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Porandubas Políticas

Por dentro da política.

Gaudêncio Torquato
quarta-feira, 31 de março de 2010

Porandubas nº 227

Tu não vais, não é ? Luís Simões Lopes era um miniditador. Diretor do DASP, fazia o que queria, com apoio de Getúlio. Mandou ofício aos ministros com uma série de determinações. Enquadrava todo mundo. Osvaldo Aranha, ministro da Fazenda, recebeu, leu, devolveu : "Ao remetente: vá à merda". Entregou ao chefe de gabinete. O chefe de gabinete ficou em pânico : - Devolver pelo protocolo reservado, não é, senhor ministro ? - Não, pelo protocolo comum. Era um escândalo renovado, de mão em mão. Luís Simões Lopes recebeu, ficou furioso, foi a Getúlio pedir demissão. Getúlio puxou uma baforada do charuto : - Ora, Luís, para que demissão ? Tu não vais, não é ? Não indo, tu desmoralizas o Osvaldo. Ele vai ficar uma fera. Tu sabes. Tu sabes. Luís Simões Lopes foi. Quer dizer, de volta para seu gabinete no DASP. Quem conta a historinha é Sebastião Nery. Serra deslancha ? Quem pensava que Dilma Rousseff continuaria a escalada, passando na frente de José Serra, tomou um susto. Dilma estacionou e Serra cresceu. A diferença é de 9 pontos, 27% a 36%. O que teria ocorrido ? Hipóteses mais viáveis : Serra tomou a decisão de se candidatar; passou a ter maior visibilidade com spots publicitários dando conta dos resultados de seu governo; quadro se torna mais definido. Na verdade, Serra recupera suas margens em São Paulo e expande apoios no Sul. Mas olhem para este dado : Dilma cresceu 4 pontos no Rio, em Minas Gerais e no Espírito Santo. Numa parte do sudeste (SP) e no sul, Serra subiu, noutra, caiu. Atenção, atenção Pesquisa é um instrumento que deve ser analisado sob diversos aspectos. O da rejeição, por exemplo. Dilma já teve rejeição de 35%. Baixou para cerca de 20%. A rejeição de Serra é maior que a rejeição de Dilma. Coisa estranha. Mais ainda : a pesquisa espontânea mostra Dilma com 12%. Serra tem 8%. Quer significar que o potencial de crescimento de Dilma é maior do que o de Serra. Outro dado : 53% dos eleitores dizem que votarão no candidato indicado por Lula. Portanto, essa pesquisa Datafolha registra movimentos dos últimos dias. Há muita enchente a correr por baixo das pontes. Exageros e banalidades Brasil de exageros, país superlativo. 53% das obras do PAC não foram concluídas. Mas o PAC 2 é instalado para alavancar a campanha de Dilma. Lula continua a debochar da Justiça Eleitoral. No alto de sua imensa aprovação popular, acha-se no direito de esculhambar as instituições. Foi multado duas vezes. Total : R$ 15 mil. Não se liga. Nos tempos antigos, seria um escândalo o fato de um presidente ser multado. Hoje, tudo é banal. Asneiras, bobagens, besteiras, denúncias, multas, escândalos já não impactam. Nem causam surpresas. Tudo passa a ser normal. O feio, de tão feio, impregna-se na paisagem. E quem vê já não mais distingue feiúra de beleza. Julgamento "Preserve suas forças e sua energia concentrando-as no seu ponto mais forte. Ganha-se mais descobrindo uma mina rica e cavando fundo, do que pulando de uma mina rasa para outra - a profundidade derrota a superficialidade sempre. Ao procurar fontes de poder para promovê-lo, descubra um patrono-chave, a vaca cheia de leite que o alimentará durante muito tempo." (As 48 Leis do Poder- Robert Greene) Alckmin disparado Em São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), sisudo e quieto, chega a 53% contra um Aloizio Mercadante, que não chega aos 15%. Mercadante é preparado, sabe argumentar, tem dados na cabeça e uma visão categorizada de economia. Mas é um perfil ácido. Duro de roer. Parece que está brigado com o mundo. Não é daqueles que sabem fruir uma conversa. Alckmin é educado, boa praça e é, até, um bom piadista. Só precisa ser mais extrovertido. Expor-se mais. Chegar com mais força ao eleitorado das margens. Mas em um debate, Mercadante pode se dar melhor. Marta e Quércia Do lado do PT, em São Paulo, Marta Suplicy. Do lado da situação, por enquanto Quércia. São os dois candidatos mais visíveis ao Senado. Marta e Quércia têm algo em comum : são muito rejeitados, apesar da visibilidade de seus nomes. Marta tem mais votos na capital e Quércia no interior. Por isso, parcela forte do eleitorado quer ver outras possibilidades. Esse Gabriel Chalita, do PSB, da ala Canção Nova (Igreja Católica) é considerado um traidor dos tucanos. Aloysio Nunes Ferreira ou José Aníbal deverão completar a chapa governista em SP. Aníbal tem maior visibilidade que Aloysio, mas este detém maior capacidade de articulação e domínio da máquina. E o PSB, hein ? Novela confusa é a do PSB de Ciro Gomes e Paulo Skaf. Ciro continua a mexer na farofa. Espalha farinha por todo lado. Ciro poderá perder todas as chances que, há 3 meses, pulavam em seu colo. Lula não vai deixar que seja candidato a presidente. Ele não quer ser candidato a governador de SP. Não tem cacife para ser candidato a deputado federal por estas bandas. Vai sobrar mesmo para Paulo Skaf, um candidato que tem dinheiro mas não tem votos. Mais uma na fileira das ilusões. Eduardo Campos, onde você está ? Corra, corra, antes que seu partido morra. Imbróglio no Rio Lindberg Farias ganhou de Benedita da Silva a vaga de candidato ao Senado pelo PT do Rio de Janeiro. Entrará na chapa de Cabral. Que após ganhar o título de Salvador do Rio, aumenta as chances de levar a melhor. Sérgio estava sem discurso na rua da amargura. A emenda Ibsen Pinheiro deu-lhe sobrevida. Este consultor chegou a apostar nas chances de Gabeira com César Maia na disputa para o Senado. Marcelo Crivella, o bispo, lidera na ponta para o Senado. Meirelles sai ou fica ? Henrique Meirelles sairá ou permanecerá no governo ? Sairá. Será substituído por Alexandre Tombini, natural do RS, diretor de normas do Banco Central. Meirelles quer ser candidato a vice-presidente na chapa de Dilma. Sonho de um verão mais que chuvoso. Mais provável é uma candidatura ao Senado por Goiás. Meirelles não conta com 5 votos do PMDB. E Lula não vai se permitir constranger o partido sugerindo Meirelles como candidato. A indicação para compor a chapa sairá, como se sabe, do partido. Que fecha em torno de Michel Temer. Este é que tem dúvidas. Topará ou não ? Michel tem em conta o fato de que o PMDB continuará a ser o maior partido do país. Cerca de 100 deputados e 20 senadores. Casamento sem burocracia O deputado Cândido Vaccarezza quer menos burocracia nos casamentos. Seu projeto, aprovado na Câmara dos Deputados, dispensa publicação de edital de casamento. "O objetivo é reduzir a despesa dos casais e preservar os seus dados - o número de carteira de identidade e CPF, filiação, data, cidade e estado de nascimento e local de residência - de forma a evitar que pessoas mal intencionadas façam uso dessas informações para aplicar golpes. A proposta resguarda a instituição do casamento e a segurança dos casais", diz o deputado. Vice de Serra Quem será ? Tasso Jereissatti não quer. Zé Agripino, idem. Kátia Abreu é considerada muito conservadora. Sérgio Guerra não cabe no figurino. Surge a versão de que Andréa Neves, irmã de Aécio, seria convidada. Pura fofoca. Não tem perfil. Marco Maciel poderia ser um nome. Mas já foi vice. Pode ser a pista para o petismo denunciar : Serra é a extensão de FHC. Por isso, este consultor acredita que tem cabimento a indicação do senador Dornelles. Que é tio de Aécio Neves. Mas ele traria o PP para o lado do Serra ? Lula no palanque Depois do susto com a pesquisa Datafolha, o esforço do PT convergirá para a meta : reunir novamente Lula e Dilma em palanque. Nos últimos tempos, ela andou desgarrada. E agora vai se desincompatibilizar. Mas Lula só poderá subir ao palanque com Dilma nos finais de semana. Nas horas livres, quando não estiver governando. Mas, em se tratando de Lula, tudo será possível. Ele já disse que sua meta, hoje, é : eleger Dilma como sucessora. O Brasil de Sachs "O século XIX foi marcado pela ascensão fulgurante dos Estados Unidos, o século XX pela expansão do Japão e dos Tigres da Ásia. O século XXI pertencerá ao Brasil ? Ou ele se contentará de permanecer o país do eterno futuro que tarda a chegar ? Mais de sessenta anos se passaram desde que Stefan Zweig escreveu Brasil, país do futuro. Essa pergunta me intriga. Tenho a petulância de querer contribuir, ainda que na margem, para que esse gigante entravado consiga romper as amarras que o impedem de modernizar sua estrutura fundiária anacrônica. De fato, a herança envenenada de seu passado colonial continua a obliterar o sistema político. A democracia brasileira ainda não se libertou das práticas clientelistas, das tentativas repetidas de privatização do Estado e da corrupção. Os benefícios do crescimento e da modernização econômicos são confiscados por uma elite estreita. Ora, o Brasil dispõe de condições excepcionais para percorrer a via de um desenvolvimento duplamente virtuoso, no plano social e ambiental. Hic et nunc. Aqui e agora".( Ignacy Sachs - A Terceira Margem) Ataque em campanha Este consultor prevê uma campanha muito aguerrida. Cheia de ataques. Grupos e militantes, a serviço de candidaturas, vão tentar desconstruir adversários. Levantando fichas do passado. Inventando casos. Exibindo articulações espúrias. Invertendo conceitos e posicionamentos. Brandindo armas desonestas. Nos Estados Unidos, essa tática é bastante empregada. O ataque, por aqui, tem sido mais contido. Neste ano, porém, ganha fôlego. Lulistas Dado interessante : dos apoiadores que aprovam o governo Lula, 33% votam em Dilma, mas 32% dizem que votarão em Serra. Lula terá de se esforçar para redirecionar o voto de parcela ponderável de seu eleitorado. Fuso horário de Serra O avião será uma boa cama para José Serra. Que é noctívago. Campanha precisa de candidato nas ruas logo de manhã cedinho. Principalmente em regiões quentes como norte, nordeste e centro oeste. Serra costuma dormir até 10 horas. Vai dormir na alta madrugada. Terá de refazer o fuso horário. Vai ter de dormir em automóvel ou avião.Anastasia tem chances ? À medida que a campanha ganha densidade, candidatos que nunca tiveram votos ganham ânimo. Anastasia, o vice de Aécio, nunca teve um voto. É um schollar. Professor de Direito. Mas demonstrou competência administrativa. Aécio poderá eleger seu "poste". E Costa ? Hélio Costa (PMDB) sai bem na frente do pleito mineiro. Mas terá fôlego para aguentar a força da estrutura governamental ? Anastasia permanecerá no cargo como governador em exercício. Costa, mesmo com o apoio do PT, terá grandes dificuldades para superar a máquina aecista. O caso Nardoni O caso Nardoni irá para a história do Direito brasileiro. A tecnologia foi fundamental na produção de provas técnicas. O Conselho de Sentença desempenhou sua função com alto interesse. Mas há um aspecto que merece um tom crítico : a espetacularização do julgamento. A ferocidade da turba contra os advogados de defesa. "Morrer é fácil, mas aguentar velório, dentro de um caixão, deve ser muito duro." (Otto Lara Resende) Conselho aos membros do MP Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos tucanos. Hoje, volta sua atenção aos membros do Ministério Público: 1. Atentem para as ameaças constantes ao império da lei. 2. Movimentos prometem um abril vermelho com ocupação de fazendas, invasão de propriedades, ocupação de prédios públicos. Qual é o papel do MP ante a crônica de um caos anunciado ? 3. Espera-se que o MP cumpra o dever de zelar pela harmonia social e defesa dos direitos dos cidadãos. ______________
quarta-feira, 24 de março de 2010

Porandubas nº 226

Conversa de jardim Manuel Ribas, interventor no Paraná (1932/35), depois governador (1935/37), despachava no palácio, mas gostava de morar em sua casa. Bem cedinho, chega um rapaz e encontra o jardineiro regando o jardim : - Seu Ribas está ? Sou filho de um grande amigo dele. Meu pai me mandou pedir um emprego a ele. Eu podia falar com ele ? - Poder, pode. Mas, e se ele não lhe arrumar o emprego ? - Bem, meu pai me disse que, se ele não arranjasse o emprego, eu mandasse ele à merda. - Olhe, rapaz, passe às 4 da tarde lá no palácio, que é a hora das audiências, e você fala com ele. Às 4 horas, o rapaz estava lá. Deu o nome, esperou, esperou. No salão comprido, sentado atrás da mesa, o jardineiro. Ou seja, o governador. O rapaz ficou branco de surpresa. - O que é que você quer mesmo ? Repetiu a história. "Meu pai me mandou pedir um emprego ao senhor". - E se eu não arranjar o emprego ? - Então, seu Ribas, fica valendo aquela nossa conversa de hoje de manhã, lá no jardim. Corrida ao Planalto - Cenário Barriga Cheia Este consultor se permite produzir ligeiros cenários na direção do Planalto. O primeiro aponta para a Barriga Cheia. Neste cenário, massas confortáveis. Gente satisfeita. Grupos numerosos comemorando avanços do bolso. Sem grandes novidades, mas ambiente denotando segurança e tranquilidade. Neste cenário, o cavalo de Dilma Rousseff corre na frente. O animal, sem aperto na barriga, dispara deixando outros contendores atrás. Dá uma parada aqui e ali para tomar fôlego, beber água no poço, respirar o ar fresco e comer um capinzinho. Lula fica à espera na cocheira de chegada. Ele mesmo é o dono de estupendos estoques de água e capim. Corrida ao Planalto - Cenário Cuca Quente O cenário Cuca Quente flagra massas insatisfeitas, intranquilas, inseguras e com o estômago apertado. Pode ser que alguns estratos estampem amplos sorrisos e tranquilidade. Mas a maioria denota inquietude. Não se conforma com o estado geral das coisas : carestia, violência, muita chuva aqui e falta de água acolá, greves, cidades sem controles. Esta ambientação social impulsiona candidatos da oposição. Que simbolizam a mudança de um status quo negativo, feio, ruim, perverso. José Serra levaria vantagem sob esse desenho. A contrariedade social tende a favorecer perfis que simbolizem esperança de melhoria, bem-estar. Ou seja, quando o Produto Nacional Bruto da Felicidade é baixo, expande-se a viabilidade de quem tem condições de soerguê-lo. Corrida ao Planalto - Cenário Mosaicos Coloridos No cenário Mosaicos Coloridos, há grupos de todos os calibres e gostos. Há turmas que estão muito satisfeitas com a situação; há núcleos muito revoltados contra o desgoverno, a insegurança, a corrupção; há contingentes que não se conectam à política; há eleitores que agem no calor da hora, sob impulso do momento; há um eleitorado tradicional, fiel, que vota sempre nos nomes apoiados pelas lideranças locais; há uma esfera moderna, antenada nas questões mais filosóficas (portanto, muito racional); e há grupos que mudam de esfera e referências ao sabor das circunstâncias. Nesse cenário, leva a melhor quem tem o maior pincel e a maior carga de tinta para pintar a parede de mosaicos. Geralmente, o tom predominante na parede é de quem domina as maiores estruturas do poder. Tirem suas conclusões. As chances de Dilma As chances de Dilma dependerão muito do estado geral de satisfação social. É claro que, em determinado momento, se desenvolverá um processo de distinção entre a cria e o criador. O eleitor vai concluir : Dilma não é Lula. Nesse momento, poderá ocorrer uma ruptura com tendência a certo desligamento. Mas o processo estará também atrelado às atitudes, comportamentos, gestos, palavras da candidata. Qualquer tropeço no meio do caminho arrefecerá suas forças. Contra ela, somam-se fatores como inexperiência, falta de tato político, desenvoltura comunicativa, carência de visão global do país. Se lógica, porém, fosse fator decisivo de campanha, ela teria grandes chances. As chances de Serra As chances de José Serra dependerão de sua capacidade de mostrar que os avanços, sob sua presidência, serão mais consistentes e duradouros. Ele tem mais experiência que Dilma. Mas a experiência só funciona como laço eleitoral caso passe pelo efeito demonstração. Ou seja, não adianta apenas ser apresentado como experiente, testado. No caso do pleito federal, urge mostrar e comprovar que as coisas poderão ser melhores. Serra é um perfil que mergulha no poço da racionalidade. Sua peroração é uma aula. Didática, mas monótona. Tem contra ele, portanto, uma pequena vela emotiva. Cuja chama só se acende depois de muitas tentativas. As chances de Marina Marina será uma folha verde entre as paisagens vermelha, dos petistas, e azul/amarelo, dos tucanos. Será um símbolo. E pode captar a simpatia de um grupo que certamente ostentará a folha verde na lapela. As chances de Ciro Ciro Gomes é a boca que jorra chumbo e fogo. Por isso, terá sempre alguém para ouvir seus tiros. Mas quem atira muito passa a ser temido. Não respeitado. Ciro é um arremedo de Lampião político. Enfeite-se o pindacearense (fusão de Pindamonhangaba e Ceará) com um chapéu de cangaceiro e uma cartucheira cheia de balas para se chegar ao Lampião contemporâneo. Como tal, faz muito barulho no palco. Aliás... Aliás, Ciro anda trombeteando : "serei o próximo presidente do Brasil". Meu Deus do céu... quanta lorota ! A não ser que Brasil seja um novo time do Ceará. Lula na ONU ? Essa notícia saiu na mídia internacional. Lula estaria com um olho na Secretaria Geral da ONU. Depois de seu périplo no Oriente Médio, onde deitou e rolou nas sugestões e orientações, passei a acreditar que o cara efetivamente poderia se encantar com o cargo. Mas o desmentido veio logo. Lula não quer a coisa. Fiquei imaginando : por quê, por quê? A proposta foi de Sarkozy. Caiu a ficha. O marido de Carla Bruni quer vender os caças franceses ao Brasil. Encheu o peito de Lula de bajulação. Passei a acreditar no desmentido após ler nas entrelinhas : um secretário-geral da ONU sem saber expressar uma frase em inglês ?Instituto Lula Por isso, acho mais viável e útil a ideia de Gilberto Carvalho, secretário particular do presidente : o Instituto Lula. Onde o mandatário de grande popularidade poderá abrigar a agenda, as interlocuções, os eventos etc. E se preparar para as próximas jornadas. Lula está longe de uma aposentadoria. O cara gostou do néctar do poder. Que desceu da garganta para o coração, depois de invadir os neurônios. "Há só duas coisas que me incutem respeito: o céu estrelado sobre mim e a consciência moral dentro de mim." (Kant) Gilmar fala duro Esse presidente do STF fala duro. Não teme expressar opiniões. Inclusive as mais contundentes. Atira para todos os lados. Diz com ênfase : "Constituição não comporta controle de mídia". Depois dessa, aquele grupo que deseja manietar os meios de comunicação só tem uma alternativa : enfiar a viola no saco. PMDB prepara ideário O PMDB vai apresentar seu Ideário ao país nas próximas semanas. Trata-se de um Documento onde estarão descritas as Diretrizes para um programa de governo. Na primeira reunião do Grupo, comandada pelo presidente do partido e da Câmara, Michel Temer, as coordenadas foram postas à mesa. Nelson Jobim fez interessante pontuação. Segundo ele, o PMDB tem ministros no governo, mas não está no governo. Relação de Lula com ministros do PMDB : próxima de 10. Relação do PMDB com outros ministros ou com gestão : próxima de zero. Mangabeira Unger apimentou a reunião, dizendo que o Documento não poderia ser uma "coleção de platitudes". Cada membro do Grupo fará suas sugestões e até dia 15 de abril deverá ser produzido um Documento com a consolidação das contribuições. "Os velhos amigos são os melhores. O rei Jonas costumava pedir os seus velhos sapatos porque eram mais folgados para os seus pés". (John Selden, jurista inglês) Senado peemedebista As previsões apontam para um PMDB com uma grande bancada de senadores. Das 54 vagas em jogo, este ano, o partido deverá eleger cerca de 20, dos quais 14 a 15 serão senadores reeleitos. O PSDB e o DEM deverão ter bancadas menores, 10 e 8, respectivamente. O PT deverá fazer a segunda maior bancada. Cabral, o redentor do Rio Sérgio Cabral foi salvo pelo maremoto do pré-sal. O governador estava sem discurso. Não sabia o que dizer. Fernando Gabeira se preparava para dar um bote na vaga de governador do Rio de Janeiro. E aí apareceu o maremoto, que foi a emenda Ibsen Pinheiro, tirando a grana - R$ 8 bilhões - do Rio. Cabral verteu lágrimas. O público viu. E muitos aplaudiram. "Querem roubar o Rio, querem roubar o Rio". Comandou uma passeata de 80 mil pessoas. Para resgatar a grana do pré-sal e salvar o Rio de Janeiro. Mas essa grana só virá daqui a 5, 6, 7 anos. Pois é. Tudo ficará como dantes no quartel d'Abrantes. Mas Cabral, a esta altura, posa de Redentor do Rio, ao lado de outro Redentor, o Cristo do Corcovado. "O gênio sem caráter nada vale". (Anatole France) Arruda joga a toalha ? José Roberto Arruda jogou a toalha. Sai da vida pública. Deixa o cargo de governador, claro, depois de ser jogado na lama do lago Paranoá. Arruda imagina que seu gesto poderá aliviar a mão da Justiça. Amanhã ou depois de amanhã, quem sabe, ele poderia contornar as curvas da decisão. Pois o Brasil é um país da provisoriedade. Nada, por aqui, é definitivo.Pegando fogo A relação entre PMDB e DEM em Santa Catarina está pegando fogo. O DEM deixou o governo comandado por Luiz Henrique. PACPEL Mídia alerta : 54% do PAC ainda não saiu do papel. Mais vale a versão do que o fato ? Segurança privada Entre 25 e 27 de março, o setor da segurança privada se reunirá no VI FESP - Fórum Empresarial de Segurança Privada do Estado de São Paulo, que será realizado em Itapeva, Minas Gerais. O objetivo do SESVESP (Sindicato das Empresas de Segurança Privada, Segurança Eletrônica, Serviços de Escolta e Cursos de Formação do Estado de São Paulo), ao promover este evento, é reunir os empresários do setor para discutir as tendências do mercado de segurança e gestão de empresas. Entre os temas, o cenário político-econômico dos próximos anos e os entraves que afetam o setor. "Precisamos traçar estratégias para combater o crime e nos antecipar ao cenário econômico para manter a nossa atividade, principalmente neste momento em que a clandestinidade mais afeta nosso segmento", enfatiza José Adir Loiola, presidente do Sindicato. Pacotão de Obama Obama conseguiu, ufa, a aprovação do pacotão da saúde. Todos os americanos terão, doravante, um programa público de saúde. Sob outro olhar : o Estado americano entra mais forte na vida das pessoas. Conclusão : ocorre, sim, grande mudança de paradigma. "Quando eu disse ao coração da laranja que dentro dela dormia um laranjal, ele me olhou estupidamente incrédulo". (Hermógenes) Revisão da agenda tributária Os constantes problemas operacionais no sistema da Receita Federal levaram o Sescon de São Paulo a solicitar ao órgão a revisão da agenda tributária, a redução das multas aplicadas e a melhor equalização dos prazos. A multa por obrigação que não for entregue no prazo é de R$ 5 mil. "Os atrasos são motivados principalmente por problemas com o sistema da Receita, que muitas vezes se apresenta instável, inoperante ou fora do ar. Devido ao volume de acessos, o site não suporta a demanda e o contribuinte é quem paga pela falha, pois o governo não prorroga prazos e tampouco o isenta das multas", diz José Chapina Alcazar, presidente do Sindicato das Empresas de Serviços Contábeis e de Assessoramento no Estado de São Paulo. Conselho aos tucanos Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos pré-candidatos aos governos dos Estados. Hoje, volta sua atenção aos tucanos: 1. Arrumem, logo, logo, um discurso denso para que Serra tenha o que dizer nas próximas semanas, quando deverá iniciar o longo percurso. 2. Procurem evitar platitudes, generalidades e abstrações. Sob a indagação central: qual o programa para o país? Como e onde avançar? 3. Procurem mobilizar a sociedade organizada na busca dos focos de ação e atuação. Muito cuidado com as ideias de gaveta. ____________
quarta-feira, 17 de março de 2010

Porandubas nº 225

Bom dia Cosme de Farias foi um grande advogado dos pobres da Bahia. Enveredou também pela política. Vereador e deputado estadual por muito tempo. Vejam a historinha. Um ladrão entrou na Igreja do Senhor do Bonfim e roubou as esmolas. Cosme de Farias foi para o júri : - Senhores jurados, não houve crime. Houve foi um milagre. Senhor do Bonfim, que não precisa de dinheiro, é que ficou com pena da miséria dele, com mulher e filhos em casa com fome e lhe deu o dinheiro, dizendo assim : - Meu filho, este dinheiro não é meu. Eu não preciso de dinheiro. Este dinheiro foi o povo que trouxe. É do povo com fome. Pode levar o dinheiro. E ele levou. Que crime ele cometeu ? Se houve um criminoso, o criminoso é o Senhor do Bonfim, que distribuiu o dinheiro da Igreja. Então vão buscá-lo agora lá e o ponham aqui no banco dos réus. E ainda tem mais. Senhor do Bonfim é Deus, não é ? Deus pode tudo. Se ele não quisesse que o acusado levasse o dinheiro, tinha impedido. Se não impediu, é porque deixou. Se deixou, não há crime. Cosme de Farias ganhou no verbo. O réu foi absolvido. Campanha antecipada A campanha para a presidência está nas ruas. E na mídia. Dilma leva vantagem. Todos os espaços do PT estão cedidos a ela. Nos spots televisivos e radiofônicos, ela recebe uma fala direta de Lula: ela é a alma e a cara de São Paulo. Exagero lulista de bom e pleonástico tamanho. Mas o TRE tirou a campanha do ar. Serra também faz campanha. Começa a sair da letargia. Corre o interior de São Paulo. Inaugura obras, faz discursos curtos. Mas não se pode dizer que apenas Dilma e Lula fazem campanha. Todos fazem.Tendência das pesquisas E se Dilma vence, por enquanto, a parada publicitária, é lógico que a tendência das pesquisas é a de mostrar seu crescimento. Nesta semana, possivelmente hoje, o Ibope mostrará queda de Serra. Na última pesquisa, registrava 10 pontos de vantagem sobre Dilma. Agora, o patamar é de apenas 5 degraus. Um corte pela metade. A continuar nesse ritmo, a pesquisa eleitoral na segunda quinzena de abril mostrará Dilma na frente. A ministra começa a andar com as próprias pernas. E a freqüentar palanques de todos os tamanhos.Rejeição O interesse maior de Rousseff é entrar em São Paulo. Essa terra é administrada pelos tucanos há um bom tempo. O tucanato fincou estacas profundas no território. Mas não tão rígidas que não podem ser quebradas. Será difícil, mas não impossível. Algumas figuras do PT são muito rejeitadas. Expressam arrogância, antipatia. Marta Suplicy, por exemplo. Mas outras figuras do PT, principalmente na esfera parlamentar, são bem aceitas. Mercadante é um sujeito preparado. Mas não se pode dizer que é um político simpático. Por isso, terá problemas como candidato ao governo.PT, 30% Dos votos paulistas Historicamente, o PT manobra com cerca de 30% dos votos paulistas. Trata-se de um bom índice. Pode ser que, nesta campanha, esta taxa aumente. Este consultor percebe que não há, como no passado, a montanha de restrições contra o partido. Parcela do empresariado passa a adotar o figurino petista, na esteira do pragmatismo que caracteriza, por exemplo, o lulismo. Outra parcela é visceralmente contrária. E toma a parte pelo todo. Ou seja, se há algumas figuras deletérias - e há mesmo - estas passam para a sigla a rejeição.A moldura paulista Em São Paulo, a parada será dura. Difícil para Geraldo Alckmin, tucano que se prepara para a corrida ao Palácio dos Bandeirantes. Alckmin é muito bom no início da corrida, mas tem histórico de ser atropelado no fim. Mercadante, se for o candidato, expressa discurso denso e forte. Pode passar ideia de sujeito duro. Deverá atacar o tucanato. Alckmin, pela maneira educada no trato, terá dificuldades em administrar a contundência do petismo.Ademais Ademais, os candidatos ao Senado, pela situação, não devem agregar votos novos. Orestes Quércia será um dos candidatos. É a cara do passado. Aloysio Nunes Ferreira é um perfil mais moderno. Mas Aloysio se encolheu nas entranhas do Palácio dos Bandeirantes. Zé Aníbal, que já foi candidato a senador e quase chegava lá, poderia até ter mais votos. E Paulo Renato, o secretário da Educação ? Considerado muito elitista. Ora, nessa moldura, Marta Suplicy, apesar de arrogante, terá chances. Ou Gabriel Chalita, com sua cara de bom moço. Ou seja, faltam grandes nomes para os cargos ao Senado.Dilma no Jockey Marta levou Dilma ao Jockey Clube. Para ver corrida de cavalo. Maneira de inserir a candidata nos palanques elegantes da cidade. Ganhou discurso e discursou. Paparicada. Mas ela terá dificuldades em encontrar uma expressão direta, emotiva, do gosto das massas. No Sudeste, principalmente. São Paulo será o Calcanhar-de-Aquiles de Rousseff.E em Minas ? Mas em Minas, é bem capaz de Dilma surpreender. Os mineiros ainda não aceitaram a ideia de ver Aécio passado para trás. Vão lhe dar o mandato de senador. E Aécio poderá, até botar Anastasia no seu lugar. A surpresa ? Uma coisa chamada Dilmasia, que se começa a ouvir. Mistura de Dilma com Anastasia. Serra, Serra, cuidado com Minas Gerais. Lá há 14 milhões de votos. Suficientes para decidir uma parada federal. "Chama-se esperança o apetite ligado à crença de conseguir. Chama-se confiança em si mesmo a esperança constante." (Thomas Hobbes) Serra e Dilma na Paraíba Este consultor recebeu, esta semana, uma pesquisa feita na Paraíba por um Instituto do RN, Consult. Estado da Paraíba inteiro : José Serra : 36,45%. Dilma Rousseff: 35,25%. Ciro Gomes : 7,45%. Marina Silva : 3,55%. Nenhum : 6,05%. Pesquisa registrada no TSE - 4713/2010. Dois mil eleitores ouvidos de 25 a 28 de fevereiro de 2010. Margem de erro : 2,1 pontos.João Pessoa: DR : 32,2%, JS : 30,5%. Grande João Pessoa : DR : 34,6%, JS : 32,7%. Zona da Mata : DR : 38,5% e JS : 29,2%. Campina Grande : JS : 44,3% e DR : 25,15%. Ou seja, Campina Grande tira a diferença. Agreste : JS: 37,7% e DR : 35,5%. Serra da Borborema : JS : 42% e DR : 37,2%. Sertão : DR : 39,7% e JS : 38,2%.Skaf vai mesmo Pelo jeito, Paulo Skaf sairá mesmo candidato ao governo de São Paulo. Razões para se apostar na possibilidade : Ciro Gomes queimou as pontes que ligavam sua vereda à estrada do PT. Bateu forte no PT nos últimos dias. E ainda se deu ao prazer de liberar a sigla para procurar um nome. Mercadante surge nesse vácuo. Sem querer ser candidato em São Paulo, por considerar sua candidatura muito artificial, Ciro abre a alternativa Skaf. E continuará a martelar na ideia de ser candidato à presidência da República. Mas é bem provável que Lula o vete. Moral da história : Ciro está entre a cruz e a caldeirinha. Na linha de frente O governador Serra inaugura oficialmente nesta sexta, 19, em Hortolândia (SP), a fábrica da CAF Brasil, subsidiária de uma das maiores empresas de transporte de massa sobre trilhos do mundo. A indústria, que custou R$ 200 milhões em recursos próprios, já está operando com cerca de 1.000 funcionários e tem contratos para fabricar mais de 100 trens do metrô e da CPTM. Tasso e Aécio Tasso Jereissatti dá mostras de que não gosta mesmo de José Serra. Não apenas rejeita a possibilidade de ser vice de Serra como teria dito, à boca pequena, que o governador paulista não é confiável. Tasso tem esperança de que, na última hora, Serra desista em favor de Aécio. Este consultor tem dito e repetido : o avião serrano decolou. Se o piloto quiser abortar o voo, a aeronave bate na imensa serra. Desastre.Cadê o vice ? Cadê o vice ? Onde está o vice de Serra ? Beto Richa (PR) anda dizendo que não topa. Quer ser governador tucano do Paraná. Sérgio Guerra (PE) não tem perfil adequado. Tasso (CE) não topa. Sobra ele, Marco Maciel, do DEM (PE). Tem perfil, postura e pode aceitar.Hélio, o candidato A decisão já está tomada. Lula vai apoiar Hélio Costa para o governo de Minas. Fernando Pimentel e Patrus Ananias que se conformem. Um deles poderá ser candidato ao Senado e outro poderá compor a chapa de Hélio Costa como vice. Zé Alencar será candidato e eleito ao Senado.Imbróglio gaúcho Quem não quer arredar o pé da estrada da reeleição é Yeda Crusius. Ela tem imagem corroída por grave crise. E José Fogaça, prefeito de Porto Alegre, é o candidato do PMDB ao governo. Serra e Sérgio Guerra tentam demover a governadora. E apoiar Fogaça. Maneira de trazer o apoio do PMDB gaúcho ao governador paulista. "Chama-se benevolência, boa vontade, caridade o desejo do bem dos outros. Chama-se bondade natural se for do bem do homem em geral." (Thomas Hobbes) Cochicho O alto empresariado do país acha que não há mais perigo de retrocesso. Ouvi, porém, um cochicho de um grande empresário: há uma turminha perto de Lula que tem vontade de dormir na cama de Stalin. Teme ele que esse grupo possa influenciar Dilma. Se ela ganhar o páreo.Um choro lobista Sérgio Cabral (RJ) botou pra quebrar, aliás, se derramou a chorar. Choro com cara de lobby. O Rio de Janeiro não tem condições de fazer a Olimpíada - nem a Copa - se a grana do petróleo deixar de irrigar o Estado. Foi o que disse. Lula veio em socorro do governador. Sarney prometeu uma solução no Senado. Resultado: tudo ficará como dantes no quartel d'Abrantes.O bom Gabeira Fernando Gabeira tem boas chances no Rio. Pode encarnar a ideia de um novo tempo. PTB E PMDB juntos ? É bem possível que PTB e PSDB caminhem juntos na estrada rumo ao Planalto. A costura tem sido feita com linha grossa. No plano federal. "Chama-se paixão do amor o amor por um só pessoa, junto ao desejo de ser amado com exclusividade. Chama-se ciúme o amor junto com o receio de que esse amor não seja recíproco." (Thomas Hobbes) Michel e Vacarezza O PMDB e o PT ficarão juntos na aliança em torno de Dilma. Haverá, porém, alguns rachas. Mas dois perfis que respiram equilíbrio e harmonia poderão desarmar os mais exaltados: Michel Temer e Cândido Vaccarezza.PDT E PSDB No Maranhão Já no Maranhão, os tucanos vão apoiar Jackson Lago para o governo. Ele foi cassado pela Justiça. Agora, volta a se candidatar. E o PT terá de apoiar Roseana Sarney. São os descaminhos da política.Funaro abre o bico Lúcio Funaro, corretor do mercado financeiro, abre o bico para os ouvidos dos juízes e deixa na berlinda pessoas como Marcelo Sereno, Zé Dirceu, João Vaccari, Valdemar Costa Neto e até o prefeito e ex-deputado Lindenberg Farias. As denúncias frequentarão os palanques da campanha. Pano de fundo : PT usando fundos de estatais. Fogueiras altas.Mais uma historinha para fechar a Coluna. Dois vereadores da Arena de Parnaíba, Piauí. Um, da Arena de Petrônio Portela, o outro da Arena de Alberto Silva. Inimigos políticos. Um, dentista, pôs os dentes na boca do outro. Na primeira sessão, os dois brigaram : - V.Ex.ª é um desonesto.- Desonesto é você, filho de uma...Devolva meu dente. Pois fui eu que pus.- Eu paguei, seu sacana..- E daí que pagou ? Falar mal de mim, até pode. Com meu dente, não. Partiu pra cima. E arrancou os dentes. Sem anestesia. Conselho aos pré-candidatos aos governos Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado ao governador José Serra. Hoje, volta sua atenção aos pré-candidatos aos governos dos Estados : 1. Respirem o cheiro do tempo em seus Estados. Procurem vitaminar as cacholas. 2. Comecem a organizar um discurso arejado, crível, moderno, condizente com as realidades espaciais do Estado e as expectativas das classes sociais.3. Lembrem-se que o chamado marketing não se restringe aos programas eleitorais na mídia jornalística. Envolve cinco eixos: pesquisas, propostas (discurso), comunicação (formas múltiplas), articulação (com a sociedade organizada e meios políticos) e mobilização das massas. ____________
quarta-feira, 3 de março de 2010

Porandubas nº 224

Historinha da Paraíba Aloísio Campos foi candidato a senador três vezes e três vezes foi derrotado por Ruy Carneiro. Em 66, o governador João Agripino encarregou Ivan Machado e Osvaldo Trigueiro do Vale de coordenarem a campanha de Aloísio na capital. Já no fim, planejaram uma grande concentração popular no bairro da Torre, onde o candidato faria o pronunciamento final. Ivan e Osvaldo desdobraram-se. No dia, nove da noite, João Agripino e Aloísio dirigiram-se para o bairro da Torre. Uma decepção. Palanque, luzes, escola de samba, tudo lá, mas povo quase nenhum. Aloísio mandou chamar Osvaldo : - Tudo bem, Osvaldo ? - Tudo bem, senador. Tudo arrumado, como o senhor mandou. - Mas, e o povo, Osvaldo ? - Ora, doutor, eu consegui escola de samba, armei o palanque, fiz iluminação, preparei a lista de oradores. Agora, se ainda tivesse de trazer o povo, o candidato era eu. Não houve comício. Nem voto para Aloísio. Historinha contada por Sebastião Nery. Dilma decolou Quem acompanha esta coluna não teve surpresas. Dilma Rousseff decolou nas pesquisas. Alcançou 28% no Datafolha, que é um instituto de grande credibilidade. Encostou em Serra. Claro, ela faz campanha há mais de um ano. Serra, até hoje, mostra-se indefinido. Apesar de sabermos que o governador de SP já não tem condições de abortar seu avião, que já decolou. Serra caiu 5 pontos. E pode-se esperar mais ainda : na próxima pesquisa, Dilma estará colada em Serra, se não já ultrapassando a marca dos 35%. Eixos de Dilma Previ essa situação há um bom tempo. E cheguei até a escrever, no domingo passado, sobre as potencialidades da ministra chefe da Casa Civil. Meu artigo no Estadão levantava as quatro abordagens que formam a identidade de Dilma : a técnica, a política, a feminina e a histórica. A identidade técnica canibaliza a identidade política. Por isso, se ela ganhar a eleição precisará de um forte articulador político, tipo Michel Temer, por exemplo. Mas a identidade técnica será vantajosa no que diz respeito ao comando da máquina. Impõe autoridade. Ou seja, não admitirá monitoramento/patrulhamento do PT. "A melhor maneira de fazer entrar um cidadão na ordem - é fazê-lo entrar no cemitério." (Eça de Queirós) Mulher e guerrilheira O fato de ser mulher não atrapalhará. As mulheres conquistaram a simpatia dos eleitores. Há mulheres na política por toda a parte. Empresárias, prefeitas, vereadoras, deputadas estaduais e federais e senadoras. Há mulheres presidentes, inclusive aqui pertinho. Michelle Bachelet, que deixa agora a presidência do Chile, e Cristina Kirchner, na Argentina. Dilma, aliás, tem um perfil de gerentona, mandona, exprimindo até certa arrogância. Por isso, o eixo histórico ainda é lembrado. Fosse mais suave, a história da guerrilheira seria apenas mera curiosidade. De qualquer maneira, não afetará sua campanha. Lula, o grande eleitor O fato é que Dilma já é tão conhecida quanto Serra. E, na pesquisa espontânea, atinge um índice maior do que o do governador paulista. Isso é importante. Outro índice que deve estar causando perplexidade é o da rejeição. Serra aumentou em 5 pontos percentuais a rejeição. Chegou aos 26%. Dilma tem rejeição menor. Olhem para esse dado. Pode ser o calcanhar de Aquiles do candidato. O que de fato aconteceu ? Campanha maciça Ora, Dilma corre o país com Lula subindo em palanques, abraçando o povo, inaugurando obras. Serra encastela-se no Palácio dos Bandeirantes. Vai, vez ou outra, a um Estado. Mas é paft-puft. Passa pouco tempo. Não esquenta os climas ambientais. Serra se acha o máximo. É o dono da perfeição. Só ouve o que sua boca fala. Deve, agora, ter tomado um grande susto. As más línguas dizem que vai anunciar a candidatura dia 1º de abril. Dia da Mentira. Dilma, enquanto isso, continuará navegando pelas ondas dos pacotes assistencialistas de Lula. ______________ Seu Lunga, apertando o botão do elevador, passa um mané. - Seu Lunga, esperando o elevador ? E ele : - Não... tô esperando que o apartamento desça. ______________ Lógica ganha campanha ? A lógica dá vitória no pleito de outubro a Dilma Rousseff. Os mais de 20 programas que Lula implantou para "comprar" - cooptar - as bases da pirâmide, o meio e o topo, não podem ser desprezados. O Bolsa Família agarra 46 milhões de brasileiros. Outros milhões estão cobertos pelos Programas Luz Para Todos; Minha Casa, Minha Vida; assistência aos pequenos agricultores; isenções fiscais para carros, geladeiras e fogões (a festa da cozinha dos pobres); auxílio estudante; cotas e, agora, a campanha do Pré-Sal, que eleva a auto-estima com essa ideia de potência petrolífera. Essa é a lógica que poderá dar a Dilma uma grande vitória. "Uma onça de paz vale mais que uma libra de vitória." (Machado de Assis) Bolso e estômago Tenho dito e repetido. Quem ganha uma campanha é o eleitor influenciado pelo estômago. E o estômago é alimentado pelo bolso. Quanto mais grana no bolso, mais barriga cheia. Pois eu acho que as barrigas dos brasileiros estão cheias. Não vejo calamidade social. Comércio cheio, shoppings centers estourando de gente, supermercados bombando, economia inflada. Ora, essa moldura social e econômica favorece a candidata governista. O que Serra poderá fazer para desconstruir esse tecido ? Se ficar o bicho pega Se Serra disser que as coisas estão indo mal, perderá. O eleitor sabe que não é bem assim. Por isso, o discurso sobre as ruindades deve ser seletivo. Escolher alvos. Por exemplo, em matéria de saúde pública, o governo Lula vai mal. Em matéria de segurança social, o país não vai bem. A criminalidade assola. Em matéria de educação, apesar do grande esforço do ministro Fernando Haddad, as coisas caminham de maneira capenga. Se o governador paulista se concentrar em alguns focos, acertará. Mas a comparação entre a era Lula e o ciclo FHC dará vantagem ao primeiro. Por isso, o bicho vai pegar para Serra. ______________ Um velho amigo de Seu Lunga, depois de muito tempo, o encontra e logo faz aquela alegria : - Luuungaaa ! Quanto tempo... ! Por onde você tem andado ? Responde ele com sua delicadeza : - Pelo chão ! Num aprendi a voar ainda ! ______________ E se correr o bicho come Se José da Mooca, aliás Serra, disser que não vai mudar mas vai melhorar, precisará de criatividade para se expressar. Como fazer isso ? Melhorar é um verbo muito abstrato. Genérico. Genérico que funciona é remédio, o qual, aliás, nasceu na gestão Serra no Ministério da Saúde. O governador paulista é considerado, ainda, uma pessoa arredia aos interesses de outras regiões. A cara dele é a projeção de SP, razão pela qual carece de um banho nas periferias do país. Ciro vai ou vem ? Já não tenho paciência para interpretar os movimentos de Ciro Gomes. Uma hora, o pindacearense diz que vai. Desfralda sua candidatura ao Palácio do Planalto. Outra hora, premido pelas circunstâncias, e agora acuado pela pesquisa que mostra a autosuficiência de Dilma, Ciro sinaliza que pode vir. Desfralda, então, a bandeira da candidatura ao governo de SP. Será uma campanha contundente. Pegará pesado contra o candidato tucano, possivelmente Geraldo Alckmin. Mas fará o jogo de Lula, que é o de abrir palanque forte para Dilma em SP. Aécio, vice ? Não apostem Aécio Neves está comemorando os 100 anos do avô Tancredo. MG embandeirada. Em festa. Sorriso de Juscelino. Cara de Tancredo pelas ruas. Aécio surge como chefe, herdeiro do espólio político. Sob essa moldura, não dá para apostar em Aécio na segundona. Como vice. Neves fora da chapa de Serra. Aécio dentro do pleito para o Senado. Quer eleger Anastasia governador. Será possível. Eleito senador, elege-se presidente do Senado, ganha status. E será candidato na próxima eleição. Em um cenário ainda dominado pelas bandeiras vermelhas do PT. "O abdômen é a expressão mais positiva da gravidade humana." (Machado de Assis) PMDB indicará vice ? Tudo indica que o PMDB indicará o vice na chapa de Dilma. É claro que algumas alas petistas temem a aliança com um PMDB forte. Lula, até, pode não desejar que Michel Temer seja o vice de Dilma. Receia que o presidente do PMDB e da Câmara, passando a morar no Palácio do Jaburu, passe a ser um vice-presidente de peso. Recebendo caravanas de políticos. Michel, no entanto, por seu perfil cordato, não cometeria o deslize de fazer um governo paralelo como temem alguns petistas. Há de considerar, ainda, que se Dilma ganhar vai precisar do apoio do PMDB. E se o PMDB não indicar o vice, será que entregará este apoio com tanta facilidade ? Mesmo com ministérios e cargos postos à disposição do partido ? Os vícios do poder "Os vícios do poder são fundamentalmente quatro : atrasos, corrupção, brutalidade e fraqueza. Para evitar atraso dá facilmente acesso, cumpre os prazos fixados, não deixes de concluir o processo que te chegou às mãos, e não mistures negócios senão por necessidade. Para evitar a corrupção, não basta que prendas as tuas mãos e as dos teus servidores para que não tomem o alheio, mas prende também as dos solicitadores para que nada possam oferecer. Procede com integridade para com os primeiros; mas integridade declarada, e com manifesta repulsa pelo suborno quando se tratar dos outros; não evites somente a falta, mas também a suspeita." (Francis Bacon) DEM aos pedaços O DEM está despedaçado. Os quadros que sobrarão de um partido em crise procurarão recompor as bases do edifício DEMolido. Paulo Bornhausen, líder na Câmara; Zé Agripino, líder no senado; Demóstenes Torres, Ronaldo Caiado e mais um grupo de 8 a 10 farão esforço extraordinário para reacender as luzes partidárias. Apagadas pelo Arrudagate. Kassab e as chuvas Kassab é a grande esperança do partido. Para resgatar a imagem, terá de enxotar as chuvas e reabrir canais de simpatia com a sociedade. Ele perambula pelos bairros periféricos. Tem dado grande ajuda aos desvalidos. Chuvas e enchentes batem em SP há mais de dois meses. Continuarão a fustigar a cidade até abril. Este ano, a natureza apresenta sua fatura. Serra também sofre as consequências do clima. A capital fica enervada. Congestionamentos. Nervosismo por todos os lados. Imprecações. Votos contrários. Conselho a José Serra Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos juízes de primeira instância. Hoje, volta sua atenção ao governador José Serra : 1. Diga logo, logo, que será o candidato do PSDB. Apresse esse anúncio. 2. Mesmo antes da campanha começar, não tenha receio em correr o país para abrir campos de visibilidade, viabilizar acordos e firmar alianças. 3. Junte um repertório de pessoas de alta capacidade técnica em todos os campos de atividade. Convoque-as e peça a elas um programa de alta envergadura para o Brasil. ____________
quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Porandubas nº 223

