5% feito por uma MP prestes a expirar. NOS ESTADOS Pesquisas dão conta de que o candidato do PMDB no Rio Grande do Norte, senador Garibaldi Alves, leva uma vantagem de 15 pontos percentuais sobre a governadora Vilma Faria, candidata à reeleição pelo PSB. E, em Roraima, no extremo norte, o governador Ottomar Pinto, do PSDB, leva uma vantagem de 33 pontos percentuais sobre o candidato do PMDB ao governo, senador Romero Jucá. PARA ONDE IRÁ QUÉRCIA? Para onde irá Orestes Quércia se houver segundo turno na eleição paulista? Na escala de 0 a 10, levará 7 quem aponta o rumo de José Serra e 3 para quem joga no tabuleiro de Aloizio Mercadante. ____________  
quarta-feira, 5 de julho de 2006

Porandubas nº 60

  O BRASIL NA REAL Depois deste pesadelo de começo de inverno, a ressaca. Só agora, depois de desfeitas as expectativas, o Brasil cai na real. Para angústia, daqueles que esperavam faturar com a Taça. Lula, entre eles, já tinha fotografado na cachola a foto olímpica no Palácio do Planalto, rodeado da equipe sorridente e técnico esfuziante. Gorou a esperança. No frio dos escritórios, os internautas nos brindam com doses de humor e picardia. Uma pitada: Lula para técnico, Parreira para presidente. PNBINF CRESCE Uma verdade se pode extrair da derrota brasileira na Copa: o Produto Nacional Bruto da Infelicidade - fruto dos desesperos e das desesperanças cotidianas - cresceu nos últimos dias. Quer queira ou não, Lula será visto como pé frio. CAMPANHA VAI ÀS RUAS A campanha eleitoral ganha as ruas. Teremos massa menor de publicidade nas ruas. Sem outdoors, os muros não exibirão caras políticas. Mas os cartazes serão permitidos. A questão é: onde afixá-los? Os chamados "próprios públicos", entre os quais os postes, são catalogados como espaços proibidos. O aperto nos parafusos da comunicação propiciará soltar dois eixos da alavanca do marketing político: a articulação com a sociedade organizada e a mobilização de grupos. Lembre-se que os comícios continuam permitidos. A proibição foi para showmícios. LEMBO EM CARREIRA SOLO O governador Cláudio Lembo, a cada dia, passa a impressão de que deseja fazer uma carreira solo como barítono do PFL. Não dá bolas para as críticas da cúpula do partido, para quem está distanciado das campanhas de Geraldo Alckmin e José Serra, à presidência da República e ao governo do Estado, respectivamente. Lembo recebeu Lula em São Paulo com pompa, liturgia e muita deferência. O único prócer que parece fazer a cabeça do governador paulista é o senador Marco Maciel, com quem tem históricas ligações. A POLÍTICA NO LIXO A se confirmar uma nova lista de parlamentares suspeitos de terem participado da Operação Sanguessuga, cerca de 1/3 dos integrantes da Câmara Federal estariam comprometidos com bandalheira. Some-se esse contingente aos 2.900 nomes que o Tribunal de Contas da União entregou ao Tribunal Superior Eleitoral, e que seriam inelegíveis por terem processos na Justiça, para se distinguir o retrato por inteiro do lixo que suja o Brasil político. A SUBIDA DE ALCKMIN Quem acompanha regularmente as análises deste escriba conhece as razões para o crescimento de Geraldo Alckmin nas pesquisas. Além dos martelados argumentos sobre a expansão da visibilidade do candidato, via programas políticos do PSDB e PFL, há de se observar a recuperação do tucano, muito previsível, em nichos considerados mais sensíveis ao seu perfil, como o Sul e o Sudeste, que abrigam um eleitorado mais racional. Aliás, Alckmin, como temos observado, sob o aspecto teórico, ocuparia os maiores palanques do País, na medida em que correligionários seus são favoritos em colégios eleitorais de peso: José Serra, em São Paulo; Aécio Neves, em Minas; Sérgio Cabral, no RJ; Paulo Souto, na Bahia; Mendonça Filho, em Pernambuco, além dos três Estados do Sul (RS, SC e PR), onde já tem votação maior que a de Lula. A questão é: convencerá os aliados a vestir, sem hesitação, a sua camisa? ZORRA TOTAL As alianças para as eleições de outubro são uma zorra total. Correligionários do plano federal são adversários na esfera estadual. E coisas mais que esquisitas acontecem. César Maia, do PFL, está apoiando a deputada Denise Frossard, candidata ao governo pelo PPS. Os tucanos da Bahia são inimigos históricos do PFL de ACM e Paulo Souto. Geddel Vieira Lima, ex-trombeteiro-mor de FHC, apóia Lula. Fernando Bezerra, senador do RN, ex-presidente da Confederação Nacional da Indústria, é líder do governo Lula no senado. Roberto Requião fez acordo com o PSDB, no Paraná, mas abrirá palanque para Lula. E assim por diante... TV GLOBO E OS PREJUÍZOS Qual foi o prejuízo da TV Globo com a derrota brasileira na Copa? A Globo bancou a maior espetacularização esportiva de todos os tempos. Perde grande audiência. E toma prejuízo com a estrutura de cobertura que montou. CLASSES MÉDIAS NÃO VOLTAM As classes médias continuam a se desgarrar do colo de Lula. É pouco provável que voltem ao regaço lulista, mesmo com as medidas de agrado que o ministro Tarso Genro anda planejando. A divisão entre pobres e ricos continua no centro do discurso de Lula. Os meios da sociedade não aprovam esta abordagem. O PT NÃO RECUA Por mais que seja ameaçado de diminuir drasticamente a bancada no Parlamento, o PT não recua. Tem maior número de candidatos ao governo de Estados que o PMDB. Sem alianças fortes, a previsão é de porteiras fechadas para uma grande representação. HOMEM-SANDUÍCHE Pregar cartaz em poste, ponte e marquise será proibido. Mas o cartaz pode ser afixado na frente e nas costas de pessoas. O Brasil avança no campo da propaganda política: o homem-sanduíche. JINGLES NOS COMÍCIOS Música também será proibida nos comícios. Só jingles de candidatos poderão ser cantados. Mais um invento tupiniquim: comícios de uma nota só. ESSA É DE ARREPIAR Os materiais impressos terão de exibir o CNPJ da gráfica. Mais uma esquisitice desses alegres trópicos: propaganda política de gráficas. MANDIOCA NO PÃO O projeto do presidente da Câmara, Aldo Rebelo, de adição de farinha de mandioca no pão, tem chances de ser aprovado, apesar da oposição dos moinhos. O pãodioca é, pelo menos, uma invenção com rima. Não. Não pensem que a referência tem algo a ver com idiota. REFORMA GREGÁRIA Sai Roberto Rodrigues e entra Luis Carlos Guedes, ligado ao PT e ao MST, no Ministério da Agricultura. É o governo Lula fazendo reforma gregária. QUEM É ATILA, O MANO ? De Átila, o huno, a história conta grandes proezas. De Átila Russomano, nenhum registro histórico de maior significação. Do que se sabe, é apenas o mano. Alguém sabe de quem? Do deputado Celso Russomano. É o vereador escolhido para ser candidato a vice na chapa de Orestes Quércia. E assim caminha o Brasil.... DE PÁTRIA E DE CHUTEIRAS Em tempos idos, nossas orações agradeciam aos Céus pelas glórias da "Pátria de Chuteiras". Em tempos correntes, nossas mentes perplexas não contêm a indignação pela tétrica visão de "Chuteiras sem Pátria". ____________
quarta-feira, 28 de junho de 2006

Porandubas nº 59

GANHOU, MAS NÃO CONVENCEU Vitória de três a zero é vitória magnífica. Principalmente, quando o time vencedor dá show de bola. Não foi o que aconteceu. Gana passou mais tempo com a bola, teve melhor domínio de jogo, mas não soube aproveitar as boas oportunidades criadas. Quem entende de futebol diz que a tática de Parreira foi a de jogar na retranca. Quem não entende muito de futebol, como este escriba, acha que o time adversário jogou melhor. E não venham com essa de patriotismo maquiado. Jogo é jogo e a verdade está à vista de todos. Não há como firular. LEITURA LABIAL Ler a expressão das pessoas por meio dos lábios é invasão de privacidade ? Quando uma máquina flagra uma pessoa roubando está invadindo a privacidade ? Gravar conversas do PCC sobre ações de violência é invasão de privacidade ? O que há em comum entre esses gestos ? E o que há de diferente ? Para ajudar a pessoa a argumentar a resposta, urge a partir de conceitos como bem comum, interesse coletivo, defesa da sociedade. A invasão de privacidade é uma coisa relativa. O JOGO COMEÇOU O jogo eleitoral começou. As últimas alianças estão sendo fechadas. O PT sai perdendo. Terá apenas 6 minutos e alguns segundos de tempo para os programas eleitorais, contra mais de 9 minutos de Geraldo Alckmin. Mas Lula tem carisma e o tucano não tem. Porém, este é bom na expressão televisiva. Há quem aposte que ganhará a guerra midiática. Uma pergunta fica no ar : programa eleitoral faz a cabeça de quem ? De núcleos médios ? Do povão ? QUÉRCIA TIRA VOTOS DE QUEM ? Errada a premissa de que a candidatura de Orestes Quércia ao governo de São Paulo prejudicará mais o tucano José Serra. Tira votos também do petista Aloizio Mercadante. Quércia deve oscilar entre 8% a 12%. Se passar dessa margem, a campanha paulista poderá entrar na rota do segundo turno. Quércia fez de tudo para ser o vice de José Serra na chapa ao governo. Michel Temer era o preferido. Ambos fizeram o pacto : se Quércia não quer Michel, este não aceita nenhum outro nome indicado por Quércia para vice. TRIBUNAIS ELEITORAIS MAIS RÍGIDOS ? Os primeiros acentos dos Tribunais Eleitorais apontam para uma interpretação mais rigorosa da lei. Mas a lei será muito burlada. A partir de Lula, o presidente, que não poderá mais usar a máquina, e que o fará, claro, utilizando a estrutura governamental para fazer vistorias de obras. No Brasil, a lei oferece rotas alternativas para seu cumprimento. Afinal, estamos em um país tropical, onde o sim-sim-não-não cede lugar ao mais ou menos. P.S.: a própria convenção do PT, que consagrou o nome de Lula à reeleição, fez um showmício, coisa proibida pela lei eleitoral. A convenção é um evento eleitoral. Vejam que drible: outdoor está proibido. Mas pode ser afixado em propriedade privada, bem como propaganda em muros. Há um monte de dúvidas que o TSE ainda não conseguiu desvendar. A CPI DOS SANGUESSUGAS Será uma reportagem a CPI dos Sanguessugas e não uma novela. Essa é a interpretação do deputado Fernando Gabeira para a CPI que foi firmada pelo seu esforço pessoal. Significa que será mais objetiva, menos espetaculosa, mais informativa, menos dada a comícios e desfiles de egos. LULA E OS AUMENTOS Lula esperou para dar aumentos ao funcionalismo público no princípio da campanha eleitoral. Acertou um pacotão para os servidores do Judiciário. Conta com a ajuda da presidente do STF e com alguns ministros do TSE para vencer a luta contra o presidente do TSE, Marco Aurélio Mello. Se o aumento não for concedido, a culpa recairá no ministro. Esta é mais uma sinuca de bico que Lula está dando na oposição. REQUIÃO E RIGOTTO EM DOIS PALANQUES Roberto Requião, candidato à reeleição no Paraná, abrirá palanque para Lula mas não fecha o espaço paranaense para Geraldo Alckmin. O governador Germano Rigotto também fará a mesma coisa. Trata-se de uma estratégia inicial de campanha. A medida em que as coisas forem se definindo, penderão mais para um lado. FHC ATRAPALHA Se Fernando Henrique, o presidente schollar, quer ajudar o correligionário Geraldo Alckmin a decolar, precisa se afastar do dia-a-dia da campanha. Sua rejeição é muito alta. E tudo que Lula quer é ver FHC subindo ao palanque de Geraldo. JARBAS VESTE A CAMISA Jarbas Vasconcelos, ex-governador de Pernambuco, candidato ao senado na chapa liderada por Mendonça Filho, do PFL, vestiu definitivamente a camisa tucana. É razoável esperar pelo crescimento de Geraldo Alckmin nos índices de intenção de votos em Pernambuco, onde Lula tem cerca de 65% dos votos. COPA MENOS ALEGRE Esperava-se clima mais animado. A performance do Brasil na Copa deixa a desejar. O clima social não é de muito festejo. SUPLICY CALADÃO, AFIF NA MOITA O senador Eduardo Suplicy já foi mais falante. Perdeu a voz. Está por baixo no território petista. Mas assegurou a candidatura ao Senado. Atenção : Guilherme Afif, caso se confirme como candidato ao senado na chapa encabeçada por José Serra, é muito bom de telinha. Surpreenderá nos programas eleitorais. A conferir. KASSAB ABRE FRONTEIRAS O prefeito Gilberto Kassab, hábil articulador, começa a abrir fronteiras com vistas para o futuro. Tem o apoio do correligionário Cláudio Lembo, governador, para se candidatar à reeleição. Precisa apenas sair mais da sombra e submeter-se ao sol das ruas. UM TENTO DA SEGURANÇA PAULISTA O esquema de segurança de São Paulo surpreendeu o PCC. Prevenido, depois de gravar e acompanhar a mobilização de grupos bandidos, acabou evitando assaltos e chacinas. A morte de 13 suspeitos deve alterar a correlação de forças e encostar o comando do PCC na parede. Ponto para o secretário Saulo de Abreu Castro Filho. ____________
quarta-feira, 21 de junho de 2006

