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Porandubas Políticas

Por dentro da política.

Gaudêncio Torquato
quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Porandubas nº 210

Ô jardineira... Na cidadezinha do norte do Rio de Janeiro, a procissão de Senhor Morto caminhava lenta e piedosa, na sexta-feira da paixão, com o povo cantando, de maneira compungida, os hinos sacros. O velho padre na frente, o sacristão ao lado e os fiéis atrás, cantando as músicas que o vigário puxava. De repente um pequeno ônibus, que na região chamam de "jardineira", passou perto e começou a subir a íngreme ladeira da igreja, bem em frente da procissão. No meio da ladeira, a "jardineira" afogou, encrencou, parou, deu aceleradas fortes e inúteis e começou a dar para trás, de costas. Os fiéis não viram, mas o padre, atento, viu. E ficou apavorado. A "jardineira" já despencava numa grande velocidade. O padre gritou : - Olha a jardineira ! E os fiéis começaram a cantar, em ritmo de samba : - Ô jardineira, por que estás tão triste ? Mas o que foi que te aconteceu ? Foi a camélia que caiu do galho, deu dois suspiros e depois morreu. A "jardineira" descambou ladeira abaixo, até que parou. Não atropelou ninguém. Sob o olhar do Senhor Morto ! Mas os fiéis não aguentavam de tanto rir. Sebastião Nery, em seu Folclore Político. Reflexos da crise A crise política é crônica. Vem lá de trás. E se projeta nos horizontes do amanhã. Carrega os vícios dos ismos : patrimonialismo, caciquismo, mandonismo, paroquialismo, grupismo, familismo, patriarcalismo. O balcão de recompensas multiplica suas ofertas. O varejo político impera. Os Poderes imbricam funções. Os palanques se expandem nos períodos da entressafra eleitoral. E quais são os reflexos dessa crise nos costumes ? Eis alguns deles : Banalização - A repetição de escândalos, ilicitudes e desvios esquarteja o conceito de nação. Transforma o altar da pátria em entulho de lixo. Pasteurização - Os partidos tornam-se amorfos, inodoros. Pasta incolor. Mimetismo - Se os parlamentares não se respeitam, por que eu tenho de ser educado ? Se a eles falta compostura, por que eu tenho de me comportar bem ? Descrença - Políticos entram no perigoso território da descrença, abrindo um enorme vácuo entre a esfera institucional e o universo social. E os reflexos positivos ? Mas podemos distinguir um pequeno farol no final do túnel. Seus reflexos mostram aspectos positivos, dentre eles : Racionalidade - Tendência para observação mais aguda dos fenômenos políticos. Poder crítico - Expansão da crítica social e exigências mais rigorosas sobre comportamentos e atitudes. Organicidade social - Integração de forças em torno de movimentos, núcleos, associações e entidades de todos os tipos. Que passam a fazer pressão sobre a esfera institucional. Renovação - Tendência de grupos sociais organizados para inserir no território político perfis que encarnem o ideário de renovação. "Se cada um se ocupasse do seu trabalho, o mundo daria as suas voltas com maior rapidez". (Lews Carroll) FHC e o subperonismo No seu artigo de domingo, no Estadão, Fernando Henrique faz contundente peroração contra os rumos que o governo Lula imprime ao país. O diagnóstico é duro : estamos vivenciando um subperonismo, onde imperam um sindicalismo que vive às custas do Estado, partidos fracos e fundos de pensão, que dão as cartas na direção de grandes empresas. As transgressões se multiplicam, as estruturas se enchem de amigos e apaziguados, a propaganda vende um território de felicidade "nunca visto antes neste país" e o mandatário assume a postura de um imperador acima de tudo e de todos. Ao lado do artigo do ex-presidente, o meu, relatando as peripécias de uma perereca, detalhe na paisagem do obreirismo faraônico com que Lula pretende desenhar a imagem de Dilma Rousseff. Oposições definham Fernando Henrique, na verdade, chama a atenção das oposições, quando mostra as ilicitudes e o estilo Luiz XIV - L'état c'est moi - de Luiz Inácio. Vocês não vêem as contrafações, as ilicitudes, as barbaridades cometidas, os climas artificiais em torno da ideia - falsa - do Brasil Potência ? Onde estão vocês, oposições ? O PSDB dá impressão de que subiu no muro. O DEM, nervoso com as indefinições que tomam conta do parceiro (Serra ? Aécio ?), se esfarela. Cobra de José Serra indicações mais fortes. Apela para o governador mineiro decidir seu rumo. As cobranças se perdem nas margens da Torre de Babel. "Não desperdice lágrimas novas em tristezas antigas". (Eurípedes) Tsunami governista Não por acaso, o Brasil é engolfado por um gigantesco tsunami governista. Que passa por cima de tudo e de todos. Preenche todos os buracos. Invade territórios. Define a agenda do Parlamento. Coopta quadros por todos os lados. O rolo compressor carrega tudo que encontra pela frente. O governismo é um rinoceronte. O oposicionismo é uma formiguinha. Que não chega nem a fazer cócegas na pata rinocerôntica. Quanto menos atrapalhar a caminhada do bicho feroz pelas savanas eleitorais. A justiça "A justiça, lemos em Platão, é o que reserva a cada um sua parte, seu lugar, sua função, preservando assim a harmonia hierarquizada do conjunto. Seria justo dar a todos as mesmas coisas, quando deles não têm nem as mesmas necessidades nem os mesmos méritos ? Exigir de todos as mesmas coisas, quando eles não têm nem as mesmas capacidades nem os mesmos encargos ? Mas como manter então a igualdade, entre os homens desiguais ? Ou a liberdade, entre iguais ? Discutia-se isso na Grécia; continua-se a discuti-lo. O mais forte prevalece, é o que se chama política". (Pequeno tratado das grandes virtudes - André Comte-Sponville) Aécio sobre, Serra desce Impressão - singela - deste consultor. Aécio Neves, a cada semana, sobe um degrau na escada eleitoral que dá acesso ao Planalto Central. E José Serra, que estava no alto da escada, neste momento desce para o degrau do meio. Serra só subirá a montanha eleitoral que conduz à Presidência da República se contar com a ajuda de um teleférico. Mera impressão, repito, de quem observa o bico cada vez menor do tucano que habita o Palácio dos Bandeirantes. Serra só deixa o ninho do Morumbi se tiver certeza de que ganhará outro bem maior. A cada dia, esta certeza decai um grau na escala do confiômetro. O poder na placa Vejam o que é o poder. Um espaço chamado de recanto japonês. Três fontes jorrando. São assim chamadas : amor, saúde e inteligência. O turista fica de costas para essas bicas d'água, joga uma moeda e faz um pedido. Pois bem. O recanto não tem obra de engenharia ou arquitetura que chame a atenção. Mas a placa de inauguração da obra, esta, sim, chama muito a atenção. Tem o nome do prefeito, do vice, de secretários, assessores (incluindo o de imprensa e o jurídico), chefes de departamento e quetais. Total dos nomes ali registrados : 19. O recanto japonês fica na aprazível cidade de belas praças e ótimas termas : Poços de Caldas. "A consciência é o mais cru dos chicotes". (Machado de Assis) 20 suplentes O Senado conta, agora, com 20 suplentes. Nenhum deles ganhou um voto. Mas são senadores da República. Esse é um estatuto que precisa ser reformulado. Para ocupar a vaga de senador que deixa a Casa, deveria ser convocado o segundo mais votado. É mais lógico e democrático. Dilma e o 3º mandato Dilma cometia, até pouco, um erro crasso. Vivia dizendo que sua eleição equivaleria ao terceiro mandato de Lula. Ora, a afirmação aponta para a anulação de sua própria personalidade. Indicaria, ainda, que o dono do mandato continuaria ser ele, Luiz Inácio. E ela seria apenas capacho, em papel secundário. Nos últimos tempos, diante da asneira e certamente alertada, a pré-candidata retirou a declaração de seu repertório. Fundos de pensão Os fundos de pensão movimentam os eixos das grandes empresas brasileiras. Só o Fundo Previ dispõe de cerca de 200 cargos nos conselhos das maiores empresas do país. Esse é o verdadeiro sindicalismo de resultados. Duas imagens Recebo duas imagens via internet. A primeira mostra o presidente Barack Obama em reunião com assessores. Sobre a mesa, garrafas d'água, copos de plástico, canetas esferográficas simples. A segunda imagem é uma paisagem do sertão nordestino. Ao fundo, um prédio simples, mais parecendo um grupo escolar a ser inaugurado. Chão de terra batida. Sobre ele, um imenso tapete vermelho, que operários tentam grudar no chão, para que os pés de Sua Excelência, o presidente Luiz Inácio, não toquem na poeira. Naquela paisagem insólita, os garçons devem ter aparecido de branco, alinhados, de colarinho engomado e gestos estudados, servindo champanha em flutes de cristal. Dilma em MG Quem acha que a campanha eleitoral de 2010 ainda não começou, atente para este fato. Em Minas Gerais, os anúncios publicitários do PT estão sendo devidamente usados pela ministra Dilma Rousseff. Não para anunciar obras, não para fazer peroração em torno de algum projeto do governo. Ela aparece na telinha para dizer que muitos mineiros não sabem, mas ela é mineira, uai. Para completar o anúncio orgulhoso, completa com a informação de que foi bater em outras paragens, mas o coração é mineiro. Ou seja, a ministra tenta mostrar a mineirice no segundo maior colégio eleitoral do país. Sorridente Em tempo : a ministra mostra-se sorridente todo tempo. PP irá com quem? O presidente do PP é o senador Dornelles. Que vem a ser primo de Aécio Neves. Mais mineiro do que nunca, o senador Francisco Dornelles diz que uma coisa é pessoa física, outra coisa é pessoa jurídica. Portanto, o PP poderá caminhar com Dilma, levado por Lula e Maluf. Como a pessoa física pode influenciar a jurídica, o PP também flerta com o PSDB. Claro, se o candidato for Aécio Neves. E o cirense, hein ? Ciro, o cearense, em final de semana, é visto de bermudas e chinelos nos bairros charmosos do Rio; em feriados, despacha-se para a terrinha nordestina, onde fincou suas estacas políticas. Vez ou outra, ele se lembra que mudou o título de eleitor para São Paulo, onde aparece para dar entrevistas. Ciro, depois de alcançar a onisciência, ganha o status da onipresença. Sem graça Uma campanha eleitoral sem Ciro é sem graça. Ciro é chefe da artilharia. Fauna política Acham José Serra parecido com tartaruga. Anda devagar quase parando. Parece também com boi. Sossegado, tranquilo, esforçado. Dilma se parece com borboleta, está sempre voando por onde tem PAC. Mas tem semelhança com pombo, sempre de conversinhas. Ciro Gomes está mais para cavalo. Dá patada para todos os lados. Mas tem jeito também de pavão. Aécio Neves é gato, esperto e companheiro. Lula está mais para leão, poderoso, dominador. Quem tem jeito de macaco ? "Já quis ser ateu, mas desisti. Eles não têm feriados". (Henny Youngman) Renascer Faz pouco tempo. O bispo Estevam Hernandes e a bispa Sônia Hernandes passaram uma boa temporada trancafiados nos EUA. Domingo, lideraram uma passeata de um milhão de pessoas pelas ruas de São Paulo. Isso é o que se chama Renascer. Levi-Strauss Morreu Lévi-Strauss, o cientista francês que escreveu "Os Tristes Trópicos". Descreveu a selva de Mato Grosso como o ambiente mais hostil ao homem sobre a superfície do planeta. Strauss era amigo do Brasil e do seu povo. Conselho a Dilma Rousseff Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na edição passada, o espaço foi destinado aos ministros do TSE. Hoje, volta sua atenção a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff : 1. Ministra, procure compor sua imagem sem descaracterizar a identidade. Quando a imagem é muito artificial, o eleitor consegue descobrir a taxa de falsidade. 2. Identidade é personalidade, história, caráter, cultura, experiência de vida. Imagem é a sombra da identidade. Se é muito afastada do corpo, a imagem torna a pessoa deformada. 3. Procure ser sincera nos atos, gestos e atitudes. ____________
quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Porandubas nº 209

"Seu" Lunga A coluna de hoje está recheada com historinhas do "seu" Lunga, enviadas pelo primo Zéneumanne. Quem é a figura : foi ourives em Juazeiro do Norte, Ceará, vendedor de sucatas, pai de 13 filhos, quase analfabeto. Candidatou-se uma vez a vereador e perdeu. Ganhou fama pela língua solta e afiada. "Seu" Lunga descansava na rede. Manda o sobrinho trazer-lhe um pouco de leite. O garoto pergunta : - No copo ? Ele responde : - Não. Bota no chão vem empurrando com o rodo, fío de rapariga !!! O funcionário do banco veio avisar : - "Seu" Lunga, a promissória venceu. - Meu filho, pra mim podia ter perdido ou empatado. Não torço por nenhuma promissória. Primeira leitura Céu de Brigadeiro. Lula continua navegando em mares nunca d'antes navegados. Jamais um presidente, a um ano das eleições presidenciais, alcançou índices tão altos de aprovação popular. O ambiente social está calmo. O ambiente econômica respira confiança. Os níveis de otimismo dos setores produtivos voltam ao patamar de antes da crise. O situacionismo abarca largos territórios. A campanha eleitoral é antecipada com as idas e vindas de Lula e Dilma pelos espaços nacionais. As oposições se escondem. Ninguém sabe onde elas estão. Diante dessa moldura, a pergunta é : quais as chances de um lado e de outro ? Segunda leitura Dilma Rousseff tem mais chances. Dilma Rousseff consolidando a posição de candidata do PT, com o apoio da aliança governista, ultrapassa a casa dos 20% de intenção de voto em janeiro, e se torna competitiva. Lula intensifica a peregrinação pelo país, Dilma transforma-se em candidata de Lula, é reconhecida nas ruas, ameniza o perfil, deixa a arrogância de lado e vai de encontro às massas. Atravessa, incólume, eventuais desafios e denúncias das oposições, e entra no trimestre eleitoral em franca posição de candidata competitiva. Acena com a vitória. Pano de fundo : programas do governo direcionados a todos os contingentes que povoam a pirâmide social. __________________ "Seu Lunga", no elevador (no subsolo-garagem). Alguém pergunta : - Sobe ? Ele : - Não, esse elevador anda de lado. __________________ Terceira leitura José Serra tem mais chances. As oposições conseguem mostrar a maneira petista de governar. Inchamento do Estado. República Sindicalista. MST devastando propriedades. Desvios de dinheiro em obras públicas. O PAC é uma ficção. Corrupção generalizada. TCU descobre mais obras superfaturadas. Espraia-se, a partir do Sudeste, um sentimento de que é preciso mudar. E que o ciclo Lula se exauriu. Serra, o governador, emerge como pessoa séria, experimentada, com um perfil do ministro da Saúde que patrocinou os remédios genéricos. O clima social se esgarça. O ambiente econômico volta a enfrentar nuvens carregadas. Dilma comete gafes. Serra entra no trimestre eleitoral como franco favorito. Em condições de alçar a bandeira da vitória. Quarta leitura Diante do crescimento de Dilma, José Serra teme enfrentar a candidata. Pressionado pelo DEM e por parte do tucanato, Serra proclama : "desisto. Não serei candidato". E chama Aécio Neves para ocupar seu lugar. Neves topa na hora. Veste-se de candidato, monta uma turnê pelo país. Sua candidatura gera abalos no situacionismo. Ciro Gomes desiste de ser candidato pelo PSB. Parcela densa do PMDB corre na direção de Aécio. Dilma Rousseff fica em transe. Não sabe para onde ir. Lula pede : calma, gente, calma. Mas não consegue mudar o rumo do vento. Aécio é o novo. Diferente. Sorriso aberto. Franco. Aparece em espaços mineiros sob o ar matreiro do avô Tancredo e o sorriso aberto de Juscelino. Empolga o país. E ganha a campanha. Qual é a mais adequada ? Que leitura é a mais adequada ? A leitura aos coríntios ? Aos hebreus ? Aos crentes de Serra e descrentes de Dilma ou vice-versa ? Aos crentes no todo poderoso Luiz Inácio ? Que cada um escolha a resposta que mais lhe convém. O imponderável Aqui, do meu lado, começarei a fazer as contas e avaliar todas as alternativas. Apenas uma está fora do meu controle : o imponderável. __________________ "Seu" Lunga vai saindo da farmácia, quando alguém pergunta : - Tá doente ? - Quer dizer que se eu fosse saindo do cemitério, eu tava morto ? __________________ Ciro e Marina Como é notório, desconsiderei as possibilidades de Ciro Gomes e Marina Silva. Poderão obter grande bacia de votos, mas não suficientes para levá-los ao pódio. Terão, no entanto, se forem candidatos confirmados, um bom papel como coadjuvantes. PMDB e PT A aliança entre PMDB e PT será efetivada. Hoje, o compromisso está selado. Mas há uma agenda a ser cumprida. Haverá um jantar com os governadores do partido com Lula, Dilma e a cúpula do PT. A seguir, outro encontro, desta feita, reunindo as duas bancadas - deputados e senadores. Em todos os encontros, a ideia é a de sentir o pulso do partido sobre questões programáticas. Michel Temer, que comanda o processo, não quer firmar aliança apenas sobre o fio da ocupação de espaço mas sobre um amplo escopo programático. __________________ "Seu" Lunga dava uma tremenda surra no filho e o menino gritava : - Tá bom, pai ! Tá bom, pai ! Tá bom, pai ! - Tá bom ? Quando tiver ruim, você me avisa, que eu paro. __________________PT em São Paulo Este consultor teve demorada conversa com o prefeito Emidio de Souza, de Osasco. Emidio é um dos melhores quadros do PT e faz um governo avançado. É muito bem avaliado. A impressão dessa conversa : o prefeito terá o apoio do partido para ser o candidato ao governo de São Paulo. É o mais palatável. Não apresenta fissuras na imagem. Não é polêmico como outros perfis do PT. Não é cercado por escândalos. Tem o apoio dos prefeitos. Só não será candidato se Ciro Gomes, instado por Lula, assumir a candidatura ao governo paulista. Nesse caso, o PT fecharia posição com Ciro. Sob as ordens de Lula. __________________ O amigo de "seu" Lunga o cumprimenta : - Olá, tá sumido ! Por onde tem andado ? - Pelo chão, não aprendi a voar ainda... __________________ Efeitos deletérios Este consultor acredita que a candidatura Ciro Gomes, em São Paulo, só seria bom negócio para o PSB. Que faria uma razoável bancada de deputados federais e estaduais. Mas não seria interessante para o PT, mesmo com a coligação. O candidato majoritário tende a puxar mais votos para a legenda que pertence. Ademais, deixar de ter um candidato próprio ao governo em seu Estado berço seria muito ruim para o PT. A conferir. Senadores paulistas Briga boa ocorrerá na área das candidaturas ao Senado. Em São Paulo, Marta Suplicy até que deseja ser candidata ao Senado. Teria chances. Ocorre que Aloizio Mercadante é o candidato natural - seu mandato se encerra e ele teria o direito de reivindicar a volta ao posto - e queima qualquer outro nome do PT com alguma chance. Do outro lado, o candidato mais visível é Orestes Quércia. Que, da mesma forma, queima a possibilidade de Guilherme Afif ser o outro nome da chapa governista. Afif teria melhores condições do que ele, haja vista o último pleito, quando quase ganhou de Eduardo Suplicy. __________________ Na década de 70, "seu" Lunga chega num bar e fala pro atendente : - Traz uma cerveja e bota o disco de Luiz Gonzaga pra eu ouvir ! - Desculpe, "seu" Lunga, não posso botar música hoje... - Mas por que ? - Meu avô morreu ! - E ele levou os discos, foi ? __________________ Imbróglio O quadro está ainda muito nebuloso. Geraldo Alckmin, apesar do alto índice que mantém nas pesquisas de intenção de voto para o governo, encontrará muitas resistências para ser o candidato. Não conta com a simpatia de José Serra e do prefeito Kassab. Que ainda pensam em pinçar o nome de Aloysio Nunes Ferreira, que chefia a Casa Civil do Governo do Estado. Aloysio exibe modestos 4% de intenção de voto. E os aloyisistas argumentam : Alckmin tem recall. Esse índice que ele hoje alcança não se sustenta numa campanha acirrada. Além disso, ele não é de briga. Vai ser torpedeado. E se ele foi indicado para a chapa do Senado ? Neste caso, é o Quércia que rejeita. Com medo de Geraldo tomar o lugar dele. Luiz Inácio a favor de Luiz Inácio Pois é, o novo advogado-geral da União, Luís Inácio Adams, diz que seu xará Luiz Inácio (o Lula da Silva), não faz campanha eleitoral quando viaja pelo país fiscalizando obras do PAC. Se o novo advogado-geral da União não vê conteúdo eleitoral nas viagens, precisa abrir os olhos. Vamos ao ponto : percorrer o país, senhor Adams, para verificar o andamento das obras, é dever do governante. Mas subir em palanque para fustigar as massas, isso é comício, sim. Portanto, uma coisa é ver obra, outra coisa é fazer da obra instrumento eleitoreiro. Para que palanque ? Para que a discurseira ? Por que não fazer uma visita técnica ? __________________ Durante a madrugada, a mulher do "seu" Lunga passa mal : - Lunga ! Ta me dando uma coisa... - Receba ! - Mas é uma coisa ruim ! - Então devolva ! __________________ O S de Skaf Paulo Skaf, presidente da FIESP, cometeu a maior deselegância dos últimos tempos para com pares políticos. Disse, com todas as letras, em entrevista a O Globo, de domingo último, que o S do PSB, é apenas uma letrinha. Não tem nada com socialismo. O Partido Socialista Brasileiro ficou com a brocha na mão. O que diz minha amiga Luiza Erundina (PSB/SP) sobre o fato ? Vou procurar saber. Prefeito é um crack Que coisa mais esquisita, hein ? O prefeito de Raposos/MG, João Carlos da Aparecida (PT), foi flagrado duas vezes em boca de fumo. O cara aprecia o crack. Tirou licença da Prefeitura. Basta ? Que exemplo de civismo esse crack dá aos seus munícipes, hein ? Vaias para ele. Fundação afundada A Fundação José Sarney foi fechada por ordem de seu patrocinador, ele mesmo, o senador José Sarney. Deve ter sido um golpe e tanto no coração do ex-presidente da República. Sarney, como se sabe, preza a liturgia do poder. Preza a história da política. E, claro, preza a própria história. O fechamento da Fundação nos leva a aduzir que os mais sagrados patrimônios pessoais não estão isentos dos ventos contrários e soprados pela opinião pública. __________________ "Seu" Lunga entrando em uma agropecuária. -Tem veneno pra rato ? -Tem ! Vai levar ? - pergunta o balconista. -Não, vou trazer os ratos pra comer aqui ! - responde seu Lunga. __________________ Quanto mais se tira, maior fica O ministro do Assistencialismo, aliás do Desenvolvimento Social, Patrus Ananias, diz que desde a criação do Bolsa Família, cerca de 3,5 milhões de pessoas dele já saíram. A conta até pode ser correta. Mas os dados mostram que o programa das Bolsas vem esticando de ano para ano. Deve, hoje, beirar os quase 13 milhões de assistidos. Começou com 8 milhões. É como buraco : quanto mais se tira, maior fica. __________________ O telefone toca. "Seu" Lunga : - Alô ! - Bom dia ! Mas quem está falando ? - Você ! __________________ IPI esticado Lulinha Paz e Amor sabe das coisas. O desconto do IPI atinge direto o bolso do consumidor. É isso. A política, para ser bem sucedida, tem de marcar presença na praça da economia. Milhões de brasileiros querem geladeiras, fogões e máquinas de lavar mais baratas. Por isso, é mais do que provável a prorrogação da redução do IPI para a linha branca. Até porque o ano eleitoral se aproxima. Maluf declina Paulo Maluf declina da candidatura ao governo de SP. E indica, com o apoio de todo o PP paulista, o nome de Celso Russomano, deputado federal. Maluf quer continuar como deputado. Russomano quer deixar de ser deputado. Sei não. Este consultor não entendeu a jogada por inteiro. Trocar o certo pelo duvidoso ? A não ser que o Russomano não queira mais apostar em suas chances na campanha proporcional. Vereadores paulistanos Uma batelada de vereadores da capital paulista não passou no vestibular do MP. Recebeu cartão vermelho. E um juiz quis tirá-los de campo, aliás, do plenário. Os vereadores recorreram. Continuam exercendo suas funções. Mas por que apenas os vereadores foram punidos se outros políticos - deputados, por exemplo - receberam doações da mesma entidade que patrocinou os representantes na Câmara Municipal ? O MP deveria se pronunciar a respeito. Conselho aos ministros do TSE Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na edição passada, o espaço foi destinado ao Senador Eduardo Suplicy. Hoje, volta sua atenção aos senhores ministros do TSE : 1. Há casos de alguns governadores, cujos mandatos aguardam decisão da Corte ainda por conta de denúncias envolvendo abuso do poder econômico e outros ilícitos na campanha de 2006. Por que não apressar sua votação, antes de entrarmos no ano eleitoral de 2010 ? 2. O TSE, sob o competente comando do ministro Carlos Ayres Britto, precisa continuar a mostrar disposição de limpar a pauta contenciosa com que se defronta. 3. Por que os processos demoram tanto para ser julgados ? Não correremos o risco de ver governadores sendo julgados após o término do mandato ? ____________
quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Porandubas nº 208

Pinóquios e Odoricos Hoje, dedico a abertura desta coluna ao discurso eleitoral. Um toque de humor a respeito da peroração dos nossos Pinóquios e Odoricos Paraguaçus. Promessas antes da posse Nosso partido cumpre o que promete.Só os tolos podem crer que Não lutaremos contra a corrupção.Porque, se há algo certo para nós, é que A honestidade e a transparência são fundamentais.Para alcançar nossos ideaisMostraremos que é grande estupidez crer que As máfias continuarão no governo, como sempre.Asseguramos sem dúvida que A justiça social será o alvo de nossa ação.Apesar disso, há idiotas que imaginam que Se possa governar com as manchas da velha política.Quando assumirmos o poder, faremos tudo para que Se termine com os marajás e as negociatas.Não permitiremos de nenhum modo que Nossas crianças morram de fome.Cumpriremos nossos propósitos mesmo que Os recursos econômicos do país se esgotem.Exerceremos o poder até queCompreendam que Somos a nova política. Após a posse (Basta ler o texto de baixo para cima) Cabral tosquiado ? Sérgio Cabral, ainda embriagado pela vitória do Rio na conquista da Olimpíada de 2016, foi chamuscado pelo fogo que consumiu o helicóptero abatido por tiros de fuzil dos bandidos. Sérgio Cabral terá na segurança pública o calcanhar de aquiles dos tempos que virão. Matéria negativa caindo na mídia internacional funcionará como fogueira a consumir a boa imagem positiva alcançada pelo extraordinário esforço de nossas autoridades olímpicas. Lula promete dar, de imediato, R$ 100 milhões para o combate à bandidagem. Pode-se esperar por mais uma dezena de policiais mortos e mais uns 100 marginais. Cunha Melo Histórias de ontem no Senado. Um senador, chateado porque suas verbas não eram liberadas, anunciou para os colegas de bancada : - Precisamos romper com o governo. Cunha Melo, sábio e matreiro, pegou o chapéu e saiu de fininho : - Vou saindo. Tem coisas que não se deve nem ouvir. Aliança de compromisso O PMDB e o PT enfiam a aliança de compromisso no dedo, sob as bênçãos do cardeal Luiz Inácio. As cúpulas dos partidos se fizeram presentes no ato que terá, ainda, os seguintes desdobramentos. Noivado dentro de um a dois meses, ocasião em que será produzido o anúncio de casamento, com estabelecimento das regras e, mais adiante, casamento com pompa, oportunidade em que será anunciado o modus operandi do noivo na campanha de dona Dilma. O PMDB não quer apenas ceder tempo eleitoral. Quer ser parceiro forte no casamento, com direito a apontar rumos. O programa, portanto, será uma palavra chave. Pacto pode ser rompido Semana passada, este consultor sinalizou um possível pacto em Santa Catarina envolvendo os parceiros do PMDB, DEM e PSDB. Pelo pacto, em janeiro/fevereiro de 2010, o candidato a ser escolhido seria aquele com melhor índice nas pesquisas. Ao que parece, a coisa não será bem por aí. O PMDB quer porque quer lançar candidato ao governo. O nome : Eduardo Moreira, presidente do partido no Estado. Moreira está com 7% de intenção de voto contra os cerca de 20% dos pré-candidatos do DEM, senador Raimundo Colombo, e Leonel Pavan, do PSDB e vice-governador. Será uma parada dura. Eduardo Moreira e Ideli Salvati, eventual candidata do PT, teriam, a esta altura, firmado compromisso de apoio mútuo no segundo turno. Luiz Henrique Quem deseja manter o pacto entre os três partidos é o governador Luiz Henrique. Mas Eduardo Moreira defende outro pacto. Que inclua obrigatoriamente o candidato do PMDB no centro das conversações. Vai ser uma parada federal. Sindicalismo vândalo Ainda há sindicatos no país que acham que o sindicalismo é campo para a bandidagem. Para a vassalagem. Para servir aos oportunistas, picaretas e arrivistas. Um desses sindicatos, vez por outra, ameaça investir sobre a seara de outros. Não conformado em querer solapar as bases de outra entidade empresarial - prestigiada e de alta credibilidade no mundo sindical - tenta, por meio de medidas solertes, acampar também no terreiro do sindicato laboral. Seus dirigentes, como aves de rapina, ignoram o fato de que, a qualquer hora, essa tentativa de emboscada será denunciada e eles, sim, eles mesmos, serão pegos com a boca na botija e abatidos em pleno ar. Nos bastidores, muito se sabe sobre as peripécias da corja. O olho de Moscou João Goulart em um papo com Getúlio Vargas : - Presidente, há muita gente desempregada, muito trabalhador posto no olho da rua. Getúlio : - Isso é muito ruim. Operário posto no olho da rua vai logo para o olho de Moscou. Sungasuplicy O senador Eduardo Suplicy procura desesperadamente companheiros e amigos para explicar o indigitado gesto de vestir sunga vermelha sobre as calças. Teria sido uma brincadeira. Batizada de coisa ridícula. O caso já foi arquivado. E que sirva de lição. Há uma liturgia de poder e de autoridade que não pode ser rasgada pela palhaçada midiática. Que, aliás, cumpre o papel de mostrar um Congresso capenga. E de baixa credibilidade. Quércia se movimenta Orestes Quércia tenta sensibilizar os governadores Roberto Requião e Luiz Henrique, atraindo-os para a esfera das oposições. Requião está fechado com Lula. O que prega no PMDB é uma consulta às bases para que o programa de governo de Dilma Rousseff contenha as propostas do partido. Já Luiz Henrique está fechado com Serra. Por conta das conveniências regionais e do pacto entre PMDB, PSDB e DEM. Quércia teme que o PMDB, por maioria dos convencionais, feche posição com o PT. Essa é a tendência hoje. Grandeza de outrora Augusto Franco, governador, cheio de si, desceu no Galeão, e foi logo respondendo à pergunta de uma atendente da Varig : - O Sr. é o Dr. Augusto Franco, de Sergipe ? - Não, minha filha, Sergipe é que é de Augusto Franco. O novo dentro do velho No Brasil, a reciclagem toma conta até das conversas e das promessas. Roger Agnelli, pressionado por Lula, promete para 2010 investimentos da ordem de R$ 12,9 bilhões. Parece coisa nova. Que nada. São investimentos que, há tempos, figuram no budget da mineradora Vale. E agora ? O presidente da Corte Suprema, Gilmar Mendes, não tem dúvidas : Lula e Dilma antecipam a campanha. O que dirá, agora, o TSE ? Se a Justiça Eleitoral está sendo testada, qual será sua reação ? Com a palavra, suas Excelências. O tamanho dos tucanos Rodrigo Maia, presidente do DEM, diz que, se os tucanos excluírem São Paulo, seus bicos ficam do tamanho dos bicos das maritacas. O argumento do deputado quer indicar a maior capilaridade do DEM em termos nacionais. Não é que Maia tem razão ? Os DEM estão mais espalhados, povoam de maneira mais horizontal os espaços nacionais e, dessa forma, chegam de forma mais intensa às proximidades populares. Boa observação. PT e PSDB juntos ? Ante a constatação aguda de Rodrigo Maia, dá até para desconfiar de que um acordo secretíssimo juntaria interesses de tucanos e petistas. Sob que lógica ? O rodízio no poder. Sai um, entra outro. Perpetuando a hegemonia dos dois partidos. Sob a gangorra do PMDB que, também, acompanharia um e outro, nas subidas e descidas da montanha política. Pelo acordo, o DEM estaria condenado ao enforcamento. A hipótese, longe de apego ao catastrofismo, tem lógica. Discursos de campanha Os discursos para a campanha começam a ser arrumados, conforme descrevi em meu artigo dominical no Estadão. Dilma tentará enfiar o perfil de Serra no curral da era FHC. Usando conceitos e chavões do tipo : ambição privativista e modelo neoliberal. Serra acusará o "estilo petista de governar" com a volta do velho patrimonialismo e o resgate de novas formas de engorda do Estado. Haja vista a República Sindicalista. Ciro, se for candidato, embarcará na canoa de integração entre Estado e iniciativa privada, maior investimento na área educacional e esforço para que o país tire o atraso tecnológico. E Marina, claro, vestirá o traje verde da sustentabilidade ambiental. Reconvocação de Lina ? Essa ideia de reconvocar Lina Vieira para confirmar a existência de uma agenda e, assim, acender a fogueira contra a ministra Dilma é, aqui pra nós, ausência de discurso substantivo. Velhas feridas tampadas só jorram sangue depois de novos e contundentes ferimentos no mesmo local. Ao que parece, o que vê, naquele espaço, é imagem cicatrizada. E muito esparadrapo. Adeus ao "Pira" Meu comovido adeus ao grande publicitário e amigo Luiz Celso de Piratininga, figuraça da história da propaganda. Tive a honra de participar, na ECA - USP, de sua banca de mestrado em tempos idos. E a satisfação de dar-lhe a nota máxima. Humano, gentil, espirituoso, criativo. Que Deus o conserve no melhor dos cantinhos do céu. Mistura de cores e sabores Esse consultor, vez ou outra, brinca com a salada mista que se exibe nas mesas da política partidária. E sai por aí mostrando incongruências. O que tem a ver Paulo Skaf com o socialismo do PSB ? O que tem a ver o bom deputado Armando Monteiro, presidente da CNI, com o petismo ? Pois bem, em Pernambuco, Monteiro deverá fazer aliança com o PT, saindo ele e João Paulo, ex-prefeito de Recife, como candidatos ao Senado. Sinais dos tempos. Com exceção das siglas radicais, os grandes e médios partidos são geleia partidária, pasteurizados, amorfos. Então, não há muita razão em se criticar algo que inexiste, como doutrina ou ideologia. Pérolas do ENEM Vejam as pérolas dos alunos no Enem : 'O sero mano tem uma missão..' 'O Euninho já provocou secas e enchentes calamitosas.' 'O problema ainda é maior se tratando da camada Diozanio !' 'Enquanto isso os zoutros. tudo baixo nive.' 'A situação tende a piorar : os madereiros da Amazônia destroem a Mata Atlântica da região.' 'O que é de interesse coletivo de todos nem sempre interessa a ninguém individualmente.' 'Não preserve apenas o meio ambiente e sim todo ele.' 'O grande problema do Rio Amazonas é a pesca dos peixes.' 'É um problema de muita gravidez.' 'A AIDS é transmitida pelo mosquito AIDES EGIPSIO.' 'Já está muito de difíciu de achar os pandas na Amazônia.' 'Vamos deixar de sermos egoistas e pensarmos um pouco mais em nos mesmos.' 'Eu concordo em gênero e número igual.' 'Precisa-se começar uma reciclagem mental dos humanos, fazer uma verdadeira lavagem celebral em relação ao desmatamento, poluição e depredação de si próprio.' Conselho a Eduardo Suplicy Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na edição passada, o espaço foi destinado aos marqueteiros. Hoje, volta sua atenção ao Senador Eduardo Suplicy : 1. Lembre-se do conselho do general Sun Tzu : "há estradas que não devem ser percorridas e cidades que não devem ser sitiadas". Ou seja, há vestes que não devem ser vestidas. Há sungas vermelhas que não devem ser experimentadas, mesmo se uma sereia cantar loas no seu ouvido. 2. Dê interpretação adequada ao princípio de Maquiavel : "os fins justificam os meios". Quando os meios são mais esdrúxulos e ridículos que os fins a que servem, o tiro sairá pela culatra. No caso, o tiro da sunga foi um bumerangue. 3. Pense uma, duas, três vezes antes de enfrentar uma situação que pode resvalar pelo ridículo. Que pena. Desta feita, sua índole não o ajudou. Por quê ? Pelo fato de Vossa Excelência ser considerada pessoa que pensa tão devagar a ponto de a palavra sair antes da ideia. ____________
quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Porandubas nº 207

Mais uma vez a Paraíba Brejo das Freiras é uma Estância Termal nos confins da Paraíba, perto de Uiraúna e Souza. Trata-se de um lugar para relaxamento e repouso. O Governo da PB tinha (não sei se ainda tem) um hotel, com uma infraestrutura para banhos nas águas quentes. Década de 70. Apolônio, o garçom, velho conhecido dos fregueses da região, recebe, um dia, um hóspede de outras plagas. Pessoa desconhecida. Lá pelas tantas, quase terminando a refeição, o senhor levanta a mão, chama Apolônio e pede : - Meu caro, quero H2O. Susto e surpresa. Anos e anos de serviços ali no restaurante e ninguém, até aquele momento, havia pedido aquilo. Que diabo seria H2O ? Apolônio, solícito : - Pois não, um instante ! Aflito, correu na direção da única pessoa que, no hotel, poderia adivinhar o pedido do hóspede. Tratava-se de Luiz Edilson Estrela, apelidado de Boréu (por causa dos olhos grandes de caboré), empedernido boêmio, acostumado aos salamaleques da vida. - Boréu, tem um senhor ali pedindo H2O. O que é isso ? Desconfiado, pego sem jeito, Boréu coça o queixo, olha pro alto, tenta se lembrar de algo parecido com a fonética e, desanimado, avisa : - Apolônio, sei não. Consulte o Freitas. Freitas era o diretor do Grupo Escolar, o intelectual da região. Localizado, o professor tirou a dúvida no ato : - H2O é água, seus imbecis. Quer dizer água. Apressado, Apolônio socorreu o freguês com uma jarra do líquido. Depois, no corredor, glosando o feito, gritou em direção a Boréu : - Ah, ah, ah, esse sujeito achava que nós não sabia ingrês. Lascou-se ! Ciclos pré-eleitorais O país começou a viver seu primeiro dos três ciclos pré-eleitorais. O primeiro ciclo pega outubro e novembro; o segundo abriga dezembro, janeiro e fevereiro; e o terceiro começa em março e vai até junho. No primeiro, a meta é alavancar os nomes dos pré-candidatos, tornando-os mais visíveis. O segundo, no período de festividades de fim do ano velho e começo do ano novo, o foco é a articulação, com muitas conversas ao pé do ouvido. E o terceiro será dedicado ao fechamento de acordos e tomada de decisões, encerrando-se com a Convenção dos partidos. "Civilização, antes de tudo, é vontade de convivência." (Ortega Y Gasset) Decalagem O candidato quer atingir o alvo distante. Que passará à altura de seus olhos no início de outubro de 2010. Mas sua arma deve disparar agora. O que deve fazer ? Calcular a distância do alvo, velocidade com que se movimenta, a velocidade da munição da arma em suas mãos, o atrito do ar, as condições do tempo etc. Se tudo for bem medido, a probabilidade de acertar o alvo é alta. A isso se chama, decalagem. Amostras Vamos, agora, aos exemplos. Dilma Rousseff corre o Brasil no trator do PAC, examinando, conferindo obras e adentrando no circuito cultural religioso das regiões. Na Bahia, cultuou todos os orixás. No Pará, entre abraços e elogios a Jader Barbalho e ao PMDB, acompanhou a procissão do Ciro de Nazaré. Começa a praticar o bambolê, rodopiando pros lados, driblando questões escabrosas e costurando com a agulha da harmonia. José Serra, por sua vez, deslocou-se para o santuário de Aparecida, onde ocupou o púlpito para dizer como "ser cristão". Mas não faltam estocadas de todos os lados. Ciro Gomes é o principal responsável pelo tiroteio. A última dele : o ciclo FHC atrasou o Brasil. Pedra no sapato Lula colocou uma pedra no sapato de Ciro Gomes. Incentivou a mudança de título de eleitor para São Paulo, na intenção de convencê-lo a se candidatar ao governo do Estado. Lula imaginou - e bem - que um contundente opositor ao governo Serra poderia ser um grande cabo eleitoral de Dilma dentro do principal colegiado eleitoral do país. Mas o PT reage à ideia. Marta Suplicy foi escolhida para dizer, de público, que o partido não entrega de bandeja a candidatura ao governo para um estranho. Ciro acaba de descer de pára-quedas por estas bandas. Como desistir de uma candidatura em seu berço, pensam muitos petistas ? Sinuca de bico Ciro vive uma sinuca de bico. Se for candidato à presidência da República, poderá desagradar Lula. A não ser que prove, por A mais B, que tirará mais votos de Serra do que de Dilma. Essa equação não está ainda muito clara. Como candidato a presidente, Ciro não pode ter discurso frouxo, pasteurizado, incolor e inodoro. Portanto, precisa marcar presença no cenário. E essa postura certamente quebra a polarização Serra/Dilma. Logo, ele pode tirar mais votos de Dilma do que do governador paulista, eis que o eleitorado tenderá a vê-lo mais como lulista-governista. Ou seja, um perfil mais forte que o de Dilma. Em marketing, o conceito se chama canibalização. A imagem de Ciro "canibaliza" o perfil da Chefe da Casa Civil. Dirceu no jogo E por perceber essa alternativa - Ciro quer ganhar espaços que poderiam ser ocupados por Dilma - o alto comissariado do PT entrou no jogo, convocando o atacante José Dirceu, considerado o mais hábil negociador do partido, apesar de afastado oficialmente das lides partidárias. Dirceu correu o Nordeste socialista, ou seja, os Estados governados pelo PSB : PE, RN e CE. No Ceará, argumentou junto a Cid, o irmão de Ciro, que governa o Estado : convença o mano a abandonar esta ideia sob pena de o PT cearense apoiar Luizianne Lins, prefeita de Fortaleza, para o governo do Estado. Barganha, não Quem conhece Ciro, sabe que o cara é esquentado. Não teria aceito a sugestão. Mais : teria acirrado o discurso sob a crença de que tem mais a ganhar na disputa federal que na esfera estadual paulista. Seria muito difícil uma vitória contra o tucanato paulista. O pindacearense imagina que pode ser o candidato em melhores condições de levar a melhor contra Serra. Até fevereiro/março, a água entrará em ebulição. A conferir. Perguntinhas a Ciro Ciro Gomes, por favor, responda : "se os outros 31 deputados federais do Ceará decidirem, todos, transferir seus títulos eleitorais para outros Estados, imitando seu gesto de mudança de domicílio eleitoral para SP, essa decisão é correta e justa ?" E mais : "se os parlamentares levarem consigo seus mandatos, sem renunciarem ao cargo, como ficará o Estado ?"; "Não seria o caso de renúncia para que os suplentes possam assumir os mandatos e garantir a representação do Estado ?". Se Vossa Excelência argumentar que tal mudança se dará apenas por alguns meses, podemos chegar à conclusão que a traição aos eleitores se justifica por tempo mais escasso. Podemos, também, supor que meia gravidez existe. Casamento no Maranhão ? A não ser que Ciro Gomes tenha se convencido de que casamento duplo pode ocorrer, sim, contanto que um dos matrimônios tenha ocorrido muito distante do outro. E sob a bênção do Frei Damião. Acompanhemos a pregação do Frei em Cajazeiras, na Paraíba. Com aquela voz que parecia sair das cavernas, perorava contra os amancebados, os luxuriosos, os desonestos, desfilando todos os pecados contra os 10 mandamentos. No meio do sermão, parou e perguntou : - Quantos aqui são amancebados ? Quantos vivem juntos e não casaram ? Centenas de pessoas levantaram a mão. O frei ameaçou : - Nesse estado de barbárie, todos vocês vão para as profundezas do inferno. E serão queimados vivos. Vivos. Começou a descrever a terra incandescente. E arrematou : "amanhã, quero todos os amancebados, aqui, para um casamento coletivo". Dia seguinte, lá estava a multidão. Começou a cerimônia. Frei Damião limpa o suor e joga a pergunta que ferveu na alma de muitos : - Quem tiver algum impedimento contra esses sagrados matrimônios, que fale, agora, ou se cale para sempre. Silêncio. De repente, vê-se, no meio da multidão, o braço no ar de Terezinha das Mercês, devota fervorosa de Senhora da Anunciação : - Raimundinho de Doca num pode se casar, pois ele já é casado no Maranhão. Perplexidade geral. Raimundinho, o açougueiro, toma um susto. Silêncio. Frei Damião, curioso, sai do púlpito. Multidão em transe. A companheira de Raimundinho, envergonhada, não sabe o que fazer. E muito menos o que dizer. O homem das carnes, encabulado, grita alto para todos ouvirem : - Foi no Maranhão, no Maranhão. Faz muito tempo. É muito longe daqui. Muito longe, frei Damião. E adepois, fui a Juazeiro para tomar as benção do padim Ciço. O "santo italiano" do sertão nordestino baixou a cabeça. Chamou Raimundinho para perto e cochichou a penitência no ouvido : - 100 terços e abstinência por 7 dias. Se não cumprir a ordem, os dois queimarão vivos no inferno. Deu meia volta. Tomou lugar no púlpito. Milagre. O durão Frei Damião abençoou a todos. Ciro até parece que deseja imitar Raimundinho. Lula, o articulador Lula se transforma, a cada dia, no grande articulador do governo, do PT e dos partidos da base. Convoca líderes e dirigentes partidários, manda recados, cobra resultados. No que concerne ao PT, as ligeiras intervenções de algumas lideranças, como Marta Suplicy, por exemplo, são passíveis de morrerem no espaço e no tempo. Lula dará a palavra final. Quem vai questionar um presidente que tem 80% de avaliação positiva ? No que diz respeito aos partidos, ele também funcionará como o harmonizador. Sugerirá onde PT, PMDB, PDT, PSB e outros podem recuar ou fazer avançar seus candidatos ao Governo dos Estados e ao Senado. Licença do cargo ? Não será surpresa se Lula tirar licença para comandar, ele mesmo, a campanha de Dilma. A questão é : José Alencar, o vice, aguentará o tranco, na medida em que submete-se a um intensivo tratamento de saúde ? Michel Temer, presidente da Câmara, não assumiria o cargo porque será candidato a deputado, podendo, ainda, vir a ser o vice na chapa de Dilma. Outra questão é : José Sarney, presidente do Senado, desgastado, teria condições de comandar o governo mesmo por poucos meses ? DEM quer reforço O DEM tem uma meta a cumprir em 2010 : fazer uma grande bancada federal - senadores e deputados. Na esfera dos governos, suas chances serão mais limitadas. Mas o partido poderá surpreender, por exemplo, no DF, onde o governador Arruda faz boa administração e entra forte nos redutos periféricos, onde o ex-governador Roriz mantinha seus domínios. Arruda decidiu focar 80% de sua administração na região das cidades satélites. O prefeito Gilberto Kassab, de São Paulo, faz ampla articulação nacional com vistas ao plano de fortalecimento do DEM. E o PSC, hein ? Com 17 deputados, agora, o PSC entrará em 2010 com uma expansão de 87%. Adesões importantes : o senador Mão Santa, do Piauí, e o ex-senador e ex-governador Joaquim Roriz, do DF. Dificuldades que enfrentará : tempo de rádio e TV na campanha. Pacto em SC Em Santa Catarina, há três nomes da base governista que disputarão a candidatura ao governo : Leonel Pavan, vice-governador, pelo PSDB; senador Raimundo Colombo, pelo DEM, e Eduardo Moreira, presidente do PMDB. Quem exibir a melhor posição nas pesquisas lá para março/abril, será o escolhido. Como o governador Luiz Henrique será candidato ao Senado, as chances do PMDB diminuem. Eduardo Moreira ostenta posição baixa nas atuais pesquisas. Colombo e Pavan dividem as maiores taxas, em rodízio. Como Pavan assumirá em janeiro, com a licença de Luiz Henrique, ficará com o poder da caneta e maior possibilidade. Colombo disputaria o Senado. Tempos de maquiagem Aproximam-se os tempos de maquiagem. Atenção, maquiadores. Cuidado com o excesso de rouge. Muita atenção para as camadas exageradas de tintura no cabelo. O eleitorado, em 2010, vai tapar os olhos para o conceito : "bonitinho(a), mas ordinário(a)". Cadê o Favre ? Luiz Favre, ex-marido de Marta Suplicy, que faz um blog político, teria comprado uma rede de supermercados na França. Este consultor ouviu, ontem, a informação de importante figura pública. Cadê o Duda ? Onde anda Duda Mendonça, que fez as campanhas de Lula ? Teria sido contratado pelo socialista Paulo Skaf como consultor político. Faria a campanha de Skaf ao governo de SP. Essa alternativa também é assim conhecida : contar com o ovo antes da galinha fazer o seu exercício. Pergunta a Skaf O que acha da socialização de alguns meios de produção ? O que acha do planejamento participativo ? Como enxerga o orçamento participativo ? Que cartilha socialista inspira sua reza ? Cadê o Lavareda ? E o Antônio Lavareda, analista de pesquisas ? Dizem que deixará a condição de bastidor para ser vidraça. Quer ser político. Ingressou no PSDB. E estaria atraído por uma vaga no Parlamento do MERCOSUL (Parlasul). O pesquisador, dizem, é um próspero homem de negócios no campo do turismo. E divisa a área financeira. Cadê o Santana ? João Santana, o segundo marqueteiro de Lula, está aprontando dona Dilma Rousseff para a cerimônia eleitoral de 2010. Com direito a orientação de cortes de cabelo, cor do vestido e postura verbal. Mas, e o discurso geral ? Continuidade da era Lula ? Falta do que fazer O articulista Carlos Alberto Di Franco escreveu um artigo em "O Globo", condenando o PT, que puniu por desobediência os deputados Luiz Bassuma e Afonso Henrique. Criticar partidos é coisa natural. O presidente do PT, Ricardo Berzoini, mostrando-se indignado com o articulista, deu-se ao trabalho de responder em artigo no mesmo jornal. É mesmo falta do que fazer. Conselho aos marqueteiros Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na edição passada, o espaço foi destinado aos petistas de São Paulo. Hoje, volta sua atenção aos marqueteiros : 1. Procurem avaliar o estado social em todos os espaços nacionais. 2. Ouçam as vozes das ruas e procurem produzir um discurso consoante com a realidade. 3. Ofereçam a seus assessorados mais conteúdo e menos forma, menos massa de pastel e mais substância ou, conforme diz o povo, mais "sustança", menos osso e mais tutano. ____________
quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Porandubas nº 206

