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Porandubas Políticas

Por dentro da política.

Gaudêncio Torquato
quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Porandubas nº 257

Nada é tudo Cícero do Carmo Lima, simpático, vestido de branco, chapéu pequeno, óculos escuros, dentes de ouro, sempre com sua inseparável bicicleta, era uma figura diferente no Ceará. Na década de 60, Ciço Rico foi um vereador muito querido em Ipu, no Ceará. Semi-analfabeto, achava-se um intelectual. No palanque, era o penúltimo a falar. Sua presença atraía a atenção. Coisas engraçadas em profusão. Principalmente no fechamento do discurso. Certa noite, num comício realizado em frente a Praça de Iracema, o locutor faz a convocação : agora, vamos ouvir o vereador Cícero do Carmo Lima. Aplausos prolongados. Descontraidamente, inicia o discurso. Ovações continuadas. Os aplausos o incentivavam a esticar a fala. No final, o fecho glorioso e filosófico, sob gritos frenéticos e (falsos) dos jovens : ipuenses, para terminar eu concluo que "Tudo, tudo é nada, e nada, nada, nada, repito, nada é tudo". E vamos à ordem do dia A coluna de hoje procura destacar aspectos e abordagens que abrem a nova administração do país. O ciclo da razão O Brasil abre as portas para o ciclo da razão. Fecham-se as cortinas da era da emoção. Sai um ator carismático do palco. Entra um perfil técnico para comandar a nação. As massas, em um primeiro momento, vão se ressentir. Depois se acostumarão. Mas a lembrança do carisma ficará na memória e no coração. Por isso, Lula continuará presente na cena política. Mas não poderá aparecer em demasia para não empanar a imagem da nova administração. Dilma imprimirá sua marca : firme controle da gestão, cobrança, monitoramento, resultados. Apertará os calos dos ministros. Mais que as mãos suaves de Lula. A festa de Brasília Este consultor acompanhou de perto a movimentação de Brasília. Posse de presidente da República e vice é sempre uma festa. O discurso de Dilma no Congresso foi um panorama sobre os temas brasileiros. Não carregava o tom retumbante de Lula, mas parecia mais sério e responsável. Sem as tiradas improvisadas, o sarcasmo ou o chiste. Trata-se da expressão mais técnica, mais racional. No Parlatório, Dilma fez um resumo da fala no Congresso. Um pouco mais popular. Referiu-se a Lula e às mulheres, algumas vezes. Agradecimento e homenagem. No Itamaraty A festa no Itamaraty reuniu umas 2 mil pessoas. Gente de todos os tipos e regiões. Gente humilde, políticos regionais, ministros, líderes importantes, governadores, autoridades e Chefes de Estado. Muito vinho, uísque e bebidas leves. Barulho infernal. Michel Temer, muito cumprimentado, irradiava satisfação. Dilma, muito cumprimentada, sempre portando a faixa presidencial, foi embora logo. Hillary Clinton saiu 8 minutos antes da chegada de Dilma. Otimismo Este consultor teve a oportunidade de conversar com algumas personalidades. E amigos. O tom geral era de otimismo. O país, mesmo com dificuldades eventuais, caminhará firme na rota. O estilo Dilma - racional, objetivo, técnico, cobrança, exigências - dava o tom das conversas. Senso comum. As oposições ali compareceram educadamente. Esbarrei com Alckmin chegando ao Itamaraty com dona Lu, Zé Aníbal, Duarte Nogueira e mais alguns. Nos cumprimentos, a lembrança recorrente de Alckmin para este consultor : e as Porandubas ? Ele é um leitor assíduo da coluna. E eu lhe disse que vou acompanhar, passo a passo, seu governo. Estrelas da equipe Alguns ministros abrirão amplos espaços de poder e visibilidade. Anotem estes nomes : Zé Eduardo Cardozo, da Justiça; Antônio Palocci, da Casa Civil; Orlando Silva, dos Esportes; Nelson Jobim, da Defesa; Miriam Belchior, do Planejamento; Paulo Bernardo, das Comunicações; e Guido Mantega, da Fazenda. Alexandre Tombini, do BC, estará também na roda. E, claro, o vice presidente da República, Michel Temer, que será uma espécie de escudo e pára-choque contra eventuais crises. Pano de fundo : questões de segurança pública; articulação político-institucional; Copa e Olimpíadas; compra de aviões; organização do orçamento; banda larga; eixos macroeconômicos e eventuais atritos com o Congresso. Reforma política ? Difícil Pois é, os anúncios se espalham : a reforma política vem aí. Lideranças políticas, a nova presidente da República, o ex-presidente Lula, todos expressam contundente defesa desta reforma. O novo ministro das Relações Institucionais, o bigodudo deputado Luiz Sérgio, do PT do Rio de Janeiro, garante que vai escudar a proposta. Este consultor coloca as dúvidas : o que fazer de início ? Mudar o que ? O sistema de voto ? Qual o modelo ideal ? Distrital puro ou misto ? Fidelidade partidária ? Mas essa já existe. Cláusula de barreira ? Os partidos pequenos não toparão. Reforma do código eleitoral ? Isso é possível. Mas que aspectos deverão ser contemplados ? Diálogo, uma quimera O mesmo ministro Luiz Sérgio diz que vai implantar a política do diálogo. Quer evitar atritos entre os partidos da base aliada. Mas esse diálogo, pelo que se sabe, é palavra-chave da Secretaria de Relações Institucionais. Padilha, que de lá saiu para assumir o Ministério da Saúde, quase foi às vias de fato com o líder do PMDB, deputado Henrique Alves. E sempre insistia no diálogo. Só existe diálogo entre partes que desejam efetiva parceria. E, pelo visto, o PT está indo com muita sede ao pote na corrida por postos e cargos. PT é assim : primeiro, ele; segundo, ele; terceiro, ele. Por isso, o diálogo é uma quimera. E a tributária ? No caso da reforma tributária, o ponto de partida deverá ser o relatório do deputado Sandro Mabel (PR/GO). Não será um debate fácil. Há muita polêmica, a partir da incidência de tributos sobre a riqueza. Outro aspecto diz respeito à desoneração da folha. Teme-se a perda de recursos hoje destinados à Previdência Social. A questão do ICMS deve ser objeto de amplas negociações com os governadores. O objetivo é fazer acordos para reduzir o tributo em áreas específicas, como energia. Mabel será candidato ? Por falar em Sandro Mabel, eis que ele joga um balão de ensaio : poderá sair como candidato à presidência da Câmara. Marco Maia será alvo de insatisfações de alas partidárias insatisfeitas com a partilha de espaços e cargos. Mabel irá até o fim ? Seria um bom candidato. No vácuo O grande tribuno Carlos Lacerda, da UDN, fazia inflamado discurso na Câmara dos Deputados, quando um colega pediu aparte : "Vossa Excelência pode falar o quanto quiser, porque o que me entra por um ouvido sai imediatamente pelo outro". Ao que lhe respondeu Lacerda : "Impossível, nobre colega, o som não se propaga no vácuo !" Linhas de combate e ocupação Nas próximas semanas, veremos muito combate no campo do poder. PT e PMDB disputam, palmo a palmo, espaço no setor elétrico. PMDB dominava a área. PT quer desbancá-lo. Alvo principal é a Eletrobrás. Nos Correios, PT já levou a melhor. Na Saúde, começa a ocupar todos os espaços. O líder Henrique Alves, do PMDB, tem dificuldades em administrar a indignação da bancada peemedebista. Na área da Integração Nacional, PMDB, que a dominava por completo, ficará apenas com o DNOCS. Concessão nos aeroportos Desta vez, dá para acreditar : a concessão de aeroportos ao setor privado toma forma. Nelson Jobim é a favor. A presidente Dilma já deu sinal positivo. Sinal de que o novo governo incentivará a participação privada na infraestrutura. Dando as caras A presidente Dilma vai começar a mostrar a cara para o mundo. Primeiras viagens já confirmas : EUA, China, Argentina, Uruguai, Peru e Bulgária. Dilma já deu uma boa sugestão ao secretário geral da ONU, Ban Ki-Mon : abrir uma Escola da ONU no Brasil com foco no estudo e debate da Segurança e Desenvolvimento Social. Qualidades dos serviços Novo governo emite bons sinais. O novo ministro da Saúde, Alexandre Padilha, quer implantar contratos de gestão baseados em metas a partir de indicadores nacionais de saúde. Garantia de qualidade e acesso da população aos serviços. INSS sob novo comando O presidente do INSS, ao que tudo indica, deverá ser Mauro Luciano Hauschild, que trabalha no gabinete do ministro José Antônio Toffoli, do STF. O nome técnico, preferido pelo ministro Garibaldi Alves, seria o de Otacílio Cartaxo, ex-secretário da Receita, responsável pela maior arrecadação do órgão em toda a história. Mas o novo ministro da Previdência decidiu acatar a indicação de Renan Calheiros. Mauro Luciano é um quadro da área jurídica. Uma espécie de peixe fora d'água no INSS. A política tem seus caminhos. Estranhos, misteriosos e insondáveis, alguns. IMPS Newton Cardoso, hoje deputado pelo PMDB de MG, ex-governador, numa entrevista : "Precisamos acabar com a fila do IMPS." O assessor lhe diz : "Não é IMPS, é INPS." Ele : "Nada disso. Desde lá de Brumado que eu aprendi que antes de P e B se usa M." Tempo integral Fernando Haddad, ministro da Educação, vai implantar ensino médio em tempo integral. Com curso regular em um turno e, no outro, o curso profissionalizante. Um Ovo de Colombo. Alckmin : 1,5 bi de corte Geraldo Alckmin começa dando exemplo de austeridade : cortou R$ 1,5 bilhões no Orçamento do Estado. Investimentos sofrerão redução de 20% e os gastos com custeio serão diminuídos em 10%. Alckmin também fará revisão de todos os contratos de serviços. Lupa acesa. Richa : moratória Já o governador do Paraná, Beto Richa, declarou moratória de 90 dias. Significa suspensão de pagamentos a fornecedores e prestadores de serviços. Quer conhecer real situação financeira do Estado. Colombo : ICMS por 120 dias Enquanto isso, Raimundo Colombo, de SC, extingue o artigo da lei que permitia reduzir o ICMS de 17% para uma alíquota de 0,3%, impedindo, ainda, que novas empresas entrem no programa durante o período de reavaliação. Coutinho : exoneração dos comissionados Na Paraíba, Ricardo Coutinho, o novo chefe do Executivo, demitiu todos os ocupantes de cargos comissionados. Lá, a folha deve fechar 2010 representando 70% da receita corrente líquida. Suspendeu, ainda, o reajuste de 27,92% concedido pelo ex-governador José Maranhão. Rosalba : redução de 30% No Rio Grande do Norte, a governadora Rosalba Ciarlini decidiu reduzir em 30% as verbas de cada Secretaria. Rosalba garante que fará "o RN acontecer". Quer uma gestão de resultados. A reza de Rosário Maria do Rosário, a ministra que assumiu a Secretaria de Direitos Humanos, reza pela cartilha da polêmica Comissão da Verdade. Defende sua aprovação. E assim recomeça o lengalenga. Fato histórico Já o general José Elito Siqueira, novo chefe do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência, é enfático : a existência de desaparecidos políticos durante a ditadura não deve ser motivo de vergonha, mas ser tratado como fato histórico. Cadê o Ciro ? Ciro Distante Gomes não deu as caras. Não ganhou o Ministério da Saúde. Parece não ter gostado. Não esteve em Brasília na posse. Deve ajudar o irmão Cid Gomes, no Ceará. Algo como a Coordenação da Zona de Exportação. Até ser chamado para coisa mais importante no plano Federal. Henrique, estressado Henrique Alves, o aguerrido líder do PMDB na Câmara, está muito nervoso. Este consultor conhece Henrique desde os tempos de antes de ontem. E nunca viu Henrique tão estressado. O PT está invadindo todas as searas do PMDB. Com sede secular. Vaccarezza O deputado Cândido Vaccarezza (PT/SP) espera um convite da presidente Dilma para assumir a liderança do governo na Câmara dos Deputados. Vaccarezza é um dos mais preparados e eficazes quadros do PT. Conselho à nova presidente Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos membros do Ministério Público. Hoje, seu conselho se dirige à nova mandatária da nação, presidente Dilma Rousseff : 1. Procure mapear o território de demandas políticas e verificar o estado das tensões. 2. Dê soluções justas e adequadas às demandas e pressões tendo como baliza o efetivo peso dos partidos na composição política. 3. Aja com cautela para evitar derrotas no Congresso logo no início do governo. Seria um péssimo início de administração começar com derrotas. ____________
quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Porandubas nº 256

O nome do médico Dois desembargadores aposentados, do alto de uma juventude acumulada durante oito décadas e meia, encontram-se no aniversário do neto de um deles. Os desembargadores Amaro Quintal da Rocha e Antônio Vidal de Queiroz, como sói acontecer com amigos que se conheceram no início da idade da razão, foram direto ao assunto que mais os motivava : - Até que enfim, encontrei o médico que curou a minha amnésia, disse Amaro. - Como é mesmo o nome dele ? Perguntou Vidal. - É, é, é, deixe-me ver, é... é... Como é mesmo o nome dele ? Espere aí... é, é... é. O nome, escondido num cantinho do cérebro, relutava em aparecer. Começou a se perturbar. Mas não deixou a onda abatê-lo. - É, é, como se chama... é... é... como se chama mesmo aquela coisa vermelha, amarela, branca, que nasce em um galho cheio de espinhos, aquele assim ? (e foi mostrando o tamanho do galho e o formato da coisa). Vidal matou a charada : - Rosa, o nome é Rosa. Amaro, radiante, grita para a mulher que estava sentada logo adiante : - Rosa, oh, Rosa, como é mesmo o nome daquele médico que curou a minha amnésia ? (Os personagens são fictícios. Mas a historinha, da verve expressiva do presidente do Conselho de Administração do CIEE, o amigo Ruy Altenfelder, merece abrir estas Porandubas) Disputas internas Não apenas os partidos disputam posições e espaços no governo Dilma. Alas partidárias também fazem uma guerrinha. No PT, por exemplo, Cândido Vaccarezza é o favorito para comandar a Câmara dos Deputados. Teria o apoio da tendência 'Construindo um Novo Brasil', ex-Campo Majoritário, que teve origem na antiga Articulação. É a maior tendência do partido. Mas a ala de Marco Maia, 'Ação Democrática', de Tarso Genro e José Eduardo Cardozo, se alia com Arlindo Chinaglia, que pertence à ala 'Movimento PT', para derrotar Vaccarezza, que teria a simpatia de Dilma. Contra Chinaglia, resgata-se sua gestão no comando da Câmara, considerada muito dura. Marco Maia, atual primeiro vice-presidente, conta com a força que adquiriu ao substituir Michel Temer na condução dos trabalhos da Câmara baixa nos últimos meses, ganhou a parada. Vaccarezza Vaccarezza, apesar de favorito, perdeu o jogo. Primeiro, por ver seu companheiro Arlindo Chinaglia, desistindo da candidatura para apoiar Marco Maia. Segundo, pela revolta de grande parte da bancada petista, insatisfeita com as indicações para o Ministério Dilma. De certa forma, Lula e Dilma perderam também este round na Câmara. PMDB na observação Michel Temer, o vice-presidente eleito da República, exerceu com muita habilidade o papel de lã entre cristais. Esforçou-se por evitar atritos entre grupos do PMDB, que se vêem alijados ou com menor força no ministério Dilma. O partido perdeu ministérios importantes. Mas conservou, graças a Michel, o mesmo número. Não se podia dizer, aliás, que o ministro Temporão, da Saúde, pertencia à cota do PMDB. Muito menos Nelson Jobim. Por isso, no frigir dos ovos, a contagem entre ontem e hoje fica praticamente na mesma pontuação. Talvez com um pouco mais de força no governo Lula. Por isso, o PMDB observa com atenção os movimentos e espaços cedidos a outros partidos. PSB revigorado Se ganhar o Ministério da Integração Nacional, oferecido a Ciro Gomes, e mais a Secretaria dos Portos (pode ser integrada a ela a área da Aviação Civil), o PSB, liderado pelo governador Eduardo Campos, tem condições de subir ao ranking do primeiro time de partidos no governo Dilma. Fez 6 governadores (PE, CE, PI, AP, PB e ES) e pulou de 27 para 34 deputados federais. Tinha 66 deputados estaduais e agora tem 73. Ciro topa ? Ciro Gomes deu um prazo até hoje para responder se aceita ou não o Ministério da Integração. Ciro é imprevisível. Deverá exigir condições. Pode ser que não aceite quando souber que alguns espaços da pasta já estão comprometidos com alguns aliados. Campos e Neves Este consultor começa a enxergar um princípio de paquera entre PSB e PSDB. Eduardo Campos, o presidente do PSB, é amigo de Aécio Neves, a estrela ascendente do PSDB. Um dia, ouvi de Eduardo Campos que sua geração - ele, Ciro Gomes, Aécio e por aí vai - almejaria um sonho : chegar ao poder. Seu esforço seria no sentido de dar vigor a esta projeção. O senador Neves e o revigorado governador Campos jogam muito bem sinuca. E, ao que parece, se saem bem ante sinuosa sinuca de bico. Aprender a suportar "É preciso aprender a suportar o que não é possível evitar. Assim como a harmonia do mundo, nossa vida é composta de coisas contrárias, e de diversos tons, doces e ásperos, pontudas e chatas, moles e duras. Que poderia exprimir o músico que só gostasse de um tom ? É necessário que saiba utilizar a todos e misturá-los; do mesmo modo nos cabe fazer com os bens e os males que são inerentes à nossa vida. Nosso ser não subsiste sem essa mistura, em que cada parte é tão imprescindível quanto a outra..." (Montaigne) UPPs nas favelas A conta foi feita : UPPs em todas as favelas do Rio custariam R$ 321 milhões por ano. Seriam necessárias 107 unidades e 10.685 policiais. Seria viável. Porque o custo do tráfico da droga e suas consequências é inimaginável. Sílvio Torres Geraldo Alckmin dispõe de um grande quadro para comandar a área de esportes : o deputado Silvio Torres. Trata-se de um dos maiores conhecedores da área esportiva. Silvio destaca-se pela intensa participação em todos os foros dedicados às questões dos esportes e do turismo. Poderá dar efetiva contribuição ao setor, principalmente neste momento em que o país se prepara para sediar uma Copa do Mundo em 2014 e a Olimpíada de 2016. José Aníbal Outra boa cabeça tucana é o deputado José Aníbal, já testado na experiência da liderança dos tucanos na Câmara dos Deputados e na administração pública em São Paulo. Zé foi líder do PSDB na Câmara por quatro vezes. E Secretário de Ciência e Tecnologia do Estado de São Paulo no governo Mário Covas, sendo responsável pela criação de várias FATECs. Coordenou o programa de governo do candidato Geraldo Alckmin neste último pleito. É um dos melhores pensadores do tucanato. Calabi dentro, MR fora Geraldo Alckmin, ufa, nomeou Andrea Calabi como secretário da Fazenda. Mauro Ricardo cai fora. Alckmin deixa os setores produtivos aliviados. MR tinha uma fome pantagruélica. Era muito duro. Gostava de onerar a produção. Aliás, Serra perdeu a embocadura que tinha junto ao empresariado por conta do aperto dado por seu secretário da Fazenda. Com a nomeação de Calabi, o novo governador põe um ponto final no mando serrista. Rio sem força ? O Rio de Janeiro chora a perda de força. Já contava, até, com o ministro da Saúde, Sérgio Cortês, secretário do governador Sérgio Cabral. Mas este se precipitou no anúncio. Voltou a subir a votação do ministro Padilha, que faz hoje a Articulação Institucional. Mas se o Rio jorrar muitas lágrimas, pode-se voltar a apostar no tal Cortês. Agora, com a cortesia da presidente Dilma em agradecimento à descortesia do governador Cabral. Maluf ganha Paulo Maluf ganhou. Vai ser diplomado deputado dia 17. Este é o resultado da decisão do TRE/SP que revogou o enquadramento de Maluf na lei da Ficha Limpa. Essa decisão deverá influenciar o voto no TSE, onde o deputado entrou com recurso. O affaire Maluf vem de longe. Ele foi acusado pelo MP por superfaturamento na compra de 1,4 tonelada de frango em 1996. A ação já havia sido julgada improcedente na primeira instância. Ozires e o prêmio O grande brasileiro Ozires Silva, a quem a aviação civil muito deve, propõe a criação de um Prêmio de Eficiência e Produtividade a repartições públicas que se esmeram no quesito qualidade. Se o governo tem vários prêmios para a sociedade, argumenta Ozires para esta coluna, por que não fazemos algo em sentido contrário ? Tem lógica a proposição. E merece nossos aplausos ! Mais mulheres Iriny Lopes, deputada do PT do ES, e Lúcia Falcón, secretária de Planejamento de Sergipe são mais duas mulheres no Ministério. A primeira para a Secretaria das Mulheres e a segunda para o Ministério do Desenvolvimento Agrário. A primeira sob o endosso do PT capixaba e a segunda, sob o referendo dos governadores Marcelo Deda e Jaques Wagner. Paulistério petista O PT de Minas Gerais reage com raiva à expansão do paulistério petista. Alegam os mineiros que há muitos paulistas no Ministério e, por enquanto, apenas um mineiro, o amigo de Dilma, Fernando Pimentel. A bancada mineira do PT na Câmara está furiosa. O Madoff brasileiro A justiça mineira decretou, em agosto passado, a prisão temporária do empresário Thales Emanuelle Maioline, de 34 anos, um dos donos da empresa Firv Consultoria e Administração de Recursos Financeiros. Investigado por estelionato, falsificação de documentos e falsidade ideológica. Acusado de ter dado golpe no valor de R$ 50 milhões em cerca de 2 mil pessoas que vivem em Belo Horizonte e mais 13 cidades do interior de Minas Gerais. Domingo, ele se apresentou. A tartaruga e a lebre "Uma tartaruga e uma lebre discutiam acerca da sua ligeireza. Por fim, tendo combinado um dia e um lugar, separam-se. Ora, a lebre, negligenciando a corrida em virtude da sua velocidade natural, deitou-se à beira do caminho e adormeceu. Porém a tartaruga, cônscia da sua própria lentidão, não parou de correr e, dessa maneira, tendo ultrapassado a lebre adormecida, alcançou o prêmio da vitória. Esta fábula mostra que, frequentemente, o esforço vence a natureza negligente." (As fábulas de Esopo) Conselho aos membros do Ministério Público Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado às companhias de aviação. Hoje, volta sua atenção aos membros do Ministério Público : 1. Procurem ver o filme argentino Abutres (Carancho), com a grande interpretação de Ricardo Darín ("O segredo dos seus olhos") e Martina Gusman. Esse thriller de relevância social mostra os golpes dados por "abutres" argentinos em seguradoras. 2. Tentem verificar se existe alguma correspondência entre a situação na Argentina e no Brasil. 3. Continuem a arrombar os ralos e as redes de corrupção que se infiltram nas malhas das administrações pública e privada. ____________
quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Porandubas nº 255

Empatando com Deus Zé Baioneta, sapateiro e muito prendado lá de Remanso/BA, bebia muito. Bebia demais. Recebeu um dinheiro do cabo chefe do destacamento policial para fazer uma bota, bebeu o dinheiro, não conseguiu comprar o couro, começou a se esconder do cabo. Uma tarde, já noitinha, ia voltando para casa bem chumbado, encontra o cabo na esquina. - Zé Baioneta, e minha bota ?- Vou fazer, seu cabo. Tive uns problemas, mas vou fazer.- Faça logo, urgente. Você recebeu meu dinheiro e está me deixando desmoralizado na cidade com essa bota toda estragada, toda furada, uma vergonha.- Nada disso, seu cabo. Pois eu vou lhe dizer uma coisa. Aqui em Remanso não tem ninguém quanto o senhor. O senhor é mais importante do que o prefeito Marcelino Régis, mais importante do que o deputado Carlos Ribeiro.- E do que Deus ? Zé Baioneta pensou um pouco : - Aí empata. (Da verve do amigo Sebastião Nery). Dilma abre o leque A presidente Dilma começa a abrir o leque. E a esboçar os primeiros traços de sua identidade. A declaração de que não admite a repressão contra as mulheres, no Irã, e que não concorda com a posição brasileira de leniência em relação às retrógradas posições adotadas por aquele país causou impacto positivo no conjunto das grandes nações democráticas. E assim, a presidente começa a mostrar posições próprias que a distinguem da política de "acomodação pragmática" do governo Lula. Foi uma discordância explícita à geopolítica comandada por Celso Amorim. PAC no Planejamento Faz bem tirar o PAC do terreno da Casa Civil e transferi-lo para o Ministério do Planejamento. De um lado, Palocci terá mais tempo e condições de fazer a coordenação do governo. O PAC toma muito tempo e carece de um sistema de ajustes e monitoramento mais rígido. De outro, a ministra do Planejamento, Miriam Belchior, é considerada muito eficiente nas atividades que exigem controles mais apurados. Nesse sentido, até conserva alguma semelhança com Dilma. O PAC também é tido como uma frente de polêmicas e críticas. E Palocci é um político preocupado em limpar entulhos de sua frente. Juntando uma coisa com outra, extrai-se o argumento para a transferência do PAC de uma pasta para outra. Favas contadas A expressão, que significa coisa certa, infalível, inevitável, indicando não haver qualquer dúvida quanto a um fato referido ("são favas contadas") tem origem eleitoral, quando a votação se realizava com a utilização de favas, brancas e pretas. Era vitorioso o candidato que somasse mais favas brancas, os eleitores se servindo das favas pretas como sinal de não aprovação. (Explicação do advogado e ex-juiz do TSE, Walter Costa Porto, amigo de longa data). Lula cheio de saudades Lula não consegue disfarçar as saudades que levará do centro das atenções. Em todos os dias de seu mandato, tem sido notícia. Usou o palanque de maneira intensa. Disse o que lhe veio à cabeça sem pensar em consequências. Abusou de metáforas. Abriu largas avenidas para atrair a simpatia das massas. Foi interlocutor dos mais importantes líderes mundiais da última década. E passou perto de 500 dias viajando mundo a fora. Diz, agora, que terá tempo para tomar "umas canas". Bem, terá, sim, muito tempo. Mas terá também muitas saudades. Dentre elas, a de pegar o Aerolula e sair por aí olhando o mundo do alto. E o Aerolulão ? De tanto gostar de viajar, Lula quer, agora, adquirir um avião mais potente, que possa ser abastecido em pleno voo. Não está satisfeito com as 12 horas de autonomia do Aerolula. Este avião (lembram-se ?) foi comprado porque o Sucatão era uma vergonha para o Brasil. Fazia um barulho desgraçado e muitas capitais do mundo já não autorizavam sua descida. Comprou-se um moderníssimo avião. Foi, na época, um bafafá. Era a modernidade chegando em forma de transporte aéreo. Lula, agora, acha pouco a autonomia de 12 horas. O presidente de um país poderoso como o Brasil não pode passar vergonha de fazer escala. Quem diria, hein ? Pois bem, em momento de corte de despesas e ajustes fiscais importantes, gastar R$ 500 milhões em um avião maior e mais rápido é, convenhamos, um disparate. E Lula não quer passar esse imbróglio para Dilma. Quer comprar a aeronave já, do alto de seu prestígio. Dará tempo ? Possivelmente, não. PMDB satisfeito O PMDB até que se sentiu satisfeito com a composição que conseguiu, graças à paciência do vice-presidente eleito, Michel Temer. Conseguiu reter os Ministérios de Minas e Energia e Agricultura, ganhou Turismo, que terá grande atuação ante o cenário de organização da Copa do Mundo, a Previdência Social, que é a Pasta com maior volume de verbas (apesar das tensões aí existentes com a massa de aposentados, por exemplo). Além do fato de que R$ 40 bilhões pavimentam a previdência. E mais a Secretaria de Assuntos Estratégicos. "Ainda perante os tribunais marciais, não há condenação sem defesa." (Rui Barbosa) SAE com embocadura A Secretaria de Assuntos Estratégicos, que tem status de Ministério, foi oferecida ao ex-deputado Moreira Franco, braço direito do presidente do PMDB e vice-presidente eleito da República, Michel Temer. Esta pasta tem a função primordial de pensar e planejar o país do amanhã. Em se tratando, porém, de Brasil, sua importância é desprezada porque, entre nós, os Ministérios respeitados e considerados são aqueles que dispõem de recursos e estrutura. Mas ganhou embocadura. Moreira Franco aceitou a missão porque a Pasta foi adensada com a absorção do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social e o encargo de produzir o Plano Nacional de Saneamento. DEM sem oxigênio O DEM atravessa a maior crise de sua existência. Rodrigo Maia não consegue robustecer a sigla. E não quer passar a bola adiante. José Agripino, o senador potiguar, deverá assumir a presidência em caso de antecipação do mandato de Maia, que comandaria o partido ainda em 2011. A falta de oxigênio será muito sentida quando o prefeito Gilberto Kassab, de São Paulo, desembarcar da sigla e tomar o rumo do PMDB. Kassab tem sido o maior suporte do DEM. Em seus planos, a rota de saída está traçada para fevereiro do próximo ano. Aviação profissional Dilma quer profissionalizar a Infraero. Aliás, quer profissionalizar todo o setor da aviação. Para tanto, pretende criar uma Secretaria Especial de Aviação Civil, ligada à presidência da República, que abrigaria a Infraero e a ANAC. Um executivo do mercado privado comandaria a Infraero. Ocorre que os pretendentes da área política fazem muita pressão para ficar com este pedaço. A questão está posta. "Viver é ser do seu tempo, estar no seu momento histórico, ajudar na criação social do seu século, sentir a comunhão das ideias novas." (Eça de Queirós) Novais no Turismo O deputado Pedro Novais (PMDB/MA) foi indicado e convidado para comandar o Ministério do Turismo. Um nome aceito pela bancada do partido na Câmara. Tucanos refazem os bicos A tucanada se prepara para refazer os bicos. A ideia original partiu do tucano de bico grande, Fernando Henrique. Ele sugere a "refundação do PSDB". Tem lógica. O partido da social democracia perdeu o eixo. Não abriu caminhos para chegar às massas. Não tem um programa social democrata para o país. Virou um partido de caciques. Índios praticamente inexistem em suas tribos estaduais. Aécio e Alckmin, os dois governadores dos dois maiores colégios eleitorais do país, serão os líderes da "refazenda" partidária. E se defrontam com a questão : o que fazer com Serra ? Este deseja presidir a sigla. Voluntarioso, autosuficiente, Serra não é bem visto pelos dois governadores como comandante da estratégia de refundação. Grandes nomes estão à margem como Arthur Virgílio e Tasso Jereissati. Garibaldi na Previdência ? Eduardo Braga, senador do PMDB do Amazonas, não aceitou o ministério da Previdência. Comemorava os 50 anos de vida quando falei com ele. E lembrava o imbróglio no entorno da Previdência. Mas o senador Garibaldi Alves do PMDB do RN, me garante, que, convidado, aceitará o desafio. A conferir. Vaccarezza no comando Cândido Vaccarezza deverá comandar a Câmara dos Deputados no primeiro biênio da próxima legislatura, a ter início em 1º de fevereiro de 2011. Vaccarezza cumpriu com eficiência e eficácia a missão de líder do governo na Câmara dos Deputados. Trata-se de um dos melhores quadros do PT. Conciliador, articulador, sabe ouvir, argumentar e ponderar. Considerado lã entre cristais : evita atritos. De costas para a política ? O que farão os políticos sem mandato ? Quem tem grandes negócios, como Tasso Jereissati, empregará seu tempo no comando dos empreendimentos. Mas pessoas como o jornalista Hélio Costa, que perdeu a eleição para o governo de Minas Gerais ? Saiu do Ministério das Comunicações e, sem mandato, não tem cacife suficiente para reivindicar cargo de monta. Poderá voltar para a TV. Teria recebido convite da Rede Record. Pelo visto, o grande repórter da Rede Globo, do final dos anos 70, reingressa na TV com tamanho menor do que tinha. Assange, boca no mundo Julian Assange, o criador do site WikiLeaks, foi preso na Inglaterra, por conta de mandado de busca e prisão feita na Suécia, onde teria cometido crimes de estupro e assédio sexual. Assange botou a boca no mundo com as informações que deixam em maus lençóis a diplomacia mundial. Os Estados Unidos e outros países saem mal na fita. A essa altura, as atividades de Assange já estão provocando um realinhamento nas redes diplomáticas. Nada hoje tem segurança. A pescaria de dados sigilosos se generaliza na Telépolis, a cidade sem fronteiras, onde milhões de pessoas transitam nas redes sociais. As três pessoas No confessionário, Monsenhor era rápido. Não gostava de ouvir muita lengalenga. Ia logo perguntando o suficiente e sapecava a penitência que, sempre, era rezar umas ave-marias em louvor de N. S. do Rosário. Fugindo ao seu estilo, certa feita ele resolve perguntar ao confessando quantos eram os mandamentos da lei de Deus. - São 10, Monsenhor.- E quantos são os sacramentos da Santa Madre Igreja ?- São 7, Monsenhor.- E as pessoas da Santíssima Trindade, quantas são ?- São 3, Monsenhor. Monsenhor, notando que o confessando só sabia a quantidade, pergunta rápido : - E quais são essas pessoas ? A resposta encerrou a confissão : - As três pessoas são o senhor, o Dr. Didico e o Dr. Zé Augusto. Historinha contada por José Abelha em "A Mineirice". Conselho às companhias de aviação Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado à presidente Dilma. Hoje, volta sua atenção às companhias de aviação : 1. O final de ano se aproxima. E o caos aéreo começa a povoar os horizontes dos viajantes. Procurem, portanto, administrar as demandas extraordinárias, propiciadas pela economia que expande o consumo. 2. Não vendam passagens acima da oferta de assentos. Façam uma programação extra de voos. 3. Contratem mão de obra qualificada para fazer um bom atendimento nos guichês evitando tumultos e reclamações. ____________
quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Porandubas nº 254

O frio aperto de mão O deputado baiano mandou cartão de Natal para uma mulher que morrera há muito tempo. A família, irritada, retribuiu : "Prezado amigo, embora jamais o tenha conhecido durante os meus 78 anos de vida terrena, daqui de além-túmulo, onde me encontro, agradeço o seu gentil cartão de boas festas, esperando encontrá-lo muito em breve nestes páramos celestiais para um frio aperto de mão. Purgatório, Natal de 2005." O deputado recebeu a resposta. E espera, angustiado e insone, pelo aperto de mão. A cara de Dilma Lula disse : o Ministério tem de ter a cara da presidente. Lógico. Será ela a dar o tom da orquestra. Mas, convenhamos, é operação complexa montar um Ministério sem os traços do grande fiador e patrocinador da eleita, Luiz Inácio. Por isso mesmo, a fisionomia está assim esboçada : coração do governo - núcleo duro/economia : lulismo/petismo. Nomes : Antonio Palocci (Casa Civil), Gilberto Carvalho (Secretaria Geral), Miriam Belchior (Planejamento), Guido Mantega (Fazenda) e Alexandre Tombini (BC). Luciano Coutinho (BNDES); o núcleo político do governo contará com a participação direta do vice-presidente eleito, Michel Temer. Nos braços do Estado deverão estar : Defesa (Nelson Jobim), Relações Exteriores (Antonio Patriota ou uma diplomata). Corpo do governo : repartição entre partidos aliados. A identidade governamental Todo governo precisa de uma identidade. Sob pena de espalhar fumaça na opinião pública e acabar sendo tragado pela corrosão da imagem. Pelo que se infere, Dilma pretende ter uma política de relações exteriores não muito comprometida com ditaduras ou sistemas fechados. Gostaria de ampliar as portas para os parceiros históricos da Europa e o próprio Estados Unidos. Na área econômica, gostaria de dar mais apoio aos sistemas produtivos, por meio, principalmente, da alavanca dos juros menores. Na frente política, vai se esforçar para administrar as voracidades dos parceiros partidários de forma a plasmar uma identidade mais técnica e menos conduzida pelo viés político. "Quando eu disse ao coração da laranja que dentro dela dormia um laranjal, ele me olhou estupidamente incrédulo." (Hermógenes, filósofo grego, século V antes de Cristo) PT e PMDB Os dois maiores partidos vão acabar acertando os ponteiros. O PT deverá ficar com a presidência da Câmara dos Deputados logo no primeiro biênio. Trata-se da maior bancada. No passado, o PMDB, mesmo tendo a maior bancada, cedeu a vez ao PT. Mas, naquela época, o PMDB não alcançara a posição que ocupa na vice-presidência da República. Mas, para que o pacote seja fechado, o PMDB exige a assinatura de um documento onde o PT se comprometa a apoiá-lo no 2º biênio. O provável futuro presidente da Casa, Cândido Vaccarezza, pondera com seu bom senso : primeiro, precisamos ter um nome consensual; depois, devemos fechar posições com nossos parceiros e, cumprido esse ritual, assinaremos o documento com o PMDB. Vaccarezza é quem hoje agrega mais apoios no PT. E os Ministérios, hein ? É compreensível que os partidos aliados entrem em disputa - intensa - pelos Ministérios. A lógica que se impõe neste jogo de pressão e contrapressão leva em conta os saldos eleitorais alcançados pelas siglas em outubro passado. PT e PMDB disputam as melhores fatias. O PMDB costuma dizer que deseja apenas conservar os espaços já ocupados no ciclo Lula. Mas emerge a interpretação do PT. Seguinte : nem todos os espaços ocupados pelo PMDB podem ser rigorosamente creditados na conta do partido, porque alguns ministros foram escolhidos diretamente por Lula. Sem consulta prévia ao partido. Depois, o PMDB teria avalizado. Entre esses, contam-se Temporão, na Saúde; Jobim, na Defesa e até Hélio Costa, que ficou um bom período no Ministério das Comunicações. Em resumo, o PT acha que a cota do PMDB não é 6, mas 3. É evidente que os peemedebistas veem a questão com outros olhos. Conchavo Premido pelos casuísmos, Tancredo Neves foi obrigado a fundir o seu PP com o MDB de Itamar. Alguns pepistas pularam do barco e protestaram alegando conchavo. Tancredo foi curto e seco : "Conchavo é a identificação de ideias divergentes formando ideias convergentes." Tinha razão. Há curvas que desembocam em retas. Placa Placa em uma barbearia de beira de estrada na BR 116 : "Curtume de cabelo e façume de bauba". Refundação tucana O PSDB vive uma crise. Por mais que seus caciques queiram escondê-la. Muitos falam em refundação do partido. Outros sinalizam para uma aproximação do partido com a sociedade. A verdade é : os tucanos sempre posaram no alto das copas das árvores; não podem ser considerados um partido de massas, mas um partido de grupos; não interpretam as demandas mais sensíveis das massas urbanas e rurais; trata-se de uma tribo dividida entre muitos caciques. E há pouco índio para tanto mando. São Paulo, até hoje, dá o tom do tucanato. Aécio entre a dívida e a dúvida Aécio Neves tem uma dívida de reconhecimento a algumas pessoas, que considera amigas e prioritárias no PSDB. A primeira figura é a de Fernando Henrique. Preza ainda Tasso Jereissati. Mas conserva alguma aversão - não manifesta claramente - ao tucanato paulista, que considera fechado e pouco sensível à correnteza nacional. O recém eleito senador por Minas Gerais, não tivesse um apreciável acervo de amizade, estaria, hoje, confortável para criar uma nova sigla ou mesmo ser o artífice de uma grande fusão interpartidária. Comungam de sua mesa Eduardo Campos, Ciro e Cid Gomes, do PSB. Custo das eleições As eleições custaram R$ 3 bilhões. Que divididos por 16.683 candidatos, dá um gasto médio de R$ 20,41 por eleitor. Há 10 anos esse número estava em torno de R$ 12,00. No 1º turno, o voto mais barato foi da Bahia : R$ 13,53; o mais alto foi o de Tocantins : R$ 54,09. Battisti Lula deverá decidir sobre Cesare Battisti. Não gostaria de deixar o pepino para Dilma. Infere-se que deverá conceder asilo político na contramão da decisão do STF, que decidiu pela extradição do italiano. Como o presidente da República pode não acatar decisão da Corte, tudo indica que ele ficará por estas plagas. O rombo da Previdência Um dado que deve ser guardado na cachola. O rombo da Previdência é de R$ 42,678 bilhões. A maior parte do rombo provem da Previdência rural, coisa de R$ 37,780 bilhões. Pasta para as microempresas A nova presidente vai abrir uma pasta para administrar as questões relativas às micro e pequenas empresas. Pela primeira vez no país, esse setor será contemplado com um órgão em nível ministerial. Aplausos ! E que não fique apenas no terreno das intenções. Dois nomes estão no jogo das indicações : Alessandro Teixeira, um dos coordenadores do programa de Dilma e o senador Antônio Carlos Valadares (PSB/SE). Se for o senador, abre-se uma vaga para José Eduardo Dutra voltar ao Senado. "Os velhos amigos são os melhores. O rei Jonas costumava pedir os seus velhos sapatos, porque eram mais folgados para os seus pés." (John Selden, jurista inglês) Guerra no Rio A primeira batalha contra a bandidagem - não a guerra - foi ganha pelas Forças Policiais no Rio de Janeiro. Fator do sucesso : a integração de todas as Forças - PM, Bope, Polícia Civil, Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal, Exército, Marinha, Aeronáutica, etc. Com apoio da sociedade civil organizada. Comando Vermelho teria sido a facção mais combalida na Operação. Resta escalar outros morros, outros territórios da bandidagem. Prejuízo material - por enquanto - do tráfico : R$ 50 milhões. Cabralina Sérgio Cabral se acha o dono do pedaço. Emplaca o médico Sérgio Côrtes no Ministério da Saúde e não tem nenhum pudor em descartar qualquer indicação vinda do presidente do PMDB. Essa é a interpretação que se pode dar à frase que teria pronunciado a respeito da possibilidade de Moreira Franco, muito ligado a Michel Temer, ser cogitado para o Ministério de Dilma : "eu nem penso nessa possibilidade. Isso não é possível". Só faltava, agora, o menor mandar mais que o maior. Sérgio Cabral é também conhecido por passar boa parte do ano em périplos no exterior. "Político mineiro é como cola adesiva. Adere, depois começa a melar e finalmente descola; aí, desprega." (Ouvida na esquina do Café Pérola, em BH, pinçada por Zé Abelha) Brasil em números Eis o tamanho do Brasil : 190.732.694 habitantes; 97.342.162 mulheres (51,03%); 93.390.532 homens (48,96%); população urbana, 84,35%; população rural, 15,65%. Infraero mais solta Dilma despolitizará a Infraero. Deverá abrir a concessão de 7 aeroportos ao setor privado. E mais : vai tomar medidas para apressar as licitações. Natureza animal Instintos bestiais rondam o gênero humano. Um cara da elite da Polícia, um PM do Gate, Rodrigo Medina, foi indiciado pelo sequestro e assassinato da jornalista Luciana Montanhana. O cara pertencia a um grupo que tinha, entre os encargos, desvendar os crimes de sequestro. Pois ele caiu na rede criminal que combatia. Barbárie ! "Entendida como deve ser a profissão de jornalismo confina com o exercício do sacerdote." (Getúlio Vargas) Amnésia eleitoral Boa parte do eleitorado não sabe em quem votou para deputados - estadual, Federal - e até governadores. Significação : descrença na política, profusão de candidaturas, geleia partidária, pasteurização programática. "Como se há de contar a uma mulher que se sonha com ela, senão em verso ?" (Eça de Queirós) Serra à procura José Serra procura um emprego. Na Secretaria de Alckmin ? Um risco. Na presidência do PSDB ? Ameaça ao projeto Aécio. No Instituto Teotônio Vilela ? Poderia, mas é pouco. Consultoria por conta própria ? Mercado ressabiado. Palestras, exposições ? Talvez. Convites não muito generosos. Brigas de galo Jânio Quadros assumiu a Presidência da República, proibiu brigas de galo. A ordem era irrecorrível : "Se cantar, terreiro. Se brigar, panela." José Resende de Andrade, delegado em Belo Horizonte, era janista, zeloso e fiel executor da lei. Mandou prender todos os galos de briga da região metropolitana. José Resende levou a galada para os fundos da delegacia, na praça da Liberdade. De madrugada, começou a alvorada cantante. Magalhães Pinto, governador do Estado, dormindo próximo, no Palácio da Liberdade, foi despertado pela orquestra de José Resende, mandou dar um jeito imediato na zoeira. José Resende recebeu a ordem, não discutiu. Matou todos. Um galicídio. Até hoje os amigos o chamam de Zé Cocó, o mata-galo. E ele, muito mineiramente, sorri modesto : "O dever não distingue o canto do infrator." (Historinha narrada pela verve de Sebastião Nery) Conselho à presidente Dilma Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado à ANAC. Hoje, volta sua atenção à presidente Dilma : Por maior que seja a necessidade de agradecer ao patrocinador, Lula, vale lembrar que, doravante, o sucesso ou a derrota será atribuída ao seu desempenho. Por isso, a formação do Ministério deve levar em consideração não o passado, mas o futuro. Sob esse argumento, vale lembrar : 1. O Ministério como um todo precisa encarnar o espírito de um novo governo. A sombra de Lula poderá ensejar um continuísmo sem novidades. 2. Para atingir essa meta, algumas pastas devem atender aos novos desafios e metas da administração. 3. A identidade técnica deve ser tão importante como a identidade política, buscando-se preservar os fatores da eficiência, da eficácia e da integração de linguagens entre setores e espaços. ____________
quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Porandubas nº 253

