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Porandubas Políticas

Por dentro da política.

Gaudêncio Torquato
quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Porandubas nº 347

Um gol de placa Abro a coluna com o folclore político do RN. Um pedinte aporta mais uma vez diante do prefeito de Areia Branca, Bruno Filho/PMDB. - "Doutor Bruno, eu quero uma ajuda da prefeitura", dispara à queima-roupa. Com sua voz quase inaudível, arrastada e sem maior mudança na entonação, o prefeito procura esclarecer que a municipalidade não pode lançar mão de qualquer quantia, sem cumprimento de processo burocrático. Dentro da lei. O pedinte não abre a guarda, apesar das explicações do prefeito. Insiste no pleito. - "Procure Lauro, nosso chefe de Gabinete, que ele trata de tudo", adianta Bruno. Os dias passam e novamente o prefeito se depara com o interlocutor insistente. "Doutor Bruno, é aquilo que eu falei com o senhor naquele dia". E relata que já passou por vários setores da prefeitura, sem uma conclusão. O prefeito volta a encaminhá-lo para Lauro. Mas o pedinte reage, descrevendo uma linha de passes : - Bruno joga para Lauro, que passa para Núbia, que devolve para Lauro, que joga para Juarez, que entrega à dona Lucinha, que volta para Bruno... Interrompendo a "narração", de olhos fixos no "narrador esportivo", Bruno indaga : "O que você quer dizer com isso?". - Prefeito, eu quero saber quando vou fazer o "gol". (Da coleção de Carlos Santos em seu livro Só Rindo) O adeus de Bento XVI A renúncia do papa Bento foi uma de decisão muito bem arquitetada. O papa é teólogo de primeira. Um grande estudioso da Igreja. Substituía um dos mais carismáticos papas de todos os tempos, João Paulo II. Perdia pulso no comando da igreja. A Cúria Romana, sob o controle do cardeal Tarcísio Bertone, é quem dá as cartas. Bertone funciona como o verdadeiro administrador da Igreja Católica. Conservador e fiel aos princípios mais rígidos da igreja. Bento avaliou todas as posições : permanecer com a saúde deteriorada ? Permanecer com o poder escapando de suas mãos ? Ou renunciar e, usando o gesto de humildade, chamar o corpo de cardeais para um encontro com a grande verdade ? O novo Papa A Cúria Romana dará o tom do conclave. A Itália, com uma população de católicos em torno de 50 milhões, tem 28 cardeais. Cinco a mais que toda a América Latina e o Caribe que, juntos, somam mais de 500 milhões de católicos. É um desnível considerável. O puxão de orelhas do papa Bento em quem puxa o tapete do poder poderá resultar na escolha de um perfil externo à comunidade de cardeais italianos. O cardeal do Canadá, que fala bem espanhol ? Algum cardeal africano ? E um cardeal brasileiro, levando em consideração que o Brasil é o país mais católico do mundo ? Ravasi, centrista Se a opção for por um cardeal da Itália, dois nomes despontam : Ângelo Sodano, da igreja mais rica do mundo, a de Milão, e o cardeal Gianfranco Ravasi, uma espécie de ministro da Cultura do Vaticano. Ravasi passa a ser favorito ante o pano de fundo sob o qual foram escolhidos papas no passado. É o pregador do retiro que os cardeais começam a vivenciar. Ou seja, ele dará o norte para as reflexões que começam a ser feitas no Vaticano. Pio XI escolheu seu sucessor, o cardeal Pacelli, que veio a ser o pregador do retiro e, depois, escolhido papa Pio XII. O pregador do retiro por ocasião da morte de João Paulo II foi o cardeal Ratzinger, que viria a ser o papa Bento XVI. Coincidência ou indicação de que os pregadores de retiros são os favoritos ? A propósito, Ravasi tem uma posição centrista, abrindo diálogo com todas as alas. Mas dizem que Bento torce por Sodano, que também seria o preferido do camerlengo Bertone. Bill Gates e a gorjeta Certo dia Bill Gates foi ao restaurante junto com sua esposa e filhos, duas meninas e um garoto. Eles sentaram-se em mesas diferentes, mas foram atendidos pelo mesmo garçom. Durante o jantar tudo ocorreu normalmente. Depois de pedir a conta, Bill a pagou na mesa, deixando para o garçom uma gorjeta de 5 dólares. O que deixou o homem com uma cara estranha e que chamou a atenção de Bill, que perguntou : - "O que houve?". O garçom respondeu : - "Eu acho um pouco estranho, pois seus filhos me deram 500 dólares de gorjeta e você, sendo o homem mais rico do mundo, me deu apenas 5". Bill sorriu e falou : - "Eles são filhos do homem mais rico do mundo, eu sou filho de um lenhador.". Moral : Jamais devemos esquecer-nos de onde viemos. O ano político Por aqui, o ano político começa sob o signo das expectativas. Para começar, a grande indefinição : como organizar a pauta se o STF, por meio daquela liminar sobre os vetos, concedida pelo ministro Fux, deixa as casas congressuais em dúvida ? Há de se votar os vetos antes das pautas rotineiras ? Ou é possível fazer as coisas de maneira concomitante ? A decisão mais urgente é sobre o Orçamento. O presidente Renan havia marcado a votação para hoje, mas adiou a decisão, aguardando que o plenário do STF emita sua orientação. Resgate de imagem O Parlamento atravessa um momento crítico sob a perspectiva da imagem perante a sociedade. O que pode ser feito para resgate da boa imagem das Casas Congressuais ? Esta é uma questão que frequentemente se apresenta a este consultor. Pois bem, a resposta aponta para uma única direção : priorizar matérias de alta relevância para a vida social e política do país. Ou seja, o Congresso tem nas mãos a receita apropriada para curar seus males : votação das reformas política/eleitoral, tributária, trabalhista; a inclusão de grandes matérias que aguardam há tempos sua discussão no Parlamento. Em suma, chegou a hora de substituir a promessa e o discurso pela ação e decisão. Lula e Eduardo Campos Nos bastidores, é comum ouvir a observação : Eduardo Campos, governador de PE, não será candidato porque tem um dever de lealdade para com Lula. Foi Luiz Inácio quem jogou uma montanha de investimentos em PE, que permitiram ao neto de Miguel Arraes fazer um bom governo e ganhar boa avaliação do eleitorado. É isso ? Em termos. Eduardo Campos não se sente atrelado ao carro de Lula. Por ser político e considerando-se um quadro novo, analisa todas as possibilidades. Enxerga que teria chegado sua vez. Seu PSB foi o partido que, em termos proporcionais, mais ganhou no último pleito. O governador pensa em alçar voo. Se perder, ganha A equação que inspira Eduardo Campos é a de ganhos. Candidatando-se em 2014 e perdendo, somará ganhos. Como ? Pela geometria da política, a menor distância entre dois pontos nem sempre é uma reta. Pode ser uma curva. Perdendo, ele ganhará em matéria de grande visibilidade, correrá o país, travando contatos com as comunidades, ampliará o circuito de alianças, deixando, assim, o terreno preparado para a mobilização seguinte, ou seja, em 2018. Eduardo Campos poderá, em 2014, aumentar o quadro de governadores do PSB e as bancadas parlamentares nos Estados e no Congresso Nacional. Por essa leitura, este consultor conclui que, numa régua de 0 a 100, o governador de PE estica o braço até o número 90. Apenas 10% de chances de retirar o time de campo. Quatro tipos de homens "Aquele que não sabe, e não sabe que não sabe. É um tolo : evite-o; Aquele que não sabe, e sabe que não sabe. É um simples : ensine-o; Aquele que sabe, e não sabe que sabe. Está dormindo : acorde-o; Aquele que sabe, e sabe que sabe. É um sábio : respeite-o". Conceitos árabes PMDB consolida aliança Ademais, o governador de PE tem em conta a equação estabelecida pelo PMDB. Sob o comando das duas casas congressuais, o partido ganha força para não apenas consolidar a aliança com o PT, mas para ampliar sua participação na esfera governativa. Michel Temer, sob essa perspectiva, manterá sua posição como vice na chapa da presidente Dilma. A hipótese de ceder esse espaço inexiste, nem mesmo sob a indicação de quadros do PT que gostariam de ver o vice-presidente disputando o governo de SP. Michel está muito bem no cargo, desempenhando altas missões que lhe são confiadas pela presidente. E nenhuma das alternativas que são jogadas no colo de Lula para substituir o nome de Michel pelo nome de Eduardo Campos na chapa de Dilma tem condição de vingar. Renan enxuga custos O presidente do Senado, Renan Calheiros, começa a fazer um enxugamento na estrutura do Senado. Demitirá cerca de 30% dos servidores comissionados e diminuirá estrutura do serviço médico. Merece aplausos. Pacto federativo Outra notícia auspiciosa é o encontro que os presidentes da Câmara, Henrique Eduardo Alves, e do Senado, Renan Calheiros, farão com os 27 governadores dos Estados e do DF, dia 13/3. Em pauta : projetos relativos ao pacto federativo. Concretamente, deverão ser debatidas questões envolvendo mudança do critério de rateio do Fundo de Participação dos Estados, fixação de regras de distribuição da receita resultante da exploração de petróleo (royalties e participações especiais), unificação do ICMS e mudança no indexador da dívida dos Estados e municípios com a União. Um ótimo começo para os dois presidentes. A.A.A. E por falar em Henrique, uma historinha com ele. Diante da cassação do líder Aluízio Alves, o jovem Henrique Eduardo Alves é elevado à prematura tarefa de sucedê-lo politicamente. Em Mossoró, um "aluizista" histórico exalta a continuidade. Ex-faz-tudo do empresário Renato Costa, "Mourão" dispara eufórico : - Se o pai com dois "A" era forte, imagine o filho com três. Ao seu lado, um interlocutor atordoado não entende o comparativo : - Três "A" por que, Mourão ? O apaixonado militante político, de pouca habilidade com o vernáculo, "esclarece" tudo a seu modo : - Ora! Anrique Aduardo Alves, homem ! Explicado. (Da coleção de Carlos Santos) A dor de Dermi Minha solidariedade ao amigo Dermi Azevedo, conterrâneo potiguar e jornalista. Seu filho, Carlos Alexandre, suicidou-se com uma overdose de medicamentos. Mas a dor vem de longe. Com um ano e oito meses, o filho de Dermi foi torturado com a mãe no Deops, em SP, pela equipe do delegado Sérgio Fleury. Ali começava a morrer seu filho. Nunca se curou das sequelas daquela brutalidade. Dermi, um forte abraço ! Lula em caravana Luis Inácio Lula da Silva se prepara para correr o país em caravana. Quer abrir os palcos de 2014 para a reeleição de Dilma. Lula vai usar o estoque de carisma que ainda possui. Mas a caravana não será como a dos velhos tempos. A conferir ! Toma lá, dá cá Quando Rui Barbosa iniciava sua profissão de advogado, na BA, apareceu-lhe em casa, certa vez, um açougueiro, perguntando-lhe : - Se o cachorro de um vizinho lhe furta um pedaço de carne pesando 5 quilos, o dono do cachorro é obrigado a pagar ? - Tem testemunha ? - Tenho. - Pois trate de receber a importância. - Pois então o doutor me deve 7$500. Foi seu cachorro que roubou a carne. O futuro jurisconsulto fez o julgamento sem bufar, e, quando o açougueiro ia saindo, chamou-o : - Vem cá ! E a consulta ? - Tenho que pagar ? - Naturalmente. São 50$000 (Do livro Leia Comigo, do amigo Luis Costa) Conselho aos novos dirigentes Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes, membros dos Poderes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos donos de espaços de lazer, tendo como pano de fundo o desastre de Santa Maria/RS. Hoje, se volta para os dirigentes da Câmara e do Senado : 1. Procurem ler e interpretar as demandas de mudanças que partem da sociedade e organizem uma agenda de alta prioridade para as Casas congressuais. 2. No plano das mudanças, questões urgentes são : reformas política, tributária, trabalhista e a repactuação da Federação. 3. Tentem resgatar o escopo funcional do Parlamento, tornando-o menos dependente do Poder Executivo. ____________
quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Porandubas nº 346

Abro a coluna de hoje com uma historinha de advogado. O rapaz era advogado novo em Princesa Isabel. Ia defender um criminoso de morte a faca. Procurou o coronel Zé Pereira, dono da cidade : - Coronel, preciso conseguir pena mínima para meu cliente. Se não conseguir, não tenho carreira aqui. O coronel prometeu. Terminou o julgamento, pena mínima. O advogado foi agradecer a vitória ao coronel, que valorizou a ajuda : - Doutor, o senhor não calcula a força que eu fiz para conseguir a pena mínima. Todo mundo queria absolver o homem. A força do PMDB As eleições de Renan Calheiros e Henrique Alves para os comandos das duas Casas Legislativas reforçam a força do PMDB na tessitura do poder político do país. Trata-se do desdobramento de um processo de acumulação de poder, que leva em conta o fato de o partido ter o maior número de prefeitos - cerca de 1.100 -, o maior número de vereadores, o maior número de deputados estaduais e o maior número de senadores. E é a segunda maior bancada de deputados Federais. Com esse cacife, o partido chega às presidências do Senado e da Câmara, a par de abrigar, ainda, a vice-presidência da República, com Michel Temer. Temer, o artífice Michel Temer é o artífice dessa construção. Com seu perfil que agrega harmonia e equilíbrio, consegue juntar contrários, conter ímpetos de grupos ou pessoas, isoladamente, ouvir uns e outros, e, ao final de um longo exercício de administração de interesses, alcançar razoável dose de consenso. O fato é que o PMDB, desde os tempos de Ulysses Guimarães, é uma confederação que reúne federações regionais. Era muito dividido. Hoje, exibe maior unidade que nos tempos ulyssistas. Quando se pensa que as querelas internas farão do partido um amontoado de pedaços, eis que as partes se juntam no todo. Esse é o PMDB. Parceria com PT O desdobramento do projeto de poder do PT se alicerça na base peemedebista. O Partido dos Trabalhadores sabe que o PMDB tem capilaridade, algo construído desde 1986, quando o partido conseguiu eleger 22 governadores. Apenas Antonio Carlos Valadares, que pertencia ao PFL de SE, conseguiu quebrar a unidade dos governos estaduais peemedebistas. A consequência foi a eleição seguinte de uma gigantesca fornada de prefeitos e vereadores. Até hoje essa é a argamassa que explica o fato de ser o maior partido nacional. A conta que soma Essa é a conta que soma na hora das grandes decisões. É isso que se apresenta na hora de decidir sobre parceiros e perfis. Diz-se, por exemplo, que Lula gostaria de deslocar Michel Temer e colocar, em seu lugar, o governador Eduardo Campos como vice da presidente Dilma em 2014. Falta nexo nessa equação. O PSB é um partido médio. Tem cerca de 500 prefeitos. Foi o partido que mais subiu no pleito municipal passado, é verdade. Mas não chegou ao estágio de grande partido. Ou seja, a imagem de Eduardo Campos é maior que a identidade. Identidade e imagem Expliquemos esses conceitos. Identidade é uma soma de posições : porte, estrutura, história, quadros, organização, etc. Imagem é a projeção da identidade. Às vezes, a imagem de uma pessoa ou de um partido se apresenta bem maior do que sua identidade. É o caso do Eduardo Campos e seu PSB. Não tem a força que demonstra ter. Ambos, partido e ator, são menores do que realmente se apresentam. Nesse sentido, perdem a capacidade de mando em momentos decisórios. Lula, portanto, por mais que se esforce, terá dificuldades de deslocar um perfil mais denso para colocar em seu lugar uma identidade menor. Michel e Lula Por mais de uma vez, Lula tentou dar as cartas no PMDB. Primeiro, tentou jogar Nelson Jobim, saído do STF, como candidato à presidência do PMDB. Perdeu o jogo para Michel. Depois, tentou jogar Henrique Meirelles no colo do PMDB e, com essa sacada, incluí-lo na chapa da Dilma como vice-presidente. Mais uma vez perdeu. A seguir, Lula apareceu com a ideia de uma lista tríplice de candidatos do PMDB a vice na chapa da Dilma. A sugestão morreu no nascedouro. Leitura linear : Michel derrotou Lula três vezes. Por isso, a arremetida de Lula para deslocar Michel Temer da chapa presidencial em 2014 tende, mais uma vez, a fracassar. Ainda mais quando este partido, presidindo as duas Casas Congressuais, terá a força para definir a agenda político-eleitoral nos próximos dois anos. Campos como candidato Esta leitura abre a alternativa de uma eventual candidatura de Eduardo Campos à presidência em 2014. O governador pernambucano conta com a possibilidade de uma terceira candidatura, a de Aécio Neves e, por conseguinte, vislumbra entrar no meio e se apresentar como o perfil entre oposição e situação. Se a economia sair dos trilhos, o olhar eleitoral poderá se dirigir em sua direção, até porque o senador Aécio Neves se mostra cada vez mais um perfil cercado de dúvidas e incertezas. Se perder, Campos usará a ampla visibilidade alcançada no pleito em 2018. Ou seja, já teria pavimentado a estrada do futuro. Lembrança : nem sempre a menor distância na política é uma reta, como na geometria euclidiana. Pode ser uma curva. A derrota de hoje poderá se transformar na vitória do amanhã. Lula que o diga. Fernando Henrique, idem. Temer no comando Por volta de abril, o PMDB deverá fazer eleições internas. O vice-presidente da República, por consenso, deverá ser reeleito mais uma vez para comandar o partido. Afastar-se-á em função dos compromissos de vice-presidente, devendo o comando permanecer com o vice, o senador de RO, Valdir Raupp. O plano dos dirigentes é fortalecer o partido para disputar o pleito nos Estados, em 2014. Em São Paulo O PMDB tem planos de eleger o maior número de governadores e de deputados Federais e estaduais, a partir de SP. Como se sabe, Michel Temer está consolidando o partido no maior contingente eleitoral do país. O PMDB já tem um pré-candidato definido : Paulo Skaf, presidente da FIESP. Trata-se de um perfil arrojado, dinâmico e em condições de fazer uma campanha eficaz pela capacidade de articulação junto aos prefeitos e pela disposição de organizar uma forte estrutura. O partido quer resgatar a força que já deteve em SP, perdida ao longo das últimas décadas. Para tanto, precisa dispor de um perfil que consiga efetivamente realizar um pleito competitivo e, assim, quebrar a polaridade entre PSDB e PT. Frases sobre o Brasil A prosperidade de alguns homens públicos do Brasil é uma prova evidente de que eles vêm lutando pelo progresso do nosso sub-desenvolvimento. (Stanislaw Ponte Preta) No Brasil, quem tem ética parece anormal. (Mário Covas) Não sou especialista em Brasil, mas uma coisa estou habilitado a dizer : não creiam que mão de obra barata ainda seja uma vantagem. (Peter Drucker) O Brasil precisa explorar com urgência a sua riqueza - porque a pobreza não aguenta mais ser explorada. (Max Nunes) Descobri a fracassomania numa viagem ao Brasil, há mais de 40 anos. Toda vez que muda um governo os intelectuais brasileiros consideram que está tudo errado e é preciso começar tudo de novo. (Albert Otto Hirschman) Parlamento e Executivo O Parlamento, sob os comandos de Renan e Henrique, entrará em conflito com o Executivo ? Esta é a questão na ordem do dia das análises. Lembre-se, primeiro, que o PMDB faz parte da base governista. Ou seja, ajudará o Executivo a governar. Mas há o discurso de compromissos para o chamado público interno. A pauta de questões polêmicas é densa, bastando lembrar dois assuntos : MPs e Orçamento Impositivo. O Orçamento Impositivo é um antigo anseio dos deputados, que querem garantia de que os recursos efetivamente aprovados por eles chegarão ao destino. Será difícil à presidente Dilma represar esta vontade parlamentar. Vai haver tensão, mas não a ponto de ruptura. Quanto às MPs, haverá certamente maiores controles e cuidados, evitando-se que sirvam para caronear emendas que fogem aos critérios de relevância e urgência. Parlamento e Judiciário E a questão da última palavra em relação aos mensaleiros ? Pertence ao Judiciário ou à Câmara dos Deputados ? O ministro Joaquim Barbosa fez a peroração definitiva : em matéria de interpretar a Constituição, o STF tem a última palavra. Quem duvida disso ? Ninguém. Ocorre que o mandato parlamentar pertence ao povo. Portanto, a Casa que representa o povo deve se manifestar. A questão é de bom senso. Ou seja, a Câmara não pode contrariar uma interpretação constitucional do Supremo, mas deve se pronunciar a respeito da cassação de algum de seus membros. O bom senso aponta que a direção da Casa deve se manifestar. A liturgia recomenda que o caso tenha trâmite na Câmara. Este consultor acredita que o bom senso administrará a controvérsia. PSDB e o discurso perdido Os tucanos estão perdidos na floresta. Há muito tempo, o ex-presidente Fernando Henrique pede aos correligionários um discurso condizente com as ruas. O país avançou nos últimos tempos. Mas há imensos buracos na fisionomia social e na moldura da infraestrutura. Para onde caminhará o país ? Quais os grandes projetos que devem ser levados adiante ? Quais as estratégias para alavancagem da economia e crescimento do PIB ? Como o país deve trabalhar para fazer as reformas pendentes no calendário político ? Essas são questões que os grandes partidos precisam saber responder. Anastasia anestesiado ? Esperava-se que o governador tucano Antonio Anastasia, de MG, emergisse como um dos líderes de maior destaque entre os atuais governadores do país. Parece que foi anestesiado. Tinha mais fama como braço direito de Aécio Neves do que como governador do segundo maior colégio eleitoral do país. Congresso de hotéis A hotelaria é fundamental para o sucesso dos grandes eventos esportivos marcados para o país neste ano, em 2014 e em 2016 : Copa das Confederações, Copa do Mundo e Olimpíadas. Por isso, nada mais oportuno do que um encontro entre hoteleiros de todo o país nos dias 25, 26 e 27 de março. Será o 55º Conotel (Congresso Nacional de Hotéis), no Expo Center Transamérica, com o tema Desafios e perspectivas regionais da indústria de hospitalidade. A iniciativa é da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis (ABIH), em parceria com a Federação Brasileira de Hospedagem e Alimentação (FBHA), Fórum de Operadores Hoteleiros do Brasil (FOHB), Resorts Brasil e Grupo Fiera Milano, que traz ao Brasil pela primeira vez a feira Food Hospitality World, destinada à hotelaria e à gastronomia brasileira. Mais frases sobre o Brasil No Brasil, sucesso é ofensa pessoal. (Tom Jobim) No Brasil, empresa privada é aquela que é controlada pelo governo, e empresa pública é aquela que ninguém controla. (Roberto Campos) No Brasil cultuamos duas frustrações : a dos que têm poder mas não têm competência para exercer e a dos que têm competência mas não têm poder. (Paulo de Tarso de Moraes Souza) Deixei de acreditar em Deus no dia em que vi o Brasil perder a Copa do Mundo no Maracanã. (Carlos Heitor Cony ) Conselho aos donos de espaços de lazer Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes, membros dos Poderes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado às autoridades municipais. Hoje, volta sua atenção aos donos de espaços de lazer : 1. Que a tragédia de Santa Maria sirva de lição. Façam completa varredura em seus espaços de lazer, a partir de boates. Vejam as falhas, fechem temporariamente seus estabelecimentos, reabrindo-os quando estiverem em condições de plena segurança. 2. Não esperem pela fiscalização do poder público. Cumpram seu dever de cidadãos responsáveis. 3. Peçam para os órgãos públicos, depois de uma operação de reaparelhamento, fazerem rigorosa fiscalização. E assim o fizerem, estarão ganhando os aplausos da sociedade. Em caso contrário, serão execrados pela opinião pública. ____________
quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Porandubas nº 345

E a carteira de reservista ? Abro a coluna de hoje com uma deliciosa historinha com Rui Carneiro, que pontificou por muito tempo no Senado, representando a Paraíba. Passada a campanha eleitoral, derrotados e vitoriosos, locupletados de dívidas, buscaram saldar os compromissos. Rui Carneiro, eleito para o Senado pela Paraíba, foi procurado por uma liderança importante do alto sertão paraibano. Chegara a hora de cobrar a promessa de campanha. - Senador, agora que o senhor tomou posse, venho aqui cobrar o que me prometeu. Como o senhor sabe, nós o ajudamos muito, vestimos sua camisa. Foi uma campanha dura. Está aqui o meu filho José, a quem o senhor prometeu um empreguinho. O Senador revirou a memória. Lembrava-se, sim, da promessa. Não podia faltar ao compromisso assumido. Mas, que emprego oferecer ? Eis o dilema. Indagou : - José, meu filho, você tem certidão de nascimento ? - Sim - Identidade e título de eleitor ? - Sim. José já se imaginava com o emprego ganho, quando mais uma perguntinha foi sacada da matreirice do senador. - E a carteira de reservista, o documento mais importante para se obter um emprego publico ? Me mostre, por favor. José perdeu o rebolado. Acabrunhado, respondeu : - Não, essa não tenho. Nunca me alistei... Ânimo renovado, salvo pelo gongo, Rui Carneiro deu a cartada final : - Todo cidadão brasileiro que quiser um bom emprego público precisa servir à Pátria. Ser reservista ! Despachou José e seu pai com um caloroso : - Estou e estarei sempre à disposição ! (Historinha enviada por Lázaro Torquato, meu irmão, em plena recuperação da saúde) Estadania Processo de tutela dos direitos da cidadania, em que esses passam a ser vistos como concessões e não como prerrogativas. Forma de enquadrar o ânimo social, dificultar sua emancipação política e perpetuar o poder cartorial. Conceito bem expresso por José Murilo de Carvalho em Cidadania no Brasil. País ainda está amarrado na árvore da Estadania. A tragédia da vez Mais uma tragédia anunciada. A morte que chega em grandes números sempre anuncia sua chegada. Pelo menos no Brasil, terra do jeitinho, da arrumação, das curvas, dos desvios, da mancomunação de interesses. A tragédia de Santa Maria/RS era mais que anunciada. Um espaço fechado, com capacidade para menos de mil pessoas, abrigando duas mil. Uma única porta de entrada e saída. E estreita. Materiais inflamáveis. Alvará de funcionamento vencido. Uma banda antenada na liturgia da incandescência do espetáculo. O uso de equipamentos que disparam faíscas para o teto. Essa é a receita de um grande incêndio. Muito menos do que isso já provocaria a morte de muitos jovens. A liturgia da pós-tragédia Passados os momentos de comoção, as camadas de dor passam a receber a argamassa da hipocrisia. Autoridades autorizam investigação para apurar as responsabilidades. Indiciados são detidos. As famílias recolhem-se em seus abrigos de aflição. A mídia vai jorrando suítes (matérias em sequência). Pouco a pouco, a tragédia se transformará em um tecido esgarçado pelo tempo. Até ser consumida pela mais nova tragédia. A dor de Santa Maria será substituída pelas dores mais lancinantes da atualidade. A irresponsabilidade continuará a ampliar os seus domínios. Apesar de proibições de funcionamento de algumas casas noturnas. Os controles entram em relaxamento. O pedido da presidente Dilma para prefeitos cuidarem mais atentamente da segurança dos ambientes de lazer e espaços públicos vira um borrão amarelado na história das tragédias. E assim, a sexta maior potência mundial afunda os eixos de sua cultura permissiva nas profundidades do retrocesso. A campanha está nas ruas No Brasil, o terreno da política é sempre movediço. Há buracos aqui e ali, entrâncias e reentrâncias para entrada e saída dos atores políticos. O remelexo é constante. Idas e vindas, articulações e desarticulações ocorrem ao sabor das circunstâncias. Por isso mesmo, a campanha de 2014 ganha as ruas. A presidente Dilma, em pronunciamento em rede de TV, anuncia redução do custo da energia elétrica para os consumidores e empresas, em claro posicionamento eleitoreiro. A bandeira da luz mais barata é popular. Na esteira da insinuação da presidente, o governador de PE, Eduardo Campos, do PSB, volta às manchetes e primeiras páginas de revista. O líder do PSB, Beto Albuquerque, anuncia : depois do pronunciamento de Dilma, não há mais como esconder a candidatura de Campos. Já os tucanos... Enquanto isso, os tucanos fazem sua Convenção partidária, forma de revitalizar o ânimo das bases. José Serra reaparece na cena com seu primeiro discurso após perder a prefeitura de SP para o petista Fernando Haddad. E o que fazem os partidários do governador Geraldo Alckmin ? Lançam Serra na esfera da candidatura à presidência em 2014. Contra Aécio. Quer dizer, SP contra Minas. Nada de café com leite. Café de um lado, leite de outro. Aécio, por sua vez, abre o bico e descreve o travamento da gestão federal. Seu discurso é mero diagnóstico. Carece de propostas substantivas. Cadê o projeto Brasil ? Aliás, essa é a questão que bate na floresta tucana. Onde está o Projeto para o Brasil ? O que o país poderia esperar dos tucanos além de bicadas? As oposições estão travadas no âmbito do discurso. Falar por falar, denunciar por denunciar não leva a nada. Fernando Henrique apóia Aécio. Alckmin apoiaria Serra. Claro, até para poder tirá-lo de sua rota, que é a reeleição ao governo de SP em 2014. Pérolas do Enem - Os estuários e os deltas foram os primitivos habitantes da Mesopotâmia. - O objetivo da Sociedade Anônima é ter muitas fábricas desconhecidas. - A Previdência Social assegura o direito a enfermidade coletiva. - O ateísmo é uma religião anônima. - A respiração anaeróbica é a respiração sem ar que não deve passar de três minutos. - O calor é a quantidade de calorias armazenadas numa unidade de tempo. - Antes de ser criada a Justiça, todo mundo era injusto. - Caráter sexual secundário são as modificações morfológicas sofridas por um indivíduo após manter relações sexuais. Divisão de poder Em política, tudo é possível. Inclusive, a entrega da prefeitura da Capital e do governo do Estado a um mesmo partido. Mas isso é algo bastante difícil. O eleitor tende a repartir o poder. Entrega a capital para ser administrada por um partido e o Estado por outro. Por isso, este consultor acha complicada a operação/intenção de Lula de eleger o ministro Padilha, da Saúde, como governador do Estado. Parece mais viável um candidato de outro partido, que não o PT. Esta agremiação, aliás, divide o eleitorado. Uma parte a ela se engaja, outra toma distância. A rejeição ao PT continua alta em SP. Mas o partido, sem dúvida, tem condições de jogar seu candidato no segundo turno. Corrosão de material Diante disso, surge a questão : quer dizer que é mais fácil para o PSDB ganhar o governo de SP ? Em tese, sim. Mas há um fator complicador. É aquilo que o marketing político batiza de "corrosão de material". São 20 anos de poder tucano no Estado de SP. Tempo considerado limítrofe para se constatar os primeiros sinais de desgaste da identidade. Explico : Identidade é a coluna vertebral do ator político, seja ele pessoa jurídica, um governo, seja ele pessoa física, o governador Geraldo Alckmin, por exemplo. Identidade é a soma do discurso, ações, propostas, ideários, atitudes, forma de governar, ao lado do plano estético - visual do governo, gestos pessoais, etc. Depois de muito tempo, essa composição vai ganhando tons de cinza ou de amarelo desbotado. O discurso fica velho. O eleitor quer distinguir um novo colorido na paisagem. O jeito Alckmin de governar Geraldo Alckmin é, como diz a linguagem dos setores médios, um gentleman. Educado, pessoa de fino trato, cordial, ou, para usar outra imagem, o perfil do sogro ideal. Ao contrário de Mario Covas, um perfil rompante, destemido, que exibia autoridade na fala e nos gestos. Covas era conhecido pela coragem de enfrentar todos os obstáculos. Partiu para cima de um grupo que o apupava na entrada da Escola Caetano de Campos. Alckmin, ao contrário, tem jeito de que é incapaz de matar uma mosca. O estilo é a pessoa, já diziam os clássicos da literatura. Pinço a observação para a política. A identidade do governo de SP leva muito dos traços pessoais de Alckmin. Suave, maneiroso, sem um tronco firme (uma coluna vertebral) que possa identificar a administração. Esse é o busílis, o entrave, que dificultará a reeleição de Alckmin. Alternativas O PMDB deverá fechar posição em torno de Paulo Skaf, presidente da FIESP. Trata-se de um perfil conhecido pelo ativismo e empreendedorismo. Skaf foi reeleito por unanimidade para a maior Federação de Indústrias do país. Mudou a feição da casa, transformando-a em foro de debates diários. Ali se vêem ministros, ex-ministros, grandes economistas e analistas da cena brasileira. Lidera ele grandes causas, como o barateamento do custo da energia, uma campanha da FIESP. Portanto, se for o candidato do PMDB e dispuser de um bom espaço de TV, poderá ser o meio termo entre o continuísmo tucano e o oposicionismo petista, que já ocupa o terreno municipal. Há, ainda, o nome do ex-prefeito Kassab. Trata-se de um grande articulador. Mas terá ele de quebrar grandes resistências a seu nome e redesenhar os costados da imagem. Além disso, sobraria para ele a disputa ao Senado. Também uma chance. E Suplicy ? Pois é, em 2014, haverá apenas uma vaga em disputa para o Senado. Eduardo Suplicy, o eterno senador petista, continuará a ter preferência ? Na visão deste consultor, trata-se de um perfil que também atravessa o corredor onde estão os materiais corroídos pelo tempo. Suplicy toparia ser candidato a deputado ? Minha impressão é de que o PT vai desviá-lo da Câmara Alta (Senado) e candidatá-lo à Câmara Baixa (Câmara dos Deputados). Diálogo nacional A partir de hoje, às 11 horas, estará no ar - pelo canal comunitário - o programa Diálogo Nacional, onde o vice-presidente da República, Michel Temer, será entrevistado por Ruy Altenfelder. Pela primeira vez, ver-se-á Temer falando sobre aspectos muito pessoais de sua vida, recitando e interpretando poesias de seu livro Anônima Intimidade (Editora Topbooks), a ser lançado, amanhã, a partir de 18h, na Livraria Cultura do Conjunto Nacional, av. Paulista. Trata-se de um raro momento de descontração expressiva. Michel, como se sabe, é conhecido pela maneira discreta como se comporta, não tendo hábitos de extravasar na linguagem. Maquiavel e Richelieu Maquiavel dizia : "nada é mais difícil de executar, mais duvidoso de ter êxito ou mais perigoso de manejar do que dar início a uma nova ordem de coisas". E o cardeal de Richelieu lembrava em seu testamento político : "o que é apresentado de súbito em geral espanta de tal maneira que priva a pessoa dos meios de fazer oposição, ao passo que quando a execução de um plano é empreendida lentamente a revelação gradual do mesmo pode criar a impressão de que está sendo apenas projetado e não será necessariamente executado". Lições do inesquecível Saramago "Se tens um coração de ferro, bom proveito. O meu, fizeram-no de carne, e sangra todo dia". "Gostar é provavelmente a melhor maneira de ter, ter deve ser a pior maneira de gostar". "Não tenhamos pressa, mas não percamos tempo". "O que as vitórias têm de mal é que não são definitivas. O que as derrotas têm de bom é que também não são definitivas". "Se podes olhar, vê. Se podes ver, repara". "Dentro de nós há uma coisa que não tem nome, essa coisa é o que somos". "O talento ou acaso não escolhem, para manifestar-se, nem dias nem lugares". "Fisicamente, habitamos um espaço, mas, sentimentalmente, somos habitados por uma memória". "O espelho e os sonhos são coisas semelhantes, é como a imagem do homem diante de si próprio". Conselho às autoridades municipais Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes, membros dos Poderes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado à presidente da República. Hoje, volta sua atenção às autoridades municipais : 1. Comecem sua gestão pelo controle rigoroso da segurança nos ambientes de lazer e nos espaços públicos usados pela comunidade. A tragédia de Santa Maria não pode se repetir. 2. Não tenham dúvidas em mandar fechar estabelecimentos que apresentem qualquer irregularidade e que ameacem a segurança dos seus ocupantes. 3. O respeito à autoridade municipal começa pelo cumprimento da lei, sob o império da Ordem. ____________
quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Porandubas nº 344

Abro a coluna com uma historinha do prefeito de Itapetininga/SP, Joaquim Aleixo Machado, entre os anos de 1964 e 1969. Aleixo aguardava para falar com o governador do Estado de São Paulo. Tomou um chá de cadeira. Ante a excessiva demora, foi cobrar explicações da recepcionista : - Puxa, eu já estou aqui há mais de 3 horas e ele não me chama ? -... Pois é, sr. Aleixo, é que chegou um pessoal de Brasília... - Ah... Mas que bom... Diga a ele que tenho preferência. Eu vim de Opala ! (Enviada por Lucélio de Morais) Campanha nas ruas 2013 está sendo aberto pela ventania de 2014. A presidente Dilma Rousseff decidiu sair da toca. Começou a campanha da reeleição pelo Nordeste. Coisa planejada. Pois é a região que melhor avalia o desempenho da mandatária, na esteira de grande admiração que o povo tem por Lula, considerado pelos nordestinos O Pai dos Pobres. Dilma, nos últimos dias, correu Estados, olhando canteiros de obras, puxando a orelha de gestores, vestindo gibão de couro, abraçando um, cochichando com outro. A visita ao NE faz parte de sugestões feitas por Lula. Destravamento da gestão Diz-se, à boca pequena, que Lula teria aconselhado sua pupila a destravar a gestão. São evidentes os sinais de que a administração federal está emperrada. De cerca de 80 obras ligadas à Copa, apenas umas 5 estariam atendendo ao cronograma. Há queixas contra o estilo centralizador da presidente. O medo campeia na Esplanada dos Ministérios. Ministros temem tomar decisões, principalmente quando estão envolvidos altos volumes de verbas. A liturgia da benção é cobrada com muito rigor : os pedidos entram pelos vãos da Casa Civil, sobem aos olhos da ministra Gleisi, que consulta seus técnicos e, depois de tudo isso, caem sobre a mesa da presidente. Quem manda na fazenda ? O empresariado, à vista do calendário defasado de obras e contemplando as querelas internas no Ministério da Fazenda, põe o pé no freio. Os investimentos entram em refluxo. Quem manda na Fazenda ? Guido Mantega ? Não é a percepção dos empresários. Nelson Barbosa, o secretário-executivo ? Pode ser, mas, nos últimos tempos, o Arno Augustin (é o que se ouve) passou a ser a extensão do pensamento da presidente. Há uma disputa intestina em torno da cadeira hoje ocupada por Mantega. Barbosa seria o sucessor natural, mas teria perdido a força extraordinária acumulada ao longo dos últimos anos. Há quem veja em Nelson Barbosa uma faceta mais ligada ao mercado; e há quem identifique em Augustin a faceta colada no Estado mais intervencionista. Dilma e os empresários Um dos conselhos de Lula para Dilma teria como foco articulação mais intensa da presidente com os empresários. De fato, nas últimas semanas, observou-se uma agenda mais voltada para setores produtivos. Grandes empresários teriam sido convocados para uma conversa com a presidente, sob temáticas abrigando investimentos, infraestrutura, concessões, PPPs, etc. Campos desenha a esfinge Também é fato que o governador Eduardo Campos, de PE, que preside com mão de ferro o PSB, abriu agenda de articulação com o alto empresariado nacional. Estaria buscando apoio e simpatia para sua eventual candidatura à presidente da República em 2014. Campos foi o maior beneficiário do pleito municipal. Seu partido pode ser considerado o maior vitorioso. Conta, hoje, com cerca de 500 prefeituras. E domina espaços importantes, inclusive algumas capitais. Pernambuco, por seu lado, foi transformado, no ciclo lulista, em grande canteiro de obras. Daí a boa avaliação interna do governador socialista. Que aprecia vestir-se de esfinge. Morde e assopra Eduardo Campos morde e assopra. De um lado, faz fortes críticas às diretrizes econômicas da administração federal, assume a vanguarda da luta pela repactuação da Federação - visando maior equilíbrio entre os entes federativos - pede mais agilidade no processo decisório. De outro lado, reafirma seu apoio incondicional (?) à reeleição da presidente Dilma em 2014. E lembra : a porta deve ter uma fresta aberta para permitir eventual voo próprio em 2014. O que segura Eduardo Campos na base governista é a interrogação que se faz sobre os horizontes econômicos. Se a locomotiva descarrilar, ele pulará fora do trem e sairá como candidato em 2014. Se o bolso das massas continuar suprindo bem o estômago, Dilma não será abalada. Nesse caso, o neto de Miguel Arraes permanecerá no trem situacionista. Com os olhos contemplando a paisagem de 2018. Aécio e Eduardo Fala-se também numa chapa envolvendo Aécio Neves e Eduardo Campos. Seria possível ? Em política, tudo é possível. Ocorre que Eduardo Campos teria melhores chances como cabeça de chapa do que Aécio Neves. Agregaria mais partidos situacionistas. Aécio ficaria sob o escudo exclusivo do PSDB. Até o DEM pensa em abandonar a parceria com os tucanos. Agora, para Eduardo Campos, o melhor cenário seria o de quatro candidaturas : a situacionista (Dilma), a oposicionista (Aécio), a dele, com uma marca de independência no meio, e uma alternativa, como a da Marina Silva, por exemplo. Claro, esse cenário só seria favorável a ele na perspectiva de uma economia no fundo do poço. E Alckmin, hein ? Geraldo Alckmin passa um pente fino no governo. Cria novas áreas na administração. Entre elas, um setor responsável para verificar ações prioritárias e fiscalizar obras. Controle da gestão. E Cabral, hein ? Já o governador do RJ, Sérgio Cabral, quer deixar o cargo meses antes do termino do governo. Para que ? Espera ser chamado pela presidente Dilma para comandar uma Pasta. Cabral, porém, não é unanimidade no PMDB. E Paes, hein ? O prefeito do RJ, Eduardo Paes, só pensa em tirar proveito dos eventos esportivos que terão a bela capital carioca como cartão postal. E o que quer com isso ? Ampliar a visibilidade e jogar seu nome no elenco de eventuais candidatos do PMDB à presidência da República em 2018. Paes, igualmente, não fecha muitas oposições em torno dele. É o maior papagaio de pirata do partido. E Haddad, hein ? Intenciona fazer uma administração de impactos. Vai ajudar Lula a alavancar o PT e viabilizar a candidatura petista ao governo paulista em 2014. A administração serviria de base de decolagem do candidato petista. O prefeito de SP enfrentou a primeira greve em 23 dias de gestão : motoristas e cobradores de ônibus da empresa Transppass paralisaram atividades na manhã de ontem na zona oeste de SP. Mas a greve acabou. Haddad pensa em aplicar multa à concessionária do serviço. A conferir. O candidato do PT E quem seria o candidato do PT ao governo de SP em 2014 ? Os nomes em especulação são estes : Aloysio Mercadante, ministro da Educação; Alexandre Padilha, ministro da Saúde; Marta Suplicy, ministra da Cultura; Luiz Marinho, prefeito de São Bernardo do Campo. Leituras : Mercadante é perfil polêmico, considerado raivoso, velha carta marcada e desgastada; Padilha, que contaria com a preferência de Lula, não tem bons resultados a apresentar na Saúde; Marta é a "eterna" candidata e com alto índice de rejeição; Marinho é perfil ainda tosco para os fortes setores médios. Não tem carisma, ao contrário de Lula. Apartidarismo Subiu o número de brasileiros sem partido político. Pesquisa do Ibope mostra queda na popularidade do PT. Entre 2010 e 2012, o partido perdeu quase 10 pontos porcentuais na preferência do eleitorado. Pela primeira vez desde 1988, o número de brasileiros apartidários superou o de pessoas que afirmam ter preferência por legendas. No final de 2012, 56% das pessoas diziam não ter nenhuma preferência partidária, contra 44% que apontavam preferência por alguma legenda. 52 mil a menos A indústria paulista encerrou 2012 com 52,5 mil vagas a menos. Recuperação em 2013 fica abaixo das perdas. Dados da FIESP/CIESP. O presidente Paulo Skaf põe na agenda a prioridade para o Brasil recuperar a competitividade. Argumenta : "Para isso, é muito importante o fortalecimento da indústria. Nela estão os melhores empregos e os melhores salários". Folclore mineiro Pequenos relatos enviados por Adauto Francisco do Amaral, contabilista e advogado. Juscelino Kubitscheck sabia que não podia contar com Café Filho, o vice que assumiu a presidência da República após o suicídio de Vargas, em 1954. Irritado com Café Filho, JK conversou com um governador nordestino, muito curioso. - Doutor Juscelino, qual é, em toda essa história, a posição do Café ? - Qual Café ? O vegetal ou o animal ? Tancredo Neves era ministro da Justiça. Vargas caiu da presidência da República tragicamente, em 1954, Tancredo deixou a Pasta da Justiça, e outro mineiro, José Monteiro de Castro, assumiu o poder como Chefe da Casa Civil. Tancredo destinou-lhe este telegrama : - Mais amigos do que nunca, mais adversários do que nunca. Candidato a governador em 1982, Tancredo enfrentava estrada esburacada, a bordo de um velho jipe dirigido por um motorista estouvado e prosa. - Doutor Tancredo, como nóis sofre ! - Nóis sofre sim, mas ganhando a eleição, nóis vai mandá. Último de Carvalho, mineiro do PSD, fustigava Dnar Mendes, eleito deputado pela UDN, na Assembleia Legislativa. Numa tarde, para encerrar um debate, Último decretou : - Para mim Vossa Excelência não existe mais. É um homem morto ! Na tarde do dia seguinte, Último discursava, Dnar levantou a mão : - Vossa Excelência me permite um aparte ? - Vá baixar noutro centro ! Conselho à presidente Dilma Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes, membros dos Poderes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos novos prefeitos. Hoje, volta sua atenção à presidente da República : 1. A hora sugere puxão geral de orelhas nos gestores/coordenadores de frentes de serviços e obras. Afinal, por que o cronograma de obras está atrasado ? 2. A ideia de ir a campo conferir in loco as obras em andamento é boa. Mas o simples aparato de marketing pode ser um bumerangue se providências não forem tomadas para colocar o trem nos trilhos. 3. Transparência, objetividade, controles rígidos, atribuição de responsabilidades, punição aos faltosos - eis os conceitos que devem balizar a administração federal nesse momento de dúvidas sobre a performance do Brasil nos eventos esportivos em perspectiva. ____________
quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Porandubas nº 343

