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Porandubas Políticas

Por dentro da política.

Gaudêncio Torquato
quarta-feira, 5 de junho de 2013

Porandubas nº 360

Abro a Coluna com duas historinhas. Qualquer desculpa serve Teotônio não era apenas o apóstolo da redemocratização. Era um aplicado discípulo do Cristo. Como Ele, gostava de falar por parábolas. No Clube dos Repórteres Políticos do Rio, perguntaram-lhe por que o governo e a Arena tinham tanto medo das eleições diretas. Ele sorriu e contou : - "A vaca do compadre pobre apareceu no pasto do compadre rico. O compadre pobre pediu ao compadre rico uma corda para tirar a vaca de lá. O compadre rico desconversou : - Agora, eu vou à missa. - Mas, compadre, o que é que tem minha vaca com a sua missa ? - "Compadre, quando a gente não quer, qualquer desculpa serve". Cuidado para não cair Quintino Cunha, famoso advogado e poeta, estava participando de um júri em Quixeramobim. O promotor berrava na tribuna : - Senhores jurados, estou montado na lei. Quintino pede um aparte : - V. Exa. tenha cuidado para não cair, porque está montado em um animal que não conhece. O promotor se calou. (Historinhas contadas pelo amigo e melhor contador de causos de nossa política, Sebastião Nery) Mar borrascoso Não há perigo de tempestades imediatas. Mas não se pode igualmente garantir que a calmaria toma conta do oceano. Digamos que há sinais de um mar borrascoso, a continuarem as nuvens plúmbeas dos últimos tempos. Estamos falando da relação entre o governo Dilma e suas bases. Os partidos da aliança governista, sem exceção, estão insatisfeitos com a indiferença da presidente para com a esfera política. Não se trata apenas de resistir às pressões para liberação de recursos destinados às bases dos parlamentares. Trata-se, sobretudo, do espírito que reina sobre a administração : ministros sentem-se limitados em suas ações ; secretários executivos fazem a ponte entre a presidente e os ministérios ; partidos não apitam nas políticas ministeriais e, assim, a política de coalizão vai se tornando em política de colisão. PMDB faz alerta Os presidentes da Câmara e do Senado, Henrique Alves e Renan Calheiros, foram levados pelo vice-presidente Michel Temer para uma conversa franca e leal com a presidente Dilma. Fizeram ver que o Congresso não pode e não deve trabalhar de afogadilho, sendo o escoadouro das questões de interesse governamental. Precisa agir nos trâmites estatuídos na Carta Maior, respeitando-se os princípios da autonomia, independência e harmonia entre os Poderes. Todo cuidado foi tomado para evitar críticas mais acerbas ao comportamento das ministras Gleisi e Ideli. Na verdade, as duas não têm poder de mando. Funcionam como veículos de transporte de mensagens e recados. A relação entre Congresso e Executivo precisa ser mais respeitosa. Tensões na base Nunca se viu, como hoje, um contencioso mais denso e polêmico que este gerado pelas tensões entre o governo e suas bases. Líderes e partidos criticam, de público, ações e atitudes da presidente e de suas ministras que promovem a articulação política. Governistas já usam expressões que sinalizam distanciamento de seus partidos do governo em face do descaso a que são submetidos. Com o PMDB, as parcerias com o PT estão ameaçadas em 7 Estados. O PMDB quer fazer o maior número possível de governadores, meta que também está na planilha do PT. O ex-presidente Lula, diz-se, após o périplo que faz em alguns países, vai se dedicar à tarefa de harmonizar os espíritos. Tarefa que, desta feita, tende ao fracasso. De olho no pibinho Os eventuais quatro candidatos principais à presidência da República poderão empurrar o pleito de 2014 para um segundo turno. As pesquisas mostram que se todos forem à luta - Dilma, Aécio, Marina e Eduardo Campos - as chances de um segundo turno tornam-se muito fortes. Ademais, sinais preocupantes se observam no horizonte, com as indicações de queda de 10 pontos percentuais na avaliação da presidente Dilma e de inclusão do cardápio da inflação na conversa matinal das donas de casa que fazem feira. A queda de Dilma pode não ser impactante, face à alta avaliação que dispõe - 76% de boa avaliação. Quem pode acinzentar a moldura é a continuidade de um pibinho inexpressivo sob o pano de fundo de um desemprego crescente. Isso, sim, poderia ser uma frente de obstáculos. Por isso, a economia estará no olho do furacão nos próximos tempos. Ou no olho dos pré-candidatos. Consumo X investimento Há uma intensa discussão no meio da equipe econômica. Como se sabe, nem todos rezam pela mesma cartilha. Há aqueles que ainda defendem o incentivo ao consumo como pista para se chegar ao pódio eleitoral. E há aqueles que acham tal receita completamente defasada. Os tempos bicudos de hoje já não facilitam medidas de impulso ao consumo, como as que o Brasil adotou para escapar da crise de 2008. O novo tom é o da orquestra que toca os arranjos dos investimentos. Diz-se que a arenga entre os pensantes de um lado e de outro é ácida. E que, por conta disso, figuras importantes estão dando adeus ao governo, como é o caso do secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Nelson Barbosa. MP 609 Vem aí a MP 609, que trata da cesta básica. Nela estaria embutido o escopo da frustrada MP 605, que não foi votada pelo Senado e caducou. Pois bem, essa MP é daqueles que mexem com o governo, eis que contem matéria vital para a melhoria do clima social. Há receio de que seja vencida pelo tempo. Não tem ainda parecer do relator, deputado Edinho Araújo. O receio é que, aprovada às pressas pela Câmara, chegue ao Senado fora dos prazos regulamentares, estatuídos pelo presidente Renan Calheiros. Partido Rede Boas perspectivas : o Rede Sustentabilidade, partido de Marina Silva, deverá ser formalizado até a data fatal de princípio de outubro deste ano, um ano antes das eleições. Até julho, a entidade terá suas 500 mil assinaturas. O corredor do Tribunal Eleitoral é que pode ser longo. PSD em baixa ? Ouve-se, aqui e acolá, um bochicho dando conta da fuga do PSD que alguns parlamentares estariam programando caso, até outubro, novos partidos políticos apareçam no espectro partidário. Além do Rede, de Marina, espera-se que o partido que está sendo criado por Paulinho da Força também ganhe vida. No caso do PSD, fala-se da tendência de parcela do corpo parlamentar em deixar a base governista para se aliar a Aécio Neves ou Eduardo Campos. Kassab, mãos à obra ! Padilhando... ? Dizem que o ministro Alexandre Padilha já recebeu bilhete azul para viajar no pleito de 2014 como candidato ao PT ao governo de SP. Incrível, pois o ministro tem pouca coisa a apresentar. Se há um lado feio na paisagem social é o da Saúde. A ponto de Padilhando ser chamado de ministro da Doença. Por isso, o padilhando, o gerúndio que o pré-candidato começa a semear no jardim da marquetagem, pode se transformar no vadiando ou no maltratando... ! Segurança crítica Segurança Pública será, seguramente, temática da linha de frente nas campanhas eleitorais de 2014, principalmente nos maiores Estados, cujas metrópoles pedem SOS. Os casos de barbaridade explodem. Crimes hediondos se multiplicam. Qual a solução ? Mais policiais ? Salários melhores ? Integração das Forças ? Investimento em Inteligência ? Diminuição da maioridade penal ? Aumento do prazo de detenção do adolescente criminoso ? Mudança no Estatuto da Criança e do Adolescente ? Expansão das redes dos presídios ? Instituição de bônus-prêmio para policiais com melhores resultados na diminuição dos índices de violência ? Horizontes do Bradesco "As expectativas para as principais variáveis macroeconômicas passaram por ajustes, especialmente para 2013, respondendo à frustração com o resultado do PIB do primeiro trimestre, à mudança de ritmo do aumento da Selic anunciada na decisão do Copom na última quarta-feira e à rápida depreciação da moeda brasileira, observada na semana passada, conforme apontado pelo Relatório Focus - divulgado hoje pelo Banco Central, com estimativas coletadas até o dia 31 de maio. A mediana das expectativas para o IPCA passou de 5,81% para 5,80% para este ano e seguiram em 5,80% para ano que vem". (Departamento de Estudos e Pesquisas Econômicas do Bradesco) PIB de 2,77% "A estimativa de crescimento do PIB mostrou queda para 2013, passando de 2,93% para 2,77% e caiu de 3,50% para 3,40% para 2014. A mediana da projeção para a taxa Selic subiu de 8,25% para 8,50% para este ano e continuou em 8,50% para 2014. Por fim, as projeções para a taxa de câmbio apresentaram discretos ajustes na direção do real mais depreciado, passando de R$/US$ 2,03 para R$/US$ 2,05 em 2013 e de R$/US$ 2,07 para R$/US$ 2,10 em 2014, considerando a expectativa para final de período". (Bradesco) Afif governador Pois é, Guilherme Afif assumirá, na próxima semana, o governo de SP, substituindo o governador Alckmin, que viajará à Europa. Alckmin defenderá, em Paris, ao lado do vice-presidente Michel Temer, a candidatura da capital paulista como sede da Expo 2020. Afif pedirá afastamento temporário da Pasta da Micro e Pequena Empresa. Não há nenhum obstáculo a essa ação. O ministro segue rigorosamente a orientação da AGU. Que, em parecer, defendeu não haver nenhuma ilegalidade para que o vice-governador assuma o governo temporariamente. Medo em bares e restaurantes A onda de violência em bares e restaurantes da cidade deve provocar uma procura maior por segurança privada, a maneira indicada para conter os arrastões. Mas os proprietários não podem incorrer num erro primário : contratar pessoas sem experiência e, muito menos, empresas clandestinas que infestam o mercado, dessas sem autorização da Polícia Federal para funcionar. Cautela é fundamental : informe-se sobre a idoneidade da empresa na própria PF ou no Sindicato das Empresas de Segurança Privada, Segurança Eletrônica, Serviços de Escolta e Cursos de Formação do Estado de São Paulo - Sesvesp. Picadinho A propósito da mulher que fez picadinho do marido-japonês, a coluna recebe esse alerta do amigo Álvaro Lopes : "Até a década de 70, se a mulher descobrisse uma traição ela perdoava e cuidava do marido, com medo de ser abandonada... Na década de 80, se a mulher descobrisse uma traição, juntava as próprias coisas na mala e ia embora... Na década de 90, se a mulher descobrisse uma traição, juntava as coisas do marido na mala e o mandava embora... Hoje, quando a mulher descobre a traição, junta o marido em pedaços na mala e joga tudo fora". Conselho ao novo ministro do STF Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes, membros dos Poderes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos dirigentes da ANAC. Hoje, volta sua atenção para o ministro Luís Roberto Barroso, recém-nomeado para compor o quadro do STF : 1. A sociedade organizada acompanha com atenção a movimentação que culminou com sua nomeação para o elevado cargo de ministro da mais alta Corte do país, graças aos seus méritos pessoais e reconhecida sapiência de jurista. 2. É de esperar que a passagem de Vossa Excelência pelo STF será coroada de êxitos e brilho. O momento político-institucional mostra o acirramento de tensões entre os Poderes, motivo pelo qual sua performance - decisões, julgamentos, pareceres - deverá receber alta atenção dos operadores do Direito e das lideranças da sociedade. 3. Por isso mesmo, toda cautela se fará necessária para que os julgamentos a cargo de Vossa Excelência estejam imunes ao "viés politiqueiro", que passou a carimbar as atitudes de membros da Corte Suprema. Que a recomendação de Vossa Excelência ilumine as decisões de todos os seus futuros colegas : "STF não deve ceder à pressão da sociedade".
quarta-feira, 29 de maio de 2013

Porandubas nº 359

Abro a coluna com três historinhas do incomparável Jânio Quadros, pinçadas do livrinho Bilhetinhos de Jânio, que me foi presenteado pelo amigo Luis Costa : Cães Juarez Távora, que Jânio apoiara com decisão no sentido de levá-lo à presidência da República, foi atacado com violência em sua honorabilidade. Jânio, imediatamente, telegrafou ao ex-candidato, confortando-o moralmente, dizendo : - Felizmente ainda contamos com homens da estatura moral do prezado amigo. Os cães que ladram aí, ladram aqui, também. Milagre O prefeito de Fernandópolis/SP, na audiência aos prefeitos do interior, solicitou de Jânio providências urgentes para solucionar o problema da eletricidade do seu município, "ameaçado a ficar às escuras dentro de sessenta dias". O governador tinha de arranjar a luz. - O amigo me pede um milagre ! - respondeu Jânio. Ninguém pode dar luz em sessenta dias... Após os sorrisos, o governador declarou que iria tentar o milagre. Comida e trabalho Num discurso pronunciado, de apoio à candidatura de Juarez Távora à presidência da República, Jânio emitiu a seguinte imagem, a respeito do trabalho e da comida : "Neste país, milhões e milhões de homens trabalham, trabalham para uns poucos comerem, comerem. Se o Criador desejasse que dos seus filhos uns só fossem criados para trabalhar e outros só para comer, tê-los-ia feito : uns, só com braços; e outros, só com bocas". Caixa de boatos Pois é, o boato que as oposições teriam maquinado para desestabilizar o programa-símbolo do governo Dilma foi um tiro n'água, ou melhor, um bumerangue. Voltou-se contra o próprio governo. A Caixa Econômica foi a responsável pela confusão, ao antecipar o pagamento dos benefícios do Bolsa Família na véspera da circulação da boataria sobre o fim do programa. Jorge Hereda confessa que o banco errou (cometeu uma heresia ?) e pediu desculpas, na esteira da hipótese de que a antecipação teria efetivamente provocado a onda de saques. Boato e bumerangue Seria incrível que as oposições partissem para a montagem de boatos tratando do fim do benefício. Ao final do processo, a trama se voltaria contra as oposições, bastando que a tuba de ressonância do governo desmentisse a versão. O povão, claro, acabaria se revoltando contra a fofocagem que teria sido perpetrada pelas oposições. Este consultor já alertara sobre a inconsistência da tese, na coluna da semana passada. Hoje, confirma sua posição. Há que se ter muito cuidado com boatos. Eles podem acabar matando a fonte inspiradora. Podem ser um bumerangue. Nuvens cinzentas O horizonte mostra o aparecimento de nuvens densas. A economia dá sinais de fragilidade. A inflação começa a dar as caras e o povão começa a expressar preocupação. Pesquisas já apontam nessa direção. Os investidores ensaiam passos de retraimento. A esfera política se agita e avoluma críticas ao governo. A presidente Dilma, apesar da disparada boa avaliação, já não conta com tanta simpatia de suas bases. Ao contrário, os partidos da base, com exceção do PT, abrem suas trombetas. Parlamentares querem mais atenção da presidente Dilma. Que não tem a flexibilidade de Lula para olhar com atenção as demandas políticas. Triângulo das Bermudas SP, com mais de 30 milhões de eleitores, MG, com cerca de 15 milhões e RJ, com cerca de 12 milhões formam o Triângulo das Bermudas das eleições. Como se sabe, o Triângulo das Bermudas constituem o misterioso espaço no Caribe, que abriga navios e aviões nas profundezas do oceano. Também conhecido como Triângulo do Diabo, na área ocorrem fenômenos físicos, químicos, climáticos, geográficos e geofísicos, sendo palco de desaparecimentos de aviões, barcos de passeio e navios. Pois bem, SP, MG e RJ juntam a maior fatia do eleitorado brasileiro. Essa é a razão que justifica a tese : quem atravessar, incólume, o Triângulo, estará salvo. Os votos de cada um Aécio Neves deve conduzir em torno de seu nome a maior fatia do eleitorado de 15 milhões. Teria entre 6 a 7 milhões de votos (válidos). Dilma, entre 4 e 5. O restante se diluiria. No Rio, tudo vai depender do grupo de Cabral/PMDB. Se for com Dilma, esta ganharia a maior fatia, algo entre 5 e 6 milhões. Mas se for com Aécio, o mineiro poderá ter a maior vantagem. E se Lindenberg entrar no páreo ? É possível que o senador na disputa rache o eleitorado, deixando Cabral com Aécio ou mesmo com Eduardo Campos, se este confirmar sua candidatura. Cabral garante que não topará apoiar Dilma se o senador Lindenberg for ao páreo. Em SP, o tucanato de Alckmin estará fechado com Aécio. Mas a presidente Dilma pode abocanhar os 30% tradicionais que o PT tem no maior contingente eleitoral do país. Ademais, o PMDB e outros partidos da base devem continuar a chancelar o nome da presidente. Há, ainda, o fator Lula, capaz de puxar mais uma sacola de votos na reta final. No Nordeste, com quase 30% dos votos do país, a maré tende a encher a praia de Dilma. Campos, lá e cá A cada semana, o governador Eduardo Campos acrescenta uma bateria de interrogações a respeito de seu futuro. Esta semana, longa matéria no jornal Valor Econômico praticamente mostra que as pontes com o governo Dilma e o PSB foram quebradas. Há uma ampla crítica ao governo e ao PT, que não respeitaria outros partidos, considerando-se o único responsável pelos êxitos da administração. Campos volta a ter uma agenda de viagens e a ouvir as bases do seu partido. Abriu as portas para o ingresso de seu vice, João Lyra, e estaria dando adeus ao seu correligionário, Fernando Bezerra, ministro da Integração. Que estaria arrumando as malas para deixar o PSB e ingressar noutra sigla. Mas as interrogações se expandem : entre os governadores socialistas, qual apoiaria a candidatura Eduardo Campos ? Serra candidato ? SDS O governador Geraldo Alckmin garante : José Serra será candidato. A que ? Resposta : perguntem a ele. Maneira mineira de despistar. Serra poderá ser candidato a presidente da República ? Sim, caso queira e seja acolhido pelo MD, partido a ser formado com a fusão do PPS e do PMN. Serra também poderá ser candidato a senador. E a deputado ? Isso é coisa menor para ele. E a governador de SP pelo MD ? Hipótese improvável. Lutar contra o tucanato que ajudou a nascer e a se consolidar ? Nem mesmo ele, Serra, sabe quais são as rotas de seu futuro. SDS - Só Deus Sabe. O ano da contabilidade Foi lançada na segunda-feira, 27/5, na Assembleia Legislativa, a campanha "2013 - O ano da contabilidade no Brasil", iniciativa do Conselho Federal de Contabilidade, em parceria com as demais entidades da categoria. A profissão, regulamentada há quase 70 anos, é hoje uma das cinco mais procuradas nas universidades, segundo o deputado estadual Itamar Borges, que presidiu a sessão solene. Para Sérgio Approbato Machado Júnior, presidente do Sindicato das Empresas de Serviços Contábeis e de Assessoramento no Estado de São Paulo (Sescon/SP), a categoria contábil vem conquistando um canal de comunicação importante na esfera política. "Buscamos sempre mudanças significativas para a sociedade como a desburocratização e a redução da carga tributária. Não há desenvolvimento que não passe pelo contador. A contabilidade faz parte da gestão das empresas". Mídias sociais no turismo Um estudo realizado pelo Ipeturis (Instituto de Pesquisas, Estudos e Capacitação em Turismo), por encomenda do Sindetur/SP (Sindicato das Empresas de Turismo no Estado de São Paulo), mapeou o uso das mídias sociais no setor de agenciamento turístico. Entre as agências pesquisadas, 54% utilizam a rede para aumentar as vendas e fidelizar clientes. O Facebook é a ferramenta mais popular, citada por 97% das empresas. "Com a evolução tecnológica, as mídias sociais se tornaram indispensáveis para o trabalho dos agentes de turismo na comunicação com o cliente. Quem saiu na frente já ocupa um valioso espaço no mercado", afirma Marciano Freire, diretor do Ipeturis. Em respeito aos passageiros Diante da total omissão da ANAC, que tapa os olhos para as relações injustas entre empresas aéreas e seus passageiros, o Sindicato das Empresas de Turismo no Estado de São Paulo - Sindetur/SP, levanta a bandeira da defesa dos consumidores, sob o comando de seu presidente Eduardo Nascimento. O decálogo do sindicato mostra as obrigações que a ANAC deveria impor, mas não impõe : 1. indiquem a quantidade de assentos disponíveis nas tarifas promocionais; 2. atendam chamadas telefônicas no tempo máximo de um minuto; 3. atribuam validade mínima de 24 horas para o valor da tarifa oferecida; 4. informem claramente o preço total e as restrições da tarifa oferecida; 5. não apliquem taxas abusivas por remarcação ou cancelamento; 6. reparem, em no máximo 30 dias, os danos por voos cancelados; 7. reparem de imediato danos por extravio de bagagem em voos de ida; 8. reparem, em no máximo 30 dias, danos ou extravio de bagagem, na volta; 9. reembolsem, em no máximo 30 dias, passagens não utilizadas; 10. transportem consumidores de empresas que paralisarem atividades. Choque de qualidade O secretário do Desenvolvimento Econômico Sustentável do Estado de SC, Paulo Bornhausen, acaba de marcar um gol de placa com o lançamento de seu projeto "Gestão Municipal para a Nova Economia". Ao custo de R$ 3 milhões, o projeto pretende estimular o desenvolvimento econômico sustentável dos municípios catarinenses por meio do aumento da capacidade de investimento, qualificação dos serviços e dos servidores públicos, e melhoria da gestão para questões estratégicas. Com isso, quer dar um choque de qualidade na precária administração das prefeituras. Vários prefeitos e empresários já aderiram, entre eles Jorge Gerdau. A Anvisa e os clandestinos Donas de casa, pessoas responsáveis, continuam a sentir falta do álcool líquido mais forte nas prateleiras de supermercados e recusam aquele mais fraco ou o gel. Enquanto isso, os postos de gasolina continuam a vender o álcool mais forte (etanol) em garrafas pet para pessoas nem tão responsáveis assim. Usam este produto negado às donas de casa para fazer suas fogueiras nessas noites frias de outono ou então para, depois de muitos goles a mais, acender suas churrasqueiras. A Anvisa é a responsável por tamanha incoerência : proíbe o álcool 92 INPM para pessoas sérias e empurra outros consumidores para a clandestinidade, passíveis de acidentes. O governo Federal precisa entender que a sociedade brasileira não precisa da tutela da Anvisa. Cachorro-quente e Aluízio Aluizista roxo, que tinha no dedo polegar erguido um dos seus símbolos, o comerciante Francisquinho Nunes do Café e Bar Mossoró não se descuidava no culto à sua paixão. Em seu comércio no centro da cidade de Mossoró, com clientela diversificada, não tergiversava na hora de expressar sua preferência política. Para causar embaraço a Francisquinho, partidários do deputado Vingt Rosado ou mesmo circunstantes diversos, apenas à cata de diversão, chegam ao Café e Bar Mossoró e tascam o pedido. Um deles repete o que outros já vinham provocando : - Francisquinho, dois cachorros-quentes. Aliado ao pedido verbal, o cliente sinaliza com dois dedos formando um "V" de Vingt Rosado, ferrenho adversário do líder Aluízio Alves. Incontinenti, o comerciante não amolece, nem cai na armadilha simbológica. - Está certo ! Vai um e um - avisa ele, sinalizando com o polegar erguido duas vezes (Historinha contada por Carlos Santos em "Só Rindo 2".) Conselho aos diretores da ANAC Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes, membros dos Poderes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado ao governador de SP, Geraldo Alckmin. Hoje, volta sua atenção aos dirigentes da ANAC : 1. A infraestrutura de serviços nos aeroportos e a falta de controle sobre as companhias aéreas atestam a ineficiência da Agência dirigida por Vossas Excelências. 2. Assumam suas responsabilidades, fiscalizem de maneira exemplar as companhias aéreas, atentem para as queixas dos consumidores, procurem cumprir de maneira rigorosa as funções que cabe à ANAC executar. 3. O Brasil se prepara para sediar os dois mais importantes eventos do calendário esportivo mundial. A continuarem os buracos, vazios e descontroles no sistema de transportes aéreos, o país será submetido à mais intensa bateria de críticas e denúncias de sua história. Atentem para evitar esse descalabro.
quarta-feira, 22 de maio de 2013

Porandubas nº 358

Abro a coluna com mais uma historinha da Paraíba. Zé Cavalcanti, político populista, filho de Né Cavalcanti, de São José de Piranhas, administrou a cidade de Patos entre novembro de 1963 a janeiro de 1969, devido a prorrogação de mandatos de prefeitos e vereadores. Sempre andou às turras com o governador João Agripino. Numa das campanhas, os ânimos ficaram mais acirrados. Certo dia, Zé foi surpreendido por um telefonema de João Agripino, que o chamava ao aeroporto de Patos. Sem qualquer explicação do governador, tomaram o avião e seguiram para Catolé do Rocha. Na chegada, Agripino comunicou : - O seu amigo Zé Sérgio foi quem mandou que eu lhe trouxesse para tomar parte num comício hoje aqui em Catolé. Era tarde para Cavalcanti protestar. Só que o candidato adversário de Zé Sérgio era o Frei Marcelino. A noite, no comício, Cavalcanti, o segundo orador, foi anunciado com estardalhaço. Começou pregando uma peça contra o governador, postado ao seu lado e de quem queria se vingar. - Vocês daqui de Catolé já me conhecem bem, que esta não é a primeira vez que falo aqui em campanha. E, para ser sincero, vou iniciar desagradando a todos, dizendo que se estivesse aqui, acompanharia Frei Marcelino ! Suspense ! Repetiu : - Já disse e torno a dizer: se eu estivesse aqui, acompanharia Frei Marcelino ! Antes de levar uma bofetada, emendou : - Estaria com Frei Marcelino, sim, mas na Igreja, acompanhando procissão e assistindo missa, que ofício de frade é rezar e não fazer política !... Ba(r)boseiras ? não O ministro Joaquim Barbosa acaba de receber mais uma bateria crítica por ter dito que os partidos políticos brasileiros são de "mentirinha" e mais : que o Congresso Nacional é inteiramente dominado pelo Executivo. Teria dito alguma baboseira ? Ou, usando seu sobrenome, barboseira, algo exagerado em se tratando de uma figura polêmica como Sua Excelência ? Pois bem, o presidente do STF não exagerou. Disse o que se sabe. Este consultor, ao longo dos últimos anos, tem se dedicado à tarefa de descrever a qualidade da nossa representação política. E comprova o que o ministro Barbosa diz: os partidos políticos são assemelhados, pasteurizados, perderam substância ideológica, lutam em torno da meta "o poder pelo poder". Congresso refém O nosso presidencialismo, por sua vez, é de caráter absolutista, imperial. O poder da caneta - nomeação, demissão, aprovação, desaprovação - o coloca na dianteira dos Poderes Legislativo e Judiciário. Todos comem no prato cozido pelo Executivo. Quem tem o poder de nomear os ministros do Judiciário ? Ora, o presidente da República. Herdamos a índole absolutista dos tempos do Império. A força do presidencialismo nasce nas águas do nosso passado. Tradição ibérica. Veja-se o Orçamento da República. Tem o selo autorizativo. Aprovado pelo Parlamento, as verbas nele consignadas só são liberadas com a aceitação/aprovação do Executivo. Não é a toa que o atual presidente da Câmara quer aprovar o Orçamento Impositivo, pelo qual os recursos destinados aos seus fins serão garantidos. Barbosa e a liturgia Se o ministro Joaquim Barbosa falou o que já se sabe, por que tanta reação e tantas críticas à sua expressão ? Porque ele esqueceu a liturgia do poder. Há coisas que são verdadeiras e não podem ser ditas por um comando de Poder. Joaquim representa a voz do Judiciário. Expressa a voz da autoridade máxima de um Poder. Trata-se, então, de um Poder execrando outro. A liturgia do cargo não permite que se expresse usando as palavras que usou : mentirinha, por exemplo. Quer dizer, não temos partidos políticos. Ocorre que eles existem. De maneira legal e legítima. Se são assemelhados, isso é outra coisa. O analista político pode dizer isso, mostrando que a crise da democracia representativa é exatamente o declínio dos partidos, o destroço das ideologias, o arrefecimento das bases e o enfraquecimento dos Parlamentos. Leitura correta, expressão chula A leitura pode ser correta, mas a expressão parece chula, quando emitida pelo presidente da nossa Corte maior. Acrescente-se ao fato o perfil polêmico de Joaquim Barbosa, ainda envolto no manto do mensalão. Foi um relator enérgico. Condenou importantes figuras da constelação política. Ganhou fama. Passou a ser visto como um eventual disputante da seara política. Diz o que lhe vem à cabeça. Não consegue administrar as tensões e pressões. Abriu fissuras em outras áreas que operam o Direito. Envolveu-se em projetos e recursos que formam um divisor de águas entre os Poderes Legislativo e Judiciário. Por isso, qualquer coisa que diga - mesmo as maiores obviedades - ganha alcance e gera efeitos bombásticos. Crise entre poderes ? Há quem veja o acirramento da crise entre os Poderes. Ora, essas tensões fazem parte das democracias, principalmente as incipientes como a nossa. Não temos uma árvore democrática forjada ao longo de muitos séculos. Ainda estamos vivenciando o ciclo de ajustes e afinações. Nossas instituições ainda padecem da pequena vivência histórica. Tudo está para ser reformado : os partidos políticos, o sistema de governo, as estruturas de Estado. Não será mais uma fala franca e sincera do Barbosa que trincará as bases de uma relação entre os Poderes. Estranha concorrência O governo de SP conduz de maneira estranha a concorrência para a compra de 65 trens (520 carros) para a CPTM - Companhia Paulista de Trens Metropolitanos, um negócio de quase R$ 2 bilhões, o maior da história neste setor. Ao abrir a licitação internacional, o governo impôs praticamente as mesmas condições para as empresas nacionais e estrangeiras. Detalhe da maior importância : as nacionais pagam todos os tributos, mão de obra, etc. Enfim, seu preço embute o altíssimo Custo Brasil. As estrangeiras, não : além de incentivos fiscais em seus países, entram aqui a custo zero, pois a Secretaria de Transportes Metropolitanos goza de imunidade tributária. Perda de 80 mil empregos Talvez o governo paulista não tenha avaliado as graves consequências de sua conduta nesta concorrência : ao favorecer os estrangeiros (pode-se ler chineses) com qualidade e preço inferiores, a Secretaria de Transportes pode decretar o fim da indústria ferroviária nacional. Isto significa a perda de 80 mil empregos (20 mil diretos e 60 mil indiretos), renúncia fiscal de todo imposto recolhido pelos fabricantes com plantas no Estado e a interrupção da tecnologia para este país tão carente disso. Obedecer ou não à Justiça ? O caso de SP é ainda mais emblemático, pois o Palácio dos Bandeirantes procura inviabilizar a indústria ferroviária brasileira, em atitude oposta à do governo Federal, que incentiva as indústrias automobilística e naval, em franco crescimento. Uma liminar concedida pela Justiça pede que o governo paulista leve em consideração os "favores fiscais" conferidos às empresas estrangeiras, para nivelar a situação entre as concorrentes nacionais e internacionais. Resta saber se o governo paulista obedece à Justiça ou se leva adiante sua determinação de favorecer estrangeiros para quebrar as nacionais. Mas continua estranho o fato de o governo paulista promover o desemprego em empresas que têm suas fábricas justamente no Estado de SP. Uma cunha no Cunha Quem está carecendo de uma cunha - no sentido de uma interferência em seu padrão de comando - é o líder do PMDB na Câmara, Eduardo Cunha. Trata-se de um sujeito inteligente, trabalhador, ágil, e que passou a canalizar a indignação dos atores políticos que formam a base governista. É sabido que a presidente Dilma não vê com bons olhos as pressões da esfera política. Tende a rejeitá-las. Donde se pode pinçar a hipótese de que seu conceito nas casas congressuais é muito ruim. Bem distante da aprovação que alcança na sociedade, algo em torno de 75%. Pois bem, as demandas reprimidas da base governista estão sendo canalizadas por Eduardo Cunha, que viu a oportunidade de marcar posição e, em certo sentido, fazer oposição ao próprio governo, que apóia. Uma contradição. O que fazer ? Ora, só inserindo uma cunha na estratégia oportunista do Cunha. Aécio morno Aécio Neves assumiu a presidência do PSDB com um clássico discurso de oposição. O que é ser clássico no campo da expressão ? É dizer mais ou menos o seguinte : temos de mudar para melhor; temos de fazer mais; temos de combater a corrupção; temos de incentivar os investimentos; o Brasil tem de crescer muito mais do que mostra esse pibinho. E assim por diante. A pergunta é : como fazer isso ? Quais as alavancas para mover o país ? Por onde mexer ? Quais as grandes ações prioritárias que devem merecer nossa atenção ? Ninguém viu e ouviu respostas para essas questões. Não adianta dizer que esse escopo virá no momento certo. O momento de expor um ideário para o país é esse : bem antes do ciclo eleitoral. Quanto mais cedo se apresentarem as ideias, mais condições terão de ganhar o crivo social. O PSDB não tem ainda um discurso para o país. Fernando Henrique, que deveria ajudar, também continua com sua linguagem tatibitate. Boato chegou ao bolso Este consultor tem repetido seu refrão : quem pode tirar o eleitor do sério é a equação BO+BA+CO+CA= Bolso, Barriga, Coração, Cabeça. Bolso com grana significa geladeira cheia, barriga satisfeita, coração agradecido e cabeça dando o voto a quem....joga a graninha no bolso. Pois bem, a massa está satisfeita. Vivendo situação de conforto. Quando, porém, o boato desfaz a equação, a correria se instala. Todos correm aos bancos. Para sacar seu dinheirinho do Bolsa Família. O governo passa a ser execrado. Por poucas horas. Até se descobrir que a correria foi fruto de boato. Nesse caso, a indignação se volta contra as oposições. Moral da história : quem com boato ataca, com a verdade será ferido. Que aparecerá mais cedo ou mais tarde. Slogans Slogan da Dilma : vamos fazer mais. Slogan do Eduardo Campos : vamos fazer mais e melhor. Slogan do Aécio Neves : vamos diferente para fazer melhor. Resumo : todos compromissados com a fazeção. O Brasil é uma eterna repetição. A rede de Marina O partido Rede, de Marina Silva, deve chegar às 500 mil assinaturas nos próximos 30 dias. É razoável contar com ele no próximo pleito. Honra ao mérito Vejam essa : acontecimento curioso envolvendo a Câmara de Vereadores de Arcoverde, sertão de PE, tem causado muita polêmica na cidade. Uma ex-prostituta famosa no local e conhecida como Nena Cajuína vai ganhar uma medalha de honra ao mérito por serviços prestados à comunidade. A proposta foi da vereadora Célia Cardoso e foi aprovada com unanimidade. Conselho ao governador Alckmin Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes, membros dos Poderes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado à presidente Dilma Rousseff. Hoje, volta sua atenção ao governador de SP, Geraldo Alckmin. 1. Vossa Excelência dedicou, ao longo de sua vida, uma história densa em defesa dos interesses do Estado de SP. A essa altura de seu mandato, precisa cultivar essa história e coroar assim sua passagem pelo Palácio dos Bandeirantes; 2. Assim, não convém levar adiante uma concorrência lesiva aos interesses da indústria ferroviária nacional, que planta neste Estado o seu desenvolvimento; 3. Não permita que essa indústria quebre, com uma consequente demissão em massa de milhares de trabalhadores, apenas para beneficiar empresas estrangeiras que nenhum vínculo têm com o povo paulista. ____________
quarta-feira, 15 de maio de 2013

Porandubas nº 357

Abro a coluna com mais uma historinha do folclore mineiro. Mineirim Para desvendar a alma do capiau mineirinho, conta-se a história de um empresário que viajava pelo interior de Minas e, ao ver um peão tocando as vacas, parou para lhe fazer algumas perguntas : - O compadre poderia me passar umas informações ? - Claro, uai ! - As vacas dão muito leite ? - Qual que o senhor quer saber : as maiáda ou as marrom ? - Pode ser as malhadas. - Dá uns 12 litro por dia ! - E as marrons ? - Também uns 12 litro por dia ! O empresário pensou um pouco e logo tornou a perguntar : - Elas comem o quê ? - Qual ? As maiáda ou as marrom ? - Sei lá, pode ser as marrons ! - As marrom come pasto e sal. - Hum ! E as malhadas ? - Também come pasto e sal ! O empresário, sem conseguir esconder a irritação : - Escuta aqui, meu amigo ! Por que toda vez que eu te pergunto alguma coisa sobre as vacas você me diz se quero saber das malhadas ou das marrons, sendo que é tudo a mesma resposta ? E o matuto responde : - É que as maiáda são minha ! - E as marrons ? - Também ! Fênix O governador de PE Eduardo Campos alçou voo cedo nesta temporada, correu o país, reuniu a nata dos empresários em SP e no Rio, rugiu contra o governo Federal no programa eleitoral do PSB e colheu seguidores para cimentar a estrada de sua campanha à presidência da República em 2014. De repente, submergiu. O PT até poderia achar que mais um incômodo para a eleição de 2014 estava fora do páreo. Puro engano : Campos volta à caminhada e já desembarca nesta semana em Florianópolis para uma reunião com empresários. O presidente nacional do PRB, Marcos Pereira, admite apoiar o governador no ano que vem com um discurso muito pragmático, segundo a lógica da folha de bananeira, que balança ao sabor do vento : vai aguardar para ver se a economia deslancha, se melhora, para então investir na melhor pule. O PSD na estrada O PSD do ex-prefeito Gilberto Kassab, pelo andar da carruagem, não vai precisar esperar pela evolução da economia para decidir seu apoio nas eleições de 2014 : o partido já adotou uma posição pró-Dilma em 14 Estados. Um de seus principais líderes, Guilherme Afif, já colocou o pé na estrada de Dilma. O contrabandista Lacerda fazia discurso na Câmara Federal denunciando o contrabando. Bonaparte de São Domingos Pinheiro Maia, deputado pelo Partido Rural Trabalhista e famoso por haver tomado posse de casaca e cartola pede um aparte : - Nobre líder Carlos Frederico Werneck de Lacerda, estou ouvindo com muita atenção e interesse seu rebarbativo discurso. Cheguei à conclusão de que V. Excelência quer provar que há deputados virando contrabandistas. - Não, deputado. É equívoco seu. O que ocorre é que há muitos contrabandistas virando deputado. Era o próprio. Dano social ? Mais uma novidade que surge na Justiça do Trabalho. O empregador recolhe todos os tributos legais e, por algum motivo, demite um ou mais funcionários. A praxe é : o demitido entra na Justiça e pleiteia o montante que seu advogado sugerir, como horas extras, descontos indevidos, dano moral, etc. Não bastasse a condenação por alguns dos itens baseados em provas testemunhais que prevalecem sobre as documentais, empresas vêm sendo condenadas por "dano social". Traduzindo : a empresa é condenada a ressarcir o Estado por gerar um desempregado ! Isso mesmo. Até parece que contratos contêm cláusula de vitaliciedade. Lembre-se que os tributos pagos pelas empresas abrangem coisas como o seguro desemprego. Que país é este ? Arena parlamentar Ontem, a fogueira se instalou alta na Câmara Federal por ocasião da votação da MP dos Portos. Querela entre os deputados Ronaldo Caiado e Antony Garotinho. A seguir, um parlamentar de Minas subiu à mesa, em protesto, estampando uma faixa com o número de R$ 8 bilhões. A sessão foi suspensa. Pano de fundo : o líder do PMDB, Eduardo Cunha (com sua emenda aglutinativa), e o governo cederam em suas posições. O PMDB apresentou uma versão mais enxuta de sugestões de mudanças na medida provisória que regula o setor portuário. O texto não traz mais a exigência de licitação para explorar portos privados. A medida estava prevista em uma emenda feita pelo deputado Luiz Sérgio (PT/RJ) e que foi acolhida pelo líder do PMDB, Eduardo Cunha (RJ). Até o fechamento da coluna, a matéria era objeto de debate. Seja qual for o resultado, aprovada ou não, a MP dos Portos deixará o governo de ouvidos mais abertos. PEC 37 A fogueira das vaidades pode não destruir todas as virtudes, mas desordena. Sem controle, subverte a ordem dos fatores e desequilibra sistemas e estruturas. Esta é a moldura que tem abrigado certas instâncias do MP em ações que extrapolam seu escopo funcional. Imbuindo-se do poder de polícia, passam a realizar investigações criminais, transformando suspeitas de ilícitos em roteiros sensacionalistas que acendem as luzes do espetáculo midiático. Sem mais, atraem os holofotes como "xerifes" brasileiros do século XXI. É por isso que o presidente da OAB/SP Marcos da Costa defende a PEC 37 : a CF deve tornar expressa que a apuração das infrações penais seja privativa das polícias Federal e civis dos Estados e Distrito Federal, reforçando as funções já definidas pela própria Carta Magna. A OAB/SP acaba de criar a Comissão de Defesa da Constitucionalidade das Investigações Criminais para tratar dos limites à ação investigatória do MP na esfera penal. O aliado dos passageiros Um dos maiores líderes do turismo brasileiro, o presidente do Sindetur/SP, Eduardo Nascimento, continua de espada em punho na defesa dos consumidores brasileiros, no caso os usuários do transporte aéreo. Os passageiros sabem que podem contar com esse aliado na luta contra alguns abusos costumeiros, como a mudança de voo ou cancelamento sem aviso prévio, a cobrança de taxas astronômicas por qualquer alteração no plano de viagem, a diminuição do espaço entre as poltronas, etc. Outra luta incansável é contra a burocracia nos aeroportos, aquelas filas irritantes na PF e na alfândega. Só discurso ? O metrô de SP trocou a empresa que ofereceu menor preço para executar os serviços de limpeza do sistema. Sob o argumento de economia. Até aí, tudo bem. No caso, porém, o custo menor decorreu de um corte de quase 40% no número de funcionários. Os que permaneceram trabalham, hoje, quase o dobro. No último 13 de maio, o governador Alckmin, ao assinar decreto que endurece a lei contra o trabalho escravo, foi peremptório : "Nós não queremos, no Estado de São Paulo, empregos que explorem as pessoas, que promovam um trabalho degradante e criem uma concorrência desleal com empresários sérios, que dão condições dignas de trabalho". Difícil de entender a lógica de sua Excelência. O 7º maior do mundo Entre as grandes obras anunciadas pelo governo Federal para a Copa do Mundo de 2014, um projeto chamou atenção pela grandiosidade : o futuro aeroporto internacional de São Gonçalo do Amarante, a dez quilômetros de Natal/RN. Seria um assombro, o sétimo maior aeroporto do mundo para cargas e para seis milhões de passageiros. Tão importante que o governo resolveu testar uma fórmula audaciosa : a privatização completa do novo aeroporto para fazê-lo sair do papel. Num leilão em junho de 2011, a obra foi arrematada pelo consórcio Inframérica, formado pela empresa brasileira Engevix e a argentina Corporación América. Este grupo pagou R$ 170 milhões para tocar o projeto, com um ágio de 228,82% sobre o lance mínimo fixado pelo Palácio do Planalto. Custo estimado da obra : R$ 1 bilhão, boa parte com financiamento do BNDES, comum às obras para a Copa do Mundo. Uma pista de 3 kms São Gonçalo do Amarante deveria substituir o Augusto Severo, em Parnamirim, a 18 quilômetros de Natal, aeroporto famoso por servir de base aos aviões norte-americanos durante a Segunda Guerra Mundial. É o quarto maior do Nordeste, mas as autoridades acham que está na hora de aposentá-lo. Afinal, o projeto para São Gonçalo do Amarante prometia um grande salto para a economia e o turismo do RN, além de cartão de visitas para os turistas que desembarcarão no ano que vem em Natal, uma das doze cidades-sede da Copa do Mundo. Aliás, a Arena das Dunas já está com mais de 60% das obras concluídas e deve ser entregue a tempo. Ou seja, o futebol está garantido. O aeroporto de São Gonçalo do Amarante foi idealizado em 1996 pela Infraero e pelo Exército, que durante quinze anos tentaram executar a obra. Conseguiram construir apenas uma pista de três quilômetros. Passados 17 anos, o que está feito ali, a um ano da Copa ? Elefante branco Nada existe no aeroporto de São Gonçalo do Amarante, além da velha pista, construída em mata de tabuleiro. Do projeto, não há ainda nem um pilar levantado. O grande sonho potiguar murchou, vitimado por "leis não cumpridas, Justiça tarda, projeto casuístico, prioridades invertidas, improbidade administrativa", segundo uma ação popular na Justiça desde abril com motivos óbvios : impedir a continuação das obras e investir na reforma do antigo aeroporto Augusto Severo. São Gonçalo caminha assim para mais um elefante branco de nossa história - ou mais um pedaço de mata devastado. São réus nesta ação as empresas Infravix Empreendimentos, Engevix Engenharia, BNDES, Marcelo Pacheco dos Guaranys, ANAC, a presidente Dilma Rousseff e a União Federal. Valor da ação : R$ 170 milhões, o mesmo pago em leilão pelo aeroporto. A ação popular A ação popular, proposta pelo sociólogo Paulo Sérgio Oliveira de Araújo, e sob responsabilidade dos advogados Igor Santos Steinbach e Sofia Morais de Souza Freire, sustenta : o projeto original faliu, hoje não passa de uma cópia mal feita do velho aeroporto da cidade ; por isso, tratou-se de propaganda enganosa. Dois terços da área ainda não foram desapropriadas - logo, não pode haver obra em terreno alheio e o governo não poderia leiloar um bem sem ter seu domínio pleno. Além do mais, houve desvio de finalidade. Licitou-se e proveu-se uma obra com ambições inovadoras e de proporções gigantescas para, ao final, ser executado um projeto medíocre. Não há nenhuma infraestrutura. A única estrada que liga a cidade a São Gonçalo do Amarante tem 6 quilômetros de cascalho. Outra falha : falta de licença ambiental. Os autores da ação popular pedem a anulação do contrato de concessão entre a ANAC e o Consórcio Inframérica e a desocupação da área. Fogooooo ! O deputado Edvaldo Motta, de Patos/PB, falando num comício, no bairro de São Sebastião daquela cidade, tentou vestir a camisa da honestidade. Em um tom de muita pompa, coisa que ele só usava para "inglês ver", proclamou : - Engano a tudo, menos à minha consciência. Não ! Á minha consciência, não ! Prefiro antes, dar um tiro no ouvido a enganá-la... Um gaiato, de lá do meio da multidão silenciosa, emendou : - Fogoooooo !!! (Do repertório de Ramalho Leite) Conselho à presidente Dilma Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes, membros dos Poderes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos Poderes Legislativo e Judiciário. Hoje, dedica sua atenção à presidente Dilma Rousseff. 1. Avolumam-se as críticas contra a falta ou precariedade da articulação política do governo, tarefa repartida entre as ministras Ideli Salvati e Gleisi Hoffmann. Seria oportuno que Vossa Excelência fizesse uma avaliação mais acurada do que se passa. 2. Se quiser chegar a bom termo ao correr deste ano e no ciclo eleitoral de 2014, o governo de Vossa Excelência precisa mudar (para melhor) a área da articulação com o Congresso Nacional. E se aproximar da esfera política. 3. Urge implantar um verdadeiro governo de coalizão, que significa interação com as forças políticas que dão sustentação ao governo, atendimento às grandes demandas dos representantes, dentro de critérios política e economicamente viáveis.
quarta-feira, 8 de maio de 2013