Lei da Gravidade A Lei da Gravidade, de vez em quando, dá dor de cabeça aos mineiros. E a lei da gravidez, essa, nem se fala. Na Câmara Municipal de Caeté, terra da família Pinheiro, de onde saíram dois governadores, discutia-se o abastecimento de água para a cidade. O engenheiro enviado pelo governador Israel Pinheiro deu as explicações técnicas aos vereadores, buscando justificar a dificuldade da captação : a água lá em baixo e a cidade, lá em cima. Seria necessário um bombeamento que custaria milhões e, sinceramente, achava o problema de difícil solução a curto prazo, conforme desejavam : - Mas, doutor - pergunta o líder do prefeito - qual é o problema mesmo ?- O problema mesmo - responde o engenheiro - está ligado à Lei da Gravidade.- Isso não é problema - diz o líder - nós vamos ao doutor Israel e ele, com uma penada só, revoga essa danada de lei que, no mínimo, deve ter sido votada pela oposição, visando perseguir o PSD. O líder da oposição, em aparte, contesta o líder do prefeito e informa à edilidade, em tom de deboche, que "o governador Israel nada pode fazer, visto ser a Lei da Gravidade de âmbito Federal". E está encerrada a sessão. (A historinha é de José Flávio Abelha, em seu livro A Mineirice). CUT ou Força Sindical ? Uma grande peleja se aguarda. Será entre a CUT e a Força Sindical. A luta será pelos domínios do MTE. Esta seara tem sido administrada pelos pedetistas, comandados por Carlos Lupi e por Paulinho Pereira da Silva, presidente da Força. Paulinho acaba de ser reeleito deputado, lidera o partido e, evidentemente, quer continuar o mando naquele Ministério. Carlos Lupi, portanto, dependerá não apenas da força que tem no PDT, mas do apoio de Paulinho. Ocorre que a CUT quer emplacar no MTE o nome de Arthur Henrique, presidente da CUT. O ciclo Dilma será bastante movimentado no capítulo das relações trabalhistas. As Centrais Sindicais querem balizar os acontecimentos nessa área. Projeto delgado O deputado Paulo Delgado, uma das cabeças pensantes do PT, conseguiu chegar a um projeto sobre a terceirização de serviços, considerado o melhor entre os que tramitam na Câmara dos Deputados. Delgado discutirá este projeto, amanhã à tarde, com um grupo de sindicalistas e empresários. Serão analisados aspectos positivos e negativos. O deputado mineiro deverá fazer o aconselhamento e as indicações para que seu projeto entre na pauta de urgência da Câmara. Infelizmente, Paulo Delgado não conseguiu se reeleger. Mas será certamente um ativo participante dos eventos em torno da terceirização de serviços. Meirelles O presidente do BC, Henrique Meirelles, anda dizendo que só aceitará permanecer à frente da instituição, caso mantenha sua relativa independência. Conversa morna para acalentar bovinos. Meirelles até que gostaria de continuar. Mas, depois de 8 anos, entra na faixa da mesmice. Ganhou independência, não reduziu os juros como o setor produtivo sempre defendeu, foi firme em sua determinação de seguir à risca a rigidez da política cambial e de juros. Diz-se que Dilma não preza a inflexibilidade de Meirelles. Mas o Diretor de Normas do BC, Alexandre Tombini, com o maior cacife foi o convidado. E na infraestrutura ? É possível ? Mas Henrique Meirelles conseguiu produzir um figurino de respeito. Que não pode ser jogado simplesmente fora. Dilma, a presidente, poderá aproveitá-lo em uma Pasta da Infraestrutura. Nos últimos tempos, ele tem se aproximado do PMDB, procurando o presidente Michel Temer para sondagens. Mas o partido sempre o considerou uma carta do baralho de Lula. De qualquer maneira, se vier a ser escolhido, o PMDB deverá dar o endosso. Mangabeira Já o ex-ministro Mangabeira Unger não arreda pé dos espaços ocupados pelo presidente da Câmara e do PMDB, Michel Temer. O professor é um homem muito preparado. Culto e inteligente. Mas seu sonho de vir a ocupar o Ministério das Relações Exteriores é irrealizável. Não apenas porque este Ministério faz parte da cota pessoal da presidência, mas porque Mangabeira carrega muita polêmica em seu perfil. Coisa que não combina com as Relações Exteriores. Pode ganhar algum cargo de assessoramento. Algo que não esteja muito à vista. Belchior Cumprindo a meta de adensar o Ministério com a participação de mulheres, a presidente Dilma convidou Miriam Belchior para o Planejamento. Hoje, ela coordena o PAC. Rossi Wagner Rossi é um dos quadros qualificados do PMDB. Exerceu com discrição e competência as altas funções de ministro da Agricultura, após o afastamento de Reinhold Stephanes, reeleito deputado pelo PMDB do Paraná. Rossi é o nome que o PMDB defende para continuar à frente do Ministério da Agricultura. A conferir ! Kassab e o futuro Hábil articulador, Gilberto Kassab quer fazer um bloco reunindo PDT, PC do B e PSB, ao lado do PMDB, onde deverá ingressar nos próximos meses. A ideia é formar uma frente para abrir horizontes políticos, a partir de 2011. Para tanto, o prefeito de São Paulo inicia conversações para todos os lados. A ala quercista Agora, um pequeno grupo ligado a Quércia quer avaliar a entrada de Kassab no PMDB. Como se sabe, este partido foi praticamente destroçado em São Paulo no ciclo quercista. Elegeu, no último pleito, apenas um deputado Federal. O comandante Orestes Quércia está convalescendo. E ainda mantém o domínio do partido. Kassab representa sangue novo. Traria, de pronto, cerca de 10 deputados Federais para engrossar a sigla. Mas o prefeito Marcelo Barbieri, de Araraquara, ligado a Quércia, parece querer conservar a sigla magra, mas com um dono só. Cada qual com sua pequenez. Comando do Senado José Sarney está quase inclinado a aceitar a convocação para voltar ao comando do Senado em 2011. Falta o 'SIM' de dona Marly. Pacote regulamentador Espera-se até final de dezembro o pacote de regulamentação das telecomunicações. Que viria com as definições sobre a produção de conteúdos pelas teles. O temor é que o pacote chegue a abrigar controles de conteúdos nas mídias tradicionais. Acordão PT/PMDB Este consultor conhece os principais interlocutores do PT e do PMDB em matéria de presidência da Câmara. São três pessoas : os líderes Henrique Alves - PMDB, Cândido Vaccarezza - PT e o presidente da Câmara e vice-presidente eleito da República, Michel Temer. Pois bem, Henrique e Vaccarezza começaram a conversar. Vão analisar pontos positivos e negativos de cada ciclo e de cada candidatura (a deles mesmo) e acertar um rumo. A seguir, farão chegar ao presidente Temer a decisão. E se a coisa der empate - ou uma situação de inflexibilidade das partes - Temer entrará no circuito, agora como juiz. Valle de Los Caídos Quem vai à Espanha, é levado a conhecer o Valle de Los Caídos, o memorial franquista monumental e complexo, erguido entre 1940 e 1958, a cerca de 40 km de Madrid, em memória dos mortos na Guerra Civil Espanhola, de 1936 a 1939. Sua construção demorou 18 anos para ser concluída, formando um complexo composto de basílica, abadia e hospedaria. O Valle de los Caídos foi erigido para ser o panteão dos soldados franquistas "caídos" (ou seja, mortos em combate) durante a Guerra Civil Espanhola. Vale brasileiro No Brasil, o Valle de Los Caídos é a expressão usada para designar o cemitério dos derrotados na última campanha. Pois bem, os "mortos" acorrem vivamente na direção dos vitoriosos. Para clamar por uma fatia, um pedaço, uma nesga de poder. Querem um cargo público, se possível em uma estatal de proa. Os lobbies estão apertando os donos dos maiores latifúndios. O cemitério dos caídos é abrigo de representantes de todos os partidos. Os governadores eleitos estão sendo igualmente assediados. Cardozo José Eduardo Cardozo, preparado, sensível, pessoa educada, está a um passo da cadeira de ministro da Justiça. Abílio ? Não quer Se Abílio Diniz quisesse, há muito seria ministro. Agora, seu nome volta à tona, desta feita para substituir o jornalista Miguel Jorge no Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio. Diniz não quer. Tem muita coisa a fazer no seu império. Dá orientação estratégica, dirige reuniões, participa de eventos e faz, religiosamente, seus exercícios físicos. Deixar tudo isso para ser um burocrata não estaria na sua índole. Se topar, é porque a missão cívica venceu a parada. Gabrielli Sergio Gabrielli ficará mais um tempinho comandando a Petrobras. Depois, voltará à Bahia para integrar o governo de Jaques Wagner. Que lhe dará uma pasta de muita visibilidade e dinheiro. Gabrielli estará se preparando para ser o candidato de Wagner ao governo em 2014. Dilma no parlatório Dilma fará seu discurso de posse do Parlatório, em frente à Praça dos Três Poderes. E Lula, esta é a novidade, deverá falar. Geralmente, presidentes que se despedem, não falam. Mas Lula é... Lula. McCartney pleonástico Paul McCartney é um pleonasmo. Seu show, nesta segunda-feira, com o Morumbi todo ocupado, foi antológico, apoteótico, maravilhoso, fantástico. O maior e melhor que já vi em minha vida. Quase 3 horas de show ininterrupto, 40 músicas, belíssimas, e o cara nem um copo d'água tomou. Um monumento ao preparo físico. Um exemplo de músico completo. Lula dá o tom Guido Mantega no Ministério da Fazenda ? Indicação de Lula para permanecer. Gabrielli continuando na Petrobras ? Dizem que é sugestão de Lula. Aproveitar bem o Palocci ? Mais uma vez, a voz de Lula. E no BNDES ? Se Luciano Coutinho continuar, a sombra de Lula será também vista. Alckmin e o serrismo Tenho ouvido nos bastidores : Geraldo Alckmin vai formar um secretariado que seja espelho de seu DNA político. Quer dizer, não dará muito prestígio aos serristas. Alckmin sempre foi olhado de soslaio pelo grupo serrista. As alas só se dão bem nas aparências. O governador, por sua vez, sente-se agradecido a Serra por tê-lo trazido de volta ao batente da visibilidade. Pode retribuir, de leve, mas sem grandes afagos. Conselho à ANAC Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos comandos estaduais. Hoje, volta sua atenção à ANAC : O fim de ano se aproxima. As nuvens pesadas ameaçam paralisar não apenas as pistas dos aeroportos, mas os próprios saguões. Que estarão superlotados. Chega a informação de que a Agência Nacional de Aviação Civil proibirá as companhias aéreas de praticar o overbooking - venda de mais passagens que os assentos disponíveis nos aviões. Pois bem, para que esta informação não caia no vazio, urge : 1. Baixar imediatamente Portaria nesse sentido e fazer ampla divulgação na mídia. 2. Disponibilizar nos aeroportos guichês para acompanhamento, monitoramento e controle da situação aérea neste final de ano. 3. Implantar sistemas capazes de administrar tempestivamente quaisquer eventos que impliquem caos aéreo com a punição imediata dos responsáveis. ____________
quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Porandubas nº 252

NewtãoEncontrei-me, sábado último, com o ex-governador mineiro e deputado Newton Cardoso em uma roda de conversa na Casa do Presidente da Câmara. Ouvi histórias muito engraçadas e causos da política mineira. Newtão mostrou que é bom de prosa. Pois bem, que ele me perdoe, mas abro a coluna de hoje, tomando emprestadas do amigo Sebastião Nery alguns episódios que têm como alvo o próprio grande empresário e político. Newton Cardoso foi prefeito de Contagem, deputado Federal, governador, vice-governador de Minas Gerais e, agora, é novamente deputado. Os adversários lhe atribuem velhas gafes que a UDN atribuía a Benedito Valadares : 1. Dona Dezinha : "Se eu soubesse que meu filho Newton ia ser importante e virar governador de Minas, eu tinha botado ele para estudar de pequeno." 2. Preocupado com as notícias de que o leite estava contaminado, Newton pegou um pastel e começou a mexer dentro da xícara. "Por que você está fazendo isso ?" "Para pasteurizar o leite." 3. Newton no palanque : "Minas sempre se preocupou mais com a criação de bovinos e equinos. Agora, eu vou cuidar também da criação de porquinos." 4. Newton, numa entrevista : "Precisamos acabar com a fila do IMPS." O assessor lhe fala : "Não é IMPS, é INPS." "Nada disso. Desde lá de Brumado que eu aprendi que antes de P e B se usa M." 5. Comício em Betim : "O problema de Minas é falta de fé. Vamos juntar minha fé, sua fé, nossas fezes, para salvar Minas." Fusão ou confusão ? Neste momento, alguns partidos acendem o pavio das fusões. Primeiro, o DEM, que poderia entrar em fusão com o PMDB. Essa era a intenção inicial do prefeito Gilberto Kassab. Imaginava ele que o DEM, a partir da derrota de José Serra, teria de se fortalecer caso se fundisse com outra legenda. Como o PSDB tem muitos caciques, Kassab imaginou o PMDB como a sigla ideal. Lá, ele tem muitos amigos, a partir do presidente Michel Temer, recém eleito vice-presidente da República. Poderia ser um bom casamento. Mas a coisa desandou e causou confusão. DEM, ícone conservador A cúpula do partido está cindida. Os Bornhausen, pai e filho, até poderiam topar a parada. Marco Maciel, que acaba de perder a eleição para o Senado, em Pernambuco, também toparia. ACM Neto aceitaria caso viesse a liderar a sigla na Bahia, mas Geddel, um peemedebista histórico, jamais aceitaria essa condição. Mas quem brecou a parada foram os Maia, César Maia, que perdeu a eleição para o governo do Rio de Janeiro, e o filho, Rodrigo, presidente da sigla e reeleito para a Câmara dos Deputados. Rodrigo surpreendeu com esta : o DEM vai assumir a liderança do conservadorismo nacional. Será, assim, de cara aberta a entidade que assumirá o espaço da direita. Entre centro e direita Entre o centro e a direita, o prefeito Gilberto Kassab não tem dúvidas. Prefere o espaço centro-democrático do PMDB. Não se sente confortável em um partido que quer assumir posições retrógradas e conservadoras. Acontece que essa operação não será coisa fácil. Algumas figuras do PMDB de São Paulo, receosas de perderem posição na sigla, temem que Kassab, mais cedo ou mais tarde, lidere o partido. O prefeito só entrará no PMDB com o endosso do presidente Temer, com quem conversa sempre. São Paulo, por outro lado, é o principal colégio eleitoral do país. Nesse Estado, o partido definhou nos últimos anos. Precisa de oxigênio, um novo pólo de poder, pessoas com capacidade de aglutinação. Gilberto Kassab é o perfil adequado que chega no momento certo. Lá para fevereiro ou março, essa operação deverá se concretizar. Comandos das casas A interrogação continua : quem comandará a Câmara e o Senado ? Se José Sarney quiser continuar à frente da Câmara Alta, tem todas as condições. O maior empecilho se chama dona Marly, sua mulher, que quer ver o marido livre de maiores pressões. Sarney seria imbatível. Se não topar, para cuidar melhor da saúde, poderá canalizar sua votação para Edison Lobão. Mas este gostaria de voltar ao Ministério das Minas e Energia. Dizem que a propensão da presidente Dilma é a de mudar todos os comandos, deixando apenas um ou outro, como Mantega, na Fazenda. Alternativas Se Edison Lobão voltar ao Ministério, o nome de Garibaldi Alves emerge. O senador, com quem me encontrei ontem à noite, repete o mantra : "tenho um compromisso com Henrique". Henrique Alves, seu primo, quer comandar a Câmara no primeiro biênio. Ocorre que o PT também luta pela direção. Os nomes de Cândido Vaccarezza, Arlindo Chinaglia, João Paulo Cunha e o atual vice da Câmara, Marco Maia, estão na mesa. Vaccarezza teria maior cacife por conta do trabalho realizado como líder do Governo naquela Casa. Ele quer comandar a Câmara, a partir de 2011, sabedor que, em 2013, quando se inicia o segundo biênio, os rumos seriam outros. No PT, a disputa entre elas é mais árdua que no PMDB. Henrique até poderia esperar, Vacarezza, não. O processo de canibalização entre petistas é comparável aos tempos do canibalismo indígena. Nesse caso... Se Vaccarezza ganhar a parada, Henrique Alves deverá se preparar para o segundo biênio, que, sob o ponto de vista de peso e importância, é melhor, eis que mais próximo ao calendário eleitoral de 2014. Nesse caso, Garibaldi Alves, o filho, teria chances. Mas os votos dependem, ainda, dos rumos a serem tomados por Sarney e Renan Calheiros. Este senador, que já presidiu a Casa, tem vontade de voltar à cadeira presidencial. Esbarra, porém, no imbróglio que o fez renunciar à presidência. Calheiros, vale a pena lembrar, continua a ter grande força junto ao corpo de senadores do PMDB. Ao lado dele, circula com desenvoltura o recém reeleito e poderoso senador Romero Jucá. A vez de Henrique O PMDB é matreiro. Pode formar um blocão com PR, PP, PTB e PSC, que reunirá sob o mesmo abrigo 202 deputados. A se confirmar esse conjunto, vejo Henrique Alves solidamente sentado na cadeira de presidente da Câmara. O PT teria ido com muita sede ao pote. Anunciou a formação de bloco, animando, então, o PMDB a entrar na arena. Adeus, Bono Sexta passada, no final da tarde, deixou-nos desolados o amigo Julio Bono. Morto em circunstâncias trágicas e surpreendentes, em Porto de Galinhas/PE. Ali se encontrava para descansar da intensa labuta da campanha eleitoral. Braço direito de Michel Temer, Bono, o amigo faz-tudo, morreu afogado. Levado por uma forte corrente, logo no início da praia, caiu num buraco. Deve ter desfalecido por conta de forte batida em uma pedra ou ter sido vítima de mal súbito. Só pode ser isso. Bono era coronel, bombeiro da PM e tinha, até, curso de mergulho. Seus inúmeros amigos, do PMDB e de outros partidos, acorreram à Brasília para prestar sua última homenagem a quem espalhou o bem para todos os lados. PMDB unido Este consultor teve oportunidade de ouvir e conversar com deputados peemedebistas de todo o país, que foram à Brasília prestar uma última homenagem a Julio Bono. O PMDB nunca esteve tão unido como hoje. A unidade construída por Michel Temer é maior do que a conseguida, um dia, por Ulysses Guimarães. Essa era a tônica de todas as conversas. E mais : Michel foi claro na indicação de que fará votar, na próxima Convenção do partido, o fechamento de posições assumidas nacionalmente pela sigla. Decisão tomada pelo PMDB deverá ser obedecida. E disse mais : quem não se dispuser a cumprir a verticalidade decisória, deve tomar outros caminhos. Autoridade Olímpica O boa praça Orlando Silva poderá ganhar a nomeação de "Autoridade Olímpica" e, nessa condição, coordenar os programas e atividades relacionadas à Copa de 2014 e às Olimpíadas de 2016. O ideal seria acumular as funções com o cargo de ministro dos Esportes. Mas há um grupo forte que deseja repartir os comandos. Painel na OAB Hoje, em Brasília, participarei como expositor de painel sobre Sistema de Governo, promovido pelo Conselho Federal da OAB. O primeiro painel será presidido pelo ministro Enrique Ricardo Lewandowski, tendo como expositores, ao meu lado, o jurista e ex-presidente do STF, Carlos Mário da Silva Velloso e o senador Demóstenes Torres. Discorreremos sobre Reeleição e Prazo de Mandato do Presidente da República. Noutra mesa, estarão o presidente da Câmara, Michel Temer, o jurista Luis Roberto Barroso e a cientista política Argelina Figueiredo, que debaterão o tema SemiPresidencialismo como Mecanismo de Atenuação da Hegemonia Presidencial no Brasil. Sistemas eleitoral e partidário O segundo painel será sobre o Sistema Eleitoral, presidido pelo ministro Carlos Ayres Britto, e com exposição sobre Sistema Distrital Misto por Luiz Viana Queiroz, Jairo Nicolau e Pedro Simon; e exposição sobre Sistema de Lista Fechada, Restrições às Coligações por Pedro Abramovay, Marcus André Melo e Miro Teixeira. O terceiro painel será sobre Sistema Partidário, envolvendo as temáticas Cláusula de Barreira, Fidelidade Partidária, com exposições de Claudio Pereira de Souza Neto, André Marenco e Aldo Rebelo; e Financiamento Público de Campanha, com exposições de José Paulo Sepúlveda Pertence, Lucio Rennó e José Eduardo Cardozo. Estilo Dilma Ninguém espere por leniência ou tibieza por parte da nova presidente. Dilma usará a autoridade no limite da liturgia do cargo. Diz-se que não quer formar um Ministério com pessoas derrotadas no pleito. Poder Executivo não é um "vale dos caídos". Portanto, ministros derrotados devem rever planos de volta ao governo. Será uma controladora rigorosa de programas e ações. Sim, sim, não, não. Rescaldos na Justiça Os rescaldos das lutas eleitorais tendem a chegar à Justiça. Partidos começam a arrumar dossiês para encaminhamento ao TSE. Vão apontar processos de cooptação ilegal de votos. Entre os casos mais escabrosos, aponta-se a eleição de Roraima, onde o tucano José Anchieta está sendo torpedeado por seus adversários. Temer e a Defesa Michel Temer poderá acumular a vice presidência da República com a Pasta da Defesa. O atual vice José Alencar também fez essa acumulação no passado. Mulheres no Governo Não é de admirar se Dilma Rousseff adensar a participação de mulheres no governo, seja em Ministérios seja em cargos importantes do segundo escalão. Ela quer dar um significado todo especial à condição feminina. A jovem deputada Manuela D'Ávila, do PC do B do Rio Grande do Sul, tem chances de fazer parte da foto oficial do primeiro Ministério. Cardozo Comenta-se que o deputado José Eduardo Cardozo, secretário geral do PT e um dos comandantes da campanha, seria nomeado para o STF. Este consultor sempre trabalhou com a ideia de que ele seria o figurino exemplar para o Ministério da Justiça. O cargo lhe cai muito bem, professor de Direito Constitucional que é. Zum-zum-zum Há um zum-zum-zum em meios empresariais de que, diante de um tsunami internacional, a partir de ondas em formação nas praias norte-americanas e chinesas (desvalorização das moedas), as condições brasileiras serão bem diferentes das exibidas no ciclo Lula. Temores que aparecem como nuvens cinzentas. Touraine e o risco O sociólogo Alain Touraine, muito amigo do ex-presidente FHC, identifica riscos de radicalização por parte do governo Dilma. Teme ele por uma guinada populista, com ameaças à liberdade de imprensa e de organização. Por mais que este consultor respeite o grande pensador, ousa discordar. Não há clima no país para um retrocesso. As condições macroeconômicas - e a interdependência entre as fronteiras do mundo globalizado -, as condições políticas (o presidencialismo de coalizão) e as condições sociais (os novos pólos do poder social, por meio das entidades intermediárias) inviabilizam uma volta ao passado. E nem o PT toparia chancelar suas alas mais radicais. Conselho aos comandos estaduais Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos governantes. Hoje, volta novamente sua atenção aos governantes, particularmente aos comandantes das máquinas estaduais : 1. Escolham os melhores quadros do Estado - em todas as áreas - para integrar a estrutura governamental. 2. Evitem lotear a máquina com atores sem preparo e brilho. As administrações estaduais carecem de inovação, qualidade e constante esforço de aperfeiçoamento. 3. É claro que os partidos que chegaram ao poder carecem de prestigio e força nas novas administrações. Mas não podem e não devem comprometer áreas e espaços nobres da gestão, sob pena de formar inviáveis as metas governamentais. ____________
quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Porandubas nº 251

"A Mineirice" Começo, hoje, com mais uma historinha de José Maria de Alkmin, ministro da Fazenda, pinçada do livro "A Mineirice", que o amigo, historiador, pesquisador e contador de "causos", José Flávio Abelha, me manda. As frases, entremeadas na Coluna, também são do livro. Quer ir à lua ? Diga a data Um correligionário de Bocaiúva fica meio lelé-da-cuca e surge, sem eira nem beira, no gabinete do ministro, ainda no Rio de Janeiro, onde lhe pede uma inusitada colaboração. - Dr. Zé Maria, eu quero ir à lua e preciso da ajuda do senhor, diz o visitante. - Isto não é problema, diz Alkmin, dando asas à imaginação do conterrâneo. Dou-lhe o apoio, de ministro e correligionário. Existe um pequeno e contornável problema, que é de definição, e só depende do amigo.E Alkmin continua: - Você sabe que há quatro luas: nova, crescente, minguante e cheia. Agora, compete a você escolher qual das luas o nobre amigo deseja visitar, pois o apoio está dado. Diante de um atônito conterrâneo, o ministro levanta-se da poltrona, estende a mão para a despedida e afirma, olhando no fundo dos olhos do eleitor: - Me procure, novamente, quando definir ! 1º Biênio na Câmara O primeiro imbróglio a ser administrado pelo vice-presidente eleito, Michel Temer, será a presidência da Câmara no primeiro biênio. Henrique Alves, líder do PMDB, disputa o cargo com Cândido Vaccarezza, líder do Governo naquela Casa. A tradição é a seguinte : quem dispõe da maior bancada pode reivindicar o comando da Câmara. O PMDB, por muito tempo, tinha essa condição. No pleito deste ano, o PT passou o PMDB : 89 a 79. Mas o PMDB, anos atrás, mesmo na ponta do ranking, cedeu a vaga ao PT. A condição era a de assumir a presidência no biênio seguinte. Houve um acordo de cavalheiros. Cumprido religiosamente. Pode o acordo ser repetido em 2011 ? Vamos ver O primeiro biênio é o que impõe maiores desafios. As articulações são mais intensas, as disputas mais ferrenhas. Henrique Alves aspira, há tempos, presidir a Câmara. Trata-se do deputado com o maior número de mandatos : começará o 11º mandato em 2011. Pode ceder essa ambição a Vaccarezza ? Sim. Vai depender das negociações entre os dois partidos, abarcando o número e a qualidade dos ministérios e outros postos na administração federal. O PT exibe um bom argumento : o Senado já será comandado pelo PMDB, pois ali a tradição assegura o comando ao partido com maior bancada. Henrique poderia ser motivado por um detalhe : se topar ser presidente no 2º biênio, ganharia a condição para reeleição no 1º biênio da legislatura a começar em 2013. É vantagem ? Mas e o governo do RN ? Este consultor coloca o argumento ao crivo de Vaccarezza com o arremate : o 2º biênio é bem mais interessante que o primeiro. O líder do governo concorda, mas acha que Henrique prefere o primeiro para preparar caminho na direção do governo do Estado em 2014. Replico : ora, mais uma razão pela opção ao 2º biênio. Estaria mais próximo ao embate eleitoral de 2014. E jogo outro condimento na conversa : Henrique só enfrentaria esse desafio caso a governadora Rosalba Ciarlini não estivesse bem na avaliação popular. Pelo que entendo de política do Rio Grande do Norte, ela fará uma administração muito colada nas demandas populares. Talvez seja por isso mesmo que Henrique queira emplacar logo, logo, a presidência da Câmara. Temer, o árbitro Michel Temer terá, portanto, a missão de unir os contrários, juntar as partes para evitar atritos ao Todo, as bases do governo. Além de questões inerentes ao PMDB, será uma ponte sólida do novo governo para chegar ao Congresso. Michel conhece os conjuntos parlamentares, se fez respeitar e conversa bem com todas as alas. Terá, claro, dificuldades mas aplainará terreno para que a presidente Dilma não tenha grandes dores de cabeça. A temporada de pleitos por espaços e cargos será tortuosa. O atual presidente da Câmara, escolhido como coordenador político da transição, já começou a exercitar as habilidades de articulador e harmonizador das disputas partidárias. O que tira o sono do candidato eleito é o olhar do suplente. (Hélio Garcia) Dilma, a identidade O maior desafio da presidente Dilma, no primeiro momento, é a construção da Identidade. Trata-se de criar um conceito, entendido como a maneira de agir, o estilo de comando, o modo de atender as demandas, o sentido da autoridade, as características que a diferenciarão do governo Lula. É evidente que, para alcançar essa meta, Luiz Inácio terá de recolher sua condição de Senhor dos Senhores. Precisa ficar na sombra, sob pena de ofuscar o brilho de sua pupila. Quando for consultado, claro, deverá dar palpites, sugestões, sinalizar ajustes, apontar caminhos. A interferência de Lula na administração seria péssima para ele e para a nova governante. Político é dividido em duas partes. Uma trabalha para ser eleito. A outra trabalha para conseguir um cargo público se for derrotado. (Zenun) Criatura contra o criador ? Não se espere que a criatura se volte contra o criador, como muitos procuram argumentar, lembrando os casos de Fleury contra Quércia e Pitta contra Maluf. O PT, tenho sempre dito, é mais que um partido. É uma religião. E se alguém, por mais poderoso que seja, se dispuser a trair o partido, estará traindo seus dogmas, suas normas, seus princípios. Seria um suicídio. Dilma não cairia jamais nessa besteira. Seria marginalizada não apenas pelo PT mas por outros aliados. O verbo VOTAR só é verdadeiramente regular quando o eleitor é nosso. (Tancredo Neves) E Lula, o que fará ? Lula não se afastará da política. Seu habitat é o palanque, sua voz é a corneta de mobilização e seu prazer é o convívio com a massa, donde extrai a vitamina que oxigena seu espírito. Correrá mundo, como um caixeiro-viajante, propagando o bem que fazem seus programas sociais, a partir do Bolsa-Família. A África será o continente onde quer plantar algumas sementes. Mas seu foco continuará a ser os fundões do país, onde criou raízes desde os tempos das caravanas da Cidadania. Por isso, não se descartam novas viagens de Lula pelo território, agora sob o argumento de avaliar a seara plantada. Nisso é um craque. Entre viagens, aqui e alhures, palestras e encontros, Luiz Inácio disporá de tempo para reorientar rumos do PT e harmonizar as alas, que vivem em dissensão. O terceiro olho - o do meio da testa - contemplará horizontes mais largos. E Serra, o que fará ? José Serra, por sua vez, dispõe de um capital que tende a se esvair ao longo do tempo. No curto prazo, suas ações são muito valorizadas. Basta anotar que a população se dividiu quase meio a meio, com parcela ponderável adquirindo suas ações. O ex-governador, porém, amarga duas derrotas à presidência e, diferente de Lula (que também as experimentou) não tem o carisma deste. E nem a proteção do cobertor social costurado pelo lulismo. Teria à disposição daqui a 2 anos o amplo espaço da prefeitura de São Paulo. Seria certamente forte candidato, ancorado no recall da candidatura presidencial. Muita campanha eleitoral se parece com sauna: depois de calorão vem uma ducha fria. (Zenun) Até logo, até quando ? Tal opção, porém, soaria como um passo atrás. Como soa estranho o anúncio de que poderá vir a ser secretário de Alckmin. O "até logo" com que agradeceu aos eleitores pode ser entendido como "voltarei assim que for possível". A visibilidade de árvore mais alta na floresta tucana faz sombra ao florescimento de novos exemplares. Seu desafio é o de se encaixar no projeto de renovação do PSDB. O partido está a exigir uma reaprendizagem na forma de fazer oposição. Precisa chegar às massas, coisa que nunca conseguiu. E Marina, o que fará ? Marina saiu bem na radiografia eleitoral. Poderá desempenhar o papel de indutora de novos ideários, a partir do engajamento de conjuntos médios formadores de opinião e da mobilização de segmentos jovens. Dispõe ela de boa reserva de carisma, acentuado por sua estética que evoca Gandhi. Sua ação poderá ser amplificada por núcleos da intelligentzia e setores engajados à causa ambiental. Identifica-se, ainda, com a bandeira ética, que se apresenta como símbolo da louvação nacional. A ex-senadora terá sempre boa acolhida nos palcos das grandes metrópoles. Dúvida : manterá a visibilidade ? Guilherme Leal, seu companheiro de chapa, empresário rico, vai continuar bancando os holofotes de Marina ? Candidato que, antes da eleição, pensa que já está eleito, não é político. É poeta ! (Tancredo Neves) PSB e Campos Eduardo Campos faz um movimento na direção de Aécio Neves. Prestem atenção nesse rapaz. Foi consagrado na reeleição ao governo de Pernambuco. O PSB, que dirige, fez 6 governadores. Cid Gomes, o governador do Ceará, seu correligionário no PSB, lançou Aécio Neves para a presidência do Senado. Um arremesso fora de propósito, eis que na Câmara Alta preza-se muito a liturgia do poder. E a liturgia reza : quem tiver a maior bancada, leva a presidência. Sabedor disso, Aécio já anunciou que não é candidato. Mas, o ato de lançamento de seu nome por alguém do PSB é sinal de aproximação e identificação de interesses. Tudo com vistas a 2014. Novo Código Eleitoral Participei da Audiência Pública, promovida pelo TER/SP, para debater o Código Eleitoral e propor seu aperfeiçoamento. Estas audiências são patrocinadas pelo Senado, que formou um Grupo de Trabalho, presidido pelo ministro José Antonio Dias Toffoli, do STF. Falei sobre os desvios, ilegalidades e contrafações da campanha, destacando : a escolha de candidatos pelos partidos (sem nenhum critério), o formato defasado/saturado da propaganda eleitoral, a prevalência do marketing nas campanhas, as diferenças metodológicas e os erros das pesquisas, a falta de controle sobre condutas dos agentes públicos. As audiências públicas oferecem contribuições ao Grupo de Trabalho, que apresentará ao Senado o acervo de mudanças e aperfeiçoamentos. Sobrevivendo Tancredo Neves foi ex-tudo na política brasileira. Voltando à crista da onda, explica a um correligionário como conseguiu sobreviver após 64 : - Aceitando o impossível, passando sem o indispensável e suportando o intolerável. Afinal, sou mineiro ! Blocos partidários A movimentação para formação de blocos partidários começou. Os primeiros ensaios mostram que o PR e o PP podem formar um bloco, somando 82 deputados na Câmara. A estes dois partidos, poderá se somar o PTB, e o bloco chegaria, então, a 103 deputados. O segundo bloco, que está sendo articulado, juntaria PSB, PDT, PC do B e PRB. PT e PMDB, por enquanto, não falam de blocos. O preço do voto de um eleitor mentiroso é sempre o mais caro. (Augusto Zenun, mineiro, político, industrial e filósofo) O oxigênio do DEM O DEM abriga um conjunto de grandes parlamentares, dentre eles, alguns muito aguerridos como Paulo Bornhausen, ACM Neto, o próprio Rodrigo Maia, Ronaldo Caiado etc. Esse grupo encarna um forte ideário. Ademais, o partido acaba de eleger dois governadores, Raimundo Colombo (SC) e Rosalba Ciarlini (RN). E tem um dos mais hábeis quadros da política nacional, um exímio articulador : o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab. Portanto, trata-se de um partido com muito oxigênio para gastar nos próximos verões e invernos da política. Fala-se em fusão do DEM com o PMDB. Se isso vir a ocorrer, um dia, seria um sopro de renovação no PMDB, que carece de sangue novo. É evidente que essa operação, para ocorrer, precisa levar em conta os interesses e as bandeiras dos dois partidos. Conselho aos novos governantes Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos eleitores. Hoje, volta sua atenção aos novos governantes : 1. Tentem interpretar o sentido do voto e ouçam o clamor das ruas. 2. Procurem sair do ramerrão dos velhos pacotes e procurem inovar nas ideias, no estilo de gestão, na escolha de quadros, na articulação política. 3. Estabeleçam mecanismos eficazes de controle da eficácia governamental, evitando cair nas velhas rotinas da administração pública. Antes de 1º de janeiro, há um bom tempo para buscar a inspiração em modelos e formatos que estão dando certo. ____________
quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Porandubas nº 250

