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Porandubas Políticas

Por dentro da política.

Gaudêncio Torquato
quarta-feira, 19 de março de 2014

Porandubas nº 390

Conjunção rachativa Abro a coluna com uma historinha da BA. Grande de nome e pequeno de corpo, magricela, esperto, inteligente, José Antônio Wagner Castro Alves Araújo de Abreu, sobrinho-neto de Castro Alves, herdou o DNA, o talento e a vadiagem existencial do poeta. Não gostava de estudar. No esporte, era bom em tudo. Colega de Sebastião Nery, no primeiro ano do seminário menor, na BA, em 42, na aula de português, o padre Correia lhe perguntou o que era "mas". - É uma conjunção. - Certo, mas que conjunção ? Zé Antônio olhou para um lado, para o outro e respondeu : - Conjunção rachativa, professor. - Não existe isso, Zé Antônio. - Existe, professor. Quando a gente quer falar mal de alguém, sempre diz assim - Fulano até que é um bom sujeito, mas... E aí racha com ele. O clima ambiental Nem chuva demais, nem seca de menos. Não é o que ocorre em nossa natureza tropical. Refiro-me ao ambiente político. Não se distinguem, ainda, águas caudalosas descendo em direção ao oceano da política e nem a temperatura tórrida, sufocante, capaz de matar bode na caatinga. Não. Estamos vivenciando tempos com certa nebulosidade, com o céu povoado de nuvens plúmbeas, sem ameaça de catástrofe. O que tem muitos significados : nesse ambiente, Dilma continua como franca favorita ; Eduardo Campos, por ver enxergar a pasmaceira, bota mais ácido em seu discurso ; e Aécio Neves, por falta de grandes ideias para o país, tira do colete o nome de um vice que poderia movimentar a roda gigante da campanha. Quem ? Fernando Henrique. Ele mesmo. FHC como vice ? É possível. (Na política, tudo é possível). Basta ele querer. Pois um nome de peso, mais denso do que o de Aécio, na chapa majoritária Federal, seria um impacto. Dizem que FHC autorizou inserir seu nome nas pesquisas junto com o nome de Aécio. Procurei sondar : tucanos de bicos longos me disseram que nada é improvável. Ou seja, que depende de Fernando Henrique. Seria uma chapa tucana puro sangue. O fato é que seria algo menor para ele. Que está inteiro, correndo mundo, fazendo palestras e vivendo um novo casamento. Sua candidatura teria o mérito de agregar os tucanos paulistas e atrair grupamentos sediados na classe média. Classe média tradicional, não a classe média emergente, essa que se designa também por classe média C, localizada no pavimento inferior das classes médias (alta, média e baixa). Este consultor não aposta nessa firula. Luiz Inácio não toparia Ante essa estratégia, que se desenvolve no calor de debates internos e pesquisas encomendadas pelo PSDB, começa-se a abrir a hipótese de que a bicada tucana receberia uma estocada petista. Qual ? Luiz Inácio Lula da Silva, candidato a vice. Bom, puríssima especulação. Lula não toparia tal empreendimento. Por que ? Primeiro, porque arrebentaria a aliança com o PMDB, perda de quatro minutos de TV e corrida frenética dos exércitos peemedebistas em direção aos oposicionistas. Seria um embate histórico, única maneira de se chegar ao clímax da polarização entre os dois partidos. O Brasil seria dividido meio a meio. O ódio, a indignação, as estocadas de ambos os lados. Guerra sanguinolenta. Este consultor não põe um fio de cabelo na cabeça desta hipótese. Lula não é ela Lula acaba de dizer em São José dos Pinhais, no PR, por ocasião do lançamento da campanha da senadora Gleisi Hoffmann ao Governo : "votem em mim, votem nela. Porque ela sou eu". Luiz Inácio é conhecido por suas tiradas esquisitas. Mas querer se colocar no papel de todos os candidatos petistas, incluindo as mulheres candidatas, é, por assim dizer, uma inversão de perfis e de valores nunca vista "na história deste país". É claro que ele ainda é o maior cabo eleitoral tupiniquim, mas a auto-estima, quando chega ao topo do Himalaia, pode extrapolar e entrar, de maneira abrupta, no terreno da demência. Ocorre que Lula é assim (apertem e deslizem os indicadores das mãos um contra o outro) com Deus. José Saramago "Se tens um coração de ferro, bom proveito. O meu, fizeram-no de carne, e sangra todo dia." "Gostar é provavelmente a melhor maneira de ter, ter deve ser a pior maneira de gostar." "Não tenhamos pressa, mas não percamos tempo." "O que as vitórias têm de mal é que não são definitivas. O que as derrotas têm de bom é que também não são definitivas." Água secando urnas A falta d'água nas torneiras, nos próximos tempos, poderá ajudar a faltar votos nas urnas. De quem ? De candidatos que encarnem os Poderes. O eleitor tende a distribuir as culpas pelos governantes, principalmente o eleitorado da base da pirâmide. Racionamento de água vai fechar algumas torneiras. E deixar os eleitores indignados, abrindo as imprecações. Urnas sem luz No caso da energia, o governo Federal acionará as usinas elétricas. Nesse caso, as raivas só ocorreriam se os rombos - os bilhões para as distribuidoras - chegarem aos bolsos dos consumidores. Em forma de aumentos, de inflação, enfim, menos grana para pagar a cesta básica. Espera-se que o estouro da boiada não ocorra antes de outubro. O represamento das ondas de indignação é mais provável após a abertura das urnas. Nesse caso, Inês estará morta e vai adiantar pouco chorar. O fator Copa Este consultor já adiantou neste espaço sua visão sobre o fator Copa do Mundo no processo eleitoral de outubro. Os oposicionistas trabalham com a hipótese de que uma derrota do Brasil na Copa poderá azedar o ânimo nacional e isto ter consequências negativas sobre a candidatura de Dilma. Se o Brasil tiver boa performance, mas não ganhar a Copa, sustentam outros, os efeitos seriam tênues. E se o Brasil for o campeão mundial de futebol, Dilma estará consagrada já no primeiro turno, argumentam uns. Este consultor tende a crer que esporte e política são territórios bastante definidos. Por isso mesmo, os eleitores não tentarão imbricar um no outro. As questões de acesso aos estádios, as dificuldades de operação da Copa, os serviços de apoio, esses, sim, poderão resultar em manifestações e quebradeiras. Blocão quebrado O blocão interpartidário, criado com a finalidade de fazer pressão sobre o governo, acabou fragmentado, disperso e, se quiserem, transformou-se em quimera. Ninguém tenha dúvidas. O presidencialismo de caráter imperial que temos no Brasil é capaz de aliciar blocos, blocões, bloquinhos, boquinhas e bocarras. O rolo compressor formado por 250 deputados deu em nada. Bastou o governo afrouxar as torneiras e atender às demandas de grupos. O PMDB resiste ainda porque, conforme se viu, a "reforma ministerial" passou ao largo da bancada na Câmara Federal. As igrejas e o voto As igrejas evangélicas terão mais influência na campanha eleitoral que a igreja católica. Simples : os evangélicos são mais fechados, verticais, atendem a comandos, orientam-se de acordo com as normas emanadas de seus pastores. Os católicos são dispersos e não têm lideranças fortes, capazes de orientar o eleitorado. Resposta simplista para uma questão complexa. Mas pode ser a abertura para uma esquentada discussão. A dança das pesquisas Os partidos estão fazendo pesquisas. Mas não soltam. Não têm interesse. A próxima pesquisa eleitoral em SP deverá ser mais uma rodada do Datafolha. Há versões e contraversões. Uma delas aponta para uma quedinha do governador Alckmin. Que hoje estaria na faixa dos 30%. Mas pesquisa nesse momento abre apenas conversa. Tudo é flagrante do instante. Skaf com os dois lados Começa a ganhar força hipótese sobre a moldura eleitoral paulista. À princípio, a polarização PT versus PSDB tenderia levar Padilha e Alckmin ao segundo turno. À princípio. No meio e no final, a hipótese começa a definhar. O eleitorado está saturado de 20 anos de tucanato. O forte eleitorado de classe média - média/média e não média/baixa - expande a contundência contra o petismo. A reação ao prefeito Haddad é amostra disso. Paulo Skaf, do PMDB, insere-se nesse retrato como o perfil asséptico, vitaminado pelo empreendedorismo, sem contaminação com o vírus da velha política. Uma alternativa à polarização. Donde, pode se pinçar a hipótese : tem boas condições de entrar no segundo turno. Na segunda rodada, teria o apoio dos petistas contra Alckmin ; se o opositor for o Padilha, ganharia a preferência dos tucanos. Resumo da ópera : Skaf não é remota possibilidade, mas opção que se torna, a cada dia, mais sólida. Hecatombe na economia Dilma Rousseff continua favorita porque as bases macroeconômicas deste ano, neste momento, continuam muito parecidas com as do ano passado. A economia é a locomotiva. A política são os carros da composição. Se a locomotiva está em bom estado, o trem correrá tranquilamente pelos trilhos. Haverá percalços ? Analistas econômicos se dividem. Os não votos É bem possível que a abstenção, os votos nulos e brancos somem, este ano, cerca de 30%. Pode até ser mais que isso. A depender do clima ambiental da segunda quinzena de setembro. Muito quente, maior número de não votos. Clima agradável, menor número de não votos. Melhor escolaridade Pesquisa feita pelo economista Marcio Pochmann a pedido do Sindeepres, maior sindicato laboral representativo do setor de Terceirização (sob o comando competente de Genival Beserra), divulgada ontem, 18, mostra melhora significativa na escolaridade dos trabalhadores desse segmento : 57% dos entrevistados possuem ensino médio completo ou incompleto, 28% estudaram até o nível fundamental e 5% concluíram algum curso superior. Foram consultados 813 trabalhadores terceirizados no Estado de SP. Tendência mundial De acordo com a Organização Internacional do Trabalho (OIT), os contratos clássicos de trabalho tendem a ceder espaço a outras modalidades mais modernas e flexíveis nos países desenvolvidos, seguidos pelos emergentes. Quatro em cada 10 terceirizados entrevistados - 42% da amostragem - são funcionários de uma prestadora de serviços há menos de doze meses. Apenas 5% trabalham há mais de oito anos com o mesmo empregador, o que evidencia que a transformação do mercado de trabalho começa realmente a chegar nas bandas de cá. Guerra Fria ? Gorbachev, o cara da Perestroika, faz um alerta : cuidado, pessoal, não resgatem as condições da Guerra Fria. Tudo por conta da Crimeia e sua anexação à Rússia. O alerta do Gorba é dirigido a Putin e a Obama. Será que, em plenos meados da segunda década do século XXI, o planeta ainda pensa em guerra entre as potências ? Eduardo e Collor ? Esta é uma incógnita. Lula teria atirado pesado em Eduardo Campos em recente almoço com empresários. Chega a versão de que dissera : "A minha grande preocupação é repetir o que aconteceu em 1989 : que venha um desconhecido, que se apresente muito bem, jovem. e nós vimos o que deu". Imediatamente, veio a ideia de que a comparação era com Collor. Este consultor está pasmo. Os dois pernambucanos, mesmo separados, fizeram juras de eterna amizade. Conselho aos candidatos a deputado Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes, membros dos Poderes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos assessores de candidatos e marqueteiros. 1. O clima eleitoral deste ano favorece candidatos a deputados que mais se identifiquem com os problemas e demandas de regiões. Daí a importância de mapear as situações regionais. 2. O eleitor procura perfis mais próximos ao seu cotidiano, aqueles que conhecem as localidades e lá apareçam de maneira continuada. Recriminam os chamados deputados "Copa do Mundo", aqueles que só visitam a região de quatro em quatro anos. 3. Essa tendência aponta para a regionalização do voto, em outros termos, no voto mais distritalizado. Atentem para a tendência, senhores candidatos.
quarta-feira, 12 de março de 2014

Porandubas nº 389

Pelo correio, não ! Abro a coluna com uma historinha do alto sertão da PB. A campanha de 1994 mobilizava todos os políticos. Contra o PMDB velho de guerra, Lúcia Braga, pelo PDT, para governadora. Naquele final de semana, as principais lideranças do partido estavam em Cajazeiras : Antonio Mariz (que ganhou a campanha), José Maranhão, Humberto Lucena e Ronaldo Cunha Lima se movimentavam para definir a eleição a partir no Sertão. Estavam todos na casa de um velho líder político em Cajazeiras, quando chegou um antigo correligionário de Humberto, que lhe fez um relato dramático. Dizia que sua esposa se encontrava operada no Hospital Edson Ramalho, em João Pessoa, e ele não tinha sequer o dinheiro da passagem. Humberto, sensibilizado com a situação, decidiu ajudar. Tirou do bolso uma nota de um R$ 1 e deu ao rapaz. Quando viu o dinheiro, o rapaz balbuciou : - Senador, eu quero ir pelo menos de ônibus. Pelo correio, não ! A campanha começou A foto da presidente Dilma com Lula, dando-se as mãos em torno de uma mesa no Palácio da Alvorada, inaugura oficialmente a campanha. Que, segundo o calendário eleitoral, deve ir às ruas apenas em 6/7. Mas, como sabemos, no Brasil, tudo pode ser feito, inclusive o que é proibido. Na foto, o time que vai comandar o pleito, tendo a frente o marqueteiro João Santana e o jornalista Franklin Martins, este designado comandante da comunicação nas redes sociais. O ministro Mercadante, propositalmente, foi escondido pelo fotógrafo. Ficaria feio o chefe da Casa Civil fazendo reunião de campanha. O menestrel Lula será o menestrel da campanha. Dará o tom geral. Correrá o país em trajetória própria. Quer duplicar a caravana, Dilma, de um lado, ele, de outro. Meta : fazer o maior número de governadores, 130 deputados Federais, e, ainda, a maior bancada de deputados estaduais. Com esse arsenal, o PT fará uma campanha para arrebentar a boca do balão em 2016 : o maior número de prefeitos e vereadores. À vista, o projeto de eleição de Lula, em 2018, com reeleição em 2022. O projeto do PT é grandioso : até 2030. Grana, dizem, existe. E muita. Daí o interesse em sufocar o PMDB. O PT quer que os partidos sejam todos médios. Só ele, gigantesco. A ele, o filé. Aos outros, o osso. Barão de Itararé I "O uísque é uma cachaça metida a besta". "O que se leva desta vida é a vida que a gente leva". "A criança diz o que faz, o velho diz o que fez e o idiota o que vai fazer". "Os homens nascem iguais, mas no dia seguinte já são diferentes". "Dize-me com quem andas e eu te direi se vou contigo". Campos azeda a língua Eduardo Campos azedou a língua. Jamais havia se referido de maneira negativa à presidente Dilma. Agora, proclama : o país não aguenta quatro anos mais de Dilma. Ou seja, definiu o território. O leão, ele, a leoa, ela, estão com os espaços definidos. Lula, que é amigo de Eduardo Campos, deve se achar liberado para mandar brasa no verbo. Vamos esperar o que pode ocorrer. Os bilhões - uns 50 - injetados em PE, para alavancagem do Estado, vieram lá de cima. Lula e Dilma deverão dizer isso quando percorrerem as pernambucanas terras. PMDB x PT Se o PT tem 19 ministérios, quantos ministérios deveria ter o PMDB ? Pelos cálculos de analistas políticos, entre 12 e 15. Afinal, o partido tem a maior bancada de senadores, a maior bancada de deputados estaduais, as maiores bancadas de prefeitos e de vereadores. Só perde para a maior bancada de deputados Federais, que é do PT. Petistas podem dizer : mas o governo é do PT. E o que é o tal presidencialismo de coalizão ? Brincadeira ? Ficção ? Rótulo para inglês zombar dele ? Ou será que o projeto hegemônico do PT despreza esse tal presidencialismo de coalizão ? A Geni da República O fato é que o PMDB, que age como uma confederação de partidos regionais, ganhou fama de fisiológico. Qualquer coisa que fizer acaba levando a pecha de partido que quer abocanhar fatias do poder. Veja-se a crise do momento. A questão é menos de espaço na Esplanada dos Ministérios e mais na frente das parcerias regionais. O PT só pensa em eleger o maior número de governadores. Não quer abrir espaços ao PMDB. Ora, os deputados, ante a percepção de que serão sufocados, agem em defesa de sua sobrevivência. Só em dois ou três Estados, o PT tende a apoiar candidatos do PMDB. E João Santana, de olho nas pesquisas, cochicha no ouvido da presidente : não dê trégua ao PMDB, mande brasa, o povão gosta disso, faça a faxina ética. Puro jogo de cena. Ou seja, o partido virou a Geni da República. Barão de Itararé II "A forca é o mais desagradável dos instrumentos de corda". "Sábio é o homem que chega a ter consciência da sua ignorância". "Não é triste mudar de ideias, triste é não ter ideias para mudar". "Mantenha a cabeça fria, se quiser ideias frescas". "O tambor faz muito barulho, mas é vazio por dentro". Lata d'água na cabeça A imagem da lata d'água na cabeça é bem nordestina. E ecoa os cantos da seca. Pois bem, a falta de água em SP poderá bater na cabeça de Geraldo Alckmin. Que teria deixado de investir em reservatórios. Que não priorizou o abastecimento de água. E que carece da boa vontade de São Pedro para que o sistema Cantareira possa sair dos seus atuais 15,8% de reservas para uns 25% a 30%. A massa tende a jogar no colo dos governantes parcelas de suas agruras e aflições. Luz para ver a novela Se faltar luz para que as galeras possam ver as novelas de sua predileção, nos horários nobres, é possível que o choque das tomadas chegue aos braços de dona Dilma Rousseff. Apagão dá rima em televisão. Temos, ainda, uma Copa do Mundo. Deus nos livre de falta de luz em estádios, em casos de jogos noturnos. Mas isso é especulação. Façamos uma oração a São Francisco. Com a ajuda do papa Francisco. Mesmo que ele venha a torcer por sua querida Argentina. Poder público na berlinda Todos conhecem a historinha : há quatro tipos de sociedade no mundo. A primeira é a inglesa, libertária, onde tudo é permitido, salvo o que for proibido ; a segunda é a alemã, autoritária, onde tudo é proibido, salvo o que for permitido ; a terceira é a fascista/nazista, ditatorial, onde tudo é proibido, mesmo o que for permitido ; e a quarta é a brasileira, onde tudo é permitido, mesmo o que for proibido. Ora, o próprio Poder Público é quem abre o terreno das proibições e das coisas erráticas. Veja este caso : há semanas, viu-se uma mancha no mar de Búzios, com ocorrência de intoxicação de pessoas. A balbúrdia se instalou. Sem laudos técnicos, sem comprovação, o poder público trombeteou : foram os transatlânticos que jogaram seu lixo no mar. E haja verbos duros contra os navios. TVs, jornais e revistas foram inundados de matérias sensacionalistas. A imagem suja É assim que a imagem de um setor entra, de repente, no buraco sujo. Pouco adianta dizer que os descartes de lixos de navios com a mais alta tecnologia e segurança são feitos em terra ; pouco adianta dizer que os produtos encontrados nas águas de Búzios não são usados pelos transatlânticos ; pouco adianta insistir : apurem o caso com responsabilidade. Autoridades municipais e estaduais abrem uma locução popularesca. Afinal de contas, estamos em ano eleitoral e políticos precisam de "bodes expiatórios". Na ausência de um, mandam balas nos navios. Até o momento, os laudos ainda não conclusivos mostram que a contaminação não foi provocada por lixo de navios de cruzeiros. Mas, quem vai limpar a tinta suja jogada sobre eles ? Por falta de argumento sólido, as autoridades ficam na moita. Escondem-se. Deram um fora e procuram, agora, o esconderijo do silêncio. Esse é o Brasil, onde até o Poder Público é iconoclasta, destruidor de imagens. Brasil dos velhos vícios. Brasil da demagogia ! Barão de Itararé III "Genro é um homem casado com uma mulher, cuja mãe se mete em tudo". "Neurastenia é doença de gente rica. Pobre neurastênico é malcriado". "De onde menos se espera, daí é que não sai nada". "Quem dá aos pobres ou empresta, adeus". "Pobre, quando mete a mão no bolso, só tira os cinco dedos". Biondi e Duda Nelson Biondi vai cuidar do marketing televisivo de Geraldo Alckmin. Um profissional sério e experiente. Não é dado a espetacularização. Por isso, não se espere uma campanha agressiva. Duda Mendonça vai cuidar da campanha televisiva de Paulo Skaf. Trata-se de um ás do marketing político. Muito criativo. Ambos, Biondi e Duda, foram companheiros em célebres campanhas em SP, como a de Paulo Maluf. Uma boa dupla em campos opostos. Eunício e Tasso Não está fechada a hipótese de parceria entre PSDB, de Tasso Jereissatti, e PMDB, de Eunício Oliveira, no CE. Tasso poderá voltar ao Senado e Eunício deixar o Senado para ser governador. PSB/Rede Este consultor não tem dúvida : qual seja o resultado do pleito de outubro, quem ganhará de qualquer jeito é o PSB/Rede de Eduardo Campos e Marina. Perdendo, ele eleva seu nome no ranking da política nacional, abrindo caminhos para a luta de 2018. Já será conhecido. E Marina, com sua Rede consolidada, poderá, amanhã, firmar posição, sozinha ou ainda acompanhada de Campos. Barão de Itararé IV "O banco é uma instituição que empresta dinheiro à gente, se a gente apresentar provas suficientes de que não precisa de dinheiro". "Tudo seria fácil, se não fossem as dificuldades". "A televisão é a maior maravilha da ciência a serviço da imbecilidade humana". "Este mundo é redondo, mas está ficando muito chato". "Precisa-se de uma boa datilógrafa. Se for boa mesmo, não precisa ser datilógrafa". "O fígado faz muito mal à bebida". Conselho aos assessores e marqueteiros Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes, membros dos Poderes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos pré-candidatos. Hoje, dedica sua atenção aos assessores e marqueteiros. 1. Ocorre significativa mudança na feição social. As ruas estão movimentadas e as mobilizações se multiplicam na esteira da organicidade social mais intensa. Significa desejo de participação mais ativa de grupos e contingentes no processo político. 2. Mudanças nos sistemas de cognição/percepção dos eleitores sinalizam maior preocupação e atenção para os conteúdos e propostas. Promessas mirabolantes e firulas visuais de efeito pictórico não terão, nesta campanha, tanto impacto como os fura-filas do passado. Há de se ter cuidado com mirabolâncias. 3. Os eleitores querem sentir o candidato, apurar sua verdade, olho no olho, e avaliar se suas propostas são críveis e factíveis. Esse será um dos diferenciais nos pacotes mercadológicos desse ano.
quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

Porandubas nº 388

Abro a coluna com uma historinha dos "Albuquerque" das terras pernambucanas e paraibanas. "Xecape" Despachado, bom de lábia, ar brejeiro, dono de fazendas, Carlucho Albuquerque aproveitou a viagem ao Recife para matar saudades. Afinal, poderia assistir ao desfile de maracatus e visitar o velho museu para apreciar a decoreba que os meninos de Olinda fazem sobre a saga de sua família, os Albuquerque, aberta por Matias de Albuquerque, 1595/1647. Depois do lazer, Carlucho foi ao médico fazer um exame geral. O médico pergunta : - Sr. Carlucho, o senhor está em muito boa forma para 40 anos. - E eu disse ter 40 anos ? - Quantos anos o senhor tem ? - Fiz 58 em maio que passou. - Puxa ! E quantos anos tinha seu pai quando morreu ? - E eu disse que meu pai morreu ? - Oh, desculpe ! Quantos anos tem seu pai ? - O véio tem 82. - 82 ? Que bom ! E quantos anos tinha seu avô quando morreu ? - E eu disse que ele morreu ? - Sinto muito. E quantos anos ele tem ? - 103, e anda de bicicleta até hoje. - Fico feliz em saber. E seu bisavô ? Morreu de quê ? - E eu disse que ele tinha morrido ? Ele está com 124 e vai casar na semana que vem. - Agora já é demais ! Por que um homem de 124 anos iria querer casar ? - E eu disse que ele queria se casar ? Queria nada, mas ele engravidou a moça, coitada. Carlucho se orgulha da tradição dos Albuquerque de PE. Volta, Lula O movimento Volta, Lula cresceu nas últimas semanas. Razão : cresce a insatisfação com a maneira de ser/governar da presidente Dilma. A indignação abriga partidos da base aliada, empresários e parcelas do próprio PT. Dos partidos da base aliada, o PMDB é o mais evidente. O partido é o mais capilar do país, o que tem maior número de prefeitos, vereadores, deputados estaduais e senadores. Quer uma participação à altura de seu porte no governo. Tem cinco ministérios, alguns sem ministros com poder da caneta. Empresários também se queixam da intensa interferência da presidente no mercado. Torcem o nariz para ela e abrem o sorriso para Eduardo Campos. A terceira banda da revolta abriga petistas, particularmente, partidários da ala Construindo um Novo Brasil, CNB, a do Lula. Consideram-se alijados do governo. Fica, Lula Mas o ex-presidente Luiz Inácio não dá trato às conversas do Volta, Lula. Mantém-se irredutível. Só admite ser estepe do pneu do carro em movimento, caso este saia da estrada por capotagem. Leia-se : hecatombe na economia. Entrar no lugar de Dilma seria admitir que ela fracassou. Lula fará, isso sim, uma campanha em paralelo como forma de animar as bases petistas e preparar, ele mesmo, a avenida para seu desfile em 2018. Por isso, dá trela ao clamor : Fica, Lula. As caravanas Lula respira política pelos poros. Está certíssimo quando sugere aos petistas esforço para que resgatem, nos Estados, a ideia das "caravanas da Cidadania". O momento é das ruas. Não é de gabinete. O marketing nunca foi tão propício para abrigar as estratégias de articulação e mobilização quanto nessa quadra de efervescência social. Cuidado, pré-candidatos, campanha não é apenas TV. Atenção na cidade inteira "Volte sua atenção para a cidade inteira, todas as associações, todos os distritos e bairros. Se você atrair à sua amizade seus líderes, facilmente vai ter nas mãos, graças a eles, a multidão restante." (Cícero - Manual do candidato às eleições, 34 A.C.) Mercadante sem mercadar Devemos entender, aqui, o verbo mercadar como neologismo para significar articular, negociar, ajustar, etc. Pois bem, a ideia da presidente, ao que se comenta, era escolher um perfil mais denso para melhorar a relação com o Congresso (senadores e deputados). Mas o fato é que, desde a posse de Aloizio Mercadante, a situação ficou mais azeda. Traumática. Dizem que ele é mais duro do que a ex-chefe da Casa Civil, a senadora Gleisi Hoffmann. Não houve tempo (ou houve ?) para Mercadante mostrar serviço, dizem uns. A conferir : até quando o caldeirão ferverá ? Ano curto : 70 dias úteis Os cálculos são estes : 50 dias úteis nesse 1º semestre de ano político-congressual ; 20 dias úteis no 2º semestre. Portanto, não haverá condição de votar matérias importantes, principalmente, as de caráter polêmico. Mas o presidente da Câmara, Henrique Alves, quer votar duas propostas quentes : o marco civil da Internet e o Código de Mineração. Rolecopa Sim, os rolês deverão continuar por ocasião da Copa do Mundo. Quem garante são os rolezeiros da banda Black Blocs. Que ameaça depredar ônibus que transportarão jogadores estrangeiros aos estádios de futebol. Essa turma quer posar de herói na marra. Quer ver fotos estampadas nos jornais. Quer ver as rachaduras do vandalismo. Haja catarse. A burrice campeia. Como gritava Ortega Y Gasset : é a preamar do niilismo. Classe média segura Alckmin ? Geraldo Alckmin, em SP, é o perfil votado em algumas eleições pelas classes médias de SP. Em ciclos de polarização com o PT. A dúvida se instala : os contingentes médios continuarão a acompanhar Alckmin ? Tudo vai depender do clima de agosto/setembro. É possível que a briga com o lulismo/petismo se acirre; é possível que amaine. O perfil que pode entrar no meio da arenga é de Paulo Skaf. A conferir. E as chances de Kassab ? Gilberto Kassab é exímio articulador político. Não é um perfil de massas, capaz de fazer grandes mobilizações. Tem 5% de intenção de voto, hoje. Poderá chegar aos 10%. Teria condições mais vantajosas caso fizesse uma aliança entre PSD e PMDB, saindo ele como candidato ao Senado na chapa de Skaf. E Meirelles ? Kassab quer o ex-presidente do BC como candidato a senador em sua chapa. Trata-se de uma alternativa com menor chance de vitória. A conferir. Macroeconomia de 2014 Até o momento, os dados, mesmo ínfimos, não conseguem mostrar um cenário ameaçador para a presidente Dilma. Mantidas as condições de 2013 para 2014, Dilma continua sendo franco favorita : 1,5% a 1,7% de crescimento; inflação, entre 5,5% a 6%. Emprego : estabilidade. O trio de amigos Disparam perguntas a este consultor : e o trio de amigos do Brasil não terá influência sobre o processo eleitoral ? Mais exatamente : Nicolas caindo de Maduro, Argentina desabando de Cristina Kirchner e o Porto de Mariel navegando no dinheiro brasileiro não influenciarão negativamente a campanha do PT ? Respondo : não. Apenas reforça o voto de eleitores antipetistas, que terão mais motivos para indignação. As bases estão distantes dessa esfera conceitual. Quer a equação BO+BA+CO+CA (Bolso cheio, Barriga satisfeita, Coração Agradecido, Cabeça capaz de agradecer com o voto). E querem ver outra equação, como veremos embaixo. Serviços de qualidade A classe média emergente - essa que ingressa no meio da pirâmide, mas não atingiu ainda o patamar da classe média tradicional - quer mais serviços de qualidade. Sua equação, agora, é a da cabeça, mais que a do bolso. Transporte bom e barato, estabelecimentos hospitalares com acesso e capazes de fazer um bom atendimento, segurança das comunidades. Bolsas que possam gerar algo mais que a satisfação da barriga. Haddad vai subir ? Difícil subir em pouco tempo. O prefeito de SP cometeu alguns deslizes, como a tentativa de impor um IPTU nas alturas. As faixas restritas aos ônibus podem ter melhorado o ânimo dos usuários, mas o trânsito de SP ficou caótico. A classe média tradicional não fala bem do prefeito. E vai levar para as urnas um pontinho a mais contra Alexandre Padilha. 30% históricos O PT teve, desde 2000, 30% históricos de votos em SP. Daí a pergunta : Padilha atingirá o patamar clássico do PT ? Desta feita, há forte tendência do petismo não chegar aos 30%. Hoje, a sinalização é a de que chegue entre 20% a 25%. Nesse caso, ameaça não entrar no 2º turno. Tudo, claro, vai depender da Dona Economia. Responsável pelo bom humor ou indignação da Senhora População. Dilma com menos Dilma conquistou vitórias retumbantes nos Estados do AM, CE, PE, BA e RS. Hoje, esses Estados estão bem divididos. Ela teria perdido uns 30% dos votos destas regiões. Claro, deve ser recompensada em outros Estados. Essa observação reforça a tese de uma campanha adentrando o segundo turno. Hoje, essa hipótese é de 70 na régua de 100 metros. Entusiasmo Não vejo entusiasmo de grupos com a política. Sinto : distanciamento, crítica, denúncias, frieza no trato da política. Mas vejo "cabeças de ponte" alisando partidos, adulando, bajulando, elogiando certos partidos e perfis pessoais. Pelas redes. Nunca a internet foi tão usada e "abusada" para servir de esteira de candidaturas e pessoas. Coeficiente eleitoral em SP Vejamos qual o coeficiente eleitoral para deputado Federal em SP. Número de eleitores : 32 milhões. Imaginemos uma abstenção de 20%, um pouco mais que nas eleições de 2010; imaginemos votos nulos e brancos somando uns 10%. Não votos : 30%. Teremos, então, 22.400.000 votos válidos. Há 70 vagas de deputado Federal. Os votos válidos divididos por 70 equivalem a 320.000. Esse é o coeficiente eleitoral. Bastante alto. E o coeficiente partidário ? Digamos que um partido tenha obtido dois milhões de votos válidos (nominais a seus candidatos e em legenda). Dividindo esses dois milhões pelo coeficiente eleitoral, veremos que esse partido terá direito a seis vagas. Há, ainda, um calculo de sobras. Outro calculo noutra ocasião. Tirem suas conclusões, candidatos. Se seu partido tiver poucos votos, suas chances serão mínimas. Daí o interesse de alguns partidos em fazer coligações. PSDB e PT PSDB e PT esperam obter, cada um, entre oito a dez milhões de votos, alcançando, assim, entre 25 a 31 deputados Federais. No mínimo. Supressão das provas A 6ª turma do STJ anulou provas produzidas em interceptações telefônicas e telemáticas (e-mails) realizadas na operação Negócio da China, deflagrada em 2008. Como se recorda, a operação foi deflagrada para investigar suspeitas de contrabando, sonegação de impostos e lavagem de dinheiro pelo grupo Casa & Vídeo. Os ministros consideraram que a conservação das provas é obrigação do Estado e sua perda impede o exercício da ampla defesa. Concederam o habeas corpus para anular as provas produzidas nas interceptações telemáticas e telefônicas. Determinaram ao juízo de 1º grau que as retirasse integralmente do processo e que examinasse a existência de prova ilícita por derivação. Tudo deverá ser excluído da ação penal em trâmite. A defesa alegou nulidade das provas ante a inviolabilidade do sigilo das comunicações telegráficas e de dados, prevista no artigo 5º, XII, da Constituição Federal. O criminalista Fernando Fernandes foi o advogado. Sustentou a falta de acesso dos investigados às provas, devido ao desaparecimento do material obtido por meio da interceptação telemática e de parte dos áudios telefônicos interceptados. Conselho aos pré-candidatos Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes, membros dos Poderes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos integrantes do aparato policial. Hoje, volta sua atenção aos pré-candidatos : 1. Chegou a hora de formar suas estruturas de trabalho na campanha e a organizar o discurso. Nesse sentido, urge apurar o sentimento das ruas, as ondas que rolam na sociedade, a tipologia de demandas comunitárias; 2. Campanha eleitoral não é apenas TV. A campanha deste ano requer atenção especial às estratégias de articulação e mobilização, em consonância com o espírito das ruas; 3. Atentem para as equipes de conteúdo, dando a elas a importância devida nas estruturas de campanhas. O eleitor quer ouvir propostas sérias, críveis e viáveis. E arquivem as promessas mirabolantes.
quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

Porandubas nº 387

Plural garante emprego Abro a coluna com Arandu, em SP, cuja história começa com um pequeno povoado, no bairro do Barreiro, no município de Avaré. Em 1898, um pedaço de uma fazenda leiteira da região foi doado para a construção de uma capela. Elevado a distrito de Avaré/SP, em 1944, recebeu na ocasião a atual denominação. Em 1964, conquistou a emancipação política. No primeiro comício, os candidatos a prefeito exibiam seus verbos. Dentre eles, o matuto José Ferezin. Subiu ao palanque e mandou brasa : "Povo de Arandu, vô botá água encanada, asfaltá as rua, iluminá as praça, dá mantimento nas escola...". Ao lado, um assessor cochichou : "Zé, emprega o plural". O candidato emendou : "Vô dá emprego pro prural, pro pai do prural e pra mãe do prural, pois no meu governo não terá desemprego". (Historinha enviada por Marcio Assis) PT abre a campanha A campanha eleitoral começou. Sabe-se que o prazo legal para candidatos irem às ruas é 6 de julho. Mas poucos observam isso. O candidato do PT, Alexandre Padilha, foi entronizado por Lula em comício no interior. Até ônibus especial, que se transformará na casa ambulante de Padilha, foi devidamente preparado. A campanha do PT será muito organizada. Terá comitês de conteúdo, batalhão de comunicadores e repassadores de informações, analistas de pesquisas, coordenadores regionais, tesoureiro, agências e consultores variados. Será a campanha mais densa da história do PT em SP. Mote : ou vai ou racha. O chefe da comunicação é o jornalista Eduardo Oinegue. A caravana O candidato Padilha agora é funcionário do PT, com salário de R$ 10 mil mensais. Vai fazer uma batelada de viagens pelo Estado em um ônibus especial. As caravanas lembrarão o roteiro de Lula. O ônibus, que não deve fazer nenhuma referência direta às eleições por conta de legislação, adquirido por leasing, foi adaptado para abrigar cerca de 12 pessoas. O veículo será uma espécie de escritório volante, com uma mesa de reuniões. Articulação e mobilização O PT estabeleceu uma agenda com atividades fechadas, sem atos na rua, ora com os militantes, ora com setores da sociedade, como universidades, empresários e lideranças religiosas. A preocupação é colher elementos para o programa de governo, garante Emídio de Souza, o esforçado e competente presidente do partido em SP. PSDB verticaliza O PSDB decidiu impor ordem na casa. Quer imitar o PT e vai verticalizar os comandos. Intenção é : ajustar, padronizar, normatizar as linguagens. Como o PSDB é um partido de caciques, há muita particularidade, muitos feudos. A ordem é compor uma unidade. Com um discurso homogêneo, que possa ser capilarizado. De cima para baixo. Andrea Neves, a irmã de Aécio, vai dar um empurrão nessa meta de verticalização do marketing. Temperatura ambiente A temperatura subiu neste verão. Mais que em outros verões. No Rio, chegou aos 42º C. Em SP, 38º C. Sensação térmica em alguns lugares beirando os 50º C. Mas a temperatura ambiental está mais alta. Refiro-me ao clima que se respira nas ruas : insegurança, medo, assaltos, black blocs, assassinato de cinegrafista, greve de ônibus, greve de policiais Federais, movimentos em série, vandalismo, repressão policial, descrença nos políticos, inflação se expandindo nas gôndolas de supermercados e feiras-livres, falta de energia, apagões, falta d'água, etc. Até parece que um cordão embebido de gasolina corre em direção ao arsenal de pólvora. Exagero ? Pode ser. Mas a imagem, confesso, bateu na mente. Enxergo um estado geral de beligerância. O arsenal da guerra eleitoral A campanha eleitoral deste ano, para ser eficiente e eficaz (entenda-se, nos meios e resultados) deve usar de maneira harmoniosa as ferramentas e suportes de guerra. Vamos lá : a infantaria pode ser entendida como os batalhões especializados em ações táticas em terreno hostil, no caso, os cabos eleitorais correndo para tirar votos dos adversários para os seus candidatos; são esses que olham diretamente para o eleitor de fim de linha. A cavalaria, hoje formada por carros de combate, pode ser entendida como os eventos nas cidades, com algum barulho para animar as massas eleitorais. A artilharia, composta por mísseis balísticos de longo, médio e curto alcance, é formada pelos canhões do rádio e TV nos programas eleitorais. Neste caso, a artilharia agrega também as comunicações. A engenharia agrega o planejamento da campanha, com foco na formação das propostas. O candidato é um composto de materiais bélicos, e deve se fazer presente em todas as frentes. De vanguarda e retaguarda. Pedindo votos e ouvindo conselheiros. PMDB e a corda Esta semana, mais uma rodada de conversações deve ocorrer entre a cúpula do PMDB e a presidente Dilma ou interlocutores. O governo estica a corda. E o PMDB a estica. A queda de braço deverá gerar pequena ruptura, não a ponto de inviabilizar a parceria entre peemedebistas e petistas. Quebrar a força Uma certeza vai se adensando nas entranhas da política. Projeto do PT é estiolar a força do PMDB, fazer secar suas fontes de poder. Para isso, o PT quer fazer as maiores bancadas de deputados (Federal e estadual), o maior número de governadores e de prefeitos. Nos últimos tempos, tem dado sinais de seu projeto. Fontes secam Os reservatórios exibem índices alarmantes. Há pouca água para atender a demanda nacional. A situação do Sudeste é precária. O governo garante que não faltará energia. E que as térmicas estão esperando acionamento. Claro, o custo vai subir. O governo aguentará o rombo ? Haverá racionamento ? Já imaginaram o clima eleitoral com falta de água e de luz ? A volta de Lula Por enquanto, são apenas versões. Mas o clima social, tenso e tendente a ficar mais quente, abre muita especulação. Fala-se bastante em Lula como estepe. Se a crise se intensificar, diz-se, Lula entraria tranquilamente no lugar de Dilma. Até porque estará fazendo campanha em paralelo. Quer se fazer do escudo de Dilma. Querem fazê-lo candidato no lugar da pupila. Este consultor registra a hipótese, mas não acredita que seja viável em 2014. Agenda agitada Agenda das Casas Congressuais tende a ser agitada. Na pauta, o marco civil da internet, o Código de Mineração (regras para exploração das riquezas nacionais), a reforma dos presídios, a reforma do Código Civil e até a reforma política. Este consultor acredita que não haverá ânimo para grandes debates. Os parlamentares estarão com a cabeça voltada para as bases eleitorais. Pergunta indiscreta ?  Por que o PT e a CUT não se engajam na luta para corrigir o FGTS pela inflação? A correção foi alterada em 1999, no governo do PSDB, em prejuízo dos trabalhadores. Em mais de uma década de poder, o PT nunca quis tratar desse assunto. Contas da esplanada Ilimar Franco, o bem informado colunista de O Globo, fez as contas das correntes petistas no Ministério. A tendência Um Novo Brasil, do PT, com 45 deputados e 12 senadores, tem 10 ministérios. (Mas tem a bancada inferior a do PMDB, que tem apenas cinco ministérios). A corrente Mensagem, do PT, com 12 deputados, tem um ministério, bancada inferior à do PTB, que não tem nenhuma pasta. A Democracia Socialista, do PT, com oito deputados e um senador, tem um ministério.(O PROS, que tem mais cadeiras no Congresso, nada possui). E o Movimento PT, com oito deputados, tem uma pasta. (PP, PR, PDT e PC do B têm mais parlamentares que aquela tendência para ganhar sua cota). A liturgia destoante I O vice-presidente da Câmara dos Deputados, André Vargas, elevou o punho fechado, forma de "cumprimentar os companheiros", por ocasião da abertura do ano legislativo. Ao seu lado, o ministro JB, presidente do STF, que comandou a AP 470, o mais longo da história da Corte e que condenou importantes quadros do PT, hoje presos no presídio da Papuda, em Brasília. O gesto não combinou com a liturgia, ainda mais pelo fato de Vargas portar o segundo cargo mais importante da Casa do Povo. Foi um ato escasso de polidez. A liturgia destoante II Do alto de seus domínios, o ministro Edison Lobão garantiu que o risco de faltar energia este ano é zero. Valia-se de dados que mostram uma sobra de energia de 1.773 MW, "valor que deve dobrar esse ano". No mesmo dia, leu-se que o déficit de energia passará este ano de 20% nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste. No dia seguinte, um apagão deixou sem energia seis milhões de pessoas nessas regiões, incidente que, segundo o governo, não teve vinculação com a sobrecarga do sistema nem com os baixos níveis de reservatório. Garantias e realidade são dissonantes. A situação das represas do Sudeste é a pior desde 1953, com 39,98% de sua capacidade, alerta o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS). A liturgia destoante III Cheguemos, agora, à Petrobras. No ano passado, registrou a maior perda de valor de mercado, em termos nominais, passando de US$ 124,7 bilhões no fim de 2012 para US$ 90,6 bilhões semana passada, em um recuo de US$ 34,1 bilhões. Portanto, o momento não é de comemorar, brindar o sucesso. O clima é de velório. E o que se vê ? Pesada campanha na TV, em comemoração aos 60 anos da empresa. A Petrobras fez aniversário em 3 de outubro do ano passado, quando a fornada publicitária foi lançada. Há motivo, quatro meses depois, para se fazer loas à ex-primeira empresa brasileira, cujas ações derretem na Bolsa de Valores ? Mais uma dissonância. A liturgia destoante IV A liturgia dos Poderes recomenda respeito e obediência aos ritos, normas, gestos e ações inerentes às funções que exercem. O Poder Judiciário deve ser exemplo de recato. Bacon, por volta de 1620, já pregava que os "juízes devem ser mais instruídos que sutis, mais reverendos que aclamados, mais circunspectos que audaciosos". Bela lição sobre as virtudes da magistratura. Por isso, é estranho ver altos magistrados deixando a toga de lado para usar verbos de tom político. O ministro Gilmar Mendes, um dos mais preparados da Suprema Corte, sugeriu investigação sobre as doações feitas aos apenados na AP 470, por meio de campanhas por eles acionadas nas redes sociais, nas quais vê indícios de lavagem de dinheiro. É verdade que as altas arrecadações surpreendem, principalmente quando se tem em conta o esforço de candidatos, como a presidente Dilma, que alcançaram resultados pífios quando tentaram angariar recursos pela internet. Mesmo assim, o sucesso da operação não justifica que um alto magistrado abra a boca para criar polêmica. Conselho às polícias Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes, membros dos Poderes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos investidores. Hoje, dedica sua atenção aos integrantes do aparato policial. 1. O ambiente está tenso e turvo. O país está vivendo uma intensa crise de autoridade, que tem como pano de fundo a descrença na política e nos governantes e a precariedade dos serviços públicos. Por isso, os grupamentos policiais precisam compreender a natureza das manifestações e planejar suas ações, sobretudo no campo da prevenção e da inteligência.2. Urge ter bastante cuidado para evitar a repressão que deflagre o conceito de violência gerando violência. Urge reprimir ondas de vandalismo do império da desordem. 3. O Brasil se prepara para abrigar o maior evento esportivo mundial. 100 mil homens das forças Federais e estaduais estarão envolvidos nos sistemas de segurança para a Copa. Urge muito preparo, muita cautela, muito bom senso. A segurança pública será um teste decisivo para consolidar a imagem do Brasil.
quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