Recorrente aviso. Nosso personagem continua a costurar esta coluna. Recebo colaborações constantes. Não procuro saber se pertencem aos domínios de Seu Lunga. Para quem não sabe, há vídeos sobre o cearense na rede. E historinhas de cordel. ______________ Seu Lunga foi ao Horto do Padim Cíço e uma mulher passou rolando, em queda, perto dele. Um cara perguntou : - Num vai ajudar a mulher não, Seu Lunga ? Com uma santa calma, respondeu : - Eu não, num sei se ela tá pagando promessa ? ______________ Prioridade um Lula não poderia ser mais explícito. Disse em alto e bom som no Congresso do PT que a prioridade máxima, este ano, é eleger Dilma presidente da República. O governante não teve nenhum escrúpulo em mandar a educação, a saúde e a segurança pública às favas, aliás, ao segundo plano. Nunca vi em minha vida inversão tão grande de princípios. A política eleitoral toma a frente de programas sociais. Mas Lula tem o poder de convencer. Fosse outro o mandatário, seria execrado pela opinião pública. Mas por estas bandas, o cara manda. E faz o que lhe apetece. Projeções Tenho conversado com pesquisadores de institutos afamados. Coloco as informações e projeções no liquidificador. Bato bem. Depois de algum tempo, aparece o conteúdo informativo mesclado. Com uma cor levemente encarnada. Não é possível. Eu imaginei que a cor predominante continuaria a ser azul tucano, com leves pitadas de amarelo. Resumo da ópera : dentro de 40 dias, me dizem, Dilma estará liderando as pesquisas de opinião pública. Ainda estou em dúvida. Mas, pela lógica - essa lógica de pacotes lulistas envolvendo todas as classes sociais - o encarnado suplanta o azul. Quem for contra essa análise, por favor não xingue o consultor. Não tenho nada com isso. ______________ Zé Mané : - Seu Lunga tá pescando ? Seu Lunga : - Não... dando banho na minhoca ! ______________ Serra nos bastidores José Serra é noctívago e twitteiro. Vai dormir lá pelas três da madrugada, depois de umas 20 mensagens. Coisas leves e passageiras. Nada que demonstre frieza, tecnicismo ou maquiavelismo. Quase nada de política. Deixa ver nas entrelinhas que está quase decidido. Mas essa pista é dada mais pelas incursões que procura fazer junto aos partidos. Ligou, por exemplo, para o líder do PMDB, deputado Henrique Alves, convidando-o a um café no Palácio dos Bandeirantes. Henrique foi lá. Tomou o café. Serra lhe disse, na maior cara de pau, que queria o PMDB junto dele. Sabendo, claro, que o partido está praticamente atrelado à candidatura de Dilma. Serra é ingênuo, maquiavélico ou simplesmente jogou verde para colher maduro ? Marina foi ao ponto Marina Silva, essa, sim, ecológica da cabeça aos pés, disse com toda a sinceridade de sua alma amazônica : todos, agora, estão fazendo pré-campanha, após o Carnaval. Ou seja, até ela. Lula foi explícito no congresso do PT. Dilma foi escolhida como candidata e, até, apresentou um programa de governo. Falou como candidata. Mas é proibido fazer campanha aberta como a que estamos vendo. E o TSE ? Está nas nuvens. Entretido com questões mais sérias que campanha. Cassação pra inglês ver Esse juiz de primeira instância, que cassou Kassab e depois acolheu o recurso do prefeito, deveria, antes, ter examinado o contencioso que trata das doações. Lula foi absolvido pelo TSE, depois de ter sido contemplado com o mesmo tipo de denúncias. As contas de Kassab foram aprovadas pelo TRE. O MP e os juízes de primeira instância precisam aprofundar as questões e afinar a linguagem. Segunda instância O projeto sobre os "fichas limpas" será colocado na pauta da Câmara. O presidente da Casa, Michel Temer, pedirá, antes, um estudo técnico para servir de subsídios para aprimorar o projeto em tela. Michel aceita a ideia de proibir candidaturas de nomes que passem por duas 2 instâncias, não apenas de juízes de primeira instância. Bom senso. Afinal de contas, há casos que denotam as batalhas locais, muitas delas envolvendo a participação de quadros da justiça. Por isso, quem é denunciado na primeira instância, para ser proibido de se candidatar, deverá ser julgado também na segunda instância. Beto racha O título é esse mesmo. Beto Richa, o prefeito de Curitiba, racha o tucanato no PR. O PSDB, em sua última reunião, praticamente fechou posição em torno dele. Será o candidato do partido ao governo. Mas o senador Álvaro Dias, que exibe pesquisas liderando a corrida, não se conforma. Se a situação for mesmo a indicação de Beto, Álvaro garante que subirá o palanque do irmão, senador Osmar Dias, que será candidato ao governo pelo PDT. A cunha de Álvaro é mais um xeque no tabuleiro de José Serra. Êta, partido complicado, esse dos tucanos do bico grande. O emprego segundo Vaccarezza O líder do governo na Câmara dos Deputados, Cândido Vaccarezza, garante que o governo abrirá, este ano, entre 1,8 milhão a 2 milhões de empregos. Um recorde. O deputado paulista, um dos melhores quadros do PT, foi guindado à liderança do governo na Câmara por ação direta do presidente Lula. Que admira seu estilo conciliador e agregador. Crise do DEM O DEM atravessa grave crise. O affaire em torno do governador Arruda destroça o partido. Paulo Octávio saiu do partido. Se não renunciasse, seria renunciado. E deixa o governo do DF. O jovem líder do DEM, o deputado Paulo Bornhausen, faz enorme esforço para depurar a sigla de impurezas. Ronaldo Caiado e Demóstenes Torres também estão nessa linha de expurgo. O senador Zé Agripino resgata o conceito "atitude digna". Pode ser que o partido saia da crise melhor que antes. Na esteira do ditado oriental : crise é a porta de grandes oportunidades. ______________ O cara vai até a loja do Seu Lunga e pergunta : - Seu Lunga tem carrinho de mão ? - Num tá vendo que tem ?! - Responde ele. - Quanto é ? - Pergunta o cliente. - R$ 90,00. O cliente querendo comprar o carro mais barato argumenta : - Seu Lunga homi, ali na loja do lado é R$ 60,00, mas tá faltando o carrinho... Seu Lunga responde : - Pois quando aqui estiver faltando eu lhe vendo de graça. ______________ Medo do PT ? O momento é propício para a conversa. Ouvi, nos últimos dias, presidentes e executivos de grandes empresas. Sondagem sobre o momento político institucional. Há um grande receio de que o velho PT renasça das cinzas. O programa do partido apresentado no Congresso do sábado passado deixou muitos inquietos. O receio é de que Dilma não dobre o PT. Faço a contra-argumentação : o lulismo é maior que o petismo. Lula não deixará que os petistas imponham o discurso. Um alto dirigente me lembra o ditado mineiro : "Um presidente sem mandato é peça de museu. Só serve para ser olhado." (Na verdade, o ditado é outro, mas tive de fazer uma adaptação para ganhar condição de publicação). Afif como vice ? Guilherme Afif, o Secretário de Trabalho de José Serra, olha com firmeza para a chapa a ser encabeçada por Geraldo Alckmin, provável candidato dos tucanos ao governo de SP. Quer ser governador. Afif teria garantida uma vaga ao Senado não fosse o compromisso do PSDB de abrir espaço a Orestes Quércia, por conta da aliança entre os tucanos e o PMDB em SP. SESCON, 61 anos José Maria Chapina Alcazar recebe cerca de mil convidados, nesta sexta-feira, em jantar no Monte Líbano, quando as Diretorias do SESCON/SP - AESCON/SP tomarão posse para a gestão no triênio 2010/2011/2012. Aníbal no Senado ? José Aníbal é um dos mais cotados para entrar na chapa tucana ao Senado. Já passou pelo teste de votação para a Câmara Alta e quase lá chegou, alcançando 5 milhões de votos. Paulo Renato, secretário da Educação do governo Serra, quer também o lugar. PSB vai de Ciro ? É evidente que o PSB, comandado pelo bom governador Eduardo Campos, feche posição em torno de Ciro como candidato à presidência. Seria essa a alternativa lógica. Mas a realidade suplanta os altos interesses da cúpula. O PSB faz aliança com o PSDB em alguns Estados. Sabendo isso, Serra convoca quadros do partido para conversas pelas noites a dentro no Palácio dos Bandeirantes. E os socialistas têm comparecido. ______________ Seu Lunga encontra um conhecido e diz que está indo ao enterro do Chico pedreiro. O conhecido, muito espantado, cai na besteira de perguntar : - Mas, o Chico pedreiro morreu ? Seu Lunga responde ironicamente : - Não... a família resolveu enterrar ele vivo. ______________ 6 milhões em SP Já que Serra aparece mais uma vez por aqui, eis sua projeção : espera ter em SP mais de 6 milhões de votos. Para enfrentar a avalanche de Dilma/Lula no nordeste. ______________ Seu Lunga pega a bicicleta e passa um chato. O chato : - Seu Lunga vai andar de bicicleta ? - Não... vou levar ela pra passear. E sai empurrando a bicicleta. ______________ Coroa enxuta Marchinha entoada no Congresso do PT : "Depois d'o cara vem a coroa. O povo quer é gente boa. Deixa o Lulinha sair, deixa a Dilminha entrar". A candidata, aliás, emendou : "Sou uma coroa enxuta". Mais um Tribunal Um escândalo. É assim que pode se entender a tentativa de criação de mais um Tribunal de Contas no RJ. Desta feita, uma Côrte para analisar as contas dos municípios. A PEC deverá ser rejeitada na Assembleia. Por conta da pressão da opinião pública. Gestão conservadora Opinião de Armínio Fraga, ex-presidente do BC : o Brasil enfrentou a crise porque adotou uma gestão conservadora que ajudou a tirar o país da recessão em dois trimestres. Mas acusou os baixos investimentos em educação e infraestrutura, além do alto custo do capital. Trata-se de um perfeito retrato em 3 x 4. Obama vem aí Obama vem aí. Queriam que viesse no segundo semestre para turbinar a campanha de Dilma. Mas a visita daria muito na vista. Agora, querem acertar com Hillary Clinton, que estará por aqui na próxima semana. Lula não dá nó em ponta de faca. Imaginem a foto : Obama e Lula nas pontas, Dilma no meio. De vermelho. A conferir. Conselho aos juízes de 1ª instância Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado ao ex-presidente FHC. Hoje, volta sua atenção aos juízes de primeira instância : 1. Procurem ancorar suas decisões na jurisprudência, observando os casos julgados nas Cortes Superiores. 2. Evitem açodamento e precipitação, mesmo que impulsionados pelo brilho passageiro do Estado Espetáculo. 3. Unifiquem as linguagens, os pontos de vista, as abordagens, enfim, o discurso, para evitar máculas sobre o Altar da Justiça. ____________
quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Porandubas nº 222

Encenação Abro a coluna, hoje, com a encenação da Paixão de Cristo numa cidadezinha da Paraíba. O dono do circo, em passagem pela cidade, resolveu encenar a Paixão de Cristo na sexta-feira santa. Elenco escolhido dentre os moradores e no papel de Cristo, o cara mais gato da cidade. Ensaios de vento em popa. Às vésperas do evento, o dono do circo soube que 'Jesus' estava de caso com sua mulher. Furioso, deu-se conta que não podia fazer escândalo sob pena de perder o investimento. Bolou uma maneira. Comunicou ao elenco que iria participar fazendo o papel do 'centurião'. - Como ? - reclamaram - Você não ensaiou ! - Não é preciso ensaiar, porque centurião não fala ! O elenco teve que aceitar. Dono é dono. Chegou o grande dia. Cidade em peso compareceu. No momento mais solene, a plateia chorosa em profundo silêncio. Jesus carregando a cruz ... e o 'centurião' começa a dar-lhe chicotadas. - Oxente, cabra, tá machucando ! Reclamou Jesus, em voz baixa. - É pra dar mais veracidade à cena, devolveu o centurião. E tome mais chicotada. Chicote comendo solto no lombo do infeliz. Até que Jesus enfureceu-se, largou a cruz no chão, puxou uma peixeira e partiu pra cima do centurião : - Vem, desgraçado ! Vem cá que eu vou te ensinar a não bater num indefeso ! O centurião correndo, Jesus com a peixeira correndo atrás, e a plateia em delírio gritando : - É isso aí ! Fura ele, Jesus ! Fura, que aqui é a Paraíba, não é Jerusalém, não ! FHC no ataque Fernando Henrique mordeu a isca. Tudo que os petistas queriam era que um tucano de bico grande entrasse na briga da pré-campanha. Serra, matreiro, tomou distância. Aécio, idem, não quis entrar na briga, dizendo que não era o caso de fazer comparação entre ciclos. Todos deram sua contribuição ao progresso do país. E aí Fernando Henrique assume, por inteiro, a querela : vale a pena, diz ele, entrar na briga. Sem medo do passado. Seu artigo no Estadão do último domingo, ao lado do meu, fez furor. Na sequência, diz que falta liderança à Dilma. Perdas para Serra Ora, essa brigalhada é ruim para José Serra. E a razão é simples : na comparação entre as eras FHC e Lula, os dados favorecem os petistas. Não adianta querer argumentar que o Plano Real, de Itamar/FHC, foi a base que colocou a economia nos eixos. A verdade é que os braços assistencialistas do governo Lula são mais extensos. O Brasil se beneficiou das crises que afetaram o mundo na última década. Os eixos macroeconômicos foram fixados pelo governo tucano e aprofundados no atual governo. Mas o crescimento do país não se deu no ritmo desejado. O Brasil pouco cresceu. Lula propagandista É bem verdade que Lula é um bom propagandista. FHC é mais um schollar, um acadêmico respeitado. E Lula, ao fazer a comunicação direta com as massas, trombeteia todos os dias os feitos do governo. Repete, repete, usa linguagem simbólica, chavões, refrãos e até palavras chulas. Quanto mais ele é criticado, mais apimenta a linguagem. Ganha em matéria de comunicação. E a situação estável do país será intensamente usada como cobertor eleitoral. ______________ Seu Lunga entra num bar e pede uma cerveja e o dono do bar diz : - Seu Lunga faltou energia ! Ele rebate : - Eu vim aqui pra tomar cerveja, não pra tomar choque. ______________ Transferência de voto Pois bem, o colchão econômico em que se deita o país tem sido responsável pela boa performance da ministra Dilma Rousseff. Dilma anda no tapete estendido por Lula. Sua boa intenção de voto - cerca de 30% hoje - deriva não de suas qualidades de gerente ou mãe do PAC mas dos votos transferidos por Luiz Inácio. Não há dúvida que a transferência já começou a ocorrer. Principalmente nas regiões favorecidas pelo Bolsa Família. Serra e Dilma Não concordo com Carlos Montenegro, do Ibope, que garante enfaticamente a derrota da candidata governista. Acho que as coisas estão indefinidas. Se política fosse lógica econômica, Dilma seria a vencedora, considerando-se a teia de programas que o governo Lula estabeleceu para todas as classes sociais. Da base da pirâmide ao topo, contabilizam-se uns 20 programas voltados para benesses e redistribuição de renda. ______________ Após o enterro de sua sogra, Seu Lunga encontra com um amigo que pergunta : - Ooxeee ! E ela morreu ? Seu Lunga : - Não. Enterraram ela viva. ______________ Dilma e Serra Se eleição privilegiasse a questão do perfil, Serra seria o grande vencedor. Exibe perfil muito mais denso que Dilma. Preparado, experiente, conhecedor do país, já foi agraciados com milhões de votos. Dilma nunca recebeu um voto sequer. Mas eleição, hoje, leva em conta outros fatores que não aqueles de antigamente. Fatores da organodemocracia, que é a democracia das organizações intermediárias da sociedade - associações, movimentos, clubes, federações etc. A política afunda-se no vazio. Vazio político Ora, foi o próprio ministro da Justiça, Tarso Genro, que usou o termo vazio. Disse que Dilma foi escolhida por conta do "vazio" do PT após o mensalão. Não havia outro candidato. Lula pinçou Dilma do bolso do colete. Um perfil técnico condizente com a democracia de cunho orgânica deste século XXI. No século XIX, tínhamos uma democracia atomizada. Cada eleitor, um átomo social, a ser conquistado por candidatos distintos com propostas para agradar aos desiguais. Hoje, o átomo cede lugar aos grupos e coletividades, que se tornam homogêneas. Já os candidatos são clones, muito parecidos. ______________ Seu Lunga encontra com um amigo que não via há tempos. - Como é que você tá ? E seu Lunga : - Do jeito que você tá vendo. ______________ As eleições no Brasil Sob essa moldura, as eleições vão ocorrer com partidos pasteurizados, siglas amorfas, eleitores desmotivados, oposições com discurso oco e indefinido, parlamento estiolado, doutrinas em franco declínio. O que sobra é um pano de fundo - economia estável, programas assistencialistas, massas relativamente satisfeitas com o governo. E uma classe C que aglutina 46% de toda a renda nacional, mais que a soma das rendas das classes A e B. Essa classe, que pulou para a área média da pirâmide no ciclo Lula, vai eleger o próximo presidente. A não ser que ... A não ser que os serviços do Estado nas áreas de saúde, segurança e educação sejam tão ruins que acabem amortecendo os feitos do governo Lula. E, como se sabe, segurança continua a ser um caos; a saúde é um desastre e a educação, apesar do esforço desse inteligente ministro Fernando Haddad, continua muita defasada. Alencar em Minas Luiz Inácio quer bancar o nome do vice-presidente da República, Zé Alencar, como candidato das oposições ao governo de MG. Trata-se de uma estratégia maquiavélica e desumana. Alencar, apesar de estar vencendo um câncer, não tem mais saúde para estar na linha de frente da política. Em MG, ele seria a convergência entre petistas e o PMDB. Fernando Pimentel e Patrus Ananias, do PT, cederiam o lugar para ele. Hélio Costa, o senador, que lidera as pesquisas, também aceitaria, até porque teria garantida mais uma volta ao senado. Mas o bom Alencar não tem saúde de ferro, gente. Tenham compaixão. Skaf em São Paulo Do jeito que as coisas andam pelos lados do PSB, é bem possível que Paulo Skaf, o socialista presidente da FIESP, seja o candidato do partido ao governo de SP. Há até versões de que poderia convidar o cantor comunista Netinho de Paula, atual vereador, para vice nessa chapa de esquerda. Imagino os companheiros Skaf, Netinho, Paulinho e Cirinho (Gomes, claro), de mãos dadas, fazendo passeata frente à Federação da Indústria em prol da redução da jornada de 44 para 40 horas. Nesse instante, o slogan ressoará em toda a extensão da Avenida Paulista : "deu a louca no mundo". Dirceu ligeiro Zé Dirceu não morreu. Ao contrário, continua mais vivo que a direção do PT. Viaja para muitos lados. Dizem que no CE teria pedido a Cid, governador irmão de Ciro, que insistisse com este para sair do páreo federal. Se Ciro não sair, o PT teria um candidato ao governo cearense deixando de apoiar Cid. O deputado mandou Zé Dirceu pentear macaco. Privatização das telecomunicações Ontem, no Parlamento, o líder do DEM, deputado Paulo Bornhausen, destacou alguns feitos da era FHC, entre os quais a privatização das telecomunicações, a partir da desestatização da Telebrás e de suas empresas estaduais de telefonia. Trecho : "o Brasil deu um salto, tornando-se um dos países mais desenvolvidos e atraentes do setor em todo o mundo. Mais importante que a inserção do país na era da alta tecnologia, a privatização do setor promoveu o maior programa de inclusão social e de acesso a renda jamais visto no país - maior mesmo que o Bolsa Família : em dezembro de 2009, a ANATEL registrava 173 milhões, 959 mil e 368 acessos do serviço móvel pessoal, o celular, pós e pré-pago". Meirelles, o escriba Michel Temer, reeleito entusiasticamente presidente do PMDB, está tranquilo. Sem açodamento. Não quer colocar pimenta nos pratos que lhe oferecem. Acaba de pedir a Meirelles que escreva as diretrizes econômicas do PMDB, e que serão entregues ao PT, para efeito de formação de uma aliança programática. Michel garantiu a este consultor que o PMDB fará questão de encaminhar o seu escopo ao PT. Sua ideia é a de formar um presidencialismo de coalizão, conceito que mais se aproxima do parlamentarismo. Aníbal no Senado São Paulo abre imenso espaço para o Senado. Se Mercadante topar ser o nome do PT para disputar o governo paulista, as possibilidades se escancaram para o tucanato. José Aníbal é um dos nomes mais qualificados para ocupar este espaço. Candidato no passado ao Senado, obteve cerca de 5 milhões de votos. Trata-se de um perfil bem palatável ao eleitorado. Alckmin quase na arena Não há como afastá-lo da arena. Geraldo Alckmin, com cerca de 50% das intenções de voto, é o mais provável candidato ao governo paulista. Alguns acham que Alckmin é bom de largada e ruim de chegada. Mas não existe campanha igual. Pode ser que, desta feita, ele consiga chegar bem na dianteira. O candidato de José Serra, Aloysio Nunes Ferreira, tem um bom perfil. Quadro preparado, bom articulador, matreiro. Mas continua no esconderijo. É pouco conhecido. E nesta campanha conhecimento é vital. Tempo de campanha eleitoral é insuficiente. Copa do Mundo e Lula Há um fenômeno a ocorrer nos próximos meses que terá algum impacto no clima social : a copa do Mundo. Se o Brasil for campeão, o estado de ânimo se elevará. A alegria será contagiante. Os poros sociais se encherão de oxigênio. Candidatos governistas são mais beneficiados por este clima catártico. A recíproca é verdadeira. Conselho a FHC Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado ao presidente Lula. Hoje, volta sua atenção ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso : 1. Presidente, acautele-se, cuidado para não entrar em briga errada. Fale apenas o necessário. 2. O PT quer encurralar o PSDB ao tentar fazer uma campanha plebiscitária. Procure não engolir o anzol. 3. O importante é estabelecer para o candidato da oposição - Serra ou Aécio - um discurso denso, crível e capaz de sensibilizar as massas. ____________
quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Porandubas nº 221

Seu Lunga E Seu Lunga não quer tirar férias da coluna. Nem que seja por uma semana. Ou será que seus patrocinadores pensam em mantê-lo firme neste espaço ? Muitas historinhas chegam. Como já salientei, não procuro saber se são efetivamente de autoria do nosso sarcástico intérprete da cretinice tupiniquim. E que recebe de algumas pessoas o epíteto de mal educado. Continuarei a prestigiar a figura, nem que chatalhos insistam na ideia de que os "causos" apresentados não saiam da boca do Seu Lunga. ______________ Seu Lunga estava tomando uma sopa num bar de Juazeiro. Um sujeito entra no estabelecimento e pergunta : - Tomando sopa, Seu Lunga ? E Seu Lunga, despejando o prato fundo de sopa sobre a própria cabeça, responde : - Não ! Tô tomando banho ! ______________ Pesquisas prévias Mais uma pesquisa sai dos laboratórios do marketing empresarial. A Confederação Nacional dos Transportes é a patrocinadora desta mais recente bateria, organizada pelo Instituto Sensus. Como se sabe, Dilma encostou em Serra (33,2% x 27,8%), tendo Ciro como candidato. Com Ciro fora da disputa, Serra sobe e Dilma se mantém na posição. Ou seja, os votos de Ciro tendem a migrar em maior quantidade na direção do governador de SP. Esse será o quadro ? Não. Esta é a leitura deste consultor. Vamos às explicações. Polarização Ciro Gomes não sustenta bom índice em uma moldura de polarização. Se for candidato, em disputa mais que polarizada, será comprimido/espremido pela alta visibilidade dos dois contendores Serra e Dilma. Não terá bom espaço na mídia eleitoral, seus palanques não passariam de 7 nos Estados, enquanto Dilma teria 35 palanques e Serra 25. Nenhum candidato resiste a uma bateria de comunicação intensa. Seria afogado pela maré comunicativa dos dois maiores candidatos. Tem razão Luiz Inácio quando aconselha Ciro a se retirar do páreo federal para brigar no páreo paulista. ______________ Seu Lunga foi à feira e comprou uma galinha caipira. Chegando a casa ele deu pra mulher. E ela pergunta : - Lunga, é pra matar ? Lunga responde : - Não, dê uma surra e solte. ______________ Páreo paulista Mas é claro que Ciro Gomes não tem potencial para ganhar uma campanha em SP. O que Lula pretende é abrir um palanque contundente dentro do maior colégio eleitoral do país. SP tem 30 milhões de eleitores. Ciro poderia ser a cabeça de ponte na estratégia de estender o campo de lutas de Dilma. Com seu estilo bombástico, se prestaria a ser o aríete contra Serra, no território principal deste. Dilma poderia aproveitar esse tiroteio acirrado para aparecer ao lado de Lula. E o PT seria orientado a descarregar seus 30% de votos, históricos, em Ciro. O problema : Ciro não quer. Pretende, isso sim, disputar o pleito majoritário federal. Três maiores palanques Nos três maiores colégios eleitorais, a divisão será esta : em SP, o palanque tucano será bem maior que o palanque de Ciro ou um candidato pelo PT (30 milhões de eleitores); Geraldo Alckmin tem melhores condições de liderar o palanque paulista. Em MG, o segundo maior colégio (mais de 13 milhões de votos), o palanque de Serra será aberto por Aécio; já o palanque de Dilma terá Hélio Costa, Fernando Pimentel ou Patrus Ananias, além do vice Zé Alencar. No RJ, Sérgio Cabral e Anthony Garotinho abrirão um grande palanque para Dilma. A perspectiva de Serra é com o palanque de Fernando Gabeira, mas este estará comprometido com Marina Silva. No segundo turno, Serra poderá deslanchar. ______________ Seu Lunga foi a um restaurante pra tomar uma sopa. Ao chegar, o garçom o abordou : - O senhor quer a sopa num prato ou numa tigela ? Como sempre, muito educado, ele respondeu : - Não ! Despeje no chão e traga a sopa com o rodo. ______________ Palanques médios Na BA, Jaques Wagner, o governador, e Geddel Vieira Lima, o ministro, farão dois palanques para Dilma. Paulo Souto, do DEM, recepcionará José Serra. Dilma terá mais força. No PR, Beto Richa ou Álvaro Dias puxarão o cordão de José Serra e Osmar Dias estará no palanque adversário com Dilma. O vice-governador Pessuti, do PMDB, tende a ficar com Dilma. Em PE, Eduardo Campos, o governador, muito bem avaliado puxará o carro de Dilma. A única opção de Serra é a candidatura do senador Jarbas Vasconcelos ao governo. Poderia ter um bom palanque neste caso. Até onde Dilma chegará ? Dilma Rousseff (ou Dilma do Chefe, como está sendo chamada no nordeste) poderá chegar aos 35%. Esse é o patamar histórico do PT. Margens maiores dependerão das circunstâncias eleitorais : ambiente econômico, satisfação social, harmonia e segurança social. Lula já passou razoável pacote de votos para Dilma. Não se pense que ela conquistou esses índices que aparecem em pesquisa por força pessoal ou capacidade de influenciar as massas. Dilma não gera empatia. Por isso, Lula é o transferidor de votos. Mas há um limite nesse processo. Pílulas do Enem Retrato em 3x4 do nosso alunado nas bancas do Enem : - "O pobrema da amazônia tem uma percussão mundial. Várias Ongs já se estalaram na floresta." - "A amazônia é explorada de forma piedosa." - "Vamos nos unir juntos de mãos dadas para salvar planeta." - "A floresta tá ali paradinha no lugar dela e vem o homem e créu." - "Tem que destruir os destruidores por que o destruimento salva a floresta." - "O grande excesso de desmatamento exagerado é a causa da devastação." - "Espero que o desmatamento seja instinto." - "A floresta está cheia de animais já extintos. Tem que parar de desmatar para que os animais que estão extintos possam se reproduzirem e aumentarem seu número respirando um ar mais limpo." Reinventar o mundo Lula não foi a Davos por conta do stress que fez subir sua pressão. Aliás, a altitude tem impregnado a alma de Lula. No discurso que mandou para o Fórum Mundial, lido por Celso Amorim, disse que o Brasil fez tudo certo e que o mundo faz tudo errado. Por isso, urge reinventar o mundo. Deus está mandando três anjos para a terra. Missão : perguntar se Luiz Inácio toparia substituir Deus, apenas por 7 dias, tempo suficiente para o Reinventor do Mundo realizar a tarefa. ______________ Seu Lunga estava deitado no sofá quando alguém faz a pergunta : - Tá dormindo Seu Lunga ? - Não ! Tô treinando pra morrer. ______________ Despedidas Aliás, o Reinventor do Mundo despediu-se, ontem, do Congresso, por ocasião da instalação do ano judiciário. Lembrou, em tom de saudades, os sete anos de relacionamento entre Executivo e Legislativo. E mostrou a força do Brasil, respondendo de forma rápida à crise mundial. Ressaltou que o país continuou gerando empregos e fortalecendo a infraestrutura. Que, como o sabemos, é precária, a partir do sistema de transportes. E a geração de empregos continua engessada pela visão ortodoxa das Centrais Sindicais. Que dão o tom no Ministério do Trabalho e Emprego. Sistema instável "O sistema financeiro mundial que emergiu do processo de globalização dos mercados financeiros era fundamentalmente instável, porque foi construído sobre a falsa premissa de que é possível permitir que os mercados financeiros patrulhem a si mesmos. Foi essa a causa do colapso, e é por isso que não poderemos remontá-lo na forma que tinha." (George Soros) Sindicalismo em queda O sindicalismo no Brasil entrou em processo de declínio no ciclo Lula. Quem faz a constatação é o próprio Instituto Sensus, esse que deu a pesquisa sobre o crescimento de Dilma. Em novembro de 2000, das pessoas entrevistadas, 5,7% eram sindicalizadas; hoje, esse índice é de 5,3%. Por que murcha ? Porque as Centrais Sindicais nadam em grana. Porque o sindicalismo virou pompa, fausto, divertimento e zorra total. Os lobos de antigamente viraram cordeirinhos a comer grana nas cercanias do Planalto Central. ______________ Estava Seu Lunga, como de hábito, lavando a calçada com a mangueira quando passou uma vizinha e fez a infeliz pergunta : - Ô Seu Lunga tá lavando a calçada ? E ele com toda sua educação : - Não, tô regando pra ver se nasce poste... ______________ Campanha de Dilma A campanha de Dilma começa a tomar forma no aspecto do comando. José Eduardo Dutra, presidente eleito do PT, estará no comando, mas o deputado Palocci dará as cartas como assessor de alto nível. O programa de governo ficará a cargo de Marco Aurélio Garcia, o teórico do PT, e o marketing será tocado por João Santana. Duda Mendonça até que tentou se encostar, mas levou um chega prá lá. Seu nome lembra pólvora. Meirelles funcionará como um consultor em matéria de política econômica. Franklin Martins e Gilberto Carvalho serão orientadores, ombudsman de Dilma. Paulinho do DEM Paulo Bornhausen será o líder do DEM na Câmara neste ano de campanha eleitoral. Paulinho é um grande articulador e tem expressão caprichada. Como o pai, Jorge, mantém contatos estreitos com Serra, Paulinho funcionará como link para juntar equipes e estruturas. O prefeito Kassab tem a ver com essa escolha. ______________ Seu Lunga vai à feira e compra limão. Passa uma mulher na rua e pergunta : - Isso é limão na sua mão, Seu Lunga ? Seu Lunga pega uma faca, parte o limão no meio e responde espremendo o limão nos olhos : - Nããããoooooo, é colírio !!! ______________ Temer, com mais força Michel Temer é o nome de maior prestígio no PMDB. Por seu perfil cordato, Michel consegue ser rara unanimidade no seio do maior partido brasileiro. Não reivindica a vice de Dilma, até porque, na presidência do PMDB e na presidência da Câmara dos Deputados, consegue juntar mais poder e visibilidade que no cargo de vice. Como candidato a deputado federal - e está em campanha - terá boa votação, porquanto reúne ampla base de prefeitos. Só examinará a possibilidade da vice nas próximas semanas. Tende pela não aceitação, apesar das fortes pressões para que aceite o cargo. Inclusive por parte de perfis que pretendem sucedê-lo na presidência da Câmara. Tunga no contribuinte O Fórum Permanente em Defesa do Empreendedor, coordenado pelo empresário José Maria Chapina Alcazar, fará ampla movimentação em Brasília para impedir mais uma tunga no contribuinte. Trata-se do famigerado projeto conhecido como II Pacto da República - Projeto 5.080/09 - que sugere mudanças na Lei de Execuções Fiscais. O projeto tenta criar a figura da execução prévia, ao atribuir à Procuradoria Geral da Fazenda Nacional a atividade jurisdicional, função legítima do Judiciário, dando-lhe a faculdade de constrição prévia de bens, inclusive com penhora on line, ferindo, dessa forma, a norma constitucional e proporcionando um dos mais violentos atentados contra os direitos dos contribuintes em toda a história brasileira. A comunicação posterior por parte do Erário ao Poder Judiciário, que poderá ser embargada não terá efeito suspensivo, numa fantástica fragilização do direito à ampla defesa assegurada pelo inciso LV do artigo 5º da CF/88. Mais um golpe A criatividade do governo na esfera autoritária é inesgotável. A última novidade é a complexa Portaria 1.510/09, do Ministério do Trabalho e Emprego, que cria o Registrador Eletrônico de Ponto e traz novidades sobre os programas e a manutenção dos sistemas eletrônicos de ponto de empresas com mais de dez funcionários. Mais uma vez caberá ao empreendedor brasileiro o ônus do processo. Caso não arque com os expressivos custos para implantação e manutenção do sistema, estará sujeito a astronômicas multas administrativas. Para se ter ideia do grau de exigência da nova determinação, as empresas serão obrigadas a manter equipamento com capacidade de funcionamento de 1.440 horas ininterruptas em casos de ausência de energia. O ponto deverá ter também impressora de uso exclusivo e de excelente qualidade para imprimir material com durabilidade mínima de cinco anos. Conselho aos Presidente Lula Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos deputados distritais. Hoje, volta sua atenção ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva : 1. Ao receber a pesquisa Sensus, vossa Excelência fez uma gozação e vibrou por constatar que Dilma encostou em José Serra. Muito cuidado, presidente. 2. Pesquisa, nesse momento, apenas afere a visibilidade de perfis. E, como se percebe, Dilma está correndo os palanques dos Estados em campanha antecipada. 3. Não comemore antes do tempo, presidente. Dilma deverá crescer ainda mais, podendo chegar aos 35%. E até a ganhar a eleição. Mas o tempo é o senhor da razão. Espere por setembro, mês da grande definição. E então, vibre ou chore. ____________
quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Porandubas nº 220

Desde que o dinheiro venha Vamos abrir a coluna com a matreirice mineira. Benedito Valadares chegou a Curvelo/MG, para visitar a exposição de gado do município. Na hora do discurso, atrapalhou-se : - Quero dizer aos fazendeiros aqui reunidos que já determinei à Caixa Econômica e aos bancos do Estado a concessão de empréstimos agrícolas a prazos curtos e juros longos. Lá do povo, alguém corrigiu : - É o contrário, governador ! Empréstimo a prazo longo e juro curto. - Desde que o dinheiro venha, os pronomes não têm importância. Seu Lunga e os chatos E seu Lunga, hein ? Virou personagem desta coluna tão grande é o sucesso que faz. Passo a receber colaborações de leitores. Que me encaminham historinhas com ele. Não procuro - nem é o caso - saber se são autênticas ou não. O cearense virou um monumento contra a cretinice. E, claro, contra os chatos. Um deles até questiona a coluna sobre os casos narrados. Uma das passagens fala em sonâmbulo. Argumenta que Seu Lunga não usaria tal expressão. Pode ser. Os chatos sempre nivelam por baixo. Se fosse dele, a palavra seria algo parecido com "sonambo". Pois esse chato chegou na casa do Lunga, em Juazeiro do Norte, e se anunciou : - Ô de casa, tem gente ? - Não. Só tem percevejo e chato - gritou lá de dentro nosso querido personagem. O chato não se afobou e, ao ver três imensos potes d'água, continuou : - Tem água de beber ? - Não, só tem água de comer. O chato calou-se. Tensão : PMDB e PT Apesar do estreitamento de relações, ocorrida nos últimos anos, graças a realpolitik acordada entre os dois, PMDB e PT vivem um clima de tensão. O PMDB sente que o PT começa a traí-lo, dando vazão a uma tendência histórica da sigla. A traição se dá na esfera da escolha para a chapa de Dilma. O nome peemedebista mais consensual é o de Michel Temer, presidente do partido. Nas últimas semanas, Lula passou a mandar recados e a soltar balões de ensaio. Quer outros nomes além do de Michel. Que, aliás, tem dito que é candidato a deputado e não a vice. Efeitos Os efeitos da tensão apontam para a instabilidade da aliança entre as duas siglas. A convenção do PMDB, que seria antecipada para 6/2, foi adiada para 6/3, quando Michel deverá ser reeleito presidente do partido. Nesse ínterim, as tensões tendem a aumentar em decorrência das dificuldades de se fecharem acordos nos Estados. Em MG, por exemplo, Hélio Costa é candidato e só recuará se for indicado pelo PMDB como vice na chapa de Dilma. Não quer ser candidato ao Senado porque sabe que perde para o vice-presidente José Alencar, que pretende voltar à Câmara Alta. Fumo e casamento De Joaquim Bentinho para o compadre Cornélio, uma definição sobre o casamento : - Casar, casar é mesma coisa que comprar fumo. A gente iscoi, iscoi, iscoi e acaba comprando um rolo de fumo. Nos premero tempo o fumo é bão ! Mas despois, a gente fuma só pra aproveitar : já é da gente memo... Desfazimento ? Pode a aliança com o PMDB ser quebrada ? Pode, sim, e esta tendência começa a ser vislumbrada por alguns quadros da cúpula. Cresce, também, no seio do partido a ideia da candidatura própria. Nesse caso, o tempo de rádio e TV, que Dilma tanto espera, ficaria com o próprio PMDB, castrando a campanha midiática do PT. Uma campanha menos retumbante seria desastrosa para a pupila de Lula. Que, como se sabe, é ruim de palanque. Palanqueira ? Um vexame Quem já viu Dilma em palanque, principalmente nos últimos dias, constata : é um vexame. Artificial, sem emoção, sua fala mais se parece uma conversa cheia de promessas. Que não convence. Nem empolga. Não articula uma frase por inteiro porque faz desvios linguísticos que embrulham o pensamento. Vai ter uma campanha de palanque sem graça. Serra, magister dixit O palanque sem graça terá noutra ponta o experimentado José Serra. Experimentado, isso mesmo. O que não significa bom de palanque. O governador, como bem definiu Jânio de Freitas, ontem, na Folha de S.Paulo, discursa como um leitor de orações didáticas. Serra tem conhecimento de causa, domina como poucos a matéria econômica, mas não é um palanqueiro. Está mais para professor em sala de aula. Com giz na mão e calibrando as cobranças aos alunos. "Se bater na madeira isolasse o azar, o pica-pau não estaria em extinção." (Eugênio Mohallem) Socialismo FIESPEIRO O socialista Paulo Skaf foi lançado ao governo de SP pelo governador de PE, Eduardo Campos, que dirige o PSB. Ou Campos está variando (como se diz no nordeste) ou o governador lança um balão de ensaio. A FIESP, se ele não se lembra, ocupa um imenso prédio na avenida Paulista, simbolizando um poderio que, por tempos a fio, foi massacrado pelo também socialista Ciro Gomes. Candidato ao governo, Skaf daria vazão ao conceito de Kramer versus Kramer. Lembrete : Ciro tem a avenida Paulista, onde se incrusta a FIESP, como o símbolo mais atrasado das elites paulistas. ______________ Seu Lunga vai ao banco descontar um cheque. A caixa pergunta : - O senhor vai levar em dinheiro ? - Não. Me dá em clipes e borrachinha. ______________ Ingenuidade ou vaidade ? O que pretende Paulo Skaf com a candidatura ao governo de SP ? Será que ele realmente pensa que pode ter votos para se eleger ? Chegou a dizer, em reunião interna da Federação, que se dispuser de recursos, daria para ganhar. Os jornais fizeram o registro. Dinheiro elege ? Não. Dinheiro ajuda, coopta, mas votos em SP, o Estado mais racional do país, não são despejados sobre a cabeça de um candidato como o maná bíblico caindo no deserto. Ou o presidente da FIESP é ingênuo - o que não combina com seu perfil - ou muito vaidoso. De qualquer modo, este consultor reconhece : na maré vazia de bons políticos, Skaf tem todo direito de se colocar como opção. Que siga em frente. PSB e PT As relações entre o PT e o PSB vão de mal a pior. Tudo por conta do voluntarismo de Ciro Gomes. O deputado, que costuma abrir o bico, está calado. Passarinho na muda não pia. Ciro Gomes deverá fechar acordo com Lula nos próximos dias. Ele não quer ser o candidato do PT/PSB ao governo de SP. Mas Luiz Inácio assim o deseja. Vamos conferir para onde vão a vontade de um e o desejo de outro. Na faculdade Aluno de Direito ao fazer prova oral : - O que é uma fraude ? - É o que o senhor, professor, está fazendo, responde o aluno. O professor fica indignado : - Ora essa, explique-se. Então diz o aluno : - Segundo o Código Penal, 'comete fraude todo aquele que se aproveita da ignorância do outro para o prejudicar'. Cabral e Lindenberg Quando me perguntam o que é a política, paro de falar e passo a apontar. Falar é um ato que consome tempo. Desgasta. Apontar não cansa tanto. Por exemplo. Lula xingou o PSDB, que xingou o PT, que xingou Sérgio Guerra, que xingou a ministra Dilma - dissimulada e despreparada -, que tem o apoio de Lula, que disse que Guerra é babaca. Moral da história ? Lula, José Serra e Dilma aparecem sorridentes na pose de primeira página dos jornais. Mais um exemplo : o prefeito de Nova Iguaçu, Lindenberg Farias, esculhamba Sérgio Cabral, governador do Rio. E o que acontece ? Os ex-desafetos aparecem abraçados e sorridentes. Quando me perguntam o que é política, economizo palavras : aponto para as fotos de jornais. ______________ Seu Lunga chegou numa barraca de feira e pediu uma tapioca. O feirante : - É para viagem ? - O senhor está vendo alguma bagagem aqui ? ______________ 80% de chances Marcio França, deputado e presidente do PSB paulista, diz que Paulo Skaf tem 80% de chances - na escala até 100% - de sair candidato ao governo de SP pela sigla. Eis aí uma miragem estatística. Trata-se do uso de uma alta percentagem em vão. Pura firula. 80% de chances de ser candidato equivalem, noutra leitura, a um pequeno dígito de chance de Skaf ganhar os louros da vitória. Lula e as enchentes Na vida dos governantes, certos momentos servem para exprimir seu estado de espírito e o modo como encaram adversários. Lula tem usado tais momentos para um exercício de autoglorificação. E, ainda, para espezinhar adversários. Mesmo que, circunstancialmente, alguns deles se façam presentes no instante da fala. Foi o que aconteceu, no dia 25/1, ao receber uma medalha conferida pelo prefeito Kassab. O governador Serra e o prefeito Gilberto ouviram de Lula a sugestão de fazerem um PAC para as enchentes que assolam a capital. O PAC, como se sabe, é execrado pelos tucanos, que enxergam nele pura propaganda. A sugestão de Lula foi entendida como uma alfinetada. Acho pior : uma porrada. Dez contra um Quem acredita que Arruda se sustente no governo, levante a mão. Silêncio na sala. Um, dois, três ... dez pessoas na sala levantam a mão. Apenas uma acredita que o governador do DF será punido pela Justiça. É a visão do brasileiro sobre corrupção, política e justiça. Viagens E por falar em Luiz Inácio, fará mais uma viagem internacional. Já bateu o recorde. Passou bons meses afastado de Brasília. Lula vai receber os prêmios que ganhou. Até junho/julho, tem farta programação externa. Depois, comandará a campanha de Dilma. ______________ Seu Lunga vai ao armazém e pede veneno para rato. O balconista quer saber : - O senhor vai levar ? - Não. Vou trazer os ratos para comerem aqui. ______________ E os Fóruns, hein ? O Fórum Social Mundial, em Porto Alegre, em outras cidades, já não desperta emoções. Os atores são os mesmos. A conversa é uma mesmice. Stédile ameaçando com invasões. E, incrível, dizendo que o Movimento dos Sem Terra fará campanha contra o governador José Serra. Brasil no Haiti Esse ministro Celso Amorim é mesmo um falastrão. Repele a ideia de um Plano Marshall para salvar o Haiti. Porque põe fé no Plano Lula. Pensei que fosse piada. Fui conferir. Faz questão de repetir que o Plano de Salvação deve ser chamado de Lula. Porque o Brasil foi o primeiro a dar a ideia de uma reunião com os doadores. Quanta bajulação ! "O ideal de beleza do sapo é a sapa." (Voltaire) Conselho aos deputados distritais Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado ao presidente Lula. Hoje, volta sua atenção aos deputados distritais : 1. A Câmara Legislativa de Brasília está sob a lupa da nação. Aproveitem a oportunidade para apurar ilicitudes, desvios, corrupção, expurgando todos os implicados no Mensalão. 2. Qualquer decisão no sentido da complacência e abafamento da situação será repudiada pela opinião pública e terá conseqüências nas eleições de outubro próximo. 3. Procurem apurar todas as denúncias e tomar as providências necessárias para fechar a malha de corrupção. ____________
quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Porandubas nº 219

