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Porandubas Políticas

Por dentro da política.

Gaudêncio Torquato
quarta-feira, 30 de outubro de 2013

Porandubas nº 377

O talento assusta Quando Winston Churchill, ainda jovem, acabou de pronunciar o seu 1º discurso, na Câmara dos Comuns, foi perguntar a um velho parlamentar, amigo de seu pai, o que tinha achado do seu desempenho naquela assembleia de vedetes políticas. O velho pôs a mão no ombro de Churchill e disse-lhe em tom paternal : - Meu jovem, você cometeu um grande erro. Foi demasiado brilhante neste seu primeiro discurso. Isso é imperdoável ! Devia ter começado um pouco mais na sombra. Devia ter gaguejado um pouco. Com a inteligência que demonstrou hoje, deve ter conquistado, no mínimo, uns trinta inimigos. O talento assusta. Ali estava uma das melhores lições que um velho sábio pode dar ao pupilo que se inicia numa carreira difícil. Encastelados medíocres se fecham como ostras à simples aparição de um talentoso jovem que os possa ameaçar. Historinha enviada pelo amigo Luis Costa. Campos e o agronegócio Eduardo Campos vai ter de rebolar para recuperar terreno no campo do agronegócio. Depois que Marina Silva, a parceira, chutou o pau da barraca, enxotando o líder do DEM, deputado Ronaldo Caiado, entidades ruralistas e empresários de peso do setor do agronegócio decidiram tomar outro rumo que não o do candidato do PSB. Campos se esforça para manter o grupo ao seu lado, abrindo um diálogo com seu ex-colega de Ministério e fazendeiro, Roberto Rodrigues. Que o recebeu, mas não prometeu nada. Apenas conversar. Lula como articulador Lula, é sabido, o maior mobilizador de massas da política tupiniquim. É capaz de ainda animar as massas e causar furor na plebe. Mas nunca deixou os bastidores da articulação política. Ultimamente, por exemplo, tem falado bastante com o vice-presidente da República, Michel Temer, com quem discute a planilha de candidatos do PMDB e do PT. Ambos tentam aparar as arestas entre os dois partidos nos Estados. Mas os conflitos regionais se expandem. Sua orientação é para preservar a aliança nacional, a qualquer custo, mesmo se os dois partidos decidirem por candidaturas próprias em alguns Estados, como é o caso de SP, RJ e BA. Michel é um harmonizador por índole; e Lula é a voz mais forte do PT. Alckmin e a segurança pública A covarde agressão ao coronel da PM, que comanda as tropas do Centro capital, poderá reverter em endurecimento das ações de prevenção e repressão ao vandalismo dos black blocs em SP. E uma política mais eficaz no campo da segurança pública poderá resultar em maior apoio ao governador Geraldo Alckmin e à sua reeleição. O perfil do governador é de suavidade, harmonia, diálogo. Daí se cobrar dele mais força, mais autoridade. O combate ao vandalismo pode se transformar no eixo forte do candidato tucano nesse momento de tensão e insegurança. Embate PT x PSDB Veremos, em 2014, o último grande embate entre forças petistas e tucanas. Vamos às razões. O PSDB não se renovou. A sigla vive de lembranças de quando os governadores Franco Montoro e Mário Covas brandiam seus escopos, desfraldando o estandarte da modernidade. O PT, por seu lado, passou a ser membro atuante no palco da velha política, disputando com apetite fatias de poder e usando métodos combatidos de cooptação política. Na floresta dos tucanos, as árvores, com cascas cada vez mais despregadas, envergam de velhice. O tom lamuriento é de Lula. Vejam o que disse : "Por que queríamos chegar ao governo ? Não para agir como os outros, mas para atuar de maneira diferente". Já o desespero tucano para unir suas alas e amenizar querelas internas constituem inequívoca sinalização de que, em 2014, assistiremos à última sessão de cinema, encenada pelos dois maiores competidores eleitorais. Renascer das cinzas ? PSDB e PT poderão até voltar a resplandecer no futuro, voltando a se espichar para cima e para baixo como uma árvore adolescente, mas esse renascimento implica profundo reencontro com ideários e valores. Não significa que outros deverão, a seguir, tomar seu lugar. Não há indicação disso. O cenário é o de difusa disputa entre grandes e médios partidos, com foco em indivíduos e não das ideias, sob a égide de uma modelagem eleitoral muito permissiva quanto a uso de recursos financeiros e centrada na exuberância mercadológica. Por ausência absoluta de vontade política para reformar costumes e ante o mesmo blá blá blá que se ouvirá no próximo pleito, faz sentido a hipótese do esgarçamento maior do tecido institucional caso protestos e expectativas frustradas continuem a fazer barulho nos tensos meses do próximo verão. Dois círculos concêntricos Veremos, em 2014, dois grandes círculos concêntricos agitando as correntes : um, que se formará na onda da Copa do Mundo, a partir de junho; e outro, que tende a bater nas margens eleitorais e despejar suas águas (votos) nas urnas. Os resultados de um evento impactarão o outro ? Os perfis mais identificados com o novo (Marina veste esse figurino ?) serão beneficiados ? As velhas árvores voltarão a ser viçosas ? Sejam quais forem as respostas, não há como deixar de enxergar entulhos de velhos edifícios que desmoronam por falta de reboco. Marina é o Lula de ontem Marina Silva é o Luiz Inácio de 33 anos atrás. Que lembrava os tempos heróicos em que ele e os companheiros "carregavam pedras". Pois bem, os visionários de ontem e os sonháticos de hoje imaginam plantar em todas as searas da República sementes imunes aos vírus da velha política - patrimonialismo, fisiologismo, mandonismo, grupismo, nepotismo -, capazes de gerar árvores frondosas e frutos saudáveis, todas irrigadas pelas limpas fontes da ética. Os campos pragmáticos dariam lugar às roças programáticas. Diante da impossibilidade de substituir uma cultura política por outra da noite para o dia, principalmente quando não há movimentos capazes de redirecionar práticas, costumes e processos, torna-se evidente que a emblemática Marina se assemelha, em sua peregrinação, à imagem de "carregadora de pedra" do mesmo molde do empreendimento que o velho PT tentou construir, em 33 anos, e não conseguiu. A nova política é abstração Por que uma "nova política" tem se tornado abstração em nossas plagas, não adentrando o território da práxis ? Por ser complexa a tarefa de promover mudanças rápidas na fisionomia política, principalmente quando se vê nela a estampa dos valores do passado. Os agentes políticos em atuação no Parlamento, a quem cabe dar o primeiro passo na direção das mudanças, não se motivam a avançar em qualquer vereda reformista, considerando que a equação custo-benefício não lhes rende. A imagem da corrosão Se os avanços não ocorrem por falta de suficiente motivação dos agentes partidários, o que a estática na política acarreta ao tecido institucional ? Um agregado paralisante : acomodação, mesmice, burocracia, obsolescência, embrutecimento das estruturas e passividade dos gestores públicos. A imagem se assemelha às árvores que chegam à velhice vegetal : o crescimento diminui, os processos de regeneração são lentos, as raízes não conseguem mais retirar água do solo e sais minerais em quantidade necessária; os vasos que conduzem nutrientes param de funcionar; as folhas caem, os galhos perdem o viço, o tronco ameaça tombar a qualquer momento. Não é o que ocorre com os partidos ? Arquivos da Ditadura Paralelamente à discussão em torno da divulgação dos arquivos existentes no STM, que tratam do julgamento dos presos políticos durante da ditadura militar, foi produzido o filme "Sobral - um homem que não tinha preço", no qual Sobral Pinto denuncia a prática de tortura no Brasil durante o Regime Militar de 1964. O advogado criminalista Fernando Augusto Henriques Fernandes tem participação na produção do filme e também é autor do livro "Voz Humana - A defesa perante os tribunais de República". Recuperando a memória do país É de autoria do advogado Fernando Fernandes a ação que busca a divulgação dos arquivos de áudio retidos no STM, com as gravações das audiências de julgamento dos presos políticos, de 1975 até 1979. Uma parte destes arquivos, já recuperada, foi revelada no filme "Sobral - um homem que não tinha preço". "Ainda temos inúmeras questões não resolvidas, como permitir às famílias de presos políticos encontrar os corpos e enterrá-los", argumenta Fernandes. O rei mais humilde O rei Roberto Carlos mudou de opinião. Antes, era um renitente e duro combatente das biografias não autorizadas. Inspirou a criação de um grupo - Procure Saber - composto, entre outros, por Chico Buarque, Caetano Veloso, Gilberto Gil e Djavan. Domingo, em entrevista ao Fantástico, Roberto Carlos mudou de posição. Diz agora que é a favor das biografias não autorizadas, bastando alguns ajustes. Urge conversar, pede ele. Ainda bem. O grupo recebeu uma batelada de artigos e textos contrários ao seu posicionamento. Inclusive, um artigo deste escriba. As vedetes Nesse texto, fiz o posicionamento. As vedetes da cultura de massa podem ter biografias não autorizadas sobre suas vidas ou os relatos devem receber sua prévia autorização ? A resposta deve considerar a faceta pública desses semideuses, tanto os políticos quanto os artistas. Uns e outros têm deveres para com a sociedade. Dependem do público. A partir do momento em que suas atividades são massificadas - fator de sucesso profissional - submetem-se ao ordenamento ético de prestar contas a quem os acompanha. Que inclui relatos não apenas das retas, mas das curvas de sua existência. A esse posicionamento público do artista e do político, soma-se o ditame constitucional que acolhe a manifestação de pensamento e da informação sem restrição. Danos morais Se a honra, a vida privada e a imagem das pessoas são invioláveis, ainda nos termos constitucionais, lembre-se que há dispositivos no Código Penal contra danos morais, calúnia (art.138), difamação (art. 139) e injúria (art. 140). Daí não caber a restrição às biografias, prevista pelo art. 20 do Código Civil. Países democráticos, como EUA, Canadá, Reino Unido, França, Espanha não admitem qualquer censura às biografias não autorizadas, ao contrário de Rússia, China e Síria, por exemplo. Nos EUA Imagine-se a execração pública de Bill Clinton se censurasse biografia sobre sua trajetória presidencial, nela incluído o episódio com a estagiária Monica Lewinsky. Aliás, os norte-americanos estão lendo avidamente o livro "Sexo na Casa Branca", do historiador David Eisenbach e do editor Larry Flynt, que conta histórias impactantes, algumas conhecidas, mas não relatadas com detalhes, como as que envolveram os presidentes Abraham Lincoln, Thomas Jefferson, James Buchanan, Franklin Roosevelt e John Kennedy. Na Inglaterra Houvesse censura na Inglaterra, a história do príncipe Charles e Camila Parker teria sido guardada no baú. E também o caso mais escandaloso da política inglesa : o envolvimento do ministro da guerra, John Profumo, com a modelo Christine Keeler, no começo dos anos 60. Isso é importante ? Sem dúvida. São as entranhas da política. Estabelecer patamar diferente para político e artista é defender tratamento privilegiado para uns. É formar uma casta dentro da casta. Censurar ? Pelas mãos dos leitores Biografias autorizadas são livros de autoglorificação, loas ao biografado. E querer cobrar do autor percentagem pela obra é apropriar-se de um direito que não pertence ao artista. Nas situações em que as biografias alavanquem a venda de discos, o autor da obra teria direito a uma percentagem da vendagem ? Livros maldosos e mentirosos devem ir, sim, para a fogueira. Pelas mãos dos leitores, não pelo tacão da censura. Conselho aos manifestantes Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes, membros dos Poderes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado médicos brasileiros. Hoje, volta sua atenção aos manifestantes : 1. O Brasil vivencia um dos ciclos de maior participação social. Esse momento deve ser aproveitado pela sociedade para exigir, criticar, condenar, sugerir, acompanhar atentamente o processo político e a gestão pública. 2. Sob esse pano de fundo, é importante ter participação no processo social de manifestações nas ruas. 3. Urge, porém, não abrigar ou apoiar as brigadas de vândalos que se aproveitam do momento para desenvolver sua agressividade. Se "guerreiros" querem destruir patrimônios públicos e privados, que mostrem a cara e não se escondam sob máscaras.
quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Porandubas nº 376

Os fundos Abro a coluna com um "causo" do querido Estado do CE. Garboso, o candidato a prefeito de Jaguaribe/CE, não economizou promessas em sua campanha, lá pelos idos de 60. Prometeu tudo ou quase : maternidades, poços artesianos, estradas vicinais, escolas e até uma ponte. Mas não se conformava com tão pouco. Queria fazer mais. Tinha de prometer alguma coisa mais popular, que caísse no gosto do povo. Mandou verbo : - Pois é, minhas conterrâneas e conterrâneos, se vocês tiverem em suas casas redes rasgadas, daquelas que não prestam mais, guardem os punhos da rede. Quando eu for eleito, darei os fundos. (Quem me mandou a historinha, não conta se perdeu ou ganhou; e se ganhou, deixamos de saber se cumpriu a promessa). A última campanha Cada ciclo político-eleitoral tem o seu marco. Pode ser um evento, o clima ambiental, as ondas do momento, o pano de fundo social. Pois bem, a campanha de 2014 será emblemática sob essa visão. Primeiro, por abrigar a última peleja contemporânea entre PT e PSDB, pois é mais que provável que esses dois partidos não resistam a mais um pleito presidencial com candidatos que ainda frequentam o ringue da polarização. As siglas enfrentam o fenômeno da corrosão de material. Duas décadas no poder parecem constituir o ciclo de mando de um partido no comando da Nação. Até é possível que, na campanha que se abre, um novo ator consiga desbancar os dois principais eixos da polarização política no país. Referimo-nos, claro, ao PSB e seus mais destacados perfis, Marina Silva e Eduardo Campos. Poder dividido Alguém poderá objetar : eles terão vida mais longa, eis que o poder está dividido entre ambos. Se o país se encontra nas mãos do PT, o maior Estado da Federação - maior colégio eleitoral, maior força econômica, maiores quadros políticos, maior ajuntamento social - , SP, está nas mãos do PSDB. A verdade, porém, é que o PSDB também vive em SP tempos de desgaste de material. Cinco governos seguidos fechariam a cota dos tucanos. O revezamento que se observa é no espaço municipal, na disputa eleitoral na capital. O PT ganhou a última, como já havia ganho com Luiza Erundina, no passado, e com Marta Suplicy, mais recentemente. Agora, é a vez de Fernando Haddad. Ares novos O fato é que, tanto na esfera Federal quanto na frente estadual, a população sinaliza a vontade de respirar ares novos, climas diferentes, passando a conviver com novos atores, até para experimentá-los sob o prisma da gestão pública. Em muitos Estados, essa sinalização já é praticada com a eleição de perfis que fogem ao modelo da velha política. Noutros, se não há tanta renovação, é porque os "donos" das grandes siglas que ascendem ao mando usam fortes baterias de comunicação, abrindo espaços gigantescos de visibilidade e, dessa forma, perpetuando-se no sistema cognitivo do eleitorado. Dilma favorita Sob a moldura da corrosão pelo tempo no poder, dar-se-á a campanha de 2014. No caso da campanha presidencial, a candidata do PT continua sendo a franca favorita. Por representar um estilo de trabalho, por dar continuidade a um gigantesco braço social - o Bolsa Família -, que poderá ser bastante esticado com o sucesso (bastante provável) do Mais Médicos e, claro, com uma economia controlada. Mas o sucesso da presidente Dilma, mesmo que ultrapasse as melhores expectativas, não significará necessariamente a continuidade do PT no comando do país. O partido sofre desgaste de imagem. Perdeu raiz histórica. Abandonou valores. Para recuperar vetor de força, deve ceder lugar a outros, refluir seu poder. É possível que abra um período sabático. Para, lá mais adiante, voltar sob novas luzes. Eduardo e Marina Faz bem à democracia e, particularmente, ao sistema eleitoral a participação da dupla Eduardo e Marina no pleito presidencial. Conseguem ambos passar a ideia de figuras novas na desgastada paisagem política. Fizeram uma aliança à base do modelão antigo. Pois o PSB é sigla do sistema; o estilo Campos, que puxou o avô, Miguel Arraes, em matéria de trabalhar a arte da política, é duro; o ingresso de Marina no PSB se deu pela porta da velha tradição - alguém, às vésperas de findar o prazo para filiação, corre e crava o apoio a um candidato de sigla tradicional. Lula e o velho PT Lula dá uma no cravo, outra na ferradura. Depois de bater nos adversários, principalmente os tucanos, o ex-presidente dá um puxão de orelhas no PT. Diz que muitos petistas só pensam em cargos. Outros, em mandatos no Legislativo. E se esquecendo dos tempos em que carregavam tijolos para construir o grande empreendimento petista. Forma de dizer : companheiros, voltemos às origens. Isso é possível ? Não. Heráclito ensinava : nenhum homem atravessa o mesmo rio duas vezes. A fatura de Dilma A presidente Dilma Rousseff colocou o carro na rua e já engata a terceira. Esse programa Mais Médicos será a marca principal do fim do seu primeiro mandato. Vai para as urnas sob o empuxo desse carro em velocidade. Dilma não perde tempo. O leilão de Libra só teve um consórcio. Não houve, a rigor, leilão. Mas ela proclama aos quatro cantos que o país abre as portas do futuro. Dinheiro para livros, educação, saúde para todos. Estamos abrindo a porta do paraíso. Em 30 anos, para explorar o campo e produzir óleo, serão necessários 400 bilhões de reais. Mais uma vez, podemos dizer como nossos tataravós : vamos lutar para fazer o Brasil dos nossos filhos e netos. O futuro abrirá os discursos per secula seculorum. 250 mil dólares Li que Fernando Henrique e seu ex-genro queriam vender o Libra por US$ 250 mil. Não me recordo disso. Deve ser ufanada exagerada dos adversários. Não ? Reforma política ? Esqueçam. A reforma política, para fim de adoção em 2014, é mais uma dessas promessas de primavera. O projeto em andamento gera muita polêmica. E praticamente só altera questões relativas a recursos de campanha e apresentação de contas. Coisinhas pontuais. Sem censura - I Wagner Kotsura, jornalista dos bons, um dos mais diligentes caçadores de detalhes, chama a atenção deste consultor, com esta mensagem : "o artigo do Código Civil que se está aplicando às biografias, se não contiver um tremendo erro de Português (concordância), não parece autorizar censura. Vejamos. Art. 20 : "Salvo se autorizadas, ou se necessárias à administração da Justiça ou à manutenção da ordem pública, a divulgação de escritos, a transmissão da palavra, ou a publicação, a exposição ou a utilização da imagem de uma pessoa poderão ser proibidas, a seu requerimento e sem prejuízo da indenização que couber, se lhe atingirem a honra, a boa fama ou a respeitabilidade, ou se se destinarem a fins comerciais". Sem censura - II Wagner arremata : "O complemento 'de uma pessoa' refere-se a todas as expressões antecedentes ("a divulgação de escritos, a transmissão da palavra, ou a publicação, a exposição ou a utilização da imagem"). Trata-se, portanto, de escritos, palavra e imagem de uma pessoa, e não sobre uma pessoa. Dito de outra forma, não se pode reproduzir nada que alguém tenha escrito ou falado, sem autorização prévia; mas não parece haver nenhum impedimento a que se divulgue qualquer coisa sobre uma pessoa". Advogados e juízes, atentem para a observação. Menos burocracia Já está disponível o Módulo Estadual de Licenciamento, programa do governo do Estado de SP que permite a abertura de empresas de forma mais rápida e sem burocracia. Os detalhes do novo sistema, que integra 645 municípios, foram acertados em reunião recente entre o secretário de Desenvolvimento Econômico, Ciência e Tecnologia do Estado de SP, Rodrigo Garcia, e representantes do setor contábil, entre eles, o presidente do Sindicato das Empresas de Serviços Contábeis e de Assessoramento no Estado de SP (Sescon/SP), Sérgio Approbato Machado Júnior. Por meio do site da Jucesp (clique aqui) é possível fazer todos os procedimentos de abertura de empresas e obter licenças do Corpo de Bombeiros, da Vigilância Sanitária e Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (Cetesb). ICMS : prazo estendido Empresas do Estado de SP que recolhem o ICMS no terceiro dia útil do mês subsequente ao da ocorrência dos fatos geradores terão prazo para pagamento do tributo prorrogado para o 20º dia do segundo mês subsequente. A mudança trará benefícios de fluxo de caixa para as empresas e mais tempo de processamento das operações para as organizações e profissionais da Contabilidade. A novidade foi dada pelo secretário da Fazenda, Andrea Calabi, durante o 5º Gescon - Seminário de Gestão de Empresas Contábeis, realizado pelo Sescon/SP, nos dias 16 e 17/10, em SP. A prorrogação do prazo era um pleito antigo da entidade e da classe contábil. O anúncio oficial da mudança será feito em breve. Você O amigo Luis Costa manda essa peça sobre o tratamento você. O empregado de um condomínio usou o termo, ao se dirigir a um condômino. Este não gostou. Foi bater na Justiça. O juiz, Alexandre Eduardo Scisinio, julgou assim (resumo da peça) : - O empregado que se refere ao autor por "você", pode estar sendo cortês, posto que "você" não é pronome depreciativo. Isso é formalidade, decorrente do estilo de fala, sem quebra de hierarquia ou incidência de insubordinação. Fala-se segundo sua classe social. O brasileiro tem tendência na variedade coloquial relaxada, em especial a classe "semiculta", que sequer se importa com isso. (...) Seu, Dona - A professora de linguística Eliana Pitombo Teixeira ensina que os textos literários que apresentam altas frequências do pronome "você" devem ser classificados como formais. Em qualquer lugar desse país, é usual as pessoas serem chamadas de "seu" ou "dona", e isso é tratamento formal. (...) Etiqueta, cortesia - A própria presidência da República fez publicar Manual de Redação instituindo o protocolo interno entre os demais Poderes. Mas na relação social não há ritual litúrgico a ser obedecido. Por isso que se diz que a alternância de "você" e "senhor" traduz-se numa questão sociolinguística, de difícil equação num país como o Brasil de várias influências regionais. Ao Judiciário não compete decidir sobre a relação de educação, etiqueta, cortesia ou coisas do gênero, a ser estabelecida entre o empregado do condomínio e o condômino, posto que isso é tema interna corporis daquela própria comunidade. Conselho aos médicos Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes, membros dos Poderes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos pré-candidatos nas eleições majoritárias. Hoje, dedica sua atenção aos médicos brasileiros : 1. O programa Mais Médicos, da alçada do governo Federal, já virou lei. Não adianta, agora, questioná-lo. E nem é o caso de torcer contra ele. A população brasileira, principalmente das regiões mais carentes, quer ser amparada. Seja por um médico daqui, dali ou dos cafundós do mundo. 2. Se houver problemas ou se os médicos demonstrarem ineficácia ou desconhecimento de seu ofício, estarão sujeitos às penalidades normativas. Há fiscalização, há controles e há denúncias. 3. Importa, nesse momento, estender as mãos na gigantesca tarefa de ajudar as comunidades miseráveis a ter um padrão de vida mais saudável.
quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Porandubas nº 375