Três cartas ao prefeito Abro a primeira coluna de 2013 com um brinde de Cesar Maia, o espirituoso político do DEM e um bom pensador de nossa cultura política. Conta ele o caso das três cartas a um prefeito. O prefeito em fim de mandato entrega três cartas ao que assume, recomendando abri-las em cada crise. Primeira crise. O novo prefeito abre a carta e lê : "Coloque toda a culpa na herança perversa que recebeu". Na segunda crise, abrindo a carta, leu : "Mostre que há necessidade de ajustes no seu primeiro escalão e faça mudanças no secretariado". Na terceira crise, ao abrir a última carta, o prefeito se assustou ao ler : "escreva três cartas para seu sucessor". Os bilhetinhos de Jânio Recebo do amigo Luis Costa uma cópia em xerox do Livro "Bilhetinhos de Jânio", de autoria de J. Pereira, que foi assessor de imprensa do ex-presidente. Costa adquiriu esse livro em 14/9/1960. Vou juntar à coleção sobre Jânio, na qual desponta o meu amigo jornalista Nelson Valente, autor de uns 15 livros sobre a figura ímpar de Jânio da Silva Quadros. Duas historinhas do livro que recebo : A morte Por mais de uma vez, no Rio de Janeiro, noticiaram-se coisas a respeito da saúde precária de Jânio que, efetivamente, em várias ocasiões quase o levaram desta para melhor. Em determinada ocasião as emissoras cariocas chegaram a noticiar a sua morte. Os telefones dos Campos Elíseos não cessavam de tocar. Os jornais queriam saber o que se passava. Jânio, apesar de enfermo, enviou este "bilhetinho" ao chefe do seu Serviço de Imprensa, J. Pereira : -Pereira. Declare àqueles que noticiam a minha morte, que tudo indica não ter o fato ocorrido, e tudo farei, ao meu alcance, para que não ocorra, nos próximos decênios. Pode acrescentar que, nascido em 1917, ainda continuo forte". Passo inadmissível Um "amigo e admirador" de Jânio, sr. Hamleto Rosato, por intermédio do deputado Athiê Jorge Curi, ofereceu a ele, a fim de integrar a coleção do "Zoo", um jaboti de curiosa espécie. Eis o "bilhetinho" de agradecimento : -Prezado Hamleto. Agradeço o jaboti, que será enviado ao zoológico. Minha filha deseja-o, contudo, e por uns dias, no Palácio. Só vejo conveniência, eis que o bicho, no ritmo deste casarão, vai ter que andar mais depressa. Aqui não se admite "passo de tartaruga" ... Depois, já educado, terá aquele destino. Abraços". Primeiros cenários O Brasil abre 2013 sob chuvas de versões e uma seca cheia de grandes interrogações. Entre as versões : 1. Lula poderá vir a ser candidato em 2014 ; 2. Serra quer voltar a ser candidato e prepara-se para lançar novo partido com o deputado Roberto Freire ; 3. Alckmin será empurrado para as prévias do PSDB, disputando com Aécio a candidatura à presidência ; 4. Serra teria caminho livre para ser candidato ao governo de SP ; 5. Eduardo Campos fecha com Dilma em 2013, mas deixa a porta aberta para se candidatar à presidência em 2014. Entre as interrogações : 1. PIB de 2013 passará dos 3% ? 2. Haverá racionamento de energia, mesmo com os desmentidos da presidente Dilma e do ministro Lobão ? 3. Eduardo Campos será mesmo candidato em 2014 ? 4. O PSD de Kassab ganhará mesmo o Ministério da Micro e Pequena Empresa ? 4. O PMDB presidirá a Câmara e o Senado, garantindo o nome de Michel Temer como vice de Dilma em 2014 ? 5. As oposições terão alguma chance em 2014 ? Primeiras respostas A leitura das linhas e entrelinhas, sob a tessitura político-institucional e a colcha de conveniências e circunstâncias, permite oferecer as seguintes respostas : a. Lula não será candidato em 2014 nem a presidente da República nem a governador de SP. O país já não é o mesmo de seu tempo de mandatário ; b. Serra poderá vir a ser candidato, mas não à presidência da República. Seu ciclo de vida nessa esfera esgotou-se ; c. É pequeno o tempo para se formar um novo partido e disputar com ele a campanha de 2014 ; d. Aécio deverá ser mesmo o candidato tucano em 2014 ; e. Eduardo Campos quer permanecer em evidência. Para tanto, desdobra-se para agradar gregos e atrair troianos ; f. PIB ínfimo terá consequências nefastas sobre a candidatura situacionista, favorecendo oposições. Mas o patamar de 3% é até confortável ; g. PSD de Kassab ganhará Ministério ; h. PMDB deve comandar as duas Casas legislativas ; i. As oposições só terão chance em 2014 se a economia sair totalmente dos trilhos. Disputa na Câmara Henrique Eduardo Alves deverá ser eleito, com folga, para a presidência da Câmara dos deputados. Trata-se do parlamentar com o maior número de mandatos. Mais que preparado, Henrique sabe tudo de política, área em que teve um grande mestre : seu pai, Aluizio Alves, fundador da UDN, um dos quadros políticos mais brilhantes do país, ex-deputado, ex-governador do RN e ex-ministro. Henrique Alves chegará ao comando da Câmara, coroando um ciclo de vida no PMDB, onde faz parte do quadro dirigente. Trata-se de um parlamentar que conhece profundamente os meandros do Congresso Nacional. Júlio Delgado, o parlamentar do PSB mineiro, sai candidato por conta própria. Não tem o apoio da direção partidária. Já a deputada Rose de Freitas, atual vice-presidente da Câmara, tem o apoio do núcleo feminino, mas sua candidatura, caso a mantenha até o final, expressa mais um gesto simbólico. Disputa no Senado No Senado, a tradição é que a maior bancada tem direito a comandar a Casa. O PMDB possui a maior bancada. E no partido, quem agrega o maior número de votos é Renan Calheiros. Há uns quatro ou cinco senadores do partido que gostariam de eleger outro nome. Mas Renan faz uma boa maioria. Não há vetos a seu nome no âmbito do Palácio do Planalto. Logo, Renan é franco favorito. Sociedade condenada "Quando você perceber que, para produzir, precisa obter a autorização de quem não produz nada ; quando comprovar que o dinheiro flui para quem negocia não com bens, mas com favores ; quando perceber que muitos ficam ricos pelo suborno e por influência, mais que pelo trabalho e que as leis não nos protegem deles, mas, pelo contrário, são eles que estão protegidos de você ; quando perceber que a corrupção é recompensada e a honestidade se converte em auto-sacrifício ; então poderá afirmar, sem temor de errar, que sua sociedade está condenada". (Filósofa russo-americana Ayn Rand, judia, fugitiva da revolução russa, que chegou aos Estados Unidos na metade da década de 1920). Apagões I O testemunho é de Iêdo Moroni, engenheiro da CHESF por mais de 20 anos, onde exerceu seis cargos comissionados. Veja o que diz sobre os apagões : "Se o sistema é radial, o apagão afeta apenas o trecho desligado, não ocorrendo os desligamentos em cascata como hoje ocorrem. ...A presidente está sendo enganada com essas desculpas dadas pelos gestores do NOS. Toda a culpa dos apagões é jogada nas linhas de transmissão, sempre em desfavor das descargas atmosféricas, acusadas como grandes vilãs....as linhas "acusadas" de serem desligadas por descargas atmosféricas são super dimensionadas para esses eventos, razão pela qual, é estranhável que sejam causas francas de apagões". Apagões II "...trocando em miúdos, a possibilidade de uma descarga atmosférica é probabilisticamente inexpressiva, e, caso isso venha a acontecer, o sistema deve ter a sua coordenação de proteção minimamente seletiva para isolar a linha e acionar alternativa que impeça o chamado efeito cascata. O resto é conversa para enganar a sociedade. Ocorre que o nosso setor elétrico está sendo administrado hoje politicamente, como é o caso da CHESF. O diretor de operações passou anos como especialista em previdência privada, e por ser militante do PT, foi guindado ao cargo. Antes dele todos os demais diretores de operação eram engenheiros formados no sistema operacional da empresa. Poderia até haver nomeações políticas, mas o indicado teria que possuir curriculum vitae compatível com o cargo a exercer... operação de sistema elétrico, por mais simples que ele seja, tem que ser comandada por técnicos preparados e experientes, pois trata-se da área mais importante da empresa por ser ligada diretamente ao bem-estar e à segurança da sociedade". Repercussão geral O julgamento do mensalão abrirá um ciclo de maiores cuidados na frente política. As Cortes Judiciais, das mais altas à primeira instância, deverão incorporar lições ético-morais e uma interpretação mais rigorosa das leis, tendo como baliza a decisão da Suprema Corte. Pode-se apostar na hipótese de melhoria nos aparatos políticos com seus costumes e práticas. A conferir. DEM se afasta do PSDB Está chegando ao fim o casamento entre DEM e PSDB. Demorou um bom tempo. O DEM percebeu que, ao lado dos tucanos, tem mais ônus que bônus. Vai passar um tempo olhando para os dois lados. Independente ? Difícil. Pois os Demistas precisam, eles também, do adjutório (e adjutório forte) do governo Federal. ACM Neto que o diga. Aliás, o prefeito de Salvador promete dar uma grande mexida na administração municipal. Ciro comentarista ? Ciro Gomes foi contratado pela rádio Verdes Mares para ser comentarista esportivo. Este analista tem pequena observação : como comentarista, Ciro será um político destinado a perder muitos pênaltis. Ou a ser flagrado em muitos impedimentos. Mas... como diz minha velha mãe : "nunca diga, desta água não beberei". E o mensalão, hein ? Após o recesso, STF deverá concluir o julgamento do mensalão. Até parece que as coisas nessa área terminaram. Tem muita água a correr por baixo da ponte. E os casos Cachoeira e Rose, hein ? O primeiro se veste do glamour social de uma lua de mel no paraíso tropical da Bahia ; o segundo atravessa os corredores das convocações pela Justiça. Externamente, o primeiro parece ser um happy end. Quanto ao segundo, muitas interrogações no ar. Internamente, envolvidos devem estar com a cabeça fervendo. Sérgio assume SESCON/SP e AESCON/SP No dia 2 de janeiro, o empresário contábil Sérgio Approbato Machado assumiu a presidência do SESCON/SP (Sindicato das Empresas de Serviços Contábeis e de Assessoramento no Estado de São Paulo) e da AESCON/SP (Associação das Empresas de Serviços Contábeis) para 2013-2015. "Nosso trabalho será para reforçar e ampliar a posição das entidades em relação a temas de relevância para a sociedade, bem como valorizar e defender as categorias representadas em busca pela melhoria do ambiente empreendedor brasileiro", ressalta ele. A nova gestão reitera o compromisso na luta pela desburocratização, simplificação e redução da carga tributária e em prol do empreendedorismo brasileiro. Foco da gestão Um dos focos da nova gestão do SESCON/SP e da AESCON/SP será a ampliação do leque de serviços e opções visando a educação permanente. "O empresário e o profissional contábil estão no centro das grandes mudanças legislativas, tributárias e tecnológicas. Suas responsabilidades têm crescido gradualmente e uma de nossas missões é prepará-los para os constantes desafios", enfatiza Approbato Machado. A cerimônia oficial de posse das novas diretorias será no dia 18 de janeiro no Salão Nobre do Clube Atlético Monte Líbano. Assessor de Hollande O presidente da França François Hollande solicitou o conselho do jornalista Claude Sérillon sobre como remodelar sua imagem. Contratados, dois peritos em comunicações propuseram três soluções para reconquistar o coração dos franceses : vigiar sua linguagem (por exemplo, jamais dizer "eu creio") ; cuidar de sua atitude corporal ; por exemplo, dando atenção à preparação física e bebendo água em lugar de álcool ; e atentar para sua roupa ; exemplo, evitar o nó de gravata simples e a aparência negligenciada. (Observação de César Maia) Graciliano Ramos O velho Graça, monumento de nossa literatura, para quem não sabe, foi prefeito de Palmeira dos Índios/AL. Sabia fingir. Por sentimentalismo ou vergonha, finge-se mais áspero do que é, mais espinhoso que um mandacaru. Sertanejo magro, de ombros curvos, um cigarro ardendo entre os dedos ou na boca, de roupas simples mas asseadas, mãos limpas (em todos os sentidos). Cria fama de grosseiro por causa de diálogos como estes : - Bom dia, mestre Graça. - Você acha, meu filho ? Ou então : - Mestre Graça, se a situação continuar desse jeito, vamos comer merda - diz-lhe o romancista José Lins do Rego, nos tempos da ditadura de Getúlio Vargas. - Se sobrar pra nós, Zé Lins. Se sobrar... Conselho aos novos prefeitos Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes, membros dos Poderes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos dirigentes dos Poderes da República. Hoje, volta sua atenção aos novos prefeitos : 1. Priorizem os compromissos assumidos na campanha, escolhendo as ações imediatas e os programas de médio e longo prazo. 2. Exijam rígido controle de metas e programas a cargo das secretarias, fazendo cobranças periódicas. 3. Em sua situação de precariedade, como a que vivem os municípios, cortem despesas inócuas, projetos sem interesse social, ações personalistas e tentem diminuir os espaços de assistencialismo populista. ____________
quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Porandubas nº 342

Abro a Coluna com uma historinha do jornalista Ivan Santos. O lendário deputado José Maria Alkmin era amigo de infância de Juscelino Kubitschek. Como Juscelino, Zé Alkmin, aos 20 anos de idade, foi telegrafista, profissão que exerceu para manter-se enquanto estudava Direito em BH. Mesmo com rara inteligência, tinha pouco brilho social. Era franzino, com 1,59m de altura, mas estudante brilhante e aplicado. Lia todas as publicações que encontrava à frente - dos ensaios de Erasmo às bulas de remédio. Era um gajo extrovertido e espirituoso. Certo dia, Juscelino o apresentou a uma garota linda, alta (mais de 1,75m), simpática, de forma corporal perfeita. Alkmin prontamente apaixonou-se por ela. Elogiou-a e, durante uma semana, deu-lhe presentes com a intenção de conquistá-la. A moça fechou a guarda, esquivou-se, manobrou como pode até que um dia, sem saída diante do cerco armado por Cupido, perdeu a paciência e despejou : - Vê se te enxerga Zé Maria ! Cresça e apareça ! O enigmático mineirinho, sem perder tempo, tascou : - Crescer eu não garanto, não ; só garanto outras coisas. A moça entendeu. Ficou vermelha. Perdeu o fôlego e retirou-se. Nunca mais se aproximou do mineirinho namorador, audacioso, espirituoso e enigmático. Mais querelas A querela está no ar. Quem tem a prerrogativa de cassar mandatos de deputados ? A Câmara ou o STF ? Marco Maia, o presidente da Câmara, diz que não abre mão da prerrogativa que a CF concede : é um direito da casa legislativa. O mesmo diz a maioria dos membros do Supremo : cabe à Corte suspender o mandato legislativo quando o condenado perde os direitos políticos. Celso de Mello, o decano do STF, argumenta que "desobediência será intolerável". Os juristas se dividem. Dalmo Dallari defende que o órgão revogador de mandatos é a Câmara. O ex-presidente da Corte, Carlos Velloso, diz que cabe à Câmara cumprir a decisão tomada pelo STF. Rose não pode sair Rosemary, ex-toda poderosa chefe da Representação do Governo Federal em SP, não pode sair do Brasil. Tinha passagem comprada para os Estados Unidos. São proibições dessa natureza que devem infernizar sua vida. Ao contrário de Paulo Vieira, Marcos Valério e Carlinhos Cachoeira, Rose não tem ameaçado abrir a boca para abrir os porões. Campanha começou Pois é, os prefeitos nem tomaram posse e a campanha de 2014 já está nas ruas. As oposições aproveitam o momento para disparar tiros contra Lula. Seu objetivo é macular a imagem de Todo Poderoso ex-presidente. Conseguirão ? Difícil. Lula abriga-se no inexpugnável abrigo do carisma. De onde não sairá tão cedo. O estoque de admiração encontra-se ainda muito cheio. Pesquisas recentes indicam que seria eleito presidente no primeiro turno se a eleição fosse hoje. Os oposicionistas querem jogá-lo no meio da fogueira, na crença de que o queimando, queimarão por tabela a pele da presidente Dilma e os costados do PT. Puro engano. Dilma com vida própria Ocorre que a mandatária Rousseff adquiriu vida própria, a essa altura. Já não depende de Lula nem do PT. Pesquisas mostram que ela alcança um índice de intenção de voto superior ao de Lula. Seu perfil é um composto de substância técnica, autoridade e independência. Demonstra não se submeter às pressões políticas. Mas a presidente tem noção da realidade. Mobiliza suas bases e está de olho nas movimentações que ocorrem no Congresso. Eduardo e os 90 dias Eduardo Campos incorpora a identidade dos futurólogos e adivinhos. É dele a mais recente projeção para 2014 : se Dilma ganhar os 3 primeiros meses de 2013, ganhará todo o ano de 2014. A lógica do governador de PE abarca a crise econômica internacional, com impactos no Brasil, a convicção de que o consumo não será mais fator de contenção da crise, a necessidade de reformar o pacto federativo e a própria estrutura política. Percebe-se em Eduardo Campos a tendência de olhar para os dois lados : se a economia sair dos trilhos, ele coloca seu trem em direção ao Palácio do Planalto. Como candidato independente. Torcendo para que Aécio, pela oposição, tire forças do situacionismo e ele, Campos, se apresente como a terceira força. A porca do Piauí Flávio Furtado de Farias explica o significado de "a porca comeu" no Piauí. Refere-se ao destino de todos os candidatos derrotados no sufrágio popular eleitoral. Ou seja, a porca come quem perde eleição. "Os candidatos, quando querem provocar seus adversários, citam a porca, especialmente se o adversário já passou pelo bucho da bicha antes. Aí é aquela história de que a porca vai comer de novo. Tudo isto teve início, segundo alguns contam, no município de Campo Maior, na década de 1950 ou 1960. Ali, um candidato já havia preparado uma urna cheia de votos para lhe favorecer. O dito cujo escondeu a urna numa moita, mas na hora de pegá-la para substituir a verdadeira urna, verificou que uma porca enorme tinha estraçalhado a urna e os seus votos. O candidato perdeu a eleição. Os populares tomaram conhecimento da história. E desde então a porca tem comido muitos candidatos em todo o Piauí. Onde a porca é famosa". PT irá às ruas ? Há um PT de novos sentimentos, que quer virar a página após o mensalão e recomeçar a jornada partidária com novos passos. E há um PT antiquado, que imagina complôs por todas as partes e tramóias feitas pela mídia para destruir sua imagem. O PT novo é o que prega abertura de informações, transparência, punição a culpados. O PT velho é o que quer acobertar os malfeitos. Esse partido obsoleto pretende mobilizar as bases para defender os condenados no mensalão. Ora, o partido não enxerga a realidade. Não há ânimo nas bases de qualquer partido - o PT entre eles - para sair às ruas em defesa de pessoas condenadas. Pode haver certo barulho em ambientes fechados. Organizado por meia dúzia de integrantes da velha guarda. Gastança no exterior O bolso dos brasileiros das classes médias, ao que parece, está bem recheado. Os gastos dos nossos turistas no exterior atingiram novo recorde em novembro e no acumulado do ano. Apesar do dólar mais caro, brasileiros gastaram US$ 1,8 bilhão em visitas a outros países no mês passado, 15% a mais do que há um ano. No acumulado de 2012, os brasileiros já gastaram lá fora US$ 20,244 bilhões, 3,9% acima do registrado no mesmo período de 2011 (US$ 19,489). Truman, o exemplo I Harry Truman foi um tipo diferente como presidente. Provavelmente tomou tantas ou mais decisões em relação à história dos EUA como as que tomaram os 42 presidentes que o precederam. Uma medida da sua grandeza talvez permaneça para sempre : trata-se do que ele fez depois de deixar a Casa Branca. A única propriedade que tinha quando faleceu era uma casa, onde morava na localidade de Independence, Missouri. Tratava-se de uma herança de sua esposa. Depois dos anos em que moraram na Casa Branca, ali viveram o resto de suas vidas. Truman, o exemplo II Quando se retirou da vida oficial, em 1952, todas as suas receitas consistiam numa pensão do Exército de $ 13.507 anuais. Quando o Congresso soube que ele custeava seus próprios selos de correio, outorgou-lhe um complemento e, mais tarde, uma pensão retroativa de $ 25.000 anuais. Depois da posse do presidente Eisenhower, Truman e sua esposa voltaram a seu lar no Missouri dirigindo seu próprio carro... sem nenhuma companhia do Serviço Secreto. Quando lhe ofereciam postos corporativos com grandes salários, rejeitava-os dizendo : "Vocês não me querem a mim, o que querem é a figura do presidente, e essa não me pertence. Pertence ao povo norte-americano e não está a venda...". Truman e as duas vocações Ainda depois, quando em 6 de maio de 1971 o Congresso se preparava para lhe outorgar a Medalha de Honra em seu 87° aniversário, recusou-se a aceitá-la, escrevendo-lhes : "Não considero que tenha feito nada para merecer esse reconhecimento, venha ele do Congresso ou de qualquer outra parte". Como presidente, pagou todos seus gastos de viagem e de comida com seu próprio dinheiro. Este homem singular escreveu : "As minhas vocações na vida sempre foram ser pianista numa casa de putas ou ser político. E para falar a verdade, não existe grande diferença entre as duas !". A bomba atômica Há outro lado da história do presidente Truman. Autorizou a bomba sobre Hiroshima e Nagasaki em 6 e 9 de agosto de 1945. A bomba atômica caiu em Hiroshima numa segunda feira. Três dias depois, no dia 9, outra sobre Nagasaki. As estimativas do primeiro massacre por armas de destruição maciça sobre uma população civil apontam para um número total de mortos a variar entre 140 mil em Hiroshima e 80 mil em Nagasaki, sendo algumas estimativas consideravelmente mais elevadas quando são contabilizadas as mortes posteriores devido à exposição à radiação. Little boy Às 8h15, (horário japonês), "Little Boy" cai sobre Hiroshima. A bomba atômica de urânio, de 3,2m de comprimento, 74 cm de diâmetro e 4,3 toneladas explode 576 metros acima do Hospital Cirúrgico de Shima. A detonação equivale a 12,5 mil toneladas de TNT. No raio de um quilômetro, todo ser humano que se encontrava em local aberto morreu instantaneamente ou dentro de poucos minutos. O calor chegou a tal violência que a quinhentos metros do centro da explosão os rostos foram atingidos a ponto de ficarem irreconhecíveis. Somente nos 20 primeiros segundos morreram 70 mil pessoas, número que chegaria a 210 mil nas semanas seguintes. Quem foi salvo atribui o fato ao acaso - um passo dado a tempo, uma decisão de entrar em casa. Os sobreviventes não sabiam sequer o que havia atingido a cidade. E por muito tempo não saberiam. 3871º C A onda de calor, que chegou a 3871°C, queimou tudo que se localizava em um raio de 10 km. A potência da bomba, equivalente a 20.000 toneladas de TNT, matou cerca de 200 mil japoneses. Devido a radiação presente na bomba, os japoneses que sobreviveram ao ataque tiveram vários problemas de saúde. Houve inúmeros casos de crianças que nasceram com problemas físicos e/ou mentais devido as alterações genéticas causadas pela bomba, bem como a presença de leucemia. Meses após o ataque, era comum que as queimaduras causadas pela bomba ainda não estivessem cicatrizadas. Corrupção na saúde Há uma semana, dez pessoas foram presas durante a Operação Atenas, deflagrada para investigar um grupo criminoso que usava duas associações civis de fachada para desviar recursos públicos destinados à área da saúde em Itapetininga/SP. A apuração revelou que, embora constituídos na forma de organizações não governamentais independentes uma da outra, o Instituto SAS e o Sistema de Assistência Social e Saúde (SAS) são, na verdade, uma única organização criminosa, administrada e comandada pelo mesmo líder. Os contratos analisados pela polícia apontam para um desvio em torno de R$ 100 milhões por ano em processos fraudulentos em pelo menos oito municípios nos estados de SP, RJ e SC. No caso do Hospital Regional de Itapetininga, parte da verba destinada ao pagamento dos funcionários era desviada para pagamentos de notas fiscais frias ou superfaturadas, beneficiando as empresas e pessoas envolvidas. Detalhes Gustavo Capanema, outro velho matreiro político mineiro, discursava em um comício em Pará de Minas. Citou verbas detalhadas, de bilhões a centavos. Um assessor jogou a questão : "por que tantos quebradinhos" ? Capanema deu a resposta : - Para mentir é preciso ser preciosista. Assim, ninguém percebe que você está mentindo. (Historinha de Adauto Francisco Amaral, advogado e contabilista) Conselho aos dirigentes Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes, membros dos Poderes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos injustiçados, aqueles com fome e sede de Justiça. Hoje, volta sua atenção para os dirigentes dos Poderes da República : 1. O momento exige equilíbrio, bom senso e, sobretudo, uma ética de responsabilidades. Não é o caso de abrir mais uma frente de lutas entre os poderes Legislativo e Judiciário. 2. Convém abrir um intenso diálogo entre as partes e evitar qualquer ação que possa ser considerada desrespeito à decisão da Justiça. Nesse sentido, a iniciativa do diálogo cabe ao Poder Legislativo. 3. A comunidade do Direito e da Justiça deve procurar se pautar pela vontade de encontrar a solução mais justa e adequada, sem atiçar ânimos e abrir frente de luta. ____________
quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Porandubas nº 341

Eleições diretas Durante a campanha pelas Diretas Já, em 1983/84, o jornal Folha de S.Paulo transformou o assunto em sua bandeira, até com uma fitinha verde-amarela no alto da primeira página. Noticiário e editoriais davam como garantida a vitória da emenda que devolvia ao país as eleições diretas para presidente da República, depois de vinte anos de ditadura - a emenda Dante de Oliveira. O jornal cantava a vitória e abria fotos do povo nas praças. A contagem a favor só crescia. Seu concorrente, O Estado de S. Paulo, era bem mais sóbrio e cauteloso e tinha lá seus motivos. Um deles, um informante especial em Brasília. Ao ser questionado sobre a contagem da Folha, que dava mais de cem votos a favor da emenda, o informante deu uma boa risada ao telefone e completou assim a conversa : - Meu filho, fique tranquilo, eles não sabem contar. Era Tancredo Neves. (Da coleção de Luciano Ornelas) Valério, uma bomba ? Marcos Valério conta que dinheiro do mensalão foi parar nas contas de Lula. A declaração, registrada pelo Estadão, que teve acesso a documentos, pode ser tentativa de chutar o pau da barraca e botar mais lenha na fogueira ? Pode. Mas não deve ser descartada. Urge apurar todas as informações e versões. Ocorre que a apuração, a esta altura, seria de responsabilidade de um juiz de primeira instância, eis que Lula não goza mais de foro privilegiado. Portanto, abriria um novo processo. Quem acredita que isso pode ocorrer ? Perdeu a oportunidade A fala de Marcos Valério entra no fosso das dúvidas porque ocorreu depois da condenação. Procurou o MP para entrar no compartimento da "delação premiada". Ou seja, chegou com atraso. Se Lula fosse o alvo... Este consultor não tem nenhuma dúvida. Se Luiz Inácio fizesse parte da relação de incriminados na denúncia sobre mensalão, o processo não ganharia continuidade. Estaria trancado nas gavetas. Avançamos muito em matéria de direitos humanos, cidadania e avanços no terreno dos valores republicanos. Mas não a ponto de queimar por completo o perfil mais carismático do país. Lula continua a encarnar a figura do "pai dos pobres". Nessa condição, ganharia um gigantesco escudo de proteção. Não seria tosquiado pela fogueira. E agora ? Tudo pode recomeçar se Marcos Valério mostrar documentos cabais, provas densas, revelações bombásticas. É pouco provável que tenha esse acervo. Há, isso sim, muita especulação. Teria recebido ameaças de morte ? É possível. Conta que teria ouvido de Paulo Okamotto, que dirige o Instituto Lula : "Ou você se comporta ou morre". Mas, por enquanto, é a palavra de um condenado no mensalão como operador do sistema. Lula e Dilma Quase 3 horas de papo em Paris. Foi quanto durou a conversa entre a presidente Dilma e Lula em um hotel da capital francesa. Longe dos telefonemas e dos curiosos. Certamente passaram os olhos nos últimos acontecimentos : mensalão ; comportamento de ministros ; condenações em regimes aberto e fechado ; o caso Rosemary ; as implicações para o PT e impactos sobre o governo ; o cenário pré-eleitoral ; as eleições para as presidências do Senado e da Câmara ; as MPs em tramitação, etc. Pauta densa. Dilma fazendo consultas e Lula dando as suas impressões. Direção das casas legislativas Está acertado. As casas legislativas deverão ficar sob o comando do PMDB. O fato é que, no Senado, o rito é de que o partido com o maior número de senadores tem direito à presidência da mesa. Ali é uma tradição. O nome deverá ser Renan Calheiros. Na Câmara, o PMDB fez um acordo com o PT. Cedeu a presidência na atual legislatura para ganhar o comando na próxima. Acordo assinado pelas lideranças partidárias. Há resistências a esse acordo ? Há. Grupos de deputados têm se rebelado contra acordos feitos pelas cúpulas. No caso do deputado Henrique Alves, o indicado do PMDB, vale lembrar que se trata do parlamentar com o maior número acumulado de mandatos naquela casa. Chegou ali com 22 anos. Ademais, é líder do partido em seguidas legislaturas. Trata-se de um deputado com muita experiência. Para a esquerda, não vou Depois de eleito presidente da República pelo Colégio Eleitoral, em eleição indireta, Tancredo Neves começou a ser pressionado para empunhar algumas causas do PT - aliás, partido que se omitiu naquela eleição; mas não se sabe se já era aliado de Paulo Maluf na ocasião, em 1985. A pressão chegou a tal ponto que Tancredo teve de ser duro, à sua maneira : - Não adianta empurrar, para a esquerda eu não vou. Uma figura pública Ontem, demos adeus a uma grande figura pública : dr. Dante Ancona Montagnana, presidente da Federação dos Hospitais, Clínicas, Casas de Saúde, Laboratórios de Pesquisas e Análises e outros estabelecimentos de Saúde do Estado de São Paulo. Era também presidente do Sindicato. Uma figura incansável em defesa de sua classe. Um lutador. Acompanhei sua luta por bom tempo. Gentil, afável, educado, nunca o vi levantar a voz nem quando demonstrava irritação. Seria homenageado, hoje à noite, com um jantar e as palmas dos muitos amigos. Adeus, dr. Dante ! A saúde pública Eis o que pensava sobre a saúde pública em nosso país : "a deterioração da saúde pública já vem de longa data ..O SUS é, teoricamente, o sistema público ideal e ninguém pode dizer o contrário. Só que não podemos tapar nossos olhos e bater palmas, porque ele não está funcionando como deveria, pois não dá ao cidadão o seu direito garantido constitucionalmente : a saúde - direito de todos e dever do Estado. O Estado não cumpre seu dever, ou seja, não aumenta os recursos para a saúde, deixando a rede privada, principalmente a filantrópica, com a responsabilidade do atendimento, mesmo que isto represente um déficit em cada procedimento, o que tem levado as Santas Casas a uma insolvência como nunca nos últimos anos". Cassação de mandatos Mais uma pendenga se forma. O STF deverá votar, hoje, por maioria de 5 a 4, pela cassação de mandatos de parlamentares condenados na Ação Penal 470. Há interpretações para todos os gostos. O presidente da Câmara, Marco Maia, diz que não acatará decisão do Supremo, pois a CF garante (art. 55) que essa é uma prerrogativa da Casa. O Supremo, por maioria, decide que parlamentar condenado perde o direito à representação. Se perde os direitos políticos, como continuar a ter esses direitos ? Um condenado em regime fechado (é o exemplo in extremis) como poderia dar o voto na Câmara ? Seria seu voto colhido na prisão ? Será que a Câmara não deveria verificar apenas se todos os rituais de cassação foram cumpridos ? É claro que deve haver alguma manifestação da Câmara. O dono do mandato é o povo. Imagem forte A presidente Dilma Rousseff continua a manter imagem forte perante o eleitorado, principalmente os contingentes situados nas margens. Mensalão, affaire Rosemary e denúncias de favorecimento envolvendo quadros da administração Federal não têm impactado negativamente a imagem da governante. A pergunta é recorrente : qual é a razão ? Este consultor enumera : 1. o perfil envolvido no manto técnico, que lhe confere a imagem de faxineira; 2. a maneira rápida com que toma decisões, mandando demitir os implicados; 3. a expansão do cinturão social (programas Brasil sem Miséria e Brasil Carinhoso, extensões do Bolsa Família). Enquanto correr o dinheirinho no bolso das margens sociais, Dilma continuará com a imagem inabalável. A locomotiva econômica E como será o quadro eleitoral ? Dilma será reeleita ? Resposta : se a locomotiva econômica se mantiver nos trilhos, o trem correrá sem solavancos rumo à plataforma 2014. Crescimento poder ser até baixo em 2013, algo em torno de 3% a 4%. Mas se as margens sociais continuarem a se acomodar no gigantesco cobertor social, Dilma deverá continuar sentadinha na cadeira central do Palácio do Planalto. Pois os eleitores mais uma vez se guiarão pela geografia do voto : bolso, estômago (geladeira cheia), coração e cabeça. Custos adicionais As empresas de segurança privada estão preocupadas com os impactos da aprovação do PL 1033/03, que garante adicional de periculosidade de 30% sobre o salário dos vigilantes. Isso porque o custo operacional por posto de trabalho deve passar dos atuais R$ 12.257,67 para os R$ 14.129,74. Só nos cofres públicos, estimativas apontam um impacto adicional de R$ 187 mi por mês. "Não queremos deixar de pagar o adicional nem queremos demitir. Porém, precisamos conceder o benefício gradativamente para que não haja impacto negativo", argumenta João Palhuca, vice-presidente do Sesvesp (Sindicato das Empresas de Segurança Privada do Estado de São Paulo). A vingança dos prefeitos Não são poucos os homens públicos que merecem figurar no Portal da Indecência. São aqueles que se vingam contra o povo ao não se reelegerem ou não elegerem seus candidatos. Por perversidade, suspendem serviços básicos ou essenciais que eram prestados até o dia das eleições; relaxam na limpeza pública; exoneram professores e atravancam o calendário escolar; suspendem o transporte de alunos da rede municipal e até chegam a propor (escárnio...) que os servidores trabalhem como voluntários, sugerindo que peçam recontratação ao próximo prefeito. Vingadores. Indecentes. Merecem a navalha afiada do MP. E o desprezo dos eleitores nas eleições futuras. Só em Pernambuco, o MP enquadrou 45 prefeitos. Dentre eles, o ex-presidente da Câmara, Severino Cavalcanti, prefeito de João, alvo do TCE e do MP. Conselho aos injustiçados Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes, membros dos Poderes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos membros dos Tribunais. Hoje, os conselhos vão para os injustiçados, aqueles com fome e sede de Justiça : 1. Procurem persistir em seus sonhos. Não se deixem abater pela onda de injustiças que bate à sua porta. Não desanimem. Avante. Tenham fé. 2. O grande Ruy já dizia : "A menor injustiça pode operar instantaneamente as mais sanguinosas comoções, como uma gota d'água poderá determinar o esboroamento de um dique fendido lentamente pelos anos, ou a mínima fagulha produzir uma conflagração num depósito subterrâneo de explosivos". Mesmo sabendo de tudo isso, procurem conter as fagulhas de sua alma. Na crença de que, um dia, a injustiça será sanada. 3. Rezem para que os instintos mais selvagens de figurantes da cena institucional voltem a se banhar nas fontes do Humanismo, da Caridade e da Justiça ! ____________
quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Porandubas nº 340

Não publique, por favor Abro a coluna com uma historinha do inconfundível Jânio Quadros.. Pouco antes de deixar a prefeitura de SP pela última vez (encerrava ali sua carreira política), no final de 1989, Jânio Quadros ligou para Luciano Ornelas, editor-chefe de O Estado de São Paulo. Voz irreconhecível, contou depois o jornalista. Uma fala embargada, pausada, revelava um homem amargurado. Ao contrário daquele Jânio histriônico, do grande orador. Pediu, com humildade : - Como você sabe, minha filha convocou uma entrevista coletiva para amanhã. Vai repetir aquela acusação de que saí do país com mala de dinheiro e depositei na Suíça. É uma inverdade e é muito difícil para um pai ouvir isso. Eu lhe peço que não publique, por favor. Nenhum jornal publicou, mesmo porque era notícia velha, jamais comprovada. A filha, Dirce Tutu Quadros, só queria requentar. Jânio morreu em fevereiro de 1992. O caso Rosemary O affaire Rosemary, ex-chefe da representação do governo Dilma em SP, abriu um rombo nos costados da administração Federal. De repente, a teia de interesses e intermediações se fez ver, com fios enrolando agências governamentais - ANA, ANTAQ, ANVISA, ANAC - Ministérios (dos Transportes, Secretaria dos Portos,) e outros órgãos. O desenho que se faz da administração é cheio de traços tortos. Diz-se que o governo está travado ; que obras importantes, como as da transposição do São Francisco estão paradas ; que obras da Copa (estádios) estão atrasadas ; que os ministérios também estão travados, porque não os ministros são tolhidos em suas competências ; que a presidente é muito centralizadora. Esse rol de imperfeições se escancarou ao fundo do caso Rosemary. "Não faças a outros homens o que não queres que eles te façam". (Confúcio) Economia em baixa Ao lado do cenário acima descrito, o PIB cresceu 0,6% no trimestre : crescimento mais que pífio. Indústria continua desmotivada. Expansão muito pequena. Medidas pontuais de apoio a um ou a outro setor (como o automobilístico) não contribuem para um empurrão geral. Investimentos se retraem. Brasil sai da primeira linha de espaço prioritário para investidores. Emprego está no limite. Queda de produção de alguns setores. E já se sabe que a saída de 2008 para o país enfrentar a crise - incentivo ao consumo - já não atrai consumidores. Os bancos não querem bancar esta estratégia. O endividamento das famílias sobe. Descompasso O Estadão anota : tem havido descompasso entre o desempenho do setor produtivo e a evolução das receitas do governo. Enquanto o ritmo de crescimento do PIB despencou, de 7,5% em 2010 para 2,7% em 2011, a fatia da riqueza nacional apropriada pelo setor público na forma de tributos passou de 33,53% para 35,31% do PIB. É um novo recorde da carga tributária, assegurado por uma variação igualmente recorde equivalente a 1,78 ponto porcentual do PIB entre um ano e outro. A frustração dos meios econômicos diante da divulgação dos dados do PIB do terceiro trimestre passou ao largo de um aspecto importante, a saber, das consequências de um modelo de desenvolvimento baseado no consumo e a responsabilidade do governo na escolha de um modelo inadequado para enfrentar a atual conjuntura. O quadro, pelo que se infere, é feio. "A metade da vida não é suficiente para compor um bom livro, e a outra metade para o corrigir". (Rousseau) Mantega na marca do pênalti ? Pinça-se dos desenhos acima a versão de que o ministro Guido Mantega estaria chegando à marca do pênalti. Pois não tem conduzido a economia com firmeza. Tateia. Há tempos diz que a recuperação chegou. Chegou quando, ministro ? E o emprego, hein ? Agora é Zé Pastore, o melhor analista da questão do emprego em nosso país, que registra : "Estou antevendo dias difíceis no campo do emprego. Parece absurdo escrever isso num país que tem uma das mais baixas taxas de desemprego do mundo (5,3%). Mas a preocupação se justifica quando se analisam o fraco desempenho do PIB em 2012 (menos de 1%), a crise internacional e a perversidade da regulação no campo do trabalho". Sarney, o mundo muda Há exatos 23 anos - em 4 de dezembro de 1989 - o então presidente José Sarney concedeu uma entrevista exclusiva ao jornal O Estado de S. Paulo no Palácio do Planalto. Era um homem assustado e queria mandar este recado : "Partiremos para a revolução socialista (...) o Brasil está hoje no plano inclinado da esquerda, e não há no horizonte forças capazes de reverter este quadro (...). Abram os olhos, porque a esquerda é formada por gente determinada, organizada e com objetivos bem delineados". Sarney chamava toda a situação (na época, o popular Centrão), para se unir em torno de uma candidatura contra o então líder sindicalista Lula da Silva. Collor se elegeu - e deu no que deu. Hoje, o senador Sarney navega placidamente no barco da esquerda que lhe dava tanto pavor. (Enviada por Luciano Ornelas, que fez a entrevista). "O legislador que acima de tudo coloca a lei, estabelece um governo; e é o que mais tem de divino e humano". (Guicciardini, historiador italiano) Aécio nas ruas Fernando Henrique antecipou-se : convocou Aécio Neves para jogar seu nome nas ruas e sair em campanha para a presidência em 2014. Um jogo antecipado. Que pode abrir muitas frentes contra o senador tucano. Uma campanha antecipada significa arregimentação prévia de forças, multiplicar o arsenal de armas ($$$$$$), correr o país, reunir partidos em aliança, etc. Ora, todo esse aparato poderá custar caro, muito caro. Campanha depende do clima e circunstâncias. Se a economia se mantiver nos trilhos, adeus, Aécio. Sua candidatura só vingaria em um cenário de vários candidatos, entre os quais, o governador Eduardo Campos, do PSB. Mas este..... Mas Eduardo Campos abre um olho para a base governista de Dilma, pisca o outro para as oposições. Mas o que quer mesmo é transitar em faixa própria, ou seja, ser a estrela maior de uma constelação de partidos. E Lula, hein ? Lula chegou dizer, no programa do Ratinho, que fará tudo para derrotar os tucanos em SP. Inclusive, candidatando-se ao governo de SP, em 2014. Este consultor não põe fé nessa promessa. Quem se acha sentado à direita do Pai jamais descerá à planície dos mortais. Não dá para acreditar Por falar em Lula, lá vem Rose novamente. Não dá para acreditar nessa história que o deputado Garotinho teima em contar em seu blog. Que Rose carregou US$ 25 milhões em malas diplomáticas, solicitou transporte especial na cidade do Porto e descarregou a encomenda no banco Espírito Santo. Na conta de Lula. Muita fantasia. A identidade de Alckmin Geraldo Alckmin é um governador muito afável. Cordato. Boa conversa. Tem sempre uma boa história para revelar. Que rende muitas risadas. Mas o governador carece de uma identidade, um conceito forte para amarrar seu cavalo, aliás, seu governo. Qual a imagem que passa para a sociedade ? Quais os eixos de sua administração ? Alguém tem isso de cor e salteado ? Chegou a hora, governador, de dar um forte verniz à administração. Onde está Anastasia, hein? E o governador Antônio Anastasia, do poderoso Estado das Minas Gerais, onde está ? Desapareceu da mídia. Média dosimétrica O STF retoma, hoje, a análise das penas impostas aos condenados na ação penal 470. Os ministros poderão levar em conta o fato de que certos crimes devem ser considerados em conjunto e não separadamente. Essa fórmula, chamada continuidade delitiva, resultaria na diminuição de algumas punições. Cadê o projeto de nação ? As candidaturas começam a se apresentar ao país. Mais uma vez, os nomes precedem os programas. Onde está o projeto de Nação ? Não seria mais lógico produzir-se um abrangente programa para o país, identificando potenciais e demandas, sujeitando-o a um amplo debate no bojo das entidades organizadas ? Os candidatos não deveriam manifestar seu interesse, seu pensamento e sua visão sobre as propostas expostas ? Não deveria ser este o roteiro prévio para a escolha de um candidato ? 101 propostas de modernização A CJI apresenta uma lista com 101 "irracionalidades" da legislação trabalhista, apontando as consequências de cada uma delas e mostrando a forma legal para as soluções. Sugere 65 PLs, três PLs complementar, cinco projetos de emenda à Constituição (PECs), 13 atos normativos, sete revisões de súmulas do TST, seis decretos, cinco portarias e duas normas de regulamentação (NR) do Ministério do Trabalho na área de saúde e segurança do trabalho. As propostas serão lançadas no 7º Encontro Nacional da Indústria (ENAI), que será aberto, hoje, no Centro de Convenções Ulysses Guimarães, em Brasília. Cara de Rolls Royce ? Paulo Maluf, então prefeito de SP, convidou dois jornalistas do Estado de S. Paulo para almoçar em sua casa, na rua Costa Rica, nos Jardins. Queria, segundo ele, ouvir a opinião dos convidados sobre sua imagem pública. Um dos jornalistas ponderou : - O senhor continua com a imagem de muito arrogante, prefeito. Olha todo mundo por cima, com ar superior. Ao que Maluf respondeu : - Ora, meu caro, o que você queria ? Eu ia de Rolls Royce para a escola. Conselho aos tribunais Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes, membros dos Poderes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado ao ministro Joaquim Barbosa, presidente do STF. Hoje, dedica sua atenção aos membros dos tribunais : 1. Lembrem-se da lição de Francis Bacon : "Deus costuma abrir o seu caminho elevando vales e abaixando montanhas; de maneira que, se aparecer, do lado de uma das partes, um braço poderoso, uma pressão violenta, astuciosas vantagens, combinações, poderes, grandes conselhos, nesse caso a virtude do juiz consiste em nivelar desigualdades para poder fundar sua sentença em um terreno plano". 2. Cuidado, muito cuidado com a preservação da identidade do Poder que Vossa Excelência integra. Cuidado para não conspurcar suas decisões com "embargos auriculares", expressos por bocas poderosas e bolsos endinheirados. Tente, senhor juiz, evitar que a equidade da Justiça seja rompida e desviada em benefício de uns em detrimento de outros, ameaça sempre presente quando operadores do Direito alteram ou se empenham para adulterar procedimentos sagrados do império legal. 3. Façam Justiça obedecendo ao Império de sua consciência. ___________
quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Porandubas nº 339