"Seu" Lunga Seu Lunga abriu a coluna tempos atrás (Porandubas nº 209). Sucesso enorme. E aí as contribuições não pararam de chegar. Hoje, mais historinhas entremeando as notas. Apenas para lembrar a ficha do nosso protagonista : Seu Lunga, pai de 13 filhos, ourives em Juazeiro do Norte, vendedor de sucata. __________________ Seu Lunga leva o aparelho eletrônico para a manutenção. O técnico pergunta : - Tá com defeito ? - Não, é que ele estava cansado de ficar em casa e eu o trouxe para passear. __________________ Osires, o timoneiro O brigadeiro Osires Silva, que iluminou os primeiros caminhos da Embraer, uma ilha de excelência mundial no complexo segmento de aviões, está muito bravo. Não se conforma com a decisão do presidente Lula em deixar a Embraer de lado no caso da aquisição dos aviões para a Aeronáutica. Osires afirma peremptoriamente - e ele fala de cátedra - que o Brasil teria condições de fabricar os melhores caças do mundo, usando tecnologia de ponta, bastando, para tanto, fazer pequenas parcerias com alguns fabricantes. Seria bom para o país na medida em que se posicionaria muito bem no ranking da construção de caças, para a empregabilidade e para a economia. O brigadeiro conta com os aplausos deste consultor. Lula, call me Ontem, ao término da conversa com Lula, para acertar a logística de apoio ao Haiti, Obama pediu : "Lula, call me". E o nosso presidente, raposa matreira, teria aproveitado para animar a campanha eleitoral : "cara, apareça logo, logo, para esquentar a festa". Luiz Inácio quer que o presidente dos EUA dê as caras lá por julho. Coelho na cartola. Dilma agradece de coração. __________________ Cai um toró em Juazeiro do Norte. Seu Lunga não se incomoda e se prepara para sair de casa. A mulher pergunta : - Vai sair nessa chuva ? - Não, vou sair na próxima. __________________ Meireles, olho aqui, outro acolá Henrique Meirelles, o todo poderoso presidente do BC, abre um olho para Goiás e outro para o Palácio do Jaburu. Espera substituir Iris Rezende, caso este, por motivo de saúde, decline da candidatura ao governo de Goiás. Mas não quer dar imediata resposta. Cozinhará o galo até março/abril, quando enxergará com outros olhos a disposição do PMDB sobre o nome do vice na chapa da Dilma. O vice do PMDB Ocorre que a cúpula do PMDB deverá indicar o nome. Não aceitará imposição do presidente Luiz Inácio. Acha que tem cacife suficiente para bancar a indicação. Michel Temer, o presidente do partido, deverá ser reconduzido à presidência em março, continuando a ter muita força no Congresso e junto ao Poder Executivo. Com esses dois importantes cargos, fica bem menor o espaço de vice presidente. Michel está realmente interessado em obter o máximo de consenso na Convenção do partido, a se realizar em junho. Nome de Minas ? Não dá para apostar no nome de Hélio Costa como vice de Dilma. E a razão é óbvia : Dilma é mineira. Outro mineiro tornaria a chapa muito homogênea, algo como sanduíche de pão com pão. Dilma precisa ter um vice na região sudeste, sim, mas sem ser necessariamente de Minas. De SP, preferencialmente. Onde a campanha será a mais tucana e contundente do país. Os tucanos guardam grandes possibilidades de continuar segurando as rédeas do Estado. __________________ Seu Lunga acaba de levantar. O filho vem com a pergunta idiota : - Acordou ? - Não. Estou dormindo. Sou sonâmbulo ! __________________ (Em)pacando 2 Lula só pensa em ideias que possam gerar impacto. Esforça-se para agitar as ruas. Planeja uma agenda cheia de eventos. Vai rodar o mundo, mais uma vez, nesse primeiro semestre, para ficar livre, a partir de julho. Por isso, organiza mais um cavalo de batalha, o PAC 2. Não sabemos muito bem o que esse PAC terá de novidade. Sabe-se que o PAC 1 patina nos 30% de realização. Não decola em algumas regiões. O PAC 2 pode ser mais um atoleiro. Lula, porém, sabe fazer marketing. O barulho é tão importante quanto inauguração de obra. A versão é mais importante que o fato. Orlando, bola cheia O ministro Orlando Silva emplacou mais uma : Lula o escolheu como Autoridade Olímpica. Cargo que acumulará com o ministério. Todos os eventos, obras e agenda da Copa de 2014 e das Olimpíadas de 2016 passarão pelo crivo deste cara boa praça. __________________ O amigo liga para sua casa e pergunta a Seu Lunga : - Onde você está ? E ele : - No Pólo Norte ! Um furacão levou a minha casa pra lá ! __________________ Cadê Ciro Gomes ? Onde está você, Ciro Gomes ? Lembro-me da boa canção de Zeca Baleiro : por onde andará Stephen Fry ? Quem se lembra deste ator ? Ciro deu uma de Fry. Desapareceu. Lula não quer vê-lo como candidato à presidência da República. Principalmente, agora, depois de ver a derrota do candidato de esquerda no Chile. Eduardo Frei, que foi atrapalhado por mais um candidato da esquerda - o que deu margem à vitória de Sebastián Piñera. Concertación ou dissertación Pois é, no Chile, a derrota de Frei é atribuída, entre outros fatores, à divisão da esquerda. Concertación, que aglutina os partidos de esquerda, se dividiram. E Bachelet, a presidente super aprovada pelos chilenos (mais de 80% de aprovação, igual à Lula), não conseguiu transferir seu prestígio para seu candidato, Eduardo Frei. O imbróglio chegou por estas bandas provocando - com perdão do trocadilho - dissertación. Que abriga as hipóteses contrárias : Lula não transfere votos e Lula transfere votos. Este consultor vai agregar sua impressão à moldura. Transferência A questão da transferência de votos é relativa. O Chile tem identidade, história, tamanho, condições geoeconômicas e sociais bem diferentes das que exibe o Brasil. Portanto, não dá para se fazer análises comparativas fechadas. Há que se pinçar elementos e fatores e sobre eles traçar posições. Por exemplo : Lula é carismático, Bachelet, apesar de certo carisma, está longe de ser um ícone populista. O Brasil é povoado por massas assistidas por gigantescos programas populistas. E Lula abraça diretamente o povo nos comícios de palanque. Sua origem nordestina e seu trajeto lhe conferem identidade sui generis. Sim e não Pois bem, Luiz Inácio, impregnado de simbolismo, carregando o manto populista, considerado o "Pai dos Pobres", tem poder para transferir parcela de seu prestígio. Principalmente em regiões menos desenvolvidas que dependem diretamente dos braços estendidos e generosos do governo. O nordeste, por exemplo, poderá dar os votos a Dilma em agradecimento à Lula. Por outro lado, devemos considerar o fato de que Lula faz campanha há dois anos por sua candidata. E Bachelet só entrou no pleito chileno na reta final do segundo turno. Charada final A pergunta da charada : afinal, quem conseguiu 23% de intenção de voto ? Esse é o índice que Dilma ostenta hoje. Respondam : foi ela com seus belos olhos, fala maviosa, carismática e cheia de graça ? Non, non, non. Foi ele mesmo, Dom Luiz Inácio Lula da Silva, de Caetés/PE. Eis uma modesta opinião. Porém ... Toda história tem um porém. A leitura acima não pode ser considerada infalível. Transferência de votos é algo relativo. Há um limite para isso. No sudeste, por exemplo, essa condição fenece. O voto é mais racional. Menos emotivo. As classes médias tendem a votar mais com a cabeça e menos com o coração. Chalita e Santana Gabriel Chalita foi procurar João Santana, o marqueteiro de Lula. Como ser senador ? Esta deve ter sido a pergunta-chave. A identidade, claro, é o eixo. Mas, para ser senador, vereador Chalita, é preciso ter visibilidade e armas de ataque na arena eleitoral. Visibilidade, o PSB não tem. Armas de ataque poderiam ser emprestadas por quem tem. Paulo Skaf, por exemplo. Mas o socialista Skaf emprestaria armas de ataque não fosse ele mesmo um candidato a cargo majoritário ? Alvaro no Paraná ? Recebo dados sobre o Paraná. De pesquisa feita pelo IPESPE, do sociólogo Lavareda. O senador Alvaro Dias, do PSDB, sai na frente nos apresentados aos eleitores. No confronto direto com Beto Richa, que disputa a indicação dentro do partido, ele vence por 45% a 38%. A margem de erro é de 2,7 pontos percentuais. Alvaro venceria também o irmão Osmar Dias em suposto confronto somente entre os dois. Sem Osmar na parada, com este liderando os votos na reeleição ao Senado, Alvaro Dias levaria a melhor no pleito. E na eleição para a presidência da República, o governador paulista, José Serra, confirma a preferência dos paranaenses. __________________ Seu Lunga acaba de tomar banho e a mulher pergunta : - Você tomou banho ? - Não, mergulhei no vaso sanitário ! __________________ Propina no exterior ? As investigações da Operação Castelo de Areia começam a rastrear as contas do PT no exterior. Eis o que os documentos apontam : uma remessa de R$ 261.285,52, em abril de 2008, na conta : nº 941-11-013368-2, no First Commercial Bank, na China. (Folha de S.Paulo, 19/1, página A4.) Morrendo O advogado, no leito da morte, pede uma Bíblia e começa a lê-la avidamente. Todos se surpreendem com a conversão daquele homem ateu, e uma pessoa pergunta o motivo. O advogado doente responde : "Estou procurando alguma brecha na lei." Conselho aos radicais do governo Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado ao presidente Lula. Hoje, volta sua atenção aos radicais do governo : 1. Evitem produzir documentos, leis, projetos, decretos que ameacem romper os códigos normativos da República. 2. Administrem atitudes revanchistas, arquivando ódios e alimentando a seiva do bom senso. 3. Não há mais espaço para a radicalização no país. A Pátria está implícita na solidariedade sentimental de sua comunidade e não na confabulação de radicais e politiqueiros que medram à sua sombra. ____________
quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Porandubas nº 218

Tamanho da prole José de Almeida, contador do BB em Barreiras/BA, realizava o cadastro da agência. Chega Heroíno Pita, fazendeiro na região. Passou a responder o longo formulário : nome, idade, propriedade, renda anual, dívidas, etc. - Sr. Heroíno, quantos filhos o senhor tem ? - 8 filhos. - O senhor tem uma prole grande. Heroíno sorriu, fez um gesto cúmplice (na verdade confundira o conceito) : - Não, senhor. É normal. "Quatro freis" Historinha em homenagem ao Frei Damião, sob as bênçãos de quem os nordestinos viveram parte de sua história. E lá vinha o carro desembestado pelas estradas poeirentas, entre Patos e Cajazeiras, na Paraíba. Dentro, dois frades : Frei Fernando e Frei Damião, cuja expressão religiosa é tão enaltecida quanto ao "padim" Ciço (Padre Cícero Romão Batista). O guarda do posto divisou, de longe, aquele automóvel em louca disparada. E foi logo fechando a cancela do posto. O motorista teve de se conformar com a freada brusca. O guarda foi duro : - Esse carro disimbestado não tem frei ? Expliquemos que a fonética na região é essa mesmo : disimbestado e frei (em vez de freio). Resposta lacônica na ponta da língua : -Tem, sim, seu guarda. Tem logo quatro : frei de pé, frei de mão, Frei Fernando e Frei Damião. Surpreso e curioso, o guarda olhou e viu os "freis". Pediu a bênção ao Frei Damião, pediu desculpas, liberou o carro e abriu a cancela. Redes sociais na campanha A campanha eleitoral deste ano será a mais avançada da história em matéria de tecnologia da comunicação. As redes sociais, abrigadas na Internet, funcionarão a todo vapor. Teremos sites, blogs e twitter trabalhando de maneira direta e indireta por candidatos. Para disfarçar a abordagem de propaganda, twitteiros usarão o recurso da rede para informar fatos, expor notas e destaques sobre perfis preferenciais. Os candidatos serão apresentados de maneira coloquial, de forma a gerar bolsões de simpatia nos segmentos laçados pelas redes. Apóstolos da opinião Há um grupo poderoso nas novas mídias. É composto por formadores de opinião : jornalistas, publicitários, animadores culturais, artistas, professores e núcleos de profissionais liberais. Os setores que integram esse contingente serão instados a apoiar os fulanos, sicranos e beltranos. Vai ser interessante. Teremos uma comunicação mais horizontal, menos vertical e mais democrática. O Brasil frequenta o ranking dos principais usuários da Internet mundial. Lema Chagas Freitas, político matreiro, ex-governador da Guanabara e, depois, do Rio de Janeiro, tinha um precioso mosaico português, com a frase que era seu lema : "Não peço a Deus que me dê mas que me ponha onde haja." Pós-lulismo Ganhe Dilma ou Serra (se este for o candidato), a verdade é que o país abrirá novos horizontes políticos após o ciclo Lula. Não teremos um lulismo sob Dilma, por exemplo. Porque Lula tem identidade sui generis. Populista, comunicador, de origem popular e inserção fortíssima na moldura dos governantes mundiais. Dilma é uma identidade técnica. Por mais que amenize a linguagem, a ficha técnica estará impressa na sua figura. Serra é também um governante de talhe técnico. Sabe usar a expressão política, mas é um quadro que exprime especialização. Os perfis apresentam certa semelhança. Deles se pode esperar distanciamento das massas, diferente de Lula. Dilma crescerá ? Sim. Dilma (que no nordeste, pela semelhança fonética já passa a ser chamada de "Dilma do Chefe") deverá chegar aos 30% em março/abril, portanto antes da campanha ser encetada. Ou seja, ela entrará na arena para disputar em iguais condições ao adversário. Não se pense que ela é um poste. Com essa margem, pisará forte no acelerador. A questão é saber se Serra segurará seu índice ou não. Vamos analisar as hipóteses. O furacão do sudeste O sudeste tem mais de 50% dos votos do país. Só São Paulo tem 30 milhões de eleitores. Minas soma quase 14 milhões. E o Rio, mais de 10 milhões. Pois bem, se o governador paulista conquistar nesses três Estados uma maioria de 5 a 6 milhões de votos, terá condições de diminuir a onda lulista no nordeste. O nordeste irá de Lula/Dilma. O governismo leva o voto da ampla maioria. Hoje, José Serra poderá, até, mostrar competitividade em alguns Estados. Na hora do palanque, o discurso do governismo será mais ouvido. "As tempestades só aterram os fracos; os fortes enrijam-se contra elas e fitam o trovão." (Machado de Assis) Quem ganha eleição Quem ganha eleição é barriga cheia e bolso com grana. Não é voto de protesto ou de indignação. Esse voto está incrustado em segmentos isolados. Já o voto da satisfação - que está por trás da questão da sobrevivência do ser humano - é quem influencia o sistema cognitivo. Vamos às imagens. Os nossos ancestrais disputavam a presa. Cada um puxava um pedaço do bicho para devorar. Ora, se esses pedaços chegam de forma facilitada à boca, a tendência do animal (racional, irracional) é aceitar a situação e agradecer aos patrocinadores. Questão de sobrevivência da espécie. É a economia, estúpido, já dizia James Carville, marqueteiro de Clinton nos anos 90. Economia que bate, primeiro, no estômago. Os pacotes do Serra José Serra começa a agir como supridor de carências das massas. Depois de apertar os parafusos da máquina, tapar os buracos do saco sem fundo de impostos sonegados, elevar a carga tributária do Estado em setores como alimentos e bebidas, o governador dá ordem para a descontração do sistema. Fluxo e refluxo. Sístole e diástole. Descompressão depois de muita pressão. Serra era execrado por alguns setores produtivos. O cara tirava sangue das empresas. Nos últimos dias, aliviou a carga, diminuindo as alíquotas do ICMS para um conjunto de setores. Aprende com Lula. Saco de bondades O saco de bondades de Lula é o maior de todos os que os Papais Noéis já conseguiram carregar pelas estradas e ruas deste tropical país. O saco de bondades de Luiz Inácio, o providencial, será o maior eleitor do pleito de outubro. A conferir ! "Para parecer um homem honesto, é preciso sê-lo." (Nicolas Boileau) O comando da ministra A campanha de Dilma já tem comando : Gilberto Carvalho, Franklin Martins, João Santana, Fernando Pimentel e Ricardo Berzoini. Claro, sob as ordens gerais de Luiz Inácio, o todo poderoso. Gilberto ficará com a miudeza das coisas caseiras; Martins, com a orientação geral do discurso; Santana dará as dicas para abordagens de marketing, formas de apresentação na mídia e nos palanques; Pimentel, na área de programas e escudo social e Berzoini ficará com a missão de aplainar as arestas nas frentes partidárias. Por enquanto. E Zé Dirceu, hein ? Zé Dirceu continuará a fazer o que já faz há tempos : articulação. Espécie de embaixador sem pasta, mas com imenso poder de influenciar e arrumar parceiros. Não deverá aparecer muito para não sujar a imagem da ministra com o manto do mensalão. Age e agirá nos bastidores. Com grande poder. Salve-se quem puder Os comentários em círculos muito qualificados abrigam esta hipótese : seja quem for o vitorioso - Dilma ou Serra - em 2011 o Brasil começará a pagar contas do ciclo da gastança. Ninguém segurará a barra. As coisas explodirão. A imagem do próximo governante irá para o beleléu. Ficará refém de uma agenda negativa por longos quatro anos. E, aí, no cenário devastado, emergirá impávido e fagueiro, Ele, Luiz Inácio, o salvador da pátria. Para dizer ao povo : "estou aqui para dar continuidade aos dias de ontem". Instituto Lula Nesse ínterim, dom Luiz correrá o mundo - que já conhece - cumprimentando velhos amigos, tomando os melhores drinques, degustando os melhores acepipes e voando na maior das alturas. Sob as asas do Instituto Lula, que agenciará palestras e encontros. Esse filme é conhecido. Caças Rafale Lula já escolheu os caças Rafale, franceses, para compor a nossa frota aérea de defesa. Esses aviões custam o dobro dos caças Gripen, da Suécia. E ninguém os comprou até o momento, com exceção do governo francês. O Brasil teve da França a promessa de que, com sua ajuda, terá um assento no Conselho de Segurança da ONU. Mas esse assento não depende apenas da França. Quanto custa ? Ah, isso não é problema. Terceirização O ministro Carlos Lupi é um sujeito simpático e acolhedor. Não gosta de dizer não. Pode ser este o motivo pelo qual o ministro acolheu um draconiano projeto para regular a terceirização no país. Trata-se de um verdadeiro atentado ao bom senso. Mas o ministro acha que devia avançar o sinal, sob pena de a temática cair no esquecimento. Os setores terceirizados defendem o Projeto 4302/98, que está na pauta de votação, depois de ter passado por todas as comissões. Trata-se de um projeto que contempla trabalhadores e empresários. Por que, então, voltar à estaca zero e começar com um projeto esdrúxulo ? Centrais mandam Porque as Centrais Sindicais assim o exigem. As relações trabalhistas no Brasil estão engessadas, não se modernizam, porque as Centrais Sindicais - que vivem hoje de eventos - ameaçam invadir o Congresso com suas caravanas de propaganda. Se um parlamentar é contra qualquer projeto de interesse das Centrais é considerado um inimigo público. Os empresários - essa é a verdade - são divididos em compartimentos, não têm unidade e têm vergonha da mobilização das categorias. Levam goleada das Centrais. Negociação Mas o diálogo será sempre o caminho mais eficaz para se chegar a uma base mínima de consenso. Este consultor espera que exista bom senso por parte das Centrais Sindicais no momento de discussão do projeto da terceirização. O presidente da Câmara, Michel Temer, tem feito grande esforço para as partes chegarem a um razoável acordo. Vander Morales Tomou posse como presidente do Sindeprestem o empresário Vander Morales. Simboliza o espírito de união de sua categoria. Mostra-se disposto a levar adiante uma jornada em prol da terceirização, que o Sindeprestem lidera desde os idos de 1988, quando havia ameaça de se proibir a atividade no Brasil. Michel Temer, com um parecer do seu amigo e grande advogado, Geraldo Ataliba, fez a defesa do setor. De lá para cá, a economia passou a receber forte apoio dos nichos especializados da terceirização. Mas a falta de legislação deixa o setor nas mãos de uma interpretação enviesada e confusa por parte de juízes e do Ministério Público do Trabalho. Os obstáculos ao desenvolvimento do setor sinalizam a visão ultrapassada de áreas que não querem atrelar o Brasil ao futuro. Conselho ao presidente Lula Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado ao governador Sérgio Cabral. Hoje, volta sua atenção ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva : 1. Procure administrar a polêmica em torno do famigerado projeto dos Direitos Humanos antes que as discussões contaminem a sociedade civil criando pontos de tensão e conflitos. 2. Nem lá nem cá. Esta deve ser a medida adequada para se chegar a bom termo. Ou seja, o projeto deve abrigar, sobretudo, bom senso. 3. Os principais setores envolvidos na polêmica devem ser ouvidos. Examinadas as visões e ponderações, é possível se chegar a um documento que contemple a todos, sem ranços de revanchismo. ____________
quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Porandubas nº 217

O c pelo x Vamos abrir a coluna com a lembrança da conversa cheia de x do marechal Eurico Gaspar Dutra (1945/1951). O marechal trocava o c pelo x. Ganhou uma marcha carnavalesca no carnaval de 51 : Voxê qué xabêVoxê qué xabêNão pixija sabêPra que voxê qué xabê ? O secretário de Planejamento e Gestão do Estado da Paraíba, Osman Cartaxo, pinça do arquivo de seus engraçados "causos" uma historinha do marechal. De manhã, bem cedo, o marechal saiu do hotel e começou a passear na parede do açude de Pilões, nos confins da Paraíba. O matuto viu aquela figura fardada e tascou : - Bom dia, coronel. O velho marechal respondeu de pronto : - Não xô coronel. Xô o presidente da República. O matuto emendou : - Mas não é coronel porque não quer. Esquentando os motores Os horizontes de 2010 se abrem sob o pano de fundo de gigantesca nuvem de expectativas. Em outubro, o país elegerá um novo presidente, 27 governadores de Estado, 513 deputados federais e 81 senadores. O final de 2009 e o mês de janeiro ajudarão o corpo político a restaurar o estoque de energias, até porque teremos uma das campanhas mais contundentes de nossa história. Afinal, trata-se de responder à questão : será o fim do ciclo Lula ou apenas sua continuidade ? Veremos um grau elevado de mudanças ou apenas leve camada de tinta no edifício lulista ? Lula com Dilma na direita Luiz Inácio, com a fundação do lulismo, mudou a composição de voto do petismo. Hoje, o lulismo tira votos dos dois extremos do arco ideológico : esquerda e direita. Pela direita, as margens sociais, que votaram em Collor e em FHC, frequentam o centro do território lulista. Constituem o foco do gigantesco programa assistencialista do governo. A questão é : votarão em Dilma ? Lula terá condições de puxar os votos dessas margens para sua candidata ? A resposta é : sim. Principalmente nas regiões mais favorecidas pelo braço governamental. Nordeste, Norte e Centro Oeste são regiões amplamente favoráveis a candidatos que garantam a continuidade do status quo. Resumo : Lula puxa Dilma em direção aos contingentes conservadores. Lula com Dilma na esquerda Luiz Inácio também puxa Dilma em direção à esquerda. Aliás, com a ajuda da própria ministra chefe da Casa Civil. Basta ver os últimos movimentos na área de Direitos Humanos. O presidente chegou a assinar um decreto, no final do ano passado, que determina a punição de torturadores. O documento instalou um clima de tensão na área militar, porquanto tal situação viria na direção contrária ao pacto acordado pela lei da anistia. Desta forma, a dupla Dilma/Lula aparece como patrocinadora de teses que animam bolsões de esquerda. Assim, a estratégia - uma no cravo, outra na ferradura - característica do lulismo, é apontada como fundamental para expandir as margens do arco ideológico. José sobe a serra O governador paulista, José, por sua vez, depois de muitas noites insones, decidiu aplainar a subida da serra. O que faz ? Imita Lula. Claro, depois de apertar os parafusos de sistemas produtivos, com uma política de elevação de impostos, começa a afrouxar engrenagens. Acaba de tomar uma decisão importante para aliviar o caixa de 90 mil empresas, que respondem por 1,2 milhão de empregos. Estica até o fim de março redução de carga tributária para 12% a setores. Suspende o ICMS devido na importação de bens de capital sem similar nacional concedida a 199 setores. E beneficia com a renúncia fiscal mais de 24 segmentos importantes como os de couro, vinho, brinquedos, laticínios e perfumes. Malvadeza contida Este consultor ouviu algumas vezes, em encontros com empresários, imprecações contundentes contra o governador Serra e seu secretário da Fazenda, Mauro Ricardo. A crítica era contra o furor arrecadatório do governo paulista. Pois bem, com a malvadeza contida, José Serra tenta aquietar setores produtivos e livrar o caminho de pedras que poderiam atrapalhar a escalada da serra. Nessa estratégia, imita Lula. A prova de José Leonardo A Justiça Eleitoral de São Paulo está convocando José Leonardo de Moura Coutinho Filho. Motivo : foi encontrado mais de um registro de filiação partidária em seu nome, o que propiciou o cancelamento de dois registros, um de 12 de agosto de 2001 e outro, de 12 de agosto de 1901 (isso mesmo, 1901). O próprio, em conversa com este consultor, queria saber que partidos existiam no Brasil em 1901. Este consultor foi buscar a resposta. Abaixo. Partidos 1889/1930 Eis os partidos brasileiros entre 1889 e 1930 : Aliança Liberal, Partido Republicano Paulista, Partido Republicano Mineiro, Partido Republicano Rio-Grandense, Partido Republicano Catarinense, Partido Republicano Fluminense, Partido Republicano Conservador, Partido Republicano Federal, Partido Republicano Liberal, Partido Democrático, Partido Federalista, Partido Libertador, Partido Socialista do Brasil, Partido Comunista do Brasil, Partido Democrático de São Paulo, Partido Democrático do Distrito Federal, Partido Democrático do Rio de Janeiro, Partido Democrático Nacional e Partido Monarquista Brasileiro. Buracos preenchidos Tenho repetido à exaustão : Lula procura preencher todos os espaços da pirâmide social. Bolsa Família; Luz para Todos; Minha Casa, Minha Vida; Programa de Aceleração do Crescimento; ProUni; Bolsa Estagiário; Programa de Auxílio a Agricultura Familiar; pacotes esticados de isenções (geladeiras, fogões, automóveis, caminhões, móveis de madeira e aço); linhas de acesso ao crédito; o último pacote é voltado para o programa Minha Casa, Minha Vida, na área rural. A base está satisfeita. O topo nunca ganhou tanto dinheiro. Economia sob controle. Comércio de fim de ano bombando. Praias cheias. Chuvas e tragédias ? Baterão em alguns candidatos e governantes, não na imagem de Lula e Dilma. A conferir. Plantar árvores "O grande marechal francês Lyautey certa vez pediu que seu jardineiro plantasse uma árvore. O jardineiro teceu uma observação de que a árvore crescia devagar e alcançaria a maturidade em cem anos. O marechal respondeu : 'Neste caso, não há tempo a perder. Plante-a nesta tarde !'" (John F. Kennedy - 1917/1963) Atraindo hélio Há uma ala no PT, incentivada por Lula, interessada em dividir mais ainda o repartido PMDB. Como se sabe, o nome mais forte para entrar como vice na chapa de Dilma é o do presidente do partido, Michel Temer. Nos últimos dias, apareceu um balão de ensaio com o nome de Hélio Costa. Dizem que seria o nome preferido pelo Planalto para ser o vice. De Minas, segundo colégio eleitoral do país, ministro de Lula, jornalista, perfil de comunicador. Assim, Lula retiraria sua candidatura ao governo de Minas, abrindo maior espaço para o PT mineiro e ditando cartas no PMDB. Visão deste consultor : o tiro tem 90% de chances de não acertar o alvo. Imbróglio Aliás, o maior imbróglio entre PT e PMDB será a equação das alianças estaduais. Em uns 15 Estados, o PMDB olha para o lado direito e o PT para o lado esquerdo. A descoberta de Cabral Cabral, o Sérgio, governador do Rio de Janeiro, descobriu que os deslizamentos nas encostas de Angra dos Reis ocorreram por conta da irresponsabilidade dos governantes. Atirou no que viu e acertou o que não viu. Pois o tiro bateu bem no meio de sua testa. Foi o governador que liberou construções em áreas de proteção ambiental. Basta ler o decreto 41.921/09, assinado por ele, permitindo a ocupação desordenada em encostas. Cabral contra Cabral dá samba. Por que Pezão ? Não se sabe, ainda, por que Cabral, cochilando perto da tragédia, em um condomínio de luxo em Mangaratiba (a menos de 60 km da Ilha Grande), mandou em seu lugar para o local o vice-governador, Luiz Fernando Pezão. Deve ter imaginado : não quero associar minha imagem à tragédia. Sua ausência acabou enlameando a imagem. "Nada se deve esperar dos homens que entram na vida sem se entusiasmarem por algum ideal; aos que nunca foram jovens parece desvairado todo sonho. E não se nasce jovem; é preciso adquirir a juventude. E, sem ideal, não é possível adquiri-la". (José Ingenieros) Itamar na roda ? Itamar Franco, o indecifrável ex-presidente da República, continua cheio de mistérios. Parece interessado em ser o vice de José Serra. Prestigiado em Minas, poderia mobilizar o segundo maior colégio eleitoral a somar votos ao primeiro colégio, constituído por 40 milhões de eleitores, o paulista. Mas pertence a um partido em processo de esmagamento, o PPS. Não somaria em termos partidários. E sinaliza a presença forte do passado. Mas seu perfil expressa seriedade e credibilidade. Fábio contra a Veja Fábio Luiz Lula da Silva perdeu a ação que ajuizou contra a revista Veja e Alexandre Oltramari. Reivindicava indenização por danos morais por conta da matéria "O Ronaldo de Lula". A juíza Luciana Novakoski Ferreira Alves de Oliveira, da 2ª. vara Cível, em seu despacho, avocou a liberdade de imprensa, destacou o fato de o jornalista ter pesquisado seis meses para produzir o texto, argumentando, ainda, que a analogia com "Ronaldo" foi conferida pelo próprio pai, o presidente Lula. Fábio foi condenado a arcar com os custos, despesas processuais e honorários advocatícios, somando R$ 10 mil. O despacho da juíza é de 30/11/09. A crise O país registra o pior saldo comercial com os EUA. Em um momento de exuberância econômica. Paradoxo ? Não. A crise americana fechou porteiras. A China tomou o lugar dos EUA no ranking de importação de produtos brasileiros. Brasília deserta Brasília está deserta. 23 dos 37 ministros estão de férias. O segundo escalão toca tranquilamente a máquina. Sem rebuliços. O Brasil roda no piloto automático. Eis uma alternativa plausível. O lulismo O que é o lulismo ? Tentativa de resposta : ter um olho olhando para a esquerda e outro para a direita; ser pragmático, acendendo uma vela a Deus e outra ao diabo; falar pelos cotovelos doa a quem doer; costurar um gigantesco cobertor social; aproveitar a maré brasileira e surfar nas ondas da crise internacional; sair dos fundões para os salões mais chiques da política mundial; procurar botar barro em todos os espaços da pirâmide social; dar tapinhas nas costas de um correligionário e piscar o olho para outro em atitude crítica; e, claro, nascer com a testa (?) para a lua cheia. A vez dos suecos ? Os militares da Aeronáutica preferem os Gripen, aviões de caça suecos, que acham mais versáteis e baratos. Lula prefere os franceses Rafale. Até teria firmado um pré-compromisso com o presidente Sarkozy. E Jobim, o ministro da Defesa, o que prefere ? Uma vez, disse que o Brasil prefere os franceses. A palavra de Lula é a que valerá ao final. Mas os militares se conformarão ? Resposta : quem é dono da flauta dá o tom. Conselho a Sérgio Cabral Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos congressistas. Hoje, volta sua atenção ao governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral : 1. Governador, não dê um passo maior que a perna. 2. Procure consertar as observações feitas sobre a irresponsabilidade dos governantes, reconhecendo que assinou um decreto autorizando construções em áreas ambientais em Angra dos Reis. 3. Explique a razão de sua ausência na Ilha Grande no primeiro dia da tragédia e o motivo porque mandou o vice-governador Pezão em seu lugar. ____________
quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Porandubas nº 216

Quanta terra....! João Suassuna, velho coronel e líder político do Estado, pai do escritor Ariano Suassuna, perseguindo um trabalhador de seus imensos latifúndios, mandou dar um purgante de óleo de rícino, chamou dois jagunços. Sebastião Nery descreve : - Levem esse cabra até a fronteira da fazenda. Vão os três a pé. E o purgante não pode fazer efeito em minhas terras. Se fizer, podem sumir com ele. O homem saiu na frente dos dois capangas, andou, andou, apertou o passo, escureceu, e nada de chegar o fim da fazenda. O remédio começava a torturar e o homem suando frio e andando ligeiro. De repente, não aguentou mais, gemeu : - Eta coronel pra ter terra ! As chances de Serra José Serra está na galeria dos mais preparados homens públicos de nosso país. Tem condições de ganhar o pleito de 2010. Seus desafios : sustentar a boa posição nas pesquisas - em torno de 35% a 38%; estabelecer um discurso capaz de canibalizar o discurso ufanista e glorioso do lulismo; demonstrar que pode fazer um governo melhor e mais qualificado que o de seu antecessor; atrair as massas e conquistar o voto de bolsões atendidos pelo assistencialismo; sair de SP com 6 a 7 milhões de maioria para suportar a avalanche lulista no nordeste; ampliar o raio de alianças; conseguir convencer o eleitorado que o petismo está esgotado. O alerta de Aécio Aécio Neves pôs o dedo na ferida. Apontou a inação do PSDB. O jeito tucano de conformar-se com poucas coisas. Por acomodação. Mostrou as grandes possibilidades do partido na área da articulação política, atraindo grandes fatias do PMDB, PP, PDT e até do PSB de Ciro Gomes. Mas os tucanos parecem conformados em manter modesta aliança com o DEM e PPS. O governador mineiro, na autocrítica, sinaliza vontade de liderar esse processo. Parece tolhido pela barreira que se chama José Serra. Este não se define. Dá indicação de que quer ser candidato mas não tanto. Pode desistir. Por isso, Neves deu o brado : sua pré-candidatura à presidência não passa do mês de janeiro. Se Serra continuar indeciso, ele anuncia sua candidatura ao Senado. As chances de Aécio Este consultor volta a insistir na tese : Aécio Neves tem grandes possibilidades de sucesso. Pode vir a ser melhor que Serra como candidato. O governador paulista é experiente, um craque na administração de contas, é sério, organizado e tem um recall extraordinário. Seu perfil, porém, na régua do tempo, está mais próximo ao espaço da saturação. Que espaço é este ? Trata-se do território das coisas já muito conhecidas : cara, jeito, atitudes, falas, ideias. O eleitor se indaga : "de novo essa pessoa ?" Serra tem ingresso para este filme. Ou seja, seu sapato tem a sola mais gasta. E as pessoas tendem a ser atraídas por sapatos novos. Vejam o que diz Nietzsche, pela boca de seu profeta Zaratustra. O conselho de Zaratustra O profeta solta o verbo : "novos caminhos sigo, uma nova fala me empolga : como todos os criadores, cansei-me das velhas línguas. Não quer mais o meu espírito caminhar com solas gastas". O sistema cognitivo do ser humano procura novas combinações, novas associações, novos modelos para acompanhar o processo de evolução. É aí que entra Aécio Neves. Encaixa-se melhor em uma estrutura cognitiva cansada de "velhas línguas". As pessoas sentem-se atraídas por apelos e provocações diferentes. "Em política quem mais grita mais arranja." (Eça de Queirós) Dilma na mesma hipótese Dilma Rousseff se enquadra na mesma hipótese. Ela entra na faixa da novidade. O fato de não ser conhecida trabalha a seu favor. Seu espaço será o de crescimento. Expansão do perfil, com adesões gradativas e crescimento da intenção de voto, na esteira da maior visibilidade. Não há dúvida de que o eleitor tende a considerá-la como um fator emergente, novo. E mais : quem está atrás tende a subir nas pesquisas; quem está muito adiante, tende a cair. Dilma e Aécio, as diferenças Agora, vamos às diferenças entre os dois perfis. Dilma é ministra de Estado, mas nunca governou um Estado. Nunca teve um voto na vida. Não passou pela vida parlamentar. Nesse momento, a experiência conta. Principalmente quando inserida no contexto de um perfil jovem como o de Aécio Neves. Dilma, ademais, é a sombra de um conceito, o lulismo. Sombra. Ou seja, ela não é Lula. E Lula não conseguirá derramar caminhões de votos em sua direção. Será apresentada como a mãe do PAC, com capacidade gerencial etc. Mas não tem carisma. Já Aécio, de muitos sorrisos e abraços, exibe certo carisma. Comparações Situemos, agora, os universos em que ambos se inserem. Dilma, que começa a aparecer de vermelho nos filmetes de propaganda partidária, é a extensão do PT. Ora, esse partido continua a querer dividir o Brasil em duas alas : o lado do bem e o lado do mal. O lado do bem é o dele. A banda do mal é a dos outros. O PT continua a querer fazer a guerra dos pobres contra os ricos. Uma divisão que não combina com o espírito do tempo. Trata-se de uma visão retrógrada, ultrapassada. Os petistas parecem dizer : nós somos os melhores, os mais próximos a Deus; vocês, os piores, são filhos de Belzebul. Ora, esse discurso afugentará amplos contingentes dos espaços centrais da pirâmide. O ar de vestal do PT não mais atrai. "A missão do jornalista é principalmente indagar e tocar o dedo na corpulência da administração e da sociedade o ponto em que a inércia principia a produzir o apodrecimento." (Eça de Queirós) Articulação Mais ainda : o governador mineiro teria grandes condições de reunir em torno de si um formidável conjunto de forças políticas. Dilma, ao contrário, não tem força agregadora. Quem promove a agregação - artificial - em torno dela é o patrocinador Luiz Inácio. Resumo do argumento : Aécio Neves tenderia a crescer; Serra tende a cair. Dilma sinaliza derrota no enfrentamento com Aécio, mas abre boas perspectivas de vitória ante o governador paulista. E Serra ? Conta com uma garantia : a reeleição em SP. E Alckmin ? Se for candidato ao governo, tem ótimas chances, porquanto o PT continua estigmatizado em SP. Mas se Serra vir a concorrer ao governo, Alckmin não teria muita dificuldade de garantir vaga no Senado. E o melhor do PT ? Já o melhor candidato do PT, em SP, para disputar o governo é o prefeito Emidio de Souza, de Osasco. Que faz uma boa administração. Lula, o performático Luiz Inácio foi para o show final de Copenhague no momento em que o Brasil lidera o ranking de países com melhor conceito no campo da sustentabilidade. A nota alcançada pelo país foi a mais alta : 68. Os EUA estão oito pontos abaixo da última posição no ranking. Lula deverá fechar posições avançadas. Se conseguir uma negociação, fechará o ano com mais aplausos. Queiram ou não, Lula é o presidente brasileiro mais aplaudido no exterior em todos os tempos. Cristal trincado Lula desfechou um tiro na cúpula do PMDB com sua ideia de lista tríplice para Dilma escolher o vice de sua predileção. Lula quis sugerir o nome de Henrique Meirelles. Que jamais seria escolhido pelo PMDB, ele que é cristal novo no partido. Lula acha que pode fazer tudo, inclusive dizer aos partidos o que estes devem fazer. Pois bem, Lula trincou o cristal com a acidez de sua boca. A desconfiança do PMDB subiu no telhado. Uma pedra no caminho A agressão ao primeiro ministro italiano teve o condão de torná-lo vítima. Direita e esquerda condenaram o ato insano que deixou Berlusconi com dentes e osso do nariz quebrados. Passará alguns dias no hospital recebendo solidariedade. Na política, uma pedra no meio do caminho pode ser a salvação do percurso. Berlusconi, convenhamos, estava com imagem muito desgastada. Propaganda enganosa ? Este consultor ficou assustado com a manchete : 70% das campanhas publicitárias têm problemas. Que coisa incrível. O Brasil é, reconhecidamente, uma das mais qualificadas praças da propaganda mundial. A genialidade brasileira é premiadíssima. Temos alguns dos mais criativos profissionais de propaganda do mundo. E agências poderosas e com ramificações internacionais. Muito bem. Agora, expliquem. Por que nossas campanhas publicitárias vendem engodos ? Por que são consideradas enganosas ? Com a palavra, meus amigos publicitários. Lula, o poste e o patrocínio Primeiro, Dilma já não é um poste. Quem, a essa altura, tem 20% de intenções de voto, já saiu daquela classificação. O que sugere nova pergunta : Luiz Inácio tem condições de transferir votos para Dilma ? Respondo com a eleição chilena, que mostra semelhanças com a nossa. Bachelet, a presidenta, tem cerca de 80% de aprovação, índice próximo ao de Lula. Seu candidato, Eduardo Frei, que integra a Concertación, ficou em segundo lugar, bem atrás do conservador Piñera, um bilionário. Vai disputar o segundo turno. Tudo indica, porém, que Bachelet não conseguirá fazer seu sucessor. Tragam o exemplo para cá. E o esgotamento ? Alguém poderá objetar : no Chile, o governismo da Concertación se esgotou. O sistema está há 20 anos no poder. Exauriu-se. É verdade. Esta pode ser boa explicação. E, por aqui, o PT terá, ao final do governo Lula, apenas 8 anos no poder. Mas não se pode considerar a questão da identidade. O PT perdeu sua identidade. Virou um partido igual aos outros. Mas ainda se acha vestal. Pode ser que 8 anos sejam suficientes para esgotar a vida útil de uma sigla no centro do poder. Sobrevida Os governantes fazem o possível e o impossível para alterar a dinâmica da política. José Roberto Arruda é o mágico de plantão. Depois dos vídeos devastadores que mostraram a farra do mensalão no DF, a conclusão geral era de que Arruda seria ARRUinado. Não é que conseguiu uma sobrevida ? Vitamina : uma injeção de milhões na folha. Cooptação pelo bolso. 168 milhões de telefones Pois é, todos os telefones do Brasil podem ser grampeados. Quem deu a licença para tanto foi o juiz Marcio Milani. Está dito no blog do Lauro Jardim. Ele mesmo, o juiz, colocou seu telefone sob o império do grampo. Inacreditável. No Brasil, o mundo ficcional é real. Terceirização e pacto O presidente da Câmara Federal, deputado Michel Temer, recebeu dirigentes do Fórum Permanente em Defesa do Empreendedor, coordenado pelo diligente José Maria Chapina Alcazar, presidente do SESCON-SP/ASCON. Em pauta, dois projetos : 4302/98, que trata da terceirização; e o famigerado projeto que sugere mudanças na lei de Execuções Fiscais. O projeto em tela, que integra o II Pacto da República, tenta criar a figura da execução prévia, ferindo a norma constitucional e proporcionando um dos mais violentos atentados contra os direitos dos contribuintes. Em relação à terceirização, Michel sugeriu reuniões, em janeiro, para se chegar a um acordo sobre dois aspectos : responsabilidades solidária e subsidiária. Quanto ao segundo, o Fórum vai providenciar um parecer sobre sua inconstitucionalidade. Protógenes Protógenes Queiroz acaba de ganhar um emprego. Será o Assessor de Segurança para a Copa de 2014. Coordenará o mapa da segurança nos estádios. Ele é do PC do B. Foi nomeado pelo ministro Orlando Silva, do Esporte. Protógenes deverá ser candidato a deputado pelo partido. Pensou em ser candidato a senador. Não teria chances. Como candidato a deputado, pode ser puxado pela votação a ser obtida pelo bom ministro Orlando. Oportunidade perdida O STF perdeu mais uma oportunidade para fazer história. Ao decidir o recurso do Estadão contra a censura, a mais alta Corte do país, pela maioria de seus membros, preferiu o caminho dos detalhes técnicos. A tecnicalidade venceu a essência. A curva fechou a reta. Ayres Britto, Celso de Mello e Cármen Lúcia deram votos mais condizentes com o espírito do tempo. Ensinando cavalo a voar O sultão (da Pérsia) havia condenado à morte dois homens. Um deles, sabendo o quanto o sultão apreciava o seu garanhão, ofereceu-se para ensiná-lo a voar em um ano, em troca da sua vida. O sultão, imaginando-se como o único cavaleiro de um cavalo voador do mundo, concordou. O outro prisioneiro olhou para o amigo sem acreditar. "Você sabe que cavalos não voam. Que ideia louca foi essa ? Você só está adiando o inevitável." "Não tanto", disse o primeiro prisioneiro. "Na verdade, eu me dei quatro chances de liberdade. Primeiro, o sultão talvez morra neste ano. Segundo, talvez eu morra. Terceiro, o cavalo talvez morra. E quarto... quem sabe eu ensino o cavalo a voar !" (A arte do poder, R. G. H. Siu, 1979) Conselho aos congressistas Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na edição passada, o espaço foi destinado aos patrocinadores de pesquisa. Hoje, volta sua atenção aos congressistas : 1. Aproveitem o recesso de fim de ano, o convívio com os familiares e as bases para captar a alma das ruas. 2. Apurem as demandas, expectativas e anseios de suas comunidades. 3. Transformem a argamassa extraída do pensamento social em ações. E ganhem força para enfrentar o maior de todos os projetos : a reforma dos costumes políticos, a reforma política. ____________
quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Porandubas nº 215