O Senhor no céu nos vigia Elias Fernandes, deputado estadual do RN, visitava com frequência a região do alto oeste do Estado, onde está a cidade de Pau dos Ferros, onde nasceu. Certo dia, foi assediado - como, aliás, os políticos nordestinos - por Zé de Eraque (José de Heráclito), muito conhecido na cidade, em busca de um "adjutório", geralmente um pedido de emprego, dinheiro, passagem de ônibus, cestas básicas, internação em hospitais etc. Mas Zé só queria dinheiro, aliás, uma grana mais pesada para aumentar a casa. - Doutor, preciso que o senhor me arranje uns 100 mangos. O momento nacional favorecia Elias. Era o ano de 1999. A lei 9.840, de iniciativa popular, com mais de um milhão de assinaturas, aprovada pelo Congresso Nacional, proibia qualquer espécie de corrupção - a partir da compra de votos. Um clima de medo tomou conta do país. Candidatos e políticos valiam-se do novo instrumento para se safar da escalada de pedidos. Sem saber se conseguiria enrolar o eleitor, o deputado chamou-o para um canto e confidenciou : - Zé, agora não posso mais dar dinheiro. Os juízes estão atentos. Pegam qualquer político que dê dinheiro ao eleitor. Se me pegarem, você não vai ver mais seu amigo como deputado. Vão cassar o meu mandato. O eleitor, cara de cúmplice, piscou o olho e cochichou no ouvido do deputado : - Dr. Elias, não tem ninguém vendo a gente. Pode ficar tranquilo. Não tenha medo. Me dê esse dinheirinho. E já esperava que o deputado enfiasse a mão no bolso, com a bela sacada de resposta, quando Elias, matreiro, puxou ainda mais para perto Zé de Eraque e, com voz macia e quase inaudível, falou, sério, olhando para o alto e apontando para os céus : - É, mas Ele está observando nós dois. O Senhor, lá de cima, está nos vigiando. Ele também vigia o cumprimento das leis. Não posso cometer esse pecado, Zé. Vamos direto pro inferno. Nós dois. E assim, como praticante do preceito dos céus, religioso como nunca, batendo nas costas do eleitor, prometeu que, em futuro próximo, quando as tais leis ficassem menos rigorosas, ele, seguramente, iria ajudar o amigo e a toda a sua família. Zé de Eraque, mesmo contrariado, meio desconfiado, saiu de fininho. E foi fazer a tentativa em outra freguesia. Babel em São Paulo Marta Suplicy nem esperou Lula chegar do tour pelo exterior para avisar : o PT vai construir uma candidatura ao governo de São Paulo. E Antônio Palloci é o melhor candidato. Lula não quer antecipar o jogo. Porque pretende avaliar melhor os potenciais de Ciro Gomes. Gostaria que o cearense de Pinda fosse candidato ao governo, o que deixaria o PT como refém do PSB no maior colégio eleitoral do país. Ciro, por sua vez, lutará para ser candidato à presidência da República. Mas sua candidatura poderá fraquejar, a depender, claro, de Lula. "Todas as artes produziram maravilhas, exceto a arte de governar, que só produziu monstros." (Saint Just - 1767/1794, um dos jacobinos da Revolução Francesa) Quais as chances ? Ciro Gomes não conta com nenhuma possibilidade de se eleger governador de São Paulo. Apesar de ser natural do Estado, Ciro é um estranho à vida política paulista. Usou os palanques políticos que frequentou até hoje para tocar fogo no perfil de políticos, governantes e até na vida social e econômica do Estado. Este consultor atesta : se ele tem prestígio pelas bandas nordestinas, é detestado por fortes contingentes desta unidade federativa. Ciro é considerado bala de canhão para atacar os tucanos paulistas, a partir de José Serra e Fernando Henrique. A fama de canhoneiro de plantão é péssima para ele. Marta tem razão Marta Suplicy comete muitos erros. Desta feita, porém, acerta em cheio : a candidatura Ciro Gomes não tem nada a ver com São Paulo. É o que ela diz. Os petistas não gostariam de permanecer na linha secundária do PSB em São Paulo. Até porque o PSB terá um discurso enviesado com o ingresso de Paulo Skaf. Este consultor já brincou que, de socialista Skaf tem apenas o 'S' que se vê acentuadamente quando se observa a curva de seu nariz. Skaf tem o direito de querer ser candidato. É boa praça. Trata-se, aliás, de pessoa competente e que tenta dar um sopro novo à FIESP. Mas, na hora certa, escolheu o partido errado. PSB ? Por quê ? Começa a ser objeto de gozação. Erundina e Skaf Ver Ciro, o turrão, ao lado do socialista Skaf, sob o olhar de um perfil sério e admirado, como o de Luiza Erundina, será um exercício que não passará despercebido a ilustradores e cartunistas. O rumo do vento ? Meu pai, de quem herdei nome e sobrenome, já dizia : "Ninguém consegue mudar o rumo do vento. Nem paredões de cimento". O vitorioso na política está sempre no rumo do vento. Não o contraria. Sob pena de ser arrastado pelo tufão. Há pessoas que não conseguem enxergar (ou sentir) para onde vai o vento. Freud e a política Para quem quiser entender a política e o comportamento das massas, vale a pena ler este pensamento de Freud : "a maioria dos humanos sente a imperiosa necessidade de uma autoridade que possa admirar, diante da qual se possa inclinar e que a domine e por vezes até a maltrate. A psicologia do indivíduo nos informou de onde vinha essa necessidade coletiva de uma autoridade : ela emana da atração pelo pai. Todos os traços de caráter com que pretendemos adornar o grande homem são traços peculiares ao personagem paterno. Firmeza de ideias, força de vontade, ação resoluta, isto faz parte da imagem paterna." César ? Cromwell ? Bonaparte ? De Gaulle ? Hitler ? Vargas ? Perón ? E Lula, hein ? Polarização Em São Paulo, é bem provável a continuidade da polarização entre PT e PSDB. José Serra faz um governo bem avaliado. E simboliza os compromissos do Estado na moldura federativa. O PT fará o possível e impossível para colocar os feitos nacionais de Lula na agenda paulista. Por isso, a polarização entre as duas siglas é muito previsível. Mas o PT não poderá deixar de ter candidato em seu berço histórico. Seria a negação de que fracassou no território que continua a ser o carro-chefe da Federação. Palloci e os outros O empresariado paulista, vale reconhecer, admira Antônio Palloci como o arquiteto da construção econômica do governo Lula durante o primeiro mandato. O episódio do caseiro Francenildo não borrou a imagem do deputado junto aos meios empresariais. Mas o deputado teme o resgate daquela questão e a fixação da lupa midiática sobre o passado. Não decidiu, ainda, o que fazer. Marta Suplicy continua sendo a mais "fragmentada" entre os petistas com viabilidade. Já o senador Eduardo passou a ser uma espécie de massa pasteurizada. Sua coloração ficou desbotada. Emídio de Souza, prefeito de Osasco, lapidou a imagem de experiente e articulador. Porém, sem o estofo de Palloci. Rio em festa ? O Rio de Janeiro viverá anos de intensa atividade na área esportiva. Não se trata apenas de fazer as obras planejadas para as Olimpíadas de 2016. Trata-se de convocar o empresariado, mobilizar as lideranças, reestruturar sistemas e métodos, adequar estruturas, ou seja, reordenar a gestão no campo dos esportes. Trata-se de mudar mentalidade. Evitar erros do passado. Enterrar o grupismo e os favorecimentos. Permanecer sob intensa lupa da mídia, que deverá monitorar os fluxos operativos. Sérgio Cabral e Eduardo Paes, governador e prefeito, não serão apenas sorrisos. Serra proativo Desta feita, José Serra não dormiu no ponto. Bastou o Rio ser escolhido como sede da Olimpíada de 2016 e Serra saiu com um artigo no jornal "O Globo", dando parabéns ao feito, defendendo a tese de que o Brasil é quem ganha com a vitória carioca e que, ele, governador, estaria na linha de frente para integrar as energias e esforços em prol do empreendimento. Marcou um tento. Dilma nas igrejas A campanha de Dilma deixa, por alguns dias, o palanque das obras do PAC para ganhar os espaços sagrados dos templos evangélicos. Nos últimos dias, viu-se dona Dilma, contrita e silente, ouvindo perorações religiosas. Se é descrente, ficou calada. Se é ateia, dela não se ouviu um pio nessa direção. Teria aprendido com lições do passado ? Fernando Henrique, provocado por Boris Casoy, confessou ter dado ligeira tragada em um cigarro de maconha. O que lhe valeu o epíteto de "maconheiro", nele pregado de maneira indissolúvel pela boca venenosa do gênio Jânio Quadros. Tempos de Jânio Nessa época, este consultor presenciou alguns erros cometidos por Fernando Henrique, que disputava com Jânio a prefeitura da capital. Jânio, sem grana e sem recursos, refugiou-se em um dos estúdios da TV Record, na avenida Miruna, em Moema, de onde fazia perorações duras (e sem efeitos televisivos) contra a bandidagem e a violência que assolavam a capital. Dona Eloá, ao seu lado, com o olhar para chão, doente e vestida de maneira simples, não dizia um pio. Fazia o papel de esposa silenciosa. Ao lado de um perfil que emanava autoridade, respeito, dignidade. Fernando Henrique, vestido em seu terno xadrez, corria a periferia, gravando para o programa eleitoral entre os trilhos do metrô que deveria chegar à Zona Leste. Simplicidade e austeridade, de um lado; fausto e opulência, de outro. Algo era incongruente. Um schollar na periferia ? Um popularesco escondido na TV ? Dissonância Parecia um exemplo de dissonância cognitiva. Mas a TV chegava aos ouvidos atentos de eleitores que queriam o combate direto á bandidagem. FHC e a cadeira Fernando Henrique, com absoluta certeza de que ganharia a eleição, tomou assento na cadeira de prefeito antes mesmo do resultado do pleito. Jânio ganhou. E, com um gesto espetacularizado, dedetizou o ambiente. PDT vai de quem ? O PDT movimenta-se em torno de Ciro Gomes. Acena publicamente com o interesse de ocupar a vaga de vice. O nome : Carlos Lupi, o ministro do Trabalho. Pura encenação. O PDT vai para onde Lula determinar. E o mais provável é um fechamento incondicional em torno do nome de Dilma Rousseff. E o Chalita, hein ? E o Gabriel Chalita, hein ? O PSDB da capital acaba de entrar com recurso no TRE pedindo de volta o cargo de vereador, que Chalita deu de bandeja ao PSB. Questão seguinte : mais de 30 parlamentares trocaram de partido, nos últimos dias, apesar da proibição para fazê-lo. O mandato, conforme interpretação do TSE, pertence aos partidos e não aos candidatos. O partido que se sentir traído poderá pedir o cargo de quem elegeu e dele saiu. Afora o caso de Chalita, mais dois ou três casos serão objeto da justiça eleitoral. Quem aposta que o mandato será devolvido ao partido ? Eu não aposto. A pomba com sede Uma pomba acossada pela sede, ao ver uma taça de água pintada num quadro, pensou que era verdadeira. Desceu com impetuosidade, chocando-se contra o quadro. Quebrou as pontas das asas, caindo por terra e sendo agarrada por alguém. Moral da história : certas pessoas, arrebatadas pela violência das paixões, aventuram-se de maneira irrefletida nos empreendimentos, correndo, sem o suspeitarem, em direção à sua própria ruína. Esta breve fábula de Esopo é um alerta a políticos, aventureiros, oportunistas e quetais... Eis o conselho deste escriba e consultor político. Cuidado : vivam cada átimo de segundo, dando ao tempo o seu ciclo de vida. Sem estrangulamentos. Cada coisa no seu lugar e em seu devido fuso horário. PMDB articula Hoje à noite, o líder do PMDB na Câmara, deputado Henrique Eduardo Alves, reunirá a cúpula do partido para articular a antecipação da aliança com o PT. A ideia que move integrantes da cúpula é evitar a debandada de peemedebistas, caso a aliança seja protelada para o primeiro trimestre de 2010. Ao contrário do que se pensa, Michel Temer não reivindica a vaga de vice. O que ele e seus correligionários querem é garantir ao PMDB a vaga de vice para o partido. Nesse sentido, a vaga poderia ser ocupada, por exemplo, por Henrique Meirelles, o neopeemedebista de Goiás. Lista suja :  primeira ou segunda instância ? Mais um projeto de iniciativa popular chega à Câmara dos Deputados, assinado, desta feita, por cerca de 1,3 milhão de eleitores. Trata-se da ideia de evitar a candidatura de pessoas condenadas pela justiça. É evidente que o projeto vem na linha do expurgo da metástase que ameaça assolar todo o corpo político. É saudável. Ocorre que a condenação, em primeira instância, pode embutir ações persecutórias de adversários e/ou inimigos políticos. Muitos juízes de primeira instância são aliados de grupos e famílias locais. Nesse sentido, este consultor concorda com a ideia de que a proibição de candidaturas - ficha sujas - passe pelo crivo da segunda instância, onde um colegiado, de maneira plural, é quem pode proferir um julgamento menos sujeito à suspeição. Conselho aos petistas Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na edição passada, o espaço foi destinado aos novos vereadores. Hoje, volta sua atenção aos petistas de São Paulo : 1. Façam uma pesquisa em profundidade para avaliar potenciais e qualidades de seus quadros. 2. Duas pergunta centrais : por que a maior rejeição ao PT está em seu Estado de origem ? Por que fortes contingentes da classe média continuam sendo imenso paredão contra as pretensões do PT em SP ? 3. Analisem prós e contras a respeito da equação : sair ou não com um candidato petista ao governo de SP ? Qualquer que seja o resultado, a união dos grupos é fundamental para qualquer projeto de poder em São Paulo. ____________
quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Porandubas nº 205

Creusa Joaquim Francisco Cavalcanti era delegado de Polícia, em Recife. Uma noite, em um baile de travestis no bairro do Recife velho, a pancadaria come solta. Prisão de todos os participantes. O delegado fichava cada um e mandava embora : - Nome ? - Greta Garbo. - Nome ? - Sophia Loren. - E seu nome ? - Marilyn Monroe. - E o seu ? - Creusa. - O que, seu sem vergonha ? Creusa é o nome de minha mulher. Você vai ficar 6 meses na prisão de Itamaracá. Seis meses depois, o delegado Joaquim Francisco manda buscar Creusa para soltá-lo : - Seu nome ? - Joaquim Francisco. - O que, imbecil ? Como tem coragem, sem-vergonha ? Vai ficar mais 6 meses na prisão. E para lá Creusa voltou. Sem piedade. Guerra I Em Maratona, 490 a.C., 15 mil persas enfrentaram 11 mil atenienses. Mas os gregos tinham uma vantagem, a falange, um esquadrão de infantaria aguerrido e imbatível. Cada soldado do corpo segurava o escudo protegendo metade de si e metade do homem à sua esquerda. Formavam uma muralha indevassável. Seis mil persas foram mortos contra apenas duzentos atenienses. Casa da mãe Joana ? A Embaixada brasileira em Tegucigalpa, capital de Honduras, mais parece uma casa da mãe Joana. Zelaya chega, furtivo, com um montão de assessores e ali se instala. Começa a fazer daquele território "brasileiro" um palanque político. Lula ordena : Zelaya, cale-se. E o presidente de Direito de Honduras, o que faz ? Dá uma de Lula, ou seja, abre mais ainda o bico. Grita no palanque 24 horas. Metido no seu chapelão cheio de marketing, Zelaya zela por seus direitos, rasgando a ética que deveria presidir a "hospedaria Brasil". Sinais dos tempos. Sinais de uma política de relações exteriores administrada pelo fígado e não pela cabeça. Lula versus Obama De um lado, Barack Obama; de outro, Luiz Inácio. Onde ? No ringue de Copenhague, na Dinamarca, onde os dois, esta semana, estarão defendendo Chicago e o Rio de Janeiro como sedes para as Olimpíadas de 2016. O Rio tem mais chances que Chicago por uma razão forte : tem o apoio de sua população. Cerca de 70% dos habitantes de Chicago, segundo pesquisas, não querem que sua cidade abrigue os jogos. Acham que haverá muita destruição, bagunça, quebradeira, com ameaça ao patrimônio público e perturbação da vida urbana. Não querem pensar na dinheirama que entrará nos cofres da cidade. Vida saudável, em primeiro lugar. Quem levará a melhor ? Sei não. Será que, ante dois competidores com as famas de Obama e Lula, os julgadores teriam coragem de colocar um deles na berlinda ? In medium virtus, diz o ditado. Se a virtude está no meio, é bem provável que a decisão contemple outra cidade, entre as que estão no páreo, como Madri e Pequim. O Rei da Espanha, Juan Carlos, é bom lembrar, carrega charme. O Rio conta com a maior simpatia. Se o cara daqui ganhar, vão anunciar de maneira bombástica e brasileiramente : "Lula venceu Obama". Guerra II Em Arbela, 331 a.C., Alexandre enfrentou Dario. Este lutou de forma convencional. Com 15 elefantes e 200 bigas na vanguarda. Alexandre usou a cavalaria nos flancos esquerdo e direito. Fez o chamado ataque de varredura pelo flanco direito. Os persas correram para o esquerdo. Alexandre girou sua cavalaria por trás de seu centro. Cercou os adversários. Estratégia chamada de aproximação indireta. Ataque na linha onde há menor expectativa. Alexandre mereceu ser chamado "O Grande". Zeluya Em Honduras, há um novo herói : Zeluya. Se o Manuel Zelaya não voltar ao governo, os hondurenhos apenas substituirão o final do sobrenome que se incrusta em seus corações : Luiz Inácio, agora Zeluya, é o cara. Em Caetés, que já foi distrito de Garanhuns, onde Zeluya nasceu, está sendo confeccionado um imenso chapelão. Com ele, o novo ídolo das massas da América Central será entronizado. Schwarzenegger amazônico Em um Estado da região amazônica, um político - ex-vice-governador, ex-deputado - recebeu a dica : um senador, no imaginário do eleitor, deve exibir perfil musculoso, forte, para transmitir a imagem de todo-poderoso. Ou seja, o eleitor enxerga no senador um político mais portentoso que a figura de deputado. Pois não é que o cara fez uma plástica geral a conselho do marqueteiro de araque ? Esticou os peitos, botou massa muscular onde pode, alargou os beiços, enfim, enfiou outra forma na carcaça antiga. Um desastre. Dizem que mais parece... bom, a comparação é trágica. Não dá para registrar. O riso tomou conta da capital depois que a galera descobriu que a figura queria ser a cara do Arnold Schwarzenegger, ex-ator, governador da Califórnia (EUA). "Há uma fraqueza na força se você tentar encontrá-la. Aquiles tinha um tendão que o levou à queda." Al Ries e Jack Trout Guerra III Austerlitz, 1805. Napoleão estimulou um ataque dos adversários austros-russos pela direita. Em seguida, manobrou seu flanco esquerdo para golpear o inimigo pelo centro. Foi muito rápido. "Posso perder uma batalha, nunca perderei um minuto", dizia ele. Ganhou. Mobilidade e rapidez, o sucesso. Perdeu mais adiante. A zoeira endinheirada Mais uma vez, Brasília será tomada, nos próximos dias, pela farra das Centrais Sindicais, organizada pela Força Sindical e CUT. Acompanharão os debates e votação sobre o projeto que reduz de 44 para 40 horas a jornada de trabalho. Vejam a patrulha que farão : afixarão em praça pública nos Estados de origem os nomes dos parlamentares que votarem contra o projeto. Serão chamados de traidores. Muitos deverão votar a favor para não receberem a pecha de traição. Esse é o Brasil da Independência ou Morte. Quer dizer : se Suas Excelências decidirem votar com Independência serão condenados à Morte Pública. Tempos Banais. Paredes de espelhos quebrados. Terra devastada. Guerra IV O troco a Napoleão veio em 1815. Waterloo. Napoleão tinha 74 mil homens e o general Wellington dispunha de 67 mil. Napoleão estava na ofensiva. O inglês podia se dar ao luxo de esperar. 19h30, por do sol de 18 de junho : ousadia plena de Napoleão. Ataque frontal com 10 batalhões dos Guardas Imperiais. Audácia, sempre audácia. Perdeu a batalha. E a coroa. A defesa de Wellington ganhou pela superioridade. O melhor ataque, desta feita, foi a defesa. Quércia, o manda-chuva Orestes Quércia se lixa para aqueles que fazem alguma restrição ao seu estilo político. Considera-se dono do PMDB paulista. E, nessa condição, acha que pode dominar o PMDB nacional. Não contente em ser o manda-chuva do partido no Estado de São Paulo, Quércia pretende definir os rumos da sigla nacionalmente. O que ele pretende, na verdade, é eleger-se senador por SP. Seu esforço se explica. Não se trata de amor à causa de José Serra, pré-candidato do PSDB à presidência da República. Não será tarefa fácil a eleição de Quércia. Os eleitores não vêem bem sua volta aos holofotes da política. As chances A aritmética eleitoral aponta para a eleição de um senador pela base governista em São Paulo e outro pela base oposicionista. O candidato da oposição - PT e companhias - será Aloizio Mercadante. Cuja imagem, aliás, está em queda. O candidato da base situacionista é exatamente ele, Orestes Quércia. Mas haverá outros nomes, sendo um deles, possivelmente, Gabriel Chalita, pelo PSB. Pode ter boa votação. Se Guilherme Afif fosse candidato, Quércia estaria frito, Afif ganharia a parada. Por isso mesmo, Quércia promete mundos e fundos a Serra. Teme que sua candidatura vá para o espaço. Ou, como candidato, naufrague mais uma vez. Censura querciana Orestes não vetou o ingresso de Paulo Skaf no PMDB. Mas, indiretamente, pôs obstáculos, na medida em que impôs uma condição. Se ele quiser ser candidato ao governo de SP, deveria se submeter à Convenção. Nesse sentido, ele tem inteira razão. Mas o perigo é o detalhe : Quércia tem completo domínio sobre os convencionais. Logo, vetará qualquer candidatura do PMDB ao governo do Estado. O Dr. Hélio, do PDT, prefeito de Campinas, também pensou em entrar no PMDB. A porteira está fechada. O porteiro não admite o ingresso de perfis com grande votação. Estraçalhado O PMDB de São Paulo caminha na linha contrária à expansão do PMDB nacional. Foi estraçalhado. Tem 3 deputados estaduais (Jorge Caruso, Uebe Rezek e Baleia Rossi), 3 federais (Michel Temer, Antônio Bulhões e Francisco Rossi) e, na capital, conta apenas com 2 vereadores (Antonio Goulart e Joogi Hato). Guerra V Rio Somme, em 1916, na França. Aí foi travada uma das maiores batalhas da I Guerra Mundial. Tropas inglesas e francesas saem de suas trincheiras para enfrentar os alemães. Esta era a guerra para acabar com todas as guerras. Mas os alemães tinham um trunfo : a metralhadora. Franceses e ingleses conseguiram avançar apenas 5 milhas. Primeiro dia de batalha : 50 mil mortos. A luta durou 140 dias. Uma carnificina. Guerra ganha pelo poder mortífero das armas. Um ano depois, os ingleses puseram em cena os tanques. Adeus, Alberto Silva Registro com pesar a morte de Alberto Silva (PMDB), que foi senador e governou duas vezes o Piauí. Morreu como deputado federal. Soube cultivar a auto-estima dos piauienses. Explico. Em 1986, coordenei a campanha de Freitas Neto (PFL, na época) ao governo do Estado. O adversário era Alberto Silva. Ganhou a campanha por pouco. Entre as razões, aponto uma : soube cultivar a auto-estima dos eleitores. Feitos albertianos Mostrou que podia fazer uma Poticabana, uma praia, às margens do poluído rio Poty, lembrando Copacabana. Os piauienses, portanto, podiam se orgulhar de sua bela praia, sem precisarem se deslocar ao Rio de Janeiro. Adquiriu, nos Estados Unidos, um equipamento que formava ondas artificiais. Um tento. Explicou que os médicos piauienses, por satélite, poderiam ser monitorados por médicos americanos. E, assim, realizar operações fantásticas. Demonstrou que a vida em Teresina (capital muito quente) poderia ser mais saudável. Com imensos ventiladores respingando água das fontes, os piauienses seriam refrescados. Vida saudável Mandou fabricar um equipamento para arrancar tocos das queimadas nas roças, facilitando o trabalho do agricultor. Era um visionário. Ideias esquisitas. Que geravam impacto. A auto-estima dos piauienses subia à montanha. Convencia usando a argumentação de professor em sala de aula. Pregava que cada família poderia alimentar-se melhor. Para tanto, incentivava a construção de uma pequena horta em cima das casas. Dava material para as famílias. Como engenheiro, explicava numa lousa os projetos, desenhando ele mesmo as ideias malucas. Os eleitores acreditaram. Ganhou a campanha. Complexo de culpa Um dia, entendi a força do complexo de inferioridade que Alberto Silva queria expurgar. Ele contava a deliciosa piada. Um cara chegou para um piauiense e perguntou : "o Sr. é de onde?" Feroz, o piauiense se armou em posição de soco, e, antes de dizer qualquer coisa lógica, logo tascou de modo áspero : "sou do Piauí, e daí ?" Respondeu como se quisesse dar uma porrada no interlocutor diante da pergunta. Alberto Silva deixa um legado e muitas histórias. Era um homem querido por seu povo. Adeus, governador. Vereadores O presidente do TSE, Carlos Ayres Britto, alerta : a leva de quase oito mil vereadores, que engordará as Câmaras Municipais do país, não tem como tomar posse. Consulta feita ao STF, no passado, aponta nesse sentido. A PEC dos vereadores, aprovada na Câmara, só terá validade na eleição de 2012. Mas já há vereadores tomando posse em alguns municípios. É isso : o Brasil também é conhecido como território onde impera a anomia. São Miguel Ontem, terça-feira, os micaelenses de todo o Brasil fizeram festa. Dia de São Miguel. Minha homenagem ao município de São Miguel, RN, comandado pelo prefeito e médico Galeno Torquato, meu sobrinho. Para quem não sabe, São Miguel foi o Príncipe da Milícia Celeste, aquele que na batalha feroz ocorrida no céu, derrotou o revoltoso satanás e seus sequazes, precipitando-os nos quintos do inferno. Novos rumos A campanha de 2010 abrirá oportunidades para voos mais altos de políticos mais jovens e com certa experiência. Deputados estaduais e federais postularão vôos majoritários. Tem-se a impressão de que um processo de renovação nas cúpulas ocorrerá com intensidade. A conferir. Meirelles no PMDB Henrique Meirelles se filiará ao PMDB de Goiás. Em março do próximo ano, decidirá o caminho a seguir. Hoje, a via mais larga é a do Senado. Pode ser, amanhã, a do governo do Estado. A terceira alternativa é o ingresso na estrada de Dilma Rousseff como vice. Possível, porém, menos provável. Michel como vice ? Por onde anda, o deputado Michel Temer ouve a indagação : é mesmo candidato a vice de Dilma ? O presidente da Câmara abre o sorriso e retruca : cargo de vice não é objeto de candidatura. Ninguém se candidata a vice. Michel, na verdade, tem pela frente um grande desafio : comandar a Câmara em um ano eleitoral. Pragmático, escolherá, no momento oportuno, a carta mais condizente com suas expectativas. Conselho aos novos vereadores Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na edição passada, o espaço foi destinado aos senadores. Hoje, volta sua atenção aos novos vereadores : 1. Não contem com o ovo antes do ato generoso da galinha. 2. Acautelem-se contra decisão sobre a PEC dos Vereadores, cuja interpretação poderá bater nas portas do STF. 3. Mais prudente e conveniente, neste momento, será arregaçar as mangas e começar a trabalhar pela viabilidade eleitoral - sem artificialismos - em 2012. ____________
quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Porandubas nº 204

Banana no bolso Tenho de começar com Jânio Quadros. Na campanha pela prefeitura de São Paulo de 1985, contra Fernando Henrique, o senador sociólogo da época, Jânio foi ao bairro de São Miguel Paulista, na zona Leste, reduto de nordestinos. Depois de uma farta feijoada, inúmeras caipirinhas, Jânio não resistiu e caiu na cama. Atrasado, às 18 horas levantou-se, vestiu o terno amarfanhado e colocou uma banana no bolso. Ao começar o discurso, foi logo dizendo: "Político brasileiro não se dá ao respeito. Eu não. Desde as 7 horas da manhã, estou encaminhando por este bairro e até agora não comi nada. Então, com licença". Sob os aplausos da massa, devorou a banana. A semântica janista O discurso semântico de Jânio - a substância de sua fala - ganhava mais força pelo impacto causado pelo discurso estético, a impressão provocada por sua maneira de falar, os olhos esbugalhados, os cabelos compridos e revoltos, a barba por fazer, um jeito desleixado que confundia interlocutores e assistentes : aquilo seria natural, coisa do acaso, ou algo preparado, artificializado ? Em Jânio, essa ambiguidade tornou-se marca de sua personalidade. Ficaram famosas suas campanhas em São Paulo, desde os tempos de vereador, quando escolheu o bairro de Vila Maria para montar o primeiro palanque de sua trajetória. Ombros cheios de caspa, sanduíches de mortadela, pão com banana, tudo sob as vistas dos fotógrafos, eram um prato saboroso para a mídia. Névoas e nuvens Os horizontes de outubro de 2010 estão longínquos. As nuvens e névoas do tempo atrapalham a visibilidade. Mas pesquisa, como se diz, é a foto do momento. E esta pesquisa CNI/IBOPE revela pelo menos uma coisa : Dilma Rousseff tem dificuldades para fazer decolar a candidatura. Ela já havia alcançado a taxa de 20%. Cai, agora, para 14% e empata com os 14% de Ciro Gomes. Ciro vai à TV, circula pelas cidades médias e grandes, acirra o discurso. E assim abre espaços na mídia. Dilma também passou a dar entrevistas de fundo político. Mas seu tom arrogante emerge. Os tupiniquins A entrevista da ministra chefe da Casa Civil, na Folha de S.Paulo, do último domingo, foi muito fraca. Esteve abaixo de sua identidade. A certa altura, defendendo o Estado forte - inchamento da máquina - cometeu a blague de atribuir essa polêmica aos "tupiniquins". Quis dizer que essa matéria só causa celeuma por aqui. Sobrou, porém, a gafe que pega parcela de nossa população indígena. Fosse um analista político a se referir ao tema, não haveria problema. A referência retrata uma cultura do atraso, das antigas. Na linguagem de uma autoridade, o termo parece inadequado. Alternativas do PT Pois é, se Dilma não decolar, por onde caminhará o PT ? Pelo andar da carruagem, seus quadros melhores estão ainda se recuperando de tiroteios antigos. Dirceu está fora de campo. Palocci, absolvido, espera momento propício para reaparecer em cena. Marta Suplicy não tem votação suficiente para eleições majoritárias na esfera federal. Vai sobrar para o PT o nome de Ciro Gomes como alternativa. O polêmico, extravagante, irrequieto, mas - vale reconhecer - bem articulado Ciro Gomes. Candidato pelo PSB com o apoio do PT. E se o PT não topar ? Ciro garante que vai adiante. Nesse caso Nesse caso, colabora para a ruptura de alianças entre PSB e PT em alguns Estados. A razão : em algumas unidades federativas, o PSB quer lançar seus candidatos e o PT teria de abrir espaço. Vice versa. O PT quer o apoio do PSB para seus candidatos em Estados onde aquele partido também quer disputar. Impasse. A campanha de 2010 será uma costura de inimaginável complexidade. Será um samba atravessado. Serra vai bem ? José Serra continua com bons índices, apesar de já ter registrado mais de 40%. Com 34%, Serra lidera mas diminui sua taxa. A diferença entre ele e os segundos é muito grande : 20 pontos percentuais. Serra quer conquistar, devagarzinho, o nordeste, onde tem a menor aceitação. Na Bahia, na segunda viagem que fez em menos de dois meses, saiu-se muito bem. Conseguiu puxar para sua palestra até Geddel Vieira Lima, ministro da Integração, que não tem muita certeza sobre a candidatura Dilma. O Brasil cercado Embaixadas são territórios de países. A Embaixada brasileira em Honduras, portanto, é a extensão do território nacional. Não pode ser invadida sob pena de tal ato ser entendido como invasão do próprio país representado. Se cortam os serviços básicos da Embaixada brasileira, em Honduras, esse ato equivale a uma agressão. É como se houvesse um boicote ao próprio Brasil. Que os meus amigos especialistas em Direito Internacional me socorram : me condenem ou me absolvam. Estarei certo ou errado ? Manuel Zelaya, presidente legal de Honduras, espera, no mínimo, uma reação à altura do Brasil. Alckmin vai bem Em longa conversa com este consultor, no final de semana, Geraldo Alckmin demonstrou inteira confiança em suas possibilidades como candidato ao governo de São Paulo. Acredita que o governador José Serra faz o estilo pragmático. Candidato à presidência da República, não pode perder em São Paulo. Por isso, escolherá o perfil com melhores condições de obter sucesso. Mas já quem ache que Alckmin não sustentará seus altos índices de pesquisa de opinião pública. E que as máquinas do Estado e da Prefeitura, juntas, alavancam qualquer candidatura. É possível, mas, em eleição, há sempre um imponderável. Quem foi radical ? Luiz Inácio lembrou, recentemente, que não há mais espaço para os trogloditas de direita. E lembrou que, na última campanha presidencial, quem radicalizou foi Geraldo Alckmin. Ora, quem conhece a índole equilibrada e balizada pelo bom senso do ex-governador, joga a pérola de Lula no lixo. Geraldo apenas lembrou que Lula estava cercado por mensaleiros e aloprados. Tal linguagem não é radical e apenas expressa a leitura das mídias e da opinião pública. Os tais figurantes dos ilícitos, esses, sim, radicalizaram. Direita, volver José Sarney fecha posição com Lula. Renan Calheiros, idem. Fernando Collor, idem. O que o presidente quis dizer quando lembrou não haver mais espaço para trogloditas de direita ? Vices O ministro Carlos Lupi, do Trabalho, é lembrado como um nome para compor a chapa de Ciro Gomes. O presidente da Natura, Guilherme Leal, é lembrado como vice de Marina Silva. Michel Temer, como vice de Dilma Rousseff. Henrique Meirelles (de que partido é ?) também foi lembrado - agora pelo PMDB de Goiás - para compor a chapa de Rousseff. Tucanos e socialistas Na Paraíba, é bem possível que os tucanos fechem aliança com os socialistas do PSB. Ricardo Coutinho, o bem avaliado prefeito de João Pessoa, eventual candidato ao governo pelo partido de Ciro Gomes, poderá ser o fiador desta aliança. Como já disse, dançaremos um samba atravessado. Reforma tributária e terceirização O Fórum Permanente em Defesa do Empreendedor, composto por empresários de cerca de 160 entidades do setor produtivo - entre elas Fiesp, ACSP, OAB e Fecomercio -, realizará no próximo dia 28 de setembro, na sede do Sescon (Sindicato das Empresas de Serviços Contábeis no Estado de São Paulo), em São Paulo, um encontro com o deputado Sandro Mabel, relator dos projetos de reforma tributária e do PL 4.302/98 que regulamenta a terceirização. Mabel discorrerá sobre os dois assuntos. Toffoli E o nomeado José Antônio Toffoli, hein ? Ministro do STF, passará 29 anos no cargo. Tempo para acompanhar, avaliar e julgar quase oito mandatos presidenciais. Assumirá mesmo não portando títulos de mestre e doutor - que Lula acha uma besteira. Vale, ainda é o presidente que garante, o fato de ele ser "um puta advogado". E mais : que "advogou para nós". Será que essa é a melhor qualificação. Benza-nos, Deus. O S de Skaf Há quem veja, na pesada campanha de Paulo Skaf na mídia, intenção mais que explícita de uma postulação política. Pretenderia o presidente da FIESP ser candidato ao governo de São Paulo, meta que o teria levado a procurar dirigentes e lideranças de partidos em São Paulo. Daqui a uma semana, Skaf deverá optar por um partido se quiser efetivamente continuar defendendo sua postulação. Mas há empresários fortes que acham a estratégia de Skaf um desastre : essa campanha para vender o SESI - pois o enaltecimento ao Serviço é mais que óbvio - pode comprometer seriamente o sistema S, de onde sai a dinheirama para sustentar campanhas publicitárias. Dinheiro em publicidade com viés político ? Direito, poder e dever Paulo Skaf tem todo o direito, como cidadão, de alavancar sua cidadania e, por conseguinte, trilhar as veredas da política partidária. A questão é : sob o escudo desse direito, ele, como presidente da FIESP, poderia concorrer a um cargo majoritário, mesmo não tendo nenhuma experiência na área ? Resposta : pode, sim. Quanto ao dever, essa é uma questão de consciência. Envolve sua posição no contexto das Federações, suas relações com os associados da FIESP, o engajamento político que aquela Casa pretende adotar, a relação com os partidos etc. Há, sob essa moldura, uma teia complexa de encadeamentos. Parece, porém, que Skaf não enxerga nada disso. Marketing mecatrônico A política é um sistema complexo. Envolve pesquisas, discurso substantivo (propostas, ideários), comunicação, articulação com a sociedade, articulação política e mobilização (encontros, reuniões, contatos com multidões etc.). Trata-se de uma rede de sistemas. Esse é o domínio do marketing político. Que, nas últimas décadas, passou a ser sinônimo de programas bem feitos de TV. Os chamados marqueteiros saíram das pranchas criativas de agências de publicidade. Vejam, senhoras e senhores, onde o marketing foi parar. Não por acaso, esbarramos nas TVs com uma linguagem "mecatrônica", parente da metafísica, que metabólica nenhuma, nem mesmo a metalinguística, há de entender. Haja picaretagem ! Conselho aos senadores Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na edição passada, o espaço foi destinado ao ministro do STF, Marco Aurélio Mello. Hoje, volta sua atenção aos senadores : 1. Façam uma sabatina justa - sem exageros e sem diminuições - para aferir as condições do indicado José Antônio Toffoli para o STF. 2. Ao presidente da República cabe fazer indicações para a mais alta Corte do país. Mas os senadores poderão rejeitar essa indicação, se o perfil do escolhido não corresponder ao figurino exigido para o posto. 3. Pode ser que sua Excelência demonstre qualidades pessoais, profissionais e técnicas para galgar o cargo de ministro do STF. O que não seria aceitável é a discriminação por idade ou ideologia. A conferir a sabatina, dia 30 próximo. ____________
quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Porandubas nº 203