"Aposentem o homem" Dinarte Mariz era governador do Rio Grande do Norte. Em uma de suas costumeiras visitas à Caicó, visitou a feira da cidade, acompanhado da sempre presente Dona Nani, secretária de absoluta confiança. Dá de cara com um amigo de infância e logo pergunta : "Como vai, Zé Pequeno ?" O amigo, meio tristonho e cerimonioso, responde : "Governador, o negócio não tá fácil; são oito filhos mais a mulher...tá difícil alimentar essa tropa vivendo de biscate. Mas vou levando até Deus permitir." O velho Dinarte o interrompe de pronto : "Zé, que é isso, homem, deixe essa história de governador de lado. Sou seu amigo de infância, sou o Didi !" Vira-se para Dona Nani e ordena : "Anote o nome do Zé Pequeno e o nomeie para o cargo de professor do Estado." Na segunda-feira, logo no início do expediente, Dona Nani entra na sala de Dinarte e vai logo informando : "Governador, temos um problema, o Zé Pequeno, seu amigo, é analfabeto; como podemos nomear..." Antes que concluísse a fala, o governador atalha : "Virge Maria, Dona Nani ! O Rio Grande do Norte não pode ter um professor analfabeto. Aposente o homem imediatamente." E assim foi feito ! Historinha enviada pelo amigo Lindolfo Sales. Reta final Já dá para ver a faixa de chegada esperando os corredores na pista. Semana passada, Dilma estava 12 metros na frente de Serra, cada metro comportando 1 milhão de eleitores. Se a atleta, nos últimos espaços que resta para completar a jornada, mantiver o ritmo, é mais que provável que seja a vitoriosa. Tudo vai depender do sopro que o tucano recebeu nos últimos dias, despejado pelos tubos de Aécio Neves e Geraldo Alckmin. A questão é saber se esses grandes cabos eleitorais têm conseguido efetivamente efetuar grandes transfusões de oxigênio para José Serra. Dúvidas Minas Gerais continua sendo a grande incógnita. Os mais de 14 milhões de mineiros deram uma retumbante vitória a Dilma. Agora, os prefeitos são convocados por Aécio e Anastasia para despejar os votos de suas bases em Serra. Essa operação terá sucesso ? Minha visão é de que prefeitos trabalham com a perspectiva de poder. Anastasia é perspectiva de poder. Tudo bem. Dilma também o é. E nesse sentido, se perceberem que a candidata tem mais condições de levar a melhor, permanecerão com ela. Tendem a se alinhar com o sentimento do eleitorado. 10 pesquisas O país baterá esta semana o recorde nacional em matéria de pesquisas. Todos os Institutos conhecidos e mais alguns novos jogarão uma batelada de pesquisas no colo dos eleitores. Amanhã e depois, já se pode fazer uma inferência melhor. Dependendo da tendência - crescimento ou queda - de uma e outro, teremos uma visão mais clara do que acontecerá domingo. Será muito difícil tirar 1,5 milhão de votos, por dia, de Dilma. Mas em política não existe o adjetivo impossível. Numa régua de 0 a 100, Dilma tem, hoje, 99 pontos. Este consultor arrisca dizer que a fatura está quase liquidada. Debates ? Banalizados... Até os debates se tornaram banalizados. Poucos conseguem vê-los até o final. As estocadas se repetem, as respostas são previsíveis e as visões sobre os programas não deixam perceber grandes diferenças. A sensação é a de que esse modelo está esgotado. Sem criatividade. Sem emoção. Sem densidade. Os debates perdem o sentido de visão entre contrários para ganharem a roupagem de monólogos. Canibalização recíproca Basta ter visto o debate da TV Record. Estocadas de ambos os lados, respostas atravessadas. O formato, mesmo ancorado em perguntas dos candidatos, está esgotado. Debates deveriam selecionar focos específicos : saúde, segurança, educação, transportes, programas sociais. Os candidatos deveriam aprofundar as temáticas, evitando a adjetivação pesada. Que não constrói. E afasta o eleitorado. Que fica zonzo com os tiros se chocando no ar. Ciclo pós-eleitoral A essa altura, já se começa a abrir o horizonte pós-eleitoral. Outras contendas se estabelecerão. Partidos desejando impor reivindicações e nomes para a composição de Ministérios e estruturas da administração. As maiores siglas disputando maiores fatias. E apontando as áreas de maior interesse. PMDB e PT começando uma intensa articulação em torno das presidências do Senado e da Câmara. No Senado Para o Senado, a indicação de maior peso é do senador Edison Lobão, que é do PMDB e é do Maranhão. Sarney teria uma eleição quase consensual, mas não tem mais apetite porque quer cuidar mais da saúde. Por isso, tem Lobão como seu candidato. Romero Jucá, bem eleito em Roraima, foi envolvido no episódio de cooptação ilegal de votos. Garibaldi Alves, o mais votado no Rio Grande do Norte, já anunciou que recua da candidatura à presidência do Senado em favor do pleito do primo, Henrique Alves, ao comando da Câmara. E Renan Calheiros, que manobra o corpo de senadores, ainda está com a imagem abalada por conta de episódios do passado recente. Na Câmara Para a Câmara o PT já tem alguns nomes. O mais forte, até o momento, é o do líder do governo na Câmara, Cândido Vaccarezza. Mas outros nomes se colocam na disputa, entre os quais Marco Maia, gaúcho, atual vice-presidente; e os ex-presidentes da casa, Arlindo Chinaglia e João Paulo, do PT paulista. O PT alega que tem direito a começar a primeira legislatura do ciclo porque fez maioria dos deputados. O PMDB deve se conformar com a segunda legislatura. Mas o PMDB, no passado, mesmo tendo alcançado a maior cota de parlamentares, abriu para o PT. Este alega que o Senado deverá ser comandado pelo PMDB. Mas os peemedebistas alegam que o PT, se Dilma for eleita, terá a presidência da República. O PT se dispõe a fazer um bloco somando 96 deputados. O PMDB também promete fechar um bloco com a mesma quantidade, 96. Cinzas no horizonte. Homenagem ao nordeste O PMDB, a partir do seu bloco, vai lutar pela presidência da Câmara. O candidato do partido é o potiguar Henrique Eduardo Alves. Aliás, este parlamentar tem o maior número de mandatos na Câmara. Henrique expressa um argumento a mais : Dilma será consagrada pelo eleitorado nordestino. Terá na região uma votação estupenda. A presidência da Câmara seria, portanto, uma homenagem que o PT e Dilma fariam ao nordeste. Argumento de peso. Nomes para ministérios Com a mais provável eleição de Dilma, nomes já começam a compor as planilhas dos ministérios. Antônio Palocci é o mais cotado perfil do PT a ocupar um cargo de destaque, ou seja, um ministério de envergadura. Fala-se na Casa Civil. Palocci, nesse caso, seria uma espécie de primeiro ministro, o coordenador geral das ações do governo. Tem equilíbrio, é educado, bem articulado, sabe ouvir e preencher lacunas. Zé Eduardo Cardoso, se não quiser ir para o STF, poderá ocupar a cadeira da Justiça. Marco Aurélio Garcia continuaria na Assessoria Internacional ou mesmo no Ministério das Relações Exteriores. É ideia também aproveitar José de Filippi, recém eleito deputado e que cuidou das finanças da campanha da candidata. Nos outros partidos, os nomes estão ainda na pia do batismo. Passarão pelo corredor dos acordos e negociações. Não é inscrito na OAB Em Antenor Navarro, Paraíba, havia um júri. O juiz da comarca, Nelson Negreiros, viu o réu chegar sem advogado de defesa : - O senhor não tem advogado ? - Tenho, doutor juiz. Meu advogado é Deus. - Não serve. Não é inscrito na Ordem. Jader e o Ficha Limpa Hoje, o STF deverá avaliar o caso Jader Barbalho, que obteve mais de 1,7 milhão de votos para o Senado. Ele foi enquadrado na Lei da Ficha Limpa porque em 2001 renunciou ao mandato para escapar da cassação. Voltou a se candidatar a deputado federal em 2002 e foi reeleito em 2006. Diz o ministro Marco Aurélio : "ele renunciou mas obteve registro eleitoral em duas disputas posteriores. Se sacramentarem que ele está inelegível, vão ter que interromper o atual mandato. Por isso, a lei não pode retroagir". Estamos curiosos para ouvir a decisão do STF. Multas de campanha Dilma recebeu 11 multas na campanha, que resultaram em R$ 53 mil. Serra ganhou 9 multas, mas o total chegou a R$ 70 mil. Lula sofreu 7 multas, que somaram R$ 47,5 mil. Preço inexequível O senador Marcondes Perillo tenta aprovar projeto que obriga órgãos públicos a assumir dívidas de empresas terceirizadas que lhes prestaram serviços e deixaram de pagar direitos trabalhistas. Se o projeto for aprovado, os órgãos públicos teriam prejuízos ainda maiores, principalmente na contratação de serviço de segurança privada. Isso porque as normas atuais do processo de licitação em nada incentivam a atuação de empresas sérias, já que tal critério não contribui com setores em que o barato sai caro, caso da segurança. Empresas de segurança privada, que não são sérias, ganham licitação por cumprir o critério do menor preço, mas acabam vendendo gato por lebre, causando sérios prejuízos aos contratantes. Medida simples e interessante seria desconsiderar empresas que prometem cumprir o contrato a um preço muito aquém do valor real. Zé Dirceu Pergunta recorrente : e Zé Dirceu ficará em algum cargo ? Difícil. Depois de virar saco de pancadas e ainda enfrentar a questão dos aloprados, em julgamento pelo STF, seria complicado tê-lo numa linha de frente. Mas o ex-ministro e ex-presidente do PT continuará a ter força monumental. Tem seguidores por todos os lados. Sabe manejar nos bastidores. Romper com o Governo ? Jamais ! O Senado estava agitado, aquela tarde. Alguém se levantou e gritou : - Precisamos romper com o Governo. O velho senador Cunha Melo, do Amazonas, pegou o chapéu, levantou-se e foi saindo de fininho : - Há coisas que não se deve nem ouvir. CNI em SP Fará muito bem o novo presidente da CNI com a disposição de dividir a semana entre Brasília e São Paulo. Por aqui, o caldeirão produtivo ferve. E é importante sentir sua temperatura. São Paulo continua a ser a locomotiva econômica do país. Não pode ser deixado de lado. A FIESP, por seu lado, perde credibilidade com a disposição de seu presidente de se enfiar no saco da política. Parabéns a Robson Andrade pela visão que tem sobre a rotina da CNI. Na TV Globo ? Quem tem grandes expectativas sobre o debate na sexta-feira, na TV Globo, pode tirar o cavalinho da chuva. Será o 10º debate, apenas mais um. Não alterará em nada o resultado das eleições. O que Lula vai fazer ? Pergunta recorrente : o que Lula vai fazer depois de deixar o cargo ? Este consultor arrisca algumas respostas : 1. Não vai se aposentar, pois se ilumina com o poder; 2. Vai construir o seu Instituto, abrigo que ex-presidentes geralmente procuram para servir de foro qualificado de pensamentos e ideias; 3. Viajará pelo mundo, com especial destaque para os países da África, onde tentará plantar sementes dos programas sociais que desenvolveu; 4. Dará conselhos a Dilma, sendo, desta forma, um conselheiro-pai, um orientador de rumos; mas não vai interferir no dia a dia da candidata, até para que ela construa sua Identidade; 5. Comerá, sim, uns coelhos em seu sítio nas proximidades de São Bernardo do Campo; 6. Terá um olho no presente e outro no futuro, principalmente para as proximidades de 2014. Em Roraima O eleitorado de Roraima é o menor do Brasil. Ali, a campanha está fervendo, mas as pesquisas apontam para a vitória do ex-governador Neudo Campos sobre o atual governador, Anchieta Júnior. A diferença estaria entre 8 e 10 pontos pró-Neudo. Cairia, assim, mais um enclave tucano no norte do país. Anchieta é um cearense elevado à política pelo ex-governador e falecido Ottomar Pinto, cujos familiares dele se afastaram por "traição" ao ideário do legendário brigadeiro que governou o Estado por 3 vezes. A campanha de Neudo tem a coordenação do deputado Mecias de Jesus, que exerce grande liderança. Adeus a Tuma Adeus ao senador Romeu Tuma. Teve importante papel na vida pública do país. Deu sua contribuição. Conheci melhor o senador Tuma nos últimos anos. Considerava-o um amigo. Gentil, afável, carinhoso e educado. Jorrava palavras de bondade. Perfil muito diferente da imagem que eu tinha dele dos tempos dos anos de chumbo. A representação que o povo de SP lhe deu por muitos anos é o testemunho de que merece o reconhecimento de todos nós. Conselho aos eleitores Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos candidatos à presidência da República. Hoje, volta sua atenção aos eleitores : 1. O voto é uma das principais armas de defesa da democracia. Use-a no próximo domingo. 2. Não anule seu voto. Escolha o perfil que julgar mais adequado para o futuro do país. 3. Não se deixe levar por versões fantasiosas, boatos e guerra de palavras. Vote com a consciência de que estará escolhendo o melhor quadro. ____________
quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Porandubas nº 249

Proibindo eclipses O Coronel Zé Azul, chefe político de São Gonçalo do Abaeté, em Minas, era candidato a prefeito pela UDN, às vésperas de um eclipse do sol que a imprensa vinha prevendo para começo do ano seguinte, como o mais forte já visto no Brasil. O medo generalizou-se. Espraiavam-se relatos de crianças que iam nascer defeituosas, galinhas que deixariam de pôr ovos, cabritos que não mais berrariam e a cachaça que ficaria envenenada. No dia 1º de outubro, o coronel Zé Azul fez o último comício da campanha e acabou com um juramento sagrado : - Pode ser que, na prefeitura, a partir de janeiro, eu não consiga fazer tudo que pretendo por esta terra. Mas juro para vocês que meu primeiro decreto será proibir definitivamente eclipses em São Gonçalo do Abaeté. Ganhou a campanha. No Brasil, candidatos continuam a prometer mundos e fundos. Quem pode decidir ? Esta é a recorrente pergunta. Quem pode decidir o segundo turno ? Darei algumas pistas. A primeira chave da porta de sucesso se chama Minas Gerais. Esse Estado é a síntese do Brasil. E quem pode abri-la é Aécio Neves. O recém eleito senador tem a força para convocar a prefeitada de Minas - Estado com o maior número de municípios - e colocar o governador eleito Antonio Anastasia testa a testa com eles. Prefeitos querem verbas. E Anastasia poderá prometer pagar a conta. Aécio diz que dará o sangue para eleger Serra. No primeiro turno, acomodou-se. Não queria prejudicar seu candidato ao governo. MG registrou o voto Dilmasia. Mais uma informação : desde a redemocratização, todos os presidentes eleitos ganharam a eleição em Minas. E se Serra for derrotado ? Mas há uma pergunta que também se faz : e se Serra for derrotado, quem será a maior liderança do PSDB ? Isso mesmo, todos vocês acertaram a resposta : Aécio Neves. Será, então, que ele vai arregaçar a manga da camisa ? Respondo : pelo menos vai mostrar serviço. Ele apareceu na capa da Veja, deu entrevistas para todos os lados, acenando com a vitória de Serra. Não poderá, portanto, fazer feio. Acredito que Aécio poderá tirar parte da vantagem que Dilma conseguiu sobre Serra no segundo maior colégio eleitoral do país. O triângulo das bermudas Ao lado de Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro completam o triângulo das bermudas. São os 3 maiores colégios eleitorais do país. Em São Paulo, Geraldo Alckmin se posta na mesma posição de Aécio : transforma-se no comandante do tucanato paulista. Sua meta : aumentar expressivamente a votação de Serra em SP. E, no Rio de Janeiro, Sérgio Cabral deveria fazer o mesmo papel. Mas Cabral, tão logo foi eleito, despachou-se para as praças centrais do mundo. Foi a Paris curtir a ressaca cívica. Os generais tucanos estão mais motivados que os generais dilmistas. É o que parece. "Não admira que os néscios se julguem muitos sabedores, eles têm a vantagem de desconhecer que ignoram." (Marquês de Maricá) Alckmin, 2 milhões a mais Geraldo Alckmin teve 2 milhões de votos a mais que Serra em São Paulo. O governador eleito luta para jogar essa votação no colo do seu companheiro tucano. Conseguirá ? Abstenção, segundo fator A resposta à pergunta acima mostra que o fator abstenção poderá ser fatal para a derrota ou vitória dos candidatos. Vejamos. No nordeste, a abstenção foi muito alta, ultrapassando, na média, a casa dos 20%. No Maranhão, ultrapassou os 24%. Em alguns municípios da região, a abstenção chegou a 30%. A causa ? O medo de errar a votação em 6 nomes. Agora, com apenas dois nomes (ou 1 em Estados que já decidiram a eleição para governador), a votação será mais fácil. Por esse argumento, pode-se inferir uma abstenção menor. Porém... Porém... O porém é esta dúvida : quem arrasta o povão, principalmente das áreas rurais, para as urnas é geralmente o candidato a deputado. Ora, os deputados estaduais e federais já foram eleitos. Terão disposição para, novamente, arrebanhar os contingentes e levá-los à boca da urna ? Pode ser que a prefeitada colabore com essa missão. Mas se a abstenção continuar alta no nordeste, Dilma será a mais prejudicada. Feriadão Há outra barreira no caminho do voto. Trata-se do feriado de finados, dia 2 de novembro. E também há o dia do funcionário público. Dia 28. O governador de São Paulo, Alberto Goldman, antecipou a data para 11/10. Em alguns Estados, também haverá alteração para 1/11. Muita gente vai viajar antes do dia 31 de outubro, esticando, como sói acontecer, o tempo de lazer. Outros votarão pela manhã e pegarão a estrada. Mas eleitores da classe média, os mais endinheirados das regiões sudeste e sul, tendem a passar ao lado do exercício cívico. E se isso ocorrer, o mais prejudicado será o candidato José Serra. E os verdes de Marina ? Outra questão é : para onde irão os votos de Marina ? O voto preponderante de Marina é urbano, com origem na classe média e de jovens. Trata-se de um voto mais independente e crítico. Segundo as pesquisas, 51% do eleitorado de Marina migrará para Serra. Dilma pegaria uns 30%. Os outros ainda não têm definição. Minha análise sobre os indecisos é : os mais endinheirados e urbanos irão para Serra e os mais pobres e das margens sociais correrão para Dilma. E as pesquisas, hein ? As pesquisas, como se viu, erraram bastante, apesar das mil explicações dadas pelos diretores dos Institutos. A essa altura, o que dá para afirmar, sem grandes riscos, é que Dilma continua com mais chances de ser eleita. Numa régua de 0 a 100, ela pontuaria 65. A última pesquisa Datafolha lhe deu 6 pontos de vantagem, e, logo a seguir, a pesquisa Sensus/CNT mostrou um empate técnico, com Dilma tendo uns 3 pontos a mais que Serra. E a pesquisa Vox Populi de ontem, terça-feira, mostra Dilma com 51% e Serra com 39%: 12 pontos de diferença. O tira-teima Se os dados do Vox forem confirmados pelo Ibope e Datafolha desta semana, Dilma aumenta suas chances para 80 na régua de 0 a 100 deste consultor. Portanto, vamos aguardar por aferições mais recentes, que sinalizarão a tendência dos últimos dias. Deve-se ter muito cuidado. Há uma senhora chamada abstenção, que somada aos votos nulos e brancos, poderá causar muitas surpresas e aborrecimentos. Linhas de ataque Em minha análise, as abordagens de ataque, encampadas pelas duas campanhas, não geram resultados impactantes. Como os tiros são recíprocos, acabam se anulando. Ademais, o eleitor não reage de maneira positiva a ataques virulentos. Os primeiros ataques até causam impacto. Mas, depois de muitos tiros, perdem sua função sinalizadora e motivadora. Envolvem-se no "efeito banalização". Tornando-se comuns não penetram mais no sistema cognitivo dos eleitores. Depois de uma artilharia pesada e intensa, de ambos os lados, o eleitor tende a proclamar : "essa gente é tudo farinha do mesmo saco". Debates insossos Os debates, por sua vez, esgotaram os estoques de novidades. Refrãos, mantras e bordões são recitados para ilustrar as áreas da saúde, segurança, educação, habitação, transportes. Até as alfinetadas são previsíveis. Os candidatos dão curvas nas perguntas e respondem apenas o que lhes interessa. As audiências são pequenas, coisa de 3%, 4%, no máximo 5%. Exceção feita à Rede Globo, que registra um pouco mais. Para que servem, então, os debates ? Para animar as alas e exércitos das candidaturas. Consolidam visões dos militantes. Mas não agregam votos. O lobo ferido e a ovelha Um lobo, tendo sido mordido por cães, estava passando mal, estendido por terra, sem poder procurar alimento para si. A certa altura avistou uma ovelha e pediu-lhe que lhe trouxesse água do rio próximo : "Realmente, se tu me deres de beber, eu mesmo acharei o que comer." Então a ovelha respondeu : "Mas se eu te der de beber, logo tu me usarás como refeição." Esta fábula de Esopo é adequada ao indivíduo perverso que prepara ciladas hipócritas. Em clima de guerra eleitoral, os lobos se espalham por todos os cantos. Internet negativa Nunca as campanhas eleitorais exibiram uma agenda tão negativa como a deste ano. E o meio usado para a veiculação dos ataques é a internet. As redes sociais disparam campanhas violentas contra os candidatos. Histórias inventadas, versões estapafúrdias, relatos burlescos, bobagens e piadas de extremo mau gosto invadem a rede eletrônica. E assim muitos incautos compram gato por lebre. Aborto e privatização O aborto no Brasil é uma questão de saúde pública. A cada dois dias, morre uma mulher vítima de aborto inseguro. 187 mil mulheres tiveram sérios problemas, em 2009, por conta do aborto. Portanto, é sob esse pano de fundo que a questão deve ser abordada. Não se trata de ser a favor da mortandade de criancinhas, como se procura impingir nos intestinos da campanha. Da mesma forma, não se pode demonizar o conceito de privatização. O programa de privatização das telecomunicações, levado a cabo pelo governo FHC, foi um sucesso. Há no país 187 milhões de linhas de celular. Esses são dois temas mal tratados por candidatos e campanhas. Maior derrota Quem foi o maior derrotado nesta eleição ? Uma das maiores surpresas do pleito foi a derrota do senador Tasso Jereissati, do PSDB do Ceará. Causou mais impacto que a derrota de Arthur Virgílio (PSDB/AM) ou Marco Maciel (DEM/PE). Kassab vitorioso O prefeito Gilberto Kassab continua fazendo boa política. Elegeu seis deputados federais, mas sua cota pode chegar a 8, com a esperada nomeação de parlamentares para o secretariado de Geraldo Alckmin e elevação dos suplentes Walter Ihoshi e Eleuses Paiva. "Eu só trago amor" Chego, enfim, à minha terra. Trago, nas vestes a poeira das longas caminhadas; nos ouvidos, a ressonância da voz dos oprimidos e, nos olhos, a visão panorâmica da Pátria. Venho fatigado do esforço e das emoções. Mas trago o coração limpo de ódios, de malquerenças ou queixas. Nem ressentimentos tenho. Quem os tiver que com eles se alimente. Eu só trago amor. Vitorioso ou vencido, cumpri o meu dever para com o povo brasileiro. E chego à minha terra como um peregrino ao pórtico do tempo. Sacudo o pó das minhas sandálias e me persigno como um penitente. Que a paz seja convosco, meus irmãos. (Mensagem de Getúlio Vagas dirigida ao povo brasileiro, ao encerrar sua campanha para a presidência da República, em São Borja, em 30/9/1950). Conselho aos candidatos Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos ministros do TSE e do STF. Hoje, volta sua atenção aos candidatos à presidência da República : 1. Procurem pautar seu discurso, nos últimos dias de campanha, sob a inspiração das grandes temáticas nacionais. 2. Teremos uma reforma política ? Continuaremos a ter uma alta carga tributária ? Sairemos do engessamento das relações do trabalho por meio de uma reforma trabalhista em profundidade ? E a reforma previdenciária continuará a ser uma utopia ? 3. Evitem a artilharia de ataques recíprocos. A agenda negativa não agrega interesses e demandas dos eleitores. ____________
quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Porandubas nº 248

Em francês Santiago Dantas, ministro de Relações Exteriores, ministro da Fazenda, deputado Federal/MG, foi, um dia, à Polônia para receber o título de doutor honoris causa da Universidade de Cracóvia. Na hora da solenidade, deu-se conta de que tivera tempo de preparar por escrito o discurso de agradecimento. Era a tradição. Mas era preciso não ser indelicado. Chamou Marcílio Marques Moreira, seu assessor, pediu-lhe algumas folhas em branco, levantou-se com elas nas mãos e, fitando-as com firmeza, pronunciou longo discurso em francês, como se estivesse lendo. Só Marcílio sabia, segundo relato do amigo Sebastião Nery. A marola verde Era mais que previsível. O 2º turno poderia ocorrer, a partir do affaire Erenice. Que chegou até aos conjuntos da classe média emergente, a C, onde a bomba explodiu com algum impacto. Marina passou, então, a canalizar a indignação e a contrariedade. Foi subindo, a partir do Rio de Janeiro, onde a paisagem carioca parece mais agasalhadora ao marinismo. A seguir, houve um grande descolamento dos eleitores de Dilma no Distrito Federal. Marina subiu ali como um foguete, ganhando a campanha em um tradicional reduto do petismo. A ataque viral Vale lembrar que Marina surgia como alternativa. Havia plena consciência de que ela não ganharia a eleição. Mas poderia ser a brecha para se chegar ao segundo turno. Devagar, os conjuntos eleitorais, no boca a boca e quase por osmose, começaram a disseminar a marola verde. E aí chegou a núcleos mais conservadores a informação : Dilma era a favor do aborto. Era mentira. Chegou a dizer em alguns momentos. Mas a boataria tomou conta das redes sociais. O boato se espalhou como praga. O ataque viral na internet fez estragos, abrindo polêmica e muita revolta. Quando Dilma fez a reunião com os evangélicos, momento em que fez um desmentido categórico, a confusão já estava feita. A opinião de Dilma já havia sido canibalizada pela onda anterior, que dava conta de sua visão sobre o aborto. Chegada às urnas E foi assim que Marina chegou às urnas. Alternativa a dois perfis que se digladiavam; discurso que parecia superior às altercações de Serra e Dilma; apropriação de valores da moral e da ética; ampla visibilidade da mídia, que, nas últimas semanas, a trataram como celebridade merecedora de todos os encômios. Marina Silva, cheia de vestes litúrgicas - mais parecendo uma dessas imagens de hindus abençoada pelos deuses - carreou a maior taxa de simpatia às vésperas da eleição. De 10% passou para quase 20%. E assim Serra divisou mais uma chance para animar sua campanha, dada por quase perdida. "Nos governos despóticos, em que se abusa por igual da honra, dos postos e da posição, faz-se indiferentemente de um príncipe um valete e de um valete um príncipe." (Montesquieu) Abstenção alta colaborou Passei o fim do domingo explicando os fatores responsáveis pelo segundo turno. Além do fator Marina, apontei a alta abstenção. Que chegou a 18,4% em Minas Gerais, 21,56% na Bahia, 20,05% no Ceará, 23,97% no Maranhão, 20,96% no Mato Grosso, 19,41% em Pernambuco, 20,03% no Amazonas e 21,14% no Pará. São recordes. Sempre achei que abstenção alta em espaços de votos dilmistas seria fatal - a campanha iria para o segundo turno. Os votos de Marina ? Para onde irão os 20 milhões de votos de Marina ? A maior parte deles deverá migrar para o candidato Serra. Uns 10. Uns 6 para Dilma. Uns 4 para o ar. Nulos, brancos ? Trata-se de um eleitorado mais urbano, consciente, racional, capaz de fazer avaliações acuradas sobre o processo político. Mas, a depender de Dilma, os votos iriam para Dilma, até porque ela, Marina, tem uma história de 30 anos no PT. Deverá a decisão passar pelo crivo do Partido Verde. Não se pense, porém, que Marina domina esses votos. Nem ela nem o PV. O voto a ela foi dado por conveniência. Trata-se de um voto de circunstância. Portanto, não se deve avaliar a tendência com uma simples decisão da cúpula partidária do PV sobre o caminho a seguir. Conversando com Deus Nesses tempos demagógicos, é tempo de lembrar figuras que tinham acesso direto ao céu. O marechal Idi Amin Dada conversava com o povo a respeito dos sonhos que o punham em contato com Deus para cumprir seus mandamentos. O sonho representa o aval divino concedido a seus atos. Mas o ditador fazia questão de dizer que não abusava das revelações. Um dia, um jornalista perguntou de chofre : "O senhor sonha com frequência falando com Deus ?" E ele, matreiro : "Só quando necessário." 18 Estados Dilma venceu em 18 Estados e Serra ganhou em 8. Marina ganhou no DF, que era um fechado colégio petista. O segundo turno Costuma-se dizer que o segundo turno é uma outra campanha. Não o é. Na verdade, trata-se da continuidade da primeira, observando-se essas características. O tempo de programa eleitoral será o mesmo, dando, assim chances para uma comparação mais exaustiva e atenta entre perfis e programas. Os 10 minutos que caberão aos dois candidatos serão suficientes para se ter uma avaliação mais completa dos ideários. É bem verdade que a semântica, a mensagem oral, o plano das ideias, deverá ser coberto pela estética da TV - na estratégia do marketing de embalar os perfis com celofane mais colorido. Portanto, o marketing atuará como ator importante para "vender" os candidatos. Perfis técnicos Nem Dilma nem Serra são pessoas simpáticas. Não possuem carisma. Até o riso não lhes cabe bem por parecer artificial. Por isso, a cosmética televisiva buscará planos humanísticos, com os candidatos no meio do povo, para suavizar a feição técnica de ambos. Vamos ouvir ainda uma enxurrada de números. Lula quer a comparação entre seu tempo de governo e o ciclo FHC. Com dois candidatos, em embate direto, essa possibilidade se efetiva. O papel de Lula Lula fará das tripas coração para eleger sua candidata. Afinal de contas, trata-se de consagrar a passagem de 8 anos no comando da nação. O foco da continuidade deverá se contrapor ao foco da mudança. Esse discurso predominará sobre o eixo que mais interessa à Serra, qual seja, a comparação entre perfis, ele e Dilma. Se fosse essa a questão, seguramente ele se daria melhor por conta de denso currículo político e administrativo. Tendências A tendência é a de que o(a) candidato(a) que esteve na frente no primeiro turno continue adiante. Continua como favorito(a). Em 80% dos casos, se elege. Portanto, a tendência favorece a candidata situacionista. E a continuidade significa que o eleitor não quer trocar uma coisa certa por algo duvidoso. Sempre digo : quem ganha a eleição é o estado de satisfação social. É o voto do bolso. Que alimenta o estômago. E agradece ao coração. Economia e emoção, eis um par que dá muito certo. Aécio, o grande vencedor Aécio Neves sai da campanha como o maior vencedor na arena dos tucanos. Fez barba, cabelo e bigode. Elegeu-se senador, elegeu Anastasia para o governo e ainda puxou na carona Itamar Franco. Só não presidirá o PSDB se não quiser. O pólo de forças do tucanato sairá de São Paulo em direção à Minas Gerais. Eduardo Gravem este nome : Eduardo Campos. Teve a maior votação proporcional do país: 82% dos votos de Pernambuco. Vingou o avô, Miguel Arraes, derrotado em 1998 por Jarbas Vasconcelos. Que agora foi derrotado de maneira fragorosa. Renovação A Câmara dos Deputados será renovada em 43,7%. E o Senado será mais jovem e mais rico. Terá perfil moderado. E Alckmin, hein ? Geraldo Alckmin aparece também como um grande vencedor. Mas é sabido que as facções serristas e alckministas não se dão bem. O partido é rachado em São Paulo. Geraldo foi muito elegante com Serra. Deu a mão, fez a campanha dele e de Serra, juntos, e certamente vai querer amparar o candidato à presidente no segundo turno. Zé Aníbal José Aníbal ganhou uma boa votação : 170.957 votos. Será seguramente um dos braços direitos do governador Geraldo Alckmin. Trata-se de um dos melhores cabeças políticas do país. Grande Zé, parabéns. Eu, eu e eu José Serra, porém, cometeu muitos erros na campanha, a partir de sua auto-suficiência. A imagem mais forte que fica é a de Serra jogando as palmas da mão contra o peito para enfatizar a declamação : eu, eu, eu, eu. Parece que o mundo gira em torno dele. A campanha era ele. Que dizia o que e como fazer. Ele e o marqueteiro. Os políticos foram deixados de lado da campanha. Erros que devem ser corrigidos no segundo turno. Salto alto Já o PT estava com salto à altura da montanha. Desprezou aliados na campanha. Também fez a campanha do "eu, sozinho". Agora, deve apelar para os parceiros, a partir do PMDB, que continua a ser o maior partido do Brasil. Descentralização Campanha de Dilma estava muito centralizada. Restrita. Agora, parceiros vão querer acompanhar de perto as estratégias e decisões. Guerreiros, adeus Esta campanha deu adeus a figuras expressivas do Congresso Nacional : do Senado, ficaram fora Tasso Jereissati, Arthur Virgílio, Marco Maciel e Heráclito Fortes. Os três primeiros eram desafetos do presidente Lula. Que lutou muito para tirá-los do jogo político. Da Câmara, não virão o bom Gustavo Fruet e o denodado deputado Raul Jungmann, ambos candidatos ao Senado em seus Estados (PR e PE). Fichas-sujas O TSE deixou de lado as votações dos fichas-sujas. Se eles ganharem a parada no TSE e, posteriormente, no STF, serão refeitas as planilhas para a composição das bancadas em alguns Estados. A conferir. "Não há vício que mais cubra um homem do que procedimento falso e pérfido." (Francis Bacon) Tiririca Os quase 1,353 milhão de votos de Tiririca representam a falta de compromisso, o desleixo, o desprezo e a pouca credibilidade que conjuntos eleitorais - particularmente entre os jovens - têm em relação à política. Não adianta, agora, punir Tiririca. Ele não sabe ler e escrever ? Ora, isso deveria ter sido descoberto antes. Em 10 dias, deitado numa rede no Ceará, ele aprenderá rapidamente rabiscar algumas coisas. Aloysio Nunes Este consultor sempre achou que Aloysio Nunes Ferreira seria eleito. E mais : o mais votado no Estado de São Paulo. Seria impossível a vitória do tucano Geraldo Alckmin sem levar, junto, seu candidato ao Senado. Depois do afastamento de Quércia, por doença, e o retraimento de Tuma, também por doença, Aloysio disparou. Quem me acompanha no twitter (gaudtorquato), viu esta hipótese no ar há bastante tempo. A fonte para esta informação foi o prefeito Gilberto Kassab, sempre muito bem informado. E um devorador de dados de pesquisa. A fala de Jânio Campanha de Jânio. Cada discurso era a análise de um problema : petróleo, política externa, reforma agrária, política financeira. Lacerda telefona : - Os pronunciamentos estão muito bons, mas para presidente eleito. - O que é que está faltando então ? - Feijão. Falta feijão. Feijão é que elege candidato. Petróleo consolida. Ponha feijão na sua campanha. Jânio pôs. E juntou seis milhões de votos. Pior Congresso ? Há analistas que garantem ser este Congresso eleito o pior da história do Brasil. Não me arrisco a tanto. Vamos, primeiro, examinar e avaliar a agenda congressual. E, depois, fazer uma análise acurada. Sem precipitações. Vice de Serra Há um grupo que pensa em pedir a substituição do vice de Serra, Índio da Costa, por um perfil mais denso, sério e crível. O deputado exagerou na dose, baixou a linguagem, fez ataques desmesurados, rasgando a liturgia do cargo a que se candidata. "Não esqueçam também os juízes que o trono de Salomão era suportado por dois leões, um de cada lado; sejam eles também leões, mas leões debaixo do trono; sejam circunspectos para que não façam oposição aos pontos da soberania." (Francis Bacon) Conselho aos ministros do TSE e STF Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado a todos os candidatos. Hoje, volta sua atenção aos ministros do TSE e do STF : 1. Julguem o mérito da Lei Ficha Limpa no prazo mais rápido possível, bem antes de terminar o segundo turno. 2. 1.242 candidatos foram cadastrados entre os fichas-sujas. E foram votados. Estão aguardando decisão da Justiça. 3. Se o projeto estiver em vigor, segundo o TSE, os casos que ali chegarem deverão receber imediata apreciação e consequentemente encaminhamento ao STF em caso de recurso. ____________
quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Porandubas nº 247

Reforma partidária Robaina, vereador do MDB de Bagé/RS, ficou no PMDB depois da extinção da Arena e do MDB. Vivo, pôs a mulher no PDS. O Senador Pedro Simon estranhou : - Robaina, como é que você fina no PMDB e sua mulher no PDS ? - Pois é, presidente. Ainda tenho três filhos para a reforma partidária. 1º ou 2º turno ? O marqueteiro de José Serra, Luiz Gonzalez, anda dizendo que a campanha Federal irá para o segundo turno. Pode ser, até porque o imponderável muda o rumo das coisas. Mas o vento da estação sopra na direção do primeiro turno. Na régua de 0 a 100, as chances de a campanha presidencial ser resolvida logo em 3 de outubro batem no número 95. Nada parece afetar a imagem de Dilma, protegida que está pelo escudo de Lula. É claro que a marquetagem trabalha com a ideia de 2º turno para efeitos internos : não deixar a peteca cair; não desanimar as equipes; mobilizar as patotas que trabalham nas campanhas. Trackings Nestes últimos dias, os trackings - mapeamentos diários para captar a intenção de voto de eleitores - são muito usados. De um lado, para orientar as campanhas; de outro, para dar vazão às notas em colunas jornalísticas. Servem como boa indicação. Avó por merecimento José Maria Alkmin encontra-se com dona Lia Salgado, famosa soprano mineira : - Mas como a senhora está jovem, dona Lia. - Qual o quê, dr. Alkmin. Já sou até avó. - A senhora pode ser avó por merecimento. Jamais por antiguidade. Anestesia social Denúncias em séries, escândalos em profusão, nepotismo, utilização da máquina, malversação do dinheiro público, nada disso afeta as intenções centrais das massas eleitorais. Perguntam-me a razão. Vou explicando : banalização de fatos negativos forma camada de insensibilização social. Não há mais relação causa/efeito. Os eleitores são entidades anestesiadas. Mais um escândalo, é esta a convicção popular. Todos os políticos são iguais, aduz o povo. Se é assim, a massa dará o voto aos candidatos que a ajudam. O papa como cabo eleitoral E caso o papa Bento XVI, em périplo pelo Brasil, viesse a público proclamar : votem em Serra e não em Dilma. O que poderia acontecer ? Poderia haver certo processo cognitivo com foco na dúvida, ou seja, uma generalizada dissonância coletiva. A dissonância gera confusão mental. A vinda do papa embutiria grande interrogação na cachola das massas. Mas qualquer dissonância tende a ser equacionada mais cedo ou mais tarde. As pessoas não gostam de conviver com dúvidas, interrogações, medos e ameaças. O papa não demoraria muito no país. Iria embora. E logo, logo, viria a versão de que o papa se referia a outra coisa. Tudo invencionice. A versão que seria contada apagaria a verdade papal. Estar com Deus não ofende Noé, conta Sebastião Nery, era uma figura folclórica do Rio Grande do Norte. Tinha o hábito de cortejar todos os governos. No levante comunista de 1935, quando o deputado pela Bahia e secretário-geral do PC, Giocondo Dias, tomou o poder ocupando o Palácio Potengi, enquanto Dinarte Mariz marchava de Caicó para Natal subindo a Serra do Doutor, a multidão enfurecida invadiu o jornal A República, que pertencia ao governo. Na sala da direção, encontram Noé. Agarram-no pela gravata : - Com quem você está ? - Estou com Deus. Isso ofende ? Não ofendia. Salvou-se. O voto de sobrevivência Tenho mais que repetido : o pleito deste ano escolheu o estômago como abrigo. Trata-se do voto de reconhecimento à situação geral de conforto. Cerca de 30 milhões migraram das margens extremas da necessidade - classe E - para a classe D. E contingentes da classe D, onde estão os pobres, migraram para a classe C, a baixa classe média. Esta última inserção contabiliza cerca de 25 milhões de pessoas. Logo, cerca de 55 milhões de brasileiros foram diretamente afetados pelos programas distributivistas do governo Lula. São esses os eleitores que votam por conta do apelo do bolso. Pai e filho, filho e mãe Na próxima legislatura, teremos dois Garibaldi Alves no Senado : pai e filho. O filho, que já foi presidente do Senado, deverá ser o mais votado no RN. O pai, também Garibaldi Alves, é suplente da senadora Rosalba Ciarlini, do DEM, que deverá ganhar o governo do Estado. Na Paraíba, Vital do Rego Filho, o Vitalzinho, deverá ser um dos senadores eleitos. E carrega a mãe para a Câmara dos Deputados, Nilda Gondim, filha do ex-governador Pedro Gondim. Ambos sofreram um acidente domingo último em uma carreata. Passam bem. Ficha limpa Hoje o STF decidirá sobre a vigência da Lei da Ficha Limpa. Alguns ministros defendem a aplicação imediata e irrestrita da lei. Mas a maioria dos ministros poderá alegar que deve obedecer ao princípio da anualidade. Ou seja, não pode retroagir para prejudicar candidaturas. Será discutida, ainda, a tese de que a inelegibilidade não é uma pena, mas um critério a se verificar na análise do registro do candidato. Expectativa geral da sociedade organizada. "O que há de mais belo no mundo é que as pessoas não foram acabadas." (Guimarães Rosa) Somos a opinião pública A ciência política mexe cotidianamente com os balões da opinião pública. Que é a agregação das opiniões individuais, encadeadas por movimentos e grupos capazes de gerar influência. Entre os elos mais fortes para a formação de uma opinião mais generalizada, estão os meios de comunicação. Que difundem ideias, transmitem informações, fazem análises de problemas, denunciam situações. Ao lado dos meios de comunicação, emergem grupos organizados, cadeias e associações representativas de áreas e setores. A integração desses elos converge para a tuba de ressonância, representada pela mídia. Lula, do alto dos 80% de aprovação, proclama : somos a opinião pública. Maneira de dizer que ele tem mais poder do que a mídia. E bate bumbo. CNI no Senado A poderosa CNI - Confederação Nacional da Indústria deverá resgatar a bancada dos ex-presidentes no Senado. Albano Franco (PSDB/SE), depois de uma temporada na Câmara, deverá voltar à Câmara Alta. E, em Pernambuco, o ex-presidente da CNI, deputado Armando Monteiro (PTB), está passando na frente do senador Marco Maciel (DEM). Pano de fundo A mídia, como se sabe, exerce com ampla liberdade, suas funções de informar, interpretar, criticar, fiscalizar, opinar e combater. Mas o jornalismo implica uma categorização que deve separar notícias de opiniões. Ocorre que certos veículos passaram a misturar os gêneros. Textos de reportagens são, frequente e intensamente, opiniáticas, ou seja, carregam forte dose opinativa. A par dessa editorialização, há uma cadeia enorme de colunistas políticos que assumem posição aberta. Sob esse pano de fundo, desenvolve-se o tiroteio contra a mídia. Governantes e políticos têm criticado a maneira com que certos veículos cobrem os fatos. Pendendo para um lado. Os Poderes Executivo e Legislativo mantêm fortes restrições à mídia. "Não deixe que seus medos tomem o lugar dos seus sonhos." (Walt Disney) Esteio da liberdade Mas os exageros pontuais ou eventuais não justificam o tampão com que se pretende monitorar ou controlar a mídia. Esse controle social dos meios de comunicação passou a ser uma panacéia. Ora, quem se sente prejudicado, caluniado, difamado por algum jornal, revista, emissora de rádio ou TV poderá se valer da legislação comum. Falar de controle social da mídia é lembrar a mordaça que Hugo Chávez impõe aos meios de comunicação na Venezuela. A liberdade de imprensa é o oxigênio mais puro das democracias. 2º turno em SP ? Começa a circular a projeção que abre o segundo turno em São Paulo. Perguntam-me : isso é possível ? Respondo : se Mercadante garantir os 32% históricos do PT no Estado. Com esse índice e mais 14% de adversários - Celso Russomanno e os nanicos Paulo Skaf e outros - esse cenário seria bem previsível. Hoje, ainda haveria primeiro turno. Os trackings dão Alckmin com 46% e Mercadante com 27%. Vamos ver a tendência na próxima rodada de pesquisas. Osmar e Richa Luta brava é a que se trava no Paraná. Beto Richa, de favorito, vê Osmar Dias chegar perto dele. A campanha está empatada. Com mais 3 a 4 pontos daqui e de lá, a situação ficará ruim para o tucano. Golpismo da mídia A movimentação das Centrais Sindicais tendo como motivo o "golpismo da mídia" não passa de um "golpe de comunicação" para chamar a atenção. Besteirol. Sarney, não No Maranhão, quem diria, hein, o sobrenome Sarney está sendo evitado. Quem o evita ? Roseana Sarney. Que não quer a presença do pai na propaganda eleitoral. Parece contra-senso. E é. Mas a política é cheia de curvas. Tiririca, 1 milhão de votos Pergunta recorrente : o que significa o voto no palhaço Tiririca. Respondo : desencanto com a política tradicional; deboche; desrespeito ao Parlamento; falta de compromisso; ausência de valores e princípios; voto no lixo; simples brincadeira; desprezo pelos políticos. O palhaço, que poderá ter 1 milhão de votos, deverá puxar mais uns 4 ou 5 candidatos. Ou seja, o eleitor vai votar em quem viu e eleger quem não viu. A política precisa mudar de patamar. Atitude positiva Atitude positiva e expressão afirmativa são fundamentais em política. O uso do "NÃO" é desaconselhável. O "SIM" transmite um clima de otimismo, de fé, de crença, de vida. Vejam esta historinha de um médico amigo : Ele está sempre de bom humor. Quando alguém lhe pergunta como andam as coisas, responde : "Melhor é impossível". Indagado sobre tanto otimismo, costuma responder : "Ao acordar todos os dias, tenho duas opções - ficar mal humorado ou conservar o bom humor". Um dia, ele foi assaltado. Os assaltantes lhe deram um tiro. Acharam que ele iria reagir. Estava simplesmente em pânico. No hospital, as enfermeiras perguntavam : "Como está ?" Ele : "Melhor é impossível". Alérgico a tiros Quando as enfermeiras começaram a perguntar, antes de prepará-lo para a operação, se era alérgico a alguma coisa, respondeu : claro que sim. As enfermeiras, de repente, pararam tudo. Aí ele respirou fundo e gritou : "Sou alérgico a balas, a tiros". Gargalhadas gerais. Sua palavra positiva o ajudou. Perguntei a ele, um dia, o que sentira por ocasião do assalto. E ele me disse : "Quando eu estava no chão, me lembrei que tinha duas opções : viver ou morrer. Escolhi a primeira". Atitude positiva ! Conselhos aos Institutos de Pesquisas Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado a todos os candidatos. Hoje, volta sua atenção aos Institutos de Pesquisas : 1. As últimas rodadas de pesquisas serão muito mais observadas pelos eleitores. Procurem aprimorar os métodos. 2. Seria útil que os dirigentes lessem e comparassem nesta reta final resultados de pesquisas de todos os Institutos para evitar disparates, descalabros e enormes diferenças de números. 3. Tenham cuidado redobrado com as chamadas pesquisas de boca de urna. Nem sempre conferem com resultados finais, deixando Institutos em maus lençóis. ____________
quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Porandubas nº 246