A Procissão Abro a coluna com pequena homenagem à Mangueira. Qual delas ? A solene procissão descia uma rua do RJ numa Semana Santa, a imagem de Nossa Senhora no andor carregado por homens contritos. Foi quando saiu um bêbado de um boteco e gritou : "Olha a Mangueira aí, gente !". Os olhos do padre e de seus fiéis faiscaram de indignação diante da insolência de comparar a procissão a uma escola de samba. O bêbado insistiu : "Olha a Mangueira aí, gente !". Alguns metros abaixo, um barulho - a imagem da santa espatifou-se contra um galho de árvore. E o bêbado voltou vitorioso : - Eu bem que avisei que tinha uma mangueira aí, gente ! (Enviada por Luciano Ornelas) Os pepinos de Rosemary A ex-chefe do escritório da presidência em SP, Rosemary Noronha, parecia inabalável no cargo. Nomeada por Lula, endossada pela presidente Dilma, amiga do ex-ministro José Dirceu, com quem trabalhou, tinha imagem de poderosa e voluntariosa. Indiciada pela PF na Operação Porto Seguro, que apura um esquema de fraudes em pareceres técnicos de órgãos públicos com a finalidade de beneficiar empresas privadas, foi demitida. Há suspeição sobre sua conduta. Sua filha, Mirelle, também foi demitida da ANAC, onde tinha cargo comissionado. Impressiona, porém, a agilidade da presidente Dilma. Passou a faca rapidamente no cancro descoberto. Os pepinos de Rosemary até poderão ter desdobramentos. Mas a maneira de Dilma administrar crises e tensões é bem diferente do modo mais complacente dos tempos de Lula. Classe média A estratégia de demitir quadros e mandar apurar rapidamente os casos nebulosos é bem usada pelo governo para causar boa impressão nas classes médias. Lula traído ? Lula teria se sentido "apunhalado pelas costas". A punhalada, no caso, teria sido desfechada pela Rosemary. Mas a expressão, de tão banalizada por políticos que se dizem petrificados por absurdos atos cometidos por pessoas próximas, perdeu o crédito. Virou escudo expressivo de proteção. Luiz Inácio, protegido pelo carisma e admiração de galeras de todos os patamares, pode dar-se ao luxo de se valer do batido refrão. Imagens no alto Pergunta insistente ao consultor : o que explica a alta avaliação da presidente Dilma e do ex-presidente Lula pela sociedade ? Resposta recorrente : a geografia do agradecimento. Que obedece aos seguintes espaços : bolso, estômago, coração e cabeça. Bolso com grana do Bolsa Família significa geladeira bem provida; geladeira cheia propicia barriga satisfeita; barriga satisfeita amolece o coração; coração agradecido envia estímulos à cabeça. Que, ao final do percurso, decide aprovar a administração dos pais e mães do Bolso com a grana do Bolsa Família e programas congêneres. Mensalão no fim Joaquim Barbosa, agora como presidente, vai cumprir a liturgia do cargo. Menos exasperação e mais comedimento. Sem transigir com a firmeza. O mensalão vai chegando ao seu final graças à maneira como Carlos Ayres Britto o conduziu. Dele, pinço trecho do meu último artigo : "Lhaneza, cordialidade, simplicidade, disciplina, capacidade de juntar os contrários emergem como virtudes desse magistrado, cujo pendor para a contemplação e meditação, sob um véu de espiritualidade, funcionou como eixo de equilíbrio e luz do bom senso. Quase um milagre, por se saber que, naquele ambiente, os egos tendem a se inflamar...". "Não perdi a viagem" "... Há pouco mais de três meses, ao chamar para si a responsabilidade de comandar o julgamento da mais emblemática ação penal do Supremo e o maior caso de corrupção no Brasil, o baixinho poeta Britto parecia navegar sozinho num oceano de descrença. Hoje, com o processo na reta final, sai sob aplausos, reconhecido como magistrado que honrou a toga, um ser profundamente arraigado nas raízes do humanismo, capaz de colorir a práxis do cientista jurídico com as cores exóticas da física quântica, tudo isso embalado na expressão da alma poética. Feliz, confessa : 'não perdi a viagem'. Sim, o país também. Que o acompanhou no caminhar do avanço". (Trecho do meu artigo de domingo passado) O foco de Joaquim O presidente Joaquim Barbosa fez um discurso simples e direto em sua posse no STF. Pinço como destaque a parte em que promete fazer uma devassa nos Tribunais para apurar desvios de conduta, a partir do tráfico de influência exercido principalmente por parentes de juízes. Disse ele : "É preciso reforçar a independência do juiz. Afastá-lo desde cedo das más influências". Barbosa criticou a promoção de juízes de primeiro grau por interesses políticos. "Nem todos os brasileiros são tratados com igual consideração quando buscam o serviço público da Justiça". Coisa de músico O pianista Helvius Vilela, conhecido por acompanhar Carlos Drummond de Andrade na leitura de algumas de suas poesias num disco, costumava exagerar na bebida. Certa noite passou da conta, os donos da festa decidiram se livrar do incômodo e o colocaram dentro de um táxi. Ao que o motorista perguntou : - Para onde, senhor ? E ele respondeu : - Sabe-se lá... E ali ficaram até de manhã, quando o músico recuperou sua provável sobriedade. (Da lavra de Luciano Ornelas) Economia sob controle Se a economia continuar sob firme controle, mesmo com crescimento abaixo das expectativas, os horizontes de 2014 serão muito favoráveis ao situacionismo. Em outras palavras, a presidente Dilma continuará no assento. Economia destrambelhada Se a locomotiva econômica não conseguir segurar os trens no trilho, as oposições poderiam vislumbrar uma chance. E pensar na cadeira do Planalto. Mas... Há um porém no meio das oposições. Quem seria o candidato a reunir as forças oposicionistas ? Aécio Neves ? Ao senador mineiro, falta discurso. Parece muito despreparado. Às oposições, falta um projeto de país. Tem projeto de poder, mas não um projeto de Nação. Eduardo Campos ? Ora, esse governador do PSB não tem força no Sudeste. Marcio Lacerda, prefeito de BH, seria seu cabo eleitoral na região, dizem. Ora, Marcio não é extensão de Aécio Neves, do PSDB ? PMDB e PT A cada dia, consolida-se parceria entre PMDB e PT. Do ponto de vista imediato, isso significa apoio petista à eleição de Henrique Alves e Renan Calheiros, ambos do PMDB, às presidências da Câmara e Senado. PMDB seria o principal parceiro da base governista. E garantiria a vaga para Michel Temer em 2014. Aliás, o vice tem tido uma atuação discreta. E com uma imensa pauta de responsabilidades. A presidente Dilma tem atribuído a Michel Temer importantes missões na frente das representações do Estado e do governo brasileiros em importantes países, como China, Rússia, Itália, México, entre outros. Bizarro - I Se a Anvisa conseguir proibir a venda de álcool líquido no comércio - contra a vontade e a experiência das donas de casa -, o país pode assistir a um espetáculo inusitado. Como é o mesmo produto que abastece os automóveis, antevê-se uma fila de senhoras com vasilhas nas mãos para comprar álcool em postos de gasolina. Embora não tenha critérios nessa questão do álcool, deve-se considerar que a Anvisa é muito criativa : será assunto em todos os meios de comunicação em que haja uma coluna chamada "Insanidade". Bizarro - II Para ilustrar seu parecer pela inconstitucionalidade de uma lei que tenta proibir o uso do amianto em São Paulo, o ministro Marco Aurélio de Mello, do STF, valeu-se do exemplo do famoso caso do Césio 137, em Goiânia. Carroceiros encontraram um aparelho usado em radioterapia abandonado nas ruínas do Instituto Goiano de Radioterapia e o revenderam ao dono de um ferro velho. Desconhecedor do risco, o homem retirou o césio do invólucro de chumbo e utilizou-o para diversas finalidades. Segundo estimativas, 112.800 pessoas foram afetadas pela radiação de apenas 93g de Césio 137. Morreram o dono do ferro velho, a esposa e a filha. "Presente o quadro, indago : seria o caso de banir os aparelhos de radiografia do país ?". Evidente que não, conclui. É este o caso : é provável que alguns "mais tontos" tenham se queimado com álcool líquido ao tentar acender a churrasqueira quando não deviam. Agora, a Anvisa quer banir o álcool líquido no país. A Anvisa caminha de um lado, a Justiça de outro. Alckmin em apuros ? Depois de frequentar por largo tempo os espaços dos Céus, o governador Geraldo Alckmin inicia uma trajetória pelo inferno. Os astros parecem conspirar contra ele. Sem um grande eixo positivo, o governador paulista arrisca-se a ser embalado pelo véu sangrento. Em SP, a violência assume proporções e catástrofe. Apesar de números não tão extraordinários em se tratando de Brasil. Mas a mídia está pondo lenha na fogueira. E se isso ocorrer, adeus reeleição. Adicione-se o fato de que os tucanos começam a sofrer em SP os efeitos da corrosão de material. São quase 20 anos de poder. O povo gosta de testar novas páginas no livro da governança. Você tem razão "Getúlio defendia a tese segundo a qual não devia ter nenhum amigo de que não pudesse se desfazer, e nenhum inimigo do qual não pudesse se aproximar. Foi amigo e inimigo de João Neves da Fontoura, José Américo de Almeida, Adhemar de Barros, Juarez Távora, Borges de Medeiros, Juracy Magalhães, Eduardo Gomes, Eurico Gaspar Dutra. Sua capacidade de não tomar posição quando não queria era lendária. Conta-se que, certa vez, recebeu um político, ouviu-o e, no final, lhe disse que tinha toda a razão. Logo depois, recebeu o principal adversário deste político, ouviu-o e também lhe deu razão. Alzira, sua filha (que seria esposa de um governador do Rio, Amaral Peixoto, e sogra de outro, Moreira Franco), estranhou : "Papai, o senhor ouviu duas histórias opostas e deu razão aos dois !". Getúlio, sorridente : "Sabe que você também tem razão ?". (De Carlos Brickmann em A vida é um palanque) PSB gera desconfiança Após reinar por um tempo no alto da visibilidade, Eduardo Campos e seu PSB começam a ser olhados com desconfiança. O deputado Julio Salgado, do PSB mineiro, vê despencar sua candidatura à presidência da Câmara. Eduardo flerta com as oposições e tenta convencer que continua sendo um bom aliado do governo Dilma. Para tanto, usa a amizade que conserva com Lula. Mas o governador pernambucano acaba expandindo a distância do Palácio do Planalto. Kassab na base A O prefeito Gilberto Kassab confessa que já cumpriu todos os compromissos que tinha com Serra. Agora, vai alargar seu próprio caminho. Seu partido, PSD, será aliado do governo. Dilma convidou Kassab para compor o Ministério. Educadamente, o alcaide não aceitou com a justificativa de que gostaria de tempo para se habilitar a uma candidatura majoritária em 2014. Nos cargos de governador ou senador. Mas seu partido aceita o convite e indicará um nome. A propósito, o prefeito tem procurado o PMDB para formar uma ampla parceria em torno dos projetos de 2014. Lutem, pediu Hakim Hakim gostava de passear à noite usando todos os tipos de disfarces. Numa dessas caminhadas noturnas, numa colina próxima ao Cairo, ele encontrou dez homens bem armados que o reconheceram e que lhe pediram dinheiro. Ele lhes disse : "Separem-se em dois grupos e lutem uns contra os outros; quem sair vencedor receberá dinheiro de mim". Eles obedeceram e lutaram com tanto ímpeto que nove deles perderam a vida. Trucidem, ordenou Hakim Ao que sobreviveu Hakim lançou uma grande quantidade de peças de ouro que carregava na manga. Mas, enquanto o homem se agachava para recolhê-las, Hakim mandou que fosse trucidado por seus criados. Desta forma ele demonstrou sua clara compreensão do processo da sobrevivência; ele o gozava como uma espécie de representação que ele mesmo provocava e, no final, o aniquilamento do sobrevivente ainda servia para lhe dar alegria. (De Elias Canetti em Massa e Poder) Conselho ao Ministro Barbosa Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos vereadores eleitos. Hoje a atenção se volta ao ministro Joaquim Barbosa, presidente do STF : 1. O Brasil espera que continue a cumprir sua missão com renovada força. Mas a liturgia do cargo impõe atitudes menos nervosas e destemperadas. 2. Junte forças e convoque a sociedade para alcançar a meta de passar uma vassoura no lixo que se esconde em alguns corredores do próprio Poder Judiciário. 3. Continue a abrir as portas da Alta Corte de forma que ela possa absorver as temáticas de alta prioridade para a harmonia e o equilíbrio social. ____________
quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Porandubas nº 338

Abro a Coluna com o registro da morte do Jornal da Tarde. Luciano Ornelas, que vivenciou o ciclo glorioso do JT, selecionou dois trechos de uma brilhante síntese feita pelo arguto e (sempre bem humorado) Carlos Brickmann para o Observatório da Imprensa. Peço licença, Carlinhos "Éramos todos jovens, muitos de nós brilhantes, a maioria absoluta de indiscutível competência. Errávamos muito, também; mas errávamos por excesso de ambição, por buscar objetivos muitas vezes inatingíveis, raramente por ignorância. Dali surgiram as sementes de várias equipes de altíssima qualidade : Realidade, Veja, Rede Globo, Rede Bandeirantes, Repórter Esso (na fase TV Record), Visão, Playboy. Mino Carta era o diretor, Murilo Felisberto o coração e a alma. Ruy Mesquita, o patrão, sentava-se à mesa de pauta para discutir o jornal do dia (e foi lá na Redação que treinou seus filhos nas artes da comunicação). Ewaldo Dantas Ferreira, um dos maiores repórteres do país, trazia matérias exclusivas, da maior importância. Em cada área da redação, buscava-se o melhor - e o jornal conseguiu a façanha de ganhar o Prêmio Esso com a manchete de sua primeira edição, Pelé casa no Carnaval. Era a cara do nosso Jornal da Tarde, a maior revolução da imprensa brasileira desde a reforma do Jornal do Brasil : um grande furo de reportagem, um texto magnífico, a notável diagramação, e um erro na foto - em vez de Rose, a noiva de Pelé, quem estava com o Crioulo na foto era a cunhada, a irmã de Rose. Não fazia mal : o jornal era tão bom que esses erros passavam batidos... A resposta do público sempre foi positiva. O JT começou a circular, em 4 de janeiro de 1966, com doze mil exemplares; virou o ano com 40 mil. Um jornal jovem, chique, moderno, antenado..." ---------- "Em certo momento, houve uma opção desastrosa : o moderníssimo jornal da metrópole contemporânea, o irmão mais leve e solto do poderoso O Estado de S.Paulo, foi transformado numa versão popular, baratinha, do jornal mais antigo. O lindo logotipo foi trocado por outro, supostamente mais popular (e com muito menos significado). O Jornal da Tarde, famoso por surpreender seus leitores, passou a ser mais previsível e chato que debate de candidato. Percival de Souza, símbolo do JT, renovador da reportagem policial, ficou encostado - e os grandes furos que ainda trouxe, como a localização do Cabo Anselmo e a entrevista com ele, ainda um dos mais misteriosos participantes dos acontecimentos de 1964, foram ignorados. As belas imagens ficaram no passado. O acabamento, descuidado, deixou de ser preocupação. E a cidade moderna, movimentada, alegre, sintonizada com o que havia de novo no mundo, perdeu seu jornal de referência. Um jornal morre vinte anos antes de fechar as portas. O Jornal da Tarde, que já está morto faz tempo, deve fechar até o Dia de Finados. Um toque de mau-gosto que explica por que o bom gosto do JT perdeu a batalha." O jornalismo literário Idos de março de 1968. Ingressava na Faculdade de Jornalismo Cásper Líbero. Aos 23 anos, iniciava minha vida no magistério. Assisti, maravilhado, o espetáculo do jornalismo literário produzido por um grupo de jovens jornalistas sob a batuta de Mino Carta e, depois, de Murilo Felisberto. Alguns deles, entre os quais Marcos Faerman e Percival de Souza, atendiam ao meu convite para falar sobre "aquelas reportagens de alto interesse humano, plenas de arabescos literários", inspiradas no new journalism norte-americano, criado por Gay Talese. Marcão era uma metralhadora : atirava palavras a torto e a direto, prendendo a atenção da alunada pelo brilho, inteligência, criatividade e provocação. Percival, um mestre da paciência e da arte de contar boas histórias policiais. A experiência do JT era tão fascinante que uma das edições do nosso Jornal-Laboratório a ele foi dedicada. O mestre Murilo nos deu uma grande e densa entrevista. Hoje, com tristeza, registro o desaparecimento de um ícone do jornalismo brasileiro. Uma pontinha do velho JT continua fincada ao nosso lado, na GT. Trazida por Luciano Ornelas, que viveu aqueles gloriosos tempos. Recado das urnas I Desta feita, as urnas transmitiram alguns recados bem claros. Vejamos alguns deles : 1. Chegou a hora da renovação. Na maioria das cidades médias, neste segundo turno, os perfis identificados com a renovação levaram a melhor. Espraia-se o sentimento de que a velha política está esgotada; 2. A micropolítica é quem efetivamente induz a decisão do eleitor. Ou seja, as respostas das comunidades às suas demandas nas esferas da saúde, educação, transportes, segurança, habitação, entre outras. Temas gerais, mesmo importantes como a questão da corrupção (mensalão), não afetam o voto. Os eleitores conseguem distinguir as temáticas. O mensalão, por exemplo, foca o PT, mas o eleitor tende a distribuir a corrupção na política a atores plurais. Há uma pulverização das cargas negativas por todos os partidos. Mensalão do PT, mensalão do DEM (ex-governador José Roberto Arruda), mensalão do PSDB (políticos de Minas Gerais). Recado das urnas II Não significa concluir que os temas sobre ética e moral não tenham importância. Têm, sim. Mas dentro do seu devido compartimento. Poderão, por exemplo, funcionar como aríete de pressão sobre o Congresso e como balizamento de uma reforma política. 3. Aliás, os resultados do pleito mostram que o copo está transbordando de água já muito usada. E que ficou suja. Por isso, uma reforma política se faz absolutamente necessária, particularmente nas frentes de financiamento de campanhas, coligações proporcionais e mesmo sobre o sistema de voto; 4. Os partidos carecem de programas mais consistentes, densos, coerentes e que abriguem as reais demandas da comunidade nacional; 5. As oposições definham. Apesar da vitória do PSDB em importantes cidades, o fato é que teve um desempenho eleitoral mais fraco que em 2008. E o DEM só adquire sobrevida graças à vitória de ACM Neto em Salvador. Recado das urnas III As urnas também deram recados no plano das campanhas eleitorais. 6. Não se viu, por exemplo, grande concentração de pessoas. As massas se dispersaram. O maior comício de campanha reuniu cerca de 15 a 20 mil pessoas no máximo. As grandes mobilizações deram lugar aos movimentos sociais, às categorias profissionais e aos setores organizados. 7. As campanhas negativas, de ataque e desconstrução de adversários, também não tiveram sucesso. Veja-se o caso de São Paulo, onde Serra perdeu muito tempo (patinando) com o ataque ao Kit-Gay dos tempos do Ministério da Educação, ocupado pelo prefeito eleito Fernando Haddad, e ao mensalão. Esses dois temas não afetaram a campanha petista. 8. Os modelos de marketing também mereceram recados. Estão saturados. Os debates temáticos entre candidatos, ao estilo norteamericano do confronto de ideias, são mais aceitos que os espaços laudatórios dos programas eleitorais. Lula na cabeça da lista Pela intuição, Lula permanece na lista de vitoriosos. Puxou do bolso do colete o nome de Fernando Haddad. Um gol de placa. Pinçou Marcio Pochmann para Campinas. Não fez feio. Lista aposta na estratégia de oxigenação de quadros. Percebeu que o eleitor está saturado da velha guarda.O PT começa a injetar sangue novo em suas veias. Principalmente nesse ciclo pós-mensalão. Lula deve continuar o exercício de fixação de novas estacas nos currais petistas. Tucanos de bico novo ? Fernando Henrique, tucano de muitas plumas, prega a oxigenação do PSDB. Trata-se de um conselho sábio. Se não houver renovação das aves tucanas, o partido morrerá de inanição. Encolheu em votos em relação ao que obteve em 2008. Arthur, vitória emblemática A vitória tucana mais emblemática foi a de Arthur Virgílio, em Manaus. Lula e Dilma foram à capital amazônica para fazer campanha pela senadora Vanessa, do PC do B. Perderam. Arthur, como se recorda, foi líder tucano no Senado, onde azucrinou com o governo Lula. O ex-presidente nunca negou que um de seus alvos prediletos era (e é) Arthur Virgílio. Neto em Salvador ACM Neto, por sua vez, dá sobrevida ao DEM com sua vitória, atribuída, entre outros fatores, às más avaliações do prefeito e do governador. Na Bahia, Geddel Vieira Lima, do PMDB, deu apoio a Neto e o candidato do partido, Mário Kerzets, ficou com Pelegrino, do PT. Neto vai deixar de ser um Democrata ferrenho da oposição. O mandato na prefeitura carece de boa articulação com o governo Federal. PT mais fraco no NE O PT torna-se mais fraco no Nordeste. Chama atenção o fato de que a região é a mais coberta pelo programa Bolsa-Família. Mas o poder petista ali se reflui. A causa : o eleitor mais consciente e crítico. Examina as administrações. Consegue separar os governos Federal, estadual e municipal. Atribui boa avaliação ao governo Dilma e a alguns governadores, mas essa posição favorável não é levada ao âmbito municipal. Há exceções, claro. PSOL em Macapá Exemplos de racionalidade a comprovar escolhas mais apuradas : os prefeitos de Macapá, do PSOL, e de São Luiz do Maranhão, do PTC, respectivamente Clécio Luis e Edivaldo Holanda Junior. Dois partidos pequenos que tomam posse de redutos até então ocupados por caciques. Os dois lados de Campos Eduardo Campos olha para dois lados : o do Brasil sob uma economia equilibrada, inflação controlada, harmônico, e o do Brasil com uma economia desarrumada. Dentro do primeiro, continua a fazer parte da base aliada do governo Dilma. Dentro do segundo, pode sair com sua candidatura à presidência da República. Pistas praticamente molhadas Em um telejornal de sábado, ao final da tarde, imagens mostrando a avenida Paulista encharcada, o apresentador informa : - Caiu um tempestade agora há pouco na cidade. As pistas da avenida Paulista estão praticamente molhadas. Difícil entender o "praticamente" do telejornalista. Conselho aos vereadores eleitos Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos prefeitos eleitos. Hoje a atenção se volta aos vereadores eleitos : 1. É hora de renovação política. Quadros, programas, ações, atitudes. Nessa direção, procurem balizar sua missão. Cumprir compromissos assumidos, acompanhar e fiscalizar a administração municipal. 2. Procurem realizar uma atuação voltada para as questões prioritárias da comunidade municipal, evitando posicionamentos que levem em conta apenas as visões político-partidárias. 3. De três em três meses, tentem mapear situações das localidades - bairros, distritos, regiões - das quais receberam sua votação. A proximidade entre vereador e eleitores gerará compensações futuras. O eleitor reconhece, aprova e retribui aos vereadores que trabalham por suas causas. ____________
quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Porandubas nº 337

Abro a coluna com rápida passagem por um teste feito com candidatos a estagiários em um grande jornal de SP. Estagiários, sim, senhor Uma das questões : No dia 22 de novembro de 1963 houve um crime de repercussão internacional em Dallas, EUA. Descreva, utilizando no máximo cinco linhas, como foi aquele crime. Algumas respostas : - Morte de Matter Luther King. - O caso Wart Gate. - Este crime foi com mortes por fuzilamento de pessoas, que muitas delas sem causa. - O presidente John Kennedy visitava a cidade de Dallas com sua esposa Jaqueline, quando, em desfile em carro aberto, ele foi alvejado a tiros, vindo a falecer. - O presidente dos Estados Unidos deu um grande rombo nos cofres públicos. - Foi a Revolução do Texas. Infelizmente não tenho referenciais consistentes para comentar a respeito. - John Kennedy foi assassinado quando passeava em carro aberto na companhia de sua esposa Jackeline Onassis Keneddy. (Esse último aluno, incrível, até conseguiu enxergar o futuro da primeira dama com o Aristóteles Onassis) E o Titanic, hein ? Afundou-se Em cinco linhas, deveriam escrever o que sabiam sobre o naufrágio do Titanic em 1912. Eis alguns relatos : a) Fato ocorrido com seus tripulantes gentes famosas que estavam a bordo desse magnífico navio, na busca onde conseguiram algumas relíquias de grande valor a pouco tempo. b) O navio Titanic bateu contra uma rocha ou um iceberg, não me recordo. c) Várias pessoas estavam a bordo do navio quando ele afundou levando consigo entre crianças e adultos, jóias em prata e ouro, deixando perplexos tantos os familiares, quanto autoridades competentes. d) Para mim, foi mais uma vez coisa do destino, com provas já comprovadas e muitos dos tripulantes do Titanic vinham sendo avisados com sonhos e alucinações. Ele batendo sem mais nem menos, como foi o acidente não era dúvidas, que o destino vinha acontecendo. e) O navio Titanic afundou-se. f) Uma enorme onda veio em direção ao navio que se encontrava atravessando no oceano. g) Não havia botes para todos os passageiros, por isso muitos homens foram obrigados a morrer. (Que o destino vinha acontecendo é um achado glorioso) Na reta final A campanha eleitoral chega à reta final levantando algumas dúvidas : 1) Qual será o futuro de José Serra em caso de derrota em SP ? 2) Qual o futuro de Eduardo Campos que preside o PSB, partido que integra, hoje, a base governista ? 3) Qual o futuro do prefeito Kassab que dirige o PSD ? 4) O que o PT fará caso ganhe em SP e confirme sua posição de maior vitorioso em número de votos ? 5) Quais os caminhos que se apresentam ao PMDB, que continua a ser o partido com o maior número de prefeitos e vereadores do país ? Estas são algumas das grandes interrogações que chamarão a atenção dos analistas políticos nos próximos meses ? Vamos tentar mirar na bola de cristal. O futuro de Serra Caso se confirme a derrota de José Serra, em SP, sua vida não estará enterrada como se ouve de bocas plurais. O ciclo de vida na política é de altos e baixos. É bem verdade que Serra tem descido muitas ladeiras. E a idade consome formidável parcela de energias. A ele apresentam-se as seguintes alternativas : a) disputar um posto majoritário em 2014, o de senador, por exemplo. Haverá uma vaga apenas. O mandato que se encerra é o de Eduardo Suplicy, do PT. Este partido continuará a colocá-lo no páreo ? Ou buscará nome que encarne o conceito de mudança ? b) Serra poderá disputar uma vaga na Câmara Federal. É pouco para a vaidade dele, dizem. Mas é uma alternativa; c) Tomará o lugar do deputado pernambucano, Sérgio Guerra, na presidência do PSDB. Correria o país nessa condição para fortalecer os tucanos. Entregar o partido nas mãos de um derrotado ? É uma alternativa; d) ser secretário do governo Alckmin, para continuar a ter visibilidade política. Lembre-se : Alckmin foi secretário do governo Serra; e) Ser candidato a presidente da República em 2014. Nesse caso, teria de vencer o senador Aécio Neves em convenção. Ao leitor, deixo a escolha da alternativa. O futuro de Campos Em termos comparativos com 2008, o PSB de Eduardo Campos foi o partido que mais cresceu. Eduardo Campos trabalha com perspectiva de ser protagonista de primeira linha nas lutas políticas dos próximos anos. Vejamos, então, alternativas para sua trajetória : a) Ser candidato à presidente da República pelo PSB em 2014. A alternativa ganha fôlego sob um pano de fundo de descalabro econômico, país em crise, governo de Dilma navegando na borrasca, PT com imagem despedaçada; b) Ser candidato à vice-presidente na chapa de Dilma, candidata à reeleição. Nesse caso, o PSB teria de desbancar o PMDB. Tarefa mais que complexa, tendo em vista a continuidade do PMDB como partido mais capilar e com o maior número de prefeitos, vereadores e deputados estaduais; c) Ser candidato a vice-presidente na chapa encabeçada por Aécio Neves. A alternativa se fundamenta na tese de má avaliação do governo Dilma e consequente fortalecimento do PSDB; d) Não ser candidato em 2014, tornar-se ministro do governo Dilma e tentar viabilizar seu nome para 2018 como candidato a presidente da República. O futuro de Aécio Aécio Neves confirma, a cada dia, sua condição de candidato tucano à presidência da República em 2014. O senador mineiro corre o país, abraça correligionários, procura atrair parcerias desde já, na tentativa de adensar a base oposicionista. Portanto, suas alternativas são : a) Ser candidato tucano em 2014 em oposição à presidente Dilma; b) Presidir o PSDB e procurar viabilizar sua candidatura presidencial para 2018; c) Continuar como senador e ajudar outro candidato do PSDB à presidência. Difícil. A alternativa adequada é mesmo a primeira. O futuro de Kassab O prefeito Kassab criou o PSD, que tem hoje cerca de 50 deputados. Ficará sem mandato a partir de 2013. Vejamos quais as alternativas que a ele se apresentam : a) Transferir o partido, com toda a sua bagagem, para a esfera governista. Apoiar, portanto, o governo Dilma. Presidente do partido, Kassab correrá o país articulando ingressos e fortalecendo a sigla; b) Tornar-se ministro do governo Dilma, ganhar visibilidade e habilitar-se a um cargo majoritário em SP, em 2014; c) Ser candidato ao governo do Estado. Nesse caso, teria de enfrentar Geraldo Alckmin, candidato à reeleição, o candidato do PMDB (a indicação mais forte é Paulo Skaf), o candidato do PT (possivelmente Alexandre Padilha), além de outros nomes; d) Ser candidato a senador. Disputaria com nomes fortes de outros partidos; e) Ser candidato a vice-presidente numa chapa encabeçada por Eduardo Campos ou Aécio Neves. A condição implicaria não ingressar na base do governo Dilma. O futuro de Alckmin Geraldo Alckmin poderá ver parcela ponderável do poder tucano transferir-se para o habitat mineiro de Aécio Neves. Com quem, aliás, tem boa articulação. Por isso, eventual derrota de José Serra não o impactará tanto. Aliás, a tendência é a de que o eleitor decida dar uma no cravo e outra na ferradura. Conceder parcela do poder ao PT, com a prefeitura, e, em 2014, oferecer outra parcela a outros partidos como o próprio PSDB. Eis as alternativas de Alckmin : a) Ser candidato à reeleição em 2014; b) Ceder o lugar para José Serra na candidatura ao governo e disputar a senatoria. Alternativa de baixíssima chance. A mais lógica é sua candidatura à reeleição. O futuro do PT Com o maior número de votos alcançados nas urnas e com o domínio político e administrativo da maior capital do país (caso Haddad seja o vitorioso), ao PT abrem-se as seguintes alternativas : a) alargar o caminho para permitir reeleição tranquila da presidente Dilma, em 2014, e formar a maior base de governadores estaduais, a maior bancada de deputados Federais e grande bancada de senadores; b) Escolher um perfil que encarne mudança (sempre sob escolha de Lula) para ser o candidato petista em SP. O ministro Alexandre Padilha deverá trocar o domicílio eleitoral do PA por SP. Os ministros Aloizio Mercadante e Marta Suplicy vão chiar, mas simbolizam o passado. Lula enxerga o futuro. A conquista de SP seria o maior sonho do PT; c) sedimentar a trajetória com novas parcerias, oxigenar o partido, a partir das bases, e reorganizar os quadros com vistas ao projeto de hegemonia partidária e continuação no poder. O futuro do PMDB O PMDB enfrenta um grave dilema : renovar seus quadros. Lula trabalha, todo tempo, com a percepção de oxigenação do PT. A tarefa tem sido fácil por conta do sistema vertical de mando. A turma de cima manda e o grupo de baixo obedece. No caso do PMDB, a tarefa é bem mais complexa. O sistema de mando é horizontal. Uma teia de arranjos, famílias, grupos, caciques, mandos e tradições. Cada Estado tem o seu PMDB. Renovar um partido com essa estrutura arraigada no passado é missão para Hércules. Se realizar essa tarefa, pelo menos em parte, o partido descortinará novos horizontes. Mesmo assim, divisa com as seguintes alternativas : a) Continuar a ser o principal parceiro do PT na aliança em torno da presidente Dilma, significando a indicação de Michel Temer novamente como candidato a vice; b) Sair da base governista, em função de uma crise econômica corroendo o governo, e se tornar parceiro de outra chapa. Alternativa de baixa probabilidade; c) Apresentar candidato a presidente da República, em 2014, na perspectiva de conquista do poder central. Alternativa que levaria em conta a deterioração das condições econômicas do país e o encontro de um nome com capacidade de conquistar o eleitorado; d) Continuar a ser parceiro do PT, sofrendo pressões das bases, tentado expandir sua força na estrutura governativa e administrando pressões de todos os lados. Mensalão e eleição Como este analista sinalizou, em vários textos desta coluna, o mensalão não influiu nos resultados eleitorais. Apenas consolidou votos e posições dos eleitores que habitam os territórios do PT e do PSDB. SP é o maior exemplo de nossa hipótese. A eleição do segundo turno ocorrerá após o julgamento do último capítulo do mensalão, aquele que propicia as manchetes mais impactantes : a formação de quadrilha. Que envolve quadros do PT. Pois bem, nada disso tirou votos de Fernando Haddad. O eleitor está preocupado mesmo com a micropolítica, a política de atendimento às suas necessidades mais imediatas. As penas A conversa da semana é sobre as penas que recairão sobre os condenados do mensalão. A maior curiosidade é saber se a tal dosimetria puxará para baixo ou para cima as penas de alguns. Este consultor tende a acreditar que a régua passará pelo meio. Ou seja, nem lá nem cá. Mesmo considerando que os ministros que votaram pela absolvição não entrarão no jogo dosimétrico. Nem 12 anos nem 2 anos para o grupo político. Algo em torno de 5 a 6. Penas acima de 12 anos para condenados por muitos crimes, como é o caso de Marcos Valério. Claro, mera intuição. Conselho aos prefeitos eleitos Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos candidatos da capital paulista. Hoje a atenção se volta aos prefeitos eleitos : 1. Há um formidável Custo Brasil da Descontinuidade. Que abriga a interrupção de programas, projetos e ações de prefeitos que deixam as administrações. Isso é uma aberração. 2. Verificada e comprovada a importância de um programa administrativo em andamento, o ideal é que não seja apagado, excluído, extinto. Boas ideias devem ser, sempre, implantadas, reforçadas. 3. Por isso mesmo, urge mapear as coisas boas iniciadas e desenvolvidas pelas gestões anteriores. Devemos, isso sim, diminuir o Custo Brasil gerado por ignorância. ____________
quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Porandubas nº 336

Abro a coluna com duas historinhas da Paraíba. Cancelo chuvas A seca era medonha. A Paraíba em desespero, o governador aflito. Um dia, caiu uma chuva fininha no município de Monteiro. Inácio Feitosa, o prefeito, correu ao telégrafo : "Governador José Américo : chuvas torrenciais cobriram todo município de Monteiro. População exultante : Saudações, Feitosa". Os comerciantes da cidade, quando souberam do telegrama, ficaram desesperados. O município não ia mais receber ajuda. Ainda mais porque a mensagem era falsa e apressada. Feitosa correu de novo ao telégrafo : "Governador José Américo : cancelo chuvas. População continua aflita. Feitosa, prefeito". Sinceridade e sagacidade Zé Cavalcanti, ex-deputado paraibano, conta em seu livro "A Política e os Políticos", que um coronel do sertão, ao passar o comando de seus domínios para o filho, aconselhou : - Meu rapaz, se queres ser bem sucedido na política, cultiva estas duas verdades : a sinceridade e a sagacidade. - O que é sinceridade, meu pai ? - É manter a palavra empenhada, custe o que custar. - E o que é sagacidade ? - É nunca empenhar a palavra, custe o que custar. Tucano bica, petista rebate A campanha paulistana adentra o segundo turno sob bicadas do tucano Serra no candidato petista Fernando Haddad. As bicadas ocorrem em diferentes graus de contundência, pegando coisas da gestão do ex-ministro Haddad na Pasta da Educação como o Kit Gay, as provas vazadas do Enem, etc. O petista rebate com o argumento de que Serra destila ódio. E mais, lembra que o DNA do mensalão é mineiro. Serra espera que os ataques que faz consigam desconstruir a imagem do petista. E este acha que o revide acabe engolfando a imagem de Serra. Ora, nem um nem outro conseguirão induzir o eleitorado com suas estocadas recíprocas. O efeito é bem diferente do que esperam. O efeito Tenho lembrado, em muitas oportunidades e textos, que a desconstrução da imagem de candidatos só é eficaz quando o foco é o plano das ideias. Ou seja, quando se procura atacar as posições dos adversários sobre questões que afligem as massas eleitorais, desde grupamentos conservadores a contingentes abrigados nas margens. Exemplo dessa situação ocorreu com Celso Russomano, que recebeu uma paulada de Fernando Haddad quando defendeu custo mais alto de passagens para viagens mais longas. O pobre que mora nos confins da periferia de SP acabaria pagando o pato. Foi tiro e queda. Caiu Russomano. Coisas semelhantes podem ocorrer na esfera da defesa do aborto e de outros temas polêmicos. Reforço de posições Portanto, as campanhas negativas que procuram desconstruir perfis são, feitas as exceções, perniciosas aos candidatos que as patrocinam. No fundo, apenas reforçam posições e pontos de vista já firmados por eleitores já definidos de partidos e candidatos. E se isto é o que recomendam os manuais de marketing eleitoral, por que candidatos continuam a insistir em lições obsoletas ? Velha resposta : porque os assessores de marketing querem testar todas as possibilidades. Ademais, há um grupo de porta-vozes informais que pensam na verdade da hipótese da desconstrução. Quando a diferença entre um candidato e outro ultrapassa a marca dos dois dígitos a vontade de encurtar a distância com a tática da guerra de guerrilha emerge com mais força. O que se pode esperar ? Essa é a pergunta que fazem diariamente a este consultor. Que responde com o mantra : não tenho bola de cristal. Mas pode-se apontar tendências. Eis algo que parece platitude : quem saiu muito de baixo para chegar a um alto índice encarna a posição de candidato ascendente; a recíproca é verdadeira, ou seja, quem saiu de um alto índice e chega menor no segundo turno encarna o perfil descendente, em queda. Outro sinal é dado pelo índice de rejeição. Alta rejeição sinaliza alto risco; a recíproca é verdadeira. São duas abordagens a se considerar. Que o leitor/eleitor faça sua própria leitura. Muita sede ao pote A ambição na política é um fator de oportunidades. Quem tem ambição abre caminhos de determinação e persistência. Se um político ambiciona ser um alto cargo, bem mais alto do que o que exerce, precisa buscar os meios e instrumentos para viabilizar sua meta. Até aqui, tudo bem. Mas a meta precisa ser compatível com os meios que o político dispõe ou poderá dispor. Vamos dar nome à hipótese : Eduardo Campos, governador de PE, quer ser candidato à presidente da República. Se não vingar a ideia, diz-se que pleiteia ser candidato a vice na chapa encabeçada pela presidente Dilma à reeleição. Tem chances ? Vejamos. O PSB teve um aumento de 53% em seu território municipal. Podendo crescer ainda mais. Foi o partido que mais ganhou com o processo eleitoral. Mas continua a ser menor do que o PT e o PMDB. Portanto, a meta é ambiciosa, mas o cacife é menor do que o governador de PE procura sinalizar. O que pode acontecer ? Portanto, a parceria para 2014, em termos de presidência da República, deverá continuar envolvendo PT e PMDB. Edu Campos poderia se aliar à Aécio Neves e sair com ele numa chapa casando PSDB e PSB ? Pode. Ele é um político pragmático. Nesse momento, deixará a amizade e o respeito que tem por Lula em segundo plano. Essa hipótese só vingará se a economia brasileira estiver capengando nos pastos de 2014. A economia será o termômetro da corrida de Campos. Que poderá cair na vala que ameaça colher políticos que querem dar um passo maior que as pernas. A ambição é importante, conforme ensina a lei; a ambição desmesurada mata. Lula, o ideólogo Para quem tem ainda alguma dúvida, eis a resposta : Lula não será mais candidato a nada. Basta refletir. Veio do andar mais baixo e subiu o mais alto. Comandou o país durante oito anos. Fez um governo de consolidação da base econômica de fortalecimento dos braços sociais do Estado. O maior programa de distribuição de renda da atualidade. Elegeu a presidente Dilma. Curou um câncer. Tirou do bolso candidaturas jovens, como as de Fernando Haddad, em SP, e Marcio Pochman, em Campinas. Pode eleger esses dois. É o guru do PT. O mais admirado político da atualidade. Tem carisma. Com toda essa bagagem, precisaria reforçá-la, ainda mais, com uma volta à presidência ? Aqui pra nós, depois de pairar no Olimpo, descer à terra não seria retroceder ? Sociedade condenada "Quando você perceber que, para produzir precisa obter a autorização de quem não produz nada; quando comprovar que o dinheiro flui para quem negocia não com bens, mas com favores; quando perceber que muitos ficam ricos pelo suborno e por influência, mais que pelo trabalho; que as leis não nos protegem deles mas, pelo contrário, são eles que estão protegidos de você; quando perceber que a corrupção é recompensada e a honestidade se converte em auto-sacrifício, então poderá afirmar, sem temor de errar, que sua sociedade está condenada". (Ayn Rand) Eduardanas Cabralinas Eduardo Paes mais parece um moço de recados de Sérgio Cabral. Nos últimos dias, tem dado entrevistas sobre a candidatura do governador Cabral para a vice da presidente Dilma em 2014 tirando da chapa Michel Temer. Que, aliás, está no auge de sua performance como articulador. Michel costurou o apoio do PMDB ao PT em diversos municípios, a partir de SP. A presidente Dilma, com quem tem estreitado as conversações, encontrou em seu vice o perfil do negociador e diplomata, dando a ele muitas representações no exterior. Pois bem, nesse momento de alto prestígio do vice, o prefeito Paes, cristão novo no PMDB, decidiu fustigá-lo e, de maneira deselegante, inventa a candidatura do seu amigo de boemia, Cabral, como vice de Dilma. Indignação O fato indignou o corpo peemedebista. Geddel Vieira Lima, que não tem papas na língua, lembrou que Paes, sem voz no partido, quer resgatar a República dos Guardanapos. Estocada para lembrar a farra parisiense do governador com Fernando Cavendish, todos dançando e envergando guardanapos na cabeça. Cavendish é personagem da CPI em andamento no Congresso. E assim, o tiro de Paes começa a entrar pela culatra. Os personagens de Paris à Meia Noite ameaçam voltar ao palco iluminado. Sob lembrança das bicadas ferozes que Eduardo Paes, ex-tucano de bico alto, dava em Lula. Nos bastidores, a indignação se expande : Paes troca de opinião e partido como troca de poeta. Dia desses, proclamou não ser PMDB, mas RJ. Se não é PMDB, por que tanto interesse em defender candidaturas como alto prócer do PMDB ? Ou essa operação casada foi apenas um balão de ensaio ? Duda Mendonça Esta coluna manifesta a sua satisfação pela absolvição de Duda Mendonça. E reconhece nesse profissional grandes qualidades como publicitário que escreveu seu nome em algumas das mais criativas e eficazes campanhas eleitorais do país. Vereadores A planilha de vereadores no Brasil ficou assim : PMDB, 7.964 (tinha 8.475); PSDB, 5.248 (tinha 5.897); PT, 5.164 (tinha 4.168); PP, 5.164 (tinha 5.128); PSD,4.6639 (não existia em 2008); PDT, 3.654 (tinha 3,523); PTB, 3.566 (tinha 3.934); PSB, 3.566 (tinha2.956); DEM, 3.275 (tinha 4.801); PR, 3.190 (tinha 3.534). Outros : 12.135 (tinham 9.487). Propaganda, à guisa de história A propaganda política, ensinava Jean-Marie Domenach, professor francês de Humanidades e considerado um dos papas dessa ciência, "faz o povo sonhar com as grandezas passadas e com as glórias do futuro". Para "vender" esta miragem, a propaganda tem usado uma combinação de quatro impulsos - combativo, alimentar, sexual e paternal/maternal - que movem os seres vivos. Cada um desses instintos exerce uma função na estratégia de motivar e engajar a sociedade, mas os dois primeiros ganham ênfase por mexer com a conservação e a sobrevivência dos indivíduos. O uso da propaganda tem sido intenso não apenas nos ciclos dos grandes movimentos de massas - revoluções francesa e russa, I e II guerras mundiais - mas no dia a dia da política, transformando-se em eixo central das estratégias de marketing. Correia de transmissão Nos sistemas autoritários, é a correia de transmissão para dizer "a verdade dos governantes", enquanto nos regimes democráticos, passa a ser o anzol para pescar o voto dos eleitores e, ainda, o cabo de guerra para animar os exércitos das campanhas. A revolução francesa de 1789 pode ser considerada o marco da propaganda agressiva nos termos em que hoje se apresenta, inclusive neste nosso aguerrido segundo turno da campanha presidencial. Ali, os jacobinos, insuflados por Robespierre, produziram um manual de combate político, recheado de injúrias, calúnias, gracejos e pilhérias que acendiam os instintos mais primitivos das multidões. Os americanos Na atualidade, é a Nação norte-americana que detém a referência maior da propaganda agressiva, mola da campanha negativa. Este formato, cognominado de mudslinging pelos norte-americanos, apresenta efeitos positivos e negativos. No contexto dos dois grandes partidos que se revezam no poder - democrata e republicano -, diferenças entre perfis e programas são mais nítidas e a polarização sustentada por campanhas combativas ajuda a sociedade a salvaguardar os valores que a guiam, como o amor à verdade, a defesa dos direitos individuais e sociais, a liberdade de expressão, entre outros. Mesmo assim, nem sempre a estratégia de bater no adversário gera eficácia. Na campanha ao Senado, em 2008, a republicana Elizabeth Dole atacou a rival Kay Hagan, veiculando um anúncio que insinuava ser ela ateia. A democrata reagiu vigorosamente dizendo ser professora, religiosa e que Dole queria, na verdade, desviar a pauta econômica - eixo da crise financeira. Ganhou a disputa por uma margem de nove pontos. Já Lyndon Johnson, em 1964, detonou o republicano Barry Goldwater, associando-o à ameaça de uma guerra nuclear. Conselho aos dois candidatos da campanha paulistana Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos candidatos que disputam o segundo turno. Pois bem, hoje a atenção se volta aos candidatos do maior pleito do Brasil, o da capital paulista : 1. Suas estocadas recíprocas - mensalão petista, mensalão mineiro, Kit Gay, falta de experiência, aborto - não fazem parte do menu apreciado pelo eleitor médio. Apenas reforçam pontos de vista de eleitores tradicionais dos partidos e candidatos. 2. Procurem apresentar propostas e ações para as diversas zonas e regiões que compõem a anatomia da capital. A partir das demandas mais urgentes e prioritárias. 3. Clareza, objetividade, concisão, precisão, proximidade. Eis alguns conceitos que podem servir de moldura aos programas. Falem com a expressão de suas crenças e com o ardor de suas convicções. ____________
quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Porandubas nº 335