Grande prole Da Bahia, vem a historinha. José de Almeida, contador do BB, fazia o cadastro da agência. Um dia, chega Heroino Pita, fazendeiro. Que respondeu na bucha o formulário ? Nome, idade, imóveis, renda anual, dívidas. Aí vem a pergunta : - Quantos filhos o sr. tem ? - 8 filhos - Tudo isso ? O senhor tem uma prole grande. Heroino, entre sorridente e cabreiro, faz o gesto com as duas mãos : - Não, senhor. É normal. Normal. Boanerges e a salada de 32 frutas Boanerges, barrigão de fora da camisa, vozeirão que ecoava pelos corredores, era proprietário da mais velha pensão de João Pessoa, nos idos de 60, a Hospedaria Pedro Américo, numa ladeirinha do Ponto de Cem Réis, onde se abrigava a estudantada que vinha de Souza, Cajazeiras, Uiraúna, Patos, Santa Luzia, enfim, de lá dos grotões da Paraíba. A "dormida", ali, quebrava o galho, mas a comida - era consenso - não satisfazia o apetite nem dos mais famélicos. Era ruim de fechar a boca. Vez ou outra, aparecia uma carne de sol. Mais dura que sola de sapato. De manhã, no café, o "véio" servia uma famosa salada de frutas. Que propagava com essa abundância frutífera : "Salada Pedro Américo com 32 frutas". Mas havia um porém na maldita : "era feita com uma maçã e 31 bananas". Um dia, a turma viu Boanerges saindo do quarto, o primeiro do corredor, escova de dentes na boca, resmungando um nhocnhocnhoc qualquer. De repente, para diante da mesa onde dois fregueses, que não o conheciam, trocavam impressões : - Que comidinha ruim dos infernos. Isso é comida de porco. - Veja essa banana d'água. Tá mais dura do que cipó de aroeira. O "véio" ouve a indignação, baixa a cabeça, aproxima-se mais ainda dos dois, tira a escova de dentes e sopra bem na cara dos fregueses a massa da pasta, enquanto solta o vozeirão amedrontador : - Vocês dois aí, prestem atenção : essa comida não é pra engordar macho, não, senhor. É apenas pra encher a pança. É procês não morrerem de fome. Se não tiverem gostando, chispem, chispem, vão embora ! Os dois se entreolharam, pagaram a conta e foram bater em outra freguesia. Cenário paulista O mundo gira e a política paulista roda. A cada dia, novos fatos e versões se sobrepõem aos fatos antigos. Vamos lá. Gabriel Chalita, o vereador tucano ligado a Geraldo Alckmin, está prestes a ingressar no PSB. Tem até o final deste mês de setembro para decidir. Está em fase de consulta, incluindo o presidente do partido, Eduardo Campos, governador de Pernambuco. Chalita quer ser senador paulista. Não teria vez no PSDB. Mas há o fator Alckmin. Sobre reis O rei de Uganda comia sozinho. Ninguém podia vê-lo comendo. Uma de suas mulheres dava-lhe a comida. Mas tinha de virar o rosto. "O leão come sozinho", dizia o povo. Quando não gostava da comida, mandava chamar o cozinheiro e espetava a lança em seu coração. Se uma servente tossia durante a refeição, era castigada com a morte. Se alguém entrasse de repente, também morria. E o povo dizia : "o leão matou três enquanto comia". (Elias Canetti) Probabilidades Para sair do PSDB, Chalita teria de pedir licença ao amigo do peito, Geraldo Alckmin. Que lidera a corrida para o governo, pontuando quase 50%. Ocorre que Alckmin não é (ou não era até esta semana) o candidato de José Serra para o governo. O candidato governista é (ou era) Aloysio Nunes Ferreira, chefe da casa Civil. Mas Aloysio tem dificuldade em pontuar no ranking. Por isso mesmo, saiu a versão de que Serra já começa a admitir o nome de Alckmin. Até porque se o ex-governador não sair para o governo e ganhar uma das duas vagas para o Senado, na chapa governista, queimaria o nome de Quércia, a quem já foi prometida uma vaga. Quércia não teria chance se Geraldo sair para o Senado. Isso porque governistas e oposicionistas (leia-se PT) elegeriam, cada um, um senador. Ou seja, Alckmin e Mercadante, por exemplo. Quércia faz pressão Prevendo que Alckmin poderia ganhar uma vaga para o Senado, Quércia procurou seus aliados Serra e Kassab e teria colocado a hipótese : se ambos forem candidatos ao Senado, ele, Quércia estaria rifado. Portanto, Serra deveria aceitar o fato que se torna, a cada dia, mais real : Alckmin para o governo. Vamos acompanhar os próximos passos. Chalita e o PT Quem está muito interessado no ingresso de Chalita no PSB é o PT. Que vê a possibilidade de uma alavacangem na candidatura petista ao governo. Chalita conta com uma ampla rede religiosa, reunida pelo Grupo Canção Nova, da Igreja Católica. Ele é quase venerado por esse grupo. E poderia encarnar o perfil do moderno, do novo, ou seja, de uma Nova Canção aos ouvidos do eleitorado. Lembrando mais uma vez : Alckmin não deixaria Chalita fazer o jogo do PT. O cenário carioca Já no Rio de Janeiro, quem dá um passo adiante é o ex-prefeito César Maia, o mais estudioso de política entre os nossos governantes. Que começa a pensar alto e explícito em torno de sua candidatura ao Governo do Estado. Maia seria apoiado pelo PSDB de José Serra, que teria no Rio um amplo palanque. E o PSDB dispensaria Fernando Gabeira da candidatura ao governo, liberando-o para o que ele sonha : ser senador. Serra contaria, nesse caso, com o palanque de César Maia e até poderia envolver o PV de Gabeira no segundo turno. Há muitas dúvidas sobre a divisão dos verdes no segundo turno. Há quem garanta que fechará com Dilma, outros com Serra. Hoje, pende mais para Serra. "Para desvirginar o labirintoDo velho metafísico mistérioComi meus olhos crus no cemitérioNuma antropofagia de faminto." (Augusto dos Anjos) Dilma, a dúvida A dúvida acima se ampara na boataria dos últimos dias, que dá conta do rebaixamento de Dilma Rousseff no ranking das pré-candidaturas. Já esteve mais cotada que hoje. Os quase cinco pontos que perdeu, nos últimos tempos, a colocam sob o teto das inquietações. Volta-se falar não na doença, mas na índole autoritária e arrogante da ministra. Lula, que continua fechado com a candidatura de sua ministra, já esteve mais firme. Hoje, usa a régua do pragmatismo. Se der, deu; se não der resultados, tirará da cartola outro nome. Quem sabe, Ciro. Ou Palocci. PMDB e PT Nas últimas semanas, expandiu-se a versão de que a aliança entre PMDB e PT já foi mais segura. A partir do momento em que o PT começa a movimentar as pedrinhas na lagoa dos Estados, as marolas tendem a afastar o PMDB de suas proximidades. No Rio, por exemplo, Sérgio Cabral já começa a perceber que o prefeito de Nova Iguaçu, Lindberg Farias, se firma como candidato petista ao governo. Ademais, Cabral está insatisfeito com a posição federal sobre os royalties do Pré-Sal. A salmoura dos choques recentes tem contribuído para afastá-lo um pouco mais do Palácio do Planalto. O quadro mineiro Em Minas Gerais, Hélio Costa, ministro das Comunicações, pré-candidato ao governo pelo PMDB, ensaia uma união com o PMDB de Newton Cardoso. O patrono dessa unidade se chama Orestes Quércia. Como Quércia, em São Paulo, apoia Serra, é bem provável que, em Minas, Hélio Costa seja candidato de uma coligação envolvendo tucanos, peemedebistas e democratas. Aécio Neves estaria por trás dessa equação. E o PT, assim, se afastaria também em Minas do PT. Sobre reis O rei de Kitara era alimentado por um cozinheiro. Que, ao trazer a refeição, espetava o garfo na carne, cortava um pedaço e o colocava na boca do rei. Repetia o gesto quatro vezes. Se, por acaso, tocasse nos dentes do rei com o garfo, era castigado com a morte. (Elias Canetti) Cesare Battisti E o caso Cesare Battisti, hein ? O placar é de 4 a 3 a favor da extradição. O ministro Marco Aurélio pediu vistas. Comenta-se que votaria contra a extradição sob o argumento de que os crimes atribuídos a Battisti estariam prescritos no Brasil. Pergunta curiosa : os juízes brasileiros podem julgar o mérito de crimes previstos pelas leis italianas ? Se a prescrição na Itália não combinar com o tempo da prescrição prevista pelas leis brasileiras, o que valerá ? A lei italiana, onde os crimes teriam sido cometidos, ou a lei brasileira ? Pode um país julgar o mérito de uma legislação de outra Nação ? Este escriba quer simplesmente provocar o animus animandi dos juristas. "Somos, ainda, sobre todos os outros, o povo das esplêndidas frases golpeantes, das imagens e dos símbolos." (Euclides da Cunha) Exército na míngua Qual é a Força mais próxima ao povo brasileiro ? A Aeronáutica ? Creio que não. Esta voa longe. Trata-se da Martinha ? Creio que não. Esta navega nos oceanos, espaço distante do dia a dia dos mortais. O Exército ? Sim. Ele está mais próximo. Os verdes circulam pelas ruas. Tanques e caminhões, vez ou outra, passam pela nossa vista. O Exército até que limpou aquela imagem dura dos anos ditatoriais. Pois bem, o Exército, que está mais perto de nós, está à beira da míngua. Até o expediente da segunda-feira poderá deixar de existir. Faltam recursos até para comida dos recrutas. Mas o Brasil ostenta, como pavão, as cores orgulhosas de aviões de caças, submarinos, helicópteros sofisticados. Cada Força com sua força. E Marco Aurélio, hein ? O ministro Marco Aurélio, do STF, até hoje não disse se vai aceitar ou não o recurso apresentado pela Câmara dos Deputados contra a liminar que determina a entrega à Folha de S.Paulo de 70 mil notas de despesas com verbas indenizatórias. A Câmara espera o julgamento do mérito. Segundo a Câmara, as informações solicitadas pela Folha podem ser acessadas no site eletrônico. Mas a Folha quer papel. Ademais, a Câmara não pode entregar notas sobre contas telefônicas, sob pena de infringir o sigilo telefônico resguardado pela Constituição. Mais ainda : se outros meios de comunicação fizerem a mesma solicitação, seria necessária grande gráfica para imprimir os impressos desejados, além da logística de transporte. Serão algumas toneladas. E se o STF julgar o mérito e acolher o ponto de vista da Câmara, quem arcará com o prejuízo ? Toffoli, quase certo ? Dizem que José Antonio Dias Toffoli é nome quase certo de Lula para assumir o lugar do falecido ministro Carlos Alberto Direito. E que, entrando no Supremo, já poderia julgar o pedido de extradição de Cesare Battisti. Algo não combina. O ministro da Justiça, Tarso Genro, abre a boca para defender a liberdade de Battisti. Tarso Genro é candidato ao governo do RS pelo PT. Toffoli já foi advogado do PT. Se começar no Supremo dando um voto de caráter político, entrará na mais Alta Corte com o pé esquerdo. Vão dizer que vota sob encomenda. Poderia, simplesmente, nesse caso, abster-se. Juniti Saito quase saiu Nos bastidores, comenta-se que o ministro da Aeronáutica, Juniti Saito, quase pedia o boné a Lula. Teria ficado contrariado contra a decisão antecipada do presidente de comprar os aviões Rafale, da França. Como Lula deu meia volta, Saito voltou a por o boné. Mas algo ficou nos ares. Conselho ao ministro Marco Aurélio Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na edição passada, o espaço foi destinado ao presidente Lula. Hoje, volta sua atenção ao ministro do STF, Marco Aurélio Mello : 1. Vossa Excelência é considerado um ministro técnico, culto, preparado, independente. Nos últimos tempos, sombras têm se projetado sobre sua imagem, a partir de posicionamentos ainda não muito claros. 2. O pedido de vistas sobre o caso Cesare Batistti cria celeuma no mundo jurídico, eis que não se consegue enxergar em sua decisão motivação técnica. Dizem, até, que, nesse ínterim, o presidente da República nomeará o substituto para a vaga do falecido ministro Carlos Alberto Direito. Nesse caso, o indicado deverá participar do julgamento. 3. A sociedade aguarda com grande atenção seu parecer. Sob uma questão de fundo: se é verdade que os eventuais crimes cometidos por Batistti teriam sido prescritos sob a legislação brasileira, pode nossa Justiça julgar o mérito de outras legislações ? Se na Itália, os crimes não foram prescritos, pode a justiça brasileira tomar uma decisão contrária ? ____________
quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Porandubas nº 202

Cômputo e computo Pachequinho e Chico Fulô eram muito populares e vereadores do PTB em Belo Horizonte. Disputavam as mesmas áreas e viviam brigando. Na tribuna, Waldomiro falava de tuberculose e tuberculosos, seu assunto predileto : - A cidade está cheia de tuberculosos. Não sei ao certo quantos são, mas eu computo... Pachequinho aparteou : - Não é computo não, ilustre vereador. É cômputo. - Eu sei que é cômputo. Mas, falando com Vossa Excelência, eu falo computo. Foram às vias de fato. Quem conta é o impagável amigo Sebastião Nery. Peixe fora d'água Vejamos, agora, esta historinha, ocorrida em 24 de junho de 1986, noite de São João, em Fortaleza, Ceará. Tasso Jereissati, convidado por Barros Pinho, deputado estadual do MDB, dirige-se a um clube de um grande bairro popular de Fortaleza. É a sua primeira experiência no meio do povo. Candidato a governador do Ceará, sua missão é presidir um júri que vai julgar fantasias juninas. Está completamente deslocado, um peixe fora d'água. Chega ao ambiente e sob conselho deste escriba, vai, de mesa em mesa, fazendo rápida apresentação. Começa a presidir o evento. Encabulado, não sabe o que fazer. Enrola-se. Só era conhecido no bairro de classe média alta, Aldeota. Tinha menos de 2% de intenção de voto. Se política for isso... Depois do evento junino, angustiado, ele, Sérgio Machado, na época seu braço direito e este escriba dirigem-se a um restaurante na praia para degustar uma lagosta. Sob o efeito do uísque tranquilizante, Tasso desabafa : "desisto, amigos; se política for isso, assistir a batizado, casamento, velório, festa junina, não contem comigo". O iniciante estava transtornado. Insatisfeito com sua performance. No Hotel Esplanada, numa máquina Lettera 22, esbocei o planejamento de sua campanha. O moderno contra o arcaico. Tasso deu um banho nos três coronéis que comandavam a política cearense : Virgílio Távora, César Cals e Adauto Bezerra. Com 600 mil votos de diferença. Lula cai Luiz Inácio, também conhecido como efeito teflon (nada gruda nele), caiu quatro pontos na pesquisa Sensus desta primeira semana de setembro. O clima conturbado - defesa de Sarney e outros pontos de tensão na esfera federal - baixaram um pouco a bola de Lula. Que, imediatamente, puxou a alavanca da imagem, elevando o tom a respeito do Pré-Sal e sua importância para a elevação do país à condição de potência do petróleo. A propaganda governamental - intensa e com foco na auto-estima dos brasileiros - poderá resgatar os pontos perdidos por Lula. Sarkozy e o cofre cheio O Brasil vai às compras. E começa a desfraldar a bandeira de Nação mais forte da região nas frentes naval e aeronáutica. O pacote comprado da França - submarino, helicópteros e os aviões de caça Rafale - deverá chegar aos R$ 31,1 bilhões. Os recursos serão financiados por bancos franceses e espanhóis. Lula fechou posição em torno do avião francês, que é o mais caro. Os americanos e os suecos ficarão - literalmente - a ver navios. Dizem que os EUA não ganharam a parada porque poderiam vetar a transferência de tecnologia. E o avião sueco ainda está no desenho. Pode ser. Argumento central : o Brasil quer usar a França como parceira estratégica. Serra, o dobro de Dilma José Serra tem, hoje, um índice de intenção de voto que é o dobro do conseguido por Dilma Rousseff : 39% a 19%, segundo a pesquisa Sensus. Mas Dilma poderá chegar aos 30%. Serra poderá oscilar, na campanha, entre 40% a 45%. Com os votos de Marina Silva e Ciro Gomes, teremos um segundo turno mais que agitado. O voto de decisão será influenciado por : fatores econômicos, episódios pontuais - circunstâncias - e um inesperado golpe de sorte de algum candidato, sendo este fator bastante imprevisível. PAC continua empacado O Programa de Aceleração do Crescimento é um slogan que acabará se transformando em bumerangue. Vejam só : em São Paulo, apenas 6% das obras previstas pelo PAC estão dentro do calendário. Ou seja, mais de 90% não entraram nos eixos. Por isso mesmo, Lula já não fala muito desse empacado PAC. A recorrência, agora, é pré-sal, pré-sal, pré-sal... Que, como se sabe, vai mostrar petróleo rentável apenas entre 2020/2025. Cuidado, candidatos Importar modelos é uma prática lastimável. Na campanha presidencial da Argentina de 1999, uma peça produzida por um marqueteiro brasileiro mostrava o candidato governista, Eduardo Duhalde, cabisbaixo, e um locutor dizendo : "Você acha justo o que estão fazendo com ele ?" Para a machista sociedade argentina, um candidato que se apresenta como perdedor é o retrato de uma tragédia. A peça provocou a ira implacável da mulher do candidato, Hilda. A cultura argentina não cultiva tanto a emoção quanto a brasileira. O trabalho, considerado amador, provocou a queda de Duhalde nas pesquisas. Foram torrados US$ 25 milhões em dois meses. Ser ou não ser Antônio Palocci continua tomado por dúvidas; ser ou não ser candidato ao governo de São Paulo ? Em não sendo, cederá o lugar a Emídio de Souza, o prefeito de Osasco. Ciro Gomes, com medo de perder, já se retira do páreo paulista. Apesar de eventual decisão para fincar, aqui, raízes eleitorais. Tem apartamento pronto e vago para morar e basta mudar o título eleitoral. Prazo : final deste mês. Aloysio e Alckmin Vamos às últimas a respeito de Aloysio Nunes Ferreira, o chefe da Casa Civil de José Serra, e Geraldo Alckmin, secretário do Desenvolvimento. O quadro não mudou. Aloysio continua sendo o candidato do governador Serra e do prefeito Kassab para o governo. Ostenta, hoje, algo como 4% dos votos. Alckmin tem, hoje, cerca de 45% de intenção de voto. Mas não conta com a preferência do governador e do prefeito. Que acreditam ser possível, mais adiante, alavancar a candidatura do chefe da Casa Civil. Para Geraldo, restaria uma vaga para o Senado. A conferir. Risco ? Comigo não, violão Mas José Serra, ao que se sabe, não é muito disposto a enfrentar riscos. Principalmente quando o risco é mais alto que o sonho de chegar ao Palácio do Planalto. Se perceber que uma derrota em São Paulo poderia ameaçar seu voo, Serra colocará outra pessoa no lugar de Aloysio. E essa pessoa, só em última análise, seria Alckmin. Há mais chances, por exemplo, de ser o próprio prefeito Kassab. E mais : se Serra perceber que a vitória no pleito presidencial é algo tão distante que escapa à vista, desistirá. Convocará Aécio Neves. Que também já se movimenta pelo país. Ambos - Serra e Aécio - estão combinados. Querelas salgadas Nas próximas semanas, o país mergulhará em águas salgadas. Os quatro projetos em torno do Pré-Sal deverão acirrar os debates na Câmara e no Senado. O mais polêmico dirá respeito à partilha dos royalties, cuja Comissão terá como relator, o deputado Henrique Alves (PMDB-RN), líder do PMDB na Câmara, e como presidente, Arlindo Chinaglia (PT-SP). Os canhões para disparo de sal começam a ser fabricados. Bomba atômica ? Será que o Brasil tem condições tecnológicas para fabricar a bomba atômica ? Tem, sim, garante o general Alberto Mendes Cardoso, ex-chefe da Casa Militar e do Gabinete de Segurança Institucional no governo FHC. Se um general que ostenta cargos como o que exerceu Alberto Cardoso afirma, categoricamente, essa possibilidade, não se pode por dúvida. Este escriba não duvida de opiniões com este calibre. Mas, e daí ? Uma coisa é saber fabricar, outra é decidir fazer. Entre ambas, um oceano de distância. Até porque o Brasil não se sente ameaçado nem mesmo motivado a entrar no arsenal de guerra mundial. E a potência naval ? E, por que o país quer ser potência naval e aeronáutica, a mais forte da região, com a compra dos armamentos franceses ? Será que o nosso petróleo poderá ser surrupiado ? Piratas da Somália poderão fugir com os nossos cargueiros de óleo ? Sei não. Essa justificativa - proteção de nossas costas e do nosso óleo - mais parece conversa mole para boi dormir ou, como diria o senador Marco Maciel, prosopopéia flácida para acalentar bovinos. E a vacina contra a suína, hein ? Quando essa gripe suína estiver nos estertores, chegará ao Brasil um carregamento de vacinas da França : um milhão de vacinas. Os franceses ainda mandarão material para fabricação de 17 milhões de doses. É muita dose atrasada para muita gripe anterior. Agronegócio no CODEFAT O deputado Moreira Mendes (PPS-RO) defendeu a inclusão do agronegócio no CODEFAT. Como é sabido, a presidência do órgão caberia, por sistema de rodízio, a uma entidade patronal. Havia consenso que a CNA, presidida pela senadora Kátia Abreu, ocuparia a vaga. Contrariando expectativas e consensos, o comando do órgão foi direcionado ao improvisado CNS - Conselho Nacional de Serviços. Moreira Mendes conhece o setor de agronegócios e sabe melhor do que muitos o quanto aquele trade já rendeu em benefícios para o país. Turismólogo Aliás, Moreira Mendes também é autor do Projeto de lei 6906/02 (que estatui a profissão de turismólogo), que apresentou quando exercia o mandato de Senador. A proposta recebeu, semana passada, parecer favorável da relatora, deputada Maria Lúcia Cardoso (PMDB-MG), que acatou emendas ampliando sua abrangência. A seguir, a Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania aprovou o reconhecimento da profissão. Entre as atribuições desse profissional estão a organização de eventos, o planejamento e a divulgação de produtos turísticos, a formulação de políticas para o setor, a criação de roteiros turísticos e de planos de marketing, assim como o ensino na área. Para o exercício da atividade na área de turismo, o texto aprovado estabelece que o profissional deverá obter o registro em órgão federal da categoria, cuja criação ficará a cargo do Poder Executivo. Tramitando em caráter conclusivo, o projeto poderá ser remetido diretamente à sanção presidencial. Ele só será votado pelo Plenário se, no prazo de cinco sessões, houver recurso assinado por no mínimo 52 deputados. 7 de setembro Cada vez mais os desfiles de 7 de setembro são cada vez menos deslumbrantes. Tornaram-se frios e burocráticos. A taxa cívica, se ainda existe, não toca mais de perto os corações. Qual a razão ? Lula, destrambelhado ? Essa foto de Lula segurando o presidente da França, Nicolas Sarkozy, por trás parece brincadeira de mau gosto. Se o presidente queria fazer gracinha com Sarkozy - buscando uma imagem engraçada no espelho - conseguiu efeito contrário. Temer agraciado Michel Temer, presidente da Câmara, será agraciado com a Medalha Cavaleiro na Ordem da Legião de Honra, que receberá, dia 15, em Paris. Agraciados foram também Sérgio Cabral, Ivo Pitangui e Paulo Coelho. Nordeste quer voltar à agenda O senador César Borges (PR-BA) pretende promover um ciclo de debates sobre o Nordeste na Comissão de Desenvolvimento Regional e Turismo do Senado, onde é vice-presidente. Em sintonia fina com a sugestão de Tasso Jereissati (PSDB-CE), o senador baiano, sempre com sua bússola calibrada para questões importantes, vai coordenar uma agenda visando avaliar a atuação de instituições como a SUDENE, o Banco do Nordeste e BNDES. Tasso deu a abordagem : o Nordeste e os gargalos de desenvolvimento saíram da agenda do Senado, da agenda nacional e da própria agenda do governo federal. O senador cearense tem suas razões. Conselho ao presidente Lula Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na edição passada, o espaço foi destinado ao corpo parlamentar. Hoje, volta sua atenção ao presidente Lula : 1. Tente dar ao Pré-Sal a identidade que ele carrega, sem diminuir nem acrescentar. 2. Mostre que os resultados do programa só serão alcançados dentro de 10 a 15 anos, evitando, dessa forma, exageros que ameaçam contaminar o palanque eleitoral de 2010. 3. Procure uma base mínima de consenso, pela via da congregação de interesses de Estados produtores e Estados consumidores. ____________
quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Porandubas nº 201

Um discurso histórico Campanha de 1968, para a prefeitura de Mossoró, Rio Grande do Norte. Aluízio Alves, governador, foi chamado para ajudar o correligionário Antônio Rodrigues, identificado com as causas dos pobres, contra o intelectual Vingt-Un Rosado. Era a campanha do "touro" - Vingt-Un - contra o "capim", Toinho. Mas este tinha um grave problema : era alcoólatra. Comício de encerramento da campanha. Aluízio chamou a mulher de Toinho, Maria Augusta, e disse : "vou ter que tocar no problema dele, o alcoolismo". -Pelo amor de Deus, governador, não toque no assunto. -Deixe comigo. Multidão silenciosa. Solene, o governador tirou uns papéis do bolso e começou : - Vamos perder a campanha. Tenho aqui uma pesquisa. Toinho vai perder. Um sussurro toma conta dos pasmos eleitores. Decepção. Frustração. Impávido, Aluízio retoma : - Vamos perder porque Toinho Rodrigues é alcoólatra. A balbúrdia se estabelece. Nervosa. A cara do povo O orador pede silêncio e faz a peroração que marcou um dos capítulos mais vibrantes da história do palanque político : - Ao chegar a Mossoró, passei pelo açougue e vi, assombrado, o preço da carne, uma carestia. Passei pela farmácia e vi o absurdo que são os preços dos remédios. O governador continuou os relatos sobre preços e a carestia e histórias de pessoas que não conseguiam comprar alimentos. Citou Pedro dos Anjos, Deca de Antônio Gadelha, Manoel Bernardino, Chico de Saturnino, compadre Azarias, Tintim, Sebasto, cada um com suas frustrações e lamúrias por não poderem comprar um quilo de carne, um litro de leite, um quilo de feijão. E arrematava : - Frustrados, passam pela bodega e pedem um oito de cachaça. Têm vergonha de chegar em casa sem alimentos para os filhos. Tomam sua cachacinha e se acostumam a beber. E começou a fazer a comparação : - Vocês sabem quanto custa uma garrafa de uísque ? Com o preço de uma garrafa dessa bebida estrangeira, dá para comprar 30 garrafas de cachaça. Sabem quem bebe uísque ? O dr. Vignt-Un Rosado, intelectual, rico, que não quer sentir o cheiro de cachaça. E detesta pobre. Vamos perder a eleição. Dr. Vingt-Un será eleito. Agora, imaginem a situação. Zé do Peixe chega na Prefeitura, com aquele bafo de cachaça, para falar com o prefeito. - Quero falar com esse Vantan. Ele bebe uísque Um assessor, engravato, diz logo : - O prefeito está em reunião. Não pode atender. Aluízio conta mais dez casos de bêbados que são expulsos do lugar. A seguir, faz a comparação : - Imaginem, agora, Toinho, eleito prefeito de Mossoró. Chega na Prefeitura o cachaceiro Luiz de Zefa das Baixas. Que vai logo exigindo : - Cadê o prefeito "Toim" ? O assessor de "Toim" cochicha no ouvido dele : "Prefeito, tem um cachacista militante na recepção querendo falar com você." Mais que depressa, Toinho Rodrigues : - Mande, já, o colega entrar. Mossoroenses : - Toinho é a cara do povão simples. Bebe porque tem os mesmos problemas de nossa gentinha. Mossoró precisa eleger um prefeito com a cara do povão. Vamos eleger Toinho. Cada um de vocês sairá daqui com o compromisso de arranjar cinco, seis, dez votos. Podemos, sim, mudar a situação. A multidão, sob forte emoção, saiu a campo. Foi e venceu. Mossoró ganhou a cara do prefeito Antônio Rodrigues. Aluízio Alves, com um discurso, mudou o rumo da história. Um marco do marketing político. Pré-sal sob o sol Pois é, o Pré-Sal só apresentará saldo positivo dentro de uns 10 a 15 anos. Mas a conta fabulosa do futuro já está sendo exibida ao coração dos brasileiros. Lulinha Paz e Amor vende o Pré-Sal como a jóia da Coroa. Jóia que enfeitará o perfil de Dilma Rousseff. Pretende o presidente dizer que a nação redescobriu a independência, que o Brasil Potência está à vista e que, desde os tempos do velho Cabral, nunca havia sido feito descoberta tão importante. Sob o sol luminoso dos palanques, o Pré-Sal vai ser motivo de grandes debates. Cabral chiou alto Mas Sérgio Cabral estrilou. Disse que não aceitaria de jeito nenhum o Pré-Sal nos moldes como foi estabelecido, sem oferecer a fatia do leão aos Estados produtores. Gritou mais alto que José Serra (SP) e Paulo Hartung (ES). Dizem que o cara ficou tão fulo da vida que foi preciso ser retirado, por momentos, da sala de jantar pelo prefeito do Rio, Eduardo Paes. Voltou mais calmo. Lula cedeu. Sentiu que Dilma poderia perder o palanque carioca. Mas o trauma continuará. Essa querela vai longe. Cabo Anselmo Esse cabo Anselmo, enfim, deu as caras. Pelo visto, sempre foi araponga infiltrado nos grupos de esquerda. Agente duplo, agora tenta dizer : ou delatava ou morria. Em sua entrevista à TV Bandeirantes, viu-se um sujeito calculista e sem as marcas indeléveis do sofrimento. Deve ser um poço de águas sangrentas. Governadores no TSE Os governadores Ivo Cassol (RO) e José de Anchieta Júnior (RR) deverão ter seus processos julgados no TSE neste mês de setembro. O presidente da Corte, ministro Carlos Ayres Britto, quer acelerar os julgamentos. Mas os casos dependem, claro, dos relatores. Se não forem julgados, a decisão vai para as calendas. Eis aqui um exemplo de como a justiça anda como tartaruga. Perguntinha pertinente : por que os processos contra governadores andam tão devagar ? Nova lei eleitoral Será necessário um esforço extraordinário para que o Senado aprove a lei eleitoral para permitir que as mudanças entrem em vigor em 2010. Se houver modificação no projeto aprovado pela Câmara - e certamente haverá - ele volta à Câmara Baixa para nova apreciação e votação. Tudo tem de estar devidamente aprovado até o dia 5 de outubro. Dará tempo ? Ghandi Peguntaram a Ghandi o que achava da Civilização Ocidental. Ele respondeu : - Acho que seria uma boa ideia. Visão de Ayres Britto O ministro Carlos Ayres Britto, falando exclusivamente para este escriba, faz interessantes e oportunas revelações sobre o dispositivo legal em tramitação. O projeto considera a internet ferramenta similar ao rádio e TV, que são concessões do Estado. Não pode a internet ser assim considerada. Poderia, isso, ser comparada com jornais e revistas, que não são concessões. Dessa forma, a censura jornalística à rede virtual é um retrocesso. Com o que concorda este escriba. Ou seja, se um analista político quiser manifestar sua opinião - negativa ou positiva - a respeito de um candidato, não pode ser censurado. Pelo projeto, estará sujeito à censura. Pior: a rede deverá garantir direito de resposta a quem se sentir acusado. Arrecadação Ayres Britto defende um princípio norteador para a questão da arrecadação de fundos : maior número de contribuintes e pequenas doações, de forma a democratizar o processo. Hoje, o que se vêem são poucas empresas - geralmente empreiteiras - fazendo grandes doações. Ora, haverá sempre uma espécie de toma-lá-dá-cá. A lei da reciprocidade impera nas campanhas. Façamos como os Estados Unidos, diz o presidente do TSE, ao lembrar que 3 milhões de pessoas entraram no circuito de Obama, fazendo pequenas doações, que perfizeram a conta de US$ 600 milhões. Maquiavel "Se Maquiavel tivesse tido um príncipe como discípulo, a primeira coisa que teria lhe recomendado era escrever um livre contra o maquiavelismo". (Voltaire) Campanha na internet Aliás, a respeito de Obama, este escriba faz a constatação : muitos candidatos a cargos majoritários e proporcionais começam a esquentar os motores de suas pré-campanhas. Como ? Movimentam-se, neste momento, em torno das ferramentas da internet. Procuram usar o pacote de redes sociais para esquentar seus nomes e abrir bons espaços de visibilidade junto a determinados segmentos, a partir dos jovens. Mas há uma questão séria a se considerar : não adianta criar novas ferramentas sem saber qual o discurso a ser transmitido. Daí, a conclusão : importa, nesse sentido, organizar muito bem o discurso. Belchior e a Globo, tudo a ver Belchior e a Rede Globo, a gente se vê por aí. Eles têm tudo a ver. O cantor desaparece. A TV Globo faz um carnaval. Dias depois, o cantor aparece. A TV Globo faz um carnaval. O teaser ??? Só não funcionou direito porque pareceu muito artificial. Até a tentativa de evitar a repórter Sônia Bridi foi artificializada. Surgiu um bigodudo sorridente, com cara de férias, e dizendo : amo o Brasil, amo o Brasil. E o apresentador do Fantástico, concluindo : que simpático o Belchior. O ditador O ditador vai ao médico : - E a pressão, doutor ? - O senhor sabe o que faz, meu general. Neste momento, ela é imprescindível para manter a ordem. Os chineses Os chineses têm um ditado, "vestir a máscara do porco para matar o tigre". É uma referência a uma antiga técnica de caça em que o caçador se cobre com a pele e o focinho de um porco, e sai grunhindo. O feroz tigre pensa que um porco vem chegando, deixa-o se aproximar, saboreando a perspectiva de uma refeição fácil. Mas é o caçador quem ri por último. Mascarar-se de porco funciona muito bem com quem, como os tigres, é muito arrogante e seguro de si. Quanto mais eles acham que é fácil apanhar você, mais facilmente você vira a mesa. Este truque também é útil se você for ambicioso, mas ocupa uma posição inferior na hierarquia - aparentar ser menos inteligente do que é, até meio tolo, é o disfarce perfeito. 121 estatais O governo federal já tem 121 estatais. Muitas delas foram criadas no ciclo Lula. O Estado, sob Lula, ficou mais gordo, principalmente com a gordura partidária. Deus e o diabo Chamou a atenção, por ocasião do lançamento do Pré-Sal, a evocação de Lula sobre o programa. No mesmo contexto, o presidente colocou Deus ao lado do diabo. Disse que o petróleo era uma "dádiva de Deus", e que poderia se transformar em "maldição". Maldição é coisa do capeta. Senador por São Paulo ? A fofoca esquenta algumas conversas : Lula desejaria ser senador por São Paulo. Entregaria a rapadura ao vice e correria o país para comandar a campanha de Dilma, nos intervalos em que usaria o palanque paulista para decolar a sua campanha e a dela. Aqui, há 30 milhões de eleitores. Problema : não gostaria de colocar mais problemas no colo do grande José Alencar, esse, sim, um brasileiro que merece os nossos aplausos. "Não se deve jamais ignorar um inimigo, achando que ele é fraco. Ele se tornará perigoso no devido tempo, como uma faísca num monte de feno". (Kautilya, filósofo indiano) Alckmin, o mais forte Geraldo Alckmin, ex-governador paulista e atual secretário de José Serra, vai se firmando como a principal opção do PSDB paulista ao governo. Não é o candidato in pectore de Serra nem do prefeito Kassab ao governo. Mas Aloysio Nunes Ferreira parece pregado no chão. Trata-se de um grande articulador, mas não tem visibilidade. Dessa forma, Alckmin passa a ser o candidato mais provável da aliança PSDB-DEM. Serra não quer fazer feio. Palocci tem dúvidas Antonio Palocci até já foi anunciado como nome forte do PT ao governo. Mas o deputado continua cheio de dúvidas. Teme que o caso Francenildo volte à superfície. Não pretende continuar a ser vidraça. Ocorre que é o melhor e mais preparado quadro do PT paulista. Não tem a tibieza de Mercadante, a arrogância de Marta, nem o deslocamento de eixo do Suplicy. Receita pacificada A Receita Federal voltou aos trilhos. Após a tempestade sindicalista, vem a bonança. O secretário Otacílio Cartaxo não perdeu a calma : trocou os rebeldes, preencheu os buracos. Com seu espírito de harmonia, mobiliza os quadros em torno de uma gestão técnica e aperto na fiscalização. Espera resgatar posições de arrecadação em pouco tempo. Yeda, a bailarina Yeda Crusius, a governadora do RS, tem demonstrado ser exímia bailarina. Dançou de um lado, dançou de outro, e não é que está se equilibrando na corda bamba ? A essa altura, este escriba, que apostava na sua queda, tem a impressão de que deu a virada. Ficará. Será ? Jantar o Brasil ? E esse Tevez, hein ? Exibe a arrogância de mandar o recado : "vamos jantar o Brasil". Que sujeito petulante, hein ? Que tal servi-lo de sobremesa ? Barbaridade... Que coisa bárbara ! Mataram em Brasília o advogado José Guilherme Vilela, de 73 anos, sua mulher e uma empregada. De mãos assassinas, a morte não faz a conta sobre quem deve levar e por quê... Bolsa e Lula em dois tempos Circula na internet um vídeo com Lula fazendo a execração pública de bolsas assistencialistas. Diz mesmo que aqueles que as usam são oportunistas. São moedas para comprar o voto. Não são programas que apresentam perspectivas para o futuro dos assistidos. Depois, aparece Lula, em tempos recentes, execrando os imbecis que acusam o programa Bolsa Família de não ter saída. Lula, em dois tempos, é tão verossímil quanto falastrão. Conselho ao corpo parlamentar Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na edição passada, o espaço foi destinado ao PT paulista. Hoje, volta sua atenção ao corpo parlamentar : 1. Corram e apressem a votação do projeto de Reforma Eleitoral para que possa ser aplicado em 2010; 2. Evitem censura às redes sociais na Internet e não tentem comparar a rede virtual às concessões de rádio e TV; 3. Vejam como foi feito o uso da Internet em países democráticos, como os EUA, e não procurem reinventar a roda. Simplesmente, façam as adaptações necessárias aos nossos costumes. ____________
quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Porandubas nº 200

O médico João Izidro João Izidro, casado com Chiquinha, tia de Otacílio Cartaxo, secretário da Receita Federal, pai do amigo Carlos Alberto e do psiquiatra-escritor, Luis Carlos, era pediatra, clínico geral e sábio. Atendia famílias de todos os recantos dos fundões da Paraíba. Sua clientela incluía Luís Gomes, cidade do RN na fronteira com a PB, onde este escriba nasceu e de onde, do alto da serra, contemplava Uiraúna, terra de Luiza Erundina e do primo Zé Neumanne. João Izidro foi o médico de minha família e era padrinho de Boanerges, um dos meus irmãos. Um dia, em Cajazeiras, sua cidade, atendeu a uma velhinha que se queixava de "incômodo em todo o corpo". Fez as perguntas tradicionais : - A senhora tosse ? - Às vezes, sim, às vezes, não. - A senhora tem dor de cabeça ? - Às vezes, sim, às vezes, não. - A senhora sente febre ? - Às vezes, sim, às vezes, não. Paciente, o médico botou os óculos e escreveu a receita : - Pegue a receita, minha senhora. Pode ir, a senhora vai melhorar. A velhinha pegou a receita e tascou a pergunta : - Doutor, e esse remédio, hein, como é que eu tomo ? A resposta do João veio no mesmo tom da voz da velhinha : - Tome o remédio às vezes, sim, às vezes, não. O coronel Juca Peba Desconfiado e matreiro, o coronel Juca Peba não era de muita conversa. Tinha dinheiro, e muito, guardado sob o travesseiro. Até o dia que inauguraram a Agência do Banco do Brasil, em Cajazeiras. A gerente foi procurar o coronel Juca Peba com o argumento : - Coronel, bote o dinheiro no banco. Vai ser guardado, bem guardado, e vai render juros. Depois de muita conversa, e muitos cafés no varandão da casa, o coronel, ainda desconfiado, foi ao banco. Com 100 contos numa bolsa de couro. Tirou devagar o pacote. Contou. Uma, duas, três vezes. Depositou. Matreiro, ficou na espreita, na calçada, olhando, espiando o movimento do banco. Para ver se aquele troço não era tramóia. A desconfiança aumentou. Entrou no banco. Foi ao Caixa. Ordenou : - Quero os 100 contos que eu botei aqui. Já. Aflito, o bancário foi buscar o dinheiro. O coronel pegou o maço. Conferiu. Uma, duas, três vezes. E devolveu, sob a expressão juramentada : - Eu só queria mesmo conferir. Pode guardar. Low profile Lula pediu a Dilma Rousseff duas a três semanas de reclusão. Motivo : abrigar-se do bombardeio contundente que se expandiu na esteira do depoimento da ex-secretária da Receita Federal, Lina Vieira. Dilma deixou de aparecer, segunda à noite, na abertura do 2º Encontro Nacional de Siderurgia, para a qual era a autoridade mais aguardada. Nos últimos dias, aliás, cresceu a fofoca em torno de outro nome petista para o lugar de Dilma Rousseff, caso ela não decole : Antônio Palocci. Palocci, a bola da vez Palocci é o petista mais prestigiado e admirado no seio do empresariado. O STF decidirá, nesta semana, sobre seu futuro. Caso seja absolvido - como se espera - o ex-ministro da Fazenda terá pavimentada a estrada para andar em direção ao futuro. Terá dois desvios : um, em direção ao governo de São Paulo, mais provável; outro, direcionado ao Palácio do Planalto. Os dois destinos não seriam nada fáceis. A candidatura do deputado ao governo de São Paulo ou de qualquer outro petista enfrentará a barreira, quase intransponível, do candidato tucano, seja ele Geraldo Alckmin ou Aloysio Nunes Ferreira. Planalto muito alto Quanto à candidatura ao Palácio do Planalto, trata-se de um pesadelo de inverno. Primeiro, será tarefa remover Dilma Rousseff, que é a candidata sagrada e consagrada do presidente da República. Segundo, se Palocci viabilizar seu nome, certamente sobre ele cairá o verbo duro do episódio do caseiro Francenildo. Ao argumento da absolvição pelo STF - se for confirmado - levantar-se-á o contra-argumento : o espaço eleitoral reabrirá a questão. Ficará, sempre, uma camada cinzenta ofuscando o perfil. Marta, Ciro ? A verdade é que o PT não dispõe de quadro para enfrentar, em condições de ganhar o pleito, uma candidatura tucana em São Paulo. Há uma predisposição negativa no contorno do PT e seus quadros, mesmo que alguns deles sejam palatáveis - e bem palatáveis - para núcleos de elite, como o próprio Palocci. Mas a transformação do PT em geleia partidária - repartindo com os demais o ônus da pasteurização - tira suas condições de competitividade. Marta Suplicy continua tendo o maior recall. Mas é antipatizada pelas classes médias. Ciro Gomes poderia ser o candidato, indicado por Lula, e apoiado pelo PT. Tiraria boa fatia de votos. Mas não ganharia a eleição. O PT está enrolado em SP. Fechando as alianças Lula chamou Michel Temer para um almoço e pediu a ele que começasse a organizar com Ricardo Berzoini o mapa das alianças para 2010. O PMDB, por boa maioria, tenderá a fechar apoio à candidatura do PT, ou seja, à Dilma. Mas parcela do partido fechará com José Serra, como o PMDB paulista, sob domínio de Orestes Quércia, e o pernambucano, controlado pelo senador Jarbas Vasconcelos. Quércia, um dos mais ricos do Brasil, quer voltar a ser senador. Tem vaga garantida na chapa paulista. Mas as urnas tendem a não lhe ser favoráveis. Quércia, como Maluf, exibe um dos maiores índices de rejeição da política brasileira. A partir de Pernambuco, Jarbas espera abrir bons espaços para Serra no Nordeste. RS, Pará e Bahia No RS, Pará e Bahia, será bastante difícil a aliança entre PT e PMDB. Pois nesses Estados o PT não quer ceder a cabeça de chapa ao PMDB. Jader Barbalho pretende voltar ao governo do Pará, Geddel quer sentar no lugar de Jaques Wagner, na Bahia, e Tarso Genro quer disputar contra qualquer candidatura no Sul, mesmo que a de um peemedebista, como o prefeito Fogaça, de Porto Alegre. No Paraná, as negociações caminham bem, mas Requião tem canal aberto com Serra. Encontro de cabeças O 2º Encontro Nacional de Siderurgia, promovido pelo Instituto Aço Brasil (IABR, novo nome para o Instituto Brasileiro de Siderurgia), realizado terça-feira, em São Paulo, proporcionou um encontro de algumas das melhores cabeças do país. Pelo tom geral das apresentações e debates, o mundo começa a virar a página da crise e o Brasil, que fez a lição de casa em matéria macroeconômica, fará o exercício mais rapidamente. BRICS e BC Antônio Palocci, médico que expressa com facilidade um economês palatável, exibiu franco entusiasmo pelo futuro do Brasil. Chegou, mesmo, a profetizar : dos BRICs (Brasil, Rússia, Índia e China), sobrarão dois - Brasil e China. Mais ainda : com uma vantagem para nosso país. Porque o Brasil tem um escopo institucional e democrático de alta respeitabilidade, fator considerado estratégico para posicionamento das Nações no ranking da boa fama. E a China, como se sabe, tem muito a aprender nesse campo. Delfim, sapiência e otimismo Delfim Netto continua dando um show de sapiência e otimismo. Para ele, o Brasil tem todas as condições de superar as dificuldades e despontar como uma grande Nação. Não é tão entusiasta sobre o futuro da China - argumentando que os EUA continuarão a ser o maior mercado consumidor do planeta - para voltar à tese de que nossas terras tupiniquins são realmente abençoadas. Cadê a carta do baralho ? Ao contrário de certos pensadores, Delfim aponta a miscigenação de raças como um dos nossos mais ricos patrimônios. A pluralidade étnica e cultural é o fermento para a convivência, a harmonia e a criatividade. Delfim tira do colete o chiste : imaginem que só o Brasil é capaz de reunir, num mesmo salão, judeus, maometanos, católicos, evangélicos de credos variados, em uma grande confraternização. Se alguém quiser saber a razão do barulho que eles fazem no salão, é só abrir a porta e verificar : estão todos em torno de um baralho, discutindo, para saber quem foi que escondeu o coringa por baixo da mesa. "Que outro país do mundo poderia fazer isso ?", indaga o mestre Delfim, para gargalhada geral da plateia. Gerdau, caixeiro viajante ? Jorge Gerdau é o nosso empresário-símbolo. Discorre facilmente sobre vasto escopo : câmbio, juros, custo Brasil, reformas tributária e política, preço do aço nos mercados interno e externo, exportações, petróleo, etanol, custo Brasil, competitividade. Defende posições - como reformas no campo tributário, político e educacional - pede situações isonômicas para que o aço brasileiro possa melhorar sua competitividade ante o aço chinês, por exemplo, é um duro crítico sobre algumas posições governamentais, mas exibe otimismo ante o futuro. Gerdau é sempre um grande expositor. Modesto, pergunta : "que achou ?" Diante dos elogios, recolhe-se à modéstia : "fiz apenas o papel de caixeiro viajante". Que vende seu produto com a força da convicção. De jeito nenhum Tempos turvos aqueles eram do AI-5. Dezembro de 68. Fechamento dos legislativos e as sub-CGIs nos Estados exigindo que todos os parlamentares fizessem uma declaração de bens dos dez anos anteriores. João Batista Botelho, conhecido na Assembleia paulista como "João Cuiabano", preparou o seu dossiê. Quando ia enviá-lo a quem de direito, alguém adverte : - Nobre deputado, Vossa Excelência tem de dar a eles também o seu currículo. João Cuiabano, homem de poucas letras, mas corajoso e decidido, virou uma fera : - Isto eu não vou dar de jeito nenhum. Só conseguirão se passarem sobre meu cadáver. Quem conta história é o incomparável Sebastião Nery. Benjamin e seu "mas" Benjamin Steinbruch não tem tanta certeza de que a crise já passou. Intercala sua fala com alguns pares de "poréns, mas e todavias". Se o Brasil tem boas perspectivas pela frente, não significa que deveremos nadar de braçada. Calma com o andor, pede o presidente da CSN. Será que os governos do mundo tirarão mais trilhões de seus caixas para sustentar as condições de governabilidade ? O governo brasileiro - que colocou 20 milhões de pessoas no mercado de consumo e cobriu 40 milhões com o cobertor da proteção social - vai ter de despejar toneladas de dinheiro para sustentar a harmonia social e o consumo. Terá condição de fazer isso ? Benjamin, como este escriba, continua a por dúvidas no ar das certezas. Godoy e o desenho institucional Já Paulo Godoy, presidente da ABDIB, com sua costumeira eloquência, discorre sobre nossas riquezas e fragilidades. Sua expressão recorrente é : o desenho institucional. Godoy acredita que o Brasil tem tudo para ser uma das Nações mais prósperas da humanidade. Mas precisa vencer o monumental desafio : arrumar o modelo institucional. As instituições precisam acompanhar o cheiro do tempo. Focar para resultados. Eliminar as teias corruptivas. Melhorar os níveis de representação. Agilizar o aparelho do Estado. Paulo Godoy prega um choque de gestão. Os gastos públicos precisam entrar na planilha da racionalidade. Flávio e o Aço Basil Flávio de Azevedo, presidente do Instituto Aço Brasil, tem na ponta da língua um panorama sobre a indústria siderúrgica brasileira, uma das mais competitivas do mundo, e que emprega 110 mil pessoas. Indústria que ganha, agora, um Instituto com novo nome e uma nova logomarca : três traços que se cruzam formando um A, de aço, apontando para o alto (visão de futuro), sob as cores azul (alta tecnologia), verde (ambiente, Brasil). Conselho ao PT paulista Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na edição passada, o espaço foi destinado ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Hoje, volta sua atenção ao PT paulista : 1. Faça uma seleção de nomes e uma pesquisa para saber o perfil de maior viabilidade eleitoral; 2. Tente explicar as razões e argumentos de tantas mudanças ocorridas no partido; 3. Apresente uma Proposta de refundação do partido. E submeta a proposta às bases partidárias. Eis ai uma base mínima para o lançamento de uma candidatura petista em São Paulo. ____________
quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Porandubas nº 199