I.N.R.I. - Iesus Nazarenus Rex Iudaeorum O mestre Leonardo Mota conta que outro mestre, Henrique, era afamado marceneiro nos sertões de SE. Sua especialidade estava nas camas francesas à moda Luís Quinze. Quando o freguês achava que o leito era baixo, recebia a explicação de que a cama era francesa, mas era à Luís Quatorze; se havia queixa da excessiva altura, ficava sabendo que aquilo era cama francesa à moda Luís Dezesseis. O mestre Henrique pôs toda a sua ciência no Cruzeiro do patamar da igreja de Aquidabã. No topo do sagrado madeiro, o vigário da freguesia fizera o mestre Henrique colocar uma tabuinha com as letras I.N.R.I., iniciais de Jesus Nazareno Rei dos Judeus, a irônica inscrição latina de que a ruindade de Pilatos se lembrara na ignominiosa sentença de morte do filho de Deus. Decorrido algum tempo, um sertanejo sergipano, intrigado com a significação daquelas quatro letras, perguntou a um seu conhecido : - Que é que quererá dizer aquele negócio de INRI, que tem escrito em riba do Cruzeiro ? - Você num sabe não ? Ali falta o Q-U-E. Esse QUE não cabeu na tabuinha : aquilo é a assinatura de quem fez, que foi o mestre INRIque. Pesquisas eleitorais As pesquisas eleitorais, muito distantes dos pleitos, costumam servir para abrir portas de candidatos nos meios empresariais. Na verdade, são retratos desfocados da realidade eleitoral. O retrato do momento flagra atores em movimento, pré-candidatos fazendo alianças barulhentas, discursos proferidos para atacar adversários e vice-versa, e tendo como pano de fundo o cobertor social e a malha política. Por tudo isso, devemos considerar as pesquisas como passaportes de viajantes que se preparam para fazer o percurso eleitoral. Transferência Essa coluna já bateu muito no tema : o voto no Brasil é fundamentalmente na pessoa física, não na pessoa jurídica. Apenas partidos que funcionam como igrejas, pequenas ou grandes, ainda conseguem capturar um voto por sua identidade. Os grandes partidos são geleia partidária. Mistura de quase tudo. Por isso, não se espere grande transferência de votos de Marina para Eduardo Campos. Aliás, a aliança entre os dois foi feita sob as bênçãos da velha política, que ambos execram. O governador de PE faz política, em sua terrinha, à base do cabresto ou do açoite. Aos amigos, pão; aos adversários, pau. Fora de moda : polarização PT x PSDB Eis alguns produtos, símbolos, sinais e coisas que começam a sair de moda. Polarização entre PT e PSDB. Há duas décadas e meia, tucanos e petistas se enfrentam. O lengalenga entre os dois entes partidários ainda é forte em alguns espaços, como o paulista. Mas tende a cair em desuso. Tucanos se acham auto-suficientes; petistas se consideram parentes diretos do senhor dos céus. A corrosão de material é visível. Fora de moda : marketing da glorificação As campanhas eleitorais adensam, a cada ciclo, os feitos e glórias dos candidatos. Que são apresentados como cidadãos sem nenhum defeito, passado limpo, vida decente, fazedor de coisas, pessoa de ideias, o melhor de todos. Esse marketing da glorificação, que é centrífugo (do candidato para os eleitores), deverá ceder lugar ao marketing das demandas sociais, que é centrípeto, ou seja, dos eleitores para os candidatos. A falação do candidato deverá ser alternada com a forte expressão popular. Fora de moda : caras e bocas Na verdade, continuaremos a ver um desfile de caras e boca nos programas eleitorais. Um desfile de extravagâncias e frases decoradas. Que terão impacto perto de zero. Essa massa amorfa será substituída por perfis ligados a setores, categorias e núcleos organizados da sociedade. Teremos, em 2014, a mais orgânica e racional campanha dos últimos tempos. O voto será mais seletivo, menos descompromissado. Fora de moda : invencionices Muitos candidatos, no passado, foram eleitos por conta de um marketing mentiroso, cheio de invencionices. Furas filas, centros hospitalares do primeiro mundo, obreirismo faraônico, que mais pareciam integrar os jardins suspensos da Babilônia. O marketing do pleito de 2014 deverá demonstrar a relação causa-efeito. A ideia deverá ser demonstrada em termos de viabilidade técnica, operacional, financeira. As elucubrações serão anotadas pelo sistema cognitivo do eleitor. Eleitor mais racional A cada eleição, é perceptível a expansão do voto racional no país : o voto mais consciente, o mais exigente, o voto em candidatos mais próximos, o voto em candidato conhecido, o voto em ideias, o voto em compromissos. Donde se pinça a moldura de uma organicidade social mais forte. Os tempos do eleitor "Maria vai com as outras" (apenas para lembrar o ditado popular, sem nenhum ranço discriminatório) estão dando vez aos tempos da autogestão técnica : o eleitor assume sua cidadania; sabe o que quer e ainda é capaz de selecionar os meios para alcançar seus fins. Bolsões tradicionais É evidente que o país não é, em sua totalidade, o território da racionalidade. Ainda se contabiliza, nos fundões e grotões, um voto de amizade, um voto de cabresto, um voto ao candidato mais jovem e garboso, um voto manobrado pelo "coronel", um voto de agradecimento pela dentadura recebida, pelo emprego ganho. Mesmo em regiões politicamente ainda defasadas, como o Norte, o Nordeste, o Centro Oeste, bolsões racionais de multiplicam. A racionalidade se expande dos centros para as margens, conduzida por círculos concêntricos, que realizam o movimento da pedra jogada no meio do lago. O processo racional A racionalidade é resultante de um conjunto de fatores, a saber : a elevação dos níveis educacionais, a melhoria do status social e econômico; a indignação gerada pela ineficiência dos serviços públicos; a ausência de respostas e feitos dos representantes em relação às regiões que os elegeram; a vontade de votar em um perfil diferente; a influência dos movimentos sociais; a elevação dos padrões éticos, a partir da bateria de denúncias intensificada pelos meios de comunicação de massa, etc. Emoção x razão Se o voto emocional, no passado, chegava a somar algo em torno de 60% a 70% por cento, hoje, baixou para algo em torno de 40%. Articulação O marketing político tem cinco eixos : a pesquisa, o discurso (propostas), a comunicação, a articulação e a mobilização. Em função dos aspectos descritos acima, a campanha de 2014 deverá dar muito valor ao fator articulação. Articulação com os núcleos sociais, entidades de todos os gêneros; articulação com os diversos atores políticos. E a mobilização deverá privilegiar os pequenos e médios encontros em vez dos grandes eventos de massa. O país mudou. Não há mais clima para grandes comícios. O eleitor é uma caixa-preta O conceito é velho. Ninguém sabe o que se passa na cabeça do eleitor. Há induções e deduções. Mas ele certamente é influenciado por um conjunto de fatores, a saber : o candidato, o cenário (o espaço onde está), a comunicação, custos e recursos da campanha, concorrentes, influências de amigos e comunidades e circunstâncias. O voto em São Paulo O Brasil teve, em 2012, mais de 140 milhões de eleitores, cerca de 67 milhões de homens e 73 milhões de mulheres. SP é o maior colégio eleitoral do país. Hoje, abarca cerca de 33 milhões de votos, mais de um quinto de todos os eleitores. Como pode se dividir esse contingente ? Há um pouco de tudo : as maiores categorias trabalhistas; as maiores densas classes médias; os maiores núcleos de profissionais liberais; os mais cheios colégios eleitorais de cunho religioso; as mais fortes entidades de organização social; os maiores sindicatos e assim por diante. O que isso quer significar ? Um voto mais orgânico, menos amorfo, mais seletivo, mais focado no perfil compromissado com a sociedade organizada. O voto nordestino em SP Eduardo Campos sonha em fincar pé no território paulista e paulistano, por saber que aqui, nessas plagas, concentra-se a maior capital nordestina do país. O fato, amplamente medido pelo IBGE, não faz, porém, SP uma capital nordestina. O nordestino que aqui aportou é um saudosista, sim, ama o torrão, visitas cidades de origem, canta as toadas da terra, mas SP é seu país. Vive os dramas, sente as angústias dos munícipes, faz cobranças aos governantes, etc. Ou seja, não vota em um candidato nordestino apenas pela identificação regional. Se Dudu Beleza espera ter imensa votação na maior capital nordestina do país, é bom, logo, logo, começar a administrar a reversão de expectativas que o tomará. Padilha com 30% Alexandre Padilha espera contar com 30% de intenção de voto um mês após ser consagrado pela convenção do PT em junho de 2014. Será ? Como será avaliado o "Mais Médicos", hein ? O PT é uma religião que soma, a cada pleito, cerca de 30% dos votos em SP. Conseguirá desta feita ? Alckmin com 35% Geraldo Alckmin espera iniciar a jornada com 35% de intenção de votos. E chegar aos 40% em julho/agosto. Pode ser. Terá de lubrificar muito a máquina tucana. Que, em SP, sofre de fadiga de material. Skaf Pois é, esse candidato poderá surpreender. Atualmente, está na faixa dos 20%. Incorpora o perfil do novo. Figura dinâmica, passa imagem de inovação e se encaixa no figurino de uma alavanca para a área educacional. Ao fundo, suas realizações no SESI e SENAI, sob o manto da FIESP. Marina no lugar de Dudu Este consultor não crê na hipótese. Eduardo Campos, mesmo abaixo de Marina em matéria de intenção de voto, não deverá ceder a ela a cabeça de chapa. Este não serve Em Antenor Navarro/PB, o júri ia começar. O juiz da comarca, Nelson Negreiros, viu o réu chegar sem advogado de defesa : - O senhor não tem advogado ? - Tenho, doutor juiz. Meu advogado é Deus. - Esse não serve. Não é inscrito na Ordem. Conselho aos pré-candidatos Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes, membros dos Poderes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado ao governador de PE, Eduardo Campos. Hoje, volta sua atenção aos pré-candidatos nas eleições majoritárias : 1. Procurem, desde já, formar suas equipes, não deixando para a última hora a organização da estrutura de campanha. 2. Como o pleito de 2014 deverá privilegiar o conteúdo, ênfase deve ser dada à equipe encarregada de propor um programa de governo. 3. É conveniente, nesse momento, planejar e executar uma bateria de pesquisas para aferir demandas sociais, por classes sociais e categorias profissionais, mas para procurar interpretar o animus animandi (a forma de pensar, o sistema cognitivo) do eleitor.
quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Porandubas nº 374

Peibufo, o maior assassino Abro a Coluna com uma historinha de PE. Em um mês "bro", setembro de 1998, o economista e professor Joel de Hollanda, ex-secretário da Educação de PE, fazia campanha pela reeleição a deputado Federal pelo PFL, hoje DEM. Corria pelas estradas poeirentas de São José do Egito, entre 12 e 13 horas. Calor infernal, margeando os 40ºC. Transpirava por todos os poros. Chegando à cidade, refugiou-se à sombra de frondosa árvore na praça da matriz. Ao seu lado, sentado no banco, um sujeito amarelo, muito magro, miúdo, fala mansa. Diante da figura e cheio de cansaço, arrastou um papo. Pescava um votinho. Neste instante, seu cabo eleitoral, voltando com uma garrafa de água, viu a cena e ficou pálido. Começou a fazer sinal para o deputado. Disfarçava para o amarelinho não perceber a agonia. Joel entendeu, disfarçou e pediu licença ao companheiro de banco para se retirar. Foi ao encontro do cabo eleitoral. Mais que depressa, este abriu a boca para confessar : - Deputado, este cara é o Peibufo, o maior assassino da região. Tem na cartucheira mais de 100 mortes gravadas. Mata qualquer um por qualquer trocado. Pelo amor de Deus, se afaste desse cangaceiro antes que ele se enfastie do senhor e lhe meta chumbo. Joel ouviu com atenção. Fixou os olhos no sujeito e, confiando na lábia de educador e político calejado, voltou ao banco e foi direto ao assunto. - Moço ! Como é que o senhor tem coragem de matar uma pessoa ? De pronto, Peibufo resmungou : - Doutor, eu não mato por coragem, não ! Só mato por costume ! (Historinha contada por Carlos Alberto Pereira de Albuquerque) Essa ninguém previa Pois é, a entrada de Marina no PSB foi a bomba política do ano. Poderia até ter sido uma estratégia articulada ao longo dos últimos meses, mas a decisão, tomada no último minuto do segundo tempo do jogo, pegou todos de surpresa. É claro que Marina, na entrevista dada pouco antes, apontara uma pista : desejava quebrar a polarização entre tucanos e petistas. Ou seja, seria candidata. A pista se mostrou correta. Quer romper a polarização, mas com Eduardo Campos sendo o candidato. Ela como candidata a vice. Conseguirá ? Vamos à análise. Transferência ? Coisa complicada Vota-se nessas plagas em pessoas, muito pouco em partidos. Portanto, há de se distinguir um voto em Marina do voto de Eduardo Campos. Cada qual com seu bornal de votos. E a transferência de votos dela para ele ? Pouco provável. Digamos que uns 10% a 15% de votos sejam transferidos para o conjunto da chapa. E os outros ? Parcela boa da votação de Marina tende a migrar para Dilma Rousseff. Consideremos, nesse caso, a esfera ideológica em que ela e Dilma se abrigam. É a mesma, entre centro-esquerda e esquerda. Eduardo Campos também está circunscrito nesse espaço. Mas a tendência maior é a de migração de votos para a presidente. Principalmente em um ciclo de economia sob controle, inflação abaixo dos dois dígitos e empregabilidade mantida. Aécio, maior perdedor Quem perde mais no jogo que está sendo jogado é Aécio Neves. Encarna mais a oposição do que Eduardo Campos, que pertencia, até pouco tempo atrás, ao governo Dilma. Campos fala em melhorar, fazer melhor as coisas. Aécio prega mudança mais radical. Não há um clamor geral por mudanças radicais. As exigências apontam para a qualificação de serviços públicos, principalmente nas áreas da saúde, educação, transportes urbanos e segurança pública. Portanto, a tendência é a de manutenção das vigas macroeconômicas. Aécio quer polarizar. Eduardo cresce ? Pode haver crescimento de Eduardo Campos, sim, mas em um contexto de insatisfação crescente. Vai depender, ainda, da visibilidade que alcance. Antes, precisa arrumar os parafusos da aliança com Marina. Primeiro, os empresários que simpatizam com sua candidatura continuarão com ele ? Não aceitam por completo Marina Silva. Esta, por seu lado, teve uma decepção com parte da bancada do PSB, que votou contra sua visão no projeto do Código Florestal. Os socialistas de Campos fecharam questão com a bancada ruralista. Campos vai precisar de Marina para se infiltrar nos colégios eleitorais do Sudeste. Um desafio e tanto. Uma inversão na chapa ? É possível haver uma inversão na chapa. Digamos que, no primeiro trimestre de 2014, Marina continue com alta visibilidade e bons índices de intenção de voto, algo como 25%; e Eduardo Campos, mesmo sob o empuxo de Marina, não consiga uma alavancagem que o posicione como segundo colocado. Será que a chapa se mantém ? A lógica, nesse caso, aponta para uma inversão, com Marina assumindo a cabeça da chapa ? Lula, metamorfose Há, ainda, Lula. Que já prometeu ser a metamorfose ambulante da campanha. Puxará as massas para o espaço de Dilma. No Nordeste, tende a ser o maior puxador de votos de sua pupila. Seu imbróglio maior será SP, o maior colégio eleitoral do país, e que tem um voto menos emotivo e mais racional. As classes médias paulistas têm um canal muito estreito com o tucanato, apesar da sensação de esgotamento do ciclo tucano. 20 anos de poder corroem os melhores materiais. Black blocs Pelo andar da carruagem, as manifestações de rua tendem a continuar. Se hoje, fazem barulho nos centros do RJ e SP, imaginemos os meados de 2014. O imprevisível estará na esfera desses grupamentos mascarados, que se intitulam de black blocs. Os movimentos de rua começam pacíficos e acabam com depredações de patrimônios público e privado. As polícias reagem tardiamente, quando o quebra-quebra assume proporções fantásticas. Não há prevenção e isso é um grande erro. Governos parem tíbios e tímidos, denotando receio de fazer uma repressão mais dura. O Brasil vive efetivamente uma crise de autoridade. Enxugamento na Petrobras Petrobras era um gigante. Hoje, um gigante que vê buracos por todos os lados. Esfacela-se. A última nota da Petrobras é sobre o enxugamento de sua estrutura. Fechará 38 escritórios no exterior. Velhos tempos de glórias. Novos tempos de aflição. A moldura partidária A migração partidária apenas balanceou as bancadas, sem alterar as fisionomias situacionista e oposicionista na Câmara. O governo Dilma continua com o rolo compressor, formado por 384 parlamentares. Sobram 129 na base oposicionista, se considerarmos que o PSB, de Eduardo Campos, com 22, tende a formar com o bloco de oposição. Quem esperava uma debandada na direção oposicionista ficou a ver navios. O novo quadro 1. Governo PT, de 87, ficou com 86; PMDB, de 83, ficou com 77; PSD, de 48, ficou com 41; PP, de 40, ficou com 43; PR, de 37, ficou com 36; PDT, de 28, ficou com 19; PSB, de 19, ficou com 22; PTB, de 17, ficou com 18; PSC, de 16, ficou com 14; PC do B permaneceu com 13; PV, de 10, ficou com 9; PRB, de 10, ficou com 11; PT do B permaneceu com 3; PRP permaneceu com 2; PHS, de 1, ficou com nenhum. 2. Oposição PSDB, de 50, ficou com 46; DEM, de 27, ficou com 25; PPS, de 11, ficou com 8; PSOL permaneceu com 3; PMN permaneceu com 3; PEN, de 1, ficou com nenhum. 3. Novos Solidariedade - 21PROS - 14 Na Academia de História Registro, com alegria, meu ingresso, ontem, na Academia Paulista de História. Assumo a vaga deixada pelo grande professor de psicologia, Samuel Pfromm Netto, que conheci, desde os idos de 1975, quando a Proal, empresa da qual era sócio, promoveu um Simpósio sobre TV e Criança. Fui o coordenador desse evento. Hoje, nossas histórias novamente se cruzam. O patrono da Cadeira nº 7, que ocupo, é Alexandre de Gusmão, o criador do Tratado de Madri, pelo qual o Brasil ganhou sua atual configuração geográfica. Gusmão é considerado o "avô da diplomacia brasileira". Canuto Canuto, rei dos vândalos, mandando justiçar uma quadrilha, e pondo um deles embargos de que era parente Del-Rei, respondeu : - Pois se provar ser nosso parente razão é que lhe façam a forca mais alta. (Padre Manuel Bernardes) PS. Os vândalos, hoje, são de outra espécie. Conselho a Eduardo Campos Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes, membros dos Poderes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado às oposições. Hoje, volta sua atenção ao governador de PE, Eduardo Campos : 1. Vossa Excelência merece congratulações pela jogada de mestre, como pode ser interpretada a parceria com Marina Silva. Mas não pense que transferência de votos ocorre de maneira natural entre parceiros. Será muito difícil que os votos de Marina sejam depositados em seu bornal. 2. Procure aproveitar a parceria com a ícone da Sustentabilidade para entrar em espaços que ainda não o conhecem bem, como as regiões Sudeste e Sul. Mas deixe para tomar uma decisão sobre a real composição de sua chapa mais adiante, no primeiro trimestre de 2014. 3. Se Marina continuar como segunda colocada e Vossa Excelência em quarto lugar, o lógico seria ceder o espaço à acreana. Seria um gesto de boa política e boas práticas.
quarta-feira, 2 de outubro de 2013

Porandubas nº 373

Cuidado com a montaria Quintino Cunha, famoso advogado e poeta, participava de um júri em Quixeramobim/CE. O promotor berrava na tribuna : - Senhores jurados, estou montado na lei. Quintino pede um aparte : - V. Exa. tenha cuidado para não cair, porque está montado em um animal que não conhece. O promotor se calou. (Da lavra do amigo Sebastião Nery, em Folclore Político) Está chegando a hora Dia 5/10 cai no sábado. Portanto, quem quiser mudar de partido o fará até sexta, 4/10. O TSE também deve dar o veredicto ao partido de Marina, a Rede Sustentabilidade. O clima é de dúvidas. Faltam entre 30 a 40 mil assinaturas para o partido marineiro se firmar. Mas o Tribunal poderá decidir formalizar a sigla e pedir diligências sobre as assinaturas não validadas pelos cartórios. Ocorre que o MP pediu ao TSE que não aceite a formalização do partido. O vice-procurador Eugênio Aragão foi taxativo : "continua sem condições de ser atendido. Criar o partido com vistas, apenas, a determinado escrutínio [eleições de 2014] é atitude que o amesquinha, o diminui aos olhos dos eleitores", escreveu ele em seu parecer. O pessimismo voltou a imperar. Marina com um pé fora ? 32 partidos Existem 32 partidos no Brasil. Partido é parte, parcela do pensamento social. Parcelas : direita, centro-direita, centro, centro-esquerda, esquerda. Há 32 partes no espectro social do pensamento ? A estampa Se a Rede fosse estendida, teríamos esta moldura : Dilma, candidata à reeleição; Marina, candidata independente, com um toque de oposição; Aécio Neves, candidato do tucanato e das oposições clássicas (PSDB e DEM), e ainda com o apoio deste novo partido, Solidariedade, liderado por Paulinho da Força; e Eduardo Campos, candidato que ensaia um discurso de mudança, mas ainda tem o perfil frappé, meio lá, meio cá, café com leite. José Serra saiu da crise existencial que o sufocava. Decidiu ficar no PSDB. Casamentos Geralmente, as parcerias ocorrem na esteira de defesa comum de pontos de vista entre siglas. No Brasil, as parcerias fogem à lógica. Casamento de touro com cabra passa a ser coisa normal. Com Marina Marina candidata, poderia atrair segmentos dispersos, que não estão contentes com a situação e que não simpatizam com os tucanos. Para tanto, precisa ter uma forte visibilidade. Esse seria seu maior desafio. Sem mídia massiva, carecerá de ampla mobilização de seus adeptos pelas redes sociais e meios alternativos. Teria chances de expandir bem os votos - quase 20 milhões - que ganhou no pleito de 2010. Tira votos de Aécio Neves e Eduardo Campos. A mais cotada para entrar no segundo turno se encontra a um passo fora da corrida. Quem herdará seu espólio ? Ingovernabilidade Marina teria condições de governar, caso fosse candidata e, mais, se fosse vitoriosa ? Pergunta feita a 10 formadores de opinião. 8 disseram : não. 2 responderam : teria de mudar a personalidade. Sem marina Sem Marina, o pleito tomará outro rumo. Eduardo Campos seria o mais favorecido por representar setores e núcleos que pleiteiam avanços e novidades. Mais que Aécio, o governador de PE expressa inovação, mudança. Mas ele não fazia parte da base governista ? Essa é a questão que será colocada na mesa do debate. Sim, mas o eleitor tende a fugir da polarização entre situação e oposição. Selecionará aquele perfil que lhe traduza maior possibilidade de realizar mudanças. Campos é menos conhecido. Tem boa estampa. E boa expressão. Seu potencial de crescimento é maior do que o de Aécio. É possível que ambos, com boas votações, consigam empurrar a campanha para o segundo turno. Desafio maior sem a presença de Marina. Com quem ? Houvesse um segundo turno, Aécio com Dilma, com quem ficaria E. Campos ? Lula diria : Dilma. Grupo de Campos diria : Aécio. Segundo turno, com E. Campos e Dilma, com quem ficaria Aécio : E. Campos. Triângulo das Bermudas A performance da presidente Dilma, como é sabido, será melhor nas regiões Nordeste, Norte, Centro Oeste, onde os braços governistas se fazem muito fortes. Mas é possível que sua performance na região Sudeste também surpreenda, principalmente se 2014 for soprado com os ventos da temperança econômica. O Triângulo das Bermudas decidirá a campanha : SP, com mais de 30 milhões de votos; MG, com cerca de 15 milhões e RJ, com mais de 12 milhões. Em SP, tudo vai depender da campanha estadual. O governador Alckmin conseguirá emplacar a reeleição ? Este consultor levanta a hipótese de corrosão de material. 20 anos de tucanato entopem artérias eleitorais. Hoje, ele é o favorito. MG e Rio Em Minas, o governador Anastasia conseguirá eleger seu candidato ? Aécio, em sua terrinha, terá, evidentemente, a maior votação. Mas o ministro Fernando Pimentel deverá contar com a parceria do PMDB, onde acaba de entrar o empresário de sucesso, da Coteminas, Josué Gomes da Silva, filho do ex-presidente José Alencar, falecido. No Rio, a situação de Sérgio Cabral não é boa. O PT, do senador Lindbergh, tem boas condições para liderar a parada. Bombas Há algumas bombas que podem explodir sobre Lindbergh. Coisas de quando era prefeito. Caso no STF. O fator Lula Dilma conta com o maior cabo eleitoral do país : Lula. Que tem dito : serei uma metamorfose ambulante. Se ela for para o Norte, eu vou para o Sul; se for para o Oeste, irei ao Nordeste. Ou seja, Lula se diz candidato. Porque ele é Dilma e Dilma é ele. Essa simbiose pode dar certo. Os centros eleitorais - classes médias tradicionais - não embarcarão nessa canoa. Mas a lábia tem grandes chances de engabelar as massas periféricas. O fator Lula é o maior diferencial da candidata Dilma. Quanto mais ? O fator Lula pesa quanto ? 10% a mais ? 20% a mais ? 30% a mais ? É o cálculo. Profusão de leis De 2000 a 2010, o país criou 75.517 leis, somando legislações ordinárias e complementares estaduais e Federais, além de decretos Federais. Isso dá 6.865 leis por ano - o que significa que foram criadas 18 leis a cada dia, desde 2000. Das leis criadas entre 2000 e 2010, 68.956 são estaduais e 6.561, Federais. MG foi o maior legislador do período : criou 6.038 leis. Em seguida, BA, criadora de 4.467 leis; RS, com 4.281; SC, com 4.114; e SP, com 4.111. O RJ criou 2.554 leis nesse período. Oposições sem discurso As oposições, por sua vez, ainda não encontraram o fio da meada. Falta eixo no discurso. O que se ouve e se vê é uma expressão adjetivada, não substantivada. Quais são as ideias das oposições, os programas, os projetos ? Mudar é uma promessa genérica. Falta escopo. Conteúdo. O adjetivo só gera eficácia em ambiente de muita devastação econômica, inflação alta, desemprego em massa. Nesse caso, a indignação invade os espíritos e a campanha entra em largas estradas emotivas. A essa altura, os prognósticos não são catastróficos. O país não desceria o despenhadeiro. Despenhadeiro País no despenhadeiro seria : inflação acima de dois dígitos; desemprego em massa; categorias nas ruas exigindo aumento de salários; greves gerais. O programa "Mais Médicos" O programa Mais Médicos terá o peso do Bolsa Família no governo Lula. Esse Bolsa Cabeça será apresentado como a alternativa aprovada pelo povão. Vamos ver nos programas eleitorais da candidata muitos depoimentos de gente humilde, falando da generosidade, do bom atendimento, da disposição dos médicos estrangeiros. Os médicos brasileiros serão cabos eleitorais das oposições, mas apenas reforçarão a convicção de eleitores que já não votariam no PT. Esse programa pavimentará a estrada do médico Alexandre Padilha, candidato ao governo de SP. Aqui, o PT conseguirá seus tradicionais 30% de votos. Poderá, até, subir de patamar. Tudo vai depender do clima econômico. Efeito sanfona O programa Mais Médicos provocará o efeito sanfona : das extremidades para o centro. Alta aprovação de Dilma nas margens fazendo pressão sobre o centro. Goiás e Paraná GO e PR são dois colégios eleitorais importantes. Administrados por governadores tucanos, seriam, teoricamente, redutos de grandes votações para o candidato Aécio Neves. As campanhas estaduais, porém, contarão com candidatos oposicionistas com forte diferencial. No PR, a candidatura da ministra, senadora Gleisi, se apresenta como novidade. Em GO, a candidatura do empresário Junior, do Friboi, que está no PMDB, simboliza o novo. Não será fácil para o PSDB. Nordeste A hipótese é a de que o governador Eduardo Campos consiga uma grande votação no Nordeste. Mais uma vez, as correntes eleitorais seguirão as ondas avolumadas pelas candidaturas estaduais. No CE, por exemplo, os irmãos Cid e Ciro Gomes, que devem entrar no PROS ou no PDT (cuja vantagem é a de estar estruturado no Estado), engrossarão a corrente da presidente Dilma, seja qual for o candidato que apoiarão ao governo do Estado. Eles dominam a política cearense. Como já salientei acima, a região nordestina é o paraíso dos votos do governismo Federal. Lula lá E Lula, hein ? Como será o palanque de Lula em sua terrinha, que é a mesma do governador Eduardo Campos ? Este consultor tem a impressão de que Lula apagará um bocado de votos que iria para a conta de Dudu Beleza. Que anda anunciando ter chegado a hora de "fazer diferente". A imagem de Hollande François Hollande, presidente da França, passou por uma grande mudança de imagem. Consultou o jornalista Claude Sérillon sobre como remodelar sua imagem. Este buscou o conselho de dois peritos. Três soluções foram apresentadas : vigiar sua linguagem (por exemplo, jamais dizer "eu creio"); cuidar da atitude corporal (por exemplo, dando atenção à preparação física e bebendo água em lugar de álcool); e atentar para a roupa (por exemplo, evitar o nó de gravata simples e a aparência negligenciada. Caráter "Aquele que domina a sua cólera, domina seu pior inimigo". Kung FuTse, Confucio "Aquele que não tem caráter não é um homem : é uma coisa". Nicolás-Sebastien Roch Chamfort "O talento se cultiva na solidão; o caráter se forma nas tempestuosas voltas do mundo". Johann Wolfgang von Goethe "O verdadeiro caráter sempre aparece nas grandes circunstâncias". Napoleão Bonaparte "Tentar modificar o caráter de um homem é como tentar ensinar a uma ovelha como se atirar de um carro". Georg C. Lichtenberg "A firmeza de caráter se traça através de uma regra de conduta". Guillermo Palau Conselho às oposições Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes, membros dos Poderes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos empresários. Hoje, dirige-se às oposições : 1. Oposição significa contraponto, alternativa, outra visão na política. Pressupõe, no caso dos partidos de oposição, a produção de um programa para o país, com estratégias de desenvolvimento no curto, médio e longo prazos. 2. Pouco adiantará expressar um discurso, pretensamente de oposição, com generalidades e adjetivos genéricos. Mudanças de estilos e avanços em programas implicam conteúdos densos em todos os campos : economia, política, social, cultural, gestão e administração, etc. 3. Ser de oposição significa ter coragem de enfrentar desafios, de não se submeter às pressões de grupamentos corporativos, ter independência para decidir e escolher as vias necessárias ao bem-estar da Nação.
quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Porandubas nº 372