Porandubas nº 386

Zeca de Campina Grande Abro a coluna com Zeca Boca de Bacia, personagem folclórico de Campina Grande/PB. Amigo de políticos, prestava assessoria informal a Ronaldo Cunha Lima (falecido, ex-governador) e a seu filho Cássio, senador. Zeca abria as risadas. Em uma de suas internações na clínica Santa Clara, em Campina Grande, a enfermeira foi logo perguntando : - Zeca, qual o seu plano (de saúde) ? E ele : - Ficar bom ! Outra vez, Zeca pegou um táxi em Brasília para ir à casa de Ronaldo Cunha Lima. Em frente à casa do poeta, o taxista cobrou R$ 15. Zeca só tinha R$ 10. Sem acordo, disparou : - Então, amigo, dê cinco reais de ré ! Em João Pessoa, num restaurante chique, Zeca pediu um bode assado. O garçom retrucou : - Desculpe-me, senhor, aqui só servimos frutos do mar. Zeca emendou sem dar tempo : - Então me traz uma água de coco. Outro dia, um taxista cobrou R$ 20 pela corrida. Zeca, liso, só tinha R$ 10. E pagou. - Cadê o resto ? - pergunta o taxista. Zeca não hesita : - E eu vim sozinho ? Vamos rachar ! A onça quer beber água A hora chegou e a onça está com muita sede. Início de fevereiro, início do ano Judiciário e Legislativo. As coisas começam a funcionar em Brasília. Mas e a água da onça ? Onde estão as fontes, é o que indagam os partidos. Claro, as águas estão nos Ministérios. A presidente Dilma, após as nomeações iniciais - Mercadante, Paim, Chioro e Traumann - concluirá nas próximas horas as consultas e deverá anunciar os nomes. Espera-se que, nas próximas semanas, tudo esteja concluído. Vamos, agora, às fontes. Pistas para as fontes Benito Gama, o atual presidente do PTB, poderá beber na fonte do Turismo, se o PMDB aceitar a troca dessa Pasta pelo Ministério da Ciência e Tecnologia. Benito tem larga experiência parlamentar, um perfil de renome no compartimento da economia, um baiano que conhece bem a realidade brasileira - e a do turismo, especialmente - sendo, assim, um perfil adequado ao setor. O PMDB pode, em troca, ficar com Ciência e Tecnologia, ministério bastante prestigiado. E também ficaria com a Secretaria dos Portos, para a qual é consensual no partido o nome do eficiente e preparado senador Vital do Rego Filho, paraibano filho do grande parlamentar e tribuno, Vital do Rego, de quem herdou o nome e a identidade política. Além disso, a pasta da Agricultura permaneceria com o PMDB. O atual titular, Antônio Andrade (MG), deve sair para se recandidatar à Câmara Federal. Deverão sair, ainda, Gastão Vieira (Turismo), Pepe Vargas (Desenvolvimento Agrário), Maria do Rosário (Direitos Humanos) e Aguinaldo Ribeiro (Cidades). Inserção na estrutura Há cargos importantes na estrutura governamental, nas agências e espaços regionais dos Ministérios. A presidente tentará administrar as demandas partidárias com outros partidos da base, tendo como ideia central o equilíbrio de poder entre os grandes partidos, apesar de saber que a fatia gigantesca do bolo continuará sendo a do PT, que disporá de 25 ministérios dos 39. Afinal, o projeto de vida longa do PT no poder está no centro das atenções do petismo sob a batuta de Lula. Eixo político As indicações iniciais, Saúde e Educação, principalmente, atestam que o projeto político do PT se firma com a indicação de quadros de confiança do partido, os ministros Arthur Chioro e Henrique Paim, que tem a confiança absoluta da presidente. Aloizio Mercadante na Casa Civil significa adensamento do eixo político do governo, eis que se trata de um parlamentar com larga experiência nas duas casas congressuais. Não é um perfil do qual se possa pinçar uma adjetivação com carimbo nas áreas de empatia e simpatia. Mas conhece bem as entranhas partidárias e as regras do jogo político. Tende a aproximar o Planalto do Congresso. Fazendo sombra a Ideli Salvatti. Mas essa ministra da articulação institucional tem vida curta. Ou não será candidata ao senado em SC ? Vida longa ao PT O fortalecimento do eixo político do Governo implica blindagem ao projeto de vida longa do PT no poder. Projeto com a seguinte dimensão : Lula voltaria em 2018 para ficar até 2026, com o olho em mais um mandato petista, se for bem sucedido, que puxaria o partido até 2030. Base do sonho : eleição da Dilma, eleição de maior bancada de deputados Federais; gigantesca bancada de deputados estaduais e eleição de 20 senadores neste ano; eleição do maior número de prefeitos em 2016 e consequente inchaço da bancada de vereadores, etc. E bala existe para essa batalha ? Bala é, claro, grana, muita grana. O PT é um partido vertical, uma igreja. Onde se paga dízimo. A par dos seus fiéis, o PT conta com doadores aqui e alhures. Tio Patinhas não passaria, no PT, de um modesto zelador do cofre. Traumann, um jornalista Thomas Traumann, ao que se sabe, dará um tom mais jornalístico à Pasta que dirige, a Secretaria de Comunicação. Dizem que o PT ambiciona abocanhar fatias publicitárias em apoio ao projeto político do partido, a partir de uma cobertura mais densa e intensa nas redes sociais, incluindo financiamento de "blocos sujos". E que faria um esforço extraordinário para implantar o cantado e decantado projeto de controle da mídia. Como jornalista, Traumann não tem perfil para ser instrumentalizado pelo partido. Franklin, a volta Franklin Martins volta à esfera da campanha eleitoral. Não assumiu cargo formal na estrutura do governo, mas, pelo se lê, é um consultor especial da presidente. Franklin também conhece, e muito, os jogos de poder. A ele atribui-se o projeto de controle da mídia, entregue ao governo Dilma, logo após a posse. Foi alvo de tiroteio. Saiu do governo. Retorna com força. Vai colaborar com João Santana (?). Diz-se que coordenará o projeto de comunicação da candidata Dilma nas redes sociais. Por seu perfil, fará mais que isso, atuando como orientador geral de atitudes, gestos e ações da presidente ao correr da campanha. Mantega, fim de jornada ? O ministro Guido Mantega tem sobrevivido a chuvas e trovoadas. Um baluarte. Mas, comenta-se à boca pequena, a fortaleza onde se abriga o ministro começa a mostrar rachaduras. O tempo desgastou as paredes. O reboco começa a cair. Fala-se de mudança radical na área econômica como medida de choque para enfrentar a tempestade eleitoral. Será ? Há muitas dúvidas. Mas muitos olhos começam a enxergar Alexandre Tombini, o presidente do BC, na cadeira potente do Ministério da Fazenda. A conferir. Skaf, alvo dos tucanos ? A história dos tucanos em SP exibe uma arena de lutas travadas contra seu tradicional adversário : o PT. Em todas as eleições das últimas duas décadas, a polarização entre petistas e tucanos foi acirrada. Pois bem, nas últimas semanas, da floresta tucana saem flechadas não contra o candidato do PT ao governo de SP, o ex-ministro Alexandre Padilha, mas contra Paulo Skaf, eventual candidato do PMDB. Qual a razão ? Por que o PT desvia seus tiros ? A resposta : Paulo Skaf, segundo pesquisas (Datafolha e outros) tem, hoje, 19% das intenções de voto. Com essa margem, bem antes da campanha eleitoral, é uma ameaça ao projeto tucano de reeleição de Geraldo Alckmin. Portanto, deve ser abatido. Propaganda ? O PSDB entrou com recurso contra Paulo Skaf alegando que este usa as inserções publicitárias do SESI e do SENAI para aparecer. Este consultor, curioso, viu as inserções. E anotou : o discurso nada mais nada menos expressa o trabalho daquelas duas entidades do sistema FIESP/CIESP. Mostra exemplos de vida a serem imitados. Não há menção à eleição e nem, de maneira indireta, referências à política. O Ministério Público Eleitoral também entrou com recurso sob o mesmo argumento. Ora, o que é legal, ilegal, ético e aético ? E a propaganda governamental, principalmente quando candidatos (ao governo de um Estado) ou candidata (à presidência da República) usam campanhas publicitárias ou redes abertas de TV para mostrar feitos ? É legal, ilegal, ético e aético ? Se querem apurar a presença de atores eleitorais nos meios de comunicação, o fato é : pré - candidatos ou candidatos engajados na máquina pública tendem a ganhar maior visibilidade midiática. Isso é inegável. Verbas gordas Os jornais anunciam : o governo de SP deverá investir, no primeiro semestre deste ano, quantia semelhante ao gasto de todo o ano passado : cerca de R$ 190 milhões. Alegação do governo : 2014 é um ano atípico, por conta das restrições no período em que a publicidade pode ser veiculada. O Estadão, em matéria de Fernando Gallo, ao final do ano passado, mostrou que as empresas públicas de SP (Dersa, Metrô, Sabesp e outras) despenderam, de 10 anos para cá, nas gestões de Geraldo Alckmin e José Serra, a soma de R$ 1,24 bilhão em campanhas promocionais. No mesmo período, outro R$ 1,2 bilhão foi consumido em divulgação da administração direta. A soma total (R$ 2,44 bilhões) seria suficiente, diz a matéria, para "construir, por exemplo, mais de metade da segunda fase da linha cinco do metrô, que vai ligar o Largo Treze à Chácara Klabin, ou custear o Instituto do Câncer por sete anos". Vacinação em março Há poucos dias, o ex-ministro Alexandre Padilha usou a cadeia de comunicação massiva - TVs e emissoras de rádio - para falar da campanha de vacinação. Claro, tem de dar orientação, conclamar as famílias a levarem seus filhos aos postos de vacinação. A publicidade se justifica. Ocorre que a campanha será apenas em março. Não seria mais viável que o novo ministro da Saúde fosse o porta-voz desse evento ? Será que o anúncio não se perderá no tempo ? Ano curto O ano será bem curto. Teremos um carnaval daqui a pouco, depois entraremos na Copa do Mundo, sairemos para as férias de julho e, logo a seguir, adentramos na atmosfera eleitoral. Setembro todo será muito quente. E em outubro, alegria para uns, tristeza para outros e muita expectativa sobre um segundo turno. Segundo turno O cobertor já foi mais confortável para a presidente Dilma. Mesmo assim, a régua aponta para um segundo turno. Muito difícil uma vitória da presidente na primeira rodada. Projeção de segundo turno hoje : 70. Outra leitura que se faz nas conversas : Eduardo Campos seria obstáculo maior que Aécio para uma vitória governista no segundo turno. Se o governador entrar nesse páreo, a projeção é da vitória dele ou da presidente no olho mecânico. Já com Aécio, a conta favorece a presidente Rousseff. Déficit de energia ? O risco de déficit de energia já chega a 20% nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste. Cálculos do próprio governo. A propósito, uma falha no sistema elétrico interrompeu parte da transmissão de energia entre o Norte e o Sudeste do país na tarde de ontem, causando falhas no abastecimento de diversas cidades. Mais de um milhão de consumidores ficaram sem energia. O Ministério de Minas e Energia, o ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico) e Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) tentam dimensionar o impacto. Crise passageira Uma nota alvissareira : a crise dos países emergentes será passageira. É o que calcula o Instituto Internacional de Finanças, que reúne os grandes bancos. A onda de instabilidade, logo, logo, arrefecerá. Os fluxos de capitais para os emergentes se recuperarão em dois anos. O nome do PSB em PE Quem Eduardo Campos escolherá como candidato do PSB ao governo de PE ? São favoritos : o ex-ministro Fernando Bezerra Coelho, secretários estaduais Danilo Cabral (Cidades), Paulo Câmara (Fazenda) e Tadeu Alencar (Casa Civil), vice-governador João Lyra Neto, que se filiou ao PSB no ano passado e até o prefeito de Recife, Geraldo Julio. Que prefere ficar na prefeitura até o fim do mandato. Campanha vital para Campos. Terá de dar um banho na oposição. Conselho aos investidores Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes, membros dos Poderes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos parlamentares. Hoje, dirige-se aos investidores. 1. O momento é de grandes interrogações. As Bolsas despencam, as economias entram em compasso de espera. Hora de direcionar recursos para ativos de baixo risco, sugerem analistas financeiros. 2. No caso do Brasil, a piora do resultado fiscal expande o pessimismo. O conselho é aguardar a divulgação da nova meta de superávit fiscal a sair no fim do mês. 3. As riquezas e potenciais do Brasil, porém, abrem perspectivas promissoras. Se o ano eleitoral sugere cautela, em função de medidas popularescas, nem tudo está perdido. Urge esperar que o clima fique mais ameno, pelo menos em 2016. Vamos ter paciência.
quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

Porandubas nº 385

Takachi e o povo Lá das bandas do PR vem a historinha de Jorge Takachi, japonês simpático, generoso e afável, muito querido. Decidiu ser candidato a prefeito de Nova Esperança. A oposição começou o tiroteio. Takachi é isso, Takachi é aquilo. O candidato não aguentou. E desabafou no palanque : - Jorge Takachi bom para a cidade, né ? Constrói hospital, dá dinheiro para igreja, ajuda pobre, paga feira dos outros. Povo diz : Jorge Takachi muito bom; Jorge Takachi muito querido. Jorge Takachi candidato prefeito, ai povo diz : Jorge Takachi filho da puta. Assim, Jorge Takachi não entende povo. Risadas gerais na plateia. E comentários entre uns e outros : "Takachi não entende mesmo". Doação do além Em coro uníssono, os vereadores em plenário na Câmara de Mossoró defendem campanha para doação de órgãos humanos. Corroborando com os colegas, o vereador Chico da Prefeitura manifesta integral apoio ao movimento, mas lamenta não poder fazer um gesto concreto. - Sou diabético e sei que nenhum órgão meu serve para nada - admite. Apesar da auto-análise catastrófica, Chico da Prefeitura reitera sua convicção na solidariedade, mesmo que do além : - Não faço questão de após a minha morte assinar qualquer termo doando meus órgãos ! (Do Livro Só Rindo 2 - A política do bom humor do palanque aos bastidores - De Carlos Santos) Cavalo não desce escada Quem se lembra de Ibrahim Sued, o famoso e impagável colunista social carioca, com seus bordões ? Pois bem, convido leitores e leitoras a seguir um de seus bordões : "olho vivo, que cavalo não desce escada". A cena brasileira merece um olho bem vivo. Tem tramóias, emboscadas, projetos mirabolantes e o tabuleiro do poder nunca esteve tão frequentado. Tempestades e turbulências A mobilização da semana passada, em SP, contra a Copa do Mundo acabou em mais um capítulo da crônica de baderna e devastação que se escreve por estas plagas. O que significa ? Primeiro, que há e haverá, sempre, grupos que não têm nada a perder e que se dispõem a tumultuar o cenário das ruas. Segundo, que a natureza do ano eleitoral, somada ao calendário esportivo, favorecerá a continuidade dos movimentos. Terceiro, é patente que a organicidade social, no país, atingindo níveis extraordinários, acabará incentivando as pressões de grupos, categorias profissionais e setores organizados. Afinal, o ano eleitoral é propício para encaminhamento público de demandas. PT, o mais prejudicado Qual a influência da movimentação sobre a imagem dos atores políticos ? Bastante forte. Temos de convir que qualquer movimentação de rua chama a atenção, paralisa o trânsito, incomoda as pessoas e acaba deflagrando impropérios contra os governantes, sejam os da esfera Federal seja os do âmbito estadual. Mas o impacto maior se faz sentir no PT. O Partido dos Trabalhadores tem parcela de sua identidade firmada sobre as bases dos movimentos sociais. Logo, deveria ele ser o partido dos encaminhamentos sociais. Não o é. Perdeu o controle. Gilberto Carvalho, o ministro que tem por atribuição administrar e monitorar o barulho das ruas, acaba de reconhecer esse fato. Chegou a insinuar ingratidão. O PT, portanto, recebe os respingos dessa movimentação. Geraldo Alckmin, idem. Como governador do Estado mais populoso do país, identifica-se com o status quo. Nuvens sobre a Copa A partir de maio, as tensões começam a ganhar força. As arenas esportivas passarão pela lupa. Condições gerais dos estádios, o acesso, os meios de mobilidade, a estrutura de serviços - tudo será analisado. O que merecer desaprovação - não há dúvidas - deverá ensejar protestos. Uma questão será, portanto, a condição de cada arena esportiva. E o desempenho do Brasil ? Veja abaixo. O desempenho do Brasil O desempenho da seleção canarinho na Copa dá margem a especulações: 1. a derrota do Brasil levaria às multidões aos protestos e revolta nas ruas; 2. a vitória brasileira consolidaria a candidatura Dilma, podendo motivar uma vitória logo no primeiro turno. Este consultor coloca as duas hipóteses sob o império das dúvidas. O povo tende a separar o futebol da política. Um urro de raiva contra os cartolas tem direção. Se esse urro se estende aos políticos, todos, sem exceção, poderão ser atingidos. Atribuir ao governismo a culpa pela derrota seria um exagero. Usar a vitória como bandeira de campanha também poderia ser um bumerangue para os candidatos que assim o fizessem. Punição aos jogadores Certamente a indignação, em caso de derrota, será mesmo junto aos atletas. E mais, a alguns atletas, não a todos. O paredão abrigará os jogadores com pior desempenho; o pódio, por seu lado, acolherá os melhores. Desse modo, haverá críticas e indignação. E se o Brasil tiver um desempenho médio, o clima tende a não endurecer, como muitos acreditam. A eleição é um evento que pode receber contaminação da Copa, mas em índices muito pequenos. Não se acredita que o bom ou mau desempenho dos jogadores no campo político tenha relação forte e direta com o desempenho dos jogadores na arena esportiva. A conferir. Pezão com as mãos nas rédeas Luiz Fernando Pezão, a essa altura, é considerado por muitos como carta fora do baralho. Perderá feio as eleições. Não é o que pensa este consultor. Com as rédeas do governo do RJ, poderá ganhar intensa visibilidade e, na sequência, exibir um perfil de obreiro, trabalhador, pessoa séria e desprovido de vaidades. Sob essa moldura, tem condições de avançar, e muito, nas veredas eleitorais e, até, alcançar o pódio no segundo turno. Claro, teria de desbancar Garotinho, Crivella e César Maia para poder enfrentar o senador petista Lindbergh. É difícil ? Sim. É improvável ? Não. Nova geografia eleitoral A geografia eleitoral de 2014 será bem diferente da geografia eleitoral de 2010. O governismo encontrará um quadro mutante em alguns Estados. Por exemplo : no AM, os tucanos podem virar o jogo e dar alguns votinhos a Aécio sob a batuta do alcaide tucano Arthur Virgílio, que comanda a capital; no CE, se o senador Eunício não tiver o apoio do PT e fechar aliança com Tasso Jereissati, do PSDB, este para senador, é evidente que Aécio ganhará um ótimo palanque nesse Estado, que deu grande vitória a Dilma em 2010; em PE, por mais que Lula se esforce para repetir o feito do pleito anterior, é evidente que Eduardo Campos fará uma boa maioria no Estado que comanda; na BA, a previsão é de que Dilma não terá uma grande vitória, eis que o candidato do PT, saído do bornal do governador Jaques Wagner, poderá ser derrotado; no RS, a reeleição do governador Tasso Genro, do PT, passará por grandes dificuldades. PT e o cálice sagrado O PT mira no cálice sagrado. O cálice é uma miragem. Mas o PT quer porque quer encontrar esse precioso objeto. Porque este cálice o levaria, até 2030, à mais alta montanha do poder. Com ele nas mãos, o PT mudaria a face da política, o sistema econômico, imprimiria uma nova marca social, deixaria seu nome nos livros de história do Brasil como a entidade que, depois de Pedro Álvares Cabral, redescobriu um imenso território para fazer dele a Pátria do socialismo mundial no século XXI. Pois bem, metáforas à parte, o PT se prepara para moldar o projetão 30. Ou, se quiserem, 28 anos. PT no comando do Brasil até 2030. Como assim ? PT, 2030 A ideia é essa : Dilma até 2018; Lula voltando em 2018 para ficar mais 8 anos, até 2026. E, na sequência, um mandato tampão até 2030, quando se encerraria o ciclo petista. Nesse ínterim, o maior conjunto de mudanças na política, na economia, nas relações trabalhistas, nos tributos e na previdência. E o lastro ? Grana, muita grana. É o que não faltaria. Miragem ou não, o fato é que esse mirabolante projeto começa a frequentar as conversas de próceres petistas. Como dizia Ibrahim Sued, "em sociedade tudo se sabe". PMDB, 1986 Em quem o PT parece se inspirar ? No PMDB de 1986. Naquele ano, as eleições ocorreram em 15 de novembro, sob o voto de 70 milhões de brasileiros. O PMDB fez 22 governadores, perdendo apenas em SE para Antônio Carlos Valadares, do então PFL. Fez maioria dos 49 senadores; elegeu 487 deputados Federais e 953 deputados estaduais. Com essa base, elegeu, no pleito seguinte, o maior número de prefeitos. Até hoje, o partido se beneficia da vitória esmagadora. PMDB, Federação; PT, religião Em sua trajetória, o PMDB se tornou uma Confederação de partidos. Cada unidade estadual tem seus comandantes e suas posições. O partido é o mais repartido do país. Mas se une na hora das urgências. Usa a divisão como soma, na medida em que faz parcerias com quase todos os grandes e médios partidos. Já o PT é uma religião. Seus participantes até pagam dízimo. É uma entidade vertical. E comandos bem definidos. Ordem dada é ordem cumprida. Com essa armadura, o PT quer buscar a hegemonia. Custe o que custar. O valor da pontuação Um homem rico, sentindo-se morrer, pediu papel e pena, e escreveu : "Deixo os meus bens à minha irmã não a meu sobrinho jamais será paga a conta do alfaiate nada aos pobres". Não teve tempo de pontuar - e morreu. A quem deixava ele a fortuna que tinha ? Eram quatro os concorrentes. Chegou o sobrinho e fez estas pontuações numa cópia do bilhete : "Deixo os meus bens à minha irmã ? Não ! A meu sobrinho. Jamais será paga a conta do alfaiate. Nada aos pobres". A irmã do morto chegou em seguida, com outra cópia do escrito; e pontuou-o deste modo : "Deixo os meus bens à minha irmã. Não a meu sobrinho. Jamais será paga a conta do alfaiate. Nada aos pobres". Surgiu o alfaiate que, pedindo cópia do original, fez estas pontuações : "Deixo os meus bens à minha irmã ? Não ! A meu sobrinho ? Jamais! Será paga a conta do alfaiate. Nada aos pobres". O juiz estudava o caso, quando chegaram os pobres da cidade; e um deles, mais sabido, tomando outra cópia, pontuou-a assim : "Deixo os meus bens à minha irmã ? Não ! A meu sobrinho ? Jamais ! Será paga a conta do alfaiate ? Nada ! Aos pobres !" (Extraído do Leia Comigo, livro do amigo Luís Costa) Conselho aos parlamentares Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes, membros dos Poderes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos governantes. Hoje, dedica sua atenção aos parlamentares : 1. O recesso chega ao fim e a retomada das atividades parlamentares, nesse ano eleitoral, requer mais esforço, mais engajamento, mais atenção às pautas e agendas. O ano será mais curto e, nem por isso, Vossas Excelências podem justificar menos trabalho. 2. Por isso mesmo, urge selecionar temáticas importantes e que correspondam ao clima e às aspirações da sociedade. Todo esforço deve ser empreendido para evitar paralisações, bloqueios, prolongamento de discussões infrutíferas. 3. A Nação espera que cada parlamentar cumpra o seu dever. Temos um eleitor mais racional, mais crítico, mais atento e bem mais disposto a participar do processo político. Que tem no voto uma arma letal.
quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

Porandubas nº 384

Abro a Coluna com duas historinhas, uma de ontem, a doidice desse velho mundo, e outra de anteontem, o ladrão de galinhas. Que mundo doido...! - Esse velho mundo ta cada vez mais doido. Era a queixa de Maneco Faustino, nas ruas de Limoeiro, no Ceará. E arrematava : - Veja vosmicê : ta se vendo estrela de mei dia ; já hai galinha nascendo com chifre ; cangaceiro dando esmola na igreja ; já vi bode dando leite e, agora, deu pra chuver no Ceará em agosto. Querem ver mais : muié sentando em cadeira de barbeiro e home entrando em banheiro de muié. Pedro Malagueta confirmava, balançando a cabeça : - Tá mesmo tudo virado, cumpade. O mundo endoidou. Tenho três fias, duas casadas e uma sorteira ; as duas casadas nunca tiveram menino ; mas a solteira todos os ano me dá um neto. O ladrão de galinhas Historinha conhecida merece um repeteco. Certa vez, um ladrão pulou o muro da casa de Rui Barbosa para roubar uma galinha. No alvoroço, o grande tribuno acordou do profundo sono, e se dirigiu ao galinheiro. Lá chegando, viu o ladrão já com uma de suas galinhas, e passou o carão : - Não o interpelo pelos bicos de bípedes palmípedes, nem pelo valor intrínseco dos retrocitados galináceos, mas por ousares transpor os umbrais de minha residência. Se foi por mera ignorância, perdôo-te, mas se foi para abusar da minha alta prosopopéia, juro pelos tacões metabólicos dos meus calçados que dar-te-ei tamanha bordoada no alto da tua sinagoga que transformarei sua massa encefálica em cinzas cadavéricas. O ladrão, pasmo e sem entender patavina, tascou : -Cumé, doutor, posso levar ou não a galinha ? Lula arruma a cara O ex-presidente Lula será mais que caixeiro viajante na empreitada eleitoral deste ano. Correrá Estados no esforço para desfraldar a bandeira petista pelos grandes e médios centros. Ele sabe que este 2014 será o teste de fogo do PT. A primeira providência foi tomada: deixar a barba crescer. Desenha a velha e conhecida estética lulista. A voz já está no prumo. Com esse aparato, não apenas pretende reeleger a pupila, a presidente Dilma, mas fazer o maior número de governadores, o maior número de deputados federais, expandir a bancada de senadores e de deputados estaduais. Alvo: vida longa ao projeto petista de poder, uma inserção até 2022. Quem sabe, até mais. Para tanto, precisa fazer o que o PMDB fez em 1986: esticou os braços por todo o país, construindo a maior máquina partidária para atravessar décadas. Palíndromo I Palavra ou frases que se podem ler nos dois sentidos, da direita para a esquerda e da esquerda para a direita. A coluna de hoje será puxada por palíndromos. - Anotaram a data da maratona O alvo principal Pela primeira vez, o PT disputará, em condições competitivas, os governos dos três maiores colégios eleitorais do país: São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro. Em São Paulo, a meta é viabilizar o nome do ministro Alexandre Padilha, a partir de seu índice histórico de 30% de eleitorado no Estado. Vai lutar com unhas e dentes para jogar Padilha no segundo turno. Contará com a máquina da prefeitura de SP, os prefeitos do PT, o poder de mando ($$$$$) do governo federal e o comando de Lula. Fernando Haddad, mal avaliado, poderá prejudicar? Em termos, mas o eleitor petista é engajado. Palíndromo II - Assim a aia ia a missa Polarização ? É possível que a velha polarização entre petistas e tucanos prevaleça. Mas parcela considerável do eleitorado está saturada da querela histórica. E tende a rejeitar os nomes tradicionais. Alckmin conserva boa imagem no interior do Estado. Na capital, sua imagem não é tão forte. O PSDB sofre, ainda, do fenômeno da corrosão de material. Sob essa moldura, um perfil com traços de renovação teria condições de avançar, quebrando a polarização. Paulo Skaf, presidente da FIESP, entra no figurino. Já exibe, a essa altura, 20% das intenções de voto dos paulistas. É determinado, expressa atitudes corajosas, liderou campanhas vitoriosas - CPMF, barateamento da energia, IPTU menor e mais justo. Palíndromo III - A diva em Argel alegra-me a vida MG, incógnita Fernando Pimentel é perfil bastante conhecido em Minas. Sua imagem é de petista suave, sem os traços radicais que carimbam figuras clássicas do PT. Ex-prefeito de Belo Horizonte, fez boa administração. Dialoga com as correntes políticas do Estado. Dessa feita, sua luta é contra os tucanos mineiros, liderados por Aécio Neves, candidato à presidente da República, e pelo governador Antônio Anastasia. Derrubar a gaiola dos tucanos, depois de longo ciclo de mando, não será fácil. Minas abriga o maior número de municípios do país e o segundo maior colégio eleitoral. A candidatura de Aécio, muito simbólica aos mineiros, que se sentem relegados a segundo plano, depois de terem perdido o presidente Tancredo, poderá dar a seu neto grande votação. Maneira dos mineiros resgatarem o poder perdido. Esse é o pano de fundo sob o qual será disputado o pleito. Apagar esse cenário será um desafio ao PT. O candidato tucano terá charme para dar continuidade à era Aécio-Anastasia? Seu nome: Pimenta da Veiga. É conhecido. Não significa, porém, um voo ao passado ? Palíndromo IV - A droga da gorda Lacerda E como se comportará o PSB, do prefeito de BH, Márcio Lacerda? Que terá Eduardo Campos, o comandante do partido, candidato à presidente da República? Com quem o PSB fechará posição em Minas ? Palíndromo V - A mala nada na lama O terceiro vulcão O terceiro vulcão da campanha será o Rio de Janeiro. Lindbergh Farias, o senador petista, espera entrar no segundo turno. Pezão, o vice-governador, candidato do PMDB e da máquina, oscila entre 10% a 12% de intenção de voto. O deputado Garotinho, do PR, lidera o início de corrida. César Maia, do DEM, passará dos 10%. Ou apenas quer garantir visibilidade ? O senador Marcelo Crivella, do PRB, prepara-se para entrar no páreo. A incógnita toma corpo entre os cariocas. Mas a tendência é que os candidatos das máquinas cresçam. Por disporem de mais tempo de mídia eleitoral e mais recursos. É plausível prever um segundo turno entre PMDB e PT. Os candidatos evangélicos, Garotinho e Crivella, teriam condições competitivas ? Difícil. Lindbergh tem um histórico de problemas. E processos no entorno. Mas, caso entre no segundo turno, pode ganhar o apoio de outros candidatos. Será uma campanha tão árdua quanto a que se verá em SP e MG. Palíndromo VI - A torre da derrota E Marina, hein ? Marina era a grande estrela a brilhar na constelação do PSB de Eduardo Campos. A estrela não brilha quanto se esperava. Parece mais uma guerreira a fustigar (e a afastar) aliados do governador pernambucano. Palíndromo VII - Luza Rocelina, a namorada do Manuel, leu na moda da Romana anil e cor azul Chances de Campos Hoje, as chances de Eduardo Campos são pequenas. Tentar furar o bloqueio dos três maiores colégios eleitorais do país é tarefa que exige um conjunto de condições: parcerias locais, recursos, tempo de rádio e TV, ajuda de máquinas administrativas, agenda intensa nesses espaços. Por onde Eduardo Campos vai começar ? Palíndromo VIII - O romano acata amores a damas amadas e Roma ataca o namoro O exercício da função Os candidatos a cargos majoritários em comandos de estruturas - governadores de Estado, presidente da República, ministros - dispõem de condições mais favoráveis que candidatos sem máquinas administrativas. Ganham visibilidade na esteira de uma agenda locupletada de eventos : viagens, inspeções, inaugurações, articulação política, mobilização de massas. Estão praticamente todos os dias na mídia. Por isso, não podem se queixar de pessoas que, na esfera de suas entidades, ganham visibilidade e se habilitam a ingressar na política. No fundo, estão na mídia em razão do exercício de suas funções. Palíndromo IX - Saíram o tio e oito Marias Tapetão, uma vergonha Por essa razão, não se compreende a tentativa de tucanos e de um ou outro partido nanico de entrar com ação contra Paulo Skaf, do PMDB, pelo fato de aparecer em anúncios publicitários do Sesi e do SENAI. Ora, o presidente da FIESP usa o direito que tem, coerente com o exercício do cargo. Acaba de ganhar uma luta que beneficia milhões de paulistanos: o reajuste do IPTU paulistano à base do índice da inflação. Trata-se de uma campanha de relevo social. O sucesso de um empreendimento desse vulto carece de mobilização. E conhecimento da sociedade. Assim como foram as lutas contra a CPMF e o custo menor da energia, também lideradas por Skaf. A tentativa do tucanato de entrar com recurso para inviabilizar, mais adiante, sua candidatura significa temor de que o presidente da FIESP possa romper a polarização PT x PSDB. Hipótese a ser levada em alta conta. Palíndromo X - Zé de Lima rua Laura mil e dez Discórdia ministerial A reforma ministerial é o pomo da discórdia. Por mais que a presidente tente acolher as demandas de sua base partidária, a insatisfação se expande. Os 39 ministérios serão devidamente distribuídos, cabendo ao PT, claro, a parte do leão : 25 Pastas. O PMDB começa a enxergar que, ao invés de aumentar seu espaço na Esplanada dos Ministérios, poderá, até, ver diminuída sua fatia. Dilma e Lula teriam combinado oferecer ao PMDB, em compensação à perda de Ministérios que o partido reivindica (Integração, Cidades, por exemplo), palanque a seus candidatos em alguns Estados. Quer dizer, Dilma iria prestigiar candidatos petistas e, em outra oportunidade, poderia subir ao palanque de peemedebistas. Se for essa a proposta, a indignação subirá a montanha. Os ânimos estão acirrados. Lula, Dilma e o PT não acreditam que o PMDB parta para retaliação. Mas o partido sabe muito bem guardar a raiva no congelador. Para servi-la em futuros coquetéis. Palíndromo XI - O lobo ama o bolo Tucanos e aliados de Dilma Os tucanos tendem a fazer alianças com aliados do governo Dilma nos seguintes Estados : Amazonas, Mato Grosso, Maranhão, Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro e Bahia. Palíndromo XII - A cara rajada da jararaca A partilha Pelo que se observa, a partilha ministerial terá a seguinte composição : 25 ministérios para o PT ; 5 para o PMDB ; 1 para o PR ; 1 para o PP ; 1 para o PROS ; 1 para o PTB ; 2 para o PSD ; 1 para o PDT ; 1 para o PC do B e 1 para o PRB. Palíndromo XIII - Rir, o breve verbo rir Conselho aos governantes Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes, membros dos Poderes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos jovens. Hoje, volta sua atenção aos governantes e representantes : 1. Urge interpretar a quadra social que o país vivencia. As movimentações sociais, a partir dos rolezinhos dos jovens, querem significar, a par do lazer e diversão, esforço para participação mais intensa e engajada no processo decisório nacional. E expressar demandas de grupos e setores. 2. Os rolezinhos não devem ser tratados como eventos de natureza policial, mas como fenômeno social/cultural. 3. O bom senso se faz necessário, antes que os movimentos assumam posicionamentos que transbordem os limites e objetivos ao que, preliminarmente, se propõem. _____________
quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

Porandubas nº 383

Abro a Coluna com duas historinhas de Carlos Santos, pinçadas de seu "Só Rindo 2". Pedras no português Médico e candidato a prefeito de Pau dos Ferros, Etelânio Vieira retorna de outra movimentação de campanha. Ao seu lado, o vereador "Assis Bigodão". No interior do carro em que ambos estão, Assis desabafa fuzilando de morte o português : - Jogaram uma pedra "neu"...(sic). Com elegância, quase inaudível para não expor o vereador a embaraços, Etelânio sopra o que seria a expressão correta : - "Neu" não, Assis; "em mim" ! Olhar de espanto, o vereador complementa o assassinato da língua de Fernando Pessoa, Camões e Eça de Queirós : - Sim...Jogaram no senhor também, doutor ! Que coisa ! O candidato retardado Palanque armado no bairro Pereiros, o comerciante "Chico do Peixe" chega com considerável atraso, ávido por discursar na condição de candidato a vereador em 1996, no município de Mossoró. Favorecido pela escassez de oradores no comício do candidato governista, engenheiro Valtércio Silveira, apoiado pelo prefeito Dix-huit Rosado, Chico é alertado de que também terá direito a discursar. Ufa! Ele já pensava que não teria vez. Abrindo a oratória, Chico do Peixe tenta justificar sua ausência até então, mas mistura semântica com psiquiatria : - Olha, meus amigos, eu estou chegando "retardado"... Previsões para o ano Há analistas pessimistas, otimistas e realistas. Distinguir uns de outros não é tarefa fácil. Alguns apontam para a recuperação da economia americana e impactos sobre o Brasil. Outros procuram mostrar que a engenharia da "catástrofe perfeita" começa a ser desenhada. Entre uns e outros, os realistas se impõem. A tempestade perfeita ocorreria no cenário de reversão da política monetária, fortemente expansionista, empreendida pelo FED, o banco central americano. O nosso guru, Delfim Netto, diz que se a oferta de moeda estrangeira escassear, o câmbio interno poderia passar por turbulências. Como pano de fundo, rebaixamento da qualidade da dívida brasileira. Mas o próprio Delfim acredita que as chances da tempestade estão sendo afastadas. Economia de 2% do PIB Delfim argumenta : basta que a presidente Dilma assuma o compromisso firme de que o governo fará uma economia de 2% do PIB (cerca de R$ 96 bilhões) por ano, destinada a amortizar a dívida (superávit primário), para que a política econômica comece a passar firmeza e, nessas condições, a tempestade seria enfrentada sem avarias de monta para o navio. Nesse caso, teria de basear-se em cálculo transparente das contas públicas, sem os truques contábeis inventados em 2012 pelo secretário do Tesouro, Arno Augustin, que vem denunciando a existência de ataques especulativos contra as finanças do governo. Leos : garantindo grau de investimento O economista Mauro Leos, vice-presidente da Moody's, uma das maiores agências internacionais de classificação de risco, garante que se a situação macroeconômica do Brasil, em 2014, for idêntica à do ano passado, a nota do país continuará sendo a de grau de investimento. Com ele, a palavra: "o cenário que prevemos não deverá ser muito diferente de 2013, quando a economia cresceu em torno de 2%. Neste ano, deverá ficar no mesmo patamar. No caso da dívida pública, que ultrapassou 60% do PIB em 2013, deverá acontecer algo parecido. Se esse cenário se confirmar, não precisaremos mudar a classificação de risco do Brasil no curto prazo. Acreditamos que ela é consistente com a nota do país, hoje, de grau de investimento com perspectiva estável". Dilma, franco favorita Pois bem, mantida essa situação, este analista acredita que a presidente Dilma Rousseff continua na posição de franco favorita do pleito de outubro. Uma catástrofe - inflação alta, desemprego em massa, tumulto na distribuição do Bolsa Família, descalabro na saúde e segurança pública - aumentaria, consideravelmente, as chances de um candidato das oposições. A candidata governista, convenhamos, conta com gigantesca máquina - as estruturas administrativas de ministérios e agências governamentais, milhares de cabos eleitorais postados em áreas-chave. Pode ser que o clima do ano chegue a conturbar o processo eleitoral. Manifestações por ocasião da Copa, mobilizações nas margens eleitorais, movimentos paredistas de setores e categorias profissionais etc. Teriam força para mudar a paisagem eleitoral ? Essa é a pergunta que fica no ar. Dor de cabeça A dor de cabeça que afligirá a candidata à reeleição pode, também, prejudicar o rumo de sua campanha. Trata-se do imbróglio da reforma ministerial. Sairão alguns ministros para disputar a eleição. Os partidos começam a guerrear por melhores postos na administração, a partir do PMDB, o maior partido aliado. Será impossível chegar ao consenso. No Rio, as posições tendem a ser irreconciliáveis, a partir da férrea determinação do PMDB e do PT de manter as candidaturas do vice-governador, Pezão, e do senador petista Lindenberg. O vice-presidente Michel Temer, com sua conhecida habilidade para negociar, continua a tentar um acordo. O que pode ocorrer é um palanque duplo para Dilma, no Rio de Janeiro. E uma parceria estremecida. Rolezinhos Os "rolezinhos" começam a se multiplicar pelas praças do território. Aglomerados de jovens, sob o convite das redes, adentram os shoppings centers, para uma zoeira, um encontro animado, sob manifestações e palavras-chave de uma turba que quer se divertir. Os "rolezinhos", como estão sendo chamados, podem se transformar no hit das próximas estações, principalmente se o Estado não souber administrar as ondas. Proibir a entrada de jovens em um shopping center, levando em conta seu modo de vestir, é um ato discriminatório. Permitir a bagunça generalizada em um ambiente privado também é inconveniente. O Estado é transportado ao espaço entre a cruz e a caldeirinha. Significado Os "rolezinhos" são como a água corrente de um rio, que esbarra em pedras e obstáculos, até encontrar o oceano. A água se infiltra entre as pedras, procurando desvios, ladeando barreiras, adentrando os estreitos espaços entre rochas. Procuram dar vazão a seus volumes. A falta de espaços urbanos para o lazer, a compressão das grandes cidades, o estrangulamento das vias e praças públicas - eis o leit motiv dos "rolezinhos". Essa movimentação quer dar vazão à expressão de jovens contidos em suas vontades, anseios, expectativas e demandas. O marketing eleitoral Estamos quase entrando no "império dos signos". Refiro-me à campanha eleitoral. Urge lembrar aos candidatos. A esperteza, o vale-tudo, a dramatização, os recursos artificiais e a insinceridade deverão ser anotadas por um eleitor mais sabido, crítico e racional. A "feitiçaria" da publicização eleitoral não será capaz de enganar a massa eleitoral. Gato não mais será vendido como lebre. Se o Príncipe não pode dispensar a astúcia da raposa e a força do leão, devendo trapacear e matar, de acordo com os preceitos de Maquiavel, o súdito não vai deixar ser pego por eles. O eleitor saberá medir versões, interpretações e propostas. "Nenhum homem, por maior esforço que faça, pode acrescentar um palmo à sua altura e alterar o pequeno modelo que é o corpo humano". É o que diz a Sagrada Escritura. Candidato não é sabonete Candidato não pode ser tratado como sabonete. Tem identidade, alma, tem emoção. Para chegar ao fim do caminho, passará por cinco grandes fases. A primeira é a do lançamento, quando seu nome começa a ser apresentado ao eleitorado. A segunda é a do discurso, quando fará propostas condizentes com as demandas sociais. Contará com a ajuda de mapeamentos e pesquisas qualitativas e quantitativas. Usará uma ampla e densa bateria de comunicação para dar conhecimento de suas ideias, os chamados canais publicitários e jornalísticos. Deverá formar uma sólida rede de articulação com a sociedade organizada, a partir de entidades de credibilidade e respeito, a partir de convocação e parceria com os setores políticos (partidos e lideranças). E fechará seu marketing com os esquemas de mobilização, onde deverão ocorrer os eventos de contato com as massas. O eleitor de 2014 Uma pequena lição de Zaratustra para compreender melhor o eleitor de outubro próximo : "novos caminhos, sigo; uma nova fala me empolga: cansei-me das velhas línguas. Não quer mais o meu espírito caminhar com solas gastas". Debates Este consultor sugere um amplo e contínuo programa de debates entre os candidatos. Como faz a TV americana. Escolhem-se três a quatro temas e, sobre eles, cada candidato fará a sua análise e propostas. O eleitor ganhará ao poder comparar a viabilidade de cada proposta e a maneira de implementação das ideias. Sem agressões. Herói O Brasil está à procura de um Herói. Quem se habilita ? Atenção aos candidatos : cuidado com as pedradas. Grande dúvida Guido Mantega resistirá ? Continuará firme e forte no Governo Dilma ? E o Arno Agustín, Secretário do Tesouro, idem ? Papel tem pernas ?E a seguinte historinha (real) dos papéis que andam entre as instantes dos prédios públicos não passaria de folclore. O cidadão chega à repartição e pede para ver seu processo. Ouve do atendente : "ah, tem muitos outros na frente. Vai demorar um tempão até ser despachado. Papel, doutor, não tem pernas". Agastado, o interlocutor reage: "e quanto o senhor quer para por dois pés nesse papel ?" Tiro e queda. A nota de 100 fez o papel correr rapidinho. Conselho aos jovens Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes, membros dos Poderes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos maniqueístas que se multiplicam no país. Hoje, dirige-se aos jovens : 1. Compreende-se a onda jovem que irrompe nos espaços privados para fazer valer sua expressão e necessidades lúdicas. A falta de espaços públicos para as manifestações da juventude explica, em parte, a multiplicação de ondas de mobilização juvenil. 2. Convém, no entanto, não se deixar levar por oportunistas e aproveitadores, que procuram disseminar um poderio destrutivo, voltado para a depredação dos ambientes. 3. Cuidado para não servirem de massa de manobra a grupos e setores interessados em desestabilizar os climas ambientais. ____________
quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