Porandubas nº 58

COPA MORNA A Copa prometia ser quente. Está mais para morna. O Produto Nacional Bruto da Infelicidade Nacional - amálgama dos problemas cotidianos - diminuiu apenas 2 pontos, quando, a esta altura, a expectativa era de uma baixa em torno de 5. A performance da seleção canarinha está aquém das expectativas. Os argentinos, nossos eternos rivais, é quem têm dado um show de bola. Até por isso, nossas alegrias estão contidas.  RONALDUCHO O presidente Lula, ao sugerir que iríamos ver o desempenho de um Ronalducho, falou por milhões de brasileiros. O jogador precisa diminuir uns três a quatro quilinhos. E demonstrar vontade de "comer a bola". Vamos esperar pela luta contra os japoneses de Zico, amanhã. Será a cartada final do (ex) Fenômeno. BU-SS-UNDA No palco vazio de lideranças, os nossos heróis são jogadores de futebol, artistas de TV, humoristas. Bussunda era um deles. Foi embora e deixa um oceano de risos presos. O Casseta & Planeta jamais será o mesmo. Que cara engraçado! Fez piada até no cemitério. Bater palmas para ele é aplaudir as sílabas de dois ícones da verve nacional, que escolheu para homenagear em seu desempenho casseta. MALA PRETA Mala preta é sinônimo de compra de votos em alguns currais do país. Já começa a aparecer nas mãos de candidatos-operadores. São os tipos que passam ao largo da legislação. Somam 50% da Câmara Federal. VOTO-LAMBANÇA Que vai haver um voto-lambança nas eleições de outubro, ah, isso vai. É o voto que mistura alhos com bugalhos. Lula será o mais beneficiado. Vejamos alguns votos-lambança: Lulécio - Voto em Lula e Aécio Neves, em Minas Gerais; Lulérgio, voto em Lula e Sérgio Cabral, no Rio de Janeiro; Lugaldi, voto em Lula e em Garibaldi Alves, no Rio Grande do Norte; Lulonça, voto em Lula e em Mendonça Filho, em Pernambuco; Luquião, voto em Lula e em Requião, no Paraná; Luique, voto em Lula e Luiz Henrique, em Santa Catarina; Luouto, voto em Lula e em Paulo Souto, na Bahia; Lássio, voto em Lula e em Cássio Cunha Lima, na Paraíba. Ocorre que todos esses candidatos ao governo de Estados estão apoiando Geraldo Alckmin. Se vestissem a camisa tucana, o voto não seria tão escu...lambado. SEGUNDO TURNO Façam-se as contas. Com mais 15 pontos, Alckmin chega a 35 pontos nas pesquisas de intenção de voto. Heloísa Helena (PSOL) poderá chegar aos dois dígitos, 10 pontos. Os outros candidatos - Cristovam Buarque (PDT), Luciano Bivar (PSL) e José Maria Eymael (PSDC) - podem chegar, juntos, a 5 pontos. Com essa marca, a disputa presidencial irá para o segundo turno. Muitos duvidam que Alckmin ganhe 15 pontos. Não será difícil. PT SEM PSB? Se o PSB, de Eduardo Campos, sobrinho de Miguel Arraes, não fizer coligação formal com o PT, Lula perde quase 2 minutos de tempo de TV. Coligando-se com o PSB e o PC do B, o PT terá 8 minutos e 5 segundos. O tucano Alckmin disporá de 9 minutos e 38 segundos. Nem sempre maior tempo significa maior eficácia. Tudo vai depender da qualidade do programa de TV e rádio. USO DA MÁQUINA A partir de 1o de julho, o presidente Luiz Inácio não poderá usar a máquina. Coisa relativa. Poderá usar o Aerolula, contanto que o PT faça o reembolso das despesas. Não poderá fazer inaugurações, mas um dia depois, poderá visitar a obra inaugurada. E com direito a mostrar a visita na telinha da TV. Legislação fajuta. MERCADANTE Não se espera uma vitória fácil de José Serra em São Paulo. O senador Mercadante tem discurso denso e crível. O veneno que contaminou o PT não chegou forte em suas veias. QUÉRCIA LUTA PARA SER VICE José Serra está ouvindo o pleito de Quércia, que deseja ser vice na chapa tucana. É a condição para o PMDB fechar acordo. Mas Serra e os tucanos rejeitam o nome. Prefeririam Michel Temer. Será difícil Quércia aceitar essa preferência. PFL VERSUS TUCANOS As querelas entre o PFL e os tucanos continuam em alguns Estados. Eis o calcanhar-de-Aquiles de Geraldo Alckmin. Enquanto isso, Lula nada de braçada. PTB COM SERRA O PTB reivindica a vice na chapa de Serra, porque alega ter uma bancada maior em São Paulo do que a bancada pefelista. Mas e o prestígio da sigla ? O PTB esteve no centro da crise do mensalão. TARSO COM A AGULHA Tarso Genro está com a agulha toda como ministro das Relações Institucionais. Fala com todos. Costurando acordos e desenhando cenários futuros. E de diálogo em diálogo, está tirando o atraso do governo Lula em matéria de articulação partidária e social. PPS APÓIA GERALDO. E NOS ESTADOS ? O PPS comandado pelo deputado Roberto Freire anuncia apoio informal a Geraldo Alckmin, candidato do PSDB à presidência da República. Nos Estados, a coligação informal PPS - PSDB deveria ocorrer. Em Roraima, a ex-prefeita de Boa Vista, Tereza Jucá, será candidata ao Senado pelo PPS, enquanto o marido, senador Romero Jucá, pleiteia o governo, pelo PMDB. Sinuca de bico: o governador Otomar Pinto (PSDB) é candidato à reeleição. Tereza, do PPS, terá de fazer campanha de Otomar, do PSDB, contra seu marido, do PMDB. Teoricamente. No Brasil, há um oceano de distância entre teoria e prática. CPI DOS SANGUESSUGAS Não dá para acreditar na eficácia da CPI dos sanguessugas. Em duas semanas, a campanha irá para as ruas. O Congresso ficará esvaziado. Mas há uma luta feroz de partidos que disputam a presidência e a relatoria. ____________
quarta-feira, 14 de junho de 2006

