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Porandubas Políticas

Por dentro da política.

Gaudêncio Torquato
quarta-feira, 20 de abril de 2011

Porandubas nº 270

"O carro atolou-se" Walfredo Paulino de Siqueira foi um típico coronel da política pernambucana. Escrivão de polícia, comerciante, deputado, industrial, presidente da Assembleia, vice-governador de PE. Era uma figura folclórica, como conta Ivanildo Sampaio, diretor de redação do Jornal do Commercio, de Pernambuco, e meu contemporâneo na faculdade. Um dia, dois eleitores discutiam sobre o uso da partícula "se". O exemplo era com um automóvel que ficara preso em meio a um atoleiro. O primeiro afirmava que a forma correta de expressar-se era falar que "o carro atolou-se"; o outro insistia que não; o correto era "o carro se atolou". Consultado, Walfredo deu a sentença salomônica : - Escutem aqui. Se os pneus que ficaram presos foram os dois da frente, o correto é dizer que "o carro se atolou". Se foram os pneus traseiros, a gente fala assim : "o carro atolou-se". Mas, acontecendo de ficarem presos os quatro pneus, os de frente e os de trás, então, meus filhos, a forma correta mesmo é "o carro se atolou-se"... FHC X Lula Lula não deixa a peteca cair. Se Fernando Henrique diz algo que possa ser considerado polêmico ou, ainda, que renda dividendos ao lulismo, o ex-presidente abre o verbo. O sociólogo, em artigo para uma revista, defendeu o ponto de vista de que as oposições deveriam se afastar da massa carente e focar na classe média. Chegou, até, a usar a expressão "povão", para deixar mais claro o pensamento. Lula arremeteu : Fernando Henrique, como o ex-presidente João Figueiredo, não gosta do "cheiro do povo", mas do cheiro de cavalo (Figueiredo apreciava equitação). A resposta não tardou por vir : "Lula esquece que o derrotei 2 vezes. E topo outra disputa, se ele quiser". Ora, essa algaravia só serve para acalentar bovinos. Lula e FHC gostam de desembainhar suas espadas. E esgrimi-las em público. O primeiro quer palco. O segundo deseja energizar as oposições. FHC e o conceito Sobre a ideia de PSDB, DEM e PPS focarem sua atenção na classe média, o sociólogo tem inteira razão. Meu último artigo dominical no Estadão - Classe Média, Povão e Lorota - procura, à luz dos conceitos de classes médias, partido político e massas, examinar os aspectos concernentes ao argumento exposto pelo ex-presidente FHC. O maior racha dos tucanos O PSDB vive o maior racha de toda sua história. Em São Paulo, a fenda é enorme. De um lado, está a ala comandada pelo governador Geraldo Alckmin e, de outro, a banda que fica sob controle do ex-governador e presidenciável José Serra. Estas alas não se toleram. A rixa é histórica. Os alckministas sempre foram desprezados pelos serristas e vice-versa. O episódio mais bombástico se deu com a saída do PSDB de 5 (pode chegar a 7) vereadores tucanos. O Diretório Municipal é presidido, hoje, pelo deputado Julio Semeghini, que faz parte do secretariado de Alckmin. Por trás dessa saída, atua de maneira habilidosa, como sempre o prefeito Gilberto Kassab. PSDB perdeu a biruta A biruta, o instrumento que mostra, nos aeroportos, o caminho do vento, foi perdido pelo PSDB. O presidente do partido, deputado (ex-senador) Sérgio Guerra é um cego no meio do tiroteio. Quer renovar o mandato na condução do tucanato e deve levar a melhor. Serra, pleiteante do cargo, não teria o endosso de caciques como Aécio Neves e Tasso Jereissati. Alckmin, mesmo governando o Estado mais poderoso do país, tem influência limitada. Trata-se de perfil alheio aos embates na arena política. Foca sua atenção na administração. FHC aponta rumos mas o partido não fisga a ideia. DEM em apuros Quem também está em apuros é o DEM. Míngua a olhos vistos. Seu presidente, o senador José Agripino, do RN, tem perfil diplomático, sabe ouvir e argumentar. Será difícil resgatar a densidade do velho PFL. A questão é : poucos políticos resistem a mandatos continuados dentro do túnel escuro das oposições. O rolo compressor do governismo devasta os espaços oposicionistas. Deputados e senadores ficam praticamente sob a proteção única do verbo. Tiram-lhes as verbas orçamentárias. Sem recursos para atender as bases, vêem suas forças quebradas. Vivemos cada vez mais o ciclo da micropolítica, a política das pequenas coisas, das demandas locais e regionais. Se as demandas não são atendidas, os políticos são forçados ao canto do ringue. Filosofia do Vitorino Vitorino Freire, ex-manda chuva e filósofo do Maranhão : - Quando o pasto pega fogo, preá cai no brejo. - O risco que corre o pau, corre o machado. - Não quero que ajudem meu roçado. Só quero que os bois do vizinho não entrem nele. - O Sarney não conhece o tamanho do meu roçado. De um lado da cerca eu grito e ele não ouve do outro lado. - Política no Maranhão é um bumba-meu-boi que não sai sem mim. Oposições somadas : 96 O calculo é de que as oposições deverão ficar com apenas 96 parlamentares, o menor número dos últimos 16 anos. Vejam : no primeiro e segundo mandatos de FHC, somavam 108; no primeiro mandato de Lula, as oposições chegaram a fazer 159 deputados; no segundo mandato, o número caiu para 147; na posse de Dilma, as oposições tinham 108 e agora estão em 96. Cena municipal em SP (I) Lula tem uma crença : estampa nova é novidade e gera interesse. Foi assim que apostou em Dilma. Agora, a estampa nova da vez se chama Fernando Haddad. Ele é o candidato in pectore de Lula para disputar a prefeitura de São Paulo, em 2012. Contra ele, no PT, há Aloizio Mercadante, atual ministro da Ciência e Tecnologia, Marta Suplicy, senadora. Fala-se, ainda, em Alexandre Padilha, ministro da Saúde, mas este não tem porte, perfil, flexibilidade e vocação. Da parte do PSDB, quem demonstra mais fôlego é o secretário de Energia do Estado de São Paulo, deputado José Aníbal, que já teve uma boa votação para o Senado. Cena municipal em SP (II) O prefeito Kassab aprecia bastante a arte de jogar balões. Para ver que efeitos e curiosidade provocam na opinião pública. Lançou, até o momento, estes nomes para a prefeitura : Guilherme Afif Domingos, vice-governador e secretário de Estado; Eduardo Jorge (PV), seu secretário do Verde e Meio Ambiente; Francisco Luna, seu secretário de Planejamento e (pasmem!) Henrique Meirelles, que será a Autoridade Pública Olímpica. Despiste ? Disfarce ? Quem desses é o nome in pectore do prefeito ? Da parte do PMDB, o perfil mais adequado e forte seria o de Paulo Skaf, que já mostrou fôlego na política, ao disputar o último pleito para o governo de Estado. Com apenas um minuto, Skaf obteve 1.038.430 votos, ou seja, 4,56% dos votos válidos. Outro nome é o do deputado Gabriel Chalita, hoje no PSB, que tem a intenção de migrar para o PMDB. Tem história, perfil e carreira muito ligadas ao governador Alckmin. Sem pauzinho João Almeida deputado mineiro, Fortunato Pinto Júnior, jornalista e ghost writer, escrevia seus discursos. Sábio e bom, o doce coronel só não gostava de proparoxítonos : - Tininho, não bota no discurso palavra que tem um pauzinho lá atrás, porque a dentadura cai. Fadiga de material Este consultor tem usado recorrente análise sobre a moldura político-institucional. O copo está quase transbordando. Estamos fechando um ciclo da política. A sociedade não aguenta mais ouvir desculpas. Fala-se muito em reforma, renovação de métodos, mudança. Mas o clamor social não recebe respostas adequadas. As reformas não saem. Projetos há, mas não ganham consenso. E assim a fadiga de material exibe suas marcas no tempo. Essa fadiga se projeta também nos campos governamentais e nos Estados. Há cansaço nas esferas da administração Federal e em alguns Estados. Depois de 12 anos de um sistema no poder, o sinal amarelo surge no horizonte. Muito tempo de poder corrói as portas dos Palácios. Cuidado, partidos. Lula 70% mais Lula gastou 70% mais em publicidade, no final do mandato (2010), que Fernando Henrique. Em 8 anos, foram R$ 10 bilhões. Lei da propaganda : repetição é a medida da eficácia.Infraestrutura patina As obras de Infraestrutura destinadas aos empreendimentos da Copa, em 2014, e da Olimpíada, em 2016, continuam patinando. Os investimentos ainda não chegaram ao índice de 5% dos recursos previstos. Cadê você, Henrique Meirelles, a Autoridade Olímpica, que tem a missão de fazer correr o fluxograma ? Coitado, ainda dorme na rede da burocracia. Sua APO ainda não foi criada legalmente. Colombo no PSD ? Há quem diga que o governador Raimundo Colombo (DEM) não aguentará ficar no partido. Jorge Bornhausen estaria fazendo pressão por sua saída e ingresso no PSD. Cuba vê a China Cuba quer se espelhar no modelo chinês de comunismo. Mas faltam condições. Não adianta apenas querer. Os jovens que Fidel pensar entronizar no poder não farão milagres. Cuba é uma pequena ilha cheia de grandes carências e de monumentais atrasos. Drible na fiscalização Governo Federal pensa em mudar a lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) por meio de um artigo que esvaziaria o poder dos auditores do Tribunal de Contas da União. Esse é o Brasil. Se os controles são mais severos, a solução é driblá-los. Famoso jeitinho brasileiro. Reforma política ? Tá brincando O interlocutor se aproxima do político e pergunta : e aí, desta vez, a reforma política passa ? Todos, senadores e deputados, parecem mais entusiasmados. O parlamentar responde : "Tá brincando. Não vai dar". Ou seja, para a maioria parlamentar, mudar as regras do jogo é suicídio. E o que pode ser aprovado ? Coisas pontuais. O financiamento público de campanha, por exemplo, deverá ser aprovado. Ou o fim das coligações proporcionais. Voto em lista ou distritão é matéria polêmica. Não passarão. A não ser que se faça a costura de alhos com bugalhos. Aécio flagrado Ninguém tem o direito de ser contra o fato de um político prezar a boemia. Mas, homem público deve prestar contas de seus atos. Mesmo atos privados, quando flagrado em tramoia. O senador Aécio Neves até pode recusar o bafômetro. É um direito dele. Mas a recusa depõe contra sua imagem. Derruba o argumento de que o bom exemplo vem de cima. Se Aécio pode se negar a fazer o teste do álcool, por que não posso eu também negar ? Esse é o senso comum. Cofre cheio Em março, a arrecadação de impostos e contribuições Federais totalizou R$ 70,984 bilhões. O resultado supera a média de R$ 68,300 bilhões. A arrecadação de impostos e contribuições Federais cobradas pela Receita Federal apresenta, no 1º trimestre deste ano, crescimento de R$ 35,740 bilhões em relação ao mesmo período do ano passado. A arrecadação saltou de R$ 190,454 bilhões, de janeiro a março de 2010, para R$ 226,194 bilhões. Dinheiro para a gastança. E enfeite do Estado Espetáculo. O verbo não "vareia" A Câmara Municipal de Paulista (PE) vivia sessão agitada em função da discussão de um projeto enviado pelo prefeito, que pedia crédito para assistência social. Um vereador da oposição combatia de maneira veemente a proposição. A certa altura, disse que "era contra o crédito porque a administração municipal não merecia credibilidade". O líder da bancada governista intervém, afirmando que "o nobre colega não pode jogar pedras no telhado alheio, pois já foi acusado de algumas trampolinagens". - Menas a verdade - retrucou o acusado. Sou homem honesto, de vida limpa. - Vejam, senhores, - disse o líder - o nobre colega, além de um passado nada limpo, ainda por cima é analfabeto, pois, "menas" é verbo, e verbo não "vareia". Mais uma historinha de Ivanildo Sampaio. Conselho ao ex-presidente Lula Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos educadores de todo o país. Hoje, sua atenção se volta ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva : 1. Tenha mais cautela nas afirmações, declarações, acusações e insinuações que expressa. 2. A matéria da revista Veja mostrando a influência do advogado Roberto Teixeira, seu amigo, que teria insinuado corrupção por parte do ministro Cesar Asfor Rocha, do STJ, merece maiores esclarecimentos. Verdade ou prevaricação, é a indagação da revista. Que fica sem resposta. E se for verdadeira a insinuação de corrupção, não seria condenável a atitude do advogado ao procurar o ministro ? 3. Urge avaliar melhor as novas tarefas políticas a serem desenvolvidas por Vossa Excelência. Um ex-presidente da Republica há de cumprir uma liturgia do poder, evitando ações estrepitosas. Use seu carisma para melhorar os costumes da Nação. ____________
quarta-feira, 13 de abril de 2011

Porandubas nº 269

Morra tranquila, mamãe Fernando Leite, filho do senador Júlio Leite, era presidente da Assembleia de Sergipe quando Seixas Dória era governador. Conta Sebastião Nery que Seixas teve de ir ao Rio, o vice-governador Celso Carvalho estava no Rio Grande do Norte assistindo ao enterro da sogra, assumiu o governo o presidente da Assembleia. Por dois dias. Fernando Leite mandou telegramas a todas as embaixadas comunicando ao mundo sua governança. E, orgulhoso, como bom filho, telegrafou à mãe, internada e gravemente enferma em hospital do Rio : - Mamãe, pode morrer tranquila. Seu filho é governador. Beijos, Fernando. Dilma na China A presidente Dilma começa a firmar a sua identidade. E já mostra que não veio para ser mera figurante do ciclo lulista. Não gosta de estardalhaço ; é contida na expressão ; não usa imagens popularescas ; respeita Lula, mas sem bajulação ; e já tomou distância em relação ao governo anterior em áreas como as relações exteriores. Este consultor fez análise para o site da revista Exame dos 100 dias do governo Dilma e pinça rápidas passagens (em destaque) entre as notas abaixo. Tragédia na região serrana Análise : "A presença de uma alta autoridade da República no cenário de um desastre sempre gera simpatia da população. A presidente Dilma conseguiu angariar popularidade e tirou lição do erro de Lula, que foi muito criticado quando houve uma tragédia semelhante em Santa Catarina. Dilma conseguiu estabelecer um diferencial nesse episódio." Mais tragédia no Rio A tragédia do Rio de Janeiro se apresenta como mais uma demonstração da visão defendida pelo prof. Samuel Huntington, celebrado autor de O Choque das Civilizações : "há muitos indícios do paradigma do caos - quebra no mundo inteiro da lei e da ordem; Estados fracassados e anarquia crescente em muitas partes; uma onda global de criminalidade; máfias transnacionais e cartéis de drogas; crescente número de viciados em muitas sociedades; um debilitamento geral da família, um declínio da confiança e na solidariedade social em muitos países; violência étnica, religiosa e civilizacional e a lei do revólver predominando em grande parte do mundo". Oposições sem rumo As oposições estão sem rumo. Isso é sabido. Mas as oposições dentro dos partidos de oposição também colaboram para a geleia geral. O DEM se estiola. O PSDB está rachado. Em São Paulo, o deputado Julio Semeghini conseguiu se eleger presidente do diretório municipal da capital, sem o apoio da bancada de vereadores. Alckmin ganhou a parada para o grupo de José Serra. E também deu um recado a Serra e Aécio : daqui por diante, no PSDB, as decisões devem sair de votações em primárias. Disse nas entrelinhas que ambos só pensam em 2014, sem medir as consequências de ambições fora de hora. Nessa imensa cratera, terá vez o partido de Kassab, o PSD. 1ª reunião ministerial Análise : "A reunião foi importante para Dilma mostrar autoridade e cobrar resultados dos ministros. Ficou claro que o ponto forte dela é o gerenciamento das tarefas. Até hoje eu observo que os ministros têm feito poucos discursos, porque a presidente não aceita discursos sem resultados práticos. Os ministros têm receio de receber um puxão de orelha." PSD conta com 40 O PSD deverá contar com cerca de 40 parlamentares, entre deputados e senadores. Não será tão pequeno como muitos apregoavam. As "placas tectônicas" que se mexeram após as eleições só se acomodarão quando a nova sigla surgir e abrigar as ondas provocadas pelo tsunami eleitoral. Renascimento partidário Os partidos brasileiros, todos sem exceção, carecem de intenso e amplo programa de reformulação. Precisam respirar o cheiro do tempo. Viver o momento presente. Sentir o pulso da sociedade. Em suma, carecem de uma ação revigorante, que pode se inspirar nos seguintes eixos : formulação de um novo ideário, condizente com as demandas do tempo; esforço para rearticulação com as entidades da sociedade organizada; mobilização das bases com vistas ao engajamento de forças e inserção de contingentes nas fileiras partidárias; organizada ação de comunicação com classes sociais, setores e movimentos que promovem a dinâmica social. Mercadante e Haddad Não há lugar fixo nas planilhas partidárias para candidatos a pleitos majoritários. Cada candidato pode subir ou descer porque a vida partidária se assemelha a uma gangorra. Hoje, o candidato do PT em alta para a prefeitura de São Paulo, em 2012, é o ministro da Ciência e Tecnologia, Aloísio Mercadante. Mas o candidato de Lula continua sendo o ministro da Educação, Fernando Haddad. Lula trabalha com a hipótese de que o eleitorado está se cansando dos velhos nomes. E exige novidade no caminho partidário. Referendo contra armas O presidente Sarney promete levar a plenário da Casa um projeto encaminhando nova consulta à população - referendo - sobre a proibição de venda de armas. Como se recorda, em 2005, mais de 64% da população disse "não" à proibição. Desta feita, imagina-se que o sentimento social, acirrado após a tragédia que vitimou 12 crianças no Rio de Janeiro, influencie a decisão da sociedade. Mas já há núcleos contrários a esse projeto. DEM processa O DEM quer processar o prefeito Gilberto Kassab por indisciplina partidária. Bobagem. Deveria, isso sim, fazer um arrastão nacional na direção de novos adeptos. Governo corta R$ 50 bi Análise : "A presidente está correta em dar uma cacetada logo no começo do mandato para sinalizar suas posições econômicas. O problema é que a pressão política dos parlamentares é muito forte e pode reverter alguns cortes. Uma tesourada de R$ 50 bilhões pareceu sério para a sociedade, embora muitos analistas questionem a efetividade desse ajuste fiscal." 500 mil na informalidade A presidente Dilma quer retirar 500 mil trabalhadores da informalidade. Via : redução de 11% para 5% da alíquota de contribuição para a Previdência. Mais certeira seria a decisão de regulamentar os serviços terceirizados. Essa área está solta. E carece de um marco para consolidar-se. Lembre-se que o programa Micro Empreendedor Individual gerou cerca de 1 milhão de trabalhadores com carteira assinada. 50% das cotas para as mulheres Hoje, a cota para as mulheres nas listas de candidatos pelos partidos é de 30%. Mas a cota não é preenchida. Mesmo assim, o projeto de reforma política do Senado aumenta essa taxa para 50%. Ou seja, as listas partidárias serão compostas por metade de homens e metade de mulheres. É bem provável que a ideia não vingue. Micro e pequena empresa Nessa direção, o governo criou, em nível de Ministério, a Secretaria da Micro e Pequena Empresa. Vamos ver se contribuirá para diminuir a burocracia. PSD no RN O deputado Ricardo Motta, presidente da Assembleia Legislativa do RN, garante que o PSD deverá ter a maior bancada na Casa, com uns 8 parlamentares. "Tenho a convicção de que o PSD surge, no Rio Grande do Norte, como um dos maiores partidos. A expectativa é de que possamos contar com 40 a 50 prefeitos e ex-prefeitos, inúmeros vereadores", afirma o presidente. Robô do prefeito ? Na Câmara Municipal de Mimoso do Sul, Luiz Carlos da Silva, líder do PMDB, discutia com Jaime da Rocha Nogueira, líder do PDS, por causa do prefeito Pedro Costa, também do PDS. Luiz Carlos atacava o líder do prefeito : - V.Exa. é um teleguiado, sem personalidade. Só cumpre ordens. - Sou líder. E o líder tem de dizer o que o Executivo pensa. - Critico o comportamento de V.Exa., por ser um homem de recados, o robô do prefeito. - Senhor vereador, até agora discutia com V.Exa. porque não me sentia agredido. Agora, V.Exa. vai ter de provar a esta Casa quando é que eu roubei o prefeito. A sessão acabou. Mais uma vez, Nery e suas hilárias historinhas! Salário mínimo de R$ 545 Análise : "Houve uma demonstração inequívoca do rolo compressor do governo. Mais forte e contundente que o rolo compressor organizado por Lula. O PMDB conseguiu 100% dos votos, que funcionariam como moeda de troca por cargos em seguida. O preço dessa fidelidade é a nomeação de indicados pelo partido para o segundo e o terceiro escalões, principalmente de políticos derrotados na última eleição." De baixo para cima Se quase ninguém acredita em reforma política com origem em projetos de senadores e deputados, muitos põem fé nos movimentos sociais e em sua capacidade de gerar pressão. Esta seria a alternativa para a viabilização da reforma política, desafio para o Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral (MCCE), entidade que idealizou o projeto da lei da Ficha Limpa. Este movimento abriu um espaço na internet com a intenção de popularizar a discussão do tema e consolidar um projeto para tramitar no Congresso Nacional ainda este ano. Espera o apoio de 2 milhões de brasileiros. Dilma no programa de Ana Maria Braga Análise : "É o Estado espetáculo, em que o governante desce do altar para o mesmo patamar dos simples mortais. Ela fez isso de maneira competente, falando primeiro para dois programas femininos. Ela, ao lado de uma mulher, falando para mulheres. De mulher para mulher. E, com isso, ela ganha a simpatia das mulheres, e fez até um omelete - de maneira desengonçada, é verdade - mas fez. Em seguida, foi ao programa da Hebe, que assim como a Ana Maria Braga e a própria Dilma, teve câncer. Ela não é populista como o Lula, que sempre ia a palanques, mas não se negou a ir a programas de TV com grandes índices de audiência." Marina e o PV Marina tem a cara do PV. Mas está cada vez mais distante desse partido. Tudo por conta do estilo centralizador e absorvente do José Luiz Penna, atual presidente da sigla, que se elegeu deputado Federal. Marina encarna um projeto de sustentabilidade ambiental mais sólido e estruturante que a visão superficial do comando da sigla. Se sair do PV, o partido perde a maior referência. Alta de 7,5% do PIB Análise : "Esse é o gargalo do governo. Como administrar a meta de crescimento sem perder o controle da inflação. A situação real mostra que as metas não estão sendo cumpridas. Sendo assim, mais cedo ou mais tarde, o governo vai ter que adotar medidas mais drásticas para conter o consumo."   Detector de metais Será que adianta colocar detector de metais nas escolas para evitar a entrada de armas ? É claro que essa medida, isolada, não resolverá a questão. Mas é uma ferramenta a mais na engrenagem para escudar as escolas. Outras medidas precisam ser encontradas, a partir de uma revisão dos métodos e práticas educacionais. Urge banir todas as manifestações que possam servir de fundamento para incremento da violência nos sagrados espaços da educação. Visita de Obama Análise : "A vinda de Obama foi um gol magnífico logo no começo do mandato. Foi um sinal de prestígio que o Lula não conseguiu ter. Dilma fez um discurso muito mais concreto do que o de Obama, que decepcionou na questão do assento na ONU, frustrando a diplomacia brasileira. De qualquer forma, houve avanços nas relações entre os dois países. O episódio da revista dos ministros foi constrangedor e o discurso ao ar livre foi cancelado para evitar algum incidente mais sério. Imagine se algum manifestante atirasse um ovo no Obama. Daria repercussão mundial." Novo modelo de gestão ? Geraldo Alckmin promete implantar um novo modelo de gestão em São Paulo, citando especificamente as parcerias que construiu com as Centrais Sindicais e Patronais. Devemos entender a preocupação de Alckmin no sentido da intenção de buscar maior participação da sociedade organizada no processo de gestão governamental. Até ai tudo bem. A dificuldade está na escolha dos parceiros. Falar em Centrais Sindicais, por exemplo, é fazer referência ao novo peleguismo que se espraia no país ao som da alta grana que aquelas entidades recebem do governo. Brasil vota contra o Irã Análise : "Foi um gesto de coragem do Brasil de mudar a sua política externa, se pautando pela linha do respeito aos direitos humanos. Foi um voto avançando e condizente com os parâmetros que são esperados de nações democráticas. Foi uma grande mudança em relação ao governo Lula." Não mudou nada Miguel Rodrigues, velho e sábio político de Goiás, foi visitar uma escola primária. Ali, a professora ensinava os primeiros dias de Brasil :   - No começo do Brasil colônia, como a América e o Brasil ficavam muito longe, para cá vieram, primeiro, muitos ladrões, degredados, condenados. O coronel Miguel suspirou :   - Então não mudou nada. Saída de Agnelli Análise : "O Roger Agnelli vinha sendo jogado para escanteio pelo governo desde o mandato de Lula por dois motivos : não queria entrar no mercado de siderurgia e ainda fez inúmeras demissões no auge da crise. Aproveitando essa situação, Mantega fez um pacto com o Bradesco e trocou o presidente da empresa. É uma perda irreparável de alguém com o perfil do Agnelli, mas o fato mais importante nessa história é a constatação de que uma empresa privada que depende de fundos de pensão de estatais não é imune às pressões do Estado." Conselho aos educadores Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado às autoridades da esfera energética. Hoje, sua atenção se volta aos educadores de todo o país : 1. A tragédia do Realengo, no Rio, sugere ampla reflexão e debates a respeito dos processos educacionais. Todos os esforços devem ser empreendidos para que o ambiente escolar respire paz, harmonia, integração de espíritos e atitudes. 2. Nos últimos tempos, tem se multiplicado os casos de violência nas escolas, mascarados em forma de brincadeira (o chamado bullying). Esse fenômeno tem provocado distúrbios e consequencias nefastas para o desenvolvimento psíquico dos alunos. 3. O alunato é envolvido por uma gigantesca estrutura tecnológica, a partir da internet, cujo potencial nem sempre é usado em benefício do desenvolvimento educativo, criativo e moral. Esse é mais um foco a receber atenção prioritária dos corpos docentes. ____________
quarta-feira, 6 de abril de 2011

Porandubas nº 268

Udenista ? Fogo nele Comício em Entre Folhas, à época, distrito de Caratinga/MG. A política fervia. Os grupos iam aos palanques, armados até aos dentes. Zé Augusto, candidato, para onde vai, leva a tiracolo seu famoso violino, a pequena metralhadora, cuja capa lembra o instrumento de Paganini. Fazia parte da comitiva do candidato um famoso padre da região, o monsenhor Aristides Marques da Rocha, que militava no PSD e exercia grande influência sobre as massas. Só andava armado. Revólver em um bolso e as balas embrulhadas num lenço, bem amarradas, no outro. O monsenhor Rocha tinha a batina cheia de pequenos rasgos, feitos por devotos que arrancavam pedaços para fazer bentinhos. Um adversário de Zé Augusto, ao ver o monsenhor armado, toma coragem e tenta desconcertado : - Uai, monsenhor, o senhor não vive dizendo que homem só morre quando Deus chama ? - É isto mesmo, meu filho, mas hoje eu estou armado porque posso encontrar algum udenista que Deus está chamando com urgência e, aí, eu presto um serviço ao Criador, matando o filho da puta. O comício de Zé Augusto transcorreu em calma.  Historinha de Zé Abelha. Abril vermelho ou no vermelho O MST volta à cena com seu tradicional "abril vermelho". Exige que o governo Dilma assente 100 mil famílias este ano. Mas o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra sofre o efeito "rotinite". Todos os anos, em abril, promove invasões de fazenda com muito espalhafato. E fica por isso mesmo. Recebe uma bolada do governo, por meio de outras entidades - eis que o MST não tem personalidade jurídica - e recolhe suas bandeiras, quando se sente amaciado. Ademais, os programas sociais do governo, desde Lula, contribuíram para harmonizar as populações mais carentes. Por isso, o MST atravessa uma temporada "no vermelho", ou seja, com pouca gente em suas fileiras. Precaução Na Bahia, o Exército bloqueou marcha do MST na região da Chesf. Reunia 400 pessoas que poderiam invadir a usina hidrelétrica. Dilma discreta A presidente Dilma foi ao teatro para ver uma peça - na verdade, um monólogo - sobre a loucura. Entrou discreta, foi muito aplaudida ao ser vista, e saiu também discretamente. Sem alardes e alaridos. A presidente tem sabido preservar a liturgia do poder. Diferente de Lula, que se cercava de gente barulhenta e apreciava as luzes midiáticas. Bolsonaro, boquirroto O deputado Bolsonaro faz um estilo. Bota a boca no trombone e cai no repertório da discriminação. Ao dizer que não educa filhos para que estes tenham relações amorosas com negros, o parlamentar comete, evidentemente, discriminação. Sua verve contra as minorias sexuais - gays, lésbicas, etc. - tem o nítido propósito de carrear votos e simpatia junto a setores conservadores e retrógrados da sociedade. Mas se ele quer falar, deixem o sujeito morrer pela boca. O que ele deseja, mesmo, é aparecer. E com as críticas e indignação que provoca, mais midiático se torna. A linha que separa a opinião pessoal da expressão parlamentar é muito tênue. Palavra de fazendeiro O ministro Mário Henrique Simonsen foi a Campo Grande discutir os problemas econômicos e financeiros de Mato Grosso do Sul. O fazendeiro Fernando Junqueira Franco pediu a palavra : - Senhor ministro, depois que juro virou correção monetária, fazendeiro passou a ser empresário rural e roçar pasto chama-se investimento, nosso negócio acabou tornando-se uma merda. Mais uma historinha da coleção do Nery. Mensalão sobre a mesa O mensalão volta a ser menu da semana. Desta feita, foi a revista Época que trouxe todo o roteiro do caso, mostrando, inclusive, conexão com a presidência da República, na época de Lula. Seu segurança, Freud Godoy, teria recebido R$ 98,5 mil por serviços prestados a Lula na campanha presidencial de 2002. O pacote mensaleiro tem como relator o ministro Joaquim Barbosa. Que já ouviu uma batelada de pessoas. Se os novos fatos forem agregados ao processo, os implicados terão mais uma oportunidade para ser ouvidos. Nesse caso, o mensalão furaria o tempo em direção ao infinito. Por isso, o ministro Barbosa abriu um novo inquérito. Para preservar o cronograma do antigo. O STF deverá dar a palavra final até agosto, quando prescreve o crime de formação de quadrilha contra os 38 acusados no processo. Será o fim da tormenta ou o recomeço do calvário para algumas pessoas. Beija-mão Agnelo Alves, conta Sebastião Nery, era prefeito de Natal. Criou uma guarda para a Prefeitura : recrutas da PM, vindos do interior. Ensinaram aos rapazes que para gente mais importante a saudação era apresentação de armas e para gente menos importante só continência. Apareceu um homem alto, cabelos avermelhados, calças curtas, medalhas no peito, alamares, para visitar o prefeito. Os guardas ficaram embasbacados. Fazer o quê ? Apresentar armas ? Continência ? O chefe do grupo resolveu o problema : beijou a mão do estranho homem. Era o comandante internacional dos Escoteiros. Primeiros candidatos PT tem os seguintes nomes para a prefeitura de SP em 2012 : Aloizio Mercadante, Marta Suplicy, Fernando Haddad, Alexandre Padilha. PSB dispõe de Gabriel Chalita, mas este sinaliza querer entrar no PMDB. Paulo Skaf diz que só se interessa por política empresarial, eis que é candidato à reeleição na FIESP. Mas tem um olho gordo na prefeitura. No PSDB, podem ser candidatos o próprio José Serra, Aloysio Nunes Ferreira e José Aníbal, entre outros. Inflação As autoridades monetárias se defrontam com o desafio : domar a inflação e atingir a meta de 6,5% de crescimento. A inflação tende a subir e o crescimento a cair. Mantega e Tombini estão sob pressão. Incentivo à informalidade Decisão do STF de isentar União, Estados e prefeituras da responsabilidade pela inadimplência de empresas prestadoras de serviços tem deixado o empresariado de cabelo em pé. Tal situação tem incentivado a participação de empresas inidôneas em licitações, principalmente as de segurança privada. O critério exclusivo do menor preço permite que elas abocanhem os contratos públicos, sem ofertarem serviço de qualidade, deixando seus custos na "conta do Abreu". Já as que cumprem seus compromissos estão perdendo terreno e torcendo para uma mudança na lei das licitações. Índio quer apito Indio da Costa, que foi candidato a vice-presidente na chapa de José Serra, em 2010, não aguentou o tranco dos Maia, do Rio de Janeiro, e anuncia sua saída em direção ao PSD do prefeito Kassab. Quer apitar por conta própria, sem ficar sob a regência de Cesar Maia. Indio é um bom perfil e poderá ser o candidato do PSD à prefeitura do Rio de Janeiro em 2012. Tem boas chances, eis que expressa uma identidade comprometida com os valores da modernidade política. Nem sei por onde começar Foi no século passado. O desembargador Deoclides Mourão, tio do poeta Gerardo Mello Mourão, fez acordo com Urbano Santos para governador. Eleito, Urbano não cumpriu nada. Deoclides Mourão mandou-lhe uma carta : - Senhor governador, diz o povo que o homem se pega pela palavra, o boi pelo chifre e a vaca pelo rabo. Supondo não ter V.Exa. nenhum desses acessórios, não sei por onde começar. O empresário Lula Luiz Inácio Lula da Silva criou uma empresa que tem suas iniciais : LILS. Pois bem, ela tem como foco palestras e eventos. Lula, empresário, correrá por aqui e por acolá para fazer suas conhecidas perorações. Lula dirá o que todos já conhecem. E cobra caro : R$ 200 mil por palestra. Ele tem todo o direito de usar sua verve para sobreviver. Ele fez uma palestra, ontem, nos EUA e vai ao México fazer outra. Agora, há um aspecto que precisa ser entendido : avisou o ex-presidente que começará, em breve, um tour em portas de fábricas no ABC paulista para fazer comícios. O que Lula dirá nesses palanques abertos às 5h da manhã ? Defenderá o governo Dilma ? Cobrará medidas ? Se ficar na defesa, sua audiência poderá cair no sono. Pois, comício em porta de fábrica tem, sempre, um caráter reivindicatório. Este consultor está curioso para saber como o empresário Luiz Inácio administrará as atitudes do sindicalista Lula. Meirelles, salvação ? Henrique Meirelles tem o cargo de autoridade olímpica, mas as funções ainda não passaram pelo crivo congressual. O cronograma de obras para a Copa de 2014 está atrasado. Orlando Silva garante que está em dia. Mas não está. Meirelles é considerado, a essa altura, a tábua de salvação. Vai ter de botar o cronograma em dia. Ícone socialista Depois de algumas prospecções, esta coluna recebeu a sugestão de selecionar os mais extravagantes perfis da cena institucional. E o primeiro a inaugurar a série é o presidente da FIESP, Paulo Skaf. Pois bem, a coluna escolhe como ícone anti-socialista do Brasil ele mesmo, o Socialista do PSB, Paulo Skaf. O DEM quer lugar de Afif Guilherme Afif pode estar com os dias contados na Secretaria de Desenvolvimento de São Paulo. O DEM reivindica seu lugar. Mas o governador Geraldo Alckmin parece relutar. Ficaria mal o vice perder o cargo. Já o deputado Rodrigo Garcia deve ser o dirigente do DEM em São Paulo. Vale, objeto de desejo A Vale ganhará um novo presidente : Murilo Ferreira, que já exerceu cargos importantes na mineradora, incluindo a direção da subsidiária da empresa no Canadá. Até aí, tudo bem. A questão é saber as razões da demissão de Roger Agnelli. Que vinha enchendo a empresa de recursos. Pois foi isso mesmo que atiçou a ambição. Lembre-se que Lula sempre jogou lenha sobre a fogueira de Agnelli, cobrando dele participação da empresa na produção siderúrgica do país. Mas a mineradora, ao que parece, fechou os ouvidos a Lula, optando por permanecer apenas na área da matéria-prima. Quem comanda a Vale é um grupo formado por Previ (a maior acionista, com 49% do capital), Bradesco (21,21%), a trading japonesa Mitsui (18,24%) e BNDESpar (11,51%). Portanto, 60,5% das ações estão na esfera de influência do governo. Obama quer voltar Barack Obama cumpre o ritual com mais antecedência. Falta um bom tempo para o pleito de final de 2012, mas Obama já lançou sua candidatura à reeleição. Usou a internet. Sabe que a mídia eletrônica dá o tom midiático no momento. Quer construir uma gigantesca teia de apoios. E, claro, arrecadar meio bilhão de dólares. O presidente americano aproveita o momento em que seu nome voltou a ser prestigiado. Venceria, hoje, qualquer dos opositores republicanos. Surrealismo Surrealismo puro. É o que se pode dizer da cena em que mulher, dentro de um cemitério, em Ferraz Vasconcelos, na grande São Paulo, flagra policiais atirando - e matando - em uma pessoa. A testemunha liga para a Polícia que grava o telefonema. Está, agora, sob proteção da Corregedoria da PM. Esse é o Brasil. Todo cuidado é pouco Receio ferir o brio de uns e a sensibilidade de outros. Vejam minhas razões. A onda que cerca o território do "politicamente correto" está inundando as consciências. O problema é que a onda começa a provocar pânico. Muitos deixam de cantar "o teu cabelo não nega, mulata, porque és mulata na cor", temendo represálias. Lamartine Babo está fulo da vida. Imaginem, então, "nega do cabelo duro, que não gosta de pentear". Luiz Caldas poderá ser encanado. E a "cabeleira do Zezé, será que ele é, será que ele é". João Roberto Kelly deve ser silenciado porque sugeriu : "parece que é transviado". E o cravo que brigou com a rosa não pode mais ser cantada. Pois o cravo - o homem - e a rosa - a mulher, com essa briga, estimulam violência nas crianças. Não se pode, ademais, atirar o pau no gato, pois a música e a letra sugerem à meninada impulsos bestiais. Dizer que isso e aquilo "é coisa de veado" nem imaginar. Chamar alguém de crioulo também está proibido. Afrodescendente, e olhe lá. Aleijadinho ? Aquele famoso escultor mineiro, célebre pelo barroco mineiro ? Não pode ser chamado assim. Mas um artista com necessidades especiais. E você, leitor de mais 60 anos, abra um sorriso : não entrou na velhice. Vive "a melhor idade". 88ª colocação Daniel A. Pinheiro Astone me manda esse lembrete : "Sobre a nota do alerta do Blatter a respeito do atraso nas obras, cabe a observação feita no Twitter do senador Cristovam Buarque. Nós fazemos alarde por estarmos em segundo lugar na comparação com a África do Sul para a construção da infraestrutura da Copa, mas silenciamos quando se trata de estar na 88ª pior colocação do mundo quando o assunto é educação..." Hotel zero Km ? O deputado do Rio Grande do Norte desceu no aeroporto Santos Dumont,no Rio, pegou um táxi : - Hotel Zero Quilômetro. - Zero Quilômetro ? Não tem esse hotel, não. - Tem, sim. Em frente ao Hotel Ambassador. - Ah, Hotel OK. Senador Dantas, não é ? - Não, senhor, Deputado Antônio Bilu, de Natal. Conselho às autoridades da área energética Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo. Hoje, volta sua atenção às autoridades da esfera energética : 1. A tragédia japonesa sugere um profundo redimensionamento da questão energética do país, a partir do reestudo das usinas nucleares, em particular a Angra 3. 2. As licenças ambientais precisam incorporar novas ideias, conceitos e escopos de segurança, tendo como parâmetro os vazamentos que ainda ocorrem nas usinas nucleares japonesas. 3. O Brasil possui a maior bacia hidrográfica e um dos maiores potenciais hidrelétricos do mundo. Seria oportuno rever a questão energética brasileira, contemplando-se os recursos naturais do país. ____________
quarta-feira, 30 de março de 2011