Quem é o vi-vi-vi-ce ? Campanha de 1996 para a prefeitura de Boa Vista, Roraima. De um lado, Ottomar Pinto, ex-governador, candidato a prefeito pelo PTB; de outro, Salomão Cruz, candidato pelo PSDB. Ottomar elegera para sucedê-lo, em 1994, Neudo Campos. Mas a fofoca era de que, ganhando a prefeitura, em 1996, poderia passar apenas dois anos na Municipalidade (pois voltaria ao governo em 1998), deixando o comando com Clodezir Filgueiras, chamado de Mimi, empresário do ramo de automóveis. Mimi era pouco conhecido na capital. Este escriba coordenava a campanha de Totó (como era chamado Ottomar) e Mimi. Passava em Boa Vista uma semana e voltava a São Paulo. No meio da campanha, recebo um telefonema aflito de Luiz Santoro, coordenador do programa de TV. "Pelo amor de Deus, pegue um avião urgente. A campanha pegou fogo. Arrumaram um gaguinho e o cara aparece toda hora na TV, nos programas noturnos e nas inserções ao longo do dia, tentando perguntar com sua gagueira : - Qu.qu...que...que..quem é o Vi-vi-vi-ce.. ? Estão chacoalhando nossa campanha. Totó e Mimi estão desesperados à sua procura. Temos de reagir." Gozação geral A cidade caía na gargalhada. O gaguinho fazia sucesso perguntando quem era Mimi. Tratava-se de um estratagema. A campanha de Salomão Cruz queria insinuar ao eleitorado que Ottomar, ganhando o pleito, passaria o bastão para Mimi. E quem seria este Mimi, que ninguém conhece ? "Você, eleitor, aprovaria um vice prefeito desconhecido no lugar do prefeito para governar a cidade ? "Era essa a cabreira tática dos opositores. Corri para Boa Vista. Fui logo atrás do gaguinho. Percorri bairros e feiras, onde frequentava. - Cadê o gaguinho, você conhece o gaguinho, uma grana para quem descobrir o gaguinho. Depois de extenuante procura, achei o cara. Conversa vai, conversa vem, o gaguinho cedeu. Fomos, no cair da tarde, fazer uma gravação no mesmo lugar e com o mesmo plano da gravação adversária. Ele teria de dizer a mesma coisa como se fosse o repeteco do que vinha fazendo : - Qu..em.qu..quem é o Vi-vi-vi-ce ? Nesse instante, a câmera corta para Mimi, ao lado do gaguinho, que completa com um grande abraço no empresário Clodezir Filgueiras : - Ah, o vi-vi-ce é meu ami...amigo Mi-mi. Foi um estouro. Aproveitávamos o mote da campanha de Salomão, que funcionou como teaser (chamariz), para massificar o nome do vice. Desapareceu pela madrugada O gaguinho passou o restante da campanha numa cidade da Venezuela, que faz fronteira com Roraima, escondido na casa de uma irmã. Fomos deixá-lo, de madrugada, na estação. Desapareceu. Para raiva dos adversários. Ficou calado o resto da campanha. Só apareceu após a vitória de Ottomar. Para repetir o refrão : - Quem..quem..quem é o vi-vi-ce ? Ah, é meu amigo Mi-mi. Não sei como ele está. Mas o gaguinho virou herói. Sabido como ele só. Serra confortável ? Serra continua a manter boa margem nas pesquisas de intenção de voto para a presidência da República : 37%. Dilma se mantém com 16%, sem crescer, e Ciro sobe para 15%. Leitura : a ministra não subiu por conta do retraimento nos palanques do PAC, decorrência do tratamento de saúde a que se submete; o governador paulista também não subiu. Ciro Gomes aumentou pouco. Lula não consegue, por sua vez, esticar a popularidade para projetar com força a imagem de sua pré-candidata. Resumo da ópera : as pesquisas mostram estabilidade nas posições. Mas Serra não pode se considerar tão confortável, como leitura enviesada da pesquisa. Há muita água a correr por baixo da ponte. Água sob a ponte A enchente que correrá sob a ponte poderá provocar efeitos positivos e negativos para alguns. Por exemplo, Lula está jogando muita água na lavoura que plantou : aumento do Bolsa Família, aumento dos aposentados, ProUni, injeção no programa Minha Casa, Minha Vida, Luz para Todos e assim por diante. Esse gigantesco cobertor social vai gerar efeitos na campanha, devendo baixar a posição de Serra. Lula, porém, não conseguirá transformar seus círculos de cooptação em votos. A influência será relativa. O voto vai depender do Produto Nacional Bruto da Felicidade Nacional lá por volta de setembro/outubro de 2010. Heloísa e Marina Heloísa Helena deverá se candidatar ao Senado em Alagoas. Sua retirada do pleito presidencial abrirá campo para Marina Silva crescer. Marina, como a pororoca a nascer na foz do Amazonas, empurrará as candidaturas principais para baixo. Poderá alcançar entre 10% a 15%, índice suficiente para empurrar a campanha para o segundo turno. Ciro, mais 15% ? Ciro Gomes, por sua vez, com seu índice em torno de 15% a 18%, deverá contribuir para a campanha presidencial seguir a rota do segundo turno. Ciro não teria mesmo vez em São Paulo, como candidato ao governo. Sobra para ele a possibilidade de coadjuvante de Lula no pleito federal. Turismo em alta A Comissão de Turismo e Desporto da Câmara dos Deputados, presidida pelo incansável deputado gaúcho Afonso Hamm, aprovou recentemente um substitutivo que facilita a emissão de vistos para turistas estrangeiros. Trata-se de uma das bandeiras políticas do atuante deputado fluminense Otavio Leite. O relator da matéria foi o deputado Marcelo Teixeira, profundo conhecedor do setor de turismo. Turistas estrangeiros devem ter toda a facilidade para entrarem no país. A conta será boa para a economia. Nota 10 para o projeto. Gastos públicos com a Copa A Comissão de Fiscalização Financeira e Controle da Câmara lança, dia 25/08, a "Rede de Informações para a Fiscalização e o Controle dos Gastos Públicos na Organização da Copa do Mundo de 2014". A ideia é do presidente da Comissão e membro da Subcomissão Permanente de Fiscalização dos Gastos Públicos com a Copa 2014, Silvio Torres (PSDB-SP) e envolverá, além do Tribunal de Contas da União - TCU, os Tribunais de Contas dos Estados e Municípios e a Comissão de Meio Ambiente, Defesa do Consumidor, Fiscalização e Controle do Senado, presidida por Renato Casagrande (PSB-ES). O trabalho da Rede prevê que seus integrantes deverão gerar e encaminhar ao final dos anos de 2009, 2010 e 2011 para a Subcomissão Permanente, relatórios sobre as ações e gastos realizados com recursos públicos para assegurar a organização das 12 cidades que sediarão os jogos do Mundial de Futebol. O presidente do TCU, Ubiratan Aguiar, estará presente. Lula, Dilma e Lina O presidente Lula cometeu uma barbaridade a desafiar a ex-secretária da Receita Federal, Lina Vieira, a provar seu encontro com a ministra Dilma. E se os indícios comprovarem a reunião entre as duas no Palácio do Planalto ? E se aparecer o vídeo com o flagrante do carro de Lina entrando no Palácio ? A Chefe da Casa Civil registra versões desmentidas, como os títulos de pós-graduação colocados em seu curriculum; a história mal contada dos cartões corporativos; o dossiê (negado por Dilma e depois confirmado) sobre a família de Fernando Henrique etc. Lina Vieira, técnica e séria, não iria inventar uma história apenas para prejudicar alguém. Alckmin segura ? Geraldo Alckmin tem hoje 57% de intenção de voto para o governo de São Paulo. A questão é : sustentará esse índice ? Vai depender dos concorrentes e das circunstâncias. Ciro seria derrotado. Marta Suplicy, idem. O prefeito Kassab desponta como um nome forte e com grande possibilidade de êxito, caso Alckmin seja deslocado, por conveniência, para uma vaga de senador. Mercadante, do PT, encontrará dificuldades e Quércia esbarrará na velha barreira da imagem negativa. Já Romeu Tuma analisa a possibilidade de voltar a ser o candidato do PTB para a vaga. Correção de déficits   A atual gestão da OAB/SP encontrou a Casa, em 2003, com um patrimônio negativo de R$ 2.354.882,00. A Seccional exibia déficits anuais seguidos. Em 2003, foi de R$ 14.646.795,00. Encerrará a gestão este ano com um patrimônio líquido positivo de R$ 59.800.969,00. Mais ainda : as anuidades caíram. É só fazer a conta. Em 2003, era de R$ 550,00. Hoje, é de R$ 700,00. Atenção, porém : se considerarmos a inflação pelo ICP-DI, a mensalidade deveria ser de R$ 821,34; pelo IGPM, de R$ 835,62; pelo IPC, de R$ 753,00; pelo INPC, de R$ 779,18; e pelo IPCA, de R$ 780,03. Com mais uma pitada : o preço da xerox nos foros era de R$ 0,20, que em 2005 foi reduzido para R$ 0,15. Preço de hoje. Intimações on-line Mais um registro que marca a atual administração : as intimações on-line são gratuitas (antes tinham um custo). E um cartão de crédito que reverte em bônus as compras que o advogado fizer com ele, e os bônus podem ser usados para quitação da própria anuidade. O xale da ministra Lina Vieira viu que a ministra Dilma, quando a recebeu no Palácio do Planalto, estava de xale. Mais ainda : o motorista que a levou, terceirizado, poderá ser encontrado e a ele pode-se fazer a pergunta : você levou a ex-secretária da Receita Federal ao Palácio do Planalto ? Cadê o motorista ? Assim falou Zaratustra "Não é com a ira que se mata, mas com o riso. Eia, pois, vamos matar o espírito da gravidade! Aprendi a caminhar; desde então, gosto de correr; aprendi a voar; desde então, não preciso que me empurrem para sair do lugar. Agora, estou livre; agora, vôo. Agora, vejo-me debaixo de mim mesmo; agora, um deus dança dentro de mim". E a gripe, atchim... Há muito atchim em torno dessa gripe suína. Autoridades dizem que está controlada. E os espirros, seguidos de mortes, se espalham pelo país. Onde está a verdade ? Vai faltar remédio ? Quando chegará a vacina ? E o hemisfério norte, hein, que se prepara para enfrentar um rigoroso inverno ? Skaf vem aí ? Paulo Skaf quer ser candidato ao governo de São Paulo. Pelo PMDB. Com um bom tempo de TV e rádio, seus assessores acreditam que poderia quebrar a polarização entre tucanos e petistas. Antes disso, Skaf poderia fazer o exercício : conhecer os convencionais do PMDB; preparar o programa mais avançado e impactante de desenvolvimento (sustentável) para o Estado; abrir a linguagem para a política, atenuando o fiespês, que é uma expressão hermética e restritiva; circular mais intensamente pelas dobras e margens da política; vestir-se com um manto social para compensar as vestes econômicas e empresariais. Tem condições de fazer isso ? A conferir. A arte da guerra A arte da guerra, ensinava o general Sun Tzu, reconhece nove variedades de terreno : dispersivo, fácil, controverso, aberto, de estradas cruzadas, sério, difícil, orlado e desesperador. Que terreno abrigará os candidatos em 2010 ? Meirelles com Dilma ? Quem pensa em colar Henrique Meirelles e Dilma Rousseff, fazendo com que aquele integre a chapa desta na condição de vice, é amigo da onça. Ora, a ministra já tem cara de tecnicista. Meirelles é a própria extensão da burocracia econômica. A chapa com os dois seria o verso e o reverso da moeda técnica. Dura e fria. Tem gente mesmo que quer estragar o banquete de Lula. O aborto De um lado, estará Dilma preconizando o direito ao aborto. De outro, Marina Silva vai abrir o verbo contra o aborto. De que lado estará a Igreja Católica ? 11 mil palavras Acabam de descobrir : Lula tem um vocabulário de 11 mil palavras, mais do que alguém com curso superior, que domina algo em torno de 9 mil a 10 mil. Lula teria incorporado todos os neologismos gerados pelos escândalos, a partir do mensalão. E, dizem, absorve tudo que ouve. Conselho ao presidente Lula Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na edição passada, o espaço foi destinado à senadora Marina Silva. Hoje, volta sua atenção ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva : 1. Evitar atos precipitados em defesa de dona Dilma. Desafiar Lina Vieira a provar que esteve com a ministra-chefe da Casa Civil é um grande risco. E se o motorista que a levou for encontrado e confirmar o encontro ? 2. Ter mais cuidados com as palavras. Quanto mais próximo o pleito, mais efeitos provocarão. 3. Convença-se de uma coisa : seu prestígio não redundará em um turbilhão de votos na urna de Dilma Rousseff. Poderá, até, ajudá-la, no Nordeste. No Sul e Sudeste, a transferência desejada será apenas sonho. _________________
quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Porandubas nº 198

Franco Montoro Comecemos com uma historinha que tem como personagem Franco Montoro. Depois de deixar a esfera governativa e parlamentar, Montoro passou a se dedicar ao Instituto Latino-Americano - ILAM. Na condição de presidente desta entidade, foi a um almoço organizado por um pequeno grupo de professores da USP no restaurante do campus. O ex-governador, como se sabe, tem registrado em sua história muitos casos de dislexia, momentos em que confundia nomes, alhos com bugalhos, motivando risos nas cerimônias. A conversa fluía bem, versando sobre os mais diferentes problemas do país. A certa altura, ele se surpreendeu ao saber que este escriba era potiguar. Mais ainda : tio de Sônia, casada com João Faustino, tucano do melhor naipe e seu dileto amigo. Montoro e dona Lucy foram padrinhos do casamento de uma das filhas de João e Sônia. De repente, lá vem a pergunta : - E como está o Agrário ? Você sabe como ele vai ? Passo a lupa na mente e lamento ignorar a identidade da figura. Mas vou procurar saber, logo, logo. Mudamos de assunto. Mas o Agrário continua a frequentar o meu sistema cognitivo. De repente, Eureka ! Agrário ? Agrário ? Não seria o Urbano ? Tomo a iniciativa : - Governador, será que o senhor não confundiu o Agrário com o Urbano ? - Ah, sim, é claro, é claro. Desculpe. Como vai o Urbano ? Francisco Urbano era presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura - CONTAG. Um potiguar muito conhecido nos universos sindicalista e político. A dislexia do ex-governador paulista havia intercambiado o espaço rural com a geografia urbana. Franco Montoro, exemplo de Honradez, Dignidade, Seriedade, Civismo, Independência e Amor à Pátria. Quanta falta ele faz nesses tempos de lamaçal político. Lina e Dilma Dois nomes, duas versões. A ex-secretária da Receita Federal, Lina Vieira, deu a sua versão : no final do ano passado, entendeu que a ministra Chefe da Casa Civil pedia pressa na investigação da Receita contra o empresário Fernando Sarney. O senador Sarney preparava-se para disputar a presidência do Senado. Dilma, ao refutar, exibiu a sua verdade : não houve o encontro privado anunciado por Lina. Um detalhe : a ex-chefe da Receita não tomou a iniciativa de falar sobre o caso. Foi procurada pela Folha de São Paulo. Lina Vieira é uma pessoa conhecida pelo amplo domínio técnico e postura discreta. Não é de arroubos. E jamais se prestaria à tarefa de fazer jogo político. Há cinco maneiras de contar a verdade, escreveu Brecht. A maneira de Lina é, sem dúvida, a menos esponjosa. Ledo engano ? Luiz Inácio, em defesa da ministra Dilma, diz não acreditar na versão da ex-secretária da Receita. Ledo engano, garantiu Lula. Teriam sido ledos os enganos sobre escandalosos casos que o presidente garantiu não terem existido ou deles tomado conhecimento, entre os quais o famigerado mensalão ? Lula no comando Lula tem dado sinais de que não abre mão do comando da campanha presidencial de Dilma Rousseff. Mesmo os petistas mais próximos têm receio de dar palpites sobre rumos, discurso, articulação, mobilização. Lula impôs ao PT o nome da ministra, define as regras para as alianças e escolhe, desde já, os palanques centrais e secundários. A praça que mais o preocupa é São Paulo, onde o PT não tem candidato competitivo. O fator Marina Ciro Gomes é o candidato de Lula para enfrentar o candidato de José Serra ao governo de São Paulo. Apareceu, porém, no cenário Marina Silva. Ou seja, o presidente imaginava uma campanha plebiscitária no plano federal : Serra ou outro candidato de oposição contra Dilma. O plebiscito levaria em conta a indagação : está satisfeito com a situação ? Vote em Dilma. Quer mudar ? Vote em Serra. Marina Silva, eventual candidata pelo PV, quebrará a polarização. A campanha deixaria de ser plebiscitária. A senadora acreana, ícone do ambientalismo, poderia alcançar até 15%(ou mais) de intenção de voto. Ciro abre o leque Ante a abertura do palco presidencial, Ciro Gomes pensa também em abrir o leque. Aposta que entrando no páreo federal, torna-se alternativa para embolar o jogo. A campanha rolará para o segundo turno, onde seus votos e mais os de Marina Silva tenderiam, em maior percentagem, a encher o balão de Dilma Rousseff. Ademais, ele entraria bem no figurino de "matador", com sua artilharia apontada ao coração de Serra. Portanto, o fator Marina deverá descolar Ciro Gomes da perspectiva paulista. De paraquedas Ciro não teria chances em São Paulo como candidato ao governo. Trata-se de um estranho no ninho, um paraquedista. Nasceu no Estado, mas fez vida política no Ceará. Os paulistas cobrariam com juros e correção monetária os ataques que o deputado do PSB tem feito ao domínio paulista na cena nacional. Sua recente aproximação com o Estado não o exime das acusações do passado. Poderia, até, conseguir entre 10% a 12% de votos. Só alcançaria pontuação mais elevada diante de candidatos opacos. Perderia feio, por exemplo, para Geraldo Alckmin ou Gilberto Kassab. Os dois sapos Dois sapos viviam na mesma lagoa. Quando ela secou com o calor do verão, eles saíram em busca de outro lar. No caminho, passaram por um poço profundo e cheio de água. Ao vê-lo, um dos sapos disse para o outro : "Vamos descer e fazer a nossa casa neste poço, ele nos dará abrigo e alimento." O outro, mais prudente, respondeu : "Mas, e se faltar água, como sairemos de um lugar tão fundo ?" Não faça nada sem pensar nas conseqüências. (Esopo, século 6 a.C.) Pois é, certos políticos agem como o sapo imprudente. E o Senado, hein ? Quando a crise no Senado chegará ao fim ? A essa altura, resta a impressão : Sarney virou o jogo; ganhou, mas exibe um corpo alquebrado; as oposições perderam ímpeto com as denúncias que flagram alguns de seus integrantes; as camadas tendem à acomodação após o sismo inicial. Conselho de ótica Na semana passada, em meio ao fogo cruzado entre oposição e governo, o senador Cafeteira disparou à "queima-roupa" para cima de Arthur Virgílio : "Caro senador, devo lembrar ao nobre parlamentar que o encaminhamento de suas acusações no Conselho de Ética seguirá a liturgia sobre o que será ou não condenatório e isto será feito pela ótica do presidente da Comissão". Virgílio, já escaldado pelos acontecimentos recentes retrucou : "Vossa Excelência deve saber que nunca fui afeito às ciências exatas e portando, passei longe da oftalmologia". Pois é, quem diria, hein, o Senado acabou formando um Conselho de Ótica. O velho amigo "Os velhos amigos são os melhores. O rei Jonas costumava pedir os seus velhos sapatos, porque eram mais folgados para os seus pés". (John Selden, jurista inglês) Rolando a bola A simples inversão das duas letras iniciais confere ao ministro Orlando Silva um gerúndio bem próprio dos atletas de futebol. Rolando a bola - eis a imagem que o ministro do Esporte transmite aos que acompanham sua performance pelos campos, aliás, pelos mais diferentes espaços do território. Trata-se de um perfil dos mais simpáticos do governo Lula. Faz-se presente em eventos esportivos e culturais, ouve lideranças dos nichos esportivos e procura estabelecer as coordenadas para o país oferecer uma boa estrutura na Copa de 2014. Lei do esporte Esta semana, o ministro Rolando, aliás, Orlando Silva, participou de um almoço no SESCON, em São Paulo, organizado pelo Fórum Permanente de Defesa do Empreendedor, comandado por José Maria Chapina Alcazar. Chapina fez ver ao ministro a magnitude da extensão dos benefícios da Lei do Esporte - vantagens tributárias auferidas com o patrocínio esportivo - para as empresas de lucro presumido. De 170 mil, o número de empresas passaria a ser de 700 mil, salto que iria ajudar o universo de micro e pequenos empreendimentos. O ministro aceitou a ideia e deverá apresentá-la, para estudos, aos técnicos do Ministério da Fazenda. O deputado tucano, Silvio Torres, até já tem a solução para abrigar a proposta : simples e rápida alteração em um artigo da Lei do Esporte, de forma a incluir nela todos os conjuntos produtivos. Panorama nos Estados A lupa pré-eleitoral está sendo arrumada nos Estados. No Rio Grande do Norte, Garibaldi Alves e José Agripino lideram as posições para o Senado. A governadora Vilma Faria está em terceiro lugar. E a senadora Rosalba Ciarlini (DEM) avança, disparada, em primeiro lugar. Em São Paulo, Geraldo Alckmin garante, hoje, sólida posição no primeiro lugar. Nenhum petista consegue ameaçá-lo. Para o Senado, Aloizio Mercadante (PT) e Orestes Quércia (PMDB) são os mais evidentes, não necessariamente os mais prováveis. Em Roraima, o deputado Neudo Campos (PP) aparece em primeiro lugar e Marluce Pinto, ex-senadora e herdeira política do marido Ottomar Pinto, lidera a corrida para o Senado. Romero Jucá (PMDB) está em queda. E o governador José de Anchieta (PSDB), candidato à reeleição, patina em um andar muito baixo. Aécio, luz no Senado Há quem distinga em Aécio Neves a luz no fim do túnel do Senado. Candidato a senador por Minas Gerais, teria uma votação extraordinária. Com o prestígio e a fama de político que dança em todas as pistas, Aécio poderia quebrar uma tradição : seria eleito, logo no início do primeiro mandato como senador, presidente da Câmara Alta. Pano de fundo : reformas que Sarney, pelo perfil e circunstâncias, não teria condição de implementar. Cartaxo, perfil de equilíbrio Otacílio Cartaxo, o Secretário interino da Receita Federal, é conhecido pela capacidade de equilibrar os pratos da balança. Trata-se de um técnico de alto nível, que integra o chamado grupo de intelligentzia da Receita. Mas há a turma de auditores da Previdência, que sonha em retomar o comando do sistema. O secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Nelson Machado, que tem origem na Previdência, seria o patrocinador daquele grupo. Para muitos, a retomada do poder pelo grupo previdenciário seria um retrocesso. A Receita desenvolveu uma tecnologia avançada de controle e fiscalização. Que propicia a intercomunicação dos canais e sistemas. Já a turma dos fiscais previdenciários conserva métodos arcaicos. Eis o pano de fundo da luta que se trava nos bastidores da RF. Conselho a Marina Silva Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na edição passada, o espaço foi destinado aos senadores. Hoje, volta sua atenção a senadora Marina Silva : 1. Senadora, o momento brasileiro é propício à fixação de estacas no campo da defesa ambiental e ao soerguimento de bandeiras éticas e morais. 2. A senhora é um dos símbolos da defesa do meio ambiente no Brasil e precisa aproveitar a oportunidade para disseminar sementes de seu bonito e denso discurso. 3. Qualquer que seja o resultado a ser alcançado pela senhora, no pleito presidencial de 2010, a bandeira ambientalista será vitoriosa. Aceite a indicação de seu nome pelo Partido Verde. ___________
quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Porandubas nº 197

O milagre José Maria Alkmin, a raposa mineira, mestre da arte política, chegava da Europa com cinco garrafas enroladas na pasta. A Alfândega quis saber o que era. - Água milagrosa de Fátima. - Mas tudo isso? - Lá em Minas o pessoal acredita muito nos milagres da água de Fátima. Não dá para quem quer. - O senhor pode desenrolar? - Pois não, meu filho. - Mas, deputado, isso é uísque. - Ué, não é que já se deu o milagre? O calvário sarneyco O calvário de Sarney terá continuidade. A decisão de continuar no comando do Senado, aliás, um legítimo direito, não redundará em sustação da onda negativa que o afoga. Sarney terá maioria no Conselho de Ética, sendo previsível que os recursos contra ele sejam jogados no arquivo morto. Mas a fumaça espalha-se pelo ambiente social. Um comandante frágil perde força. Sob o risco de fazer naufragar o navio que comanda. O Senado é, hoje, um espaço contaminado. As teses a respeito do fechamento da Câmara Alta ganham aplausos. É uma pena. Collor apoplético Que Collor sempre transmitiu uma imagem atlética, isso todos sabem, desde os tempos em que fazia cooper, como presidente, arrebanhando um grupo de jornalistas. Na segunda à tarde, sua imagem era de um apoplético. O senador quase estourou. Feições crispadas, voz embargada, olhos querendo pular da órbita. Mais um pouco e o ex-presidente partiria para o desforço físico. Este escriba confessa : nunca viu uma expressão tão indignada no ambiente parlamentar. E tudo por conta de uma historinha. A razão collorida O motivo para o ataque furibundo foi uma lembrancinha feita pelo senador Pedro Simon : Renan Calheiros teria ido a Pequim, na China, naquela famosa viagem feita por Collor, quando teria decidido, no jantar em que comeram pato laqueado, ser candidato à presidência da República. Simon arrematou falando das traições de Renan, que rebateu com vigor, lembrando que há 35 anos, o senador gaúcho se compraz em falar mal de Sarney. Collor aproveitou a deixa e atirou verbos contra Pedro, o gaúcho que, de repente, ficou amedrontado, após esta exacerbação : "engula, digira as palavras, fazendo delas o que bem lhe aprouver". Recuo simônico Pedro Simon, sob o choque da contundência collorida, recuou taticamente. Ficou praticamente isolado, porque, mesmo os apartes em seu favor, como os dos senadores Jarbas Vasconcellos e Cristovam Buarque, eram melodicamente mais suaves que a dureza da força bruta do esquadro sarneysista. Desmentido Novidade na parada ? Collor nega o famoso jantar, em Pequim, onde os comensais teriam brindado com bastante saquê a decisão de anunciar sua candidatura à presidência da República. Garantiu que a candidatura foi sugerida por Marcos Coimbra, dono do instituto de pesquisas Vox Populi, amparado em pesquisa eleitoral. A pesquisa sinalizaria um espaço ponderável para uma candidatura alternativa. A liberdade de fumar A lei anti-fumo, que começa a vigorar em São Paulo, nos próximos dias, causa polêmica. Este escriba, mesmo não sendo fumante, reconhece o direito de fumantes usarem e abusarem do vício em lugares mais abertos de restaurantes, bares etc. Felizmente, o bom senso começa a aparecer com a liberação do cigarro nos palcos. O cigarro e o charuto foram parceiros importantes de atores e atrizes em momentos singulares dos palcos cinematográficos. Sem eles, algumas cenas não teriam tanto impacto. Os climas esfumaçados nas películas em preto e branco constituem uma cena à parte. Mototáxis na emboscada A lei dos mototáxis, sancionada por Lula, poderia ser também chamada de "lei da atração fatal". Morre uma quantidade de motoqueiros por mês em São Paulo. Imaginem, agora, um mototaxista, desses que fazem questão de demonstrar suas habilidades entre as filas de carros na Avenida 23 de Maio, levando na garupa um sujeito mais apressadinho. As mortes no trânsito paulistano serão multiplicadas. Kassab é contra Felizmente, a prefeitura de São Paulo é contra a aplicação dessa lei. Um projeto de lei para regulamentar o serviço até foi protocolado na Câmara de Vereadores pelo vereador Ricardo Teixeira (PSDB). Já o vereador Waldih Mutran é autor da lei, de 1998, que proíbe mototáxi na capital. Como a lei federal deixa para as Prefeituras a decisão de regulamentar o serviço, em São Paulo, a boa notícia é : o prefeito Kassab descarta sua regulamentação. Parabéns. Palanque nordestino José Serra, o governador noctívago, até que enfim abriu os olhos para a realidade : decidiu descobrir o Nordeste. Depois de ir a Exu, onde comeu bode assado e farofa de bolão, em uma visita-homenagem à memória de Luiz Gonzaga, o Rei do Baião, irá a algumas capitais. Dilma frequenta a região, que tem cerca de 30% dos votos do país, praticamente todas as semanas. Serra decidiu fazer o périplo após reunião de trabalho com Sérgio Guerra, presidente do PSDB, Rodrigo Maia, presidente do DEM, e José Agripino, líder do DEM. Luzes da ribalta "O ator que se coloca sob as luzes dos refletores acentua a sua presença. Todos os olhos estão sobre ele. Só há espaço para um ator de cada vez sob esse estreito raio luminoso; faça o que for necessário para ficar em foco. Mova-se com gestos tão amplos, divertidos e escandalosos que a luz continue sobre você, enquanto os outros atores ficam na sombra". (Robert Greene) Atividades meio e fim O projeto que regulamenta a Terceirização e atualiza a regulamentação do Trabalho Temporário, o PL 4.302/98, encontra dificuldades para aprovação na Câmara. Veio do Senado, depois de passar pela Câmara, com a emenda preconizando a responsabilidade solidária. A CNI apresenta duas emendas ao Projeto. A primeira: "art 5º-A - Contratante é a pessoa física ou jurídica que celebra contrato com empresa de prestação de serviços determinados e específicos que poderá versar sobre o desenvolvimento de suas atividades-meio e de suas atividades-fim". Responsabilidade sudsidiária A segunda emenda : "Art 5º A - § 5º - A empresa contratante é subsidiariamente responsável pelas obrigações trabalhistas referentes ao período em que ocorrer a prestação de serviços, e o recolhimento das contribuições previdenciárias observará o disposto no art. 31 da lei 8.212, de 24 de julho de 1991". Julgamento "Quando você procura impressionar as pessoas com palavras, quanto mais você diz, mais comum aparenta ser, e menos controle da situação parece ter. Mesmo que você esteja dizendo algo banal, vai parecer original se você o tornar vago, amplo e enigmático. Pessoas poderosas impressionam e intimidam falando pouco. Quanto mais você fala, maior a probabilidade de dizer uma besteira." (Robert Greene) Articulação Há dúvidas sobre as duas emendas. Esta semana, o secretário da Câmara, Mozart Vianna, vai dizer se é possível a votação do PL 4302/98 com estas emendas. A questão é : acréscimo ao conjunto aprovado pelo Senado será considerado impossível. Não se pode mudar o que foi aprovado na Câmara Alta. A não ser que os dispositivos aprovados tenham sido, preliminarmente, endossados pela Câmara Federal. Michel Temer, o presidente da Casa, fará uma reunião, ainda esta semana, em busca de um consenso. Maior queda A manchete não deixa dúvidas : Indústria sofre a maior queda em 34 anos. A queda foi de 13,4% no primeiro trimestre deste ano, pior resultado desde 1975. Outro lado da medalha : muitas trombetas cantam loas ao Brasil-Maravilha. Onde está a verdade ? Onde estão os furos ? Ou se trata apenas de uma questão de pontos de vista, sob ângulos diferentes ? Vaccarezza O deputado Cândido Vaccarezza está com um pé no Palácio do Planalto. É o mais forte candidato a substituto do ministro José Múcio na Pasta de Relações Institucionais. Vaccarezza é um perfil suave. Conversa com todos os grupos. Gosta de aparar as arestas. Batalha das 40 horas A próxima movimentação dos trabalhadores nos corredores congressuais será pela redução da jornada de trabalho. As Centrais Sindicais prometem muita fogueira em torno da jornada de 40 horas. O desemprego será o pano de fundo. O ministro Lupi estará ao lado dos bumbos. Esse sorridente ministro não se comove com o choro dos setores produtivos. PDT vai de Ciro O PDT paulista, que tem chancela de Paulinho da Força, luta pela candidatura Ciro Gomes ao governo de São Paulo. Ciro, conhecido pela contundência com que esbraveja contra José Serra, seria o candidato de Lula. Nos bastidores, a conversa é outra : Ciro seria boi de piranha. O candidato ao governo, pelo PT, se chama Antônio Palocci, que está perto de conseguir a absolvição pelo STF. Palocci é o nome mais palatável entre as celebridades petistas. Simpático ao empresariado. Mas e os votos ? Suína no Nordeste A gripe suína chega ao Nordeste. Junta a fome com a vontade de comer. As projeções apontam para a expansão da pandemia na região. Mas as autoridades dizem que tudo está sob controle. PAC empacado De 11.990 obras do PAC, apenas 7% foram concluídas. Dinheiro ? Há bastante. Mas a gestão sofre de congestão. Dor de cabeça para dona Dilma Rousseff, que soa para os nordestinos como dona "Dilma do Chefe". No Nordeste, Lula tem a seu favor 80% do eleitorado. O caçador "Ele não monta para a raposa a mesma armadilha que usa para pegar o lobo. Ele não coloca a isca onde ninguém vai morder. Ele conhece bem a sua presa, seus hábitos e esconderijos, e caça de acordo com esses conhecimentos". (Robert Greene) O protogênico Protógenes Queiroz, o delegado polêmico, tem dúvidas sobre seu futuro político. Deputado ? Senador ? Teria sido mordido pela mosca azul ? Pois bem, pesquisa de um Instituto teria lhe dado vantagem para o Senado, em São Paulo, em 2010. Este escriba tem dúvidas sobre essa viabilidade. Conselho aos senadores Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na edição passada, o espaço foi destinado ao senador José Sarney. Hoje, volta sua atenção aos senadores : 1. Procurem equacionar o imbróglio que toma conta do Senado. A protelação do affaire Sarney afeta ao conjunto da Casa. 2. Evitem o palavrório chulo, que rebaixa ainda mais o perfil dos representantes. 3. Ouçam o eco das ruas. Façam funcionar o regimento interno. Votem de acordo com suas consciências. E se submetam, depois, ao crivo da opinião pública. ___________________________
sexta-feira, 24 de julho de 2009

Porandubas nº 196

Histórias Comecemos com duas historinhas de um juiz paulista. Plínio Gomes Barbosa era juiz de Direito em Monte Aprazível, São Paulo. Chegou um promotor novo : Edgar Magalhães Noronha. Na primeira audiência, o promotor estava todo cerimonioso : - Doutor juiz, devo requerer de pé ou sentado ? - O senhor se formou há pouco ? Onde ? - Minha escola o MEC fechou. - Então requeira de cócoras. Numa Vara da Fazenda, no interior de São Paulo, o perito era coronel do Exército e o juiz, Plínio Gomes Barbosa, não sabia. Houve discussão, o coronel começou a gritar, o juiz bateu a mão na mesa : - Se o senhor continuar nesse tom, ponho-o daqui para fora. - Não saio, não. Sou coronel do Exército. - Então quem se retira sou eu, que sou reservista da 3ª categoria. E deixou o coronel sozinho. Quando o poder se esvai A figura mais poderosa da República, afora o presidente Lula, se chama José Sarney. Pois não é que essa portentosa figura da política está desmoronando ? Sarney foi presidente da República, presidente do Senado, senador há um bom tempo, deputado federal, enfim, passou pelos mais altos cargos do país. Não era para ambicionar a volta à cadeira de presidente da Câmara Alta. Quis voltar. Tinha (e tem) amplos domínios sobre o sistema Eletrobrás. Nomeou o presidente da Empresa. Indicou o Ministro das Minas e Energia, Edison Lobão. O poder absoluto corrói. A ambição desmesurada funciona como bumerangue. Rasgando a liturgia José Sarney é o mais litúrgico dos nossos homens públicos. Gosta de se apresentar de modo que o interlocutor sinta dele certa distância. Não permite contatos mais estreitos. Sente-se como se fosse o último dos Imperadores. Nesse momento, José Ribamar Sarney curte imensa tristeza. Tem seus espaços devastados. Sua família, quase inteira, ganha as páginas dos jornais. A liturgia do grande cacique está sendo rasgada de alto a baixo. Ninguém, mesmo os que se consideram infalíveis, resiste à Hora da Verdade. E Lula, hein ? Luiz Inácio se acha o Novo Imperador dos Trópicos. Olhem para os denunciados. Vejam suas vidas. Estudem suas trajetórias. Não se pode ver tudo como crime. Lula se esforça para escudar Sarney. Ele se acha com essa capacidade. Não conseguirá. Lula é Lula, mas a força de Lula não tem o condão de passar para outros. Ele imaginava que podia eleger, com seu prestígio, Marta Suplicy. Não conseguiu. Ele pensava que podia dar uma surra no senador José Agripino, do RN, elegendo a deputada Fátima Bezerra, prefeita de Natal. Não conseguiu. A jornalista Micarla Souza, com o apoio de Agripino, foi a eleita. O poder, mesmo aquele que sobe até as nuvens, tem limites. Obama cai Barack Obama chegou aos píncaros do prestígio nos Estados Unidos, aproximando-se dos 60% de aprovação/admiração. Pois bem, caiu 10 pontos percentuais nos últimos 40 dias. A realidade puxa os olimpianos para baixo da montanha. Alguém pode objetar : e Lula ? Por que não cai ? Porque o Brasil vive momentos macroeconômicos excepcionais. O país sofre menos com a crise internacional. O segredo de Lula Luiz Inácio tem sabido encher todos os espaços da pirâmide social : bolsa família, luz para todos, um milhão de casas populares, milhões de geladeiras novas e fogões adquiridos a preços menores (IPI da linha branca), carros mais baratos, programa de agricultura familiar (R$ 15 bilhões), obras nos canteiros de todos os Estados, pré-sal prometendo milhões de barris de petróleo e gogó. Gogó mais forte que o de todos os tucanos juntos. Essa é a razão pela qual Lulinha Paz e Amor continuará no cume do prestígio. Suína brava Essa gripe suína, dizem as autoridades, é coisa leve. Mata tanto quanto a gripe comum. Se mata mais ou mata menos, não importa. A essa altura, o medo se espraia pela sociedade. Todos os dias, as estatísticas são contabilizadas pela mídia. As máscaras enfeitam e enfeiam as caras. As autoridades dizem que tudo está sob controle. Estará mesmo ? Creio que não. Vacina contra a gripe suína só mesmo nos meados de 2010. As férias serão prorrogadas nas escolas públicas. Onde está a verdade ? Procuremos a verdade. O lixão da Inglaterra Até agora este escriba não entendeu a razão pela qual toneladas de lixo foram vendidas e embarcadas para o Brasil, saindo da Inglaterra. O que teria esse lixo de bom ? Seria um lixo disfarçado ? Três ingleses foram presos esta semana. Nossas autoridades estão encontrando dificuldades para mandar o lixo de volta. Sei não. Nessa história mal contada, podem esperar : tem muito lixo escondido. A saúde de Obama A saúde de Obama deve ir muito bem. O que anda provocando dissabores e questionamentos é o seu Plano para a Saúde dos americanos. Coisa de US$ 10 trilhões a ser despendido em 10 anos. Uma montanha de dólares. Como se trata de um dinheiro estratosférico, tem parlamentares que recusam o plano de Obama. E onde está o prestígio dele ? Está sumindo, lento e gradualmente. E o PT, hein ? O PT perdeu o rumo. Quem manda e desmanda no partido é Luiz Inácio. Que, por exemplo, quer enfiar Ciro Gomes na garganta dos petistas de São Paulo. Ciro nunca fez política por estas bandas. Mas é o candidato in pectore do presidente para atazanar a vida dos tucanos paulistas. Como o ex-governador cearense é um canhonheiro sempre de plantão, foi escolhido para atirar nessas aves do bico longo. O PT está mudo. Gostaria de emplacar um petista como candidato. Não conseguirá. A conferir. Brasil no quarto O Brasil acaba de desbancar a Rússia e já é o quarto país em matéria de atração de investimentos. O primeiro país é a China. Os Estados Unidos vêm em segundo, a Índia aparece em terceiro. A Rússia passou ao quinto lugar. Cenário : se as coisas por estas plagas continuarem a melhorar, bye, bye, Serra. O ambiente de confortabilidade social será canalizado para produzir boa colheita na roça de dona Dilma Rousseff, cuja fonética os nordestinos entendem como "Dilma do Chefe". Desoneração da folha ? Pois é, o empresariado quer porque quer desoneração da folha. O pleito é antigo e merece um estudo em profundidade das autoridades governamentais. Que, aliás, começam a anunciar que topam o desafio. Com uma condição : mexer no sistema S. Com o que não concorda as entidades empresariais. O ciclo Kubitschek Figura carismática, Juscelino Kubitschek era jovial, alegre. Encarnava o Brasil moderno. Em 1959, o palhaço Carequinha popularizou uma batucada de Miguel Gustavo - Dá um jeito nele, Nonô ("Meu dinheiro não tem mais valor./Meu cruzeiro não vale nada./Já não dá nem pra cocada./Já não compra mais banana./Já não bebe mais café./Já não pode andar de bonde./Nem chupar picolé./Afinal, esse cruzeiro é dinheiro ou não é?"). O clima ambiental era de descontração, como demonstra a historieta gráfica da revista Careta : "Juscelino : - Preciso de divisas, ouro, seu Alkimim, para as realizações do meu governo. O ministro : - Ouro, seu Juscelino ?! Eu sou Alkimim, não sou alquimista". Vestiu a camisa do desenvolvimento e seu slogan "50 anos em 5" foi um sucesso. Colou. Seu sorriso era a estampa de um país feliz. Aécio vai concorrer A última novidade na seara mineira de Aécio Neves. O governador garante que vai concorrer às prévias que os tucanos farão para decidir o candidato : ele ou José Serra. E, instado a dizer se seria o vice na chapa de Serra, caso perdesse as prévias, quase grita : não, se perder, vou concorrer ao Senado. Nesse caso, poderíamos divisar o neto de Tancredo Neves dirigindo a Câmara Alta. Sarney e dona Marly Dona Marly Sarney sofreu uma queda. Quebrou clavícula e o ombro em cinco lugares. Estaria vindo para São Paulo. José Sarney terá um grande e compreensível motivo para se afastar da presidência do Senado : cuidar de sua esposa. Meirelles Henrique Meirelles começa a dar sinais de que será candidato em Goiás. Pode vir a ser candidato a senador ou a governador. Foi eleito deputado e renunciou para assumir o Banco Central. Seria péssimo querer voltar ao posto que abandonou. Gurgel e Jô Jô Soares, até que enfim, encontrou um clone : Roberto Gurgel, o novo procurador geral. Será engraçado : quando ele abrir a boca para falar de coisas graves, o ouvinte terá a impressão de ver um Jô bem abusado. Onde está Cabral ? Por onde anda Sérgio Cabral, o governador do Rio de Janeiro ? Fazendo tour pelo mundo ? Ele aparece mais quando está fora do que quando está nas ruas de sua capital. Que multa, hein ? A AmBev recebeu do CADE uma multa de R$ 352,69 milhões por concorrência desleal. O mercado de cervejas estaria sendo fechado pelo grupo. Quem aposta que essa multa será paga ? Duque na parede Paulo Duque, o senador do Rio de Janeiro que preside a Comissão de Ética, deverá ser encostado no canto da parede após o recesso. Há mais de cinco processos contra Sarney naquele Conselho. Terá ele coragem de arquivá-los ? A conferir. Frases Getúlio Vargas caprichava nas frases. Eis algumas que passaram a fazer parte do folclore político : - Eu não sou um oportunista. Sou um homem das oportunidades. Se um cavalo passar encilhado na minha frente, eu monto. - A Constituição é como as virgens. Foi feita para ser violada. - Quem não aguenta o trote, não monta o burro. - Inimigos não sei se os tenho. Mas se os tiver, não serão jamais tão inimigos que não possam vir a ser amigos. - A metade dos meus homens de governo não é capaz de nada e a outra metade é capaz de tudo. - Quase sempre é fácil encontrar a verdade. Difícil e, uma vez encontrada, não fugir dela. - Eu sempre desconfiei muito daqueles que nunca me pediram nada. Geralmente os que sentam à mesa sem apetite são os que mais comem. - Os políticos olham muito o passado, se esquecem do presente e, principalmente, do futuro. Mas é perigoso este cacoete, pois quem muito olha para trás acaba torcendo o pescoço. Conselho ao senador Sarney Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na edição passada, o espaço foi destinado ao governador José Serra. Hoje, volta sua atenção ao senador José Sarney : 1. Senador, aceite a recomendação de se afastar da presidência do Senado. 2. Cada dia a mais no cargo é mais uma légua de calvário. 3. Os graves eventos registrados pelo O Estado de S.Paulo aconselham seu afastamento. ____________
quarta-feira, 15 de julho de 2009