Porandubas nº 382

Abro a Coluna com historinhas do impagável José Flávio Abelha, em A Mineirice. Lá vem a relaxada Idos de 30. Caratinga, em festa, aguarda a inauguração do ramal da estrada de ferro Leopoldina Railway, a EFLR. O pessoal da roça interpretava o LR como "Leopordinha Relaxada". No pátio da estação, gente que não acaba mais. Num canto, dois coronéis, picam o fuminho para o cigarro e conversam. A máquina apita. Coronel Antônio Fernandes comenta com o coronel Rafael da Silva Araújo: - Compadre, estão chegando os donos da cidade. Coronel Rafael contesta: - Os donos somos nós. Não, compadre, retruca o coronel Fernandes, os donos são os que chegam, porque enxergam os nossos defeitos, desconhecem as nossas virtudes e, logo, logo, ficam mandando na cidade. Veio a Revolução de 30 e não ficou um coronel em pé.Realmente, os donos da cidade haviam chegado pela Leopordinha Relaxada. Entra "disgraçada" No meio da algazarra, da emoção inusitada, das palmas e foguetes, a locomotiva quase entrando na gare, inopinadamente salta nos trilhos o coronel Galdêncio. (Nota do escriba : Isso mesmo, com L, diferente do meu que se escreve com U). Como que desejando enfrentar o cavalo de ferro ele abre o paletó, saca de uma garrucha, dispara dois tiros para o alto e grita em direção do trem de ferro, sob os olhares atônitos dos presentes : - Entra, disgraçada, qui esta terra é sua ! Entra, fiadaputa, trazedêra de pogréssio. Abrem-se as cortinas As cortinas começam a ser abertas. O palco de 2014 verá um dos mais vibrantes espetáculos eleitorais das últimas décadas. O pano de fundo não deixa dúvidas. Estamos vivenciando o fim de um ciclo : a polarização entre PT e PSDB. Não que a arenga deixe de existir. Certamente, em espaços do Sudeste (Minas e São Paulo, principalmente), a polarização deve ser forte. Mas o eleitorado dá sinais de cansaço. Como diria o profeta Zaratustra, "novos caminhos sigo, uma nova fala me empolga. Cansei-me das velhas línguas. Não quer mais o meu espírito caminhar com solas gastas." Sinais de mudar o tom da orquestra se ouvem de muitos lados. Axioma 1 (Conselhinhos importantes em ano eleitoral) "Ajuste seu fim a seus meios" (É loucura querer abocanhar mais do que se pode mastigar). B.H. Liddell Hart em As Grandes Guerras da História. Basta de maniqueísmo Não é mais possível vivermos num ambiente dividido entre o Bem e o Mal. O que é bom para uns é ruim para outros. O paraíso do PSDB é, para o PT, um inferno. E vice-versa. O céu petista é cheio de demônios queimando em brasa, segundo os tucanos. Ora, deixemos esse maniqueísmo de lado. Desde os tempos em que o PT cunhou o slogan "nunca antes na história deste país", um fosso profundo separa os dois territórios. Mas o Brasil é um só. Urge reconhecer vitórias de tucanos e petistas, avanços que os dois partidos conquistaram. Ninguém agüenta mais essa lorota : sendo PT, tudo é bom ; feito por tucanos, o empreendimento é magnífico. Ambos têm erros e acertos. Axioma 2 "Conserve seu objeto sempre em mente quando tiver que adaptar seu plano à situação." (Há mais de um caminho para atingir seu objetivo). B.H. Liddell Hart. Economia em baixa ? Este consultor tem repetido o mantra : economia nos trinques, Dilma subirá, mais uma vez, ao pódio. Economia no despenhadeiro, Dilma ameaça cair na lona. Nas últimas semanas, os analistas financeiros reacenderam suas previsões : PIB abaixo da meta (2,5%), inflação estourando a meta (6%), retração no consumo, empregabilidade sob risco. Apesar de todo esse cenário preocupante, é oportuno lembrar que o governo fará de tudo a seu alcance para empurrar a catástrofe de barriga, fazendo com que a conta a pagar entre no calendário de 2015. Por isso, este analista acredita que Dilma continua sendo a favorita no processo. Axioma 3 "Escolha a linha ou o curso de ação de menor expectativa" (Procure se colocar no lugar do adversário e verificar qual a linha de ação menos provável a ser prevista). Liddell Hart. O decisivo Triângulo das Bermudas Tudo vai depender do desempenho eleitoral do Triângulo das Bermudas. Aécio conta com uma maioria de 4 milhões de votos em Minas. Será que seu candidato, possivelmente Pimenta da Veiga, terá o apoio do PSB, do prefeito Márcio Lacerda ? Será que Alckmin conseguirá transferir para Aécio seus votos tucanos ? Há, ainda, o Rio. O PMDB do Rio de Janeiro, insatisfeito com a candidatura do senador petista, Lindenberg Faria, subirá no palanque de Dilma ? Ou um zangadão Pezão fará campanha contrária ? Ele é amigo da presidente, mas não se conformará com a decisão do PT de lançar um candidato próprio ao governo. Axioma 4 "Explore a direção de menor resistência" (Desde que possa conduzir ao objetivo que contribua para a consecução de sua meta básica). Liddell Hart PA, GO E NE As contas tucanas prevêem, ainda, um bom desempenho do PSDB no Paraná e em Goiás. Os tucanos, ademais, acreditam que a candidatura de Eduardo Campos tirará muitos votos de Dilma no Nordeste. Os mais de 10 milhões de votos que a presidente ganhou no Nordeste serão rateados com o candidato do PSB. Mas Lula promete fincar pé na campanha nordestina, a partir de sua forte participação em Pernambuco, seu estado Natal. Axioma 5 "Opere em uma direção que ofereça objetivos alternativos" (Coloque o adversário nas alternativas de um dilema). Liddell Hart Tom maior e tom menor Pois é, o desempenho eleitoral dos partidos nos Estados será o tom menor do pleito, porque o tom maior continuará a ser dado pela economia. Por isso tudo, qualquer projeção sobre votos regionais ficará sujeito às intempéries do macro-clima ambiental, ou seja, o desempenho econômico, na esteira da equação que sempre apresento : BO+BA+CO+CA= Bolso Cheio, Barriga Satisfeita, Coração Agradecido, Cabeça Decidindo dar o voto a quem arrumou o jogo. Axioma 6 "Cuide para que seu plano e seus recursos sejam flexíveis e adaptáveis à situação" (Preveja a manobra a ser realizada em caso de êxito, fracasso ou êxito parcial). Liddell Hart. Serra ? Para onde irá José Serra ? Para a Câmara Federal ? Para o Senado ? Vale um picolé de graviola quem acertar a rota serrista. Axioma 7 "Não exerça um esforço enquanto o adversário estiver em guarda" (Não se deve lançar um ataque quando o inimigo está muito organizado). Liddell Hart Ciro ? Para onde irá Ciro Gomes, atual secretário da Saúde do Ceará ? Para um Ministério do governo Dilma ? Para a equipe de campanha da presidente ? Ou continuará com trombeteiro-mor das forças governistas ? Axioma 8 "Não renove um ataque na direção em que fracassou uma vez" (O fracasso do ataque pode ter levantado o moral do inimigo). Liddell Hart Eduardo e Marina Marina começa a dar dores de cabeça no governador Eduardo Campos. Seu pacote de exigências extrapola o tamanho da parceria. É o que se diz nos bastidores. Veta alianças do PSB com PSDB, a partir de São Paulo. Quer ver a deputada Luiza Erundina como candidata do PSB ao governo paulista. Mas esta não pretende entrar nesse jogo. A questão é : Marina Silva conseguirá, como vice de Eduardo Campos, trazer para a chapa a maior fatia dos quase 20 milhões de votos auferidos no pleito presidencial de 2010 ? PMDB tenso O PMDB vive um estado de tensão. Quer ter uma participação maior no governo, significando uma cota mais forte de Ministérios ou cota de Ministérios mais gordos. No governo Lula, o partido foi mais aquinhoado. As pressões internas se avolumam. Quem administra as tensões, com sua capacidade de articulação e liderança, é o vice-presidente Michel Temer. Esse mês de janeiro será decisivo para o partido, que mostra interesse em segurar os Ministérios que comanda e ganhar outro com maior peso. Ocorre que a disputa é muito acirrada. E Dilma se esforçará para fazer uma reforma que satisfaça ao conjunto governista. Difícil. Agradar uma sigla significa desagradar a outra. É a questão do cobertor curto. Curto ? São 39 Ministérios. Mas os partidos da base são mais de 15. Gregos e romanos "Enquanto os gregos foram teóricos brilhantes, inovadores, os romanos foram agricultores-guerreiros, sérios e prudentes, menos sujeitos que seus antecessores a se deixarem levar por uma idéia. Herdamos nossas idéias dos gregos, mas nossas práticas dos romanos." (Kenneth Minogue) 30%, percentagem cabalística ? Pois é, podemos repartir o eleitorado brasileiro em três grandes blocos, cada qual somando cerca de 30% : os governistas, os oposicionistas e os eleitores que ainda não tomaram posição. Os 10% finais votarão em branco, nulo ou se absterão. 1/3 do eleitorado tende a decidir nos meses finais de campanha. Os bons "Parece que Deus escolhe os bons e os que fazem mais falta, para pagarem pela maldade dos que não fazem falta nenhuma." (Camilo Castelo Branco) Maranhão As últimas imagens sangrentas que estampam um Maranhão tomado pela violência em presídios apontam para um perfil em confronto com o status quo político : Flávio Dino, atual presidente da EMBRATUR e candidato ao governo pelo PC do B. Dilma mais política É visível. Nos últimos tempos, a presidente Dilma treinou mais o bambolê. Tornou-se mais flexível. Hora de conversar, dialogar, ouvir, atender demandas. Hora em que a onça corre ao poço para beber água. E os partidos estão sedentos. Hora da reforma ministerial. Crime desculpado "Quando alguém se vê privado de alimento e de outras coisas necessárias à sua vida, e só é capaz de preservar-se através de um ato contrário à lei, como quando durante uma grande fome obtém pela força ou pelo roubo o alimento que não consegue com dinheiro ou pela caridade, ou quando em defesa da própria vida arranca a arma das mãos de outrem, pela razão acima apresentada, nesses casos o crime é totalmente desculpado." (Leviatã - Thomas Hobbes) Mensalão e eleição O mensalão será um prato, mesmo requentado, no cardápio deste ano. Mas não conseguirá puxar votos das margens sociais. Que olham mais para o bolso. E por falar em mensalão, o que virá de Minas Gerais também subirá ao palco. O caráter "O caráter é como a gravata; uns usam por gravata uma fitinha preta, são os frívolos; outros um lenço de dois palmos de altura, são os graves. A primeira constipa, a segunda sufoca; eu uso gravata regular." (Machado de Assis) Queda no desempenho A GT Marketing e Comunicação, sob o comando deste escriba, acaba de concluir uma enquete sobre os Ministérios do governo Dilma, empreendimento que teve início no final do segundo mandato de Luiz Inácio. A nota média mais alta atribuída aos ministros do governo Dilma Rousseff foi 6,3 (em uma escala de 0 a 10), resultado pior na comparação com o governo Lula, quando a média esteve acima de 6,5. O mapeamento foi feito junto a lideranças empresariais, empresários, dirigentes de entidades, executivos, publicitários e jornalistas. Os mais bem cotados Gleisi Hoffmann, da Casa Civil, e José Eduardo Cardozo, do Ministério da Justiça, lideram o ranking como os melhores avaliados pelo grupo. Empatados no primeiro lugar, receberam nota média de 6,3. Na lanterna Os Ministérios da Fazenda, Trabalho e Emprego e Turismo foram avaliados com notas médias abaixo de 5. Para que a administração seja considerada regular, seriam necessárias notas na casa do 7. Os entrevistados, integrantes da cadeia de formação de opinião, são críticos e acompanham a dinâmica governamental. Anjos "Se os homens fossem anjos, nenhum governo seria necessário." (Kenneth Minogue) Conselho aos maniqueístas Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes, membros dos Poderes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos cartolas. Hoje, escolhe os maniqueístas que se multiplicam no país : 1. O Brasil é um todo territorial e a Pátria de Todos Nós. Não há lugar para exclusivismos e maniqueísmos. Cada grupo, setor, categoria, atividade, cada partido político tem um compromisso para com o país. O Bem-Estar da Coletividade requer integração de sentimentos. 2. Sob essa moldura, ninguém pode se considerar mais importante que outro. O Bem não é exclusividade de um Partido Político. Nem o Mal deve ser atribuído aos entes adversários. Urge acabar com o maniqueísmo burro que circula até no meio jornalístico, formando grupos contrários e excludentes. 3. Obras, livros, opiniões contrárias fazem parte da democracia. Não há razão para o combate mortífero entre petistas e tucanos. Que lutem no terreno das ideias e não na arena das agressões mortais. ___________
quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

Porandubas nº 381

De jeito nenhum Vez ou outra, valho-me do agudo observador da cena brasileira e esforçado amigo Sebastião Nery para abrir a coluna. Como é o caso desta. A historinha se dá nos tempos turvos da promulgação do AI-5, em dezembro de 68, quando foram fechados os Legislativos e os parlamentares eram obrigados a fazer uma declaração de bens de 10 anos anteriores. João Batista Botelho, conhecido na Assembleia Paulista como "João Cuiabano", preparou seu dossiê e, quando ia enviá-lo a quem de direito, foi advertido por um assessor : - Nobre deputado, Vossa Excelência tem de enviar a eles também o seu currículo. João, homem de poucas letras, do alto de sua bravura, virou uma fera : - Isto eu não vou dar de jeito nenhum. Só conseguirão se passarem sobre meu cadáver. Dito e feito ! Serra, ufa, desiste José Serra, ufa, desistiu de ser candidato à presidente da República. E assim, deixa Aécio Neves livre para botar a candidatura nas ruas. Serra fez a confissão pública da desistência, via twitter/facebook. Pediu, até, que os tucanos formalizassem a candidatura. Negócio seguinte : quanto mais Serra demorasse, mais incertezas jogaria na arena eleitoral. Exibe, hoje, uma intenção de voto maior que a de Aécio, mas, ao correr de uma campanha, a tendência aponta para um crescimento do candidato mineiro nas pesquisas. O agora liberado Aécio adensa sua movimentação e apresenta esta semana as 12 diretrizes que servirão de base ao programa do PSDB. "Os poderosos podem destruir uma, duas ou três flores, mas nunca deterão a primavera". Che Guevara Chances do mineiro As chances de Aécio dependerão do estado geral da economia em 2014, ou, mais precisamente, nas margens de outubro de 2014. Com a economia descontrolada, as oposições veriam ampliadas suas condições. A recíproca é verdadeira. No caso específico de Aécio, há uma barreira a saltar: encarnar o perfil do novo, do inovador. O neto de Tancredo Neves expressa os fortes valores da política mineira. Se sair com quatro milhões de votos de maioria, em MG, conta com boas condições de entrar no segundo turno. SP, o maior colégio eleitoral, pode vir a se encantar com a lábia mineira. Vai depender do canto mavioso de Geraldo Alckmin. E também da polarização entre tucanos e petistas. Se vingar, seria vantajosa para Aécio. "O amor é a força mais abstrata, e também mais potente, que há no mundo". Mahatma Gandhi Alckmin sob tiroteio Outro fator a ser considerado será o tiroteio sobre o governador Geraldo Alckmin. O affaire dos trens - denúncias de cartel - será muito usado pelo PT, até para tentar anular os efeitos do mensalão. Alckmin tem imagem positiva, é cordial, começa a adensar a visibilidade - com campanhas institucionais do governo - e possui forte penetração no interior do Estado. Se o eleitorado entrar no jogo da polarização com o PT, será ele o maior beneficiado. SP é um bastião feroz contra o petismo. A rejeição ao PT soma entre 30% a 35%. Em eventual segundo turno, Alckmin levaria a melhor. "Um espírito mesquinho é como um microscópio : aumenta as pequenas coisas, mas impede de ver as grandes". Philip Chesterfield Efeito maldhad O prefeito Haddad não está bem nas planilhas de avaliação. Os índices exagerados de aumento do IPTU geraram protestos. Ainda bem que recursos da FIESP e do PSDB barraram o aumento. Mesmo assim, sobram críticas. Grupos de sem terra e sem teto acampam na frente da prefeitura, no viaduto do Chá. A cidade está um caos. Os corredores exclusivos de ônibus apertam os espaços dos carros. Os congestionamentos se multiplicam. Esse efeito - chamado jocosamente de maldhad - terá consequências eleitorais. A conferir. "Deixe-me dizer, com o risco de parecer ridículo, que o verdadeiro revolucionário é feito de grandes sentimentos de amor". Che Guevara Padilhando O ministro Alexandre Padilha, da Saúde, é a grande esperança de Lula para tomar o principal bastião de resistência ao petismo, o Estado de SP. O maior cabo eleitoral do país espera repetir com Padilha o que fez com Haddad. Tirou um nome asséptico do bolso do colete e conseguiu elegê-lo prefeito. Mas a campanha municipal não foi afetada pelo episódio do mensalão. Nos últimos tempos, o episódio ganhou ampla visibilidade. Lula sabe que não será fácil alavancar seu candidato. O PT pode, até, resgatar seus históricos 25% a 30% dos votos. Mas e a rejeição ao petismo ? "Quem perde a fortuna perde muito; mas, quem perde o caráter, perde tudo". Emerson Financiamento de campanha Acabar com o financiamento privado de campanha, a partir da proibição de doações de recursos por empresas, é uma medida saneadora ? Em princípio, sim. Evitaria que o poder econômico agisse como o principal motor eleitoral. Sejamos, porém, realistas. O poder econômico vai continuar a dar apoio a candidatos. Como ? Por debaixo do pano. O caixa dois será bem usado. Desta feita, se houver proibição, com mais intensidade. Política e interesses privados caminham juntos. Poderá haver um refluxo nos custos gerais das campanhas, mas a grana privada continuará a entrar nos cofres eleitorais. Quem ganha mais Se houver proibição de doações privadas de empresas, quem ganhará mais com a medida ? O PT. Pelas seguintes razões : 1. é o partido mais orgânico, mais vertical, mais capaz de engajar os quadros na luta eleitoral; 2. é um dos partidos que mais recursos recebem do fundo partidário (tem o maior número de deputados Federais); 3. é o partido no comando do poder, ou, noutra leitura, é o partido que detém o poder da caneta. É comum se dizer que o poder da caneta lidera os outros Poderes; 4. é o partido com o maior número de quadros e comandos da máquina Federal em todos os Estados da Federação. Logo, interessa ao PT fechar os dutos financeiros dos partidos, pois os seus cofres estarão bem abastecidos. "O caráter não é esculpido em mármore, não é algo sólido e inalterável. É algo vivo e mutável, e pode tornar-se doente, como se torna doente o nosso corpo". George Eliot STF e a proibição Parece esdrúxula essa decisão do STF de julgar a questão da doação de recursos de empresas para campanhas. Trata-se de matéria típica do Congresso Nacional. O que tem a ver a Suprema Corte com um tema de exclusiva competência da representação política ? Simples. O STF foi acionado pela OAB. E se há um recurso que chega ao seu foro, não pode deixá-lo de lado. Ou seja, por falta de legislação específica, os juízes darão sua interpretação, à luz da Constituição, e julgam. E se o Supremo proibir as doações privadas, o Congresso poderá criar uma lei permitindo tais recursos ? Sim. Estamos, portanto, diante do seguinte fato : o STF pode desaprovar e o Congresso aprovar. No momento em que a lei permitir a doação de recursos por parte de empresas, a interpretação dos ministros cairá por terra. É o que se divisa no horizonte. A conferir. Posse do Marcelo Faço uma homenagem ao dr. Marcelo Cascudo, que toma posse, amanhã, quinta-feira, no Palácio dos Bandeirantes, como presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Cardiovascular. A entidade foi criada pelo inesquecível cirurgião dr. Euríclides de Jesus Zerbini, e já foi presidida pelo dr. Adib Jatene. Marcelo é um paraibano de Uiraúna, vizinha da minha querida Luis Gomes/RN, e um dos mais prestigiados cirurgiões cardíacos do país. Mas é um potiguar honorário, título recebido no Dia do Médico. Marcelo é um líder. E um médico que inscreve seu nome na galeria da excelência. Rebelião na Papuda ? Juízes substitutos da vara de Execuções Penais, responsáveis pela prisão de condenados do processo do mensalão, querem ser removidos. A causa ? Receio de rebelião na penitenciária da Papuda. Poderia haver fuga em massa nas vésperas de Natal. Criou-se, ali, a partir da prisão dos mensaleiros, um tratamento desigual. Os chamados presos comuns não se conformam com as regalias aos condenados da AP 470. Fenaserhtt elege diretoria Entidade representativa oficial do setor de prestação de serviços especializados e de trabalho temporário no Brasil, a Fenaserhtt (Federação Nacional dos Sindicatos de Empresas de Recursos Humanos, Trabalho Temporário e Terceirizado) tem nova diretoria para o quadriênio 2014/2017. Vander Morales, presidente do Sindeprestem (Sindicato Patronal Paulista do Setor), foi eleito para comandar os rumos da Fenaserhtt. "A federação representa a concretização de um antigo sonho do empresariado. É uma organização maior, com mais poder de representatividade e participação nos debates na esfera governamental e fóruns tripartites", diz Morales. O roubo de duas melancias O juiz Rafael Gonçalves de Paula, da 3ª vara criminal de Palmas/TO, deu o seguinte despacho sobre o auto de prisão em flagrante de Saul Rodrigues Rocha e Hagamenon Rodrigues Rocha, detidos em virtude de suposto furto de suas melancias. - "Para conceder a liberdade aos indiciados, eu poderia invocar inúmeros fundamentos : os ensinamentos de Jesus Cristo, Buda e Ghandi, o Direito Natural, o princípio da insignificância ou bagatela, o princípio da intervenção mínima, os princípios do chamado Direito alternativo, o furto famélico, a injustiça da prisão de um lavrador e de um auxiliar de serviços gerais em contraposição à liberdade dos engravatados que sonegam milhões dos cofres públicos, o risco de se colocar os indiciados na universidade do crime (o sistema penitenciário nacional). O juiz continuou : - Poderia sustentar que duas melancias não enriquecem nem empobrecem ninguém. Poderia aproveitar para fazer um discurso contra a situação econômica brasileira, que mantém 95% da população sobrevivendo com o mínimo necessário. Poderia brandir minha ira contra os neoliberais, o consenso de Washington, a cartilha demagógica da esquerda, a utopia do socialismo, a colonização européia ! Poderia dizer que George Bush joga bilhões de dólares em bombas na cabeça dos iraquianos, enquanto bilhões de seres humanos passam fome pela Terra - e aí, cadê a Justiça nesse mundo ? - Poderia mesmo admitir minha mediocridade por não saber argumentar diante de tamanha obviedade. Tantas são as possibilidades que ousarei agir em total desprezo às normas técnicas : não vou apontar nenhum desses fundamentos como razão de decidir. - Simplesmente mandarei soltar os indiciados. Quem quiser que escolha o motivo. Expeçam-se os alvarás. Intimem-se". Conselho aos cartolas Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes, membros dos Poderes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos membros do PT. Hoje, volta sua atenção aos cartolas : 1. Urge exigir do STJD regras mais claras para julgamento de clubes e jogadores. Um time é apenado com rebaixamento por ter escalado jogador suspenso. A Lusa desce e o Fluminense sobe. 2. Mas, em 2010, ao que se divulga, o Fluminense sagrou-se campeão nacional, cometendo a mesma penalidade da Portuguesa. Escalou o jogador Tartá, suspenso. 3. Ao que parece, há uma tentativa de deixar os grandes times em situação melhor. Os clubes médios, sem grande poder, são mais punidos. Essa é a Justiça esportiva que temos ? Por que não temos regras mais claras ? Ou será que, por nossas plagas, continua vingando o ditado : "os pobres nunca deviam fazer guerra" ?
quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

Porandubas nº 380

Quarta-feira, 11 de dezembro de 2013 - Migalhas nº 3.267. Abro a coluna com um relato do impagável Zé Abelha, em seu A Mineirice : A distribuidora de bebidas Minasgerais Ltda., de Governador Valadares, distribuiu na cidade um opúsculo sobre as maravilhas da Catuaba, eficiente no tratamento do sistema nervoso, falta de apetite e impotência. Adicionada à cachaça, a dose teria efeitos afrodisíacos, prometia o livreto : - Tudo escureceNada amanheceA barriga cresceA junta endureceA vista enfraqueceO cabelo embranqueceA mulher ofereceEle agradeceE diz : ah ! Se eu pudesse !- Mas com Catuaba CristalIsso não acontece. O estoque acabou em menos de uma hora. Bomba ? Quais os efeitos ? Pois é, não se fabricam mais bombas como antigamente. Ou, se quiserem, outra hipótese : as bombas de hoje têm grande poder destrutivo, mas não causam tanto medo como antigamente. Querem outra ? De tantas bombas, explodindo de muitos lados, ninguém sabe qual a mais potente. E mais uma : a banalização das bombas acaba gerando insensibilidade social. Em tempos d'outrora, vandalismo, violência, destruição e morte causavam sensação. Comoção social. Hoje, virou algo comum. A morte está ali, na esquina, à espreita. O arrazoado é um narizão de cera para fechar a ideia : a bomba anunciada pela revista Veja, com a entrevista exclusiva do delegado Romeu Tuma Junior, sobre as peripécias do poder petista, não causou, por enquanto, os estragos que dela se esperavam. A estratégia do PT O PT expressou sua posição com um silêncio profundo. Tarso Genro, o governador gaúcho, foi um dos poucos a se manifestar. Disse que não tinha conhecimento detalhado dos fatos narrados pelo delegado e que teriam sido narrados a ele, quando era ministro da Justiça. O partido não deu bola à entrevista, onde se liam denúncias graves, algumas já conhecidas, outras apontando novidades. A produção de dossiês, a cargo de pessoas do partido, já era coisa conhecida. Mas dossiê, documento, vazamento, informações pela metade constituem o acervo cotidiano da política, ou, se quiserem, da politicagem. Por isso, nessa esfera, a coisa morrerá logo. O Barba Dizer que Lula, codinome Barba, foi informante do DOPS pode parecer um exagero. Preso, abriu conversa com o Tumão, o velho Romeu Tuma, que chefiava o DOPS, podendo, até, ter passado informações. Seria isso dedodurismo ? Cada qual tire suas conclusões. O clima pré-eleitoral esfumaça o ambiente. A história de que chegou a dormir em sofá da sala já era conhecida. Um dia, a verdade verdadeira aparecerá. Igualdade entre presos É evidente que houve, sim, espetacularização no episódio dos mensaleiros presos. De um lado, a intensa cobertura midiática expôs a situação dos prisioneiros do PT, com abordagens muito negativas. De outro, os posicionamentos de cada um deles exigindo tratamento diferenciado. Os doentes, como Genoino e Jefferson, devem passar, sim, pelo crivo de médicos. Só eles podem atestar o estado de saúde e as condições que devem cercá-los na prisão. Feitos os laudos, cumpra-se a lei. A reação de um ou outro, escancarando um processo de vitimização, acirrou os ânimos. Petistas tentaram formar um bastião de defesa. Sem olhar para outros prisioneiros, com penas até maiores. Por que alguns foram chamados de "prisioneiros políticos" e outros, de simples condenados ? Faltam isenção e bom senso na análise da situação. Mentiras Bismarck, o maior estadista alemão do século XIX, dizia que "nunca se mente tanto antes das eleições, durante uma guerra e depois de uma pescaria". Barbosa, fora da comitiva Comenta-se que a presidente Dilma teria cometido uma deselegância para com o presidente do STF, Joaquim Barbosa, pelo fato de não tê-lo convidado a integrar a comitiva de ex-presidentes da República que foi à África do Sul assistir ao funeral do ícone de grandeza e um dos maiores lides do século XX, Nelson Mandela. Ora, como se sabe, a comitiva foi integrada por ex-presidentes da República. Barbosa não se enquadra na situação. É chefe de um Poder ? Sim. Mas se fosse convidado, a presidente da República seria também obrigada, por um dever de Justiça, a convidar os presidentes de outros Poderes, Henrique Alves, presidente da Câmara Federal, e Renan Calheiros, presidente do Senado Federal. O fato de Joaquim ser negro não justificaria o convite. Joaquim na política ?  Não acreditem nessa hipótese. O presidente do STF é assediado, admirado, convidado para frequentar os mais diferentes eventos em todas as regiões do país. Ganhou fama pela maneira corajosa de ter administrado o julgamento da AP 470. Isso é um fato. A mosca azul da política bateu asas em sua direção ? Apelos e pressões nessa direção não faltam para que se candidate à presidente da República. Ora, seria o maior erro de sua vida se decidisse entrar agora na seara política. O tempo não é esse. Cada qual com seu bornal. E no seu devido ciclo de vida. Antecipar a carreira no Judiciário seria ruim para ele. No campo das emboscadas políticas, ele seria triturado pela máquina de sujar perfis. O momento aconselha que permaneça onde se encontra. E a Eliana Calmon ? E por que a Eliana Calmon, ex-corregedora do STJ e dura no julgamento de juízes corruptos, está entrando na política ? Possivelmente, será candidata a senadora pelo PSB na BA. Bom, primeiro é oportuno dizer que não se deve comparar uma coisa com outra. Calmon se aposentou. Fez um percurso vitorioso no Judiciário, chegando ao fim da linha. Seu tempo de vida útil ali chegara ao fim. Joaquim tem um bom tempo ainda na carreira de ministro do STF. Eliana pensa em se candidatar ao Senado pela BA. O espaço que pleiteia combina com seu perfil. Ademais, ela já vive sua quarentena, um tempo afastado do caminho da Justiça. Padilha com 30% Petistas me dizem do mais alto patamar de sua convicção : Alexandre Padilha, em julho de 2014, deverá exibir 25% de intenção de voto, devendo chegar aos 30% em final de agosto. Não duvido. Seriam os 30% históricos do PT em SP. Mas a política é um rio sinuoso. Cheio de curvas. Tudo vai depender do clima e das circunstâncias. Alckmin com 40% Pois é, na mesma linha das certezas, tucanos do bico longo me dizem : Geraldo Alckmin, que hoje ostenta 43% de intenção de voto, deverá permanecer em torno de 40% em julho, podendo chegar aos 45% em final de agosto. Respondi com a mesma hipótese : tudo vai depender do cheiro do tempo. A polarização será a mesma ? Coloco outra hipótese no caldeirão eleitoral : o arrefecimento da polarização entre PSDB e PT. Ou seja, digamos que em julho de 2014, o embate histórico entre petistas e tucanos esteja frio. Aponto algumas razões : desgaste de material ; mesmice ; sensação de que não haverá substantiva mudança com o petismo no poder estadual ; sensação de que SP carece de novos rumos, um perfil empreendedor no poder ; tiroteio intenso entre os dois exércitos e destruição recíproca de seus arsenais. Esse é um cenário que não pode ser desprezado. Nessa hipótese, teria vez o candidato do PMDB, Paulo Skaf. Sindetur/SP - 6,6 mil empresas O Sindicato das Empresas de Turismo no Estado de São Paulo (Sindetur/SP) elegeu Eduardo Nascimento para a gestão 2014/2018. Composta por 10 vice-presidentes, a Chapatur foi escolhida por aclamação em Assembleia Geral Eleitoral ocorrida na sede da entidade no final de novembro. A posse será em janeiro. "A meta é ampliar o foro de discussões sobre as necessidades do setor de Turismo e promover ações conjuntas com as demais entidades representativas do agenciamento turístico, em defesa dos interesses da categoria", destaca o presidente reeleito. O Sindetur/SP representa cerca de 6,6 mil empresas de turismo em sua base territorial. Aperto na segurança As empresas de segurança, que enfrentam grandes dificuldades para honrar o 13º salário, foram pegas de surpresa pela Portaria 1.885/13 do Ministério do Trabalho. Como é sabido, negocia-se, há tempos, a concessão de 30% de adicional de periculosidade, em SP ; 18% já foram concedidos e os restantes 12% devem ser ajustados nos próximos acordos. Daí a surpresa : o Ministério "regulou" a matéria, definindo que o benefício deve ser pago de uma só vez a contar de 3 de dezembro. Mas em janeiro ocorrerá o "Acordo Coletivo" da categoria. Ora, as empresas não teriam fôlego para integralizar os 30% já agora em dezembro. Pergunta que o setor coloca : a clientela aceitará os repasses correspondentes ? Quantas empresas terão condições de sobreviver ? As portas do desemprego começam a se abrir. A insegurança jurídica é uma constante ameaça, afastando empreendedores e investimentos. Haja sonegação ! A sonegação fiscal no Brasil chega à casa dos R$ 400 bilhões. Desenvolvido pelo Sindicato Nacional dos Procuradores da Fazenda Nacional (Sinprofaz), o "Sonegômetro" apresenta em tempo real o quanto o país deixa de arrecadar todos os dias, por meio do endereço eletrônico (clique aqui). Um painel móvel, com o placar da sonegação fiscal, circulará nas proximidades do Congresso Nacional, a partir de hoje, 11. "Sonegômetro". O Sindicato realizou um estudo que estabelece indicadores para a evasão fiscal. A ação faz parte da Campanha Nacional da Justiça Fiscal "Quanto custa o Brasil pra você ?". Velha história, nova história Carta de Vespasiano a seu filho Tito 23 de junho de 79 d.C. "Tito, meu filho, estou morrendo. Logo eu serei pó e tu, imperador. Espero que os deuses te ajudem nesta árdua tarefa, afastando as tempestades e os inimigos. "De minha parte, só o que posso fazer é dar-te um conselho : não pare a construção do Colosseum. Em menos de um ano ele ficará pronto, dando-te muitas alegrias e infinita memória." "Alguns senadores o criticam, dizendo que deveríamos investir em esgotos e escolas. Não dê ouvidos a esses poucos. Pensa : onde o povo prefere pousar seu clunis : numa privada, num banco de escola ou num estádio ? Num estádio, é claro." "Será uma imensa propaganda para ti. Ele ficará no coração de Roma 'per omnia saecula saeculorum', e sempre que o olharem dirão : 'Estás vendo este colosso ? Foi Vespasiano quem o começou e Tito quem o inaugurou'." "Outra vantagem do Colosseum : ao erguê-lo, teremos repassado dinheiro público aos nossos amigos construtores, que tanto nos ajudam nos momentos de precisão." "Moralistas e loucos dirão que mais certo seria reformar as velhas arenas. Mas todos sabem que é melhor usar roupas novas que remendadas. 'Vel caeco appareat' (Até um cego vê isso). Portanto, deves construir esse estádio em Roma". Enfim, meu filho, desejo-te sorte e deixo-te uma frase : 'Ad captandum vulgus, panem et circenses' (Para seduzir o povo, pão e circo)." "Esperarei por ti ao lado de Júpiter." Nossos coliseus Vespasiano morreu no dia seguinte à carta. Tito inaugurou o Coliseu com 100 dias de festa. Tanto o pai quanto o filho foram deificados pelo Senado. Cheguemos aos nossos dias. A pergunta de Vespasiano continua valendo : "Onde o povo prefere pousar seu clunis : nos monumentais estádios de Cuiabá, Brasília, Natal, Recife e Manaus ? Ou numa privada, num banco de escola ou num estádio ?" P. S. A Arena Pantanal, em Cuiabá, terá 43.600 lugares. No último campeonato de MT, a média foi inferior a 1.000 pessoas por partida. Em Manaus, a Arena terá 47 mil lugares. No último campeonato estadual, juntando os 80 jogos, o público total foi de 37.971. Vespasiano está vibrando. Em tempo: Em latim, clunis quer dizer nádega. (De um constante colaborador da coluna) Comida de tubarão Piada contada nas rodas do Teresina Shopping, pelo "historiador" Sena Rosa. Um piauiense chega a SP pedindo emprego e lhe é oferecida a oportunidade de entrar no mar dentro de uma jaula para enfrentar um tubarão preso em outra jaula. O empregador : "Lá no fundo do mar, você abre a sua jaula para o tubarão entrar e aguarde para pronunciar a palavra 'tuba'". O piauiense : "E porque não dizer a palavra 'tubarão' completa ?". O empregador : "Se der tempo". Conselho aos membros do PT Na última coluna, o espaço foi destinado aos eventuais candidatos aos governantes. Hoje, volta sua atenção aos membros do PT. 1. O PT realiza esta semana seu 5º Congresso Nacional com os olhos pregados no futuro. Certamente, temas sensíveis como a AP 470 deverão ser objeto de análise e debates. O PT não pode continuar argumentando que o mensalão não existiu, que o STF errou em seu julgamento, que o Partido é uma vestal da República. 2. O PT deve entender que faz parte do quadro partidário, moldando-se à cultura política e, dessa maneira, navega nas ondas dos costumes e padrões em curso, não sendo exceção à regra. 3. O PT não pode desejar ser referência de ética e moral, como alguns membros da cúpula partidária garantem. O PT precisa reconhecer seus erros.
quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