Porandubas nº 57

PALOCCI SUBMERSO O ex-ministro da Fazenda, Antônio Palocci, está submerso. Não apareceu na Convenção do PT, que ratificou o nome de Mercadante como candidato ao governo. Isola-se numa mansão em Brasília. Ainda não autorizou colocar seu nome na chapa de candidatos a deputado federal. Mas precisará do mandato. Será candidato. GERALDO CRESCERÁ ? Com o nome homologado pela convenção tucana, Geraldo Alckmin já começou a usar uma artilharia forte. Chamou Lula de "chefe dos 40 ladrões". O picolé de chuchu se transforma em faca amolada. Só que a carne de Lula é dura. Para crescer, precisa que os correligionários nos principais colégios eleitorais do país vistam sua camisa : José Serra, em SP; Sérgio Cabral com o apoio de Garotinho, no RJ; Aécio Neves em Minas; Paulo Souto com o apoio de ACM, na Bahia; Mendonça Filho, com o apoio de Jarbas Vasconcelos e José Jorge (candidato a vice), em PE; Germano Rigotto, no RS; Luiz Henrique, em Santa Catarina e (pasmem) Roberto Requião, que acaba de fechar coligação com o PSDB do senador Álvaro Dias. Para quem não sabe : estes colégios eleitorais somam, juntos, 68% dos votos nacionais. Nesses Estados, os favoritos estão todos na canoa de Geraldo Alckmin. O BRASIL JÁ EXISTIA Mais uma pérola da boca do D. Lula Primeiro e Único : "o Brasil já existia antes de mim. Mas era um lego desconjuntado". Não se trata de piada. O homem comunicou ao povo tupiniquim que, antes dele aparecer, o Brasil já tinha sido descoberto. Mas essa descoberta não valeu. O território só começou a funcionar quando os pedaços do brinquedo, o Brasil, foram montados um a um. Piedade, Senhor, piedade! RONALDUCHO E LULINGA Pois é, quem atira a primeira pedra acaba levando tijolada. Foi só Lula sugerir que Ronaldo está gordo para o fenômeno retrucar com a lembrança de que o presidente, segundo se comenta, adora uma pinga. Por conta de informação idêntica, um correspondente estrangeiro, Larry Rother, do New York Times, quase teve de trabalhar em outra freguesia. Ronaldo não agrediu. Trocou gentilezas. Não gostou de ser lembrado como Ronalducho, e o presidente deve abominar ser lembrado como Lulinga. DULCI NO COMANDO Luiz Dulci é um rapaz preparado. E, como mineiro, trabalha em silêncio. Um ótimo perfil para comandar a campanha de Lula. O momento político aconselha grandes silêncios. Em boca fechada, não entra mosca. Dulci foi bem escolhido. REALE NAS FINANÇAS Do lado tucano, escolheram o jurista Miguel Reale Jr. para a traumática e mais que sensível área de finanças da campanha. Pela postura ético-cívica deste advogado paulista, extrai-se uma foto preliminar da prometida campanha transparente do candidato tucano. SERRA E AÉCIO José Serra e Aécio Neves estão aguardando a manifestação do candidato Alckmin sobre reeleição para vestirem ou não a camisa do correligionário. Se Geraldo se comprometer publicamente com o fim da reeleição, irão a campo com boa disposição. Com um lembrete de acréscimo : Serra irá à luta com ânimo melhor do que Aécio. Já observaram os olhos do mineiro ? Nos últimos tempos, anda meio vesgo. O olho esquerdo enxerga Lula, enquanto o direito espia Alckmin. O ENXUGAMENTO E AGLUTINAÇÃO Não mais que oito siglas sobreviverão ao estatuto da cláusula de barreira. Das 29 siglas existentes, a maior parte desaparecerá. As grandes siglas terão de conviver com um a dois partidos amalgamados, que sairão das aglutinações inter-partidárias. Haverá espaço para a criação de um partido de proporções médias, localizado no centro-esquerda do espectro ideológico. Juntaria PSB, PDT, PPS, rebeldes do PMDB e até do PTB. APOSTEM FICHAS E se o Brasil perder a Copa ? Lula perderá pontos para Geraldo. Nada acontecerá. E se o Brasil ganhar a Copa ? Lula ganhará pontos deixando Geraldo bem para trás. Nada ocorrerá. Continuem apostando. Ao vitorioso, as batatas. Ao perdedor, uma banana. E a VEJA, HEIN ? A revista Veja continua fazendo capas de arrombar conceitos e arrebentar identidades. A desta semana sobre os PTbulls é uma das mais fortes deste ano. A revista comprou briga feia. Deve ter munição. TIRAGENS DA MÍDIA IMPRESSA Impressiona a pequena tiragem da mídia impressa. Os grandes jornais não ultrapassam a casa dos 300 mil exemplares. E não há mais revista que suba a escada dos 500 mil exemplares. Novos tempos, velhas tiragens. Os leitores estão andando em que trilhas, além da Internet ? Para as mídias ultra-especializadas do campo impresso ? Para as mídias fechadas - a cabo - dos canais eletrônicos ? O BOMBARDEIO DA COPA A maior cobertura de todos os tempos está elevando a Copa ao mais alto patamar da massificação de uma idéia no Brasil. Além da explicação de que somos a Pátria do Futebol, há outra explicação para esse verdadeiro massacre ? Há, sim. O descrédito na política e nas instituições. A esperança volta-se para outros signos. Os nossos heróis vestem calção e calçam chuteiras para correr atrás de uma bola. Claro, dão dribles, fazem firulas, molecagens e muitos gols. E não levam para a casa a fama de espertalhões. A palavra ladrão é até usada. Não dirigida a eles, os nossos heróis, mas aos árbitros das partidas. O DEDO DE DUDA Dante Matiussi, ex-colaborador de Duda Mendonça, com quem deve ter aprendido algumas artimanhas do marketing político, comandará o marketing da campanha de Mercadante ao governo de São Paulo. João Santana, também ex-sócio de Duda, comandará a campanha de Lula à presidência. Ou seja, Duda não morreu. O dedo de Duda continua empurrando a estrelinha vermelha do PT. O PEFELÊ NO PODER Uma dica para quem quiser saber como o PFL chegou ao centro do poder no Estado mais poderoso da Federação : o negócio é perguntar ao governador, que "lemba", pois o prefeito "nunca sabe". Brincadeira à parte, há quem distinga nesse prefeito Gilberto Kassab um dos mais hábeis articuladores do partido no país. SHOW BUSINESS Este colunista estará fazendo uma análise da conjuntura política e da campanha eleitoral, com as possibilidades e chances dos candidatos Lula da Silva e Geraldo Alclmin, no programa comandado por João Dória, Show Business, do próximo domingo, na Rede TV, a partir das 22 horas. CARGOS PARA O PMDB Nem bem decidiu retirar a candidatura própria à presidência da República, o velho PMDB de guerra correu em busca de cargos. Mas, atenção : os corredores pertencem à ala governista. Seus nomes : José Sarney e Renan Calheiros, figuras que já estavam à espera de Pedro Álvares Cabral, por ocasião da Descoberta do Brasil. Quando viram o grande capitão-navegador com aqueles trajes enfeitados e cheios de medalha de bronze no peito, chapéu de penacho, mais parecendo estátua viva, olharam-se e nem precisaram cochichar. Correram em direção a Cabral, aderindo de imediato à "causa cabralina", mesmo antes de saberem a que vinha o nosso Descobridor. Nascia ali o adesismo-fisiologista. PT VERSUS LULA O PT é contra a autonomia do Banco Central. Lula é a favor. O PT é contra nova reforma da Previdência Social. Lula é a favor. E tudo fica por isso mesmo. Porque o PT não tem coragem de dizer que é contra Lula. E este não tem vontade de contrariar o partido. ____________
quarta-feira, 7 de junho de 2006

Porandubas nº 56

  EFEITO RETARDADO A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) encaminha queixa-crime contra Lula, moeda de compensação por não ter aprovado pedido de "impeachment" do presidente. Mesmo atrasada, a notícia-crime terá algum impacto. Afinal de contas, trata-se de pedido de investigação sobre as ligações entre a Telemar e a empresa Gamecorp, do filho de Lula, Fábio Luiz da Silva, a omissão do presidente em relação ao mensalão e a suspeita de favorecimento ao banco BMG. A Ordem é uma das mais simbólicas entidades de representação civil da sociedade organizada. Certamente, o peso da entidade ajudará a oposição a reforçar seu discurso. A GLOBO E AS PESQUISAS A TV GLOBO usa, vez ou outra, o maior e mais qualificado espaço da mídia nacional - Jornal Nacional - para se defender de acusações. A tônica da defesa é sempre a mesma: a TV Globo se guia por critérios de impessoalidade, imparcialidade, significação social dos fatos etc. Há, porém, abordagens que causam suspeita. Por que a emissora passou a adotar o critério de dar o resultado de votos válidos ? Com o noticiário das pesquisas com os votos válidos alcançados por Lula, a Globo parece querer esticar a vantagem de Lula sobre Alckmin. Maneira sorrateira de fazer campanha a favor de um contra o outro. O que tem a ver o lobby da TV Digital com isso ? Aqueles que sabem a resposta, levantem a mão. Obrigado, os 95% da classe que levantaram a mão podem baixá-la. VEJA QUÉRCIA Dois sentidos para o título. O primeiro sentido é a querela jurídica que Quércia está enfrentando contra a Veja. Anúncios pagos nos principais jornais do país dão conta do processo que o ex-governador de São Paulo e presidente regional do PMDB está abrindo contra a revista, que o teria difamado. Uma briga que vai durar um bom tempo. O segundo sentido é um convite para acompanhar os passos de Quércia. Ele promete que será candidato ao governo do Estado. Se chegar aos 20%, pode empurrar a campanha ao governo de São Paulo para o segundo turno. Será difícil. O ex-governador condicionava sua candidatura ao governo à candidatura própria do PMDB à presidência da República. O PMDB não terá candidato próprio. Depois do encontro com Lula, parece ter mudado de opinião. Avisa que será candidato. Mas poderá fechar com José Serra e sair como candidato a senador. Em que acreditar ? RENOVAÇÃO PERO NO MUCHO Quem sonhar com grande renovação na Câmara dos Deputados, poderá ter uma decepção. Os mensaleiros, com raras exceções, voltarão ao Parlamento, a partir dos petistas João Paulo, José Mentor e Professor Luizinho, em São Paulo. José Genoino, o ex-presidente do PT, também estará de volta, com a força total do partido. E Antônio Palocci também se prepara, na moita, para voltar por cima. Os mensaleiros de outros Estados também estão se candidatando. O fato novo será o enxugamento do quadro partidário. Das 29 siglas registradas no TSE, apenas 8 ou 9 terão condições de passar pela cláusula de desempenho, que exige 5% dos votos para deputados federais em todo o território nacional, sendo 2% em pelo menos 9 Estados. CÉSAR MAIA, O MATADOR O ataque mais devastador nem sempre é desferido pelo inimigo feroz. Em política, freqüentemente o ataque parte dos correligionários. César Maia, especialista em factóides, fez uma campanha feroz contra o aliado Geraldo Alckmin. No seu ex-blog, factóide que chama a atenção pelo fato de ser um morto-vivo, Maia produziu 190 matérias que, pela negatividade, maltrataram o perfil e o conceito do candidato tucano apoiado pelo PFL. O CÚMULO DA DESFAÇATEZ Lula está de salto altíssimo. O candidato diz que ainda não decidiu ser candidato, mas faz campanha do alto do cargo presidencial, abrindo uma expressão eleitoral nunca vista. Usa o Palácio do Planalto para receber líderes partidários, a quem oferece o cargo de vice em sua chapa. Isso pode, ministro Marco Aurélio? Pior: desafia oposicionistas a colocar nos programas eleitorais a questão do mensalão. Por que o presidente faz esse desafio? Ora, porque o mensalão nunca existiu, os 40 nomes de uma quadrilha denunciada pelo Procurador Geral da República, Antônio Fernando de Sousa, são todos inocentes, os sanguessugas são invenção da imprensa, e ele, o presidente da República, é o mais ético dos brasileiros. É o cúmulo da desfaçatez. PENSATA DA BASE "A corrupção é uma prática comum a todos os partidos. Os políticos são todos iguais. A vida dos pobres melhorou no governo Lula. Os alimentos estão mais baratos e acessíveis. Lula é um dos nossos. Ruim por ruim, ficamos assim. Lula tem boas intenções. Os ruins são os políticos. O presidente foi traído por companheiros. Tenho medo de não ter esperança. Ele, Lula, está mais perto de nós. Quem é o outro candidato?" (Essa é a pensata que age no sistema cognitivo da base da pirâmide social). PENSATA DO MEIO "A insatisfação cresceu no meio em que vivo. O poder de compra diminuiu. O governo Lula, que tanto simbolizava mudanças, falhou. Estamos diante da maior rede de corrupção da nossa história política. O PT e Lula não mais representam a ética e a moral. Esse Bolsa Família para os pobres é uma demagogia. Os banqueiros estão ganhando os tubos no governo Lula. O governo mostrou-se covarde por ocasião do episódio da nacionalização do gás e do petróleo bolivianos. O Chávez passou a perna em Lula. O que Lula gosta é de fazer discurso. Não gosta de governar". (Essa é a pensata que age no sistema cognitivo do meio da pirâmide social). PENSATA GERAL As oposições têm sido ineficazes. Lula usa o carisma para se comunicar com as margens sociais, passando por cima do centro. Há um imenso vazio no meio da sociedade, que está sendo ocupado por uma gigantesca teia de organizações sociais. Lula conseguiu sustentar a estabilidade econômica, que foi meta do governo FHC. E fez isso com maior rigor. O núcleo duro do governo desfez-se. O presidente está isolado, sozinho. Dando graças a Deus, porque os denunciados foram todos embora, mesmo que ainda estejam bem ligados entre si. As brigas entre tucanos e pefelistas tiram força de Geraldo Alckmin. Falta a este um discurso forte. Geraldo precisa decolar. Ainda tem chances. Vamos esperar pelo horário eleitoral. (Pensata geral que age no sistema cognitivo de eleitores mais racionais). A COPA, O MAIOR PORRE A mídia respira Copa por todos os lados e em todos os programas. O porre de exposição/visibilidade será maior que o das eleições. Efeitos da ressaca: se o Brasil ganhar, o porre continuará por um bom tempo. E a dor de cabeça será suportada com aspirinas alcoólicas. Se o Brasil perder, ninguém conseguirá aliviar a dor de cabeça. E político que se apresentar com aspirina na mão, será enxotado. PESQUISAS E APOIOS As pesquisas mostram Lula estável e até crescendo e Alckmin mantendo a posição entre 18% a 20%. O Estado de São Paulo será o espaço da maior batalha. Lula acaba de passar o tucano em São Paulo. Será que José Serra vai vestir a camisa do correligionário? Apoios recentes a Geraldo: o governador Luiz Henrique (PMDB), de Santa Catarina e o ex-governador Garotinho (PMDB), do Rio de Janeiro. O tucano deverá ter apoios do PMDB em cerca de 15 Estados. Já os governistas do PMDB prometem apoio a Lula em 12 Estados. NOTA FISCAL ON LINE Um ovo de Colombo. É a Nota Fiscal on Line que a Prefeitura de São Paulo acaba de implantar. Disponibilizada a partir de hoje, 7 de junho, propiciará a quem usá-la créditos para desconto no pagamento do IPTU. Os credores serão prestadores e tomadores de serviços. As pessoas físicas que pagam por serviços formarão um imenso exército de 12 milhões de fiscais. Porque passarão a fiscalizar os prestadores de serviços. Pagarão menos impostos. A máquina administrativa será simplificada. Milhões de toneladas de papel serão economizadas. Processos burocráticos serão extintos. Todos ganharão. Pessoas físicas e jurídicas ingressarão na trilha da modernização. O Custo-Brasil é atacado de frente. Implanta-se, assim, o sistema de milhagem para os cidadãos na área do sistema tributário municipal. O prefeito Gilberto Kassab começa a dar as cartas na administração. ____________
quarta-feira, 31 de maio de 2006