Porandubas nº 356

Chapa e perereca Abro a coluna com mais um "causo" narrado pelo potiguar Carlos Santos em Só Rindo, um de seus livros. A campanha rola e o velho costume do assistencialismo é posto em prática. Entre outras ferramentas, a doação de "pererecas", ou seja, próteses dentárias, não perde o seu "charme". Um ancião, banguelo, assediado para trocar o seu voto por uma perereca, resolve fazer o negócio. No dia da eleição ainda com uso de chapa impressa, ele aparece para votar, com a perereca no bolso. Vota e vai saindo com a cédula na mão, quando alguém da mesa receptora lhe avisa : "Ei, o senhor tem que deixar a chapa aqui", apontando para a urna. Pensando tratar-se da perereca, o velhinho a retira do bolso e desabafa : - Eu sabia que isso tinha enrolada ! Equação BO+BA+CO+CA As interrogações se multiplicam na esfera político-eleitoral ? O que ocorrerá em 2014 ? Quem tem mais chances ? A campanha terá um segundo turno ? Dilma segurará no mesmo território os partidos que hoje lhe dão sustentação ? Diante das nuvens cinzentas, este consultor, mais uma vez, tira o espanador do baú na tentativa de aclarar um pouco os horizontes. Este exercício começa com a equação que dá o título à nota : bolso (BO) com grana significa geladeira cheia ; que gera barriga (BA) satisfeita ; o coração (CO) fica comovido e agradecido e, dessa forma, a cabeça (CA) acaba decidindo recompensar os autores da façanha (bolsas e bolsos supridos) com o voto. Pano de fundo dessa equação : economia estável, inflação sob controle e baixa taxa de desemprego. A biruta aponta : Dilma, franca favorita. Equação IA+DM+VE+IS Vamos ao segundo cenário. Nesse caso, os horizontes espanados deixam ver a inflação muito alta (IA) ; o desemprego em massa (DM), estourando a boca do balão ; a violência extremada (VE), com expansão de latrocínios e assassinatos e, por consequência, a insegurança social (IS) formando ambientes de medo e indignação. Esse panorama favorece os candidatos oposicionistas, particularmente aqueles que se identificarem com a moldura de mudanças. A biruta aponta para uma batalha de segundo turno, entre a candidata Dilma e um opositor - Aécio Neves ou Eduardo Campos. Pibinho e inflação a 5% ? Mas há um cenário intermediário. E se o Brasil continuar registrando um baixo crescimento e a inflação continuar no patamar entre 5% a 6% ? Esse quadro favorece a situação ou a oposição ? Resposta : quem leva a melhor é a situação. Pois o Pibinho não chega às margens sob uma moldura de economia estável, mesmo sob baixo crescimento. As Bolsas do governo e as compensações oferecidas a setores produtivos conseguirão empurrar com a barriga as questões centrais. E a inflação nas taxas acima descritas continuará a ser suportada pelo consumo. Significa que este cenário ainda é bastante favorável à reeleição da presidente Dilma. Segundo turno O segundo turno vai depender do número de candidatos. Com dois grandes candidatos apenas, e sob um cenário de estabilidade, o quadro favorece Dilma Rousseff. O eleitorado esbarrará na dúvida : se a situação é estável por que mudar ? A tendência é de apertar a tecla do status quo. Com quatro candidatos, a possibilidade de um segundo turno é bem maior. Quem seriam os candidatos ? Dilma, Aécio, Marina e Eduardo Campos. Lembre-se que Marina teve quase 20 milhões de votos no último pleito presidencial. Que Aécio contaria com o apoio dos governos de SP e MG, os dois maiores colégios eleitorais do país. Que Eduardo Campos poderia se identificar com o fator "novidade". Tem boa estampa. Marina Em qualquer pesquisa, Marina Silva aparece com cerca de 15% dos votos. Mais que Aécio e Eduardo Campos. Dudu Eduardo Campos aparece com cerca de 5%. E tem um bloco de correligionários contrários à candidatura : os Gomes (Cid e Ciro), do CE ; o governador Casagrande, do ES ; o prefeito Alexandre Cardoso, de Duque de Caxias ; e todos sabem que o prefeito de BH, Márcio Lacerda, reza pela bíblia de Aécio Neves ; e o governador do PI, Wilson Martins, também seria favorável à reeleição da presidente Dilma. Será por isso que, nos últimos dias, Dudu desapareceu do mapa ? Não aceitou nenhum convite para participar de eventos importantes mais recentes. Joga seus olhos azuis na paisagem árida do sertão pernambucano. Contemplando a devastação da maior seca dos últimos 50 anos. Dilma A presidente começou a circular nos espaços centrais e periféricos. Começa a frequentar de maneira assídua o palco paulista. SP tem 32 milhões de eleitores. Lula é quem estaria por trás da agenda mais cheia da presidente. E Serra, hein ? Há quem enxergue um quinto candidato : José Serra. Como ? Saindo do PSDB e ingressando no MD, partido criado com a fusão do PPS e PMN. Serra tem dito que continuará a ocupar cargos. O que significa menos nomeação e mais disputas. Cargos disputados. Deputado ? Já foi. Senador ? Já foi. Governador ? Já foi. Prefeito ? Já foi. Sobra o cargo presidencial. Sairia do PSDB ? É difícil, mas não impossível. Os tucanos em SP se bicam há tempos. Mesmo com a eleição do deputado Duarte Nogueira para chefiar o tucanato paulista, as rixas continuarão. E Serra não engole o Aécio. Logo, as especulações de que pode sair do PSDB têm sentido. Até princípio de outubro, essa alternativa será uma espada de Dâmocles na cabeça dos tucanos. E um quinto candidato ? Se Serra for candidato, a moldura do segundo turno ganha mais firmeza. Seria quase impossível Dilma vencer Aécio, Marina, Eduardo Campos e Serra logo no primeiro turno. Suas chances de levar a melhor em um segundo turno com algum desses são boas. Quem garante que Eduardo Campos e Marina, por exemplo, fechem com Aécio (por exemplo) ou com Serra em um segundo turno ? Em qualquer circunstância, urge enxergar o pano de fundo econômico. Ele será o senhor da razão. Milagre O prefeito de Fernandópolis, na audiência aos prefeitos do interior, solicitou de Jânio providências urgentes para solucionar o problema da eletricidade do seu município, "ameaçado a ficar às escuras dentro de sessenta dias". O governador tinha de arranjar a luz. - "O amigo me pede um milagre ! - respondeu Jânio. Ninguém pode dar luz em sessenta dias...". Após os sorrisos, o governador declarou que iria tentar o milagre. (Do livro Bilhetinhos de Jânio, de J. Pereira) Alckmin x PT - copo cheio Em SP, a clássica polarização entre tucanos e petistas poderá ceder lugar a outros pólos de poder. Celso Russomanno, que teve um bom desempenho como candidato a prefeito, poderá entrar no jogo. Paulo Skaf, o mais forte perfil do PMDB, tem boas condições de atrair o eleitorado. O PT e o PSDB, por sua vez, esgotaram seu estoque de disputas. Lula pensa em Alexandre Padilha, ministro da Saúde, e em Luiz Marinho, prefeito de São Bernardo. O primeiro não tem o que mostrar, a não ser o desastre na saúde ; o segundo não escapa à rejeição de uma forte classe média, que o identifica com o sindicalismo petista. E Alckmin vai esbarrar na corrosão de material. Há 20 anos, os dutos do PSDB foram instalados em SP. Estão carcomidos. E Lula, hein ? Luiz Inácio Lula da Silva continua dando vazão às mais estrambóticas especulações. Uma diz respeito à sua candidatura ao... Governo de SP. Todos sabem que o sonho dos sonhos de Lula é tomar o Estado de SP para o PT. Nunca o partido conseguiu este feito. Se não encontrar o perfil ideal para vencer os tucanos, dizem, o próprio Lula poria seu nome à disposição. Este consultor acha a ideia pouco plausível. Depois de atingir os píncaros da glória, Lula aceitaria descer os degraus da fama ? Inacreditável. Hoje, ele é o mandachuva do PT, o guru da presidente, o orientador de todos os grupos petistas. Está acima de tudo e de todos. Por que descer na escada do poder ? Cabral no senado ? Sérgio Cabral começa a aplainar os caminhos do futuro. Quer ser ministro da Dilma. Espera por mais espaço do PMDB no governo. Enquanto isso, abre caminho para voltar ao Senado em 2014. Sem cargo não fica. Senador, teria mais condições de barganhar altos postos. Afif no ministério Guilherme Afif é, reconhecidamente, o mais adequado perfil para assumir uma pasta com escopo para organizar as políticas das micro e pequenas empresas. Dedicou quase toda sua vida pública a esta causa. Sua entrada na administração Federal significa o compromisso do PSD de Kassab com a reeleição da presidente Dilma. Por mais que o ex-prefeito Kassab diga que a escolha de Guilherme está na conta pessoal da presidente. Kassab já cumpriu todos os compromissos com José Serra e o tucanato. Quer, agora, consolidar seu partido. Telefones e versos A Sra. Dahyl de Marsilac Fontes, da família do poeta Martins Fontes, dirigiu, em versos, uma petição a Jânio, reclamando contra a espera, na fila, há 15 anos, um aparelho telefônico da CTB. Na parte final, diz : "E me perdoem se esta petiçãoLhe chega às mãos à última horaE no apagar das luzes...Embora !Que importa, se outras acenderão ?" Jânio respondeu, também em verso, despachando num "bilhetinho" : "Prezada Senhora.Vencendo terras e montes;- assim é a burocracia,Chegou-me, Sra. Fontes,Descrita na poesia, a história do telefone,E o mais que a história continha...- Li, Sra., e exausto e insone,Saiba que a culpa não é minha !" (Do livro Bilhetinhos de Jânio, de J. Pereira) PSD PSD de Kassab já contabiliza 12 diretórios regionais a favor da presidente Dilma. PEC 37 O MP tem importante papel na construção de uma sociedade ética e do Estado Democrático de Direito. Nos últimos tempos, porém, alguns de seus quadros têm se mostrado como organizadores de uma nova ordem social. Espetacularizam suas ações, abrem as baterias midiáticas, chamam a si as luzes fosforescentes das TVs. Não tem sentido fazer investigações criminais como se fossem comandos especiais da polícia. Devem deixar essas operações para as forças policiais. Cada macaco no seu galho. A PEC 37 faz sentido. PEC 33 Já a PEC 33, que limita o poder do STF, é fruto de uma tensão contínua entre os Poderes Legislativo e Judiciário. Somos uma democracia em processo de consolidação. Por isso mesmo, os pesos e contrapesos do nosso sistema democrático não estão plenamente regulados. O desbalanceamento gera interpenetração de fronteiras institucionais. A judicialização da política e a politização da Justiça são as duas faces dessa moldura. Daí a importância do debate. O valor da pontuação Um homem rico, sentindo-se morrer, pediu papel e caneta e escreveu assim : "Deixo os meus bens à minha irmã não ao meu sobrinho jamais será paga a conta do alfaiate nada aos pobres". Não teve tempo de pontuar e morreu. A quem deixava ele a riqueza ? Eram quatro os concorrentes. Chegou o sobrinho e fez estas pontuações numa cópia do bilhete : "Deixo os meus bens à minha irmã ? Não. Ao meu sobrinho. Jamais será paga a conta do alfaiate. Nada aos pobres". A irmã do morto chegou em seguida, com outra cópia do escrito, e pontuou deste modo : "Deixo os meus bens à minha irmã. Não ao meu sobrinho. Jamais será paga a conta do alfaiate. Nada aos pobres". Surgiu o alfaiate que, pedindo a cópia do original, fez estas pontuações : "Deixo os meus bens à minha irmã ? Não ! Ao meu sobrinho ? Jamais ! Será paga a conta do alfaiate. Nada aos pobres". O juiz estudava o caso, quando chegaram os pobres da cidade ; e um deles, mais sabido, tomando outra cópia, pontuou-a assim : "Deixo os meus bens à minha irmã ? Não ! A meu sobrinho ? Jamais ! Será paga a conta do alfaiate ? Nada ! Aos pobres !". (Do almanaque O Pensamento, de 1958) Conselho aos chefes dos poderes Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes, membros dos Poderes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos Poderes Legislativo e Judiciário. Que continuam a merecer atenção : 1. As tensões que energizam os ambientes institucionais precisam ser contidas e administradas. Os ânimos devem ser acalmados. Diálogo e compreensão, nesse momento, se fazem absolutamente necessários. 2. Urge aprofundar a agenda do momento -as PECs 33 e 37 - e dar a elas o destino mais conveniente : modificações/alterações, arquivamento ou aproveitamento parcial de seus escopos. Se trazem alguma contribuição para elevar o debate nacional e aperfeiçoar a ordem, não podem simplesmente ser deixadas de lado. 3. O Estado Democrático de Direito e a Construção da Sociedade Cidadã estão a exigir permanente diálogo e esforço para aperfeiçoamento do sistema normativo.
quinta-feira, 2 de maio de 2013

Porandubas nº 355

Infame, mas engraçada....... ! Abro a coluna com a historinha de um jogador de nome não tão afrancesado como se pode concluir pela fonética. Dirran (com "biquinho" para parecer um francês correto), galego meio sarará, entroncado e de pernas curtas, jogava no Clube Atlético Potengi, no RN. Um dia, disputava no Machadão, em Natal, uma partida contra o Potiguar de Currais Novos, pela 2ª divisão do campeonato potiguar. O jogador atleticano era o destaque. Fazia dribles desconcertantes e lançamentos perfeitos. Fechou as glórias com um golaço. O narrador da Rádio Poti gritava : "Dirran é um craque", "Dirran, revelação do futebol norte-rio-grandense". O jovem repórter estava enfeitiçado com as diabruras daquele que, em sua imaginação, acabava de chegar da França. Dirran prá cá, Dirran pra lá. No final do jogo, o Clube Atlético Potengi perdeu por 3 x 1. Mas o destaque foi Dirran. Vendo todo aquele sucesso, o jornalista jejuno da Rádio Poti correu para fazer uma entrevista com o craque na beira do gramado. Disparou uma bateria de perguntas : "Você tem parentes na França ? Qual a cidade onde nasceu, Monsieur ? Como veio parar no Brasil ? Pode comparar o futebol europeu com o futebol brasileiro ? Qual a origem de seu nome ? Como veio parar logo aqui no RN ? Como foi sua contratação? Perplexo, espantado, sem saber como responder, o jogador tascou a resposta ao incrédulo repórter : "Pera aí, meu sinhô, num é nada disso ; o sinhô se inganou ; meu apelido é Cu de Rã, mas como num pode falar na rádio, então, eles abreveia". (Historinha enviada pelo amigo Álvaro Lopes) Ecos de Comandatuba O mais abrangente Fórum de Empresários e políticos é seguramente o de Comandatuba, que o vibrante e incansável João Dória comanda há mais de uma década. Ali, empresários de grande e médio porte se reúnem com políticos de todos os calibres para debaterem aspectos da vida brasileira. São temas do mais alto interesse, como o deste último Fórum, que propiciou análise exaustiva dos eventos esportivos que vitaminarão a economia brasileira nos próximos anos : Copa do Mundo e Olimpíadas. Ministros, governadores, senadores, deputados e prefeitos de capitais acorrem ao convite de João. Empresários saem satisfeitos com o nível dos debates. E com a presença do vice-presidente da Republica, Michel Temer, que prestigiou a entrega das homenagens aos 10 empresários escolhidos pelo Lide. Temer chegou na hora do jantar e voltou à Brasília na mesma noite. Com a agenda voltada para a distensão entre o Congresso e o STF. Crença e otimismo O Fórum mostrou a confiança dos empresários no futuro do país. Quem resumiu este posicionamento de esperança e fé foi o empreendedor André Esteves, do BTG, que falou em nome dos agraciados do Lide. Mas as conversas interpessoais - pelo menos é o que este consultor pinçou - exibiram o otimismo. Ficou clara a necessidade de aperfeiçoamento das instituições. Críticas não faltam. O presidente do Congresso, Renan Calheiros, e o presidente da Câmara, falaram de seus programas e ações, sem deixar de reconhecer as dificuldades de avançar sob o escudo do consenso. Fizeram ambos uma boa peroração. Vamos a política Havia grande curiosidade em descobrir o que se passa na cabeça do governador Eduardo Campos. Este consultor, sentado à mesa em que ele se encontrava, domingo à noite, não encontrou espaço para fazer uma investida. Ficou nas conversas laterais com o prefeito Márcio Lacerda, de BH, e ACM Neto, de Salvador. Ambos estão fazendo avançar a administração. Neto importou de SP o duro e intransigente secretário das Finanças, Mauro Ricardo, que está botando ordem na casa. Lacerda, um empresário, governa com os olhos no conceito de racionalidade e eficiência. "Minha régua não está funcionando" Na segunda, após o Seminário, peguei Eduardo Campos pelo braço e joguei a pergunta que não queria calar : "governador, numa escala de 0 a 100, qual é possibilidade de sua candidatura à presidente em 2014 ?" Olhou-me com cara de surpresa, riu sem graça, e tascou a resposta : "minha régua de avaliação não está funcionando". Dudu escapou como enguia ensaboada. Não desisti. Dei uma cordinha : "governador, você só tem a ganhar. Mesmo se perder, ganha. Perdendo, você coloca seu carro no caminho de 2018". Voltou a arregalar os olhos azuis, riu mais uma vez sem graça e fechou o bico. Não disse Sim nem Não. Insisti : "você está ocupando o lugar que era de Aécio. Não percebeu ? É a bola da vez". E ouvi um balbuciar de quem queria correr dali : "é muito cedo, é muito cedo para tomar qualquer decisão". Voltou para seu Pernambuco cheio de incógnitas. E mais calado ainda. Será, sim Este consultor encaixou as respostas e não respostas no seu sistema cognitivo, sacudiu a cabeça para um lado e outro, e concluiu : "Eduardo Campos não tem mais como recuar. Já andou um bom bocado. Será candidato". Serra não sai ? Ouve-se na floresta tucana : "Serra não sai do PSDB. Apenas faz jogo de cena". Sei não. Serra não quer enfrentar novos desafios ? Rebelo, sereno e harmônico O ministro Aldo Rebelo, do Esporte, mostrou-se uma pessoa preparada e com respostas objetivas e assertivas. Tem dados, corre o país, sabe o estágio das obras, mostra as dificuldades e aponta caminhos. Não perde a serenidade e a harmonia. Foi o interlocutor mais denso do Fórum. Um bom ministro. Conhece como ninguém a realidade brasileira. Está entre os melhores do governo Dilma. Gil, 46 anos depois Gilberto Gil é como vinho envelhecido : quanto mais anos no barril, melhor. O show que deu em Comandatuba sacudiu a moleza deste consultor. Uma hora de belos e grandes clássicos musicais, acompanhado de uma grande orquestra. Pequena, mas vibrante. Depois do show, no relax do bar, quando conversava com seu amigo Furlan, ex-ministro do Desenvolvimento, sempre uma ótima companhia, este consultor se aproximou para descrever uma imagem que conserva há 46 anos na cuca : "editor dos Suplementos Especiais da Folha, um dia, na Alameda Barão de Limeira, 620, peguei o elevador no 6º andar e no 4º, entrou você, Gil, com um violão nas costas. Tinha uma barba espessa, muito bem aparada. Trocam as rápidas palavras. Você dizia que acabara de dar uma entrevista para o jornal Última Hora (ainda do Samuel Wainer), naquela época, arrendado pela Folha". Imagem que guardo do Gil. Que saudades ! Época dos Festivais da Record. Época da trajetória inicial de Gil, Caetano e Chico. Da Galeria Metrópoles. Do Bar sem Nome (onde Chico tomava seus birinaites...), ali na dr. Vilanova, onde eu morava num pequeno apartamento, exatamente na esquina da major Sertório com dr. Vilanova. Gil ouviu o relato. Última Hora, Folha, Barão de Limeira pareciam ainda frequentar sua cabeça. O episódio, claro, desmanchou-se no vácuo da Memória. Que tempos. Que saudades. De Domingo no Parque, de Gil. E Alegria, Alegria, de Caetano, que ouvi, pela primeira vez, ali perto, na rua Duque de Caxias, do som de um radinho de pilha. Na manhã esplendorosa de um domingo. Naqueles tempos, inaugurávamos os Suplementos Especiais da Folha com a coleção "Grande São Paulo : O Desafio do Ano 2.000". Época do jornalismo interpretativo. Revista Realidade e Veja. Época do Jornal da Tarde. Mino Carta e equipe. Um papo inteligente Luiz Fernando Furlan, um papo agradável e inteligente. Um empresário que mistura sapiência, experiência e simplicidade. Ex-ministro do Desenvolvimento, presta um grande serviço à causa do empreendedorismo. Anos boêmios Vivíamos anos de chumbo. O medo rondava nossos dias e noite. Nas aulas que dava na ECA/USP e na Cásper Libero, eu vigiava as palavras. Havia censores por todos os lados. Mas a boemia nos levava para cantinhos inesquecíveis : os bares charmosos da Galeria Metrópole, onde, vez outra, Chico Buarque dava suas "canjas" ; O Jogral, na Avanhandava, onde, depois de uma noitada regada a uísque, cigarro e amendoim, ouvindo Clementina de Jesus, tive a maior ressaca de minha vida. Ótimo : criei abuso ao cigarro. Deixei de fumar. Quem, naquela época, não gostava de ouvir Geraldo Cunha, com seu violão, no III Whisky, na rua Santo Antônio, lá pelas 10 da noite ? Ah, quantos bares cheios de charme : Baiuca, Oasis (do hotel Cambridge, o Captain's do hotel Comodoro, o Stardust, Cave, Juão Sebastião Bar. E aquele barzinho de um nordestino gorducho (esqueci o nome), na Praça da República, onde a cerveja ganhava a companhia de codornas importadas do Ceará ? Lembra-se, Audálio Dantas ? Onde anda José Carlos Marão, que teve uma passagem cheia de brilho na Veja e na revista Quatro Rodas ? Garibaldi Otávio, Gari, esse eu sei que voltou para a terrinha, Recife. Paro por aqui. Quanta gente boa... ! PEC 37 sob custódia Mais uma vez, o bom senso aterrissou na Câmara dos Deputados. Henrique Alves, presidente da Casa, mandou sustar a PEC 37, aquela que retira o poder do Ministério Público de executar diligências e investigações, podendo apenas solicitar ações no inquérito e supervisionar a atuação da Polícia. Henrique criou um grupo para analisar detidamente a PEC, composto por deputados, senadores, representantes do governo e das Policias e do MP. Dentro de 30 dias, será apresentada proposta alternativa. A questão é polêmica. O MP não teria imparcialidade para investigar, eis que é o responsável pela acusação nos processos criminais. Ademais, também é criticado por espetacularizar as ações. Abusos têm sido cometidos. Procuradores e promotores temem expansão da impunidade, já que o cidadão não tem a quem recorrer em casos de omissão da polícia. Vai ser difícil chegar ao consenso. Mas o esforço se faz necessário. CLT, 70 anos A Consolidação das Leis do Trabalho chega aos 70 anos caducando. E exibindo moldura disforme : 20% de toda a mão de obra do país não dispõe de carteira assinada, representando 18,6 milhões de admitidos ilegalmente, não sendo atingidos, assim, pela lei. Há, ainda, 15,2 milhões de trabalhadores por conta própria sem qualquer proteção, por não contribuírem para a Previdência Social. O país patina nessa via porque o espaço das relações do trabalho é ocupado por uma visão retrógrada de algumas Centrais Sindicais. Que defendem inchamento do Estado ; que não aceitam a regulação da Terceirização, medida que poderia ampliar o universo legal de trabalhadores ; que sonham com a volta aos tempos da Revolução Industrial. As Centrais disputam entre si para ganharem mais trabalhadores e locupletarem seus cofres. É o peleguismo agindo em pleno início da segunda década do século XXI. Qualidade das empresas contábeis Hoje à noite, será realizada em SP a 8ª edição do Programa de Qualidade de Empresas Contábeis, promovido pelo Sindicato das Empresas de Serviços Contábeis e de Assessoramento no Estado de São Paulo (Sescon/SP). Cerca de 4 mil pessoas devem participar do evento. Este ano 432 empresas serão certificadas, sendo que 379 receberão a certificação PQEC e 53 a certificação PQEC+ISO, reconhecida em âmbito internacional, numa parceria entre o Sescon/SP e a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). O evento será no Credicard Hall, em São Paulo, a partir das 19h. Após a cerimônia, haverá o show especial da cantora baiana Daniela Mercury. Conselho aos Poderes Judiciário e Legislativo Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes, membros dos Poderes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos tucanos. Hoje, volta sua atenção aos Poderes Legislativo e Judiciário : 1. O momento exige cautela. O que mais o país precisa evitar, nesse momento, é um conflito inconsequente entre os Poderes Legislativo e Executivo. Procurem, senhores presidentes das Casas Congressuais e do STF, um ponto de convergência. Nem a PEC 33 nem a proibição para que Congresso deixe de votar matérias pautadas. 2. É evidente que as tensões entre os Poderes da República fazem parte de nosso processo democrático, ainda em consolidação. Os discursos radicais devem ser isolados. 3. O Brasil espera que cada um dos Poderes cumpra o seu dever. Sem exageros, sem espetacularização, sem acirramento, sem retaliações.
quarta-feira, 24 de abril de 2013

Porandubas nº 354

Abro a coluna com o deputado Newton Cardoso, ex-governador de MG, fonte cheia de histórias hilárias. Assumiu o governo de Minas e, no dia seguinte, foi ao aeroporto para viajar no helicóptero da administração estadual. Ao tomar conhecimento de que aquele "trem" tinha o nome de seu adversário, foi logo dando bronca no piloto : - Não entro de jeito nenhum nesse trem com o nome do Hélio. O piloto, constrangido, respondeu : - Mas governador, esse helicóptero é do governo do Estado e não do ex-governador Hélio. Newtão não quis saber : - Esse trem agora vai se chamar Newton-Cóptero. Falei e tá falado. Outra historinha envolvendo o folclórico ex-governador. Resolveu passear de carro com a família. O carro pifou na estrada. O mecânico, que acorreu em socorro, diagnosticou : - É o burrinho dos freios ; está danificado. Acho bom trocar logo esses burrinhos. Cardoso deu a bronca : - Calma, seu mecânico, meus filhos não descerão dos burrinhos de jeito nenhum. Novo julgamento ? A questão da semana é : o mensalão ganhará um novo julgamento no STF ? Há quem veja esse cenário. Isso poderá ocorrer caso a maioria dos membros do Supremo acolha os chamados embargos infringentes que, desde 1990, não são objeto de análise por parte da Corte. Alguns dizem que esses embargos teriam deixado de existir face a lei 8.038/90, que regulamentou os processos em tribunais superiores, não os prevendo no STF. Se forem acolhidos, 12 condenados poderão ter suas penas alteradas, a partir de dois itens - formação de quadrilha e lavagem de dinheiro. Significa, no frigir dos ovos, penas atenuadas. José Dirceu, por exemplo, condenado a 10 anos e 10 meses, teria deduzidos de sua pena 2 anos e 11 meses. Não entraria no regime fechado, mas no semiaberto. Efeitos políticos O presidente do STF, Joaquim Barbosa, fará das tripas coração para evitar que esse "novo julgamento" possa ocorrer. Basta que haja o acolhimento de um juiz - Teori Zavascki - para empatar o julgamento (5 a 5) e favorecer os réus. In dubio pro reo. Se isso ocorrer, o que Barbosa poderá fazer ? Nada. Este consultor não acredita na hipótese aventada por uns : pegará o chapéu, dará um tchau aos colegas e, mais adiante, postará seu nome no rol de candidatos à presidência da República. Seria oportunismo puro. Chance maluca. Suicida, até. Não seria com um gesto tresloucado que Joaquim ganharia mais espaço na história. Hipótese sem eira nem beira. O mundo está de olho Então, o que pode sobrar de tudo isso ? Uma advertência : o mundo está de olho no Brasil. E quem faz esse alerta ? O próprio Joaquim Barbosa, escolhido pela revista Time como umas das 100 personalidades de maior influência no planeta. Tucanos conflagrados O tucanato, a partir da floresta mais densa, a de SP, está conflagrado. A ala Alckmin briga com a ala Serra. Andrea Matarazzo, da ala Serra, perdeu a cadeira de presidente do diretório municipal do PSDB, desbancado por um assessor do secretário de Energia de Alckmin, José Aníbal. A briga, agora, se volta para o diretório estadual. O bom deputado Duarte Nogueira tem tudo para levar a melhor se não for desbancado pelo atual presidente da sigla, deputado estadual Pedro Tobias. Nogueira seria aceito pelas alas de Alckmin e Serra. Mas Tobias mudou o critério de eleição : aumentou o colégio eleitoral, de 105 militantes, para 5 mil dirigentes regionais de todo o Estado. Aécio ainda tem dúvidas Por conta da brigalhada que envolve os tucanos paulistas, o senador Aécio Neves, prestes a assumir a presidência do PSDB, ainda tem dúvidas sobre sua candidatura à presidência da República em 2014. Se a confusão continuar na floresta tucana e o MD - partido originado com a fusão do PPS com o PMN, sob a batuta do deputado Roberto Freire - se viabilizar, ganha força a possibilidade de José Serra sair do PSDB para fazer fileiras na nova sigla. Serra e Freire são muito amigos, desde os tempos de exílio no Chile. Serra continua olhando para o alto do Planalto. Suas olheiras profundas se assemelham a uma grande interrogação. Campos sem lavoura ? Pois é, a cada dia expandem-se os sinais de que Eduardo Campos trabalha para viabilizar sua candidatura presidencial em 2014. Usa campanha pesada de TV e rádio mostra Eduardo Campos para dizer que "podemos fazer mais". Que o Brasil quer mais. Trata-se de um modo educado de fazer crítica à presidente Dilma, que estaria, assim, não fazendo tudo o que deveria fazer. A mensagem não é dura, mas tira uma lasquinha. Sinal claríssimo de que o governador de PE, cuja propaganda diz ser o mais bem avaliado no país, põe seu nome no tabuleiro. Dito isso, vamos à observação : e o apoio interno de seus correligionários ? Os irmãos Gomes (Cid e Ciro), do PSB cearense, dizem que apoiarão Dilma ; o governador do ES, Renato Casagrande, também do PSB de Campos, prega a candidatura da presidente à reeleição. E assim por diante, outros governadores do PSB também perfilam ao lado de Dilma. Campos colhe lavoura escassa. E no sudeste ? Ademais, emerge a questão : qual é a enxada de Eduardo Campos no Sudeste ? Em SP, que tem o maior eleitorado do país (mais de 30 milhões de votos), quem é o cabo eleitoral de Campos ? Em Minas, segundo maior colégio eleitoral do país (mais de 15 milhões de eleitores), há um forte peso do PSB, o prefeito Márcio Lacerda, de BH. Ora, mas até os corvos de Londres sabem que Lacerda vai na onda de Aécio Neves. Irmão siamês do neto de Tancredo. Campos, portanto, tem imagem extraordinariamente mais esticada do que a identidade. E no Rio, terceiro maior colégio eleitoral, quem é a alavanca de Dudu ? Seu vice-presidente, Roberto Amaral ? Trata-se de um bom pensador, mas não tem voto. Padilhando O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, fez em abril 5 viagens ao Estado de SP. Quer se credenciar como candidato ao governo. Fez um "pacotão de saúde" para atender cerca de 95% dos municípios paulistas. Seria o candidato de Lula, pelo PT, ao governo de SP. Diz-se que a maioria dos mandões do PT paulista já estaria fechada com seu nome. Lula apostaria, mais uma vez, no fator assepsia. Quanto menos conhecido, quanto menos político tradicional, maiores possibilidades de levar a melhor. Foi assim que Lula escolheu Dilma, para presidente, e Fernando Haddad, para prefeito de SP. Mas essa mesma estratégia valerá para Padilha ? Pouco provável. Essa figura, cuja carteira de eleitor é do PA, não tem absolutamente nada para mostrar. É mais ministro da doença do que da saúde. A conferir. Mercadante no comando Já Aloísio Mercadante, o ministro da Educação, que também sonha em governar SP, deposita seu futuro nas mãos da presidente. Que, diz-se à boca pequena, já o teria escolhido para comandar sua campanha à reeleição. Mercadante ambicionaria, se for confirmado comandante da campanha, a Casa Civil. Ministério que poderia resgatar o antigo mando e a própria coordenação política. O papel do vice O vice-presidente da República, Michel Temer, está fazendo excepcional trabalho de bastidores. No seu estilo apaziguador, convoca a área política, conversa com líderes, ajusta posições, abre alternativas, busca o consenso. Tem sido assim com a MP dos Portos, com o projeto para evitar o troca-troca partidário, com a lei dos royalties, enfim, com os projetos centrais de interesse do país. A presidente Dilma deposita em seu vice inteira confiança. Sabe que ele tem ótimo trânsito nas casas congressuais. Ademais, Michel tem plena liberdade para ser o interlocutor mais eficaz nas conversações com os dois peemedebistas que comandam o Parlamento, Renan Calheiros e Henrique Alves. Essa é a face interna. A par de ampla mobilização interna, ao VPR tem sido solicitado representar o governo brasileiro em importantes eventos internacionais. Barriga de aluguel O PL 4.470, do deputado Edinho Araújo (PMDB/SP), que trata da migração partidária, tem um cunho moralizador. Seu objetivo central é o de acabar com as siglas que funcionam como "barriga de aluguel". Todos sabem que os partidos, na margem das eleições, negociam alianças, promovem parcerias visando obter mais espaço de TV e rádio, ao lado de recursos para tocar campanhas e financiar a vida partidária. Esse balcão de negócios se expande em anos pré-eleitorais. Ora, os parlamentares não podem deixar os partidos pelos quais se elegeram sob pena de punição. A janela se abre quando se cria uma nova sigla ou ante a fusão de siglas existentes. Nesses casos, o parlamentar pode migrar de um partido para outro sem ser apenado. E, por interpretação do TSE, leva consigo tempo de TV e uma parte dos recursos partidários. O projeto de Edinho proíbe que essa bagagem seja transportada pelo emigrante. E o PSD de Kassab ?  Quem se opõe ao projeto, lembra que o ex-prefeito de SP, Gilberto Kassab, criou o PSD, em 2011, e conseguiu atrair 50 deputados, que trouxeram consigo tempo de TV e rádio e recursos. Por que não ter isonomia e continuar com essa possibilidade ? Esse é o argumento de alguns partidos que se sentem prejudicados, como o MD - fusão do PPS com PMN -, a Rede Sustentabilidade, de Marina Silva, em processo de formação, e o partido Solidariedade, de Paulinho da Força Sindical. Essas entidades imaginavam contar com o reforço de parlamentares e expansão de sua força político-eleitoral. Agora, se vêem impedidas. O problema é o timing. Adotar a fórmula em 2014 ou a partir de 2015 ? Quem é dono da flauta, dá o tom. PT e PMDB, maiores partidos, deverão comandar essa votação no Senado. A conferir. 50 legendas ? A política abarca, atualmente, quase 30 siglas. E há 20 partidos em processo de formação. Portanto, a moldura partidária poderá chegar a 50 entidades. Não há no Brasil mais que cinco a seis tendências sociais : esquerda, direita, centro-esquerda, centro-direita e margens radicais. Fórum de Comandatuba Começa neste sábado, 27/4, o 12º Fórum de Comandatuba, promovido pelo LIDE - Grupo de Líderes Empresariais. O maior encontro empresarial do Brasil reunirá oito ministros, quatro governadores, cinco prefeitos das principais capitais, 15 parlamentares, além de 320 empresários e personalidades, que serão mobilizados em prol de um debate amplo sobre o Brasil. O Fórum acontece de 27 a 30 de abril, no hotel Transamérica, na Ilha de Comandatuba, na BA, e está lotado com 100% de ocupação. O evento será comandado pelo mais arrojado empreendedor de eventos do país, o dinâmico empresário e jornalista João Dória Junior. Segurança Privada Insegurança jurídica, tendências das relações trabalhistas, terceirização e o aumento da criminalidade no país foram alguns dos temas debatidos no IX FESP - Fórum Empresarial de Segurança Privada do Estado de São Paulo, promovido pelo SESVESP entre os dias 17 e 19 de abril, em Campos do Jordão. O panorama do setor - como o controle e a fiscalização das atividades, autorização e funcionamento das empresas e vigilância patrimonial em grandes eventos - foi apresentado pelo Delegado Substituto da DELESP/SP, Dr. Ricardo Sancovich. O encontro contou com importantes palestras, como a do advogado e professor de Direito Luiz Flávio Borges D'Urso, do dramaturgo e professor de oratória Emilio Gahma, do professor e doutor em administração Paulo Vicente Alves e do professor e consultor em relações do trabalho José Pastore. E o vinho, hein ? "Nunca fiz amigos bebendo leite, por isso bebo vinho". (Silas Sequetin) "Nas vitórias é merecido, nas derrotas é necessário". (Napoleão Bonaparte) "O bom vinho alegra o coração dos homens". (Sagrada Escritura) "Os que bebem vinho vivem mais do que os médicos que o proíbem". (Mussolini) "Cristo não consagrou a água, o leite ou a coca-cola : consagrou o pão e o vinho como alimento do corpo e do espírito". (Fernando Sabino) "Agora que a velhice começa, preciso aprender com o vinho a melhorar envelhecendo e, sobretudo, escapar do terrível perigo de, envelhecendo, virar vinagre". (Dom Helder Câmara) "O vinho é medicamento que rejuvenesce os velhos, cura os enfermos e enriquece os pobres". (Platão) "O vinho é a parte intelectual da comida". (Alexandre Dumas) "Uma barrica de vinho produz mais milagres que uma igreja cheia de santos". (Provérbio Italiano) "Um bom vinho é poesia engarrafada". (Robert Louis Stevenson) "Toma conselhos com o vinho, mas toma decisões com a água". (Benjamin Franklin) Conselho aos tucanos Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes, membros dos Poderes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado ao senador Aécio Neves. Hoje, dirige-se a todos os tucanos : 1. O ambiente político sugere consolidação de forças, integração de esforços, busca de consenso nas bases eleitorais. O tucanato precisa encontrar seus pontos de convergência. 2. A divisão de forças no PSDB afasta suas possibilidades, deixando cada vez mais longínqua a meta de alcançar o poder central. 3. Vejam onde estão os pontos fortes e os pontos fracos, tentem encontrar meios de ajuste e convoquem suas lideranças para um encontro a portas fechadas.
quarta-feira, 17 de abril de 2013