Porandubas nº 195

No palanque A mistificação é uma arma do palanque. Na campanha de 60, nos EUA, Barry Goldwater, governador do Alabama, queria passar a ideia de pessoa séria, um intelectual. Muito conservador, candidato à presidência, usava um palanque alto, cercado por uma proteção de vidros à prova de bala, para evitar atentados. Usava uma armação de óculos para passar a ideia de pessoa compenetrada. Um dia, em um comício, esqueceu que a armação não tinha lente. Colocou o dedo no olho para tirar um cisco. Mas enfiou o dedo pelo buraco da armação. Nesse momento, um fotógrafo flagrou a mentira. Dia seguinte, a manchete denunciava : "EIS O GRANDE MENTIROSO". O impacto negativo tirou-o do pleito. Começou aí a jornada do despenhadeiro político. 15 anos de Real O governo Lula não é de passar recibo. Os 15 anos do Plano Real passaram em branco na agenda do governo. Os tucanos rememoram o feito com festa e loas. FHC abriu o bico. Ministros do Plano Real comemoraram a data. O lulismo calou-se. A economia é estável ? Governo Lula. A inflação está controlada ? Governo Lula. O mandatário, de Paris, fez a festança. Recebeu um Prêmio internacional. Na Itália, brindou com Obama, a quem ofertou camisa da seleção brasileira. Lula se encontra em estado de encantamento. Serra abre o olho José Serra, dizem as boas línguas, já não pensa exclusivamente na cadeira do Planalto Central. A cadeira do Planalto Paulista, com seu lema - "Pro Brasília, fiant eximia" -, pode muito bem satisfazer ao seu gosto. Pois Serra examina as pesquisas, avalia as possibilidades, faz inserções no mundo das projeções, tudo para chegar ao dilema - o que é melhor : um pássaro na mão ou dois voando ? Se a reeleição lhe parecer confortável, poderá desistir da candidatura presidencial. Aqui pra nós, Serra em São Paulo não teria adversário à altura. Ao invés de subir, o candidato petista desceria a serra. Aécio abre os braços Pois não é que Aécio Neves, nos últimos dias, passou a se movimentar com mais liberdade e a abrir os braços a torto e a direito ? Já não faz tanta questão de defender prévias partidárias. Teria chegado, juntamente com Serra, à conclusão de que aquele em melhores condições ganhará a vaga. Dúvidas passaram a frequentar as cabeças tucanas : Serra bateu no teto da intenção de voto, 47%. Sustentaria esse índice ? O ambiente macroeconômico, que favorece Dilma, não agiria como rolo compressor contra sua candidatura ? Enquanto o espaço fica cheio de interrogações, Aécio corre, abraça, convoca, fala. Está mais cordial. E Ciro malufou ? Sabe-se que Ciro Gomes conversou, recentemente, com o deputado Paulo Maluf, que domina um território eleitoral com cerca de 10% de intenção de voto. Ciro se apresenta como vestal. Atira para cima, para baixo e para os lados. Parece contrafeito com tudo e todos. Nada lhe apetece. Poucos merecem elogios. Ciro faz questão de dizer que lutará contra Serra aqui e alhures. Para derrotar esse tucano de bico longo, entrará no inferno, ou seja, alia-se a Paulo Maluf. Por isso, pensa em ser candidato ao governo de São Paulo. Com o apoio da direita mais retrógrada. Minha sábia mãe, de 92 anos, sempre me lembra : "meu filho, nunca diga - desta água não beberei". Mesmo que a água seja a mais suja do poço mais imundo. Ciraaventura Pois bem, Ciro Gomes sobe, hoje, a um patamar entre 10% a 12% de intenção de votos em São Paulo. A última pesquisa Ibope lhe dá uma taxa, que é praticamente a mesma que ostenta nas pesquisas nacionais para a presidência da República. As médias de Ciro não são suficientes para amedrontar ninguém. Podem atrapalhar decisões de primeiro turno. Em São Paulo, por exemplo, Ciro Gomes não tem chances de se eleger governador. Nunca fez política por estas plagas. Pode apenas dizer que é de Pindamonhangaba. Ciro quer atazanar a vida dos tucanos. Apenas isso. Lulismo sarneyco O lulismo é um agregado político que junta no mesmo saco pragmatismo, conservadorismo, fisiologismo, descompromisso com ideologias e doutrinas. O símbolo do lulismo é a caricatura dos três macaquinhos com seus gestos : não vi, não ouvi, não falei. Lula forma o escudo de Sarney pensando em 2010. Sarney adere mais ainda ao presidente pensando na continuidade do Grande Maranhão. Lula encabrestou o PT. Que não sabe para onde caminhar. A expressão mercadântica O senador Mercadante está tonto de explicar a enroscada em que se meteu com a famosa peroração em que defendeu a necessidade de ir e ficar, de ser e não ser, de correr para frente e para trás. Em seu discurso no Senado insinuou coisas ruins na corte de Sarney. Acabou defendendo coisas boas na corte de Sarney. Foi a mais dúbia peça de oratória que este escriba teve oportunidade de ouvir nestes tempos verborrágicos. Ao final da oração, dois senadores pediram aparte para condenar Sarney : Tião Viana e Marina Silva. Depois, outros vieram em socorro do presidente do Senado. Tanto a uns como a outros, Mercadante agradeceu comovidamente pela contribuição. Mais uma vez, foi atacante e defensor. Alencar, um conceito de vida O vice-presidente José Alencar é exemplo de homem destemido e tenaz. Sai, mais uma vez, do hospital esbanjando otimismo. A ele, os calorosos aplausos deste escriba pela maneira com que administra - com inteiro domínio - seus problemas de saúde. Alencar é um exemplo do ser humano que não se abate ante as intempéries da vida. No meu dicionário, Alencar significa A de alento, L de luta, E de energia, N de nobreza de espírito, C de coragem, A de autoridade e R de resistência. Os néscios "Não admira que os néscios se julguem muito sabedores, eles que têm a vantagem de desconhecer que ignoram". (Marques de Maricá) Curriculum Erraticus No Brasil, as curvas nas trajetórias dos curricula (plural de curriculum) são muito comuns. Jeitinho brasileiro, malandragem tupiniquim. Até aí tudo bem. Quando os atalhos ou avanços, porém, ocorrem nos caminhos dos homens (conceito genérico) públicos, certos cuidados devem ser tomados. A ministra Dilma Rousseff teve sua trajetória curricular alterada. Não pegou bem. Uma chuva de críticas caiu sobre sua imagem. A ministra veio a público se desculpar. Este escriba atribui os exageros ao núcleo de áulicos que devem cercar a ministra. Ninguém de bom senso - ocupando cargos públicos - se daria ao exagero de alterar dados e informações de sua vida. Na vida universitária, onde este escriba passou quase três décadas, isso seria uma heresia e um crime inominável. Orlando Silva, revelação O ministro Orlando Silva, dos Esportes, é uma revelação do governo Lula. Irradia simpatia, gentileza e educação no trato com as pessoas. Comanda com competência a preparação do Brasil para a Copa de 2014. Ouve a todos, corre o país, toma providências. Sua preocupação central é implementar as tarefas estratégicas apontadas pela Política Nacional de Esporte, entre as quais : ajustar o Sistema Nacional de Esporte, fixando melhor as atribuições de cada um dos agentes que atuam na área esportiva; ampliar a infra-estrutura esportiva nacional; capacitar melhor os recursos humanos que educam e orientam as atividades físicas e estabelecer vínculos efetivos entre esporte e educação, garantindo acesso a conhecimento e experiências de caráter lúdico, educativo, além de permitir a iniciação e a formação esportiva em escolas e universidades. Internet censurada Nos Estados Unidos, onde a liberdade ganha espaço igual ao conceito, o uso da Internet em campanha política é irrestrito. Aqui, a Câmara acaba de aprovar o uso da tecnologia eletrônica em campanha política. Uma exagerada dose de censura castigará internautas. Tudo porque a Internet passou a ser um meio igual às mídias rádio e TV, que são concessões do Estado. Ou seja, a intenção foi boa, o resultado, não tanto. Criaram um monstrengo. Assim é a cara do Brasil. Teste de resistência José Sarney aguentará chegar à última estação do Calvário ? Lá, Cristo foi crucificado. Agora, a estação de Sarney é a Fundação que leva seu nome e recursos de empresas estatais. Escrevi, neste último domingo, meu artigo no Estadão : A Galinha de Esopo. Gorda, comendo muito cevada, deixou de botar o ovo cotidiano. A viúva proprietária não se conformava com apenas um ovo. Encheu a bichinha de gordura. Perdeu a cota diária. Quem muito quer, muito perde. Eis a grande lição de Esopo. Atenção, ambiciosos, tenham cuidado com a gordura de suas fortunas. Os infelizes "Três sortes de pessoas são infelizes na Lei de Deus : o que não sabe e não pergunta; o que sabe e não ensina; o que ensina e não faz". (Padre Bernardes) RR em mira O governo de RR queria comprar terras de Romero Jucá, o senador. Desistiu depois de insinuação de que esta compra poderia ensejar forte bateria de denúncias. As terras não seriam propriamente adequadas para efeito de construção de conjuntos habitacionais etc. Ademais, o governador José Anchieta, logo após o recesso, estará na mira do STF. As apostas estão no ar : 60% na condenação do governador; 40% na absolvição. Resultado imprevisível, até porque os juízes não tomam decisões precipitadas. Kassab sobe O prefeito Gilberto Kassab, depois de fazer subir sua avaliação junto ao andar de baixo da pirâmide, é a boa surpresa da mais recente pesquisa feita pelo Ibope. No cenário, com a opção da pergunta espontânea, aparece em terceiro lugar para o governo do Estado, depois de Geraldo Alckmin e José Serra. Num dos cenários, com pergunta estimulada, aparece em primeiro lugar, desbancando Paulo Maluf e outros nomes, inclusive Marta Suplicy, do PT. Kassab é a novidade da nova estampa política em São Paulo. Alckmin não é o candidato in pectore de José Serra. Logo, Kassab poderá ganhar tal condição. E Aloysio Nunes Ferreira ? Para esta questão, os dados : Aloysio, de tão escondido, tem comprometida sua condição. Não passa de 4% de intenção de votos. Como chefe da Casa Civil, deveria ter maior visibilidade. Um nome de respeito Rubens Approbato Machado ! Este escriba torce por sua recuperação. E que volte logo a animar a praça cívica da Advocacia. E que a deusa da Justiça E que a venda sobre os olhos da Deusa da Justiça seja um símbolo de inspiração aos nossos juízes. Que devem fazer Justiça olhando para as carências da Humanidade, para as lágrimas dos aflitos, para o senso do dever, com a estrita obediência ao espírito das leis, em favor dos injustiçados, contra a ganância dos impérios e o domínio dos opressores ! Como fariam Bem à Humanidade os juízes que, apesar da montanha de papéis sobre suas mesas, dominassem o conteúdo dos recursos, entendessem na plenitude os pleitos dos litigantes e usassem os pesos da balança da Justiça para perpetuar sobre este sofrido planeta o Ideário da Grandeza Humana. Conselho ao governador Serra Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na edição passada, o espaço foi destinado aos senadores. Hoje, volta sua atenção ao governador Serra : 1. Dê sinais mais claros de sua disposição em ser o candidato tucano à presidência da República. 2. Caso contrário, anime o tucano mineiro Aécio Neves. 3. O tucanato perde tempo quando a campanha petista está nas ruas e nos palanques. Dona Dilma chegará aos 30% até o final do ano.
quarta-feira, 1 de julho de 2009

Porandubas nº 194

Olá, leitores(as), comecem com um sorriso... Interpelando ato vil A historinha é conhecida e, por ser muito boa, merece um repeteco. Rui Barbosa, o Águia de Haia, chegava em casa, à noitinha, quando ouviu um barulho vindo do quintal. Chegando lá, viu um ladrão tentando levar seus patos de criação. Aproximou-se vagarosamente do indivíduo e, surpreendendo-o, ao tentar pular o muro com seus amados patos, passou-lhe um pito : - Oh, bucéfalo anacrônico! Não o interpelo pelo valor intrínseco dos bípedes palmípedes, mas sim pelo ato vil e sorrateiro de profanares o recôndito da minha habitação, levando meus ovíparos à sorrelfa e à socapa. Se fazes isso por necessidade, transijo; mas se é para zombares de minha elevada prosopopéia de cidadão digno e honrado, dar-te-ei com minha bengala fosfórica bem no alto da sua sinagoga, e o farei com tal ímpeto que te reduzirei à quinquagésima potência que o vulgo denomina nada. E o ladrão, perplexo e confuso, com um fio de voz, perguntou : - Doutor, eu levo ou deixo os patos ? Lula fecha a roda Quase todas as semanas, Lula fixa mais um eixo na roda eleitoral. Além da prorrogação da redução do IPI para a linha branca - eletrodomésticos e automotiva - o pacote de benefícios abrange materiais de construção civil e bens de capital. Ao lado do consumo, o governo quer incentivar os investimentos. Lula atinge o coração da classe média, depois de ter atirado em direção às massas : Luz para Todos, Minha Casa, Minha Vida, Pronaf (agricultura familiar), etc. Ao fundo, o PAC e o canteiro de obras. Em todos os lados, o palanque com Dilma. No centro, o gogó possante. Sob inflação dominada e animação dos economistas. Segura essa onda, Serra José Serra segurará essa onda ? Muitos dizem que sim. Outros dizem que não. Está muito longe de uma linha mais clara no horizonte. Uma coisa é certa : Dilma irá ao palanque faceira e, segundo os médicos, curada. Se chegar ao fim de ano com 25% de intenção de voto, poderá, em pouco tempo, se aproximar do índice de Serra. Serra é um candidato mais preparado, experiente e talhado para o cargo. Nem sempre, porém, os melhores ganham. As circunstâncias determinam os caminhos das derrotas e vitórias. O clima ambiental de 2010 - mais confortável, menos confortável, mais estável, menos estável - fará o presidente da República. Segura Sarney, PT Lula deu a ordem ao PT : segurem o Sarney, porque o governo precisa dele. Mas o PT dá impressão de que refuga a ideia. Associa-se à onda oposicionista que se espraia pelos corredores do Senado. Ao fundo, uma vingança de Tião Viana, sobre o qual passou o rolo compressor de Renan/Sarney. Vamos ver até onde a ordem de Lula será cumprida. Segura Ciro, PT Ao que se sabe, outra ordem de Lula teria sido dirigida ao PT paulista. Nesse caso, para acolher o nome de Ciro Gomes e sua candidatura ao governo de São Paulo. Ciro, por sua vez, deve examinar pesquisas e tendências. Mas o PT paulista não tem intenção de seguir a ordem de Lula. Dos 16 deputados estaduais, 15 manifestam intenção de jogar na roda da candidatura petista ao governo o nome de Emídio de Souza, prefeito de Osasco. A conferir se a ordem de Lula será cumprida. Ciro e as tendências Não será fácil a Ciro Gomes embarcar numa candidatura ao governo de São Paulo sem ter feito, por aqui, vida política. Ele é paulista de Pindamonhangaba. Poderá alegar isso. Mas, convenhamos, uma candidatura em São Paulo de alguém com vida pública no Ceará é um risco muito grande. Seria criticado pelo oportunismo. Ademais, Ciro coleciona uma série de impressões negativas sobre o poderio paulista. A arrumação desse acervo acertaria bem no coração da eventual candidatura. O eleitor paulista é racional, mas não despreza a emoção, caso seja atingido por expressões negativas. As cartas do jogo "Um jogador pode ter boas cartas - bons projetos e operações - em um jogo de baralho, mas pode não saber jogar e perder o jogo para outro jogador que recebeu cartas inferiores mas tem uma melhor estratégia de jogo. A metáfora compara o projeto prescritivo do plano às cartas que o jogador possui. O plano tradicional limita-se a dizer : 'estas são as cartas com as quais devemos e precisamos jogar'. Mas é evidente que o plano não se pode limitar a isso ou seja, não se pode comprometer com uma proposta prescritiva sobre o que se deve fazer. É imprescindível que se explorem estratégias de jogo para que se descubra o máximo que pode ser feito com eficácia." (Carlos Matus, cientista político chileno) 150 anos de prisão Com 71 anos, Bernard Madoff foi condenado a 150 anos de prisão. Morrerá na prisão, mesmo cumprindo menos de um terço. É hora de perguntar : por que tanta ambição em ganhar dinheiro ? Vale a pena alguém lutar para construir pirâmides de fortuna, se a curva do destino fica à espreita do afortunado ? Por que tanta ambição ? Família Jackson e as contas Michael Jackson teria uma dívida entre US$ 400 milhões a US$ 800 milhões, segundo se lê na imprensa. Teria um patrimônio entre US$ 1,5 bilhão a US$ 2 bilhões. O pai, que detestava, e a mãe, distante, só pensam naquilo : quanto é a grana, quanto é grana ? A guarda dos três filhos de Michael pela mãe será o guarda-chuva da fortuna. Argh... Quanto interesse pelo metal! Itamar quer voltar Itamar Franco quer voltar à lide. Entrou no PPS, o partido do ex-senador e ex-deputado Roberto Freire. Itamar expressa moral. Tem uma índole impermeável à baixa política. Pode ser candidato ao Senado, apoiado por Aécio Neves, em 2010. Seria uma volta mais que desejável para oxigenar a Câmara Alta nesse momento de ar contaminado. CPI no espaço A CPI da Petrobras está no espaço em compasso de espera para aterrissar. O PMDB, que tem a carta decisiva do jogo, adia a instalação da CPI. Ademais, o ambiente no Senado não comporta mais tumultos. A Casa está um pandemônio. O presidente Sarney mais parece um dândi na escuridão. Heráclito Fortes, que é um cracão, segura a peteca. Por que Sarney tende a ficar na presidência ? Casa de ferreiro, espeto de pau Nem sempre os santuários das leis e de sua fiscalização cumprem as sagradas funções. Pois bem, algumas empresas que prestam serviços à Delegacia Regional do Trabalho, em São Paulo, são relapsas no compromisso de pagar tributos e atender à pletora dos direitos sociais. Uma sugestão : colocar uma lupa sobre essas más prestadoras de serviços, apurar os ilícitos e punir os responsáveis. Sarney desiste ? É mais provável que Sarney permaneça na presidência do Senado. Primeiro, porque não pretende sair pela porta dos fundos. 50 anos de vida pública seriam jogados na lata do lixo. É o que ele pensa. Segundo, porque ninguém garante que, com sua saída, o calvário chegaria ao final. Terceiro, não há ninguém do PMDB que poderá substituí-lo. O primeiro vice, Marconi Perillo, assumiria, segundo o governo, a identidade de seu apelido, Marconi Perigo. Dizem que Lula o detesta, desde os tempos em que confessou ter avisado ao presidente sobre as articulações em torno do mensalão. Hélio Costa, o nome ? O único nome do PMDB em condições de assumir a presidência do senado sem grandes arranhões seria o de Hélio Costa, ministro das Comunicações. Razões : quer ser candidato ao governo de Minas em 2010. Disporia, assim, de um grande palanque para sua visibilidade. Seria bem visto por Lula. É do PMDB, o maior partido da Casa. Não tem ligação direta com o atual esquema de comando, como o ex-senador Edison Lobão, ministro das Minas e Energia, que é outro nome lembrado para ocupar o nome de seu patrocinador Sarney. Em suma, seria o perfil mais palatável do PMDB. Obstáculo : o próprio Sarney que não quer deixar a cadeira. DEM pede saída O DEM, até que enfim, decidiu também pedir a saída temporária de Sarney da presidência do Senado. Conduta condizente com um partido de oposição. Se fizesse escudo ao presidente da Casa cairia na desconfiança social. A novela continuará. Centrais avançam A cada semana, as Centrais Sindicais avançam em sua meta de fazer do país uma República Sindicalista. As conquistas se multiplicam na esteira de favorecimentos, vantagens, pacotes de bondades e muita grana. Mais de R$ 100 milhões foram distribuídos, este ano, às Centrais. Esta semana, mais uma conquista poderá ser alcançada : aprovação da redução de 44 horas semanais de trabalho para 40 horas, aumento da hora extra para 75% sobre o valor da hora normal. Hoje, a hora extra atinge 50% do valor da hora normal. As Centrais já estão no paraíso. Serra e Lula fechados ? Este colunista já colocou essa versão no ar. Lula e Serra estariam fechadíssimos. Como assim ? Ambos teriam combinado um pacto por reforço recíproco de seus partidos. Uma espécie de rodízio. Você e eu, eu e você. PT e PSDB poderiam se revezar e "matar" outros partidos, com exceção do PMDB, partido considerado pragmático e que funcionaria como peso decisivo na balança. O alvo principal é o DEM, condenado à morte. Por este pacto, Dilma serviria aos objetivos de Serra e vice-versa, este seria o melhor candidato da oposição. Quanto amor próprio ! "Um maltrapilho dos arredores de Madrid pedia esmolas com grande dignidade. Um transeunte lhe disse : 'Não tem vergonha de exercer essa infame-atividade quando pode trabalhar ?' 'Senhor', respondeu o mendigo, 'peço-lhe esmola e não conselhos'; e tendo dito isto, deu-lhe as costas, com toda a empáfia castelhana. Era um mendigo orgulhoso esse; pouca coisa bastava para ferir-lhe a vaidade. Por amor de si mesmo pedia esmola; e ainda por amor de si mesmo não permitia que lhe fizessem qualquer reprimenda." (André Maurois) Mistérios Há coisas que não podem e não devem ser ditas. Coisas que povoam o mundo de Maquiavel. Coisas que podem ser apenas objeto de especulação. Coisas confessáveis apenas em bastidores muito reservados. Consenso no 4302 A terceirização de serviços clama por regulação. O tema está exaurido em termos de análises, debates, intercâmbio de pontos de vista. Amanhã, quinta-feira, um grupo expressivo de dirigentes de entidades será recebido pelo presidente da CNI, deputado Armando Monteiro, para uma tentativa de se chegar a um denominador comum. A polêmica gira em torno dos dispositivos : responsabilidade solidária versus responsabilidade subsidiária. CNI e sindicatos de serviços terceirizados querem chegar a um consenso. O projeto em tela é o 4302/98. Segurando a demissão Enquanto a Anatel e a Telefônica não se acertam sobre a decisão de suspender a venda da banda larga Speedy, a corda está a um fio de arrebentar para o lado das empresas e dos trabalhadores que instalam e mantêm o serviço. As prestadoras de serviços por enquanto seguram a demissão de milhares de funcionários. Mas o Sinstal, o sindicato das prestadoras, nem o Sintetel, que representa os trabalhadores, arriscam prever o que virá pela frente se não houver um acordo rápido entre a Agência do governo e a empresa de telefonia. Cadê o governo ? Vivien Suruagy, empresária e presidente do Sinstal, lembra que, em outras circunstâncias - incidentes envolvendo grandes empreendimentos - o governo não paralisou obras, garantindo, assim, a tranquilidade e o trabalho dos contingentes empregados. Por que, agora, age diferente, deixando intranquilos milhares de famílias ? Crise e CPI Alguns senadores perceberam que há interesse de setores em esticar a crise no Senado. Motivo : construir um escudo contra a CPI da Petrobras. Há, sim, fundamento na desconfiança. Maquiavelismo puro. O preço da morte "O beato Alcuíno, estando em disputa com Papino, filho do Imperador Carlos Magno, perguntado que coisa era morte, a definiu, dizendo que era o ladrão do homem; Mors est latro hominis. Os ladrões ora levam o dinheiro, ora a joia, ora o vestido etc. O que a morte leva é o homem." (Padre Manoel Bernardes) Conselho aos senadores Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na edição passada, o espaço foi destinado ao presidente do Senado, José Sarney. Hoje, volta sua atenção ao corpo de senadores : 1. Procurem uma urgente saída/solução para a crise que assola o Senado. 2. Se a saída do presidente Sarney da presidência é inexequível, urge pensar em medidas drásticas - enxugamento da estrutura e plena transparência. 3. Qual seja a alternativa, a Câmara Alta precisa organizar uma urgente agenda positiva - densa pauta de votações. ____________
quarta-feira, 24 de junho de 2009

Porandubas nº 193

Viabilidade Carlos Matus, cientista social chileno, em um magistral estudo sobre Estratégias Políticas, demonstra que a viabilidade de um ator na política tem a muito que ver com a estratégia e seus princípios fundamentais. Eis alguns princípios estratégicos : a) Avaliar a situação; b) Adequar a relação recurso/objetivo; c) Concentrar-se no foco; d) Planejar rodeios táticos e explorar a fraqueza do adversário; e) Economizar recursos; f) Escolher a trajetória de menor expectativa; g) Multiplicar os efeitos das decisões; h) Relacionar estratégias; i) Escolher diversas possibilidades; j) Evitar o pior; k) Não enfrentar o adversário quando ele estiver esperando; l) Não repetir, de imediato, uma operação fracassada; m) Não confundir "reduzir a incerteza" com "preferir a certeza"; n) Não se distrair com detalhes insignificantes; o) Minimizar a capacidade de retaliação do adversário. Sarney na berlinda Nunca antes na história deste país, viu-se um ex-presidente da República tão acuado. José Sarney, a figura mais poderosa da esfera parlamentar, atravessa o mais longo calvário de sua trajetória política. O Senado passou a ser a grande fogueira da República. O fogo come as entranhas do presidente da Casa. Senadores pedem sua renúncia. Sarney não deverá sair : 1) porque mostraria fragilidade; 2) perderia espaço - e que espaços - na administração federal. 3) deixaria também fragilizado o governo de sua filha Roseana, no Maranhão; 4) abriria espaços para o fogo corroer a floresta familiar. Sarney só tem uma saída : fazer uma grande reforma no Senado. De meios, métodos e processos. A ambição desmesurada No meu livro "Marketing Político e Governamental", cito um pensamento do cientista político, Robert Lane, em Political Life, que explica como a ambição desmesurada pelo poder funciona como um bumerangue. Seria o caso de Sarney ? Por que ele, no auge de sua vida pública, poderoso e influente, quis voltar ao comando do Senado e se submeter às intempéries gerados por circunstâncias ? Eis o pensamento de Lane : "A fim de ser bem-sucedida em política, uma pessoa deve ter habilidades interpessoais para estabelecer relações efetivas com outras e não deve deixar-se consumir por impulsos de poder, a ponto de perder o contato com a realidade. A pessoa possuída por um ardente e incontrolável desejo de poder afastará, constantemente os que a apoiam, tornando, assim, impossível a conquista do poder". Toffoli ainda imberbe ? Há quem considere - e não são poucos - o advogado-geral da União, José Antônio Toffoli, inexperiente para assumir a alta posição de ministro da Corte Suprema. Dizem que é o candidato de Lula e será nomeado na próxima oportunidade. Toffoli precisaria correr um pouco mais na vida pública antes de querer postular aquela posição. E se Lula nomeá-lo, estará se dobrando a interesses personalistas e a uma visão estreita de governante. O estadista não confunde as questões do Estado com as questões pessoais. Dilma palanqueira A cada dia que passa, Dilma Rousseff sobe mais um degrau na escada da popularidade. Esta semana, os aplausos populares vieram do interior do Paraná. Dilma abraçou pessoas, beijou crianças, fez promessas. Lula, ao lado, dava aprovação. O mestre ensinava à aluna como se comportar ante das massas. Este escriba já fez sua previsão, que é esta : a ministra que comanda a Casa Civil tem chances de vir a comandar a Nação. Com cerca de 20% nas pesquisas de intenção de voto, já decolou. Quem achar o contrário, nunca leu pesquisas. "Não há superfícies bonitas sem profundezas assombrosas." (Friedrich Nietzsche) Garotinho na onda Quem acaba de subir na prancha da onda dilmista - há, sim, uma onda dilmista - foi o ex-governador e sempre candidato a algo, Antony Garotinho. Gordo como nunca se viu, alardeia seu apoio à candidatura de Dilma. Quer se viabilizar como candidato ao governo do Rio de Janeiro, após se ver cada vez mais apertado pelo PMDB do governador Sérgio Cabral, que será candidato à reeleição. Garotinho, como se sabe, saiu do PMDB. Jornalista e cozinheiro Não é o diploma que faz o jornalista. É o conhecimento. Professor de jornalismo por mais de 30 anos, sempre achei que profissionais de outras áreas poderiam também exercer a profissão de jornalista. Clara, com o domínio das técnicas adotadas por esta profissão. Agora, não dá para concordar com o presidente do STF - o respeitado e também admirado por este escriba, Gilmar Mendes - quando compara o jornalista ao cozinheiro. Nada contra o cozinheiro. Mas, convenhamos, cada um no seu lugar merece respeito. Cada profissão possui sua identidade. Uma natureza. O objeto científico Dizer, ainda, que ao jornalismo falta um objeto científico é querer dizer que também esse objeto não identificado falta em muitos nichos das ciências humanas. Qual é o objeto científico da advocacia ? Otto Groth, o teórico alemão que chegou a escrever um quilométrico Tratado, defendeu o conceito de jornalismo como ciência. Tese polêmica, mas muito bem sustentada. O jornalismo como outros feixes conceituais na área de Humanidades é um sistema aberto e multidisciplinar. Aliás, nesse ponto, equivale ao Direito. Curió...sidades Pois é, o famoso major Curió decidiu abrir seus arquivos. Afirmou, de maneira categórica, ter havido fuzilamento de guerrilheiros no Araguaia, por ocasião da guerrilha (1972-1975). Confesso que não entendi o que está por trás dessas curió...sidades. Acrescentou mais 16 guerrilheiros executados à lista que se conhece. Curió quis matar a curiosidade de alguns ? Quis se antecipar a denúncias ? Quis livrar algumas pessoas ? O furo do Estadão Louve-se a sensacional reportagem-furo do Estadão, um jornal que supera outros em matéria de conhecimento. Greve na USP A greve dos servidores da USP tem uma faceta aberta, outra, fechada. O lado aberto tem como foco reivindicação salarial. O lado escondido é o da baderna, a faceta que trabalha com a ideia de "quanto mais barulho e violência, melhor". Para arrematar, por trás do movimento está a readmissão do ex-servidor Claudionor Brandão, que foi demitido dos quadros por graves questões. PCO, PSTU e PSOL são os partidos de extrema esquerda que comandam o movimento. Cândido radical O professor Antônio Cândido é um ícone da intelectualidade. Respeitado e respeitável. Mesmo sob essa identidade, não tem o direito de cometer exageros. Teria incentivado o alunato a exagerar nos atos baderneiros. Já Dalmo Dallari, também uma bandeira da justiça, expressou a voz da moderação. A prudência "A prudência para interesse próprio é, na maior parte das suas ramificações, sabedoria depravada. É a esperteza dos ratos, que saberão abandonar a casa antes de ela cair; é a matreirice da raposa que expulsa o texugo do buraco onde se vai alojar; é a hipocrisia do crocodilo que, chorando, atrai a presa para a devorar". (Francis Bacon) O fim do diploma O fim do diploma de jornalismo disparará uma corrente de mestrados profissionais. Os cursos de pós deverão melhorar. A procura pela pós-graduação aumentará. Os cursos ruins serão fechados. Os cursos qualificados continuarão prestigiados. Basta ver o que ocorre na área da Publicidade, que não exige diploma para o exercício da profissão. Twitter, mensagem tempestiva Entrei na tempestividade (não confundir com tempestade) do Twitter. Jogo impressões - frases, observações dos meus momentos. De repente, alguém lá no fim do mundo captura a mensagem. Estamos em Telépolis, gigantesca metrópole sem limites físicos e com o mundo nos olhando. Estou cercado de bits e navegando pelas largas avenidas na internet. Guerra comercial Fontes desinformadas dizem que a pane que ocorreu em São Paulo com a banda larga da Telefônica teve como causa a terceirização de serviços. A alegação é de que os profissionais são desqualificados e as prestadoras colocam em serviço produtos não muito robustos. Nada mais falso. A engenheira Vivien Suruagy, presidente do Sindicato Nacional das Empresas Prestadoras de Serviços e Instaladoras de Sistemas de Redes de TV por Assinatura, Cabo, MMDS, DHT e Telecomunicações (Sinstal) e vice-presidente da Federação Brasileira de Telecomunicação (Febratel), argumenta que isso não é verdade. Segundo ela, as empresas sérias do segmento, a exemplo do que ocorre no mundo todo, investem fortemente na qualificação, especialização e capacitação de seus profissionais para mantê-los atualizados com as novas tecnologias. A pane esconde uma guerra comercial entre gigantes da telefonia. Comunicação Organizacional Acaba de chegar às livrarias o livro "Comunicação Organizacional - Volume 1" (org. Magarida Kunsch), que tenho a honra de abrir com o primeiro Capítulo, onde descrevo as diversas fases da comunicação organizacional, no Brasil, a começar pela experiência pioneira da PROAL - empresa de jornalismo empresarial do início dos anos 70 - da qual participei, como sócio, ao lado de uma das maiores figuras do jornalismo e da comunicação no Brasil, Manuel Chaparro. O livro, com 17 capítulos, é a maior coletânea de ensaios e artigos sobre comunicação organizacional. Câmara em alta Enquanto a Câmara Alta (que é o Senado) está em baixa, a Câmara Baixa (que é a Câmara Federal) está em alta. Basta ver duas decisões tomadas pelo presidente da Casa, dep. Michel Temer : uma, interpretando a abrangência das MPs, abriu a pauta de votação, que estava estrangulada. Nos três primeiros meses da gestão, foram votadas 27 matérias. A partir do entendimento dado por Michel, em 5 de maio, foram votadas, até quinta-feira passada, 87 matérias. Em quatro meses e meio de 2009, das 114 aprovadas sob a gestão Temer, apenas 17 foram MPs. Entre 7 de fevereiro e 17 de agosto de 2007, primeiro semestre de Arlindo Chinaglia na direção da Casa, foram aprovadas 119 projetos, mas 45 deles foram MPs. No primeiro semestre do ano passado, a situação não foi muito melhor : 128 matérias aprovadas, sendo 36 delas MPs. Cinco axiomas O Cardeal Mazarino, um dos pioneiros da matreirice e maquiavelismo na política, em seu Breviário dos Políticos, oferece alguns conselhos : 1. Age com todos os teus amigos como se eles devessem tornar-se teus inimigos. 2. Em uma comunidade de interesses, o perigo começa quando um dos membros tornar-se muito poderoso. 3. Quando te preocupares em obter alguma coisa, que ninguém se aperceba de tua aspiração antes de a realizares. 4. É preciso conhecer o mal para poder enfrentá-lo. 5. Não procures resolver com a guerra ou um processo aquilo que podes resolver pacificamente. Conselho a Sarney Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na edição passada, o espaço foi destinado ao governador José Serra. Hoje, volta sua atenção ao presidente do Senado, José Sarney : 1. Decida, logo, antes que seja tarde, realizar um amplo programa de reformas. 2. Faça como o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab : abra todas as listas de contas, pagamentos e salários. 3. Procure reduzir a massa funcional. É inimaginável que o Senado, com 81 senadores, trabalhe com 10 mil funcionários. ____________
quarta-feira, 3 de junho de 2009

Porandubas nº 192

Emancipação merecida Manoel Moreira da Silva, médico, sogro do especialista agrícola, Eliseu Andrade Alves, presidente da Embrapa, chefe político da UDN em Carrancas, Minas Gerais, lutou anos pela emancipação do distrito. O IBGE resistia, alegando que na sede não havia o número mínimo de casas exigido em lei. Em 48, o IBGE voltou lá e o Dr. Manoel Moreira resolveu o problema : mandou o agente do Censo contar como casas os galinheiros do distrito. O agente resistiu : - Puleiro não é casa. - Como não é ? Tem telhado ? Tem porta na frente ? Tem porta no fundo ? - Tem. - Então é casa. Não importa quem está embaixo. E Carrancas conquistou, galiceanamente, sua merecida emancipação. Quem conta a historinha é Sebastião Nery. Dilma é competitiva Faz tempo que esta coluna avisa : Dilma é competitiva. Ultrapassou, como previmos, a faixa dos 20% antes de julho. Seu teto, o teto histórico do PT, é de 35%. Isso não significa que não poderá ultrapassá-lo. Cada tempo, cada campanha e cada candidato têm os seus caminhos, mais estreitos ou mais largos, a depender das circunstâncias. No caso da Dilma, algumas observações podem ser feitas, já neste momento : tem condições de ganhar as eleições, caso equacione as condições de saúde; o empate com Serra no espaço da pesquisa espontânea mostra que já é muito conhecida do eleitorado; está usando muito bem o palanque pré-eleitoral, enquanto Serra está isolado no Palácio dos Bandeirantes; sua posição fixa mais em torno de si a base governista. Lula reina absoluto Com mais de 80% de aprovação pessoal, Lula reina absoluto. Pode se dar ao luxo de dizer o que quiser para quem quiser no momento que achar conveniente. Construiu pontes diretas com as massas. Come, agora, a sopa das classes médias. Lula lapida toda a pirâmide social com a argamassa de programas voltados para cada classe. No fundo, o que está em jogo é o conceito de confortabilidade. "Se as coisas estão indo bem, por que mudar ?" Esta é e será a questão de fundo que os eleitores farão mais adiante. Serra terá de arrumar uma resposta para este sentimento que permeia a alma social. Itamar como vice ? Pois é, Itamar Franco, que entrou no PPS, é cotado para ser o vice na chapa de José Serra. Quantos votos tem Itamar ? Quantos votos tem o PPS ? Qual é o tamanho da bancada do PPS ? Pois bem, essas respostas embasam a escolha de um vice. O PPS ficou pequeno. Não adicionará muito ao PSDB para efeito de espaço na programação eleitoral gratuita. Itamar, por seu lado, é uma figura respeitada, mas parece viver no século passado. Poderia, sim, agregar Minas Gerais, eis que se trata do segundo maior colégio eleitoral do país. Sob esse aspecto, tudo bem. Mas quem deve fazer melhor análise é o tucano Aécio Neves, governador das Minas Gerais. PT e PMDB O maior calcanhar-de-aquiles dos tempos pré-eleitorais será a aliança entre PT e PMDB. O PMDB quer ter o maior número possível de candidatos a governador. O PT, idem. O PMDB deseja que o PT ceda o lugar na cabeça de chapa em Estados importantes, como Minas Gerais. O PT não aceitará facilmente essa pressão. Vai tomar posição apenas em fevereiro/março do próximo ano. Ora, o PMDB é pragmático. Se perceber que o PT não recuará em sua vontade de competir com ele, tomará o bonde em direção a outras plagas. Quem tem mais a perder é o PT. O PMDB ganhará a queda de braço. Aécio cresce ? Com a subida de Dilma e descida de Serra (a diferença entre os dois diminuiu 12,5 pontos na pesquisa CNT/Sensus), Aécio Neves ganha. Ou seja, o governador paulista expressa a ideia de que não é tão poderoso como se imaginava. Aécio poderá trabalhar com esta hipótese para abrir caminhos. "Nossa época alimenta-se e vive da moralidade de épocas anteriores." (Nietzsche) Campos e Ciro Eduardo Campos, o bom governador de Pernambuco, gostaria de arrumar um caminho para o deputado Ciro Gomes, seu companheiro de partido. O governo de São Paulo, por exemplo. Nesse caso, Ciro deveria se alistar em São Paulo, no mês de setembro próximo, deixando a terrinha cearense, governada por seu irmão, Cid. Poderá alegar que volta ao berço onde nasceu : Pindamonhangaba, aliás, também cidade de Geraldo Alckmin. Teríamos, assim, dois "pindas" pedindo votos. Claro, se José Serra abrir espaço para Alckmin. Pois seu candidato in pectore continua sendo o eficiente secretário Aloysio Nunes Ferreira, que conhece como ninguém o traquejo político. O imponderável O imponderável nos cerca. A todo o momento. Em todo o lugar. Recém casados, cheios de sonhos, decidem passar a lua de mel em Paris. Um príncipe, 26 anos, depois de rever a família, faz a viagem de regresso. Uma cantora, cheia de esperança, retorna ao trabalho na Alemanha, feliz por ter recebido a benção dos pais. Todos desapareceram tragicamente. Uma pessoa deixou de embarcar por ter o passaporte vencido. Foi salva. Outra perdeu o horário do vôo. Salvou-se igualmente. Foi uma perda transformada em ganho. E assim são as retas e curvas da vida. Cada um com sua imponderabilidade à espreita. E as oposições, hein ? Qual é a proposta das oposições para o país ? Onde estão as grandes ideias ? O que deverá ser feito para melhorar as condições macroeconômicas ? Como fazer para desempacar o PAC ? Será que proposta só deve ser feita em tempos eleitorais ? Esse é o busílis que atrapalha a vida das oposições. "O menino é o pai do Homem." (Machado de Assis) GM estatal O capitalismo está de cabeça para baixo ? A GM, um dos maiores símbolos do capitalismo mundial, agora é estatal. 60% de seu capital pertencem ao Estado americano. Fechará 14 fábricas. Receberá US$ 30 bilhões. O mundo está de cabeça pra baixo. Renan reinando Renan Calheiros volta a reinar. E assim gira o mundo da política. O ex-poderoso presidente do Senado teve de renunciar ao comando da Câmara Alta para salvar o mandato. Agora, como líder do PMDB no Senado, recupera a antiga força. Manda na CPI da Petrobras. Faz e desfaz. Ouço, de longe, o cochicho de minha velha mãe : "meu filho, nunca diga - desta água não beberei". "Dios se há extraviado. Ahora todos le llaman a la vez desde todas partes." (Elias Canetti em El Suplicio de las Moscas) Despedidas ? Versões correm dando conta de que Carlos Minc, o ministro do Meio Ambiente, não tem mais ambiente para continuar no governo. Que Nelson Jobim também estaria se preparando para dar adeus ao cargo. E que os ministros candidatos em 2010 podem deixar o cargo antes do prazo legal. Uma contraversão é soprada: alguns repensam suas decisões à luz da popularidade de Lula, que está nas alturas. A força do presidente poderá segurar alguns na cadeira. Retrato volátil e mais uma pesquisa Dilma sobre a última pesquisa : "retrato volátil". E Serra : "mais uma pesquisa". Ambos estão corretos. A primeira procura esconder a satisfação diante do salto que dá a cada pesquisa. O segundo procura esconder a frustração de constatar a descida. Esse biombo os esconderá até às eleições. "Para ver uma coisa por completo, o homem precisa ter dois olhos, um do amor e outro do ódio." (Nietzsche em Sabedoria para Depois de Amanhã) 86% sem licitação Bilhões e bilhões sem licitação. Pois é : mais de 86% das compras da Petrobras não foram objeto de licitação. Tudo por conta de um decreto que veio lá de trás, dos tempos de Fernando Henrique. Hoje, esse decreto é um grande escudo que os oposicionistas querem destruir. O mundo gira e a Lusitana roda. Terceirizados pedem 4302 Os trabalhadores terceirizados, que integram o Sindeepres, comandado pelo sindicalista Genival Beserra, também querem a legalização do setor. Mais concretamente : defendem a aprovação do PL 4302/98. Genival está organizando uma caravana para ir à Câmara Federal, onde será recebido pelo deputado Michel Temer e pelas lideranças partidárias. Esse mesmo trajeto foi feito, semana passada, por empresários, sob a coordenação de José Maria Chapina Alcazar, presidente do Sescon/Aescon, e de Alencar Burti, presidente da Associação Comercial de São Paulo. "No permitas que nadie te prescriba el tono de la esperanza." (Elias Canetti) Conselho aos defensores de cotas raciais Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na edição passada, o espaço foi destinado ao governador José Serra. Hoje, volta sua atenção aos defensores de cotas raciais : 1. A cota racial tem ranço discriminatório. 2. As pesquisas mostram que os brasileiros não querem se ver divididos em cotas. O Brasil não quer ver aparecer como um país racista. 3. Em vez de cotas, por que não usar o critério social - a partir dos mais carentes ? Relações com a imprensa Novas dimensões, em suma, compõem a postura de relacionamento com a imprensa. Eis algumas delas : - evitar cooptação da imprensa à base de fisiologismo. A imprensa quer informações. O bom assessor sabe muito bem que está ultrapassada a ideia de considerar a imprensa como algo que pode ser tutelado; - evitar ênfase ao dirigente - tem sido comum enfatizar os perfis de dirigentes. A informação sobre o negócio, a empresa, o produto tem prevalência sobre a abordagem personalista; - evitar angulações que procurem expressar o conceito de empresa como ilha de felicidade, paz e progresso, cercada por maremotos e turbulências; - evitar comunicações inócuas - substituir o envio de informações inoportunas, desnecessárias e desinteressantes por informações socialmente significativas; - substituir a improvisação pelo profissionalismo; - trabalhar de modo mais profundo a identidade da organização; - reconhecer os problemas e as dificuldades vividas pela organização; - substituir o monólogo pelo diálogo; - criar eficiente articulação com as pontes da imprensa, amparada nos valores da amizade, do respeito, da confiança e, em certos casos, da exclusividade noticiosa. Evitar o ridículo As coisas ridículas são razoavelmente aferidas pelo bom senso. Nem sempre conseguem ser detectadas por algumas pessoas. É preciso estar atentos a elas. Leopardi, diz que "as pessoas são ridículas apenas quando querem parecer ou ser o que não são". Ridículo é o artificialismo na construção dos discursos; ridículos são os perfis que se desmancham com um exame mais apurado. Ridículas são pessoas que pretendem mostrar o que não têm, ser o que não são e dizer o que não sabem. Defender um ideário É preciso ter fé, defender firmemente uma crença. A pessoa amorfa, sem opinião, sem paixão, sem valores, sem princípios, assemelha-se a um vegetal. Como prega o mártir da causa dos negros norte-americanos, Martin Luther King, "se um homem não descobrir nada por que morreria, não está pronto para viver". A construção de um ideário não é uma tarefa artificial. O ideário é o somatório de lições de vida e de experiências, de alegrias e tristezas, de conhecimento acumulado e dos valores adquiridos ao longo da trajetória. Uma pessoa sem ideário é como uma lesma que se desconstrói com uma pequena pitada de sal. É de Blaise Pascal o pensamento: "Posso até conceber um homem sem mãos, sem pés, sem cabeça, pois é só a experiência que nos ensina que a cabeça é mais necessária do que os pés. Mas não posso conceber um homem sem pensamento. Seria uma pedra ou um bicho".____________
sexta-feira, 29 de maio de 2009