Porandubas nº 267

Mata-o-bicho Começo com o monsenhor Aristides Rocha, mineirinho astuto, que fazia política no velho PSD e odiava udenistas. Ainda jovem, monsenhor foi celebrar missa em uma paróquia onde o sacristão apreciava uma boa aguardente. Um dia, o sacristão, seguindo o ritual, sobe o degrau do altar com a pequena bandeja e as garrafinhas de vinho e água, e não vê uma pequena barata circulando entre as peças do altar. Monsenhor interrompe o seu latim e, de olho na bandeja, diz baixinho ao sacristão : - Mata-o-bicho... O sacristão não entende a ordem. Atônito, fica olhando para o jovem padre, que repete a ordem, agora com mais energia : - Mata-o-bicho, sô! Ordem dada, ordem executada. O sacristão não se faz de rogado. Diante dos fieis que lotam a capela, ele pega a garrafinha e, num gole só, sorve todo o vinho da santa missa. No interior de Minas, Matar-o-bicho é dar uma boa bebericada. Do livro de Zé Abelha, A Mineirice. Puxão de orelhas Joseph Blatter, o poderoso presidente da FIFA, faz o alerta : o Brasil está com seu cronograma de obras da Copa de 2014 bastante atrasado. O puxão de orelhas foi mais forte : mais atrasado do que a África do Sul, quando este país organizava sua Copa. O rebote veio logo da parte do ministro do Esporte, Orlando Silva, para quem as obras seguem ritmo normal. Mas Blatter tem razão : estamos mesmo atrasados. Não adianta querer convidar o presidente da FIFA para vir aqui e ver obras em estágio inicial. Relações Públicas não adiantam nesse momento. Urge mais ação e menos discurso. Lula, doutor em Coimbra Lula recebeu o título de Doutor Honoris Causa pela Faculdade de Direito de Coimbra, uma das mais antigas do mundo. A homenagem é prestada a figuras de relevância mundial, mesmo que não sejam especialistas na matéria em foco das instituições. Por conseguinte ganha a homenagem pelo trabalho, liderança e carisma. Em matéria de Direito, Luiz Inácio continua sendo mero observador. "A inveja é como o vento : açoita mais o que está no alto". Virgílio Dilma, boa surpresa A cada dia, a presidente Dilma gera uma nova e boa surpresa. O último voto do Brasil sobre o Irã causou boa impressão nos grandes interlocutores internacionais, a partir dos Estados Unidos. O Brasil votou a favor da ida de um emissário da ONU para investigar a situação dos direitos humanos no país. Se for impedido de entrar no Irã, o relator da ONU fará sua investigação, com base em informações de dissidentes, exilados, ONGs e parentes de vítimas. A posição brasileira é considerada a decisão de política externa da presidente Dilma Rousseff que mais marcou diferença em relação à do ex-presidente Lula, que hipotecava apoio incondicional ao Irã. "Há pessoas como o diabo : se nos fazem algum favor, depois nos exigem tudo, até a alma". Dante Veoléci Minha pova A historinha parece absurda. Mas é verdadeira, tanto que os personagens têm nome. Expedito Ferreira, ex-prefeito de Aracati, cidade litorânea do Ceará, em comício animado, gritou no palanque : - "Meu povo e minha pova. Vou ser reeleito prefeito de Aracati com minha fé e as fezes de vocês". Vale ? Vale muito Por valer muito, a Vale é o objeto de cobiça do governo. Em 10 anos, o valor de mercado da Vale saltou de US$ 9,2 bilhões para US$ 176,3 bilhões. Roger Agnelli deu à mineradora bons resultados que a posicionam como a segunda maior do mundo. Agnelli, porém, sempre agiu de modo independente, guiando-se pelos parâmetros do mercado. Lula, em seu segundo mandato, sempre que tinha oportunidade, dava espinafradas no dirigente da Vale. Agora é o ministro Mantega, que deseja colocar no lugar dele um preposto. A intenção é acertar com a Previ a condução do secretário executivo do Ministério da Fazenda, Nelson Barbosa, à presidência do Conselho de Administração. "Ressentimento é como infecção : não se guarda, porque acaba contaminando o organismo todo". Jayme Torres Dois conselheiros O fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil vai substituir dois de seus quatro conselheiros na Vale : Jorge Luiz Pacheco e Sandro Kohler Marcondes. No lugar, entrariam Barbosa e o atual presidente do conselho deliberativo da Previ, Robson Rocha. Principais acionistas da mineradora, a Previ e a Bradespar (empresa de participações do Bradesco) têm um acordo tácito : a primeira indica o presidente do conselho e a segunda, o presidente executivo. Alta no Japão Dois terços dos japoneses concordam com a decisão do Governo japonês de aumentar impostos para financiar a reconstrução do país. O Japão tem um PIB de US$ 5 trilhões. O imposto sobre consumo é de 5%. Pode chegar aos 7%. Contabilidade própria ou terceirizada No passado, as organizações tinham seu próprio departamento de contabilidade, mas com a tendência de especialização, passaram a buscar na terceirização maior eficiência, competitividade e eficácia da atividade. "Hoje, o profissional contábil é peça chave na gestão das empresas e cada vez mais solicitado para fundamentar decisões estratégicas", afirma José Chapina Alcazar, presidente do Sindicato das Empresas de Serviços Contábeis e de Assessoramento no Estado de São Paulo (Sescon/SP). O custo para manter um departamento próprio gira em torno de 40% a 50% a mais ante a opção de se contratar uma empresa especializada. O Brasil conta com 496 mil contabilistas e 76 mil empresas contábeis. Destes, 137 mil profissionais e 19 mil empresas operam somente no Estado de São Paulo. Cargas perigosas Começam a chegar cargas perigosas no Porto de Santos. O Sindicato Nacional dos Fiscais Federais alega que não há equipamento para medir a quantidade de radiação nos produtos e navios que chegam ao país, vindos da Ásia. O preço do equipamento é de R$ 2.000,00. Esse é um pequeno retrato do Brasil. "Tudo é nada no mundo, o nada é tudo, porque tudo do nada foi tirado ! Porque em nada tudo é transformado, e ao nada volverá um dia tudo". Joaquim Nabuco Reformas ? Vão pras calendas Todos concordam. As propaladas reformas política e tributária podem e devem ser votadas já, já. Basta vontade política. A Comissão de Reforma Política tem prazo para terminar seus trabalhos. Que se vote, então. Já a reforma tributária depende, sobretudo, do pensamento do Executivo. Se não forem votadas este ano, irão pras calendas. 2012 é ano eleitoral. Difícil de passar matéria polêmica pelas casas congressuais. Forçar a barra Semana passada, o colunista Nelson Motta escreveu artigo sugerindo "certo clima" entre a presidente Dilma e o ex-presidente Fernando Henrique. "Clima" que teria sido propiciado durante o jantar ao presidente Obama. Nunca este consultor havia lido texto tão cheio de insinuações forçadas entre figuras exponenciais da esfera política. O texto só pode ter sido produzido para gerar impacto. Pura especulação. Ficha Limpa vai por arquivo ? A interpretação que o ministro Luiz Fux deu ao Ficha Limpa pode ter sido a mais técnica, sob o prisma de obediência aos parâmetros constitucionais. O fato, porém, é que inevitáveis questionamentos surgirão. Candidatos que se sentirem barrados em 2012 certamente vão apelar. As ações em série entupirão os canais do Judiciário. Resultado : pode ser que o projeto Ficha Limpa acabe criando bolor no baú da eterna protelação. "O mal alheio não deve curar o mal de ninguém. Todo o bem que vem por mal, o mal o leva por bem..." Antônio Correia de Oliveira Tamanho das bancadas No Brasil, o PT deve fechar, após decisão do STF sobre o Ficha Limpa, com 16,3% dos deputados Federais, seguido pelo PMDB, com 15%, o PSDB com 10%, o DEM com 8,5%, o PR e o PP com 8% cada. Cesar Maia faz o cálculo : a diferença entre a maior bancada e a quinta e sexta bancadas é de 8 pontos. E diz : "em sistema binário, como o norte-americano, seria considerada uma vantagem pequena. Por exemplo : o maior partido com 54% e o segundo com 46%". Cumprimentos A presidente Dilma faz questão de cumprimentar opositores, sem o ranço de "mantenha distância" dos tempos de Lula. Mandou um telegrama, semana passada, para José Serra cumprimentando-o pelo aniversário. "É muito bom ser importante; mas, é muito mais importante ser bom". Anônimo PSD ou qualquer outro A pergunta é : pode vingar o PSD do prefeito Kassab ? Poderá, sim. Não apenas o PSD mas qualquer outro partido que nasça com o endosso de nomes expressivos. Por exemplo, a ex-senadora Marina Silva, insatisfeita com o andar da carruagem do PV, também pensa em fundar uma agremiação. Ora, há campo para isso. É pura bobagem de alguns querer ver doutrina ou ideologia nas siglas que poderão emergir no atual ciclo político. A questão é : qual o partido que exibe bandeira ideológica hoje ? Todos parecem farinha do mesmo saco. Enquanto não houver uma reforma partidária, a moldura será fatiada por entes sem escopo doutrinário. Três grandes em queda Angela Merkel, a premier alemã, sofreu grande derrota. Seu partido foi derrotado nas eleições estaduais em Baden-Wurtemberg, o mais populoso da Alemanha. Os verdes, aliados aos sociais democratas, levaram a melhor. Sarkozy, presidente francês, enfrenta revolta de seu partido e pesquisas indicam que não conseguiria nem chegar ao segundo turno nas eleições do próximo ano. E, na Itália, Berlusconi frequenta os corredores dos tribunais. Vive um inferno astral. Mudanças à vista na Europa. Punição a rodo O PPS, dirigido pelo deputado Roberto Freire, passou a faca em um punhado de militantes, prefeitos, vices e vereadores. Está expulsando 37 filiados no Paraná por desobediência à posição do partido no pleito de 2010. A decisão do PPS é admirável. O partido já é bem enxuto. Diminui, a cada pleito, sua bancada. E se dá ao luxo de cortar infiéis ? Mas o que significa infidelidade em um universo político que está locupletado por eles ? Há quem diga, por exemplo, que o PPS gira hoje em torno do PSDB. E isso não seria considerado também uma forma de infidelidade ao programa original da sigla ? Adeus, Alencar Foram 13 anos de incessantes lutas contra um câncer na região abdominal. Foram 17 cirurgias. Foi um pedaço de vida dedicado ao empreendimento negocial e à vida pública. Despedimo-nos de nosso ex-vice presidente da República, José Alencar, acreditando na força do homem para curar os males da Humanidade. Dia chegará em que a doença que o tragou será vencida. Alencar era casado com Mariza Campos Gomes da Silva, pai de três filhos -Josué Christiano, Maria da Graça e Patrícia - e avô de cinco netos. Este consultor se junta aos fiéis que admiram a coragem e a determinação deste grande vulto. Uma oração pelo grande Zé. "Antes de cobiçar alguma coisa, é bom indagar se quem possui é feliz". La Rochefoucauld Emprego pro prural Arandu, em São Paulo, começou sua história como pequeno povoado, no bairro do Barreiro, no município de Avaré. Em 1898, um pedaço de uma fazenda leiteira da região foi doado para a construção de uma capela. Elevado a distrito de Avaré/SP, em 1944, recebeu na ocasião a atual denominação. Em 1964, conquistou a emancipação política. No primeiro comício, os candidatos a prefeito exibiam seus verbos. Dentre eles, o matuto José Ferezin. Subiu ao palanque e mandou brasa : "Povo de Arandu, vô botá agua encanada, asfaltá as rua, iluminá as praça, dá mantimento nas escola...". Ao lado, um assessor cochichou : "Zé, emprega o plural". O palanqueiro emendou : "Vô dá emprego pro prural, pro pai do prural e pra mãe do prural, pois no meu governo não terá desemprego". Historinha enviada por Marcio Assis Conselho ao ministro da Justiça Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos congressistas. Hoje, volta sua atenção ao ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo : 1. Os buracos no aparelho policial da esfera Federal são imensos. A cada dia, surgem denúncias de corrupção envolvendo autoridades e policiais. A Polícia Rodoviária Federal é apenas um pequeno retrato do acervo corrosivo, que envolve tráfico de drogas, prostituição, rapinagem, compadrismo e outras mazelas. 2. Urge fazer um mutirão de fiscalização em todos os postos de vanguarda e retaguarda, que operam dentro das estruturas sob a égide do Ministério da Justiça. 3. A assepsia que o sr. ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, está mandando fazer em diversos compartimentos da Pasta poderá se transformar em meta constante e permanente. Os desleixos e ilicitudes nas malhas do Ministério da Justiça são históricos e estão a exigir controles apurados. ____________
quarta-feira, 23 de março de 2011

Porandubas nº 266

Infame, mas engraçada.....! Dirran (com "biquinho" para parecer um francês correto), galego meio sarará, entroncado e de pernas curtas, jogava no Clube Atlético Potengi, no Rio Grande do Norte. Um dia, disputava no Machadão uma partida contra o Potyguar de Currais Novos, pela 2ª divisão do Campeonato potiguar. O jogador atleticano era o destaque. Fazia dribles desconcertantes e lançamentos perfeitos. Fechou as glórias com um golaço. O narrador da Rádio Poti gritava : "Dirran é um craque", "Dirran, revelação do futebol norte-rio-grandense". Dirran prá cá, Dirran pra lá. No final do jogo, o Clube Atlético Potengi perdeu por 3 x 1. Mas o destaque foi Dirran. Vendo todo aquele sucesso, um jovem repórter da Rádio Poti correu para fazer uma entrevista com o craque na beira do gramado. Disparou uma bateria de perguntas : "Você tem parentes na França ? Qual a cidade onde nasceu, Monsieur ? Como veio parar no Brasil ? Pode comparar o futebol, europeu com o futebol brasileiro ? Qual a origem de seu nome ? Espantado, o jogador respondeu ao incrédulo repórter : "Pera aí, meu sinhô, num é nada disso; meu apelido é Cú de Rã, mas como num pode falar na rádio. então, eles abreveia". Historinha enviada pelo amigo Álvaro Lopes. Obama carismático A visita de Obama ao Brasil foi, nada mais nada menos, um show de Relações Públicas. Um grande abraço no povo brasileiro. O cara conquista mesmo as plateias. Esbanja simpatia com seu sorriso franco. Com sua linguagem aberta. Com seus gestos pensados e milimetricamente planejados para dar ênfase à expressão semântica. Sabe usar os gestos para reforçar a mensagem. A visita, portanto, sob esse prisma foi bem sucedida. Sob o âmbito das coisas concretas, chegou a perto de zero. O Brasil tem duas reivindicações imediatas : assento no Conselho de Segurança da ONU e dispensa de visto para brasileiros em viagem aos EUA. Necas. Apenas rápida menção de acolhimento - futuro - aos temas. Protecionismo, coisa complicada A questão do protecionismo constava da pauta de prioridades dos empresários e do governo. Nada foi decidido. A política de subsídios norte-americana estiola a meta de exportação de produtos brasileiros para os EUA. O protecionismo agrícola, como se sabe, depende de decisão do Congresso americano. O país anula todos os esforços brasileiros para incrementar suas exportações. Resta esperar por acenos de boa vontade. Obama, mesmo que queira, enfrentará forte oposição no Congresso de seu país para harmonizar interesses no campo dos negócios. Segurança rígida A segurança do presidente norte-americano foi um exagero. Mesmo sendo país amigo, o Brasil foi tratado como zona de conflito em potencial. Até ministros de Estado foram severamente revistados. Interessante é que aquele espaço da Esplanada dos Ministérios é seu lugar de trabalho. Foram revistados em seu ambiente profissional. Uma aberração. Alguns chegaram a manifestar grande irritação. Lula um dia disse : se ministro meu tirar sapato em aeroporto dos EUA deixará de ser ministro. Eu demitirei. Referia-se ele a Celso Lafer, ministro das Relações Exteriores de Fernando Henrique, obrigado a tirar os sapatos quando passou pelo sistema rígido de controle nos EUA. Na época, o episódio foi muito criticado. Humilhação. Capoeira A capoeira pode até ser um ícone cultural. Mas, aqui pra nós, não é admissível que seja o prato cultural mais oferecido aos nossos visitantes ilustres. Capoeira para Obama, Capoeira para Michelle Obama e as filhas, capoeira por todos os lados é dose.... E as outras manifestações culturais ? De capoeira a capoeira, o Brasil acaba tomando uma pernada... cultural. Profissional e amador "Paciência e persistência são características que diferenciam o profissional do amador. O amanhecer só vem depois da noite ter passado". Cortes Há um novo corte do Orçamento sobre a mesa. Serão cortadas emendas de deputados e senadores, relativas aos chamados restos a pagar de 2007, 2008 e 2009. Totalizam cerca de R$ 18 bilhões, se incluídos os valores de 2010. Haverá indignação de todos, oposicionistas e governistas. Temer na Academia Amanhã, às 19h, o vice-presidente da República, o professor de Direito Constitucional Michel Temer, será empossado na Academia Paulista de Letras Jurídicas, na cadeira nº 6, cujo patrono é o desembargador Marcelo Fortes Barbosa e seu antecessor, o acadêmico e ex-senador Romeu Tuma. Michel será saudado pelo jurista Ives Gandra Martins, em cerimônia a ser presidida por Ruy Martins Altenfelder Silva, presidente da Academia e presidente do Conselho de Administração do CIEE. PSD DE Kassab Nesta segunda-feira, o prefeito Gilberto Kassab deu uma entrevista coletiva para apresentar o novo partido : PSD. Lembro que esta sigla já fez história. Foi o abrigo de grandes políticos, a partir de Juscelino e de Tancredo, e outros eminentes políticos das Minas Gerais. Vingou de 1946 a 1964. A sigla representou, por muito tempo, as elites rurais, os latifundiários, fazendo contraponto à UDN, que simbolizava as elites urbanas. Mas surgiu um outro PSD, entre 1995 e 2003. Comandado em São Paulo por Nabi Abi Chedid, que exerceu mais de 10 mandatos como deputado Estadual. O partido veio a se fundir com o PTB nacional, este já na esfera do ex-deputado Roberto Jefferson. Desta feita, Kassab quer posicioná-la um pouco à esquerda do centro. Espera ele contar com o apoio de uns 20 parlamentares, número suficiente para uma boa largada. Deverá coletar em torno de 500 mil assinaturas até 1º de outubro a fim de que possa entrar no pleito de 2012. Alckmin fecha buracos O governador Geraldo Alckmin fecha todos buracos do PSDB em São Paulo. Onde tem serristas, procura substituir por alckmistas. Diretório municipal de SP deverá ser comandado por Julio Semeghini. Tancredo : "Leu os livros errados" Brasília, Congresso Nacional, 11 de abril de 1964. Castello Branco não teve o voto de Tancredo Neves, seu amigo pessoal de longa data, companheiro na Escola Superior de Guerra, em 1956. Tancredo bateu o pé. Comunicou ao PSD que votaria em branco, apesar dos méritos e credenciais do general Castello Branco. Questão de princípio : era contra o golpe. Não queria nem um minuto de regime militar, não abria mão da democracia. Conta-se que, esgotados todos os argumentos dos pessedistas para convencê-lo, o amigo e ex-chefe JK, então senador por Goiás, fez um apelo : "Mas, Tancredo, o Castello é um sorbonniano, estudou na França. É militar diferente, um intelectual como você. Já leu centenas de livros!". Tancredo : "É verdade, Juscelino. Só que ele leu os livros errados". Dois meses depois o governo cassou o mandato e os direitos políticos de JK, que partiu para o exílio e o sofrimento sem fim. Historinha contada por Ronaldo Costa Couto. Ciro barbado Ciro circula com barba densa e branca. Alguns dizem que é para fazer charme. Outros argumentam que deseja ser comparado a filósofos gregos. E ainda um grupo acha que é puro desleixo. Lula calado De todas as explicações para a recusa de Lula em comparecer ao almoço oferecido por Dilma a Obama, no Itamaraty, a que parece mais lógica para este consultor é a que leva em consideração o domínio do inglês. Fernando Henrique conversando em inglês com o presidente americano e Lula apenas, de ouvido, cofiando a barba. Ali não dava para colocar intérprete. Corrupção no Judiciário A Escola de Direito da FGV divulgou o índice de Confiança da Justiça. Dos entrevistados (1.570 pessoas em 7 Estados brasileiros), 64% declararam que a Justiça é pouco ou nada honesta e 59% alegam que o Judiciário recebe influência do poder político ou dos outros poderes. Já o barômetro da Corrupção Global registra que, para a maioria dos brasileiros em uma escala de 1 (nem um pouco corrupto) a 5 (extremamente corrupto), o Poder Judiciário ganha a nota média 3,8, a mesma atribuída à polícia. As duas pesquisas demonstram que parte considerável da população brasileira não acredita na lisura do Poder Judiciário. Muito triste. JK : "Eu não nasci para ter ódios nem rancores, nasci para construir". Peluso quer acelerar O presidente do STF, Cezar Peluso, quer dar celeridade à Justiça, desta feita, por meio de proposta de EC prevendo que processos sejam finalizados e executados após decisão judicial em segunda instância.  Parte do princípio de que 91,69% dos processos que chegam ao Supremo são recursais. Muralha contra a China São Paulo começou a construir, semana passada, uma muralha contra a China. Reuniram-se representantes da ABIQUIM (na sede da entidade), da Abinee, da ABIT, do Sindipeças, da Bracelpa, da Abag, da ABIFA, e da própria Abimaq, com o objetivo de elaborar propostas a serem levadas ao governo Federal para reverter a situação de crescimento das importações, sobretudo da China, que maltratam as empresas nacionais. As entidades acreditam que com esse trabalho conjunto podem obter melhores resultados no sistema de defesa comercial. Afif no pleito municipal Guilherme Afif, o vice-governador de São Paulo, é o candidato in pectore de Gilberto Kassab para a prefeitura de São Paulo em 2012. Universidade corporativa Com o objetivo de contribuir para ampliar o mercado de educação continuada, o Sindicato das Empresas de Serviços Contábeis e de Assessoramento no Estado de São Paulo (Sescon-SP) se uniu à Trevisan Escola de Negócios para a gestão compartilhada dos cursos da Unisescon Universidade Corporativa, voltados a profissionais e empresários de segmentos como contabilidade, administração e economia. As aulas serão ministradas no novo prédio, inaugurado ontem, com área superior a 8 mil m2, localizado no bairro da Luz, em São Paulo. "Em breve serão também disponibilizados cursos preparatórios ao Exame de Suficiência para contadores, instituído recentemente em lei", garante José Chapina Alcazar, presidente do Sescon-SP. Lula embaixador Breve, Lula será nomeado embaixador extraordinário para Assuntos da África. A conferir ! Tá faltando munição A boataria fervia na época da Ditadura. Cícero, o boateiro mor era conhecido no Maxim's, o famoso bar do Pina, em Recife. O exército decidiu eliminar o boato. Escolheu um coronel desses muito bravos. Final da tarde, o coronel chega ao bar. E, diante do boateiro, grita : "O senhor está preso. Coloquem este indivíduo no camburão. O senhor vai ser julgado por júri militar". Levaram o dito cujo, simularam um júri e a condenação : morte por fuzilamento. Jogaram o boateiro num paredão e na sua frente 5 fuzileiros apontando armas (com balas de festim). O coronel ordenou : "Apontarrr.... fogo!". O boateiro abre os olhos depois do tiroteio e ouve o coronel : "Isso é pro senhor aprender a não falar mal das Forças Armadas. Fora daqui". No outro dia, o boateiro chega ao botequim para a boataria do dia, regada à uma cachacinha. Clientes e amigos que tinham presenciado a prisão do nosso amigo se aproximam para saber das novidades. "E aí, Cícero, Como foi lá no quartel ? Conta pra gente as novidades". Cheio de si, o fofoqueiro cochicha baixinho : "Olha, pessoal. Não contem pra ninguém. Mas o nosso Exército está totalmente sem munição". Conselho aos congressistas Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado ao novo comando do DEM. Hoje, volta sua atenção aos congressistas : 1. O carnaval passou, Obama chegou, abraçou e foi embora e o país volta à normalidade. Para isso, seria aconselhável que vossas Excelências se debrucem sobre uma pauta de prioridades. Há muitos projetos de alto interesse da Nação aguardando debate e decisão. 2. As reformas política e tributária carecem de saídas e alternativas. Chegamos ao fundo do poço no quesito inação. Temos de reagir. 3. Há temáticas que abrigam as relações do trabalho, a sustentabilidade, o desenvolvimento regional, que carecem um olhar atento e imediato dos senhores congressistas. ____________
quarta-feira, 16 de março de 2011

Porandubas nº 265

D'água ! D'água ! Historinha dos tempos de chumbo ! Newton Coumbre, pernambucano atrevido, passava em frente ao quartel de Obuzes de Olinda, logo depois do golpe de 64, levando uma bomba d'água enrolada em jornal. Dois sentinelas, fuzis em punho, avançaram sobre ele, aos tapas e pontapés : - O que é isso ? - D'água ! D'água ! Mandaram jogar o embrulho no chão e levaram-no até o coronel : - O que é que tem no embrulho ? - Uma bomba d'água. - Por que não disse logo e ficou dizendo "d'água" ? - Coronel, eu dizendo só "d'água" eles me bateram tanto, se dissesse "bomba" teriam me fuzilado. Com a verve de Sebastião Nery. Obama no Rio Pois é, o presidente Barack Obama falará aos brasileiros na Cinelândia, no Rio, que já foi palco de grandes manifestações libertárias. O local foi escolhido pela segurança do mais poderoso governante do mundo. Mas só terão acesso à praça pessoas com documento e sem bolsa. Ou seja, sem nada que possa causar desconfiança. O discurso de Obama será traduzido. Portanto, haverá uma boa pausa entre as frases. O que dará chance para Obama pensar e exprimir com mais calma perorações de efeito. Se não abrigar novidade, o discurso valerá apenas pelo efeito visual, estético. A semântica será usada nos ambientes mais estreitos de Brasília. Kassab e o PDB O prefeito Gilberto Kassab vai criar o Partido da Democracia Brasileira e dar a ele uma vida útil. A fusão com o PSB ou com o PMDB ficará para mais tarde. E, se o partido colher uma boa safra no pleito de 2012, terá condições de abrir horizontes e iniciar uma trajetória político/eleitoral. Tudo vai depender dos resultados da safra eleitoral. O PSB foi bastante questionado por membros importantes do partido, que discordaram da estratégia de fusão, defendida pelo presidente Eduardo Campos. E Kassab, por sua vez, tem dito a este consultor que quer experimentar vida nova em nova sigla. O PMDB continua a nutrir esperanças de ter o prefeito em sua casa, mas está pisando na realidade. Sabe que a migração é coisa cada vez mais difícil. Axioma positivo I "Ajuste seu fim aos seus meios. Uma visão clara e um raciocínio frio devem prevalecer por ocasião da escolha do objetivo da guerra. É loucura querer "abocanhar mais do que se pode mastigar" e é uma prova de sabedoria analisar os fatos friamente, embora sem perder o otimismo : a fé pode realizar o aparentemente impossível quando a ação for iniciada". PMDB paciente O PMDB começa a jogar no tabuleiro com as pedras que o governo Dilma lhe joga. Administra a pressão de suas bases por cargos e espaços com paciência. Já não se angustia. Demonstra jogo de cintura. Se o governo não aceita, por exemplo, nomear alguns políticos do partido para cargos técnicos, o que fazer ? O PMDB não imporá. Estão à espera de perfis como o de Geddel Vieira Lima e José Maranhão. Geddel tem mais chances que Maranhão de figurar na Diretoria da Caixa Econômica, apesar da pressão contrária do governador Jaques Wagner. O partido decidiu aguentar o fogo brando que a presidente passou para a alçada do ministro Palocci. DEM procura rumos O DEM arruma a casa, agora sob o comando do senador José Agripino Maia. Conseguiu sustar a intenção de quadros que já começavam a arrumar as malas, como Marco Maciel, Raimundo Colombo, Kátia Abreu, etc. Mas o partido, convenhamos, está debilitado. Sem força para fazer oposição. Bancada enxuta, discurso frouxo, desmotivação das bases, estiolado, fragmentado. Zé Agripino tem fala franca, densa e direta. Mas falta-lhe a base para os avanços do partido. Deverá fazer campanha de mobilização pelo país e atrair novos quadros. Tarefa complexa, eis que o DEM vive processo de descrédito. Exauriu-se no tempo. Arrumando as bases Cândido Vaccarezza, líder do Governo na Câmara, encontrou as bases governistas muito angustiadas. Com bons modos, fala mansa e ouvidos atentos, está acalmando os ânimos e conseguindo expressivas vitórias para o governo Dilma. Conselhão O Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social tem por missão debater políticas públicas e oferecer rotas e caminhos para o país. Nesse sentido, é uma ferramenta de produção de políticas e estratégias. O Ministério de Assuntos Estratégicos é um ente que trabalha na mesma direção. Sua missão é a de pensar o Brasil. Definir rumos. Escolher alternativas. Pela lógica, as redundâncias acabam contribuindo para expansão do Custo Brasil. Por que não deixar esse Conselhão sob a égide do Ministério ? Por que duas estruturas assemelhadas ? O PT, pelo visto, não quer essa fusão porque implicaria mais força ao PMDB. Que bobagem. A César o que é de César e a Deus o que é de Deus. Se a formulação de políticas está na alçada do Ministério, nada mais lógico que reúna os sistemas com a mesma identidade. Bomba contra a Fiat ! A Venice Veículos e Peças Ltda., concessionária Fiat mais antiga do Brasil, que teve seu contrato rompido, contratou o escritório do presidente da OAB/SP, Luiz Flávio Borges D'Urso, para processar criminalmente o presidente da Fiat, sr. Cledorvino Belini, por crime contra a honra. O inquérito policial já instaurado pela Venice também investiga concorrência desleal e cartel. Distritão e o voto em lista Distritão ou voto em lista ? Essas duas alternativas podem ser aproveitadas pela Comissão que estuda a Reforma Política. Hoje, há fortes defensores das duas alas. Na esteira do Distritão, serão eleitos os mais votados dentro das cotas que caberão aos partidos nos Estados. Na fila do voto em lista, serão eleitos os mais votados na lista (de cima para baixo) que o partido estabelecerá. O Distritão teria o apoio de forte corrente dentro do PMDB e o voto em lista contaria com a simpatia do PT. Apanha-se por gosto Uma professora do Pará requereu licença-gravidez para o parto do quinto filho. O governador Magalhães Barata mandou investigar, soube que ela tinha votado com a oposição. Pegou o processo, deu o despacho : "Indeferido. Nego a licença. Gravidez não é doença. Apanha-se por gosto." Grana para as campanhas Financiamento público de campanha, esse parece ser o consenso isolado dentro da Reforma Política. Guerra na arena judiciária Os nervos estão à flor da pele na esfera dos operadores do Direito. A OAB nacional faz mobilização, dia 21 de março, em defesa do CNJ, por entender que ele sofre esvaziamento por parte do STF. A campanha da OAB causa má impressão no Supremo. Alguns ministros manifestam intensa indignação contra a campanha. O presidente da Ordem, Ophir Cavalcanti, argumenta que o objetivo do movimento é o de contribuir com a transparência do Judiciário. O presidente da AMB, desembargador Nelson Calandra, contesta as críticas da OAB ao CNJ e recebe apoio de associações de magistrados dos Estados. Wadih Damous, presidente da OAB/RJ, defende a campanha da OAB, sob o argumento de que o país precisa ter um Judiciário mais próximo da sociedade. Os ânimos estão acirrados. Mas é preocupante ver operadores do Direito digladiando-se na arena. Axioma positivo II "Conserve seu objeto sempre em mente quando tiver que adaptar seu plano "à situação". Recorde que existe mais de um caminho para atingir seu objetivo, mas lembre-se de que qualquer objetivo a ser conquistado deve estar relacionado com seu objetivo". Contaminação Autoridade de Segurança Nuclear da França (ASN) informa que as explosões ocorridas na central japonesa de Fukushima Daiichi atingiram o nível seis de gravidade em uma escala internacional que vai até sete. O Japão, até o momento, classificou os acidentes em nível quatro. A tragédia japonesa, que poderá ainda mais se agravar com a contaminação nuclear, servirá de parâmetro para avaliação da energia nuclear. No Brasil, a meta é a de implantação da Usina Angra 3. Que deverá passar por nova lupa. Crise mundial ? Há alguns formuladores que projetam a tragédia japonesa no cenário mundial, considerando que a máquina produtiva da terceira potência gerará impasses e dificuldades em cadeia, podendo chegar ao Brasil. A Sony já suspendeu a operação de 10 fábricas. A Toyota, maior montadora do mundo, também mandou parar atividades nas 12 unidades que tem no país. Como se sabe, autopeças, automóveis e material eletrônico predominam na pauta de vendas do Japão para o Brasil. Axioma positivo III Escolha a linha (ou curso de ação) de menor expectativa. Procure colocar-se no lugar do inimigo e verificar qual a linha de ação menos provável a ser prevista ou prevenida. O futuro da previdência O Ministério da Previdência faz seminário, hoje e amanhã, em Brasília para debater e avaliar o futuro da previdência. Conferencistas de calibres importantes serão convidados a discorrer sobre o tema. Este consultor coordenará o último painel, na quinta-feira, às 14h30, que será dedicado ao panorama da Previdência internacional. Os amigos, os amigos Antonio Balbino, governador da Bahia, ex-ministro, perguntou a Agamenon Magalhães, governador de Pernambuco na ditadura Vargas, que receita ele dava para uma boa administração. No começo do governo preocupe-se com você mesmo : com as características de seu programa e as possibilidades de executá-lo. No meio do governo, preocupe-se com os inimigos : com o que eles dizem, para corrigir os erros. No fim do governo, preocupe-se com seus amigos : com o que eles quiserem, para que não levem você a sair do governo deixando uma má impressão. Rossano ou Falco ? Não é verdade que o governo deu espaço aberto para Rossano Maranhão decidir quando poderá assumir a Secretaria de Aviação Civil. Se ele demorar mais, o segundo nome é o de Luiz Eduardo Falco, que já foi da TAM e hoje preside a Oi. Marcio Fortes, ex-ministro das Cidades, poderá ir para o Eximbank, banco de apoio às exportações. Sem falta de Lula O governo Dilma vai completar 100 dias. Pois bem, até o momento a ausência de Dilma, se foi percebida, não é objeto de lamentações. Lula cumpre sua agenda de conferencista, embolsando um bom dinheiro, mais que Fernando Henrique cobra por palestra e, claro, bem menos que Bill Clinton. Lula aproveita bem o estoque de carisma. Onde estão os quadros ? Este consultor tem conversado bastante com importantes figuras da República. Gente respeitada e respeitável. E tem ouvido deles queixas do tipo : há falta de bons quadros técnicos nos partidos. Há políticos que precisam de escada para voltar a subir. Desses, o país está locupletado. Mas os quadros técnicos são raros. Procuram-se com lupa apurada. Partido novo ? Essa é velha Um grupo de 181 pessoas, muitos executivos de empresas do Rio de Janeiro, quer criar o Partido Novo, que reuniria empresários. Dizem que Eike Batista estaria por trás do empreendimento. Não é crível. Eike gosta de coisas mais palatáveis. Partido de empresários, no Brasil, é uma velha piada. Os bois e o eixo da roda Uns bois puxavam um carro. Como o eixo da roda rangia, eles, voltando-se, assim falaram para ele : "Ó meu camarada, nós é que carregamos toda a carga, e tu é que chias ?". Assim também certos indivíduos : enquanto os outros trabalham, eles se fingem de fatigados. (Fábulas de Esopo). Conselho ao novo comando do DEM Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos organizadores da Copa. Hoje, volta sua atenção ao novo comando do DEM : 1. O DEM precisa renascer das cinzas. Para tanto, precisa voltar às ruas das pequenas e médias cidades do interiorzão do país e sair de lá para os grandes centros com uma baciada apreciável de votos. 2. Para ganhar a confiança do eleitorado das pequenas e médias cidades, o partido haverá de calçar as sandálias da humildade, arrumar um discurso crível e atrair novos grupamentos. 3. O DEM se diz fiel escudeiro do discurso liberal no país. Em que consiste esse discurso ? Qual a proposta que tem para dimensionar o tamanho do Estado ? O que deve ficar nas mãos do Estado e o que deve ser privatizado ? ____________
quarta-feira, 2 de março de 2011

Porandubas nº 264

Nas terras de Kaddafi E já que Kaddafi vive momentos finais, pincemos aqui uma historinha de Sebastião Nery nas terras do ditador. Uma delegação de onze deputados do Rio Grande do Sul foi a Trípoli, na Líbia, recebidos por Kaddafi. Com eles, estava o deputado Neiva Moreira, diretor da revista Cadernos do Terceiro Mundo, na época o brasileiro de maiores ligações e maior prestígio em todo o Terceiro Mundo. Da delegação fazia parte o deputado Iranildo Pereira, do PMDB do Ceará, sertanejo duro e seco lá do Cariri. Que ficou escandalizado com o hábito árabe de os homens andarem nas ruas de mãos dadas. E, sobretudo, com o velho costume de se beijarem no rosto : - Seu Neiva, essa história de homens de mãos dadas nas ruas e beijando na cara, essa não. No Ceará não tem disso não. No dia seguinte, os líbios ofereciam um banquete à delegação brasileira. Neiva chamou o delegado da OLP em Angola : - Abu, preciso de um favor seu. Vou lhe apresentar um deputado brasileiro que está intrigado com o hábito árabe do beijo no rosto entre homens. Quando você falar com ele, dê-lhe dois beijos firmes. Iranildo chegou. Neiva chamou, apresentou, o Abu sapecou-lhe duas beijocas estaladas nas bochechas. Neiva aproveitou para fazer a fotografia. Iranildo, por pouco, não o esmurrou. Ciclo ácido A lua de mel do governo Dilma ameaça acabar mesmo antes da temporada de nomeações para o segundo escalão. A insatisfação começa a grassar nas ondas partidárias que formam o oceano governista. Há muita contrariedade porque os partidos - todos, inclusive o PT - não viram todas as suas demandas atendidas. E agora vem o facão dos cortes. Que, por enquanto, já chegam aos R$ 36 bilhões, dos quais mais de R$ 5 bilhões atingirão uma das mais esplendorosas vitrines do governo, o programa Minha Casa, Minha Vida, que começa a ganhar o apelido de "Meu Sonho Acabou". O pior, para a área parlamentar, é a faca nas verbas do Orçamento destinadas pelos parlamentares a programas e obras em suas regiões. Esse montante chega aos R$ 18 bilhões. PMDB ? Pode até ser coincidência, mas parcela mais violenta dos cortes atingiu os Ministérios comandados pelo PMDB, particularmente os da Agricultura e do Turismo. O corte nesta pasta foi drástico. Mas o PP (Cidades) e o PC do B (Esporte) também viram fortes cortes nos Ministérios que controlam. Quem menos foi cortado ? O PT, claro. A saída de Kassab (I) É evidente que o prefeito Gilberto Kassab não conserva mais nenhum apetite para permanecer no DEM. Não adianta Zé Agripino, o novo presidente demista, vir a São Paulo para tentar demover o prefeito de seu intento. A decisão já foi tomada. O busílis é : como sair do DEM ? Os advogados que estudam a legislação eleitoral dizem que a mais viável porta de saída está na criação de uma nova sigla. Kassab, então, decidiu formar o PDB, Partido da Democracia Brasileira. Arrebanharia uma boa turma, dentre eles, o próprio vice-governador de São Paulo, Guilherme Afif. Depois, carregaria essa turma na direção do PSB ou mesmo do PMDB. Isso é possível ? A saída de Kassab (II) Tecnicamente, sim. A lei explicita que em casos de criação e fusão de partidos, o estatuto da fidelidade partidária deixa de ser adotado. Mas os problemas aparecem quando a criação de um partido e a fusão com outro constituem mera alternativa para driblar o espírito da lei. Ou seja, na verdade cria-se apenas um mecanismo para ingresso em uma sigla já existente. Será que o TSE aceitará essa curva ? Será que o crivo meramente legal - a clara indicação da alternativa viável - predominará sobre o maquiavelismo político implícito na jogada ? Há pessoas de preparo jurídico dizendo que a jogada será endossada pelo TSE. Mas outra corrente advogando em sentido contrário. A saída de Kassab (III) Há, porém, outra questão pouco perceptível. Nem todos os agregados pelo prefeito poderão migrar para o partido desejado por ele, no segundo movimento, que é o da fusão. Alguns irão com Kassab em direção ao partido que ele escolher, outros deverão migrar noutras direções. Vale apenas lembrar que o poder, como imã, atrai os metais. Resumo : haverá certa desidratação dos partidos oposicionistas e consequente inchamento das bases governistas. Kassab, com quem conversei ontem, está atento a todos os convites e movimentos. Casa de tolerância Da verve do Sebastião Nery, mais um registro. A vereadora Lígia Lessa Bastos, da UDN, fazia discurso contra o prefeito Negrão de Lima, enfrentando os apartes dos representantes governamentais. Resolveu não conceder mais apartes. Manoel Blásques insistia, mas dona Lígia se mantinha intransigente. Quando terminou o discurso, Manoel Blásques pediu a palavra pela ordem : - Sr. Presidente, estranho o comportamento da nobre colega Lígia Lessa Bastos, pois esta Casa é reconhecidamente uma Casa de Tolerância. Mantega trôpego Este consultor faz pequena observação sobre o jeito Mantega de se comportar. O ministro da Fazenda, no início do governo, era mais assertivo. Hoje, está mais contemplativo. Pensativo. Sua fala soa trôpega. Não tão forte e segura quanto a dos primeiros dias. Um docinho Uma no cravo, outra na ferradura. Depois de cortar o programa Minha Casa, Minha Vida, a presidente Dilma anuncia reajuste médio de 19,4% no Bolsa Família. Índice que poderá chegar até 45%. A coroa da rainha O marqueteiro João Santana acha que há um vácuo no inconsciente coletivo nacional : o de rainha. E luta para que a presidente Dilma ocupe esse espaço. Por isso, incentiva ações e comportamentos que procuram realçar o perfil suprapartidário, elevado, sem rancor, imparcial da presidente. A conferir ! Kaddafi perto do fim Quando o vento corre para um lado, ninguém segura. Na Líbia, o vento está indo para um lado, Kadafi para outro. O povo é o vento. Continha salgada Sabem quanto poderá custar para a Europa, Estados Unidos e Japão a crise da Líbia ? Algo como US$ 200 bilhões. Seria o gasto a mais com importação de petróleo. Reforma política José Sarney garante que as duas Casas Congressuais chegarão a um consenso em matéria de reforma política. Acho que não. O dissenso será enorme. Visões plurais não desaguarão num mesmo canal. Brasileirão sem Globo O CADE manda tirar cláusula que beneficiava TV Globo para a cobertura do Brasileirão. TV Globo garantia uma redução de 10% do contrato. Mas a pergunta é : Brasileirão sem Globo terá muita audiência ? Ou viverá tempos de inanição ? Chalita e Erundina Gabriel Chalita quer ser candidato a prefeito de São Paulo em 2012. Mas se o prefeito Kassab entrar no partido, ele não terá vez. Por isso, pensa em sair da sigla. O problema é : como fazê-lo ? Kassab até poderá ajudá-lo. Com a ferramenta de seu novo partido. Já Erundina também ameaça sair do PSB. Ela não aceita que pessoas sem o perfil do partido estejam ou entrem nele. Paulo Skaf, presidente da FIESP, é um dos perfis que Erundina quer ver longe. Missão a ex-presidentes Nos Estados Unidos, é praxe que ex-presidentes do país recebam do governante em exercício missões no exterior. O caso mais famoso é do ex-presidente Jimmy Carter, que recebeu altas missões para desempenhar em regiões de conflito no mundo. Pois a presidente Dilma quer implantar essa prática por estas plagas. Demonstração de espírito público e visão suprapartidária. Que merece parabéns. Relação com oposicionistas Aliás, a presidente surpreende também no quesito relação com oposições. Vai repassar verbas do governo Federal aos governadores oposicionistas. Com uma condição : devem apresentar resultados. E ela promete que cobrará. Omelete e culinária pesada A propósito da presidente Dilma, ela participou do programa de Ana Maria Braga, chegando, até, a fazer uma omelete de queijo. E falou sobre amenidades. Foi também ao novo programa que Hebe Camargo começa a comandar na Rede TV. Até aí tudo bem. Trata-se de homenagem ao mês da Mulher, cujo dia Internacional se comemora dia 8 de março. Mas a presidente precisa também participar de programas de culinária mais pesada, ou seja, de pautas mais densas : cortes nos gastos públicos, como reage a pressões partidárias, a meritocracia na gestão, as prioridades e ênfases, o papel do ex-presidente Lula, o comportamento das oposições, o fim da lua de mel com a base governista, etc. E os caças ? Guido Mantega alega não haver dinheiro para comprar os caças da Aeronáutica. Deixa franceses, americanos e suecos a ver porta-aviões sem...... caças. Obama vem aí. Com a lábia forte : os nossos aviões são melhores. O que será lhe dito ? Não há dinheiro. Começo a duvidar que esse papo é apenas para inglês, aliás, norte-americano ver.... Dilma na Barreira do Inferno A visão, de longe, é feérica. Os raios de sol batem nas falésias que se debruçam sobre o Atlântico, ali naquela linda praia do Rio Grande do Norte. Os pescadores apontam para aquele feixe de raios, que parecem incandescentes, e entoam : Barreira do Inferno. O efeito é realmente encantador. Tudo isso, para dizer que a presidente Dilma vai para passar esses dias de carnaval naquela barreira. Curtindo com a família as falésias potiguares. Hora da verdade A Fundação Getulio Vargas está fazendo para a Abremar, a Associação Brasileira de Cruzeiros Marítimos, um estudo sobre o impacto econômico da atividade nas cidades onde os navios fazem escala. A movimentação não é fraca : em algumas, bares e restaurantes aumentam em até 40% o seu faturamento. O trabalho fica pronto no final de maio e pode determinar o futuro dos cruzeiros marítimos no país. Apesar da insuficiência dos nossos portos, o segmento registra expansão de 33% ao ano. A defesa Em 2010, segundo o especialista Ricardo Bergamini, o Ministério da Defesa teve uma despesa total de R$ 60,9 bilhões, sendo que R$ 41,8 bilhões (68,64%) foram gastos com pessoal militar, e R$ 19,8 bilhões (31,36%) de gastos com outros custeios e investimentos. Conselhos médicos Um médico gaúcho (omitimos seu nome por questão ética) faz sensação com a entrevista que deu a uma TV local. Eis um resumo de sua fala : P : Exercícios cardiovasculares prolongam a vida, é verdade? R : O seu coração foi feito para bater por uma quantidade de vezes e só... não desperdice essas batidas em exercícios. Tudo se gasta eventualmente. Acelerar seu coração não vai fazer você viver mais : isso é como dizer que você pode prolongar a vida do seu carro dirigindo mais depressa. Quer viver mais ? Tire uma soneca !!! P : Devo cortar a carne vermelha e comer mais frutas e vegetais ? R : Você precisa entender a logística da eficiência... O que a vaca come ? Feno e milho. O que é isso ? Vegetal. Então um bife nada mais é do que um mecanismo eficiente de colocar vegetais no seu sistema. Precisa de grãos ? Coma frango. P : Devo reduzir o consumo de álcool ? R : De jeito nenhum. Vinho é feito de fruta. Brandy é um vinho destilado, o que significa que, eles tiram a água da fruta de modo que você tire maior proveito dela. Cerveja também é feita de grãos. Pode entornar ! P : Quais são as vantagens de um programa regular de exercícios ? R : Minha filosofia é : Se não tem dor... tá bom ! P : Frituras são prejudiciais ? R : Você não está me escutando ? Hoje em dia, a comida é frita em óleo vegetal. Na verdade ficam impregnadas de óleo vegetal. Como pode mais vegetal ser prejudicial para você ? P : Flexões ajudam a reduzir a gordura ? R : Absolutamente não ! Exercitar um músculo faz apenas com que ele aumente de tamanho. P : Chocolate faz mal ? R : Tá maluco ? Cacau!!!! Outro vegetal !! É uma comida boa pra se ficar feliz !!! E lembre-se : A vida não deve ser uma viagem para o túmulo, com a intenção de chegar lá são e salvo, com um corpo atraente e bem preservado. Melhor é enfiar o pé na jaca - cerveja em uma mão - tira gosto na outra - muito sexo e um corpo completamente gasto, totalmente usado, gritando : Valeu, que viagem. E assim arremata : - Coelho corre, pula e vive 15 anos, tartaruga não corre e não faz nada e vive 450 anos. - Se você não encontrar sua metade da laranja, não desanime, procure sua metade do limão, adicione açúcar, pinga e gelo e vá ser feliz ! Conselho aos organizadores da Copa Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos congressistas. Hoje, volta sua atenção aos organizadores da Copa : 1. A própria imagem do país já começa a ficar borrada pelo atraso no cronograma das obras para a Copa. 2. Providências, programas, ações, contatos, interlocução intensa com parceiros - todas essas ideias devem fazer parte da agenda de urgências. 3. Construção de estádios, investimentos em infraestrutura e mobilidade urbana, reformas em aeroportos e portos nas 12 sedes dos jogos e demais cidades que deverão servir para o treinamento das seleções precisam obedecer a um rígido cronograma. ____________
quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Porandubas nº 263