Hermenegildo Recebo de Raimundo Junior uma historinha do Piauí que foi contada por seu pai, Raimundo Dias, ao nosso amigo Sebastião Nery com quem estudou no Seminário. Vejam o inelegível : O candidato contra Jorcelino chamava-se Hermenegildo. O advogado de Hermenegildo, na impugnação de Jorcelino, era Benjamin Lustosa. O Dr. Benjamin ficou a audiência inteira tentando provar que Jorcelino era "inelegível". Era "inelegível prá cá, inelegível prá lá". Quando saíram, Jorcelino disse a seu advogado, Raimundo Dias : - Doutor, o senhor viu como o Dr. Benjamin está louco ? - Por quê ? - Ele passou o tempo todo dizendo que eu era Hermenegildo. Dilma estável Dilma está com o pé direito no Palácio do Planalto. Em menos de 20 dias, o desafio de tirar mais de 20 pontos de diferença se apresenta como missão quase impossível para Serra. O quase é por conta do fator imponderável em política. Tudo pode acontecer. A essa altura, nem ondas fortes conseguem o naufrágio do barco da governista. Dilma tem atravessado borrascas : invasão de dados de Verônica Serra e tucanos; denúncia de lobby que teria sido feito pelo filho da ministra-chefe da Casa Civil, Erenice Guerra etc. Não houve alteração de voto nos índices. Pode ter havido refluxo em setores da classe média paulista. CNT/Sensus A estabilidade da candidata governista é confirmada pela última pesquisa Sensus/CNT : Dilma, 50,5% e Serra, 26,4%. Marina leva 8,9%. No levantamento anterior, os dados eram : 46% para Dilma e 28% para Serra. Classe média paulista ? Teria havido, sim, certo retraimento de votos por parte de setores da classe média de São Paulo. Essa inferência se deve ao fato de Mercadante não ter avançado. Mostra-se que Dilma teria perdido alguns pontinhos - entre 3 a 4 - em São Paulo, o que teria sido compensado pelo crescimento da votação no nordeste. Em Santa Catarina, Dilma, que perdia, já põe 5 pontos à frente de Serra. Em Minas Gerais, 2º maior colégio eleitoral do país, sua votação cresce. E continua a ganhar em São Paulo, terra principal do tucanato. Estranho, hein ? Há coisas muito estranhas nessa campanha. Por que Dilma ganha na terra mais importante dos tucanos, que é São Paulo ? Resposta : a força de Lula. Até aí tudo bem. Por que, então, Mercadante, candidato do PT, não chegou, ainda, aos 30% ? Por que não avança para alcançar o patamar histórico do petismo ? Será que o perfil do candidato o segura ? O caso paulista O cenário paulista vem se apresentando como um dos mais obscuros dessa eleição. O tracking, mapeamento feito diariamente, aponta para os seguintes dados : Geraldo Alckmin estaria com 45%; Mercadante com 26%. Caso Celso Russomanno consiga preservar seus 10%, teríamos 36%. Caso Paulo Skaf obtenha 3%, chega-se a 39%. Se os candidatos nanicos somarem uns 4% a conta vai para 43%. Isso é o que PT espera. Com mais dois pontos, a campanha paulista poderia entrar no segundo turno. É difícil, mas não impossível. Entre 0 a 10, a chance de Alckmin é, hoje, de 8. A não ser que... 2º turno Se a campanha paulista seguir adiante, no segundo turno, Alckmin terá uma montanha pela frente para escalar. Mercadante passaria a ter chances. A vencedora Dilma, o patrono Lula, os governadores eleitos do PT, no primeiro turno, com influência no eleitorado nordestino - Jaques Wagner, da Bahia, e Eduardo Campos, de Pernambuco - seriam, até, convocados para fazer pressão por estas bandas. Tenho ouvido essas análises. Registro-as como pano de fundo de muita conversa de bastidores. Ouvi muita gente importante nesses últimos dias, entre tucanos, petistas, peemedebistas e democratas do DEM. Nunes Ferreira O quadro ao Senado, em São Paulo, também continua obscuro. Este consultor acha muito difícil que as oposições por aqui - PT e PC do B - façam os 2 senadores, deixando os tucanos a ver navios. Por isso, Aloysio Nunes Ferreira, com a renúncia de Quércia, por doença, tem chances. Há quem garanta que será o mais votado, devendo ultrapassar Marta Suplicy. Pode ser. E o Netinho de Paula, que é um candidato com votação suburbana, poderia ser ultrapassado pelos votos de Nunes Ferreira no interior do Estado. Mas há quem considere Netinho o perfil que pode ultrapassar Marta. O campo está embolado. Tuma ajudando Tuma O senador Romeu Tuma deverá continuar na campanha para ajudar o filho, Robson Tuma, candidato a deputado federal. O senador está convalescente. Mas não dá sinais de que vai desistir. Fez aliança branca com Nunes Ferreira. Pedem votos para a dupla. "Las creencias son el soporte del carácter; el hombre que las posee firmes y elevadas, lo tiene excelente. Las sombras no creen." (José Ingenieros in El Hombre Medíocre) Tiririca Já o Tiririca, que pede para o "abestado" (ele mesmo), deverá angariar entre 800 a 1 milhão de votos. Puxará três ou quatro parlamentares para a legenda do PR. O palhaço tem a cara de boa parte do Brasil. Temores e dúvidas Dilma já não provoca tanto medo nos meios produtivos. A estratégia do amedrontamento, articulada por alguns setores, começa a dar sinais de desvanecimento. Há, isso sim, receio de que alguns enclaves no entorno da ministra continuem a gestar a formulação de ideias exógenas - que apontam para o dedo do Estado - em algumas áreas, como por exemplo, nas telecomunicações. Os meios empresariais e os comandos de empresas receiam que o tom intervencionista venha a se sobrepor à ordem privativista que hoje impera. Há um grupo dentro do governo, comandado por Franklin Martins, que continua a formular a política para a área das comunicações. Comenta-se que é intenção deste grupo aprovar esta matéria até o fim do governo Lula. (O tal grupo estaria acumulando raiva de setores da mídia) "A justiça pode ser cega, mas não devemos fazê-la paralítica." (Mark Berg) Mídia e ameaças Pelo que se infere, se aparecer algum projeto, de cunho mais intervencionista, no Congresso Nacional, a tendência das casas congressuais é pela aprovação. O Parlamento se sente acossado e acuado pela mídia. Logo, não se inclinaria a atender pleitos de grupos de comunicação. Tenho ouvido o bordão por onde passo : a mídia tornou-se um partido escancarado. Faz campanha aberta para um candidato. E o faz de maneira agressiva e sem pudor. Tento, às vezes, argumentar que o papel da imprensa também é de vigiar, criticar, fiscalizar. Vejo a fogueira subindo e aqueles que se preocupam em jogar água para baixar o fogo infelizmente não o conseguem. Cabeça fria, gente, cabeça fria. O momento sugere bom senso. "A ousadia dirigida por uma inteligência dominante é a marca do herói." (Clausewitz in Da Guerra) Debates Ninguém aguenta mais ouvir debates. Essa bateria de lengalenga tem funcionado mais como estratégia de alavancagem de marketing das empresas do que efetivo instrumento para avaliação e comparação de propostas de candidatos. Os debates têm oscilado entre os índices de 4% a 5%. Pouca audiência. E mesmo o debate da Rede Globo, ao final do mês, não deverá ter muito impacto. A saturação do verbo motiva os telespectadores a desligarem os aparelhos de TV ou mudar de canal. Novos senadores ? Dois casos emblemáticos : Marco Maciel (DEM/PE) e César Maia (DEM/RJ). Estavam bem de saúde eleitoral. Passam mal. Em Pernambuco, o ex-presidente da CNI, deputado Armando Monteiro, deverá desalojar um senador dos mais antigos, o ex-presidente da República, Marco Maciel. No Rio de Janeiro, César Maia, um bom pensador político, está sendo ultrapassado pelo petista Lindberg Farias. De Roraima, virão Romero Jucá (PMDB) e Ângela Portela (PT). Do Amazonas, deverão vir Eduardo Braga (PMDB), Arthur Virgílio (PSDB) ou Vanessa Grazziotin (PC do B). Paraná quente A campanha no Paraná pega fogo nesta reta final. Osmar Dias chega perto de Beto Richa. Campanha no segundo turno daria vitória a Osmar. Tucanato divisa mais uma floresta em chamas. RN Um dos últimos redutos do DEM é o Rio Grande do Norte. A senadora Rosalba Ciarlini (DEM/RN) poderá levar a melhor logo no primeiro turno. Junto de um peemedebista, Garibaldi Alves, e de um democrata, José Agripino. Indo ao RN, Lula poderia puxar os nomes de Iberê Ferreira (PSB) ao governo e Vilma Faria (PSB) ao Senado. Difícil. O Rio Grande do Norte é um Estado quase imune às pressões. O governismo A continuidade governista poderá agregar 20 governadores no pleito de 3 de outubro. Lembra os tempos áureos do governo Sarney, quando o PMDB fez 22 dos 23 governadores. Só não elegeu o governador de Sergipe, Antonio Carlos Valadares, na época PFL. Ficha Limpa Faltam menos de 20 dias para as eleições. Se o STF não julgar se a lei da Ficha Limpa está em vigência para as eleições de outubro, muitos candidatos se submeterão às urnas mergulhados em dúvida. Poderão, caso eleitos, perder o mandato mais adiante. Lula extrapola Lula sempre extrapola. Desta feita, o presidente foi além do bom senso, ao dizer que é preciso extirpar o DEM da política brasileira. Se ele não gosta de fulano ou sicrano deste partido, não pode e não deve usar a parte pelo todo. Há gente de qualidade na sigla. E que merece respeito, a partir de um quadro como Marco Maciel, senador de Pernambuco. "Não tem futuro a gramática da vida." (Machado de Assis) Conselho a todos os candidatos Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos gurus do marketing. Hoje, volta sua atenção a todos os candidatos. Atenção, candidatos majoritários e proporcionais de partidos e coligações. Atentem para alguns princípios orientadores na busca do voto : 1. Procurem expressar a característica mais importante de sua identidade - o foco. 2. Não esqueçam que o eleitor deseja travar conhecimento com o personagem. Circular no meio da massa é importante. 3. Façam grande esforço para multiplicar presença em vários locais - a onipresença é um valor insuperável. Planejar eventos rápidos em lugares e cidades diferentes em um mesmo dia. ____________
quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Porandubas nº 245

O velho Padre Anacleto Em Uiraúna, Paraíba, terra de Luiza Erundina e de José Nêumanne, o Padre Anacleto era conhecido por sua maneira engraçada de falar trocando situações e interpretando de maneira singular o ensinamento bíblico. Era temido pelos políticos porque não tinha papas na língua. Muita gente ainda hoje o imita. Uma vez, porém, caiu na armadilha engenhosamente preparada por Neco Pistola, figura muito popular da cidade. Para irritar o padre, Neco perguntou-lhe : "padre Anacleto, o que é artrite ?" O velho cônego respondeu : "artrite é a doença dos infiéis, das pessoas que não assistem missa aos domingos, é a doença dos vagabundos, dos cafajestes, viu seu Neco ?" E Neco, todo compenetrado, passou a ler o jornal que levava na mão : "ah, agora entendo. Aqui tá dizendo que o Papa está com artrite". Mais um mês de campanha José Serra contratou um guru, chamado Ravi Singh, para mudar sua campanha. Vai conseguir ? Provavelmente, não. Marketing é um sistema meio, não é um sistema fim. E como tal traduz o espírito de uma campanha, a partir de discursos, atitudes, gestos, enfim, todos os véus que cobrem um candidato. Marketing não ganha campanha. Quem ganha campanha é o candidato. Marketing ajuda a diminuir os pontos negativos de um perfil e maximizar os aspectos positivos. "As enfermidades são os resultados não só dos nossos atos como também dos nossos pensamentos." (Gandhi) FHC sobre Zé Fernando Henrique é taxativo : que bobagem chamar Serra de Zé. Serra é Serra. E ponto final. Crítica ácida ao programa tucano na TV. Aécio como perfil Serra era o candidato natural à presidência pelo PSDB. O mais experiente, o mais idoso, o mais denso perfil. Tinha uma reeleição tranquila ao governo de São Paulo. Mas usou o rolo compressor para esmagar outros pretendentes. Hoje, as coisas ficam mais claras. Aécio Neves poderia ser candidato mais competitivo que Serra. Primeiro, porque atrairia parcela significativa do PMDB. Segundo, porque poderia, até, ser o candidato de Lula, pela coligação governista. Aécio era o único candidato que poderia entrar no sistema cognitivo e de aceitação do presidente. Encarnaria os valores da jovialidade, modernidade. Fecharia Minas e Rio em torno dele. SP viria por atração. Depois, o nordeste. Alívio Aliás, Aécio respira aliviado. Serra perdia feio em Minas. E ganhava em São Paulo há um mês. Hoje, perde em Minas e também em SP. O mineiro diz : ainda bem que não serei acusado de ser o responsável pela derrota de Serra em Minas. Se ele perde mesmo em SP... "Minha devoção à verdade empurrou-me para a política; e posso dizer, sem a mínima hesitação, e também com toda a humildade que, não entendem nada de religião aqueles que afirmam que ela nada tem a ver com a política." (Gandhi) Para onde vamos ? A pergunta, agora, é : para onde vamos após as eleições ? Tentarei fazer pequenas reflexões. Primeiro, não haverá mudança brusca de rumos em caso de vitória de Dilma. O que poderá ocorrer, isso sim, são alterações parciais nos programas, tendo em vista correções de aspectos e ajuste de posições. É evidente que a candidata, se eleita, desejará imprimir sua identidade no cotidiano da administração. Ela estará, com isso, respondendo à questão : é uma sombra de Lula ou tem sombra própria ? Dilma desejará provar que tem muita personalidade. Relação com o Congresso O Congresso será eminentemente governista. Os cálculos iniciais dão conta de uma base na Câmara em torno de 380 parlamentares. E no Senado esta base deverá ultrapassar os 50 senadores. Fiz algumas checagens e vi que os governistas poderão ganhar entre 36 a 38 cadeiras no Senado, que se somarão aos 13 governistas que continuarão no Senado porque têm ainda 4 anos pela frente. Significa que um governo dilmista teria ainda mais folga no Congresso que a administração anterior. Mas... Há um "mas". Trata-se da dúvida sobre a repartição de posições avançadas no governo. Os maiores partidos deverão botar pressão para ganhar ministérios e autarquias. O PMDB sairá muito fortalecido. O papel do vice-presidente, Michel Temer, caso eleito, será fundamental para conter os ânimos. Michel funcionará como um braço político da administração, não apenas porque conhece como ninguém os bastidores do Congresso, como pelo perfil de respeitabilidade e credibilidade. Dilma deverá lhe dar atribuições específicas nesse campo da articulação política. Ficha-suja ? Semana passada, comentei sobre os fichas-sujas, aventando a hipótese de que muitos iriam concorrer passando por cima. Recebi uma observação muito procedente do Diretor-Geral do TRE/RS, Dr. Antônio Augusto Portinho da Cunha. "A propósito de sua coluna Porandubas Políticas desta quarta-feira, gostaria de fazer uma observação acerca do seguinte trecho : "Paulo Maluf foi impugnado pela Justiça Eleitoral de São Paulo. Roriz, candidato a governador do Distrito Federal, também está bloqueado pela Justiça Eleitoral. Leiamos : serão candidatos e poderão ser eleitos. Apelam para o TSE. E, se forem condenados, se valerão de recurso junto ao STF. Ou seja, as decisões finais vão para as calendas. Há, por enquanto, 486 recursos no TSE. Brasil novo, Brasil velho". Esclareço que, segundo a legislação eleitoral atualmente em vigor, se ambos os candidatos chegarem à data da eleição na situação de inelegíveis, seus votos não serão considerados na apuração, e constarão como nulos nos respectivos boletins de urna, proclamando-se eleito o candidato regularmente registrado que tenha obtido o maior número de votos, ainda que existam recursos pendentes dos mencionados candidatos. Em outras palavras : a circunstância de poderem concorrer sob conta e risco não lhes dá direito a terem computados a seu favor os votos a eles direcionados, salvo se obtiverem decisão que lhes favoreça até a data do pleito." Nomes em prestígio Outros nomes começam a surgir na moldura do prestígio, como o atual líder do governo, Cândido Vaccarezza, o deputado José Eduardo Cardozo, que poderá vir a ocupar o Ministério da Justiça, o do deputado Antônio Palocci, o do deputado estadual de São Paulo, o jornalista Rui Falcão, o deputado Henrique Alves, do PMDB-RN, que poderá vir a ocupar a presidência da Câmara dos Deputados. E as oposições O DEM, muito fragmentado, deverá procurar alianças e parcerias. Deverá eleger Rosalba Ciarlini, no Rio Grande do Norte, e poderá ganhar com Raimundo Colombo, em Santa Catarina, e João Alves, em Sergipe. Não é de todo improvável uma fusão com partidos do meio. Uma das maiores expressões do DEM é o prefeito Gilberto Kassab, de São Paulo. O prefeito é um hábil articulador e os grandes partidos ambicionam conquistá-lo para suas bandas. O PMDB está à frente desse processo. Kassab, por outro lado, tem comando sobre uma boa parcela de parlamentares. Jarbas e Eduardo Eduardo Campos sempre se recorda da fragorosa derrota que Jarbas Vasconcelos imprimiu ao seu avô, Miguel Arraes, há bons anos. Neste pleito, os milhões de votos jogados na cara do avô voltarão a bater na cara de Jarbas. Será uma das maiores vitórias de um governador que se candidata à reeleição. Pernambuco deverá dar, ainda, a maior vitória eleitoral à candidata de Lula. Tucanos ? Se os tucanos não vão bem na campanha federal, têm boas possibilidades em alguns Estados no pleito para governos estaduais. Lidera nos dois maiores colégios eleitorais do país (Alckmin em SP e Anastasia em MG), podendo vencer em Goiás, com Marconi Perillo, no Paraná, com Beto Richa, no Piauí, com Sílvio Mendes e em Rondônia, com Expedito Júnior. Tem chances de vencer, ainda, no Amapá, com Jorge Amanajás, em Roraima, com José de Anchieta Junior. Em tempos turvos... Eram os turvos tempos da promulgação do AI-5, dezembro de 68, fechamento dos legislativos e as sub-CGIs nos Estados exigindo que todos os parlamentares fizessem uma declaração de bens dos dez anos anteriores. João Batista Botelho, conhecido na Assembleia paulista como João Cuiabano, preparou o seu dossiê e, quando ia enviá-lo a quem de direito, alguém adverte : - Nobre deputado, Vossa Excelência tem de dar a eles também o seu currículo. João Cuiabano, homem de poucas letras, mas decidido, virou uma fera : - Isto eu não vou dar de jeito nenhum. Só conseguirão se passarem sobre meu cadáver. Historinha do nosso amigo Sebastião Nery. Grandes dúvidas Na Paraíba, quem será eleito para o Senado ao lado de Cássio Cunha Lima : Efraim Morais ou Vital do Rego Filho ? De Pernambuco, quem virá : Marco Maciel ou Armando Monteiro Filho ? Do Piauí, virá Mão Santa ou Heráclito Fortes ? Do Rio de Janeiro, virá César Maia, Marcelo Crivella ou Lindberg Farias ? De São Paulo, virá Orestes Quércia ou Netinho de Paula, para fazer companhia à Marta Suplicy ? De Minas, Aécio Neves é uma certeza. Mas o segundo será Itamar ou Fernando Pimentel ? E Skaf, hein ? Paulo Skaf, o maior nariz da campanha, está com 2%. Sua meta é chegar aos 10%. Para se habilitar à Prefeitura em 2012. Mercadante tem chance ? Essa é uma pergunta que me fazem a todo momento. Resposta : se for para o segundo turno, tem muita chance. O problema é este : haverá tempo para tirar a grande diferença ? Tempo haverá. Mas a questão continua batendo na identidade e na imagem do candidato. Mercadante mostra-se sempre zangado. Quando fala algo, parece que está indignado com Deus e o mundo. Combate tudo. E bate em todos. Deveria dizer o que é bom e o que é ruim. Sem ataques genéricos. E concretizar propostas. Alckmin, por sua vez, está ganhando no vácuo. Calmo, harmônico, sorriso aberto e franco. Se Lula se entranhar em São Paulo, fará um escarcéu pró Mercadante. E Aloysio, hein ? Um dos mais densos e preparados perfis do atual pleito é o de Aloysio Nunes Ferreira, que foi ministro de Fernando Henrique e Chefe da Casa Civil de Serra quando era governador. Aloysio patina nos 10%. Faz boa articulação com os prefeitos de São Paulo, mas decidiu fazer uma campanha de gabinete, trancado. E, claro, usa bem a TV. Mas não se vê este candidato fazendo caminhadas, procurando voto junto às multidões. É uma pena. Por que Costa caiu ? Perguntam-me : qual é a explicação para a queda de Hélio Costa ? Minha resposta : a onda do vento. Quando o vento aponta para uma direção não haverá montanha capaz de detê-lo. Anastasia é o vento da vez. Simboliza o novo, encarna o amanhã. Helio Costa é um ótimo apresentador de TV e, como político, não teve muito relevo. Foi um ministro das Comunicações com pouco realce. Representa o passado. Poderá até ganhar se Lula lhe der a costa - arre, jogo de palavras - para carregá-lo. Mas ninguém segura a direção do vento. Dirceu no Governo Fala-se muito na volta de Zé Dirceu ao governo, caso Dilma ganhe as eleições. Nem a candidata nem Zé Dirceu seriam tão ingênuos a ponto de achar que essa volta seria natural. Zé quer continuar, claro, a ter influência. Não, porém, como vidraça. Trata-se de uma pessoa que ajudou, e muito, o PT a tomar forma e ganhar musculatura. Sabe que a mídia o coloca na lupa todos os dias. Palocci, por sua vez, poderá subir. Mesmo assim, se sujeitará aos embates midiáticos. Se passar por todos os testes, terá muito poder. Mas Dilma é intuitiva. A conferir ! Duda em fase ruim Duda Mendonça vive seu inferno astral. Seus candidatos podem perder : em Minas, Hélio Costa deverá perder para Anastasia; Fernando Pimentel está em terceiro lugar; em São Paulo, Paulo Skaf é nanico; em Tocantins, Siqueira Campos perderá a batalha para Carlos Gaguim. Só Roseana Sarney pode ganhar. Mas levará ? O MP jogou-a na esfera dos fichas-sujas. Conselho aos gurus do marketing Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado a todos os candidatos. Hoje, volta sua atenção aos gurus do marketing. Nesse final de campanha, procurem se inspirar em pequenas lições : 1. A lei da verdade suplanta a lei da mistificação. 2. O eleitor sabe se o candidato foi aumentado artificialmente um palmo ou dois acima de sua altura. 3. Falar com o coração é mais eficaz do que falar pela cabeça. 4. Agir com grandeza, sem golpes baixos, até o fim. 5. Prometer apenas o que poderá ser cumprido. Demonstre a viabilidade. 6. Tenha fé e não desista até o último segundo. ____________
quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Porandubas nº 244

Suavemente José Maria Alkmin, mineiro, político e maquiavélico, passou uma temporada como advogado. Certa vez advogou a causa de um grande criminoso. No júri, conseguiu oito anos para o réu. Recorreu. Novo júri, 30 anos. O réu ficou desesperado : - A culpa foi do senhor, dr. Alkmin. Eu pedi para não recorrer. Agora vou passar 30 anos na cadeia. - Calma, meu filho, não é bem assim. O senhor sabe fazer conta? Então, vamos lá. Nada é como a gente pensa da primeira vez. Primeiro, não são 30, são 15. Se você se comportar bem, cumpre só 15. Depois, esses 15 são feitos de dias e noites. Quando a gente está dormindo tanto faz estar solto como preso. Então, não são 15 anos, são 7 e meio. E, por último, meu filho, você não vai cumprir esses 7 anos e meio de uma vez só. Vai ser dia a dia, dia a dia. Suavemente. Nem vai perceber. Minha hipótese Há tempos tenho insistido nessa hipótese : o candidato que mantiver boa dianteira nas pesquisas, durante as duas primeiras semanas de programa eleitoral, estará pertinho da vitória. Não haveria tempo para adversários tirarem o atraso. Então, a inferência continua : Dilma está perto de ganhar no primeiro turno. Os 20 pontos de maioria que detêm lhe asseguram um confortável passo a caminho da vitória no primeiro turno. Quais as razões ? PNBF Minha tese é de que o Produto Nacional Bruto da Felicidade é quem está comandando o processo de escolha. Sem ufanismo, eis minha leitura : a maioria da população brasileira está satisfeita com o governo Lula. O presidente colou o voto ao bolso dos cidadãos. Logo, o voto gera alimento para o estômago. Geladeiras cheias, fogões com chamas acesas fazendo comida farta. Produtos da linha branca enchendo as cozinhas. Carro novinho, mesmo que seja simples, na porta de casa. Até o dinheirinho para o lazer está à disposição. Há uns 20 programas de Lula que, somados, formam o que chamo de Produto Nacional Bruto da Felicidade. Passaporte para Dilma. Serra, um discurso troncho Questões que devem inquietar os marqueteiros : por que votar em Serra ? Por que o eleitor está insatisfeito ? Por que vota em candidato mais preparado ? Por que Serra é mais experiente ? Ora, tais argumentos só funcionam junto a estratos que estão acima do meio da pirâmide. O voto racional pode ir para Serra, mas é um sufrágio menor. Serra, na verdade, carece de um discurso menos vago. Se prometer mudanças, perderá muitos eleitores. Que temem alteração substancial nas regras do jogo. Se disser que vai aperfeiçoar, a questão surge : como ? Aperfeiçoar é um verbo abstrato. Serra centralizador A campanha do ex-governador paulista, ademais, carece de planejamento, de organização. Serra é quem decide tudo, ao sabor do humor. Dorme tarde, lá pelas 4 da manhã, acorda pelas 8h/9h, cheio de sono e ressaca eleitoral. Fica com o humor à flor da pele. Agora decidiu concentrar a campanha no Triângulo das Bermudas, Rio, São Paulo e Minas Gerais. Campanha de corpo a corpo. Aí se concentra o maior eleitorado brasileiro. Haverá tempo de diminuir a distância ? Programa velho O programa de Serra na TV é velho, cheio de bolor. Mostra o que fez e o que poderá vir a fazer. Imagens antigas, de arquivo, e falas pontilhadas pela didática do professor em sala de aula. Uma chatice. E, para chegar ao cúmulo do contra-senso, aparece Lula no programa. Como Serra vai justificar a imagem de Lula, se, na sequência, vem uma saraiva de balas contra o governo de... Lula ? A isso chamamos de dissonância cognitiva. O eleitor é induzido à dúvidas. E, ao final do processo, tende a concluir que Serra está querendo enrolá-lo. E que Dilma é a candidata do presidente. Gonzalez, o marqueteiro de Serra, parece ter perdido o eixo. A morte da princesa O que é globalização ? Um gaiato responde : a morte da princesa Diana... Vejamos. Uma princesa inglesa, com um namorado egípcio, sofre um acidente de carro dentro de um túnel francês, num carro alemão com motor holandês, conduzido por um belga, encharcado com whisky escocês. O bêbado foi seguido por paparazzi italianos em motos japonesas. A princesa foi tratada por um médico canadense, que usou medicamentos americanos. Este e-mail é enviado a você por um brasileiro que usa tecnologia americana (Bill Gates) e provavelmente o leitor estará lendo esse texto em um computador com chips feitos em Taiwan e um monitor coreano montado por trabalhadores de Bangladesh, numa fábrica de Singapura e transportado em caminhões conduzidos por indianos roubados por indonésios, descarregados por pescadores sicilianos, reempacotados por mexicanos e, finalmente, vendido na ponta da linha por chineses por meio de uma conexão paraguaia. Quer exemplo mais acabado de globalização ? Anastasia e Hélio Em Minas Gerais, estamos assistindo a uma das batalhas mais disputadas do pleito. Hélio Costa, do PMDB, continua confortável, com 11 pontos de dianteira, mas o candidato de Aécio Neves, o governador Anastasia, poderá causar surpresas. Será bastante previsível se Anastasia for para o segundo turno com Hélio Costa e levar a melhor em um Estado, que deverá dar boa vitória a Dilma. Aécio diz que vai ganhar no primeiro turno. Aí, já é exagero. Mas em se tratando de política, e de política mineira, tudo é possível. São Paulo, expectativas São Paulo tem o maior eleitorado : 30 milhões. A surpresa, até o momento, é a estagnação de Mercadante. Alckmin continua pontuando uma diferença que beira os 30 pontos. É surpreendente sua performance até o momento. São Paulo é, mesmo, uma floresta tucana. Mas Lula decidiu aqui desembarcar com todo o arsenal que dispõe. Ele dá como favas contadas a vitória de Dilma e faz apostas que colocará Mercadante no segundo turno. Se o petista ganhar uma segunda possibilidade, e Dilma se eleger no primeiro, então pode-se vislumbrar alguma chance para Mercadante. Difícil ? É. Mas não impossível. Os dois senadores Há uma incógnita pairando sobre o cenário para o Senado em São Paulo. Uma vaga será de Marta Suplicy. Mas a outra é uma indefinição. Terão chances Quércia, Tuma e Netinho de Paula. E Aloysio Nunes Ferreira ? Este é o maior ponto de interrogação. Trata-se do candidato in pectore de Serra. Trata-se do candidato tucano de Geraldo Alckmin. E por que não decola ? Com um bom espaço de TV e um programa bom, Aloysio não saiu da casa de um dígito. Tem o apoio da imensa maioria dos prefeitos paulistas. Mas patina. Cada caso é um caso. Esse tucano é um perfil endógeno, para dentro. Não se abre. Sem asas para voar. Preso em uma redoma. E quem será ? Quércia representa a política tradicional. Se voltar, deverá ser por conta das forças do interior. Tuma se guarda no escudo da segurança, sempre um seguro escudo. Mas sofre limitações. Netinho de Paula agarra-se na voz do pagodeiro e fama de artista para captar os abraços e votos das massas. Por isso, poderá voar mais alto. Não se surpreendam se for um dos escolhidos. Confesso que, até este momento, tenho dúvidas sobre o segundo nome. Se o interlocutor conversa com Aloysio, ouvirá dele : "serei eu o eleito". Será ? Pesquisas As pesquisas, após um ciclo de muita diferenciação entre uma e outra, começam a se compor. Os Institutos acertam os ponteiros e aproximam seus índices. Hoje, maioria de Dilma gira entre 18 e 20 pontos. Banho nordestino A aprovação de Luiz Inácio chega a 95% em alguns Estados do nordeste. Deus nos céus e Lula na terra. Em Estados como Pernambuco, prefeitos tucanos correm em direção a Dilma, em clara traição ao candidato Serra. O DEM no RN e em SC O Rio Grande do Norte poderá se transformar, ao lado de Santa Catarina, no segundo Estado brasileiro a ser governado por um representante do DEM : a senadora Rosalba Ciarlini. Trata-se de uma política que conquista votos em muitas searas. Daí seu perfil plural e suprapartidário. Tem o apoio de parte do PMDB, além do DEM e do PSDB. Em SC, Ângela Amin está na frente. Mas aguentará o tranco ? PMDB ou PT ? Quem fará a maior bancada de deputados federais ? O PMDB crava uma cifra : 99. O PT crava outra : 98. Quem fizer a maior bancada, ganhará o direito de começar a legislatura de 2011 com o comando da Câmara. Se for o PT, o nome é Cândido Vaccarezza, um dos melhores e mais preparados quadros petistas. Este médico, baiano de origem, tem voo alto. Se for o PMDB, o nome é o de Henrique Alves líder do partido pela segunda vez, e um dos mais hábeis articuladores do Congresso. Nega maluca, cuidado Urge ter cuidado com os termos. Tempos de igualdade. Tempos de combate ao menor sinal de discriminação. Uma senhora entra numa confeitaria e pede ao balconista uma torta "Nega Maluca". O balconista diz à cliente que usar o nome "nega maluca", hoje em dia, pode dar cadeia, pois esbarra nas seguintes disposições : - Lei Affonso Arinos; Lei Eusébio de Queiroz; art. 5º da Constituição; Código Penal; Código Civil; Código do Consumidor; Código Comercial; Código de Ética; moral e bons costumes, além da lei Maria da Penha... - Então, meu filho, como peço a porcaria dessa torta ? - Torta afro-descendente com distúrbio neuro psiquiátrico... Retrocesso O Brasil avança em muitas áreas. Mas em matéria de comunicação política, caminha para trás. É inimaginável a censura imposta ao humor político. Humoristas não podem satirizar candidatos. Trata-se de uma aberração. Tivemos no Brasil ciclos mais abertos. No princípio do século passado, revistas como Careta eram especializadas no trato e na produção do humor político. Será que os nossos juízes eleitorais perderam o tino ? Ficha-suja e as calendas Paulo Maluf foi impugnado pela Justiça Eleitoral de São Paulo. Roriz, candidato a governador do Distrito Federal, também está bloqueado pela Justiça Eleitoral. Leiamos : serão candidatos e poderão ser eleitos. Apelam para o TSE. E, se forem condenados, se valerão de recurso junto ao STF. Ou seja, as decisões finais vão para as calendas. Há, por enquanto, 486 recursos no TSE. Brasil novo, Brasil velho. 21 ações O partido tucano entrou com mais 21 ações contra a candidata do PT, que teria invadido a programação dos candidatos a deputado. Patrulhas As patrulhas começaram a botar a cara na rua. E a dedarem quem não se guiar por sua bíblia. Acham-se no direito de condenar analistas, de vituperar jornalistas, simplesmente se estes fazem críticas a seus candidatos. Até este consultor, com suas três décadas de análise e consultoria política, tem sido vítima de um bando de desqualificados. Pior é constatar que esse grupo está incrustado na banda da direita empedernida. Conselho aos candidatos Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos candidatos à Presidência da República. Hoje, volta sua atenção a todos os candidatos : 1. O discurso está muito assemelhado. Procurem criar um diferencial. 2. Arrumem uma boa ideia. Mesmo que seja apenas uma. E fiquem martelando essa proposta com construções gramaticais criativas. 3. Testem-na sob o prisma da viabilidade, eficiência e eficácia, relação custo/benefício, impacto social. ____________
quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Porandubas nº 243

Puxa-sacos Tempos eleitorais. Tempos de fidelidade e infidelidade. Guararé era cabo eleitoral do governador Sebastião Archer, do Maranhão. Convenção do PSD, alguém acusou Guararé de puxa-saco. Guararé argumentou : - Cada um puxa quem pode. Eu puxo o senhor, governador Archer. O senhor já puxa o senador Vitorino Freire. E o senador puxa o general Dutra. É a lei da fidelidade partidária. O primeiro debate Amanhã, teremos o primeiro debate entre os presidenciáveis. Como acontece em ano eleitoral, este debate é feito pela TV Bandeirantes. Fernando Mitre, diretor de jornalismo, garante que o formato escolhido para este ano é o melhor de todos os tempos. Dará direito a todos de fazerem questionamentos recíprocos. Serra tentará provocar Dilma. E esta tentará colar sua imagem no governo Lula. Marina, por sua vez, tentará ser a terceira via, saindo pelo meio. Não se espere alteração nas preferências. O público que assistirá ao debate já fez sua opção. Repercussão A repercussão do debate será um recurso a ser usado de maneira intensa por Serra e Dilma. Os marqueteiros de cada candidato devem ter preparado sistemas de apuração dos climas emotivos. Esses sistemas apuram os pontos de maior destaque e menor impacto de cada candidato. São analisados os temas, a forma como foram tratados, as palavras mais amenas e mais agressivas, as abordagens. Medirão, portanto, as performances. E servirão para ajustamento dos candidatos em futuros debates. Quem vencerá ? O critério para avaliar a vitória de um candidato em um debate na TV é a liderança nas pesquisas de intenção de voto. Regra geral, o vencedor de um debate é quem está em primeiro lugar nas pesquisas. A conferir. Ficha congestionada Os candidatos de ficha-suja congestionam os Tribunais Eleitorais. Encerra-se, amanhã, o prazo para análise das impugnações nos Estados. Os candidatos impugnados poderão recorrer ao TSE. Que terá até o dia 17 para dar sua palavra final. A previsão é de que também o TSE não tenha tempo para avaliar a montanha de processos. Só em São Paulo, por exemplo, 46,5% dos candidatos estão sendo contestados. Apostas Nesse momento, qualquer aposta em candidatos poderá dar com os burros n'água. Convém esperar mais um pouco para que o horizonte se livre de nuvens densas. A campanha terá momentos decisivos : o início na TV e no rádio, entre 17 de agosto e 30 de agosto; a segunda etapa, morna, nas duas semanas de setembro, até o dia 15, tempo de análises qualitativas; o terceiro momento, é o de fechamento de posições e ajustes do discurso, que vai até o final de setembro. Esse ciclo será bem acompanhado pelos eleitores. Blefes Quem aponta como vitorioso um candidato que está muito embaixo pode estar blefando. Ou conhece muito bem as tendências dos eleitores de seu Estado. Aposto na primeira hipótese. Farta feição José Aparecido chegou à sua Conceição do Mato Dentro/MG, começou a romaria dos amigos. Entrou um coronel, mansos passos e chapéu na mão : - Bom dia, doutor. Boa viagem ? - Boa. Como vão as coisas ? - Tudo correndo como de costume. Novidade aqui nunca tem e lá pra fora não sei, porque minha televisão está defeituada. - O que é que aconteceu com ela ? - Não sei não. Às vez farta prosa, às vez farta feição. (José Aparecido foi deputado federal, ministro da Cultura, governador de Brasília e embaixador em Portugal. Excepcional figura) PE, PB, RN e CE Gente bem informada me dá conta : em PE, Eduardo Campos continuará no governo; na PB, o mesmo acontecerá com José Maranhão; no RN, Rosalba Ciarlini só não ganha se disputar com um santo de muita devoção; e no CE, Cid Gomes também levará a melhor. Preste atenção "Preste atenção neste cara". O slogan pertence ao socialista Paulo Skaf. Mais parece um teaser, uma chamada publicitária para o lançamento de um nome. O teaser prepara o ambiente para o futuro. Ora, a campanha já começou. O futuro é agora. E algumas avenidas chiques de São Paulo foram tomadas por cavaletes com esse teaser. Um detalhe : "a cara" de Paulo Skaf chama mais atenção do que o resto "do cara". Principalmente o nariz adunco. Eis aí um logotipo dos mais definidos. Crise no STF O ministro Eros Grau se aposentou e sai do STF. O ministro Joaquim Barbosa pediu mais 60 dias de afastamento para tratar da saúde. A mais alta Corte do país está desfalcada. Se Lula não nomear logo o substituto de Eros, os julgamentos naquela Corte poderão entrar em um túnel escuro. Vai haver muito atraso por conta do acúmulo de processos nas mãos dos ministros. A pressão sobre Lula deve ser muito intensa. E o presidente poderá deixar a decisão para momentos mais calmos, após o pleito de outubro. Este consultor acha, porém, que a decisão virá mais cedo. Ele levou os discos ? Seu Lunga chega num bar e fala pro atendente : - Traz uma cerveja e bota o disco de Luiz Gonzaga pra eu ouvir ! - Desculpe, meu amigo, não posso botar música hoje... - Mas por que ? - Meu avô morreu ! Seu Lunga, ríspido : - E ele levou os discos ? Arrecadação Quem acompanha pleito eleitoral conhece as regras da arrecadação. Candidato com grande viabilidade eleitoral - cargos majoritários - passa o chapéu com relativa tranquilidade. Pesquisas de intenção de voto são a chave para abrir portas. Candidato com poucas chances geralmente vê portas fechando em sua cara. Dito isto, resta saber : por que José Serra, neste momento, é o lanterninha na arrecadação ? Sua campanha está atrás das campanhas de Dilma e Marina no quesito atração de grana. Querelas petistas As alas do PT não param de brigar. Grupos se engalfinham para garantir posição melhor em um eventual futuro governo Dilma. Nessa disputa, tudo vale : chantagens, dossiês, cartas anônimas. Quem teria produzido o vazamento de carta apócrifa ligando filha do ministro Mantega e Paulo Cafarelli, indicado para a caixa de previdência do Banco do Brasil ? Segundo turno em SP ? Incrível, porém com jeito de verdade. O petista Aloizio Mercadante tem perfil de esquerda, o tucano Geraldo Alckmin agrega posições no meio e o malufista Celso Russomanno está sediado no canto direito. Alckmin tem 50% de intenção de voto. A eleição, hoje, seria decidida no primeiro turno. Quem pode adiar a decisão é o Russomanno. Ou seja, para se viabilizar a esquerda precisa da direita. O segundo turno poderá ocorrer caso o malufismo consiga dar ao seu candidato algo entre 12% a 15%. Difícil, mas não impossível. Alckmin, discreto Geraldo Alckmin é um sujeito de sorte. Muita sorte. Esta campanha está caindo em seu colo sem que ele faça muito esforço. Quase não se vê Geraldo falando ou aparecendo nos lugares. Mas continua firme nos 50% de intenção de voto. Pode ser que o PT consiga resgatar seu índice histórico em SP e dar a Mercadante seus 30%. A conferir. É aquele ali O filho do Seu Lunga jogava futebol em um clube local. Um dia, Seu Lunga foi assistir a um jogo do filho no estádio. O sujeito sentado ao lado pergunta : - Seu Lunga, qual dos jogadores ali é o seu filho ? Seu Lunga aponta e diz : - É aquele ali... - Aquele qual ? - Aquele ali !!! - Não tô vendo... Então Seu Lunga "P" da vida pega uma pedra e a atira sobre o filho. Exclama : - É aquele ali que começou a chorar ! E o Senado em SP ? Uma vaga será de Marta Suplicy. Mas a segunda vaga ao Senado em SP ainda é uma incógnita. Alguns apostam em Quércia, outros em Romeu Tuma. E ainda há quem aposte em Aloysio Nunes Ferreira, tucano, que tem apenas 4%. Netinho de Paula, do PC do B, tem 16%. Não enxergo o segundo senador. PNBF Como este consultor vem enfatizando há tempos, o PNBF - Produto Nacional Bruto da Felicidade é a fortaleza da candidata Dilma. As análises e cruzamentos feitos sobre as pesquisas apontam para seu maior eleitorado : famílias pobres que demonstram satisfação econômica. Ela tem 17 pontos de vantagem sobre Serra entre os que acham que poder de compra melhorou. Eu sou um merda José Augusto Bezerra de Medeiros, governador do RN, apresentou ao presidente Afonso Pena o capitão Quincó, ajudante-de-ordens, que ficaria à sua disposição. E fez os maiores elogios ao capitão, que se fazia presente. Quincó ficou tão encabulado que disse a Afonso Pena : - Qual o quê, Presidente. Eu sou é um merda. Arrogância e soberba Pecado mortal de um candidato ou candidata é demonstrar arrogância e soberba. Esses atributos aparecem quando os personagens respondem de forma ríspida perguntas de jornalistas, quando debocham de adversários e exibem ar de superioridade. Sérgio Cabral, apesar da enorme vantagem sobre Fernando Gabeira, é um poço de arrogância. Conselho aos candidatos Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos ministros do TSE. Hoje, volta sua atenção aos candidatos à Presidência da República : 1. No primeiro debate na TV, procurem apresentar propostas, defender ideias e levantar grandes bandeiras. 2. O discurso positivo é mais importante que o discurso de acusação e recriminação do adversário. 3. O ataque ao adversário só se justifica para amparar um ideário, escudar um ponto de vista ou para estabelecer uma comparação. ____________
quarta-feira, 28 de julho de 2010