Porandubas nº 191

Armado de admiração Tenório Cavalcanti, udenista e adversário político de Vargas, foi ao Catete numa comissão de deputados. Andava nas manchetes dos jornais por causa de suas estripulias em Caxias, na base da "Lourdinha" (metralhadora) e da capa preta. Getúlio o cumprimentou, olhou bem para o volume do revólver embaixo do braço esquerdo, sob o paletó : - Deputado, o senhor está armado ? Tenório ficou vermelho, mas não perdeu o bote : - Sim, presidente, armado de admiração por V. Excelência. Silvio Torres urgente O Deputado Silvio Torres, boa praça do PSDB de São Paulo, tomou um susto : chegou em São Paulo por volta de 20h de ontem, quinta, e foi informado que sua assinatura constava da lista de "apoiamento" do deputado Jackson Barreto, do PMDB de Sergipe. O projeto muda a Constituição para inserir nela a ideia do terceiro mandato presidencial. Silvio e mais outros cinco tucanos se apressaram em mandar retirar as assinaturas. Caíram na lista de "apoiamentos por caridade". Delgado explica Este escriba ouviu a aflita explicação deste sincero deputado tucano, ontem à noite, durante o coquetel em homenagem ao novo presidente do CIEE, o amigo e eficiente advogado Ruy Altenfelder, sob o ouvido atento do ex-deputado Paulo Delgado, de Minas Gerais. Delgado era um dos mais qualificados parlamentares da Câmara e, hoje, presta serviços como consultor à FIESP e outras entidades. O simpático mineiro de Uberaba explica : "há pessoas simples, nos corredores da Câmara, coitadas, que fazem o trabalho de coleta de assinaturas. Conheço uma delas, que ganha dois reais por assinatura. E, depois da assinatura dos "apoiamentos", ela ainda nos abençoa em nome de Deus". Silvio Torres entrou nessa lista. Foi vacinado. Doravante, os parlamentares deverão olhar onde estão assinando. Cenários petroleiros A CPI da Petrobras terá apenas três senadores da oposição. Seria o caso de concluir, então, que tudo estará sob controle ? Depende. É evidente que os três senadores da oposição procurarão fazer o maior barulho. Nesse sentido, contarão com a diligência da mídia, que se fará presente todo tempo. Se houver obstrução das investidas oposicionistas, a mídia dará eco. Ou seja, a essa altura, algum prejuízo já pode ser contabilizado na planilha político-eleitoral. O Islã e o ocidente "Enquanto o Islã continuar sendo o Islã (como continuará) e o Ocidente continuar sendo o Ocidente (o que é mais duvidoso), esse conflito fundamental entre duas grandes civilizações e estilos de vida continuará a definir suas relações no futuro do mesmo modo como as definiu durante os últimos 14 séculos". (Samuel P. Huntington - O choque de civilizações) Uma bomba E se aparecer uma bomba, uma descoberta impactante, um caso escandaloso ? Bom, se isso ocorrer, pode-se apostar na espetacularização da CPI. O ambiente tumultuado deverá desandar o ritmo de atividades do próprio Senado. Será um deus-nos-acuda. Esse cenário poderá ser desastroso para a Petrobras e, consequentemente, para o governo. Velho e moço Pretendendo certo fidalgo, ilustre e rico, porém já velho, realizar segundas bodas com Santa Marcela, viúva, de pouca idade, alegava, em seu favor, que também os moços podem morrer logo. Respondeu a Santa com prontidão e modéstia : "o moço pode morrer logo, mas o velho não pode viver muito". É o que nos conta o sábio padre Manuel Bernardes. Reforma tende a desandar A reforma política acaba de subir ao telhado. O projeto de reforma, relatado pelo deputado Ibsen Pinheiro, e que é centrado na lista fechada e no financiamento público de campanha, não tem condições de ir a plenário. Haverá obstrução, caso haja tentativa. O presidente da Câmara, Michel Temer, quer encontrar uma saída, mas acha que as divergências são quase insuperáveis. Para esta Coluna, Temer dá o tom : "vamos fazer um enorme esforço para chegarmos ao mínimo de consenso. Mas as propostas são múltiplas. Lista fechada, voto distrital puro e misto, distritão, lista aberta como hoje, enfim, cada qual tem uma visão diferente. Mas farei o que for possível para avançar". Terceirização avança Pela primeira vez, um grupo de 60 dirigentes e empresários fez chegar à Casa do Povo, em Brasília, sua voz em defesa da Terceirização. Uma caravana, comandada pelo presidente do Sescon/Aescon, José Maria Chapina Alcazar, e com o reforço do amigo Alencar Burti, presidente da Associação Comercial de SP, entregou ao presidente da Câmara dos Deputados, Michel Temer, um documento com a solicitação da votação do projeto 4.302/98, que trata da matéria. O movimento, sob o patrocínio do Fórum Permanente em Defesa do Empreendedor, vai, agora, conversar com os líderes dos partidos. Influentes parlamentares começam a se engajar na campanha pela legalização dos serviços terceirizados no país, entre estes José Aníbal, líder do PSDB, Henrique Alves, líder do PMDB, Milton Monti, vice-líder do PR, Ronaldo Caiado, líder do DEM, Colbert Martins, relator do projeto na Comissão de Constituição e Justiça, entre outros. Dilma, Serra ou Aécio ? A Mega Brasil, grupo capitaneado pelo esforçado jornalista Eduardo Ribeiro, encerra, hoje, o 12º Congresso Brasileiro de Comunicação Corporativa. Este analista, mais uma vez, aceita o desafio imposto por Edu para discorrer sobre Comunicação, Empresas e o Brasil de 2010. A questão que me colocaram é : será um Brasil de Dilma, Serra ou Aécio ? Às 11h desta manhã de sexta, no Centro de Convenção Rebouças, vou tentar responder à provocação. Lula na Petrobras Pois bem, já sabemos para onde Lula pretende ir ao deixar a presidência da República. Seu destino é a Petrobras. Quer dirigir a empresa e já convocou Sérgio Gabrielli, o atual presidente, para assessorá-lo. Luiz Inácio sabe das coisas. Há um mundão de coisas que poderia fazer. Mas a Petrobras está mais perto do céu. Claro, isso poderia ocorrer se Dilma for eleita para seu lugar. Esta confissão, em tom de brincadeira, foi feita para o companheiro Hugo Chávez. Seria interessante Dilma, a presidente, dar ordens ao novo presidente da Petrobras. Ou será que o Palácio do Planalto não seria uma sucursal da petroleira ? Luiz, Luiz, não seria melhor o recolhimento na Catedral da Liturgia que abriga ex-Mandatários ? Vulgaridade "Os homens vulgares quereriam pedir a Circe as poções com que transformou em cerdos os companheiros de Ulisses, para receitá-las a todos os que possuem um ideal. Eles estão em todas as partes, sempre que se verifica um recrudescimento da mediocridade, entre púrpuras, como entre escórias, na avenida e no subúrbio, nos parlamentos e nos cárceres, nas universidades e nas manjedouras. Há certos momentos em que ousam denominar ideias a seus apetites, como se a urgência de satisfações imediatas pudesse ser confundida com a ânsia de perfeições infinitas. Os apetites se fartam; os ideais, nunca". O puxão de orelhas na vulgaridade é do mestre José Ingenieros, em seu belíssimo O Homem Medíocre. E o caminho das Índias, hein ? Marcos Losekann, repórter da TV Globo em Londres, confessou que viu a novela Caminho das Índias juntamente com um grupo de indianos. Os caras tiraram um tremendo sarro : não tinha nada daquilo, incluindo as vestes. Losekann disse essas verdades no programa de Ana Maria Braga. Ou seja, da Globo para a Globo, ou melhor, de um repórter da Globo para Glória Perez, novelista da mesma casa. Vai sobrar para o repórter ? Haverá réplica ? Afinal, a saia justa ficará restrita ao olho do Louro José ? Ave, César ! A fim de conquistar o poder, César ligava-se a gente de todas as classes, desde as mais altas às mais baixas. Tornou-se um homem fátuo e sensual. Divorciou-se de Pompeia, sua segunda esposa, porque "a mulher de César deve estar acima de qualquer suspeita", e ela não estava. No entanto, ele era infiel à esposa com mulheres de todas as classes, inclusive a mãe de Bruto. Como um veneno de ação lenta, a depravação da Roma pagã nublava a luminosa promessa que era o seu futuro. De César, colhemos o ditado : "faça o que digo, não faça o que faço". Cadê Skaf, hein ? Pergunta que, vez ou outra, me fazem : como vê o jogo político em 2010 no país ? Tento dizer algo. Emendam com uma segunda pergunta : e São Paulo, quem serão os contendores ? Tento adivinhar : Aloysio Nunes Ferreira, Geraldo Alckmin, José Aníbal, Marta Suplicy, Antônio Palocci, Emídio de Souza, Aloizio Mercadante e que tais. Entre os interlocutores, alguns são empresários. Curiosos, me jogam mais uma provocação : e Paulo Skaf tem alguma chance ? Pergunto : chance para quê ? Dizem : para o governo do Estado. Replico : perguntem para o outro Paulo, o da Força Sindical. As últimas notícias políticas sobre Skaf davam conta de que poderia vir a ser candidato do Paulinho da Força. Hélio de costas O presidente Luiz Inácio acaba de inserir mais um ator no palco de 2010. Sugeriu que seu ministro Hélio Costa poderia ser um bom nome para figurar na chapa de Dilma. Vejam, agora, as razões. Minas Gerais tem cerca de 14 milhões de eleitores, o segundo maior colégio eleitoral do país. Lula quer anular a vantagem do PSDB no Estado, ou seja, diminuir o potencial de Aécio Neves e, ao mesmo tempo, consolidar a aliança com o PMDB. Só que Hélio quer ser governador. E conta, hoje, com larga vantagem sobre os petistas, Patrus Ananias e Fernando Pimentel. Mais ainda : o PMDB mineiro tende mais a fechar aliança com Aécio, que apoiaria o ministro das Comunicações. Como se vê, Lula quer embaralhar as cartas. Dizem que Hélio ficará de costas para a intenção lulista. Vices do PMDB Hélio Costa junta-se a outros nomes já anunciados como prováveis vices : Michel Temer, presidente da Câmara e do partido; Sérgio Cabral, governador do Rio de Janeiro e Geddel Vieira Lima, ministro da Integração. Quércia contra Mercadante Orestes Quércia ganhará a vaga de candidato ao Senado por conta da aliança, em São Paulo, do PMDB com o PSDB. Desta vez, emplacará ? Outras possibilidades : Aloizio Mercadante, que já o tirou do páreo na eleição de 2002; José Aníbal, Romeu Tuma, Geraldo Alckmin (se não sair como candidato ao governo), Guilherme Afif. Terceiro mandato Pois é, o deputado Jackson Barreto (PMDB/SE) está apresentando a emenda do terceiro mandato. Colheu 180 assinaturas, entre as quais - pasmem - 20 do PSDB e do DEM. Horas depois de apresentada, no entanto, a PEC foi devolvida pela secretaria da Câmara para o seu autor, deputado Jackson Barreto. É que 5 tucanos e 8 dos 11 democratas que apoiaram inicialmente o texto retiraram as assinaturas. O deputado poderá buscar novos apoios. Mas, quem conhece os trâmites da Câmara, conclui : não haverá tempo para votar a proposta este ano. Vivos e mortos "Há neste mundo muitos vivos que já são mortos, e muitos velhos que ainda são meninos e muitos homens que não são homens, nem ainda criaturas". (Padre Manuel Bernardes) E o Minc, hein ? Esse ministro Carlos Minc começa a botar as mangas, aliás, a língua, de fora. Xingou os ruralistas de "vigaristas". O forte grupo do agronegócio quer ver o cão chupando manga, mas não a cara do ministro. Ronaldo Caiado, líder do DEM e ruralista, deu o troco. O ministro pediu desculpas. Vai ser difícil conviver com esse ministro, também conhecido como Minc Leão Dourado. Dilma no forró Para mostrar que está tudo tranquilo, Dilma Rousseff irá ao forró de Caruaru, neste fim de semana, a convite do governador Eduardo Campos. É o preço a ser pago pela popularidade. Janelinha salvadora O projeto de reforma política foi pro beleléu. Mas o deputado Eduardo Cunha (PMDB/RJ) espera que, até setembro, seja votado e aprovado seu projeto, que reduz a filiação partidária de um ano para seis meses para aqueles que vão concorrer às eleições. É bem provável que, chegando ao Plenário, seja aprovado. É mais um jeitinho para driblar as dificuldades. Zé Rodrix Deixou-nos uma das mais fulgurantes figuras do mundo cultural e artístico : Zé Rodrix. Tive a felicidade de privar de sua amizade. Conheci Zé por intermédio de meu primão, Zé Nêumanne. Nunca vi pessoa tão rápida no gatilho do pensamento. Culto, aberto, misterioso, sistêmico, polêmico, engraçado, gozador. Uma noitada de conversa com ele e Nêumanne era um festival cheio de encanto e graça, histórias e estórias, lembranças e causos, piadas e relatos saborosos. Pesquisador cuidadoso, minucioso. Apreciava o detalhe. Sua trilogia - três romances - sobre o universo exotérico da Maçonaria marcará sua passagem pela literatura. Zé gostava da cozinha. Provei de suas habilidades culinárias. Estará sempre no cantinho mais privado dos nossos corações. Espero que Julia, sua encantadora mulher, nos conte detalhes sobre o livro que Zé estava escrevendo sobre a figura de Tiradentes. Um mistério. Conselho ao governador José Serra Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na edição passada, o espaço foi destinado aos membros da CPI da Petrobras. Hoje, volta sua atenção ao governador José Serra : 1. Saia da toca. Passe a andar por algumas praças brasileiras. Para sentir a temperatura. Não espere pelo período de campanha. 2. Os empresários paulistas se queixam do arrocho tributário. E fazem comparação com os tempos mais amenos de Geraldo Alckmin. Seria interessante verificar onde e por que ocorrem esses lamentos. 3. Comece a falar de Brasil. Pense grande. Por onde e como o país deve caminhar ? O que falta ? O que está errado ? O que precisa ser corrigido ? ____________
quarta-feira, 20 de maio de 2009

Porandubas nº 190

Que espetáculo de comício 1986. Comício de encerramento da campanha de Freitas Neto (PFL) ao governo do Piauí. Os carros de som anunciavam, desde cedo, o grande comício de fechamento da campanha. Um espetáculo com o showmício da grande cantora Elba Ramalho. Na época, as carretas com imensos aparelhos de som saíram do Rio de Janeiro, dez dias antes da data. Mas as fortes chuvas na região atrapalharam o transporte. A lama nas estradas atrasou a chegada. O som chegou quase em cima da hora do comício na Praça do Marquês. Coordenador da campanha do candidato, cheguei ao local um pouco antes para ver o ambiente. O toró... Os técnicos se esforçavam para instalar os aparelhos e arrumar os grossos cabos. 18 horas. Um toró (como se diz no Nordeste) começa a cair. A chuva torrencial começou a fazer a grande festa. Praça lotada. Três mil piauienses pulavam entusiasmados sob a água que caia. As garrafas de cachaça corriam de mão a mão. De repente, um estrondo, seguido de outros. Fogo e fumaça nos cabos. Corre corre dos técnicos e o aviso : "Acabou o som. Não há condição." Não havia aquele tipo de cabo. Elba Ramalho foi logo atirando : - Está aqui meu contrato. Sem som, não canto. Conversa daqui, conversa dali, aflição por todos os lados. Depois de muita insistência, ela admite : - Cantarei uma música, só, e me arranjem um acompanhamento. Saiu não sei de onde um cara com um banjo. O povão gritava : - Elba, Elba, Elba, cadê a Elba ? Bate, bate, bate, coração... A cantora saiu de trás. A multidão explodiu. E lá vem a música : - Bate, bate, bate, coração! Nem bem terminava a estrofe, Elba parou. Presenciei, ali, uma das maiores aflições de minha vida, um esculacho na massa : - Seus imbecis, seus loucos, covardes, miseráveis. Como podem fazer uma coisa dessas ? O que era aquilo ? Por que aquele carão ? Olhei para o meio da multidão. E vi a cena : um sujeito abrindo a boca de um jumento, enquanto outro despejava nela uma garrafa de cachaça. Foi o toque que faltava para o anticlímax. Quanto mais Elba xingava a multidão, mais apupos, mais vaias. No dia seguinte, Teresina respirava um ar de gozação. O showmício de Freitas Neto foi um desastre. Senti o ar pesado. Pesquisas nos davam 3% de maioria sobre Alberto Silva, candidato do PMDB. Perdemos a campanha por 1%. O desastre virou o clima. Quando faço palestras sobre Marketing Político, costumam me perguntar : - Professor, qual é o fator imponderável em campanha eleitoral ? Na bucha, grito : - Um jumento bêbado no Piauí. A estética da pré-campanha A estética da pré-campanha abriu os primeiros sinais. No aeroporto de Brasília, a ministra Dilma Rousseff põe as mãos na cabeça num gesto que parecia segurar a peruca. Era a foto que os jornais começaram a perseguir desde que a candidata in pectore de Lula à presidência da República anunciou seu tratamento contra um câncer linfático. Doravante, essa foto continuará a estampar os espaços jornalísticos. Os limites entre vida privada e vida pública são extremamente tênues. Que, no caso da ministra, serão escancarados. Uma leve dor de cabeça Pois é, a ministra, agora, atravessará um gigantesco corredor polonês. Se tiver uma leve dor de cabeça, pulará para a primeira página dos jornais. Dor nas pernas ? Tome manchete. Dor nos ombros ? Tome espetáculo. Esse é o terrível e custoso preço por que passam as figuras públicas. Mas, com todo respeito pela ação midiática em direção ao furo jornalístico, a ministra Dilma merece também respeito. E solidariedade. Que implica contenção e propensão ao sensacionalismo. CPI da Petrobras A CPI da Petrobras acentuará a arenga entre governistas e oposicionistas. O governo terá ampla maioria na CPI. Os membros da oposição farão barulho, mas não a ponto de deflagrar mais uma crise. A razão ? A Petrobras é uma empresa que mora no coração dos brasileiros. Insinuação mais forte a respeito de interesses privativistas no entorno dessa mega empresa causará danos. A oposição, se quiser ir com muita sede ao pote, deixará de beber água. Ademais, ao que parece, o DEM não tem intenção de obstruir os caminhos do óleo. Aécio vai ou racha Aécio Neves nunca esteve tão entusiasmado com a possibilidade de vir a ser candidato à presidente da República como agora. A seu redor, circula um grupo de deputados e assessores, cujo mantra é ouvido das montanhas de Minas aos grotões do Nordeste : "quem sabe faz a hora, não espera acontecer". Neves faz as contas : perde na cúpula tucana, mas tem condições de ganhar nas bases. Com a doença da ministra Dilma, seus ouvidos passaram a ser incomodados com mais um refrão : "se acontecer aquilo, você é a moeda da vez". Essa zoada tem batido nos ouvidos deste escriba. Mais de 6 bi Luiz Inácio é bom de boca. Exibe um canto mavioso para as massas. Atravessa o meio social e fala para as margens. Passa por cima das críticas da mídia. Não dá a mínima pelota para os formadores de opinião. Construiu círculos de poder : Bolsa Família, laçando 46 milhões de brasileiros; um milhão de casas populares, que começarão a ser entregues em 2010; o PAC, que faz do país um canteiro de obras; diminuição do IPI para automóveis e motos; juros diminuem; o desemprego começa a ceder e os sinais da crise se tornam mais tênues; o agronegócio retoma seu fluxo; a agricultura familiar recebe um "adjutório". E, ainda por cima, o cara gastou mais de R$ 6 bilhões com propaganda. Isso mesmo : 6 bi. Escalar a montanha Essa é a montanha que o candidato oposicionista - seja José Serra ou outro - deverá escalar. Lula não conseguirá transferir votos. É o que se diz e o que se sabe. Não o fez por ocasião da campanha municipal. Vamos com calma com o andor. Toda campanha tem um clima, circunstâncias próprias. Ele poderá, até, não transferir votos, mas a situação de estabilidade e normalização no campo do trabalho poderá facilitar a vida de um candidato situacionista, seja Dilma ou outro. O candidato das oposições terá de passar por mil obstáculos. Um candidato da situação enfrentará menos obstáculos. E os índices ? E os índices de intenção de voto, não contam ? Não servem para nada ? Aqui, vai a resposta : índice de intenção de voto, a essa altura, é igual ao desenho do elefante visto nos céus. Dentro de pouco tempo, o que era elefante se esgarça e se transforma em gafanhoto; e o que era uma nesga de nuvem, parecendo um gafanhoto, se agiganta, mais parecendo o incrível Hulk. Durante uma exposição massiva, de 45 dias seguidos e intensos, qualquer desconhecido se transforma em astro, celebridade. As campanhas eleitorais fazem esse milagre. Tudo bem, e daí ? Daí, podem ser feitas as seguintes observações. A eleição de um candidato depende do momento, das circunstâncias, da temperatura social, dos versos e reversos da economia, do perfil dos adversários, dos debates e combates na arena eleitoral, dos climas regionais, da força da mídia eleitoral (significando tamanho dos programas eleitorais), dos inputs momentâneos (uma crise abrupta, um caso espetaculoso) - enfim, de uma escala de elementos ponderáveis e imponderáveis. Os fatores imprevisíveis abrem as possibilidades. Única verdade : peru não morre de véspera. Prós e contras Em uma comparação regulada pela régua do rigor - capacidade, experiência, história política, visão global - José Serra assume o topo do ranking. Mas conserva uma imagem exageradamente paulista. E, como sabemos, há um certo preconceito contra o peso de São Paulo no desenho federativo. Aécio Neves tem muitos atributos, mas estaria abaixo de Serra no ranking. Agrega, porém, em torno do seu perfil elementos que podem impressionar : jovialidade, modernidade, centralidade (Minas Gerais não desperta tanto ciúme ou desconfiança quanto São Paulo), espontaneidade. Contra ele, a percepção de que tem muito que aprender; não está ainda preparado para chegar ao topo. Já Dilma Rousseff reúne elementos como : capacidade gerencial, a condição feminina (diferencial a ser trabalhado), novidade, perfil bem assentado na estrutura de estabilidade social e econômica do país. Mas é vista como o eco da voz do presidente. Lula é poderoso, mas não é Deus. O vice Cabral Sérgio Cabral teria melhorado sua posição no ranking da aprovação pública. Por conta desse crescimento, sobe uma posição no ranking dos vices da candidata Dilma. Lula gostaria de escolher um vice do PMDB com voto. Como é amigo do governador do Rio, qualquer inferência nesse sentido tem muita lógica. Yeda Até quando irá o calvário de Yeda Crusius ? Diz-se que o PSDB, a essa altura, já a considera uma carta fora do baralho de 2010 no RS. PSB agitado O partido que vive o maior rebuliço após o anúncio da doença da ministra Dilma não é o PMDB, como se pensa, mas o PSB. Ciro Gomes corre pelo centro e pelas margens com o intuito de aumentar suas chances como candidato. O conselho para ele de muita gente é : amacie a língua, domine a pantera que habita sua garganta. Terceirização em foco O deputado Michel Temer, presidente da Câmara, solicitou ao deputado Sandro Mabel (PR/GO) que procurasse reunir as partes interessadas no projeto 4.302/98, que versa sobre a Terceirização de Serviços e atualiza o Trabalho Temporário, com o intuito de alcançar uma base de consenso. É ideia do presidente inserir o Projeto na agenda da Câmara nos próximos 30 dias. Custos são consequência "O problema é que as empresas buscam só redução de custo e acabam contratando as de preço mais baixo, sem qualidade. A Terceirização é importante quando otimiza a produção. A redução de custos deve ser uma consequência." (Jan Wiegerinck, presidente do Sindicato das Empresas de Prestação de Serviços a Terceiros, Colocação de Mão de Obra e de Trabalho Temporário no Estado de São Paulo - Sindeprestem), ao argumentar que aqueles que dizem que a responsabilidade solidária, prevista no projeto que regulariza a Terceirização, encarece a produção. Barreira ministerial Ocorre que, a esta altura, a Terceirização começa a ser disputada por candidatos a pai. O Ministério do Trabalho quer aparecer, também, como patrocinador do projeto. Por mais que se argumente sobre o 4.302/98, projeto pronto para ser aperfeiçoado e votado, o Ministério do Trabalho, por insistência do ministro Lupi, quer fazer valer a sua escrita. E, como se sabe, projeto novo entra em lista, devendo passar pelos trâmites congressuais. Haja tempo. Esse é o custo Brasil do atraso. Cadê o Eduardo ? Onde está o governador Eduardo Campos, governador de Pernambuco ? Desapareceu dos espaços midiáticos. Trata-se de um bom nome para figurar na chapa presidencial de 2010. Preparado, bem avaliado, bem articulado, símbolo de uma nova geração. PR quer Aécio O PR quer Aécio como seu candidato à presidente da República. Neves desconfia do PMDB. E abre mais uma janela. Que pode ser usada em setembro próximo. Chineses no Brasil Condição para que a China expanda seus investimentos no Brasil : mandar, junto, contingentes de chineses. Vai ser engraçado ver as Centrais Sindicais disputando para atrair os "chinas" para engordar seus cofres. Visão de Rigotto Germano Rigotto é um dos políticos brasileiros que moram no ranking da qualidade. Eis sua observação sobre a CPI da Petrobras : "No meu modo de ver, a CPI da Petrobras poderá trazer, para uma empresa de capital aberto, grandes prejuízos, inclusive para os que nela investiram através da compra de ações. A pergunta que se faz é que se, antes da CPI, não teríamos etapas a vencer que pudessem determinar punições aos responsáveis por qualquer irregularidade encontrada, sem prejudicar a empresa." Grande, Rigotto. FHC sem puro sangue FHC continua a apostar na chapa puro-sangue tucana : Serra, na cabeça; Aécio, vice. Mas o mineiro diz que isso é pura piada. E assim o tucano maior continua a ver navios no deserto. Aloysio na moita Aloysio Nunes Ferreira, o chefe da Casa Civil do governo Serra, continua fazendo política 24 horas. Seu gabinete é uma enchente de prefeitos. Articula, atende demandas, costura, remenda, providencia. Corre pelo interior. Ele sabe que a visibilidade de um candidato, em uma campanha, cria amplas possibilidades. Sabe que Geraldo Alckmin tem um bom recall - da última campanha presidencial - mas não se amedronta. Tem uma boa chance de ser o nome tucano ao governo de São Paulo. Conselho aos membros da CPI da Petrobras Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na edição passada, o espaço foi destinado ao ministro do Trabalho e Emprego, Carlos Lupi. Hoje, volta sua atenção aos membros da CPI da Petrobras : 1. É evidente que quaisquer desvios na empresa-símbolo do Brasil devem ser apurados e denunciados. 2. Mas o patrimônio da Petrobras - história, identidade, simbologia - deve ser preservado. Ou seja, as coisas devem ser conduzidas de acordo com critérios técnicos e rigor nas apurações, sem estardalhaços que possam vir a comprometer o bom conceito da empresa. 3. Se houver comprovação de ilicitudes e desvios, que os ir(responsáveis) paguem por eles. ____________
quarta-feira, 13 de maio de 2009

Porandubas nº 189

Raposice política Churchill fazia um discurso mordaz quando um aparteador, saltando do lugar para protestar, só conseguiu emitir sons abafados. Churchill observou : - Vossa Excelência não devia deixar crescer uma indignação maior do que a que pode suportar. - Em outra ocasião, estava sentado, sacudindo a cabeça de maneira tão vigorosa e perturbadora que o orador gritou, afinal,exasperado : - Quero lembrar ao nobre colega que estou apenas exprimindo minha própria opinião. Ao que Churchill respondeu : - E eu quero lembrar ao nobre orador que estou apenas abanando a minha própria cabeça. _____________ José Maria Alkmin, um dos maiores sábios mineiros, nunca perdia a tirada. O eleitor chegou aflito : - Doutor Alkmin, meu filho nasceu, eu estava desprevenido, não tenho dinheiro para pagar o hospital. A matreira raposa tascou : - Meu caro, se você que sabe há nove meses, estava desprevenido, calcule eu que soube agora. Primeira radiografia As primeiras radiografias eleitorais começam a ser tiradas. PMDB e PT usam, juntos, a máquina fotográfica, radiografando todos os Estados, identificando tendências atuais e futuras, apontando problemas e soluções. Diferentemente do que a mídia massiva tem mostrado, a moldura atual favorece a posição governista. Ou seja, nos 27 Estados da Federação, a aliança do PMDB com a candidata governista teria o apoio em cerca de 20. Tudo isso, porém, poderá mudar. E a mudança tem a ver com os nomes dos candidatos. As razões governistas O PMDB é um partido pragmático. Por isso mesmo, a tendência de fazer aliança com a candidata de Lula ganha disparado. As razões são óbvias : o partido está incrustado nas malhas da administração federal. Tem cinco Ministérios e muitos cargos nos Estados. Há dificuldades ? Sim. Por exemplo, o PMDB quer fazer parte do núcleo duro, ou seja, participar de forma ativa do cotidiano das decisões tomadas no Palácio do Planalto. Lula abriu sinal verde para isso. Mas esse sinal não abre facilmente. Tem sempre uma luzinha amarela piscando. Se o PMDB ganhasse o Ministério da Articulação Institucional, as coisas ficariam mais fáceis para fechamento de uma aliança. Mas... No meio de tudo, há sempre um porém. E o porém se chama Dilma Rousseff. Se ela conseguir romper todos os obstáculos - a partir da administração dos problemas pessoais - não apenas ganhará o apoio do PMDB, mas terá amplas condições - como esta Coluna já adiantou - de levar a melhor. Basta somar os aspectos positivos. Façamos este exercício. Cenário positivo Vejam só. 1) Lula construiu o gigantesco cobertor para abrigar as margens sociais. Trata-se do Bolsa Família, que atende, hoje, 46 milhões de brasileiros, principalmente os estratos carentes do Nordeste e Norte do país. 2) Lula chega aos contingentes médios - classe média baixa - com redução de IPI para a linha branca, significando geladeiras e fogões novinhos em folha para as cozinhas de milhões de brasileiros. 3) Lula abriu mais a confiança das classes médias - médias/médias - com a redução do IPI para automóveis, motos, etc. 4) Um milhão de casas populares começarão a ser entregues a partir dos meados de 2010. 5) As linhas de crédito se ampliam na área dos pequenos agricultores. 6) A crise torna-se um sinal enfraquecido na paisagem. 7) Setores fragilizados como o agronegócio começam a recuperar suas perdas. 8) O clima de confiança e estabilidade se espraia pela sociedade. E uma pergunta começará a circular no ar : Por que mudar se as coisas estão indo bem ? Cenário negativo As coisas acima descritas não chegam a bom termo. A crise se acirra. Os programas fenecem. As casas não aparecem, o PAC empaca, a linha branca ganha tintas vermelhas, o programa Bolsa Família se reduz, as enchentes no Nordeste durarão uma eternidade e ... os tucanos terão um programa de salvação para o Brasil. Nesse caso, a vitória tucana tem condições de entrar na planilha da viabilidade. Policêntrico "Em um mundo no qual o centro econômico está mudando de um único ponto geográfico para muitos, cada um deles com características altamente diferentes, e nos quais os recursos são pontualizados em várias economias, o comércio flui em todas as direções e a vantagem competitiva está mudando constantemente, as organizações policêntricas fazem cada vez mais sentido." (Harold L. Sirkin. James W. Hermeling e Arindam Brattacharya) Cadê o Plano ? Mas a pergunta não quer calar : cadê o Plano ? Quais as ideias para melhorar a situação do povo ? Qual a proposta para resgatar o poder de fogo da classe média ? O que se vê, no atual cenário, é muita briga e pouca ideia sensata. Conversações O PMDB tem uma boa articulação com os tucanos, mas a interlocução com o PT nunca esteve tão aberta e franca. Por parte do PT, um nome tem se destacado na tarefa de abrir caminhos e aparar arestas : Cândido Vaccarezza, o líder do PT na Câmara dos Deputados. Por parte do PMDB, além do presidente licenciado do partido, Michel Temer, que comanda a Câmara, outro nome se destaca : Henrique Alves, líder do PMDB na Câmara. "Nossa maior força é nossa humildade e ignorância. Afinal, não somos especialistas em tudo." (R. Gopalakrishnan, diretor da Tata Sons) Gripe suína O presidente Lula ensina : a gripe suína não é aquele monstro de sete cabeças que ameaçava engolir o mundo. A Organização Mundial da Saúde ensina : a gripe suína tem, sim, poder de contaminação maior do que outros tipos de gripe. Vale a pena acompanhar as leituras da mídia sobre a gripe. Sobre alarmes Eduardo Nascimento, líder do setor turístico e presidente da Associação Brasileira de Representantes de Empresas Marítimas, chama a atenção para este dado : a gripe comum mata, por ano, nos Estados Unidos, cerca de 30 mil pessoas. E as 3 mil pessoas que morrem, por ano, no Brasil, vítimas do enxofre de diesel ? Por que tanto alarido agora ? Maçã ou figo ? E a história de Adão e Eva ? Um erro de tradução, feito por São Jerônimo no século V é responsável pela crença de que eles foram expulsos do Jardim do Éden por comerem uma maçã. Na verdade, foi por comerem uma "fruta". É possível que a fruta fosse uma maçã, mas é mais provável que fosse um figo. Afinal, eles usaram folhas de figueira para esconder as partes íntimas. "Mineiro usa sapato de borracha para não dar esmola a cego, que assim não ouve os passos." (Anônimo) Yeda Crusius A cada semana, surgem mais denúncias sobre o Caixa 2 no Rio Grande do Sul. Entre 0 a 10, a situação da governadora Yeda Crusius está beirando o 8. Mais dois pontos, atinge a marca fatal com ameaça de afastamento. Há um mês, seu placar marcava 5. Do jeito que as coisas andam (ou desandam), Crusius não aguentará a cruz do calvário. Tucanos e a lista O líder dos tucanos na Câmara, deputado José Aníbal, vai reunir a bancada para avaliar a posição do PSDB sobre o voto em lista, um dos itens da reforma política. Zé Aníbal é simpático ao voto distrital. São Paulo, por exemplo, seria dividido em distritos, os quais, a partir de suas densidades eleitorais, comportariam um determinado número de candidatos. Ciro em São Paulo ? Só pode ser mesmo coisa sem pé nem cabeça. Nas últimas semanas, uma turma meio abilolada começou a trabalhar com a ideia de lançar Ciro Gomes candidato ao governo de São Paulo. Teria ele, claro, de deixar a terrinha cearense e fazer carreira por aqui. Tudo isso por conta da raiva que Ciro tem de José Serra. Esse paulista de Pindamonhangaba jamais faria essa besteira. E o eleitor paulista sabe que gente de pavio curto é de fácil combustão. Uma tremenda surra acabaria com a carreira do marido de Patrícia Pillar. Onde está Skaf ? Cadê Paulo Skaf ? Nunca mais se ouviu nada sobre a candidatura do presidente da FIESP ao governo de São Paulo. Este analista sugere ao pretendente (ou ex-pretendente) que não desista. Se tiver DNA político, vá em frente. Nem que seja para ganhar uns votinhos. A derrota de hoje poderá ser a vitória de amanhã. Na política, nem sempre a menor distância entre dois pontos é uma reta. Pode ser uma curva. Seria interessante ver Paulo Skaf navegando um barco numa tormenta pela primeira vez. Quércia e Serra Para subir a serra, ou melhor, para escalar a montanha que espera por José Serra, pré-candidato à presidência da República, em 2010, o presidente do PMDB paulista, Orestes Quércia, vestirá o figurino de candidato a senador. A disputa abriga duas vagas. Nomes, além de Quércia : Guilherme Afif, Aloizio Mercadante, José Aníbal, Romeu Tuma (está em dúvida ?). Jobim quer barulho Nelson Jobim quer barulho. O PMDB não tem nenhum diretor na Infraero. Não fez reivindicação nesse sentido. Mas Nelson Jobim, o ministro da Defesa, começa a abrir a boca. Nos bastidores, diz-se que o gaúcho está querendo um motivo para se afastar do governo. Jobim é um dos mais chegados amigos de José Serra. Arruma pretexto para ficar longe de Lula. A conferir. Emídio, o candidato ? Emídio de Souza, o prefeito petista de Osasco, começa a ganhar corpo. Sua candidatura ao governo de São Paulo, em 2010, ganha adeptos. Antônio Palocci, porém, tem maior alcance. Dilma reclusa Nos últimos dias, a ministra Dilma Rousseff tornou-se reclusa. Sua visibilidade caiu bastante na mídia. Deixa de aceitar convites importantes. Faz bem. A saúde, em primeiro lugar. O resto é o resto. Lula destemido Lula continua exibindo autoconfiança. Saiu do carro para conversar com um grupo de manifestantes sem teto em Brasília. Poderia ter sido vaiado. Saiu aplaudido. Este escriba tem sido um crítico contundente do discurso populista de Lula. Mas reconhece : o cara respira política todo o tempo. Lei de imprensa A lei de imprensa foi morta pela foice afiada do Supremo Tribunal Federal. Mas algo precisa ser feito para regulamentar o direito de resposta de quem se sentir prejudicado pela mídia. Que, agora, fica ao alcance de qualquer interpretação - alimentada por visões precárias, simplistas, emotivas, subjetivas - de juízes de primeira instância. RS pede socorro O Rio Grande do Sul vive situação de emergência. São 192 os municípios atingidos pela estiagem. O laborioso deputado Afonso Hamm, presidente da Comissão de Turismo e Desporto, da Câmara dos Deputados, integra um grupo que procura aliviar o caos que afeta a população, o comércio e o agronegócio. Diz ele que Erechim é um exemplo. O município já adotou o racionamento de água, com o propósito de diminuir em 30% o consumo. "Precisamos de atendimento mais rápido das reivindicações", conclama Hamm. Enchentes no Nordeste A natureza dá uma no cravo, outra na ferradura. Parte do Nordeste está nadando nas enchentes. Piauí e Maranhão vivem em estado de calamidade. O planeta parece desequilibrado. Esse fenômeno Nina - esfriamento das águas do Pacífico e esquentamento das águas do Atlântico - nas costas do nosso continente, a cada ano, ganha mais volume. E assim descaminha a humanidade... ! Matreirice mineira O mineiro comprou um pedaço de terra no cerrado, um cascalhão duro, seco, terrível. Passou 20 anos arando, irrigando, plantando. Um dia, estava tudo lindo, o capim alto, verde, o feijão viçoso, uma beleza, o mineiro chamou o padre para rezar uma missa em ação de graças.O padre fez o sermão : -Vejam, meus irmãos, o que Deus e o Homem podem fazer juntos. Lá de trás o mineiro deu uma baforada no cigarro de palha : -Senhor padre, o senhor precisava era ter visto isso aqui quando Deus estava sozinho. Conselho ao ministro Carlos Lupi Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na edição passada, o espaço foi destinado aos congressistas. Hoje, volta sua atenção ao ministro do Trabalho e Emprego, Carlos Lupi : 1. A discussão sobre terceirização extravasou os limites do bom senso. Urge chegar a bom termo. 2. Bom termo implica a adoção de uma legislação sólida e capaz de atender aos interesses nacionais. 3. O melhor projeto sobre terceirização que tramita na Câmara Federal é o 4.302/98. Por que o debate não começa com ele ? Onde está a CNI ? Onde estão as Centrais Sindicais ? Por que tanta acomodação ? ____________
quarta-feira, 6 de maio de 2009