Falem com o Cráudio Ex-governador de Minas e ex-vice-presidente da República no período do general João Baptista de Figueiredo, último do regime militar, o mineiro Aureliano Chaves lançou sua candidatura à presidência da República na primeira eleição direta depois da ditadura, em 1989, pelo PFL. Em suas andanças por SP, visitou a sede de um grande jornal acompanhado do presidente do partido em São Paulo, Cláudio Lembo, que era seu candidato a vice-presidente. Mas a hora passou depressa, o motorista veio buscá-lo para levar ao aeroporto e, na despedida aos editores, falou alto e bom som no seu mineirês arrastado : - Bom, gente, eu to indo. Qualquer coisa, falem aí com o Cráudio... Lembo percebeu a estupefação dos editores e emendou : - Sabem como é, doutor Aureliano é um homem muito simples... Aureliano ficou em nono lugar naquele pleito que elegeu Collor de Mello. (Quem conta a historinha é Luciano Ornelas) A campanha mais racional Há muito a comemorar na esfera político-eleitoral-cívica. A campanha eleitoral foi a mais racional da contemporaneidade. Vimos um eleitor atento, acompanhando a cena, ouvindo os candidatos, fazendo comparações entre perfis e até mudando de posições. O voto, como sempre tenho lembrado, cada vez mais sai do coração para se fixar na cabeça. O eleitor emotivo dá vez ao eleitor racional. Qual o pano de fundo que acolhe tal racionalidade ? Saturação das velhas querelas, esgotamento da polarização entre partidos, desgaste de velhos perfis, desejo de abrir novas janelas no edifício político. A descida do Russomano Esta coluna sempre indagou : Russomano consegue segurar o alto índice ? A pergunta embutia uma grande dúvida : como pode um candidato sem máquina partidária, sem bom tempo de mídia eleitoral, sem estrutura forte de campanha, sem programa substantivo de governo resistir ao rolo compressor dos candidatos poderosos ? Russomano pode se considerar vitorioso. Resistiu muito mais tempo que o limite da previsibilidade. Sua queda se deve a um conjunto de fatores : desconstrução do perfil por opositores, a ideia do bilhete mais caro para percursos mais longos, o estreito tempo midiático e a falta de um programa de governo. Tornou-se alvo de um tiroteio geral. Entrou, então, no que se chama de voo da galinha. Subiu e, mais adiante, caiu. Uma galinha mais forte, que conseguiu o feito de subir mais que outras, consideradas as condições do candidato. Polarização ? Pois é, PT e PSDB resgataram seus espaços históricos de votos em SP ? Em termos. Na verdade, os votos petistas e tucanos na capital situam-se entre 30% a 35%. Nesse primeiro turno, Serra e Haddad obtiveram um pouco menos. Apesar da chegada de ambos ao segundo turno sinalizar a clássica polarização entre as duas alas, é possível inferir que o eleitorado paulistano está saturado desse fenômeno. Quer decidir olhando para as propostas, examinando os programas dos candidatos, decidindo, portanto, de acordo com a micropolítica, a política das zonas, regiões, bairros e distritos. E por que Serra e Haddad vão para o segundo turno ? Razões : 1. máquinas partidárias (Serra-estadual, municipal; e Haddad, Federal); grande visibilidade; cabos eleitorais de peso; fortes programas eleitorais com ideias fortes. Mensalão influirá ? Menos do que os candidatos imaginam. O julgamento do mensalão pelo STF dissemina ares de moralidade e ética. O país resgata sua crença na Justiça para todos. Mas não se pense que o eleitor votará em candidatos que se abrigarem no escudo do mensalão. O eleitor tende a distribuir o ônus da política - roubalheira e escândalos - por todos os atores e partidos, não distinguindo uns de outros. Portanto, muito cuidado. Chalita em ascensão Interessante observar a escala ascendente de Gabriel Chalita, que obteve mais de 13% de votos válidos. Teve boa performance. Foi o candidato que sempre cresceu, não descendo na escala de intenção de voto. Não conseguiu quebrar a polarização entre Serra e Haddad, mas fixou estacas na seara político-eleitoral. PMDB com Haddad O vice-presidente da República, Michel Temer, comandante maior do PMDB paulista conversou, segunda feira pela manhã, com a presidente Dilma. E ontem, com Lula, acertando o ingresso do partido na campanha do petista. Presentes à reunião Haddad e Chalita. O candidato petista assumiu o compromisso de incorporar a seu programa importantes bandeiras e projetos de Chalita. A composição contribui para reforçar a parceria entre os dois partidos na esfera Federal. Skaf a todo vapor Paulo Skaf, presidente da FIESP/CIESP, viaja hoje ao exterior, mas deixa uma mensagem ao vice-presidente Michel Temer manifestando o seu apoio e entusiasmo à decisão do PMDB, ao qual está filiado, de se integrar à campanha do candidato petista Fernando Haddad à prefeitura de SP. Skaf está na linha de frente do partido, visitando municípios, ajudando candidatos do PMDB, seguindo as diretrizes do comandante maior, Temer, e do presidente da legenda no Estado, deputado Baleia Rossi. Campanha cara O custo das eleições para prefeito e vereador nos 5.568 municípios brasileiros será o mais alto da história do país. O TSE conta com a dotação orçamentária de R$ 597 milhões para custear todo o processo, incluindo primeiro e segundo turno, contra os R$ 480 milhões que foram consumidos nas eleições de 2010, para presidente, governador, senador e deputado Federal e estadual. Essa é a grana pública. Não estamos falando do PIB informal, o caixa 2. Ganhadores O PSB foi o partido que mais cresceu. A sigla do governador Eduardo Campos elegeu mais de 120 prefeitos além do que havia eleito em 2008. Chegou a 420. É o maior crescimento absoluto e proporcional entre todos os partidos. O PSB ganhou mais no Nordeste e em MG. Além do PSB, só um grande partido elevou seu número de prefeitos eleitos em relação ao que conquistou em 2008 : o PT elegeu 67 a mais. Suas novas prefeituras foram conquistadas, principalmente, no RS, no PR, em SC, no CE e na BA. Em SP, os petistas ficaram na mesma : tinham 60, e agora têm 63 prefeitos, mas podem ganhar a capital. PSD O PSD também sai maior da eleição : o partido foi criado no ano passado e, portanto, não disputou a eleição de 2008, mas levantamento da Confederação Nacional dos Municípios mostra que o PSD havia cooptado 272 prefeitos neste ano. Saldo geral Vejam os números : PSB cresceu 39,68%; PT, 12,82%; PDT perdeu 11,93%; PSDB, 12,17%; PMDB, 15,03%; PP, 15,61%: PTB, 28,05%; PR, 30,43% e DEM, 43,90%. Planilha de vereadores Eis a planilha de vereadores dos 10 partidos mais votados : PMDB, 7.951(13,9%); PSDB, 5.253(9,2%); PT, 5.169(9,0%); PP, 4.924(8,6%); PSD, 4.655(8,1%); PDT, 3.656(6,4%); PSB, 3.556(6,2%); PTB, 3.566(6,2%); DEM, 3,278(5,7%); PR, 3.187(5,6%). Erro de pesquisas I Nove de 11 pesquisas de boca de urna realizadas pelo Ibope nas principais capitais brasileiras não foram capazes de projetar dentro da margem de erro os resultados de votação das eleições municipais de 2012. A margem de erro das pesquisas é de dois pontos percentuais, para mais ou para menos. Em Curitiba, a pesquisa estimava segundo turno entre Ratinho Jr. (PSC), com 34% dos votos válidos, e Luciano Ducci, do PSB, com 29%. Gustavo Fruet (PDT) aparecia em terceiro lugar, com 24%. Deu 27,09 % para Fruet, que passou Ducci e concorrerá com Ratinho Jr no segundo turno. Erro de pesquisas II No Rio, segundo o Ibope, Eduardo Paes teria ampla vantagem em relação a Marcelo Freixo, com 69% do peemedebista frente a 26% do candidato do PSOL. Paes reelegeu-se no primeiro turno, mas com 64,60%, enquanto Freixo ficou com 28,15%. Em Porto Alegre, apontava José Fortunati, do PDT, com 62% dos votos válidos e sua adversária, Manuela D'Ávila, do PCdoB, com 23%. Fortunati acabou superando a estimativa : marcou 65,22 %, enquanto Manuela atingiu 17,76%. Em Belém, projetava-se empate de Edmilson Rodrigues, do PSOL, e Zenaldo Coutinho, do PSDB, os dois com 33%. As urnas apontaram que nenhum dos dois atingiu a marca, com Rodrigues ficando com 32,58% e Coutinho com 30,67%. Erro III Surpresa em Salvador. ACM Neto (DEM), com 40,17%, passou Nelson Pelegrino (PT), 39,73%, contrariando a pesquisa Ibope, que cravava Pelegrino na ponta, com 43% e ACM atrás, com 36%. Em Natal, Carlos Eduardo (PDT) tinha, segundo a pesquisa, 36% da preferência nos votos válidos, enquanto Hermano Morais (PMDB) sustentava 25%. Carlos Eduardo está na frente com 40,42% e Hermano com 23,01%. Em Goiânia e Fortaleza, também mostrou erros. Paulo Garcia, candidato do PT, venceria a disputa pela prefeitura de Goiânia no 1º turno, com 56% dos votos válidos, deixando, Jovair Arantes, do PTB, com 18% para trás. Pois bem, Garcia marcou 57,68%, mas Jovair teve apenas 14,25%. Na segunda, Elmano, do PT, teria 28% dos votos válidos e Roberto Cláudio, 24%. As urnas apontaram diferença menor: Elmano ficou à frente com 25,44% ante 23,32% de Roberto Claudio. E em SP, José Serra chegou em primeiro lugar, com 30,75% dos votos válidos. Em segundo lugar, ficou Haddad com 28,99%. Ora, o Ibope viu Russomano, Serra e Haddad em empate. Todos estariam com 22%, ou 26% dos votos validos. As maiores cidades PT e PSDB estão no comando das 83 maiores cidades do país, aquelas com mais de 200 mil eleitores, que representam 1,5% das prefeituras e 36,5% do eleitorado. O PT venceu 8 prefeituras no primeiro turno e disputará segundo turno em 22. Quer chegar ao comando de 30, contra 21 que administra hoje. Além de SP, onde Fernando Haddad disputa segundo turno com José Serra, petistas estão na briga em outras cinco capitais, como Salvador e Fortaleza, e várias cidades de regiões metropolitanas, como Santo André/SP e Contagem/MG. O PSDB elegeu seis prefeitos nas 83 maiores cidades e tem amplo potencial de crescimento, com boas chances em 17 localidades no segundo turno. Compra de votos A coluna recebe denúncia de suposta cooptação de votos em cidade paraibana. Um radialista respeitado recebeu transcrição de uma gravação em áudio de uma suposta tentativa de cooptação de votos na cidade de São Domingos do Cariri. A gravação mostra o candidato a prefeito José Ferreira da Silva, "Zé Ferreira" (PSDB), participando de um evento na casa de um eleitor. Tenta cooptá-lo e aos demais presentes, conforme transcrição do vídeo. Que as autoridades ouçam a gravação e tomem as devidas providências. Empate em Bananal A eleição no município de Bananal, no interior de SP, terminou empatada. Com 100% das seções apuradas, os candidatos Peleco (PSDB) e Mirian Bruno (PV) somaram o mesmo número de votos : 1.849 cada. Segundo a legislação eleitoral, quando dois candidatos terminam empatados na primeira colocação, o eleito é o candidato mais velho. No caso da cidade do Vale do Paraíba, o desempate acabou favorecendo Mirian Bruno (PV). Dirceu condenado José Dirceu foi condenado pela maioria dos membros do STF por corrupção ativa. Era previsível. Vai virar uma página do livro de sua história. Consolidará sua consultoria. Continuará a ter voz ativa no PT. Terá tempo mais livre para fazer política de bastidor. Sem versões que falam de uma temporada fora do Brasil, etc. Juscelino Quem conta é Alex Salomon, grande pensador, escritor e eventual colaborador da coluna. "Em 1975 estava eu trabalhando na Embratel indo e vindo no eixo Rio-SP. Numa das viagens sentei ao lado de JK. (de início nem o reconheci- as autoridades parecem encolher quando ao natural). Tímido e algo desinteressado, não tentei puxar conversa. Eis que de um banco de trás (ou teria sido da frente) aparece um sujeito que o cumprimenta efusivamente. Presidente....e presidente pra cá, presidente pra lá e JK gentil e sorridente, e trocaram banalidades. Não podia evitar de ouvir a conversa, o sujeito estava debruçado em cima de mim, e JK na janela. Lá pelas tantas, o indivíduo se sai com a pergunta. E o Benedito Valadares (falecido havia mais de ano) como está ele ? Sem perder o sorriso, JK retruca : Não o tenho visto ultimamente ! A conversa cessou, JK continuou lendo seu jornal". Senhores candidatos Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado ao eleitor. Hoje, sua atenção se volta novamente aos candidatos que disputam o segundo turno : 1. Tenham muita cautela na campanha do segundo turno. Há uma tendência, acentuada pelos assessores de marketing, para intensificar a estratégia de desconstrução do perfil de adversários. Campanha negativa gera mais prejuízos que vantagens. 2. O segundo turno propicia comparação mais objetiva entre perfis e propostas. Qual é o fator de eficácia ? Um bom programa de governo, ideias claras, comunicação adequada e objetiva. Foco na PROXIMIDADE. Ou seja, foco no atendimento às demandas mais prioritárias da comunidade. 3. Organizem uma agenda que possa atender a todos os compromissos de articulação e mobilização. Entendam que precisam multiplicar sua presença nas regiões, bairros, distritos. Onipresença. ____________
quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Porandubas nº 334

Pode descer Juscelino Kubitschek era um personagem de romance. Suas histórias aéreas matavam de medo os companheiros da campanha e, depois, do governo. Para ele, avião é para voar e acabou-se. Uma noite, na campanha, ia descer no interior do RS. As luzes da cidade apagaram-se, o campo não tinha pista iluminada, o piloto quis voltar para Porto Alegre. Juscelino ordenou : - Pode descer. Deus é juscelinista. Desceram. Era. Outra vez, voavam sobre a Amazônia. Pegaram uma tempestade terrível. Raios, trovões. O avião pinoteando no ar, como pipa, os líderes do PSD e PTB apavorados, de olhos fechados, duros, rezavam, suavam. Juscelino sorriu : - Vou dormir um pouco. Ninguém acreditou. Um mais incrédulo levantou-se, foi lá atrás, puxou a cortina da pequena cabine presidencial privativa. Juscelino dormia e roncava. Outra tarde, voltava de Salvador, anoiteceu em Caravelas, mas precisava voltar ao Rio. O piloto avisou : - Governador, o combustível está acabando. Pode ser que não dê para chegar ao Rio. Vieira de Melo, Getúlio Moura, José Maria Alkmin, João Goulart, apavorados, queriam descer em Caravelas. JK insistiu : - Vamos. Lá a gente vê se deu. Deu. Reta final Ainda é cedo para se fechar o painel de leituras. Mas os nomes que despontam na liderança de algumas capitais abrem a primeira hipótese : o eleitor está saturado das velhas caras. Não se trata de apenas escolher perfis mais jovens, mas pessoas que estão abrindo o leque da política. Vejamos alguns nomes : Carlos Amastha, de origem colombiana, do PP, lidera a corrida em Palmas, TO; Geraldo Julio, PSB, que ganhará o pleito em Recife, puxado pelo governador Eduardo Campos; Nelson Pelegrino, PT, que passou à frente de ACM Neto, em Salvador; Elmano de Freitas, PT, lidera em Fortaleza; Luciano Cartaxo, PT, lidera em João Pessoa; Mauro Mendes, PSB, está na frente em Cuiabá; Alcides Bernal, PP, em Campo Grande, passou Edson Giroto, do PMDB; em Manaus, a senadora Vanessa Grazziotin, do PC do B, empata com o ex-senador tucano, Arthur Virgílio. O que essas caras têm em comum ? Assepsia política. Não tomaram banho nas águas da velha política. O eleitor na última hora Como o eleitor toma decisão de última hora ? Ou seja, como escolherá o candidato se está em dúvida na última semana ? Ele conversa com amigos, troca ideias, põe o sistema racional para funcionar, deixando o espaço motivo de observador. Vê os últimos programas de TV, analisa as informações gerais dando conta de fenômenos que incidem sobre partidos e atores. Joga a massa informativo-analítica na cachola, sacoleja as ideias e acaba optando por um perfil. Nesse instante, também é movido pelo instinto de selecionar o candidato com mais chances de ganhar. Ou seja, acaba praticando um voto útil. Mas, que fique bem claro : esse processo só se desenvolve no eleitor que ainda está indeciso. Russomanno segura ? A expressão contundente é mais intensa nos programas eleitorais nesta final de campanha. Em SP, berço da maior campanha eleitoral do país, os candidatos José Serra, Fernando Haddad e Gabriel Chalita elegeram Celso Russomanno como alvo preferencial. Que é comparado ao ex-prefeito Celso Pitta, já falecido, e eleito sob as graças e o antigo prestígio de Paulo Maluf. O foco da mensagem procura argumentar sobre o despreparo do candidato do PRB e, ainda, o fato de ser candidato de uma Igreja Evangélica, a Universal do Reino de Deus, comandada pelo bispo Edir Macedo. A questão é : o discurso da desconstrução de Russomanno mudará o voto do paulistano ? Ele conseguirá segurar a taxa de 30% de intenção de voto ? Os 5% que perdeu nos últimos dias são efeito do ataque massacrante sobre ele ? É possível Sem dúvida, os ataques que procuram desconstruir a fortaleza em que se refugiou o candidato do PRB estão conseguindo abalar seus alicerces. Os votos do petismo na Zona Leste, que concentra a maior densidade eleitoral de SP, começam a voltar ao leito. Haviam se desgarrado. É o que algumas pesquisas constatam. A conferir. Proximidade Já se procurou analisar o fenômeno Russomanno sob diversas teses, cada qual tendo sua razoabilidade. Argumenta-se, por exemplo, sobre o conservadorismo do eleitorado paulistano. Que se inclina a votar em um perfil mais conservador, no caso, o candidato do PRB. Mostra-se que, ao longo dos últimos 20 anos, ele teceu a couraça do defensor dos pobres, a partir do eixo de defesa do consumidor. Ou seja, agora está puxando os consumidores para a arena dos eleitores. Diz-se, ainda, que o eleitorado está saturado da polarização entre PT e PSDB. E Russomanno se apresentaria como opção para fugir a esta velha arenga. Todas essas hipóteses são passíveis de demonstração. Tentando resumi-las em um só conceito : proximidade. Celso Russomanno cresceu por ter conseguido se apresentar como o candidato mais próximo das margens sociais. Proximidade abre outros conceitos : conhecimento, popularidade, intimidade, amizade. Escopo que confere aos conjuntos eleitorais autonomia de decisão. Um voto sem chancela das celebridades políticas. Segundo turno Quem irá ao segundo turno no pleito paulistano ? Russomano estaria com passagem comprada. Mas... E José Serra e Fernando Haddad ? Quem tende a subir ? Este analista ainda não consegue enxergar a dupla que correrá a segunda volta. O fato é que o segundo turno apresenta uma arena diferente do campo de lutas. Os tempos de TV serão iguais : 10 minutos. O eleitor terá melhores condições de fazer comparação entre os dois perfis. Portanto, os critérios de escolha levarão em conta a razão e não apenas a emoção. 2014 Tenho feito muitas palestras. Lula volta ao cenário político ? Respondo : ele ainda não saiu. É o patrocinador de muitos candidatos. O Guru do PT. Volta a ser candidato à presidência da República ? Não acredito. Ele se dá bem no papel de orientador-mor do PT. Dilma será candidata à reeleição. Lula será um grande eleitor. Se a saúde assim o permitir. Ganhos "Com talento ganhamos partidas; com trabalho em equipe e inteligência ganhamos campeonatos". (Michael Jordan) Daniel, o riponga Vejam como o eleitorado brasileiro gosta de mudar os ambientes e a causar surpresas. Pois não é que o tucano Daniel Coelho, um riponga que se veste à moda hippie, tomou o segundo lugar em Recife, desbancando o senador petista Humberto Costa ? Quem diria, hein ? A se confirmar sua posição, o PT sofrerá uma das mais contundentes derrotas, ou seja, em Recife. O candidato do PSB de Eduardo Campos, Geraldo Julio, navega firme em primeiro lugar. Curiosidade : o tucano riponga entrou maneiro no gosto dos jovens. É a novidade que gera impacto na programação eleitoral. Teori O ministro Teori Zavascki não se submeterá a bateria de críticas gerais - a partir da onda midiática - caso entre em tempo no STF e decida julgar os réus da Ação Penal 470. Tem um perfil de juiz recatado, sem gosto pelo espalhafato. Para julgar, deve se considerar apto. É evidente que ele, sob o aspecto formal, reúne todas as condições para entrar no jogo. Na visão deste analista, estará contemplando a cena. Sem expor seu juízo. E a Copa, hein ? A Copa do Mundo terá influência sobre as eleições de 2014 ? Sem dúvida. Se o Brasil sagrar-se campeão em junho, as eleições de outubro consagrarão a candidata governista. O ambiente festivo e a catarse nacional emoldurarão o perfil da presidente Dilma. Se o Brasil for derrotado, parte da indignação poderá (não necessariamente) recair sobre o governismo. Principalmente se a economia estiver na UTI. Uma Justiça que trabalha Sob esse título, este escriba dedicou sua análise dominical no Estadão (12/8/2012) à Justiça do Trabalho. Alguns dados causaram impacto : em 2011 chegaram às prateleiras da Justiça do Trabalho 3.069.489 processos, dos quais 3.016.219 foram julgados. Os números mostraram que, a cada 100 mil habitantes, 88 ingressaram com ação ou recurso no TST, 296 nos TRTs e 1.097 nas varas do Trabalho, uma expansão de quase 2% em relação ao ano anterior. A seguir, fiz uma análise dos fatores responsáveis pela expansão dos conflitos trabalhistas. Produtividade A Justiça do Trabalho, dizia, apresenta desempenho dos mais produtivos do Poder Judiciário, bastando anotar os resultados de suas instâncias : o TST, em 2011, decidiu 206,9 mil processos dos 211,7 mil recebidos, enquanto os TRTs receberam quase 757 mil, julgando mais de 722 mil ações. A carga de trabalho dos ministros impressiona : 15.857 processos para cada um, considerando, ainda, que o TST reduziu em cem dias o tempo médio de tramitação de processos. Já a primeira instância recebeu 2.135.215 processos e decidiu 2.052.487 casos. E quase R$ 15 bilhões foram repassados para pagamento a trabalhadores que ganharam ações. Esse eixo do Judiciário é um dos mais integrados à modernização. A tramitação eletrônica dos processos judiciais, que simplifica a burocracia e torna a Justiça mais ágil, já é realidade. Os advogados festejam o fato de hoje ser cada vez mais possível enxergar o fim de uma ação trabalhista, ao contrário do que se constata nas áreas civil e tributária. Outra nota de destaque é a transparência : o TST foi o primeiro dos tribunais superiores a divulgar salários de ministros, juízes e servidores. O recordista Hoje, o registro vai para o nome do ministro Emmanoel Pereira. Em 2009, o ministro solucionou 14.529 processos, finalizando aquele ano com o saldo de 2.707 processos conclusos. E mais : ao longo dos 70 anos de Justiça do Trabalho, no Brasil, foi o que mais solucionou processos. Dados dos relatórios do TST. Registro que orgulha a Nação Potiguar, o RN, terrinha do ministro, sob o reconhecimento de outras Nações brasileiras. Bela história Lembrando : em 1932 criaram-se as Comissões Mistas de Conciliação e as Juntas de Conciliação e Julgamento. A Justiça do Trabalho apareceu em 1939, tendo sido regulamentada em 1940 e instalada no ano seguinte. Dois anos depois veio a CLT, reunindo e ampliando a dispersa legislação feita em duas décadas. Os dissídios individuais e coletivos passaram a formar o escopo da Justiça do Trabalho. As mudanças, ao longo dos anos, contemplaram as transformações socioeconômicas e nichos, como as questões portuária e previdenciária e as ações de indenização por dano material e moral decorrentes de acidente de trabalho e de doença profissional. Bela história. Ética sob dúvida A Comissão de Ética Pública entra na lupa dos observadores que formam opinião. Qual será sua próxima decisão ? Pelo visto, o veto da presidente Dilma à renovação do mandato de dois conselheiros colocou um ponto de interrogação na trajetória da Comissão. Que se encontra na encruzilhada. A calma "A calma é a loucura dos sábios". (Napoleão Bonaparte) Guerra na indústria do álcool Produtores e envasadores de álcool estão atônitos com recente decisão da Justiça de reconhecer o direito da Anvisa em proibir a venda do álcool líquido ao consumidor. A alegação é de que os acidentes com o produto estariam aumentando. O estudo que comprovaria a tese, no entanto, tem sido alvo de críticas, já que nem na audiência pública da Comissão de Defesa do Consumidor da Câmara Federal a Anvisa o apresentou. Produtores acreditam em lobby da indústria multinacional para retirada das empresas nacionais do mercado de limpeza. Dizendo não Mesmo na noite mais friaEm tempo de servidãohá sempre alguém que resiste,há sempre alguém que diz não. (Manoel Alegre) Conselho ao eleitor Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos assessores dos candidatos. Hoje, sua atenção se volta ao eleitor : 1. Examine a vida dos candidatos a prefeito. Escolha o de sua preferência, ancorado em : passado limpo, vida decente; melhores propostas em sua visão; perfil mais próximo a você; credibilidade. 2. Veja se as propostas são factíveis. Se não são apenas promessas mirabolantes. 3. Entre os candidatos a vereador, examine os compromissos daqueles que você considera os mais aptos e sérios. Escolha o perfil que atenda com mais precisão as demandas das comunidades. ____________
quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Porandubas nº 333

O sentimento do medo Abro a coluna com o sorridente Juscelino, ícone de simpatia. Candidato a presidente, saiu pelo Brasil visitando o PSD. Desceu na Bahia. Antônio Balbino, governador do PSD, ainda estava em cima do muro : - Qual é a verdadeira posição do café ? - Qual deles, Balbino ? O vegetal ou o animal ? Foi para Pernambuco. Etelvino insistia : - Juscelino, vamos rever o assunto e fazer a união nacional. - Etelvino, já sei que você está contra mim. Quando você fala em união nacional, na verdade está pensando em União Democrática Nacional. - Então você não quer a união ? - Ora, Etelvino, candidato não faz união, candidato disputa. Quem faz união é governo, depois de empossado. E voltou para Minas. Em 31 de dezembro, o chefe da Casa Militar da presidência da República, Juarez Távora (depois candidato da UDN, derrotado por Juscelino), entregou a Café Filho um documento em que "as altas autoridades militares apelavam para uma colaboração interpartidária, um candidato único e civil".O documento só foi divulgado no dia 27 de janeiro, em "A Voz do Brasil". Juscelino respondeu com um discurso duro, escrito por Augusto Frederico Schmidt, que terminava com a frase magistral : - Deus me poupou o sentimento do medo. O núcleo político O mensalão chega ao núcleo político. Como era previsível, o ministro Joaquim Barbosa dá as primeiras indicações que houve compra de voto. O PP foi abrigado no seio do governo. Houve corrupção passiva e ativa. O chefe do núcleo, segundo Barbosa, era o ex-ministro José Dirceu. Tudo dentro do previsível. O roteiro deverá prosseguir com as condenações. A curiosidade estará voltada, mais uma vez, para o parecer do ministro Ricardo Lewandowski e para o voto do ministro Toffoli. Ou seja, o clima nas margens do mensalão esquentará nos próximos dias. A conferir. O ONF de Veja O OFF, na esfera jornalística, é uma entrevista dada a um repórter sob o compromisso de não ser publicada. O jornalista aproveita a conversa com a fonte para tecer panos de fundo, desenhar cenários que lhe possibilitem, mais cedo ou mais tarde, calibrar seus textos. O OFF é uma ferramenta muito usada na área política. Os representantes procuram falar em OFF para fazer críticas, dar informações retumbantes, expor jogos de poder, mostrar o que efetivamente se passa nos intestinos da administração pública. Já o ON é a ferramenta que abre as portas da expressão. Nesse caso, o jornalista tem liberdade para captar e divulgar o que viu, ouviu e sentiu pela expressão dos entrevistados. A Revista Veja produziu, na semana passada, um ONF, mescla de ON e OFF. Expliquemos. Despiste : curvas nas retas A matéria de capa com Marcos Valério expõe uma moldura de despiste. Ou seja, dá a informação sem comprometer a fonte. Imaginemos que a entrevista tenha obedecido ao seguinte roteiro. A revista Veja recebeu um telefonema de pessoa ligada a Marcos Valério. Que sugeriu uma entrevista com ele sob o compromisso de não ser caracterizada como entrevista em ON. O empresário deveria ser preservado. Claro, a revista topou. Marcaram um encontro. Presenças : ele ou alguém para servir de fonte e o repórter. Que fez anotações. Não gravou por não ter recebido autorização. Que forma poderia ser encontrada para apresentar a bomba sem dizer que Valério ou seu representante foi o autor da peripécia ? A linguagem do despiste. O despiste O que é e como se faz o despiste ? Intercalando linguagem de verbos narrativos, de forma direta e indireta. Lembro que os verbos narrativos incluem, entre outros : falar, dizer, narrar, contar, expressar, descrever, aduzir, mostrar, lembrar, citar, anuir, descrever, acrescentar, etc. Na entrevista, a fonte aparece abrindo períodos e parágrafos, dessa forma : "Valério guarda segredos... diz que pelas arcas do esquema passaram pelo menos 350 milhões de reais... ele fala em valores... afirma o empresário", etc. etc. Esta modelagem atende ao princípio do respeito à fonte. E garante a credibilidade da informação. Fontes indiretas Veja, a maior revista brasileira de informação, quis, assim, mostrar que tem compromisso com a verdade. Noutra parte, usou o método indireto. Fontes secundárias e não a fonte primária. Assim : "nos últimos dias, ele confidenciou a amigos".; "Valério teme e fala a pessoas próximas que....". Tais referências indiretas constituem um recurso da Revista para evitar comprometer as fontes primárias. Portanto, não se trata de invencionice. A reportagem tem alicerce. Esta análise, claro, está sujeita a contrapontos de leitores com vieses partidários. O autor do ONF Um exímio ex-repórter de uma grande revista (que continua sendo um mestre na arte de interpretar o universo jornalístico), definiu, com propriedade e humor, a modelagem que abrigou a matéria de capa da Veja : ONF, uma parte em ON e uma parte em OFF. Prometi registrar essa nova modalidade. O que faço com muita alegria. Em tempo : o repórter em questão conhece bem a revista Veja e o perfil da capa, Marcos Valério, que já passou por sua lupa jornalística. Lula e Dilma, cabos eleitorais Lula e Dilma são cabos eleitorais mais eficazes do que FHC e Alckmin ? Essa é a pergunta recorrente que tento responder, seja em perguntas feitas no twitter (@gaudtorquato), seja no facebook ou em outros espaços. Respondo sempre lembrando que os eleitores são gratos a quem os patrocina. E lembro a geografia da gratificação : BOLSO (grana suficiente) para suprir o ESTÔMAGO (geladeira cheia, estômago saciado), CORAÇÃO (agradecido, comovido, emoção, catarse), CABEÇA (decidindo votar nos patrocinadores). Ou seja, o eleitor tende a votar em candidatos indicados por ícones partidários. Principalmente os que encarnam a equação exposta. Lula, ontem, e Dilma, hoje, sob esse parâmetro, exercem mais influência que FHC e Alckmin. O recado do vídeo Ricardo Noblat, segunda-feira, mostra que há mais bombas no arsenal de Marcos Valério. Um vídeo que teria sido encomendado pelo publicitário a profissionais do ramo. Uma cópia teria sido encaminhada a uma das estrelas do esquema do mensalão, réu do processo no STF. Outras três estão guardadas em banco. Se ocorrer algum desastre em seu caminho - diz a matéria - os vídeos serão encaminhados aos jornais O Estado de S.Paulo, O Globo e Folha de S.Paulo. O vídeo seria uma bomba de alta potência. Mais um recado de Valério aos ex-protagonistas dos tempos do mensalão. Efeitos Eis a narração de Noblat : "Renilda, a mulher dele, sabe o que fazer com as três cópias... O que Valério conta no vídeo seria capaz de derrubar o governo Lula se ele ainda existisse, atesta um amigo íntimo do dono da quarta cópia. Na ausência de governo a ser deposto, o vídeo destruiria reputações aclamadas e jogaria uma tonelada de lama na imagem da Era Lula. Lama que petrifica rapidinho. A fina astúcia de Valério está no fato de ele ter encaminhado uma cópia do vídeo para quem mais se interessaria por seu conteúdo. Assim ficou provado que não blefava". Mensalão e eleição em SP O mensalão suja a imagem do PT junto aos setores que habitam o meio da pirâmide, mas não chega a afastar os eleitores das margens. Recorrente questão : a imagem de Haddad não será engolfada pelo mensalão ? Tenho respondido : não. Mas consolida impressões negativas que impregnam determinados núcleos eleitorais. Aqueles que já tomaram a decisão de votar contra o candidato petista. Enquete Jovem Pan A Rádio Jovem Pan conserva a tradição de fazer enquetes eleitorais nas últimas semanas que precedem os pleitos. Como se sabe, enquete não se guia por metodologia científica, servindo apenas de lume jornalístico, um apanhado nas ruas sobre intenções de votos nos candidatos. Na verdade, a enquete flagra apenas a opinião do ouvinte da emissora. Nesse sentido, é muito limitada. Pois bem, José Serra obteve cerca de 70% na primeira enquete. E cerca de 40% na segunda. Haddad, Chalita e Russomano aparecem empatados. FHC e Alkmin, cabos eleitorais Fernando Henrique entra de corpo e alma na campanha de Serra. Esta semana, divulga um documento assinado por intelectuais em apoio ao candidato tucano. Tenho dito e repetido : essas coisas não agregam votos. As assinaturas de celebridades têm o condão de conferir prestígio, mas não sensibilizam as massas. Que nem tomarão ciência do fato. Haddad ou Serra ? Quem irá para o segundo turno ? A se confirmar a tendência de queda de Serra, Haddad seria o candidato a disputar o segundo turno com Russomanno. Mas as pesquisas cotidianas - trackings - feitas pelos tucanos atestam que Serra ainda está na frente de Haddad. Daqui a 10 dias, a bola de cristal abrirá seus segredos. Por enquanto, o olho mecânico dá chance aos dois. Fundões da zona leste Domingo último, este analista foi ao encontro da multidão. Mais exatamente, na Zona Leste, no SESC Itaquera, fundões da capital. Ali está o maior contingente eleitoral de SP. Tem 300 mil eleitores a mais que a Zona Sul. Um show da Família Lima e da cantora Ana Carolina, em comemoração aos 20 anos do maior sindicato de trabalhadores terceirizados e de trabalho temporário de SP, o Sindeepres, comandado pelo intrépido Genival Beserra Leite. 12 mil pessoas afluíram ao local. Gente alegre. Cabos eleitorais esparsos. Massa em plena diversão. Sem dar bolas aos carros de som das campanhas, ali por perto. PMDB redesenhado O PMDB de SP abre caminhos de renovação. Novos quadros, amplas possibilidades. O partido espera eleger cerca de 100 prefeitos no Estado. Brasil e a crise Começam a pipocar declarações e análises sobre os efeitos de uma nova crise financeira internacional sobre o Brasil. A base macroeconômica, garante o governo, está azeitada para aguentar novos trancos. Os especialistas acham que, ante uma nova avalanche, o país tende a ficar à deriva. Deixo a questão para reflexão. Panorama em João Pessoa Vejam os resultados das duas últimas pesquisas eleitorais em João Pessoa. Esta primeira foi feita pela Consult, sob encomenda do Correio da Paraíba : - Luciano Cartaxo (PT): 23,9% - Cícero Lucena (PSDB): 22,9% - Maranhão (PMDB): 17,8% - Estelizabel (PSB): 14,4% Esta segunda é do Portal WSCOM/Sigma : - Luciano Cartaxo (PT): 21,9% - Cícero Lucena (PSDB): 21,3% - Maranhão (PMDB): 17,7% - Estelizabel (PSB): 12,9% E os queijos ? Ainda em sua peregrinação como candidato a presidente, Juscelino hospedou-se em Campina Grande, na casa do coronel Alvino Pimentel, industrial e homem refinado. Tratou JK como se tratam reis : queijos da França e caviar da Rússia. Cinco anos depois, fim de mandato, Juscelino voltou a Campina Grande para inaugurar o serviço de água, promessa da campanha. Quando a porta do avião abriu, a primeira pessoa que viu lá embaixo foi um velho de cabelos brancos. Chamou Abelardo Jurema : - Quem é aquele de cabelos brancos ali no pé da escada ? - É o compadre Alvino, onde o senhor se hospedou. Juscelino já desceu sorrindo, os braços abertos : - Coronel Alvino, e os queijos? Conselho aos assessores dos candidatos Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado à presidente Dilma Rousseff. Hoje, sua atenção se volta aos assessores dos candidatos : Aproxima-se a reta final das campanhas. Esse é o momento que merece especial atenção. 1. Urge fazer um mapeamento geral da campanha, sob os prismas do discurso/propostas; altos e baixos da comunicação; carências detectadas na frente da articulação política e social; análise da mobilização - verificação das ações realizadas pelos cabos eleitorais. 2. Reordenar focos e metas, reajustar trabalho de campo (nas regiões e bairros), organizar forte programa de comunicação; reordenar a agenda do candidato, contemplando as maiores densidades eleitorais. 3. Descentralizar ações de forma que a campanha se faça presente em todos os espaços municipais. A ideia é a de tornar o candidato onipresente, ou seja, com visibilidade em todas as regiões. ____________
quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Porandubas nº 332