Porandubas nº 242

Fagulha não. Coronel Toniquinho Pereira era chefe político de Itapetininga/SP. Houve uma recepção ao governador, na estação de Iperó. O coronel foi. Quando o trem chegou, o coronel se queixou ao prefeito : - Caiu uma fagulha no meu olho. - O trem é elétrico, coronel. Não solta fagulha. - Então foi um quilowatt. Polarização A 20 dias do início da programação eleitoral no rádio e na TV, a campanha começa a ficar mais quente. José Serra, com o apoio de seu Índio, tem posto lenha na fogueira. Objetiva mostrar um eventual governo Dilma/PT comprometido com invasões de terra (MST), FARCs, Chávez (amigo de Lula) como ameaça à estabilidade, desorganização no campo econômico e por aí vai. Serra assumiu, por inteiro, um discurso direitista, ancorado em uma linguagem de amedrontamento. Dará certo ? Pouco provável. Esse voto que Serra tenta capturar já está definido : é o voto consciente. As massas não se sensibilizam com inputs que sobem à cabeça. Preferem comida (conforto) para o estômago. Vantagem   A vantagem dessa estratégia serrista é a de deixar a candidata Dilma/PT na defensiva. Ele ataca, o PT responde. Dar respostas, justificar, dizer que não é isso ou aquilo - são posições que denotam mais fragilidade. Em uma campanha, tomar iniciativa abre espaço na mídia, conferindo maior força aos grupos atacantes. O terrorismo que o candidato Serra está levantando deverá ser quebrado com a entrada de Lula no jogo. Lula, atacante Luiz Inácio também é de ataque. Nos últimos dias, preservou-se de considerações mais contundentes, até para administrar querela com a vice-procuradora-geral Eleitoral, Sandra Cureau, que o colocara na mira. Lula deverá agir de maneira mais forte e ativa nas próximas semanas. O embate está chegando às ruas. E algumas praças serão decisivas. Ninguém tem provas   Numa festa, a dona de casa recebe um político famoso. - Muito prazer ! - diz ele. - O prazer é meu ! Saiba que já ouvi muito falar do senhor ! - É possível, minha senhora, mas ninguém tem provas ! MG, o centro nevrálgico Minas Gerais, com seus mais de 14 milhões de eleitores, será a praça mais cobiçada. Porque o eleitor mineiro gosta de decidir ao final. Observa, analisa, vai lá, vem cá e, chegando na reta final, ele dá o veredicto. Em Minas, Hélio Costa, candidato ao governo pelo PMDB, com o apoio do PT, continua marcando grande distância de Anastasia. Que deverá, evidentemente, crescer com a chegada dos programas eleitorais. Mas o voto Dilmasia será muito forte em MG. Segundo se comenta, à boca pequena, Aécio Neves não teria muita motivação para fazer campanha de Serra em MG. Estilo Tancredo Aécio Neves, imitando o avô Tancredo, quer sentir o pulso dos mineiros. Observa, friamente, o andar da carruagem. Ele quer liderar os tucanos na próxima jornada, com um mandato de senador nas costas e a possibilidade de assumir o comando do Senado mais adiante. Eventual derrota de Serra lhe daria toda a força no PSDB. Passaria a ser o maior pólo de aglutinação dos tucanos. Traria para Minas o comando do tucanato, que nunca saiu do território paulista, apesar dos comandos dos nordestinos Tasso Jereissati (cearense) e Sérgio Guerra (pernambucano). Empate Em Minas, Serra e Dilma estão praticamente empatados entre 38% e 35%. Se Hélio Costa garantir seu franco favoritismo durante as duas primeiras semanas de programação eleitoral, será difícil tirar sua vantagem, mesmo sabendo da disposição dos mineiros de deixar a decisão para a hora final. O cachorrinho "Seu Lunga estava passeando na calçada com o cachorrinho. E lhe perguntam : - Passeando com o cachorrinho, Seu Lunga ? Ele responde : - Não. É meu passarinho - pegando o pobre poodle pela coleira e fazendo ele voar." Palmômetro do LIDE João Doria Jr., ao abrigo do movimento que coordena, o LIDE, promove os maiores eventos empresariais do país. Consegue convocar a metade do PIB brasileiro em almoços juntando políticos e lideranças de todos os espectros. Este ano promoveu 3 almoços para ouvir os presidenciáveis. O palmômetro do LIDE acusa a seguinte nota de 0 a 10. Marina : 6; Dilma : 6 e Serra : 8. Diferenças de pesquisas Este consultor vive cercado de perguntas : por que Vox Populi dá 8 pontos de vantagem para Dilma, enquanto o Datafolha mostra empate técnico entre ela e Serra ? Vamos a alguns comentários. Primeiro, devemos considerar as diferenças de metodologia. A principal : Datafolha cobre mais espaços urbanos, os espaços com maior fluxo de pessoas - centros, pontos de ônibus, terminais, enfim, praças com muita gente. Os lugares de maior concentração podem escamotear parte da amostra ? Sim. Será que as mulheres e homens frequentam com a mesma intensidade esses lugares ? Diferenças II   O Datafolha, desse modo, deixaria em aberto amplas áreas rurais. Mas o Instituto alega que as pessoas do campo frequentam as cidades. Mas as mulheres que ficam em casa ? Não seria esta a razão pela qual Serra tem boa dianteira sobre Dilma no voto das mulheres ? Já o Vox Populi cobre tudo, espaços urbanos e rurais. Mas o Datafolha, em compensação, exibe amostra mais densa : 10 mil entrevistados, quanto o Vox captou 3 mil. Deixo que o leitor tire suas conclusões. Tendências   Os dados do Datafolha, porém, sinalizam uma tendência mais favorável à Dilma : menor rejeição do que Serra, maior pontuação na pesquisa de intenção de voto espontânea, maior pontuação na pergunta sobre quem será eleito e menor rejeição. Há, ainda, um dado que lhe é favorável : muitos eleitores não sabem ainda que é a candidata de Lula. Portanto, a combinação de todos esses elementos indica maiores vantagens para a ex-ministra. E as esporas ?  "Seu Lunga andava com sua bota com par de esporas. Quando um amigo seu pergunta : - e esse par de esporas ? O velho responde : - é pra caçar rato ! O rapaz pergunta : como o senhor caça rato ? Seu Lunga na ponta da língua : Primeiro, você põe um queijo amarrado na sua parte traseira. Quando o rato vier, você chuta de calcanhar o rato com as esporas." Dúvida cruel  Lula esgotou o potencial de transferência de voto ? Essa é uma das maiores interrogações da campanha. Poderá dar a Dilma mais 6 pontos ou 7 pontos para uma vitória no primeiro turno ? Dúvida mais ou menos cruel Aécio Neves se engajará de corpo e alma na campanha de Serra ? Conseguirá dar a Serra uma boa dianteira em Minas capaz de lhe assegurar a vitória ? Marina corajosa   Marina Silva (PV) toma partido. Cesare Battisti deve ficar no Brasil. Com sua posição, ela garante que o italiano é preso político. STF, palavra final O caso dos fichas-sujas baterá às portas do STF. Até lá, vai ser um empurra-empurra. A rima Lacerda, governador da Guanabara/RJ, candidato à presidência da República, foi a Montes Claros, lá em Minas Gerais. A cidade amanheceu com os muros pichados : "Lacerda rima com m...". No comício, à noite, Lacerda acabou o discurso assim : - Aos meus amigos, deixo um grande abraço. Aos meus adversários, a rima. Ciro de quê ? Vejam como as pesquisas podem camuflar algo. Ciro Moura (quem sabe de que partido é ?) acaba de ter 19% de intenção de voto para o Senado, em São Paulo, e está empatado com Tuma e Quércia, com 22% e 21º%. Ciro Moura pertence a um dos mais nanicos partidos, o PTC. Teve em 2008, 3.825 votos para prefeito. Em 2006, 5.860 votos para deputado Federal. Teve em 2004, 6.111 votos para prefeito. E em 2002, 17.854 votos para governador. São Paulo tem 30 milhões de eleitores. Ciro excluiu na Justiça Eleitoral o sobrenome Moura. Virou apenas Ciro. É mais que plausível achar que Ciro pegou carona no carro de outro Ciro, o Gomes, que está no Ceará, coordenando a campanha do irmão Cid ao governo. Pirataria eleitoral ? Ciro Moura diz que isso é achismo. A conferir mais adiante. Maluf bloqueado ? Paulo Maluf teve recurso da defesa que tentava cassar a condenação do deputado por improbidade administrativa. O episódio é o superfaturamento na compra de frangos quando era prefeito de São Paulo, em 1996. O Tribunal de Justiça rejeitou o recurso. Maluf sempre apela. Pelo que se conhece do deputado, os recursos chegarão até o Supremo Tribunal Federal. Este consultor tende a acreditar que ele será, sim, candidato a deputado federal. A conferir. E os debates ? Os debates fazem melhor para o sistema eleitoral do que o blábláblá dos programas gratuitos. Mostram diferenças entre os candidatos : domínio temático, raciocínio, criatividade, acuidade, objetividade, humor, capacidade de fustigar adversário, simpatia, empatia etc. Ocorre que os debates são assistidos por uma cota pequena de eleitores. Não chegam a impactar o eleitorado. As massas estão dormindo no pique dos debates. Conclusão : os eleitores garantirão que seus candidatos foram melhores que outros. Empate. Apenas consolidam posições já assumidas por núcleos do meio da pirâmide. Ir ou não ? Este consultor sempre acha que ir ao debate é melhor do que fugir dele. A banalização do debate, porém, estiola sua importância. Os candidatos deveriam participar de debates promovidos pelos grandes meios de comunicação, inclusive os patrocinados nas redes sociais. Jefferson quer soltar a voz Roberto Jefferson quer cantar "nervos de aço" nas ruas. Põe-se à disposição da campanha de Serra para enervar os adversários. Arruma a voz. E diz que está à disposição. Tem mais coisas a contar ou a cantar ? Collor de volta às origens   Fernando Collor (PTB) lidera, segundo o Instituto Ibrape, a eleição para governador de Alagoas. Tem 38% de votos contra o ex-governador Ronaldo Lessa (PDT), que tem 26%, e o atual governador Téo Vilela (PSDB), com 21%. Jingle de Collor : "É Lula apoiando Collor, é Collor apoiando Dilma pelo bem dos mais carentes". Minha velha e querida mãe sempre me lembra : "meu filho, nunca diga - desta água não beberei". Senadores ? A moldura dos senadores começa a ser composta. Mas os atuais favoritos podem mudar de lugar. As campanhas para os governos estaduais e os cenários de polarização deverão alterar algumas posições. Ou seja, é mais provável que um candidato da situação e outro da oposição sejam eleitos para o Senado nos Estados. Por exemplo, em Minas Gerais, Aécio Neves e Itamar Franco lideram, hoje, as intenções de voto. Este consultor tende a apostar na ideia de Aécio Neves, de um lado, e Fernando Pimentel, de outro. Em São Paulo, a sombra é enorme. Uma vaga vai para Marta Suplicy. A outra está sendo disputada por Tuma (PTB), Quércia (PMDB), Ciro Moura (PTC), Netinho de Paula (PC do B) e lá embaixo, com apenas 4%, está Aloysio Nunes Ferreira (PSDB). Abaixo de Ana Luiza, do PSTU, que tem 5%. Mas há quem aposte que a polarização em SP puxará Aloysio. A conferir. Mercadante em torno de 30% Aloizio Mercadante (PT) deverá chegar aos 30%. É muito estranho que ainda patine no espaço dos 18%. Historicamente, o PT alcança em SP margem entre 30% e 35%. Deverá subir. Vai insistir no PAC paulista. Comunicação das campanhas  O esquema de comunicação de José Serra, sob o comando de Luiz Gonzalez, abriga um grupo de 270 pessoas. É muita gente. Vai ter gente sem saber o que comunicar. Gastará algo em torno de R$ 50 milhões. Só em comunicação. Já a equipe de Dilma, por enquanto, esconde-se sob a cara de João Santana. Mas deve ter também um punhado de gente. Conselho aos ministros do TSE Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos membros do Poder Judiciário. Hoje, volta sua atenção aos ministros do Tribunal Superior Eleitoral : 1. Há um imbróglio no ar : afinal os fichas-sujas vão participar da campanha ? Não deixem para a última hora essa pendenga. 2. Os casos devem ser resolvidos antes das eleições, sob pena de vermos a vontade popular ser alterada após os resultados. Prioridade máxima. 3. Os TREs precisam adotar uma linguagem homogênea. A mídia começa a mostrar diferenças de percepções entre os Tribunais regionais. ____________
quarta-feira, 21 de julho de 2010

Porandubas nº 241

Você tá morto, cara Desembarquemos em São Bento do Uma/PE, nos idos de 60. O caminhão, entupido de gente, voltava de um jogo de futebol, corria muito, virou na curva da estrada. Foram todos para o hospital. Uma dúzia de mortos. Lívio Valença, médico e deputado estadual do MDB, foi chamado às pressas. Pegou a carona de um cabo eleitoral, entrou na sala de emergência do hospital e foi examinando os corpos : - Este está morto. Examinava outro : - Este também está morto. O cabo eleitoral se empolgava : - Já está até frio. De um em um, passaram de 10. Lá para o fim, Dr. Lívio examinou, reexaminou, decretou : - Mais um morto. O morto gritou : - Não estou morto não, doutor, estou só arrebentado. O cabo eleitoral botou a mão na cabeça dele : - Cala a boca, rapaz. Quer saber mais do que o dr. Lívio ? (Historinha do incomparável Sebastião Nery). O apito do Índio Não se pense que Índio tocou o apito para o Brasil sem orientação do cacique. Índio tem missão específica na campanha. Tocar apito, bater o bumbo, botar a boca no trombone. É claro que os tucanos lhe deram a tarefa como forma de atacar o PT, abrir flancos, ganhar ampla visibilidade e preservar as olheiras de José Serra. Só que Índio, por falta de experiência no trato com o apito, soprou muito forte. Dizer que PT faz narcotráfico é chutar o pau da barraca sem saber se era oco ou de aço. Tomou um susto quando percebeu o bumerangue. Massas afastadas Para que serve esse bombardeio ? Para ativar os núcleos do meio, mais envolvidos pelo balão da opinião pública. A essa altura, os exércitos organizados abrigam grupos de participantes e simpatizantes, que carecem de vitamina eleitoral. O ataque funciona assim : a linha de frente do candidato fustigado reage com furor e a retaguarda do candidato defendido vai repondo os morteiros do arsenal. As massas não estão nem aí. Não são afetadas por este discurso de FARC, narcotráfico, guerrilha. As massas querem comer um feijão com arroz mais encorpado, com uma linguicinha a mais e uma caipirinha dupla. Claro, com muito futebol, enquanto a churrasqueira queima as carnes gordas. Estratégias Os candidatos se movem. Serra e Dilma vão às ruas, sem deixar de uma fustigação recíproca. Serra defendeu seu vice, confirmando a ligação do PT com as FARC, mas sabendo que Índio exagerou no apito. Teria confessado isso a Aécio Neves. Dilma retruca e diz que Serra rebaixa a linguagem. E bate na tecla dos genéricos. Não foi Serra o pai dos genéricos, que teria sido o ex-ministro da Saúde, Jamil Haddad. PSB aumenta fervura E quando se esperava do Partido Socialista de Paulo Skaf postura suave, eis que ele vem fervendo. Defende imposto extra sobre grandes fortunas (a do Skaf é grande ?), reforma agrária radical, liberdade para o MST promover sua ação revolucionária e o controle dos meios de comunicação. O governador Eduardo Campos, que preside o partido, teria sido convencido a por mais lenha na fogueira, no instante em que o PT procura se mostrar mais suave e palatável aos olhos das forças produtivas. Ou falta senso ou sobra muito dissenso. Com as pernas O chato encontra Seu Lunga andando e saca a pergunta : - E aí, Seu Lunga, como anda ? O velho responde sem olhar para a pessoa : - Com as pernas, ainda não aprendi a voar. PSOL sob nuvens Para sair de baixo das nuvens e se expor mais ao sol, o PSOL também abre tiroteio. Plínio Sampaio, que tirou o Arruda do nome - para evitar confusão com o Arruda implicado do Distrito Federal - ataca : PT perdeu o rumo. Meu Deus do Céu : em vez de mostrar o que defende o PSOL, postura ética, temáticas fundamentais, Plínio, o nosso decano da política, também pega na metralhadora. Plínio, Plínio, use a experiência para resgatar o bom senso. Fale do PSOL e não dos outros. Até Marina, do PV, fica falando dos outros. Volta e meia, ela lembra o mensalão. Cadê o Ciro ? Onde está o Ciro Gomes ? No Ceará, coordenando a campanha do irmão, Cid, que ganharia em primeiro turno, fosse hoje o pleito. Cid está com 47% de intenção de voto, segundo pesquisa do Datafolha. Daqui a pouco, Ciro vai pegar seu apito. Querem apostar ? A porca Um sujeito vai até a loja do Seu Lunga e pede uma porca de determinado tamanho. O velho responde : - Procure naquela caixa. Sem jeito, o comprador tentou, tentou e não conseguiu achar o que queria. Desistiu. - Seu Lunga, não consegui achar a porca... Indignado o dono da oficina vai até a caixa de porcas, pregos e parafusos e encontra a peça. Vira-se para o rapaz e ataca : - Eu não te disse que a porca tava aqui, fio duma égua ! Joga a porca novamente na caixa, mistura com as outras peças e manda : - Agora tu procura de novo direito até achar. E a Sandra, hein ? A vice-procuradora-geral eleitoral, Sandra Cureau, vive um impasse : se apertar o cerco a Lula e ao PT, poderá aparecer como parcial, após a iniciativa dos petistas de acusá-la de ter dois pesos e duas medidas. Mas a decisão do PT de entrar com representação contra a procuradora junto ao CNMP não é boa medida. O procurador-geral da República, Roberto Gurgel, a defende. Para evitar posições que possam denotar parcialidade, são previsíveis medidas que atinjam tanto o situacionismo quanto as oposições. Lula e Dilma viram alvo e Serra, também. A conferir. Campanha improvisada Uma leitura mais sistemática sobre as campanhas aponta para grande grau de improvisação. As agendas parecem ser feitas sob pressão e disposição dos candidatos. Serra, segundo se sabe, é centralizador e só entra na arena regional, quando se convence da necessidade. Dilma, pelo que se observa, corre de um lado para outro, atendendo aos apelos mais imediatos. Uma campanha bem armada se ampara em planejamento rígido e ancorado na lógica : 150 municípios do Brasil, com as maiores densidades eleitorais, são o ponto de partida para uma organização eficaz. Bastaria programar uma agenda contemplando esses municípios, eis que cada um funciona como formidável pólo difusor de informações. Eixos temáticos A essa altura, também não se distinguem os grandes eixos temáticos da campanha. Os candidatos falam de tudo e de todos, mas as ideias centrais parecem escamoteadas. Quais os cinco pontos principais defendidos, por exemplo, por Serra e por Dilma ? Quais os aspectos semelhantes ? Quais as ênfases na área econômica e na fronteira social ? Estamos a contemplar uma parede de mosaicos, onde cada mosaico, ao lado do outro, tem uma cor diferente. Não sabemos qual a parte mais importante da parede, o lado que chama mais a atenção. Lula e a Copa Luiz Inácio respira política pelos poros. Recebe em Brasília o presidente da CBF, Ricardo Teixeira, a quem afirma de maneira peremptória : a Copa de 2014 tem que passar por São Paulo. Ora, São Paulo tem 40 milhões de habitantes. Continua a ser a locomotiva da nação. E Teixeira quer deixar o Estado em escanteio. Pacaembu ou Morumbi serão sempre melhores opções que gastar uma fábula na construção de um futuro elefante branco. Ricardo Teixeira levou um puxão de orelhas. Bem feito. Buscando boas ideias De férias na Europa, o prefeito Gilberto Kassab conheceu experiências que deram certo. Em Lisboa, na área portuária, foi ao Oceanário, museu de biologia marinha, e ao Parque das Nações, classificados como marco de recuperação e revitalização de espaços urbanos. O primeiro recebe 1 milhão de pessoas todos os anos e o segundo sediou a Expo 98. Kassab avalia a possibilidade de aplicar projeto parecido na reforma do Parque D. Pedro II, que prevê a integração do Mercado Municipal ao Museu Catavento e à Casa das Retortas. Cidade Limpa Além de ajudar na despoluição visual da metrópole, o Projeto Cidade Limpa deu a São Paulo o quarto lugar entre as 188 cidades que se candidataram para conseguir um espaço na Expo Xangai 2010, cujo tema é "Better City, Better Life". Até agora, quase 500 mil pessoas visitaram o estande paulistano e conheceram os projetos da cidade, cujo prefeito, Gilberto Kassab, sonha em fazer dela a sede da Expo 2020. Tanto que assinou um termo de cooperação técnica com a Associação Brasileira de Infra-Estrutura e Indústria de Base para a realização de estudos sobre a viabilidade da candidatura. Traque Seu Lunga estava no mercado com uma caixa de ovos. Um sujeito faz a óbvia constatação : - Comprando ovos, hein seu Lunga ? Resposta sem direito à réplica : - Não - jogando um a um no chão - É traque ! Analista de SP ? Um analista, possivelmente da superintendência do Fisco em SP, teria acessado os dados de Eduardo Jorge, vice-presidente do PSDB, dois anos atrás. Sem motivo nenhum. A se confirmar, será punido. Com a demissão. 3  bi de volta ? O delegado Ricardo Andrade Saadi, que assume a Direção-Geral do Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação Jurídica Internacional, tenta trazer de volta ao Brasil US$ 3 bilhões. Retidos em bancos dos EUA, Suíça, Reino Unido, Ilhas Cayman, França, Luxemburgo, Uruguai, Bahamas, China e outros paraísos fiscais. Coisa sempre prometida. Discurso velho. Como São Tomé, só acredito vendo. Chávez e o cardeal Chávez, o histriônico, diz que o arcebispo de Caracas, cardeal Jorge Urosa Savino, quer derrubá-lo. Há dias, Chávez mandou exumar os restos de Simon Bolívar. E mostrou-os ao povo em sua TV. O cardeal contaria para derrubar Chávez com 500 missas, 1000 Padre-Nossos e 1 milhão de Ave-Marias. Laranjada podre Esta coluna abriu uma campanha contra a malandragem na área de serviços. No setor de segurança privada, por exemplo, além de empresas clandestinas - aquelas que não têm autorização para funcionar e trabalham com profissionais desqualificados -, outra modalidade de concorrência desleal ocorre : policiais, através de parentes ou laranjas, criam empresas e adicionam ao portfólio de serviços, modalidades exclusivas da própria polícia. Uma aberração. Nenhuma empresa de segurança privada pode prometer desencadear ações após sequestro de pessoas ou de outros atos delituosos. Estas atividades são exclusivas da polícia. Folga policial Nos últimos tempos, a mídia passou a registrar casos de "policiais de folga" em fila de supermercado ou de lotérica, que são feridos e mesmo mortos, ao reagirem a assaltos. É louvável a ação de um policial que, mesmo de folga, submete-se ao perigo para defender a sociedade. Um alerta, porém : alguns reagem porque são pagos para fazer isso. São policiais que usam o armamento que lhe é confiado pelo Estado. Fazem um bico, coisa repudiada pela própria Corporação. Policial pode isso desde que se submeta às regras legais, ou seja, na hora da folga e devidamente registrado em uma empresa de segurança privada. A estrada Certo dia, Seu Lunga estava em seu sítio quando por lá passou um viajante. Que para e pergunta : - Seu Lunga, essa estrada vai para São Paulo ? Ele responde : - Sei não, mas se ela for vai fazer uma falta da bexiga... Conselho aos membros do Poder Judiciário Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos políticos fichas-sujas. Hoje, volta sua atenção aos membros do Poder Judiciário : 1. Ministros do TSE, o projeto Ficha Limpa precisa urgentemente de um rumo. Afinal, vale ou não para este ano ? 2. Os TREs deverão decidir sobre as impugnações até 5 de agosto e o TSE, até 17 de agosto. E se houver recurso de candidatos impugnados ao STF ? 3. Ministros do STF, pronunciem-se também sobre o projeto Ficha Limpa, na medida em que muitos candidatos impugnados, ancorados em liminares, poderão entrar no pleito, ganhar as eleições e, posteriormente, ser cassados. Os resultados poderão ser reavaliados e alterados. E a bagunça se instalará. ____________
quarta-feira, 14 de julho de 2010

Porandubas nº 240

Abaixo do berro Nestor Duarte, deputado e escritor, viajava pelo interior da Bahia com o jornalista Nilson de Oliva César. Conheceram um pistoleiro cego : - Como é que o senhor faz para matar sem ver ? - Ah, doutor, eu grito o nome do cabra. Quando ele responde, atiro num palmo abaixo do berro. Não erro um. Coligações Eis a radiografia das coligações no país : a coligação entre PT e PMDB contempla os seguintes Estados : Alagoas, Ceará, Distrito Federal, Espírito Santo, Goiás, Maranhão, Minas Gerais, Mato Grosso, Paraíba, Piauí, Paraná, Rio de Janeiro, Sergipe e Tocantins. A coligação entre PSDB e DEM abrange : Acre, Alagoas, Bahia, Ceará, Distrito Federal, Espírito Santo, Goiás, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Pará, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Paraná, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Roraima, Santa Catarina, São Paulo e Tocantins. Paternidade/maternidade A campanha começou e a disputa se instala em muitas áreas : quem é pai e quem é mãe de alguns programas-chave ? Quem é o pai do FAT ? E quem é o pai do Bolsa Família, símbolo da era Lula ? Os tucanos estão sempre puxando a paternidade da Bolsa para sua floresta. Os petistas argumentam que ele faz parte de sua seara. Vamos lá. Ambos têm algo com a paternidade, ou se quiserem, com a maternidade do programa. Fundo de Amparo ao Trabalhador Primeiro, vamos à paternidade do FAT. Em 1988, o deputado Jorge Uequed (PMDB-RS) apresentou um projeto criando o FAT. Em 1989, José Serra propôs, em maio, o projeto de lei 2.250 também regulamentando o FAT. Foi considerado prejudicado porque já havia sido aprovado projeto semelhante. Vale lembrar que o projeto aprovado em plenário em 1990 em regime de urgência (PL 7.998) levou em consideração um substitutivo diferente do projeto original de Uequed. Mas os tucanos dizem que o PL aprovado se baseou na emenda sugerida por Serra. Consta, ainda, que Serra apresentou em 1992 outro projeto de lei prorrogando para 30 de junho daquele ano o prazo para concessão de seguro desemprego especial. Resta, por último, lembrar que o seguro desemprego foi criado em 1986 pelo presidente Sarney, mas era considerado precário. Bolsa Família Em 1991, o Senado aprovou projeto de lei do senador Eduardo Suplicy (PT/SP), que instituía o Programa de Garantia de Renda Mínima (PGRM), segundo o qual toda a pessoa de 25 anos ou mais que não recebesse o equivalente, hoje, a cerca de R$ 350,00 teria o direito de receber 30%, ou até 50%, da diferença entre aquela quantia e sua renda. Posteriormente enviado à Câmara dos Deputados, o projeto recebeu parecer favorável do deputado Germano Rigotto (PMDB-RS) mas, até hoje, apesar de pronto, aguarda para ser votado. Campinas e Brasília Ainda sob o amparo bíblico do rei Salomão, vale anotar que ambas as siglas estão por trás da ideia original da Bolsa, eis que exemplos pioneiros e simultâneos de políticas de combate à pobreza foram o Programa de Garantia de Renda Mínima (PGRM) e o Bolsa-Escola, implantados em 1995 e patrocinados, respectivamente, por um tucano, o ex-prefeito Magalhães Teixeira, de Campinas, e o então petista Cristovam Buarque, ex-governador do Distrito Federal. Pouco antes, em 1993, o sociólogo Betinho levantava a bandeira da Ação da Cidadania contra a Fome, a Miséria e pela Vida. Ciclo FHC Vieram, depois, os desdobramentos. No ciclo FHC, José Serra criou o Bolsa Alimentação e o ministro da Educação na época, Paulo Renato, sob a supervisão da antropóloga Ruth Cardoso, instalava o Bolsa Escola e o programa de erradicação do trabalho infantil. A era Lula abriu mal sucedido Fome Zero, que deu lugar à unificação dos programas de distribuição de renda, surgindo assim o Bolsa Família, hoje poderoso canal que despeja nos lares de 12,4 milhões de famílias (totalizando 49,2 milhões de beneficiários) cerca de R$ 13 bilhões. Efeitos Os resultados dessas e de outras experiências positivas de Renda Mínima e Bolsa Escola se alastraram por muitos municípios e alguns estados, vindo a ter repercussão no Congresso Nacional, onde surgiram mais seis projetos de lei dos deputados Nelson Marchezan, (PSDB/RS), Chico Vigilante (PT/DF) e Pedro Wilson (PT/GO) e dos senadores Ney Suassuna (PMDB/PB), Renan Calheiros (PMDB/AL) e José Roberto Arruda (na época, do PSDB/DF). Deu-se o vice-versa Dr. Dantinhas, deputado da Bahia, elo de todo um clã político do Estado (neto do barão de Geremoabo), foi convidado para padrinho de casamento da filha de um coronel do sertão. No dia de viajar, recebeu telegrama : - Compadre, não precisa vir. Deu-se o vice-versa. Menina morreu. Promoção de caixão Na porta da funerária, velório em andamento, seu Lunga e vizinhos conversando baixinho, caras tristes. Passa um conhecido : "O que o sr. está fazendo aí, seu Lunga ?" - Estou na fila pra promoção de caixão com pequenos defeitos. Escolha a rima A fama de seu Lunga se espalha pelo mundo. Um turista português senta em sua mesa, quando se refrescava com uma cerveja gelada. - O Senhoire me esclareça : é "seu Lunga" ou "seu Longa" ? - Com qual rima o sr. prefere ? (Colaboração de João Thomas Luchsinger, defensor público em Manaus, casado com uma cearense de Itaiçaba) Novo modelo de segurança As regras gerais do Regulamento de Segurança da FIFA disciplinam exaustivamente a segurança privada nos grandes eventos futebolísticos, dentre eles, itens primordiais, como princípios fundamentais, arredores e perímetros do estádio, vias de acesso e evacuação, medidas e equipamentos de segurança, proteção contra fogo e primeiros socorros, proibição de bebidas alcoólicas, código de conduta, integração da polícia de segurança pública e os seguranças privados e suas tarefas, seu campo de abrangência e etc. Desde já, o setor vem se preparando para desenhar um novo modelo de expansão para que a segurança se enquadre nestas exigências da maior competição mundial do futebol. Copa, uma oportunidade "Hoje, o Brasil não adota o modelo integrado de segurança, no qual as empresas privadas atuam dentro dos estádios e a polícia militar nas vias públicas, intervindo quando necessário, como ocorre em outros países. Acreditamos que a Copa seja a oportunidade para começarmos a aplicar este modelo que, certamente, potencializa a eficácia da estratégia de segurança, quando efetuado por uma empresa regular", argumenta o presidente do Sesvesp (Sindicato das Empresas de Segurança Privada do Estado de São Paulo), José Adir Loiola. O país dos impostos O Brasil apresenta a conta : são 72 impostos, contribuições e taxas. Diz o SEBRAE : a taxa de mortalidade das empresas é de 29% no 1º ano, 42% no 2º ano, 53% no 3º ano e 56% no 4º ano. De onde virão os votos Eis aqui a tabelinha de onde virão os votos da vitória de um (ou de uma) e da derrota de outro (ou de outra). Centro-Oeste, eleitorado : 9.547.231 (7,121%). Exterior, eleitorado : 169.825 (0,127%). Nordeste, eleitorado : 36.091.327 (26,918%). Norte, eleitorado : 9.796.530 (7,306%). Sudeste, eleitorado : 58.384.124 (43,544%). Sul, eleitorado : 20.091.480 (14,985%). Eis o total do eleitorado brasileiro : 134.080.517. Dilma, aqui, e Serra, lá Dilma Rousseff decidiu, nesse início de campanha, priorizar o sudeste, a partir de São Paulo, onde perde nas cidades grandes e médias por 20 pontos para José Serra. Já o tucano decidiu priorizar o nordeste, onde perde para Dilma por uma diferença de mais de 20 pontos. Moldura regional Lembremos. Serra avançou no sul, onde passou de 38% para 50%. Dilma perdeu terreno na região, caindo de 35% para 33%. No sudeste, o tucano ampliou a vantagem de 10 para 13 pontos. No nordeste, Dilma foi de 44% para 47%. E no norte/centro oeste, os dois avançaram.Chamando para a briga Serra insiste em chamar Dilma para a briga. Ataca a candidata petista, diz que ela é mais fraca que o PT, faz gozação com a rubrica que ela fez no programa enviado ao TSE etc. E Dilma cai na rede. Rebate o tucano. Entra no jogo de Serra. Que abre espaço na mídia e deixa Dilma na defensiva. Ou seja, a ex-ministra comete um erro : dar explicações contínuas à opinião pública. Baixaria O site do DEM tem uma seção dedicada à mãe Dilmá. Com a candidata vestida de roxo e fazendo prognósticos. Dizendo que Serra ganhará e Chávez é seu guru. Baixaria. Esse tipo de campanha não ajuda. Apenas reforça posições de alas engajadas nos dois exércitos. Dado curioso A última pesquisa Datafolha, que deu empate entre Serra e Dilma, apresenta um dado curioso : 43% acham que a petista vai ganhar as eleições, contra 33% que dão a vitória ao tucano. Morte do JB O velho e bom Jornal do Brasil, onde aprendi a escrever as primeiras letras no jornalismo, está à beira da morte. A versão impressa deixará de circular. Apenas a versão eletrônica permanecerá. O JB, nessa versão tablóide, já se apresentava como um ente capenga. Sob lamento, dou adeus ao ex-grande jornal. Adeus, Paulo Moura Comovido, dou também Adeus ao grande Paulo Moura, 78 anos. Um dos saxofonistas e clarinetistas mais requisitados no Brasil e no exterior, Paulo Moura foi reconhecido no ano 2000 com o Grammy - o maior prêmio da música mundial, com seu trabalho "Pixinguinha: Paulo Moura e os Batutas". Paulista de São José do Rio Preto, Paulo Moura nasceu no dia 15 de julho de 1932, numa família de instrumentistas. Aos 9 anos, ele pediu para estudar música e começou a tocar clarineta. Aos 14, entrou para o conjunto do pai. Paulo Moura gravou o primeiro dos 40 discos em 1956. Ele chegou a integrar a orquestra do Theatro Municipal do Rio de Janeiro. Moura tocou com grandes nomes da MPB, como Elis Regina e Milton Nascimento. Vi seu último show Tive a felicidade de ver Paulo Moura por ocasião da Virada Cultural, essa última, ocorrida há pouco tempo. Lá pelas 10 da noite, ele começou seu belíssimo show no Centro Cultural São Paulo, na av. Vergueiro. Que maravilha. Sábado passado, um grupo de amigos foi ao quarto do músico, na Clínica São Vicente, no Rio. O grupo de artistas tocou várias canções de Paulo. E ele, feliz, pegou sua clarineta, foi à varanda e tocou, com Wagner Tirso, "Doce de Coco", de Jacob do Bandolim. Estava dando adeus ao mundo. E à música. Nome da bola Brasileiro é mesmo um gozador. Quatro anos antes, já começa a dar nome à Jabulani. Eis alguns já mapeados : Amazônia, Arrastone, Boladona, Bussunda, Brasuca, Carambola, Caturrita, Chimbinha, Chulipa, Gorduchinha, Jaburaca, Jabá-lani, Jabá-nela, Jabulula, Jabutica, Joaninha, Mulata, Pelé, Pelota, Propina, Popozuda, Rebolation, Redonda, Roubulani, Samba, Sambabamba, Trombadinha. Tanajura, Uirapuru e Zumbida. Fichas-sujas Apurando o feeling, sinto que o TSE vai endurecer com os candidatos com fichas-sujas. Que se escudam em liminares para entrarem no pleito. Mais adiante, serão cassados. A conferir. Cooperativismo oportunista As falsas cooperativas usam sempre o expediente de burlar a lei para alavancar seus negócios. Como se sabe, o cooperativismo se rege por normas próprias. Hoje, as cooperativas de trabalho se multiplicam no país, fazendo concorrência com as empresas que prestam serviços. Estas são obrigadas a arcar com uma batelada de tributos, impostos e ônus burocráticos. Já as cooperativas não enfrentam tantas barreiras. Daí a concorrência desleal. Por isso, deve-se aplaudir o decreto 55.938, de 21 de junho deste ano, baixado pelo governador Alberto Goldman. Proíbe a participação de cooperativas nas licitações promovidas pela Administração, direta e indireta do Estado de São Paulo. Exemplo a ser seguido.Conselho aos fichas-sujas Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado ao presidente da CBF, Ricardo Teixeira. Hoje, volta sua atenção aos políticos fichas-sujas : 1. Não corram com muita sede ao pote. Ou seja, não abram muito o bolso, porque poderão perder um bom dinheiro. 2. O TSE examinará, em agosto, o mérito da questão. Os fichas-sujas poderão ser proibidos de entrar na campanha. 3. Tenham um plano B ou mesmo C. No caso de serem impugnados pelo TSE, para onde irão seus votos ? Quem serão os herdeiros de seu legado político ? ____________
quarta-feira, 7 de julho de 2010

Porandubas nº 239

Tempos de Índio Em tempos de Índio do Brasil, vice de Serra, uma historinha do passado. Dia das Mães. Rio de Janeiro era o antigo Distrito Federal. A Câmara de Vereadores realizava sessão solene a requerimento do vereador Frederico Trota, do PTB. O vereador Índio do Brasil (tem algum parentesco com o simpático deputado do DEM ?), em nome do PSP, passou a saudar as mães convidadas que lotavam o plenário, e começou assim seu discurso : - Ninguém mais indicado para ser mãe do que a mulher. Saborosa historinha contada por Sebastião Nery. Empresários e Dilma Nesta segunda-feira, Dilma fez palestra no LIDE, que reuniu cerca de 500 empresários, em um hotel de São Paulo, comandados por João Doria. A ex-ministra abordou os mais variados temas. Deu ênfase à teia social. Condição sine qua para o país sair da condição de emergente para o patamar de nação desenvolvida : acabar com a miséria. Dilma promete fazer a reforma tributária, desonerar investimentos e a folha. Vai respeitar as regras do jogo, manter rígida política fiscal, reduzir gastos. Firmou posição sobre proteção aos jovens e crianças. O país precisa administrar a sua reserva de valores : a floresta amazônica, o pré-sal e a reserva financeira em dólar. Dilma teve uma fala competente, porém linear. Sem grandes tiradas. Dívida de 30% do PIB Hoje, a dívida líquida em relação ao PIB está em torno de 40%. Dilma promete reduzir esta dívida para 30%. MST na pressão Sobre o MST, a candidata procurou levantar o argumento : o governo se mostra sempre disposto a manter abertos os canais de diálogo. Mas é contra a invasão de propriedades produtivas. A audiência queria ouvir opinião mais contundente. Houve, até, certa reação da plateia. Conversa à mesa Na conversa, ouvi comentários ligeiros de empresários. Coisas do tipo : "Para nós, risco Serra é maior do que risco Dilma. Serra tem sido implacável para com os setores produtivos". O temor em relação à candidata Dilma diminui. Sabe nadar ? Seu Lunga, quando jovem, se apresentou à Marinha para a entrevista : - Você sabe nadar ? Pergunta o oficial. - Sei não, senhor. - Mas se não sabe nadar, como é que quer servir à Marinha ? - Quer dizer que se eu fosse para a Aeronáutica, eu tinha que saber voar ? Pesquisa Datafolha Essa pesquisa Datafolha caiu em boa hora sobre a floresta tucana. Acalmou os ânimos. Empate de 39% para Dilma e Serra. Com dados mais favoráveis à Dilma, que tem menor rejeição - 26% para Serra e 23% para Dilma - e maior índice na pergunta espontânea - Dilma conta com 22% e Serra com 17%. Ademais, apoiadores de Lula que ainda não sabem que a ministra é candidata dele poderão lhe dar mais uns 10% de votos. Visibilidade Dilma terá 10min26s de programa eleitoral, enquanto Serra disporá de 7min07s, ou seja, a petista terá 41,6% do tempo total e Serra ficará com 28,5%. Significa que a alta visibilidade de Dilma será importante na estratégia de cooptação e consolidação do voto. Marina terá 1min13s, ou seja, 4,9% do tempo. E os nanicos, somados, chegarão a 25% do tempo, significando 6min14s. Centralização tucana Um dos problemas enfrentados pelos tucanos é a centralização excessiva por parte do candidato José Serra. Tudo passa por ele. Coisas pequenas e grandes. É do seu estilo concentrar poder. Não gosta de dividir. Não adianta programar nada sem o referendo do candidato. Agora, a campanha de marketing e comunicação passará por um conselho, composto pelos cardeais do partido. Gonzalez vai ter de rebolar para agradar a todos. Não conseguirá. Virão críticas fortes. A conferir. Major na amizade Interventor, deputado estadual, constituinte no Pará, João Botelho era Secretário de Segurança, quando recebeu em audiência um capitão do Exército, fardado : - Tenha a bondade, major. - Major, não, doutor Botelho, capitão. - Mas é major na promoção de minha amizade. Entre 45% e 47% O cálculo é este : quem tiver entre 45% e 47% poderá ganhar a campanha no primeiro turno. Este índice daria ao vitorioso os 50% mais um dos votos válidos (fora os nulos e brancos), que é a margem determinada para uma vitória em primeiro turno. Lula de licença Cresce a ideia de Lula tirar licença para fazer a campanha de Dilma. Se esse é o principal projeto do presidente para este ano, como ele faz questão de frisar, a pressão será irresistível. A alternativa é bem viável, eis que o vice Zé Alencar, fora do páreo este ano, é confiável e está administrado bem seus problemas de saúde. Panorama eleitoral Pinço situação dos candidatos em alguns Estados : Acre - Tião Viana (PT) : 33,4%; Tião Bocalom (PSDB) : 23,4%. Pesquisa do Instituto Phoenix, em abril. Amazonas - Omar Aziz (PMN) : 51%; Alfredo Nascimento (PR) : 36%. Pesquisa do Ibope, em junho. Pará - Simão Jatene (PSDB) : 25%; Jader Barbalho (PMDB) : 24%; Ana Júlia (PT) : 23%. Pesquisa do Ibope, no final de maio. Inadimplência O consumo em alta dá nisso : expansão da inadimplência. Prestações com atraso de mais de 90 dias aumentaram em maio e devem continuar alta em junho. Maiores problemas estão nas dívidas de cartões de crédito. Aperitivo Lula promete pagar os proventos atrasados dos aposentados, em agosto, um pouco antes de começar o horário eleitoral, dia 17. Trata-se de um aperitivo que poderá refrescar a cuca dos velhinhos. Para manter a temperatura agradável em toda a campanha. Desde janeiro, paga os 6,14% estabelecidos na MP. Deverá, em agosto, pagar a diferença - 7,7% aprovados pelo Congresso - relativa a 5 meses - de janeiro a junho - beneficiando 8 milhões de aposentados. E esse ônibus, é seu ? Seu Lunga foi pegar um ônibus. O motorista pediu sua carteira de identidade... olhou, olhou, olhou e lançou o desafio : - Mas essa carteira não é sua ! Seu Lunga não perdeu o rebolado : - E esse ônibus é seu, fio de uma égua ? Os Pires Franco A família Pires Franco, do Pará, está tiririca com os tucanos. Simão Jatene, candidato ao governo, fechou as portas para Valéria Pires Franco, que seria candidata ao Senado. Teria feito acordo com Jader Barbalho, que o apoiaria no segundo turno contra a candidata à reeleição pelo PT, a governadora Ana Júlia Carepa. O marido, deputado Vic Pires Franco, decidiu não se candidatar. Saem da vida pública xingando o PSDB. Loures confiante O deputado Rodrigo Rocha Loures, candidato a vice-governador na chapa de Osmar Dias, no Paraná, está confiante. Garante à coluna : "vamos vencer a parada". Mas Beto Richa, o bem avaliado prefeito de Curitiba, ainda é, hoje, o favorito. Planejamento sem improviso Agora que o Brasil ficou fora da Copa, resta mobilizar os esforços da gestão pública e da gestão privada em torno do empreendimento de 2014. Um evento da magnitude de uma Copa Mundial de Futebol precisa ganhar um planejamento completo, inclusive com planos alternativos. Cada segmento deve ser cuidadosamente pensado. As empresas que construirão/reformularão os estádios disporão de know-how adequado ? Vejamos a questão da segurança dos estádios. Na África do Sul, a segurança caberia à vigilância privada. O plano alternativo implicaria o emprego da Polícia local. Diante da greve de vigilantes por falta de salários, policiais assumiram a segurança interna. Mas alguns jamais tinham sequer entrado num campo de futebol. Tumultos. Falhou o planejamento. Sistema de segurança O exemplo da África do Sul precisa ser bem avaliado, a partir da escolha do sistema de segurança dos estádios. Urge evitar que empresas sem história, sem experiência, organizadas apenas para ganhar concorrências entrem na arena. O que se viu naquele país africano tem sido comum entre nós : empresas improvisadas acabam enfrentando greve geral de seus trabalhadores. Salários não foram pagos e até equipamentos deixaram de ser adquiridos. Para não pagar um "mico mundial", a Polícia local teve de assumir funções previstas para a vigilância. O ministro Orlando Silva, nomeado como Autoridade Olímpica, deve começar a relacionar os setores de serviços que entrarão no circuito da Copa de 2014. E os meninos ? O mesmo João Botelho, da historinha acima, encontra o cabo eleitoral : - Como vai ? E sua diletíssima esposa ? E as crianças ? - Tudo bem, deputado. A mulher está ótima. Mas, por enquanto, é um menino só. - E eu não sei que é um filho só ? É um menino, certo, mas que vale por muitos. Então como vão os meninos ? Investimentos na Copa O Estudo Brasil Sustentável - Impactos socioeconômicos da Copa do Mundo de 2014, produzido pela Ernst & Young em parceria com a FGV, faz a seguinte estimativa de investimentos para a Copa de 2014. Mídia : R$ 6,5 bilhões; Estádios : R$ 4,6 bilhões; Parque Hoteleiro : R$ 3,1 bilhões; Reurbanização : R$ 2,8 bilhões; Segurança : R$ 1,6 bilhão; Rodovias : R$ 1,4 bilhão; Aeroportos : R$ 1,2 bilhão; Tecnologia da Informação : R$ 309 milhões; Energia : R$ 280 milhões; Fan parks : R$ 203,8 milhões; Centros de Mídia e Transmissão : R$ 184,5 milhões. Panorama eleitoral Mais radiografia eleitoral nos Estados : Bahia - Jaques Wagner (PT) : 41%; Paulo Souto (DEM) : 32%; Geddel Vieira Lima (PMDB) : 9%. Instituto Vox Populi, no início de maio. Ceará - Cid Gomes (PSB) : 49,1%; Marcos Cals (PSDB) : 1,5%; Lúcio Alcântara (PR) : - Instituto Zaytec, em janeiro. Paraíba - José Maranhão (PMDB) : 43,75%; Ricardo Coutinho (PSB) : 32,7%. Instituto Consult, em junho. Pernambuco - Eduardo Campos (PSB) : 61%; Jarbas Vasconcelos (PMDB) : 30%. Instituto Exatta, no início de junho. Piauí - Silvio Mendes (PSDB) : 36,5%; Wilson Nunes Martins (PSB) : 24,89%; João Vicente Claudino (PTB) : 22,43%. Instituto Amostragem, em junho. Rio Grande do Norte - Rosalba Ciarlini (DEM) : 49%; Carlos Eduardo Alves (PDT) : 16%; Iberê Ferreia de Souza (PSB) : 15%. Instituto Vox Populi, em maio. Sergipe - Marcelo Déda (PT) : 41%; João Alves (DEM) : 34,4%. Instituto Dataform, na segunda quinzena de junho. Fichas sujas, empate Há sete pedidos de liminar, feitos por fichas sujas, que foram aceitos por ministros do TSE. E há sete que foram negados pelo presidente Ricardo Lewandowski. Portanto, a conta está empatada. Em agosto, após o recesso, o plenário do TSE decidirá sobre o mérito da questão. A sociedade espera que o Projeto do Ficha Limpa seja adotado imediatamente. Gastos elevados Na campanha de 2006, os dois principais candidatos à presidência da República, Geraldo Alckmin e Lula, tiveram previsão de gastos da ordem de R$ 210 milhões. Neste ano, a previsão é um aumento de 60%, ou seja, os dois principais candidatos, Dilma e Serra, terão gastos estimados em R$ 337 milhões. Alckmin e Mercadante Geraldo Alckmin promete continuar a desoneração tributária que ele iniciou quando era governador. Serra, depois, não deu continuidade. Aliás, essa é uma queixa que o empresariado paulista registra em relação à dureza serrista - com o braço de Mauro Ricardo - na frente tributária. E propõe também ampliar cursos de nível superior à distância, horário integral na escola e valorização contínua dos professores. Aloizio Mercadante elege como prioridades as áreas de educação, segurança, saúde, transportes e habitação. Mercadante defende o fim de aprovação automática, a construção de escolas, cursos noturnos e a contratação de professores. Na saúde, quer parceria com os programas federais. Votos do nordeste Lula, em 2006, obteve 67% dos votos válidos no nordeste. Alckmin ganhou 26% de votos na região. Dilma tem, hoje, 57%. E Serra mantém 36%. Se Dilma chegar perto do índice de Lula, será a glória. Conseguirá ? Conselho a Ricardo Teixeira Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos candidatos favoritos nas eleições de outubro. Hoje, volta sua atenção ao presidente da CBF - Confederação Brasileira de Futebol, Ricardo Teixeira : 1. Tenha muita cautela ao escolher o novo técnico da Seleção Brasileira. Veja qualidades : capacidade/conhecimento; base psicológica; relação com a imprensa; apoio popular, entre outros. 2. Procure sondar sentimento social a respeito dos nomes. 3. Ao escolhido, deve-se exigir cuidadoso planejamento de todas as fases e ciclos a serem vividos pela Seleção até 2014. ____________
quarta-feira, 23 de junho de 2010

