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Porandubas Políticas

Por dentro da política.

Gaudêncio Torquato
quarta-feira, 14 de julho de 2010

Porandubas nº 240

Abaixo do berro Nestor Duarte, deputado e escritor, viajava pelo interior da Bahia com o jornalista Nilson de Oliva César. Conheceram um pistoleiro cego : - Como é que o senhor faz para matar sem ver ? - Ah, doutor, eu grito o nome do cabra. Quando ele responde, atiro num palmo abaixo do berro. Não erro um. Coligações Eis a radiografia das coligações no país : a coligação entre PT e PMDB contempla os seguintes Estados : Alagoas, Ceará, Distrito Federal, Espírito Santo, Goiás, Maranhão, Minas Gerais, Mato Grosso, Paraíba, Piauí, Paraná, Rio de Janeiro, Sergipe e Tocantins. A coligação entre PSDB e DEM abrange : Acre, Alagoas, Bahia, Ceará, Distrito Federal, Espírito Santo, Goiás, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Pará, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Paraná, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Roraima, Santa Catarina, São Paulo e Tocantins. Paternidade/maternidade A campanha começou e a disputa se instala em muitas áreas : quem é pai e quem é mãe de alguns programas-chave ? Quem é o pai do FAT ? E quem é o pai do Bolsa Família, símbolo da era Lula ? Os tucanos estão sempre puxando a paternidade da Bolsa para sua floresta. Os petistas argumentam que ele faz parte de sua seara. Vamos lá. Ambos têm algo com a paternidade, ou se quiserem, com a maternidade do programa. Fundo de Amparo ao Trabalhador Primeiro, vamos à paternidade do FAT. Em 1988, o deputado Jorge Uequed (PMDB-RS) apresentou um projeto criando o FAT. Em 1989, José Serra propôs, em maio, o projeto de lei 2.250 também regulamentando o FAT. Foi considerado prejudicado porque já havia sido aprovado projeto semelhante. Vale lembrar que o projeto aprovado em plenário em 1990 em regime de urgência (PL 7.998) levou em consideração um substitutivo diferente do projeto original de Uequed. Mas os tucanos dizem que o PL aprovado se baseou na emenda sugerida por Serra. Consta, ainda, que Serra apresentou em 1992 outro projeto de lei prorrogando para 30 de junho daquele ano o prazo para concessão de seguro desemprego especial. Resta, por último, lembrar que o seguro desemprego foi criado em 1986 pelo presidente Sarney, mas era considerado precário. Bolsa Família Em 1991, o Senado aprovou projeto de lei do senador Eduardo Suplicy (PT/SP), que instituía o Programa de Garantia de Renda Mínima (PGRM), segundo o qual toda a pessoa de 25 anos ou mais que não recebesse o equivalente, hoje, a cerca de R$ 350,00 teria o direito de receber 30%, ou até 50%, da diferença entre aquela quantia e sua renda. Posteriormente enviado à Câmara dos Deputados, o projeto recebeu parecer favorável do deputado Germano Rigotto (PMDB-RS) mas, até hoje, apesar de pronto, aguarda para ser votado. Campinas e Brasília Ainda sob o amparo bíblico do rei Salomão, vale anotar que ambas as siglas estão por trás da ideia original da Bolsa, eis que exemplos pioneiros e simultâneos de políticas de combate à pobreza foram o Programa de Garantia de Renda Mínima (PGRM) e o Bolsa-Escola, implantados em 1995 e patrocinados, respectivamente, por um tucano, o ex-prefeito Magalhães Teixeira, de Campinas, e o então petista Cristovam Buarque, ex-governador do Distrito Federal. Pouco antes, em 1993, o sociólogo Betinho levantava a bandeira da Ação da Cidadania contra a Fome, a Miséria e pela Vida. Ciclo FHC Vieram, depois, os desdobramentos. No ciclo FHC, José Serra criou o Bolsa Alimentação e o ministro da Educação na época, Paulo Renato, sob a supervisão da antropóloga Ruth Cardoso, instalava o Bolsa Escola e o programa de erradicação do trabalho infantil. A era Lula abriu mal sucedido Fome Zero, que deu lugar à unificação dos programas de distribuição de renda, surgindo assim o Bolsa Família, hoje poderoso canal que despeja nos lares de 12,4 milhões de famílias (totalizando 49,2 milhões de beneficiários) cerca de R$ 13 bilhões. Efeitos Os resultados dessas e de outras experiências positivas de Renda Mínima e Bolsa Escola se alastraram por muitos municípios e alguns estados, vindo a ter repercussão no Congresso Nacional, onde surgiram mais seis projetos de lei dos deputados Nelson Marchezan, (PSDB/RS), Chico Vigilante (PT/DF) e Pedro Wilson (PT/GO) e dos senadores Ney Suassuna (PMDB/PB), Renan Calheiros (PMDB/AL) e José Roberto Arruda (na época, do PSDB/DF). Deu-se o vice-versa Dr. Dantinhas, deputado da Bahia, elo de todo um clã político do Estado (neto do barão de Geremoabo), foi convidado para padrinho de casamento da filha de um coronel do sertão. No dia de viajar, recebeu telegrama : - Compadre, não precisa vir. Deu-se o vice-versa. Menina morreu. Promoção de caixão Na porta da funerária, velório em andamento, seu Lunga e vizinhos conversando baixinho, caras tristes. Passa um conhecido : "O que o sr. está fazendo aí, seu Lunga ?" - Estou na fila pra promoção de caixão com pequenos defeitos. Escolha a rima A fama de seu Lunga se espalha pelo mundo. Um turista português senta em sua mesa, quando se refrescava com uma cerveja gelada. - O Senhoire me esclareça : é "seu Lunga" ou "seu Longa" ? - Com qual rima o sr. prefere ? (Colaboração de João Thomas Luchsinger, defensor público em Manaus, casado com uma cearense de Itaiçaba) Novo modelo de segurança As regras gerais do Regulamento de Segurança da FIFA disciplinam exaustivamente a segurança privada nos grandes eventos futebolísticos, dentre eles, itens primordiais, como princípios fundamentais, arredores e perímetros do estádio, vias de acesso e evacuação, medidas e equipamentos de segurança, proteção contra fogo e primeiros socorros, proibição de bebidas alcoólicas, código de conduta, integração da polícia de segurança pública e os seguranças privados e suas tarefas, seu campo de abrangência e etc. Desde já, o setor vem se preparando para desenhar um novo modelo de expansão para que a segurança se enquadre nestas exigências da maior competição mundial do futebol. Copa, uma oportunidade "Hoje, o Brasil não adota o modelo integrado de segurança, no qual as empresas privadas atuam dentro dos estádios e a polícia militar nas vias públicas, intervindo quando necessário, como ocorre em outros países. Acreditamos que a Copa seja a oportunidade para começarmos a aplicar este modelo que, certamente, potencializa a eficácia da estratégia de segurança, quando efetuado por uma empresa regular", argumenta o presidente do Sesvesp (Sindicato das Empresas de Segurança Privada do Estado de São Paulo), José Adir Loiola. O país dos impostos O Brasil apresenta a conta : são 72 impostos, contribuições e taxas. Diz o SEBRAE : a taxa de mortalidade das empresas é de 29% no 1º ano, 42% no 2º ano, 53% no 3º ano e 56% no 4º ano. De onde virão os votos Eis aqui a tabelinha de onde virão os votos da vitória de um (ou de uma) e da derrota de outro (ou de outra). Centro-Oeste, eleitorado : 9.547.231 (7,121%). Exterior, eleitorado : 169.825 (0,127%). Nordeste, eleitorado : 36.091.327 (26,918%). Norte, eleitorado : 9.796.530 (7,306%). Sudeste, eleitorado : 58.384.124 (43,544%). Sul, eleitorado : 20.091.480 (14,985%). Eis o total do eleitorado brasileiro : 134.080.517. Dilma, aqui, e Serra, lá Dilma Rousseff decidiu, nesse início de campanha, priorizar o sudeste, a partir de São Paulo, onde perde nas cidades grandes e médias por 20 pontos para José Serra. Já o tucano decidiu priorizar o nordeste, onde perde para Dilma por uma diferença de mais de 20 pontos. Moldura regional Lembremos. Serra avançou no sul, onde passou de 38% para 50%. Dilma perdeu terreno na região, caindo de 35% para 33%. No sudeste, o tucano ampliou a vantagem de 10 para 13 pontos. No nordeste, Dilma foi de 44% para 47%. E no norte/centro oeste, os dois avançaram.Chamando para a briga Serra insiste em chamar Dilma para a briga. Ataca a candidata petista, diz que ela é mais fraca que o PT, faz gozação com a rubrica que ela fez no programa enviado ao TSE etc. E Dilma cai na rede. Rebate o tucano. Entra no jogo de Serra. Que abre espaço na mídia e deixa Dilma na defensiva. Ou seja, a ex-ministra comete um erro : dar explicações contínuas à opinião pública. Baixaria O site do DEM tem uma seção dedicada à mãe Dilmá. Com a candidata vestida de roxo e fazendo prognósticos. Dizendo que Serra ganhará e Chávez é seu guru. Baixaria. Esse tipo de campanha não ajuda. Apenas reforça posições de alas engajadas nos dois exércitos. Dado curioso A última pesquisa Datafolha, que deu empate entre Serra e Dilma, apresenta um dado curioso : 43% acham que a petista vai ganhar as eleições, contra 33% que dão a vitória ao tucano. Morte do JB O velho e bom Jornal do Brasil, onde aprendi a escrever as primeiras letras no jornalismo, está à beira da morte. A versão impressa deixará de circular. Apenas a versão eletrônica permanecerá. O JB, nessa versão tablóide, já se apresentava como um ente capenga. Sob lamento, dou adeus ao ex-grande jornal. Adeus, Paulo Moura Comovido, dou também Adeus ao grande Paulo Moura, 78 anos. Um dos saxofonistas e clarinetistas mais requisitados no Brasil e no exterior, Paulo Moura foi reconhecido no ano 2000 com o Grammy - o maior prêmio da música mundial, com seu trabalho "Pixinguinha: Paulo Moura e os Batutas". Paulista de São José do Rio Preto, Paulo Moura nasceu no dia 15 de julho de 1932, numa família de instrumentistas. Aos 9 anos, ele pediu para estudar música e começou a tocar clarineta. Aos 14, entrou para o conjunto do pai. Paulo Moura gravou o primeiro dos 40 discos em 1956. Ele chegou a integrar a orquestra do Theatro Municipal do Rio de Janeiro. Moura tocou com grandes nomes da MPB, como Elis Regina e Milton Nascimento. Vi seu último show Tive a felicidade de ver Paulo Moura por ocasião da Virada Cultural, essa última, ocorrida há pouco tempo. Lá pelas 10 da noite, ele começou seu belíssimo show no Centro Cultural São Paulo, na av. Vergueiro. Que maravilha. Sábado passado, um grupo de amigos foi ao quarto do músico, na Clínica São Vicente, no Rio. O grupo de artistas tocou várias canções de Paulo. E ele, feliz, pegou sua clarineta, foi à varanda e tocou, com Wagner Tirso, "Doce de Coco", de Jacob do Bandolim. Estava dando adeus ao mundo. E à música. Nome da bola Brasileiro é mesmo um gozador. Quatro anos antes, já começa a dar nome à Jabulani. Eis alguns já mapeados : Amazônia, Arrastone, Boladona, Bussunda, Brasuca, Carambola, Caturrita, Chimbinha, Chulipa, Gorduchinha, Jaburaca, Jabá-lani, Jabá-nela, Jabulula, Jabutica, Joaninha, Mulata, Pelé, Pelota, Propina, Popozuda, Rebolation, Redonda, Roubulani, Samba, Sambabamba, Trombadinha. Tanajura, Uirapuru e Zumbida. Fichas-sujas Apurando o feeling, sinto que o TSE vai endurecer com os candidatos com fichas-sujas. Que se escudam em liminares para entrarem no pleito. Mais adiante, serão cassados. A conferir. Cooperativismo oportunista As falsas cooperativas usam sempre o expediente de burlar a lei para alavancar seus negócios. Como se sabe, o cooperativismo se rege por normas próprias. Hoje, as cooperativas de trabalho se multiplicam no país, fazendo concorrência com as empresas que prestam serviços. Estas são obrigadas a arcar com uma batelada de tributos, impostos e ônus burocráticos. Já as cooperativas não enfrentam tantas barreiras. Daí a concorrência desleal. Por isso, deve-se aplaudir o decreto 55.938, de 21 de junho deste ano, baixado pelo governador Alberto Goldman. Proíbe a participação de cooperativas nas licitações promovidas pela Administração, direta e indireta do Estado de São Paulo. Exemplo a ser seguido.Conselho aos fichas-sujas Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado ao presidente da CBF, Ricardo Teixeira. Hoje, volta sua atenção aos políticos fichas-sujas : 1. Não corram com muita sede ao pote. Ou seja, não abram muito o bolso, porque poderão perder um bom dinheiro. 2. O TSE examinará, em agosto, o mérito da questão. Os fichas-sujas poderão ser proibidos de entrar na campanha. 3. Tenham um plano B ou mesmo C. No caso de serem impugnados pelo TSE, para onde irão seus votos ? Quem serão os herdeiros de seu legado político ? ____________
quarta-feira, 7 de julho de 2010

Porandubas nº 239

Tempos de Índio Em tempos de Índio do Brasil, vice de Serra, uma historinha do passado. Dia das Mães. Rio de Janeiro era o antigo Distrito Federal. A Câmara de Vereadores realizava sessão solene a requerimento do vereador Frederico Trota, do PTB. O vereador Índio do Brasil (tem algum parentesco com o simpático deputado do DEM ?), em nome do PSP, passou a saudar as mães convidadas que lotavam o plenário, e começou assim seu discurso : - Ninguém mais indicado para ser mãe do que a mulher. Saborosa historinha contada por Sebastião Nery. Empresários e Dilma Nesta segunda-feira, Dilma fez palestra no LIDE, que reuniu cerca de 500 empresários, em um hotel de São Paulo, comandados por João Doria. A ex-ministra abordou os mais variados temas. Deu ênfase à teia social. Condição sine qua para o país sair da condição de emergente para o patamar de nação desenvolvida : acabar com a miséria. Dilma promete fazer a reforma tributária, desonerar investimentos e a folha. Vai respeitar as regras do jogo, manter rígida política fiscal, reduzir gastos. Firmou posição sobre proteção aos jovens e crianças. O país precisa administrar a sua reserva de valores : a floresta amazônica, o pré-sal e a reserva financeira em dólar. Dilma teve uma fala competente, porém linear. Sem grandes tiradas. Dívida de 30% do PIB Hoje, a dívida líquida em relação ao PIB está em torno de 40%. Dilma promete reduzir esta dívida para 30%. MST na pressão Sobre o MST, a candidata procurou levantar o argumento : o governo se mostra sempre disposto a manter abertos os canais de diálogo. Mas é contra a invasão de propriedades produtivas. A audiência queria ouvir opinião mais contundente. Houve, até, certa reação da plateia. Conversa à mesa Na conversa, ouvi comentários ligeiros de empresários. Coisas do tipo : "Para nós, risco Serra é maior do que risco Dilma. Serra tem sido implacável para com os setores produtivos". O temor em relação à candidata Dilma diminui. Sabe nadar ? Seu Lunga, quando jovem, se apresentou à Marinha para a entrevista : - Você sabe nadar ? Pergunta o oficial. - Sei não, senhor. - Mas se não sabe nadar, como é que quer servir à Marinha ? - Quer dizer que se eu fosse para a Aeronáutica, eu tinha que saber voar ? Pesquisa Datafolha Essa pesquisa Datafolha caiu em boa hora sobre a floresta tucana. Acalmou os ânimos. Empate de 39% para Dilma e Serra. Com dados mais favoráveis à Dilma, que tem menor rejeição - 26% para Serra e 23% para Dilma - e maior índice na pergunta espontânea - Dilma conta com 22% e Serra com 17%. Ademais, apoiadores de Lula que ainda não sabem que a ministra é candidata dele poderão lhe dar mais uns 10% de votos. Visibilidade Dilma terá 10min26s de programa eleitoral, enquanto Serra disporá de 7min07s, ou seja, a petista terá 41,6% do tempo total e Serra ficará com 28,5%. Significa que a alta visibilidade de Dilma será importante na estratégia de cooptação e consolidação do voto. Marina terá 1min13s, ou seja, 4,9% do tempo. E os nanicos, somados, chegarão a 25% do tempo, significando 6min14s. Centralização tucana Um dos problemas enfrentados pelos tucanos é a centralização excessiva por parte do candidato José Serra. Tudo passa por ele. Coisas pequenas e grandes. É do seu estilo concentrar poder. Não gosta de dividir. Não adianta programar nada sem o referendo do candidato. Agora, a campanha de marketing e comunicação passará por um conselho, composto pelos cardeais do partido. Gonzalez vai ter de rebolar para agradar a todos. Não conseguirá. Virão críticas fortes. A conferir. Major na amizade Interventor, deputado estadual, constituinte no Pará, João Botelho era Secretário de Segurança, quando recebeu em audiência um capitão do Exército, fardado : - Tenha a bondade, major. - Major, não, doutor Botelho, capitão. - Mas é major na promoção de minha amizade. Entre 45% e 47% O cálculo é este : quem tiver entre 45% e 47% poderá ganhar a campanha no primeiro turno. Este índice daria ao vitorioso os 50% mais um dos votos válidos (fora os nulos e brancos), que é a margem determinada para uma vitória em primeiro turno. Lula de licença Cresce a ideia de Lula tirar licença para fazer a campanha de Dilma. Se esse é o principal projeto do presidente para este ano, como ele faz questão de frisar, a pressão será irresistível. A alternativa é bem viável, eis que o vice Zé Alencar, fora do páreo este ano, é confiável e está administrado bem seus problemas de saúde. Panorama eleitoral Pinço situação dos candidatos em alguns Estados : Acre - Tião Viana (PT) : 33,4%; Tião Bocalom (PSDB) : 23,4%. Pesquisa do Instituto Phoenix, em abril. Amazonas - Omar Aziz (PMN) : 51%; Alfredo Nascimento (PR) : 36%. Pesquisa do Ibope, em junho. Pará - Simão Jatene (PSDB) : 25%; Jader Barbalho (PMDB) : 24%; Ana Júlia (PT) : 23%. Pesquisa do Ibope, no final de maio. Inadimplência O consumo em alta dá nisso : expansão da inadimplência. Prestações com atraso de mais de 90 dias aumentaram em maio e devem continuar alta em junho. Maiores problemas estão nas dívidas de cartões de crédito. Aperitivo Lula promete pagar os proventos atrasados dos aposentados, em agosto, um pouco antes de começar o horário eleitoral, dia 17. Trata-se de um aperitivo que poderá refrescar a cuca dos velhinhos. Para manter a temperatura agradável em toda a campanha. Desde janeiro, paga os 6,14% estabelecidos na MP. Deverá, em agosto, pagar a diferença - 7,7% aprovados pelo Congresso - relativa a 5 meses - de janeiro a junho - beneficiando 8 milhões de aposentados. E esse ônibus, é seu ? Seu Lunga foi pegar um ônibus. O motorista pediu sua carteira de identidade... olhou, olhou, olhou e lançou o desafio : - Mas essa carteira não é sua ! Seu Lunga não perdeu o rebolado : - E esse ônibus é seu, fio de uma égua ? Os Pires Franco A família Pires Franco, do Pará, está tiririca com os tucanos. Simão Jatene, candidato ao governo, fechou as portas para Valéria Pires Franco, que seria candidata ao Senado. Teria feito acordo com Jader Barbalho, que o apoiaria no segundo turno contra a candidata à reeleição pelo PT, a governadora Ana Júlia Carepa. O marido, deputado Vic Pires Franco, decidiu não se candidatar. Saem da vida pública xingando o PSDB. Loures confiante O deputado Rodrigo Rocha Loures, candidato a vice-governador na chapa de Osmar Dias, no Paraná, está confiante. Garante à coluna : "vamos vencer a parada". Mas Beto Richa, o bem avaliado prefeito de Curitiba, ainda é, hoje, o favorito. Planejamento sem improviso Agora que o Brasil ficou fora da Copa, resta mobilizar os esforços da gestão pública e da gestão privada em torno do empreendimento de 2014. Um evento da magnitude de uma Copa Mundial de Futebol precisa ganhar um planejamento completo, inclusive com planos alternativos. Cada segmento deve ser cuidadosamente pensado. As empresas que construirão/reformularão os estádios disporão de know-how adequado ? Vejamos a questão da segurança dos estádios. Na África do Sul, a segurança caberia à vigilância privada. O plano alternativo implicaria o emprego da Polícia local. Diante da greve de vigilantes por falta de salários, policiais assumiram a segurança interna. Mas alguns jamais tinham sequer entrado num campo de futebol. Tumultos. Falhou o planejamento. Sistema de segurança O exemplo da África do Sul precisa ser bem avaliado, a partir da escolha do sistema de segurança dos estádios. Urge evitar que empresas sem história, sem experiência, organizadas apenas para ganhar concorrências entrem na arena. O que se viu naquele país africano tem sido comum entre nós : empresas improvisadas acabam enfrentando greve geral de seus trabalhadores. Salários não foram pagos e até equipamentos deixaram de ser adquiridos. Para não pagar um "mico mundial", a Polícia local teve de assumir funções previstas para a vigilância. O ministro Orlando Silva, nomeado como Autoridade Olímpica, deve começar a relacionar os setores de serviços que entrarão no circuito da Copa de 2014. E os meninos ? O mesmo João Botelho, da historinha acima, encontra o cabo eleitoral : - Como vai ? E sua diletíssima esposa ? E as crianças ? - Tudo bem, deputado. A mulher está ótima. Mas, por enquanto, é um menino só. - E eu não sei que é um filho só ? É um menino, certo, mas que vale por muitos. Então como vão os meninos ? Investimentos na Copa O Estudo Brasil Sustentável - Impactos socioeconômicos da Copa do Mundo de 2014, produzido pela Ernst & Young em parceria com a FGV, faz a seguinte estimativa de investimentos para a Copa de 2014. Mídia : R$ 6,5 bilhões; Estádios : R$ 4,6 bilhões; Parque Hoteleiro : R$ 3,1 bilhões; Reurbanização : R$ 2,8 bilhões; Segurança : R$ 1,6 bilhão; Rodovias : R$ 1,4 bilhão; Aeroportos : R$ 1,2 bilhão; Tecnologia da Informação : R$ 309 milhões; Energia : R$ 280 milhões; Fan parks : R$ 203,8 milhões; Centros de Mídia e Transmissão : R$ 184,5 milhões. Panorama eleitoral Mais radiografia eleitoral nos Estados : Bahia - Jaques Wagner (PT) : 41%; Paulo Souto (DEM) : 32%; Geddel Vieira Lima (PMDB) : 9%. Instituto Vox Populi, no início de maio. Ceará - Cid Gomes (PSB) : 49,1%; Marcos Cals (PSDB) : 1,5%; Lúcio Alcântara (PR) : - Instituto Zaytec, em janeiro. Paraíba - José Maranhão (PMDB) : 43,75%; Ricardo Coutinho (PSB) : 32,7%. Instituto Consult, em junho. Pernambuco - Eduardo Campos (PSB) : 61%; Jarbas Vasconcelos (PMDB) : 30%. Instituto Exatta, no início de junho. Piauí - Silvio Mendes (PSDB) : 36,5%; Wilson Nunes Martins (PSB) : 24,89%; João Vicente Claudino (PTB) : 22,43%. Instituto Amostragem, em junho. Rio Grande do Norte - Rosalba Ciarlini (DEM) : 49%; Carlos Eduardo Alves (PDT) : 16%; Iberê Ferreia de Souza (PSB) : 15%. Instituto Vox Populi, em maio. Sergipe - Marcelo Déda (PT) : 41%; João Alves (DEM) : 34,4%. Instituto Dataform, na segunda quinzena de junho. Fichas sujas, empate Há sete pedidos de liminar, feitos por fichas sujas, que foram aceitos por ministros do TSE. E há sete que foram negados pelo presidente Ricardo Lewandowski. Portanto, a conta está empatada. Em agosto, após o recesso, o plenário do TSE decidirá sobre o mérito da questão. A sociedade espera que o Projeto do Ficha Limpa seja adotado imediatamente. Gastos elevados Na campanha de 2006, os dois principais candidatos à presidência da República, Geraldo Alckmin e Lula, tiveram previsão de gastos da ordem de R$ 210 milhões. Neste ano, a previsão é um aumento de 60%, ou seja, os dois principais candidatos, Dilma e Serra, terão gastos estimados em R$ 337 milhões. Alckmin e Mercadante Geraldo Alckmin promete continuar a desoneração tributária que ele iniciou quando era governador. Serra, depois, não deu continuidade. Aliás, essa é uma queixa que o empresariado paulista registra em relação à dureza serrista - com o braço de Mauro Ricardo - na frente tributária. E propõe também ampliar cursos de nível superior à distância, horário integral na escola e valorização contínua dos professores. Aloizio Mercadante elege como prioridades as áreas de educação, segurança, saúde, transportes e habitação. Mercadante defende o fim de aprovação automática, a construção de escolas, cursos noturnos e a contratação de professores. Na saúde, quer parceria com os programas federais. Votos do nordeste Lula, em 2006, obteve 67% dos votos válidos no nordeste. Alckmin ganhou 26% de votos na região. Dilma tem, hoje, 57%. E Serra mantém 36%. Se Dilma chegar perto do índice de Lula, será a glória. Conseguirá ? Conselho a Ricardo Teixeira Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos candidatos favoritos nas eleições de outubro. Hoje, volta sua atenção ao presidente da CBF - Confederação Brasileira de Futebol, Ricardo Teixeira : 1. Tenha muita cautela ao escolher o novo técnico da Seleção Brasileira. Veja qualidades : capacidade/conhecimento; base psicológica; relação com a imprensa; apoio popular, entre outros. 2. Procure sondar sentimento social a respeito dos nomes. 3. Ao escolhido, deve-se exigir cuidadoso planejamento de todas as fases e ciclos a serem vividos pela Seleção até 2014. ____________
quarta-feira, 23 de junho de 2010

Porandubas nº 238

Está "distituído" O major José Ferreira, cearense dos bons, amigo do padre Cícero, é quem relata : "Há muito matuto inteligente e sagaz, mas também há muito sujeito burro que se a gente amarrar as mãos dele pra trás das costas, ele não sabe mais qual é o braço direito nem o esquerdo... Eu também conheço matuto que, abrindo a boca, já sabe : ou entra mosca, ou sai besteira." O major continua a conversa : "Quando foi criado o município de Missão Velha, a escolha do primeiro intendente recaiu num velho honrado, benquisto e prestigioso, mas muitíssimo ignorante. Cabia-lhe o encargo de declarar instituído o município. Um dos "língua" do lugar seria o orador oficial. Ele, o chefe do executivo municipal, deveria dizer simplesmente : "Está instituído o município de Missão Velha !". Levou quinze dias decorando a frase, e, na ocasião da solenidade, exclamou : "Está DISTITUÍDO o município de Missão Véia." Historinha capturada pelo bom Leonardo Mota em Sertão Alegre, poesia e linguagem do sertão nordestino. As curvas do projeto Ficha Limpa O projeto Ficha Limpa vai passar por um longo corredor antes de ser aplicado na linha da interpretação do TSE. O presidente Lewandowski é claro na interpretação, valendo-se, inclusive, de matéria jurídica já decidida pelo STF. O ministro Marco Aurélio, único voto contrário à interpretação vitoriosa sobre a cobertura do projeto (antigos e novos), usa também o arcabouço jurídico do Supremo para dizer que entendimento do TSE será derrubado. Na dúvida, os implicados apelarão para as Cortes. Garotinho, no RJ, já o fez. Os recursos vão se multiplicar. Mas os condenados em segunda instância já contabilizam perdas : seus nomes e perfis frequentam os espaços midiáticos. Maluf limpo A propósito, Paulo Maluf, que enfrenta uma batelada de processos na Justiça, sai-se com essa : "tenho a ficha mais limpa do Brasil". Em abril deste ano, o TJ/SP condenou Maluf, em decisão colegiada, a devolver R$ 21 mil aos cofres públicos. Decisão que diz respeito à compra superfaturada de mais de uma tonelada de frango pela prefeitura, quando ele era prefeito, de 1993 a 1996. O curral dos fichas sujas Pois bem, o TCU acaba de apresentar a lista : 4.922 administradores em todo o país, acumulando 7.854 condenações por irregularidades em convênios de Estados e municípios com entidades Federais, não poderão disputar a eleição de outubro. Muitos tentarão sair do curral. O maior contingente é do Maranhão : 728 condenações. Esse contingente se soma aos perfis parlamentares que foram condenados em segunda instância. Ofensiva e defensiva Nos últimos dias, esse consultor registra volume ofensivo considerável na frente de batalha de José Serra. A todo o momento, cobra respostas e explicações de Dilma sobre o tal dossiê que teria sido objeto de armação de um grupo de neo-aloprados. Dilma diz que não tem nada com isso. Os caras envolvidos serão objeto de ampla exposição na mídia. A questão é : será que esta questão sensibilizará os grandes núcleos eleitorais ? É mais provável que seja fator de consolidação de grupos já definidos. Tucanos se unirão no uso da trombeta de Serra contra Dilma e petistas dirão que se trata de uma armação. Cada um com sua versão. Pegou o gol ? Chico Alves, editor da Tribuna do Ceará, esperava, domingo de noite, a foto principal da primeira página para fechar o jornal. Ceará e Fortaleza estavam acabando o clássico do Estado, que ia ser a manchete de segunda-feira. Ceará ganha de 1 x 0, com um gol fantástico, de placa. Chega correndo Gumercindo Gomes, velho e cansado fotógrafo. Chico Alves grita aliviado : - Tudo bem, Gumé ? Pegou o gol ? - Não deu pra pegar não, seu Chico. Foi muito rápido. - E agora ? Como é que eu vou fechar o jornal sem a foto do gol ? Você fracassou. - Ora, seu Chico, se o goleiro, que é pago para isso, não pegou, eu é que tinha que pegar ? Quem conta o causo é o amigo Sebastião Nery. Formação de imagem Nesse momento, muitos candidatos se esforçam para produzir uma imagem consoante com os anseios das populações eleitorais de suas regiões. Muitos não sabem por onde começar. Vamos ajudá-los. Eis aqui um breve roteiro. Procurem auscultar questões/demandas gerais e específicas de seus eleitorados e regiões; produzam uma Carta Compromisso com programas, projetos e ações a serem defendidas; selecionem três a quatro pontos-chave para servirem de eixos da identidade; organizem um sistema de comunicação eficaz - com meios e formas - para fazer chegar ao eleitorado o escopo programático; planejem um sistema de articulação com os grupos e entidades organizadas da região; e desenvolvam intensa pauta de encontros, reuniões, caminhadas, etc. Identidade Como pode ser aduzido, primeiro, o candidato deve arrumar o escopo de sua identidade. A seguir, precisa comunicar esse escopo à comunidade política. Ou seja, o primeiro passo é a organização da identidade. A imagem será consequência. Quanto mais verdadeira a imagem - quanto mais próximas identidade e imagem - melhor para a compreensão e a internalização (inserção na cuca do eleitor) do conceito do candidato. Percepções O que é a imagem ? Imagem é a projeção, a extensão da identidade. Tentemos, aqui, analisar a imagem de alguns perfis. Imagem de Dilma : mulher competente, técnica, braço direito de Lula, com certo ar de auto-suficiência, gerentona, ainda jejuna em matéria política, fiadora da herança Lula, sem domínio das massas, expressão técnica, representante da condição feminina com possibilidades de vitória. Imagem de Serra : experiente, preparado, maduro, com vasto histórico político-administrativo, garantidor da herança tucana, fechado, linguagem didático/técnica. Dissonância é disparate Entre os fenômenos que se estudam no processo de comunicação, dois são muito comuns : ruído e dissonância. O ruído, como o nome indica, abriga os desvios nos canais de comunicação, o barulho, a quantidade enorme de mensagens, as linguagens desajustadas e inadequadas. Já a dissonância aponta para a distância entre a verdade e a versão, a identidade e a imagem. Exemplo de dissonância é a logomarca de Roseana Sarney, sugerida por Duda Mendonça : "Novo Governo do Maranhão". A filha de José Sarney já tem 9 anos de Palácio dos Leões. Novo, para ela, soa mais falso que uma moeda de R$ 3. Neste caso, a dissonância é um disparate. "Xecape" do Carlucho Despachado, bom de lábia, ar brejeiro, dono de fazendas, Carlucho Albuquerque aproveitou a viagem ao Recife para matar saudades. Afinal, poderia assistir ao desfile de maracatus e visitar o velho museu para apreciar a decoreba que os meninos de Olinda fazem sobre a saga de sua família, os Albuquerque, aberta por Matias de Albuquerque, 1595/1647. Depois do lazer, Carlucho foi ao médico fazer um exame geral. O médico pergunta : - Sr. Carlucho, o senhor está em muito boa forma para 40 anos. - E eu disse ter 40 anos ? - Quantos anos o senhor tem ? - Fiz 58 em maio que passou. - Puxa ! E quantos anos tinha seu pai quando morreu ? - E eu disse que meu pai morreu ? - Oh, desculpe ! Quantos anos tem seu pai ? - O véio tem 82. - 82 ? Que bom ! E quantos anos tinha seu avô quando morreu ? - E eu disse que ele morreu ? - Sinto muito. E quantos anos ele tem ? - 103, e anda de bicicleta até hoje. - Fico feliz em saber. E seu bisavô ? Morreu de quê ? - E eu disse que ele tinha morrido ? Ele está com 124 e vai casar na semana que vem. - Agora já é demais ! Por que um homem de 124 anos iria querer casar ? - E eu disse que ele queria se casar ? Queria nada, mas ele engravidou a moça, coitada. Carlucho se orgulha da tradição dos Albuquerque de Pernambuco. O golpe do Refis A cada dois ou três anos o governo lança um programa de refinanciamento de dívidas para empresas inadimplentes. Trata-se de uma forma de aumentar a arrecadação e dar uma chance de regularização fiscal ou tributária para empresas devedoras. A maioria, entretanto, aproveita a oportunidade, inscreve-se no programa, consegue a CND e participa do maior número possível de licitações já que está autorizada a fazê-lo por seis meses com este "alvará". Ganha contratos a preços inexequíveis e predatórios ao mercado. Inicia novos contratos, deixa novamente de pagar dívidas fiscais e tributárias e o ciclo predatório continua. É incrível, mas a roda de uma fortuna caloteira é a imagem de um país irresponsável. O barato sai caro Vai aqui um alerta. Quem quiser contratar uma prestadora de serviços, deve ter muito cuidado. Ao final do processo, poderá a contratante se tornar parceira do passivo trabalhista da contratada. No começo, a coisa parece um bom negócio. Tudo porque o preço parece muito alentador. E a contratante, ao querer pagar menos pelo serviço, acha que faz boa economia em relação ao custo cobrado pela prestadora anterior. Depois de algum tempo aparece a dor de cabeça. A contratada não consegue honrar os compromissos tributários, fiscais e trabalhistas. E assim desaparece do mercado. A quem recorrerão seus "herdeiros" ? Ora, à empresa que contratou por preço muito baixo. É assim que os espertos são pegos de calça curta. Favoritos Aparecem os primeiros favoritos de outubro para os governos estaduais : Sérgio Cabral - PMDB - no Rio; Geraldo Alckmin - PSDB - em São Paulo; Beto Richa - PSDB - no Paraná; Renato Casagrande - PSB - em Espírito Santo; Marcelo Deda - PT - em Sergipe; Eduardo Campos - PSB - em Pernambuco; José Maranhão - PMDB - na Paraíba; Rosalba Ciarilini - DEM - no Rio Grande do Norte; Cid Gomes - PSB - no Ceará; Siqueira Campos - PSDB - em Tocantins; Marconi Perillo - PSDB - em Goiás; André Puccinelli - PMDB - no Mato Grosso do Sul. Visão embaçada Nuvens espessas atrapalham visão em alguns Estados. Em Minas, Hélio Costa está na frente, mas Aécio poderá eleger Anastasia. No Maranhão, Roseana Sarney está na frente, mas ninguém sabe se Jackson Lago tem condições de sustentar candidatura. E há Flávio Dino. Na Bahia, Jaques Wagner está na frente, mas corre perigo em um segundo turno. Em Alagoas, o governador Teotônio Vilela poderá passar o comando para Fernando Collor ou Ronaldo Lessa. Calamidade Uma calamidade assola o nordeste, principalmente os Estados de Alagoas e Pernambuco. Mais de mil pessoas desaparecidas e muitos mortos. A tempestade se insere entre os fenômenos incontroláveis pela mão do homem. Os governos Federal e estaduais procuram socorrer as populações. Em ano eleitoral, o imponderável poderá mudar a direção do voto. Vamos ver como se desenvolverão as ações de ajuda. Pesquisa IPESPE em SP Serra, em São Paulo, tem 14 pontos na frente de Dilma : 43% a 29%. Feitas as contas, isso daria, hoje, cerca de 4 milhões de votos de maioria. Pois bem, se não tiver uma maioria entre 4 a 5 milhões de votos em São Paulo, que tem 30 milhões de eleitores, Serra está ameaçado. O nordeste deverá dar a Dilma maioria entre 6 a 7 milhões de votos. Alckmin, nesta pesquisa do IPESPE, tem 50% das intenções de voto. Vitória no primeiro turno. Celso Russomano tem 12% e Paulo Skaf apenas 2%. Para o Senado, Marta tem 38%, Quércia e Netinho de Paula empatam com 17%, Tuma registra 16% e Gabriel Chalita - ainda indefinido - contabiliza 9%. Aloysio Nunes Ferreira, o tucano, tem apenas 6%. Chile, um exemplo No Chile, as decisões do BC são compartilhadas com o Ministério da Fazenda. Essa é a posição de Serra. Se ganhar, diz ele, o BC só vai decidir com a participação das autoridades fazendárias. Ele quer baixar os juros e elevar o câmbio. Conselho aos favoritos Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado ao técnico Dunga. Hoje, volta sua atenção aos candidatos favoritos nas eleições de outubro : 1. É comum o candidato que exibe grande dianteira ante outros usar salto alto e, por consequência, fazer uma campanha modorrenta. Isso é um perigo. 2. Campanha só é ganha após a apuração. Por isso, os francos favoritos devem fazer campanha como se fossem os lanterninhas. 3. A arrogância, a empáfia, o excesso de confiança, a soberba puxam candidatos para o buraco. Cautela e caldo de galinha, senhores favoritos, não fazem mal a ninguém. E ajudam muito nas campanhas. ____________
quarta-feira, 16 de junho de 2010