Porandubas nº 379

Nesses tempos de tanta acochambração, abro a coluna com uma historinha de Salim, de um leitor fiel de Porandubas : Salim pensou bem e decidiu ir ao banco. - Eu quer faze uma embréstimo ! Surpreso, o gerente pergunta para Salim : - Você, Salim, querendo um empréstimo ? De quanto ? - Uma real. - Um real ? Ah, isso eu mesmo te dou. - Não, não ! Eu querer embrestado da banco mesmo ! Uma real ! - Bem, são 12% de juros, para 30 dias... - Zem broblema ! Vai dar uma real e doze zentavos. Onde eu assina ? - Um momento, Salim. O banco precisa de uma garantia. Sabe como é, são as normas. - Bode begar meu Mercedes zerinha, que tá aí fora e deixa ele guardado no garagem da banco, até eu bagar a embréstimo. Tão bom azim ? - Feito! Chegando em casa, Salim diz para Jamile : - Bronto, nóis já bode viajar bra Turquia zem breogubazon. Conzegui dexar a Mercedes num garagem do Banco do Brasil bor 30 dias, e eu só vai bagar doze zentavos de estacionamento. A renúncia de Genoino A renúncia do deputado José Genoino (PT/SP) o livra do processo de cassação. O presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB/RN), garante que ele ainda pode se aposentar, por ter entrado com o pedido antes de ter anunciado a renúncia. Se a aposentadoria fosse concedida antes da abertura do processo de cassação, Genoino também não responderia pelo processo de cassação de mandato. Como se recorda, o STF - que o condenou no processo do mensalão - determinou a perda automática do mandato parlamentar, mas o presidente da Câmara dos Deputados disse que iria instaurar processo normal de cassação, que inclui votação em plenário. Caso Genoino não tivesse renunciado, o processo seria submetido ao plenário da Câmara já em votação aberta. Eletricidade no ar A eletricidade está no ar. Em todos os espaços. Ainda bem longe da feroz campanha de 2014, os ânimos já se acirram. De um lado, as oposições tentando tirar uma casquinha nas feridas do mensalão que chega ao fim, com a prisão de políticos petistas e outros ; e de outro, o governismo comemorando o avanço lento e gradual da presidente Dilma no ranking pré-eleitoral. Afinal, quais os efeitos do mensalão na campanha e por onde caminhará o governismo ? A economia das bases prevalece Os oposicionistas estão com a pulga atrás da orelha. Perguntam-se : afinal de contas, com a onda midiática em torno da prisão de mensaleiros, por que a presidente Dilma, que encarna o status quo governista, expande seus índices eleitorais ? Mais uma vez, este consultor mete a mão na cumbuca para reiterar o que tem dito ao longo dos últimos meses. A economia prevalece sobre a política. Ou seja, o bolso, neste momento, é mais importante que o barulho que a política provoca. Apesar dos pesares na esfera das contas públicas, déficits fiscais, baixo crescimento do PIB, conta exportação em baixa, o povão das margens não tem sido afetado pelos grandes números. O programa assistencialista garante geladeira cheia e barriga satisfeita. Logo, a cabeça pende para quem patrocina as benesses. Dossiês Começou o ciclo de produção de dossiês. Há gente inocente pagando por calhordas no episódio dos trens em SP. E há partidos querendo tirar proveito do episódio. Há muita versão fajuta. A conferir os resultados. O meio consolida posições Por isso mesmo, as bases têm garantido à presidente Dilma seu bom posicionamento. E mais : querem que ela faça mudanças. Esse é um dado interessante. Identificam nela o perfil capaz de fazer mudanças, não o Aécio nem o Eduardo Campos. Já as classes médias consolidam sua visão, mantendo forte rejeição ao lulopetismo, como se observa em SP, por exemplo. No maior colégio eleitoral do país estão os contingentes mais racionais e as searas mais anti-petistas. Por isso, Alckmin continua a ter bons índices - 43% - nas pesquisas. Lula, ainda o maior Luiz Inácio Lula da Silva continua a liderar o ranking de puxadores de voto. Teria, hoje, na condição de eventual, cerca de 55% de intenção de voto. Continua a desfraldar a bandeira de defensor dos pobres. Mensalões no ar É evidente que muita coisa poderá mudar até as eleições. Digamos que o efeito pedra no meio da lagoa gere consequências (marolas se formam até as margens da lagoa) ; isto é, as classes médias, contrárias ao petismo, fariam circular sua contrariedade até as beiradas. Tudo bem. Isso é possível. Mas em 2014, deveremos assistir o affaire do mensalão mineiro. Os petistas poderão brandir o escândalo mineiro em contraponto ao seu escândalo. O deputado Eduardo Azeredo, do PSDB, poderá virar o alvo do tiroteio. O Triângulo das Bermudas O centro do fenômeno eleitoral será o espaço chamado Triângulo das Bermudas : SP, maior colégio eleitoral, com 32 milhões de eleitores ; MG, com 15 milhões, segundo colégio eleitoral, e RJ, com 11 milhões, terceiro colégio eleitoral. SP e Minas são governados por tucanos. Alckmin, hoje, lidera o processo em SP, tendo mais de 40% de intenção de voto. O governador Anastasia, em Minas, quer dar a Aécio maioria de 4 milhões de votos. No Rio, Garotinho está na frente e os candidatos do PT e do PMDB, Lindbergh e Pezão, poderão crescer. Lembre-se, ainda, que GO, com Marcone Perillo, e PR, com Beto Richa, são governados por tucanos. O PSDB, teoricamente, tem boas condições de lutar pelo segundo turno. Mas... Cadê o discurso ? Ocorre que falta discurso às oposições. Aécio Neves expressa com veemência peroração política - centrando críticas em perfis do petismo, a partir da presidente Dilma - mas lhe falta uma abordagem programática. Qual é o projeto para o país ? Qual a alternativa econômica em substituição ao modelo petista ? Por onde caminhar ? Qual a proposta para a reforma tributária ? São questões como essas que continuam sem resposta por parte das oposições. E Eduardo Campos, por sua vez, tem uma banda governista. Não conseguiu, até o momento, fixar uma imagem de oposição forte. Carrega imagem frappé. Campos no Nordeste Eduardo Campos vai tentar se apresentar como o candidato da região Nordeste. E quer sair de PE com uma extraordinária votação. Tem tido boa avaliação, sem dúvida. Mas não devemos esquecer que Lula é pernambucano e vai correr seu Estado para encher a bacia de votos de sua candidata. Dirá, por exemplo, que os R$ 40 bilhões que PE recebeu, nos últimos anos, de investimentos se deram sob a égide dos governos petistas, dele e da presidente Dilma. Será interessante acompanhar a querela pernambucana. Ceará e os Ferreira Gomes No CE, os irmãos Cid Gomes e Ciro Gomes resistem a um acordo com o PMDB, cujo candidato ao governo é o senador Eunício Oliveira, hoje com 45%. Esse é um dos imbróglios a serem resolvidos pelo PT. No pano de fundo, vê-se a chance de Tasso Jereissati voltar à política como senador, pelo PSDB. Portanto, é possível que o reduto governista dos Ferreira Gomes vá às urnas bastante dividido. Sergipe e o vice Com a morte do governador Marcelo Déda, aos 53 anos, crescem as chances do vice-governador Jackson Barreto, do PMDB, levar a melhor no pleito de 2014. Terá a máquina a seu favor. Sobre Deda : um perfil de moderação ; inteligente, articulado, poeta. Um dos melhores quadros do PT. Querido amigo da presidente Dilma. Skaf em SP Paulo Skaf, que será o candidato do PMDB ao governo paulista, continua despontando com boas chances. Tem cerca de 20% de intenção de voto. O índice se mantém. Nas pesquisas qualitativas, aparece como o perfil que mais se destaca, o mais asséptico. Paulo tem, sim, condições de quebrar a polarização PSDB x PT. PMDB nos Estados No PR, o PMDB poderá vir a apoiar a senadora Gleisi, do PT, ao governo ; mas Requião, o senador com voz forte no partido, pensa em se candidatar. Em GO, o candidato deverá ser Junior, da Friboi ; em Minas, o PMDB poderá fechar com o PT, de Fernando Pimentel, e ganhar a vice, com o ministro Antônio Andrade, da Agricultura ; Clésio, o senador do PMDB pensa em disputar o cargo de governador. Na BA, Geddel será o candidato ; no RN, se não sair com candidato próprio, poderá fazer aliança com o PSB de Wilma Faria. No Rio, o imbróglio é grande. Pezão será candidato. E assumirá o governo com a saída de Cabral, que se candidatará ao Senado. E quando o PT vai deixar o governo de Cabral ? Haddad em baixa Previsível. O prefeito Fernando Haddad está no despenhadeiro da imagem. Também, pudera. Faz um pacote com alta taxa de IPTU para áreas comerciais e algumas regiões, algo entre 25% e 35%. A comparação é inevitável : quem teve aumentos salariais e de ganhos nesses índices ? Era de esperar um reajuste de 10% no máximo. Seu pacotão vai estourar nas costas de Padilha ? Padilha, Mais Médicos Se Alexandre Padilha fosse candidato a governador em um Estado do Norte ou mesmo do Nordeste, poderia ter uma ótima votação. Em SP, a coisa é mais complexa. O programa Mais Médicos renderá ótimos frutos para a presidente Dilma em 2014. Em SP os efeitos desse programa não serão tão impactantes. Mas o PT, como se sabe, tem garantido a seus candidatos majoritários cerca de 30% dos votos em SP. Desse modo, esse poderá ser o teto de Padilha. Aliás, podemos projetar a seguinte equação : 30% para o candidato governista; 30% para o candidato oposicionista e 30% para o perfil alternativo. É uma boa equação para se projetar o cenário paulista. Petrobras É surpreendente como a Petrobras descamba no perigoso terreno da má gestão. Graça Foster, diz-se, é uma ótima gestora. Mas quem está dirigindo a empresa é a dupla Dilma/Mantega. Graça apenas assina os papéis. De tombo a tombo, a Petrobras cai no poço do descrédito. Desabou, esta semana, 10,37%. Que triste. Marcha à ré no crescimento O governo anda trombando em seus próprios números. Esta semana o IBGE anunciou que a economia brasileira recuou 0,5% no terceiro trimestre deste ano em relação ao trimestre anterior. É o pior desempenho desde o primeiro trimestre de 2009, durante o auge da crise global - ali houve retração de 1,6% na comparação com o trimestre anterior. Primeiro erro : um dia antes, o ministro Guido Mantega disse que a economia deveria registrar crescimento de 2,5% neste trimestre em relação ao mesmo período do ano passado. O número correto é 2,2%. Segundo erro : em entrevista ao jornal espanhol El País, a presidente Dilma disse que o PIB de 2012 seria revisado de 0,9 para 1,5%. Foi apenas de 0,9% para 1%. Mais um gigante nacional ? Por meio de manifestação de interesse, a prefeitura de SP selecionou interessados na modelagem da PPP que será responsável pela modernização, operação e manutenção da iluminação pública da cidade. SP é uma das cinco maiores metrópoles do mundo. O consórcio que faz hoje o serviço se uniu a J&F, ou seja, Friboi. Há quem diga que o PT estaria por trás dessa tentativa de criar mais um gigante nacional. Para haver efetiva concorrência, urge lembrar que SP é tão grande que, em uma licitação nacional, quem faz o serviço em SP teria melhores condições de atestar experiência. Transparência Brasil caiu no ranking da transparência. Ocupa a 72ª posição entre 177 Nações. Tinha a 69ª posição. Um alerta à ANAC O departamento de transporte dos EUA multou a companhia aérea GOL em US$ 250 mil por violar várias normas sobre Direito do Consumidor e não revelar todas as informações necessárias sobre as taxas aplicadas aos passageiros. Esta é a maior multa aplicada pela agência Federal desde que reforçou sua legislação de proteção dos passageiros em abril de 2011. "Adotamos estas normas para assegurar que os passageiros sejam tratados com respeito quando compram um bilhete ou entram em um avião", afirmou Anthony Foxx, secretário de transporte dos EUA em uma nota de imprensa. A sanção decorre das falhas observadas no site da GOL após seu lançamento em 2012, no qual não estavam incluídas todas as informações requeridas, como os planos de contingência para longos atrasos na pista do aeroporto ou links à lista de preços por bagagem e outros serviços opcionais. É um alerta à nossa ANAC. Conselho às autoridades Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes, membros dos Poderes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos eventuais candidatos aos governos estaduais. Hoje, volta sua atenção aos governantes : Nos últimos tempos, temos assistido a eventos de impacto, principalmente acidentes envolvendo obras em construção, como estádios, prédios, etc. 1. Urge pôr uma lupa nos empreendimentos, observando-se rigorosamente as maneiras de operação, os sistemas de segurança, os licenciamentos e as condições de trabalho. 2. Nas arenas em construção para a Copa de 2014, todo cuidado é pouco. Imaginem a ocorrência de acidentes no período de realização dos jogos ; a imagem do país estaria irremediavelmente comprometida. 3. A pressa é inimiga da perfeição. Querer tirar os atrasos nos cronogramas, procurando queimar etapas ou acelerar processos, sob a ameaça de perda de qualidade, é um enorme risco. Atentem para essa questão.
quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Porandubas nº 378

Abro a coluna com historinhas do inesgotável folclore político de MG. Bias fortes Juscelino Kubitschek era presidente da República na década de 50. A questão fronteiriça entre Minas e o ES recrudesceu. JK reuniu os dois governadores dos Estados litigantes. Conseguiu de ambos o compromisso de cessarem, de imediato, as hostilidades, voltando os limites estaduais à situação anterior, enquanto comissão de alto nível das duas Unidades da Federação buscava uma solução. Ao término da reunião, os jornalistas cercaram os dois governadores, querendo saber se havia uma decisão. Bias Fortes, governador de Minas, resumiu : "Acabou-se o qui pro quo, voltamos ao status quo". Gustavo Capanema Discursava num comício em Pará de Minas. Citou verbas em cifras detalhadas, que foram de bilhões aos centavos. Um assessor perguntou-lhe : - Por que tantos quebradinhos ? Capanema esclareceu. - Para mentir é preciso ser preciosista. Assim, ninguém percebe que você está mentindo. Israel Pinheiro Ouvia as queixas do general Eurico Gaspar Dutra, candidato do PSD em 1945 à sucessão presidencial. Estava muito ressentido com os ataques da mídia. Queria responder. Exigia retratação. Israel Pinheiro interveio. - General, não se perturbe. Ataque da imprensa é como sol de praia nas férias. A pele arde nos primeiros dias, depois se acostuma. Juscelino Kubitscheck Sabia que não podia contar com o vice, Café Filho, que assumiu a presidência da República após o suicídio de Vargas, em 1954. Irritado com Café Filho, JK ouviu a pergunta de um curioso governador nordestino. - Doutor Juscelino, qual é, em toda essa história, a posição do Café ? - Que Café ? O vegetal ou o animal ? Tancredo Neves Ministro da Justiça de Vargas, que se suicidou tragicamente em 1954. Deixou a pasta da Justiça, e outro mineiro, José Monteiro de Castro, assumiu o poder como chefe da Casa Civil. Tancredo destinou-lhe este telegrama : - Mais amigos do que nunca, mais adversários do que nunca. Recuo de Dilma ? Nos últimos 10 dias, a mídia impressa baixou em alguns graus a temperatura da presidente Dilma no termômetro eleitoral. Notas críticas e análises de colunistas aumentam o cacife das oposições. Este consultor não viu nenhum evento ou situação negativa a sinalizar o rebaixamento da nota de Dilma no ranking. A economia continua nos patamares anunciados, a empregabilidade está nos conformes e a inflação, rondando os 6%, dentro do previsto. Qual teria sido o fator deflagrador do rebaixamento do índice de confiança ? Atraso nas obras Uma leitura mais aguda das páginas de política sinaliza atraso nas obras, reunião da presidente com 15 ministros para cobrar providências, definir novas metas para os programas e expandir projetos. É possível que tais sinais mostrem algum arrefecimento da confiança, a par da declaração enfática de Lula : "se encherem o saco, volto em 2018". Vejam bem : 2018. Portanto, não há um Lula disposto a encarar 2014. Até porque o ex-presidente é um oceano de confiança. E tem atividades a desempenhar : palanques nos Estados, articulação intensa para consolidar base governista, aparar arestas entre correligionários e unir o próprio PT, dividido em alas. Franco favorita A equação BO+BA+CO+CA= Bolsa+Barriga+Coração+Cabeça continua incólume. Com o bolso das bolsas, sob economia controlada, a geladeira das massas continuará farta; o coração comovido agradecerá a generosidade e enviará à cabeça a decisão de voto em quem patrocina a festa : Dilma (Lula). Este consultor, sem part pris, continua a achar que a presidente Rousseff é franco favorita. Maluf condenado e candidato Paulo Maluf tem fôlego de sete gatos. Há muito tempo o MP tenta colocá-lo fora do páreo político. Pois bem, o TJ/SP o condenou por desvios de recursos. Mas não falou em dolo. Maluf poderia se apresentar como candidato em 2014. De qualquer maneira, ele vai recorrer. Maluf terá mais dificuldades do que outras vezes de se livrar das barras da Justiça. Mas conhece como ninguém as veredas da Justiça. Haja recursos. FFF x BF x MR É inacreditável. Paulo Maluf, em sua vitoriosa campanha para a prefeitura de SP, conduzida por Duda Mendonça, já usava o bordão : Fez e Fará. Paulo Fez, Paulo Fará. Vê-se, agora, que a lei de Lavoisier continua a ser usada fartamente. Não é que a campanha de Dilma anuncia o bordão : Fez, Faz e Fará ? Claro, João Santana foi aluno de Duda Mendonça. E apenas resgata o velho refrão. Ocorre que o povo, hoje, é mais exigente. Quer coisas Bem Feitas (BF) e Mais Rápidas (MR). Não é possível que tenhamos de dar um mergulho nas lorotas do passado. Doações vão vingar ? Expande-se a corrente dos contrários às doações de empresas para campanhas eleitorais. A declaração enfática do ministro do STF, Dias Toffoli, que irá presidir o pleito de 2014, condena as doações de empresas, comparando-as com extorsões. Tudo isso deverá ser avaliado nos próximos dias pelo Congresso. Na visão deste escriba, tudo continuará como d'antes no quartel d'Abrantes. Petrobrasa A fogueira de críticas contra a Petrobras está mais alta. Há brasa por todos os lados. Petrobras vira Petrobrasa. A presidente Graça Foster promete recuperar os bons índices da ex maior empresa brasileira. Será que conseguirá colocar novamente a simbólica companhia nos nossos corações ? Os reajustes no preço da gasolina virão a conta-gotas. Em 2014, ano eleitoral, essa possibilidade se torna muito remota. Mas, tudo é possível. O pré-sal já deu muita saliva. E continuará a jorrar verbos e a consumir verbas. Graça precisa se afirmar como gestora de alto nível. À propósito... Aliás, a presidente Dilma começa a ter a imagem borrada. De gerente e voltada para resultados, a presidente adquire traços de burocrata e ocupada em mil reuniões. Pontos fortes e fracos O Nordeste deverá ser o ponto mais fraco de Aécio Neves. Seu ponto forte, é obvio, será o segundo colégio eleitoral do país, MG (15 milhões de eleitores), onde deverá fazer uma frente de 4 milhões de votos. De dois votantes, um deverá ser aliado de Aécio. Mas o Nordeste deverá ser o ponto forte de Dilma (o Bolsa Família, o programa Mais Médicos) e também o de Eduardo Campos. Que deverá ter uma frente, em PE, de 1,5 milhão de votos. SP, o maior colégio eleitoral (33 milhões de eleitores) dará a Aécio os votos tucanos de Geraldo Alckmin ? Essa é a grande dúvida. O RJ (11 milhões de eleitores) continuará a ser um forte bolsão de votos para Dilma ? SP continuará a dar ao PT 25% a 30% dos votos ? Campos entrará em SP e no Rio ? Aliás, onde será o maior colégio eleitoral (Estado) da presidente ? BA, SP, RS ? Respondam-me essas questões e direi quem serão os dois do segundo turno. PT x PMDB O PT quer desbancar o PMDB nas regiões. Vai lançar candidatos a governos para um eleitorado 44% maior que o de 2010. Serão 12 concorrentes. Deverá disputar nos sete maiores colégios eleitorais, que somam 72,6% do eleitorado nacional. Novidades : Rio e Minas, onde, em 2010, apoiou o PMDB e no PR, onde deu apoio ao PT. Em 2014, terá candidatos nesses três Estados. PMDB com novos O PMDB prepara-se para realizar uma campanha eleitoral recheada de perfis novos : Paulo Skaf, em SP, que já mostra forte potencial, com cerca de 20% de intenção de votos; José Batista Junior, do grupo JBS/Friboi, em GO; Josué Gomes da Silva, da Coteminas, filho do ex-presidente José Alencar, que poderá compor a chapa encabeçada por Fernando Pimentel (PT), em Minas. O plano do presidente licenciado do partido e vice-presidente da República, Michel Temer, é oxigenar o PMDB, preparando- para a campanha presidencial de 2018. Empresários Lula tenta arrumar os caminhos do empresariado para que nele volte a circular Dilma Rousseff. Eduardo Campos virou o queridinho dos empresários. Que começam a inserir a presidente na galeria de pessoas distantes. Mais Médicos ? Mais votos Este consultor acaba de chegar do Nordeste. Ouviu testemunho de prefeitos que receberam, em seus municípios, médicos estrangeiros. E aí, como o povo está reagindo ? Resposta : com um sorriso de um lado a outro da boca. O povo está satisfeito, agora não há fila, tem receitas imediatas. Não quer saber se o médico é daqui ou dali. Quer saber apenas se é médico. Votos no bornal de Dilma. R$ 20 mil O governador Geraldo Alckmin não quer ficar para trás. Seu plano de carreira para médicos prevê aumento de até 45% para pós-graduados que trabalharem na periferia. Um médico pós-doutorado, com carga horária de até 40 horas, na periferia, poderá ganhar cerca de R$ 20 mil. A saúde agradece. Contra o aumento do IPTU A Associação Comercial de São Paulo e entidades do empreendedorismo, entre elas o Sescon/SP, entrarão com uma ação direta de inconstitucionalidade no TJ/SP contra o aumento do IPTU na capital paulista. Com 29 votos a favor e 26 contra, foi aprovada na semana passada na Câmara Municipal de SP a proposta de aumento de até 20% para residências e até 35% para o comércio. O MP já ajuizou uma ação civil pública com pedido de liminar contra a aprovação do aumento, pois a votação não ocorreu com a devida publicidade exigida em lei. "Considerando o alto Custo Brasil, é inadmissível este aumento, que não leva em conta ao menos a capacidade contributiva do paulistano", destaca Sérgio Approbato Machado Júnior, presidente do Sescon-SP. Usinas atrasadas O Plano Decenal de Energia contempla 20 hidrelétricas com previsão de entrada em operação entre 2018 e 2022. A maioria delas está na região Norte. E os atrasos chegarão a seis anos. O culto ao "nós" O culto ao "nós", que, nos dois mandatos de Lula, foi entronizado nos palanques, não chega hoje com prestígio para convencer as massas. O marketing da louvação, em intenso desenvolvimento no país, desde os tempos galopantes de Collor (que fazia uma corrida diária de cooper, acompanhado de jornalistas), subiu ao pódio do descrédito. Essa é uma das boas novas que se pode anunciar na arena eleitoral do próximo ano. Os últimos governos rebocaram com tanta argamassa as paredes da gestão, que estas ameaçam embaular e desmoronar. O nosso carbono 14 Tanto o governo Federal, com sua planilha de grandes obras, quanto os governos estaduais deverão passar pelo teste do nosso carbono social. Ou será que não se percebeu a existência de novo processo para medir o tempo (cronogramas) e conferir promessas ? (Lembrando : os testes de objetos da mais remota antiguidade - para descobrir, por exemplo, a verdade sobre o santo Sudário de Turim -, são feitos com o carbono 14, um isótopo radioativo e instável, que declina em ritmo lento a partir da morte de um organismo vivo). O nosso carbono 14, ou melhor, para 2014, é a onda centrípeta, das margens para o centro, com suas percepções e decepções da política. Engodos até podem continuar a engabelar as massas. Há, porém, um culto ao "nós" menos sujeito a firulas demagógicas. É o olhar mais agudo da sociedade sobre as tramóias da política. Teste sua visão Fixe os olhos no texto abaixo e deixe que a sua mente leia corretamente o que está escrito. 35T3 P3QU3N0 T3XTO 53RV3 4P3N45 P4R4 M05TR4R COMO NO554 C4B3Ç4 CONS3GU3 F4Z3R CO1545 1MPR3551ON4ANT35! R3P4R3 N155O! NO COM3ÇO 35T4V4 M310 COMPL1C4DO, M45 N3ST4 L1NH4 SU4 M3NT3 V41 D3C1FR4NDO O CÓD1GO QU453 4UTOM4T1C4M3NT3, S3M PR3C1S4R P3N54R MU1TO, C3RTO? POD3 F1C4R B3M ORGULHO5O D155O! SU4 C4P4C1D4D3 M3R3C3! P4R4BÉN5 Conselho ao time que vai entrar em campo Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes, membros dos Poderes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos manifestantes dos eventos de rua. Hoje, volta sua atenção aos eventuais candidatos aos governos estaduais : 1. Os tempos são de extrema carência de recursos. Os Estados e municípios estão de pires na mão. Urge fazer um pacto, nos Estados, entre forças políticas e a sociedade civil, com vistas à montagem de um plano estratégico voltado para atender às demandas de regiões, setores organizados e classes sociais, principalmente as mais sofridas. 2. As questões regionais, nesse momento de crise, deverão estar acima de posições partidárias e veleidades pessoais. Só assim, os Estados poderão ultrapassar a fronteira das visões estreitas. 3. Urge selecionar os melhores quadros dos Estados, em suas especialidades, e convocá-los em torno de um projeto sólido, viável, crível, capaz de atender aos anseios e expectativas da sociedade.
quarta-feira, 30 de outubro de 2013

Porandubas nº 377

O talento assusta Quando Winston Churchill, ainda jovem, acabou de pronunciar o seu 1º discurso, na Câmara dos Comuns, foi perguntar a um velho parlamentar, amigo de seu pai, o que tinha achado do seu desempenho naquela assembleia de vedetes políticas. O velho pôs a mão no ombro de Churchill e disse-lhe em tom paternal : - Meu jovem, você cometeu um grande erro. Foi demasiado brilhante neste seu primeiro discurso. Isso é imperdoável ! Devia ter começado um pouco mais na sombra. Devia ter gaguejado um pouco. Com a inteligência que demonstrou hoje, deve ter conquistado, no mínimo, uns trinta inimigos. O talento assusta. Ali estava uma das melhores lições que um velho sábio pode dar ao pupilo que se inicia numa carreira difícil. Encastelados medíocres se fecham como ostras à simples aparição de um talentoso jovem que os possa ameaçar. Historinha enviada pelo amigo Luis Costa. Campos e o agronegócio Eduardo Campos vai ter de rebolar para recuperar terreno no campo do agronegócio. Depois que Marina Silva, a parceira, chutou o pau da barraca, enxotando o líder do DEM, deputado Ronaldo Caiado, entidades ruralistas e empresários de peso do setor do agronegócio decidiram tomar outro rumo que não o do candidato do PSB. Campos se esforça para manter o grupo ao seu lado, abrindo um diálogo com seu ex-colega de Ministério e fazendeiro, Roberto Rodrigues. Que o recebeu, mas não prometeu nada. Apenas conversar. Lula como articulador Lula, é sabido, o maior mobilizador de massas da política tupiniquim. É capaz de ainda animar as massas e causar furor na plebe. Mas nunca deixou os bastidores da articulação política. Ultimamente, por exemplo, tem falado bastante com o vice-presidente da República, Michel Temer, com quem discute a planilha de candidatos do PMDB e do PT. Ambos tentam aparar as arestas entre os dois partidos nos Estados. Mas os conflitos regionais se expandem. Sua orientação é para preservar a aliança nacional, a qualquer custo, mesmo se os dois partidos decidirem por candidaturas próprias em alguns Estados, como é o caso de SP, RJ e BA. Michel é um harmonizador por índole; e Lula é a voz mais forte do PT. Alckmin e a segurança pública A covarde agressão ao coronel da PM, que comanda as tropas do Centro capital, poderá reverter em endurecimento das ações de prevenção e repressão ao vandalismo dos black blocs em SP. E uma política mais eficaz no campo da segurança pública poderá resultar em maior apoio ao governador Geraldo Alckmin e à sua reeleição. O perfil do governador é de suavidade, harmonia, diálogo. Daí se cobrar dele mais força, mais autoridade. O combate ao vandalismo pode se transformar no eixo forte do candidato tucano nesse momento de tensão e insegurança. Embate PT x PSDB Veremos, em 2014, o último grande embate entre forças petistas e tucanas. Vamos às razões. O PSDB não se renovou. A sigla vive de lembranças de quando os governadores Franco Montoro e Mário Covas brandiam seus escopos, desfraldando o estandarte da modernidade. O PT, por seu lado, passou a ser membro atuante no palco da velha política, disputando com apetite fatias de poder e usando métodos combatidos de cooptação política. Na floresta dos tucanos, as árvores, com cascas cada vez mais despregadas, envergam de velhice. O tom lamuriento é de Lula. Vejam o que disse : "Por que queríamos chegar ao governo ? Não para agir como os outros, mas para atuar de maneira diferente". Já o desespero tucano para unir suas alas e amenizar querelas internas constituem inequívoca sinalização de que, em 2014, assistiremos à última sessão de cinema, encenada pelos dois maiores competidores eleitorais. Renascer das cinzas ? PSDB e PT poderão até voltar a resplandecer no futuro, voltando a se espichar para cima e para baixo como uma árvore adolescente, mas esse renascimento implica profundo reencontro com ideários e valores. Não significa que outros deverão, a seguir, tomar seu lugar. Não há indicação disso. O cenário é o de difusa disputa entre grandes e médios partidos, com foco em indivíduos e não das ideias, sob a égide de uma modelagem eleitoral muito permissiva quanto a uso de recursos financeiros e centrada na exuberância mercadológica. Por ausência absoluta de vontade política para reformar costumes e ante o mesmo blá blá blá que se ouvirá no próximo pleito, faz sentido a hipótese do esgarçamento maior do tecido institucional caso protestos e expectativas frustradas continuem a fazer barulho nos tensos meses do próximo verão. Dois círculos concêntricos Veremos, em 2014, dois grandes círculos concêntricos agitando as correntes : um, que se formará na onda da Copa do Mundo, a partir de junho; e outro, que tende a bater nas margens eleitorais e despejar suas águas (votos) nas urnas. Os resultados de um evento impactarão o outro ? Os perfis mais identificados com o novo (Marina veste esse figurino ?) serão beneficiados ? As velhas árvores voltarão a ser viçosas ? Sejam quais forem as respostas, não há como deixar de enxergar entulhos de velhos edifícios que desmoronam por falta de reboco. Marina é o Lula de ontem Marina Silva é o Luiz Inácio de 33 anos atrás. Que lembrava os tempos heróicos em que ele e os companheiros "carregavam pedras". Pois bem, os visionários de ontem e os sonháticos de hoje imaginam plantar em todas as searas da República sementes imunes aos vírus da velha política - patrimonialismo, fisiologismo, mandonismo, grupismo, nepotismo -, capazes de gerar árvores frondosas e frutos saudáveis, todas irrigadas pelas limpas fontes da ética. Os campos pragmáticos dariam lugar às roças programáticas. Diante da impossibilidade de substituir uma cultura política por outra da noite para o dia, principalmente quando não há movimentos capazes de redirecionar práticas, costumes e processos, torna-se evidente que a emblemática Marina se assemelha, em sua peregrinação, à imagem de "carregadora de pedra" do mesmo molde do empreendimento que o velho PT tentou construir, em 33 anos, e não conseguiu. A nova política é abstração Por que uma "nova política" tem se tornado abstração em nossas plagas, não adentrando o território da práxis ? Por ser complexa a tarefa de promover mudanças rápidas na fisionomia política, principalmente quando se vê nela a estampa dos valores do passado. Os agentes políticos em atuação no Parlamento, a quem cabe dar o primeiro passo na direção das mudanças, não se motivam a avançar em qualquer vereda reformista, considerando que a equação custo-benefício não lhes rende. A imagem da corrosão Se os avanços não ocorrem por falta de suficiente motivação dos agentes partidários, o que a estática na política acarreta ao tecido institucional ? Um agregado paralisante : acomodação, mesmice, burocracia, obsolescência, embrutecimento das estruturas e passividade dos gestores públicos. A imagem se assemelha às árvores que chegam à velhice vegetal : o crescimento diminui, os processos de regeneração são lentos, as raízes não conseguem mais retirar água do solo e sais minerais em quantidade necessária; os vasos que conduzem nutrientes param de funcionar; as folhas caem, os galhos perdem o viço, o tronco ameaça tombar a qualquer momento. Não é o que ocorre com os partidos ? Arquivos da Ditadura Paralelamente à discussão em torno da divulgação dos arquivos existentes no STM, que tratam do julgamento dos presos políticos durante da ditadura militar, foi produzido o filme "Sobral - um homem que não tinha preço", no qual Sobral Pinto denuncia a prática de tortura no Brasil durante o Regime Militar de 1964. O advogado criminalista Fernando Augusto Henriques Fernandes tem participação na produção do filme e também é autor do livro "Voz Humana - A defesa perante os tribunais de República". Recuperando a memória do país É de autoria do advogado Fernando Fernandes a ação que busca a divulgação dos arquivos de áudio retidos no STM, com as gravações das audiências de julgamento dos presos políticos, de 1975 até 1979. Uma parte destes arquivos, já recuperada, foi revelada no filme "Sobral - um homem que não tinha preço". "Ainda temos inúmeras questões não resolvidas, como permitir às famílias de presos políticos encontrar os corpos e enterrá-los", argumenta Fernandes. O rei mais humilde O rei Roberto Carlos mudou de opinião. Antes, era um renitente e duro combatente das biografias não autorizadas. Inspirou a criação de um grupo - Procure Saber - composto, entre outros, por Chico Buarque, Caetano Veloso, Gilberto Gil e Djavan. Domingo, em entrevista ao Fantástico, Roberto Carlos mudou de posição. Diz agora que é a favor das biografias não autorizadas, bastando alguns ajustes. Urge conversar, pede ele. Ainda bem. O grupo recebeu uma batelada de artigos e textos contrários ao seu posicionamento. Inclusive, um artigo deste escriba. As vedetes Nesse texto, fiz o posicionamento. As vedetes da cultura de massa podem ter biografias não autorizadas sobre suas vidas ou os relatos devem receber sua prévia autorização ? A resposta deve considerar a faceta pública desses semideuses, tanto os políticos quanto os artistas. Uns e outros têm deveres para com a sociedade. Dependem do público. A partir do momento em que suas atividades são massificadas - fator de sucesso profissional - submetem-se ao ordenamento ético de prestar contas a quem os acompanha. Que inclui relatos não apenas das retas, mas das curvas de sua existência. A esse posicionamento público do artista e do político, soma-se o ditame constitucional que acolhe a manifestação de pensamento e da informação sem restrição. Danos morais Se a honra, a vida privada e a imagem das pessoas são invioláveis, ainda nos termos constitucionais, lembre-se que há dispositivos no Código Penal contra danos morais, calúnia (art.138), difamação (art. 139) e injúria (art. 140). Daí não caber a restrição às biografias, prevista pelo art. 20 do Código Civil. Países democráticos, como EUA, Canadá, Reino Unido, França, Espanha não admitem qualquer censura às biografias não autorizadas, ao contrário de Rússia, China e Síria, por exemplo. Nos EUA Imagine-se a execração pública de Bill Clinton se censurasse biografia sobre sua trajetória presidencial, nela incluído o episódio com a estagiária Monica Lewinsky. Aliás, os norte-americanos estão lendo avidamente o livro "Sexo na Casa Branca", do historiador David Eisenbach e do editor Larry Flynt, que conta histórias impactantes, algumas conhecidas, mas não relatadas com detalhes, como as que envolveram os presidentes Abraham Lincoln, Thomas Jefferson, James Buchanan, Franklin Roosevelt e John Kennedy. Na Inglaterra Houvesse censura na Inglaterra, a história do príncipe Charles e Camila Parker teria sido guardada no baú. E também o caso mais escandaloso da política inglesa : o envolvimento do ministro da guerra, John Profumo, com a modelo Christine Keeler, no começo dos anos 60. Isso é importante ? Sem dúvida. São as entranhas da política. Estabelecer patamar diferente para político e artista é defender tratamento privilegiado para uns. É formar uma casta dentro da casta. Censurar ? Pelas mãos dos leitores Biografias autorizadas são livros de autoglorificação, loas ao biografado. E querer cobrar do autor percentagem pela obra é apropriar-se de um direito que não pertence ao artista. Nas situações em que as biografias alavanquem a venda de discos, o autor da obra teria direito a uma percentagem da vendagem ? Livros maldosos e mentirosos devem ir, sim, para a fogueira. Pelas mãos dos leitores, não pelo tacão da censura. Conselho aos manifestantes Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes, membros dos Poderes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado médicos brasileiros. Hoje, volta sua atenção aos manifestantes : 1. O Brasil vivencia um dos ciclos de maior participação social. Esse momento deve ser aproveitado pela sociedade para exigir, criticar, condenar, sugerir, acompanhar atentamente o processo político e a gestão pública. 2. Sob esse pano de fundo, é importante ter participação no processo social de manifestações nas ruas. 3. Urge, porém, não abrigar ou apoiar as brigadas de vândalos que se aproveitam do momento para desenvolver sua agressividade. Se "guerreiros" querem destruir patrimônios públicos e privados, que mostrem a cara e não se escondam sob máscaras.
quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Porandubas nº 376

Os fundos Abro a coluna com um "causo" do querido Estado do CE. Garboso, o candidato a prefeito de Jaguaribe/CE, não economizou promessas em sua campanha, lá pelos idos de 60. Prometeu tudo ou quase : maternidades, poços artesianos, estradas vicinais, escolas e até uma ponte. Mas não se conformava com tão pouco. Queria fazer mais. Tinha de prometer alguma coisa mais popular, que caísse no gosto do povo. Mandou verbo : - Pois é, minhas conterrâneas e conterrâneos, se vocês tiverem em suas casas redes rasgadas, daquelas que não prestam mais, guardem os punhos da rede. Quando eu for eleito, darei os fundos. (Quem me mandou a historinha, não conta se perdeu ou ganhou; e se ganhou, deixamos de saber se cumpriu a promessa). A última campanha Cada ciclo político-eleitoral tem o seu marco. Pode ser um evento, o clima ambiental, as ondas do momento, o pano de fundo social. Pois bem, a campanha de 2014 será emblemática sob essa visão. Primeiro, por abrigar a última peleja contemporânea entre PT e PSDB, pois é mais que provável que esses dois partidos não resistam a mais um pleito presidencial com candidatos que ainda frequentam o ringue da polarização. As siglas enfrentam o fenômeno da corrosão de material. Duas décadas no poder parecem constituir o ciclo de mando de um partido no comando da Nação. Até é possível que, na campanha que se abre, um novo ator consiga desbancar os dois principais eixos da polarização política no país. Referimo-nos, claro, ao PSB e seus mais destacados perfis, Marina Silva e Eduardo Campos. Poder dividido Alguém poderá objetar : eles terão vida mais longa, eis que o poder está dividido entre ambos. Se o país se encontra nas mãos do PT, o maior Estado da Federação - maior colégio eleitoral, maior força econômica, maiores quadros políticos, maior ajuntamento social - , SP, está nas mãos do PSDB. A verdade, porém, é que o PSDB também vive em SP tempos de desgaste de material. Cinco governos seguidos fechariam a cota dos tucanos. O revezamento que se observa é no espaço municipal, na disputa eleitoral na capital. O PT ganhou a última, como já havia ganho com Luiza Erundina, no passado, e com Marta Suplicy, mais recentemente. Agora, é a vez de Fernando Haddad. Ares novos O fato é que, tanto na esfera Federal quanto na frente estadual, a população sinaliza a vontade de respirar ares novos, climas diferentes, passando a conviver com novos atores, até para experimentá-los sob o prisma da gestão pública. Em muitos Estados, essa sinalização já é praticada com a eleição de perfis que fogem ao modelo da velha política. Noutros, se não há tanta renovação, é porque os "donos" das grandes siglas que ascendem ao mando usam fortes baterias de comunicação, abrindo espaços gigantescos de visibilidade e, dessa forma, perpetuando-se no sistema cognitivo do eleitorado. Dilma favorita Sob a moldura da corrosão pelo tempo no poder, dar-se-á a campanha de 2014. No caso da campanha presidencial, a candidata do PT continua sendo a franca favorita. Por representar um estilo de trabalho, por dar continuidade a um gigantesco braço social - o Bolsa Família -, que poderá ser bastante esticado com o sucesso (bastante provável) do Mais Médicos e, claro, com uma economia controlada. Mas o sucesso da presidente Dilma, mesmo que ultrapasse as melhores expectativas, não significará necessariamente a continuidade do PT no comando do país. O partido sofre desgaste de imagem. Perdeu raiz histórica. Abandonou valores. Para recuperar vetor de força, deve ceder lugar a outros, refluir seu poder. É possível que abra um período sabático. Para, lá mais adiante, voltar sob novas luzes. Eduardo e Marina Faz bem à democracia e, particularmente, ao sistema eleitoral a participação da dupla Eduardo e Marina no pleito presidencial. Conseguem ambos passar a ideia de figuras novas na desgastada paisagem política. Fizeram uma aliança à base do modelão antigo. Pois o PSB é sigla do sistema; o estilo Campos, que puxou o avô, Miguel Arraes, em matéria de trabalhar a arte da política, é duro; o ingresso de Marina no PSB se deu pela porta da velha tradição - alguém, às vésperas de findar o prazo para filiação, corre e crava o apoio a um candidato de sigla tradicional. Lula e o velho PT Lula dá uma no cravo, outra na ferradura. Depois de bater nos adversários, principalmente os tucanos, o ex-presidente dá um puxão de orelhas no PT. Diz que muitos petistas só pensam em cargos. Outros, em mandatos no Legislativo. E se esquecendo dos tempos em que carregavam tijolos para construir o grande empreendimento petista. Forma de dizer : companheiros, voltemos às origens. Isso é possível ? Não. Heráclito ensinava : nenhum homem atravessa o mesmo rio duas vezes. A fatura de Dilma A presidente Dilma Rousseff colocou o carro na rua e já engata a terceira. Esse programa Mais Médicos será a marca principal do fim do seu primeiro mandato. Vai para as urnas sob o empuxo desse carro em velocidade. Dilma não perde tempo. O leilão de Libra só teve um consórcio. Não houve, a rigor, leilão. Mas ela proclama aos quatro cantos que o país abre as portas do futuro. Dinheiro para livros, educação, saúde para todos. Estamos abrindo a porta do paraíso. Em 30 anos, para explorar o campo e produzir óleo, serão necessários 400 bilhões de reais. Mais uma vez, podemos dizer como nossos tataravós : vamos lutar para fazer o Brasil dos nossos filhos e netos. O futuro abrirá os discursos per secula seculorum. 250 mil dólares Li que Fernando Henrique e seu ex-genro queriam vender o Libra por US$ 250 mil. Não me recordo disso. Deve ser ufanada exagerada dos adversários. Não ? Reforma política ? Esqueçam. A reforma política, para fim de adoção em 2014, é mais uma dessas promessas de primavera. O projeto em andamento gera muita polêmica. E praticamente só altera questões relativas a recursos de campanha e apresentação de contas. Coisinhas pontuais. Sem censura - I Wagner Kotsura, jornalista dos bons, um dos mais diligentes caçadores de detalhes, chama a atenção deste consultor, com esta mensagem : "o artigo do Código Civil que se está aplicando às biografias, se não contiver um tremendo erro de Português (concordância), não parece autorizar censura. Vejamos. Art. 20 : "Salvo se autorizadas, ou se necessárias à administração da Justiça ou à manutenção da ordem pública, a divulgação de escritos, a transmissão da palavra, ou a publicação, a exposição ou a utilização da imagem de uma pessoa poderão ser proibidas, a seu requerimento e sem prejuízo da indenização que couber, se lhe atingirem a honra, a boa fama ou a respeitabilidade, ou se se destinarem a fins comerciais". Sem censura - II Wagner arremata : "O complemento 'de uma pessoa' refere-se a todas as expressões antecedentes ("a divulgação de escritos, a transmissão da palavra, ou a publicação, a exposição ou a utilização da imagem"). Trata-se, portanto, de escritos, palavra e imagem de uma pessoa, e não sobre uma pessoa. Dito de outra forma, não se pode reproduzir nada que alguém tenha escrito ou falado, sem autorização prévia; mas não parece haver nenhum impedimento a que se divulgue qualquer coisa sobre uma pessoa". Advogados e juízes, atentem para a observação. Menos burocracia Já está disponível o Módulo Estadual de Licenciamento, programa do governo do Estado de SP que permite a abertura de empresas de forma mais rápida e sem burocracia. Os detalhes do novo sistema, que integra 645 municípios, foram acertados em reunião recente entre o secretário de Desenvolvimento Econômico, Ciência e Tecnologia do Estado de SP, Rodrigo Garcia, e representantes do setor contábil, entre eles, o presidente do Sindicato das Empresas de Serviços Contábeis e de Assessoramento no Estado de SP (Sescon/SP), Sérgio Approbato Machado Júnior. Por meio do site da Jucesp (clique aqui) é possível fazer todos os procedimentos de abertura de empresas e obter licenças do Corpo de Bombeiros, da Vigilância Sanitária e Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (Cetesb). ICMS : prazo estendido Empresas do Estado de SP que recolhem o ICMS no terceiro dia útil do mês subsequente ao da ocorrência dos fatos geradores terão prazo para pagamento do tributo prorrogado para o 20º dia do segundo mês subsequente. A mudança trará benefícios de fluxo de caixa para as empresas e mais tempo de processamento das operações para as organizações e profissionais da Contabilidade. A novidade foi dada pelo secretário da Fazenda, Andrea Calabi, durante o 5º Gescon - Seminário de Gestão de Empresas Contábeis, realizado pelo Sescon/SP, nos dias 16 e 17/10, em SP. A prorrogação do prazo era um pleito antigo da entidade e da classe contábil. O anúncio oficial da mudança será feito em breve. Você O amigo Luis Costa manda essa peça sobre o tratamento você. O empregado de um condomínio usou o termo, ao se dirigir a um condômino. Este não gostou. Foi bater na Justiça. O juiz, Alexandre Eduardo Scisinio, julgou assim (resumo da peça) : - O empregado que se refere ao autor por "você", pode estar sendo cortês, posto que "você" não é pronome depreciativo. Isso é formalidade, decorrente do estilo de fala, sem quebra de hierarquia ou incidência de insubordinação. Fala-se segundo sua classe social. O brasileiro tem tendência na variedade coloquial relaxada, em especial a classe "semiculta", que sequer se importa com isso. (...) Seu, Dona - A professora de linguística Eliana Pitombo Teixeira ensina que os textos literários que apresentam altas frequências do pronome "você" devem ser classificados como formais. Em qualquer lugar desse país, é usual as pessoas serem chamadas de "seu" ou "dona", e isso é tratamento formal. (...) Etiqueta, cortesia - A própria presidência da República fez publicar Manual de Redação instituindo o protocolo interno entre os demais Poderes. Mas na relação social não há ritual litúrgico a ser obedecido. Por isso que se diz que a alternância de "você" e "senhor" traduz-se numa questão sociolinguística, de difícil equação num país como o Brasil de várias influências regionais. Ao Judiciário não compete decidir sobre a relação de educação, etiqueta, cortesia ou coisas do gênero, a ser estabelecida entre o empregado do condomínio e o condômino, posto que isso é tema interna corporis daquela própria comunidade. Conselho aos médicos Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes, membros dos Poderes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos pré-candidatos nas eleições majoritárias. Hoje, dedica sua atenção aos médicos brasileiros : 1. O programa Mais Médicos, da alçada do governo Federal, já virou lei. Não adianta, agora, questioná-lo. E nem é o caso de torcer contra ele. A população brasileira, principalmente das regiões mais carentes, quer ser amparada. Seja por um médico daqui, dali ou dos cafundós do mundo. 2. Se houver problemas ou se os médicos demonstrarem ineficácia ou desconhecimento de seu ofício, estarão sujeitos às penalidades normativas. Há fiscalização, há controles e há denúncias. 3. Importa, nesse momento, estender as mãos na gigantesca tarefa de ajudar as comunidades miseráveis a ter um padrão de vida mais saudável.
quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Porandubas nº 375