Discurso Grande festa em Santa Maria do Suassui, em Minas Gerais. O deputado Nassip Raidan cumprira a promessa : chegava lá com o governador Bias Fortes. Em nome da cidade, subiu ao palanque o vereador Geraldo Lima, para o discurso de saudação : - Exmo. Senhor governador Bias Fortes. Exmo. Senhor deputado Nassip Raidan. Tossiu, todo cheio de si, olhou os quatro cantos da praça superlotada, enfiou a mão no bolso para tirar o discurso. Não achou. "Cadê o discurso ? Não é possível. Tô ferrado". Remexeu os bolsos, ficou em pânico, o discurso tinha sumido. Viu a mulher lá longe, ainda mais aflita, gritou rouco : - Donana, o que é que eu faço ? Donana, pelo amor de Deus, o pronunciamento...o pronunciamento caiu no vaso do banheiro. O que eu faço o que eu faço, Donana ? A galera em coro : - Fala, fala, fala. O vereador saiu pelos fundos do palanque, inventando um acesso incontrolável de tosse. Sob as vaias da multidão. Pesquisa... Ação Essa mania de pesquisa mais atrapalha que ajuda. Todas as vezes em que uma pesquisa aparece no mercado, o mundo da política entra em polvorosa. Quem sobe um pouco - este é o sentimento de muitos - está quase ganhando as eleições. Quem desce, já perdeu. Pois bem, pesquisa de opinião na seara eleitoral, nesse momento, é pura especulação. É jogo lúdico para dourar a pílula nas conversas e articulações. Pesquisa, agora, apenas mede recall, lembrança do nome de uma pessoa. Nada mais que isso. Serra e Dilma sobem ? Dizer, por exemplo, que o governador José Serra e a ministra Dilma Rousseff subiram, nesta última pesquisa CNI/IBOPE, é um exagero. Serra saiu de 35% para 38%, três pontinhos dentro da margem de erro. Dilma deixou os 15% para ficar com 17%, dois pontinhos a mais, o que nada significa. Mais importante é anotar que a popularidade de Luiz Inácio continua a aumentar, chegando, agora, aos 83%. E dizer também que Ciro está em franco declínio (baixou de 17% para 13%) é precipitação. Ninguém, por enquanto, saiu em campanha. A encenação de pré-campanha ainda é vaga na cabeça do eleitor. O que se mede ? O que se mede, então ? Mais uma vez : mede-se a força do nome na cabeça do eleitor. Mede-se o comprimento de onda que o nome da pessoa fabrica no sistema cognitivo dos eleitores. Comprimento de onda significa a régua do tempo, espaço em que prováveis candidatos desenvolveram um conhecimento público, a partir de pleitos anteriores, visibilidade na mídia, histórico pessoal, atual cargo público etc. A pesquisa do momento não afere comparações entre competências, preparo, experiência, compromisso com propostas (que ninguém sabe ainda quais são), apoio de patrocinadores etc. Aécio puxa a corda A novidade não é o resultado de mais uma pesquisa, mas a pressão que o governador de Minas Gerais começa a imprimir ao processo decisório na floresta tucana. Neves vai se encontrar, nesta sexta-feira, em Teresina, com seu companheiro José Serra. Dirá : "Serra, você terá meu irrestrito apoio, pode contar com meu esforço, mas não toparei ser vice em sua chapa; prefiro ser senador. Agora, se você declinar da candidatura, me dê a vaga. Eu topo ser candidato. Mas você tem de decidir logo. Tem que ser, no máximo, até final de janeiro. Não pode ser em março como você quer. Fica tarde pra mim". Resposta de Serra Serra vai contra-argumentar : "Aécio, tenha um pouco de paciência. Vamos ver como ficará essa crise que assola o DEM. Nem sei de onde tirar, hoje, o vice. Arruda foi bombardeado. Zé Agripino, do RN, pouco agregará à chapa. Você seria o ideal. Se você topasse, eu aceitaria ser o candidato agora mesmo. Você tem condições de fechar Minas Gerais em torno de nossa chapa. E eu carregarei São Paulo, com uns 5 a 6 milhões de diferença. Nesse caso, poderemos enfrentar a vantagem de Dilma/Lula no nordeste. Pense bem, Aécio. Não me deixe só". Aécio retruca O mineiro diz : "meu avô Tancredo me ensinou. Meu filho, não ande em cavalo cansado. O cavalo de março chegará cansadinho na minha porta. Não, Serra, prefiro um cavalo novo, um cavalo de janeiro, sela nova, arreios brilhando, o bicho doido para correr na estrada. Topo não. E mais, não gosto de garupa. Gosto de guiar a montaria". E assim... E assim, José Serra ficará com a brocha na mão. Promete a Aécio pensar. Pensar mais um pouco. Noctívago, vai curtir a solidão noturna dos amplos corredores do Palácio dos Bandeirantes. Olhando para as obras dos artistas que chamam sua atenção, todas as madrugadas em que carece de um pouquinho mais de profundo silêncio. "O fruto participa da qualidade das árvores." (Machado de Assis) Fichas sujas Este consultor é favorável ao projeto que veta a participação dos chamados fichas sujas em campanhas eleitorais. Por reconhecer que há ainda muita perseguição e vingança por parte de juízes de primeira instância, defende a ideia de que os fichas sujas precisam ser condenados na segunda instância, após serem submetidos à decisão de um colegiado. Nesse caso, o ficha suja não foi condenado por apenas um juiz, mas por uma corte de justiça. Ficam mais preservados os valores que alicerçam a Justiça : a independência, a imparcialidade, a pluralidade. PT dividido O PT sai do processo eleitoral interno bastante fracionado. No Rio, a banda que apoia a reeleição de Sérgio Cabral ganhou a eleição com a vitória do deputado federal Luiz Sérgio. Mas o prefeito Lindberg Farias, de Nova Iguaçu, vai resistir. Promete confusão. Ele não fechará posição com o partido. Quer ser candidato na marra. Em Minas Gerais, a banda de Fernando Pimentel levou a melhor. Garantindo sua candidatura ao governo. A possibilidade de acordo entre as alas é, porém, maior que no Rio. Chesterton e a imprensa   Em 1912, Chesterton definiu a imprensa, ainda com um resto de romantismo, como a arte de dizer que Lord Jones morreu a quem nunca soube que Lord Jones existiu. Com o tempo, ela passou a ser também o ofício de indistintamente dizer que Lord Jones disse tudo o que Lord Jones disse, ou dizer que Lord Jones disse o que Lord Jones nunca disse, ou não dizer que Lord Jones disse o que Lord Jones disse, ou fazer de conta que nunca existiu um Lord Jones, a um público cada vez mais informado; com uma eficiência que poucos teriam sonhado. O século XX ficou para trás. Mas a definição de Chesterton continua viva. Arruda sangrando Quanto mais demorar a novela Arruda, no DF, mais sangue sairá das veias do governador. O DEM não tem outra alternativa que a de expulsar dos quadros seu único governador. O PSDB e o PMDB já saíram do governo. O DF é a sala de visitas da Nação. Ali se concentra a turma mais barulhenta do palanque das ruas : alas radicais de funcionários públicos, militância ferrenha de movimentos sociais, dirigentes sindicais plantados sobre grana (isso mesmo, grana, não grama) e oportunistas de todos os tipos. Que ganharam de presente o mensalão do DEM para continuar o barulho. Com direito à invasão da Câmara Legislativa. A força de Kassab Com a saída de José Roberto Arruda, a maior referência do DEM passa a ser o prefeito Gilberto Kassab. Que tenta administrar uma cidade invadida pelas águas. São Paulo tem enfrentado dias conturbados. Chuvas e mais o congestionamento de fim de ano formam a receita do caos. Kassab, após o ciclo caótico, deverá repensar seu futuro. Liderar o DEM em direção a novos horizontes, trabalhar por uma ampla bancada na Câmara Federal, juntar os elos perdidos do DEM numa corrente menor, porém mais forte, ou até imaginar outras rotas partidárias ? A conferir. Pedaço de história (1) A fim de conquistar o poder, César ligava-se à pessoas de todas as classes, das altas às mais baixas. Tornou-se um homem vulgar. Divorciou-se de Pompeia, sua segunda esposa, porque "a mulher de César deve estar acima de qualquer suspeita". E ela não estava. Mas ele era infiel à esposa. Mantinha casos amorosos com mulheres diferentes, inclusive a mãe de Bruto. O veneno de ação lenta corroia seu ser. A depravação da Roma caia como sombra sobre a luminosa promessa de seu futuro. O filho do Brasil Este consultor não tem dúvidas : o filme da família Barreto, Lula, o Filho do Brasil, não será apenas uma gigantesca cascata de lágrimas. Deverá receber, nos circuitos mais centrais, algumas marolinhas de vaias. Que se começam a ouvir no trailer do filme. Em cinemas não periféricos. Quem explica ? O Brasil é, em certos momentos, indecifrável. Vejam esta : teremos um Natal fervilhando de compras. Economia super aquecida. Lojas e supermercados cheios. A indústria automobilística nunca vendeu tanto. Lula nas alturas. Brasil bombando. Um estouro. Estouro ? Anotem : a inadimplência subiu. Chegou ao índice de 20% dos consumidores. No mês anterior, esse índice era de 14%. Manchete dos jornais desta semana. Senhores economistas, expliquem logo esse paradoxo. Ou é assim mesmo ? Quanto mais consumo, mais inadimplência ? Mas, e a grana distribuída ou financiada pelo governo ? E o Prudente, hein ? Que não se perca pelo nome. Mas o deputado Prudente, de primeiro nome Leonardo, foi IMPRUDENTE, quando se meteu na máfia da propina. Prudente é presidente da Câmara Legislativa do DF. Enfiou dinheiro pelos bolsos do paletó e dentro das meias. E ainda dirigiu a Oração da Propina. Se os prudentes no Brasil fossem como ele, já teríamos sido engolidos por um tsunami propineiro. Ladrões de bom humor Temos de reconhecer. A ladroagem se aperfeiçoa. Os métodos se sofisticam. Ladrões alugaram uma casa, cavaram túnel, fabricaram carrinhos próprios para carregar 20 milhões de reais. E deixaram um malote com notas de 2 reais. Tremenda gozação. Tiveram imensa paciência. E escolheram o dia : final de campeonato. Festa das galeras. Barulho total. Natal gordo. Prenderam seis suspeitos. Pedaço de história (2) Michelangelo subia pela escada, trepava no andaime e deitava-se de costas para pintar o teto. Escravizado à sua arte criadora, esquecia-se de comer e de dormir. Enxotava um auxiliar atrás do outro. Só abria a porta quando escutava o bater da bengala de Júlio II, o papa. Que não entendia de arte, mas sabia distinguir a grandeza. - Quando, quando ficará pronto ? - indagava o Papa impaciente. Um dia, o Sumo Sacerdote dá o ultimato : - Basta, já está pronto. Desça desse andaime, senão mando tirá-lo daí. Michelangelo concordou. Lá estava o Gênese, a história da Criação, da Queda do Homem e do Dilúvio. Com um gesto autoritário, Deus divide o firmamento; insufla o pó de um sopro divino, e eis Adão, feito à Sua imagem, o dedo de Deus ainda no ato de soltar o de Adão, enquanto o primeiro homem contempla com olhos de adoração a face do seu Criador. Eva, agasalhada sob o braço do Onipotente, lança o olhar de curiosidade e medo para o seu senhor e mestre. Profetas e sibilas enchem os difíceis espaços do teto. Há ali 343 grandes figuras, todas sublimes; cada uma tem na pintura a pujança da escultura. Conselho aos patrocinadores de pesquisa   Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na edição passada, o espaço foi destinado aos dirigentes do DEM. Hoje, volta sua atenção aos patrocinadores de pesquisa : 1. Procurem solicitar dos Institutos de Pesquisa novas abordagens com a finalidade de descobrir os fatores que influenciam o sistema cognitivo do eleitor. 2. Seria interessante mapear a escala de critérios e valores que estão por trás das escolhas e preferências das classes e segmentos eleitorais. 3. As pesquisas poderiam ainda radiografar as vontades eleitorais a partir das diferenças sócio-culturais entre as classes nas diversas regiões do país, a fim de evitar sua homogeneização. ____________
quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Porandubas nº 214

Historinha engraçada... Pernambucano audaz, Newton Coumbre passava em frente ao quartel de Obuzes de Olinda, logo depois do golpe de 64. Carregava uma bomba d'água enrolada em jornal. Dois sentinelas, fuzis em punho, avançaram sobre ele, aos pontapés : - O que é isso ? - D'água ! D'água ! Mandaram jogar o embrulho no chão e levaram-no até o coronel : - O que é que tem no embrulho ? - Uma bomba d'água. - Por que não disse logo e ficou dizendo "d'água" ? - Coronel, eu dizendo só "d'água" eles me bateram tanto; se dissesse "bomba" teriam me fuzilado. Mais uma historinha pescada pelo amigo Sebastião Nery. Historinha terrível... La historia más terrible la encontré hoy en las memorias de una mujer, Misia Sert. La llamo suplicio de las moscas y la transcribo literalmente : "Una de mis compañeras de habitación había llegado a dominar el arte de cazar moscas. Tras estudiar pacientemente a estos animales, descubrió el punto exacto en el que había que introducir la aguja para ensartarlas sin que murieran. De este modo confeccionaba collares de moscas vivas y se extasiaba con la celestial sensación que el roce de las desesperadas patitas y las temblorosas alas producía en su piel." El suplicio de las moscas, contada pelo genial Elias Canetti. "Um falar doce e delicado quebra as asas do próprio diabo." (Provérbio abissínio) DEM...olido O DEM está demolido ? Ainda não. Mas as estacas esparsas estão caindo de podre. O escândalo Arruda estoura o partido. Não adianta protelar a situação. Os vídeos com dinheiro na cueca, na meia, na sacola quebram qualquer escudo defensivo. Arruda, o governador, poderá contratar os melhores advogados. Se não renunciar, a pressão da opinião pública, via mídia, será devastadora para sua imagem. Os deputados de Brasília só terão uma alternativa : o impeachment. Definhar agora ou morrer mais tarde, com sangue escorrendo pelos poros, eis a questão. DEM...olição O DEM poderá, até, ter uma sobrevida e chegar, sem fôlego, ao pleito de 2010. Sem discurso, inerme, oco. Poderá, até, ganhar algum volume de voz, principalmente se contar com a rejeição contundente ao escândalo, pelas vozes do líder do partido no Senado, José Agripino, do presidente da sigla, Rodrigo Maia, do líder na Câmara, Ronaldo Caiado e do bravo senador Demóstenes Torres, que preside a Comissão de Constituição e Justiça do Senado. Mas o rescaldo do escândalo baterá na eleição de 2010. Sem dúvida. DEM...arcação O mensalão do DEM será a demarcação de uma era. Acabou-se o ciclo do mensalão exclusivo do PT. Que já vinha entrando em rota estreita, por conta do pedaço mineiro do mensalão, jogado sobre o colo do senador Eduardo Azeredo, do PSDB. Agora, assiste-se ao espetáculo de canibalização recíproca dos mensalões. O do DEM supera todos pela estética : cueca e meias. Deixa o do PT no chinelo pela extravagância dos atores. Até a "Oração do Mensalão" foi rezada. Coisa escatológica o gesto de dois mensaleiros, abraçados ao secretário Durval. Agradeciam aos céus pela existência daquele providencial secretário de Relações Institucionais. Meu Deus do céu, onde chegamos... DEM...onização Nas próximas semanas, entrando no ano eleitoral de 2010, a demonização tomará conta da aliança entre PSDB e DEM. Este partido, com imagem mais suja do que pau de galinheiro, não será mais vital sob o prisma eleitoral. Poderá adicionar minutos importantes para a composição do tempo na mídia eleitoral, mas o apelo do voto será quase nulo. É verdade que o eleitor tende a nivelar todos os partidos como farinha do mesmo saco. Mas sem o discurso do mensalão contra o PT, o DEM será uma sigla de costelas quebradas. Ou, se quiserem, de coluna vertebral fracionada. DEM...ência A consequência, no curto prazo, será um Dândi dançando na escuridão. Ou seja, um ente perdido no meio da floresta política, sem saber para onde ir. Certa demência - no sentido de fuga da realidade, confusão mental - tomará conta da sigla e de seus dirigentes. É evidente que a bateria no bumbo do mensalão do DEM respingará nos aliados tucanos. A candidatura da oposição à presidência da República sofrerá abalos. Serra DEM...orará ? Serra, que assume publicamente a posição sobre o muro, ficará ainda mais em dúvida. "Diga-me, espelho meu : serei o melhor candidato ou a faixa passarei ?" Este consultor tem apenas uma certeza : o episódio de Brasília expande a taxa de dúvidas que carimba o perfil de Serra. Se a tendência do governador paulista oscilava entre 60% a 70% - para a banda da aceitação - a taxa baixou para 50% a 60%. Ou seja, Aécio ganhou uma escada de 10 pontos percentuais na balança das probabilidades. Serra na montanha nordestina José Serra foi ao Ceará, território político de seu arqui-adversário Ciro Gomes, para tirar a limpo essa história de que os nordestinos não o veem com simpatia. E passou a enumerar as coisas que teria feito pela região, a partir da criação do Fundo para o Desenvolvimento do Nordeste. Citou coisas boas - ótimas, por sinal - como os remédios genéricos, fruto de sua atuação no Ministério da Saúde, por ocasião do governo FHC. Mas não adianta falar para audiências selecionadas. É claro que os tucanos cearenses arrumaram uma plateia simpática. "Não é o tempo que nos falta - é a serenidade para pensar noutra coisa além do alarmante assunto de todos os dias." (Euclides da Cunha) Marca O governador paulista é um exemplo de administrador competente. Sabe arrumar a casa, a partir dos cofres. Escolhe quadros preparados, gente talhada para aumentar a arrecadação, como esse seu secretário Mauro Ricardo, conhecido pela engenharia financeira que monta para tirar dinheiro dos setores produtivos. Muito bem. Mas Serra não é um cara simpático. Não tem carisma. Parece que quer puxar as orelhas das pessoas. E tem escrito na testa a marca paulista. Marca que, em regiões como nordeste e norte, tem conotação de mando, poder, força, dominação. Gera resistência em grupos. A logotipo serrista, nesse caso, não ajuda muito. Reengenharia eleitoral Imaginemos, agora, a hipótese de Serra desistir de sua candidatura ao Planalto. Decisão tomada em janeiro de 2010. Aécio topa entrar no lugar. Nesse caso, a roda colocará o norte no lugar do sul. A reengenharia eleitoral mudará o mapa das alianças. O PMDB, que hoje tende (80%) a formar aliança em torno de Dilma, inverteria o caminho. Neves puxaria a maior fatia do partido. Ciro poderia mudar seu posicionamento em relação ao tucanato. E Dilma teria maiores dificuldades em fechar o leque de alianças. Aníbal, senador O bom deputado José Aníbal, líder do PSDB na Câmara, é um dos mais fortes postulantes à chapa tucana em SP para o Senado. Zé já teve ótima votação para o Senado, quase 5 milhões de votos em 2002. Por enquanto, o quadro para o Senado abriga os nomes de Aloizio Mercadante (PT), Orestes Quércia (PMDB) e Gabriel Chalita (PSB). Dante desses, o nome do tucano Aníbal tem boas chances. E Skaf, hein ? E Paulo Skaf do PSB, hein ? O que aconteceu com ele ? É candidato ? A quê ? Depois que Ciro Gomes foi pré-lançado por Lula como candidato ao governo de SP, o presidente da FIESP se escondeu. Até para espiar a cena de longe. Skaf entrou no partido errado. Até porque o "S" do socialismo da sigla não combina com a identidade da maior federação de indústrias do país. Nem que o "S" seja apenas uma letrinha como ele chegou a insinuar. Há pessoas bem intencionadas - e Skaf parece ser uma delas - que entram em curva antes de correr na reta. Na política, o rumo é assim : primeiro, uma reta; siga por ela pelo maior tempo que a caminhada exigir. Depois, a pessoa pode entrar na curva. Fazer o inverso só funciona para pessoas bem treinadas. Profissionais. Perigo de descarrilhar ? Na esteira do escândalo no governo Arruda, o site Carta Polis, de Brasília, antecipa informação que deve deixar muita gente fora dos trilhos. O site informa que o próximo alvo da PF é o propinoduto da Alstom, fabricante francesa de trens e metrôs, que abasteceu políticos locais. O atual governador e o ex, Joaquim Roriz, elegeram a empresa, com 17 processos no MPF, como principal fornecedora do metrô do DF. Está prestes a assinar um contrato para instalar um VLT (Veículo Leve sobre Trilhos) na capital federal. O esquema envolveria lavagem de dinheiro, sendo revelado a autoridades judiciárias suíças após prisão de um vice-presidente da Alstom. Benjamim e Lula César Benjamin chutou o pau da barraca. O artigo na Folha de S.Paulo, onde apresentou uma versão sobre a vida íntima do presidente, foi desmentida pelos companheiros que vivenciaram o episódio. Este consultor acredita na versão do cineasta Silvio Tendler. Lula era (e ainda é) um tremendo gozador. Queria espantar o marqueteiro americano que se encontrava à mesa, por ocasião do relato, em 1994. A história era uma piada. Benjamin deve ter boiado. Ou, malicioso, quis cometer um ato de vingança. O tiro saiu pela culatra. A Folha deveria ter buscado o contraponto antes de publicar o artigo. Cena extravagante Como é possível um dono de jornal - Tribuna do Brasil - guardar dinheiro na cueca ? Dinheiro de suposta propina ? Que jornalismo, hein ? Brasil vai recuar ? O Brasil continuará a desconhecer a eleição em Honduras ? Ou recuará, aceitando o resultado das eleições que elegeram o conservador Porfírio Lobo, 61, como presidente da República. Este consultor acredita que já é hora de o país cair na Realpolitik. Sob pena de aumentar seu isolamento na esfera internacional. Políticos e tigres Ao visitar a montanha sagrada de Taishan, Confúcio, o sábio, encontrou uma mulher cujos parentes haviam sido mortos por tigres. - Por que não se muda daqui, perguntou Confúcio. - Porque os governantes são mais ferozes que os tigres. Jantares de fim de ano Fim de ano com muita festa. Este ano, o clima sinaliza mais fervura no comércio e nos serviços. Três eventos ocorrerão dia 4, sexta-feira, em São Paulo. Os jantares do Sindeprestem - sindicato-ícone e líder dos serviços terceirizados - do Sesvesp - entidade que agrega as empresas de segurança privada; e do Sindhosp - sindicato dos hospitais. "Viver, sofrer, morrer, três coisas que não se ensinam nas Universidades, e que, todavia, encerram em si todo o viver." (Paul Auguez, poeta francês) Conselho aos dirigentes do DEM Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na edição passada, o espaço foi destinado ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Hoje, volta sua atenção aos dirigentes do Democratas : 1. Não demorem na decisão. Assumam, com coragem, a posição mais conveniente para atenuar o impacto do mensalão do governador Arruda. 2. Se a decisão ficar para as calendas - após apuração de todas as denúncias - o partido sangrará até aquela data. 3. Alternativa de bom senso seria a suspensão temporária do governador até o término do processo. Com possibilidade de reingresso ou expulsão definitiva do partido. ____________
quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Porandubas nº 213

Abro a coluna, hoje, com Pernambuco falando para o mundo. Duas historinhas mostram a performance de dois de seus atores. Luís Pereira, pintor de parede, foi dormir com 200 votos. Acordou deputado federal. Era suplente de Francisco Julião, cassado. Chegou a Brasília de roupa nova e coração novinho, conforme a verve de Sebastião Nery. Murilo Melo Filho jogou a primeira lata de tinta no silêncio daquela provinciana fachada política : - Deputado, como vai a situação ? - As perspectivas são piores do que as características. Luiz Serafim, o Serafa, era presidente da Liga Camponesa de Vitória de Santo Antão. Um comício programado pedia a presença de Francisco Julião. Luiz Serafim foi encarregado de saudar o fundador das Ligas. Caprichou nas palavras : - Francisco Julião é aquele que não claudica em suas reivindicações benévolas ! Pesquisação Chovem pesquisas. Mais uma, da CNT/Sensus, aparece para confirmar o que este consultor, há tempos, proclama : a queda de José Serra. Não há novidade nesta nova bateria. Apenas denota a tendência irretorquível : quem está muito na frente, cai, e quem está atrás sobe. O governador de São Paulo desceu alguns degraus da escada pelas seguintes razões : baixou a visibilidade, isolando-se no Palácio dos Bandeirantes; Dilma e Ciro expandiram suas aparições públicas; Luiz Inácio continua a fazer campanha desbragada para sua candidata, a mãe do PAC; as oposições perdem o eixo, a olhos vistos. Não sabem para onde ir. Serra e Aécio Há um dado interessante nesta pesquisa. A chapa Serra/Aécio alcança 35,8% de intenção de voto; a chapa Aécio/Serra chega a 31%. Ou seja, os números estão muito próximos. Se fizermos a projeção de potenciais de crescimento, teremos, de um lado, um perfil mais jovem, em condições de cooptar maiores grupamentos partidários; de outro, teremos um perfil mais forte, hoje, porém sem condições de conseguir expandir a base partidária. Ou seja, a tese deste consultor é : Aécio reúne maior potencial de crescimento, comparado a José Serra. Ademais, Ciro Gomes tem tido e repetido : se o governador mineiro aparecer como candidato tucano, ele desiste de sua candidatura à presidência. Depois de tanta afirmação, Ciro não teria como recuar. Dedução : o neto de Tancredo apresenta-se como perfil em crescimento; Serra, apesar de mais experiente, encaixa-se na tendência do declínio. A economia não elege ? Não dá para acreditar que o governador paulista, que domina como poucos a matéria tributária, tenha dito esta semana : a economia não decide eleição. E cita Lula como exemplo em 2006. Que loucura. Apesar de a economia não exibir glórias naquela época, a situação do momento era comparada com os anos FHC. Lula ganhou disparado na comparação. Aliás, é o que Lula, de modo inteligente, quer repetir agora. Este consultor não tem dúvida : quem elege um candidato é o bolso do eleitor. Bolso vazio, necas; bolso cheio ou mais ou menos folgado, troco. Ou será que José Serra esqueceu o mote da campanha de Bill Clinton, em 1992, cravada pelo marqueteiro James Carville : "é a economia, estúpido". Ciro sem vez em SP Se Ciro Gomes tira votos de José Serra na área federal, não conseguiria puxar votos a ponto de ameaçar a vitória deste governador, caso fosse candidato à reeleição em São Paulo. E mais : não teria condições de levar a melhor no Estado mais forte da Federação. Ciro seria aqui destruído. De São Paulo, não deve conhecer 3% dos municípios. Seria mais fácil o sol não aparecer amanhã do que Ciro, com vida política no Ceará, ganhar o pleito para o governo paulista em 2010. Aposto uma dúzia de picolés. Contra uma goma de mascar. Dutra no comando petista José Eduardo Dutra comandará o PT nos próximos anos. O antigo grupo majoritário volta a dar as cartas. José Dirceu brilhará mais ainda no firmamento político eleitoral. Apesar do segundo lugar, garantido por outro José Eduardo, o Cardozo, o grupo de Tarso Genro passará uma temporada nas margens. Até porque seu titular se afastará para o desafio eleitoral no Rio Grande do Sul. Tarso tem alguma condição. Perdeu prestígio nos últimos tempos com suas posições mais radicais. Tarefa de Dutra : fechar as alianças nos Estados com o mínimo de dissenso. Missão impossível. Armadilha, já ? Perdão pelo jogo fonético : Ahmadinejad tem algo parecido com armadilha, já. Lula recebe com pompas o presidente do Irã, de nome Mahmoud, sugerindo nas linhas e entrelinhas que o Brasil quer ser já, já, Ahmadinejad, "potência mundiá". Quer ser mediador com voz forte no Oriente Médio, quer sentar de vez no Conselho de Segurança da ONU, quer dar recados retumbantes na Conferência de Mudança de Clima, de Copenhague, quer puxar a orelha de Obama e dar recados aos chineses. Quer, quer, quer... sei não. Vejo, com essas querências todas, o aluguel de muitas armadilhas. Que podem fisgar o Brasil no contrapé. Uma no cravo Lula defendeu o direito do Irã de enriquecer o urânio para fins pacíficos. Outra na ferradura Desde que haja compromissos com alguns princípios dos quais o Brasil não abre mão. Olhando pra cima Na hora da ferradura, Luiz Inácio olhou para o teto. Isso ocorre sempre que o presidente divaga. Entra no perigoso terreno da abstração. O semeador e o que semeia "Entre o semeador e o que semeia há muita diferença. Uma coisa é o soldado, e outra coisa é o que peleja; uma coisa é o governador, e outra coisa o que governa. Da mesma maneira uma coisa é o semeador, e outra o que semeia; uma coisa é o pregador, e outra o que prega. O semeador e o pregador, é nome; o que semeia e o que prega, é ação; e as ações são as que dão o ser ao pregador. Ter nome de pregador, ou ser pregador de nome, não importa nada; as ações, a vida, o exemplo, as obras, são as que convertem o mundo." (Sermão da Sexagésima, Padre Vieira) Dilma na espontânea Pois bem, Lula conseguiu dar a Dilma Rousseff a visibilidade que não tinha. Na pesquisa espontânea, a ministra-chefe da Casa Civil está próxima a José Serra, ele com 9%, ela com 6%. Intenção espontânea de voto se deve, sobretudo, ao quesito conhecimento público. PF com mais poder A Polícia Federal terá maior poder para fiscalizar. As novas funções estão previstas em projeto de lei que permitirá à PF requisitar dados cadastrais de instituições e pessoas acusadas de crimes junto ao BC, Receita Federal e Conselho de Controle de Atividades Financeiras. Hoje, essa função é dificultada. Em compensação, haverá normas contra a espetacularização das investigações. 25% dos eleitores Só 25% dos eleitores brasileiros - cerca de 132 milhões de eleitores - expressam o nome de seu candidato. Palavras sem obras "O melhor conceito que o pregador leva ao púlpito, qual é ? É o conceito que de sua vida têm os ouvintes. Antigamente convertia-se o mundo : hoje por que não se converte ninguém ? Porque hoje pregam-se palavras e pensamentos; antigamente pregavam-se palavras e obras. Palavras sem obras são tiro sem bala; atroam, mas não ferem. A funda de David derrubou o gigante; mas não o derrubou com o estalo, senão com a pedra. As vozes de sua harpa lançaram foram os demônios do corpo de Saul; mas não eram vozes pronunciadas com a boca, eram vozes formadas com a mão. Para falar ao vento bastam palavras; para falar ao coração são necessárias obras." (Sermão da Sexagésima, Padre Vieira) FHC escondido ? Essa é uma novidade ruim para o tucanato. O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso não está bem na fita. 49,3% não votariam de jeito nenhum em candidato indicado por ele. Dilma rejeitada Dilma melhorou - um pouquinho - a posição no ranking da rejeição. De 37,6%, sua rejeição caiu para 34,4%. Próxima a de Marta Suplicy, por ocasião da última eleição para a prefeitura paulistana. Índice considerado razoável está em torno de 15%. Requião e sua reunião Em que deu a reunião de Roberto Requião ? O governadorzão queria uma decisão em torno de um candidatão do seu partidão para a eleição presidencial de 2010. Perderá essa bênção na Convenção. Aposto um real contra um tostão. Cascatas de lágrimas Atenção, vendedores ambulantes de lenços. Preparem seus estoques. Nos próximos dias, cascatas de lágrimas serão derramadas nos escurinhos dos cinemas. Tudo por conta de "Lula, o Filho do Brasil", que mostra a saga do engraxate que virou presidente da República. As lágrimas aguarão os caminhos poeirentos que levam ao pleito de outubro de 2010. Para que dona Dilma Rousseff chegue às urnas com os sapatos molhados de votos. Edinho reeleito A reeleição de Edinho Silva para a presidência do PT paulista serve ao objetivo do presidente Lula : botar Ciro Gomes como candidato ao governo apoiado pelo PT. Ciro, diz Serra, é um pau mandado de Lula. É. Pode ser. Mas esse pau bate muito duro em sua cabeça. Dilma, a expert A ministra-chefe da Casa Civil entende tanto de meio ambiente quanto Carlos Minc, ministro do Meio Ambiente, de minas, energia ou pré-sal. Mas a pré-candidata de Luiz Inácio à presidência da República será a chefe da delegação brasileira em Copenhague. Modo de impregnar seu perfil com o verde da sustentabilidade. Marina Silva, que se cuide. Tarso, o exagerado Tarso Genro já foi melhor. Este consultor já chegou a afirmar, em tempos idos, que seu perfil estava entre os melhores do PT. Pelo menos, entre os mais preparados. Mas o ministro da Justiça é um poço de exageros. Diz, agora, que o STF tentou usurpar poder de Lula. Tudo por conta da novela Cesare Batistti. Que deixa Lula entre a cruz e a caldeirinha. Acusa o STF de tomar uma decisão ilegal. Tarso Genro está sentado no trono dos céus, ao lado de Deus. O poste de Lula Quem ainda garante que Lula, apesar de registrar o maior prestígio no ranking dos presidentes da República, não consegue eleger um poste ? Pois bem, confiram : o poste de Lula já ultrapassou a casa dos 20%. Receita Federal O estilo discreto, porém eficiente, do Secretário da Receita Federal, Otacílio Cartaxo, começa a dar resultados. A RF resgata sua performance. A de outubro chega a um recorde por conta da transferência de R$ 5 bilhões em depósitos judiciais que estavam na CEF. Cartaxo havia prometido para novembro o reposicionamento das receitas aos altos níveis do passado. Deve atingir a meta. A RF entra nos eixos. Fim de ano lotado O fim de ano abre horizontes lotados. Lojas, supermercados, agências de viagem, companhias aéreas, empregos temporários natalinos. O bolso, se não está cheio, não passa por grandes apertos. O sorriso dos governistas vai de um canto a outro da boca. Conselho ao presidente Luiz Inácio Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na edição passada, o espaço foi destinado ao ministro Edison Lobão. Hoje, volta sua atenção ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva : 1. Administrar, de modo equilibrado, a grande confiança que lhe deposita a população brasileira, evitando atitudes arrogantes e o sentimento de que é onipotente. 2. Ter muito cuidado com a liturgia do poder e usar a força do governo, nos próximos meses, para corrigir desvios e distorções nos diversos campos da administração. 3. Evitar que a máquina administrativa seja utilizada a favor de candidatos, a partir de sua pré-candidata à presidência, Dilma Rousseff. ____________
quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Porandubas nº 212

Sinceridade e Sagacidade Zé Cavalcanti, ex-deputado paraibano, conta em seu livro "A Política e os Políticos", que um coronel do sertão, ao passar o comando de seus domínios para o filho, aconselhou : - Meu rapaz, se queres ser bem sucedido na política, cultiva estas duas verdades : a sinceridade e a sagacidade. - O que é sinceridade, meu pai ? - É manter a palavra empenhada, custe o que custar. - E o que é sagacidade ? - É nunca empenhar a palavra, custe o que custar. ________________ O futebol é a alegria do povo. A liturgia da descontração, da solidariedade, do aplauso e do apupo, da criatividade e da descontração. Futebol é festa ! E clímax. Choro e tristeza. A coluna, hoje, será enriquecida pela linguagem vinda dos campos. Desde já, o meu abraço solidário aos queridos jogadores, a quem se atribuem as pérolas abaixo. Enviadas pelo amigo Carlos Alberto Albuquerque. "Chegarei de surpresa dia 15, às duas da tarde, vôo 619 da VARIG." (Mengálvio, ex-meia do Santos, em telegrama à família quando em excursão à Europa) Velho discurso Não acredito. O PT começa a pavimentar o caminho de 2010, usando velhas ferramentas e conceitos ultrapassados. Ressuscitará o bordão "Consenso de Washington" para combater o "neoliberalismo", resgatará o surrado chavão de um "projeto democrático, popular, nacionalista e internacionalista de inclusão e participação popular" e fará emergir os costados do velho navio cargueiro sob o nome do "Estado grande e forte". Depois de mensalão, crise moral e ética que solapou as bases do partido, será que alguém, de bom senso, ainda navegará em canoas furadas ? Só mesmo tapados e entupidos. "Tanto com a minha vida futebolística quanto com a minha vida humana." (Nunes, ex-atacante do Flamengo, em uma entrevista antes do jogo de despedida do Zico) PMDB na vitrine O PMDB sempre esteve na vitrine. Sempre foi objeto de pancada. Mas, na hora H, é o partido procurado, festejado, adulado. Agora mesmo, abrem-se manchetes em torno do futuro do partido. De uma parte, ouve-se que terá candidato próprio à presidência da República; de outra, lê-se que está dividido e pode, até, vir a apoiar a candidatura do tucano José Serra à presidência da República. Tudo pode acontecer em se tratando de matéria política. Mas, hoje, a situação é exatamente esta : a maioria do partido - 75% a 80% - defende uma aliança com a candidata de Lula; e nem 10% topariam fechar o partido em torno de uma candidatura própria. Rachar o PMDB é diversão de uns. Que não percebem a equação sui generis que o caracteriza : quanto mais dividida, mais forte é a sigla. "As pessoas querem que o Brasil vença e ganhe." (Dunga, em entrevista ao programa Terceiro Tempo) Haja lenço ! Pois é, os produtores do filme "Lula, o filho do Brasil" pedem para que as plateias levem lenços para assisti-lo. Glória Pires, que faz o papel de dona Lindu, mãe de Lula, conclama : "levem lenços". A ênfase ao pedido vem na sequência de que, ela, mesma, não vê os filmes e novelas em que atua e tende a ser uma telespectadora fria. Por isso, ao sugerir o uso de lenços, Glória reforça a estratégia de marketing para vender o filme de maior bilheteria do cinema brasileiro em todos os tempos. Passaria em 500 cinemas do país. É isso o que esperam diretor e produtores. O petismo/lulismo espera que o filme renda votos a Dilma. Pode ser. "Eu, o Paulo Nunes e o Dinho vamos fazer uma dupla sertaneja." (Jardel, ex-atacante do Grêmio) Parabéns, FHC Depois de 18 anos, Tomás, o filho de Fernando Henrique com a jornalista Miriam Dutra, terá a paternidade reconhecida. O ex-presidente deve ter vivido momentos intranquilos nesses anos todos. Ter um filho que, segundo dizem, é a cara do pai e não reconhecê-lo, deveria ser pequeno (ou grande ?) tormento do sociólogo. A se confirmar a informação, merece ele parabéns. Sob o lamento de que o reconhecimento chega tarde. "O novo apelido do Aloísio é CB, Sangue Bom." (Souza, meio-campo do São Paulo, em uma entrevista ao Jogo Duro) Aécio e o Vox Populi Este consultor prega abertamente a ideia de que Aécio Neves tem, como candidato, maior potencial de crescimento do que José Serra. Não é o caso de repetir as razões, já conhecidas dos leitores desta coluna. Mas não concorda com todo tipo de pesquisa que se mostra favorável ao governador mineiro. Por exemplo, é de estranhar esta pesquisa publicada pela "Isto É", realizada pelo renomado Instituto Vox Populi, comandado pelo gabaritado pesquisador Marcos Coimbra. O que é estranho : uma pesquisa apenas com pergunta espontânea. Aécio, nesse caso, está na frente de Serra. Ora, a pergunta espontânea é interessante dentro de amplo cenário, onde entram perguntas estimuladas. Lembrete : a pergunta estimulada é a mais próxima à realidade. Propicia ao eleitor selecionar um candidato entre os atores que enfrentarão as urnas. "A partir de agora o meu coração só tem uma cor : vermelho e preto." (Jogador Fabão, assim que chegou no Flamengo) Voto de Britto O perfil do juiz de uma corte é o mais bem avaliado entre os perfis dos integrantes dos poderes constitucionais. A figura do juiz é vista no altar mais sagrado da Pátria, que é o altar da Justiça. Os juízes devem ser sutis, independentes, dignos, de caráter ilibado. Por isso, este consultor estranha a insinuação midiática dando conta das pressões para que o ministro Carlos Ayres Britto, do STF, mude o voto que deu no caso de Cesare Battisti. Britto votou a favor da extradição do italiano. Diz-se que amigos o estariam pressionando para votar contra a extradição. Não é crível. "Eu peguei a bola no meio de campo e fui fondo, fui fondo, fui fondo e chutei pro gol." (Jardel, ex-jogador do Vasco e Grêmio, ao relatar ao repórter o gol que tinha feito) Rodoanel e o apagão O apagão de Lula, o maior do Brasil em todos os tempos, não esperou muito para receber a contrapartida : o desabamento de três vigas da estrutura na Rodovia Régis Bittencourt, em um viaduto do Rodoanel Mário Covas, sexta-feira passada. Os casos se igualam na perspectiva da ausência de maiores controles, fiscalização de qualidade, análise rigorosa de materiais etc. Cada terra com seu uso, cada roca com seu fuso. O ditado que abriu meu artigo do "Estadão", no último domingo, confirma a tese de que ninguém segura a força da natureza. Todos os governos, partidos e facções têm a sua roca e o seu fuso. "Tenho o maior orgulho de jogar na terra onde Cristo nasceu." (Claudiomiro, ex-meia do Inter de Porto Alegre, ao chegar em Belém do Pará para disputar uma partida contra o Paysandu, pelo Brasileirão de 72) Lula e os franceses Que os norte-americanos e suecos não sonhem alto. Luiz Inácio continua a declarar sua preferência pelos aviões franceses. Ele e Sarkozy já se encontraram algumas vezes e, em todas elas, as referências de Lula aos caças franceses dão o tom dos discursos. Nenhuma autoridade mundial pode insinuar mais que recomenda o bom senso. No caso de Lula, o bom senso foi pro espaço. Imaginem o que diriam os franceses de nosso presidente, caso este mudasse o discurso depois de tantas promessas e garantias. Sabemos que os comandantes das Três Forças estão de bico calado. "Que interessante, aqui no Japão só tem carro importado." (Jardel, ex-atacante do Grêmio) Lula e Battisti Luiz Inácio teria respondido aos italianos que cobram a extradição de Cesare Battisti : "o caso está com a magistratura. A quem caberá decidir. Se a decisão for determinativa, cumpro." O presidente talvez tenha desejado dizer : "se a decisão for terminativa"... Mas a pergunta é esta : se o STF decidir pela extradição, Lula endossará a posição ? "A bola ia indo, indo, indo... e iu !" (Nunes, jogador do Flamengo da década de 80) Vida íntima Revelações interessantes sobre ex-presidentes norte-americanos : Lyndon Johnson era racista e preconceituoso; Ronald Reagan era simples e atencioso, pedindo desculpas até aos seguranças; Jimmy Carter era arrogante e orgulhoso, a ponto de não permitir que agentes lhe dirigissem a palavra e Bill Clinton também era simples e trocava ideias com pessoas comuns, ao contrário de sua mulher, Hillary, dominadora e antipática. Revelações do jornalista Ronald Kessler no livro "No Serviço Secreto do Presidente". "Nem que eu tivesse dois pulmões eu alcançava essa bola." (Bradock, amigo de Romário, reclamando de um passe longo) Zelaya confuso Esse Manuel Zelaya quer mesmo é confusão. Depois de acertar o caminho da volta ao poder, deu pra trás. Acusa o regime de descumprir o acordo. Pelo jeito, o cara quer apenas expandir a confusão. "Quando o jogo está a mil, minha naftalina sobe." (Jardel, ex-atacante do Vasco, Grêmio e da Seleção) "Jogador tem que ser completo como o pato, que é um bicho aquático e gramático." (Vicente Matheus, quando presidia o Corinthians) Olha aqui, minha filha Os(as) repórteres medem a irritação da ministra Dilma Rousseff, quando ela começa a responder assim a uma questão complicada : "olha aqui, minha filha; olha aqui, meu filho". A expressão é arrogante. Como jornalista gosta de casca de banana, a inferência é que virão por aí muitos escorregões. "O meu clube estava a beira do precipício, mas tomou a decisão correta, deu um passo a frente." (João Pinto, jogador do Benfica de Portugal) Aécio sobe, Serra desce Na semana que passou, esta coluna registra subida de Aécio Neves na escada que leva à cúpula do PSDB e descida de José Serra no mesmo corrimão. Ciro e Dilma Na mesma semana que passou, Ciro Gomes desceu alguns degraus que levariam seu nome ao patamar dos candidatos à presidente. E Dilma avançou alguns passos na mesma direção. Ciro aproximou-se mais ainda de Aécio. Seu sonho : formar uma dobradinha com o mineiro. "No México que é bom. Lá a gente recebe semanalmente de 15 em 15 dias." (Ferreira, ex-ponta esquerda do Santos) Temporão sem marca O ministro José Temporão argumenta que não quer se caracterizar como ministro com marca. No fundo, gostaria que fosse conhecido por muitas coisas que diz ter feito. Agora, sem marca e sem remédio genérico (que fez a marca de José Serra como ministro da Saúde), Temporão poderá atravessar a história como um borrão. "Na Bahia é todo mundo muito simpático. É um povo muito hospitalar." (Zanata, baiano, ex-lateral do Fluminense, ao comentar sobre a hospitalidade do povo baiano) Sete milhões de Eike Eike Batista não teve dúvidas. Perguntou a Madonna quanto ela precisava para tocar sua ONG. A diva mostrou a conta : US$ 10 milhões. O mega-empresário perguntou : "arrumou quanto ?". Ela : "US$ 3 milhões." O barão do petróleo que, até, hoje não puxou uma gota de óleo, tirou o talão e tascou : "US$ 7 milhões para sua ONG". E as ONGs brasileiras não mereceriam um chequinho ? Dona Zilda Arns, digna e séria, até que gostaria de um "adjutório" para suas crianças. "O Sócrates é invendável, inegociável e imprestável." (Vicente Matheus, ao recusar a oferta dos franceses) Conselho ao ministro Edison Lobão Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na edição passada, o espaço foi destinado ao governador José Serra. Hoje, volta sua atenção ao ministro de Minas e Energia, Edison Lobão : 1. Dê ouvidos aos especialistas e à sociedade. Providencie uma Auditoria séria para investigar as causas do Apagão. 2. E dê ampla divulgação aos resultados alcançados pelos controles dos órgãos governamentais. Não tenha receio de receber críticas. A responsabilidade, nesse caso, fala mais alto. 3. A ANEEL (Agência Nacional de Energia Elétrica) e o ONS (Operador Nacional do Sistema) devem, periodicamente, prestar contas à sociedade sobre o panorama da energia elétrica no país. ____________
quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Porandubas nº 211