Juscelino Abro a coluna com Juscelino Juscelino Kubitscheck, José Maria Alkmin e Odilon Behrens saíram juntos do seminário de Diamantina. Continuaram estudando juntos, farreando juntos. Uma noite, havia uma festa na cidade com entrada paga. As namoradas precisavam comparecer. Mas eles não tinham um tostão. Alkmin resolveu o problema : - Vamos vender a alguém uma de nossas camisas. Encontraram o comprador, mandaram passar uma camisa de Juscelino, enrolaram, disseram que era nova, pegaram o dinheiro, foram para a festa. No dia seguinte, o comprador chegou uma fera : - A camisa não era nova, estava gasta, rasgou logo. Juscelino tomou a palavra : - Meu amigo, aonde você foi ? - A um baile. - Dançou o quê ? - Tudo. Bolero, samba. - Então a culpa foi sua. Esta camisa é muito fina; só serve para dançar valsa. Outra do simpático presidente : Estudante bolsista em Paris, Juscelino Kubitschek encontrou Odilon Behrens, que chegava com as notícias de Minas. Ex-colegas no seminário de Diamantina, passaram a relembrar os companheiros : - E o Alkmin ? Nunca mais soube dele. - Está na Penitenciária de Neves. - Eu sabia que ele ia acabar lá. Era Diretor. Campanha sem emoções O clima que envolve o pleito é morno. Não há impactos nem grandes emoções. Afora uma ou outra campanha mais acirrada, em função das peculiaridades regionais, pode-se aduzir que as eleições de outubro deste ano se inserem entre as mais tranquilas da contemporaneidade. Os motivos apontam para um conjunto de vetores : 1) economia sob controle; 2) ausência de grandes novidades; 3) modelos de campanha tradicionais; 4) saturação de embates entre tucanos e petistas (polarização); desejo de alteração nos perfis dos gestores, significando tendência para escolher caras diferentes (não necessariamente o novo); 5) mobilidade social, significando inserção de milhões de eleitores na classe média e consequente engajamento de contingentes nas frentes de defesa do consumidor. E o mensalão não é novidade ? Pois é, o julgamento do mensalão poderia ser considerado uma boa novidade. Mas a carga negativa que o caso agrega não terá o condão de mudar a posição dos contingentes eleitorais. Ou seja, tucanos e petistas consolidarão os pontos de vista já formados. Os petistas começam a falar do mensalão tucano em MG. Um empate de cargas negativas. Parcela do eleitorado, ante a tentativa de polarização, tende a optar por uma alternativa, Russomanno, em São Paulo, por exemplo. Por isso, o uso de FHC na campanha de Serra, lembrando o mensalão, não resultará em votos. Serão poucos os eleitores que poderão mudar de voto por conta do apelo de Dilma por Haddad. O que um escritor não vê Lo que un escritor no ve, no ha acontecido. (Elias Canetti - Hampstead) Campos, o mais ativo Eduardo Campos se apresenta como o cabo eleitoral mais ativo do país. Mais do que Lula. Porque lidera os processos em que partidários do PSB avançam sobre os próprios domínios do petismo, a partir de Belo Horizonte e Recife. Tenta, a todo momento, dizer que continua afinado à Lula e à presidente Dilma. Claro, quer continuar olhando para uns e piscando para outros. Por isso, não pode e não deve se afastar de correligionários. A verdade, porém, é que o governador de PE está jogando como um ás da política. Vai posicionar seu partido em importantes territórios eleitorais. Registrará importantes passos. Com grande cacife, espera negociar com os parceiros que lhe forem mais convenientes. Geração pós-64 Sempre lembro uma confissão que ouvi dele em uma conversa cheia de revelações em um dos eventos promovidos por João Doria em Comandatuba : "meu sonho é juntar a geração pós-64 e tomarmos os rumos do país". Entendi a mensagem não como um rompimento à velha turma, até porque ele, Eduardo, respeita muitos da velha guarda, mas como um compromisso de levar adiante um programa de reformas, que só ocorreriam sob o comando de um grupo mais jovem e sem grandes amarrações à arvore do passado. Um homem fascinado Un hombre que toca fascinado a cada mujer porque nunca le pertenecerá. (Elias Canetti - Hampstead) Junto com Aécio Será difícil uma composição entre o PSB de Campos e o PSDB de Aécio Neves. A complexidade de uma aliança desse naipe seria menor se não houvesse no meio do campo jogadores do porte de Fernando Henrique, José Serra, Geraldo Alckmin e outros assemelhados em história e fama. Mas em política, tudo é possível. Até mesmo essa aliança. Que só ganharia viabilidade se o país entrasse em profunda crise econômica, com sequelas terríveis sobre o bolso e o estômago do eleitorado. Nesse caso, a credibilidade do lulismo/petismo seria impactada. A presidente Dilma, nesse caso, também correria o risco de ser envolta no celofane cinzento da crise. O Brasil é maior que a crise Em outra ponta, a leitura é bastante otimista. Leva em consideração a hipótese de que, qualquer que seja o impacto de uma crise mundial sobre o país, nossa base econômica tem firmeza para aguentar os abalos, mesmo que os sismos partam de catastrófica performance da China. Perderíamos, sim, um monumental espaço consumidor - o chinês - para onde vão as nossas commodities (principalmente da área de alimentos), mas haveria outros espaços como destino de nossas riquezas. Sempre haverá barrigas para alimentar, aqui e alhures. Há lastros de riquezas e desenvolvimento em outros setores vitais de nossa economia. Portanto, a tese de que o Brasil é maior do que novas crises mundiais tem sustentação. Sob essa perspectiva, Dilma abre horizontes promissores para 2014. A mulher em desespero La mujer que ha conocido y sobrevivido a todos los grandes hombres. Uno de ellos se niega a morir. Su desesperación. (Elias Canetti - Hampstead) Copo transbordando Mesmo sob um eventual novo governo Dilma, as perspectivas indicam alterações de monta na fisionomia política. Os grandes partidos estão chegando ao ponto de quebra de seus pesos e potenciais. As velhas lideranças começam a dar sinais de esgotamento. Os modelos partidários carecem de novas vestimentas. As gestões da administração pública são questionadas. Os cidadãos, abrigados em seus núcleos de referência mais respeitada (movimentos, sindicatos, associações), exigirão serviços de maior qualidade. O Judiciário se aproxima das ruas. O Ministério Público abre a lupa por todos os espaços. A política haverá, necessariamente, de se refundir e reaparecer mais transparente e clara nos espaços da cidadania. Reformas terão que vir. Lideranças As campanhas seguem dentro da previsibilidade. Manuela D'Ávila (PC do B) tem boas condições de levar a melhor em Porto Alegre. Ratinho Júnior (PSC) e Luciano Ducci (PSB) estão empatados em Curitiba. Carlinhos de Almeida (PT) lidera com grande vantagem o pleito de São José dos Campos. Duarte Nogueira (PSDB) está na frente em Ribeirão Preto. Geraldo Julio (PSB) lidera em Recife. Carlos Eduardo Alves (PDT) está na frente em Natal. Marcio Lacerda (PSB), em Belo Horizonte. Tereza Jucá (PMDB), em Boa Vista. Arthur Virgílio (PSDB), em Manaus. Eduardo Paes (PMDB) está muito na frente no Rio. Luiz Paulo Vellozo Lucas (PSDB), em Vitória. Zé Maranhão e Cícero Lucena (PSDB) empatam em João Pessoa. Firmino Filho (PSDB) lidera em Teresina. Moroni Torgan (DEM), em Fortaleza. Edmilson Rodrigues (PSOL) está bem na frente em Belém. Paulo Garcia (PT), atual prefeito, lidera em Goiânia. João Alves (DEM) lidera em Aracaju. Rui Palmeira (PSDB) e Ronaldo Lessa (PDT) estão empatados em Maceió. O empresário do ano Otávio Azevedo (Grupo Andrade Gutierrez) foi escolhido Empresário do Ano pela Câmara Portuguesa do RJ. Trata-se de um dos mais celebrados perfis do empreendedorismo brasileiro. É um dos mais denodados defensores da aproximação entre Portugal e Brasil : "temos tentado motivar o governo português e o governo brasileiro a aproveitarem este momento para fazerem uma aproximação definitiva do ponto de vista empresarial e até legal". O Grupo AG está há 24 anos em Portugal, através da Zagope, que é 100% do grupo. Zavascki no STF O ministro Teori Albino Zavascki, do STJ, foi convidado pela presidente Dilma para assumir a vaga aberta com a aposentadoria de Cezar Peluso no STF. Natural de Faxinal dos Guedes/SC, tem 64 anos e está desde 2003 no STJ. Foi desembargador do TRF4. Zavascki também é professor de Direito. Alguns de seus livros : "Antecipação de Tutela"; "Processo Coletivo - Tutela de Direitos Coletivos e Tutela Coletiva de Direitos"; "Processo Coletivo e Processo de Execução : Parte Geral". Em tempo : o ministro nunca entrou em lista de possíveis nomes. Iluminando os dias não vividos Cuando ella se mueve velozmente a mi alrededor, se me iluminan los días no vividos. (Elias Canetti - Hampstead) Burocracia O excesso de burocracia prejudica a competitividade de 92% das indústrias brasileiras. A avaliação é da CNI, que divulgou duas pesquisas sobre o tema, uma envolvendo a indústria da construção e outra relativa à indústria de transformação e extrativa. No saldo geral, a Confederação aponta que além de afetar a competitividade de 92% da indústria, parcela de 850% dos industriais ouvidos considera que há um número excessivo de obrigações legais. Marta na cultura A senadora Marta Suplicy é a nova ministra da Cultura no lugar de Ana de Hollanda. Será que o novo cargo significa promoção ? Marta é vice-presidente do Senado, onde tem oportunidade de dirigir importantes sessões. Na Cultura, circulará bastante nas rodas de badalação. Pode ser que se sinta melhor nesse espaço de corte. Não confies em ninguém "Quando alguém fala bem de ti, podes estar certo de que ele te escarnece. Não confies segredos a ninguém. Mesmo se frequentemente teu valor é ignorado, não te faças valer a ti mesmo, nem tampouco te desvalorizes. Os outros te espreitam e esperam teu primeiro momento de relaxamento para te julgar. Se alguém te interpela e te insulta, pensa que está pondo à prova tua virtude. Os amigos não existem, há apenas pessoas que fingem amizade". (Cardeal Mazarino - Breviário dos Políticos) Conselho aos candidatos Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado à presidente Dilma Rousseff. Hoje, sua atenção se volta aos candidatos : 1. A campanha entra nas semanas finais. E decisivas. É momento de dar as últimas cartadas. Urge arrematar com propostas coerentes, densas, críveis, que venham atender à demandas urgentes das comunidades. 2. Muito cuidado com campanhas negativas, recheadas de adjetivação pesada, voltadas para denegrir a imagem dos adversários. 3. As duas últimas semanas de programação eleitoral costumam expandir a audiência. O eleitorado quer tomar pé dos avanços feitos pelos candidatos, estabelecer as últimas comparações entre eles e os indecisos começam a avançar na direção de seus escolhidos. ____________
quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Porandubas nº 331

Lavô, o bonito Abro a coluna com duas historinhas que tem como personagem o ex-governador do RN, Lavoisier Maia. Lavoisier não é um tipo de beleza admirado. Mas é considerado uma figura simpática. Um grande galanteador. Quando governador do RN, era esperado para inaugurar o serviço de energia elétrica do Paraná, cidadezinha encravada no extremo oeste do Estado. Preparou-se uma grande festa. Palanque armado, povo reunido, banda de música, muita comida e bebida. O governador não aparecia. Lá pelas 23h, esgotado das andanças na região, faminto, chegou à praça central para o grande evento. Confusão para saber quem iria preceder o governador nos discursos. Depois de muita negociação, chegou-se ao consenso : a palavra seria apenas do governador Lavô, como era chamado pelo povão. Extenuado, o governador pegou o microfone e começou : "meu querido povo do Paraná". Nesse instante, um bêbado com uma garrafa de cachaça, na frente do palanque, começou a gritar para delírio geral : "é o bonito, é o bonito, é o bonito". Ali mesmo, sob uma tempestade de risos, acabava-se o comício. O galanteador O ex-governador, ex-senador do RN e ex-deputado Federal Lavoisier nunca perdeu a oportunidade para exibir as qualidades de galanteador. Em uma de suas viagens de Natal a Brasília, um pouco antes da decolagem do avião, pediu a um amigo, sentado atrás, que lhe emprestasse os jornais da terra. O amigo procurou se levantar para levar os jornais, mas foi demovido pela aeromoça, já que o avião estava decolando. O rapaz pediu "leve, por favor esses jornais para o governador Lavoisier". A aeromoça, levando os jornais, quis conferir a informação : "o senhor é o governador Lavoisier Maia ?". Com sua inconfundível língua enrolada, Lavoisier respondeu de pronto : "Pois não, sou deputado, mas ex-governador, ex-senador e também ex-casado, à sua disposição". (P. S. Havia se separado de Vilma Faria, também ex-governadora e ex-deputada Federal) FHC entra na arena O ex-presidente Fernando Henrique mantinha, até semana passada, uma postura de equidistância da guerra eleitoral. Foi agraciado pela presidente Dilma com o convite para participar, em Brasília, de um evento que reuniu ex-presidentes da República. Lembre-se que ele participara antes de um jantar, em outubro de 2011, com o grupo The Elders, reunindo a ex-primeira ministra da Noruega, Gro Brundtland, a indiana Ela Bhatt e o ex-presidente americano Jimmy Carter. FHC retribuiu o gesto, expressando elogios à primeira mandatária. Mas mudou de postura nos últimos dias, ao se referir à "pesada herança" que ela herdou do governo Lula, em artigo publicado, dia 2, domingo, no Estadão. (Aliás, do lado dele, estava meu artigo sobre a corrupção). Na verdade, parecia uma resposta a todas as abordagens, feitas nos últimos anos, sobre "a herança maldita" que a era Lula atribuía ao ciclo FHC. O tucano bateu forte, mostrando os buracos abertos pela administração lulista. Apontou, como exemplo, "a desorientação da política energética". Dilma responde Em nota oficial, a presidente não apenas refuta o argumento de que teria recebido a "pesada herança", mas insere o seu patrocinador na galeria dos "estadistas". E acusou : "não recebi um país sob intervenção do FMI ou sob ameaça de apagão". A nota foi uma candente defesa do lulismo e, claro, do seu próprio governo. A tênue linha educativa que distinguia as relações entre a atual presidente e o ex-presidente se esgarçou. Ao decidir chutar o pau da barraca do ciclo Lula, FHC entrou na guerra eleitoral. Pode ter sido movido pela intensa presença de Lula nos programas dos candidatos petistas nas capitais, a partir de SP, onde seu candidato, José Serra, entra em acentuado declínio. O fato é que a polarização entre tucanos e petistas toma lugar não apenas na vanguarda das campanhas de Serra e Haddad, mas na retaguarda, onde aparecem os ícones partidários, liderados pelos dois maiores, Lula e FHC. Mais leitura sobre São Paulo Adensa-se o caderno de leituras sobre a campanha de SP. Por mais que este consultor tenha feito exaustivas análises sobre os possíveis cenários, continua a enfrentar a questão : quem vai para o segundo turno ? Para esta instigante dúvida, a bola de cristal recusa-se a dar respostas fechadas. Mas aponta algumas hipóteses : 1) Russomanno consolida sua posição; 2) Serra, caindo mais, abre espaço para o ingresso de Fernando Haddad no segundo turno; 3) É provável um "embolamento" de candidatos ao redor do patamar de 20% a 25%. Segundo turno No segundo turno, as dificuldades seriam bem maiores para José Serra. Que veria contra ele a integração dos outros candidatos de maior expressão eleitoral. Russomanno seria, até, mais mortal para Serra que Fernando Haddad. Contra este, poderia desaguar uma onda crescente anti-petista. Serra, para sobreviver à maré vazante, teria de resgatar na cachola dos eleitores a credibilidade perdida. Persiste a versão de que, eleito, não ficaria até o final do mandato. Ademais, a impressão que passa é que, em 2012, Serra faz a mesma campanha de 2004. Efeito televisivo Haddad já consegue se firmar como candidato de Lula. Faz, também, uma campanha moderna, de efeitos tecnológicos de impacto na TV. Chalita aparece bem na TV, com imagens limpas, discurso claro e tentando quebrar a polarização. Poderá subir bastante. Serra usa a velha morfologia. Campanha previsível. Russomanno tem um programa de TV muito pobre de ideias e propostas. Que procura disfarçar com a embalagem do povo. Está sempre ao lado de gente, conversando, ouvindo, fazendo-se de xerife. Soninha é poesia e utopia. Paulinho tem melhor desempenho que em campanhas passadas. Passa franqueza. Mas circula em um corredor de restrições. Os restantes são pequenos traços expressivos. Recheados de exclamações radicais. PT em tom menor Nesse momento, o cenário eleitoral aponta para um refluxo do PT no Nordeste na esteira do adensamento do PSB, a partir da provável derrota do senador Humberto Costa, em Recife, e consequente vitória de Geraldo Julio, candidato do governador Eduardo Campos. A propósito, Geraldo já passou Costa : 33% contra 25%. Mas se o PT ganhar em SP, recupera com juros e correção monetária todas as eventuais perdas que, por acaso, registrou na trajetória eleitoral de 2012. Uma vitória em SP seria o sonho dos sonhos petistas. Consolidaria a posição do partido na maior praça eleitoral do país, abrindo horizontes promissores para a disputa do governo do Estado e reeleição da presidente Dilma. Os primeiros candidatos Se Fernando Haddad vencer na capital paulista, abre-se a fila de pretendentes ao governo do Estado, em 2014, com os nomes de Aloysio Mercadante e Marta Suplicy. Mas o ícone do partido, Luiz Inácio, dependendo das circunstâncias do momento (economia, saúde pessoal), poderá ser o coringa do baralho. Difícil acreditar nessa hipótese. Mas tudo é possível em política. Se a economia cair no despenhadeiro, Lula serviria de contraponto e sairia puxando a emoção das massas. Caso contrário, continuará a ser o "conselheiro-mor" de Dilma e dos petistas que entrarão na moldura dos candidatos. Manu em Porto Alegre Manuela D'Ávila (PC do B) abre os horizontes de amplas possibilidades. Porto Alegre abre caminho para ser administrada pela disposição e jovialidade desta candidata. Cenas do passado Corre na rede um vídeo sobre Celso Russomanno quando fazia cobertura de carnaval. Trata-se de campanha negativa contra o candidato. Outro tempo, outro contexto, outras motivações. Assistência social O que é mais assistência social ? Tirar um jovem das ruas e do mundo das drogas, incentivando-o com uma bolsa de estudos, com a qual poderá ajudar a família, ou incentivar meninas nordestinas a terem filhos e, assim, poderem ganhar a Bolsa Maternidade ? No Nordeste, milhares de moças recebem o adjutório paternalista do governo. Recusam-se a trabalhar porque não querem ter carteira assinada. Temem perder a bolsa maternidade. Essa mentalidade é incentivada pela área social do governo Dilma. Lamentável esse conceito de assistência social. Que ameaça perpetuar o paternalismo assistencialista/caduco/dinossaurico do Estado brasileiro. Devoluções O Grupo do ex-senador Luiz Estevão fez acordo para devolver aos cofres da União R$ 468 milhões. Que teriam entrado ilegalmente em suas contas. Agora é a vez do ex-juiz Lalau. A AGU confirma que o Brasil recuperou, por meio do Tribunal Federal da Suíça, US$ 6,8 milhões que estavam bloqueados no país desde 1999, na conta bancária do ex-juiz. As coisas começam a tomar um novo rumo. A economia sob controle Quem apostava na economia desembestada, neste segundo semestre, pode ter de mudar suas expectativas. Tudo indica que continuará sob cabresto curto. Os controles estão afiados. Os pacotes de motivação continuarão a ser abertos. Para os próximos meses, os efeitos defasados de política monetária, a continuidade dos estímulos fiscais/tributários e o programa de investimento em transporte e logística, recentemente anunciado pelo governo Federal, devem intensificar o processo de retomada já em curso da atividade industrial. O monitoramento da inflação terá lupa mais precisa. Significa que o governismo dará o tom geral das eleições, deixando as oposições com perspectivas de vitória apenas nos espaços onde os governantes estaduais oposicionistas forem bem avaliados. Por governismo, leia-se : o conjunto de partidos que formam a base política do governo Dilma. A indústria da guerra Pequena observação à margem da campanha eleitoral nos Estados Unidos. Mitt Romney arrecada o dobro de Barack Obama. Ele passou a ser a bola da vez em matéria de novidade. Ele entrou na faixa dos já vistos e conhecidos. O republicano ressuscita o império da guerra. As grandes corporações despejam milhões de dólares em sua campanha. Voltam a ter esperança de produzir arsenais de guerra. E a faturar em cima do espectro dos conflitos do mundo contemporâneo. Oração de Brian I Discurso de Brian Dyson, ex-presidente da Coca Cola, ao deixar o cargo. "Imagine a vida como um jogo em que você esteja fazendo malabarismos com cinco bolas no ar. Estas são : Trabalho - Família - Saúde - Amigos e Vida Espiritual. Você terá de mantê-las todas no ar. Logo você vai perceber que o Trabalho é como uma bola de borracha. Se soltá-la, ela rebate e volta. Mas as outras quatro bolas - Família, Saúde, Amigos e Espírito - são frágeis como vidros. Se você soltar qualquer uma destas, ela ficará irremediavelmente quebrada, marcada, com arranhões, destroçadas, vale dizer, nunca mais será a mesma. Entenda isto : aprecie e se esforce para conseguir cuidar do valor mais valioso. Trabalhe eficientemente no horário regular do escritório e deixe o trabalho no horário. Gaste o tempo requerido à sua família e aos seus amigos. Faça exercício, coma e descanse adequadamente. E, sobretudo... Cresça na sua vida interior, na parte espiritual, a coisa mais transcendental, porque é eterna". Oração de Brian II "Shakespeare dizia : 'Sempre me sinto feliz, sabes por quê ? Porque não espero nada de ninguém. Esperar sempre dói'. Os problemas não são eternos, sempre têm solução. O único que não se resolve é a morte. A vida é curta, por isso, ame-a!". Viva intensamente e recorde : Antes de falar... Escute ! Antes de escrever... Pense ! Antes de criticar... Examine ! Antes de ferir... Sinta ! Antes de orar... Perdoe ! Antes de gastar... Ganhe ! Antes de se render... Tente de novo ! Antes de morrer... Viva !". Vagas especiais SP lidera a vanguarda em algumas frentes da cidadania. Um exemplo pode ser apontado nos espaços destinados ao estacionamento de pessoas portadoras de necessidades especiais e idosos. Mas, nos últimos tempos, observa-se relaxamento da fiscalização. Nas ruas e em estacionamentos de shopping centers, as vagas especiais estão sendo ocupadas por automóveis sem as devidas identificações, incluindo os cartões especiais emitidos pelo DETRAN. A cidadania exige respeito à legislação. Cobra-se fiscalização rigorosa dos órgãos responsáveis. Conselho a presidente Dilma Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos partidos. Hoje, sua atenção se volta à presidente Dilma Rousseff : 1. A Corte Suprema do país é o espaço sagrado que deve abrigar os mais preparados e renomados nomes do saber jurídico nacional. 2. Essa razão, por si só, justifica que os perfis designados para compor o alto colegiado devem reunir os valores morais e éticos e a bagagem de conhecimentos que conferirão credibilidade, respeito e grandeza ao STF. 3. Vossa Excelência, do alto de sua imensa responsabilidade, saberá escolher, dentre a plêiade de nomes, aqueles que reúnem as melhores condições para substituir os ministros que, compulsoriamente, deixam a Corte, ministro Cezar Peluso (que já saiu) e Ayres Britto (ao final do ano). ____________
quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Porandubas nº 330

Abro a coluna com Zé Abelha, o impagável contador de historinhas mineiras. Comício à Paganini Comício em Entre Folhas, à época, distrito de Caratinga/MG. A política fervia. Os grupos iam aos palanques, armados até aos dentes. Zé Augusto, candidato, para onde vai, leva a tiracolo seu famoso violino, a pequena metralhadora, cuja capa lembra o instrumento de Paganini. Fazia parte da comitiva do candidato um famoso padre da região, o monsenhor Aristides Marques da Rocha, que militava no PSD e exercia grande influência sobre as massas. Só andava armado. Revólver em um bolso e as balas embrulhadas num lenço, bem amarradas, no outro. O monsenhor Rocha tinha a batina cheia de pequenos rasgos, feitos por devotos que arrancavam pedaços para fazer bentinhos. Um adversário de Zé Augusto, ao ver o monsenhor armado, toma coragem e tenta desconcertado : - Uai, monsenhor, o senhor não vive dizendo que homem só morre quando Deus chama ? - É isto mesmo, meu filho, mas hoje eu estou armado porque posso encontrar algum udenista que Deus está chamando com urgência e, aí, eu presto um serviço ao Criador, matando o filho da p.... O comício de Zé Augusto transcorreu na santa paz. Procurando um norte Os programas eleitorais procuram um norte. Nas duas primeiras semanas, os programas tatearam no escuro, ao tentar fisgar o eleitorado com descrições melosas sobre a vida dos candidatos, propostas genéricas nas áreas de saúde e transportes, principalmente. Mas não deixaram também de fazer incursões na arena de guerra, ou seja, fustigaram adversários. Se formos dividir em blocos, podemos apontar o seguinte enquadramento : a) perfil dos candidatos; b) propostas e temas gerais; c) ataques; d) comparações entre ideias e estilos. Os programas, regra geral, não abrigam os recursos a serem investidos. A campanha paulistana Como era previsível, os programas de José Serra e Fernando Haddad são os que mais tempo se dedicam a questões da cidade, principalmente o do tucano. O programa do candidato petista tem dedicado muito tempo à descrição do perfil de Haddad, coisa compreensível face ao seu desconhecimento pelo eleitorado. Serra procura mostrar conhecimento sobre a cidade, gastando um bom tempo discorrendo sobre o sistema de transportes e saúde. Mostra o que já foi feito nessa área por ele e Kassab. Mais da metade do tempo de Haddad é usada para exposição sobre sua vida. O programa tucano bate forte na proposta petista do "bilhete mensal", chamando-o de "bilhete mensaleiro". A campanha negativa abriu espaço. Russomanno apresenta-se sempre no meio do povo. Chalita mostra sua carreira política, fixa a imagem do educador e propõe que o eleitor não dê ouvido às "picuinhas" entre tucanos e petistas. Soninha encaixa-se no rótulo da sustentabilidade, combate o apadrinhamento político, enquanto Paulinho da Força lapida a vertente do emprego, meta de sua proposta de descentralização. Campanha negativa A campanha negativa é a do ataque ao adversário, seja lembrando frentes abandonadas, seja tentando vincular propostas novas com situações escandalosas, como é o caso do bilhete mensal de Haddad, cuja associação com o "mensalão" torna-se patente. Os profissionais de marketing podem, até, se respaldar em pesquisas para decidir usar as armas de ataque em campanhas. Em casos específicos, principalmente quando ficou consagrada uma gestão irresponsável em alguma área - como a da saúde - mostrar cenários devastados pode gerar efeitos. Contanto que essa estratégia seja comedida, usada de maneira tópica. Não deve significar o eixo de um programa. O eleitor quer ver coisas positivas. Já nos Estados, os ataques ganham mais eficácia em função do embate histórico entre os partidos democrata e republicano. Os políticos "Político é dividido em duas partes. Uma trabalha para ser eleito. A outra trabalha para conseguir um cargo público se for derrotado". (Augusto Zenun, de Campestre, sul de Minas) Embolados Quatro candidatos podem embolar o meio de campo em SP : Serra, Russomanno, Haddad e Chalita. Os quatros podem oscilar em torno de 20% a 25%. Serra e Russomanno, descendo; e Chalita e Haddad, subindo. Haddad deve chegar aos 13% na próxima rodada. Pesquisas qualitativas abrem esta possibilidade. Lá pelo dia 15/20 de setembro, a tendência se mostrará mais clara. A campanha paulistana ainda se reveste de grandes interrogações. O preço do voto "O preço do voto de um eleitor mentiroso é sempre o mais caro". (Augusto Zenun, de Campestre, sul de Minas) O livro do Ruy Ruy Altenfelder Silva é um profissional de muitos conhecimentos, a partir do Direito, área que domina exemplarmente. Profissional de múltiplas atividades, consultor, conferencista, Ruy, do alto de sua experiência no comando de instituições de magnitude, como o Centro de Integração Empresa-Escola - CIEE, também se destaca como um denso intérprete da vida nacional. Basta ver a infinita coleção de entrevistados de seu programa Diálogo Nacional, veiculado em 10 canais a cabo em diversas regiões do país, onde recebe os mais renomados perfis da cultura e da educação, da política e dos negócios. Preâmbulo para dizer que, hoje, às 18h30, Ruy lançará o livro "Diálogo Nacional - Repensando o Brasil", que terá coautoria de Alexandre Artacho Altenfelder Silva. A obra contém 35 artigos, envolvendo questões de ética, política, educação e desenvolvimento. Mensalão Até o momento, o julgamento do mensalão derruba hipóteses preliminarmente assentadas. Não há dois grupos de ministros, um pela absolvição, outro pela condenação dos réus; os ministros têm procurado expressar abordagens diferentes, ângulos inusitados. Ou seja, não há concordância com todos os pontos levantados pelo relator. E mesmo quando concordam, enxergam aspectos diferenciados. A expressão reveste-se de densa argumentação jurídica. Quanto à influência sobre as eleições, este consultor volta a lembrar : o processo apenas reforçará pontos de vista já firmados por grupamentos de eleitores, não induzindo o voto. O grande eleitorado tende a votar por esta geografia do voto : bolso, estômago, coração, cabeça. Adversário "Quando estamos no governo, todo adversário que quer se encaixar diz ser técnico". (Augusto Zenun, de Campestre, sul de Minas) Delfim pergunta Delfim Netto, nosso economista maior, pergunta : "como vamos organizar a sociedade brasileira para propiciar empregos - de boa qualidade e salários adequados - a 150 milhões de pessoas que constituirão a população em idade ativa em 2030 ?". Delfim responde "Se quisermos ter em 2030 algo parecido com o nível de renda per capita em paridade de poder de compra de Portugal de hoje, temos de crescer em torno de 5% ao ano (mais ou menos 4% do PIB per capita), em média, nos próximos 18 anos. Isso exigirá cuidadosa e rigorosa política fiscal, capaz de sustentar a política monetária (que produzirá o equilíbrio interno), e adequada política cambial (que produzirá o equilíbrio externo)". O choque "Há um fato na política que a torna bastante interessante : o choque dos falsos políticos com os políticos falsos". (Augusto Zenun, de Campestre, sul de Minas) 168 mil temporários Levantamento da Associação Brasileira das Empresas de Serviços Terceirizáveis e de Trabalho Temporário (Asserttem) revela que de janeiro a julho deste ano foram contratados 168 mil temporários para trabalhar em diversos segmentos no comércio, indústria e lazer. Deste total, cerca de 10%, ou seja, 16 mil trabalhadores foram efetivados na vaga. Os números consideram somente as contratações feitas nos períodos de aumento na demanda, como as férias de verão, Páscoa, Dia das Mães e férias de julho. De acordo com as pesquisas, encomendadas pela entidade ao Instituto Ipema, a data que mais gerou vagas temporárias foi a Páscoa, com 70,8 mil contratos, sendo 7 mil efetivações. As greves A presidente Dilma deve se esforçar para o Congresso aprovar a lei que regulamenta as greves no setor público. Vai enfrentar muitas resistências, a partir das Centrais Sindicais. Mas a opinião pública não concorda com o grevismo desenfreado que paralisa setores da vida nacional. A questão é : qual a causa das greves de servidores, se estes ganham salários que, na média, chegam a ultrapassar os de categorias assemelhadas na iniciativa privada ? Resposta : o engessamento da legislação trabalhista e os escudos que o governo construiu, ao longo dos últimos anos, para abrigar o sindicalismo. Como se sabe, as frentes do trabalho foram entregues ao sindicalismo, a começar pelo Ministério do Trabalho. O mundo gira na roda do trabalho. Que, no Brasil, está travada. A livre negociação foi para o brejo. O que vale, hoje, é a rígida obrigação imposta por um acervo legislativo herdado do passado. À Propósito Os servidores Federais de 18 categorias aceitaram proposta de reajuste salarial de 15,8% oferecida pelo governo. São servidores dos ministérios da Saúde, Previdência, Trabalho, Cultura, Fazenda, Agricultura, Planejamento, Transportes, além de Arquivo Nacional, Imprensa Nacional, Museu do Índio, Embratur, entre outros. As relações de Guimarães Rosa Guimarães Rosa, o grande escritor mineiro, prezava o que chamava de 'Relações Exteriores', ou seja, suas relações pessoais com terceiros. O velho Rosa alinhava as normas de sua 'mineirice', dentre as quais Zé Abelha nos brinda com essas : "Combater a expansividade, em todas as suas formas. De uma maneira geral, é preciso guardar silêncio". "Dominar todos os impulsos. Não comunicar notícias, não transmitir novidades". "Never explain, never complain". (Nunca explicar, nunca queixar-se!) "Não ser afirmativo (dogmático) nem demonstrativo (explicativo)". "Não expressar nunca as nossas impressões, especialmente as que resultam das conversações que ouvimos". "Cada exclamação, cada palavra, cada gesto - conservador - aumentam nossas reservas". "Moderar todos os movimentos expressivos e dar apenas mui ligeiras mostras de emoção, surpresa, alegria, descontentamento". Conselho aos partidos Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos candidatos. Hoje, sua atenção se volta aos partidos : 1. As primeiras escaramuças de campanha mostram que a negatividade abre campo nos espaços da mídia eleitoral. Não deixem seus candidatos e assessores trilhar as vias tortuosas dos ataques a adversários e xingamentos. 2. Procurem compor programas eleitorais com exposições objetivas e propostas viáveis, demonstrando quanto custarão e de onde virão os recursos. 3. A procura de diferenciais para arrumar os perfis dos candidatos é uma meta desejável e todo esforço de marketing deve ser empreendido para consegui-la. É legítima a comparação de perfis quando dois ou mais contendores debatam suas diferenças no plano das ideias, não na esfera de vida pessoal. ____________
quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Porandubas nº 329

O besourão Abro a coluna com uma historinha que me foi contada pelo ex-senador Ramez Tebet, saudoso amigo. Por ocasião da criação do Estado do MS, em 1979, a população de Campo Grande ficava assombrada com a caravana dos 17 grandes carrões pretos dos deputados estaduais que paravam diante da Assembleia Legislativa. Os carros ganharam logo o nome de "besourão" e, ao passarem pelas ruas, as pessoas logo faziam o sinal da cruz, na tentativa de afastar o medo daqueles carros que mais pareciam transporte de defunto. Ninguém se atrevia a andar num carro daqueles. Até que um dia, ao comparecer ao velório de um correligionário, numa cidade do interior, dirigindo um desses carros, o então deputado Ramez Tebet teve que atender ao pedido da família do defunto. Queriam por que queriam que o defunto fosse levado naquele carro. Nessa hora, não dá para negar. E lá se vai o deputado carregando o caixão de defunto em seu "besourão". A história se espalhou por todo o Estado. Assim a fama negativa do carrão preto foi dissipada. O "besourão" passou a ser visto com outros olhos. A boa fama só veio, por incrível que pareça, depois de ter conduzido um defunto. Lógica do marketing político Nas últimas semanas, tenho enfrentado uma bateria de perguntas sobre possibilidades de candidatos. A pergunta-chave começa com o pleito de SP. Vou tentar usar a bolinha de cristal, não antes de checar os instrumentais e as técnicas de comunicação. Vamos começar pela última pesquisa Datafolha, que dá a Russomanno 31% dos votos e a Serra, 27%. O candidato do PRB aguentará o rojão eleitoral, ou melhor dizendo, uma bateria pesada de comunicação dos candidatos tucano e petista, cada qual com 7 minutos 39 segundos, e ele, com um pouco mais de 2 minutos ? Pela lógica, não. Pois a massificação dos perfis, ao longo de 45 dias de campanha, tende a gerar canibalização. Expliquemos. Canibalização Entende-se por canibalização o esmaecimento de um perfil de baixa visibilidade perante outros, de alta visibilidade. Canibalizar - comer, devorar, superpor, ultrapassar, esmaecer. Ou seja, Russomanno, com pequena exposição, tende a ser superposto por Serra e Haddad. Esse é um princípio consagrado da comunicação. O mais forte massacra o menor. O sistema cognitivo do povão acaba substituindo nomes e perfis visíveis por nomes e perfis muito visíveis. O que não impede a pergunta : mas Russomanno não poderia consolidar sua posição com uma exposição de dois minutos ? Pode, sim. Principalmente se fizer um bom programa de TV e rádio. Campanha política, porém, abriga outros componentes : estruturas administrativas, peso das máquinas municipal, estadual e Federal. Essas estruturas comportam milhares de funcionários, muitos ligados aos partidos e políticos. Daí a inferência : Serra contará com as máquinas da prefeitura e do Estado. Haddad, com a máquina Federal. Russomanno não terá esse apoio. Cenários Russomanno teria condições de enfrentar essas frentes poderosas ? Difícil. Mas ele conta com o apoio de uma banda evangélica, representada pela Igreja Universal, cujo dirigente maior é dono da TV Record. Ou seja, conta com um eixo comunicativo forte, apesar do controle rígido que a Justiça Eleitoral impõe às redes. Pelos vetores acima delineados, é possível apontar este cenário : Serra, mantendo cerca de 30% : Haddad subindo para alcançar 25%. Os dois se posicionariam para o segundo turno. Mas, como em política, não existem regras, tudo é possível. Russomanno, nesse caso, teria condições de fixar seu perfil como o anti-Serra; e disputar com ele o segundo turno, deixando Fernando Haddad para trás. E Lula ? E o PT ? Essa é outra grande dúvida. Lula, com todo seu carisma, não puxará Haddad ? Em SP, Lula não tem tido tanto sucesso. É o que diz a história. Os paulistanos sabem dar a cada um o seu peso. E decidem conforme suas conveniências. Vejo certa autonomia na decisão do voto paulistano. A micropolítica - as demandas das regiões e dos bairros - é mais importante que a força dos líderes e a imagem dos partidos. Acrescente-se que as siglas estão combalidas, desgastadas. Lula também não poderá fazer a campanha dos seus sonhos. Por mais recuperado que esteja, precisa ter muitos cuidados. O PT tem históricos 30% em SP. Será, porém, que o eleitorado não está saturado da polarização entre tucanos e petistas ? Essa polarização também pega o Serra, que sofre da doença - desgaste de material. Serra é cara de ontem. E os paulistanos gostam de testar novas experiências, novos atores. Foi assim com Pitta. Foi assim com Marta. Foi assim com Kassab. E os outros ? Quem também tem condições de um bom avanço é Gabriel Chalita. Que disporá de um programa de mais de quatro minutos, ou seja, uma grande exposição. É fluente, simpático, conta com grande apoio dos católicos e poderá sair-se muito bem dos debates. Soninha e Paulinho da Força deverão oscilar em torno dos 5%. Defesa e ataque "A invencibilidade está na defesa; a possibilidade de vitória, no ataque. Quem se defende mostra que sua força é inadequada; quem ataca, mostra que ela é abundante". (Sun Tzu) Mensalão A essa altura, o mensalão fixou moradia no sistema cognitivo da população. Nas margens, associa-se à corrupção, roubalheira. Nos espaços centrais, já se faz ligação com partidos e seus esquemas. Quanto a influenciar o voto, é pouco provável que isso vá ocorrer. Eleitores distinguem as situações. Militantes de partidos apenas reforçam suas posições : petistas fazendo a defesa do partido, oposicionistas procurando marcar a sigla com o carimbo de corrupção. Com sobras para mensalão do PSDB e do DEM. Inserções publicitárias As inserções publicitárias de 30 segundos ao longo do dia terão mais influência no eleitorado que os programas eleitorais. Aparecem sem avisar, pegam o eleitor desprevenido, martelam rapidamente a cognição e, mais adiante, reaparecem. Serra e Haddad serão os mais beneficiados. Dentro de duas semanas, deverão alterar posições dos candidatos. Vejam a campanha : Serra (Avança São Paulo) - 689 inserções Haddad (Para mudar e renovar SP) - 689 inserções Chalita (São Paulo em 1º Lugar) - 394 inserções Russomano (Por uma nova São Paulo) - 197 inserções Soninha (Um sinal verde para São Paulo) - 106 inserções Paulinho (PDT) - 155 inserções Carlos Gianazzi (PSOL) - Frente de Esquerda - 85 inserções Levy Fidelix (PRTB) - 82 inserções Ana Luiza Figueiredo (PSTU) - 75 inserções Eymael (PSDC) - 75 inserções Miguel Manso (PPL) - 75 inserções Anai Caproni (PCO) - 75 inserções Tempos de mídia eleitoral Vejam, aqui, os tempos de cada candidato : Fernando Haddad (PT) : 7min39s José Serra (PSDB) : 7min39s Gabriel Chalita (PMDB): 4min23s Celso Russomanno (PRB): 2min12s Paulinho da Força (PDT): 1min44s Soninha Francine (PPS): 1min11s Carlos Gianazzi (PSOL): 0min57s Levy Fidelix (PRTB): 0min54s Ana Luiza Figueiredo (PSTU): 0min50s Anai Caproni (PCO): 0min50s Eymael (PSDC): 0min50s Miguel Manso (PPL): 0min50s Campanhas de vereadores Os programas eleitorais de vereadores cairão no vazio. O desfile de nomes, bocas e caras vai servir para animar papos, abrir risadas, gerar pequenos comentários. Um ou outro nome mais esdrúxulo chamará a atenção. Os sinais estéticos - maneira de expressão oral, gestualidade, vestimenta - deverão chamar mais a atenção. Mas até os "Tiriricas" estão saindo da paisagem. Footing e trottoir Cuidado, candidatos a prefeito de todo o Brasil, não confundam alhos com bugalhos. Lembre-se da historinha do Pedro Ivo. Padre Pedro acabava de chegar a Vassouras/RJ. Houve reunião na paróquia. Reclamou : rapazes e moças estavam fazendo o footing em frente à igreja, perturbando os oficiais religiosos. O vereador Pedro Ivo, candidato a prefeito, pediu a palavra : - É lamentável que em nossa terra não exista um local adequado para as famílias vassourenses fazerem o trottoir diário. Perdeu a eleição. (Da verve de Sebastião Nery) A arena é o bairro A campanha mais efetiva do vereador é nas regiões, nos bairros. A proximidade entre o candidato e o eleitorado é determinante do voto. Quanto mais identificado com as comunidades locais, mais bem sucedido será o candidato, principalmente aqueles que têm serviços a mostrar. Os candidatos de primeira viagem investirão muito mais que os perfis já conhecidos. O discurso político Costumo bater nesta tecla. Muita gente se engana com a eficácia do discurso político. Pois bem, o discurso político é uma composição entre a semântica e a estética. O que muitos não sabem é que a eficácia do discurso depende 7% do conteúdo da expressão e 93% da comunicação não verbal. Esse é o resultado de pesquisas que se fazem sobre o tema desde 1960. E vejam só : das comunicações não verbais, 55% provêm de expressões faciais e 38% derivam de elementos paralinguísticos - voz, entonação, gestos, postura, etc. Ou seja, do que se diz, apenas pequena parcela é levada em consideração. O que não se diz, mas se vê tem muito maior importância. Portanto, senhoras e senhores que encenam peças no programa eleitoral, anotem esta informação. Dilma, mais integrada A presidente Dilma não está apenas consolidando sua imagem de gestora eficiente, mas de locomotiva de grandes projetos nas frentes de concessão/privatização. Nesse sentido, integra-se com mais firmeza nos escopos da competitividade, livre iniciativa e eficácia produtiva. Bem mais que Lula. Censura no Maranhão ? O candidato do PT no Maranhão, Washington Oliveira, vice-governador da Roseana Sarney que está concorrendo à prefeitura, teria censurado blogs da capital, tentando cercear a liberdade de expressão de seus opositores. A ordem é censurar quem falar mal de Washington Oliveira. Vamos ver até onde eles vão com isso tudo. A coluna recebe e registra a informação. Lula versus Edu Luiz Inácio era grande amigo de Eduardo Campos. Estão atritados. Lula não gostou da atitude de Edu ao abandonar o candidato do PT em Recife, senador Humberto Costa, para lançar Geraldo Julio, do PSB. A política é mesmo mutante. Aula de política Diálogo entre Colbert e Mazarino, durante o reinado de Luís XIV, na peça teatral Le Diable Rouge, de Antoine Rault : Colbert : Para arranjar dinheiro, há um momento em que enganar o contribuinte já não é possível. Eu gostaria, senhor superintendente, que me explicasse como é possível continuar a gastar quando já se está endividado até o pescoço. Mazarino : Um simples mortal, claro, quando está coberto de dívidas, vai parar à prisão. Mas o Estado é diferente ! Não se pode mandar o Estado para a prisão. Então, ele continua a endividar-se. Todos os Estados o fazem ! Colbert : Ah, sim ? Mas como faremos isso, se já criamos todos os impostos imagináveis ? Mazarino : Criando outros. Colbert : Mas já não podemos lançar mais impostos sobre os pobres. Mazarino : Sim, é impossível. Colbert : E sobre os ricos ? Mazarino : Os ricos também não. Eles parariam de gastar. E um rico que gasta faz viver centenas de pobres. Colbert : Então como faremos ? Mazarino : Colbert ! Tu pensas como um queijo, um penico de doente ! Há uma quantidade enorme de pessoas entre os ricos e os pobres : as que trabalham sonhando enriquecer e temendo empobrecer. É sobre essas que devemos lançar mais impostos. Cada vez mais, sempre mais ! Quanto mais lhes tirarmos, mais elas trabalharão para compensar o que lhes tiramos. Formam um reservatório inesgotável. É a classe média ! Senhoras e senhores candidatos Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos líderes sindicais. Hoje, sua atenção se volta aos candidatos : 1. Procurem defender propostas concretas, factíveis, críveis, demonstrando como realizar sua implementação. 2. Escolham eixos centrais para firmar sua identidade e criar seu diferencial. 3. Cuidem de todas as áreas do marketing político, a saber : pesquisa, discurso, comunicação, articulação e mobilização. ____________
quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Porandubas nº 328