Porandubas nº 237

Perspectivas e características Luís Pereira, pintor de parede, teve apenas 200 votos em Pernambuco. Mas virou deputado Federal. Suplente de Francisco Julião, cassado, tinha de assumir. Chegou a Brasília de roupa nova e muito comovido. No aeroporto, o potiguar Murilo Melo Filho, conta Sebastião Nery, jogou tinta na boca do novo parlamentar : - Deputado, como vai a situação ? Pensou, pensou, olhou para um lado, olhou para o outro e tascou : - As perspectivas são piores do que as características. Identidade e imagem Postas as candidaturas, a campanha começa a ganhar ares oficiais. Cada candidato terá de fazer chegar sua Identidade aos eleitores. Identidade é um composto de: pensamentos e ideias, experiências, história, atitudes e valores (plano semântico); e maneira de se vestir, de falar, de gesticular (plano estético). Identidade começa com o sufixo Idem (do latim), que significa semelhante, igual. Identidade, portanto, é a verdade da pessoa. Já Imagem é a sombra da Identidade, é a projeção. Quando a sombra está muito distante da pessoa, cria-se uma dissonância. A Imagem não corresponde à verdade. Por isso, candidatas e candidatos, procurem ajustar as Imagens que desejam transmitir aos eleitores à Identidade. Escândalos A pergunta é recorrente : e os escândalos farão alguma diferença ? Os dossiês montados para prejudicar candidaturas surtirão algum efeito ? A resposta é : não. Os eleitores sabem que todos os escândalos em princípio, meio e fim de campanha têm a finalidade de ajudar um candidato em detrimento de outro. E por saberem disso, os eleitores estão devidamente vacinados. Não se contaminam com o clima de denúncias. O efeito é apenas esse : reforça a opinião dos dois lados. Os eleitores de uns ficarão com raiva do candidato adversário; e os eleitores deste candidato ficarão indignados com o outro candidato. Zero a zero. A decisão estará com 1/3 Pois bem, o que estamos vendo é o seguinte : 1/3 do eleitorado está apoiando José Serra; 1/3 do eleitorado está apoiando Dilma; e 1/3 do eleitorado está espiando a cena. Este 1/3 que está nas arquibancadas de observação definirá o resultado da eleição. Ele será guiado e influenciado por três fatores : o conforto econômico (40%), os patrocinadores (30%), como Lula, governadores, prefeitos e outras lideranças políticas e perfis (30%), correspondendo à avaliação que os eleitores farão da Identidade e da Imagem dos candidatos. Essa é mais ou menos a equação eleitoral. Conte-se, ainda, com o detalhe abaixo. Minas, síntese do Brasil Tenho dito e repetido : a eleição passa por Minas Gerais. Este Estado é a síntese do Brasil. Nos últimos cinco pleitos, Minas foi o Estado que registrou a menor diferença entre o índice nacional e os índices regionais, algo em torno de 5%. Quer dizer que Minas aponta o caminho da vitória dos candidatos. Os vitoriosos em todos os grandes pleitos contemporâneos ganharam também em Minas Gerais. Que tem 14 milhões e 300 mil eleitores. E o eleitorado mais indeciso do país. Na última hora, tira o voto do colete. A força dos debates Os debates têm importância central em uma campanha. Por meio deles, o eleitor afere os contendores, estabelece comparações, avalia posições etc. Um candidato mais nervoso, mais preparado, mais tenso, com menor domínio temático, explosivo, contundente, tranqüilo, educado, mais grosseiro : eis aí o painel de características e condições dos perfis captadas pelos eleitores. O preparo para os debates ajuda, mas as situações incontroláveis poderão desestabilizar uma candidatura. Ciro Gomes chamou um eleitor de burro pelo rádio; outra feita, indagado sobre o papel de sua mulher, Patrícia Pillar, na campanha, disse que ela era importante : dormia com ele. Caiu nas pesquisas. Foi grosseiro. O papel de Lula O que vimos, até agora, foi um ensaio de campanha. Que pegará fogo após a Copa. Lula já prometeu usar toda a munição que tem no seu arsenal. E mais : desafia Serra, querendo saber se o ex-governador tem mesmo "sangue de barata", porque fará ele, Lula, muitas provocações para tirar o tucano da seriedade. Lula é macaco velho. Respira política pelos poros. Aprendeu as maldades nos tempos do sindicalismo maquiavélico. Forjou sua experiência com muitas derrotas. Diz que seu maior projeto de vida é : eleger Dilma. Cancelo chuvas A seca era medonha. A Paraíba em desespero, o governador aflito. Um dia, caiu uma chuva fininha no município de Monteiro. Inácio Feitosa, o prefeito, correu ao telégrafo : "Governador José Américo : chuvas torrenciais cobriram todo município de Monteiro. População exultante: Saudações, Feitosa". Os comerciantes da cidade, quando souberam do telegrama, ficaram desesperados. O município não ia mais receber ajuda. Ainda mais porque a mensagem era falsa e apressada. Feitosa correu de novo ao telégrafo : "Governador José Américo : cancelo chuvas. População continua aflita. Feitosa, prefeito". A favorita Hoje, a ex-ministra é a franca favorita do pleito. E a razão é simples : peguem os dados da equação descrita no início da Coluna e somem os fatores positivos - a favor e contra ela. Façam a mesma coisa em relação a Serra e Marina. A conclusão é a de que a pirâmide social foi toda ocupada por programas do governo Lula. Tenho usado um conceito simbólico para expressar o favoritismo de Dilma Rousseff : o Produto Nacional Bruto da Felicidade (dinheiro no bolso com certo conforto social) aponta na direção dela. Serra, por sua vez, terá dificuldade em montar o discurso, que deverá se pautar por verbos como : melhorar o que existe, ampliar os programas, aumentar a rede social etc. Se disser que vai mudar alguma coisa - que está dando certo - poderá ser rejeitado. Mudanças Então, não poderá Serra usar o termo mudança ? Ele tem usado o slogan : o Brasil pode mais. E fará mais com ele. Essa foi a saída encontrada por seus marqueteiros. Mas ele poderá usar mudança ao se referir a aspectos da macroeconomia, área que não é palatável para as massas. Serra tem dito que vai baixar os juros e o empresariado gosta dessa abordagem. Mexerá, ainda, na política de câmbio, para evitar um câmbio tão baixo, que prejudica as exportações, tema também do agrado de setores como o agronegócio. Mas a palavra mudança, quando focada para os braços sociais, dá pesadelo. Campanha negativa Os candidatos terão de controlar muito a expressão. E a razão é muito conhecida : campanha negativa não ajuda candidatura. Quem se prestar ao esforço de passar uma campanha xingando, acusando, criando atritos, poderá ser visto como perfil negativo. É claro que os contendores devem reagir à altura diante de acusações pesadas. Mas o substantivo é melhor que o adjetivo em campanha eleitoral. Porque eleva as pessoas, conferindo-lhes uma taxa de liturgia e seriedade. História (1) Depois de nove anos em campanha, Alexandre, o Grande, parou de conquistar povos. Essa parada ocorreu no dia em que ele se preparava para cruzar o rio Beas, na Índia. O general gritou : "Adiante!". Os homens responderam : "Nem pensar". E assim tudo se acabou. Alexandre já não conquistava a admiração de seu Exército. Por que seus homens se recusaram a continuar ? Uns dizem que os soldados estavam com saudades de casa. Outros de que estavam cansados de aguentar chuvas. O biógrafo Peter Green é de opinião que eles finalmente compreenderam que o objetivo de Alexandre era conquistar o mundo. E eles não estavam dispostos a tanto. Avanço e recuo em SC Eduardo Moreira, presidente do PMDB de Santa Catarina, procurou o presidente nacional do partido, Michel Temer, para que este marcasse uma reunião com Dilma Rousseff. Michel marcou. Na reunião, garantiu aliança com o PT no Estado. Firmou posição. No sábado, os convencionais de SC votaram na convenção do PMDB, em Brasília. Na segunda-feira, Temer é surpreendido com a virada. Moreira virou vice na chapa de Raimundo Colombo, do DEM, candidato ao governo. Este consultor ouviu um Temer furioso, bem diferente do perfil equilibrado. Dizia ele : André Pucinelli, do Mato Grosso do Sul, sempre me dizia que iria apoiar Serra. Jarbas Vasconcelos sempre se manifestou também na direção do PSDB. Ao contrário de SC. Que traiu o compromisso. A direção pensa em intervenção em SC. Exposição de Serra Depois da ascensão de Dilma, na esteira de ampla visibilidade, espera-se a subida de Serra na montanha eleitoral. Mas há um busílis : a Copa. Serra vai aparecer muito - inserções do DEM, PPS e PSDB - no meio dos jogos. Ou seja, haverá certo processo de canibalização. Será esmaecido pela catarse futebolística. De qualquer forma, tenderá a crescer. Se não ocorrer, sinal vermelho. Quando a Copa acabar e se o empate continuar, na escala de 0 a 100, Dilma sobe para uma escada com uma inclinação de 65 graus. Jogo a zero grau ? Essa Coluna é fechada na terça. Vou arriscar : 2 a 1 para o Brasil. Se der mais, ótimo. Se não, indignação. Nesse momento, os leitores se dividem entre esses dois sentimentos. Pequena vitória é meia frustração. Empate e derrota são motivos de intenso xingamento. Culpa de quem ? Da pouca pomada que o médico da seleção, José Luiz Runco, botou nos jogadores para aliviar o frio de zero grau ? Se o resultado for ótimo, foi densa a camada de pomada. Precisamos trabalhar O brigadeiro Eduardo Gomes fazia, no largo da Carioca(Rio de Janeiro), seu primeiro comício da campanha presidencial de 1945. A multidão o ouvia em silêncio : - Brasileiros, precisamos trabalhar ! Do meio do povo, uma voz poderosa gritou : - Já começou a perseguição ! Bagunça geral. O comício quase acabou. Cadê o Skaf, hein ? Cadê o socialista Paulo Skaf, hein ? Ele é o único caso na história do marketing político no Brasil que contratou um marqueteiro bem antes de homologar a candidatura. Duda Mendonça será o homem da cosmética publicitária. Se alcançar 5% dos votos em SP, poderá se considerar um político iniciante com razoável performance. Olho na Rede Globo Há um olho apurado sobre a cobertura das eleições pelo Grupo Globo. Aliás, o Grupo fez questão de produzir uma Carta de Princípios para orientar a cobertura das eleições. Nenhum de seus colaboradores poderá fazer campanha nos textos que produzem. Ou dar ênfase a um em detrimento de outro. O jornal O Globo com seu Estatuto das Eleições produz, assim, uma vacina ética contra futuras versões sobre cobertura tendenciosa. O Grupo se compromete a cobrir com equilíbrio, independência e pluralidade. Aqui pra nós, Lula acha que a Rede Globo favorece os tucanos. História (2) A derrota de Napoleão costuma ser atribuída ao inverno russo. Aliás, esse sempre foi o argumento usado pelo próprio. Mas o exército napoleônico estava arrasado bem antes de o inverno chegar. Napoleão deixou Moscou com cerca de cem mil homens. Em 12 de novembro de 1812, primeiro dia em que a temperatura caiu abaixo de zero, haviam sobrado apenas quarenta e um mil. Não foi apenas o frio do inverno que matou os soldados. Foram as doenças. O clima enfraqueceu os homens de Napoleão, mas a temperatura não estava fria o suficiente para matá-los. O exército de George Washington, décadas antes, sobreviveu a clima muito pior. A descoberta mais estranha dos historiadores é que seu exército provavelmente sofreu tanto com o calor como com o frio. O verão russo de 1812 foi tão quente que dezenas de milhares de seus soldados morreram de insolação e desidratação. Conselho a Dunga Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado ao pré-candidato ao governo de Minas Gerais, senador Hélio Costa. Hoje, volta sua atenção ao técnico Dunga : 1. Use todos os seus conhecimentos e experiência para que os jogadores brasileiros alcancem a única meta que interessa : a vitória. 2. Os jogadores brasileiros têm um algo a mais : criatividade, genialidade, capacidade de improvisação. É claro que sua visão dura - voltada exclusivamente para a eficácia - poderá, eventualmente, canibalizar a força criativa do conjunto. Mas deixe o grupo usar também a genialidade. 3. Diz-se que você tem ouvidos moucos para a opinião pública. Dunga, a chamada Pátria de Chuteiras pede que seja também ouvida. ____________
quarta-feira, 9 de junho de 2010

Porandubas nº 236

Alerta Cuidado, senhores candidatos e senhoras candidatas. Muito cuidado com a liturgia de abraçar pessoas e beijar crianças. Francelino Pereira, ex-governador de Minas, ex-senador e ex-deputado federal, nos fundões do Estado, fazia a maior demagogia. Encontrou um grupo de crianças. Começou a suspendê-las pelos braços e a beijá-las. De repente, sentiu algo estranho. Era uma cara cheia de barba. Francelino havia beijado o anão de Uberaba. Ibope confirma Dos Institutos de Pesquisa, faltava apenas o Ibope. Que confirma o empate entre Dilma e Serra : 37%, no primeiro turno, e 42% no segundo turno. O que esse cenário quer dizer ? Vamos lá. O segundo turno tende a favorecer a candidata situacionista. Os candidatos apoiados por estruturas governamentais somam melhores condições. O poder da máquina federal puxa grupos e lideranças. O governismo age como um rolo compressor. Lula comandará as estratégias de cooptação de votos. Dilma passa, então, a ser favorita. A tipologia eleitoral Como este consultor tem avaliado, o eleitorado de Dilma se agiganta no nordeste. Serra ganha no sudeste, mas sua maioria está diminuindo. Poderá anular a vantagem de Dilma no nordeste com a eventual maioria que tirará do sul e do sudeste. Minas, porém, será uma incógnita. Tem 14,2 milhões de votos. O mineiro é desconfiado. Hélio Costa, do PMDB, terá o apoio do PT para disputar o governo. Mas Aécio Neves poderá puxar a vitória para Anastasia. Ocorre que a vitória do vice Anastasia não significa a vitória de Serra em MG. Lá, o voto poderá favorecer a mistura Dilmasia ou Anastadilma. A razão ? Perguntam-me a razão. Digo : o orgulho mineiro. Os mineiros não querem ver Aécio Neves como segundo ou terceiro. E sim como o primeiro. Deveria ele estar no lugar de Serra. Se não é Aécio, podem optar por uma candidatura mineira, nesse caso, a de Dilma, que nasceu no Estado. Há uma rixa histórica entre Minas e São Paulo. Acho que Minas Gerais poderá ser o principal termômetro desta campanha. Com o Rio de Janeiro, terceiro colégio eleitoral, cumprindo também papel preponderante. E Dilma tende a ganhar no Rio, se caso Sérgio Cabral levar boa vantagem. Vox de Dilma Já o Vox Populi fez uma pesquisa sob encomenda do PT que dá Dilma com 6% de vantagem em relação a Serra. No segundo turno, são 8 pontos de diferença para a petista. A favor de Serra Este consultor crê que o favoritismo de Dilma pode ser esvaziado ante as seguintes situações : acidente/incidente de percurso por parte da campanha petista como a extravagância de produção de dossiês contra Serra; gafes continuadas de Dilma; alterações continuadas na fachada principal (a fisionomia da candidata), pois o efeito cosmético poderá lhe sugar a identidade; climas emotivos nacionais - catástrofes, desastres - que sujem a imagem do governo Lula. A favor de Dilma A continuidade do PNBF - Produto Nacional Bruto da Felicidade - amálgama de fatores : dinheiro no bolso, conforto social, geladeira cheia, carro novo, transporte barato, escolas perto de casa, bolsa família chegando todo mês; luz para todos; casa própria; dinheiro para ajudar a produzir boa colheita; enfim, os braços assistenciais do governo Lula. O caminho do voto O voto começa pelo bolso, vai subindo até o coração e, depois de longo percurso, chega à cabeça. Esse é o caminho do voto e da geografia eleitoral. Do estômago das massas chega ao escopo crítico das classes mais aculturadas. Que somam bem menos gente do que os contingentes nas gerais. E a Copa, hein ? A Copa poderá servir como gigantesca estrutura de consolação, que funciona como espaço da catarse coletiva. Se o Brasil ganhar, comoção e locupletação emotiva. Se perder, decepção e frustração coletivas. Mas o eleitor não confunde vitória ou derrota com o político ou o governante. Quem desejar tirar partido do gol, acabará na linha do pênalti. Pêsames (e não palmas) em Tocantins A Assembleia Legislativa de Tocantins acaba de dar um golpe na Carta Magna. Um deputado, de nome Stalin - que não se perca pelo nome -, conseguiu aprovar seu projeto para estiolar as funções do Tribunal de Contas do Estado. A lei revoga dispositivos da Lei Orgânica do TCE - que enquadravam os prefeitos, no exercício das funções de ordenador de despesas -, a se submeterem às competências do Tribunal. Ou seja, pretende que o TCE não julgue mais os prefeitos na condição de ordenadores de despesas, o que acontece em 137 dos 139 municípios do Estado. O projeto é uma curva na CF, que dispõe sobre a exclusividade dos Tribunais de Contas na iniciativa de propor alterações na Lei Orgânica. Se a moda "stalinista" pegar, o caminho da gastança sem controles não terá fim. Mas a Atricon - Associação dos Tribunais de Contas impetrou ADIn no STF. Vamos aguardar os resultados. Livro-dossiê ? Este consultor recebeu um briefing sobre o livro do jornalista Amaury Ribeiro Júnior, que teria sido contatado por Luiz Lanzetta, o cara que teria feito as sondagens para a produção de dossiês contra Serra. Fofocagem sob encomenda. Por não acreditar nessas baboseiras, este consultor não abre espaço para o acervo que discorre sobre negócios da família do ex-governador de São Paulo. Agirá do mesmo modo, caso chegue pacote sob encomenda contra figuras do PT. Juiz ? Também o fui Jânio Quadros era um ás na técnica da enrolação. Visitava Fortaleza e ficou na casa do deputado Jorge Furtado Leite. Descansava numa rede, quando Furtado tentou convencê-lo a receber uma comitiva de juízes. - Não os recebo. Juiz é magistrado. Não pode fazer política. Eles não têm nada a me dar e nem tenho nada a prometer-lhes. De repente, viu que estava cercado de juízes. Prontamente se levanta e exclama, em alto e bom som : - Juízes dessa querida terra, que também o fui... E conversou lorota por mais de duas horas com eles. Sob o efeito de uma cachacinha. Nova comissão A OAB/SP criou a "Comissão de Estudos de Recuperação Judicial e Falência". A ideia foi do advogado Luiz Antonio Caldeira Miretti, nomeado seu presidente. Miretti, representando a Seccional Paulista da Ordem, será palestrante no "Congresso Internacional de Direito Empresarial", discorrendo, no dia 11, às 10h30, sobre os "Os cinco anos da Lei de Recuperação e Falência". O evento será pelo INRE - Instituto Nacional de Recuperação de Empresas, nos dias 10, 11 e 12/06/10, no Hotel Sofitel, em São Paulo. Quem paga o pato ? Nós Esta coluna abre uma campanha de moralização no complexo terreno das licitações. Pano de fundo : estratagemas de certas empresas para ganhar o bolo. Expliquemos. Empresas estatais possuem um passivo trabalhista que poucos conseguem imaginar. No afã de demonstrar eficiência na hora de contratar serviços de terceiros, buscam, apenas e tão somente, o menor preço apresentado. A prestadora contratada por este critério, na maioria das vezes, acaba quebrando e seus funcionários, sem terem a quem acionar, voltam-se contra a estatal que responde subsidiariamente pelas ações trabalhistas. O passivo trabalhista da estatal cresce. E quem acabará pagando o pato ? Ora, todos os cidadãos que pagam impostos. Moral : é mais razoável buscar o melhor preço possível e não simplesmente o menor. O barato acaba saindo muito caro. O viés do pregão O Estado consegue fazer economias, aliás, bem-vindas, por meio deste processo de compras, que nada mais é do que um leilão ao contrário. Entretanto, por falta de parâmetros para estabelecer a formação de preços, ou ao menos do custo do serviço, fica difícil ao pregoeiro justificar a não contratação de uma empresa que ofereça o menor - muito menor - preço. O país possui muitos institutos capacitados. Por que não são chamados a realizar estudos sobre o chamado "preço inexequível" ? Ficha Limpa A lei da Ficha Limpa, sancionada por Lula, está à espera de uma interpretação por parte do TSE. Valerá para este ano ou apenas para 2012 ? Pela lei, para ser impedido de registrar candidatura, o político deve ter sido condenado por um órgão colegiado, ou seja, em que há mais de um juiz. Áreas das condenações : tráfico de drogas, formação de quadrilha, racismo ou tortura, além de crimes eleitorais, por exemplo, fica inelegível por oito anos. É ainda o caso de punições por ações civis de improbidade administrativa, mas só se as acusações forem de enriquecimento ilícito ou lesão aos cofres públicos. Os condenados poderão recorrer para viabilizar a candidatura. O projeto recebeu a adesão de 1,6 milhão de assinaturas sobre a aplicação da lei. O STF também pode ser consultado com uma ação para confirmar a constitucionalidade do texto aprovado. Números da terceirização O país tem, hoje, mais de 31 mil empresas de serviços terceirizáveis que, juntas, faturam acima de R$ 43 bilhões ao ano. As regiões sudeste e sul são as que concentram a maior parte desse montante. A remuneração mensal destes profissionais paga pelas empresas gira em torno de R$ 918, totalizando R$ 18 bilhões ao ano. Os dados são da 4ª Pesquisa Setorial, encomendada pela Asserttem - Associação Brasileira das Empresas de Serviços Terceirizáveis e de Trabalho Temporário. Com relação à empregabilidade, o Brasil possui, hoje, mais de 8 milhões de trabalhadores terceirizados, o que representa quase 9% da população economicamente ativa. Jovens em situação de primeiro emprego representam 12,5% das vagas preenchidas. A terceira idade responde por quase 14% do total de contratos com empresas terceirizadas. Conselho a Hélio Costa Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos jogadores da seleção. Hoje, volta sua atenção ao pré-candidato ao governo de Minas Gerais, senador Hélio Costa : 1. Definida sua candidatura pelo PMDB, cuide, agora, de garantir o prometido apoio do PT. Pelo andar da carruagem, há alas querendo traição. 2. Haverá muita casca de banana pelo caminho. A serem jogadas pelas alas descontentes. 3. O futuro político do governador Aécio Neves estará atrelado ao sucesso de seu candidato ao governo, o vice Anastasia. Aécio fará tudo o que for possível para eleger seu sucessor. Panorama bem provável. ____________
quarta-feira, 2 de junho de 2010

Porandubas nº 235

Historinhas do Pará O Pará já teve políticos muito engraçados. Um deles, João Botelho foi interventor, deputado e constituinte. Certo dia encontra um cabo eleitoral : - Como vai ? E senhora sua esposa ? E as crianças ? - Tudo bem, deputado. Minha mulher está ótima. Mas, por enquanto, é só um menino, certo ? - E eu não sei que é um filho só ? Mas é um menino que vale por muitos. Então, como vão os meninos ? ********** Outra figura folclórica do Pará foi Magalhães Barata, revolucionário em 1924 e 1930, interventor, constituinte em 46, senador e governador. Tinha ele um candidato a prefeito de Santarém. Mas o diretório local do PSD queria outro. Ia perder. Foi lá, conversou, pediu votos. Não teve jeito. Perdeu a eleição no diretório : 15 a 5. Pegou microfone : - Meus senhores, pela primeira vez a minoria vai ganhar. Está escolhido o candidato que perdeu. A plateia bateu palmas. O velho Barata encerrou os trabalhos : - E, pela primeira vez, a minoria ganhou por unanimidade. Pendenga em Minas Pensava-se que a pendenga entre PMDB e PT estivesse quase apaziguada. O PT nacional ameaçou intervir. Conversa vai, conversa vem. Fernando Pimentel, que também coordena a campanha de Dilma, ganhou uma convenção interna, que tinha como adversário Patrus Ananias. Ficaria, assim, mais fácil equacionar a pendenga, eis que, na linha de frente da campanha petista, Pimentel deveria ser o primeiro a facilitar as coisas para o PMDB. Afinal de contas, o PT não pode ameaçar a aliança com o partido que lhe dará o maior de tempo de TV e rádio. Pois bem, quando tudo parecia ir às mil maravilhas, eis que o imbróglio continua. Hélio Costa não arreda pé. Nem Pimentel. PT versus PT Não bastasse a pendenga entre PT e PMDB, há outra : PT contra o próprio PT. Agora, é a divisão paulista contra a divisão mineira. Do lado de São Paulo, o mando está com o deputado e jornalista Rui Falcão, que dará as cartas no quesito comunicação. Do lado mineiro, é ele, mais uma vez, que comanda a rebeldia. Fernando Pimentel, na coordenação geral da campanha dilmista, começa a acender uma fogueira na direção de Falcão. Escorpiões correm pelos flancos. Vamos ver quem ganhará a picada mortal. Instituto Lula Lula é previdente. Já toma providências para alugar um amplo escritório em São Paulo, onde instalará seu Instituto. Vai fazer palestras pelo mundo afora. Deve cobrar caro. O preço da fama. No ônibus "O Seu Lunga consegue um emprego de motorista de ônibus. No primeiro dia de trabalho, já no final do dia, ele para o ônibus em um ponto. E uma mulher pergunta : - Motorista, esse ônibus vai para a praia ? E o Seu Lunga responde : - Se você conseguir um biquini que dê nele..." Pós-Lula ou anti-Lula ? Dúvida cruel : pós-Lula ou anti-Lula ? José Serra, como se sabe, tem se precavido no ataque ao presidente Luiz Inácio, cuja aprovação social bate recorde. Mas Lula não tem tido a mesma precaução. Quando pode fustiga Serra. Chega a fazer gozação. Há um grupo no entorno do ex-governador paulista sugerindo que ele entorne o caldo e passe a dar estocadas no lulismo. Serra continua tomado por dúvidas. Ser ou não ser o anti-Lula, eis a questão. E quando Lula for à guerra ? Dilma está com 37% segundo o Datafolha, em empate técnico com Serra. Ora, a maior parcela dessa votação provém da transferência propiciada pelo patrono da candidata, ele mesmo, Lula. Imaginem, agora, quando Lula for ao palanque sem o olhar do TSE. A campanha aberta começará em 6 de julho. Pelo prestígio alcançado e pela fama de palanqueiro treinado na arte de mobilizar as massas, a projeção é a de que a ex-ministra cresça. A não ser que incidentes de percurso atrapalhem a caminhada. Ela, Dilma, poderá ser o próprio entrave ao crescimento. Na língua "Seu Lunga fumando um cigarro. Pergunta imbecil : ora, ora ! Quer dizer que gosta de fumar ? - Não, tô apagando o cigarro na língua, pois gosto é de me queimar." Marina sufocada Marina Silva tem mais carisma que Dilma e Serra. Mas não dispõe de tempo de TV para exibir sua performance e atrair as multidões. Marina é suave, tem um jeito de santa de altar. Mas será sufocada pelos tempos de TV e rádio de Serra e Dilma. A campanha dos rivais será polarizada. E ela, no meio, terá muita dificuldade para respirar. E ganhar boa visibilidade. Aécio indica Tasso Mais uma vez, Aécio Neves toma a palavra para dizer : não sou candidato a vice. Nem que a vaca tussa. Ocorre que o ex-governador mineiro, de férias na Europa, deixou correr versões estrambóticas sobre seu destino. Ao chegar de férias, desmentiu a boataria. Mas tucanos insistiram na tese. E ontem, Neves, no Estadão foi definitivo. Não será candidato a vice. E fará melhor por Minas e por Anastasia, candidatando-se ao Senado. Este consultor já havia adiantado esta hipótese. Vice, correria o país e deixaria Minas de lado. Candidato ao Senado, correrá todo tempo o Estado ao lado de seu vice Anastasia. Agripino, o agregador Mas há quem garanta : o nome mais agregador para vice de Serra é José Agripino, do DEM do RN. Mas esse líder do DEM no Senado não topará. Major quem ? Olímpio Um tal de major Olímpio foi indicado pelo PDT como vice na chapa de Aloizio Mercadante. O nome é desconhecido. Mas o PDT cederá seu tempo de TV e rádio. Na vaca O filho de Seu Lunga e um amigo sofreram um acidente com uma moto. Tinham batido numa vaca. A ambulância chega. O enfermeiro coloca o filho de Seu Lunga na ambulância, enquanto pergunta : - Seu filho tava na moto ? Seu Lunga responde: - Não, tava na vaca ! O tom das Centrais As Centrais Sindicais querem dar o tom das eleições. Vão vaiar Serra e aplaudir Dilma. Dominam o campo das relações do trabalho. Recebem muita grana. Defendem os amplos domínios. Palestra em Palmas Palmas, em Tocantins, sediará o 2º Seminário de Comunicação dos Tribunais de Contas do Brasil. Farei palestra nesse evento : "Os desafios da comunicação pública no Brasil". Será no dia 8 de junho (próxima terça-feira), às 14h, na sede do TCE/TO, Auditório Brigadeiro Felipe Antônio Cardoso. O seminário terá transmissão ao vivo, pelo site www.tce.to.gov.br. Cristovam volta É bem provável a volta de Cristovam Buarque ao Senado. Trata-se de um bom senador. Com um histórico de destaque na área da Educação. Ficha Limpa O advogado geral da União, Luis Inácio Adams, recomenda em parecer sanção do presidente Lula ao projeto Ficha Limpa. Lula tem até o dia 8 de junho para sanção. A AGU garante que a mudança de texto no Senado não altera a essência do projeto. E entende que a lei poderá ser aplicada já este ano. Vai haver polêmica. Alguns juízes acham que só valerá em 2012. A malandragem Querem saber a origem da malandragem no Brasil ? Veja o finalzinho da Carta de Pero Vaz de Caminha a El Rei de Portugal. "E nesta maneira, Senhor, dou aqui a Vossa Alteza conta do que nesta terra vi. E, se algum pouco me alonguei, Ela me perdoe, pois o desejo que tinha de tudo vos dizer, mo fez por assim pelo miúdo. E pois que, Senhor, é certo que, assim neste cargo que levo, como em outra qualquer coisa que de Vosso serviço for, Vossa Alteza há de ser de mim muito bem servida, a Ela peço que, por me fazer graça especial, mande vir da Ilha de São Tomé a Jorge de Osório, meu genro - o que dela receberei em muita mercê." E conclui Caminha: "Beijo as mãos de Vossa Alteza. Deste Porto Seguro de Vossa Ilha de Vera Cruz, hoje, sexta-feira, primeiro dia de maio de 1500. Pero Vaz de Caminha." Um pedido aqui, um trololó acolá e muita bajulação. Jader volta ao Senado A querela entre PMDB e PT no Pará está prestes a se desfazer. Jader Barbalho aceitou ser candidato ao Senado, com o apoio de Ana Julia, a governadora, que enfrenta a reeleição. Jader, que já presidiu o Senado, e teve de renunciar para não ser cassado - ele e ACM - voltaria em grande estilo. Com boa votação. Terá papel importante nas composições políticas do Senado. A improbidade "Onde todos lucram, ninguém pensa; ninguém sonha onde todos tragam. O que antes era signo de infâmia ou covardia, torna-se título de astúcia; o que outrora matava, agora, vivifica, como se houvesse uma aclamação ao ridículo; as sombras envilecidas se levantam e parecem homens; a improbidade se pavoneia, e se ostenta, ao invés de ter vergonha e pudor." (José Ingenieros) Candidatos na rede O político precisa se manifestar nas grandes polêmicas da sociedade. Tem que dizer o que pensa e conquistar o eleitorado com defesas e ataques. Um canal interativo é essencial para o sucesso nas redes sociais. A internet deixou o eleitor mais participativo, mais crítico. O eleitor está muito mais organizado, acompanhando a cena política com mais força. A internet é diferente da TV, que promove uma comunicação unilateral. A resposta da web é simultânea e o eleitor está familiarizado com isso. Frente do agronegócio O deputado Moreira Mendes, do PPS de Rondônia, assumiu a presidência da Frente Parlamentar do Agronegócio. O parlamentar, que já exerceu mandato de senador, comandará uma bancada de cerca de 300 parlamentares no Congresso. A senadora Kátia Abreu, dos Democratas, presidente da CNA, demonstrou satisfação pela nomeação de Mendes. Conselho aos jogadores da seleção Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos partidos nanicos. Hoje, volta sua atenção aos jogadores da seleção : 1. Procurem temperar a garra com que enfrentarão adversários com as virtudes da modéstia, da simplicidade e da solidariedade. 2. Evitem sentimentos que torpedeiam a eficácia, como a arrogância, o destempero, a desarmonia e o excesso de individualismo. 3. Esses dias que antecedem o início da Copa devem ser utilizados também para aperfeiçoamento da mente e a busca de novos valores. ____________
quarta-feira, 26 de maio de 2010

Porandubas nº 234

Adeus, grande juíza Esta coluna registra, com muito pesar, a morte de uma grande juíza : Catia Lungov. Tive oportunidade de conhecer seu pensamento. Raras vezes, ouvi expressão tão cívica, tão cheia de amor pela pátria, tão compromissada com o Ideário de Grandeza quanto a expressão desta nobre Desembargadora. Dela, podemos dizer como Ingenieros disse de outros semelhantes : "Os caracteres excelentes ascendem à própria dignidade, nadando contra todas as correntes rebaixadoras, a cujo reflexo resistem com energia. É fácil distingui-los, imediatamente, em face de outros, pois não desvanecem nessa névoa moral em que aqueles se descoloram. Sua personalidade é toda brilho e aresta : firmeza e luz, como cristal de rocha." Tira-teima ou ensaio ? Afinal de contas, a pesquisa Datafolha foi um tira-teima ou mero balão de ensaio ? Expliquemos. As duas pesquisas anteriores, feitas pelo Vox Populi e Sensus, mostravam crescimento da candidata Dilma. Muita gente pensava : esses Institutos tendem a favorecer a candidata governista. E esperavam a pesquisa Datafolha, considerada imparcial por ser patrocinada por um grande grupo jornalístico. Nesse sentido, a pesquisa foi um tira-teima. E o que mostrou ? Mostrou o crescimento de Dilma em todas as regiões do país. Mesmo assim, muitos acham que estamos apenas na fase de ensaios. Pode ser. Raio x A pesquisa Datafolha mostra facetas interessantes. Dilma ainda não é totalmente conhecida pelo eleitorado de Lula. Ela ganhou 6 pontos nesse eleitorado - eleitores que dizem votar no candidato indicado pelo presidente. Mas há, ainda, 13% de eleitores do bolsão exclusivo de Lula que poderão ser conquistados por Dilma. Ou seja, ela tem condição de avançar sobre esse grupamento. Outro dado que chamou atenção : a rejeição de Serra subiu para 27%. Dado perigoso. Perto do calvário. E a rejeição da candidata governista baixou para 19%. Isso é muito ruim para o ex-governador paulista. Sudeste e sul No sudeste, há um mês atrás Serra mantinha uma diferença de cerca de 20 pontos de Dilma. Reinava absoluto. Hoje, essa diferença caiu para 7 pontos percentuais. O sudeste tem quase 44% dos votos do país, algo como 58 milhões de votos. Maioria de 7 pontos significa, hoje, algo como 4 milhões de votos. É pouco para Serra. Se ele não contar com uma maioria de 8 a 9 milhões de votos na região, deverá ser afogado pela avalanche de votos de Dilma no nordeste, que tem cerca de 27% dos votos do país. A incógnita Este consultor vem avisando há tempos : a grande incógnita será MG. Aécio será vice de Serra ? Por enquanto, ele continua afirmando que quer ser senador. Minas gostaria de vê-lo no lugar de Serra, não como sombra dele na vice. Por isso, lá haverá um voto mesclado : Anastasia e Dilma. E mais : Aécio ajuda mais Anastasia, que está bem atrás de Hélio Costa, como candidato ao Senado. Assim, ele poderá correr o Estado com Anastasia. Se for vice do Serra, terá de correr o país ao lado dele. E deixará ao léu a candidatura do seu pupilo ao governo. De lado O elevador está no subsolo. Seu Lunga está nele. Alguém pergunta : - Sobe? Seu Lunga : - Não, esse elevador anda de lado. Marina cresce Marina Silva chegou aos 12%. Poderá atingir 15%, pegando os bolsões mais jovens e grupos da classe média alta. Que escolherão perfis politicamente mais assépticos. Marina tem como desafio sair da redoma ambientalista e abrir o discurso para temas gerais de interesse coletivo. O vice que escolheu, o empresário Guilherme Leal, será um escudo contra as intempéries. Mercadante e Alckmin O PT vai fechar chapa puro sangue em SP : Mercadante e Suplicy. O índice histórico do partido é de 30%. Seguramente essa será a margem com que Mercadante contará. Geraldo Alckmin terá dificuldades em segurar a alta taxa que tem, hoje, 51% das intenções de voto. Geraldo, por índole, não gosta de ataques e veemência. Mas encontrará o perfil acirrado e contundente de Mercadante. Em debate, poderá passar a ideia de fragilidade. Se conseguir segurar 45% de intenção de voto, pode chegar aos 50% mais um dos votos válidos e ganhar no primeiro turno. Muito difícil, mas não de todo improvável. Sabonete Entra um sujeito na sucata de Seu Lunga, escolhe um relógio um pouco velho e pergunta : - Seu Lunga, esse relógio presta pra tomar banho ? - Eu prefiro um sabonete - resmunga o velho. Programa do PMDB O PMDB deve entregar ao PT seu programa para o país. Trata-se de um denso documento contendo diretrizes e abordagens em praticamente todos os setores da vida econômica e social do país. Avança em muitos aspectos; delineia diretrizes para as reformas previdenciária e tributária; faz ampla inserção sobre o processo educacional no país, pregando uma revolução no ensino fundamental; aborda com muita propriedade os avanços e atrasos nas políticas de saúde, segurança e saneamento; prega ações especiais para o nordeste, a Amazônia, o norte e o centro oeste; define os caminhos para a reforma do Estado e a reforma política e as linhas de um Plano de Defesa Nacional. Crença "No primeiro turno a gente vota em quem acredita. Em quem o coração da gente acha que é o melhor para o Brasil. No segundo turno, a gente se desvia do pior. Mas isso só a sociedade brasileira pode fazer." (Marina Silva, ontem, na CNI) Grandes colaborações O programa do PMDB recebeu colaborações substantivas de Michel Temer, Delfim Netto, Henrique Meirelles, Nelson Jobim, Mangabeira Unger, o Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade da FGV/Rio de Janeiro, Moreira Franco, Eliseu Padilha e Aníbal Teixeira. Multas contra Lula O TSE multou Lula três vezes. Dilma ganhou duas multas. Pairam ameaças sobre decisões mais drásticas caso ela continue a cometer infrações. O PSDB está ativo na esfera do Judiciário. Como o eleitor percebe isso ? Pode parecer insanidade, mas o eleitor tende a ser simpático com os multados. Lula entra no aparato da vitimização. E os tucanos ganham a armadura dos carrascos. Lula tem feeling apurado. Sabe para onde vai a direção do vento. Agora, sob o aspecto moral e ético, o presidente dá péssimo exemplo. Falta isso, falta aquilo "Eu não entendi aqui a explicação que a ex-ministra deu quando ela defendeu a política cambial e os juros. Nós somos o país que tem a maior taxa de juros do mundo. Falta recurso ? Não é só isso. Falta planejamento no investimento governamental; falta capacidade de gestão e capacidade de fazer um sequenciamento. Se tudo é prioridade, nada é prioridade. Cada dia sua agonia." (José Serra, ontem, na CNI) PMDB e os dissidentes Há quem pregue castigo duro contra os dissidentes. Estamos falando do PMDB. Que fechará aliança com o PT. Por essa aliança, o partido terá como candidata à presidência Dilma. E dissidentes como Jarbas Vasconcellos e Orestes Quércia ? Se o partido quisesse, poderia puni-los pois, como já definiu o TSE, o mandato pertence ao partido e não ao detentor do cargo. A rigor, deveria haver obediência vertical a esse princípio já consolidado pelo Judiciário. Mas o PMDB não punirá dissidentes. Sua índole é a de permitir divergências internas. Mais cedo ou mais tarde, os de lá estarão cá e os de cá estarão lá. Ou juntos. Não é a toa que o PMDB é a maior agremiação do país. Palitinho Seu Lunga sai de casa com a vara de pescar e um cestinho em direção a lagoa. O vizinho passa e indaga : - Indo pescar, Seu Lunga ? Ele responde : - Não, tô indo jogar porrinha com os palitinhos que farei de minha vara de pescar. Equação eleitoral Este consultor monta a seguinte equação : economia, 40%; currículos dos candidatos, 30%; patrocinadores, 30%. Quem souber administrar melhor esses dados será o próximo presidente. Economia quer significar : dinheiro no bolso, comida na geladeira, conforto social, Bolsa-Família, acesso ao crédito, isenções fiscais para comprar produtos da linha branca e carros etc.; currículos apontam para experiência política, experiência administrativa, lastro e articulação com a sociedade; patrocinadores abrigam cabos eleitorais de todos os tamanhos, dos pequenos nos municípios aos grandes na área federal. Incluindo o maior deles, Luiz Inácio Lula da Silva. Nova classe média "Nós criamos uma nova classe média. O combate à miséria extrema e o fortalecimento do mercado interno caracterizam esse momento. Esse mercado interno robusto permite, pela primeira vez, que as pessoas subam na vida. Pela primeira vez, o Brasil teve um posicionamento sólido diante da crise, e pela primeira vez nós tivemos também uma política (econômica) anticíclica." (Dilma Rousseff, ontem, na CNI) Empresa cidadã A Segurança Privada no Estado de São Paulo começa a fazer uma campanha pela moralização do setor. Sob compromissos do zelo; da legalidade e obediência à legislação vigente; do treinamento profissional dos quadros; das obrigações trabalhistas; das planilhas que garantam encargos de toda a ordem; de uso de equipamentos e produtos regulamentados e certificados de modo a zelar pela preservação do meio ambiente; de cumprimento de acordos trabalhistas e de todas as obrigações estabelecidas pela CLT; de políticas de controle e proteção do trabalhador; de práticas consonantes com a finalidade social; de participação em licitações obedecendo às regras estabelecidas; de obediência às regras firmadas em contratos administrativos; de respeito aos princípios éticos e morais. O compromisso em torno da Empresa Cidadã terá o endosso da Superintendência do Trabalho e Emprego de São Paulo e da Coordenadoria de Controle de Segurança Privada da Polícia Federal. As empresas assinam um protocolo de adesão. Exemplo a ser seguido. Ficha Limpa Tanto esforço, tanta energia, tanto entusiasmo não bastaram para forçar a aplicação ainda este ano do projeto Ficha Limpa. Vai ser aplicado em 2012. Conselho aos nanicos Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos marqueteiros de campanhas eleitorais. Hoje, volta sua atenção aos partidos nanicos : 1. Senhores donos dos partidos nanicos : tenham cuidado. Não procurem tirar proveito do momento eleitoral para "vender" o tempo de suas siglas. 2. Evitem usar o tempo de mídia que seus partidos terão à disposição por ocasião da campanha para expressar mensagens insignificantes, extemporâneas ou demagógicas. 3. Evitem servir de bengala, de cajado ou de aríete para fustigar pessoas a serviço de grupos políticos. ____________
quarta-feira, 19 de maio de 2010