Ô friagem ! Mais uma vez, abro a Coluna com Minas Gerais. Minas Gerais é, por excelência, o território dos "causos" da política. Em Rio Espera, na boca da Zona da Mata mineira, a 50km de Ouro Preto, um médico que se tornou prefeito fez o mais rápido discurso sem nexo que este consultor conhece. O locutor oficial, entusiasmado com um mundaréu de gente no povoado de Padilha, numa noite fria do mês de julho, conclamou o candidato a subir ao palanque. - Minha gente, atenção, vamos agora aplaudir o nosso candidato, o doutor Antônio, um homem que tanto fez para nossa gente. O verdadeiro pai dos pobres. O candidato subiu ao palco, pegou o microfone e tascou : Ô friagem ! Engasgou. Devolveu rapidamente o microfone ao locutor e pulou nos braços do povo. O dr. Guadalupe Antonio Cardoso foi eleito prefeito por duas vezes. (Historinha enviada por Fabrício Miranda) Deus te ouça, Fernando Dilma, a presidente, e Fernando Henrique, o ex-presidente, se encontraram segunda à noite, por ocasião da festa da Folha de S. Paulo para comemorar seus 90 anos. Fernando Henrique parecia dizer : "Desejo pleno sucesso à sua missão, presidente. Sei que a montanha é muito alta, mas a senhora tem plenas condições de escalá-la". Ao que a presidente retrucou, com meio sorriso : "Deus te ouça, Fernando, Deus te ouça." Deus, porém, não ouviu porque não se encontrava presente. Lula não compareceu à festa da Folha. Claro, foi convidado. Fim de quarentena Luiz Inácio aguarda com ansiedade o fim da quarentena a que se impôs. Garantiu fechar a boca até o fim da semana santa. Depois de Jesus morto, crucificado e ressuscitado ao terceiro dia, Lula vai reaparecer no cenário. Bom para ele ? Pode ser. Bom para ela ? Não. Lula com a boca aberta, e mais ainda com a língua afiada, ganhará todos os holofotes. E uma iluminação com foco em seu perfil ofuscará a nova administração. Ele, porém, será mais contido, garantem algumas línguas. Mas Lula será sempre Lula, dizem outras (más) línguas. Portanto, não falará com a língua presa. Mas Luiz Inácio no palanque é Brasil em plena campanha eleitoral. E esse clima é sempre muito ruim quando se inicia uma nova fase. "Discute-se sobre o dogma e não se pratica a moral. É porque é difícil praticar a moral e muito cômodo discutir sobre o dogma" (Montesquieu) Otimista I Chegaram aos ouvidos desse consultor casos esquisitos relativos ao maior otimista da cena brasileira. Foi candidato em um Estado importante, gastou, segundo a fonte, uns R$ 25 milhões, perdeu o pleito, mas acha que o ganhou. Um chiclete para quem adivinhar o nome. Quando se argumenta que Tiririca teve a metade dos votos dele, o sujeito escancara a cara de pau : ganhei, sim; afinal 30 milhões de eleitores passaram a me conhecer. Exemplo acabado de otimista perseverante. A promessa de Serra José Serra é uma alma atormentada pelas dúvidas. O que farei amanhã ? O que tenho de fazer hoje : combater o governo Dilma, arrumar um discurso para o tucanato, reagrupar as oposições, ser candidato à presidência do PSDB ? Afinal de contas, qual seria o melhor caminho para o ex-governador e ex-candidato à presidente da República trilhar ? A política é uma estrada cheia de curvas. Um campo minado. Urge ter muito cuidado onde se pisa. Sob o prisma pragmático, a coisa maior para atrair Serra seria a volta à prefeitura paulistana. Mas ele foi prefeito e deixou o comando da capital no meio do mandato. Pior : ele assumiu compromisso público de que não seria candidato ao governo do Estado, ficando 4 anos na prefeitura. Registrou o compromisso em cartório. Não cumpriu. A nova promessa Agora, José Serra diz enfático : "Não serei candidato a prefeito de SP, em 2012, em hipótese alguma". Quem vai acreditar ? E se ele for um candidato com imensas chances ? Será que ficaria sem mandato até 2014 ? Geraldo Alckmin, claro, postulará a reeleição ao governo. Há uma saída : disputar com Eduardo Suplicy a única vaga para o Senado a ser disputada em 2014. Este consultor acredita que Serra poderia, até, suplantar o petista. Que começa a sofrer o irreversível efeito da corrosão de material. O lulismo "O lulismo é mais complexo do que o controle burocrático partidário, embora tenha ganho musculatura a partir deste jogo e inflexão internos do PT. Forjou-se a partir de três matrizes discursivas que sustentam um equilíbrio dinâmico, assumindo um movimento pendular que privilegia, circunstancialmente, uma ou outra concepção. Foram eles o pragmatismo sindical, o vanguardismo e burocratismo partidário e o discurso técnico de gerenciamento de mercado" (Rudá Ricci in "Lulismo: Da Era dos Movimentos Sociais à Ascensão da Nova Classe Média Brasileira"). Livro que recomendo. Fundação Astrojildo Pereira/Contraponto. Otimista II O otimista contratou um maquiador pela entidade que dirige. Ainda hoje, qualquer foto que tira, mesmo que seja para o jornalzinho de Jararacuçu da Serra, tem a máscara do maquiador. Reforma em círculos ? A Comissão da Reforma Política foi composta no Senado. Será engordada com os membros da Câmara dos Deputados. A ser presidida pelo senador Dornelles, a Comissão debaterá os diversos projetos que tramitam sobre o tema no Congresso. Mas, como é previsível, a reforma andará a passos de tartaruga. E mais : será muito restrita. Alguns dispositivos poderão ser, até, consensuais, como o financiamento público de campanha. Ou mesmo o fim das coligações proporcionais. A ideia de votar em um candidato e eleger outros - por conta da somatória dos votos da coligação - tem dias marcados para ser arquivada. A reforma trabalhará com dois grandes eixos : o voto em lista com o sistema distrital misto e o distritão, o voto majoritário para deputado. Distritão Pelo distritão, os mais votados serão os eleitos dentro das cotas de cada Estado. Essa proposição, defendida pelo vice-presidente Michel Temer, ampara-se no princípio democrático : o poder emana do povo e em seu nome será exercido. O voto majoritário expressa, com muita intensidade, a vontade popular. Vem de encontro, porém, a uma de nossas mazelas : o individualismo. Os eleitores escolherão seus nomes em detrimento dos partidos. Para compensar esse aspecto, os defensores do distritão defendem que o candidato deva exercer todo seu mandato no partido. Com as exceções em casos de expulsão, mudança de doutrina pelo partido, criação de um novo partido ou fusão de uma sigla com outra. Trabalha-se, ainda, com a ideia de abrir uma pequena janela quatro meses antes do próximo pleito. Povo de Bola Gervásio Raimundo, fazendeiro, candidato a deputado estadual por Palmeira dos Índios/AL, foi fazer comício em Estrela, que antigamente se chamava Bola : - Povo do Bola ! Atrás dele, Waldemar Sousa Lima, escritor, biógrafo de Graciliano Ramos, conserta ao ouvido : - Gervásio, eles não gostam de ser chamados de povo do Bola. - Meus queridos amigos bolivianos ! Waldemar ficou aflito : - Gervásio, boliviano é quem nasce na Bolívia. - Ó xente, e não é tudo Brasil ? Acabou o comício. (Causo contado pelo amigo Sebastião Nery) O mártir desejado O ditador líbio, Muammar Gaddafi, garante que não deixará o comando da Líbia, "a nação de seus ancestrais". Morrerá no "honrado solo de seu país". Eis o tipo de mártir que a galera gostaria de ver. Carnaval pobre Salvador vai mal das pernas. O prefeito João Henrique (PMDB), que deve se filiar oficialmente ao PP em março, enfrenta uma das piores crises política e financeira de seu mandato. As contas municipais se aglutinam e os serviços públicos municipais e terceirizados afundam no poço da deterioração. Sem recursos, trens, postos de saúde, médicos e funcionários do SAMU (Serviço Médico de Urgência) e funcionários de empresas de vigilância privada estão paralisando as atividades gradativamente. O prefeito foi eleito pelo PDT em 2004 e pelo PMDB em 2008, fazendo aliança com o DEM/BA. Rompeu com o PT e o governador. Otimista III O otimista obriga diretores de Escola a colocar os alunos em uma fila sob o sol a pino do meio-dia para recebê-lo. O também narcisista pega a bandeira do Brasil com uma mão, coloca a outra no peito, e, impávido, desfila entre os alunos agrupados sob o sol ardente. Que gritam e cantam em sua saudação. Hitler, orgulhoso com seu rebento, abre longo sorriso. Descobriu o Brasil. Voto em lista O voto em lista, por sua vez, reforça a posição dos partidos. Que escolhem os nomes e dá posicionamento a cada um na lista. Os mais votados, de cima para baixo, serão os eleitos, dentro das cotas partidárias. A queixa é a de que os caciques partidários, que mandam nas siglas, organizem os nomes de acordo com critérios pessoais de preferência. Haverá sempre suspeitas e questionamentos. Outra ideia é a de combinar esse voto em lista com o voto no candidato do distrito. Nesse caso, o eleitor é motivado a votar no candidato mais próximo às suas demandas, por lógica, os representantes da região, de um bairro ou de um grupo de bairros. A dificuldade está na definição/estabelecimento do distrito. Nova CPMF Os governadores dos Estados passam o chapéu na feira permanente organizada pelo governo Federal. A questão é : as despesas com a folha, os encargos, os compromissos com precatórios, essas contas estouram os orçamentos estaduais, diminuindo, a cada ciclo administrativo, o montante de investimentos. E se os investimentos decrescem, os serviços públicos se tornam mais precários ante demandas crescentes. A equação torna-se insolúvel. Por conseguinte, os governadores querem encontrar novas maneiras de arrumar dinheiro. E uma nova CPMF é reivindicada. O nome tornou-se quase uma blasfêmia. Não seria aprovada. Um novo imposto sob um novo nome ? Isso será possível. A conferir ! Campos quer crescer Eduardo Campos, o neto de Arraes que governa Pernambuco, quer mesmo desbancar o PMDB como parceiro do PT e do governo. Melhor dizendo : deseja tomar o lugar de Michel Temer na chapa de Dilma para 2014. É assim que começa a ser vista sua movimentação para atrair o prefeito Gilberto Kassab e torná-lo principal guardião dos interesses do PSB em São Paulo. Campos convidou-o para ingressar no partido, prometendo a ele o domínio da sigla em São Paulo. Kassab, que há tempos pensa em sair do DEM para o PMDB, está avaliando suas chances nos dois partidos. Já pendeu mais para o PMDB, hoje está mais propenso a ingressar no PSB. De 0 a 10, dou 7. Mas o vice-presidente Michel Temer não desistiu da empreitada. A Revolução da Informação O mundo árabe está em ebulição. O povo vai às ruas. Decide enfrentar os esquemas de repressão. A fileira de mortos se expande. Mas o oxigênio da liberdade invade os pulmões dos cidadãos. Cai um ditador, outro vive os estertores. Alguns prometem leis democráticas. Os regimes ditatoriais no mundo, enfim, começam a fechar as portas. Frestas se abrem sinalizando novos rumos, deixando passar os ventos da liberdade. E tudo isso acontece graças à Revolução da Informação. As redes sociais da Internet propiciam a mobilização, a formação de cadeias de união e solidariedade. O futuro chegou. Viva ! Viva ! O maior lucro O Itaú Unibanco viu seu lucro crescer em 32,3% em 2010, chegando a R$ 13,3 bilhões. Ultrapassa o Banco do Brasil (R$ 11,7 bilhões). É o maior lucro da história do setor bancário no país. Em 2009, o lucro foi de R$ 10,1 bilhões. Pode-se, até, dizer que, sob a administração do petismo, os ricos nunca ganharam tanto dinheiro. O cheiro de fertilidade Eis uma informação curiosa. Psicólogos da Universidade Estadual da Flórida garantem que descobriram o cheiro da fertilidade. Como ? Pedindo que mulheres dormissem com a mesma camiseta por 3 dias, sem maquiagem e com o mínimo contato visual com jovens homens voluntários. Os níveis de testosterona dos rapazes ficaram mais altos com a exposição ao odor do sexo oposto em seu período de ovulação. Os homens apresentam alterações fisiológicas em resposta ao ciclo fértil das mulheres, aumentando as chances de reprodução e os tornando mais fiéis. Atenção, atenção, senhora e senhores ! Aprimorem o olfato. Conselho aos congressistas Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos vereadores. Hoje, volta sua atenção aos congressistas : 1. Nunca o ambiente esteve tão favorável a uma reforma política como o que se vive neste momento. Aproveitem essa onda favorável para reformar costumes e práticas da política. 2. Tenham em mente as distorções, desvios e contrassenso que reinam na política. O sistema de representação precisa corresponder ao princípio básico da democracia : o poder emana do povo e em seu nome deverá ser exercido. 3. Procurem fazer o máximo em matéria de reforma. Nem que as novas ferramentas e dispositivos sejam implantados mais adiante, em 2014 ou mesmo 2018. ____________
quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Porandubas nº 262

Lugar de almirante Sandra Cavalcanti era deputada da Arena, foi ao interventor Faria Lima : - Almirante, tenho três reivindicações do partido para tratar com o senhor. - Pois não, deputada. - A primeira é a transferência de um fiscal do Estado para a capital. Ele está no interior, mas é um funcionário antigo e já merece uma posição melhor. - Deputada, lugar de fiscal é na fiscalização. Qual é a segunda reivindicação ? - É um gari doente, governador. Não pode ficar tomando chuva. Queríamos levá-lo para a sede da Comlurb, mas o Marcos Tamoyo não concorda. O senhor podia falar com ele ? - Deputada, lugar de gari é na rua. Qual é a terceira ? - Uma professora de Campo Grande. Por problemas de família, precisa vir para a Secretaria. - Lugar de professora é na escola, deputada. Só isso ? - Só, governador. Muito obrigada, até logo. E antes que me esqueça : lugar de almirante é no navio. E foi embora. Quem conta é o amigo Sebastião Nery. Contenção e alerta Ainda não dá para fazer grande retrato sobre o governo Dilma. A própria permanece contida. Fez uma fala em cadeia nacional de TV, com abordagens já conhecidas, puxando o fio da confiança. O empresariado está quieto, em estado de alerta, procurando desvendar detalhes, esboços, pensamentos. No geral, os setores produtivos estão na expectativa. Há uma queixa, sim, sobre a expansão dos importados. Abarrotam as nossas prateleiras. Há uma reivindicação maior por parte da produção : desonerar a folha. E isso, anotem todos, isso vai ocorrer. Certo alívio vai ser proporcionado. A questão é o timing. Mantega sob pressão O ministro Guido Mantega permaneceu na equipe por sugestão especial do presidente Lula. Uma espécie de fiador da continuidade. Mas ele nunca foi totalmente palatável por Palocci, que age como primeiro-ministro do governo. Mantega é (ou era) considerado um ministro do bolso largo, gastador. Agora, vive sob pressão. Seus ouvidos recebem apelos constantes e intensos : segure a barra, não deixe a inflação disparar. E Dilma decide cortar R$ 50 bilhões do orçamento. Onde serão os cortes ? Nas verbas destinadas a projetos dos deputados. Vai haver chiadeira ? Vai, sim. Mas governo iniciante tem capacidade de prender as lágrimas, conter as pressões. Por enquanto. Salário mínimo A prova da tese acima exposta é o próprio salário mínimo. Núcleos da própria base governista gostariam de trabalhar com a proposta de R$ 560. Mas Dilma fechou questão em torno dos R$ 545. E vai ser mesmo o salário. Deve haver um furo entre 130 a 150 votos contrários. Mas o rolo compressor do governo empurrará o salário pela garganta dos descontentes. Lupi sob cabresto Quem não está numa posição confortável é o ministro Carlos Lupi, do Trabalho. É evidente que sua posição é a do cara espremido entre a cruz e a caldeirinha. Seu PDT, liderado por Paulinho da Força, aparece defendendo o salário de R$ 560. Lupi chegou a se manifestar nessa direção, mas a presidente o enquadrou. Eis aqui algo interessante e que pode abrir cenários para especulação. Temos um ministro endossado pelas Centrais Sindicais. Essas entidades não mantêm com o governo Dilma a mesma aproximação que tinham com o governo Lula. Dilma as conserva à distância. Lupi é um perfil corporativo. E os perfis corporativos não estão se dando muito bem na atual administração. Sólido e líquido Uma grande indagação se incrusta nos horizontes do amanhã : qual e como será o papel das Centrais Sindicais no governo Dilma ? Se continuarem a fazer manifestações nas ruas e nos corredores congressuais, poderão dar ideia de que estão agindo contra o governo. Na gestão anterior, elas conseguiram praticamente tudo o que reivindicavam. Agora, encontram resistências. Como ficará Lupi ? Do lado das Centrais, que endossam sua manutenção no cargo, ou do lado do governo ? Se a opção for por este, deverá continuar sólido, sob a contrariedade das Centrais; se optar por estas, deverá ser "líquido", e nessa condição, teria dificuldades para se manter na posição. Mineirice, segundo Zé Abelha Político mineiro é como essas fitas adesivas. Adere, depois começa a melar e finalmente descola. Aí, desprega. Em matéria de sexo eu não aceito as novidades. Eu sou antiquado. Sexo pra mim é como o jogo de pingue-pongue : só dá pra dois. Perfis corporativos Na sequência do desenho acima, podemos desviar os olhos para os partidos políticos. A presidente não tem se curvado às pressões partidárias, deixando de nomear certas pessoas para cargos no governo. O exemplo mais forte é da indicação dos nomes do PMDB - leia-se Eduardo Cunha - para ocuparem diretorias em Furnas. O sentido corporativista está sendo realinhado neste governo Dilma. Não significa que ela fechará portas aos partidos. Continuará a governar com eles. Mas não aceita imposições. Os nomes devem ser ilibados, com carimbo técnico, e reconhecida experiência. Trata-se de um diferencial significativo da atual administração, comparando-se com o conceito de "terra arrasada", que predominava no governo anterior. Segundo escalão A presidente age nesse momento para evitar rompimento dos diques governamentais. Cada coisa no seu devido canto e no adequado tempo. As nomeações para o segundo escalão vão ocorrer, claro. Mas de maneira menos atabalhoada e mais focada nas adequações dos perfis aos cargos. Os perfis do PMDB com mais condições de ganharem cargos, logo após a votação do salário mínimo, são os de Geddel Vieira Lima, José Maranhão, Hélio Costa, Rodrigo Rocha Loures, Orlando Pessuti e Iris Rezende. Os outros partidos também encaminharam nomes. A relação está sendo analisada pelos ministros Antônio Palocci (Casa Civil) e Luiz Sérgio (Relações Institucionais). DEM com chapa única O DEM deverá ter chapa única na convenção de 15 de março, que definirá o novo comando do partido. José Agripino ou Marco Maciel deverão encabeçar a chapa. Pelas curvas mineiras No dia 31 de março de 64, Benedito Valadares encontra José Maria Alkmin e Olavo Drummond no aeroporto de Belo Horizonte : - Alkmin, para onde você vai ? - Para Brasília. - Para Brasília, ah, sim, para Brasília. Saem os três andando para o cafezinho. Benedito põe a mão no ombro de Olavo : - O Alkmin está dizendo que vai para Brasília para eu pensar que ele vai para o Rio. Mas ele vai é para Brasília mesmo. Mineiro diz que vai entrar na curva, mas entra mesmo é na reta. Kassab vai para onde ? Gilberto Kassab é um dos mais argutos políticos deste país. Tem tino e alta sensibilidade para captar mudanças de vento e de estação. Quer sair do DEM, mas dá débil sinal de que poderá nele permanecer; quer entrar no PMDB, mas pisca um olho para o PSB; acena com a possibilidade de criar um novo partido para, mais adiante, fazer sua fusão com... PMDB ou o próprio PSB. O PMDB percebeu sua movimentação e começa a dar sinais de inquietação. Espera que ele ingresse no partido em março. Já o PSB, de Eduardo Campos, tem grande interesse em cooptar Kassab. Vejamos as razões. Mineirices, uai Mineiro não adere, se acomoda. Depois, se incomoda e dá o troco. Mineiro prefere não saber a dizer. Três coisas preocupam : mineiro falando, mineiro escutando e mineiro calado. A atração do PSB O PSB é um partido de esquerda. Hoje, dirigido pelo governador Eduardo Campos, sua estrela mais ascendente, o partido tem forte inserção no Nordeste. Precisaria ter uma contrapartida no Sudeste, junto aos maiores colégios eleitorais do país, São Paulo e Minas. Kassab entraria como luva na mão nesse projeto. Poderia se transformar na ponta avançada de uma estratégia para ocupar espaços dominados pelo PSDB e pelo PT. Esses dois partidos começam a dar sinais de saturação. O PSB, engordado com a fusão do PDB, Partido da Democracia Brasileira, seria algo novo, a bola da vez, a sigla que poderia cooptar as classes médias urbanas, núcleos intelectuais insatisfeitos com as velhas siglas, etc. Diz-se que Lula estaria incentivando esse maquiavélico projeto, que é uma alavanca para quebrar a fortaleza tucana em São Paulo. Voto facultativo É bem provável que mudanças na área da política abriguem o voto facultativo. Já estamos maduros para aprovar a ideia. E o PMDB ? O PMDB poderia ser também o partido a abrigar o PDB de Kassab. O problema é a garantia da vaga para a candidatura ao governo em 2014. Kassab teme que o partido não lhe abra todas as portas. Hoje, o partido está sob o controle do vice-presidente Michel Temer. Que tem boa relação com o prefeito de São Paulo. Michel apenas expressa um aviso : há no partido alguns grupos que devem ser considerados e respeitados, a partir do grupo comandado pelo ministro Wagner Rossi, da Agricultura. Seu filho, Baleia Rossi, preside, hoje, a Comissão Provisória, eis que o Diretório Estadual foi auto-dissolvido. Kassab prefere o PMDB por ser um partido com maior capilaridade. A questão é : a janela que propiciaria sua migração. Trata-se de uma alternativa, mas é muito difícil sua aprovação logo agora em março. Esse é o X da questão. Nesse caso, a criação de um novo partido volta a ser a opção mais forte. Atraso ? Sei não. A base para a Copa e as Olimpíadas está cheia de buracos. As equipes olham para os espaços e não sabem por onde começar. Os Gomes e as viagens Os Gomes do Ceará, Cid, o governador, e Ciro, o irmão, ex-ministro, ex-deputado e ex-candidato a muita coisa, apreciam viajar pelo mundo afora. Vez ou outra o governador Cid é flagrado em viagens que abrem críticas. Agora, está no exterior, viajando em um Falcon do Grupo Grendene. Grupo que recebe incentivos fiscais do governo do Ceará. Mais mineirice A velhice tem duas vantagens : não ir pra guerra e acreditar nos planos do governo. Mineiro só tem medo de quatro coisas, porque são imprevisíveis : caneta de Juiz, bunda de neném, vaca prenha e urna. Político mineiro não adere a político grande pra não ficar pequeno. Fux e o ficha limpa Esse ministro Luiz Fux deverá fazer bonito no STF. Preparado, culto, esforçado, aberto. Respira ares de modernidade. Trata-se de um ministro que assume compromissos sérios com a meta de administração da Justiça. E já se diz plenamente favorável ao projeto ficha limpa. Com ele a decisão : a lei valerá para as eleições do ano passado ? Hoje, o caso está empatado. Paes contra Meirelles Henrique Meirelles, escolhido por Dilma para ser Autoridade Pública Olímpica (APO), responsável pelos programas da Copa de 2014 e das Olimpíadas de 2016, começa ser bombardeado. Desta feita, pelo prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, que gostaria de ver pessoa mais ligada a ele no comando daquelas operações. Sua alegação é a de que o Rio terá papel de vanguarda na realização do programa. Orlando Silva, o bom ministro dos Esportes, é outra pessoa inconsolável com a perda dessa operação. Padilha O ministro Padilha, da Saúde, faz bom trabalho nesse início. Sem alardes, mas elegendo prioridades. Conselho aos vereadores Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado às Centrais Sindicais. Hoje, volta sua atenção aos vereadores : 1. A Casa Parlamentar dos Municípios é construída com os tijolos da base do edifício político do país. Deve ser, por excelência, a casa mais aberta às demandas do povo. 2. Por isso, no momento em que o país inaugura um novo ciclo político-administrativo, urge que as Câmaras de vereadores procurem respirar o ar das municipalidades, interpretando os sentimentos e expectativas das comunidades. 3. Em vez de debater questões individuais ou de abrir polêmica sobre apoios e oposições aos prefeitos, as Casas Legislativas deveriam organizar pautas de alta significação social, a partir da infraestrutura física e da rede de serviços sociais. ____________
quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Porandubas nº 261

Twitter Para aqueles com acesso à rede, aqui está meu endereço no Twitter : @GaudTorquato E vamos aos nossos flashes e traques. Lei-te, Murilo, Lei-te Sebastião Nery conta que Jânio estava hospedado na casa do deputado Murilo Costa Rego, no Recife, na campanha para presidente da República. Acordou com sede : - Murilo, tu podes providenciar-me um uísque ? Murilo providenciou. Quando o garçom chega com a garrafa, está entrando na sala uma comissão de prefeitos pernambucanos. Jânio não se perturba : - Eu disse leite, Murilo. Lei-te. Veio o "lei-te". Que o candidato sorveu com prazer ! Para tristeza da cabeça. Centrais x Dilma Essa eu quero assistir de camarote : Centrais Sindicais contra governo Dilma. Centrais soltaram documento indicando rompimento com a presidente. Coisa para inglês ver. Se esse rompimento tivesse uma base mínima de solidez, deveriam as Centrais sair de todos os espaços que ocupam na administração Federal, a partir do Ministério do Trabalho, onde a Força Sindical implantou o ministro Carlos Lupi. As Centrais defendem o salário mínimo de R$ 580,00, sinalizando, porém, um acordo no patamar de R$ 560,00. Dizer que Dilma está rompendo com 8 anos de gestão Lula em favor de interesses do setor financeiro é uma grande besteira. Imaginem se Dilma fosse ceder a todas as pressões das Centrais. Lula puxa a orelha Se Lula, segundo as Centrais, foi o máximo na defesa dos interesses dos trabalhadores, agora puxa as orelhas dos sindicalistas. Pois nessa matéria do salário mínimo, em sua viagem ao Senegal para participar do Fórum Social Mundial, Lula simplesmente disse que os sindicalistas estão sendo "oportunistas". Nesse caso, o documento das Centrais contra Dilma acaba sendo um bumerangue. Bate, de volta, na casa das Centrais. Que, meio confusas, saem com esta : "Lula perdeu a chance de ficar calado". PMDB Serrista Há um grupo de 12 peemedebistas que querem se "vestir" de autênticos. Liderados por Osmar Serraglio, do Paraná, fazem agora um manifesto criticando o "fisiologismo" do PMDB. Esquecendo que nenhum partido viceja, hoje, sem entrar nos espaços da administração. Procurei fundamentos para entender as razões do Grupo. E constatei : são remanescentes do Grupo Serrista. Eleitores que votaram em José Serra para presidente. Perderam a eleição, ficaram sem rumos e espaços no partido. Mas fazem barulho e vão continuar abrindo visibilidade. Lula com Chávez Lula passará 5 dias com Chávez na Venezuela. Ainda este mês. Vão fazer exercícios de alongamento nas falas do programa presidencial na TV. Bahia sem todos os santos A Bahia já não é cantada como Terra de Todos os Santos. Há muito, se diz que virou Terra de Todos os Pecados. Brincadeiras à parte, a Bahia virou, agora, terra da violência. O dado é estarrecedor : 61 mortos para cada 100 mil habitantes, índice que assusta até o ranking da ONU. Fico imaginando os efeitos dos programas de distribuição de renda no Nordeste, a partir do Bolsa Família : era para termos um ambiente mais amigo, solidário, igualitário. O que vemos é a barbárie dos assassinatos. O que está acontecendo, Jaques Wagner ? Cadê você, Jaques Wagner ? Cristina traída Cristina Kirchner acaba de receber uma boa notícia : Nestor, o marido falecido, tinha uma amante, uma ex-secretária que agora revela o segredo. A moça bota no ar aquele roteiro mais que conhecido : veio do Sul, deixou tudo para ficar perto do amante. Eram apaixonados. Cristina traída será uma Cristina vítima. Que receberá a solidariedade de milhares de argentinas e de famílias conservadoras. Será mais uma injeção para vitaminar a reeleição da presidente no próximo outubro. A conferir ! Romário Em matéria de política, Romário bate um bolão !!! Lula e Mubarak Em 2003, Lula visitou o Egito e festejou a ditadura de Osni Mubarak. Nessa semana, no Fórum Social Mundial, no Senegal, Lula execrou o ditador. Minha velha mãe, do alto dos seus mais que respeitados 94 anos, sempre me lembra : "meu filho, nunca diga - desta água não beberei". Crueldades Um turco se encontra com um canibal. "Sois muito cruéis", disse o maometano. "Comeis os cativos que fazeis na guerra". Ao que o canibal replicou: "E o que fazeis dos vossos ?" Resposta : "Ah, nós os matamos, mas, depois que estão mortos, não os comemos". Montesquieu, autor desta historinha, arremata : "Não há povo que não tenha sua crueldade particular". Levantando a poeira Apreciei bastante o Pai Nosso rezado pelos sambistas do Rio de Janeiro no meio das cinzas e da fumaça do incêndio que devastou as tendas de 3 Escolas de Samba. Prejuízo calculado em R$ 20 milhões. Mas não há dinheiro para pagar o esforço, a criatividade, a união de pessoas e comunidades que, há um ano, dão o melhor de si para abrilhantar o desfile de suas Escolas. O Pai Nosso rezado sob as cinzas abre as esperanças que o carnaval carioca, mesmo sob forte impacto, desfilará soberbo, garboso, exuberante na passarela do Samba. Quer ver ? Padre Aneiko, deputado estadual pelo PDC, vinha do Paraguai. Na fronteira de Foz do Iguaçu, encontrou-se com duas amigas, que lhe pediram para passar com uns perfumes de contrabando. Arrumou no cinturão, embaixo da batina. Na Alfândega, o fiscal pergunta : - Alguma mercadoria, padre ? - Não. - E aí embaixo da batina ? - O que tem aqui embaixo é dessas duas moças. Quer ver ? O fiscal não quis. Imbróglio à vista A mesa da Câmara tomou a decisão de dar posse aos suplentes eleitos pelas coligações e não aos nomes dos partidos, isoladamente. O imbróglio está no ar. Em 2007, o TSE, respondendo a uma consulta sobre fidelidade partidária, fixou que o mandato no sistema proporcional pertence ao partido. De lá para cá, a confusão se estabeleceu. Até o momento, o STF não julgou o mérito dessa questão. Decisões dadas às liminares individuais foram no sentido de dar ao partido o direito à suplência. O poder político, exercido pela Câmara, tem interpretação divergente. Essa pendenga deverá ser decidida em breve. Este consultor já escreveu artigo sobre o tema. Se a coligação existe e elege, é a ela que deve caber a vaga. Táticas Conselhinhos para o cotidiano. Em terreno dispersivo, não lute. Em terreno fácil, não pare. Em terreno controverso, não ataque. Em terreno aberto, não tente barrar o caminho do inimigo. Em terreno de estradas cruzadas, una-se aos aliados. Em terreno seco, saqueie. Em terreno difícil, marche sempre. Em terreno cercado, recorra a estratagemas. Em terreno desesperador, lute. Tiririca Quando perguntaram a Tiririca qual seria seu primeiro projeto na Casa ? Ele gaguejou... - Na ...Casa, nesta Casa...... ? Fazer uns esticadinhos para botar mais 2 banheiros no Gabinete. PT dividido Não é apenas o PMDB o partido de querelas e divergências. No PT, as brigas entre alas se ampliam. Há um grupo descontente com a presidente Dilma. Integrado por Arlindo Chinaglia, Jilmar Tatto, Henrique Fontana e Odair Cunha, entre outros. Fizeram campanha contra Vaccarezza, reconduzido à liderança do Governo na Câmara, em reconhecimento ao seu bom trabalho. Pressa de chegar "Só quem realmente deu a volta ao mundo inteiro tem pressa de chegar em casa". (Chesterton) ACM Neto segura ? O novo líder do DEM, deputado ACM Neto, é ágil, faz boa articulação, perfil respeitado. Conseguirá, com todo esse aparato, segurar as forças do DEM que pretendem se desvencilhar do partido ? Acho difícil. O DEM perde substância a cada ciclo legislativo. Não tem discurso. Como, aliás, todos os outros partidos. Não faz oposição como deveria fazer. Falta a ele visão estratégica. Poderia renascer com a vitamina de uma reforma política. Por isso, acho que Kassab, prefeito de SP, e Colombo, governador de SC, mais cedo ou mais tarde, procurarão outros nichos. Pena mínima O rapaz era advogado novo em Princesa Isabel/PB, ia defender um criminoso de morte a faca. Procurou o coronel Zé Pereira, dono da cidade : - Coronel, preciso conseguir pena mínima para meu cliente. Se não conseguir, não tenho carreira aqui. O coronel prometeu. Terminou o julgamento, pena mínima. O advogado foi agradecer a vitória ao coronel, que valorizou a ajuda : - Doutor, o senhor não calcula a força que eu fiz para conseguir a pena mínima. Todo mundo queria absolver o homem. Salário mínimo Prova de fogo do governo Dilma será na próxima semana, quando será votado projeto de lei, em regime de urgência, sobre salário mínimo de R$ 545,00. Prova de fogo do líder do governo na Câmara, Cândido Vaccarezza. Meirelles Informei em primeira mão que Henrique Meirelles havia sido escolhido para ser a Autoridade Pública Olímpica, o comandante dos programas para a Copa e Olimpíadas. Pois bem : continua convidado. Mas o PC do P chiou. Quer que a área continue sob sua égide. O bom ministro Orlando Silva bem que gostaria de acumular as funções de APO e ministro dos Esportes. A presidente Dilma pediu para Meirelles esperar um pouco mais. Parábola O sujeito encontra um tesouro escondido no campo. O que faz ? Esconde-o de novo. Cheio de alegria, corre, vende tudo o que tem para comprar aquele campo. Suplentes de senadores Agoniza a tese dos suplentes sem voto que assumem o mandato na vaga do titular. Este consultor aposta na tese de que os suplentes sem voto têm os dias contados. Os que estão na planilha, claro, têm direitos adquiridos. Mas há uma forte indicação de que as vagas, no impedimento do titular, serão preenchidas pelos candidatos votados, obedecendo-se à escala do mais votado ao menos votado. Maluf O pedinte se aproximou de Maluf quando ele chegava à Câmara dos Deputados e tascou : - Deputado, me arranje um cinquinho para um lanche. Maluf, apressado, responde na lata : - Não, meu amigo, não podemos dar gorjeta. Somos proibidos. A lei não permite. Vão dizer que estou comprando votos. O pedinte não se conforma : - Mas doutor, ninguém tá vendo. Ninguém. Só nós dois. Maluf, olhar matreiro, aponta o polegar para o céu : - Você se engana, meu amigo. Somos nós dois e Ele. Ele, lá em cima, está nos vigiando. Sorrateiro, deixou o pedinte a olhar para os céus. A transparência de Netinho José Police Neto, o presidente da Câmara de Vereadores de São Paulo, é um perfil que respira o cheiro do tempo. Antenado ao clima e às circunstâncias. Acaba de criar a figura do Ouvidor da Câmara. Pessoa que agirá como "os sentidos" do corpo legislativo municipal. Netinho quer implantar uma estrutura comprometida com todos os ideais republicanos : transparência, clareza, agilidade, dinamismo, operacionalidade, integração de áreas e espaços, participação do cidadão no processo legislativo. Netinho expressa modernidade institucional. Na esteira do Brasil das Reformas. Verlaine "Violinos com seu choro assombram o outono e eu, corpo morto de torpor, me abandono" ( Les sanglots longs des violons de l"automne blessent mon coeur d'une languer monotone - Paul Verlaine) Conselho às Centrais Sindicais Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos novos congressistas. Hoje, volta sua atenção às Centrais Sindicais : 1. Tenham cuidado na formatação de propostas em relação ao salário mínimo e a outras demandas de natureza econômica. 2. Não exijam um salto maior que as pernas do país podem dar. 3. Os avanços e conquistas do sindicalismo nos últimos tempos chegam a assombrar por sua dimensão e expressão. Cuidado : tudo de mais é veneno. O ciclo político que se abre convida a decisões parcimoniosas e equilibradas. Sem exageros e radicalismos.
quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Porandubas nº 260

Compre um paraquedas Na Escola Superior de Cinema da PUC de Minas Gerais, o professor Pedro Paulo Santos lecionava a filosofia da arte. Inteligência fulgurante. Dominava os alunos com charme e cultura. Não conseguia, porém, transmitir aos futuros cineastas os seus conhecimentos, muito além da capacidade da turma. Certo dia, Pedro Paulo, absorto, desligado, voava alto nas suas considerações sobre a imagem cinematográfica. De repente, uma interrupção : - Professor, quando o senhor terminar toda a matéria, nós vamos receber diploma ou brevet ? Pedro Paulo, com a sua proverbial elegância, apenas murmura : - Quem não estiver preparado, que compre um paraquedas ! Melhor que a encomenda Este consultor tem ouvido por aqui e por ali : Dilma está indo bem; está melhor que a encomenda. Pinço as razões : discreta, sem açodamentos, sem o uso (nem abuso) do palanque de Lula; fazendo, até o momento, um gerenciamento eficaz. E as pressões dos partidos, como são administradas ? Via Palocci. O Chefe da Casa Civil tem funcionado como o balcão de procura e oferta, o organizador dos espaços. Quando as pressões são mais contundentes, principalmente por parte dos grandes partidos, como PMDB, o vice-presidente, Michel Temer, entra em cena. Michel tem feito o papel de algodão entre cristais. Furnessiês Pois é, o neologismo acima quer dizer : os dossiês de Furnas. O ministro Luiz Sérgio, das Relações Institucionais, recebeu um dossiê apócrifo, de 3 laudas, contendo desvios e impropriedades que teriam sido cometidas por indicados do PMDB. A encomenda foi empacotada para derrubar o atual presidente, Carlos Nadalutti, ligado ao deputado Eduardo Cunha (PMDB/RJ). Foi enviada ao ministro por Jacob Bittar, que é do PT e exerce o cargo de secretário de Habitação da Prefeitura do Rio, cujo prefeito é Eduardo Paes, do PMDB. Cunha, não conformado com o balaço, levantou a questão dos aloprados. Aí a coisa esquentou. A presidente Dilma pediu ao vice Michel e a Palocci que equacionassem a questão. O ministro Lobão, das Minas e Energia, tem a solução "técnica" nas mãos. Em busca do Eldorado Na verdade, os partidos - todos - buscam o Eldorado, os espaços recheados de tesouros do governo Dilma. Orçamento de Investimentos nas Estatais : R$ 107,5 bilhões. Grupo Petrobrás, R$ 91,3 bilhões; Grupo Eletrobrás, R$ 8,1 bilhões; Furnas (grupo Eletrobrás), R$ 1,26 bilhão; Chesf, R$ 1,5 bilhão; Eletrosul, R$ 445 milhões; Companhia Docas, R$ 705 milhões; Conab, R$ 2,8 bilhões; DNIT, R$ 15,5 bilhões; DNOCS, R$ 892,8 milhões. Essa é a montanha que os partidos tentam escalar. Os Capiberibes Este consultor sempre teve os Capiberibes, do Amapá, em bom conceito. E acredita que eles são vítimas de armação política, coisa sórdida que se espraia no país, na esteira da competitividade eleitoral. Há mais de 4 anos, o casal Janete e João, ela deputada, ele, senador, passam por um corredor polonês armado para corroer sua identidade. João foi eleito senador em 2002 e Janete, eleita deputada em 2006. Processo contra eles : teriam comprado 2 votos de duas empregadas domésticas por R$ 26, cada uma. Foram cassados em 2008. Processo que se revelaria cheio de fantasias. Nas últimas eleições, João foi novamente consagrado nas urnas. Janete, deputada mais votada. Ganharam novo processo. E o TSE os cassou novamente. A cassação de João refere-se a um caso do mandato anterior. E agora ? Os próximos 8 anos são também cassados ? Sei não. Parece emboscada. STF dará palavra final. Eleitores negam Suprema Corte deverá examinar melhor as curvas das denúncias. Processo contra João e Janete tem coisas inconsistentes : 6 eleitores que constam como testemunhas negam ter recebido dinheiro para votar no senador e na deputada. Jeito de armação. Meirelles, o Apo Henrique Meirelles deverá ser a Autoridade Pública Olímpica. Em termos mais legíveis : o comandante da avalanche de obras para a Copa de 2014 e para a Olimpíada de 2016. De expert em finanças, câmbio e juros, para obreiro mor dos esportes nacionais. Meirelles é um quadro que não poderia ficar dependurado na parede. Socorro, socorro ! João Botelho, candidato a prefeito de Belém, passou o dia inteiro anunciando um comício, à noite, na praça Brasil. Chegou na praça, não havia ninguém. Será que estou no lugar errado ? pensou. Será que não estou enganado ? Perguntou ao assessor. - Não houve engano não, deputado, a praça é esta mesma. Foi ao bar mais perto, pediu dois caixotes de madeira, pôs no centro da praça, subiu e passou a berrar alucinado : - Socorro, Socooorro, Socoooooooro! Correu gente de todo lado para ver o que era. Plateia arrumada, Botelho começou o comício : - Socorro para um candidato... E fez o comício. Posse e afastamento Ontem, tomaram posse os 513 deputados e os 54 senadores da 54ª legislatura. Muitos deputados pedirão imediatamente licença para voltar aos Executivos Estaduais. Constituem uma reserva técnica dos governadores. Reassumirão o cargo no Parlamento sempre que necessário para aprovação/desaprovação de matérias de alta prioridade. Sarney e a promessa Registro histórico : Sarney se reelege mais uma vez como presidente do Senado. Promete lutar pela reforma política. E diz que é a última vez como presidente. A conferir. Maia regimental Rodrigo Maia adaptou o regimento do DEM para harmonizar a expressão do partido. É o que alega. Mas a tal harmonização teve esta medida : diminuição do poder do Conselho do Partido em detrimento do aumento da força do presidente. Coisa ardilosa. Para coibir quaisquer decisões que pudessem atrapalhar as intenções do presidencialismo partidário. Janela para Kassab O prefeito Gilberto Kassab carece de uma janela para fazer a migração partidária entre DEM e PMDB. Sob o prisma de mera migração pessoal - sua saída para o PMDB - diz que tem motivos fortes. E ancorados em pareceres jurídicos. Essa harmonização de linguagem feita pelo presidente Rodrigo Maia, por exemplo, poderia ser mais um argumento para justificar a saída do prefeito. Ocorre que Kassab não quer migrar sozinho. Gostaria de levar um bom conjunto, algo como 20 parlamentares, 50 prefeitos e até um ou outro senador. Por isso, precisaria de uma janela mais segura. O galo, doutor Newton Rique era candidato a prefeito de Campina Grande, em 63, contra o deputado Langstine Almeida. Foi fazer comício no bairro de Casa da Pedra. Mandou bala no aumento do custo de vida : - Imaginem que uma galinha está custando mil cruzeiros. Quem pode comer uma galinha de mil cruzeiros ? Lá no fundo, um bêbado gritou : - O galo, doutor ! Acabou o comício. Projeto Dornelles A ferramenta mais adequada para abrir a janela tão ansiada por Kassab seria o projeto do voto majoritário, de autoria do senador Dornelles. Esse projeto está entrando na pauta do senado. Acaba com o voto proporcional, consequentemente com as coligações proporcionais, e estabelece o voto majoritário. Os mais votados em cada Estado serão os eleitos, dentro das cotas estaduais. Pois bem, como se trata de matéria constitucional, estaria claramente justificado o argumento para a migração partidária. Abrir-se-ia, por exemplo, a janela de um mês para reajustamento das camadas parlamentares. Novo regime, novas disposições. A janela constaria das medidas transitórias. Ciro Gomes Depois de rodar boa quilometragem no espaço das especulações, deverá sobrar para Ciro Tiroteio Gomes a coordenação da Zona de Exportação (ZPE) do porto de Pecém, no Ceará. Estado governado pelo irmão Cid Gomes. Papel tem pernas O cidadão chega à repartição e pede para ver seu processo. Ouve : - "Ah, tem muitos outros na frente. Vai demorar um tempão até ser despachado. Papel, doutor, não tem pernas". Agastado, o interlocutor reage : - "E quanto o senhor quer para por duas pernas nesse papel ?" Tiro e queda. O adjutório fez o papel correr rapidinho. Movimentos sociais Os Movimentos Sociais e as Centrais Sindicais estão meio desconfiados da presidente Dilma. Que não tem feito, pelo menos até o presente, encenações demagógicas para atrair a simpatia dos movimentos. A presidente tem sido recatada. Não posou com boné do MST, não fez mesuras para as Centrais, e tem tratado de maneira litúrgica as pressões e demandas de setores organizados. Vamos ver se os Movimentos, tão acariciados por Lula, farão movimentações paredistas. Marta e Pimentel Marta, um ano, e José Pimentel, também um ano : esse foi o pacto assumido por Marta Suplicy e José Pimentel no rodízio da vice-presidência do Senado. Trata-se de uma inovação. O PT quer dar vez aos seus representantes na mesa do poder. Marta e Pimentel chegam com muita sede ao pote. 2º escalão Eis alguns nomes e pleitos do PT : Claudio Vignatti (SC), derrotado ao Senado, disputa a presidência da Eletrosul; Zeca do PT (MS), candidato derrotado ao governo, quer ir para uma diretoria da Itaipu; Rodrigo Soares (PB), candidato a vice derrotado, deseja dirigir a SUDENE; Paulo Rocha (PA), candidato impugnado ao Senado, quer ir para a Eletronorte. Eis alguns nomes e pleitos do PMDB : Geddel Vieira Lima (BA), candidato derrotado ao governo, quer presidir a CHESF, mas também enxerga a BR Distribuidora ou a CBTU; José Maranhão (PB), derrotado ao governo, pode ir para a vice-presidência de loterias da CEF : Orlando Pessuti (PR), ex-governador, gostaria de ir para uma diretoria de Itaipu; Rocha Loures (PR), ex-deputado e candidato derrotado ao cargo de vice-governador, ainda não tem destino. Prioridades da CNI A Confederação Nacional da Indústria quer liderar duas frentes : projeto que concede autonomia financeira para as Agências Reguladoras e projeto para Regulamentação do Trabalho Terceirizado. Fidelidade partidária Guararé era cabo eleitoral do governador do Maranhão, Sebastião Archer. Convenção do PSD, alguém acusou Guararé de puxa-saco. Guararé puxa o argumento : - Cada um puxa quem pode. Eu puxo o senhor, governador Archer. O senhor já puxa o senador Vitorino Freire. E o senhor puxa o general Dutra. É a lei da fidelidade partidária. Tucanos se bicam Sérgio Guerra se lançou candidato à presidência do PSDB. Mas José Serra quer o mesmo cargo. Porque precisa de visibilidade para se manter na cena política. Geraldo Alckmin, governador de São Paulo, garante que se Serra desejar, terá seu apoio. Mas os alckmistas não fecham essa corrente. A briga dos tucanos é de quebrar o bico. Aécio Neves, o senador todo poderoso dos tucanos, não quer ver Serra dirigindo o partido. Nem Tasso Jereissati. Ou seja, Serra vai ter de rebolar para subir o serrote do poder. E Lula, hein ? Vi uma foto de Lula no estádio Primeiro de Maio, em São Bernardo, onde liderou assembleias de metalúrgicos nos anos 70. Desta feita, Lula assistia à partida entre Corinthians e São Bernardo. O fato é este : na foto, Lula dava uma entrevista. Usando a gesticulação de comício. Mão direita bem ao alto, mão esquerda segurando dois microfones, boné sobre a cabeça e boca muito aberta, na expressão de um grito palanqueiro. Dizia ele, sincero : - Tenho de desencarnar da presidência. E tem mesmo. Lula continua circunscrito à ideia do poder central e absoluto. Conselho aos novos congressistas Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos novos dirigentes. Hoje, volta sua atenção aos novos congressistas : 1. Procurem enxergar as asas do tempo. Que voam rápidas. Vejam que caminhos seguem. Que ares ocupam. 2. A dinâmica social no Brasil é intensa. Novas demandas, novas pressões, sentimentos inovados. Procurem auscultar a alma social. 3. As redes sociais estão multiplicando o estado de atenção no país. Lupas estão sendo focadas para o Parlamento. É hora de ajustar a cabeça para evitar cabeçadas. Pensem com a cabeça e arremetam com o coração. Evitem a síndrome do touro : que faz exatamente o contrário. ____________
quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Porandubas nº 259