Porandubas nº 55

  COMENDO PELAS BORDAS Lula continua faminto e comendo pelas bordas. Agora, quer expandir a Bolsa Família para os acampados do MST. Há um milhão de trabalhadores sem terra que podem ser beneficiados. Mas uma parcela mais ideológica do Movimento rejeita a idéia, temendo que os acampados fiquem sob o controle do Governo. BARULHO À VISTA Ganhando Lula ou Alckmin, o ano de 2007 será de muito barulho. Se Lula ganhar, só terá condições de governar se fizer ampla e irrestrita aliança com partidos médios e com o PMDB, que fará as maiores bancadas no Congresso e nas Assembléias Legislativas. Haverá muito barulho. Se Alckmin for o vitorioso, a onda barulhenta virá do campo por meio de maior mobilização de massas rurais de toda a história brasileira. Dizem que o MST torce por esta opção, para ele, um clima ideal para o prelúdio de uma "revoluçãozinha" no campo. LULA NÃO ESTÁ NEM AÍ Quanto mais o presidente do TSE, ministro Marco Aurélio de Mello, alerta sobre os perigos de campanhas feitas por candidatos à reeleição, mais Lula se movimenta. O presidente iniciou a decolagem rumo ao segundo mandato com tanto empenho que já não esconde o entusiasmo com as pesquisas que mostram sua imensa vantagem. ALCKMIN AJUSTA POSIÇÕES Os caciques tucanos tomaram a decisão de arrumar o meio de campo sob pena de jogar uma pelada com bola nas laterais todo tempo. FHC, Tasso e Aécio Neves reuniram-se com Geraldo. César Maia e a turma do pefelê mais rancorosa foi contida. Espera-se que, em junho, o ex-governador paulista conquiste preciosos 10 pontos. O PMDB de Pernambuco, com Jarbas Vasconcelos, já veio. Nada disso, porém, amedronta Lula. Que navega com os cofres cheios de promessas. A CAPA DA VEJA A máscara do GOE - Grupo de Operações Especiais - que a revista Veja colocou na cara do ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos e estampou na capa da última edição, tem mais força que um editorial. Veja engrossa o exército de opositores. Mas deve bala para tanto .... OKAMOTTO NA BERLINDA Paulo Okamotto, presidente do Sebrae, continuará na berlinda. A CPI dos Bingos vai indiciá-lo. Assim, as oposições ganharão mais uma pimentinha para colocar no menu contra Lula. Até o momento, tem havido uma reversão de expectativa em relação a Okamotto, Delúbio, Buratti etc. Ou seja, a sensação é a de que uma densa névoa encobre o céu da verdade. Por isso, muitos torcem para que a claridade ainda surja nos horizontes da campanha eleitoral. "ONDE ESTAVA DEUS ?" E, de repente, um grito de dor se ouve no meio da escuridão perversa do assassinato de 6 milhões de judeus : "Onde estava Deus ? Por que o Senhor se calou ? Como pode tolerar tudo isso ?" Era Bento XVI fazendo, em Auschwitz, na Polônia, a pergunta que cala fundo no coração e nas mentes de todos os universos religiosos. Se o Papa que é o representante do Senhor na Terra não sabe responder onde estava Deus naquele momento trágico, como nós, pecadores e pobres mortais, poderemos saber ? Eis a questão que nos angustiará até o momento da grande despedida. HELOÍSA HELENA, MAIS DE 10% ? Heloísa Helena, a guerreira solitária do PSOL, poderá ultrapassar a casa dos 10%. Se confirmar esta hipótese, a campanha atravessará o primeiro túnel em direção ao segundo. LULA, PÁRA-QUEDISTA E ALCKMIN, ALPINISTA No meu artigo de domingo, no Estadão, usei as imagens de Lula como pára-quedista e Geraldo Alckmin, como alpinista, o primeiro caindo rapidamente de pára-quedas no cume da reeleição e o segundo, subindo, devagar a montanha da eleição. Mas o arremate fechava com a hipótese : Lula não estará imune à enroscada do pára-quedas e Alckmin poderá se atrapalhar com as ferramentas do alpinista. Uma surpresa : constatar que mais de 70% dos leitores que me retribuíram com o feed-back do artigo já estarem com análises e planos para o segundo governo Lula. Depois da leitura, eles também ficaram surpresos. A CLASSE MÉDIA Observem bem os movimentos da classe média. Ela perdeu parcela de seu poder de compra. E não ficará de braços fechados no momento de votar. O PADRÃO DIGITAL JAPONÊS O Brasil já decidiu por adotar o padrão digital japonês. Houve muito acordo. E os ganhos do Japão incluem muitos compromissos, entre os quais investimentos numa planta industrial de semi-condutores. Há gente fazendo contas sobre a grana que deverá correr por baixo dos panos .... Que houve lobby, não há dúvida. E lobby de graça é história da carochinha. ROBERTO FREIRE O deputado Roberto Freire não suportará a pressão. O partido precisa ultrapassar a cláusula de barreira dos 5% dos votos para a Câmara Federal. Deverá desistir da candidatura à presidência pelo PPS. Tomará o trem de Alckmin. E O PMDB, HEIN ? Pedro Simon não deverá ir até o final de junho como candidato. Se desistir, Garotinho garante que tomará o lugar. A convenção partidária - a última - foi marcada para 29 de junho, data em que os candidatos do partido nos Estados já devem ter fechado alianças. Por isso, o resultado dessa convenção seria previsível : a candidatura própria não resistirá. Mas o deputado Michel Temer, presidente do PMDB, pretende chamar Garotinho, diante da desistência de Simon, e argumentar que ele não ganharia a convenção, sendo melhor a desistência imediata da idéia da candidatura própria. DE GREVES Os funcionários da ANVISA - Agência Nacional de Vigilância Sanitária - fizeram uma greve que causou US$ 700 milhões de prejuízo. Levantem as mãos aquele que sabia disso. Os auditores da Receia Federal estão em greve há um mês. Os prejuízos, só na Zona Franca de Manaus, chegam a US$ 750 milhões. Poucos sabem disso. As greves não abrem tanto espaço na mídia. Mas vejam : US$ 1,5 bilhão de prejuízos daria para consertar uma boa parte das estradas brasileiras. Ou ajudar e melhorar centenas de creches, asilos, sanatórios, escolas. (hospitais) O FURACÃO QUE VIROU PÓ Roberto Jefferson, o furacão que detonou o mensalão, virou pó. É a impressão que se tem dele, depois da sua exibição no programa Roda Viva na TV Cultura. Não causa mais impacto, não gera comoção. Continua a ser um bom ator. SETE A TRÊS Os policiais mortos na guerra do PCC levaram em média sete (7) tiros; os suspeitos, três (3). Que contagem macabra, hein ? Está nos laudos de corpos levados ao Instituto Médico-Legal Central. PENSAMENTO "O pão ensopado na adulação que engorda o servil envenena o digno. Este prefere perder um direito a obter um favor; mil danos lhe serão mais leves do que medrar indignamente. Qualquer ferida é transitória e pode doer uma hora; a mais leve domesticidade dará um remorso que durará toda a vida." (José Ingenieros, em "O Homem Medíocre"). _______________
quarta-feira, 24 de maio de 2006