Porandubas nº 188

Cuidado com os ladrões... Cabralzinho, líder estudantil em Campina Grande, foi passear em Sobral, no Ceará. Chegou em dia de comício. No palanque, longos cabelos brancos ao vento, o deputado Crisanto Moreira da Rocha, competente orador da província : - Ladrões ! A praça, apinhada de gente, levou o maior susto. - Ladrões ! Ladrões, porque vocês roubaram meu coração ! Cabralzinho voltou para Campina Grande, candidatou-se a vereador. No primeiro comício, lembrou-se de Sobral e do golpe de oratório do deputado, fechou a cara, olhou para os ouvintes com ar furioso : - Ladrões ! Ninguém se mexeu. Cabralzinho sabia que política em Campina Grande era briga de foice no escuro. Queria o impacto total. - Cambada de ladrões ! Foi uma loucura. A multidão avançou sobre o palanque. Pedra, pau, sapatos. O rosto sangrando, acuado, Cabralzinho implorava : - Espera que eu explico ! Espera que eu explico ! Explicou. Ao médico, no hospital. A historinha é narrada pelo insuperável  Sebastião Nery. Revelação Lina Vieira, a bonita e competente Secretária da Receita Federal, é um dos melhores quadros do governo Lula. Técnica, afável, ágil, suprapartidária. Trata-se de um perfil que encarna uma nova geração de administradores. Que vê o país como a Pátria de Todos. Não deve avançar mais que o tamanho do passo. Não deve permanecer no passo do passado. Caminhar de acordo com as condições das estradas. Sem percalços. Ouvindo os caminhantes do caminho. Eis aí uma boa forma de avaliar o país. Gripe suína, fome bovina A gripe suína não tem sido capaz de atenuar a fome bovina. Estamos falando, claro, da fome insistente e persistente que assola os estômagos políticos. Não há gripe que atrapalhe a vontade da política em abrir espaços e conquistar territórios. Vamos aos movimentos perceptíveis : o PT ensaia as primeiras rusgas por conta da disputa entre alas e atores. O caso mais visível é o do Rio Grande do Sul, onde Tasso Genro se articula para sair como candidato petista ao governo. Encontrará resistências. O próprio presidente do partido, Ricardo Berzoini, parece inclinado a amparar os adversários do ministro da Justiça. O PMDB aguça os sentimentos e começa a ouvir as orquestras da situação, onde está por ora abrigado, e da oposição, onde poderá assentar praça. PMDB : para onde ir ? O maior partido brasileiro poderá permanecer na base governista que se reunirá em torno da candidata Dilma Rousseff. Condições : 1ª) a ministra deve apresentar condições pessoais e políticas para se viabilizar eleitoralmente; 2ª) o partido precisa integrar o núcleo duro do governo, ou seja, ter voz ativa na cúpula governista, com assento no Palácio do Planalto; 3ª) o partido tem direito ao espaço de vice na chapa presidencial; 4º) os espaços partidários na administração federal devem ser preservados e, mais adiante, até expandidos. Sob estas condições, o PMDB se motivará a permanecer no entorno de Lula. Mesmo assim, vale dizer, não se espere fechamento pleno de posição. Em alguns Estados, a partir de São Paulo, o partido caminhará com a oposição. "Os velhos amigos são os melhores. O rei Jonas costumava pedir os seus velhos sapatos, porque eram mais folgados para os seus pés." (John Selden, jurista inglês) DEM : como permanecer ? O DEM, por sua vez, ensaia os primeiros movimentos na direção do adensamento partidário. Recordando : este partido, até bem pouco, era considerado uma espécie de linha secundária do PSDB. Hoje, é visto com respeito e força. Quem está por trás dessa estratégia é o habilíssimo prefeito Gilberto Kassab, um dos mais competentes políticos da nova geração. Kassab costura apoios à direita e à esquerda, sem esquecer de olhar adiante. Põe muita vitamina na estratégia de fortalecimento do partido com vistas a um eficaz desempenho em 2010. O DEM começa a mostrar mais independência. Não quer ser considerado apêndice, meia sola. Dessa forma, os Democratas começam a desenhar letras maiúsculas no abecedário da política. PSDB sem rumos Quem parece sem rumos é o PSDB. A maior liderança do partido é José Serra. Confinado no Palácio dos Bandeirantes, não tem olhos e ouvidos para a realidade. Reúne autoridades internacionais, faz recepção festiva a autoridades internacionais, como a premiação ao ex-presidente James Carter, um ícone dos Direitos Humanos. Mas os nossos grandes eleitores - lideranças de partidos, prefeitos de metrópoles, governadores de Estado, líderes de categorias profissionais, enfim, gente com cheiro das ruas - não são muito de frequentar a monumental construção palaciana naquele morro do Morumbi. Tucanos partidos Ademais, os tucanos se apresentam com os bicos partidos. José Aníbal não tem voz para comandar toda a bancada na Câmara. Geraldo Alckmin é secretário do governo Serra, mas faz parte de uma floresta afastada da mata serrista. Como se sabe, o candidato in pectore de José Serra é Aloysio Nunes Ferreira, chefe da Casa Civil. Que não exibe perfil para o Executivo. O presidente do tucanato é pernambucano. Uma banda vigorosa está sob as asas de Aécio Neves. Que lutará denodadamente para sair como candidato tucano à presidência. Quanto ao maior tucano, FHC, bom, este vive de glórias e homenagens. Tem voz, sim. Mas o ex-presidente não tem mais apetite para guerrear. PTB e o terceiro mandato E para onde vai o PTB ? Para onde o PT decidir. Roberto Jefferson, presidente do partido, abre mais uma frente de polêmica, ao defender um terceiro mandato para Lula, caso Dilma Rousseff tenha problemas mais adiante. O senador Fernando Collor, que é o PTB (quem sabia ?), igualmente defende esta ideia. Imaginem só. Collor e Lula eram azeite e água. Não se misturavam. Collor ganhou a campanha depois de muita matreirice midiática. Hoje, é cabo eleitoral de Luiz Inácio Lula da Silva. "Dona Chiquita, minha velha mãe, quase 93 anos, lúcida e falante, sempre me lembra: 'meu filho, meu filho, nunca diga - desta água não beberei'. Quanta sabedoria!" O PTB paulista E em São Paulo, com quem ficará o PTB ? Com quem Campos Machado quiser. Por enquanto, a definição é : Geraldo Alckmin, candidato ao governo de São Paulo, sem a simpatia de José Serra. PMDB no RN O PMDB está dividido até no seio das famílias. No Rio Grande do Norte, o deputado federal Henrique Alves tende a fechar aliança com o candidato da governadora Vilma Faria, em 2010. Já o senador Garibaldi Alves quer formar aliança com a candidata do senador do DEM, José Agripino, a senadora Rosalba Ciarlini. A equação se ampara na pragmática da política. Há duas vagas para o Senado e três candidatos : Garibaldi, Zé Agripino e Vilma. Um sobrará. As alianças a serem feitas terão como pano de fundo a equação do Senado. "Se a dor de cabeça nos chegasse antes da embriaguez, guardar-nos-íamos de beber demais." (Michel de Montaigne) Dilma, primeiro cenário Dilma Rousseff administra de maneira positiva sua doença. Faz todos os exames e se submete ao rígido tratamento. Em princípios de 2010, se apresenta firme e resoluta no painel das candidaturas. Não apresenta nenhum traço estético como sequela da doença. Passou no teste. Será uma grande candidata. Com possibilidades de subir ao pódio. Dilma, segundo cenário Dilma Rousseff chega ao princípio de 2010 exibindo marcas da doença e  dando continuidade ao tratamento. A fogueira política está alta. Vais e vens e vens e vais. Lula faz uma bateria de consultas. Decide ouvir a própria candidata. Que deixa o presidente livre para tomar a decisão que julgar mais adequada. Lula decide que a candidata será ela mesma.  Fragilizada, a mãe do PAC comove a Nação e ganha um abraço geral de solidariedade. Tem condição de levar a melhor ? Poucas chances ela terá. O eleitor sabe distinguir entre solidariedade humana e racionalidade eleitoral - o voto é um escudo para proteção ao futuro. Dilma, terceiro cenário Dilma Rousseff, abalada com o tratamento, toma a decisão de deixar a arena política. Desiste de sua candidatura mesmo sob o apelo de Lula. Cuidará da saúde. Os governistas partem para a luta. Cada ala quer lançar um candidato. O PMDB racha, mas a maior parte vai para a oposição. Outros partidos são tentados a fazer o mesmo. José Serra, nesse cenário, fará uma campanha triunfante. Déficit orçamentário e roubalheira Durante a campanha para a prefeitura de São Paulo, em 1985, Jânio Quadros contou com o apoio do deputado e ex-ministro Delfim Netto. Durante um comício para moradores de um bairro de periferia, Delfim terminou sua fala dizendo : "A grande causa do processo inflacionário é o déficit orçamentário!" Logo depois, Jânio chamou Delfim de lado e disse : "Delfim, olhe para a cara daquele sujeito ali. O que você acha que ele entendeu do seu discurso ? Ele não sabe o que é processo. Não sabe o que é inflacionário. Não sabe o que é déficit. E não tem a menor ideia do que é orçamentário. Da próxima vez, diga assim : - A causa da carestia é a roubalheira do governo !". O deputado Protógenes Anotem aí : o delegado Protógenes será candidato a deputado em 2010. Provavelmente pelo PDT, numa chapa comandada por Paulinho da Força. Será apresentado como a "força moral". Que combateu a frente do Mal. Tarefa difícil será gravar seu nome. Por via das dúvidas, Paulinho lhe dará um número bastante popular. Como 12 é o número do PDT, uma ideia : acrescentar ao 12 o número de operações comandadas ou com a participação do delegado. Não é gozação : esperem ! O marketing protogênico deverá seguir essa trilha. Cruise Day A Associação Brasileira de Representantes de Empresas Marítimas patrocinará nesta sexta-feira o maior evento do setor, o Cruise Day, que se destina a apresentar as novidades para a próxima temporada. Agentes de viagem de todo o Brasil estarão participando do evento que, no passado, reuniu 1,8 mil pessoas. Em paralelo, será realizado o II Fórum Abremar, voltado para o debate de questões institucionais, como o conceito de cruzeiros de longo curso, tributos, legislação trabalhista nos cruzeiros e impactos econômicos nos destinos. Alavancagem turística O turismo brasileiro ampliou suas possibilidades com os cruzeiros. O Brasil passou a ter endereço mais legível na agenda dos cruzeiristas internacionais. E as cidades-destino por onde passam os navios viram a alavancagem de suas economias em cerca  de 40%. Por isso, os cruzeiros entraram na agenda governamental. Autoridades dos Ministérios da Justiça, Trabalho, da Anac, Anvisa, Fazenda e Secretaria dos Portos se farão presentes no II Fórum Abremar. Já o presidente da Comissão de Turismo da Câmara, deputado Afonso Hamm, achou conveniente não aparecer. A assessoria do parlamentar deve ter lá suas razões para desaconselhar sua presença num dos maiores eventos turísticos do país. Tomar um cafezinho em Passo Fundo ganha mais votos que ouvir lorotas nas metrópoles. Esse entendimento, infelizmente,  ainda dá o tom da humanidade. Que o "Deus do Bom Senso" abençoe o boa-praça Afonso Hamm. Narigudos "Nariz, nariz e nariz,Nariz, que nunca se acaba;Nariz, que se ele desaba,Fará o mundo infeliz;Nariz, que Newton não quisDescrever-lhe a diagonal;Nariz de massa infernal,Que, se o cálculo não erra,Posto entre o Sol e a Terra,Faria eclipse total!" (Bocage) Múcio firme ou capengando ? José Múcio, ministro das Relações Institucionais, mostrou interesse em habitar o Olimpo do Tribunal de Contas da União. Foi o sinal para uma grande disputa em torno de seu cargo. O PT quer colocar em seu lugar o deputado Arlindo Chinaglia. Uma ala do PMDB - a do Senado - gostaria de indicar um nome. Mas o PMDB da Câmara defende a continuidade de Múcio. O ministro-boa praça - dizem - está muito firme. Mas se o olhar continuar a enxergar o TCU, não há base que o sustente. Suplicy é candidato ? O senador Eduardo Suplicy deu uma sumida. Desapareceu da mídia. Nunca mais ensaiou Bob Dylan no plenário do Senado. Talvez tenha sido alertado que, no meio da fogueira das denúncias, a melhor coisa é se esconder na moita. Mas, falante como é, não resistiu e pôs a boca no mundo : quer ser candidato ao governo de São Paulo. Uma boa ideia. Até porque o PT não tem grandes nomes. O melhor candidato ao cargo, o deputado Antonio Palocci, ainda espera pelo vestibular do STF. Suplicy, enquanto não se inviabiliza ou não for inviabilizado, desempenhará o papel de boi de piranha. Obama e Lula Dizem que Lula está fascinado por Barack Obama. Que cita dez vezes por dia o nome do presidente norte-americano. E que teria autorizado a produção de um blog na Internet, à maneira de Obama, para se comunicar com o povo. Com direito a muita gíria e imagens futebolísticas. "Penso, logo existo." (René Descartes) "Umas vezes, penso; outras, existo." (Paul Valéry) Conselho aos congressistas Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na edição passada, o espaço foi destinado aos parlamentares. Hoje, volta sua atenção aos congressistas : 1. Está na hora de o Congresso reentrar na agenda dos grandes debates nacionais. 2. A sociedade clama por um sistema tributário mais justo e menos oneroso; e por um sistema eleitoral mais próximo ao dia a dia dos eleitores. 3. Se os temas candentes da realidade nacional não entrarem na agenda deste ano, será quase impossível inseri-los na pauta do ano eleitoral de 2010. O tempo urge. Mãos à obra. ____________
quarta-feira, 29 de abril de 2009

Porandubas nº 187

Uma espada e ramos de café Quem vai ao Palácio dos Bandeirantes, encontra no Salão Nobre, cravado em madeira, o brasão do Estado : uma espada longa cercada por dois modestos ramos de café. Emoldurado pelo dístico : - Pro-Brasilia fiant eximia. (Façam-se as melhores coisas pelo Brasil). Que a maior parte dos leitores costuma assim traduzir : - Fazendo exame para Brasília. I Perguntou uma pessoa a Aristóteles por que razão as coisas formosas se amavam ? Respondeu : - Essa pergunta é de cego. II Jactando-se um comerciante, em Atenas, de que, por representar um papel, haviam lhe dado um talento, respondeu Dêmades, orador muito eloquente : - Parece-te muito receber um talento para falar ? Pois el-rei me deu dez para ficar calado. Tinha o rei medo deste grande orador, um sabedor de suas torpezas. Historinhas contadas pelo grande padre Manuel Bernardes. Dilma, a revelação Ao revelar que tinha um câncer e dar detalhes da pequena intervenção cirúrgica que extirpou um pequeno tumor sob a axila, a ministra Dilma Rousseff confere uma tintura de humanidade ao perfil Olimpiano. Na cultura de massas, o Olimpo é frequentado por "deuses" e "deusas", governantes, reis, príncipes, atores, atrizes, personalidades dos universos da política e do entretenimento. Para o homem comum, os Olimpianos são intocáveis, inquebrantáveis, insuperáveis. Uma doença os faz aproximar do cotidiano das pessoas. Os mortais têm dificuldade de imaginar uma princesa, um rei, um sultão todo poderoso no banheiro, por exemplo. A humanidade solidária Ao descer ao patamar das ruas e dos mortais, a ministra Dilma certamente abrirá uma gigantesca corrente de solidariedade. As pessoas se identificam com seus semelhantes na dor e no sofrimento. Quem já sofreu problema semelhante se comove. Pode chegar às lágrimas. Nesse momento, emerge a consciência de que todos são iguais no plano da humanidade. A solidariedade, por sua vez, dispara valores como proximidade, intimidade, conhecimento, amizade. As pessoas veem naquela personagem que sofre a extensão de suas fraquezas. O elo de sua humanidade. E o que isso tem a ver com voto ? Voto é outra coisa Pensar, porém, que a solidariedade, a comoção humana, a identificação na dor podem induzir o eleitor ao voto é tirar conclusões erradas. O eleitor brasileiro ainda conserva na imagem as figuras que partiram, deixando-as traumatizadas. Tancredo Neves, por exemplo. Temem que o voto em uma pessoa doente possa ter um efeito negativo para o futuro. Esta escolha será adequada para melhorar minha vida ? Portanto, é muito precipitado inferir que o problema vivido pela ministra Dilma pode aumentar suas chances de votos. Cada coisa em seu tempo Não significa dizer, ainda, que Dilma Rousseff será prejudicada. Há muito tempo pela frente. E, a se confirmarem, as chances de cura desse tipo de câncer - 90% - ela poderá chegar às margens eleitorais perfeitamente sadia e faceira. Pronta a receber os votos para uma candidata com plena saúde. Cada coisa no seu tempo e no seu devido lugar. Na política, a unida regra que se pode anotar é esta : não há regras absolutas. Tudo é relativo. O açodamento partidário É claro, porém, que os partidos políticos têm interesse em esquentar a polêmica. Na verdade, querem pegar carona na doença da ministra para avançar suas posições. De um lado, pensam em arrumar candidatos de seus quadros para integrarem um Plano B, de outro, tentam barganhar posições e alcançar nem que seja a posição de vice na chapa. "O homem é. A sombra parece. O homem coloca a sua honra no próprio mérito, e é o supremo de si mesmo; ascende à dignidade. A sombra põe o seu na estima alheia, e renuncia a julgar-se: descende à vaidade." (José Ingenieros) Lula mais atento A doença da ministra Dilma exigirá do presidente Lula um olhar mais atento aos movimentos interpartidários, da base governista e da oposição. Ele identificou certo nervosismo no PT. Não arredará pé. Mas se as curvas do caminho impossibilitarem a chegada de sua candidata ao pódio, não terá dúvida em se valer do nome com maior viabilidade, não necessariamente do PT. Poderá haver rebeldia. Mas Luiz Inácio conta com seu cacife para manobrar as curvas. Indiozinho "Hoje me chamam de ministroE eu decido sob respeitável toga.Meu coração, porém, não mudou nada.Continuo um romântico indiozinhoA remar sua piroga.E a cismar por entre as árvores, à noitinha,Vendo em cada pirilampo e em cada estrelaOs faiscantes olhos da namoradinha." (Ministro Carlos Ayres Britto, do STF, em sua obra, Ópera do Silêncio). Gripe replicante Os vírus da gripe - humana, aviária - marcaram um encontro no focinho do porco. E a estampa que se extrai dessa esquisita estética é a chegada de pessoas portando máscaras nos aeroportos do mundo. A tecnologia na área das ciências médicas corre de maneira geométrica. A cada 10 anos, o ser humano ganha mais uns 2 de lambuja. Resultado das pesquisas. Mas a parafernália tecnológica não conseguiu dominar essa gripe replicante. É assim a humanidade. Plena de avanços e atrasos. Cabral quer isso e aquilo Sérgio Cabral quer mesmo é ser candidato à reeleição em 2010. Mas o governador do Rio de Janeiro teme um insucesso. Hoje, não tem uma boa avaliação, oscilando entre 25% e 30% de aprovação. Por isso, acena com a possibilidade de vir a ser o vice na chapa de Dilma. Cabral quer isso - mas não fecha questão. Tudo vai depender do início de 2010. "À noite, entre um beijo e um bocejo,o marido e a mulher abrem um para o outroa bolsa das confidências." (Machado de Assis) Os dois olhos de Aécio Aécio Neves tem um olho no Pólo Sul, outro no Pólo Norte. Avalia as chances de ser candidato tucano à presidência da República. Hoje, essas chances são de 3 em 10. Avalia as chances de ser candidato à presidência da República por um outro partido. As chances seriam, hoje, de 7 entre 10. Avalia a chance de ser candidato a vice de José Serra. Hoje, essa chance seria de 2 em 10. Avalia a chance de ser candidato a senador pelo PSDB de Minas Gerais. Hoje, essa chance seria de 8 em 10. Avalia a chance de se eleger presidente da República. Hoje, essa chance seria de 9 em 10. Mas há uma condição quase insuperável : ser o candidato do PMDB, apoiado por Lula. Insuperável ? Quase. Nada é insuperável na política. As chances de Serra Hoje, as chances de José Serra se eleger presidente da República são de 9 em 10. Em outubro deste ano, 8 em 10. Em fevereiro de 2010, 7 em 10. Em julho de 2010, 5 em 10, ou seja, 50%. Em outubro de 2010, ah, ah, ah.... vocês estão subestimando este analista ? Três pedrinhas do jogo de adivinhação : que cor terá a crise ? Qual o tamanho do voto transferido por Lula ? Quem será o(a) candidato(a) situacionista, Dilma ou outro ? 77 jogadores do Ceará Você, caro leitor, eu e milhões de brasileiros demos alguns centavos para que 77 jogadores cearenses viajassem de avião pelo país. Não sei quantas partidas os jogadores do Ceará Sporting Club jogaram - se jogaram - quantas perderam ou quantas ganharam. O deputado Eugênio Rabelo deu as passagens. Pode alegar que não sabia se era proibido. Imaginem, agora, outros desvios cometidos na administração pública. Há quem calcule que essa montanha de dinheiro que corre pelo ralo ultrapassa a casa de um trilhão de reais. Quem sabe, quem sabe ? O califa mendigo Diz a lenda que Harum al-Rachid, califa de Bagdá, disfarçava-se de mendigo para descobrir o que seus súditos pensavam. Cercado pelos bajuladores que se juntam à volta do poder absoluto, só poderia perceber a verdade das coisas por caminhos tortuosos. Harum foi o califa que teria condenado à morte Sherazade e que, encantado com as histórias que ela lhe contou por mil e uma noites seguidas, retardou a execução e acabou se casando com ela. EUA : cinco questões Na campanha entre Bill Clinton e Bob Dole, em 1996, cinco questões básicas relacionadas a valores permitiam prever se alguém votaria num ou noutro. Os que deram respostas predominantemente conservadoras votaram em Dole. Aqueles cujas respostas relevaram que estavam menos comprometidos com os valores tradicionais votaram em Clinton. As perguntas eram as seguintes : "1. Acredita que sexo antes do casamento seja moralmente errado ? 2. A religião é importante na sua vida ? 3. Já se interessou por ver pornografia ? 4. Tem opinião mais desfavorável sobre alguém que engana o cônjuge ? 5. O homossexualismo é imoral ?" (Dick Morris em Jogos de Poder) O cheiro das ruas O cheiro das ruas é a vitamina da representação política. O deputado Silvio Costa (PMN), de Pernambuco, era defensor incondicional do uso de passagens por familiares dos deputados. Foi às ruas. Voltou ao Parlamento com outra visão. Apóia a medida moralizadora do presidente da Casa, Michel Temer. Mas o cheiro das ruas nem sempre bate no olfato. Impacta as mentes. O ministro Joaquim Barbosa, que criticou o presidente do STF, por não ir às ruas, foi ao Rio de Janeiro, em plena sexta-feira de trabalho. Foi às ruas colher os louros da popularidade. Cheiro afrodisíaco. Odor populista. Que impregna de fedor a toga dos juízes. E a Marta, hein ? Por onde anda Marta Suplicy ? Preparando-se para coordenar a campanha de Dilma Rousseff em São Paulo ? Querem um conselho ? Atenção, oportunistas gerais : esqueçam a doença da ministra. Mexer com isso será um bumerangue. Calem o bico. Arrumem outra lenha para acender a fogueira. Lula e a transferência Influência de Lula no processo eleitoral : Sul, índice 2 em 10; Sudeste, 3 em 10; Nordeste, 7 em 10; Norte, 7 em 10; Centro-Oeste, 6 em 10. Mais um ponto para lá ou para cá. O tempo, porém, será o senhor da razão. Epílogo "Um homem se propõe a tarefa de desenhar o mundo. Ao longo dos anos, povoa um espaço com imagens de províncias, de reinos, de montanhas, de baías, de naus, de ilhas, de peixes, de moradas, de instrumentos, de astros, de cavalos e de pessoas. Pouco antes de morrer, descobre que esse paciente labirinto de linhas traça a imagem de seu rosto." (Jorge Luis Borges) Conselho aos parlamentares Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na edição passada, o espaço foi destinado aos chefes dos Poderes. Hoje, volta sua atenção aos parlamentares: 1. O ciclo de crise intensa vivida pelo Parlamento aponta para a necessidade de reforma profunda nos padrões políticos. 2. O momento é propício para discussão da reforma política. 3. Se há pontos polêmicos e não consensuais, por que não começar por aspectos que reúnam a maior quantidade de apoios ? ____________
quinta-feira, 23 de abril de 2009

Porandubas nº 186

Conversas - Deputado, ouvi uma pessoa falando de você... Bem rápido, o deputado retruca : - Quem foi ? Até agora, não provaram nada, não é ? A piadinha corria solta nas conversas em torno do Fórum de Comandatuba, realizado no último fim de semana. O clima esquentou em certos momentos. A tensão chegou ao pico por ocasião de cobranças do empresariado à classe política. Este escriba registra pinceladas de suas conversas com deputados federais (cerca de 20), senadores (6), governadores (uns 10) e ministros (7). Campos, boa cabeça O governador Eduardo Campos é uma das melhores cabeças da nova geração política. Possui visão de conjunto e se guia pelo conceito de focos e prioridades. Sabe ouvir muito bem. Registra uma aprovação espetacular à sua administração, em Pernambuco, Estado que soma os maiores recursos de investimentos (somei mais de R$ 10 bilhões) entre os 9 entes nordestinos. O presidente do PSB tem uma dúvida : a base governista deve sair com um(a) candidato(a) - Dilma Rousseff - ou dois no pleito de 2010 ? É conveniente lançar um segundo candidato para facilitar um segundo turno contra o candidato oposicionista, José Serra ou outro ? O segundo candidato  Leitura deste escriba : a conveniência do lançamento de dois candidatos vai depender das circunstâncias. A serem avaliadas no ciclo pré-eleitoral, no início do próximo ano. Se o clima de confortabilidade social e geral se mantiver em alta, a candidata Dilma poderá correr sozinha. A polarização certamente se desenvolverá de maneira quase natural. Se a crise resultar em mais desemprego e desconforto, o candidato de oposição tenderá a manter seus bons índices. Nesse caso, seria oportuno o lançamento de dois candidatos situacionistas. Ciro, o briguento Ciro exibe perfil briguento. Poderá ser o lutador para bater no ringue de Serra. E, assim, preservar Dilma Rouseff. O deputado do PSB sabe, porém, que seu índice deverá girar em torno de 10%. Ademais, Ciro pertence ao cordão do passado. Enquanto Eduardo Campos sinaliza a direção do novo, da diferenciação inovadora. Aécio, o melhor Aécio seria um bom candidato ? Afora as opiniões de tucanos, senti certa convergência de ideias em torno dessa hipótese : Aécio Neves teria maior potencial de votos. Jovem, irradiando simpatia, cheio de sorrisos, e um discurso emotivo : "com a ajuda dos brasileiros, queremos resgatar o legado que Minas Gerais perdeu, com a morte de Tancredo. Minas precisa voltar a ter um presidente como o mineiro Juscelino Kubitschek". Atrás do palanque, podemos enxergar a foto do velho Tancredo, com aquele sorriso matreiro de Mona Lisa e, ao seu lado, a estampa sorridente de Juscelino. Minas Gerais tem 14 milhões de votos, o segundo maior colégio eleitoral do país. Serra, o experiente Dizem, porém, que a cúpula tucana não deixará Aécio ser candidato. E mais : ele seria quase forçado a aceitar ser o vice na chapa do Serra. Esse é o risco que poderá enfrentar. Até porque Aécio obteria facilmente o mandato de senador. O governador paulista, por sua vez, que venderá o produto experiência, terá imensa dificuldade em sustentar 45% de intenção de voto até o pleito de 2010. Essa é a taxa que ostenta hoje. Alckmin, cheio de sorrisos Sorriso permanente. Essa foi a cara de Geraldo Alckmin, em Comandatuba. Feliz ante o consenso de que deverá ser um candidato quase imbatível ao governo de São Paulo. Sorri até para quem lembra que o candidato in pectore de José Serra se chama Aloysio Nunes Ferreira, chefe da Casa Civil. Alckmin tem futuro. Ao contrário do que alguns podem imaginar, não chegou ao final da linha. Tem lastro. E voto.   "O gato com sentido em três ratos não pega nenhum." (Eduardo Campos, conversando com este escriba, pinçou o axioma nordestino)  Meirelles será candidato O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, em sua exposição de teor muito técnico, mostrou que o Brasil tem um bom suporte para enfrentar pequenos e médios dissabores. Não deu para distinguir se o pior da crise já passou. O cara é muito cauteloso. Só escancarou a boca quando ouviu o senador Aloízio Mercadante esbanjar otimismo. Foi quando disse que, sem os elos que o prendem ao governo, poderia ser mais eloquente e incisivo. Este momento poderá surgir como um tapete estendido em direção ao governo de Goiás ou mesmo à cúpula do Senado. Mercadante esbanja otimismo Já o senador Mercadante esbanja otimismo quando diz que, logo, logo, o Brasil sairá da 10ª economia mundial para ficar na 5ª. E sairá da crise melhor do que está hoje. Fez uma boa exposição, com aplausos gerais. Sua fala sugere que o pior da crise já passou. Bom de papo, mas ruim de vôlei de piscina. Essa é a retribuição do escriba à comparação que ele fez entre minha análise política e a performance esportiva. Minha equipe, com a ajuda da atriz Regina Duarte, perdeu feio. Não adiantou a corrente comandada por Regina, sob nosso brado de guerra.   "Não gosto de São Paulo, prefiro o Rio de Janeiro. Quando vou a São Paulo, penso que estou procurando emprego." ( Ao ouvir este desabafo, este escriba replicou : "como boêmio, você não conhece a noite paulistana. Fervente e densa. Pensa que o Rio ainda é a capital da boemia. Isso é passado". O ministro das Relações Institucionais não se convenceu. Ficou o dito pelo não dito.)   Stephanes, o bom senso O ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes (PMDB-PR), é um sujeito de linguagem objetiva e concisa. Diz o que pensa, de maneira densa, sem colocar adjetivos a mais nem substantivos a menos. Fez ótima exposição chamando a atenção para os desvios burocráticos que acabam desincentivando investimentos em muitos Estados. É muito saudável ouvir um ministro do governo Lula execrando a burocracia no campo da sustentabilidade ambiental. O que ele disse endossa a abordagem do artigo Idade da Razão, que escrevi no Estadão do último domingo. Um escudo para cobrir 80% Stephanes apresentou dado que causou impacto. Somando as terras indígenas, os espaços dos quilombolas, as encostas de determinados espaços preservados, locais que formam o patrimônio público, terrenos da marinha, enfim, todos os espaços cobertos pela legislação protecionista, cerca de 80% do Brasil ficam sob esse gigantesco escudo. Parcela ponderável desse gigantesco território é alimentado pela burocracia.   "As mulheres paulistas são exímias na arte de interpretar e assumir a ginga das baianas quando dançam. Mas as baianas não conseguem acompanhar o ritmo das paulistas em matéria de trabalho." (Senador Mercadante, brincando com os baianos, ao contemplar o desempenho de uma paulista, convocada pelo líder da banda Chiclete com Banana, "a mostrar o que paulista tem".)   Braga, a carga técnica O governador do Amazonas, Eduardo Braga (PMDB), expressa argumentos sólidos sobre a sustentabilidade ambiental do Amazonas e da Amazônia Legal em comparação com o mundo. Usa gráficos, desenhos e estatísticas, adornadas de adereços lingüísticos, que denotam o esforço do governador para fazer bonito em apresentações nacionais e internacionais. Passa a ideia de ter passado no vestibular da Embrapa a agências congêneres espalhadas pelo mundo. Fez a lição de casa. Luiza Ferina Trajano Luiza Trajano, a comandante do Magazine Luiza, é conhecida por não ter papas na língua. Cobrou dos políticos moralização de costumes e padrões. Mas não fez a distinção entre atores e instituição política. Recebeu uma resposta educada, mas firme, do presidente da Câmara dos Deputados, Michel Temer, mostrando a importância do Poder Legislativo, o mais aberto dos Poderes, e uma locução mais incisiva do senador Heráclito Fortes, primeiro secretário do Senado : "quando um empresário é acusado de corrupto, não achamos que todos os empresários também o são". Heráclito, com seu jeito bonachão, não aceita que se faça generalização nas críticas aos representantes do povo e dos Estados. Clandestino Heráclito (DEM-PI), ao ser indagado pelo ex-presidente da Philips do Brasil e atual presidente do Grupo Maior, Paulo Zottolo, como entrar no Piauí sem ser xingado, respondeu de pronto : "entre como clandestino". Como se recorda, Zottolo, quando presidia a Philips, cometeu a frase: "não se pode pensar que o país é um Piauí, no sentido de que tanto faz quanto tanto fez. Se o Piauí deixar de existir ninguém vai ficar chateado". É evidente que o empresário produziu uma tremenda gafe ao fazer a comparação. Zottolo é, porém, um empresário preocupado com as grandes questões nacionais. E ganha em taxa de civismo para a média dos empresários nacionais. O mundo é uma bola "O mundo é uma bola. Gira e muda de posição todo tempo. Um dia, eu estou bem, no alto; no outro, estou em baixa. Quantas vezes tive de me esconder para não ser xingado na saída do Maracanã. Armando marques sempre me dizia : não se afobe. Tenha calma. Na próxima partida, a m....vai ser maior." (Arnaldo César Coelho, em conversa com este escriba, recriminando a atitude de algumas pessoas que fazem acusações sem imaginar que elas, um dia, serão as figuras recriminadas). Grande Arnaldo. O Lula dos empresários Edson de Godoy Bueno, presidente do Grupo Amil, consegue criar impacto quando fala para a alta elite e as camadas mais carentes. O médico, que começou no primeiro degrau da escada social, é um mestre na arte de botar vitamina na fala. Por isso, ganha deste colunista o título : "Edson é o Lula dos empresários. Recebe palmas de todos os lados". Brandão Lázaro Brandão faz parte de uma Escola que tem poucos alunos. Chegou no final da tarde. Foi homenageado por Joao Dória. E após uma expressão curta e modesta, foi embora. Tinha de aparecer na segunda feira, véspera do feriado, para trabalhar. Hora de chegada : 6h30 da manhã. Entendi porque o Bradesco produz montanhas de lucros. Bilac Pinto O deputado Bilac Pinto (PR-MG) põe fé na hipótese : Aécio Neves é melhor candidato de oposição que José Serra. Um ponto final O deputado Nelson Marquezelli (PTB-SP) não vê a hora de o Congresso por um final ponto no capítulo da crise política. Goes, o boêmio O governador Waldez Goes, do Amapá, é um boêmio de carteira assinada. E comprovada. A performance de danças de carimbo, que executa com a esposa, impressiona. Não fosse político, poderia ganhar a vida como cantor e animador. O homem sabe se virar. Garibaldi entre duas viúvas O senador Garibaldi Alves, ex-presidente do Senado e presidente da Comissão de Assuntos Econômicos, foi sincero em sua locução. Referindo-se à bateria de denúncias que atinge as casas congressuais, disse estar emparedado por duas viúvas : a viúva do senador Jefferson Peres, que lhe solicitou e foi atendida no pleito de transformar em dinheiro os créditos de passagens não usadas pelo parlamentar; e a viúva, a União, que recebe o tiroteio da mídia. O candidato Chinaglia Arlindo Chinaglia (PT-SP) sonha em ser candidato ao governo de São Paulo em 2010. Trata-se de um perfil asséptico. Distante de grandes polêmicas. Sua condição dependerá do clima social e econômico no início do próximo ano. Lobão, o energético O ministro das Minas e Energia, Edison Lobão, garante que não faltará energia ao país. Temos energia por todos os lados, de fontes múltiplas. Pela conversa de Lobão, Deus decretou : "se faltar energia no mundo, o Brasil será a fonte de suprimento". Que Deus ajude Lobão a cumprir as promessas. Dória, exemplo de eficácia Por último, um exemplo de eficácia : Joao Dória. Que comandou um grupo de 350 pessoas. Sem usar muito o apito. O Fórum de Comandatuba passou o Brasil a limpo. Já começou a dar resultados. Câmara e Senado já começaram a definir novos rumos em matéria de passagens e verbas indenizatórias. Líderes políticos com poder de decisão, empresários com poder de influência, jornalistas com poder de formação de opinião podem, sim, fazer o Brasil avançar. Conselho Deixo, ao final, que os Conselhos aos mandatários e líderes do país, que formam a última Nota desta esta Coluna, sejam, excepcionalmente, pensados pelos leitores. Até a próxima quarta-feira. ____________
quarta-feira, 15 de abril de 2009

Porandubas nº 185

Ecos do velho sertão nos idos de outrora... Uma mulher de Patos, no coração da Paraíba, traiu o marido. O coronel Miguel Sátiro, pai do governador Ernani Sátiro, mandou dar uma surra na madame. O juiz, dr. Fenelon Nóbrega Vanderlei, não gostou do feito. - Coronel, em mulher não se bate nem com uma flor.- Doutor juiz, eu não mandei bater nela. Mandei bater no procedimento dela. No jipe aos pedaços, João Agripino, ex-governador e ministro, comia poeira quente a caminho de mais um comício. O motorista, velho amigo e cabo eleitoral, ficou com pena do candidato : - Dr. João, como nós sofre... João Agripino fez o conserto com a mesma linguagem : - É, sim. Nós sofre, mas nós manda. Tecendo os fios de 2010 Lula assumiu efetivamente o comando da campanha de 2010. Segura as rédeas com força. Demite o presidente do Banco do Brasil. Manda que o novo presidente baixe os juros. Vai percorrer com Dilma Rousseff as cidades mais importantes que sediam obras do PAC. No périplo, cobrará agilidade. As casas populares - um milhão - deverão chegar ao pico da entrega massiva nos meados de 2010. Os municípios terão, este ano, R$ 1 bilhão a mais no caixa para compensar as perdas com o Fundo de Participação. O colchão é preparado com penas de ganso. Para fazer adormecer perturbados e insones. E arrebanhar votos. E Lugo, hein ? O presidente Fernando Lugo, do Paraguai, foi rápido no gatilho. Antes que o povo começasse a jogar tinta nas vestes sacerdotais, o bispo reconheceu a paternidade de um menino de 2 anos, que teve com uma jovem assistente. O bispo Lugo foi defendido pela irmã, a primeira-dama Mercedes, sob esse argumento : "quem estiver livre de pecado, que atire a primeira pedra". Quem diria, hein, que as pedras jogadas contra Maria Madalena fossem usadas, hoje, para salvar a imagem de bispos... E assim caminha a Humanidade ! O declínio da oposição Ou a oposição, para melhor alcançar a vitória nas próximas eleições, renuncia a singularizar-se demais, renuncia a posições demasiado específicas; e então pouco se distingue da maioria do poder. Ou, pelo contrário, a oposição cultiva com intransigência o seu particularismo; e então, assustando parte do eleitorado, arrisca-se a permanecer eternamente na minoria, no não-poder. Em suma, ou a oposição sacrifica a pureza à eficácia - mas então em quê permanece verdadeira "oposição" ? Ou sacrifica a eficácia à pureza, mas então como acederá ao poder ? Essa é mais uma instigante questão posta na mesa das democracias contemporâneas pelo sociólogo Roger-Gerard Schwartzenberg. O candidato Ciro Pois é, o PSB pensou, pensou e concluiu : Ciro, com 10% dos votos, poderá ser a pedra da vitória no dominó de 2010. Por isso, o partido decidiu fazê-lo candidato. A campanha entre Serra e Dilma iria para o segundo turno sob o empuxo do candidato Ciro. E uma bacia de votos no segundo turno lavaria a alma da ministra Dilma. Tudo bem. Mas os pessebistas precisam, antes, combinar o jogo com os russos. Voto transferível Ainda há muita gente que aposta na transferência de votos. Tenho dito e escrito : transferência existe, não nos volumes e nas condições que geralmente se apresentam. A transferência depende do perfil receptor dos votos, do perfil do eleitor, da região dos votantes, do perfil dos transferidores etc. Lula pode transferir votos, sim, em algumas regiões. Não o fez em São Paulo, por ocasião do pleito disputado por Marta Suplicy para a prefeitura. Ciro Gomes não tem carisma. É um perfil que expressa virulência, nervosismo. Pode, até, se identificar com certos estratos indignados. Quanto a transferir votos, isso já faz parte de outra conta. Inadimplência cresce A inadimplência se expande na área de pessoas físicas e jurídicas. No campo das pessoas físicas, o índice subiu em 17% em março quando comparado ao mesmo mês do ano passado. O valor médio dos cheques sem fundo aumentou em 31,2% em relação ao mesmo período de 2008. A crise aperta o bolso. O poder do perdão "O poder do perdão é um poder que cada um se reserva e todos o possuem. Seria curioso reconstruir uma vida segundo os atos de perdão que uma pessoa se permitiu. O homem de estrutura paranóica é aquele que dificilmente ou nunca consegue perdoar; ele avalia atentamente; nunca se esquece de nada onde existe algo para ser perdoado; arma-se de pretextos para não perdoar". (Elias Canetti - Massa e poder) Desemprego no mundo O desemprego vai se expandir no mundo por mais um ano. Esta é a previsão de 3 entre 4 cientistas sociais e economistas. E o Brasil terá uma das melhores performances entre os emergentes. A China já divisa uma retomada do crescimento, com uma produção industrial de 8,3% a mais, em março, comparativamente ao mesmo mês de 2008. Serra contra-ataca Em São Paulo, o governador José Serra anuncia um pacote de medidas para aliviar os problemas de restrição de crédito que atingem micro e pequenas empresas. Serra apura o olho em São Paulo, que tem 30 milhões de eleitores. A comunicação dos Poderes A comunicação dos Poderes vive permanente crise. Os eixos tortos abrigam os seguintes campos : Linguagem Predomínio das pessoas sobre os fatos. Exaltação - Tendência para a louvação. Fonte canibaliza a instituição. Ausência de relações entre os fatos. Deficiência interpretativa. Estrutura Vastas estruturas. Concepção antiga de Assessoria de Imprensa. Cooptação. Condenação da mídia. Exclusão / Inclusão. Modelo burocrático de gestão. O profissional Perfil burocrático. Acomodação. Superficial. A substância política canibaliza a essência técnica. Planejamento Ausência de visão de conjunto. Falta de programas prioritários. Seleção de eixos de identidade inexistente ou fraca. Falta de planejamento na área dos fluxos informativos. Pacto vai andar ? O segundo Pacto Republicano - o primeiro sob este governo data de 2004 - pressupõe um conjunto de ações, medidas e projetos de lei. Se não forem executadas, "tudo ficará como dantes no quartel de Abrantes". Pacto implica solidariedade entre parceiros, aceitação, compreensão, participação, ideário comum. Bom, não é o que vemos entre os Poderes. Cada qual por si e Deus por todos. Na crença, claro, de que Deus é brasileiro. Primeiros cenários O pleito paulista de 2010 será o teste mais importante de José Serra. Se sair candidato à presidência da República, Serra não poderá fazer feio no Estado com o maior agregado eleitoral do país. Por isso, conta com o coringa Geraldo Alckmin caso seu candidato in pectore - Aloysio Nunes Ferreira - não decolar. Aloysio, por sua vez, é um grande articulador. De bastidores. Mas não tem a visibilidade e o índice de intenção de votos de Alckmin. Não se pense que campanha é ganha apenas com a força da máquina. Fórum de Comandatuba João Doria Jr. está levando, este fim de semana, cerca de 350 empresários - dos mais fortes do país - para Comandatuba, na Bahia. Confirmaram presença no Fórum 15 governadores, 7 ministros, 7 senadores e 22 deputados federais. Estarão presentes o presidente da Câmara dos Deputados, Michel Temer, e o presidente da CNI, deputado Armando Monteiro, além do vice-governador de São Paulo, Alberto Goldman, e o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes. Trata-se do maior encontro empresarial-político do país. O tema central será Desenvolvimento Econômico com Sustentabilidade, a ser apresentado pelo presidente do Banco Central, Henrique Meirelles. O eleitoralismo "É então melhor pintar a vida cor-de-rosa, fazer promessas, muitas vezes demagógicas, ainda que seja para isto preciso deixar de lado as questões realmente decisivas. A função dos dirigentes se faz, neste caso, euforizante. Eles se encarregam de ministrar tranquilizantes ao corpo social. O eleitoralismo leva a paraísos artificiais". (A expressão é de Roger-Gérar Schwartezenberg em seu magnífico O Estado Espetáculo) Casas por todo o país O programa "Minha Casa, Minha Vida", por pressão dos prefeitos e alegria de Dilma, será estendido a todas as cidades do país. O cobertor é gigantesco. Meirelles em Goiás Dúvida (e não dívida) cruel : candidatar-se ou não ao governo de Goiás. A banda esquerda do coração deseja o cargo; o lado direito diz não. No meio, os efeitos da crise. Pelo andar da carruagem, a crise não desarrumará o caminho. Meirelles deve topar. A comunicação em azul Entre versões e contraversões, a conversa meio séria de que um débito de R$ 5 bilhões, do grupo mais forte de comunicação no Brasil, teria sido liquidado. E que a Providência não tão divina teria baixado naquelas plagas. Tudo azul. E bandeira branca para uma eventual candidatura à presidência da República. Vale a pena conferir doravante o tom do discurso. Gilmar, o corajoso Gilmar Mendes, presidente do Supremo Tribunal Federal, demonstra coragem. Não teme dizer a verdade. Trata-se de um magistrado que trabalha muito bem com o conceito aristotélico de "fazer política". Mesmo no comando da suprema magistratura. Detentas fogem Nove detentas, seis delas com bebês de até seis meses no colo, fugiram do complexo da Penitenciária Feminina do Butantã, na zona oeste de São Paulo. O que não podem fazer os detentos sem bebês no colo, hein ? E a segurança ? Ora, é um caso de Polícia. E o Ministro Jobim, hein ? O ministro da Defesa, Nelson Jobim, é amigo do peito de José Serra. Prefere o tucano a Dilma. Por isso, especula-se que Jobim estaria arrumando um motivo - um grande motivo - para se afastar do governo. A conferir. Sarney arrependido ? Comenta-se que o presidente do Senado conviveu, nos últimos tempos, com aquela conhecida expressão : se arrependimento matasse... O patrimônio ético e moral, que conservava como ex-presidente da República, ex-presidente do Senado, imortal da Academia Brasileira de Letras, foi, não mais que de repente, para o beleléu. Confuso, calado, amargurado e triste : esse é José Sarney na atual fotografia. Hermann João Hermann Neto era um deputado federal muito querido. Amigo de muita gente. De qualquer lado. Parecia, com seu porte atlético, um exemplo de extrema vitalidade. Foi embora de repente. A vida ? O que é a vida ? Um fechar de olhos. Um átimo de segundo. O STF e a visão de Michel Os ministros do STF tendem a concordar com a interpretação dada por Michel Temer, presidente da Câmara, às MPs. Michel entende que elas podem abarcar apenas questões relativas à legislação ordinária. Com essa visão, a pauta do Congresso deverá ser descongestionada. Temer, como professor de Direito Constitucional, dá importante contribuição ao processo legislativo. Waldir Troncoso Peres Ligeiro retrato de um grande homem. Nascido em Vargem Grande Paulista, em 30 de outubro de 1923, Waldir Troncoso Peres bacharelou-se em Direito em 1946, no Largo de São Francisco. Deixou uma marca inconfundível na história da Justiça e do Direito em nosso país. Reconhecido pelo meio jurídico como um dos mais competentes advogados criminalistas. Deixa essa vida e uma profunda impressão na mente deste escriba. Que teve oportunidade de conhecer sua metralhadora expressiva e sua capacidade de pensar bem e grande. Conselho aos chefes dos Poderes Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na edição passada, o espaço foi destinado ao ministro da Educação, Fernando Haddad. Hoje, volta sua atenção aos chefes dos Poderes : 1. Entendam que o Pacto implica em aceitar os princípios da solidariedade, compreensão, participação, parceria e visão de conjunto. 2. Procurem executar as idéias apresentadas no II Pacto Republicano. 3. Busquem imediatamente construir a Agenda de Execução do Pacto, com prazos para cada ideia expressa. ____________
quarta-feira, 8 de abril de 2009