Porandubas nº 353

Prioridades do prefeito Abro a coluna com mais uma historinha de políticos do RN. Analfabeto na íntegra, Zé do Carmo, pai do deputado Manoel do Carmo, liderança do Agreste potiguar, bota na cabeça de ser prefeito de Santo Antônio. Diante do filho influente e abastado, Zé insiste em materializar o projeto pessoal. Eleito sem dificuldade pela força política de Manoel, ele não se contém de felicidade. Dias após a eleição, a Rádio Curimataú de Nova Cruz o convida para uma entrevista. Mesmo pouco afeito ao vernáculo e com clara desavença com os termos comuns à administração pública, Zé do Carmo apresenta-se impávido para o compromisso. - Prefeito, qual sua prioridade ? - começa o repórter. Sobressaltado, Zé do Carmo retruca : "É o quê ? Olha, meu filho, eu não conheço essa palavra. Fale mais fácil !". Com a tradução feita, o novo prefeito espicha seus objetivos principais : "Ah, fazer o calçamento, ajeitar o patamar e dar uma pintura na igreja...". (Carlos Santos é quem conta no livro "Só Rindo") Fusão partidária O PPS e o PMN começam a organizar o ritual da fusão para criação de uma nova sigla : MD, Mobilização Democrática. Trata-se de mais uma janela para abrir possibilidade de migração interpartidária. Por ocasião de fusão, o parlamentar poderá sair de um partido e entrar noutro sem ser apenado. Há muita gente insatisfeita com seu atual partido. O PDS, de Kassab, foi a última sigla criada que propiciou intensa mobilização partidária. Quase sufocou o DEM. Agora, os grandes partidos se mobilizam para evitar que o deputado migrante também leve tempo de TV e recursos para a nova casa escolhida. Serra no MD Fala-se a torto e a direito que o ex-governador José Serra está prestes a fechar o bico tucano. Se a Mobilização Democrática vier a se formar, Serra nele entraria. O presidente do PPS, deputado Roberto Freire, é amigo de Serra e tem esperança de seu ingresso na nova sigla. Freire tem sinalizado que ambos poderão apoiar o pernambucano Eduardo Campos, governador de PE, no pleito de 2014. Seria a maior bomba do ano, eis que Serra, rompendo com o correligionário Aécio Neves, estaria quebrando o PSDB ao meio. Nem Alckmin nem Fernando Henrique, dizem, segurarão o Serra na floresta tucana. E a Rede de Marina, hein ? Marina Silva desdobra-se para viabilizar sua Rede Sustentabilidade. Tem até outubro para fazer isso. Ocorre que a mobilização em torno da Rede tem sido pequena. Os militantes da sustentabilidade estão se mostrando pouco animados. Marina tem ido às ruas. Mas conta com pequenos exércitos. É possível que, na undécima hora, consiga formar sua Rede. Caso contrário, tenderia a apoiar Eduardo Campos. Fala-se, até, em sua candidatura a vice na chapa do pernambucano. A estupidez "Só duas coisas são infinitas : o universo e a estupidez humana ; mas não estou seguro sobre a primeira". (Einstein) PSDB meio desanimado Já o PSDB, a ser comandado pelo senador Aécio Neves, continua desanimado. Serra não tem prestigiado Aécio. Alckmin, por sua vez, está preocupado com sua candidatura à reeleição. Os tucanos não têm tido motivo para grandes alegrias. Vêem o governismo adensar suas bases. Vêem Dilma muito bem avaliada. Vêem as massas com a barriga cheia. E, para arrematar o desânimo, continuam a expressar um discurso sem muita densidade. Onde está o projeto tucano para o país ? PMDB animado Já o PMDB está animado. Domina as duas Casas legislativas. Dá as cartas no Parlamento. E está fechando parceria com o PT para 2014. O vice-presidente da República, Michel Temer, ganha, a cada dia, respeito e confiança da presidente Dilma. Representa o governo brasileiro em missões no exterior. O partido, com as exceções de praxe, está unido. Prepara uma baciada de candidatos a governador em 2014. E já começa a trabalhar na moldura de 2018. PDT repartido Já o PDT continua repartido. A banda do ministro Carlos Lupi levou a melhor na briga com o grupo de Brizola Neto. Que perdeu o Ministério do Trabalho e hoje está cercado de muita....solidão. Paulinho da Força, por sua vez, está mais interessado em criar o seu partido, Solidariedade, do que lutar pelo fortalecimento da sigla. Pátria "Pátria é comunhão de esperanças, de sonhos comuns e a busca de um ideal ; é a solidariedade sentimental de um povo e não a confabulação de politiqueiros que medram à sua sombra". (José Ingenieros) Solidariedade Paulinho tem dito que anunciará seu novo partido em 1º de maio. Será ? Sabe-se que montou grande estrutura para pegar assinaturas de apoiadores. Mas há um ritual bastante longo a cumprir. Até outubro. Alguns dizem que o Solidariedade sairá antes do partido de Marina. A conferir. Alckmin terá chances ? Muito difícil a reeleição de Geraldo Alckmin em 2014. Trata-se de um perfil afável, uma pessoa agradável. Mas qual é a marca do governo Alckmin ? Qual o eixo, a identidade ? Não há um traço de diferenciação, algo que expresse a índole da administração. Ademais, o governador enfrenta o problema de desgaste de material. A polarização PT x PSDB se mostra esgotada. O eleitorado quer ver caras novas. Skaf no tabuleiro Paulo Skaf deverá ser o candidato do PMDB ao governo de SP. Tem fôlego e garra. Um perfil arrojado, empreendedor. Dirige a FIESP com visão estratégica. Abre campanhas memoráveis, como essa última, de redução do preço da energia. Bem diferente dos perfis tradicionais da política. Poderá ser a alternativa ao velho jogo entre PT e PSDB. A conferir ! Anastasia faz o quê ? Alguém sabe onde está o choque de gestão do governador Antonio Anastasia ? Não era o perfil de renovação ? Está isolado nas Minas Gerais. Exploração "O Brasil precisa explorar com urgência a sua riqueza - porque a pobreza não aguenta mais ser explorada". (Max Nunes). Marcio Lacerda Já o prefeito de BH, Marcio Lacerda, faz uma administração revolucionária. É o que ouço de mineiros com bom olhar político. Bancadas mudarão ? STF acatará recursos dos Estados que tiveram suas bancadas parlamentares diminuídas por decisão do TSE ? Afinal de contas, não deve se levar em conta o tamanho do eleitorado ? Ou vamos ter de mudar os critérios para a formação de bancadas ? O imbróglio no Rio O PMDB deverá entrar no pleito de 2014 com Pezão. O PT com Lindbergh. Não haverá aliança entre os dois partidos. Para melhorar as chances de Pezão, Sérgio Cabral pensa em deixar o governo para o vice assumir e, assim, ter melhores condições de viabilizar a candidatura. Cabral, diz-se, poderá voltar ao Senado. Maduro bem verde Nicolas Maduro ganhou por pouco a presidência na Venezuela. Mas a derrota de Capriles pode se transformar em uma grande vitória. O país está com sua economia em destroços. Capriles vai assistir a derrocada nas arquibancadas. E Maduro, um político ainda muito verde, estará condenado a sair pelas portas do fundo. Queda O governo faz previsões menores para o crescimento da economia. E trabalha com queda significativa da dívida pública líquida como proporção do PIB - principal critério para avaliar a sustentabilidade das contas públicas. A dívida líquida terminará este ano em 33,4% do PIB, em 30,9% do PIB ao fim de 2014 e em 28,4% em 2015. Em 2012, a dívida ficou em 35,2% do PIB. IX FESP O Sindicato das Empresas de Segurança Privada do Estado de SP (SESVESP) promoverá entre os dias 17 e 19 de abril o IX FESP - Fórum Empresarial de Segurança Privada do Estado de São Paulo com o objetivo de debater as principais tendências e os desafios do mercado de Segurança Privada. O encontro será em Campos do Jordão, no Blue Mountain Hotel. E contará com palestras do advogado, ex-presidente da OAB/SP, Luiz Flávio Borges D'Urso, Emílio Gahma, Dr. Ricardo Sancovich, Paulo Vicente Alves e José Pastore. Alguns assuntos como insegurança jurídica e as inovações trazidas pela nova Portaria 3233/12 serão abordados no encontro. Lições de Winston Churchill Fecho a coluna com o maior estadista do século XX : "Se você tem conhecimento, deixe os outros acenderem suas velas com ele". "Fanático é alguém que não muda de ideia e não muda de assunto". "Minha mulher e eu tentamos tomar juntos o café da manhã por duas ou três vezes, mas era tão desagradável que tivemos de parar". "A coragem é a primeira das qualidades humanas, porque é a qualidade que garante as demais". "O sucesso consiste em ir de derrota em derrota sem perder o entusiasmo". "O político precisa ter a habilidade de prever o que vai acontecer amanhã, semana que vem, mês que vem, ano que vem. E a habilidade de explicar porque não aconteceu". "Política é quase tão excitante quanto a guerra, e quase tão perigosa. Na guerra, você é morto uma vez mas em política, várias vezes". "Minha conquista mais brilhante foi a habilidade de persuadir minha mulher a se casar comigo". "Cidadãos saudáveis são o maior bem que qualquer país pode ter". "Índia é apenas um termo geográfico e não mais uma nação unida, tal qual o Equador". "Atitude é uma pequena coisa que faz uma grande diferença". Conselho ao senador Aécio Neves Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes, membros dos Poderes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado ao governador Eduardo Campos, do PSB de PE. 1. Senador, sua imagem de pré-candidato é cada vez mais forte. Não está na hora de arrumar um discurso mais abrangente e forte sobre o país ? 2. Para a opinião pública, não convém que um pré-candidato expresse um discurso de oposição sem conteúdo condizente com o porte do PSDB. 3. Anuncie publicamente um projeto para o país ; convoque os melhores quadros para compor esse projeto.
quarta-feira, 10 de abril de 2013

Porandubas nº 352

A fonte secou Abro a coluna com uma historinha da região do Seridó/RN, década de 50. Médico-chefe de um posto de saúde do Estado do RN (região do Seridó, em Caicó) o dr. Abílio Medeiros também era responsável pela distribuição do leite em pó, o popular "leite do Fisi". Deputado estadual pela UDN, aproveita a presença do governador Dinarte Mariz para um comício no bairro Paraíba, o mais populoso e mais pobre da cidade, nos anos 50. Voz grossa e de muitos decibéis, fazia o estilo "para um bom orador, meia palavra basta" e tascou : - Governador. O povo deste bairro é miserável ! É mal entendido em sua fala - o termo usado soa pesado demais para os humildes presentes (miserável, ainda hoje, é entendido por muitos como sendo uma ofensa, o mesmo que sem vergonha, cabra safado, etc.). A derrota nas urnas é iminente ; passadas as eleições, apurados os votos, doutor Abílio volta ao trabalho nos postos de saúde. Uma pobre e ingênua mulher, lá do bairro injuriado, arrisca da porta do posto : - Dotô, o sinhô ainda tá dando leite ? O deputado derrotado estoura : - A senhora tá me achando com cara de vaca ? (Narrada pelo jornalista Orlando Rodrigues em Segura Essa...o Nhem, Nhem, Nhem da caatinga) Heleno Torres : o pingo nos is Heleno Torres é o tributarista considerado favorito para ingressar no STF. Trata-se de um dos mais qualificados profissionais do país em sua especialidade. Sexta-feira passada, este consultor almoçava em um restaurante de SP, na companhia do vice-presidente da República, Michel Temer, do professor Celso Antônio Bandeira de Melo (mestre de alguns dos maiores juristas do país) e do amigo José Yunes. Na mesa ao lado, almoçavam o advogado geral da União, Luis Inácio Adams, e Heleno Torres. Cumprimentos. Na hora da despedida, Heleno me disse : "se for convidado, você está convidado para a minha posse". Respondi : "claro que irei". Voltei ao escritório para concluir um trabalho. Por volta de 17h, acessei os jornais na Internet. Li na Folha e no Estado : Heleno Torres foi escolhido pela presidente Dilma para integrar o corpo de ministros do STF na vaga do ex-ministro Carlos Ayres Britto. Barriga de todos Ao ler a notícia, imaginei : "puxa, vida, Heleno quis dizer que foi escolhido e fui tão pouco efusivo no cumprimento...!" Imediatamente, postei no twitter : "na hora do almoço, Heleno me informou ter sido escolhido pela Dilma. E me convidou para a posse. Claro que irei". Queria eu dizer que tivera o privilégio de ser um dos primeiros a saber. Vício de jornalista. Não era verdade. Heleno não fora escolhido. Descobri quando liguei para ele para contar do meu entusiasmo e das manchetes que acabara de ler. E ele me respondeu : "pois é, não fui escolhido. Peço para que você desminta a nota, que está provocando balbúrdia". Foi o que fiz. Pedi desculpas. Fui apressado. Porém, ressalto, fui induzido à nota apressada pelo registro dos jornais. Todos cometemos o que, em jornalismo, se chama de "barriga", uma notícia não verdadeira. Antecipação A campanha de 2014 entra nas ruas. Nos Estados, pré-candidatos fazem articulações. Os atores com intenção de ocupar a cadeira central da República correm de um lado para outro. O mais açodado é o governador de PE. Que expressa, aliás, o mais dúbio discurso. Diz : deixemos 2014 para tratar em 2014. Ora, ele sai do Nordeste, perambula pelo Sudeste e bate no Sul. Faz palestra a torto e a direito. Critica o governo do qual faz parte muito mais que o tucano Aécio Neves. Faz acenos para atrair o apoio da Força Sindical, comandada pelo deputado Paulinho. Ética às avessas Eduardo Campos pratica uma ética às avessas. Ao dizer que a presidente Dilma poderia fazer muito mais, fica no plano genérico. Critica por criticar. Claro, quem quer ser candidato, mesmo pertencendo à base governista, se esforça para aparecer de modo crítico. É o diferencial. Mas criticar o governo que o PSB integra não fica feio ? Fica. O líder Beto Albuquerque promete a saída do governo para o segundo semestre, lá para setembro ou outubro, a depender do clima político. Campos, por sua vez, informa que está administrando PE à distância, por meio de um tablet. É o reconhecimento de que faz campanha. Quem comunica também se estrumbica Paulo Egydio, governador de SP, no enterro do piloto de Fórmula 1 José Carlos Pacce, vítima de um acidente aéreo : "Lamento que ele tenha morrido longe das pistas". Paulo Maluf, candidato à presidência da República, numa palestra em Belo Horizonte : "Está com desejo sexual, então estupra, mas não mata" Franco Montoro, governador de SP, visitando de barco as cidades inundadas do Vale do Ribeira : "Que lindo ! Parece Veneza !" Leonel Brizola, governador do Rio, comentando as declarações da deputada Rita Camata sobre o massacre de meninos na Cinelândia : "Essa mulher é uma vaca inútil". Fernando Henrique Cardoso, candidato do PMDB à prefeitura de SP, respondendo a Boris Casoy, que lhe perguntara se acreditava em Deus : "Oh, Boris, você me prometeu não fazer essa pergunta". (Do livro A vida é um palanque, de Carlos Brickman) E o PDT, hein ? Quanto mais Paulinho da Força abraça Eduardo Campos, mais força ganha a pergunta : e esse PDT de Carlos Lupi, hein, para onde vai ? Lupi acaba de emplacar o novo ministro do Trabalho, mas abre a expressão para anunciar que o futuro a Deus pertence. Ou seja, o PDT olha para um lado e para outro. Se integra, hoje, a base governista é porque age de acordo com o dicionário da pragmática. Por isso, não enquadra correligionários que correm para os braços de Eduardo Campos. Paulinho da Força que o diga. Hoje, Paulinho está disposto a abraçar a causa do neto de Arraes. Mas continua com um pedaço do Ministério do Trabalho. Uma no cravo, outra na ferradura. Pezão versus Lindbergh Outra frente de guerra ocorre no Rio : Pezão, do PMDB, o vice governador de Cabral contra o senador Lindbergh, do PT. Faz séculos que se sabe da candidatura de Pezão. Que conquistou Lula e Dilma. O cara é hábil, maneiro no trato. Sabe agradar. Mas não ganha, hoje, o agrado do povo. Cabral, com certa razão, diz que tem sido cabo eleitoral fechado de Lula e Dilma. Por isso, não abrirá mão de Pezão. Quer que o PT firme a parceria com o PMDB em torno de seu vice. Mas a cúpula do PT já fechou posição a favor do senador. E argumenta que Lindbergh tem quase o dobro de Pezão nas pesquisas. O vice, dizem, é um peso pesado difícil de puxar. Nem o nome - popular - ajuda. Esse imbróglio no Rio poderá ter repetições em alguns Estados. PMDB e PT A parceria do PT com o PMDB deverá ser mantida no nível Federal - em torno da chapa Dilma/Michel Temer, e em alguns Estados. É claro que interessa aos dois partidos uma política de harmonia e integração de esforços. Meta que não será cumprida. Ou cumprida parcialmente. Porque a ambos interessa adensar a base. Significa fazer o maior número de governadores, deputados Federais e estaduais. Essa será a vitamina de continuidade no poder. O PMDB tomou esse suco desde 1985 quando fez um destroço no quadro partidário, elegendo as maiores bancadas. O PT aprendeu a lição. Teremos, portanto, uma disputa contundente nos bastidores. Nem Lula nem Dilma conseguirão apaziguar os ânimos. Deixarão de ir a alguns Estados para evitar palanques duplos. Ou será que, no frigir dos ovos, irão prestigiar apenas os candidatos petistas ? PSB no DF O PSB pensa como partido grande. Quer fazer candidatos no maior número de Estados, a partir do DF, onde o senador Rodrigo Rollemberg ostenta, hoje, o índice de 27% nas pesquisas de intenção de voto contra o governador petista Agnelo Queiroz, com apenas 14%. Fim das coligações ? Henrique Alves, presidente da Câmara, promete começar a votar a reforma política, a partir de duas propostas de emenda à Constituição (PECs 10/95 e 3/99) e um projeto de lei (1.538/07), que deverão nortear a discussão. Os principais pontos são : financiamento público exclusivo de campanha ; fim das coligações para eleições proporcionais, porém permitindo que os partidos façam federações partidárias que durariam, no mínimo, quatro anos ; coincidência das eleições (municipais, estaduais e Federais) ; ampliação da participação da sociedade na apresentação de projetos de iniciativa popular, inclusive por meio da internet. Pela medida, 500 mil assinaturas garantiriam a apresentação de um projeto de lei ; e 1,5 milhão, de proposta de emenda à Constituição ; e nova opção de lista flexível, em que o eleitor continuaria votando no deputado ou no partido, mas só o voto na legenda é que reforçaria a lista apresentada pelo partido. A quem interessa ? Aos maiores partidos, PT e PMDB, interessa aprovar o fim das coligações proporcionais, que lhes daria cerca de 30 deputados a mais. Em compensação, os nanicos estariam ameaçados de desaparecer da planilha partidária. Um ponto que parece consensual é a coincidência das eleições. Ao PT interessa, também, a aprovação do financiamento público de campanha. Colocaria mais fumaça no ambiente do mensalão. A proposta de reforma não tem acordo entre os líderes partidários quanto à forma nem ao conteúdo. É possível que um item que não consta do relatório - a janela para troca de partidos - ganhe força e se sobreponha aos demais. Barbosa contra os tribunais A criação de quatro Tribunais Regionais Federais irritou, sobremaneira, o presidente do CNJ e presidente do STF, ministro Joaquim Barbosa. Que insinuou a implantação desses órgãos em "resorts" ou nas redondezas das praias. Ironia pura. Juízes tentaram contestá-lo em uma audiência. Ele ordenou que não falassem tão alto. E que não confundissem sua legitimidade. Fervura deverá continuar. Cartão postal borrado O RJ, que vinha resgatando sua imagem de capital do bom acolhimento, estampa para o mundo uma fotografia de horror. De violência. De abuso. Os estupros que se repetem no Rio desmancham as belezas naturais da capital carioca. Cristo, no Corcovado, está com vendas nos olhos de tanta vergonha. A doméstica "Se a sua empregada doméstica precisar fazer uma hora extra, lembre-se de que ela terá de descansar 15 minutos antes de começar. Se você precisa de muitas horas extras, atente que ela não pode exceder dez horas por semana. Se dorme ou não no emprego, ela terá de ficar 11 horas sem trabalhar depois de encerrada uma jornada. Atenção : ela não pode comer em menos de uma hora em cada refeição. Se ela demorar mais de dez minutos para entrar no serviço, trocar de roupa ou tomar banho na hora da saída, esse tempo será contado como hora extra. Se ela dorme no quarto com uma criança ou um doente, terá de ser remunerada com adicional noturno e eventualmente hora extra por estar à disposição daquela pessoa. Se você tiver de compensar em outro dia as horas a mais que ela trabalhou no dia anterior (banco de horas), lembre-se de que isso tem de ser previamente negociado com o sindicato das domésticas". (José Pastore). Mercadante lidera corrida O ministro da Educação, Aloísio Mercadante, lidera a corrida para o governo de SP na esfera do PT. Os outros nomes : Luiz Marinho, prefeito de São Bernardo, não tem perfil para cooptar fortes classes médias ; ministro da Saúde, Alexandre Padilha, é mal avaliado ; sua pasta é conhecida como Ministério da Doença ; a ministra da Cultura, Marta Suplicy, exibe uma rejeição histórica, difícil de ser administrada. Lula sob inquérito PF tem incumbência de realizar inquérito para apurar responsabilidades do ex-presidente Luiz Inácio no episódio do mensalão. Este consultor acha que essa ação não resultará em nada. Quem comunica também se estrumbica - II Luiz Inácio Lula da Silva, presidente nacional do PT : "O vermelho da bandeira do partido é a cor do sangue de Cristo". Antônio Rogério Magri, Ministro do Trabalho, explicando por que utilizara um carro oficial para levar sua cadela ao veterinário : "Cachorro também é gente". Francelino Pereira, presidente nacional da Arena, desmentindo que o governo pretendesse fechar o Congresso : "Que país é esse em que não se confia na palavra de seus governantes ?". (O Congresso foi fechado em seguida, pelo pacote de abril). Mário Amato, presidente da FIESP, falando sobre a ministra do Trabalho, Dorothéa Werneck : "É inteligente, apesar de ser mulher". Luiza Erundina, prefeita de SP : "Os mortos das enchentes são águas passadas". (Do livro A vida é um palanque, de Carlos Brickman) Conselho a Eduardo Campos Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes, membros dos Poderes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado ao deputado Marco Feliciano. Hoje, volta sua atenção ao governador Eduardo Campos : 1. Governador, Vossa Excelência tem dito que 2014 será resolvido em 2014. Mas faz peroração eleitoral quase todos os dias. Sua atitude é incongruente com o discurso. 2. Não seria mais lógico afastar-se da base governista logo agora para não ser considerado oportunista e de estar se valendo da máquina pública (cargos na estrutura do governo) para consolidar espaços de poder ? 3. É perfeitamente compreensível que seja candidato à presidência, dispondo de grande visibilidade, boa avaliação de sua administração e de um partido em ascensão. Mas é inaceitável que esteja, como pré-candidato, usando a esteira governamental para alavancar a candidatura.
quarta-feira, 3 de abril de 2013

Porandubas nº 351

O circo Começo com um final de campanha numa cidadezinha mineira. Final de campanha política em Divinópolis/MG. O candidato governista patrocina uma sessão matinê de circo para a galera eleitoral. Animação geral. Depois das risadas com os palhaços, a vez do leão. O domador exibe suas qualidades com a fera. Rugindo muito, o leão abre a bocarra, arreganha os dentes e fura a gaiola. Bate o pavor. As pessoas começam a correr. O caos se instala. A criançada se atropela em alvoroço. O "mineirim", numa cadeira de rodas, com a perna engessada, se esforça para sair do sufoco. A galera, ao ver o pobre estropiado, começa a gritar para acudi-lo : - O cara engessado, o cara engessado. Pegue o cara engessado. Desesperado, o "mineirim" rodopia na cadeira de rodas, enquanto o leão se aproxima. As pessoas continuam a gritar : - O cara engessado, o cara engessado. Sem forças, quase desistindo, "o mineirim" grita, fulo da vida : - Vão se lascar, cambada de filhos da mãe ; deixa o leão iscoiê sozim.... O jogo de Dilma A presidente Dilma Rousseff deixa de lado a feição técnica que caracteriza seu perfil e arremata, com precisão de experiente política, a moldura governativa. Acaba de confirmar a indicação do ex-senador César Borges (PR) para ocupar a Pasta dos Transportes, da qual saíra, tempos atrás, o presidente da legenda, senador Alfredo Nascimento. Ou seja, o espaço continua a ser ocupado pelo partido. Nascimento foi praticamente alijado do governo. Volta em grande estilo. Tudo por conta do pleito de 2014. Dilma quer ampliar e consolidar a base governista, nesse momento em que a competitividade eleitoral, ao que parece, tende a se acirrar. Borges, apesar de não contar com o apoio maciço da bancada, não sofre restrições da cúpula. Afif no Ministério A presidente Dilma, ainda na esteira de reforço à estratégia de consolidação da base governista, escolheu Guilherme Afif Domingos para comandar a Secretaria da Pequena e Média Empresa, que terá status de Ministério. Afif, do PSD de Kassab, conhece como ninguém as questões pertinentes às pequenas empresas. A escolha foi acertada. Mas Kassab faz questão de frisar que a indicação não é do partido, mas seleção pessoal da presidente. Claro, isso faz parte do jogo. Seria feio passar a impressão de que estaria negociando apoio ao governo com uma vaga no Ministério. Ademais, com cerca de 50 parlamentares, sendo a quarta bancada da Câmara, o PSD não se contentaria com uma Pasta recém-criada e sem força política. Por isso, Kassab quis se despregar da ideia do troco. Ademais, quer ver a banda passar. A banda de Eduardo Campos. Se tocar fazendo muito barulho, poderá arrastar o folião Kassab e sua trupe. Mais adiante, é claro. Campos na arena A essa altura, está praticamente decidida a entrada na arena de 2014 do governador de PE, Eduardo Campos. O neto de Arraes ouve interlocutores de todos os lados. Consenso : deve ser candidato. Não há uma opinião em contrário. Mesmo aqueles que não acreditam em suas chances, dizem a ele : você será vencedor em qualquer circunstância. Perdendo, ganha imensa visibilidade e credencia-se para 2018. Lula não perdeu três vezes ? Campos tem boa penetração no empresariado. Mas encontra um paredão no Sudeste, particularmente nos dois maiores colégios eleitorais do país, SP, com mais de 30 milhões de eleitores, e RJ, com 15 milhões. E Lacerda, hein ? Ademais, pode não contar com sua chave para abrir portas no Sudeste : Márcio Lacerda, o prefeito de BH, que é o PSB, partido de Campos. MG é o segundo maior colégio eleitoral do país. Mineiros e não mineiros apostam que Lacerda acabará afagando a candidatura do tucano Aécio Neves. Os Gomes Pois é, com todo impulso dado pela mídia ao governador de PE, depois de jantares e almoços com empresários, eventos e conversas de bastidores, a hora da verdade está chegando : até os Gomes poderão deixar Campos correndo sozinho no prado. Cid Gomes não cansa de dizer que apoia a reeleição da presidente Dilma. O irmão, Ciro, lembra que o governador precisa comer, ainda, muito milho, o milho dos problemas brasileiros, para cavalgar a montaria presidencial. Mas, se Eduardo Campos ostentar algo como 10% de intenção de votos na primeira rodada de pesquisas de 2014, haverá uma avalanche de apoiadores. A conferir. Segundo turno O que parece ser mais visível é um cenário de segundo turno caso tenhamos no páreo : Dilma, pelo PT ; Aécio Neves, pelo PSDB ; Eduardo Campos, pelo PSB e Marina Silva, pela Rede Sustentabilidade. Em um quadro de economia estável e emprego em alta, o cenário de vitória de Dilma, em primeiro turno, ainda se sustenta. Mas quem aposta nisso ? A inflação, pela visão dos melhores analistas, excede a meta ; o crescimento neste ano ficará em torno dos 3% ; o desemprego oscilará entre pequenas quedas e estabilização. Marina, recorde-se, teve quase 20 milhões de votos em 2010. Aécio e Campos teriam condições de arregimentar grandes fatias do eleitorado de classe média. Outros cenários E se Marina não conseguir formar sua Rede até outubro, hein ? Tem boas alternativas a escolher : ser vice na chapa de Campos. Mas há também quem veja Aécio Neves como companheiro de Edu Campos ou este na chapa do mineiro. Formariam uma dupla de boa aparência. Mas e os bons votos ? Viriam ? Este consultor tende a acreditar que Eduardo Campos tem mais potencial de crescimento do que Neves. O neto de Tancredo é um novo-velho. Cara manjada. Campos exibe perfil mais asséptico. E onde estará José Serra, o tucano mais conhecido ? Serra continua a conversar muito com o deputado Roberto Freire, que comanda o PPS. Especula-se que pode vir a ser candidato a presidente por esta legenda. A especulação chega às alturas com a alternativa de Serra ser juntar a Eduardo Campos. A fome com a vontade de comer. O eleitorado Seja quais forem as alianças e parcerias, o fato é que os candidatos se depararão com um eleitorado que incorpora, a cada ciclo eleitoral, novos valores. Vejam a planilha dos conceitos-chave que iluminarão o processo decisório : ética, racionalidade, exigência, novos padrões políticos, assepsia, transparência, crítica, organicidade, maior participação, democracia participativa em ascensão. É claro que esses valores estão mais próximos dos contingentes centrais do que das massas periféricas. Mas as margens que ascendem na pirâmide social também passam a abrigar escopos mais elevados. Polarização PT versus PSDB Percebe-se, hoje, esgotamento da polarização PT x PSDB. Esta polarização é particularmente observada em SP, capital por excelência da racionalidade eleitoral. O eleitor paulistano é um destruidor de mitos. Vota em um perfil de esquerda ou um quadro da direita, analisando as circunstâncias, o espírito do tempo. Mas os perfis que têm disputado as campanhas majoritárias - do PT e do PSDB- parecem contaminados pelo vírus da corrosão de material. Sombras do passado Por isso, os velhos nomes dos dois partidos que, por acaso, encabeçarem chapas majoritárias em 2014, poderão conhecer o caminho da roça, ou seja, de volta ao lar. Os ministros Mercadante e Marta Suplicy, o prefeito de São Bernardo, Luiz Marinho e mesmo esse Padilha, do Ministério da Doença, caso candidatos, enfrentarão o denso paredão da rejeição ao PT em SP. Já Alckmin, da mesma forma, vai se deparar com o fenômeno "desgaste de material". Sobraria, então, para um perfil mais asséptico, como o de Paulo Skaf, por exemplo. Anastasia, decepção Ouço de quem entende de política mineira : o governador Antonio Anastasia tem sido uma decepção. Não fez, até o presente, a revolução de gestão que se esperava, não tem nenhum carisma, é um burocrata que se enquadrou na moldura da velha política. Neves fora ? Por isso, Aécio continua a ser o sonho de muitos mineiros, que querem vê-lo na cadeira do governador de Minas. Dizem que essa opção não está de todo afastada. Neves fora do páreo presidencial, e apoiando Eduardo Campos, é uma carta do baralho de alguns analistas. Genro ruim Comenta-se que outra decepção é Tarso Genro, do PT, que governa o RS. Tarso é um dos mais preparados quadros do PT. Ocorre que os Estados atravessam a mais séria crise da sua história. Crise na frente das finanças. E um governador preparado, seja ele Anastasia ou Genro, não pode fazer muita coisa. Fica no feijão com arroz sem tempero. Aliás, safra ruim Aliás, com exceção de um ou outro, a atual safra de governadores é fraca. Quem tem boa avaliação, como Eduardo Campos, ganhou respaldo do governo Federal. No ciclo Lula, PE ganhou uma enxurrada de recursos. Uma montanha de investimentos. Cid, o grande Já no CE, a fama de Cid Gomes se dá por conta de altos dispêndios com artistas, monumentos, eventos e objetos. Fala-se da aquisição de uma aeronave de última geração. Shows caríssimos pavimentam sua trajetória no governo cearense. PMDB O PMDB, sob a liderança de Michel Temer, está mais unido que em outros tempos. A divergência do senador Jarbas Vasconcelos, de PMDB de PE, é histórica. Se vir a apoiar Eduardo Campos, poderá receber censura e, até, ser enquadrado por uma intervenção no partido em PE. E Pedro Simon faz da zoeira discursiva o marketing da autoglorificação. Camarão pede SOS Produtores de camarão do CE reuniram-se, semana passada, para avaliar a situação do setor, ameaçado com a abertura da importação. O Banco do Nordeste cancelou, de forma abrupta, empréstimos à carcinicultura nordestina. Ocorre que os produtores investiram altos recursos em tecnologia para aumentar a produtividade das fazendas. Solicitaram à Concessionária de Energia do CE aumento da oferta. Para surpresa de todos, a Coelce informou não dispor de mais energia para fornecer além da contratada. Que país é este ? Não há energia para abrigar novos investimentos. Detalhe : em novembro do ano passado, o Ministério da Pesca promoveu uma missão para que os empresários brasileiros fossem conhecer as fazendas de camarão mais produtivas do mundo em quatro países asiáticos. Os produtores voltaram entusiasmados e perguntam : e agora ? MP dos portos ? A MP 595 continua navegando em águas turbulentas dentro do Congresso. O governo quer que investidores privados aportem recursos, mas ainda há muita insegurança. Os trabalhadores querem manter o status quo. Fato é que as amarras nos cais precisam ser soltas em busca de competitividade urgentemente. Perguntar não ofende : se a matéria é de capital importância, não seria o caso de passar pelo rito das comissões temáticas para aprofundar as discussões e buscar-se o aperfeiçoamento do texto ? O ditado diz que quem tem pressa come cru. Os dois filhos Sabem qual filme desapareceu das locadoras ? Os Dois Filhos de Francisco ! Mare nostrum Embora este consultor saiba que a âncora da MP 595 esteja sendo baixada na seara mercantil e na necessidade premente de melhorar o escoamento das nossas exportações, o setor de Cruzeiros Marítimos é ator fundamental nessa discussão. O senador Vital do Rêgo, que vem adotando velocidade de cruzeiro frente à presidência da CCJ, entendeu essa importância e enviou requerimento para que a comissão mista possa ouvir a entidade que representa os Cruzeiros em nossas águas. A conferir. É um bicho ! Todo mundo sabe que o ex-prefeito de Parnamirim, Agnelo Alves, e o ex-governador e atual deputado Lavoisier Maia não são símbolos de beleza masculina. Jamais seriam um "Deus" grego, como Apolo, que sintetizava esse privilégio estético. E no cotidiano de ambos não faltam situações hilariantes que os envolvem, porém sempre com os dois mostrando bom humor. Em certos casos, até mesmo ignorando algo de mais pesado. Governador do Estado, Lavoisier Maia é convidado a ir a SP para encontro político com uma liderança nacional. No mesmo voo está em sua companhia o jornalista Agnelo Alves, fazendo uma parceria de estilhaçar qualquer espelho. O enviado pelo político paulista para receber Lavoisier Maia é orientado de modo simplista e direto : "É o mais feio que descer do avião" ! Não tinha como errar, calculava o emissário. No aeroporto o enviado vê descer Agnelo Alves e exclama em voz baixa : "É ele !" Aproximando-se de Agnelo, o assessor destacado para aquela ingente missão o aborda consciente : "Governador, por favor me acompanhe !" Agnelo logo esclarece o mal-entendido : "O governador vem aí atrás". A reação do enviado é de torpor : "Então é um bicho !". (Quem conta é Carlos Santos, no livro Só Rindo) Conselho a Marco Feliciano Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes, membros dos Poderes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos pré-candidatos presidenciais. Hoje, volta sua atenção ao pastor deputado, Marco Feliciano, que preside a Comissão de Direitos Humanos : 1. Vossa Excelência já teve seus 15 minutos de glória. É hora de guardar os troféus alcançados por alta visibilidade, usar o bom senso e renunciar ao comando da Comissão de Direitos Humanos. 2. Vossa Excelência, ao convocar Satanás para o centro do debate político, acabou misturando questões religiosas com a pauta do Estado, o que não condiz com o escopo republicano. 3. Uma coisa é defender a pluralidade religiosa, nos termos da CF, outra coisa é usar a tribuna política para expressar um verbo de discriminação.
quarta-feira, 13 de março de 2013

Porandubas nº 350

De repente Abro a coluna com uma historinha da Paraíba. Um ano da década de 60. O governador Pedro Gondim, da Paraíba, sai em campanha política pelo interior do Estado. Numa cidade, esbarra em uma cantoria de viola. Os organizadores da festa o levam até a dupla de poetas populares para as apresentações : - Eis aqui o nosso governador, saúda o anfitrião. - Conhece-o pessoalmente ? Indaga a um dos cantadores. O artista acena afirmativamente e lasca de improviso. - Eu conheço vários Pedros- Pedro Bom e Pedro Ruim- Pedro ruim igual a Pedro- Só conheço o Pedro Gondim ! O governador esboçou um sorriso amarelo. (Da coleção de Orlando Rodrigues em Segura Essa) O enigma Serra José Serra começa a se vestir de enigma. Para onde vai o ex-senador, o ex-governador, o ex-prefeito e o recorrente candidato à presidência da República ? Chovem versões nos bastidores políticos. Ora, ouve-se a versão de que apenas faz onda, mas acabará se conformando com a candidatura ao Senado pelo PSDB, em 2014. Afinal, tucano de bico grande não abandonaria a floresta. Ora, ouve-se à boca pequena que estaria de mala e cuia pronto para embarcar na canoa do PPS, do deputado Roberto Freire. Nesse caso, seria candidato pelo partido à presidente. Há quem o veja entrando no PDS de Kassab, hipótese sem chances, eis que a legenda já assentou pé na base governista de Dilma. Alternativa mais viável Pelo andar da carruagem e levando-se em conta a fala do deputado Roberto Freire, no Roda Viva, da TV Cultura, desta segunda-feira, o noctívago Serra quer mesmo ser candidato a presidente - "o melhor perfil", segundo o presidente do PPS. O fato é que os tucanos estão rachados em SP. O grupo de Serra tem birra e bica o grupo de Alckmin. Fernando Henrique tenta apartar a contenda e não consegue. Diz-se, ainda, que Serra não teria aprovado a iniciativa de FHC de pedir a Aécio que colocasse seu bloco na rua. Muito cedo, considera. Mas Aécio tinha de dar resposta à provocação de Lula, que anunciou a presidente Dilma como candidata à reeleição. O quadro com 5 candidatos Se Serra entrar no pleito e se Marina conseguir formar seu partido antes de outubro, a moldura seria composta por : Dilma, candidata governista, e mais quatro candidatos de oposição : Serra, pelo PPS; Eduardo Campos, pelo PSB; Marina, pela Rede Sustentabilidade e Aécio, pelo PSDB. Nesse caso, as possibilidades de um segundo turno são bastante previsíveis, mesmo sob um cenário de estabilidade econômica, crescimento médio do PIB e bolso cheio da galera das margens com a grana das Bolsas. Mas há outras hipóteses a considerar. Vejamos. O fator Marina Digamos que Marina Silva não consiga arrumar a sua Rede. Teria duas alternativas : ser vice do Serra, na chapa do PPS. Nesse caso, teria de ingressar no partido ou em outro que firmasse parceria com a sigla de Roberto Freire. Ou poderia compor a chapa de Eduardo Campos, do PSB. Este consultor acredita que esta última hipótese é mais provável, levando-se em conta o passado de Marina e a identidade tucana de Serra, mesmo que este venha a sair do PSDB. Campos/Marina seria uma chapa mais identificada com novidade, coisa diferente. Segundo turno Em qualquer hipótese, confirmando-se a candidatura do governador de PE, a questão se apresenta desta forma : com quem Campos faria parceria em um segundo turno ? Com o candidato tucano Aécio Neves ou com a presidente Dilma, considerando-se que sejam os mais prováveis candidatos a entrar na segunda rodada eleitoral ? Este consultor tem dúvidas. Lembro que Campos já me confessou uma vez : meu sonho é reunir a geração pós-64 e tomarmos conta do país. Naquela noite, em Comandatuba, essa geração abrigaria perfis como os Gomes (Ciro e Cid), Aécio Neves, Kassab e ele, Eduardo Campos, entre os mais visíveis. Por isso, não se pode descartar a possibilidade de Campos entrar na seara de Aécio, apesar da forte influência que deverá exercer, numa situação dessas, seu "irmão mais velho", Luiz Inácio Poderoso Lula da Silva. Teria ele chances ? Campos tem chances de entrar em um segundo turno ? Vejamos. Primeiro, teria de unir todo o PSB em torno de seu nome. Coisa complicada, quando se sabe que o governador Cid Gomes já manifestou sua preferência por Dilma, com o conselho ao correligionário para se preservar e ser candidato em 2018. Segundo, teria de conquistar o território do Sudeste, onde é um perfil praticamente desconhecido. SP, com 30 milhões de eleitores ; MG, com 15 milhões e RJ, com 12 milhões serão Estados decisivos. E Campos passa longe das urnas nesses três maiores colégios eleitorais do país. E mesmo no Nordeste, o maior colégio eleitoral é a Bahia, onde Campos também não tem penetração. Tudo isso pode mudar ? Sim. Mas a análise fria dos dados aponta para uma posição de parceiro menor em 2014. E qual a vantagem ? Ora, a vantagem de entrar na campanha de 2014 é mesmo o da meta da visibilidade. Desconhecido, o governador passaria a ser bastante conhecido. Aplainaria o caminho para a chegada ao pódio em 2018. Como sempre tem lembrado este consultor : a menor distância entre dois pontos na política nem sempre é uma reta como na geometria euclidiana. É uma curva. Que o digam Lula e tantos outros que colecionaram derrotas e, depois, foram glorificados pelas urnas. Papáveis Entremos, agora, na Capela Sistina, onde se realiza o Conclave para eleger o sucessor de Bento XVI. A Igreja Católica de Roma padece de forte crise : as finanças estão combalindo e graves denúncias têm corroído a imagem da instituição que governa mais de 1,2 bilhão de pessoas. O melhor perfil seria o de um Papa carismático, que tivesse condições de colocar a Igreja nos trilhos da modernidade, uma pessoa de ares santificados, que não fosse carimbado com os rótulos de conservador, progressista, reacionário, moderno. Um papa do século XXI. Principais nomes Dom Odilo Scherer, o brasileiro, tem condições ? Sem dúvida. Mas entra no círculo dos rótulos. Para o Brasil, seria ótimo. Afinal, temos a maior população católica do mundo. E SP, sua arquidiocese, a maior população de católicos do Brasil. Mas é considerado conservador e candidato da poderosa, porém polêmica, Cúria Romana. Angelo Scola, o arcebispo de Milão ? Considerado muito avançado. E que tal um meio termo, como Gianfranco Ravasi, italiano, culto e carismático ? O canadense Marc Ouellet tem chances, mas o simbolismo do poderio da América do Norte pode ser inconveniente. Orater frater O padre Edmondo Kagerer é austríaco, mas adora o Brasil em especial os sertões do Seridó, onde fundou e mantém em pé as Aldeias Infantis SOS. Fuma cachimbo e gosta de cerveja. Mas os motivos que o levaram a deixar a paróquia de São José e, por certo período, a região, foram a língua portuguesa e sua pronúncia. Chamava o motorista Paulo de Apaula, Caboré, um amigo, de Acabaré, e assim por diante. Mas quem complicou mesmo a situação foram as pressões das beatas junto ao bispo depois de tanto ouvirem e, claro, não entenderem, essa revelação do reverendo estrangeiro em seus sermões : - Ajude a igreja. A nossa piroca também é de vocês ! (o reverendo se referia à paróquia) (Quem conta em Segura Essa é Orlando Rodrigues) E o Tristiciano, hein ? O sobrenome acima, claro, é um contraponto ao Feliciano. Isso mesmo, o sobrenome do deputado Marco, do PSC, elevado ao cargo de presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara. A polêmica se estabeleceu. O deputado deu declarações discriminatórias e parece mesmo embalado por um celofane fundamentalista. A esta altura, o PSC, para evitar desgaste, deveria substituí-lo. Sob pena de ter de conviver com reações negativas que acabarão estreitando mais ainda seus votos em 2014. Ponto e contraponto E por falar em ponto e contraponto, levanto mais uma comparação : a alga e o silicone. A alga é elemento que pode descobrir a verdade. O silicone, o elemento usado para encobrir a verdade. Vejamos. Um biólogo analisou o sapato do advogado Mizael Bispo e descobriu nele uma alga que existe na represa, onde foi encontrada sua namorada, Mércia Nakashima. Ou seja, uma alga pode ser a pista para a descoberta do crime. Abrindo, agora, a outra historinha. Em SP, uma médica de 29 anos foi presa por suspeita de fraudar o ponto eletrônico nos plantões de um hospital público, usando, para tanto, dedos de silicone com a digital de médicos e enfermeiros. 11 médicos e 20 enfermeiros participariam do esquema. Tecnologia a serviço do bem e do mal. E uma pitada de cultura brasileira. A cultura do jeitinho. Temas ferventes A pauta política no horizonte deixa a ver temas candentes em intensa discussão : pacto federativo, royalties do petróleo, MP dos portos, orçamento impositivo. O pacto federativo abrigará fóruns de governadores e prefeitos interessados em aumentar a participação de Estados e municípios no bolo da União; o assunto está pra lá de discutido. RJ, ES e SP buscam, no STF, recompor a situação dos chamados Estados produtores e garantir contratos do passado. Os portos estaduais, como Suape, em PE, temem perder sua autonomia. A presidente quer acabar com prerrogativas de Centrais Sindicais de interferir no regime de contratação de avulsos. Há outros imbróglios na MP. E os deputados não vêem a hora de decidir sobre o orçamento impositivo, promessa do presidente da Câmara, Henrique Alves. Essa modalidade resgata a autonomia orçamentária aprovada pelo Congresso. Facilidade impossível Prefeito de Mossoró, João Newton da Escóssia sempre foi conhecido pelo rigor no trato das coisas públicas. Nada e ninguém poderiam violar o erário municipal. Apesar do rigor de João Newton na administração da prefeitura de Mossoró, não faltam excessos e incursões a pecados. Detectado por João Newton, o deslize era imediatamente reparado. O prefeito, ninguém tem dúvidas, não tem qualquer tipo de flexibilização, quando o assunto fere a lei. Em sua sala de trabalho, João Newton vê entrar um antigo amigo, num dia de expediente normal. Trata-se do conhecido "Telé". Após cumprimentos normais, algo comum entre amigos, Telé assinala o que o levara ao gabinete do prefeito : - João, eu vim aqui para lhe pedir uma coisa ! - Pode falar, Telé - estimula o prefeito João Newton. - Eu quero que você facilite uma coisa para mim - diz. O prefeito, então, pondera bem ao seu estilo : - Olha, Telé, se tiver tudo certinho, dentro da lei, direito mesmo, eu lhe ajudo. Casmurro, Telé vê logo como é inexpugnável o senso de legalidade do prefeito e amigo. - João, eu vim aqui para você facilitar uma coisa. Se fosse assim, tudo direito, eu não vinha lhe procurar. (O relato é de Carlos Santos em seu livro Só Rindo) Conselho aos pré-candidatos Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes, membros dos poderes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado às Centrais Sindicais. Hoje, dedica sua atenção aos pré-candidatos que começam a correr o país para viabilizar planos eleitorais. 1. No momento em que Vossas Excelências começam a pôr o carro nas ruas e abrir um amplo processo de articulação com as forças da sociedade organizada, é aconselhável que portem ideias claras, objetivas, viáveis, abrangentes. Essa sugestão visa despersonalizar o processo político/eleitoral e adensar o discurso com propostas para o país. 2. Ouçam as demandas dos grupamentos sociais, procurando compor a radiografia da realidade brasileira. E evitem fazer crítica por crítica. Façam elogios a programas/projetos que estejam mostrando resultados. 3. Evitem parolas populistas e molhadas no caldo do oportunismo que costuma embalar os pacotes de compromissos. ____________
quarta-feira, 6 de março de 2013