Porandubas nº 54

  SIMON PELO PMDB? Trata-se de mais um sonho deste inverno. Pedro Simon, um timoneiro, respeitado e sem papas na língua, quer se candidatar pelo PMDB à presidência da República, na desistência do inusitado Itamar Franco. Os diretórios estaduais do PMDB, por maioria, queimarão sua candidatura. Querem continuar livres para fazer alianças a torto e a direito. Além disso, Lula continua intocável em sua posição de favorito. Quanto mais Lula segura a intenção de voto, mais consolida apoios. E o PMDB governista, liderado por Renan Calheiros e José Sarney, pelo que se vê, irá livre e solto para as urnas de 1o de outubro. GAROTINHO DE VICE O ex-governador Anthony Garotinho, depois da desastrada greve de fome, aceita ser vice numa chapa liderada por Pedro Simon. Maneira de enxugar a imagem. VEJA CONTINUA NO ATAQUE Como bem previu esta Coluna, a revista Veja continua no ataque a Lula, a partir da divulgação da bombástica entrevista dada por Daniel Dantas, do Opportunity. A última edição apresenta "suíte" (seqüência, continuidade) da reportagem anterior. Com o furo do encontro entre o ministro Márcio Thomaz Bastos e o banqueiro. Ao dar seqüência às denúncias, Veja quer dizer que sabe mais coisas. LEMBO SAI DO LIMBO Foi preciso dar umas fisgadas nos tucanos para sair do limbo, espaço amorfo entre o céu e o inferno. Assim, o governador Cláudio Lembo abriu espaços para dizer : penso, logo existo. A melhor de Lembo foi a lembrança de que Nova Iorque, onde quase todos os meses se refugiam Fernando Henrique e Aécio Neves, tornou-se a capital de São Paulo. Não por acaso, também estava por lá nesses dias o tucano de bico maior, o presidente do PSDB, Tasso Jereissatti. TASSO DE PASSO ERRADO No Ceará, o governador Lúcio Alcântara, tucano, não tem o apoio do presidente do tucanato, Tasso Jereissati, à reeleição. Tasso, caladão, apóia por baixo do pano o irmão do seu apadrinhado e amigo Ciro Gomes, candidato pelo PSB. Como Tasso vai explicar o passo errado? PERGUNTA QUE FICA NO AR Se o Brasil ganhar a Copa quem levantará o caneco? Lula ou Alckmin? Alguém tem dúvida? A recíproca é verdadeira. LULA COM O APOIO DE........DEUS Lula foi eleito pela inspiração divina. Pois bem, é o que se ouviu na reza de Lula durante o encontro com evangélicos. Alguém disse que o presidente está na presidência do Brasil não apenas por força humana. A mão de Deus agiu forte contra o adversário José Serra. Fé à parte, o nome de Deus em vão começa a aparecer nos bastidores da política. Quem disse que Deus deu apoio a Lula? Claro, o próprio. PFL E PSDB TRINCADOS Se os tucanos não são leais, como garantiu o governador do PFL, Cláudio Lembo, a aliança entre tucanos e pefelistas merece confiança? PESQUISA FOLHA-TV GLOBO A primeira pesquisa feita pelo Datafolha em parceria com a TV Globo deve confirmar a boa posição de Lula. Que continua nadando de braçada, sob o olhar atônito e o molejo ineficaz das oposições. Como as oposições são incompetentes... ALIANÇAS FEITAS O PT fechará alianças, em nível nacional, com o PC do B e o PSB. O PSDB fechou aliança com o PFL. PTB, PL, PP e PV querem ficar livres, sem alianças, para atingir a cláusula de desempenho de 5% dos votos para a Câmara Federal. O PMDB deverá ficar igualmente solto. PDT e PPS deverão, tudo indica, apresentarem candidaturas próprias à presidência. O tabuleiro está pronto para o jogo. Agora, resta apostar nos jogadores. SERRA AGUENTARÁ AS BALAS DO PCC ? José Serra será atingido (de leve ou de morte?) pelas balas do PCC. O calcanhar-de-aquiles do governo paulista - que atrapalhará os passos do ex-prefeito José Serra - será a questão da segurança. Os balaços poderão não ser mortais. Mas atingirão a candidatura. Mercadante, o senador mais preparado do PT, não será um peso leve. A conferir. JOSÉ JORGE NÃO FAZ CONTRAPONTO José Jorge, senador pernambucano do PFL, escolhido para compor a chapa de Geraldo Alckmin, prima pela discrição. Calado e na moita, é um clone de Marco Maciel, elogiadíssimo pela postura de "sombra" que manteve no governo FHC. Ocorre que Fernando Henrique era falastrão. Maciel fazia o contraponto. E Geraldo Alckmin fala para dentro. Assim como José Jorge. Quem disser que o primeiro parece picolé de chuchu e o segundo, um picolé de chuchu com jiló, não estará muito errado. Com todo respeito pelo senador e pela metáfora livre, sob custódia jornalística. AGRIPINO CONFORMADO ? José Agripino era, seguramente, o melhor perfil para compor a chapa de Geraldo. Firme, fluente e preparado, o líder do PFL no Senado faria o contraponto adequado para alavancar a chapa tucano-pefelista. Perdeu a chance, mas não a compostura. Conformado ("pero no mucho"), deverá fazer aliança no RN com o candidato do PMDB ao governo, Garibaldi Alves. Deverá indicar os nomes ao senado e a vice na chapa do peemedebista. Mais uma vez, o tucanato deu bicou fora do prato. FHC NA SOMBRA Fernando Henrique é um grande articulador. Começa, na sombra, a destravar a campanha de Geraldo Alckmin. Reúne companheiros, discute uma agenda, abre espaços no empresariado. O homem é muito respeitado. Mas não deve participar ativamente da campanha. Seu índice de rejeição nas pesquisas é muito alto. O PMDB, A NOIVA PREDILETA A cada dia, consolida-se a hipótese. Seja qual for o governante, não governará sem o apoio do PMDB. Como noiva cobiçada, todos o desejam. Alguns, na tentativa de selar uma aliança, logo, logo. Outros, no aguardo da Convenção partidária, marcada para 11 de junho. Que poderá ser adiada para o final de junho. O PMDB só quer casamento no segundo tempo. Melhor dizendo, no segundo turno. PRAZO FATAL Para anotar: dia 30 de agosto, quinze dias após a campanha eleitoral na TV rádio, Geraldo Alckmin precisa se posicionar entre 25% e 30% no índice de intenção de votos. Se permanecer na margem dos 18% a 20%, babau.... Ainda há condição - e haja condição - para se chegar ao ponto de ultrapassagem. Mas as oposições continuam navegando na incompetência. ____________
quarta-feira, 17 de maio de 2006

Porandubas nº 53

  ESTADO DE GUERRA CIVIL É evidente que não há clima de guerra civil no país. Porém, o estado caótico em que se encontra São Paulo dá a entender que um "clima de guerra" paira sobre a sociedade. O quarto poder, o poder das gangues contra o primeiro poder, o poder do Estado. A situação por que passa o maior Estado da Federação merece uma boa reflexão. Constatações óbvias: 1. a falência do Poder Público para combater a violência; 2. a organização das gangues e bandidagem; 3. a arrogância das autoridades do Executivo paulista, que se negam a receber ajuda do governo federal; 4. a ampliação da insegurança e, conseqüentemente, do PNBinf (Produto Nacional Bruto da Infelicidade). TEMA DE CAMPANHA Se a campanha já continha um tema mais que evidente - corrupção - agora ganha outro de igual destaque : a criminalidade, a violência, o poder invisível. Mas não vingará a intenção de algum candidato/partido em querer ser dono exclusivo da temática. A sociedade sabe que, nesse momento de medo, os oportunistas chovem nas janelas de TV e rádio. ATAQUES IMPRESSIONANTES A estratégia atribuída ao PCC, de atacar núcleos vitais como escolas, o sistema de transporte e bancos, remete à inferência de que há uma "intelligentzia" por trás da violência que se abateu sobre São Paulo, com extensão em mais alguns Estados. A dedução leva em conta a "ideologização" do movimento, na esteira da impunidade aos políticos corruptos e pegos com a mão na botija. Portanto, haveria alguma ligação com a insatisfação social. NOVO CARANDIRU Comentário que se escutava em diversos ambientes: "São Paulo está precisando de um novo Carandiru!". É duro de ouvir. DIREITOS HUMANOS NAS CADEIAS Daniela Mercury, ao final do show em homenagem ao Dia das Mães, no Ibirapuera, domingo, depois de ouvir o mestre de cerimônia, Serginho Groisman, lembrar do momento difícil que a cidade atravessava: "vamos lutar pelos Direitos Humanos nas cadeias". Também é duro de ouvir. "DIREITO DOS MANOS" NAS RUAS E por falar em Direitos Humanos, o que a galera está querendo mesmo é o "Direito dos Manos". É o que se diz por aí. MORAL DA HISTÓRIA Uma cidade que é sinônimo de trabalho não merece passar pela calamidade de não saber como será o dia de amanhã. Gente digna e honesta, refém do pânico, com medo de andar nas ruas, de permanecer no serviço, cumprir as tarefas do dia-a-dia. A CONVENÇÃO DO PMDB Não surpreendeu a vitória dos governistas na Convenção, dia 13, que derrubou a candidatura própria do partido à presidência da República. Surpreendente foi a vitória por apenas 48 votos. Ou seja, com 25 votos puxados, as oposições podem reverter a decisão na convenção, essa definitiva, do dia 11 de junho. Mas, em se tratando de PMDB, tudo pode ocorrer : não haver convenção em decorrência de liminares interpostas; haver convenção com apenas uma banda do partido; haver convenção com nova vitória dos governistas; haver convenção com vitória dos oposicionistas. Tudo vai depender do quadro político. Se Lula mantiver os índices de hoje, cerca de 40% das intenções de voto, adeus à candidatura própria. GAROTINHO SERELEPE Quem ouviu o discurso de Garotinho, menos gordo 8 quilos, na Convenção do PMDB deve ter ficado fã da "greve de fome" a que se submeteu o marido da governadora Rosinha. Estava lépido. ITAMAR NA DÚVIDA Itamar "Cheio de Dúvidas" Franco continua sem saber o que fará. Não sabe se espera pela decisão do PMDB, dia 11 de junho. Não sabe se fechará posição com o PT para apoiar Lula. Não sabe se será candidato do PMDB ao Senado, por Minas Gerais, com o apoio de Aécio Neves. Nesse caso, teria de apoiar Geraldo Alckmin. Itamar não sabe como pentear o topete. VEM PESQUISA POR AÍ Mais uma rodada de pesquisas virá à tona. Sem grandes alterações no quadro. Nem Evo Morales conseguiu baixar a "moral" de Lula. Lula se aproveitou da crise com a Bolívia para tirar, mais uma vez, proveito : disse que o preço do gás não vai aumentar. KASSAB "KALADO" O prefeito Gilberto Kassab está menos do que monossilábico. Está rouco de tanto calar. Aparece sempre andando, balançando os braços de um lado para outro, acompanhando o governador Lembo. Em completo silêncio. Parece querer ficar oculto. SOBRANCELHAS AGRESSIVAS Com alguns milímetros a mais, as sobrancelhas do governador Cláudio Lembro furarão os olhos do interlocutor mais próximo. Quem disse que ele não manja coisas como marketing, imagem, estética etc ? É um logotipo ambulante. Duas gigantescas sobrancelhas circulando sobre uma cara meio assombrada. E SERRA, HEIN, OLHANDO DE CIMA DA MONTANHA O ex-prefeito José Serra, candidato favorito ao governo de São Paulo, está feliz da vida. Trabalhando menos, falando menos, cobrando menos de seus assessores e olhando mais a cena política. Serra está no alto de uma montanha de intenções de votos. Deve ter cuidado. Aloísio Mercadante é preparado, luta na mesma arena dele, domina a ferramenta do economês, e passa a impressão de um petista, digamos, mais asséptico. VEJA E OS DÓLARES DE LULA A revista Veja foi corajosa em veicular a reportagem sobre os dólares de Lula numa conta no exterior. Passou meses investigando o tema. Ouviu muita gente. Mas o depoimento de Daniel Dantas não foi convincente. Para Diogo Mainardi, deu indícios da aproximação do PT com segundas, terceiras e quartas intenções. Numa entrevista para a Folha de S.Paulo, foi menos taxativo. Dantas pode ter muita munição. A Veja não publicaria a matéria na forma como fez se não soubesse mais, muito mais. Vamos aguardar. UM NOME DE RESPEITO Antônio Fernando de Souza, procurador-geral da República, que denunciou uma organização criminosa a serviço de um partido político. QUEIMA DE ÔNIBUS E OS NEGÓCIOS Os cerca de 50 ônibus queimados significaram um bom negócio para o PCC. Parcela da estrutura de transporte por vans na capital é dominada pelo grupo. Se um terço da frota paulistana (5.100 veículos) deixou de circular, o transporte alternativo subiu a montanha. MISSÃO BANDIDA Parte dos 12 mil presos que receberam indulto, por ocasião do Dia das Mães, recebeu a missão de atacar ou ser castigado na volta para a prisão. Alguns cumpriram a missão do PCC. E morreram no confronto com a Polícia. HOMENAGEM AOS POLICIAIS MORTOS Todo o respeito aos policiais mortos. Na história do confronto com a bandidagem, páginas tristes : salários parcos, vida franciscana, falta de equipamentos, desentrosamento entre as Polícias, ausência de motivação. O consolo : o amor da família. Deixam para o futuro órfãos sem esperança. ____________
quarta-feira, 10 de maio de 2006