Filho inepto Velhos tempos. Tempos de deboche e criatividade. O deputado Luís Viana Neto estava na tribuna da Câmara : - Filho e neto de governadores da Bahia... Lá embaixo, o deputado Francisco Studart (MDB-Rio) gritou : - Não apoiado ! - Senhor deputado, sou filho e neto de governadores da Bahia. - Perdão, excelência. Entendi mal. Entendi : "Filho inepto de governadores da Bahia"... Risadas gerais na Câmara. Caças da FAB no ar A questão da aquisição dos caças da FAB está no ar. Ou subiu no telhado, como queiram. A presidente Dilma suspendeu por enquanto a operação. Lula já quase havia se comprometido com os caças Rafale, da França. Agora, além dos franceses, suecos, norte-americanos, os russos, que haviam sido desclassificados, voltarão a participar. O senador americano John McCain, que passou por aqui para fazer um pouco de pressão, disse que a Boeing poderia transferir tecnologia para o Brasil. A análise deste consultor, depois de conversas de bastidores, converge para a seguinte pontuação : 1. Franceses ainda estão em primeiro lugar, com 87 pontos; 2. Os Gripen suecos vêm em segundo lugar, com 72 pontos; 3. Os F18 Super Hornet americanos aparecem em terceiro com 65 pontos; 4. Os russos ainda não receberam cotação. Atenção : a pontuação é deste consultor. Primeira quinzena com Dilma Vamos lá. Como Dilma se comportou em sua primeira quinzena ? Bem. Melhor do que previsões apontavam. Discrição, expressão contida, exigência de harmonia na equipe, enquadramento geral. Melhor na frente da economia do que na vanguarda dos Direitos Humanos. Na economia e na administração, apontou para controle de gastos, choque de gestão, racionalização, prioridades no PAC etc. Passou bem no teste. Chamou o general José Elito Siqueira, chefe do Gabinete Institucional e pediu para que explicasse o que quis dizer com a declaração de que "os casos de desaparecidos políticos devem ser tratados como fatos históricos". O general disse que não disse o que disse. Querelas na frente política Mas o pito no general não teve correspondência em outras áreas. A ministra Iriny Lopes, da Secretaria de Política para as Mulheres, se disse favorável ao aborto. Sua fala foi entendida como aceitação do governo em defesa do aborto. Na campanha eleitoral, porém, a então candidata Dilma se manifestou contrariamente ao aborto. Na frente política, reside o maior imbróglio. Dilma ainda não se deu conta de que poderá ser atrapalhada mais adiante, caso não contemple satisfatoriamente os partidos que integram a base com os espaços correspondentes ao seu peso. O PT detém 60% dos cargos. O PMDB, 13%. Papagaio come milho Por isso mesmo, o PMDB começa a colar no ditado que expressa sua indignação ante a fome petista : papagaio come milho e periquito leva a fama. Briga boa no PSB O PSB vive também a sua querela. As alas dos governadores Eduardo Campos, de PE, e Cid Gomes, do CE, lutam para impor seus nomes e fixar territórios no governo Dilma. Campos quer emplacar sua mãe, a deputada Ana Arraes, como líder do PSB. O governador cearense quer outro nome. Campos já havia ganho a parada da indicação do ministro Fernando Bezerra Coelho no Ministério da Integração Nacional. Campos quer dar o troco. E, por falar em Cid, cadê o Ciro Gomes ? O chá ? Hidrata Thirsty ? New study says tea hydrates faster than water. Pois é, o chá hidrata mais rápido que a água. Interessante matéria da revista Time. Mais pérolas do Enem I - A fé é uma graça através da qual podemos ver o que não vemos.- Os estuários e os deltas foram os primitivos habitantes da Mesopotâmia.- O objetivo da Sociedade Anônima é ter muitas fábricas desconhecidas.- A Previdência Social assegura o direito à enfermidade coletiva.- O Ateísmo é uma religião anônima. Garcia em tom maior Marco Aurélio Garcia, assessor internacional da Presidência, ganha mais espaços e poder no governo Dilma. Está mais desenvolto e, ao que parece, menos receoso de trombar com o Itamaraty. Garcia amplia a equipe. E garante que será o intérprete mais próximo de Dilma em matéria de aconselhamento e posicionamento internacional. O Itamaraty formulará e executará a política externa. E ele fará as pontuações e ênfases sobre agenda política não diplomática, atuando ainda como porta-voz para questões internacionais e preparando densos dossiês para a presidente Dilma. A vida... Variações sobre a vida : dois homens olham para fora de dentro das grades - um vê o barro, a lama; outro vê as estrelas no céu ! Só no Brasil I Anotem aí : um motorista do Senado ganha mais para dirigir um automóvel do que um oficial da Marinha para pilotar uma fragata ! Um ascensorista da Câmara Federal ganha mais para subir e descer com os elevadores da casa, do que um oficial da Força Aérea que pilota um Mirage. Um diretor que é responsável pela garagem do Senado ganha mais que um oficial-general do Exército que comanda um regimento de blindados. Só no Brasil II Um diretor sem diretoria do Senado, que porta um título de direção para justificar o salário, ganha o dobro de um professor universitário Federal concursado, com mestrado, doutorado e prestígio internacional. Um assessor de 3º nível de um deputado, com um título de assessoramento para justificar seus ganhos, ganha mais que um cientista-pesquisador da Fundação Instituto Oswaldo Cruz, com muitos anos de formado, e que dedica seu tempo buscando curas e vacinas para salvar vidas. Silêncio geral Flávio Ribeiro, presidente da Assembleia (depois foi governador), estava irritado com as galerias, que aplaudiram e vaiavam durante um debate entre o deputado comunista Santa Cruz e o udenista Praxedes Pitanga. De repente, tocou a campainha, pediu silêncio e avisou, grave : - Se as galerias continuarem a se manifestar, eu evacuo. Felizmente, as galerias se calaram. Coelho censurado ? Afinal, Paulo Coelho foi ou não foi censurado no Irã ? Dúvidas. O Ministério de Relações Exteriores diz que não. Outros dizem que sim. Polêmica. Parece que isso é o que deseja Paulo Coelho, o mais consagrado autor brasileiro no exterior em todos os tempos. Censurá-lo seria uma burrice nesses tempos de globalização. Morrer, dormir.....dormir ? Talvez sonhar. Shakespeare A morte... Variações sobre a morte. Quase todos os dias, sinto ao redor uma morbidez expressiva : fulano está com isso; sicrano, com aquilo. Está desencantada. Elas, as pessoas referidas pelos interlocutores, estão irreconhecíveis. Essa é a sombra da morte. Que, antigamente, morava mais longe. Em cidades distantes. Hoje, ela está ali na esquina. À espreita. Um passinho mais arriscado, pimba. Leva as pessoas ! Estilhaços de bomba ! Vem mais bomba do canhão do Wikileaks. Um antigo banqueiro suíço deu ao site centenas de contas de clientes suspeitos de evasão fiscal ! O banqueiro é Rudolf Elmer, que será julgado na Suíça por romper regras do sigilo bancário. Ricos brasileiros : contenham-se ! Evitem o enfarte ! Entre os 2000 nomes a serem divulgados estão empresários, artistas e cerca de 40 políticos. Os nomes serão publicados ! Filho do joalheiro Quem deve aparecer por estas plagas é Alberto Torregiani, filho do joalheiro morto por membros do grupo esquerdista do ex-militante Cesare Battisti. Virá dar sua versão dos fatos. Sua história poderá influenciar na decisão de extraditar o ex-terrorista para a Itália. A fé em Nhá Chica No meio de tanta aflição, a semente da fé aponta : Nhá Chica, Francisca de Paula de Jesus, ganha processo de canonização. Nhá Chica nasceu em São João del Rei/MG em 1810. Era descendente de escravos, analfabeta. Passou quase a totalidade de sua vida no município de Baependi/MG, onde se dedicou às obras da Igreja e a ajudar aos mais necessitados. Mais uma brasileira que sobe ao altar da admiração. Brasil mais doente Volto a insistir na reflexão : o Brasil deste janeiro está mais doente do que o de janeiro de 2010. Dengue. Leptospirose. Tragédias. Mortes anunciadas. Multiplicam-se as manchetes sobre os custos materiais da tragédia. Agora, são R$ 2 bilhões. E o custo espiritual ? Quanto é o custo da dor ? Mais pérolas do Enem II - A respiração anaeróbica é a respiração sem ar que não deve passar de três minutos.- O calor é a quantidade de calorias armazenadas numa unidade de tempo.- Antes de ser criada a Justiça, todo mundo era injusto.- Caráter sexual secundário são as modificações morfológicas sofridas por um indivíduo após manter relações sexuais. PMDB X PT Os dois partidos decidiram fazer uma trégua na guerra pela disputa de espaços. O PT já tem 60% dos 21 mil cargos na área federal. PMDB tem 12%. A trégua poderá ser interrompida após a eleição de Marco Maia (PT-RS) para a presidência da Câmara. Não é verdade que o PMDB esteja tramando algo contra essa candidatura. O partido quer cumprir integralmente o compromisso assumido de eleger, agora, um petista e, no segundo ciclo da legislatura, abrir vez para um peemedebista, no caso, o próprio líder Henrique Alves. Michel Temer, o vice-presidente, faz interlocução com outros partidos, pondo água na fervura. Ufa, Sakineh viva Sakineh, ufa, não será enforcada. A primeira boa notícia do ano em matéria de Direitos Humanos. Deputada do Irã comunica decisão a Dilma. Mas o Irã continua a dizer que está tudo na mesma. País misterioso. O poder ? O poder não é apenas afrodisíaco. O poder é um Viagra ! O DEM com Zé José Agripino (DEM-RN) deverá ser o novo presidente do DEM. Marco Maciel, que seria o candidato de Jorge Bornhausen e Gilberto Kassab, tem menos chances. Perdeu a eleição para o Senado. Ademais, Kassab está saindo do DEM em direção ao PMDB. Por que se envolveria em mais uma querela interna ? Entupa-se Francisco Antônio de Maria, Chico Bocão, era presidente da Câmara de Vereadores de Patos. Numa sessão agitada, um assistente deu um aparte lá das galerias. O presidente tocou a campainha : - Entupa-se. Não aceito apartes de membro de fora. E o MST, hein ? MST volta a invadir fazendas. Crônica de invasões anunciadas. Justiça : crônica de lentidão anunciada. E assim caminha o Brasil ! Mortes anunciadas ? Sérgio Cabral, no ano passado, disse sobre o desastre de Angra : é a crônica de uma morte anunciada. Hoje : continuamos a ler a mesma crônica. O que Cabral escreveu de novo ? Centrais e a fogueira Tudo indica que as Centrais Sindicais terão atuação incendiária nos próximos tempos. A temporada do grito começa esta semana com a mobilização pelo salário mínimo de R$ 580,00. O governo já decidiu que o mínimo será de R$ 545,00. As Centrais montarão outras fogueiras mais adiante. E esperam contar com a identidade do futuro presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS), que tem origem no sindicalismo. Como Lula, foi torneiro mecânico. Baby Doc Baby Doc volta ao Haiti depois de 25 anos. Saiu com uma tonelada de dinheiro roubado. Volta nos braços do povo. Festejado pelos Tonton Macoute, a feroz polícia da velha ditadura do Papa Doc, o paizão de Baby. É assim a Humanidade ! Os pastores de Eike Eike Batista mandou vir de jatinho dos EUA dois pastores alemães. Os cães viajaram sem escalas. Em primeiríssima classe. Eike comunica-se com eles em alemão. Vítimas da tragédia da região serrana do Rio acenam com um SOS na direção do bilionário ! Querem um adjutório. Falam a língua dos desesperados. Conselho aos novos dirigentes Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado às lideranças empresariais. Hoje, volta sua atenção aos novos dirigentes: 1. Em matéria de prevenção de tragédias, deixem o discurso de lado e partam para a ação. Organizem, produzam, coordenem planos de prevenção para todas as áreas de risco de seus territórios. 2. Não deixem para amanhã o que podem fazer agora. E evitem repetir o velho diagnóstico de que as tragédias podem ocorrer se providências não foram tomadas. 3. Assumam o compromisso público nessa matéria. E façam desse compromisso uma crença a ser diariamente lembrada e relembrada. ____________
quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Porandubas nº 258

Saudação aos presidentes Juscelino Kubitschek, presidente da República, foi ao Ceará com Armando Falcão, ministro da Justiça. Sebastião Nery conta que Falcão, cearense, levou JK a um desafio de cantadores. Um cego estava lá, com sua viola, gemendo rimas. Juscelino chegou, cumprimentou-o. O cego respondeu na hora : - Kubitschek, ai, meu Deus, que nome feio. Dele eu só quero o cheque porque do resto ando cheio. Um ano depois, a mesma cena. Jânio Quadros, presidente, vai a Fortaleza, há um desafio de cantadores. Chega com os óculos grossos e longos bigodes, um cantador o vê, saúda : - Vou louvar o meu patrão que já vem chegando agora. Engoliu a bicicleta e deixou o guidão de fora. Nunca mais ninguém levou presidente para ouvir cantador no Ceará. Lula, o revisor Os depoimentos de familiares de mortos na Itália, vítimas do terrorismo, pouco deixam dúvidas : Cesare Battisti esteve diretamente envolvido com os crimes. Um dos familiares chega a contar, de maneira dura, que viu a cara de Battisti. Confirma que este atirou pelas costas em seu familiar. O Judiciário da Itália, por sua vez, não faria uma condenação sem provas. Sem argumentos. Sem um escopo acusatório denso. Sob esse prisma, a extradição decidida pelo Supremo Tribunal Federal, em dezembro do ano passado, apresenta-se como o caminho mais adequado. Lula negou a extradição. Francisco Rezek, que já foi ministro do Supremo e hoje integra a Corte de Haia, é enfático : Lula não poderia agir como revisor do STF e nem da Carta Magna. Um absurdo. Fiquei meditando sobre a índole de Lula. E, olhando para os meus botões, chego à inferência. O STF está diante do lema : dar a Lula o papel de revisor ou fazer valer a sua decisão anterior. Confiram em fevereiro. Lula, o diplomático Luiz Inácio continuará caminhando pelos palanques. Aqui e alhures. Vai circular sob patrocínio de seu Instituto, cujas ações estarão voltadas para o continente africano e outras plagas onde ele poderá semear os programas sociais da era Lula, como Bolsa Família, Minha Casa, Minha Vida, Luz paraTodos etc. Lula deverá continuar a fazer perorações recheadas de metáforas e simbolismo. A mídia lhe dará visibilidade. Nesse ponto, emergirá a dissonância : apesar de falar como ex-presidente, seu discurso poderá ser entendido como a extensão do pensamento da presidente Dilma. Dor de cabeça para o Itamaraty. Pois a linha que embasa a visão da diplomacia brasileira será ajustada. Não conterá tanta ênfase em defesa de regimes como o do Irã. O país deve resgatar o bom relacionamento com as grandes Nações. Hoje, um pouco embaçado. O viés diplomático de Lula poderá prejudicar esse esforço. Lula, o carismático Pergunta recorrente : e o estoque de carisma de Lula não se esgotará ? Resposta : não, no curto prazo. O estoque tem massa suficiente para atravessar grandes distâncias. A nova gestão Vejo com otimismo o escopo da nova gestão pública que se inaugura no país sob a égide da responsabilidade : melhorar a qualidade dos serviços; reequilibrar as finanças; cortar despesas de custeio; revisar contratos; extinguir cargos comissionados; aumentar a eficiência do gasto público; promover um salto de desenvolvimento, socialmente equilibrado e ambientalmente equilibrado, e por aí vai. É natural que um repertório tão pleno de promessas sérias e boas intenções faça parte da rotina de quem começa a navegar o barco. Mas a saúde financeira dos Estados, de tão debilitada, impõe razoável dose de credibilidade ao discurso dos comandantes que assumem o leme até o final de 2014. Pérolas da nova safra do ENEM - Lavoisier foi guilhotinado por ter inventado o oxigênio. - A harpa é uma asa que toca.- O vento é uma imensa quantidade de ar.- O terremoto é um pequeno movimento de terras não cultivadas.- Os egípcios antigos desenvolveram a arte funerária para que os mortos pudessem viver melhor. Passaportes Não vejo corrupção no fato de representantes com mandato do povo terem direito a passaportes diplomáticos. Errado é concedê-los a amigos da Corte. Blitzkrieg Para alcançar êxito, os novos governantes deveriam se inspirar no princípio maquiavélico e realizar uma blitzkrieg agora, quando iniciam o ciclo administrativo. Entre o meio e o final de governo, será mais complexa a missão de reformar processos. Alguns conhecem a receita por já terem-na aplicada em seus Estados. Diminuir despesas de custeio é a primeira disposição. A folha de salários tem sido uma área crítica. Nos últimos 10 anos, os gastos com custeio nos Estados saíram do índice de 1,1% para mais de 6% do PIB.PT X PMDB Vamos convir : ninguém aguenta mais a lengalenga entre PT e PMDB. Muitos jornalistas, nesse interregno sem notícias de impacto, "cozinham" matérias : retocam velhas abordagens. Impressiona a capacidade de não dizer nada de novo e repetir o mantra : o fisiologismo do PMDB. Que coisa mais falsa. Todos os partidos são fisiológicos. E mais : fisiologia por fisiologia, quem está correndo com mais sede ao pote é o PT. Que tem 19 ministérios. Que nomeia cargos para o 2º escalão de maneira despudorada. Que invadiu territórios tradicionais daquele partido. O PSB, de Eduardo Campos, também se engalfinha. E pega seu filão. O PDT, idem. A maior parte dos articulistas tem preguiça de fazer conexões. E o PT acaba sendo elevado à condição de sigla incorruptível. Mais pérolas do ENEM II - A unidade de força é o Newton, que significa a força que se tem que realizar em um metro da unidade de tempo, no sentido contrário.- Lenda é toda narração em prosa de um tema confuso.- O nervo ótico transmite ideias luminosas ao cérebro.- A febre amarela foi trazida da China por Marco Polo.- Os ruminantes se distinguem dos outros animais porque o que comem, comem por duas vezes. Cursinho A Câmara decidiu abrir um curso para ensinar aos novos deputados suas funções e atividades. Não será uma Escolinha do Professor Raimundo. Mas Tiririca será um dos alunos. Audácia é pouco Algumas empresas de prestação de serviços são mesmo audaciosas. Arriscam-se a prestar serviços à Superintendência Regional do Trabalho em São Paulo, órgão fiscalizador das relações trabalhistas entre o patrão e o empregado, deixando de depositar o FGTS de seus colaboradores. Mas a virada já começou. Tais empresas fichas-sujas estão sendo afastadas e outras estão na mira da Superintendência. Vender barato sai caro Pesquisas apontam : a maior parte dos Policiais Militares feridos ou mortos em conflitos urbanos está a serviço de empresas que "vendem" serviços de segurança. São policiais que fazem "bico". Por isso mesmo, sem qualquer registro trabalhista ou outras obrigações legais, estes serviços são bem mais baratos que os prestados por Empresas Regulares de Segurança. Ocorre que o risco da atividade é transferido para o Estado. No caso de infortúnio, é o Estado que arcará com o custo do afastamento do serviço dos policiais e, até mesmo, com as consequências de sua morte. Urge acender uma lupa mais forte sobre empresas inescrupulosas. Mais pérolas do ENEM III - Péricles foi o principal ditador da democracia grega.- O problema fundamental do terceiro mundo é a superabundância de necessidades.- O petróleo apareceu há muitos séculos, numa época em que os peixes se afogavam dentro d'água.- A principal função da raiz é se enterrar.- A igreja, ultimamente, vem perdendo muita clientela.- O sol nos dá luz, calor e turistas.- As aves têm na boca um dente chamado bico. O Harakiri de Aurélio Aurélio Miguel, o vereador do PR na Câmara Municipal de SP, quer reinventar a tradição do Harakiri. Levou para o plenário da Casa uma espada sugerindo que o vereador Goulart (PMDB) fizesse dela uso em um Harakiri, costume dos samurais para a autopunição após uma derrota. Consistia no suicídio com um corte no estômago. O vereador Goulart obedeceu a decisão do seu partido em fechar questão e votou em José Police Neto (Netinho) para a presidência da Câmara. Atendendo à disposição do Diretório Municipal, honrou, portanto, o código partidário. Se Aurélio Miguel portasse efetivamente a bravura que quis demonstrar, poderia usar a espada curta (wakizashi) para praticar o ato honroso ante a derrota de seu candidato Milton Leite. Como era costume dos samurais.Troccoli A Itália decidiu dar refúgio ao uruguaio Jorge Troccoli, que teria contribuído para o desaparecimento de muitos oposicionistas da ditadura uruguaia. Alega que Troccoli, um dos agentes da Operação Condor, tem dupla cidadania. Perde força a Itália com a exigência de extradição de Cesare Battisti. Mais pérolas do ENEM IV - O coração é o único órgão que não deixa de funcionar 24 horas por dia.- Quando um animal irracional não tem água para beber, só sobrevive se for empalhado.- A insônia consiste em dormir ao contrário.- A arquitetura gótica se notabilizou por fazer edifícios verticais. Poetisa maior Getúlio Vargas tinha uma admiração enorme pela poetisa Rosalina Coelho Lisboa, mulher de um dos diretores da Cia. Sul América de Seguros. Um dia, conversava com Agripino Grieco, o crítico feroz : - Você não acha, Agripino, que a Rosalina é a maior poetisa do Brasil e da América do Sul ? - Da América do Sul não direi, presidente, mas com toda a certeza ela é a maior da Sul América. A novela da terceirização A novela da Terceirização de Serviços se estende desde 1974, quando se aprovou a Lei do Trabalho Temporário (6.019). Depois, veio o Enunciado 331 do TST dando orientação para a Terceirização em atividades meio, distinguindo-as das atividades fim. Nos últimos anos, desenvolveram-se estratégias de ação e reação, de pressão e contrapressão. Projetos foram apresentados e alguns, como o 4302/98, até votados. Mas as resistências se tornaram insuperáveis, principalmente por parte da CNI, que não aceita a questão da solidariedade em substituição à responsabilidade subsidiária, nos termos da modificação do dispositivo aprovada pelo Senado. Chegando ao consenso Hoje, tramita um bom projeto para a Terceirização, de autoria do deputado Paulo Delgado (PT-MG), mas, para avançar, precisaria ser agregado aos outros que lá estão. Pano de fundo : já existe razoável consenso de que esta matéria chegou ao fundo do poço e precisa ser normatizada. Importantes lideranças pretendem caminhar com a ideia. O próprio Paulinho da Força Sindical acredita que chegou o momento de dar encaminhamento definitivo à matéria. Cândido Vaccarezza, líder do governo na Câmara, luta para chegar a um acordo. E o vice-presidente da República, Michel Temer, prontifica-se a continuar a luta pela aprovação das regras da Terceirização. Sou solidário e não pago Antônio Carlos Portela era um senhor rico e bom. Dava aval a todo o mundo, em Petrópolis. Gostava de política. Gostava demais. Quando chegava, a campanha eleitoral, sua maneira de ajudar os amigos era avalizar empréstimos para as despesas de campanha. Na última eleição, avalizou um título para um candidato a deputado, que perdeu feio e ficou em dificuldades de pagar. O gerente do banco, sabendo que não receberia do devedor, foi ao avalista : - Senhor Portela, o título está vencido. Preciso que o senhor pague. Como avalista, o senhor é solidário. - Sou, sim. Sou muito amigo dele e estou inteiramente solidário com ele. Se ele não pagou, é porque tem seus motivos. Porque estou solidário, não pago também. Conselho às lideranças empresariais Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado à presidente Dilma Rousseff. Hoje, seu conselho se dirige às lideranças empresariais: 1. O território das relações do trabalho será intensamente ocupado pelas Centrais Sindicais no ciclo político-administrativo que se abre. 2. Em decorrência deste fato, os setores produtivos precisam definir focos de interesse, projetos prioritários, estratégias de ação político-institucional e escolha de parceiros para o longo percurso a ser caminhado. 3. Urge mapear projetos do interesse de cada setor; matérias em tramitação; relatores dos projetos; bancadas aliadas e engajadas com escopos doutrinários; presidentes e participantes de Comissões Técnicas no Senado e na Câmara; e definição de uma agenda institucional. ______________
quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Porandubas nº 257

Nada é tudo Cícero do Carmo Lima, simpático, vestido de branco, chapéu pequeno, óculos escuros, dentes de ouro, sempre com sua inseparável bicicleta, era uma figura diferente no Ceará. Na década de 60, Ciço Rico foi um vereador muito querido em Ipu, no Ceará. Semi-analfabeto, achava-se um intelectual. No palanque, era o penúltimo a falar. Sua presença atraía a atenção. Coisas engraçadas em profusão. Principalmente no fechamento do discurso. Certa noite, num comício realizado em frente a Praça de Iracema, o locutor faz a convocação : agora, vamos ouvir o vereador Cícero do Carmo Lima. Aplausos prolongados. Descontraidamente, inicia o discurso. Ovações continuadas. Os aplausos o incentivavam a esticar a fala. No final, o fecho glorioso e filosófico, sob gritos frenéticos e (falsos) dos jovens : ipuenses, para terminar eu concluo que "Tudo, tudo é nada, e nada, nada, nada, repito, nada é tudo". E vamos à ordem do dia A coluna de hoje procura destacar aspectos e abordagens que abrem a nova administração do país. O ciclo da razão O Brasil abre as portas para o ciclo da razão. Fecham-se as cortinas da era da emoção. Sai um ator carismático do palco. Entra um perfil técnico para comandar a nação. As massas, em um primeiro momento, vão se ressentir. Depois se acostumarão. Mas a lembrança do carisma ficará na memória e no coração. Por isso, Lula continuará presente na cena política. Mas não poderá aparecer em demasia para não empanar a imagem da nova administração. Dilma imprimirá sua marca : firme controle da gestão, cobrança, monitoramento, resultados. Apertará os calos dos ministros. Mais que as mãos suaves de Lula. A festa de Brasília Este consultor acompanhou de perto a movimentação de Brasília. Posse de presidente da República e vice é sempre uma festa. O discurso de Dilma no Congresso foi um panorama sobre os temas brasileiros. Não carregava o tom retumbante de Lula, mas parecia mais sério e responsável. Sem as tiradas improvisadas, o sarcasmo ou o chiste. Trata-se da expressão mais técnica, mais racional. No Parlatório, Dilma fez um resumo da fala no Congresso. Um pouco mais popular. Referiu-se a Lula e às mulheres, algumas vezes. Agradecimento e homenagem. No Itamaraty A festa no Itamaraty reuniu umas 2 mil pessoas. Gente de todos os tipos e regiões. Gente humilde, políticos regionais, ministros, líderes importantes, governadores, autoridades e Chefes de Estado. Muito vinho, uísque e bebidas leves. Barulho infernal. Michel Temer, muito cumprimentado, irradiava satisfação. Dilma, muito cumprimentada, sempre portando a faixa presidencial, foi embora logo. Hillary Clinton saiu 8 minutos antes da chegada de Dilma. Otimismo Este consultor teve a oportunidade de conversar com algumas personalidades. E amigos. O tom geral era de otimismo. O país, mesmo com dificuldades eventuais, caminhará firme na rota. O estilo Dilma - racional, objetivo, técnico, cobrança, exigências - dava o tom das conversas. Senso comum. As oposições ali compareceram educadamente. Esbarrei com Alckmin chegando ao Itamaraty com dona Lu, Zé Aníbal, Duarte Nogueira e mais alguns. Nos cumprimentos, a lembrança recorrente de Alckmin para este consultor : e as Porandubas ? Ele é um leitor assíduo da coluna. E eu lhe disse que vou acompanhar, passo a passo, seu governo. Estrelas da equipe Alguns ministros abrirão amplos espaços de poder e visibilidade. Anotem estes nomes : Zé Eduardo Cardozo, da Justiça; Antônio Palocci, da Casa Civil; Orlando Silva, dos Esportes; Nelson Jobim, da Defesa; Miriam Belchior, do Planejamento; Paulo Bernardo, das Comunicações; e Guido Mantega, da Fazenda. Alexandre Tombini, do BC, estará também na roda. E, claro, o vice presidente da República, Michel Temer, que será uma espécie de escudo e pára-choque contra eventuais crises. Pano de fundo : questões de segurança pública; articulação político-institucional; Copa e Olimpíadas; compra de aviões; organização do orçamento; banda larga; eixos macroeconômicos e eventuais atritos com o Congresso. Reforma política ? Difícil Pois é, os anúncios se espalham : a reforma política vem aí. Lideranças políticas, a nova presidente da República, o ex-presidente Lula, todos expressam contundente defesa desta reforma. O novo ministro das Relações Institucionais, o bigodudo deputado Luiz Sérgio, do PT do Rio de Janeiro, garante que vai escudar a proposta. Este consultor coloca as dúvidas : o que fazer de início ? Mudar o que ? O sistema de voto ? Qual o modelo ideal ? Distrital puro ou misto ? Fidelidade partidária ? Mas essa já existe. Cláusula de barreira ? Os partidos pequenos não toparão. Reforma do código eleitoral ? Isso é possível. Mas que aspectos deverão ser contemplados ? Diálogo, uma quimera O mesmo ministro Luiz Sérgio diz que vai implantar a política do diálogo. Quer evitar atritos entre os partidos da base aliada. Mas esse diálogo, pelo que se sabe, é palavra-chave da Secretaria de Relações Institucionais. Padilha, que de lá saiu para assumir o Ministério da Saúde, quase foi às vias de fato com o líder do PMDB, deputado Henrique Alves. E sempre insistia no diálogo. Só existe diálogo entre partes que desejam efetiva parceria. E, pelo visto, o PT está indo com muita sede ao pote na corrida por postos e cargos. PT é assim : primeiro, ele; segundo, ele; terceiro, ele. Por isso, o diálogo é uma quimera. E a tributária ? No caso da reforma tributária, o ponto de partida deverá ser o relatório do deputado Sandro Mabel (PR/GO). Não será um debate fácil. Há muita polêmica, a partir da incidência de tributos sobre a riqueza. Outro aspecto diz respeito à desoneração da folha. Teme-se a perda de recursos hoje destinados à Previdência Social. A questão do ICMS deve ser objeto de amplas negociações com os governadores. O objetivo é fazer acordos para reduzir o tributo em áreas específicas, como energia. Mabel será candidato ? Por falar em Sandro Mabel, eis que ele joga um balão de ensaio : poderá sair como candidato à presidência da Câmara. Marco Maia será alvo de insatisfações de alas partidárias insatisfeitas com a partilha de espaços e cargos. Mabel irá até o fim ? Seria um bom candidato. No vácuo O grande tribuno Carlos Lacerda, da UDN, fazia inflamado discurso na Câmara dos Deputados, quando um colega pediu aparte : "Vossa Excelência pode falar o quanto quiser, porque o que me entra por um ouvido sai imediatamente pelo outro". Ao que lhe respondeu Lacerda : "Impossível, nobre colega, o som não se propaga no vácuo !" Linhas de combate e ocupação Nas próximas semanas, veremos muito combate no campo do poder. PT e PMDB disputam, palmo a palmo, espaço no setor elétrico. PMDB dominava a área. PT quer desbancá-lo. Alvo principal é a Eletrobrás. Nos Correios, PT já levou a melhor. Na Saúde, começa a ocupar todos os espaços. O líder Henrique Alves, do PMDB, tem dificuldades em administrar a indignação da bancada peemedebista. Na área da Integração Nacional, PMDB, que a dominava por completo, ficará apenas com o DNOCS. Concessão nos aeroportos Desta vez, dá para acreditar : a concessão de aeroportos ao setor privado toma forma. Nelson Jobim é a favor. A presidente Dilma já deu sinal positivo. Sinal de que o novo governo incentivará a participação privada na infraestrutura. Dando as caras A presidente Dilma vai começar a mostrar a cara para o mundo. Primeiras viagens já confirmas : EUA, China, Argentina, Uruguai, Peru e Bulgária. Dilma já deu uma boa sugestão ao secretário geral da ONU, Ban Ki-Mon : abrir uma Escola da ONU no Brasil com foco no estudo e debate da Segurança e Desenvolvimento Social. Qualidades dos serviços Novo governo emite bons sinais. O novo ministro da Saúde, Alexandre Padilha, quer implantar contratos de gestão baseados em metas a partir de indicadores nacionais de saúde. Garantia de qualidade e acesso da população aos serviços. INSS sob novo comando O presidente do INSS, ao que tudo indica, deverá ser Mauro Luciano Hauschild, que trabalha no gabinete do ministro José Antônio Toffoli, do STF. O nome técnico, preferido pelo ministro Garibaldi Alves, seria o de Otacílio Cartaxo, ex-secretário da Receita, responsável pela maior arrecadação do órgão em toda a história. Mas o novo ministro da Previdência decidiu acatar a indicação de Renan Calheiros. Mauro Luciano é um quadro da área jurídica. Uma espécie de peixe fora d'água no INSS. A política tem seus caminhos. Estranhos, misteriosos e insondáveis, alguns. IMPS Newton Cardoso, hoje deputado pelo PMDB de MG, ex-governador, numa entrevista : "Precisamos acabar com a fila do IMPS." O assessor lhe diz : "Não é IMPS, é INPS." Ele : "Nada disso. Desde lá de Brumado que eu aprendi que antes de P e B se usa M." Tempo integral Fernando Haddad, ministro da Educação, vai implantar ensino médio em tempo integral. Com curso regular em um turno e, no outro, o curso profissionalizante. Um Ovo de Colombo. Alckmin : 1,5 bi de corte Geraldo Alckmin começa dando exemplo de austeridade : cortou R$ 1,5 bilhões no Orçamento do Estado. Investimentos sofrerão redução de 20% e os gastos com custeio serão diminuídos em 10%. Alckmin também fará revisão de todos os contratos de serviços. Lupa acesa. Richa : moratória Já o governador do Paraná, Beto Richa, declarou moratória de 90 dias. Significa suspensão de pagamentos a fornecedores e prestadores de serviços. Quer conhecer real situação financeira do Estado. Colombo : ICMS por 120 dias Enquanto isso, Raimundo Colombo, de SC, extingue o artigo da lei que permitia reduzir o ICMS de 17% para uma alíquota de 0,3%, impedindo, ainda, que novas empresas entrem no programa durante o período de reavaliação. Coutinho : exoneração dos comissionados Na Paraíba, Ricardo Coutinho, o novo chefe do Executivo, demitiu todos os ocupantes de cargos comissionados. Lá, a folha deve fechar 2010 representando 70% da receita corrente líquida. Suspendeu, ainda, o reajuste de 27,92% concedido pelo ex-governador José Maranhão. Rosalba : redução de 30% No Rio Grande do Norte, a governadora Rosalba Ciarlini decidiu reduzir em 30% as verbas de cada Secretaria. Rosalba garante que fará "o RN acontecer". Quer uma gestão de resultados. A reza de Rosário Maria do Rosário, a ministra que assumiu a Secretaria de Direitos Humanos, reza pela cartilha da polêmica Comissão da Verdade. Defende sua aprovação. E assim recomeça o lengalenga. Fato histórico Já o general José Elito Siqueira, novo chefe do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência, é enfático : a existência de desaparecidos políticos durante a ditadura não deve ser motivo de vergonha, mas ser tratado como fato histórico. Cadê o Ciro ? Ciro Distante Gomes não deu as caras. Não ganhou o Ministério da Saúde. Parece não ter gostado. Não esteve em Brasília na posse. Deve ajudar o irmão Cid Gomes, no Ceará. Algo como a Coordenação da Zona de Exportação. Até ser chamado para coisa mais importante no plano Federal. Henrique, estressado Henrique Alves, o aguerrido líder do PMDB na Câmara, está muito nervoso. Este consultor conhece Henrique desde os tempos de antes de ontem. E nunca viu Henrique tão estressado. O PT está invadindo todas as searas do PMDB. Com sede secular. Vaccarezza O deputado Cândido Vaccarezza (PT/SP) espera um convite da presidente Dilma para assumir a liderança do governo na Câmara dos Deputados. Vaccarezza é um dos mais preparados e eficazes quadros do PT. Conselho à nova presidente Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos membros do Ministério Público. Hoje, seu conselho se dirige à nova mandatária da nação, presidente Dilma Rousseff : 1. Procure mapear o território de demandas políticas e verificar o estado das tensões. 2. Dê soluções justas e adequadas às demandas e pressões tendo como baliza o efetivo peso dos partidos na composição política. 3. Aja com cautela para evitar derrotas no Congresso logo no início do governo. Seria um péssimo início de administração começar com derrotas. ____________
quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Porandubas nº 256