Porandubas nº 349

Enxergando tudo verde Os cientistas envolvidos com o estudo da agropecuária garantem que o gado bovino somente visualiza uma cor, a escura. Mas o fazendeiro (falecido) Honorim Medeiros, da Fazenda Pedra do Sino, em Caicó, não foi na conversa e, com o respaldo do seu próprio rebanho, jogou por terra a tese dos doutores em zootecnia. Foi na seca dos anos 50. Exauridos todos os recursos de pastagem, o gado rejeitava os restos do capim seco, duro, esturricado, preferindo apenas a torta de algodão, verdinha, fresquinha, ótimo sabor. Honorim vivia preocupadíssimo, aperreado, sem mais saber o que fazer : - Tô lascado, desse jeito vou alisar ! Matutou, matutou, e, criativo, bolou a ideia genial. Foi até a Paribana, casa comercial do amigo Antonio da Viola e fez uma inflacionada compra, deixando o comerciante boquiaberto : - Tem óculos de carnaval ? Pois então me dá todo o estoque, todos da cor verde (antigamente, eram comuns os óculos de plástico, com alças de elásticos, usados exclusivamente no período momesco). O fazendeiro levou-os para a Pedra do Sino e fantasiou o rebanho. Na volta à cidade, o amigo quer saber dos resultados : - Como é Honorim, deu certo ? O fazendeiro abriu um sorriso de orelha a orelha e deu a nova : - Mas, home, é um milagre. O gado tá comendo até as cercas e os mourões das porteiras ! (Quem conta em Segura Essa é Orlando Rodrigues) O diabo se prepara A presidente Dilma começa a lubrificar as armas do seu arsenal. A partir da linguagem, equipamento pesado em uma campanha. Nesta semana, na Paraíba, deu mostras de que vai atirar forte : "podemos fazer o diabo na hora da eleição, mas, no exercício do mandato, temos que nos respeitar, pois fomos eleitos pelo voto direto". A presidente, mesmo sem querer usar a linguagem de campanha, na verdade já está disparando chumbo grosso. O alvo é Aécio Neves, o tucano que começa a atirar no governo, com estilhaços atingindo Eduardo Campos, o governador pernambucano que, por enquanto, permanece na base governista. O verbo mais popular de Dilma é inspirado na verve de Lula. Eliot "Somente aqueles que se arriscam ir longe são capazes de saber até onde podem chegar". T.S. Eliot Danos ao país A campanha antecipada ocasionará sérios danos ao país, pois as agendas serão embasadas pelo espírito eleitoral. Prioridades se invertem. As ações governativas são atropeladas pelo marketing eleitoreiro. Dos quatro eventuais candidatos, apenas a ambientalista ex-senadora Marina Silva está mais contida. Aécio começa a despejar suas baterias. Eduardo Campos bate forte na tecla do pequeno crescimento e acena para os sindicalistas. E a presidente Dilma começa a correr o país. Sob o empuxo do comandante Luiz Inácio. Vinícius "A vida é a arte do encontro. Embora haja tanto desencontro pela vida...". "Viver é Amar". "Que não seja imortal, posto que é chama, mas que seja infinito enquanto dure". Vinicius de Moraes, o poetinha. É muito cedo, porém... É muito cedo para desenhar cenários. Mas nada impede que tentemos uma expressão sobre potenciais de eventuais candidaturas. É pouco provável a aliança entre Aécio Neves e Eduardo Campos, como muitos defendem. Entre esses muitos, estão tucanos interessados em colocar o governador de PE na chapa do mineiro, como vice, e oposicionistas que sonham em destronar o petismo/Lula/Dilma do poder central. Pois bem, é pouco provável uma aliança entre ambos. Porque já fizeram as contas e chegaram à conclusão de que, separados, terão melhores condições de empurrar a eleição para o segundo turno. Os dois e mais os votos de Marina Silva poderiam tirar a vitória do governismo no primeiro turno. Millôr A palavra bem humorada de Millôr Fernandes : "o preço da fidelidade é a eterna vigilância". "O cadáver é que é o produto final. Nós somos apenas a matéria prima". "Eu sei do que estou falando. Tirando isso, não sei mais nada". "O dinheiro não é tudo. Tudo é a falta de dinheiro". "Às vezes, você está discutindo com um imbecil... e ele também". "O Brasil ? Ah, está condenado à esperança". Fatores de cada um Dilma contará com o fortalecimento dos bolsões sociais (garantia de estômago satisfeito) e melhoria nos patamares de crescimento. Algo em torno de 3% a 3,5% de crescimento em 2013/2014 seria suficiente para garantir a continuidade. Enquanto a equação do voto for garantida (bolso, estômago, coração, cabeça), a posição de nossa mandatária-mor não será ameaçada. Aécio Neves seria elevado em cenário de destroço econômico, significando crescimento zero, desemprego em massa, inflação em alta, clima de instabilidade geral. Ademais, carece de um discurso convincente, denso, capaz de mobilizar e animar os contingentes eleitorais. Se ficar apenas no diagnóstico - coisa comum entre os tucanos - ficará defasado. Deve ainda ter cuidado com a artilharia de críticas que baterá nos costados pessoais. O novo, o charmoso Eduardo Campos apresenta grande potencial de crescimento. Principalmente se ganhar bom espaço midiático, a partir das alianças. Quem o conhece sabe que não encarna o perfil da inovação, da modernidade (trata-se de um herdeiro do coronel Arraes), mas, pela boa apresentação pessoal, pode vir a ser considerado o de maior assepsia política. O fato de não ser conhecido garantirá boa penetração e avaliação junto a segmentos mais jovens. Mas o PSB não tem palanques abertos no Sudeste e no Sul, regiões de alta densidade eleitoral. Por isso mesmo, procurará se ancorar na fosforescência midiática. Claro, em cenário de baixo crescimento e deterioração econômica. Já Marina Silva terá um eleitorado fiel, mais orgânico e com apoio em setores bem organizados nas frentes sociais. Encarnará o conceito de renovação/depuração. Chico "Saudade é o revés de um parto. Saudade é arrumar o quarto do filho que já morreu". Chico Buarque nos brinda com Saudade, palavra que só a beleza poética da língua portuguesa conhece. O sindicalismo de oportunidades Nunca o sindicalismo brasileiro ganhou tanta oportunidade para se expandir e fortalecer quanto nesses tempos comandados pelo PT. Pois bem, o petismo fez subir às alturas não apenas a bandeira da CUT, mas as flâmulas de todas as Centrais. Que recebem uma fortuna para fazer pressão (causar má impressão), barganhar e ganhar espaços na administração federal. Vamos lá : o sindicalismo tomou conta da área do trabalho. É quem dá as cartas. Mas se mostra frequentemente contra o governo do qual faz parte. Ou seja, faz oposição a ele mesmo. Jogo inteligente, não ? (Quem não se lembra do Lula presidente reverberando contra o governo que ele mesmo comandava ?) Bandeiras sindicais O que defendem as Centrais Sindicais ? Algumas questões são bastante concretas : redução da jornada de trabalho, fim do fator previdenciário, reforma agrária (apesar da polêmica e divisões de abordagens que o tema sugere), ratificação da Convenção da OIT que impede demissão imotivada e regulamentação de outra Convenção que estabelece negociação coletiva no serviço público. Outras propostas descambam para o terreno do discurso mais abrangente, distanciando-se de posições fechadas, como igualdade de oportunidades para homens e mulheres, valorização dos aposentados, etc. E o ministério, hein ? Veja-se o Ministério do Trabalho. Foi entregue ao deputado Brizola Neto, um bom perfil, do PDT gaúcho, endossado pela Força Sindical, comandada pelo deputado Paulinho (PDT/SP). O PDT é um partido rachado. O comando é do ex-ministro Carlos Lupi. Brizola quer apagar os vestígios por ele deixados na pasta. Lupi, que faz parte da base governista, tenta resistir. O sindicalismo organiza grande passeata em Brasília para pressionar o governo. O PDT ameaça uma greve geral nos portos. Tudo por conta da MP que cassa a autonomia dos Estados em relação aos portos, tirando o poder do Órgão Gestor de Mão de Obra, enquanto os sindicalistas defendem a continuidade dessa autonomia. Tal prerrogativa passaria a ser da União. Campos na jogada Eduardo Campos entra nessa onda e defende a autonomia estadual. Paulinho da Força, que integra a base governista, alia-se ao governador de PE, e atira forte contra o governo. O samba do crioulo doido se completa quando se sabe que o ministro dos Portos, Leônidas Cristino, pertence aos quadros do PSB, tendo sido indicado pelos irmãos Gomes (Cid e Ciro), do CE. E assim caminha o Brasil... ! PMDB e PT nos Estados PMDB e PT intentam apresentar candidatos ao governo em todos os Estados da Federação. Essa é a estratégia de adensamento do poder. Mais governadores implicarão mais deputados Federais, mais senadores, mais prefeitos e vereadores. Alongamento do ciclo do poder partidário. Mas é possível que, em alguns Estados, haja recuo de um e de outro parceiro para amparar a aliança. No Rio Pezão, pelo PMDB, e Lindberg, pelo PT, irão às urnas. Sem chance de parceria PT/PMDB. O PMDB do Rio ameaça não apoiar Dilma. Este consultor não crê na hipótese de Cabral vir a apoiar Aécio Neves. No RS Diz-se que Tarso Genro, o governador, quer ser candidato a senador. Não quer administrar um Estado sem recursos. A senadora do PP, Ana Amélia, é forte candidata ao governo. Beto Albuquerque, o líder do PSB de Eduardo Campos, também é candidato. Em SC Raimundo Colombo, do PSD de Kassab, é candidato à reeleição. Os tucanos deverão ir com o senador Paulo Bauer, enquanto Ângela Amin será candidata ao Senado. Em MG O PT deverá fechar posição em torno do ministro Fernando Pimentel, enquanto Clésio Andrade tentará ser o candidato do PMDB. Newton Cardoso, o deputado e ex-governador, será candidato ao Senado pelo PMDB. Em PE Todos apostam na ficha do ministro Fernando Bezerra, como candidato do governador Eduardo Campos. No RN Uma incógnita : o senador Garibaldi Alves, muito bem avaliado como ministro, toparia voltar ao governo ? Este consultor acredita que não. E o seu filho, Walter Alves, deputado estadual ? Já tem idade para ser candidato (32 anos), mas aconselham-no a pegar mais experiência. E o presidente da Câmara, Henrique Alves ? Mais uma incógnita. Garrote e garoto Voz melosa como poucos, o professor Gumercindo Amorim era mestre em português, lecionando nas escolas em Currais Novos, onde gozava de grande prestígio. Como locutor de rádio, na Brejuí, vez ou outra escorregava : - Atenção, garrote perdido. Procura-se um garrote trajando calça curta azul marinho, camisa de algodão, branca, conga azul com meias brancas, cabelo busca pé, aproximadamente 10 anos de idade. Quem souber do paradeiro, favor informar aqui na Brejuí ou na residência dos pais do mesmo na Avenida Desembargador Tomaz Salustino, que será bem gratificado. O sonoplasta, que também redigia os avisos para a leitura dos locutores, percebeu o trocadilho e sinalizou. Sem perder a compostura, eis de novo Gumercindo : - Mais uma vez, atenção. Retificando o aviso lido há pouco. Onde se lê garrote, leia-se ga-ro-to ! (Essa é também de Orlando Rodrigues) Conselho às Centrais Sindicais Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes, membros dos Poderes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos aos gurus do PT, Lula, e do PSDB, FHC. Hoje, dedica sua atenção às Centrais Sindicais : 1. O movimento sindicalista faz parte de uma sociedade democrática. Mas o sindicalismo não pode e não deve dormir eternamente nos cobertores do Estado. 2. É importante saber o que reivindicar, o que defender, o que propor. É irresponsável defender uma agenda que não condiz com as sensíveis economias da contemporaneidade. 3. É preciso saber recuar e não apenas fustigar as instituições. O mundo atual cultiva os valores da racionalidade, flexibilidade, diálogo, contemporização, respeito à ordem constituída. Tentem zelar por este escopo. ____________
quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Porandubas nº 348

Vacas magras Abro a coluna com Aliatá Chaves de Queiroz, figura polêmica de Pau dos Ferros, encravado na tromba do elefante. Foi prefeito da cidade, mas antes foi vice do prefeito José Fernandes, médico, e uma das celebradas figuras de políticos potiguares, sogro do ex-deputado Federal João Faustino. O titular entrou de licença saúde e viajou para SP, passando a administração ao vice, como manda a lei : - Taí. Há dinheiro no cofre e nos bancos, e a prefeitura não deve a ninguém. Aliatá, figura modesta, não dava valor à dinheiro, vivia como um peão, roupas surradas e alpargatas de rabicho, fez um rapa nas finanças da prefeitura. Quando Zé Fernandes voltou, reassumiu com a bronca : - Mas Aliatá, cadê o dinheiro do município ? Não resta um só centavo. Gastou com quê ? - Com o povo. Não ia deixar ninguém morrer de doença ou de fome, enquanto o dinheiro mofava nos cofres ! Na campanha para o Governo em 1986, Aliatá aparecia no palanque a Geraldo Melo, surpreendendo pela maneira maltrapilha de se apresentar. Surpresa maior viria a seguir, depois que o próprio Geraldo anunciava o nome de Aliatá como o próximo orador. Arredio a multidões e microfones, o homem desmaiou, quase acabando o comício...Não era só o dinheiro da prefeitura que Aliatá distribuía com a população de sua cidade. Tudo que ganhava, dividia com os munícipes. Mas ele também tinha seus rompantes, quando percebia que o eleitor queria enrolar. Como o daquela mulher com o filhinho recém-nascido nos braços : - Dotô Latá, eu queria um dinheirim pra comprar uma lata de leite pro nenê. Ríspido, o prefeito fuzila : - E prá que a senhora quer esse par de peito, abarrotado de leite ? (Do livro de Orlando Rodrigues, Segura Essa...) Campanha na rua Lula antecipou o processo de 2014 ao lançar Dilma candidata à reeleição. O que o comandante petista quis dizer com essa antecipação ? Ponto um : que não topa uma campanha "Volta, Lula" ; ponto dois : Dilma é a candidata do PT e as alas petistas precisam dar um basta às arengas ; ponto três : os partidos da base, desde já, são convocados a perfilar ao lado da candidata ; ponto quatro : vamos ter de enfrentar novamente os tucanos e vamos derrotá-los mais uma vez. Essa é a moldura que se desenha em uma primeira leitura. Mas há quem discorde dessa projeção. Gandhi O verbo da paz e da verdade de Gandhi : "o caminho da paz é o caminho da verdade. Ser honesto é ainda mais importante do que ser pacífico. A mentira é a mãe da violência. Um homem sincero não pode permanecer violento por muito tempo". Outra leitura Pibinho, economia em baixa, administração travada, Dilma centralizadora, ministérios sem autonomia para decidir sobre coisas mínimas - esse é o pano de fundo que pode desestabilizar a candidatura da atual presidente. Nesse caso, o "Volta Lula" ganharia sentido e força. Pois bem, não são poucos os analistas que fazem essa segunda leitura. Por acreditarem que o ex-presidente ainda não desgrudou das amarras do Palácio do Planalto. Respira política 24 horas. Começa, agora, a correr o país, a partir de Fortaleza, para onde irá, amanhã. Madre Teresa O verbo generoso de Madre Teresa de Calcutá, uma vida dedicada à pobreza : "o mundo que Deus nos deu é mais do que suficiente para todos ; existe riqueza mais do que sobra para todos. É só uma questão de reparti-la bem, sem egoísmo". O racha no PSB Lula quer rachar o PSB. Está chateado com seu amigo, "irmão mais novo", Eduardo Campos, que mostra, a cada dia, intenções de vir a ser o candidato socialista à presidência em 2014. Campos está muito bem avaliado no Nordeste. E começa a penetrar nos espaços do Sudeste. Encarna a alternativa de mudança, eis que os tucanos sofrem o fenômeno "desgaste de material". Campos promete dar apoio ao governo até o final do ano. Se a economia voltar a subir, o governador pernambucano pode permanecer na base governista. Mas, os seus correligionários dizem, à boca pequena, que a decisão já está tomada. Luther King O verbo da igualdade de Martin Luther King : "Sonho com o dia em que a Justiça correrá como água e a retidão como um rio caudaloso. Eu tenho um sonho em que minhas quatro pequenas crianças vão um dia viver em uma Nação onde elas serão julgadas não pela cor da pele, mas pelo conteúdo de seu caráter". Trabalho escravo Em boa hora, o Governo do Estado sancionou a lei estadual 14.946 de 2013. Agora, modesto convite : que tal o Governo ou o Ministério Público do Trabalho visitar o Metrô, na linha Norte-Sul ? Poderá se deparar com um caso escandaloso de escravidão, perpetrado pela empresa de limpeza aos trabalhadores. Perdendo, ganha Eduardo Campos sabe que a menor distância, em política, nem sempre é uma reta, mas uma curva. Se for candidato e perder, poderá usufruir, mais adiante, a visibilidade alcançada em 2014. Por isso, mesmo perdendo ele ganhará. Seu potencial de crescimento é maior do que o de Aécio Neves. De qualquer forma, ele será decisivo, eis que a campanha de 2014 desembocará no segundo turno. As projeções mostram que o cenário poderá comportar quatro candidatos : Dilma, Aécio, Campos e Marina. Mazzarino O verbo da mentira de Mazzarino. Espelho da alma. Políticos, revolucionários, ditadores assim dela se utilizaram. Cardeal Mazzarino, tutor de Luis XIV, na França, usava a palavra como arma da política. Ensinava : "simula, dissimula, não confies em ninguém, fala bem de todo mundo, prevê antes de agir". Seu breviário dos políticos é uma obra prima da mistificação. Cenários Dilma continua sendo a favorita. Mesmo com economia em baixa, ela tem condições de sustentar o bolso das margens sociais, garantindo, dessa forma, a geografia (anatomia) do voto : bolso, barriga, coração, cabeça. Bolso com dinheiro significa geladeira cheia e estômago saciado; estômago saciado implica coração agradecido; coração agradecido sinaliza cabeça decidindo a favor da candidata das bolsas/bolsos. Ganhar no primeiro turno, isso seria difícil. Aécio teria a vantagem de fechar o segundo maior colégio eleitoral do país, MG, com seus 15 milhões de eleitores. E ainda contar com a alavanca de Geraldo Alckmin, em SP ; de Beto Richa, no PR, e de Marconi Perillo, em GO. Mas esses governadores teriam boas performances ? Essa é dúvida. Maquiavel O verbo escorregadio de Maquiavel, o mestre dos mestres na arte de usar os fins para justificar os meios : "a ofensa que se fizer a um homem deve ser de tal porte que não se tema a vingança. Um príncipe deve saber dosar a natureza animal, escolhendo a raposa e o leão. Porque o leão não tem defesa contra os laços, nem a raposa contra os lobos. Precisa ser raposa para conhecer os laços e leão para aterrorizar os lobos". Tucanos desgastados Em SP, Alckmin terá grandes dificuldades de superar o que se chama de "desgaste de material". São 20 anos de tucanato. A segurança pública será o carro chefe dos discursos. A violência se expande em SP. De qualquer maneira, os tucanos podem contar com 30% dos votos, índice que também é o do PT. Um terço petista, um terço tucano e um terço para o candidato alternativo à polarização. No PR, Beto Richa está desgastado, o mesmo ocorrendo com Perillo em GO. Por isso mesmo, não se pode aduzir que as máquinas tucanas multipliquem votos para Aécio. Abre-se, portanto, espaço a ser ocupado por Campos e Marina. Mao Tsé-Tung O verbo direto de Mao Tsé-Tung para conquistar o poder : "o poder político nasce do cano de uma espingarda". Em 1949, chefiando o exército revolucionário, foi proclamado presidente da nova República Popular da China. É dele a frase :"todos os reacionários são tigres de papel". Marineiros Marina Silva deverá obter as 500 mil assinaturas que credenciarão sua Rede Sustentabilidade. Mas sua performance não será tão boa quanto a de 2010, quando alcançou quase 20 milhões de votos. Os marineiros são compostos de segmentos jovens e setores médios indignados e identificados com a sustentabilidade. Como o próprio nome indica, a Rede será muito seletiva. Mas a entrada de Marina tem condições de ajudar a empurrar a campanha para o segundo turno. E nesse segundo turno, a possibilidade de união entre Aécio e Campos é muito alta. Já a ex-seringueira poderá, mais uma vez, não tomar partido e deixar suas bases optarem por um lado ou outro. Hitler O verbo mistificador de Hitler era mistificadora para enganar as massas : "a capacidade de compreensão das multidões é muito limitada e sua compreensão escassa. Elas esquecem facilmente. A propaganda deve se restringir a poucos pontos, expostos em forma de grito de combate, até que o último homem seja capaz de compreender o significado". Candidatos estaduais A campanha presidencial será atrelada às campanhas estaduais. Sob essa hipótese, mais uma vez SP estará definindo a situação. Afinal, a clássica polarização entre tucanos e petistas poderá ocorrer, apesar de ser visível o desgaste dessa renhida luta. Poderá sobrar para o candidato do PMDB, que deverá se unir em torno de Paulo Skaf, presidente da FIESP. O sonho de Lula é derrotar os tucanos na governança estadual. Dizem que pretende somar a força adquirida pelo prefeito Fernando Haddad. Churchill O verbo criativo de Winston Churchill, o grande líder inglês da II Guerra Mundial : "a política é quase tão excitante quanto a guerra, e quase tão perigosa. Na guerra, você só pode ser morto uma vez, mas em política, muitas vezes". Haddad terá forças ? A questão é : Fernando Haddad terá forças para influenciar o pleito paulista ? Em dois anos de administração, teria algo a apresentar de positivo ? Pelo andar da carruagem, a resposta é não. O estilo haddadista é de assembleísmo. Centenas de reuniões se fazem em todos os espaços da municipalidade. Mas esses saraus discursivos acabam não dando frutos. SP está esburacada. As enchentes deterioram a anatomia urbana. E até 2014, o prefeito estará envolvido com a arrumação da maneira petista de governar. Lincoln O verbo histórico de Abraham Lincoln, ex-presidente dos Estados Unidos : "Podemos enganar alguns por todo o tempo, todos por algum tempo, mas não podemos enganar todos por todo o tempo". O ex-lavrador dizia : "não criarás a prosperidade, se desestimulares a poupança ; não fortalecerás os fracos, por enfraquecer os fortes ; não ajudarás o assalariado, se arruinares quem paga ; não ajudarás os pobres, se eliminares os ricos". A briga Ademais, o PT deverá entrar na arena de guerra. A essa altura, já se notam os movimentos dos pré-candidatos Marta Suplicy, Aloísio Mercadante, Alexandre Padilha e Luiz Marinho. Lula será, mais uma vez, o artífice da escolha. Se der vazão ao estilo, o candidato menos conhecido - como Dilma e Haddad - é o ministro da Saúde, Padilha. Ora, mas a saúde está na UTI. As epidemias se espraiam. Esse ministro não tem coisas interessantes para apresentar. Mercadante, por sua vez, exibe uma estética de carranca zangada. E Marta sofre históricos índices de rejeição. Zaratustra O verbo ousado de Zaratustra, o profeta de Nietzsche : "novos caminhos sigo, uma nova fala me empolga : como todos os criadores, cansei-me das velhas línguas. Não quer mais, o meu espírito, caminhar com solas gastas... Aprendi a voar, desde então não preciso de que me empurrem para sair do lugar. Agora, um deus dança dentro de mim". PMDB unido O PMDB deverá eleger, dia 2 março, Michel Temer, para um novo mandato à frente do partido. Michel, com sua habilidade, consegue unir as diferentes alas partidárias. Firma-se como candidato a vice na chapa de Dilma e o PMDB se organiza para apresentar candidatos ao governo em todos os Estados. A lógica do partido é : só fazer parcerias no segundo turno. Ceder o espaço para aliados, no primeiro turno, só em casos excepcionais. O partido quer fazer um bom número de governadores visando preparar terreno para 2018, quando deverá ter candidato próprio à presidência da República. Rui O verbo cidadão do nosso maior jurista e homem de letras, a Águia de Haia, Rui Barbosa : "Rompamos com a seita das pequenas Pátrias. O Brasil quer a Grande : a Pátria antiga, a Pátria unida, a Pátria vasta, a Pátria forte, a Pátria indissolúvel, com a ingênita vibratilidade nas veias e seu lugar entre as Nações". Anvisa acima da Justiça ? Os fiéis consumidores de álcool líquido vivem um momento de insegurança, sem saber se poderão continuar contando com o produto nas prateleiras. A Anvisa resolveu antecipar a decisão do processo que discute a restrição do produto na forma líquida, acima de 46°INPM/ 54°GL, ordenando a proibição da venda antes mesmo que o TRF da 1ª região julgue a questão. São questionadas as estatísticas usadas como argumento para a medida, já que informações do SUS apontam números muito menores do que os apresentados. Mas a Anvisa ignora tudo. O próprio TRF informa que a medida não tem validade até que sejam julgados os recursos pendentes. Porém, fiscalizações e multas aos que venderem álcool líquido acima de 46°INPM/ 54°GL já estão sendo aplicadas. Ou seja, a Anvisa se considera acima da Justiça e da vontade dos consumidores. Borges "Um homem se propõe a tarefa de desenhar o mundo. Povoa um espaço com imagens : reinos, montanhas, baías, ilhas, peixes, moradas, astros, pessoas. Pouco antes de morrer, descobre que esse paciente labirinto de linhas traça a imagem de seu rosto". Essa é a imagem do verbo poético de Jorge Luis Borges, patrimônio da literatura universal. Brizola firme ? O ministro do Trabalho está seguro no Ministério do Trabalho, apesar da pressão de um grupo do PDT, que pretende afastá-lo. Carlos Lupi estaria à frente dessa articulação. E Paulinho da Força, o que diz ? Paulinho, ao que se sabe, quer mesmo fazer um "partido pra chamar de seu". Conselho aos gurus Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes, membros dos Poderes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos dirigentes da Câmara e do Senado. Hoje, dirige-se aos Gurus do PT, Lula, e do PSDB, FHC. 1. A antecipação da campanha presidencial de 2014 é perniciosa para o país. Todas as ações governamentais das administrações (Federal e estaduais) terão um viés politiqueiro. 2. Procurem auscultar as demandas sociais nesse momento em que a economia dá sinais de deterioração. E orientem seus candidatos para evitar medidas, ações e projetos de cunho eleitoreiro. 3. Como ex-presidentes da República, Vossas Excelências devem agir como magistrados, ícones da boa orientação aos governantes. ____________
quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Porandubas nº 347

Um gol de placa Abro a coluna com o folclore político do RN. Um pedinte aporta mais uma vez diante do prefeito de Areia Branca, Bruno Filho/PMDB. - "Doutor Bruno, eu quero uma ajuda da prefeitura", dispara à queima-roupa. Com sua voz quase inaudível, arrastada e sem maior mudança na entonação, o prefeito procura esclarecer que a municipalidade não pode lançar mão de qualquer quantia, sem cumprimento de processo burocrático. Dentro da lei. O pedinte não abre a guarda, apesar das explicações do prefeito. Insiste no pleito. - "Procure Lauro, nosso chefe de Gabinete, que ele trata de tudo", adianta Bruno. Os dias passam e novamente o prefeito se depara com o interlocutor insistente. "Doutor Bruno, é aquilo que eu falei com o senhor naquele dia". E relata que já passou por vários setores da prefeitura, sem uma conclusão. O prefeito volta a encaminhá-lo para Lauro. Mas o pedinte reage, descrevendo uma linha de passes : - Bruno joga para Lauro, que passa para Núbia, que devolve para Lauro, que joga para Juarez, que entrega à dona Lucinha, que volta para Bruno... Interrompendo a "narração", de olhos fixos no "narrador esportivo", Bruno indaga : "O que você quer dizer com isso?". - Prefeito, eu quero saber quando vou fazer o "gol". (Da coleção de Carlos Santos em seu livro Só Rindo) O adeus de Bento XVI A renúncia do papa Bento foi uma de decisão muito bem arquitetada. O papa é teólogo de primeira. Um grande estudioso da Igreja. Substituía um dos mais carismáticos papas de todos os tempos, João Paulo II. Perdia pulso no comando da igreja. A Cúria Romana, sob o controle do cardeal Tarcísio Bertone, é quem dá as cartas. Bertone funciona como o verdadeiro administrador da Igreja Católica. Conservador e fiel aos princípios mais rígidos da igreja. Bento avaliou todas as posições : permanecer com a saúde deteriorada ? Permanecer com o poder escapando de suas mãos ? Ou renunciar e, usando o gesto de humildade, chamar o corpo de cardeais para um encontro com a grande verdade ? O novo Papa A Cúria Romana dará o tom do conclave. A Itália, com uma população de católicos em torno de 50 milhões, tem 28 cardeais. Cinco a mais que toda a América Latina e o Caribe que, juntos, somam mais de 500 milhões de católicos. É um desnível considerável. O puxão de orelhas do papa Bento em quem puxa o tapete do poder poderá resultar na escolha de um perfil externo à comunidade de cardeais italianos. O cardeal do Canadá, que fala bem espanhol ? Algum cardeal africano ? E um cardeal brasileiro, levando em consideração que o Brasil é o país mais católico do mundo ? Ravasi, centrista Se a opção for por um cardeal da Itália, dois nomes despontam : Ângelo Sodano, da igreja mais rica do mundo, a de Milão, e o cardeal Gianfranco Ravasi, uma espécie de ministro da Cultura do Vaticano. Ravasi passa a ser favorito ante o pano de fundo sob o qual foram escolhidos papas no passado. É o pregador do retiro que os cardeais começam a vivenciar. Ou seja, ele dará o norte para as reflexões que começam a ser feitas no Vaticano. Pio XI escolheu seu sucessor, o cardeal Pacelli, que veio a ser o pregador do retiro e, depois, escolhido papa Pio XII. O pregador do retiro por ocasião da morte de João Paulo II foi o cardeal Ratzinger, que viria a ser o papa Bento XVI. Coincidência ou indicação de que os pregadores de retiros são os favoritos ? A propósito, Ravasi tem uma posição centrista, abrindo diálogo com todas as alas. Mas dizem que Bento torce por Sodano, que também seria o preferido do camerlengo Bertone. Bill Gates e a gorjeta Certo dia Bill Gates foi ao restaurante junto com sua esposa e filhos, duas meninas e um garoto. Eles sentaram-se em mesas diferentes, mas foram atendidos pelo mesmo garçom. Durante o jantar tudo ocorreu normalmente. Depois de pedir a conta, Bill a pagou na mesa, deixando para o garçom uma gorjeta de 5 dólares. O que deixou o homem com uma cara estranha e que chamou a atenção de Bill, que perguntou : - "O que houve?". O garçom respondeu : - "Eu acho um pouco estranho, pois seus filhos me deram 500 dólares de gorjeta e você, sendo o homem mais rico do mundo, me deu apenas 5". Bill sorriu e falou : - "Eles são filhos do homem mais rico do mundo, eu sou filho de um lenhador.". Moral : Jamais devemos esquecer-nos de onde viemos. O ano político Por aqui, o ano político começa sob o signo das expectativas. Para começar, a grande indefinição : como organizar a pauta se o STF, por meio daquela liminar sobre os vetos, concedida pelo ministro Fux, deixa as casas congressuais em dúvida ? Há de se votar os vetos antes das pautas rotineiras ? Ou é possível fazer as coisas de maneira concomitante ? A decisão mais urgente é sobre o Orçamento. O presidente Renan havia marcado a votação para hoje, mas adiou a decisão, aguardando que o plenário do STF emita sua orientação. Resgate de imagem O Parlamento atravessa um momento crítico sob a perspectiva da imagem perante a sociedade. O que pode ser feito para resgate da boa imagem das Casas Congressuais ? Esta é uma questão que frequentemente se apresenta a este consultor. Pois bem, a resposta aponta para uma única direção : priorizar matérias de alta relevância para a vida social e política do país. Ou seja, o Congresso tem nas mãos a receita apropriada para curar seus males : votação das reformas política/eleitoral, tributária, trabalhista; a inclusão de grandes matérias que aguardam há tempos sua discussão no Parlamento. Em suma, chegou a hora de substituir a promessa e o discurso pela ação e decisão. Lula e Eduardo Campos Nos bastidores, é comum ouvir a observação : Eduardo Campos, governador de PE, não será candidato porque tem um dever de lealdade para com Lula. Foi Luiz Inácio quem jogou uma montanha de investimentos em PE, que permitiram ao neto de Miguel Arraes fazer um bom governo e ganhar boa avaliação do eleitorado. É isso ? Em termos. Eduardo Campos não se sente atrelado ao carro de Lula. Por ser político e considerando-se um quadro novo, analisa todas as possibilidades. Enxerga que teria chegado sua vez. Seu PSB foi o partido que, em termos proporcionais, mais ganhou no último pleito. O governador pensa em alçar voo. Se perder, ganha A equação que inspira Eduardo Campos é a de ganhos. Candidatando-se em 2014 e perdendo, somará ganhos. Como ? Pela geometria da política, a menor distância entre dois pontos nem sempre é uma reta. Pode ser uma curva. Perdendo, ele ganhará em matéria de grande visibilidade, correrá o país, travando contatos com as comunidades, ampliará o circuito de alianças, deixando, assim, o terreno preparado para a mobilização seguinte, ou seja, em 2018. Eduardo Campos poderá, em 2014, aumentar o quadro de governadores do PSB e as bancadas parlamentares nos Estados e no Congresso Nacional. Por essa leitura, este consultor conclui que, numa régua de 0 a 100, o governador de PE estica o braço até o número 90. Apenas 10% de chances de retirar o time de campo. Quatro tipos de homens "Aquele que não sabe, e não sabe que não sabe. É um tolo : evite-o; Aquele que não sabe, e sabe que não sabe. É um simples : ensine-o; Aquele que sabe, e não sabe que sabe. Está dormindo : acorde-o; Aquele que sabe, e sabe que sabe. É um sábio : respeite-o". Conceitos árabes PMDB consolida aliança Ademais, o governador de PE tem em conta a equação estabelecida pelo PMDB. Sob o comando das duas casas congressuais, o partido ganha força para não apenas consolidar a aliança com o PT, mas para ampliar sua participação na esfera governativa. Michel Temer, sob essa perspectiva, manterá sua posição como vice na chapa da presidente Dilma. A hipótese de ceder esse espaço inexiste, nem mesmo sob a indicação de quadros do PT que gostariam de ver o vice-presidente disputando o governo de SP. Michel está muito bem no cargo, desempenhando altas missões que lhe são confiadas pela presidente. E nenhuma das alternativas que são jogadas no colo de Lula para substituir o nome de Michel pelo nome de Eduardo Campos na chapa de Dilma tem condição de vingar. Renan enxuga custos O presidente do Senado, Renan Calheiros, começa a fazer um enxugamento na estrutura do Senado. Demitirá cerca de 30% dos servidores comissionados e diminuirá estrutura do serviço médico. Merece aplausos. Pacto federativo Outra notícia auspiciosa é o encontro que os presidentes da Câmara, Henrique Eduardo Alves, e do Senado, Renan Calheiros, farão com os 27 governadores dos Estados e do DF, dia 13/3. Em pauta : projetos relativos ao pacto federativo. Concretamente, deverão ser debatidas questões envolvendo mudança do critério de rateio do Fundo de Participação dos Estados, fixação de regras de distribuição da receita resultante da exploração de petróleo (royalties e participações especiais), unificação do ICMS e mudança no indexador da dívida dos Estados e municípios com a União. Um ótimo começo para os dois presidentes. A.A.A. E por falar em Henrique, uma historinha com ele. Diante da cassação do líder Aluízio Alves, o jovem Henrique Eduardo Alves é elevado à prematura tarefa de sucedê-lo politicamente. Em Mossoró, um "aluizista" histórico exalta a continuidade. Ex-faz-tudo do empresário Renato Costa, "Mourão" dispara eufórico : - Se o pai com dois "A" era forte, imagine o filho com três. Ao seu lado, um interlocutor atordoado não entende o comparativo : - Três "A" por que, Mourão ? O apaixonado militante político, de pouca habilidade com o vernáculo, "esclarece" tudo a seu modo : - Ora! Anrique Aduardo Alves, homem ! Explicado. (Da coleção de Carlos Santos) A dor de Dermi Minha solidariedade ao amigo Dermi Azevedo, conterrâneo potiguar e jornalista. Seu filho, Carlos Alexandre, suicidou-se com uma overdose de medicamentos. Mas a dor vem de longe. Com um ano e oito meses, o filho de Dermi foi torturado com a mãe no Deops, em SP, pela equipe do delegado Sérgio Fleury. Ali começava a morrer seu filho. Nunca se curou das sequelas daquela brutalidade. Dermi, um forte abraço ! Lula em caravana Luis Inácio Lula da Silva se prepara para correr o país em caravana. Quer abrir os palcos de 2014 para a reeleição de Dilma. Lula vai usar o estoque de carisma que ainda possui. Mas a caravana não será como a dos velhos tempos. A conferir ! Toma lá, dá cá Quando Rui Barbosa iniciava sua profissão de advogado, na BA, apareceu-lhe em casa, certa vez, um açougueiro, perguntando-lhe : - Se o cachorro de um vizinho lhe furta um pedaço de carne pesando 5 quilos, o dono do cachorro é obrigado a pagar ? - Tem testemunha ? - Tenho. - Pois trate de receber a importância. - Pois então o doutor me deve 7$500. Foi seu cachorro que roubou a carne. O futuro jurisconsulto fez o julgamento sem bufar, e, quando o açougueiro ia saindo, chamou-o : - Vem cá ! E a consulta ? - Tenho que pagar ? - Naturalmente. São 50$000 (Do livro Leia Comigo, do amigo Luis Costa) Conselho aos novos dirigentes Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes, membros dos Poderes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos donos de espaços de lazer, tendo como pano de fundo o desastre de Santa Maria/RS. Hoje, se volta para os dirigentes da Câmara e do Senado : 1. Procurem ler e interpretar as demandas de mudanças que partem da sociedade e organizem uma agenda de alta prioridade para as Casas congressuais. 2. No plano das mudanças, questões urgentes são : reformas política, tributária, trabalhista e a repactuação da Federação. 3. Tentem resgatar o escopo funcional do Parlamento, tornando-o menos dependente do Poder Executivo. ____________
quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Porandubas nº 346

Abro a coluna de hoje com uma historinha de advogado. O rapaz era advogado novo em Princesa Isabel. Ia defender um criminoso de morte a faca. Procurou o coronel Zé Pereira, dono da cidade : - Coronel, preciso conseguir pena mínima para meu cliente. Se não conseguir, não tenho carreira aqui. O coronel prometeu. Terminou o julgamento, pena mínima. O advogado foi agradecer a vitória ao coronel, que valorizou a ajuda : - Doutor, o senhor não calcula a força que eu fiz para conseguir a pena mínima. Todo mundo queria absolver o homem. A força do PMDB As eleições de Renan Calheiros e Henrique Alves para os comandos das duas Casas Legislativas reforçam a força do PMDB na tessitura do poder político do país. Trata-se do desdobramento de um processo de acumulação de poder, que leva em conta o fato de o partido ter o maior número de prefeitos - cerca de 1.100 -, o maior número de vereadores, o maior número de deputados estaduais e o maior número de senadores. E é a segunda maior bancada de deputados Federais. Com esse cacife, o partido chega às presidências do Senado e da Câmara, a par de abrigar, ainda, a vice-presidência da República, com Michel Temer. Temer, o artífice Michel Temer é o artífice dessa construção. Com seu perfil que agrega harmonia e equilíbrio, consegue juntar contrários, conter ímpetos de grupos ou pessoas, isoladamente, ouvir uns e outros, e, ao final de um longo exercício de administração de interesses, alcançar razoável dose de consenso. O fato é que o PMDB, desde os tempos de Ulysses Guimarães, é uma confederação que reúne federações regionais. Era muito dividido. Hoje, exibe maior unidade que nos tempos ulyssistas. Quando se pensa que as querelas internas farão do partido um amontoado de pedaços, eis que as partes se juntam no todo. Esse é o PMDB. Parceria com PT O desdobramento do projeto de poder do PT se alicerça na base peemedebista. O Partido dos Trabalhadores sabe que o PMDB tem capilaridade, algo construído desde 1986, quando o partido conseguiu eleger 22 governadores. Apenas Antonio Carlos Valadares, que pertencia ao PFL de SE, conseguiu quebrar a unidade dos governos estaduais peemedebistas. A consequência foi a eleição seguinte de uma gigantesca fornada de prefeitos e vereadores. Até hoje essa é a argamassa que explica o fato de ser o maior partido nacional. A conta que soma Essa é a conta que soma na hora das grandes decisões. É isso que se apresenta na hora de decidir sobre parceiros e perfis. Diz-se, por exemplo, que Lula gostaria de deslocar Michel Temer e colocar, em seu lugar, o governador Eduardo Campos como vice da presidente Dilma em 2014. Falta nexo nessa equação. O PSB é um partido médio. Tem cerca de 500 prefeitos. Foi o partido que mais subiu no pleito municipal passado, é verdade. Mas não chegou ao estágio de grande partido. Ou seja, a imagem de Eduardo Campos é maior que a identidade. Identidade e imagem Expliquemos esses conceitos. Identidade é uma soma de posições : porte, estrutura, história, quadros, organização, etc. Imagem é a projeção da identidade. Às vezes, a imagem de uma pessoa ou de um partido se apresenta bem maior do que sua identidade. É o caso do Eduardo Campos e seu PSB. Não tem a força que demonstra ter. Ambos, partido e ator, são menores do que realmente se apresentam. Nesse sentido, perdem a capacidade de mando em momentos decisórios. Lula, portanto, por mais que se esforce, terá dificuldades de deslocar um perfil mais denso para colocar em seu lugar uma identidade menor. Michel e Lula Por mais de uma vez, Lula tentou dar as cartas no PMDB. Primeiro, tentou jogar Nelson Jobim, saído do STF, como candidato à presidência do PMDB. Perdeu o jogo para Michel. Depois, tentou jogar Henrique Meirelles no colo do PMDB e, com essa sacada, incluí-lo na chapa da Dilma como vice-presidente. Mais uma vez perdeu. A seguir, Lula apareceu com a ideia de uma lista tríplice de candidatos do PMDB a vice na chapa da Dilma. A sugestão morreu no nascedouro. Leitura linear : Michel derrotou Lula três vezes. Por isso, a arremetida de Lula para deslocar Michel Temer da chapa presidencial em 2014 tende, mais uma vez, a fracassar. Ainda mais quando este partido, presidindo as duas Casas Congressuais, terá a força para definir a agenda político-eleitoral nos próximos dois anos. Campos como candidato Esta leitura abre a alternativa de uma eventual candidatura de Eduardo Campos à presidência em 2014. O governador pernambucano conta com a possibilidade de uma terceira candidatura, a de Aécio Neves e, por conseguinte, vislumbra entrar no meio e se apresentar como o perfil entre oposição e situação. Se a economia sair dos trilhos, o olhar eleitoral poderá se dirigir em sua direção, até porque o senador Aécio Neves se mostra cada vez mais um perfil cercado de dúvidas e incertezas. Se perder, Campos usará a ampla visibilidade alcançada no pleito em 2018. Ou seja, já teria pavimentado a estrada do futuro. Lembrança : nem sempre a menor distância na política é uma reta, como na geometria euclidiana. Pode ser uma curva. A derrota de hoje poderá se transformar na vitória do amanhã. Lula que o diga. Fernando Henrique, idem. Temer no comando Por volta de abril, o PMDB deverá fazer eleições internas. O vice-presidente da República, por consenso, deverá ser reeleito mais uma vez para comandar o partido. Afastar-se-á em função dos compromissos de vice-presidente, devendo o comando permanecer com o vice, o senador de RO, Valdir Raupp. O plano dos dirigentes é fortalecer o partido para disputar o pleito nos Estados, em 2014. Em São Paulo O PMDB tem planos de eleger o maior número de governadores e de deputados Federais e estaduais, a partir de SP. Como se sabe, Michel Temer está consolidando o partido no maior contingente eleitoral do país. O PMDB já tem um pré-candidato definido : Paulo Skaf, presidente da FIESP. Trata-se de um perfil arrojado, dinâmico e em condições de fazer uma campanha eficaz pela capacidade de articulação junto aos prefeitos e pela disposição de organizar uma forte estrutura. O partido quer resgatar a força que já deteve em SP, perdida ao longo das últimas décadas. Para tanto, precisa dispor de um perfil que consiga efetivamente realizar um pleito competitivo e, assim, quebrar a polaridade entre PSDB e PT. Frases sobre o Brasil A prosperidade de alguns homens públicos do Brasil é uma prova evidente de que eles vêm lutando pelo progresso do nosso sub-desenvolvimento. (Stanislaw Ponte Preta) No Brasil, quem tem ética parece anormal. (Mário Covas) Não sou especialista em Brasil, mas uma coisa estou habilitado a dizer : não creiam que mão de obra barata ainda seja uma vantagem. (Peter Drucker) O Brasil precisa explorar com urgência a sua riqueza - porque a pobreza não aguenta mais ser explorada. (Max Nunes) Descobri a fracassomania numa viagem ao Brasil, há mais de 40 anos. Toda vez que muda um governo os intelectuais brasileiros consideram que está tudo errado e é preciso começar tudo de novo. (Albert Otto Hirschman) Parlamento e Executivo O Parlamento, sob os comandos de Renan e Henrique, entrará em conflito com o Executivo ? Esta é a questão na ordem do dia das análises. Lembre-se, primeiro, que o PMDB faz parte da base governista. Ou seja, ajudará o Executivo a governar. Mas há o discurso de compromissos para o chamado público interno. A pauta de questões polêmicas é densa, bastando lembrar dois assuntos : MPs e Orçamento Impositivo. O Orçamento Impositivo é um antigo anseio dos deputados, que querem garantia de que os recursos efetivamente aprovados por eles chegarão ao destino. Será difícil à presidente Dilma represar esta vontade parlamentar. Vai haver tensão, mas não a ponto de ruptura. Quanto às MPs, haverá certamente maiores controles e cuidados, evitando-se que sirvam para caronear emendas que fogem aos critérios de relevância e urgência. Parlamento e Judiciário E a questão da última palavra em relação aos mensaleiros ? Pertence ao Judiciário ou à Câmara dos Deputados ? O ministro Joaquim Barbosa fez a peroração definitiva : em matéria de interpretar a Constituição, o STF tem a última palavra. Quem duvida disso ? Ninguém. Ocorre que o mandato parlamentar pertence ao povo. Portanto, a Casa que representa o povo deve se manifestar. A questão é de bom senso. Ou seja, a Câmara não pode contrariar uma interpretação constitucional do Supremo, mas deve se pronunciar a respeito da cassação de algum de seus membros. O bom senso aponta que a direção da Casa deve se manifestar. A liturgia recomenda que o caso tenha trâmite na Câmara. Este consultor acredita que o bom senso administrará a controvérsia. PSDB e o discurso perdido Os tucanos estão perdidos na floresta. Há muito tempo, o ex-presidente Fernando Henrique pede aos correligionários um discurso condizente com as ruas. O país avançou nos últimos tempos. Mas há imensos buracos na fisionomia social e na moldura da infraestrutura. Para onde caminhará o país ? Quais os grandes projetos que devem ser levados adiante ? Quais as estratégias para alavancagem da economia e crescimento do PIB ? Como o país deve trabalhar para fazer as reformas pendentes no calendário político ? Essas são questões que os grandes partidos precisam saber responder. Anastasia anestesiado ? Esperava-se que o governador tucano Antonio Anastasia, de MG, emergisse como um dos líderes de maior destaque entre os atuais governadores do país. Parece que foi anestesiado. Tinha mais fama como braço direito de Aécio Neves do que como governador do segundo maior colégio eleitoral do país. Congresso de hotéis A hotelaria é fundamental para o sucesso dos grandes eventos esportivos marcados para o país neste ano, em 2014 e em 2016 : Copa das Confederações, Copa do Mundo e Olimpíadas. Por isso, nada mais oportuno do que um encontro entre hoteleiros de todo o país nos dias 25, 26 e 27 de março. Será o 55º Conotel (Congresso Nacional de Hotéis), no Expo Center Transamérica, com o tema Desafios e perspectivas regionais da indústria de hospitalidade. A iniciativa é da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis (ABIH), em parceria com a Federação Brasileira de Hospedagem e Alimentação (FBHA), Fórum de Operadores Hoteleiros do Brasil (FOHB), Resorts Brasil e Grupo Fiera Milano, que traz ao Brasil pela primeira vez a feira Food Hospitality World, destinada à hotelaria e à gastronomia brasileira. Mais frases sobre o Brasil No Brasil, sucesso é ofensa pessoal. (Tom Jobim) No Brasil, empresa privada é aquela que é controlada pelo governo, e empresa pública é aquela que ninguém controla. (Roberto Campos) No Brasil cultuamos duas frustrações : a dos que têm poder mas não têm competência para exercer e a dos que têm competência mas não têm poder. (Paulo de Tarso de Moraes Souza) Deixei de acreditar em Deus no dia em que vi o Brasil perder a Copa do Mundo no Maracanã. (Carlos Heitor Cony ) Conselho aos donos de espaços de lazer Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes, membros dos Poderes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado às autoridades municipais. Hoje, volta sua atenção aos donos de espaços de lazer : 1. Que a tragédia de Santa Maria sirva de lição. Façam completa varredura em seus espaços de lazer, a partir de boates. Vejam as falhas, fechem temporariamente seus estabelecimentos, reabrindo-os quando estiverem em condições de plena segurança. 2. Não esperem pela fiscalização do poder público. Cumpram seu dever de cidadãos responsáveis. 3. Peçam para os órgãos públicos, depois de uma operação de reaparelhamento, fazerem rigorosa fiscalização. E assim o fizerem, estarão ganhando os aplausos da sociedade. Em caso contrário, serão execrados pela opinião pública. ____________
quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Porandubas nº 345