I.N.R.I. - Iesus Nazarenus Rex Iudaeorum O mestre Leonardo Mota conta que outro mestre, Henrique, era afamado marceneiro nos sertões de SE. Sua especialidade estava nas camas francesas à moda Luís Quinze. Quando o freguês achava que o leito era baixo, recebia a explicação de que a cama era francesa, mas era à Luís Quatorze; se havia queixa da excessiva altura, ficava sabendo que aquilo era cama francesa à moda Luís Dezesseis. O mestre Henrique pôs toda a sua ciência no Cruzeiro do patamar da igreja de Aquidabã. No topo do sagrado madeiro, o vigário da freguesia fizera o mestre Henrique colocar uma tabuinha com as letras I.N.R.I., iniciais de Jesus Nazareno Rei dos Judeus, a irônica inscrição latina de que a ruindade de Pilatos se lembrara na ignominiosa sentença de morte do filho de Deus. Decorrido algum tempo, um sertanejo sergipano, intrigado com a significação daquelas quatro letras, perguntou a um seu conhecido : - Que é que quererá dizer aquele negócio de INRI, que tem escrito em riba do Cruzeiro ? - Você num sabe não ? Ali falta o Q-U-E. Esse QUE não cabeu na tabuinha : aquilo é a assinatura de quem fez, que foi o mestre INRIque. Pesquisas eleitorais As pesquisas eleitorais, muito distantes dos pleitos, costumam servir para abrir portas de candidatos nos meios empresariais. Na verdade, são retratos desfocados da realidade eleitoral. O retrato do momento flagra atores em movimento, pré-candidatos fazendo alianças barulhentas, discursos proferidos para atacar adversários e vice-versa, e tendo como pano de fundo o cobertor social e a malha política. Por tudo isso, devemos considerar as pesquisas como passaportes de viajantes que se preparam para fazer o percurso eleitoral. Transferência Essa coluna já bateu muito no tema : o voto no Brasil é fundamentalmente na pessoa física, não na pessoa jurídica. Apenas partidos que funcionam como igrejas, pequenas ou grandes, ainda conseguem capturar um voto por sua identidade. Os grandes partidos são geleia partidária. Mistura de quase tudo. Por isso, não se espere grande transferência de votos de Marina para Eduardo Campos. Aliás, a aliança entre os dois foi feita sob as bênçãos da velha política, que ambos execram. O governador de PE faz política, em sua terrinha, à base do cabresto ou do açoite. Aos amigos, pão; aos adversários, pau. Fora de moda : polarização PT x PSDB Eis alguns produtos, símbolos, sinais e coisas que começam a sair de moda. Polarização entre PT e PSDB. Há duas décadas e meia, tucanos e petistas se enfrentam. O lengalenga entre os dois entes partidários ainda é forte em alguns espaços, como o paulista. Mas tende a cair em desuso. Tucanos se acham auto-suficientes; petistas se consideram parentes diretos do senhor dos céus. A corrosão de material é visível. Fora de moda : marketing da glorificação As campanhas eleitorais adensam, a cada ciclo, os feitos e glórias dos candidatos. Que são apresentados como cidadãos sem nenhum defeito, passado limpo, vida decente, fazedor de coisas, pessoa de ideias, o melhor de todos. Esse marketing da glorificação, que é centrífugo (do candidato para os eleitores), deverá ceder lugar ao marketing das demandas sociais, que é centrípeto, ou seja, dos eleitores para os candidatos. A falação do candidato deverá ser alternada com a forte expressão popular. Fora de moda : caras e bocas Na verdade, continuaremos a ver um desfile de caras e boca nos programas eleitorais. Um desfile de extravagâncias e frases decoradas. Que terão impacto perto de zero. Essa massa amorfa será substituída por perfis ligados a setores, categorias e núcleos organizados da sociedade. Teremos, em 2014, a mais orgânica e racional campanha dos últimos tempos. O voto será mais seletivo, menos descompromissado. Fora de moda : invencionices Muitos candidatos, no passado, foram eleitos por conta de um marketing mentiroso, cheio de invencionices. Furas filas, centros hospitalares do primeiro mundo, obreirismo faraônico, que mais pareciam integrar os jardins suspensos da Babilônia. O marketing do pleito de 2014 deverá demonstrar a relação causa-efeito. A ideia deverá ser demonstrada em termos de viabilidade técnica, operacional, financeira. As elucubrações serão anotadas pelo sistema cognitivo do eleitor. Eleitor mais racional A cada eleição, é perceptível a expansão do voto racional no país : o voto mais consciente, o mais exigente, o voto em candidatos mais próximos, o voto em candidato conhecido, o voto em ideias, o voto em compromissos. Donde se pinça a moldura de uma organicidade social mais forte. Os tempos do eleitor "Maria vai com as outras" (apenas para lembrar o ditado popular, sem nenhum ranço discriminatório) estão dando vez aos tempos da autogestão técnica : o eleitor assume sua cidadania; sabe o que quer e ainda é capaz de selecionar os meios para alcançar seus fins. Bolsões tradicionais É evidente que o país não é, em sua totalidade, o território da racionalidade. Ainda se contabiliza, nos fundões e grotões, um voto de amizade, um voto de cabresto, um voto ao candidato mais jovem e garboso, um voto manobrado pelo "coronel", um voto de agradecimento pela dentadura recebida, pelo emprego ganho. Mesmo em regiões politicamente ainda defasadas, como o Norte, o Nordeste, o Centro Oeste, bolsões racionais de multiplicam. A racionalidade se expande dos centros para as margens, conduzida por círculos concêntricos, que realizam o movimento da pedra jogada no meio do lago. O processo racional A racionalidade é resultante de um conjunto de fatores, a saber : a elevação dos níveis educacionais, a melhoria do status social e econômico; a indignação gerada pela ineficiência dos serviços públicos; a ausência de respostas e feitos dos representantes em relação às regiões que os elegeram; a vontade de votar em um perfil diferente; a influência dos movimentos sociais; a elevação dos padrões éticos, a partir da bateria de denúncias intensificada pelos meios de comunicação de massa, etc. Emoção x razão Se o voto emocional, no passado, chegava a somar algo em torno de 60% a 70% por cento, hoje, baixou para algo em torno de 40%. Articulação O marketing político tem cinco eixos : a pesquisa, o discurso (propostas), a comunicação, a articulação e a mobilização. Em função dos aspectos descritos acima, a campanha de 2014 deverá dar muito valor ao fator articulação. Articulação com os núcleos sociais, entidades de todos os gêneros; articulação com os diversos atores políticos. E a mobilização deverá privilegiar os pequenos e médios encontros em vez dos grandes eventos de massa. O país mudou. Não há mais clima para grandes comícios. O eleitor é uma caixa-preta O conceito é velho. Ninguém sabe o que se passa na cabeça do eleitor. Há induções e deduções. Mas ele certamente é influenciado por um conjunto de fatores, a saber : o candidato, o cenário (o espaço onde está), a comunicação, custos e recursos da campanha, concorrentes, influências de amigos e comunidades e circunstâncias. O voto em São Paulo O Brasil teve, em 2012, mais de 140 milhões de eleitores, cerca de 67 milhões de homens e 73 milhões de mulheres. SP é o maior colégio eleitoral do país. Hoje, abarca cerca de 33 milhões de votos, mais de um quinto de todos os eleitores. Como pode se dividir esse contingente ? Há um pouco de tudo : as maiores categorias trabalhistas; as maiores densas classes médias; os maiores núcleos de profissionais liberais; os mais cheios colégios eleitorais de cunho religioso; as mais fortes entidades de organização social; os maiores sindicatos e assim por diante. O que isso quer significar ? Um voto mais orgânico, menos amorfo, mais seletivo, mais focado no perfil compromissado com a sociedade organizada. O voto nordestino em SP Eduardo Campos sonha em fincar pé no território paulista e paulistano, por saber que aqui, nessas plagas, concentra-se a maior capital nordestina do país. O fato, amplamente medido pelo IBGE, não faz, porém, SP uma capital nordestina. O nordestino que aqui aportou é um saudosista, sim, ama o torrão, visitas cidades de origem, canta as toadas da terra, mas SP é seu país. Vive os dramas, sente as angústias dos munícipes, faz cobranças aos governantes, etc. Ou seja, não vota em um candidato nordestino apenas pela identificação regional. Se Dudu Beleza espera ter imensa votação na maior capital nordestina do país, é bom, logo, logo, começar a administrar a reversão de expectativas que o tomará. Padilha com 30% Alexandre Padilha espera contar com 30% de intenção de voto um mês após ser consagrado pela convenção do PT em junho de 2014. Será ? Como será avaliado o "Mais Médicos", hein ? O PT é uma religião que soma, a cada pleito, cerca de 30% dos votos em SP. Conseguirá desta feita ? Alckmin com 35% Geraldo Alckmin espera iniciar a jornada com 35% de intenção de votos. E chegar aos 40% em julho/agosto. Pode ser. Terá de lubrificar muito a máquina tucana. Que, em SP, sofre de fadiga de material. Skaf Pois é, esse candidato poderá surpreender. Atualmente, está na faixa dos 20%. Incorpora o perfil do novo. Figura dinâmica, passa imagem de inovação e se encaixa no figurino de uma alavanca para a área educacional. Ao fundo, suas realizações no SESI e SENAI, sob o manto da FIESP. Marina no lugar de Dudu Este consultor não crê na hipótese. Eduardo Campos, mesmo abaixo de Marina em matéria de intenção de voto, não deverá ceder a ela a cabeça de chapa. Este não serve Em Antenor Navarro/PB, o júri ia começar. O juiz da comarca, Nelson Negreiros, viu o réu chegar sem advogado de defesa : - O senhor não tem advogado ? - Tenho, doutor juiz. Meu advogado é Deus. - Esse não serve. Não é inscrito na Ordem. Conselho aos pré-candidatos Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes, membros dos Poderes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado ao governador de PE, Eduardo Campos. Hoje, volta sua atenção aos pré-candidatos nas eleições majoritárias : 1. Procurem, desde já, formar suas equipes, não deixando para a última hora a organização da estrutura de campanha. 2. Como o pleito de 2014 deverá privilegiar o conteúdo, ênfase deve ser dada à equipe encarregada de propor um programa de governo. 3. É conveniente, nesse momento, planejar e executar uma bateria de pesquisas para aferir demandas sociais, por classes sociais e categorias profissionais, mas para procurar interpretar o animus animandi (a forma de pensar, o sistema cognitivo) do eleitor.
quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Porandubas nº 374

Peibufo, o maior assassino Abro a Coluna com uma historinha de PE. Em um mês "bro", setembro de 1998, o economista e professor Joel de Hollanda, ex-secretário da Educação de PE, fazia campanha pela reeleição a deputado Federal pelo PFL, hoje DEM. Corria pelas estradas poeirentas de São José do Egito, entre 12 e 13 horas. Calor infernal, margeando os 40ºC. Transpirava por todos os poros. Chegando à cidade, refugiou-se à sombra de frondosa árvore na praça da matriz. Ao seu lado, sentado no banco, um sujeito amarelo, muito magro, miúdo, fala mansa. Diante da figura e cheio de cansaço, arrastou um papo. Pescava um votinho. Neste instante, seu cabo eleitoral, voltando com uma garrafa de água, viu a cena e ficou pálido. Começou a fazer sinal para o deputado. Disfarçava para o amarelinho não perceber a agonia. Joel entendeu, disfarçou e pediu licença ao companheiro de banco para se retirar. Foi ao encontro do cabo eleitoral. Mais que depressa, este abriu a boca para confessar : - Deputado, este cara é o Peibufo, o maior assassino da região. Tem na cartucheira mais de 100 mortes gravadas. Mata qualquer um por qualquer trocado. Pelo amor de Deus, se afaste desse cangaceiro antes que ele se enfastie do senhor e lhe meta chumbo. Joel ouviu com atenção. Fixou os olhos no sujeito e, confiando na lábia de educador e político calejado, voltou ao banco e foi direto ao assunto. - Moço ! Como é que o senhor tem coragem de matar uma pessoa ? De pronto, Peibufo resmungou : - Doutor, eu não mato por coragem, não ! Só mato por costume ! (Historinha contada por Carlos Alberto Pereira de Albuquerque) Essa ninguém previa Pois é, a entrada de Marina no PSB foi a bomba política do ano. Poderia até ter sido uma estratégia articulada ao longo dos últimos meses, mas a decisão, tomada no último minuto do segundo tempo do jogo, pegou todos de surpresa. É claro que Marina, na entrevista dada pouco antes, apontara uma pista : desejava quebrar a polarização entre tucanos e petistas. Ou seja, seria candidata. A pista se mostrou correta. Quer romper a polarização, mas com Eduardo Campos sendo o candidato. Ela como candidata a vice. Conseguirá ? Vamos à análise. Transferência ? Coisa complicada Vota-se nessas plagas em pessoas, muito pouco em partidos. Portanto, há de se distinguir um voto em Marina do voto de Eduardo Campos. Cada qual com seu bornal de votos. E a transferência de votos dela para ele ? Pouco provável. Digamos que uns 10% a 15% de votos sejam transferidos para o conjunto da chapa. E os outros ? Parcela boa da votação de Marina tende a migrar para Dilma Rousseff. Consideremos, nesse caso, a esfera ideológica em que ela e Dilma se abrigam. É a mesma, entre centro-esquerda e esquerda. Eduardo Campos também está circunscrito nesse espaço. Mas a tendência maior é a de migração de votos para a presidente. Principalmente em um ciclo de economia sob controle, inflação abaixo dos dois dígitos e empregabilidade mantida. Aécio, maior perdedor Quem perde mais no jogo que está sendo jogado é Aécio Neves. Encarna mais a oposição do que Eduardo Campos, que pertencia, até pouco tempo atrás, ao governo Dilma. Campos fala em melhorar, fazer melhor as coisas. Aécio prega mudança mais radical. Não há um clamor geral por mudanças radicais. As exigências apontam para a qualificação de serviços públicos, principalmente nas áreas da saúde, educação, transportes urbanos e segurança pública. Portanto, a tendência é a de manutenção das vigas macroeconômicas. Aécio quer polarizar. Eduardo cresce ? Pode haver crescimento de Eduardo Campos, sim, mas em um contexto de insatisfação crescente. Vai depender, ainda, da visibilidade que alcance. Antes, precisa arrumar os parafusos da aliança com Marina. Primeiro, os empresários que simpatizam com sua candidatura continuarão com ele ? Não aceitam por completo Marina Silva. Esta, por seu lado, teve uma decepção com parte da bancada do PSB, que votou contra sua visão no projeto do Código Florestal. Os socialistas de Campos fecharam questão com a bancada ruralista. Campos vai precisar de Marina para se infiltrar nos colégios eleitorais do Sudeste. Um desafio e tanto. Uma inversão na chapa ? É possível haver uma inversão na chapa. Digamos que, no primeiro trimestre de 2014, Marina continue com alta visibilidade e bons índices de intenção de voto, algo como 25%; e Eduardo Campos, mesmo sob o empuxo de Marina, não consiga uma alavancagem que o posicione como segundo colocado. Será que a chapa se mantém ? A lógica, nesse caso, aponta para uma inversão, com Marina assumindo a cabeça da chapa ? Lula, metamorfose Há, ainda, Lula. Que já prometeu ser a metamorfose ambulante da campanha. Puxará as massas para o espaço de Dilma. No Nordeste, tende a ser o maior puxador de votos de sua pupila. Seu imbróglio maior será SP, o maior colégio eleitoral do país, e que tem um voto menos emotivo e mais racional. As classes médias paulistas têm um canal muito estreito com o tucanato, apesar da sensação de esgotamento do ciclo tucano. 20 anos de poder corroem os melhores materiais. Black blocs Pelo andar da carruagem, as manifestações de rua tendem a continuar. Se hoje, fazem barulho nos centros do RJ e SP, imaginemos os meados de 2014. O imprevisível estará na esfera desses grupamentos mascarados, que se intitulam de black blocs. Os movimentos de rua começam pacíficos e acabam com depredações de patrimônios público e privado. As polícias reagem tardiamente, quando o quebra-quebra assume proporções fantásticas. Não há prevenção e isso é um grande erro. Governos parem tíbios e tímidos, denotando receio de fazer uma repressão mais dura. O Brasil vive efetivamente uma crise de autoridade. Enxugamento na Petrobras Petrobras era um gigante. Hoje, um gigante que vê buracos por todos os lados. Esfacela-se. A última nota da Petrobras é sobre o enxugamento de sua estrutura. Fechará 38 escritórios no exterior. Velhos tempos de glórias. Novos tempos de aflição. A moldura partidária A migração partidária apenas balanceou as bancadas, sem alterar as fisionomias situacionista e oposicionista na Câmara. O governo Dilma continua com o rolo compressor, formado por 384 parlamentares. Sobram 129 na base oposicionista, se considerarmos que o PSB, de Eduardo Campos, com 22, tende a formar com o bloco de oposição. Quem esperava uma debandada na direção oposicionista ficou a ver navios. O novo quadro 1. Governo PT, de 87, ficou com 86; PMDB, de 83, ficou com 77; PSD, de 48, ficou com 41; PP, de 40, ficou com 43; PR, de 37, ficou com 36; PDT, de 28, ficou com 19; PSB, de 19, ficou com 22; PTB, de 17, ficou com 18; PSC, de 16, ficou com 14; PC do B permaneceu com 13; PV, de 10, ficou com 9; PRB, de 10, ficou com 11; PT do B permaneceu com 3; PRP permaneceu com 2; PHS, de 1, ficou com nenhum. 2. Oposição PSDB, de 50, ficou com 46; DEM, de 27, ficou com 25; PPS, de 11, ficou com 8; PSOL permaneceu com 3; PMN permaneceu com 3; PEN, de 1, ficou com nenhum. 3. Novos Solidariedade - 21PROS - 14 Na Academia de História Registro, com alegria, meu ingresso, ontem, na Academia Paulista de História. Assumo a vaga deixada pelo grande professor de psicologia, Samuel Pfromm Netto, que conheci, desde os idos de 1975, quando a Proal, empresa da qual era sócio, promoveu um Simpósio sobre TV e Criança. Fui o coordenador desse evento. Hoje, nossas histórias novamente se cruzam. O patrono da Cadeira nº 7, que ocupo, é Alexandre de Gusmão, o criador do Tratado de Madri, pelo qual o Brasil ganhou sua atual configuração geográfica. Gusmão é considerado o "avô da diplomacia brasileira". Canuto Canuto, rei dos vândalos, mandando justiçar uma quadrilha, e pondo um deles embargos de que era parente Del-Rei, respondeu : - Pois se provar ser nosso parente razão é que lhe façam a forca mais alta. (Padre Manuel Bernardes) PS. Os vândalos, hoje, são de outra espécie. Conselho a Eduardo Campos Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes, membros dos Poderes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado às oposições. Hoje, volta sua atenção ao governador de PE, Eduardo Campos : 1. Vossa Excelência merece congratulações pela jogada de mestre, como pode ser interpretada a parceria com Marina Silva. Mas não pense que transferência de votos ocorre de maneira natural entre parceiros. Será muito difícil que os votos de Marina sejam depositados em seu bornal. 2. Procure aproveitar a parceria com a ícone da Sustentabilidade para entrar em espaços que ainda não o conhecem bem, como as regiões Sudeste e Sul. Mas deixe para tomar uma decisão sobre a real composição de sua chapa mais adiante, no primeiro trimestre de 2014. 3. Se Marina continuar como segunda colocada e Vossa Excelência em quarto lugar, o lógico seria ceder o espaço à acreana. Seria um gesto de boa política e boas práticas.
quarta-feira, 2 de outubro de 2013

Porandubas nº 373

Cuidado com a montaria Quintino Cunha, famoso advogado e poeta, participava de um júri em Quixeramobim/CE. O promotor berrava na tribuna : - Senhores jurados, estou montado na lei. Quintino pede um aparte : - V. Exa. tenha cuidado para não cair, porque está montado em um animal que não conhece. O promotor se calou. (Da lavra do amigo Sebastião Nery, em Folclore Político) Está chegando a hora Dia 5/10 cai no sábado. Portanto, quem quiser mudar de partido o fará até sexta, 4/10. O TSE também deve dar o veredicto ao partido de Marina, a Rede Sustentabilidade. O clima é de dúvidas. Faltam entre 30 a 40 mil assinaturas para o partido marineiro se firmar. Mas o Tribunal poderá decidir formalizar a sigla e pedir diligências sobre as assinaturas não validadas pelos cartórios. Ocorre que o MP pediu ao TSE que não aceite a formalização do partido. O vice-procurador Eugênio Aragão foi taxativo : "continua sem condições de ser atendido. Criar o partido com vistas, apenas, a determinado escrutínio [eleições de 2014] é atitude que o amesquinha, o diminui aos olhos dos eleitores", escreveu ele em seu parecer. O pessimismo voltou a imperar. Marina com um pé fora ? 32 partidos Existem 32 partidos no Brasil. Partido é parte, parcela do pensamento social. Parcelas : direita, centro-direita, centro, centro-esquerda, esquerda. Há 32 partes no espectro social do pensamento ? A estampa Se a Rede fosse estendida, teríamos esta moldura : Dilma, candidata à reeleição; Marina, candidata independente, com um toque de oposição; Aécio Neves, candidato do tucanato e das oposições clássicas (PSDB e DEM), e ainda com o apoio deste novo partido, Solidariedade, liderado por Paulinho da Força; e Eduardo Campos, candidato que ensaia um discurso de mudança, mas ainda tem o perfil frappé, meio lá, meio cá, café com leite. José Serra saiu da crise existencial que o sufocava. Decidiu ficar no PSDB. Casamentos Geralmente, as parcerias ocorrem na esteira de defesa comum de pontos de vista entre siglas. No Brasil, as parcerias fogem à lógica. Casamento de touro com cabra passa a ser coisa normal. Com Marina Marina candidata, poderia atrair segmentos dispersos, que não estão contentes com a situação e que não simpatizam com os tucanos. Para tanto, precisa ter uma forte visibilidade. Esse seria seu maior desafio. Sem mídia massiva, carecerá de ampla mobilização de seus adeptos pelas redes sociais e meios alternativos. Teria chances de expandir bem os votos - quase 20 milhões - que ganhou no pleito de 2010. Tira votos de Aécio Neves e Eduardo Campos. A mais cotada para entrar no segundo turno se encontra a um passo fora da corrida. Quem herdará seu espólio ? Ingovernabilidade Marina teria condições de governar, caso fosse candidata e, mais, se fosse vitoriosa ? Pergunta feita a 10 formadores de opinião. 8 disseram : não. 2 responderam : teria de mudar a personalidade. Sem marina Sem Marina, o pleito tomará outro rumo. Eduardo Campos seria o mais favorecido por representar setores e núcleos que pleiteiam avanços e novidades. Mais que Aécio, o governador de PE expressa inovação, mudança. Mas ele não fazia parte da base governista ? Essa é a questão que será colocada na mesa do debate. Sim, mas o eleitor tende a fugir da polarização entre situação e oposição. Selecionará aquele perfil que lhe traduza maior possibilidade de realizar mudanças. Campos é menos conhecido. Tem boa estampa. E boa expressão. Seu potencial de crescimento é maior do que o de Aécio. É possível que ambos, com boas votações, consigam empurrar a campanha para o segundo turno. Desafio maior sem a presença de Marina. Com quem ? Houvesse um segundo turno, Aécio com Dilma, com quem ficaria E. Campos ? Lula diria : Dilma. Grupo de Campos diria : Aécio. Segundo turno, com E. Campos e Dilma, com quem ficaria Aécio : E. Campos. Triângulo das Bermudas A performance da presidente Dilma, como é sabido, será melhor nas regiões Nordeste, Norte, Centro Oeste, onde os braços governistas se fazem muito fortes. Mas é possível que sua performance na região Sudeste também surpreenda, principalmente se 2014 for soprado com os ventos da temperança econômica. O Triângulo das Bermudas decidirá a campanha : SP, com mais de 30 milhões de votos; MG, com cerca de 15 milhões e RJ, com mais de 12 milhões. Em SP, tudo vai depender da campanha estadual. O governador Alckmin conseguirá emplacar a reeleição ? Este consultor levanta a hipótese de corrosão de material. 20 anos de tucanato entopem artérias eleitorais. Hoje, ele é o favorito. MG e Rio Em Minas, o governador Anastasia conseguirá eleger seu candidato ? Aécio, em sua terrinha, terá, evidentemente, a maior votação. Mas o ministro Fernando Pimentel deverá contar com a parceria do PMDB, onde acaba de entrar o empresário de sucesso, da Coteminas, Josué Gomes da Silva, filho do ex-presidente José Alencar, falecido. No Rio, a situação de Sérgio Cabral não é boa. O PT, do senador Lindbergh, tem boas condições para liderar a parada. Bombas Há algumas bombas que podem explodir sobre Lindbergh. Coisas de quando era prefeito. Caso no STF. O fator Lula Dilma conta com o maior cabo eleitoral do país : Lula. Que tem dito : serei uma metamorfose ambulante. Se ela for para o Norte, eu vou para o Sul; se for para o Oeste, irei ao Nordeste. Ou seja, Lula se diz candidato. Porque ele é Dilma e Dilma é ele. Essa simbiose pode dar certo. Os centros eleitorais - classes médias tradicionais - não embarcarão nessa canoa. Mas a lábia tem grandes chances de engabelar as massas periféricas. O fator Lula é o maior diferencial da candidata Dilma. Quanto mais ? O fator Lula pesa quanto ? 10% a mais ? 20% a mais ? 30% a mais ? É o cálculo. Profusão de leis De 2000 a 2010, o país criou 75.517 leis, somando legislações ordinárias e complementares estaduais e Federais, além de decretos Federais. Isso dá 6.865 leis por ano - o que significa que foram criadas 18 leis a cada dia, desde 2000. Das leis criadas entre 2000 e 2010, 68.956 são estaduais e 6.561, Federais. MG foi o maior legislador do período : criou 6.038 leis. Em seguida, BA, criadora de 4.467 leis; RS, com 4.281; SC, com 4.114; e SP, com 4.111. O RJ criou 2.554 leis nesse período. Oposições sem discurso As oposições, por sua vez, ainda não encontraram o fio da meada. Falta eixo no discurso. O que se ouve e se vê é uma expressão adjetivada, não substantivada. Quais são as ideias das oposições, os programas, os projetos ? Mudar é uma promessa genérica. Falta escopo. Conteúdo. O adjetivo só gera eficácia em ambiente de muita devastação econômica, inflação alta, desemprego em massa. Nesse caso, a indignação invade os espíritos e a campanha entra em largas estradas emotivas. A essa altura, os prognósticos não são catastróficos. O país não desceria o despenhadeiro. Despenhadeiro País no despenhadeiro seria : inflação acima de dois dígitos; desemprego em massa; categorias nas ruas exigindo aumento de salários; greves gerais. O programa "Mais Médicos" O programa Mais Médicos terá o peso do Bolsa Família no governo Lula. Esse Bolsa Cabeça será apresentado como a alternativa aprovada pelo povão. Vamos ver nos programas eleitorais da candidata muitos depoimentos de gente humilde, falando da generosidade, do bom atendimento, da disposição dos médicos estrangeiros. Os médicos brasileiros serão cabos eleitorais das oposições, mas apenas reforçarão a convicção de eleitores que já não votariam no PT. Esse programa pavimentará a estrada do médico Alexandre Padilha, candidato ao governo de SP. Aqui, o PT conseguirá seus tradicionais 30% de votos. Poderá, até, subir de patamar. Tudo vai depender do clima econômico. Efeito sanfona O programa Mais Médicos provocará o efeito sanfona : das extremidades para o centro. Alta aprovação de Dilma nas margens fazendo pressão sobre o centro. Goiás e Paraná GO e PR são dois colégios eleitorais importantes. Administrados por governadores tucanos, seriam, teoricamente, redutos de grandes votações para o candidato Aécio Neves. As campanhas estaduais, porém, contarão com candidatos oposicionistas com forte diferencial. No PR, a candidatura da ministra, senadora Gleisi, se apresenta como novidade. Em GO, a candidatura do empresário Junior, do Friboi, que está no PMDB, simboliza o novo. Não será fácil para o PSDB. Nordeste A hipótese é a de que o governador Eduardo Campos consiga uma grande votação no Nordeste. Mais uma vez, as correntes eleitorais seguirão as ondas avolumadas pelas candidaturas estaduais. No CE, por exemplo, os irmãos Cid e Ciro Gomes, que devem entrar no PROS ou no PDT (cuja vantagem é a de estar estruturado no Estado), engrossarão a corrente da presidente Dilma, seja qual for o candidato que apoiarão ao governo do Estado. Eles dominam a política cearense. Como já salientei acima, a região nordestina é o paraíso dos votos do governismo Federal. Lula lá E Lula, hein ? Como será o palanque de Lula em sua terrinha, que é a mesma do governador Eduardo Campos ? Este consultor tem a impressão de que Lula apagará um bocado de votos que iria para a conta de Dudu Beleza. Que anda anunciando ter chegado a hora de "fazer diferente". A imagem de Hollande François Hollande, presidente da França, passou por uma grande mudança de imagem. Consultou o jornalista Claude Sérillon sobre como remodelar sua imagem. Este buscou o conselho de dois peritos. Três soluções foram apresentadas : vigiar sua linguagem (por exemplo, jamais dizer "eu creio"); cuidar da atitude corporal (por exemplo, dando atenção à preparação física e bebendo água em lugar de álcool); e atentar para a roupa (por exemplo, evitar o nó de gravata simples e a aparência negligenciada. Caráter "Aquele que domina a sua cólera, domina seu pior inimigo". Kung FuTse, Confucio "Aquele que não tem caráter não é um homem : é uma coisa". Nicolás-Sebastien Roch Chamfort "O talento se cultiva na solidão; o caráter se forma nas tempestuosas voltas do mundo". Johann Wolfgang von Goethe "O verdadeiro caráter sempre aparece nas grandes circunstâncias". Napoleão Bonaparte "Tentar modificar o caráter de um homem é como tentar ensinar a uma ovelha como se atirar de um carro". Georg C. Lichtenberg "A firmeza de caráter se traça através de uma regra de conduta". Guillermo Palau Conselho às oposições Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes, membros dos Poderes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos empresários. Hoje, dirige-se às oposições : 1. Oposição significa contraponto, alternativa, outra visão na política. Pressupõe, no caso dos partidos de oposição, a produção de um programa para o país, com estratégias de desenvolvimento no curto, médio e longo prazos. 2. Pouco adiantará expressar um discurso, pretensamente de oposição, com generalidades e adjetivos genéricos. Mudanças de estilos e avanços em programas implicam conteúdos densos em todos os campos : economia, política, social, cultural, gestão e administração, etc. 3. Ser de oposição significa ter coragem de enfrentar desafios, de não se submeter às pressões de grupamentos corporativos, ter independência para decidir e escolher as vias necessárias ao bem-estar da Nação.
quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Porandubas nº 372

Zé Quebra Panela Abro a coluna com um matutinho matreiro. Zé Quebra Panela era um sujeito comprido, zarolho e desdentado, mas portador de uma sagacidade e de incrível capacidade de enganar o semelhante. Andava bem vestido e calçava sapatos de duas cores. Vendia e comprava tudo, mas gostava mesmo era de negociar com fumo de rolo nas feiras. Zé achava que Deus vivia lhe chamando pra outra missão mais nobre do que envenenar os pulmões dos desgraçados que lhe compravam fumo. Meteu-se a fazer imagem de santo. Passou a viver nas caatingas, juntando troncos secos de imburana, com os quais fazia as imagens de feições grotescas. Um dia, na feira, comercializava os produtos, o fumo e as imagens de santos. Chegou uma velhinha com cara de rezadeira e perguntou : - Meu senhor, eu conheço um magote de santo, já "frequentei" muita novena, igreja, o diabo a quatro - Já paguei muita promessa, mas estou aqui "mei atrapaiada"; isto aqui é São José ou Santo Antônio ? Zé explicou : - Olhe, o santo se tiver com o menino no braço direito, é São José, se tiver no braço esquerdo, é Santo Antônio; agora se o bicho tiver um par de chifres, um rabo e um espeto comprido na mão, não chegue nem perto que isso aí é o satanás ! A velhinha se escafedeu. Outra vez, em uma de suas transações, um cabra mais sabido "empurrou-lhe" dois rolos de um fumo muito ruim que ele não conseguia vender de jeito nenhum. Um dia, botou tudo num saco e danou-se para a feira de Sertânia. Usou o marketing pessoal. - Óia, pessoá, quem comprar desse meu fumo agora, vai tudim pro Juazeiro comigo, eu levo tudim pra o Juazeiro do meu Padim Ciço ! Não demorou muito e lá se foram os dois rolos de fumo. Um pedaço aqui, outro ali, e vendeu aquela mercadoria de péssima qualidade. Até que chegou uma velhinha apressada : - Ô, meu senhor, adonde tá o caminhão mode nóis ir botando os troços em riba ? Zé, na bucha : - Que caminhão que nada, dona Maria, aonde foi que a senhora já viu pagar promessa de caminhão ? O meu "Padim" não gosta de caminhão chegando lá não ! Nóis vamo tudo é a pé. Promessa é promessa ! (Historinha de Zelito Nunes) Folhas soltas ao vento A imagem é esta : depois do terremoto, que abalou o edifício, destruindo paredes, despedaçando os andares, fazendo jorrar cimento e pedra por todos os lados, a paisagem deixa ver milhares de folhas saindo de gavetas escancaradas, dançando ao vento poluído de poeira e pousando lentamente sobre os entulhos das ruas. É o cenário nacional depois do tsunami de junho, que inundou as ruas das grandes e médias cidades com milhares de pessoas. Onde estão as massas ? Observando uns poucos que ainda ousam fazer ecoar seu grito. E por que não se motivam a voltar às ruas se os pleitos e demandas de junho continuam no ar ? Porque temem ser rechaçados por grupos radicais, cujos braços se voltam para a quebra de lojas e destruição de ambientes públicos. Os black blocs são a água que apaga as chamas da fogueira social. Portanto, propiciam o bumerangue. O Brasil se encolhe em silêncios. Infelizmente. Paisagens do amanhã Não é de todo improvável que as coisas voltem a acontecer na onda de manifestações calorosas e massivas. É possível que o animus animandi da população resgate a participação cívica, cuja inspiração maior era (e é) a de melhorar os padrões éticos, morais e elevados da política e exigir melhoria da qualidade dos serviços públicos, a partir dos sistemas de mobilidade urbana. Nas proximidades eleitorais, as chances de mobilizações pontuais ou mesmo abrangentes são maiores, em função da motivação para puxões de orelha e recados que o povo quer dar aos seus representantes. A conferir. O juiz de Bacon "O juiz deve preparar o caminho para uma justa sentença, como Deus costuma abrir o seu caminho elevando vales e abaixando montanhas; de maneira que, se aparecer, de um lado uma das partes, um braço poderoso, uma pressão violenta, astuciosas vantagens, combinações, poderes, grandes conselhos, nesse caso a virtude do juiz consiste em nivelar as desigualdades, para poder fundar a sua sentença num terreno plano". Francis Bacon, filósofo inglês, 1561/1626. Alguns juízes do Brasil 19 altos ministros do TST assinaram uma carta contra um PL, o 4.330, relativo à Terceirização. Sabíamos, até então, que o ofício do juiz é jus dicere e não jus dare, interpretar leis e não fazer leis nem dar leis. Juízes fazendo prejulgamento ? Meu Deus, que país é este ? As bases governista e oposicionista A base governista, formada pela pletora de partidos (cerca de 15), que dá apoio à administração comandada pela presidente Dilma, tende a ser menor. Calcula-se que partidos insatisfeitos com o acolhimento dado pelo governo deixarão a base situacionista para se integrar às bandas das oposições. Duas bandas. Teremos a banda das oposições tradicionais, formadas principalmente pelo PSDB e pelo DEM, e nova banda, esta a ser constituída pelos partidos que deixarão o situacionismo, a começar pelo PSB, com eventual participação de outras siglas. A incógnita fica por conta da Rede Sustentabilidade, de Marina Silva. Não se sabe se conseguirá formalização até 5/10. A aprovação do Solidariedade, do Paulinho da Força, e do PROS, Partido Republicano da Ordem Social, ontem pelo TSE, abre maiores chances para o partido de Marina. O affaire Campos Demorou, demorou, demorou, mas o governador pernambucano, Eduardo Campos, tomou a decisão : deixar a base governista. Entregou os cargos do PSB na administração. Lula ainda tentará um último esforço para segurar o ímpeto de Dudu Beleza. Vai ter mais uma conversa com ele. Por enquanto, pede que os petistas não entreguem os cargos nos governos comandados pelo PSB. Tentativa de por panos quentes. Mas o governador está sendo levado pela onda mais forte do seu partido para o lado da candidatura própria. E é evidente que, nesse caso, assumirá postura de oposição. Não se cogitaria de um candidato frapé, café com leite, nem lá, nem cá. Disputa eleitoral é guerra. A favor e contra. Estradas de PE Eis o que pincei de um vídeo que vi na internet sobre as estradas de PE : "A repórter Roberta Soares e o fotógrafo Guga Matos, guiados pelo motorista Reginaldo Araújo, pegaram a estrada durante 22 dias de viagem para constatar essa verdade e mostrá-la no especial multimídia Descaminhos. Rodaram 10 mil quilômetros, dos 12,5 mil que compõem a malha rodoviária pernambucana, a quarta maior do Nordeste. Pelas estradas, descobriu que são muitos os descaminhos de PE. Encontraram um Estado de rodovias ruins, as Federais e principalmente as estaduais. Um PE ainda sem inúmeras ligações, que em pleno século 21 deixa parte do seu povo isolado de tudo, dependendo exclusivamente da fé do nordestino, tão presente e conformadora no interior mais distante. No percurso, o JC passou por 100 das 142 rodovias estaduais e 11 das 13 estradas Federais existentes no Estado". Com a palavra, o governador Eduardo Campos. A resposta do Sindeepres O Sindicato dos Empregados em Empresas de Prestadoras de Serviços (Sindeepres), a maior entidade de trabalhadores terceirizados do país, em carta aos deputados, contesta pontos expressos por ministros do TST no PL 4.330. "São graves e infundadas, ainda que pareçam coerentes, as acusações dos ministros do TST que prevêem um quadro sombrio para os trabalhadores após a aprovação do PL 4.330, conhecido como lei de Proteção ao Trabalhador Terceirizado. São argumentos de quem fez uma leitura incompleta, apressada ou equivocada do PL. Eles partem de premissas erradas para construir um quadro dramático. Infelizmente não levam em conta a realidade atual do trabalhador terceirizado. E o péssimo ambiente econômico, de insegurança jurídica para empresas e trabalhadores, criado pelo atual conjunto de leis e regras, incluindo a súmula 331 do próprio TST". E passa a contestar ponto por ponto. Aécio em SP Geraldo Alckmin tentará puxar a caravana de Aécio Neves em SP. Assim como Beto Richa tentará fazer a mesma coisa no PR. O mais certo, porém, é apostar que MG dará a maior vantagem ao mineiro. Massa de votos nada desprezível. MG tem o segundo maior colégio eleitoral do país, cerca de 15 milhões de votos. Em SP, a campanha ainda terá certa polarização entre o PSDB e o PT, fenômeno antigo e em final de ciclo. 20 anos de tucanato é muita coisa. E o PT, por sua vez, contará com a rejeição da classe média paulista, a maior do país. Nessa classe, o PT nunca entrou de sola, principalmente nos densos colégios eleitorais do interior. Solas gastas A polarização entre tucanos e petistas não se guiará mais pelos caminhos do passado. Tende a ser atenuada face aos novos tempos. O eleitor parece trilhar a vereda aberta por Nietzsche : "novos caminhos sigo; uma nova fala me empolga. Não quer mais o meu espírito caminhar com solas gastas". Empresários em dúvidas Na Era Lula, o carismático líder era um imã. Atraía tudo e todos. Das massas periféricas à elite empresarial. Hoje, a elite empresarial é simpática a Eduardo Campos. Vê a presidente Dilma com certa desconfiança. E parece distante de Aécio Neves. Acham Marina uma flor no pântano. Cronograma pré-eleitoral Outubro - mês das novidades, migrações partidárias (caso se confirmem os novos partidos), camadas políticas revoltas; novembro - conversas para fechamento de alianças, combinações e primeiras apostas no amanhã; dezembro - recesso, férias, prospecção das bases, Brasil político se encontra com o Brasil real; janeiro - cura da ressaca do final de ano, reinício das negociações, pesquisas indicativas para mapeamento do quadro decisório; fevereiro - reinício das atividades congressuais, fechamento de acordos, primeiras grandes definições; março/abril - dois meses de preparação para a maior competição eleitoral da contemporaneidade. Maio/junho - convenções, acertos finais. As melhores leis ? Perguntaram a Sólon, um dos sete sábios da Grécia antiga, se havia produzido boas leis para os atenienses. Respondeu : "dei-lhes as melhores leis que podiam suportar". Perguntaram ao barão de Montesquieu, o grande formulador da teoria da separação dos poderes : que boas leis um país deve ter ? Respondeu : "quando vou a um país, não examino se há boas leis, mas se são executadas as que existem, pois há boas leis por toda a parte". Mensalão e eleição Não serão desastrosos os efeitos do mensalão sobre a eleição. Até lá, estarão metabolizados condimentos, temperos e produtos que, por anos e meses, frequentaram a mesa das conversas e debates. Cada ano com suas motivações. Operação BO+BA+CO+CA, essa, sim, continuará a ditar os rumos da política. Bolso, Barriga, Coração, Cabeça. Economia indo bem, estômago estará satisfeito; coração ficará agradecido e pede para a cabeça votar nos patrocinadores do bolso cheio. Dilma na ONU Como se esperava, Dilma fez duro discurso na ONU contra a espionagem. Um atentado à soberania. Um recado para Barack Obama no palco mais visível do mundo. Recado dado, recado ouvido. Bismarck Bismarck, o maior estadista alemão do século XIX, dizia que "nunca se mente tanto antes das eleições, durante uma guerra e depois de uma pescaria". Conselho aos empresários Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes, membros dos Poderes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado à presidente Dilma. Hoje, volta sua atenção aos empresários : 1. É muito comum ouvir o refrão de que o Brasil está em crise, os horizontes são sombrios e teremos um amanhã pior que o hoje. Tendência nacional a cantar hinos catastróficos. 2. Urge ter esperança e acreditar que o nosso país, com sua dimensão continental e berço de riquezas naturais, está circunscrita no mapa das potências do amanhã. Isso requer confiança em nossos potenciais. 3. Se mudanças se fazem necessárias - principalmente na frente política - ao empresariado cabe a missão de se posicionar na vanguarda desse processo, fazendo pressão, abrindo canais de articulação e participação. O papel cívico do empresário deve se somar ao papel do empreendedor.
quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Porandubas nº 371