O nome do médico Dois desembargadores aposentados, do alto de uma juventude acumulada durante oito décadas e meia, encontram-se no aniversário do neto de um deles. Os desembargadores Amaro Quintal da Rocha e Antônio Vidal de Queiroz, como sói acontecer com amigos que se conheceram no início da idade da razão, foram direto ao assunto que mais os motivava : - Até que enfim, encontrei o médico que curou a minha amnésia, disse Amaro. - Como é mesmo o nome dele ? Perguntou Vidal. - É, é, é, deixe-me ver, é... é... Como é mesmo o nome dele ? Espere aí... é, é... é. O nome, escondido num cantinho do cérebro, relutava em aparecer. Começou a se perturbar. Mas não deixou a onda abatê-lo. - É, é, como se chama... é... é... como se chama mesmo aquela coisa vermelha, amarela, branca, que nasce em um galho cheio de espinhos, aquele assim ? (e foi mostrando o tamanho do galho e o formato da coisa). Vidal matou a charada : - Rosa, o nome é Rosa. Amaro, radiante, grita para a mulher que estava sentada logo adiante : - Rosa, oh, Rosa, como é mesmo o nome daquele médico que curou a minha amnésia ? (Os personagens são fictícios. Mas a historinha, da verve expressiva do presidente do Conselho de Administração do CIEE, o amigo Ruy Altenfelder, merece abrir estas Porandubas) Disputas internas Não apenas os partidos disputam posições e espaços no governo Dilma. Alas partidárias também fazem uma guerrinha. No PT, por exemplo, Cândido Vaccarezza é o favorito para comandar a Câmara dos Deputados. Teria o apoio da tendência 'Construindo um Novo Brasil', ex-Campo Majoritário, que teve origem na antiga Articulação. É a maior tendência do partido. Mas a ala de Marco Maia, 'Ação Democrática', de Tarso Genro e José Eduardo Cardozo, se alia com Arlindo Chinaglia, que pertence à ala 'Movimento PT', para derrotar Vaccarezza, que teria a simpatia de Dilma. Contra Chinaglia, resgata-se sua gestão no comando da Câmara, considerada muito dura. Marco Maia, atual primeiro vice-presidente, conta com a força que adquiriu ao substituir Michel Temer na condução dos trabalhos da Câmara baixa nos últimos meses, ganhou a parada. Vaccarezza Vaccarezza, apesar de favorito, perdeu o jogo. Primeiro, por ver seu companheiro Arlindo Chinaglia, desistindo da candidatura para apoiar Marco Maia. Segundo, pela revolta de grande parte da bancada petista, insatisfeita com as indicações para o Ministério Dilma. De certa forma, Lula e Dilma perderam também este round na Câmara. PMDB na observação Michel Temer, o vice-presidente eleito da República, exerceu com muita habilidade o papel de lã entre cristais. Esforçou-se por evitar atritos entre grupos do PMDB, que se vêem alijados ou com menor força no ministério Dilma. O partido perdeu ministérios importantes. Mas conservou, graças a Michel, o mesmo número. Não se podia dizer, aliás, que o ministro Temporão, da Saúde, pertencia à cota do PMDB. Muito menos Nelson Jobim. Por isso, no frigir dos ovos, a contagem entre ontem e hoje fica praticamente na mesma pontuação. Talvez com um pouco mais de força no governo Lula. Por isso, o PMDB observa com atenção os movimentos e espaços cedidos a outros partidos. PSB revigorado Se ganhar o Ministério da Integração Nacional, oferecido a Ciro Gomes, e mais a Secretaria dos Portos (pode ser integrada a ela a área da Aviação Civil), o PSB, liderado pelo governador Eduardo Campos, tem condições de subir ao ranking do primeiro time de partidos no governo Dilma. Fez 6 governadores (PE, CE, PI, AP, PB e ES) e pulou de 27 para 34 deputados federais. Tinha 66 deputados estaduais e agora tem 73. Ciro topa ? Ciro Gomes deu um prazo até hoje para responder se aceita ou não o Ministério da Integração. Ciro é imprevisível. Deverá exigir condições. Pode ser que não aceite quando souber que alguns espaços da pasta já estão comprometidos com alguns aliados. Campos e Neves Este consultor começa a enxergar um princípio de paquera entre PSB e PSDB. Eduardo Campos, o presidente do PSB, é amigo de Aécio Neves, a estrela ascendente do PSDB. Um dia, ouvi de Eduardo Campos que sua geração - ele, Ciro Gomes, Aécio e por aí vai - almejaria um sonho : chegar ao poder. Seu esforço seria no sentido de dar vigor a esta projeção. O senador Neves e o revigorado governador Campos jogam muito bem sinuca. E, ao que parece, se saem bem ante sinuosa sinuca de bico. Aprender a suportar "É preciso aprender a suportar o que não é possível evitar. Assim como a harmonia do mundo, nossa vida é composta de coisas contrárias, e de diversos tons, doces e ásperos, pontudas e chatas, moles e duras. Que poderia exprimir o músico que só gostasse de um tom ? É necessário que saiba utilizar a todos e misturá-los; do mesmo modo nos cabe fazer com os bens e os males que são inerentes à nossa vida. Nosso ser não subsiste sem essa mistura, em que cada parte é tão imprescindível quanto a outra..." (Montaigne) UPPs nas favelas A conta foi feita : UPPs em todas as favelas do Rio custariam R$ 321 milhões por ano. Seriam necessárias 107 unidades e 10.685 policiais. Seria viável. Porque o custo do tráfico da droga e suas consequências é inimaginável. Sílvio Torres Geraldo Alckmin dispõe de um grande quadro para comandar a área de esportes : o deputado Silvio Torres. Trata-se de um dos maiores conhecedores da área esportiva. Silvio destaca-se pela intensa participação em todos os foros dedicados às questões dos esportes e do turismo. Poderá dar efetiva contribuição ao setor, principalmente neste momento em que o país se prepara para sediar uma Copa do Mundo em 2014 e a Olimpíada de 2016. José Aníbal Outra boa cabeça tucana é o deputado José Aníbal, já testado na experiência da liderança dos tucanos na Câmara dos Deputados e na administração pública em São Paulo. Zé foi líder do PSDB na Câmara por quatro vezes. E Secretário de Ciência e Tecnologia do Estado de São Paulo no governo Mário Covas, sendo responsável pela criação de várias FATECs. Coordenou o programa de governo do candidato Geraldo Alckmin neste último pleito. É um dos melhores pensadores do tucanato. Calabi dentro, MR fora Geraldo Alckmin, ufa, nomeou Andrea Calabi como secretário da Fazenda. Mauro Ricardo cai fora. Alckmin deixa os setores produtivos aliviados. MR tinha uma fome pantagruélica. Era muito duro. Gostava de onerar a produção. Aliás, Serra perdeu a embocadura que tinha junto ao empresariado por conta do aperto dado por seu secretário da Fazenda. Com a nomeação de Calabi, o novo governador põe um ponto final no mando serrista. Rio sem força ? O Rio de Janeiro chora a perda de força. Já contava, até, com o ministro da Saúde, Sérgio Cortês, secretário do governador Sérgio Cabral. Mas este se precipitou no anúncio. Voltou a subir a votação do ministro Padilha, que faz hoje a Articulação Institucional. Mas se o Rio jorrar muitas lágrimas, pode-se voltar a apostar no tal Cortês. Agora, com a cortesia da presidente Dilma em agradecimento à descortesia do governador Cabral. Maluf ganha Paulo Maluf ganhou. Vai ser diplomado deputado dia 17. Este é o resultado da decisão do TRE/SP que revogou o enquadramento de Maluf na lei da Ficha Limpa. Essa decisão deverá influenciar o voto no TSE, onde o deputado entrou com recurso. O affaire Maluf vem de longe. Ele foi acusado pelo MP por superfaturamento na compra de 1,4 tonelada de frango em 1996. A ação já havia sido julgada improcedente na primeira instância. Ozires e o prêmio O grande brasileiro Ozires Silva, a quem a aviação civil muito deve, propõe a criação de um Prêmio de Eficiência e Produtividade a repartições públicas que se esmeram no quesito qualidade. Se o governo tem vários prêmios para a sociedade, argumenta Ozires para esta coluna, por que não fazemos algo em sentido contrário ? Tem lógica a proposição. E merece nossos aplausos ! Mais mulheres Iriny Lopes, deputada do PT do ES, e Lúcia Falcón, secretária de Planejamento de Sergipe são mais duas mulheres no Ministério. A primeira para a Secretaria das Mulheres e a segunda para o Ministério do Desenvolvimento Agrário. A primeira sob o endosso do PT capixaba e a segunda, sob o referendo dos governadores Marcelo Deda e Jaques Wagner. Paulistério petista O PT de Minas Gerais reage com raiva à expansão do paulistério petista. Alegam os mineiros que há muitos paulistas no Ministério e, por enquanto, apenas um mineiro, o amigo de Dilma, Fernando Pimentel. A bancada mineira do PT na Câmara está furiosa. O Madoff brasileiro A justiça mineira decretou, em agosto passado, a prisão temporária do empresário Thales Emanuelle Maioline, de 34 anos, um dos donos da empresa Firv Consultoria e Administração de Recursos Financeiros. Investigado por estelionato, falsificação de documentos e falsidade ideológica. Acusado de ter dado golpe no valor de R$ 50 milhões em cerca de 2 mil pessoas que vivem em Belo Horizonte e mais 13 cidades do interior de Minas Gerais. Domingo, ele se apresentou. A tartaruga e a lebre "Uma tartaruga e uma lebre discutiam acerca da sua ligeireza. Por fim, tendo combinado um dia e um lugar, separam-se. Ora, a lebre, negligenciando a corrida em virtude da sua velocidade natural, deitou-se à beira do caminho e adormeceu. Porém a tartaruga, cônscia da sua própria lentidão, não parou de correr e, dessa maneira, tendo ultrapassado a lebre adormecida, alcançou o prêmio da vitória. Esta fábula mostra que, frequentemente, o esforço vence a natureza negligente." (As fábulas de Esopo) Conselho aos membros do Ministério Público Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado às companhias de aviação. Hoje, volta sua atenção aos membros do Ministério Público : 1. Procurem ver o filme argentino Abutres (Carancho), com a grande interpretação de Ricardo Darín ("O segredo dos seus olhos") e Martina Gusman. Esse thriller de relevância social mostra os golpes dados por "abutres" argentinos em seguradoras. 2. Tentem verificar se existe alguma correspondência entre a situação na Argentina e no Brasil. 3. Continuem a arrombar os ralos e as redes de corrupção que se infiltram nas malhas das administrações pública e privada. ____________
quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Porandubas nº 255

Empatando com Deus Zé Baioneta, sapateiro e muito prendado lá de Remanso/BA, bebia muito. Bebia demais. Recebeu um dinheiro do cabo chefe do destacamento policial para fazer uma bota, bebeu o dinheiro, não conseguiu comprar o couro, começou a se esconder do cabo. Uma tarde, já noitinha, ia voltando para casa bem chumbado, encontra o cabo na esquina. - Zé Baioneta, e minha bota ?- Vou fazer, seu cabo. Tive uns problemas, mas vou fazer.- Faça logo, urgente. Você recebeu meu dinheiro e está me deixando desmoralizado na cidade com essa bota toda estragada, toda furada, uma vergonha.- Nada disso, seu cabo. Pois eu vou lhe dizer uma coisa. Aqui em Remanso não tem ninguém quanto o senhor. O senhor é mais importante do que o prefeito Marcelino Régis, mais importante do que o deputado Carlos Ribeiro.- E do que Deus ? Zé Baioneta pensou um pouco : - Aí empata. (Da verve do amigo Sebastião Nery). Dilma abre o leque A presidente Dilma começa a abrir o leque. E a esboçar os primeiros traços de sua identidade. A declaração de que não admite a repressão contra as mulheres, no Irã, e que não concorda com a posição brasileira de leniência em relação às retrógradas posições adotadas por aquele país causou impacto positivo no conjunto das grandes nações democráticas. E assim, a presidente começa a mostrar posições próprias que a distinguem da política de "acomodação pragmática" do governo Lula. Foi uma discordância explícita à geopolítica comandada por Celso Amorim. PAC no Planejamento Faz bem tirar o PAC do terreno da Casa Civil e transferi-lo para o Ministério do Planejamento. De um lado, Palocci terá mais tempo e condições de fazer a coordenação do governo. O PAC toma muito tempo e carece de um sistema de ajustes e monitoramento mais rígido. De outro, a ministra do Planejamento, Miriam Belchior, é considerada muito eficiente nas atividades que exigem controles mais apurados. Nesse sentido, até conserva alguma semelhança com Dilma. O PAC também é tido como uma frente de polêmicas e críticas. E Palocci é um político preocupado em limpar entulhos de sua frente. Juntando uma coisa com outra, extrai-se o argumento para a transferência do PAC de uma pasta para outra. Favas contadas A expressão, que significa coisa certa, infalível, inevitável, indicando não haver qualquer dúvida quanto a um fato referido ("são favas contadas") tem origem eleitoral, quando a votação se realizava com a utilização de favas, brancas e pretas. Era vitorioso o candidato que somasse mais favas brancas, os eleitores se servindo das favas pretas como sinal de não aprovação. (Explicação do advogado e ex-juiz do TSE, Walter Costa Porto, amigo de longa data). Lula cheio de saudades Lula não consegue disfarçar as saudades que levará do centro das atenções. Em todos os dias de seu mandato, tem sido notícia. Usou o palanque de maneira intensa. Disse o que lhe veio à cabeça sem pensar em consequências. Abusou de metáforas. Abriu largas avenidas para atrair a simpatia das massas. Foi interlocutor dos mais importantes líderes mundiais da última década. E passou perto de 500 dias viajando mundo a fora. Diz, agora, que terá tempo para tomar "umas canas". Bem, terá, sim, muito tempo. Mas terá também muitas saudades. Dentre elas, a de pegar o Aerolula e sair por aí olhando o mundo do alto. E o Aerolulão ? De tanto gostar de viajar, Lula quer, agora, adquirir um avião mais potente, que possa ser abastecido em pleno voo. Não está satisfeito com as 12 horas de autonomia do Aerolula. Este avião (lembram-se ?) foi comprado porque o Sucatão era uma vergonha para o Brasil. Fazia um barulho desgraçado e muitas capitais do mundo já não autorizavam sua descida. Comprou-se um moderníssimo avião. Foi, na época, um bafafá. Era a modernidade chegando em forma de transporte aéreo. Lula, agora, acha pouco a autonomia de 12 horas. O presidente de um país poderoso como o Brasil não pode passar vergonha de fazer escala. Quem diria, hein ? Pois bem, em momento de corte de despesas e ajustes fiscais importantes, gastar R$ 500 milhões em um avião maior e mais rápido é, convenhamos, um disparate. E Lula não quer passar esse imbróglio para Dilma. Quer comprar a aeronave já, do alto de seu prestígio. Dará tempo ? Possivelmente, não. PMDB satisfeito O PMDB até que se sentiu satisfeito com a composição que conseguiu, graças à paciência do vice-presidente eleito, Michel Temer. Conseguiu reter os Ministérios de Minas e Energia e Agricultura, ganhou Turismo, que terá grande atuação ante o cenário de organização da Copa do Mundo, a Previdência Social, que é a Pasta com maior volume de verbas (apesar das tensões aí existentes com a massa de aposentados, por exemplo). Além do fato de que R$ 40 bilhões pavimentam a previdência. E mais a Secretaria de Assuntos Estratégicos. "Ainda perante os tribunais marciais, não há condenação sem defesa." (Rui Barbosa) SAE com embocadura A Secretaria de Assuntos Estratégicos, que tem status de Ministério, foi oferecida ao ex-deputado Moreira Franco, braço direito do presidente do PMDB e vice-presidente eleito da República, Michel Temer. Esta pasta tem a função primordial de pensar e planejar o país do amanhã. Em se tratando, porém, de Brasil, sua importância é desprezada porque, entre nós, os Ministérios respeitados e considerados são aqueles que dispõem de recursos e estrutura. Mas ganhou embocadura. Moreira Franco aceitou a missão porque a Pasta foi adensada com a absorção do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social e o encargo de produzir o Plano Nacional de Saneamento. DEM sem oxigênio O DEM atravessa a maior crise de sua existência. Rodrigo Maia não consegue robustecer a sigla. E não quer passar a bola adiante. José Agripino, o senador potiguar, deverá assumir a presidência em caso de antecipação do mandato de Maia, que comandaria o partido ainda em 2011. A falta de oxigênio será muito sentida quando o prefeito Gilberto Kassab, de São Paulo, desembarcar da sigla e tomar o rumo do PMDB. Kassab tem sido o maior suporte do DEM. Em seus planos, a rota de saída está traçada para fevereiro do próximo ano. Aviação profissional Dilma quer profissionalizar a Infraero. Aliás, quer profissionalizar todo o setor da aviação. Para tanto, pretende criar uma Secretaria Especial de Aviação Civil, ligada à presidência da República, que abrigaria a Infraero e a ANAC. Um executivo do mercado privado comandaria a Infraero. Ocorre que os pretendentes da área política fazem muita pressão para ficar com este pedaço. A questão está posta. "Viver é ser do seu tempo, estar no seu momento histórico, ajudar na criação social do seu século, sentir a comunhão das ideias novas." (Eça de Queirós) Novais no Turismo O deputado Pedro Novais (PMDB/MA) foi indicado e convidado para comandar o Ministério do Turismo. Um nome aceito pela bancada do partido na Câmara. Tucanos refazem os bicos A tucanada se prepara para refazer os bicos. A ideia original partiu do tucano de bico grande, Fernando Henrique. Ele sugere a "refundação do PSDB". Tem lógica. O partido da social democracia perdeu o eixo. Não abriu caminhos para chegar às massas. Não tem um programa social democrata para o país. Virou um partido de caciques. Índios praticamente inexistem em suas tribos estaduais. Aécio e Alckmin, os dois governadores dos dois maiores colégios eleitorais do país, serão os líderes da "refazenda" partidária. E se defrontam com a questão : o que fazer com Serra ? Este deseja presidir a sigla. Voluntarioso, autosuficiente, Serra não é bem visto pelos dois governadores como comandante da estratégia de refundação. Grandes nomes estão à margem como Arthur Virgílio e Tasso Jereissati. Garibaldi na Previdência ? Eduardo Braga, senador do PMDB do Amazonas, não aceitou o ministério da Previdência. Comemorava os 50 anos de vida quando falei com ele. E lembrava o imbróglio no entorno da Previdência. Mas o senador Garibaldi Alves do PMDB do RN, me garante, que, convidado, aceitará o desafio. A conferir. Vaccarezza no comando Cândido Vaccarezza deverá comandar a Câmara dos Deputados no primeiro biênio da próxima legislatura, a ter início em 1º de fevereiro de 2011. Vaccarezza cumpriu com eficiência e eficácia a missão de líder do governo na Câmara dos Deputados. Trata-se de um dos melhores quadros do PT. Conciliador, articulador, sabe ouvir, argumentar e ponderar. Considerado lã entre cristais : evita atritos. De costas para a política ? O que farão os políticos sem mandato ? Quem tem grandes negócios, como Tasso Jereissati, empregará seu tempo no comando dos empreendimentos. Mas pessoas como o jornalista Hélio Costa, que perdeu a eleição para o governo de Minas Gerais ? Saiu do Ministério das Comunicações e, sem mandato, não tem cacife suficiente para reivindicar cargo de monta. Poderá voltar para a TV. Teria recebido convite da Rede Record. Pelo visto, o grande repórter da Rede Globo, do final dos anos 70, reingressa na TV com tamanho menor do que tinha. Assange, boca no mundo Julian Assange, o criador do site WikiLeaks, foi preso na Inglaterra, por conta de mandado de busca e prisão feita na Suécia, onde teria cometido crimes de estupro e assédio sexual. Assange botou a boca no mundo com as informações que deixam em maus lençóis a diplomacia mundial. Os Estados Unidos e outros países saem mal na fita. A essa altura, as atividades de Assange já estão provocando um realinhamento nas redes diplomáticas. Nada hoje tem segurança. A pescaria de dados sigilosos se generaliza na Telépolis, a cidade sem fronteiras, onde milhões de pessoas transitam nas redes sociais. As três pessoas No confessionário, Monsenhor era rápido. Não gostava de ouvir muita lengalenga. Ia logo perguntando o suficiente e sapecava a penitência que, sempre, era rezar umas ave-marias em louvor de N. S. do Rosário. Fugindo ao seu estilo, certa feita ele resolve perguntar ao confessando quantos eram os mandamentos da lei de Deus. - São 10, Monsenhor.- E quantos são os sacramentos da Santa Madre Igreja ?- São 7, Monsenhor.- E as pessoas da Santíssima Trindade, quantas são ?- São 3, Monsenhor. Monsenhor, notando que o confessando só sabia a quantidade, pergunta rápido : - E quais são essas pessoas ? A resposta encerrou a confissão : - As três pessoas são o senhor, o Dr. Didico e o Dr. Zé Augusto. Historinha contada por José Abelha em "A Mineirice". Conselho às companhias de aviação Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado à presidente Dilma. Hoje, volta sua atenção às companhias de aviação : 1. O final de ano se aproxima. E o caos aéreo começa a povoar os horizontes dos viajantes. Procurem, portanto, administrar as demandas extraordinárias, propiciadas pela economia que expande o consumo. 2. Não vendam passagens acima da oferta de assentos. Façam uma programação extra de voos. 3. Contratem mão de obra qualificada para fazer um bom atendimento nos guichês evitando tumultos e reclamações. ____________
quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Porandubas nº 254

O frio aperto de mão O deputado baiano mandou cartão de Natal para uma mulher que morrera há muito tempo. A família, irritada, retribuiu : "Prezado amigo, embora jamais o tenha conhecido durante os meus 78 anos de vida terrena, daqui de além-túmulo, onde me encontro, agradeço o seu gentil cartão de boas festas, esperando encontrá-lo muito em breve nestes páramos celestiais para um frio aperto de mão. Purgatório, Natal de 2005." O deputado recebeu a resposta. E espera, angustiado e insone, pelo aperto de mão. A cara de Dilma Lula disse : o Ministério tem de ter a cara da presidente. Lógico. Será ela a dar o tom da orquestra. Mas, convenhamos, é operação complexa montar um Ministério sem os traços do grande fiador e patrocinador da eleita, Luiz Inácio. Por isso mesmo, a fisionomia está assim esboçada : coração do governo - núcleo duro/economia : lulismo/petismo. Nomes : Antonio Palocci (Casa Civil), Gilberto Carvalho (Secretaria Geral), Miriam Belchior (Planejamento), Guido Mantega (Fazenda) e Alexandre Tombini (BC). Luciano Coutinho (BNDES); o núcleo político do governo contará com a participação direta do vice-presidente eleito, Michel Temer. Nos braços do Estado deverão estar : Defesa (Nelson Jobim), Relações Exteriores (Antonio Patriota ou uma diplomata). Corpo do governo : repartição entre partidos aliados. A identidade governamental Todo governo precisa de uma identidade. Sob pena de espalhar fumaça na opinião pública e acabar sendo tragado pela corrosão da imagem. Pelo que se infere, Dilma pretende ter uma política de relações exteriores não muito comprometida com ditaduras ou sistemas fechados. Gostaria de ampliar as portas para os parceiros históricos da Europa e o próprio Estados Unidos. Na área econômica, gostaria de dar mais apoio aos sistemas produtivos, por meio, principalmente, da alavanca dos juros menores. Na frente política, vai se esforçar para administrar as voracidades dos parceiros partidários de forma a plasmar uma identidade mais técnica e menos conduzida pelo viés político. "Quando eu disse ao coração da laranja que dentro dela dormia um laranjal, ele me olhou estupidamente incrédulo." (Hermógenes, filósofo grego, século V antes de Cristo) PT e PMDB Os dois maiores partidos vão acabar acertando os ponteiros. O PT deverá ficar com a presidência da Câmara dos Deputados logo no primeiro biênio. Trata-se da maior bancada. No passado, o PMDB, mesmo tendo a maior bancada, cedeu a vez ao PT. Mas, naquela época, o PMDB não alcançara a posição que ocupa na vice-presidência da República. Mas, para que o pacote seja fechado, o PMDB exige a assinatura de um documento onde o PT se comprometa a apoiá-lo no 2º biênio. O provável futuro presidente da Casa, Cândido Vaccarezza, pondera com seu bom senso : primeiro, precisamos ter um nome consensual; depois, devemos fechar posições com nossos parceiros e, cumprido esse ritual, assinaremos o documento com o PMDB. Vaccarezza é quem hoje agrega mais apoios no PT. E os Ministérios, hein ? É compreensível que os partidos aliados entrem em disputa - intensa - pelos Ministérios. A lógica que se impõe neste jogo de pressão e contrapressão leva em conta os saldos eleitorais alcançados pelas siglas em outubro passado. PT e PMDB disputam as melhores fatias. O PMDB costuma dizer que deseja apenas conservar os espaços já ocupados no ciclo Lula. Mas emerge a interpretação do PT. Seguinte : nem todos os espaços ocupados pelo PMDB podem ser rigorosamente creditados na conta do partido, porque alguns ministros foram escolhidos diretamente por Lula. Sem consulta prévia ao partido. Depois, o PMDB teria avalizado. Entre esses, contam-se Temporão, na Saúde; Jobim, na Defesa e até Hélio Costa, que ficou um bom período no Ministério das Comunicações. Em resumo, o PT acha que a cota do PMDB não é 6, mas 3. É evidente que os peemedebistas veem a questão com outros olhos. Conchavo Premido pelos casuísmos, Tancredo Neves foi obrigado a fundir o seu PP com o MDB de Itamar. Alguns pepistas pularam do barco e protestaram alegando conchavo. Tancredo foi curto e seco : "Conchavo é a identificação de ideias divergentes formando ideias convergentes." Tinha razão. Há curvas que desembocam em retas. Placa Placa em uma barbearia de beira de estrada na BR 116 : "Curtume de cabelo e façume de bauba". Refundação tucana O PSDB vive uma crise. Por mais que seus caciques queiram escondê-la. Muitos falam em refundação do partido. Outros sinalizam para uma aproximação do partido com a sociedade. A verdade é : os tucanos sempre posaram no alto das copas das árvores; não podem ser considerados um partido de massas, mas um partido de grupos; não interpretam as demandas mais sensíveis das massas urbanas e rurais; trata-se de uma tribo dividida entre muitos caciques. E há pouco índio para tanto mando. São Paulo, até hoje, dá o tom do tucanato. Aécio entre a dívida e a dúvida Aécio Neves tem uma dívida de reconhecimento a algumas pessoas, que considera amigas e prioritárias no PSDB. A primeira figura é a de Fernando Henrique. Preza ainda Tasso Jereissati. Mas conserva alguma aversão - não manifesta claramente - ao tucanato paulista, que considera fechado e pouco sensível à correnteza nacional. O recém eleito senador por Minas Gerais, não tivesse um apreciável acervo de amizade, estaria, hoje, confortável para criar uma nova sigla ou mesmo ser o artífice de uma grande fusão interpartidária. Comungam de sua mesa Eduardo Campos, Ciro e Cid Gomes, do PSB. Custo das eleições As eleições custaram R$ 3 bilhões. Que divididos por 16.683 candidatos, dá um gasto médio de R$ 20,41 por eleitor. Há 10 anos esse número estava em torno de R$ 12,00. No 1º turno, o voto mais barato foi da Bahia : R$ 13,53; o mais alto foi o de Tocantins : R$ 54,09. Battisti Lula deverá decidir sobre Cesare Battisti. Não gostaria de deixar o pepino para Dilma. Infere-se que deverá conceder asilo político na contramão da decisão do STF, que decidiu pela extradição do italiano. Como o presidente da República pode não acatar decisão da Corte, tudo indica que ele ficará por estas plagas. O rombo da Previdência Um dado que deve ser guardado na cachola. O rombo da Previdência é de R$ 42,678 bilhões. A maior parte do rombo provem da Previdência rural, coisa de R$ 37,780 bilhões. Pasta para as microempresas A nova presidente vai abrir uma pasta para administrar as questões relativas às micro e pequenas empresas. Pela primeira vez no país, esse setor será contemplado com um órgão em nível ministerial. Aplausos ! E que não fique apenas no terreno das intenções. Dois nomes estão no jogo das indicações : Alessandro Teixeira, um dos coordenadores do programa de Dilma e o senador Antônio Carlos Valadares (PSB/SE). Se for o senador, abre-se uma vaga para José Eduardo Dutra voltar ao Senado. "Os velhos amigos são os melhores. O rei Jonas costumava pedir os seus velhos sapatos, porque eram mais folgados para os seus pés." (John Selden, jurista inglês) Guerra no Rio A primeira batalha contra a bandidagem - não a guerra - foi ganha pelas Forças Policiais no Rio de Janeiro. Fator do sucesso : a integração de todas as Forças - PM, Bope, Polícia Civil, Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal, Exército, Marinha, Aeronáutica, etc. Com apoio da sociedade civil organizada. Comando Vermelho teria sido a facção mais combalida na Operação. Resta escalar outros morros, outros territórios da bandidagem. Prejuízo material - por enquanto - do tráfico : R$ 50 milhões. Cabralina Sérgio Cabral se acha o dono do pedaço. Emplaca o médico Sérgio Côrtes no Ministério da Saúde e não tem nenhum pudor em descartar qualquer indicação vinda do presidente do PMDB. Essa é a interpretação que se pode dar à frase que teria pronunciado a respeito da possibilidade de Moreira Franco, muito ligado a Michel Temer, ser cogitado para o Ministério de Dilma : "eu nem penso nessa possibilidade. Isso não é possível". Só faltava, agora, o menor mandar mais que o maior. Sérgio Cabral é também conhecido por passar boa parte do ano em périplos no exterior. "Político mineiro é como cola adesiva. Adere, depois começa a melar e finalmente descola; aí, desprega." (Ouvida na esquina do Café Pérola, em BH, pinçada por Zé Abelha) Brasil em números Eis o tamanho do Brasil : 190.732.694 habitantes; 97.342.162 mulheres (51,03%); 93.390.532 homens (48,96%); população urbana, 84,35%; população rural, 15,65%. Infraero mais solta Dilma despolitizará a Infraero. Deverá abrir a concessão de 7 aeroportos ao setor privado. E mais : vai tomar medidas para apressar as licitações. Natureza animal Instintos bestiais rondam o gênero humano. Um cara da elite da Polícia, um PM do Gate, Rodrigo Medina, foi indiciado pelo sequestro e assassinato da jornalista Luciana Montanhana. O cara pertencia a um grupo que tinha, entre os encargos, desvendar os crimes de sequestro. Pois ele caiu na rede criminal que combatia. Barbárie ! "Entendida como deve ser a profissão de jornalismo confina com o exercício do sacerdote." (Getúlio Vargas) Amnésia eleitoral Boa parte do eleitorado não sabe em quem votou para deputados - estadual, Federal - e até governadores. Significação : descrença na política, profusão de candidaturas, geleia partidária, pasteurização programática. "Como se há de contar a uma mulher que se sonha com ela, senão em verso ?" (Eça de Queirós) Serra à procura José Serra procura um emprego. Na Secretaria de Alckmin ? Um risco. Na presidência do PSDB ? Ameaça ao projeto Aécio. No Instituto Teotônio Vilela ? Poderia, mas é pouco. Consultoria por conta própria ? Mercado ressabiado. Palestras, exposições ? Talvez. Convites não muito generosos. Brigas de galo Jânio Quadros assumiu a Presidência da República, proibiu brigas de galo. A ordem era irrecorrível : "Se cantar, terreiro. Se brigar, panela." José Resende de Andrade, delegado em Belo Horizonte, era janista, zeloso e fiel executor da lei. Mandou prender todos os galos de briga da região metropolitana. José Resende levou a galada para os fundos da delegacia, na praça da Liberdade. De madrugada, começou a alvorada cantante. Magalhães Pinto, governador do Estado, dormindo próximo, no Palácio da Liberdade, foi despertado pela orquestra de José Resende, mandou dar um jeito imediato na zoeira. José Resende recebeu a ordem, não discutiu. Matou todos. Um galicídio. Até hoje os amigos o chamam de Zé Cocó, o mata-galo. E ele, muito mineiramente, sorri modesto : "O dever não distingue o canto do infrator." (Historinha narrada pela verve de Sebastião Nery) Conselho à presidente Dilma Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado à ANAC. Hoje, volta sua atenção à presidente Dilma : Por maior que seja a necessidade de agradecer ao patrocinador, Lula, vale lembrar que, doravante, o sucesso ou a derrota será atribuída ao seu desempenho. Por isso, a formação do Ministério deve levar em consideração não o passado, mas o futuro. Sob esse argumento, vale lembrar : 1. O Ministério como um todo precisa encarnar o espírito de um novo governo. A sombra de Lula poderá ensejar um continuísmo sem novidades. 2. Para atingir essa meta, algumas pastas devem atender aos novos desafios e metas da administração. 3. A identidade técnica deve ser tão importante como a identidade política, buscando-se preservar os fatores da eficiência, da eficácia e da integração de linguagens entre setores e espaços. ____________
quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Porandubas nº 253

Lei da Gravidade A Lei da Gravidade, de vez em quando, dá dor de cabeça aos mineiros. E a lei da gravidez, essa, nem se fala. Na Câmara Municipal de Caeté, terra da família Pinheiro, de onde saíram dois governadores, discutia-se o abastecimento de água para a cidade. O engenheiro enviado pelo governador Israel Pinheiro deu as explicações técnicas aos vereadores, buscando justificar a dificuldade da captação : a água lá em baixo e a cidade, lá em cima. Seria necessário um bombeamento que custaria milhões e, sinceramente, achava o problema de difícil solução a curto prazo, conforme desejavam : - Mas, doutor - pergunta o líder do prefeito - qual é o problema mesmo ?- O problema mesmo - responde o engenheiro - está ligado à Lei da Gravidade.- Isso não é problema - diz o líder - nós vamos ao doutor Israel e ele, com uma penada só, revoga essa danada de lei que, no mínimo, deve ter sido votada pela oposição, visando perseguir o PSD. O líder da oposição, em aparte, contesta o líder do prefeito e informa à edilidade, em tom de deboche, que "o governador Israel nada pode fazer, visto ser a Lei da Gravidade de âmbito Federal". E está encerrada a sessão. (A historinha é de José Flávio Abelha, em seu livro A Mineirice). CUT ou Força Sindical ? Uma grande peleja se aguarda. Será entre a CUT e a Força Sindical. A luta será pelos domínios do MTE. Esta seara tem sido administrada pelos pedetistas, comandados por Carlos Lupi e por Paulinho Pereira da Silva, presidente da Força. Paulinho acaba de ser reeleito deputado, lidera o partido e, evidentemente, quer continuar o mando naquele Ministério. Carlos Lupi, portanto, dependerá não apenas da força que tem no PDT, mas do apoio de Paulinho. Ocorre que a CUT quer emplacar no MTE o nome de Arthur Henrique, presidente da CUT. O ciclo Dilma será bastante movimentado no capítulo das relações trabalhistas. As Centrais Sindicais querem balizar os acontecimentos nessa área. Projeto delgado O deputado Paulo Delgado, uma das cabeças pensantes do PT, conseguiu chegar a um projeto sobre a terceirização de serviços, considerado o melhor entre os que tramitam na Câmara dos Deputados. Delgado discutirá este projeto, amanhã à tarde, com um grupo de sindicalistas e empresários. Serão analisados aspectos positivos e negativos. O deputado mineiro deverá fazer o aconselhamento e as indicações para que seu projeto entre na pauta de urgência da Câmara. Infelizmente, Paulo Delgado não conseguiu se reeleger. Mas será certamente um ativo participante dos eventos em torno da terceirização de serviços. Meirelles O presidente do BC, Henrique Meirelles, anda dizendo que só aceitará permanecer à frente da instituição, caso mantenha sua relativa independência. Conversa morna para acalentar bovinos. Meirelles até que gostaria de continuar. Mas, depois de 8 anos, entra na faixa da mesmice. Ganhou independência, não reduziu os juros como o setor produtivo sempre defendeu, foi firme em sua determinação de seguir à risca a rigidez da política cambial e de juros. Diz-se que Dilma não preza a inflexibilidade de Meirelles. Mas o Diretor de Normas do BC, Alexandre Tombini, com o maior cacife foi o convidado. E na infraestrutura ? É possível ? Mas Henrique Meirelles conseguiu produzir um figurino de respeito. Que não pode ser jogado simplesmente fora. Dilma, a presidente, poderá aproveitá-lo em uma Pasta da Infraestrutura. Nos últimos tempos, ele tem se aproximado do PMDB, procurando o presidente Michel Temer para sondagens. Mas o partido sempre o considerou uma carta do baralho de Lula. De qualquer maneira, se vier a ser escolhido, o PMDB deverá dar o endosso. Mangabeira Já o ex-ministro Mangabeira Unger não arreda pé dos espaços ocupados pelo presidente da Câmara e do PMDB, Michel Temer. O professor é um homem muito preparado. Culto e inteligente. Mas seu sonho de vir a ocupar o Ministério das Relações Exteriores é irrealizável. Não apenas porque este Ministério faz parte da cota pessoal da presidência, mas porque Mangabeira carrega muita polêmica em seu perfil. Coisa que não combina com as Relações Exteriores. Pode ganhar algum cargo de assessoramento. Algo que não esteja muito à vista. Belchior Cumprindo a meta de adensar o Ministério com a participação de mulheres, a presidente Dilma convidou Miriam Belchior para o Planejamento. Hoje, ela coordena o PAC. Rossi Wagner Rossi é um dos quadros qualificados do PMDB. Exerceu com discrição e competência as altas funções de ministro da Agricultura, após o afastamento de Reinhold Stephanes, reeleito deputado pelo PMDB do Paraná. Rossi é o nome que o PMDB defende para continuar à frente do Ministério da Agricultura. A conferir ! Kassab e o futuro Hábil articulador, Gilberto Kassab quer fazer um bloco reunindo PDT, PC do B e PSB, ao lado do PMDB, onde deverá ingressar nos próximos meses. A ideia é formar uma frente para abrir horizontes políticos, a partir de 2011. Para tanto, o prefeito de São Paulo inicia conversações para todos os lados. A ala quercista Agora, um pequeno grupo ligado a Quércia quer avaliar a entrada de Kassab no PMDB. Como se sabe, este partido foi praticamente destroçado em São Paulo no ciclo quercista. Elegeu, no último pleito, apenas um deputado Federal. O comandante Orestes Quércia está convalescendo. E ainda mantém o domínio do partido. Kassab representa sangue novo. Traria, de pronto, cerca de 10 deputados Federais para engrossar a sigla. Mas o prefeito Marcelo Barbieri, de Araraquara, ligado a Quércia, parece querer conservar a sigla magra, mas com um dono só. Cada qual com sua pequenez. Comando do Senado José Sarney está quase inclinado a aceitar a convocação para voltar ao comando do Senado em 2011. Falta o 'SIM' de dona Marly. Pacote regulamentador Espera-se até final de dezembro o pacote de regulamentação das telecomunicações. Que viria com as definições sobre a produção de conteúdos pelas teles. O temor é que o pacote chegue a abrigar controles de conteúdos nas mídias tradicionais. Acordão PT/PMDB Este consultor conhece os principais interlocutores do PT e do PMDB em matéria de presidência da Câmara. São três pessoas : os líderes Henrique Alves - PMDB, Cândido Vaccarezza - PT e o presidente da Câmara e vice-presidente eleito da República, Michel Temer. Pois bem, Henrique e Vaccarezza começaram a conversar. Vão analisar pontos positivos e negativos de cada ciclo e de cada candidatura (a deles mesmo) e acertar um rumo. A seguir, farão chegar ao presidente Temer a decisão. E se a coisa der empate - ou uma situação de inflexibilidade das partes - Temer entrará no circuito, agora como juiz. Valle de Los Caídos Quem vai à Espanha, é levado a conhecer o Valle de Los Caídos, o memorial franquista monumental e complexo, erguido entre 1940 e 1958, a cerca de 40 km de Madrid, em memória dos mortos na Guerra Civil Espanhola, de 1936 a 1939. Sua construção demorou 18 anos para ser concluída, formando um complexo composto de basílica, abadia e hospedaria. O Valle de los Caídos foi erigido para ser o panteão dos soldados franquistas "caídos" (ou seja, mortos em combate) durante a Guerra Civil Espanhola. Vale brasileiro No Brasil, o Valle de Los Caídos é a expressão usada para designar o cemitério dos derrotados na última campanha. Pois bem, os "mortos" acorrem vivamente na direção dos vitoriosos. Para clamar por uma fatia, um pedaço, uma nesga de poder. Querem um cargo público, se possível em uma estatal de proa. Os lobbies estão apertando os donos dos maiores latifúndios. O cemitério dos caídos é abrigo de representantes de todos os partidos. Os governadores eleitos estão sendo igualmente assediados. Cardozo José Eduardo Cardozo, preparado, sensível, pessoa educada, está a um passo da cadeira de ministro da Justiça. Abílio ? Não quer Se Abílio Diniz quisesse, há muito seria ministro. Agora, seu nome volta à tona, desta feita para substituir o jornalista Miguel Jorge no Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio. Diniz não quer. Tem muita coisa a fazer no seu império. Dá orientação estratégica, dirige reuniões, participa de eventos e faz, religiosamente, seus exercícios físicos. Deixar tudo isso para ser um burocrata não estaria na sua índole. Se topar, é porque a missão cívica venceu a parada. Gabrielli Sergio Gabrielli ficará mais um tempinho comandando a Petrobras. Depois, voltará à Bahia para integrar o governo de Jaques Wagner. Que lhe dará uma pasta de muita visibilidade e dinheiro. Gabrielli estará se preparando para ser o candidato de Wagner ao governo em 2014. Dilma no parlatório Dilma fará seu discurso de posse do Parlatório, em frente à Praça dos Três Poderes. E Lula, esta é a novidade, deverá falar. Geralmente, presidentes que se despedem, não falam. Mas Lula é... Lula. McCartney pleonástico Paul McCartney é um pleonasmo. Seu show, nesta segunda-feira, com o Morumbi todo ocupado, foi antológico, apoteótico, maravilhoso, fantástico. O maior e melhor que já vi em minha vida. Quase 3 horas de show ininterrupto, 40 músicas, belíssimas, e o cara nem um copo d'água tomou. Um monumento ao preparo físico. Um exemplo de músico completo. Lula dá o tom Guido Mantega no Ministério da Fazenda ? Indicação de Lula para permanecer. Gabrielli continuando na Petrobras ? Dizem que é sugestão de Lula. Aproveitar bem o Palocci ? Mais uma vez, a voz de Lula. E no BNDES ? Se Luciano Coutinho continuar, a sombra de Lula será também vista. Alckmin e o serrismo Tenho ouvido nos bastidores : Geraldo Alckmin vai formar um secretariado que seja espelho de seu DNA político. Quer dizer, não dará muito prestígio aos serristas. Alckmin sempre foi olhado de soslaio pelo grupo serrista. As alas só se dão bem nas aparências. O governador, por sua vez, sente-se agradecido a Serra por tê-lo trazido de volta ao batente da visibilidade. Pode retribuir, de leve, mas sem grandes afagos. Conselho à ANAC Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos comandos estaduais. Hoje, volta sua atenção à ANAC : O fim de ano se aproxima. As nuvens pesadas ameaçam paralisar não apenas as pistas dos aeroportos, mas os próprios saguões. Que estarão superlotados. Chega a informação de que a Agência Nacional de Aviação Civil proibirá as companhias aéreas de praticar o overbooking - venda de mais passagens que os assentos disponíveis nos aviões. Pois bem, para que esta informação não caia no vazio, urge : 1. Baixar imediatamente Portaria nesse sentido e fazer ampla divulgação na mídia. 2. Disponibilizar nos aeroportos guichês para acompanhamento, monitoramento e controle da situação aérea neste final de ano. 3. Implantar sistemas capazes de administrar tempestivamente quaisquer eventos que impliquem caos aéreo com a punição imediata dos responsáveis. ____________
quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Porandubas nº 252