E a carteira de reservista ? Abro a coluna de hoje com uma deliciosa historinha com Rui Carneiro, que pontificou por muito tempo no Senado, representando a Paraíba. Passada a campanha eleitoral, derrotados e vitoriosos, locupletados de dívidas, buscaram saldar os compromissos. Rui Carneiro, eleito para o Senado pela Paraíba, foi procurado por uma liderança importante do alto sertão paraibano. Chegara a hora de cobrar a promessa de campanha. - Senador, agora que o senhor tomou posse, venho aqui cobrar o que me prometeu. Como o senhor sabe, nós o ajudamos muito, vestimos sua camisa. Foi uma campanha dura. Está aqui o meu filho José, a quem o senhor prometeu um empreguinho. O Senador revirou a memória. Lembrava-se, sim, da promessa. Não podia faltar ao compromisso assumido. Mas, que emprego oferecer ? Eis o dilema. Indagou : - José, meu filho, você tem certidão de nascimento ? - Sim - Identidade e título de eleitor ? - Sim. José já se imaginava com o emprego ganho, quando mais uma perguntinha foi sacada da matreirice do senador. - E a carteira de reservista, o documento mais importante para se obter um emprego publico ? Me mostre, por favor. José perdeu o rebolado. Acabrunhado, respondeu : - Não, essa não tenho. Nunca me alistei... Ânimo renovado, salvo pelo gongo, Rui Carneiro deu a cartada final : - Todo cidadão brasileiro que quiser um bom emprego público precisa servir à Pátria. Ser reservista ! Despachou José e seu pai com um caloroso : - Estou e estarei sempre à disposição ! (Historinha enviada por Lázaro Torquato, meu irmão, em plena recuperação da saúde) Estadania Processo de tutela dos direitos da cidadania, em que esses passam a ser vistos como concessões e não como prerrogativas. Forma de enquadrar o ânimo social, dificultar sua emancipação política e perpetuar o poder cartorial. Conceito bem expresso por José Murilo de Carvalho em Cidadania no Brasil. País ainda está amarrado na árvore da Estadania. A tragédia da vez Mais uma tragédia anunciada. A morte que chega em grandes números sempre anuncia sua chegada. Pelo menos no Brasil, terra do jeitinho, da arrumação, das curvas, dos desvios, da mancomunação de interesses. A tragédia de Santa Maria/RS era mais que anunciada. Um espaço fechado, com capacidade para menos de mil pessoas, abrigando duas mil. Uma única porta de entrada e saída. E estreita. Materiais inflamáveis. Alvará de funcionamento vencido. Uma banda antenada na liturgia da incandescência do espetáculo. O uso de equipamentos que disparam faíscas para o teto. Essa é a receita de um grande incêndio. Muito menos do que isso já provocaria a morte de muitos jovens. A liturgia da pós-tragédia Passados os momentos de comoção, as camadas de dor passam a receber a argamassa da hipocrisia. Autoridades autorizam investigação para apurar as responsabilidades. Indiciados são detidos. As famílias recolhem-se em seus abrigos de aflição. A mídia vai jorrando suítes (matérias em sequência). Pouco a pouco, a tragédia se transformará em um tecido esgarçado pelo tempo. Até ser consumida pela mais nova tragédia. A dor de Santa Maria será substituída pelas dores mais lancinantes da atualidade. A irresponsabilidade continuará a ampliar os seus domínios. Apesar de proibições de funcionamento de algumas casas noturnas. Os controles entram em relaxamento. O pedido da presidente Dilma para prefeitos cuidarem mais atentamente da segurança dos ambientes de lazer e espaços públicos vira um borrão amarelado na história das tragédias. E assim, a sexta maior potência mundial afunda os eixos de sua cultura permissiva nas profundidades do retrocesso. A campanha está nas ruas No Brasil, o terreno da política é sempre movediço. Há buracos aqui e ali, entrâncias e reentrâncias para entrada e saída dos atores políticos. O remelexo é constante. Idas e vindas, articulações e desarticulações ocorrem ao sabor das circunstâncias. Por isso mesmo, a campanha de 2014 ganha as ruas. A presidente Dilma, em pronunciamento em rede de TV, anuncia redução do custo da energia elétrica para os consumidores e empresas, em claro posicionamento eleitoreiro. A bandeira da luz mais barata é popular. Na esteira da insinuação da presidente, o governador de PE, Eduardo Campos, do PSB, volta às manchetes e primeiras páginas de revista. O líder do PSB, Beto Albuquerque, anuncia : depois do pronunciamento de Dilma, não há mais como esconder a candidatura de Campos. Já os tucanos... Enquanto isso, os tucanos fazem sua Convenção partidária, forma de revitalizar o ânimo das bases. José Serra reaparece na cena com seu primeiro discurso após perder a prefeitura de SP para o petista Fernando Haddad. E o que fazem os partidários do governador Geraldo Alckmin ? Lançam Serra na esfera da candidatura à presidência em 2014. Contra Aécio. Quer dizer, SP contra Minas. Nada de café com leite. Café de um lado, leite de outro. Aécio, por sua vez, abre o bico e descreve o travamento da gestão federal. Seu discurso é mero diagnóstico. Carece de propostas substantivas. Cadê o projeto Brasil ? Aliás, essa é a questão que bate na floresta tucana. Onde está o Projeto para o Brasil ? O que o país poderia esperar dos tucanos além de bicadas? As oposições estão travadas no âmbito do discurso. Falar por falar, denunciar por denunciar não leva a nada. Fernando Henrique apóia Aécio. Alckmin apoiaria Serra. Claro, até para poder tirá-lo de sua rota, que é a reeleição ao governo de SP em 2014. Pérolas do Enem - Os estuários e os deltas foram os primitivos habitantes da Mesopotâmia. - O objetivo da Sociedade Anônima é ter muitas fábricas desconhecidas. - A Previdência Social assegura o direito a enfermidade coletiva. - O ateísmo é uma religião anônima. - A respiração anaeróbica é a respiração sem ar que não deve passar de três minutos. - O calor é a quantidade de calorias armazenadas numa unidade de tempo. - Antes de ser criada a Justiça, todo mundo era injusto. - Caráter sexual secundário são as modificações morfológicas sofridas por um indivíduo após manter relações sexuais. Divisão de poder Em política, tudo é possível. Inclusive, a entrega da prefeitura da Capital e do governo do Estado a um mesmo partido. Mas isso é algo bastante difícil. O eleitor tende a repartir o poder. Entrega a capital para ser administrada por um partido e o Estado por outro. Por isso, este consultor acha complicada a operação/intenção de Lula de eleger o ministro Padilha, da Saúde, como governador do Estado. Parece mais viável um candidato de outro partido, que não o PT. Esta agremiação, aliás, divide o eleitorado. Uma parte a ela se engaja, outra toma distância. A rejeição ao PT continua alta em SP. Mas o partido, sem dúvida, tem condições de jogar seu candidato no segundo turno. Corrosão de material Diante disso, surge a questão : quer dizer que é mais fácil para o PSDB ganhar o governo de SP ? Em tese, sim. Mas há um fator complicador. É aquilo que o marketing político batiza de "corrosão de material". São 20 anos de poder tucano no Estado de SP. Tempo considerado limítrofe para se constatar os primeiros sinais de desgaste da identidade. Explico : Identidade é a coluna vertebral do ator político, seja ele pessoa jurídica, um governo, seja ele pessoa física, o governador Geraldo Alckmin, por exemplo. Identidade é a soma do discurso, ações, propostas, ideários, atitudes, forma de governar, ao lado do plano estético - visual do governo, gestos pessoais, etc. Depois de muito tempo, essa composição vai ganhando tons de cinza ou de amarelo desbotado. O discurso fica velho. O eleitor quer distinguir um novo colorido na paisagem. O jeito Alckmin de governar Geraldo Alckmin é, como diz a linguagem dos setores médios, um gentleman. Educado, pessoa de fino trato, cordial, ou, para usar outra imagem, o perfil do sogro ideal. Ao contrário de Mario Covas, um perfil rompante, destemido, que exibia autoridade na fala e nos gestos. Covas era conhecido pela coragem de enfrentar todos os obstáculos. Partiu para cima de um grupo que o apupava na entrada da Escola Caetano de Campos. Alckmin, ao contrário, tem jeito de que é incapaz de matar uma mosca. O estilo é a pessoa, já diziam os clássicos da literatura. Pinço a observação para a política. A identidade do governo de SP leva muito dos traços pessoais de Alckmin. Suave, maneiroso, sem um tronco firme (uma coluna vertebral) que possa identificar a administração. Esse é o busílis, o entrave, que dificultará a reeleição de Alckmin. Alternativas O PMDB deverá fechar posição em torno de Paulo Skaf, presidente da FIESP. Trata-se de um perfil conhecido pelo ativismo e empreendedorismo. Skaf foi reeleito por unanimidade para a maior Federação de Indústrias do país. Mudou a feição da casa, transformando-a em foro de debates diários. Ali se vêem ministros, ex-ministros, grandes economistas e analistas da cena brasileira. Lidera ele grandes causas, como o barateamento do custo da energia, uma campanha da FIESP. Portanto, se for o candidato do PMDB e dispuser de um bom espaço de TV, poderá ser o meio termo entre o continuísmo tucano e o oposicionismo petista, que já ocupa o terreno municipal. Há, ainda, o nome do ex-prefeito Kassab. Trata-se de um grande articulador. Mas terá ele de quebrar grandes resistências a seu nome e redesenhar os costados da imagem. Além disso, sobraria para ele a disputa ao Senado. Também uma chance. E Suplicy ? Pois é, em 2014, haverá apenas uma vaga em disputa para o Senado. Eduardo Suplicy, o eterno senador petista, continuará a ter preferência ? Na visão deste consultor, trata-se de um perfil que também atravessa o corredor onde estão os materiais corroídos pelo tempo. Suplicy toparia ser candidato a deputado ? Minha impressão é de que o PT vai desviá-lo da Câmara Alta (Senado) e candidatá-lo à Câmara Baixa (Câmara dos Deputados). Diálogo nacional A partir de hoje, às 11 horas, estará no ar - pelo canal comunitário - o programa Diálogo Nacional, onde o vice-presidente da República, Michel Temer, será entrevistado por Ruy Altenfelder. Pela primeira vez, ver-se-á Temer falando sobre aspectos muito pessoais de sua vida, recitando e interpretando poesias de seu livro Anônima Intimidade (Editora Topbooks), a ser lançado, amanhã, a partir de 18h, na Livraria Cultura do Conjunto Nacional, av. Paulista. Trata-se de um raro momento de descontração expressiva. Michel, como se sabe, é conhecido pela maneira discreta como se comporta, não tendo hábitos de extravasar na linguagem. Maquiavel e Richelieu Maquiavel dizia : "nada é mais difícil de executar, mais duvidoso de ter êxito ou mais perigoso de manejar do que dar início a uma nova ordem de coisas". E o cardeal de Richelieu lembrava em seu testamento político : "o que é apresentado de súbito em geral espanta de tal maneira que priva a pessoa dos meios de fazer oposição, ao passo que quando a execução de um plano é empreendida lentamente a revelação gradual do mesmo pode criar a impressão de que está sendo apenas projetado e não será necessariamente executado". Lições do inesquecível Saramago "Se tens um coração de ferro, bom proveito. O meu, fizeram-no de carne, e sangra todo dia". "Gostar é provavelmente a melhor maneira de ter, ter deve ser a pior maneira de gostar". "Não tenhamos pressa, mas não percamos tempo". "O que as vitórias têm de mal é que não são definitivas. O que as derrotas têm de bom é que também não são definitivas". "Se podes olhar, vê. Se podes ver, repara". "Dentro de nós há uma coisa que não tem nome, essa coisa é o que somos". "O talento ou acaso não escolhem, para manifestar-se, nem dias nem lugares". "Fisicamente, habitamos um espaço, mas, sentimentalmente, somos habitados por uma memória". "O espelho e os sonhos são coisas semelhantes, é como a imagem do homem diante de si próprio". Conselho às autoridades municipais Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes, membros dos Poderes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado à presidente da República. Hoje, volta sua atenção às autoridades municipais : 1. Comecem sua gestão pelo controle rigoroso da segurança nos ambientes de lazer e nos espaços públicos usados pela comunidade. A tragédia de Santa Maria não pode se repetir. 2. Não tenham dúvidas em mandar fechar estabelecimentos que apresentem qualquer irregularidade e que ameacem a segurança dos seus ocupantes. 3. O respeito à autoridade municipal começa pelo cumprimento da lei, sob o império da Ordem. ____________
quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Porandubas nº 344

Abro a coluna com uma historinha do prefeito de Itapetininga/SP, Joaquim Aleixo Machado, entre os anos de 1964 e 1969. Aleixo aguardava para falar com o governador do Estado de São Paulo. Tomou um chá de cadeira. Ante a excessiva demora, foi cobrar explicações da recepcionista : - Puxa, eu já estou aqui há mais de 3 horas e ele não me chama ? -... Pois é, sr. Aleixo, é que chegou um pessoal de Brasília... - Ah... Mas que bom... Diga a ele que tenho preferência. Eu vim de Opala ! (Enviada por Lucélio de Morais) Campanha nas ruas 2013 está sendo aberto pela ventania de 2014. A presidente Dilma Rousseff decidiu sair da toca. Começou a campanha da reeleição pelo Nordeste. Coisa planejada. Pois é a região que melhor avalia o desempenho da mandatária, na esteira de grande admiração que o povo tem por Lula, considerado pelos nordestinos O Pai dos Pobres. Dilma, nos últimos dias, correu Estados, olhando canteiros de obras, puxando a orelha de gestores, vestindo gibão de couro, abraçando um, cochichando com outro. A visita ao NE faz parte de sugestões feitas por Lula. Destravamento da gestão Diz-se, à boca pequena, que Lula teria aconselhado sua pupila a destravar a gestão. São evidentes os sinais de que a administração federal está emperrada. De cerca de 80 obras ligadas à Copa, apenas umas 5 estariam atendendo ao cronograma. Há queixas contra o estilo centralizador da presidente. O medo campeia na Esplanada dos Ministérios. Ministros temem tomar decisões, principalmente quando estão envolvidos altos volumes de verbas. A liturgia da benção é cobrada com muito rigor : os pedidos entram pelos vãos da Casa Civil, sobem aos olhos da ministra Gleisi, que consulta seus técnicos e, depois de tudo isso, caem sobre a mesa da presidente. Quem manda na fazenda ? O empresariado, à vista do calendário defasado de obras e contemplando as querelas internas no Ministério da Fazenda, põe o pé no freio. Os investimentos entram em refluxo. Quem manda na Fazenda ? Guido Mantega ? Não é a percepção dos empresários. Nelson Barbosa, o secretário-executivo ? Pode ser, mas, nos últimos tempos, o Arno Augustin (é o que se ouve) passou a ser a extensão do pensamento da presidente. Há uma disputa intestina em torno da cadeira hoje ocupada por Mantega. Barbosa seria o sucessor natural, mas teria perdido a força extraordinária acumulada ao longo dos últimos anos. Há quem veja em Nelson Barbosa uma faceta mais ligada ao mercado; e há quem identifique em Augustin a faceta colada no Estado mais intervencionista. Dilma e os empresários Um dos conselhos de Lula para Dilma teria como foco articulação mais intensa da presidente com os empresários. De fato, nas últimas semanas, observou-se uma agenda mais voltada para setores produtivos. Grandes empresários teriam sido convocados para uma conversa com a presidente, sob temáticas abrigando investimentos, infraestrutura, concessões, PPPs, etc. Campos desenha a esfinge Também é fato que o governador Eduardo Campos, de PE, que preside com mão de ferro o PSB, abriu agenda de articulação com o alto empresariado nacional. Estaria buscando apoio e simpatia para sua eventual candidatura à presidente da República em 2014. Campos foi o maior beneficiário do pleito municipal. Seu partido pode ser considerado o maior vitorioso. Conta, hoje, com cerca de 500 prefeituras. E domina espaços importantes, inclusive algumas capitais. Pernambuco, por seu lado, foi transformado, no ciclo lulista, em grande canteiro de obras. Daí a boa avaliação interna do governador socialista. Que aprecia vestir-se de esfinge. Morde e assopra Eduardo Campos morde e assopra. De um lado, faz fortes críticas às diretrizes econômicas da administração federal, assume a vanguarda da luta pela repactuação da Federação - visando maior equilíbrio entre os entes federativos - pede mais agilidade no processo decisório. De outro lado, reafirma seu apoio incondicional (?) à reeleição da presidente Dilma em 2014. E lembra : a porta deve ter uma fresta aberta para permitir eventual voo próprio em 2014. O que segura Eduardo Campos na base governista é a interrogação que se faz sobre os horizontes econômicos. Se a locomotiva descarrilar, ele pulará fora do trem e sairá como candidato em 2014. Se o bolso das massas continuar suprindo bem o estômago, Dilma não será abalada. Nesse caso, o neto de Miguel Arraes permanecerá no trem situacionista. Com os olhos contemplando a paisagem de 2018. Aécio e Eduardo Fala-se também numa chapa envolvendo Aécio Neves e Eduardo Campos. Seria possível ? Em política, tudo é possível. Ocorre que Eduardo Campos teria melhores chances como cabeça de chapa do que Aécio Neves. Agregaria mais partidos situacionistas. Aécio ficaria sob o escudo exclusivo do PSDB. Até o DEM pensa em abandonar a parceria com os tucanos. Agora, para Eduardo Campos, o melhor cenário seria o de quatro candidaturas : a situacionista (Dilma), a oposicionista (Aécio), a dele, com uma marca de independência no meio, e uma alternativa, como a da Marina Silva, por exemplo. Claro, esse cenário só seria favorável a ele na perspectiva de uma economia no fundo do poço. E Alckmin, hein ? Geraldo Alckmin passa um pente fino no governo. Cria novas áreas na administração. Entre elas, um setor responsável para verificar ações prioritárias e fiscalizar obras. Controle da gestão. E Cabral, hein ? Já o governador do RJ, Sérgio Cabral, quer deixar o cargo meses antes do termino do governo. Para que ? Espera ser chamado pela presidente Dilma para comandar uma Pasta. Cabral, porém, não é unanimidade no PMDB. E Paes, hein ? O prefeito do RJ, Eduardo Paes, só pensa em tirar proveito dos eventos esportivos que terão a bela capital carioca como cartão postal. E o que quer com isso ? Ampliar a visibilidade e jogar seu nome no elenco de eventuais candidatos do PMDB à presidência da República em 2018. Paes, igualmente, não fecha muitas oposições em torno dele. É o maior papagaio de pirata do partido. E Haddad, hein ? Intenciona fazer uma administração de impactos. Vai ajudar Lula a alavancar o PT e viabilizar a candidatura petista ao governo paulista em 2014. A administração serviria de base de decolagem do candidato petista. O prefeito de SP enfrentou a primeira greve em 23 dias de gestão : motoristas e cobradores de ônibus da empresa Transppass paralisaram atividades na manhã de ontem na zona oeste de SP. Mas a greve acabou. Haddad pensa em aplicar multa à concessionária do serviço. A conferir. O candidato do PT E quem seria o candidato do PT ao governo de SP em 2014 ? Os nomes em especulação são estes : Aloysio Mercadante, ministro da Educação; Alexandre Padilha, ministro da Saúde; Marta Suplicy, ministra da Cultura; Luiz Marinho, prefeito de São Bernardo do Campo. Leituras : Mercadante é perfil polêmico, considerado raivoso, velha carta marcada e desgastada; Padilha, que contaria com a preferência de Lula, não tem bons resultados a apresentar na Saúde; Marta é a "eterna" candidata e com alto índice de rejeição; Marinho é perfil ainda tosco para os fortes setores médios. Não tem carisma, ao contrário de Lula. Apartidarismo Subiu o número de brasileiros sem partido político. Pesquisa do Ibope mostra queda na popularidade do PT. Entre 2010 e 2012, o partido perdeu quase 10 pontos porcentuais na preferência do eleitorado. Pela primeira vez desde 1988, o número de brasileiros apartidários superou o de pessoas que afirmam ter preferência por legendas. No final de 2012, 56% das pessoas diziam não ter nenhuma preferência partidária, contra 44% que apontavam preferência por alguma legenda. 52 mil a menos A indústria paulista encerrou 2012 com 52,5 mil vagas a menos. Recuperação em 2013 fica abaixo das perdas. Dados da FIESP/CIESP. O presidente Paulo Skaf põe na agenda a prioridade para o Brasil recuperar a competitividade. Argumenta : "Para isso, é muito importante o fortalecimento da indústria. Nela estão os melhores empregos e os melhores salários". Folclore mineiro Pequenos relatos enviados por Adauto Francisco do Amaral, contabilista e advogado. Juscelino Kubitscheck sabia que não podia contar com Café Filho, o vice que assumiu a presidência da República após o suicídio de Vargas, em 1954. Irritado com Café Filho, JK conversou com um governador nordestino, muito curioso. - Doutor Juscelino, qual é, em toda essa história, a posição do Café ? - Qual Café ? O vegetal ou o animal ? Tancredo Neves era ministro da Justiça. Vargas caiu da presidência da República tragicamente, em 1954, Tancredo deixou a Pasta da Justiça, e outro mineiro, José Monteiro de Castro, assumiu o poder como Chefe da Casa Civil. Tancredo destinou-lhe este telegrama : - Mais amigos do que nunca, mais adversários do que nunca. Candidato a governador em 1982, Tancredo enfrentava estrada esburacada, a bordo de um velho jipe dirigido por um motorista estouvado e prosa. - Doutor Tancredo, como nóis sofre ! - Nóis sofre sim, mas ganhando a eleição, nóis vai mandá. Último de Carvalho, mineiro do PSD, fustigava Dnar Mendes, eleito deputado pela UDN, na Assembleia Legislativa. Numa tarde, para encerrar um debate, Último decretou : - Para mim Vossa Excelência não existe mais. É um homem morto ! Na tarde do dia seguinte, Último discursava, Dnar levantou a mão : - Vossa Excelência me permite um aparte ? - Vá baixar noutro centro ! Conselho à presidente Dilma Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes, membros dos Poderes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos novos prefeitos. Hoje, volta sua atenção à presidente da República : 1. A hora sugere puxão geral de orelhas nos gestores/coordenadores de frentes de serviços e obras. Afinal, por que o cronograma de obras está atrasado ? 2. A ideia de ir a campo conferir in loco as obras em andamento é boa. Mas o simples aparato de marketing pode ser um bumerangue se providências não forem tomadas para colocar o trem nos trilhos. 3. Transparência, objetividade, controles rígidos, atribuição de responsabilidades, punição aos faltosos - eis os conceitos que devem balizar a administração federal nesse momento de dúvidas sobre a performance do Brasil nos eventos esportivos em perspectiva. ____________
quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Porandubas nº 343

Três cartas ao prefeito Abro a primeira coluna de 2013 com um brinde de Cesar Maia, o espirituoso político do DEM e um bom pensador de nossa cultura política. Conta ele o caso das três cartas a um prefeito. O prefeito em fim de mandato entrega três cartas ao que assume, recomendando abri-las em cada crise. Primeira crise. O novo prefeito abre a carta e lê : "Coloque toda a culpa na herança perversa que recebeu". Na segunda crise, abrindo a carta, leu : "Mostre que há necessidade de ajustes no seu primeiro escalão e faça mudanças no secretariado". Na terceira crise, ao abrir a última carta, o prefeito se assustou ao ler : "escreva três cartas para seu sucessor". Os bilhetinhos de Jânio Recebo do amigo Luis Costa uma cópia em xerox do Livro "Bilhetinhos de Jânio", de autoria de J. Pereira, que foi assessor de imprensa do ex-presidente. Costa adquiriu esse livro em 14/9/1960. Vou juntar à coleção sobre Jânio, na qual desponta o meu amigo jornalista Nelson Valente, autor de uns 15 livros sobre a figura ímpar de Jânio da Silva Quadros. Duas historinhas do livro que recebo : A morte Por mais de uma vez, no Rio de Janeiro, noticiaram-se coisas a respeito da saúde precária de Jânio que, efetivamente, em várias ocasiões quase o levaram desta para melhor. Em determinada ocasião as emissoras cariocas chegaram a noticiar a sua morte. Os telefones dos Campos Elíseos não cessavam de tocar. Os jornais queriam saber o que se passava. Jânio, apesar de enfermo, enviou este "bilhetinho" ao chefe do seu Serviço de Imprensa, J. Pereira : -Pereira. Declare àqueles que noticiam a minha morte, que tudo indica não ter o fato ocorrido, e tudo farei, ao meu alcance, para que não ocorra, nos próximos decênios. Pode acrescentar que, nascido em 1917, ainda continuo forte". Passo inadmissível Um "amigo e admirador" de Jânio, sr. Hamleto Rosato, por intermédio do deputado Athiê Jorge Curi, ofereceu a ele, a fim de integrar a coleção do "Zoo", um jaboti de curiosa espécie. Eis o "bilhetinho" de agradecimento : -Prezado Hamleto. Agradeço o jaboti, que será enviado ao zoológico. Minha filha deseja-o, contudo, e por uns dias, no Palácio. Só vejo conveniência, eis que o bicho, no ritmo deste casarão, vai ter que andar mais depressa. Aqui não se admite "passo de tartaruga" ... Depois, já educado, terá aquele destino. Abraços". Primeiros cenários O Brasil abre 2013 sob chuvas de versões e uma seca cheia de grandes interrogações. Entre as versões : 1. Lula poderá vir a ser candidato em 2014 ; 2. Serra quer voltar a ser candidato e prepara-se para lançar novo partido com o deputado Roberto Freire ; 3. Alckmin será empurrado para as prévias do PSDB, disputando com Aécio a candidatura à presidência ; 4. Serra teria caminho livre para ser candidato ao governo de SP ; 5. Eduardo Campos fecha com Dilma em 2013, mas deixa a porta aberta para se candidatar à presidência em 2014. Entre as interrogações : 1. PIB de 2013 passará dos 3% ? 2. Haverá racionamento de energia, mesmo com os desmentidos da presidente Dilma e do ministro Lobão ? 3. Eduardo Campos será mesmo candidato em 2014 ? 4. O PSD de Kassab ganhará mesmo o Ministério da Micro e Pequena Empresa ? 4. O PMDB presidirá a Câmara e o Senado, garantindo o nome de Michel Temer como vice de Dilma em 2014 ? 5. As oposições terão alguma chance em 2014 ? Primeiras respostas A leitura das linhas e entrelinhas, sob a tessitura político-institucional e a colcha de conveniências e circunstâncias, permite oferecer as seguintes respostas : a. Lula não será candidato em 2014 nem a presidente da República nem a governador de SP. O país já não é o mesmo de seu tempo de mandatário ; b. Serra poderá vir a ser candidato, mas não à presidência da República. Seu ciclo de vida nessa esfera esgotou-se ; c. É pequeno o tempo para se formar um novo partido e disputar com ele a campanha de 2014 ; d. Aécio deverá ser mesmo o candidato tucano em 2014 ; e. Eduardo Campos quer permanecer em evidência. Para tanto, desdobra-se para agradar gregos e atrair troianos ; f. PIB ínfimo terá consequências nefastas sobre a candidatura situacionista, favorecendo oposições. Mas o patamar de 3% é até confortável ; g. PSD de Kassab ganhará Ministério ; h. PMDB deve comandar as duas Casas legislativas ; i. As oposições só terão chance em 2014 se a economia sair totalmente dos trilhos. Disputa na Câmara Henrique Eduardo Alves deverá ser eleito, com folga, para a presidência da Câmara dos deputados. Trata-se do parlamentar com o maior número de mandatos. Mais que preparado, Henrique sabe tudo de política, área em que teve um grande mestre : seu pai, Aluizio Alves, fundador da UDN, um dos quadros políticos mais brilhantes do país, ex-deputado, ex-governador do RN e ex-ministro. Henrique Alves chegará ao comando da Câmara, coroando um ciclo de vida no PMDB, onde faz parte do quadro dirigente. Trata-se de um parlamentar que conhece profundamente os meandros do Congresso Nacional. Júlio Delgado, o parlamentar do PSB mineiro, sai candidato por conta própria. Não tem o apoio da direção partidária. Já a deputada Rose de Freitas, atual vice-presidente da Câmara, tem o apoio do núcleo feminino, mas sua candidatura, caso a mantenha até o final, expressa mais um gesto simbólico. Disputa no Senado No Senado, a tradição é que a maior bancada tem direito a comandar a Casa. O PMDB possui a maior bancada. E no partido, quem agrega o maior número de votos é Renan Calheiros. Há uns quatro ou cinco senadores do partido que gostariam de eleger outro nome. Mas Renan faz uma boa maioria. Não há vetos a seu nome no âmbito do Palácio do Planalto. Logo, Renan é franco favorito. Sociedade condenada "Quando você perceber que, para produzir, precisa obter a autorização de quem não produz nada ; quando comprovar que o dinheiro flui para quem negocia não com bens, mas com favores ; quando perceber que muitos ficam ricos pelo suborno e por influência, mais que pelo trabalho e que as leis não nos protegem deles, mas, pelo contrário, são eles que estão protegidos de você ; quando perceber que a corrupção é recompensada e a honestidade se converte em auto-sacrifício ; então poderá afirmar, sem temor de errar, que sua sociedade está condenada". (Filósofa russo-americana Ayn Rand, judia, fugitiva da revolução russa, que chegou aos Estados Unidos na metade da década de 1920). Apagões I O testemunho é de Iêdo Moroni, engenheiro da CHESF por mais de 20 anos, onde exerceu seis cargos comissionados. Veja o que diz sobre os apagões : "Se o sistema é radial, o apagão afeta apenas o trecho desligado, não ocorrendo os desligamentos em cascata como hoje ocorrem. ...A presidente está sendo enganada com essas desculpas dadas pelos gestores do NOS. Toda a culpa dos apagões é jogada nas linhas de transmissão, sempre em desfavor das descargas atmosféricas, acusadas como grandes vilãs....as linhas "acusadas" de serem desligadas por descargas atmosféricas são super dimensionadas para esses eventos, razão pela qual, é estranhável que sejam causas francas de apagões". Apagões II "...trocando em miúdos, a possibilidade de uma descarga atmosférica é probabilisticamente inexpressiva, e, caso isso venha a acontecer, o sistema deve ter a sua coordenação de proteção minimamente seletiva para isolar a linha e acionar alternativa que impeça o chamado efeito cascata. O resto é conversa para enganar a sociedade. Ocorre que o nosso setor elétrico está sendo administrado hoje politicamente, como é o caso da CHESF. O diretor de operações passou anos como especialista em previdência privada, e por ser militante do PT, foi guindado ao cargo. Antes dele todos os demais diretores de operação eram engenheiros formados no sistema operacional da empresa. Poderia até haver nomeações políticas, mas o indicado teria que possuir curriculum vitae compatível com o cargo a exercer... operação de sistema elétrico, por mais simples que ele seja, tem que ser comandada por técnicos preparados e experientes, pois trata-se da área mais importante da empresa por ser ligada diretamente ao bem-estar e à segurança da sociedade". Repercussão geral O julgamento do mensalão abrirá um ciclo de maiores cuidados na frente política. As Cortes Judiciais, das mais altas à primeira instância, deverão incorporar lições ético-morais e uma interpretação mais rigorosa das leis, tendo como baliza a decisão da Suprema Corte. Pode-se apostar na hipótese de melhoria nos aparatos políticos com seus costumes e práticas. A conferir. DEM se afasta do PSDB Está chegando ao fim o casamento entre DEM e PSDB. Demorou um bom tempo. O DEM percebeu que, ao lado dos tucanos, tem mais ônus que bônus. Vai passar um tempo olhando para os dois lados. Independente ? Difícil. Pois os Demistas precisam, eles também, do adjutório (e adjutório forte) do governo Federal. ACM Neto que o diga. Aliás, o prefeito de Salvador promete dar uma grande mexida na administração municipal. Ciro comentarista ? Ciro Gomes foi contratado pela rádio Verdes Mares para ser comentarista esportivo. Este analista tem pequena observação : como comentarista, Ciro será um político destinado a perder muitos pênaltis. Ou a ser flagrado em muitos impedimentos. Mas... como diz minha velha mãe : "nunca diga, desta água não beberei". E o mensalão, hein ? Após o recesso, STF deverá concluir o julgamento do mensalão. Até parece que as coisas nessa área terminaram. Tem muita água a correr por baixo da ponte. E os casos Cachoeira e Rose, hein ? O primeiro se veste do glamour social de uma lua de mel no paraíso tropical da Bahia ; o segundo atravessa os corredores das convocações pela Justiça. Externamente, o primeiro parece ser um happy end. Quanto ao segundo, muitas interrogações no ar. Internamente, envolvidos devem estar com a cabeça fervendo. Sérgio assume SESCON/SP e AESCON/SP No dia 2 de janeiro, o empresário contábil Sérgio Approbato Machado assumiu a presidência do SESCON/SP (Sindicato das Empresas de Serviços Contábeis e de Assessoramento no Estado de São Paulo) e da AESCON/SP (Associação das Empresas de Serviços Contábeis) para 2013-2015. "Nosso trabalho será para reforçar e ampliar a posição das entidades em relação a temas de relevância para a sociedade, bem como valorizar e defender as categorias representadas em busca pela melhoria do ambiente empreendedor brasileiro", ressalta ele. A nova gestão reitera o compromisso na luta pela desburocratização, simplificação e redução da carga tributária e em prol do empreendedorismo brasileiro. Foco da gestão Um dos focos da nova gestão do SESCON/SP e da AESCON/SP será a ampliação do leque de serviços e opções visando a educação permanente. "O empresário e o profissional contábil estão no centro das grandes mudanças legislativas, tributárias e tecnológicas. Suas responsabilidades têm crescido gradualmente e uma de nossas missões é prepará-los para os constantes desafios", enfatiza Approbato Machado. A cerimônia oficial de posse das novas diretorias será no dia 18 de janeiro no Salão Nobre do Clube Atlético Monte Líbano. Assessor de Hollande O presidente da França François Hollande solicitou o conselho do jornalista Claude Sérillon sobre como remodelar sua imagem. Contratados, dois peritos em comunicações propuseram três soluções para reconquistar o coração dos franceses : vigiar sua linguagem (por exemplo, jamais dizer "eu creio") ; cuidar de sua atitude corporal ; por exemplo, dando atenção à preparação física e bebendo água em lugar de álcool ; e atentar para sua roupa ; exemplo, evitar o nó de gravata simples e a aparência negligenciada. (Observação de César Maia) Graciliano Ramos O velho Graça, monumento de nossa literatura, para quem não sabe, foi prefeito de Palmeira dos Índios/AL. Sabia fingir. Por sentimentalismo ou vergonha, finge-se mais áspero do que é, mais espinhoso que um mandacaru. Sertanejo magro, de ombros curvos, um cigarro ardendo entre os dedos ou na boca, de roupas simples mas asseadas, mãos limpas (em todos os sentidos). Cria fama de grosseiro por causa de diálogos como estes : - Bom dia, mestre Graça. - Você acha, meu filho ? Ou então : - Mestre Graça, se a situação continuar desse jeito, vamos comer merda - diz-lhe o romancista José Lins do Rego, nos tempos da ditadura de Getúlio Vargas. - Se sobrar pra nós, Zé Lins. Se sobrar... Conselho aos novos prefeitos Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes, membros dos Poderes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos dirigentes dos Poderes da República. Hoje, volta sua atenção aos novos prefeitos : 1. Priorizem os compromissos assumidos na campanha, escolhendo as ações imediatas e os programas de médio e longo prazo. 2. Exijam rígido controle de metas e programas a cargo das secretarias, fazendo cobranças periódicas. 3. Em sua situação de precariedade, como a que vivem os municípios, cortem despesas inócuas, projetos sem interesse social, ações personalistas e tentem diminuir os espaços de assistencialismo populista. ____________
quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Porandubas nº 342