Zé Quebra Panela Abro a coluna com um matutinho matreiro. Zé Quebra Panela era um sujeito comprido, zarolho e desdentado, mas portador de uma sagacidade e de incrível capacidade de enganar o semelhante. Andava bem vestido e calçava sapatos de duas cores. Vendia e comprava tudo, mas gostava mesmo era de negociar com fumo de rolo nas feiras. Zé achava que Deus vivia lhe chamando pra outra missão mais nobre do que envenenar os pulmões dos desgraçados que lhe compravam fumo. Meteu-se a fazer imagem de santo. Passou a viver nas caatingas, juntando troncos secos de imburana, com os quais fazia as imagens de feições grotescas. Um dia, na feira, comercializava os produtos, o fumo e as imagens de santos. Chegou uma velhinha com cara de rezadeira e perguntou : - Meu senhor, eu conheço um magote de santo, já "frequentei" muita novena, igreja, o diabo a quatro - Já paguei muita promessa, mas estou aqui "mei atrapaiada"; isto aqui é São José ou Santo Antônio ? Zé explicou : - Olhe, o santo se tiver com o menino no braço direito, é São José, se tiver no braço esquerdo, é Santo Antônio; agora se o bicho tiver um par de chifres, um rabo e um espeto comprido na mão, não chegue nem perto que isso aí é o satanás ! A velhinha se escafedeu. Outra vez, em uma de suas transações, um cabra mais sabido "empurrou-lhe" dois rolos de um fumo muito ruim que ele não conseguia vender de jeito nenhum. Um dia, botou tudo num saco e danou-se para a feira de Sertânia. Usou o marketing pessoal. - Óia, pessoá, quem comprar desse meu fumo agora, vai tudim pro Juazeiro comigo, eu levo tudim pra o Juazeiro do meu Padim Ciço ! Não demorou muito e lá se foram os dois rolos de fumo. Um pedaço aqui, outro ali, e vendeu aquela mercadoria de péssima qualidade. Até que chegou uma velhinha apressada : - Ô, meu senhor, adonde tá o caminhão mode nóis ir botando os troços em riba ? Zé, na bucha : - Que caminhão que nada, dona Maria, aonde foi que a senhora já viu pagar promessa de caminhão ? O meu "Padim" não gosta de caminhão chegando lá não ! Nóis vamo tudo é a pé. Promessa é promessa ! (Historinha de Zelito Nunes) Folhas soltas ao vento A imagem é esta : depois do terremoto, que abalou o edifício, destruindo paredes, despedaçando os andares, fazendo jorrar cimento e pedra por todos os lados, a paisagem deixa ver milhares de folhas saindo de gavetas escancaradas, dançando ao vento poluído de poeira e pousando lentamente sobre os entulhos das ruas. É o cenário nacional depois do tsunami de junho, que inundou as ruas das grandes e médias cidades com milhares de pessoas. Onde estão as massas ? Observando uns poucos que ainda ousam fazer ecoar seu grito. E por que não se motivam a voltar às ruas se os pleitos e demandas de junho continuam no ar ? Porque temem ser rechaçados por grupos radicais, cujos braços se voltam para a quebra de lojas e destruição de ambientes públicos. Os black blocs são a água que apaga as chamas da fogueira social. Portanto, propiciam o bumerangue. O Brasil se encolhe em silêncios. Infelizmente. Paisagens do amanhã Não é de todo improvável que as coisas voltem a acontecer na onda de manifestações calorosas e massivas. É possível que o animus animandi da população resgate a participação cívica, cuja inspiração maior era (e é) a de melhorar os padrões éticos, morais e elevados da política e exigir melhoria da qualidade dos serviços públicos, a partir dos sistemas de mobilidade urbana. Nas proximidades eleitorais, as chances de mobilizações pontuais ou mesmo abrangentes são maiores, em função da motivação para puxões de orelha e recados que o povo quer dar aos seus representantes. A conferir. O juiz de Bacon "O juiz deve preparar o caminho para uma justa sentença, como Deus costuma abrir o seu caminho elevando vales e abaixando montanhas; de maneira que, se aparecer, de um lado uma das partes, um braço poderoso, uma pressão violenta, astuciosas vantagens, combinações, poderes, grandes conselhos, nesse caso a virtude do juiz consiste em nivelar as desigualdades, para poder fundar a sua sentença num terreno plano". Francis Bacon, filósofo inglês, 1561/1626. Alguns juízes do Brasil 19 altos ministros do TST assinaram uma carta contra um PL, o 4.330, relativo à Terceirização. Sabíamos, até então, que o ofício do juiz é jus dicere e não jus dare, interpretar leis e não fazer leis nem dar leis. Juízes fazendo prejulgamento ? Meu Deus, que país é este ? As bases governista e oposicionista A base governista, formada pela pletora de partidos (cerca de 15), que dá apoio à administração comandada pela presidente Dilma, tende a ser menor. Calcula-se que partidos insatisfeitos com o acolhimento dado pelo governo deixarão a base situacionista para se integrar às bandas das oposições. Duas bandas. Teremos a banda das oposições tradicionais, formadas principalmente pelo PSDB e pelo DEM, e nova banda, esta a ser constituída pelos partidos que deixarão o situacionismo, a começar pelo PSB, com eventual participação de outras siglas. A incógnita fica por conta da Rede Sustentabilidade, de Marina Silva. Não se sabe se conseguirá formalização até 5/10. A aprovação do Solidariedade, do Paulinho da Força, e do PROS, Partido Republicano da Ordem Social, ontem pelo TSE, abre maiores chances para o partido de Marina. O affaire Campos Demorou, demorou, demorou, mas o governador pernambucano, Eduardo Campos, tomou a decisão : deixar a base governista. Entregou os cargos do PSB na administração. Lula ainda tentará um último esforço para segurar o ímpeto de Dudu Beleza. Vai ter mais uma conversa com ele. Por enquanto, pede que os petistas não entreguem os cargos nos governos comandados pelo PSB. Tentativa de por panos quentes. Mas o governador está sendo levado pela onda mais forte do seu partido para o lado da candidatura própria. E é evidente que, nesse caso, assumirá postura de oposição. Não se cogitaria de um candidato frapé, café com leite, nem lá, nem cá. Disputa eleitoral é guerra. A favor e contra. Estradas de PE Eis o que pincei de um vídeo que vi na internet sobre as estradas de PE : "A repórter Roberta Soares e o fotógrafo Guga Matos, guiados pelo motorista Reginaldo Araújo, pegaram a estrada durante 22 dias de viagem para constatar essa verdade e mostrá-la no especial multimídia Descaminhos. Rodaram 10 mil quilômetros, dos 12,5 mil que compõem a malha rodoviária pernambucana, a quarta maior do Nordeste. Pelas estradas, descobriu que são muitos os descaminhos de PE. Encontraram um Estado de rodovias ruins, as Federais e principalmente as estaduais. Um PE ainda sem inúmeras ligações, que em pleno século 21 deixa parte do seu povo isolado de tudo, dependendo exclusivamente da fé do nordestino, tão presente e conformadora no interior mais distante. No percurso, o JC passou por 100 das 142 rodovias estaduais e 11 das 13 estradas Federais existentes no Estado". Com a palavra, o governador Eduardo Campos. A resposta do Sindeepres O Sindicato dos Empregados em Empresas de Prestadoras de Serviços (Sindeepres), a maior entidade de trabalhadores terceirizados do país, em carta aos deputados, contesta pontos expressos por ministros do TST no PL 4.330. "São graves e infundadas, ainda que pareçam coerentes, as acusações dos ministros do TST que prevêem um quadro sombrio para os trabalhadores após a aprovação do PL 4.330, conhecido como lei de Proteção ao Trabalhador Terceirizado. São argumentos de quem fez uma leitura incompleta, apressada ou equivocada do PL. Eles partem de premissas erradas para construir um quadro dramático. Infelizmente não levam em conta a realidade atual do trabalhador terceirizado. E o péssimo ambiente econômico, de insegurança jurídica para empresas e trabalhadores, criado pelo atual conjunto de leis e regras, incluindo a súmula 331 do próprio TST". E passa a contestar ponto por ponto. Aécio em SP Geraldo Alckmin tentará puxar a caravana de Aécio Neves em SP. Assim como Beto Richa tentará fazer a mesma coisa no PR. O mais certo, porém, é apostar que MG dará a maior vantagem ao mineiro. Massa de votos nada desprezível. MG tem o segundo maior colégio eleitoral do país, cerca de 15 milhões de votos. Em SP, a campanha ainda terá certa polarização entre o PSDB e o PT, fenômeno antigo e em final de ciclo. 20 anos de tucanato é muita coisa. E o PT, por sua vez, contará com a rejeição da classe média paulista, a maior do país. Nessa classe, o PT nunca entrou de sola, principalmente nos densos colégios eleitorais do interior. Solas gastas A polarização entre tucanos e petistas não se guiará mais pelos caminhos do passado. Tende a ser atenuada face aos novos tempos. O eleitor parece trilhar a vereda aberta por Nietzsche : "novos caminhos sigo; uma nova fala me empolga. Não quer mais o meu espírito caminhar com solas gastas". Empresários em dúvidas Na Era Lula, o carismático líder era um imã. Atraía tudo e todos. Das massas periféricas à elite empresarial. Hoje, a elite empresarial é simpática a Eduardo Campos. Vê a presidente Dilma com certa desconfiança. E parece distante de Aécio Neves. Acham Marina uma flor no pântano. Cronograma pré-eleitoral Outubro - mês das novidades, migrações partidárias (caso se confirmem os novos partidos), camadas políticas revoltas; novembro - conversas para fechamento de alianças, combinações e primeiras apostas no amanhã; dezembro - recesso, férias, prospecção das bases, Brasil político se encontra com o Brasil real; janeiro - cura da ressaca do final de ano, reinício das negociações, pesquisas indicativas para mapeamento do quadro decisório; fevereiro - reinício das atividades congressuais, fechamento de acordos, primeiras grandes definições; março/abril - dois meses de preparação para a maior competição eleitoral da contemporaneidade. Maio/junho - convenções, acertos finais. As melhores leis ? Perguntaram a Sólon, um dos sete sábios da Grécia antiga, se havia produzido boas leis para os atenienses. Respondeu : "dei-lhes as melhores leis que podiam suportar". Perguntaram ao barão de Montesquieu, o grande formulador da teoria da separação dos poderes : que boas leis um país deve ter ? Respondeu : "quando vou a um país, não examino se há boas leis, mas se são executadas as que existem, pois há boas leis por toda a parte". Mensalão e eleição Não serão desastrosos os efeitos do mensalão sobre a eleição. Até lá, estarão metabolizados condimentos, temperos e produtos que, por anos e meses, frequentaram a mesa das conversas e debates. Cada ano com suas motivações. Operação BO+BA+CO+CA, essa, sim, continuará a ditar os rumos da política. Bolso, Barriga, Coração, Cabeça. Economia indo bem, estômago estará satisfeito; coração ficará agradecido e pede para a cabeça votar nos patrocinadores do bolso cheio. Dilma na ONU Como se esperava, Dilma fez duro discurso na ONU contra a espionagem. Um atentado à soberania. Um recado para Barack Obama no palco mais visível do mundo. Recado dado, recado ouvido. Bismarck Bismarck, o maior estadista alemão do século XIX, dizia que "nunca se mente tanto antes das eleições, durante uma guerra e depois de uma pescaria". Conselho aos empresários Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes, membros dos Poderes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado à presidente Dilma. Hoje, volta sua atenção aos empresários : 1. É muito comum ouvir o refrão de que o Brasil está em crise, os horizontes são sombrios e teremos um amanhã pior que o hoje. Tendência nacional a cantar hinos catastróficos. 2. Urge ter esperança e acreditar que o nosso país, com sua dimensão continental e berço de riquezas naturais, está circunscrita no mapa das potências do amanhã. Isso requer confiança em nossos potenciais. 3. Se mudanças se fazem necessárias - principalmente na frente política - ao empresariado cabe a missão de se posicionar na vanguarda desse processo, fazendo pressão, abrindo canais de articulação e participação. O papel cívico do empresário deve se somar ao papel do empreendedor.
quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Porandubas nº 371

Ladrões, cambada de ladrões Cabralzinho, líder estudantil em Campina Grande, foi passear em Sobral, no CE. Chegou em dia de comício. No palanque, longos cabelos brancos ao vento, o deputado Crisanto Moreira da Rocha, competente orador da província : - Ladrões ! A praça, apinhada de gente, levou o maior susto. - Ladrões ! Ladrões, porque vocês roubaram meu coração ! Cabralzinho voltou para Campina Grande, candidatou-se a vereador. No primeiro comício, lembrou-se de Sobral e do golpe de oratória do deputado, fechou a cara, olhou para os ouvintes com ar furioso : - Ladrões ! Ninguém se mexeu. Cabralzinho sabia que política em Campina Grande era briga de foice no escuro. Queria o impacto total. - Cambada de ladrões ! Foi uma loucura. A multidão avançou sobre o palanque. Pedra, pau, sapatos. O rosto sangrando, acuado, Cabralzinho implorava : - Espera que eu explico ! Eu explico ! Explicou. Ao médico, no hospital. (Historinha é narrada pelo insuperável Sebastião Nery) O dia D de decisão Hoje, é o dia D da decisão. A decisão do ministro Celso de Mello sobre o acolhimento ou não dos embargos infringentes. As mais simples projeções se juntam às mais estapafúrdias, a denotar a alma opiniática nacional. Por estas bandas, todos nós declamamos um verbo de opinião. Temos propensão a palpitar sobre coisas simples e complexas. Sendo assim, que todos escancarem sua expressão. Este consultor não se nega a fazê-la. Vamos lá. A começar pela observação de que Celso de Mello tem demonstrado ser o mais denso ministro do compartimento técnico do STF. Seria o juiz garantista por excelência. "Não há nenhuma grande árvore que o vento não tenha sacudido". (Provérbio hindu) Coerência Se Celso de Mello é garantista, certamente deverá manter coerência, acolhendo os embargos infringentes, ele que, em agosto de 2012, já se manifestara favorável a este expediente. Não teria argumento para, neste momento, contrariar sua própria tese. Seria malvisto na esfera jurídica. Essa é uma faceta da questão. Mas o ministro Celso foi, por outro lado, o mais contundente juiz do mensalão. Usou as expressões mais fortes, na esteira de uma locução indignada. Fez de público uma calorosa defesa da punição dos mensaleiros. Muito bem. Duas posições. Uma, deixando pequena janela para os processos de 12 condenados - os que obtiveram quatro votos a favor no julgamento de alguns crimes, como formação de quadrilha - reiniciarem o fluxo. Outra, comprometida com a condenação. O que pode ocorrer ? "Não é digno de saborear o mel aquele que se afasta da colméia com medo das picadelas das abelhas". (Shakespeare) Nem lá, nem cá Celso de Mello deu uma pista muito clara. Pediu para não se confundir acolhimento de embargo infringente, sob uma moldura técnica, com o acolhimento do conteúdo. Logo, a conclusão torna-se patente : vai acolher os embargos, mas mostra inclinação a não aceitá-los no caso em tela, mantendo, assim, as penas já dadas aos réus. Uma no cravo, outra na ferradura. E mais : tem-se a impressão de que o ministro, prestes a se aposentar, gostaria de sair do STF com as portas do mensalão fechadas. Pode combinar com Joaquim Barbosa um calendário de forma a votar o mérito dos embargos infringentes ainda este ano. Seria, então, o voto de maioria pela manutenção dos embargos infringentes e também das penas. Teria isso lógica ? Deixo a discussão com a esfera jurídica. Daqui a pouco, saberemos. A expressão, aqui, é a do analista. Cometi alguma barbaridade ? "O livro é um mudo que fala, um surdo que responde, um cego que guia, um morto que vive". (Padre Antônio Vieira) Catástrofe ? Digamos que Celso de Mello também diminua as penas de alguns condenados. Será uma catástrofe nacional, como muitos enxergam ? Será que o clamor popular por punição encherá novamente as ruas ? Este consultor lembra que nossa cultura - costumes, práticas, comportamentos - age como uma gangorra. A indignação sobe e desce, se agiganta e se amofina. Não há um continuum de visões. As borrascas vão amainando na mudança do tempo. O establishment tende a canibalizar as situações e, na sequência, os mecanismos de metabolização passam a funcionar, arrumando as camadas revoltas e apaziguando os espíritos. Não vejo condições de revolta popular. O povo vê seu país como um ente acomodado, paquidérmico, incapaz de promover grandes mudanças. As coisas caminham lentas. "Eu vivia reclamando porque não tinha sapatos, até o dia em que encontrei um homem sem pés". (Oscal Wilde) E Celso de Mello ? Aposentado, irá para sua calma Tatuí, usufruir a conversinha com os amigos e tomar café no Café Canção. Será cantado em prosa e verso. Não o vejo como um "inimigo do povo", como muitos desejariam cognominá-lo. Será sempre bem tratado pela esfera jurídica. Respeitado entre os pares. A conferir. "Prefiro os que me criticam porque me corrigem aos que me bajulam porque me corrompem". (Santo Agostinho) PSB, hora da definição Está chegando a hora da definição para o PSB. Sair do governo Dilma agora ou mais tarde ? O ministro da Integração, Fernando Bezerra, está tirando licença para tratamento de saúde. Dizem que pode não voltar. A presidente Dilma não gostou de ver Eduardo Campos abraçado a Aécio Neves, ambos sorridentes e faceiros, tratando de uma eventual parceria eleitoral no segundo turno. Queria tirar logo o PSB do governo. Mais uma vez, Lula agiu como bombeiro. Calma, Dilma, calma. Luiz Inácio, o pernambucano, irá ter mais uma conversa com o pernambucano Dudu Beleza. A hipótese de Lula é a de que, na próxima pesquisa, mantendo os mesmos 5% de intenção de voto obtidos na última, o governador de PE deixe a liça. Ele é importante na aliança. Mas Eduardo divisa a possibilidade de ir ao segundo turno. Geração pós-64 Certa alta noite, em conversa com este consultor em Comandatuba, na BA, Eduardo Campos confessava : "o meu sonho é reunir a turma pós-64 - Eu, Aécio, Ciro, Cid, Kassab, entre outros - e tomarmos as rédeas do país. O governador acalenta esta meta. "Devemos dizer ao povo o que ele precisa saber e não o que ele gostaria de saber". (John Kennedy) Terceirização no ponto Depois de anos de debates e foros, o tema da terceirização de serviços está no ponto para ser votado. O presidente da Câmara, Henrique Alves, quer levar o PL 4330 a plenário. As forças do progresso e da modernidade querem votá-lo. As forças do atraso e das benesses do passado querem arquivá-lo. O PL foi amplamente discutido nos mais plurais foros. Mas o PT e a CUT são contrários. O PT, neste caso, vem à reboque da CUT. Que só pensa em locupletar seus cofres. Como ? Obrigando as empresas a expandir as folhas salariais - com funcionários efetivos - para aumentar sua arrecadação. CUT quer os terceirizados Até os atuais terceirizados, que integram sindicatos de categorias especializadas, seriam despachados para as categorias representadas pela CUT. É o que essa Central defende quando exige que a representação sindical vá para a área do tomador de serviços e não para a área do prestador. Um terceirizado, por exemplo, na área bancária, seria bancário; no setor metalúrgico, seria metalúrgico. Deixaríamos de ter no país copeiras, atendentes de telemarketing, faxineiras, enfim, umas 50 categorias profissionais. Divisão no PT O PT não está pacificado. Suas alas disputam o poder de mando. Mas o dono da flauta continua dando o tom. O dono : Lula. Que reelegerá Rui Falcão. Partidos novos O Solidariedade, de Paulinho da Força, deverá surgir até 5/10. A Rede Sustentabilidade, de Marina Silva, periga naufragar antes de chegar à praia. E um tal de PROS - Partido Republicano da Ordem Social - deverá também ser criado. Será que esses dois ganharam mais assinaturas válidas que o partido de Marina ? Difícil de acreditar. Análise do governo Dilma O governo Dilma pode ser analisado sob o modelo de Carlos Matus, o cientista social chileno : Planejamento Estratégico Situacional (PES). Que abriga três cinturões : o político, o econômico e o dos problemas rotineiros. A gestão política não diz respeito apenas às formas de articulação com os políticos. Abrange fatores referentes à qualidade da democracia, aspectos como respeito aos direitos humanos, descentralização do poder, apego à ética, transparência, distribuição de renda, etc. Na banda negativa do balanço político, contabilizam-se situações como estilo autoritário, "democratismo" populista, permissividade para a corrupção, incúria administrativa, etc. Cinto político Algumas ênfases do governo : o resgate da memória das vítimas da ditadura, tarefa hoje a cargo das comissões da verdade; a defesa do ideário da liberdade de expressão, bandeira que emerge diante da postura do governo de não ceder às pressões de parcelas do PT para patrocinar projeto de controle dos meios de comunicação; abrangente programa de distribuição de renda, responsável pelo alargamento do meio da pirâmide social; fortes traços neopeleguistas presentes nos dutos que ligam centrais sindicais aos cofres do Estado. Ressalta-se, também, a faxina promovida no início do governo que veio a se mostrar, depois, capenga, haja vista a caudalosa corrente de recursos públicos que inundou os pântanos de ONGs, desvios que culminaram, nos últimos dias, com o esquema de fraudes no Ministério do Trabalho. Ainda na configuração política, registra-se a continuidade do pendor legiferante do Executivo, caracterizado pela multiplicação de MPs, ao lado da precária articulação com a esfera política, fator constante de atritos com o Poder Legislativo. Cinto econômico No cordão econômico, as estratégias se orientam para a preservação dos índices de emprego e da inflação, a par do equilíbrio da balança do comércio exterior, sofregamente preservado pela frente do agronegócio. No centro do debate, o foco aponta para o pífio resultado na planilha do crescimento econômico, eixo nevrálgico do ciclo dilmista, a par de uma carga tributária que beira os 37% do PIB. Cinto dos problemas cotidianos O terceiro cinturão, onde se localizam os buracos dos problemas cotidianos - particularmente nos setores de saúde, educação, mobilidade urbana, segurança, moradia, saneamento básico - é o responsável pela satisfação e/ou indignação das pessoas. Os serviços públicos funcionam como um termômetro a medir a temperatura social, como se pode aduzir dos movimentos que enchem as ruas do país, desde junho passado. Não por acaso, o governo se esforça para arrumar um símbolo, um fator de diferenciação, um projeto que venha se somar à força do Bolsa Família. O programa Mais Médicos, por exemplo, entraria nessa formatação e seus resultados começariam a jorrar nas margens eleitorais de 2014. Positivo, ajudaria a consolidar a posição da candidata à reeleição; negativo, teria efeito catastrófico sobre sua imagem. Resumo À promessa de que obras em curso serão entregues contrapõe-se a desconfiança de que os eventos da Copa Mundial enfrentarão estrangulamentos na frente da logística. Em suma, juntando os fatores alto emprego e baixa inflação (cinto econômico) com uma dor de cabeça apenas suave (cinto da agenda cotidiana), o governo ganharia fôlego para fazer a travessia. E a presidente evitaria a borrasca. A recíproca é verdadeira. Conselho à presidente Dilma Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes, membros dos Poderes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos parlamentares. Hoje, volta sua atenção para a presidente Dilma : 1. Vossa Excelência, ao desistir da viagem aos EUA, perde grande oportunidade para, testa a testa, cobrar do presidente Obama mais compromisso com a democracia. 2. Já imaginou uma entrevista coletiva na Casa Branca, dizendo que tratou com o presidente norte-americano de questões importantes para os sistemas democráticos, incluindo a espionagem ? Seria manchete mundial. 3. Vossa Excelência não deveria deixar de cumprir os compromissos internacionais, mesmo diante do flagrante atentado à soberania nacional e violação dos direitos individuais, cometidos pela Nação que mais se orgulha de praticar a democracia, os EUA.
quarta-feira, 11 de setembro de 2013