Porandubas nº 233

Expediente extra do Seu Lunga Esta coluna deu férias ao Seu Lunga. Mas alguns leitores pedem um expediente extra. Justificam : José Serra foi esta semana à Juazeiro do Norte, terra do "padim Ciço" e também de Seu Lunga. Pois bem, atendendo aos leitores, trago de volta Joaquim dos Santos Rodrigues, 81 anos, que possui uma Sucata na Rua Santa Luzia, próxima a Rua São Paulo, em Juazeiro. Com vocês, mais uma vez, o folclórico cearense. Ao dar uma surra em um dos seus filhos, ouvia o menino travesso gritar : - Tá bom pai, tá bom pai, pelo amor de Deus, tá bom ! Seu Lunga responde : - Tá bom ? Que legal ! Pois quando tiver ruim diga que eu paro. A dança das pesquisas Mais uma rodada de pesquisas. Vox Populi - patrocínio da rede Bandeirantes - e Sensus - patrocínio da CNT - mostraram crescimento de Dilma. Em ambas as pesquisas, a petista está na frente de Serra. Mas a margem de erro os iguala no empate técnico. A subida de Dilma se deve à intensa exposição na mídia nos últimos 20 dias. Nesse tempo, o PT exibiu seus anúncios publicitários, além de um programa de 10 minutos, com Dilma e Lula como personagens centrais. Era previsível esse crescimento. Aliás Aliás, a surpresa era exatamente essa : por que Dilma, que faz campanha há pelo menos seis meses, não teve tanto crescimento ? Essa era a pergunta até então. Agora, ela começa a sair do índice histórico do PT, em torno de 30% de intenção de voto. Com 35% e 38% (Sensus e Vox), ela mostra força. Perde no sul e sudeste. Mas ganha com muita folga no nordeste. No norte e centro-oeste, Serra melhorou o desempenho e, hoje, é o favorito. Então devolva Numa madrugada dessas, a mulher de Seu Lunga teve um mal-estar. Gemendo, acordou o marido : - Lunguinha, Lunguinha, tá me dando uma coisa aqui... - Então receba. - Mas Lunga, é uma coisa ruim... - Então devolva ! Grandes interrogações As pesquisas apontam para a hipótese já levantada por esta coluna. Até a campanha na mídia eleitoral - meados de agosto - a situação será assim : dois prá cá, dois prá lá. Mas algumas pistas podem ser apontadas : para Serra ganhar a campanha, precisa fazer uns 5 a 6 milhões de maioria só em SP. E continuar a liderar a situação no RS e em SC. Mas a região com a maior interrogação será o sudeste. Para onde pender, poderá definir a direção do jogo. Paine Thomas Paine, em Os Direitos do Homem, ensinava : "É errado dizer Deus criou o rico e o pobre. Ele apenas criou o homem e a mulher e deu a eles a terra por herança." Aécio, vai ou não ? Nos últimos dias, ouvi relatos de gente muito ligada a Aécio. Em sua viagem pela Europa, ele pensou, pensou, pensou e tomou a decisão : não é tão mais inflexível quanto aos rumos que tomará. Já incluiu na sua pauta a questão de vice na chapa de seu companheiro de partido. Teria dito para amigos que poderá, sim, ser vice de Serra. Será ? Vai mesmo topar ? Outros amigos mineiros me dizem : é truco. Não aceitará. Quer ser senador. Ele tem um pássaro na mão. Não trocaria por dois pássaros voando. Mas, se Aécio aceitar, convenhamos, será a decisão mais cheia de sensação da temporada. Dilma mais humana De retoque em retoque, Dilma acha o toque. O último foi no cabelo, que ficou mais alto. Melhorou a cara de sol que exibia. Tornou-a mais agradável. E começa a expressão com um verbo menos arrogante e frases mais cheias de coisas simples. Dilma, repaginada, tenta preencher a fatia que falta para humanizar o perfil. Lula arriscou e acertou Lula continua a fazer os seus rompantes. Este consultor confessa que não acreditava em sua capacidade de liderar um acordo que envolvesse matéria tão explosiva, e mais, abrigando um país tão fechado quanto o Irã. Pois não é que o acordo saiu ? Ora, se o Irã continuará a enriquecer urânio, é uma questão a ser debatida no foro da ONU. Mas o acordo alcançado, com pequenas variações, é o mesmo que havia sido apresentado anteriormente ao país pelo organismo de segurança das Nações Unidas, com o aval das potências. O fato é que a China já aceita o acordo liderado pelo Brasil. Será difícil EUA conseguirem os votos para fazer sanções ao Irã. Tá cru No seu comércio de sucata, Seu Lunga vende outros produtos dependendo da ocasião. Um dia, um romeiro perguntou diante de uma saca de arroz : - Seu Lunga, como tá o arroz ? Ele respondeu : - Tá cru ! Brasil avança Lula é polêmico. Mesmo com o acordo despertando desconfiança e descrédito, o Brasil seguramente dá mais um passo em sua meta de conquistar posição mais avançada na ONU. Leia-se : assento permanente no Conselho de Segurança. Verdade seja dita : Lula, com suas tiradas polêmicas e sua política exterior - às vezes destrambelhada - conseguiu, desta feita, inserir o nome do país na agenda das temáticas mais transcendentais do planeta. E de maneira positiva. Aliança PT/PMDB Há problemas, alguns sérios, envolvendo acordos entre o PMDB e o PT nos Estados. Em MG, por exemplo, fatia ponderável do PT não quer ceder espaço a Hélio Costa. Os problemas serão equacionados, até porque no caminho de retas e curvas, de 100 km, o PMDB já andou 85 km. Faltam 15 km. Seria ruim, principalmente para o PT, desfazer uma aliança que vem sendo desenvolvida e consolidada com o esforço de ambas as partes. Lula é o maior endosso para essa aliança. E quem é o dono da flauta dá o tom. Pois será ele, ao fim e ao cabo, quem dará o tom geral da orquestra. Vai sair, sim, a aliança. E Michel Temer só não será o vice se não quiser. E Paulo Skaf, hein ? Paulo Skaf vai se lançar pelo PSB. O sonho de governar São Paulo não passa de uma quimera de noite de verão. Sonhos intocáveis, impossíveis, abstratos demais e concretos de menos. Skaf é um cara inteligente, atento, ágil, sabe articular bem e é ouvido em muitas instâncias. Mas nesse projeto mirabolante, ou ouviu coisas que não deveria ouvir ou não ouviu coisas que deveria ouvir. E tomou a decisão errada. Mas, como diria minha sábia mãe, tudo pode acontecer. Mesmo a possibilidade de a formiga vencer o elefante ? Sim, diz ela, nunca desconfie dos desígnios de Deus. Minha mãe, argumento, Deus não põe muito o dedo na arena política. Perguntas centrais Os candidatos podem começar a treinar a resposta para estas perguntas : "Qual é o Estado que o Brasil quer ? Qual o Estado que a sociedade precisa ? E que Estado você acha que pode ajudar a modelar ?" Prêmio Nobel ? Já tem gente sugerindo o Prêmio Nobel para Lula, o comandante do acordo com o Irã. A sugestão parece, à primeira vista, um exagero. Menos, menos. Colírio Seu Lunga estava cortando uns limões, quando passa sua mulher e pergunta : - Esse limão é pra fazer suco ? - Não, é pra eu usar de colírio ! Retrocesso da banda larga Essa banda larga está alargando a polêmica. O Plano Nacional de Banda Larga veio a público com a pretensão de fazer ressurgir a estatal Telebrás. Um equívoco evidente, levando em consideração que, depois dos investimentos da iniciativa privada no setor, o acesso aos serviços de telefonia só não é mais acessível devido ao percentual de impostos, responsáveis por mais de 40% do total da fatura paga pelo consumidor. Vejamos o que diz Vivien Suruagy, presidente do Sindicato Nacional de Prestadoras de Serviços de Telecomunicações : "se este modelo deu certo, por que insistir no retrocesso ou impedir a livre concorrência ? As respostas podem ser múltiplas. Mas a falta de transparência e a recusa de um debate mais amplo não são bom presságio", adverte a empresária. Beto vai com quem ? Beto Albuquerque desistiu de se candidatar ao governo do RS pelo PSB. PT e PMDB o assediam. A disputa é grande. PSB, depois da desistência de Ciro, está rachado. Beto está sendo convidado para o Senado na chapa de José Fogaça, do PMDB. Mas o PT também faz um aceno na mesma direção. PSB de Ciro com Serra ? No Ceará, uma batelada de prefeitos que apoiava Ciro Gomes tende a ficar com Serra. Cid, o irmão de Ciro, é do PSB, vai votar em Dilma (?), mas apoia Tasso, tucano, para o Senado. Sei não... Cid pode deixar as águas correrem para a lagoa tucana. Michel escolhido Michel Temer foi escolhido, por unanimidade, como o candidato a vice na chapa de Dilma. Deverá ser homologado na convenção do PMDB, dia 12/6. Michel está embarcando, hoje à noite, para Nova Iorque, onde prestigiará o correligionário presidente do BC, Henrique Meirelles. Este foi escolhido como Homem do Ano pela Câmara de Comércio Brasil-EUA. Temer estará de volta no sábado. E daí ? O funcionário do banco veio avisar : - Seu Lunga, a promissória venceu. - Meu filho, pra mim podia ter perdido ou empatado. Não torço por nenhuma promissória. Datafolha Neste final de semana, teremos mais uma pesquisa. Desta feita, será o Datafolha. Esta pesquisa vai tirar a limpo as dúvidas sobre as rodadas das pesquisas Sensus e Vox Populi. Ante as interrogações e suspeitas, nada mais conveniente do que uma pesquisa patrocinada por um jornal. Dado curioso Entre os leitores da Folha de São Paulo, Serra aparece em primeiro lugar, com 54%. Marina está em segundo lugar, com 18% e Dilma em terceiro, com 15%. Acordos ameaçados ? Mercadante quer Eduardo Suplicy como vice de sua chapa. Mas o PDT quer emplacar um de seus quadros. Por isso, pede urgente intervenção de Dilma para fazer o PT ceder espaço. Osmar Dias também encontra dificuldades, no Paraná, para fechar com o PT. Quer ser o candidato ao governo. Pode ficar na chapa de Beto Richa, tucano, como candidato ao Senado. Palocci como suplente ? Marta Suplicy quer convencer o deputado Antônio Palocci a ser seu suplente na chapa ao Senado. É um dos quadros mais densos do PT. Palocci poderia aceitar, eis que se envolverá na campanha de Dilma como um dos comandantes. Dizem de Dilma Dizem que Dilma é prolixa, autoritária e centralizadora. Fala muito, explicam, porque entende dos temas; autoritária, argumentam, porque gosta de exigir e cobrar; e centralizadora, por excesso de autoconfiança. Dizem de Serra Dizem que Serra é centralizador, exigente, inflexível e muito racional. Centralizador, por excesso de autoconfiança; exigente pela mania de perfeição, que conserva desde a juventude; e inflexível, porque detesta ver ações e obras fora dos prazos. Diziam de Ciro Diziam que Ciro Gomes era um cara destemperado. A história mostrou ser verdadeira a versão. Cometeu erros por falar em excesso e dizer coisas inconvenientes. Dizem de Marina Dizem que Marina é uma doçura. Sensível, educada, sofrida, inteligente. Mas, ainda dizem, é um pouco ingênua. Nem sempre os valores positivos são suficientes para alavancar candidaturas. Conselho aos marqueteiros Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos jogadores convocados para a Copa do Mundo. Hoje, volta sua atenção aos marqueteiros de campanhas eleitorais : 1. Cuidado com o excesso de firulas e moldagens no campo estético dos candidatos. Mudanças constantes de visual podem contribuir para incrementar o efeito Frankstein. 2. No pleito deste ano, o discurso semântico terá importância central. O eleitor desejará saber mais sobre o pensamento dos candidatos. 3. Nem sempre slogans e comunicações simplificadas geram impacto. Muito cuidado com o conceito: bonitinho, mas ordinário. ____________
quarta-feira, 12 de maio de 2010

Porandubas nº 232

Historinha do Ceará Quintino Cunha, famoso advogado e poeta, participava de um júri em Quixeramobim. O promotor berrava na tribuna : - Senhores Jurados, estou montado na lei. Quintino pede um aparte : - V. Exª. Tenha cuidado para não cair, porque está montado em um animal que não conhece. O promotor se calou. (Do Folclore Político do Sebastião Nery) Ave, Copa Salve, Copa. Com a convocação dos jogadores para a Copa do Mundo, o Brasil entra em lua de mel com o futebol. Sai do trono o Rei Lula e senta nele o Rei Dunga e seus 23 ministros. A política passará uma boa temporada sob o abrigo do futebol. Querelas serão administradas na mesa do bar, no cafezinho, nas esquinas e corredores. Os olhos estarão atentos aos campos de futebol. O discurso político perderá a graça. Até que o Brasil se levante em aplausos, comemorando a vitória, ou verta em lágrimas, chorando a derrota. Nomes do Brasil malvado - 1 Folheei o alfabeto dos nomes próprios do Brasil dos fundões. Eis um aperitivo : Abrilina Décima Nona Caçapavana Piratininga de AlmeidaAcheropita PapazoneAdalgamir MargeAdegesto PatacaAdoração ArabitesAeronauta BarataAgrícola Beterraba Areia Alegria e choro Se o Brasil ganhar o Troféu, tende a crescer o PNBF - Produto Nacional Bruto da Felicidade. As ruas estarão mais animadas. A cor verde amarela enfeitará as paisagens. Ânimos festivos, teor alcoólico aumentado, animação e bumbo. Dilma seria beneficiária disso tudo ? Não acredito. E o ambiente de velório, inevitável se o Brasil não trouxer a taça, favorecerá o candidato José Serra ? Tampouco creio nisso. O brasileiro não confunde alhos com bugalhos. Mais um périplo Luiz Inácio fará mais um périplo pelo mundo, a começar pela Rússia. Brasileiros poderão entrar naquele país sem a exigência do visto e vice-versa. Russos poderão aportar por aqui sem muita burocracia. Mas a viagem de Lula já não terá tanto impacto quanto antes. Após o apoio incondicional do Brasil ao Irã, o espaço de Lula na cabeça das lideranças mundiais diminuiu muito. Luiz Inácio perdeu prestígio. Jobim, a voz do PMDB O ministro Nelson Jobim entrou no governo pela cota pessoal do presidente Lula. É do PMDB, mas a escolha não teria passado pelo crivo do partido. Hoje, Jobim é considerado um quadro do PMDB na coordenação do governo. Ligado a Michel Temer, Jobim é um credenciado porta-voz do partido junto ao presidente. A ação ministerial de Jobim é considerada muito positiva. Ganhou a confiança de todos, peemedebistas e petistas. Nomes do Brasil irresponsável - 2 Bananeia Oliveira de DeusBandeirante do Brasil PaulistanoBarrigudinha SeleidaBende Sande Branquinho MaracajáBenedito Autor da PurificaçãoBenedito Camurça Aveludado Dia das mães Considerada pelos lojistas como a segunda data comemorativa que mais movimenta o comércio, o Dia das Mães só perde para as festas de fim de ano em vendas e em número de postos de trabalho temporário. Neste ano, foram confirmadas as 26 mil novas vagas temporárias previstas na pesquisa pontual divulgada pela Asserttem - Associação Brasileira das Empresas de Serviços Terceirizáveis e de Trabalho Temporário, 11% a mais que no ano passado. O índice de efetivações girou em torno de 10%, o que representa emprego novo para 2,6 mil trabalhadores. As novas contratações, somadas às remanescentes da Páscoa, resultou em emprego temporário para 65 mil pessoas durante a data comemorativa. A confiança de Lula Lula deu entrevista a El País, o principal jornal espanhol, exibindo plena confiança na vitória de sua candidata Dilma. Mas abriu uma fresta, ao dizer que não haverá perigo de retrocesso, "ganhe quem ganhar". Aliás, para ele, sob o aspecto maquiavélico, uma vitória de Serra não seria de todo perniciosa para propósitos de um retorno em 2014. O país passará por um ciclo de contenção. Terá de fechar rombos abertos pela gastança do atual governo. Serra é especialista em ajustar contas. E manter cofres cheios. Seria um governante duro. Mas a área social se queixaria muito. E Lula teria condições de brandir seu slogan : Lula de novo nos braços do povo. E se Dilma ganhar ? Se Dilma ganhar, a continuidade do projeto petista estaria garantida. Não haveria desmonte da máquina. Portanto, não haveria tanta motivação para um retorno de Lula ao Palácio do Planalto. Dilma poderia, então, se candidatar à reeleição. Mas, agora, teria de enfrentar um perfil mais jovial e até com certo poder carismático. Aécio Neves, por exemplo. São filigranas que já começam a surgir nos horizontes do amanhã. Montenegro cauteloso O amigo Carlos Augusto Montenegro, presidente do Ibope, é o papa das pesquisas no Brasil. Não quer falar de tendências nesse momento. Por quê ? Por algumas razões : primeiro, as regras do jogo ainda não foram de todo definidas. O palco dos atores está incompleto. Quem será o vice de Serra ? E quando será homologado o nome de Michel Temer, vice de Dilma ? Lula, por sua vez, está saindo. E Dilma nunca recebeu um voto na arena política. Serra, por sua vez, tem longo e denso currículo. Mas o governo Lula tem muito a mostrar. Questão posta por Montenegro : quem garantirá melhor o futuro do eleitor ? Conversei, ao final da tarde, com o papa das pesquisas. E ficamos de trocar figurinhas mais adiante. Serra e o BC Serra ataca "os juros mais altos do mundo" e o câmbio baixo. Dilma, no início do primeiro mandato de Lula, era contra a política do Banco Central. Hoje, é defensora de Meirelles. Até vai prestigiar, dia 21, em Nova Iorque, uma comenda que ele ganhou. A política monetária de Serra difere bem da atual. Os empresários gostam da visão de Serra, mas temem a dureza dele noutras áreas. Por isso, olham para ele com o olho direito, mas fixam o olho esquerdo em Dilma. Confiam que esta não mudaria muita coisa. Nomes do Brasil brincalhão - 3 Cafiaspirina CruzCapote Valente e Marimbondo da TrindadeCaius Marcius AfricanusCarabino Tiro CertoCarlos Alberto Santíssimo SacramentoCantinho da Vila Alencar da Corte Real SampaioCarneiro de Souza e FaroCaso Raro YamadaCéu Azul do Sol Poente Agenda tributária O setor contábil é formado por 417 mil profissionais e mais de 70 mil empresas no Brasil, que atendem, em média, 96% dos contribuintes do país. Hoje, as obrigações acessórias abarcam uma combinação perversa de acúmulos - por vezes em datas simultâneas ou muito próximas entre si e com informações redundantes entre elas - com uma tecnologia que ainda não conseguiu absorver o enorme volume de informações. O presidente do Sescon/SP, José Chapina Alcazar, esteve em Brasília recentemente para uma reunião com Otacílio Cartaxo, secretario da Receita Federal, quando pediu atenção ao tema, que é de interesse nacional. Chapina defende revisão urgente na agenda tributária. Dr. Equinócio Virgílio Távora, governador, recebeu telegrama do prefeito do Crato : "Senhor governador, solicito V. Exª. recursos enfrentar seca município. Cordiais saudações." Virgílio respondeu : "Senhor prefeito, aguarde, 19 de março, passagem Equinócio. Cordiais saudações." Dia 20 de março, o prefeito telegrafa de novo : "Senhor governador, apesar banquete e homenagens preparamos receber condignamente enviado V. Exª., até agora Dr. Equinócio não apareceu. Cordiais saudações." MR ? MR é uma figura no entorno de Serra que dá muito medo aos setores produtivos. Ouvi de muita gente esse nome : Mauro Ricardo. Fechando alianças Periodicamente, temos de fazer um balanço de tendências. Hoje, esse balanço se volta para o campo das alianças. Para onde a balança pende ? Para o lado de José Serra. Até o momento, tem melhores resultados que Dilma. Trouxe o PSC, da base de Lula, para junto de si, e ameaça puxar, ainda, o PP e o PTB. No Sul, Serra aplaina caminhos com muitas pedras. No Paraná, a meta, agora, é puxar o senador Osmar Dias do PDT, candidato ao Senado, para o bloco do Beto Richa do PSDB, candidato ao governo. FHC e o dedaço Fernando Henrique, o maior intelectual do PSDB, foi direto ao ponto. Disse que Lula escolheu Dilma com um "dedaço". E até imitou o gesto. Linguagem chula, que não combina na estrutura linguística de um ex-presidente da República. Um ícone do pensamento e das letras. Ficha limpa O projeto Ficha Limpa será um marco na história eleitoral. Mas não deverá vingar para o pleito deste ano. O sentimento é de que a vitória foi pela metade. Deveria vingar, já. Passará ainda pelo Senado e, na sequencia, deverá ser sancionado. O veto aos velhinhos Pois é, os 7,7% de aumento aos aposentados e o fim do fator previdenciário deverão ser vetados pelo presidente Lula, caso passem pelo crivo do Senado. A questão é : o veto deixará indignados os velhinhos ? Na análise deste consultor, sim. Lula terá essa coragem ? Sim, garante. Vamos ver se ele tomará essa decisão. Há dúvidas. Nomes do Brasil improvisado - 4 Danúbio Tarada DuarteDarcília AbraçosCarvalho SantinhoDeus Magda SilvaDeus É Infinitamente MisericordiosoDeusarina Venus de MiloDezêncio Feverêncio de Oitenta e CincoDignatário da Ordem Imperial do Cruzeiro Servidores, não Os servidores públicos também não terão aumento este ano. E mais, Lula chamou os ministros e passou um carão : não ajam como sindicalistas. Não vai haver aumento e pronto. O "cara" decidiu engrossar. Lula e o PT Fico a imaginar a razão do sucesso de Luiz Inácio em seus dois mandatos. A razão mais forte : impôs sua visão ao PT. Deixou de se inspirar no ideário petista. Criou seu próprio modelo. Um modelo que diz ser "multi-ideológico". Ou seja, a capacidade de fazer alianças com Deus e o Diabo, gregos e troianos. Lula passou sobre o PT com um gigantesco rolo compressor. E assim conseguiu governar. Por que não foi aporrinhado ? Porque abriu espaços para todos os grupos. Que se encastelaram nos arredores e no centro do poder. PT e PV no governo Serra ? José Serra disse alto e em bom som : se eu ganhar, convidarei o PT e o PV para fazerem parte do governo. Verdade ? Em termos. Chamaria, claro, um Eduardo Jorge, que é do PV. E que é considerado, por sua postura, um perfil suprapartidário. Difícil é imaginar José Serra convidando um perfil histórico e engajado do PT. O discurso de Serra, porém, é inteligente. Desarmado, em favor da união, do esforço de todos pela Grandeza da Pátria. Longe de mim este cálice Serra quer dizer, na verdade, o seguinte : longe de mim este cálice. Longe de mim o epíteto de anti-Lula. Ele não quer aparecer como o adversário de Lula numa campanha. Nesse caso, seria vencido. Samba do crioulo doido Campanha maluca, sô. No Rio de Janeiro, Dilma consegue reunir, em um evento, prefeitos do DEM e do PSDB. Isso mesmo: prefeitos da oposição. A mídia contou: 3 prefeitos do DEM e 2 tucanos. No Ceará, Tasso Jereissati, do PSDB, contará com o apoio do governador Cid Gomes, do PSB. Partido de Eduardo Campos, fechado com Dilma. Collor, em Alagoas, será candidato ao governo. Collor é do PTB e apoiará Dilma. Mas o PTB de São Paulo apoiará Serra, para a presidência, e Alckmin para o governo do Estado. Conselho aos jogadores da seleção Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos candidatos à presidência Dilma e Serra. Hoje, volta sua atenção aos atletas brasileiros convocados para a Copa do Mundo : 1. Recebam com humildade a convocação de Dunga para a Seleção Brasileira. 2. Evitem salto alto e procurem fazer o que sabem : jogar futebol. 3. Sejam esforçados, destemidos, despojados e cultivem o civismo no coração. ____________
quarta-feira, 5 de maio de 2010

Porandubas nº 231

Moreninho jeitoso Paulo Guerra era governador de Pernambuco e Joaquim Guerra, o filho, candidato a deputado. Elegeu-se pela Arena. Houve festa da padroeira em Bom Conselho, Joaquim Guerra foi lá. Depois das festas religiosas, Joaquim Guerra foi ao baile. Tirou para dançar a filha do prefeito. Joaquim Guerra era bem moreno, queimado de sol. O prefeito o enxerga no meio do salão. Chama a mulher : - Quem é aquele negrinho que está dançando com a menina ? - Não tem nenhum negrinho aqui. - Aquele ali, dançando com a nossa filha. - Fale baixo, homem, não diga besteira. É o filho do governador. - Moreninho bonito e jeitoso ! Historinha contada pelo amigo Sebastião Nery Os aviões decolam Os aviões de José Serra e Dilma Rousseff começam a decolar. As turbinas foram ligadas. E o primeiro trajeto na pista começa a ser visto. Serra respira ares no nordeste, no sul, dando sua paradinha no meio, em Minas Gerais. Dilma não fica atrás. Corre solta, em alguns momentos, e noutros, na companhia de Lula, como se viu no 1º de maio. O que se pode dizer dos primeiros movimentos ? Vertical e horizontal Serra está mais solto. Parece mais tranquilo. E está até sorridente. Expressa mais segurança e equilíbrio do que na campanha presidencial de 2002. Dilma denota certa falta de traquejo nesse início. Possivelmente, seja efeito do puxa-puxa : um puxa de lado, outro puxa de outro. Sua campanha se reparte em muitos núcleos. Tem comandos vários. Muitos chefes. Quando isso ocorre, a linha decisória torna-se tênue. Campanha de comando horizontal é aquela em que todos mandam e ninguém obedece. A campanha de Serra sinaliza mais enxugamento, mais verticalidade. Ele é o centro que comanda as decisões. Obtém-se maior eficácia. "Se A é o sucesso, então A é igual a X mais Y mais Z. O trabalho é X; Y é o lazer; e Z é manter a boca fechada." (Albert Einstein) Quando mudar é perigoso Dilma é aconselhada a mudar. Coisa complicada. A pessoa poderá melhorar posturas e habilidades comunicativas. Mudar, porém, de comportamento, saindo de um modelo A para um modelo Z é muito perigoso. A identidade é o caráter, a personalidade, a essência, a coluna vertebral de um candidato. Quando você muda essa coluna, o corpo se quebra, verga, entorta. E isso é um risco. Mais adiante, a pessoa vai querer repor a antiga identidade. E acaba dando com os burros n'água. Comete gafes, tropeços, exalta-se, perde as estribeiras. Não é o que ocorre com Dilma. Mas poderá vir a ocorrer. O discurso político Muita gente se engana com a eficácia do discurso político. Pois bem, o discurso político é uma composição entre a semântica e a estética. O que muitos não sabem é que a eficácia do discurso depende 7% do conteúdo da expressão e 93% da comunicação não verbal. Esse é o resultado de pesquisas que se fazem sobre o tema desde 1960. E das comunicações não verbais, 55% provêm de expressões faciais e 38% derivam de elementos paralinguísticos - voz, entonação, gestos, postura etc. Ou seja, do que se diz, apenas pequena parcela é levada em consideração. O que não se diz, mas se vê tem muito maior importância. Clinton e Mônica O presidente Clinton foi objeto de estudos nessa área. Sua entrevista negando ter tido relações sexuais com Mônica Lewinsky é uma peça antológica. Mãos nervosas, que ele não sabia onde colocar, olhos que se desviavam para o alto - em sinal de fuga - o ex-presidente dos EUA atingiu o pico da mentira quando se referiu à Mônica na terceira pessoa : "afirmo de maneira categórica que nunca tive relações sexuais com aquela mulher". Ao usar a terceira pessoa, aquela mulher, Clinton desejava dar ideia de afastamento, desconhecimento. Mas as fotos mostravam intimidade. Caiu na dissonância. Fala e expressão não combinavam. Pacote de macarrão Esse é o calcanhar de Aquiles dos candidatos. Evitar ser flagrados em dissonância. E isso ocorre geralmente quando um candidato é instado a mudar de identidade. O eleitor percebe quando a pessoa torna-se artificial, um mero produto de marketing. E candidato não pode ser trabalhado como se trabalha um sabonete, um pacote de macarrão. Mercado de trabalho Mais do que uma oportunidade para adquirir experiência, o trabalho temporário aumenta a chance de empregabilidade, segundo o estudo da International Confederation of Private Employment Agencies (CIETT). Realizado em âmbito mundial, a pesquisa revela que, após uma contratação temporária, o risco de permanecer desempregado diminui em média 66%. O levantamento completo será apresentado durante o Congresso Mundial de Terceirização e Trabalho Temporário, evento promovido pelo Sindeprestem nos dias 27 e 28 de maio, no WTC Convention Center, em São Paulo. A Copa e a lição de casa O Brasil não está fazendo a lição de casa para a Copa de 2014, segundo a Fifa. Aliás, nem começou. Embora alguns digam que a entidade máxima do futebol faz excessivas exigências ao país, o fato é que o Brasil não tem o direito de fingir que o assunto não é com ele. Quem chama o evento para si, tem que fazer. O Brasil quis trazer a Copa, conseguiu. Vários setores vem se movimentando, tanto que os principais hotéis nas cidades sedes já aceitam reservas, mas ficam muitas dúvidas. Nos estádios, as obras nem começaram. No setor de hospedagem não se sabe se haverá acomodação para todos os turistas. Construir novos hotéis é bobagem, pois passado o evento não terão ocupação suficiente. Os navios seriam boa solução como hospedagem alternativa, mas, será que virão ? Não temos terminais turísticos e são raras as boas ligações rodoviárias entre portos e cidades. Em termos de infraestrutura estamos indo muito mal. A fábula do fogo O fogo ficou ofendido porque a água, na panela, foi colocada acima dele. Logo ele que se considera um "elemento superior". Não aceita a provocação. Começa a erguer cada vez mais alto as suas chamas até provocar a ebulição da água. E esta, transbordando da panela, extingue o fogo. Moral da história : meça sempre as conseqüências de seus atos. Nem sempre o ímpeto consegue ser eficaz. Zé Anibal chateado Zé Aníbal renunciou à sua candidatura ao Senado. Teve de ceder à pressão da máquina. Que trabalhava para Aloysio Nunes Ferreira. Aníbal ainda não decidiu se vai para a reeleição de deputado. Foi convidado para coordenar o programa de governo de Geraldo Alckmin. Em conversa com este consultor, demonstrou muita indignação. Senado em SP A moldura eleitoral para o Senado, em SP, mostra Marta Suplicy, pelo PT, em situação confortável. Aloysio, do PSDB, é um perfil para dentro. Vai ter de fazer grande esforço para ganhar simpatia do eleitorado. Quércia, do PMDB, em aliança com os tucanos, sofre desgaste de imagem. Tuma tem um bom índice de intenção de voto, mas falta-lhe uma coligação de porte, que lhe garanta boa visibilidade. Netinho de Paula, do PCdoB, terá pouca mídia eleitoral, mas é um artista midiático. E Gabriel Chalita, com votos fechados no colégio católico, tem boa apresentação. Mas não terá visibilidade. A não ser que PSB faça coligação com PT, queimando a pretensão de Paulo Skaf, o neosocialista. "Escolha um trabalho que você ame e não terá de trabalhar um único dia em sua vida." (Confúcio) 3 X 4 em Natal Pesquisa apenas em Natal, capital do RN : Presidência : José Serra, 39%; Dilma, 27%; Governo do Estado : Rosalba Ciarlini, 42%. Carlos Eduardo, 25%; Iberê Ferreira, 10% e Fernando Bezerra, 10%. Senado : Garibaldi Alves, 57%; José Agripino, 55%; Vilma Faria, 42%. Balzaquianas As balzaquianas - consagradas por Honoré de Balzac no livro a Mulher de 30 anos -, somam mais de 30% do eleitorado brasileiro. Segundo estudos do prof. José Eustáquio Alves, da Escola Nacional de Ciências Estatísticas do IBGE, o grupo em torno de 35 anos vai decidir o destino dos candidatos. O estudo mostra que Lula e o PT sempre tiveram mais dificuldades junto ao eleitorado feminino, que, aliás, supera o eleitorado masculino em 5 milhões de votos : 68 milhões de eleitoras e 63 milhões de eleitores. Guerra em Pernambuco Jarbas Vasconcelos está em vias de aceitar a candidatura ao governo de Pernambuco. O senador tucano tem poucas chances. Mas poderá ser importante na estratégia de extensão do palanque de Serra no nordeste. Já o senador Sérgio Guerra hesita em postular a reeleição ao Senado. Mais se inclina por uma candidatura à Câmara Federal. Sergipe João Alves deverá ser candidato ao governo de Sergipe. Enfrentará o governador Marcelo Deda, que lidera as pesquisas. Mas João é um forte candidato. Tem chances. Alagoas A novidade em Alagoas é a candidatura de Fernando Collor. O senador decidiu se candidatar após examinar pesquisas. Estaria liderando o páreo. O jogo vai ser duro. O tucano Teotônio Vilela enfrentaria pela oposição o ex-governador Ronaldo Lessa (PDT), que teria o apoio de um chapão, composto pelo PDT, PTB, PMDB (de Renan Calheiros), PR, PT, PC do B, PRB, PV. Collor, embolando o jogo, gostaria de tirar Lessa da jogada. Rio Grande do Sul Os tucanos gaúchos fecharam aliança com o PP de Dornelles para as eleições estaduais. Significa que, no plano nacional, esse é um passo na direção de José Serra. Com o próprio senador Dornelles como vice. Primo de Aécio, o senador carioca abriria espaços no Rio e em Minas para o ex-governador paulista. Mas o PP pode optar pela neutralidade. Rio de Janeiro No Rio, Fernando Gabeira, do PV, fecha aliança com DEM-PPS-PSDB e ancorará uma vaga para César Maia no Senado. Gabeira poderá crescer bastante. E até vir a ameaçar Sérgio Cabral. Abre palanque para Serra, no segundo turno. No primeiro, claro, o verde fechará com Marina também verde. Ceará No Ceará, o samba do crioulo doido tocará nesta campanha. Ciro deverá comandar a campanha do irmão Cid. E este, que é do PT, deverá ajudar o amigo Tasso Jereissati, do PSDB. Que comandará a campanha de Serra no Estado. Ciro é adversário de Serra. Mas é irmão político de Tasso. Os opostos de unirão ? SDS. Só Deus Sabe. Paraná PT poderá até vir a apoiar a candidatura do governador Orlando Pessuti, do PMDB, que se esforça para alavancar seu nome ao governo. Minas Gerais Em Minas Gerais, Fernando Pimentel venceu as prévias do PT. Para quê ? Para ser candidato a senador, porque o candidato que o PT apoiará ao governo será Hélio Costa, do PMDB. Mas Hélio levará a melhor ? Está na frente, mas Aécio Neves tem condições de emplacar no assento seu vice e atual governador, Antônio Anastasia. Primórdios do marketing político "Rastreie, vá ao encalço de homens de toda e qualquer região, passe a conhecê-los, cultive e fortaleça a amizade, cuide para que em suas respectivas localidades eles cabalem votos para você e defendam sua causa como se fossem eles os candidatos". (Quinto Túlio Cícero aconselhando o irmão Marco Cícero, o grande tribuno, em 64. A . C, quando este fazia campanha o Consulado de Roma) Conselho a Dilma e a Serra Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado às assessorias de Dilma e Serra. Hoje, volta sua atenção aos candidatos à presidência Dilma e Serra : 1. Minas Gerais será a principal balança da campanha. Poderá ser surpresa. Apesar de Aécio Neves ser tucano, o voto mineiro foi e será muito escondido. Mineiro é desconfiado. 2. Pode haver um mutirão de votos para Serra, se Aécio conseguir verdadeiramente comandar a campanha tucana. E mais : mobilizar e motivar as massas. 3. Mas os mineiros podem misturar o voto. Há, sim, uma tendência para o voto Anastadilma ou Dilmasia. Minas tem 14,2 milhões de eleitores. A vitória de Serra ou de Dilma está muito na dependência do voto mineiro. ____________
quarta-feira, 28 de abril de 2010

Porandubas nº 230

Mel de abelhas Abro a coluna com uma historinha que Geraldo Alckmin me contou no 9º Fórum de Comandatuba. No jantar, eu falava sobre o texto de Dora Kramer. E lembrava que ela fora minha aluna na Faculdade de Comunicação Cásper Líbero, nos idos de 70. Dora tinha o melhor texto da turma. Por isso, eu pedia que a classe formasse um círculo ao seu redor. Um dia, achei aquela formação muito parecida a de uma colmeia. E exclamei : "vamos, agora, ouvir a abelha rainha". Era a imagem que Dora transmitia. Com todas as abelhas trabalhadoras à sua volta. A historinha de Alckmin aparece porque eu lembrava que, naquela época, Doramaria tinha como sobrenome : Tavares de Lima. Era sobrinha do grande e saudoso Chopin Tavares de Lima. Eis o relato : Chopin, como secretário do Interior do Governo Montoro, tinha a missão de fazer a articulação com os prefeitos. Um dos programas de Montoro contemplava a fabricação de mel. Mel caseiro. O prefeito de Silveiras, na microrregião de Bananal, de nome Miguel, no meio do caminho para a capital, aproveitando a parada para o almoço, comprou uma garrafa de mel, dessas comuns que se encontram em restaurantes de estrada. Tirou o rótulo, lavou a garrafa, embalou-a em celofane. Era um presente para Chopin. Planejava provocar um impacto. - Secretário, aqui está o resultado do programa 'Colmeia' do governo Montoro. Mel de primeira qualidade. O melhor mel que São Paulo já produziu. Surpresa geral. Agradecimentos do Chopin com o aviso de que levaria o presente para o governador Montoro. A seguir, o astuto prefeito emendou : - Gostaria que o secretário providenciasse a liberação da verba para o asfalto. Que pedimos faz bom tempo. Imediatamente, o secretário mandou localizar o pedido da Prefeitura de Silveiras. Ocorre que não havia nenhuma solicitação. O prefeito aproveitara a ocasião para jogar verde e colher maduro. Queria colher recompensa pela garrafa de mel que levara. Depois de algum tempo, a mensagem : a solicitação não foi encontrada. Mil pedidos de desculpas do Secretário Chopin. O prefeito prometeu encaminhar novo pedido, conformado com a burocracia do Palácio que havia perdido o ofício. Geraldo Alckmin, então deputado estadual, ouvira o relato e percebeu a artimanha do prefeito. Aos ouvidos dele, cochichou a frase bíblica : - Miguel, Miguel, tu não tens abelha e trazes mel. Miguel regressou a Silveiras. No dia seguinte, ao telefonar para o Secretário Chopin Tavares de Lima, comunicando que novo ofício estava seguindo pelo Correio, ouviu dele a confissão : - Não precisa mandar, prefeito, encontramos o ofício. Vamos liberar a verba. E assim Chopin Tavares de Lima, Miguel, Silveiras, Geraldo Alckmin, Dora Kramer e eu entramos juntos, pela primeira vez, numa mesma história. Pergunto perplexo : como Dora Kramer passou a ter ligação com mel e colmeia ? Mistérios que as antenas do circulo planetário nos proporcionam. Meu sistema cognitivo capturara a imagem da colmeia celebrada por Chopin, seu tio. Ela tinha de ser a abelha rainha. Lembrem-se do ditado : "As pedras tanto rolam que um dia ainda se encontram." Ecos de Comandatuba Durante quatro dias, cerca de 350 empresários, autoridades do Executivo e uma penca de políticos passaram a limpo as condições atuais do país e suas perspectivas. O clima de otimismo impregnou-se no grupo, a partir do desfile de números apresentado por Henrique Meirelles. Dados mostraram a situação confortável do Brasil. Que tem condições de dar um salto. Em cinco/seis anos, poderá pular para a 6ª ou a 5ª economia mundial. Entramos na crise mais tarde e saímos mais cedo. O país fez a lição de casa antes dos outros. Sem retrocesso O clima de otimismo saiu da esfera econômica para encher os balões de ensaio da política. Dilma ou Serra ? O grupo estava dividido. Um superempresário chegou a confessar a este consultor : o risco Serra é 10 vezes menor que o risco Dilma. Muitos, porém, demonstravam simpatia para com a ministra. E, no frigir das análises a favor e contra, uma visão consensual : seja quem for o vencedor, não há perigo de o Brasil retroceder. As condições macroeconômicas estão profundamente afixadas no solo pátrio. E os perfis de Serra e de Dilma se bifurcam na encruzilhada dos rumos a serem seguidos. Melhor momento ? A frase, pronunciada por um banqueiro jovem e agressivo, soou forte no meio da noite : "O Brasil vive seu melhor momento em 500 anos". O autor da façanha expressiva foi André Esteves, do Banco Pontual. Abílio Diniz, ao lado, assentia com a cabeça. Na manhã seguinte, tentei conferir a ideia com um maxiempresário. Que me confessou : "Não é bem assim. Devemos medir o momento por parâmetros como salário mínimo e crescimento do PIB". E arrematou : você sabia que, na época do Médici (tempos de chumbo), o salário mínimo tinha duas vezes e meia o poder de compra que tem hoje ? Fechou o pensamento com a nota do crescimento daqueles pesados tempos, e o PIB crescia a 12% ao ano. O mundo mudou Ouvi as ponderações. Mas fiquei pensando : o paradigma mudou. Os parâmetros são diferentes. O mundo era menor. E a crise não tinha proporções gigantescas. De qualquer maneira, deixo os registros no ar. Conclusão : há empresários fechados com Serra, outros com Dilma. Como convém a uma salutar democracia. 10 para Dória Mais uma vez, João Dória deu um show de organização e competência. Liderou o 9º Fórum de Comandatuba com extrema eficiência. Ancorou falas, integrou eventos, animou os espíritos. Alckmin e Mercadante Geraldo Alckmin, ao lado da esposa Lu, era só sorrisos. Sob a estampa de 60% de intenção de voto, parecia um candidato embalado no celofane da felicidade. Na mesa ao lado, Aloizio Mercadante, cara fechada, mas confiante. Parecia convicto de que, na perda ou na vitória, crescerá com a campanha ao governo de SP. Prefeitura ? Os olhos de Mercadante contemplam o futuro. Se não alcançar o Palácio dos Bandeirantes, focará a visão sobre o Palácio da Prefeitura, que se debruça sobre o Anhangabaú. Assim são os caminhos da política : a derrota de hoje poderá ser o desvio para a vitória de amanhã. É a curva para a reta futura. Mercadante terá alta visibilidade. Mas a possibilidade de chegar ao Palácio dos Bandeirantes é muito restrita. Zé Aníbal O deputado José Aníbal trabalha com a perspectiva de levar para a Convenção tucana seu nome para a vaga ao Senado. Aloysio Nunes Ferreira é o nome in pectore de Serra. Mas Zé, ao contrário do perfil introspectivo de Ferreira, conversa, abre o debate, articula, se movimenta. Fará tudo para que o jogo não seja ganho no tapetão. Aníbal, convém lembrar, já teve quase 5 milhões de votos para o Senado em SP. Vaccarezza, algodão entre cristais Cândido Vaccarezza é um espírito conciliador. Ouve atento as observações mais críticas. Não se afoba. Veste a camisa do governo em qualquer circunstância. O líder do PT na Câmara é respeitado por colegas de todos os partidos. Tem sido um defensor intransigente da aliança entre PT e PMDB. Amigo de Michel Temer, desfila argumentos densos para demonstrar as possibilidades de Dilma. "As almas são incombustíveis." (Machado de Assis) De jacaré a lagartixa Há 60 dias, víamos um formidável jacaré abrindo a boca na beira da lagoa política. Ao mostrar os dentes, o bicho impunha respeito. O tempo foi se passando. Há três dias, aquela fera desapareceu. Em seu lugar, surgiu uma lagartixa. O que teria acontecido ? Não, o jacaré não mergulhou na lagoa. Virou a própria lagartixa. Encolheu. Fenômeno da natureza ? Sim. Mutação gerada pela genética política. O jacaré Ciro virou a lagartixa Gomes. O tiro Gomes saiu pela culatra. Gafe lá, gafe cá Dilma comete gafes ? Sim. Não é bem treinada na arte de dizer de maneira concisa e precisa ? Sim. Ocorre que Serra também comete bobeiras. Em Natal, semana passada, carimbou a população trabalhadora do RN com o selo de 6% da mão de obra nacional. Ora, não chega a 1,7%. Serra teria falado de costas para empresários que lotavam o auditório. Chegou no meio da madrugada quando era esperado às 9h. Lula crente Luiz Inácio nunca esteve tão crente na vida. É o que confessam amigos que convivem com ele no dia a dia. Crente na vitória de Dilma. Crente de que o ambiente de otimismo que cerca o país conduzirá sua afilhada ao trono do Palácio do Planalto. Chapa com Temer A esta altura, está consolidada a chapa de Dilma com Michel Temer como vice. Em todo esse tempo, Michel trabalhou discretamente, como é de seu feitio, sem arroubos oratórios, sem destempero e sem fisgar a isca que pescadores de águas turvas sempre lhe jogam. PMDB, o maior Seja qual for o nome - Serra ou Dilma - o PMDB deverá continuar sendo o maior partido brasileiro. Espera eleger uma bancada de 100 deputados federais e cerca de 10 governadores. Afora as maiores bancadas estaduais em muitos Estados. O PT deverá secundá-lo, vindo a seguir, o PSDB. A partir do quarto lugar, o quadro é nebuloso. Campos Sales O paulista Campos Sales presidiu o Brasil de 1898 a 1902. Deixou a presidência sob vaias do povo por ter implementado uma política econômica das mais dolorosas. Saiu do catete debaixo de uma chuva de manifestações indignadas. Piada da época : "Qual é o seu método de vida ? Há muito tempo só como o pão que o diabo amassou, só passeio na rua da amargura e o tempo pra mim é sempre bicudo". Mídia eleitoral Dilma terá 48% de tempo a mais na programação eleitoral de TV e rádio. Ou seja, mais de 8 minutos. Serra terá um pouco mais de 5 minutos. Atenção, marqueteiros : nem sempre grande tempo significa grande programa. Se os espaços não são bem aproveitados, o programa pode ser uma chatice ou enchimento de linguiça. Tempos ímprobos Nesses tempos de muito dolo, eis uma leitura obrigatória : "Improbidade Administrativa - Dolo e Culpa", de Isabela Giglio Figueiredo. O livro foi lançado nesta segunda-feira. Trata-se da monografia com que obteve o título de especialista em Direito Administrativo. Thomas Paine "Quando alguém pode dizer em qualquer país do mundo : meus pobres são felizes, nem ignorância nem miséria se encontram entre eles; minhas cadeias estão vazias de prisioneiros, minhas ruas de mendigos; os idosos não passam necessidades, os impostos não são opressivos.. quando estas coisas podem ser ditas, então pode tal país se orgulhar de sua Constituição e de seu governo." (Thomas Paine, em Os Direitos do Homem) Hiperte(n)são ? O ministro Temporão receita sexo contra a hipertensão. E deu, até, a receita : cinco vezes por semana. Passou a adotar o inverso do slogan do cigarro : sexo faz bem à saúde. O Ministério da Saúde deverá massificar a distribuição do preservativo Temporão. Para cobrir a temporada sexual. Besteirol O besteirol em ano eleitoral se espalha. Um dos capítulos mais imbecis é o que anuncia a renúncia de Lula para se candidatar a vice na chapa de Dilma. Eleita, ela passaria pouco tempo. Renunciaria e cederia o trono a Lula. Que terminaria o mandato de Dilma, candidatando-se, ao final, à nova reeleição. E ainda há gente séria que me pergunta sobre essas bobagens. Reajuste dos aposentados Os aposentados deverão ter reajuste maior que os 6,14% desejados pelo governo. Podem ganhar 7,7%. César, o maior ? César é considerado o maior de todos os heróis de guerras. O motivo apontado pelos historiadores : ceifou a vida da maior quantidade de inimigos. Em menos de 10 anos, durante a guerra contra a Gália, tomou de assalto, mais de 800 cidades, submeteu 300 povos, combateu 3 milhões de homens, dos quais matou 1 milhão durante as batalhas e transformou outro milhão em prisioneiros. Que heroísmo é esse, hein ? Soltura de presos ? Soltar 20% dos presos do país é uma temeridade. Há assassinos e loucos que poderão voltar ao cenário de matança. Não era o caso do monstro de Luziânia, em GO, que matou 6 jovens ? Conselho às assessorias de Dilma e Serra Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado à pré-candidata à presidência Dilma. Hoje, volta sua atenção às assessorias de Dilma e Serra : 1. Procurem orientar, desde já, seus candidatos a trilhar o caminho das grandes ideias. Os candidatos devem abandonar as trilhas de coisas perfunctórias. 2. Produzam conteúdos transcendentais para a vida do país. Substituam as querelas adjetivadas por debates programáticos. 3. Mapeiem os espaços das grandes carências nacionais e regionais. ____________
quarta-feira, 14 de abril de 2010