Abro a Coluna com uma historinha do jornalista Ivan Santos. O lendário deputado José Maria Alkmin era amigo de infância de Juscelino Kubitschek. Como Juscelino, Zé Alkmin, aos 20 anos de idade, foi telegrafista, profissão que exerceu para manter-se enquanto estudava Direito em BH. Mesmo com rara inteligência, tinha pouco brilho social. Era franzino, com 1,59m de altura, mas estudante brilhante e aplicado. Lia todas as publicações que encontrava à frente - dos ensaios de Erasmo às bulas de remédio. Era um gajo extrovertido e espirituoso. Certo dia, Juscelino o apresentou a uma garota linda, alta (mais de 1,75m), simpática, de forma corporal perfeita. Alkmin prontamente apaixonou-se por ela. Elogiou-a e, durante uma semana, deu-lhe presentes com a intenção de conquistá-la. A moça fechou a guarda, esquivou-se, manobrou como pode até que um dia, sem saída diante do cerco armado por Cupido, perdeu a paciência e despejou : - Vê se te enxerga Zé Maria ! Cresça e apareça ! O enigmático mineirinho, sem perder tempo, tascou : - Crescer eu não garanto, não ; só garanto outras coisas. A moça entendeu. Ficou vermelha. Perdeu o fôlego e retirou-se. Nunca mais se aproximou do mineirinho namorador, audacioso, espirituoso e enigmático. Mais querelas A querela está no ar. Quem tem a prerrogativa de cassar mandatos de deputados ? A Câmara ou o STF ? Marco Maia, o presidente da Câmara, diz que não abre mão da prerrogativa que a CF concede : é um direito da casa legislativa. O mesmo diz a maioria dos membros do Supremo : cabe à Corte suspender o mandato legislativo quando o condenado perde os direitos políticos. Celso de Mello, o decano do STF, argumenta que "desobediência será intolerável". Os juristas se dividem. Dalmo Dallari defende que o órgão revogador de mandatos é a Câmara. O ex-presidente da Corte, Carlos Velloso, diz que cabe à Câmara cumprir a decisão tomada pelo STF. Rose não pode sair Rosemary, ex-toda poderosa chefe da Representação do Governo Federal em SP, não pode sair do Brasil. Tinha passagem comprada para os Estados Unidos. São proibições dessa natureza que devem infernizar sua vida. Ao contrário de Paulo Vieira, Marcos Valério e Carlinhos Cachoeira, Rose não tem ameaçado abrir a boca para abrir os porões. Campanha começou Pois é, os prefeitos nem tomaram posse e a campanha de 2014 já está nas ruas. As oposições aproveitam o momento para disparar tiros contra Lula. Seu objetivo é macular a imagem de Todo Poderoso ex-presidente. Conseguirão ? Difícil. Lula abriga-se no inexpugnável abrigo do carisma. De onde não sairá tão cedo. O estoque de admiração encontra-se ainda muito cheio. Pesquisas recentes indicam que seria eleito presidente no primeiro turno se a eleição fosse hoje. Os oposicionistas querem jogá-lo no meio da fogueira, na crença de que o queimando, queimarão por tabela a pele da presidente Dilma e os costados do PT. Puro engano. Dilma com vida própria Ocorre que a mandatária Rousseff adquiriu vida própria, a essa altura. Já não depende de Lula nem do PT. Pesquisas mostram que ela alcança um índice de intenção de voto superior ao de Lula. Seu perfil é um composto de substância técnica, autoridade e independência. Demonstra não se submeter às pressões políticas. Mas a presidente tem noção da realidade. Mobiliza suas bases e está de olho nas movimentações que ocorrem no Congresso. Eduardo e os 90 dias Eduardo Campos incorpora a identidade dos futurólogos e adivinhos. É dele a mais recente projeção para 2014 : se Dilma ganhar os 3 primeiros meses de 2013, ganhará todo o ano de 2014. A lógica do governador de PE abarca a crise econômica internacional, com impactos no Brasil, a convicção de que o consumo não será mais fator de contenção da crise, a necessidade de reformar o pacto federativo e a própria estrutura política. Percebe-se em Eduardo Campos a tendência de olhar para os dois lados : se a economia sair dos trilhos, ele coloca seu trem em direção ao Palácio do Planalto. Como candidato independente. Torcendo para que Aécio, pela oposição, tire forças do situacionismo e ele, Campos, se apresente como a terceira força. A porca do Piauí Flávio Furtado de Farias explica o significado de "a porca comeu" no Piauí. Refere-se ao destino de todos os candidatos derrotados no sufrágio popular eleitoral. Ou seja, a porca come quem perde eleição. "Os candidatos, quando querem provocar seus adversários, citam a porca, especialmente se o adversário já passou pelo bucho da bicha antes. Aí é aquela história de que a porca vai comer de novo. Tudo isto teve início, segundo alguns contam, no município de Campo Maior, na década de 1950 ou 1960. Ali, um candidato já havia preparado uma urna cheia de votos para lhe favorecer. O dito cujo escondeu a urna numa moita, mas na hora de pegá-la para substituir a verdadeira urna, verificou que uma porca enorme tinha estraçalhado a urna e os seus votos. O candidato perdeu a eleição. Os populares tomaram conhecimento da história. E desde então a porca tem comido muitos candidatos em todo o Piauí. Onde a porca é famosa". PT irá às ruas ? Há um PT de novos sentimentos, que quer virar a página após o mensalão e recomeçar a jornada partidária com novos passos. E há um PT antiquado, que imagina complôs por todas as partes e tramóias feitas pela mídia para destruir sua imagem. O PT novo é o que prega abertura de informações, transparência, punição a culpados. O PT velho é o que quer acobertar os malfeitos. Esse partido obsoleto pretende mobilizar as bases para defender os condenados no mensalão. Ora, o partido não enxerga a realidade. Não há ânimo nas bases de qualquer partido - o PT entre eles - para sair às ruas em defesa de pessoas condenadas. Pode haver certo barulho em ambientes fechados. Organizado por meia dúzia de integrantes da velha guarda. Gastança no exterior O bolso dos brasileiros das classes médias, ao que parece, está bem recheado. Os gastos dos nossos turistas no exterior atingiram novo recorde em novembro e no acumulado do ano. Apesar do dólar mais caro, brasileiros gastaram US$ 1,8 bilhão em visitas a outros países no mês passado, 15% a mais do que há um ano. No acumulado de 2012, os brasileiros já gastaram lá fora US$ 20,244 bilhões, 3,9% acima do registrado no mesmo período de 2011 (US$ 19,489). Truman, o exemplo I Harry Truman foi um tipo diferente como presidente. Provavelmente tomou tantas ou mais decisões em relação à história dos EUA como as que tomaram os 42 presidentes que o precederam. Uma medida da sua grandeza talvez permaneça para sempre : trata-se do que ele fez depois de deixar a Casa Branca. A única propriedade que tinha quando faleceu era uma casa, onde morava na localidade de Independence, Missouri. Tratava-se de uma herança de sua esposa. Depois dos anos em que moraram na Casa Branca, ali viveram o resto de suas vidas. Truman, o exemplo II Quando se retirou da vida oficial, em 1952, todas as suas receitas consistiam numa pensão do Exército de $ 13.507 anuais. Quando o Congresso soube que ele custeava seus próprios selos de correio, outorgou-lhe um complemento e, mais tarde, uma pensão retroativa de $ 25.000 anuais. Depois da posse do presidente Eisenhower, Truman e sua esposa voltaram a seu lar no Missouri dirigindo seu próprio carro... sem nenhuma companhia do Serviço Secreto. Quando lhe ofereciam postos corporativos com grandes salários, rejeitava-os dizendo : "Vocês não me querem a mim, o que querem é a figura do presidente, e essa não me pertence. Pertence ao povo norte-americano e não está a venda...". Truman e as duas vocações Ainda depois, quando em 6 de maio de 1971 o Congresso se preparava para lhe outorgar a Medalha de Honra em seu 87° aniversário, recusou-se a aceitá-la, escrevendo-lhes : "Não considero que tenha feito nada para merecer esse reconhecimento, venha ele do Congresso ou de qualquer outra parte". Como presidente, pagou todos seus gastos de viagem e de comida com seu próprio dinheiro. Este homem singular escreveu : "As minhas vocações na vida sempre foram ser pianista numa casa de putas ou ser político. E para falar a verdade, não existe grande diferença entre as duas !". A bomba atômica Há outro lado da história do presidente Truman. Autorizou a bomba sobre Hiroshima e Nagasaki em 6 e 9 de agosto de 1945. A bomba atômica caiu em Hiroshima numa segunda feira. Três dias depois, no dia 9, outra sobre Nagasaki. As estimativas do primeiro massacre por armas de destruição maciça sobre uma população civil apontam para um número total de mortos a variar entre 140 mil em Hiroshima e 80 mil em Nagasaki, sendo algumas estimativas consideravelmente mais elevadas quando são contabilizadas as mortes posteriores devido à exposição à radiação. Little boy Às 8h15, (horário japonês), "Little Boy" cai sobre Hiroshima. A bomba atômica de urânio, de 3,2m de comprimento, 74 cm de diâmetro e 4,3 toneladas explode 576 metros acima do Hospital Cirúrgico de Shima. A detonação equivale a 12,5 mil toneladas de TNT. No raio de um quilômetro, todo ser humano que se encontrava em local aberto morreu instantaneamente ou dentro de poucos minutos. O calor chegou a tal violência que a quinhentos metros do centro da explosão os rostos foram atingidos a ponto de ficarem irreconhecíveis. Somente nos 20 primeiros segundos morreram 70 mil pessoas, número que chegaria a 210 mil nas semanas seguintes. Quem foi salvo atribui o fato ao acaso - um passo dado a tempo, uma decisão de entrar em casa. Os sobreviventes não sabiam sequer o que havia atingido a cidade. E por muito tempo não saberiam. 3871º C A onda de calor, que chegou a 3871°C, queimou tudo que se localizava em um raio de 10 km. A potência da bomba, equivalente a 20.000 toneladas de TNT, matou cerca de 200 mil japoneses. Devido a radiação presente na bomba, os japoneses que sobreviveram ao ataque tiveram vários problemas de saúde. Houve inúmeros casos de crianças que nasceram com problemas físicos e/ou mentais devido as alterações genéticas causadas pela bomba, bem como a presença de leucemia. Meses após o ataque, era comum que as queimaduras causadas pela bomba ainda não estivessem cicatrizadas. Corrupção na saúde Há uma semana, dez pessoas foram presas durante a Operação Atenas, deflagrada para investigar um grupo criminoso que usava duas associações civis de fachada para desviar recursos públicos destinados à área da saúde em Itapetininga/SP. A apuração revelou que, embora constituídos na forma de organizações não governamentais independentes uma da outra, o Instituto SAS e o Sistema de Assistência Social e Saúde (SAS) são, na verdade, uma única organização criminosa, administrada e comandada pelo mesmo líder. Os contratos analisados pela polícia apontam para um desvio em torno de R$ 100 milhões por ano em processos fraudulentos em pelo menos oito municípios nos estados de SP, RJ e SC. No caso do Hospital Regional de Itapetininga, parte da verba destinada ao pagamento dos funcionários era desviada para pagamentos de notas fiscais frias ou superfaturadas, beneficiando as empresas e pessoas envolvidas. Detalhes Gustavo Capanema, outro velho matreiro político mineiro, discursava em um comício em Pará de Minas. Citou verbas detalhadas, de bilhões a centavos. Um assessor jogou a questão : "por que tantos quebradinhos" ? Capanema deu a resposta : - Para mentir é preciso ser preciosista. Assim, ninguém percebe que você está mentindo. (Historinha de Adauto Francisco Amaral, advogado e contabilista) Conselho aos dirigentes Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes, membros dos Poderes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos injustiçados, aqueles com fome e sede de Justiça. Hoje, volta sua atenção para os dirigentes dos Poderes da República : 1. O momento exige equilíbrio, bom senso e, sobretudo, uma ética de responsabilidades. Não é o caso de abrir mais uma frente de lutas entre os poderes Legislativo e Judiciário. 2. Convém abrir um intenso diálogo entre as partes e evitar qualquer ação que possa ser considerada desrespeito à decisão da Justiça. Nesse sentido, a iniciativa do diálogo cabe ao Poder Legislativo. 3. A comunidade do Direito e da Justiça deve procurar se pautar pela vontade de encontrar a solução mais justa e adequada, sem atiçar ânimos e abrir frente de luta. ____________
quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Porandubas nº 341

Eleições diretas Durante a campanha pelas Diretas Já, em 1983/84, o jornal Folha de S.Paulo transformou o assunto em sua bandeira, até com uma fitinha verde-amarela no alto da primeira página. Noticiário e editoriais davam como garantida a vitória da emenda que devolvia ao país as eleições diretas para presidente da República, depois de vinte anos de ditadura - a emenda Dante de Oliveira. O jornal cantava a vitória e abria fotos do povo nas praças. A contagem a favor só crescia. Seu concorrente, O Estado de S. Paulo, era bem mais sóbrio e cauteloso e tinha lá seus motivos. Um deles, um informante especial em Brasília. Ao ser questionado sobre a contagem da Folha, que dava mais de cem votos a favor da emenda, o informante deu uma boa risada ao telefone e completou assim a conversa : - Meu filho, fique tranquilo, eles não sabem contar. Era Tancredo Neves. (Da coleção de Luciano Ornelas) Valério, uma bomba ? Marcos Valério conta que dinheiro do mensalão foi parar nas contas de Lula. A declaração, registrada pelo Estadão, que teve acesso a documentos, pode ser tentativa de chutar o pau da barraca e botar mais lenha na fogueira ? Pode. Mas não deve ser descartada. Urge apurar todas as informações e versões. Ocorre que a apuração, a esta altura, seria de responsabilidade de um juiz de primeira instância, eis que Lula não goza mais de foro privilegiado. Portanto, abriria um novo processo. Quem acredita que isso pode ocorrer ? Perdeu a oportunidade A fala de Marcos Valério entra no fosso das dúvidas porque ocorreu depois da condenação. Procurou o MP para entrar no compartimento da "delação premiada". Ou seja, chegou com atraso. Se Lula fosse o alvo... Este consultor não tem nenhuma dúvida. Se Luiz Inácio fizesse parte da relação de incriminados na denúncia sobre mensalão, o processo não ganharia continuidade. Estaria trancado nas gavetas. Avançamos muito em matéria de direitos humanos, cidadania e avanços no terreno dos valores republicanos. Mas não a ponto de queimar por completo o perfil mais carismático do país. Lula continua a encarnar a figura do "pai dos pobres". Nessa condição, ganharia um gigantesco escudo de proteção. Não seria tosquiado pela fogueira. E agora ? Tudo pode recomeçar se Marcos Valério mostrar documentos cabais, provas densas, revelações bombásticas. É pouco provável que tenha esse acervo. Há, isso sim, muita especulação. Teria recebido ameaças de morte ? É possível. Conta que teria ouvido de Paulo Okamotto, que dirige o Instituto Lula : "Ou você se comporta ou morre". Mas, por enquanto, é a palavra de um condenado no mensalão como operador do sistema. Lula e Dilma Quase 3 horas de papo em Paris. Foi quanto durou a conversa entre a presidente Dilma e Lula em um hotel da capital francesa. Longe dos telefonemas e dos curiosos. Certamente passaram os olhos nos últimos acontecimentos : mensalão ; comportamento de ministros ; condenações em regimes aberto e fechado ; o caso Rosemary ; as implicações para o PT e impactos sobre o governo ; o cenário pré-eleitoral ; as eleições para as presidências do Senado e da Câmara ; as MPs em tramitação, etc. Pauta densa. Dilma fazendo consultas e Lula dando as suas impressões. Direção das casas legislativas Está acertado. As casas legislativas deverão ficar sob o comando do PMDB. O fato é que, no Senado, o rito é de que o partido com o maior número de senadores tem direito à presidência da mesa. Ali é uma tradição. O nome deverá ser Renan Calheiros. Na Câmara, o PMDB fez um acordo com o PT. Cedeu a presidência na atual legislatura para ganhar o comando na próxima. Acordo assinado pelas lideranças partidárias. Há resistências a esse acordo ? Há. Grupos de deputados têm se rebelado contra acordos feitos pelas cúpulas. No caso do deputado Henrique Alves, o indicado do PMDB, vale lembrar que se trata do parlamentar com o maior número acumulado de mandatos naquela casa. Chegou ali com 22 anos. Ademais, é líder do partido em seguidas legislaturas. Trata-se de um deputado com muita experiência. Para a esquerda, não vou Depois de eleito presidente da República pelo Colégio Eleitoral, em eleição indireta, Tancredo Neves começou a ser pressionado para empunhar algumas causas do PT - aliás, partido que se omitiu naquela eleição; mas não se sabe se já era aliado de Paulo Maluf na ocasião, em 1985. A pressão chegou a tal ponto que Tancredo teve de ser duro, à sua maneira : - Não adianta empurrar, para a esquerda eu não vou. Uma figura pública Ontem, demos adeus a uma grande figura pública : dr. Dante Ancona Montagnana, presidente da Federação dos Hospitais, Clínicas, Casas de Saúde, Laboratórios de Pesquisas e Análises e outros estabelecimentos de Saúde do Estado de São Paulo. Era também presidente do Sindicato. Uma figura incansável em defesa de sua classe. Um lutador. Acompanhei sua luta por bom tempo. Gentil, afável, educado, nunca o vi levantar a voz nem quando demonstrava irritação. Seria homenageado, hoje à noite, com um jantar e as palmas dos muitos amigos. Adeus, dr. Dante ! A saúde pública Eis o que pensava sobre a saúde pública em nosso país : "a deterioração da saúde pública já vem de longa data ..O SUS é, teoricamente, o sistema público ideal e ninguém pode dizer o contrário. Só que não podemos tapar nossos olhos e bater palmas, porque ele não está funcionando como deveria, pois não dá ao cidadão o seu direito garantido constitucionalmente : a saúde - direito de todos e dever do Estado. O Estado não cumpre seu dever, ou seja, não aumenta os recursos para a saúde, deixando a rede privada, principalmente a filantrópica, com a responsabilidade do atendimento, mesmo que isto represente um déficit em cada procedimento, o que tem levado as Santas Casas a uma insolvência como nunca nos últimos anos". Cassação de mandatos Mais uma pendenga se forma. O STF deverá votar, hoje, por maioria de 5 a 4, pela cassação de mandatos de parlamentares condenados na Ação Penal 470. Há interpretações para todos os gostos. O presidente da Câmara, Marco Maia, diz que não acatará decisão do Supremo, pois a CF garante (art. 55) que essa é uma prerrogativa da Casa. O Supremo, por maioria, decide que parlamentar condenado perde o direito à representação. Se perde os direitos políticos, como continuar a ter esses direitos ? Um condenado em regime fechado (é o exemplo in extremis) como poderia dar o voto na Câmara ? Seria seu voto colhido na prisão ? Será que a Câmara não deveria verificar apenas se todos os rituais de cassação foram cumpridos ? É claro que deve haver alguma manifestação da Câmara. O dono do mandato é o povo. Imagem forte A presidente Dilma Rousseff continua a manter imagem forte perante o eleitorado, principalmente os contingentes situados nas margens. Mensalão, affaire Rosemary e denúncias de favorecimento envolvendo quadros da administração Federal não têm impactado negativamente a imagem da governante. A pergunta é recorrente : qual é a razão ? Este consultor enumera : 1. o perfil envolvido no manto técnico, que lhe confere a imagem de faxineira; 2. a maneira rápida com que toma decisões, mandando demitir os implicados; 3. a expansão do cinturão social (programas Brasil sem Miséria e Brasil Carinhoso, extensões do Bolsa Família). Enquanto correr o dinheirinho no bolso das margens sociais, Dilma continuará com a imagem inabalável. A locomotiva econômica E como será o quadro eleitoral ? Dilma será reeleita ? Resposta : se a locomotiva econômica se mantiver nos trilhos, o trem correrá sem solavancos rumo à plataforma 2014. Crescimento poder ser até baixo em 2013, algo em torno de 3% a 4%. Mas se as margens sociais continuarem a se acomodar no gigantesco cobertor social, Dilma deverá continuar sentadinha na cadeira central do Palácio do Planalto. Pois os eleitores mais uma vez se guiarão pela geografia do voto : bolso, estômago (geladeira cheia), coração e cabeça. Custos adicionais As empresas de segurança privada estão preocupadas com os impactos da aprovação do PL 1033/03, que garante adicional de periculosidade de 30% sobre o salário dos vigilantes. Isso porque o custo operacional por posto de trabalho deve passar dos atuais R$ 12.257,67 para os R$ 14.129,74. Só nos cofres públicos, estimativas apontam um impacto adicional de R$ 187 mi por mês. "Não queremos deixar de pagar o adicional nem queremos demitir. Porém, precisamos conceder o benefício gradativamente para que não haja impacto negativo", argumenta João Palhuca, vice-presidente do Sesvesp (Sindicato das Empresas de Segurança Privada do Estado de São Paulo). A vingança dos prefeitos Não são poucos os homens públicos que merecem figurar no Portal da Indecência. São aqueles que se vingam contra o povo ao não se reelegerem ou não elegerem seus candidatos. Por perversidade, suspendem serviços básicos ou essenciais que eram prestados até o dia das eleições; relaxam na limpeza pública; exoneram professores e atravancam o calendário escolar; suspendem o transporte de alunos da rede municipal e até chegam a propor (escárnio...) que os servidores trabalhem como voluntários, sugerindo que peçam recontratação ao próximo prefeito. Vingadores. Indecentes. Merecem a navalha afiada do MP. E o desprezo dos eleitores nas eleições futuras. Só em Pernambuco, o MP enquadrou 45 prefeitos. Dentre eles, o ex-presidente da Câmara, Severino Cavalcanti, prefeito de João, alvo do TCE e do MP. Conselho aos injustiçados Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes, membros dos Poderes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos membros dos Tribunais. Hoje, os conselhos vão para os injustiçados, aqueles com fome e sede de Justiça : 1. Procurem persistir em seus sonhos. Não se deixem abater pela onda de injustiças que bate à sua porta. Não desanimem. Avante. Tenham fé. 2. O grande Ruy já dizia : "A menor injustiça pode operar instantaneamente as mais sanguinosas comoções, como uma gota d'água poderá determinar o esboroamento de um dique fendido lentamente pelos anos, ou a mínima fagulha produzir uma conflagração num depósito subterrâneo de explosivos". Mesmo sabendo de tudo isso, procurem conter as fagulhas de sua alma. Na crença de que, um dia, a injustiça será sanada. 3. Rezem para que os instintos mais selvagens de figurantes da cena institucional voltem a se banhar nas fontes do Humanismo, da Caridade e da Justiça ! ____________
quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Porandubas nº 340

Não publique, por favor Abro a coluna com uma historinha do inconfundível Jânio Quadros.. Pouco antes de deixar a prefeitura de SP pela última vez (encerrava ali sua carreira política), no final de 1989, Jânio Quadros ligou para Luciano Ornelas, editor-chefe de O Estado de São Paulo. Voz irreconhecível, contou depois o jornalista. Uma fala embargada, pausada, revelava um homem amargurado. Ao contrário daquele Jânio histriônico, do grande orador. Pediu, com humildade : - Como você sabe, minha filha convocou uma entrevista coletiva para amanhã. Vai repetir aquela acusação de que saí do país com mala de dinheiro e depositei na Suíça. É uma inverdade e é muito difícil para um pai ouvir isso. Eu lhe peço que não publique, por favor. Nenhum jornal publicou, mesmo porque era notícia velha, jamais comprovada. A filha, Dirce Tutu Quadros, só queria requentar. Jânio morreu em fevereiro de 1992. O caso Rosemary O affaire Rosemary, ex-chefe da representação do governo Dilma em SP, abriu um rombo nos costados da administração Federal. De repente, a teia de interesses e intermediações se fez ver, com fios enrolando agências governamentais - ANA, ANTAQ, ANVISA, ANAC - Ministérios (dos Transportes, Secretaria dos Portos,) e outros órgãos. O desenho que se faz da administração é cheio de traços tortos. Diz-se que o governo está travado ; que obras importantes, como as da transposição do São Francisco estão paradas ; que obras da Copa (estádios) estão atrasadas ; que os ministérios também estão travados, porque não os ministros são tolhidos em suas competências ; que a presidente é muito centralizadora. Esse rol de imperfeições se escancarou ao fundo do caso Rosemary. "Não faças a outros homens o que não queres que eles te façam". (Confúcio) Economia em baixa Ao lado do cenário acima descrito, o PIB cresceu 0,6% no trimestre : crescimento mais que pífio. Indústria continua desmotivada. Expansão muito pequena. Medidas pontuais de apoio a um ou a outro setor (como o automobilístico) não contribuem para um empurrão geral. Investimentos se retraem. Brasil sai da primeira linha de espaço prioritário para investidores. Emprego está no limite. Queda de produção de alguns setores. E já se sabe que a saída de 2008 para o país enfrentar a crise - incentivo ao consumo - já não atrai consumidores. Os bancos não querem bancar esta estratégia. O endividamento das famílias sobe. Descompasso O Estadão anota : tem havido descompasso entre o desempenho do setor produtivo e a evolução das receitas do governo. Enquanto o ritmo de crescimento do PIB despencou, de 7,5% em 2010 para 2,7% em 2011, a fatia da riqueza nacional apropriada pelo setor público na forma de tributos passou de 33,53% para 35,31% do PIB. É um novo recorde da carga tributária, assegurado por uma variação igualmente recorde equivalente a 1,78 ponto porcentual do PIB entre um ano e outro. A frustração dos meios econômicos diante da divulgação dos dados do PIB do terceiro trimestre passou ao largo de um aspecto importante, a saber, das consequências de um modelo de desenvolvimento baseado no consumo e a responsabilidade do governo na escolha de um modelo inadequado para enfrentar a atual conjuntura. O quadro, pelo que se infere, é feio. "A metade da vida não é suficiente para compor um bom livro, e a outra metade para o corrigir". (Rousseau) Mantega na marca do pênalti ? Pinça-se dos desenhos acima a versão de que o ministro Guido Mantega estaria chegando à marca do pênalti. Pois não tem conduzido a economia com firmeza. Tateia. Há tempos diz que a recuperação chegou. Chegou quando, ministro ? E o emprego, hein ? Agora é Zé Pastore, o melhor analista da questão do emprego em nosso país, que registra : "Estou antevendo dias difíceis no campo do emprego. Parece absurdo escrever isso num país que tem uma das mais baixas taxas de desemprego do mundo (5,3%). Mas a preocupação se justifica quando se analisam o fraco desempenho do PIB em 2012 (menos de 1%), a crise internacional e a perversidade da regulação no campo do trabalho". Sarney, o mundo muda Há exatos 23 anos - em 4 de dezembro de 1989 - o então presidente José Sarney concedeu uma entrevista exclusiva ao jornal O Estado de S. Paulo no Palácio do Planalto. Era um homem assustado e queria mandar este recado : "Partiremos para a revolução socialista (...) o Brasil está hoje no plano inclinado da esquerda, e não há no horizonte forças capazes de reverter este quadro (...). Abram os olhos, porque a esquerda é formada por gente determinada, organizada e com objetivos bem delineados". Sarney chamava toda a situação (na época, o popular Centrão), para se unir em torno de uma candidatura contra o então líder sindicalista Lula da Silva. Collor se elegeu - e deu no que deu. Hoje, o senador Sarney navega placidamente no barco da esquerda que lhe dava tanto pavor. (Enviada por Luciano Ornelas, que fez a entrevista). "O legislador que acima de tudo coloca a lei, estabelece um governo; e é o que mais tem de divino e humano". (Guicciardini, historiador italiano) Aécio nas ruas Fernando Henrique antecipou-se : convocou Aécio Neves para jogar seu nome nas ruas e sair em campanha para a presidência em 2014. Um jogo antecipado. Que pode abrir muitas frentes contra o senador tucano. Uma campanha antecipada significa arregimentação prévia de forças, multiplicar o arsenal de armas ($$$$$$), correr o país, reunir partidos em aliança, etc. Ora, todo esse aparato poderá custar caro, muito caro. Campanha depende do clima e circunstâncias. Se a economia se mantiver nos trilhos, adeus, Aécio. Sua candidatura só vingaria em um cenário de vários candidatos, entre os quais, o governador Eduardo Campos, do PSB. Mas este..... Mas Eduardo Campos abre um olho para a base governista de Dilma, pisca o outro para as oposições. Mas o que quer mesmo é transitar em faixa própria, ou seja, ser a estrela maior de uma constelação de partidos. E Lula, hein ? Lula chegou dizer, no programa do Ratinho, que fará tudo para derrotar os tucanos em SP. Inclusive, candidatando-se ao governo de SP, em 2014. Este consultor não põe fé nessa promessa. Quem se acha sentado à direita do Pai jamais descerá à planície dos mortais. Não dá para acreditar Por falar em Lula, lá vem Rose novamente. Não dá para acreditar nessa história que o deputado Garotinho teima em contar em seu blog. Que Rose carregou US$ 25 milhões em malas diplomáticas, solicitou transporte especial na cidade do Porto e descarregou a encomenda no banco Espírito Santo. Na conta de Lula. Muita fantasia. A identidade de Alckmin Geraldo Alckmin é um governador muito afável. Cordato. Boa conversa. Tem sempre uma boa história para revelar. Que rende muitas risadas. Mas o governador carece de uma identidade, um conceito forte para amarrar seu cavalo, aliás, seu governo. Qual a imagem que passa para a sociedade ? Quais os eixos de sua administração ? Alguém tem isso de cor e salteado ? Chegou a hora, governador, de dar um forte verniz à administração. Onde está Anastasia, hein? E o governador Antônio Anastasia, do poderoso Estado das Minas Gerais, onde está ? Desapareceu da mídia. Média dosimétrica O STF retoma, hoje, a análise das penas impostas aos condenados na ação penal 470. Os ministros poderão levar em conta o fato de que certos crimes devem ser considerados em conjunto e não separadamente. Essa fórmula, chamada continuidade delitiva, resultaria na diminuição de algumas punições. Cadê o projeto de nação ? As candidaturas começam a se apresentar ao país. Mais uma vez, os nomes precedem os programas. Onde está o projeto de Nação ? Não seria mais lógico produzir-se um abrangente programa para o país, identificando potenciais e demandas, sujeitando-o a um amplo debate no bojo das entidades organizadas ? Os candidatos não deveriam manifestar seu interesse, seu pensamento e sua visão sobre as propostas expostas ? Não deveria ser este o roteiro prévio para a escolha de um candidato ? 101 propostas de modernização A CJI apresenta uma lista com 101 "irracionalidades" da legislação trabalhista, apontando as consequências de cada uma delas e mostrando a forma legal para as soluções. Sugere 65 PLs, três PLs complementar, cinco projetos de emenda à Constituição (PECs), 13 atos normativos, sete revisões de súmulas do TST, seis decretos, cinco portarias e duas normas de regulamentação (NR) do Ministério do Trabalho na área de saúde e segurança do trabalho. As propostas serão lançadas no 7º Encontro Nacional da Indústria (ENAI), que será aberto, hoje, no Centro de Convenções Ulysses Guimarães, em Brasília. Cara de Rolls Royce ? Paulo Maluf, então prefeito de SP, convidou dois jornalistas do Estado de S. Paulo para almoçar em sua casa, na rua Costa Rica, nos Jardins. Queria, segundo ele, ouvir a opinião dos convidados sobre sua imagem pública. Um dos jornalistas ponderou : - O senhor continua com a imagem de muito arrogante, prefeito. Olha todo mundo por cima, com ar superior. Ao que Maluf respondeu : - Ora, meu caro, o que você queria ? Eu ia de Rolls Royce para a escola. Conselho aos tribunais Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes, membros dos Poderes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado ao ministro Joaquim Barbosa, presidente do STF. Hoje, dedica sua atenção aos membros dos tribunais : 1. Lembrem-se da lição de Francis Bacon : "Deus costuma abrir o seu caminho elevando vales e abaixando montanhas; de maneira que, se aparecer, do lado de uma das partes, um braço poderoso, uma pressão violenta, astuciosas vantagens, combinações, poderes, grandes conselhos, nesse caso a virtude do juiz consiste em nivelar desigualdades para poder fundar sua sentença em um terreno plano". 2. Cuidado, muito cuidado com a preservação da identidade do Poder que Vossa Excelência integra. Cuidado para não conspurcar suas decisões com "embargos auriculares", expressos por bocas poderosas e bolsos endinheirados. Tente, senhor juiz, evitar que a equidade da Justiça seja rompida e desviada em benefício de uns em detrimento de outros, ameaça sempre presente quando operadores do Direito alteram ou se empenham para adulterar procedimentos sagrados do império legal. 3. Façam Justiça obedecendo ao Império de sua consciência. ___________
quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Porandubas nº 339

A Procissão Abro a coluna com pequena homenagem à Mangueira. Qual delas ? A solene procissão descia uma rua do RJ numa Semana Santa, a imagem de Nossa Senhora no andor carregado por homens contritos. Foi quando saiu um bêbado de um boteco e gritou : "Olha a Mangueira aí, gente !". Os olhos do padre e de seus fiéis faiscaram de indignação diante da insolência de comparar a procissão a uma escola de samba. O bêbado insistiu : "Olha a Mangueira aí, gente !". Alguns metros abaixo, um barulho - a imagem da santa espatifou-se contra um galho de árvore. E o bêbado voltou vitorioso : - Eu bem que avisei que tinha uma mangueira aí, gente ! (Enviada por Luciano Ornelas) Os pepinos de Rosemary A ex-chefe do escritório da presidência em SP, Rosemary Noronha, parecia inabalável no cargo. Nomeada por Lula, endossada pela presidente Dilma, amiga do ex-ministro José Dirceu, com quem trabalhou, tinha imagem de poderosa e voluntariosa. Indiciada pela PF na Operação Porto Seguro, que apura um esquema de fraudes em pareceres técnicos de órgãos públicos com a finalidade de beneficiar empresas privadas, foi demitida. Há suspeição sobre sua conduta. Sua filha, Mirelle, também foi demitida da ANAC, onde tinha cargo comissionado. Impressiona, porém, a agilidade da presidente Dilma. Passou a faca rapidamente no cancro descoberto. Os pepinos de Rosemary até poderão ter desdobramentos. Mas a maneira de Dilma administrar crises e tensões é bem diferente do modo mais complacente dos tempos de Lula. Classe média A estratégia de demitir quadros e mandar apurar rapidamente os casos nebulosos é bem usada pelo governo para causar boa impressão nas classes médias. Lula traído ? Lula teria se sentido "apunhalado pelas costas". A punhalada, no caso, teria sido desfechada pela Rosemary. Mas a expressão, de tão banalizada por políticos que se dizem petrificados por absurdos atos cometidos por pessoas próximas, perdeu o crédito. Virou escudo expressivo de proteção. Luiz Inácio, protegido pelo carisma e admiração de galeras de todos os patamares, pode dar-se ao luxo de se valer do batido refrão. Imagens no alto Pergunta insistente ao consultor : o que explica a alta avaliação da presidente Dilma e do ex-presidente Lula pela sociedade ? Resposta recorrente : a geografia do agradecimento. Que obedece aos seguintes espaços : bolso, estômago, coração e cabeça. Bolso com grana do Bolsa Família significa geladeira bem provida; geladeira cheia propicia barriga satisfeita; barriga satisfeita amolece o coração; coração agradecido envia estímulos à cabeça. Que, ao final do percurso, decide aprovar a administração dos pais e mães do Bolso com a grana do Bolsa Família e programas congêneres. Mensalão no fim Joaquim Barbosa, agora como presidente, vai cumprir a liturgia do cargo. Menos exasperação e mais comedimento. Sem transigir com a firmeza. O mensalão vai chegando ao seu final graças à maneira como Carlos Ayres Britto o conduziu. Dele, pinço trecho do meu último artigo : "Lhaneza, cordialidade, simplicidade, disciplina, capacidade de juntar os contrários emergem como virtudes desse magistrado, cujo pendor para a contemplação e meditação, sob um véu de espiritualidade, funcionou como eixo de equilíbrio e luz do bom senso. Quase um milagre, por se saber que, naquele ambiente, os egos tendem a se inflamar...". "Não perdi a viagem" "... Há pouco mais de três meses, ao chamar para si a responsabilidade de comandar o julgamento da mais emblemática ação penal do Supremo e o maior caso de corrupção no Brasil, o baixinho poeta Britto parecia navegar sozinho num oceano de descrença. Hoje, com o processo na reta final, sai sob aplausos, reconhecido como magistrado que honrou a toga, um ser profundamente arraigado nas raízes do humanismo, capaz de colorir a práxis do cientista jurídico com as cores exóticas da física quântica, tudo isso embalado na expressão da alma poética. Feliz, confessa : 'não perdi a viagem'. Sim, o país também. Que o acompanhou no caminhar do avanço". (Trecho do meu artigo de domingo passado) O foco de Joaquim O presidente Joaquim Barbosa fez um discurso simples e direto em sua posse no STF. Pinço como destaque a parte em que promete fazer uma devassa nos Tribunais para apurar desvios de conduta, a partir do tráfico de influência exercido principalmente por parentes de juízes. Disse ele : "É preciso reforçar a independência do juiz. Afastá-lo desde cedo das más influências". Barbosa criticou a promoção de juízes de primeiro grau por interesses políticos. "Nem todos os brasileiros são tratados com igual consideração quando buscam o serviço público da Justiça". Coisa de músico O pianista Helvius Vilela, conhecido por acompanhar Carlos Drummond de Andrade na leitura de algumas de suas poesias num disco, costumava exagerar na bebida. Certa noite passou da conta, os donos da festa decidiram se livrar do incômodo e o colocaram dentro de um táxi. Ao que o motorista perguntou : - Para onde, senhor ? E ele respondeu : - Sabe-se lá... E ali ficaram até de manhã, quando o músico recuperou sua provável sobriedade. (Da lavra de Luciano Ornelas) Economia sob controle Se a economia continuar sob firme controle, mesmo com crescimento abaixo das expectativas, os horizontes de 2014 serão muito favoráveis ao situacionismo. Em outras palavras, a presidente Dilma continuará no assento. Economia destrambelhada Se a locomotiva econômica não conseguir segurar os trens no trilho, as oposições poderiam vislumbrar uma chance. E pensar na cadeira do Planalto. Mas... Há um porém no meio das oposições. Quem seria o candidato a reunir as forças oposicionistas ? Aécio Neves ? Ao senador mineiro, falta discurso. Parece muito despreparado. Às oposições, falta um projeto de país. Tem projeto de poder, mas não um projeto de Nação. Eduardo Campos ? Ora, esse governador do PSB não tem força no Sudeste. Marcio Lacerda, prefeito de BH, seria seu cabo eleitoral na região, dizem. Ora, Marcio não é extensão de Aécio Neves, do PSDB ? PMDB e PT A cada dia, consolida-se parceria entre PMDB e PT. Do ponto de vista imediato, isso significa apoio petista à eleição de Henrique Alves e Renan Calheiros, ambos do PMDB, às presidências da Câmara e Senado. PMDB seria o principal parceiro da base governista. E garantiria a vaga para Michel Temer em 2014. Aliás, o vice tem tido uma atuação discreta. E com uma imensa pauta de responsabilidades. A presidente Dilma tem atribuído a Michel Temer importantes missões na frente das representações do Estado e do governo brasileiros em importantes países, como China, Rússia, Itália, México, entre outros. Bizarro - I Se a Anvisa conseguir proibir a venda de álcool líquido no comércio - contra a vontade e a experiência das donas de casa -, o país pode assistir a um espetáculo inusitado. Como é o mesmo produto que abastece os automóveis, antevê-se uma fila de senhoras com vasilhas nas mãos para comprar álcool em postos de gasolina. Embora não tenha critérios nessa questão do álcool, deve-se considerar que a Anvisa é muito criativa : será assunto em todos os meios de comunicação em que haja uma coluna chamada "Insanidade". Bizarro - II Para ilustrar seu parecer pela inconstitucionalidade de uma lei que tenta proibir o uso do amianto em São Paulo, o ministro Marco Aurélio de Mello, do STF, valeu-se do exemplo do famoso caso do Césio 137, em Goiânia. Carroceiros encontraram um aparelho usado em radioterapia abandonado nas ruínas do Instituto Goiano de Radioterapia e o revenderam ao dono de um ferro velho. Desconhecedor do risco, o homem retirou o césio do invólucro de chumbo e utilizou-o para diversas finalidades. Segundo estimativas, 112.800 pessoas foram afetadas pela radiação de apenas 93g de Césio 137. Morreram o dono do ferro velho, a esposa e a filha. "Presente o quadro, indago : seria o caso de banir os aparelhos de radiografia do país ?". Evidente que não, conclui. É este o caso : é provável que alguns "mais tontos" tenham se queimado com álcool líquido ao tentar acender a churrasqueira quando não deviam. Agora, a Anvisa quer banir o álcool líquido no país. A Anvisa caminha de um lado, a Justiça de outro. Alckmin em apuros ? Depois de frequentar por largo tempo os espaços dos Céus, o governador Geraldo Alckmin inicia uma trajetória pelo inferno. Os astros parecem conspirar contra ele. Sem um grande eixo positivo, o governador paulista arrisca-se a ser embalado pelo véu sangrento. Em SP, a violência assume proporções e catástrofe. Apesar de números não tão extraordinários em se tratando de Brasil. Mas a mídia está pondo lenha na fogueira. E se isso ocorrer, adeus reeleição. Adicione-se o fato de que os tucanos começam a sofrer em SP os efeitos da corrosão de material. São quase 20 anos de poder. O povo gosta de testar novas páginas no livro da governança. Você tem razão "Getúlio defendia a tese segundo a qual não devia ter nenhum amigo de que não pudesse se desfazer, e nenhum inimigo do qual não pudesse se aproximar. Foi amigo e inimigo de João Neves da Fontoura, José Américo de Almeida, Adhemar de Barros, Juarez Távora, Borges de Medeiros, Juracy Magalhães, Eduardo Gomes, Eurico Gaspar Dutra. Sua capacidade de não tomar posição quando não queria era lendária. Conta-se que, certa vez, recebeu um político, ouviu-o e, no final, lhe disse que tinha toda a razão. Logo depois, recebeu o principal adversário deste político, ouviu-o e também lhe deu razão. Alzira, sua filha (que seria esposa de um governador do Rio, Amaral Peixoto, e sogra de outro, Moreira Franco), estranhou : "Papai, o senhor ouviu duas histórias opostas e deu razão aos dois !". Getúlio, sorridente : "Sabe que você também tem razão ?". (De Carlos Brickmann em A vida é um palanque) PSB gera desconfiança Após reinar por um tempo no alto da visibilidade, Eduardo Campos e seu PSB começam a ser olhados com desconfiança. O deputado Julio Salgado, do PSB mineiro, vê despencar sua candidatura à presidência da Câmara. Eduardo flerta com as oposições e tenta convencer que continua sendo um bom aliado do governo Dilma. Para tanto, usa a amizade que conserva com Lula. Mas o governador pernambucano acaba expandindo a distância do Palácio do Planalto. Kassab na base A O prefeito Gilberto Kassab confessa que já cumpriu todos os compromissos que tinha com Serra. Agora, vai alargar seu próprio caminho. Seu partido, PSD, será aliado do governo. Dilma convidou Kassab para compor o Ministério. Educadamente, o alcaide não aceitou com a justificativa de que gostaria de tempo para se habilitar a uma candidatura majoritária em 2014. Nos cargos de governador ou senador. Mas seu partido aceita o convite e indicará um nome. A propósito, o prefeito tem procurado o PMDB para formar uma ampla parceria em torno dos projetos de 2014. Lutem, pediu Hakim Hakim gostava de passear à noite usando todos os tipos de disfarces. Numa dessas caminhadas noturnas, numa colina próxima ao Cairo, ele encontrou dez homens bem armados que o reconheceram e que lhe pediram dinheiro. Ele lhes disse : "Separem-se em dois grupos e lutem uns contra os outros; quem sair vencedor receberá dinheiro de mim". Eles obedeceram e lutaram com tanto ímpeto que nove deles perderam a vida. Trucidem, ordenou Hakim Ao que sobreviveu Hakim lançou uma grande quantidade de peças de ouro que carregava na manga. Mas, enquanto o homem se agachava para recolhê-las, Hakim mandou que fosse trucidado por seus criados. Desta forma ele demonstrou sua clara compreensão do processo da sobrevivência; ele o gozava como uma espécie de representação que ele mesmo provocava e, no final, o aniquilamento do sobrevivente ainda servia para lhe dar alegria. (De Elias Canetti em Massa e Poder) Conselho ao Ministro Barbosa Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos vereadores eleitos. Hoje a atenção se volta ao ministro Joaquim Barbosa, presidente do STF : 1. O Brasil espera que continue a cumprir sua missão com renovada força. Mas a liturgia do cargo impõe atitudes menos nervosas e destemperadas. 2. Junte forças e convoque a sociedade para alcançar a meta de passar uma vassoura no lixo que se esconde em alguns corredores do próprio Poder Judiciário. 3. Continue a abrir as portas da Alta Corte de forma que ela possa absorver as temáticas de alta prioridade para a harmonia e o equilíbrio social. ____________
quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Porandubas nº 338

Abro a Coluna com o registro da morte do Jornal da Tarde. Luciano Ornelas, que vivenciou o ciclo glorioso do JT, selecionou dois trechos de uma brilhante síntese feita pelo arguto e (sempre bem humorado) Carlos Brickmann para o Observatório da Imprensa. Peço licença, Carlinhos "Éramos todos jovens, muitos de nós brilhantes, a maioria absoluta de indiscutível competência. Errávamos muito, também; mas errávamos por excesso de ambição, por buscar objetivos muitas vezes inatingíveis, raramente por ignorância. Dali surgiram as sementes de várias equipes de altíssima qualidade : Realidade, Veja, Rede Globo, Rede Bandeirantes, Repórter Esso (na fase TV Record), Visão, Playboy. Mino Carta era o diretor, Murilo Felisberto o coração e a alma. Ruy Mesquita, o patrão, sentava-se à mesa de pauta para discutir o jornal do dia (e foi lá na Redação que treinou seus filhos nas artes da comunicação). Ewaldo Dantas Ferreira, um dos maiores repórteres do país, trazia matérias exclusivas, da maior importância. Em cada área da redação, buscava-se o melhor - e o jornal conseguiu a façanha de ganhar o Prêmio Esso com a manchete de sua primeira edição, Pelé casa no Carnaval. Era a cara do nosso Jornal da Tarde, a maior revolução da imprensa brasileira desde a reforma do Jornal do Brasil : um grande furo de reportagem, um texto magnífico, a notável diagramação, e um erro na foto - em vez de Rose, a noiva de Pelé, quem estava com o Crioulo na foto era a cunhada, a irmã de Rose. Não fazia mal : o jornal era tão bom que esses erros passavam batidos... A resposta do público sempre foi positiva. O JT começou a circular, em 4 de janeiro de 1966, com doze mil exemplares; virou o ano com 40 mil. Um jornal jovem, chique, moderno, antenado..." ---------- "Em certo momento, houve uma opção desastrosa : o moderníssimo jornal da metrópole contemporânea, o irmão mais leve e solto do poderoso O Estado de S.Paulo, foi transformado numa versão popular, baratinha, do jornal mais antigo. O lindo logotipo foi trocado por outro, supostamente mais popular (e com muito menos significado). O Jornal da Tarde, famoso por surpreender seus leitores, passou a ser mais previsível e chato que debate de candidato. Percival de Souza, símbolo do JT, renovador da reportagem policial, ficou encostado - e os grandes furos que ainda trouxe, como a localização do Cabo Anselmo e a entrevista com ele, ainda um dos mais misteriosos participantes dos acontecimentos de 1964, foram ignorados. As belas imagens ficaram no passado. O acabamento, descuidado, deixou de ser preocupação. E a cidade moderna, movimentada, alegre, sintonizada com o que havia de novo no mundo, perdeu seu jornal de referência. Um jornal morre vinte anos antes de fechar as portas. O Jornal da Tarde, que já está morto faz tempo, deve fechar até o Dia de Finados. Um toque de mau-gosto que explica por que o bom gosto do JT perdeu a batalha." O jornalismo literário Idos de março de 1968. Ingressava na Faculdade de Jornalismo Cásper Líbero. Aos 23 anos, iniciava minha vida no magistério. Assisti, maravilhado, o espetáculo do jornalismo literário produzido por um grupo de jovens jornalistas sob a batuta de Mino Carta e, depois, de Murilo Felisberto. Alguns deles, entre os quais Marcos Faerman e Percival de Souza, atendiam ao meu convite para falar sobre "aquelas reportagens de alto interesse humano, plenas de arabescos literários", inspiradas no new journalism norte-americano, criado por Gay Talese. Marcão era uma metralhadora : atirava palavras a torto e a direto, prendendo a atenção da alunada pelo brilho, inteligência, criatividade e provocação. Percival, um mestre da paciência e da arte de contar boas histórias policiais. A experiência do JT era tão fascinante que uma das edições do nosso Jornal-Laboratório a ele foi dedicada. O mestre Murilo nos deu uma grande e densa entrevista. Hoje, com tristeza, registro o desaparecimento de um ícone do jornalismo brasileiro. Uma pontinha do velho JT continua fincada ao nosso lado, na GT. Trazida por Luciano Ornelas, que viveu aqueles gloriosos tempos. Recado das urnas I Desta feita, as urnas transmitiram alguns recados bem claros. Vejamos alguns deles : 1. Chegou a hora da renovação. Na maioria das cidades médias, neste segundo turno, os perfis identificados com a renovação levaram a melhor. Espraia-se o sentimento de que a velha política está esgotada; 2. A micropolítica é quem efetivamente induz a decisão do eleitor. Ou seja, as respostas das comunidades às suas demandas nas esferas da saúde, educação, transportes, segurança, habitação, entre outras. Temas gerais, mesmo importantes como a questão da corrupção (mensalão), não afetam o voto. Os eleitores conseguem distinguir as temáticas. O mensalão, por exemplo, foca o PT, mas o eleitor tende a distribuir a corrupção na política a atores plurais. Há uma pulverização das cargas negativas por todos os partidos. Mensalão do PT, mensalão do DEM (ex-governador José Roberto Arruda), mensalão do PSDB (políticos de Minas Gerais). Recado das urnas II Não significa concluir que os temas sobre ética e moral não tenham importância. Têm, sim. Mas dentro do seu devido compartimento. Poderão, por exemplo, funcionar como aríete de pressão sobre o Congresso e como balizamento de uma reforma política. 3. Aliás, os resultados do pleito mostram que o copo está transbordando de água já muito usada. E que ficou suja. Por isso, uma reforma política se faz absolutamente necessária, particularmente nas frentes de financiamento de campanhas, coligações proporcionais e mesmo sobre o sistema de voto; 4. Os partidos carecem de programas mais consistentes, densos, coerentes e que abriguem as reais demandas da comunidade nacional; 5. As oposições definham. Apesar da vitória do PSDB em importantes cidades, o fato é que teve um desempenho eleitoral mais fraco que em 2008. E o DEM só adquire sobrevida graças à vitória de ACM Neto em Salvador. Recado das urnas III As urnas também deram recados no plano das campanhas eleitorais. 6. Não se viu, por exemplo, grande concentração de pessoas. As massas se dispersaram. O maior comício de campanha reuniu cerca de 15 a 20 mil pessoas no máximo. As grandes mobilizações deram lugar aos movimentos sociais, às categorias profissionais e aos setores organizados. 7. As campanhas negativas, de ataque e desconstrução de adversários, também não tiveram sucesso. Veja-se o caso de São Paulo, onde Serra perdeu muito tempo (patinando) com o ataque ao Kit-Gay dos tempos do Ministério da Educação, ocupado pelo prefeito eleito Fernando Haddad, e ao mensalão. Esses dois temas não afetaram a campanha petista. 8. Os modelos de marketing também mereceram recados. Estão saturados. Os debates temáticos entre candidatos, ao estilo norteamericano do confronto de ideias, são mais aceitos que os espaços laudatórios dos programas eleitorais. Lula na cabeça da lista Pela intuição, Lula permanece na lista de vitoriosos. Puxou do bolso do colete o nome de Fernando Haddad. Um gol de placa. Pinçou Marcio Pochmann para Campinas. Não fez feio. Lista aposta na estratégia de oxigenação de quadros. Percebeu que o eleitor está saturado da velha guarda.O PT começa a injetar sangue novo em suas veias. Principalmente nesse ciclo pós-mensalão. Lula deve continuar o exercício de fixação de novas estacas nos currais petistas. Tucanos de bico novo ? Fernando Henrique, tucano de muitas plumas, prega a oxigenação do PSDB. Trata-se de um conselho sábio. Se não houver renovação das aves tucanas, o partido morrerá de inanição. Encolheu em votos em relação ao que obteve em 2008. Arthur, vitória emblemática A vitória tucana mais emblemática foi a de Arthur Virgílio, em Manaus. Lula e Dilma foram à capital amazônica para fazer campanha pela senadora Vanessa, do PC do B. Perderam. Arthur, como se recorda, foi líder tucano no Senado, onde azucrinou com o governo Lula. O ex-presidente nunca negou que um de seus alvos prediletos era (e é) Arthur Virgílio. Neto em Salvador ACM Neto, por sua vez, dá sobrevida ao DEM com sua vitória, atribuída, entre outros fatores, às más avaliações do prefeito e do governador. Na Bahia, Geddel Vieira Lima, do PMDB, deu apoio a Neto e o candidato do partido, Mário Kerzets, ficou com Pelegrino, do PT. Neto vai deixar de ser um Democrata ferrenho da oposição. O mandato na prefeitura carece de boa articulação com o governo Federal. PT mais fraco no NE O PT torna-se mais fraco no Nordeste. Chama atenção o fato de que a região é a mais coberta pelo programa Bolsa-Família. Mas o poder petista ali se reflui. A causa : o eleitor mais consciente e crítico. Examina as administrações. Consegue separar os governos Federal, estadual e municipal. Atribui boa avaliação ao governo Dilma e a alguns governadores, mas essa posição favorável não é levada ao âmbito municipal. Há exceções, claro. PSOL em Macapá Exemplos de racionalidade a comprovar escolhas mais apuradas : os prefeitos de Macapá, do PSOL, e de São Luiz do Maranhão, do PTC, respectivamente Clécio Luis e Edivaldo Holanda Junior. Dois partidos pequenos que tomam posse de redutos até então ocupados por caciques. Os dois lados de Campos Eduardo Campos olha para dois lados : o do Brasil sob uma economia equilibrada, inflação controlada, harmônico, e o do Brasil com uma economia desarrumada. Dentro do primeiro, continua a fazer parte da base aliada do governo Dilma. Dentro do segundo, pode sair com sua candidatura à presidência da República. Pistas praticamente molhadas Em um telejornal de sábado, ao final da tarde, imagens mostrando a avenida Paulista encharcada, o apresentador informa : - Caiu um tempestade agora há pouco na cidade. As pistas da avenida Paulista estão praticamente molhadas. Difícil entender o "praticamente" do telejornalista. Conselho aos vereadores eleitos Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos prefeitos eleitos. Hoje a atenção se volta aos vereadores eleitos : 1. É hora de renovação política. Quadros, programas, ações, atitudes. Nessa direção, procurem balizar sua missão. Cumprir compromissos assumidos, acompanhar e fiscalizar a administração municipal. 2. Procurem realizar uma atuação voltada para as questões prioritárias da comunidade municipal, evitando posicionamentos que levem em conta apenas as visões político-partidárias. 3. De três em três meses, tentem mapear situações das localidades - bairros, distritos, regiões - das quais receberam sua votação. A proximidade entre vereador e eleitores gerará compensações futuras. O eleitor reconhece, aprova e retribui aos vereadores que trabalham por suas causas. ____________
quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Porandubas nº 337