Porandubas nº 52

ITAMAR, O DÚBIO   O ex-presidente Itamar Franco carrega a dúvida na cachola. Diz que lutará até o fim pela candidatura própria do PMDB à presidência da República. Prometeu ao deputado Michel Temer que irá a Brasília, dia 13, sábado, para a Convenção do partido. Tem o apoio de Quércia, que condiciona sua candidatura ao governo de São Paulo apenas se Itamar for o candidato peemedebista à presidência. Mas há quem garanta : mesmo se ganhar a Convenção, Itamar desistirá. Receia ser cristianizado, como foi o velho Ulysses, quando candidato ao mesmo cargo. GAROTINHO, A FOME E A CONVENÇÃO O ex-governador Garotinho também prometeu ao presidente do PMDB, Michel Temer, que comparecerá à Convenção. Mas como sair da greve? Hoje, quarta-feira, amigos e correligionários farão um movimento, com barulho, em sua defesa. Michel Temer fará um apelo para que deixe a greve de fome em benefício da própria saúde. Garotinho não tem outra saída. Diante dos apelos, sairá da greve e chegará a Brasília, 6 quilos menos gordo, com cara de vítima e de sacrificado. Tudo indica que a Convenção sepultará a idéia de candidatura própria do PMDB. MAS E A CONVENÇÃO DE JUNHO ? Ocorre que está marcada para junho a Convenção que decidirá, em definitivo, sobre a candidatura do partido, aprovada na Convenção de 8 de dezembro de 2004. O Superior Tribunal de Justiça julgou, recentemente, o mérito daquela decisão, dando ganho de causa à oposição. Como se recorda, a decisão foi inicialmente questionada pela banda governista do partido, liderada por Renan Calheiros. O ex-presidente do STJ, Edson Vidigal, acolheu a representação, também de interesse de seu patrocinador, José Sarney. Portanto, a Convenção de junho dará a palavra final. Dica fundamental : se esta Convenção de sábado sepultar a candidatura própria, será difícil, para não dizer impossível, ressuscitá-la em junho. LULA IMPÁVIDO (I) Lula continua impávido. Como teflon, nada gruda nele. A bomba jogada por Silvio Pereira nem chamuscou a roupa. Por quê ? Respostas : 1) Lula continua falando para as massas, passando por cima do centro social; 2) Os escândalos foram banalizados e até os mais bárbaros não geram impacto; 3) As massas têm dificuldade de assimilar o imbróglio que envolve o sistema político - imaginam, até, que ladrões e corruptos tramam contra Lula; 4) Lula continua a desfraldar a bandeira do pobre que chegou ao Palácio do Planalto - isso comove; LULA IMPÁVIDO (II) 5) O presidente assumiu uma agenda positiva, de realizações e inaugurações, enquanto a agenda política é negativa, escandalosa; 6) A visibilidade de Lula é muito maior que a de todos os seus adversários, pela cobertura que a mídia confere à liturgia presidencial; 7) Lula transforma argumentos contrários a ele em bastiões de defesa - Exemplo : a paulada que o Brasil levou da Bolívia, com a expropriação da Petrobras (isso mesmo, expropriação) chega nas massas dessa forma: "O gás não vai aumentar, os pobres vão continuar com o gás barato etc". O povão não sabe o que é Bolívia, mas sente quando o gás aperta o bolso. GERALDO PÁLIDO (I) No contraponto, Geraldo Alckmin continua pálido. Por que não cresce nas pesquisas ? Respostas : 1) A campanha de rua e a propaganda eleitoral não começaram; 2) O perfil de Geraldo, de harmonia e equilíbrio, é canibalizado pela tormenta ao redor; 3) A pré-campanha tucana está meio bagunçada: não há discurso (um eixo); a estrutura inexiste (Geraldo está praticamente só); a logística é frágil (falta de agilidade na locomoção). Todos os dias, aparece lenha na fogueira da crise. Geraldo parece mais bombeiro. O que mais surpreende é a ausência de um discurso. A fala de Alckmin é obvia: críticas adjetivadas, propostas acacianas ("vamos resolver isso e aquilo", mas sem fundamentação) e boas intenções. Destas, o inferno está cheio. GERALDO PÁLIDO (II) Se José Serra não tivesse tanto interesse (inconfessável) de ver Geraldo amargando uma derrota para Lula; se Aécio Neves não torcesse tanto (inconfessável) para ver Geraldo na lona, em outubro próximo, as coisas seriam muito diferentes. Serra e Aécio alimentam sonhos de disputar a presidência em 2010. O horizonte ficaria mais claro para eles com a vitória de Lula. Por essa falta de rubor no rosto de dois tucanos emplumados, Alckmin continua pálido. E FIDEL, HEIN ? Depois de receber os comandantes Hugo Chávez e Evo Morales que, em Cuba, trocaram figurinhas sobre a estratégia de nacionalização, de cunho populista, que se implanta na Bolívia, Fidel Castro passou a alimentar o velho sonho de derrubar o "imperialismo norte-americano", menos com arroubo de oratória e mais com os dólares gerados por petróleo e gás dos países amigos da América do Sul. Para atrapalhar a confabulação, uma informação quente da revista Forbes, considerada a bíblia da análise das grandes fortunas no mundo. Pois bem, a revista diz com todas as letras que Fidel tem uma fortuna de US$ 900 milhões, maior que a da rainha da Inglaterra, Elizabeth II, que tem US$ 500 milhões. Entre os chefes de Estados mais ricos, Fidel é o nono. A séria e crível revista Forbes mente ? Pouco provável. MARTA VAI TRILHAR A CURVA Marta Suplicy perdeu para o senador Aloizio Mercadante a vaga para disputar o governo do Estado. E, incrível, não pretende ser candidata à deputada federal pelo PT. Teria uma grande votação e poderia puxar votos para a legenda. Quais as razões de Marta para ficar fora do pleito ? O discurso, caros(as) leitores(as). A ex-prefeita tinha um afiado discurso contra Serra : traiu os paulistanos, depois de se comprometer, por documento passado em cartório, que ficaria os quatros anos na administração. Comenta, a boca pequena, que Mercadante não poderá criticar Serra por essa razão, eis que o senador, caso seja eleito governador, deixará o mandato no Senado pela metade. Por isso, Marta não quer ser deputada. Dentro de dois anos e pouco, será candidatíssima à prefeita de São Paulo. Eleita deputada, perderia o discurso. Não gostaria de ser acusada de deixar o mandato no meio. Por isso, prefere trilhar uma curva em vez de uma reta. MAIS UM EXAGERO A Constituição Federal é clara: Medida Provisória só deve ser usada in extremis, na hipótese de urgência e relevância. Pergunta : onde estão a urgência e a relevância para justificar o uso de Medidas Provisórias promovendo alterações nas legislações trabalhista e sindical ? Reconhecer Central Sindical é questão de urgência e relevância ? Criar um Conselho Nacional de Relações de Trabalho é coisa urgente ? Lula, Lula, Lula, onde está o bom senso ? SILVIO E O AVISO Silvio Pereira, o ex-todo-poderoso secretário do PT, avisou : vocês tenham cuidado, posso soltar os cachorros. Silvio está estressado ? Pode ser. Silvio foi abandonado ? Pode ser. Silvio está mentindo ? Pode ser. Mas a história de Silvio Pereira no PT é seu próprio escudo. Uma pessoa estressada, abandonada, está mais próxima de um desabafo contando a verdade do que de um desatino interpretando a mentira. Se "Silvinho" - termo carinhoso usado pelo companheiro presidente - abrir mais a boca, uma aposta merece ser feita : Lula continuará ou não exibindo a capacidade de desgrudar da crise ? ____________
quarta-feira, 3 de maio de 2006