"Não sou Deus, mas posso ser" De um cantador das feiras do interior do nordeste arrematando o mote "Não sou Deus, mas posso ser", respondendo ao rival : "O ano tem doze mês,O dinheiro é quem faz guerraAdão foi feito de terra,Não se morre duas vez;Um Reinaldo com dois reisNão houve nem há de haver,O homem não tem poderDe fazer outro felizComo é que este bruto diz :Não sou Deus, mas posso ser ?" Mão Cheinha Mão Cheinha era louco e muito querido no Ceará, conta Sebastião Nery. Um dia, levaram-no para o Sanatório Meduna, no Piauí. Mão Cheinha, muito vivo, acabou virando louco-chefe. Tomava conta dos outros e era respeitado por isso. No sanatório, havia um pé de mangueira que nunca dava fruta. Mão Cheinha achava que a mangueira tinha de produzir manga. Chamou oito loucos : - Olha, minha gente, vocês todos são mangas maduras. Vão lá para cima. Quando eu gritar, as mangas vão caindo, porque manga madura cai. Manga madura sempre cai. Uma a uma. E chispem. Subam. Os oito subiram. Mão Cheinha, de baixo do pé de mangueira, gritou : - Manga um ! Pluf ! O primeiro louco se esborrachou no chão aos gritos de "ai, ai, ai". - Manga dois ! Manga três ! Manga quatro ! Iam se largando lá de cima e arrebentando-se cá embaixo. Gritos e mais gritos. O louco-chefe mandou : - Manga sete ! Nada. - Manga sete ! Nada. - Manga sete, seu p... ! O sete respondeu : - Mão Cheinha, chama manga oito, pois eu ainda estou verde ! A grande dúvida A pergunta é recorrente : quem é o melhor candidato da oposição - José Serra ou Aécio Neves ? Pois bem, responderei, antes dizendo que a análise leva em conta fatores e vetores da política, não preferências pessoais. Vejam. O ciclo Lula fará o possível para não perder as chances de eleger a(o) sucessora(or) do mandatário petista. Para tanto, fez e faz uma política voltada para preencher todos os espaços da pirâmide social. Demandas do A ao Z estão sendo preenchidas. Os tijolos da pirâmide Lula tem sido um mestre na arte de tapar buracos. Basta conferir. Bolsa Família (12 milhões de famílias), 46 milhões de brasileiros; Luz para Todos; Pronaf (Agricultura familiar), com 16 bilhões; Minha Casa, Minha Vida; redução do IPI para a linha branca e automóveis (subindo os degraus da pirâmide); auxílio bolsa estagiário; ProUni; Pré-Sal (simbolismo de Brasil Potência, auto-estima dos brasileiros); propaganda farta; máquina engordada com milhares de petistas em postos-chave da administração; Fundos de Pensão (só Previ dispõe de 200 cargos nas maiores empresas do país); Centrais Sindicais com os cofres cheios (R$ 116 milhões distribuídos só este ano); PAC, mesmo pobre de obras, mas com pulverização de serviços nas unidades federativas etc. Plebiscito Nunca na minha vida de consultor político, assisti a tamanha utilização e manipulação da máquina do Estado a serviço de um projeto eleitoral. O ciclo Lula vai querer - e não porque achar que não conseguirá - fazer a comparação entre os 8 anos de FHC e a era de prosperidade desenvolvida pelo lulopetismo. O eleitor decide sob a pressão do bolso, mais que sob a emoção. Pensará antes de dar seu voto : estou bem, prezo e defendo minha situação ou quero mudar ? Essa pergunta será forte no ânimo eleitoral. E o mensalão ? Não haverá mensalão ou episódio de corrupção capaz de empanar os feitos do ciclo lulista. Até porque acho que o senador Eduardo Azeredo será inserido nas margens da crise do mensalão. Sob essa moldura, acho a eleição do governador paulista para presidente da República bastante difícil. Ao contrário, não tenho receio de dizer que a eleição estadual seria para José Serra um voo tranquilo; a eleição federal, um voo muito arriscado. Queda e subida José Serra tende a cair nas pesquisas, até porque, hoje, seu alto índice de intenção de voto - que beira os 40% - reflete recall da alta visibilidade, de ontem e de hoje. E índice de recall não pode ser considerado seguro. Em uma campanha, valerá o índice da exposição e dos programas apresentados. Sempre pinço o exemplo de Gilberto Kassab. Como se recorda, ele, quando candidato, começou com 4%. Em abril de 2008, patinava baixo. Ganhou a campanha. Aécio sobe Diante dessa moldura - ligeira, é claro - aconselho os leitores a uma reflexão. Aécio Neves não tem o que perder. Serra tem e muito. Se perder a campanha presidencial, encerra a carreira. A idade atrapalharia nova jornada. Aécio Neves poderia ser o candidato tucano, até porque tem o segundo colégio eleitoral do país nas mãos, o terceiro lhe seria simpático (Rio de Janeiro) e o nordeste poderia contar com um candidato que tem um pedaço do Estado sob o solo nordestino (o norte de Minas, Montes Claros está sob a égide da SUDENE). Melhores chances Por essa razão, vou à conclusão. O governador mineiro reúne o maior conjunto de fatores, condições e potenciais de crescimento. Quebraria a polarização entre os ciclos Lula e FHC. Racharia o PMDB de modo mais contundente como hoje o partido se apresenta. Já José Serra, pelo bom governo que realiza, teria condições efetivas de obter consagradora votação em São Paulo como candidato à reeleição. O momento da decisão não é agora. Pode ser que o quadro mude. E mude, até, a favor do governador paulista, de modo a destruir argumentos e posicionamentos que expressei acima. Hermes, o burro Depois de Nilo Peçanha, assume o governo o marechal Hermes da Fonseca (1910/1914). Levava fama de burro. Conta-se que nos 10 meses em que, sob o governo Hermes, o país viveu em estado de sítio, a Polícia proibiu que o jogo do bicho aceitasse palpite no burro. O burro poderia ser alusão ao marechal. Quem se der à tarefa de pesquisar os jornais da época, vai encontrar palpites nos outros 24 bichos da série, menos no burro. 1 milhão de empregos ? O ministro do Trabalho, Carlos Lupi, anuncia com estardalhaço : o país criou um milhão de empregos. Nota triste de pano de fundo : nunca na história deste país, as relações do trabalho foram tão manietadas por uma gestão fechada, sob a égide de sindicatos e Centrais Sindicais que se movem à pecúnia. Dianteira José Serra tomou decisão avançada. Assinou lei que estabelece como meta reduzir 20% da emissão de gases de efeito estufa em SP até 2020. Tomou a dianteira. Foi ousado. Serra tem dado bons exemplos. Abanando a cabeça Churchill estava sentado, sacudindo a cabeça de maneira tão vigorosa e perturbadora que o orador gritou exasperado : - Quero lembrar ao nobre colega que estou apenas exprimindo minha própria opinião. Churchill, raposa matreira, respondeu : - E eu quero lembrar ao nobre orador que estou apenas abanando a minha própria cabeça. Quadro paulista Se José Serra não for o candidato à reeleição, em São Paulo, é mais provável que a vaga fique com Geraldo Alckmin. O ex-governador não é o candidato in pectore de Serra e de Kassab. Ambos, porém, são realistas. Se Geraldo for o perfil a sinalizar melhores condições de vitória, será ele o candidato. Aloysio Nunes Ferreira, o chefe da Casa Civil, poderia voltar à Câmara Federal. O vice de Alckmin caberia ao DEM e este, por sua vez, gostaria de indicar Guilherme Afif para compor a chapa. Ciro une base Da base oposicionista, em São Paulo, Ciro Gomes acena com o apoio do PT, PDT, PSB, PSL, PSC, PRB, PTN e PC do B. Por enquanto. Poderia agregar, ainda, PR, PP e parte do PTB. Ciro quer ser candidato ao governo e à presidência. A decisão será de Lula. Povo é povo Alcides Carneiro veio ao Rio, procurou o coronel Massa, sogro do escritor José Lins do Rego, que foi chefe de Polícia na Paraíba e agora era senador. - Sou apenas um jovem advogado. Mas, se o senhor me permite, acho que o senhor precisa dar um pouco mais de atenção ao povo. - Ora, meu filho, esse negócio de povo ninguém entende mais do que eu. Povo só é povo quando é povo. Povo que não é povo não é povo. Quércia e Michel Orestes Quércia imagina que, até a convenção do PMDB, em junho, poderá reverter a atual tendência do partido na direção de uma aliança com a candidata do petismo/lulismo : Dilma Rousseff. Olhando para a frente, a leitura aponta para o fortalecimento da ministra da Casa Civil e consequente maior conjunto de forças a seu favor. Quércia, por exemplo, tem cerca de 60% dos convencionais de São Paulo contra 40% de Michel Temer. Daqui para a convenção, poderá, até, vir a perder a maioria em seu colégio eleitoral. Jung e o rei africano Jung perguntou, uma vez, a um rei africano : - Qual é a diferença entre o bem e o mal ? O rei meditou, meditou e respondeu às gargalhadas : - Quando roubo as mulheres do meu inimigo, isso é bom. E quando ele rouba as minhas, isso é muito ruim. Skaf vai de quê ? Dúvida cruel : o presidente da FIESP, Paulo Skaf, vai de quê ? De táxi, como candidato a deputado federal pelo PSB, ou de AeroSkaf, como candidato ao governo ? O transporte dependerá de Ciro Gomes. Que, por sua vez, dependerá de Aécio Neves. Que, por sua vez, dependerá de José Serra. Que, por sua vez, dependerá do imponderável. A loira da minissaia Geisy Villa Nova Arruda, 20 anos, estudante de turismo, é o pivô do caso mais estrambótico da história recente da discriminação no país. Mostrou as pernas, atiçou a turba, foi agredida e, pasmem, acabou sendo expulsa da Universidade por um dinossaurico reitor. Que mais parece réplica do Torquemada da Inquisição. E que, após muita pressão da Opinião Pública, recuou da decisão. A moça da minissaia abriu intensa polêmica. O affaire merece ligeira reflexão. Se fosse um marmanjo de cuecas, seria apupado ? Se a galera aprecia pernas bonitas, por que o massacre ? Não deveria ser aplaudida como em um desfile na passarela ? Elias Canetti e a massa Valho-me de Elias Canetti, o grande escritor e sociólogo, para buscar razões para a agressão. Pincemos características da turba. Massa exaltada. Que quer descarregar. Na descarga, diz Canetti, todas as separações são colocadas de lado. Todos se sentem iguais. Para atacar. Ferir. Apupar. Emerge um impulso de destruição. Que assume a forma de um ataque a todos os limites. A massa quer crescer. Até o infinito. O apupo se expande. O estado primitivo da massa chama a atenção. É o fogo da massa. A massa que incendeia julga-se irresistível. Tudo vai se incorporando a ela enquanto o fogo - o apupo - avança. A massa de fogo se expande. Sem limites. Getúlio, eu fico Getúlio Vargas sempre conservou intenções continuístas. Um dia, foram procurá-lo para saber se era verdade. E ele : - Não, meu candidato é o Eurico (marechal Eurico Gaspar Dutra); mas se houver oportunidade, eu mudo uma letra : Eu Fico. Conselho a José Serra Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na edição passada, o espaço foi destinado à ministra Dilma. Hoje, volta sua atenção ao governador do Estado de São Paulo, José Serra : 1. Avalie com muita acuidade os potenciais de cada perfil, a partir do seu, alinhando os ouvidos com fatores positivos e negativos, sem considerar o palavrório farto dos áulicos. 2. Sua candidatura à reeleição é um pássaro na mão; a candidatura à presidência da República, em 2010, são dois pássaros voando. 3. Seja realista. O risco é maior se deixar para a última hora - maio/junho - a decisão de se candidatar. Dezembro/janeiro seria um tempo mais que suficiente. ____________
quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Porandubas nº 210

Ô jardineira... Na cidadezinha do norte do Rio de Janeiro, a procissão de Senhor Morto caminhava lenta e piedosa, na sexta-feira da paixão, com o povo cantando, de maneira compungida, os hinos sacros. O velho padre na frente, o sacristão ao lado e os fiéis atrás, cantando as músicas que o vigário puxava. De repente um pequeno ônibus, que na região chamam de "jardineira", passou perto e começou a subir a íngreme ladeira da igreja, bem em frente da procissão. No meio da ladeira, a "jardineira" afogou, encrencou, parou, deu aceleradas fortes e inúteis e começou a dar para trás, de costas. Os fiéis não viram, mas o padre, atento, viu. E ficou apavorado. A "jardineira" já despencava numa grande velocidade. O padre gritou : - Olha a jardineira ! E os fiéis começaram a cantar, em ritmo de samba : - Ô jardineira, por que estás tão triste ? Mas o que foi que te aconteceu ? Foi a camélia que caiu do galho, deu dois suspiros e depois morreu. A "jardineira" descambou ladeira abaixo, até que parou. Não atropelou ninguém. Sob o olhar do Senhor Morto ! Mas os fiéis não aguentavam de tanto rir. Sebastião Nery, em seu Folclore Político. Reflexos da crise A crise política é crônica. Vem lá de trás. E se projeta nos horizontes do amanhã. Carrega os vícios dos ismos : patrimonialismo, caciquismo, mandonismo, paroquialismo, grupismo, familismo, patriarcalismo. O balcão de recompensas multiplica suas ofertas. O varejo político impera. Os Poderes imbricam funções. Os palanques se expandem nos períodos da entressafra eleitoral. E quais são os reflexos dessa crise nos costumes ? Eis alguns deles : Banalização - A repetição de escândalos, ilicitudes e desvios esquarteja o conceito de nação. Transforma o altar da pátria em entulho de lixo. Pasteurização - Os partidos tornam-se amorfos, inodoros. Pasta incolor. Mimetismo - Se os parlamentares não se respeitam, por que eu tenho de ser educado ? Se a eles falta compostura, por que eu tenho de me comportar bem ? Descrença - Políticos entram no perigoso território da descrença, abrindo um enorme vácuo entre a esfera institucional e o universo social. E os reflexos positivos ? Mas podemos distinguir um pequeno farol no final do túnel. Seus reflexos mostram aspectos positivos, dentre eles : Racionalidade - Tendência para observação mais aguda dos fenômenos políticos. Poder crítico - Expansão da crítica social e exigências mais rigorosas sobre comportamentos e atitudes. Organicidade social - Integração de forças em torno de movimentos, núcleos, associações e entidades de todos os tipos. Que passam a fazer pressão sobre a esfera institucional. Renovação - Tendência de grupos sociais organizados para inserir no território político perfis que encarnem o ideário de renovação. "Se cada um se ocupasse do seu trabalho, o mundo daria as suas voltas com maior rapidez". (Lews Carroll) FHC e o subperonismo No seu artigo de domingo, no Estadão, Fernando Henrique faz contundente peroração contra os rumos que o governo Lula imprime ao país. O diagnóstico é duro : estamos vivenciando um subperonismo, onde imperam um sindicalismo que vive às custas do Estado, partidos fracos e fundos de pensão, que dão as cartas na direção de grandes empresas. As transgressões se multiplicam, as estruturas se enchem de amigos e apaziguados, a propaganda vende um território de felicidade "nunca visto antes neste país" e o mandatário assume a postura de um imperador acima de tudo e de todos. Ao lado do artigo do ex-presidente, o meu, relatando as peripécias de uma perereca, detalhe na paisagem do obreirismo faraônico com que Lula pretende desenhar a imagem de Dilma Rousseff. Oposições definham Fernando Henrique, na verdade, chama a atenção das oposições, quando mostra as ilicitudes e o estilo Luiz XIV - L'état c'est moi - de Luiz Inácio. Vocês não vêem as contrafações, as ilicitudes, as barbaridades cometidas, os climas artificiais em torno da ideia - falsa - do Brasil Potência ? Onde estão vocês, oposições ? O PSDB dá impressão de que subiu no muro. O DEM, nervoso com as indefinições que tomam conta do parceiro (Serra ? Aécio ?), se esfarela. Cobra de José Serra indicações mais fortes. Apela para o governador mineiro decidir seu rumo. As cobranças se perdem nas margens da Torre de Babel. "Não desperdice lágrimas novas em tristezas antigas". (Eurípedes) Tsunami governista Não por acaso, o Brasil é engolfado por um gigantesco tsunami governista. Que passa por cima de tudo e de todos. Preenche todos os buracos. Invade territórios. Define a agenda do Parlamento. Coopta quadros por todos os lados. O rolo compressor carrega tudo que encontra pela frente. O governismo é um rinoceronte. O oposicionismo é uma formiguinha. Que não chega nem a fazer cócegas na pata rinocerôntica. Quanto menos atrapalhar a caminhada do bicho feroz pelas savanas eleitorais. A justiça "A justiça, lemos em Platão, é o que reserva a cada um sua parte, seu lugar, sua função, preservando assim a harmonia hierarquizada do conjunto. Seria justo dar a todos as mesmas coisas, quando deles não têm nem as mesmas necessidades nem os mesmos méritos ? Exigir de todos as mesmas coisas, quando eles não têm nem as mesmas capacidades nem os mesmos encargos ? Mas como manter então a igualdade, entre os homens desiguais ? Ou a liberdade, entre iguais ? Discutia-se isso na Grécia; continua-se a discuti-lo. O mais forte prevalece, é o que se chama política". (Pequeno tratado das grandes virtudes - André Comte-Sponville) Aécio sobre, Serra desce Impressão - singela - deste consultor. Aécio Neves, a cada semana, sobe um degrau na escada eleitoral que dá acesso ao Planalto Central. E José Serra, que estava no alto da escada, neste momento desce para o degrau do meio. Serra só subirá a montanha eleitoral que conduz à Presidência da República se contar com a ajuda de um teleférico. Mera impressão, repito, de quem observa o bico cada vez menor do tucano que habita o Palácio dos Bandeirantes. Serra só deixa o ninho do Morumbi se tiver certeza de que ganhará outro bem maior. A cada dia, esta certeza decai um grau na escala do confiômetro. O poder na placa Vejam o que é o poder. Um espaço chamado de recanto japonês. Três fontes jorrando. São assim chamadas : amor, saúde e inteligência. O turista fica de costas para essas bicas d'água, joga uma moeda e faz um pedido. Pois bem. O recanto não tem obra de engenharia ou arquitetura que chame a atenção. Mas a placa de inauguração da obra, esta, sim, chama muito a atenção. Tem o nome do prefeito, do vice, de secretários, assessores (incluindo o de imprensa e o jurídico), chefes de departamento e quetais. Total dos nomes ali registrados : 19. O recanto japonês fica na aprazível cidade de belas praças e ótimas termas : Poços de Caldas. "A consciência é o mais cru dos chicotes". (Machado de Assis) 20 suplentes O Senado conta, agora, com 20 suplentes. Nenhum deles ganhou um voto. Mas são senadores da República. Esse é um estatuto que precisa ser reformulado. Para ocupar a vaga de senador que deixa a Casa, deveria ser convocado o segundo mais votado. É mais lógico e democrático. Dilma e o 3º mandato Dilma cometia, até pouco, um erro crasso. Vivia dizendo que sua eleição equivaleria ao terceiro mandato de Lula. Ora, a afirmação aponta para a anulação de sua própria personalidade. Indicaria, ainda, que o dono do mandato continuaria ser ele, Luiz Inácio. E ela seria apenas capacho, em papel secundário. Nos últimos tempos, diante da asneira e certamente alertada, a pré-candidata retirou a declaração de seu repertório. Fundos de pensão Os fundos de pensão movimentam os eixos das grandes empresas brasileiras. Só o Fundo Previ dispõe de cerca de 200 cargos nos conselhos das maiores empresas do país. Esse é o verdadeiro sindicalismo de resultados. Duas imagens Recebo duas imagens via internet. A primeira mostra o presidente Barack Obama em reunião com assessores. Sobre a mesa, garrafas d'água, copos de plástico, canetas esferográficas simples. A segunda imagem é uma paisagem do sertão nordestino. Ao fundo, um prédio simples, mais parecendo um grupo escolar a ser inaugurado. Chão de terra batida. Sobre ele, um imenso tapete vermelho, que operários tentam grudar no chão, para que os pés de Sua Excelência, o presidente Luiz Inácio, não toquem na poeira. Naquela paisagem insólita, os garçons devem ter aparecido de branco, alinhados, de colarinho engomado e gestos estudados, servindo champanha em flutes de cristal. Dilma em MG Quem acha que a campanha eleitoral de 2010 ainda não começou, atente para este fato. Em Minas Gerais, os anúncios publicitários do PT estão sendo devidamente usados pela ministra Dilma Rousseff. Não para anunciar obras, não para fazer peroração em torno de algum projeto do governo. Ela aparece na telinha para dizer que muitos mineiros não sabem, mas ela é mineira, uai. Para completar o anúncio orgulhoso, completa com a informação de que foi bater em outras paragens, mas o coração é mineiro. Ou seja, a ministra tenta mostrar a mineirice no segundo maior colégio eleitoral do país. Sorridente Em tempo : a ministra mostra-se sorridente todo tempo. PP irá com quem? O presidente do PP é o senador Dornelles. Que vem a ser primo de Aécio Neves. Mais mineiro do que nunca, o senador Francisco Dornelles diz que uma coisa é pessoa física, outra coisa é pessoa jurídica. Portanto, o PP poderá caminhar com Dilma, levado por Lula e Maluf. Como a pessoa física pode influenciar a jurídica, o PP também flerta com o PSDB. Claro, se o candidato for Aécio Neves. E o cirense, hein ? Ciro, o cearense, em final de semana, é visto de bermudas e chinelos nos bairros charmosos do Rio; em feriados, despacha-se para a terrinha nordestina, onde fincou suas estacas políticas. Vez ou outra, ele se lembra que mudou o título de eleitor para São Paulo, onde aparece para dar entrevistas. Ciro, depois de alcançar a onisciência, ganha o status da onipresença. Sem graça Uma campanha eleitoral sem Ciro é sem graça. Ciro é chefe da artilharia. Fauna política Acham José Serra parecido com tartaruga. Anda devagar quase parando. Parece também com boi. Sossegado, tranquilo, esforçado. Dilma se parece com borboleta, está sempre voando por onde tem PAC. Mas tem semelhança com pombo, sempre de conversinhas. Ciro Gomes está mais para cavalo. Dá patada para todos os lados. Mas tem jeito também de pavão. Aécio Neves é gato, esperto e companheiro. Lula está mais para leão, poderoso, dominador. Quem tem jeito de macaco ? "Já quis ser ateu, mas desisti. Eles não têm feriados". (Henny Youngman) Renascer Faz pouco tempo. O bispo Estevam Hernandes e a bispa Sônia Hernandes passaram uma boa temporada trancafiados nos EUA. Domingo, lideraram uma passeata de um milhão de pessoas pelas ruas de São Paulo. Isso é o que se chama Renascer. Levi-Strauss Morreu Lévi-Strauss, o cientista francês que escreveu "Os Tristes Trópicos". Descreveu a selva de Mato Grosso como o ambiente mais hostil ao homem sobre a superfície do planeta. Strauss era amigo do Brasil e do seu povo. Conselho a Dilma Rousseff Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na edição passada, o espaço foi destinado aos ministros do TSE. Hoje, volta sua atenção a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff : 1. Ministra, procure compor sua imagem sem descaracterizar a identidade. Quando a imagem é muito artificial, o eleitor consegue descobrir a taxa de falsidade. 2. Identidade é personalidade, história, caráter, cultura, experiência de vida. Imagem é a sombra da identidade. Se é muito afastada do corpo, a imagem torna a pessoa deformada. 3. Procure ser sincera nos atos, gestos e atitudes. ____________
quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Porandubas nº 209

"Seu" Lunga A coluna de hoje está recheada com historinhas do "seu" Lunga, enviadas pelo primo Zéneumanne. Quem é a figura : foi ourives em Juazeiro do Norte, Ceará, vendedor de sucatas, pai de 13 filhos, quase analfabeto. Candidatou-se uma vez a vereador e perdeu. Ganhou fama pela língua solta e afiada. "Seu" Lunga descansava na rede. Manda o sobrinho trazer-lhe um pouco de leite. O garoto pergunta : - No copo ? Ele responde : - Não. Bota no chão vem empurrando com o rodo, fío de rapariga !!! O funcionário do banco veio avisar : - "Seu" Lunga, a promissória venceu. - Meu filho, pra mim podia ter perdido ou empatado. Não torço por nenhuma promissória. Primeira leitura Céu de Brigadeiro. Lula continua navegando em mares nunca d'antes navegados. Jamais um presidente, a um ano das eleições presidenciais, alcançou índices tão altos de aprovação popular. O ambiente social está calmo. O ambiente econômica respira confiança. Os níveis de otimismo dos setores produtivos voltam ao patamar de antes da crise. O situacionismo abarca largos territórios. A campanha eleitoral é antecipada com as idas e vindas de Lula e Dilma pelos espaços nacionais. As oposições se escondem. Ninguém sabe onde elas estão. Diante dessa moldura, a pergunta é : quais as chances de um lado e de outro ? Segunda leitura Dilma Rousseff tem mais chances. Dilma Rousseff consolidando a posição de candidata do PT, com o apoio da aliança governista, ultrapassa a casa dos 20% de intenção de voto em janeiro, e se torna competitiva. Lula intensifica a peregrinação pelo país, Dilma transforma-se em candidata de Lula, é reconhecida nas ruas, ameniza o perfil, deixa a arrogância de lado e vai de encontro às massas. Atravessa, incólume, eventuais desafios e denúncias das oposições, e entra no trimestre eleitoral em franca posição de candidata competitiva. Acena com a vitória. Pano de fundo : programas do governo direcionados a todos os contingentes que povoam a pirâmide social. __________________ "Seu Lunga", no elevador (no subsolo-garagem). Alguém pergunta : - Sobe ? Ele : - Não, esse elevador anda de lado. __________________ Terceira leitura José Serra tem mais chances. As oposições conseguem mostrar a maneira petista de governar. Inchamento do Estado. República Sindicalista. MST devastando propriedades. Desvios de dinheiro em obras públicas. O PAC é uma ficção. Corrupção generalizada. TCU descobre mais obras superfaturadas. Espraia-se, a partir do Sudeste, um sentimento de que é preciso mudar. E que o ciclo Lula se exauriu. Serra, o governador, emerge como pessoa séria, experimentada, com um perfil do ministro da Saúde que patrocinou os remédios genéricos. O clima social se esgarça. O ambiente econômico volta a enfrentar nuvens carregadas. Dilma comete gafes. Serra entra no trimestre eleitoral como franco favorito. Em condições de alçar a bandeira da vitória. Quarta leitura Diante do crescimento de Dilma, José Serra teme enfrentar a candidata. Pressionado pelo DEM e por parte do tucanato, Serra proclama : "desisto. Não serei candidato". E chama Aécio Neves para ocupar seu lugar. Neves topa na hora. Veste-se de candidato, monta uma turnê pelo país. Sua candidatura gera abalos no situacionismo. Ciro Gomes desiste de ser candidato pelo PSB. Parcela densa do PMDB corre na direção de Aécio. Dilma Rousseff fica em transe. Não sabe para onde ir. Lula pede : calma, gente, calma. Mas não consegue mudar o rumo do vento. Aécio é o novo. Diferente. Sorriso aberto. Franco. Aparece em espaços mineiros sob o ar matreiro do avô Tancredo e o sorriso aberto de Juscelino. Empolga o país. E ganha a campanha. Qual é a mais adequada ? Que leitura é a mais adequada ? A leitura aos coríntios ? Aos hebreus ? Aos crentes de Serra e descrentes de Dilma ou vice-versa ? Aos crentes no todo poderoso Luiz Inácio ? Que cada um escolha a resposta que mais lhe convém. O imponderável Aqui, do meu lado, começarei a fazer as contas e avaliar todas as alternativas. Apenas uma está fora do meu controle : o imponderável. __________________ "Seu" Lunga vai saindo da farmácia, quando alguém pergunta : - Tá doente ? - Quer dizer que se eu fosse saindo do cemitério, eu tava morto ? __________________ Ciro e Marina Como é notório, desconsiderei as possibilidades de Ciro Gomes e Marina Silva. Poderão obter grande bacia de votos, mas não suficientes para levá-los ao pódio. Terão, no entanto, se forem candidatos confirmados, um bom papel como coadjuvantes. PMDB e PT A aliança entre PMDB e PT será efetivada. Hoje, o compromisso está selado. Mas há uma agenda a ser cumprida. Haverá um jantar com os governadores do partido com Lula, Dilma e a cúpula do PT. A seguir, outro encontro, desta feita, reunindo as duas bancadas - deputados e senadores. Em todos os encontros, a ideia é a de sentir o pulso do partido sobre questões programáticas. Michel Temer, que comanda o processo, não quer firmar aliança apenas sobre o fio da ocupação de espaço mas sobre um amplo escopo programático. __________________ "Seu" Lunga dava uma tremenda surra no filho e o menino gritava : - Tá bom, pai ! Tá bom, pai ! Tá bom, pai ! - Tá bom ? Quando tiver ruim, você me avisa, que eu paro. __________________PT em São Paulo Este consultor teve demorada conversa com o prefeito Emidio de Souza, de Osasco. Emidio é um dos melhores quadros do PT e faz um governo avançado. É muito bem avaliado. A impressão dessa conversa : o prefeito terá o apoio do partido para ser o candidato ao governo de São Paulo. É o mais palatável. Não apresenta fissuras na imagem. Não é polêmico como outros perfis do PT. Não é cercado por escândalos. Tem o apoio dos prefeitos. Só não será candidato se Ciro Gomes, instado por Lula, assumir a candidatura ao governo paulista. Nesse caso, o PT fecharia posição com Ciro. Sob as ordens de Lula. __________________ O amigo de "seu" Lunga o cumprimenta : - Olá, tá sumido ! Por onde tem andado ? - Pelo chão, não aprendi a voar ainda... __________________ Efeitos deletérios Este consultor acredita que a candidatura Ciro Gomes, em São Paulo, só seria bom negócio para o PSB. Que faria uma razoável bancada de deputados federais e estaduais. Mas não seria interessante para o PT, mesmo com a coligação. O candidato majoritário tende a puxar mais votos para a legenda que pertence. Ademais, deixar de ter um candidato próprio ao governo em seu Estado berço seria muito ruim para o PT. A conferir. Senadores paulistas Briga boa ocorrerá na área das candidaturas ao Senado. Em São Paulo, Marta Suplicy até que deseja ser candidata ao Senado. Teria chances. Ocorre que Aloizio Mercadante é o candidato natural - seu mandato se encerra e ele teria o direito de reivindicar a volta ao posto - e queima qualquer outro nome do PT com alguma chance. Do outro lado, o candidato mais visível é Orestes Quércia. Que, da mesma forma, queima a possibilidade de Guilherme Afif ser o outro nome da chapa governista. Afif teria melhores condições do que ele, haja vista o último pleito, quando quase ganhou de Eduardo Suplicy. __________________ Na década de 70, "seu" Lunga chega num bar e fala pro atendente : - Traz uma cerveja e bota o disco de Luiz Gonzaga pra eu ouvir ! - Desculpe, "seu" Lunga, não posso botar música hoje... - Mas por que ? - Meu avô morreu ! - E ele levou os discos, foi ? __________________ Imbróglio O quadro está ainda muito nebuloso. Geraldo Alckmin, apesar do alto índice que mantém nas pesquisas de intenção de voto para o governo, encontrará muitas resistências para ser o candidato. Não conta com a simpatia de José Serra e do prefeito Kassab. Que ainda pensam em pinçar o nome de Aloysio Nunes Ferreira, que chefia a Casa Civil do Governo do Estado. Aloysio exibe modestos 4% de intenção de voto. E os aloyisistas argumentam : Alckmin tem recall. Esse índice que ele hoje alcança não se sustenta numa campanha acirrada. Além disso, ele não é de briga. Vai ser torpedeado. E se ele foi indicado para a chapa do Senado ? Neste caso, é o Quércia que rejeita. Com medo de Geraldo tomar o lugar dele. Luiz Inácio a favor de Luiz Inácio Pois é, o novo advogado-geral da União, Luís Inácio Adams, diz que seu xará Luiz Inácio (o Lula da Silva), não faz campanha eleitoral quando viaja pelo país fiscalizando obras do PAC. Se o novo advogado-geral da União não vê conteúdo eleitoral nas viagens, precisa abrir os olhos. Vamos ao ponto : percorrer o país, senhor Adams, para verificar o andamento das obras, é dever do governante. Mas subir em palanque para fustigar as massas, isso é comício, sim. Portanto, uma coisa é ver obra, outra coisa é fazer da obra instrumento eleitoreiro. Para que palanque ? Para que a discurseira ? Por que não fazer uma visita técnica ? __________________ Durante a madrugada, a mulher do "seu" Lunga passa mal : - Lunga ! Ta me dando uma coisa... - Receba ! - Mas é uma coisa ruim ! - Então devolva ! __________________ O S de Skaf Paulo Skaf, presidente da FIESP, cometeu a maior deselegância dos últimos tempos para com pares políticos. Disse, com todas as letras, em entrevista a O Globo, de domingo último, que o S do PSB, é apenas uma letrinha. Não tem nada com socialismo. O Partido Socialista Brasileiro ficou com a brocha na mão. O que diz minha amiga Luiza Erundina (PSB/SP) sobre o fato ? Vou procurar saber. Prefeito é um crack Que coisa mais esquisita, hein ? O prefeito de Raposos/MG, João Carlos da Aparecida (PT), foi flagrado duas vezes em boca de fumo. O cara aprecia o crack. Tirou licença da Prefeitura. Basta ? Que exemplo de civismo esse crack dá aos seus munícipes, hein ? Vaias para ele. Fundação afundada A Fundação José Sarney foi fechada por ordem de seu patrocinador, ele mesmo, o senador José Sarney. Deve ter sido um golpe e tanto no coração do ex-presidente da República. Sarney, como se sabe, preza a liturgia do poder. Preza a história da política. E, claro, preza a própria história. O fechamento da Fundação nos leva a aduzir que os mais sagrados patrimônios pessoais não estão isentos dos ventos contrários e soprados pela opinião pública. __________________ "Seu" Lunga entrando em uma agropecuária. -Tem veneno pra rato ? -Tem ! Vai levar ? - pergunta o balconista. -Não, vou trazer os ratos pra comer aqui ! - responde seu Lunga. __________________ Quanto mais se tira, maior fica O ministro do Assistencialismo, aliás do Desenvolvimento Social, Patrus Ananias, diz que desde a criação do Bolsa Família, cerca de 3,5 milhões de pessoas dele já saíram. A conta até pode ser correta. Mas os dados mostram que o programa das Bolsas vem esticando de ano para ano. Deve, hoje, beirar os quase 13 milhões de assistidos. Começou com 8 milhões. É como buraco : quanto mais se tira, maior fica. __________________ O telefone toca. "Seu" Lunga : - Alô ! - Bom dia ! Mas quem está falando ? - Você ! __________________ IPI esticado Lulinha Paz e Amor sabe das coisas. O desconto do IPI atinge direto o bolso do consumidor. É isso. A política, para ser bem sucedida, tem de marcar presença na praça da economia. Milhões de brasileiros querem geladeiras, fogões e máquinas de lavar mais baratas. Por isso, é mais do que provável a prorrogação da redução do IPI para a linha branca. Até porque o ano eleitoral se aproxima. Maluf declina Paulo Maluf declina da candidatura ao governo de SP. E indica, com o apoio de todo o PP paulista, o nome de Celso Russomano, deputado federal. Maluf quer continuar como deputado. Russomano quer deixar de ser deputado. Sei não. Este consultor não entendeu a jogada por inteiro. Trocar o certo pelo duvidoso ? A não ser que o Russomano não queira mais apostar em suas chances na campanha proporcional. Vereadores paulistanos Uma batelada de vereadores da capital paulista não passou no vestibular do MP. Recebeu cartão vermelho. E um juiz quis tirá-los de campo, aliás, do plenário. Os vereadores recorreram. Continuam exercendo suas funções. Mas por que apenas os vereadores foram punidos se outros políticos - deputados, por exemplo - receberam doações da mesma entidade que patrocinou os representantes na Câmara Municipal ? O MP deveria se pronunciar a respeito. Conselho aos ministros do TSE Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na edição passada, o espaço foi destinado ao Senador Eduardo Suplicy. Hoje, volta sua atenção aos senhores ministros do TSE : 1. Há casos de alguns governadores, cujos mandatos aguardam decisão da Corte ainda por conta de denúncias envolvendo abuso do poder econômico e outros ilícitos na campanha de 2006. Por que não apressar sua votação, antes de entrarmos no ano eleitoral de 2010 ? 2. O TSE, sob o competente comando do ministro Carlos Ayres Britto, precisa continuar a mostrar disposição de limpar a pauta contenciosa com que se defronta. 3. Por que os processos demoram tanto para ser julgados ? Não correremos o risco de ver governadores sendo julgados após o término do mandato ? ____________
quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Porandubas nº 208