Ladrões, cambada de ladrões Cabralzinho, líder estudantil em Campina Grande, foi passear em Sobral, no CE. Chegou em dia de comício. No palanque, longos cabelos brancos ao vento, o deputado Crisanto Moreira da Rocha, competente orador da província : - Ladrões ! A praça, apinhada de gente, levou o maior susto. - Ladrões ! Ladrões, porque vocês roubaram meu coração ! Cabralzinho voltou para Campina Grande, candidatou-se a vereador. No primeiro comício, lembrou-se de Sobral e do golpe de oratória do deputado, fechou a cara, olhou para os ouvintes com ar furioso : - Ladrões ! Ninguém se mexeu. Cabralzinho sabia que política em Campina Grande era briga de foice no escuro. Queria o impacto total. - Cambada de ladrões ! Foi uma loucura. A multidão avançou sobre o palanque. Pedra, pau, sapatos. O rosto sangrando, acuado, Cabralzinho implorava : - Espera que eu explico ! Eu explico ! Explicou. Ao médico, no hospital. (Historinha é narrada pelo insuperável Sebastião Nery) O dia D de decisão Hoje, é o dia D da decisão. A decisão do ministro Celso de Mello sobre o acolhimento ou não dos embargos infringentes. As mais simples projeções se juntam às mais estapafúrdias, a denotar a alma opiniática nacional. Por estas bandas, todos nós declamamos um verbo de opinião. Temos propensão a palpitar sobre coisas simples e complexas. Sendo assim, que todos escancarem sua expressão. Este consultor não se nega a fazê-la. Vamos lá. A começar pela observação de que Celso de Mello tem demonstrado ser o mais denso ministro do compartimento técnico do STF. Seria o juiz garantista por excelência. "Não há nenhuma grande árvore que o vento não tenha sacudido". (Provérbio hindu) Coerência Se Celso de Mello é garantista, certamente deverá manter coerência, acolhendo os embargos infringentes, ele que, em agosto de 2012, já se manifestara favorável a este expediente. Não teria argumento para, neste momento, contrariar sua própria tese. Seria malvisto na esfera jurídica. Essa é uma faceta da questão. Mas o ministro Celso foi, por outro lado, o mais contundente juiz do mensalão. Usou as expressões mais fortes, na esteira de uma locução indignada. Fez de público uma calorosa defesa da punição dos mensaleiros. Muito bem. Duas posições. Uma, deixando pequena janela para os processos de 12 condenados - os que obtiveram quatro votos a favor no julgamento de alguns crimes, como formação de quadrilha - reiniciarem o fluxo. Outra, comprometida com a condenação. O que pode ocorrer ? "Não é digno de saborear o mel aquele que se afasta da colméia com medo das picadelas das abelhas". (Shakespeare) Nem lá, nem cá Celso de Mello deu uma pista muito clara. Pediu para não se confundir acolhimento de embargo infringente, sob uma moldura técnica, com o acolhimento do conteúdo. Logo, a conclusão torna-se patente : vai acolher os embargos, mas mostra inclinação a não aceitá-los no caso em tela, mantendo, assim, as penas já dadas aos réus. Uma no cravo, outra na ferradura. E mais : tem-se a impressão de que o ministro, prestes a se aposentar, gostaria de sair do STF com as portas do mensalão fechadas. Pode combinar com Joaquim Barbosa um calendário de forma a votar o mérito dos embargos infringentes ainda este ano. Seria, então, o voto de maioria pela manutenção dos embargos infringentes e também das penas. Teria isso lógica ? Deixo a discussão com a esfera jurídica. Daqui a pouco, saberemos. A expressão, aqui, é a do analista. Cometi alguma barbaridade ? "O livro é um mudo que fala, um surdo que responde, um cego que guia, um morto que vive". (Padre Antônio Vieira) Catástrofe ? Digamos que Celso de Mello também diminua as penas de alguns condenados. Será uma catástrofe nacional, como muitos enxergam ? Será que o clamor popular por punição encherá novamente as ruas ? Este consultor lembra que nossa cultura - costumes, práticas, comportamentos - age como uma gangorra. A indignação sobe e desce, se agiganta e se amofina. Não há um continuum de visões. As borrascas vão amainando na mudança do tempo. O establishment tende a canibalizar as situações e, na sequência, os mecanismos de metabolização passam a funcionar, arrumando as camadas revoltas e apaziguando os espíritos. Não vejo condições de revolta popular. O povo vê seu país como um ente acomodado, paquidérmico, incapaz de promover grandes mudanças. As coisas caminham lentas. "Eu vivia reclamando porque não tinha sapatos, até o dia em que encontrei um homem sem pés". (Oscal Wilde) E Celso de Mello ? Aposentado, irá para sua calma Tatuí, usufruir a conversinha com os amigos e tomar café no Café Canção. Será cantado em prosa e verso. Não o vejo como um "inimigo do povo", como muitos desejariam cognominá-lo. Será sempre bem tratado pela esfera jurídica. Respeitado entre os pares. A conferir. "Prefiro os que me criticam porque me corrigem aos que me bajulam porque me corrompem". (Santo Agostinho) PSB, hora da definição Está chegando a hora da definição para o PSB. Sair do governo Dilma agora ou mais tarde ? O ministro da Integração, Fernando Bezerra, está tirando licença para tratamento de saúde. Dizem que pode não voltar. A presidente Dilma não gostou de ver Eduardo Campos abraçado a Aécio Neves, ambos sorridentes e faceiros, tratando de uma eventual parceria eleitoral no segundo turno. Queria tirar logo o PSB do governo. Mais uma vez, Lula agiu como bombeiro. Calma, Dilma, calma. Luiz Inácio, o pernambucano, irá ter mais uma conversa com o pernambucano Dudu Beleza. A hipótese de Lula é a de que, na próxima pesquisa, mantendo os mesmos 5% de intenção de voto obtidos na última, o governador de PE deixe a liça. Ele é importante na aliança. Mas Eduardo divisa a possibilidade de ir ao segundo turno. Geração pós-64 Certa alta noite, em conversa com este consultor em Comandatuba, na BA, Eduardo Campos confessava : "o meu sonho é reunir a turma pós-64 - Eu, Aécio, Ciro, Cid, Kassab, entre outros - e tomarmos as rédeas do país. O governador acalenta esta meta. "Devemos dizer ao povo o que ele precisa saber e não o que ele gostaria de saber". (John Kennedy) Terceirização no ponto Depois de anos de debates e foros, o tema da terceirização de serviços está no ponto para ser votado. O presidente da Câmara, Henrique Alves, quer levar o PL 4330 a plenário. As forças do progresso e da modernidade querem votá-lo. As forças do atraso e das benesses do passado querem arquivá-lo. O PL foi amplamente discutido nos mais plurais foros. Mas o PT e a CUT são contrários. O PT, neste caso, vem à reboque da CUT. Que só pensa em locupletar seus cofres. Como ? Obrigando as empresas a expandir as folhas salariais - com funcionários efetivos - para aumentar sua arrecadação. CUT quer os terceirizados Até os atuais terceirizados, que integram sindicatos de categorias especializadas, seriam despachados para as categorias representadas pela CUT. É o que essa Central defende quando exige que a representação sindical vá para a área do tomador de serviços e não para a área do prestador. Um terceirizado, por exemplo, na área bancária, seria bancário; no setor metalúrgico, seria metalúrgico. Deixaríamos de ter no país copeiras, atendentes de telemarketing, faxineiras, enfim, umas 50 categorias profissionais. Divisão no PT O PT não está pacificado. Suas alas disputam o poder de mando. Mas o dono da flauta continua dando o tom. O dono : Lula. Que reelegerá Rui Falcão. Partidos novos O Solidariedade, de Paulinho da Força, deverá surgir até 5/10. A Rede Sustentabilidade, de Marina Silva, periga naufragar antes de chegar à praia. E um tal de PROS - Partido Republicano da Ordem Social - deverá também ser criado. Será que esses dois ganharam mais assinaturas válidas que o partido de Marina ? Difícil de acreditar. Análise do governo Dilma O governo Dilma pode ser analisado sob o modelo de Carlos Matus, o cientista social chileno : Planejamento Estratégico Situacional (PES). Que abriga três cinturões : o político, o econômico e o dos problemas rotineiros. A gestão política não diz respeito apenas às formas de articulação com os políticos. Abrange fatores referentes à qualidade da democracia, aspectos como respeito aos direitos humanos, descentralização do poder, apego à ética, transparência, distribuição de renda, etc. Na banda negativa do balanço político, contabilizam-se situações como estilo autoritário, "democratismo" populista, permissividade para a corrupção, incúria administrativa, etc. Cinto político Algumas ênfases do governo : o resgate da memória das vítimas da ditadura, tarefa hoje a cargo das comissões da verdade; a defesa do ideário da liberdade de expressão, bandeira que emerge diante da postura do governo de não ceder às pressões de parcelas do PT para patrocinar projeto de controle dos meios de comunicação; abrangente programa de distribuição de renda, responsável pelo alargamento do meio da pirâmide social; fortes traços neopeleguistas presentes nos dutos que ligam centrais sindicais aos cofres do Estado. Ressalta-se, também, a faxina promovida no início do governo que veio a se mostrar, depois, capenga, haja vista a caudalosa corrente de recursos públicos que inundou os pântanos de ONGs, desvios que culminaram, nos últimos dias, com o esquema de fraudes no Ministério do Trabalho. Ainda na configuração política, registra-se a continuidade do pendor legiferante do Executivo, caracterizado pela multiplicação de MPs, ao lado da precária articulação com a esfera política, fator constante de atritos com o Poder Legislativo. Cinto econômico No cordão econômico, as estratégias se orientam para a preservação dos índices de emprego e da inflação, a par do equilíbrio da balança do comércio exterior, sofregamente preservado pela frente do agronegócio. No centro do debate, o foco aponta para o pífio resultado na planilha do crescimento econômico, eixo nevrálgico do ciclo dilmista, a par de uma carga tributária que beira os 37% do PIB. Cinto dos problemas cotidianos O terceiro cinturão, onde se localizam os buracos dos problemas cotidianos - particularmente nos setores de saúde, educação, mobilidade urbana, segurança, moradia, saneamento básico - é o responsável pela satisfação e/ou indignação das pessoas. Os serviços públicos funcionam como um termômetro a medir a temperatura social, como se pode aduzir dos movimentos que enchem as ruas do país, desde junho passado. Não por acaso, o governo se esforça para arrumar um símbolo, um fator de diferenciação, um projeto que venha se somar à força do Bolsa Família. O programa Mais Médicos, por exemplo, entraria nessa formatação e seus resultados começariam a jorrar nas margens eleitorais de 2014. Positivo, ajudaria a consolidar a posição da candidata à reeleição; negativo, teria efeito catastrófico sobre sua imagem. Resumo À promessa de que obras em curso serão entregues contrapõe-se a desconfiança de que os eventos da Copa Mundial enfrentarão estrangulamentos na frente da logística. Em suma, juntando os fatores alto emprego e baixa inflação (cinto econômico) com uma dor de cabeça apenas suave (cinto da agenda cotidiana), o governo ganharia fôlego para fazer a travessia. E a presidente evitaria a borrasca. A recíproca é verdadeira. Conselho à presidente Dilma Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes, membros dos Poderes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos parlamentares. Hoje, volta sua atenção para a presidente Dilma : 1. Vossa Excelência, ao desistir da viagem aos EUA, perde grande oportunidade para, testa a testa, cobrar do presidente Obama mais compromisso com a democracia. 2. Já imaginou uma entrevista coletiva na Casa Branca, dizendo que tratou com o presidente norte-americano de questões importantes para os sistemas democráticos, incluindo a espionagem ? Seria manchete mundial. 3. Vossa Excelência não deveria deixar de cumprir os compromissos internacionais, mesmo diante do flagrante atentado à soberania nacional e violação dos direitos individuais, cometidos pela Nação que mais se orgulha de praticar a democracia, os EUA.
quarta-feira, 11 de setembro de 2013

Porandubas nº 370

"Seu filho não passa" Abro a coluna com a cultura mineira. Em 1922, Noraldino Lima era diretor da Imprensa Oficial de MG. Jornalista e professor. Personalidade marcante na política mineira. Com audiência marcada, Noraldino recebe em seu gabinete um coronel, chefe político no interior de Minas, acompanhado de um rapazinho, e um pedido de emprego irrecusável : o aval do governador. Noraldino conversa com o filho do coronel, com o objetivo de verificar a capacidade intelectual do jovem. Terminado o vestibular, diz Noraldino : - Coronel, seu filho está colocado. Vai ser assistente no meu gabinete. Amanhã sai a nomeação no Minas Gerais. - Mái doto Norardino, tenta argumentar o coronel, o minino num tem preparo, só dá pra contíno... - Vai ser assistente de gabinete, coronel, insiste Noraldino. E antes que o coronel surgisse com outro argumento, Noraldino encerra a audiência : - Para contínuo, caro coronel, existe concurso... e no concurso, seu filho não passa. (Historinha contada por José Flávio Abelha em A Mineirice) Pessimistas x otimistas A cada dia, fica mais patente a querela entre pessimistas e otimistas. Os primeiros são adeptos da deterioração da economia brasileira e os segundos apostam no cavalo econômico sob cabresto, mesmo que este se esforce para se livrar da pressão. Os pessimistas crêem que a economia, às margens eleitorais de 2014, darão às oposições condições reais de entrar no segundo turno eleitoral e, naquele momento, se unirão para derrotar a candidata Dilma Rousseff. Os otimistas vêem o cenário menos perturbador, mesmo com inflação entre 6% e 7%. Se o bolso das margens sociais continuar garantindo a geladeira abastecida, a barriga cheia empurrará a satisfação para o coração. Que, agradecido, mandará a cabeça votar na presidente Dilma. 2º turno Analisemos os eventuais quatro candidatos, a partir da premissa de que Marina Silva conseguirá formar a sua Rede Sustentabilidade até 5/10. Teremos : Dilma, Marina, Aécio e Eduardo Campos. Sob esses quatro nomes, a possibilidade de a campanha entrar no segundo turno é bem viável, algo entre 50% a 60% numa medida de 100%. No segundo turno, o governismo conta com a vantagem de uso das estruturas : governos de situação, candidatos da base, espaços governativos que funcionam como feudos, cabos eleitorais. É o que se chama de máquina. As oposições terão também as suas estruturas, a partir de governos importantes, como os de SP e PR. Mas o situacionismo no Brasil é um rolo compressor maior. Chances Dilma continua sendo a favorita. Hoje, conta com 35% dos votos. Mas poderá subir nos próximos meses, na esteira de uma economia sob controle e continuidade da operação bolsa família. Marina é a grande incógnita. Hoje, com 25% dos votos, tenderia a crescer ? Vai depender do clima ambiental, a situação da economia, a indignação social, a maré dos movimentos. Ela é a que mais ganha com a perda de governantes inseridos no baú da velha política. Mas terá pequena visibilidade na campanha. E seus recursos financeiros, escassos, poderão afogá-la antes mesmo de chegar à praia. A depender dos ventos (suaves, fortes ?) da primavera de setembro de 2014. Já Aécio Neves tem dificuldade de encarnar o manto da novidade. A jovialidade do perfil não encobre a camada da matreira mineirice, extensão do conservadorismo. Eduardo Campos, mais que Aécio, tem potencial de crescimento. É possível, porém, que lhe falte apoio dos próprios correligionários do PSB, a partir dos irmãos Gomes, do CE. Por pouco Estas primeiras projeções, sujeitas a chuvas e trovoadas, jogariam o candidato no segundo turno a poucos metros da vitória. Ou seja, o quadro indica hoje uma disputa ferrenha. Uma eventual vitória da candidata à reeleição se daria por margem bem menor que a da primeira eleição. Uma união "Toda a vida (ainda das coisas que não têm vida) não é mais que uma união. Uma união de pedras é edifício : uma união de tábuas é navio : uma união de homens é exército. E sem essa união, tudo perde o nome e mais o ser. O edifício sem união é ruína : o navio sem união é naufrágio : o exército sem união é despojo. Até o homem (cuja vida consiste na união de alma e corpo) com união é homem, sem união é cadáver". Padre Antônio Vieira (1608-1697) E Serra, hein ? José Serra, é o que comenta nos últimos dias, teria decidido permanecer na floresta tucana. Tanto que se recusou a participar de eventos importantes do PPS, comandado pelo deputado Roberto Freira. José Serra é um perfil experiente. O mais experiente tucano, com exceção de Fernando Henrique. Saindo do PSDB, teria a imagem fragmentada. Seria uma saída sem brilho. Candidato à presidência, contaria com estruturas parcas e frágeis conjuntos eleitorais. Campanha é guerra. Sem arsenal, qualquer candidato morre logo no início da primeira batalha. José Serra deve levar em consideração seus potenciais, pontos fortes e pontos fracos. São Paulo, interior A esperança do governador Geraldo Alckmin, candidato à reeleição, é o interior de SP. O governador padece de um conjunto de problemas : 1. Não formou uma forte identidade, ao longo de seu tempo na política; 2. Não há um eixo forte na administração capaz de imprimir uma marca, um símbolo, uma ideia-força ao governo tucano; 3. O PSDB paulista sofre com o fenômeno desgaste de material. 20 anos de administração corroem a imagem. É inegável que o governador é um gentleman, educado, atencioso, bem-humorado, respeitador. Valores que o engrandecem como pessoa. Mas e as qualidades da gestão ? Quem consegue distinguir o eixo da administração geraldina ? Mais médicos É evidente que a administração Dilma, ao levar adiante o programa Mais Médicos, teve como inspiração as pesquisas. Nada se faz no governo sem a lupa sobre as ruas. O povão vai aprovar a estratégia de botar médicos nos fundões do país. E mais : esse poderá ser o algo mais que Dilma carecerá, no segundo semestre de 2014, para ganhar mais um diferencial sobre os outros candidatos. Eixo das oposições Qual será o eixo dos candidatos oposicionistas ? Uma visão nova na economia ? Um choque na infraestrutura ? Que estratégias para crescimento auto-sustentado defenderão ? Eis o dilema oposicionista. O país quer ver um projeto para a Nação. Um plano estratégico de desenvolvimento de longo prazo. Algo mais que fazer oposição por oposição, criticar por criticar. Campanhas precisam de discursos substantivos, não de paixões adjetivas. Faxineira é metalúrgica ? O projeto 4330 sobre terceirização é um avanço para o país. Que abriga cerca de 15 milhões de trabalhadores terceirizados e temporários na esteira das tendências internacionais. Esse contingente tem os mesmos direitos dos trabalhadores normais. E as empresas prestadoras de serviços, os mesmos deveres nas frentes de impostos, tributos e benefícios aos trabalhadores. O que empaca é a questão dos recursos. A CUT quer multiplicar seu cofre de Tio Patinhas. Como ? Fazendo com que uma copeira, um limpador, uma faxineira, uma cozinheira que trabalhem numa metalúrgica sejam considerados metalúrgicos. Representados pelo sindicato dos metalúrgicos. O cabo de aço do atraso Ou seja, a CUT quer que a representação sindical seja feita por um de seus sindicatos. Ora, o maior sindicato dos terceirizados é o Sindeepres, que reúne 280 mil filiados. Ligado à UGT. A CUT, com seus sindicalistas, e apoio de alguns (poucos) deputados petistas, também sindicalistas, ao lado de conhecidos assessores que trabalham na Secretaria do ministro Gilberto Carvalho, agem como cabos de aço para amarrar o Brasil à árvore do passado. Manjaram a questão ? Grana, pecúnia. Pior : há um grupo que ameaça deputados que não votarem conforme sua orientação. Esse é o pano de fundo da República sindicalista, que aufere milhões do Estado para fazer vingar um pérfido neo-peleguismo, ainda vivo e agindo nos bastidores. Renovação congressual É arriscado dizer, hoje, que a renovação do Congresso Nacional será muito elevada, ou seja, algo como 2/3. Pergunta básica : quantos parlamentares, entre os atuais 513 deputados, partirão para a reeleição ? Quantos candidatos a senadores sairão do atual conjunto de 81 ? Se não houver um número suficiente de perfis jovens e identificados com o eco das ruas, a composição congressual não passará por grandes renovações. O eleitorado terá de votar nas listas de que dispõem. E acabará votando em parcelas dos tradicionais perfis. A conferir. Bancadas corporativas Já a tendência de fortalecimento das bancadas corporativas é mais provável. A sociedade brasileira ganha, a cada dia, mais organicidade. Que se caracteriza pelo nucleamento de setores, grupos, alas. A crise da democracia representativa - e consequentemente o distanciamento entre o eleitor e sua representação política - propicia o adensamento dos grupos sociais. Daí a miríade de sindicatos, associações, federações, clubes, movimentos. Essas frentes constituem o aríete que faz pressão sobre as Casas Congressuais. Por isso, as bancadas que as representarão sairão fortalecidas em 2014. O novo, cadê o novo ? Haverá muita procura pelo Novo, pelo perfil que se identifique com o avanço. Os novidadeiros serão prestigiados. Vamos ver onde serão encontrados. Pros e Solidariedade Um tal de Partido Republicano da Ordem Social e o Partido Solidariedade, este de Paulinho da Força, deverão ser criados mesmo antes da Rede Sustentabilidade, de Marina. Significará fuga em massa de parlamentares de um partido para outro. Partidos que ameaçam ver parlamentares fugindo : PDT, PDS, PP, PTB e outros menores. Dúvida Gilberto Kassab será candidato a governador, a senador ou a deputado ? Trata-se de um dos mais hábeis articuladores políticos do país. A conferir. Foro São Paulo Informação de bastidor : a movimentação que tem tomado as ruas do país começou na esfera do Foro SP, espaço onde as esquerdas se refugiam para traçar suas estratégias. Diz-se que a ideia nasceu lá, animada pela visão de que o socialismo deveria ganhar as ruas sob o eco do povo. Mas o Foro perdeu o controle da situação. Os movimentos saíram de sua égide e patrocínio. Partidos políticos passaram a ser mal vistos. O Foro deu com os burros n'água. Estão pensando como rebobinar o fio do novelo. Embargos infringentes Se o STF aceitar julgar os embargos infringentes, a pizza da Alta Corte será motivo para aumentar o grito das ruas. Este consultor não aposta nessa hipótese. A conferir os passos do Supremo nesta semana. Petróleo de libra Se os americanos fizeram a espionagem sobre a Petrobras, é evidente que sabem tudo sobre o campo de petróleo de Libra. As empresas americanas vão participar do processo ? E se ganharem ? Serão carimbadas com a impressão de "cartas marcadas". O governo garante que não vai adiar esse leilão. Cada qual com seus segredos. Ou arremedos. Caças americanos Depois da espionagem voltada para os interesses econômicos e estratégicos, este consultor fica com a impressão de que a compra dos "caças americanos" pela Força Aérea subiu ao telhado. Os caças franceses e os suecos passaram a ter chances novamente ? Classe média Atentem para o conjunto das classes médias : 100 milhões de eleitores. Definirão o futuro do país. Solidariedade malandra Fecho a Coluna com mais uma historinha de Carlos Santos, em Só Rindo 2 : Candidato a vice-prefeito da também enfermeira Fafá Rosado em 2000, Galba Silveira (irmão do então deputado Francisco José) é conhecido por sua permanente verve. Caminhando num corpo a corpo em favela da cidade ao lado da candidata, ele é atalhado por uma senhora maltrapilha, olhos fundos, couro e osso, desfiando lamúrias : - Seu Galba, aqui a gente não tem nada. (...) Hoje ninguém comeu ainda. (...) Os bichinhos estão cheios de pereba e esse lamaçal não tem quem aguente... À espera de um alento ($) ou alguma panacéia para tantos sofrimentos, ela ganha a "solidariedade à miséria" do candidato de outra forma : - Como é que a senhora aguenta viver aqui ? Mulher, se mude. Conselho aos parlamentares Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes, membros dos Poderes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos governantes. Hoje, dedica sua atenção aos parlamentares : 1. Nas próximas semanas, deverá ser votado o PL 4330 sobre terceirização. Trata-se de lançar as bases das relações do trabalho do amanhã. Significa modernização e empregabilidade. Mas há forças retrógradas que lutam para amarrar o Brasil à árvore do passado. 2. Senhores deputados, tomem consciência dos aspectos inovadores, avançados que embasam o projeto 4330. E não se deixem levar por ameaças que, frequentemente, a CUT e outras forças fazem sobre o conjunto parlamentar. Chegou a hora de começar a fazer a reforma trabalhista. 3. Ao presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves, cabe não ceder às pressões de alas retrógradas que procuram semear o neo-peleguismo nas largas frentes das relações de trabalho no país.
quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Porandubas nº 369

As galochas, padre, as galochas ! Um padre da paróquia de Caratinga procurou, um dia, o renomado médico, dr. Edmundo Lima. Queixava-se de um prosaico, mas renitente resfriado. O médico constatou, de pronto, não se tratar de resfriado. A coriza não era nasal. O padre insistiu alegando haver pisado no chão do banheiro com os pés descalços. O doutor Edmundo, experiente, já havia feito o diagnóstico : uma baita blenorragia. O médico sentiu o drama do sacerdote. Receitou os remédios da época para curar blenorragia, com um conselho : - Olha, padre, quando o senhor for tomar banho não se esqueça de usar galochas. Elas são de borracha, garantidas, e não deixam passar a friagem que provoca essa coriza que lhe está atormentando. Padre, as galochas, viu ? - Ah ! Já ia me esquecendo : é bom que o senhor bispo não fique sabendo desse resfriado. Padre, todo cuidado é pouco ! (A historinha é do mineiro Zé Abelha). Crise de autoridade A onda de manifestações que tomou conta de ruas e praças de capitais e grandes cidades, nos últimos tempos, abre um amplo cenário que junta demandas gerais, reivindicações pontuais, gestos e atitudes que embasam as ações de grupamentos, setores e categorias profissionais. Tudo isso já foi suficientemente diagnosticado. Mas pouco se destacou sobre um fenômeno que tem marcado o atual ciclo político-institucional : a leniência e a incapacidade do poder do Estado para coibir os atos que culminam com a depredação de propriedades tanto na esfera privada quanto na esfera pública (prédios, lojas, sedes de governos, monumentos, etc). Essa evidência aponta para uma crise de autoridade. O vandalismo, na forma do poder invisível, desafia o poder visível, o poder formal, o poder do Estado. Medo de reagir As autoridades governativas, possivelmente receosas de voltarem a ser alvo de manifestações e intencionando vestir sua imagem com o manto da democracia, reagem de maneira tumultuada e errática, acabando por alavancar os tumultos. A quebradeira nas ruas tem sido responsável pela retirada tática de apoio que setores das classes médias ofereciam aos movimentos. O Brasil da bandalheira, com sua fotografia de depredação, começa a ocupar o lugar do Brasil cidadão, que foi às ruas para mostrar sua indignação contra o status quo. A moldura congressual Após um primeiro momento - quando parecia interpretar os ecos das ruas e a atender às demandas sociais - as casas congressuais voltam à rotina das agendas, na esteira de uma previsibilidade de interesses dos grandes partidos. O Senado, ao que se observa, está mais inclinado a ouvir os pleitos do Palácio do Planalto. A Câmara continua pautando temáticas importantes, mas a melhoria dos índices de avaliação da presidente Dilma tem contribuído para arrefecer os ânimos e a aplacar a insatisfação da base governista. Mudança de atitudes Ademais, a presidente tem mudado seu comportamento em relação aos congressistas. Dá sinais de que quer ouvir mais os pleitos; dá ordens para liberar emendas de parlamentares, dentro de critérios razoáveis; vai aos eventos que reúnem muitas pessoas em diversos Estados; ou seja, desenvolve uma liturgia política mais aberta e do gosto dos atores políticos. Lula, diz-se, tem atuado como guru da presidente, dando indicações, fazendo sugestões, apontando correções de rumo, enfim, usando sua experiência de raposa matreira para evitar tiroteios sobre o alvo principal do Planalto. Cenários - I Dilma continua sendo a favorita no pleito de 2014. E as razões começam pelo plano da economia. Não há indicações de que a economia saia dos trilhos a ponto de destroçar o trem das políticas sociais e prejudicar o ponto mais sensível do brasileiro : o bolso. As previsões apontam para dificuldades pontuais - um pontinho a mais na inflação, atrasos no cronograma de obras - mas não há previsão de catástrofe. Esse cenário, mesmo com um pouco de tumulto, não seria suficiente para derrubar o favoritismo da presidente em 2014. A economia norte-americana se recupera e volta a puxar massa estupenda de recursos. Não a ponto de inviabilizar o feijão com arroz brasileiro. Cenários - II A ameaça mais próxima da presidente tem o nome de Marina Silva. Que se identifica com a nova política. Mas a nossa Madre Teresa de Calcutá ou, se quiserem, nossa irmã Dulce teria muitas dificuldades de enfrentar uma guerra sangrenta. Não aceitará recursos de empresas; não fará parcerias importantes para eleger governadores, senadores, deputados Federais e estaduais; não teria espaço de mídia eleitoral capaz de garantir alta visibilidade e exposição de seu escopo. Sob essa teia de carências, pode-se deduzir que morrerá antes de chegar à praia. Claro, se puder contar com sua Rede Sustentabilidade, a ser criada até 5/10. Admitamos, porém, que Marina vá ao segundo turno e ganhe a eleição. Com sua ojeriza à velha política e descarte da estratégia de parcerias com os grandes partidos, a hipótese aponta para a impossibilidade de criar condições de governabilidade. Cenários - III Aécio Neves será o candidato das oposições. Mais precisamente, do PSDB. Porque o parceiro tradicional dos tucanos, o DEM, já admite que poderá vir a apoiar a eventual candidatura de Eduardo Campos, governador de PE. Aécio, ademais, tem dificuldades de produzir um discurso nacional. Critica por criticar, sem apresentar alternativas viáveis, uma proposta densa para o país. Por exemplo, sua crítica desta semana teve como foco o fato de Dilma ter discursado, numa cidade mineira, de costas para o busto de Tancredo Neves. Foi ovacionado pelos mineiros. Mas, aqui prá nós, esse detalhe está eivado de demagogia. E não contém substância. Perfumaria. Cenários - IV Eduardo Campos esteve duas vezes em SP na última semana, sempre em encontros com empresários de grande porte. Critica a presidente, destacando a sua falta de liderança. Entusiasma as platéias. Começa a comer pelas beiradas. Na visão deste consultor, tira mais votos das oposições do que votos de Dilma. Em vez de prejudicar a presidente, pode empurrar a campanha para o segundo turno. Nesse momento, se forem Marina ou Aécio os candidatos ao lado de Dilma, no segundo turno, é evidente que o governador de PE voltaria a fazer aliança com a presidente. Sob o aconchego de Lula. Cenários - V E Lula, em alguma hipótese poderia voltar a ser candidato ? Sim. No caso de um desastre na economia. Desastre, não um pequeno tombo. Lula seria instado a aceitar a tarefa. Mesmo contrariado. Até porque sabe que pegaria um país muito diferente do que aquele que governo nos oito anos de seus dois mandatos. A moldura internacional não favorece o país. A crise virá mais cedo ou mais tarde. Tudo se faz nesse momento para empurrar os efeitos de uma crise para 2015, depois das eleições. O fato é que o ciclo da polarização entre PT e PSDB está se esgotando. Se ainda conserva fôlego, é por falta de novas lideranças. Cenários - VI E José Serra ? Viverá seu crepúsculo se for candidato à presidente da República pelo PPS, de Roberto Freire. Terá votos, sim, mas não suficientes para entrar em um segundo turno ou ameaçar qualquer concorrente. Serra está no final de seu ciclo de vida político. Poderia ser candidato ao Senado, em SP, ou até a deputado Federal. Mas sua ambição olha mais alto. Diz-se, a boca pequena, que está com um pé no PPS. Que engordaria um pouco a bancada com Serra puxando a lista de candidatos do partido. Eu tenho um sonho Hoje, faz 50 anos do famoso discurso de Martin Luther King. Vale a pena lembrar o final. "Meu país, doce terra de liberdade, eu te canto. Terra onde meus pais morreram, terra do orgulho dos peregrinos, de qualquer lado da montanha, ouço o sino da liberdade!" E se a América é uma grande nação, isto tem que se tornar verdadeiro. E assim ouvirei o sino da liberdade no extraordinário topo da montanha de New Hampshire. Ouvirei o sino da liberdade nas poderosas montanhas de Nova York. Ouvirei o sino da liberdade nos engrandecidos Alleghenies da Pennsylvania. Ouvirei o sino da liberdade nas montanhas cobertas de neve Rockies do Colorado. Ouvirei o sino da liberdade nas ladeiras curvas da Califórnia. Mas não é só isso. Ouvirei o sino da liberdade na Montanha de Pedra da Geórgia. Ouvirei o sino da liberdade na Montanha de Vigilância do Tennessee. Ouvirei o sino da liberdade em todas as colinas do Mississipi. Em todas as montanhas, ouvirei o sino da liberdade. E quando isto acontecer, quando nós permitimos o sino da liberdade soar, quando nós deixarmos ele soar em toda moradia e todo vilarejo, em todo Estado e em toda cidade, nós poderemos acelerar aquele dia quando todas as crianças de Deus, homens pretos e homens brancos, judeus e gentios, protestantes e católicos, poderão unir mãos e cantar nas palavras do velho spiritual negro : "Livre afinal, livre afinal. Agradeço ao Deus todo-poderoso, nós somos livres afinal." 28 de agosto de 1963 Alckmin Geraldo Alckmin poderá ter a maior dificuldade de sua vida política. Alckmin é um dos mais sensíveis e humanos perfis da política. Uma pessoa boa, como se diz entre amigos. Mas não construiu uma identidade, entendida como um conjunto de conceitos, valores e princípios que formam a construção do perfil. É um tocador de obras ? Hum... É um governante voltado para a esfera social ? Hum... É um gerentão ? Hum... É um cara determinado, corajoso, zangado como Mário Covas ? Hum.. É uma pessoa boa. E tem fama de honesto. Mas a identidade, mesmo, deixa a desejar. Terá dificuldades. Padilha O candidato ao governo de SP deverá ser mesmo o ministro Alexandre Padilha. Envolvido em polêmica. O programa Mais Médicos poderá ser aplaudido pelos fundões do país, beneficiando Dilma, mas nos grandes centros, terá a oposição dos médicos brasileiros e suas entidades. Mas o PT, vale lembrar, tem seus 30% históricos em SP. Lula conhece bem essa demografia eleitoral. Pode crescer ? É possível. Mas o PT está puxando o último rolo de sua linha histórica. E se Haddad não estiver com boa imagem ? Vai puxar também Padilha para baixo. Skaf Paulo Skaf poderá ser a surpresa do pleito. Hoje, já agrega cerca de 20% dos votos, segundo a última pesquisa Datafolha. É um índice surpreendente. Trata-se do pré-candidato do PMDB, presidente da FIESP, um bom articulador e que se movimenta bastante. Corre de um lado para outro, fazendo inaugurações de escolas do SESI e SENAI, desenvolve uma agenda plena de contatos com bases. Um perfil arrojado. Pode ser o contraponto à cansada polarização entre PSDB e PT. Como candidato do PMDB, teria condições de reagrupar o partido em SP. Pezão e Lindbergh Será difícil ao PT e ao PMDB chegarem a um acordo no RJ. Cada qual sairá com seu candidato. Por parte do PT, o senador Lindbergh Farias já conta com o passaporte do partido. Por parte do PMDB, o candidato será o vice-governador Luiz Fernando Pezão. Pois bem, Sérgio Cabral, antes da movimentação das ruas, tinha chances de conduzir Pezão nas costas. Tornou-se o governador mais atingido pelo tiroteio. Será difícil a jornada. Lindbergh tem problemas antigos a resolver, desde os tempos em que foi prefeito de Nova Iguaçu. Denúncias de corrupção. Cada qual com seu calvário. Espelho de um corpo apaixonado O corpo apaixonado, dia após diaderrete no ventovira perfumevolteia evoca outros perfumeschega às camascobre os sonhos se evola voltaé como incensoseus poemas primeiros lembramo sofrimento de uma criança -perde-se olhando o redemoinho das pontes :como ficar nessas águas? Como sair ? Poema de Adonis, traduzido por Michel Sleiman Conselho aos governantes Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes, membros dos Poderes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos membros do STF. Hoje, volta sua atenção aos governantes : 1. Atentem para a quadra em que vive o país. Por todos os lados, clama-se por ordem, por autoridade. Façam cumprir a lei. Evitem que a desordem tome conta das ruas. 2. Urge coibir o vandalismo dos mascarados. Democracia implica liberdades de manifestação, associação, livre expressão, religiosa, etc. Mas nenhum cidadão tem o direito de colocar uma máscara e ocupar as ruas para praticar atos de depredação. 3. O exercício democrático pressupõe o respeito à ordem jurídica. Que impõe, por sua vez, a necessidade de garantia dos direitos individuais e coletivos, sempre na esteira da obediência aos princípios legais.
quarta-feira, 21 de agosto de 2013

Porandubas nº 368

A morada do doutor Abro a coluna com uma historinha do mestre Leonardo Mota. Quem entra no "Hotel Roma" de Alagoinhas, na BA, vai com os olhos a uma tabuleta agressiva em que peremptoriamente lê : Pagamento adiantado, hóspedes sem bagagens e conferencistas. Também, em PE, o proprietário do hotelzinho de Timbaúba é, com carradas de razão, um espírito prevenido contra conferencistas que correm terras. Notei que se tornou carrancudo comigo quando lhe disseram que eu era conferencista, a pior nação de gente que ele contava em meio à sua freguesia. Supunha o hoteleiro de Timbaúba que eu fosse doutor de doença ou doutor de questão. Por falar em Timbaúba, há ali um sobrado, em cuja parte térrea funciona uma loja de modas, liricamente denominada "A Noiva". O andar superior foi adaptado para residência de uma família. Eu não sabia de nada disso quando tendo indagado do Major Ulpiano Ventura onde residia o dr. Agrício Silva, juiz de Direito da comarca, recebi esta informação chocante : - O doutô Agriço ? O doutô Agriço está morando em riba d' "A Noiva"... Terceirização enviesada O projeto 4330, que tramita na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara Federal, foi completamente desestruturado. Virou uma bagunça. Voltado para a formalização do mercado de trabalho na esfera do trabalhador terceirizado, reivindicação do setor há cerca de três décadas, foi dissecado pela CUT, com o apoio do Governo, por meio de militantes cutistas infiltrados na máquina governamental. O projeto tem relatoria do deputado Arthur Maia (PMDB/BA), e é acompanhado por representantes do empresariado, da CUT e do governo. O empresariado, no caso, é representado pela CNI, que indicou o competente e renomado professor José Pastore, especialista em questões do trabalho. E, nas linhas de vanguarda e retaguarda, liderando o setor, duas destemidas lideranças : Vander Morales, pelo sindicato das empresas, e Genival Beserra, pelo sindicato dos trabalhadores. Destruindo o setor Pois bem, o projeto que CUT e Governo querem impor abriga duas posições que destroçam o esforço realizado pelas categorias terceirizadas nos últimos anos. A primeira : exclui o termo empresa para incluir, em seu lugar, pessoa jurídica, abrindo a possibilidade, como admite o próprio ministro Gilberto Carvalho, para que o trabalho terceirizado seja efetuado por cooperativas. A segunda posição : a representação sindical - as convenções coletivas - ocorrerá na esfera do tomador de serviços e não do prestador de serviços. Duas impropriedades. Uma punhalada na terceirização. Analisemos ambas. Cooperativas nessa área ? O sindicalismo cutista, que já domina todo o campo das relações do trabalho no Brasil, quer estender suas garras. Dominar a área da terceirização. Quer que as cooperativas - suas cooperativas - exerçam essas tarefas. As cooperativas são isentas de uma bateria de impostos e tributos. Quer dizer, saem empresas, entram cooperativas. O rombo na previdência social seria profundo. As empresas que trabalham com terceirização e mão de obra temporária empregam cerca de 10 milhões de trabalhadores. São obrigadas de maneira rigorosa a cumprir toda a legislação trabalhista. Sua contribuição para o Tesouro Nacional soma muitos bilhões. Pois bem, essa dinheirama sairia dos cofres do governo. Sob a égide de cooperativas improvisadas, sem especialização, sem história na área, sem conhecimento das práticas do mercado. O argumento ? Economia solidária Qual é o argumento do governo ? Viabilizar a tal de economia solidária, que é abençoada pelo professor Paul Singer, ele mesmo atuando na esfera do Ministério do Trabalho. O que é essa modalidade de Economia ? Seria uma forma de gerar trabalho e renda, criando novas demandas para a atuação sindical e, de certo modo, um enfrentamento direto ao capitalismo. Podem, até, alegar que não é isso. Mas, verdadeiramente, trata-se de uma manobra para restringir o mercado de trabalho. A cooperação, primeiro eixo dessa modalidade, implica propriedade coletiva de bens, partilha de resultados, responsabilidade solidária. Autogestão das redes de produção e dos processos de trabalho. Uma visão diametralmente oposta ao conceito moderno de gerenciamento. Autogestão sem quadros de especialistas é suicídio. A solidariedade dessa economia se volta para a distribuição equitativa dos resultados alcançados. Melhorar a vida dos participantes. E assegurar as condições ambientais. Blefe. A manobra é por dinheiro A outra posição enviesada do projeto 4330 diz respeito à representação sindical dos terceirizados. Que passaria a ser feita pelo sindicato que atua na esfera do tomador de serviços e não do prestador. Às claras : uma copeira que trabalha numa siderúrgica seria considerada não mais copeira, mas um quadro do setor siderúrgico, com salários estabelecidos pela convenção coletiva para os trabalhadores da empresa tomadora de serviços. Seria uma contrafação geral. Motoristas, faxineiros, seguranças, enfim, mais de 30 categorias terceirizadas seriam deslocadas para os grandes setores da economia. Ou seja, trata-se de uma estratégia da CUT, que domina os eixos mais fortes dos sistemas produtivos, para locupletar seus cofres. O sindicato dos trabalhadores terceirizados, hoje com 280 mil associados, seria destroçado. As categorias por ele representadas seriam redistribuídas para os núcleos dominados pela CUT e Força Sindical, as duas maiores Centrais. A fome com a vontade de comer Junte-se cooperativa sem experiência com a matreirice da CUT para se formar a equação : é a fome com a vontade de comer. É a improvisação se aliando aos oportunistas de plantão. Resumo da ópera : o projeto 4330, de autoria do deputado Sandro Mabel, que deveria por um fim à perseguição que o Ministério Público do Trabalho impõe às atividades terceirizadas, está se transformando na maior emboscada que se trama contra o setor nas últimas três décadas. Aprovada tal tramóia, todos os setores que trabalham com a terceirização, o Sindeprestem (sindicato das Empresas) e o Sindeepres (sindicato dos Trabalhadores), o Sinstal (sindicato das telecomunicações) - e mais aqueles que contam com leis próprias, como Conservação e Asseio (Seac) e Segurança Privada (Sesvesp) - estarão sob o crivo de cooperativas e sob a alçada das convenções coletivas realizadas no âmbito das tomadoras de serviços. O patrocínio do Governo Os comandantes desta insidiosa operação, segundo é sabido, estão no próprio Palácio do Planalto, sob a coordenação do ministro Gilberto Carvalho, a quem se subordinam as questões ligadas ao vetor trabalhista. Que pediu ao relator Arthur Maia para ajudar a tal da economia solidária do prof. Paul Singer. Os principais interlocutores da terceirização - sindicatos representando empresas e trabalhadores - acompanham atentamente a situação, denunciando a torpe manobra para jogar a terceirização sob a órbita da CUT. Meneghelli, fundador da CUT Agora, leiam estas declarações de Jair Meneguelli, presidente do SESI, ex-sindicalista, fundador da CUT, em entrevista a O Estado de São Paulo, na última segunda, 19/8/13 : "Virou profissão, das boas, ser um dirigente sindical... A CUT não pode ter caráter partidário, isso é crucial. Tive uma briga homérica com José Dirceu justamente por conta disso... a CUT perdeu o maior momento de sua história...As Centrais não estão mais captando e representando o pensamento e a vontade dos trabalhadores". O que dizer mais ? Depois desse veredicto do fundador da CUT, o quê mais dizer ? Nada ! Ou, se quiserem, um peremptório balançar negativo de cabeça. Churchill - frases "Eu não sou exigente, eu me contento com o que há de melhor." "Não existe opinião pública, existe apenas opinião publicada." "Estou sempre disposto a aprender, mas nem sempre gosto que me ensinem." "Um conciliador é alguém que alimenta um crocodilo, esperando ser devorado por último." "Eu gosto de porcos. Cães nos olham de baixo. Gatos nos olham de cima. Porcos nos tratam como iguais." Médicos estrangeiros nos EUA O Brasil quer implantar o programa Mais Médicos - com médicos estrangeiros - para ampliar a rede da saúde. O programa do Ministério da Saúde gera muita polêmica. Será o calcanhar de Aquiles do ministro Padilha, caso confirmada sua candidatura ao governo de SP em 2014. Apenas para ilustrar : nos EUA, médicos imigrantes trabalham como garçons ou taxistas. Milhares de médicos estrangeiros têm dificuldades para obter licença de atuação, apesar de faltarem médicos em muitas partes do país. O processo de admissão pode levar 10 anos. Precisam provar que sabem inglês, passar por três etapas distintas do Exame de Licenciamento Médico, obter cartas de recomendação americanas, trabalhar como voluntários ou não em hospital, clínicas ou organização de pesquisas e ser residente permanente ou obter visto de trabalho. Pesquisas Nos próximos dias, teremos nova rodada de pesquisas para o governo do Estado de SP, com o carimbo Datafolha. Perguntas : Geraldo Alckmin caiu ? Como estará a posição de Paulo Skaf, que está em segundo lugar, com 20% dos votos ? E o eventual candidato do PT, Alexandre Padilha ? Dilma em nova roupagem A presidente Dilma mudou de atitudes. Conversa a torto e a direito com representantes e lideranças do Parlamento. Libera verbas de emendas parlamentares. Vai a capitais e a grandes cidades. Resgatou cinco pontos na popularidade. Mas, segundo se infere, jamais alcançará o topo de 65% de avaliação positiva, que era a marca de meses atrás. Lula mais precavido À boca pequena, comenta-se que Luiz Inácio Lula da Silva age com precaução. Ouve muito, conversa, articula. Seu sonho maior, além da reeleição de Dilma, é tomar o governo dos tucanos em SP. Nessa direção, poderia desistir de uma candidatura do PT, em SP, para apoiar o candidato de outro partido ? Difícil. O PT quer fazer uma grande bancada. E a candidatura do governo é fundamental. Serra no PPS ? Fonte fidedigna garante que José Serra está pensando seriamente em sair do PSDB e ingressar no PPS. Acha que voltou a ter chances no jogo eleitoral de 2014. Marina vai conseguir ? Marina Silva fez a última jogada : pediu apoio à cúpula do TSE para agilizar a instalação de sua Rede Sustentabilidade. Conseguiu oficializar 250 mil assinaturas. Seu grupo garante ter entregue 830 mil assinaturas, 70% a mais do necessário. Na régua de 0 a 100, a probabilidade de abrir o partido até outubro é, hoje, de 60%. Frases de Churchill "Quando eu era jovem, estabeleci uma regra de nunca beber um drink antes do almoço. Agora, minha regra é nunca beber um drink antes do café-da-manhã." "Comer minhas próprias palavras nunca me deu indigestão". "Quando era subalterno na guerra da África do Sul, a água não era apropriada para beber. Para torná-la palatável, tínhamos que colocar whisky. Através de um esforço diligente, aprendi a gostar disso". Silêncio geral Fecho a coluna com uma historinha da Paraíba. Flávio Ribeiro, presidente da Assembléia da Paraíba (depois foi governador do Estado), estava irritado com as galerias, que aplaudiam e vaiavam durante um debate entre o deputado comunista Santa Cruz e o udenista Praxedes Pitanga. De repente, tocou a campainha, pediu silêncio e avisou, grave : - Se as galerias continuarem a se manifestar, eu evacuo. As galerias, ufa, se calaram. Conselho aos membros do STF Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes, membros dos Poderes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado às Entidades Sociais. Hoje, volta sua atenção aos membros do STF : 1. A Suprema Corte volta a chamar a atenção sobre suas decisões. O processo do mensalão é retomado sob intensa atenção social e clima de expectativas envolvendo o presidente da Corte, Joaquim Barbosa, e o ministro Ricardo Lewandowski. 2. O bom senso sugere que Sua Excelência, o presidente Barbosa, deve pedir desculpas públicas ao ministro Lewandowski, por tê-lo chamado de chicaneiro. Não combina a imagem do chefe da mais Alta Corte Judiciária com o uso desse termo para designar um colega. Os componentes do STF devem se esforçar para harmonizar o ambiente. 3. O ministro Lewandowski, por sua vez, em caso de retratação, deveria receber o gesto humildemente. E mostrar que seu compromisso é com a Justiça. Evitando interpretações que estaria tentando atenuar a pena de alguns condenados.
quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Porandubas nº 367