Porandubas nº 51

  UMA GREVE GAROTINHA Que falta faz uma boa assessoria. A decisão estapafúrdia do pré-candidato do PMDB, Anthony Garotinho, de fazer uma greve de fome, por se sentir injustiçado pela imprensa, é de uma inocência garotinha. Como uma pessoa que postula a presidência da República toma atitude tão populista-desesperada-cômica ? Até o momento, o projeto Come Zero de Garotinho só provoca deboche. Imaginem só apelar para organismos internacionais para que controlem o noticiário da imprensa brasileira? XEQUE-MATE O gesto de Garotinho equivale a suicídio. Ele não verá atendido seus pleitos, terá de mostrar que as denúncias contra ele não têm fundamento, não terá o apoio da maioria do PMDB no endosso a seu desastrado gesto. Sairá ridicularizado da greve, com alguns gramas de peso a menos. Aliás, uma boa sugestão para os políticos mais encorpados. E, ainda por cima, verá o naufrágio de sua pré-candidatura. Ou seja, Garotinho deu um xeque-mate em Anthony, ele mesmo. Quão triste é ver um político submeter a própria família a cenas de angústia explícita. A inocência da filha chorando dá pena. E raiva contra comete tão grande desatino. PMDB SEM CANDIDATO Com o sepultamento da candidatura de Garotinho, o PMDB fica mais próximo da não candidatura à presidência da República. Itamar é apenas um adereço, não um projeto a ser levado a sério. Ele quer é ser candidato a senador por Minas, coisa que o PMDB mineiro, até o momento, não deseja. A reunião da Executiva do Partido, dia 13 de maio, dará o rumo. Tudo indica que a candidatura própria está indo para o beleléu. Mas haverá, ainda, uma convenção em junho. Onde tudo se decidirá. O PT SEM ESCRÚPULOS Que o PT perdeu a vergonha, é sabido. Agora, deixar para apurar os escândalos que feriram o partido de morte apenas depois do pleito, é a maior desfaçatez que já se viu nesses tempos de frouxidão moral. Não dá para acreditar. Um Encontro de petistas felizes, longe das denúncias e de mensalões, dando lições de moral e até falando em ética, é um escárnio. Pois Lula disse naquele encontro que ninguém tem condições de dar lições de ética ao PT. O presidente é um ícone de muitas coisas, inclusive do caradurismo. "ALFININ" NO NORDESTE Geraldo Alckmin, repetindo Fernando Henrique, corre ao Nordeste para tentar ser conhecido e diminuir a grande diferença de Lula, que obtém, hoje, cerca de 70% dos votos da região. Comeu buchada de bode e carne seca. O Nordeste tem 28% dos votos. Para ser mais entendido na região, Alckmin deveria esquecer o sobrenome e massificar o nome, Geraldo. Geraldo é bem nordestino. Em sua andança pela região - Campina Grande (PB), Crato e Juazeiro (CE) - ouvia-se um estranho "alfinin" na boca do povo. Pois bem, trata-se de uma corruptela de alfenim, que, como a rapadura, mais leve e branco, faz parte do cotidiano nordestino. "Geraldim Alfinin bem que poderia popularizar o complicado Alckmin na região". 35% EM FINAL DE AGOSTO Se Geraldo Alckmin não conseguir atingir o patamar de 35% entre o meado e o final de agosto, será muito difícil emplacar um segundo turno. Para tanto, além de correr pelo território, o ex-governador paulista precisa urgente arrumar o discurso, falando coisas que batam direto no coração e na cabeça das pessoas. Precisa dominar as temáticas regionais/estaduais. Continua no chavão do "vamos chacoalhar as estruturas", que não diz nada. Voltou a repetir isso no Nordeste. LULA ALHEIO O fogo queima a pele e Lula não sente. O presidente faz de conta que não tem que ver com a crise. Usa cadeia nacional para dar o recado de 1o de maio. Faz um balanço do governo. Ou seja, faz campanha aberta. E os nossos juízes eleitorais vêem, mas só agem quando instados a julgar. Continua distante no patamar dos 40% de intenção de voto. E AGORA, COMPANHEIRO ? Pois é. O companheiro Lula queria ser o líder dos latino-americanos ou, pelo menos, da banda sul-americana. Mas Hugo Chávez, mais aguerrido, toma a dianteira. Leva a Cuba o irmão Evo Morales, que, no Brasil, prometia fazer parceria com a Petrobras. Sob as bênçãos de Fidel, Evo e Chávez decidem endurecer. Morales nacionaliza refinarias, na prática, a estatização de multinacionais. Lula, amigo de Morales, foi pego de calça curta. Vai se valer dos amigos comuns para tratativas mais amplas. Tudo na maior cordialidade. Afinal de contas, trata-se de ações de traição entre companheiros. Reverter a situação em favor da Petrobras é quase impossível. O NACIONALISMO RESSURGE COM FORÇA Evo Morales, na Bolívia, nacionalizando petróleo e gás; Hugo Chávez, na Venezuela, com suas diatribes contra o imperialismo norte-americano e adjacências; Ollanta Humana, em boas condições de ganhar o segundo turno das eleições, no Peru, contra o ex-presidente Alan Garcia - começam a desenhar uma tendência de reerguimento da bandeira nacionalista. Os três expressam discurso identificado com a soberania de seus países e as demandas populares. Mas a crise tem uma causa principal: a falência do sistema partidário. Os partidos políticos não têm conseguido levar adiante as mudanças tão exigidas pelo povo, que, em resposta, resgata a velha política populista, comandada por perfis identificados com a alma popular. O PACOTE TRABALHISTA Nos próximos dias, será apresentado o pacote trabalhista, que abriga a legalização das Centrais Sindicais e a formação de um Conselho Nacional de Relações do Trabalho. Mas há algo bem mais polêmico em jogo. Trata-se de um projeto que define atividade-fim e atividade-meio, com o qual o governo quer diminuir - e muito - os espaços da Terceirização. Os setores terceirizados se movimentam pela ação de sindicatos de empresários e trabalhadores. JUÍZES ELEITORAIS E A LIÇÃO DE CASA Os juízes eleitorais carecem fazer urgentemente a lição de casa, a partir das recomendações do Tribunal Superior Eleitoral. Procuradores e juízes eleitorais precisam chegar a um consenso sobre o que é propaganda governamental, propaganda eleitoral, propaganda governamental com viés eleitoral etc. Está havendo grande confusão, inclusive com a proibição do uso pelos governos de logomarcas nas campanhas governamentais. Um absurdo. OS PAPÉIS SE INVERTEM A Central Única dos Trabalhadores (CUT), comandada por João Felício, com história de oposição radical, agora virou governista. Amaciou o discurso. Irreconhecível. A Força Sindical, comandada por Paulo Pereira da Silva, conquistou o lugar da oposição. Ganhou identidade. Coisas do Brasil: o tigre perdeu os dentes e o boi manso virou fera. POR QUE LULA QUER O PMDB ? Lula avisa publicamente que quer o PMDB. Mudou ou foi mudado? Até parece que não foi ele o primeiro a queimar o partido. No final de 2002, José Dirceu procurou o presidente do PMDB, Michel Temer, em nome do presidente eleito, para fazer a aliança. Michel ouviu o partido e apresentou as reivindicações partidárias. Chegaram, até, a acertar os ministérios que caberiam ao partido. Foram conversas seguidas. Anunciaram conjuntamente, José Dirceu e Michel Temer, as bases da aliança. No dia seguinte, ao relatar a Lula o resultado das negociações e acertos, Dirceu ouviu um sonoro NÃO. Ou seja, influenciado por outros setores do tal núcleo duro, Luiz Inácio desfez o trato. Dirceu pediu desculpas a Temer. Que, a partir daí, não quis mais saber de acertos com o PT, sigla que passou a ser considerada por muitos, como Partido da Traição. Depois desse desacerto, vieram as alianças com os partidos do mensalão. E a crise estourou. Lula deve estar com dor de consciência. ____________
quarta-feira, 26 de abril de 2006

Porandubas nº 50

  NOVAS MOTIVAÇÕES DO EMPRESARIADO Que os negócios sejam o leit-motiv do mundo empresarial, não há dúvida. Mas o empresariado brasileiro começa a entrar fundo em searas como responsabilidade social, compromisso com o civismo, reformas fundamentais para a consolidação da democracia brasileira. Foi isso que vi de perto em Comandatuba, na Bahia, durante três dias da semana passada em que mais de 300 empresários procuraram passar o Brasil a limpo. Ao final, sobrou a impressão de que são apenas analistas e consultores políticos que acompanham de perto a cena brasileira. A BUROCRACIA O ministro Luiz Furlan, do Desenvolvimento, muito aplaudido, expressou números de grandeza. Transmitiu a idéia de um Brasil-Potência. Chega mesmo a acreditar na projeção de liderança do Brasil, ao lado da Rússia, Índia e China. Carecerá, claro, de reformas fundamentais. Como a reforma política. Criticou, e muito, a burocracia. Mas temos uma boa colocação no ranking de programas do futuro, a partir de eixos tecnológicos. Viu-se, ali, um ministro emocionado. Uma espécie de ilha de excelência do arquipélago de águas revoltas como se parece o governo Lula. POLÍTICOS CONSCIENTES Uma dezena de políticos - parcela de uma boa nata - também se fez presente. Alguns seriamente preocupados com o amanhã. E sem deixar de criticar fortemente o ambiente de solidário corporativismo, regado à pizza, da Câmara dos Deputados. REVOLUÇÃO NA EDUCAÇÃO Uma unanimidade: Viviane Senna, mulher de coragem, empunhando uma causa que gera emoção e comoção. Tira crianças do inferno do analfabetismo e das margens criminosas para o paraíso da esperança. Lidera um programa de educação básica que impacta pelos resultados: custos baixíssimos, resultados surpreendentes, crianças felizes, aplicação rigorosa de recursos, controles externos, parceria privada e muita discrição. Uma revolução silenciosa. Não foi sem propósito que ouvi seu nome indicado para ingressar numa chapa presidencial como vice. Um impacto no universo do gênero feminino. Um troféu da Seriedade a Serviço do Brasil! LULA E AS HIPÓTESES DE VITÓRIA Expus, nesse Fórum Empresarial, algumas hipóteses que poderão garantir a reeleição de Lula: usar o poder do carisma como anti-aderente e desgrudar-se da crise; continuar a ser percebido como um "igual", um homem do povo; demonstrar que fez um governo melhor que o de FHC; recuperar apoio de parte das classes médias, que dele se desgarraram; segurar, até 1o de outubro, a grande maioria do voto nordestino (28% dos votos do País. Lula tem, hoje, 70% desses votos); furar o Triângulo das Bermudas (São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, que têm 42% dos votos), cuja tendência é a de dar forte impulso a Geraldo Alckmin; pegar os apoios da maior parte dos candidatos a governador nos 27 entes federativos; alavancar os programas sociais e mantê-los como anzol de pesca do voto; demonstrar que o candidato oposicionista não conhece tão bem o Brasil como ele, Lula; pegar o apoio do PMDB. Lula é o favorito. Sabe falar para as massas e usar símbolos nacionais. ALCKMIN E AS HIPÓTESES DE VITÓRIA Geraldo Alckmin tem chances ancoradas nas seguintes hipóteses: identificação com o Novo, deixando Lula na retranca da banda velha; mostrar que a gestão em São Paulo foi exemplar, enquanto a gestão do PT foi catastrófica; fazer da ética uma batalha mais importante que a batalha da economia; garantir maioria expressiva no Triângulo das Bermudas, onde está o voto mais racional; segurar as classes médias, que se desgarraram de Lula, até o final da campanha; esperar que a indignação das classes médias com a lama da crise chegue até as margens sociais (efeito da pedra jogada no meio da lagoa); esperar que parte do voto nordestino vá na sua direção por conta da influência dos caciques e chefes locais, ou seja, pela influência das campanhas estaduais, mais favoráveis às oposições; esperar que o PMDB tenha candidato e que este, Garotinho ou outro, obtenha entre 15% a 20%, fazendo a campanha entrar no segundo turno; ter uma comunicação e uma organização de campanha eficientes; e esperar que o Produto Nacional Bruto da Infelicidade - mistura das insatisfações, desemprego, serviços sociais precários, violência, etc. - seja alto por ocasião da eleição. Aí Lula perderia. RIGOTTO AMARGURADO Germano Rigotto, governador do RS, continua amargurado. Foi o que se viu em Comandatuba. Não saiu de sua cabeça a idéia de que é o melhor quadro do PMDB à presidência. Perdeu a chance. E ganhou amargura. TEMER E A CANDIDATURA PRÓPRIA O presidente do PMDB, Michel Temer, é um obstinado defensor da candidatura própria do partido à presidência da República. Tem motivos para isso, a partir da crença de que o PMDB tem de estar no espaço central, não nas margens. FURLAN ESTRESSADO Por duas vezes, a emoção lacrimada flagrou o ministro Luiz Furlan no Fórum Empresarial de Comandatuba. A primeira, por ocasião da entrega do Prêmio Personalidade Empresarial Feminina, entregue a Viviane Senna. A segunda vez foi por ocasião de uma pergunta do deputado Michel Temer. O presidente do PMDB queria saber se a expansão do programa Bolsa Família de 8 milhões para 12 milhões denotava crescimento do País. Em sua lógica, quando se aumenta o programa para os pobres é porque os pobres estão aumentando. Furlan, estressado, parece ter entendido a pergunta como provocação pessoal. E respondeu quase raivoso. Quem conhece a ponderação que faz parte da índole de Temer concluiu que Furlan exibe um estado emocional para lá de estressado. MONTENEGRO APOSTA EM LULA O presidente do IBOPE, Carlos Augusto Montenegro, exibindo a tendência das pesquisas, apostou vivamente na vitória de Lula. Fiz o contraponto. Procurei mostrar que FHC, em 1994, saiu atrás e ganhou as eleições. Lembrei que Collor, em janeiro de 1989, era um desconhecido. Em junho, depois de três programas de TV, estava na frente das pesquisas. Diz-se que FHC ganhou em 1994 por causa do Plano Real. Portanto, o ano foi atípico. Faço um adendo: 2006 exibe o Plano Real do Mensalão. Da mesma forma, temos um ano atípico. Portanto, não se pode e nem se deve garantir nada em matéria de eleição. Como mineração, o resultado só se vê depois da apuração. _____________
quarta-feira, 19 de abril de 2006