Pinóquios e Odoricos Hoje, dedico a abertura desta coluna ao discurso eleitoral. Um toque de humor a respeito da peroração dos nossos Pinóquios e Odoricos Paraguaçus. Promessas antes da posse Nosso partido cumpre o que promete.Só os tolos podem crer que Não lutaremos contra a corrupção.Porque, se há algo certo para nós, é que A honestidade e a transparência são fundamentais.Para alcançar nossos ideaisMostraremos que é grande estupidez crer que As máfias continuarão no governo, como sempre.Asseguramos sem dúvida que A justiça social será o alvo de nossa ação.Apesar disso, há idiotas que imaginam que Se possa governar com as manchas da velha política.Quando assumirmos o poder, faremos tudo para que Se termine com os marajás e as negociatas.Não permitiremos de nenhum modo que Nossas crianças morram de fome.Cumpriremos nossos propósitos mesmo que Os recursos econômicos do país se esgotem.Exerceremos o poder até queCompreendam que Somos a nova política. Após a posse (Basta ler o texto de baixo para cima) Cabral tosquiado ? Sérgio Cabral, ainda embriagado pela vitória do Rio na conquista da Olimpíada de 2016, foi chamuscado pelo fogo que consumiu o helicóptero abatido por tiros de fuzil dos bandidos. Sérgio Cabral terá na segurança pública o calcanhar de aquiles dos tempos que virão. Matéria negativa caindo na mídia internacional funcionará como fogueira a consumir a boa imagem positiva alcançada pelo extraordinário esforço de nossas autoridades olímpicas. Lula promete dar, de imediato, R$ 100 milhões para o combate à bandidagem. Pode-se esperar por mais uma dezena de policiais mortos e mais uns 100 marginais. Cunha Melo Histórias de ontem no Senado. Um senador, chateado porque suas verbas não eram liberadas, anunciou para os colegas de bancada : - Precisamos romper com o governo. Cunha Melo, sábio e matreiro, pegou o chapéu e saiu de fininho : - Vou saindo. Tem coisas que não se deve nem ouvir. Aliança de compromisso O PMDB e o PT enfiam a aliança de compromisso no dedo, sob as bênçãos do cardeal Luiz Inácio. As cúpulas dos partidos se fizeram presentes no ato que terá, ainda, os seguintes desdobramentos. Noivado dentro de um a dois meses, ocasião em que será produzido o anúncio de casamento, com estabelecimento das regras e, mais adiante, casamento com pompa, oportunidade em que será anunciado o modus operandi do noivo na campanha de dona Dilma. O PMDB não quer apenas ceder tempo eleitoral. Quer ser parceiro forte no casamento, com direito a apontar rumos. O programa, portanto, será uma palavra chave. Pacto pode ser rompido Semana passada, este consultor sinalizou um possível pacto em Santa Catarina envolvendo os parceiros do PMDB, DEM e PSDB. Pelo pacto, em janeiro/fevereiro de 2010, o candidato a ser escolhido seria aquele com melhor índice nas pesquisas. Ao que parece, a coisa não será bem por aí. O PMDB quer porque quer lançar candidato ao governo. O nome : Eduardo Moreira, presidente do partido no Estado. Moreira está com 7% de intenção de voto contra os cerca de 20% dos pré-candidatos do DEM, senador Raimundo Colombo, e Leonel Pavan, do PSDB e vice-governador. Será uma parada dura. Eduardo Moreira e Ideli Salvati, eventual candidata do PT, teriam, a esta altura, firmado compromisso de apoio mútuo no segundo turno. Luiz Henrique Quem deseja manter o pacto entre os três partidos é o governador Luiz Henrique. Mas Eduardo Moreira defende outro pacto. Que inclua obrigatoriamente o candidato do PMDB no centro das conversações. Vai ser uma parada federal. Sindicalismo vândalo Ainda há sindicatos no país que acham que o sindicalismo é campo para a bandidagem. Para a vassalagem. Para servir aos oportunistas, picaretas e arrivistas. Um desses sindicatos, vez por outra, ameaça investir sobre a seara de outros. Não conformado em querer solapar as bases de outra entidade empresarial - prestigiada e de alta credibilidade no mundo sindical - tenta, por meio de medidas solertes, acampar também no terreiro do sindicato laboral. Seus dirigentes, como aves de rapina, ignoram o fato de que, a qualquer hora, essa tentativa de emboscada será denunciada e eles, sim, eles mesmos, serão pegos com a boca na botija e abatidos em pleno ar. Nos bastidores, muito se sabe sobre as peripécias da corja. O olho de Moscou João Goulart em um papo com Getúlio Vargas : - Presidente, há muita gente desempregada, muito trabalhador posto no olho da rua. Getúlio : - Isso é muito ruim. Operário posto no olho da rua vai logo para o olho de Moscou. Sungasuplicy O senador Eduardo Suplicy procura desesperadamente companheiros e amigos para explicar o indigitado gesto de vestir sunga vermelha sobre as calças. Teria sido uma brincadeira. Batizada de coisa ridícula. O caso já foi arquivado. E que sirva de lição. Há uma liturgia de poder e de autoridade que não pode ser rasgada pela palhaçada midiática. Que, aliás, cumpre o papel de mostrar um Congresso capenga. E de baixa credibilidade. Quércia se movimenta Orestes Quércia tenta sensibilizar os governadores Roberto Requião e Luiz Henrique, atraindo-os para a esfera das oposições. Requião está fechado com Lula. O que prega no PMDB é uma consulta às bases para que o programa de governo de Dilma Rousseff contenha as propostas do partido. Já Luiz Henrique está fechado com Serra. Por conta das conveniências regionais e do pacto entre PMDB, PSDB e DEM. Quércia teme que o PMDB, por maioria dos convencionais, feche posição com o PT. Essa é a tendência hoje. Grandeza de outrora Augusto Franco, governador, cheio de si, desceu no Galeão, e foi logo respondendo à pergunta de uma atendente da Varig : - O Sr. é o Dr. Augusto Franco, de Sergipe ? - Não, minha filha, Sergipe é que é de Augusto Franco. O novo dentro do velho No Brasil, a reciclagem toma conta até das conversas e das promessas. Roger Agnelli, pressionado por Lula, promete para 2010 investimentos da ordem de R$ 12,9 bilhões. Parece coisa nova. Que nada. São investimentos que, há tempos, figuram no budget da mineradora Vale. E agora ? O presidente da Corte Suprema, Gilmar Mendes, não tem dúvidas : Lula e Dilma antecipam a campanha. O que dirá, agora, o TSE ? Se a Justiça Eleitoral está sendo testada, qual será sua reação ? Com a palavra, suas Excelências. O tamanho dos tucanos Rodrigo Maia, presidente do DEM, diz que, se os tucanos excluírem São Paulo, seus bicos ficam do tamanho dos bicos das maritacas. O argumento do deputado quer indicar a maior capilaridade do DEM em termos nacionais. Não é que Maia tem razão ? Os DEM estão mais espalhados, povoam de maneira mais horizontal os espaços nacionais e, dessa forma, chegam de forma mais intensa às proximidades populares. Boa observação. PT e PSDB juntos ? Ante a constatação aguda de Rodrigo Maia, dá até para desconfiar de que um acordo secretíssimo juntaria interesses de tucanos e petistas. Sob que lógica ? O rodízio no poder. Sai um, entra outro. Perpetuando a hegemonia dos dois partidos. Sob a gangorra do PMDB que, também, acompanharia um e outro, nas subidas e descidas da montanha política. Pelo acordo, o DEM estaria condenado ao enforcamento. A hipótese, longe de apego ao catastrofismo, tem lógica. Discursos de campanha Os discursos para a campanha começam a ser arrumados, conforme descrevi em meu artigo dominical no Estadão. Dilma tentará enfiar o perfil de Serra no curral da era FHC. Usando conceitos e chavões do tipo : ambição privativista e modelo neoliberal. Serra acusará o "estilo petista de governar" com a volta do velho patrimonialismo e o resgate de novas formas de engorda do Estado. Haja vista a República Sindicalista. Ciro, se for candidato, embarcará na canoa de integração entre Estado e iniciativa privada, maior investimento na área educacional e esforço para que o país tire o atraso tecnológico. E Marina, claro, vestirá o traje verde da sustentabilidade ambiental. Reconvocação de Lina ? Essa ideia de reconvocar Lina Vieira para confirmar a existência de uma agenda e, assim, acender a fogueira contra a ministra Dilma é, aqui pra nós, ausência de discurso substantivo. Velhas feridas tampadas só jorram sangue depois de novos e contundentes ferimentos no mesmo local. Ao que parece, o que vê, naquele espaço, é imagem cicatrizada. E muito esparadrapo. Adeus ao "Pira" Meu comovido adeus ao grande publicitário e amigo Luiz Celso de Piratininga, figuraça da história da propaganda. Tive a honra de participar, na ECA - USP, de sua banca de mestrado em tempos idos. E a satisfação de dar-lhe a nota máxima. Humano, gentil, espirituoso, criativo. Que Deus o conserve no melhor dos cantinhos do céu. Mistura de cores e sabores Esse consultor, vez ou outra, brinca com a salada mista que se exibe nas mesas da política partidária. E sai por aí mostrando incongruências. O que tem a ver Paulo Skaf com o socialismo do PSB ? O que tem a ver o bom deputado Armando Monteiro, presidente da CNI, com o petismo ? Pois bem, em Pernambuco, Monteiro deverá fazer aliança com o PT, saindo ele e João Paulo, ex-prefeito de Recife, como candidatos ao Senado. Sinais dos tempos. Com exceção das siglas radicais, os grandes e médios partidos são geleia partidária, pasteurizados, amorfos. Então, não há muita razão em se criticar algo que inexiste, como doutrina ou ideologia. Pérolas do ENEM Vejam as pérolas dos alunos no Enem : 'O sero mano tem uma missão..' 'O Euninho já provocou secas e enchentes calamitosas.' 'O problema ainda é maior se tratando da camada Diozanio !' 'Enquanto isso os zoutros. tudo baixo nive.' 'A situação tende a piorar : os madereiros da Amazônia destroem a Mata Atlântica da região.' 'O que é de interesse coletivo de todos nem sempre interessa a ninguém individualmente.' 'Não preserve apenas o meio ambiente e sim todo ele.' 'O grande problema do Rio Amazonas é a pesca dos peixes.' 'É um problema de muita gravidez.' 'A AIDS é transmitida pelo mosquito AIDES EGIPSIO.' 'Já está muito de difíciu de achar os pandas na Amazônia.' 'Vamos deixar de sermos egoistas e pensarmos um pouco mais em nos mesmos.' 'Eu concordo em gênero e número igual.' 'Precisa-se começar uma reciclagem mental dos humanos, fazer uma verdadeira lavagem celebral em relação ao desmatamento, poluição e depredação de si próprio.' Conselho a Eduardo Suplicy Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na edição passada, o espaço foi destinado aos marqueteiros. Hoje, volta sua atenção ao Senador Eduardo Suplicy : 1. Lembre-se do conselho do general Sun Tzu : "há estradas que não devem ser percorridas e cidades que não devem ser sitiadas". Ou seja, há vestes que não devem ser vestidas. Há sungas vermelhas que não devem ser experimentadas, mesmo se uma sereia cantar loas no seu ouvido. 2. Dê interpretação adequada ao princípio de Maquiavel : "os fins justificam os meios". Quando os meios são mais esdrúxulos e ridículos que os fins a que servem, o tiro sairá pela culatra. No caso, o tiro da sunga foi um bumerangue. 3. Pense uma, duas, três vezes antes de enfrentar uma situação que pode resvalar pelo ridículo. Que pena. Desta feita, sua índole não o ajudou. Por quê ? Pelo fato de Vossa Excelência ser considerada pessoa que pensa tão devagar a ponto de a palavra sair antes da ideia. ____________
quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Porandubas nº 207

Mais uma vez a Paraíba Brejo das Freiras é uma Estância Termal nos confins da Paraíba, perto de Uiraúna e Souza. Trata-se de um lugar para relaxamento e repouso. O Governo da PB tinha (não sei se ainda tem) um hotel, com uma infraestrutura para banhos nas águas quentes. Década de 70. Apolônio, o garçom, velho conhecido dos fregueses da região, recebe, um dia, um hóspede de outras plagas. Pessoa desconhecida. Lá pelas tantas, quase terminando a refeição, o senhor levanta a mão, chama Apolônio e pede : - Meu caro, quero H2O. Susto e surpresa. Anos e anos de serviços ali no restaurante e ninguém, até aquele momento, havia pedido aquilo. Que diabo seria H2O ? Apolônio, solícito : - Pois não, um instante ! Aflito, correu na direção da única pessoa que, no hotel, poderia adivinhar o pedido do hóspede. Tratava-se de Luiz Edilson Estrela, apelidado de Boréu (por causa dos olhos grandes de caboré), empedernido boêmio, acostumado aos salamaleques da vida. - Boréu, tem um senhor ali pedindo H2O. O que é isso ? Desconfiado, pego sem jeito, Boréu coça o queixo, olha pro alto, tenta se lembrar de algo parecido com a fonética e, desanimado, avisa : - Apolônio, sei não. Consulte o Freitas. Freitas era o diretor do Grupo Escolar, o intelectual da região. Localizado, o professor tirou a dúvida no ato : - H2O é água, seus imbecis. Quer dizer água. Apressado, Apolônio socorreu o freguês com uma jarra do líquido. Depois, no corredor, glosando o feito, gritou em direção a Boréu : - Ah, ah, ah, esse sujeito achava que nós não sabia ingrês. Lascou-se ! Ciclos pré-eleitorais O país começou a viver seu primeiro dos três ciclos pré-eleitorais. O primeiro ciclo pega outubro e novembro; o segundo abriga dezembro, janeiro e fevereiro; e o terceiro começa em março e vai até junho. No primeiro, a meta é alavancar os nomes dos pré-candidatos, tornando-os mais visíveis. O segundo, no período de festividades de fim do ano velho e começo do ano novo, o foco é a articulação, com muitas conversas ao pé do ouvido. E o terceiro será dedicado ao fechamento de acordos e tomada de decisões, encerrando-se com a Convenção dos partidos. "Civilização, antes de tudo, é vontade de convivência." (Ortega Y Gasset) Decalagem O candidato quer atingir o alvo distante. Que passará à altura de seus olhos no início de outubro de 2010. Mas sua arma deve disparar agora. O que deve fazer ? Calcular a distância do alvo, velocidade com que se movimenta, a velocidade da munição da arma em suas mãos, o atrito do ar, as condições do tempo etc. Se tudo for bem medido, a probabilidade de acertar o alvo é alta. A isso se chama, decalagem. Amostras Vamos, agora, aos exemplos. Dilma Rousseff corre o Brasil no trator do PAC, examinando, conferindo obras e adentrando no circuito cultural religioso das regiões. Na Bahia, cultuou todos os orixás. No Pará, entre abraços e elogios a Jader Barbalho e ao PMDB, acompanhou a procissão do Ciro de Nazaré. Começa a praticar o bambolê, rodopiando pros lados, driblando questões escabrosas e costurando com a agulha da harmonia. José Serra, por sua vez, deslocou-se para o santuário de Aparecida, onde ocupou o púlpito para dizer como "ser cristão". Mas não faltam estocadas de todos os lados. Ciro Gomes é o principal responsável pelo tiroteio. A última dele : o ciclo FHC atrasou o Brasil. Pedra no sapato Lula colocou uma pedra no sapato de Ciro Gomes. Incentivou a mudança de título de eleitor para São Paulo, na intenção de convencê-lo a se candidatar ao governo do Estado. Lula imaginou - e bem - que um contundente opositor ao governo Serra poderia ser um grande cabo eleitoral de Dilma dentro do principal colegiado eleitoral do país. Mas o PT reage à ideia. Marta Suplicy foi escolhida para dizer, de público, que o partido não entrega de bandeja a candidatura ao governo para um estranho. Ciro acaba de descer de pára-quedas por estas bandas. Como desistir de uma candidatura em seu berço, pensam muitos petistas ? Sinuca de bico Ciro vive uma sinuca de bico. Se for candidato à presidência da República, poderá desagradar Lula. A não ser que prove, por A mais B, que tirará mais votos de Serra do que de Dilma. Essa equação não está ainda muito clara. Como candidato a presidente, Ciro não pode ter discurso frouxo, pasteurizado, incolor e inodoro. Portanto, precisa marcar presença no cenário. E essa postura certamente quebra a polarização Serra/Dilma. Logo, ele pode tirar mais votos de Dilma do que do governador paulista, eis que o eleitorado tenderá a vê-lo mais como lulista-governista. Ou seja, um perfil mais forte que o de Dilma. Em marketing, o conceito se chama canibalização. A imagem de Ciro "canibaliza" o perfil da Chefe da Casa Civil. Dirceu no jogo E por perceber essa alternativa - Ciro quer ganhar espaços que poderiam ser ocupados por Dilma - o alto comissariado do PT entrou no jogo, convocando o atacante José Dirceu, considerado o mais hábil negociador do partido, apesar de afastado oficialmente das lides partidárias. Dirceu correu o Nordeste socialista, ou seja, os Estados governados pelo PSB : PE, RN e CE. No Ceará, argumentou junto a Cid, o irmão de Ciro, que governa o Estado : convença o mano a abandonar esta ideia sob pena de o PT cearense apoiar Luizianne Lins, prefeita de Fortaleza, para o governo do Estado. Barganha, não Quem conhece Ciro, sabe que o cara é esquentado. Não teria aceito a sugestão. Mais : teria acirrado o discurso sob a crença de que tem mais a ganhar na disputa federal que na esfera estadual paulista. Seria muito difícil uma vitória contra o tucanato paulista. O pindacearense imagina que pode ser o candidato em melhores condições de levar a melhor contra Serra. Até fevereiro/março, a água entrará em ebulição. A conferir. Perguntinhas a Ciro Ciro Gomes, por favor, responda : "se os outros 31 deputados federais do Ceará decidirem, todos, transferir seus títulos eleitorais para outros Estados, imitando seu gesto de mudança de domicílio eleitoral para SP, essa decisão é correta e justa ?" E mais : "se os parlamentares levarem consigo seus mandatos, sem renunciarem ao cargo, como ficará o Estado ?"; "Não seria o caso de renúncia para que os suplentes possam assumir os mandatos e garantir a representação do Estado ?". Se Vossa Excelência argumentar que tal mudança se dará apenas por alguns meses, podemos chegar à conclusão que a traição aos eleitores se justifica por tempo mais escasso. Podemos, também, supor que meia gravidez existe. Casamento no Maranhão ? A não ser que Ciro Gomes tenha se convencido de que casamento duplo pode ocorrer, sim, contanto que um dos matrimônios tenha ocorrido muito distante do outro. E sob a bênção do Frei Damião. Acompanhemos a pregação do Frei em Cajazeiras, na Paraíba. Com aquela voz que parecia sair das cavernas, perorava contra os amancebados, os luxuriosos, os desonestos, desfilando todos os pecados contra os 10 mandamentos. No meio do sermão, parou e perguntou : - Quantos aqui são amancebados ? Quantos vivem juntos e não casaram ? Centenas de pessoas levantaram a mão. O frei ameaçou : - Nesse estado de barbárie, todos vocês vão para as profundezas do inferno. E serão queimados vivos. Vivos. Começou a descrever a terra incandescente. E arrematou : "amanhã, quero todos os amancebados, aqui, para um casamento coletivo". Dia seguinte, lá estava a multidão. Começou a cerimônia. Frei Damião limpa o suor e joga a pergunta que ferveu na alma de muitos : - Quem tiver algum impedimento contra esses sagrados matrimônios, que fale, agora, ou se cale para sempre. Silêncio. De repente, vê-se, no meio da multidão, o braço no ar de Terezinha das Mercês, devota fervorosa de Senhora da Anunciação : - Raimundinho de Doca num pode se casar, pois ele já é casado no Maranhão. Perplexidade geral. Raimundinho, o açougueiro, toma um susto. Silêncio. Frei Damião, curioso, sai do púlpito. Multidão em transe. A companheira de Raimundinho, envergonhada, não sabe o que fazer. E muito menos o que dizer. O homem das carnes, encabulado, grita alto para todos ouvirem : - Foi no Maranhão, no Maranhão. Faz muito tempo. É muito longe daqui. Muito longe, frei Damião. E adepois, fui a Juazeiro para tomar as benção do padim Ciço. O "santo italiano" do sertão nordestino baixou a cabeça. Chamou Raimundinho para perto e cochichou a penitência no ouvido : - 100 terços e abstinência por 7 dias. Se não cumprir a ordem, os dois queimarão vivos no inferno. Deu meia volta. Tomou lugar no púlpito. Milagre. O durão Frei Damião abençoou a todos. Ciro até parece que deseja imitar Raimundinho. Lula, o articulador Lula se transforma, a cada dia, no grande articulador do governo, do PT e dos partidos da base. Convoca líderes e dirigentes partidários, manda recados, cobra resultados. No que concerne ao PT, as ligeiras intervenções de algumas lideranças, como Marta Suplicy, por exemplo, são passíveis de morrerem no espaço e no tempo. Lula dará a palavra final. Quem vai questionar um presidente que tem 80% de avaliação positiva ? No que diz respeito aos partidos, ele também funcionará como o harmonizador. Sugerirá onde PT, PMDB, PDT, PSB e outros podem recuar ou fazer avançar seus candidatos ao Governo dos Estados e ao Senado. Licença do cargo ? Não será surpresa se Lula tirar licença para comandar, ele mesmo, a campanha de Dilma. A questão é : José Alencar, o vice, aguentará o tranco, na medida em que submete-se a um intensivo tratamento de saúde ? Michel Temer, presidente da Câmara, não assumiria o cargo porque será candidato a deputado, podendo, ainda, vir a ser o vice na chapa de Dilma. Outra questão é : José Sarney, presidente do Senado, desgastado, teria condições de comandar o governo mesmo por poucos meses ? DEM quer reforço O DEM tem uma meta a cumprir em 2010 : fazer uma grande bancada federal - senadores e deputados. Na esfera dos governos, suas chances serão mais limitadas. Mas o partido poderá surpreender, por exemplo, no DF, onde o governador Arruda faz boa administração e entra forte nos redutos periféricos, onde o ex-governador Roriz mantinha seus domínios. Arruda decidiu focar 80% de sua administração na região das cidades satélites. O prefeito Gilberto Kassab, de São Paulo, faz ampla articulação nacional com vistas ao plano de fortalecimento do DEM. E o PSC, hein ? Com 17 deputados, agora, o PSC entrará em 2010 com uma expansão de 87%. Adesões importantes : o senador Mão Santa, do Piauí, e o ex-senador e ex-governador Joaquim Roriz, do DF. Dificuldades que enfrentará : tempo de rádio e TV na campanha. Pacto em SC Em Santa Catarina, há três nomes da base governista que disputarão a candidatura ao governo : Leonel Pavan, vice-governador, pelo PSDB; senador Raimundo Colombo, pelo DEM, e Eduardo Moreira, presidente do PMDB. Quem exibir a melhor posição nas pesquisas lá para março/abril, será o escolhido. Como o governador Luiz Henrique será candidato ao Senado, as chances do PMDB diminuem. Eduardo Moreira ostenta posição baixa nas atuais pesquisas. Colombo e Pavan dividem as maiores taxas, em rodízio. Como Pavan assumirá em janeiro, com a licença de Luiz Henrique, ficará com o poder da caneta e maior possibilidade. Colombo disputaria o Senado. Tempos de maquiagem Aproximam-se os tempos de maquiagem. Atenção, maquiadores. Cuidado com o excesso de rouge. Muita atenção para as camadas exageradas de tintura no cabelo. O eleitorado, em 2010, vai tapar os olhos para o conceito : "bonitinho(a), mas ordinário(a)". Cadê o Favre ? Luiz Favre, ex-marido de Marta Suplicy, que faz um blog político, teria comprado uma rede de supermercados na França. Este consultor ouviu, ontem, a informação de importante figura pública. Cadê o Duda ? Onde anda Duda Mendonça, que fez as campanhas de Lula ? Teria sido contratado pelo socialista Paulo Skaf como consultor político. Faria a campanha de Skaf ao governo de SP. Essa alternativa também é assim conhecida : contar com o ovo antes da galinha fazer o seu exercício. Pergunta a Skaf O que acha da socialização de alguns meios de produção ? O que acha do planejamento participativo ? Como enxerga o orçamento participativo ? Que cartilha socialista inspira sua reza ? Cadê o Lavareda ? E o Antônio Lavareda, analista de pesquisas ? Dizem que deixará a condição de bastidor para ser vidraça. Quer ser político. Ingressou no PSDB. E estaria atraído por uma vaga no Parlamento do MERCOSUL (Parlasul). O pesquisador, dizem, é um próspero homem de negócios no campo do turismo. E divisa a área financeira. Cadê o Santana ? João Santana, o segundo marqueteiro de Lula, está aprontando dona Dilma Rousseff para a cerimônia eleitoral de 2010. Com direito a orientação de cortes de cabelo, cor do vestido e postura verbal. Mas, e o discurso geral ? Continuidade da era Lula ? Falta do que fazer O articulista Carlos Alberto Di Franco escreveu um artigo em "O Globo", condenando o PT, que puniu por desobediência os deputados Luiz Bassuma e Afonso Henrique. Criticar partidos é coisa natural. O presidente do PT, Ricardo Berzoini, mostrando-se indignado com o articulista, deu-se ao trabalho de responder em artigo no mesmo jornal. É mesmo falta do que fazer. Conselho aos marqueteiros Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na edição passada, o espaço foi destinado aos petistas de São Paulo. Hoje, volta sua atenção aos marqueteiros : 1. Procurem avaliar o estado social em todos os espaços nacionais. 2. Ouçam as vozes das ruas e procurem produzir um discurso consoante com a realidade. 3. Ofereçam a seus assessorados mais conteúdo e menos forma, menos massa de pastel e mais substância ou, conforme diz o povo, mais "sustança", menos osso e mais tutano. ____________
quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Porandubas nº 206

O Senhor no céu nos vigia Elias Fernandes, deputado estadual do RN, visitava com frequência a região do alto oeste do Estado, onde está a cidade de Pau dos Ferros, onde nasceu. Certo dia, foi assediado - como, aliás, os políticos nordestinos - por Zé de Eraque (José de Heráclito), muito conhecido na cidade, em busca de um "adjutório", geralmente um pedido de emprego, dinheiro, passagem de ônibus, cestas básicas, internação em hospitais etc. Mas Zé só queria dinheiro, aliás, uma grana mais pesada para aumentar a casa. - Doutor, preciso que o senhor me arranje uns 100 mangos. O momento nacional favorecia Elias. Era o ano de 1999. A lei 9.840, de iniciativa popular, com mais de um milhão de assinaturas, aprovada pelo Congresso Nacional, proibia qualquer espécie de corrupção - a partir da compra de votos. Um clima de medo tomou conta do país. Candidatos e políticos valiam-se do novo instrumento para se safar da escalada de pedidos. Sem saber se conseguiria enrolar o eleitor, o deputado chamou-o para um canto e confidenciou : - Zé, agora não posso mais dar dinheiro. Os juízes estão atentos. Pegam qualquer político que dê dinheiro ao eleitor. Se me pegarem, você não vai ver mais seu amigo como deputado. Vão cassar o meu mandato. O eleitor, cara de cúmplice, piscou o olho e cochichou no ouvido do deputado : - Dr. Elias, não tem ninguém vendo a gente. Pode ficar tranquilo. Não tenha medo. Me dê esse dinheirinho. E já esperava que o deputado enfiasse a mão no bolso, com a bela sacada de resposta, quando Elias, matreiro, puxou ainda mais para perto Zé de Eraque e, com voz macia e quase inaudível, falou, sério, olhando para o alto e apontando para os céus : - É, mas Ele está observando nós dois. O Senhor, lá de cima, está nos vigiando. Ele também vigia o cumprimento das leis. Não posso cometer esse pecado, Zé. Vamos direto pro inferno. Nós dois. E assim, como praticante do preceito dos céus, religioso como nunca, batendo nas costas do eleitor, prometeu que, em futuro próximo, quando as tais leis ficassem menos rigorosas, ele, seguramente, iria ajudar o amigo e a toda a sua família. Zé de Eraque, mesmo contrariado, meio desconfiado, saiu de fininho. E foi fazer a tentativa em outra freguesia. Babel em São Paulo Marta Suplicy nem esperou Lula chegar do tour pelo exterior para avisar : o PT vai construir uma candidatura ao governo de São Paulo. E Antônio Palloci é o melhor candidato. Lula não quer antecipar o jogo. Porque pretende avaliar melhor os potenciais de Ciro Gomes. Gostaria que o cearense de Pinda fosse candidato ao governo, o que deixaria o PT como refém do PSB no maior colégio eleitoral do país. Ciro, por sua vez, lutará para ser candidato à presidência da República. Mas sua candidatura poderá fraquejar, a depender, claro, de Lula. "Todas as artes produziram maravilhas, exceto a arte de governar, que só produziu monstros." (Saint Just - 1767/1794, um dos jacobinos da Revolução Francesa) Quais as chances ? Ciro Gomes não conta com nenhuma possibilidade de se eleger governador de São Paulo. Apesar de ser natural do Estado, Ciro é um estranho à vida política paulista. Usou os palanques políticos que frequentou até hoje para tocar fogo no perfil de políticos, governantes e até na vida social e econômica do Estado. Este consultor atesta : se ele tem prestígio pelas bandas nordestinas, é detestado por fortes contingentes desta unidade federativa. Ciro é considerado bala de canhão para atacar os tucanos paulistas, a partir de José Serra e Fernando Henrique. A fama de canhoneiro de plantão é péssima para ele. Marta tem razão Marta Suplicy comete muitos erros. Desta feita, porém, acerta em cheio : a candidatura Ciro Gomes não tem nada a ver com São Paulo. É o que ela diz. Os petistas não gostariam de permanecer na linha secundária do PSB em São Paulo. Até porque o PSB terá um discurso enviesado com o ingresso de Paulo Skaf. Este consultor já brincou que, de socialista Skaf tem apenas o 'S' que se vê acentuadamente quando se observa a curva de seu nariz. Skaf tem o direito de querer ser candidato. É boa praça. Trata-se, aliás, de pessoa competente e que tenta dar um sopro novo à FIESP. Mas, na hora certa, escolheu o partido errado. PSB ? Por quê ? Começa a ser objeto de gozação. Erundina e Skaf Ver Ciro, o turrão, ao lado do socialista Skaf, sob o olhar de um perfil sério e admirado, como o de Luiza Erundina, será um exercício que não passará despercebido a ilustradores e cartunistas. O rumo do vento ? Meu pai, de quem herdei nome e sobrenome, já dizia : "Ninguém consegue mudar o rumo do vento. Nem paredões de cimento". O vitorioso na política está sempre no rumo do vento. Não o contraria. Sob pena de ser arrastado pelo tufão. Há pessoas que não conseguem enxergar (ou sentir) para onde vai o vento. Freud e a política Para quem quiser entender a política e o comportamento das massas, vale a pena ler este pensamento de Freud : "a maioria dos humanos sente a imperiosa necessidade de uma autoridade que possa admirar, diante da qual se possa inclinar e que a domine e por vezes até a maltrate. A psicologia do indivíduo nos informou de onde vinha essa necessidade coletiva de uma autoridade : ela emana da atração pelo pai. Todos os traços de caráter com que pretendemos adornar o grande homem são traços peculiares ao personagem paterno. Firmeza de ideias, força de vontade, ação resoluta, isto faz parte da imagem paterna." César ? Cromwell ? Bonaparte ? De Gaulle ? Hitler ? Vargas ? Perón ? E Lula, hein ? Polarização Em São Paulo, é bem provável a continuidade da polarização entre PT e PSDB. José Serra faz um governo bem avaliado. E simboliza os compromissos do Estado na moldura federativa. O PT fará o possível e impossível para colocar os feitos nacionais de Lula na agenda paulista. Por isso, a polarização entre as duas siglas é muito previsível. Mas o PT não poderá deixar de ter candidato em seu berço histórico. Seria a negação de que fracassou no território que continua a ser o carro-chefe da Federação. Palloci e os outros O empresariado paulista, vale reconhecer, admira Antônio Palloci como o arquiteto da construção econômica do governo Lula durante o primeiro mandato. O episódio do caseiro Francenildo não borrou a imagem do deputado junto aos meios empresariais. Mas o deputado teme o resgate daquela questão e a fixação da lupa midiática sobre o passado. Não decidiu, ainda, o que fazer. Marta Suplicy continua sendo a mais "fragmentada" entre os petistas com viabilidade. Já o senador Eduardo passou a ser uma espécie de massa pasteurizada. Sua coloração ficou desbotada. Emídio de Souza, prefeito de Osasco, lapidou a imagem de experiente e articulador. Porém, sem o estofo de Palloci. Rio em festa ? O Rio de Janeiro viverá anos de intensa atividade na área esportiva. Não se trata apenas de fazer as obras planejadas para as Olimpíadas de 2016. Trata-se de convocar o empresariado, mobilizar as lideranças, reestruturar sistemas e métodos, adequar estruturas, ou seja, reordenar a gestão no campo dos esportes. Trata-se de mudar mentalidade. Evitar erros do passado. Enterrar o grupismo e os favorecimentos. Permanecer sob intensa lupa da mídia, que deverá monitorar os fluxos operativos. Sérgio Cabral e Eduardo Paes, governador e prefeito, não serão apenas sorrisos. Serra proativo Desta feita, José Serra não dormiu no ponto. Bastou o Rio ser escolhido como sede da Olimpíada de 2016 e Serra saiu com um artigo no jornal "O Globo", dando parabéns ao feito, defendendo a tese de que o Brasil é quem ganha com a vitória carioca e que, ele, governador, estaria na linha de frente para integrar as energias e esforços em prol do empreendimento. Marcou um tento. Dilma nas igrejas A campanha de Dilma deixa, por alguns dias, o palanque das obras do PAC para ganhar os espaços sagrados dos templos evangélicos. Nos últimos dias, viu-se dona Dilma, contrita e silente, ouvindo perorações religiosas. Se é descrente, ficou calada. Se é ateia, dela não se ouviu um pio nessa direção. Teria aprendido com lições do passado ? Fernando Henrique, provocado por Boris Casoy, confessou ter dado ligeira tragada em um cigarro de maconha. O que lhe valeu o epíteto de "maconheiro", nele pregado de maneira indissolúvel pela boca venenosa do gênio Jânio Quadros. Tempos de Jânio Nessa época, este consultor presenciou alguns erros cometidos por Fernando Henrique, que disputava com Jânio a prefeitura da capital. Jânio, sem grana e sem recursos, refugiou-se em um dos estúdios da TV Record, na avenida Miruna, em Moema, de onde fazia perorações duras (e sem efeitos televisivos) contra a bandidagem e a violência que assolavam a capital. Dona Eloá, ao seu lado, com o olhar para chão, doente e vestida de maneira simples, não dizia um pio. Fazia o papel de esposa silenciosa. Ao lado de um perfil que emanava autoridade, respeito, dignidade. Fernando Henrique, vestido em seu terno xadrez, corria a periferia, gravando para o programa eleitoral entre os trilhos do metrô que deveria chegar à Zona Leste. Simplicidade e austeridade, de um lado; fausto e opulência, de outro. Algo era incongruente. Um schollar na periferia ? Um popularesco escondido na TV ? Dissonância Parecia um exemplo de dissonância cognitiva. Mas a TV chegava aos ouvidos atentos de eleitores que queriam o combate direto á bandidagem. FHC e a cadeira Fernando Henrique, com absoluta certeza de que ganharia a eleição, tomou assento na cadeira de prefeito antes mesmo do resultado do pleito. Jânio ganhou. E, com um gesto espetacularizado, dedetizou o ambiente. PDT vai de quem ? O PDT movimenta-se em torno de Ciro Gomes. Acena publicamente com o interesse de ocupar a vaga de vice. O nome : Carlos Lupi, o ministro do Trabalho. Pura encenação. O PDT vai para onde Lula determinar. E o mais provável é um fechamento incondicional em torno do nome de Dilma Rousseff. E o Chalita, hein ? E o Gabriel Chalita, hein ? O PSDB da capital acaba de entrar com recurso no TRE pedindo de volta o cargo de vereador, que Chalita deu de bandeja ao PSB. Questão seguinte : mais de 30 parlamentares trocaram de partido, nos últimos dias, apesar da proibição para fazê-lo. O mandato, conforme interpretação do TSE, pertence aos partidos e não aos candidatos. O partido que se sentir traído poderá pedir o cargo de quem elegeu e dele saiu. Afora o caso de Chalita, mais dois ou três casos serão objeto da justiça eleitoral. Quem aposta que o mandato será devolvido ao partido ? Eu não aposto. A pomba com sede Uma pomba acossada pela sede, ao ver uma taça de água pintada num quadro, pensou que era verdadeira. Desceu com impetuosidade, chocando-se contra o quadro. Quebrou as pontas das asas, caindo por terra e sendo agarrada por alguém. Moral da história : certas pessoas, arrebatadas pela violência das paixões, aventuram-se de maneira irrefletida nos empreendimentos, correndo, sem o suspeitarem, em direção à sua própria ruína. Esta breve fábula de Esopo é um alerta a políticos, aventureiros, oportunistas e quetais... Eis o conselho deste escriba e consultor político. Cuidado : vivam cada átimo de segundo, dando ao tempo o seu ciclo de vida. Sem estrangulamentos. Cada coisa no seu lugar e em seu devido fuso horário. PMDB articula Hoje à noite, o líder do PMDB na Câmara, deputado Henrique Eduardo Alves, reunirá a cúpula do partido para articular a antecipação da aliança com o PT. A ideia que move integrantes da cúpula é evitar a debandada de peemedebistas, caso a aliança seja protelada para o primeiro trimestre de 2010. Ao contrário do que se pensa, Michel Temer não reivindica a vaga de vice. O que ele e seus correligionários querem é garantir ao PMDB a vaga de vice para o partido. Nesse sentido, a vaga poderia ser ocupada, por exemplo, por Henrique Meirelles, o neopeemedebista de Goiás. Lista suja :  primeira ou segunda instância ? Mais um projeto de iniciativa popular chega à Câmara dos Deputados, assinado, desta feita, por cerca de 1,3 milhão de eleitores. Trata-se da ideia de evitar a candidatura de pessoas condenadas pela justiça. É evidente que o projeto vem na linha do expurgo da metástase que ameaça assolar todo o corpo político. É saudável. Ocorre que a condenação, em primeira instância, pode embutir ações persecutórias de adversários e/ou inimigos políticos. Muitos juízes de primeira instância são aliados de grupos e famílias locais. Nesse sentido, este consultor concorda com a ideia de que a proibição de candidaturas - ficha sujas - passe pelo crivo da segunda instância, onde um colegiado, de maneira plural, é quem pode proferir um julgamento menos sujeito à suspeição. Conselho aos petistas Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na edição passada, o espaço foi destinado aos novos vereadores. Hoje, volta sua atenção aos petistas de São Paulo : 1. Façam uma pesquisa em profundidade para avaliar potenciais e qualidades de seus quadros. 2. Duas pergunta centrais : por que a maior rejeição ao PT está em seu Estado de origem ? Por que fortes contingentes da classe média continuam sendo imenso paredão contra as pretensões do PT em SP ? 3. Analisem prós e contras a respeito da equação : sair ou não com um candidato petista ao governo de SP ? Qualquer que seja o resultado, a união dos grupos é fundamental para qualquer projeto de poder em São Paulo. ____________
quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Porandubas nº 205

Creusa Joaquim Francisco Cavalcanti era delegado de Polícia, em Recife. Uma noite, em um baile de travestis no bairro do Recife velho, a pancadaria come solta. Prisão de todos os participantes. O delegado fichava cada um e mandava embora : - Nome ? - Greta Garbo. - Nome ? - Sophia Loren. - E seu nome ? - Marilyn Monroe. - E o seu ? - Creusa. - O que, seu sem vergonha ? Creusa é o nome de minha mulher. Você vai ficar 6 meses na prisão de Itamaracá. Seis meses depois, o delegado Joaquim Francisco manda buscar Creusa para soltá-lo : - Seu nome ? - Joaquim Francisco. - O que, imbecil ? Como tem coragem, sem-vergonha ? Vai ficar mais 6 meses na prisão. E para lá Creusa voltou. Sem piedade. Guerra I Em Maratona, 490 a.C., 15 mil persas enfrentaram 11 mil atenienses. Mas os gregos tinham uma vantagem, a falange, um esquadrão de infantaria aguerrido e imbatível. Cada soldado do corpo segurava o escudo protegendo metade de si e metade do homem à sua esquerda. Formavam uma muralha indevassável. Seis mil persas foram mortos contra apenas duzentos atenienses. Casa da mãe Joana ? A Embaixada brasileira em Tegucigalpa, capital de Honduras, mais parece uma casa da mãe Joana. Zelaya chega, furtivo, com um montão de assessores e ali se instala. Começa a fazer daquele território "brasileiro" um palanque político. Lula ordena : Zelaya, cale-se. E o presidente de Direito de Honduras, o que faz ? Dá uma de Lula, ou seja, abre mais ainda o bico. Grita no palanque 24 horas. Metido no seu chapelão cheio de marketing, Zelaya zela por seus direitos, rasgando a ética que deveria presidir a "hospedaria Brasil". Sinais dos tempos. Sinais de uma política de relações exteriores administrada pelo fígado e não pela cabeça. Lula versus Obama De um lado, Barack Obama; de outro, Luiz Inácio. Onde ? No ringue de Copenhague, na Dinamarca, onde os dois, esta semana, estarão defendendo Chicago e o Rio de Janeiro como sedes para as Olimpíadas de 2016. O Rio tem mais chances que Chicago por uma razão forte : tem o apoio de sua população. Cerca de 70% dos habitantes de Chicago, segundo pesquisas, não querem que sua cidade abrigue os jogos. Acham que haverá muita destruição, bagunça, quebradeira, com ameaça ao patrimônio público e perturbação da vida urbana. Não querem pensar na dinheirama que entrará nos cofres da cidade. Vida saudável, em primeiro lugar. Quem levará a melhor ? Sei não. Será que, ante dois competidores com as famas de Obama e Lula, os julgadores teriam coragem de colocar um deles na berlinda ? In medium virtus, diz o ditado. Se a virtude está no meio, é bem provável que a decisão contemple outra cidade, entre as que estão no páreo, como Madri e Pequim. O Rei da Espanha, Juan Carlos, é bom lembrar, carrega charme. O Rio conta com a maior simpatia. Se o cara daqui ganhar, vão anunciar de maneira bombástica e brasileiramente : "Lula venceu Obama". Guerra II Em Arbela, 331 a.C., Alexandre enfrentou Dario. Este lutou de forma convencional. Com 15 elefantes e 200 bigas na vanguarda. Alexandre usou a cavalaria nos flancos esquerdo e direito. Fez o chamado ataque de varredura pelo flanco direito. Os persas correram para o esquerdo. Alexandre girou sua cavalaria por trás de seu centro. Cercou os adversários. Estratégia chamada de aproximação indireta. Ataque na linha onde há menor expectativa. Alexandre mereceu ser chamado "O Grande". Zeluya Em Honduras, há um novo herói : Zeluya. Se o Manuel Zelaya não voltar ao governo, os hondurenhos apenas substituirão o final do sobrenome que se incrusta em seus corações : Luiz Inácio, agora Zeluya, é o cara. Em Caetés, que já foi distrito de Garanhuns, onde Zeluya nasceu, está sendo confeccionado um imenso chapelão. Com ele, o novo ídolo das massas da América Central será entronizado. Schwarzenegger amazônico Em um Estado da região amazônica, um político - ex-vice-governador, ex-deputado - recebeu a dica : um senador, no imaginário do eleitor, deve exibir perfil musculoso, forte, para transmitir a imagem de todo-poderoso. Ou seja, o eleitor enxerga no senador um político mais portentoso que a figura de deputado. Pois não é que o cara fez uma plástica geral a conselho do marqueteiro de araque ? Esticou os peitos, botou massa muscular onde pode, alargou os beiços, enfim, enfiou outra forma na carcaça antiga. Um desastre. Dizem que mais parece... bom, a comparação é trágica. Não dá para registrar. O riso tomou conta da capital depois que a galera descobriu que a figura queria ser a cara do Arnold Schwarzenegger, ex-ator, governador da Califórnia (EUA). "Há uma fraqueza na força se você tentar encontrá-la. Aquiles tinha um tendão que o levou à queda." Al Ries e Jack Trout Guerra III Austerlitz, 1805. Napoleão estimulou um ataque dos adversários austros-russos pela direita. Em seguida, manobrou seu flanco esquerdo para golpear o inimigo pelo centro. Foi muito rápido. "Posso perder uma batalha, nunca perderei um minuto", dizia ele. Ganhou. Mobilidade e rapidez, o sucesso. Perdeu mais adiante. A zoeira endinheirada Mais uma vez, Brasília será tomada, nos próximos dias, pela farra das Centrais Sindicais, organizada pela Força Sindical e CUT. Acompanharão os debates e votação sobre o projeto que reduz de 44 para 40 horas a jornada de trabalho. Vejam a patrulha que farão : afixarão em praça pública nos Estados de origem os nomes dos parlamentares que votarem contra o projeto. Serão chamados de traidores. Muitos deverão votar a favor para não receberem a pecha de traição. Esse é o Brasil da Independência ou Morte. Quer dizer : se Suas Excelências decidirem votar com Independência serão condenados à Morte Pública. Tempos Banais. Paredes de espelhos quebrados. Terra devastada. Guerra IV O troco a Napoleão veio em 1815. Waterloo. Napoleão tinha 74 mil homens e o general Wellington dispunha de 67 mil. Napoleão estava na ofensiva. O inglês podia se dar ao luxo de esperar. 19h30, por do sol de 18 de junho : ousadia plena de Napoleão. Ataque frontal com 10 batalhões dos Guardas Imperiais. Audácia, sempre audácia. Perdeu a batalha. E a coroa. A defesa de Wellington ganhou pela superioridade. O melhor ataque, desta feita, foi a defesa. Quércia, o manda-chuva Orestes Quércia se lixa para aqueles que fazem alguma restrição ao seu estilo político. Considera-se dono do PMDB paulista. E, nessa condição, acha que pode dominar o PMDB nacional. Não contente em ser o manda-chuva do partido no Estado de São Paulo, Quércia pretende definir os rumos da sigla nacionalmente. O que ele pretende, na verdade, é eleger-se senador por SP. Seu esforço se explica. Não se trata de amor à causa de José Serra, pré-candidato do PSDB à presidência da República. Não será tarefa fácil a eleição de Quércia. Os eleitores não vêem bem sua volta aos holofotes da política. As chances A aritmética eleitoral aponta para a eleição de um senador pela base governista em São Paulo e outro pela base oposicionista. O candidato da oposição - PT e companhias - será Aloizio Mercadante. Cuja imagem, aliás, está em queda. O candidato da base situacionista é exatamente ele, Orestes Quércia. Mas haverá outros nomes, sendo um deles, possivelmente, Gabriel Chalita, pelo PSB. Pode ter boa votação. Se Guilherme Afif fosse candidato, Quércia estaria frito, Afif ganharia a parada. Por isso mesmo, Quércia promete mundos e fundos a Serra. Teme que sua candidatura vá para o espaço. Ou, como candidato, naufrague mais uma vez. Censura querciana Orestes não vetou o ingresso de Paulo Skaf no PMDB. Mas, indiretamente, pôs obstáculos, na medida em que impôs uma condição. Se ele quiser ser candidato ao governo de SP, deveria se submeter à Convenção. Nesse sentido, ele tem inteira razão. Mas o perigo é o detalhe : Quércia tem completo domínio sobre os convencionais. Logo, vetará qualquer candidatura do PMDB ao governo do Estado. O Dr. Hélio, do PDT, prefeito de Campinas, também pensou em entrar no PMDB. A porteira está fechada. O porteiro não admite o ingresso de perfis com grande votação. Estraçalhado O PMDB de São Paulo caminha na linha contrária à expansão do PMDB nacional. Foi estraçalhado. Tem 3 deputados estaduais (Jorge Caruso, Uebe Rezek e Baleia Rossi), 3 federais (Michel Temer, Antônio Bulhões e Francisco Rossi) e, na capital, conta apenas com 2 vereadores (Antonio Goulart e Joogi Hato). Guerra V Rio Somme, em 1916, na França. Aí foi travada uma das maiores batalhas da I Guerra Mundial. Tropas inglesas e francesas saem de suas trincheiras para enfrentar os alemães. Esta era a guerra para acabar com todas as guerras. Mas os alemães tinham um trunfo : a metralhadora. Franceses e ingleses conseguiram avançar apenas 5 milhas. Primeiro dia de batalha : 50 mil mortos. A luta durou 140 dias. Uma carnificina. Guerra ganha pelo poder mortífero das armas. Um ano depois, os ingleses puseram em cena os tanques. Adeus, Alberto Silva Registro com pesar a morte de Alberto Silva (PMDB), que foi senador e governou duas vezes o Piauí. Morreu como deputado federal. Soube cultivar a auto-estima dos piauienses. Explico. Em 1986, coordenei a campanha de Freitas Neto (PFL, na época) ao governo do Estado. O adversário era Alberto Silva. Ganhou a campanha por pouco. Entre as razões, aponto uma : soube cultivar a auto-estima dos eleitores. Feitos albertianos Mostrou que podia fazer uma Poticabana, uma praia, às margens do poluído rio Poty, lembrando Copacabana. Os piauienses, portanto, podiam se orgulhar de sua bela praia, sem precisarem se deslocar ao Rio de Janeiro. Adquiriu, nos Estados Unidos, um equipamento que formava ondas artificiais. Um tento. Explicou que os médicos piauienses, por satélite, poderiam ser monitorados por médicos americanos. E, assim, realizar operações fantásticas. Demonstrou que a vida em Teresina (capital muito quente) poderia ser mais saudável. Com imensos ventiladores respingando água das fontes, os piauienses seriam refrescados. Vida saudável Mandou fabricar um equipamento para arrancar tocos das queimadas nas roças, facilitando o trabalho do agricultor. Era um visionário. Ideias esquisitas. Que geravam impacto. A auto-estima dos piauienses subia à montanha. Convencia usando a argumentação de professor em sala de aula. Pregava que cada família poderia alimentar-se melhor. Para tanto, incentivava a construção de uma pequena horta em cima das casas. Dava material para as famílias. Como engenheiro, explicava numa lousa os projetos, desenhando ele mesmo as ideias malucas. Os eleitores acreditaram. Ganhou a campanha. Complexo de culpa Um dia, entendi a força do complexo de inferioridade que Alberto Silva queria expurgar. Ele contava a deliciosa piada. Um cara chegou para um piauiense e perguntou : "o Sr. é de onde?" Feroz, o piauiense se armou em posição de soco, e, antes de dizer qualquer coisa lógica, logo tascou de modo áspero : "sou do Piauí, e daí ?" Respondeu como se quisesse dar uma porrada no interlocutor diante da pergunta. Alberto Silva deixa um legado e muitas histórias. Era um homem querido por seu povo. Adeus, governador. Vereadores O presidente do TSE, Carlos Ayres Britto, alerta : a leva de quase oito mil vereadores, que engordará as Câmaras Municipais do país, não tem como tomar posse. Consulta feita ao STF, no passado, aponta nesse sentido. A PEC dos vereadores, aprovada na Câmara, só terá validade na eleição de 2012. Mas já há vereadores tomando posse em alguns municípios. É isso : o Brasil também é conhecido como território onde impera a anomia. São Miguel Ontem, terça-feira, os micaelenses de todo o Brasil fizeram festa. Dia de São Miguel. Minha homenagem ao município de São Miguel, RN, comandado pelo prefeito e médico Galeno Torquato, meu sobrinho. Para quem não sabe, São Miguel foi o Príncipe da Milícia Celeste, aquele que na batalha feroz ocorrida no céu, derrotou o revoltoso satanás e seus sequazes, precipitando-os nos quintos do inferno. Novos rumos A campanha de 2010 abrirá oportunidades para voos mais altos de políticos mais jovens e com certa experiência. Deputados estaduais e federais postularão vôos majoritários. Tem-se a impressão de que um processo de renovação nas cúpulas ocorrerá com intensidade. A conferir. Meirelles no PMDB Henrique Meirelles se filiará ao PMDB de Goiás. Em março do próximo ano, decidirá o caminho a seguir. Hoje, a via mais larga é a do Senado. Pode ser, amanhã, a do governo do Estado. A terceira alternativa é o ingresso na estrada de Dilma Rousseff como vice. Possível, porém, menos provável. Michel como vice ? Por onde anda, o deputado Michel Temer ouve a indagação : é mesmo candidato a vice de Dilma ? O presidente da Câmara abre o sorriso e retruca : cargo de vice não é objeto de candidatura. Ninguém se candidata a vice. Michel, na verdade, tem pela frente um grande desafio : comandar a Câmara em um ano eleitoral. Pragmático, escolherá, no momento oportuno, a carta mais condizente com suas expectativas. Conselho aos novos vereadores Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na edição passada, o espaço foi destinado aos senadores. Hoje, volta sua atenção aos novos vereadores : 1. Não contem com o ovo antes do ato generoso da galinha. 2. Acautelem-se contra decisão sobre a PEC dos Vereadores, cuja interpretação poderá bater nas portas do STF. 3. Mais prudente e conveniente, neste momento, será arregaçar as mangas e começar a trabalhar pela viabilidade eleitoral - sem artificialismos - em 2012. ____________
quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Porandubas nº 204