Cancelando chuvas Abro a coluna de hoje com duas historinhas da PB, terra de políticos, cantadores e poetas. Seca medonha. A PB em desespero, o governador José Américo, aflito. Um dia, caiu uma chuva fininha no município de Monteiro. Inácio Feitosa, o prefeito, querendo fazer bonito, correu ao telégrafo : "Governador : chuvas torrenciais cobriram todo município de Monteiro. População exultante. Saudações, Feitosa". Os comerciantes da cidade, quando souberam do telegrama, ficaram desesperados. O município não ia mais receber ajuda. Ainda mais porque a mensagem era falsa e apressada. Uma chuvinha fina, não torrencial. Feitosa correu de novo ao telégrafo : "Governador José Américo : cancelo chuvas. População continua aflita e esperando adjutório. Feitosa, prefeito". Sinceridade e sagacidade Zé Cavalcanti, ex-deputado paraibano, conta em seu livro "A Política e os Políticos", que um coronel do sertão, ao passar o comando de seus domínios para o filho, deu o conselho : - Meu rapaz, se queres ser bem sucedido na política, cultiva estas duas verdades : a sinceridade e a sagacidade. - E o que é sinceridade, meu pai ? - É manter a palavra empenhada, custe o que custar. - E o que vem a ser sagacidade ? - É nunca empenhar a palavra, custe o que custar. Dilma se levanta Depois de ligeira (?) queda, a presidente Dilma se levanta. A interrogação é proposital. A queda foi ligeira ou demorada ? Ligeira. Recuperar cinco pontos um mês após as grandes mobilizações é um feito. Até porque a indignação social continua intensa. Como previmos, as manifestações continuam e terão sequência na esteira de questões pontuais, circunscritas a regiões e bairros de grandes cidades. Mas um sopro de otimismo volta a bafejar os corações. Inflação no mês de junho foi baixa e animação de bolsos mais cheios é suficiente para botar mais confiança no bornal da presidente. O que a confiança aumentada gerará ? Veja abaixo. Cautela É evidente que o principal efeito do resgate de confiança se dará na frente política. Os políticos, com a presidente no buraco da credibilidade, tendem a retirar o apoio, significando derrotas no Parlamento. Mas a volta da popularidade ainda não se deu nos índices históricos. Por isso, a área política dá meio passo adiante, não um passo completo. Caso a presidente consiga repor mais pontos em seu arsenal, ganhará mais apoio. E assim será a andança daqui por diante. O fato é que o custo político tende a encarecer nas margens eleitorais. Quanto mais próximo o pleito, mais caro ficará o apoio. Barão de Itararé "Viúva rica, com um olho chora e com o outro se explica". Caranguejo Pode-se, ainda, distinguir o passo do caranguejo : dois pra frente, um pra trás, um para o lado. Ou seja, não haverá firmeza no trajeto. A não ser que a presidente recupere logo, logo, seu vetor de força. Difícil, como sabemos. Tudo vai depender do desempenho da economia. Que é a locomotiva do trem. Puxa os carros. Dilma continua sendo a favorita. Não há previsão de derrocada econômica. Tampouco se prevê crescimento extraordinário. Coisa pequena. Mas, se a equação BO+BA+CO+CA (Bolso, Barriga, Coração, Cabeça) for mantida, a presidente estará na frente do carro eleitoral. Barão de Itararé "Dize-me com quem andas e eu te direi se vou contigo". Tiroteio recíproco Tucanos e petistas promovem uma caçada recíproca. Os tucanos continuam atirando no mensalão, alvo de sua predileção. Os petistas agora elegem o que chamam de "trensalão", o affaire dos trens. Dessa contenda, este consultor faz a ilação : a polarização entre PT e PSDB tende a ser atenuada. Não acabará, mas será menor. Daí a chance de uma candidatura que entre no meio dos dois : a de Paulo Skaf, por exemplo, pelo PMDB. Alckmin tende a ser alvo contínuo, até o processo eleitoral; e o ministro Alexandre Padilha, que foi lançado pré-candidato, semana passada, em Bauru, não tem coisas positivas para mostrar. Ao contrário, seu nome está por trás de projetos polêmicos, como o da importação de médicos. Polarização cansou O eleitor está saturado de velhas querelas. O PSDB e o PT vêm se enfrentando há três décadas. Os petistas conseguiram fincar estacas mais profundas na capital paulistana e os tucanos fundaram seus alicerces mais no interior do Estado. 20 anos de tucanato chegam a cansar. O mesmo ocorre com o PT velho de lutas. Esse partido mudou muito em sua trajetória. Tornou-se assemelhado aos partidos do centro democrático. Na teoria, aceita programas revolucionários; na prática, age como os outros. Por isso, os entes partidários são tão assemelhados, com exceção dos pequenos partidos das margens ideológicas. Barão de Itararé "Pobre, quando mete a mão no bolso, só tira os cinco dedos". Racionalidade - 1 Que consequências o novo cenário político-institucional poderá produzir ao país ? Sob a esfera dos costumes e das práticas políticas, as perspectivas são promissoras. Estacas morais foram e continuam sendo cravadas no solo esburacado da política pelos braços dos movimentos que tomam as ruas das cidades em todos os quadrantes nacionais. A nova ordem que se esboça passa a abrigar um alentado acervo de princípios e valores, que, mais cedo ou mais tarde, balizarão as imprescindíveis reformas no edifício político, a começar pelo alargamento dos tijolos da racionalidade. Racionalidade - 2 A maioria do eleitorado habitou por décadas as bases da pirâmide, constituindo, em função de precárias condições de vida, massa de manobra dos quadros políticos. Seu processo decisório ancora-se na emoção, que transparece em votos de agradecimento por benesses e bolsas recebidas, no adjutório esporádico que os políticos pulverizam a torto e a direito, usando migalhas do poder como forma de cooptação. Essa obsoleta modelagem está com os dias contados. O meio da pirâmide já soma 53%, cerca de 104 milhões de pessoas, quando, há 10 anos, somente 38% habitavam este espaço. É evidente que a absorção de valores não ocorre de maneira abrupta, mas é fato que critérios racionais começam a substituir os emotivos no processo de escolha de representantes e monitoramento de governantes. Verdade, sem lantejoulas Ruas são ocupadas por grupos e categorias profissionais, contidas em seus limites, defendendo interesses corporativos, diferenciando-se pela especialização. Bem diferentes das massas abertas do passado. A racionalidade, por sua vez, implica compromisso com a verdade, descortinando uma geração de perfis políticos desprovidos de lantejoulas e brilhos. A auto-glorificação, que fundamenta o marketing das performances pessoais e ocupa praticamente todos os espaços das mídias eleitorais, deverá ser doravante recebido com apupos por ouvintes de todas as classes. Em contraponto, ganharão destaque debates no campo das ideias, proporcionando condições de enxergar as diferenças de estilo entre atuais representantes e futuros competidores. Democracia direta O plano da semântica suplantará o terreno da estética, no fluxo das correntes de opinião que despejam torrentes de informação pela gigantesca rede social. Aduz-se, ainda, na onda da efervescência social, o adensamento de uma locução com origem nos mais diferentes estratos, a atestar a multiplicação de novos pólos de poder e irradiação de influência. Sendo assim, os Poderes da República - Executivo, Legislativo e Judiciário - terão de conviver com as forças centrípetas, sendo razoável imaginar que o movimento das margens em direção ao centro acabarão reforçando o instrumental a serviço da democracia direta - consulta popular, plebiscito e referendo. Sob essa perspectiva, também é razoável prever mais agilidade nos processos de adesão a projetos de iniciativa popular, tendo como correia de transmissão a bateria de meios da internet. Conquistar o povo O conglomerado público está pasmo. Os atores contemplam a plateia sem saber se receberão aplausos ou vaias ao final da peça. Treinam posturas recatadas, temem enfrentar auditórios lotados, eliminam desfiles exuberantes. Os governantes, a partir da presidente da República, tentam voltar aos braços do povo. E produzir uma agenda positiva, recheada de ações capazes de reconquistar contingentes indignados. A foto do governador do CE, Cid Gomes, sentado no meio fio, alta noite, com um megafone falando para um grupo acampado numa rua, retrata a estética do novo cenário. Nem sempre, porém, reconhecer erros ou adotar postura humilde geram resultados. É o caso do governador Sérgio Cabral, que continua ouvindo o eco das ruas. O fato é que o dique de contenção das pressões sociais foi rompido. Lula sarado Pois é, fofoqueiros estão avisados pelos médicos : Lula está sarado. Câncer desapareceu. Tudo isso para dizer que Luiz Inácio subirá com força ao palanque de Dilma. Não haverá Volta, Lula. Mesmo com ele 100% bem disposto. Tirar Dilma significaria que seu governo falhou. Marina Marina Silva vai ter de se desdobrar para fundar, até 3/10, o Rede Sustentabilidade. Já apresentou 500 mil assinaturas, mas apenas 190 mil foram reconhecidas. Vai apresentar mais 200 mil aos cartórios, que andam lerdos. Marina, na visão deste consultor, tira mais votos das oposições do que da Dilma. Daí ser uma candidata que convém ao governismo. Obteve 26% na última pesquisa Datafolha. Serra candidato José Serra só pensa naquilo : a candidatura em 2014. Para presidente. Pelo PPS. PSDB fechou questão com Aécio. Mas Aécio está em queda. Os serristas começam a defender prévias no partido. Serra teve 14% e 15% em dois cenários na pesquisa Datafolha para presidente, número que supera os 13% de Aécio. Ofereceram a ele a chance de disputar o Senado. Recusa. Deputado ? Nem pensar. Serra aposta na derrocada da economia. Com mais candidatos e economia no buraco, oposições teriam alguma chance no segundo turno. O coice Sócrates, o sábio, caminhava tranquilo quando um atrevido descomedido lhe deu um coice. Estranharam alguns a paciência do filósofo, que foi logo perguntando : - Pois o que hei de fazer, depois desse coice que recebi ? Responderam : - Levá-lo a juízo pelo ato vil. Replicou Sócrates : - Se ele com seu coice confessa ser jumento, quereis que eu leve um jumento a juízo? Conselho às organizações sociais Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes, membros dos Poderes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado à presidente Dilma. Hoje, volta sua atenção às Entidades Sociais. 1. O momento é propício para as entidades que promovem a intermediação social consolidar sua identidade, tarefa que implica patrocinar causas legítimas dos núcleos e setores que defendem. 2. Urge clarificar demandas e escolher, no Parlamento, interlocutores que possam dar vazão a elas, comprometendo-se com sua defesa junto aos conjuntos parlamentares. 3. Impõe-se uma intensa agenda de articulação com entidades congêneres, na esteira de fortalecimento de parcerias e integração de propósitos na defesa de categorias, setores, gêneros, núcleos e movimentos sociais.
quarta-feira, 31 de julho de 2013

Porandubas nº 366

"Oi, nós, hein, falano ingrês" Brejo das Freiras é uma Estância Termal nos confins da Paraíba, perto de Uiraúna e Souza. Trata-se de um lugar para relaxamento e repouso. O governo da PB tinha (não sei se ainda tem) um hotel, com uma estrutura para banhos em águas quentes. Década de 70. Apolônio, o garçom, velho conhecido dos fregueses da região, recebe, certo dia, um hóspede de outras plagas. Pessoa desconhecida. Lá pelas tantas, quase terminando a refeição, o senhor levanta a mão, chama Apolônio e pede : - Meu caro, quero H2O. Susto e surpresa. Anos e anos de serviços ali no restaurante e ninguém, até aquele momento, havia pedido aquilo. Que diabo seria H2O ? Apolônio, solícito : - Pois não, um instante ! Aflito, correu na direção da única pessoa que, no hotel, poderia adivinhar o pedido do hóspede. Tratava-se de Luiz Edilson Estrela, apelidado de Boréu (por causa dos olhos grandes de caboré), contumaz boêmio, acostumado aos salamaleques da vida. - Boréu, tem um senhor ali pedindo H2O. Que diabo é isso ? Desconfiado, pego sem jeito, Boréu coça o queixo, olha pro alto, tenta se lembrar de algo parecido com a fonética. Desanimado, manda ver : - Apolônio, sei não. Consulte o Freitas. Freitas era o diretor do Grupo Escolar, o respeitado intelectual da região. Localizado, o professor tirou a dúvida no ato : - H2O é água, seus imbecis. Quer dizer água. Apressado, Apolônio levou ao freguês uma jarra do líquido. Depois, no corredor, glosando o feito, gritou em direção a Boréu : - Ah, ah, ah, esse sujeito achava que nós não sabia ingrês. Lascou-se ! A passagem de Francisco O papa Francisco fez história no Brasil. Sua passagem de uma semana nesses trópicos ficará marcada no calendário da Igreja Católica, no coração dos jovens e de milhões de brasileiras e brasileiros de todos os espaços e profissões, e, também na cabeça dos políticos. O pontífice, com sua simplicidade, encantou a todos. E abriu uma locução muito fértil, que certamente ficou gravada nos sistemas cognitivos. Pregou uma igreja mais despojada do fausto e da burocracia; uma igreja capaz de sair da casca onde se abriga para ir ao encontro dos pobres e marginalizados. Abençoou multidões. Beijou criancinhas. Não esmoreceu um minuto. O papa até pareceu o milagre que um país devastado pelo desencanto ganhou. Puxão de orelhas O papa deu um puxão de orelhas - por mais que tenha sido suave, como se apresenta - na igreja burocrática, que se afastou das periferias, e nos políticos. Incitou os padres e bispos a reencontrarem o caminho das ovelhas perdidas. Fez uma bela peroração nessa direção. E condenou a corrupção, a ambição pelo dinheiro, a vida escravizada pelo consumismo desvairado. Puxou a orelha dos atores da velha política, incitando-os a abrir espaço aos jovens. Foi bem claro : "a nossa geração se demonstrará à altura da promessa contida em cada jovem quando souber abrir-lhe espaço". Um recado adequado no momento oportuno para a platéia certa. Cabral e a humildade Sérgio Cabral, o governador que recebe o maior tiroteio das ruas, mostra-se, agora, humilde. Diz que aprendeu lições de humildade com o Papa Francisco. Viva. Os jovens Ao lembrar que a juventude é a "janela pela qual o futuro entra no mundo", no discurso que abriu sua agenda no país, o Papa Francisco quis ressaltar o motivo de sua peregrinação - presença na Jornada Mundial da Juventude - e também alertar os políticos que aos jovens devem ser dadas condições para exercer de maneira condigna seu papel na sociedade. A população jovem brasileira soma 51 milhões de pessoas - 10 milhões entre 15 a 17 anos, 23,1 milhões entre 18 a 24 anos e 17,5 milhões entre 25 a 29 anos - sendo, nos últimos tempos, o motor da mobilização social nas grandes e médias cidades do país. Como agrupamento mais descontente com a classe política, desfralda o simbolismo citado pelo carismático pontífice para fustigar as fortalezas do poder e, à sua maneira, aplainar os caminhos de um amanhã que se lhe apresenta sombrio, uma existência que ameaça ser mais sofrida que a de seus pais. Meus limites "Os limites da minha linguagem denotam os limites do meu mundo". Wittgenstein. Proximidade A peroração com a qual explicou a perda de fiéis da Igreja Católica enfatizou o distanciamento entre ela e o povo. Contou casos que revelaram a razão pela qual parcela dos católicos migrou para as igrejas evangélicas. Pois bem, esse distanciamento também ocorre na esfera da política. Os representantes se distanciam a olhos vistos dos representados, o que contribui para explicar a intensa movimentação que se vê na sociedade, principalmente dos jovens, que se afastam da esfera política por conta das formas tradicionais de representação, o modus operandi dos atores, as ações e atitudes escandalosas que sujam a imagem dos representantes nas instâncias federativas. Horizontes mais claros Os sinais dados pelo Papa jesuíta abrirão novos horizontes. Veremos um país mais corajoso e rebelde. Ele próprio convidou os jovens a serem revolucionários, audazes, rebeldes. Uma espécie de endosso aos jovens nas ruas. As manifestações deverão continuar. Setoriais e pontuais. Os grupamentos descobriram que podem mudar o rumo das coisas. Por isso mesmo, as pressões de lá para cá, das margens para o centro da política, serão mais intensas. Os horizontes serão mais claros. A transparência, maior. A vigilância, mais acesa. Ninguém estará imune ao bombardeio das ruas e ao tiroteio midiático. Entender o jovem Se a política não descobrir quem é esse jovem que vai às ruas e as razões que o movem será enterrada. Aliás, esse processo já se iniciou. Entender o jovem exige, primeiro, inseri-lo no quadro de transformações ocorridas nas últimas décadas. Karl Popper e Konrad Lorenz constatam, em sua obra "O Futuro Está Aberto", a existência de um abrangente processo de massificação na sociedade, caracterizado, sobretudo, pela perda de valores. O fim da Guerra Fria desfez as clássicas divisões ideológicas. Os países romperam fronteiras, integrando-se aos mercados globais e acompanhando a evolução tecnológica. O capital físico, variável-mor do crescimento econômico, cedeu lugar ao capital humano, caracterizado pelo conjunto de capacitações que as pessoas ganham por meio da educação, do treinamento e da experiência para desempenhar suas atividades com competência. Essa é a nova ordem que instiga os jovens. Pragmatismo Quando falta a matéria prima deste novo ciclo - que caracteriza a Sociedade da Informação e do Conhecimento - a frustração se estabelece. Da frustração para a revolta, o passo é curto, a rebeldia se impõe. Não estão os jovens preocupados com ideologia, direita ou esquerda. Pode ser que, em um ou outro país, o fundamentalismo de cunho religioso seja o leit motiv das mobilizações. Por aqui, o pragmatismo abre alas. Nossos jovens não vivenciaram os anos de chumbo. Apenas uns poucos ouviram de seus pais os ecos dolorosos do passado. A preocupação que os move agrega coisas como educação, emprego, melhoria dos serviços públicos. Reivindicam condições para competir em um mercado cada vez mais exigente. Se nossa geração não souber abrir espaço para a juventude, a janela do futuro ficará fechada. Abram ouvidos, políticos e dirigentes, à profecia do Papa Francisco. Agosto, mês do cachorro louco Agosto se abre com perspectivas sombrias. Lá para meados do mês, aguardam-se ações congressuais em resposta aos vetos da presidente Dilma. Hoje, a aposta é a de que alguns vetos presidenciais a matérias aprovadas pelo Congresso serão derrubados : o veto ao dispositivo da lei que permitia a transferência por herança da autorização para exploração de serviço de táxi; e o veto ao projeto de lei que previa a extinção da multa rescisória de 10% sobre o saldo do FGTS paga pelos empregadores nas demissões sem justa causa. A presidente sancionou, com um veto, a lei que estabelece novas regras para o rateio do FPE (Fundo de Participação dos Estados). O projeto foi aprovado pelo Senado no fim de junho. E deverá vetar outros projetos como a destinação dos royalties do petróleo para a educação e saúde e o que cria a aposentadoria especial para garçons. Acirramento Com a derrubada dos vetos, a tendência é de acirramento mais forte entre governo e base aliada. As relações entre PMDB e PT são tensas. Sobraria a Dilma a alternativa de se "vitimizar", jogando sobre o Congresso a culpa pelo atraso, pela inércia, pela inação. Mas é preciso ter em mente que a "vitimização" só daria resultado caso a presidente tivesse boa acolhida popular. Já teve. Hoje, está embaixo no ranking do prestigio. A imagem do governo está esgarçada. Sua identidade era a de gerente, um perfil que exprimia comando, controle, organização. Quebrou-se. A administração não mostra coisas novas. Patina. O clima é de desorganização, bagunça, interrogações, querelas até entre alas do PT, uma querendo mudança na economia, outra defendendo o status quo. MD fracassa A fusão entre PMN e PPS, para formar a MD (Mobilização Democrática) fracassou. A nova sigla era articulada pelo deputado Roberto Freire (PPS/SP) e poderia abrigar a candidatura de José Serra à presidência em 2014. Alckmin O governador Geraldo Alckmin, ao que se comenta, gostaria de ter em SP dois palanques, um do Aécio, outro do Serra. Juntos, ajudariam sua campanha. Marina e as chances Marina Silva é a pré-candidata que mais se beneficia com a agitação das ruas. Mas uma campanha presidencial precisa de muita coisa : bala para entrar na guerra (recursos), tempo de exposição na mídia eleitoral, um discurso denso sobre o país e apoios de partidos. Se Marina, por uma dessas curvas da política, chegasse ao pódio do poder central, teria condições de governar ? Suas proposições são poéticas e sonháticas. O Brasil real é outra coisa. "Lula nunca saiu" Ao dizer que não há sentido no movimento "Volta, Lula", porque este nunca saiu, a presidente Dilma não apenas quis dizer que eles são indissociáveis mas devem repartir tudo : acertos e erros. Ou seja, se Lula voltar no lugar dela, isso é uma prova de que ambos fracassaram. Esta é a leitura deste consultor. Uma vacina contra os que defendem a candidatura do ex-presidente. O álcool que faz falta A ABRASPEA - Associação Brasileira dos Produtores e Envasadores de Álcool - quer recuperar, com embargos ao TRF, em Brasília, o direito de produzir e comercializar o álcool líquido em graduações mais elevadas. A Anvisa, de maneira arbitrária e com base em números falsos sobre acidentes, proibiu este comércio. Para a ABRASPEA, a agência oficial quer apenas surrupiar dos consumidores brasileiros o seu direito de escolha. Afinal, o álcool líquido é de uso comum das famílias brasileiras há séculos e faz muita falta para as donas de casa e em qualquer lugar que reclame uma limpeza mais rigorosa. Conselho à presidente Dilma Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes, membros dos Poderes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos líderes e dirigentes. Hoje, dirige-se à presidente Dilma : 1. O ambiente político está tenso. A base aliada ameaça derrubar os vetos de Vossa Excelência. A hora sugere uma atitude de modéstia e simplicidade - à moda Francisco - e uma articulação eficiente com a classe política. 2. A economia carece de novos rumos. Trata-se de um consenso entre economistas e cientistas sociais. O ciclo do incentivo ao consumismo se mostra esgotado. O país clama pela volta dos investimentos. 3. Aceite a real politik. Se plebiscito não pode ser feito para patrocinar uma reforma a vigorar já em 2014, use o bom senso e debata com a esfera política os caminhos mais viáveis a serem seguidos. Evite derrotas continuadas nas Casas Congressuais.
quarta-feira, 17 de julho de 2013

Porandubas nº 365

Abro a coluna de hoje com um dos maiores (se não o maior) perfis políticos do século XX : Winston Churchill. Abanando minha cabeça Winston Churchill fazia um discurso mordaz quando um aparteador, saltando do lugar para protestar, só conseguiu emitir sons abafados. Churchill observou : - Vossa Excelência não devia deixar crescer uma indignação maior do que a que pode suportar. Em outra ocasião, estava sentado, sacudindo a cabeça de maneira tão vigorosa e perturbadora que o orador gritou, afinal, exasperado : - Quero lembrar ao nobre colega que estou apenas exprimindo minha própria opinião. Ao que Churchill respondeu : - E eu quero lembrar ao nobre orador que estou apenas abanando a minha própria cabeça. Sou o chefe dele O general Montgomery estava sendo homenageado, pois venceu Rommel na batalha da África, na 2ª Guerra Mundial. Discurso do General Montgomery : "Não fumo, não bebo, não prevarico e sou herói". Churchill ouviu o discurso e com ciúme, retrucou : "Eu fumo, bebo, prevarico e sou chefe dele". Se houver Telegramas trocados entre o dramaturgo Bernard Shaw e Churchill, seu desafeto. Convite de Bernard Shaw para Churchill : "Tenho o prazer e a honra de convidar digno primeiro-ministro para primeira apresentação de minha peça Pigmaleão. Venha e traga um amigo, se tiver". Resposta de Churchill : "Agradeço ilustre escritor honroso convite. Infelizmente não poderei comparecer à primeira apresentação. Irei à segunda, se houver". Por que não ? Quando Churchill fez 80 anos, um repórter de menos de 30 foi fotografá-lo e disse : - Sir Winston, espero fotografá-lo novamente nos seus 90 anos. Resposta de Churchill : - Por que não ? Você me parece bastante saudável. Veneno em seu chá Bate-boca no Parlamento inglês. Aconteceu num dos discursos de Churchill em que estava uma deputada oposicionista, Lady Astor, conhecida pela chatice, que pediu um aparte (Sabia-se que Churchill não gostava que interrompessem os seus discursos), mas concedeu a palavra à deputada. E ela disse em alto e bom tom : - Sr. ministro, se Vossa Excelência fosse o meu marido, eu colocava veneno em seu chá ! Churchill, lentamente, tirou os óculos, seu olhar astuto percorreu toda a plateia e, naquele silêncio em que todos aguardavam, mandou : - Nancy, se eu fosse o seu marido, eu tomaria esse chá com prazer! A canoa de Lula Qual a possibilidade do ex-presidente Luiz Inácio pegar a canoa e voltar a navegar no riacho da eleição de 2014 ? Tem sido esta a mais recorrente pergunta nos corredores da política, instigada pela acentuada queda da popularidade da presidente Dilma na esteira da avalanche de manifestações que sacodem o país. A resposta está condicionada a outra questão : é possível à mandatária recuperar a avaliação que detinha junto às classes sociais, no início deste ano, a mais positiva entre os chefes de Executivo da contemporaneidade ? A resposta não é tão simples, pois agrega um conjunto de fatores, alguns imponderáveis, a começar pelo desempenho da economia nos próximos meses. Primeira hipótese : perda de controle A ser pífio o desempenho econômico, com efeitos na inflação, particularmente na área de alimentos, a presidente se defrontará com dois grandes riscos : a perda de controle sobre o processo político-administrativo, com a governabilidade caindo abaixo do ponto crítico; e a perda de capacidade de reverter o processo de desacumulação de força. Sob essas duas situações-limite, é razoável crer na hipótese de que o PT, para preservar seu projeto de poder, convença seu comandante-em-chefe a voltar à liça. A recíproca é verdadeira. Se a economia correr bem nos trilhos, o controle sobre o poder político será resgatado e a boa imagem reconquistada. O caso da Bolívia O vetor de peso de um governante, é bom lembrar, equivale ao de um balanço. A princípio, ele sobe, depois desce, mantendo-se em nível baixo por bastante tempo, até juntar forças para recuperar a posição anterior. O perigo é quando o mandatário atinge o ponto de quebra, aproximando-se do extremo do arco da estabilidade; nesse caso, não haverá condições para segurar a queda e acampar o governo em terreno seguro. Um exemplo clássico de recuperação, segundo o cientista social chileno Carlos Matus, foi o do último governo do presidente Paz Estenssoro, da Bolívia, que empreendeu forte programa de ajuste macroeconômico, sob a condução do ministro do Planejamento Sánchez de Lozada. A inflação de 30.000% ao ano destruíra as forças do presidente e de seu partido. A eficácia do programa reduziu a alta dos preços a 30% ao ano, o que deu a Lozada, em 1993, a maior votação das eleições presidenciais daquele país. Foi uma típica demonstração da teoria do balanço. O caso brasileiro Não há comparação, claro, com a atual situação brasileira. Nossa inflação não chega nem a dois dígitos. O exemplo serve para ilustrar a imagem da gangorra, como a que vemos. Com os preços de alimentos subindo a uma taxa anual entre 14% e 19%, conforme escreveu o economista José Roberto Mendonça de Barros (O Estado, 7/7/13), é possível prever forte pressão sobre os orçamentos familiares e, se isso ocorrer, expansão da insatisfação social. Nesse caso, o cenário de queda se manteria. João Santana, o responsável pelo marketing do governo, estipula em quatro meses o tempo para a presidente recuperar o patamar de prestígio. É possível ? Dona da flauta dá o tom A resposta vai depender do axioma : "quem é dono da flauta dá o tom"; a dona é a maestrina da orquestra e é chamada de economia. A lábia do marqueteiro aponta, portanto, para as cartas econômicas que serão embaralhadas para o jogo de 2014. É evidente que, a par de eventuais trunfos a serem obtidos na mesa da economia, há mais dois cinturões do governo para ajustar, sob pena de irreversível débâcle da imagem presidencial : os cinturões político e de serviços públicos. Se fechar a torneira para as demandas políticas, a presidente ficará sob ameaça de mais derrotas no Parlamento. Caso tampe os ouvidos ao forte clamor das turbas, arrisca-se a cair no despenhadeiro da rejeição social. Hoje, mostra-se atenta à onda popular, abrindo um conjunto de iniciativas, como a proposição da reforma política e implantação de programas, alguns polêmicos, como importação de médicos e extensão dos cursos de medicina, de 6 para 8 anos. O sol é novo é cada dia Caso não consiga ajustar os cinturões da governança aos corpos econômico, político e de serviços sociais, a candidata à reeleição poderá ser induzida a ceder o lugar ao antecessor, plano B com que trabalha parcela da máquina petista. Daí a inevitável pergunta : a volta de Lula seria a solução para o PT prolongar seu projeto de poder ? O horizonte é nebuloso. Mas algumas hipóteses são razoáveis. A primeira é de que voltar é uma forma de retroceder. O percurso liderado pela primeira mulher presidente seria interrompido para propiciar o reingresso em cena do perfil maior do PT. O que não evitaria a sensação de insucesso da estratégia petista. Outra observação : nem o Brasil nem Luiz Inácio são os mesmos de ontem, o que nos remete à máxima de Heráclito de Éfeso : "um homem não passa duas vezes no mesmo rio". As águas sempre se renovam. O sol é novo a cada dia. Os burros n'água As duas vezes em que Lula atravessou as águas nacionais formaram e fecharam um ciclo, caracterizado pelo aprofundamento das coalizões partidárias (que resultaram no mensalão), por um compadrio patrimonialista entre sindicalismo e Estado, pelo acesso das massas à mesa do consumo e por um estilo populista de governar, que multiplicou contatos com as massas. Hoje, Luiz Inácio se agasalha no conforto de palestras internacionais, sob o manto do carisma e do perfil com maior cacife eleitoral. E que tem de cuidar bem da saúde, mesmo exibindo passaporte de seus médicos para voltar a frequentar palanques. Navegar no Brasil de hoje é, para os políticos, um exercício de reaprendizagem. A pororoca que se espraia pelo país exige um mergulho profundo nas águas que inundam ruas, becos e vielas. Lula é um navegante. Mas o rio está mudando o curso. Pegar uma canoa em direção ao amanhã, apenas com um "baú recheado de coisas de ontem", pode dar com os burros n'água. Lorotas A internet tem sido pródiga na propagação de versões, contraversões, mentirinhas e mentironas. A mais recente : Lula teria voltado ao Sírio-Libanês para cuidar da recidiva, o câncer que teria voltado. Lorota das grandes. Lula está lépido e fagueiro. Forte e fazendo articulação de bastidor. Este consultor tem conversado com pessoas que conversam constantemente com Lula. Lula, o analista Lula, como analista político, é um otimista. Em sua coluna no New York Times, publicada ontem, explica que as manifestações que ocorrem no país não rejeitam a política. Ao contrário, vão incentivar os jovens a participar da atividade política. Sobre a motivação, o ex-presidente argumenta que os protestos foram motivados por pessoas que querem serviços públicos de melhor qualidade e instituições políticas mais transparentes. Imagem de Dilma A imagem da presidente Dilma continua descendo a ladeira da fama. As pesquisas atestam a queda de popularidade. A mais recente é da CNT/MDA : avaliação positiva do governo da presidente Dilma caiu de 54,2% para 31,3%, divulgada ontem. O levantamento foi feito entre os dias 7 e 10 de julho, após a onda de protestos ocorrida no país. Uma conhecida que acaba de chegar dos sertões nordestinos, mais precisamente de Jequié, na BA, conta que a presidente é xingada todo tempo pelos baianos. A causa : aumento dos alimentos. Menos dinheiro no bolso para suprir as barrigas. Operação BO+BA+CO+CA está desalinhada : Bolso, Barriga, Coração, Cabeça. Pacto com empresários Na agenda da presidente da República, estão previstos contatos com empresários de peso. O objetivo é o de tentar um pacto com empresariado nesse momento de grandes interrogações na economia. A questão é : será que o momento ainda é adequado ? Um veto indigesto A presidente Dilma Rousseff, que já não anda bem com os eleitores (a intenção de voto na ocupante do Planalto caiu 19,4 pontos percentuais desde a última pesquisa), pode comprar uma briga feia com todos os empresários do país : basta vetar o projeto que elimina a multa de 10% sobre o FGTS, aprovada pelo Congresso. De uma só vez a presidente pode piorar o ambiente de negócios para as empresas e tornar mais nebuloso o cenário do mercado de trabalho. Emprego é o que ajuda Dilma a se manter ainda na dianteira, hoje com 33,4% da intenção de votos, contra 20,7% de Marina Silva (Rede Sustentabilidade), 15,2% do senador Aécio Neves (PSDB/MG) e 7,4% do governador Eduardo Campos (PSB/PE). Preocupação à vista A ABIN - Agência Brasileira de Inteligência - está preocupada com eventuais manifestações por ocasião da visita do Papa Francisco ao Brasil, a partir da próxima segunda feira. A Agência trabalha com a perspectiva de tendência "máxima" de manifestações durante o evento, que será realizado no Rio. As ações de "grupos de pressão" são as únicas que estão em nível vermelho, a escala máxima de possibilidade de incidentes. Na lista da ABIN, há controles sobre : "organizações terroristas", "crime organizado", "criminalidade comum", "incidentes de trânsito", entre outros. Caiu do telhado Todos os governantes sofrem os impactos das manifestações que assolam o país. Mas quem mesmo sofre muito com a queda do telhado é o governador Sergio Cabral, do Rio. Grupos de manifestantes praticamente acamparam em frente à casa do governador. Há quem diga que Pezão não subirá a montanha eleitoral de 2014. Ocasião da visita do Papa Francisco ao Brasil, a partir da próxima segunda-feira. E os sonhos do governador Cabral de entrar em chapa majoritária Federal se desvanecem. Reforma política Foi bem recebida a nomeação do deputado Cândido Vaccarezza para coordenar o Grupo de Trabalho que vai produzir um projeto de reforma política. Vaccarezza tem perfil de bom mediador. Sabe ouvir e ponderar. Diferente do deputado Henrique Fontana, do PT do RS, que prepara há dois anos um projeto nessa área e só construiu muralhas entre grupos e partidos. A escolha de Vaccarezza deve-se ao presidente da Câmara, Henrique Alves. A era Eike Fecha-se também uma Era plasmada por Castelos de Areia e Empresas construídas com papel. A Era Eike. Conselho aos líderes e dirigentes Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes, membros dos Poderes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos pré-candidatos no pleito de 2014. Hoje, dirige um conselho aos lideres e dirigentes : 1. Procurem entender profundamente as motivações que ensejaram e continuarão a ensejar as manifestações de rua por todo o território. 2. O Brasil fecha o ciclo do Bolsa-Barriga e inaugura o ciclo do Bolsa-Cabeça. Os novos horizontes abrirão novas formas de atuação na frente política e terão impacto sobre os setores produtivos. 3. Slogan da nova era : "Verás que um Filho Teu não foge à Luta". Conceito-mor : autogestão técnica. A pessoa sabe o que quer, para onde ir e também sabe escolher os meios para alcançar seus fins. Arquiva-se o axioma : "Maria vai com as outras".
quarta-feira, 3 de julho de 2013