Porandubas nº 229

Historinha de Goiás Edmundo Galdino, deputado estadual de Goiás, de Araguaína, recebeu um tiro na região lombar, na década de 80. Quase morreu. Sobreviveu graças à intervenção feita por outro político. Paraplégico, por conta do atentado cometido por pistoleiros, o ex-líder camponês, que militou no PC do B e, depois no PSDB, continuou a luta política com força e dinamismo. Um dia, na tribuna, usou o verbo para perorar contra o adversário, o deputado estadual e médico que o operou, Ronaldo Caiado. "Deputado Caiado, suas mãos estão cobertas de sangue...". Caiado, calmo e elegante, dirigiu-se à tribuna. E não deixou por menos : "Deputado Galdino, uso a palavra para afirmar e corroborar sua assertiva. Sim, é verdade que minhas mãos estão cobertas de sangue. Mas, Vossa Excelência bem o sabe. Este sangue é seu, nobre deputado. Salvei sua vida e salvarei tantas outras quantas vezes forem necessárias". Galdino se esquecera da boa fama de cirurgião. Com o instrumental cirúrgico e com a palavra. Nunca mais usou a palavra para atacar o parlamentar. Tucanos, alto astral O tucanato vibra com o lançamento da candidatura de José Serra à presidência. De fato, o evento foi um sucesso. Serra pegou bem o eixo do diálogo nacional. Candidato da harmonia, da unidade, do pacto. Deixou Dilma e o petismo na condição de atores da desunião, da querela entre classes e Estados, pobres contra ricos, o nordeste contra o sul. Passará a usar o bordão "Brasil pode mais", na verdade uma fisgada no slogan de Obama, "Nós podemos". Mas Aécio Neves foi o mais aplaudido. Arrebatou a plateia de 4 mil pessoas com as estocadas no PT e no governo Lula. Chamou os adversários para a briga. FHC, mais moderado, fez contundente defesa de seu governo. Mereceu também aplausos. Cobertura A cobertura do evento ganhou bom espaço da mídia. Vai durar, ainda, uns três dias com as repercussões do entusiasmo dos líderes da oposição. O lançamento de Dilma também obteve cinco dias de cobertura. O Jornal Nacional, da TV Globo, no sábado, não deu uma nesga de espaço para o evento petista no ABC, quando Lula lembrou que ele era "o cara", criticando o slogan apropriado por Serra. A arena começa a esquentar. Dilma agressiva Dilma começa a campanha de modo contundente. Atira forte nos adversários, a partir da acusação de que os tucanos "são lobo em pele de cordeiro". Atacar, optar por armas de destruição, apelar para uma agenda negativa não fazem bem a nenhum candidato. Este consultor prefere seguir a linha das coisas positivas e do realce a programas de envergadura. Quem ataca perde. Campanha negativa fere os brios do eleitor. Não entendo como uma pessoa que tem tanta coisa a mostrar pode optar por tiros no adversário. Que podem sair pela culatra. Dilmasia/Anastadilma Seja qual for o trocadilho que se queira dar ao voto em Dilma e Anastasia - candidato de Aécio Neves ao governo mineiro - a candidata do presidente Lula não poderia, ela mesma, se referir a este fato. Deveria deixar correr naturalmente o trocadilho pela boca dos mineiros. E mesmo usar o corpo parlamentar de MG para expandir a ideia. Ela cometeu a gafe de fazer uma defesa muito pessoal. Que lembra o ditado : "elogio em boca própria é vitupério". Agora, este consultor se arrisca a dizer : vai haver, sim, o Dilmasia. Explico abaixo. As razões do voto misto MG é um Estado bairrista (o sentido, aqui, é positivo). Os mineiros são orgulhosos de sua importância na vida política do país. Carregam, ainda, o sentimento de perda de Tancredo Neves. Por outro lado, o neto dele, Aécio, é muito bem avaliado. Eles gostariam de ver Aécio e não Serra como candidato a presidente da República. Ficaram frustrados. Por isso, votarão maciçamente em Neves para o Senado, é bem provável que elejam Anastasia para o governo e, pasmem, grande parte do voto poderá migrar para Dilma. Não se deve esquecer que ela é mineira. E os mineiros prezarão esse fato. Apesar da ministra ter passado quase toda sua vida no Rio Grande do Sul. Pesquisa em SP Pesquisa fresquinha, feita pelo Instituto Opinião, e que esta coluna registra em primeira mão. A pesquisa foi feita apenas no Estado de São Paulo, que abriga o maior eleitorado do país, cerca de 30 milhões de eleitores : Serra = 48,46%; Dilma = 21,23%; Ciro = 7,08%; Marina = 6,33%; nenhum = 9,99% e não sabe = 6,91%. Para o governo do Estado : Alckmin = 61,12%; Mercadante = 12,49%; Russomano = 7,08%, Paulo Skaf = 2,08; Fábio Feldman = 1,08% e Plínio Arruda = 0.83%; nenhum = 9,58% e não sabe = 5,75%. Por esses números de hoje, considerando uma soma em torno de 22 milhões de votos válidos, Serra teria em torno de 6 milhões de maioria em SP. Que é o número planejado pelos tucanos. Cifra para enfrentar a maré enchente de Dilma no nordeste. Alckmin nas alturas Pela mesma tabela, Alckmin faria uma maioria de mais de 10 milhões de votos sobre Mercadante. Claro, a posição do petista deverá melhorar. Sob pena de uma derrota escorchante. Senado em SP A moldura para o Senado mostra Marta em primeiro lugar, com 36,47%; Romeu Tuma em segundo, com 23,23% e Quércia em terceiro, com 21,07. Netinho de Paula ocuparia a quarta posição, com 15,57% e José Aníbal viria, a seguir, com 12,49%. Estas posições apontam para a retração de candidatos com baixa visibilidade. Neste caso, o mais prejudicado seria Netinho de Paula, com mídia muito curta. Noutros desenhos, aparecem Gabriel Chalita, com 6,16% e Soninha, com 11,07%. Outro nome do PSDB, Aloysio Nunes Ferreira, tem pouca expressão, apenas 6,83%. Ou seja, o candidato mais viável dos tucanos é Zé Aníbal. Que poderá crescer muito na onda surfada por Geraldo Alckmin. Quércia enfrenta um desgaste histórico. Tende a cair. E Tuma vai precisar muito de um bom espaço na mídia. Mais pesquisa Agora é a vez da rodada Sensus. Pesquisa encomendada pelo Sintrapav - Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de Construção Pesada de São Paulo, divulgada ontem, aponta empate técnico na corrida presidencial entre Serra (32,7%) e Dilma (32,4%). Pau a pau. Tirem suas conclusões. Ciro Gomes teve 10,1%, e Marina Silva, 8,1%. A margem de erro é de 2,2 pontos percentuais. Feldman na contramão ? O deputado Walter Feldman quis arrematar o desfecho Serra/Aécio com uma declaração que irritou os mineiros : José Serra "era imbatível na disputa interna". Ou seja, quis dizer que Aécio não tinha ficha para ganhar o jogo. Ora, o mineiro fez um entusiasmado discurso de apoio ao paulista, no sábado. Foi o mais duro orador contra o PT. O deputado Rodrigo de Castro condenou Feldman. Para ele, o comentário vai na contramão do que o partido está construindo. Passarinho na muda não pia, Walter. Congresso do aço O mais importante evento do aço no Brasil ocorrerá, a partir de hoje, quarta, até sexta-feira. A agenda abriga debates com palestrantes nacionais e internacionais. A China merecerá um capítulo especial. A indústria do aço no mundo será vista e revista. Em paralelo, a ExpoAço, feira de negócios com a presença de 50 empresas brasileiras e estrangeiras. Os organizadores construíram uma Vila do Aço para mostrar todas as possibilidades de utilização do aço. Entre os nomes famosos, o de Lakshmi Mittal, CEO da ArcelorMittal. Tomará posse na presidência do Conselho Diretor do Instituto Aço Brasil, André B. Gerdau Johannpeter. Na vice, Albano Chagas Vieira. E na presidência executiva do Instituto, Marco Polo de Mello Lopes. Fogueiras O PT corre para apagar fogueiras no CE, MG e PR. No Ceará, Cid, o governador e irmão de Ciro Gomes, quer apoiar Tasso Jereissati para o Senado. O PT quer sair com a candidatura de José Pimentel, ex-ministro da Previdência. Dilma, em mais um momento desastrado, foi ao Ceará receber uma homenagem. Cid não compareceu. Em Minas, Fernando Pimentel e Patrus Ananias não desistiram das candidaturas ao governo. Vão se enfrentar em prévias. Lula vai ter de botar ordem na casa. E Hélio Costa, paciente, espera a decisão. Olhando para um tal de Serrélio. No Paraná, Osmar Dias gostaria que Gleisi Hoffmann fosse sua vice. Mas o PT quer vê-la como candidata ao Senado. Osmar quer a vaga de senador para atrair o PR. Caso não consiga, dirige o olhar para José Serra. Será preciso muita água para apagar as fogueiras. Marina sorridente Registrei para o Correio Braziliense e O Estado de Minas, os dois principais jornais da cadeia dos Diários Associados, o fato de Marina Silva ter operado boa mudança na apresentação pessoal. É toda sorrisos. E dei as razões. O discurso político abriga duas vertentes : a estética e a semântica. O prisma estético é o primeiro que entra no sistema cognitivo do eleitor. Quem inicialmente, capta a maneira como o candidato se veste, usa o cabelo e fala. O discurso semântico, das palavras e ideias, vem depois. Marina compõe-se melhor, está mais sorridente. Wallace, um impostor E opino : "os eleitores de baixa escolaridade e renda, principalmente, se impactam ante o visual dos candidatos. Os de renda média e superior racionalizam mais, apesar de também serem influenciados pelo que vêem". Contei um episódio da década de 1960, durante a campanha de George Wallace, governador do Alabama, à presidência dos Estados Unidos, em que o candidato subiu ao palanque para discursar usando uma armação de óculos sem lentes, com a intenção de passar a ideia de intelectual. Ao falar aos eleitores, algo lhe caiu nos olhos e ele os tocou entre os aros da armação, denunciando a ausência das lentes. O gesto fez de Wallace um impostor. Dia seguinte, os jornais e TVs exibiram o engodo. Perdeu a chance de ser candidato pelo Partido Democrata nos idos de 60. Era um falcão. Direitista. Segregacionista. Dele era o slogan : "segregação agora e segregação sempre". Ciro defenestrado Gabriel Chalita, potencial candidato do PSB ao governo paulista. O jovem político se esforça para que o PSB faça coligação com o PT. Em sua opinião, Ciro Gomes não será candidato a nada : nem a presidente da República, nem a governador de SP e muito menos a deputado em SP, para onde mudou o título de eleitor. Eduardo Campos quebra a cabeça para armar a estratégia de desmanche da candidatura de Ciro à presidência. Conselho à candidata Dilma Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado à pré-candidata à presidência Marina Silva. Hoje, volta sua atenção à outra pré-candidata à presidência da República Dilma Rousseff : 1. Pense antes de agir e/ou expressar ideias. Doravante, suas atitudes, atos, decisões e palavras serão registradas e examinadas pela lupa de julgamento da mídia. 2. Campanhas negativas - ataques contundentes, violência expressiva - desajudam uma candidatura. O eleitor aprecia uma agenda positiva. 3. Não se deixe envolver por grupos radicais, alas ortodoxas, grupos que ainda imaginam uma volta à mofada luta de classes.
quarta-feira, 7 de abril de 2010

Porandubas nº 228

De mineiros Grande churrasco abrindo a campanha de Magalhães Pinto, no pátio do Centro Gaúcho, Pampulha, BH. Gabriel Procópio Loures, o Gabi, gerente da Caixa Econômica Estadual em Santos Dumont, pega o microfone para saudar o candidato : - Minhas senhoras e meus senhores ! Como disse o grande filósofo francês "Madame, Monsieur"... Muitas palmas. E comentários gerais : "que homem culto, o homem sabe tudo". De paranaenses Jorge Takachi, japonês simpático e generoso, querido em toda a cidade, saiu candidato a prefeito de Nova Esperança/PR. A oposição começou a falar mal dele. Jorge Takachi não aguentou. Foi fazer comício : - Jorge Takachi bom para a cidade, constrói hospital, dá dinheiro para a igreja, ajuda os pobres, paga feira dos outros, povo diz : Jorge Takachi muito bom. Jorge Takachi candidato a prefeito, povo diz : Jorge Takachi filho da puta. Num é, né ? Assim, Jorge Takachi não entende povo. Risadas. E comentários gerais : "Takachi não entende mesmo". Arena semi-aberta I O jogo eleitoral começou para valer com os primeiros tiros de guerra. Serra fez o melhor discurso de seu percurso recente. Apesar de ser um orador fissurado na racionalidade, usou uns 8% do palavreado para jogar no tabuleiro da emoção. Fustigou adversários petistas e, indiretamente, o governo Lula, ao se referir à roubalheira. Não admitirá isso, garante. Foi muito eloquente, a ponto de abrir manchetes no dia seguinte. Serra se posiciona, hoje, como identidade comprometida com o pós-lulismo e não como o anti-lulista. Se optasse por ser do contra, estaria perdido. Arena semi-aberta II Dilma deixou o Planalto debaixo de uma cascata de lágrimas. Em seu discurso, fez loas ao governo. E elevou Lula aos céus. Fez quase 20 referências ao "senhor", referindo-se ao presidente. Coloca-se, assim, como pupila, patrocinada, candidata do presidente e, no arremate, herdeira do jeito lulista de governar. Reagiu imediatamente aos golpes tucanos. Garante que há muito lobo vestido de cordeiro. Dilma, aliás, está chamando Serra para o ringue. A tática é inteligente. Procura, assim, se posicionar no ranking principal, apresentando-se como lutadora, destemida, sem medo de atirar e debater. Ou seja, atiçando o fogo, Dilma mostra-se disposta a enfrentar o tucanato de igual para igual. Lula à espreita Nas próximas semanas, Lula ficará espiando as atitudes, gestos, palavras e atos de sua pupila. A seguir, vai chamá-la para a interlocução de ajustes : diga isso, não repita aquilo, aja assim e assado, corra por aqui e evite aquela vereda acolá. Nos fins de semana, estará quase todo tempo com Dilma, fazendo campanha. E a candidata - bem como Serra - poderá participar de atos administrativos públicos, porém sem ter direito ao verbo. Essa legislação eleitoral é mesmo dúbia. Ou seja, o candidato poderá ser visto ao lado de seus patrocinadores, mas não poderá ser ouvido. Churchill "Espero que meus amigos e colegas, ou colegas de outrora, que tenham sido afetados pela reconstrução política, sejam tolerantes e me desculpem por qualquer falta de cerimônia na maneira por que fui compelido a agir. Eu diria a esta Casa, como disse àqueles que passaram a formar este governo : - eu nada mais tenho a oferecer senão sangue, trabalho, suor é lágrimas." (Winston Leonard Spencer Churchill, estadista, no célebre discurso de 3 de setembro de 1939, quando foi nomeado primeiro ministro) Marina se solta Este consultor começa a perceber Marina Silva mais solta e desinibida. Chega a ser, até, falante. E começa a aparecer em circuitos empresariais. Quem esperava uma ambientalista confinada aos ambientes florestais, terá grata surpresa. Marina quer viabilizar acordos laterais, até com figuras exponenciais, que lhe acenam com esta possibilidade. É o caso do ex-presidente Itamar Franco. Marina poderá atrair a atenção e o voto de uma faixa jovem e de grupos organizados que cercam o conceito de sustentabilidade. Ciro se prende Ciro Gomes, por sua vez, se dobra cada vez mais ao rolo compressor de seu partido, o PSB, cuja maioria quer apoiar a candidata Dilma. O presidente do PSB, governador Eduardo Campos, é do entendimento de que a candidatura Ciro prejudica Dilma. Mas as pesquisas apontam noutra direção : sem Ciro, Serra cresce. E Ciro começa a convencer Campos de que poderá ajudar Dilma se permanecer como candidato. No segundo turno, fecharia aliança com ela. Tudo vai depender de mais duas baterias de pesquisa. Ou seja, vamos ver essa decisão lá para os meados de maio. O imponderável Calma, pessoal. É arriscado fazer prognósticos nesse momento. Os dois candidatos principais têm condições de levar a melhor. Fatores imponderáveis poderão ser decisivos. E a imponderabilidade abarca o mundo da abstração. Ninguém sabe se este fator sairá do perfil do candidato, do momento ou das circunstâncias. PNBF e PNBInf É tarefa complexa, portanto, aferir o imponderável. O que se pode garantir, isso sim, é que há fatores positivos e negativos que contribuem para derrotar ou dar a vitória a candidatos. Costumo, em minhas análises, fazer referência a dois : Produto Nacional Bruto da Felicidade e Produto Nacional Bruto da Infelicidade. O primeiro resulta de situações confortáveis : dinheiro no bolso, emprego garantido, comida barata, escola garantida para os filhos, assistência do governo, bolsas etc. O segundo é a antítese : desconforto, indignação, raiva, violência desmesurada, medo, desemprego, insegurança social. Façam suas análises em torno desses dois escopos. O primeiro deixa o estômago confortável; o segundo provoca vazios no estômago. O eleitor mais forte é o bolso. Quando cheio, vitória no candidato mais próximo a ele. Vestindo a máscara do porco "Os chineses têm um ditado : "vestir a máscara do porco para matar o tigre". É uma referência a uma antiga técnica de caça em que o caçador se cobre com a pele e o focinho de um porco, e sai grunhindo. O poderoso tigre pensa que um porco vem chegando, deixa-o se aproximar, saboreando a perspectiva de uma refeição fácil. Mas é o caçador quem ri por último. Mascarar-se de porco funciona muito bem com quem, como os tigres, é muito arrogante e seguro de si. Quanto mais eles acham que é fácil apanhar você, mais facilmente você vira a mesa. Este truque também é útil se você for ambicioso, mas ocupa uma posição inferior na hierarquia - aparentar ser menos inteligente do que é, até meio tolo, é o disfarce perfeito" (Robert Greene). E as pesquisas, hein ? Este consultor considera Marcos Coimbra um bom especialista em pesquisa. Tem formação adequada. Sabe manejar os instrumentos de pesquisa. Por isso mesmo, ficou perplexo com as suspeitas de que seu Instituto, Vox Populi, estaria manipulando pesquisas. Há uma nota negativa na mídia dizendo que a última pesquisa do Instituto repetiu os mesmos lugares da penúltima. E que a diferença entre Serra e Dilma não seria de 9 pontos, conforme atesta o Datafolha, mas de apenas 2 pontos. Por via das dúvidas, vamos esperar pelas próximas rodadas, seja do Datafolha seja do Vox Populi. Dora abelha rainha Kramer Dora Kramer lançou, esta semana, seu livro - O Poder Pelo Avesso - em uma longa noite de autógrafos. Passei exatos 1 hora e 40 minutos na fila. No meu autógrafo, a querida amiga escreveu : o professor precisa por no papel a história da abelha rainha. Vou começar a contar. Idos de 70. Dora, minha aluna na Cásper Líbero, av. Paulista, 900, 6º andar, já exibia um belo texto. E eu sempre lhe pedia que lesse a reportagem para os comentários e debates da classe. Eu solicitava que os alunos formassem um círculo em torno de Dora. E aí, um dia, para risada geral, eu disse : vamos, agora, ouvir a abelha rainha. Pois ela parecia a rainha cercada pelo enxame de abelhas trabalhadoras. O apelido pegou. Até hoje, quando nos encontramos, ela recorda o passado. Grande texto Dora Kramer já escrevia bem naquela época. Texto descritivo, recheado de imagens e simbolismos. Eu lhe dava a melhor nota da classe. Quanta alegria foi ver essa jornalista substituir Carlos Castelo Branco no grande Jornal do Brasil, que também foi meu primeiro jornal. Hoje, no Estadão, Dora é leitura obrigatória. Quem não tem o costume de lê-la, perde e muito. A propósito, a Dora daquele tempo era Dora Tavares de Lima, sobrinha do famoso Chopin Tavares de Lima, contemporânea de Carvalho Pinto, Jânio, amigo de Montoro, e integrante do velho Partido Democrata Cristão. O Kramer vem de seu ex-marido Paulo Kramer, professor e cientista político. Michel na vice Com a permanência de Henrique Meirelles no comando do BC, Michel Temer consolida sua posição como peemedebista a compor a chapa de Dilma. O PMDB está fechado em torno de seu nome. Presente de páscoa Segundo a Asserttem (Associação Brasileira das Empresas de Serviços Terceirizáveis e de Trabalho Temporário), a páscoa deste ano gerou emprego temporário para 63,3 mil trabalhadores em todo o país. O resultado é 5,5% maior que o registrado em 2009. O levantamento confirma ainda que 15% destes contratos temporários têm chance de efetivação, o que corresponde a quase 9,5 mil brasileiros, praticamente o dobro do registrado no mesmo período do ano passado. A data também significou oportunidade de primeiro emprego para 25% dos trabalhadores. Lula convencido Lula no Canal Livre da Band : "estou convencido de que a Dilma vai ser a próxima presidente do Brasil. Agora, vai ter de trabalhar..." Pergunta : vai de ter trabalhar para se eleger ? Será que alguém que quer ser presidente do país não consideraria essa possibilidade ? A questão levantada pelo presidente parece sem sentido. FHC faz apelo a Aécio FHC continua apelando para Aécio Neves vestir a camisa de Serra. Por quê ? Desconfia de que o mineiro não está motivado ? Neves é candidato ao Senado. Não quer compor a chapa como vice. FHC deve saber de coisas... MG, um mistério Minas, com seus quase 14 milhões de eleitores, é um mistério. Não se pense que os mineiros jogarão todos os seus votos na floresta tucana. Vão eleger Aécio, senador, e podem, até, dar a vitória a Anastasia na corrida ao governo. Mas, na área federal, Minas tem sido surpreendente. Não acompanha muito os caciques. Vermelho de abril O abril vermelho prometido pelo MST é um tiro nas costas de Dilma. O MST, em anos eleitorais, sempre amainou a corrente invasiva. Mas, este ano, promete recrudescimento nas ações do campo. Traição ao compromisso assumido com o governo Lula ? Vamos ver se os emessetistas farão a agenda destrutiva que prometem. Conselho a Marina Silva Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos membros do Ministério Público. Hoje, volta sua atenção à pré-candidata à presidência da República Marina Silva : 1. Procure absorver um escopo mais abrangente : educação, saúde, infraestrutura técnica (transportes, energia, telecomunicações), segurança pública, evitando a identidade monotemática da sustentabilidade. 2. Circule nos grandes núcleos da sociedade organizada (associações, federações, sindicatos, movimentos etc.) 3. Privilegie os espaços de maior densidade eleitoral e os pólos de difusão de ideias e informação. ____________
quarta-feira, 31 de março de 2010

Porandubas nº 227

Tu não vais, não é ? Luís Simões Lopes era um miniditador. Diretor do DASP, fazia o que queria, com apoio de Getúlio. Mandou ofício aos ministros com uma série de determinações. Enquadrava todo mundo. Osvaldo Aranha, ministro da Fazenda, recebeu, leu, devolveu : "Ao remetente: vá à merda". Entregou ao chefe de gabinete. O chefe de gabinete ficou em pânico : - Devolver pelo protocolo reservado, não é, senhor ministro ? - Não, pelo protocolo comum. Era um escândalo renovado, de mão em mão. Luís Simões Lopes recebeu, ficou furioso, foi a Getúlio pedir demissão. Getúlio puxou uma baforada do charuto : - Ora, Luís, para que demissão ? Tu não vais, não é ? Não indo, tu desmoralizas o Osvaldo. Ele vai ficar uma fera. Tu sabes. Tu sabes. Luís Simões Lopes foi. Quer dizer, de volta para seu gabinete no DASP. Quem conta a historinha é Sebastião Nery. Serra deslancha ? Quem pensava que Dilma Rousseff continuaria a escalada, passando na frente de José Serra, tomou um susto. Dilma estacionou e Serra cresceu. A diferença é de 9 pontos, 27% a 36%. O que teria ocorrido ? Hipóteses mais viáveis : Serra tomou a decisão de se candidatar; passou a ter maior visibilidade com spots publicitários dando conta dos resultados de seu governo; quadro se torna mais definido. Na verdade, Serra recupera suas margens em São Paulo e expande apoios no Sul. Mas olhem para este dado : Dilma cresceu 4 pontos no Rio, em Minas Gerais e no Espírito Santo. Numa parte do sudeste (SP) e no sul, Serra subiu, noutra, caiu. Atenção, atenção Pesquisa é um instrumento que deve ser analisado sob diversos aspectos. O da rejeição, por exemplo. Dilma já teve rejeição de 35%. Baixou para cerca de 20%. A rejeição de Serra é maior que a rejeição de Dilma. Coisa estranha. Mais ainda : a pesquisa espontânea mostra Dilma com 12%. Serra tem 8%. Quer significar que o potencial de crescimento de Dilma é maior do que o de Serra. Outro dado : 53% dos eleitores dizem que votarão no candidato indicado por Lula. Portanto, essa pesquisa Datafolha registra movimentos dos últimos dias. Há muita enchente a correr por baixo das pontes. Exageros e banalidades Brasil de exageros, país superlativo. 53% das obras do PAC não foram concluídas. Mas o PAC 2 é instalado para alavancar a campanha de Dilma. Lula continua a debochar da Justiça Eleitoral. No alto de sua imensa aprovação popular, acha-se no direito de esculhambar as instituições. Foi multado duas vezes. Total : R$ 15 mil. Não se liga. Nos tempos antigos, seria um escândalo o fato de um presidente ser multado. Hoje, tudo é banal. Asneiras, bobagens, besteiras, denúncias, multas, escândalos já não impactam. Nem causam surpresas. Tudo passa a ser normal. O feio, de tão feio, impregna-se na paisagem. E quem vê já não mais distingue feiúra de beleza. Julgamento "Preserve suas forças e sua energia concentrando-as no seu ponto mais forte. Ganha-se mais descobrindo uma mina rica e cavando fundo, do que pulando de uma mina rasa para outra - a profundidade derrota a superficialidade sempre. Ao procurar fontes de poder para promovê-lo, descubra um patrono-chave, a vaca cheia de leite que o alimentará durante muito tempo." (As 48 Leis do Poder- Robert Greene) Alckmin disparado Em São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), sisudo e quieto, chega a 53% contra um Aloizio Mercadante, que não chega aos 15%. Mercadante é preparado, sabe argumentar, tem dados na cabeça e uma visão categorizada de economia. Mas é um perfil ácido. Duro de roer. Parece que está brigado com o mundo. Não é daqueles que sabem fruir uma conversa. Alckmin é educado, boa praça e é, até, um bom piadista. Só precisa ser mais extrovertido. Expor-se mais. Chegar com mais força ao eleitorado das margens. Mas em um debate, Mercadante pode se dar melhor. Marta e Quércia Do lado do PT, em São Paulo, Marta Suplicy. Do lado da situação, por enquanto Quércia. São os dois candidatos mais visíveis ao Senado. Marta e Quércia têm algo em comum : são muito rejeitados, apesar da visibilidade de seus nomes. Marta tem mais votos na capital e Quércia no interior. Por isso, parcela forte do eleitorado quer ver outras possibilidades. Esse Gabriel Chalita, do PSB, da ala Canção Nova (Igreja Católica) é considerado um traidor dos tucanos. Aloysio Nunes Ferreira ou José Aníbal deverão completar a chapa governista em SP. Aníbal tem maior visibilidade que Aloysio, mas este detém maior capacidade de articulação e domínio da máquina. E o PSB, hein ? Novela confusa é a do PSB de Ciro Gomes e Paulo Skaf. Ciro continua a mexer na farofa. Espalha farinha por todo lado. Ciro poderá perder todas as chances que, há 3 meses, pulavam em seu colo. Lula não vai deixar que seja candidato a presidente. Ele não quer ser candidato a governador de SP. Não tem cacife para ser candidato a deputado federal por estas bandas. Vai sobrar mesmo para Paulo Skaf, um candidato que tem dinheiro mas não tem votos. Mais uma na fileira das ilusões. Eduardo Campos, onde você está ? Corra, corra, antes que seu partido morra. Imbróglio no Rio Lindberg Farias ganhou de Benedita da Silva a vaga de candidato ao Senado pelo PT do Rio de Janeiro. Entrará na chapa de Cabral. Que após ganhar o título de Salvador do Rio, aumenta as chances de levar a melhor. Sérgio estava sem discurso na rua da amargura. A emenda Ibsen Pinheiro deu-lhe sobrevida. Este consultor chegou a apostar nas chances de Gabeira com César Maia na disputa para o Senado. Marcelo Crivella, o bispo, lidera na ponta para o Senado. Meirelles sai ou fica ? Henrique Meirelles sairá ou permanecerá no governo ? Sairá. Será substituído por Alexandre Tombini, natural do RS, diretor de normas do Banco Central. Meirelles quer ser candidato a vice-presidente na chapa de Dilma. Sonho de um verão mais que chuvoso. Mais provável é uma candidatura ao Senado por Goiás. Meirelles não conta com 5 votos do PMDB. E Lula não vai se permitir constranger o partido sugerindo Meirelles como candidato. A indicação para compor a chapa sairá, como se sabe, do partido. Que fecha em torno de Michel Temer. Este é que tem dúvidas. Topará ou não ? Michel tem em conta o fato de que o PMDB continuará a ser o maior partido do país. Cerca de 100 deputados e 20 senadores. Casamento sem burocracia O deputado Cândido Vaccarezza quer menos burocracia nos casamentos. Seu projeto, aprovado na Câmara dos Deputados, dispensa publicação de edital de casamento. "O objetivo é reduzir a despesa dos casais e preservar os seus dados - o número de carteira de identidade e CPF, filiação, data, cidade e estado de nascimento e local de residência - de forma a evitar que pessoas mal intencionadas façam uso dessas informações para aplicar golpes. A proposta resguarda a instituição do casamento e a segurança dos casais", diz o deputado. Vice de Serra Quem será ? Tasso Jereissatti não quer. Zé Agripino, idem. Kátia Abreu é considerada muito conservadora. Sérgio Guerra não cabe no figurino. Surge a versão de que Andréa Neves, irmã de Aécio, seria convidada. Pura fofoca. Não tem perfil. Marco Maciel poderia ser um nome. Mas já foi vice. Pode ser a pista para o petismo denunciar : Serra é a extensão de FHC. Por isso, este consultor acredita que tem cabimento a indicação do senador Dornelles. Que é tio de Aécio Neves. Mas ele traria o PP para o lado do Serra ? Lula no palanque Depois do susto com a pesquisa Datafolha, o esforço do PT convergirá para a meta : reunir novamente Lula e Dilma em palanque. Nos últimos tempos, ela andou desgarrada. E agora vai se desincompatibilizar. Mas Lula só poderá subir ao palanque com Dilma nos finais de semana. Nas horas livres, quando não estiver governando. Mas, em se tratando de Lula, tudo será possível. Ele já disse que sua meta, hoje, é : eleger Dilma como sucessora. O Brasil de Sachs "O século XIX foi marcado pela ascensão fulgurante dos Estados Unidos, o século XX pela expansão do Japão e dos Tigres da Ásia. O século XXI pertencerá ao Brasil ? Ou ele se contentará de permanecer o país do eterno futuro que tarda a chegar ? Mais de sessenta anos se passaram desde que Stefan Zweig escreveu Brasil, país do futuro. Essa pergunta me intriga. Tenho a petulância de querer contribuir, ainda que na margem, para que esse gigante entravado consiga romper as amarras que o impedem de modernizar sua estrutura fundiária anacrônica. De fato, a herança envenenada de seu passado colonial continua a obliterar o sistema político. A democracia brasileira ainda não se libertou das práticas clientelistas, das tentativas repetidas de privatização do Estado e da corrupção. Os benefícios do crescimento e da modernização econômicos são confiscados por uma elite estreita. Ora, o Brasil dispõe de condições excepcionais para percorrer a via de um desenvolvimento duplamente virtuoso, no plano social e ambiental. Hic et nunc. Aqui e agora".( Ignacy Sachs - A Terceira Margem) Ataque em campanha Este consultor prevê uma campanha muito aguerrida. Cheia de ataques. Grupos e militantes, a serviço de candidaturas, vão tentar desconstruir adversários. Levantando fichas do passado. Inventando casos. Exibindo articulações espúrias. Invertendo conceitos e posicionamentos. Brandindo armas desonestas. Nos Estados Unidos, essa tática é bastante empregada. O ataque, por aqui, tem sido mais contido. Neste ano, porém, ganha fôlego. Lulistas Dado interessante : dos apoiadores que aprovam o governo Lula, 33% votam em Dilma, mas 32% dizem que votarão em Serra. Lula terá de se esforçar para redirecionar o voto de parcela ponderável de seu eleitorado. Fuso horário de Serra O avião será uma boa cama para José Serra. Que é noctívago. Campanha precisa de candidato nas ruas logo de manhã cedinho. Principalmente em regiões quentes como norte, nordeste e centro oeste. Serra costuma dormir até 10 horas. Vai dormir na alta madrugada. Terá de refazer o fuso horário. Vai ter de dormir em automóvel ou avião.Anastasia tem chances ? À medida que a campanha ganha densidade, candidatos que nunca tiveram votos ganham ânimo. Anastasia, o vice de Aécio, nunca teve um voto. É um schollar. Professor de Direito. Mas demonstrou competência administrativa. Aécio poderá eleger seu "poste". E Costa ? Hélio Costa (PMDB) sai bem na frente do pleito mineiro. Mas terá fôlego para aguentar a força da estrutura governamental ? Anastasia permanecerá no cargo como governador em exercício. Costa, mesmo com o apoio do PT, terá grandes dificuldades para superar a máquina aecista. O caso Nardoni O caso Nardoni irá para a história do Direito brasileiro. A tecnologia foi fundamental na produção de provas técnicas. O Conselho de Sentença desempenhou sua função com alto interesse. Mas há um aspecto que merece um tom crítico : a espetacularização do julgamento. A ferocidade da turba contra os advogados de defesa. "Morrer é fácil, mas aguentar velório, dentro de um caixão, deve ser muito duro." (Otto Lara Resende) Conselho aos membros do MP Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos tucanos. Hoje, volta sua atenção aos membros do Ministério Público: 1. Atentem para as ameaças constantes ao império da lei. 2. Movimentos prometem um abril vermelho com ocupação de fazendas, invasão de propriedades, ocupação de prédios públicos. Qual é o papel do MP ante a crônica de um caos anunciado ? 3. Espera-se que o MP cumpra o dever de zelar pela harmonia social e defesa dos direitos dos cidadãos. ______________
quarta-feira, 24 de março de 2010

Porandubas nº 226

Conversa de jardim Manuel Ribas, interventor no Paraná (1932/35), depois governador (1935/37), despachava no palácio, mas gostava de morar em sua casa. Bem cedinho, chega um rapaz e encontra o jardineiro regando o jardim : - Seu Ribas está ? Sou filho de um grande amigo dele. Meu pai me mandou pedir um emprego a ele. Eu podia falar com ele ? - Poder, pode. Mas, e se ele não lhe arrumar o emprego ? - Bem, meu pai me disse que, se ele não arranjasse o emprego, eu mandasse ele à merda. - Olhe, rapaz, passe às 4 da tarde lá no palácio, que é a hora das audiências, e você fala com ele. Às 4 horas, o rapaz estava lá. Deu o nome, esperou, esperou. No salão comprido, sentado atrás da mesa, o jardineiro. Ou seja, o governador. O rapaz ficou branco de surpresa. - O que é que você quer mesmo ? Repetiu a história. "Meu pai me mandou pedir um emprego ao senhor". - E se eu não arranjar o emprego ? - Então, seu Ribas, fica valendo aquela nossa conversa de hoje de manhã, lá no jardim. Corrida ao Planalto - Cenário Barriga Cheia Este consultor se permite produzir ligeiros cenários na direção do Planalto. O primeiro aponta para a Barriga Cheia. Neste cenário, massas confortáveis. Gente satisfeita. Grupos numerosos comemorando avanços do bolso. Sem grandes novidades, mas ambiente denotando segurança e tranquilidade. Neste cenário, o cavalo de Dilma Rousseff corre na frente. O animal, sem aperto na barriga, dispara deixando outros contendores atrás. Dá uma parada aqui e ali para tomar fôlego, beber água no poço, respirar o ar fresco e comer um capinzinho. Lula fica à espera na cocheira de chegada. Ele mesmo é o dono de estupendos estoques de água e capim. Corrida ao Planalto - Cenário Cuca Quente O cenário Cuca Quente flagra massas insatisfeitas, intranquilas, inseguras e com o estômago apertado. Pode ser que alguns estratos estampem amplos sorrisos e tranquilidade. Mas a maioria denota inquietude. Não se conforma com o estado geral das coisas : carestia, violência, muita chuva aqui e falta de água acolá, greves, cidades sem controles. Esta ambientação social impulsiona candidatos da oposição. Que simbolizam a mudança de um status quo negativo, feio, ruim, perverso. José Serra levaria vantagem sob esse desenho. A contrariedade social tende a favorecer perfis que simbolizem esperança de melhoria, bem-estar. Ou seja, quando o Produto Nacional Bruto da Felicidade é baixo, expande-se a viabilidade de quem tem condições de soerguê-lo. Corrida ao Planalto - Cenário Mosaicos Coloridos No cenário Mosaicos Coloridos, há grupos de todos os calibres e gostos. Há turmas que estão muito satisfeitas com a situação; há núcleos muito revoltados contra o desgoverno, a insegurança, a corrupção; há contingentes que não se conectam à política; há eleitores que agem no calor da hora, sob impulso do momento; há um eleitorado tradicional, fiel, que vota sempre nos nomes apoiados pelas lideranças locais; há uma esfera moderna, antenada nas questões mais filosóficas (portanto, muito racional); e há grupos que mudam de esfera e referências ao sabor das circunstâncias. Nesse cenário, leva a melhor quem tem o maior pincel e a maior carga de tinta para pintar a parede de mosaicos. Geralmente, o tom predominante na parede é de quem domina as maiores estruturas do poder. Tirem suas conclusões. As chances de Dilma As chances de Dilma dependerão muito do estado geral de satisfação social. É claro que, em determinado momento, se desenvolverá um processo de distinção entre a cria e o criador. O eleitor vai concluir : Dilma não é Lula. Nesse momento, poderá ocorrer uma ruptura com tendência a certo desligamento. Mas o processo estará também atrelado às atitudes, comportamentos, gestos, palavras da candidata. Qualquer tropeço no meio do caminho arrefecerá suas forças. Contra ela, somam-se fatores como inexperiência, falta de tato político, desenvoltura comunicativa, carência de visão global do país. Se lógica, porém, fosse fator decisivo de campanha, ela teria grandes chances. As chances de Serra As chances de José Serra dependerão de sua capacidade de mostrar que os avanços, sob sua presidência, serão mais consistentes e duradouros. Ele tem mais experiência que Dilma. Mas a experiência só funciona como laço eleitoral caso passe pelo efeito demonstração. Ou seja, não adianta apenas ser apresentado como experiente, testado. No caso do pleito federal, urge mostrar e comprovar que as coisas poderão ser melhores. Serra é um perfil que mergulha no poço da racionalidade. Sua peroração é uma aula. Didática, mas monótona. Tem contra ele, portanto, uma pequena vela emotiva. Cuja chama só se acende depois de muitas tentativas. As chances de Marina Marina será uma folha verde entre as paisagens vermelha, dos petistas, e azul/amarelo, dos tucanos. Será um símbolo. E pode captar a simpatia de um grupo que certamente ostentará a folha verde na lapela. As chances de Ciro Ciro Gomes é a boca que jorra chumbo e fogo. Por isso, terá sempre alguém para ouvir seus tiros. Mas quem atira muito passa a ser temido. Não respeitado. Ciro é um arremedo de Lampião político. Enfeite-se o pindacearense (fusão de Pindamonhangaba e Ceará) com um chapéu de cangaceiro e uma cartucheira cheia de balas para se chegar ao Lampião contemporâneo. Como tal, faz muito barulho no palco. Aliás... Aliás, Ciro anda trombeteando : "serei o próximo presidente do Brasil". Meu Deus do céu... quanta lorota ! A não ser que Brasil seja um novo time do Ceará. Lula na ONU ? Essa notícia saiu na mídia internacional. Lula estaria com um olho na Secretaria Geral da ONU. Depois de seu périplo no Oriente Médio, onde deitou e rolou nas sugestões e orientações, passei a acreditar que o cara efetivamente poderia se encantar com o cargo. Mas o desmentido veio logo. Lula não quer a coisa. Fiquei imaginando : por quê, por quê? A proposta foi de Sarkozy. Caiu a ficha. O marido de Carla Bruni quer vender os caças franceses ao Brasil. Encheu o peito de Lula de bajulação. Passei a acreditar no desmentido após ler nas entrelinhas : um secretário-geral da ONU sem saber expressar uma frase em inglês ?Instituto Lula Por isso, acho mais viável e útil a ideia de Gilberto Carvalho, secretário particular do presidente : o Instituto Lula. Onde o mandatário de grande popularidade poderá abrigar a agenda, as interlocuções, os eventos etc. E se preparar para as próximas jornadas. Lula está longe de uma aposentadoria. O cara gostou do néctar do poder. Que desceu da garganta para o coração, depois de invadir os neurônios. "Há só duas coisas que me incutem respeito: o céu estrelado sobre mim e a consciência moral dentro de mim." (Kant) Gilmar fala duro Esse presidente do STF fala duro. Não teme expressar opiniões. Inclusive as mais contundentes. Atira para todos os lados. Diz com ênfase : "Constituição não comporta controle de mídia". Depois dessa, aquele grupo que deseja manietar os meios de comunicação só tem uma alternativa : enfiar a viola no saco. PMDB prepara ideário O PMDB vai apresentar seu Ideário ao país nas próximas semanas. Trata-se de um Documento onde estarão descritas as Diretrizes para um programa de governo. Na primeira reunião do Grupo, comandada pelo presidente do partido e da Câmara, Michel Temer, as coordenadas foram postas à mesa. Nelson Jobim fez interessante pontuação. Segundo ele, o PMDB tem ministros no governo, mas não está no governo. Relação de Lula com ministros do PMDB : próxima de 10. Relação do PMDB com outros ministros ou com gestão : próxima de zero. Mangabeira Unger apimentou a reunião, dizendo que o Documento não poderia ser uma "coleção de platitudes". Cada membro do Grupo fará suas sugestões e até dia 15 de abril deverá ser produzido um Documento com a consolidação das contribuições. "Os velhos amigos são os melhores. O rei Jonas costumava pedir os seus velhos sapatos porque eram mais folgados para os seus pés". (John Selden, jurista inglês) Senado peemedebista As previsões apontam para um PMDB com uma grande bancada de senadores. Das 54 vagas em jogo, este ano, o partido deverá eleger cerca de 20, dos quais 14 a 15 serão senadores reeleitos. O PSDB e o DEM deverão ter bancadas menores, 10 e 8, respectivamente. O PT deverá fazer a segunda maior bancada. Cabral, o redentor do Rio Sérgio Cabral foi salvo pelo maremoto do pré-sal. O governador estava sem discurso. Não sabia o que dizer. Fernando Gabeira se preparava para dar um bote na vaga de governador do Rio de Janeiro. E aí apareceu o maremoto, que foi a emenda Ibsen Pinheiro, tirando a grana - R$ 8 bilhões - do Rio. Cabral verteu lágrimas. O público viu. E muitos aplaudiram. "Querem roubar o Rio, querem roubar o Rio". Comandou uma passeata de 80 mil pessoas. Para resgatar a grana do pré-sal e salvar o Rio de Janeiro. Mas essa grana só virá daqui a 5, 6, 7 anos. Pois é. Tudo ficará como dantes no quartel d'Abrantes. Mas Cabral, a esta altura, posa de Redentor do Rio, ao lado de outro Redentor, o Cristo do Corcovado. "O gênio sem caráter nada vale". (Anatole France) Arruda joga a toalha ? José Roberto Arruda jogou a toalha. Sai da vida pública. Deixa o cargo de governador, claro, depois de ser jogado na lama do lago Paranoá. Arruda imagina que seu gesto poderá aliviar a mão da Justiça. Amanhã ou depois de amanhã, quem sabe, ele poderia contornar as curvas da decisão. Pois o Brasil é um país da provisoriedade. Nada, por aqui, é definitivo.Pegando fogo A relação entre PMDB e DEM em Santa Catarina está pegando fogo. O DEM deixou o governo comandado por Luiz Henrique. PACPEL Mídia alerta : 54% do PAC ainda não saiu do papel. Mais vale a versão do que o fato ? Segurança privada Entre 25 e 27 de março, o setor da segurança privada se reunirá no VI FESP - Fórum Empresarial de Segurança Privada do Estado de São Paulo, que será realizado em Itapeva, Minas Gerais. O objetivo do SESVESP (Sindicato das Empresas de Segurança Privada, Segurança Eletrônica, Serviços de Escolta e Cursos de Formação do Estado de São Paulo), ao promover este evento, é reunir os empresários do setor para discutir as tendências do mercado de segurança e gestão de empresas. Entre os temas, o cenário político-econômico dos próximos anos e os entraves que afetam o setor. "Precisamos traçar estratégias para combater o crime e nos antecipar ao cenário econômico para manter a nossa atividade, principalmente neste momento em que a clandestinidade mais afeta nosso segmento", enfatiza José Adir Loiola, presidente do Sindicato. Pacotão de Obama Obama conseguiu, ufa, a aprovação do pacotão da saúde. Todos os americanos terão, doravante, um programa público de saúde. Sob outro olhar : o Estado americano entra mais forte na vida das pessoas. Conclusão : ocorre, sim, grande mudança de paradigma. "Quando eu disse ao coração da laranja que dentro dela dormia um laranjal, ele me olhou estupidamente incrédulo". (Hermógenes) Revisão da agenda tributária Os constantes problemas operacionais no sistema da Receita Federal levaram o Sescon de São Paulo a solicitar ao órgão a revisão da agenda tributária, a redução das multas aplicadas e a melhor equalização dos prazos. A multa por obrigação que não for entregue no prazo é de R$ 5 mil. "Os atrasos são motivados principalmente por problemas com o sistema da Receita, que muitas vezes se apresenta instável, inoperante ou fora do ar. Devido ao volume de acessos, o site não suporta a demanda e o contribuinte é quem paga pela falha, pois o governo não prorroga prazos e tampouco o isenta das multas", diz José Chapina Alcazar, presidente do Sindicato das Empresas de Serviços Contábeis e de Assessoramento no Estado de São Paulo. Conselho aos tucanos Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos pré-candidatos aos governos dos Estados. Hoje, volta sua atenção aos tucanos: 1. Arrumem, logo, logo, um discurso denso para que Serra tenha o que dizer nas próximas semanas, quando deverá iniciar o longo percurso. 2. Procurem evitar platitudes, generalidades e abstrações. Sob a indagação central: qual o programa para o país? Como e onde avançar? 3. Procurem mobilizar a sociedade organizada na busca dos focos de ação e atuação. Muito cuidado com as ideias de gaveta. ____________
quarta-feira, 17 de março de 2010