Porandubas nº 370

"Seu filho não passa" Abro a coluna com a cultura mineira. Em 1922, Noraldino Lima era diretor da Imprensa Oficial de MG. Jornalista e professor. Personalidade marcante na política mineira. Com audiência marcada, Noraldino recebe em seu gabinete um coronel, chefe político no interior de Minas, acompanhado de um rapazinho, e um pedido de emprego irrecusável : o aval do governador. Noraldino conversa com o filho do coronel, com o objetivo de verificar a capacidade intelectual do jovem. Terminado o vestibular, diz Noraldino : - Coronel, seu filho está colocado. Vai ser assistente no meu gabinete. Amanhã sai a nomeação no Minas Gerais. - Mái doto Norardino, tenta argumentar o coronel, o minino num tem preparo, só dá pra contíno... - Vai ser assistente de gabinete, coronel, insiste Noraldino. E antes que o coronel surgisse com outro argumento, Noraldino encerra a audiência : - Para contínuo, caro coronel, existe concurso... e no concurso, seu filho não passa. (Historinha contada por José Flávio Abelha em A Mineirice) Pessimistas x otimistas A cada dia, fica mais patente a querela entre pessimistas e otimistas. Os primeiros são adeptos da deterioração da economia brasileira e os segundos apostam no cavalo econômico sob cabresto, mesmo que este se esforce para se livrar da pressão. Os pessimistas crêem que a economia, às margens eleitorais de 2014, darão às oposições condições reais de entrar no segundo turno eleitoral e, naquele momento, se unirão para derrotar a candidata Dilma Rousseff. Os otimistas vêem o cenário menos perturbador, mesmo com inflação entre 6% e 7%. Se o bolso das margens sociais continuar garantindo a geladeira abastecida, a barriga cheia empurrará a satisfação para o coração. Que, agradecido, mandará a cabeça votar na presidente Dilma. 2º turno Analisemos os eventuais quatro candidatos, a partir da premissa de que Marina Silva conseguirá formar a sua Rede Sustentabilidade até 5/10. Teremos : Dilma, Marina, Aécio e Eduardo Campos. Sob esses quatro nomes, a possibilidade de a campanha entrar no segundo turno é bem viável, algo entre 50% a 60% numa medida de 100%. No segundo turno, o governismo conta com a vantagem de uso das estruturas : governos de situação, candidatos da base, espaços governativos que funcionam como feudos, cabos eleitorais. É o que se chama de máquina. As oposições terão também as suas estruturas, a partir de governos importantes, como os de SP e PR. Mas o situacionismo no Brasil é um rolo compressor maior. Chances Dilma continua sendo a favorita. Hoje, conta com 35% dos votos. Mas poderá subir nos próximos meses, na esteira de uma economia sob controle e continuidade da operação bolsa família. Marina é a grande incógnita. Hoje, com 25% dos votos, tenderia a crescer ? Vai depender do clima ambiental, a situação da economia, a indignação social, a maré dos movimentos. Ela é a que mais ganha com a perda de governantes inseridos no baú da velha política. Mas terá pequena visibilidade na campanha. E seus recursos financeiros, escassos, poderão afogá-la antes mesmo de chegar à praia. A depender dos ventos (suaves, fortes ?) da primavera de setembro de 2014. Já Aécio Neves tem dificuldade de encarnar o manto da novidade. A jovialidade do perfil não encobre a camada da matreira mineirice, extensão do conservadorismo. Eduardo Campos, mais que Aécio, tem potencial de crescimento. É possível, porém, que lhe falte apoio dos próprios correligionários do PSB, a partir dos irmãos Gomes, do CE. Por pouco Estas primeiras projeções, sujeitas a chuvas e trovoadas, jogariam o candidato no segundo turno a poucos metros da vitória. Ou seja, o quadro indica hoje uma disputa ferrenha. Uma eventual vitória da candidata à reeleição se daria por margem bem menor que a da primeira eleição. Uma união "Toda a vida (ainda das coisas que não têm vida) não é mais que uma união. Uma união de pedras é edifício : uma união de tábuas é navio : uma união de homens é exército. E sem essa união, tudo perde o nome e mais o ser. O edifício sem união é ruína : o navio sem união é naufrágio : o exército sem união é despojo. Até o homem (cuja vida consiste na união de alma e corpo) com união é homem, sem união é cadáver". Padre Antônio Vieira (1608-1697) E Serra, hein ? José Serra, é o que comenta nos últimos dias, teria decidido permanecer na floresta tucana. Tanto que se recusou a participar de eventos importantes do PPS, comandado pelo deputado Roberto Freira. José Serra é um perfil experiente. O mais experiente tucano, com exceção de Fernando Henrique. Saindo do PSDB, teria a imagem fragmentada. Seria uma saída sem brilho. Candidato à presidência, contaria com estruturas parcas e frágeis conjuntos eleitorais. Campanha é guerra. Sem arsenal, qualquer candidato morre logo no início da primeira batalha. José Serra deve levar em consideração seus potenciais, pontos fortes e pontos fracos. São Paulo, interior A esperança do governador Geraldo Alckmin, candidato à reeleição, é o interior de SP. O governador padece de um conjunto de problemas : 1. Não formou uma forte identidade, ao longo de seu tempo na política; 2. Não há um eixo forte na administração capaz de imprimir uma marca, um símbolo, uma ideia-força ao governo tucano; 3. O PSDB paulista sofre com o fenômeno desgaste de material. 20 anos de administração corroem a imagem. É inegável que o governador é um gentleman, educado, atencioso, bem-humorado, respeitador. Valores que o engrandecem como pessoa. Mas e as qualidades da gestão ? Quem consegue distinguir o eixo da administração geraldina ? Mais médicos É evidente que a administração Dilma, ao levar adiante o programa Mais Médicos, teve como inspiração as pesquisas. Nada se faz no governo sem a lupa sobre as ruas. O povão vai aprovar a estratégia de botar médicos nos fundões do país. E mais : esse poderá ser o algo mais que Dilma carecerá, no segundo semestre de 2014, para ganhar mais um diferencial sobre os outros candidatos. Eixo das oposições Qual será o eixo dos candidatos oposicionistas ? Uma visão nova na economia ? Um choque na infraestrutura ? Que estratégias para crescimento auto-sustentado defenderão ? Eis o dilema oposicionista. O país quer ver um projeto para a Nação. Um plano estratégico de desenvolvimento de longo prazo. Algo mais que fazer oposição por oposição, criticar por criticar. Campanhas precisam de discursos substantivos, não de paixões adjetivas. Faxineira é metalúrgica ? O projeto 4330 sobre terceirização é um avanço para o país. Que abriga cerca de 15 milhões de trabalhadores terceirizados e temporários na esteira das tendências internacionais. Esse contingente tem os mesmos direitos dos trabalhadores normais. E as empresas prestadoras de serviços, os mesmos deveres nas frentes de impostos, tributos e benefícios aos trabalhadores. O que empaca é a questão dos recursos. A CUT quer multiplicar seu cofre de Tio Patinhas. Como ? Fazendo com que uma copeira, um limpador, uma faxineira, uma cozinheira que trabalhem numa metalúrgica sejam considerados metalúrgicos. Representados pelo sindicato dos metalúrgicos. O cabo de aço do atraso Ou seja, a CUT quer que a representação sindical seja feita por um de seus sindicatos. Ora, o maior sindicato dos terceirizados é o Sindeepres, que reúne 280 mil filiados. Ligado à UGT. A CUT, com seus sindicalistas, e apoio de alguns (poucos) deputados petistas, também sindicalistas, ao lado de conhecidos assessores que trabalham na Secretaria do ministro Gilberto Carvalho, agem como cabos de aço para amarrar o Brasil à árvore do passado. Manjaram a questão ? Grana, pecúnia. Pior : há um grupo que ameaça deputados que não votarem conforme sua orientação. Esse é o pano de fundo da República sindicalista, que aufere milhões do Estado para fazer vingar um pérfido neo-peleguismo, ainda vivo e agindo nos bastidores. Renovação congressual É arriscado dizer, hoje, que a renovação do Congresso Nacional será muito elevada, ou seja, algo como 2/3. Pergunta básica : quantos parlamentares, entre os atuais 513 deputados, partirão para a reeleição ? Quantos candidatos a senadores sairão do atual conjunto de 81 ? Se não houver um número suficiente de perfis jovens e identificados com o eco das ruas, a composição congressual não passará por grandes renovações. O eleitorado terá de votar nas listas de que dispõem. E acabará votando em parcelas dos tradicionais perfis. A conferir. Bancadas corporativas Já a tendência de fortalecimento das bancadas corporativas é mais provável. A sociedade brasileira ganha, a cada dia, mais organicidade. Que se caracteriza pelo nucleamento de setores, grupos, alas. A crise da democracia representativa - e consequentemente o distanciamento entre o eleitor e sua representação política - propicia o adensamento dos grupos sociais. Daí a miríade de sindicatos, associações, federações, clubes, movimentos. Essas frentes constituem o aríete que faz pressão sobre as Casas Congressuais. Por isso, as bancadas que as representarão sairão fortalecidas em 2014. O novo, cadê o novo ? Haverá muita procura pelo Novo, pelo perfil que se identifique com o avanço. Os novidadeiros serão prestigiados. Vamos ver onde serão encontrados. Pros e Solidariedade Um tal de Partido Republicano da Ordem Social e o Partido Solidariedade, este de Paulinho da Força, deverão ser criados mesmo antes da Rede Sustentabilidade, de Marina. Significará fuga em massa de parlamentares de um partido para outro. Partidos que ameaçam ver parlamentares fugindo : PDT, PDS, PP, PTB e outros menores. Dúvida Gilberto Kassab será candidato a governador, a senador ou a deputado ? Trata-se de um dos mais hábeis articuladores políticos do país. A conferir. Foro São Paulo Informação de bastidor : a movimentação que tem tomado as ruas do país começou na esfera do Foro SP, espaço onde as esquerdas se refugiam para traçar suas estratégias. Diz-se que a ideia nasceu lá, animada pela visão de que o socialismo deveria ganhar as ruas sob o eco do povo. Mas o Foro perdeu o controle da situação. Os movimentos saíram de sua égide e patrocínio. Partidos políticos passaram a ser mal vistos. O Foro deu com os burros n'água. Estão pensando como rebobinar o fio do novelo. Embargos infringentes Se o STF aceitar julgar os embargos infringentes, a pizza da Alta Corte será motivo para aumentar o grito das ruas. Este consultor não aposta nessa hipótese. A conferir os passos do Supremo nesta semana. Petróleo de libra Se os americanos fizeram a espionagem sobre a Petrobras, é evidente que sabem tudo sobre o campo de petróleo de Libra. As empresas americanas vão participar do processo ? E se ganharem ? Serão carimbadas com a impressão de "cartas marcadas". O governo garante que não vai adiar esse leilão. Cada qual com seus segredos. Ou arremedos. Caças americanos Depois da espionagem voltada para os interesses econômicos e estratégicos, este consultor fica com a impressão de que a compra dos "caças americanos" pela Força Aérea subiu ao telhado. Os caças franceses e os suecos passaram a ter chances novamente ? Classe média Atentem para o conjunto das classes médias : 100 milhões de eleitores. Definirão o futuro do país. Solidariedade malandra Fecho a Coluna com mais uma historinha de Carlos Santos, em Só Rindo 2 : Candidato a vice-prefeito da também enfermeira Fafá Rosado em 2000, Galba Silveira (irmão do então deputado Francisco José) é conhecido por sua permanente verve. Caminhando num corpo a corpo em favela da cidade ao lado da candidata, ele é atalhado por uma senhora maltrapilha, olhos fundos, couro e osso, desfiando lamúrias : - Seu Galba, aqui a gente não tem nada. (...) Hoje ninguém comeu ainda. (...) Os bichinhos estão cheios de pereba e esse lamaçal não tem quem aguente... À espera de um alento ($) ou alguma panacéia para tantos sofrimentos, ela ganha a "solidariedade à miséria" do candidato de outra forma : - Como é que a senhora aguenta viver aqui ? Mulher, se mude. Conselho aos parlamentares Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes, membros dos Poderes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos governantes. Hoje, dedica sua atenção aos parlamentares : 1. Nas próximas semanas, deverá ser votado o PL 4330 sobre terceirização. Trata-se de lançar as bases das relações do trabalho do amanhã. Significa modernização e empregabilidade. Mas há forças retrógradas que lutam para amarrar o Brasil à árvore do passado. 2. Senhores deputados, tomem consciência dos aspectos inovadores, avançados que embasam o projeto 4330. E não se deixem levar por ameaças que, frequentemente, a CUT e outras forças fazem sobre o conjunto parlamentar. Chegou a hora de começar a fazer a reforma trabalhista. 3. Ao presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves, cabe não ceder às pressões de alas retrógradas que procuram semear o neo-peleguismo nas largas frentes das relações de trabalho no país.
quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Porandubas nº 369

As galochas, padre, as galochas ! Um padre da paróquia de Caratinga procurou, um dia, o renomado médico, dr. Edmundo Lima. Queixava-se de um prosaico, mas renitente resfriado. O médico constatou, de pronto, não se tratar de resfriado. A coriza não era nasal. O padre insistiu alegando haver pisado no chão do banheiro com os pés descalços. O doutor Edmundo, experiente, já havia feito o diagnóstico : uma baita blenorragia. O médico sentiu o drama do sacerdote. Receitou os remédios da época para curar blenorragia, com um conselho : - Olha, padre, quando o senhor for tomar banho não se esqueça de usar galochas. Elas são de borracha, garantidas, e não deixam passar a friagem que provoca essa coriza que lhe está atormentando. Padre, as galochas, viu ? - Ah ! Já ia me esquecendo : é bom que o senhor bispo não fique sabendo desse resfriado. Padre, todo cuidado é pouco ! (A historinha é do mineiro Zé Abelha). Crise de autoridade A onda de manifestações que tomou conta de ruas e praças de capitais e grandes cidades, nos últimos tempos, abre um amplo cenário que junta demandas gerais, reivindicações pontuais, gestos e atitudes que embasam as ações de grupamentos, setores e categorias profissionais. Tudo isso já foi suficientemente diagnosticado. Mas pouco se destacou sobre um fenômeno que tem marcado o atual ciclo político-institucional : a leniência e a incapacidade do poder do Estado para coibir os atos que culminam com a depredação de propriedades tanto na esfera privada quanto na esfera pública (prédios, lojas, sedes de governos, monumentos, etc). Essa evidência aponta para uma crise de autoridade. O vandalismo, na forma do poder invisível, desafia o poder visível, o poder formal, o poder do Estado. Medo de reagir As autoridades governativas, possivelmente receosas de voltarem a ser alvo de manifestações e intencionando vestir sua imagem com o manto da democracia, reagem de maneira tumultuada e errática, acabando por alavancar os tumultos. A quebradeira nas ruas tem sido responsável pela retirada tática de apoio que setores das classes médias ofereciam aos movimentos. O Brasil da bandalheira, com sua fotografia de depredação, começa a ocupar o lugar do Brasil cidadão, que foi às ruas para mostrar sua indignação contra o status quo. A moldura congressual Após um primeiro momento - quando parecia interpretar os ecos das ruas e a atender às demandas sociais - as casas congressuais voltam à rotina das agendas, na esteira de uma previsibilidade de interesses dos grandes partidos. O Senado, ao que se observa, está mais inclinado a ouvir os pleitos do Palácio do Planalto. A Câmara continua pautando temáticas importantes, mas a melhoria dos índices de avaliação da presidente Dilma tem contribuído para arrefecer os ânimos e a aplacar a insatisfação da base governista. Mudança de atitudes Ademais, a presidente tem mudado seu comportamento em relação aos congressistas. Dá sinais de que quer ouvir mais os pleitos; dá ordens para liberar emendas de parlamentares, dentro de critérios razoáveis; vai aos eventos que reúnem muitas pessoas em diversos Estados; ou seja, desenvolve uma liturgia política mais aberta e do gosto dos atores políticos. Lula, diz-se, tem atuado como guru da presidente, dando indicações, fazendo sugestões, apontando correções de rumo, enfim, usando sua experiência de raposa matreira para evitar tiroteios sobre o alvo principal do Planalto. Cenários - I Dilma continua sendo a favorita no pleito de 2014. E as razões começam pelo plano da economia. Não há indicações de que a economia saia dos trilhos a ponto de destroçar o trem das políticas sociais e prejudicar o ponto mais sensível do brasileiro : o bolso. As previsões apontam para dificuldades pontuais - um pontinho a mais na inflação, atrasos no cronograma de obras - mas não há previsão de catástrofe. Esse cenário, mesmo com um pouco de tumulto, não seria suficiente para derrubar o favoritismo da presidente em 2014. A economia norte-americana se recupera e volta a puxar massa estupenda de recursos. Não a ponto de inviabilizar o feijão com arroz brasileiro. Cenários - II A ameaça mais próxima da presidente tem o nome de Marina Silva. Que se identifica com a nova política. Mas a nossa Madre Teresa de Calcutá ou, se quiserem, nossa irmã Dulce teria muitas dificuldades de enfrentar uma guerra sangrenta. Não aceitará recursos de empresas; não fará parcerias importantes para eleger governadores, senadores, deputados Federais e estaduais; não teria espaço de mídia eleitoral capaz de garantir alta visibilidade e exposição de seu escopo. Sob essa teia de carências, pode-se deduzir que morrerá antes de chegar à praia. Claro, se puder contar com sua Rede Sustentabilidade, a ser criada até 5/10. Admitamos, porém, que Marina vá ao segundo turno e ganhe a eleição. Com sua ojeriza à velha política e descarte da estratégia de parcerias com os grandes partidos, a hipótese aponta para a impossibilidade de criar condições de governabilidade. Cenários - III Aécio Neves será o candidato das oposições. Mais precisamente, do PSDB. Porque o parceiro tradicional dos tucanos, o DEM, já admite que poderá vir a apoiar a eventual candidatura de Eduardo Campos, governador de PE. Aécio, ademais, tem dificuldades de produzir um discurso nacional. Critica por criticar, sem apresentar alternativas viáveis, uma proposta densa para o país. Por exemplo, sua crítica desta semana teve como foco o fato de Dilma ter discursado, numa cidade mineira, de costas para o busto de Tancredo Neves. Foi ovacionado pelos mineiros. Mas, aqui prá nós, esse detalhe está eivado de demagogia. E não contém substância. Perfumaria. Cenários - IV Eduardo Campos esteve duas vezes em SP na última semana, sempre em encontros com empresários de grande porte. Critica a presidente, destacando a sua falta de liderança. Entusiasma as platéias. Começa a comer pelas beiradas. Na visão deste consultor, tira mais votos das oposições do que votos de Dilma. Em vez de prejudicar a presidente, pode empurrar a campanha para o segundo turno. Nesse momento, se forem Marina ou Aécio os candidatos ao lado de Dilma, no segundo turno, é evidente que o governador de PE voltaria a fazer aliança com a presidente. Sob o aconchego de Lula. Cenários - V E Lula, em alguma hipótese poderia voltar a ser candidato ? Sim. No caso de um desastre na economia. Desastre, não um pequeno tombo. Lula seria instado a aceitar a tarefa. Mesmo contrariado. Até porque sabe que pegaria um país muito diferente do que aquele que governo nos oito anos de seus dois mandatos. A moldura internacional não favorece o país. A crise virá mais cedo ou mais tarde. Tudo se faz nesse momento para empurrar os efeitos de uma crise para 2015, depois das eleições. O fato é que o ciclo da polarização entre PT e PSDB está se esgotando. Se ainda conserva fôlego, é por falta de novas lideranças. Cenários - VI E José Serra ? Viverá seu crepúsculo se for candidato à presidente da República pelo PPS, de Roberto Freire. Terá votos, sim, mas não suficientes para entrar em um segundo turno ou ameaçar qualquer concorrente. Serra está no final de seu ciclo de vida político. Poderia ser candidato ao Senado, em SP, ou até a deputado Federal. Mas sua ambição olha mais alto. Diz-se, a boca pequena, que está com um pé no PPS. Que engordaria um pouco a bancada com Serra puxando a lista de candidatos do partido. Eu tenho um sonho Hoje, faz 50 anos do famoso discurso de Martin Luther King. Vale a pena lembrar o final. "Meu país, doce terra de liberdade, eu te canto. Terra onde meus pais morreram, terra do orgulho dos peregrinos, de qualquer lado da montanha, ouço o sino da liberdade!" E se a América é uma grande nação, isto tem que se tornar verdadeiro. E assim ouvirei o sino da liberdade no extraordinário topo da montanha de New Hampshire. Ouvirei o sino da liberdade nas poderosas montanhas de Nova York. Ouvirei o sino da liberdade nos engrandecidos Alleghenies da Pennsylvania. Ouvirei o sino da liberdade nas montanhas cobertas de neve Rockies do Colorado. Ouvirei o sino da liberdade nas ladeiras curvas da Califórnia. Mas não é só isso. Ouvirei o sino da liberdade na Montanha de Pedra da Geórgia. Ouvirei o sino da liberdade na Montanha de Vigilância do Tennessee. Ouvirei o sino da liberdade em todas as colinas do Mississipi. Em todas as montanhas, ouvirei o sino da liberdade. E quando isto acontecer, quando nós permitimos o sino da liberdade soar, quando nós deixarmos ele soar em toda moradia e todo vilarejo, em todo Estado e em toda cidade, nós poderemos acelerar aquele dia quando todas as crianças de Deus, homens pretos e homens brancos, judeus e gentios, protestantes e católicos, poderão unir mãos e cantar nas palavras do velho spiritual negro : "Livre afinal, livre afinal. Agradeço ao Deus todo-poderoso, nós somos livres afinal." 28 de agosto de 1963 Alckmin Geraldo Alckmin poderá ter a maior dificuldade de sua vida política. Alckmin é um dos mais sensíveis e humanos perfis da política. Uma pessoa boa, como se diz entre amigos. Mas não construiu uma identidade, entendida como um conjunto de conceitos, valores e princípios que formam a construção do perfil. É um tocador de obras ? Hum... É um governante voltado para a esfera social ? Hum... É um gerentão ? Hum... É um cara determinado, corajoso, zangado como Mário Covas ? Hum.. É uma pessoa boa. E tem fama de honesto. Mas a identidade, mesmo, deixa a desejar. Terá dificuldades. Padilha O candidato ao governo de SP deverá ser mesmo o ministro Alexandre Padilha. Envolvido em polêmica. O programa Mais Médicos poderá ser aplaudido pelos fundões do país, beneficiando Dilma, mas nos grandes centros, terá a oposição dos médicos brasileiros e suas entidades. Mas o PT, vale lembrar, tem seus 30% históricos em SP. Lula conhece bem essa demografia eleitoral. Pode crescer ? É possível. Mas o PT está puxando o último rolo de sua linha histórica. E se Haddad não estiver com boa imagem ? Vai puxar também Padilha para baixo. Skaf Paulo Skaf poderá ser a surpresa do pleito. Hoje, já agrega cerca de 20% dos votos, segundo a última pesquisa Datafolha. É um índice surpreendente. Trata-se do pré-candidato do PMDB, presidente da FIESP, um bom articulador e que se movimenta bastante. Corre de um lado para outro, fazendo inaugurações de escolas do SESI e SENAI, desenvolve uma agenda plena de contatos com bases. Um perfil arrojado. Pode ser o contraponto à cansada polarização entre PSDB e PT. Como candidato do PMDB, teria condições de reagrupar o partido em SP. Pezão e Lindbergh Será difícil ao PT e ao PMDB chegarem a um acordo no RJ. Cada qual sairá com seu candidato. Por parte do PT, o senador Lindbergh Farias já conta com o passaporte do partido. Por parte do PMDB, o candidato será o vice-governador Luiz Fernando Pezão. Pois bem, Sérgio Cabral, antes da movimentação das ruas, tinha chances de conduzir Pezão nas costas. Tornou-se o governador mais atingido pelo tiroteio. Será difícil a jornada. Lindbergh tem problemas antigos a resolver, desde os tempos em que foi prefeito de Nova Iguaçu. Denúncias de corrupção. Cada qual com seu calvário. Espelho de um corpo apaixonado O corpo apaixonado, dia após diaderrete no ventovira perfumevolteia evoca outros perfumeschega às camascobre os sonhos se evola voltaé como incensoseus poemas primeiros lembramo sofrimento de uma criança -perde-se olhando o redemoinho das pontes :como ficar nessas águas? Como sair ? Poema de Adonis, traduzido por Michel Sleiman Conselho aos governantes Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes, membros dos Poderes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos membros do STF. Hoje, volta sua atenção aos governantes : 1. Atentem para a quadra em que vive o país. Por todos os lados, clama-se por ordem, por autoridade. Façam cumprir a lei. Evitem que a desordem tome conta das ruas. 2. Urge coibir o vandalismo dos mascarados. Democracia implica liberdades de manifestação, associação, livre expressão, religiosa, etc. Mas nenhum cidadão tem o direito de colocar uma máscara e ocupar as ruas para praticar atos de depredação. 3. O exercício democrático pressupõe o respeito à ordem jurídica. Que impõe, por sua vez, a necessidade de garantia dos direitos individuais e coletivos, sempre na esteira da obediência aos princípios legais.
quarta-feira, 21 de agosto de 2013