Abro a coluna com uma historinha envolvendo o grande Franco Montoro e uma personagem do meu querido Estado RN. Urbano que virou agrário Franco Montoro ficou famoso pela troca de nomes que fazia. Há muitas histórias envolvendo essa modalidade de dislexia ou dislogia. Uma delas ocorreu comigo, no restaurante dos professores no campus da USP. Montoro havia sido convidado por um grupo de professores para fazer uma palestra sobre o Brasil e a América Latina, dentro do fórum de debates que desenvolvia na Fundação que criou e dirigiu. Certo momento, ao falar do RN, ele passou a se referir a nomes de amigos comuns e conhecidos. Foi quando, de repente, depois de vários acertos, ele me pega de surpresa com a indagação : "e o Agrário, como vai o Agrário" ? Respondi : "Agrário, governador, acho que não sei quem é...". Mas aí lembrei-me de um nome na esquina do contraponto : Urbano. E repus a pergunta : "por acaso, governador, não é Urbano, Francisco Urbano" ? Era. Na época, Urbano dirigia a Contag - Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura. Daí a confusão. Em respeito ao grande homem, contive a risada ! Chutou o pau da barraca O advogado do ex-deputado Roberto Jefferson, Luiz Francisco Corrêa Barbosa, chutou o pau da barraca. Disse que Lula não apenas sabia como ordenou o mensalão. E arrematou com a inferência de que, ali no STF, onde escancarou sua locução, haveria "um festival de absolvições". Acusou de frente o procurador-geral, Roberto Gurgel, por ter deixado Lula fora do processo. Nunca se viu um destempero tão contundente na presença dos mais altos quadros da Justiça brasileira. A tática do advogado foi a de defender atacando. Tirou o sono dos ministros. Chamou a atenção. Vai dar certo ? Criou animosidades ? Despertou indignação ? Usou linguagem rasteira ao perguntar se Lula era pateta ? O "omisso" Gurgel ouviu tudo em silêncio. E Jefferson, o que disse ? "Jogaria Lula no chão" Roberto Jefferson assistiu atentamente a peroração do seu advogado. Disse que se soubesse da ligação entre o ex-presidente e o BMG, "jogaria Lula no chão". Mas acabou elogiando o desempenho de Luiz Francisco. Que tem "o mesmo quilate" do cliente. Perillo-Cachoeira O STJ determinou a abertura de inquérito para investigar relações entre o governador Marconi Perillo e Carlos Cachoeira, em GO. Essas águas ainda vão rolar por muito tempo. Mais mensalão A impressão é a de que o país respirará os ares do mensalão ainda por muito tempo. Mensalão do DEM, no DF. Mensalão dos tucanos, em MG. Quem espera ares puros pode ir treinando as narinas para tempos mal-cheirosos. Datapovo O Instituto Datapovo, que pode ser auscultado a qualquer hora do dia, em casa, no escritório ou na rua, é o melhor termômetro para se medir a temperatura ambiental. Façam a pergunta : "Maria, Joaquina, Neusa, Deise, Joana, Pedro, Mané, Zé, Joaquim, você sabe o que é mensalão" ? Ouvirão algo parecido com a indagação : "não é aquela roubalheira dos políticos" ? Continuem a perguntar : "você sabe qual foi o partido que está metido com isso" ? Nem todas as respostas apontam para o mesmo partido. Muitos têm dúvidas. Mas a maior parte das respostas aponta para o PT. Lula em São Paulo As dúvidas crescem. Lula conseguirá puxar seu candidato Fernando Haddad ? Este consultor já foi mais incisivo na indicação do "sim". O PT tem históricos 25% a 30% em SP. Mas, os tempos mudam. Cada campanha tem seu clima, seu repertório, suas circunstâncias. Celso Russomanno, por exemplo, pela leitura das campanhas passadas, já teria caído. Continua firme com 25%. A primeira pesquisa após o início da propaganda eleitoral, em 22 de agosto, apontará as tendências. Sangue, trabalho, suor e lágrimas "Espero que meus amigos e colegas, ou colegas de outrora, que tenham sido afetados pela reconstrução política, sejam tolerantes e me desculpem por qualquer falta de cerimônia na maneira por que fui compelido a agir. Eu diria a esta Casa, como disse àqueles que passaram a formar este governo : - Eu nada mais tenho a oferecer senão sangue, trabalho, suor e lágrimas". (Winston Churchill) Serra declina ? As conversas sobre a campanha paulistana já foram mais favoráveis ao tucano José Serra. Que, em todos os cenários feitos há um mês, era o favorito do segundo turno. Hoje, começa-se a propagar a ideia de que ele estaria ameaçado de não entrar na reta final. Ou seja, perde a condição de favorito e, mais, de não entrar no segundo turno. O problema de Serra é a rejeição. Consolidada com a impressão de que teria passado sua vez. Difícil aceitar a hipótese, porque o tucano conta com duas mega estruturas de apoio : máquinas governamentais do Estado e da Capital. Paulinho queimado Comenta-se que Paulinho da Força passou a frequentar o dicionário de rejeição da presidente Dilma. Que prezaria os candidatos Chalita e Russomanno, que integram partidos da base governista. O PDT de Paulinho também faz parte. Mas o próprio, por conta da linguagem e das ações destemperadas, teria entrado no limbo em que o Palácio do Planalto coloca alguns perfis indesejados. Pacote da privatização O anunciado pacote das concessões em diversas frentes da infraestrutura não recebe loas de todas as áreas do empresariado nacional. Grandes questões envolvem os programas e metas estabelecidas para as ferrovias, trem-bala, rodovias, portos, aeroportos, energia, etc. Algumas questões afloram nos ambientes produtivos : como fazer concessões em áreas já concessionadas, como as das ferrovias, por exemplo ? O governo vai prorrogar os contratos ? Foram feitos estudos de viabilidade dos megaprojetos ou se trata de mais um pacotão recheado de números ? Não seria mais uma avenida paralela aos programas existentes, plasmados para uma travessia gloriosa na passarela eleitoral ? 90 mil demissões A lenta capacidade da indústria de transformação paulista para retomar a trajetória de crescimento deve levar o setor a fechar o ano com saldo de 80 mil a 90 mil demissões. Isso representa uma queda no nível de emprego de 3%, de acordo com o Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos da FIESP. Viés político Há quem veja no mega programa de concessões em eixos infraestruturais um forte viés político. Escudo contra efeitos danosos do julgamento do mensalão nas avenidas do PT com sequelas sobre as imagens de Lula e do próprio governo. Porém... Mas as pesquisas começam a mostrar que o mensalão não afeta a imagem do governo Dilma. Os dois pontinhos oscilando para baixo na pesquisa desta semana - comparativamente com a anterior - mostram que a administração continua muito bem avaliada. Técnica faz faxina ética A imagem que a presidente Dilma está consolidando é a de uma governante técnica que pegou a vassoura para limpar os espaços do governo de impurezas políticas. A faxina ética já colou. Mensalão pode, até, prejudicar o PT. Mas não queimará o estoque de prestígio do governo. Confiança de Campos Eduardo Campos quer eleger seu candidato no Recife, Geraldo Julio, logo no primeiro turno. Confiança em excesso ? Lula, seu amigo do peito, promete ir a Recife fazer campanha para o candidato do PT, o senador Humberto Costa. A conferir. Bolso vazio, sim Quem pode corroer os traços da imagem positiva é o bolso do eleitor. Ou seja, a perda da capacidade de adquirir bens de consumo - a partir de alimentos - constitui o calcanhar de Aquiles do governo Dilma. A economia, esta sim, poderá ser o ponto do desequilíbrio. Este analista pinça, mais uma vez, sua geografia eleitoral : bolso, estômago, coração, cabeça. Bolso cheio significa geladeira locupletada; estômagos saciados; que, satisfeitos, tocam de perto o coração; coração comovido sinaliza a cabeça. Que acabará enviando sinais de agradecimento aos patrocinadores do bolso cheio. Sinais ? Em forma de votos. 100 milhões, duas medalhas R$ 100 milhões a mais que o investimento feito para a Olimpíada de 2008. Foi esta a quantia que o Brasil "gastou" para disputar em Londres. Qual o resultado ? Uma medalha de prata e uma de bronze, duas medalhas a mais que em Pequim. Muita grana, muita dispersão, politicagem, desvios, ilícitos, displicência, desleixo, incúria. Este é o Brasil do eterno retorno. A volta olímpica A volta dos brasileiros da Olimpíada foi uma festa. Desfiles em carros de bombeiro, bandeiras tremulando ao vento. Parecia que o Brasil ganhara o primeiro lugar. E o prefeito Eduardo Paes, como papagaio de pirata, parecia ser o maior dos nossos campeões olímpicos. Liderança do PMDB Com o acordo fechado para Henrique Alves ser o candidato do PMDB à presidência da Câmara, já começa a se adensar a lista de candidatos à sua sucessão na liderança do PMDB : Eduardo Cunha/RJ, Sandro Mabel/GO, Rose de Freitas/ES, Danilo Forte/CE, Manoel Junior/PB e Marcelo Castro/PI. O mais ativo é Mabel. E um dos mais fiéis aliados de Henrique é Cunha. Vitória "Perguntais qual o nosso objetivo ? Posso responder com uma palavra : Vitória - vitória a todo custo, vitória apesar do terror, vitória por mais duro e longo que seja o caminho a percorrer, pois sem a vitória, não haverá sobrevivência". (Winston Churchill) Neymar e companhia O que fez Neymar em campo ? Não deu o esperado show. Chegou com a fama de atleta de triatlo : corre, pedala e .. nada. O problema é que o endeusamento dos atletas brasileiros maltrata sua identidade. Achando-se deuses do Olimpo, os nossos famosos deixam de pisar no chão duro. Vivem da fama. Habitam os espaços midiáticos. Ganham milhões. Sob a corrosão de suas performances esportivas. Razões para votar O escopo do marketing político, ao longo da história, tem se mantido praticamente o mesmo. O que muda são as abordagens e as ferramentas tecnológicas. Atentem. No ano 64 a.C., Quinto Túlio Cícero enviava ao irmão, o grande tribuno e advogado Cícero - protagonista de episódios marcantes por ocasião do fim do sistema republicano e implantação do Império Romano - uma carta que considero o primeiro manual organizado de marketing eleitoral da história. Ali, Quinto Túlio orientava Cícero sobre comportamentos, atitudes, ações e programa de governo para o consulado, que era o pleito disputado, sem esquecer as abordagens psicológicas do discurso, como a lembrança sobre a esperança, este valor tão "marketizado" no Brasil e que se constituiu eixo central do discurso da era lulista. Dizia ele : "três são as coisas que levam os homens a se sentir cativados e dispostos a dar o apoio eleitoral : um favor, uma esperança ou a simpatia espontânea". Um burrinho baixinho José Fernandes de Melo, médico, ex-deputado estadual por diversas legislaturas no RN, ex-prefeito de Pau dos Ferros, principal cidade do extremo oeste, fazia suas campanhas à base de receitas médicas e muita verve. Por onde passava, costumava fazer uma brincadeira com os eleitores. Por ocasião de sua última eleição para prefeito, nos meados da década de 80, comemorando a vitória numa festa no meio do povo, foi insistentemente abordado por uma eleitora, que lhe pedia um burrinho para ajudá-la nas tarefas da roça. O prefeito não perdeu a chance de fazer mais uma de suas brincadeiras. "Que tipo de burrinho a senhora quer ? Pode ser um burrinho baixinho, meio gordo, um pouco velho" ? A mulher respondeu : "pode ser, sim, doutor José". E ele : "pode ser um burrinho que dá muito coice quando chegam perto dele" ? Resposta : pode, sim. O médico, ligeiro, dobrou-se, mãos e joelhos no chão, e arrematou : "pois está aqui ele, dona Maria, pode montar". A mulher, encabulada, sob as gargalhadas do povo, saiu de fininho. (Zé Fernandes, casado com minha irmã, Lindalva Torquato Fernandes - já falecidos-, que foi deputada estadual, prefeita de Pau dos Ferros e ministra do Tribunal de Contas do Estado) Conselho aos líderes sindicais Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos advogados que trabalham na Ação Penal 470. Hoje, sua atenção se volta aos líderes sindicais : 1. O momento que o país atravessa não permite atitudes irresponsáveis, gestos tresloucados, mobilizações oportunistas. O Brasil não é uma ilha de segurança em um oceano tempestuoso. 2. Ante a moldura da crise internacional e os possíveis efeitos que certamente chegarão até nós, é preciso agir com responsabilidade e evitar que as paralisações em curso contribuam para acirrar os ânimos e expandir a insegurança social. 3. É bastante compreensível o acervo reivindicatório das 30 categorias de servidores Federais em greve. Mas todo esforço deve ser empreendido para se chegar a um termo de ajuste, que possa por fim ao movimento paredista. Estamos às vésperas de um pleito eleitoral. Que precisa ocorrer em um clima de harmonia e segurança social. ____________
quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Porandubas nº 327

Em 5 anos, tudo pode ocorrer Um poderoso sultão, sábio entre os sábios, possuía um camelo muito inteligente. Obedecia a todas as ordens que nem precisavam ser emitidas de viva voz. Faltava-lhe apenas o dom da palavra. Esse detalhe entristecia sobremaneira o sultão. Um dia, decidiu convocar o Grande Conselho e chamou o grão-vizir. - Quero que ensine meu camelo a falar ! - Mas isso é impossível. - Cortem-lhe a cabeça ! Tragam-me o adjunto ! Mesma afirmação de desejo sultanesco, mesma resposta, mesma sentença. A cena repetiu-se diversas vezes e cabeças rolaram. Exasperado o sultão declarou. - Aquele que ensinar meu camelo a falar será meu grão-vizir. Silêncio ! O sultão repetiu a exortação. Eis que surgiu um humilde ajudante de cozinheiro. Disse : -Dá-me, ó incomparável senhor, um prazo de 5 anos, e farei falar teu camelo. Estupefação geral. Seguida do cumprimento da promessa. -Doravante, és meu grão-vizir ! Mas se falhares, sabes o que te espera ! - Bem sei ! Encantado, o jovem fez profunda reverência e saiu correndo para dar a boa notícia à esposa. - Infeliz, acabas de assinar tua condenação. - Não é bem assim, meu bem. Pedi 5 anos. Você sabe que muitas coisas poderão acontecer em 5 anos : morre o camelo, morre o sultão... (Fábula enviada pelo atento Alexandru Solomon, que arremata : "nada a ver com o PAC, a Ação Penal 470 e outras coisitas...") A animação dos advogados Os advogados dos réus da Ação Penal 470 estão animados. Acreditam que derrubarão tese de existência do mensalão. Combinaram o discurso : se houve ilícito, ocorreu no departamento do caixa 2. Delúbio Soares assume esse crime. José Dirceu argumenta : não mandava no PT. José Genoino levanta a ideia : não cuidava do dinheiro do partido que presidia. Marcos Valério alega : fez empréstimos legais. Pergunta que não quer calar : se tudo era legal, porque isso veio à tona desde cedo ? A confusão vai ganhando densidade na esteira de falas de ministros, como a de Marco Aurélio Melo. Que reconhece a ausência de provas documentais e a abundância de provas testemunhais. O cavalo "Em serviço o que se quer não é o cavalo que corra mais, é o cavalo que aguente mais". (Eça de Queirós) O pensamento do ministro Alguns advogados valem-se do argumento do ministro Marco Aurélio para arrematar : como ele mesmo reconheceu, não há provas. Só que esquecem a outra parte do argumento do ministro : e querem o quê ? Uma carta de confissão do mensalão. Escravos "Todos somos mais ou menos escravos, da lei, da opinião, das conveniências, dos prejuízos; uns de sua pobreza, e outros de sua riqueza". (José de Alencar) Frase lapidar Outra declaração de Marco Aurélio : "O Brasil se tornou um país do faz de conta. Faz de conta que não se produziu o maior dos escândalos nacionais, que os culpados não sabiam". Ou seja, por essa frase, os advogados dos acusados deveriam inferir que o voto do ministro será pela condenação, eis que reconhece a existência do "maior dos escândalos". Como se pode aduzir, na Ação Penal 470 cada qual busca interpretar à sua maneira o pensamento dos magistrados. Capital e trabalho "Quando o capital se acovarda, o trabalho morre". (Olavo Bilac) Janice ensina Janice Ascari, procuradora regional da República em São Paulo, ensina : não há hierarquia entre prova testemunhal, pericial e documental. Então, por que os advogados tentam desqualificar as provas testemunhais ? A pena do jornalista "Nos países onde o parlamento representa mal a Nação, a pena do jornalista vale mais que a eloquência do orador". (Rui Barbosa) Dilma na campanha A presidente Dilma não pretende entrar no embate eleitoral. Teme que seu apoio a alguns candidatos possa criar contrariedade no seio de partidos da base governista. Em SP, o candidato Fernando Haddad usa as imagens da presidente e de Lula em seus materiais. Lula vai entrar de sola na campanha. Espera alavancar seu candidato. Dilma percebeu que, em alguns Estados, a atitude de alheamento será mais conveniente. O homem "O homem não é sempre o mesmo em todos os instantes". (Machado de Assis) Lula na campanha Há uma fila de centenas de candidatos petistas esperando uma foto com Lula. O ex-presidente já fez uma foto coletiva, junto com muitos candidatos do PT. Com a liberação médica, Lula vai se dedicar à campanha de Haddad, fazendo companhia ao candidato, mas preservando-se de situações que possam abalar a saúde : jornadas noturnas, movimentações no meio da massa, etc. Este consultor acredita que a presença de Lula será fundamental para expandir a intenção de voto em Haddad. Em meados de setembro, a intenção de voto no candidato petista pode chegar aos 20%. A conferir. Nosso povo "Somos, ainda, sobre todos os outros, o povo das esplêndidas frases golpeantes, das imagens e dos símbolos". (Euclides da Cunha) Russomanno consolidará ? Esta é a pergunta que muitos fazem : Celso Russomanno conseguirá consolidar seu índice de intenção de voto, hoje em torno de 25%. Este consultor não consegue desenhar cenários. Esta campanha exibe mais pontos de interrogação que a de 2008. E Serra, hein ? Há quem aposte que José Serra não entrará no segundo turno. Em vez de subir, desce. E sua taxa de rejeição é altíssima, em torno de 30%. A leitura "Como as pessoas leem sempre, em vez dos melhores de todos os tempos, apenas a última novidade, os escritores permanecem no círculo estreito das ideias que circulam, e a época afunda cada vez mais em sua própria lama". (Schopenhauer) Chalita O candidato Gabriel Chalita conseguiu apoio de importantes núcleos evangélicos. O candidato do PMDB tende a crescer com a boa visibilidade na mídia eleitoral. A conferir. Ministros na campanha Os ministros do governo Dilma começam, também, a fazer os primeiros movimentos eleitorais. Alguns estão dispostos, até, a correr o país. Outros dispõem-se apenas a aparecer nas fotos dos candidatos. Crimes maiores "Todos os crimes, geralmente, se tornam maiores quando provocam escândalo, isto é, quando se tornam obstáculo para os fracos, que olham menos para o caminho que estão seguindo do que para a luz que outros homens levam à sua frente". (Thomas Hobbes) Ciclo da visibilidade A campanha entrou, nessa semana, no ciclo da visibilidade média, com a cobertura das andanças e movimentações de candidatos pelas redes de TV e rádio. O ciclo entrará na fase mais avançada, a partir de 21 de agosto, quando terá início a programação eleitoral. Tempo de TV e rádio A redundância é uma das sagradas e consagradas leis da comunicação. Quanto mais seja exposto um candidato nos espaços midiáticos, mais visibilidade alcançará. Quanto mais tempo tenha para propagar suas ideias, mais conhecidas essas serão e, por conseguinte, maior a probabilidade de serem captadas, entendidas e internalizadas (entrando na cachola dos eleitores). Esse princípio foi muito usado por Hitler para propagar o nazismo : repita uma mentira uma, duas, três vezes. Na terceira vez, será aceita como verdade. Hitler, pelas lições de Goebels, seu ministro da propaganda, usou muito o estribilho, forma repetitiva da propaganda política. Dois juntos "Se dois se põem de acordo e juntam forças, juntos podem mais, e consequentemente têm mais direito sobre a natureza do que cada um deles sozinho; e quantos mais assim estreitarem relações, mais direitos terão todos juntos". (Baruch de Espinosa) Propaganda negativa A revolução francesa de 1789 pode ser considerada o marco da propaganda agressiva nos termos em que hoje se apresenta. Ali, os jacobinos, insuflados por Robespierre, produziram um manual de combate político, recheado de injúrias, calúnias, gracejos e pilhérias que acendiam os instintos mais primitivos das multidões. Na atualidade, é a Nação norte-americana que detém a referência maior da propaganda agressiva, mola da campanha negativa. Este formato, cognominado de mudslinging, apresenta efeitos positivos e negativos. No contexto dos dois grandes partidos que se revezam no poder - democrata e republicano -, diferenças entre perfis e programas são mais nítidas e a polarização sustentada por campanhas combativas ajuda a sociedade a salvaguardar os valores que a guiam, como o amor à verdade, a defesa dos direitos individuais e sociais, a liberdade de expressão, entre outros. Nem sempre a estratégia de bater no adversário gera eficácia. Romney, mais grana Obama, ao que parece, perde o charme. Na campanha de 2008, arrecadou cerca de US$ 600 milhões pelas redes sociais. Hoje, o presidente perde para o candidato republicano, Mitt Romney, em matéria de arrecadação de fundos. O republicano alcançou, em julho, mais de US$ 101,3 milhões, enquanto Obama conseguiu apenas US$ 75 milhões. Mas a arrecadação total - somando todos os meses - é dos democratas : US$ 627 milhões contra US$ 495 milhões dos republicanos. Ohio, vital Para ganhar a eleição norte-americana, o Estado de Ohio é considerado o mais simbólico e decisivo. Quem é vitorioso nesse Estado, leva a melhor. O único democrata a vencer sem o apoio de Ohio foi Kennedy. ACM aguentará o tranco ? ACM Neto, candidato do DEM, tem 40% das intenções de voto em Salvador. Pois bem, seu opositor, o petista Nelson Pelegrino, tem 10%. Mas terá uma base de apoio, formada por 15 partidos, o que dará um tempo de TV três vezes maior que o do DEM. Donde emerge a pergunta : ACM Neto sustentará a posição ? Este consultor não arrisca um prognóstico. Milagre ajudando Obama ? Cientistas da Nasa qualificaram de "milagre de engenharia" o pouso em Marte da sonda Curiosity, que já começou a enviar imagens de uma antiga cratera. Ela vai detectar a existência de vida em Marte. O jipe-robô, com 6 rodas, pesa uma tonelada, e realizou complexa e arriscada operação para entrar na atmosfera marciana e pousar no local escolhido. Essa é a primeira missão de astrobiologia da Nasa desde o envio da sonda Viking, na década de 1970, e é também o primeiro laboratório analítico completo a operar em outro mundo. Barack Obama festeja o acontecimento. Na crença de que Marte lhe fará uns bons votinhos. Noções de gestão pública "Como aprender nunca é demais, principalmente, nesta era do conhecimento, os candidatos que vierem a ser eleitos poderiam dedicar algum tempo antes da posse para adquirir ou reciclar as noções modernas de gestão pública e as informações sobre a real situação dos municípios que terão a responsabilidade de administrar nos próximos quatro anos". (Ruy Martins Altenfelder Silva e Alexandre Artacho Altenfelder Silva - Diálogo Nacional : Repensando o Brasil) Conselho aos senhores advogados Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos ministros do STF. Hoje, sua atenção se volta aos advogados que trabalham na Ação Penal 470 : 1. Acautelem-se. Evitem declarações à imprensa que possam gerar polêmica ou ferir a imagem de magistrados. 2. Compreende-se o esforço de cada profissional do Direito para fazer a melhor defesa dos réus na Ação Penal 470. Urge, porém, não ferir suscetibilidades com alguma abordagem expressiva que possa provocar mal estar em algum magistrado. 3. Os juízes também deveriam se esforçar para, com suas declarações públicas, fazer prejulgamentos. Mesmo que isso ocorra - e tem ocorrido - todo cuidado deve ser tomado para evitar respostas públicas que possam gerar animosidade entre os operadores do Direito. ____________
quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Porandubas nº 326

Promessas de campanha A historinha foi enviada por um leitor do Paraná. Candidatos de duas famílias disputavam a prefeitura de uma pequena cidade. Final de campanha. A combinação era de que os dois candidatos e seus familiares teriam de usar o mesmo palanque. Discursou, primeiro, o candidato que tinha 70% de preferência dos votos : - Povo da minha amada terra, povo ordeiro, trabalhador, religioso e cumpridor de suas obrigações. Se eleito, irei resolver o problema de falta de água e de coleta de esgoto. Farei das nossas escolas as melhores da região, educação em tempo integral. Vou construir uma escola técnica do município... E arrematou : - E tem mais, meus amigos, ordeiros, religiosos e cumpridores de seus deveres morais, vocês não devem votar no meu adversário. Ele não respeita nossa gente, nossas famílias, nossos costumes ! Ele desrespeita nossa igreja. Ele nem se dá ao respeito. Vocês não devem votar nele. Porque ele tem duas mulheres. O adversário, com 20% de intenção de voto, quase enfartou quando viu a mulher, ao seu lado, cair no palanque. Ela não aguentara ouvir a denúncia do adversário de que o marido tinha uma amante. A desordem ganhou o palanque. A multidão aplaudia o candidato favorito e vaiava o adversário. Cabos eleitorais começaram a se engalfinhar. Passado o susto, com muita dificuldade, o estonteado candidato acusado de ter duas mulheres começa seu discurso, depois de constatar que a esposa estava melhor : - Meu amado povo, de bons costumes e moral ilibada, religioso e cumpridor de seus deveres morais, éticos e religiosos. Quero dizer aos senhores e senhoras aqui presentes, que, se agraciado com seus votos me tornar o prefeito desta cidade, farei uma mudança de verdade. Não só resolverei o problema da falta de água, como farei também o tratamento de todo o esgoto do município, construirei uma escola técnica e um novo hospital ! A massa caçoava do coitado e de sua mulher. Foi em frente : - Vou melhorar o salário dos professores, a merenda das crianças e ainda vou instituir o Bolsa Cidadão ! Agora, prestem bem atenção. Se os amigos acharem que não podem votar em mim porque tenho duas mulheres, votem no meu adversário ! Mas saibam que a mulher dele tem dois maridos. A galera veio abaixo. O pau comeu. Brigalhada geral. Urnas abertas. O candidato corno perdeu : 76% para o adúltero. Mensalão chegará às ruas ? A pergunta é a que mais instiga os atores políticos. Porque traduz o jogo das forças em contrário, de um lado, o PT, com que lidera ampla base aliada, de outro, as oposições, comandadas pelos tucanos do PSDB. Pois bem, o Mensalão é seguramente o maior contencioso que chega ao STF : 50 mil páginas, 38 réus, 600 testemunhas, 500 jornalistas inscritos para cobrir o evento, intensa polêmica no meio da sociedade. Mas não será um fenômeno capaz de alterar a composição do voto no país. Pode chegar às ruas das metrópoles, principalmente as habitadas por classes médias altas, onde se juntam os aglomerados de formação de opinião. Mas estará fora do grande circuito, ou seja, 95% dos 5.565 municípios brasileiros tendem a ficar à margem do processo. Efeitos do julgamento Alguns atores entrarão no rolo do julgamento, a começar pelos próprios julgadores, os ministros da Suprema Corte. A absolvição ou condenação dos réus provocará manifestações de repúdio, aprovação/desaprovação, indignação por parte de setores e grupamentos organizados. Mais uma vez, as massas amorfas e difusas ficarão à margem. Os grupos organizados tocarão suas trombetas, principalmente os núcleos sob a égide e patrocínio das frentes partidárias. O PT, como se sabe, possui uma base barulhenta que vai às ruas tocar bumbo. Portanto, parcela dos membros do STF atravessará o corredor polonês da sociedade organizada. O PT, seja qual for o resultado do julgamento, será o ente partidário a registrar as maiores perdas. Ou seja, em caso de absolvição, carreará a raiva de eleitores-adversários; em caso de condenação dos réus, também sobre ele desaguarão ondas de indignação. Lula e Dilma Lula entrará também no rolo, apesar de ter um grande escudo contra o mensalão : carisma. Por isso mesmo, os efeitos sobre sua imagem - em caso de condenação dos réus - serão mínimos. Já a presidente Dilma, na esteira de seu perfil técnico, não será atingida por respingos da onda mensaleira. Absolvição ou condenação ? Outra pergunta difícil. Mas há algumas pistas que poderão ser expostas. Primeira : o ministro revisor. Ricardo Lewandowski, teria manifestado o interesse em fazer "um contraponto" ao relatório do ministro relator, Joaquim Barbosa. "Contraponto", termo que aponta para o outro lado. Segunda : o ministro Dias Toffoli, que já foi advogado do PT e cuja namorada teria trabalhado para um dos réus do mensalão, anunciou a intenção de julgar o processo. Ou seja, seu afastamento, defendido por uma corrente de juízes e advogados, não ocorrerá. Terceira : o ministro Cezar Peluso, um dos maiores especialistas em Direito Penal no STF, dará seu voto antes de se afastar, na segunda quinzena de setembro. Quarta : o parecer do procurador geral, apesar de não conter novidades, é duro. O que se pode desenhar como resposta ? Resposta Diante dessa moldura, este analista tende a ler a seguinte resposta : a) absolvição de uma parte dos réus, por falta de provas; b) condenação de outra parte dos réus; c) penas leves para os condenados. Andressa no palco A namorada de Carlos Cachoeira, Andressa, parece ter apreciado desfilar no cenário em que se move o namorado. Bonita, charmosa e amorosa, abriu espaços na imprensa, que viu em sua história nuances de um folhetim capaz de atrair o interesse das multidões. Até ser flagrada por um juiz, que a acusa de fazer chantagem contra ele. A larga exposição pública de Andressa acabou voltando-se contra ela. O amor também exige atitudes recatadas. Discrição. Lula na campanha Lula ainda não está em ponto de bala para atirar na arena das campanhas. Queixa-se de dores. Tem uma bursite. Há uma fileira de candidatos esperando por uma foto com ele. Fernando Haddad, em São Paulo, aguarda com expectativa as caminhadas com seu patrocinador. Haddad espera chegar aos 30% históricos do PT em SP. Jarbas e Campos O primeiro grande efeito da campanha no campo das parcerias se dá em Recife, onde o senador Jarbas Vasconcelos, do PMDB, se une ao governador Eduardo Campos, presidente do PSB, em torno do candidato Geraldo Júlio. Os ex-adversários selam um pacto de paz. Momentâneo ou com vistas para o amanhã ? O xerife Celso Russomanno se apresenta como xerife do povo. Reforça as tintas da imagem de defensor do consumidor, que começou a usar desde a morte da mulher há 20 anos. A questão é : conseguirá manter seu alto índice de intenção de voto ? Há muitas dúvidas. Terá um minuto e meio de mídia eleitoral. Difícil. Carla, a assistente O ministro Joaquim Barbosa dará seu voto em cerca de mil páginas. Trabalhou de maneira exaustiva, sacrificando a saúde, para poder dar conta do recado. Fez um mutirão de juízes recrutados em 47 varas Federais. Mas seu braço direito tem sido a assessora Carla Ramos, ex-aluna de Barbosa que só tirava 10 nas provas. Defensora pública no RJ, foi convidada pelo ministro para ser sua assessora no processo do mensalão. Hoje, é a fiel escudeira. Anvisa sem bússola Em recente decisão, a Anvisa voltou atrás liberando a venda de medicamentos isentos de prescrição nas prateleiras das farmácias do país, alterando a resolução 44/2009. A proibição aconteceu no intuito de reduzir as intoxicações, mas depois de consultas públicas a agência concluiu que a medida não atingiu o objetivo e ainda prejudicou o consumidor. Quem agora está na mira para sair das prateleiras, desta vez dos supermercados, é o álcool líquido. A grande questão divergente seria o aumento dos casos de queimaduras, versão não comprovada nas estatísticas do SUS. A resolução 46/2002, que proíbe a comercialização do álcool acima de 54º GL, não deverá agradar ao consumidor. Isso porque, para fazer a limpeza de casa e conseguir o mesmo resultado, será preciso gastar muito mais. Ao que tudo indica, será mais uma resolução fadada ao fracasso. 8 milhões de eleitores O pleito deste ano terá 8 milhões de eleitores a mais do que o de 2008. Serão 138,5 milhões de eleitores. E as mulheres continuarão na frente dos homens : 71,6 milhões (52% dos eleitores) contra 66,1 milhões de homens eleitores (48%). SP lidera com 31.253.317, seguido de MG, 15.019.136, RJ, com 11.893.309, BA, 10.110.122 e RS, com 8.328.4143. Os estados com os menores números de eleitores são RO, com 292.394; AP, com 448.018; e AC, com 498.017. São quatro os tipos de homem Aquele que não sabe, e não sabe que não sabe. É um tolo : evite-o; Aquele que não sabe, e sabe que não sabe. É um simples : ensine-o; Aquele que sabe, e não sabe que sabe. Está dormindo : acorde-o; Aquele que sabe, e sabe que sabe. É um sábio : respeite-o. (Conceitos árabes coletados por Luís Costa) Jovens bandidos da classe média Quem achava que apenas pobreza e miséria explicam a criminalidade ? Um grupo de 16 jovens estudantes universitários de SP, de idade entre 18 e 21 anos, foi flagrado cometendo sequestros-relâmpago. São acusados de 50 sequestros. Com os cartões dos sequestrados, conseguiam dinheiro para viagens ao litoral, bebidas e baladas. Onde estamos, para onde vamos ? Identidade, eixo do candidato Os candidatos precisam expressar sua identidade : conceito, história de vida, pensamento, atitudes, valores, princípios. Não adianta inventar essa identidade de maneira abrupta. Os eleitores percebem quando o gato quer se passar por lebre. Curiosidade Por que o grande advogado Márcio Thomaz Bastos teria deixado de advogar para Carlinhos Cachoeira ? Teria sido por conta do flagrante do juiz que denunciou tentativa de barganha feita contra ele por Andressa Mendonça, a namorada do acusado ? Tempos de grandeza Ao contrário de alguns historiadores e cientistas sociais, que consideram muito crítico o momento vivido pelo país, este analista defende uma abordagem contrária : o Brasil está dando uma lição de grandeza. As instituições funcionam a plenos pulmões e a nossa democracia participativa se expande na esteira das entidades de intermediação social. Viva ! Rehder e SP Marcelo Rehder, presidente da SPTuris desde o fim do ano passado, tem na ponta da língua a radiografia turística e cultural da maior metrópole do país : "Hoje, 70% dos turistas vêm à cidade para negócios e eventos. Campanhas para que essas pessoas fiquem mais um dia têm sido feitas e estão dando resultados. A cultura é a nossa praia, temos uma oferta enorme de museus, teatros, cinemas e gastronomia que, muitas vezes, nem os paulistanos conhecem". A SPTuris é a entidade que planeja eventos como a Virada Cultural, SPFW, Parada LGBT, entre outros. Grandes desafios Rehder fala dos grandes desafios, a partir da Copa. "O Itaquerão terá 68 mil lugares. Hoje já temos eventos que trazem mais pessoas do que isso. O show do U2 teve 80 mil pessoas. Na Copa, alguns dos problemas podem ser os aeroportos e a mobilidade dentro da cidade. Há que verticalizar mais e adensar tudo mais perto do transporte público. Ficamos muitos anos sem investir no metrô. Temos de ter transporte sobre trilhos e integrar as linhas da CPTM com a cidade - isso é uma coisa que já começou a ser feita". A maneira de dizer Anedota Árabe Um sultão sonhou que havia perdido todos os dentes. Logo que despertou, mandou chamar um adivinho para que interpretasse o sonho. - Que desgraça. Senhor ! Exclamou o adivinho. Cada dente caído representa a perda de um parente de vossa majestade. - Mentiroso ! Gritou o sultão enfurecido. Como te atreves a dizer-me semelhante coisa ? Fora daqui ! Chamado outro adivinho, este falou assim : - Excelso senhor ! Grande felicidade vos está reservada ! O sonho significa que havereis de sobreviver a todos os vossos parentes ! Iluminou-se a fisionomia do sultão e mandou dar cem moedas de ouro ao segundo adivinho. Quando saía do palácio, um dos cortesãos lhe disse : - Afinal, a interpretação que fizeste do sonho foi a mesma do teu colega... - Lembra-te, meu amigo, tornou o adivinho, que tudo depende da maneira de dizer. (Leia comigo - Luís Costa) Conselho aos ministros do STF Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado às autoridades policiais. Hoje, sua atenção se volta aos ministros do STF : 1. Chegou o momento tão esperado do julgamento da Ação Penal 470. Busquem em seus altos conhecimentos as luzes para iluminar os caminhos da decisão. 2. Multiplicam-se sugestões, conselhos, pressões, contrapressões. No meio da algaravia, procurem separar as sementes limpas da Justiça do joio sujo dos lamaçais. 3. Vossas Excelências são os mais altos e gabaritados magistrados do Judiciário. De suas consciências, emergirá a bússola que guiará os passos da Nação. ____________
quarta-feira, 25 de julho de 2012

Porandubas nº 325

Abro a coluna com o deputado Newton Cardoso, ex-governador de Minas Gerais, fonte cheia de histórias hilárias. Assumiu o governo de Minas e, no dia seguinte, foi ao aeroporto para viajar no helicóptero da administração estadual. Ao tomar conhecimento de que aquele "trem" tinha o nome de seu adversário, foi logo dando bronca no piloto : - Não entro de jeito nenhum nesse trem com o nome do Hélio ( ). O piloto, constrangido, respondeu : - Mas governador, esse helicóptero é do governo do Estado e não do ex-governador Hélio. Newtão não quis saber : - Esse trem agora vai se chamar Newtoncóptero. Falei e tá falado. Outra historinha envolvendo o folclórico ex-governador. Resolveu passear de carro com a família. O carro pifou na estrada. O mecânico, que o socorreu, diagnosticou : - São os burrinhos dos freios; estão danificados. Acho bom trocar logo esses burrinhos. Cardoso deu a bronca : - Calma, seu mecânico, meus filhos não descerão dos burrinhos de jeito nenhum. Mensalão na reta final O mensalão, ufa, chega à reta final. 3 de agosto, início da partida. Previsão de término : segunda quinzena de setembro. São 38 réus, 50 mil páginas de documentos, 90 horas de julgamento, 15 sessões do plenário, 600 testemunhas em 42 cidades brasileiras. Fase de inquirição de testemunhas : 4 anos. Alegação final dos réus tem 2,8 mil páginas. Voto do relator Joaquim Barbosa tem mil páginas. Voto do revisor Ricardo Lewandowski, também mil páginas. Para efeito de comparação, lembremo-nos do caso Collor : 8 réus, 38 páginas de processo (1994). O interesse é tão grande que o STF está pedindo reforço de segurança junto à Força Nacional. Mídias nacional e internacional com luzes e holofotes acesos. Projeções Hipótese 1 : condenação de todos os réus. Penas duras. Menos provável. Hipótese 2 : absolvição de todos os réus. Pouco provável. Hipótese 3 : condenação de alguns e absolvição de outros. Razoável. Esta é uma projeção por muitos considerada a mais viável. As penas serão variadas. Mas poucos acreditam em penas muito duras. Os operadores do esquema poderão receber penas mais pesadas. O caso mais emblemático a suscitar dúvidas e interrogações envolve o ex-ministro José Dirceu. Haverá novidades, como a versão mais recente do ex-deputado Roberto Jefferson, que denunciou o esquema : Lula ordenou a operação. Esta é a bombástica declaração do advogado de Jefferson, Luiz Francisco Corrêa Barbosa. Como se recorda, logo após denunciar o caso, o presidente do PTB inocentou Lula : "eu contei e as lágrimas desceram dos olhos dele. O presidente Lula é inocente nisso". Estratégias Entre as estratégias dos advogados de defesa, uma das mais anunciadas diz respeito ao desdobramento dos casos, o que poderia, caso a tese fosse aceita, fazer com que os autos dos processos de alguns réus voltem às instâncias inferiores, permanecendo no STF apenas os processos abrigando réus com prerrogativas de foro, conforme visão do ministro Marco Aurélio Mello. Outros defenderão o argumento de que os recursos do mensalão provinham do caixa 2 de campanhas. Há, ainda, os que defenderão a ideia de que alguns réus não tomavam conhecimento e nem eram responsáveis pelo caixa do PT. O fator Russomanno A última pesquisa Datafolha sobre os candidatos à prefeito de São Paulo tem aberto grande polêmica sobre os competidores, a partir da hipótese sobre os dois competidores que entrarão no corredor do segundo turno. Dois dados surpreenderam : o crescimento de 2 pontos de Celso Russomanno, do PRB, que chegou aos 26% e a expansão da taxa de rejeição de José Serra, que chega aos 37%. Minha interpretação : Russomanno abocanhou uns pontinhos que eram do cantor Netinho de Paula, que se retirou do pleito; Serra, que é conhecido por quase todo o eleitorado de 8,5 milhões, aumenta rejeição nas margens, onde não é bem avaliado. Seu desafio será o de diminuir drasticamente a rejeição, algo entre 15% a 20%. Mas a grande pergunta é : Russomanno sustentará seu índice ? Projeções Vamos à história. Em julho de 2008, Marta liderava o pleito, seguida por Geraldo Alckmin. Marta chegou a ter 35%, enquanto Alckmin exibia confortáveis 32%. O prefeito Kassab, que assumira no lugar de Serra, tinha 8%. Na oportunidade, este consultor fez para ele a leitura : poderia quebrar a polarização entre PT x PSDB por meio de uma campanha positiva, alegre, jovial, para cima. E assim ele fez. Subia degraus a cada pesquisa. Quebrou a polarização. Passou Marta Suplicy e desbancou Alckmin. A história derruba a tese de que a polarização é algo irremovível. Pode, sim, ser ultrapassada. Nesse caso, há possibilidades de crescimento para Fernando Haddad e Gabriel Chalita. Será difícil para Russomanno sustentar sua taxa. Terá apenas 2 minutos e alguns segundos de TV e rádio. TV, o comício eletrônico Que ninguém se engane. A TV será o maior cabo eleitoral da campanha municipal nos municípios que contam com mídia eletrônica. Será a vitrine de candidatos e de suas propostas. O fluxo de atenção obedecerá a uma lógica : início dos programas de rádio e TV (21 de agosto) até 5 de setembro, boa audiência. Eleitores querem saber quem é quem e quais são as propostas. De 5 a 20 de setembro, queda da audiência. O eleitorado, após tomar conhecimento das campanhas de cada candidato, faz um intervalo. Assiste, esporadicamente, alguns programas. À medida que a campanha se aproxima do final, a audiência tende a crescer. Os eleitores querem conferir abordagens e consolidar suas visões/julgamentos/decisões sobre candidaturas. Balança capenga Há mistério cercando os pesos da balança da Anatel. A Agência avaliou desempenho das operadoras, pede providências e compromissos com qualidade. Até aí tudo bem. Entre Claro, Vivo, TIM e Oi, esta última é a que apresenta menor índice de reclamação. Da moldura avaliativa, emerge a instigante questão : por que a Vivo não foi punida pela Anatel ? Há mais complexidade em alguns chips que imagina nossa pequena capacidade de compreensão. Desemprego e eleições Só agora começam a aparecer os primeiros sinais de desaceleração da economia, a partir do freio na indústria. O mercado de trabalho é o território dos efeitos. Anuncia-se, aqui e ali, fechamento de postos de trabalho. O desemprego começa a mostrar sua carranca. Eleições sob um pano de fundo de contingentes desempregados apontam para o perfil de um eleitor contrariado, nervoso, insatisfeito, indignado. Os danos serão mais visíveis nos maiores centros eleitorais, a partir de São Paulo. Mensalão e eleições O mensalão terá repercussão sobre o processo eleitoral ? A primeira leitura é a de que os eleitores conseguirão distinguir as coisas. Mas, nas capitais onde se constata polarização clássica entre petistas e tucanos, é previsível que o discurso do mensalão frequente a mesa dos debates. Haverá, como se sabe, alguns debates, promovidos pelas redes de TV. E é provável que o assunto acenda a polêmica principalmente na segunda metade de setembro. Parcerias Nas 85 maiores cidades do país - com mais de 200 mil eleitores - PMDB e PT dobraram as alianças. Nesse grupo, em 2008, o PMDB apoiava 10 candidatos petistas. Hoje, apoia 20. Já a recíproca mudou um pouco. Em 2008, o PT apoiava um peemedebista em 6 cidades. Hoje, endossa um peemedebista em 3 cidades. O PMDB também reduziu acordos com o PSDB. Já o PSB do governador Eduardo Campos diminuiu o apoio aos candidatos petistas, privilegiando seus próprios quadros. E manteve acordos com o PSDB e o PSD do prefeito Kassab. Resumo do quadro : PMDB dá sinais de expandir aliança com PT e PSB faz o caminho inverso, expressa distanciamento. Obama e a economia Barack Obama está com dificuldades de expandir o cofre da campanha. Em 2008, conseguiu juntar quase US$ 600 milhões. Hoje, não chegou a captar US$ 100 milhões. É a economia, estúpido. O empate com Mitt Romney tem como desenho de fundo a posição nada confortável da economia norte-americana. Pacto de não agressão ? José Serra quer firmar pacto de não agressão com Celso Russomanno. Quem acredita nisso ? Difícil. Na hora H, todos os candidatos puxam a navalha cortante da expressão. SOS para as crianças A cada ciclo de férias, a pauta de tragédias se expande. Continuam a morrer crianças em hotéis e parques de diversão no país nesses tempos de insegurança geral. É assustador ! A última morte foi segunda feira, em um hotel de Águas de São Pedro. Uma criança de 4 anos brincava num balanço. Uma das barras de sustentação do brinquedo caiu sobre a menina. O Estado não fiscaliza nem pune os desvios que se acumulam. Vidas humanas destruídas na esteira da irresponsabilidade. Vamos apoiar entidades como a ONG Férias Vivas (clique aqui), fundada por Fernando Pinto Zacharias e Silvia Maria Basile. Trabalho perde função Há greves em 7 ministérios, em agências e autarquias Federais. Calcula-se em 150 mil o número de servidores abarcados pelos movimentos. Pela lógica, o Ministério do Trabalho e Emprego seria a entidade a negociar com as lideranças das greves. Pois bem, o Ministério não cuida disso. A pasta está esvaziada. Primeiro, porque Dilma percebeu que ali é um território muito disputado pelas Centrais sindicais, a partir da Força Sindical. Por isso, baixou um decreto transferindo ao Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão a responsabilidade de negociar com os servidores públicos e gerir o cadastro nacional das entidades sindicais que representam o funcionalismo. Ou seja, o Ministério do Trabalho perdeu peso na frente de articulação com os servidores. 54º Congresso de Hotéis De 26 a 28 de julho, o CONOTEL 2012 reunirá autoridades, gestores e executivos da cadeia hoteleira para debater as principais questões do setor no Centro de Eventos Fecomercio, na capital paulista. Na abertura do evento, este consultor fará uma análise da conjuntura neste momento em que o setor conta com a aprovação do Plano Brasil Maior pela presidente Dilma Rousseff. O Congresso deve contar também com a presença de Valdir Moysés Simão, secretário executivo do Ministério do Turismo; Maurício Lucena Do Val, diretor de Políticas de Comércio e Serviços do MDIC; Marco Antônio Viana Leite do Ministério do Desenvolvimento Agrário; Valéria Barros, do SEBRAE Nacional; Ângela Pimenta Peres, do SESI; Enrico Ferni, presidente da ABIH Nacional; e Bruno Omori, da ABIH/SP. O evento é uma realização das quatro principais entidades do setor : ABIH Nacional (Associação Nacional da Indústria de Hotéis), FBHA (Federação Brasileira de Hospedagem e Alimentação), e FOHB (Fórum de Operadores Hoteleiros do Brasil e Resorts Brasil). Entre os temas abordados, "Brasil como ambiente macroeconômico para aceleração do turismo"; "Modelos internacionais da relação de parceria entre governo e hotelaria"; e "Inovação como ferramenta preventiva contra estagnação do mercado hoteleiro". Mais informações (clique aqui). Conselho às autoridades policiais Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos candidatos e seus assessores. Hoje, sua atenção se volta às autoridades policiais : 1. A insegurança voltou a provocar pânico em São Paulo. O momento é propício para uma profunda reflexão sobre a capacitação dos quadros policiais. Que devem receber urgente orientação/treinamento sobre condutas de abordagem dos cidadãos. 2. É inadmissível que os assustadores eventos policiais, que culminaram com o assassinato de um publicitário e de um imigrante italiano, sejam debitados na conta da banalização, como se fossem casos normais. A população quer ver atos e decisões substantivas voltadas para aperfeiçoar as ações da polícia. 3. Caso persistam as situações de extrema violência, como as que se viram em São Paulo, nos últimos dias, a indignação social culminará com o repúdio aos governantes do momento. E a arma que o povo usará será o voto. "Se tens um coração de ferro, bom proveito. O meu, fizeram-no de carne, e sangra todo dia". (José Saramago) "Gostar é provavelmente a melhor maneira de ter, ter deve ser a pior maneira de gostar". (José Saramago) "O que as vitórias têm de mal é que não são definitivas. O que as derrotas têm de bom é que também não são definitivas". (José Saramago) ____________
quarta-feira, 18 de julho de 2012