Porandubas nº 225

Bom dia Cosme de Farias foi um grande advogado dos pobres da Bahia. Enveredou também pela política. Vereador e deputado estadual por muito tempo. Vejam a historinha. Um ladrão entrou na Igreja do Senhor do Bonfim e roubou as esmolas. Cosme de Farias foi para o júri : - Senhores jurados, não houve crime. Houve foi um milagre. Senhor do Bonfim, que não precisa de dinheiro, é que ficou com pena da miséria dele, com mulher e filhos em casa com fome e lhe deu o dinheiro, dizendo assim : - Meu filho, este dinheiro não é meu. Eu não preciso de dinheiro. Este dinheiro foi o povo que trouxe. É do povo com fome. Pode levar o dinheiro. E ele levou. Que crime ele cometeu ? Se houve um criminoso, o criminoso é o Senhor do Bonfim, que distribuiu o dinheiro da Igreja. Então vão buscá-lo agora lá e o ponham aqui no banco dos réus. E ainda tem mais. Senhor do Bonfim é Deus, não é ? Deus pode tudo. Se ele não quisesse que o acusado levasse o dinheiro, tinha impedido. Se não impediu, é porque deixou. Se deixou, não há crime. Cosme de Farias ganhou no verbo. O réu foi absolvido. Campanha antecipada A campanha para a presidência está nas ruas. E na mídia. Dilma leva vantagem. Todos os espaços do PT estão cedidos a ela. Nos spots televisivos e radiofônicos, ela recebe uma fala direta de Lula: ela é a alma e a cara de São Paulo. Exagero lulista de bom e pleonástico tamanho. Mas o TRE tirou a campanha do ar. Serra também faz campanha. Começa a sair da letargia. Corre o interior de São Paulo. Inaugura obras, faz discursos curtos. Mas não se pode dizer que apenas Dilma e Lula fazem campanha. Todos fazem.Tendência das pesquisas E se Dilma vence, por enquanto, a parada publicitária, é lógico que a tendência das pesquisas é a de mostrar seu crescimento. Nesta semana, possivelmente hoje, o Ibope mostrará queda de Serra. Na última pesquisa, registrava 10 pontos de vantagem sobre Dilma. Agora, o patamar é de apenas 5 degraus. Um corte pela metade. A continuar nesse ritmo, a pesquisa eleitoral na segunda quinzena de abril mostrará Dilma na frente. A ministra começa a andar com as próprias pernas. E a freqüentar palanques de todos os tamanhos.Rejeição O interesse maior de Rousseff é entrar em São Paulo. Essa terra é administrada pelos tucanos há um bom tempo. O tucanato fincou estacas profundas no território. Mas não tão rígidas que não podem ser quebradas. Será difícil, mas não impossível. Algumas figuras do PT são muito rejeitadas. Expressam arrogância, antipatia. Marta Suplicy, por exemplo. Mas outras figuras do PT, principalmente na esfera parlamentar, são bem aceitas. Mercadante é um sujeito preparado. Mas não se pode dizer que é um político simpático. Por isso, terá problemas como candidato ao governo.PT, 30% Dos votos paulistas Historicamente, o PT manobra com cerca de 30% dos votos paulistas. Trata-se de um bom índice. Pode ser que, nesta campanha, esta taxa aumente. Este consultor percebe que não há, como no passado, a montanha de restrições contra o partido. Parcela do empresariado passa a adotar o figurino petista, na esteira do pragmatismo que caracteriza, por exemplo, o lulismo. Outra parcela é visceralmente contrária. E toma a parte pelo todo. Ou seja, se há algumas figuras deletérias - e há mesmo - estas passam para a sigla a rejeição.A moldura paulista Em São Paulo, a parada será dura. Difícil para Geraldo Alckmin, tucano que se prepara para a corrida ao Palácio dos Bandeirantes. Alckmin é muito bom no início da corrida, mas tem histórico de ser atropelado no fim. Mercadante, se for o candidato, expressa discurso denso e forte. Pode passar ideia de sujeito duro. Deverá atacar o tucanato. Alckmin, pela maneira educada no trato, terá dificuldades em administrar a contundência do petismo.Ademais Ademais, os candidatos ao Senado, pela situação, não devem agregar votos novos. Orestes Quércia será um dos candidatos. É a cara do passado. Aloysio Nunes Ferreira é um perfil mais moderno. Mas Aloysio se encolheu nas entranhas do Palácio dos Bandeirantes. Zé Aníbal, que já foi candidato a senador e quase chegava lá, poderia até ter mais votos. E Paulo Renato, o secretário da Educação ? Considerado muito elitista. Ora, nessa moldura, Marta Suplicy, apesar de arrogante, terá chances. Ou Gabriel Chalita, com sua cara de bom moço. Ou seja, faltam grandes nomes para os cargos ao Senado.Dilma no Jockey Marta levou Dilma ao Jockey Clube. Para ver corrida de cavalo. Maneira de inserir a candidata nos palanques elegantes da cidade. Ganhou discurso e discursou. Paparicada. Mas ela terá dificuldades em encontrar uma expressão direta, emotiva, do gosto das massas. No Sudeste, principalmente. São Paulo será o Calcanhar-de-Aquiles de Rousseff.E em Minas ? Mas em Minas, é bem capaz de Dilma surpreender. Os mineiros ainda não aceitaram a ideia de ver Aécio passado para trás. Vão lhe dar o mandato de senador. E Aécio poderá, até botar Anastasia no seu lugar. A surpresa ? Uma coisa chamada Dilmasia, que se começa a ouvir. Mistura de Dilma com Anastasia. Serra, Serra, cuidado com Minas Gerais. Lá há 14 milhões de votos. Suficientes para decidir uma parada federal. "Chama-se esperança o apetite ligado à crença de conseguir. Chama-se confiança em si mesmo a esperança constante." (Thomas Hobbes) Serra e Dilma na Paraíba Este consultor recebeu, esta semana, uma pesquisa feita na Paraíba por um Instituto do RN, Consult. Estado da Paraíba inteiro : José Serra : 36,45%. Dilma Rousseff: 35,25%. Ciro Gomes : 7,45%. Marina Silva : 3,55%. Nenhum : 6,05%. Pesquisa registrada no TSE - 4713/2010. Dois mil eleitores ouvidos de 25 a 28 de fevereiro de 2010. Margem de erro : 2,1 pontos.João Pessoa: DR : 32,2%, JS : 30,5%. Grande João Pessoa : DR : 34,6%, JS : 32,7%. Zona da Mata : DR : 38,5% e JS : 29,2%. Campina Grande : JS : 44,3% e DR : 25,15%. Ou seja, Campina Grande tira a diferença. Agreste : JS: 37,7% e DR : 35,5%. Serra da Borborema : JS : 42% e DR : 37,2%. Sertão : DR : 39,7% e JS : 38,2%.Skaf vai mesmo Pelo jeito, Paulo Skaf sairá mesmo candidato ao governo de São Paulo. Razões para se apostar na possibilidade : Ciro Gomes queimou as pontes que ligavam sua vereda à estrada do PT. Bateu forte no PT nos últimos dias. E ainda se deu ao prazer de liberar a sigla para procurar um nome. Mercadante surge nesse vácuo. Sem querer ser candidato em São Paulo, por considerar sua candidatura muito artificial, Ciro abre a alternativa Skaf. E continuará a martelar na ideia de ser candidato à presidência da República. Mas é bem provável que Lula o vete. Moral da história : Ciro está entre a cruz e a caldeirinha. Na linha de frente O governador Serra inaugura oficialmente nesta sexta, 19, em Hortolândia (SP), a fábrica da CAF Brasil, subsidiária de uma das maiores empresas de transporte de massa sobre trilhos do mundo. A indústria, que custou R$ 200 milhões em recursos próprios, já está operando com cerca de 1.000 funcionários e tem contratos para fabricar mais de 100 trens do metrô e da CPTM. Tasso e Aécio Tasso Jereissatti dá mostras de que não gosta mesmo de José Serra. Não apenas rejeita a possibilidade de ser vice de Serra como teria dito, à boca pequena, que o governador paulista não é confiável. Tasso tem esperança de que, na última hora, Serra desista em favor de Aécio. Este consultor tem dito e repetido : o avião serrano decolou. Se o piloto quiser abortar o voo, a aeronave bate na imensa serra. Desastre.Cadê o vice ? Cadê o vice ? Onde está o vice de Serra ? Beto Richa (PR) anda dizendo que não topa. Quer ser governador tucano do Paraná. Sérgio Guerra (PE) não tem perfil adequado. Tasso (CE) não topa. Sobra ele, Marco Maciel, do DEM (PE). Tem perfil, postura e pode aceitar.Hélio, o candidato A decisão já está tomada. Lula vai apoiar Hélio Costa para o governo de Minas. Fernando Pimentel e Patrus Ananias que se conformem. Um deles poderá ser candidato ao Senado e outro poderá compor a chapa de Hélio Costa como vice. Zé Alencar será candidato e eleito ao Senado.Imbróglio gaúcho Quem não quer arredar o pé da estrada da reeleição é Yeda Crusius. Ela tem imagem corroída por grave crise. E José Fogaça, prefeito de Porto Alegre, é o candidato do PMDB ao governo. Serra e Sérgio Guerra tentam demover a governadora. E apoiar Fogaça. Maneira de trazer o apoio do PMDB gaúcho ao governador paulista. "Chama-se benevolência, boa vontade, caridade o desejo do bem dos outros. Chama-se bondade natural se for do bem do homem em geral." (Thomas Hobbes) Cochicho O alto empresariado do país acha que não há mais perigo de retrocesso. Ouvi, porém, um cochicho de um grande empresário: há uma turminha perto de Lula que tem vontade de dormir na cama de Stalin. Teme ele que esse grupo possa influenciar Dilma. Se ela ganhar o páreo.Um choro lobista Sérgio Cabral (RJ) botou pra quebrar, aliás, se derramou a chorar. Choro com cara de lobby. O Rio de Janeiro não tem condições de fazer a Olimpíada - nem a Copa - se a grana do petróleo deixar de irrigar o Estado. Foi o que disse. Lula veio em socorro do governador. Sarney prometeu uma solução no Senado. Resultado: tudo ficará como dantes no quartel d'Abrantes.O bom Gabeira Fernando Gabeira tem boas chances no Rio. Pode encarnar a ideia de um novo tempo. PTB E PMDB juntos ? É bem possível que PTB e PSDB caminhem juntos na estrada rumo ao Planalto. A costura tem sido feita com linha grossa. No plano federal. "Chama-se paixão do amor o amor por um só pessoa, junto ao desejo de ser amado com exclusividade. Chama-se ciúme o amor junto com o receio de que esse amor não seja recíproco." (Thomas Hobbes) Michel e Vacarezza O PMDB e o PT ficarão juntos na aliança em torno de Dilma. Haverá, porém, alguns rachas. Mas dois perfis que respiram equilíbrio e harmonia poderão desarmar os mais exaltados: Michel Temer e Cândido Vaccarezza.PDT E PSDB No Maranhão Já no Maranhão, os tucanos vão apoiar Jackson Lago para o governo. Ele foi cassado pela Justiça. Agora, volta a se candidatar. E o PT terá de apoiar Roseana Sarney. São os descaminhos da política.Funaro abre o bico Lúcio Funaro, corretor do mercado financeiro, abre o bico para os ouvidos dos juízes e deixa na berlinda pessoas como Marcelo Sereno, Zé Dirceu, João Vaccari, Valdemar Costa Neto e até o prefeito e ex-deputado Lindenberg Farias. As denúncias frequentarão os palanques da campanha. Pano de fundo : PT usando fundos de estatais. Fogueiras altas.Mais uma historinha para fechar a Coluna. Dois vereadores da Arena de Parnaíba, Piauí. Um, da Arena de Petrônio Portela, o outro da Arena de Alberto Silva. Inimigos políticos. Um, dentista, pôs os dentes na boca do outro. Na primeira sessão, os dois brigaram : - V.Ex.ª é um desonesto.- Desonesto é você, filho de uma...Devolva meu dente. Pois fui eu que pus.- Eu paguei, seu sacana..- E daí que pagou ? Falar mal de mim, até pode. Com meu dente, não. Partiu pra cima. E arrancou os dentes. Sem anestesia. Conselho aos pré-candidatos aos governos Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado ao governador José Serra. Hoje, volta sua atenção aos pré-candidatos aos governos dos Estados : 1. Respirem o cheiro do tempo em seus Estados. Procurem vitaminar as cacholas. 2. Comecem a organizar um discurso arejado, crível, moderno, condizente com as realidades espaciais do Estado e as expectativas das classes sociais.3. Lembrem-se que o chamado marketing não se restringe aos programas eleitorais na mídia jornalística. Envolve cinco eixos: pesquisas, propostas (discurso), comunicação (formas múltiplas), articulação (com a sociedade organizada e meios políticos) e mobilização das massas. ____________
quarta-feira, 3 de março de 2010

Porandubas nº 224

Historinha da Paraíba Aloísio Campos foi candidato a senador três vezes e três vezes foi derrotado por Ruy Carneiro. Em 66, o governador João Agripino encarregou Ivan Machado e Osvaldo Trigueiro do Vale de coordenarem a campanha de Aloísio na capital. Já no fim, planejaram uma grande concentração popular no bairro da Torre, onde o candidato faria o pronunciamento final. Ivan e Osvaldo desdobraram-se. No dia, nove da noite, João Agripino e Aloísio dirigiram-se para o bairro da Torre. Uma decepção. Palanque, luzes, escola de samba, tudo lá, mas povo quase nenhum. Aloísio mandou chamar Osvaldo : - Tudo bem, Osvaldo ? - Tudo bem, senador. Tudo arrumado, como o senhor mandou. - Mas, e o povo, Osvaldo ? - Ora, doutor, eu consegui escola de samba, armei o palanque, fiz iluminação, preparei a lista de oradores. Agora, se ainda tivesse de trazer o povo, o candidato era eu. Não houve comício. Nem voto para Aloísio. Historinha contada por Sebastião Nery. Dilma decolou Quem acompanha esta coluna não teve surpresas. Dilma Rousseff decolou nas pesquisas. Alcançou 28% no Datafolha, que é um instituto de grande credibilidade. Encostou em Serra. Claro, ela faz campanha há mais de um ano. Serra, até hoje, mostra-se indefinido. Apesar de sabermos que o governador de SP já não tem condições de abortar seu avião, que já decolou. Serra caiu 5 pontos. E pode-se esperar mais ainda : na próxima pesquisa, Dilma estará colada em Serra, se não já ultrapassando a marca dos 35%. Eixos de Dilma Previ essa situação há um bom tempo. E cheguei até a escrever, no domingo passado, sobre as potencialidades da ministra chefe da Casa Civil. Meu artigo no Estadão levantava as quatro abordagens que formam a identidade de Dilma : a técnica, a política, a feminina e a histórica. A identidade técnica canibaliza a identidade política. Por isso, se ela ganhar a eleição precisará de um forte articulador político, tipo Michel Temer, por exemplo. Mas a identidade técnica será vantajosa no que diz respeito ao comando da máquina. Impõe autoridade. Ou seja, não admitirá monitoramento/patrulhamento do PT. "A melhor maneira de fazer entrar um cidadão na ordem - é fazê-lo entrar no cemitério." (Eça de Queirós) Mulher e guerrilheira O fato de ser mulher não atrapalhará. As mulheres conquistaram a simpatia dos eleitores. Há mulheres na política por toda a parte. Empresárias, prefeitas, vereadoras, deputadas estaduais e federais e senadoras. Há mulheres presidentes, inclusive aqui pertinho. Michelle Bachelet, que deixa agora a presidência do Chile, e Cristina Kirchner, na Argentina. Dilma, aliás, tem um perfil de gerentona, mandona, exprimindo até certa arrogância. Por isso, o eixo histórico ainda é lembrado. Fosse mais suave, a história da guerrilheira seria apenas mera curiosidade. De qualquer maneira, não afetará sua campanha. Lula, o grande eleitor O fato é que Dilma já é tão conhecida quanto Serra. E, na pesquisa espontânea, atinge um índice maior do que o do governador paulista. Isso é importante. Outro índice que deve estar causando perplexidade é o da rejeição. Serra aumentou em 5 pontos percentuais a rejeição. Chegou aos 26%. Dilma tem rejeição menor. Olhem para esse dado. Pode ser o calcanhar de Aquiles do candidato. O que de fato aconteceu ? Campanha maciça Ora, Dilma corre o país com Lula subindo em palanques, abraçando o povo, inaugurando obras. Serra encastela-se no Palácio dos Bandeirantes. Vai, vez ou outra, a um Estado. Mas é paft-puft. Passa pouco tempo. Não esquenta os climas ambientais. Serra se acha o máximo. É o dono da perfeição. Só ouve o que sua boca fala. Deve, agora, ter tomado um grande susto. As más línguas dizem que vai anunciar a candidatura dia 1º de abril. Dia da Mentira. Dilma, enquanto isso, continuará navegando pelas ondas dos pacotes assistencialistas de Lula. ______________ Seu Lunga, apertando o botão do elevador, passa um mané. - Seu Lunga, esperando o elevador ? E ele : - Não... tô esperando que o apartamento desça. ______________ Lógica ganha campanha ? A lógica dá vitória no pleito de outubro a Dilma Rousseff. Os mais de 20 programas que Lula implantou para "comprar" - cooptar - as bases da pirâmide, o meio e o topo, não podem ser desprezados. O Bolsa Família agarra 46 milhões de brasileiros. Outros milhões estão cobertos pelos Programas Luz Para Todos; Minha Casa, Minha Vida; assistência aos pequenos agricultores; isenções fiscais para carros, geladeiras e fogões (a festa da cozinha dos pobres); auxílio estudante; cotas e, agora, a campanha do Pré-Sal, que eleva a auto-estima com essa ideia de potência petrolífera. Essa é a lógica que poderá dar a Dilma uma grande vitória. "Uma onça de paz vale mais que uma libra de vitória." (Machado de Assis) Bolso e estômago Tenho dito e repetido. Quem ganha uma campanha é o eleitor influenciado pelo estômago. E o estômago é alimentado pelo bolso. Quanto mais grana no bolso, mais barriga cheia. Pois eu acho que as barrigas dos brasileiros estão cheias. Não vejo calamidade social. Comércio cheio, shoppings centers estourando de gente, supermercados bombando, economia inflada. Ora, essa moldura social e econômica favorece a candidata governista. O que Serra poderá fazer para desconstruir esse tecido ? Se ficar o bicho pega Se Serra disser que as coisas estão indo mal, perderá. O eleitor sabe que não é bem assim. Por isso, o discurso sobre as ruindades deve ser seletivo. Escolher alvos. Por exemplo, em matéria de saúde pública, o governo Lula vai mal. Em matéria de segurança social, o país não vai bem. A criminalidade assola. Em matéria de educação, apesar do grande esforço do ministro Fernando Haddad, as coisas caminham de maneira capenga. Se o governador paulista se concentrar em alguns focos, acertará. Mas a comparação entre a era Lula e o ciclo FHC dará vantagem ao primeiro. Por isso, o bicho vai pegar para Serra. ______________ Um velho amigo de Seu Lunga, depois de muito tempo, o encontra e logo faz aquela alegria : - Luuungaaa ! Quanto tempo... ! Por onde você tem andado ? Responde ele com sua delicadeza : - Pelo chão ! Num aprendi a voar ainda ! ______________ E se correr o bicho come Se José da Mooca, aliás Serra, disser que não vai mudar mas vai melhorar, precisará de criatividade para se expressar. Como fazer isso ? Melhorar é um verbo muito abstrato. Genérico. Genérico que funciona é remédio, o qual, aliás, nasceu na gestão Serra no Ministério da Saúde. O governador paulista é considerado, ainda, uma pessoa arredia aos interesses de outras regiões. A cara dele é a projeção de SP, razão pela qual carece de um banho nas periferias do país. Ciro vai ou vem ? Já não tenho paciência para interpretar os movimentos de Ciro Gomes. Uma hora, o pindacearense diz que vai. Desfralda sua candidatura ao Palácio do Planalto. Outra hora, premido pelas circunstâncias, e agora acuado pela pesquisa que mostra a autosuficiência de Dilma, Ciro sinaliza que pode vir. Desfralda, então, a bandeira da candidatura ao governo de SP. Será uma campanha contundente. Pegará pesado contra o candidato tucano, possivelmente Geraldo Alckmin. Mas fará o jogo de Lula, que é o de abrir palanque forte para Dilma em SP. Aécio, vice ? Não apostem Aécio Neves está comemorando os 100 anos do avô Tancredo. MG embandeirada. Em festa. Sorriso de Juscelino. Cara de Tancredo pelas ruas. Aécio surge como chefe, herdeiro do espólio político. Sob essa moldura, não dá para apostar em Aécio na segundona. Como vice. Neves fora da chapa de Serra. Aécio dentro do pleito para o Senado. Quer eleger Anastasia governador. Será possível. Eleito senador, elege-se presidente do Senado, ganha status. E será candidato na próxima eleição. Em um cenário ainda dominado pelas bandeiras vermelhas do PT. "O abdômen é a expressão mais positiva da gravidade humana." (Machado de Assis) PMDB indicará vice ? Tudo indica que o PMDB indicará o vice na chapa de Dilma. É claro que algumas alas petistas temem a aliança com um PMDB forte. Lula, até, pode não desejar que Michel Temer seja o vice de Dilma. Receia que o presidente do PMDB e da Câmara, passando a morar no Palácio do Jaburu, passe a ser um vice-presidente de peso. Recebendo caravanas de políticos. Michel, no entanto, por seu perfil cordato, não cometeria o deslize de fazer um governo paralelo como temem alguns petistas. Há de considerar, ainda, que se Dilma ganhar vai precisar do apoio do PMDB. E se o PMDB não indicar o vice, será que entregará este apoio com tanta facilidade ? Mesmo com ministérios e cargos postos à disposição do partido ? Os vícios do poder "Os vícios do poder são fundamentalmente quatro : atrasos, corrupção, brutalidade e fraqueza. Para evitar atraso dá facilmente acesso, cumpre os prazos fixados, não deixes de concluir o processo que te chegou às mãos, e não mistures negócios senão por necessidade. Para evitar a corrupção, não basta que prendas as tuas mãos e as dos teus servidores para que não tomem o alheio, mas prende também as dos solicitadores para que nada possam oferecer. Procede com integridade para com os primeiros; mas integridade declarada, e com manifesta repulsa pelo suborno quando se tratar dos outros; não evites somente a falta, mas também a suspeita." (Francis Bacon) DEM aos pedaços O DEM está despedaçado. Os quadros que sobrarão de um partido em crise procurarão recompor as bases do edifício DEMolido. Paulo Bornhausen, líder na Câmara; Zé Agripino, líder no senado; Demóstenes Torres, Ronaldo Caiado e mais um grupo de 8 a 10 farão esforço extraordinário para reacender as luzes partidárias. Apagadas pelo Arrudagate. Kassab e as chuvas Kassab é a grande esperança do partido. Para resgatar a imagem, terá de enxotar as chuvas e reabrir canais de simpatia com a sociedade. Ele perambula pelos bairros periféricos. Tem dado grande ajuda aos desvalidos. Chuvas e enchentes batem em SP há mais de dois meses. Continuarão a fustigar a cidade até abril. Este ano, a natureza apresenta sua fatura. Serra também sofre as consequências do clima. A capital fica enervada. Congestionamentos. Nervosismo por todos os lados. Imprecações. Votos contrários. Conselho a José Serra Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos juízes de primeira instância. Hoje, volta sua atenção ao governador José Serra : 1. Diga logo, logo, que será o candidato do PSDB. Apresse esse anúncio. 2. Mesmo antes da campanha começar, não tenha receio em correr o país para abrir campos de visibilidade, viabilizar acordos e firmar alianças. 3. Junte um repertório de pessoas de alta capacidade técnica em todos os campos de atividade. Convoque-as e peça a elas um programa de alta envergadura para o Brasil. ____________
quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Porandubas nº 223

Recorrente aviso. Nosso personagem continua a costurar esta coluna. Recebo colaborações constantes. Não procuro saber se pertencem aos domínios de Seu Lunga. Para quem não sabe, há vídeos sobre o cearense na rede. E historinhas de cordel. ______________ Seu Lunga foi ao Horto do Padim Cíço e uma mulher passou rolando, em queda, perto dele. Um cara perguntou : - Num vai ajudar a mulher não, Seu Lunga ? Com uma santa calma, respondeu : - Eu não, num sei se ela tá pagando promessa ? ______________ Prioridade um Lula não poderia ser mais explícito. Disse em alto e bom som no Congresso do PT que a prioridade máxima, este ano, é eleger Dilma presidente da República. O governante não teve nenhum escrúpulo em mandar a educação, a saúde e a segurança pública às favas, aliás, ao segundo plano. Nunca vi em minha vida inversão tão grande de princípios. A política eleitoral toma a frente de programas sociais. Mas Lula tem o poder de convencer. Fosse outro o mandatário, seria execrado pela opinião pública. Mas por estas bandas, o cara manda. E faz o que lhe apetece. Projeções Tenho conversado com pesquisadores de institutos afamados. Coloco as informações e projeções no liquidificador. Bato bem. Depois de algum tempo, aparece o conteúdo informativo mesclado. Com uma cor levemente encarnada. Não é possível. Eu imaginei que a cor predominante continuaria a ser azul tucano, com leves pitadas de amarelo. Resumo da ópera : dentro de 40 dias, me dizem, Dilma estará liderando as pesquisas de opinião pública. Ainda estou em dúvida. Mas, pela lógica - essa lógica de pacotes lulistas envolvendo todas as classes sociais - o encarnado suplanta o azul. Quem for contra essa análise, por favor não xingue o consultor. Não tenho nada com isso. ______________ Zé Mané : - Seu Lunga tá pescando ? Seu Lunga : - Não... dando banho na minhoca ! ______________ Serra nos bastidores José Serra é noctívago e twitteiro. Vai dormir lá pelas três da madrugada, depois de umas 20 mensagens. Coisas leves e passageiras. Nada que demonstre frieza, tecnicismo ou maquiavelismo. Quase nada de política. Deixa ver nas entrelinhas que está quase decidido. Mas essa pista é dada mais pelas incursões que procura fazer junto aos partidos. Ligou, por exemplo, para o líder do PMDB, deputado Henrique Alves, convidando-o a um café no Palácio dos Bandeirantes. Henrique foi lá. Tomou o café. Serra lhe disse, na maior cara de pau, que queria o PMDB junto dele. Sabendo, claro, que o partido está praticamente atrelado à candidatura de Dilma. Serra é ingênuo, maquiavélico ou simplesmente jogou verde para colher maduro ? Marina foi ao ponto Marina Silva, essa, sim, ecológica da cabeça aos pés, disse com toda a sinceridade de sua alma amazônica : todos, agora, estão fazendo pré-campanha, após o Carnaval. Ou seja, até ela. Lula foi explícito no congresso do PT. Dilma foi escolhida como candidata e, até, apresentou um programa de governo. Falou como candidata. Mas é proibido fazer campanha aberta como a que estamos vendo. E o TSE ? Está nas nuvens. Entretido com questões mais sérias que campanha. Cassação pra inglês ver Esse juiz de primeira instância, que cassou Kassab e depois acolheu o recurso do prefeito, deveria, antes, ter examinado o contencioso que trata das doações. Lula foi absolvido pelo TSE, depois de ter sido contemplado com o mesmo tipo de denúncias. As contas de Kassab foram aprovadas pelo TRE. O MP e os juízes de primeira instância precisam aprofundar as questões e afinar a linguagem. Segunda instância O projeto sobre os "fichas limpas" será colocado na pauta da Câmara. O presidente da Casa, Michel Temer, pedirá, antes, um estudo técnico para servir de subsídios para aprimorar o projeto em tela. Michel aceita a ideia de proibir candidaturas de nomes que passem por duas 2 instâncias, não apenas de juízes de primeira instância. Bom senso. Afinal de contas, há casos que denotam as batalhas locais, muitas delas envolvendo a participação de quadros da justiça. Por isso, quem é denunciado na primeira instância, para ser proibido de se candidatar, deverá ser julgado também na segunda instância. Beto racha O título é esse mesmo. Beto Richa, o prefeito de Curitiba, racha o tucanato no PR. O PSDB, em sua última reunião, praticamente fechou posição em torno dele. Será o candidato do partido ao governo. Mas o senador Álvaro Dias, que exibe pesquisas liderando a corrida, não se conforma. Se a situação for mesmo a indicação de Beto, Álvaro garante que subirá o palanque do irmão, senador Osmar Dias, que será candidato ao governo pelo PDT. A cunha de Álvaro é mais um xeque no tabuleiro de José Serra. Êta, partido complicado, esse dos tucanos do bico grande. O emprego segundo Vaccarezza O líder do governo na Câmara dos Deputados, Cândido Vaccarezza, garante que o governo abrirá, este ano, entre 1,8 milhão a 2 milhões de empregos. Um recorde. O deputado paulista, um dos melhores quadros do PT, foi guindado à liderança do governo na Câmara por ação direta do presidente Lula. Que admira seu estilo conciliador e agregador. Crise do DEM O DEM atravessa grave crise. O affaire em torno do governador Arruda destroça o partido. Paulo Octávio saiu do partido. Se não renunciasse, seria renunciado. E deixa o governo do DF. O jovem líder do DEM, o deputado Paulo Bornhausen, faz enorme esforço para depurar a sigla de impurezas. Ronaldo Caiado e Demóstenes Torres também estão nessa linha de expurgo. O senador Zé Agripino resgata o conceito "atitude digna". Pode ser que o partido saia da crise melhor que antes. Na esteira do ditado oriental : crise é a porta de grandes oportunidades. ______________ O cara vai até a loja do Seu Lunga e pergunta : - Seu Lunga tem carrinho de mão ? - Num tá vendo que tem ?! - Responde ele. - Quanto é ? - Pergunta o cliente. - R$ 90,00. O cliente querendo comprar o carro mais barato argumenta : - Seu Lunga homi, ali na loja do lado é R$ 60,00, mas tá faltando o carrinho... Seu Lunga responde : - Pois quando aqui estiver faltando eu lhe vendo de graça. ______________ Medo do PT ? O momento é propício para a conversa. Ouvi, nos últimos dias, presidentes e executivos de grandes empresas. Sondagem sobre o momento político institucional. Há um grande receio de que o velho PT renasça das cinzas. O programa do partido apresentado no Congresso do sábado passado deixou muitos inquietos. O receio é de que Dilma não dobre o PT. Faço a contra-argumentação : o lulismo é maior que o petismo. Lula não deixará que os petistas imponham o discurso. Um alto dirigente me lembra o ditado mineiro : "Um presidente sem mandato é peça de museu. Só serve para ser olhado." (Na verdade, o ditado é outro, mas tive de fazer uma adaptação para ganhar condição de publicação). Afif como vice ? Guilherme Afif, o Secretário de Trabalho de José Serra, olha com firmeza para a chapa a ser encabeçada por Geraldo Alckmin, provável candidato dos tucanos ao governo de SP. Quer ser governador. Afif teria garantida uma vaga ao Senado não fosse o compromisso do PSDB de abrir espaço a Orestes Quércia, por conta da aliança entre os tucanos e o PMDB em SP. SESCON, 61 anos José Maria Chapina Alcazar recebe cerca de mil convidados, nesta sexta-feira, em jantar no Monte Líbano, quando as Diretorias do SESCON/SP - AESCON/SP tomarão posse para a gestão no triênio 2010/2011/2012. Aníbal no Senado ? José Aníbal é um dos mais cotados para entrar na chapa tucana ao Senado. Já passou pelo teste de votação para a Câmara Alta e quase lá chegou, alcançando 5 milhões de votos. Paulo Renato, secretário da Educação do governo Serra, quer também o lugar. PSB vai de Ciro ? É evidente que o PSB, comandado pelo bom governador Eduardo Campos, feche posição em torno de Ciro como candidato à presidência. Seria essa a alternativa lógica. Mas a realidade suplanta os altos interesses da cúpula. O PSB faz aliança com o PSDB em alguns Estados. Sabendo isso, Serra convoca quadros do partido para conversas pelas noites a dentro no Palácio dos Bandeirantes. E os socialistas têm comparecido. ______________ Seu Lunga encontra um conhecido e diz que está indo ao enterro do Chico pedreiro. O conhecido, muito espantado, cai na besteira de perguntar : - Mas, o Chico pedreiro morreu ? Seu Lunga responde ironicamente : - Não... a família resolveu enterrar ele vivo. ______________ 6 milhões em SP Já que Serra aparece mais uma vez por aqui, eis sua projeção : espera ter em SP mais de 6 milhões de votos. Para enfrentar a avalanche de Dilma/Lula no nordeste. ______________ Seu Lunga pega a bicicleta e passa um chato. O chato : - Seu Lunga vai andar de bicicleta ? - Não... vou levar ela pra passear. E sai empurrando a bicicleta. ______________ Coroa enxuta Marchinha entoada no Congresso do PT : "Depois d'o cara vem a coroa. O povo quer é gente boa. Deixa o Lulinha sair, deixa a Dilminha entrar". A candidata, aliás, emendou : "Sou uma coroa enxuta". Mais um Tribunal Um escândalo. É assim que pode se entender a tentativa de criação de mais um Tribunal de Contas no RJ. Desta feita, uma Côrte para analisar as contas dos municípios. A PEC deverá ser rejeitada na Assembleia. Por conta da pressão da opinião pública. Gestão conservadora Opinião de Armínio Fraga, ex-presidente do BC : o Brasil enfrentou a crise porque adotou uma gestão conservadora que ajudou a tirar o país da recessão em dois trimestres. Mas acusou os baixos investimentos em educação e infraestrutura, além do alto custo do capital. Trata-se de um perfeito retrato em 3 x 4. Obama vem aí Obama vem aí. Queriam que viesse no segundo semestre para turbinar a campanha de Dilma. Mas a visita daria muito na vista. Agora, querem acertar com Hillary Clinton, que estará por aqui na próxima semana. Lula não dá nó em ponta de faca. Imaginem a foto : Obama e Lula nas pontas, Dilma no meio. De vermelho. A conferir. Conselho aos juízes de 1ª instância Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado ao ex-presidente FHC. Hoje, volta sua atenção aos juízes de primeira instância : 1. Procurem ancorar suas decisões na jurisprudência, observando os casos julgados nas Cortes Superiores. 2. Evitem açodamento e precipitação, mesmo que impulsionados pelo brilho passageiro do Estado Espetáculo. 3. Unifiquem as linguagens, os pontos de vista, as abordagens, enfim, o discurso, para evitar máculas sobre o Altar da Justiça. ____________
quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Porandubas nº 222

Encenação Abro a coluna, hoje, com a encenação da Paixão de Cristo numa cidadezinha da Paraíba. O dono do circo, em passagem pela cidade, resolveu encenar a Paixão de Cristo na sexta-feira santa. Elenco escolhido dentre os moradores e no papel de Cristo, o cara mais gato da cidade. Ensaios de vento em popa. Às vésperas do evento, o dono do circo soube que 'Jesus' estava de caso com sua mulher. Furioso, deu-se conta que não podia fazer escândalo sob pena de perder o investimento. Bolou uma maneira. Comunicou ao elenco que iria participar fazendo o papel do 'centurião'. - Como ? - reclamaram - Você não ensaiou ! - Não é preciso ensaiar, porque centurião não fala ! O elenco teve que aceitar. Dono é dono. Chegou o grande dia. Cidade em peso compareceu. No momento mais solene, a plateia chorosa em profundo silêncio. Jesus carregando a cruz ... e o 'centurião' começa a dar-lhe chicotadas. - Oxente, cabra, tá machucando ! Reclamou Jesus, em voz baixa. - É pra dar mais veracidade à cena, devolveu o centurião. E tome mais chicotada. Chicote comendo solto no lombo do infeliz. Até que Jesus enfureceu-se, largou a cruz no chão, puxou uma peixeira e partiu pra cima do centurião : - Vem, desgraçado ! Vem cá que eu vou te ensinar a não bater num indefeso ! O centurião correndo, Jesus com a peixeira correndo atrás, e a plateia em delírio gritando : - É isso aí ! Fura ele, Jesus ! Fura, que aqui é a Paraíba, não é Jerusalém, não ! FHC no ataque Fernando Henrique mordeu a isca. Tudo que os petistas queriam era que um tucano de bico grande entrasse na briga da pré-campanha. Serra, matreiro, tomou distância. Aécio, idem, não quis entrar na briga, dizendo que não era o caso de fazer comparação entre ciclos. Todos deram sua contribuição ao progresso do país. E aí Fernando Henrique assume, por inteiro, a querela : vale a pena, diz ele, entrar na briga. Sem medo do passado. Seu artigo no Estadão do último domingo, ao lado do meu, fez furor. Na sequência, diz que falta liderança à Dilma. Perdas para Serra Ora, essa brigalhada é ruim para José Serra. E a razão é simples : na comparação entre as eras FHC e Lula, os dados favorecem os petistas. Não adianta querer argumentar que o Plano Real, de Itamar/FHC, foi a base que colocou a economia nos eixos. A verdade é que os braços assistencialistas do governo Lula são mais extensos. O Brasil se beneficiou das crises que afetaram o mundo na última década. Os eixos macroeconômicos foram fixados pelo governo tucano e aprofundados no atual governo. Mas o crescimento do país não se deu no ritmo desejado. O Brasil pouco cresceu. Lula propagandista É bem verdade que Lula é um bom propagandista. FHC é mais um schollar, um acadêmico respeitado. E Lula, ao fazer a comunicação direta com as massas, trombeteia todos os dias os feitos do governo. Repete, repete, usa linguagem simbólica, chavões, refrãos e até palavras chulas. Quanto mais ele é criticado, mais apimenta a linguagem. Ganha em matéria de comunicação. E a situação estável do país será intensamente usada como cobertor eleitoral. ______________ Seu Lunga entra num bar e pede uma cerveja e o dono do bar diz : - Seu Lunga faltou energia ! Ele rebate : - Eu vim aqui pra tomar cerveja, não pra tomar choque. ______________ Transferência de voto Pois bem, o colchão econômico em que se deita o país tem sido responsável pela boa performance da ministra Dilma Rousseff. Dilma anda no tapete estendido por Lula. Sua boa intenção de voto - cerca de 30% hoje - deriva não de suas qualidades de gerente ou mãe do PAC mas dos votos transferidos por Luiz Inácio. Não há dúvida que a transferência já começou a ocorrer. Principalmente nas regiões favorecidas pelo Bolsa Família. Serra e Dilma Não concordo com Carlos Montenegro, do Ibope, que garante enfaticamente a derrota da candidata governista. Acho que as coisas estão indefinidas. Se política fosse lógica econômica, Dilma seria a vencedora, considerando-se a teia de programas que o governo Lula estabeleceu para todas as classes sociais. Da base da pirâmide ao topo, contabilizam-se uns 20 programas voltados para benesses e redistribuição de renda. ______________ Após o enterro de sua sogra, Seu Lunga encontra com um amigo que pergunta : - Ooxeee ! E ela morreu ? Seu Lunga : - Não. Enterraram ela viva. ______________ Dilma e Serra Se eleição privilegiasse a questão do perfil, Serra seria o grande vencedor. Exibe perfil muito mais denso que Dilma. Preparado, experiente, conhecedor do país, já foi agraciados com milhões de votos. Dilma nunca recebeu um voto sequer. Mas eleição, hoje, leva em conta outros fatores que não aqueles de antigamente. Fatores da organodemocracia, que é a democracia das organizações intermediárias da sociedade - associações, movimentos, clubes, federações etc. A política afunda-se no vazio. Vazio político Ora, foi o próprio ministro da Justiça, Tarso Genro, que usou o termo vazio. Disse que Dilma foi escolhida por conta do "vazio" do PT após o mensalão. Não havia outro candidato. Lula pinçou Dilma do bolso do colete. Um perfil técnico condizente com a democracia de cunho orgânica deste século XXI. No século XIX, tínhamos uma democracia atomizada. Cada eleitor, um átomo social, a ser conquistado por candidatos distintos com propostas para agradar aos desiguais. Hoje, o átomo cede lugar aos grupos e coletividades, que se tornam homogêneas. Já os candidatos são clones, muito parecidos. ______________ Seu Lunga encontra com um amigo que não via há tempos. - Como é que você tá ? E seu Lunga : - Do jeito que você tá vendo. ______________ As eleições no Brasil Sob essa moldura, as eleições vão ocorrer com partidos pasteurizados, siglas amorfas, eleitores desmotivados, oposições com discurso oco e indefinido, parlamento estiolado, doutrinas em franco declínio. O que sobra é um pano de fundo - economia estável, programas assistencialistas, massas relativamente satisfeitas com o governo. E uma classe C que aglutina 46% de toda a renda nacional, mais que a soma das rendas das classes A e B. Essa classe, que pulou para a área média da pirâmide no ciclo Lula, vai eleger o próximo presidente. A não ser que ... A não ser que os serviços do Estado nas áreas de saúde, segurança e educação sejam tão ruins que acabem amortecendo os feitos do governo Lula. E, como se sabe, segurança continua a ser um caos; a saúde é um desastre e a educação, apesar do esforço desse inteligente ministro Fernando Haddad, continua muita defasada. Alencar em Minas Luiz Inácio quer bancar o nome do vice-presidente da República, Zé Alencar, como candidato das oposições ao governo de MG. Trata-se de uma estratégia maquiavélica e desumana. Alencar, apesar de estar vencendo um câncer, não tem mais saúde para estar na linha de frente da política. Em MG, ele seria a convergência entre petistas e o PMDB. Fernando Pimentel e Patrus Ananias, do PT, cederiam o lugar para ele. Hélio Costa, o senador, que lidera as pesquisas, também aceitaria, até porque teria garantida mais uma volta ao senado. Mas o bom Alencar não tem saúde de ferro, gente. Tenham compaixão. Skaf em São Paulo Do jeito que as coisas andam pelos lados do PSB, é bem possível que Paulo Skaf, o socialista presidente da FIESP, seja o candidato do partido ao governo de SP. Há até versões de que poderia convidar o cantor comunista Netinho de Paula, atual vereador, para vice nessa chapa de esquerda. Imagino os companheiros Skaf, Netinho, Paulinho e Cirinho (Gomes, claro), de mãos dadas, fazendo passeata frente à Federação da Indústria em prol da redução da jornada de 44 para 40 horas. Nesse instante, o slogan ressoará em toda a extensão da Avenida Paulista : "deu a louca no mundo". Dirceu ligeiro Zé Dirceu não morreu. Ao contrário, continua mais vivo que a direção do PT. Viaja para muitos lados. Dizem que no CE teria pedido a Cid, governador irmão de Ciro, que insistisse com este para sair do páreo federal. Se Ciro não sair, o PT teria um candidato ao governo cearense deixando de apoiar Cid. O deputado mandou Zé Dirceu pentear macaco. Privatização das telecomunicações Ontem, no Parlamento, o líder do DEM, deputado Paulo Bornhausen, destacou alguns feitos da era FHC, entre os quais a privatização das telecomunicações, a partir da desestatização da Telebrás e de suas empresas estaduais de telefonia. Trecho : "o Brasil deu um salto, tornando-se um dos países mais desenvolvidos e atraentes do setor em todo o mundo. Mais importante que a inserção do país na era da alta tecnologia, a privatização do setor promoveu o maior programa de inclusão social e de acesso a renda jamais visto no país - maior mesmo que o Bolsa Família : em dezembro de 2009, a ANATEL registrava 173 milhões, 959 mil e 368 acessos do serviço móvel pessoal, o celular, pós e pré-pago". Meirelles, o escriba Michel Temer, reeleito entusiasticamente presidente do PMDB, está tranquilo. Sem açodamento. Não quer colocar pimenta nos pratos que lhe oferecem. Acaba de pedir a Meirelles que escreva as diretrizes econômicas do PMDB, e que serão entregues ao PT, para efeito de formação de uma aliança programática. Michel garantiu a este consultor que o PMDB fará questão de encaminhar o seu escopo ao PT. Sua ideia é a de formar um presidencialismo de coalizão, conceito que mais se aproxima do parlamentarismo. Aníbal no Senado São Paulo abre imenso espaço para o Senado. Se Mercadante topar ser o nome do PT para disputar o governo paulista, as possibilidades se escancaram para o tucanato. José Aníbal é um dos nomes mais qualificados para ocupar este espaço. Candidato no passado ao Senado, obteve cerca de 5 milhões de votos. Trata-se de um perfil bem palatável ao eleitorado. Alckmin quase na arena Não há como afastá-lo da arena. Geraldo Alckmin, com cerca de 50% das intenções de voto, é o mais provável candidato ao governo paulista. Alguns acham que Alckmin é bom de largada e ruim de chegada. Mas não existe campanha igual. Pode ser que, desta feita, ele consiga chegar bem na dianteira. O candidato de José Serra, Aloysio Nunes Ferreira, tem um bom perfil. Quadro preparado, bom articulador, matreiro. Mas continua no esconderijo. É pouco conhecido. E nesta campanha conhecimento é vital. Tempo de campanha eleitoral é insuficiente. Copa do Mundo e Lula Há um fenômeno a ocorrer nos próximos meses que terá algum impacto no clima social : a copa do Mundo. Se o Brasil for campeão, o estado de ânimo se elevará. A alegria será contagiante. Os poros sociais se encherão de oxigênio. Candidatos governistas são mais beneficiados por este clima catártico. A recíproca é verdadeira. Conselho a FHC Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado ao presidente Lula. Hoje, volta sua atenção ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso : 1. Presidente, acautele-se, cuidado para não entrar em briga errada. Fale apenas o necessário. 2. O PT quer encurralar o PSDB ao tentar fazer uma campanha plebiscitária. Procure não engolir o anzol. 3. O importante é estabelecer para o candidato da oposição - Serra ou Aécio - um discurso denso, crível e capaz de sensibilizar as massas. ____________
quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Porandubas nº 221