Porandubas nº 368

A morada do doutor Abro a coluna com uma historinha do mestre Leonardo Mota. Quem entra no "Hotel Roma" de Alagoinhas, na BA, vai com os olhos a uma tabuleta agressiva em que peremptoriamente lê : Pagamento adiantado, hóspedes sem bagagens e conferencistas. Também, em PE, o proprietário do hotelzinho de Timbaúba é, com carradas de razão, um espírito prevenido contra conferencistas que correm terras. Notei que se tornou carrancudo comigo quando lhe disseram que eu era conferencista, a pior nação de gente que ele contava em meio à sua freguesia. Supunha o hoteleiro de Timbaúba que eu fosse doutor de doença ou doutor de questão. Por falar em Timbaúba, há ali um sobrado, em cuja parte térrea funciona uma loja de modas, liricamente denominada "A Noiva". O andar superior foi adaptado para residência de uma família. Eu não sabia de nada disso quando tendo indagado do Major Ulpiano Ventura onde residia o dr. Agrício Silva, juiz de Direito da comarca, recebi esta informação chocante : - O doutô Agriço ? O doutô Agriço está morando em riba d' "A Noiva"... Terceirização enviesada O projeto 4330, que tramita na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara Federal, foi completamente desestruturado. Virou uma bagunça. Voltado para a formalização do mercado de trabalho na esfera do trabalhador terceirizado, reivindicação do setor há cerca de três décadas, foi dissecado pela CUT, com o apoio do Governo, por meio de militantes cutistas infiltrados na máquina governamental. O projeto tem relatoria do deputado Arthur Maia (PMDB/BA), e é acompanhado por representantes do empresariado, da CUT e do governo. O empresariado, no caso, é representado pela CNI, que indicou o competente e renomado professor José Pastore, especialista em questões do trabalho. E, nas linhas de vanguarda e retaguarda, liderando o setor, duas destemidas lideranças : Vander Morales, pelo sindicato das empresas, e Genival Beserra, pelo sindicato dos trabalhadores. Destruindo o setor Pois bem, o projeto que CUT e Governo querem impor abriga duas posições que destroçam o esforço realizado pelas categorias terceirizadas nos últimos anos. A primeira : exclui o termo empresa para incluir, em seu lugar, pessoa jurídica, abrindo a possibilidade, como admite o próprio ministro Gilberto Carvalho, para que o trabalho terceirizado seja efetuado por cooperativas. A segunda posição : a representação sindical - as convenções coletivas - ocorrerá na esfera do tomador de serviços e não do prestador de serviços. Duas impropriedades. Uma punhalada na terceirização. Analisemos ambas. Cooperativas nessa área ? O sindicalismo cutista, que já domina todo o campo das relações do trabalho no Brasil, quer estender suas garras. Dominar a área da terceirização. Quer que as cooperativas - suas cooperativas - exerçam essas tarefas. As cooperativas são isentas de uma bateria de impostos e tributos. Quer dizer, saem empresas, entram cooperativas. O rombo na previdência social seria profundo. As empresas que trabalham com terceirização e mão de obra temporária empregam cerca de 10 milhões de trabalhadores. São obrigadas de maneira rigorosa a cumprir toda a legislação trabalhista. Sua contribuição para o Tesouro Nacional soma muitos bilhões. Pois bem, essa dinheirama sairia dos cofres do governo. Sob a égide de cooperativas improvisadas, sem especialização, sem história na área, sem conhecimento das práticas do mercado. O argumento ? Economia solidária Qual é o argumento do governo ? Viabilizar a tal de economia solidária, que é abençoada pelo professor Paul Singer, ele mesmo atuando na esfera do Ministério do Trabalho. O que é essa modalidade de Economia ? Seria uma forma de gerar trabalho e renda, criando novas demandas para a atuação sindical e, de certo modo, um enfrentamento direto ao capitalismo. Podem, até, alegar que não é isso. Mas, verdadeiramente, trata-se de uma manobra para restringir o mercado de trabalho. A cooperação, primeiro eixo dessa modalidade, implica propriedade coletiva de bens, partilha de resultados, responsabilidade solidária. Autogestão das redes de produção e dos processos de trabalho. Uma visão diametralmente oposta ao conceito moderno de gerenciamento. Autogestão sem quadros de especialistas é suicídio. A solidariedade dessa economia se volta para a distribuição equitativa dos resultados alcançados. Melhorar a vida dos participantes. E assegurar as condições ambientais. Blefe. A manobra é por dinheiro A outra posição enviesada do projeto 4330 diz respeito à representação sindical dos terceirizados. Que passaria a ser feita pelo sindicato que atua na esfera do tomador de serviços e não do prestador. Às claras : uma copeira que trabalha numa siderúrgica seria considerada não mais copeira, mas um quadro do setor siderúrgico, com salários estabelecidos pela convenção coletiva para os trabalhadores da empresa tomadora de serviços. Seria uma contrafação geral. Motoristas, faxineiros, seguranças, enfim, mais de 30 categorias terceirizadas seriam deslocadas para os grandes setores da economia. Ou seja, trata-se de uma estratégia da CUT, que domina os eixos mais fortes dos sistemas produtivos, para locupletar seus cofres. O sindicato dos trabalhadores terceirizados, hoje com 280 mil associados, seria destroçado. As categorias por ele representadas seriam redistribuídas para os núcleos dominados pela CUT e Força Sindical, as duas maiores Centrais. A fome com a vontade de comer Junte-se cooperativa sem experiência com a matreirice da CUT para se formar a equação : é a fome com a vontade de comer. É a improvisação se aliando aos oportunistas de plantão. Resumo da ópera : o projeto 4330, de autoria do deputado Sandro Mabel, que deveria por um fim à perseguição que o Ministério Público do Trabalho impõe às atividades terceirizadas, está se transformando na maior emboscada que se trama contra o setor nas últimas três décadas. Aprovada tal tramóia, todos os setores que trabalham com a terceirização, o Sindeprestem (sindicato das Empresas) e o Sindeepres (sindicato dos Trabalhadores), o Sinstal (sindicato das telecomunicações) - e mais aqueles que contam com leis próprias, como Conservação e Asseio (Seac) e Segurança Privada (Sesvesp) - estarão sob o crivo de cooperativas e sob a alçada das convenções coletivas realizadas no âmbito das tomadoras de serviços. O patrocínio do Governo Os comandantes desta insidiosa operação, segundo é sabido, estão no próprio Palácio do Planalto, sob a coordenação do ministro Gilberto Carvalho, a quem se subordinam as questões ligadas ao vetor trabalhista. Que pediu ao relator Arthur Maia para ajudar a tal da economia solidária do prof. Paul Singer. Os principais interlocutores da terceirização - sindicatos representando empresas e trabalhadores - acompanham atentamente a situação, denunciando a torpe manobra para jogar a terceirização sob a órbita da CUT. Meneghelli, fundador da CUT Agora, leiam estas declarações de Jair Meneguelli, presidente do SESI, ex-sindicalista, fundador da CUT, em entrevista a O Estado de São Paulo, na última segunda, 19/8/13 : "Virou profissão, das boas, ser um dirigente sindical... A CUT não pode ter caráter partidário, isso é crucial. Tive uma briga homérica com José Dirceu justamente por conta disso... a CUT perdeu o maior momento de sua história...As Centrais não estão mais captando e representando o pensamento e a vontade dos trabalhadores". O que dizer mais ? Depois desse veredicto do fundador da CUT, o quê mais dizer ? Nada ! Ou, se quiserem, um peremptório balançar negativo de cabeça. Churchill - frases "Eu não sou exigente, eu me contento com o que há de melhor." "Não existe opinião pública, existe apenas opinião publicada." "Estou sempre disposto a aprender, mas nem sempre gosto que me ensinem." "Um conciliador é alguém que alimenta um crocodilo, esperando ser devorado por último." "Eu gosto de porcos. Cães nos olham de baixo. Gatos nos olham de cima. Porcos nos tratam como iguais." Médicos estrangeiros nos EUA O Brasil quer implantar o programa Mais Médicos - com médicos estrangeiros - para ampliar a rede da saúde. O programa do Ministério da Saúde gera muita polêmica. Será o calcanhar de Aquiles do ministro Padilha, caso confirmada sua candidatura ao governo de SP em 2014. Apenas para ilustrar : nos EUA, médicos imigrantes trabalham como garçons ou taxistas. Milhares de médicos estrangeiros têm dificuldades para obter licença de atuação, apesar de faltarem médicos em muitas partes do país. O processo de admissão pode levar 10 anos. Precisam provar que sabem inglês, passar por três etapas distintas do Exame de Licenciamento Médico, obter cartas de recomendação americanas, trabalhar como voluntários ou não em hospital, clínicas ou organização de pesquisas e ser residente permanente ou obter visto de trabalho. Pesquisas Nos próximos dias, teremos nova rodada de pesquisas para o governo do Estado de SP, com o carimbo Datafolha. Perguntas : Geraldo Alckmin caiu ? Como estará a posição de Paulo Skaf, que está em segundo lugar, com 20% dos votos ? E o eventual candidato do PT, Alexandre Padilha ? Dilma em nova roupagem A presidente Dilma mudou de atitudes. Conversa a torto e a direito com representantes e lideranças do Parlamento. Libera verbas de emendas parlamentares. Vai a capitais e a grandes cidades. Resgatou cinco pontos na popularidade. Mas, segundo se infere, jamais alcançará o topo de 65% de avaliação positiva, que era a marca de meses atrás. Lula mais precavido À boca pequena, comenta-se que Luiz Inácio Lula da Silva age com precaução. Ouve muito, conversa, articula. Seu sonho maior, além da reeleição de Dilma, é tomar o governo dos tucanos em SP. Nessa direção, poderia desistir de uma candidatura do PT, em SP, para apoiar o candidato de outro partido ? Difícil. O PT quer fazer uma grande bancada. E a candidatura do governo é fundamental. Serra no PPS ? Fonte fidedigna garante que José Serra está pensando seriamente em sair do PSDB e ingressar no PPS. Acha que voltou a ter chances no jogo eleitoral de 2014. Marina vai conseguir ? Marina Silva fez a última jogada : pediu apoio à cúpula do TSE para agilizar a instalação de sua Rede Sustentabilidade. Conseguiu oficializar 250 mil assinaturas. Seu grupo garante ter entregue 830 mil assinaturas, 70% a mais do necessário. Na régua de 0 a 100, a probabilidade de abrir o partido até outubro é, hoje, de 60%. Frases de Churchill "Quando eu era jovem, estabeleci uma regra de nunca beber um drink antes do almoço. Agora, minha regra é nunca beber um drink antes do café-da-manhã." "Comer minhas próprias palavras nunca me deu indigestão". "Quando era subalterno na guerra da África do Sul, a água não era apropriada para beber. Para torná-la palatável, tínhamos que colocar whisky. Através de um esforço diligente, aprendi a gostar disso". Silêncio geral Fecho a coluna com uma historinha da Paraíba. Flávio Ribeiro, presidente da Assembléia da Paraíba (depois foi governador do Estado), estava irritado com as galerias, que aplaudiam e vaiavam durante um debate entre o deputado comunista Santa Cruz e o udenista Praxedes Pitanga. De repente, tocou a campainha, pediu silêncio e avisou, grave : - Se as galerias continuarem a se manifestar, eu evacuo. As galerias, ufa, se calaram. Conselho aos membros do STF Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes, membros dos Poderes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado às Entidades Sociais. Hoje, volta sua atenção aos membros do STF : 1. A Suprema Corte volta a chamar a atenção sobre suas decisões. O processo do mensalão é retomado sob intensa atenção social e clima de expectativas envolvendo o presidente da Corte, Joaquim Barbosa, e o ministro Ricardo Lewandowski. 2. O bom senso sugere que Sua Excelência, o presidente Barbosa, deve pedir desculpas públicas ao ministro Lewandowski, por tê-lo chamado de chicaneiro. Não combina a imagem do chefe da mais Alta Corte Judiciária com o uso desse termo para designar um colega. Os componentes do STF devem se esforçar para harmonizar o ambiente. 3. O ministro Lewandowski, por sua vez, em caso de retratação, deveria receber o gesto humildemente. E mostrar que seu compromisso é com a Justiça. Evitando interpretações que estaria tentando atenuar a pena de alguns condenados.
quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Porandubas nº 367

Cancelando chuvas Abro a coluna de hoje com duas historinhas da PB, terra de políticos, cantadores e poetas. Seca medonha. A PB em desespero, o governador José Américo, aflito. Um dia, caiu uma chuva fininha no município de Monteiro. Inácio Feitosa, o prefeito, querendo fazer bonito, correu ao telégrafo : "Governador : chuvas torrenciais cobriram todo município de Monteiro. População exultante. Saudações, Feitosa". Os comerciantes da cidade, quando souberam do telegrama, ficaram desesperados. O município não ia mais receber ajuda. Ainda mais porque a mensagem era falsa e apressada. Uma chuvinha fina, não torrencial. Feitosa correu de novo ao telégrafo : "Governador José Américo : cancelo chuvas. População continua aflita e esperando adjutório. Feitosa, prefeito". Sinceridade e sagacidade Zé Cavalcanti, ex-deputado paraibano, conta em seu livro "A Política e os Políticos", que um coronel do sertão, ao passar o comando de seus domínios para o filho, deu o conselho : - Meu rapaz, se queres ser bem sucedido na política, cultiva estas duas verdades : a sinceridade e a sagacidade. - E o que é sinceridade, meu pai ? - É manter a palavra empenhada, custe o que custar. - E o que vem a ser sagacidade ? - É nunca empenhar a palavra, custe o que custar. Dilma se levanta Depois de ligeira (?) queda, a presidente Dilma se levanta. A interrogação é proposital. A queda foi ligeira ou demorada ? Ligeira. Recuperar cinco pontos um mês após as grandes mobilizações é um feito. Até porque a indignação social continua intensa. Como previmos, as manifestações continuam e terão sequência na esteira de questões pontuais, circunscritas a regiões e bairros de grandes cidades. Mas um sopro de otimismo volta a bafejar os corações. Inflação no mês de junho foi baixa e animação de bolsos mais cheios é suficiente para botar mais confiança no bornal da presidente. O que a confiança aumentada gerará ? Veja abaixo. Cautela É evidente que o principal efeito do resgate de confiança se dará na frente política. Os políticos, com a presidente no buraco da credibilidade, tendem a retirar o apoio, significando derrotas no Parlamento. Mas a volta da popularidade ainda não se deu nos índices históricos. Por isso, a área política dá meio passo adiante, não um passo completo. Caso a presidente consiga repor mais pontos em seu arsenal, ganhará mais apoio. E assim será a andança daqui por diante. O fato é que o custo político tende a encarecer nas margens eleitorais. Quanto mais próximo o pleito, mais caro ficará o apoio. Barão de Itararé "Viúva rica, com um olho chora e com o outro se explica". Caranguejo Pode-se, ainda, distinguir o passo do caranguejo : dois pra frente, um pra trás, um para o lado. Ou seja, não haverá firmeza no trajeto. A não ser que a presidente recupere logo, logo, seu vetor de força. Difícil, como sabemos. Tudo vai depender do desempenho da economia. Que é a locomotiva do trem. Puxa os carros. Dilma continua sendo a favorita. Não há previsão de derrocada econômica. Tampouco se prevê crescimento extraordinário. Coisa pequena. Mas, se a equação BO+BA+CO+CA (Bolso, Barriga, Coração, Cabeça) for mantida, a presidente estará na frente do carro eleitoral. Barão de Itararé "Dize-me com quem andas e eu te direi se vou contigo". Tiroteio recíproco Tucanos e petistas promovem uma caçada recíproca. Os tucanos continuam atirando no mensalão, alvo de sua predileção. Os petistas agora elegem o que chamam de "trensalão", o affaire dos trens. Dessa contenda, este consultor faz a ilação : a polarização entre PT e PSDB tende a ser atenuada. Não acabará, mas será menor. Daí a chance de uma candidatura que entre no meio dos dois : a de Paulo Skaf, por exemplo, pelo PMDB. Alckmin tende a ser alvo contínuo, até o processo eleitoral; e o ministro Alexandre Padilha, que foi lançado pré-candidato, semana passada, em Bauru, não tem coisas positivas para mostrar. Ao contrário, seu nome está por trás de projetos polêmicos, como o da importação de médicos. Polarização cansou O eleitor está saturado de velhas querelas. O PSDB e o PT vêm se enfrentando há três décadas. Os petistas conseguiram fincar estacas mais profundas na capital paulistana e os tucanos fundaram seus alicerces mais no interior do Estado. 20 anos de tucanato chegam a cansar. O mesmo ocorre com o PT velho de lutas. Esse partido mudou muito em sua trajetória. Tornou-se assemelhado aos partidos do centro democrático. Na teoria, aceita programas revolucionários; na prática, age como os outros. Por isso, os entes partidários são tão assemelhados, com exceção dos pequenos partidos das margens ideológicas. Barão de Itararé "Pobre, quando mete a mão no bolso, só tira os cinco dedos". Racionalidade - 1 Que consequências o novo cenário político-institucional poderá produzir ao país ? Sob a esfera dos costumes e das práticas políticas, as perspectivas são promissoras. Estacas morais foram e continuam sendo cravadas no solo esburacado da política pelos braços dos movimentos que tomam as ruas das cidades em todos os quadrantes nacionais. A nova ordem que se esboça passa a abrigar um alentado acervo de princípios e valores, que, mais cedo ou mais tarde, balizarão as imprescindíveis reformas no edifício político, a começar pelo alargamento dos tijolos da racionalidade. Racionalidade - 2 A maioria do eleitorado habitou por décadas as bases da pirâmide, constituindo, em função de precárias condições de vida, massa de manobra dos quadros políticos. Seu processo decisório ancora-se na emoção, que transparece em votos de agradecimento por benesses e bolsas recebidas, no adjutório esporádico que os políticos pulverizam a torto e a direito, usando migalhas do poder como forma de cooptação. Essa obsoleta modelagem está com os dias contados. O meio da pirâmide já soma 53%, cerca de 104 milhões de pessoas, quando, há 10 anos, somente 38% habitavam este espaço. É evidente que a absorção de valores não ocorre de maneira abrupta, mas é fato que critérios racionais começam a substituir os emotivos no processo de escolha de representantes e monitoramento de governantes. Verdade, sem lantejoulas Ruas são ocupadas por grupos e categorias profissionais, contidas em seus limites, defendendo interesses corporativos, diferenciando-se pela especialização. Bem diferentes das massas abertas do passado. A racionalidade, por sua vez, implica compromisso com a verdade, descortinando uma geração de perfis políticos desprovidos de lantejoulas e brilhos. A auto-glorificação, que fundamenta o marketing das performances pessoais e ocupa praticamente todos os espaços das mídias eleitorais, deverá ser doravante recebido com apupos por ouvintes de todas as classes. Em contraponto, ganharão destaque debates no campo das ideias, proporcionando condições de enxergar as diferenças de estilo entre atuais representantes e futuros competidores. Democracia direta O plano da semântica suplantará o terreno da estética, no fluxo das correntes de opinião que despejam torrentes de informação pela gigantesca rede social. Aduz-se, ainda, na onda da efervescência social, o adensamento de uma locução com origem nos mais diferentes estratos, a atestar a multiplicação de novos pólos de poder e irradiação de influência. Sendo assim, os Poderes da República - Executivo, Legislativo e Judiciário - terão de conviver com as forças centrípetas, sendo razoável imaginar que o movimento das margens em direção ao centro acabarão reforçando o instrumental a serviço da democracia direta - consulta popular, plebiscito e referendo. Sob essa perspectiva, também é razoável prever mais agilidade nos processos de adesão a projetos de iniciativa popular, tendo como correia de transmissão a bateria de meios da internet. Conquistar o povo O conglomerado público está pasmo. Os atores contemplam a plateia sem saber se receberão aplausos ou vaias ao final da peça. Treinam posturas recatadas, temem enfrentar auditórios lotados, eliminam desfiles exuberantes. Os governantes, a partir da presidente da República, tentam voltar aos braços do povo. E produzir uma agenda positiva, recheada de ações capazes de reconquistar contingentes indignados. A foto do governador do CE, Cid Gomes, sentado no meio fio, alta noite, com um megafone falando para um grupo acampado numa rua, retrata a estética do novo cenário. Nem sempre, porém, reconhecer erros ou adotar postura humilde geram resultados. É o caso do governador Sérgio Cabral, que continua ouvindo o eco das ruas. O fato é que o dique de contenção das pressões sociais foi rompido. Lula sarado Pois é, fofoqueiros estão avisados pelos médicos : Lula está sarado. Câncer desapareceu. Tudo isso para dizer que Luiz Inácio subirá com força ao palanque de Dilma. Não haverá Volta, Lula. Mesmo com ele 100% bem disposto. Tirar Dilma significaria que seu governo falhou. Marina Marina Silva vai ter de se desdobrar para fundar, até 3/10, o Rede Sustentabilidade. Já apresentou 500 mil assinaturas, mas apenas 190 mil foram reconhecidas. Vai apresentar mais 200 mil aos cartórios, que andam lerdos. Marina, na visão deste consultor, tira mais votos das oposições do que da Dilma. Daí ser uma candidata que convém ao governismo. Obteve 26% na última pesquisa Datafolha. Serra candidato José Serra só pensa naquilo : a candidatura em 2014. Para presidente. Pelo PPS. PSDB fechou questão com Aécio. Mas Aécio está em queda. Os serristas começam a defender prévias no partido. Serra teve 14% e 15% em dois cenários na pesquisa Datafolha para presidente, número que supera os 13% de Aécio. Ofereceram a ele a chance de disputar o Senado. Recusa. Deputado ? Nem pensar. Serra aposta na derrocada da economia. Com mais candidatos e economia no buraco, oposições teriam alguma chance no segundo turno. O coice Sócrates, o sábio, caminhava tranquilo quando um atrevido descomedido lhe deu um coice. Estranharam alguns a paciência do filósofo, que foi logo perguntando : - Pois o que hei de fazer, depois desse coice que recebi ? Responderam : - Levá-lo a juízo pelo ato vil. Replicou Sócrates : - Se ele com seu coice confessa ser jumento, quereis que eu leve um jumento a juízo? Conselho às organizações sociais Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes, membros dos Poderes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado à presidente Dilma. Hoje, volta sua atenção às Entidades Sociais. 1. O momento é propício para as entidades que promovem a intermediação social consolidar sua identidade, tarefa que implica patrocinar causas legítimas dos núcleos e setores que defendem. 2. Urge clarificar demandas e escolher, no Parlamento, interlocutores que possam dar vazão a elas, comprometendo-se com sua defesa junto aos conjuntos parlamentares. 3. Impõe-se uma intensa agenda de articulação com entidades congêneres, na esteira de fortalecimento de parcerias e integração de propósitos na defesa de categorias, setores, gêneros, núcleos e movimentos sociais.
quarta-feira, 31 de julho de 2013