NewtãoEncontrei-me, sábado último, com o ex-governador mineiro e deputado Newton Cardoso em uma roda de conversa na Casa do Presidente da Câmara. Ouvi histórias muito engraçadas e causos da política mineira. Newtão mostrou que é bom de prosa. Pois bem, que ele me perdoe, mas abro a coluna de hoje, tomando emprestadas do amigo Sebastião Nery alguns episódios que têm como alvo o próprio grande empresário e político. Newton Cardoso foi prefeito de Contagem, deputado Federal, governador, vice-governador de Minas Gerais e, agora, é novamente deputado. Os adversários lhe atribuem velhas gafes que a UDN atribuía a Benedito Valadares : 1. Dona Dezinha : "Se eu soubesse que meu filho Newton ia ser importante e virar governador de Minas, eu tinha botado ele para estudar de pequeno." 2. Preocupado com as notícias de que o leite estava contaminado, Newton pegou um pastel e começou a mexer dentro da xícara. "Por que você está fazendo isso ?" "Para pasteurizar o leite." 3. Newton no palanque : "Minas sempre se preocupou mais com a criação de bovinos e equinos. Agora, eu vou cuidar também da criação de porquinos." 4. Newton, numa entrevista : "Precisamos acabar com a fila do IMPS." O assessor lhe fala : "Não é IMPS, é INPS." "Nada disso. Desde lá de Brumado que eu aprendi que antes de P e B se usa M." 5. Comício em Betim : "O problema de Minas é falta de fé. Vamos juntar minha fé, sua fé, nossas fezes, para salvar Minas." Fusão ou confusão ? Neste momento, alguns partidos acendem o pavio das fusões. Primeiro, o DEM, que poderia entrar em fusão com o PMDB. Essa era a intenção inicial do prefeito Gilberto Kassab. Imaginava ele que o DEM, a partir da derrota de José Serra, teria de se fortalecer caso se fundisse com outra legenda. Como o PSDB tem muitos caciques, Kassab imaginou o PMDB como a sigla ideal. Lá, ele tem muitos amigos, a partir do presidente Michel Temer, recém eleito vice-presidente da República. Poderia ser um bom casamento. Mas a coisa desandou e causou confusão. DEM, ícone conservador A cúpula do partido está cindida. Os Bornhausen, pai e filho, até poderiam topar a parada. Marco Maciel, que acaba de perder a eleição para o Senado, em Pernambuco, também toparia. ACM Neto aceitaria caso viesse a liderar a sigla na Bahia, mas Geddel, um peemedebista histórico, jamais aceitaria essa condição. Mas quem brecou a parada foram os Maia, César Maia, que perdeu a eleição para o governo do Rio de Janeiro, e o filho, Rodrigo, presidente da sigla e reeleito para a Câmara dos Deputados. Rodrigo surpreendeu com esta : o DEM vai assumir a liderança do conservadorismo nacional. Será, assim, de cara aberta a entidade que assumirá o espaço da direita. Entre centro e direita Entre o centro e a direita, o prefeito Gilberto Kassab não tem dúvidas. Prefere o espaço centro-democrático do PMDB. Não se sente confortável em um partido que quer assumir posições retrógradas e conservadoras. Acontece que essa operação não será coisa fácil. Algumas figuras do PMDB de São Paulo, receosas de perderem posição na sigla, temem que Kassab, mais cedo ou mais tarde, lidere o partido. O prefeito só entrará no PMDB com o endosso do presidente Temer, com quem conversa sempre. São Paulo, por outro lado, é o principal colégio eleitoral do país. Nesse Estado, o partido definhou nos últimos anos. Precisa de oxigênio, um novo pólo de poder, pessoas com capacidade de aglutinação. Gilberto Kassab é o perfil adequado que chega no momento certo. Lá para fevereiro ou março, essa operação deverá se concretizar. Comandos das casas A interrogação continua : quem comandará a Câmara e o Senado ? Se José Sarney quiser continuar à frente da Câmara Alta, tem todas as condições. O maior empecilho se chama dona Marly, sua mulher, que quer ver o marido livre de maiores pressões. Sarney seria imbatível. Se não topar, para cuidar melhor da saúde, poderá canalizar sua votação para Edison Lobão. Mas este gostaria de voltar ao Ministério das Minas e Energia. Dizem que a propensão da presidente Dilma é a de mudar todos os comandos, deixando apenas um ou outro, como Mantega, na Fazenda. Alternativas Se Edison Lobão voltar ao Ministério, o nome de Garibaldi Alves emerge. O senador, com quem me encontrei ontem à noite, repete o mantra : "tenho um compromisso com Henrique". Henrique Alves, seu primo, quer comandar a Câmara no primeiro biênio. Ocorre que o PT também luta pela direção. Os nomes de Cândido Vaccarezza, Arlindo Chinaglia, João Paulo Cunha e o atual vice da Câmara, Marco Maia, estão na mesa. Vaccarezza teria maior cacife por conta do trabalho realizado como líder do Governo naquela Casa. Ele quer comandar a Câmara, a partir de 2011, sabedor que, em 2013, quando se inicia o segundo biênio, os rumos seriam outros. No PT, a disputa entre elas é mais árdua que no PMDB. Henrique até poderia esperar, Vacarezza, não. O processo de canibalização entre petistas é comparável aos tempos do canibalismo indígena. Nesse caso... Se Vaccarezza ganhar a parada, Henrique Alves deverá se preparar para o segundo biênio, que, sob o ponto de vista de peso e importância, é melhor, eis que mais próximo ao calendário eleitoral de 2014. Nesse caso, Garibaldi Alves, o filho, teria chances. Mas os votos dependem, ainda, dos rumos a serem tomados por Sarney e Renan Calheiros. Este senador, que já presidiu a Casa, tem vontade de voltar à cadeira presidencial. Esbarra, porém, no imbróglio que o fez renunciar à presidência. Calheiros, vale a pena lembrar, continua a ter grande força junto ao corpo de senadores do PMDB. Ao lado dele, circula com desenvoltura o recém reeleito e poderoso senador Romero Jucá. A vez de Henrique O PMDB é matreiro. Pode formar um blocão com PR, PP, PTB e PSC, que reunirá sob o mesmo abrigo 202 deputados. A se confirmar esse conjunto, vejo Henrique Alves solidamente sentado na cadeira de presidente da Câmara. O PT teria ido com muita sede ao pote. Anunciou a formação de bloco, animando, então, o PMDB a entrar na arena. Adeus, Bono Sexta passada, no final da tarde, deixou-nos desolados o amigo Julio Bono. Morto em circunstâncias trágicas e surpreendentes, em Porto de Galinhas/PE. Ali se encontrava para descansar da intensa labuta da campanha eleitoral. Braço direito de Michel Temer, Bono, o amigo faz-tudo, morreu afogado. Levado por uma forte corrente, logo no início da praia, caiu num buraco. Deve ter desfalecido por conta de forte batida em uma pedra ou ter sido vítima de mal súbito. Só pode ser isso. Bono era coronel, bombeiro da PM e tinha, até, curso de mergulho. Seus inúmeros amigos, do PMDB e de outros partidos, acorreram à Brasília para prestar sua última homenagem a quem espalhou o bem para todos os lados. PMDB unido Este consultor teve oportunidade de ouvir e conversar com deputados peemedebistas de todo o país, que foram à Brasília prestar uma última homenagem a Julio Bono. O PMDB nunca esteve tão unido como hoje. A unidade construída por Michel Temer é maior do que a conseguida, um dia, por Ulysses Guimarães. Essa era a tônica de todas as conversas. E mais : Michel foi claro na indicação de que fará votar, na próxima Convenção do partido, o fechamento de posições assumidas nacionalmente pela sigla. Decisão tomada pelo PMDB deverá ser obedecida. E disse mais : quem não se dispuser a cumprir a verticalidade decisória, deve tomar outros caminhos. Autoridade Olímpica O boa praça Orlando Silva poderá ganhar a nomeação de "Autoridade Olímpica" e, nessa condição, coordenar os programas e atividades relacionadas à Copa de 2014 e às Olimpíadas de 2016. O ideal seria acumular as funções com o cargo de ministro dos Esportes. Mas há um grupo forte que deseja repartir os comandos. Painel na OAB Hoje, em Brasília, participarei como expositor de painel sobre Sistema de Governo, promovido pelo Conselho Federal da OAB. O primeiro painel será presidido pelo ministro Enrique Ricardo Lewandowski, tendo como expositores, ao meu lado, o jurista e ex-presidente do STF, Carlos Mário da Silva Velloso e o senador Demóstenes Torres. Discorreremos sobre Reeleição e Prazo de Mandato do Presidente da República. Noutra mesa, estarão o presidente da Câmara, Michel Temer, o jurista Luis Roberto Barroso e a cientista política Argelina Figueiredo, que debaterão o tema SemiPresidencialismo como Mecanismo de Atenuação da Hegemonia Presidencial no Brasil. Sistemas eleitoral e partidário O segundo painel será sobre o Sistema Eleitoral, presidido pelo ministro Carlos Ayres Britto, e com exposição sobre Sistema Distrital Misto por Luiz Viana Queiroz, Jairo Nicolau e Pedro Simon; e exposição sobre Sistema de Lista Fechada, Restrições às Coligações por Pedro Abramovay, Marcus André Melo e Miro Teixeira. O terceiro painel será sobre Sistema Partidário, envolvendo as temáticas Cláusula de Barreira, Fidelidade Partidária, com exposições de Claudio Pereira de Souza Neto, André Marenco e Aldo Rebelo; e Financiamento Público de Campanha, com exposições de José Paulo Sepúlveda Pertence, Lucio Rennó e José Eduardo Cardozo. Estilo Dilma Ninguém espere por leniência ou tibieza por parte da nova presidente. Dilma usará a autoridade no limite da liturgia do cargo. Diz-se que não quer formar um Ministério com pessoas derrotadas no pleito. Poder Executivo não é um "vale dos caídos". Portanto, ministros derrotados devem rever planos de volta ao governo. Será uma controladora rigorosa de programas e ações. Sim, sim, não, não. Rescaldos na Justiça Os rescaldos das lutas eleitorais tendem a chegar à Justiça. Partidos começam a arrumar dossiês para encaminhamento ao TSE. Vão apontar processos de cooptação ilegal de votos. Entre os casos mais escabrosos, aponta-se a eleição de Roraima, onde o tucano José Anchieta está sendo torpedeado por seus adversários. Temer e a Defesa Michel Temer poderá acumular a vice presidência da República com a Pasta da Defesa. O atual vice José Alencar também fez essa acumulação no passado. Mulheres no Governo Não é de admirar se Dilma Rousseff adensar a participação de mulheres no governo, seja em Ministérios seja em cargos importantes do segundo escalão. Ela quer dar um significado todo especial à condição feminina. A jovem deputada Manuela D'Ávila, do PC do B do Rio Grande do Sul, tem chances de fazer parte da foto oficial do primeiro Ministério. Cardozo Comenta-se que o deputado José Eduardo Cardozo, secretário geral do PT e um dos comandantes da campanha, seria nomeado para o STF. Este consultor sempre trabalhou com a ideia de que ele seria o figurino exemplar para o Ministério da Justiça. O cargo lhe cai muito bem, professor de Direito Constitucional que é. Zum-zum-zum Há um zum-zum-zum em meios empresariais de que, diante de um tsunami internacional, a partir de ondas em formação nas praias norte-americanas e chinesas (desvalorização das moedas), as condições brasileiras serão bem diferentes das exibidas no ciclo Lula. Temores que aparecem como nuvens cinzentas. Touraine e o risco O sociólogo Alain Touraine, muito amigo do ex-presidente FHC, identifica riscos de radicalização por parte do governo Dilma. Teme ele por uma guinada populista, com ameaças à liberdade de imprensa e de organização. Por mais que este consultor respeite o grande pensador, ousa discordar. Não há clima no país para um retrocesso. As condições macroeconômicas - e a interdependência entre as fronteiras do mundo globalizado -, as condições políticas (o presidencialismo de coalizão) e as condições sociais (os novos pólos do poder social, por meio das entidades intermediárias) inviabilizam uma volta ao passado. E nem o PT toparia chancelar suas alas mais radicais. Conselho aos comandos estaduais Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos governantes. Hoje, volta novamente sua atenção aos governantes, particularmente aos comandantes das máquinas estaduais : 1. Escolham os melhores quadros do Estado - em todas as áreas - para integrar a estrutura governamental. 2. Evitem lotear a máquina com atores sem preparo e brilho. As administrações estaduais carecem de inovação, qualidade e constante esforço de aperfeiçoamento. 3. É claro que os partidos que chegaram ao poder carecem de prestigio e força nas novas administrações. Mas não podem e não devem comprometer áreas e espaços nobres da gestão, sob pena de formar inviáveis as metas governamentais. ____________
quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Porandubas nº 251

"A Mineirice" Começo, hoje, com mais uma historinha de José Maria de Alkmin, ministro da Fazenda, pinçada do livro "A Mineirice", que o amigo, historiador, pesquisador e contador de "causos", José Flávio Abelha, me manda. As frases, entremeadas na Coluna, também são do livro. Quer ir à lua ? Diga a data Um correligionário de Bocaiúva fica meio lelé-da-cuca e surge, sem eira nem beira, no gabinete do ministro, ainda no Rio de Janeiro, onde lhe pede uma inusitada colaboração. - Dr. Zé Maria, eu quero ir à lua e preciso da ajuda do senhor, diz o visitante. - Isto não é problema, diz Alkmin, dando asas à imaginação do conterrâneo. Dou-lhe o apoio, de ministro e correligionário. Existe um pequeno e contornável problema, que é de definição, e só depende do amigo.E Alkmin continua: - Você sabe que há quatro luas: nova, crescente, minguante e cheia. Agora, compete a você escolher qual das luas o nobre amigo deseja visitar, pois o apoio está dado. Diante de um atônito conterrâneo, o ministro levanta-se da poltrona, estende a mão para a despedida e afirma, olhando no fundo dos olhos do eleitor: - Me procure, novamente, quando definir ! 1º Biênio na Câmara O primeiro imbróglio a ser administrado pelo vice-presidente eleito, Michel Temer, será a presidência da Câmara no primeiro biênio. Henrique Alves, líder do PMDB, disputa o cargo com Cândido Vaccarezza, líder do Governo naquela Casa. A tradição é a seguinte : quem dispõe da maior bancada pode reivindicar o comando da Câmara. O PMDB, por muito tempo, tinha essa condição. No pleito deste ano, o PT passou o PMDB : 89 a 79. Mas o PMDB, anos atrás, mesmo na ponta do ranking, cedeu a vaga ao PT. A condição era a de assumir a presidência no biênio seguinte. Houve um acordo de cavalheiros. Cumprido religiosamente. Pode o acordo ser repetido em 2011 ? Vamos ver O primeiro biênio é o que impõe maiores desafios. As articulações são mais intensas, as disputas mais ferrenhas. Henrique Alves aspira, há tempos, presidir a Câmara. Trata-se do deputado com o maior número de mandatos : começará o 11º mandato em 2011. Pode ceder essa ambição a Vaccarezza ? Sim. Vai depender das negociações entre os dois partidos, abarcando o número e a qualidade dos ministérios e outros postos na administração federal. O PT exibe um bom argumento : o Senado já será comandado pelo PMDB, pois ali a tradição assegura o comando ao partido com maior bancada. Henrique poderia ser motivado por um detalhe : se topar ser presidente no 2º biênio, ganharia a condição para reeleição no 1º biênio da legislatura a começar em 2013. É vantagem ? Mas e o governo do RN ? Este consultor coloca o argumento ao crivo de Vaccarezza com o arremate : o 2º biênio é bem mais interessante que o primeiro. O líder do governo concorda, mas acha que Henrique prefere o primeiro para preparar caminho na direção do governo do Estado em 2014. Replico : ora, mais uma razão pela opção ao 2º biênio. Estaria mais próximo ao embate eleitoral de 2014. E jogo outro condimento na conversa : Henrique só enfrentaria esse desafio caso a governadora Rosalba Ciarlini não estivesse bem na avaliação popular. Pelo que entendo de política do Rio Grande do Norte, ela fará uma administração muito colada nas demandas populares. Talvez seja por isso mesmo que Henrique queira emplacar logo, logo, a presidência da Câmara. Temer, o árbitro Michel Temer terá, portanto, a missão de unir os contrários, juntar as partes para evitar atritos ao Todo, as bases do governo. Além de questões inerentes ao PMDB, será uma ponte sólida do novo governo para chegar ao Congresso. Michel conhece os conjuntos parlamentares, se fez respeitar e conversa bem com todas as alas. Terá, claro, dificuldades mas aplainará terreno para que a presidente Dilma não tenha grandes dores de cabeça. A temporada de pleitos por espaços e cargos será tortuosa. O atual presidente da Câmara, escolhido como coordenador político da transição, já começou a exercitar as habilidades de articulador e harmonizador das disputas partidárias. O que tira o sono do candidato eleito é o olhar do suplente. (Hélio Garcia) Dilma, a identidade O maior desafio da presidente Dilma, no primeiro momento, é a construção da Identidade. Trata-se de criar um conceito, entendido como a maneira de agir, o estilo de comando, o modo de atender as demandas, o sentido da autoridade, as características que a diferenciarão do governo Lula. É evidente que, para alcançar essa meta, Luiz Inácio terá de recolher sua condição de Senhor dos Senhores. Precisa ficar na sombra, sob pena de ofuscar o brilho de sua pupila. Quando for consultado, claro, deverá dar palpites, sugestões, sinalizar ajustes, apontar caminhos. A interferência de Lula na administração seria péssima para ele e para a nova governante. Político é dividido em duas partes. Uma trabalha para ser eleito. A outra trabalha para conseguir um cargo público se for derrotado. (Zenun) Criatura contra o criador ? Não se espere que a criatura se volte contra o criador, como muitos procuram argumentar, lembrando os casos de Fleury contra Quércia e Pitta contra Maluf. O PT, tenho sempre dito, é mais que um partido. É uma religião. E se alguém, por mais poderoso que seja, se dispuser a trair o partido, estará traindo seus dogmas, suas normas, seus princípios. Seria um suicídio. Dilma não cairia jamais nessa besteira. Seria marginalizada não apenas pelo PT mas por outros aliados. O verbo VOTAR só é verdadeiramente regular quando o eleitor é nosso. (Tancredo Neves) E Lula, o que fará ? Lula não se afastará da política. Seu habitat é o palanque, sua voz é a corneta de mobilização e seu prazer é o convívio com a massa, donde extrai a vitamina que oxigena seu espírito. Correrá mundo, como um caixeiro-viajante, propagando o bem que fazem seus programas sociais, a partir do Bolsa-Família. A África será o continente onde quer plantar algumas sementes. Mas seu foco continuará a ser os fundões do país, onde criou raízes desde os tempos das caravanas da Cidadania. Por isso, não se descartam novas viagens de Lula pelo território, agora sob o argumento de avaliar a seara plantada. Nisso é um craque. Entre viagens, aqui e alhures, palestras e encontros, Luiz Inácio disporá de tempo para reorientar rumos do PT e harmonizar as alas, que vivem em dissensão. O terceiro olho - o do meio da testa - contemplará horizontes mais largos. E Serra, o que fará ? José Serra, por sua vez, dispõe de um capital que tende a se esvair ao longo do tempo. No curto prazo, suas ações são muito valorizadas. Basta anotar que a população se dividiu quase meio a meio, com parcela ponderável adquirindo suas ações. O ex-governador, porém, amarga duas derrotas à presidência e, diferente de Lula (que também as experimentou) não tem o carisma deste. E nem a proteção do cobertor social costurado pelo lulismo. Teria à disposição daqui a 2 anos o amplo espaço da prefeitura de São Paulo. Seria certamente forte candidato, ancorado no recall da candidatura presidencial. Muita campanha eleitoral se parece com sauna: depois de calorão vem uma ducha fria. (Zenun) Até logo, até quando ? Tal opção, porém, soaria como um passo atrás. Como soa estranho o anúncio de que poderá vir a ser secretário de Alckmin. O "até logo" com que agradeceu aos eleitores pode ser entendido como "voltarei assim que for possível". A visibilidade de árvore mais alta na floresta tucana faz sombra ao florescimento de novos exemplares. Seu desafio é o de se encaixar no projeto de renovação do PSDB. O partido está a exigir uma reaprendizagem na forma de fazer oposição. Precisa chegar às massas, coisa que nunca conseguiu. E Marina, o que fará ? Marina saiu bem na radiografia eleitoral. Poderá desempenhar o papel de indutora de novos ideários, a partir do engajamento de conjuntos médios formadores de opinião e da mobilização de segmentos jovens. Dispõe ela de boa reserva de carisma, acentuado por sua estética que evoca Gandhi. Sua ação poderá ser amplificada por núcleos da intelligentzia e setores engajados à causa ambiental. Identifica-se, ainda, com a bandeira ética, que se apresenta como símbolo da louvação nacional. A ex-senadora terá sempre boa acolhida nos palcos das grandes metrópoles. Dúvida : manterá a visibilidade ? Guilherme Leal, seu companheiro de chapa, empresário rico, vai continuar bancando os holofotes de Marina ? Candidato que, antes da eleição, pensa que já está eleito, não é político. É poeta ! (Tancredo Neves) PSB e Campos Eduardo Campos faz um movimento na direção de Aécio Neves. Prestem atenção nesse rapaz. Foi consagrado na reeleição ao governo de Pernambuco. O PSB, que dirige, fez 6 governadores. Cid Gomes, o governador do Ceará, seu correligionário no PSB, lançou Aécio Neves para a presidência do Senado. Um arremesso fora de propósito, eis que na Câmara Alta preza-se muito a liturgia do poder. E a liturgia reza : quem tiver a maior bancada, leva a presidência. Sabedor disso, Aécio já anunciou que não é candidato. Mas, o ato de lançamento de seu nome por alguém do PSB é sinal de aproximação e identificação de interesses. Tudo com vistas a 2014. Novo Código Eleitoral Participei da Audiência Pública, promovida pelo TER/SP, para debater o Código Eleitoral e propor seu aperfeiçoamento. Estas audiências são patrocinadas pelo Senado, que formou um Grupo de Trabalho, presidido pelo ministro José Antonio Dias Toffoli, do STF. Falei sobre os desvios, ilegalidades e contrafações da campanha, destacando : a escolha de candidatos pelos partidos (sem nenhum critério), o formato defasado/saturado da propaganda eleitoral, a prevalência do marketing nas campanhas, as diferenças metodológicas e os erros das pesquisas, a falta de controle sobre condutas dos agentes públicos. As audiências públicas oferecem contribuições ao Grupo de Trabalho, que apresentará ao Senado o acervo de mudanças e aperfeiçoamentos. Sobrevivendo Tancredo Neves foi ex-tudo na política brasileira. Voltando à crista da onda, explica a um correligionário como conseguiu sobreviver após 64 : - Aceitando o impossível, passando sem o indispensável e suportando o intolerável. Afinal, sou mineiro ! Blocos partidários A movimentação para formação de blocos partidários começou. Os primeiros ensaios mostram que o PR e o PP podem formar um bloco, somando 82 deputados na Câmara. A estes dois partidos, poderá se somar o PTB, e o bloco chegaria, então, a 103 deputados. O segundo bloco, que está sendo articulado, juntaria PSB, PDT, PC do B e PRB. PT e PMDB, por enquanto, não falam de blocos. O preço do voto de um eleitor mentiroso é sempre o mais caro. (Augusto Zenun, mineiro, político, industrial e filósofo) O oxigênio do DEM O DEM abriga um conjunto de grandes parlamentares, dentre eles, alguns muito aguerridos como Paulo Bornhausen, ACM Neto, o próprio Rodrigo Maia, Ronaldo Caiado etc. Esse grupo encarna um forte ideário. Ademais, o partido acaba de eleger dois governadores, Raimundo Colombo (SC) e Rosalba Ciarlini (RN). E tem um dos mais hábeis quadros da política nacional, um exímio articulador : o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab. Portanto, trata-se de um partido com muito oxigênio para gastar nos próximos verões e invernos da política. Fala-se em fusão do DEM com o PMDB. Se isso vir a ocorrer, um dia, seria um sopro de renovação no PMDB, que carece de sangue novo. É evidente que essa operação, para ocorrer, precisa levar em conta os interesses e as bandeiras dos dois partidos. Conselho aos novos governantes Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos eleitores. Hoje, volta sua atenção aos novos governantes : 1. Tentem interpretar o sentido do voto e ouçam o clamor das ruas. 2. Procurem sair do ramerrão dos velhos pacotes e procurem inovar nas ideias, no estilo de gestão, na escolha de quadros, na articulação política. 3. Estabeleçam mecanismos eficazes de controle da eficácia governamental, evitando cair nas velhas rotinas da administração pública. Antes de 1º de janeiro, há um bom tempo para buscar a inspiração em modelos e formatos que estão dando certo. ____________
quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Porandubas nº 250

"Aposentem o homem" Dinarte Mariz era governador do Rio Grande do Norte. Em uma de suas costumeiras visitas à Caicó, visitou a feira da cidade, acompanhado da sempre presente Dona Nani, secretária de absoluta confiança. Dá de cara com um amigo de infância e logo pergunta : "Como vai, Zé Pequeno ?" O amigo, meio tristonho e cerimonioso, responde : "Governador, o negócio não tá fácil; são oito filhos mais a mulher...tá difícil alimentar essa tropa vivendo de biscate. Mas vou levando até Deus permitir." O velho Dinarte o interrompe de pronto : "Zé, que é isso, homem, deixe essa história de governador de lado. Sou seu amigo de infância, sou o Didi !" Vira-se para Dona Nani e ordena : "Anote o nome do Zé Pequeno e o nomeie para o cargo de professor do Estado." Na segunda-feira, logo no início do expediente, Dona Nani entra na sala de Dinarte e vai logo informando : "Governador, temos um problema, o Zé Pequeno, seu amigo, é analfabeto; como podemos nomear..." Antes que concluísse a fala, o governador atalha : "Virge Maria, Dona Nani ! O Rio Grande do Norte não pode ter um professor analfabeto. Aposente o homem imediatamente." E assim foi feito ! Historinha enviada pelo amigo Lindolfo Sales. Reta final Já dá para ver a faixa de chegada esperando os corredores na pista. Semana passada, Dilma estava 12 metros na frente de Serra, cada metro comportando 1 milhão de eleitores. Se a atleta, nos últimos espaços que resta para completar a jornada, mantiver o ritmo, é mais que provável que seja a vitoriosa. Tudo vai depender do sopro que o tucano recebeu nos últimos dias, despejado pelos tubos de Aécio Neves e Geraldo Alckmin. A questão é saber se esses grandes cabos eleitorais têm conseguido efetivamente efetuar grandes transfusões de oxigênio para José Serra. Dúvidas Minas Gerais continua sendo a grande incógnita. Os mais de 14 milhões de mineiros deram uma retumbante vitória a Dilma. Agora, os prefeitos são convocados por Aécio e Anastasia para despejar os votos de suas bases em Serra. Essa operação terá sucesso ? Minha visão é de que prefeitos trabalham com a perspectiva de poder. Anastasia é perspectiva de poder. Tudo bem. Dilma também o é. E nesse sentido, se perceberem que a candidata tem mais condições de levar a melhor, permanecerão com ela. Tendem a se alinhar com o sentimento do eleitorado. 10 pesquisas O país baterá esta semana o recorde nacional em matéria de pesquisas. Todos os Institutos conhecidos e mais alguns novos jogarão uma batelada de pesquisas no colo dos eleitores. Amanhã e depois, já se pode fazer uma inferência melhor. Dependendo da tendência - crescimento ou queda - de uma e outro, teremos uma visão mais clara do que acontecerá domingo. Será muito difícil tirar 1,5 milhão de votos, por dia, de Dilma. Mas em política não existe o adjetivo impossível. Numa régua de 0 a 100, Dilma tem, hoje, 99 pontos. Este consultor arrisca dizer que a fatura está quase liquidada. Debates ? Banalizados... Até os debates se tornaram banalizados. Poucos conseguem vê-los até o final. As estocadas se repetem, as respostas são previsíveis e as visões sobre os programas não deixam perceber grandes diferenças. A sensação é a de que esse modelo está esgotado. Sem criatividade. Sem emoção. Sem densidade. Os debates perdem o sentido de visão entre contrários para ganharem a roupagem de monólogos. Canibalização recíproca Basta ter visto o debate da TV Record. Estocadas de ambos os lados, respostas atravessadas. O formato, mesmo ancorado em perguntas dos candidatos, está esgotado. Debates deveriam selecionar focos específicos : saúde, segurança, educação, transportes, programas sociais. Os candidatos deveriam aprofundar as temáticas, evitando a adjetivação pesada. Que não constrói. E afasta o eleitorado. Que fica zonzo com os tiros se chocando no ar. Ciclo pós-eleitoral A essa altura, já se começa a abrir o horizonte pós-eleitoral. Outras contendas se estabelecerão. Partidos desejando impor reivindicações e nomes para a composição de Ministérios e estruturas da administração. As maiores siglas disputando maiores fatias. E apontando as áreas de maior interesse. PMDB e PT começando uma intensa articulação em torno das presidências do Senado e da Câmara. No Senado Para o Senado, a indicação de maior peso é do senador Edison Lobão, que é do PMDB e é do Maranhão. Sarney teria uma eleição quase consensual, mas não tem mais apetite porque quer cuidar mais da saúde. Por isso, tem Lobão como seu candidato. Romero Jucá, bem eleito em Roraima, foi envolvido no episódio de cooptação ilegal de votos. Garibaldi Alves, o mais votado no Rio Grande do Norte, já anunciou que recua da candidatura à presidência do Senado em favor do pleito do primo, Henrique Alves, ao comando da Câmara. E Renan Calheiros, que manobra o corpo de senadores, ainda está com a imagem abalada por conta de episódios do passado recente. Na Câmara Para a Câmara o PT já tem alguns nomes. O mais forte, até o momento, é o do líder do governo na Câmara, Cândido Vaccarezza. Mas outros nomes se colocam na disputa, entre os quais Marco Maia, gaúcho, atual vice-presidente; e os ex-presidentes da casa, Arlindo Chinaglia e João Paulo, do PT paulista. O PT alega que tem direito a começar a primeira legislatura do ciclo porque fez maioria dos deputados. O PMDB deve se conformar com a segunda legislatura. Mas o PMDB, no passado, mesmo tendo alcançado a maior cota de parlamentares, abriu para o PT. Este alega que o Senado deverá ser comandado pelo PMDB. Mas os peemedebistas alegam que o PT, se Dilma for eleita, terá a presidência da República. O PT se dispõe a fazer um bloco somando 96 deputados. O PMDB também promete fechar um bloco com a mesma quantidade, 96. Cinzas no horizonte. Homenagem ao nordeste O PMDB, a partir do seu bloco, vai lutar pela presidência da Câmara. O candidato do partido é o potiguar Henrique Eduardo Alves. Aliás, este parlamentar tem o maior número de mandatos na Câmara. Henrique expressa um argumento a mais : Dilma será consagrada pelo eleitorado nordestino. Terá na região uma votação estupenda. A presidência da Câmara seria, portanto, uma homenagem que o PT e Dilma fariam ao nordeste. Argumento de peso. Nomes para ministérios Com a mais provável eleição de Dilma, nomes já começam a compor as planilhas dos ministérios. Antônio Palocci é o mais cotado perfil do PT a ocupar um cargo de destaque, ou seja, um ministério de envergadura. Fala-se na Casa Civil. Palocci, nesse caso, seria uma espécie de primeiro ministro, o coordenador geral das ações do governo. Tem equilíbrio, é educado, bem articulado, sabe ouvir e preencher lacunas. Zé Eduardo Cardoso, se não quiser ir para o STF, poderá ocupar a cadeira da Justiça. Marco Aurélio Garcia continuaria na Assessoria Internacional ou mesmo no Ministério das Relações Exteriores. É ideia também aproveitar José de Filippi, recém eleito deputado e que cuidou das finanças da campanha da candidata. Nos outros partidos, os nomes estão ainda na pia do batismo. Passarão pelo corredor dos acordos e negociações. Não é inscrito na OAB Em Antenor Navarro, Paraíba, havia um júri. O juiz da comarca, Nelson Negreiros, viu o réu chegar sem advogado de defesa : - O senhor não tem advogado ? - Tenho, doutor juiz. Meu advogado é Deus. - Não serve. Não é inscrito na Ordem. Jader e o Ficha Limpa Hoje, o STF deverá avaliar o caso Jader Barbalho, que obteve mais de 1,7 milhão de votos para o Senado. Ele foi enquadrado na Lei da Ficha Limpa porque em 2001 renunciou ao mandato para escapar da cassação. Voltou a se candidatar a deputado federal em 2002 e foi reeleito em 2006. Diz o ministro Marco Aurélio : "ele renunciou mas obteve registro eleitoral em duas disputas posteriores. Se sacramentarem que ele está inelegível, vão ter que interromper o atual mandato. Por isso, a lei não pode retroagir". Estamos curiosos para ouvir a decisão do STF. Multas de campanha Dilma recebeu 11 multas na campanha, que resultaram em R$ 53 mil. Serra ganhou 9 multas, mas o total chegou a R$ 70 mil. Lula sofreu 7 multas, que somaram R$ 47,5 mil. Preço inexequível O senador Marcondes Perillo tenta aprovar projeto que obriga órgãos públicos a assumir dívidas de empresas terceirizadas que lhes prestaram serviços e deixaram de pagar direitos trabalhistas. Se o projeto for aprovado, os órgãos públicos teriam prejuízos ainda maiores, principalmente na contratação de serviço de segurança privada. Isso porque as normas atuais do processo de licitação em nada incentivam a atuação de empresas sérias, já que tal critério não contribui com setores em que o barato sai caro, caso da segurança. Empresas de segurança privada, que não são sérias, ganham licitação por cumprir o critério do menor preço, mas acabam vendendo gato por lebre, causando sérios prejuízos aos contratantes. Medida simples e interessante seria desconsiderar empresas que prometem cumprir o contrato a um preço muito aquém do valor real. Zé Dirceu Pergunta recorrente : e Zé Dirceu ficará em algum cargo ? Difícil. Depois de virar saco de pancadas e ainda enfrentar a questão dos aloprados, em julgamento pelo STF, seria complicado tê-lo numa linha de frente. Mas o ex-ministro e ex-presidente do PT continuará a ter força monumental. Tem seguidores por todos os lados. Sabe manejar nos bastidores. Romper com o Governo ? Jamais ! O Senado estava agitado, aquela tarde. Alguém se levantou e gritou : - Precisamos romper com o Governo. O velho senador Cunha Melo, do Amazonas, pegou o chapéu, levantou-se e foi saindo de fininho : - Há coisas que não se deve nem ouvir. CNI em SP Fará muito bem o novo presidente da CNI com a disposição de dividir a semana entre Brasília e São Paulo. Por aqui, o caldeirão produtivo ferve. E é importante sentir sua temperatura. São Paulo continua a ser a locomotiva econômica do país. Não pode ser deixado de lado. A FIESP, por seu lado, perde credibilidade com a disposição de seu presidente de se enfiar no saco da política. Parabéns a Robson Andrade pela visão que tem sobre a rotina da CNI. Na TV Globo ? Quem tem grandes expectativas sobre o debate na sexta-feira, na TV Globo, pode tirar o cavalinho da chuva. Será o 10º debate, apenas mais um. Não alterará em nada o resultado das eleições. O que Lula vai fazer ? Pergunta recorrente : o que Lula vai fazer depois de deixar o cargo ? Este consultor arrisca algumas respostas : 1. Não vai se aposentar, pois se ilumina com o poder; 2. Vai construir o seu Instituto, abrigo que ex-presidentes geralmente procuram para servir de foro qualificado de pensamentos e ideias; 3. Viajará pelo mundo, com especial destaque para os países da África, onde tentará plantar sementes dos programas sociais que desenvolveu; 4. Dará conselhos a Dilma, sendo, desta forma, um conselheiro-pai, um orientador de rumos; mas não vai interferir no dia a dia da candidata, até para que ela construa sua Identidade; 5. Comerá, sim, uns coelhos em seu sítio nas proximidades de São Bernardo do Campo; 6. Terá um olho no presente e outro no futuro, principalmente para as proximidades de 2014. Em Roraima O eleitorado de Roraima é o menor do Brasil. Ali, a campanha está fervendo, mas as pesquisas apontam para a vitória do ex-governador Neudo Campos sobre o atual governador, Anchieta Júnior. A diferença estaria entre 8 e 10 pontos pró-Neudo. Cairia, assim, mais um enclave tucano no norte do país. Anchieta é um cearense elevado à política pelo ex-governador e falecido Ottomar Pinto, cujos familiares dele se afastaram por "traição" ao ideário do legendário brigadeiro que governou o Estado por 3 vezes. A campanha de Neudo tem a coordenação do deputado Mecias de Jesus, que exerce grande liderança. Adeus a Tuma Adeus ao senador Romeu Tuma. Teve importante papel na vida pública do país. Deu sua contribuição. Conheci melhor o senador Tuma nos últimos anos. Considerava-o um amigo. Gentil, afável, carinhoso e educado. Jorrava palavras de bondade. Perfil muito diferente da imagem que eu tinha dele dos tempos dos anos de chumbo. A representação que o povo de SP lhe deu por muitos anos é o testemunho de que merece o reconhecimento de todos nós. Conselho aos eleitores Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos candidatos à presidência da República. Hoje, volta sua atenção aos eleitores : 1. O voto é uma das principais armas de defesa da democracia. Use-a no próximo domingo. 2. Não anule seu voto. Escolha o perfil que julgar mais adequado para o futuro do país. 3. Não se deixe levar por versões fantasiosas, boatos e guerra de palavras. Vote com a consciência de que estará escolhendo o melhor quadro. ____________
quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Porandubas nº 249

Proibindo eclipses O Coronel Zé Azul, chefe político de São Gonçalo do Abaeté, em Minas, era candidato a prefeito pela UDN, às vésperas de um eclipse do sol que a imprensa vinha prevendo para começo do ano seguinte, como o mais forte já visto no Brasil. O medo generalizou-se. Espraiavam-se relatos de crianças que iam nascer defeituosas, galinhas que deixariam de pôr ovos, cabritos que não mais berrariam e a cachaça que ficaria envenenada. No dia 1º de outubro, o coronel Zé Azul fez o último comício da campanha e acabou com um juramento sagrado : - Pode ser que, na prefeitura, a partir de janeiro, eu não consiga fazer tudo que pretendo por esta terra. Mas juro para vocês que meu primeiro decreto será proibir definitivamente eclipses em São Gonçalo do Abaeté. Ganhou a campanha. No Brasil, candidatos continuam a prometer mundos e fundos. Quem pode decidir ? Esta é a recorrente pergunta. Quem pode decidir o segundo turno ? Darei algumas pistas. A primeira chave da porta de sucesso se chama Minas Gerais. Esse Estado é a síntese do Brasil. E quem pode abri-la é Aécio Neves. O recém eleito senador tem a força para convocar a prefeitada de Minas - Estado com o maior número de municípios - e colocar o governador eleito Antonio Anastasia testa a testa com eles. Prefeitos querem verbas. E Anastasia poderá prometer pagar a conta. Aécio diz que dará o sangue para eleger Serra. No primeiro turno, acomodou-se. Não queria prejudicar seu candidato ao governo. MG registrou o voto Dilmasia. Mais uma informação : desde a redemocratização, todos os presidentes eleitos ganharam a eleição em Minas. E se Serra for derrotado ? Mas há uma pergunta que também se faz : e se Serra for derrotado, quem será a maior liderança do PSDB ? Isso mesmo, todos vocês acertaram a resposta : Aécio Neves. Será, então, que ele vai arregaçar a manga da camisa ? Respondo : pelo menos vai mostrar serviço. Ele apareceu na capa da Veja, deu entrevistas para todos os lados, acenando com a vitória de Serra. Não poderá, portanto, fazer feio. Acredito que Aécio poderá tirar parte da vantagem que Dilma conseguiu sobre Serra no segundo maior colégio eleitoral do país. O triângulo das bermudas Ao lado de Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro completam o triângulo das bermudas. São os 3 maiores colégios eleitorais do país. Em São Paulo, Geraldo Alckmin se posta na mesma posição de Aécio : transforma-se no comandante do tucanato paulista. Sua meta : aumentar expressivamente a votação de Serra em SP. E, no Rio de Janeiro, Sérgio Cabral deveria fazer o mesmo papel. Mas Cabral, tão logo foi eleito, despachou-se para as praças centrais do mundo. Foi a Paris curtir a ressaca cívica. Os generais tucanos estão mais motivados que os generais dilmistas. É o que parece. "Não admira que os néscios se julguem muitos sabedores, eles têm a vantagem de desconhecer que ignoram." (Marquês de Maricá) Alckmin, 2 milhões a mais Geraldo Alckmin teve 2 milhões de votos a mais que Serra em São Paulo. O governador eleito luta para jogar essa votação no colo do seu companheiro tucano. Conseguirá ? Abstenção, segundo fator A resposta à pergunta acima mostra que o fator abstenção poderá ser fatal para a derrota ou vitória dos candidatos. Vejamos. No nordeste, a abstenção foi muito alta, ultrapassando, na média, a casa dos 20%. No Maranhão, ultrapassou os 24%. Em alguns municípios da região, a abstenção chegou a 30%. A causa ? O medo de errar a votação em 6 nomes. Agora, com apenas dois nomes (ou 1 em Estados que já decidiram a eleição para governador), a votação será mais fácil. Por esse argumento, pode-se inferir uma abstenção menor. Porém... Porém... O porém é esta dúvida : quem arrasta o povão, principalmente das áreas rurais, para as urnas é geralmente o candidato a deputado. Ora, os deputados estaduais e federais já foram eleitos. Terão disposição para, novamente, arrebanhar os contingentes e levá-los à boca da urna ? Pode ser que a prefeitada colabore com essa missão. Mas se a abstenção continuar alta no nordeste, Dilma será a mais prejudicada. Feriadão Há outra barreira no caminho do voto. Trata-se do feriado de finados, dia 2 de novembro. E também há o dia do funcionário público. Dia 28. O governador de São Paulo, Alberto Goldman, antecipou a data para 11/10. Em alguns Estados, também haverá alteração para 1/11. Muita gente vai viajar antes do dia 31 de outubro, esticando, como sói acontecer, o tempo de lazer. Outros votarão pela manhã e pegarão a estrada. Mas eleitores da classe média, os mais endinheirados das regiões sudeste e sul, tendem a passar ao lado do exercício cívico. E se isso ocorrer, o mais prejudicado será o candidato José Serra. E os verdes de Marina ? Outra questão é : para onde irão os votos de Marina ? O voto preponderante de Marina é urbano, com origem na classe média e de jovens. Trata-se de um voto mais independente e crítico. Segundo as pesquisas, 51% do eleitorado de Marina migrará para Serra. Dilma pegaria uns 30%. Os outros ainda não têm definição. Minha análise sobre os indecisos é : os mais endinheirados e urbanos irão para Serra e os mais pobres e das margens sociais correrão para Dilma. E as pesquisas, hein ? As pesquisas, como se viu, erraram bastante, apesar das mil explicações dadas pelos diretores dos Institutos. A essa altura, o que dá para afirmar, sem grandes riscos, é que Dilma continua com mais chances de ser eleita. Numa régua de 0 a 100, ela pontuaria 65. A última pesquisa Datafolha lhe deu 6 pontos de vantagem, e, logo a seguir, a pesquisa Sensus/CNT mostrou um empate técnico, com Dilma tendo uns 3 pontos a mais que Serra. E a pesquisa Vox Populi de ontem, terça-feira, mostra Dilma com 51% e Serra com 39%: 12 pontos de diferença. O tira-teima Se os dados do Vox forem confirmados pelo Ibope e Datafolha desta semana, Dilma aumenta suas chances para 80 na régua de 0 a 100 deste consultor. Portanto, vamos aguardar por aferições mais recentes, que sinalizarão a tendência dos últimos dias. Deve-se ter muito cuidado. Há uma senhora chamada abstenção, que somada aos votos nulos e brancos, poderá causar muitas surpresas e aborrecimentos. Linhas de ataque Em minha análise, as abordagens de ataque, encampadas pelas duas campanhas, não geram resultados impactantes. Como os tiros são recíprocos, acabam se anulando. Ademais, o eleitor não reage de maneira positiva a ataques virulentos. Os primeiros ataques até causam impacto. Mas, depois de muitos tiros, perdem sua função sinalizadora e motivadora. Envolvem-se no "efeito banalização". Tornando-se comuns não penetram mais no sistema cognitivo dos eleitores. Depois de uma artilharia pesada e intensa, de ambos os lados, o eleitor tende a proclamar : "essa gente é tudo farinha do mesmo saco". Debates insossos Os debates, por sua vez, esgotaram os estoques de novidades. Refrãos, mantras e bordões são recitados para ilustrar as áreas da saúde, segurança, educação, habitação, transportes. Até as alfinetadas são previsíveis. Os candidatos dão curvas nas perguntas e respondem apenas o que lhes interessa. As audiências são pequenas, coisa de 3%, 4%, no máximo 5%. Exceção feita à Rede Globo, que registra um pouco mais. Para que servem, então, os debates ? Para animar as alas e exércitos das candidaturas. Consolidam visões dos militantes. Mas não agregam votos. O lobo ferido e a ovelha Um lobo, tendo sido mordido por cães, estava passando mal, estendido por terra, sem poder procurar alimento para si. A certa altura avistou uma ovelha e pediu-lhe que lhe trouxesse água do rio próximo : "Realmente, se tu me deres de beber, eu mesmo acharei o que comer." Então a ovelha respondeu : "Mas se eu te der de beber, logo tu me usarás como refeição." Esta fábula de Esopo é adequada ao indivíduo perverso que prepara ciladas hipócritas. Em clima de guerra eleitoral, os lobos se espalham por todos os cantos. Internet negativa Nunca as campanhas eleitorais exibiram uma agenda tão negativa como a deste ano. E o meio usado para a veiculação dos ataques é a internet. As redes sociais disparam campanhas violentas contra os candidatos. Histórias inventadas, versões estapafúrdias, relatos burlescos, bobagens e piadas de extremo mau gosto invadem a rede eletrônica. E assim muitos incautos compram gato por lebre. Aborto e privatização O aborto no Brasil é uma questão de saúde pública. A cada dois dias, morre uma mulher vítima de aborto inseguro. 187 mil mulheres tiveram sérios problemas, em 2009, por conta do aborto. Portanto, é sob esse pano de fundo que a questão deve ser abordada. Não se trata de ser a favor da mortandade de criancinhas, como se procura impingir nos intestinos da campanha. Da mesma forma, não se pode demonizar o conceito de privatização. O programa de privatização das telecomunicações, levado a cabo pelo governo FHC, foi um sucesso. Há no país 187 milhões de linhas de celular. Esses são dois temas mal tratados por candidatos e campanhas. Maior derrota Quem foi o maior derrotado nesta eleição ? Uma das maiores surpresas do pleito foi a derrota do senador Tasso Jereissati, do PSDB do Ceará. Causou mais impacto que a derrota de Arthur Virgílio (PSDB/AM) ou Marco Maciel (DEM/PE). Kassab vitorioso O prefeito Gilberto Kassab continua fazendo boa política. Elegeu seis deputados federais, mas sua cota pode chegar a 8, com a esperada nomeação de parlamentares para o secretariado de Geraldo Alckmin e elevação dos suplentes Walter Ihoshi e Eleuses Paiva. "Eu só trago amor" Chego, enfim, à minha terra. Trago, nas vestes a poeira das longas caminhadas; nos ouvidos, a ressonância da voz dos oprimidos e, nos olhos, a visão panorâmica da Pátria. Venho fatigado do esforço e das emoções. Mas trago o coração limpo de ódios, de malquerenças ou queixas. Nem ressentimentos tenho. Quem os tiver que com eles se alimente. Eu só trago amor. Vitorioso ou vencido, cumpri o meu dever para com o povo brasileiro. E chego à minha terra como um peregrino ao pórtico do tempo. Sacudo o pó das minhas sandálias e me persigno como um penitente. Que a paz seja convosco, meus irmãos. (Mensagem de Getúlio Vagas dirigida ao povo brasileiro, ao encerrar sua campanha para a presidência da República, em São Borja, em 30/9/1950). Conselho aos candidatos Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos ministros do TSE e do STF. Hoje, volta sua atenção aos candidatos à presidência da República : 1. Procurem pautar seu discurso, nos últimos dias de campanha, sob a inspiração das grandes temáticas nacionais. 2. Teremos uma reforma política ? Continuaremos a ter uma alta carga tributária ? Sairemos do engessamento das relações do trabalho por meio de uma reforma trabalhista em profundidade ? E a reforma previdenciária continuará a ser uma utopia ? 3. Evitem a artilharia de ataques recíprocos. A agenda negativa não agrega interesses e demandas dos eleitores. ____________
quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Porandubas nº 248