Seu Lunga E Seu Lunga não quer tirar férias da coluna. Nem que seja por uma semana. Ou será que seus patrocinadores pensam em mantê-lo firme neste espaço ? Muitas historinhas chegam. Como já salientei, não procuro saber se são efetivamente de autoria do nosso sarcástico intérprete da cretinice tupiniquim. E que recebe de algumas pessoas o epíteto de mal educado. Continuarei a prestigiar a figura, nem que chatalhos insistam na ideia de que os "causos" apresentados não saiam da boca do Seu Lunga. ______________ Seu Lunga estava tomando uma sopa num bar de Juazeiro. Um sujeito entra no estabelecimento e pergunta : - Tomando sopa, Seu Lunga ? E Seu Lunga, despejando o prato fundo de sopa sobre a própria cabeça, responde : - Não ! Tô tomando banho ! ______________ Pesquisas prévias Mais uma pesquisa sai dos laboratórios do marketing empresarial. A Confederação Nacional dos Transportes é a patrocinadora desta mais recente bateria, organizada pelo Instituto Sensus. Como se sabe, Dilma encostou em Serra (33,2% x 27,8%), tendo Ciro como candidato. Com Ciro fora da disputa, Serra sobe e Dilma se mantém na posição. Ou seja, os votos de Ciro tendem a migrar em maior quantidade na direção do governador de SP. Esse será o quadro ? Não. Esta é a leitura deste consultor. Vamos às explicações. Polarização Ciro Gomes não sustenta bom índice em uma moldura de polarização. Se for candidato, em disputa mais que polarizada, será comprimido/espremido pela alta visibilidade dos dois contendores Serra e Dilma. Não terá bom espaço na mídia eleitoral, seus palanques não passariam de 7 nos Estados, enquanto Dilma teria 35 palanques e Serra 25. Nenhum candidato resiste a uma bateria de comunicação intensa. Seria afogado pela maré comunicativa dos dois maiores candidatos. Tem razão Luiz Inácio quando aconselha Ciro a se retirar do páreo federal para brigar no páreo paulista. ______________ Seu Lunga foi à feira e comprou uma galinha caipira. Chegando a casa ele deu pra mulher. E ela pergunta : - Lunga, é pra matar ? Lunga responde : - Não, dê uma surra e solte. ______________ Páreo paulista Mas é claro que Ciro Gomes não tem potencial para ganhar uma campanha em SP. O que Lula pretende é abrir um palanque contundente dentro do maior colégio eleitoral do país. SP tem 30 milhões de eleitores. Ciro poderia ser a cabeça de ponte na estratégia de estender o campo de lutas de Dilma. Com seu estilo bombástico, se prestaria a ser o aríete contra Serra, no território principal deste. Dilma poderia aproveitar esse tiroteio acirrado para aparecer ao lado de Lula. E o PT seria orientado a descarregar seus 30% de votos, históricos, em Ciro. O problema : Ciro não quer. Pretende, isso sim, disputar o pleito majoritário federal. Três maiores palanques Nos três maiores colégios eleitorais, a divisão será esta : em SP, o palanque tucano será bem maior que o palanque de Ciro ou um candidato pelo PT (30 milhões de eleitores); Geraldo Alckmin tem melhores condições de liderar o palanque paulista. Em MG, o segundo maior colégio (mais de 13 milhões de votos), o palanque de Serra será aberto por Aécio; já o palanque de Dilma terá Hélio Costa, Fernando Pimentel ou Patrus Ananias, além do vice Zé Alencar. No RJ, Sérgio Cabral e Anthony Garotinho abrirão um grande palanque para Dilma. A perspectiva de Serra é com o palanque de Fernando Gabeira, mas este estará comprometido com Marina Silva. No segundo turno, Serra poderá deslanchar. ______________ Seu Lunga foi a um restaurante pra tomar uma sopa. Ao chegar, o garçom o abordou : - O senhor quer a sopa num prato ou numa tigela ? Como sempre, muito educado, ele respondeu : - Não ! Despeje no chão e traga a sopa com o rodo. ______________ Palanques médios Na BA, Jaques Wagner, o governador, e Geddel Vieira Lima, o ministro, farão dois palanques para Dilma. Paulo Souto, do DEM, recepcionará José Serra. Dilma terá mais força. No PR, Beto Richa ou Álvaro Dias puxarão o cordão de José Serra e Osmar Dias estará no palanque adversário com Dilma. O vice-governador Pessuti, do PMDB, tende a ficar com Dilma. Em PE, Eduardo Campos, o governador, muito bem avaliado puxará o carro de Dilma. A única opção de Serra é a candidatura do senador Jarbas Vasconcelos ao governo. Poderia ter um bom palanque neste caso. Até onde Dilma chegará ? Dilma Rousseff (ou Dilma do Chefe, como está sendo chamada no nordeste) poderá chegar aos 35%. Esse é o patamar histórico do PT. Margens maiores dependerão das circunstâncias eleitorais : ambiente econômico, satisfação social, harmonia e segurança social. Lula já passou razoável pacote de votos para Dilma. Não se pense que ela conquistou esses índices que aparecem em pesquisa por força pessoal ou capacidade de influenciar as massas. Dilma não gera empatia. Por isso, Lula é o transferidor de votos. Mas há um limite nesse processo. Pílulas do Enem Retrato em 3x4 do nosso alunado nas bancas do Enem : - "O pobrema da amazônia tem uma percussão mundial. Várias Ongs já se estalaram na floresta." - "A amazônia é explorada de forma piedosa." - "Vamos nos unir juntos de mãos dadas para salvar planeta." - "A floresta tá ali paradinha no lugar dela e vem o homem e créu." - "Tem que destruir os destruidores por que o destruimento salva a floresta." - "O grande excesso de desmatamento exagerado é a causa da devastação." - "Espero que o desmatamento seja instinto." - "A floresta está cheia de animais já extintos. Tem que parar de desmatar para que os animais que estão extintos possam se reproduzirem e aumentarem seu número respirando um ar mais limpo." Reinventar o mundo Lula não foi a Davos por conta do stress que fez subir sua pressão. Aliás, a altitude tem impregnado a alma de Lula. No discurso que mandou para o Fórum Mundial, lido por Celso Amorim, disse que o Brasil fez tudo certo e que o mundo faz tudo errado. Por isso, urge reinventar o mundo. Deus está mandando três anjos para a terra. Missão : perguntar se Luiz Inácio toparia substituir Deus, apenas por 7 dias, tempo suficiente para o Reinventor do Mundo realizar a tarefa. ______________ Seu Lunga estava deitado no sofá quando alguém faz a pergunta : - Tá dormindo Seu Lunga ? - Não ! Tô treinando pra morrer. ______________ Despedidas Aliás, o Reinventor do Mundo despediu-se, ontem, do Congresso, por ocasião da instalação do ano judiciário. Lembrou, em tom de saudades, os sete anos de relacionamento entre Executivo e Legislativo. E mostrou a força do Brasil, respondendo de forma rápida à crise mundial. Ressaltou que o país continuou gerando empregos e fortalecendo a infraestrutura. Que, como o sabemos, é precária, a partir do sistema de transportes. E a geração de empregos continua engessada pela visão ortodoxa das Centrais Sindicais. Que dão o tom no Ministério do Trabalho e Emprego. Sistema instável "O sistema financeiro mundial que emergiu do processo de globalização dos mercados financeiros era fundamentalmente instável, porque foi construído sobre a falsa premissa de que é possível permitir que os mercados financeiros patrulhem a si mesmos. Foi essa a causa do colapso, e é por isso que não poderemos remontá-lo na forma que tinha." (George Soros) Sindicalismo em queda O sindicalismo no Brasil entrou em processo de declínio no ciclo Lula. Quem faz a constatação é o próprio Instituto Sensus, esse que deu a pesquisa sobre o crescimento de Dilma. Em novembro de 2000, das pessoas entrevistadas, 5,7% eram sindicalizadas; hoje, esse índice é de 5,3%. Por que murcha ? Porque as Centrais Sindicais nadam em grana. Porque o sindicalismo virou pompa, fausto, divertimento e zorra total. Os lobos de antigamente viraram cordeirinhos a comer grana nas cercanias do Planalto Central. ______________ Estava Seu Lunga, como de hábito, lavando a calçada com a mangueira quando passou uma vizinha e fez a infeliz pergunta : - Ô Seu Lunga tá lavando a calçada ? E ele com toda sua educação : - Não, tô regando pra ver se nasce poste... ______________ Campanha de Dilma A campanha de Dilma começa a tomar forma no aspecto do comando. José Eduardo Dutra, presidente eleito do PT, estará no comando, mas o deputado Palocci dará as cartas como assessor de alto nível. O programa de governo ficará a cargo de Marco Aurélio Garcia, o teórico do PT, e o marketing será tocado por João Santana. Duda Mendonça até que tentou se encostar, mas levou um chega prá lá. Seu nome lembra pólvora. Meirelles funcionará como um consultor em matéria de política econômica. Franklin Martins e Gilberto Carvalho serão orientadores, ombudsman de Dilma. Paulinho do DEM Paulo Bornhausen será o líder do DEM na Câmara neste ano de campanha eleitoral. Paulinho é um grande articulador e tem expressão caprichada. Como o pai, Jorge, mantém contatos estreitos com Serra, Paulinho funcionará como link para juntar equipes e estruturas. O prefeito Kassab tem a ver com essa escolha. ______________ Seu Lunga vai à feira e compra limão. Passa uma mulher na rua e pergunta : - Isso é limão na sua mão, Seu Lunga ? Seu Lunga pega uma faca, parte o limão no meio e responde espremendo o limão nos olhos : - Nããããoooooo, é colírio !!! ______________ Temer, com mais força Michel Temer é o nome de maior prestígio no PMDB. Por seu perfil cordato, Michel consegue ser rara unanimidade no seio do maior partido brasileiro. Não reivindica a vice de Dilma, até porque, na presidência do PMDB e na presidência da Câmara dos Deputados, consegue juntar mais poder e visibilidade que no cargo de vice. Como candidato a deputado federal - e está em campanha - terá boa votação, porquanto reúne ampla base de prefeitos. Só examinará a possibilidade da vice nas próximas semanas. Tende pela não aceitação, apesar das fortes pressões para que aceite o cargo. Inclusive por parte de perfis que pretendem sucedê-lo na presidência da Câmara. Tunga no contribuinte O Fórum Permanente em Defesa do Empreendedor, coordenado pelo empresário José Maria Chapina Alcazar, fará ampla movimentação em Brasília para impedir mais uma tunga no contribuinte. Trata-se do famigerado projeto conhecido como II Pacto da República - Projeto 5.080/09 - que sugere mudanças na Lei de Execuções Fiscais. O projeto tenta criar a figura da execução prévia, ao atribuir à Procuradoria Geral da Fazenda Nacional a atividade jurisdicional, função legítima do Judiciário, dando-lhe a faculdade de constrição prévia de bens, inclusive com penhora on line, ferindo, dessa forma, a norma constitucional e proporcionando um dos mais violentos atentados contra os direitos dos contribuintes em toda a história brasileira. A comunicação posterior por parte do Erário ao Poder Judiciário, que poderá ser embargada não terá efeito suspensivo, numa fantástica fragilização do direito à ampla defesa assegurada pelo inciso LV do artigo 5º da CF/88. Mais um golpe A criatividade do governo na esfera autoritária é inesgotável. A última novidade é a complexa Portaria 1.510/09, do Ministério do Trabalho e Emprego, que cria o Registrador Eletrônico de Ponto e traz novidades sobre os programas e a manutenção dos sistemas eletrônicos de ponto de empresas com mais de dez funcionários. Mais uma vez caberá ao empreendedor brasileiro o ônus do processo. Caso não arque com os expressivos custos para implantação e manutenção do sistema, estará sujeito a astronômicas multas administrativas. Para se ter ideia do grau de exigência da nova determinação, as empresas serão obrigadas a manter equipamento com capacidade de funcionamento de 1.440 horas ininterruptas em casos de ausência de energia. O ponto deverá ter também impressora de uso exclusivo e de excelente qualidade para imprimir material com durabilidade mínima de cinco anos. Conselho aos Presidente Lula Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos deputados distritais. Hoje, volta sua atenção ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva : 1. Ao receber a pesquisa Sensus, vossa Excelência fez uma gozação e vibrou por constatar que Dilma encostou em José Serra. Muito cuidado, presidente. 2. Pesquisa, nesse momento, apenas afere a visibilidade de perfis. E, como se percebe, Dilma está correndo os palanques dos Estados em campanha antecipada. 3. Não comemore antes do tempo, presidente. Dilma deverá crescer ainda mais, podendo chegar aos 35%. E até a ganhar a eleição. Mas o tempo é o senhor da razão. Espere por setembro, mês da grande definição. E então, vibre ou chore. ____________
quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Porandubas nº 220

Desde que o dinheiro venha Vamos abrir a coluna com a matreirice mineira. Benedito Valadares chegou a Curvelo/MG, para visitar a exposição de gado do município. Na hora do discurso, atrapalhou-se : - Quero dizer aos fazendeiros aqui reunidos que já determinei à Caixa Econômica e aos bancos do Estado a concessão de empréstimos agrícolas a prazos curtos e juros longos. Lá do povo, alguém corrigiu : - É o contrário, governador ! Empréstimo a prazo longo e juro curto. - Desde que o dinheiro venha, os pronomes não têm importância. Seu Lunga e os chatos E seu Lunga, hein ? Virou personagem desta coluna tão grande é o sucesso que faz. Passo a receber colaborações de leitores. Que me encaminham historinhas com ele. Não procuro - nem é o caso - saber se são autênticas ou não. O cearense virou um monumento contra a cretinice. E, claro, contra os chatos. Um deles até questiona a coluna sobre os casos narrados. Uma das passagens fala em sonâmbulo. Argumenta que Seu Lunga não usaria tal expressão. Pode ser. Os chatos sempre nivelam por baixo. Se fosse dele, a palavra seria algo parecido com "sonambo". Pois esse chato chegou na casa do Lunga, em Juazeiro do Norte, e se anunciou : - Ô de casa, tem gente ? - Não. Só tem percevejo e chato - gritou lá de dentro nosso querido personagem. O chato não se afobou e, ao ver três imensos potes d'água, continuou : - Tem água de beber ? - Não, só tem água de comer. O chato calou-se. Tensão : PMDB e PT Apesar do estreitamento de relações, ocorrida nos últimos anos, graças a realpolitik acordada entre os dois, PMDB e PT vivem um clima de tensão. O PMDB sente que o PT começa a traí-lo, dando vazão a uma tendência histórica da sigla. A traição se dá na esfera da escolha para a chapa de Dilma. O nome peemedebista mais consensual é o de Michel Temer, presidente do partido. Nas últimas semanas, Lula passou a mandar recados e a soltar balões de ensaio. Quer outros nomes além do de Michel. Que, aliás, tem dito que é candidato a deputado e não a vice. Efeitos Os efeitos da tensão apontam para a instabilidade da aliança entre as duas siglas. A convenção do PMDB, que seria antecipada para 6/2, foi adiada para 6/3, quando Michel deverá ser reeleito presidente do partido. Nesse ínterim, as tensões tendem a aumentar em decorrência das dificuldades de se fecharem acordos nos Estados. Em MG, por exemplo, Hélio Costa é candidato e só recuará se for indicado pelo PMDB como vice na chapa de Dilma. Não quer ser candidato ao Senado porque sabe que perde para o vice-presidente José Alencar, que pretende voltar à Câmara Alta. Fumo e casamento De Joaquim Bentinho para o compadre Cornélio, uma definição sobre o casamento : - Casar, casar é mesma coisa que comprar fumo. A gente iscoi, iscoi, iscoi e acaba comprando um rolo de fumo. Nos premero tempo o fumo é bão ! Mas despois, a gente fuma só pra aproveitar : já é da gente memo... Desfazimento ? Pode a aliança com o PMDB ser quebrada ? Pode, sim, e esta tendência começa a ser vislumbrada por alguns quadros da cúpula. Cresce, também, no seio do partido a ideia da candidatura própria. Nesse caso, o tempo de rádio e TV, que Dilma tanto espera, ficaria com o próprio PMDB, castrando a campanha midiática do PT. Uma campanha menos retumbante seria desastrosa para a pupila de Lula. Que, como se sabe, é ruim de palanque. Palanqueira ? Um vexame Quem já viu Dilma em palanque, principalmente nos últimos dias, constata : é um vexame. Artificial, sem emoção, sua fala mais se parece uma conversa cheia de promessas. Que não convence. Nem empolga. Não articula uma frase por inteiro porque faz desvios linguísticos que embrulham o pensamento. Vai ter uma campanha de palanque sem graça. Serra, magister dixit O palanque sem graça terá noutra ponta o experimentado José Serra. Experimentado, isso mesmo. O que não significa bom de palanque. O governador, como bem definiu Jânio de Freitas, ontem, na Folha de S.Paulo, discursa como um leitor de orações didáticas. Serra tem conhecimento de causa, domina como poucos a matéria econômica, mas não é um palanqueiro. Está mais para professor em sala de aula. Com giz na mão e calibrando as cobranças aos alunos. "Se bater na madeira isolasse o azar, o pica-pau não estaria em extinção." (Eugênio Mohallem) Socialismo FIESPEIRO O socialista Paulo Skaf foi lançado ao governo de SP pelo governador de PE, Eduardo Campos, que dirige o PSB. Ou Campos está variando (como se diz no nordeste) ou o governador lança um balão de ensaio. A FIESP, se ele não se lembra, ocupa um imenso prédio na avenida Paulista, simbolizando um poderio que, por tempos a fio, foi massacrado pelo também socialista Ciro Gomes. Candidato ao governo, Skaf daria vazão ao conceito de Kramer versus Kramer. Lembrete : Ciro tem a avenida Paulista, onde se incrusta a FIESP, como o símbolo mais atrasado das elites paulistas. ______________ Seu Lunga vai ao banco descontar um cheque. A caixa pergunta : - O senhor vai levar em dinheiro ? - Não. Me dá em clipes e borrachinha. ______________ Ingenuidade ou vaidade ? O que pretende Paulo Skaf com a candidatura ao governo de SP ? Será que ele realmente pensa que pode ter votos para se eleger ? Chegou a dizer, em reunião interna da Federação, que se dispuser de recursos, daria para ganhar. Os jornais fizeram o registro. Dinheiro elege ? Não. Dinheiro ajuda, coopta, mas votos em SP, o Estado mais racional do país, não são despejados sobre a cabeça de um candidato como o maná bíblico caindo no deserto. Ou o presidente da FIESP é ingênuo - o que não combina com seu perfil - ou muito vaidoso. De qualquer modo, este consultor reconhece : na maré vazia de bons políticos, Skaf tem todo direito de se colocar como opção. Que siga em frente. PSB e PT As relações entre o PT e o PSB vão de mal a pior. Tudo por conta do voluntarismo de Ciro Gomes. O deputado, que costuma abrir o bico, está calado. Passarinho na muda não pia. Ciro Gomes deverá fechar acordo com Lula nos próximos dias. Ele não quer ser o candidato do PT/PSB ao governo de SP. Mas Luiz Inácio assim o deseja. Vamos conferir para onde vão a vontade de um e o desejo de outro. Na faculdade Aluno de Direito ao fazer prova oral : - O que é uma fraude ? - É o que o senhor, professor, está fazendo, responde o aluno. O professor fica indignado : - Ora essa, explique-se. Então diz o aluno : - Segundo o Código Penal, 'comete fraude todo aquele que se aproveita da ignorância do outro para o prejudicar'. Cabral e Lindenberg Quando me perguntam o que é a política, paro de falar e passo a apontar. Falar é um ato que consome tempo. Desgasta. Apontar não cansa tanto. Por exemplo. Lula xingou o PSDB, que xingou o PT, que xingou Sérgio Guerra, que xingou a ministra Dilma - dissimulada e despreparada -, que tem o apoio de Lula, que disse que Guerra é babaca. Moral da história ? Lula, José Serra e Dilma aparecem sorridentes na pose de primeira página dos jornais. Mais um exemplo : o prefeito de Nova Iguaçu, Lindenberg Farias, esculhamba Sérgio Cabral, governador do Rio. E o que acontece ? Os ex-desafetos aparecem abraçados e sorridentes. Quando me perguntam o que é política, economizo palavras : aponto para as fotos de jornais. ______________ Seu Lunga chegou numa barraca de feira e pediu uma tapioca. O feirante : - É para viagem ? - O senhor está vendo alguma bagagem aqui ? ______________ 80% de chances Marcio França, deputado e presidente do PSB paulista, diz que Paulo Skaf tem 80% de chances - na escala até 100% - de sair candidato ao governo de SP pela sigla. Eis aí uma miragem estatística. Trata-se do uso de uma alta percentagem em vão. Pura firula. 80% de chances de ser candidato equivalem, noutra leitura, a um pequeno dígito de chance de Skaf ganhar os louros da vitória. Lula e as enchentes Na vida dos governantes, certos momentos servem para exprimir seu estado de espírito e o modo como encaram adversários. Lula tem usado tais momentos para um exercício de autoglorificação. E, ainda, para espezinhar adversários. Mesmo que, circunstancialmente, alguns deles se façam presentes no instante da fala. Foi o que aconteceu, no dia 25/1, ao receber uma medalha conferida pelo prefeito Kassab. O governador Serra e o prefeito Gilberto ouviram de Lula a sugestão de fazerem um PAC para as enchentes que assolam a capital. O PAC, como se sabe, é execrado pelos tucanos, que enxergam nele pura propaganda. A sugestão de Lula foi entendida como uma alfinetada. Acho pior : uma porrada. Dez contra um Quem acredita que Arruda se sustente no governo, levante a mão. Silêncio na sala. Um, dois, três ... dez pessoas na sala levantam a mão. Apenas uma acredita que o governador do DF será punido pela Justiça. É a visão do brasileiro sobre corrupção, política e justiça. Viagens E por falar em Luiz Inácio, fará mais uma viagem internacional. Já bateu o recorde. Passou bons meses afastado de Brasília. Lula vai receber os prêmios que ganhou. Até junho/julho, tem farta programação externa. Depois, comandará a campanha de Dilma. ______________ Seu Lunga vai ao armazém e pede veneno para rato. O balconista quer saber : - O senhor vai levar ? - Não. Vou trazer os ratos para comerem aqui. ______________ E os Fóruns, hein ? O Fórum Social Mundial, em Porto Alegre, em outras cidades, já não desperta emoções. Os atores são os mesmos. A conversa é uma mesmice. Stédile ameaçando com invasões. E, incrível, dizendo que o Movimento dos Sem Terra fará campanha contra o governador José Serra. Brasil no Haiti Esse ministro Celso Amorim é mesmo um falastrão. Repele a ideia de um Plano Marshall para salvar o Haiti. Porque põe fé no Plano Lula. Pensei que fosse piada. Fui conferir. Faz questão de repetir que o Plano de Salvação deve ser chamado de Lula. Porque o Brasil foi o primeiro a dar a ideia de uma reunião com os doadores. Quanta bajulação ! "O ideal de beleza do sapo é a sapa." (Voltaire) Conselho aos deputados distritais Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado ao presidente Lula. Hoje, volta sua atenção aos deputados distritais : 1. A Câmara Legislativa de Brasília está sob a lupa da nação. Aproveitem a oportunidade para apurar ilicitudes, desvios, corrupção, expurgando todos os implicados no Mensalão. 2. Qualquer decisão no sentido da complacência e abafamento da situação será repudiada pela opinião pública e terá conseqüências nas eleições de outubro próximo. 3. Procurem apurar todas as denúncias e tomar as providências necessárias para fechar a malha de corrupção. ____________
quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Porandubas nº 219

"Seu" Lunga Seu Lunga abriu a coluna tempos atrás (Porandubas nº 209). Sucesso enorme. E aí as contribuições não pararam de chegar. Hoje, mais historinhas entremeando as notas. Apenas para lembrar a ficha do nosso protagonista : Seu Lunga, pai de 13 filhos, ourives em Juazeiro do Norte, vendedor de sucata. __________________ Seu Lunga leva o aparelho eletrônico para a manutenção. O técnico pergunta : - Tá com defeito ? - Não, é que ele estava cansado de ficar em casa e eu o trouxe para passear. __________________ Osires, o timoneiro O brigadeiro Osires Silva, que iluminou os primeiros caminhos da Embraer, uma ilha de excelência mundial no complexo segmento de aviões, está muito bravo. Não se conforma com a decisão do presidente Lula em deixar a Embraer de lado no caso da aquisição dos aviões para a Aeronáutica. Osires afirma peremptoriamente - e ele fala de cátedra - que o Brasil teria condições de fabricar os melhores caças do mundo, usando tecnologia de ponta, bastando, para tanto, fazer pequenas parcerias com alguns fabricantes. Seria bom para o país na medida em que se posicionaria muito bem no ranking da construção de caças, para a empregabilidade e para a economia. O brigadeiro conta com os aplausos deste consultor. Lula, call me Ontem, ao término da conversa com Lula, para acertar a logística de apoio ao Haiti, Obama pediu : "Lula, call me". E o nosso presidente, raposa matreira, teria aproveitado para animar a campanha eleitoral : "cara, apareça logo, logo, para esquentar a festa". Luiz Inácio quer que o presidente dos EUA dê as caras lá por julho. Coelho na cartola. Dilma agradece de coração. __________________ Cai um toró em Juazeiro do Norte. Seu Lunga não se incomoda e se prepara para sair de casa. A mulher pergunta : - Vai sair nessa chuva ? - Não, vou sair na próxima. __________________ Meireles, olho aqui, outro acolá Henrique Meirelles, o todo poderoso presidente do BC, abre um olho para Goiás e outro para o Palácio do Jaburu. Espera substituir Iris Rezende, caso este, por motivo de saúde, decline da candidatura ao governo de Goiás. Mas não quer dar imediata resposta. Cozinhará o galo até março/abril, quando enxergará com outros olhos a disposição do PMDB sobre o nome do vice na chapa da Dilma. O vice do PMDB Ocorre que a cúpula do PMDB deverá indicar o nome. Não aceitará imposição do presidente Luiz Inácio. Acha que tem cacife suficiente para bancar a indicação. Michel Temer, o presidente do partido, deverá ser reconduzido à presidência em março, continuando a ter muita força no Congresso e junto ao Poder Executivo. Com esses dois importantes cargos, fica bem menor o espaço de vice presidente. Michel está realmente interessado em obter o máximo de consenso na Convenção do partido, a se realizar em junho. Nome de Minas ? Não dá para apostar no nome de Hélio Costa como vice de Dilma. E a razão é óbvia : Dilma é mineira. Outro mineiro tornaria a chapa muito homogênea, algo como sanduíche de pão com pão. Dilma precisa ter um vice na região sudeste, sim, mas sem ser necessariamente de Minas. De SP, preferencialmente. Onde a campanha será a mais tucana e contundente do país. Os tucanos guardam grandes possibilidades de continuar segurando as rédeas do Estado. __________________ Seu Lunga acaba de levantar. O filho vem com a pergunta idiota : - Acordou ? - Não. Estou dormindo. Sou sonâmbulo ! __________________ (Em)pacando 2 Lula só pensa em ideias que possam gerar impacto. Esforça-se para agitar as ruas. Planeja uma agenda cheia de eventos. Vai rodar o mundo, mais uma vez, nesse primeiro semestre, para ficar livre, a partir de julho. Por isso, organiza mais um cavalo de batalha, o PAC 2. Não sabemos muito bem o que esse PAC terá de novidade. Sabe-se que o PAC 1 patina nos 30% de realização. Não decola em algumas regiões. O PAC 2 pode ser mais um atoleiro. Lula, porém, sabe fazer marketing. O barulho é tão importante quanto inauguração de obra. A versão é mais importante que o fato. Orlando, bola cheia O ministro Orlando Silva emplacou mais uma : Lula o escolheu como Autoridade Olímpica. Cargo que acumulará com o ministério. Todos os eventos, obras e agenda da Copa de 2014 e das Olimpíadas de 2016 passarão pelo crivo deste cara boa praça. __________________ O amigo liga para sua casa e pergunta a Seu Lunga : - Onde você está ? E ele : - No Pólo Norte ! Um furacão levou a minha casa pra lá ! __________________ Cadê Ciro Gomes ? Onde está você, Ciro Gomes ? Lembro-me da boa canção de Zeca Baleiro : por onde andará Stephen Fry ? Quem se lembra deste ator ? Ciro deu uma de Fry. Desapareceu. Lula não quer vê-lo como candidato à presidência da República. Principalmente, agora, depois de ver a derrota do candidato de esquerda no Chile. Eduardo Frei, que foi atrapalhado por mais um candidato da esquerda - o que deu margem à vitória de Sebastián Piñera. Concertación ou dissertación Pois é, no Chile, a derrota de Frei é atribuída, entre outros fatores, à divisão da esquerda. Concertación, que aglutina os partidos de esquerda, se dividiram. E Bachelet, a presidente super aprovada pelos chilenos (mais de 80% de aprovação, igual à Lula), não conseguiu transferir seu prestígio para seu candidato, Eduardo Frei. O imbróglio chegou por estas bandas provocando - com perdão do trocadilho - dissertación. Que abriga as hipóteses contrárias : Lula não transfere votos e Lula transfere votos. Este consultor vai agregar sua impressão à moldura. Transferência A questão da transferência de votos é relativa. O Chile tem identidade, história, tamanho, condições geoeconômicas e sociais bem diferentes das que exibe o Brasil. Portanto, não dá para se fazer análises comparativas fechadas. Há que se pinçar elementos e fatores e sobre eles traçar posições. Por exemplo : Lula é carismático, Bachelet, apesar de certo carisma, está longe de ser um ícone populista. O Brasil é povoado por massas assistidas por gigantescos programas populistas. E Lula abraça diretamente o povo nos comícios de palanque. Sua origem nordestina e seu trajeto lhe conferem identidade sui generis. Sim e não Pois bem, Luiz Inácio, impregnado de simbolismo, carregando o manto populista, considerado o "Pai dos Pobres", tem poder para transferir parcela de seu prestígio. Principalmente em regiões menos desenvolvidas que dependem diretamente dos braços estendidos e generosos do governo. O nordeste, por exemplo, poderá dar os votos a Dilma em agradecimento à Lula. Por outro lado, devemos considerar o fato de que Lula faz campanha há dois anos por sua candidata. E Bachelet só entrou no pleito chileno na reta final do segundo turno. Charada final A pergunta da charada : afinal, quem conseguiu 23% de intenção de voto ? Esse é o índice que Dilma ostenta hoje. Respondam : foi ela com seus belos olhos, fala maviosa, carismática e cheia de graça ? Non, non, non. Foi ele mesmo, Dom Luiz Inácio Lula da Silva, de Caetés/PE. Eis uma modesta opinião. Porém ... Toda história tem um porém. A leitura acima não pode ser considerada infalível. Transferência de votos é algo relativo. Há um limite para isso. No sudeste, por exemplo, essa condição fenece. O voto é mais racional. Menos emotivo. As classes médias tendem a votar mais com a cabeça e menos com o coração. Chalita e Santana Gabriel Chalita foi procurar João Santana, o marqueteiro de Lula. Como ser senador ? Esta deve ter sido a pergunta-chave. A identidade, claro, é o eixo. Mas, para ser senador, vereador Chalita, é preciso ter visibilidade e armas de ataque na arena eleitoral. Visibilidade, o PSB não tem. Armas de ataque poderiam ser emprestadas por quem tem. Paulo Skaf, por exemplo. Mas o socialista Skaf emprestaria armas de ataque não fosse ele mesmo um candidato a cargo majoritário ? Alvaro no Paraná ? Recebo dados sobre o Paraná. De pesquisa feita pelo IPESPE, do sociólogo Lavareda. O senador Alvaro Dias, do PSDB, sai na frente nos apresentados aos eleitores. No confronto direto com Beto Richa, que disputa a indicação dentro do partido, ele vence por 45% a 38%. A margem de erro é de 2,7 pontos percentuais. Alvaro venceria também o irmão Osmar Dias em suposto confronto somente entre os dois. Sem Osmar na parada, com este liderando os votos na reeleição ao Senado, Alvaro Dias levaria a melhor no pleito. E na eleição para a presidência da República, o governador paulista, José Serra, confirma a preferência dos paranaenses. __________________ Seu Lunga acaba de tomar banho e a mulher pergunta : - Você tomou banho ? - Não, mergulhei no vaso sanitário ! __________________ Propina no exterior ? As investigações da Operação Castelo de Areia começam a rastrear as contas do PT no exterior. Eis o que os documentos apontam : uma remessa de R$ 261.285,52, em abril de 2008, na conta : nº 941-11-013368-2, no First Commercial Bank, na China. (Folha de S.Paulo, 19/1, página A4.) Morrendo O advogado, no leito da morte, pede uma Bíblia e começa a lê-la avidamente. Todos se surpreendem com a conversão daquele homem ateu, e uma pessoa pergunta o motivo. O advogado doente responde : "Estou procurando alguma brecha na lei." Conselho aos radicais do governo Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado ao presidente Lula. Hoje, volta sua atenção aos radicais do governo : 1. Evitem produzir documentos, leis, projetos, decretos que ameacem romper os códigos normativos da República. 2. Administrem atitudes revanchistas, arquivando ódios e alimentando a seiva do bom senso. 3. Não há mais espaço para a radicalização no país. A Pátria está implícita na solidariedade sentimental de sua comunidade e não na confabulação de radicais e politiqueiros que medram à sua sombra. ____________
quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Porandubas nº 218

Tamanho da prole José de Almeida, contador do BB em Barreiras/BA, realizava o cadastro da agência. Chega Heroíno Pita, fazendeiro na região. Passou a responder o longo formulário : nome, idade, propriedade, renda anual, dívidas, etc. - Sr. Heroíno, quantos filhos o senhor tem ? - 8 filhos. - O senhor tem uma prole grande. Heroíno sorriu, fez um gesto cúmplice (na verdade confundira o conceito) : - Não, senhor. É normal. "Quatro freis" Historinha em homenagem ao Frei Damião, sob as bênçãos de quem os nordestinos viveram parte de sua história. E lá vinha o carro desembestado pelas estradas poeirentas, entre Patos e Cajazeiras, na Paraíba. Dentro, dois frades : Frei Fernando e Frei Damião, cuja expressão religiosa é tão enaltecida quanto ao "padim" Ciço (Padre Cícero Romão Batista). O guarda do posto divisou, de longe, aquele automóvel em louca disparada. E foi logo fechando a cancela do posto. O motorista teve de se conformar com a freada brusca. O guarda foi duro : - Esse carro disimbestado não tem frei ? Expliquemos que a fonética na região é essa mesmo : disimbestado e frei (em vez de freio). Resposta lacônica na ponta da língua : -Tem, sim, seu guarda. Tem logo quatro : frei de pé, frei de mão, Frei Fernando e Frei Damião. Surpreso e curioso, o guarda olhou e viu os "freis". Pediu a bênção ao Frei Damião, pediu desculpas, liberou o carro e abriu a cancela. Redes sociais na campanha A campanha eleitoral deste ano será a mais avançada da história em matéria de tecnologia da comunicação. As redes sociais, abrigadas na Internet, funcionarão a todo vapor. Teremos sites, blogs e twitter trabalhando de maneira direta e indireta por candidatos. Para disfarçar a abordagem de propaganda, twitteiros usarão o recurso da rede para informar fatos, expor notas e destaques sobre perfis preferenciais. Os candidatos serão apresentados de maneira coloquial, de forma a gerar bolsões de simpatia nos segmentos laçados pelas redes. Apóstolos da opinião Há um grupo poderoso nas novas mídias. É composto por formadores de opinião : jornalistas, publicitários, animadores culturais, artistas, professores e núcleos de profissionais liberais. Os setores que integram esse contingente serão instados a apoiar os fulanos, sicranos e beltranos. Vai ser interessante. Teremos uma comunicação mais horizontal, menos vertical e mais democrática. O Brasil frequenta o ranking dos principais usuários da Internet mundial. Lema Chagas Freitas, político matreiro, ex-governador da Guanabara e, depois, do Rio de Janeiro, tinha um precioso mosaico português, com a frase que era seu lema : "Não peço a Deus que me dê mas que me ponha onde haja." Pós-lulismo Ganhe Dilma ou Serra (se este for o candidato), a verdade é que o país abrirá novos horizontes políticos após o ciclo Lula. Não teremos um lulismo sob Dilma, por exemplo. Porque Lula tem identidade sui generis. Populista, comunicador, de origem popular e inserção fortíssima na moldura dos governantes mundiais. Dilma é uma identidade técnica. Por mais que amenize a linguagem, a ficha técnica estará impressa na sua figura. Serra é também um governante de talhe técnico. Sabe usar a expressão política, mas é um quadro que exprime especialização. Os perfis apresentam certa semelhança. Deles se pode esperar distanciamento das massas, diferente de Lula. Dilma crescerá ? Sim. Dilma (que no nordeste, pela semelhança fonética já passa a ser chamada de "Dilma do Chefe") deverá chegar aos 30% em março/abril, portanto antes da campanha ser encetada. Ou seja, ela entrará na arena para disputar em iguais condições ao adversário. Não se pense que ela é um poste. Com essa margem, pisará forte no acelerador. A questão é saber se Serra segurará seu índice ou não. Vamos analisar as hipóteses. O furacão do sudeste O sudeste tem mais de 50% dos votos do país. Só São Paulo tem 30 milhões de eleitores. Minas soma quase 14 milhões. E o Rio, mais de 10 milhões. Pois bem, se o governador paulista conquistar nesses três Estados uma maioria de 5 a 6 milhões de votos, terá condições de diminuir a onda lulista no nordeste. O nordeste irá de Lula/Dilma. O governismo leva o voto da ampla maioria. Hoje, José Serra poderá, até, mostrar competitividade em alguns Estados. Na hora do palanque, o discurso do governismo será mais ouvido. "As tempestades só aterram os fracos; os fortes enrijam-se contra elas e fitam o trovão." (Machado de Assis) Quem ganha eleição Quem ganha eleição é barriga cheia e bolso com grana. Não é voto de protesto ou de indignação. Esse voto está incrustado em segmentos isolados. Já o voto da satisfação - que está por trás da questão da sobrevivência do ser humano - é quem influencia o sistema cognitivo. Vamos às imagens. Os nossos ancestrais disputavam a presa. Cada um puxava um pedaço do bicho para devorar. Ora, se esses pedaços chegam de forma facilitada à boca, a tendência do animal (racional, irracional) é aceitar a situação e agradecer aos patrocinadores. Questão de sobrevivência da espécie. É a economia, estúpido, já dizia James Carville, marqueteiro de Clinton nos anos 90. Economia que bate, primeiro, no estômago. Os pacotes do Serra José Serra começa a agir como supridor de carências das massas. Depois de apertar os parafusos da máquina, tapar os buracos do saco sem fundo de impostos sonegados, elevar a carga tributária do Estado em setores como alimentos e bebidas, o governador dá ordem para a descontração do sistema. Fluxo e refluxo. Sístole e diástole. Descompressão depois de muita pressão. Serra era execrado por alguns setores produtivos. O cara tirava sangue das empresas. Nos últimos dias, aliviou a carga, diminuindo as alíquotas do ICMS para um conjunto de setores. Aprende com Lula. Saco de bondades O saco de bondades de Lula é o maior de todos os que os Papais Noéis já conseguiram carregar pelas estradas e ruas deste tropical país. O saco de bondades de Luiz Inácio, o providencial, será o maior eleitor do pleito de outubro. A conferir ! "Para parecer um homem honesto, é preciso sê-lo." (Nicolas Boileau) O comando da ministra A campanha de Dilma já tem comando : Gilberto Carvalho, Franklin Martins, João Santana, Fernando Pimentel e Ricardo Berzoini. Claro, sob as ordens gerais de Luiz Inácio, o todo poderoso. Gilberto ficará com a miudeza das coisas caseiras; Martins, com a orientação geral do discurso; Santana dará as dicas para abordagens de marketing, formas de apresentação na mídia e nos palanques; Pimentel, na área de programas e escudo social e Berzoini ficará com a missão de aplainar as arestas nas frentes partidárias. Por enquanto. E Zé Dirceu, hein ? Zé Dirceu continuará a fazer o que já faz há tempos : articulação. Espécie de embaixador sem pasta, mas com imenso poder de influenciar e arrumar parceiros. Não deverá aparecer muito para não sujar a imagem da ministra com o manto do mensalão. Age e agirá nos bastidores. Com grande poder. Salve-se quem puder Os comentários em círculos muito qualificados abrigam esta hipótese : seja quem for o vitorioso - Dilma ou Serra - em 2011 o Brasil começará a pagar contas do ciclo da gastança. Ninguém segurará a barra. As coisas explodirão. A imagem do próximo governante irá para o beleléu. Ficará refém de uma agenda negativa por longos quatro anos. E, aí, no cenário devastado, emergirá impávido e fagueiro, Ele, Luiz Inácio, o salvador da pátria. Para dizer ao povo : "estou aqui para dar continuidade aos dias de ontem". Instituto Lula Nesse ínterim, dom Luiz correrá o mundo - que já conhece - cumprimentando velhos amigos, tomando os melhores drinques, degustando os melhores acepipes e voando na maior das alturas. Sob as asas do Instituto Lula, que agenciará palestras e encontros. Esse filme é conhecido. Caças Rafale Lula já escolheu os caças Rafale, franceses, para compor a nossa frota aérea de defesa. Esses aviões custam o dobro dos caças Gripen, da Suécia. E ninguém os comprou até o momento, com exceção do governo francês. O Brasil teve da França a promessa de que, com sua ajuda, terá um assento no Conselho de Segurança da ONU. Mas esse assento não depende apenas da França. Quanto custa ? Ah, isso não é problema. Terceirização O ministro Carlos Lupi é um sujeito simpático e acolhedor. Não gosta de dizer não. Pode ser este o motivo pelo qual o ministro acolheu um draconiano projeto para regular a terceirização no país. Trata-se de um verdadeiro atentado ao bom senso. Mas o ministro acha que devia avançar o sinal, sob pena de a temática cair no esquecimento. Os setores terceirizados defendem o Projeto 4302/98, que está na pauta de votação, depois de ter passado por todas as comissões. Trata-se de um projeto que contempla trabalhadores e empresários. Por que, então, voltar à estaca zero e começar com um projeto esdrúxulo ? Centrais mandam Porque as Centrais Sindicais assim o exigem. As relações trabalhistas no Brasil estão engessadas, não se modernizam, porque as Centrais Sindicais - que vivem hoje de eventos - ameaçam invadir o Congresso com suas caravanas de propaganda. Se um parlamentar é contra qualquer projeto de interesse das Centrais é considerado um inimigo público. Os empresários - essa é a verdade - são divididos em compartimentos, não têm unidade e têm vergonha da mobilização das categorias. Levam goleada das Centrais. Negociação Mas o diálogo será sempre o caminho mais eficaz para se chegar a uma base mínima de consenso. Este consultor espera que exista bom senso por parte das Centrais Sindicais no momento de discussão do projeto da terceirização. O presidente da Câmara, Michel Temer, tem feito grande esforço para as partes chegarem a um razoável acordo. Vander Morales Tomou posse como presidente do Sindeprestem o empresário Vander Morales. Simboliza o espírito de união de sua categoria. Mostra-se disposto a levar adiante uma jornada em prol da terceirização, que o Sindeprestem lidera desde os idos de 1988, quando havia ameaça de se proibir a atividade no Brasil. Michel Temer, com um parecer do seu amigo e grande advogado, Geraldo Ataliba, fez a defesa do setor. De lá para cá, a economia passou a receber forte apoio dos nichos especializados da terceirização. Mas a falta de legislação deixa o setor nas mãos de uma interpretação enviesada e confusa por parte de juízes e do Ministério Público do Trabalho. Os obstáculos ao desenvolvimento do setor sinalizam a visão ultrapassada de áreas que não querem atrelar o Brasil ao futuro. Conselho ao presidente Lula Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado ao governador Sérgio Cabral. Hoje, volta sua atenção ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva : 1. Procure administrar a polêmica em torno do famigerado projeto dos Direitos Humanos antes que as discussões contaminem a sociedade civil criando pontos de tensão e conflitos. 2. Nem lá nem cá. Esta deve ser a medida adequada para se chegar a bom termo. Ou seja, o projeto deve abrigar, sobretudo, bom senso. 3. Os principais setores envolvidos na polêmica devem ser ouvidos. Examinadas as visões e ponderações, é possível se chegar a um documento que contemple a todos, sem ranços de revanchismo. ____________
quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Porandubas nº 217