Porandubas nº 364

Em 5 anos, tudo pode ocorrer Abro a Coluna com uma historinha que pode servir de orientação para esses tempos de inquietude e grandes mudanças. Um poderoso sultão, sábio entre os sábios, possuía um camelo muito inteligente. Obedecia a todas as ordens que nem precisavam ser emitidas de viva voz. Faltava-lhe apenas o dom da palavra. Esse detalhe entristecia sobremaneira o sultão. Um dia, decidiu convocar o Grande Conselho e chamou o grão-vizir. - Quero que ensine meu camelo a falar ! - Mas isso é impossível. - Cortem-lhe a cabeça ! Tragam-me o adjunto ! Mesma afirmação de desejo sultanesco, mesma resposta, mesma sentença. A cena repetiu-se diversas vezes e cabeças rolaram. Exasperado o sultão declarou. - Aquele que ensinar meu camelo a falar será meu grão-vizir. Silêncio ! O sultão repetiu a exortação. Eis que surgiu um humilde ajudante de cozinheiro. Disse : -Dá-me, ó incomparável senhor, um prazo de 5 anos, e farei falar teu camelo. Estupefação geral. Seguida do cumprimento da promessa. -Doravante, és meu grão-vizir ! Mas se falhares, sabes o que te espera ! - Bem sei ! Encantado, o jovem fez profunda reverência e saiu correndo para dar a boa notícia à esposa. - Infeliz, acabas de assinar tua condenação. - Não é bem assim, meu bem. Pedi 5 anos. Você sabe que muitas coisas poderão acontecer em 5 anos : morre o camelo, morre o sultão... (Atenção, políticos e governantes : em um ano, tudo pode ocorrer...) Ressaca geral Nem bem se recuperou da ressaca geral, o país parece disposto a continuar a beber na fonte das motivações que canalizaram as energias sociais e tomaram conta de ruas, estradas e praças do país. A chama foi acesa. Difícil, agora, será apagá-la. O povo descobriu que tem força para mudar o rumo das coisas. E está gostando de repetir a experiência em eventos menores, descentralizados e agora buscando ocupar regiões, bairros e localidades com demandas específicas. Auto-gestão técnica Há anos, um cientista social francês, Robert Lattes, identificava na Europa um sentimento que passava a impregnar os ânimos. Designou o fenômeno de "auto-gestão técnica", algo como : o cidadão define seu destino, seus rumos, suas metas, seus objetivos, e ele mesmo define, escolhe, patrocina os meios para alcançá-los. A auto-gestão técnica se afirma, assim, como um processo de auto-organização. As pessoas estão saturadas de promessas, de discursos mirabolantes, de convívio com signos, símbolos e atores da velha guarda. O que fazer ? Escolhem a si mesmo como personagens para refazer os caminhos. Como fazer ? Pela agregação, pelo sentimento de unidade, de solidariedade, companheirismo. As pessoas vão se dando as mãos. De repente, forma-se uma Muralha da China, construída com corpos, mãos, braços, vozes em uníssono nas ruas. Racionalidade Trata-se de um movimento que também aponta para o fortalecimento da racionalidade. Se as fortalezas do poder não acolhem os guerreiros, estes fabricam seus aríetes e forçam as muralhas poderosas. É o que estamos vendo aqui e acolá. Caminhões tomando as estradas, paralisando o trânsito; correntes humanas andando contra os atores postos na frente das cidadelas do poder. Esta é a nova estética das ruas. O sapo de olho fechado Há uma espécie de sapo que fecha os olhos para fugir às intempéries. Pensa-se que está morto ou dormindo. Nem uma coisa nem outra. Está atento ao que se passa ao redor. Depois de fechar os olhos por semanas, de repente abre os olhos e joga a língua para abocanhar os mosquitos que passam à frente. Ganha todos os ataques. A massa se parece com esse sapo. Não estava dormindo. Nem mesmo cochilava. Estava apenas de olhos fechados, enjoada de tanto clamar por coisas que nunca apareciam. De repente, abriu a boca e o bico. Quem perde, quem ganha Os perdedores são os alvos mais visíveis do poder. Dilma Rousseff, em primeiro lugar. Por simbolizar a força máxima. Caiu 27 pontos em 3 semanas na avaliação positiva, 9 pontos por semana, um índice extraordinário. Os governadores Geraldo Alckmin e Sérgio Cabral, os prefeitos Fernando Haddad e Eduardo Paes, também caíram bastante, por serem os comandantes dos lugares onde as movimentações ganharam mais força e visibilidade. Alckmin tenta atenuar os efeitos da queda com medidas de gestão, enxugamento da máquina, venda de equipamentos. Não será fácil aos governantes fugir ao tiroteio. Dilma, o alvo maior A presidente Dilma Rousseff assumiu um risco de monta. Ao propor a reforma política por meio de um plebiscito, chamou a si toda a responsabilidade pelo êxito e/ou fracasso das demandas do momento. Impõe uma agenda política para o Congresso quando as demandas das galeras cobrem muitas áreas, sendo a frente política apenas uma delas. E as questões da mobilidade urbana, da saúde, da educação, da segurança pública ? Promessas de melhoria nessas frentes só darão resultado no médio e longo prazos. E se a reforma política for um remendo mal costurado na ampla malha de reivindicações ? Dilma dá um salto no escuro. São fortes no PT os apelos para que o presidente Lula volte a considerar seu nome no páreo de 2014. Lula, volta ou não ? Luiz Inácio está calado e fora do país. É conveniente que não circule nas praças cheias de gente. Por enquanto. À boca pequena, petistas torcem por sua volta. Fala-se em 85% dos quadros do partido. Mas é claro que eventual retirada de Dilma para seu reingresso na arena da disputa equivaleria a uma derrota dele mesmo, Lula, eis que seria um reconhecimento de que a candidata falhou no comando do poder. Por isso, é razoável apostar que Dilma continuará firme como candidata. Lula, sim, deverá voltar às ruas para encabeçar um movimento em defesa da presidente. Hipótese a conferir. Oposições tomam fôlego As oposições disfarçam, mas estão comemorando o grito das ruas. Enxergam, agora, possibilidade concreta de romper os bastiões do PT e, unidas, tomar o poder em 2014. As somas das intenções de voto em Marina, Aécio e Eduardo Campos chegam, hoje, aos 47% da intenção de voto. Com garantia, portanto, que a campanha iria para o segundo turno. Mas daqui até outubro de 2014, as águas poderão mudar de curso, melhorando para uns e dificultando a navegação para outros. Os obstáculos Pela ordem, as dificuldades da presidente Dilma abrigam as seguintes áreas : desemprego - país deixa a situação de harmonia na frente da empregabilidade para enfrentar zonas de turbulência; inflação - aumento da inflação, pegando principalmente os produtos da cesta básica; saúde - continuidade do descalabro nos estabelecimentos públicos de saúde, com imagens de corredores abarrotados de camas; educação de má qualidade - os velhos problemas trazidos à tona pela deteriorada malha educacional; segurança pública - estampas de crimes bárbaros cometidos em série nas grandes cidades. Nesse cenário, a presidente Dilma andará por um calvário, podendo faltar fôlego para chegar à ultima estação. Recíproca é verdadeira Se tudo correr bem nas áreas acima enumeradas, Dilma chegará bem na dianteira na fronteira de outubro de 2014. Plebiscito A presidente encaminhou ao Congresso a sugestão do plebiscito. Dentre a questões a serem formatadas para efeito de campanha pública, a mais complexa diz respeito ao sistema de voto. O eleitorado, mesmo sob bateria de esclarecimentos, vai ter dificuldade de compreender o que é voto distrital (puro, misto), diferente do voto proporcional, como o de hoje. O financiamento público de campanha vai encontrar barreiras para ser aprovado. A figura do suplente do senador deverá ser extinta. O segundo mais votado assume o posto de senador, em caso de morte ou impedimento do titular. Voto aberto deverá ser aprovado, na onda de transparência cobrada pela sociedade, apesar de se justificar o voto secreto em determinadas circunstâncias. Quando, por exemplo, for votada matéria polêmica de interesse do Executivo. Que pode punir parlamentares que votem contra seus interesses. Galeria de interrogações 1. Alckmin Terá muitas dificuldades para se reeleger. A polarização PT versus PSDB está apodrecendo. Alckmin não construiu uma identidade. O governador é ótima pessoa. Mas é um político isolado. Não tem assessoria de qualidade. Sofre da síndrome do "Eu, Sozinho". 2. Aécio Ainda não construiu um discurso para o país. Tem feito diagnósticos. Não passa disso. Está na cola de Fernando Henrique. Mas o ex-presidente, schollar e bem articulado, não é capaz de liderar massas. É bom em bastidor, não na mobilização de multidões. Aécio pode se dar em MG, mas não tem penetração em SP, o maior contingente eleitoral do país. 3. Campos Eduardo Campos não mostra a força que dizem ter no Nordeste. Seu índice é muito baixo. Encontra problemas no próprio partido. E, ainda por cima, continua indefinido. Não se sabe se seu amigo Luiz Inácio o segurará na base de apoio a Dilma. Exibe a estampa mais estética dos perfis. 4. Marina Cresceu bem nos últimos tempos porque é o perfil menos contaminado pela enxurrada da velha política. Asséptica, suave, mas não teria estrutura para atravessar um oceano cheio de surpresas. E tempo de rádio e TV ? Será que as redes sociais supririam suas carências ? Os jovens continuariam a cantar loas no seu altar ? 5. Lula Perfil mais carismático do país, o ex-presidente não teria as facilidades d'outrora. O PT está muito combalido. Parcela razoável do tiroteio que se destina ao partido bateria também nele. Continua arregimentando as margens sociais, mas é visível seu desgaste nos segmentos do meio da pirâmide, mesmo considerando que contingentes da classe C ingressaram nesse circuito. O tom crítico contra Luiz Inácio se adensa. Mas ele tem o coringa nas mãos. O coringa do carisma. 6. Pezão O vice-governador, Luiz Fernando Pezão, é um perfil pesado. Aparece em todas as fotos, ao lado de Cabral, Eduardo Paes e até da presidente Dilma. Mas não cresce nos índices de pesquisa. Não tem boa imagem. Uma campanha eleitoral o elevará ? É possível. Mas o efeito Cabral pode segurá-lo. 7. Skaf Paulo Skaf, presidente da FIESP/CIESP, é a surpresa desses momentos de tensão social e primeiros balancetes pré-eleitorais. Cerca de 20% de intenção de voto. Perfil de trator, realizador, pró-ativo, um passo adiante da velha política. Pode ser a alavanca que o PMDB precisa para resgatar sua história em SP. 8. Padilha Não tem o que mostrar. Essa ideia de importar médicos cubanos não tem boa acolhida no meio médico. Piadas chovem sobre os médicos cubanos no Brasil. Padilha é o nome de Lula para candidato ao governo de SP. Mas, se ficar abaixo dos dois dígitos nos próximos meses, poderá sair da rota, com o PT fazendo aliança com um candidato de outro partido. 9. Russomano Tem perfil populista, mas deverá ser candidato a deputado para puxar a bancada de Federais de seu partido, o PRB. Deverá apoiar o governador Alckmin. 10. Lacerda Márcio Lacerda, prefeito de BH, do PSB, será candidato em MG ? Aécio e o governador Anastasia o apoiarão ? Seria um nome competitivo. O verbo não "vareia" A Câmara Municipal de Paulista/PE vivia sessão agitada em função da discussão de um projeto enviado pelo prefeito, que pedia crédito para assistência social. Um vereador da oposição combatia de maneira veemente a proposição. A certa altura, disse que "era contra o crédito porque a administração municipal não merecia credibilidade". O líder da bancada governista intervém, afirmando que "o nobre colega não pode jogar pedras no telhado alheio, pois já foi acusado de algumas trampolinagens". - Menas a verdade - retrucou o acusado. Sou homem honesto, de vida limpa. - Vejam, senhores, - disse o líder - o nobre colega, além de um passado nada limpo, ainda por cima é analfabeto, pois, "menas" é verbo, e verbo não "vareia". Conselho aos pré-candidatos Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes, membros dos Poderes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos políticos e governantes. Hoje, dedica sua atenção aos pré-candidatos no pleito de 2014 : 1. Passarinho na muda não pia. Muito cuidado com a farta expressão nesse momento de intensa movimentação social. Apurem os ouvidos. 2. Ajustem os canais de articulação política, na esteira das sondagens, conversas e interlocuções que se multiplicam nos corredores dos Poderes. 3. Procurem entender bem o que se passa no universo social, avaliando os inputs nas frentes das reivindicações e demandas.
quarta-feira, 26 de junho de 2013

Porandubas nº 363

Especial - uma visão geral da crise Hoje, excepcionalmente, a Coluna terá como foco o movimento que abre um novo ciclo social/institucional no país. Está um pouco mais extensa. Pedimos compreensão das leitoras e leitores. Mesmo assim, vou abrir com uma historinha, como tem sido costume nesse espaço. Escolhi uma parábola que se aplica aos nossos governantes e políticos. Não sabem que não sabem "Há pessoas que não conseguem perceber o que se passa ao seu redor. Não vêem que não vêem, não sabem que não sabem". Pequeno relato. Zé caiu em um poço e está a 10 metros de profundidade. Olhava para os céus e não viu o buraco. Desesperado, começou a escalar as paredes. Sobe um centímetro e escorrega. Passou o dia fazendo tentativas. As energias começaram a faltar. No dia seguinte, alguém que passava pelo lugar ouviu um barulho. Olhou para o fundo do poço. Enxergou o vulto de Zé. Correu e pegou uma corda. Lançou-a no buraco. Concentrado em seu trabalho, esbaforido, cansado, Zé não ouve o grito da pessoa : "Pegue a corda, pegue a corda". Surdo, sem perceber a realidade, continua a tarefa de escalar, sem sucesso, as paredes. O homem na beira do poço joga uma pedra. Zé sente a dor e olha para cima, irritado, sem compreender nada. Grita furioso : - O que você quer ? Não vê que estou ocupado ? O desconhecido se surpreende e volta a aconselhar : - Aí tem a corda, pegue-a, que eu puxo. Mais irritado ainda, responde sem olhar para cima : - Não vê que estou ocupado, ó cara. Não tenho tempo para me preocupar com sua corda. E recomeça seu trabalho. Parábola : "Zé não vê que não vê, não sabe que não sabe". Os nossos governantes e políticos não perceberam a corda que a galera há tempos joga para que eles possam sair do fundo do poço. Não vêem que não vêem, não sabem que não sabem. A travessia brasileira As manifestações que ocorrem no país são diferentes dos eventos ocorridos em décadas passadas, quando se identificavam eixos e discursos centrais (Diretas Já, impeachment de Collor), lideranças e intensa participação da esfera política, por meio de partidos. Distingo três movimentos nos eventos : 1. A canoa atravessa o rio Um pequeno grupo manobra a canoa no rio para atravessá-lo de um lado para outro. O nome da canoa : MPL - Movimento pelo Passe Livre. Composição dos canoeiros : estudantes. A intenção desejada : reduzir a tarifa de ônibus em SP. A canoa começou a abarrotar de gente. Todos queriam entrar na canoa e chegar à margem oposta. 2. A canoa se transforma em navio O Movimento pelo Passe Livre, de maneira surpreendente e rápida, assume enorme proporção. A primeira movimentação junta, em torno do grupamento inicial de estudantes, setores variados : ativistas de movimentos em defesa de gêneros, de minorias étnicas e sexuais, funcionários públicos, pais de estudantes, comerciários, punks e anarquistas. A reivindicação básica - redução da tarifa de ônibus - dilui-se na massa discursiva que se ouve e se vê nas palavras de ordem e faixas levantadas pela multidão em passeata : - contra a corrupção; - contra a violência; - contra os serviços precários de saúde; - contra a deteriorada malha educacional; - (ao lado de outras bandeiras - como maioridade penal, contra a criminalização do aborto, contra a PEC 37, etc.); - altos custos dos estádios/dificuldade de acesso a eles. 3. Transatlânticos invadem os mares A travessia se transforma, de repente, em gigantesca navegação em uma frota de transatlânticos que abrigam milhares de pessoas em mais de 100 capitais e cidades do país. Calcula-se que um milhão de pessoas participou da última manifestação, ocorrida semana passada. A movimentação apresentou algumas características : - violência da PM no primeiro grande movimento, segunda-feira, dia 17; cenas de vandalismo e depredação de prédios públicos; destruição de carros de empresas jornalísticas; - hoje, mais de uma semana depois, já chega a quatro mortes (três atropelados e uma gari que morreu de enfarte), além de centenas de feridos em muitas capitais e cidades; - distanciamento dos grandes partidos políticos. Mesmo os pequenos partidos (de extrema esquerda) foram repelidos pela multidão; - um discurso difuso - propostas genéricas no entorno da proposta central do MPL : redução de tarifas de ônibus; - contingentes de classe média foram encorpados por contingentes de jovens da periferia. As massas se fundiram em um grande movimento sem lideranças tradicionais. Surpresa As esferas política e governamental foram tomadas de surpresa. Algumas razões estão por trás do susto. Alinho algumas : - a falsa impressão de que o conforto econômico - mesmo sob ameaça de volta da inflação - apaziguava o país; - a falsa impressão de que os jovens, descrentes da política, formam grupamentos amorfos, desinteressados e sem motivação para acorrer às ruas; - a surpresa pela rapidez da formação dos contingentes; pouco se tinha ideia das condições de interatividade e mobilização propiciadas pelas redes eletrônicas da internet; - a área política encheu-se de indagações : O que dizer ? O que fazer ? Como fazer ? Gigante não estava adormecido A ocupação das ruas de grandes e médios centros urbanos por multidões é algo inusitado na feição institucional. Por ocasião das Diretas Já e do Impeachment de Collor, as motivações eram claras e grandes lideranças puxavam as mobilizações. Depois do surto Collor, reaparecem as massas na rua. Ocorre a maior mobilização de toda a nossa história, fato que merece ampla reflexão por emergir como contraponto ao cenário de harmonia que se imaginava, até então. O que significa ? Reflete o fechamento de um ciclo de aceitação/passividade e sinaliza a abertura de um tempo de participação da sociedade, como um todo, no processo decisório. Democracia direta Sob certo aspecto, podemos falar da emergência de traços da democracia direta em contraposição à democracia representativa, em crise. O povo percebe que tem a força para fazer mudar as coisas. A redução do preço das passagens de ônibus foi o atestado mais evidente dessa capacidade. Geraldo Alckmin decide suspender também os aumentos do pedágio em SP. Tal percepção do povo funciona como fator de animação/disposição/animus animandi. PNBIS Além das causas acima enumeradas, qual o eixo que moveu a ampla movimentação ? Não há um, mas um conjunto de fatores. Podemos inseri-los dentro do que designo de Produto Nacional Bruto da Insatisfação Social (PNBIS), composto por mazelas nas seguintes áreas : a) Corrupção generalizada; b) Educação deteriorada; c) Saúde em estado precário - estruturas inadequadas, ineficientes, obsoletas; d) Violência em expansão nas médias e grandes cidades; e) Sistema de mobilidade urbana locupletado; f) Gastos excessivos em estádios de futebol; g) Saturação com o modus operandi da velha política. Escândalos e denúncias. Bolsa-cabeça Sensação é a de que o ciclo do Bolsa-Barriga (que resulta do Bolsa-Família) está esgotado. Fecha-se. Estudantada de todos os lados quer um Bolsa-Cabeça. Um pacotão para embalar as grandes demandas populares. Raiva e indignação Essas áreas compõem a massa de negatividade / insatisfação / indignação que chega, rotineiramente, ao sistema cognitivo do cidadão comum. Para agravar o quadro, os avanços alcançados pela sociedade e a esperança de que o país abra novos capítulos sofrem reveses. (Veja-se, a propósito, a declaração do ministro Dias Toffoli, de que o mensalão poderia durar, ainda, dois anos. Um balde d'água fria na cabeça dos esperançosos brasileiros, que distinguiam o final do maior processo criminal julgado pela mais alta Corte do país). Exuberância dos estádios Além disso, os estádios desta Copa das Confederações aquecem fogueiras. Ouçam-se as vaias a Dilma e ao Joseph Blatter no Mané Garrincha, em Brasília, enquanto o MPL já estava nas ruas. A indignação continuou depois, com pancadaria feia entre polícia e manifestantes à frente dos estádios de Fortaleza, de Brasília e BH. A revolta contra a exuberância dos palácios futebolísticos certamente contribuiu para a indignação, sob pano de fundo do contraste com a miséria, falta de saúde, educação, moradia, segurança pública, etc. Padrão FIFA "Portugal construiu 10 estádios 'padrão FIFA' para a Eurocopa de 2004. Sete anos depois o país estava falido...10 estádios fatídicos que hoje apodrecem ao sol. A Grécia cometeu iguais loucuras para as Olimpíadas do mesmo ano. Teve a honra de falir primeiro". (João Pereira Coutinho, escritor português, cientista político, FSP, 25/6/2013) O rastro de pólvora A mobilização social conta com um formidável aparato comunicativo : as redes sociais. Que funcionam como o rastro de pólvora. Os participantes se comunicam, as palavras de ordem são disparadas e os comandos (quase anônimos) vão somando milhares de seguidores e militantes das causas patrocinadas. A mobilidade dos grupamentos é algo surpreendente, a denotar a existência de um novo ator no desenho da movimentação das massas : a internet. Sem lideranças e discurso difuso Chama a atenção a ausência de lideranças tradicionais ou mesmo novas, que tenham visibilidade ou marquem presença na galeria dos comandantes de grandes operações de massa. Essa é outra característica da movimentação social. Os discursos nem sempre são claros, mostrando que a vontade do manifestante de abrir a locução ou ir à rua é o que interessa. Essa situação tende a ser mais visível nas próximas etapas das movimentações, quando novas propostas serão encaminhadas e verbalizadas. O MPL, depois de anunciar que se retira do palco paulistano, por enxergar oportunismo por parte de parcelas e grupos políticos, voltou atrás e promete novas mobilizações. Clarificação Sejam quais forem os patrocinadores/mobilizadores, uma séria questão se imporá ao movimento : clarificar metas, objetivos e propostas para que as vozes não caiam no vazio. Na polifonia da Torre de Babel. Os políticos, por sua vez, não são bem vistos nas movimentações, como se viu nas ações de queima e rasgo de bandeiras partidárias. Mas em algum momento, a área política haverá de se fazer presente porque as coisas passam necessariamente pelos governantes do Executivo e pelos parlamentares do Poder Legislativo. A fala da presidente A fala da própria presidente Dilma se explica. Tinha de dizer que o país tem governo. Aceita as demandas da massa, mas repele a violência. Afinal, a ordem tem de ser mantida. Mas prometer o que ? Pacotes para a educação ? Quando serão implementados ? Médicos importados ? Convocar governadores e prefeitos para formação de um pacto nacional ? Tudo isso entra na onda verborrágica. A presidente parece perdida. Sob os apelos crescentes do Volta, Lula. A propósito Matéria da revista Veja traz importante revelação de que episódio de queima de pneus, em Brasília, teria o patrocínio de forças e quadros do PT, desejosos de por lenha na fogueira. A ABIN, por sua vez, não pescou nada na maré cheia de ondas turbulentas. MPL : despreparada Seis representantes do MPL foram convidados para uma conversa com a presidente. Após a conversa, o porta-voz do grupo abriu o verbo : a presidente é uma despreparada para debater e apresentar soluções concretas para a questão dos transportes públicos. Um bumerangue. A galera Urge atentar para a composição das galeras e turbas. Por enquanto, a composição dos contingentes nas ruas mostra os seguintes setores : estudantes, participantes de movimentos em defesa de minorias e igualdade de gêneros, pais de estudantes, funcionários públicos, punks, comerciários, anarquistas, desempregados, profissionais liberais, e, depois, incorporação de segmentos jovens das periferias. Estão fora desse circuito as categorias profissionais de trabalhadores, principalmente os setores abrigados nas Centrais Sindicais. A propósito, as Centrais falarão, hoje, com a presidente para apresentar sua pauta de reivindicações. Mas, para surfar na onda, já marcaram greve geral para o dia 11 de julho. Vai pegar ? Os próximos passos Para onde o movimento seguirá ? Quais serão os próximos passos ? Quais as bandeiras a serem erguidas nos próximos movimentos ? Algumas trilhas são enxergadas : - A melhoria da qualidade dos serviços públicos; essa bandeira continuará a ser desfraldada. - Os problemas relacionados às localidades. A pedra jogada no meio da lagoa tende a chegar às margens. As questões de zonas e regiões da capital e regiões do Estado entrarão nas pautas do movimento. - Nos Estados e outras capitais, a tendência será a mesma. Dará vazão às demandas específicas de cada comunidade. - A área política deverá entrar no circuito. As oposições vão buscar motivos para endurecer as críticas. - O governo Dilma, por sua vez, já se mostra inclinado a arrumar um "Bolsa-Cabeça", alguns programas voltados para agradar aos jovens. Slogan do momento "Melhorar a Vida do Povo". Fechando a coluna A barafunda quase se instala nesses últimos dias. Fecho a coluna com a polêmica sobre o plebiscito para a Constituinte Exclusiva, no bojo da qual seria feita a Reforma Política. Plebiscito No intuito de tomar a dianteira e mostrar serviço, a presidente apresentou um pacotão de 5 pontos para responder ao anseio das galeras. O ponto polêmico foi a proposição para se realizar um plebiscito para ouvir a sociedade sobre uma Constituinte Exclusiva, que realizaria a reforma política. A polêmica se acendeu. Não é possível uma Constituinte para decidir sobre uma especificidade. Ministros do STF, juízes e a OAB se pronunciaram em contrário à ideia da presidente. Que acabou recuando. A voz do vice presidente Chamou a atenção o fato de o vice-presidente Michel Temer, um dos mais renomados constitucionalistas do país, não ter sido ouvido preliminarmente sobre a questão. Tivesse ouvido o vice-presidente, Dilma não teria passado pelo dissabor de ouvir as contrariedades à sua ideia. Michel acabou consertando o imbróglio. E deu a solução. Disse à presidente, por ocasião de uma reunião com a OAB, não existir na CF a figura de constituinte exclusiva para tratar de uma questão específica. A proposta de Michel Temer Propôs que ela encaminhasse ao Congresso uma mensagem solicitando que o Parlamento convocasse um plebiscito para auscultar o desejo do povo sobre as diversas questões que permeiam a política, do tipo : tipo de voto - distrital, distrital misto, proporcional; fim ou não das coligações proporcionais, coincidência das eleições, etc. Sairia o modelo de interesse da sociedade. A se realizar em agosto. Até 3 de outubro, esse modelo deveria ser aprovado para entrar em vigor já em 2014. Conselho aos governantes Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes, membros dos Poderes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos políticos e governantes. Pelo momento que o país atravessa, continuaremos a dirigir a eles o conselho : 1. Procurem auscultar as demandas do povo. E passem do discurso à ação. 2. Evitem promessas que não podem ser cumpridas; falas de caráter demagógico. 3. Saibam ler os sinais de um novo tempo. Comunicação governamental ultrapassa a linha do marketing de glorificação. Requer interatividade e compromisso com as comunidades.
quarta-feira, 19 de junho de 2013

Porandubas nº 362

Abro a Coluna com historinhas que o mineiro José Flávio Abelha narra em Mineirice. Conta o ilustre mestre José Olímpio de Castro Filho em seu "Prática Forense", esta pérola da sagacidade de Pedro Aleixo : "Conta-se que em processo por crime de sedução, em que testemunha-chave sustentava quase ter presenciado o defloramento, violento, contra a vontade da vítima, que teria ocorrido num sótão, situado na parte superior de certo cômodo, o professor Pedro Aleixo, notável criminalista e político brasileiro, liquidou tal depoimento simplesmente indagando da testemunha : - Quem subiu primeiro a escada ?... - A moça, ou o réu ?" Política e brinquedo de moço Dizia Tancredo Neves que, em Minas, política é brinquedo de moço e vício de velho. Tancredo sabia das coisas. Na política mineira não há axioma mais correto. Em três oportunidades, das mais palpitantes, essa mineirice axiomática aflorou de tal forma que ninguém jamais conseguirá desfigurá-la ou retirá-la das páginas políticas de Minas. Em 1966, o governador Magalhães Pinto apresenta como candidato à sua sucessão o jovem Roberto Rezende. A oposição lança o velho Israel Pinheiro. Durante um comício o jovem Roberto Rezende insinua ser o candidato Israel Pinheiro, velho para governar Minas. Israel, nada sutil, responde com a aspereza de costume : - Minas não precisa de um reprodutor. Minas precisa é de um administrador. Nas eleições, é eleito o velho Israel. O vento dá seu giro. Vem 82, com o jovem Elizeu Rezende e o velho Tancredo Neves. O candidato Elizeu, empolgado com as manifestações em torno da sua candidatura, diz que Tancredo está velho para governar Minas. A resposta de Tancredo é mais sutil : - Churchill, Adenauer e De Gaule, já em idade provecta, reconstruíram a Europa. Inverno à brasileira Dia 22 de junho começa oficialmente o inverno. Mas esses dias efervescentes de final de outono mostram que o início do nosso inverno nunca foi tão quente na vida social. Depois das grandes manifestações de rua da era Collor, o país reencontra as multidões. Segunda-feira entrará no calendário nacional como um dia atípico : as massas acorreram às ruas de grandes capitais, a partir das duas maiores metrópoles, SP e Rio. O que queriam ? A liga entre os movimentos em 11 capitais - reunindo entre 250 mil a 300 mil pessoas, dependendo do olhar das mídias - foi o preço das passagens de ônibus. Mas é evidente que questões mais amplas que o precário sistema de mobilidade urbana estão em jogo. Analisemos algumas vertentes. A velha política Os movimentos expressam clara indignação contra as práticas da velha política. Anos e anos a fio de velhas práticas e costumes, denúncias em série envolvendo atores políticos mancomunados com máfias, grupos privados e funcionários públicos, escândalos que nunca chegam ao fim - essa é a primeira camada da argamassa que explica a insatisfação social. As multidões querem dizer que o copo está transbordando. Que o país clama por reformas de métodos, de práticas e mudança de atores. A esfera política - representantes no Congresso, Assembleias, Câmaras de vereadores, governantes de todas as instâncias - recebe um puxão de orelhas. Serviços precários O segundo pacote de recados embala os precários serviços públicos. A saúde está na UTI ; a educação é um caos ; a segurança pública é uma barbárie ; o sistema de transportes urbanos é uma vergonha. O crescimento das cidades não é acompanhado do crescimento - quantitativo e qualitativo - dos serviços. As filas se tornam quilométricas ; os sistemas estão estrangulados ; as aflições cotidianas se acumulam. Em SP, um trabalhador passa uma média de 4 horas (alguns até mais) para ir e voltar do trabalho. A saturação dos serviços públicos expande o clamor das turbas. A faísca A massa mostrou, ainda, que, em nossos tempos de comunicação eletrônica pelos sistemas montados na internet, não há mais necessidade de grandes líderes para fazer a chamada geral. Esta é feita por uma pessoa, por duas ou dez, usando as redes sociais. Os grupinhos promovem intercomunicação, que se propaga, gerando núcleos em série. Acende-se, assim, uma faísca que se irradia rapidamente pelas redes, pegando as fogueiras armadas - os grupamentos organizados - por todo o território. Abertura da locução As manifestações traduzem, ainda, a vontade social de expandir sua locução. Há muitos gritos presos nas gargantas. Há demandas reprimidas. A metáfora é a da panela de pressão : se não houver uma válvula que permita soltar o vapor, a panela explode. As manifestações funcionam como válvula de pressão. Ao ganhar as praças, a galera vai de encontro ao respiro social. Democracia participativa Sob outro prisma, enxerga-se na mobilização da massa um sinal de que a democracia participativa encontra espaço para se manifestar. E qual a razão ? A crise que assola a democracia representativa. Norberto Bobbio já avisara : a democracia não tem cumprido seus clássicos compromissos : o acesso à Justiça ; combate ao poder invisível ; educação para a cidadania ; transparência dos governos, etc. As representações políticas em todas as instâncias frustram expectativas. Os políticos são execrados. Cria-se um imenso vácuo na sociedade. Que é ocupado por uma miríade de entidades. A democracia participativa - direta - surge nesse bojo, resgatando a forma original - as reivindicações do povo na Ágora, a praça central de Atenas. E o futuro ? O que poderá ocorrer doravante ? A chama esta acesa nos altares da pátria. Pronta a ser usada em caso de demandas reprimidas. Do ponto de vista imediato, os Poderes terão de dar algumas respostas, algumas de caráter pontual, como a tarifa zero para as passagens de ônibus ; outras, de forma mais global, como políticas efetivas nas áreas de segurança e saúde, por exemplo. Se a economia entrar em parafuso, afetando a equação BO+BA+CO+CA, a panela tende a deixar escapar muito vapor. Como se recorda BO (bolso) cheio (geladeira cheia) resulta em BA (barriga) satisfeita, CO (coração) agradecido e CA (cabeça) disposta a agradecer e a votar no formulador da equação. A recíproca é verdadeira. Imagine-se a panela estourando nas margens das eleições. Partidos, tchau ! Partidos políticos até podem desfraldar suas bandeiras nas passeatas. Mas há muitas placas levantadas com os dizeres : nenhum partido me representa. Há uma clara mensagem de aversão aos partidos políticos. PSOL, PCO e PSTU são as três siglas que tentaram exibir suas bandeiras. E a velha UNE também está fora do circuito das massas. Inércia da ANAC Em audiência com a diretoria do Sindicato das Empresas de Turismo do Estado de São Paulo (Sindetur-SP), em Brasília, o ministro da Aviação Civil, Moreira Franco, prometeu resolver com rapidez alguns dos principais problemas do setor, entre eles o cancelamento ou adiamento de voos sem aviso prévio e a cobrança de taxas absurdas dos passageiros, tudo feito com a complacência da ANAC. "São inúmeros os problemas causados aos consumidores pelas práticas comerciais e contratuais abusivas das empresas áreas, enquanto a ANAC toma apenas providências inócuas e tardiamente", argumenta Eduardo Nascimento, presidente do Sindetur-SP. As agências de turismo representam 70% do volume total de vendas de passagens aéreas no Brasil. De olho no imposto Está em vigor a lei 12.741/12, conhecida como "De Olho no Imposto", que obriga as empresas a listar nos documentos fiscais o valor aproximado de sete tributos embutidos no preço final de produtos e serviços : ICMS, ISS, IPI, IOF, PIS/PASEP, COFINS e Cide, além dos valores referentes ao imposto de importação, quando for o caso. O Sindicato das Empresas de Serviços Contábeis e de Assessoramento no Estado de São Paulo (Sescon-SP) participou ativamente desde o início da campanha pela criação da lei, oriunda da iniciativa popular e que contou com o apoio de diversas entidades. Foram mais de 1,5 milhão de assinaturas em favor da discriminação dos tributos. "A nova lei é um marco, pois abre espaço à consciência tributária do cidadão para exigir o retorno efetivo desta arrecadação", explica Sérgio Approbato Machado Júnior, presidente do Sescon-SP. Campanha do agasalho Por mais um ano consecutivo, o Sindicato das Empresas de Serviços Contábeis e de Assessoramento no Estado de São Paulo (Sescon-SP) apoia a Campanha do Agasalho, uma iniciativa do Fundo Social de Solidariedade e Desenvolvimento Social e Cultural do Estado de São Paulo. "A ação faz parte do Programa Sescon Solidário e o engajamento de todos nesta campanha evidencia a nossa preocupação em ajudar o próximo", comenta Sérgio Approbato Machado Júnior, presidente do Sescon-SP. Doações serão recebidas até 26/7 na sede da entidade, na Avenida Tiradentes, 960, próximo ao metrô Armênia, na Capital ou nas regionais instaladas no interior de SP. Dilma As vaias à presidente Dilma no estádio Mané Garrincha se inserem no bojo das manifestações da massa contra a esfera político-governamental. Quem fosse o político a falar em um estádio de futebol - Lula, por exemplo - passaria pelo mesmo vexame. A galera não suporta ouvir fala política na abertura de um importante evento esportivo. E se Dilma tivesse vestido uma camisa da seleção brasileira ? Teria recebido o mesmo tratamento ? Ouvi a pergunta de um menino, Renzo, de 7 anos. Sobre as manifestações da segunda, a presidente foi taxativa : "O Brasil acordou mais forte na terça". Campos O governador Eduardo Campos, na onda das reivindicações, foi o primeiro a baixar a passagem de ônibus em PE. Alckmin Geraldo Alckmin, governador de SP, acusou o golpe : ordenou que a PM não usasse balas de borracha na manifestação da segunda-feira. Sua polícia saiu chamuscada da passeata da semana anterior. A trama "Para que seu horror seja perfeito, César, acossado ao pé de uma estátua pelos impacientes punhais de seus amigos, descobre entre os rostos e os aços o de Marco Júnior Bruto, seu protegido, talvez seu filho, e já não se defende, exclamando : "Até tu, meu filho !". Shakespeare e Quevedo recolhem o patético grito. Ao destino agradam as repetições, as variantes, as simetrias; dezenove séculos depois, no sul da província de Buenos Aires, um gaúcho é agredido por outros gaúchos e, ao cair, reconhece um afilhado seu e lhe diz com mansa reprovação e lenta surpresa (estas palavras devem ser ouvidas, não lidas) : "Pero, Che !". Matam-no e ele não sabe que morre para que se repita uma cena". (Jorge Luis Borges) Conselho aos governantes Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes, membros dos Poderes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado à presidente Dilma Rousseff. Hoje, volta sua atenção aos políticos e governantes : 1. Atentem para a nova ordem social que se desenvolve no país, a partir das manifestações em série do povo. 2. Busquem formas - grupos de trabalho, comissões, etc. - para administrar as tensões e produzir políticas públicas e ações voltadas para atendimento das demandas mais urgentes e prementes das comunidades. 3. Entendam que os ecos das ruas expressam a necessidade de mudanças, avanços e uma nova ordem político-governamental.
quarta-feira, 12 de junho de 2013

Porandubas nº 361

Abro a Coluna com duas historinhas. (Uma, contada pelo historiador e mineiro José Flávio Abelha em seu Mineirice; outra, contada pelo amigo Luis Costa em seu Leia Comigo). Os dois presos Elpídio Duque era delegado calça-curta em Conselheiro Pena, enquanto em Minas, o velho PSD (não o atual, de Kassab) deitava e rolava. Juarez Ferraz, tabelião, pastor, grande orador popular, pessedista até a alma e péssimo motorista, atropela dois udenistas na estrada do distrito de Ferruginha. O primeiro é jogado à distância e cai no meio do brejo. O outro, com o impacto, é arremessado para o alto, cai sobre a capota do jipe e, na queda, fura a lona e se esborracha em cima de Juarez Ferraz. Elpídio é chamado para estudar a situação, fazer perícia e abrir o processo. O delegado chega, examina o local, ouve as partes e (pasmem !...) manda prender os dois udenistas : - O primeiro, por ter invadido propriedade alheia e abandonado o local do crime. O segundo, por tentativa de homicídio. Por muito pouco o descuidado udenista não mata o tabelião da cidade. Maldito seja ............ ! Padre Vieira é um ícone da oratória. Um dia, no púlpito, o grande jesuíta assim começou a peroração : - Maldito seja o Pai...Maldito seja o Filho....Maldito seja o Espírito Santo ! Horror na assistência. Um murmúrio de indignação. Tranquilamente, o orador prossegue : - Essas, meus irmãos, são as palavras e as frases que se ouvem nas profundezas do Inferno. Suspiro de alívio. Platéia embevecida. Era assim, com linguagem surpreendente que o mestre da palavra despertava a atenção dos ouvintes. Sinal amarelo A pesquisa Datafolha que mostra a queda de 8 pontos percentuais na popularidade da presidente Dilma (de 65% para 57%) pode ser, até, uma "oscilação normal" como querem enxergar alguns, entre eles, o ministro da Educação, Aloizio Mercadante, e até o eventual candidato do PSB à presidência, Eduardo Campos. Mas dá para distinguir o sinal amarelo que a pesquisa exibe. Quem abre sinal de perigo ? Medo do desemprego e ameaça de aumento da inflação. Há motivos para tanto ? Sim. O tomate, há dias, estourou o bolso do consumidor. Muitos se queixam dos preços dos alimentos em supermercados. Aumento na área alimentar bate direto no bolso. Que fica mais vazio. Equação BO+BA+CO+CA E se fica mais vazio, a equação acima começa a gerar efeitos. Bolso+Barriga+Coração+Cabeça. Menos dinheiro no bolso significa geladeira mais vazia, barriga menos satisfeita, coração indignado/revoltado e cabeça disposta a punir os responsáveis por essa cadeia de sacrifícios e sofrimentos. É claro que estamos distantes de horizontes fechados, cinzentos. O PIBinho não chegou, ainda, às margens. Mas o perigo ronda. Tudo indica que o governo manterá a economia sob rédeas curtas, de forma a garantir o equilíbrio da equação eleitoral. Todo cuidado é pouco. Maquiavel "Um príncipe precisa saber usar bem a natureza do animal; deve escolher a raposa e o leão, porque o leão não tem defesa contra os laços, nem a raposa contra os lobos. Precisa, portanto, ser raposa para conhecer os laços e leão para aterrorizar os lobos". (Maquiavel em O Príncipe) Lula no lugar de Dilma ? Interessante é observar que, a qualquer sinal de perigo, o nome de Luiz Inácio Lula Papão de Votos da Silva vem à tona. É o perfil que representa a salvação do PT em ciclo de crise. É o nome a ser chamado, caso a economia saia dos trilhos. Mas Lula tem dito e repetido que não frequentará a arena. Pois já cumpriu a meta maior de vida. E tem a saúde para cuidar. Mesmo livre do câncer na laringe, que extirpou, permanece o medo do amanhã. Além disso, Lula cumpre uma agenda cheia : viaja pelo mundo, faz palestras a preço de ouro, dá as cartas no PT, tem influência no governo Dilma, é admirado nas margens e nos centros sociais, tornou-se um ícone, o maior político da atualidade brasileira. Por que deixar essa zona de conforto para ser foco de pressões e contrapressões ? Segundo turno A hipótese de um segundo turno para as eleições presidenciais ganha força diante de um cenário de problemas na frente econômica e da entrada no páreo desses quatro pré-candidatos : Dilma Rousseff, Aécio Neves, Marina Silva e Eduardo Campos. A vitória da presidente Dilma em primeiro turno, é oportuno frisar, dependeria de um céu de brigadeiro, da economia bombando e de eleitores de bolso cheio. Cenário cada vez menos provável. Clausewitz "Um príncipe ou um general que sabe organizar a sua guerra de acordo com o seu objetivo e meios, que não faz nem de mais nem de menos, dá com isso a maior prova de seu gênio". (Carl Von Clausewitz em Da Guerra) E o governo de SP ? É sabido que as derrotas do PT em SP, disputando o governo, nunca foram engolidas por Lula. O sonho dele é desbancar o tucanato que completará 20 anos no comando do Estado mais poderoso do país. Daí se concluir que Lula fará tudo que estiver a seu alcance para ganhar a eleição de 2014 no Estado. Seu candidato in pectore seria Luiz Marinho, prefeito de São Bernardo do Campo. Mas o prefeito não quer ser o nome. Do bolso do colete, Lula saca o nome do ministro da Saúde, Alexandre Padilha. Mas a saúde, como se sabe, está na UTI. Trata-se de uma área que não tem saldo positivo a apresentar. O ministro da Doença poderia ser um fiasco. Lula, porém, confia em seu taco. Acha que Padilha pode ser o nome, eis que Aloizio Mercadante não topa ser candidato. Para resolver a enrascada, o PT sugere o nome do..... próprio Lula. Para este, seria descer na escada da glória. Por isso, este consultor não acredita na hipótese. Zé Eduardo A questão da segurança pública, que estará na pauta eleitoral, possivelmente como a temática mais importante, traz à tona o nome do ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo. A propósito, o ministro abre espaço na mídia para fustigar o governador Geraldo Alckmin sobre a violência que assola o Estado de SP. Deu larga entrevista ao Estado de São Paulo sobre o tema. Há uma barreira : Lula. Diz-se que o ex-presidente não simpatiza com Zé Eduardo. Em política, porém, tudo é possível. Na hora do "vamos ver", Luiz Inácio poderá abrir o verbo e dizer : o nosso nome é o do ministro da Justiça. Trata-se de um dos perfis do PT não carimbados pela mancha de escândalos. Lembre-se que chegou a renunciar a mais um mandato de deputado por não aceitar entrar no jogo do alto financiamento das campanhas eleitorais. Liddell Hart "Explore a situação de menor resistência desde que possa conduzir a qualquer objetivo que contribua para a consecução de seu objetivo básico". (Liddell Hart em As Grandes Guerras da História) Quadro paulista Geraldo Alckmin é um governador bem avaliado, principalmente pelo eleitorado do Interior do Estado. Ostenta, hoje, 52% de intenções de voto, descendo para o patamar de 42% quando tem pela frente o perfil de Lula. Mas até este perderia para ele no segundo turno. É evidente que essa é uma fotografia de hoje. Porque a campanha terá seu clima, suas circunstâncias, seu modus operandi. E tudo isso funcionará como pano de fundo para influenciar o sistema cognitivo do eleitorado. Este consultor tende a acreditar que a polarização entre o PSDB e o PT está desgastada. Fechou um ciclo. O eleitorado quer ver novas caras, experimentar novos nomes. Por isso mesmo, será muito difícil (não impossível, claro) que Alckmin consiga manter seu alto índice. O busílis Alckmin tem entre 37% a 44% de intenção de votos na grande SP. E de 48% a 59% no interior. O que isso reflete ? Uma avaliação menos positiva nas regiões mais violentas. Cardeal Mazarino "Fale bem de todo mundo. Jamais fale mal de alguém, temendo que um terceiro escute e vá relatar tudo à pessoa mencionada. Dos superiores só fale bem e louve, especialmente aqueles de quem precisa". (Cardeal Mazarino em Breviário dos Políticos) Terceira via Dentro da moldura de saturação da velha briga entre tucanos e petistas, emerge a alternativa de uma terceira via. Que pode abrigar um nome asséptico, sem a poluição e os carimbos da velha política, de perfil empreendedor. Paulo Skaf, presidente da FIESP/CIESP encaixa-se nessa possibilidade. Principalmente se dispuser de espaço midiático eleitoral capaz de garantir ampla visibilidade. Trata-se do perfil mais denso do PMDB para enfrentar a maior batalha eleitoral do país. São mais de 30 milhões de eleitores. Na ladeira ? A agência de risco Standard & Poor's colocou o Brasil na ladeira. Aumentou a taxa de risco do Brasil com sua avaliação negativa da economia. Esse fato coloca o Brasil nas prioridades de saques de recursos de investidores estrangeiros. Enquanto isso, os EUA ganharam maior elevação em sua nota de avaliação, saindo da classificação AA+ para estável. O polo se inverte. Sun Tzu "Quando em região difícil, não acampe; em regiões onde se cruzam boas estradas, una-se aos aliados; não demore em posições perigosamente isoladas; em terreno aberto, não tente barrar o inimigo; em situação de cerco, recorra a estratagemas; em posição desesperada, deve lutar; há estradas que não devem ser percorridas e cidades que não devem ser sitiadas". (Sun Tzu em A Arte da Guerra) Manifestações e protestos Nos últimos tempos, o país está assistindo a uma escalada de protestos e movimentos sociais. Ruas estão sendo ocupadas, passeatas, algumas com depredação de espaços, propriedades e equipamentos de serviços públicos. O que está por trás disso ? Interesses eleitoreiros ? Primeiros sinais de uma batalha que será muito sangrenta em 2014 ? Desobediência civil em processo de expansão ? O fato é que a locução social se escancara. A sociedade está muito organizada. Os movimentos sociais vivem um clima de tensão. Nas ruas e até no campo. Indígenas ocupam fazendas e relutam em cumprir ordens da Justiça. O barulho social sinaliza algo em movimento. Urge indagar causas de toda a efervescência social. Miyamoto "Pense sempre em cruzar o riacho no ponto mais propício. Significa atacar o ponto vulnerável do adversário e colocar-se em posição vantajosa". (Miyamoto Musashi em Um Livro de Cinco Anéis) Calote da Pluna A empresa aérea uruguaia Pluna pode voltar a operar este ano sob o comando de ex-funcionários e com apoio do governo daquele país. Esta empresa encerrou as atividades no ano passado atolada em dívidas. Só no Brasil o calote da Pluna atingiu 6.500 consumidores - prejuízo de cerca de dois milhões de dólares -, segundo cálculos do Sindicato das Empresas de Turismo no Estado de São Paulo (Sindetur-SP). ANAC, surda e muda O pior nessa história da Pluna : a Agência Nacional de Aviação Civil, ANAC, que deveria defender os interesses dos consumidores brasileiros, nada fez, como sempre. Nem mandou reacomodar passageiros em outras companhias. Pela omissão, está sendo acionada na Justiça pelo Sindetur-SP. O presidente do Sindetur-SP, Eduardo Nascimento, diz que seu sindicato fará o que for possível para que a nova Pluna só seja autorizada a operar no Brasil depois de indenizar integralmente os passageiros prejudicados e as agências de turismo que tiveram de reparar os danos por eles sofridos. Conselho à presidente Dilma Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes, membros dos Poderes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado ao ministro Luís Roberto Barroso, recém- nomeado para compor o quadro do STF. Hoje, dedica sua atenção à presidente Dilma Rousseff : 1. Sinais amarelos (pesquisas, movimentos, protestos) começam a acender nos semáforos que orientam os comportamentos sociais. Sugerem que Vossa Excelência examine com lupa o que se passa no universo social. 2. A esfera política também se mostra insatisfeita com o tratamento que vem recebendo do Executivo Federal. A lupa também deve ser acionada para verificar as ondas de insatisfação. 3. Nas frentes governativas, particularmente na infraestrutura, grandes obras estão com cronogramas defasados. Esse somatório de coisas ameaça furar o depósito da boa imagem de Vossa Excelência.