Em francês Santiago Dantas, ministro de Relações Exteriores, ministro da Fazenda, deputado Federal/MG, foi, um dia, à Polônia para receber o título de doutor honoris causa da Universidade de Cracóvia. Na hora da solenidade, deu-se conta de que tivera tempo de preparar por escrito o discurso de agradecimento. Era a tradição. Mas era preciso não ser indelicado. Chamou Marcílio Marques Moreira, seu assessor, pediu-lhe algumas folhas em branco, levantou-se com elas nas mãos e, fitando-as com firmeza, pronunciou longo discurso em francês, como se estivesse lendo. Só Marcílio sabia, segundo relato do amigo Sebastião Nery. A marola verde Era mais que previsível. O 2º turno poderia ocorrer, a partir do affaire Erenice. Que chegou até aos conjuntos da classe média emergente, a C, onde a bomba explodiu com algum impacto. Marina passou, então, a canalizar a indignação e a contrariedade. Foi subindo, a partir do Rio de Janeiro, onde a paisagem carioca parece mais agasalhadora ao marinismo. A seguir, houve um grande descolamento dos eleitores de Dilma no Distrito Federal. Marina subiu ali como um foguete, ganhando a campanha em um tradicional reduto do petismo. A ataque viral Vale lembrar que Marina surgia como alternativa. Havia plena consciência de que ela não ganharia a eleição. Mas poderia ser a brecha para se chegar ao segundo turno. Devagar, os conjuntos eleitorais, no boca a boca e quase por osmose, começaram a disseminar a marola verde. E aí chegou a núcleos mais conservadores a informação : Dilma era a favor do aborto. Era mentira. Chegou a dizer em alguns momentos. Mas a boataria tomou conta das redes sociais. O boato se espalhou como praga. O ataque viral na internet fez estragos, abrindo polêmica e muita revolta. Quando Dilma fez a reunião com os evangélicos, momento em que fez um desmentido categórico, a confusão já estava feita. A opinião de Dilma já havia sido canibalizada pela onda anterior, que dava conta de sua visão sobre o aborto. Chegada às urnas E foi assim que Marina chegou às urnas. Alternativa a dois perfis que se digladiavam; discurso que parecia superior às altercações de Serra e Dilma; apropriação de valores da moral e da ética; ampla visibilidade da mídia, que, nas últimas semanas, a trataram como celebridade merecedora de todos os encômios. Marina Silva, cheia de vestes litúrgicas - mais parecendo uma dessas imagens de hindus abençoada pelos deuses - carreou a maior taxa de simpatia às vésperas da eleição. De 10% passou para quase 20%. E assim Serra divisou mais uma chance para animar sua campanha, dada por quase perdida. "Nos governos despóticos, em que se abusa por igual da honra, dos postos e da posição, faz-se indiferentemente de um príncipe um valete e de um valete um príncipe." (Montesquieu) Abstenção alta colaborou Passei o fim do domingo explicando os fatores responsáveis pelo segundo turno. Além do fator Marina, apontei a alta abstenção. Que chegou a 18,4% em Minas Gerais, 21,56% na Bahia, 20,05% no Ceará, 23,97% no Maranhão, 20,96% no Mato Grosso, 19,41% em Pernambuco, 20,03% no Amazonas e 21,14% no Pará. São recordes. Sempre achei que abstenção alta em espaços de votos dilmistas seria fatal - a campanha iria para o segundo turno. Os votos de Marina ? Para onde irão os 20 milhões de votos de Marina ? A maior parte deles deverá migrar para o candidato Serra. Uns 10. Uns 6 para Dilma. Uns 4 para o ar. Nulos, brancos ? Trata-se de um eleitorado mais urbano, consciente, racional, capaz de fazer avaliações acuradas sobre o processo político. Mas, a depender de Dilma, os votos iriam para Dilma, até porque ela, Marina, tem uma história de 30 anos no PT. Deverá a decisão passar pelo crivo do Partido Verde. Não se pense, porém, que Marina domina esses votos. Nem ela nem o PV. O voto a ela foi dado por conveniência. Trata-se de um voto de circunstância. Portanto, não se deve avaliar a tendência com uma simples decisão da cúpula partidária do PV sobre o caminho a seguir. Conversando com Deus Nesses tempos demagógicos, é tempo de lembrar figuras que tinham acesso direto ao céu. O marechal Idi Amin Dada conversava com o povo a respeito dos sonhos que o punham em contato com Deus para cumprir seus mandamentos. O sonho representa o aval divino concedido a seus atos. Mas o ditador fazia questão de dizer que não abusava das revelações. Um dia, um jornalista perguntou de chofre : "O senhor sonha com frequência falando com Deus ?" E ele, matreiro : "Só quando necessário." 18 Estados Dilma venceu em 18 Estados e Serra ganhou em 8. Marina ganhou no DF, que era um fechado colégio petista. O segundo turno Costuma-se dizer que o segundo turno é uma outra campanha. Não o é. Na verdade, trata-se da continuidade da primeira, observando-se essas características. O tempo de programa eleitoral será o mesmo, dando, assim chances para uma comparação mais exaustiva e atenta entre perfis e programas. Os 10 minutos que caberão aos dois candidatos serão suficientes para se ter uma avaliação mais completa dos ideários. É bem verdade que a semântica, a mensagem oral, o plano das ideias, deverá ser coberto pela estética da TV - na estratégia do marketing de embalar os perfis com celofane mais colorido. Portanto, o marketing atuará como ator importante para "vender" os candidatos. Perfis técnicos Nem Dilma nem Serra são pessoas simpáticas. Não possuem carisma. Até o riso não lhes cabe bem por parecer artificial. Por isso, a cosmética televisiva buscará planos humanísticos, com os candidatos no meio do povo, para suavizar a feição técnica de ambos. Vamos ouvir ainda uma enxurrada de números. Lula quer a comparação entre seu tempo de governo e o ciclo FHC. Com dois candidatos, em embate direto, essa possibilidade se efetiva. O papel de Lula Lula fará das tripas coração para eleger sua candidata. Afinal de contas, trata-se de consagrar a passagem de 8 anos no comando da nação. O foco da continuidade deverá se contrapor ao foco da mudança. Esse discurso predominará sobre o eixo que mais interessa à Serra, qual seja, a comparação entre perfis, ele e Dilma. Se fosse essa a questão, seguramente ele se daria melhor por conta de denso currículo político e administrativo. Tendências A tendência é a de que o(a) candidato(a) que esteve na frente no primeiro turno continue adiante. Continua como favorito(a). Em 80% dos casos, se elege. Portanto, a tendência favorece a candidata situacionista. E a continuidade significa que o eleitor não quer trocar uma coisa certa por algo duvidoso. Sempre digo : quem ganha a eleição é o estado de satisfação social. É o voto do bolso. Que alimenta o estômago. E agradece ao coração. Economia e emoção, eis um par que dá muito certo. Aécio, o grande vencedor Aécio Neves sai da campanha como o maior vencedor na arena dos tucanos. Fez barba, cabelo e bigode. Elegeu-se senador, elegeu Anastasia para o governo e ainda puxou na carona Itamar Franco. Só não presidirá o PSDB se não quiser. O pólo de forças do tucanato sairá de São Paulo em direção à Minas Gerais. Eduardo Gravem este nome : Eduardo Campos. Teve a maior votação proporcional do país: 82% dos votos de Pernambuco. Vingou o avô, Miguel Arraes, derrotado em 1998 por Jarbas Vasconcelos. Que agora foi derrotado de maneira fragorosa. Renovação A Câmara dos Deputados será renovada em 43,7%. E o Senado será mais jovem e mais rico. Terá perfil moderado. E Alckmin, hein ? Geraldo Alckmin aparece também como um grande vencedor. Mas é sabido que as facções serristas e alckministas não se dão bem. O partido é rachado em São Paulo. Geraldo foi muito elegante com Serra. Deu a mão, fez a campanha dele e de Serra, juntos, e certamente vai querer amparar o candidato à presidente no segundo turno. Zé Aníbal José Aníbal ganhou uma boa votação : 170.957 votos. Será seguramente um dos braços direitos do governador Geraldo Alckmin. Trata-se de um dos melhores cabeças políticas do país. Grande Zé, parabéns. Eu, eu e eu José Serra, porém, cometeu muitos erros na campanha, a partir de sua auto-suficiência. A imagem mais forte que fica é a de Serra jogando as palmas da mão contra o peito para enfatizar a declamação : eu, eu, eu, eu. Parece que o mundo gira em torno dele. A campanha era ele. Que dizia o que e como fazer. Ele e o marqueteiro. Os políticos foram deixados de lado da campanha. Erros que devem ser corrigidos no segundo turno. Salto alto Já o PT estava com salto à altura da montanha. Desprezou aliados na campanha. Também fez a campanha do "eu, sozinho". Agora, deve apelar para os parceiros, a partir do PMDB, que continua a ser o maior partido do Brasil. Descentralização Campanha de Dilma estava muito centralizada. Restrita. Agora, parceiros vão querer acompanhar de perto as estratégias e decisões. Guerreiros, adeus Esta campanha deu adeus a figuras expressivas do Congresso Nacional : do Senado, ficaram fora Tasso Jereissati, Arthur Virgílio, Marco Maciel e Heráclito Fortes. Os três primeiros eram desafetos do presidente Lula. Que lutou muito para tirá-los do jogo político. Da Câmara, não virão o bom Gustavo Fruet e o denodado deputado Raul Jungmann, ambos candidatos ao Senado em seus Estados (PR e PE). Fichas-sujas O TSE deixou de lado as votações dos fichas-sujas. Se eles ganharem a parada no TSE e, posteriormente, no STF, serão refeitas as planilhas para a composição das bancadas em alguns Estados. A conferir. "Não há vício que mais cubra um homem do que procedimento falso e pérfido." (Francis Bacon) Tiririca Os quase 1,353 milhão de votos de Tiririca representam a falta de compromisso, o desleixo, o desprezo e a pouca credibilidade que conjuntos eleitorais - particularmente entre os jovens - têm em relação à política. Não adianta, agora, punir Tiririca. Ele não sabe ler e escrever ? Ora, isso deveria ter sido descoberto antes. Em 10 dias, deitado numa rede no Ceará, ele aprenderá rapidamente rabiscar algumas coisas. Aloysio Nunes Este consultor sempre achou que Aloysio Nunes Ferreira seria eleito. E mais : o mais votado no Estado de São Paulo. Seria impossível a vitória do tucano Geraldo Alckmin sem levar, junto, seu candidato ao Senado. Depois do afastamento de Quércia, por doença, e o retraimento de Tuma, também por doença, Aloysio disparou. Quem me acompanha no twitter (gaudtorquato), viu esta hipótese no ar há bastante tempo. A fonte para esta informação foi o prefeito Gilberto Kassab, sempre muito bem informado. E um devorador de dados de pesquisa. A fala de Jânio Campanha de Jânio. Cada discurso era a análise de um problema : petróleo, política externa, reforma agrária, política financeira. Lacerda telefona : - Os pronunciamentos estão muito bons, mas para presidente eleito. - O que é que está faltando então ? - Feijão. Falta feijão. Feijão é que elege candidato. Petróleo consolida. Ponha feijão na sua campanha. Jânio pôs. E juntou seis milhões de votos. Pior Congresso ? Há analistas que garantem ser este Congresso eleito o pior da história do Brasil. Não me arrisco a tanto. Vamos, primeiro, examinar e avaliar a agenda congressual. E, depois, fazer uma análise acurada. Sem precipitações. Vice de Serra Há um grupo que pensa em pedir a substituição do vice de Serra, Índio da Costa, por um perfil mais denso, sério e crível. O deputado exagerou na dose, baixou a linguagem, fez ataques desmesurados, rasgando a liturgia do cargo a que se candidata. "Não esqueçam também os juízes que o trono de Salomão era suportado por dois leões, um de cada lado; sejam eles também leões, mas leões debaixo do trono; sejam circunspectos para que não façam oposição aos pontos da soberania." (Francis Bacon) Conselho aos ministros do TSE e STF Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado a todos os candidatos. Hoje, volta sua atenção aos ministros do TSE e do STF : 1. Julguem o mérito da Lei Ficha Limpa no prazo mais rápido possível, bem antes de terminar o segundo turno. 2. 1.242 candidatos foram cadastrados entre os fichas-sujas. E foram votados. Estão aguardando decisão da Justiça. 3. Se o projeto estiver em vigor, segundo o TSE, os casos que ali chegarem deverão receber imediata apreciação e consequentemente encaminhamento ao STF em caso de recurso. ____________
quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Porandubas nº 247

Reforma partidária Robaina, vereador do MDB de Bagé/RS, ficou no PMDB depois da extinção da Arena e do MDB. Vivo, pôs a mulher no PDS. O Senador Pedro Simon estranhou : - Robaina, como é que você fina no PMDB e sua mulher no PDS ? - Pois é, presidente. Ainda tenho três filhos para a reforma partidária. 1º ou 2º turno ? O marqueteiro de José Serra, Luiz Gonzalez, anda dizendo que a campanha Federal irá para o segundo turno. Pode ser, até porque o imponderável muda o rumo das coisas. Mas o vento da estação sopra na direção do primeiro turno. Na régua de 0 a 100, as chances de a campanha presidencial ser resolvida logo em 3 de outubro batem no número 95. Nada parece afetar a imagem de Dilma, protegida que está pelo escudo de Lula. É claro que a marquetagem trabalha com a ideia de 2º turno para efeitos internos : não deixar a peteca cair; não desanimar as equipes; mobilizar as patotas que trabalham nas campanhas. Trackings Nestes últimos dias, os trackings - mapeamentos diários para captar a intenção de voto de eleitores - são muito usados. De um lado, para orientar as campanhas; de outro, para dar vazão às notas em colunas jornalísticas. Servem como boa indicação. Avó por merecimento José Maria Alkmin encontra-se com dona Lia Salgado, famosa soprano mineira : - Mas como a senhora está jovem, dona Lia. - Qual o quê, dr. Alkmin. Já sou até avó. - A senhora pode ser avó por merecimento. Jamais por antiguidade. Anestesia social Denúncias em séries, escândalos em profusão, nepotismo, utilização da máquina, malversação do dinheiro público, nada disso afeta as intenções centrais das massas eleitorais. Perguntam-me a razão. Vou explicando : banalização de fatos negativos forma camada de insensibilização social. Não há mais relação causa/efeito. Os eleitores são entidades anestesiadas. Mais um escândalo, é esta a convicção popular. Todos os políticos são iguais, aduz o povo. Se é assim, a massa dará o voto aos candidatos que a ajudam. O papa como cabo eleitoral E caso o papa Bento XVI, em périplo pelo Brasil, viesse a público proclamar : votem em Serra e não em Dilma. O que poderia acontecer ? Poderia haver certo processo cognitivo com foco na dúvida, ou seja, uma generalizada dissonância coletiva. A dissonância gera confusão mental. A vinda do papa embutiria grande interrogação na cachola das massas. Mas qualquer dissonância tende a ser equacionada mais cedo ou mais tarde. As pessoas não gostam de conviver com dúvidas, interrogações, medos e ameaças. O papa não demoraria muito no país. Iria embora. E logo, logo, viria a versão de que o papa se referia a outra coisa. Tudo invencionice. A versão que seria contada apagaria a verdade papal. Estar com Deus não ofende Noé, conta Sebastião Nery, era uma figura folclórica do Rio Grande do Norte. Tinha o hábito de cortejar todos os governos. No levante comunista de 1935, quando o deputado pela Bahia e secretário-geral do PC, Giocondo Dias, tomou o poder ocupando o Palácio Potengi, enquanto Dinarte Mariz marchava de Caicó para Natal subindo a Serra do Doutor, a multidão enfurecida invadiu o jornal A República, que pertencia ao governo. Na sala da direção, encontram Noé. Agarram-no pela gravata : - Com quem você está ? - Estou com Deus. Isso ofende ? Não ofendia. Salvou-se. O voto de sobrevivência Tenho mais que repetido : o pleito deste ano escolheu o estômago como abrigo. Trata-se do voto de reconhecimento à situação geral de conforto. Cerca de 30 milhões migraram das margens extremas da necessidade - classe E - para a classe D. E contingentes da classe D, onde estão os pobres, migraram para a classe C, a baixa classe média. Esta última inserção contabiliza cerca de 25 milhões de pessoas. Logo, cerca de 55 milhões de brasileiros foram diretamente afetados pelos programas distributivistas do governo Lula. São esses os eleitores que votam por conta do apelo do bolso. Pai e filho, filho e mãe Na próxima legislatura, teremos dois Garibaldi Alves no Senado : pai e filho. O filho, que já foi presidente do Senado, deverá ser o mais votado no RN. O pai, também Garibaldi Alves, é suplente da senadora Rosalba Ciarlini, do DEM, que deverá ganhar o governo do Estado. Na Paraíba, Vital do Rego Filho, o Vitalzinho, deverá ser um dos senadores eleitos. E carrega a mãe para a Câmara dos Deputados, Nilda Gondim, filha do ex-governador Pedro Gondim. Ambos sofreram um acidente domingo último em uma carreata. Passam bem. Ficha limpa Hoje o STF decidirá sobre a vigência da Lei da Ficha Limpa. Alguns ministros defendem a aplicação imediata e irrestrita da lei. Mas a maioria dos ministros poderá alegar que deve obedecer ao princípio da anualidade. Ou seja, não pode retroagir para prejudicar candidaturas. Será discutida, ainda, a tese de que a inelegibilidade não é uma pena, mas um critério a se verificar na análise do registro do candidato. Expectativa geral da sociedade organizada. "O que há de mais belo no mundo é que as pessoas não foram acabadas." (Guimarães Rosa) Somos a opinião pública A ciência política mexe cotidianamente com os balões da opinião pública. Que é a agregação das opiniões individuais, encadeadas por movimentos e grupos capazes de gerar influência. Entre os elos mais fortes para a formação de uma opinião mais generalizada, estão os meios de comunicação. Que difundem ideias, transmitem informações, fazem análises de problemas, denunciam situações. Ao lado dos meios de comunicação, emergem grupos organizados, cadeias e associações representativas de áreas e setores. A integração desses elos converge para a tuba de ressonância, representada pela mídia. Lula, do alto dos 80% de aprovação, proclama : somos a opinião pública. Maneira de dizer que ele tem mais poder do que a mídia. E bate bumbo. CNI no Senado A poderosa CNI - Confederação Nacional da Indústria deverá resgatar a bancada dos ex-presidentes no Senado. Albano Franco (PSDB/SE), depois de uma temporada na Câmara, deverá voltar à Câmara Alta. E, em Pernambuco, o ex-presidente da CNI, deputado Armando Monteiro (PTB), está passando na frente do senador Marco Maciel (DEM). Pano de fundo A mídia, como se sabe, exerce com ampla liberdade, suas funções de informar, interpretar, criticar, fiscalizar, opinar e combater. Mas o jornalismo implica uma categorização que deve separar notícias de opiniões. Ocorre que certos veículos passaram a misturar os gêneros. Textos de reportagens são, frequente e intensamente, opiniáticas, ou seja, carregam forte dose opinativa. A par dessa editorialização, há uma cadeia enorme de colunistas políticos que assumem posição aberta. Sob esse pano de fundo, desenvolve-se o tiroteio contra a mídia. Governantes e políticos têm criticado a maneira com que certos veículos cobrem os fatos. Pendendo para um lado. Os Poderes Executivo e Legislativo mantêm fortes restrições à mídia. "Não deixe que seus medos tomem o lugar dos seus sonhos." (Walt Disney) Esteio da liberdade Mas os exageros pontuais ou eventuais não justificam o tampão com que se pretende monitorar ou controlar a mídia. Esse controle social dos meios de comunicação passou a ser uma panacéia. Ora, quem se sente prejudicado, caluniado, difamado por algum jornal, revista, emissora de rádio ou TV poderá se valer da legislação comum. Falar de controle social da mídia é lembrar a mordaça que Hugo Chávez impõe aos meios de comunicação na Venezuela. A liberdade de imprensa é o oxigênio mais puro das democracias. 2º turno em SP ? Começa a circular a projeção que abre o segundo turno em São Paulo. Perguntam-me : isso é possível ? Respondo : se Mercadante garantir os 32% históricos do PT no Estado. Com esse índice e mais 14% de adversários - Celso Russomanno e os nanicos Paulo Skaf e outros - esse cenário seria bem previsível. Hoje, ainda haveria primeiro turno. Os trackings dão Alckmin com 46% e Mercadante com 27%. Vamos ver a tendência na próxima rodada de pesquisas. Osmar e Richa Luta brava é a que se trava no Paraná. Beto Richa, de favorito, vê Osmar Dias chegar perto dele. A campanha está empatada. Com mais 3 a 4 pontos daqui e de lá, a situação ficará ruim para o tucano. Golpismo da mídia A movimentação das Centrais Sindicais tendo como motivo o "golpismo da mídia" não passa de um "golpe de comunicação" para chamar a atenção. Besteirol. Sarney, não No Maranhão, quem diria, hein, o sobrenome Sarney está sendo evitado. Quem o evita ? Roseana Sarney. Que não quer a presença do pai na propaganda eleitoral. Parece contra-senso. E é. Mas a política é cheia de curvas. Tiririca, 1 milhão de votos Pergunta recorrente : o que significa o voto no palhaço Tiririca. Respondo : desencanto com a política tradicional; deboche; desrespeito ao Parlamento; falta de compromisso; ausência de valores e princípios; voto no lixo; simples brincadeira; desprezo pelos políticos. O palhaço, que poderá ter 1 milhão de votos, deverá puxar mais uns 4 ou 5 candidatos. Ou seja, o eleitor vai votar em quem viu e eleger quem não viu. A política precisa mudar de patamar. Atitude positiva Atitude positiva e expressão afirmativa são fundamentais em política. O uso do "NÃO" é desaconselhável. O "SIM" transmite um clima de otimismo, de fé, de crença, de vida. Vejam esta historinha de um médico amigo : Ele está sempre de bom humor. Quando alguém lhe pergunta como andam as coisas, responde : "Melhor é impossível". Indagado sobre tanto otimismo, costuma responder : "Ao acordar todos os dias, tenho duas opções - ficar mal humorado ou conservar o bom humor". Um dia, ele foi assaltado. Os assaltantes lhe deram um tiro. Acharam que ele iria reagir. Estava simplesmente em pânico. No hospital, as enfermeiras perguntavam : "Como está ?" Ele : "Melhor é impossível". Alérgico a tiros Quando as enfermeiras começaram a perguntar, antes de prepará-lo para a operação, se era alérgico a alguma coisa, respondeu : claro que sim. As enfermeiras, de repente, pararam tudo. Aí ele respirou fundo e gritou : "Sou alérgico a balas, a tiros". Gargalhadas gerais. Sua palavra positiva o ajudou. Perguntei a ele, um dia, o que sentira por ocasião do assalto. E ele me disse : "Quando eu estava no chão, me lembrei que tinha duas opções : viver ou morrer. Escolhi a primeira". Atitude positiva ! Conselhos aos Institutos de Pesquisas Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado a todos os candidatos. Hoje, volta sua atenção aos Institutos de Pesquisas : 1. As últimas rodadas de pesquisas serão muito mais observadas pelos eleitores. Procurem aprimorar os métodos. 2. Seria útil que os dirigentes lessem e comparassem nesta reta final resultados de pesquisas de todos os Institutos para evitar disparates, descalabros e enormes diferenças de números. 3. Tenham cuidado redobrado com as chamadas pesquisas de boca de urna. Nem sempre conferem com resultados finais, deixando Institutos em maus lençóis. ____________
quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Porandubas nº 246

Hermenegildo Recebo de Raimundo Junior uma historinha do Piauí que foi contada por seu pai, Raimundo Dias, ao nosso amigo Sebastião Nery com quem estudou no Seminário. Vejam o inelegível : O candidato contra Jorcelino chamava-se Hermenegildo. O advogado de Hermenegildo, na impugnação de Jorcelino, era Benjamin Lustosa. O Dr. Benjamin ficou a audiência inteira tentando provar que Jorcelino era "inelegível". Era "inelegível prá cá, inelegível prá lá". Quando saíram, Jorcelino disse a seu advogado, Raimundo Dias : - Doutor, o senhor viu como o Dr. Benjamin está louco ? - Por quê ? - Ele passou o tempo todo dizendo que eu era Hermenegildo. Dilma estável Dilma está com o pé direito no Palácio do Planalto. Em menos de 20 dias, o desafio de tirar mais de 20 pontos de diferença se apresenta como missão quase impossível para Serra. O quase é por conta do fator imponderável em política. Tudo pode acontecer. A essa altura, nem ondas fortes conseguem o naufrágio do barco da governista. Dilma tem atravessado borrascas : invasão de dados de Verônica Serra e tucanos; denúncia de lobby que teria sido feito pelo filho da ministra-chefe da Casa Civil, Erenice Guerra etc. Não houve alteração de voto nos índices. Pode ter havido refluxo em setores da classe média paulista. CNT/Sensus A estabilidade da candidata governista é confirmada pela última pesquisa Sensus/CNT : Dilma, 50,5% e Serra, 26,4%. Marina leva 8,9%. No levantamento anterior, os dados eram : 46% para Dilma e 28% para Serra. Classe média paulista ? Teria havido, sim, certo retraimento de votos por parte de setores da classe média de São Paulo. Essa inferência se deve ao fato de Mercadante não ter avançado. Mostra-se que Dilma teria perdido alguns pontinhos - entre 3 a 4 - em São Paulo, o que teria sido compensado pelo crescimento da votação no nordeste. Em Santa Catarina, Dilma, que perdia, já põe 5 pontos à frente de Serra. Em Minas Gerais, 2º maior colégio eleitoral do país, sua votação cresce. E continua a ganhar em São Paulo, terra principal do tucanato. Estranho, hein ? Há coisas muito estranhas nessa campanha. Por que Dilma ganha na terra mais importante dos tucanos, que é São Paulo ? Resposta : a força de Lula. Até aí tudo bem. Por que, então, Mercadante, candidato do PT, não chegou, ainda, aos 30% ? Por que não avança para alcançar o patamar histórico do petismo ? Será que o perfil do candidato o segura ? O caso paulista O cenário paulista vem se apresentando como um dos mais obscuros dessa eleição. O tracking, mapeamento feito diariamente, aponta para os seguintes dados : Geraldo Alckmin estaria com 45%; Mercadante com 26%. Caso Celso Russomanno consiga preservar seus 10%, teríamos 36%. Caso Paulo Skaf obtenha 3%, chega-se a 39%. Se os candidatos nanicos somarem uns 4% a conta vai para 43%. Isso é o que PT espera. Com mais dois pontos, a campanha paulista poderia entrar no segundo turno. É difícil, mas não impossível. Entre 0 a 10, a chance de Alckmin é, hoje, de 8. A não ser que... 2º turno Se a campanha paulista seguir adiante, no segundo turno, Alckmin terá uma montanha pela frente para escalar. Mercadante passaria a ter chances. A vencedora Dilma, o patrono Lula, os governadores eleitos do PT, no primeiro turno, com influência no eleitorado nordestino - Jaques Wagner, da Bahia, e Eduardo Campos, de Pernambuco - seriam, até, convocados para fazer pressão por estas bandas. Tenho ouvido essas análises. Registro-as como pano de fundo de muita conversa de bastidores. Ouvi muita gente importante nesses últimos dias, entre tucanos, petistas, peemedebistas e democratas do DEM. Nunes Ferreira O quadro ao Senado, em São Paulo, também continua obscuro. Este consultor acha muito difícil que as oposições por aqui - PT e PC do B - façam os 2 senadores, deixando os tucanos a ver navios. Por isso, Aloysio Nunes Ferreira, com a renúncia de Quércia, por doença, tem chances. Há quem garanta que será o mais votado, devendo ultrapassar Marta Suplicy. Pode ser. E o Netinho de Paula, que é um candidato com votação suburbana, poderia ser ultrapassado pelos votos de Nunes Ferreira no interior do Estado. Mas há quem considere Netinho o perfil que pode ultrapassar Marta. O campo está embolado. Tuma ajudando Tuma O senador Romeu Tuma deverá continuar na campanha para ajudar o filho, Robson Tuma, candidato a deputado federal. O senador está convalescente. Mas não dá sinais de que vai desistir. Fez aliança branca com Nunes Ferreira. Pedem votos para a dupla. "Las creencias son el soporte del carácter; el hombre que las posee firmes y elevadas, lo tiene excelente. Las sombras no creen." (José Ingenieros in El Hombre Medíocre) Tiririca Já o Tiririca, que pede para o "abestado" (ele mesmo), deverá angariar entre 800 a 1 milhão de votos. Puxará três ou quatro parlamentares para a legenda do PR. O palhaço tem a cara de boa parte do Brasil. Temores e dúvidas Dilma já não provoca tanto medo nos meios produtivos. A estratégia do amedrontamento, articulada por alguns setores, começa a dar sinais de desvanecimento. Há, isso sim, receio de que alguns enclaves no entorno da ministra continuem a gestar a formulação de ideias exógenas - que apontam para o dedo do Estado - em algumas áreas, como por exemplo, nas telecomunicações. Os meios empresariais e os comandos de empresas receiam que o tom intervencionista venha a se sobrepor à ordem privativista que hoje impera. Há um grupo dentro do governo, comandado por Franklin Martins, que continua a formular a política para a área das comunicações. Comenta-se que é intenção deste grupo aprovar esta matéria até o fim do governo Lula. (O tal grupo estaria acumulando raiva de setores da mídia) "A justiça pode ser cega, mas não devemos fazê-la paralítica." (Mark Berg) Mídia e ameaças Pelo que se infere, se aparecer algum projeto, de cunho mais intervencionista, no Congresso Nacional, a tendência das casas congressuais é pela aprovação. O Parlamento se sente acossado e acuado pela mídia. Logo, não se inclinaria a atender pleitos de grupos de comunicação. Tenho ouvido o bordão por onde passo : a mídia tornou-se um partido escancarado. Faz campanha aberta para um candidato. E o faz de maneira agressiva e sem pudor. Tento, às vezes, argumentar que o papel da imprensa também é de vigiar, criticar, fiscalizar. Vejo a fogueira subindo e aqueles que se preocupam em jogar água para baixar o fogo infelizmente não o conseguem. Cabeça fria, gente, cabeça fria. O momento sugere bom senso. "A ousadia dirigida por uma inteligência dominante é a marca do herói." (Clausewitz in Da Guerra) Debates Ninguém aguenta mais ouvir debates. Essa bateria de lengalenga tem funcionado mais como estratégia de alavancagem de marketing das empresas do que efetivo instrumento para avaliação e comparação de propostas de candidatos. Os debates têm oscilado entre os índices de 4% a 5%. Pouca audiência. E mesmo o debate da Rede Globo, ao final do mês, não deverá ter muito impacto. A saturação do verbo motiva os telespectadores a desligarem os aparelhos de TV ou mudar de canal. Novos senadores ? Dois casos emblemáticos : Marco Maciel (DEM/PE) e César Maia (DEM/RJ). Estavam bem de saúde eleitoral. Passam mal. Em Pernambuco, o ex-presidente da CNI, deputado Armando Monteiro, deverá desalojar um senador dos mais antigos, o ex-presidente da República, Marco Maciel. No Rio de Janeiro, César Maia, um bom pensador político, está sendo ultrapassado pelo petista Lindberg Farias. De Roraima, virão Romero Jucá (PMDB) e Ângela Portela (PT). Do Amazonas, deverão vir Eduardo Braga (PMDB), Arthur Virgílio (PSDB) ou Vanessa Grazziotin (PC do B). Paraná quente A campanha no Paraná pega fogo nesta reta final. Osmar Dias chega perto de Beto Richa. Campanha no segundo turno daria vitória a Osmar. Tucanato divisa mais uma floresta em chamas. RN Um dos últimos redutos do DEM é o Rio Grande do Norte. A senadora Rosalba Ciarlini (DEM/RN) poderá levar a melhor logo no primeiro turno. Junto de um peemedebista, Garibaldi Alves, e de um democrata, José Agripino. Indo ao RN, Lula poderia puxar os nomes de Iberê Ferreira (PSB) ao governo e Vilma Faria (PSB) ao Senado. Difícil. O Rio Grande do Norte é um Estado quase imune às pressões. O governismo A continuidade governista poderá agregar 20 governadores no pleito de 3 de outubro. Lembra os tempos áureos do governo Sarney, quando o PMDB fez 22 dos 23 governadores. Só não elegeu o governador de Sergipe, Antonio Carlos Valadares, na época PFL. Ficha Limpa Faltam menos de 20 dias para as eleições. Se o STF não julgar se a lei da Ficha Limpa está em vigência para as eleições de outubro, muitos candidatos se submeterão às urnas mergulhados em dúvida. Poderão, caso eleitos, perder o mandato mais adiante. Lula extrapola Lula sempre extrapola. Desta feita, o presidente foi além do bom senso, ao dizer que é preciso extirpar o DEM da política brasileira. Se ele não gosta de fulano ou sicrano deste partido, não pode e não deve usar a parte pelo todo. Há gente de qualidade na sigla. E que merece respeito, a partir de um quadro como Marco Maciel, senador de Pernambuco. "Não tem futuro a gramática da vida." (Machado de Assis) Conselho a todos os candidatos Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos gurus do marketing. Hoje, volta sua atenção a todos os candidatos. Atenção, candidatos majoritários e proporcionais de partidos e coligações. Atentem para alguns princípios orientadores na busca do voto : 1. Procurem expressar a característica mais importante de sua identidade - o foco. 2. Não esqueçam que o eleitor deseja travar conhecimento com o personagem. Circular no meio da massa é importante. 3. Façam grande esforço para multiplicar presença em vários locais - a onipresença é um valor insuperável. Planejar eventos rápidos em lugares e cidades diferentes em um mesmo dia. ____________
quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Porandubas nº 245

O velho Padre Anacleto Em Uiraúna, Paraíba, terra de Luiza Erundina e de José Nêumanne, o Padre Anacleto era conhecido por sua maneira engraçada de falar trocando situações e interpretando de maneira singular o ensinamento bíblico. Era temido pelos políticos porque não tinha papas na língua. Muita gente ainda hoje o imita. Uma vez, porém, caiu na armadilha engenhosamente preparada por Neco Pistola, figura muito popular da cidade. Para irritar o padre, Neco perguntou-lhe : "padre Anacleto, o que é artrite ?" O velho cônego respondeu : "artrite é a doença dos infiéis, das pessoas que não assistem missa aos domingos, é a doença dos vagabundos, dos cafajestes, viu seu Neco ?" E Neco, todo compenetrado, passou a ler o jornal que levava na mão : "ah, agora entendo. Aqui tá dizendo que o Papa está com artrite". Mais um mês de campanha José Serra contratou um guru, chamado Ravi Singh, para mudar sua campanha. Vai conseguir ? Provavelmente, não. Marketing é um sistema meio, não é um sistema fim. E como tal traduz o espírito de uma campanha, a partir de discursos, atitudes, gestos, enfim, todos os véus que cobrem um candidato. Marketing não ganha campanha. Quem ganha campanha é o candidato. Marketing ajuda a diminuir os pontos negativos de um perfil e maximizar os aspectos positivos. "As enfermidades são os resultados não só dos nossos atos como também dos nossos pensamentos." (Gandhi) FHC sobre Zé Fernando Henrique é taxativo : que bobagem chamar Serra de Zé. Serra é Serra. E ponto final. Crítica ácida ao programa tucano na TV. Aécio como perfil Serra era o candidato natural à presidência pelo PSDB. O mais experiente, o mais idoso, o mais denso perfil. Tinha uma reeleição tranquila ao governo de São Paulo. Mas usou o rolo compressor para esmagar outros pretendentes. Hoje, as coisas ficam mais claras. Aécio Neves poderia ser candidato mais competitivo que Serra. Primeiro, porque atrairia parcela significativa do PMDB. Segundo, porque poderia, até, ser o candidato de Lula, pela coligação governista. Aécio era o único candidato que poderia entrar no sistema cognitivo e de aceitação do presidente. Encarnaria os valores da jovialidade, modernidade. Fecharia Minas e Rio em torno dele. SP viria por atração. Depois, o nordeste. Alívio Aliás, Aécio respira aliviado. Serra perdia feio em Minas. E ganhava em São Paulo há um mês. Hoje, perde em Minas e também em SP. O mineiro diz : ainda bem que não serei acusado de ser o responsável pela derrota de Serra em Minas. Se ele perde mesmo em SP... "Minha devoção à verdade empurrou-me para a política; e posso dizer, sem a mínima hesitação, e também com toda a humildade que, não entendem nada de religião aqueles que afirmam que ela nada tem a ver com a política." (Gandhi) Para onde vamos ? A pergunta, agora, é : para onde vamos após as eleições ? Tentarei fazer pequenas reflexões. Primeiro, não haverá mudança brusca de rumos em caso de vitória de Dilma. O que poderá ocorrer, isso sim, são alterações parciais nos programas, tendo em vista correções de aspectos e ajuste de posições. É evidente que a candidata, se eleita, desejará imprimir sua identidade no cotidiano da administração. Ela estará, com isso, respondendo à questão : é uma sombra de Lula ou tem sombra própria ? Dilma desejará provar que tem muita personalidade. Relação com o Congresso O Congresso será eminentemente governista. Os cálculos iniciais dão conta de uma base na Câmara em torno de 380 parlamentares. E no Senado esta base deverá ultrapassar os 50 senadores. Fiz algumas checagens e vi que os governistas poderão ganhar entre 36 a 38 cadeiras no Senado, que se somarão aos 13 governistas que continuarão no Senado porque têm ainda 4 anos pela frente. Significa que um governo dilmista teria ainda mais folga no Congresso que a administração anterior. Mas... Há um "mas". Trata-se da dúvida sobre a repartição de posições avançadas no governo. Os maiores partidos deverão botar pressão para ganhar ministérios e autarquias. O PMDB sairá muito fortalecido. O papel do vice-presidente, Michel Temer, caso eleito, será fundamental para conter os ânimos. Michel funcionará como um braço político da administração, não apenas porque conhece como ninguém os bastidores do Congresso, como pelo perfil de respeitabilidade e credibilidade. Dilma deverá lhe dar atribuições específicas nesse campo da articulação política. Ficha-suja ? Semana passada, comentei sobre os fichas-sujas, aventando a hipótese de que muitos iriam concorrer passando por cima. Recebi uma observação muito procedente do Diretor-Geral do TRE/RS, Dr. Antônio Augusto Portinho da Cunha. "A propósito de sua coluna Porandubas Políticas desta quarta-feira, gostaria de fazer uma observação acerca do seguinte trecho : "Paulo Maluf foi impugnado pela Justiça Eleitoral de São Paulo. Roriz, candidato a governador do Distrito Federal, também está bloqueado pela Justiça Eleitoral. Leiamos : serão candidatos e poderão ser eleitos. Apelam para o TSE. E, se forem condenados, se valerão de recurso junto ao STF. Ou seja, as decisões finais vão para as calendas. Há, por enquanto, 486 recursos no TSE. Brasil novo, Brasil velho". Esclareço que, segundo a legislação eleitoral atualmente em vigor, se ambos os candidatos chegarem à data da eleição na situação de inelegíveis, seus votos não serão considerados na apuração, e constarão como nulos nos respectivos boletins de urna, proclamando-se eleito o candidato regularmente registrado que tenha obtido o maior número de votos, ainda que existam recursos pendentes dos mencionados candidatos. Em outras palavras : a circunstância de poderem concorrer sob conta e risco não lhes dá direito a terem computados a seu favor os votos a eles direcionados, salvo se obtiverem decisão que lhes favoreça até a data do pleito." Nomes em prestígio Outros nomes começam a surgir na moldura do prestígio, como o atual líder do governo, Cândido Vaccarezza, o deputado José Eduardo Cardozo, que poderá vir a ocupar o Ministério da Justiça, o do deputado Antônio Palocci, o do deputado estadual de São Paulo, o jornalista Rui Falcão, o deputado Henrique Alves, do PMDB-RN, que poderá vir a ocupar a presidência da Câmara dos Deputados. E as oposições O DEM, muito fragmentado, deverá procurar alianças e parcerias. Deverá eleger Rosalba Ciarlini, no Rio Grande do Norte, e poderá ganhar com Raimundo Colombo, em Santa Catarina, e João Alves, em Sergipe. Não é de todo improvável uma fusão com partidos do meio. Uma das maiores expressões do DEM é o prefeito Gilberto Kassab, de São Paulo. O prefeito é um hábil articulador e os grandes partidos ambicionam conquistá-lo para suas bandas. O PMDB está à frente desse processo. Kassab, por outro lado, tem comando sobre uma boa parcela de parlamentares. Jarbas e Eduardo Eduardo Campos sempre se recorda da fragorosa derrota que Jarbas Vasconcelos imprimiu ao seu avô, Miguel Arraes, há bons anos. Neste pleito, os milhões de votos jogados na cara do avô voltarão a bater na cara de Jarbas. Será uma das maiores vitórias de um governador que se candidata à reeleição. Pernambuco deverá dar, ainda, a maior vitória eleitoral à candidata de Lula. Tucanos ? Se os tucanos não vão bem na campanha federal, têm boas possibilidades em alguns Estados no pleito para governos estaduais. Lidera nos dois maiores colégios eleitorais do país (Alckmin em SP e Anastasia em MG), podendo vencer em Goiás, com Marconi Perillo, no Paraná, com Beto Richa, no Piauí, com Sílvio Mendes e em Rondônia, com Expedito Júnior. Tem chances de vencer, ainda, no Amapá, com Jorge Amanajás, em Roraima, com José de Anchieta Junior. Em tempos turvos... Eram os turvos tempos da promulgação do AI-5, dezembro de 68, fechamento dos legislativos e as sub-CGIs nos Estados exigindo que todos os parlamentares fizessem uma declaração de bens dos dez anos anteriores. João Batista Botelho, conhecido na Assembleia paulista como João Cuiabano, preparou o seu dossiê e, quando ia enviá-lo a quem de direito, alguém adverte : - Nobre deputado, Vossa Excelência tem de dar a eles também o seu currículo. João Cuiabano, homem de poucas letras, mas decidido, virou uma fera : - Isto eu não vou dar de jeito nenhum. Só conseguirão se passarem sobre meu cadáver. Historinha do nosso amigo Sebastião Nery. Grandes dúvidas Na Paraíba, quem será eleito para o Senado ao lado de Cássio Cunha Lima : Efraim Morais ou Vital do Rego Filho ? De Pernambuco, quem virá : Marco Maciel ou Armando Monteiro Filho ? Do Piauí, virá Mão Santa ou Heráclito Fortes ? Do Rio de Janeiro, virá César Maia, Marcelo Crivella ou Lindberg Farias ? De São Paulo, virá Orestes Quércia ou Netinho de Paula, para fazer companhia à Marta Suplicy ? De Minas, Aécio Neves é uma certeza. Mas o segundo será Itamar ou Fernando Pimentel ? E Skaf, hein ? Paulo Skaf, o maior nariz da campanha, está com 2%. Sua meta é chegar aos 10%. Para se habilitar à Prefeitura em 2012. Mercadante tem chance ? Essa é uma pergunta que me fazem a todo momento. Resposta : se for para o segundo turno, tem muita chance. O problema é este : haverá tempo para tirar a grande diferença ? Tempo haverá. Mas a questão continua batendo na identidade e na imagem do candidato. Mercadante mostra-se sempre zangado. Quando fala algo, parece que está indignado com Deus e o mundo. Combate tudo. E bate em todos. Deveria dizer o que é bom e o que é ruim. Sem ataques genéricos. E concretizar propostas. Alckmin, por sua vez, está ganhando no vácuo. Calmo, harmônico, sorriso aberto e franco. Se Lula se entranhar em São Paulo, fará um escarcéu pró Mercadante. E Aloysio, hein ? Um dos mais densos e preparados perfis do atual pleito é o de Aloysio Nunes Ferreira, que foi ministro de Fernando Henrique e Chefe da Casa Civil de Serra quando era governador. Aloysio patina nos 10%. Faz boa articulação com os prefeitos de São Paulo, mas decidiu fazer uma campanha de gabinete, trancado. E, claro, usa bem a TV. Mas não se vê este candidato fazendo caminhadas, procurando voto junto às multidões. É uma pena. Por que Costa caiu ? Perguntam-me : qual é a explicação para a queda de Hélio Costa ? Minha resposta : a onda do vento. Quando o vento aponta para uma direção não haverá montanha capaz de detê-lo. Anastasia é o vento da vez. Simboliza o novo, encarna o amanhã. Helio Costa é um ótimo apresentador de TV e, como político, não teve muito relevo. Foi um ministro das Comunicações com pouco realce. Representa o passado. Poderá até ganhar se Lula lhe der a costa - arre, jogo de palavras - para carregá-lo. Mas ninguém segura a direção do vento. Dirceu no Governo Fala-se muito na volta de Zé Dirceu ao governo, caso Dilma ganhe as eleições. Nem a candidata nem Zé Dirceu seriam tão ingênuos a ponto de achar que essa volta seria natural. Zé quer continuar, claro, a ter influência. Não, porém, como vidraça. Trata-se de uma pessoa que ajudou, e muito, o PT a tomar forma e ganhar musculatura. Sabe que a mídia o coloca na lupa todos os dias. Palocci, por sua vez, poderá subir. Mesmo assim, se sujeitará aos embates midiáticos. Se passar por todos os testes, terá muito poder. Mas Dilma é intuitiva. A conferir ! Duda em fase ruim Duda Mendonça vive seu inferno astral. Seus candidatos podem perder : em Minas, Hélio Costa deverá perder para Anastasia; Fernando Pimentel está em terceiro lugar; em São Paulo, Paulo Skaf é nanico; em Tocantins, Siqueira Campos perderá a batalha para Carlos Gaguim. Só Roseana Sarney pode ganhar. Mas levará ? O MP jogou-a na esfera dos fichas-sujas. Conselho aos gurus do marketing Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado a todos os candidatos. Hoje, volta sua atenção aos gurus do marketing. Nesse final de campanha, procurem se inspirar em pequenas lições : 1. A lei da verdade suplanta a lei da mistificação. 2. O eleitor sabe se o candidato foi aumentado artificialmente um palmo ou dois acima de sua altura. 3. Falar com o coração é mais eficaz do que falar pela cabeça. 4. Agir com grandeza, sem golpes baixos, até o fim. 5. Prometer apenas o que poderá ser cumprido. Demonstre a viabilidade. 6. Tenha fé e não desista até o último segundo. ____________
quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Porandubas nº 244