Abro a coluna com rápida passagem por um teste feito com candidatos a estagiários em um grande jornal de SP. Estagiários, sim, senhor Uma das questões : No dia 22 de novembro de 1963 houve um crime de repercussão internacional em Dallas, EUA. Descreva, utilizando no máximo cinco linhas, como foi aquele crime. Algumas respostas : - Morte de Matter Luther King. - O caso Wart Gate. - Este crime foi com mortes por fuzilamento de pessoas, que muitas delas sem causa. - O presidente John Kennedy visitava a cidade de Dallas com sua esposa Jaqueline, quando, em desfile em carro aberto, ele foi alvejado a tiros, vindo a falecer. - O presidente dos Estados Unidos deu um grande rombo nos cofres públicos. - Foi a Revolução do Texas. Infelizmente não tenho referenciais consistentes para comentar a respeito. - John Kennedy foi assassinado quando passeava em carro aberto na companhia de sua esposa Jackeline Onassis Keneddy. (Esse último aluno, incrível, até conseguiu enxergar o futuro da primeira dama com o Aristóteles Onassis) E o Titanic, hein ? Afundou-se Em cinco linhas, deveriam escrever o que sabiam sobre o naufrágio do Titanic em 1912. Eis alguns relatos : a) Fato ocorrido com seus tripulantes gentes famosas que estavam a bordo desse magnífico navio, na busca onde conseguiram algumas relíquias de grande valor a pouco tempo. b) O navio Titanic bateu contra uma rocha ou um iceberg, não me recordo. c) Várias pessoas estavam a bordo do navio quando ele afundou levando consigo entre crianças e adultos, jóias em prata e ouro, deixando perplexos tantos os familiares, quanto autoridades competentes. d) Para mim, foi mais uma vez coisa do destino, com provas já comprovadas e muitos dos tripulantes do Titanic vinham sendo avisados com sonhos e alucinações. Ele batendo sem mais nem menos, como foi o acidente não era dúvidas, que o destino vinha acontecendo. e) O navio Titanic afundou-se. f) Uma enorme onda veio em direção ao navio que se encontrava atravessando no oceano. g) Não havia botes para todos os passageiros, por isso muitos homens foram obrigados a morrer. (Que o destino vinha acontecendo é um achado glorioso) Na reta final A campanha eleitoral chega à reta final levantando algumas dúvidas : 1) Qual será o futuro de José Serra em caso de derrota em SP ? 2) Qual o futuro de Eduardo Campos que preside o PSB, partido que integra, hoje, a base governista ? 3) Qual o futuro do prefeito Kassab que dirige o PSD ? 4) O que o PT fará caso ganhe em SP e confirme sua posição de maior vitorioso em número de votos ? 5) Quais os caminhos que se apresentam ao PMDB, que continua a ser o partido com o maior número de prefeitos e vereadores do país ? Estas são algumas das grandes interrogações que chamarão a atenção dos analistas políticos nos próximos meses ? Vamos tentar mirar na bola de cristal. O futuro de Serra Caso se confirme a derrota de José Serra, em SP, sua vida não estará enterrada como se ouve de bocas plurais. O ciclo de vida na política é de altos e baixos. É bem verdade que Serra tem descido muitas ladeiras. E a idade consome formidável parcela de energias. A ele apresentam-se as seguintes alternativas : a) disputar um posto majoritário em 2014, o de senador, por exemplo. Haverá uma vaga apenas. O mandato que se encerra é o de Eduardo Suplicy, do PT. Este partido continuará a colocá-lo no páreo ? Ou buscará nome que encarne o conceito de mudança ? b) Serra poderá disputar uma vaga na Câmara Federal. É pouco para a vaidade dele, dizem. Mas é uma alternativa; c) Tomará o lugar do deputado pernambucano, Sérgio Guerra, na presidência do PSDB. Correria o país nessa condição para fortalecer os tucanos. Entregar o partido nas mãos de um derrotado ? É uma alternativa; d) ser secretário do governo Alckmin, para continuar a ter visibilidade política. Lembre-se : Alckmin foi secretário do governo Serra; e) Ser candidato a presidente da República em 2014. Nesse caso, teria de vencer o senador Aécio Neves em convenção. Ao leitor, deixo a escolha da alternativa. O futuro de Campos Em termos comparativos com 2008, o PSB de Eduardo Campos foi o partido que mais cresceu. Eduardo Campos trabalha com perspectiva de ser protagonista de primeira linha nas lutas políticas dos próximos anos. Vejamos, então, alternativas para sua trajetória : a) Ser candidato à presidente da República pelo PSB em 2014. A alternativa ganha fôlego sob um pano de fundo de descalabro econômico, país em crise, governo de Dilma navegando na borrasca, PT com imagem despedaçada; b) Ser candidato à vice-presidente na chapa de Dilma, candidata à reeleição. Nesse caso, o PSB teria de desbancar o PMDB. Tarefa mais que complexa, tendo em vista a continuidade do PMDB como partido mais capilar e com o maior número de prefeitos, vereadores e deputados estaduais; c) Ser candidato a vice-presidente na chapa encabeçada por Aécio Neves. A alternativa se fundamenta na tese de má avaliação do governo Dilma e consequente fortalecimento do PSDB; d) Não ser candidato em 2014, tornar-se ministro do governo Dilma e tentar viabilizar seu nome para 2018 como candidato a presidente da República. O futuro de Aécio Aécio Neves confirma, a cada dia, sua condição de candidato tucano à presidência da República em 2014. O senador mineiro corre o país, abraça correligionários, procura atrair parcerias desde já, na tentativa de adensar a base oposicionista. Portanto, suas alternativas são : a) Ser candidato tucano em 2014 em oposição à presidente Dilma; b) Presidir o PSDB e procurar viabilizar sua candidatura presidencial para 2018; c) Continuar como senador e ajudar outro candidato do PSDB à presidência. Difícil. A alternativa adequada é mesmo a primeira. O futuro de Kassab O prefeito Kassab criou o PSD, que tem hoje cerca de 50 deputados. Ficará sem mandato a partir de 2013. Vejamos quais as alternativas que a ele se apresentam : a) Transferir o partido, com toda a sua bagagem, para a esfera governista. Apoiar, portanto, o governo Dilma. Presidente do partido, Kassab correrá o país articulando ingressos e fortalecendo a sigla; b) Tornar-se ministro do governo Dilma, ganhar visibilidade e habilitar-se a um cargo majoritário em SP, em 2014; c) Ser candidato ao governo do Estado. Nesse caso, teria de enfrentar Geraldo Alckmin, candidato à reeleição, o candidato do PMDB (a indicação mais forte é Paulo Skaf), o candidato do PT (possivelmente Alexandre Padilha), além de outros nomes; d) Ser candidato a senador. Disputaria com nomes fortes de outros partidos; e) Ser candidato a vice-presidente numa chapa encabeçada por Eduardo Campos ou Aécio Neves. A condição implicaria não ingressar na base do governo Dilma. O futuro de Alckmin Geraldo Alckmin poderá ver parcela ponderável do poder tucano transferir-se para o habitat mineiro de Aécio Neves. Com quem, aliás, tem boa articulação. Por isso, eventual derrota de José Serra não o impactará tanto. Aliás, a tendência é a de que o eleitor decida dar uma no cravo e outra na ferradura. Conceder parcela do poder ao PT, com a prefeitura, e, em 2014, oferecer outra parcela a outros partidos como o próprio PSDB. Eis as alternativas de Alckmin : a) Ser candidato à reeleição em 2014; b) Ceder o lugar para José Serra na candidatura ao governo e disputar a senatoria. Alternativa de baixíssima chance. A mais lógica é sua candidatura à reeleição. O futuro do PT Com o maior número de votos alcançados nas urnas e com o domínio político e administrativo da maior capital do país (caso Haddad seja o vitorioso), ao PT abrem-se as seguintes alternativas : a) alargar o caminho para permitir reeleição tranquila da presidente Dilma, em 2014, e formar a maior base de governadores estaduais, a maior bancada de deputados Federais e grande bancada de senadores; b) Escolher um perfil que encarne mudança (sempre sob escolha de Lula) para ser o candidato petista em SP. O ministro Alexandre Padilha deverá trocar o domicílio eleitoral do PA por SP. Os ministros Aloizio Mercadante e Marta Suplicy vão chiar, mas simbolizam o passado. Lula enxerga o futuro. A conquista de SP seria o maior sonho do PT; c) sedimentar a trajetória com novas parcerias, oxigenar o partido, a partir das bases, e reorganizar os quadros com vistas ao projeto de hegemonia partidária e continuação no poder. O futuro do PMDB O PMDB enfrenta um grave dilema : renovar seus quadros. Lula trabalha, todo tempo, com a percepção de oxigenação do PT. A tarefa tem sido fácil por conta do sistema vertical de mando. A turma de cima manda e o grupo de baixo obedece. No caso do PMDB, a tarefa é bem mais complexa. O sistema de mando é horizontal. Uma teia de arranjos, famílias, grupos, caciques, mandos e tradições. Cada Estado tem o seu PMDB. Renovar um partido com essa estrutura arraigada no passado é missão para Hércules. Se realizar essa tarefa, pelo menos em parte, o partido descortinará novos horizontes. Mesmo assim, divisa com as seguintes alternativas : a) Continuar a ser o principal parceiro do PT na aliança em torno da presidente Dilma, significando a indicação de Michel Temer novamente como candidato a vice; b) Sair da base governista, em função de uma crise econômica corroendo o governo, e se tornar parceiro de outra chapa. Alternativa de baixa probabilidade; c) Apresentar candidato a presidente da República, em 2014, na perspectiva de conquista do poder central. Alternativa que levaria em conta a deterioração das condições econômicas do país e o encontro de um nome com capacidade de conquistar o eleitorado; d) Continuar a ser parceiro do PT, sofrendo pressões das bases, tentado expandir sua força na estrutura governativa e administrando pressões de todos os lados. Mensalão e eleição Como este analista sinalizou, em vários textos desta coluna, o mensalão não influiu nos resultados eleitorais. Apenas consolidou votos e posições dos eleitores que habitam os territórios do PT e do PSDB. SP é o maior exemplo de nossa hipótese. A eleição do segundo turno ocorrerá após o julgamento do último capítulo do mensalão, aquele que propicia as manchetes mais impactantes : a formação de quadrilha. Que envolve quadros do PT. Pois bem, nada disso tirou votos de Fernando Haddad. O eleitor está preocupado mesmo com a micropolítica, a política de atendimento às suas necessidades mais imediatas. As penas A conversa da semana é sobre as penas que recairão sobre os condenados do mensalão. A maior curiosidade é saber se a tal dosimetria puxará para baixo ou para cima as penas de alguns. Este consultor tende a acreditar que a régua passará pelo meio. Ou seja, nem lá nem cá. Mesmo considerando que os ministros que votaram pela absolvição não entrarão no jogo dosimétrico. Nem 12 anos nem 2 anos para o grupo político. Algo em torno de 5 a 6. Penas acima de 12 anos para condenados por muitos crimes, como é o caso de Marcos Valério. Claro, mera intuição. Conselho aos prefeitos eleitos Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos candidatos da capital paulista. Hoje a atenção se volta aos prefeitos eleitos : 1. Há um formidável Custo Brasil da Descontinuidade. Que abriga a interrupção de programas, projetos e ações de prefeitos que deixam as administrações. Isso é uma aberração. 2. Verificada e comprovada a importância de um programa administrativo em andamento, o ideal é que não seja apagado, excluído, extinto. Boas ideias devem ser, sempre, implantadas, reforçadas. 3. Por isso mesmo, urge mapear as coisas boas iniciadas e desenvolvidas pelas gestões anteriores. Devemos, isso sim, diminuir o Custo Brasil gerado por ignorância. ____________
quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Porandubas nº 336

Abro a coluna com duas historinhas da Paraíba. Cancelo chuvas A seca era medonha. A Paraíba em desespero, o governador aflito. Um dia, caiu uma chuva fininha no município de Monteiro. Inácio Feitosa, o prefeito, correu ao telégrafo : "Governador José Américo : chuvas torrenciais cobriram todo município de Monteiro. População exultante : Saudações, Feitosa". Os comerciantes da cidade, quando souberam do telegrama, ficaram desesperados. O município não ia mais receber ajuda. Ainda mais porque a mensagem era falsa e apressada. Feitosa correu de novo ao telégrafo : "Governador José Américo : cancelo chuvas. População continua aflita. Feitosa, prefeito". Sinceridade e sagacidade Zé Cavalcanti, ex-deputado paraibano, conta em seu livro "A Política e os Políticos", que um coronel do sertão, ao passar o comando de seus domínios para o filho, aconselhou : - Meu rapaz, se queres ser bem sucedido na política, cultiva estas duas verdades : a sinceridade e a sagacidade. - O que é sinceridade, meu pai ? - É manter a palavra empenhada, custe o que custar. - E o que é sagacidade ? - É nunca empenhar a palavra, custe o que custar. Tucano bica, petista rebate A campanha paulistana adentra o segundo turno sob bicadas do tucano Serra no candidato petista Fernando Haddad. As bicadas ocorrem em diferentes graus de contundência, pegando coisas da gestão do ex-ministro Haddad na Pasta da Educação como o Kit Gay, as provas vazadas do Enem, etc. O petista rebate com o argumento de que Serra destila ódio. E mais, lembra que o DNA do mensalão é mineiro. Serra espera que os ataques que faz consigam desconstruir a imagem do petista. E este acha que o revide acabe engolfando a imagem de Serra. Ora, nem um nem outro conseguirão induzir o eleitorado com suas estocadas recíprocas. O efeito é bem diferente do que esperam. O efeito Tenho lembrado, em muitas oportunidades e textos, que a desconstrução da imagem de candidatos só é eficaz quando o foco é o plano das ideias. Ou seja, quando se procura atacar as posições dos adversários sobre questões que afligem as massas eleitorais, desde grupamentos conservadores a contingentes abrigados nas margens. Exemplo dessa situação ocorreu com Celso Russomano, que recebeu uma paulada de Fernando Haddad quando defendeu custo mais alto de passagens para viagens mais longas. O pobre que mora nos confins da periferia de SP acabaria pagando o pato. Foi tiro e queda. Caiu Russomano. Coisas semelhantes podem ocorrer na esfera da defesa do aborto e de outros temas polêmicos. Reforço de posições Portanto, as campanhas negativas que procuram desconstruir perfis são, feitas as exceções, perniciosas aos candidatos que as patrocinam. No fundo, apenas reforçam posições e pontos de vista já firmados por eleitores já definidos de partidos e candidatos. E se isto é o que recomendam os manuais de marketing eleitoral, por que candidatos continuam a insistir em lições obsoletas ? Velha resposta : porque os assessores de marketing querem testar todas as possibilidades. Ademais, há um grupo de porta-vozes informais que pensam na verdade da hipótese da desconstrução. Quando a diferença entre um candidato e outro ultrapassa a marca dos dois dígitos a vontade de encurtar a distância com a tática da guerra de guerrilha emerge com mais força. O que se pode esperar ? Essa é a pergunta que fazem diariamente a este consultor. Que responde com o mantra : não tenho bola de cristal. Mas pode-se apontar tendências. Eis algo que parece platitude : quem saiu muito de baixo para chegar a um alto índice encarna a posição de candidato ascendente; a recíproca é verdadeira, ou seja, quem saiu de um alto índice e chega menor no segundo turno encarna o perfil descendente, em queda. Outro sinal é dado pelo índice de rejeição. Alta rejeição sinaliza alto risco; a recíproca é verdadeira. São duas abordagens a se considerar. Que o leitor/eleitor faça sua própria leitura. Muita sede ao pote A ambição na política é um fator de oportunidades. Quem tem ambição abre caminhos de determinação e persistência. Se um político ambiciona ser um alto cargo, bem mais alto do que o que exerce, precisa buscar os meios e instrumentos para viabilizar sua meta. Até aqui, tudo bem. Mas a meta precisa ser compatível com os meios que o político dispõe ou poderá dispor. Vamos dar nome à hipótese : Eduardo Campos, governador de PE, quer ser candidato à presidente da República. Se não vingar a ideia, diz-se que pleiteia ser candidato a vice na chapa encabeçada pela presidente Dilma à reeleição. Tem chances ? Vejamos. O PSB teve um aumento de 53% em seu território municipal. Podendo crescer ainda mais. Foi o partido que mais ganhou com o processo eleitoral. Mas continua a ser menor do que o PT e o PMDB. Portanto, a meta é ambiciosa, mas o cacife é menor do que o governador de PE procura sinalizar. O que pode acontecer ? Portanto, a parceria para 2014, em termos de presidência da República, deverá continuar envolvendo PT e PMDB. Edu Campos poderia se aliar à Aécio Neves e sair com ele numa chapa casando PSDB e PSB ? Pode. Ele é um político pragmático. Nesse momento, deixará a amizade e o respeito que tem por Lula em segundo plano. Essa hipótese só vingará se a economia brasileira estiver capengando nos pastos de 2014. A economia será o termômetro da corrida de Campos. Que poderá cair na vala que ameaça colher políticos que querem dar um passo maior que as pernas. A ambição é importante, conforme ensina a lei; a ambição desmesurada mata. Lula, o ideólogo Para quem tem ainda alguma dúvida, eis a resposta : Lula não será mais candidato a nada. Basta refletir. Veio do andar mais baixo e subiu o mais alto. Comandou o país durante oito anos. Fez um governo de consolidação da base econômica de fortalecimento dos braços sociais do Estado. O maior programa de distribuição de renda da atualidade. Elegeu a presidente Dilma. Curou um câncer. Tirou do bolso candidaturas jovens, como as de Fernando Haddad, em SP, e Marcio Pochman, em Campinas. Pode eleger esses dois. É o guru do PT. O mais admirado político da atualidade. Tem carisma. Com toda essa bagagem, precisaria reforçá-la, ainda mais, com uma volta à presidência ? Aqui pra nós, depois de pairar no Olimpo, descer à terra não seria retroceder ? Sociedade condenada "Quando você perceber que, para produzir precisa obter a autorização de quem não produz nada; quando comprovar que o dinheiro flui para quem negocia não com bens, mas com favores; quando perceber que muitos ficam ricos pelo suborno e por influência, mais que pelo trabalho; que as leis não nos protegem deles mas, pelo contrário, são eles que estão protegidos de você; quando perceber que a corrupção é recompensada e a honestidade se converte em auto-sacrifício, então poderá afirmar, sem temor de errar, que sua sociedade está condenada". (Ayn Rand) Eduardanas Cabralinas Eduardo Paes mais parece um moço de recados de Sérgio Cabral. Nos últimos dias, tem dado entrevistas sobre a candidatura do governador Cabral para a vice da presidente Dilma em 2014 tirando da chapa Michel Temer. Que, aliás, está no auge de sua performance como articulador. Michel costurou o apoio do PMDB ao PT em diversos municípios, a partir de SP. A presidente Dilma, com quem tem estreitado as conversações, encontrou em seu vice o perfil do negociador e diplomata, dando a ele muitas representações no exterior. Pois bem, nesse momento de alto prestígio do vice, o prefeito Paes, cristão novo no PMDB, decidiu fustigá-lo e, de maneira deselegante, inventa a candidatura do seu amigo de boemia, Cabral, como vice de Dilma. Indignação O fato indignou o corpo peemedebista. Geddel Vieira Lima, que não tem papas na língua, lembrou que Paes, sem voz no partido, quer resgatar a República dos Guardanapos. Estocada para lembrar a farra parisiense do governador com Fernando Cavendish, todos dançando e envergando guardanapos na cabeça. Cavendish é personagem da CPI em andamento no Congresso. E assim, o tiro de Paes começa a entrar pela culatra. Os personagens de Paris à Meia Noite ameaçam voltar ao palco iluminado. Sob lembrança das bicadas ferozes que Eduardo Paes, ex-tucano de bico alto, dava em Lula. Nos bastidores, a indignação se expande : Paes troca de opinião e partido como troca de poeta. Dia desses, proclamou não ser PMDB, mas RJ. Se não é PMDB, por que tanto interesse em defender candidaturas como alto prócer do PMDB ? Ou essa operação casada foi apenas um balão de ensaio ? Duda Mendonça Esta coluna manifesta a sua satisfação pela absolvição de Duda Mendonça. E reconhece nesse profissional grandes qualidades como publicitário que escreveu seu nome em algumas das mais criativas e eficazes campanhas eleitorais do país. Vereadores A planilha de vereadores no Brasil ficou assim : PMDB, 7.964 (tinha 8.475); PSDB, 5.248 (tinha 5.897); PT, 5.164 (tinha 4.168); PP, 5.164 (tinha 5.128); PSD,4.6639 (não existia em 2008); PDT, 3.654 (tinha 3,523); PTB, 3.566 (tinha 3.934); PSB, 3.566 (tinha2.956); DEM, 3.275 (tinha 4.801); PR, 3.190 (tinha 3.534). Outros : 12.135 (tinham 9.487). Propaganda, à guisa de história A propaganda política, ensinava Jean-Marie Domenach, professor francês de Humanidades e considerado um dos papas dessa ciência, "faz o povo sonhar com as grandezas passadas e com as glórias do futuro". Para "vender" esta miragem, a propaganda tem usado uma combinação de quatro impulsos - combativo, alimentar, sexual e paternal/maternal - que movem os seres vivos. Cada um desses instintos exerce uma função na estratégia de motivar e engajar a sociedade, mas os dois primeiros ganham ênfase por mexer com a conservação e a sobrevivência dos indivíduos. O uso da propaganda tem sido intenso não apenas nos ciclos dos grandes movimentos de massas - revoluções francesa e russa, I e II guerras mundiais - mas no dia a dia da política, transformando-se em eixo central das estratégias de marketing. Correia de transmissão Nos sistemas autoritários, é a correia de transmissão para dizer "a verdade dos governantes", enquanto nos regimes democráticos, passa a ser o anzol para pescar o voto dos eleitores e, ainda, o cabo de guerra para animar os exércitos das campanhas. A revolução francesa de 1789 pode ser considerada o marco da propaganda agressiva nos termos em que hoje se apresenta, inclusive neste nosso aguerrido segundo turno da campanha presidencial. Ali, os jacobinos, insuflados por Robespierre, produziram um manual de combate político, recheado de injúrias, calúnias, gracejos e pilhérias que acendiam os instintos mais primitivos das multidões. Os americanos Na atualidade, é a Nação norte-americana que detém a referência maior da propaganda agressiva, mola da campanha negativa. Este formato, cognominado de mudslinging pelos norte-americanos, apresenta efeitos positivos e negativos. No contexto dos dois grandes partidos que se revezam no poder - democrata e republicano -, diferenças entre perfis e programas são mais nítidas e a polarização sustentada por campanhas combativas ajuda a sociedade a salvaguardar os valores que a guiam, como o amor à verdade, a defesa dos direitos individuais e sociais, a liberdade de expressão, entre outros. Mesmo assim, nem sempre a estratégia de bater no adversário gera eficácia. Na campanha ao Senado, em 2008, a republicana Elizabeth Dole atacou a rival Kay Hagan, veiculando um anúncio que insinuava ser ela ateia. A democrata reagiu vigorosamente dizendo ser professora, religiosa e que Dole queria, na verdade, desviar a pauta econômica - eixo da crise financeira. Ganhou a disputa por uma margem de nove pontos. Já Lyndon Johnson, em 1964, detonou o republicano Barry Goldwater, associando-o à ameaça de uma guerra nuclear. Conselho aos dois candidatos da campanha paulistana Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos candidatos que disputam o segundo turno. Pois bem, hoje a atenção se volta aos candidatos do maior pleito do Brasil, o da capital paulista : 1. Suas estocadas recíprocas - mensalão petista, mensalão mineiro, Kit Gay, falta de experiência, aborto - não fazem parte do menu apreciado pelo eleitor médio. Apenas reforçam pontos de vista de eleitores tradicionais dos partidos e candidatos. 2. Procurem apresentar propostas e ações para as diversas zonas e regiões que compõem a anatomia da capital. A partir das demandas mais urgentes e prioritárias. 3. Clareza, objetividade, concisão, precisão, proximidade. Eis alguns conceitos que podem servir de moldura aos programas. Falem com a expressão de suas crenças e com o ardor de suas convicções. ____________
quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Porandubas nº 335

Falem com o Cráudio Ex-governador de Minas e ex-vice-presidente da República no período do general João Baptista de Figueiredo, último do regime militar, o mineiro Aureliano Chaves lançou sua candidatura à presidência da República na primeira eleição direta depois da ditadura, em 1989, pelo PFL. Em suas andanças por SP, visitou a sede de um grande jornal acompanhado do presidente do partido em São Paulo, Cláudio Lembo, que era seu candidato a vice-presidente. Mas a hora passou depressa, o motorista veio buscá-lo para levar ao aeroporto e, na despedida aos editores, falou alto e bom som no seu mineirês arrastado : - Bom, gente, eu to indo. Qualquer coisa, falem aí com o Cráudio... Lembo percebeu a estupefação dos editores e emendou : - Sabem como é, doutor Aureliano é um homem muito simples... Aureliano ficou em nono lugar naquele pleito que elegeu Collor de Mello. (Quem conta a historinha é Luciano Ornelas) A campanha mais racional Há muito a comemorar na esfera político-eleitoral-cívica. A campanha eleitoral foi a mais racional da contemporaneidade. Vimos um eleitor atento, acompanhando a cena, ouvindo os candidatos, fazendo comparações entre perfis e até mudando de posições. O voto, como sempre tenho lembrado, cada vez mais sai do coração para se fixar na cabeça. O eleitor emotivo dá vez ao eleitor racional. Qual o pano de fundo que acolhe tal racionalidade ? Saturação das velhas querelas, esgotamento da polarização entre partidos, desgaste de velhos perfis, desejo de abrir novas janelas no edifício político. A descida do Russomano Esta coluna sempre indagou : Russomano consegue segurar o alto índice ? A pergunta embutia uma grande dúvida : como pode um candidato sem máquina partidária, sem bom tempo de mídia eleitoral, sem estrutura forte de campanha, sem programa substantivo de governo resistir ao rolo compressor dos candidatos poderosos ? Russomano pode se considerar vitorioso. Resistiu muito mais tempo que o limite da previsibilidade. Sua queda se deve a um conjunto de fatores : desconstrução do perfil por opositores, a ideia do bilhete mais caro para percursos mais longos, o estreito tempo midiático e a falta de um programa de governo. Tornou-se alvo de um tiroteio geral. Entrou, então, no que se chama de voo da galinha. Subiu e, mais adiante, caiu. Uma galinha mais forte, que conseguiu o feito de subir mais que outras, consideradas as condições do candidato. Polarização ? Pois é, PT e PSDB resgataram seus espaços históricos de votos em SP ? Em termos. Na verdade, os votos petistas e tucanos na capital situam-se entre 30% a 35%. Nesse primeiro turno, Serra e Haddad obtiveram um pouco menos. Apesar da chegada de ambos ao segundo turno sinalizar a clássica polarização entre as duas alas, é possível inferir que o eleitorado paulistano está saturado desse fenômeno. Quer decidir olhando para as propostas, examinando os programas dos candidatos, decidindo, portanto, de acordo com a micropolítica, a política das zonas, regiões, bairros e distritos. E por que Serra e Haddad vão para o segundo turno ? Razões : 1. máquinas partidárias (Serra-estadual, municipal; e Haddad, Federal); grande visibilidade; cabos eleitorais de peso; fortes programas eleitorais com ideias fortes. Mensalão influirá ? Menos do que os candidatos imaginam. O julgamento do mensalão pelo STF dissemina ares de moralidade e ética. O país resgata sua crença na Justiça para todos. Mas não se pense que o eleitor votará em candidatos que se abrigarem no escudo do mensalão. O eleitor tende a distribuir o ônus da política - roubalheira e escândalos - por todos os atores e partidos, não distinguindo uns de outros. Portanto, muito cuidado. Chalita em ascensão Interessante observar a escala ascendente de Gabriel Chalita, que obteve mais de 13% de votos válidos. Teve boa performance. Foi o candidato que sempre cresceu, não descendo na escala de intenção de voto. Não conseguiu quebrar a polarização entre Serra e Haddad, mas fixou estacas na seara político-eleitoral. PMDB com Haddad O vice-presidente da República, Michel Temer, comandante maior do PMDB paulista conversou, segunda feira pela manhã, com a presidente Dilma. E ontem, com Lula, acertando o ingresso do partido na campanha do petista. Presentes à reunião Haddad e Chalita. O candidato petista assumiu o compromisso de incorporar a seu programa importantes bandeiras e projetos de Chalita. A composição contribui para reforçar a parceria entre os dois partidos na esfera Federal. Skaf a todo vapor Paulo Skaf, presidente da FIESP/CIESP, viaja hoje ao exterior, mas deixa uma mensagem ao vice-presidente Michel Temer manifestando o seu apoio e entusiasmo à decisão do PMDB, ao qual está filiado, de se integrar à campanha do candidato petista Fernando Haddad à prefeitura de SP. Skaf está na linha de frente do partido, visitando municípios, ajudando candidatos do PMDB, seguindo as diretrizes do comandante maior, Temer, e do presidente da legenda no Estado, deputado Baleia Rossi. Campanha cara O custo das eleições para prefeito e vereador nos 5.568 municípios brasileiros será o mais alto da história do país. O TSE conta com a dotação orçamentária de R$ 597 milhões para custear todo o processo, incluindo primeiro e segundo turno, contra os R$ 480 milhões que foram consumidos nas eleições de 2010, para presidente, governador, senador e deputado Federal e estadual. Essa é a grana pública. Não estamos falando do PIB informal, o caixa 2. Ganhadores O PSB foi o partido que mais cresceu. A sigla do governador Eduardo Campos elegeu mais de 120 prefeitos além do que havia eleito em 2008. Chegou a 420. É o maior crescimento absoluto e proporcional entre todos os partidos. O PSB ganhou mais no Nordeste e em MG. Além do PSB, só um grande partido elevou seu número de prefeitos eleitos em relação ao que conquistou em 2008 : o PT elegeu 67 a mais. Suas novas prefeituras foram conquistadas, principalmente, no RS, no PR, em SC, no CE e na BA. Em SP, os petistas ficaram na mesma : tinham 60, e agora têm 63 prefeitos, mas podem ganhar a capital. PSD O PSD também sai maior da eleição : o partido foi criado no ano passado e, portanto, não disputou a eleição de 2008, mas levantamento da Confederação Nacional dos Municípios mostra que o PSD havia cooptado 272 prefeitos neste ano. Saldo geral Vejam os números : PSB cresceu 39,68%; PT, 12,82%; PDT perdeu 11,93%; PSDB, 12,17%; PMDB, 15,03%; PP, 15,61%: PTB, 28,05%; PR, 30,43% e DEM, 43,90%. Planilha de vereadores Eis a planilha de vereadores dos 10 partidos mais votados : PMDB, 7.951(13,9%); PSDB, 5.253(9,2%); PT, 5.169(9,0%); PP, 4.924(8,6%); PSD, 4.655(8,1%); PDT, 3.656(6,4%); PSB, 3.556(6,2%); PTB, 3.566(6,2%); DEM, 3,278(5,7%); PR, 3.187(5,6%). Erro de pesquisas I Nove de 11 pesquisas de boca de urna realizadas pelo Ibope nas principais capitais brasileiras não foram capazes de projetar dentro da margem de erro os resultados de votação das eleições municipais de 2012. A margem de erro das pesquisas é de dois pontos percentuais, para mais ou para menos. Em Curitiba, a pesquisa estimava segundo turno entre Ratinho Jr. (PSC), com 34% dos votos válidos, e Luciano Ducci, do PSB, com 29%. Gustavo Fruet (PDT) aparecia em terceiro lugar, com 24%. Deu 27,09 % para Fruet, que passou Ducci e concorrerá com Ratinho Jr no segundo turno. Erro de pesquisas II No Rio, segundo o Ibope, Eduardo Paes teria ampla vantagem em relação a Marcelo Freixo, com 69% do peemedebista frente a 26% do candidato do PSOL. Paes reelegeu-se no primeiro turno, mas com 64,60%, enquanto Freixo ficou com 28,15%. Em Porto Alegre, apontava José Fortunati, do PDT, com 62% dos votos válidos e sua adversária, Manuela D'Ávila, do PCdoB, com 23%. Fortunati acabou superando a estimativa : marcou 65,22 %, enquanto Manuela atingiu 17,76%. Em Belém, projetava-se empate de Edmilson Rodrigues, do PSOL, e Zenaldo Coutinho, do PSDB, os dois com 33%. As urnas apontaram que nenhum dos dois atingiu a marca, com Rodrigues ficando com 32,58% e Coutinho com 30,67%. Erro III Surpresa em Salvador. ACM Neto (DEM), com 40,17%, passou Nelson Pelegrino (PT), 39,73%, contrariando a pesquisa Ibope, que cravava Pelegrino na ponta, com 43% e ACM atrás, com 36%. Em Natal, Carlos Eduardo (PDT) tinha, segundo a pesquisa, 36% da preferência nos votos válidos, enquanto Hermano Morais (PMDB) sustentava 25%. Carlos Eduardo está na frente com 40,42% e Hermano com 23,01%. Em Goiânia e Fortaleza, também mostrou erros. Paulo Garcia, candidato do PT, venceria a disputa pela prefeitura de Goiânia no 1º turno, com 56% dos votos válidos, deixando, Jovair Arantes, do PTB, com 18% para trás. Pois bem, Garcia marcou 57,68%, mas Jovair teve apenas 14,25%. Na segunda, Elmano, do PT, teria 28% dos votos válidos e Roberto Cláudio, 24%. As urnas apontaram diferença menor: Elmano ficou à frente com 25,44% ante 23,32% de Roberto Claudio. E em SP, José Serra chegou em primeiro lugar, com 30,75% dos votos válidos. Em segundo lugar, ficou Haddad com 28,99%. Ora, o Ibope viu Russomano, Serra e Haddad em empate. Todos estariam com 22%, ou 26% dos votos validos. As maiores cidades PT e PSDB estão no comando das 83 maiores cidades do país, aquelas com mais de 200 mil eleitores, que representam 1,5% das prefeituras e 36,5% do eleitorado. O PT venceu 8 prefeituras no primeiro turno e disputará segundo turno em 22. Quer chegar ao comando de 30, contra 21 que administra hoje. Além de SP, onde Fernando Haddad disputa segundo turno com José Serra, petistas estão na briga em outras cinco capitais, como Salvador e Fortaleza, e várias cidades de regiões metropolitanas, como Santo André/SP e Contagem/MG. O PSDB elegeu seis prefeitos nas 83 maiores cidades e tem amplo potencial de crescimento, com boas chances em 17 localidades no segundo turno. Compra de votos A coluna recebe denúncia de suposta cooptação de votos em cidade paraibana. Um radialista respeitado recebeu transcrição de uma gravação em áudio de uma suposta tentativa de cooptação de votos na cidade de São Domingos do Cariri. A gravação mostra o candidato a prefeito José Ferreira da Silva, "Zé Ferreira" (PSDB), participando de um evento na casa de um eleitor. Tenta cooptá-lo e aos demais presentes, conforme transcrição do vídeo. Que as autoridades ouçam a gravação e tomem as devidas providências. Empate em Bananal A eleição no município de Bananal, no interior de SP, terminou empatada. Com 100% das seções apuradas, os candidatos Peleco (PSDB) e Mirian Bruno (PV) somaram o mesmo número de votos : 1.849 cada. Segundo a legislação eleitoral, quando dois candidatos terminam empatados na primeira colocação, o eleito é o candidato mais velho. No caso da cidade do Vale do Paraíba, o desempate acabou favorecendo Mirian Bruno (PV). Dirceu condenado José Dirceu foi condenado pela maioria dos membros do STF por corrupção ativa. Era previsível. Vai virar uma página do livro de sua história. Consolidará sua consultoria. Continuará a ter voz ativa no PT. Terá tempo mais livre para fazer política de bastidor. Sem versões que falam de uma temporada fora do Brasil, etc. Juscelino Quem conta é Alex Salomon, grande pensador, escritor e eventual colaborador da coluna. "Em 1975 estava eu trabalhando na Embratel indo e vindo no eixo Rio-SP. Numa das viagens sentei ao lado de JK. (de início nem o reconheci- as autoridades parecem encolher quando ao natural). Tímido e algo desinteressado, não tentei puxar conversa. Eis que de um banco de trás (ou teria sido da frente) aparece um sujeito que o cumprimenta efusivamente. Presidente....e presidente pra cá, presidente pra lá e JK gentil e sorridente, e trocaram banalidades. Não podia evitar de ouvir a conversa, o sujeito estava debruçado em cima de mim, e JK na janela. Lá pelas tantas, o indivíduo se sai com a pergunta. E o Benedito Valadares (falecido havia mais de ano) como está ele ? Sem perder o sorriso, JK retruca : Não o tenho visto ultimamente ! A conversa cessou, JK continuou lendo seu jornal". Senhores candidatos Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado ao eleitor. Hoje, sua atenção se volta novamente aos candidatos que disputam o segundo turno : 1. Tenham muita cautela na campanha do segundo turno. Há uma tendência, acentuada pelos assessores de marketing, para intensificar a estratégia de desconstrução do perfil de adversários. Campanha negativa gera mais prejuízos que vantagens. 2. O segundo turno propicia comparação mais objetiva entre perfis e propostas. Qual é o fator de eficácia ? Um bom programa de governo, ideias claras, comunicação adequada e objetiva. Foco na PROXIMIDADE. Ou seja, foco no atendimento às demandas mais prioritárias da comunidade. 3. Organizem uma agenda que possa atender a todos os compromissos de articulação e mobilização. Entendam que precisam multiplicar sua presença nas regiões, bairros, distritos. Onipresença. ____________
quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Porandubas nº 334