Porandubas nº 238

Está "distituído" O major José Ferreira, cearense dos bons, amigo do padre Cícero, é quem relata : "Há muito matuto inteligente e sagaz, mas também há muito sujeito burro que se a gente amarrar as mãos dele pra trás das costas, ele não sabe mais qual é o braço direito nem o esquerdo... Eu também conheço matuto que, abrindo a boca, já sabe : ou entra mosca, ou sai besteira." O major continua a conversa : "Quando foi criado o município de Missão Velha, a escolha do primeiro intendente recaiu num velho honrado, benquisto e prestigioso, mas muitíssimo ignorante. Cabia-lhe o encargo de declarar instituído o município. Um dos "língua" do lugar seria o orador oficial. Ele, o chefe do executivo municipal, deveria dizer simplesmente : "Está instituído o município de Missão Velha !". Levou quinze dias decorando a frase, e, na ocasião da solenidade, exclamou : "Está DISTITUÍDO o município de Missão Véia." Historinha capturada pelo bom Leonardo Mota em Sertão Alegre, poesia e linguagem do sertão nordestino. As curvas do projeto Ficha Limpa O projeto Ficha Limpa vai passar por um longo corredor antes de ser aplicado na linha da interpretação do TSE. O presidente Lewandowski é claro na interpretação, valendo-se, inclusive, de matéria jurídica já decidida pelo STF. O ministro Marco Aurélio, único voto contrário à interpretação vitoriosa sobre a cobertura do projeto (antigos e novos), usa também o arcabouço jurídico do Supremo para dizer que entendimento do TSE será derrubado. Na dúvida, os implicados apelarão para as Cortes. Garotinho, no RJ, já o fez. Os recursos vão se multiplicar. Mas os condenados em segunda instância já contabilizam perdas : seus nomes e perfis frequentam os espaços midiáticos. Maluf limpo A propósito, Paulo Maluf, que enfrenta uma batelada de processos na Justiça, sai-se com essa : "tenho a ficha mais limpa do Brasil". Em abril deste ano, o TJ/SP condenou Maluf, em decisão colegiada, a devolver R$ 21 mil aos cofres públicos. Decisão que diz respeito à compra superfaturada de mais de uma tonelada de frango pela prefeitura, quando ele era prefeito, de 1993 a 1996. O curral dos fichas sujas Pois bem, o TCU acaba de apresentar a lista : 4.922 administradores em todo o país, acumulando 7.854 condenações por irregularidades em convênios de Estados e municípios com entidades Federais, não poderão disputar a eleição de outubro. Muitos tentarão sair do curral. O maior contingente é do Maranhão : 728 condenações. Esse contingente se soma aos perfis parlamentares que foram condenados em segunda instância. Ofensiva e defensiva Nos últimos dias, esse consultor registra volume ofensivo considerável na frente de batalha de José Serra. A todo o momento, cobra respostas e explicações de Dilma sobre o tal dossiê que teria sido objeto de armação de um grupo de neo-aloprados. Dilma diz que não tem nada com isso. Os caras envolvidos serão objeto de ampla exposição na mídia. A questão é : será que esta questão sensibilizará os grandes núcleos eleitorais ? É mais provável que seja fator de consolidação de grupos já definidos. Tucanos se unirão no uso da trombeta de Serra contra Dilma e petistas dirão que se trata de uma armação. Cada um com sua versão. Pegou o gol ? Chico Alves, editor da Tribuna do Ceará, esperava, domingo de noite, a foto principal da primeira página para fechar o jornal. Ceará e Fortaleza estavam acabando o clássico do Estado, que ia ser a manchete de segunda-feira. Ceará ganha de 1 x 0, com um gol fantástico, de placa. Chega correndo Gumercindo Gomes, velho e cansado fotógrafo. Chico Alves grita aliviado : - Tudo bem, Gumé ? Pegou o gol ? - Não deu pra pegar não, seu Chico. Foi muito rápido. - E agora ? Como é que eu vou fechar o jornal sem a foto do gol ? Você fracassou. - Ora, seu Chico, se o goleiro, que é pago para isso, não pegou, eu é que tinha que pegar ? Quem conta o causo é o amigo Sebastião Nery. Formação de imagem Nesse momento, muitos candidatos se esforçam para produzir uma imagem consoante com os anseios das populações eleitorais de suas regiões. Muitos não sabem por onde começar. Vamos ajudá-los. Eis aqui um breve roteiro. Procurem auscultar questões/demandas gerais e específicas de seus eleitorados e regiões; produzam uma Carta Compromisso com programas, projetos e ações a serem defendidas; selecionem três a quatro pontos-chave para servirem de eixos da identidade; organizem um sistema de comunicação eficaz - com meios e formas - para fazer chegar ao eleitorado o escopo programático; planejem um sistema de articulação com os grupos e entidades organizadas da região; e desenvolvam intensa pauta de encontros, reuniões, caminhadas, etc. Identidade Como pode ser aduzido, primeiro, o candidato deve arrumar o escopo de sua identidade. A seguir, precisa comunicar esse escopo à comunidade política. Ou seja, o primeiro passo é a organização da identidade. A imagem será consequência. Quanto mais verdadeira a imagem - quanto mais próximas identidade e imagem - melhor para a compreensão e a internalização (inserção na cuca do eleitor) do conceito do candidato. Percepções O que é a imagem ? Imagem é a projeção, a extensão da identidade. Tentemos, aqui, analisar a imagem de alguns perfis. Imagem de Dilma : mulher competente, técnica, braço direito de Lula, com certo ar de auto-suficiência, gerentona, ainda jejuna em matéria política, fiadora da herança Lula, sem domínio das massas, expressão técnica, representante da condição feminina com possibilidades de vitória. Imagem de Serra : experiente, preparado, maduro, com vasto histórico político-administrativo, garantidor da herança tucana, fechado, linguagem didático/técnica. Dissonância é disparate Entre os fenômenos que se estudam no processo de comunicação, dois são muito comuns : ruído e dissonância. O ruído, como o nome indica, abriga os desvios nos canais de comunicação, o barulho, a quantidade enorme de mensagens, as linguagens desajustadas e inadequadas. Já a dissonância aponta para a distância entre a verdade e a versão, a identidade e a imagem. Exemplo de dissonância é a logomarca de Roseana Sarney, sugerida por Duda Mendonça : "Novo Governo do Maranhão". A filha de José Sarney já tem 9 anos de Palácio dos Leões. Novo, para ela, soa mais falso que uma moeda de R$ 3. Neste caso, a dissonância é um disparate. "Xecape" do Carlucho Despachado, bom de lábia, ar brejeiro, dono de fazendas, Carlucho Albuquerque aproveitou a viagem ao Recife para matar saudades. Afinal, poderia assistir ao desfile de maracatus e visitar o velho museu para apreciar a decoreba que os meninos de Olinda fazem sobre a saga de sua família, os Albuquerque, aberta por Matias de Albuquerque, 1595/1647. Depois do lazer, Carlucho foi ao médico fazer um exame geral. O médico pergunta : - Sr. Carlucho, o senhor está em muito boa forma para 40 anos. - E eu disse ter 40 anos ? - Quantos anos o senhor tem ? - Fiz 58 em maio que passou. - Puxa ! E quantos anos tinha seu pai quando morreu ? - E eu disse que meu pai morreu ? - Oh, desculpe ! Quantos anos tem seu pai ? - O véio tem 82. - 82 ? Que bom ! E quantos anos tinha seu avô quando morreu ? - E eu disse que ele morreu ? - Sinto muito. E quantos anos ele tem ? - 103, e anda de bicicleta até hoje. - Fico feliz em saber. E seu bisavô ? Morreu de quê ? - E eu disse que ele tinha morrido ? Ele está com 124 e vai casar na semana que vem. - Agora já é demais ! Por que um homem de 124 anos iria querer casar ? - E eu disse que ele queria se casar ? Queria nada, mas ele engravidou a moça, coitada. Carlucho se orgulha da tradição dos Albuquerque de Pernambuco. O golpe do Refis A cada dois ou três anos o governo lança um programa de refinanciamento de dívidas para empresas inadimplentes. Trata-se de uma forma de aumentar a arrecadação e dar uma chance de regularização fiscal ou tributária para empresas devedoras. A maioria, entretanto, aproveita a oportunidade, inscreve-se no programa, consegue a CND e participa do maior número possível de licitações já que está autorizada a fazê-lo por seis meses com este "alvará". Ganha contratos a preços inexequíveis e predatórios ao mercado. Inicia novos contratos, deixa novamente de pagar dívidas fiscais e tributárias e o ciclo predatório continua. É incrível, mas a roda de uma fortuna caloteira é a imagem de um país irresponsável. O barato sai caro Vai aqui um alerta. Quem quiser contratar uma prestadora de serviços, deve ter muito cuidado. Ao final do processo, poderá a contratante se tornar parceira do passivo trabalhista da contratada. No começo, a coisa parece um bom negócio. Tudo porque o preço parece muito alentador. E a contratante, ao querer pagar menos pelo serviço, acha que faz boa economia em relação ao custo cobrado pela prestadora anterior. Depois de algum tempo aparece a dor de cabeça. A contratada não consegue honrar os compromissos tributários, fiscais e trabalhistas. E assim desaparece do mercado. A quem recorrerão seus "herdeiros" ? Ora, à empresa que contratou por preço muito baixo. É assim que os espertos são pegos de calça curta. Favoritos Aparecem os primeiros favoritos de outubro para os governos estaduais : Sérgio Cabral - PMDB - no Rio; Geraldo Alckmin - PSDB - em São Paulo; Beto Richa - PSDB - no Paraná; Renato Casagrande - PSB - em Espírito Santo; Marcelo Deda - PT - em Sergipe; Eduardo Campos - PSB - em Pernambuco; José Maranhão - PMDB - na Paraíba; Rosalba Ciarilini - DEM - no Rio Grande do Norte; Cid Gomes - PSB - no Ceará; Siqueira Campos - PSDB - em Tocantins; Marconi Perillo - PSDB - em Goiás; André Puccinelli - PMDB - no Mato Grosso do Sul. Visão embaçada Nuvens espessas atrapalham visão em alguns Estados. Em Minas, Hélio Costa está na frente, mas Aécio poderá eleger Anastasia. No Maranhão, Roseana Sarney está na frente, mas ninguém sabe se Jackson Lago tem condições de sustentar candidatura. E há Flávio Dino. Na Bahia, Jaques Wagner está na frente, mas corre perigo em um segundo turno. Em Alagoas, o governador Teotônio Vilela poderá passar o comando para Fernando Collor ou Ronaldo Lessa. Calamidade Uma calamidade assola o nordeste, principalmente os Estados de Alagoas e Pernambuco. Mais de mil pessoas desaparecidas e muitos mortos. A tempestade se insere entre os fenômenos incontroláveis pela mão do homem. Os governos Federal e estaduais procuram socorrer as populações. Em ano eleitoral, o imponderável poderá mudar a direção do voto. Vamos ver como se desenvolverão as ações de ajuda. Pesquisa IPESPE em SP Serra, em São Paulo, tem 14 pontos na frente de Dilma : 43% a 29%. Feitas as contas, isso daria, hoje, cerca de 4 milhões de votos de maioria. Pois bem, se não tiver uma maioria entre 4 a 5 milhões de votos em São Paulo, que tem 30 milhões de eleitores, Serra está ameaçado. O nordeste deverá dar a Dilma maioria entre 6 a 7 milhões de votos. Alckmin, nesta pesquisa do IPESPE, tem 50% das intenções de voto. Vitória no primeiro turno. Celso Russomano tem 12% e Paulo Skaf apenas 2%. Para o Senado, Marta tem 38%, Quércia e Netinho de Paula empatam com 17%, Tuma registra 16% e Gabriel Chalita - ainda indefinido - contabiliza 9%. Aloysio Nunes Ferreira, o tucano, tem apenas 6%. Chile, um exemplo No Chile, as decisões do BC são compartilhadas com o Ministério da Fazenda. Essa é a posição de Serra. Se ganhar, diz ele, o BC só vai decidir com a participação das autoridades fazendárias. Ele quer baixar os juros e elevar o câmbio. Conselho aos favoritos Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado ao técnico Dunga. Hoje, volta sua atenção aos candidatos favoritos nas eleições de outubro : 1. É comum o candidato que exibe grande dianteira ante outros usar salto alto e, por consequência, fazer uma campanha modorrenta. Isso é um perigo. 2. Campanha só é ganha após a apuração. Por isso, os francos favoritos devem fazer campanha como se fossem os lanterninhas. 3. A arrogância, a empáfia, o excesso de confiança, a soberba puxam candidatos para o buraco. Cautela e caldo de galinha, senhores favoritos, não fazem mal a ninguém. E ajudam muito nas campanhas. ____________
quarta-feira, 16 de junho de 2010

Porandubas nº 237

Perspectivas e características Luís Pereira, pintor de parede, teve apenas 200 votos em Pernambuco. Mas virou deputado Federal. Suplente de Francisco Julião, cassado, tinha de assumir. Chegou a Brasília de roupa nova e muito comovido. No aeroporto, o potiguar Murilo Melo Filho, conta Sebastião Nery, jogou tinta na boca do novo parlamentar : - Deputado, como vai a situação ? Pensou, pensou, olhou para um lado, olhou para o outro e tascou : - As perspectivas são piores do que as características. Identidade e imagem Postas as candidaturas, a campanha começa a ganhar ares oficiais. Cada candidato terá de fazer chegar sua Identidade aos eleitores. Identidade é um composto de: pensamentos e ideias, experiências, história, atitudes e valores (plano semântico); e maneira de se vestir, de falar, de gesticular (plano estético). Identidade começa com o sufixo Idem (do latim), que significa semelhante, igual. Identidade, portanto, é a verdade da pessoa. Já Imagem é a sombra da Identidade, é a projeção. Quando a sombra está muito distante da pessoa, cria-se uma dissonância. A Imagem não corresponde à verdade. Por isso, candidatas e candidatos, procurem ajustar as Imagens que desejam transmitir aos eleitores à Identidade. Escândalos A pergunta é recorrente : e os escândalos farão alguma diferença ? Os dossiês montados para prejudicar candidaturas surtirão algum efeito ? A resposta é : não. Os eleitores sabem que todos os escândalos em princípio, meio e fim de campanha têm a finalidade de ajudar um candidato em detrimento de outro. E por saberem disso, os eleitores estão devidamente vacinados. Não se contaminam com o clima de denúncias. O efeito é apenas esse : reforça a opinião dos dois lados. Os eleitores de uns ficarão com raiva do candidato adversário; e os eleitores deste candidato ficarão indignados com o outro candidato. Zero a zero. A decisão estará com 1/3 Pois bem, o que estamos vendo é o seguinte : 1/3 do eleitorado está apoiando José Serra; 1/3 do eleitorado está apoiando Dilma; e 1/3 do eleitorado está espiando a cena. Este 1/3 que está nas arquibancadas de observação definirá o resultado da eleição. Ele será guiado e influenciado por três fatores : o conforto econômico (40%), os patrocinadores (30%), como Lula, governadores, prefeitos e outras lideranças políticas e perfis (30%), correspondendo à avaliação que os eleitores farão da Identidade e da Imagem dos candidatos. Essa é mais ou menos a equação eleitoral. Conte-se, ainda, com o detalhe abaixo. Minas, síntese do Brasil Tenho dito e repetido : a eleição passa por Minas Gerais. Este Estado é a síntese do Brasil. Nos últimos cinco pleitos, Minas foi o Estado que registrou a menor diferença entre o índice nacional e os índices regionais, algo em torno de 5%. Quer dizer que Minas aponta o caminho da vitória dos candidatos. Os vitoriosos em todos os grandes pleitos contemporâneos ganharam também em Minas Gerais. Que tem 14 milhões e 300 mil eleitores. E o eleitorado mais indeciso do país. Na última hora, tira o voto do colete. A força dos debates Os debates têm importância central em uma campanha. Por meio deles, o eleitor afere os contendores, estabelece comparações, avalia posições etc. Um candidato mais nervoso, mais preparado, mais tenso, com menor domínio temático, explosivo, contundente, tranqüilo, educado, mais grosseiro : eis aí o painel de características e condições dos perfis captadas pelos eleitores. O preparo para os debates ajuda, mas as situações incontroláveis poderão desestabilizar uma candidatura. Ciro Gomes chamou um eleitor de burro pelo rádio; outra feita, indagado sobre o papel de sua mulher, Patrícia Pillar, na campanha, disse que ela era importante : dormia com ele. Caiu nas pesquisas. Foi grosseiro. O papel de Lula O que vimos, até agora, foi um ensaio de campanha. Que pegará fogo após a Copa. Lula já prometeu usar toda a munição que tem no seu arsenal. E mais : desafia Serra, querendo saber se o ex-governador tem mesmo "sangue de barata", porque fará ele, Lula, muitas provocações para tirar o tucano da seriedade. Lula é macaco velho. Respira política pelos poros. Aprendeu as maldades nos tempos do sindicalismo maquiavélico. Forjou sua experiência com muitas derrotas. Diz que seu maior projeto de vida é : eleger Dilma. Cancelo chuvas A seca era medonha. A Paraíba em desespero, o governador aflito. Um dia, caiu uma chuva fininha no município de Monteiro. Inácio Feitosa, o prefeito, correu ao telégrafo : "Governador José Américo : chuvas torrenciais cobriram todo município de Monteiro. População exultante: Saudações, Feitosa". Os comerciantes da cidade, quando souberam do telegrama, ficaram desesperados. O município não ia mais receber ajuda. Ainda mais porque a mensagem era falsa e apressada. Feitosa correu de novo ao telégrafo : "Governador José Américo : cancelo chuvas. População continua aflita. Feitosa, prefeito". A favorita Hoje, a ex-ministra é a franca favorita do pleito. E a razão é simples : peguem os dados da equação descrita no início da Coluna e somem os fatores positivos - a favor e contra ela. Façam a mesma coisa em relação a Serra e Marina. A conclusão é a de que a pirâmide social foi toda ocupada por programas do governo Lula. Tenho usado um conceito simbólico para expressar o favoritismo de Dilma Rousseff : o Produto Nacional Bruto da Felicidade (dinheiro no bolso com certo conforto social) aponta na direção dela. Serra, por sua vez, terá dificuldade em montar o discurso, que deverá se pautar por verbos como : melhorar o que existe, ampliar os programas, aumentar a rede social etc. Se disser que vai mudar alguma coisa - que está dando certo - poderá ser rejeitado. Mudanças Então, não poderá Serra usar o termo mudança ? Ele tem usado o slogan : o Brasil pode mais. E fará mais com ele. Essa foi a saída encontrada por seus marqueteiros. Mas ele poderá usar mudança ao se referir a aspectos da macroeconomia, área que não é palatável para as massas. Serra tem dito que vai baixar os juros e o empresariado gosta dessa abordagem. Mexerá, ainda, na política de câmbio, para evitar um câmbio tão baixo, que prejudica as exportações, tema também do agrado de setores como o agronegócio. Mas a palavra mudança, quando focada para os braços sociais, dá pesadelo. Campanha negativa Os candidatos terão de controlar muito a expressão. E a razão é muito conhecida : campanha negativa não ajuda candidatura. Quem se prestar ao esforço de passar uma campanha xingando, acusando, criando atritos, poderá ser visto como perfil negativo. É claro que os contendores devem reagir à altura diante de acusações pesadas. Mas o substantivo é melhor que o adjetivo em campanha eleitoral. Porque eleva as pessoas, conferindo-lhes uma taxa de liturgia e seriedade. História (1) Depois de nove anos em campanha, Alexandre, o Grande, parou de conquistar povos. Essa parada ocorreu no dia em que ele se preparava para cruzar o rio Beas, na Índia. O general gritou : "Adiante!". Os homens responderam : "Nem pensar". E assim tudo se acabou. Alexandre já não conquistava a admiração de seu Exército. Por que seus homens se recusaram a continuar ? Uns dizem que os soldados estavam com saudades de casa. Outros de que estavam cansados de aguentar chuvas. O biógrafo Peter Green é de opinião que eles finalmente compreenderam que o objetivo de Alexandre era conquistar o mundo. E eles não estavam dispostos a tanto. Avanço e recuo em SC Eduardo Moreira, presidente do PMDB de Santa Catarina, procurou o presidente nacional do partido, Michel Temer, para que este marcasse uma reunião com Dilma Rousseff. Michel marcou. Na reunião, garantiu aliança com o PT no Estado. Firmou posição. No sábado, os convencionais de SC votaram na convenção do PMDB, em Brasília. Na segunda-feira, Temer é surpreendido com a virada. Moreira virou vice na chapa de Raimundo Colombo, do DEM, candidato ao governo. Este consultor ouviu um Temer furioso, bem diferente do perfil equilibrado. Dizia ele : André Pucinelli, do Mato Grosso do Sul, sempre me dizia que iria apoiar Serra. Jarbas Vasconcelos sempre se manifestou também na direção do PSDB. Ao contrário de SC. Que traiu o compromisso. A direção pensa em intervenção em SC. Exposição de Serra Depois da ascensão de Dilma, na esteira de ampla visibilidade, espera-se a subida de Serra na montanha eleitoral. Mas há um busílis : a Copa. Serra vai aparecer muito - inserções do DEM, PPS e PSDB - no meio dos jogos. Ou seja, haverá certo processo de canibalização. Será esmaecido pela catarse futebolística. De qualquer forma, tenderá a crescer. Se não ocorrer, sinal vermelho. Quando a Copa acabar e se o empate continuar, na escala de 0 a 100, Dilma sobe para uma escada com uma inclinação de 65 graus. Jogo a zero grau ? Essa Coluna é fechada na terça. Vou arriscar : 2 a 1 para o Brasil. Se der mais, ótimo. Se não, indignação. Nesse momento, os leitores se dividem entre esses dois sentimentos. Pequena vitória é meia frustração. Empate e derrota são motivos de intenso xingamento. Culpa de quem ? Da pouca pomada que o médico da seleção, José Luiz Runco, botou nos jogadores para aliviar o frio de zero grau ? Se o resultado for ótimo, foi densa a camada de pomada. Precisamos trabalhar O brigadeiro Eduardo Gomes fazia, no largo da Carioca(Rio de Janeiro), seu primeiro comício da campanha presidencial de 1945. A multidão o ouvia em silêncio : - Brasileiros, precisamos trabalhar ! Do meio do povo, uma voz poderosa gritou : - Já começou a perseguição ! Bagunça geral. O comício quase acabou. Cadê o Skaf, hein ? Cadê o socialista Paulo Skaf, hein ? Ele é o único caso na história do marketing político no Brasil que contratou um marqueteiro bem antes de homologar a candidatura. Duda Mendonça será o homem da cosmética publicitária. Se alcançar 5% dos votos em SP, poderá se considerar um político iniciante com razoável performance. Olho na Rede Globo Há um olho apurado sobre a cobertura das eleições pelo Grupo Globo. Aliás, o Grupo fez questão de produzir uma Carta de Princípios para orientar a cobertura das eleições. Nenhum de seus colaboradores poderá fazer campanha nos textos que produzem. Ou dar ênfase a um em detrimento de outro. O jornal O Globo com seu Estatuto das Eleições produz, assim, uma vacina ética contra futuras versões sobre cobertura tendenciosa. O Grupo se compromete a cobrir com equilíbrio, independência e pluralidade. Aqui pra nós, Lula acha que a Rede Globo favorece os tucanos. História (2) A derrota de Napoleão costuma ser atribuída ao inverno russo. Aliás, esse sempre foi o argumento usado pelo próprio. Mas o exército napoleônico estava arrasado bem antes de o inverno chegar. Napoleão deixou Moscou com cerca de cem mil homens. Em 12 de novembro de 1812, primeiro dia em que a temperatura caiu abaixo de zero, haviam sobrado apenas quarenta e um mil. Não foi apenas o frio do inverno que matou os soldados. Foram as doenças. O clima enfraqueceu os homens de Napoleão, mas a temperatura não estava fria o suficiente para matá-los. O exército de George Washington, décadas antes, sobreviveu a clima muito pior. A descoberta mais estranha dos historiadores é que seu exército provavelmente sofreu tanto com o calor como com o frio. O verão russo de 1812 foi tão quente que dezenas de milhares de seus soldados morreram de insolação e desidratação. Conselho a Dunga Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado ao pré-candidato ao governo de Minas Gerais, senador Hélio Costa. Hoje, volta sua atenção ao técnico Dunga : 1. Use todos os seus conhecimentos e experiência para que os jogadores brasileiros alcancem a única meta que interessa : a vitória. 2. Os jogadores brasileiros têm um algo a mais : criatividade, genialidade, capacidade de improvisação. É claro que sua visão dura - voltada exclusivamente para a eficácia - poderá, eventualmente, canibalizar a força criativa do conjunto. Mas deixe o grupo usar também a genialidade. 3. Diz-se que você tem ouvidos moucos para a opinião pública. Dunga, a chamada Pátria de Chuteiras pede que seja também ouvida. ____________
quarta-feira, 9 de junho de 2010

Porandubas nº 236

Alerta Cuidado, senhores candidatos e senhoras candidatas. Muito cuidado com a liturgia de abraçar pessoas e beijar crianças. Francelino Pereira, ex-governador de Minas, ex-senador e ex-deputado federal, nos fundões do Estado, fazia a maior demagogia. Encontrou um grupo de crianças. Começou a suspendê-las pelos braços e a beijá-las. De repente, sentiu algo estranho. Era uma cara cheia de barba. Francelino havia beijado o anão de Uberaba. Ibope confirma Dos Institutos de Pesquisa, faltava apenas o Ibope. Que confirma o empate entre Dilma e Serra : 37%, no primeiro turno, e 42% no segundo turno. O que esse cenário quer dizer ? Vamos lá. O segundo turno tende a favorecer a candidata situacionista. Os candidatos apoiados por estruturas governamentais somam melhores condições. O poder da máquina federal puxa grupos e lideranças. O governismo age como um rolo compressor. Lula comandará as estratégias de cooptação de votos. Dilma passa, então, a ser favorita. A tipologia eleitoral Como este consultor tem avaliado, o eleitorado de Dilma se agiganta no nordeste. Serra ganha no sudeste, mas sua maioria está diminuindo. Poderá anular a vantagem de Dilma no nordeste com a eventual maioria que tirará do sul e do sudeste. Minas, porém, será uma incógnita. Tem 14,2 milhões de votos. O mineiro é desconfiado. Hélio Costa, do PMDB, terá o apoio do PT para disputar o governo. Mas Aécio Neves poderá puxar a vitória para Anastasia. Ocorre que a vitória do vice Anastasia não significa a vitória de Serra em MG. Lá, o voto poderá favorecer a mistura Dilmasia ou Anastadilma. A razão ? Perguntam-me a razão. Digo : o orgulho mineiro. Os mineiros não querem ver Aécio Neves como segundo ou terceiro. E sim como o primeiro. Deveria ele estar no lugar de Serra. Se não é Aécio, podem optar por uma candidatura mineira, nesse caso, a de Dilma, que nasceu no Estado. Há uma rixa histórica entre Minas e São Paulo. Acho que Minas Gerais poderá ser o principal termômetro desta campanha. Com o Rio de Janeiro, terceiro colégio eleitoral, cumprindo também papel preponderante. E Dilma tende a ganhar no Rio, se caso Sérgio Cabral levar boa vantagem. Vox de Dilma Já o Vox Populi fez uma pesquisa sob encomenda do PT que dá Dilma com 6% de vantagem em relação a Serra. No segundo turno, são 8 pontos de diferença para a petista. A favor de Serra Este consultor crê que o favoritismo de Dilma pode ser esvaziado ante as seguintes situações : acidente/incidente de percurso por parte da campanha petista como a extravagância de produção de dossiês contra Serra; gafes continuadas de Dilma; alterações continuadas na fachada principal (a fisionomia da candidata), pois o efeito cosmético poderá lhe sugar a identidade; climas emotivos nacionais - catástrofes, desastres - que sujem a imagem do governo Lula. A favor de Dilma A continuidade do PNBF - Produto Nacional Bruto da Felicidade - amálgama de fatores : dinheiro no bolso, conforto social, geladeira cheia, carro novo, transporte barato, escolas perto de casa, bolsa família chegando todo mês; luz para todos; casa própria; dinheiro para ajudar a produzir boa colheita; enfim, os braços assistenciais do governo Lula. O caminho do voto O voto começa pelo bolso, vai subindo até o coração e, depois de longo percurso, chega à cabeça. Esse é o caminho do voto e da geografia eleitoral. Do estômago das massas chega ao escopo crítico das classes mais aculturadas. Que somam bem menos gente do que os contingentes nas gerais. E a Copa, hein ? A Copa poderá servir como gigantesca estrutura de consolação, que funciona como espaço da catarse coletiva. Se o Brasil ganhar, comoção e locupletação emotiva. Se perder, decepção e frustração coletivas. Mas o eleitor não confunde vitória ou derrota com o político ou o governante. Quem desejar tirar partido do gol, acabará na linha do pênalti. Pêsames (e não palmas) em Tocantins A Assembleia Legislativa de Tocantins acaba de dar um golpe na Carta Magna. Um deputado, de nome Stalin - que não se perca pelo nome -, conseguiu aprovar seu projeto para estiolar as funções do Tribunal de Contas do Estado. A lei revoga dispositivos da Lei Orgânica do TCE - que enquadravam os prefeitos, no exercício das funções de ordenador de despesas -, a se submeterem às competências do Tribunal. Ou seja, pretende que o TCE não julgue mais os prefeitos na condição de ordenadores de despesas, o que acontece em 137 dos 139 municípios do Estado. O projeto é uma curva na CF, que dispõe sobre a exclusividade dos Tribunais de Contas na iniciativa de propor alterações na Lei Orgânica. Se a moda "stalinista" pegar, o caminho da gastança sem controles não terá fim. Mas a Atricon - Associação dos Tribunais de Contas impetrou ADIn no STF. Vamos aguardar os resultados. Livro-dossiê ? Este consultor recebeu um briefing sobre o livro do jornalista Amaury Ribeiro Júnior, que teria sido contatado por Luiz Lanzetta, o cara que teria feito as sondagens para a produção de dossiês contra Serra. Fofocagem sob encomenda. Por não acreditar nessas baboseiras, este consultor não abre espaço para o acervo que discorre sobre negócios da família do ex-governador de São Paulo. Agirá do mesmo modo, caso chegue pacote sob encomenda contra figuras do PT. Juiz ? Também o fui Jânio Quadros era um ás na técnica da enrolação. Visitava Fortaleza e ficou na casa do deputado Jorge Furtado Leite. Descansava numa rede, quando Furtado tentou convencê-lo a receber uma comitiva de juízes. - Não os recebo. Juiz é magistrado. Não pode fazer política. Eles não têm nada a me dar e nem tenho nada a prometer-lhes. De repente, viu que estava cercado de juízes. Prontamente se levanta e exclama, em alto e bom som : - Juízes dessa querida terra, que também o fui... E conversou lorota por mais de duas horas com eles. Sob o efeito de uma cachacinha. Nova comissão A OAB/SP criou a "Comissão de Estudos de Recuperação Judicial e Falência". A ideia foi do advogado Luiz Antonio Caldeira Miretti, nomeado seu presidente. Miretti, representando a Seccional Paulista da Ordem, será palestrante no "Congresso Internacional de Direito Empresarial", discorrendo, no dia 11, às 10h30, sobre os "Os cinco anos da Lei de Recuperação e Falência". O evento será pelo INRE - Instituto Nacional de Recuperação de Empresas, nos dias 10, 11 e 12/06/10, no Hotel Sofitel, em São Paulo. Quem paga o pato ? Nós Esta coluna abre uma campanha de moralização no complexo terreno das licitações. Pano de fundo : estratagemas de certas empresas para ganhar o bolo. Expliquemos. Empresas estatais possuem um passivo trabalhista que poucos conseguem imaginar. No afã de demonstrar eficiência na hora de contratar serviços de terceiros, buscam, apenas e tão somente, o menor preço apresentado. A prestadora contratada por este critério, na maioria das vezes, acaba quebrando e seus funcionários, sem terem a quem acionar, voltam-se contra a estatal que responde subsidiariamente pelas ações trabalhistas. O passivo trabalhista da estatal cresce. E quem acabará pagando o pato ? Ora, todos os cidadãos que pagam impostos. Moral : é mais razoável buscar o melhor preço possível e não simplesmente o menor. O barato acaba saindo muito caro. O viés do pregão O Estado consegue fazer economias, aliás, bem-vindas, por meio deste processo de compras, que nada mais é do que um leilão ao contrário. Entretanto, por falta de parâmetros para estabelecer a formação de preços, ou ao menos do custo do serviço, fica difícil ao pregoeiro justificar a não contratação de uma empresa que ofereça o menor - muito menor - preço. O país possui muitos institutos capacitados. Por que não são chamados a realizar estudos sobre o chamado "preço inexequível" ? Ficha Limpa A lei da Ficha Limpa, sancionada por Lula, está à espera de uma interpretação por parte do TSE. Valerá para este ano ou apenas para 2012 ? Pela lei, para ser impedido de registrar candidatura, o político deve ter sido condenado por um órgão colegiado, ou seja, em que há mais de um juiz. Áreas das condenações : tráfico de drogas, formação de quadrilha, racismo ou tortura, além de crimes eleitorais, por exemplo, fica inelegível por oito anos. É ainda o caso de punições por ações civis de improbidade administrativa, mas só se as acusações forem de enriquecimento ilícito ou lesão aos cofres públicos. Os condenados poderão recorrer para viabilizar a candidatura. O projeto recebeu a adesão de 1,6 milhão de assinaturas sobre a aplicação da lei. O STF também pode ser consultado com uma ação para confirmar a constitucionalidade do texto aprovado. Números da terceirização O país tem, hoje, mais de 31 mil empresas de serviços terceirizáveis que, juntas, faturam acima de R$ 43 bilhões ao ano. As regiões sudeste e sul são as que concentram a maior parte desse montante. A remuneração mensal destes profissionais paga pelas empresas gira em torno de R$ 918, totalizando R$ 18 bilhões ao ano. Os dados são da 4ª Pesquisa Setorial, encomendada pela Asserttem - Associação Brasileira das Empresas de Serviços Terceirizáveis e de Trabalho Temporário. Com relação à empregabilidade, o Brasil possui, hoje, mais de 8 milhões de trabalhadores terceirizados, o que representa quase 9% da população economicamente ativa. Jovens em situação de primeiro emprego representam 12,5% das vagas preenchidas. A terceira idade responde por quase 14% do total de contratos com empresas terceirizadas. Conselho a Hélio Costa Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos jogadores da seleção. Hoje, volta sua atenção ao pré-candidato ao governo de Minas Gerais, senador Hélio Costa : 1. Definida sua candidatura pelo PMDB, cuide, agora, de garantir o prometido apoio do PT. Pelo andar da carruagem, há alas querendo traição. 2. Haverá muita casca de banana pelo caminho. A serem jogadas pelas alas descontentes. 3. O futuro político do governador Aécio Neves estará atrelado ao sucesso de seu candidato ao governo, o vice Anastasia. Aécio fará tudo o que for possível para eleger seu sucessor. Panorama bem provável. ____________
quarta-feira, 2 de junho de 2010