Porandubas nº 49

  GAROTINHO MORDAZ O pré-candidato do PMDB à presidência da República atacou de maneira contundente o presidente Lula, ontem à noite no Programa Tribuna Independente da Rede Vida. Perguntei-lhe sobre o conhecimento de Lula a respeito do mensalão. Não se acanhou. Lula era o chefão, comandou o maior processo de corrupção de todos os tempos. E acusou o presidente de acobertar os negócios do filho, que teria recebido R$ 15 milhões de uma empresa de telecomunicações. GAROTINHO CONFIANTE O ex-governador estava muito confiante. Não acredita na polarização entre PT e PSDB. Não aceitou minha hipótese de que Geraldo Alckmin poderá levar a melhor no Triângulo das Bermudas : São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro, que detêm 42% dos votos. Rejeita o perfil de populista, apesar de ser flagrado na própria entrevista usando a linguagem mais que populista : Lula amarelou, vamos reduzir drasticamente a taxa de juros, o país vai voltar aos trilhos, o povo precisa de segurança etc. As soluções são simplistas, os termos são genéricos, a emoção irradia-se por todos os lados. Mas Garotinho rejeita o rótulo de populista. Que é bom comunicador, não se discute. ITAMAR FAZENDO O JOGO DO PT Quanto a Itamar Franco, que se mostra disposto a também ser candidato à presidência pelo PMDB, Garotinho deixa mais que claro que está fazendo o jogo de Lula. Não será candidato. Quer ser vice de Lula ou senador na vaga do PMDB em Minas. Não sabe, ainda, porque Quércia o rejeita. REUNIÃO EM BRASÍLIA Será interessante a reunião da Executiva do PMDB marcada para hoje em Brasília. Tanto Itamar quanto Garotinho defenderão a candidatura própria. Mas os candidatos a governador de 15 Estados, com possibilidades efetivas de serem eleitos, procurarão queimar a candidatura própria. Defendem liberdade para fazer alianças com todos os partidos. E candidatura própria poderia atrapalhar. O presidente do partido Michel Temer defenderá, por sua vez, as alianças brancas, que poderão ser feitas informalmente nos Estados. OKAMOTTO E TEIXEIRA RESISTIRÃO ? Paulo Okamotto resistirá ao tiroteio ? Paulo Teixeira continuará a resistir ao depoimento na CPI dos Bingos ? Ao ser comprovada a denúncia de que Okamotto foi o trem pagador da família Lula, a fogueira chegará ao presidente. Ele e o compadre de Lula, o advogado Roberto Teixeira, intimados para comparecer à Polícia Federal são os caminhos que chegam direto à sala íntima do presidente. APOSTAS Quem aposta que o efeito Teflon livrará Lula da crise do mensalão por ocasião do combate direto na campanha eleitoral ? Quem aposta que os dólares na cueca e os "recursos não contabilizados" prejudicarão Lula ? Façam suas apostas. Na primeira hipótese, Lula poderá já encomendar o terno da nova posse. Na segunda, um tucano posará nas árvores da Granja do Torto. ALCKMIN DESAJEITADO Geraldo Alckmin tem um perfil de equilíbrio e organização. Mas continua perdido. Não organizou, ainda, uma base mínima para enfrentar a mais contundente campanha da história contemporânea. IMPEACHMENT DE LULA O jovem advogado Luiz Carlo Crema ofereceu denúncia protocolada junto à Secretaria da Mesa Diretora da Câmara dos Deputados contra o presidente Lula. Acusações : a) desvio na aplicação de tributos vinculados - CIDE (Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico); b) favorecimento ilícito. O TCU apontou o cometimento, pelo Presidente da República, de crime de improbidade administrativa, requerendo, inclusive, que fosse oferecida denúncia pelo Ministério Público; c) violação aos princípios da legalidade, da impessoalidade e da moralidade. O presidente da República manifestou-se expressamente a favor da proibição da comercialização de armas de fogo e munição. Diante da decisão do presidente da Câmara em rejeitar a denúncia, Crema interpôs Recurso ao Plenário. E propôs MANDADO DE SEGURANÇA, protocolado no Supremo Tribunal Federal. ________ PALOCCI AMARGURADO Quem teve oportunidade de conversar com o ex-todo poderoso ministro Antônio Palocci, nos últimos dias, encontrou um homem amargurado e solitário. Ouviu que se sente traído. O poder afrodisíaco também mata. SERRA NA MOITA José Serra aprendeu que, às vezes, é melhor ficar na moita. Tem até um motivo: passou por uma cirurgia. Mas cirurgia do silêncio também faz bem. Ver a carruagem passar com muito barulho é melhor do que estar dentro dela. MARTA QUASE DESISTINDO Dizem que Marta Suplicy está quase capitulando. Lula já manifestou preferência pela candidatura de Mercadante ao governo de São Paulo. Marta voltaria à Câmara, em 2008, para tomar o lugar que hoje pertence ao prefeito Gilberto Kassab, ex-vice de Serra. FAMILIARES FORA DA CAMPANHA Lula instruiu seus articuladores no sentido de excluir das acusações disparadas pelo PT a família de Geraldo Alckmin. Teme que seus familiares sejam igualmente jogados no fogo. GENRO ESTÁ BEM Tarso Genro está desempenhando a contento a articulação política. Sensível, preparado, equilibrado, consegue dar credibilidade aos gestos e atitudes que toma. CAMPANHA CURTA Quanto menor a campanha, melhor para José Serra. Quem pode ganhar no primeiro turno, faz tudo para evitar o desgaste do tempo. Serra conseguirá segurar a barra até outubro? FAMILIARES FORA O Ministério Público de alguns Estados deu prazo - até de 90 dias - para que as Prefeituras e Tribunais dispensem os familiares de prefeitos e magistrados empregados sem concurso. Haverá uma enxurrada de dispensas. _____________
quarta-feira, 12 de abril de 2006

Porandubas nº 48

  EFEITO TEFLON A última Pesquisa Datafolha indica que Lula está imune à crise. Conserva a mesma base de votos das pesquisas anteriores. A crise Palocci não borrou o seu perfil. A questão é : Lula resistirá aos bombardeios que certamente serão mais fortes, ao correr da campanha ? Será que o teflon continuará a deixar limpa a sua panela ? Analisemos : Lula continua tendo alta visibilidade ; Alckmin foi submetido a intenso bombardeio nos últimos dias, em função de denúncias sobre amigos beneficiados com verbas de propaganda, vestidos doados à dona Lu Alckmin e sociedade do filho, Thomaz, com a filha do seu acupunturista em uma empresa ; Lula continua inaugurando obras e distribuindo bolsas família ; Alckmin ainda não conseguiu formar o batalhão da campanha e tem postura reativa ; ademais, a torrente de denúncias e escândalos envolvendo o PT e seus generais acabou gerando banalização dos fatos, atenuando os impactos. Lula tira proveito disso. OS PONTOS DE GAROTINHO Que Garotinho é populista, todos sabem. Que Garotinho defende o projeto Garotinho e não o projeto do PMDB, todos sabem. Que Garotinho não é o candidato da mídia massiva, todos sabem. Apesar de tudo isso, Garotinho sobe. Sobe na pesquisa Datafolha. Primeiro, porque sabe usar bem os espaços do PMDB nos spots publicitários. Segundo, porque a saturação - "petistas versus tucanos" - está abrindo espaço para uma candidatura alternativa. Garotinho soma essas coisas. Com mais cinco pontos, consolidaria uma posição de candidato do PMDB. Difícil de ser derrubada. É o que pensa, por exemplo, o senador do PMDB de Mato Grosso do Sul, Ramez Tebet. E é o que pensa, também, o presidente do partido, Michel Temer. ITAMAR DESISTIRÁ ? Garotinho falará, ainda hoje, com Itamar para pedir seu apoio. Henrique Hargreaves, que foi seu chefe da Casa Civil, garante : Itamar vai dizer a Garotinho que topa ser também candidato do PMDB à presidência. Garotinho está crescendo. Mas não tem as bases do partido. Já Itamar não está nas pesquisas. Mas tem parte das bases. SEM PALAVRA O deputado Wilson Santiago (PMDB-PB), que disputa com o deputado Valdemar Moka (PMDB-MS) a liderança do partido, assinou uma carta à direção partidária endossando a idéia de uma eleição para escolha do líder. Mas não esperou. Com uma lista nas mãos, derrubou a lista anteriormente apresentada pelo adversário. E a eleição ficou para as calendas. ALCKMIN E AS PESQUISAS Geraldo Alckmin é um crente. Acredita que as pesquisas lhe darão vantagem sobre Lula quando a campanha de TV e rádio começar. É possível. Lula será colocado dentro da crise. Imagens de dólares na cueca, queda dos generais do presidente, denúncias envolvendo familiares, tudo isso poderá sensibilizar as margens sociais. A conferir. Mas as denúncias atingirão também Alckmin. Os petistas procurarão responder à altura. Também a conferir. REJEIÇÕES Quem quiser ler bem pesquisas, olhe para as rejeições. Lula tem maior rejeição que Alckmin : 35,7% contra 33,5%, segundo a pesquisa CNT/Sensus. E Garotinho é campeão, com índice que chega a 50%. O ORÇAMENTO SEM VOTAÇÃO E o Orçamento, hein ? Ainda não foi votado. A crise atropela a discussão fundamental. O acessório toma o lugar do principal. É o Brasil. CENSURA PÚBLICA Acaba de chegar à Coluna uma representação do Ministério Público de Roraima contra o Estado e o governador Ottomar Pinto. Os promotores de Justiça João Paixão e Luiz Antônio Araújo, com olhos de lince, distinguiram na logomarca do governo, representada por três estrelas, conotação pessoal. Entendem que logomarca é brasão, bandeira, armas, selo oficial. Não conseguem, assim, distinguir a marca de um governo dos símbolos do Estado. Seria interessante ver esses dois membros do parquet "cassando" as logomarcas dos governos dos outros 26 entes federativos. Seriam seguramente "gozados" por outros operadores da Justiça. Mas Roraima é muito distante e lá, os olhos da Justiça, às vezes, são os olhos de cada promotor. Adendo : a logomarca do governo Ottomar é usada desde os tempos em que ele governou o Estado pela primeira vez. COBERTURA DA BAND Fernando Mitre, o diretor de jornalismo da Rede Bandeirantes, promete uma cobertura diferenciada. Chegou a vez do conteúdo. A cobertura privilegiará os programas dos candidatos. O conteúdo suplantará a forma. Um programa com os candidatos a presidente abrirá a campanha. Será entre 12 a 20 de julho. E um programa na esfera estadual mostrará as diferenças entre os candidatos, a partir de sua visão de problemas. Mitre ouvirá os partidos e estará de ouvidos atentos às demandas sociais. Ou seja, o marketing do espetáculo não terá muita vez na cobertura da Band. Um passo avançado. ________________