Porandubas nº 324

Abro a coluna com duas historinhas do insubstituível Sebastião Nery para aliviar o peso do texto de hoje : Montado na lei Quintino Cunha, famoso advogado e poeta, estava participando de um júri em Quixeramobim/CE. O promotor berrava na tribuna : - Senhores jurados, estou montado na lei. Quintino pede um aparte : - Vossa Excelência tenha cuidado para não cair, porque está montado em um animal que não conhece. O promotor se calou. Latitude Pedro Libery, vendedor de loteria, elegeu-se deputado estadual pelo PTB. Foi à tribuna fazer um discurso contra o prefeito de Curitiba : - As ruas estão esburacadas, sem luz e, à noite, os cachorros soltos, numa latitude que não deixa ninguém dormir. PSB versus PT Parecia que a querela entre PSB e PT se esgotaria após o jantar que a presidente Dilma ofereceu aos governadores Eduardo Campos, presidente do partido socialista, e a Cid Gomes, que comanda a sigla no Ceará. Campos até se esforçou para limitar a questão, argumentando que os casos de Belo Horizonte, Recife e Fortaleza deveriam ser analisados em sua especificidade, não devendo se estender à aliança nacional entre as duas siglas. Ocorre que a aliança entre PSDB e PSB, em BH, sinaliza um abraço de Márcio Lacerda em Aécio Neves e a abertura de uma portinhola para o futuro. Lacerda e Aécio são carne e unha. Aécio quer ser o tucano candidato contra Dilma. Saiu do Palácio do Planalto sem tirar a limpo a história. PMDB e PSD marcam posição O PMDB não teve dúvidas. O vice-presidente da República, Michel Temer, presidente licenciado do partido, ligou imediatamente para Leonardo Quintão e o demoveu da candidatura à prefeitura. E assim o PMDB, em um gesto rápido e radical, fechou parceria com o PT, compondo chapa com o ex-ministro Patrus Ananias. Quis dizer que aquilo era um gesto de fé na aliança para 2014 entre o PMDB e o PT. O mesmo fez o PSD do prefeito Gilberto Kassab. Mas o 2º vice do PSD, Robert Brant, acusou a guinada do partido em direção a Patrus e deixou a legenda. A 1ª vice-presidente, a senadora Kátia Abreu, também gritou. Ora, Kassab ajudou a quem o amparou na luta para formar seu partido : Lula e Dilma. Ambos deram força para a criação da legenda. O PSDB, por sua vez, posicionou-se contra a formação do partido, impetrando uma Ação de Inconstitucionalidade. Era uma resposta a Aécio Neves, patrocinador do candidato Márcio Lacerda. PSD na base governista A senadora Kátia Abreu parece não ter entendido a jogada do PSD. O partido sinaliza ingresso na base governista. Ora, a senadora tem feito elogios à presidente Dilma. Portanto, estaria confortável com a posição do partido no governismo. Ou acharia ela que o PSD deveria firmar parceria com o PSDB de Aécio Neves ? Como se sabe, a movimentação para unir Aécio e Eduardo Campos é visível. O prefeito de São Paulo pode, até, manter canais abertos com o governador de Pernambuco, mas, ao que se sabe, não toparia juntar-se à banda tucana do senador mineiro. A cota tucana de Kassab limita-se ao bico de José Serra. Kátia no PMDB A senadora Kátia Abreu sempre manteve portas abertas no PMDB. Tem boa articulação com o presidente licenciado do partido, o vice-presidente da República Michel Temer. Se sair do PSD para ingressar no PMDB, cumpriria apenas um rito já ensaiado há tempos, desde os tempos do DEM. Pesquisa em Recife O senador Humberto Costa, do PT, acaba de ser contemplado com 40% em pesquisa feita pelo IBOPE sobre a intenção de voto dos candidatos à prefeito. Mendonça Filho, do DEM, registra 20%. Em terceiro lugar, desponta o tucano Daniel Coelho, com 9% e o quarto lugar é ocupado pelo candidato do governador Eduardo Campos, o ex-secretário Geraldo Daniel, com 5%. Pois bem, esse consultor, olhando para as páginas do passado, lembra : resultados das primeiras pesquisas são bem diferentes de resultados das últimas pesquisas. Conclusão : os últimos poderão ser os primeiros. Não seria inimaginável nem impossível divisar Geraldo Daniel subindo o pódio. LDO, em cima da hora Esforço de última hora : MP 563, com pacote para indústria, votada na segunda-feira, destravou a pauta para votação da lei de Diretrizes Orçamentárias. Aprovada ontem. Recesso garantido. LDO teria de ser votada sob pena de suspensão do recesso. Bom senso prevaleceu. Oposições cederam. Redes sociais na campanha Neste pleito, a internet terá importância maior do que nas campanhas passadas. Redes sociais agora fazem parte da estratégia da maioria dos candidatos. O país tem mais de 50 mil usuários e a maior parte dos candidatos vai usar as redes sociais como nunca o fizeram. Mas é importante não abusar, pois a prática descarada deste meio pode ser um bumerangue, voltando contra o candidato. É preciso avaliar a identidade de cada canal. Em todo o Brasil são 5.565 municípios e muitos candidatos apostam na internet como forma de tentar compensar o fato de terem de dividir com aliados o tempo de propaganda obrigatória na TV. Exemplo disso é a disputa à prefeitura do RJ, na qual após a aliança entre 20 partidos, o atual prefeito terá mais da metade dos 30 minutos de propaganda eleitoral na TV. Como usar Site e sistema para doações on-line também serão explorados durante o ano eleitoral. O maior caso de sucesso do gênero foi o da candidatura do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama. Em pouco mais de um ano e meio, Obama arrecadou US$ 500 milhões em doações pela internet. As redes sociais, no entanto, devem ser usadas de modo responsável. Cuidado com agressões. A linguagem deve ser clara, objetiva. Os candidatos devem ser sinceros, respeitar a oposição e mostrar suas diferenças em relação a adversários. Ser criativo, aceitar debates e não temer a discussão de problemas também arrematam os conselhos. A massificação da internet é positiva também para os eleitores, que terão mais tempo e fontes diferentes para pesquisar a respeito dos candidatos e suas estratégias. Oficialmente, a mídia eleitoral começa em 17 de agosto, mas na internet a disputa começou bem mais cedo. Planejamento de campanha O planejamento de uma campanha abriga todos os aspectos de uma campanha política, com a inclusão das metas, objetivos, estratégias, táticas, meios e recursos, equipes e estrutura de operação, sistema de marketing, estudo dos adversários, etc. O mais importante é o foco sobre os eixos do marketing eleitoral, aqui apresentados : a pesquisa, a proposta de discurso (os programas), a comunicação, a articulação e a mobilização. A pesquisa objetiva mapear interesses e expectativas do eleitorado. É vital para estabelecer e/ou ajustar o discurso do candidato. Sem pesquisa, atira-se no escuro. A pesquisa qualitativa tem a vantagem de descobrir os mapas cognitivos dos eleitores, aquilo que eles estão pensando. É fundamental, na medida em que o mapeamento do sistema de interesses e expectativas do eleitorado deverá ser o centro do discurso. A pesquisa quantitativa mede apenas intenção de voto, em determinado instante. O discurso Feita a radiografia do eleitorado, passa-se a formar o discurso e a ajustar a identidade do candidato, que é soma de seus valores, de suas qualidades, de sua formação, história e compromissos. Esta identidade deverá embasar todo o programa de governo. Ou seja, o ideário a ser implementado. A seguir, esse conjunto de ideias precisa ser comunicado. As propostas do candidato deverão ser apresentadas ao eleitor, via TV, rádio e outras formas. Candidato que não tem identidade, não tem eixo, não tem esqueleto, coluna vertebral. Quando o eleitor capta a ideia central de um candidato, começa a entrar no sistema de signos da campanha, fator que funcionará como indutor importante na decisão de voto. Daí a importância da televisão e de um programa criativo. Nesse caso, aparecem bem os profissionais de marketing político com experiência de TV. Mas campanha política não é apenas comunicação de TV e rádio. E aqui aparece a primeira grande confusão do marketing. Mobilização e articulação Não adianta apenas saber fazer bons programas de TV. São ferramentas essenciais, mas não exclusivas. Outros eixos são importantes : a mobilização, caracterizada pelos eventos, comícios, showmícios, reuniões, encontros do candidato com as massas. E há, ainda, o eixo da articulação, que aparece na formação de alianças, nas parcerias com associações e sindicatos, enfim, com as entidades organizadas da sociedade civil. Sem a combinação desses cinco eixos fundamentais, as campanhas ficarão capengas, tortas, frouxas. Muito cuidado para evitar campanhas que pendem mais para um lado que para outro. Ao consultor cabe fazer uma completa análise dos pontos fortes e fracos dos candidatos, de forma a potencializar seus valores e qualidades e minimizar seus defeitos. Deve-se ter uma visão externa mais abrangente, de fora para dentro, a fim de se evitar privilegiar certas áreas em detrimento de outras. Marketing ganha campanha ? Marketing não ganha campanha. Quem ganha campanha é o candidato. Marketing ajuda um candidato a ganhar a campanha, ao procurar maximizar seus pontos fortes e atenuar seus pontos fracos. O marqueteiro, aliás, profissional de marketing, (não gosto do designativo porque tem conotação pejorativa) é importante, na medida em que funciona como um estrategista que define linhas de ação, orienta a escolha do discurso, ajusta as linguagens, define padrões de qualidade técnica, sugere iniciativas e até pondera sobre o programa do candidato, os compromissos e ações a serem empreendidas. O profissional de marketing precisa, sobretudo, ser um profissional com visão sistêmica de todos os eixos do marketing. Que não entenda uma campanha apenas como um apelo publicitário, uma proposta de marketing televisivo. Que seja capaz de visualizar os novos nichos de interesse de uma sociedade exigente, crítica e sensível aos mandos e desmandos dos governantes. Cuidado com o marketing capenga Um bom marketing ajuda a eleger, mas é o candidato quem se elege. Marketing mal feito, ao contrário, ajuda um candidato a perder as eleições. Não adianta um bom marketing se o candidato é um boneco sem alma. Candidato não é sabonete. Tem vida, sentimentos, emoção, choro e alegria. Portanto, muita coisa depende dele, de sua alma, de seu calor interno, de sua identidade. Marketing há de absorver essas condições para evitar transformar pessoas em produtos de gôndolas de supermercado. Em um primeiro momento, a inserção publicitária na TV até pode exibir o candidato de forma mais genérica, por falta de tempo para expor conteúdo. Mas o eleitor não se conformará com meros apelos emotivos e chavões-antigos, como os usados para embalar perfis saturados (candidatos beijando crianças e velhinhos, takes em câmera lenta mostrando o candidato no meio do povo, etc.). Candidato ideal O eleitor está à procura de um candidato com as seguintes qualidades : experiência, honestidade ; vida limpa e passado decente ; assepsia; equilíbrio/ponderação ; preparo; coragem/determinação ; autoridade (não confundir com autoritarismo). Há uma saturação de perfis antigos, que usam as esteiras da velha política. O eleitor quer ver perfis mais identificados com suas grandes demandas : segurança, saúde, educação, melhoria das condições de vida nas regiões, nos bairros, nas ruas. Quem apresentar propostas mais condizentes com as necessidades do eleitor terá melhores condições de ser escolhido. Fases de uma campanha As principais armas de um profissional de marketing político para ajudar uma campanha são : capacidade e sensibilidade para captar, com muita propriedade, as indicações das pesquisas ; visão abrangente de todos os eixos de uma campanha, não se atendo apenas aos programas de TV, como muitas vezes ocorre com os publicitários engajados nas campanhas; poder de influência sobre o candidato, principalmente no que concerne ao foco do discurso; ter noção adequada do timing de campanha, ou seja, das seguintes fases : lançamento do candidato (junho), crescimento (julho), consolidação (agosto/setembro), auge/clímax (final de setembro/semana da eleição), declínio. Este é o ciclo de vida de uma campanha. Se o declínio ocorrer antes da semana da eleição, não tem quem sustente a posição do candidato. Um candidato que se preocupa apenas com o primeiro turno, poderá morrer antes de chegar à praia. É preciso saber ouvir o som do vento. Quando o vento sopra numa direção, de crescimento, por exemplo, não há força que consiga deter seu rumo. Conselho aos candidatos e assessores Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos parlamentares. Hoje, sua atenção se volta aos candidatos e seus assessores : 1. Atentem para os 5 eixos do marketing. 2. A identidade do candidato deve ser verdadeira, não artificial. 3. Ajustem os eixos da campanha em cada fase. Façam avaliações periódicas. ____________
quarta-feira, 11 de julho de 2012

Porandubas nº 323

Faltam 8 contos Vereador em Itiruçu/BA, estava duro. A seca tinha comido tudo. Sem dinheiro para a feira foi pedir ao prefeito Pedrinho. Pedrinho brincou : - Por que você não pede a Jesus Cristo ? Ele não é o pai dos pobres ? Voltou para casa, escreveu a Jesus Cristo pedindo 50 contos. Endereçou : "Para Nosso Senhor Jesus Cristo". E pôs no correio. No correio, abriram a carta, levaram para o bar. Lá fizeram uma vaquinha, apuraram 42 contos, registraram e mandaram para o vereador. Quando ele abriu viu os 42 contos, sentou-se e escreveu nova carta : "Nosso Senhor; agradeço muito sua atenção. Recebi o dinheiro que lhe pedi. Mas rogo o seguinte : se o senhor for mandar dinheiro novamente, faço o obséquio de mandar em cheque, porque, dos 50 contos, o pessoal do correio meteu a mão em 8". (Mais uma do grande Sebastião Nery) Pressão da CUT O novo presidente da CUT, ex-bancário Vagner Freitas, promete mobilizar suas bases e ir às ruas caso a decisão do STF não obedeça a critérios técnicos. A pressão da sociedade organizada para fazer valer suas ideias até pode ser compreensível. No caso da CUT, a suspeita emerge com força. Primeiro ponto : se o Supremo condenar mensaleiros, a decisão seria política ? Pelo que se infere, apenas a absolvição seria aceita pela CUT, porque estaria estribada em critérios técnicos. Risível essa posição da CUT. Segundo ponto : pode uma entidade que recebe dinheiro público fazer campanha por perfis, pessoas, partidos ? A CUT recebe uma dinheirama do imposto sindical. Atentem para esse termo : imposto. O Estado impõe a tal contribuição de um dia de trabalho. Tira de todos os assalariados. Portanto, trata-se de um imposto, que é repassado para as Centrais. Para que servem as Centrais ? As Centrais Sindicais, afinal de contas, são órgãos inseridos no organograma do sindicalismo ou do partidarismo político ? Podem fazer movimentações partidárias, pedir voto, apoiar ou condenar pessoas ? A se considerar o foco - coordenação sindical, defesa de interesses de trabalhadores, mobilização das categorias sindicalizadas - desviar-se dessas funções seria algo não recomendável. Mas, por estas plagas, tudo é permitido inclusive o que é proibido. Ora, o presidente da CUT, Artur Henrique, que deixa o cargo, já disse alto e em bom som que a entidade não vai permitir que os tucanos voltem ao poder. Que proibição é essa ? Tem a CUT força institucional para proibir que um partido político volte a ganhar o centro do poder ? Não. De lorota em lorota, cada qual faz sua afronta. E o que a CUT poderia efetivamente fazer se outro partido, que não o PT, chegasse ao poder pelo voto ? Chamaria os militares para um golpe ? Falar de si "Falar muito de si mesmo também é um meio de se esconder". Nietzsche "Cala a boca" ao voto aberto O STF não permite que nenhum senador abra o voto no processo de cassação do senador Demóstenes Torres. Que coisa, hein ? Mas é útil recordar que Demóstenes abriu o bico por ocasião do processo de cassação contra o senador Renan Calheiros, que renunciara à presidência do Senado. Dizia ele na ocasião que se Renan não serve para presidir a Casa, também não serve como senador. Ou seja, proclamou seu voto contra o alagoano. Agora, ao que se infere, ancora-se na proibição do voto aberto para tentar salvar o mandato. A lei e suas circunstâncias. Cada roca com seu fuso. Você é um gato Alguém acusou Toninho Cabral de não ser filho da cidade. Ele era vereador em Campina Grande. Na tribuna, defendia-se : - Nasci em Cabaceiras, é verdade, mas vim abrir os olhos em Campina Grande. Um desafeto o aparteou lá do fundo : - Vossa Excelência não é um homem, é um gato. Sabe por quê ? Gato abre os olhos oito dias depois de nascer. Campos abre o verbo O governador de Pernambuco, Eduardo Campos, que comanda o PSB, manda o recado : apoia a presidente Dilma, mas quer autonomia político-partidária. Ou seja, abre uma fresta para contemplar o horizontes de 2014/2018. Por enquanto, mostra-se firme na base governista, mas faz cálculos : se o PT continuar a querer ver os partidos da base como vassalos, ele, Campos, retirará seu exército do campo de batalha governista. A verdade é que Campos e Aécio Neves ensaiam passos largos na direção do amanhã. Ele tem um sonho : reunir o grupo pós-64 sob a mesma bandeira. 11/12 avos "Onze doze avos de todos os grandes homens da história eram apenas representantes de uma grande coisa". Nietzsche Temer, eficiência na articulação Enquanto o PSB se afasta do PT, em Belo Horizonte, o PMDB dele se aproxima. O vice-presidente da República e presidente licenciado do partido, Michel Temer, de maneira discreta, como é seu estilo, e ágil, costurou o apoio do PMDB ao PT com a indicação do vice na chapa de Patrus Ananias. O PMDB trabalha de maneira pragmática, habilitando-se a continuar como parceiro preferencial do PT. Ganha, em consequência, amplo apoio de lideranças petistas, que começam a desconfiar das intenções do governador pernambucano. PMDB unido Aliás, a taxa de unidade do PMDB é inédita. É comum ouvir-se : o PMDB está mais unido hoje do que nos próprios tempos do dr. Ulysses. E avança em territórios que foram praticamente abandonados, a partir de SP, onde espera eleger cerca de 100 prefeitos e conta com um candidato competitivo em São Paulo, o deputado Gabriel Chalita. Economia às escuras A moldura da economia no segundo semestre poderá ficar às escuras. Queda no crescimento, refluxo na indústria - 6,9% de abril para maio, a nona queda consecutiva. Sinais de alerta por todos os lados. Queda também na arrecadação : R$ 20 bilhões a menos em junho. E, como empurrão, o governo libera o maior lote de restituições de IR - R$ 2,6 bilhões, irrigando as contas de 2,46 milhões de contribuintes. Macaco "O homem é sempre mais macaco do que qualquer macaco". Nietzsche Lupi sob ameaça ? O ministro do Trabalho, o deputado Brizola Neto, quer desbancar Carlos Lupi, ex-ministro da Pasta, do comando do PDT. Promete disputar o cargo em março de 2013. Paulinho da Força deve firmar posição ao lado do ministro. Bons ventos Em tempos de crescimento sustentável, as ações voltadas para o plano energético ganham musculatura na carteira de investimentos públicos. O Brasil colhe bons ventos no horizonte econômico e agora começa a soprar, também, na nossa matriz energética. O potencial natural para parques eólicos é imenso. O norte-nordeste brasileiro é privilegiado nesse aspecto. A senadora baiana Lídice da Mata comemorou, em discurso recente no Congresso, a inauguração de um complexo eólico em seu estado. O projeto na região de Caetité, com 14 parques eólicos, é o maior da América Latina e tem capacidade para atender uma cidade com 540 mil residências ou mais de dois milhões de habitantes. São os novos ventos soprando a favor. PSD na base governista O PSD dá mais um passo em direção à base governista. A aliança com o PT, em Belo Horizonte, constitui mais um passo nessa direção. O prefeito Kassab mantém boas relações com o ex-presidente Lula e com a presidente Dilma. A decisão de firmar apoio ao candidato do PT em BH, Patrus Ananias, contrariou o ex-deputado Roberto Brant, que se afasta do partido. E gera a dissidência da vice-presidente do partido, a senadora Kátia Abreu. A habilidade do prefeito paulistano, que preside o partido, entrará em cena para acalmar os correligionários. Quem conhece a capacidade de articulação do prefeito sabe que as coisas se acomodarão. A conferir. Parasita "Quase todo ser vivo contém um parasita". Nietzsche CPI das Águas Correntes Ontem, encerrou-se o primeiro ciclo da CPI das Águas Correntes. A CPI só ressurgirá após o recesso de julho. Entre ditos e desditos, verdades e versões, achados e perdidos, patinação e navegação nas águas turvas, as coisas ainda permanecem confusas. Afora a quase certeza da cassação do senador Demóstenes e a desclassificação da empresa Delta como grande prestadora de serviços ao Governo, ainda não se tem noção dos resultados. Mas o clima de agosto tende a ficar mais quente. Desta feita, por conta da temperatura eleitoral mais elevada. Marketing : os 5 eixos Cumprindo compromisso firmado nesta coluna e no twitter, este consultor passa a fazer pequenas inflexões sobre a campanha. Lembro, sempre, os cinco eixos do marketing eleitoral : pesquisa, formação do discurso (propostas), comunicação (bateria de meios impressos - jornalísticos e publicitários - e eletrônicos), articulação política e social e mobilização (encontros, reuniões, passeatas, carreatas, etc.). A mobilização dá vida às campanhas. Energiza os espaços e ambientes. A articulação com as entidades organizadas e com os candidatos a vereador manterá os exércitos na vanguarda. A comunicação é a moldura da visibilidade. Principalmente em cidades médias e grandes. Sem ideias, programas, projetos, os eleitores rejeitarão meros blá-blá-blás. E, para mapear as expectativas, anseios e vontade, urge pesquisar o sistema cognitivo do eleitorado. Logomarca, slogan e música A logomarca é a vestimenta do candidato. Que abriga a estética da campanha, com as cores básicas e o ideário do candidato, expresso em palavras-chave. Esse conjunto carece de criatividade, harmonia e naturalidade. Se exagerar no artificialismo, será detectado pelo sistema cognitivo dos eleitores. As cores sairão da matriz cromática do partido do candidato. E o arremate será dado pela música, que funciona como o canal sonoro, a levar o nome e os conceitos centrais que envolvem a candidatura. Jumento que transportava sal Um jumento carregado de sal atravessava um rio. A certa altura escorregou e caiu na água. Então o sal derreteu-se e o jumento, levantando-se mais leve, ficou encantado com o acontecido. Tempos depois, chegando à beira de um rio com um carregamento de esponjas, o jumento pensou que, se ele se deixasse cair outra vez, logo se levantaria mais ligeiro; por isso resvalou de propósito e caiu dentro do rio. Todavia ocorreu que, tendo-se as esponjas embebido de água, ele não pôde levantar-se, e morreu afogado ali mesmo. Assim também certos indivíduos não percebem que, por causa das suas próprias astúcias, eles mesmos se precipitam na infelicidade. (Esopo) Conselho aos parlamentares Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado ao governador de Pernambuco, Eduardo Campos. Hoje, sua atenção se volta aos parlamentares. Abre-se, daqui a pouco, o recesso parlamentar. Tempos de auscultar os pulmões sociais. Tempos de ouvir as bases. Procurem, nesse intervalo de férias e descanso, atentar para os seguintes aspectos : 1. Quais são as expectativas, anseios e desejos do eleitorado. 2. Conferir se os brasileiros, na véspera de uma campanha eleitoral, expandiram a taxa do Produto Nacional Bruto da Felicidade ou, ao contrário, estão tomados pela desesperança. 3. Orientem seus candidatos a apresentar propostas críveis e factíveis ao eleitorado. ____________
quarta-feira, 4 de julho de 2012

Porandubas nº 322

Bucéfalo Esta historinha chegou aos meus ouvidos pela narração de um observador atento da política potiguar. Luís Gomes/RN, cidade onde este escriba nasceu. Década de 70. Cenário : plenário da Câmara Municipal. Aécio Batista, conhecido por Barichon de Giron (na linguagem dos ciganos que viviam na região), dentista e vereador, dispara contra o adversário um verbete desconhecido no plenário : - Vossa Excelência é um bucéfalo. Pego de surpresa, o adversário, ressabiado, retrucou : - O que vossa Excelência quer dizer com esse termo ? Se for adulativo, muito obrigado a vossa Excelência, com os meus cumprimentos à sua genitora e aos seus irmãos e irmãs; agora, se for atacativo, vá para a pqp, seu fdp. O presidente da sessão mandou trazer um dicionário. Lá estava : "indivíduo ignorante, rude ou pouco inteligente". Era atacativo. Os dois se atracaram no plenário. Quase saiu tiro. A palavra bucéfalo foi abolida daquele Parlamento. Sob pena de risco de nova tragédia. Não consigo conter o riso. Era uma vez...Mil vezes Agradeço às amigas e amigos que compareceram ao evento de lançamento do meu livro "Era uma vez Mil Vezes...O Brasil de Todos os Vícios". A Livraria Cultura da av. Paulista estava cheia. Agradeço, igualmente, às autoridades que estiveram ali presentes, grandes amigos, a partir do vice-presidente da República, Michel Temer; governador de São Paulo, Geraldo Alckmin; prefeito da capital paulistana, Gilberto Kassab; e José Police Neto, Netinho, presidente da Câmara Municipal. Registro a presença de amigos empresários, a partir do presidente da FIESP/CIESP, Paulo Skaf. E a muitos que vieram de longe. Agradeço, ainda, ao José Mário e a Topbooks a magnanimidade pelo acolhimento ao livro, tão bem editado. História de ontem A fumaça espessa começa a se diluir. Não ainda de modo a permitir distinguir com clareza a linha do horizonte. Refiro-me aos interesses do PSB e do PT. Faço esta reflexão. Historicamente, os dois partidos têm atuado juntos. Consideram-se unidos pelo cordão de esquerda. Logo, irmanam-se no ideal de manter a integração de suas bandeiras, até porque sentem que não chegou o momento de entregar a rapadura às oposições. Esse é o primeiro ditame. Vamos ao outro : Eduardo Campos, poderoso mandachuva do PSB, neto de Miguel Arraes, e Luiz Inácio Lula da Silva consideram-se irmãos. Nos ideais, lutas, anseios e expectativas. Terceiro argumento : ambos são nordestinos e pernambucanos. Lula despejou um caminhão de dinheiro em Pernambuco durante os 8 anos de seu mandato. Pernambuco perdia o lugar de líder do Nordeste para o Ceará. Com os altos investimentos, recuperou a liderança. História de hoje Portanto, Eduardo Campos é uma espécie de irmão mais novo de Lula. A cada momento crítico, corre para ouvir seu guru. E Lula vai administrando as querelas, dando conselhos, mostrando os caminhos. Mas a política tem curvas. Nem sempre as retas traçadas podem ser seguidas. O PSB, então, quer mudar o percurso. Sua meta é tomar o lugar do PMDB como parceiro preferencial do PT. Isto é, indicar o vice de Dilma em 2018. Que seria o próprio Eduardo Campos. A condição pode ser definida pelo ditado : cresça e apareça. Por conseguinte, o PSB quer fazer uma baciada enorme de prefeitos. Se fizer bonito no campo eleitoral, habilita-se a tomar o lugar do PMDB. É isso que explica o fato de o PSB ter candidatos em 11 capitais. Em 2008, tinha candidatos em apenas 7. "Nenhum deles tem caráter : o que se podia fazer ? Tiveram de roubar um". (Friedrich Nietzsche) Rompimento simbólico É evidente que para ter performance mais competitiva adiante, o PSB precisa expandir seu cacife. Nesse momento, a interlocução de irmãos não funciona entre Campos e Lula. Importa, agora, é agir com pragmatismo. Em Belo Horizonte, por exemplo, rompe-se o acordo entre os dois partidos. Aécio Neves, que apoia a reeleição de Marcio Lacerda, não aceitou a coligação entre PT e PSB para o chapão de vereadores. PT caiu fora da aliança e quer, agora, indicar o vice-prefeito, Roberto Carvalho. Ou, em seu lugar, Patrus Ananias. Resumo : PT e PSB procuram fazer suas arrumações pensando, cada qual, em 2014. Lula gostaria que o vice da Dilma fosse Eduardo Campos. Que já internalizou a ideia : para isso, precisa ter cacife. "Quem não tem nada para fazer, um nada já lhe dá o que fazer". (Friedrich Nietzsche) PMDB olha de soslaio O PMDB está atento aos movimentos do PSB. Sabe que se conseguir eleger a maior planilha de prefeitos, será, mais uma vez, a noiva cobiçada. Terá candidatos em 2.800 municípios. Se consolidar sua posição de maior partido, será difícil Eduardo Campos querer pleitear posição na chapa petista. Ademais, os acenos de Eduardo Campos na direção do tucano Aécio Neves começam a incomodar núcleos do petismo. Sabe-se que Campos e Neves mantêm uma sólida amizade, construída lá atrás quando os avôs de ambos, Miguel Arraes e Tancredo Neves, tricotavam o tecido político. Também se sabe que a relação entre Campos e Dilma é muito diferente - e distante - da relação que o governador de Pernambuco mantinha com o pernambucano Luiz Inácio. "Quem sempre se cuidou muito acaba ficando doente de tanto cuidado". (Friedrich Nietzsche) Bicos tucanos rachados Está ficando muito difícil a convivência entre as alas de Geraldo Alckmin e José Serra, com prejuízo na linha de frente do engajamento na campanha para a prefeitura. Tudo porque Serra aceitou a indicação do PSD do prefeito Kassab : Alexandre Schneider como vice de Serra. A indicação tem lógica : o ex-secretário de Educação da prefeitura é um perfil que se contrapõe ao perfil jovial de Haddad, do PT. Entende do "riscado" da Educação, podendo, dessa forma, ser uma voz autorizada a falar sobre o tema. Ademais, o PSD, com a conquista do tempo eleitoral obtida no STF, cederá mais de 2 minutos de mídia eleitoral ao PSDB. Tem lógica a escolha de Serra. Câmaras inchadas Este ano, o país ganhará mais 5.070 vereadores, pulando de 51.748 para 56.818. O aumento do número de vereadores se deve à EC 58, aprovada em 2008, pela qual o número de cadeiras nas Câmaras em 2012 seria calculado com base na população aferida pelo IBGE em 2011. Dilma no auge Recorrente questão a que respondo em entrevistas sobre a crescente popularidade da presidente Dilma : 1º) o eleitor expressa opinião de acordo com a geografia do voto - bolso, estômago, coração, cabeça. Bolso com a grana do Bolsa-Família significa geladeira cheia, estômago saciado, coração agradecido e cabeça simpática ao patrocinador; 2º) Conceitos abstratos - que incluem ameaças de crise econômica - não batem no sistema cognitivo do eleitor. A não ser que esvaziem seu bolso; 3º) Eventuais efeitos de crise na frente econômica chegam ao bolso do eleitor muito tempo depois; 4º) Perfil técnico de Dilma passa ao cidadão a imagem de perfil asséptico, moral e ético. A ovelha tosquiada Uma ovelha que estava sendo tosquiada desastradamente disse ao tosquiador : "Se é a minha lã que tu queres, corta mais alto; porém se é a minha carne que tu desejas, então mata-me de uma vez, e para de me torturar aos poucos". Esta fábula é adequada àqueles que exercem desajeitadamente o seu ofício. (As fábulas de Esopo) Aécio na moita Quem deu uma encolhida na mídia foi o senador Aécio Neves. Mas os olheiros passam a informação : passou aqui, foi ali, esteve acolá. Sempre às escondidas. O fato é que está fazendo articulação. Procura reforçar laços com o PSB, de Eduardo Campos. E o PSD, hein ? Mais uma vez, o prefeito Gilberto Kassab deu ampla demonstração de competência. Criou, em tempo recorde, um partido com mais de 50 deputados. Diziam que esse ente não sobreviveria por não ter chances de ganhar mídia eleitoral e recursos. Ganhou uma coisa e outra. O partido, mesmo apoiando Serra em São Paulo, integrará a base de apoio do governo Dilma. O prefeito tem com ela uma boa relação de respeito e cordialidade. Lula também tem boa relação com Kassab. Qual o futuro desse partido ? Fusão ou bloco ? Fusão, nem pensar. O partido poderá, isso sim, pensar na formação de um bloco. Tudo vai depender dos resultados de outubro. Há quem fale bastante na formação de um bloco com o PSB, de Eduardo Campos. Difícil ocorrer. O prefeito Gilberto Kassab mantém intensa interlocução com o vice-presidente da República, Michel Temer. No futuro, se os projetos de Michel e Eduardo entrarem em choque, este analista não tem dúvidas : Kassab se inclinará pelo projeto do presidente licenciado do PMDB. A vida é breve "O fato é o seguinte : não recebemos uma vida breve, mas a fazemos, nem somos dela carentes, mas esbanjadores. Tal como abundantes e régios recursos, quando caem nas mãos de um mau senhor, dissipam-se num momento, enquanto que, por pequenos que sejam, se são confiados a um bom guarda, crescem pelo uso, assim também nossa vida se estende por muito tempo, para aquele que sabe dela bem dispor". (Sobre a Brevidade da Vida - Sêneca) Grecca Rafael Grecca, candidato do PMDB a prefeito de Curitiba, é um dos mais criativos perfis da administração pública brasileira. D'Ávila Manuela D'Ávila abre boas possibilidades em Porto Alegre. Perfil afável. E não tem medo de gastar sola de sapato. Chalita Desenvolto, gastando sola na periferia paulistana, o deputado Gabriel Chalita abre bons espaços em sua pré-campanha. Irradia simpatia. Haddad Fernando Haddad, por sua vez, continua apartando as querelas entre alas petistas. E a responder questões polêmicas ligadas à Educação. Agora, parte para a briga com o vice de Serra, Alexandre Schneider. Que jogou uma isca na direção dele. Fisgada. Russomano Se Celso Russomano/PRB conseguir segurar o índice de 20% até meados de setembro, será uma grande surpresa. Escolheu um vice denso, preparado e fluente : Luiz Flávio Borges D'Urso/PTB. Dez truques Dez truques dos hereges para responder sem confessar : 1) A primeira consiste em responder de maneira ambígua. 2) O segundo truque consiste em responder acrescentando uma condição. 3) O terceiro truque consiste em inverter a pergunta. 4) O quarto truque consiste em se fingir de surpreso. 5) O quinto truque consiste em mudar as palavras da pergunta. 6) O sexto truque consiste numa clara deturpação das palavras. 7) O sétimo truque consiste numa autojustificação. 8) O oitavo truque consiste em fingir uma súbita debilidade física. 9) O nono truque consiste em simular idiotice ou demência. 10) O décimo truque consiste em se dar ares de santidade. (Manual dos Inquisidores - escrito por Nicolau Eymerich em 1376. Revisto e ampliado em 1578 por Francisco de La Peña) PMDB e PT nas capitais O PMDB terá candidatos em 12 capitais; em 2008, tinha candidatos em 13. PT terá candidaturas em 17; em 2008, disputava em 19. No Rio No Rio de Janeiro, uma parte do PT deverá apoiar o candidato do PSOL, deputado Marcelo Freixo. Também uma ala do PDT, ligada ao Movimento de Resistência Leonel Brizola, já anunciara apoio ao deputado estadual. DER e os lotes O DER de São Paulo vai contratar, selecionadas por técnica e preço, 14 empresas para fiscalizar 14 lotes de obras rodoviárias. As notas técnicas já foram publicadas. 14 empresas diferentes tiveram as maiores notas. As mesmas 14 tiveram notas menores nos outros 13 lotes em que não obtiveram a maior nota. Surpreende que a competência de cada empresa se manifeste apenas em 1 lote de 14 ! A velha competência - ou se tem ou não. É isso ? Brizola Neto Setores de serviços estão agradavelmente surpresos com o desempenho do deputado Brizola Neto no comando da Pasta do Trabalho. Têm sido bem acolhidos pelo ministro. Como iria eu sabê-lo ? Cassado pelos militares na primeira lista do golpe de 64, Jânio passou longas temporadas na Europa, sobretudo Londres. Um dia, ia pela Champs Elysées, em Paris, um grupo de turistas brasileiros o viu. Um deles perguntou : - Presidente, o senhor sabe quem sou eu ? Jânio ficou com ódio, arregalou os olhos : - Ora, meu caro, se você, que é você, não sabe quem você é, como iria eu sabê-lo ? E seguiu em frente. ( Da verve do Sebastião Nery) Conselho ao governador Campos Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos marqueteiros. Hoje, sua atenção se volta ao governador de Pernambuco, Eduardo Campos : 1. Quem tudo quer tudo perde. Não vá com muita sede ao pote. A impressão é de que você, no intuito de alargar a avenida de 2014, passa com a moto-niveladora por cima de tudo (acordos) e de todos (inclusive parceiros). 2. Cada coisa no seu tempo. A política obedece a um ciclo de cinco fases : lançamento de uma ideia (perfil), crescimento, consolidação/maturidade, clímax e declínio. Muitos declinam antes do clímax. Um perigo. 3. A coerência ainda é uma virtude da política. Procurar preservá-la continua a ser um bom conselho. Tenha mais cautela. Afinal, cautela e caldo de galinha não fazem mal a ninguém. ____________
quarta-feira, 27 de junho de 2012