Banana no bolso Tenho de começar com Jânio Quadros. Na campanha pela prefeitura de São Paulo de 1985, contra Fernando Henrique, o senador sociólogo da época, Jânio foi ao bairro de São Miguel Paulista, na zona Leste, reduto de nordestinos. Depois de uma farta feijoada, inúmeras caipirinhas, Jânio não resistiu e caiu na cama. Atrasado, às 18 horas levantou-se, vestiu o terno amarfanhado e colocou uma banana no bolso. Ao começar o discurso, foi logo dizendo: "Político brasileiro não se dá ao respeito. Eu não. Desde as 7 horas da manhã, estou encaminhando por este bairro e até agora não comi nada. Então, com licença". Sob os aplausos da massa, devorou a banana. A semântica janista O discurso semântico de Jânio - a substância de sua fala - ganhava mais força pelo impacto causado pelo discurso estético, a impressão provocada por sua maneira de falar, os olhos esbugalhados, os cabelos compridos e revoltos, a barba por fazer, um jeito desleixado que confundia interlocutores e assistentes : aquilo seria natural, coisa do acaso, ou algo preparado, artificializado ? Em Jânio, essa ambiguidade tornou-se marca de sua personalidade. Ficaram famosas suas campanhas em São Paulo, desde os tempos de vereador, quando escolheu o bairro de Vila Maria para montar o primeiro palanque de sua trajetória. Ombros cheios de caspa, sanduíches de mortadela, pão com banana, tudo sob as vistas dos fotógrafos, eram um prato saboroso para a mídia. Névoas e nuvens Os horizontes de outubro de 2010 estão longínquos. As nuvens e névoas do tempo atrapalham a visibilidade. Mas pesquisa, como se diz, é a foto do momento. E esta pesquisa CNI/IBOPE revela pelo menos uma coisa : Dilma Rousseff tem dificuldades para fazer decolar a candidatura. Ela já havia alcançado a taxa de 20%. Cai, agora, para 14% e empata com os 14% de Ciro Gomes. Ciro vai à TV, circula pelas cidades médias e grandes, acirra o discurso. E assim abre espaços na mídia. Dilma também passou a dar entrevistas de fundo político. Mas seu tom arrogante emerge. Os tupiniquins A entrevista da ministra chefe da Casa Civil, na Folha de S.Paulo, do último domingo, foi muito fraca. Esteve abaixo de sua identidade. A certa altura, defendendo o Estado forte - inchamento da máquina - cometeu a blague de atribuir essa polêmica aos "tupiniquins". Quis dizer que essa matéria só causa celeuma por aqui. Sobrou, porém, a gafe que pega parcela de nossa população indígena. Fosse um analista político a se referir ao tema, não haveria problema. A referência retrata uma cultura do atraso, das antigas. Na linguagem de uma autoridade, o termo parece inadequado. Alternativas do PT Pois é, se Dilma não decolar, por onde caminhará o PT ? Pelo andar da carruagem, seus quadros melhores estão ainda se recuperando de tiroteios antigos. Dirceu está fora de campo. Palocci, absolvido, espera momento propício para reaparecer em cena. Marta Suplicy não tem votação suficiente para eleições majoritárias na esfera federal. Vai sobrar para o PT o nome de Ciro Gomes como alternativa. O polêmico, extravagante, irrequieto, mas - vale reconhecer - bem articulado Ciro Gomes. Candidato pelo PSB com o apoio do PT. E se o PT não topar ? Ciro garante que vai adiante. Nesse caso Nesse caso, colabora para a ruptura de alianças entre PSB e PT em alguns Estados. A razão : em algumas unidades federativas, o PSB quer lançar seus candidatos e o PT teria de abrir espaço. Vice versa. O PT quer o apoio do PSB para seus candidatos em Estados onde aquele partido também quer disputar. Impasse. A campanha de 2010 será uma costura de inimaginável complexidade. Será um samba atravessado. Serra vai bem ? José Serra continua com bons índices, apesar de já ter registrado mais de 40%. Com 34%, Serra lidera mas diminui sua taxa. A diferença entre ele e os segundos é muito grande : 20 pontos percentuais. Serra quer conquistar, devagarzinho, o nordeste, onde tem a menor aceitação. Na Bahia, na segunda viagem que fez em menos de dois meses, saiu-se muito bem. Conseguiu puxar para sua palestra até Geddel Vieira Lima, ministro da Integração, que não tem muita certeza sobre a candidatura Dilma. O Brasil cercado Embaixadas são territórios de países. A Embaixada brasileira em Honduras, portanto, é a extensão do território nacional. Não pode ser invadida sob pena de tal ato ser entendido como invasão do próprio país representado. Se cortam os serviços básicos da Embaixada brasileira, em Honduras, esse ato equivale a uma agressão. É como se houvesse um boicote ao próprio Brasil. Que os meus amigos especialistas em Direito Internacional me socorram : me condenem ou me absolvam. Estarei certo ou errado ? Manuel Zelaya, presidente legal de Honduras, espera, no mínimo, uma reação à altura do Brasil. Alckmin vai bem Em longa conversa com este consultor, no final de semana, Geraldo Alckmin demonstrou inteira confiança em suas possibilidades como candidato ao governo de São Paulo. Acredita que o governador José Serra faz o estilo pragmático. Candidato à presidência da República, não pode perder em São Paulo. Por isso, escolherá o perfil com melhores condições de obter sucesso. Mas já quem ache que Alckmin não sustentará seus altos índices de pesquisa de opinião pública. E que as máquinas do Estado e da Prefeitura, juntas, alavancam qualquer candidatura. É possível, mas, em eleição, há sempre um imponderável. Quem foi radical ? Luiz Inácio lembrou, recentemente, que não há mais espaço para os trogloditas de direita. E lembrou que, na última campanha presidencial, quem radicalizou foi Geraldo Alckmin. Ora, quem conhece a índole equilibrada e balizada pelo bom senso do ex-governador, joga a pérola de Lula no lixo. Geraldo apenas lembrou que Lula estava cercado por mensaleiros e aloprados. Tal linguagem não é radical e apenas expressa a leitura das mídias e da opinião pública. Os tais figurantes dos ilícitos, esses, sim, radicalizaram. Direita, volver José Sarney fecha posição com Lula. Renan Calheiros, idem. Fernando Collor, idem. O que o presidente quis dizer quando lembrou não haver mais espaço para trogloditas de direita ? Vices O ministro Carlos Lupi, do Trabalho, é lembrado como um nome para compor a chapa de Ciro Gomes. O presidente da Natura, Guilherme Leal, é lembrado como vice de Marina Silva. Michel Temer, como vice de Dilma Rousseff. Henrique Meirelles (de que partido é ?) também foi lembrado - agora pelo PMDB de Goiás - para compor a chapa de Rousseff. Tucanos e socialistas Na Paraíba, é bem possível que os tucanos fechem aliança com os socialistas do PSB. Ricardo Coutinho, o bem avaliado prefeito de João Pessoa, eventual candidato ao governo pelo partido de Ciro Gomes, poderá ser o fiador desta aliança. Como já disse, dançaremos um samba atravessado. Reforma tributária e terceirização O Fórum Permanente em Defesa do Empreendedor, composto por empresários de cerca de 160 entidades do setor produtivo - entre elas Fiesp, ACSP, OAB e Fecomercio -, realizará no próximo dia 28 de setembro, na sede do Sescon (Sindicato das Empresas de Serviços Contábeis no Estado de São Paulo), em São Paulo, um encontro com o deputado Sandro Mabel, relator dos projetos de reforma tributária e do PL 4.302/98 que regulamenta a terceirização. Mabel discorrerá sobre os dois assuntos. Toffoli E o nomeado José Antônio Toffoli, hein ? Ministro do STF, passará 29 anos no cargo. Tempo para acompanhar, avaliar e julgar quase oito mandatos presidenciais. Assumirá mesmo não portando títulos de mestre e doutor - que Lula acha uma besteira. Vale, ainda é o presidente que garante, o fato de ele ser "um puta advogado". E mais : que "advogou para nós". Será que essa é a melhor qualificação. Benza-nos, Deus. O S de Skaf Há quem veja, na pesada campanha de Paulo Skaf na mídia, intenção mais que explícita de uma postulação política. Pretenderia o presidente da FIESP ser candidato ao governo de São Paulo, meta que o teria levado a procurar dirigentes e lideranças de partidos em São Paulo. Daqui a uma semana, Skaf deverá optar por um partido se quiser efetivamente continuar defendendo sua postulação. Mas há empresários fortes que acham a estratégia de Skaf um desastre : essa campanha para vender o SESI - pois o enaltecimento ao Serviço é mais que óbvio - pode comprometer seriamente o sistema S, de onde sai a dinheirama para sustentar campanhas publicitárias. Dinheiro em publicidade com viés político ? Direito, poder e dever Paulo Skaf tem todo o direito, como cidadão, de alavancar sua cidadania e, por conseguinte, trilhar as veredas da política partidária. A questão é : sob o escudo desse direito, ele, como presidente da FIESP, poderia concorrer a um cargo majoritário, mesmo não tendo nenhuma experiência na área ? Resposta : pode, sim. Quanto ao dever, essa é uma questão de consciência. Envolve sua posição no contexto das Federações, suas relações com os associados da FIESP, o engajamento político que aquela Casa pretende adotar, a relação com os partidos etc. Há, sob essa moldura, uma teia complexa de encadeamentos. Parece, porém, que Skaf não enxerga nada disso. Marketing mecatrônico A política é um sistema complexo. Envolve pesquisas, discurso substantivo (propostas, ideários), comunicação, articulação com a sociedade, articulação política e mobilização (encontros, reuniões, contatos com multidões etc.). Trata-se de uma rede de sistemas. Esse é o domínio do marketing político. Que, nas últimas décadas, passou a ser sinônimo de programas bem feitos de TV. Os chamados marqueteiros saíram das pranchas criativas de agências de publicidade. Vejam, senhoras e senhores, onde o marketing foi parar. Não por acaso, esbarramos nas TVs com uma linguagem "mecatrônica", parente da metafísica, que metabólica nenhuma, nem mesmo a metalinguística, há de entender. Haja picaretagem ! Conselho aos senadores Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na edição passada, o espaço foi destinado ao ministro do STF, Marco Aurélio Mello. Hoje, volta sua atenção aos senadores : 1. Façam uma sabatina justa - sem exageros e sem diminuições - para aferir as condições do indicado José Antônio Toffoli para o STF. 2. Ao presidente da República cabe fazer indicações para a mais alta Corte do país. Mas os senadores poderão rejeitar essa indicação, se o perfil do escolhido não corresponder ao figurino exigido para o posto. 3. Pode ser que sua Excelência demonstre qualidades pessoais, profissionais e técnicas para galgar o cargo de ministro do STF. O que não seria aceitável é a discriminação por idade ou ideologia. A conferir a sabatina, dia 30 próximo. ____________
quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Porandubas nº 203

Grande prole Da Bahia, vem a historinha. José de Almeida, contador do BB, fazia o cadastro da agência. Um dia, chega Heroino Pita, fazendeiro. Que respondeu na bucha o formulário ? Nome, idade, imóveis, renda anual, dívidas. Aí vem a pergunta : - Quantos filhos o sr. tem ? - 8 filhos - Tudo isso ? O senhor tem uma prole grande. Heroino, entre sorridente e cabreiro, faz o gesto com as duas mãos : - Não, senhor. É normal. Normal. Boanerges e a salada de 32 frutas Boanerges, barrigão de fora da camisa, vozeirão que ecoava pelos corredores, era proprietário da mais velha pensão de João Pessoa, nos idos de 60, a Hospedaria Pedro Américo, numa ladeirinha do Ponto de Cem Réis, onde se abrigava a estudantada que vinha de Souza, Cajazeiras, Uiraúna, Patos, Santa Luzia, enfim, de lá dos grotões da Paraíba. A "dormida", ali, quebrava o galho, mas a comida - era consenso - não satisfazia o apetite nem dos mais famélicos. Era ruim de fechar a boca. Vez ou outra, aparecia uma carne de sol. Mais dura que sola de sapato. De manhã, no café, o "véio" servia uma famosa salada de frutas. Que propagava com essa abundância frutífera : "Salada Pedro Américo com 32 frutas". Mas havia um porém na maldita : "era feita com uma maçã e 31 bananas". Um dia, a turma viu Boanerges saindo do quarto, o primeiro do corredor, escova de dentes na boca, resmungando um nhocnhocnhoc qualquer. De repente, para diante da mesa onde dois fregueses, que não o conheciam, trocavam impressões : - Que comidinha ruim dos infernos. Isso é comida de porco. - Veja essa banana d'água. Tá mais dura do que cipó de aroeira. O "véio" ouve a indignação, baixa a cabeça, aproxima-se mais ainda dos dois, tira a escova de dentes e sopra bem na cara dos fregueses a massa da pasta, enquanto solta o vozeirão amedrontador : - Vocês dois aí, prestem atenção : essa comida não é pra engordar macho, não, senhor. É apenas pra encher a pança. É procês não morrerem de fome. Se não tiverem gostando, chispem, chispem, vão embora ! Os dois se entreolharam, pagaram a conta e foram bater em outra freguesia. Cenário paulista O mundo gira e a política paulista roda. A cada dia, novos fatos e versões se sobrepõem aos fatos antigos. Vamos lá. Gabriel Chalita, o vereador tucano ligado a Geraldo Alckmin, está prestes a ingressar no PSB. Tem até o final deste mês de setembro para decidir. Está em fase de consulta, incluindo o presidente do partido, Eduardo Campos, governador de Pernambuco. Chalita quer ser senador paulista. Não teria vez no PSDB. Mas há o fator Alckmin. Sobre reis O rei de Uganda comia sozinho. Ninguém podia vê-lo comendo. Uma de suas mulheres dava-lhe a comida. Mas tinha de virar o rosto. "O leão come sozinho", dizia o povo. Quando não gostava da comida, mandava chamar o cozinheiro e espetava a lança em seu coração. Se uma servente tossia durante a refeição, era castigada com a morte. Se alguém entrasse de repente, também morria. E o povo dizia : "o leão matou três enquanto comia". (Elias Canetti) Probabilidades Para sair do PSDB, Chalita teria de pedir licença ao amigo do peito, Geraldo Alckmin. Que lidera a corrida para o governo, pontuando quase 50%. Ocorre que Alckmin não é (ou não era até esta semana) o candidato de José Serra para o governo. O candidato governista é (ou era) Aloysio Nunes Ferreira, chefe da casa Civil. Mas Aloysio tem dificuldade em pontuar no ranking. Por isso mesmo, saiu a versão de que Serra já começa a admitir o nome de Alckmin. Até porque se o ex-governador não sair para o governo e ganhar uma das duas vagas para o Senado, na chapa governista, queimaria o nome de Quércia, a quem já foi prometida uma vaga. Quércia não teria chance se Geraldo sair para o Senado. Isso porque governistas e oposicionistas (leia-se PT) elegeriam, cada um, um senador. Ou seja, Alckmin e Mercadante, por exemplo. Quércia faz pressão Prevendo que Alckmin poderia ganhar uma vaga para o Senado, Quércia procurou seus aliados Serra e Kassab e teria colocado a hipótese : se ambos forem candidatos ao Senado, ele, Quércia estaria rifado. Portanto, Serra deveria aceitar o fato que se torna, a cada dia, mais real : Alckmin para o governo. Vamos acompanhar os próximos passos. Chalita e o PT Quem está muito interessado no ingresso de Chalita no PSB é o PT. Que vê a possibilidade de uma alavacangem na candidatura petista ao governo. Chalita conta com uma ampla rede religiosa, reunida pelo Grupo Canção Nova, da Igreja Católica. Ele é quase venerado por esse grupo. E poderia encarnar o perfil do moderno, do novo, ou seja, de uma Nova Canção aos ouvidos do eleitorado. Lembrando mais uma vez : Alckmin não deixaria Chalita fazer o jogo do PT. O cenário carioca Já no Rio de Janeiro, quem dá um passo adiante é o ex-prefeito César Maia, o mais estudioso de política entre os nossos governantes. Que começa a pensar alto e explícito em torno de sua candidatura ao Governo do Estado. Maia seria apoiado pelo PSDB de José Serra, que teria no Rio um amplo palanque. E o PSDB dispensaria Fernando Gabeira da candidatura ao governo, liberando-o para o que ele sonha : ser senador. Serra contaria, nesse caso, com o palanque de César Maia e até poderia envolver o PV de Gabeira no segundo turno. Há muitas dúvidas sobre a divisão dos verdes no segundo turno. Há quem garanta que fechará com Dilma, outros com Serra. Hoje, pende mais para Serra. "Para desvirginar o labirintoDo velho metafísico mistérioComi meus olhos crus no cemitérioNuma antropofagia de faminto." (Augusto dos Anjos) Dilma, a dúvida A dúvida acima se ampara na boataria dos últimos dias, que dá conta do rebaixamento de Dilma Rousseff no ranking das pré-candidaturas. Já esteve mais cotada que hoje. Os quase cinco pontos que perdeu, nos últimos tempos, a colocam sob o teto das inquietações. Volta-se falar não na doença, mas na índole autoritária e arrogante da ministra. Lula, que continua fechado com a candidatura de sua ministra, já esteve mais firme. Hoje, usa a régua do pragmatismo. Se der, deu; se não der resultados, tirará da cartola outro nome. Quem sabe, Ciro. Ou Palocci. PMDB e PT Nas últimas semanas, expandiu-se a versão de que a aliança entre PMDB e PT já foi mais segura. A partir do momento em que o PT começa a movimentar as pedrinhas na lagoa dos Estados, as marolas tendem a afastar o PMDB de suas proximidades. No Rio, por exemplo, Sérgio Cabral já começa a perceber que o prefeito de Nova Iguaçu, Lindberg Farias, se firma como candidato petista ao governo. Ademais, Cabral está insatisfeito com a posição federal sobre os royalties do Pré-Sal. A salmoura dos choques recentes tem contribuído para afastá-lo um pouco mais do Palácio do Planalto. O quadro mineiro Em Minas Gerais, Hélio Costa, ministro das Comunicações, pré-candidato ao governo pelo PMDB, ensaia uma união com o PMDB de Newton Cardoso. O patrono dessa unidade se chama Orestes Quércia. Como Quércia, em São Paulo, apoia Serra, é bem provável que, em Minas, Hélio Costa seja candidato de uma coligação envolvendo tucanos, peemedebistas e democratas. Aécio Neves estaria por trás dessa equação. E o PT, assim, se afastaria também em Minas do PT. Sobre reis O rei de Kitara era alimentado por um cozinheiro. Que, ao trazer a refeição, espetava o garfo na carne, cortava um pedaço e o colocava na boca do rei. Repetia o gesto quatro vezes. Se, por acaso, tocasse nos dentes do rei com o garfo, era castigado com a morte. (Elias Canetti) Cesare Battisti E o caso Cesare Battisti, hein ? O placar é de 4 a 3 a favor da extradição. O ministro Marco Aurélio pediu vistas. Comenta-se que votaria contra a extradição sob o argumento de que os crimes atribuídos a Battisti estariam prescritos no Brasil. Pergunta curiosa : os juízes brasileiros podem julgar o mérito de crimes previstos pelas leis italianas ? Se a prescrição na Itália não combinar com o tempo da prescrição prevista pelas leis brasileiras, o que valerá ? A lei italiana, onde os crimes teriam sido cometidos, ou a lei brasileira ? Pode um país julgar o mérito de uma legislação de outra Nação ? Este escriba quer simplesmente provocar o animus animandi dos juristas. "Somos, ainda, sobre todos os outros, o povo das esplêndidas frases golpeantes, das imagens e dos símbolos." (Euclides da Cunha) Exército na míngua Qual é a Força mais próxima ao povo brasileiro ? A Aeronáutica ? Creio que não. Esta voa longe. Trata-se da Martinha ? Creio que não. Esta navega nos oceanos, espaço distante do dia a dia dos mortais. O Exército ? Sim. Ele está mais próximo. Os verdes circulam pelas ruas. Tanques e caminhões, vez ou outra, passam pela nossa vista. O Exército até que limpou aquela imagem dura dos anos ditatoriais. Pois bem, o Exército, que está mais perto de nós, está à beira da míngua. Até o expediente da segunda-feira poderá deixar de existir. Faltam recursos até para comida dos recrutas. Mas o Brasil ostenta, como pavão, as cores orgulhosas de aviões de caças, submarinos, helicópteros sofisticados. Cada Força com sua força. E Marco Aurélio, hein ? O ministro Marco Aurélio, do STF, até hoje não disse se vai aceitar ou não o recurso apresentado pela Câmara dos Deputados contra a liminar que determina a entrega à Folha de S.Paulo de 70 mil notas de despesas com verbas indenizatórias. A Câmara espera o julgamento do mérito. Segundo a Câmara, as informações solicitadas pela Folha podem ser acessadas no site eletrônico. Mas a Folha quer papel. Ademais, a Câmara não pode entregar notas sobre contas telefônicas, sob pena de infringir o sigilo telefônico resguardado pela Constituição. Mais ainda : se outros meios de comunicação fizerem a mesma solicitação, seria necessária grande gráfica para imprimir os impressos desejados, além da logística de transporte. Serão algumas toneladas. E se o STF julgar o mérito e acolher o ponto de vista da Câmara, quem arcará com o prejuízo ? Toffoli, quase certo ? Dizem que José Antonio Dias Toffoli é nome quase certo de Lula para assumir o lugar do falecido ministro Carlos Alberto Direito. E que, entrando no Supremo, já poderia julgar o pedido de extradição de Cesare Battisti. Algo não combina. O ministro da Justiça, Tarso Genro, abre a boca para defender a liberdade de Battisti. Tarso Genro é candidato ao governo do RS pelo PT. Toffoli já foi advogado do PT. Se começar no Supremo dando um voto de caráter político, entrará na mais Alta Corte com o pé esquerdo. Vão dizer que vota sob encomenda. Poderia, simplesmente, nesse caso, abster-se. Juniti Saito quase saiu Nos bastidores, comenta-se que o ministro da Aeronáutica, Juniti Saito, quase pedia o boné a Lula. Teria ficado contrariado contra a decisão antecipada do presidente de comprar os aviões Rafale, da França. Como Lula deu meia volta, Saito voltou a por o boné. Mas algo ficou nos ares. Conselho ao ministro Marco Aurélio Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na edição passada, o espaço foi destinado ao presidente Lula. Hoje, volta sua atenção ao ministro do STF, Marco Aurélio Mello : 1. Vossa Excelência é considerado um ministro técnico, culto, preparado, independente. Nos últimos tempos, sombras têm se projetado sobre sua imagem, a partir de posicionamentos ainda não muito claros. 2. O pedido de vistas sobre o caso Cesare Batistti cria celeuma no mundo jurídico, eis que não se consegue enxergar em sua decisão motivação técnica. Dizem, até, que, nesse ínterim, o presidente da República nomeará o substituto para a vaga do falecido ministro Carlos Alberto Direito. Nesse caso, o indicado deverá participar do julgamento. 3. A sociedade aguarda com grande atenção seu parecer. Sob uma questão de fundo: se é verdade que os eventuais crimes cometidos por Batistti teriam sido prescritos sob a legislação brasileira, pode nossa Justiça julgar o mérito de outras legislações ? Se na Itália, os crimes não foram prescritos, pode a justiça brasileira tomar uma decisão contrária ? ____________
quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Porandubas nº 202

Cômputo e computo Pachequinho e Chico Fulô eram muito populares e vereadores do PTB em Belo Horizonte. Disputavam as mesmas áreas e viviam brigando. Na tribuna, Waldomiro falava de tuberculose e tuberculosos, seu assunto predileto : - A cidade está cheia de tuberculosos. Não sei ao certo quantos são, mas eu computo... Pachequinho aparteou : - Não é computo não, ilustre vereador. É cômputo. - Eu sei que é cômputo. Mas, falando com Vossa Excelência, eu falo computo. Foram às vias de fato. Quem conta é o impagável amigo Sebastião Nery. Peixe fora d'água Vejamos, agora, esta historinha, ocorrida em 24 de junho de 1986, noite de São João, em Fortaleza, Ceará. Tasso Jereissati, convidado por Barros Pinho, deputado estadual do MDB, dirige-se a um clube de um grande bairro popular de Fortaleza. É a sua primeira experiência no meio do povo. Candidato a governador do Ceará, sua missão é presidir um júri que vai julgar fantasias juninas. Está completamente deslocado, um peixe fora d'água. Chega ao ambiente e sob conselho deste escriba, vai, de mesa em mesa, fazendo rápida apresentação. Começa a presidir o evento. Encabulado, não sabe o que fazer. Enrola-se. Só era conhecido no bairro de classe média alta, Aldeota. Tinha menos de 2% de intenção de voto. Se política for isso... Depois do evento junino, angustiado, ele, Sérgio Machado, na época seu braço direito e este escriba dirigem-se a um restaurante na praia para degustar uma lagosta. Sob o efeito do uísque tranquilizante, Tasso desabafa : "desisto, amigos; se política for isso, assistir a batizado, casamento, velório, festa junina, não contem comigo". O iniciante estava transtornado. Insatisfeito com sua performance. No Hotel Esplanada, numa máquina Lettera 22, esbocei o planejamento de sua campanha. O moderno contra o arcaico. Tasso deu um banho nos três coronéis que comandavam a política cearense : Virgílio Távora, César Cals e Adauto Bezerra. Com 600 mil votos de diferença. Lula cai Luiz Inácio, também conhecido como efeito teflon (nada gruda nele), caiu quatro pontos na pesquisa Sensus desta primeira semana de setembro. O clima conturbado - defesa de Sarney e outros pontos de tensão na esfera federal - baixaram um pouco a bola de Lula. Que, imediatamente, puxou a alavanca da imagem, elevando o tom a respeito do Pré-Sal e sua importância para a elevação do país à condição de potência do petróleo. A propaganda governamental - intensa e com foco na auto-estima dos brasileiros - poderá resgatar os pontos perdidos por Lula. Sarkozy e o cofre cheio O Brasil vai às compras. E começa a desfraldar a bandeira de Nação mais forte da região nas frentes naval e aeronáutica. O pacote comprado da França - submarino, helicópteros e os aviões de caça Rafale - deverá chegar aos R$ 31,1 bilhões. Os recursos serão financiados por bancos franceses e espanhóis. Lula fechou posição em torno do avião francês, que é o mais caro. Os americanos e os suecos ficarão - literalmente - a ver navios. Dizem que os EUA não ganharam a parada porque poderiam vetar a transferência de tecnologia. E o avião sueco ainda está no desenho. Pode ser. Argumento central : o Brasil quer usar a França como parceira estratégica. Serra, o dobro de Dilma José Serra tem, hoje, um índice de intenção de voto que é o dobro do conseguido por Dilma Rousseff : 39% a 19%, segundo a pesquisa Sensus. Mas Dilma poderá chegar aos 30%. Serra poderá oscilar, na campanha, entre 40% a 45%. Com os votos de Marina Silva e Ciro Gomes, teremos um segundo turno mais que agitado. O voto de decisão será influenciado por : fatores econômicos, episódios pontuais - circunstâncias - e um inesperado golpe de sorte de algum candidato, sendo este fator bastante imprevisível. PAC continua empacado O Programa de Aceleração do Crescimento é um slogan que acabará se transformando em bumerangue. Vejam só : em São Paulo, apenas 6% das obras previstas pelo PAC estão dentro do calendário. Ou seja, mais de 90% não entraram nos eixos. Por isso mesmo, Lula já não fala muito desse empacado PAC. A recorrência, agora, é pré-sal, pré-sal, pré-sal... Que, como se sabe, vai mostrar petróleo rentável apenas entre 2020/2025. Cuidado, candidatos Importar modelos é uma prática lastimável. Na campanha presidencial da Argentina de 1999, uma peça produzida por um marqueteiro brasileiro mostrava o candidato governista, Eduardo Duhalde, cabisbaixo, e um locutor dizendo : "Você acha justo o que estão fazendo com ele ?" Para a machista sociedade argentina, um candidato que se apresenta como perdedor é o retrato de uma tragédia. A peça provocou a ira implacável da mulher do candidato, Hilda. A cultura argentina não cultiva tanto a emoção quanto a brasileira. O trabalho, considerado amador, provocou a queda de Duhalde nas pesquisas. Foram torrados US$ 25 milhões em dois meses. Ser ou não ser Antônio Palocci continua tomado por dúvidas; ser ou não ser candidato ao governo de São Paulo ? Em não sendo, cederá o lugar a Emídio de Souza, o prefeito de Osasco. Ciro Gomes, com medo de perder, já se retira do páreo paulista. Apesar de eventual decisão para fincar, aqui, raízes eleitorais. Tem apartamento pronto e vago para morar e basta mudar o título eleitoral. Prazo : final deste mês. Aloysio e Alckmin Vamos às últimas a respeito de Aloysio Nunes Ferreira, o chefe da Casa Civil de José Serra, e Geraldo Alckmin, secretário do Desenvolvimento. O quadro não mudou. Aloysio continua sendo o candidato do governador Serra e do prefeito Kassab para o governo. Ostenta, hoje, algo como 4% dos votos. Alckmin tem, hoje, cerca de 45% de intenção de voto. Mas não conta com a preferência do governador e do prefeito. Que acreditam ser possível, mais adiante, alavancar a candidatura do chefe da Casa Civil. Para Geraldo, restaria uma vaga para o Senado. A conferir. Risco ? Comigo não, violão Mas José Serra, ao que se sabe, não é muito disposto a enfrentar riscos. Principalmente quando o risco é mais alto que o sonho de chegar ao Palácio do Planalto. Se perceber que uma derrota em São Paulo poderia ameaçar seu voo, Serra colocará outra pessoa no lugar de Aloysio. E essa pessoa, só em última análise, seria Alckmin. Há mais chances, por exemplo, de ser o próprio prefeito Kassab. E mais : se Serra perceber que a vitória no pleito presidencial é algo tão distante que escapa à vista, desistirá. Convocará Aécio Neves. Que também já se movimenta pelo país. Ambos - Serra e Aécio - estão combinados. Querelas salgadas Nas próximas semanas, o país mergulhará em águas salgadas. Os quatro projetos em torno do Pré-Sal deverão acirrar os debates na Câmara e no Senado. O mais polêmico dirá respeito à partilha dos royalties, cuja Comissão terá como relator, o deputado Henrique Alves (PMDB-RN), líder do PMDB na Câmara, e como presidente, Arlindo Chinaglia (PT-SP). Os canhões para disparo de sal começam a ser fabricados. Bomba atômica ? Será que o Brasil tem condições tecnológicas para fabricar a bomba atômica ? Tem, sim, garante o general Alberto Mendes Cardoso, ex-chefe da Casa Militar e do Gabinete de Segurança Institucional no governo FHC. Se um general que ostenta cargos como o que exerceu Alberto Cardoso afirma, categoricamente, essa possibilidade, não se pode por dúvida. Este escriba não duvida de opiniões com este calibre. Mas, e daí ? Uma coisa é saber fabricar, outra é decidir fazer. Entre ambas, um oceano de distância. Até porque o Brasil não se sente ameaçado nem mesmo motivado a entrar no arsenal de guerra mundial. E a potência naval ? E, por que o país quer ser potência naval e aeronáutica, a mais forte da região, com a compra dos armamentos franceses ? Será que o nosso petróleo poderá ser surrupiado ? Piratas da Somália poderão fugir com os nossos cargueiros de óleo ? Sei não. Essa justificativa - proteção de nossas costas e do nosso óleo - mais parece conversa mole para boi dormir ou, como diria o senador Marco Maciel, prosopopéia flácida para acalentar bovinos. E a vacina contra a suína, hein ? Quando essa gripe suína estiver nos estertores, chegará ao Brasil um carregamento de vacinas da França : um milhão de vacinas. Os franceses ainda mandarão material para fabricação de 17 milhões de doses. É muita dose atrasada para muita gripe anterior. Agronegócio no CODEFAT O deputado Moreira Mendes (PPS-RO) defendeu a inclusão do agronegócio no CODEFAT. Como é sabido, a presidência do órgão caberia, por sistema de rodízio, a uma entidade patronal. Havia consenso que a CNA, presidida pela senadora Kátia Abreu, ocuparia a vaga. Contrariando expectativas e consensos, o comando do órgão foi direcionado ao improvisado CNS - Conselho Nacional de Serviços. Moreira Mendes conhece o setor de agronegócios e sabe melhor do que muitos o quanto aquele trade já rendeu em benefícios para o país. Turismólogo Aliás, Moreira Mendes também é autor do Projeto de lei 6906/02 (que estatui a profissão de turismólogo), que apresentou quando exercia o mandato de Senador. A proposta recebeu, semana passada, parecer favorável da relatora, deputada Maria Lúcia Cardoso (PMDB-MG), que acatou emendas ampliando sua abrangência. A seguir, a Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania aprovou o reconhecimento da profissão. Entre as atribuições desse profissional estão a organização de eventos, o planejamento e a divulgação de produtos turísticos, a formulação de políticas para o setor, a criação de roteiros turísticos e de planos de marketing, assim como o ensino na área. Para o exercício da atividade na área de turismo, o texto aprovado estabelece que o profissional deverá obter o registro em órgão federal da categoria, cuja criação ficará a cargo do Poder Executivo. Tramitando em caráter conclusivo, o projeto poderá ser remetido diretamente à sanção presidencial. Ele só será votado pelo Plenário se, no prazo de cinco sessões, houver recurso assinado por no mínimo 52 deputados. 7 de setembro Cada vez mais os desfiles de 7 de setembro são cada vez menos deslumbrantes. Tornaram-se frios e burocráticos. A taxa cívica, se ainda existe, não toca mais de perto os corações. Qual a razão ? Lula, destrambelhado ? Essa foto de Lula segurando o presidente da França, Nicolas Sarkozy, por trás parece brincadeira de mau gosto. Se o presidente queria fazer gracinha com Sarkozy - buscando uma imagem engraçada no espelho - conseguiu efeito contrário. Temer agraciado Michel Temer, presidente da Câmara, será agraciado com a Medalha Cavaleiro na Ordem da Legião de Honra, que receberá, dia 15, em Paris. Agraciados foram também Sérgio Cabral, Ivo Pitangui e Paulo Coelho. Nordeste quer voltar à agenda O senador César Borges (PR-BA) pretende promover um ciclo de debates sobre o Nordeste na Comissão de Desenvolvimento Regional e Turismo do Senado, onde é vice-presidente. Em sintonia fina com a sugestão de Tasso Jereissati (PSDB-CE), o senador baiano, sempre com sua bússola calibrada para questões importantes, vai coordenar uma agenda visando avaliar a atuação de instituições como a SUDENE, o Banco do Nordeste e BNDES. Tasso deu a abordagem : o Nordeste e os gargalos de desenvolvimento saíram da agenda do Senado, da agenda nacional e da própria agenda do governo federal. O senador cearense tem suas razões. Conselho ao presidente Lula Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na edição passada, o espaço foi destinado ao corpo parlamentar. Hoje, volta sua atenção ao presidente Lula : 1. Tente dar ao Pré-Sal a identidade que ele carrega, sem diminuir nem acrescentar. 2. Mostre que os resultados do programa só serão alcançados dentro de 10 a 15 anos, evitando, dessa forma, exageros que ameaçam contaminar o palanque eleitoral de 2010. 3. Procure uma base mínima de consenso, pela via da congregação de interesses de Estados produtores e Estados consumidores. ____________
quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Porandubas nº 201