Porandubas nº 366

"Oi, nós, hein, falano ingrês" Brejo das Freiras é uma Estância Termal nos confins da Paraíba, perto de Uiraúna e Souza. Trata-se de um lugar para relaxamento e repouso. O governo da PB tinha (não sei se ainda tem) um hotel, com uma estrutura para banhos em águas quentes. Década de 70. Apolônio, o garçom, velho conhecido dos fregueses da região, recebe, certo dia, um hóspede de outras plagas. Pessoa desconhecida. Lá pelas tantas, quase terminando a refeição, o senhor levanta a mão, chama Apolônio e pede : - Meu caro, quero H2O. Susto e surpresa. Anos e anos de serviços ali no restaurante e ninguém, até aquele momento, havia pedido aquilo. Que diabo seria H2O ? Apolônio, solícito : - Pois não, um instante ! Aflito, correu na direção da única pessoa que, no hotel, poderia adivinhar o pedido do hóspede. Tratava-se de Luiz Edilson Estrela, apelidado de Boréu (por causa dos olhos grandes de caboré), contumaz boêmio, acostumado aos salamaleques da vida. - Boréu, tem um senhor ali pedindo H2O. Que diabo é isso ? Desconfiado, pego sem jeito, Boréu coça o queixo, olha pro alto, tenta se lembrar de algo parecido com a fonética. Desanimado, manda ver : - Apolônio, sei não. Consulte o Freitas. Freitas era o diretor do Grupo Escolar, o respeitado intelectual da região. Localizado, o professor tirou a dúvida no ato : - H2O é água, seus imbecis. Quer dizer água. Apressado, Apolônio levou ao freguês uma jarra do líquido. Depois, no corredor, glosando o feito, gritou em direção a Boréu : - Ah, ah, ah, esse sujeito achava que nós não sabia ingrês. Lascou-se ! A passagem de Francisco O papa Francisco fez história no Brasil. Sua passagem de uma semana nesses trópicos ficará marcada no calendário da Igreja Católica, no coração dos jovens e de milhões de brasileiras e brasileiros de todos os espaços e profissões, e, também na cabeça dos políticos. O pontífice, com sua simplicidade, encantou a todos. E abriu uma locução muito fértil, que certamente ficou gravada nos sistemas cognitivos. Pregou uma igreja mais despojada do fausto e da burocracia; uma igreja capaz de sair da casca onde se abriga para ir ao encontro dos pobres e marginalizados. Abençoou multidões. Beijou criancinhas. Não esmoreceu um minuto. O papa até pareceu o milagre que um país devastado pelo desencanto ganhou. Puxão de orelhas O papa deu um puxão de orelhas - por mais que tenha sido suave, como se apresenta - na igreja burocrática, que se afastou das periferias, e nos políticos. Incitou os padres e bispos a reencontrarem o caminho das ovelhas perdidas. Fez uma bela peroração nessa direção. E condenou a corrupção, a ambição pelo dinheiro, a vida escravizada pelo consumismo desvairado. Puxou a orelha dos atores da velha política, incitando-os a abrir espaço aos jovens. Foi bem claro : "a nossa geração se demonstrará à altura da promessa contida em cada jovem quando souber abrir-lhe espaço". Um recado adequado no momento oportuno para a platéia certa. Cabral e a humildade Sérgio Cabral, o governador que recebe o maior tiroteio das ruas, mostra-se, agora, humilde. Diz que aprendeu lições de humildade com o Papa Francisco. Viva. Os jovens Ao lembrar que a juventude é a "janela pela qual o futuro entra no mundo", no discurso que abriu sua agenda no país, o Papa Francisco quis ressaltar o motivo de sua peregrinação - presença na Jornada Mundial da Juventude - e também alertar os políticos que aos jovens devem ser dadas condições para exercer de maneira condigna seu papel na sociedade. A população jovem brasileira soma 51 milhões de pessoas - 10 milhões entre 15 a 17 anos, 23,1 milhões entre 18 a 24 anos e 17,5 milhões entre 25 a 29 anos - sendo, nos últimos tempos, o motor da mobilização social nas grandes e médias cidades do país. Como agrupamento mais descontente com a classe política, desfralda o simbolismo citado pelo carismático pontífice para fustigar as fortalezas do poder e, à sua maneira, aplainar os caminhos de um amanhã que se lhe apresenta sombrio, uma existência que ameaça ser mais sofrida que a de seus pais. Meus limites "Os limites da minha linguagem denotam os limites do meu mundo". Wittgenstein. Proximidade A peroração com a qual explicou a perda de fiéis da Igreja Católica enfatizou o distanciamento entre ela e o povo. Contou casos que revelaram a razão pela qual parcela dos católicos migrou para as igrejas evangélicas. Pois bem, esse distanciamento também ocorre na esfera da política. Os representantes se distanciam a olhos vistos dos representados, o que contribui para explicar a intensa movimentação que se vê na sociedade, principalmente dos jovens, que se afastam da esfera política por conta das formas tradicionais de representação, o modus operandi dos atores, as ações e atitudes escandalosas que sujam a imagem dos representantes nas instâncias federativas. Horizontes mais claros Os sinais dados pelo Papa jesuíta abrirão novos horizontes. Veremos um país mais corajoso e rebelde. Ele próprio convidou os jovens a serem revolucionários, audazes, rebeldes. Uma espécie de endosso aos jovens nas ruas. As manifestações deverão continuar. Setoriais e pontuais. Os grupamentos descobriram que podem mudar o rumo das coisas. Por isso mesmo, as pressões de lá para cá, das margens para o centro da política, serão mais intensas. Os horizontes serão mais claros. A transparência, maior. A vigilância, mais acesa. Ninguém estará imune ao bombardeio das ruas e ao tiroteio midiático. Entender o jovem Se a política não descobrir quem é esse jovem que vai às ruas e as razões que o movem será enterrada. Aliás, esse processo já se iniciou. Entender o jovem exige, primeiro, inseri-lo no quadro de transformações ocorridas nas últimas décadas. Karl Popper e Konrad Lorenz constatam, em sua obra "O Futuro Está Aberto", a existência de um abrangente processo de massificação na sociedade, caracterizado, sobretudo, pela perda de valores. O fim da Guerra Fria desfez as clássicas divisões ideológicas. Os países romperam fronteiras, integrando-se aos mercados globais e acompanhando a evolução tecnológica. O capital físico, variável-mor do crescimento econômico, cedeu lugar ao capital humano, caracterizado pelo conjunto de capacitações que as pessoas ganham por meio da educação, do treinamento e da experiência para desempenhar suas atividades com competência. Essa é a nova ordem que instiga os jovens. Pragmatismo Quando falta a matéria prima deste novo ciclo - que caracteriza a Sociedade da Informação e do Conhecimento - a frustração se estabelece. Da frustração para a revolta, o passo é curto, a rebeldia se impõe. Não estão os jovens preocupados com ideologia, direita ou esquerda. Pode ser que, em um ou outro país, o fundamentalismo de cunho religioso seja o leit motiv das mobilizações. Por aqui, o pragmatismo abre alas. Nossos jovens não vivenciaram os anos de chumbo. Apenas uns poucos ouviram de seus pais os ecos dolorosos do passado. A preocupação que os move agrega coisas como educação, emprego, melhoria dos serviços públicos. Reivindicam condições para competir em um mercado cada vez mais exigente. Se nossa geração não souber abrir espaço para a juventude, a janela do futuro ficará fechada. Abram ouvidos, políticos e dirigentes, à profecia do Papa Francisco. Agosto, mês do cachorro louco Agosto se abre com perspectivas sombrias. Lá para meados do mês, aguardam-se ações congressuais em resposta aos vetos da presidente Dilma. Hoje, a aposta é a de que alguns vetos presidenciais a matérias aprovadas pelo Congresso serão derrubados : o veto ao dispositivo da lei que permitia a transferência por herança da autorização para exploração de serviço de táxi; e o veto ao projeto de lei que previa a extinção da multa rescisória de 10% sobre o saldo do FGTS paga pelos empregadores nas demissões sem justa causa. A presidente sancionou, com um veto, a lei que estabelece novas regras para o rateio do FPE (Fundo de Participação dos Estados). O projeto foi aprovado pelo Senado no fim de junho. E deverá vetar outros projetos como a destinação dos royalties do petróleo para a educação e saúde e o que cria a aposentadoria especial para garçons. Acirramento Com a derrubada dos vetos, a tendência é de acirramento mais forte entre governo e base aliada. As relações entre PMDB e PT são tensas. Sobraria a Dilma a alternativa de se "vitimizar", jogando sobre o Congresso a culpa pelo atraso, pela inércia, pela inação. Mas é preciso ter em mente que a "vitimização" só daria resultado caso a presidente tivesse boa acolhida popular. Já teve. Hoje, está embaixo no ranking do prestigio. A imagem do governo está esgarçada. Sua identidade era a de gerente, um perfil que exprimia comando, controle, organização. Quebrou-se. A administração não mostra coisas novas. Patina. O clima é de desorganização, bagunça, interrogações, querelas até entre alas do PT, uma querendo mudança na economia, outra defendendo o status quo. MD fracassa A fusão entre PMN e PPS, para formar a MD (Mobilização Democrática) fracassou. A nova sigla era articulada pelo deputado Roberto Freire (PPS/SP) e poderia abrigar a candidatura de José Serra à presidência em 2014. Alckmin O governador Geraldo Alckmin, ao que se comenta, gostaria de ter em SP dois palanques, um do Aécio, outro do Serra. Juntos, ajudariam sua campanha. Marina e as chances Marina Silva é a pré-candidata que mais se beneficia com a agitação das ruas. Mas uma campanha presidencial precisa de muita coisa : bala para entrar na guerra (recursos), tempo de exposição na mídia eleitoral, um discurso denso sobre o país e apoios de partidos. Se Marina, por uma dessas curvas da política, chegasse ao pódio do poder central, teria condições de governar ? Suas proposições são poéticas e sonháticas. O Brasil real é outra coisa. "Lula nunca saiu" Ao dizer que não há sentido no movimento "Volta, Lula", porque este nunca saiu, a presidente Dilma não apenas quis dizer que eles são indissociáveis mas devem repartir tudo : acertos e erros. Ou seja, se Lula voltar no lugar dela, isso é uma prova de que ambos fracassaram. Esta é a leitura deste consultor. Uma vacina contra os que defendem a candidatura do ex-presidente. O álcool que faz falta A ABRASPEA - Associação Brasileira dos Produtores e Envasadores de Álcool - quer recuperar, com embargos ao TRF, em Brasília, o direito de produzir e comercializar o álcool líquido em graduações mais elevadas. A Anvisa, de maneira arbitrária e com base em números falsos sobre acidentes, proibiu este comércio. Para a ABRASPEA, a agência oficial quer apenas surrupiar dos consumidores brasileiros o seu direito de escolha. Afinal, o álcool líquido é de uso comum das famílias brasileiras há séculos e faz muita falta para as donas de casa e em qualquer lugar que reclame uma limpeza mais rigorosa. Conselho à presidente Dilma Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes, membros dos Poderes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos líderes e dirigentes. Hoje, dirige-se à presidente Dilma : 1. O ambiente político está tenso. A base aliada ameaça derrubar os vetos de Vossa Excelência. A hora sugere uma atitude de modéstia e simplicidade - à moda Francisco - e uma articulação eficiente com a classe política. 2. A economia carece de novos rumos. Trata-se de um consenso entre economistas e cientistas sociais. O ciclo do incentivo ao consumismo se mostra esgotado. O país clama pela volta dos investimentos. 3. Aceite a real politik. Se plebiscito não pode ser feito para patrocinar uma reforma a vigorar já em 2014, use o bom senso e debata com a esfera política os caminhos mais viáveis a serem seguidos. Evite derrotas continuadas nas Casas Congressuais.
quarta-feira, 17 de julho de 2013

Porandubas nº 365

Abro a coluna de hoje com um dos maiores (se não o maior) perfis políticos do século XX : Winston Churchill. Abanando minha cabeça Winston Churchill fazia um discurso mordaz quando um aparteador, saltando do lugar para protestar, só conseguiu emitir sons abafados. Churchill observou : - Vossa Excelência não devia deixar crescer uma indignação maior do que a que pode suportar. Em outra ocasião, estava sentado, sacudindo a cabeça de maneira tão vigorosa e perturbadora que o orador gritou, afinal, exasperado : - Quero lembrar ao nobre colega que estou apenas exprimindo minha própria opinião. Ao que Churchill respondeu : - E eu quero lembrar ao nobre orador que estou apenas abanando a minha própria cabeça. Sou o chefe dele O general Montgomery estava sendo homenageado, pois venceu Rommel na batalha da África, na 2ª Guerra Mundial. Discurso do General Montgomery : "Não fumo, não bebo, não prevarico e sou herói". Churchill ouviu o discurso e com ciúme, retrucou : "Eu fumo, bebo, prevarico e sou chefe dele". Se houver Telegramas trocados entre o dramaturgo Bernard Shaw e Churchill, seu desafeto. Convite de Bernard Shaw para Churchill : "Tenho o prazer e a honra de convidar digno primeiro-ministro para primeira apresentação de minha peça Pigmaleão. Venha e traga um amigo, se tiver". Resposta de Churchill : "Agradeço ilustre escritor honroso convite. Infelizmente não poderei comparecer à primeira apresentação. Irei à segunda, se houver". Por que não ? Quando Churchill fez 80 anos, um repórter de menos de 30 foi fotografá-lo e disse : - Sir Winston, espero fotografá-lo novamente nos seus 90 anos. Resposta de Churchill : - Por que não ? Você me parece bastante saudável. Veneno em seu chá Bate-boca no Parlamento inglês. Aconteceu num dos discursos de Churchill em que estava uma deputada oposicionista, Lady Astor, conhecida pela chatice, que pediu um aparte (Sabia-se que Churchill não gostava que interrompessem os seus discursos), mas concedeu a palavra à deputada. E ela disse em alto e bom tom : - Sr. ministro, se Vossa Excelência fosse o meu marido, eu colocava veneno em seu chá ! Churchill, lentamente, tirou os óculos, seu olhar astuto percorreu toda a plateia e, naquele silêncio em que todos aguardavam, mandou : - Nancy, se eu fosse o seu marido, eu tomaria esse chá com prazer! A canoa de Lula Qual a possibilidade do ex-presidente Luiz Inácio pegar a canoa e voltar a navegar no riacho da eleição de 2014 ? Tem sido esta a mais recorrente pergunta nos corredores da política, instigada pela acentuada queda da popularidade da presidente Dilma na esteira da avalanche de manifestações que sacodem o país. A resposta está condicionada a outra questão : é possível à mandatária recuperar a avaliação que detinha junto às classes sociais, no início deste ano, a mais positiva entre os chefes de Executivo da contemporaneidade ? A resposta não é tão simples, pois agrega um conjunto de fatores, alguns imponderáveis, a começar pelo desempenho da economia nos próximos meses. Primeira hipótese : perda de controle A ser pífio o desempenho econômico, com efeitos na inflação, particularmente na área de alimentos, a presidente se defrontará com dois grandes riscos : a perda de controle sobre o processo político-administrativo, com a governabilidade caindo abaixo do ponto crítico; e a perda de capacidade de reverter o processo de desacumulação de força. Sob essas duas situações-limite, é razoável crer na hipótese de que o PT, para preservar seu projeto de poder, convença seu comandante-em-chefe a voltar à liça. A recíproca é verdadeira. Se a economia correr bem nos trilhos, o controle sobre o poder político será resgatado e a boa imagem reconquistada. O caso da Bolívia O vetor de peso de um governante, é bom lembrar, equivale ao de um balanço. A princípio, ele sobe, depois desce, mantendo-se em nível baixo por bastante tempo, até juntar forças para recuperar a posição anterior. O perigo é quando o mandatário atinge o ponto de quebra, aproximando-se do extremo do arco da estabilidade; nesse caso, não haverá condições para segurar a queda e acampar o governo em terreno seguro. Um exemplo clássico de recuperação, segundo o cientista social chileno Carlos Matus, foi o do último governo do presidente Paz Estenssoro, da Bolívia, que empreendeu forte programa de ajuste macroeconômico, sob a condução do ministro do Planejamento Sánchez de Lozada. A inflação de 30.000% ao ano destruíra as forças do presidente e de seu partido. A eficácia do programa reduziu a alta dos preços a 30% ao ano, o que deu a Lozada, em 1993, a maior votação das eleições presidenciais daquele país. Foi uma típica demonstração da teoria do balanço. O caso brasileiro Não há comparação, claro, com a atual situação brasileira. Nossa inflação não chega nem a dois dígitos. O exemplo serve para ilustrar a imagem da gangorra, como a que vemos. Com os preços de alimentos subindo a uma taxa anual entre 14% e 19%, conforme escreveu o economista José Roberto Mendonça de Barros (O Estado, 7/7/13), é possível prever forte pressão sobre os orçamentos familiares e, se isso ocorrer, expansão da insatisfação social. Nesse caso, o cenário de queda se manteria. João Santana, o responsável pelo marketing do governo, estipula em quatro meses o tempo para a presidente recuperar o patamar de prestígio. É possível ? Dona da flauta dá o tom A resposta vai depender do axioma : "quem é dono da flauta dá o tom"; a dona é a maestrina da orquestra e é chamada de economia. A lábia do marqueteiro aponta, portanto, para as cartas econômicas que serão embaralhadas para o jogo de 2014. É evidente que, a par de eventuais trunfos a serem obtidos na mesa da economia, há mais dois cinturões do governo para ajustar, sob pena de irreversível débâcle da imagem presidencial : os cinturões político e de serviços públicos. Se fechar a torneira para as demandas políticas, a presidente ficará sob ameaça de mais derrotas no Parlamento. Caso tampe os ouvidos ao forte clamor das turbas, arrisca-se a cair no despenhadeiro da rejeição social. Hoje, mostra-se atenta à onda popular, abrindo um conjunto de iniciativas, como a proposição da reforma política e implantação de programas, alguns polêmicos, como importação de médicos e extensão dos cursos de medicina, de 6 para 8 anos. O sol é novo é cada dia Caso não consiga ajustar os cinturões da governança aos corpos econômico, político e de serviços sociais, a candidata à reeleição poderá ser induzida a ceder o lugar ao antecessor, plano B com que trabalha parcela da máquina petista. Daí a inevitável pergunta : a volta de Lula seria a solução para o PT prolongar seu projeto de poder ? O horizonte é nebuloso. Mas algumas hipóteses são razoáveis. A primeira é de que voltar é uma forma de retroceder. O percurso liderado pela primeira mulher presidente seria interrompido para propiciar o reingresso em cena do perfil maior do PT. O que não evitaria a sensação de insucesso da estratégia petista. Outra observação : nem o Brasil nem Luiz Inácio são os mesmos de ontem, o que nos remete à máxima de Heráclito de Éfeso : "um homem não passa duas vezes no mesmo rio". As águas sempre se renovam. O sol é novo a cada dia. Os burros n'água As duas vezes em que Lula atravessou as águas nacionais formaram e fecharam um ciclo, caracterizado pelo aprofundamento das coalizões partidárias (que resultaram no mensalão), por um compadrio patrimonialista entre sindicalismo e Estado, pelo acesso das massas à mesa do consumo e por um estilo populista de governar, que multiplicou contatos com as massas. Hoje, Luiz Inácio se agasalha no conforto de palestras internacionais, sob o manto do carisma e do perfil com maior cacife eleitoral. E que tem de cuidar bem da saúde, mesmo exibindo passaporte de seus médicos para voltar a frequentar palanques. Navegar no Brasil de hoje é, para os políticos, um exercício de reaprendizagem. A pororoca que se espraia pelo país exige um mergulho profundo nas águas que inundam ruas, becos e vielas. Lula é um navegante. Mas o rio está mudando o curso. Pegar uma canoa em direção ao amanhã, apenas com um "baú recheado de coisas de ontem", pode dar com os burros n'água. Lorotas A internet tem sido pródiga na propagação de versões, contraversões, mentirinhas e mentironas. A mais recente : Lula teria voltado ao Sírio-Libanês para cuidar da recidiva, o câncer que teria voltado. Lorota das grandes. Lula está lépido e fagueiro. Forte e fazendo articulação de bastidor. Este consultor tem conversado com pessoas que conversam constantemente com Lula. Lula, o analista Lula, como analista político, é um otimista. Em sua coluna no New York Times, publicada ontem, explica que as manifestações que ocorrem no país não rejeitam a política. Ao contrário, vão incentivar os jovens a participar da atividade política. Sobre a motivação, o ex-presidente argumenta que os protestos foram motivados por pessoas que querem serviços públicos de melhor qualidade e instituições políticas mais transparentes. Imagem de Dilma A imagem da presidente Dilma continua descendo a ladeira da fama. As pesquisas atestam a queda de popularidade. A mais recente é da CNT/MDA : avaliação positiva do governo da presidente Dilma caiu de 54,2% para 31,3%, divulgada ontem. O levantamento foi feito entre os dias 7 e 10 de julho, após a onda de protestos ocorrida no país. Uma conhecida que acaba de chegar dos sertões nordestinos, mais precisamente de Jequié, na BA, conta que a presidente é xingada todo tempo pelos baianos. A causa : aumento dos alimentos. Menos dinheiro no bolso para suprir as barrigas. Operação BO+BA+CO+CA está desalinhada : Bolso, Barriga, Coração, Cabeça. Pacto com empresários Na agenda da presidente da República, estão previstos contatos com empresários de peso. O objetivo é o de tentar um pacto com empresariado nesse momento de grandes interrogações na economia. A questão é : será que o momento ainda é adequado ? Um veto indigesto A presidente Dilma Rousseff, que já não anda bem com os eleitores (a intenção de voto na ocupante do Planalto caiu 19,4 pontos percentuais desde a última pesquisa), pode comprar uma briga feia com todos os empresários do país : basta vetar o projeto que elimina a multa de 10% sobre o FGTS, aprovada pelo Congresso. De uma só vez a presidente pode piorar o ambiente de negócios para as empresas e tornar mais nebuloso o cenário do mercado de trabalho. Emprego é o que ajuda Dilma a se manter ainda na dianteira, hoje com 33,4% da intenção de votos, contra 20,7% de Marina Silva (Rede Sustentabilidade), 15,2% do senador Aécio Neves (PSDB/MG) e 7,4% do governador Eduardo Campos (PSB/PE). Preocupação à vista A ABIN - Agência Brasileira de Inteligência - está preocupada com eventuais manifestações por ocasião da visita do Papa Francisco ao Brasil, a partir da próxima segunda feira. A Agência trabalha com a perspectiva de tendência "máxima" de manifestações durante o evento, que será realizado no Rio. As ações de "grupos de pressão" são as únicas que estão em nível vermelho, a escala máxima de possibilidade de incidentes. Na lista da ABIN, há controles sobre : "organizações terroristas", "crime organizado", "criminalidade comum", "incidentes de trânsito", entre outros. Caiu do telhado Todos os governantes sofrem os impactos das manifestações que assolam o país. Mas quem mesmo sofre muito com a queda do telhado é o governador Sergio Cabral, do Rio. Grupos de manifestantes praticamente acamparam em frente à casa do governador. Há quem diga que Pezão não subirá a montanha eleitoral de 2014. Ocasião da visita do Papa Francisco ao Brasil, a partir da próxima segunda-feira. E os sonhos do governador Cabral de entrar em chapa majoritária Federal se desvanecem. Reforma política Foi bem recebida a nomeação do deputado Cândido Vaccarezza para coordenar o Grupo de Trabalho que vai produzir um projeto de reforma política. Vaccarezza tem perfil de bom mediador. Sabe ouvir e ponderar. Diferente do deputado Henrique Fontana, do PT do RS, que prepara há dois anos um projeto nessa área e só construiu muralhas entre grupos e partidos. A escolha de Vaccarezza deve-se ao presidente da Câmara, Henrique Alves. A era Eike Fecha-se também uma Era plasmada por Castelos de Areia e Empresas construídas com papel. A Era Eike. Conselho aos líderes e dirigentes Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes, membros dos Poderes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos pré-candidatos no pleito de 2014. Hoje, dirige um conselho aos lideres e dirigentes : 1. Procurem entender profundamente as motivações que ensejaram e continuarão a ensejar as manifestações de rua por todo o território. 2. O Brasil fecha o ciclo do Bolsa-Barriga e inaugura o ciclo do Bolsa-Cabeça. Os novos horizontes abrirão novas formas de atuação na frente política e terão impacto sobre os setores produtivos. 3. Slogan da nova era : "Verás que um Filho Teu não foge à Luta". Conceito-mor : autogestão técnica. A pessoa sabe o que quer, para onde ir e também sabe escolher os meios para alcançar seus fins. Arquiva-se o axioma : "Maria vai com as outras".
quarta-feira, 3 de julho de 2013