O c pelo x Vamos abrir a coluna com a lembrança da conversa cheia de x do marechal Eurico Gaspar Dutra (1945/1951). O marechal trocava o c pelo x. Ganhou uma marcha carnavalesca no carnaval de 51 : Voxê qué xabêVoxê qué xabêNão pixija sabêPra que voxê qué xabê ? O secretário de Planejamento e Gestão do Estado da Paraíba, Osman Cartaxo, pinça do arquivo de seus engraçados "causos" uma historinha do marechal. De manhã, bem cedo, o marechal saiu do hotel e começou a passear na parede do açude de Pilões, nos confins da Paraíba. O matuto viu aquela figura fardada e tascou : - Bom dia, coronel. O velho marechal respondeu de pronto : - Não xô coronel. Xô o presidente da República. O matuto emendou : - Mas não é coronel porque não quer. Esquentando os motores Os horizontes de 2010 se abrem sob o pano de fundo de gigantesca nuvem de expectativas. Em outubro, o país elegerá um novo presidente, 27 governadores de Estado, 513 deputados federais e 81 senadores. O final de 2009 e o mês de janeiro ajudarão o corpo político a restaurar o estoque de energias, até porque teremos uma das campanhas mais contundentes de nossa história. Afinal, trata-se de responder à questão : será o fim do ciclo Lula ou apenas sua continuidade ? Veremos um grau elevado de mudanças ou apenas leve camada de tinta no edifício lulista ? Lula com Dilma na direita Luiz Inácio, com a fundação do lulismo, mudou a composição de voto do petismo. Hoje, o lulismo tira votos dos dois extremos do arco ideológico : esquerda e direita. Pela direita, as margens sociais, que votaram em Collor e em FHC, frequentam o centro do território lulista. Constituem o foco do gigantesco programa assistencialista do governo. A questão é : votarão em Dilma ? Lula terá condições de puxar os votos dessas margens para sua candidata ? A resposta é : sim. Principalmente nas regiões mais favorecidas pelo braço governamental. Nordeste, Norte e Centro Oeste são regiões amplamente favoráveis a candidatos que garantam a continuidade do status quo. Resumo : Lula puxa Dilma em direção aos contingentes conservadores. Lula com Dilma na esquerda Luiz Inácio também puxa Dilma em direção à esquerda. Aliás, com a ajuda da própria ministra chefe da Casa Civil. Basta ver os últimos movimentos na área de Direitos Humanos. O presidente chegou a assinar um decreto, no final do ano passado, que determina a punição de torturadores. O documento instalou um clima de tensão na área militar, porquanto tal situação viria na direção contrária ao pacto acordado pela lei da anistia. Desta forma, a dupla Dilma/Lula aparece como patrocinadora de teses que animam bolsões de esquerda. Assim, a estratégia - uma no cravo, outra na ferradura - característica do lulismo, é apontada como fundamental para expandir as margens do arco ideológico. José sobe a serra O governador paulista, José, por sua vez, depois de muitas noites insones, decidiu aplainar a subida da serra. O que faz ? Imita Lula. Claro, depois de apertar os parafusos de sistemas produtivos, com uma política de elevação de impostos, começa a afrouxar engrenagens. Acaba de tomar uma decisão importante para aliviar o caixa de 90 mil empresas, que respondem por 1,2 milhão de empregos. Estica até o fim de março redução de carga tributária para 12% a setores. Suspende o ICMS devido na importação de bens de capital sem similar nacional concedida a 199 setores. E beneficia com a renúncia fiscal mais de 24 segmentos importantes como os de couro, vinho, brinquedos, laticínios e perfumes. Malvadeza contida Este consultor ouviu algumas vezes, em encontros com empresários, imprecações contundentes contra o governador Serra e seu secretário da Fazenda, Mauro Ricardo. A crítica era contra o furor arrecadatório do governo paulista. Pois bem, com a malvadeza contida, José Serra tenta aquietar setores produtivos e livrar o caminho de pedras que poderiam atrapalhar a escalada da serra. Nessa estratégia, imita Lula. A prova de José Leonardo A Justiça Eleitoral de São Paulo está convocando José Leonardo de Moura Coutinho Filho. Motivo : foi encontrado mais de um registro de filiação partidária em seu nome, o que propiciou o cancelamento de dois registros, um de 12 de agosto de 2001 e outro, de 12 de agosto de 1901 (isso mesmo, 1901). O próprio, em conversa com este consultor, queria saber que partidos existiam no Brasil em 1901. Este consultor foi buscar a resposta. Abaixo. Partidos 1889/1930 Eis os partidos brasileiros entre 1889 e 1930 : Aliança Liberal, Partido Republicano Paulista, Partido Republicano Mineiro, Partido Republicano Rio-Grandense, Partido Republicano Catarinense, Partido Republicano Fluminense, Partido Republicano Conservador, Partido Republicano Federal, Partido Republicano Liberal, Partido Democrático, Partido Federalista, Partido Libertador, Partido Socialista do Brasil, Partido Comunista do Brasil, Partido Democrático de São Paulo, Partido Democrático do Distrito Federal, Partido Democrático do Rio de Janeiro, Partido Democrático Nacional e Partido Monarquista Brasileiro. Buracos preenchidos Tenho repetido à exaustão : Lula procura preencher todos os espaços da pirâmide social. Bolsa Família; Luz para Todos; Minha Casa, Minha Vida; Programa de Aceleração do Crescimento; ProUni; Bolsa Estagiário; Programa de Auxílio a Agricultura Familiar; pacotes esticados de isenções (geladeiras, fogões, automóveis, caminhões, móveis de madeira e aço); linhas de acesso ao crédito; o último pacote é voltado para o programa Minha Casa, Minha Vida, na área rural. A base está satisfeita. O topo nunca ganhou tanto dinheiro. Economia sob controle. Comércio de fim de ano bombando. Praias cheias. Chuvas e tragédias ? Baterão em alguns candidatos e governantes, não na imagem de Lula e Dilma. A conferir. Plantar árvores "O grande marechal francês Lyautey certa vez pediu que seu jardineiro plantasse uma árvore. O jardineiro teceu uma observação de que a árvore crescia devagar e alcançaria a maturidade em cem anos. O marechal respondeu : 'Neste caso, não há tempo a perder. Plante-a nesta tarde !'" (John F. Kennedy - 1917/1963) Atraindo hélio Há uma ala no PT, incentivada por Lula, interessada em dividir mais ainda o repartido PMDB. Como se sabe, o nome mais forte para entrar como vice na chapa de Dilma é o do presidente do partido, Michel Temer. Nos últimos dias, apareceu um balão de ensaio com o nome de Hélio Costa. Dizem que seria o nome preferido pelo Planalto para ser o vice. De Minas, segundo colégio eleitoral do país, ministro de Lula, jornalista, perfil de comunicador. Assim, Lula retiraria sua candidatura ao governo de Minas, abrindo maior espaço para o PT mineiro e ditando cartas no PMDB. Visão deste consultor : o tiro tem 90% de chances de não acertar o alvo. Imbróglio Aliás, o maior imbróglio entre PT e PMDB será a equação das alianças estaduais. Em uns 15 Estados, o PMDB olha para o lado direito e o PT para o lado esquerdo. A descoberta de Cabral Cabral, o Sérgio, governador do Rio de Janeiro, descobriu que os deslizamentos nas encostas de Angra dos Reis ocorreram por conta da irresponsabilidade dos governantes. Atirou no que viu e acertou o que não viu. Pois o tiro bateu bem no meio de sua testa. Foi o governador que liberou construções em áreas de proteção ambiental. Basta ler o decreto 41.921/09, assinado por ele, permitindo a ocupação desordenada em encostas. Cabral contra Cabral dá samba. Por que Pezão ? Não se sabe, ainda, por que Cabral, cochilando perto da tragédia, em um condomínio de luxo em Mangaratiba (a menos de 60 km da Ilha Grande), mandou em seu lugar para o local o vice-governador, Luiz Fernando Pezão. Deve ter imaginado : não quero associar minha imagem à tragédia. Sua ausência acabou enlameando a imagem. "Nada se deve esperar dos homens que entram na vida sem se entusiasmarem por algum ideal; aos que nunca foram jovens parece desvairado todo sonho. E não se nasce jovem; é preciso adquirir a juventude. E, sem ideal, não é possível adquiri-la". (José Ingenieros) Itamar na roda ? Itamar Franco, o indecifrável ex-presidente da República, continua cheio de mistérios. Parece interessado em ser o vice de José Serra. Prestigiado em Minas, poderia mobilizar o segundo maior colégio eleitoral a somar votos ao primeiro colégio, constituído por 40 milhões de eleitores, o paulista. Mas pertence a um partido em processo de esmagamento, o PPS. Não somaria em termos partidários. E sinaliza a presença forte do passado. Mas seu perfil expressa seriedade e credibilidade. Fábio contra a Veja Fábio Luiz Lula da Silva perdeu a ação que ajuizou contra a revista Veja e Alexandre Oltramari. Reivindicava indenização por danos morais por conta da matéria "O Ronaldo de Lula". A juíza Luciana Novakoski Ferreira Alves de Oliveira, da 2ª. vara Cível, em seu despacho, avocou a liberdade de imprensa, destacou o fato de o jornalista ter pesquisado seis meses para produzir o texto, argumentando, ainda, que a analogia com "Ronaldo" foi conferida pelo próprio pai, o presidente Lula. Fábio foi condenado a arcar com os custos, despesas processuais e honorários advocatícios, somando R$ 10 mil. O despacho da juíza é de 30/11/09. A crise O país registra o pior saldo comercial com os EUA. Em um momento de exuberância econômica. Paradoxo ? Não. A crise americana fechou porteiras. A China tomou o lugar dos EUA no ranking de importação de produtos brasileiros. Brasília deserta Brasília está deserta. 23 dos 37 ministros estão de férias. O segundo escalão toca tranquilamente a máquina. Sem rebuliços. O Brasil roda no piloto automático. Eis uma alternativa plausível. O lulismo O que é o lulismo ? Tentativa de resposta : ter um olho olhando para a esquerda e outro para a direita; ser pragmático, acendendo uma vela a Deus e outra ao diabo; falar pelos cotovelos doa a quem doer; costurar um gigantesco cobertor social; aproveitar a maré brasileira e surfar nas ondas da crise internacional; sair dos fundões para os salões mais chiques da política mundial; procurar botar barro em todos os espaços da pirâmide social; dar tapinhas nas costas de um correligionário e piscar o olho para outro em atitude crítica; e, claro, nascer com a testa (?) para a lua cheia. A vez dos suecos ? Os militares da Aeronáutica preferem os Gripen, aviões de caça suecos, que acham mais versáteis e baratos. Lula prefere os franceses Rafale. Até teria firmado um pré-compromisso com o presidente Sarkozy. E Jobim, o ministro da Defesa, o que prefere ? Uma vez, disse que o Brasil prefere os franceses. A palavra de Lula é a que valerá ao final. Mas os militares se conformarão ? Resposta : quem é dono da flauta dá o tom. Conselho a Sérgio Cabral Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos congressistas. Hoje, volta sua atenção ao governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral : 1. Governador, não dê um passo maior que a perna. 2. Procure consertar as observações feitas sobre a irresponsabilidade dos governantes, reconhecendo que assinou um decreto autorizando construções em áreas ambientais em Angra dos Reis. 3. Explique a razão de sua ausência na Ilha Grande no primeiro dia da tragédia e o motivo porque mandou o vice-governador Pezão em seu lugar. ____________
quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Porandubas nº 216

Quanta terra....! João Suassuna, velho coronel e líder político do Estado, pai do escritor Ariano Suassuna, perseguindo um trabalhador de seus imensos latifúndios, mandou dar um purgante de óleo de rícino, chamou dois jagunços. Sebastião Nery descreve : - Levem esse cabra até a fronteira da fazenda. Vão os três a pé. E o purgante não pode fazer efeito em minhas terras. Se fizer, podem sumir com ele. O homem saiu na frente dos dois capangas, andou, andou, apertou o passo, escureceu, e nada de chegar o fim da fazenda. O remédio começava a torturar e o homem suando frio e andando ligeiro. De repente, não aguentou mais, gemeu : - Eta coronel pra ter terra ! As chances de Serra José Serra está na galeria dos mais preparados homens públicos de nosso país. Tem condições de ganhar o pleito de 2010. Seus desafios : sustentar a boa posição nas pesquisas - em torno de 35% a 38%; estabelecer um discurso capaz de canibalizar o discurso ufanista e glorioso do lulismo; demonstrar que pode fazer um governo melhor e mais qualificado que o de seu antecessor; atrair as massas e conquistar o voto de bolsões atendidos pelo assistencialismo; sair de SP com 6 a 7 milhões de maioria para suportar a avalanche lulista no nordeste; ampliar o raio de alianças; conseguir convencer o eleitorado que o petismo está esgotado. O alerta de Aécio Aécio Neves pôs o dedo na ferida. Apontou a inação do PSDB. O jeito tucano de conformar-se com poucas coisas. Por acomodação. Mostrou as grandes possibilidades do partido na área da articulação política, atraindo grandes fatias do PMDB, PP, PDT e até do PSB de Ciro Gomes. Mas os tucanos parecem conformados em manter modesta aliança com o DEM e PPS. O governador mineiro, na autocrítica, sinaliza vontade de liderar esse processo. Parece tolhido pela barreira que se chama José Serra. Este não se define. Dá indicação de que quer ser candidato mas não tanto. Pode desistir. Por isso, Neves deu o brado : sua pré-candidatura à presidência não passa do mês de janeiro. Se Serra continuar indeciso, ele anuncia sua candidatura ao Senado. As chances de Aécio Este consultor volta a insistir na tese : Aécio Neves tem grandes possibilidades de sucesso. Pode vir a ser melhor que Serra como candidato. O governador paulista é experiente, um craque na administração de contas, é sério, organizado e tem um recall extraordinário. Seu perfil, porém, na régua do tempo, está mais próximo ao espaço da saturação. Que espaço é este ? Trata-se do território das coisas já muito conhecidas : cara, jeito, atitudes, falas, ideias. O eleitor se indaga : "de novo essa pessoa ?" Serra tem ingresso para este filme. Ou seja, seu sapato tem a sola mais gasta. E as pessoas tendem a ser atraídas por sapatos novos. Vejam o que diz Nietzsche, pela boca de seu profeta Zaratustra. O conselho de Zaratustra O profeta solta o verbo : "novos caminhos sigo, uma nova fala me empolga : como todos os criadores, cansei-me das velhas línguas. Não quer mais o meu espírito caminhar com solas gastas". O sistema cognitivo do ser humano procura novas combinações, novas associações, novos modelos para acompanhar o processo de evolução. É aí que entra Aécio Neves. Encaixa-se melhor em uma estrutura cognitiva cansada de "velhas línguas". As pessoas sentem-se atraídas por apelos e provocações diferentes. "Em política quem mais grita mais arranja." (Eça de Queirós) Dilma na mesma hipótese Dilma Rousseff se enquadra na mesma hipótese. Ela entra na faixa da novidade. O fato de não ser conhecida trabalha a seu favor. Seu espaço será o de crescimento. Expansão do perfil, com adesões gradativas e crescimento da intenção de voto, na esteira da maior visibilidade. Não há dúvida de que o eleitor tende a considerá-la como um fator emergente, novo. E mais : quem está atrás tende a subir nas pesquisas; quem está muito adiante, tende a cair. Dilma e Aécio, as diferenças Agora, vamos às diferenças entre os dois perfis. Dilma é ministra de Estado, mas nunca governou um Estado. Nunca teve um voto na vida. Não passou pela vida parlamentar. Nesse momento, a experiência conta. Principalmente quando inserida no contexto de um perfil jovem como o de Aécio Neves. Dilma, ademais, é a sombra de um conceito, o lulismo. Sombra. Ou seja, ela não é Lula. E Lula não conseguirá derramar caminhões de votos em sua direção. Será apresentada como a mãe do PAC, com capacidade gerencial etc. Mas não tem carisma. Já Aécio, de muitos sorrisos e abraços, exibe certo carisma. Comparações Situemos, agora, os universos em que ambos se inserem. Dilma, que começa a aparecer de vermelho nos filmetes de propaganda partidária, é a extensão do PT. Ora, esse partido continua a querer dividir o Brasil em duas alas : o lado do bem e o lado do mal. O lado do bem é o dele. A banda do mal é a dos outros. O PT continua a querer fazer a guerra dos pobres contra os ricos. Uma divisão que não combina com o espírito do tempo. Trata-se de uma visão retrógrada, ultrapassada. Os petistas parecem dizer : nós somos os melhores, os mais próximos a Deus; vocês, os piores, são filhos de Belzebul. Ora, esse discurso afugentará amplos contingentes dos espaços centrais da pirâmide. O ar de vestal do PT não mais atrai. "A missão do jornalista é principalmente indagar e tocar o dedo na corpulência da administração e da sociedade o ponto em que a inércia principia a produzir o apodrecimento." (Eça de Queirós) Articulação Mais ainda : o governador mineiro teria grandes condições de reunir em torno de si um formidável conjunto de forças políticas. Dilma, ao contrário, não tem força agregadora. Quem promove a agregação - artificial - em torno dela é o patrocinador Luiz Inácio. Resumo do argumento : Aécio Neves tenderia a crescer; Serra tende a cair. Dilma sinaliza derrota no enfrentamento com Aécio, mas abre boas perspectivas de vitória ante o governador paulista. E Serra ? Conta com uma garantia : a reeleição em SP. E Alckmin ? Se for candidato ao governo, tem ótimas chances, porquanto o PT continua estigmatizado em SP. Mas se Serra vir a concorrer ao governo, Alckmin não teria muita dificuldade de garantir vaga no Senado. E o melhor do PT ? Já o melhor candidato do PT, em SP, para disputar o governo é o prefeito Emidio de Souza, de Osasco. Que faz uma boa administração. Lula, o performático Luiz Inácio foi para o show final de Copenhague no momento em que o Brasil lidera o ranking de países com melhor conceito no campo da sustentabilidade. A nota alcançada pelo país foi a mais alta : 68. Os EUA estão oito pontos abaixo da última posição no ranking. Lula deverá fechar posições avançadas. Se conseguir uma negociação, fechará o ano com mais aplausos. Queiram ou não, Lula é o presidente brasileiro mais aplaudido no exterior em todos os tempos. Cristal trincado Lula desfechou um tiro na cúpula do PMDB com sua ideia de lista tríplice para Dilma escolher o vice de sua predileção. Lula quis sugerir o nome de Henrique Meirelles. Que jamais seria escolhido pelo PMDB, ele que é cristal novo no partido. Lula acha que pode fazer tudo, inclusive dizer aos partidos o que estes devem fazer. Pois bem, Lula trincou o cristal com a acidez de sua boca. A desconfiança do PMDB subiu no telhado. Uma pedra no caminho A agressão ao primeiro ministro italiano teve o condão de torná-lo vítima. Direita e esquerda condenaram o ato insano que deixou Berlusconi com dentes e osso do nariz quebrados. Passará alguns dias no hospital recebendo solidariedade. Na política, uma pedra no meio do caminho pode ser a salvação do percurso. Berlusconi, convenhamos, estava com imagem muito desgastada. Propaganda enganosa ? Este consultor ficou assustado com a manchete : 70% das campanhas publicitárias têm problemas. Que coisa incrível. O Brasil é, reconhecidamente, uma das mais qualificadas praças da propaganda mundial. A genialidade brasileira é premiadíssima. Temos alguns dos mais criativos profissionais de propaganda do mundo. E agências poderosas e com ramificações internacionais. Muito bem. Agora, expliquem. Por que nossas campanhas publicitárias vendem engodos ? Por que são consideradas enganosas ? Com a palavra, meus amigos publicitários. Lula, o poste e o patrocínio Primeiro, Dilma já não é um poste. Quem, a essa altura, tem 20% de intenções de voto, já saiu daquela classificação. O que sugere nova pergunta : Luiz Inácio tem condições de transferir votos para Dilma ? Respondo com a eleição chilena, que mostra semelhanças com a nossa. Bachelet, a presidenta, tem cerca de 80% de aprovação, índice próximo ao de Lula. Seu candidato, Eduardo Frei, que integra a Concertación, ficou em segundo lugar, bem atrás do conservador Piñera, um bilionário. Vai disputar o segundo turno. Tudo indica, porém, que Bachelet não conseguirá fazer seu sucessor. Tragam o exemplo para cá. E o esgotamento ? Alguém poderá objetar : no Chile, o governismo da Concertación se esgotou. O sistema está há 20 anos no poder. Exauriu-se. É verdade. Esta pode ser boa explicação. E, por aqui, o PT terá, ao final do governo Lula, apenas 8 anos no poder. Mas não se pode considerar a questão da identidade. O PT perdeu sua identidade. Virou um partido igual aos outros. Mas ainda se acha vestal. Pode ser que 8 anos sejam suficientes para esgotar a vida útil de uma sigla no centro do poder. Sobrevida Os governantes fazem o possível e o impossível para alterar a dinâmica da política. José Roberto Arruda é o mágico de plantão. Depois dos vídeos devastadores que mostraram a farra do mensalão no DF, a conclusão geral era de que Arruda seria ARRUinado. Não é que conseguiu uma sobrevida ? Vitamina : uma injeção de milhões na folha. Cooptação pelo bolso. 168 milhões de telefones Pois é, todos os telefones do Brasil podem ser grampeados. Quem deu a licença para tanto foi o juiz Marcio Milani. Está dito no blog do Lauro Jardim. Ele mesmo, o juiz, colocou seu telefone sob o império do grampo. Inacreditável. No Brasil, o mundo ficcional é real. Terceirização e pacto O presidente da Câmara Federal, deputado Michel Temer, recebeu dirigentes do Fórum Permanente em Defesa do Empreendedor, coordenado pelo diligente José Maria Chapina Alcazar, presidente do SESCON-SP/ASCON. Em pauta, dois projetos : 4302/98, que trata da terceirização; e o famigerado projeto que sugere mudanças na lei de Execuções Fiscais. O projeto em tela, que integra o II Pacto da República, tenta criar a figura da execução prévia, ferindo a norma constitucional e proporcionando um dos mais violentos atentados contra os direitos dos contribuintes. Em relação à terceirização, Michel sugeriu reuniões, em janeiro, para se chegar a um acordo sobre dois aspectos : responsabilidades solidária e subsidiária. Quanto ao segundo, o Fórum vai providenciar um parecer sobre sua inconstitucionalidade. Protógenes Protógenes Queiroz acaba de ganhar um emprego. Será o Assessor de Segurança para a Copa de 2014. Coordenará o mapa da segurança nos estádios. Ele é do PC do B. Foi nomeado pelo ministro Orlando Silva, do Esporte. Protógenes deverá ser candidato a deputado pelo partido. Pensou em ser candidato a senador. Não teria chances. Como candidato a deputado, pode ser puxado pela votação a ser obtida pelo bom ministro Orlando. Oportunidade perdida O STF perdeu mais uma oportunidade para fazer história. Ao decidir o recurso do Estadão contra a censura, a mais alta Corte do país, pela maioria de seus membros, preferiu o caminho dos detalhes técnicos. A tecnicalidade venceu a essência. A curva fechou a reta. Ayres Britto, Celso de Mello e Cármen Lúcia deram votos mais condizentes com o espírito do tempo. Ensinando cavalo a voar O sultão (da Pérsia) havia condenado à morte dois homens. Um deles, sabendo o quanto o sultão apreciava o seu garanhão, ofereceu-se para ensiná-lo a voar em um ano, em troca da sua vida. O sultão, imaginando-se como o único cavaleiro de um cavalo voador do mundo, concordou. O outro prisioneiro olhou para o amigo sem acreditar. "Você sabe que cavalos não voam. Que ideia louca foi essa ? Você só está adiando o inevitável." "Não tanto", disse o primeiro prisioneiro. "Na verdade, eu me dei quatro chances de liberdade. Primeiro, o sultão talvez morra neste ano. Segundo, talvez eu morra. Terceiro, o cavalo talvez morra. E quarto... quem sabe eu ensino o cavalo a voar !" (A arte do poder, R. G. H. Siu, 1979) Conselho aos congressistas Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na edição passada, o espaço foi destinado aos patrocinadores de pesquisa. Hoje, volta sua atenção aos congressistas : 1. Aproveitem o recesso de fim de ano, o convívio com os familiares e as bases para captar a alma das ruas. 2. Apurem as demandas, expectativas e anseios de suas comunidades. 3. Transformem a argamassa extraída do pensamento social em ações. E ganhem força para enfrentar o maior de todos os projetos : a reforma dos costumes políticos, a reforma política. ____________
quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Porandubas nº 215

Discurso Grande festa em Santa Maria do Suassui, em Minas Gerais. O deputado Nassip Raidan cumprira a promessa : chegava lá com o governador Bias Fortes. Em nome da cidade, subiu ao palanque o vereador Geraldo Lima, para o discurso de saudação : - Exmo. Senhor governador Bias Fortes. Exmo. Senhor deputado Nassip Raidan. Tossiu, todo cheio de si, olhou os quatro cantos da praça superlotada, enfiou a mão no bolso para tirar o discurso. Não achou. "Cadê o discurso ? Não é possível. Tô ferrado". Remexeu os bolsos, ficou em pânico, o discurso tinha sumido. Viu a mulher lá longe, ainda mais aflita, gritou rouco : - Donana, o que é que eu faço ? Donana, pelo amor de Deus, o pronunciamento...o pronunciamento caiu no vaso do banheiro. O que eu faço o que eu faço, Donana ? A galera em coro : - Fala, fala, fala. O vereador saiu pelos fundos do palanque, inventando um acesso incontrolável de tosse. Sob as vaias da multidão. Pesquisa... Ação Essa mania de pesquisa mais atrapalha que ajuda. Todas as vezes em que uma pesquisa aparece no mercado, o mundo da política entra em polvorosa. Quem sobe um pouco - este é o sentimento de muitos - está quase ganhando as eleições. Quem desce, já perdeu. Pois bem, pesquisa de opinião na seara eleitoral, nesse momento, é pura especulação. É jogo lúdico para dourar a pílula nas conversas e articulações. Pesquisa, agora, apenas mede recall, lembrança do nome de uma pessoa. Nada mais que isso. Serra e Dilma sobem ? Dizer, por exemplo, que o governador José Serra e a ministra Dilma Rousseff subiram, nesta última pesquisa CNI/IBOPE, é um exagero. Serra saiu de 35% para 38%, três pontinhos dentro da margem de erro. Dilma deixou os 15% para ficar com 17%, dois pontinhos a mais, o que nada significa. Mais importante é anotar que a popularidade de Luiz Inácio continua a aumentar, chegando, agora, aos 83%. E dizer também que Ciro está em franco declínio (baixou de 17% para 13%) é precipitação. Ninguém, por enquanto, saiu em campanha. A encenação de pré-campanha ainda é vaga na cabeça do eleitor. O que se mede ? O que se mede, então ? Mais uma vez : mede-se a força do nome na cabeça do eleitor. Mede-se o comprimento de onda que o nome da pessoa fabrica no sistema cognitivo dos eleitores. Comprimento de onda significa a régua do tempo, espaço em que prováveis candidatos desenvolveram um conhecimento público, a partir de pleitos anteriores, visibilidade na mídia, histórico pessoal, atual cargo público etc. A pesquisa do momento não afere comparações entre competências, preparo, experiência, compromisso com propostas (que ninguém sabe ainda quais são), apoio de patrocinadores etc. Aécio puxa a corda A novidade não é o resultado de mais uma pesquisa, mas a pressão que o governador de Minas Gerais começa a imprimir ao processo decisório na floresta tucana. Neves vai se encontrar, nesta sexta-feira, em Teresina, com seu companheiro José Serra. Dirá : "Serra, você terá meu irrestrito apoio, pode contar com meu esforço, mas não toparei ser vice em sua chapa; prefiro ser senador. Agora, se você declinar da candidatura, me dê a vaga. Eu topo ser candidato. Mas você tem de decidir logo. Tem que ser, no máximo, até final de janeiro. Não pode ser em março como você quer. Fica tarde pra mim". Resposta de Serra Serra vai contra-argumentar : "Aécio, tenha um pouco de paciência. Vamos ver como ficará essa crise que assola o DEM. Nem sei de onde tirar, hoje, o vice. Arruda foi bombardeado. Zé Agripino, do RN, pouco agregará à chapa. Você seria o ideal. Se você topasse, eu aceitaria ser o candidato agora mesmo. Você tem condições de fechar Minas Gerais em torno de nossa chapa. E eu carregarei São Paulo, com uns 5 a 6 milhões de diferença. Nesse caso, poderemos enfrentar a vantagem de Dilma/Lula no nordeste. Pense bem, Aécio. Não me deixe só". Aécio retruca O mineiro diz : "meu avô Tancredo me ensinou. Meu filho, não ande em cavalo cansado. O cavalo de março chegará cansadinho na minha porta. Não, Serra, prefiro um cavalo novo, um cavalo de janeiro, sela nova, arreios brilhando, o bicho doido para correr na estrada. Topo não. E mais, não gosto de garupa. Gosto de guiar a montaria". E assim... E assim, José Serra ficará com a brocha na mão. Promete a Aécio pensar. Pensar mais um pouco. Noctívago, vai curtir a solidão noturna dos amplos corredores do Palácio dos Bandeirantes. Olhando para as obras dos artistas que chamam sua atenção, todas as madrugadas em que carece de um pouquinho mais de profundo silêncio. "O fruto participa da qualidade das árvores." (Machado de Assis) Fichas sujas Este consultor é favorável ao projeto que veta a participação dos chamados fichas sujas em campanhas eleitorais. Por reconhecer que há ainda muita perseguição e vingança por parte de juízes de primeira instância, defende a ideia de que os fichas sujas precisam ser condenados na segunda instância, após serem submetidos à decisão de um colegiado. Nesse caso, o ficha suja não foi condenado por apenas um juiz, mas por uma corte de justiça. Ficam mais preservados os valores que alicerçam a Justiça : a independência, a imparcialidade, a pluralidade. PT dividido O PT sai do processo eleitoral interno bastante fracionado. No Rio, a banda que apoia a reeleição de Sérgio Cabral ganhou a eleição com a vitória do deputado federal Luiz Sérgio. Mas o prefeito Lindberg Farias, de Nova Iguaçu, vai resistir. Promete confusão. Ele não fechará posição com o partido. Quer ser candidato na marra. Em Minas Gerais, a banda de Fernando Pimentel levou a melhor. Garantindo sua candidatura ao governo. A possibilidade de acordo entre as alas é, porém, maior que no Rio. Chesterton e a imprensa   Em 1912, Chesterton definiu a imprensa, ainda com um resto de romantismo, como a arte de dizer que Lord Jones morreu a quem nunca soube que Lord Jones existiu. Com o tempo, ela passou a ser também o ofício de indistintamente dizer que Lord Jones disse tudo o que Lord Jones disse, ou dizer que Lord Jones disse o que Lord Jones nunca disse, ou não dizer que Lord Jones disse o que Lord Jones disse, ou fazer de conta que nunca existiu um Lord Jones, a um público cada vez mais informado; com uma eficiência que poucos teriam sonhado. O século XX ficou para trás. Mas a definição de Chesterton continua viva. Arruda sangrando Quanto mais demorar a novela Arruda, no DF, mais sangue sairá das veias do governador. O DEM não tem outra alternativa que a de expulsar dos quadros seu único governador. O PSDB e o PMDB já saíram do governo. O DF é a sala de visitas da Nação. Ali se concentra a turma mais barulhenta do palanque das ruas : alas radicais de funcionários públicos, militância ferrenha de movimentos sociais, dirigentes sindicais plantados sobre grana (isso mesmo, grana, não grama) e oportunistas de todos os tipos. Que ganharam de presente o mensalão do DEM para continuar o barulho. Com direito à invasão da Câmara Legislativa. A força de Kassab Com a saída de José Roberto Arruda, a maior referência do DEM passa a ser o prefeito Gilberto Kassab. Que tenta administrar uma cidade invadida pelas águas. São Paulo tem enfrentado dias conturbados. Chuvas e mais o congestionamento de fim de ano formam a receita do caos. Kassab, após o ciclo caótico, deverá repensar seu futuro. Liderar o DEM em direção a novos horizontes, trabalhar por uma ampla bancada na Câmara Federal, juntar os elos perdidos do DEM numa corrente menor, porém mais forte, ou até imaginar outras rotas partidárias ? A conferir. Pedaço de história (1) A fim de conquistar o poder, César ligava-se à pessoas de todas as classes, das altas às mais baixas. Tornou-se um homem vulgar. Divorciou-se de Pompeia, sua segunda esposa, porque "a mulher de César deve estar acima de qualquer suspeita". E ela não estava. Mas ele era infiel à esposa. Mantinha casos amorosos com mulheres diferentes, inclusive a mãe de Bruto. O veneno de ação lenta corroia seu ser. A depravação da Roma caia como sombra sobre a luminosa promessa de seu futuro. O filho do Brasil Este consultor não tem dúvidas : o filme da família Barreto, Lula, o Filho do Brasil, não será apenas uma gigantesca cascata de lágrimas. Deverá receber, nos circuitos mais centrais, algumas marolinhas de vaias. Que se começam a ouvir no trailer do filme. Em cinemas não periféricos. Quem explica ? O Brasil é, em certos momentos, indecifrável. Vejam esta : teremos um Natal fervilhando de compras. Economia super aquecida. Lojas e supermercados cheios. A indústria automobilística nunca vendeu tanto. Lula nas alturas. Brasil bombando. Um estouro. Estouro ? Anotem : a inadimplência subiu. Chegou ao índice de 20% dos consumidores. No mês anterior, esse índice era de 14%. Manchete dos jornais desta semana. Senhores economistas, expliquem logo esse paradoxo. Ou é assim mesmo ? Quanto mais consumo, mais inadimplência ? Mas, e a grana distribuída ou financiada pelo governo ? E o Prudente, hein ? Que não se perca pelo nome. Mas o deputado Prudente, de primeiro nome Leonardo, foi IMPRUDENTE, quando se meteu na máfia da propina. Prudente é presidente da Câmara Legislativa do DF. Enfiou dinheiro pelos bolsos do paletó e dentro das meias. E ainda dirigiu a Oração da Propina. Se os prudentes no Brasil fossem como ele, já teríamos sido engolidos por um tsunami propineiro. Ladrões de bom humor Temos de reconhecer. A ladroagem se aperfeiçoa. Os métodos se sofisticam. Ladrões alugaram uma casa, cavaram túnel, fabricaram carrinhos próprios para carregar 20 milhões de reais. E deixaram um malote com notas de 2 reais. Tremenda gozação. Tiveram imensa paciência. E escolheram o dia : final de campeonato. Festa das galeras. Barulho total. Natal gordo. Prenderam seis suspeitos. Pedaço de história (2) Michelangelo subia pela escada, trepava no andaime e deitava-se de costas para pintar o teto. Escravizado à sua arte criadora, esquecia-se de comer e de dormir. Enxotava um auxiliar atrás do outro. Só abria a porta quando escutava o bater da bengala de Júlio II, o papa. Que não entendia de arte, mas sabia distinguir a grandeza. - Quando, quando ficará pronto ? - indagava o Papa impaciente. Um dia, o Sumo Sacerdote dá o ultimato : - Basta, já está pronto. Desça desse andaime, senão mando tirá-lo daí. Michelangelo concordou. Lá estava o Gênese, a história da Criação, da Queda do Homem e do Dilúvio. Com um gesto autoritário, Deus divide o firmamento; insufla o pó de um sopro divino, e eis Adão, feito à Sua imagem, o dedo de Deus ainda no ato de soltar o de Adão, enquanto o primeiro homem contempla com olhos de adoração a face do seu Criador. Eva, agasalhada sob o braço do Onipotente, lança o olhar de curiosidade e medo para o seu senhor e mestre. Profetas e sibilas enchem os difíceis espaços do teto. Há ali 343 grandes figuras, todas sublimes; cada uma tem na pintura a pujança da escultura. Conselho aos patrocinadores de pesquisa   Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na edição passada, o espaço foi destinado aos dirigentes do DEM. Hoje, volta sua atenção aos patrocinadores de pesquisa : 1. Procurem solicitar dos Institutos de Pesquisa novas abordagens com a finalidade de descobrir os fatores que influenciam o sistema cognitivo do eleitor. 2. Seria interessante mapear a escala de critérios e valores que estão por trás das escolhas e preferências das classes e segmentos eleitorais. 3. As pesquisas poderiam ainda radiografar as vontades eleitorais a partir das diferenças sócio-culturais entre as classes nas diversas regiões do país, a fim de evitar sua homogeneização. ____________
quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Porandubas nº 214