Porandubas nº 235

Historinhas do Pará O Pará já teve políticos muito engraçados. Um deles, João Botelho foi interventor, deputado e constituinte. Certo dia encontra um cabo eleitoral : - Como vai ? E senhora sua esposa ? E as crianças ? - Tudo bem, deputado. Minha mulher está ótima. Mas, por enquanto, é só um menino, certo ? - E eu não sei que é um filho só ? Mas é um menino que vale por muitos. Então, como vão os meninos ? ********** Outra figura folclórica do Pará foi Magalhães Barata, revolucionário em 1924 e 1930, interventor, constituinte em 46, senador e governador. Tinha ele um candidato a prefeito de Santarém. Mas o diretório local do PSD queria outro. Ia perder. Foi lá, conversou, pediu votos. Não teve jeito. Perdeu a eleição no diretório : 15 a 5. Pegou microfone : - Meus senhores, pela primeira vez a minoria vai ganhar. Está escolhido o candidato que perdeu. A plateia bateu palmas. O velho Barata encerrou os trabalhos : - E, pela primeira vez, a minoria ganhou por unanimidade. Pendenga em Minas Pensava-se que a pendenga entre PMDB e PT estivesse quase apaziguada. O PT nacional ameaçou intervir. Conversa vai, conversa vem. Fernando Pimentel, que também coordena a campanha de Dilma, ganhou uma convenção interna, que tinha como adversário Patrus Ananias. Ficaria, assim, mais fácil equacionar a pendenga, eis que, na linha de frente da campanha petista, Pimentel deveria ser o primeiro a facilitar as coisas para o PMDB. Afinal de contas, o PT não pode ameaçar a aliança com o partido que lhe dará o maior de tempo de TV e rádio. Pois bem, quando tudo parecia ir às mil maravilhas, eis que o imbróglio continua. Hélio Costa não arreda pé. Nem Pimentel. PT versus PT Não bastasse a pendenga entre PT e PMDB, há outra : PT contra o próprio PT. Agora, é a divisão paulista contra a divisão mineira. Do lado de São Paulo, o mando está com o deputado e jornalista Rui Falcão, que dará as cartas no quesito comunicação. Do lado mineiro, é ele, mais uma vez, que comanda a rebeldia. Fernando Pimentel, na coordenação geral da campanha dilmista, começa a acender uma fogueira na direção de Falcão. Escorpiões correm pelos flancos. Vamos ver quem ganhará a picada mortal. Instituto Lula Lula é previdente. Já toma providências para alugar um amplo escritório em São Paulo, onde instalará seu Instituto. Vai fazer palestras pelo mundo afora. Deve cobrar caro. O preço da fama. No ônibus "O Seu Lunga consegue um emprego de motorista de ônibus. No primeiro dia de trabalho, já no final do dia, ele para o ônibus em um ponto. E uma mulher pergunta : - Motorista, esse ônibus vai para a praia ? E o Seu Lunga responde : - Se você conseguir um biquini que dê nele..." Pós-Lula ou anti-Lula ? Dúvida cruel : pós-Lula ou anti-Lula ? José Serra, como se sabe, tem se precavido no ataque ao presidente Luiz Inácio, cuja aprovação social bate recorde. Mas Lula não tem tido a mesma precaução. Quando pode fustiga Serra. Chega a fazer gozação. Há um grupo no entorno do ex-governador paulista sugerindo que ele entorne o caldo e passe a dar estocadas no lulismo. Serra continua tomado por dúvidas. Ser ou não ser o anti-Lula, eis a questão. E quando Lula for à guerra ? Dilma está com 37% segundo o Datafolha, em empate técnico com Serra. Ora, a maior parcela dessa votação provém da transferência propiciada pelo patrono da candidata, ele mesmo, Lula. Imaginem, agora, quando Lula for ao palanque sem o olhar do TSE. A campanha aberta começará em 6 de julho. Pelo prestígio alcançado e pela fama de palanqueiro treinado na arte de mobilizar as massas, a projeção é a de que a ex-ministra cresça. A não ser que incidentes de percurso atrapalhem a caminhada. Ela, Dilma, poderá ser o próprio entrave ao crescimento. Na língua "Seu Lunga fumando um cigarro. Pergunta imbecil : ora, ora ! Quer dizer que gosta de fumar ? - Não, tô apagando o cigarro na língua, pois gosto é de me queimar." Marina sufocada Marina Silva tem mais carisma que Dilma e Serra. Mas não dispõe de tempo de TV para exibir sua performance e atrair as multidões. Marina é suave, tem um jeito de santa de altar. Mas será sufocada pelos tempos de TV e rádio de Serra e Dilma. A campanha dos rivais será polarizada. E ela, no meio, terá muita dificuldade para respirar. E ganhar boa visibilidade. Aécio indica Tasso Mais uma vez, Aécio Neves toma a palavra para dizer : não sou candidato a vice. Nem que a vaca tussa. Ocorre que o ex-governador mineiro, de férias na Europa, deixou correr versões estrambóticas sobre seu destino. Ao chegar de férias, desmentiu a boataria. Mas tucanos insistiram na tese. E ontem, Neves, no Estadão foi definitivo. Não será candidato a vice. E fará melhor por Minas e por Anastasia, candidatando-se ao Senado. Este consultor já havia adiantado esta hipótese. Vice, correria o país e deixaria Minas de lado. Candidato ao Senado, correrá todo tempo o Estado ao lado de seu vice Anastasia. Agripino, o agregador Mas há quem garanta : o nome mais agregador para vice de Serra é José Agripino, do DEM do RN. Mas esse líder do DEM no Senado não topará. Major quem ? Olímpio Um tal de major Olímpio foi indicado pelo PDT como vice na chapa de Aloizio Mercadante. O nome é desconhecido. Mas o PDT cederá seu tempo de TV e rádio. Na vaca O filho de Seu Lunga e um amigo sofreram um acidente com uma moto. Tinham batido numa vaca. A ambulância chega. O enfermeiro coloca o filho de Seu Lunga na ambulância, enquanto pergunta : - Seu filho tava na moto ? Seu Lunga responde: - Não, tava na vaca ! O tom das Centrais As Centrais Sindicais querem dar o tom das eleições. Vão vaiar Serra e aplaudir Dilma. Dominam o campo das relações do trabalho. Recebem muita grana. Defendem os amplos domínios. Palestra em Palmas Palmas, em Tocantins, sediará o 2º Seminário de Comunicação dos Tribunais de Contas do Brasil. Farei palestra nesse evento : "Os desafios da comunicação pública no Brasil". Será no dia 8 de junho (próxima terça-feira), às 14h, na sede do TCE/TO, Auditório Brigadeiro Felipe Antônio Cardoso. O seminário terá transmissão ao vivo, pelo site www.tce.to.gov.br. Cristovam volta É bem provável a volta de Cristovam Buarque ao Senado. Trata-se de um bom senador. Com um histórico de destaque na área da Educação. Ficha Limpa O advogado geral da União, Luis Inácio Adams, recomenda em parecer sanção do presidente Lula ao projeto Ficha Limpa. Lula tem até o dia 8 de junho para sanção. A AGU garante que a mudança de texto no Senado não altera a essência do projeto. E entende que a lei poderá ser aplicada já este ano. Vai haver polêmica. Alguns juízes acham que só valerá em 2012. A malandragem Querem saber a origem da malandragem no Brasil ? Veja o finalzinho da Carta de Pero Vaz de Caminha a El Rei de Portugal. "E nesta maneira, Senhor, dou aqui a Vossa Alteza conta do que nesta terra vi. E, se algum pouco me alonguei, Ela me perdoe, pois o desejo que tinha de tudo vos dizer, mo fez por assim pelo miúdo. E pois que, Senhor, é certo que, assim neste cargo que levo, como em outra qualquer coisa que de Vosso serviço for, Vossa Alteza há de ser de mim muito bem servida, a Ela peço que, por me fazer graça especial, mande vir da Ilha de São Tomé a Jorge de Osório, meu genro - o que dela receberei em muita mercê." E conclui Caminha: "Beijo as mãos de Vossa Alteza. Deste Porto Seguro de Vossa Ilha de Vera Cruz, hoje, sexta-feira, primeiro dia de maio de 1500. Pero Vaz de Caminha." Um pedido aqui, um trololó acolá e muita bajulação. Jader volta ao Senado A querela entre PMDB e PT no Pará está prestes a se desfazer. Jader Barbalho aceitou ser candidato ao Senado, com o apoio de Ana Julia, a governadora, que enfrenta a reeleição. Jader, que já presidiu o Senado, e teve de renunciar para não ser cassado - ele e ACM - voltaria em grande estilo. Com boa votação. Terá papel importante nas composições políticas do Senado. A improbidade "Onde todos lucram, ninguém pensa; ninguém sonha onde todos tragam. O que antes era signo de infâmia ou covardia, torna-se título de astúcia; o que outrora matava, agora, vivifica, como se houvesse uma aclamação ao ridículo; as sombras envilecidas se levantam e parecem homens; a improbidade se pavoneia, e se ostenta, ao invés de ter vergonha e pudor." (José Ingenieros) Candidatos na rede O político precisa se manifestar nas grandes polêmicas da sociedade. Tem que dizer o que pensa e conquistar o eleitorado com defesas e ataques. Um canal interativo é essencial para o sucesso nas redes sociais. A internet deixou o eleitor mais participativo, mais crítico. O eleitor está muito mais organizado, acompanhando a cena política com mais força. A internet é diferente da TV, que promove uma comunicação unilateral. A resposta da web é simultânea e o eleitor está familiarizado com isso. Frente do agronegócio O deputado Moreira Mendes, do PPS de Rondônia, assumiu a presidência da Frente Parlamentar do Agronegócio. O parlamentar, que já exerceu mandato de senador, comandará uma bancada de cerca de 300 parlamentares no Congresso. A senadora Kátia Abreu, dos Democratas, presidente da CNA, demonstrou satisfação pela nomeação de Mendes. Conselho aos jogadores da seleção Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos partidos nanicos. Hoje, volta sua atenção aos jogadores da seleção : 1. Procurem temperar a garra com que enfrentarão adversários com as virtudes da modéstia, da simplicidade e da solidariedade. 2. Evitem sentimentos que torpedeiam a eficácia, como a arrogância, o destempero, a desarmonia e o excesso de individualismo. 3. Esses dias que antecedem o início da Copa devem ser utilizados também para aperfeiçoamento da mente e a busca de novos valores. ____________
quarta-feira, 26 de maio de 2010

Porandubas nº 234

Adeus, grande juíza Esta coluna registra, com muito pesar, a morte de uma grande juíza : Catia Lungov. Tive oportunidade de conhecer seu pensamento. Raras vezes, ouvi expressão tão cívica, tão cheia de amor pela pátria, tão compromissada com o Ideário de Grandeza quanto a expressão desta nobre Desembargadora. Dela, podemos dizer como Ingenieros disse de outros semelhantes : "Os caracteres excelentes ascendem à própria dignidade, nadando contra todas as correntes rebaixadoras, a cujo reflexo resistem com energia. É fácil distingui-los, imediatamente, em face de outros, pois não desvanecem nessa névoa moral em que aqueles se descoloram. Sua personalidade é toda brilho e aresta : firmeza e luz, como cristal de rocha." Tira-teima ou ensaio ? Afinal de contas, a pesquisa Datafolha foi um tira-teima ou mero balão de ensaio ? Expliquemos. As duas pesquisas anteriores, feitas pelo Vox Populi e Sensus, mostravam crescimento da candidata Dilma. Muita gente pensava : esses Institutos tendem a favorecer a candidata governista. E esperavam a pesquisa Datafolha, considerada imparcial por ser patrocinada por um grande grupo jornalístico. Nesse sentido, a pesquisa foi um tira-teima. E o que mostrou ? Mostrou o crescimento de Dilma em todas as regiões do país. Mesmo assim, muitos acham que estamos apenas na fase de ensaios. Pode ser. Raio x A pesquisa Datafolha mostra facetas interessantes. Dilma ainda não é totalmente conhecida pelo eleitorado de Lula. Ela ganhou 6 pontos nesse eleitorado - eleitores que dizem votar no candidato indicado pelo presidente. Mas há, ainda, 13% de eleitores do bolsão exclusivo de Lula que poderão ser conquistados por Dilma. Ou seja, ela tem condição de avançar sobre esse grupamento. Outro dado que chamou atenção : a rejeição de Serra subiu para 27%. Dado perigoso. Perto do calvário. E a rejeição da candidata governista baixou para 19%. Isso é muito ruim para o ex-governador paulista. Sudeste e sul No sudeste, há um mês atrás Serra mantinha uma diferença de cerca de 20 pontos de Dilma. Reinava absoluto. Hoje, essa diferença caiu para 7 pontos percentuais. O sudeste tem quase 44% dos votos do país, algo como 58 milhões de votos. Maioria de 7 pontos significa, hoje, algo como 4 milhões de votos. É pouco para Serra. Se ele não contar com uma maioria de 8 a 9 milhões de votos na região, deverá ser afogado pela avalanche de votos de Dilma no nordeste, que tem cerca de 27% dos votos do país. A incógnita Este consultor vem avisando há tempos : a grande incógnita será MG. Aécio será vice de Serra ? Por enquanto, ele continua afirmando que quer ser senador. Minas gostaria de vê-lo no lugar de Serra, não como sombra dele na vice. Por isso, lá haverá um voto mesclado : Anastasia e Dilma. E mais : Aécio ajuda mais Anastasia, que está bem atrás de Hélio Costa, como candidato ao Senado. Assim, ele poderá correr o Estado com Anastasia. Se for vice do Serra, terá de correr o país ao lado dele. E deixará ao léu a candidatura do seu pupilo ao governo. De lado O elevador está no subsolo. Seu Lunga está nele. Alguém pergunta : - Sobe? Seu Lunga : - Não, esse elevador anda de lado. Marina cresce Marina Silva chegou aos 12%. Poderá atingir 15%, pegando os bolsões mais jovens e grupos da classe média alta. Que escolherão perfis politicamente mais assépticos. Marina tem como desafio sair da redoma ambientalista e abrir o discurso para temas gerais de interesse coletivo. O vice que escolheu, o empresário Guilherme Leal, será um escudo contra as intempéries. Mercadante e Alckmin O PT vai fechar chapa puro sangue em SP : Mercadante e Suplicy. O índice histórico do partido é de 30%. Seguramente essa será a margem com que Mercadante contará. Geraldo Alckmin terá dificuldades em segurar a alta taxa que tem, hoje, 51% das intenções de voto. Geraldo, por índole, não gosta de ataques e veemência. Mas encontrará o perfil acirrado e contundente de Mercadante. Em debate, poderá passar a ideia de fragilidade. Se conseguir segurar 45% de intenção de voto, pode chegar aos 50% mais um dos votos válidos e ganhar no primeiro turno. Muito difícil, mas não de todo improvável. Sabonete Entra um sujeito na sucata de Seu Lunga, escolhe um relógio um pouco velho e pergunta : - Seu Lunga, esse relógio presta pra tomar banho ? - Eu prefiro um sabonete - resmunga o velho. Programa do PMDB O PMDB deve entregar ao PT seu programa para o país. Trata-se de um denso documento contendo diretrizes e abordagens em praticamente todos os setores da vida econômica e social do país. Avança em muitos aspectos; delineia diretrizes para as reformas previdenciária e tributária; faz ampla inserção sobre o processo educacional no país, pregando uma revolução no ensino fundamental; aborda com muita propriedade os avanços e atrasos nas políticas de saúde, segurança e saneamento; prega ações especiais para o nordeste, a Amazônia, o norte e o centro oeste; define os caminhos para a reforma do Estado e a reforma política e as linhas de um Plano de Defesa Nacional. Crença "No primeiro turno a gente vota em quem acredita. Em quem o coração da gente acha que é o melhor para o Brasil. No segundo turno, a gente se desvia do pior. Mas isso só a sociedade brasileira pode fazer." (Marina Silva, ontem, na CNI) Grandes colaborações O programa do PMDB recebeu colaborações substantivas de Michel Temer, Delfim Netto, Henrique Meirelles, Nelson Jobim, Mangabeira Unger, o Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade da FGV/Rio de Janeiro, Moreira Franco, Eliseu Padilha e Aníbal Teixeira. Multas contra Lula O TSE multou Lula três vezes. Dilma ganhou duas multas. Pairam ameaças sobre decisões mais drásticas caso ela continue a cometer infrações. O PSDB está ativo na esfera do Judiciário. Como o eleitor percebe isso ? Pode parecer insanidade, mas o eleitor tende a ser simpático com os multados. Lula entra no aparato da vitimização. E os tucanos ganham a armadura dos carrascos. Lula tem feeling apurado. Sabe para onde vai a direção do vento. Agora, sob o aspecto moral e ético, o presidente dá péssimo exemplo. Falta isso, falta aquilo "Eu não entendi aqui a explicação que a ex-ministra deu quando ela defendeu a política cambial e os juros. Nós somos o país que tem a maior taxa de juros do mundo. Falta recurso ? Não é só isso. Falta planejamento no investimento governamental; falta capacidade de gestão e capacidade de fazer um sequenciamento. Se tudo é prioridade, nada é prioridade. Cada dia sua agonia." (José Serra, ontem, na CNI) PMDB e os dissidentes Há quem pregue castigo duro contra os dissidentes. Estamos falando do PMDB. Que fechará aliança com o PT. Por essa aliança, o partido terá como candidata à presidência Dilma. E dissidentes como Jarbas Vasconcellos e Orestes Quércia ? Se o partido quisesse, poderia puni-los pois, como já definiu o TSE, o mandato pertence ao partido e não ao detentor do cargo. A rigor, deveria haver obediência vertical a esse princípio já consolidado pelo Judiciário. Mas o PMDB não punirá dissidentes. Sua índole é a de permitir divergências internas. Mais cedo ou mais tarde, os de lá estarão cá e os de cá estarão lá. Ou juntos. Não é a toa que o PMDB é a maior agremiação do país. Palitinho Seu Lunga sai de casa com a vara de pescar e um cestinho em direção a lagoa. O vizinho passa e indaga : - Indo pescar, Seu Lunga ? Ele responde : - Não, tô indo jogar porrinha com os palitinhos que farei de minha vara de pescar. Equação eleitoral Este consultor monta a seguinte equação : economia, 40%; currículos dos candidatos, 30%; patrocinadores, 30%. Quem souber administrar melhor esses dados será o próximo presidente. Economia quer significar : dinheiro no bolso, comida na geladeira, conforto social, Bolsa-Família, acesso ao crédito, isenções fiscais para comprar produtos da linha branca e carros etc.; currículos apontam para experiência política, experiência administrativa, lastro e articulação com a sociedade; patrocinadores abrigam cabos eleitorais de todos os tamanhos, dos pequenos nos municípios aos grandes na área federal. Incluindo o maior deles, Luiz Inácio Lula da Silva. Nova classe média "Nós criamos uma nova classe média. O combate à miséria extrema e o fortalecimento do mercado interno caracterizam esse momento. Esse mercado interno robusto permite, pela primeira vez, que as pessoas subam na vida. Pela primeira vez, o Brasil teve um posicionamento sólido diante da crise, e pela primeira vez nós tivemos também uma política (econômica) anticíclica." (Dilma Rousseff, ontem, na CNI) Empresa cidadã A Segurança Privada no Estado de São Paulo começa a fazer uma campanha pela moralização do setor. Sob compromissos do zelo; da legalidade e obediência à legislação vigente; do treinamento profissional dos quadros; das obrigações trabalhistas; das planilhas que garantam encargos de toda a ordem; de uso de equipamentos e produtos regulamentados e certificados de modo a zelar pela preservação do meio ambiente; de cumprimento de acordos trabalhistas e de todas as obrigações estabelecidas pela CLT; de políticas de controle e proteção do trabalhador; de práticas consonantes com a finalidade social; de participação em licitações obedecendo às regras estabelecidas; de obediência às regras firmadas em contratos administrativos; de respeito aos princípios éticos e morais. O compromisso em torno da Empresa Cidadã terá o endosso da Superintendência do Trabalho e Emprego de São Paulo e da Coordenadoria de Controle de Segurança Privada da Polícia Federal. As empresas assinam um protocolo de adesão. Exemplo a ser seguido. Ficha Limpa Tanto esforço, tanta energia, tanto entusiasmo não bastaram para forçar a aplicação ainda este ano do projeto Ficha Limpa. Vai ser aplicado em 2012. Conselho aos nanicos Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos marqueteiros de campanhas eleitorais. Hoje, volta sua atenção aos partidos nanicos : 1. Senhores donos dos partidos nanicos : tenham cuidado. Não procurem tirar proveito do momento eleitoral para "vender" o tempo de suas siglas. 2. Evitem usar o tempo de mídia que seus partidos terão à disposição por ocasião da campanha para expressar mensagens insignificantes, extemporâneas ou demagógicas. 3. Evitem servir de bengala, de cajado ou de aríete para fustigar pessoas a serviço de grupos políticos. ____________
quarta-feira, 19 de maio de 2010

Porandubas nº 233

Expediente extra do Seu Lunga Esta coluna deu férias ao Seu Lunga. Mas alguns leitores pedem um expediente extra. Justificam : José Serra foi esta semana à Juazeiro do Norte, terra do "padim Ciço" e também de Seu Lunga. Pois bem, atendendo aos leitores, trago de volta Joaquim dos Santos Rodrigues, 81 anos, que possui uma Sucata na Rua Santa Luzia, próxima a Rua São Paulo, em Juazeiro. Com vocês, mais uma vez, o folclórico cearense. Ao dar uma surra em um dos seus filhos, ouvia o menino travesso gritar : - Tá bom pai, tá bom pai, pelo amor de Deus, tá bom ! Seu Lunga responde : - Tá bom ? Que legal ! Pois quando tiver ruim diga que eu paro. A dança das pesquisas Mais uma rodada de pesquisas. Vox Populi - patrocínio da rede Bandeirantes - e Sensus - patrocínio da CNT - mostraram crescimento de Dilma. Em ambas as pesquisas, a petista está na frente de Serra. Mas a margem de erro os iguala no empate técnico. A subida de Dilma se deve à intensa exposição na mídia nos últimos 20 dias. Nesse tempo, o PT exibiu seus anúncios publicitários, além de um programa de 10 minutos, com Dilma e Lula como personagens centrais. Era previsível esse crescimento. Aliás Aliás, a surpresa era exatamente essa : por que Dilma, que faz campanha há pelo menos seis meses, não teve tanto crescimento ? Essa era a pergunta até então. Agora, ela começa a sair do índice histórico do PT, em torno de 30% de intenção de voto. Com 35% e 38% (Sensus e Vox), ela mostra força. Perde no sul e sudeste. Mas ganha com muita folga no nordeste. No norte e centro-oeste, Serra melhorou o desempenho e, hoje, é o favorito. Então devolva Numa madrugada dessas, a mulher de Seu Lunga teve um mal-estar. Gemendo, acordou o marido : - Lunguinha, Lunguinha, tá me dando uma coisa aqui... - Então receba. - Mas Lunga, é uma coisa ruim... - Então devolva ! Grandes interrogações As pesquisas apontam para a hipótese já levantada por esta coluna. Até a campanha na mídia eleitoral - meados de agosto - a situação será assim : dois prá cá, dois prá lá. Mas algumas pistas podem ser apontadas : para Serra ganhar a campanha, precisa fazer uns 5 a 6 milhões de maioria só em SP. E continuar a liderar a situação no RS e em SC. Mas a região com a maior interrogação será o sudeste. Para onde pender, poderá definir a direção do jogo. Paine Thomas Paine, em Os Direitos do Homem, ensinava : "É errado dizer Deus criou o rico e o pobre. Ele apenas criou o homem e a mulher e deu a eles a terra por herança." Aécio, vai ou não ? Nos últimos dias, ouvi relatos de gente muito ligada a Aécio. Em sua viagem pela Europa, ele pensou, pensou, pensou e tomou a decisão : não é tão mais inflexível quanto aos rumos que tomará. Já incluiu na sua pauta a questão de vice na chapa de seu companheiro de partido. Teria dito para amigos que poderá, sim, ser vice de Serra. Será ? Vai mesmo topar ? Outros amigos mineiros me dizem : é truco. Não aceitará. Quer ser senador. Ele tem um pássaro na mão. Não trocaria por dois pássaros voando. Mas, se Aécio aceitar, convenhamos, será a decisão mais cheia de sensação da temporada. Dilma mais humana De retoque em retoque, Dilma acha o toque. O último foi no cabelo, que ficou mais alto. Melhorou a cara de sol que exibia. Tornou-a mais agradável. E começa a expressão com um verbo menos arrogante e frases mais cheias de coisas simples. Dilma, repaginada, tenta preencher a fatia que falta para humanizar o perfil. Lula arriscou e acertou Lula continua a fazer os seus rompantes. Este consultor confessa que não acreditava em sua capacidade de liderar um acordo que envolvesse matéria tão explosiva, e mais, abrigando um país tão fechado quanto o Irã. Pois não é que o acordo saiu ? Ora, se o Irã continuará a enriquecer urânio, é uma questão a ser debatida no foro da ONU. Mas o acordo alcançado, com pequenas variações, é o mesmo que havia sido apresentado anteriormente ao país pelo organismo de segurança das Nações Unidas, com o aval das potências. O fato é que a China já aceita o acordo liderado pelo Brasil. Será difícil EUA conseguirem os votos para fazer sanções ao Irã. Tá cru No seu comércio de sucata, Seu Lunga vende outros produtos dependendo da ocasião. Um dia, um romeiro perguntou diante de uma saca de arroz : - Seu Lunga, como tá o arroz ? Ele respondeu : - Tá cru ! Brasil avança Lula é polêmico. Mesmo com o acordo despertando desconfiança e descrédito, o Brasil seguramente dá mais um passo em sua meta de conquistar posição mais avançada na ONU. Leia-se : assento permanente no Conselho de Segurança. Verdade seja dita : Lula, com suas tiradas polêmicas e sua política exterior - às vezes destrambelhada - conseguiu, desta feita, inserir o nome do país na agenda das temáticas mais transcendentais do planeta. E de maneira positiva. Aliança PT/PMDB Há problemas, alguns sérios, envolvendo acordos entre o PMDB e o PT nos Estados. Em MG, por exemplo, fatia ponderável do PT não quer ceder espaço a Hélio Costa. Os problemas serão equacionados, até porque no caminho de retas e curvas, de 100 km, o PMDB já andou 85 km. Faltam 15 km. Seria ruim, principalmente para o PT, desfazer uma aliança que vem sendo desenvolvida e consolidada com o esforço de ambas as partes. Lula é o maior endosso para essa aliança. E quem é o dono da flauta dá o tom. Pois será ele, ao fim e ao cabo, quem dará o tom geral da orquestra. Vai sair, sim, a aliança. E Michel Temer só não será o vice se não quiser. E Paulo Skaf, hein ? Paulo Skaf vai se lançar pelo PSB. O sonho de governar São Paulo não passa de uma quimera de noite de verão. Sonhos intocáveis, impossíveis, abstratos demais e concretos de menos. Skaf é um cara inteligente, atento, ágil, sabe articular bem e é ouvido em muitas instâncias. Mas nesse projeto mirabolante, ou ouviu coisas que não deveria ouvir ou não ouviu coisas que deveria ouvir. E tomou a decisão errada. Mas, como diria minha sábia mãe, tudo pode acontecer. Mesmo a possibilidade de a formiga vencer o elefante ? Sim, diz ela, nunca desconfie dos desígnios de Deus. Minha mãe, argumento, Deus não põe muito o dedo na arena política. Perguntas centrais Os candidatos podem começar a treinar a resposta para estas perguntas : "Qual é o Estado que o Brasil quer ? Qual o Estado que a sociedade precisa ? E que Estado você acha que pode ajudar a modelar ?" Prêmio Nobel ? Já tem gente sugerindo o Prêmio Nobel para Lula, o comandante do acordo com o Irã. A sugestão parece, à primeira vista, um exagero. Menos, menos. Colírio Seu Lunga estava cortando uns limões, quando passa sua mulher e pergunta : - Esse limão é pra fazer suco ? - Não, é pra eu usar de colírio ! Retrocesso da banda larga Essa banda larga está alargando a polêmica. O Plano Nacional de Banda Larga veio a público com a pretensão de fazer ressurgir a estatal Telebrás. Um equívoco evidente, levando em consideração que, depois dos investimentos da iniciativa privada no setor, o acesso aos serviços de telefonia só não é mais acessível devido ao percentual de impostos, responsáveis por mais de 40% do total da fatura paga pelo consumidor. Vejamos o que diz Vivien Suruagy, presidente do Sindicato Nacional de Prestadoras de Serviços de Telecomunicações : "se este modelo deu certo, por que insistir no retrocesso ou impedir a livre concorrência ? As respostas podem ser múltiplas. Mas a falta de transparência e a recusa de um debate mais amplo não são bom presságio", adverte a empresária. Beto vai com quem ? Beto Albuquerque desistiu de se candidatar ao governo do RS pelo PSB. PT e PMDB o assediam. A disputa é grande. PSB, depois da desistência de Ciro, está rachado. Beto está sendo convidado para o Senado na chapa de José Fogaça, do PMDB. Mas o PT também faz um aceno na mesma direção. PSB de Ciro com Serra ? No Ceará, uma batelada de prefeitos que apoiava Ciro Gomes tende a ficar com Serra. Cid, o irmão de Ciro, é do PSB, vai votar em Dilma (?), mas apoia Tasso, tucano, para o Senado. Sei não... Cid pode deixar as águas correrem para a lagoa tucana. Michel escolhido Michel Temer foi escolhido, por unanimidade, como o candidato a vice na chapa de Dilma. Deverá ser homologado na convenção do PMDB, dia 12/6. Michel está embarcando, hoje à noite, para Nova Iorque, onde prestigiará o correligionário presidente do BC, Henrique Meirelles. Este foi escolhido como Homem do Ano pela Câmara de Comércio Brasil-EUA. Temer estará de volta no sábado. E daí ? O funcionário do banco veio avisar : - Seu Lunga, a promissória venceu. - Meu filho, pra mim podia ter perdido ou empatado. Não torço por nenhuma promissória. Datafolha Neste final de semana, teremos mais uma pesquisa. Desta feita, será o Datafolha. Esta pesquisa vai tirar a limpo as dúvidas sobre as rodadas das pesquisas Sensus e Vox Populi. Ante as interrogações e suspeitas, nada mais conveniente do que uma pesquisa patrocinada por um jornal. Dado curioso Entre os leitores da Folha de São Paulo, Serra aparece em primeiro lugar, com 54%. Marina está em segundo lugar, com 18% e Dilma em terceiro, com 15%. Acordos ameaçados ? Mercadante quer Eduardo Suplicy como vice de sua chapa. Mas o PDT quer emplacar um de seus quadros. Por isso, pede urgente intervenção de Dilma para fazer o PT ceder espaço. Osmar Dias também encontra dificuldades, no Paraná, para fechar com o PT. Quer ser o candidato ao governo. Pode ficar na chapa de Beto Richa, tucano, como candidato ao Senado. Palocci como suplente ? Marta Suplicy quer convencer o deputado Antônio Palocci a ser seu suplente na chapa ao Senado. É um dos quadros mais densos do PT. Palocci poderia aceitar, eis que se envolverá na campanha de Dilma como um dos comandantes. Dizem de Dilma Dizem que Dilma é prolixa, autoritária e centralizadora. Fala muito, explicam, porque entende dos temas; autoritária, argumentam, porque gosta de exigir e cobrar; e centralizadora, por excesso de autoconfiança. Dizem de Serra Dizem que Serra é centralizador, exigente, inflexível e muito racional. Centralizador, por excesso de autoconfiança; exigente pela mania de perfeição, que conserva desde a juventude; e inflexível, porque detesta ver ações e obras fora dos prazos. Diziam de Ciro Diziam que Ciro Gomes era um cara destemperado. A história mostrou ser verdadeira a versão. Cometeu erros por falar em excesso e dizer coisas inconvenientes. Dizem de Marina Dizem que Marina é uma doçura. Sensível, educada, sofrida, inteligente. Mas, ainda dizem, é um pouco ingênua. Nem sempre os valores positivos são suficientes para alavancar candidaturas. Conselho aos marqueteiros Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos jogadores convocados para a Copa do Mundo. Hoje, volta sua atenção aos marqueteiros de campanhas eleitorais : 1. Cuidado com o excesso de firulas e moldagens no campo estético dos candidatos. Mudanças constantes de visual podem contribuir para incrementar o efeito Frankstein. 2. No pleito deste ano, o discurso semântico terá importância central. O eleitor desejará saber mais sobre o pensamento dos candidatos. 3. Nem sempre slogans e comunicações simplificadas geram impacto. Muito cuidado com o conceito: bonitinho, mas ordinário. ____________
quarta-feira, 12 de maio de 2010

Porandubas nº 232

Historinha do Ceará Quintino Cunha, famoso advogado e poeta, participava de um júri em Quixeramobim. O promotor berrava na tribuna : - Senhores Jurados, estou montado na lei. Quintino pede um aparte : - V. Exª. Tenha cuidado para não cair, porque está montado em um animal que não conhece. O promotor se calou. (Do Folclore Político do Sebastião Nery) Ave, Copa Salve, Copa. Com a convocação dos jogadores para a Copa do Mundo, o Brasil entra em lua de mel com o futebol. Sai do trono o Rei Lula e senta nele o Rei Dunga e seus 23 ministros. A política passará uma boa temporada sob o abrigo do futebol. Querelas serão administradas na mesa do bar, no cafezinho, nas esquinas e corredores. Os olhos estarão atentos aos campos de futebol. O discurso político perderá a graça. Até que o Brasil se levante em aplausos, comemorando a vitória, ou verta em lágrimas, chorando a derrota. Nomes do Brasil malvado - 1 Folheei o alfabeto dos nomes próprios do Brasil dos fundões. Eis um aperitivo : Abrilina Décima Nona Caçapavana Piratininga de AlmeidaAcheropita PapazoneAdalgamir MargeAdegesto PatacaAdoração ArabitesAeronauta BarataAgrícola Beterraba Areia Alegria e choro Se o Brasil ganhar o Troféu, tende a crescer o PNBF - Produto Nacional Bruto da Felicidade. As ruas estarão mais animadas. A cor verde amarela enfeitará as paisagens. Ânimos festivos, teor alcoólico aumentado, animação e bumbo. Dilma seria beneficiária disso tudo ? Não acredito. E o ambiente de velório, inevitável se o Brasil não trouxer a taça, favorecerá o candidato José Serra ? Tampouco creio nisso. O brasileiro não confunde alhos com bugalhos. Mais um périplo Luiz Inácio fará mais um périplo pelo mundo, a começar pela Rússia. Brasileiros poderão entrar naquele país sem a exigência do visto e vice-versa. Russos poderão aportar por aqui sem muita burocracia. Mas a viagem de Lula já não terá tanto impacto quanto antes. Após o apoio incondicional do Brasil ao Irã, o espaço de Lula na cabeça das lideranças mundiais diminuiu muito. Luiz Inácio perdeu prestígio. Jobim, a voz do PMDB O ministro Nelson Jobim entrou no governo pela cota pessoal do presidente Lula. É do PMDB, mas a escolha não teria passado pelo crivo do partido. Hoje, Jobim é considerado um quadro do PMDB na coordenação do governo. Ligado a Michel Temer, Jobim é um credenciado porta-voz do partido junto ao presidente. A ação ministerial de Jobim é considerada muito positiva. Ganhou a confiança de todos, peemedebistas e petistas. Nomes do Brasil irresponsável - 2 Bananeia Oliveira de DeusBandeirante do Brasil PaulistanoBarrigudinha SeleidaBende Sande Branquinho MaracajáBenedito Autor da PurificaçãoBenedito Camurça Aveludado Dia das mães Considerada pelos lojistas como a segunda data comemorativa que mais movimenta o comércio, o Dia das Mães só perde para as festas de fim de ano em vendas e em número de postos de trabalho temporário. Neste ano, foram confirmadas as 26 mil novas vagas temporárias previstas na pesquisa pontual divulgada pela Asserttem - Associação Brasileira das Empresas de Serviços Terceirizáveis e de Trabalho Temporário, 11% a mais que no ano passado. O índice de efetivações girou em torno de 10%, o que representa emprego novo para 2,6 mil trabalhadores. As novas contratações, somadas às remanescentes da Páscoa, resultou em emprego temporário para 65 mil pessoas durante a data comemorativa. A confiança de Lula Lula deu entrevista a El País, o principal jornal espanhol, exibindo plena confiança na vitória de sua candidata Dilma. Mas abriu uma fresta, ao dizer que não haverá perigo de retrocesso, "ganhe quem ganhar". Aliás, para ele, sob o aspecto maquiavélico, uma vitória de Serra não seria de todo perniciosa para propósitos de um retorno em 2014. O país passará por um ciclo de contenção. Terá de fechar rombos abertos pela gastança do atual governo. Serra é especialista em ajustar contas. E manter cofres cheios. Seria um governante duro. Mas a área social se queixaria muito. E Lula teria condições de brandir seu slogan : Lula de novo nos braços do povo. E se Dilma ganhar ? Se Dilma ganhar, a continuidade do projeto petista estaria garantida. Não haveria desmonte da máquina. Portanto, não haveria tanta motivação para um retorno de Lula ao Palácio do Planalto. Dilma poderia, então, se candidatar à reeleição. Mas, agora, teria de enfrentar um perfil mais jovial e até com certo poder carismático. Aécio Neves, por exemplo. São filigranas que já começam a surgir nos horizontes do amanhã. Montenegro cauteloso O amigo Carlos Augusto Montenegro, presidente do Ibope, é o papa das pesquisas no Brasil. Não quer falar de tendências nesse momento. Por quê ? Por algumas razões : primeiro, as regras do jogo ainda não foram de todo definidas. O palco dos atores está incompleto. Quem será o vice de Serra ? E quando será homologado o nome de Michel Temer, vice de Dilma ? Lula, por sua vez, está saindo. E Dilma nunca recebeu um voto na arena política. Serra, por sua vez, tem longo e denso currículo. Mas o governo Lula tem muito a mostrar. Questão posta por Montenegro : quem garantirá melhor o futuro do eleitor ? Conversei, ao final da tarde, com o papa das pesquisas. E ficamos de trocar figurinhas mais adiante. Serra e o BC Serra ataca "os juros mais altos do mundo" e o câmbio baixo. Dilma, no início do primeiro mandato de Lula, era contra a política do Banco Central. Hoje, é defensora de Meirelles. Até vai prestigiar, dia 21, em Nova Iorque, uma comenda que ele ganhou. A política monetária de Serra difere bem da atual. Os empresários gostam da visão de Serra, mas temem a dureza dele noutras áreas. Por isso, olham para ele com o olho direito, mas fixam o olho esquerdo em Dilma. Confiam que esta não mudaria muita coisa. Nomes do Brasil brincalhão - 3 Cafiaspirina CruzCapote Valente e Marimbondo da TrindadeCaius Marcius AfricanusCarabino Tiro CertoCarlos Alberto Santíssimo SacramentoCantinho da Vila Alencar da Corte Real SampaioCarneiro de Souza e FaroCaso Raro YamadaCéu Azul do Sol Poente Agenda tributária O setor contábil é formado por 417 mil profissionais e mais de 70 mil empresas no Brasil, que atendem, em média, 96% dos contribuintes do país. Hoje, as obrigações acessórias abarcam uma combinação perversa de acúmulos - por vezes em datas simultâneas ou muito próximas entre si e com informações redundantes entre elas - com uma tecnologia que ainda não conseguiu absorver o enorme volume de informações. O presidente do Sescon/SP, José Chapina Alcazar, esteve em Brasília recentemente para uma reunião com Otacílio Cartaxo, secretario da Receita Federal, quando pediu atenção ao tema, que é de interesse nacional. Chapina defende revisão urgente na agenda tributária. Dr. Equinócio Virgílio Távora, governador, recebeu telegrama do prefeito do Crato : "Senhor governador, solicito V. Exª. recursos enfrentar seca município. Cordiais saudações." Virgílio respondeu : "Senhor prefeito, aguarde, 19 de março, passagem Equinócio. Cordiais saudações." Dia 20 de março, o prefeito telegrafa de novo : "Senhor governador, apesar banquete e homenagens preparamos receber condignamente enviado V. Exª., até agora Dr. Equinócio não apareceu. Cordiais saudações." MR ? MR é uma figura no entorno de Serra que dá muito medo aos setores produtivos. Ouvi de muita gente esse nome : Mauro Ricardo. Fechando alianças Periodicamente, temos de fazer um balanço de tendências. Hoje, esse balanço se volta para o campo das alianças. Para onde a balança pende ? Para o lado de José Serra. Até o momento, tem melhores resultados que Dilma. Trouxe o PSC, da base de Lula, para junto de si, e ameaça puxar, ainda, o PP e o PTB. No Sul, Serra aplaina caminhos com muitas pedras. No Paraná, a meta, agora, é puxar o senador Osmar Dias do PDT, candidato ao Senado, para o bloco do Beto Richa do PSDB, candidato ao governo. FHC e o dedaço Fernando Henrique, o maior intelectual do PSDB, foi direto ao ponto. Disse que Lula escolheu Dilma com um "dedaço". E até imitou o gesto. Linguagem chula, que não combina na estrutura linguística de um ex-presidente da República. Um ícone do pensamento e das letras. Ficha limpa O projeto Ficha Limpa será um marco na história eleitoral. Mas não deverá vingar para o pleito deste ano. O sentimento é de que a vitória foi pela metade. Deveria vingar, já. Passará ainda pelo Senado e, na sequencia, deverá ser sancionado. O veto aos velhinhos Pois é, os 7,7% de aumento aos aposentados e o fim do fator previdenciário deverão ser vetados pelo presidente Lula, caso passem pelo crivo do Senado. A questão é : o veto deixará indignados os velhinhos ? Na análise deste consultor, sim. Lula terá essa coragem ? Sim, garante. Vamos ver se ele tomará essa decisão. Há dúvidas. Nomes do Brasil improvisado - 4 Danúbio Tarada DuarteDarcília AbraçosCarvalho SantinhoDeus Magda SilvaDeus É Infinitamente MisericordiosoDeusarina Venus de MiloDezêncio Feverêncio de Oitenta e CincoDignatário da Ordem Imperial do Cruzeiro Servidores, não Os servidores públicos também não terão aumento este ano. E mais, Lula chamou os ministros e passou um carão : não ajam como sindicalistas. Não vai haver aumento e pronto. O "cara" decidiu engrossar. Lula e o PT Fico a imaginar a razão do sucesso de Luiz Inácio em seus dois mandatos. A razão mais forte : impôs sua visão ao PT. Deixou de se inspirar no ideário petista. Criou seu próprio modelo. Um modelo que diz ser "multi-ideológico". Ou seja, a capacidade de fazer alianças com Deus e o Diabo, gregos e troianos. Lula passou sobre o PT com um gigantesco rolo compressor. E assim conseguiu governar. Por que não foi aporrinhado ? Porque abriu espaços para todos os grupos. Que se encastelaram nos arredores e no centro do poder. PT e PV no governo Serra ? José Serra disse alto e em bom som : se eu ganhar, convidarei o PT e o PV para fazerem parte do governo. Verdade ? Em termos. Chamaria, claro, um Eduardo Jorge, que é do PV. E que é considerado, por sua postura, um perfil suprapartidário. Difícil é imaginar José Serra convidando um perfil histórico e engajado do PT. O discurso de Serra, porém, é inteligente. Desarmado, em favor da união, do esforço de todos pela Grandeza da Pátria. Longe de mim este cálice Serra quer dizer, na verdade, o seguinte : longe de mim este cálice. Longe de mim o epíteto de anti-Lula. Ele não quer aparecer como o adversário de Lula numa campanha. Nesse caso, seria vencido. Samba do crioulo doido Campanha maluca, sô. No Rio de Janeiro, Dilma consegue reunir, em um evento, prefeitos do DEM e do PSDB. Isso mesmo: prefeitos da oposição. A mídia contou: 3 prefeitos do DEM e 2 tucanos. No Ceará, Tasso Jereissati, do PSDB, contará com o apoio do governador Cid Gomes, do PSB. Partido de Eduardo Campos, fechado com Dilma. Collor, em Alagoas, será candidato ao governo. Collor é do PTB e apoiará Dilma. Mas o PTB de São Paulo apoiará Serra, para a presidência, e Alckmin para o governo do Estado. Conselho aos jogadores da seleção Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos candidatos à presidência Dilma e Serra. Hoje, volta sua atenção aos atletas brasileiros convocados para a Copa do Mundo : 1. Recebam com humildade a convocação de Dunga para a Seleção Brasileira. 2. Evitem salto alto e procurem fazer o que sabem : jogar futebol. 3. Sejam esforçados, destemidos, despojados e cultivem o civismo no coração. ____________
quarta-feira, 5 de maio de 2010