Um discurso histórico Campanha de 1968, para a prefeitura de Mossoró, Rio Grande do Norte. Aluízio Alves, governador, foi chamado para ajudar o correligionário Antônio Rodrigues, identificado com as causas dos pobres, contra o intelectual Vingt-Un Rosado. Era a campanha do "touro" - Vingt-Un - contra o "capim", Toinho. Mas este tinha um grave problema : era alcoólatra. Comício de encerramento da campanha. Aluízio chamou a mulher de Toinho, Maria Augusta, e disse : "vou ter que tocar no problema dele, o alcoolismo". -Pelo amor de Deus, governador, não toque no assunto. -Deixe comigo. Multidão silenciosa. Solene, o governador tirou uns papéis do bolso e começou : - Vamos perder a campanha. Tenho aqui uma pesquisa. Toinho vai perder. Um sussurro toma conta dos pasmos eleitores. Decepção. Frustração. Impávido, Aluízio retoma : - Vamos perder porque Toinho Rodrigues é alcoólatra. A balbúrdia se estabelece. Nervosa. A cara do povo O orador pede silêncio e faz a peroração que marcou um dos capítulos mais vibrantes da história do palanque político : - Ao chegar a Mossoró, passei pelo açougue e vi, assombrado, o preço da carne, uma carestia. Passei pela farmácia e vi o absurdo que são os preços dos remédios. O governador continuou os relatos sobre preços e a carestia e histórias de pessoas que não conseguiam comprar alimentos. Citou Pedro dos Anjos, Deca de Antônio Gadelha, Manoel Bernardino, Chico de Saturnino, compadre Azarias, Tintim, Sebasto, cada um com suas frustrações e lamúrias por não poderem comprar um quilo de carne, um litro de leite, um quilo de feijão. E arrematava : - Frustrados, passam pela bodega e pedem um oito de cachaça. Têm vergonha de chegar em casa sem alimentos para os filhos. Tomam sua cachacinha e se acostumam a beber. E começou a fazer a comparação : - Vocês sabem quanto custa uma garrafa de uísque ? Com o preço de uma garrafa dessa bebida estrangeira, dá para comprar 30 garrafas de cachaça. Sabem quem bebe uísque ? O dr. Vignt-Un Rosado, intelectual, rico, que não quer sentir o cheiro de cachaça. E detesta pobre. Vamos perder a eleição. Dr. Vingt-Un será eleito. Agora, imaginem a situação. Zé do Peixe chega na Prefeitura, com aquele bafo de cachaça, para falar com o prefeito. - Quero falar com esse Vantan. Ele bebe uísque Um assessor, engravato, diz logo : - O prefeito está em reunião. Não pode atender. Aluízio conta mais dez casos de bêbados que são expulsos do lugar. A seguir, faz a comparação : - Imaginem, agora, Toinho, eleito prefeito de Mossoró. Chega na Prefeitura o cachaceiro Luiz de Zefa das Baixas. Que vai logo exigindo : - Cadê o prefeito "Toim" ? O assessor de "Toim" cochicha no ouvido dele : "Prefeito, tem um cachacista militante na recepção querendo falar com você." Mais que depressa, Toinho Rodrigues : - Mande, já, o colega entrar. Mossoroenses : - Toinho é a cara do povão simples. Bebe porque tem os mesmos problemas de nossa gentinha. Mossoró precisa eleger um prefeito com a cara do povão. Vamos eleger Toinho. Cada um de vocês sairá daqui com o compromisso de arranjar cinco, seis, dez votos. Podemos, sim, mudar a situação. A multidão, sob forte emoção, saiu a campo. Foi e venceu. Mossoró ganhou a cara do prefeito Antônio Rodrigues. Aluízio Alves, com um discurso, mudou o rumo da história. Um marco do marketing político. Pré-sal sob o sol Pois é, o Pré-Sal só apresentará saldo positivo dentro de uns 10 a 15 anos. Mas a conta fabulosa do futuro já está sendo exibida ao coração dos brasileiros. Lulinha Paz e Amor vende o Pré-Sal como a jóia da Coroa. Jóia que enfeitará o perfil de Dilma Rousseff. Pretende o presidente dizer que a nação redescobriu a independência, que o Brasil Potência está à vista e que, desde os tempos do velho Cabral, nunca havia sido feito descoberta tão importante. Sob o sol luminoso dos palanques, o Pré-Sal vai ser motivo de grandes debates. Cabral chiou alto Mas Sérgio Cabral estrilou. Disse que não aceitaria de jeito nenhum o Pré-Sal nos moldes como foi estabelecido, sem oferecer a fatia do leão aos Estados produtores. Gritou mais alto que José Serra (SP) e Paulo Hartung (ES). Dizem que o cara ficou tão fulo da vida que foi preciso ser retirado, por momentos, da sala de jantar pelo prefeito do Rio, Eduardo Paes. Voltou mais calmo. Lula cedeu. Sentiu que Dilma poderia perder o palanque carioca. Mas o trauma continuará. Essa querela vai longe. Cabo Anselmo Esse cabo Anselmo, enfim, deu as caras. Pelo visto, sempre foi araponga infiltrado nos grupos de esquerda. Agente duplo, agora tenta dizer : ou delatava ou morria. Em sua entrevista à TV Bandeirantes, viu-se um sujeito calculista e sem as marcas indeléveis do sofrimento. Deve ser um poço de águas sangrentas. Governadores no TSE Os governadores Ivo Cassol (RO) e José de Anchieta Júnior (RR) deverão ter seus processos julgados no TSE neste mês de setembro. O presidente da Corte, ministro Carlos Ayres Britto, quer acelerar os julgamentos. Mas os casos dependem, claro, dos relatores. Se não forem julgados, a decisão vai para as calendas. Eis aqui um exemplo de como a justiça anda como tartaruga. Perguntinha pertinente : por que os processos contra governadores andam tão devagar ? Nova lei eleitoral Será necessário um esforço extraordinário para que o Senado aprove a lei eleitoral para permitir que as mudanças entrem em vigor em 2010. Se houver modificação no projeto aprovado pela Câmara - e certamente haverá - ele volta à Câmara Baixa para nova apreciação e votação. Tudo tem de estar devidamente aprovado até o dia 5 de outubro. Dará tempo ? Ghandi Peguntaram a Ghandi o que achava da Civilização Ocidental. Ele respondeu : - Acho que seria uma boa ideia. Visão de Ayres Britto O ministro Carlos Ayres Britto, falando exclusivamente para este escriba, faz interessantes e oportunas revelações sobre o dispositivo legal em tramitação. O projeto considera a internet ferramenta similar ao rádio e TV, que são concessões do Estado. Não pode a internet ser assim considerada. Poderia, isso, ser comparada com jornais e revistas, que não são concessões. Dessa forma, a censura jornalística à rede virtual é um retrocesso. Com o que concorda este escriba. Ou seja, se um analista político quiser manifestar sua opinião - negativa ou positiva - a respeito de um candidato, não pode ser censurado. Pelo projeto, estará sujeito à censura. Pior: a rede deverá garantir direito de resposta a quem se sentir acusado. Arrecadação Ayres Britto defende um princípio norteador para a questão da arrecadação de fundos : maior número de contribuintes e pequenas doações, de forma a democratizar o processo. Hoje, o que se vêem são poucas empresas - geralmente empreiteiras - fazendo grandes doações. Ora, haverá sempre uma espécie de toma-lá-dá-cá. A lei da reciprocidade impera nas campanhas. Façamos como os Estados Unidos, diz o presidente do TSE, ao lembrar que 3 milhões de pessoas entraram no circuito de Obama, fazendo pequenas doações, que perfizeram a conta de US$ 600 milhões. Maquiavel "Se Maquiavel tivesse tido um príncipe como discípulo, a primeira coisa que teria lhe recomendado era escrever um livre contra o maquiavelismo". (Voltaire) Campanha na internet Aliás, a respeito de Obama, este escriba faz a constatação : muitos candidatos a cargos majoritários e proporcionais começam a esquentar os motores de suas pré-campanhas. Como ? Movimentam-se, neste momento, em torno das ferramentas da internet. Procuram usar o pacote de redes sociais para esquentar seus nomes e abrir bons espaços de visibilidade junto a determinados segmentos, a partir dos jovens. Mas há uma questão séria a se considerar : não adianta criar novas ferramentas sem saber qual o discurso a ser transmitido. Daí, a conclusão : importa, nesse sentido, organizar muito bem o discurso. Belchior e a Globo, tudo a ver Belchior e a Rede Globo, a gente se vê por aí. Eles têm tudo a ver. O cantor desaparece. A TV Globo faz um carnaval. Dias depois, o cantor aparece. A TV Globo faz um carnaval. O teaser ??? Só não funcionou direito porque pareceu muito artificial. Até a tentativa de evitar a repórter Sônia Bridi foi artificializada. Surgiu um bigodudo sorridente, com cara de férias, e dizendo : amo o Brasil, amo o Brasil. E o apresentador do Fantástico, concluindo : que simpático o Belchior. O ditador O ditador vai ao médico : - E a pressão, doutor ? - O senhor sabe o que faz, meu general. Neste momento, ela é imprescindível para manter a ordem. Os chineses Os chineses têm um ditado, "vestir a máscara do porco para matar o tigre". É uma referência a uma antiga técnica de caça em que o caçador se cobre com a pele e o focinho de um porco, e sai grunhindo. O feroz tigre pensa que um porco vem chegando, deixa-o se aproximar, saboreando a perspectiva de uma refeição fácil. Mas é o caçador quem ri por último. Mascarar-se de porco funciona muito bem com quem, como os tigres, é muito arrogante e seguro de si. Quanto mais eles acham que é fácil apanhar você, mais facilmente você vira a mesa. Este truque também é útil se você for ambicioso, mas ocupa uma posição inferior na hierarquia - aparentar ser menos inteligente do que é, até meio tolo, é o disfarce perfeito. 121 estatais O governo federal já tem 121 estatais. Muitas delas foram criadas no ciclo Lula. O Estado, sob Lula, ficou mais gordo, principalmente com a gordura partidária. Deus e o diabo Chamou a atenção, por ocasião do lançamento do Pré-Sal, a evocação de Lula sobre o programa. No mesmo contexto, o presidente colocou Deus ao lado do diabo. Disse que o petróleo era uma "dádiva de Deus", e que poderia se transformar em "maldição". Maldição é coisa do capeta. Senador por São Paulo ? A fofoca esquenta algumas conversas : Lula desejaria ser senador por São Paulo. Entregaria a rapadura ao vice e correria o país para comandar a campanha de Dilma, nos intervalos em que usaria o palanque paulista para decolar a sua campanha e a dela. Aqui, há 30 milhões de eleitores. Problema : não gostaria de colocar mais problemas no colo do grande José Alencar, esse, sim, um brasileiro que merece os nossos aplausos. "Não se deve jamais ignorar um inimigo, achando que ele é fraco. Ele se tornará perigoso no devido tempo, como uma faísca num monte de feno". (Kautilya, filósofo indiano) Alckmin, o mais forte Geraldo Alckmin, ex-governador paulista e atual secretário de José Serra, vai se firmando como a principal opção do PSDB paulista ao governo. Não é o candidato in pectore de Serra nem do prefeito Kassab ao governo. Mas Aloysio Nunes Ferreira parece pregado no chão. Trata-se de um grande articulador, mas não tem visibilidade. Dessa forma, Alckmin passa a ser o candidato mais provável da aliança PSDB-DEM. Serra não quer fazer feio. Palocci tem dúvidas Antonio Palocci até já foi anunciado como nome forte do PT ao governo. Mas o deputado continua cheio de dúvidas. Teme que o caso Francenildo volte à superfície. Não pretende continuar a ser vidraça. Ocorre que é o melhor e mais preparado quadro do PT paulista. Não tem a tibieza de Mercadante, a arrogância de Marta, nem o deslocamento de eixo do Suplicy. Receita pacificada A Receita Federal voltou aos trilhos. Após a tempestade sindicalista, vem a bonança. O secretário Otacílio Cartaxo não perdeu a calma : trocou os rebeldes, preencheu os buracos. Com seu espírito de harmonia, mobiliza os quadros em torno de uma gestão técnica e aperto na fiscalização. Espera resgatar posições de arrecadação em pouco tempo. Yeda, a bailarina Yeda Crusius, a governadora do RS, tem demonstrado ser exímia bailarina. Dançou de um lado, dançou de outro, e não é que está se equilibrando na corda bamba ? A essa altura, este escriba, que apostava na sua queda, tem a impressão de que deu a virada. Ficará. Será ? Jantar o Brasil ? E esse Tevez, hein ? Exibe a arrogância de mandar o recado : "vamos jantar o Brasil". Que sujeito petulante, hein ? Que tal servi-lo de sobremesa ? Barbaridade... Que coisa bárbara ! Mataram em Brasília o advogado José Guilherme Vilela, de 73 anos, sua mulher e uma empregada. De mãos assassinas, a morte não faz a conta sobre quem deve levar e por quê... Bolsa e Lula em dois tempos Circula na internet um vídeo com Lula fazendo a execração pública de bolsas assistencialistas. Diz mesmo que aqueles que as usam são oportunistas. São moedas para comprar o voto. Não são programas que apresentam perspectivas para o futuro dos assistidos. Depois, aparece Lula, em tempos recentes, execrando os imbecis que acusam o programa Bolsa Família de não ter saída. Lula, em dois tempos, é tão verossímil quanto falastrão. Conselho ao corpo parlamentar Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na edição passada, o espaço foi destinado ao PT paulista. Hoje, volta sua atenção ao corpo parlamentar : 1. Corram e apressem a votação do projeto de Reforma Eleitoral para que possa ser aplicado em 2010; 2. Evitem censura às redes sociais na Internet e não tentem comparar a rede virtual às concessões de rádio e TV; 3. Vejam como foi feito o uso da Internet em países democráticos, como os EUA, e não procurem reinventar a roda. Simplesmente, façam as adaptações necessárias aos nossos costumes. ____________
quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Porandubas nº 200

O médico João Izidro João Izidro, casado com Chiquinha, tia de Otacílio Cartaxo, secretário da Receita Federal, pai do amigo Carlos Alberto e do psiquiatra-escritor, Luis Carlos, era pediatra, clínico geral e sábio. Atendia famílias de todos os recantos dos fundões da Paraíba. Sua clientela incluía Luís Gomes, cidade do RN na fronteira com a PB, onde este escriba nasceu e de onde, do alto da serra, contemplava Uiraúna, terra de Luiza Erundina e do primo Zé Neumanne. João Izidro foi o médico de minha família e era padrinho de Boanerges, um dos meus irmãos. Um dia, em Cajazeiras, sua cidade, atendeu a uma velhinha que se queixava de "incômodo em todo o corpo". Fez as perguntas tradicionais : - A senhora tosse ? - Às vezes, sim, às vezes, não. - A senhora tem dor de cabeça ? - Às vezes, sim, às vezes, não. - A senhora sente febre ? - Às vezes, sim, às vezes, não. Paciente, o médico botou os óculos e escreveu a receita : - Pegue a receita, minha senhora. Pode ir, a senhora vai melhorar. A velhinha pegou a receita e tascou a pergunta : - Doutor, e esse remédio, hein, como é que eu tomo ? A resposta do João veio no mesmo tom da voz da velhinha : - Tome o remédio às vezes, sim, às vezes, não. O coronel Juca Peba Desconfiado e matreiro, o coronel Juca Peba não era de muita conversa. Tinha dinheiro, e muito, guardado sob o travesseiro. Até o dia que inauguraram a Agência do Banco do Brasil, em Cajazeiras. A gerente foi procurar o coronel Juca Peba com o argumento : - Coronel, bote o dinheiro no banco. Vai ser guardado, bem guardado, e vai render juros. Depois de muita conversa, e muitos cafés no varandão da casa, o coronel, ainda desconfiado, foi ao banco. Com 100 contos numa bolsa de couro. Tirou devagar o pacote. Contou. Uma, duas, três vezes. Depositou. Matreiro, ficou na espreita, na calçada, olhando, espiando o movimento do banco. Para ver se aquele troço não era tramóia. A desconfiança aumentou. Entrou no banco. Foi ao Caixa. Ordenou : - Quero os 100 contos que eu botei aqui. Já. Aflito, o bancário foi buscar o dinheiro. O coronel pegou o maço. Conferiu. Uma, duas, três vezes. E devolveu, sob a expressão juramentada : - Eu só queria mesmo conferir. Pode guardar. Low profile Lula pediu a Dilma Rousseff duas a três semanas de reclusão. Motivo : abrigar-se do bombardeio contundente que se expandiu na esteira do depoimento da ex-secretária da Receita Federal, Lina Vieira. Dilma deixou de aparecer, segunda à noite, na abertura do 2º Encontro Nacional de Siderurgia, para a qual era a autoridade mais aguardada. Nos últimos dias, aliás, cresceu a fofoca em torno de outro nome petista para o lugar de Dilma Rousseff, caso ela não decole : Antônio Palocci. Palocci, a bola da vez Palocci é o petista mais prestigiado e admirado no seio do empresariado. O STF decidirá, nesta semana, sobre seu futuro. Caso seja absolvido - como se espera - o ex-ministro da Fazenda terá pavimentada a estrada para andar em direção ao futuro. Terá dois desvios : um, em direção ao governo de São Paulo, mais provável; outro, direcionado ao Palácio do Planalto. Os dois destinos não seriam nada fáceis. A candidatura do deputado ao governo de São Paulo ou de qualquer outro petista enfrentará a barreira, quase intransponível, do candidato tucano, seja ele Geraldo Alckmin ou Aloysio Nunes Ferreira. Planalto muito alto Quanto à candidatura ao Palácio do Planalto, trata-se de um pesadelo de inverno. Primeiro, será tarefa remover Dilma Rousseff, que é a candidata sagrada e consagrada do presidente da República. Segundo, se Palocci viabilizar seu nome, certamente sobre ele cairá o verbo duro do episódio do caseiro Francenildo. Ao argumento da absolvição pelo STF - se for confirmado - levantar-se-á o contra-argumento : o espaço eleitoral reabrirá a questão. Ficará, sempre, uma camada cinzenta ofuscando o perfil. Marta, Ciro ? A verdade é que o PT não dispõe de quadro para enfrentar, em condições de ganhar o pleito, uma candidatura tucana em São Paulo. Há uma predisposição negativa no contorno do PT e seus quadros, mesmo que alguns deles sejam palatáveis - e bem palatáveis - para núcleos de elite, como o próprio Palocci. Mas a transformação do PT em geleia partidária - repartindo com os demais o ônus da pasteurização - tira suas condições de competitividade. Marta Suplicy continua tendo o maior recall. Mas é antipatizada pelas classes médias. Ciro Gomes poderia ser o candidato, indicado por Lula, e apoiado pelo PT. Tiraria boa fatia de votos. Mas não ganharia a eleição. O PT está enrolado em SP. Fechando as alianças Lula chamou Michel Temer para um almoço e pediu a ele que começasse a organizar com Ricardo Berzoini o mapa das alianças para 2010. O PMDB, por boa maioria, tenderá a fechar apoio à candidatura do PT, ou seja, à Dilma. Mas parcela do partido fechará com José Serra, como o PMDB paulista, sob domínio de Orestes Quércia, e o pernambucano, controlado pelo senador Jarbas Vasconcelos. Quércia, um dos mais ricos do Brasil, quer voltar a ser senador. Tem vaga garantida na chapa paulista. Mas as urnas tendem a não lhe ser favoráveis. Quércia, como Maluf, exibe um dos maiores índices de rejeição da política brasileira. A partir de Pernambuco, Jarbas espera abrir bons espaços para Serra no Nordeste. RS, Pará e Bahia No RS, Pará e Bahia, será bastante difícil a aliança entre PT e PMDB. Pois nesses Estados o PT não quer ceder a cabeça de chapa ao PMDB. Jader Barbalho pretende voltar ao governo do Pará, Geddel quer sentar no lugar de Jaques Wagner, na Bahia, e Tarso Genro quer disputar contra qualquer candidatura no Sul, mesmo que a de um peemedebista, como o prefeito Fogaça, de Porto Alegre. No Paraná, as negociações caminham bem, mas Requião tem canal aberto com Serra. Encontro de cabeças O 2º Encontro Nacional de Siderurgia, promovido pelo Instituto Aço Brasil (IABR, novo nome para o Instituto Brasileiro de Siderurgia), realizado terça-feira, em São Paulo, proporcionou um encontro de algumas das melhores cabeças do país. Pelo tom geral das apresentações e debates, o mundo começa a virar a página da crise e o Brasil, que fez a lição de casa em matéria macroeconômica, fará o exercício mais rapidamente. BRICS e BC Antônio Palocci, médico que expressa com facilidade um economês palatável, exibiu franco entusiasmo pelo futuro do Brasil. Chegou, mesmo, a profetizar : dos BRICs (Brasil, Rússia, Índia e China), sobrarão dois - Brasil e China. Mais ainda : com uma vantagem para nosso país. Porque o Brasil tem um escopo institucional e democrático de alta respeitabilidade, fator considerado estratégico para posicionamento das Nações no ranking da boa fama. E a China, como se sabe, tem muito a aprender nesse campo. Delfim, sapiência e otimismo Delfim Netto continua dando um show de sapiência e otimismo. Para ele, o Brasil tem todas as condições de superar as dificuldades e despontar como uma grande Nação. Não é tão entusiasta sobre o futuro da China - argumentando que os EUA continuarão a ser o maior mercado consumidor do planeta - para voltar à tese de que nossas terras tupiniquins são realmente abençoadas. Cadê a carta do baralho ? Ao contrário de certos pensadores, Delfim aponta a miscigenação de raças como um dos nossos mais ricos patrimônios. A pluralidade étnica e cultural é o fermento para a convivência, a harmonia e a criatividade. Delfim tira do colete o chiste : imaginem que só o Brasil é capaz de reunir, num mesmo salão, judeus, maometanos, católicos, evangélicos de credos variados, em uma grande confraternização. Se alguém quiser saber a razão do barulho que eles fazem no salão, é só abrir a porta e verificar : estão todos em torno de um baralho, discutindo, para saber quem foi que escondeu o coringa por baixo da mesa. "Que outro país do mundo poderia fazer isso ?", indaga o mestre Delfim, para gargalhada geral da plateia. Gerdau, caixeiro viajante ? Jorge Gerdau é o nosso empresário-símbolo. Discorre facilmente sobre vasto escopo : câmbio, juros, custo Brasil, reformas tributária e política, preço do aço nos mercados interno e externo, exportações, petróleo, etanol, custo Brasil, competitividade. Defende posições - como reformas no campo tributário, político e educacional - pede situações isonômicas para que o aço brasileiro possa melhorar sua competitividade ante o aço chinês, por exemplo, é um duro crítico sobre algumas posições governamentais, mas exibe otimismo ante o futuro. Gerdau é sempre um grande expositor. Modesto, pergunta : "que achou ?" Diante dos elogios, recolhe-se à modéstia : "fiz apenas o papel de caixeiro viajante". Que vende seu produto com a força da convicção. De jeito nenhum Tempos turvos aqueles eram do AI-5. Dezembro de 68. Fechamento dos legislativos e as sub-CGIs nos Estados exigindo que todos os parlamentares fizessem uma declaração de bens dos dez anos anteriores. João Batista Botelho, conhecido na Assembleia paulista como "João Cuiabano", preparou o seu dossiê. Quando ia enviá-lo a quem de direito, alguém adverte : - Nobre deputado, Vossa Excelência tem de dar a eles também o seu currículo. João Cuiabano, homem de poucas letras, mas corajoso e decidido, virou uma fera : - Isto eu não vou dar de jeito nenhum. Só conseguirão se passarem sobre meu cadáver. Quem conta história é o incomparável Sebastião Nery. Benjamin e seu "mas" Benjamin Steinbruch não tem tanta certeza de que a crise já passou. Intercala sua fala com alguns pares de "poréns, mas e todavias". Se o Brasil tem boas perspectivas pela frente, não significa que deveremos nadar de braçada. Calma com o andor, pede o presidente da CSN. Será que os governos do mundo tirarão mais trilhões de seus caixas para sustentar as condições de governabilidade ? O governo brasileiro - que colocou 20 milhões de pessoas no mercado de consumo e cobriu 40 milhões com o cobertor da proteção social - vai ter de despejar toneladas de dinheiro para sustentar a harmonia social e o consumo. Terá condição de fazer isso ? Benjamin, como este escriba, continua a por dúvidas no ar das certezas. Godoy e o desenho institucional Já Paulo Godoy, presidente da ABDIB, com sua costumeira eloquência, discorre sobre nossas riquezas e fragilidades. Sua expressão recorrente é : o desenho institucional. Godoy acredita que o Brasil tem tudo para ser uma das Nações mais prósperas da humanidade. Mas precisa vencer o monumental desafio : arrumar o modelo institucional. As instituições precisam acompanhar o cheiro do tempo. Focar para resultados. Eliminar as teias corruptivas. Melhorar os níveis de representação. Agilizar o aparelho do Estado. Paulo Godoy prega um choque de gestão. Os gastos públicos precisam entrar na planilha da racionalidade. Flávio e o Aço Basil Flávio de Azevedo, presidente do Instituto Aço Brasil, tem na ponta da língua um panorama sobre a indústria siderúrgica brasileira, uma das mais competitivas do mundo, e que emprega 110 mil pessoas. Indústria que ganha, agora, um Instituto com novo nome e uma nova logomarca : três traços que se cruzam formando um A, de aço, apontando para o alto (visão de futuro), sob as cores azul (alta tecnologia), verde (ambiente, Brasil). Conselho ao PT paulista Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na edição passada, o espaço foi destinado ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Hoje, volta sua atenção ao PT paulista : 1. Faça uma seleção de nomes e uma pesquisa para saber o perfil de maior viabilidade eleitoral; 2. Tente explicar as razões e argumentos de tantas mudanças ocorridas no partido; 3. Apresente uma Proposta de refundação do partido. E submeta a proposta às bases partidárias. Eis ai uma base mínima para o lançamento de uma candidatura petista em São Paulo. ____________
quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Porandubas nº 199

Quem é o vi-vi-vi-ce ? Campanha de 1996 para a prefeitura de Boa Vista, Roraima. De um lado, Ottomar Pinto, ex-governador, candidato a prefeito pelo PTB; de outro, Salomão Cruz, candidato pelo PSDB. Ottomar elegera para sucedê-lo, em 1994, Neudo Campos. Mas a fofoca era de que, ganhando a prefeitura, em 1996, poderia passar apenas dois anos na Municipalidade (pois voltaria ao governo em 1998), deixando o comando com Clodezir Filgueiras, chamado de Mimi, empresário do ramo de automóveis. Mimi era pouco conhecido na capital. Este escriba coordenava a campanha de Totó (como era chamado Ottomar) e Mimi. Passava em Boa Vista uma semana e voltava a São Paulo. No meio da campanha, recebo um telefonema aflito de Luiz Santoro, coordenador do programa de TV. "Pelo amor de Deus, pegue um avião urgente. A campanha pegou fogo. Arrumaram um gaguinho e o cara aparece toda hora na TV, nos programas noturnos e nas inserções ao longo do dia, tentando perguntar com sua gagueira : - Qu.qu...que...que..quem é o Vi-vi-vi-ce.. ? Estão chacoalhando nossa campanha. Totó e Mimi estão desesperados à sua procura. Temos de reagir." Gozação geral A cidade caía na gargalhada. O gaguinho fazia sucesso perguntando quem era Mimi. Tratava-se de um estratagema. A campanha de Salomão Cruz queria insinuar ao eleitorado que Ottomar, ganhando o pleito, passaria o bastão para Mimi. E quem seria este Mimi, que ninguém conhece ? "Você, eleitor, aprovaria um vice prefeito desconhecido no lugar do prefeito para governar a cidade ? "Era essa a cabreira tática dos opositores. Corri para Boa Vista. Fui logo atrás do gaguinho. Percorri bairros e feiras, onde frequentava. - Cadê o gaguinho, você conhece o gaguinho, uma grana para quem descobrir o gaguinho. Depois de extenuante procura, achei o cara. Conversa vai, conversa vem, o gaguinho cedeu. Fomos, no cair da tarde, fazer uma gravação no mesmo lugar e com o mesmo plano da gravação adversária. Ele teria de dizer a mesma coisa como se fosse o repeteco do que vinha fazendo : - Qu..em.qu..quem é o Vi-vi-vi-ce ? Nesse instante, a câmera corta para Mimi, ao lado do gaguinho, que completa com um grande abraço no empresário Clodezir Filgueiras : - Ah, o vi-vi-ce é meu ami...amigo Mi-mi. Foi um estouro. Aproveitávamos o mote da campanha de Salomão, que funcionou como teaser (chamariz), para massificar o nome do vice. Desapareceu pela madrugada O gaguinho passou o restante da campanha numa cidade da Venezuela, que faz fronteira com Roraima, escondido na casa de uma irmã. Fomos deixá-lo, de madrugada, na estação. Desapareceu. Para raiva dos adversários. Ficou calado o resto da campanha. Só apareceu após a vitória de Ottomar. Para repetir o refrão : - Quem..quem..quem é o vi-vi-ce ? Ah, é meu amigo Mi-mi. Não sei como ele está. Mas o gaguinho virou herói. Sabido como ele só. Serra confortável ? Serra continua a manter boa margem nas pesquisas de intenção de voto para a presidência da República : 37%. Dilma se mantém com 16%, sem crescer, e Ciro sobe para 15%. Leitura : a ministra não subiu por conta do retraimento nos palanques do PAC, decorrência do tratamento de saúde a que se submete; o governador paulista também não subiu. Ciro Gomes aumentou pouco. Lula não consegue, por sua vez, esticar a popularidade para projetar com força a imagem de sua pré-candidata. Resumo da ópera : as pesquisas mostram estabilidade nas posições. Mas Serra não pode se considerar tão confortável, como leitura enviesada da pesquisa. Há muita água a correr por baixo da ponte. Água sob a ponte A enchente que correrá sob a ponte poderá provocar efeitos positivos e negativos para alguns. Por exemplo, Lula está jogando muita água na lavoura que plantou : aumento do Bolsa Família, aumento dos aposentados, ProUni, injeção no programa Minha Casa, Minha Vida, Luz para Todos e assim por diante. Esse gigantesco cobertor social vai gerar efeitos na campanha, devendo baixar a posição de Serra. Lula, porém, não conseguirá transformar seus círculos de cooptação em votos. A influência será relativa. O voto vai depender do Produto Nacional Bruto da Felicidade Nacional lá por volta de setembro/outubro de 2010. Heloísa e Marina Heloísa Helena deverá se candidatar ao Senado em Alagoas. Sua retirada do pleito presidencial abrirá campo para Marina Silva crescer. Marina, como a pororoca a nascer na foz do Amazonas, empurrará as candidaturas principais para baixo. Poderá alcançar entre 10% a 15%, índice suficiente para empurrar a campanha para o segundo turno. Ciro, mais 15% ? Ciro Gomes, por sua vez, com seu índice em torno de 15% a 18%, deverá contribuir para a campanha presidencial seguir a rota do segundo turno. Ciro não teria mesmo vez em São Paulo, como candidato ao governo. Sobra para ele a possibilidade de coadjuvante de Lula no pleito federal. Turismo em alta A Comissão de Turismo e Desporto da Câmara dos Deputados, presidida pelo incansável deputado gaúcho Afonso Hamm, aprovou recentemente um substitutivo que facilita a emissão de vistos para turistas estrangeiros. Trata-se de uma das bandeiras políticas do atuante deputado fluminense Otavio Leite. O relator da matéria foi o deputado Marcelo Teixeira, profundo conhecedor do setor de turismo. Turistas estrangeiros devem ter toda a facilidade para entrarem no país. A conta será boa para a economia. Nota 10 para o projeto. Gastos públicos com a Copa A Comissão de Fiscalização Financeira e Controle da Câmara lança, dia 25/08, a "Rede de Informações para a Fiscalização e o Controle dos Gastos Públicos na Organização da Copa do Mundo de 2014". A ideia é do presidente da Comissão e membro da Subcomissão Permanente de Fiscalização dos Gastos Públicos com a Copa 2014, Silvio Torres (PSDB-SP) e envolverá, além do Tribunal de Contas da União - TCU, os Tribunais de Contas dos Estados e Municípios e a Comissão de Meio Ambiente, Defesa do Consumidor, Fiscalização e Controle do Senado, presidida por Renato Casagrande (PSB-ES). O trabalho da Rede prevê que seus integrantes deverão gerar e encaminhar ao final dos anos de 2009, 2010 e 2011 para a Subcomissão Permanente, relatórios sobre as ações e gastos realizados com recursos públicos para assegurar a organização das 12 cidades que sediarão os jogos do Mundial de Futebol. O presidente do TCU, Ubiratan Aguiar, estará presente. Lula, Dilma e Lina O presidente Lula cometeu uma barbaridade a desafiar a ex-secretária da Receita Federal, Lina Vieira, a provar seu encontro com a ministra Dilma. E se os indícios comprovarem a reunião entre as duas no Palácio do Planalto ? E se aparecer o vídeo com o flagrante do carro de Lina entrando no Palácio ? A Chefe da Casa Civil registra versões desmentidas, como os títulos de pós-graduação colocados em seu curriculum; a história mal contada dos cartões corporativos; o dossiê (negado por Dilma e depois confirmado) sobre a família de Fernando Henrique etc. Lina Vieira, técnica e séria, não iria inventar uma história apenas para prejudicar alguém. Alckmin segura ? Geraldo Alckmin tem hoje 57% de intenção de voto para o governo de São Paulo. A questão é : sustentará esse índice ? Vai depender dos concorrentes e das circunstâncias. Ciro seria derrotado. Marta Suplicy, idem. O prefeito Kassab desponta como um nome forte e com grande possibilidade de êxito, caso Alckmin seja deslocado, por conveniência, para uma vaga de senador. Mercadante, do PT, encontrará dificuldades e Quércia esbarrará na velha barreira da imagem negativa. Já Romeu Tuma analisa a possibilidade de voltar a ser o candidato do PTB para a vaga. Correção de déficits   A atual gestão da OAB/SP encontrou a Casa, em 2003, com um patrimônio negativo de R$ 2.354.882,00. A Seccional exibia déficits anuais seguidos. Em 2003, foi de R$ 14.646.795,00. Encerrará a gestão este ano com um patrimônio líquido positivo de R$ 59.800.969,00. Mais ainda : as anuidades caíram. É só fazer a conta. Em 2003, era de R$ 550,00. Hoje, é de R$ 700,00. Atenção, porém : se considerarmos a inflação pelo ICP-DI, a mensalidade deveria ser de R$ 821,34; pelo IGPM, de R$ 835,62; pelo IPC, de R$ 753,00; pelo INPC, de R$ 779,18; e pelo IPCA, de R$ 780,03. Com mais uma pitada : o preço da xerox nos foros era de R$ 0,20, que em 2005 foi reduzido para R$ 0,15. Preço de hoje. Intimações on-line Mais um registro que marca a atual administração : as intimações on-line são gratuitas (antes tinham um custo). E um cartão de crédito que reverte em bônus as compras que o advogado fizer com ele, e os bônus podem ser usados para quitação da própria anuidade. O xale da ministra Lina Vieira viu que a ministra Dilma, quando a recebeu no Palácio do Planalto, estava de xale. Mais ainda : o motorista que a levou, terceirizado, poderá ser encontrado e a ele pode-se fazer a pergunta : você levou a ex-secretária da Receita Federal ao Palácio do Planalto ? Cadê o motorista ? Assim falou Zaratustra "Não é com a ira que se mata, mas com o riso. Eia, pois, vamos matar o espírito da gravidade! Aprendi a caminhar; desde então, gosto de correr; aprendi a voar; desde então, não preciso que me empurrem para sair do lugar. Agora, estou livre; agora, vôo. Agora, vejo-me debaixo de mim mesmo; agora, um deus dança dentro de mim". E a gripe, atchim... Há muito atchim em torno dessa gripe suína. Autoridades dizem que está controlada. E os espirros, seguidos de mortes, se espalham pelo país. Onde está a verdade ? Vai faltar remédio ? Quando chegará a vacina ? E o hemisfério norte, hein, que se prepara para enfrentar um rigoroso inverno ? Skaf vem aí ? Paulo Skaf quer ser candidato ao governo de São Paulo. Pelo PMDB. Com um bom tempo de TV e rádio, seus assessores acreditam que poderia quebrar a polarização entre tucanos e petistas. Antes disso, Skaf poderia fazer o exercício : conhecer os convencionais do PMDB; preparar o programa mais avançado e impactante de desenvolvimento (sustentável) para o Estado; abrir a linguagem para a política, atenuando o fiespês, que é uma expressão hermética e restritiva; circular mais intensamente pelas dobras e margens da política; vestir-se com um manto social para compensar as vestes econômicas e empresariais. Tem condições de fazer isso ? A conferir. A arte da guerra A arte da guerra, ensinava o general Sun Tzu, reconhece nove variedades de terreno : dispersivo, fácil, controverso, aberto, de estradas cruzadas, sério, difícil, orlado e desesperador. Que terreno abrigará os candidatos em 2010 ? Meirelles com Dilma ? Quem pensa em colar Henrique Meirelles e Dilma Rousseff, fazendo com que aquele integre a chapa desta na condição de vice, é amigo da onça. Ora, a ministra já tem cara de tecnicista. Meirelles é a própria extensão da burocracia econômica. A chapa com os dois seria o verso e o reverso da moeda técnica. Dura e fria. Tem gente mesmo que quer estragar o banquete de Lula. O aborto De um lado, estará Dilma preconizando o direito ao aborto. De outro, Marina Silva vai abrir o verbo contra o aborto. De que lado estará a Igreja Católica ? 11 mil palavras Acabam de descobrir : Lula tem um vocabulário de 11 mil palavras, mais do que alguém com curso superior, que domina algo em torno de 9 mil a 10 mil. Lula teria incorporado todos os neologismos gerados pelos escândalos, a partir do mensalão. E, dizem, absorve tudo que ouve. Conselho ao presidente Lula Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na edição passada, o espaço foi destinado à senadora Marina Silva. Hoje, volta sua atenção ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva : 1. Evitar atos precipitados em defesa de dona Dilma. Desafiar Lina Vieira a provar que esteve com a ministra-chefe da Casa Civil é um grande risco. E se o motorista que a levou for encontrado e confirmar o encontro ? 2. Ter mais cuidados com as palavras. Quanto mais próximo o pleito, mais efeitos provocarão. 3. Convença-se de uma coisa : seu prestígio não redundará em um turbilhão de votos na urna de Dilma Rousseff. Poderá, até, ajudá-la, no Nordeste. No Sul e Sudeste, a transferência desejada será apenas sonho. _________________
quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Porandubas nº 198

Franco Montoro Comecemos com uma historinha que tem como personagem Franco Montoro. Depois de deixar a esfera governativa e parlamentar, Montoro passou a se dedicar ao Instituto Latino-Americano - ILAM. Na condição de presidente desta entidade, foi a um almoço organizado por um pequeno grupo de professores da USP no restaurante do campus. O ex-governador, como se sabe, tem registrado em sua história muitos casos de dislexia, momentos em que confundia nomes, alhos com bugalhos, motivando risos nas cerimônias. A conversa fluía bem, versando sobre os mais diferentes problemas do país. A certa altura, ele se surpreendeu ao saber que este escriba era potiguar. Mais ainda : tio de Sônia, casada com João Faustino, tucano do melhor naipe e seu dileto amigo. Montoro e dona Lucy foram padrinhos do casamento de uma das filhas de João e Sônia. De repente, lá vem a pergunta : - E como está o Agrário ? Você sabe como ele vai ? Passo a lupa na mente e lamento ignorar a identidade da figura. Mas vou procurar saber, logo, logo. Mudamos de assunto. Mas o Agrário continua a frequentar o meu sistema cognitivo. De repente, Eureka ! Agrário ? Agrário ? Não seria o Urbano ? Tomo a iniciativa : - Governador, será que o senhor não confundiu o Agrário com o Urbano ? - Ah, sim, é claro, é claro. Desculpe. Como vai o Urbano ? Francisco Urbano era presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura - CONTAG. Um potiguar muito conhecido nos universos sindicalista e político. A dislexia do ex-governador paulista havia intercambiado o espaço rural com a geografia urbana. Franco Montoro, exemplo de Honradez, Dignidade, Seriedade, Civismo, Independência e Amor à Pátria. Quanta falta ele faz nesses tempos de lamaçal político. Lina e Dilma Dois nomes, duas versões. A ex-secretária da Receita Federal, Lina Vieira, deu a sua versão : no final do ano passado, entendeu que a ministra Chefe da Casa Civil pedia pressa na investigação da Receita contra o empresário Fernando Sarney. O senador Sarney preparava-se para disputar a presidência do Senado. Dilma, ao refutar, exibiu a sua verdade : não houve o encontro privado anunciado por Lina. Um detalhe : a ex-chefe da Receita não tomou a iniciativa de falar sobre o caso. Foi procurada pela Folha de São Paulo. Lina Vieira é uma pessoa conhecida pelo amplo domínio técnico e postura discreta. Não é de arroubos. E jamais se prestaria à tarefa de fazer jogo político. Há cinco maneiras de contar a verdade, escreveu Brecht. A maneira de Lina é, sem dúvida, a menos esponjosa. Ledo engano ? Luiz Inácio, em defesa da ministra Dilma, diz não acreditar na versão da ex-secretária da Receita. Ledo engano, garantiu Lula. Teriam sido ledos os enganos sobre escandalosos casos que o presidente garantiu não terem existido ou deles tomado conhecimento, entre os quais o famigerado mensalão ? Lula no comando Lula tem dado sinais de que não abre mão do comando da campanha presidencial de Dilma Rousseff. Mesmo os petistas mais próximos têm receio de dar palpites sobre rumos, discurso, articulação, mobilização. Lula impôs ao PT o nome da ministra, define as regras para as alianças e escolhe, desde já, os palanques centrais e secundários. A praça que mais o preocupa é São Paulo, onde o PT não tem candidato competitivo. O fator Marina Ciro Gomes é o candidato de Lula para enfrentar o candidato de José Serra ao governo de São Paulo. Apareceu, porém, no cenário Marina Silva. Ou seja, o presidente imaginava uma campanha plebiscitária no plano federal : Serra ou outro candidato de oposição contra Dilma. O plebiscito levaria em conta a indagação : está satisfeito com a situação ? Vote em Dilma. Quer mudar ? Vote em Serra. Marina Silva, eventual candidata pelo PV, quebrará a polarização. A campanha deixaria de ser plebiscitária. A senadora acreana, ícone do ambientalismo, poderia alcançar até 15%(ou mais) de intenção de voto. Ciro abre o leque Ante a abertura do palco presidencial, Ciro Gomes pensa também em abrir o leque. Aposta que entrando no páreo federal, torna-se alternativa para embolar o jogo. A campanha rolará para o segundo turno, onde seus votos e mais os de Marina Silva tenderiam, em maior percentagem, a encher o balão de Dilma Rousseff. Ademais, ele entraria bem no figurino de "matador", com sua artilharia apontada ao coração de Serra. Portanto, o fator Marina deverá descolar Ciro Gomes da perspectiva paulista. De paraquedas Ciro não teria chances em São Paulo como candidato ao governo. Trata-se de um estranho no ninho, um paraquedista. Nasceu no Estado, mas fez vida política no Ceará. Os paulistas cobrariam com juros e correção monetária os ataques que o deputado do PSB tem feito ao domínio paulista na cena nacional. Sua recente aproximação com o Estado não o exime das acusações do passado. Poderia, até, conseguir entre 10% a 12% de votos. Só alcançaria pontuação mais elevada diante de candidatos opacos. Perderia feio, por exemplo, para Geraldo Alckmin ou Gilberto Kassab. Os dois sapos Dois sapos viviam na mesma lagoa. Quando ela secou com o calor do verão, eles saíram em busca de outro lar. No caminho, passaram por um poço profundo e cheio de água. Ao vê-lo, um dos sapos disse para o outro : "Vamos descer e fazer a nossa casa neste poço, ele nos dará abrigo e alimento." O outro, mais prudente, respondeu : "Mas, e se faltar água, como sairemos de um lugar tão fundo ?" Não faça nada sem pensar nas conseqüências. (Esopo, século 6 a.C.) Pois é, certos políticos agem como o sapo imprudente. E o Senado, hein ? Quando a crise no Senado chegará ao fim ? A essa altura, resta a impressão : Sarney virou o jogo; ganhou, mas exibe um corpo alquebrado; as oposições perderam ímpeto com as denúncias que flagram alguns de seus integrantes; as camadas tendem à acomodação após o sismo inicial. Conselho de ótica Na semana passada, em meio ao fogo cruzado entre oposição e governo, o senador Cafeteira disparou à "queima-roupa" para cima de Arthur Virgílio : "Caro senador, devo lembrar ao nobre parlamentar que o encaminhamento de suas acusações no Conselho de Ética seguirá a liturgia sobre o que será ou não condenatório e isto será feito pela ótica do presidente da Comissão". Virgílio, já escaldado pelos acontecimentos recentes retrucou : "Vossa Excelência deve saber que nunca fui afeito às ciências exatas e portando, passei longe da oftalmologia". Pois é, quem diria, hein, o Senado acabou formando um Conselho de Ótica. O velho amigo "Os velhos amigos são os melhores. O rei Jonas costumava pedir os seus velhos sapatos, porque eram mais folgados para os seus pés". (John Selden, jurista inglês) Rolando a bola A simples inversão das duas letras iniciais confere ao ministro Orlando Silva um gerúndio bem próprio dos atletas de futebol. Rolando a bola - eis a imagem que o ministro do Esporte transmite aos que acompanham sua performance pelos campos, aliás, pelos mais diferentes espaços do território. Trata-se de um perfil dos mais simpáticos do governo Lula. Faz-se presente em eventos esportivos e culturais, ouve lideranças dos nichos esportivos e procura estabelecer as coordenadas para o país oferecer uma boa estrutura na Copa de 2014. Lei do esporte Esta semana, o ministro Rolando, aliás, Orlando Silva, participou de um almoço no SESCON, em São Paulo, organizado pelo Fórum Permanente de Defesa do Empreendedor, comandado por José Maria Chapina Alcazar. Chapina fez ver ao ministro a magnitude da extensão dos benefícios da Lei do Esporte - vantagens tributárias auferidas com o patrocínio esportivo - para as empresas de lucro presumido. De 170 mil, o número de empresas passaria a ser de 700 mil, salto que iria ajudar o universo de micro e pequenos empreendimentos. O ministro aceitou a ideia e deverá apresentá-la, para estudos, aos técnicos do Ministério da Fazenda. O deputado tucano, Silvio Torres, até já tem a solução para abrigar a proposta : simples e rápida alteração em um artigo da Lei do Esporte, de forma a incluir nela todos os conjuntos produtivos. Panorama nos Estados A lupa pré-eleitoral está sendo arrumada nos Estados. No Rio Grande do Norte, Garibaldi Alves e José Agripino lideram as posições para o Senado. A governadora Vilma Faria está em terceiro lugar. E a senadora Rosalba Ciarlini (DEM) avança, disparada, em primeiro lugar. Em São Paulo, Geraldo Alckmin garante, hoje, sólida posição no primeiro lugar. Nenhum petista consegue ameaçá-lo. Para o Senado, Aloizio Mercadante (PT) e Orestes Quércia (PMDB) são os mais evidentes, não necessariamente os mais prováveis. Em Roraima, o deputado Neudo Campos (PP) aparece em primeiro lugar e Marluce Pinto, ex-senadora e herdeira política do marido Ottomar Pinto, lidera a corrida para o Senado. Romero Jucá (PMDB) está em queda. E o governador José de Anchieta (PSDB), candidato à reeleição, patina em um andar muito baixo. Aécio, luz no Senado Há quem distinga em Aécio Neves a luz no fim do túnel do Senado. Candidato a senador por Minas Gerais, teria uma votação extraordinária. Com o prestígio e a fama de político que dança em todas as pistas, Aécio poderia quebrar uma tradição : seria eleito, logo no início do primeiro mandato como senador, presidente da Câmara Alta. Pano de fundo : reformas que Sarney, pelo perfil e circunstâncias, não teria condição de implementar. Cartaxo, perfil de equilíbrio Otacílio Cartaxo, o Secretário interino da Receita Federal, é conhecido pela capacidade de equilibrar os pratos da balança. Trata-se de um técnico de alto nível, que integra o chamado grupo de intelligentzia da Receita. Mas há a turma de auditores da Previdência, que sonha em retomar o comando do sistema. O secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Nelson Machado, que tem origem na Previdência, seria o patrocinador daquele grupo. Para muitos, a retomada do poder pelo grupo previdenciário seria um retrocesso. A Receita desenvolveu uma tecnologia avançada de controle e fiscalização. Que propicia a intercomunicação dos canais e sistemas. Já a turma dos fiscais previdenciários conserva métodos arcaicos. Eis o pano de fundo da luta que se trava nos bastidores da RF. Conselho a Marina Silva Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na edição passada, o espaço foi destinado aos senadores. Hoje, volta sua atenção a senadora Marina Silva : 1. Senadora, o momento brasileiro é propício à fixação de estacas no campo da defesa ambiental e ao soerguimento de bandeiras éticas e morais. 2. A senhora é um dos símbolos da defesa do meio ambiente no Brasil e precisa aproveitar a oportunidade para disseminar sementes de seu bonito e denso discurso. 3. Qualquer que seja o resultado a ser alcançado pela senhora, no pleito presidencial de 2010, a bandeira ambientalista será vitoriosa. Aceite a indicação de seu nome pelo Partido Verde. ___________