Historinha engraçada... Pernambucano audaz, Newton Coumbre passava em frente ao quartel de Obuzes de Olinda, logo depois do golpe de 64. Carregava uma bomba d'água enrolada em jornal. Dois sentinelas, fuzis em punho, avançaram sobre ele, aos pontapés : - O que é isso ? - D'água ! D'água ! Mandaram jogar o embrulho no chão e levaram-no até o coronel : - O que é que tem no embrulho ? - Uma bomba d'água. - Por que não disse logo e ficou dizendo "d'água" ? - Coronel, eu dizendo só "d'água" eles me bateram tanto; se dissesse "bomba" teriam me fuzilado. Mais uma historinha pescada pelo amigo Sebastião Nery. Historinha terrível... La historia más terrible la encontré hoy en las memorias de una mujer, Misia Sert. La llamo suplicio de las moscas y la transcribo literalmente : "Una de mis compañeras de habitación había llegado a dominar el arte de cazar moscas. Tras estudiar pacientemente a estos animales, descubrió el punto exacto en el que había que introducir la aguja para ensartarlas sin que murieran. De este modo confeccionaba collares de moscas vivas y se extasiaba con la celestial sensación que el roce de las desesperadas patitas y las temblorosas alas producía en su piel." El suplicio de las moscas, contada pelo genial Elias Canetti. "Um falar doce e delicado quebra as asas do próprio diabo." (Provérbio abissínio) DEM...olido O DEM está demolido ? Ainda não. Mas as estacas esparsas estão caindo de podre. O escândalo Arruda estoura o partido. Não adianta protelar a situação. Os vídeos com dinheiro na cueca, na meia, na sacola quebram qualquer escudo defensivo. Arruda, o governador, poderá contratar os melhores advogados. Se não renunciar, a pressão da opinião pública, via mídia, será devastadora para sua imagem. Os deputados de Brasília só terão uma alternativa : o impeachment. Definhar agora ou morrer mais tarde, com sangue escorrendo pelos poros, eis a questão. DEM...olição O DEM poderá, até, ter uma sobrevida e chegar, sem fôlego, ao pleito de 2010. Sem discurso, inerme, oco. Poderá, até, ganhar algum volume de voz, principalmente se contar com a rejeição contundente ao escândalo, pelas vozes do líder do partido no Senado, José Agripino, do presidente da sigla, Rodrigo Maia, do líder na Câmara, Ronaldo Caiado e do bravo senador Demóstenes Torres, que preside a Comissão de Constituição e Justiça do Senado. Mas o rescaldo do escândalo baterá na eleição de 2010. Sem dúvida. DEM...arcação O mensalão do DEM será a demarcação de uma era. Acabou-se o ciclo do mensalão exclusivo do PT. Que já vinha entrando em rota estreita, por conta do pedaço mineiro do mensalão, jogado sobre o colo do senador Eduardo Azeredo, do PSDB. Agora, assiste-se ao espetáculo de canibalização recíproca dos mensalões. O do DEM supera todos pela estética : cueca e meias. Deixa o do PT no chinelo pela extravagância dos atores. Até a "Oração do Mensalão" foi rezada. Coisa escatológica o gesto de dois mensaleiros, abraçados ao secretário Durval. Agradeciam aos céus pela existência daquele providencial secretário de Relações Institucionais. Meu Deus do céu, onde chegamos... DEM...onização Nas próximas semanas, entrando no ano eleitoral de 2010, a demonização tomará conta da aliança entre PSDB e DEM. Este partido, com imagem mais suja do que pau de galinheiro, não será mais vital sob o prisma eleitoral. Poderá adicionar minutos importantes para a composição do tempo na mídia eleitoral, mas o apelo do voto será quase nulo. É verdade que o eleitor tende a nivelar todos os partidos como farinha do mesmo saco. Mas sem o discurso do mensalão contra o PT, o DEM será uma sigla de costelas quebradas. Ou, se quiserem, de coluna vertebral fracionada. DEM...ência A consequência, no curto prazo, será um Dândi dançando na escuridão. Ou seja, um ente perdido no meio da floresta política, sem saber para onde ir. Certa demência - no sentido de fuga da realidade, confusão mental - tomará conta da sigla e de seus dirigentes. É evidente que a bateria no bumbo do mensalão do DEM respingará nos aliados tucanos. A candidatura da oposição à presidência da República sofrerá abalos. Serra DEM...orará ? Serra, que assume publicamente a posição sobre o muro, ficará ainda mais em dúvida. "Diga-me, espelho meu : serei o melhor candidato ou a faixa passarei ?" Este consultor tem apenas uma certeza : o episódio de Brasília expande a taxa de dúvidas que carimba o perfil de Serra. Se a tendência do governador paulista oscilava entre 60% a 70% - para a banda da aceitação - a taxa baixou para 50% a 60%. Ou seja, Aécio ganhou uma escada de 10 pontos percentuais na balança das probabilidades. Serra na montanha nordestina José Serra foi ao Ceará, território político de seu arqui-adversário Ciro Gomes, para tirar a limpo essa história de que os nordestinos não o veem com simpatia. E passou a enumerar as coisas que teria feito pela região, a partir da criação do Fundo para o Desenvolvimento do Nordeste. Citou coisas boas - ótimas, por sinal - como os remédios genéricos, fruto de sua atuação no Ministério da Saúde, por ocasião do governo FHC. Mas não adianta falar para audiências selecionadas. É claro que os tucanos cearenses arrumaram uma plateia simpática. "Não é o tempo que nos falta - é a serenidade para pensar noutra coisa além do alarmante assunto de todos os dias." (Euclides da Cunha) Marca O governador paulista é um exemplo de administrador competente. Sabe arrumar a casa, a partir dos cofres. Escolhe quadros preparados, gente talhada para aumentar a arrecadação, como esse seu secretário Mauro Ricardo, conhecido pela engenharia financeira que monta para tirar dinheiro dos setores produtivos. Muito bem. Mas Serra não é um cara simpático. Não tem carisma. Parece que quer puxar as orelhas das pessoas. E tem escrito na testa a marca paulista. Marca que, em regiões como nordeste e norte, tem conotação de mando, poder, força, dominação. Gera resistência em grupos. A logotipo serrista, nesse caso, não ajuda muito. Reengenharia eleitoral Imaginemos, agora, a hipótese de Serra desistir de sua candidatura ao Planalto. Decisão tomada em janeiro de 2010. Aécio topa entrar no lugar. Nesse caso, a roda colocará o norte no lugar do sul. A reengenharia eleitoral mudará o mapa das alianças. O PMDB, que hoje tende (80%) a formar aliança em torno de Dilma, inverteria o caminho. Neves puxaria a maior fatia do partido. Ciro poderia mudar seu posicionamento em relação ao tucanato. E Dilma teria maiores dificuldades em fechar o leque de alianças. Aníbal, senador O bom deputado José Aníbal, líder do PSDB na Câmara, é um dos mais fortes postulantes à chapa tucana em SP para o Senado. Zé já teve ótima votação para o Senado, quase 5 milhões de votos em 2002. Por enquanto, o quadro para o Senado abriga os nomes de Aloizio Mercadante (PT), Orestes Quércia (PMDB) e Gabriel Chalita (PSB). Dante desses, o nome do tucano Aníbal tem boas chances. E Skaf, hein ? E Paulo Skaf do PSB, hein ? O que aconteceu com ele ? É candidato ? A quê ? Depois que Ciro Gomes foi pré-lançado por Lula como candidato ao governo de SP, o presidente da FIESP se escondeu. Até para espiar a cena de longe. Skaf entrou no partido errado. Até porque o "S" do socialismo da sigla não combina com a identidade da maior federação de indústrias do país. Nem que o "S" seja apenas uma letrinha como ele chegou a insinuar. Há pessoas bem intencionadas - e Skaf parece ser uma delas - que entram em curva antes de correr na reta. Na política, o rumo é assim : primeiro, uma reta; siga por ela pelo maior tempo que a caminhada exigir. Depois, a pessoa pode entrar na curva. Fazer o inverso só funciona para pessoas bem treinadas. Profissionais. Perigo de descarrilhar ? Na esteira do escândalo no governo Arruda, o site Carta Polis, de Brasília, antecipa informação que deve deixar muita gente fora dos trilhos. O site informa que o próximo alvo da PF é o propinoduto da Alstom, fabricante francesa de trens e metrôs, que abasteceu políticos locais. O atual governador e o ex, Joaquim Roriz, elegeram a empresa, com 17 processos no MPF, como principal fornecedora do metrô do DF. Está prestes a assinar um contrato para instalar um VLT (Veículo Leve sobre Trilhos) na capital federal. O esquema envolveria lavagem de dinheiro, sendo revelado a autoridades judiciárias suíças após prisão de um vice-presidente da Alstom. Benjamim e Lula César Benjamin chutou o pau da barraca. O artigo na Folha de S.Paulo, onde apresentou uma versão sobre a vida íntima do presidente, foi desmentida pelos companheiros que vivenciaram o episódio. Este consultor acredita na versão do cineasta Silvio Tendler. Lula era (e ainda é) um tremendo gozador. Queria espantar o marqueteiro americano que se encontrava à mesa, por ocasião do relato, em 1994. A história era uma piada. Benjamin deve ter boiado. Ou, malicioso, quis cometer um ato de vingança. O tiro saiu pela culatra. A Folha deveria ter buscado o contraponto antes de publicar o artigo. Cena extravagante Como é possível um dono de jornal - Tribuna do Brasil - guardar dinheiro na cueca ? Dinheiro de suposta propina ? Que jornalismo, hein ? Brasil vai recuar ? O Brasil continuará a desconhecer a eleição em Honduras ? Ou recuará, aceitando o resultado das eleições que elegeram o conservador Porfírio Lobo, 61, como presidente da República. Este consultor acredita que já é hora de o país cair na Realpolitik. Sob pena de aumentar seu isolamento na esfera internacional. Políticos e tigres Ao visitar a montanha sagrada de Taishan, Confúcio, o sábio, encontrou uma mulher cujos parentes haviam sido mortos por tigres. - Por que não se muda daqui, perguntou Confúcio. - Porque os governantes são mais ferozes que os tigres. Jantares de fim de ano Fim de ano com muita festa. Este ano, o clima sinaliza mais fervura no comércio e nos serviços. Três eventos ocorrerão dia 4, sexta-feira, em São Paulo. Os jantares do Sindeprestem - sindicato-ícone e líder dos serviços terceirizados - do Sesvesp - entidade que agrega as empresas de segurança privada; e do Sindhosp - sindicato dos hospitais. "Viver, sofrer, morrer, três coisas que não se ensinam nas Universidades, e que, todavia, encerram em si todo o viver." (Paul Auguez, poeta francês) Conselho aos dirigentes do DEM Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na edição passada, o espaço foi destinado ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Hoje, volta sua atenção aos dirigentes do Democratas : 1. Não demorem na decisão. Assumam, com coragem, a posição mais conveniente para atenuar o impacto do mensalão do governador Arruda. 2. Se a decisão ficar para as calendas - após apuração de todas as denúncias - o partido sangrará até aquela data. 3. Alternativa de bom senso seria a suspensão temporária do governador até o término do processo. Com possibilidade de reingresso ou expulsão definitiva do partido. ____________
quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Porandubas nº 213

Abro a coluna, hoje, com Pernambuco falando para o mundo. Duas historinhas mostram a performance de dois de seus atores. Luís Pereira, pintor de parede, foi dormir com 200 votos. Acordou deputado federal. Era suplente de Francisco Julião, cassado. Chegou a Brasília de roupa nova e coração novinho, conforme a verve de Sebastião Nery. Murilo Melo Filho jogou a primeira lata de tinta no silêncio daquela provinciana fachada política : - Deputado, como vai a situação ? - As perspectivas são piores do que as características. Luiz Serafim, o Serafa, era presidente da Liga Camponesa de Vitória de Santo Antão. Um comício programado pedia a presença de Francisco Julião. Luiz Serafim foi encarregado de saudar o fundador das Ligas. Caprichou nas palavras : - Francisco Julião é aquele que não claudica em suas reivindicações benévolas ! Pesquisação Chovem pesquisas. Mais uma, da CNT/Sensus, aparece para confirmar o que este consultor, há tempos, proclama : a queda de José Serra. Não há novidade nesta nova bateria. Apenas denota a tendência irretorquível : quem está muito na frente, cai, e quem está atrás sobe. O governador de São Paulo desceu alguns degraus da escada pelas seguintes razões : baixou a visibilidade, isolando-se no Palácio dos Bandeirantes; Dilma e Ciro expandiram suas aparições públicas; Luiz Inácio continua a fazer campanha desbragada para sua candidata, a mãe do PAC; as oposições perdem o eixo, a olhos vistos. Não sabem para onde ir. Serra e Aécio Há um dado interessante nesta pesquisa. A chapa Serra/Aécio alcança 35,8% de intenção de voto; a chapa Aécio/Serra chega a 31%. Ou seja, os números estão muito próximos. Se fizermos a projeção de potenciais de crescimento, teremos, de um lado, um perfil mais jovem, em condições de cooptar maiores grupamentos partidários; de outro, teremos um perfil mais forte, hoje, porém sem condições de conseguir expandir a base partidária. Ou seja, a tese deste consultor é : Aécio reúne maior potencial de crescimento, comparado a José Serra. Ademais, Ciro Gomes tem tido e repetido : se o governador mineiro aparecer como candidato tucano, ele desiste de sua candidatura à presidência. Depois de tanta afirmação, Ciro não teria como recuar. Dedução : o neto de Tancredo apresenta-se como perfil em crescimento; Serra, apesar de mais experiente, encaixa-se na tendência do declínio. A economia não elege ? Não dá para acreditar que o governador paulista, que domina como poucos a matéria tributária, tenha dito esta semana : a economia não decide eleição. E cita Lula como exemplo em 2006. Que loucura. Apesar de a economia não exibir glórias naquela época, a situação do momento era comparada com os anos FHC. Lula ganhou disparado na comparação. Aliás, é o que Lula, de modo inteligente, quer repetir agora. Este consultor não tem dúvida : quem elege um candidato é o bolso do eleitor. Bolso vazio, necas; bolso cheio ou mais ou menos folgado, troco. Ou será que José Serra esqueceu o mote da campanha de Bill Clinton, em 1992, cravada pelo marqueteiro James Carville : "é a economia, estúpido". Ciro sem vez em SP Se Ciro Gomes tira votos de José Serra na área federal, não conseguiria puxar votos a ponto de ameaçar a vitória deste governador, caso fosse candidato à reeleição em São Paulo. E mais : não teria condições de levar a melhor no Estado mais forte da Federação. Ciro seria aqui destruído. De São Paulo, não deve conhecer 3% dos municípios. Seria mais fácil o sol não aparecer amanhã do que Ciro, com vida política no Ceará, ganhar o pleito para o governo paulista em 2010. Aposto uma dúzia de picolés. Contra uma goma de mascar. Dutra no comando petista José Eduardo Dutra comandará o PT nos próximos anos. O antigo grupo majoritário volta a dar as cartas. José Dirceu brilhará mais ainda no firmamento político eleitoral. Apesar do segundo lugar, garantido por outro José Eduardo, o Cardozo, o grupo de Tarso Genro passará uma temporada nas margens. Até porque seu titular se afastará para o desafio eleitoral no Rio Grande do Sul. Tarso tem alguma condição. Perdeu prestígio nos últimos tempos com suas posições mais radicais. Tarefa de Dutra : fechar as alianças nos Estados com o mínimo de dissenso. Missão impossível. Armadilha, já ? Perdão pelo jogo fonético : Ahmadinejad tem algo parecido com armadilha, já. Lula recebe com pompas o presidente do Irã, de nome Mahmoud, sugerindo nas linhas e entrelinhas que o Brasil quer ser já, já, Ahmadinejad, "potência mundiá". Quer ser mediador com voz forte no Oriente Médio, quer sentar de vez no Conselho de Segurança da ONU, quer dar recados retumbantes na Conferência de Mudança de Clima, de Copenhague, quer puxar a orelha de Obama e dar recados aos chineses. Quer, quer, quer... sei não. Vejo, com essas querências todas, o aluguel de muitas armadilhas. Que podem fisgar o Brasil no contrapé. Uma no cravo Lula defendeu o direito do Irã de enriquecer o urânio para fins pacíficos. Outra na ferradura Desde que haja compromissos com alguns princípios dos quais o Brasil não abre mão. Olhando pra cima Na hora da ferradura, Luiz Inácio olhou para o teto. Isso ocorre sempre que o presidente divaga. Entra no perigoso terreno da abstração. O semeador e o que semeia "Entre o semeador e o que semeia há muita diferença. Uma coisa é o soldado, e outra coisa é o que peleja; uma coisa é o governador, e outra coisa o que governa. Da mesma maneira uma coisa é o semeador, e outra o que semeia; uma coisa é o pregador, e outra o que prega. O semeador e o pregador, é nome; o que semeia e o que prega, é ação; e as ações são as que dão o ser ao pregador. Ter nome de pregador, ou ser pregador de nome, não importa nada; as ações, a vida, o exemplo, as obras, são as que convertem o mundo." (Sermão da Sexagésima, Padre Vieira) Dilma na espontânea Pois bem, Lula conseguiu dar a Dilma Rousseff a visibilidade que não tinha. Na pesquisa espontânea, a ministra-chefe da Casa Civil está próxima a José Serra, ele com 9%, ela com 6%. Intenção espontânea de voto se deve, sobretudo, ao quesito conhecimento público. PF com mais poder A Polícia Federal terá maior poder para fiscalizar. As novas funções estão previstas em projeto de lei que permitirá à PF requisitar dados cadastrais de instituições e pessoas acusadas de crimes junto ao BC, Receita Federal e Conselho de Controle de Atividades Financeiras. Hoje, essa função é dificultada. Em compensação, haverá normas contra a espetacularização das investigações. 25% dos eleitores Só 25% dos eleitores brasileiros - cerca de 132 milhões de eleitores - expressam o nome de seu candidato. Palavras sem obras "O melhor conceito que o pregador leva ao púlpito, qual é ? É o conceito que de sua vida têm os ouvintes. Antigamente convertia-se o mundo : hoje por que não se converte ninguém ? Porque hoje pregam-se palavras e pensamentos; antigamente pregavam-se palavras e obras. Palavras sem obras são tiro sem bala; atroam, mas não ferem. A funda de David derrubou o gigante; mas não o derrubou com o estalo, senão com a pedra. As vozes de sua harpa lançaram foram os demônios do corpo de Saul; mas não eram vozes pronunciadas com a boca, eram vozes formadas com a mão. Para falar ao vento bastam palavras; para falar ao coração são necessárias obras." (Sermão da Sexagésima, Padre Vieira) FHC escondido ? Essa é uma novidade ruim para o tucanato. O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso não está bem na fita. 49,3% não votariam de jeito nenhum em candidato indicado por ele. Dilma rejeitada Dilma melhorou - um pouquinho - a posição no ranking da rejeição. De 37,6%, sua rejeição caiu para 34,4%. Próxima a de Marta Suplicy, por ocasião da última eleição para a prefeitura paulistana. Índice considerado razoável está em torno de 15%. Requião e sua reunião Em que deu a reunião de Roberto Requião ? O governadorzão queria uma decisão em torno de um candidatão do seu partidão para a eleição presidencial de 2010. Perderá essa bênção na Convenção. Aposto um real contra um tostão. Cascatas de lágrimas Atenção, vendedores ambulantes de lenços. Preparem seus estoques. Nos próximos dias, cascatas de lágrimas serão derramadas nos escurinhos dos cinemas. Tudo por conta de "Lula, o Filho do Brasil", que mostra a saga do engraxate que virou presidente da República. As lágrimas aguarão os caminhos poeirentos que levam ao pleito de outubro de 2010. Para que dona Dilma Rousseff chegue às urnas com os sapatos molhados de votos. Edinho reeleito A reeleição de Edinho Silva para a presidência do PT paulista serve ao objetivo do presidente Lula : botar Ciro Gomes como candidato ao governo apoiado pelo PT. Ciro, diz Serra, é um pau mandado de Lula. É. Pode ser. Mas esse pau bate muito duro em sua cabeça. Dilma, a expert A ministra-chefe da Casa Civil entende tanto de meio ambiente quanto Carlos Minc, ministro do Meio Ambiente, de minas, energia ou pré-sal. Mas a pré-candidata de Luiz Inácio à presidência da República será a chefe da delegação brasileira em Copenhague. Modo de impregnar seu perfil com o verde da sustentabilidade. Marina Silva, que se cuide. Tarso, o exagerado Tarso Genro já foi melhor. Este consultor já chegou a afirmar, em tempos idos, que seu perfil estava entre os melhores do PT. Pelo menos, entre os mais preparados. Mas o ministro da Justiça é um poço de exageros. Diz, agora, que o STF tentou usurpar poder de Lula. Tudo por conta da novela Cesare Batistti. Que deixa Lula entre a cruz e a caldeirinha. Acusa o STF de tomar uma decisão ilegal. Tarso Genro está sentado no trono dos céus, ao lado de Deus. O poste de Lula Quem ainda garante que Lula, apesar de registrar o maior prestígio no ranking dos presidentes da República, não consegue eleger um poste ? Pois bem, confiram : o poste de Lula já ultrapassou a casa dos 20%. Receita Federal O estilo discreto, porém eficiente, do Secretário da Receita Federal, Otacílio Cartaxo, começa a dar resultados. A RF resgata sua performance. A de outubro chega a um recorde por conta da transferência de R$ 5 bilhões em depósitos judiciais que estavam na CEF. Cartaxo havia prometido para novembro o reposicionamento das receitas aos altos níveis do passado. Deve atingir a meta. A RF entra nos eixos. Fim de ano lotado O fim de ano abre horizontes lotados. Lojas, supermercados, agências de viagem, companhias aéreas, empregos temporários natalinos. O bolso, se não está cheio, não passa por grandes apertos. O sorriso dos governistas vai de um canto a outro da boca. Conselho ao presidente Luiz Inácio Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na edição passada, o espaço foi destinado ao ministro Edison Lobão. Hoje, volta sua atenção ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva : 1. Administrar, de modo equilibrado, a grande confiança que lhe deposita a população brasileira, evitando atitudes arrogantes e o sentimento de que é onipotente. 2. Ter muito cuidado com a liturgia do poder e usar a força do governo, nos próximos meses, para corrigir desvios e distorções nos diversos campos da administração. 3. Evitar que a máquina administrativa seja utilizada a favor de candidatos, a partir de sua pré-candidata à presidência, Dilma Rousseff. ____________
quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Porandubas nº 212

Sinceridade e Sagacidade Zé Cavalcanti, ex-deputado paraibano, conta em seu livro "A Política e os Políticos", que um coronel do sertão, ao passar o comando de seus domínios para o filho, aconselhou : - Meu rapaz, se queres ser bem sucedido na política, cultiva estas duas verdades : a sinceridade e a sagacidade. - O que é sinceridade, meu pai ? - É manter a palavra empenhada, custe o que custar. - E o que é sagacidade ? - É nunca empenhar a palavra, custe o que custar. ________________ O futebol é a alegria do povo. A liturgia da descontração, da solidariedade, do aplauso e do apupo, da criatividade e da descontração. Futebol é festa ! E clímax. Choro e tristeza. A coluna, hoje, será enriquecida pela linguagem vinda dos campos. Desde já, o meu abraço solidário aos queridos jogadores, a quem se atribuem as pérolas abaixo. Enviadas pelo amigo Carlos Alberto Albuquerque. "Chegarei de surpresa dia 15, às duas da tarde, vôo 619 da VARIG." (Mengálvio, ex-meia do Santos, em telegrama à família quando em excursão à Europa) Velho discurso Não acredito. O PT começa a pavimentar o caminho de 2010, usando velhas ferramentas e conceitos ultrapassados. Ressuscitará o bordão "Consenso de Washington" para combater o "neoliberalismo", resgatará o surrado chavão de um "projeto democrático, popular, nacionalista e internacionalista de inclusão e participação popular" e fará emergir os costados do velho navio cargueiro sob o nome do "Estado grande e forte". Depois de mensalão, crise moral e ética que solapou as bases do partido, será que alguém, de bom senso, ainda navegará em canoas furadas ? Só mesmo tapados e entupidos. "Tanto com a minha vida futebolística quanto com a minha vida humana." (Nunes, ex-atacante do Flamengo, em uma entrevista antes do jogo de despedida do Zico) PMDB na vitrine O PMDB sempre esteve na vitrine. Sempre foi objeto de pancada. Mas, na hora H, é o partido procurado, festejado, adulado. Agora mesmo, abrem-se manchetes em torno do futuro do partido. De uma parte, ouve-se que terá candidato próprio à presidência da República; de outra, lê-se que está dividido e pode, até, vir a apoiar a candidatura do tucano José Serra à presidência da República. Tudo pode acontecer em se tratando de matéria política. Mas, hoje, a situação é exatamente esta : a maioria do partido - 75% a 80% - defende uma aliança com a candidata de Lula; e nem 10% topariam fechar o partido em torno de uma candidatura própria. Rachar o PMDB é diversão de uns. Que não percebem a equação sui generis que o caracteriza : quanto mais dividida, mais forte é a sigla. "As pessoas querem que o Brasil vença e ganhe." (Dunga, em entrevista ao programa Terceiro Tempo) Haja lenço ! Pois é, os produtores do filme "Lula, o filho do Brasil" pedem para que as plateias levem lenços para assisti-lo. Glória Pires, que faz o papel de dona Lindu, mãe de Lula, conclama : "levem lenços". A ênfase ao pedido vem na sequência de que, ela, mesma, não vê os filmes e novelas em que atua e tende a ser uma telespectadora fria. Por isso, ao sugerir o uso de lenços, Glória reforça a estratégia de marketing para vender o filme de maior bilheteria do cinema brasileiro em todos os tempos. Passaria em 500 cinemas do país. É isso o que esperam diretor e produtores. O petismo/lulismo espera que o filme renda votos a Dilma. Pode ser. "Eu, o Paulo Nunes e o Dinho vamos fazer uma dupla sertaneja." (Jardel, ex-atacante do Grêmio) Parabéns, FHC Depois de 18 anos, Tomás, o filho de Fernando Henrique com a jornalista Miriam Dutra, terá a paternidade reconhecida. O ex-presidente deve ter vivido momentos intranquilos nesses anos todos. Ter um filho que, segundo dizem, é a cara do pai e não reconhecê-lo, deveria ser pequeno (ou grande ?) tormento do sociólogo. A se confirmar a informação, merece ele parabéns. Sob o lamento de que o reconhecimento chega tarde. "O novo apelido do Aloísio é CB, Sangue Bom." (Souza, meio-campo do São Paulo, em uma entrevista ao Jogo Duro) Aécio e o Vox Populi Este consultor prega abertamente a ideia de que Aécio Neves tem, como candidato, maior potencial de crescimento do que José Serra. Não é o caso de repetir as razões, já conhecidas dos leitores desta coluna. Mas não concorda com todo tipo de pesquisa que se mostra favorável ao governador mineiro. Por exemplo, é de estranhar esta pesquisa publicada pela "Isto É", realizada pelo renomado Instituto Vox Populi, comandado pelo gabaritado pesquisador Marcos Coimbra. O que é estranho : uma pesquisa apenas com pergunta espontânea. Aécio, nesse caso, está na frente de Serra. Ora, a pergunta espontânea é interessante dentro de amplo cenário, onde entram perguntas estimuladas. Lembrete : a pergunta estimulada é a mais próxima à realidade. Propicia ao eleitor selecionar um candidato entre os atores que enfrentarão as urnas. "A partir de agora o meu coração só tem uma cor : vermelho e preto." (Jogador Fabão, assim que chegou no Flamengo) Voto de Britto O perfil do juiz de uma corte é o mais bem avaliado entre os perfis dos integrantes dos poderes constitucionais. A figura do juiz é vista no altar mais sagrado da Pátria, que é o altar da Justiça. Os juízes devem ser sutis, independentes, dignos, de caráter ilibado. Por isso, este consultor estranha a insinuação midiática dando conta das pressões para que o ministro Carlos Ayres Britto, do STF, mude o voto que deu no caso de Cesare Battisti. Britto votou a favor da extradição do italiano. Diz-se que amigos o estariam pressionando para votar contra a extradição. Não é crível. "Eu peguei a bola no meio de campo e fui fondo, fui fondo, fui fondo e chutei pro gol." (Jardel, ex-jogador do Vasco e Grêmio, ao relatar ao repórter o gol que tinha feito) Rodoanel e o apagão O apagão de Lula, o maior do Brasil em todos os tempos, não esperou muito para receber a contrapartida : o desabamento de três vigas da estrutura na Rodovia Régis Bittencourt, em um viaduto do Rodoanel Mário Covas, sexta-feira passada. Os casos se igualam na perspectiva da ausência de maiores controles, fiscalização de qualidade, análise rigorosa de materiais etc. Cada terra com seu uso, cada roca com seu fuso. O ditado que abriu meu artigo do "Estadão", no último domingo, confirma a tese de que ninguém segura a força da natureza. Todos os governos, partidos e facções têm a sua roca e o seu fuso. "Tenho o maior orgulho de jogar na terra onde Cristo nasceu." (Claudiomiro, ex-meia do Inter de Porto Alegre, ao chegar em Belém do Pará para disputar uma partida contra o Paysandu, pelo Brasileirão de 72) Lula e os franceses Que os norte-americanos e suecos não sonhem alto. Luiz Inácio continua a declarar sua preferência pelos aviões franceses. Ele e Sarkozy já se encontraram algumas vezes e, em todas elas, as referências de Lula aos caças franceses dão o tom dos discursos. Nenhuma autoridade mundial pode insinuar mais que recomenda o bom senso. No caso de Lula, o bom senso foi pro espaço. Imaginem o que diriam os franceses de nosso presidente, caso este mudasse o discurso depois de tantas promessas e garantias. Sabemos que os comandantes das Três Forças estão de bico calado. "Que interessante, aqui no Japão só tem carro importado." (Jardel, ex-atacante do Grêmio) Lula e Battisti Luiz Inácio teria respondido aos italianos que cobram a extradição de Cesare Battisti : "o caso está com a magistratura. A quem caberá decidir. Se a decisão for determinativa, cumpro." O presidente talvez tenha desejado dizer : "se a decisão for terminativa"... Mas a pergunta é esta : se o STF decidir pela extradição, Lula endossará a posição ? "A bola ia indo, indo, indo... e iu !" (Nunes, jogador do Flamengo da década de 80) Vida íntima Revelações interessantes sobre ex-presidentes norte-americanos : Lyndon Johnson era racista e preconceituoso; Ronald Reagan era simples e atencioso, pedindo desculpas até aos seguranças; Jimmy Carter era arrogante e orgulhoso, a ponto de não permitir que agentes lhe dirigissem a palavra e Bill Clinton também era simples e trocava ideias com pessoas comuns, ao contrário de sua mulher, Hillary, dominadora e antipática. Revelações do jornalista Ronald Kessler no livro "No Serviço Secreto do Presidente". "Nem que eu tivesse dois pulmões eu alcançava essa bola." (Bradock, amigo de Romário, reclamando de um passe longo) Zelaya confuso Esse Manuel Zelaya quer mesmo é confusão. Depois de acertar o caminho da volta ao poder, deu pra trás. Acusa o regime de descumprir o acordo. Pelo jeito, o cara quer apenas expandir a confusão. "Quando o jogo está a mil, minha naftalina sobe." (Jardel, ex-atacante do Vasco, Grêmio e da Seleção) "Jogador tem que ser completo como o pato, que é um bicho aquático e gramático." (Vicente Matheus, quando presidia o Corinthians) Olha aqui, minha filha Os(as) repórteres medem a irritação da ministra Dilma Rousseff, quando ela começa a responder assim a uma questão complicada : "olha aqui, minha filha; olha aqui, meu filho". A expressão é arrogante. Como jornalista gosta de casca de banana, a inferência é que virão por aí muitos escorregões. "O meu clube estava a beira do precipício, mas tomou a decisão correta, deu um passo a frente." (João Pinto, jogador do Benfica de Portugal) Aécio sobe, Serra desce Na semana que passou, esta coluna registra subida de Aécio Neves na escada que leva à cúpula do PSDB e descida de José Serra no mesmo corrimão. Ciro e Dilma Na mesma semana que passou, Ciro Gomes desceu alguns degraus que levariam seu nome ao patamar dos candidatos à presidente. E Dilma avançou alguns passos na mesma direção. Ciro aproximou-se mais ainda de Aécio. Seu sonho : formar uma dobradinha com o mineiro. "No México que é bom. Lá a gente recebe semanalmente de 15 em 15 dias." (Ferreira, ex-ponta esquerda do Santos) Temporão sem marca O ministro José Temporão argumenta que não quer se caracterizar como ministro com marca. No fundo, gostaria que fosse conhecido por muitas coisas que diz ter feito. Agora, sem marca e sem remédio genérico (que fez a marca de José Serra como ministro da Saúde), Temporão poderá atravessar a história como um borrão. "Na Bahia é todo mundo muito simpático. É um povo muito hospitalar." (Zanata, baiano, ex-lateral do Fluminense, ao comentar sobre a hospitalidade do povo baiano) Sete milhões de Eike Eike Batista não teve dúvidas. Perguntou a Madonna quanto ela precisava para tocar sua ONG. A diva mostrou a conta : US$ 10 milhões. O mega-empresário perguntou : "arrumou quanto ?". Ela : "US$ 3 milhões." O barão do petróleo que, até, hoje não puxou uma gota de óleo, tirou o talão e tascou : "US$ 7 milhões para sua ONG". E as ONGs brasileiras não mereceriam um chequinho ? Dona Zilda Arns, digna e séria, até que gostaria de um "adjutório" para suas crianças. "O Sócrates é invendável, inegociável e imprestável." (Vicente Matheus, ao recusar a oferta dos franceses) Conselho ao ministro Edison Lobão Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na edição passada, o espaço foi destinado ao governador José Serra. Hoje, volta sua atenção ao ministro de Minas e Energia, Edison Lobão : 1. Dê ouvidos aos especialistas e à sociedade. Providencie uma Auditoria séria para investigar as causas do Apagão. 2. E dê ampla divulgação aos resultados alcançados pelos controles dos órgãos governamentais. Não tenha receio de receber críticas. A responsabilidade, nesse caso, fala mais alto. 3. A ANEEL (Agência Nacional de Energia Elétrica) e o ONS (Operador Nacional do Sistema) devem, periodicamente, prestar contas à sociedade sobre o panorama da energia elétrica no país. ____________
quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Porandubas nº 211

"Não sou Deus, mas posso ser" De um cantador das feiras do interior do nordeste arrematando o mote "Não sou Deus, mas posso ser", respondendo ao rival : "O ano tem doze mês,O dinheiro é quem faz guerraAdão foi feito de terra,Não se morre duas vez;Um Reinaldo com dois reisNão houve nem há de haver,O homem não tem poderDe fazer outro felizComo é que este bruto diz :Não sou Deus, mas posso ser ?" Mão Cheinha Mão Cheinha era louco e muito querido no Ceará, conta Sebastião Nery. Um dia, levaram-no para o Sanatório Meduna, no Piauí. Mão Cheinha, muito vivo, acabou virando louco-chefe. Tomava conta dos outros e era respeitado por isso. No sanatório, havia um pé de mangueira que nunca dava fruta. Mão Cheinha achava que a mangueira tinha de produzir manga. Chamou oito loucos : - Olha, minha gente, vocês todos são mangas maduras. Vão lá para cima. Quando eu gritar, as mangas vão caindo, porque manga madura cai. Manga madura sempre cai. Uma a uma. E chispem. Subam. Os oito subiram. Mão Cheinha, de baixo do pé de mangueira, gritou : - Manga um ! Pluf ! O primeiro louco se esborrachou no chão aos gritos de "ai, ai, ai". - Manga dois ! Manga três ! Manga quatro ! Iam se largando lá de cima e arrebentando-se cá embaixo. Gritos e mais gritos. O louco-chefe mandou : - Manga sete ! Nada. - Manga sete ! Nada. - Manga sete, seu p... ! O sete respondeu : - Mão Cheinha, chama manga oito, pois eu ainda estou verde ! A grande dúvida A pergunta é recorrente : quem é o melhor candidato da oposição - José Serra ou Aécio Neves ? Pois bem, responderei, antes dizendo que a análise leva em conta fatores e vetores da política, não preferências pessoais. Vejam. O ciclo Lula fará o possível para não perder as chances de eleger a(o) sucessora(or) do mandatário petista. Para tanto, fez e faz uma política voltada para preencher todos os espaços da pirâmide social. Demandas do A ao Z estão sendo preenchidas. Os tijolos da pirâmide Lula tem sido um mestre na arte de tapar buracos. Basta conferir. Bolsa Família (12 milhões de famílias), 46 milhões de brasileiros; Luz para Todos; Pronaf (Agricultura familiar), com 16 bilhões; Minha Casa, Minha Vida; redução do IPI para a linha branca e automóveis (subindo os degraus da pirâmide); auxílio bolsa estagiário; ProUni; Pré-Sal (simbolismo de Brasil Potência, auto-estima dos brasileiros); propaganda farta; máquina engordada com milhares de petistas em postos-chave da administração; Fundos de Pensão (só Previ dispõe de 200 cargos nas maiores empresas do país); Centrais Sindicais com os cofres cheios (R$ 116 milhões distribuídos só este ano); PAC, mesmo pobre de obras, mas com pulverização de serviços nas unidades federativas etc. Plebiscito Nunca na minha vida de consultor político, assisti a tamanha utilização e manipulação da máquina do Estado a serviço de um projeto eleitoral. O ciclo Lula vai querer - e não porque achar que não conseguirá - fazer a comparação entre os 8 anos de FHC e a era de prosperidade desenvolvida pelo lulopetismo. O eleitor decide sob a pressão do bolso, mais que sob a emoção. Pensará antes de dar seu voto : estou bem, prezo e defendo minha situação ou quero mudar ? Essa pergunta será forte no ânimo eleitoral. E o mensalão ? Não haverá mensalão ou episódio de corrupção capaz de empanar os feitos do ciclo lulista. Até porque acho que o senador Eduardo Azeredo será inserido nas margens da crise do mensalão. Sob essa moldura, acho a eleição do governador paulista para presidente da República bastante difícil. Ao contrário, não tenho receio de dizer que a eleição estadual seria para José Serra um voo tranquilo; a eleição federal, um voo muito arriscado. Queda e subida José Serra tende a cair nas pesquisas, até porque, hoje, seu alto índice de intenção de voto - que beira os 40% - reflete recall da alta visibilidade, de ontem e de hoje. E índice de recall não pode ser considerado seguro. Em uma campanha, valerá o índice da exposição e dos programas apresentados. Sempre pinço o exemplo de Gilberto Kassab. Como se recorda, ele, quando candidato, começou com 4%. Em abril de 2008, patinava baixo. Ganhou a campanha. Aécio sobe Diante dessa moldura - ligeira, é claro - aconselho os leitores a uma reflexão. Aécio Neves não tem o que perder. Serra tem e muito. Se perder a campanha presidencial, encerra a carreira. A idade atrapalharia nova jornada. Aécio Neves poderia ser o candidato tucano, até porque tem o segundo colégio eleitoral do país nas mãos, o terceiro lhe seria simpático (Rio de Janeiro) e o nordeste poderia contar com um candidato que tem um pedaço do Estado sob o solo nordestino (o norte de Minas, Montes Claros está sob a égide da SUDENE). Melhores chances Por essa razão, vou à conclusão. O governador mineiro reúne o maior conjunto de fatores, condições e potenciais de crescimento. Quebraria a polarização entre os ciclos Lula e FHC. Racharia o PMDB de modo mais contundente como hoje o partido se apresenta. Já José Serra, pelo bom governo que realiza, teria condições efetivas de obter consagradora votação em São Paulo como candidato à reeleição. O momento da decisão não é agora. Pode ser que o quadro mude. E mude, até, a favor do governador paulista, de modo a destruir argumentos e posicionamentos que expressei acima. Hermes, o burro Depois de Nilo Peçanha, assume o governo o marechal Hermes da Fonseca (1910/1914). Levava fama de burro. Conta-se que nos 10 meses em que, sob o governo Hermes, o país viveu em estado de sítio, a Polícia proibiu que o jogo do bicho aceitasse palpite no burro. O burro poderia ser alusão ao marechal. Quem se der à tarefa de pesquisar os jornais da época, vai encontrar palpites nos outros 24 bichos da série, menos no burro. 1 milhão de empregos ? O ministro do Trabalho, Carlos Lupi, anuncia com estardalhaço : o país criou um milhão de empregos. Nota triste de pano de fundo : nunca na história deste país, as relações do trabalho foram tão manietadas por uma gestão fechada, sob a égide de sindicatos e Centrais Sindicais que se movem à pecúnia. Dianteira José Serra tomou decisão avançada. Assinou lei que estabelece como meta reduzir 20% da emissão de gases de efeito estufa em SP até 2020. Tomou a dianteira. Foi ousado. Serra tem dado bons exemplos. Abanando a cabeça Churchill estava sentado, sacudindo a cabeça de maneira tão vigorosa e perturbadora que o orador gritou exasperado : - Quero lembrar ao nobre colega que estou apenas exprimindo minha própria opinião. Churchill, raposa matreira, respondeu : - E eu quero lembrar ao nobre orador que estou apenas abanando a minha própria cabeça. Quadro paulista Se José Serra não for o candidato à reeleição, em São Paulo, é mais provável que a vaga fique com Geraldo Alckmin. O ex-governador não é o candidato in pectore de Serra e de Kassab. Ambos, porém, são realistas. Se Geraldo for o perfil a sinalizar melhores condições de vitória, será ele o candidato. Aloysio Nunes Ferreira, o chefe da Casa Civil, poderia voltar à Câmara Federal. O vice de Alckmin caberia ao DEM e este, por sua vez, gostaria de indicar Guilherme Afif para compor a chapa. Ciro une base Da base oposicionista, em São Paulo, Ciro Gomes acena com o apoio do PT, PDT, PSB, PSL, PSC, PRB, PTN e PC do B. Por enquanto. Poderia agregar, ainda, PR, PP e parte do PTB. Ciro quer ser candidato ao governo e à presidência. A decisão será de Lula. Povo é povo Alcides Carneiro veio ao Rio, procurou o coronel Massa, sogro do escritor José Lins do Rego, que foi chefe de Polícia na Paraíba e agora era senador. - Sou apenas um jovem advogado. Mas, se o senhor me permite, acho que o senhor precisa dar um pouco mais de atenção ao povo. - Ora, meu filho, esse negócio de povo ninguém entende mais do que eu. Povo só é povo quando é povo. Povo que não é povo não é povo. Quércia e Michel Orestes Quércia imagina que, até a convenção do PMDB, em junho, poderá reverter a atual tendência do partido na direção de uma aliança com a candidata do petismo/lulismo : Dilma Rousseff. Olhando para a frente, a leitura aponta para o fortalecimento da ministra da Casa Civil e consequente maior conjunto de forças a seu favor. Quércia, por exemplo, tem cerca de 60% dos convencionais de São Paulo contra 40% de Michel Temer. Daqui para a convenção, poderá, até, vir a perder a maioria em seu colégio eleitoral. Jung e o rei africano Jung perguntou, uma vez, a um rei africano : - Qual é a diferença entre o bem e o mal ? O rei meditou, meditou e respondeu às gargalhadas : - Quando roubo as mulheres do meu inimigo, isso é bom. E quando ele rouba as minhas, isso é muito ruim. Skaf vai de quê ? Dúvida cruel : o presidente da FIESP, Paulo Skaf, vai de quê ? De táxi, como candidato a deputado federal pelo PSB, ou de AeroSkaf, como candidato ao governo ? O transporte dependerá de Ciro Gomes. Que, por sua vez, dependerá de Aécio Neves. Que, por sua vez, dependerá de José Serra. Que, por sua vez, dependerá do imponderável. A loira da minissaia Geisy Villa Nova Arruda, 20 anos, estudante de turismo, é o pivô do caso mais estrambótico da história recente da discriminação no país. Mostrou as pernas, atiçou a turba, foi agredida e, pasmem, acabou sendo expulsa da Universidade por um dinossaurico reitor. Que mais parece réplica do Torquemada da Inquisição. E que, após muita pressão da Opinião Pública, recuou da decisão. A moça da minissaia abriu intensa polêmica. O affaire merece ligeira reflexão. Se fosse um marmanjo de cuecas, seria apupado ? Se a galera aprecia pernas bonitas, por que o massacre ? Não deveria ser aplaudida como em um desfile na passarela ? Elias Canetti e a massa Valho-me de Elias Canetti, o grande escritor e sociólogo, para buscar razões para a agressão. Pincemos características da turba. Massa exaltada. Que quer descarregar. Na descarga, diz Canetti, todas as separações são colocadas de lado. Todos se sentem iguais. Para atacar. Ferir. Apupar. Emerge um impulso de destruição. Que assume a forma de um ataque a todos os limites. A massa quer crescer. Até o infinito. O apupo se expande. O estado primitivo da massa chama a atenção. É o fogo da massa. A massa que incendeia julga-se irresistível. Tudo vai se incorporando a ela enquanto o fogo - o apupo - avança. A massa de fogo se expande. Sem limites. Getúlio, eu fico Getúlio Vargas sempre conservou intenções continuístas. Um dia, foram procurá-lo para saber se era verdade. E ele : - Não, meu candidato é o Eurico (marechal Eurico Gaspar Dutra); mas se houver oportunidade, eu mudo uma letra : Eu Fico. Conselho a José Serra Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na edição passada, o espaço foi destinado à ministra Dilma. Hoje, volta sua atenção ao governador do Estado de São Paulo, José Serra : 1. Avalie com muita acuidade os potenciais de cada perfil, a partir do seu, alinhando os ouvidos com fatores positivos e negativos, sem considerar o palavrório farto dos áulicos. 2. Sua candidatura à reeleição é um pássaro na mão; a candidatura à presidência da República, em 2010, são dois pássaros voando. 3. Seja realista. O risco é maior se deixar para a última hora - maio/junho - a decisão de se candidatar. Dezembro/janeiro seria um tempo mais que suficiente. ____________