Suavemente José Maria Alkmin, mineiro, político e maquiavélico, passou uma temporada como advogado. Certa vez advogou a causa de um grande criminoso. No júri, conseguiu oito anos para o réu. Recorreu. Novo júri, 30 anos. O réu ficou desesperado : - A culpa foi do senhor, dr. Alkmin. Eu pedi para não recorrer. Agora vou passar 30 anos na cadeia. - Calma, meu filho, não é bem assim. O senhor sabe fazer conta? Então, vamos lá. Nada é como a gente pensa da primeira vez. Primeiro, não são 30, são 15. Se você se comportar bem, cumpre só 15. Depois, esses 15 são feitos de dias e noites. Quando a gente está dormindo tanto faz estar solto como preso. Então, não são 15 anos, são 7 e meio. E, por último, meu filho, você não vai cumprir esses 7 anos e meio de uma vez só. Vai ser dia a dia, dia a dia. Suavemente. Nem vai perceber. Minha hipótese Há tempos tenho insistido nessa hipótese : o candidato que mantiver boa dianteira nas pesquisas, durante as duas primeiras semanas de programa eleitoral, estará pertinho da vitória. Não haveria tempo para adversários tirarem o atraso. Então, a inferência continua : Dilma está perto de ganhar no primeiro turno. Os 20 pontos de maioria que detêm lhe asseguram um confortável passo a caminho da vitória no primeiro turno. Quais as razões ? PNBF Minha tese é de que o Produto Nacional Bruto da Felicidade é quem está comandando o processo de escolha. Sem ufanismo, eis minha leitura : a maioria da população brasileira está satisfeita com o governo Lula. O presidente colou o voto ao bolso dos cidadãos. Logo, o voto gera alimento para o estômago. Geladeiras cheias, fogões com chamas acesas fazendo comida farta. Produtos da linha branca enchendo as cozinhas. Carro novinho, mesmo que seja simples, na porta de casa. Até o dinheirinho para o lazer está à disposição. Há uns 20 programas de Lula que, somados, formam o que chamo de Produto Nacional Bruto da Felicidade. Passaporte para Dilma. Serra, um discurso troncho Questões que devem inquietar os marqueteiros : por que votar em Serra ? Por que o eleitor está insatisfeito ? Por que vota em candidato mais preparado ? Por que Serra é mais experiente ? Ora, tais argumentos só funcionam junto a estratos que estão acima do meio da pirâmide. O voto racional pode ir para Serra, mas é um sufrágio menor. Serra, na verdade, carece de um discurso menos vago. Se prometer mudanças, perderá muitos eleitores. Que temem alteração substancial nas regras do jogo. Se disser que vai aperfeiçoar, a questão surge : como ? Aperfeiçoar é um verbo abstrato. Serra centralizador A campanha do ex-governador paulista, ademais, carece de planejamento, de organização. Serra é quem decide tudo, ao sabor do humor. Dorme tarde, lá pelas 4 da manhã, acorda pelas 8h/9h, cheio de sono e ressaca eleitoral. Fica com o humor à flor da pele. Agora decidiu concentrar a campanha no Triângulo das Bermudas, Rio, São Paulo e Minas Gerais. Campanha de corpo a corpo. Aí se concentra o maior eleitorado brasileiro. Haverá tempo de diminuir a distância ? Programa velho O programa de Serra na TV é velho, cheio de bolor. Mostra o que fez e o que poderá vir a fazer. Imagens antigas, de arquivo, e falas pontilhadas pela didática do professor em sala de aula. Uma chatice. E, para chegar ao cúmulo do contra-senso, aparece Lula no programa. Como Serra vai justificar a imagem de Lula, se, na sequência, vem uma saraiva de balas contra o governo de... Lula ? A isso chamamos de dissonância cognitiva. O eleitor é induzido à dúvidas. E, ao final do processo, tende a concluir que Serra está querendo enrolá-lo. E que Dilma é a candidata do presidente. Gonzalez, o marqueteiro de Serra, parece ter perdido o eixo. A morte da princesa O que é globalização ? Um gaiato responde : a morte da princesa Diana... Vejamos. Uma princesa inglesa, com um namorado egípcio, sofre um acidente de carro dentro de um túnel francês, num carro alemão com motor holandês, conduzido por um belga, encharcado com whisky escocês. O bêbado foi seguido por paparazzi italianos em motos japonesas. A princesa foi tratada por um médico canadense, que usou medicamentos americanos. Este e-mail é enviado a você por um brasileiro que usa tecnologia americana (Bill Gates) e provavelmente o leitor estará lendo esse texto em um computador com chips feitos em Taiwan e um monitor coreano montado por trabalhadores de Bangladesh, numa fábrica de Singapura e transportado em caminhões conduzidos por indianos roubados por indonésios, descarregados por pescadores sicilianos, reempacotados por mexicanos e, finalmente, vendido na ponta da linha por chineses por meio de uma conexão paraguaia. Quer exemplo mais acabado de globalização ? Anastasia e Hélio Em Minas Gerais, estamos assistindo a uma das batalhas mais disputadas do pleito. Hélio Costa, do PMDB, continua confortável, com 11 pontos de dianteira, mas o candidato de Aécio Neves, o governador Anastasia, poderá causar surpresas. Será bastante previsível se Anastasia for para o segundo turno com Hélio Costa e levar a melhor em um Estado, que deverá dar boa vitória a Dilma. Aécio diz que vai ganhar no primeiro turno. Aí, já é exagero. Mas em se tratando de política, e de política mineira, tudo é possível. São Paulo, expectativas São Paulo tem o maior eleitorado : 30 milhões. A surpresa, até o momento, é a estagnação de Mercadante. Alckmin continua pontuando uma diferença que beira os 30 pontos. É surpreendente sua performance até o momento. São Paulo é, mesmo, uma floresta tucana. Mas Lula decidiu aqui desembarcar com todo o arsenal que dispõe. Ele dá como favas contadas a vitória de Dilma e faz apostas que colocará Mercadante no segundo turno. Se o petista ganhar uma segunda possibilidade, e Dilma se eleger no primeiro, então pode-se vislumbrar alguma chance para Mercadante. Difícil ? É. Mas não impossível. Os dois senadores Há uma incógnita pairando sobre o cenário para o Senado em São Paulo. Uma vaga será de Marta Suplicy. Mas a outra é uma indefinição. Terão chances Quércia, Tuma e Netinho de Paula. E Aloysio Nunes Ferreira ? Este é o maior ponto de interrogação. Trata-se do candidato in pectore de Serra. Trata-se do candidato tucano de Geraldo Alckmin. E por que não decola ? Com um bom espaço de TV e um programa bom, Aloysio não saiu da casa de um dígito. Tem o apoio da imensa maioria dos prefeitos paulistas. Mas patina. Cada caso é um caso. Esse tucano é um perfil endógeno, para dentro. Não se abre. Sem asas para voar. Preso em uma redoma. E quem será ? Quércia representa a política tradicional. Se voltar, deverá ser por conta das forças do interior. Tuma se guarda no escudo da segurança, sempre um seguro escudo. Mas sofre limitações. Netinho de Paula agarra-se na voz do pagodeiro e fama de artista para captar os abraços e votos das massas. Por isso, poderá voar mais alto. Não se surpreendam se for um dos escolhidos. Confesso que, até este momento, tenho dúvidas sobre o segundo nome. Se o interlocutor conversa com Aloysio, ouvirá dele : "serei eu o eleito". Será ? Pesquisas As pesquisas, após um ciclo de muita diferenciação entre uma e outra, começam a se compor. Os Institutos acertam os ponteiros e aproximam seus índices. Hoje, maioria de Dilma gira entre 18 e 20 pontos. Banho nordestino A aprovação de Luiz Inácio chega a 95% em alguns Estados do nordeste. Deus nos céus e Lula na terra. Em Estados como Pernambuco, prefeitos tucanos correm em direção a Dilma, em clara traição ao candidato Serra. O DEM no RN e em SC O Rio Grande do Norte poderá se transformar, ao lado de Santa Catarina, no segundo Estado brasileiro a ser governado por um representante do DEM : a senadora Rosalba Ciarlini. Trata-se de uma política que conquista votos em muitas searas. Daí seu perfil plural e suprapartidário. Tem o apoio de parte do PMDB, além do DEM e do PSDB. Em SC, Ângela Amin está na frente. Mas aguentará o tranco ? PMDB ou PT ? Quem fará a maior bancada de deputados federais ? O PMDB crava uma cifra : 99. O PT crava outra : 98. Quem fizer a maior bancada, ganhará o direito de começar a legislatura de 2011 com o comando da Câmara. Se for o PT, o nome é Cândido Vaccarezza, um dos melhores e mais preparados quadros petistas. Este médico, baiano de origem, tem voo alto. Se for o PMDB, o nome é o de Henrique Alves líder do partido pela segunda vez, e um dos mais hábeis articuladores do Congresso. Nega maluca, cuidado Urge ter cuidado com os termos. Tempos de igualdade. Tempos de combate ao menor sinal de discriminação. Uma senhora entra numa confeitaria e pede ao balconista uma torta "Nega Maluca". O balconista diz à cliente que usar o nome "nega maluca", hoje em dia, pode dar cadeia, pois esbarra nas seguintes disposições : - Lei Affonso Arinos; Lei Eusébio de Queiroz; art. 5º da Constituição; Código Penal; Código Civil; Código do Consumidor; Código Comercial; Código de Ética; moral e bons costumes, além da lei Maria da Penha... - Então, meu filho, como peço a porcaria dessa torta ? - Torta afro-descendente com distúrbio neuro psiquiátrico... Retrocesso O Brasil avança em muitas áreas. Mas em matéria de comunicação política, caminha para trás. É inimaginável a censura imposta ao humor político. Humoristas não podem satirizar candidatos. Trata-se de uma aberração. Tivemos no Brasil ciclos mais abertos. No princípio do século passado, revistas como Careta eram especializadas no trato e na produção do humor político. Será que os nossos juízes eleitorais perderam o tino ? Ficha-suja e as calendas Paulo Maluf foi impugnado pela Justiça Eleitoral de São Paulo. Roriz, candidato a governador do Distrito Federal, também está bloqueado pela Justiça Eleitoral. Leiamos : serão candidatos e poderão ser eleitos. Apelam para o TSE. E, se forem condenados, se valerão de recurso junto ao STF. Ou seja, as decisões finais vão para as calendas. Há, por enquanto, 486 recursos no TSE. Brasil novo, Brasil velho. 21 ações O partido tucano entrou com mais 21 ações contra a candidata do PT, que teria invadido a programação dos candidatos a deputado. Patrulhas As patrulhas começaram a botar a cara na rua. E a dedarem quem não se guiar por sua bíblia. Acham-se no direito de condenar analistas, de vituperar jornalistas, simplesmente se estes fazem críticas a seus candidatos. Até este consultor, com suas três décadas de análise e consultoria política, tem sido vítima de um bando de desqualificados. Pior é constatar que esse grupo está incrustado na banda da direita empedernida. Conselho aos candidatos Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos candidatos à Presidência da República. Hoje, volta sua atenção a todos os candidatos : 1. O discurso está muito assemelhado. Procurem criar um diferencial. 2. Arrumem uma boa ideia. Mesmo que seja apenas uma. E fiquem martelando essa proposta com construções gramaticais criativas. 3. Testem-na sob o prisma da viabilidade, eficiência e eficácia, relação custo/benefício, impacto social. ____________
quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Porandubas nº 243

Puxa-sacos Tempos eleitorais. Tempos de fidelidade e infidelidade. Guararé era cabo eleitoral do governador Sebastião Archer, do Maranhão. Convenção do PSD, alguém acusou Guararé de puxa-saco. Guararé argumentou : - Cada um puxa quem pode. Eu puxo o senhor, governador Archer. O senhor já puxa o senador Vitorino Freire. E o senador puxa o general Dutra. É a lei da fidelidade partidária. O primeiro debate Amanhã, teremos o primeiro debate entre os presidenciáveis. Como acontece em ano eleitoral, este debate é feito pela TV Bandeirantes. Fernando Mitre, diretor de jornalismo, garante que o formato escolhido para este ano é o melhor de todos os tempos. Dará direito a todos de fazerem questionamentos recíprocos. Serra tentará provocar Dilma. E esta tentará colar sua imagem no governo Lula. Marina, por sua vez, tentará ser a terceira via, saindo pelo meio. Não se espere alteração nas preferências. O público que assistirá ao debate já fez sua opção. Repercussão A repercussão do debate será um recurso a ser usado de maneira intensa por Serra e Dilma. Os marqueteiros de cada candidato devem ter preparado sistemas de apuração dos climas emotivos. Esses sistemas apuram os pontos de maior destaque e menor impacto de cada candidato. São analisados os temas, a forma como foram tratados, as palavras mais amenas e mais agressivas, as abordagens. Medirão, portanto, as performances. E servirão para ajustamento dos candidatos em futuros debates. Quem vencerá ? O critério para avaliar a vitória de um candidato em um debate na TV é a liderança nas pesquisas de intenção de voto. Regra geral, o vencedor de um debate é quem está em primeiro lugar nas pesquisas. A conferir. Ficha congestionada Os candidatos de ficha-suja congestionam os Tribunais Eleitorais. Encerra-se, amanhã, o prazo para análise das impugnações nos Estados. Os candidatos impugnados poderão recorrer ao TSE. Que terá até o dia 17 para dar sua palavra final. A previsão é de que também o TSE não tenha tempo para avaliar a montanha de processos. Só em São Paulo, por exemplo, 46,5% dos candidatos estão sendo contestados. Apostas Nesse momento, qualquer aposta em candidatos poderá dar com os burros n'água. Convém esperar mais um pouco para que o horizonte se livre de nuvens densas. A campanha terá momentos decisivos : o início na TV e no rádio, entre 17 de agosto e 30 de agosto; a segunda etapa, morna, nas duas semanas de setembro, até o dia 15, tempo de análises qualitativas; o terceiro momento, é o de fechamento de posições e ajustes do discurso, que vai até o final de setembro. Esse ciclo será bem acompanhado pelos eleitores. Blefes Quem aponta como vitorioso um candidato que está muito embaixo pode estar blefando. Ou conhece muito bem as tendências dos eleitores de seu Estado. Aposto na primeira hipótese. Farta feição José Aparecido chegou à sua Conceição do Mato Dentro/MG, começou a romaria dos amigos. Entrou um coronel, mansos passos e chapéu na mão : - Bom dia, doutor. Boa viagem ? - Boa. Como vão as coisas ? - Tudo correndo como de costume. Novidade aqui nunca tem e lá pra fora não sei, porque minha televisão está defeituada. - O que é que aconteceu com ela ? - Não sei não. Às vez farta prosa, às vez farta feição. (José Aparecido foi deputado federal, ministro da Cultura, governador de Brasília e embaixador em Portugal. Excepcional figura) PE, PB, RN e CE Gente bem informada me dá conta : em PE, Eduardo Campos continuará no governo; na PB, o mesmo acontecerá com José Maranhão; no RN, Rosalba Ciarlini só não ganha se disputar com um santo de muita devoção; e no CE, Cid Gomes também levará a melhor. Preste atenção "Preste atenção neste cara". O slogan pertence ao socialista Paulo Skaf. Mais parece um teaser, uma chamada publicitária para o lançamento de um nome. O teaser prepara o ambiente para o futuro. Ora, a campanha já começou. O futuro é agora. E algumas avenidas chiques de São Paulo foram tomadas por cavaletes com esse teaser. Um detalhe : "a cara" de Paulo Skaf chama mais atenção do que o resto "do cara". Principalmente o nariz adunco. Eis aí um logotipo dos mais definidos. Crise no STF O ministro Eros Grau se aposentou e sai do STF. O ministro Joaquim Barbosa pediu mais 60 dias de afastamento para tratar da saúde. A mais alta Corte do país está desfalcada. Se Lula não nomear logo o substituto de Eros, os julgamentos naquela Corte poderão entrar em um túnel escuro. Vai haver muito atraso por conta do acúmulo de processos nas mãos dos ministros. A pressão sobre Lula deve ser muito intensa. E o presidente poderá deixar a decisão para momentos mais calmos, após o pleito de outubro. Este consultor acha, porém, que a decisão virá mais cedo. Ele levou os discos ? Seu Lunga chega num bar e fala pro atendente : - Traz uma cerveja e bota o disco de Luiz Gonzaga pra eu ouvir ! - Desculpe, meu amigo, não posso botar música hoje... - Mas por que ? - Meu avô morreu ! Seu Lunga, ríspido : - E ele levou os discos ? Arrecadação Quem acompanha pleito eleitoral conhece as regras da arrecadação. Candidato com grande viabilidade eleitoral - cargos majoritários - passa o chapéu com relativa tranquilidade. Pesquisas de intenção de voto são a chave para abrir portas. Candidato com poucas chances geralmente vê portas fechando em sua cara. Dito isto, resta saber : por que José Serra, neste momento, é o lanterninha na arrecadação ? Sua campanha está atrás das campanhas de Dilma e Marina no quesito atração de grana. Querelas petistas As alas do PT não param de brigar. Grupos se engalfinham para garantir posição melhor em um eventual futuro governo Dilma. Nessa disputa, tudo vale : chantagens, dossiês, cartas anônimas. Quem teria produzido o vazamento de carta apócrifa ligando filha do ministro Mantega e Paulo Cafarelli, indicado para a caixa de previdência do Banco do Brasil ? Segundo turno em SP ? Incrível, porém com jeito de verdade. O petista Aloizio Mercadante tem perfil de esquerda, o tucano Geraldo Alckmin agrega posições no meio e o malufista Celso Russomanno está sediado no canto direito. Alckmin tem 50% de intenção de voto. A eleição, hoje, seria decidida no primeiro turno. Quem pode adiar a decisão é o Russomanno. Ou seja, para se viabilizar a esquerda precisa da direita. O segundo turno poderá ocorrer caso o malufismo consiga dar ao seu candidato algo entre 12% a 15%. Difícil, mas não impossível. Alckmin, discreto Geraldo Alckmin é um sujeito de sorte. Muita sorte. Esta campanha está caindo em seu colo sem que ele faça muito esforço. Quase não se vê Geraldo falando ou aparecendo nos lugares. Mas continua firme nos 50% de intenção de voto. Pode ser que o PT consiga resgatar seu índice histórico em SP e dar a Mercadante seus 30%. A conferir. É aquele ali O filho do Seu Lunga jogava futebol em um clube local. Um dia, Seu Lunga foi assistir a um jogo do filho no estádio. O sujeito sentado ao lado pergunta : - Seu Lunga, qual dos jogadores ali é o seu filho ? Seu Lunga aponta e diz : - É aquele ali... - Aquele qual ? - Aquele ali !!! - Não tô vendo... Então Seu Lunga "P" da vida pega uma pedra e a atira sobre o filho. Exclama : - É aquele ali que começou a chorar ! E o Senado em SP ? Uma vaga será de Marta Suplicy. Mas a segunda vaga ao Senado em SP ainda é uma incógnita. Alguns apostam em Quércia, outros em Romeu Tuma. E ainda há quem aposte em Aloysio Nunes Ferreira, tucano, que tem apenas 4%. Netinho de Paula, do PC do B, tem 16%. Não enxergo o segundo senador. PNBF Como este consultor vem enfatizando há tempos, o PNBF - Produto Nacional Bruto da Felicidade é a fortaleza da candidata Dilma. As análises e cruzamentos feitos sobre as pesquisas apontam para seu maior eleitorado : famílias pobres que demonstram satisfação econômica. Ela tem 17 pontos de vantagem sobre Serra entre os que acham que poder de compra melhorou. Eu sou um merda José Augusto Bezerra de Medeiros, governador do RN, apresentou ao presidente Afonso Pena o capitão Quincó, ajudante-de-ordens, que ficaria à sua disposição. E fez os maiores elogios ao capitão, que se fazia presente. Quincó ficou tão encabulado que disse a Afonso Pena : - Qual o quê, Presidente. Eu sou é um merda. Arrogância e soberba Pecado mortal de um candidato ou candidata é demonstrar arrogância e soberba. Esses atributos aparecem quando os personagens respondem de forma ríspida perguntas de jornalistas, quando debocham de adversários e exibem ar de superioridade. Sérgio Cabral, apesar da enorme vantagem sobre Fernando Gabeira, é um poço de arrogância. Conselho aos candidatos Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos ministros do TSE. Hoje, volta sua atenção aos candidatos à Presidência da República : 1. No primeiro debate na TV, procurem apresentar propostas, defender ideias e levantar grandes bandeiras. 2. O discurso positivo é mais importante que o discurso de acusação e recriminação do adversário. 3. O ataque ao adversário só se justifica para amparar um ideário, escudar um ponto de vista ou para estabelecer uma comparação. ____________
quarta-feira, 28 de julho de 2010

Porandubas nº 242

Fagulha não. Coronel Toniquinho Pereira era chefe político de Itapetininga/SP. Houve uma recepção ao governador, na estação de Iperó. O coronel foi. Quando o trem chegou, o coronel se queixou ao prefeito : - Caiu uma fagulha no meu olho. - O trem é elétrico, coronel. Não solta fagulha. - Então foi um quilowatt. Polarização A 20 dias do início da programação eleitoral no rádio e na TV, a campanha começa a ficar mais quente. José Serra, com o apoio de seu Índio, tem posto lenha na fogueira. Objetiva mostrar um eventual governo Dilma/PT comprometido com invasões de terra (MST), FARCs, Chávez (amigo de Lula) como ameaça à estabilidade, desorganização no campo econômico e por aí vai. Serra assumiu, por inteiro, um discurso direitista, ancorado em uma linguagem de amedrontamento. Dará certo ? Pouco provável. Esse voto que Serra tenta capturar já está definido : é o voto consciente. As massas não se sensibilizam com inputs que sobem à cabeça. Preferem comida (conforto) para o estômago. Vantagem   A vantagem dessa estratégia serrista é a de deixar a candidata Dilma/PT na defensiva. Ele ataca, o PT responde. Dar respostas, justificar, dizer que não é isso ou aquilo - são posições que denotam mais fragilidade. Em uma campanha, tomar iniciativa abre espaço na mídia, conferindo maior força aos grupos atacantes. O terrorismo que o candidato Serra está levantando deverá ser quebrado com a entrada de Lula no jogo. Lula, atacante Luiz Inácio também é de ataque. Nos últimos dias, preservou-se de considerações mais contundentes, até para administrar querela com a vice-procuradora-geral Eleitoral, Sandra Cureau, que o colocara na mira. Lula deverá agir de maneira mais forte e ativa nas próximas semanas. O embate está chegando às ruas. E algumas praças serão decisivas. Ninguém tem provas   Numa festa, a dona de casa recebe um político famoso. - Muito prazer ! - diz ele. - O prazer é meu ! Saiba que já ouvi muito falar do senhor ! - É possível, minha senhora, mas ninguém tem provas ! MG, o centro nevrálgico Minas Gerais, com seus mais de 14 milhões de eleitores, será a praça mais cobiçada. Porque o eleitor mineiro gosta de decidir ao final. Observa, analisa, vai lá, vem cá e, chegando na reta final, ele dá o veredicto. Em Minas, Hélio Costa, candidato ao governo pelo PMDB, com o apoio do PT, continua marcando grande distância de Anastasia. Que deverá, evidentemente, crescer com a chegada dos programas eleitorais. Mas o voto Dilmasia será muito forte em MG. Segundo se comenta, à boca pequena, Aécio Neves não teria muita motivação para fazer campanha de Serra em MG. Estilo Tancredo Aécio Neves, imitando o avô Tancredo, quer sentir o pulso dos mineiros. Observa, friamente, o andar da carruagem. Ele quer liderar os tucanos na próxima jornada, com um mandato de senador nas costas e a possibilidade de assumir o comando do Senado mais adiante. Eventual derrota de Serra lhe daria toda a força no PSDB. Passaria a ser o maior pólo de aglutinação dos tucanos. Traria para Minas o comando do tucanato, que nunca saiu do território paulista, apesar dos comandos dos nordestinos Tasso Jereissati (cearense) e Sérgio Guerra (pernambucano). Empate Em Minas, Serra e Dilma estão praticamente empatados entre 38% e 35%. Se Hélio Costa garantir seu franco favoritismo durante as duas primeiras semanas de programação eleitoral, será difícil tirar sua vantagem, mesmo sabendo da disposição dos mineiros de deixar a decisão para a hora final. O cachorrinho "Seu Lunga estava passeando na calçada com o cachorrinho. E lhe perguntam : - Passeando com o cachorrinho, Seu Lunga ? Ele responde : - Não. É meu passarinho - pegando o pobre poodle pela coleira e fazendo ele voar." Palmômetro do LIDE João Doria Jr., ao abrigo do movimento que coordena, o LIDE, promove os maiores eventos empresariais do país. Consegue convocar a metade do PIB brasileiro em almoços juntando políticos e lideranças de todos os espectros. Este ano promoveu 3 almoços para ouvir os presidenciáveis. O palmômetro do LIDE acusa a seguinte nota de 0 a 10. Marina : 6; Dilma : 6 e Serra : 8. Diferenças de pesquisas Este consultor vive cercado de perguntas : por que Vox Populi dá 8 pontos de vantagem para Dilma, enquanto o Datafolha mostra empate técnico entre ela e Serra ? Vamos a alguns comentários. Primeiro, devemos considerar as diferenças de metodologia. A principal : Datafolha cobre mais espaços urbanos, os espaços com maior fluxo de pessoas - centros, pontos de ônibus, terminais, enfim, praças com muita gente. Os lugares de maior concentração podem escamotear parte da amostra ? Sim. Será que as mulheres e homens frequentam com a mesma intensidade esses lugares ? Diferenças II   O Datafolha, desse modo, deixaria em aberto amplas áreas rurais. Mas o Instituto alega que as pessoas do campo frequentam as cidades. Mas as mulheres que ficam em casa ? Não seria esta a razão pela qual Serra tem boa dianteira sobre Dilma no voto das mulheres ? Já o Vox Populi cobre tudo, espaços urbanos e rurais. Mas o Datafolha, em compensação, exibe amostra mais densa : 10 mil entrevistados, quanto o Vox captou 3 mil. Deixo que o leitor tire suas conclusões. Tendências   Os dados do Datafolha, porém, sinalizam uma tendência mais favorável à Dilma : menor rejeição do que Serra, maior pontuação na pesquisa de intenção de voto espontânea, maior pontuação na pergunta sobre quem será eleito e menor rejeição. Há, ainda, um dado que lhe é favorável : muitos eleitores não sabem ainda que é a candidata de Lula. Portanto, a combinação de todos esses elementos indica maiores vantagens para a ex-ministra. E as esporas ?  "Seu Lunga andava com sua bota com par de esporas. Quando um amigo seu pergunta : - e esse par de esporas ? O velho responde : - é pra caçar rato ! O rapaz pergunta : como o senhor caça rato ? Seu Lunga na ponta da língua : Primeiro, você põe um queijo amarrado na sua parte traseira. Quando o rato vier, você chuta de calcanhar o rato com as esporas." Dúvida cruel  Lula esgotou o potencial de transferência de voto ? Essa é uma das maiores interrogações da campanha. Poderá dar a Dilma mais 6 pontos ou 7 pontos para uma vitória no primeiro turno ? Dúvida mais ou menos cruel Aécio Neves se engajará de corpo e alma na campanha de Serra ? Conseguirá dar a Serra uma boa dianteira em Minas capaz de lhe assegurar a vitória ? Marina corajosa   Marina Silva (PV) toma partido. Cesare Battisti deve ficar no Brasil. Com sua posição, ela garante que o italiano é preso político. STF, palavra final O caso dos fichas-sujas baterá às portas do STF. Até lá, vai ser um empurra-empurra. A rima Lacerda, governador da Guanabara/RJ, candidato à presidência da República, foi a Montes Claros, lá em Minas Gerais. A cidade amanheceu com os muros pichados : "Lacerda rima com m...". No comício, à noite, Lacerda acabou o discurso assim : - Aos meus amigos, deixo um grande abraço. Aos meus adversários, a rima. Ciro de quê ? Vejam como as pesquisas podem camuflar algo. Ciro Moura (quem sabe de que partido é ?) acaba de ter 19% de intenção de voto para o Senado, em São Paulo, e está empatado com Tuma e Quércia, com 22% e 21º%. Ciro Moura pertence a um dos mais nanicos partidos, o PTC. Teve em 2008, 3.825 votos para prefeito. Em 2006, 5.860 votos para deputado Federal. Teve em 2004, 6.111 votos para prefeito. E em 2002, 17.854 votos para governador. São Paulo tem 30 milhões de eleitores. Ciro excluiu na Justiça Eleitoral o sobrenome Moura. Virou apenas Ciro. É mais que plausível achar que Ciro pegou carona no carro de outro Ciro, o Gomes, que está no Ceará, coordenando a campanha do irmão Cid ao governo. Pirataria eleitoral ? Ciro Moura diz que isso é achismo. A conferir mais adiante. Maluf bloqueado ? Paulo Maluf teve recurso da defesa que tentava cassar a condenação do deputado por improbidade administrativa. O episódio é o superfaturamento na compra de frangos quando era prefeito de São Paulo, em 1996. O Tribunal de Justiça rejeitou o recurso. Maluf sempre apela. Pelo que se conhece do deputado, os recursos chegarão até o Supremo Tribunal Federal. Este consultor tende a acreditar que ele será, sim, candidato a deputado federal. A conferir. E os debates ? Os debates fazem melhor para o sistema eleitoral do que o blábláblá dos programas gratuitos. Mostram diferenças entre os candidatos : domínio temático, raciocínio, criatividade, acuidade, objetividade, humor, capacidade de fustigar adversário, simpatia, empatia etc. Ocorre que os debates são assistidos por uma cota pequena de eleitores. Não chegam a impactar o eleitorado. As massas estão dormindo no pique dos debates. Conclusão : os eleitores garantirão que seus candidatos foram melhores que outros. Empate. Apenas consolidam posições já assumidas por núcleos do meio da pirâmide. Ir ou não ? Este consultor sempre acha que ir ao debate é melhor do que fugir dele. A banalização do debate, porém, estiola sua importância. Os candidatos deveriam participar de debates promovidos pelos grandes meios de comunicação, inclusive os patrocinados nas redes sociais. Jefferson quer soltar a voz Roberto Jefferson quer cantar "nervos de aço" nas ruas. Põe-se à disposição da campanha de Serra para enervar os adversários. Arruma a voz. E diz que está à disposição. Tem mais coisas a contar ou a cantar ? Collor de volta às origens   Fernando Collor (PTB) lidera, segundo o Instituto Ibrape, a eleição para governador de Alagoas. Tem 38% de votos contra o ex-governador Ronaldo Lessa (PDT), que tem 26%, e o atual governador Téo Vilela (PSDB), com 21%. Jingle de Collor : "É Lula apoiando Collor, é Collor apoiando Dilma pelo bem dos mais carentes". Minha velha e querida mãe sempre me lembra : "meu filho, nunca diga - desta água não beberei". Senadores ? A moldura dos senadores começa a ser composta. Mas os atuais favoritos podem mudar de lugar. As campanhas para os governos estaduais e os cenários de polarização deverão alterar algumas posições. Ou seja, é mais provável que um candidato da situação e outro da oposição sejam eleitos para o Senado nos Estados. Por exemplo, em Minas Gerais, Aécio Neves e Itamar Franco lideram, hoje, as intenções de voto. Este consultor tende a apostar na ideia de Aécio Neves, de um lado, e Fernando Pimentel, de outro. Em São Paulo, a sombra é enorme. Uma vaga vai para Marta Suplicy. A outra está sendo disputada por Tuma (PTB), Quércia (PMDB), Ciro Moura (PTC), Netinho de Paula (PC do B) e lá embaixo, com apenas 4%, está Aloysio Nunes Ferreira (PSDB). Abaixo de Ana Luiza, do PSTU, que tem 5%. Mas há quem aposte que a polarização em SP puxará Aloysio. A conferir. Mercadante em torno de 30% Aloizio Mercadante (PT) deverá chegar aos 30%. É muito estranho que ainda patine no espaço dos 18%. Historicamente, o PT alcança em SP margem entre 30% e 35%. Deverá subir. Vai insistir no PAC paulista. Comunicação das campanhas  O esquema de comunicação de José Serra, sob o comando de Luiz Gonzalez, abriga um grupo de 270 pessoas. É muita gente. Vai ter gente sem saber o que comunicar. Gastará algo em torno de R$ 50 milhões. Só em comunicação. Já a equipe de Dilma, por enquanto, esconde-se sob a cara de João Santana. Mas deve ter também um punhado de gente. Conselho aos ministros do TSE Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos membros do Poder Judiciário. Hoje, volta sua atenção aos ministros do Tribunal Superior Eleitoral : 1. Há um imbróglio no ar : afinal os fichas-sujas vão participar da campanha ? Não deixem para a última hora essa pendenga. 2. Os casos devem ser resolvidos antes das eleições, sob pena de vermos a vontade popular ser alterada após os resultados. Prioridade máxima. 3. Os TREs precisam adotar uma linguagem homogênea. A mídia começa a mostrar diferenças de percepções entre os Tribunais regionais. ____________
quarta-feira, 21 de julho de 2010

Porandubas nº 241

Você tá morto, cara Desembarquemos em São Bento do Uma/PE, nos idos de 60. O caminhão, entupido de gente, voltava de um jogo de futebol, corria muito, virou na curva da estrada. Foram todos para o hospital. Uma dúzia de mortos. Lívio Valença, médico e deputado estadual do MDB, foi chamado às pressas. Pegou a carona de um cabo eleitoral, entrou na sala de emergência do hospital e foi examinando os corpos : - Este está morto. Examinava outro : - Este também está morto. O cabo eleitoral se empolgava : - Já está até frio. De um em um, passaram de 10. Lá para o fim, Dr. Lívio examinou, reexaminou, decretou : - Mais um morto. O morto gritou : - Não estou morto não, doutor, estou só arrebentado. O cabo eleitoral botou a mão na cabeça dele : - Cala a boca, rapaz. Quer saber mais do que o dr. Lívio ? (Historinha do incomparável Sebastião Nery). O apito do Índio Não se pense que Índio tocou o apito para o Brasil sem orientação do cacique. Índio tem missão específica na campanha. Tocar apito, bater o bumbo, botar a boca no trombone. É claro que os tucanos lhe deram a tarefa como forma de atacar o PT, abrir flancos, ganhar ampla visibilidade e preservar as olheiras de José Serra. Só que Índio, por falta de experiência no trato com o apito, soprou muito forte. Dizer que PT faz narcotráfico é chutar o pau da barraca sem saber se era oco ou de aço. Tomou um susto quando percebeu o bumerangue. Massas afastadas Para que serve esse bombardeio ? Para ativar os núcleos do meio, mais envolvidos pelo balão da opinião pública. A essa altura, os exércitos organizados abrigam grupos de participantes e simpatizantes, que carecem de vitamina eleitoral. O ataque funciona assim : a linha de frente do candidato fustigado reage com furor e a retaguarda do candidato defendido vai repondo os morteiros do arsenal. As massas não estão nem aí. Não são afetadas por este discurso de FARC, narcotráfico, guerrilha. As massas querem comer um feijão com arroz mais encorpado, com uma linguicinha a mais e uma caipirinha dupla. Claro, com muito futebol, enquanto a churrasqueira queima as carnes gordas. Estratégias Os candidatos se movem. Serra e Dilma vão às ruas, sem deixar de uma fustigação recíproca. Serra defendeu seu vice, confirmando a ligação do PT com as FARC, mas sabendo que Índio exagerou no apito. Teria confessado isso a Aécio Neves. Dilma retruca e diz que Serra rebaixa a linguagem. E bate na tecla dos genéricos. Não foi Serra o pai dos genéricos, que teria sido o ex-ministro da Saúde, Jamil Haddad. PSB aumenta fervura E quando se esperava do Partido Socialista de Paulo Skaf postura suave, eis que ele vem fervendo. Defende imposto extra sobre grandes fortunas (a do Skaf é grande ?), reforma agrária radical, liberdade para o MST promover sua ação revolucionária e o controle dos meios de comunicação. O governador Eduardo Campos, que preside o partido, teria sido convencido a por mais lenha na fogueira, no instante em que o PT procura se mostrar mais suave e palatável aos olhos das forças produtivas. Ou falta senso ou sobra muito dissenso. Com as pernas O chato encontra Seu Lunga andando e saca a pergunta : - E aí, Seu Lunga, como anda ? O velho responde sem olhar para a pessoa : - Com as pernas, ainda não aprendi a voar. PSOL sob nuvens Para sair de baixo das nuvens e se expor mais ao sol, o PSOL também abre tiroteio. Plínio Sampaio, que tirou o Arruda do nome - para evitar confusão com o Arruda implicado do Distrito Federal - ataca : PT perdeu o rumo. Meu Deus do Céu : em vez de mostrar o que defende o PSOL, postura ética, temáticas fundamentais, Plínio, o nosso decano da política, também pega na metralhadora. Plínio, Plínio, use a experiência para resgatar o bom senso. Fale do PSOL e não dos outros. Até Marina, do PV, fica falando dos outros. Volta e meia, ela lembra o mensalão. Cadê o Ciro ? Onde está o Ciro Gomes ? No Ceará, coordenando a campanha do irmão, Cid, que ganharia em primeiro turno, fosse hoje o pleito. Cid está com 47% de intenção de voto, segundo pesquisa do Datafolha. Daqui a pouco, Ciro vai pegar seu apito. Querem apostar ? A porca Um sujeito vai até a loja do Seu Lunga e pede uma porca de determinado tamanho. O velho responde : - Procure naquela caixa. Sem jeito, o comprador tentou, tentou e não conseguiu achar o que queria. Desistiu. - Seu Lunga, não consegui achar a porca... Indignado o dono da oficina vai até a caixa de porcas, pregos e parafusos e encontra a peça. Vira-se para o rapaz e ataca : - Eu não te disse que a porca tava aqui, fio duma égua ! Joga a porca novamente na caixa, mistura com as outras peças e manda : - Agora tu procura de novo direito até achar. E a Sandra, hein ? A vice-procuradora-geral eleitoral, Sandra Cureau, vive um impasse : se apertar o cerco a Lula e ao PT, poderá aparecer como parcial, após a iniciativa dos petistas de acusá-la de ter dois pesos e duas medidas. Mas a decisão do PT de entrar com representação contra a procuradora junto ao CNMP não é boa medida. O procurador-geral da República, Roberto Gurgel, a defende. Para evitar posições que possam denotar parcialidade, são previsíveis medidas que atinjam tanto o situacionismo quanto as oposições. Lula e Dilma viram alvo e Serra, também. A conferir. Campanha improvisada Uma leitura mais sistemática sobre as campanhas aponta para grande grau de improvisação. As agendas parecem ser feitas sob pressão e disposição dos candidatos. Serra, segundo se sabe, é centralizador e só entra na arena regional, quando se convence da necessidade. Dilma, pelo que se observa, corre de um lado para outro, atendendo aos apelos mais imediatos. Uma campanha bem armada se ampara em planejamento rígido e ancorado na lógica : 150 municípios do Brasil, com as maiores densidades eleitorais, são o ponto de partida para uma organização eficaz. Bastaria programar uma agenda contemplando esses municípios, eis que cada um funciona como formidável pólo difusor de informações. Eixos temáticos A essa altura, também não se distinguem os grandes eixos temáticos da campanha. Os candidatos falam de tudo e de todos, mas as ideias centrais parecem escamoteadas. Quais os cinco pontos principais defendidos, por exemplo, por Serra e por Dilma ? Quais os aspectos semelhantes ? Quais as ênfases na área econômica e na fronteira social ? Estamos a contemplar uma parede de mosaicos, onde cada mosaico, ao lado do outro, tem uma cor diferente. Não sabemos qual a parte mais importante da parede, o lado que chama mais a atenção. Lula e a Copa Luiz Inácio respira política pelos poros. Recebe em Brasília o presidente da CBF, Ricardo Teixeira, a quem afirma de maneira peremptória : a Copa de 2014 tem que passar por São Paulo. Ora, São Paulo tem 40 milhões de habitantes. Continua a ser a locomotiva da nação. E Teixeira quer deixar o Estado em escanteio. Pacaembu ou Morumbi serão sempre melhores opções que gastar uma fábula na construção de um futuro elefante branco. Ricardo Teixeira levou um puxão de orelhas. Bem feito. Buscando boas ideias De férias na Europa, o prefeito Gilberto Kassab conheceu experiências que deram certo. Em Lisboa, na área portuária, foi ao Oceanário, museu de biologia marinha, e ao Parque das Nações, classificados como marco de recuperação e revitalização de espaços urbanos. O primeiro recebe 1 milhão de pessoas todos os anos e o segundo sediou a Expo 98. Kassab avalia a possibilidade de aplicar projeto parecido na reforma do Parque D. Pedro II, que prevê a integração do Mercado Municipal ao Museu Catavento e à Casa das Retortas. Cidade Limpa Além de ajudar na despoluição visual da metrópole, o Projeto Cidade Limpa deu a São Paulo o quarto lugar entre as 188 cidades que se candidataram para conseguir um espaço na Expo Xangai 2010, cujo tema é "Better City, Better Life". Até agora, quase 500 mil pessoas visitaram o estande paulistano e conheceram os projetos da cidade, cujo prefeito, Gilberto Kassab, sonha em fazer dela a sede da Expo 2020. Tanto que assinou um termo de cooperação técnica com a Associação Brasileira de Infra-Estrutura e Indústria de Base para a realização de estudos sobre a viabilidade da candidatura. Traque Seu Lunga estava no mercado com uma caixa de ovos. Um sujeito faz a óbvia constatação : - Comprando ovos, hein seu Lunga ? Resposta sem direito à réplica : - Não - jogando um a um no chão - É traque ! Analista de SP ? Um analista, possivelmente da superintendência do Fisco em SP, teria acessado os dados de Eduardo Jorge, vice-presidente do PSDB, dois anos atrás. Sem motivo nenhum. A se confirmar, será punido. Com a demissão. 3  bi de volta ? O delegado Ricardo Andrade Saadi, que assume a Direção-Geral do Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação Jurídica Internacional, tenta trazer de volta ao Brasil US$ 3 bilhões. Retidos em bancos dos EUA, Suíça, Reino Unido, Ilhas Cayman, França, Luxemburgo, Uruguai, Bahamas, China e outros paraísos fiscais. Coisa sempre prometida. Discurso velho. Como São Tomé, só acredito vendo. Chávez e o cardeal Chávez, o histriônico, diz que o arcebispo de Caracas, cardeal Jorge Urosa Savino, quer derrubá-lo. Há dias, Chávez mandou exumar os restos de Simon Bolívar. E mostrou-os ao povo em sua TV. O cardeal contaria para derrubar Chávez com 500 missas, 1000 Padre-Nossos e 1 milhão de Ave-Marias. Laranjada podre Esta coluna abriu uma campanha contra a malandragem na área de serviços. No setor de segurança privada, por exemplo, além de empresas clandestinas - aquelas que não têm autorização para funcionar e trabalham com profissionais desqualificados -, outra modalidade de concorrência desleal ocorre : policiais, através de parentes ou laranjas, criam empresas e adicionam ao portfólio de serviços, modalidades exclusivas da própria polícia. Uma aberração. Nenhuma empresa de segurança privada pode prometer desencadear ações após sequestro de pessoas ou de outros atos delituosos. Estas atividades são exclusivas da polícia. Folga policial Nos últimos tempos, a mídia passou a registrar casos de "policiais de folga" em fila de supermercado ou de lotérica, que são feridos e mesmo mortos, ao reagirem a assaltos. É louvável a ação de um policial que, mesmo de folga, submete-se ao perigo para defender a sociedade. Um alerta, porém : alguns reagem porque são pagos para fazer isso. São policiais que usam o armamento que lhe é confiado pelo Estado. Fazem um bico, coisa repudiada pela própria Corporação. Policial pode isso desde que se submeta às regras legais, ou seja, na hora da folga e devidamente registrado em uma empresa de segurança privada. A estrada Certo dia, Seu Lunga estava em seu sítio quando por lá passou um viajante. Que para e pergunta : - Seu Lunga, essa estrada vai para São Paulo ? Ele responde : - Sei não, mas se ela for vai fazer uma falta da bexiga... Conselho aos membros do Poder Judiciário Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos políticos fichas-sujas. Hoje, volta sua atenção aos membros do Poder Judiciário : 1. Ministros do TSE, o projeto Ficha Limpa precisa urgentemente de um rumo. Afinal, vale ou não para este ano ? 2. Os TREs deverão decidir sobre as impugnações até 5 de agosto e o TSE, até 17 de agosto. E se houver recurso de candidatos impugnados ao STF ? 3. Ministros do STF, pronunciem-se também sobre o projeto Ficha Limpa, na medida em que muitos candidatos impugnados, ancorados em liminares, poderão entrar no pleito, ganhar as eleições e, posteriormente, ser cassados. Os resultados poderão ser reavaliados e alterados. E a bagunça se instalará. ____________