Pode descer Juscelino Kubitschek era um personagem de romance. Suas histórias aéreas matavam de medo os companheiros da campanha e, depois, do governo. Para ele, avião é para voar e acabou-se. Uma noite, na campanha, ia descer no interior do RS. As luzes da cidade apagaram-se, o campo não tinha pista iluminada, o piloto quis voltar para Porto Alegre. Juscelino ordenou : - Pode descer. Deus é juscelinista. Desceram. Era. Outra vez, voavam sobre a Amazônia. Pegaram uma tempestade terrível. Raios, trovões. O avião pinoteando no ar, como pipa, os líderes do PSD e PTB apavorados, de olhos fechados, duros, rezavam, suavam. Juscelino sorriu : - Vou dormir um pouco. Ninguém acreditou. Um mais incrédulo levantou-se, foi lá atrás, puxou a cortina da pequena cabine presidencial privativa. Juscelino dormia e roncava. Outra tarde, voltava de Salvador, anoiteceu em Caravelas, mas precisava voltar ao Rio. O piloto avisou : - Governador, o combustível está acabando. Pode ser que não dê para chegar ao Rio. Vieira de Melo, Getúlio Moura, José Maria Alkmin, João Goulart, apavorados, queriam descer em Caravelas. JK insistiu : - Vamos. Lá a gente vê se deu. Deu. Reta final Ainda é cedo para se fechar o painel de leituras. Mas os nomes que despontam na liderança de algumas capitais abrem a primeira hipótese : o eleitor está saturado das velhas caras. Não se trata de apenas escolher perfis mais jovens, mas pessoas que estão abrindo o leque da política. Vejamos alguns nomes : Carlos Amastha, de origem colombiana, do PP, lidera a corrida em Palmas, TO; Geraldo Julio, PSB, que ganhará o pleito em Recife, puxado pelo governador Eduardo Campos; Nelson Pelegrino, PT, que passou à frente de ACM Neto, em Salvador; Elmano de Freitas, PT, lidera em Fortaleza; Luciano Cartaxo, PT, lidera em João Pessoa; Mauro Mendes, PSB, está na frente em Cuiabá; Alcides Bernal, PP, em Campo Grande, passou Edson Giroto, do PMDB; em Manaus, a senadora Vanessa Grazziotin, do PC do B, empata com o ex-senador tucano, Arthur Virgílio. O que essas caras têm em comum ? Assepsia política. Não tomaram banho nas águas da velha política. O eleitor na última hora Como o eleitor toma decisão de última hora ? Ou seja, como escolherá o candidato se está em dúvida na última semana ? Ele conversa com amigos, troca ideias, põe o sistema racional para funcionar, deixando o espaço motivo de observador. Vê os últimos programas de TV, analisa as informações gerais dando conta de fenômenos que incidem sobre partidos e atores. Joga a massa informativo-analítica na cachola, sacoleja as ideias e acaba optando por um perfil. Nesse instante, também é movido pelo instinto de selecionar o candidato com mais chances de ganhar. Ou seja, acaba praticando um voto útil. Mas, que fique bem claro : esse processo só se desenvolve no eleitor que ainda está indeciso. Russomanno segura ? A expressão contundente é mais intensa nos programas eleitorais nesta final de campanha. Em SP, berço da maior campanha eleitoral do país, os candidatos José Serra, Fernando Haddad e Gabriel Chalita elegeram Celso Russomanno como alvo preferencial. Que é comparado ao ex-prefeito Celso Pitta, já falecido, e eleito sob as graças e o antigo prestígio de Paulo Maluf. O foco da mensagem procura argumentar sobre o despreparo do candidato do PRB e, ainda, o fato de ser candidato de uma Igreja Evangélica, a Universal do Reino de Deus, comandada pelo bispo Edir Macedo. A questão é : o discurso da desconstrução de Russomanno mudará o voto do paulistano ? Ele conseguirá segurar a taxa de 30% de intenção de voto ? Os 5% que perdeu nos últimos dias são efeito do ataque massacrante sobre ele ? É possível Sem dúvida, os ataques que procuram desconstruir a fortaleza em que se refugiou o candidato do PRB estão conseguindo abalar seus alicerces. Os votos do petismo na Zona Leste, que concentra a maior densidade eleitoral de SP, começam a voltar ao leito. Haviam se desgarrado. É o que algumas pesquisas constatam. A conferir. Proximidade Já se procurou analisar o fenômeno Russomanno sob diversas teses, cada qual tendo sua razoabilidade. Argumenta-se, por exemplo, sobre o conservadorismo do eleitorado paulistano. Que se inclina a votar em um perfil mais conservador, no caso, o candidato do PRB. Mostra-se que, ao longo dos últimos 20 anos, ele teceu a couraça do defensor dos pobres, a partir do eixo de defesa do consumidor. Ou seja, agora está puxando os consumidores para a arena dos eleitores. Diz-se, ainda, que o eleitorado está saturado da polarização entre PT e PSDB. E Russomanno se apresentaria como opção para fugir a esta velha arenga. Todas essas hipóteses são passíveis de demonstração. Tentando resumi-las em um só conceito : proximidade. Celso Russomanno cresceu por ter conseguido se apresentar como o candidato mais próximo das margens sociais. Proximidade abre outros conceitos : conhecimento, popularidade, intimidade, amizade. Escopo que confere aos conjuntos eleitorais autonomia de decisão. Um voto sem chancela das celebridades políticas. Segundo turno Quem irá ao segundo turno no pleito paulistano ? Russomano estaria com passagem comprada. Mas... E José Serra e Fernando Haddad ? Quem tende a subir ? Este analista ainda não consegue enxergar a dupla que correrá a segunda volta. O fato é que o segundo turno apresenta uma arena diferente do campo de lutas. Os tempos de TV serão iguais : 10 minutos. O eleitor terá melhores condições de fazer comparação entre os dois perfis. Portanto, os critérios de escolha levarão em conta a razão e não apenas a emoção. 2014 Tenho feito muitas palestras. Lula volta ao cenário político ? Respondo : ele ainda não saiu. É o patrocinador de muitos candidatos. O Guru do PT. Volta a ser candidato à presidência da República ? Não acredito. Ele se dá bem no papel de orientador-mor do PT. Dilma será candidata à reeleição. Lula será um grande eleitor. Se a saúde assim o permitir. Ganhos "Com talento ganhamos partidas; com trabalho em equipe e inteligência ganhamos campeonatos". (Michael Jordan) Daniel, o riponga Vejam como o eleitorado brasileiro gosta de mudar os ambientes e a causar surpresas. Pois não é que o tucano Daniel Coelho, um riponga que se veste à moda hippie, tomou o segundo lugar em Recife, desbancando o senador petista Humberto Costa ? Quem diria, hein ? A se confirmar sua posição, o PT sofrerá uma das mais contundentes derrotas, ou seja, em Recife. O candidato do PSB de Eduardo Campos, Geraldo Julio, navega firme em primeiro lugar. Curiosidade : o tucano riponga entrou maneiro no gosto dos jovens. É a novidade que gera impacto na programação eleitoral. Teori O ministro Teori Zavascki não se submeterá a bateria de críticas gerais - a partir da onda midiática - caso entre em tempo no STF e decida julgar os réus da Ação Penal 470. Tem um perfil de juiz recatado, sem gosto pelo espalhafato. Para julgar, deve se considerar apto. É evidente que ele, sob o aspecto formal, reúne todas as condições para entrar no jogo. Na visão deste analista, estará contemplando a cena. Sem expor seu juízo. E a Copa, hein ? A Copa do Mundo terá influência sobre as eleições de 2014 ? Sem dúvida. Se o Brasil sagrar-se campeão em junho, as eleições de outubro consagrarão a candidata governista. O ambiente festivo e a catarse nacional emoldurarão o perfil da presidente Dilma. Se o Brasil for derrotado, parte da indignação poderá (não necessariamente) recair sobre o governismo. Principalmente se a economia estiver na UTI. Uma Justiça que trabalha Sob esse título, este escriba dedicou sua análise dominical no Estadão (12/8/2012) à Justiça do Trabalho. Alguns dados causaram impacto : em 2011 chegaram às prateleiras da Justiça do Trabalho 3.069.489 processos, dos quais 3.016.219 foram julgados. Os números mostraram que, a cada 100 mil habitantes, 88 ingressaram com ação ou recurso no TST, 296 nos TRTs e 1.097 nas varas do Trabalho, uma expansão de quase 2% em relação ao ano anterior. A seguir, fiz uma análise dos fatores responsáveis pela expansão dos conflitos trabalhistas. Produtividade A Justiça do Trabalho, dizia, apresenta desempenho dos mais produtivos do Poder Judiciário, bastando anotar os resultados de suas instâncias : o TST, em 2011, decidiu 206,9 mil processos dos 211,7 mil recebidos, enquanto os TRTs receberam quase 757 mil, julgando mais de 722 mil ações. A carga de trabalho dos ministros impressiona : 15.857 processos para cada um, considerando, ainda, que o TST reduziu em cem dias o tempo médio de tramitação de processos. Já a primeira instância recebeu 2.135.215 processos e decidiu 2.052.487 casos. E quase R$ 15 bilhões foram repassados para pagamento a trabalhadores que ganharam ações. Esse eixo do Judiciário é um dos mais integrados à modernização. A tramitação eletrônica dos processos judiciais, que simplifica a burocracia e torna a Justiça mais ágil, já é realidade. Os advogados festejam o fato de hoje ser cada vez mais possível enxergar o fim de uma ação trabalhista, ao contrário do que se constata nas áreas civil e tributária. Outra nota de destaque é a transparência : o TST foi o primeiro dos tribunais superiores a divulgar salários de ministros, juízes e servidores. O recordista Hoje, o registro vai para o nome do ministro Emmanoel Pereira. Em 2009, o ministro solucionou 14.529 processos, finalizando aquele ano com o saldo de 2.707 processos conclusos. E mais : ao longo dos 70 anos de Justiça do Trabalho, no Brasil, foi o que mais solucionou processos. Dados dos relatórios do TST. Registro que orgulha a Nação Potiguar, o RN, terrinha do ministro, sob o reconhecimento de outras Nações brasileiras. Bela história Lembrando : em 1932 criaram-se as Comissões Mistas de Conciliação e as Juntas de Conciliação e Julgamento. A Justiça do Trabalho apareceu em 1939, tendo sido regulamentada em 1940 e instalada no ano seguinte. Dois anos depois veio a CLT, reunindo e ampliando a dispersa legislação feita em duas décadas. Os dissídios individuais e coletivos passaram a formar o escopo da Justiça do Trabalho. As mudanças, ao longo dos anos, contemplaram as transformações socioeconômicas e nichos, como as questões portuária e previdenciária e as ações de indenização por dano material e moral decorrentes de acidente de trabalho e de doença profissional. Bela história. Ética sob dúvida A Comissão de Ética Pública entra na lupa dos observadores que formam opinião. Qual será sua próxima decisão ? Pelo visto, o veto da presidente Dilma à renovação do mandato de dois conselheiros colocou um ponto de interrogação na trajetória da Comissão. Que se encontra na encruzilhada. A calma "A calma é a loucura dos sábios". (Napoleão Bonaparte) Guerra na indústria do álcool Produtores e envasadores de álcool estão atônitos com recente decisão da Justiça de reconhecer o direito da Anvisa em proibir a venda do álcool líquido ao consumidor. A alegação é de que os acidentes com o produto estariam aumentando. O estudo que comprovaria a tese, no entanto, tem sido alvo de críticas, já que nem na audiência pública da Comissão de Defesa do Consumidor da Câmara Federal a Anvisa o apresentou. Produtores acreditam em lobby da indústria multinacional para retirada das empresas nacionais do mercado de limpeza. Dizendo não Mesmo na noite mais friaEm tempo de servidãohá sempre alguém que resiste,há sempre alguém que diz não. (Manoel Alegre) Conselho ao eleitor Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos assessores dos candidatos. Hoje, sua atenção se volta ao eleitor : 1. Examine a vida dos candidatos a prefeito. Escolha o de sua preferência, ancorado em : passado limpo, vida decente; melhores propostas em sua visão; perfil mais próximo a você; credibilidade. 2. Veja se as propostas são factíveis. Se não são apenas promessas mirabolantes. 3. Entre os candidatos a vereador, examine os compromissos daqueles que você considera os mais aptos e sérios. Escolha o perfil que atenda com mais precisão as demandas das comunidades. ____________
quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Porandubas nº 333

O sentimento do medo Abro a coluna com o sorridente Juscelino, ícone de simpatia. Candidato a presidente, saiu pelo Brasil visitando o PSD. Desceu na Bahia. Antônio Balbino, governador do PSD, ainda estava em cima do muro : - Qual é a verdadeira posição do café ? - Qual deles, Balbino ? O vegetal ou o animal ? Foi para Pernambuco. Etelvino insistia : - Juscelino, vamos rever o assunto e fazer a união nacional. - Etelvino, já sei que você está contra mim. Quando você fala em união nacional, na verdade está pensando em União Democrática Nacional. - Então você não quer a união ? - Ora, Etelvino, candidato não faz união, candidato disputa. Quem faz união é governo, depois de empossado. E voltou para Minas. Em 31 de dezembro, o chefe da Casa Militar da presidência da República, Juarez Távora (depois candidato da UDN, derrotado por Juscelino), entregou a Café Filho um documento em que "as altas autoridades militares apelavam para uma colaboração interpartidária, um candidato único e civil".O documento só foi divulgado no dia 27 de janeiro, em "A Voz do Brasil". Juscelino respondeu com um discurso duro, escrito por Augusto Frederico Schmidt, que terminava com a frase magistral : - Deus me poupou o sentimento do medo. O núcleo político O mensalão chega ao núcleo político. Como era previsível, o ministro Joaquim Barbosa dá as primeiras indicações que houve compra de voto. O PP foi abrigado no seio do governo. Houve corrupção passiva e ativa. O chefe do núcleo, segundo Barbosa, era o ex-ministro José Dirceu. Tudo dentro do previsível. O roteiro deverá prosseguir com as condenações. A curiosidade estará voltada, mais uma vez, para o parecer do ministro Ricardo Lewandowski e para o voto do ministro Toffoli. Ou seja, o clima nas margens do mensalão esquentará nos próximos dias. A conferir. O ONF de Veja O OFF, na esfera jornalística, é uma entrevista dada a um repórter sob o compromisso de não ser publicada. O jornalista aproveita a conversa com a fonte para tecer panos de fundo, desenhar cenários que lhe possibilitem, mais cedo ou mais tarde, calibrar seus textos. O OFF é uma ferramenta muito usada na área política. Os representantes procuram falar em OFF para fazer críticas, dar informações retumbantes, expor jogos de poder, mostrar o que efetivamente se passa nos intestinos da administração pública. Já o ON é a ferramenta que abre as portas da expressão. Nesse caso, o jornalista tem liberdade para captar e divulgar o que viu, ouviu e sentiu pela expressão dos entrevistados. A Revista Veja produziu, na semana passada, um ONF, mescla de ON e OFF. Expliquemos. Despiste : curvas nas retas A matéria de capa com Marcos Valério expõe uma moldura de despiste. Ou seja, dá a informação sem comprometer a fonte. Imaginemos que a entrevista tenha obedecido ao seguinte roteiro. A revista Veja recebeu um telefonema de pessoa ligada a Marcos Valério. Que sugeriu uma entrevista com ele sob o compromisso de não ser caracterizada como entrevista em ON. O empresário deveria ser preservado. Claro, a revista topou. Marcaram um encontro. Presenças : ele ou alguém para servir de fonte e o repórter. Que fez anotações. Não gravou por não ter recebido autorização. Que forma poderia ser encontrada para apresentar a bomba sem dizer que Valério ou seu representante foi o autor da peripécia ? A linguagem do despiste. O despiste O que é e como se faz o despiste ? Intercalando linguagem de verbos narrativos, de forma direta e indireta. Lembro que os verbos narrativos incluem, entre outros : falar, dizer, narrar, contar, expressar, descrever, aduzir, mostrar, lembrar, citar, anuir, descrever, acrescentar, etc. Na entrevista, a fonte aparece abrindo períodos e parágrafos, dessa forma : "Valério guarda segredos... diz que pelas arcas do esquema passaram pelo menos 350 milhões de reais... ele fala em valores... afirma o empresário", etc. etc. Esta modelagem atende ao princípio do respeito à fonte. E garante a credibilidade da informação. Fontes indiretas Veja, a maior revista brasileira de informação, quis, assim, mostrar que tem compromisso com a verdade. Noutra parte, usou o método indireto. Fontes secundárias e não a fonte primária. Assim : "nos últimos dias, ele confidenciou a amigos".; "Valério teme e fala a pessoas próximas que....". Tais referências indiretas constituem um recurso da Revista para evitar comprometer as fontes primárias. Portanto, não se trata de invencionice. A reportagem tem alicerce. Esta análise, claro, está sujeita a contrapontos de leitores com vieses partidários. O autor do ONF Um exímio ex-repórter de uma grande revista (que continua sendo um mestre na arte de interpretar o universo jornalístico), definiu, com propriedade e humor, a modelagem que abrigou a matéria de capa da Veja : ONF, uma parte em ON e uma parte em OFF. Prometi registrar essa nova modalidade. O que faço com muita alegria. Em tempo : o repórter em questão conhece bem a revista Veja e o perfil da capa, Marcos Valério, que já passou por sua lupa jornalística. Lula e Dilma, cabos eleitorais Lula e Dilma são cabos eleitorais mais eficazes do que FHC e Alckmin ? Essa é a pergunta recorrente que tento responder, seja em perguntas feitas no twitter (@gaudtorquato), seja no facebook ou em outros espaços. Respondo sempre lembrando que os eleitores são gratos a quem os patrocina. E lembro a geografia da gratificação : BOLSO (grana suficiente) para suprir o ESTÔMAGO (geladeira cheia, estômago saciado), CORAÇÃO (agradecido, comovido, emoção, catarse), CABEÇA (decidindo votar nos patrocinadores). Ou seja, o eleitor tende a votar em candidatos indicados por ícones partidários. Principalmente os que encarnam a equação exposta. Lula, ontem, e Dilma, hoje, sob esse parâmetro, exercem mais influência que FHC e Alckmin. O recado do vídeo Ricardo Noblat, segunda-feira, mostra que há mais bombas no arsenal de Marcos Valério. Um vídeo que teria sido encomendado pelo publicitário a profissionais do ramo. Uma cópia teria sido encaminhada a uma das estrelas do esquema do mensalão, réu do processo no STF. Outras três estão guardadas em banco. Se ocorrer algum desastre em seu caminho - diz a matéria - os vídeos serão encaminhados aos jornais O Estado de S.Paulo, O Globo e Folha de S.Paulo. O vídeo seria uma bomba de alta potência. Mais um recado de Valério aos ex-protagonistas dos tempos do mensalão. Efeitos Eis a narração de Noblat : "Renilda, a mulher dele, sabe o que fazer com as três cópias... O que Valério conta no vídeo seria capaz de derrubar o governo Lula se ele ainda existisse, atesta um amigo íntimo do dono da quarta cópia. Na ausência de governo a ser deposto, o vídeo destruiria reputações aclamadas e jogaria uma tonelada de lama na imagem da Era Lula. Lama que petrifica rapidinho. A fina astúcia de Valério está no fato de ele ter encaminhado uma cópia do vídeo para quem mais se interessaria por seu conteúdo. Assim ficou provado que não blefava". Mensalão e eleição em SP O mensalão suja a imagem do PT junto aos setores que habitam o meio da pirâmide, mas não chega a afastar os eleitores das margens. Recorrente questão : a imagem de Haddad não será engolfada pelo mensalão ? Tenho respondido : não. Mas consolida impressões negativas que impregnam determinados núcleos eleitorais. Aqueles que já tomaram a decisão de votar contra o candidato petista. Enquete Jovem Pan A Rádio Jovem Pan conserva a tradição de fazer enquetes eleitorais nas últimas semanas que precedem os pleitos. Como se sabe, enquete não se guia por metodologia científica, servindo apenas de lume jornalístico, um apanhado nas ruas sobre intenções de votos nos candidatos. Na verdade, a enquete flagra apenas a opinião do ouvinte da emissora. Nesse sentido, é muito limitada. Pois bem, José Serra obteve cerca de 70% na primeira enquete. E cerca de 40% na segunda. Haddad, Chalita e Russomano aparecem empatados. FHC e Alkmin, cabos eleitorais Fernando Henrique entra de corpo e alma na campanha de Serra. Esta semana, divulga um documento assinado por intelectuais em apoio ao candidato tucano. Tenho dito e repetido : essas coisas não agregam votos. As assinaturas de celebridades têm o condão de conferir prestígio, mas não sensibilizam as massas. Que nem tomarão ciência do fato. Haddad ou Serra ? Quem irá para o segundo turno ? A se confirmar a tendência de queda de Serra, Haddad seria o candidato a disputar o segundo turno com Russomanno. Mas as pesquisas cotidianas - trackings - feitas pelos tucanos atestam que Serra ainda está na frente de Haddad. Daqui a 10 dias, a bola de cristal abrirá seus segredos. Por enquanto, o olho mecânico dá chance aos dois. Fundões da zona leste Domingo último, este analista foi ao encontro da multidão. Mais exatamente, na Zona Leste, no SESC Itaquera, fundões da capital. Ali está o maior contingente eleitoral de SP. Tem 300 mil eleitores a mais que a Zona Sul. Um show da Família Lima e da cantora Ana Carolina, em comemoração aos 20 anos do maior sindicato de trabalhadores terceirizados e de trabalho temporário de SP, o Sindeepres, comandado pelo intrépido Genival Beserra Leite. 12 mil pessoas afluíram ao local. Gente alegre. Cabos eleitorais esparsos. Massa em plena diversão. Sem dar bolas aos carros de som das campanhas, ali por perto. PMDB redesenhado O PMDB de SP abre caminhos de renovação. Novos quadros, amplas possibilidades. O partido espera eleger cerca de 100 prefeitos no Estado. Brasil e a crise Começam a pipocar declarações e análises sobre os efeitos de uma nova crise financeira internacional sobre o Brasil. A base macroeconômica, garante o governo, está azeitada para aguentar novos trancos. Os especialistas acham que, ante uma nova avalanche, o país tende a ficar à deriva. Deixo a questão para reflexão. Panorama em João Pessoa Vejam os resultados das duas últimas pesquisas eleitorais em João Pessoa. Esta primeira foi feita pela Consult, sob encomenda do Correio da Paraíba : - Luciano Cartaxo (PT): 23,9% - Cícero Lucena (PSDB): 22,9% - Maranhão (PMDB): 17,8% - Estelizabel (PSB): 14,4% Esta segunda é do Portal WSCOM/Sigma : - Luciano Cartaxo (PT): 21,9% - Cícero Lucena (PSDB): 21,3% - Maranhão (PMDB): 17,7% - Estelizabel (PSB): 12,9% E os queijos ? Ainda em sua peregrinação como candidato a presidente, Juscelino hospedou-se em Campina Grande, na casa do coronel Alvino Pimentel, industrial e homem refinado. Tratou JK como se tratam reis : queijos da França e caviar da Rússia. Cinco anos depois, fim de mandato, Juscelino voltou a Campina Grande para inaugurar o serviço de água, promessa da campanha. Quando a porta do avião abriu, a primeira pessoa que viu lá embaixo foi um velho de cabelos brancos. Chamou Abelardo Jurema : - Quem é aquele de cabelos brancos ali no pé da escada ? - É o compadre Alvino, onde o senhor se hospedou. Juscelino já desceu sorrindo, os braços abertos : - Coronel Alvino, e os queijos? Conselho aos assessores dos candidatos Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado à presidente Dilma Rousseff. Hoje, sua atenção se volta aos assessores dos candidatos : Aproxima-se a reta final das campanhas. Esse é o momento que merece especial atenção. 1. Urge fazer um mapeamento geral da campanha, sob os prismas do discurso/propostas; altos e baixos da comunicação; carências detectadas na frente da articulação política e social; análise da mobilização - verificação das ações realizadas pelos cabos eleitorais. 2. Reordenar focos e metas, reajustar trabalho de campo (nas regiões e bairros), organizar forte programa de comunicação; reordenar a agenda do candidato, contemplando as maiores densidades eleitorais. 3. Descentralizar ações de forma que a campanha se faça presente em todos os espaços municipais. A ideia é a de tornar o candidato onipresente, ou seja, com visibilidade em todas as regiões. ____________
quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Porandubas nº 332

Juscelino Abro a coluna com Juscelino Juscelino Kubitscheck, José Maria Alkmin e Odilon Behrens saíram juntos do seminário de Diamantina. Continuaram estudando juntos, farreando juntos. Uma noite, havia uma festa na cidade com entrada paga. As namoradas precisavam comparecer. Mas eles não tinham um tostão. Alkmin resolveu o problema : - Vamos vender a alguém uma de nossas camisas. Encontraram o comprador, mandaram passar uma camisa de Juscelino, enrolaram, disseram que era nova, pegaram o dinheiro, foram para a festa. No dia seguinte, o comprador chegou uma fera : - A camisa não era nova, estava gasta, rasgou logo. Juscelino tomou a palavra : - Meu amigo, aonde você foi ? - A um baile. - Dançou o quê ? - Tudo. Bolero, samba. - Então a culpa foi sua. Esta camisa é muito fina; só serve para dançar valsa. Outra do simpático presidente : Estudante bolsista em Paris, Juscelino Kubitschek encontrou Odilon Behrens, que chegava com as notícias de Minas. Ex-colegas no seminário de Diamantina, passaram a relembrar os companheiros : - E o Alkmin ? Nunca mais soube dele. - Está na Penitenciária de Neves. - Eu sabia que ele ia acabar lá. Era Diretor. Campanha sem emoções O clima que envolve o pleito é morno. Não há impactos nem grandes emoções. Afora uma ou outra campanha mais acirrada, em função das peculiaridades regionais, pode-se aduzir que as eleições de outubro deste ano se inserem entre as mais tranquilas da contemporaneidade. Os motivos apontam para um conjunto de vetores : 1) economia sob controle; 2) ausência de grandes novidades; 3) modelos de campanha tradicionais; 4) saturação de embates entre tucanos e petistas (polarização); desejo de alteração nos perfis dos gestores, significando tendência para escolher caras diferentes (não necessariamente o novo); 5) mobilidade social, significando inserção de milhões de eleitores na classe média e consequente engajamento de contingentes nas frentes de defesa do consumidor. E o mensalão não é novidade ? Pois é, o julgamento do mensalão poderia ser considerado uma boa novidade. Mas a carga negativa que o caso agrega não terá o condão de mudar a posição dos contingentes eleitorais. Ou seja, tucanos e petistas consolidarão os pontos de vista já formados. Os petistas começam a falar do mensalão tucano em MG. Um empate de cargas negativas. Parcela do eleitorado, ante a tentativa de polarização, tende a optar por uma alternativa, Russomanno, em São Paulo, por exemplo. Por isso, o uso de FHC na campanha de Serra, lembrando o mensalão, não resultará em votos. Serão poucos os eleitores que poderão mudar de voto por conta do apelo de Dilma por Haddad. O que um escritor não vê Lo que un escritor no ve, no ha acontecido. (Elias Canetti - Hampstead) Campos, o mais ativo Eduardo Campos se apresenta como o cabo eleitoral mais ativo do país. Mais do que Lula. Porque lidera os processos em que partidários do PSB avançam sobre os próprios domínios do petismo, a partir de Belo Horizonte e Recife. Tenta, a todo momento, dizer que continua afinado à Lula e à presidente Dilma. Claro, quer continuar olhando para uns e piscando para outros. Por isso, não pode e não deve se afastar de correligionários. A verdade, porém, é que o governador de PE está jogando como um ás da política. Vai posicionar seu partido em importantes territórios eleitorais. Registrará importantes passos. Com grande cacife, espera negociar com os parceiros que lhe forem mais convenientes. Geração pós-64 Sempre lembro uma confissão que ouvi dele em uma conversa cheia de revelações em um dos eventos promovidos por João Doria em Comandatuba : "meu sonho é juntar a geração pós-64 e tomarmos os rumos do país". Entendi a mensagem não como um rompimento à velha turma, até porque ele, Eduardo, respeita muitos da velha guarda, mas como um compromisso de levar adiante um programa de reformas, que só ocorreriam sob o comando de um grupo mais jovem e sem grandes amarrações à arvore do passado. Um homem fascinado Un hombre que toca fascinado a cada mujer porque nunca le pertenecerá. (Elias Canetti - Hampstead) Junto com Aécio Será difícil uma composição entre o PSB de Campos e o PSDB de Aécio Neves. A complexidade de uma aliança desse naipe seria menor se não houvesse no meio do campo jogadores do porte de Fernando Henrique, José Serra, Geraldo Alckmin e outros assemelhados em história e fama. Mas em política, tudo é possível. Até mesmo essa aliança. Que só ganharia viabilidade se o país entrasse em profunda crise econômica, com sequelas terríveis sobre o bolso e o estômago do eleitorado. Nesse caso, a credibilidade do lulismo/petismo seria impactada. A presidente Dilma, nesse caso, também correria o risco de ser envolta no celofane cinzento da crise. O Brasil é maior que a crise Em outra ponta, a leitura é bastante otimista. Leva em consideração a hipótese de que, qualquer que seja o impacto de uma crise mundial sobre o país, nossa base econômica tem firmeza para aguentar os abalos, mesmo que os sismos partam de catastrófica performance da China. Perderíamos, sim, um monumental espaço consumidor - o chinês - para onde vão as nossas commodities (principalmente da área de alimentos), mas haveria outros espaços como destino de nossas riquezas. Sempre haverá barrigas para alimentar, aqui e alhures. Há lastros de riquezas e desenvolvimento em outros setores vitais de nossa economia. Portanto, a tese de que o Brasil é maior do que novas crises mundiais tem sustentação. Sob essa perspectiva, Dilma abre horizontes promissores para 2014. A mulher em desespero La mujer que ha conocido y sobrevivido a todos los grandes hombres. Uno de ellos se niega a morir. Su desesperación. (Elias Canetti - Hampstead) Copo transbordando Mesmo sob um eventual novo governo Dilma, as perspectivas indicam alterações de monta na fisionomia política. Os grandes partidos estão chegando ao ponto de quebra de seus pesos e potenciais. As velhas lideranças começam a dar sinais de esgotamento. Os modelos partidários carecem de novas vestimentas. As gestões da administração pública são questionadas. Os cidadãos, abrigados em seus núcleos de referência mais respeitada (movimentos, sindicatos, associações), exigirão serviços de maior qualidade. O Judiciário se aproxima das ruas. O Ministério Público abre a lupa por todos os espaços. A política haverá, necessariamente, de se refundir e reaparecer mais transparente e clara nos espaços da cidadania. Reformas terão que vir. Lideranças As campanhas seguem dentro da previsibilidade. Manuela D'Ávila (PC do B) tem boas condições de levar a melhor em Porto Alegre. Ratinho Júnior (PSC) e Luciano Ducci (PSB) estão empatados em Curitiba. Carlinhos de Almeida (PT) lidera com grande vantagem o pleito de São José dos Campos. Duarte Nogueira (PSDB) está na frente em Ribeirão Preto. Geraldo Julio (PSB) lidera em Recife. Carlos Eduardo Alves (PDT) está na frente em Natal. Marcio Lacerda (PSB), em Belo Horizonte. Tereza Jucá (PMDB), em Boa Vista. Arthur Virgílio (PSDB), em Manaus. Eduardo Paes (PMDB) está muito na frente no Rio. Luiz Paulo Vellozo Lucas (PSDB), em Vitória. Zé Maranhão e Cícero Lucena (PSDB) empatam em João Pessoa. Firmino Filho (PSDB) lidera em Teresina. Moroni Torgan (DEM), em Fortaleza. Edmilson Rodrigues (PSOL) está bem na frente em Belém. Paulo Garcia (PT), atual prefeito, lidera em Goiânia. João Alves (DEM) lidera em Aracaju. Rui Palmeira (PSDB) e Ronaldo Lessa (PDT) estão empatados em Maceió. O empresário do ano Otávio Azevedo (Grupo Andrade Gutierrez) foi escolhido Empresário do Ano pela Câmara Portuguesa do RJ. Trata-se de um dos mais celebrados perfis do empreendedorismo brasileiro. É um dos mais denodados defensores da aproximação entre Portugal e Brasil : "temos tentado motivar o governo português e o governo brasileiro a aproveitarem este momento para fazerem uma aproximação definitiva do ponto de vista empresarial e até legal". O Grupo AG está há 24 anos em Portugal, através da Zagope, que é 100% do grupo. Zavascki no STF O ministro Teori Albino Zavascki, do STJ, foi convidado pela presidente Dilma para assumir a vaga aberta com a aposentadoria de Cezar Peluso no STF. Natural de Faxinal dos Guedes/SC, tem 64 anos e está desde 2003 no STJ. Foi desembargador do TRF4. Zavascki também é professor de Direito. Alguns de seus livros : "Antecipação de Tutela"; "Processo Coletivo - Tutela de Direitos Coletivos e Tutela Coletiva de Direitos"; "Processo Coletivo e Processo de Execução : Parte Geral". Em tempo : o ministro nunca entrou em lista de possíveis nomes. Iluminando os dias não vividos Cuando ella se mueve velozmente a mi alrededor, se me iluminan los días no vividos. (Elias Canetti - Hampstead) Burocracia O excesso de burocracia prejudica a competitividade de 92% das indústrias brasileiras. A avaliação é da CNI, que divulgou duas pesquisas sobre o tema, uma envolvendo a indústria da construção e outra relativa à indústria de transformação e extrativa. No saldo geral, a Confederação aponta que além de afetar a competitividade de 92% da indústria, parcela de 850% dos industriais ouvidos considera que há um número excessivo de obrigações legais. Marta na cultura A senadora Marta Suplicy é a nova ministra da Cultura no lugar de Ana de Hollanda. Será que o novo cargo significa promoção ? Marta é vice-presidente do Senado, onde tem oportunidade de dirigir importantes sessões. Na Cultura, circulará bastante nas rodas de badalação. Pode ser que se sinta melhor nesse espaço de corte. Não confies em ninguém "Quando alguém fala bem de ti, podes estar certo de que ele te escarnece. Não confies segredos a ninguém. Mesmo se frequentemente teu valor é ignorado, não te faças valer a ti mesmo, nem tampouco te desvalorizes. Os outros te espreitam e esperam teu primeiro momento de relaxamento para te julgar. Se alguém te interpela e te insulta, pensa que está pondo à prova tua virtude. Os amigos não existem, há apenas pessoas que fingem amizade". (Cardeal Mazarino - Breviário dos Políticos) Conselho aos candidatos Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado à presidente Dilma Rousseff. Hoje, sua atenção se volta aos candidatos : 1. A campanha entra nas semanas finais. E decisivas. É momento de dar as últimas cartadas. Urge arrematar com propostas coerentes, densas, críveis, que venham atender à demandas urgentes das comunidades. 2. Muito cuidado com campanhas negativas, recheadas de adjetivação pesada, voltadas para denegrir a imagem dos adversários. 3. As duas últimas semanas de programação eleitoral costumam expandir a audiência. O eleitorado quer tomar pé dos avanços feitos pelos candidatos, estabelecer as últimas comparações entre eles e os indecisos começam a avançar na direção de seus escolhidos. ____________
quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Porandubas nº 331

Lavô, o bonito Abro a coluna com duas historinhas que tem como personagem o ex-governador do RN, Lavoisier Maia. Lavoisier não é um tipo de beleza admirado. Mas é considerado uma figura simpática. Um grande galanteador. Quando governador do RN, era esperado para inaugurar o serviço de energia elétrica do Paraná, cidadezinha encravada no extremo oeste do Estado. Preparou-se uma grande festa. Palanque armado, povo reunido, banda de música, muita comida e bebida. O governador não aparecia. Lá pelas 23h, esgotado das andanças na região, faminto, chegou à praça central para o grande evento. Confusão para saber quem iria preceder o governador nos discursos. Depois de muita negociação, chegou-se ao consenso : a palavra seria apenas do governador Lavô, como era chamado pelo povão. Extenuado, o governador pegou o microfone e começou : "meu querido povo do Paraná". Nesse instante, um bêbado com uma garrafa de cachaça, na frente do palanque, começou a gritar para delírio geral : "é o bonito, é o bonito, é o bonito". Ali mesmo, sob uma tempestade de risos, acabava-se o comício. O galanteador O ex-governador, ex-senador do RN e ex-deputado Federal Lavoisier nunca perdeu a oportunidade para exibir as qualidades de galanteador. Em uma de suas viagens de Natal a Brasília, um pouco antes da decolagem do avião, pediu a um amigo, sentado atrás, que lhe emprestasse os jornais da terra. O amigo procurou se levantar para levar os jornais, mas foi demovido pela aeromoça, já que o avião estava decolando. O rapaz pediu "leve, por favor esses jornais para o governador Lavoisier". A aeromoça, levando os jornais, quis conferir a informação : "o senhor é o governador Lavoisier Maia ?". Com sua inconfundível língua enrolada, Lavoisier respondeu de pronto : "Pois não, sou deputado, mas ex-governador, ex-senador e também ex-casado, à sua disposição". (P. S. Havia se separado de Vilma Faria, também ex-governadora e ex-deputada Federal) FHC entra na arena O ex-presidente Fernando Henrique mantinha, até semana passada, uma postura de equidistância da guerra eleitoral. Foi agraciado pela presidente Dilma com o convite para participar, em Brasília, de um evento que reuniu ex-presidentes da República. Lembre-se que ele participara antes de um jantar, em outubro de 2011, com o grupo The Elders, reunindo a ex-primeira ministra da Noruega, Gro Brundtland, a indiana Ela Bhatt e o ex-presidente americano Jimmy Carter. FHC retribuiu o gesto, expressando elogios à primeira mandatária. Mas mudou de postura nos últimos dias, ao se referir à "pesada herança" que ela herdou do governo Lula, em artigo publicado, dia 2, domingo, no Estadão. (Aliás, do lado dele, estava meu artigo sobre a corrupção). Na verdade, parecia uma resposta a todas as abordagens, feitas nos últimos anos, sobre "a herança maldita" que a era Lula atribuía ao ciclo FHC. O tucano bateu forte, mostrando os buracos abertos pela administração lulista. Apontou, como exemplo, "a desorientação da política energética". Dilma responde Em nota oficial, a presidente não apenas refuta o argumento de que teria recebido a "pesada herança", mas insere o seu patrocinador na galeria dos "estadistas". E acusou : "não recebi um país sob intervenção do FMI ou sob ameaça de apagão". A nota foi uma candente defesa do lulismo e, claro, do seu próprio governo. A tênue linha educativa que distinguia as relações entre a atual presidente e o ex-presidente se esgarçou. Ao decidir chutar o pau da barraca do ciclo Lula, FHC entrou na guerra eleitoral. Pode ter sido movido pela intensa presença de Lula nos programas dos candidatos petistas nas capitais, a partir de SP, onde seu candidato, José Serra, entra em acentuado declínio. O fato é que a polarização entre tucanos e petistas toma lugar não apenas na vanguarda das campanhas de Serra e Haddad, mas na retaguarda, onde aparecem os ícones partidários, liderados pelos dois maiores, Lula e FHC. Mais leitura sobre São Paulo Adensa-se o caderno de leituras sobre a campanha de SP. Por mais que este consultor tenha feito exaustivas análises sobre os possíveis cenários, continua a enfrentar a questão : quem vai para o segundo turno ? Para esta instigante dúvida, a bola de cristal recusa-se a dar respostas fechadas. Mas aponta algumas hipóteses : 1) Russomanno consolida sua posição; 2) Serra, caindo mais, abre espaço para o ingresso de Fernando Haddad no segundo turno; 3) É provável um "embolamento" de candidatos ao redor do patamar de 20% a 25%. Segundo turno No segundo turno, as dificuldades seriam bem maiores para José Serra. Que veria contra ele a integração dos outros candidatos de maior expressão eleitoral. Russomanno seria, até, mais mortal para Serra que Fernando Haddad. Contra este, poderia desaguar uma onda crescente anti-petista. Serra, para sobreviver à maré vazante, teria de resgatar na cachola dos eleitores a credibilidade perdida. Persiste a versão de que, eleito, não ficaria até o final do mandato. Ademais, a impressão que passa é que, em 2012, Serra faz a mesma campanha de 2004. Efeito televisivo Haddad já consegue se firmar como candidato de Lula. Faz, também, uma campanha moderna, de efeitos tecnológicos de impacto na TV. Chalita aparece bem na TV, com imagens limpas, discurso claro e tentando quebrar a polarização. Poderá subir bastante. Serra usa a velha morfologia. Campanha previsível. Russomanno tem um programa de TV muito pobre de ideias e propostas. Que procura disfarçar com a embalagem do povo. Está sempre ao lado de gente, conversando, ouvindo, fazendo-se de xerife. Soninha é poesia e utopia. Paulinho tem melhor desempenho que em campanhas passadas. Passa franqueza. Mas circula em um corredor de restrições. Os restantes são pequenos traços expressivos. Recheados de exclamações radicais. PT em tom menor Nesse momento, o cenário eleitoral aponta para um refluxo do PT no Nordeste na esteira do adensamento do PSB, a partir da provável derrota do senador Humberto Costa, em Recife, e consequente vitória de Geraldo Julio, candidato do governador Eduardo Campos. A propósito, Geraldo já passou Costa : 33% contra 25%. Mas se o PT ganhar em SP, recupera com juros e correção monetária todas as eventuais perdas que, por acaso, registrou na trajetória eleitoral de 2012. Uma vitória em SP seria o sonho dos sonhos petistas. Consolidaria a posição do partido na maior praça eleitoral do país, abrindo horizontes promissores para a disputa do governo do Estado e reeleição da presidente Dilma. Os primeiros candidatos Se Fernando Haddad vencer na capital paulista, abre-se a fila de pretendentes ao governo do Estado, em 2014, com os nomes de Aloysio Mercadante e Marta Suplicy. Mas o ícone do partido, Luiz Inácio, dependendo das circunstâncias do momento (economia, saúde pessoal), poderá ser o coringa do baralho. Difícil acreditar nessa hipótese. Mas tudo é possível em política. Se a economia cair no despenhadeiro, Lula serviria de contraponto e sairia puxando a emoção das massas. Caso contrário, continuará a ser o "conselheiro-mor" de Dilma e dos petistas que entrarão na moldura dos candidatos. Manu em Porto Alegre Manuela D'Ávila (PC do B) abre os horizontes de amplas possibilidades. Porto Alegre abre caminho para ser administrada pela disposição e jovialidade desta candidata. Cenas do passado Corre na rede um vídeo sobre Celso Russomanno quando fazia cobertura de carnaval. Trata-se de campanha negativa contra o candidato. Outro tempo, outro contexto, outras motivações. Assistência social O que é mais assistência social ? Tirar um jovem das ruas e do mundo das drogas, incentivando-o com uma bolsa de estudos, com a qual poderá ajudar a família, ou incentivar meninas nordestinas a terem filhos e, assim, poderem ganhar a Bolsa Maternidade ? No Nordeste, milhares de moças recebem o adjutório paternalista do governo. Recusam-se a trabalhar porque não querem ter carteira assinada. Temem perder a bolsa maternidade. Essa mentalidade é incentivada pela área social do governo Dilma. Lamentável esse conceito de assistência social. Que ameaça perpetuar o paternalismo assistencialista/caduco/dinossaurico do Estado brasileiro. Devoluções O Grupo do ex-senador Luiz Estevão fez acordo para devolver aos cofres da União R$ 468 milhões. Que teriam entrado ilegalmente em suas contas. Agora é a vez do ex-juiz Lalau. A AGU confirma que o Brasil recuperou, por meio do Tribunal Federal da Suíça, US$ 6,8 milhões que estavam bloqueados no país desde 1999, na conta bancária do ex-juiz. As coisas começam a tomar um novo rumo. A economia sob controle Quem apostava na economia desembestada, neste segundo semestre, pode ter de mudar suas expectativas. Tudo indica que continuará sob cabresto curto. Os controles estão afiados. Os pacotes de motivação continuarão a ser abertos. Para os próximos meses, os efeitos defasados de política monetária, a continuidade dos estímulos fiscais/tributários e o programa de investimento em transporte e logística, recentemente anunciado pelo governo Federal, devem intensificar o processo de retomada já em curso da atividade industrial. O monitoramento da inflação terá lupa mais precisa. Significa que o governismo dará o tom geral das eleições, deixando as oposições com perspectivas de vitória apenas nos espaços onde os governantes estaduais oposicionistas forem bem avaliados. Por governismo, leia-se : o conjunto de partidos que formam a base política do governo Dilma. A indústria da guerra Pequena observação à margem da campanha eleitoral nos Estados Unidos. Mitt Romney arrecada o dobro de Barack Obama. Ele passou a ser a bola da vez em matéria de novidade. Ele entrou na faixa dos já vistos e conhecidos. O republicano ressuscita o império da guerra. As grandes corporações despejam milhões de dólares em sua campanha. Voltam a ter esperança de produzir arsenais de guerra. E a faturar em cima do espectro dos conflitos do mundo contemporâneo. Oração de Brian I Discurso de Brian Dyson, ex-presidente da Coca Cola, ao deixar o cargo. "Imagine a vida como um jogo em que você esteja fazendo malabarismos com cinco bolas no ar. Estas são : Trabalho - Família - Saúde - Amigos e Vida Espiritual. Você terá de mantê-las todas no ar. Logo você vai perceber que o Trabalho é como uma bola de borracha. Se soltá-la, ela rebate e volta. Mas as outras quatro bolas - Família, Saúde, Amigos e Espírito - são frágeis como vidros. Se você soltar qualquer uma destas, ela ficará irremediavelmente quebrada, marcada, com arranhões, destroçadas, vale dizer, nunca mais será a mesma. Entenda isto : aprecie e se esforce para conseguir cuidar do valor mais valioso. Trabalhe eficientemente no horário regular do escritório e deixe o trabalho no horário. Gaste o tempo requerido à sua família e aos seus amigos. Faça exercício, coma e descanse adequadamente. E, sobretudo... Cresça na sua vida interior, na parte espiritual, a coisa mais transcendental, porque é eterna". Oração de Brian II "Shakespeare dizia : 'Sempre me sinto feliz, sabes por quê ? Porque não espero nada de ninguém. Esperar sempre dói'. Os problemas não são eternos, sempre têm solução. O único que não se resolve é a morte. A vida é curta, por isso, ame-a!". Viva intensamente e recorde : Antes de falar... Escute ! Antes de escrever... Pense ! Antes de criticar... Examine ! Antes de ferir... Sinta ! Antes de orar... Perdoe ! Antes de gastar... Ganhe ! Antes de se render... Tente de novo ! Antes de morrer... Viva !". Vagas especiais SP lidera a vanguarda em algumas frentes da cidadania. Um exemplo pode ser apontado nos espaços destinados ao estacionamento de pessoas portadoras de necessidades especiais e idosos. Mas, nos últimos tempos, observa-se relaxamento da fiscalização. Nas ruas e em estacionamentos de shopping centers, as vagas especiais estão sendo ocupadas por automóveis sem as devidas identificações, incluindo os cartões especiais emitidos pelo DETRAN. A cidadania exige respeito à legislação. Cobra-se fiscalização rigorosa dos órgãos responsáveis. Conselho a presidente Dilma Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos partidos. Hoje, sua atenção se volta à presidente Dilma Rousseff : 1. A Corte Suprema do país é o espaço sagrado que deve abrigar os mais preparados e renomados nomes do saber jurídico nacional. 2. Essa razão, por si só, justifica que os perfis designados para compor o alto colegiado devem reunir os valores morais e éticos e a bagagem de conhecimentos que conferirão credibilidade, respeito e grandeza ao STF. 3. Vossa Excelência, do alto de sua imensa responsabilidade, saberá escolher, dentre a plêiade de nomes, aqueles que reúnem as melhores condições para substituir os ministros que, compulsoriamente, deixam a Corte, ministro Cezar Peluso (que já saiu) e Ayres Britto (ao final do ano). ____________