Porandubas nº 231

Moreninho jeitoso Paulo Guerra era governador de Pernambuco e Joaquim Guerra, o filho, candidato a deputado. Elegeu-se pela Arena. Houve festa da padroeira em Bom Conselho, Joaquim Guerra foi lá. Depois das festas religiosas, Joaquim Guerra foi ao baile. Tirou para dançar a filha do prefeito. Joaquim Guerra era bem moreno, queimado de sol. O prefeito o enxerga no meio do salão. Chama a mulher : - Quem é aquele negrinho que está dançando com a menina ? - Não tem nenhum negrinho aqui. - Aquele ali, dançando com a nossa filha. - Fale baixo, homem, não diga besteira. É o filho do governador. - Moreninho bonito e jeitoso ! Historinha contada pelo amigo Sebastião Nery Os aviões decolam Os aviões de José Serra e Dilma Rousseff começam a decolar. As turbinas foram ligadas. E o primeiro trajeto na pista começa a ser visto. Serra respira ares no nordeste, no sul, dando sua paradinha no meio, em Minas Gerais. Dilma não fica atrás. Corre solta, em alguns momentos, e noutros, na companhia de Lula, como se viu no 1º de maio. O que se pode dizer dos primeiros movimentos ? Vertical e horizontal Serra está mais solto. Parece mais tranquilo. E está até sorridente. Expressa mais segurança e equilíbrio do que na campanha presidencial de 2002. Dilma denota certa falta de traquejo nesse início. Possivelmente, seja efeito do puxa-puxa : um puxa de lado, outro puxa de outro. Sua campanha se reparte em muitos núcleos. Tem comandos vários. Muitos chefes. Quando isso ocorre, a linha decisória torna-se tênue. Campanha de comando horizontal é aquela em que todos mandam e ninguém obedece. A campanha de Serra sinaliza mais enxugamento, mais verticalidade. Ele é o centro que comanda as decisões. Obtém-se maior eficácia. "Se A é o sucesso, então A é igual a X mais Y mais Z. O trabalho é X; Y é o lazer; e Z é manter a boca fechada." (Albert Einstein) Quando mudar é perigoso Dilma é aconselhada a mudar. Coisa complicada. A pessoa poderá melhorar posturas e habilidades comunicativas. Mudar, porém, de comportamento, saindo de um modelo A para um modelo Z é muito perigoso. A identidade é o caráter, a personalidade, a essência, a coluna vertebral de um candidato. Quando você muda essa coluna, o corpo se quebra, verga, entorta. E isso é um risco. Mais adiante, a pessoa vai querer repor a antiga identidade. E acaba dando com os burros n'água. Comete gafes, tropeços, exalta-se, perde as estribeiras. Não é o que ocorre com Dilma. Mas poderá vir a ocorrer. O discurso político Muita gente se engana com a eficácia do discurso político. Pois bem, o discurso político é uma composição entre a semântica e a estética. O que muitos não sabem é que a eficácia do discurso depende 7% do conteúdo da expressão e 93% da comunicação não verbal. Esse é o resultado de pesquisas que se fazem sobre o tema desde 1960. E das comunicações não verbais, 55% provêm de expressões faciais e 38% derivam de elementos paralinguísticos - voz, entonação, gestos, postura etc. Ou seja, do que se diz, apenas pequena parcela é levada em consideração. O que não se diz, mas se vê tem muito maior importância. Clinton e Mônica O presidente Clinton foi objeto de estudos nessa área. Sua entrevista negando ter tido relações sexuais com Mônica Lewinsky é uma peça antológica. Mãos nervosas, que ele não sabia onde colocar, olhos que se desviavam para o alto - em sinal de fuga - o ex-presidente dos EUA atingiu o pico da mentira quando se referiu à Mônica na terceira pessoa : "afirmo de maneira categórica que nunca tive relações sexuais com aquela mulher". Ao usar a terceira pessoa, aquela mulher, Clinton desejava dar ideia de afastamento, desconhecimento. Mas as fotos mostravam intimidade. Caiu na dissonância. Fala e expressão não combinavam. Pacote de macarrão Esse é o calcanhar de Aquiles dos candidatos. Evitar ser flagrados em dissonância. E isso ocorre geralmente quando um candidato é instado a mudar de identidade. O eleitor percebe quando a pessoa torna-se artificial, um mero produto de marketing. E candidato não pode ser trabalhado como se trabalha um sabonete, um pacote de macarrão. Mercado de trabalho Mais do que uma oportunidade para adquirir experiência, o trabalho temporário aumenta a chance de empregabilidade, segundo o estudo da International Confederation of Private Employment Agencies (CIETT). Realizado em âmbito mundial, a pesquisa revela que, após uma contratação temporária, o risco de permanecer desempregado diminui em média 66%. O levantamento completo será apresentado durante o Congresso Mundial de Terceirização e Trabalho Temporário, evento promovido pelo Sindeprestem nos dias 27 e 28 de maio, no WTC Convention Center, em São Paulo. A Copa e a lição de casa O Brasil não está fazendo a lição de casa para a Copa de 2014, segundo a Fifa. Aliás, nem começou. Embora alguns digam que a entidade máxima do futebol faz excessivas exigências ao país, o fato é que o Brasil não tem o direito de fingir que o assunto não é com ele. Quem chama o evento para si, tem que fazer. O Brasil quis trazer a Copa, conseguiu. Vários setores vem se movimentando, tanto que os principais hotéis nas cidades sedes já aceitam reservas, mas ficam muitas dúvidas. Nos estádios, as obras nem começaram. No setor de hospedagem não se sabe se haverá acomodação para todos os turistas. Construir novos hotéis é bobagem, pois passado o evento não terão ocupação suficiente. Os navios seriam boa solução como hospedagem alternativa, mas, será que virão ? Não temos terminais turísticos e são raras as boas ligações rodoviárias entre portos e cidades. Em termos de infraestrutura estamos indo muito mal. A fábula do fogo O fogo ficou ofendido porque a água, na panela, foi colocada acima dele. Logo ele que se considera um "elemento superior". Não aceita a provocação. Começa a erguer cada vez mais alto as suas chamas até provocar a ebulição da água. E esta, transbordando da panela, extingue o fogo. Moral da história : meça sempre as conseqüências de seus atos. Nem sempre o ímpeto consegue ser eficaz. Zé Anibal chateado Zé Aníbal renunciou à sua candidatura ao Senado. Teve de ceder à pressão da máquina. Que trabalhava para Aloysio Nunes Ferreira. Aníbal ainda não decidiu se vai para a reeleição de deputado. Foi convidado para coordenar o programa de governo de Geraldo Alckmin. Em conversa com este consultor, demonstrou muita indignação. Senado em SP A moldura eleitoral para o Senado, em SP, mostra Marta Suplicy, pelo PT, em situação confortável. Aloysio, do PSDB, é um perfil para dentro. Vai ter de fazer grande esforço para ganhar simpatia do eleitorado. Quércia, do PMDB, em aliança com os tucanos, sofre desgaste de imagem. Tuma tem um bom índice de intenção de voto, mas falta-lhe uma coligação de porte, que lhe garanta boa visibilidade. Netinho de Paula, do PCdoB, terá pouca mídia eleitoral, mas é um artista midiático. E Gabriel Chalita, com votos fechados no colégio católico, tem boa apresentação. Mas não terá visibilidade. A não ser que PSB faça coligação com PT, queimando a pretensão de Paulo Skaf, o neosocialista. "Escolha um trabalho que você ame e não terá de trabalhar um único dia em sua vida." (Confúcio) 3 X 4 em Natal Pesquisa apenas em Natal, capital do RN : Presidência : José Serra, 39%; Dilma, 27%; Governo do Estado : Rosalba Ciarlini, 42%. Carlos Eduardo, 25%; Iberê Ferreira, 10% e Fernando Bezerra, 10%. Senado : Garibaldi Alves, 57%; José Agripino, 55%; Vilma Faria, 42%. Balzaquianas As balzaquianas - consagradas por Honoré de Balzac no livro a Mulher de 30 anos -, somam mais de 30% do eleitorado brasileiro. Segundo estudos do prof. José Eustáquio Alves, da Escola Nacional de Ciências Estatísticas do IBGE, o grupo em torno de 35 anos vai decidir o destino dos candidatos. O estudo mostra que Lula e o PT sempre tiveram mais dificuldades junto ao eleitorado feminino, que, aliás, supera o eleitorado masculino em 5 milhões de votos : 68 milhões de eleitoras e 63 milhões de eleitores. Guerra em Pernambuco Jarbas Vasconcelos está em vias de aceitar a candidatura ao governo de Pernambuco. O senador tucano tem poucas chances. Mas poderá ser importante na estratégia de extensão do palanque de Serra no nordeste. Já o senador Sérgio Guerra hesita em postular a reeleição ao Senado. Mais se inclina por uma candidatura à Câmara Federal. Sergipe João Alves deverá ser candidato ao governo de Sergipe. Enfrentará o governador Marcelo Deda, que lidera as pesquisas. Mas João é um forte candidato. Tem chances. Alagoas A novidade em Alagoas é a candidatura de Fernando Collor. O senador decidiu se candidatar após examinar pesquisas. Estaria liderando o páreo. O jogo vai ser duro. O tucano Teotônio Vilela enfrentaria pela oposição o ex-governador Ronaldo Lessa (PDT), que teria o apoio de um chapão, composto pelo PDT, PTB, PMDB (de Renan Calheiros), PR, PT, PC do B, PRB, PV. Collor, embolando o jogo, gostaria de tirar Lessa da jogada. Rio Grande do Sul Os tucanos gaúchos fecharam aliança com o PP de Dornelles para as eleições estaduais. Significa que, no plano nacional, esse é um passo na direção de José Serra. Com o próprio senador Dornelles como vice. Primo de Aécio, o senador carioca abriria espaços no Rio e em Minas para o ex-governador paulista. Mas o PP pode optar pela neutralidade. Rio de Janeiro No Rio, Fernando Gabeira, do PV, fecha aliança com DEM-PPS-PSDB e ancorará uma vaga para César Maia no Senado. Gabeira poderá crescer bastante. E até vir a ameaçar Sérgio Cabral. Abre palanque para Serra, no segundo turno. No primeiro, claro, o verde fechará com Marina também verde. Ceará No Ceará, o samba do crioulo doido tocará nesta campanha. Ciro deverá comandar a campanha do irmão Cid. E este, que é do PT, deverá ajudar o amigo Tasso Jereissati, do PSDB. Que comandará a campanha de Serra no Estado. Ciro é adversário de Serra. Mas é irmão político de Tasso. Os opostos de unirão ? SDS. Só Deus Sabe. Paraná PT poderá até vir a apoiar a candidatura do governador Orlando Pessuti, do PMDB, que se esforça para alavancar seu nome ao governo. Minas Gerais Em Minas Gerais, Fernando Pimentel venceu as prévias do PT. Para quê ? Para ser candidato a senador, porque o candidato que o PT apoiará ao governo será Hélio Costa, do PMDB. Mas Hélio levará a melhor ? Está na frente, mas Aécio Neves tem condições de emplacar no assento seu vice e atual governador, Antônio Anastasia. Primórdios do marketing político "Rastreie, vá ao encalço de homens de toda e qualquer região, passe a conhecê-los, cultive e fortaleça a amizade, cuide para que em suas respectivas localidades eles cabalem votos para você e defendam sua causa como se fossem eles os candidatos". (Quinto Túlio Cícero aconselhando o irmão Marco Cícero, o grande tribuno, em 64. A . C, quando este fazia campanha o Consulado de Roma) Conselho a Dilma e a Serra Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado às assessorias de Dilma e Serra. Hoje, volta sua atenção aos candidatos à presidência Dilma e Serra : 1. Minas Gerais será a principal balança da campanha. Poderá ser surpresa. Apesar de Aécio Neves ser tucano, o voto mineiro foi e será muito escondido. Mineiro é desconfiado. 2. Pode haver um mutirão de votos para Serra, se Aécio conseguir verdadeiramente comandar a campanha tucana. E mais : mobilizar e motivar as massas. 3. Mas os mineiros podem misturar o voto. Há, sim, uma tendência para o voto Anastadilma ou Dilmasia. Minas tem 14,2 milhões de eleitores. A vitória de Serra ou de Dilma está muito na dependência do voto mineiro. ____________
quarta-feira, 28 de abril de 2010

Porandubas nº 230

Mel de abelhas Abro a coluna com uma historinha que Geraldo Alckmin me contou no 9º Fórum de Comandatuba. No jantar, eu falava sobre o texto de Dora Kramer. E lembrava que ela fora minha aluna na Faculdade de Comunicação Cásper Líbero, nos idos de 70. Dora tinha o melhor texto da turma. Por isso, eu pedia que a classe formasse um círculo ao seu redor. Um dia, achei aquela formação muito parecida a de uma colmeia. E exclamei : "vamos, agora, ouvir a abelha rainha". Era a imagem que Dora transmitia. Com todas as abelhas trabalhadoras à sua volta. A historinha de Alckmin aparece porque eu lembrava que, naquela época, Doramaria tinha como sobrenome : Tavares de Lima. Era sobrinha do grande e saudoso Chopin Tavares de Lima. Eis o relato : Chopin, como secretário do Interior do Governo Montoro, tinha a missão de fazer a articulação com os prefeitos. Um dos programas de Montoro contemplava a fabricação de mel. Mel caseiro. O prefeito de Silveiras, na microrregião de Bananal, de nome Miguel, no meio do caminho para a capital, aproveitando a parada para o almoço, comprou uma garrafa de mel, dessas comuns que se encontram em restaurantes de estrada. Tirou o rótulo, lavou a garrafa, embalou-a em celofane. Era um presente para Chopin. Planejava provocar um impacto. - Secretário, aqui está o resultado do programa 'Colmeia' do governo Montoro. Mel de primeira qualidade. O melhor mel que São Paulo já produziu. Surpresa geral. Agradecimentos do Chopin com o aviso de que levaria o presente para o governador Montoro. A seguir, o astuto prefeito emendou : - Gostaria que o secretário providenciasse a liberação da verba para o asfalto. Que pedimos faz bom tempo. Imediatamente, o secretário mandou localizar o pedido da Prefeitura de Silveiras. Ocorre que não havia nenhuma solicitação. O prefeito aproveitara a ocasião para jogar verde e colher maduro. Queria colher recompensa pela garrafa de mel que levara. Depois de algum tempo, a mensagem : a solicitação não foi encontrada. Mil pedidos de desculpas do Secretário Chopin. O prefeito prometeu encaminhar novo pedido, conformado com a burocracia do Palácio que havia perdido o ofício. Geraldo Alckmin, então deputado estadual, ouvira o relato e percebeu a artimanha do prefeito. Aos ouvidos dele, cochichou a frase bíblica : - Miguel, Miguel, tu não tens abelha e trazes mel. Miguel regressou a Silveiras. No dia seguinte, ao telefonar para o Secretário Chopin Tavares de Lima, comunicando que novo ofício estava seguindo pelo Correio, ouviu dele a confissão : - Não precisa mandar, prefeito, encontramos o ofício. Vamos liberar a verba. E assim Chopin Tavares de Lima, Miguel, Silveiras, Geraldo Alckmin, Dora Kramer e eu entramos juntos, pela primeira vez, numa mesma história. Pergunto perplexo : como Dora Kramer passou a ter ligação com mel e colmeia ? Mistérios que as antenas do circulo planetário nos proporcionam. Meu sistema cognitivo capturara a imagem da colmeia celebrada por Chopin, seu tio. Ela tinha de ser a abelha rainha. Lembrem-se do ditado : "As pedras tanto rolam que um dia ainda se encontram." Ecos de Comandatuba Durante quatro dias, cerca de 350 empresários, autoridades do Executivo e uma penca de políticos passaram a limpo as condições atuais do país e suas perspectivas. O clima de otimismo impregnou-se no grupo, a partir do desfile de números apresentado por Henrique Meirelles. Dados mostraram a situação confortável do Brasil. Que tem condições de dar um salto. Em cinco/seis anos, poderá pular para a 6ª ou a 5ª economia mundial. Entramos na crise mais tarde e saímos mais cedo. O país fez a lição de casa antes dos outros. Sem retrocesso O clima de otimismo saiu da esfera econômica para encher os balões de ensaio da política. Dilma ou Serra ? O grupo estava dividido. Um superempresário chegou a confessar a este consultor : o risco Serra é 10 vezes menor que o risco Dilma. Muitos, porém, demonstravam simpatia para com a ministra. E, no frigir das análises a favor e contra, uma visão consensual : seja quem for o vencedor, não há perigo de o Brasil retroceder. As condições macroeconômicas estão profundamente afixadas no solo pátrio. E os perfis de Serra e de Dilma se bifurcam na encruzilhada dos rumos a serem seguidos. Melhor momento ? A frase, pronunciada por um banqueiro jovem e agressivo, soou forte no meio da noite : "O Brasil vive seu melhor momento em 500 anos". O autor da façanha expressiva foi André Esteves, do Banco Pontual. Abílio Diniz, ao lado, assentia com a cabeça. Na manhã seguinte, tentei conferir a ideia com um maxiempresário. Que me confessou : "Não é bem assim. Devemos medir o momento por parâmetros como salário mínimo e crescimento do PIB". E arrematou : você sabia que, na época do Médici (tempos de chumbo), o salário mínimo tinha duas vezes e meia o poder de compra que tem hoje ? Fechou o pensamento com a nota do crescimento daqueles pesados tempos, e o PIB crescia a 12% ao ano. O mundo mudou Ouvi as ponderações. Mas fiquei pensando : o paradigma mudou. Os parâmetros são diferentes. O mundo era menor. E a crise não tinha proporções gigantescas. De qualquer maneira, deixo os registros no ar. Conclusão : há empresários fechados com Serra, outros com Dilma. Como convém a uma salutar democracia. 10 para Dória Mais uma vez, João Dória deu um show de organização e competência. Liderou o 9º Fórum de Comandatuba com extrema eficiência. Ancorou falas, integrou eventos, animou os espíritos. Alckmin e Mercadante Geraldo Alckmin, ao lado da esposa Lu, era só sorrisos. Sob a estampa de 60% de intenção de voto, parecia um candidato embalado no celofane da felicidade. Na mesa ao lado, Aloizio Mercadante, cara fechada, mas confiante. Parecia convicto de que, na perda ou na vitória, crescerá com a campanha ao governo de SP. Prefeitura ? Os olhos de Mercadante contemplam o futuro. Se não alcançar o Palácio dos Bandeirantes, focará a visão sobre o Palácio da Prefeitura, que se debruça sobre o Anhangabaú. Assim são os caminhos da política : a derrota de hoje poderá ser o desvio para a vitória de amanhã. É a curva para a reta futura. Mercadante terá alta visibilidade. Mas a possibilidade de chegar ao Palácio dos Bandeirantes é muito restrita. Zé Aníbal O deputado José Aníbal trabalha com a perspectiva de levar para a Convenção tucana seu nome para a vaga ao Senado. Aloysio Nunes Ferreira é o nome in pectore de Serra. Mas Zé, ao contrário do perfil introspectivo de Ferreira, conversa, abre o debate, articula, se movimenta. Fará tudo para que o jogo não seja ganho no tapetão. Aníbal, convém lembrar, já teve quase 5 milhões de votos para o Senado em SP. Vaccarezza, algodão entre cristais Cândido Vaccarezza é um espírito conciliador. Ouve atento as observações mais críticas. Não se afoba. Veste a camisa do governo em qualquer circunstância. O líder do PT na Câmara é respeitado por colegas de todos os partidos. Tem sido um defensor intransigente da aliança entre PT e PMDB. Amigo de Michel Temer, desfila argumentos densos para demonstrar as possibilidades de Dilma. "As almas são incombustíveis." (Machado de Assis) De jacaré a lagartixa Há 60 dias, víamos um formidável jacaré abrindo a boca na beira da lagoa política. Ao mostrar os dentes, o bicho impunha respeito. O tempo foi se passando. Há três dias, aquela fera desapareceu. Em seu lugar, surgiu uma lagartixa. O que teria acontecido ? Não, o jacaré não mergulhou na lagoa. Virou a própria lagartixa. Encolheu. Fenômeno da natureza ? Sim. Mutação gerada pela genética política. O jacaré Ciro virou a lagartixa Gomes. O tiro Gomes saiu pela culatra. Gafe lá, gafe cá Dilma comete gafes ? Sim. Não é bem treinada na arte de dizer de maneira concisa e precisa ? Sim. Ocorre que Serra também comete bobeiras. Em Natal, semana passada, carimbou a população trabalhadora do RN com o selo de 6% da mão de obra nacional. Ora, não chega a 1,7%. Serra teria falado de costas para empresários que lotavam o auditório. Chegou no meio da madrugada quando era esperado às 9h. Lula crente Luiz Inácio nunca esteve tão crente na vida. É o que confessam amigos que convivem com ele no dia a dia. Crente na vitória de Dilma. Crente de que o ambiente de otimismo que cerca o país conduzirá sua afilhada ao trono do Palácio do Planalto. Chapa com Temer A esta altura, está consolidada a chapa de Dilma com Michel Temer como vice. Em todo esse tempo, Michel trabalhou discretamente, como é de seu feitio, sem arroubos oratórios, sem destempero e sem fisgar a isca que pescadores de águas turvas sempre lhe jogam. PMDB, o maior Seja qual for o nome - Serra ou Dilma - o PMDB deverá continuar sendo o maior partido brasileiro. Espera eleger uma bancada de 100 deputados federais e cerca de 10 governadores. Afora as maiores bancadas estaduais em muitos Estados. O PT deverá secundá-lo, vindo a seguir, o PSDB. A partir do quarto lugar, o quadro é nebuloso. Campos Sales O paulista Campos Sales presidiu o Brasil de 1898 a 1902. Deixou a presidência sob vaias do povo por ter implementado uma política econômica das mais dolorosas. Saiu do catete debaixo de uma chuva de manifestações indignadas. Piada da época : "Qual é o seu método de vida ? Há muito tempo só como o pão que o diabo amassou, só passeio na rua da amargura e o tempo pra mim é sempre bicudo". Mídia eleitoral Dilma terá 48% de tempo a mais na programação eleitoral de TV e rádio. Ou seja, mais de 8 minutos. Serra terá um pouco mais de 5 minutos. Atenção, marqueteiros : nem sempre grande tempo significa grande programa. Se os espaços não são bem aproveitados, o programa pode ser uma chatice ou enchimento de linguiça. Tempos ímprobos Nesses tempos de muito dolo, eis uma leitura obrigatória : "Improbidade Administrativa - Dolo e Culpa", de Isabela Giglio Figueiredo. O livro foi lançado nesta segunda-feira. Trata-se da monografia com que obteve o título de especialista em Direito Administrativo. Thomas Paine "Quando alguém pode dizer em qualquer país do mundo : meus pobres são felizes, nem ignorância nem miséria se encontram entre eles; minhas cadeias estão vazias de prisioneiros, minhas ruas de mendigos; os idosos não passam necessidades, os impostos não são opressivos.. quando estas coisas podem ser ditas, então pode tal país se orgulhar de sua Constituição e de seu governo." (Thomas Paine, em Os Direitos do Homem) Hiperte(n)são ? O ministro Temporão receita sexo contra a hipertensão. E deu, até, a receita : cinco vezes por semana. Passou a adotar o inverso do slogan do cigarro : sexo faz bem à saúde. O Ministério da Saúde deverá massificar a distribuição do preservativo Temporão. Para cobrir a temporada sexual. Besteirol O besteirol em ano eleitoral se espalha. Um dos capítulos mais imbecis é o que anuncia a renúncia de Lula para se candidatar a vice na chapa de Dilma. Eleita, ela passaria pouco tempo. Renunciaria e cederia o trono a Lula. Que terminaria o mandato de Dilma, candidatando-se, ao final, à nova reeleição. E ainda há gente séria que me pergunta sobre essas bobagens. Reajuste dos aposentados Os aposentados deverão ter reajuste maior que os 6,14% desejados pelo governo. Podem ganhar 7,7%. César, o maior ? César é considerado o maior de todos os heróis de guerras. O motivo apontado pelos historiadores : ceifou a vida da maior quantidade de inimigos. Em menos de 10 anos, durante a guerra contra a Gália, tomou de assalto, mais de 800 cidades, submeteu 300 povos, combateu 3 milhões de homens, dos quais matou 1 milhão durante as batalhas e transformou outro milhão em prisioneiros. Que heroísmo é esse, hein ? Soltura de presos ? Soltar 20% dos presos do país é uma temeridade. Há assassinos e loucos que poderão voltar ao cenário de matança. Não era o caso do monstro de Luziânia, em GO, que matou 6 jovens ? Conselho às assessorias de Dilma e Serra Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado à pré-candidata à presidência Dilma. Hoje, volta sua atenção às assessorias de Dilma e Serra : 1. Procurem orientar, desde já, seus candidatos a trilhar o caminho das grandes ideias. Os candidatos devem abandonar as trilhas de coisas perfunctórias. 2. Produzam conteúdos transcendentais para a vida do país. Substituam as querelas adjetivadas por debates programáticos. 3. Mapeiem os espaços das grandes carências nacionais e regionais. ____________
quarta-feira, 14 de abril de 2010

Porandubas nº 229

Historinha de Goiás Edmundo Galdino, deputado estadual de Goiás, de Araguaína, recebeu um tiro na região lombar, na década de 80. Quase morreu. Sobreviveu graças à intervenção feita por outro político. Paraplégico, por conta do atentado cometido por pistoleiros, o ex-líder camponês, que militou no PC do B e, depois no PSDB, continuou a luta política com força e dinamismo. Um dia, na tribuna, usou o verbo para perorar contra o adversário, o deputado estadual e médico que o operou, Ronaldo Caiado. "Deputado Caiado, suas mãos estão cobertas de sangue...". Caiado, calmo e elegante, dirigiu-se à tribuna. E não deixou por menos : "Deputado Galdino, uso a palavra para afirmar e corroborar sua assertiva. Sim, é verdade que minhas mãos estão cobertas de sangue. Mas, Vossa Excelência bem o sabe. Este sangue é seu, nobre deputado. Salvei sua vida e salvarei tantas outras quantas vezes forem necessárias". Galdino se esquecera da boa fama de cirurgião. Com o instrumental cirúrgico e com a palavra. Nunca mais usou a palavra para atacar o parlamentar. Tucanos, alto astral O tucanato vibra com o lançamento da candidatura de José Serra à presidência. De fato, o evento foi um sucesso. Serra pegou bem o eixo do diálogo nacional. Candidato da harmonia, da unidade, do pacto. Deixou Dilma e o petismo na condição de atores da desunião, da querela entre classes e Estados, pobres contra ricos, o nordeste contra o sul. Passará a usar o bordão "Brasil pode mais", na verdade uma fisgada no slogan de Obama, "Nós podemos". Mas Aécio Neves foi o mais aplaudido. Arrebatou a plateia de 4 mil pessoas com as estocadas no PT e no governo Lula. Chamou os adversários para a briga. FHC, mais moderado, fez contundente defesa de seu governo. Mereceu também aplausos. Cobertura A cobertura do evento ganhou bom espaço da mídia. Vai durar, ainda, uns três dias com as repercussões do entusiasmo dos líderes da oposição. O lançamento de Dilma também obteve cinco dias de cobertura. O Jornal Nacional, da TV Globo, no sábado, não deu uma nesga de espaço para o evento petista no ABC, quando Lula lembrou que ele era "o cara", criticando o slogan apropriado por Serra. A arena começa a esquentar. Dilma agressiva Dilma começa a campanha de modo contundente. Atira forte nos adversários, a partir da acusação de que os tucanos "são lobo em pele de cordeiro". Atacar, optar por armas de destruição, apelar para uma agenda negativa não fazem bem a nenhum candidato. Este consultor prefere seguir a linha das coisas positivas e do realce a programas de envergadura. Quem ataca perde. Campanha negativa fere os brios do eleitor. Não entendo como uma pessoa que tem tanta coisa a mostrar pode optar por tiros no adversário. Que podem sair pela culatra. Dilmasia/Anastadilma Seja qual for o trocadilho que se queira dar ao voto em Dilma e Anastasia - candidato de Aécio Neves ao governo mineiro - a candidata do presidente Lula não poderia, ela mesma, se referir a este fato. Deveria deixar correr naturalmente o trocadilho pela boca dos mineiros. E mesmo usar o corpo parlamentar de MG para expandir a ideia. Ela cometeu a gafe de fazer uma defesa muito pessoal. Que lembra o ditado : "elogio em boca própria é vitupério". Agora, este consultor se arrisca a dizer : vai haver, sim, o Dilmasia. Explico abaixo. As razões do voto misto MG é um Estado bairrista (o sentido, aqui, é positivo). Os mineiros são orgulhosos de sua importância na vida política do país. Carregam, ainda, o sentimento de perda de Tancredo Neves. Por outro lado, o neto dele, Aécio, é muito bem avaliado. Eles gostariam de ver Aécio e não Serra como candidato a presidente da República. Ficaram frustrados. Por isso, votarão maciçamente em Neves para o Senado, é bem provável que elejam Anastasia para o governo e, pasmem, grande parte do voto poderá migrar para Dilma. Não se deve esquecer que ela é mineira. E os mineiros prezarão esse fato. Apesar da ministra ter passado quase toda sua vida no Rio Grande do Sul. Pesquisa em SP Pesquisa fresquinha, feita pelo Instituto Opinião, e que esta coluna registra em primeira mão. A pesquisa foi feita apenas no Estado de São Paulo, que abriga o maior eleitorado do país, cerca de 30 milhões de eleitores : Serra = 48,46%; Dilma = 21,23%; Ciro = 7,08%; Marina = 6,33%; nenhum = 9,99% e não sabe = 6,91%. Para o governo do Estado : Alckmin = 61,12%; Mercadante = 12,49%; Russomano = 7,08%, Paulo Skaf = 2,08; Fábio Feldman = 1,08% e Plínio Arruda = 0.83%; nenhum = 9,58% e não sabe = 5,75%. Por esses números de hoje, considerando uma soma em torno de 22 milhões de votos válidos, Serra teria em torno de 6 milhões de maioria em SP. Que é o número planejado pelos tucanos. Cifra para enfrentar a maré enchente de Dilma no nordeste. Alckmin nas alturas Pela mesma tabela, Alckmin faria uma maioria de mais de 10 milhões de votos sobre Mercadante. Claro, a posição do petista deverá melhorar. Sob pena de uma derrota escorchante. Senado em SP A moldura para o Senado mostra Marta em primeiro lugar, com 36,47%; Romeu Tuma em segundo, com 23,23% e Quércia em terceiro, com 21,07. Netinho de Paula ocuparia a quarta posição, com 15,57% e José Aníbal viria, a seguir, com 12,49%. Estas posições apontam para a retração de candidatos com baixa visibilidade. Neste caso, o mais prejudicado seria Netinho de Paula, com mídia muito curta. Noutros desenhos, aparecem Gabriel Chalita, com 6,16% e Soninha, com 11,07%. Outro nome do PSDB, Aloysio Nunes Ferreira, tem pouca expressão, apenas 6,83%. Ou seja, o candidato mais viável dos tucanos é Zé Aníbal. Que poderá crescer muito na onda surfada por Geraldo Alckmin. Quércia enfrenta um desgaste histórico. Tende a cair. E Tuma vai precisar muito de um bom espaço na mídia. Mais pesquisa Agora é a vez da rodada Sensus. Pesquisa encomendada pelo Sintrapav - Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de Construção Pesada de São Paulo, divulgada ontem, aponta empate técnico na corrida presidencial entre Serra (32,7%) e Dilma (32,4%). Pau a pau. Tirem suas conclusões. Ciro Gomes teve 10,1%, e Marina Silva, 8,1%. A margem de erro é de 2,2 pontos percentuais. Feldman na contramão ? O deputado Walter Feldman quis arrematar o desfecho Serra/Aécio com uma declaração que irritou os mineiros : José Serra "era imbatível na disputa interna". Ou seja, quis dizer que Aécio não tinha ficha para ganhar o jogo. Ora, o mineiro fez um entusiasmado discurso de apoio ao paulista, no sábado. Foi o mais duro orador contra o PT. O deputado Rodrigo de Castro condenou Feldman. Para ele, o comentário vai na contramão do que o partido está construindo. Passarinho na muda não pia, Walter. Congresso do aço O mais importante evento do aço no Brasil ocorrerá, a partir de hoje, quarta, até sexta-feira. A agenda abriga debates com palestrantes nacionais e internacionais. A China merecerá um capítulo especial. A indústria do aço no mundo será vista e revista. Em paralelo, a ExpoAço, feira de negócios com a presença de 50 empresas brasileiras e estrangeiras. Os organizadores construíram uma Vila do Aço para mostrar todas as possibilidades de utilização do aço. Entre os nomes famosos, o de Lakshmi Mittal, CEO da ArcelorMittal. Tomará posse na presidência do Conselho Diretor do Instituto Aço Brasil, André B. Gerdau Johannpeter. Na vice, Albano Chagas Vieira. E na presidência executiva do Instituto, Marco Polo de Mello Lopes. Fogueiras O PT corre para apagar fogueiras no CE, MG e PR. No Ceará, Cid, o governador e irmão de Ciro Gomes, quer apoiar Tasso Jereissati para o Senado. O PT quer sair com a candidatura de José Pimentel, ex-ministro da Previdência. Dilma, em mais um momento desastrado, foi ao Ceará receber uma homenagem. Cid não compareceu. Em Minas, Fernando Pimentel e Patrus Ananias não desistiram das candidaturas ao governo. Vão se enfrentar em prévias. Lula vai ter de botar ordem na casa. E Hélio Costa, paciente, espera a decisão. Olhando para um tal de Serrélio. No Paraná, Osmar Dias gostaria que Gleisi Hoffmann fosse sua vice. Mas o PT quer vê-la como candidata ao Senado. Osmar quer a vaga de senador para atrair o PR. Caso não consiga, dirige o olhar para José Serra. Será preciso muita água para apagar as fogueiras. Marina sorridente Registrei para o Correio Braziliense e O Estado de Minas, os dois principais jornais da cadeia dos Diários Associados, o fato de Marina Silva ter operado boa mudança na apresentação pessoal. É toda sorrisos. E dei as razões. O discurso político abriga duas vertentes : a estética e a semântica. O prisma estético é o primeiro que entra no sistema cognitivo do eleitor. Quem inicialmente, capta a maneira como o candidato se veste, usa o cabelo e fala. O discurso semântico, das palavras e ideias, vem depois. Marina compõe-se melhor, está mais sorridente. Wallace, um impostor E opino : "os eleitores de baixa escolaridade e renda, principalmente, se impactam ante o visual dos candidatos. Os de renda média e superior racionalizam mais, apesar de também serem influenciados pelo que vêem". Contei um episódio da década de 1960, durante a campanha de George Wallace, governador do Alabama, à presidência dos Estados Unidos, em que o candidato subiu ao palanque para discursar usando uma armação de óculos sem lentes, com a intenção de passar a ideia de intelectual. Ao falar aos eleitores, algo lhe caiu nos olhos e ele os tocou entre os aros da armação, denunciando a ausência das lentes. O gesto fez de Wallace um impostor. Dia seguinte, os jornais e TVs exibiram o engodo. Perdeu a chance de ser candidato pelo Partido Democrata nos idos de 60. Era um falcão. Direitista. Segregacionista. Dele era o slogan : "segregação agora e segregação sempre". Ciro defenestrado Gabriel Chalita, potencial candidato do PSB ao governo paulista. O jovem político se esforça para que o PSB faça coligação com o PT. Em sua opinião, Ciro Gomes não será candidato a nada : nem a presidente da República, nem a governador de SP e muito menos a deputado em SP, para onde mudou o título de eleitor. Eduardo Campos quebra a cabeça para armar a estratégia de desmanche da candidatura de Ciro à presidência. Conselho à candidata Dilma Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado à pré-candidata à presidência Marina Silva. Hoje, volta sua atenção à outra pré-candidata à presidência da República Dilma Rousseff : 1. Pense antes de agir e/ou expressar ideias. Doravante, suas atitudes, atos, decisões e palavras serão registradas e examinadas pela lupa de julgamento da mídia. 2. Campanhas negativas - ataques contundentes, violência expressiva - desajudam uma candidatura. O eleitor aprecia uma agenda positiva. 3. Não se deixe envolver por grupos radicais, alas ortodoxas, grupos que ainda imaginam uma volta à mofada luta de classes.
quarta-feira, 7 de abril de 2010

Porandubas nº 228

De mineiros Grande churrasco abrindo a campanha de Magalhães Pinto, no pátio do Centro Gaúcho, Pampulha, BH. Gabriel Procópio Loures, o Gabi, gerente da Caixa Econômica Estadual em Santos Dumont, pega o microfone para saudar o candidato : - Minhas senhoras e meus senhores ! Como disse o grande filósofo francês "Madame, Monsieur"... Muitas palmas. E comentários gerais : "que homem culto, o homem sabe tudo". De paranaenses Jorge Takachi, japonês simpático e generoso, querido em toda a cidade, saiu candidato a prefeito de Nova Esperança/PR. A oposição começou a falar mal dele. Jorge Takachi não aguentou. Foi fazer comício : - Jorge Takachi bom para a cidade, constrói hospital, dá dinheiro para a igreja, ajuda os pobres, paga feira dos outros, povo diz : Jorge Takachi muito bom. Jorge Takachi candidato a prefeito, povo diz : Jorge Takachi filho da puta. Num é, né ? Assim, Jorge Takachi não entende povo. Risadas. E comentários gerais : "Takachi não entende mesmo". Arena semi-aberta I O jogo eleitoral começou para valer com os primeiros tiros de guerra. Serra fez o melhor discurso de seu percurso recente. Apesar de ser um orador fissurado na racionalidade, usou uns 8% do palavreado para jogar no tabuleiro da emoção. Fustigou adversários petistas e, indiretamente, o governo Lula, ao se referir à roubalheira. Não admitirá isso, garante. Foi muito eloquente, a ponto de abrir manchetes no dia seguinte. Serra se posiciona, hoje, como identidade comprometida com o pós-lulismo e não como o anti-lulista. Se optasse por ser do contra, estaria perdido. Arena semi-aberta II Dilma deixou o Planalto debaixo de uma cascata de lágrimas. Em seu discurso, fez loas ao governo. E elevou Lula aos céus. Fez quase 20 referências ao "senhor", referindo-se ao presidente. Coloca-se, assim, como pupila, patrocinada, candidata do presidente e, no arremate, herdeira do jeito lulista de governar. Reagiu imediatamente aos golpes tucanos. Garante que há muito lobo vestido de cordeiro. Dilma, aliás, está chamando Serra para o ringue. A tática é inteligente. Procura, assim, se posicionar no ranking principal, apresentando-se como lutadora, destemida, sem medo de atirar e debater. Ou seja, atiçando o fogo, Dilma mostra-se disposta a enfrentar o tucanato de igual para igual. Lula à espreita Nas próximas semanas, Lula ficará espiando as atitudes, gestos, palavras e atos de sua pupila. A seguir, vai chamá-la para a interlocução de ajustes : diga isso, não repita aquilo, aja assim e assado, corra por aqui e evite aquela vereda acolá. Nos fins de semana, estará quase todo tempo com Dilma, fazendo campanha. E a candidata - bem como Serra - poderá participar de atos administrativos públicos, porém sem ter direito ao verbo. Essa legislação eleitoral é mesmo dúbia. Ou seja, o candidato poderá ser visto ao lado de seus patrocinadores, mas não poderá ser ouvido. Churchill "Espero que meus amigos e colegas, ou colegas de outrora, que tenham sido afetados pela reconstrução política, sejam tolerantes e me desculpem por qualquer falta de cerimônia na maneira por que fui compelido a agir. Eu diria a esta Casa, como disse àqueles que passaram a formar este governo : - eu nada mais tenho a oferecer senão sangue, trabalho, suor é lágrimas." (Winston Leonard Spencer Churchill, estadista, no célebre discurso de 3 de setembro de 1939, quando foi nomeado primeiro ministro) Marina se solta Este consultor começa a perceber Marina Silva mais solta e desinibida. Chega a ser, até, falante. E começa a aparecer em circuitos empresariais. Quem esperava uma ambientalista confinada aos ambientes florestais, terá grata surpresa. Marina quer viabilizar acordos laterais, até com figuras exponenciais, que lhe acenam com esta possibilidade. É o caso do ex-presidente Itamar Franco. Marina poderá atrair a atenção e o voto de uma faixa jovem e de grupos organizados que cercam o conceito de sustentabilidade. Ciro se prende Ciro Gomes, por sua vez, se dobra cada vez mais ao rolo compressor de seu partido, o PSB, cuja maioria quer apoiar a candidata Dilma. O presidente do PSB, governador Eduardo Campos, é do entendimento de que a candidatura Ciro prejudica Dilma. Mas as pesquisas apontam noutra direção : sem Ciro, Serra cresce. E Ciro começa a convencer Campos de que poderá ajudar Dilma se permanecer como candidato. No segundo turno, fecharia aliança com ela. Tudo vai depender de mais duas baterias de pesquisa. Ou seja, vamos ver essa decisão lá para os meados de maio. O imponderável Calma, pessoal. É arriscado fazer prognósticos nesse momento. Os dois candidatos principais têm condições de levar a melhor. Fatores imponderáveis poderão ser decisivos. E a imponderabilidade abarca o mundo da abstração. Ninguém sabe se este fator sairá do perfil do candidato, do momento ou das circunstâncias. PNBF e PNBInf É tarefa complexa, portanto, aferir o imponderável. O que se pode garantir, isso sim, é que há fatores positivos e negativos que contribuem para derrotar ou dar a vitória a candidatos. Costumo, em minhas análises, fazer referência a dois : Produto Nacional Bruto da Felicidade e Produto Nacional Bruto da Infelicidade. O primeiro resulta de situações confortáveis : dinheiro no bolso, emprego garantido, comida barata, escola garantida para os filhos, assistência do governo, bolsas etc. O segundo é a antítese : desconforto, indignação, raiva, violência desmesurada, medo, desemprego, insegurança social. Façam suas análises em torno desses dois escopos. O primeiro deixa o estômago confortável; o segundo provoca vazios no estômago. O eleitor mais forte é o bolso. Quando cheio, vitória no candidato mais próximo a ele. Vestindo a máscara do porco "Os chineses têm um ditado : "vestir a máscara do porco para matar o tigre". É uma referência a uma antiga técnica de caça em que o caçador se cobre com a pele e o focinho de um porco, e sai grunhindo. O poderoso tigre pensa que um porco vem chegando, deixa-o se aproximar, saboreando a perspectiva de uma refeição fácil. Mas é o caçador quem ri por último. Mascarar-se de porco funciona muito bem com quem, como os tigres, é muito arrogante e seguro de si. Quanto mais eles acham que é fácil apanhar você, mais facilmente você vira a mesa. Este truque também é útil se você for ambicioso, mas ocupa uma posição inferior na hierarquia - aparentar ser menos inteligente do que é, até meio tolo, é o disfarce perfeito" (Robert Greene). E as pesquisas, hein ? Este consultor considera Marcos Coimbra um bom especialista em pesquisa. Tem formação adequada. Sabe manejar os instrumentos de pesquisa. Por isso mesmo, ficou perplexo com as suspeitas de que seu Instituto, Vox Populi, estaria manipulando pesquisas. Há uma nota negativa na mídia dizendo que a última pesquisa do Instituto repetiu os mesmos lugares da penúltima. E que a diferença entre Serra e Dilma não seria de 9 pontos, conforme atesta o Datafolha, mas de apenas 2 pontos. Por via das dúvidas, vamos esperar pelas próximas rodadas, seja do Datafolha seja do Vox Populi. Dora abelha rainha Kramer Dora Kramer lançou, esta semana, seu livro - O Poder Pelo Avesso - em uma longa noite de autógrafos. Passei exatos 1 hora e 40 minutos na fila. No meu autógrafo, a querida amiga escreveu : o professor precisa por no papel a história da abelha rainha. Vou começar a contar. Idos de 70. Dora, minha aluna na Cásper Líbero, av. Paulista, 900, 6º andar, já exibia um belo texto. E eu sempre lhe pedia que lesse a reportagem para os comentários e debates da classe. Eu solicitava que os alunos formassem um círculo em torno de Dora. E aí, um dia, para risada geral, eu disse : vamos, agora, ouvir a abelha rainha. Pois ela parecia a rainha cercada pelo enxame de abelhas trabalhadoras. O apelido pegou. Até hoje, quando nos encontramos, ela recorda o passado. Grande texto Dora Kramer já escrevia bem naquela época. Texto descritivo, recheado de imagens e simbolismos. Eu lhe dava a melhor nota da classe. Quanta alegria foi ver essa jornalista substituir Carlos Castelo Branco no grande Jornal do Brasil, que também foi meu primeiro jornal. Hoje, no Estadão, Dora é leitura obrigatória. Quem não tem o costume de lê-la, perde e muito. A propósito, a Dora daquele tempo era Dora Tavares de Lima, sobrinha do famoso Chopin Tavares de Lima, contemporânea de Carvalho Pinto, Jânio, amigo de Montoro, e integrante do velho Partido Democrata Cristão. O Kramer vem de seu ex-marido Paulo Kramer, professor e cientista político. Michel na vice Com a permanência de Henrique Meirelles no comando do BC, Michel Temer consolida sua posição como peemedebista a compor a chapa de Dilma. O PMDB está fechado em torno de seu nome. Presente de páscoa Segundo a Asserttem (Associação Brasileira das Empresas de Serviços Terceirizáveis e de Trabalho Temporário), a páscoa deste ano gerou emprego temporário para 63,3 mil trabalhadores em todo o país. O resultado é 5,5% maior que o registrado em 2009. O levantamento confirma ainda que 15% destes contratos temporários têm chance de efetivação, o que corresponde a quase 9,5 mil brasileiros, praticamente o dobro do registrado no mesmo período do ano passado. A data também significou oportunidade de primeiro emprego para 25% dos trabalhadores. Lula convencido Lula no Canal Livre da Band : "estou convencido de que a Dilma vai ser a próxima presidente do Brasil. Agora, vai ter de trabalhar..." Pergunta : vai de ter trabalhar para se eleger ? Será que alguém que quer ser presidente do país não consideraria essa possibilidade ? A questão levantada pelo presidente parece sem sentido. FHC faz apelo a Aécio FHC continua apelando para Aécio Neves vestir a camisa de Serra. Por quê ? Desconfia de que o mineiro não está motivado ? Neves é candidato ao Senado. Não quer compor a chapa como vice. FHC deve saber de coisas... MG, um mistério Minas, com seus quase 14 milhões de eleitores, é um mistério. Não se pense que os mineiros jogarão todos os seus votos na floresta tucana. Vão eleger Aécio, senador, e podem, até, dar a vitória a Anastasia na corrida ao governo. Mas, na área federal, Minas tem sido surpreendente. Não acompanha muito os caciques. Vermelho de abril O abril vermelho prometido pelo MST é um tiro nas costas de Dilma. O MST, em anos eleitorais, sempre amainou a corrente invasiva. Mas, este ano, promete recrudescimento nas ações do campo. Traição ao compromisso assumido com o governo Lula ? Vamos ver se os emessetistas farão a agenda destrutiva que prometem. Conselho a Marina Silva Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos membros do Ministério Público. Hoje, volta sua atenção à pré-candidata à presidência da República Marina Silva : 1. Procure absorver um escopo mais abrangente : educação, saúde, infraestrutura técnica (transportes, energia, telecomunicações), segurança pública, evitando a identidade monotemática da sustentabilidade. 2. Circule nos grandes núcleos da sociedade organizada (associações, federações, sindicatos, movimentos etc.) 3. Privilegie os espaços de maior densidade eleitoral e os pólos de difusão de ideias e informação. ____________