Porandubas nº 184

Raposa política José Maria Alkmin, ministro da Fazenda de Juscelino Kubitschek, raposa política como os mineiros do passado, sabia se safar de situações inesperadas. Lançou campanha contra o sistema de crediário, dizendo que a prestação era o maior fator de inflação. A Associação Comercial do Rio ficou furiosa e foi queixar-se ao presidente. JK mandou chamar o ministro : - Alkmin, eles dizem que você está prejudicando o comércio, com essa campanha contra a venda à prestação.- Mas, presidente, eu não estou contra a venda à prestação. Eu estou é contra a compra à prestação. Noutra feita, encontrou o filho do eleitor : - Como vai seu pai, meu filho ?- Meu pai já morreu há muito tempo, doutor Alkmin.- Morreu pra você, filho ingrato. Porque continua vivo no meu coração. Numa cidade mineira, esqueceu o nome de um correligionário que lhe pedia um autógrafo. Deu o velho golpe : - Seu nome todo, meu filho ?- Doutor Alkmin, escreva o que sabe, que depois eu digo o restinho.- Mas é que não fica bem a gente pôr na caderneta os apelidos de família dos amigos. Dilma apaga o facho Pois é, a festa mineiro-nordestina de Aécio Neves, em Montes Claros, por ocasião da reunião da SUDENE, não rendeu o que dela se esperava. Neves esperava pavimentar o caminho presidencial com uma convocação emotiva sobre a banda nordestina de Minas Gerais. Tinha como alvo os nove governadores da região. Queria mostrar compromisso com o nordeste. Mas Lula levou Dilma Rousseff à tiracolo. Que fez bonito na festa. Discursou, foi aclamada como candidata de Lula, mandou ver. E Aécio ficou a ver navios. Com cara de quem viu e não gostou. Um ponto para a ex-guerrilheira. Ex-guerrilheira ? A ministra chefe da Casa Civil garante que nunca esteve na linha de frente da guerrilha. Deu ampla entrevista ao jornal Folha de S.Paulo, quando afirmou não ter usado armas para assaltar ou sequestrar. A entrevista com negações sobre sua vida passada faz parte da estratégia de desconstrução da imagem negativa que, certamente, a oposição irá tentar produzir mais adiante. Quando o dossiê sobre o passado emergir, já ficará com jeito de coisa vista e conhecida. A estratégia é inteligente. Que haverá citação da passagem de Dilma pela guerrilha, não há dúvida. Colará ? Pouco provável. A ministra poderá alegar que lutava contra a ditadura. O conceito de luta contra a opressão acabou sendo mais vigoroso que o conceito de guerrilheiro assaltando banco, por exemplo. "Se a obra não é útil, a glória é uma estupidez." (Fedro) FHC enciumado ? A declaração foi intempestiva e desnecessária. Indagado sobre a popularidade de Lula, exaltada por Barack Obama, FHC teria dito : "mesmo com o carisma que tem, ganhei dele duas vezes". Coisa desnecessária. Denota algo como uma pontinha de inveja. O ex-presidente não pode fazer comparações. Cada um no seu lugar e no seu tempo. Ele é um homem preparado, lapidou as bases do Brasil forte na economia e tem de se resguardar das posições e conceitos comparativos. Lula exibe inegável carisma. E sabe falar a linguagem que o povão entende. Uma raridade entre os nossos políticos. "Para falar um mudo, basta que se desate o vínculo que lhe tinha a língua presa; para falar bem quem fala, é necessário atar a língua com muitas prisões; e quem duvida que mais fácil é soltar uma língua presa do que prender uma língua solta ?" (Padre Manuel Bernardes) Apertar os cintos Luiz Inácio aconselha os prefeitos a se esforçarem para "apertar os cintos". Pois bem, se não ajudar a prefeitada a fazer o movimento contrário - o de desapertar os cintos -, Lula, logo, logo, será persona non grata nos municípios. E como esses tempos serão dedicados à plantação da semente de 2010, o presidente será inserido na posição em que alguns jogadores são especialistas : sinuca de bico. Este tipo de sinuca - entre as piores na mesa de jogo - deixa o jogador com sete pontos a menos. Claro, se não souber sair da enrascada. Sete pontos a menos somados aos dez pontos percentuais de perda de imagem positiva fazem um imenso estrago. "O que conta não são os quilates, mas os efeitos." (Coco Chanel) Tasso na berlinda Tasso Jereissatti usou três horas, no palanque do Senado, para dizer que não foi ilegal o uso da verba indenizatória para alugar aviões, quando não pode usar seu jatinho. Tudo bem. Efetivamente, não há proibição para o uso daquela verba. O parlamentar poderá dela dispor para pagar múltiplas ações. A questão não é a legalidade. Transborda para a esfera da ética. Nem sempre o que é legal é ético. E todas as coisas éticas são, via de regra, legais. No momento em que a crise começa a estampar os seus efeitos danosos, usar dinheiro público de maneira extravagante - ou que parece extravagante - se transforma em um ato inadequado. Mas o senador continua a merecer o respeito deste escriba. Narciso Os deuses puniram Narciso, condenando-o a se apaixonar pela própria imagem. Ele se tomou de amores por esta quando se contemplava nas águas límpidas de uma fonte. A partir de então, obcecado pela paixão por aquele reflexo, Narciso nunca mais conseguiu arrancar-se àquela contemplação e afastar-se da beira da água. Ali definhou até morrer. E o nosso Narciso ? Há um Narciso bem visível por estas plagas do Planalto paulistano. Dizem que, ao se mirar nos espelhos, ele gosta de dizer : "espelho, espelho, tem uma figura mais poderosa do que eu ?" Adeus, Marcito O Brasil deu adeus a Márcio Moreira Alves. Um deputado que deixou marca indelével na história do Parlamento. Um jornalista corajoso que expressava o vigor de seu pensamento. "Existe tanto risco em fazer nada como em fazer alguma coisa." (Tramell Crow) Tasso deixaria a política ? Tasso é muito bravo. Esquentado, não leva desaforo para casa. As denúncias sobre uso inadequado do dinheiro público o tiraram do sério. O senador ficou muito nervoso. Quem o conhece, sabe que o pavio curto é capaz de acender fagulhas, inclusive a fagulha de sua retirada da vida pública. Na próxima eleição, encontrará adversários fortes no Ceará, a partir do deputado Eunício Oliveira, que quer ser senador pelo PMDB. Tasso perdeu bastante força no Ceará. O governador Cid Gomes é do PT. Seu amigo Ciro Gomes, deputado e irmão do governador, o apoiará em 2010 ? A moldura poderá ensejar sua retirada de campo. Dizem que a família seria amplamente favorável à hipótese. Coisa muito difícil, mas não de todo impossível. Perfis de grandeza 1. Um líder do universo associativo brasileiro - José Maria Chapina Alcazar - presidente do SESCON. 2. Um perfil de Executivo - Ruy Martins Altenfelder Silva, que acaba de ser eleito presidente do Conselho Deliberativo do CIEE. 3. Um perfil de senador Romano - Na expressão de nobreza cívica associada aos senadores da Roma Antiga - Paulo Nathanael Pereira de Souza. 4. Um perfil de empreendedor - Edson de Godoy Bueno, presidente da AMIL. Michel nos Estados O presidente da Câmara pediu licença do cargo de presidente do PMDB, mas não perdeu a visão do conjunto. Continua a prestigiar os correligionários que o convidam a participar de atos nos Estados. Michel aplaina os caminhos do PMDB, que está, hoje, muito unido, apesar das diferenças regionais. O partido terá condições de indicar o vice na chapa presidencial do situacionismo - com Dilma Rouseff - ou na chapa oposicionista - com José Serra. O PMDB pensa, ainda, em candidatura própria. Esta é a hipótese menos provável. A não ser que... Dirceu nos Estados Há dias, a mídia comentou sobre a articulação que estaria sendo feita pelo ex-ministro José Dirceu nos Estados com o objetivo de aplainar os caminhos da pré-candidata Dilma Rousseff. Dirceu, convenhamos, sabe onde estão as curvas perigosas e as retas seguras. Agora, comenta-se que sua passagem pelos Estados acarreta danos à candidatura da ministra, porque Dirceu é visto como figura com problemas na justiça. Pode ser. Mas ele exerce muito poder, sabe quem são os interlocutores confiáveis e pode fazer os arranjos necessários para se alcançar os objetivos. O que ocorre é uma luta contundente entre correntes do PT que querem o poder de mando. "As pessoas esquecem mais depressa a morte do pai do que a perda do patrimônio." (Maquiavel) Cena de morte e vida Annalisa Angelini, 28 anos, acabara de fazer uma cesariana no hospital de Áquila. De repente, o estrondo, a queda das paredes, a destruição, a tragédia. Conseguiu escapar dos escombros, descalça, segurando o soro. Ao lado dela, a mãe e o bebê. Em San Gregório, uma menina de 2 anos foi retirada dos escombros. Sobreviveu. Graças ao corpo da mãe, que a protegeu. E assim caminha a humanidade. "Vencer a si próprio é a maior das vitórias." (Platão) Doação para candidatos Prega-se a proibição de doação de dinheiro privado para campanhas eleitorais. Será mais uma hipocrisia. Se for aprovado o financiamento público, o dinheiro privado continuará a irrigar os cofres eleitorais. Por isso mesmo, vamos direto ao assunto : que as empresas sejam transparentes nas doações legais. E que esse sistema continue e receba controles mais apurados. O resto é hipocrisia. Conselho ao Ministro da Educação Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na edição passada, o espaço foi destinado aos ministros do Tribunal Superior Eleitoral. Hoje, volta sua atenção ao ministro da Educação, Fernando Haddad : 1. Seja mais cauteloso na implantação do novo sistema do vestibular único. 2. Cabe avaliar os prós e contras do novo sistema para evitar distorções e desvios. 3. A nova proposta não pode rebaixar o nível de exigências do atual vestibular. ____________
quarta-feira, 1 de abril de 2009

Porandubas nº 183

Coronelismo O coronel Lucas Pinto, que comandava a UDN no Vale do Apodi (RN), não dormia em serviço. Quando o Tribunal Eleitoral exigiu que os títulos eleitorais fossem documentados com a foto do eleitor, mandou um fotógrafo "tirar a chapa" do seu rebanho, aliás, do seu eleitorado. Numa fazenda, um eleitor tirava o leite da vaca quando foi orientado a posar para a foto. Não teve dúvida : escolheu a vaca como companheira do flagrante. Mas o fotógrafo, por descuido, deixou-o fora. O coronel Lucas Pinto não teve dúvida. Ao entregar as fotos aos eleitores, deparando-se com a vaca, não perdeu tempo e ordenou ao eleitor : "prega a foto aí, vote assim mesmo, na próxima eleição, nós arrumamos a situação". ...Noutra feita, o coronel levou as urnas de Apodi para o Juiz, em Mossoró, quase 15 dias após as eleições. Tomou uma bronca. - Coronel, isso não se faz. As eleições ocorreram há 15 dias. - Pode deixar, "seu" Juiz. Na próxima, vou trazer bem cedo. Não deu outra. Na eleição seguinte, três dias antes do pleito, o velho Lucas Pinto chegava com um comboio de burros carregando as urnas. Chegando ao cartório, surpreendeu o juiz : - Taqui, seu juiz, as urnas de Apodi. - Mas coronel, as eleições serão daqui a três dias. - Ah, seu juiz, não quero levar mais bronca. Tá tudo direitinho. Todos os eleitores votaram. Trouxe antes para não ter problema. Idos das décadas de 50/60. Não havia grandes empreiteiras financiando campanhas. A empreitada ficava mesmo a cargo dos coronéis. Desconfiança persiste As últimas operações da PF, envolvendo a Camargo Corrêa, foram menos espetacularizadas que as anteriores. Mesmo assim, a impressão que se tem é a de que alguma coisa continua fora dos eixos. Apesar da ênfase dada pelo juiz De Sanctis e pela própria PF de que esta última ação - Castelo de Areia - não se revestia de caráter político, o tom denunciatório que embalou partidos e parlamentares que receberam doações revela o interesse em corroer as oposições, principalmente PSDB e DEM. A informação de que o PT, o PTB e o PV também foram aquinhoados com recursos só apareceu, agora, dias após as revelações. "Recolhi, no caminho, a palavra 'super-homem' e a convicção de que o homem é algo que deve ser superado. E que o homem é uma ponte e não um ponto de chegada e que lhe cabe dizer-se feliz do seu meio-dia e crepúsculo como caminho para novas auroras." (Assim falou Zaratustra - Friedrich W. Nietzsche) Arrombando escritórios O Juiz Fausto De Sanctis parece mesmo impregnado de uma ira sagrada. Simplesmente jogou na cesta do lixo o projeto do deputado Michel Temer, já aprovado e em vigor, que impede a invasão de escritórios de advocacia. A exceção ocorre quando o advogado também faz parte do processo acusatório. Não foi o caso da Camargo Corrêa. Policiais federais teriam sido advertidos sobre a proibição de invadir a área jurídica e solicitado ao juiz De Sanctis o modus operandi. A autoridade judicial, pelo que se sabe, passou por cima da lei. E agora ? A OAB/SP entrou com recurso para barrar as investigações na esfera dos documentos do departamento jurídico. Recorre contra a decisão do juiz. Vamos acompanhar o processo. "Aqueles que amam ser temidos temem ser amados, e eles próprios são mais medrosos de que todos, porque enquanto os outros homens temem apenas a eles, eles temem a tudo." (São Francisco de Assis) Enquadrada A desembargadora Cecília Mello, do TRF da 3ª Região, enquadrou o juiz De Sanctis, que, segundo ela, agiu com base em "meras conjecturas" para mandar prender diretores e funcionários da Camargo Corrêa. E aponta os termos usados pelo juiz : "teriam sido, supostas, poderia estar havendo, revelaria em tese, eventual". Trata-se de uma enquadrada e tanto. O cracão Lula Um milhão de casas populares. É a promessa de Lula-Rousseff. Mas ninguém está autorizado a cobrar do governo prazo para a entrega das obras. O próprio presidente avisou de pronto. Com esse golpe psíquico, Lula segura as margens sociais, evitando seu deslocamento para outros espaços. A seguir, prorroga o IPI de caminhões e carros, reduz COFINS dos fabricantes de motocicletas, reduz o IPI de 30 itens de material de construção e aumenta PIS, COFINS e IPI dos cigarros. A tinta da caneta lulista conseguirá sustar a queda de imagem no meio da crise ? "O que existe de mais graçaNesta caçada do amorÉ que, não raro, anda a caçaPerseguindo o caçador" (Cancioneiro nordestino) Início ou meio ? Afinal de contas, estamos no meio da crise ou ainda no início ? Alguns acham que o peso da crise sobre a vida real ainda não bateu com força. A conferir. Inversão das coisas O direito de espernear faz parte da dança democrática. O presidente do STF, ministro Gilmar Mendes, faz alertas sobre a ilegalidade das invasões do MST, movimento que recebe verbas de outras entidades, por não possuir CNPJ. Ou seja, esse Movimento é ilegal. O que não lhe impede de fazer manifestação nas portas do Supremo sob o alarido : "fora, Gilmar". Insanidade ? Não. É o Brasil. A maior autoridade do Judiciário brasileiro ganha apupos e vaias de uma entidade ilegal, que pede sua saída da Corte. "O ciúme com a pimentaPode bem se comparar:Pouquinho, o sabor aumenta;Muito, queima e faz chorar" (Cancioneiro nordestino) Carvalho no PT Gilberto Carvalho, secretário particular de Lula, pode vir a ser o novo presidente do PT. Tem apoios gerais. Precisa, apenas, que o chefe o libere. Lula acha que Gilbertinho, como é chamado, precisa ter mais visibilidade pública para fazer articulações em torno da candidata Dilma Rousseff. Ora, visibilidade ele conseguirá. Terá a vantagem de calibrar a caminhada do PT com os passos de Lula. "És tão linda e feiticeiraQue sendo o céu teu lugarDeus talvez lá não te queiraPara lá não se pecar" (Cancioneiro nordestino) A fortaleza Dirceu José Dirceu continua todo poderoso. Dizem que Lula lhe pediu para costurar e consolidar apoios no entorno da hoje pré-candidata Dilma. Dirceu conhece o caminho das pedrinhas. Sabe onde e como chegar. Seu maior desafio será o de desobstruir as vias do PMDB. Mas qualquer acerto de hoje poderá ser desfeito amanhã. Costura em tecido político-eleitoral só funciona com a agulha mais próxima das eleições. "Se emiti, durante os 15 anos do meu Governo, cerca de 14 bilhões de cruzeiros, a administração atual, apregoando oficial e oficiosamente a deflação, em apenas 4 anos é responsável por emissões superiores a 13 bilhões de cruzeiros, até dezembro de 1949. Isto quer dizer que a média das emissões feitas durante a minha gestão foi superada de 3 vezes pela atual, sem levarmos em conta as programadas e em andamento no corrente exercício." (Getulio Vargas, em crítica ao antecessor, marechal Eurico Gaspar Dutra) Lula em queda Avaliação do governo sofreu queda de dez pontos na pesquisa Sensus. Previsível. Mas a queda é insuficiente para abalar o edifício da imagem presidencial. Luiz Inácio sabe colocar cimento e cal nos buracos imagéticos. Só passará por sufoco se o rombo do desemprego for mais profundo. "Maria da SoledadeTenha juízo, me deixe!Se aparecer novidadeVocê de mim não se queixe" (Soares Bulcão) Serra à espreita José Serra está muito atento às pesquisas. Não fica dando pulos de alegria ao se deparar com a ótima performance nas pesquisas. Sabe que seu índice médio - 45% - de intenção de votos, em todas as pesquisas, poderá baixar nas margens eleitorais. É muito difícil, para quem está na frente, segurar altos índices. Dilma Rousseff, em alguns cenários, rompe a barreira dos 15%. Ela espera que Lula a carregue no Nordeste, onde, hoje, tem uma margem de 26,5%. Poderá alcançar, na região, uma margem superior aos 40% para compensar a vantagem de Serra no Sudeste e no Sul. Há muita água a rolar por baixo da ponte. "Há três dias para quatroO meu coração fechouQuem morava dentro deleTirou a chave e levou" (Americano do Brasil) E Aécio, hein ? Aécio Neves tem sido a surpresa da moldura pré-eleitoral. Patina no mesmo lugar. Minas nem anda para a frente - em direção ao Nordeste - nem corre para o Sudeste/Sul. A alavanca aeciana está emperrada. E olhem que o governador é jeitoso. Insignificância Vejam a manchete de alguns jornais : "Dilma ultrapassa Aécio em pesquisa". A leitura do texto mostra : Dilma, 3,6%; Aécio, 2,9%. É o que se chama de "forçar a barra". "Dizia a fome ao imposto:- colega, vamos andarVamos ver o pobre gemerE o rico se lastimar...A vida está suculenta:0 governo nos sustentaNós podemos passear" (Discussão nordestina entre a Fome e o Imposto) Ciro raivoso Gomes Ciro Gomes acena com a ideia de se candidatar. Trata-se apenas de bravata. Ele quer mais espaço na condução das articulações em torno de Dilma. Sente-se alijado. Passará um mês estudando nos EUA. Para lubrificar a artilharia. Há quem defenda sua candidatura como forma de levar o pleito presidencial de 2010 para o segundo turno. Ciro conserva entre 10 a 12 pontos nas pesquisas. Atira, até, em Dilma, que, segundo ele, não tem uma proposta para o país. "A política parece um pouco com lavar janelas. Seja qual for o seu lado, a sujeira está sempre do outro lado." (Aldo Cammarota) A Fiesp e os partidos Nos recentes episódios envolvendo a Camargo Corrêa, Paulo Skaf aparece como patrocinador de parlamentares e partidos. Esta Coluna, que tem feito comentários mordazes sobre uma eventual candidatura do presidente da FIESP ao governo de São Paulo, cumpre seu dever de dizer que não vê nenhum ilícito no ato de intermediação de entidades para ajudar candidatos com recursos. Na sociedade democrática, setores organizados fazem pressão para formar sua base de representação. Federações, sindicatos, associações, grupamentos de todos os tipos e portes exercem o direito de lutar para eleger seus representantes. Nesse caso, Skaf e a FIESP podem, sim, intermediar a favor de quem quer que seja. Claro, sob a régua da transparência e da doação legal de recursos. O calvário dos governadores Alguns governadores esperam ansiosos pelo desfecho de seus casos no TSE. O próximo da lista é o governador Marcelo Déda (PT-SE). Depois, virão Luiz Henrique (PMDB-SC), Marcelo Miranda (PMDB-TO), José de Anchieta Júnior (PSDB-RR), Waldez Góes (PDT-AP) e Ivo Cassol (sem partido/RO). Serão todos julgados até o fim do ano. A não ser que pedras caiam da montanha e atrapalhem o percurso. Ou seja, a não ser que a famigerada lerdeza do Judiciário faça praça na Corte. Que mundo doido... É o diabo, o mundo endoidou ! Exclamava Maneco Faustino nas ruas de Limoeiro (Ceará). E completava : - veja vosmicê : ta se vendo estrela a mei dia; já hai galinha com chifre; cangaceiro dá esmola pra fazer igreja; já apareceu bode que dá leite; chove no Ceará em agosto. Muié já se senta em cadeira de barbeiro. Pedro Malagueta confirmava : - tá mesmo, cumpade, o mundo endoidou. Tenho três filha, duas casada e uma solteira : as duas casada nunca tiveram menino; agora a solteira todos os ano me dá um neto... Visão de Celso Celso de Mello é um dos mais preparados ministros do STF. Seu despacho indeferindo liminar feito por líderes da oposição contra o entendimento de Michel Temer, presidente da Câmara dos Deputados, sobre MPs, é uma aula de interpretação constitucional. Endossa a visão de Michel sobre a esfera de atuação das MPs - legislação ordinária - deixando de fora propostas de emenda à Constituição, projetos de resolução e leis complementares. E realça a função legislativa do Parlamento, torpedeada pelo Executivo. O plenário do Supremo tende a amparar a decisão de Mello. Delúbio de volta Racha no PT : um grupo quer a volta de Delúbio Soares aos quadros do PT; uma ala rejeita seu reingresso. O faro de Lula é sensível : se ele voltar, o PT dá um tiro no pé. É claro que a "onda dilubiana" poderá contribuir para o escoamento da fatia ético-moral no PT nas proximidades eleitorais de 2010. Conselho aos ministros do TSE Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na edição passada, o espaço foi destinado ao presidente do Senado Federal, José Sarney. Hoje, volta sua atenção aos ministros do Tribunal Superior Eleitoral : 1. Após o julgamento de dois governadores, a sociedade espera que os casos envolvendo mais cinco chefes de Poder Executivo sejam logo decididos. 2. As decisões anteriores criaram a impressão de que o TSE está na vanguarda do Poder Judiciário, agindo com isenção e independência. 3. Sob essa crença, os próximos julgamentos são aguardados com bastante expectativa, devendo ser feito esforço extraordinário para evitar protelação das decisões. ____________
quarta-feira, 25 de março de 2009

Porandubas nº 182

Que barbeiro desalmado...! Djalma Marinho, deputado estadual de 47 a 50 e federal de 51 a 81, era compadre do barbeiro de Nova Cruz. Um dia, cortando o cabelo, ouviu o apelo : - Compadre, vi nos jornais que você vai para Roma visitar o papa. Gosto tanto do papa. Olhe, aqui, a foto dele. Vou lhe fazer um pedido : que ele assine essa foto com dedicatória à minha família. Não esqueça. Você é meu maior amigo e não vai me decepcionar. O deputado viajou e encaixou o pedido tresloucado na mala do esquecimento. O tempo passa. Dois meses depois, ao voltar a Nova Cruz e ao sentar na cadeira da barbearia, recebeu a cobrança : - E aí, compadre, cadê minha foto com a assinatura do papa ? Falou de mim para ele ? - Pois é, compadre. Assim que vi o papa, só me lembrei de você. Falei de sua família, de seu trabalho, da admiração que você tem por Sua Santidade. E ele me olhava com aquele olhar de santo. Ia pedir a assinatura dele para você, ele olhou para minha cabeça exatamente no momento em que me curvei para beijar o anel e me perguntou, assim meio contrariado : - Senhor deputado, que barbeiro desalmado fez esse estrago em sua cabeça ? - Você há de compreender, compadre, não tive nenhuma condição de fazer o pedido. Primeira foto A pesquisa Datafolha estampa a primeira radiografia eleitoral nos Estados. José Serra sai bem na foto. Não há novidade. Trata-se do nome mais capilar das oposições. O que pode parecer novo é a frágil influência dos governos estaduais no processo eleitoral. Com exceção de um ou outro caso, os pré-candidatos aos governos estaduais não conseguem sair do lugar. Aloysio Nunes Ferreira, que contaria com o apoio de Serra, navega em maré muito baixa. O mesmo pode se dizer de Antonio Anastasia, vice-governador de Minas Gerais, candidato in pectore de Aécio Neves. Também está em desconforto o governador Sérgio Cabral, no Rio, onde os opositores, somados, chegam a ter o dobro de sua intenção de voto. "O amor é uma sementeQue se planta sem choverDentro do peito da genteNão dá trabalho a nascer." (Versos paraibanos) PMDB na frente O PMDB foi escolhido como o símbolo do fisiologismo. É acusado de ambicionar espaços cada vez mais largos na estrutura federal. A mídia não para de bater no partido. Pois bem, quem está na frente dessa pré-largada aos governos estaduais ? O PMDB. Como se explica essa preferência popular ? Uma pista : o eleitor não faz distinção entre partidos. Vê semelhança em quase todos. A exceção fica por conta dos partidos nos extremos ideológicos, do tipo PSOL e PSTU, por exemplo. Mas esses são quase inexpressivos eleitoralmente. E as oposições ? O resultado da primeira jornada de pesquisas mostra que Lula desceu alguns andares do patamar do prestígio, mas não o suficiente para deixá-lo em maus lençóis. Lula continua a ser o maior cabo eleitoral do país. Donde emerge a pergunta : conseguirá passar votos para Dilma Rousseff ? No nordeste, sim Não há dúvida. Na região nordestina, Luiz Inácio, com Dilma a tiracolo, pode jogar uma baciada de votos na candidata. Ele usará o passaporte do Bolsa Família. Dirá que o opositor acabará com o programa. Usará terrorismo. Esse discurso do medo garante montanha de votos. O discurso sobre a privatização da Petrobras, do Banco do Brasil e da Caixa Econômica, usado contra Geraldo Alckmin, na campanha passada, colou. E muito. Campanha não é parque de diversões. É arena de guerra. E Lula quer sair como o marechal da vitória. Medalha Ipiranga O senador Garibaldi Alves (PMDB-RN), presidente da Comissão de Assuntos Econômicos do Senado (CAE), será condecorado com a mais alta comenda do Estado de São Paulo, a Medalha Ipiranga. O evento ocorrerá, sexta feira, às 19h, no Palácio dos Bandeirantes. Aécio na baixa Aécio Neves não saiu bem na foto. Começam a jogar no ar uma poeira sobre a vida privada de Neves : boêmio, vida largada, sem compromissos familiares. Gente do alto tucanato faz questão de ligar o ventilador nos caminhos de Aécio. É golpe baixo. "O ilegal é o que fazemos imediatamente. O inconstitucional é o que exige um pouco mais de tempo." (Henry Kissinger) Yeda no fundo Yeda Crusius, mesmo com o esforço de recuperação das finanças do Estado, com a ajuda do grande e cívico empresário Jorge Gerdau, não consegue tirar as cruzes das costas. O calvário continua. Yeda está no fundo do poço. Tarso Genro, o ministro da Justiça, lubrifica o arsenal para lutar contra José Fogaça, do PMDB, prefeito de Porto Alegre. "Pensar é o trabalho mais duro que há. O que é provavelmente o motivo por que tão pouca gente se dedica a fazê-lo." (Henry Ford) José Rei na barriga Maranhão O governador José Maranhão, da Paraíba, acaba de criar um Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, nos moldes do Conselhão do Lula. Até aí tudo bem. Agora, incluir nele os presidentes dos outros Poderes é uma coisa estapafúrdia. Como o presidente do Tribunal de Justiça poderá ser imparcial, se instado for a julgar atos do governador ? Como participe de um órgão do Executivo estadual, perderá a independência e a imparcialidade, valores inerentes ao perfil dos magistrados ? Menos, governador, menos. "A integridade é a virtude que caracteriza os juízes", ensina Bacon. Pedro Nicácio Mulato do Cariri/CE, Pedro Nicácio despachou-se para o norte, inebriado pela febre da borracha. Integrou-se às escaramuças patrióticas de Plácido de Castro, machadinha na mão, cortando seringueiras, usando a Winchester, quando necessário. Era um guerreiro na vanguarda dos caboclos cearenses. Um dia, mandou para a eternidade 14 bolivianos. A cada morte, fazia uma pequena cruz na coronha do rifle. Certo dia, por desavenças, assassinou um companheiro de jornada. Foi preso. Enfrentou o interrogatório. O delegado Montenegro perguntou-lhe quantas pessoas matara : - Uma. - Uma, não, confesse logo a verdade : você é criminoso de 15 mortes. - De 15, não. É só uma. Mas, espere.... agora tô maginando... Baixando a cabeça, envergonhado de lhe tirarem o patriotismo, tascou : - Só se vosmicês querem botar na conta aqueles 14 desgraçados bolivianos. O Brasil no G-8 Ricardo Amorim é um bom analista do cenário mundial. Apresentou uma completa radiografia da crise internacional e os efeitos sobre o Brasil, por ocasião da IV FESP (Fórum Empresarial de Segurança Privada do Estado de São Paulo), evento patrocinado pelo Sindicato de Segurança Privada, em Águas de Lindóia, no último fim de semana. Amorim imbricou quadros, gráficos, comparou índices, tudo para mostrar a péssima situação dos Estados Unidos. Cérebros estão saindo daquele país, inclusive norte-americanos. As feridas não vão curar tão cedo. A China liderará o ranking dos países mais poderosos. E o Brasil, dentro de alguns anos, fará parte do G-8. A leitura do economista é muito favorável ao Brasil. "Deus me perdoe, se é pecadoMas eu queria ser fitaSó para andar na cinturaDuma cabocla bonita." (Versos paraibanos) Ladrões "Andava Dom João II, de Portugal, espairecendo pelas ribeiras do Tejo, e disse a alguns ministros de Justiça que o acompanhavam a cavalo que corressem. Respondeu um, em nome de todos : Nós não sabemos correr, senão atrás de ladrões. Tornou el-Rei, gracejando : pois correi uns atrás dos outros." (Padre Manuel Bernardes) Desconto dos aposentados Mais de 50 entidades de aposentados da esfera pública apresentaram denúncia ao sistema de direitos humanos da OEA. A causa : evitar o desconto mensal de 11% em seus proventos. Mas a reivindicação poderá resultar em nada. A OEA só age quando os recursos são impetrados por pleiteantes individuais e não entidades. A causa tem voto favorável do professor Cançado Trindade, que presidiu a Corte Interamericana de Direitos Humanos e hoje é juiz da Corte Internacional de Haia. "Os anos de um menino são um círculo pequeno; os de um velho outro círculo maior, mas uma vez postos no centro, que é a eternidade, já não há diferença de círculos : Semper aqualiter praesens est circuitus, et rota temporum." (Padre Bernardes) Territórios da cidadania O Executivo, capitaneado pela Casa Civil, está redimensionando o Territórios da Cidadania, mobilizando um grupo de 90 funcionários dos Ministérios (MAPA, MDA, MA, etc.) para acompanhar o presidente Lula e a ministra Dilma Rousseff em suas andanças pelo país. O objetivo, como se deduz, é aproximar a "Dilma a de Lula", como começa a ser conhecida, da população de baixa renda. A "tropa" vai dar a largada nos próximos dez dias. Esse circo armado lembra a "Caravana da Cidadania" que Lula formou quando foi candidato em 2002. Este Programa foi lançado em 25 de fevereiro de 2008. E só agora desperta da letargia. "O negócio e a traficânciaNasceram no mesmo dia:Negócio inda não andavaJá traficância corria." (Versos paraibanos) Munhoz, discurso forte O novo presidente da Assembleia Legislativa de São Paulo é um parlamentar sem dobras na língua. Diz o que pensa. Como pensa forte, seu discurso é contundente. Este escriba ficou agradavelmente surpreso em ouvir Barros Munhoz desenhar uma moldura do país, valendo-se do escudo dos direitos e da força da lei. Fez candente defesa do setor de serviços. Combateu ferozmente os leilões eletrônicos. Puxou a orelha dos jovens que militam no Ministério Público mas com o olho plantado nas telinhas das TVs. Verberou contra a hipocrisia. Fez um discurso grande. Por ocasião da IV FESP, presidida por José Adir Loiola. Michel no LIDE O presidente da Câmara dos Deputados, Michel Temer, será homenageado, segunda-feira, dia 30, com um almoço oferecido pelo LIDE, movimento presidido por João Doria. Cerca de 300 empresários participarão do evento, a se realizar no hotel Renaissance. ACSP, fórum de debates Alencar Burti pretende fazer que a Associação Comercial, que preside, seja um competente Fórum de Debates sobre a Realidade Brasileira. Deu início à jornada com a instalação de um Conselho Político e Social, presidido por Jorge Bornhausen, e com uma palestra do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Que vê no horizonte um país "bambo". "O homem é sempre mais macaco do que qualquer macaco." (Friedrich Nietzsche) Alckmin na frente Geraldo Alckmin é um sorriso só, depois da pesquisa Datafolha que o coloca quilômetros na frente de outros possíveis postulantes. "Só o homem resiste à força da gravidade: ele está sempre querendo cair para cima." (Friedrich Nietzsche) E o PT, hein ? Na esfera do PT, a indefinição reina. O melhor candidato ao governo de São Paulo, Antonio Palocci, espera o julgamento do STF. Emídio de Souza, prefeito de Osasco, não é palatável. Fernando Haddad poderia ser a cara nova. Marta tem razoável votação, mas não fôlego para chegar ao final. Será difícil romper a barreira da viabilidade. Mas há quem aposte em sucesso. José Dirceu, por exemplo, diz que o PT tem chances. E Skaf, hein ? Paulo Skaf ainda não fechou posição com partidos para se viabilizar como candidato ao governo paulista. Sabemos que os partidos são pasteurizados e assemelhados. Tudo bem, mas seria muito engraçado, por exemplo, Skaf formar aliança com o PDT de Paulinho da Força. Nesta semana, os grevistas da Petrobras farão manifestação diante do prédio da FIESP. Comandados pela Central da Força Sindical. Imaginem, agora, como o presidente da FIESP, se aliado deste grupamento, se comportaria ante uma greve liderada pela Força ? No mínimo, seria risível. "Quem antes do tempo começa, cedo termina." (William Shakespeare) Conselho ao senador José Sarney Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na edição passada, o espaço foi destinado aos membros do Ministério Público. Hoje, volta sua atenção ao presidente do Senado Federal, José Sarney : 1. Ante a avalanche de críticas ao Senado, seria oportuno ir ao encontro da matriz dos problemas, encampar o projeto de reforma política e realizar ampla articulação por sua aprovação; 2. Reformas cosméticas - como mudanças no campo da gestão - serão sempre consideradas medidas paliativas. 3. Densa agenda no Senado, a partir de medidas efetivas para evitar o abuso de Medidas Provisórias, poderia ser outro caminho a ser seguido para livrar o Senado da artilharia da mídia. _____________
quarta-feira, 18 de março de 2009

Porandubas nº 181

Dilma Rousseff À guisa de introdução, dois versinhos de um canto poético sobre a ministra Dilma Rousseff, que a verve nordestina, com a gentileza de Suyane França, Assessora de Comunicação e Marketing da Prefeitura de São Miguel/RN, manda para esta Coluna : "Eu também quero uma lasquinhaUma filepa de poderQuero olhar nos olhos delaE, ternamente, dizerQue mais bonita que elaMulher nenhuma há de ser. Eu já vi um deputadoDizendo no CaririQue Dilma é linda e charmosa,Igual não existe aqui,E é capaz de ser mais belaQue Angelina Jolie." Pois é, conduzida pelo balão de Lula, a ministra Dilma poderá chegar, logo, logo, aos 20% de intenção de voto na região. Ultrapassando este índice, a propulsão se tornará a jato. A conferir. Amigo do Papa Rui Carneiro, paraibano matreiro, era candidato a senador pelo PSD, em 1955. A UDN tinha apoio dos comunistas. Rui esteve na Europa, voltou, foi fazer o primeiro comício da campanha : - Paraibanos, estive em Roma com o Papa. Ele me cochichou : Rui, se destruírem meu trono aqui no Vaticano, sei que tenho um grande amigo lá na Paraíba. Vá, dê lembranças à comadre Alice e diga ao povo que estou com você. Ganhou a eleição. O velho amigo Sebastião Nery, com sua graça, nos brinda com essa matreirice. Serra que se cuide José Serra não é muito simpatizado no nordeste, desde os tempos da Constituinte de 88, quando tentou inviabilizar políticas de interesse regional. O nordeste tem 30% dos votos do país. "Vilma do Chefe", como Dilma começa a ser conhecida por lá, será transformada em "Dilma do Lula", nas margens eleitorais. A linguagem do povo vence qualquer obstáculo. Mas o governador paulista confia que tem cacife para chegar à alma do nordestino. A conferir. "Um bom discurso deve esgotar o tema, e não os ouvintes." (Churchill) Aécio que se viabilize Aécio Neves, o governador de Minas Gerais, começa a puxar o trem de freio em matéria de prévias. Neves contaria com as prévias para fazer muito barulho. Tem mais prestígio que Serra nas bancadas parlamentares. Poderia arregimentar as bases. O governador paulista, por sua vez, é bem mais conhecido e com maior lastro eleitoral. A alternativa de Neves seria sair como candidato à presidência pelo PMDB. O partido, a cada dia, perde as esperanças. Até porque a porteira de entrada tem uma data para fechar : final de setembro deste ano. E as prévias do PSDB ocorreriam ao final do ano. Logo, ele terá de permanecer na floresta tucana. "O que é um adulto ? Uma criança recheada de idade." (Simone de Beauvoir) Chapa pura ? Há quem pregue uma chapa pura entre os tucanos : Serra, presidente e Aécio, vice. Como vice é vice e Serra não cede poder nem ao papa, o governador mineiro estará melhor com o figurino de senador. "O ser humano é a soma de suas fantasias." (Henry James) Três modos de eleger  "Santo Agostinho distingue três modos de eleger : a primeira tem o nome de eleição e se faz entre bons e maus; a segunda é a subeleição, e se faz entre bons e melhores e a terceira é a pré-eleição, que escolhe dos melhores o ótimo". Padre Bernardes era um sábio. O vice de Dilma   Pois bem, a equação das chapas passa pelos acordos interpartidários. O PT aposta na aliança com o PMDB e já sinaliza com dois nomes para a vice : Michel Temer, presidente da Câmara dos Deputados, e Geddel Vieira Lima, ministro da Integração Nacional. A lógica : Dilma gostaria de equilibrar a chapa com um nome do maior colégio eleitoral do país, São Paulo, com 30 milhões de eleitores. E compensaria sua visão técnica com a visão política de Michel Temer. O nome de Geddel é lembrado por ser do nordeste, fato que poderia mobilizar o eleitorado regional. A cúpula do PT aposta mais em Temer, pois o nordeste, acredita, virá em direção a Dilma, puxado pela locomotiva Lula. "Um homem de 60 anos já passou 20 anos na cama e mais de 3 anos comendo." (Enoch Arnold Bennett) O vice de Serra  Pela lógica, o vice de José Serra - se for ele o candidato - deverá ser do nordeste. A aliança do sudeste com o nordeste é fundamental para a eficácia eleitoral. Nesse caso, os nomes poderiam vir do DEM - aliado preferencial - ou mesmo do PMDB, caso este se apresente rachado, como se imagina. O nome peemedebista mais badalado é o do senador Jarbas Vasconcelos, de Pernambuco, enquanto José Agripino, o senador potiguar do DEM, é um dos mais lembrados para compor a chapa do tucano. "Eu prefiro a companhia dos animais, eles são muito mais simples". (Freud) O PT paulista Lula gostaria que o deputado Antonio Palocci fosse o candidato do PT ao governo de São Paulo. Palocci espera sair, ileso, do processo que tramita no STF. Se não conseguir, o PT pensa no nome do prefeito Emidio de Souza, de Osasco. Ora, o partido tem nomes mais fortes, entre eles, os senadores Eduardo Suplicy e Aloizio Mercadante. Mas o receio de mais uma derrota petista os afasta do risco. Fernando Haddad, o ministro da Educação, poderia encarnar o perfil do novo. O PT paulista não tem boas opções. Está encalacrado. "A pressa mais atrasa que adianta." (Quinto Curcio) Cresso, Rei da Lídia Cresso, Rei da Lídia, havendo-se vestido com todos os adornos e galas que lhe pedia a sua vaidade e lhe facilitava a sua opulência, subiu ao trono e disse para o sábio Sólon : Viste jamais espetáculo tão formoso ? Respondeu o sábio : Vi, e muito maior : os galos, as araras e os pavões. Padre Manuel Bernardes. Dr. Hélio Já o PDT trabalha para dar impulso à candidatura do dr. Hélio, prefeito de Campinas, ao governo paulista. E os tucanos ? O candidato in pectore de José Serra é o chefe da Casa Civil, Aloysio Nunes Ferreira. Que articula bem nos bastidores, recebendo prefeitos, atendendo pleitos municipais. Mas Aloysio, convenhamos, é meio fechadão, cara de bravo. Não irradia simpatia. O secretário de Desenvolvimento, Geraldo Alckmin, tem um bom recall e uma bagagem eleitoral de peso. Pode ser o coringa de Serra. José Aníbal, o líder tucano na Câmara, também é um bom nome. Teve ótima votação para o Senado, tempos atrás, mostrando que conhece o caminho das urnas. "Colha o dia, não confie no futuro." (Horacio) E Skaf, hein ? E o candidato Paulo Skaf, hein ? Qual será a última movimentação ? Será que já fechou com o PSB e o PDT ? Skaf tem até final de setembro para se filiar a um partido de esquerda. "Todos os caminhos conduzem a mim mesmo." (Jacques Lanzmann) Decalagem  A "decalagem" (lead) é a distância entre a posição corretamente prevista do alvo móvel e a posição real de onde os últimos sinais foram recebidos. Assim, para levar em conta a "decalagem", o caçador antecipa, dispara à frente da ave em um vôo ou do prato de barro; aponta, não ao próprio alvo, mas a um ponto previsto na sua trajetória. Em política, qual é aptidão de um candidato para prever e antecipar as dificuldades que terá de enfrentar ? Qual é a eficácia de sua previsão ? Qual a sua aptidão para antecipar situações futuras ? Como tenta aumentar o seu "avanço" e melhorar a sua taxa de "decalagem" ? Essa é uma questão que a Coluna apresenta aos leitores para análise de viabilidade dos pré-candidatos acima citados. Ultraje A ganância não tem limites. Pois não é que, em plena crise, a Seguradora AIG quer distribuir US$ 165 milhões aos seus principais executivos dos EUA ? Lembrancinha : foi essa mesma Seguradora que recebeu US$ 180 bilhões do governo para não fechar as portas. Franceses Elias Canetti sobre esse povo : "O símbolo da massa dos franceses tem uma história jovem; é a sua revolução. A festa da liberdade é comemorada todos os anos. Ela se transformou na festa nacional da alegria propriamente dita. No dia 14 de julho cada qual pode dançar com quem quiser na rua". Costa e anastasia, os candidatos Hélio Costa firma-se como candidato do PMDB ao governo de Minas. O vice-governador Antonio Anastasia é o nome tucano mais forte para o governo. O DEM tende a apoiar o candidato de Aécio. Genro no RS  No Rio Grande do Sul, Tarso Genro aparece como a melhor opção do PT. Olívio Dutra declina da candidatura. Rosalba e Iberê no RN No Rio Grande do Norte, a senadora Rosalba Ciarlini (DEM) aparece, hoje, como a candidata mais forte. O vice-governador Iberê Ferreira articula para ser o candidato situacionista, apoiado pela governadora Vilma Faria. Chávez fecha a oposição  A cada dia, Hugo Chávez vai fechando as portas da oposição. Portos e aeroportos situados em regiões administrativas que são governadas por opositores passam ao controle do governo federal. E ainda há democratas que celebram a grandeza da democracia venezuelana. Suíços   Elias Canetti sobre esse povo : "Um estado cuja coesão nacional ninguém discute é a Suíça. O sentimento patriótico dos suíços é maior do que o de muitos povos que falam apenas um idioma". Globalização nos trens  A Globalização chegou aos trens urbanos de São Paulo : uma das empresas do setor apresentou recentemente um atestado de serviços prestados em subcontratação no Marrocos. O documento está escrito em Francês, em papel timbrado do Rio de Janeiro e - pasmem - registrado pelo CREA do Rio Grande do Sul. Esta é a faceta brasileira da globalização galopante. CONTAG fora da CUT Por que a CONTAG, com 22,4 milhões de trabalhadores, rompeu com a CUT ? Porque a CUT devora muita grana, dizem. Os sindicatos associados vão se repartir entre outras Centrais. Pauta travada A pauta da Câmara está travada por MPs. O trancamento irá até 15 de maio. O deputado Michel Temer encontrou a solução para descongestionar a pauta. O "Eureka" do Michel é uma interpretação jurídica sobre a esfera de abrangência das MPs. Só podem trancar as votações referentes a leis ordinárias. A interpretação sistêmica do presidente da Câmara, que recebe apoios de renomados juristas, deverá diminuir consideravelmente o peso das MPs nas votações. Esta semana, Michel Temer apresenta sua Proposta ao ministro Tarso Genro, ao advogado-geral da União, José Antonio Toffoli, ao procurador-geral da República, Antonio Fernando Souza, e ao presidente do STF, ministro Gilmar Mendes. Espanhóis  Elias Canetti sobre esse povo : "Assim como o inglês se vê como capitão, o espanhol se vê como matador. Mas em vez do mar que obedece ao capitão, o toureiro é dono da multidão que o admira. O animal, que ele deve abater segundo as nobres regras de sua arte, é o velho monstro traiçoeiro das lendas". Poupança  Lula quer mexer na velha Poupança. Que passou a ser o melhor dos investimentos, pelo menos, o mais seguro. Quem diria, hein ? E Sarney, hein ? O senador José Sarney é o mais litúrgico dos nossos políticos. Impregna-se do simbolismo do poder. Por isso, deve sofrer muito com a bateria de denúncias que atinge o Senado. Sarney esperava que o fardo de voltar a presidir a Câmara Alta não seria tão pesado. Conselho aos membros do Ministério Público Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na edição passada, o espaço foi destinado aos membros da CPI dos Grampos. Hoje, volta sua atenção aos membros do Ministério Público : 1. Continuem a jornada para extirpar a criminalidade, limpar os entulhos e combater a corrupção. 2. Mas a caminhada cívica é incongruente com a espetacularização de alguns representantes do Ministério Público. 3. A limpeza institucional começa por uma boa lavada nas paredes de certos ambientes internos. ____________