Porandubas nº 364

Em 5 anos, tudo pode ocorrer Abro a Coluna com uma historinha que pode servir de orientação para esses tempos de inquietude e grandes mudanças. Um poderoso sultão, sábio entre os sábios, possuía um camelo muito inteligente. Obedecia a todas as ordens que nem precisavam ser emitidas de viva voz. Faltava-lhe apenas o dom da palavra. Esse detalhe entristecia sobremaneira o sultão. Um dia, decidiu convocar o Grande Conselho e chamou o grão-vizir. - Quero que ensine meu camelo a falar ! - Mas isso é impossível. - Cortem-lhe a cabeça ! Tragam-me o adjunto ! Mesma afirmação de desejo sultanesco, mesma resposta, mesma sentença. A cena repetiu-se diversas vezes e cabeças rolaram. Exasperado o sultão declarou. - Aquele que ensinar meu camelo a falar será meu grão-vizir. Silêncio ! O sultão repetiu a exortação. Eis que surgiu um humilde ajudante de cozinheiro. Disse : -Dá-me, ó incomparável senhor, um prazo de 5 anos, e farei falar teu camelo. Estupefação geral. Seguida do cumprimento da promessa. -Doravante, és meu grão-vizir ! Mas se falhares, sabes o que te espera ! - Bem sei ! Encantado, o jovem fez profunda reverência e saiu correndo para dar a boa notícia à esposa. - Infeliz, acabas de assinar tua condenação. - Não é bem assim, meu bem. Pedi 5 anos. Você sabe que muitas coisas poderão acontecer em 5 anos : morre o camelo, morre o sultão... (Atenção, políticos e governantes : em um ano, tudo pode ocorrer...) Ressaca geral Nem bem se recuperou da ressaca geral, o país parece disposto a continuar a beber na fonte das motivações que canalizaram as energias sociais e tomaram conta de ruas, estradas e praças do país. A chama foi acesa. Difícil, agora, será apagá-la. O povo descobriu que tem força para mudar o rumo das coisas. E está gostando de repetir a experiência em eventos menores, descentralizados e agora buscando ocupar regiões, bairros e localidades com demandas específicas. Auto-gestão técnica Há anos, um cientista social francês, Robert Lattes, identificava na Europa um sentimento que passava a impregnar os ânimos. Designou o fenômeno de "auto-gestão técnica", algo como : o cidadão define seu destino, seus rumos, suas metas, seus objetivos, e ele mesmo define, escolhe, patrocina os meios para alcançá-los. A auto-gestão técnica se afirma, assim, como um processo de auto-organização. As pessoas estão saturadas de promessas, de discursos mirabolantes, de convívio com signos, símbolos e atores da velha guarda. O que fazer ? Escolhem a si mesmo como personagens para refazer os caminhos. Como fazer ? Pela agregação, pelo sentimento de unidade, de solidariedade, companheirismo. As pessoas vão se dando as mãos. De repente, forma-se uma Muralha da China, construída com corpos, mãos, braços, vozes em uníssono nas ruas. Racionalidade Trata-se de um movimento que também aponta para o fortalecimento da racionalidade. Se as fortalezas do poder não acolhem os guerreiros, estes fabricam seus aríetes e forçam as muralhas poderosas. É o que estamos vendo aqui e acolá. Caminhões tomando as estradas, paralisando o trânsito; correntes humanas andando contra os atores postos na frente das cidadelas do poder. Esta é a nova estética das ruas. O sapo de olho fechado Há uma espécie de sapo que fecha os olhos para fugir às intempéries. Pensa-se que está morto ou dormindo. Nem uma coisa nem outra. Está atento ao que se passa ao redor. Depois de fechar os olhos por semanas, de repente abre os olhos e joga a língua para abocanhar os mosquitos que passam à frente. Ganha todos os ataques. A massa se parece com esse sapo. Não estava dormindo. Nem mesmo cochilava. Estava apenas de olhos fechados, enjoada de tanto clamar por coisas que nunca apareciam. De repente, abriu a boca e o bico. Quem perde, quem ganha Os perdedores são os alvos mais visíveis do poder. Dilma Rousseff, em primeiro lugar. Por simbolizar a força máxima. Caiu 27 pontos em 3 semanas na avaliação positiva, 9 pontos por semana, um índice extraordinário. Os governadores Geraldo Alckmin e Sérgio Cabral, os prefeitos Fernando Haddad e Eduardo Paes, também caíram bastante, por serem os comandantes dos lugares onde as movimentações ganharam mais força e visibilidade. Alckmin tenta atenuar os efeitos da queda com medidas de gestão, enxugamento da máquina, venda de equipamentos. Não será fácil aos governantes fugir ao tiroteio. Dilma, o alvo maior A presidente Dilma Rousseff assumiu um risco de monta. Ao propor a reforma política por meio de um plebiscito, chamou a si toda a responsabilidade pelo êxito e/ou fracasso das demandas do momento. Impõe uma agenda política para o Congresso quando as demandas das galeras cobrem muitas áreas, sendo a frente política apenas uma delas. E as questões da mobilidade urbana, da saúde, da educação, da segurança pública ? Promessas de melhoria nessas frentes só darão resultado no médio e longo prazos. E se a reforma política for um remendo mal costurado na ampla malha de reivindicações ? Dilma dá um salto no escuro. São fortes no PT os apelos para que o presidente Lula volte a considerar seu nome no páreo de 2014. Lula, volta ou não ? Luiz Inácio está calado e fora do país. É conveniente que não circule nas praças cheias de gente. Por enquanto. À boca pequena, petistas torcem por sua volta. Fala-se em 85% dos quadros do partido. Mas é claro que eventual retirada de Dilma para seu reingresso na arena da disputa equivaleria a uma derrota dele mesmo, Lula, eis que seria um reconhecimento de que a candidata falhou no comando do poder. Por isso, é razoável apostar que Dilma continuará firme como candidata. Lula, sim, deverá voltar às ruas para encabeçar um movimento em defesa da presidente. Hipótese a conferir. Oposições tomam fôlego As oposições disfarçam, mas estão comemorando o grito das ruas. Enxergam, agora, possibilidade concreta de romper os bastiões do PT e, unidas, tomar o poder em 2014. As somas das intenções de voto em Marina, Aécio e Eduardo Campos chegam, hoje, aos 47% da intenção de voto. Com garantia, portanto, que a campanha iria para o segundo turno. Mas daqui até outubro de 2014, as águas poderão mudar de curso, melhorando para uns e dificultando a navegação para outros. Os obstáculos Pela ordem, as dificuldades da presidente Dilma abrigam as seguintes áreas : desemprego - país deixa a situação de harmonia na frente da empregabilidade para enfrentar zonas de turbulência; inflação - aumento da inflação, pegando principalmente os produtos da cesta básica; saúde - continuidade do descalabro nos estabelecimentos públicos de saúde, com imagens de corredores abarrotados de camas; educação de má qualidade - os velhos problemas trazidos à tona pela deteriorada malha educacional; segurança pública - estampas de crimes bárbaros cometidos em série nas grandes cidades. Nesse cenário, a presidente Dilma andará por um calvário, podendo faltar fôlego para chegar à ultima estação. Recíproca é verdadeira Se tudo correr bem nas áreas acima enumeradas, Dilma chegará bem na dianteira na fronteira de outubro de 2014. Plebiscito A presidente encaminhou ao Congresso a sugestão do plebiscito. Dentre a questões a serem formatadas para efeito de campanha pública, a mais complexa diz respeito ao sistema de voto. O eleitorado, mesmo sob bateria de esclarecimentos, vai ter dificuldade de compreender o que é voto distrital (puro, misto), diferente do voto proporcional, como o de hoje. O financiamento público de campanha vai encontrar barreiras para ser aprovado. A figura do suplente do senador deverá ser extinta. O segundo mais votado assume o posto de senador, em caso de morte ou impedimento do titular. Voto aberto deverá ser aprovado, na onda de transparência cobrada pela sociedade, apesar de se justificar o voto secreto em determinadas circunstâncias. Quando, por exemplo, for votada matéria polêmica de interesse do Executivo. Que pode punir parlamentares que votem contra seus interesses. Galeria de interrogações 1. Alckmin Terá muitas dificuldades para se reeleger. A polarização PT versus PSDB está apodrecendo. Alckmin não construiu uma identidade. O governador é ótima pessoa. Mas é um político isolado. Não tem assessoria de qualidade. Sofre da síndrome do "Eu, Sozinho". 2. Aécio Ainda não construiu um discurso para o país. Tem feito diagnósticos. Não passa disso. Está na cola de Fernando Henrique. Mas o ex-presidente, schollar e bem articulado, não é capaz de liderar massas. É bom em bastidor, não na mobilização de multidões. Aécio pode se dar em MG, mas não tem penetração em SP, o maior contingente eleitoral do país. 3. Campos Eduardo Campos não mostra a força que dizem ter no Nordeste. Seu índice é muito baixo. Encontra problemas no próprio partido. E, ainda por cima, continua indefinido. Não se sabe se seu amigo Luiz Inácio o segurará na base de apoio a Dilma. Exibe a estampa mais estética dos perfis. 4. Marina Cresceu bem nos últimos tempos porque é o perfil menos contaminado pela enxurrada da velha política. Asséptica, suave, mas não teria estrutura para atravessar um oceano cheio de surpresas. E tempo de rádio e TV ? Será que as redes sociais supririam suas carências ? Os jovens continuariam a cantar loas no seu altar ? 5. Lula Perfil mais carismático do país, o ex-presidente não teria as facilidades d'outrora. O PT está muito combalido. Parcela razoável do tiroteio que se destina ao partido bateria também nele. Continua arregimentando as margens sociais, mas é visível seu desgaste nos segmentos do meio da pirâmide, mesmo considerando que contingentes da classe C ingressaram nesse circuito. O tom crítico contra Luiz Inácio se adensa. Mas ele tem o coringa nas mãos. O coringa do carisma. 6. Pezão O vice-governador, Luiz Fernando Pezão, é um perfil pesado. Aparece em todas as fotos, ao lado de Cabral, Eduardo Paes e até da presidente Dilma. Mas não cresce nos índices de pesquisa. Não tem boa imagem. Uma campanha eleitoral o elevará ? É possível. Mas o efeito Cabral pode segurá-lo. 7. Skaf Paulo Skaf, presidente da FIESP/CIESP, é a surpresa desses momentos de tensão social e primeiros balancetes pré-eleitorais. Cerca de 20% de intenção de voto. Perfil de trator, realizador, pró-ativo, um passo adiante da velha política. Pode ser a alavanca que o PMDB precisa para resgatar sua história em SP. 8. Padilha Não tem o que mostrar. Essa ideia de importar médicos cubanos não tem boa acolhida no meio médico. Piadas chovem sobre os médicos cubanos no Brasil. Padilha é o nome de Lula para candidato ao governo de SP. Mas, se ficar abaixo dos dois dígitos nos próximos meses, poderá sair da rota, com o PT fazendo aliança com um candidato de outro partido. 9. Russomano Tem perfil populista, mas deverá ser candidato a deputado para puxar a bancada de Federais de seu partido, o PRB. Deverá apoiar o governador Alckmin. 10. Lacerda Márcio Lacerda, prefeito de BH, do PSB, será candidato em MG ? Aécio e o governador Anastasia o apoiarão ? Seria um nome competitivo. O verbo não "vareia" A Câmara Municipal de Paulista/PE vivia sessão agitada em função da discussão de um projeto enviado pelo prefeito, que pedia crédito para assistência social. Um vereador da oposição combatia de maneira veemente a proposição. A certa altura, disse que "era contra o crédito porque a administração municipal não merecia credibilidade". O líder da bancada governista intervém, afirmando que "o nobre colega não pode jogar pedras no telhado alheio, pois já foi acusado de algumas trampolinagens". - Menas a verdade - retrucou o acusado. Sou homem honesto, de vida limpa. - Vejam, senhores, - disse o líder - o nobre colega, além de um passado nada limpo, ainda por cima é analfabeto, pois, "menas" é verbo, e verbo não "vareia". Conselho aos pré-candidatos Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes, membros dos Poderes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos políticos e governantes. Hoje, dedica sua atenção aos pré-candidatos no pleito de 2014 : 1. Passarinho na muda não pia. Muito cuidado com a farta expressão nesse momento de intensa movimentação social. Apurem os ouvidos. 2. Ajustem os canais de articulação política, na esteira das sondagens, conversas e interlocuções que se multiplicam nos corredores dos Poderes. 3. Procurem entender bem o que se passa no universo social, avaliando os inputs nas frentes das reivindicações e demandas.
quarta-feira, 26 de junho de 2013

Porandubas nº 363

Especial - uma visão geral da crise Hoje, excepcionalmente, a Coluna terá como foco o movimento que abre um novo ciclo social/institucional no país. Está um pouco mais extensa. Pedimos compreensão das leitoras e leitores. Mesmo assim, vou abrir com uma historinha, como tem sido costume nesse espaço. Escolhi uma parábola que se aplica aos nossos governantes e políticos. Não sabem que não sabem "Há pessoas que não conseguem perceber o que se passa ao seu redor. Não vêem que não vêem, não sabem que não sabem". Pequeno relato. Zé caiu em um poço e está a 10 metros de profundidade. Olhava para os céus e não viu o buraco. Desesperado, começou a escalar as paredes. Sobe um centímetro e escorrega. Passou o dia fazendo tentativas. As energias começaram a faltar. No dia seguinte, alguém que passava pelo lugar ouviu um barulho. Olhou para o fundo do poço. Enxergou o vulto de Zé. Correu e pegou uma corda. Lançou-a no buraco. Concentrado em seu trabalho, esbaforido, cansado, Zé não ouve o grito da pessoa : "Pegue a corda, pegue a corda". Surdo, sem perceber a realidade, continua a tarefa de escalar, sem sucesso, as paredes. O homem na beira do poço joga uma pedra. Zé sente a dor e olha para cima, irritado, sem compreender nada. Grita furioso : - O que você quer ? Não vê que estou ocupado ? O desconhecido se surpreende e volta a aconselhar : - Aí tem a corda, pegue-a, que eu puxo. Mais irritado ainda, responde sem olhar para cima : - Não vê que estou ocupado, ó cara. Não tenho tempo para me preocupar com sua corda. E recomeça seu trabalho. Parábola : "Zé não vê que não vê, não sabe que não sabe". Os nossos governantes e políticos não perceberam a corda que a galera há tempos joga para que eles possam sair do fundo do poço. Não vêem que não vêem, não sabem que não sabem. A travessia brasileira As manifestações que ocorrem no país são diferentes dos eventos ocorridos em décadas passadas, quando se identificavam eixos e discursos centrais (Diretas Já, impeachment de Collor), lideranças e intensa participação da esfera política, por meio de partidos. Distingo três movimentos nos eventos : 1. A canoa atravessa o rio Um pequeno grupo manobra a canoa no rio para atravessá-lo de um lado para outro. O nome da canoa : MPL - Movimento pelo Passe Livre. Composição dos canoeiros : estudantes. A intenção desejada : reduzir a tarifa de ônibus em SP. A canoa começou a abarrotar de gente. Todos queriam entrar na canoa e chegar à margem oposta. 2. A canoa se transforma em navio O Movimento pelo Passe Livre, de maneira surpreendente e rápida, assume enorme proporção. A primeira movimentação junta, em torno do grupamento inicial de estudantes, setores variados : ativistas de movimentos em defesa de gêneros, de minorias étnicas e sexuais, funcionários públicos, pais de estudantes, comerciários, punks e anarquistas. A reivindicação básica - redução da tarifa de ônibus - dilui-se na massa discursiva que se ouve e se vê nas palavras de ordem e faixas levantadas pela multidão em passeata : - contra a corrupção; - contra a violência; - contra os serviços precários de saúde; - contra a deteriorada malha educacional; - (ao lado de outras bandeiras - como maioridade penal, contra a criminalização do aborto, contra a PEC 37, etc.); - altos custos dos estádios/dificuldade de acesso a eles. 3. Transatlânticos invadem os mares A travessia se transforma, de repente, em gigantesca navegação em uma frota de transatlânticos que abrigam milhares de pessoas em mais de 100 capitais e cidades do país. Calcula-se que um milhão de pessoas participou da última manifestação, ocorrida semana passada. A movimentação apresentou algumas características : - violência da PM no primeiro grande movimento, segunda-feira, dia 17; cenas de vandalismo e depredação de prédios públicos; destruição de carros de empresas jornalísticas; - hoje, mais de uma semana depois, já chega a quatro mortes (três atropelados e uma gari que morreu de enfarte), além de centenas de feridos em muitas capitais e cidades; - distanciamento dos grandes partidos políticos. Mesmo os pequenos partidos (de extrema esquerda) foram repelidos pela multidão; - um discurso difuso - propostas genéricas no entorno da proposta central do MPL : redução de tarifas de ônibus; - contingentes de classe média foram encorpados por contingentes de jovens da periferia. As massas se fundiram em um grande movimento sem lideranças tradicionais. Surpresa As esferas política e governamental foram tomadas de surpresa. Algumas razões estão por trás do susto. Alinho algumas : - a falsa impressão de que o conforto econômico - mesmo sob ameaça de volta da inflação - apaziguava o país; - a falsa impressão de que os jovens, descrentes da política, formam grupamentos amorfos, desinteressados e sem motivação para acorrer às ruas; - a surpresa pela rapidez da formação dos contingentes; pouco se tinha ideia das condições de interatividade e mobilização propiciadas pelas redes eletrônicas da internet; - a área política encheu-se de indagações : O que dizer ? O que fazer ? Como fazer ? Gigante não estava adormecido A ocupação das ruas de grandes e médios centros urbanos por multidões é algo inusitado na feição institucional. Por ocasião das Diretas Já e do Impeachment de Collor, as motivações eram claras e grandes lideranças puxavam as mobilizações. Depois do surto Collor, reaparecem as massas na rua. Ocorre a maior mobilização de toda a nossa história, fato que merece ampla reflexão por emergir como contraponto ao cenário de harmonia que se imaginava, até então. O que significa ? Reflete o fechamento de um ciclo de aceitação/passividade e sinaliza a abertura de um tempo de participação da sociedade, como um todo, no processo decisório. Democracia direta Sob certo aspecto, podemos falar da emergência de traços da democracia direta em contraposição à democracia representativa, em crise. O povo percebe que tem a força para fazer mudar as coisas. A redução do preço das passagens de ônibus foi o atestado mais evidente dessa capacidade. Geraldo Alckmin decide suspender também os aumentos do pedágio em SP. Tal percepção do povo funciona como fator de animação/disposição/animus animandi. PNBIS Além das causas acima enumeradas, qual o eixo que moveu a ampla movimentação ? Não há um, mas um conjunto de fatores. Podemos inseri-los dentro do que designo de Produto Nacional Bruto da Insatisfação Social (PNBIS), composto por mazelas nas seguintes áreas : a) Corrupção generalizada; b) Educação deteriorada; c) Saúde em estado precário - estruturas inadequadas, ineficientes, obsoletas; d) Violência em expansão nas médias e grandes cidades; e) Sistema de mobilidade urbana locupletado; f) Gastos excessivos em estádios de futebol; g) Saturação com o modus operandi da velha política. Escândalos e denúncias. Bolsa-cabeça Sensação é a de que o ciclo do Bolsa-Barriga (que resulta do Bolsa-Família) está esgotado. Fecha-se. Estudantada de todos os lados quer um Bolsa-Cabeça. Um pacotão para embalar as grandes demandas populares. Raiva e indignação Essas áreas compõem a massa de negatividade / insatisfação / indignação que chega, rotineiramente, ao sistema cognitivo do cidadão comum. Para agravar o quadro, os avanços alcançados pela sociedade e a esperança de que o país abra novos capítulos sofrem reveses. (Veja-se, a propósito, a declaração do ministro Dias Toffoli, de que o mensalão poderia durar, ainda, dois anos. Um balde d'água fria na cabeça dos esperançosos brasileiros, que distinguiam o final do maior processo criminal julgado pela mais alta Corte do país). Exuberância dos estádios Além disso, os estádios desta Copa das Confederações aquecem fogueiras. Ouçam-se as vaias a Dilma e ao Joseph Blatter no Mané Garrincha, em Brasília, enquanto o MPL já estava nas ruas. A indignação continuou depois, com pancadaria feia entre polícia e manifestantes à frente dos estádios de Fortaleza, de Brasília e BH. A revolta contra a exuberância dos palácios futebolísticos certamente contribuiu para a indignação, sob pano de fundo do contraste com a miséria, falta de saúde, educação, moradia, segurança pública, etc. Padrão FIFA "Portugal construiu 10 estádios 'padrão FIFA' para a Eurocopa de 2004. Sete anos depois o país estava falido...10 estádios fatídicos que hoje apodrecem ao sol. A Grécia cometeu iguais loucuras para as Olimpíadas do mesmo ano. Teve a honra de falir primeiro". (João Pereira Coutinho, escritor português, cientista político, FSP, 25/6/2013) O rastro de pólvora A mobilização social conta com um formidável aparato comunicativo : as redes sociais. Que funcionam como o rastro de pólvora. Os participantes se comunicam, as palavras de ordem são disparadas e os comandos (quase anônimos) vão somando milhares de seguidores e militantes das causas patrocinadas. A mobilidade dos grupamentos é algo surpreendente, a denotar a existência de um novo ator no desenho da movimentação das massas : a internet. Sem lideranças e discurso difuso Chama a atenção a ausência de lideranças tradicionais ou mesmo novas, que tenham visibilidade ou marquem presença na galeria dos comandantes de grandes operações de massa. Essa é outra característica da movimentação social. Os discursos nem sempre são claros, mostrando que a vontade do manifestante de abrir a locução ou ir à rua é o que interessa. Essa situação tende a ser mais visível nas próximas etapas das movimentações, quando novas propostas serão encaminhadas e verbalizadas. O MPL, depois de anunciar que se retira do palco paulistano, por enxergar oportunismo por parte de parcelas e grupos políticos, voltou atrás e promete novas mobilizações. Clarificação Sejam quais forem os patrocinadores/mobilizadores, uma séria questão se imporá ao movimento : clarificar metas, objetivos e propostas para que as vozes não caiam no vazio. Na polifonia da Torre de Babel. Os políticos, por sua vez, não são bem vistos nas movimentações, como se viu nas ações de queima e rasgo de bandeiras partidárias. Mas em algum momento, a área política haverá de se fazer presente porque as coisas passam necessariamente pelos governantes do Executivo e pelos parlamentares do Poder Legislativo. A fala da presidente A fala da própria presidente Dilma se explica. Tinha de dizer que o país tem governo. Aceita as demandas da massa, mas repele a violência. Afinal, a ordem tem de ser mantida. Mas prometer o que ? Pacotes para a educação ? Quando serão implementados ? Médicos importados ? Convocar governadores e prefeitos para formação de um pacto nacional ? Tudo isso entra na onda verborrágica. A presidente parece perdida. Sob os apelos crescentes do Volta, Lula. A propósito Matéria da revista Veja traz importante revelação de que episódio de queima de pneus, em Brasília, teria o patrocínio de forças e quadros do PT, desejosos de por lenha na fogueira. A ABIN, por sua vez, não pescou nada na maré cheia de ondas turbulentas. MPL : despreparada Seis representantes do MPL foram convidados para uma conversa com a presidente. Após a conversa, o porta-voz do grupo abriu o verbo : a presidente é uma despreparada para debater e apresentar soluções concretas para a questão dos transportes públicos. Um bumerangue. A galera Urge atentar para a composição das galeras e turbas. Por enquanto, a composição dos contingentes nas ruas mostra os seguintes setores : estudantes, participantes de movimentos em defesa de minorias e igualdade de gêneros, pais de estudantes, funcionários públicos, punks, comerciários, anarquistas, desempregados, profissionais liberais, e, depois, incorporação de segmentos jovens das periferias. Estão fora desse circuito as categorias profissionais de trabalhadores, principalmente os setores abrigados nas Centrais Sindicais. A propósito, as Centrais falarão, hoje, com a presidente para apresentar sua pauta de reivindicações. Mas, para surfar na onda, já marcaram greve geral para o dia 11 de julho. Vai pegar ? Os próximos passos Para onde o movimento seguirá ? Quais serão os próximos passos ? Quais as bandeiras a serem erguidas nos próximos movimentos ? Algumas trilhas são enxergadas : - A melhoria da qualidade dos serviços públicos; essa bandeira continuará a ser desfraldada. - Os problemas relacionados às localidades. A pedra jogada no meio da lagoa tende a chegar às margens. As questões de zonas e regiões da capital e regiões do Estado entrarão nas pautas do movimento. - Nos Estados e outras capitais, a tendência será a mesma. Dará vazão às demandas específicas de cada comunidade. - A área política deverá entrar no circuito. As oposições vão buscar motivos para endurecer as críticas. - O governo Dilma, por sua vez, já se mostra inclinado a arrumar um "Bolsa-Cabeça", alguns programas voltados para agradar aos jovens. Slogan do momento "Melhorar a Vida do Povo". Fechando a coluna A barafunda quase se instala nesses últimos dias. Fecho a coluna com a polêmica sobre o plebiscito para a Constituinte Exclusiva, no bojo da qual seria feita a Reforma Política. Plebiscito No intuito de tomar a dianteira e mostrar serviço, a presidente apresentou um pacotão de 5 pontos para responder ao anseio das galeras. O ponto polêmico foi a proposição para se realizar um plebiscito para ouvir a sociedade sobre uma Constituinte Exclusiva, que realizaria a reforma política. A polêmica se acendeu. Não é possível uma Constituinte para decidir sobre uma especificidade. Ministros do STF, juízes e a OAB se pronunciaram em contrário à ideia da presidente. Que acabou recuando. A voz do vice presidente Chamou a atenção o fato de o vice-presidente Michel Temer, um dos mais renomados constitucionalistas do país, não ter sido ouvido preliminarmente sobre a questão. Tivesse ouvido o vice-presidente, Dilma não teria passado pelo dissabor de ouvir as contrariedades à sua ideia. Michel acabou consertando o imbróglio. E deu a solução. Disse à presidente, por ocasião de uma reunião com a OAB, não existir na CF a figura de constituinte exclusiva para tratar de uma questão específica. A proposta de Michel Temer Propôs que ela encaminhasse ao Congresso uma mensagem solicitando que o Parlamento convocasse um plebiscito para auscultar o desejo do povo sobre as diversas questões que permeiam a política, do tipo : tipo de voto - distrital, distrital misto, proporcional; fim ou não das coligações proporcionais, coincidência das eleições, etc. Sairia o modelo de interesse da sociedade. A se realizar em agosto. Até 3 de outubro, esse modelo deveria ser aprovado para entrar em vigor já em 2014. Conselho aos governantes Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes, membros dos Poderes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos políticos e governantes. Pelo momento que o país atravessa, continuaremos a dirigir a eles o conselho : 1. Procurem auscultar as demandas do povo. E passem do discurso à ação. 2. Evitem promessas que não podem ser cumpridas; falas de caráter demagógico. 3. Saibam ler os sinais de um novo tempo. Comunicação governamental ultrapassa a linha do marketing de glorificação. Requer interatividade e compromisso com as comunidades.
quarta-feira, 19 de junho de 2013