Porandubas nº 321

Começo com a graça do grande José Américo de Almeida, um dos maiores tribunos brasileiros. Margarida Vasconcelos, eleita Miss Paraíba, foi visitar o velho José Américo, joalheiro de palavra e autor de A Bagaceira, no casarão avarandado da praia de Tambaú, em João Pessoa. Chegou falando muito, falando demais, maltratando o português e as ideias. Queria conselhos : - Doutor José Américo, o que o senhor me recomenda para eu representar bem o Estado no concurso de Miss Brasil, lá no Rio ? - Minha filha, você quer mesmo um conselho ? Então fale o menos possível. E, se puder, não abra a boca. Era uma vez... mil vezes Amanhã, quinta-feira, 28, lançarei meu livro "Era uma vez mil vezes - O Brasil de todos os vícios" na Livraria Cultura do Conjunto Nacional, no bairro dos Jardins, em São Paulo. Publicado pela editora Topbooks, é uma leitura vertical, dividida em cinco capítulos, da política brasileira. Na capa, apresentações escritas pelos admiráveis amigos Jorge Gerdau, Delfim Netto, Dora Kramer, Ricardo Noblat, Maria Adelaide Amaral e Carlos Eduardo Lins da Silva. "Era uma vez mil vezes..." expõe uma reflexão sobre o país com base nos costumes da sociedade e nos padrões da política nacional. Todas as amigas e amigos leitores dessa coluna estão convidados. Lançamento do livro "Era uma vez mil vezes - O Brasil de todos os vícios" 28 de junho de 2012, 19hConjunto Nacional - Livraria Cultura (av. Paulista, 2.073, SP)Informações: (11) 3170-4033 (Livraria Cultura) ou (11) 5053-6100 (GT Marketing) Malulismo Paulo Maluf chega ao paraíso. Nunca foi tão autossuficiente como nesses dias de confraternização com o PT e Lula. Acaba de dizer : "Eu, perto do PT, sou comunista". O comunista Maluf é apenas uma firula que quer dizer : vocês acreditam sinceramente que o PT ainda é um partido ideológico? Há muito que o PT jogou sua ideologia pelos desvãos da velha cultura política brasileira. Todos os partidos se juntam no caldeirão do cozido doutrinário. O malulismo - mescla do malufismo com o lulismo - constitui a manifestação mais avançada da pasteurização que invade a esfera partidária. Maluf é o profeta desses tempos cada vez mais inacreditáveis. Mil caminhos existem Mil caminhos existem, que ainda não foram palmilhados, mil saúdes e ocultas ilhas da vida. Ainda não esgotados nem descobertos continuam o homem e a terra dos homens. (Assim falou Zaratustra - Friedrich Nietzsche) Pressões e contrapressões O ministro Ricardo Lewandowski se queixa de pressões que estaria recebendo por parte da mídia e da própria presidência do STF. Diz que não se rege por pressões. Que cumpre a agenda de sua consciência. Compreende-se. Mas a agenda formada pelo ministro Ayres Britto, presidente da Corte, foi aprovada por maioria dos membros. Afinal, o processo do mensalão está quase caindo de maduro da árvore da lerdeza. São sete anos de espera. Lewandowski entregou ontem a sua revisão, que é uma leitura atenta do voto do ministro Joaquim Barbosa, sujeito a ajustes e abordagens diferenciadas. Pelo andar da carruagem, o julgamento entrará no mês de setembro. Lembre-se que 3 de setembro é a reta final do ministro Peluso no Supremo. Aposentadoria compulsória. A favor de um e contra outro Um príncipe também é estimado quando é um verdadeiro amigo ou um verdadeiro inimigo, isto é, quando, sem temor algum, declara-se a favor de um e contra outro. Esse partido é sempre melhor do que se manter neutro, porque, se dois poderosos vizinhos a ti entrarem em guerra, e um deles vencer, das duas uma : ou tens o que temer do vencedor, ou não. (O Príncipe - Nicolau Maquiavel) PSB e PT tomam distância O PSB e o PT começam a tomar distância no espaço político-partidário. A partir deste último. Os partidos se afastam em pleitos, onde, até então, caminhavam juntos : Fortaleza, João Pessoa e Recife. O caso mais impactante é o do Recife, onde o PSB garantira o apoio ao PT, caso o candidato fosse o ex-deputado Maurício Rands. João da Costa ganhou as prévias. O PT acabou pedindo aos dois que se retirassem do pleito. Rands aceitou, o prefeito João disse não. O PT, então, decidiu afastá-lo na marra, escolhendo o senador Humberto Costa como candidato do partido. Ante a confusão formada, o presidente do PSB, governador Eduardo Campos tira do bolso do colete o nome de Geraldo Júlio, o golden-boy da administração pessebista, e o lança como candidato do PSB. Atrai para a aliança o PMDB do senador Jarbas Vasconcelos. Visão de futuro Em Fortaleza e em João Pessoa, o PSB também sairá com candidatos próprios. O partido demonstra não querer ser apertado em abraço de afogados, como lembra seu vice-presidente, Roberto Amaral. Aplaina caminhos do presente com vistas ao futuro. Eduardo Campos é ambicioso e gostaria de juntar em torno dele o que chama de "geração pós-64". PMDB, o coringa Qualquer cenário que se projete para o amanhã deve levar em consideração o papel do PMDB. Trata-se do maior partido nacional, com alta taxa de união interna graças à articulação realizada pelo presidente licenciado do partido, o vice-presidente da República Michel Temer. Todos os sinais apontam para uma performance altamente positiva do partido, o que o conduzirá novamente ao pódio municipal. Ou seja, deverá continuar com o maior número de prefeitos. Com a planilha nas mãos, o partido deverá ser um coringa. Se pender para um lado, este lado ganha o jogo. Se o PT, por exemplo, der uma guinada e quiser caminhar em faixa própria - posicionando-se como poder hegemônico - arrisca-se a entrar em parafuso. PT diz que fará 1.000 prefeitos. PMDB deverá ultrapassar esse número. Atenção, na cidade inteira Volte sua atenção para a cidade inteira, todas as associações, todos os distritos e bairros. Se você atrair à sua amizade seus líderes, facilmente vai ter nas mãos, graças a eles, a multidão restante. (Cícero - Manual do candidato às eleições, 34 A.C.) Serra no teto ? Serra não expandiu sua taxa de intenção de voto mesmo com a intensa exposição a que teve direito nos spots publicitários. Há quem diga que bateu no teto dos 30%. O que impressiona é a altíssima taxa de rejeição do candidato, 32%. Que não cede. Essa é a montanha perigosa que poderá obstruir o desempenho do tucano. Spots publicitários Serra dentro de um estúdio dando aulas de administração. Haddad, circundado por Lula e Dilma. Em um cenário branco e frio. Chalita falando nos bairros, identificando as questões das regiões e discorrendo sobre as demandas das comunidades. Não é preciso entender de propaganda para se chegar à óbvia conclusão : a maior identificação com São Paulo é, sob o aspecto dos spots publicitários dos partidos, a do deputado Gabriel Chalita. Aliás, a convenção realizada na Praça da Sé revestiu-se de simbolismos. Praça central do civismo. Portanto, o candidato está bem calçado. Começo a considerar a hipótese de crescimento de Chalita. E repito o que tenho dito : furando o bloqueio e chegando ao segundo turno, será prefeito de São Paulo. Vá ao encalço dos eleitores Rastreie, vá ao encalço de homens de toda e qualquer região, passe a conhecê-los, cultive e fortaleça a amizade, cuide para que em suas respectivas localidades eles cabalem votos para você e defendam sua causa como se fossem eles os candidatos. (Cícero - Manual do candidato às eleições) Perfis à mostra Tenho sido indagado, quase diariamente, por jornais e revistas sobre os perfis preferenciais do eleitorado. Cada região tem suas preferências. Há, porém, alguns traços sobre os quais parece haver consenso : - passado limpo, vida decente - candidatos que possam exibir sua trajetória sem ter vergonha de mostrar aspectos de sua vida; - identificação com a cidade - candidatos que busquem vestir o manto da cidade, significando compromisso com as demandas das comunidades e as questões específicas dos bairros; - despojamento, simplicidade - candidatos despojados, simples, descomplicados, sem as lantejoulas e salamaleques que costumam se fazer presentes no marketing exacerbado. Candidatos não afeitos ao 'dandismo' - mania de querer aparecer de maneira diferente. - respeito, decência, dignidade pessoal - candidatos de postura respeitosa para com os eleitores e identificados com uma vida pessoal e familiar digna; - transparência, verdade - candidatos que não temam contar as coisas como elas são ou foram; - objetividade, viabilidade de propostas, concisão, precisão - candidatos de expressão objetiva e concisa, capazes de fazer propostas viáveis e não mirabolantes. Precisos na maneira de abordar os assuntos. Fatores de influência Outra questão recorrente nos questionamentos midiáticos é a respeito dos fatores que influenciam uma campanha. Eis alguns : - maneira de apresentação dos candidatos - estética - alta prioridade. O primeiro sinal percebido pela cognição é a imagem que o candidato transmite. Sério, alegre, improvisado, informal, formal, artificial, desleixado, mal vestido, empetecado, verdadeiro, mentiroso, falso, atraente, simpático, nervoso, calmo, etc. - programas de governo - propostas viáveis/inviáveis, impactantes ou óbvias - alta prioridade; - patrocinadores/lideranças políticas - dependendo da região, a influência poderá ser muito alta ou tênue; - casos escabrosos descobertos no meio da campanha - desastrosos, podem queimar as possibilidades de um candidato; - organizações da sociedade civil - importantes para agregar grupos, mobilizar as comunidades; - identificação com esportes/futebol - influência relativa; torcidas a favor podem receber o contraponto de torcidas contrárias; - apoio de artistas - depende do artista e da região. Vai ter lugar para todo mundo ? O afã mundial pelos jogos da Copa costuma provocar dúvidas sobre questões de infraestutura nos países que acolhem a nata do esporte bretão. Um dos pontos focais de preocupação é a oferta de leitos para hospedar a massa mundial (e local) de torcedores. Fazendo coro com esta preocupação, as comissões de Viação e Transportes e de Turismo e Desporto promovem, hoje, às 10h uma audiência pública com representantes do setor hoteleiro e dos navios de cruzeiro para debater a questão. A hotelaria se mostra bem preparada, mas a opção pelos navios como reforço na brigada hospedeira poderia ser uma ajuda interessante. A conferir. Não é flor que se cheire Cândido Norberto, jornalista, deputado do MTR (cassado), na tribuna da assembleia do RS, criticava o governador Ildo Meneghetti. Janela aberta, via-se ao lado o Palácio Piratini. Irritado com os ataques, o deputado Hed Borges, da bancada do governo, grita lá de trás : - V. Exa., senhor deputado, já foi do PL, do PSD, do PTB, agora é do MTR. Como um beija-flor, vive pulando de flor em flor. Cândido Norberto apontou para o palácio : - É por isso mesmo que eu lhe digo, senhor deputado, que esse governador não é flor que se cheire. (Nery em seu Folclore Político) Conselho aos marqueteiros Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos assessores políticos. Hoje, sua atenção se volta aos marqueteiros : 1. Tentem desenvolver uma identidade para seus candidatos, consoante com a história, os valores, os princípios e as condutas dos perfis. Identidade montada sobre uma base artificial desmorona. 2. Procurem auscultar não apenas a intenção de voto dos eleitores, mas as razões que fundamentam/orientam suas decisões. Ou seja, tentem entender o sistema cognitivo e a cultura política do eleitorado. 3. Façam ajustes periódicos, usem abordagens diferenciadas, façam comparações entre estilos, analisem as forças e fraquezas, as oportunidades e ameaças de seus candidatos. ____________
quarta-feira, 20 de junho de 2012

Porandubas nº 320

A artrite... Nesses tempos de papa velhinho, que tal abrir a coluna com esta historinha ? O bêbado entrou no ônibus aos tombos. Malvestido, sujo, tossindo, tropeçando, tremendo, com um jornal na mão, sentou-se ao lado de um padre. A cada arranco do ônibus, tombava para o lado do padre, que, irritado, o empurrava sem piedade ou indulgência, e com nojo. O bêbado abriu o jornal, tentou ler, mas não conseguia porque tremia muito, bateu no braço do padre : - Padre, o que é artrite ? - É uma doença muito ruim, muito triste, muito feia, muito nojenta, que dá nas pessoas que bebem muito. - E mata, padre ? - Mata sim, e mata rápido. Ou o doente para de beber ou morre logo. - Padre, o senhor jura que não está me enganando não ? - Juro por essa cruz que está aqui no meu peito. Não estou enganando. E tem coisa pior. Quem morre de artrite, porque não parou de beber, não vai para o céu, nem mesmo para o purgatório. Vai direto para o fogo do inferno. - Coitadinho dele, padre. - Dele, quem ? - Do Papa, padre. O jornal está dizendo aqui que o Papa está com artrite. O padre se levantou, trocou de lugar, e foi lá pra frente. (Da pena engraçada do Nery) Maluf reza por Haddad Paulo Maluf até que tentou rezar por José Serra. A condição : ganhar posições no governo Geraldo Alckmin. Que não aceitou o pleito. Serra, por sua vez, prometia cargos na prefeitura, após assumir o cargo. Maluf correu para outro altar, o de Fernando Haddad, o "novo". E Lula, o papa, levantou a voz e articulou para ele um cargo no Ministério das Cidades. Os fins justificariam os meios. Uma Secretaria de Saneamento. Saneamento ? Isso mesmo ? Sim. O Brasil é mesmo o país da piada pronta. Mas é bom lembrar que o ex-prefeito já aderira a Marta Suplicy, em 2004, no segundo turno, quando ela disputou e perdeu a campanha para Serra. Sob as bênçãos de Lula O papa Luiz Inácio não teve como recusar. Maluf teria dito : quero fechar a aliança entre PP e PT na minha casa. E convidou Lula para dar uma chegadinha por lá. O ex-presidente da República chamou a patota da alta cúpula do PT paulista e lá se foi o grupo para os jardins do Paulo. Que não perdeu a pose. Acariciou a cabeça de um constrangido Fernando Haddad. Lula ficou no centro da foto. Sorrisos gerais. Abraços e apertos de mão. E assim foi selada a união do amor com o ódio. Expliquemos. Paulo Maluf proclamou que aderia a Haddad por "amor a São Paulo". Em passado recente, o PT destilava ódio contra Maluf. Inclusive, acirrou tanto o malufismo que conseguiu compor o verbo malufar. Vejam no dicionário o que significa. Os néscios "Não admira que os néscios se julguem muito sabedores, eles que têm a vantagem de desconhecer que ignoram". (Marquês de Maricá) Partidos amalgamados Não se pretende dizer que os outros partidos são puros, éticos, dignos, com escopos doutrinários e ideológicos. Não. Vivemos, hoje, o ápice da crise da democracia representativa : partidos sem doutrina, amalgamados; parlamentos em declínio; oposições funcionais, sem discurso; bases sem ânimo para participar. Vivemos, hoje, o ciclo da tecnodemocracia, que reúne a esfera política, as estruturas e quadros burocráticos e os núcleos de negócios. Como diria Maluf, não há, nesses tempos pragmáticos, nem esquerda nem direita; o que há são minutos e segundos de TV e rádio. Haddad sobe O efeito Lula começa a se mostrar. Fernando Haddad subiu de 3% para 8%. Deverá chegar aos 25%/30% históricos do PT em São Paulo. Serra permanece com os 30%, mas sua taxa de rejeição é de 32%, só superada pela rejeição de Netinho de Paula, do PC do B. Tudo indica que o segundo turno será disputado por Serra e Haddad. A pesquisa Datafolha constata, ainda, que a influência de Lula, em São Paulo, caiu 10 pontos percentuais, de 49% para 39%. Chalita mantêm-se praticamente na mesma posição. Ante uma campanha que tende a ser muito polarizada, será difícil para o candidato peemedebista romper o duelo entre tucanos e petistas. Filosofia do Barão I Pérolas do Barão de Itararé : - Cobra é um animal careca com ondulação permanente. - Tudo seria fácil se não fossem as dificuldades. - Sábio é o homem que chega a ter consciência da sua ignorância. - Há seguramente um prazer em ser louco que só os loucos conhecem. - É mais fácil sustentar dez filhos que um vício. Marta fará falta ? A pesquisa Datafolha indica : Marta Suplicy não fará falta à campanha de Haddad. Ora, mais uma razão para a senadora desculpar-se e cair fora. Mas Lula vai deixar ? CPI das Águas Correntes Para onde vai a CPI das Águas Correntes ? Desembocará no oceano da Papuda ou no deserto dos inocentes ? PT está rachado. Duas alas abrem visões diferenciadas. PT da Câmara estaria na retranca, acusa o PT do Senado. Cenários : Demóstenes condenado pelo Conselho de Ética do Senado e provavelmente também pelo plenário. Única quase certeza. O resto tem cheiro de pizza de condimentos variados. Maluf na TV Paulo Maluf diz que vai aparecer na TV pedindo votos para Haddad. O PT diz que ele não irá. A conferir. O milionário "O milionário, ao ser perguntado quanto dinheiro era o bastante, replicou 'só um pouquinho mais'. Reconhecia uma característica essencial da vida humana. Há razões positivas pelas quais o poder tende a ser uma bola de neve e é dado àqueles que o possuem". (Kenneth Minogue) Erundina coerente Luiza Erundina rejeita ser candidata a vice de Fernando Haddad. Acusando a estocada com a entrada de Maluf na coligação, não topou entrar no jogo. A foto da turma toda, junta, foi a gota d'água. Não será candidata. Alega, porém, que pedirá votos para Haddad. O PSB recusa a vice, mas comporá a aliança. Luta de classes Não se pode dizer que Luiza Erundina é uma oportunista. Sua conduta é elogiável. Continua a morar num pequeno apartamento, não tem a exibição peculiar dos políticos e é pessoa afável. Pode, sim, cultivar o seu socialismo, apesar de se constatar que os socialistas, nesses tempos pragmáticos, vestem roupas costuradas com os fios mais fortes do capitalismo. Luiza só erra quando compara uma eleição à luta de classes. Pérolas do Barão II - A esperança é o pão sem manteiga dos desgraçados. - Adolescência é a idade em que o garoto se recusa a acreditar que um dia ficará chato como o pai. - O advogado, segundo Brougham, é um cavalheiro que põe os nossos bens a salvo dos nossos inimigos e os guarda para si. - Senso de humor é o sentimento que faz você rir daquilo que o deixaria louco de raiva se acontecesse com você. Haddad perde ou ganha ? Pedem a este consultor uma análise do apoio de Paulo Maluf a Fernando Haddad. O petista mais perde ou mais ganha ? Praticamente não ganha votos. Ganha, isso sim, um bom tempo de TV. Vital para a campanha petista, eis que significará mais visibilidade, mais exposição, maior poder de influência junto ao eleitorado. Nesse sentido, a parceria foi importante para o PT e Haddad. O malufismo vive um processo de declínio. Quem é malufista histórico - um contingente entre 6% a 8% em SP - não votará no PT. Tende a se identificar com um candidato mais conservador. Mas os petistas tenderão a fechar posição em torno de Haddad, sem Maluf ou com Maluf. O PT é uma religião. Setores médios, incluindo núcleos de profissionais liberais, que poderiam entrar na seara de Haddad, tendem a migrar para o território de José Serra ou mesmo para a área de Gabriel Chalita, do PMDB. Aceleração No segundo semestre, a economia deverá se expandir. Trata-se de otimista previsão dos economistas. Mas o PIB deste ano deverá ficar em torno de 2,5%, até menos um pouco. Já o de 2013 é visto em torno de 4%. Dilma e as indicações Os bastidores políticos começam a esquentar a panela. As indicações de que a presidente Dilma quer influenciar as eleições de presidente do Senado e da Câmara deixam nervosos partidos da base, principalmente o PMDB. Aliás, não apenas Dilma quer eleger os perfis de sua preferência. De norte a sul do país, o PT faz suas listas. Impõe nomes. Queima todos aqueles que não comungam de sua orientação. Texto anódino Os ambientalistas começam a pichar o texto final da Conferência Rio+20, sob coordenação do Brasil. Dizem que o esboço é uma decepção. O texto não trará impacto sobre a vida das pessoas. Não há nele menção de metas ou objetivos. O evento olha mais para o passado do que para o futuro. O tirano Maquiavel conta no Livro III dos Discursos sobre os primeiros dez livros de Tito Lívio a história de um rico romano que deu comida aos pobres durante uma epidemia de fome e que foi por isso executado por seus concidadãos. Argumentaram que ele pretendia fazer seguidores para tornar-se um tirano. Essa reação ilustra a tensão entre moral e política. Mostra que os romanos se preocupavam mais com a liberdade do que com o bem-estar social. Mensalão Não dá para adivinhar. Mas é possível chegar-se a um cenário em que, dos 38 acusados no mensalão, alguns entrarão na faixa de penalidades que já prescreveram. O cenário de inocência geral é o que menos cabe na leitura dos analistas. Pérolas do Barão III - Mulher moderna calça as botas e bota as calças. - A televisão é a maior maravilha da ciência a serviço da imbecilidade humana. - Este mundo é redondo, mas está ficando muito chato. Conselho aos assessores políticos Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos comandantes do planeta, presentes ou não na Conferência da ONU, Rio+20. Hoje, sua atenção se volta aos assessores políticos : 1. Procurem compor para seus candidatos uma forte identidade. Que estabeleça um diferencial, qualidades, características diferentes de outros contendores. 2. Arrumem um programa de campanha que atenda as demandas da coletividade. E tentem evitar a linguagem das generalidades, coisas abstratas, frouxas, difusas. 3. Componham para seus candidatos um amplo painel sobre as forças e fraquezas, ameaças e oportunidades. Planejem a campanha com o espelho desta planilha. ____________
quarta-feira, 13 de junho de 2012

Porandubas nº 319

Evoluindo com o povo Dia 28/5/2012. Câmara Municipal de Mirante da Serra/RO. Populares faziam pressão sobre a Casa legislativa por melhorias prometidas e não cumpridas. De repente, um vereador toma a palavra para manifestar sobre o tumulto. E tasca : - "Meu povo, fico feliz pela presença de todos, isso é democracia, mas vocês precisam entender que Mirante da Serra evoluiu muito, quando eu cheguei aqui há 30 anos não tinha estrada, energia e nem hospital..." É interrompido por um impaciente ouvinte. - "É, o senhor esquece que há 30 anos aqui nem cidade tinha; como queria ter alguma coisa ?" O vereador não deixa a peteca cair : - Isso é para você ver que estamos trabalhando para o povo e pelo povo. Já temos hospital e até rua asfaltada. Parabéns para nós que estamos evoluindo". O tumulto se agiganta. Sobre o vereador cai uma onda de apupos. Águas correntes e sujas A CPI das Águas Correntes inunda os dutos da política com torrentes de sujeira. A cada semana, emergem mais informações sobre sócios com contratos milionários, pagamentos extraordinários, ligações espúrias, versões estapafúrdias. E o que essa torrente provoca ? Muita confusão na cabeça de quem se atreve a acompanhar o caso. A CPI do Cachoeira mais parece uma Torre de Babel. Muito se fala e pouco se presta atenção. Todos os implicados, sem exceção, se dizem inocentes. Os depoimentos acumulam argumentos que não são questionados, comprovados, avaliados devidamente. A essa altura, a barafunda se estabelece. 10 a 10 ou 0 a 0, conforme a interpretação de cada pessoa que acompanha o imbróglio. O bate-boca de ontem poderá se repetir hoje. Que confa... ! O desembargador Tourinho Neto, do TRF da 1ª região, do DF, reconheceu como ilegais as interceptações telefônicas da operação Monte Carlo, da PF. A operação desmontou o grupo de Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira. Ou seja, considera nulas as provas decorrentes desses grampos. E agora ? O povo "Há no mundo uma raça de homens com instintos sagrados e luminosos, com divinas bondades do coração, com uma inteligência serena e lúcida, com dedicações profundas, cheias de amor pelo trabalho e de adoração pelo bem, que sofrem, que se lamentam em vão. Estes Homens são o Povo". (Eça de Queiroz) Rio+20 O Brasil sediará por quase duas semanas o maior evento mundial sobre a sustentabilidade do planeta. Mas as expectativas não são animadoras. Os chefões das Nações mais importantes não se farão presentes, preferindo mandar representantes. Cientistas e ambientalistas estão descrentes. Alegam que as conquistas da Rio 92 foram abandonadas. A globalização seria a barreira contra a regulamentação. Mesmo assim resta a esperança de que grupos organizados façam pressão, propiciando clima favorável aos avanços. Mais um pito público A presidente Dilma, com seus pitos rotineiros em ministros, reforça a identidade de centralizadora e durona. Quem ganhou o mais recente puxão de orelhas foi seu "amigo" Mendes Ribeiro, ministro da Agricultura. Que falou sobre... Código Florestal, ou seja, um tema que faz parte da agenda da... agricultura. Mendes apenas adiantou que poderia haver um acordo sobre os vetos feitos pela presidente ao texto aprovado pela Câmara e juntados numa nova MP. Ou seja, trabalhava com a ideia da harmonia, consenso, pacificação. Foi desautorizado pelo assessor de imprensa da presidência. A mando da presidente. O puxão de orelhas foi mal recebido pelo PMDB, partido de Mendes. Dilma poderia simplesmente ter dado um telefonema e pedido ao ministro para desmentir o acordo em torno da nova MP. Que amizade estranha essa entre o ministro e a presidente. Seca e inverno A seca no NO mostra a desolação da paisagem. Carcaças de animais tragados pela fome. As chuvas no Estado de SP aumentaram o número de mortes em 45%. Em 10 horas, a capital registrou, nesta segunda-feira, 271 raios. Cada região com sua tragédia característica. PT x PT O PT contra o PT. Ou melhor, alas contra alas. O PT do prefeito João Costa, do Recife, é contra a cúpula partidária. Que escolheu o senador Humberto Costa como candidato a prefeito da capital pernambucana. PSB terá nome O PSB do governador Eduardo Campos, ao concluir que a coisa fica feia para as bandas do PT, decidiu lançar candidato próprio em Recife. Campos se sentiu liberado para deixar a aliança com o PT. Seu candidato deverá ser um dos quatro secretários de Estado que deixaram a máquina : Geraldo Júlio, ex-titular da Secretaria de Desenvolvimento Econômico; Tadeu Alencar, ex-chefe da Casa Civil; Danilo Cabral, ex de Cidades; e Sileno Guedes, antes secretário de Articulação Social. Os dois mais cotados são Geraldo Julio e Danilo Cabral. PSB contra PT Em Fortaleza, os irmãos Gomes - Cid, governador, Ciro e Ivo - decidiram romper com o PT, da prefeita Luizianne, que indicou Elmano Freitas como candidato a prefeito. O PSB dos três indicará um nome do partido. Slim...slim... Anotem aí : nos próximos tempos, um nome vai fazer plim...plim... digo, slim...slim... nos ouvidos nacionais. O nome ? Carlos Slim. Que vai expandir a tecnologia 4G no Brasil. Dono da Claro, Embratel e NET, vai investir mais R$ 10 bilhões no setor. Bom, o cara é o mais rico do mundo. Slim ! Está falado. Em João Pessoa Em João Pessoa, a disputa no PSB é mais acirrada que a situação do PT em Recife. O governador Ricardo Coutinho/PSB convidou o atual prefeito Luciano Agra/PSB a desistir da reeleição. Lançou o nome de Estelizabel Bezerra/PSB. Lembrando. Ricardo Coutinho foi eleito prefeito de João Pessoa tendo o apoio do PMDB, em 2004, que indicou o seu vice, Manoel Júnior. Em 2008, Ricardo foi reeleito tendo como companheiro de chapa Luciano Agra, seu secretário de planejamento. Venceu as eleições, em chapa formada pelo PSB, PSDB e DEM contra o PMDB e o PT. No final do ano passado, o PSB começou a preparar substituição do nome para disputar a eleição de 2012. Agra, que assumiu em definitivo a prefeitura de João Pessoa com a renuncia de Ricardo, era visto por esse como muito técnico. Luciano renunciara ao direito à reeleição. E lançou Estelizabel Bezerra, jornalista alinhada ao movimento feminista. Voltou atrás. Há dias, enviou carta a Eduardo Campos e ao governador da Coutinho informando do desejo de disputar a reeleição. O leque Em resposta, o governador disse que o PSB mantinha a candidatura de Estelizabel Bezerra, exonerada por Luciano em fevereiro, tão logo foi lançada como sua substituta. O prefeito de João Pessoa enviou aliados à sede do partido para registrar sua candidatura na convenção, ocorrida domingo. Pois bem, Estelizabel venceu Agra na convenção do PSB : 305 votos contra 142 votos. Ricardo Coutinho conclamou os filiados para votar em Estelizabel. Outras candidaturas já postas : PMDB: José Maranhão, ex-governador por três mandatos; PSDB : Cícero Lucena, que votou em Maranhão em 2010, por ser arquirval de Ricardo. PT : Luciano Cartaxo, deputado estadual; vice-governador do Maranhão (2009/2010). PPS : Nonato Bandeira, ex-secretário de comunicação de Ricardo, tanto no período em que foi prefeito de João Pessoa (2005/2010) quanto no governo do Estado. Até março era o melhor amigo de Ricardo. PTN : Toinho do Sopão. Informações enviadas por Elson de Carvalho Filho. A quem agradeço. Em BH, PT de Pimentel vence Em BH, o ministro Fernando Pimentel levou a melhor e indicará o vice na chapa do prefeito Marcio Lacerda, candidato do PSB à reeleição. Patrus Ananias está se distanciando do partido. Não teria mais clima no petismo mineiro. Vieram e não me encontraram Otávio Mangabeira foi governador da Bahia, ministro de Relações Exteriores e um sábio da velha política. Tinha um amor todo especial à língua. E cuidava do português a todo preço. Chega uma comissão de professoras ao palácio, Mangabeira as recebe no salão. - Governador, nós viemos aqui conversar com V. Excelência sobre a situação do ensino na Bahia. (Deviam, claro, ter dito "vimos", que é o presente. "Viemos" é o passado.). Mangabeira respondeu apenas : - Que pena, senhoras professoras, vieram e não me encontraram. E voltou para o gabinete. Dirceu à la Collor José Dirceu conclamou a juventude socialista a fazer sua defesa face à ameaça de eventual condenação no STF, que vai julgar, a partir de agosto, o caso dos mensaleiros. Dirceu fez entusiasmado discurso em evento da UNE. Ao melhor estilo Collor, convidou a estudantada a tomar as ruas para fazer sua defesa. Não pediu - registre-se - que os jovens pintassem a cara de vermelho, a cor do PT. O ex-líder estudantil, convenhamos, exagerou na dose. Copa, até agora 27 bi O TCU fez as contas. Até o momento, as obras para a realização da Copa somam R$ 27,140 bilhões. O TCU considera financiamentos oferecidos por bancos federais, investimentos feitos por agentes privados, pelas estatais e pelas esferas de governo estaduais e municipais. A mobilidade urbana conta com a fatia maior : R$ 12,004 bilhões. Os aeroportos deverão consumir R$ 7,4 bilhões. Os 12 estádios da Copa custarão R$ 6,778 bilhões. Obras paralisadas Começa-se a achar o responsável pela paralisação de obras do PAC : a Casa Civil do Planalto. Os projetos chegam por lá. E a Casa Civil "senta em cima", dizem as línguas. Ferinas, mas com alta credibilidade. Com a palavra, a ministra Gleisi. Forças pedem mais As Forças Armadas, atualmente não muito armadas por conta da precariedade de seus equipamentos, reivindicam melhores condições de trabalho e salários condignos. A Marinha lidera esse movimento reivindicatório. Começa-se a ouvir um clamor mais explícito das Forças. Sinais dos tempos de pressão e mobilização da sociedade mais organizada ? Impressões Marconi Perillo (PSDB/GO) respondeu as questões de senadores e deputados. Saiu-se bem. Apresentou documentos. Mais adiante, a confusão se instalou quando o relator perguntou se ele, governador, quebraria seus sigilos telefônico e bancário. Agnelo Queiroz (PT/DF) está se preparando com afinco. Vai depor hoje. Impressão é a de que contrários se enfrentarão. Mais jogadas de defesa e ataque. PIB de 2,3% 2,3% de crescimento em 2012. Menos que os 2,7% do ano passado. Economia em baixa, emprego na gangorra, mensalão na bancada da decisão, CPI das Águas Correntes em clima de balbúrdia - terão influência no processo eleitoral ? Resposta : nos espaços onde houver polarização entre tucanos e petistas. A bola da vez Depois dos 100 bilhões de euros que a Espanha ganha do BC europeu para o seu setor bancário, a bola da vez será a Itália. A dívida pública italiana é maior do que a dívida da Espanha - 120% do PIB - mas o déficit orçamentário é menor - 3,9% ante os 8,5% da Espanha. Nos últimos 3 meses, o PIB italiano caiu 0,8%. Suavemente José Maria Alkmin, mineiro dos velhos tempos, ex-ministro da Fazenda, ex-deputado, foi advogado de um crime bárbaro. No júri, conseguiu oito anos para o réu. Recorreu. Novo júri, 30 anos. O réu ficou desesperado : - A culpa foi do senhor, dr. Alkmin. Eu pedi para não recorrer. Agora vou passar 30 anos na cadeia. - Calma, meu filho, não é bem assim. Nada é como a gente pensa da primeira vez. Primeiro, não são 30, são 15. Se você se comportar bem, cumpre só 15. Depois, esses 15 são feitos de dias e noites. Quando a gente está dormindo tanto faz estar solto como preso. Então, não são 15 anos, são 7 e meio. E, por último, meu filho, você não vai cumprir esses 7 anos e meio de uma vez só. Vai ser dia a dia, dia a dia. Suavemente. Da coleção de historinhas de Sebastião Nery. Conselho aos comandantes do planeta Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado à presidente Dilma Rousseff. Hoje, sua atenção se volta aos comandantes do planeta, presentes ou não Conferência da ONU, Rio + 20. 1. A Rio+20 é a grande oportunidade que as Nações planetárias dispõem para fazer ajustes fortes nos botões do futuro. Urge controlar os excessos e ajustar o exagerado consumismo que leva à degradação do meio ambiente. 2. Países com índices diferentes de desenvolvimento devem procurar meios e métodos para compor uma pauta comum e condizente com a sustentabilidade da vida planetária. 3. Ao crescimento econômico - meta finalista dos países - deve corresponder desenvolvimento social e proteção ambiental. Países que se desenvolveram bem antes e mais provocaram danos ao meio ambiente devem reconhecer suas responsabilidades e oferecer sua contrapartida para a melhoria da condição humana. ____________
quarta-feira, 6 de junho de 2012

Porandubas nº 318

Esselentíssimo juiz Abro a coluna de hoje com uma engraçada historinha envolvendo advogados e juízes. Ao transitar pelos corredores do fórum, o advogado, que também era professor, foi chamado por um dos juízes : - Olha só que erro ortográfico grosseiro temos nesta petição. Que coisa vergonhosa ! Estampado logo na primeira linha do petitório lia-se : "Esselentíssimo juiz". Gargalhando, o magistrado perguntou ao advogado : - Por acaso, professor, esse advogado foi seu aluno na faculdade ? - Foi sim - reconheceu o mestre. Mas onde está o erro ortográfico a que o senhor se refere ? O juiz pareceu surpreso : - Ora, meu caro, acaso você não sabe como se escreve a palavra Excelentíssimo ? Então explicou o professor : - Doutor juiz, acredito que a expressão pode significar duas coisas diferentes. Se o colega desejava se referir a excelência dos seus serviços, o erro ortográfico efetivamente é grosseiro. Entretanto, se fazia alusão à morosidade da prestação jurisdicional, o equívoco reside apenas na junção inapropriada de duas palavras. O certo então seria dizer : "Esse lentíssimo juiz". ....Silêncio geral ! Depois desse episódio, aquele magistrado nunca mais aceitou o tratamento de "Excelentíssimo juiz", sem antes perguntar : - Devo receber a expressão como extremo de excelência ou como superlativo de lento ? Ressentimentos O que significa uma montanha de emendas sobre uma MP ? Pode significar participação maciça do corpo político sobre as medidas provenientes do Executivo; pode significar tentativa de ajuste, melhoria, aperfeiçoamento do instrumento normativo. Mas grande quantidade de emendas a uma MP também pode ser considerada um sinal explícito de insatisfação dos parlamentares com o andar da carruagem movida pelo governo. É o que se infere das 620 emendas apresentadas para alterar o novo Código Florestal. A Comissão mista vai analisar a admissibilidade da MP e o senador Luiz Henrique (PMDB/SC) vai apresentar um cronograma de trabalho. Mágoas acumuladas É sabido que o poço de mágoas aberto na Câmara Federal em decorrência do trato que o Executivo vem dando às demandas parlamentares se aprofunda. A presidente Dilma Rousseff tem tratado a base governista a pão seco e água salobra. Os ressentimentos se acumulam. Os partidos não abrem críticas porque temem puxão de orelhas da presidente. Que tem, de maneira lenta e gradual, expurgado espaços, limpado áreas até então ocupadas pelos partidos da base. No território da Petrobras, os partidos ficaram a ver navios. Fala-se que o sistema Eletrobrás está na mira. Esse processo culminaria com a saída do ministro Edison Lobão do Ministério das Minas e Energia. Saindo, o ministro deixaria livre o caminho para uma drenagem no entorno. Para compensá-lo, a presidente quer vê-lo na presidência do Senado na próxima legislatura. Combinar com os russos Mas a presidente precisaria combinar essa jogada com os russos. Não apenas com os ursos do PT. Combinar com os russos quer significar fazer uma eficiente articulação junto ao PMDB, que tem o maior número de jogadores no plenário da Casa senatorial. Também tem o significado : combinar com os técnicos dos russos, a partir dos senadores José Sarney e Renan Calheiros. Especula-se que Sarney gostaria de patrocinar essa jogada por considerar Lobão um jogador de seu time. Mas Sarney deve ter suas restrições. No Senado, o técnico Renan Calheiros, que lidera a bancada do PMDB, tem voz ativa. E Renan não vai desistir com facilidade da presidência da Casa. Governo de Alagoas ? A presidente Dilma já sinalizou a Renan que gostaria de vê-lo no governo de Alagoas. E teria se comprometido a apoiá-lo. Mas esse apoio mais parece abraço de urso. Mais apertado que afetuoso, mais estrangulador que amaciador. Sarney, por seu lado, sabe que o deslocamento de Lobão para a presidência do Senado implica ver espaços da Eletrobrás, onde teria alguma influência, desocupados. Neles a presidente fincaria estacas impermeáveis às pressões políticas. E assim, de grão em grão, de cargo a cargo, Dilma plasma o governo à sua imagem e semelhança. Bumerangue Sob o prisma estratégico, que leva em conta a necessidade de a presidente dotar o governo de todos os meios e recursos para atingir as metas que pretende, substituir gestores políticos por administradores técnicos é uma medida não apenas compreensível mas recomendável. Estamos falando dos cargos nas empresas governamentais. Ocorre que os partidos que perdem posições precisam ser recompensados. Sob pena de partirem para uma retaliação. Que pode ser no médio prazo. Já nos espaços políticos - presidências das Casas Legislativas - o risco da presidente é bem maior. Ali os interesses de partidos e blocos se cruzam. A cartilha do Executivo não é bem digerida quando dá receitas fortes. Por isso, a intenção de Dilma de querer eleger presidentes nas duas Casas que rezem pelo seu missal causa muita contrariedade. Auge da popularidade A presidente arrisca-se a operações políticas mais complicadas porque atingiu o pico da popularidade. Conta com quase 80% de aprovação. Logo, tem respaldo da comunidade nacional para adentrar em territórios dominados por interesses políticos. Se, daqui a pouco, sua popularidade começar a cair, será mais difícil tomar atitudes duras na frente política. O momento é esse. Ela age sob a crença de que "ou vai ou racha". Os partidos, por sua vez, aguardam o momento para o contra-ataque. Que, mais cedo ou mais tarde, virá. Na forma de desaprovação de pautas e nomes indicados pelo Executivo e que tenham de passar, necessariamente, pelo crivo do Parlamento. Presidência do Senado Quanto à presidência do Senado, está muito cedo para se projetar cenários mais claros. Lobão até pode querer enxergar esse horizonte, sob a indicação de que seu ciclo nas Minas e Energia está com os dias contados. Renan, por sua vez, administra o tempo observando, examinando, avaliando, conversando aqui e ali, falando pouco e agindo muito nos bastidores. No momento certo, tomará a decisão : colocar a bagagem no plenário e tomar o pulso dos senadores ou fazer as malas e correr para as Alagoas. Câmara Já na Câmara dos Deputados, o nome mais evidente para assumir o lugar de Marcos Maia (PT/RS) é o do deputado Henrique Alves. Por sinal, o mais antigo parlamentar, o que carrega nas costas o maior número de mandatos : 11. Henrique é o nome do PMDB e de confiança do vice-presidente da República, Michel Temer. Querer colocar alguém no lugar de Henrique, por parte de quem quer que seja, seria uma operação de alto risco. Há um compromisso formal do PT com o PMDB para que este indique o nome para dirigir a Casa na próxima legislatura. É claro que todos esses cenários ficarão mais aclarados após as eleições de outubro. Se o PMDB continuar com o maior núcleo de prefeitos, certamente reforçará seu cacife. A conferir ! Mais turistas estrangeiros Com o câmbio desfavorável, a conta de gastos de turistas no exterior tende a arrefecer. É um bom momento para inverter essa matemática, inclusive facilitando a entrada de turistas vindos de além-mar. As divisas dos estrangeiros são alvo de cobiça de toda a cadeia econômica do turismo. Tramita no congresso uma matéria que flexibiliza os processos para turistas estrangeiros. Trata-se do Estatuto do Estrangeiro, cujo relator é o deputado Cadoca, de Pernambuco. O parlamentar é uma das referências no legislativo nas questões afetas ao turismo nacional. Mare nostro O setor de Cruzeiros Marítimos realizou em São Paulo o seu evento maior. Voltado aos agentes de viagens, o Cruise Day/Fórum Abremar contou com a presença do deputado Jonas Donizette que mostrou conhecimento da causa e citou números positivos sobre a atividade. Jonas, que lidera a corrida para a prefeitura campinense, sabe do que fala. Já presidiu a Comissão de Turismo e Desporto da Câmara no ano passado e desempenhou importante papel frente àquele colegiado arregimentando simpatia do trade em sua estreia no legislativo Federal. Brasil menos competitivo No debate entre agentes, autoridades e demais players do setor de cruzeiros marítimos, no Cruise Day 2012, os participantes puderam compreender melhor os gargalos da atividade. Entre eles, os altos custos operacionais e a limitada infraestrutura portuária que, pela primeira vez, devem causar redução de 15% na oferta da próxima temporada. "As discussões ganharam muito com o interesse do trade, em especial, dos agentes de viagens que agora entendem o motivo pelo qual a temporada será menor", revela o presidente da Associação Brasileira de Cruzeiros Marítimos, Ricardo Amaral. Destino em alta Durante sua participação na Aliança das Civilizações, o vice-presidente Michel Temer foi informado de que os turistas brasileiros estão em alta na Turquia. Istambul era o destino escolhido por cinco mil brasileiros por ano, segundo a imigração turca. Em 2011, esse número saltou para 91 mil. E deve crescer ainda mais : a Globo está desembarcando para filmar a novela Salve Jorge naquele país a ser exibida no horário das nove horas. Vice em alta O primeiro-ministro da Turquia, Tayyip Erdogan, prestou muitas homenagens ao vice-presidente brasileiro, Michel Temer. Erdogan o recebeu na entrada do palácio do governo em Istambul, elogiou o Brasil, falou dos laços de proximidade com o ex-presidente Lula, chamou a presidente Dilma de "irmã" e mostrou boa vontade de aumentar o intercâmbio comercial com o Brasil. A começar pela Embraer, cujo possível negócio com a Turkish Airlines pode chegar a U$ 600 milhões. Temer também mostrou suas credenciais, relatando que conseguiu a aprovação de decreto legislativo que acaba com a bitributação entre os dois países. Isso atrapalhava muito exportadores e importadores. Presos Apesar de ter apenas 5% dos habitantes do planeta, os EUA abrigam hoje 25% da população carcerária do mundo. Tempo de TV José Serra, PSDB, lidera, por enquanto, o palanque eletrônico em São Paulo. Pelo número de partidos que lhe darão apoio, já conquistou 8min e 14s de TV e rádio; Haddad, do PT, tem 6min e 3s e Chalita, PMDB, dispõe de 4min e 3s. Esses tempos deverão mudar até a definição de alguns partidos. PT e PSB PSB e PT se esforçam para fazer alianças em Recife e em São Paulo. Em Recife, o PT está detonando a candidatura do prefeito João da Costa. Em seu lugar, indica o senador petista Humberto Costa. Aceito pelo governador e presidente do PSB, Eduardo Campos. Em São Paulo, o PSB está caminhando para ingressar na campanha de Haddad. Mas há um grupo que gostaria de ver o partido saindo com um candidato próprio, forma de não se envergonhar de mudar tão rapidamente de estrada. O presidente do PSB estadual, que está saindo da secretaria de Turismo do governo de São Paulo, é o deputado Márcio França. Portanto, trabalhou na floresta tucana até esses dias. Tomando ônibus "Gostaria de dividir minha experiência com você que bebe e mesmo assim dirige. No último sábado à noite bebi não sei quantas taças de vinho. Bebi tanto que fiz uma coisa que nunca havia feito antes : deixei meu carro no estacionamento e peguei um ônibus. Resultado : cheguei em casa são e salvo, sem nenhum incidente. Fiquei muito orgulhoso de mim mesmo, sobretudo porque nunca antes na minha vida tinha dirigido um ônibus". (Enviado pelo amigo Álvaro Lopes) Conselho à presidente Dilma Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos membros da CPI. Hoje, sua atenção se volta à presidente Dilma Rousseff : 1. Todo cuidado é pouco, presidente. O crescimento de 0,2% no PIB, no último trimestre, recomenda urgentes e densas medidas de incentivo à economia. Urge verificar se a receita de 2008 - impulso ao consumo e acesso ao crédito - basta para estancar a queda. E os investimentos na infraestrutura, presidente ? 2. Seria oportuno radiografar todos os setores que enfrentam estrangulamentos. Ouvir suas lideranças, mapear suas demandas. 3. Imagine, presidente, juntar crise econômica com caldeirão político do mensalão. Vossa Excelência, se isso ocorrer, poderá ter uma indigestão no segundo semestre deste ano. ____________