Porandubas nº 362

Abro a Coluna com historinhas que o mineiro José Flávio Abelha narra em Mineirice. Conta o ilustre mestre José Olímpio de Castro Filho em seu "Prática Forense", esta pérola da sagacidade de Pedro Aleixo : "Conta-se que em processo por crime de sedução, em que testemunha-chave sustentava quase ter presenciado o defloramento, violento, contra a vontade da vítima, que teria ocorrido num sótão, situado na parte superior de certo cômodo, o professor Pedro Aleixo, notável criminalista e político brasileiro, liquidou tal depoimento simplesmente indagando da testemunha : - Quem subiu primeiro a escada ?... - A moça, ou o réu ?" Política e brinquedo de moço Dizia Tancredo Neves que, em Minas, política é brinquedo de moço e vício de velho. Tancredo sabia das coisas. Na política mineira não há axioma mais correto. Em três oportunidades, das mais palpitantes, essa mineirice axiomática aflorou de tal forma que ninguém jamais conseguirá desfigurá-la ou retirá-la das páginas políticas de Minas. Em 1966, o governador Magalhães Pinto apresenta como candidato à sua sucessão o jovem Roberto Rezende. A oposição lança o velho Israel Pinheiro. Durante um comício o jovem Roberto Rezende insinua ser o candidato Israel Pinheiro, velho para governar Minas. Israel, nada sutil, responde com a aspereza de costume : - Minas não precisa de um reprodutor. Minas precisa é de um administrador. Nas eleições, é eleito o velho Israel. O vento dá seu giro. Vem 82, com o jovem Elizeu Rezende e o velho Tancredo Neves. O candidato Elizeu, empolgado com as manifestações em torno da sua candidatura, diz que Tancredo está velho para governar Minas. A resposta de Tancredo é mais sutil : - Churchill, Adenauer e De Gaule, já em idade provecta, reconstruíram a Europa. Inverno à brasileira Dia 22 de junho começa oficialmente o inverno. Mas esses dias efervescentes de final de outono mostram que o início do nosso inverno nunca foi tão quente na vida social. Depois das grandes manifestações de rua da era Collor, o país reencontra as multidões. Segunda-feira entrará no calendário nacional como um dia atípico : as massas acorreram às ruas de grandes capitais, a partir das duas maiores metrópoles, SP e Rio. O que queriam ? A liga entre os movimentos em 11 capitais - reunindo entre 250 mil a 300 mil pessoas, dependendo do olhar das mídias - foi o preço das passagens de ônibus. Mas é evidente que questões mais amplas que o precário sistema de mobilidade urbana estão em jogo. Analisemos algumas vertentes. A velha política Os movimentos expressam clara indignação contra as práticas da velha política. Anos e anos a fio de velhas práticas e costumes, denúncias em série envolvendo atores políticos mancomunados com máfias, grupos privados e funcionários públicos, escândalos que nunca chegam ao fim - essa é a primeira camada da argamassa que explica a insatisfação social. As multidões querem dizer que o copo está transbordando. Que o país clama por reformas de métodos, de práticas e mudança de atores. A esfera política - representantes no Congresso, Assembleias, Câmaras de vereadores, governantes de todas as instâncias - recebe um puxão de orelhas. Serviços precários O segundo pacote de recados embala os precários serviços públicos. A saúde está na UTI ; a educação é um caos ; a segurança pública é uma barbárie ; o sistema de transportes urbanos é uma vergonha. O crescimento das cidades não é acompanhado do crescimento - quantitativo e qualitativo - dos serviços. As filas se tornam quilométricas ; os sistemas estão estrangulados ; as aflições cotidianas se acumulam. Em SP, um trabalhador passa uma média de 4 horas (alguns até mais) para ir e voltar do trabalho. A saturação dos serviços públicos expande o clamor das turbas. A faísca A massa mostrou, ainda, que, em nossos tempos de comunicação eletrônica pelos sistemas montados na internet, não há mais necessidade de grandes líderes para fazer a chamada geral. Esta é feita por uma pessoa, por duas ou dez, usando as redes sociais. Os grupinhos promovem intercomunicação, que se propaga, gerando núcleos em série. Acende-se, assim, uma faísca que se irradia rapidamente pelas redes, pegando as fogueiras armadas - os grupamentos organizados - por todo o território. Abertura da locução As manifestações traduzem, ainda, a vontade social de expandir sua locução. Há muitos gritos presos nas gargantas. Há demandas reprimidas. A metáfora é a da panela de pressão : se não houver uma válvula que permita soltar o vapor, a panela explode. As manifestações funcionam como válvula de pressão. Ao ganhar as praças, a galera vai de encontro ao respiro social. Democracia participativa Sob outro prisma, enxerga-se na mobilização da massa um sinal de que a democracia participativa encontra espaço para se manifestar. E qual a razão ? A crise que assola a democracia representativa. Norberto Bobbio já avisara : a democracia não tem cumprido seus clássicos compromissos : o acesso à Justiça ; combate ao poder invisível ; educação para a cidadania ; transparência dos governos, etc. As representações políticas em todas as instâncias frustram expectativas. Os políticos são execrados. Cria-se um imenso vácuo na sociedade. Que é ocupado por uma miríade de entidades. A democracia participativa - direta - surge nesse bojo, resgatando a forma original - as reivindicações do povo na Ágora, a praça central de Atenas. E o futuro ? O que poderá ocorrer doravante ? A chama esta acesa nos altares da pátria. Pronta a ser usada em caso de demandas reprimidas. Do ponto de vista imediato, os Poderes terão de dar algumas respostas, algumas de caráter pontual, como a tarifa zero para as passagens de ônibus ; outras, de forma mais global, como políticas efetivas nas áreas de segurança e saúde, por exemplo. Se a economia entrar em parafuso, afetando a equação BO+BA+CO+CA, a panela tende a deixar escapar muito vapor. Como se recorda BO (bolso) cheio (geladeira cheia) resulta em BA (barriga) satisfeita, CO (coração) agradecido e CA (cabeça) disposta a agradecer e a votar no formulador da equação. A recíproca é verdadeira. Imagine-se a panela estourando nas margens das eleições. Partidos, tchau ! Partidos políticos até podem desfraldar suas bandeiras nas passeatas. Mas há muitas placas levantadas com os dizeres : nenhum partido me representa. Há uma clara mensagem de aversão aos partidos políticos. PSOL, PCO e PSTU são as três siglas que tentaram exibir suas bandeiras. E a velha UNE também está fora do circuito das massas. Inércia da ANAC Em audiência com a diretoria do Sindicato das Empresas de Turismo do Estado de São Paulo (Sindetur-SP), em Brasília, o ministro da Aviação Civil, Moreira Franco, prometeu resolver com rapidez alguns dos principais problemas do setor, entre eles o cancelamento ou adiamento de voos sem aviso prévio e a cobrança de taxas absurdas dos passageiros, tudo feito com a complacência da ANAC. "São inúmeros os problemas causados aos consumidores pelas práticas comerciais e contratuais abusivas das empresas áreas, enquanto a ANAC toma apenas providências inócuas e tardiamente", argumenta Eduardo Nascimento, presidente do Sindetur-SP. As agências de turismo representam 70% do volume total de vendas de passagens aéreas no Brasil. De olho no imposto Está em vigor a lei 12.741/12, conhecida como "De Olho no Imposto", que obriga as empresas a listar nos documentos fiscais o valor aproximado de sete tributos embutidos no preço final de produtos e serviços : ICMS, ISS, IPI, IOF, PIS/PASEP, COFINS e Cide, além dos valores referentes ao imposto de importação, quando for o caso. O Sindicato das Empresas de Serviços Contábeis e de Assessoramento no Estado de São Paulo (Sescon-SP) participou ativamente desde o início da campanha pela criação da lei, oriunda da iniciativa popular e que contou com o apoio de diversas entidades. Foram mais de 1,5 milhão de assinaturas em favor da discriminação dos tributos. "A nova lei é um marco, pois abre espaço à consciência tributária do cidadão para exigir o retorno efetivo desta arrecadação", explica Sérgio Approbato Machado Júnior, presidente do Sescon-SP. Campanha do agasalho Por mais um ano consecutivo, o Sindicato das Empresas de Serviços Contábeis e de Assessoramento no Estado de São Paulo (Sescon-SP) apoia a Campanha do Agasalho, uma iniciativa do Fundo Social de Solidariedade e Desenvolvimento Social e Cultural do Estado de São Paulo. "A ação faz parte do Programa Sescon Solidário e o engajamento de todos nesta campanha evidencia a nossa preocupação em ajudar o próximo", comenta Sérgio Approbato Machado Júnior, presidente do Sescon-SP. Doações serão recebidas até 26/7 na sede da entidade, na Avenida Tiradentes, 960, próximo ao metrô Armênia, na Capital ou nas regionais instaladas no interior de SP. Dilma As vaias à presidente Dilma no estádio Mané Garrincha se inserem no bojo das manifestações da massa contra a esfera político-governamental. Quem fosse o político a falar em um estádio de futebol - Lula, por exemplo - passaria pelo mesmo vexame. A galera não suporta ouvir fala política na abertura de um importante evento esportivo. E se Dilma tivesse vestido uma camisa da seleção brasileira ? Teria recebido o mesmo tratamento ? Ouvi a pergunta de um menino, Renzo, de 7 anos. Sobre as manifestações da segunda, a presidente foi taxativa : "O Brasil acordou mais forte na terça". Campos O governador Eduardo Campos, na onda das reivindicações, foi o primeiro a baixar a passagem de ônibus em PE. Alckmin Geraldo Alckmin, governador de SP, acusou o golpe : ordenou que a PM não usasse balas de borracha na manifestação da segunda-feira. Sua polícia saiu chamuscada da passeata da semana anterior. A trama "Para que seu horror seja perfeito, César, acossado ao pé de uma estátua pelos impacientes punhais de seus amigos, descobre entre os rostos e os aços o de Marco Júnior Bruto, seu protegido, talvez seu filho, e já não se defende, exclamando : "Até tu, meu filho !". Shakespeare e Quevedo recolhem o patético grito. Ao destino agradam as repetições, as variantes, as simetrias; dezenove séculos depois, no sul da província de Buenos Aires, um gaúcho é agredido por outros gaúchos e, ao cair, reconhece um afilhado seu e lhe diz com mansa reprovação e lenta surpresa (estas palavras devem ser ouvidas, não lidas) : "Pero, Che !". Matam-no e ele não sabe que morre para que se repita uma cena". (Jorge Luis Borges) Conselho aos governantes Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes, membros dos Poderes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado à presidente Dilma Rousseff. Hoje, volta sua atenção aos políticos e governantes : 1. Atentem para a nova ordem social que se desenvolve no país, a partir das manifestações em série do povo. 2. Busquem formas - grupos de trabalho, comissões, etc. - para administrar as tensões e produzir políticas públicas e ações voltadas para atendimento das demandas mais urgentes e prementes das comunidades. 3. Entendam que os ecos das ruas expressam a necessidade de mudanças, avanços e uma nova ordem político-governamental.
quarta-feira, 12 de junho de 2013

Porandubas nº 361

Abro a Coluna com duas historinhas. (Uma, contada pelo historiador e mineiro José Flávio Abelha em seu Mineirice; outra, contada pelo amigo Luis Costa em seu Leia Comigo). Os dois presos Elpídio Duque era delegado calça-curta em Conselheiro Pena, enquanto em Minas, o velho PSD (não o atual, de Kassab) deitava e rolava. Juarez Ferraz, tabelião, pastor, grande orador popular, pessedista até a alma e péssimo motorista, atropela dois udenistas na estrada do distrito de Ferruginha. O primeiro é jogado à distância e cai no meio do brejo. O outro, com o impacto, é arremessado para o alto, cai sobre a capota do jipe e, na queda, fura a lona e se esborracha em cima de Juarez Ferraz. Elpídio é chamado para estudar a situação, fazer perícia e abrir o processo. O delegado chega, examina o local, ouve as partes e (pasmem !...) manda prender os dois udenistas : - O primeiro, por ter invadido propriedade alheia e abandonado o local do crime. O segundo, por tentativa de homicídio. Por muito pouco o descuidado udenista não mata o tabelião da cidade. Maldito seja ............ ! Padre Vieira é um ícone da oratória. Um dia, no púlpito, o grande jesuíta assim começou a peroração : - Maldito seja o Pai...Maldito seja o Filho....Maldito seja o Espírito Santo ! Horror na assistência. Um murmúrio de indignação. Tranquilamente, o orador prossegue : - Essas, meus irmãos, são as palavras e as frases que se ouvem nas profundezas do Inferno. Suspiro de alívio. Platéia embevecida. Era assim, com linguagem surpreendente que o mestre da palavra despertava a atenção dos ouvintes. Sinal amarelo A pesquisa Datafolha que mostra a queda de 8 pontos percentuais na popularidade da presidente Dilma (de 65% para 57%) pode ser, até, uma "oscilação normal" como querem enxergar alguns, entre eles, o ministro da Educação, Aloizio Mercadante, e até o eventual candidato do PSB à presidência, Eduardo Campos. Mas dá para distinguir o sinal amarelo que a pesquisa exibe. Quem abre sinal de perigo ? Medo do desemprego e ameaça de aumento da inflação. Há motivos para tanto ? Sim. O tomate, há dias, estourou o bolso do consumidor. Muitos se queixam dos preços dos alimentos em supermercados. Aumento na área alimentar bate direto no bolso. Que fica mais vazio. Equação BO+BA+CO+CA E se fica mais vazio, a equação acima começa a gerar efeitos. Bolso+Barriga+Coração+Cabeça. Menos dinheiro no bolso significa geladeira mais vazia, barriga menos satisfeita, coração indignado/revoltado e cabeça disposta a punir os responsáveis por essa cadeia de sacrifícios e sofrimentos. É claro que estamos distantes de horizontes fechados, cinzentos. O PIBinho não chegou, ainda, às margens. Mas o perigo ronda. Tudo indica que o governo manterá a economia sob rédeas curtas, de forma a garantir o equilíbrio da equação eleitoral. Todo cuidado é pouco. Maquiavel "Um príncipe precisa saber usar bem a natureza do animal; deve escolher a raposa e o leão, porque o leão não tem defesa contra os laços, nem a raposa contra os lobos. Precisa, portanto, ser raposa para conhecer os laços e leão para aterrorizar os lobos". (Maquiavel em O Príncipe) Lula no lugar de Dilma ? Interessante é observar que, a qualquer sinal de perigo, o nome de Luiz Inácio Lula Papão de Votos da Silva vem à tona. É o perfil que representa a salvação do PT em ciclo de crise. É o nome a ser chamado, caso a economia saia dos trilhos. Mas Lula tem dito e repetido que não frequentará a arena. Pois já cumpriu a meta maior de vida. E tem a saúde para cuidar. Mesmo livre do câncer na laringe, que extirpou, permanece o medo do amanhã. Além disso, Lula cumpre uma agenda cheia : viaja pelo mundo, faz palestras a preço de ouro, dá as cartas no PT, tem influência no governo Dilma, é admirado nas margens e nos centros sociais, tornou-se um ícone, o maior político da atualidade brasileira. Por que deixar essa zona de conforto para ser foco de pressões e contrapressões ? Segundo turno A hipótese de um segundo turno para as eleições presidenciais ganha força diante de um cenário de problemas na frente econômica e da entrada no páreo desses quatro pré-candidatos : Dilma Rousseff, Aécio Neves, Marina Silva e Eduardo Campos. A vitória da presidente Dilma em primeiro turno, é oportuno frisar, dependeria de um céu de brigadeiro, da economia bombando e de eleitores de bolso cheio. Cenário cada vez menos provável. Clausewitz "Um príncipe ou um general que sabe organizar a sua guerra de acordo com o seu objetivo e meios, que não faz nem de mais nem de menos, dá com isso a maior prova de seu gênio". (Carl Von Clausewitz em Da Guerra) E o governo de SP ? É sabido que as derrotas do PT em SP, disputando o governo, nunca foram engolidas por Lula. O sonho dele é desbancar o tucanato que completará 20 anos no comando do Estado mais poderoso do país. Daí se concluir que Lula fará tudo que estiver a seu alcance para ganhar a eleição de 2014 no Estado. Seu candidato in pectore seria Luiz Marinho, prefeito de São Bernardo do Campo. Mas o prefeito não quer ser o nome. Do bolso do colete, Lula saca o nome do ministro da Saúde, Alexandre Padilha. Mas a saúde, como se sabe, está na UTI. Trata-se de uma área que não tem saldo positivo a apresentar. O ministro da Doença poderia ser um fiasco. Lula, porém, confia em seu taco. Acha que Padilha pode ser o nome, eis que Aloizio Mercadante não topa ser candidato. Para resolver a enrascada, o PT sugere o nome do..... próprio Lula. Para este, seria descer na escada da glória. Por isso, este consultor não acredita na hipótese. Zé Eduardo A questão da segurança pública, que estará na pauta eleitoral, possivelmente como a temática mais importante, traz à tona o nome do ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo. A propósito, o ministro abre espaço na mídia para fustigar o governador Geraldo Alckmin sobre a violência que assola o Estado de SP. Deu larga entrevista ao Estado de São Paulo sobre o tema. Há uma barreira : Lula. Diz-se que o ex-presidente não simpatiza com Zé Eduardo. Em política, porém, tudo é possível. Na hora do "vamos ver", Luiz Inácio poderá abrir o verbo e dizer : o nosso nome é o do ministro da Justiça. Trata-se de um dos perfis do PT não carimbados pela mancha de escândalos. Lembre-se que chegou a renunciar a mais um mandato de deputado por não aceitar entrar no jogo do alto financiamento das campanhas eleitorais. Liddell Hart "Explore a situação de menor resistência desde que possa conduzir a qualquer objetivo que contribua para a consecução de seu objetivo básico". (Liddell Hart em As Grandes Guerras da História) Quadro paulista Geraldo Alckmin é um governador bem avaliado, principalmente pelo eleitorado do Interior do Estado. Ostenta, hoje, 52% de intenções de voto, descendo para o patamar de 42% quando tem pela frente o perfil de Lula. Mas até este perderia para ele no segundo turno. É evidente que essa é uma fotografia de hoje. Porque a campanha terá seu clima, suas circunstâncias, seu modus operandi. E tudo isso funcionará como pano de fundo para influenciar o sistema cognitivo do eleitorado. Este consultor tende a acreditar que a polarização entre o PSDB e o PT está desgastada. Fechou um ciclo. O eleitorado quer ver novas caras, experimentar novos nomes. Por isso mesmo, será muito difícil (não impossível, claro) que Alckmin consiga manter seu alto índice. O busílis Alckmin tem entre 37% a 44% de intenção de votos na grande SP. E de 48% a 59% no interior. O que isso reflete ? Uma avaliação menos positiva nas regiões mais violentas. Cardeal Mazarino "Fale bem de todo mundo. Jamais fale mal de alguém, temendo que um terceiro escute e vá relatar tudo à pessoa mencionada. Dos superiores só fale bem e louve, especialmente aqueles de quem precisa". (Cardeal Mazarino em Breviário dos Políticos) Terceira via Dentro da moldura de saturação da velha briga entre tucanos e petistas, emerge a alternativa de uma terceira via. Que pode abrigar um nome asséptico, sem a poluição e os carimbos da velha política, de perfil empreendedor. Paulo Skaf, presidente da FIESP/CIESP encaixa-se nessa possibilidade. Principalmente se dispuser de espaço midiático eleitoral capaz de garantir ampla visibilidade. Trata-se do perfil mais denso do PMDB para enfrentar a maior batalha eleitoral do país. São mais de 30 milhões de eleitores. Na ladeira ? A agência de risco Standard & Poor's colocou o Brasil na ladeira. Aumentou a taxa de risco do Brasil com sua avaliação negativa da economia. Esse fato coloca o Brasil nas prioridades de saques de recursos de investidores estrangeiros. Enquanto isso, os EUA ganharam maior elevação em sua nota de avaliação, saindo da classificação AA+ para estável. O polo se inverte. Sun Tzu "Quando em região difícil, não acampe; em regiões onde se cruzam boas estradas, una-se aos aliados; não demore em posições perigosamente isoladas; em terreno aberto, não tente barrar o inimigo; em situação de cerco, recorra a estratagemas; em posição desesperada, deve lutar; há estradas que não devem ser percorridas e cidades que não devem ser sitiadas". (Sun Tzu em A Arte da Guerra) Manifestações e protestos Nos últimos tempos, o país está assistindo a uma escalada de protestos e movimentos sociais. Ruas estão sendo ocupadas, passeatas, algumas com depredação de espaços, propriedades e equipamentos de serviços públicos. O que está por trás disso ? Interesses eleitoreiros ? Primeiros sinais de uma batalha que será muito sangrenta em 2014 ? Desobediência civil em processo de expansão ? O fato é que a locução social se escancara. A sociedade está muito organizada. Os movimentos sociais vivem um clima de tensão. Nas ruas e até no campo. Indígenas ocupam fazendas e relutam em cumprir ordens da Justiça. O barulho social sinaliza algo em movimento. Urge indagar causas de toda a efervescência social. Miyamoto "Pense sempre em cruzar o riacho no ponto mais propício. Significa atacar o ponto vulnerável do adversário e colocar-se em posição vantajosa". (Miyamoto Musashi em Um Livro de Cinco Anéis) Calote da Pluna A empresa aérea uruguaia Pluna pode voltar a operar este ano sob o comando de ex-funcionários e com apoio do governo daquele país. Esta empresa encerrou as atividades no ano passado atolada em dívidas. Só no Brasil o calote da Pluna atingiu 6.500 consumidores - prejuízo de cerca de dois milhões de dólares -, segundo cálculos do Sindicato das Empresas de Turismo no Estado de São Paulo (Sindetur-SP). ANAC, surda e muda O pior nessa história da Pluna : a Agência Nacional de Aviação Civil, ANAC, que deveria defender os interesses dos consumidores brasileiros, nada fez, como sempre. Nem mandou reacomodar passageiros em outras companhias. Pela omissão, está sendo acionada na Justiça pelo Sindetur-SP. O presidente do Sindetur-SP, Eduardo Nascimento, diz que seu sindicato fará o que for possível para que a nova Pluna só seja autorizada a operar no Brasil depois de indenizar integralmente os passageiros prejudicados e as agências de turismo que tiveram de reparar os danos por eles sofridos. Conselho à presidente Dilma Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes, membros dos Poderes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado ao ministro Luís Roberto Barroso, recém- nomeado para compor o quadro do STF. Hoje, dedica sua atenção à presidente Dilma Rousseff : 1. Sinais amarelos (pesquisas, movimentos, protestos) começam a acender nos semáforos que orientam os comportamentos sociais. Sugerem que Vossa Excelência examine com lupa o que se passa no universo social. 2. A esfera política também se mostra insatisfeita com o tratamento que vem recebendo do Executivo Federal. A lupa também deve ser acionada para verificar as ondas de insatisfação. 3. Nas frentes governativas, particularmente na infraestrutura, grandes obras estão com cronogramas defasados. Esse somatório de coisas ameaça furar o depósito da boa imagem de Vossa Excelência.
quarta-feira, 5 de junho de 2013

Porandubas nº 360

Abro a Coluna com duas historinhas. Qualquer desculpa serve Teotônio não era apenas o apóstolo da redemocratização. Era um aplicado discípulo do Cristo. Como Ele, gostava de falar por parábolas. No Clube dos Repórteres Políticos do Rio, perguntaram-lhe por que o governo e a Arena tinham tanto medo das eleições diretas. Ele sorriu e contou : - "A vaca do compadre pobre apareceu no pasto do compadre rico. O compadre pobre pediu ao compadre rico uma corda para tirar a vaca de lá. O compadre rico desconversou : - Agora, eu vou à missa. - Mas, compadre, o que é que tem minha vaca com a sua missa ? - "Compadre, quando a gente não quer, qualquer desculpa serve". Cuidado para não cair Quintino Cunha, famoso advogado e poeta, estava participando de um júri em Quixeramobim. O promotor berrava na tribuna : - Senhores jurados, estou montado na lei. Quintino pede um aparte : - V. Exa. tenha cuidado para não cair, porque está montado em um animal que não conhece. O promotor se calou. (Historinhas contadas pelo amigo e melhor contador de causos de nossa política, Sebastião Nery) Mar borrascoso Não há perigo de tempestades imediatas. Mas não se pode igualmente garantir que a calmaria toma conta do oceano. Digamos que há sinais de um mar borrascoso, a continuarem as nuvens plúmbeas dos últimos tempos. Estamos falando da relação entre o governo Dilma e suas bases. Os partidos da aliança governista, sem exceção, estão insatisfeitos com a indiferença da presidente para com a esfera política. Não se trata apenas de resistir às pressões para liberação de recursos destinados às bases dos parlamentares. Trata-se, sobretudo, do espírito que reina sobre a administração : ministros sentem-se limitados em suas ações ; secretários executivos fazem a ponte entre a presidente e os ministérios ; partidos não apitam nas políticas ministeriais e, assim, a política de coalizão vai se tornando em política de colisão. PMDB faz alerta Os presidentes da Câmara e do Senado, Henrique Alves e Renan Calheiros, foram levados pelo vice-presidente Michel Temer para uma conversa franca e leal com a presidente Dilma. Fizeram ver que o Congresso não pode e não deve trabalhar de afogadilho, sendo o escoadouro das questões de interesse governamental. Precisa agir nos trâmites estatuídos na Carta Maior, respeitando-se os princípios da autonomia, independência e harmonia entre os Poderes. Todo cuidado foi tomado para evitar críticas mais acerbas ao comportamento das ministras Gleisi e Ideli. Na verdade, as duas não têm poder de mando. Funcionam como veículos de transporte de mensagens e recados. A relação entre Congresso e Executivo precisa ser mais respeitosa. Tensões na base Nunca se viu, como hoje, um contencioso mais denso e polêmico que este gerado pelas tensões entre o governo e suas bases. Líderes e partidos criticam, de público, ações e atitudes da presidente e de suas ministras que promovem a articulação política. Governistas já usam expressões que sinalizam distanciamento de seus partidos do governo em face do descaso a que são submetidos. Com o PMDB, as parcerias com o PT estão ameaçadas em 7 Estados. O PMDB quer fazer o maior número possível de governadores, meta que também está na planilha do PT. O ex-presidente Lula, diz-se, após o périplo que faz em alguns países, vai se dedicar à tarefa de harmonizar os espíritos. Tarefa que, desta feita, tende ao fracasso. De olho no pibinho Os eventuais quatro candidatos principais à presidência da República poderão empurrar o pleito de 2014 para um segundo turno. As pesquisas mostram que se todos forem à luta - Dilma, Aécio, Marina e Eduardo Campos - as chances de um segundo turno tornam-se muito fortes. Ademais, sinais preocupantes se observam no horizonte, com as indicações de queda de 10 pontos percentuais na avaliação da presidente Dilma e de inclusão do cardápio da inflação na conversa matinal das donas de casa que fazem feira. A queda de Dilma pode não ser impactante, face à alta avaliação que dispõe - 76% de boa avaliação. Quem pode acinzentar a moldura é a continuidade de um pibinho inexpressivo sob o pano de fundo de um desemprego crescente. Isso, sim, poderia ser uma frente de obstáculos. Por isso, a economia estará no olho do furacão nos próximos tempos. Ou no olho dos pré-candidatos. Consumo X investimento Há uma intensa discussão no meio da equipe econômica. Como se sabe, nem todos rezam pela mesma cartilha. Há aqueles que ainda defendem o incentivo ao consumo como pista para se chegar ao pódio eleitoral. E há aqueles que acham tal receita completamente defasada. Os tempos bicudos de hoje já não facilitam medidas de impulso ao consumo, como as que o Brasil adotou para escapar da crise de 2008. O novo tom é o da orquestra que toca os arranjos dos investimentos. Diz-se que a arenga entre os pensantes de um lado e de outro é ácida. E que, por conta disso, figuras importantes estão dando adeus ao governo, como é o caso do secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Nelson Barbosa. MP 609 Vem aí a MP 609, que trata da cesta básica. Nela estaria embutido o escopo da frustrada MP 605, que não foi votada pelo Senado e caducou. Pois bem, essa MP é daqueles que mexem com o governo, eis que contem matéria vital para a melhoria do clima social. Há receio de que seja vencida pelo tempo. Não tem ainda parecer do relator, deputado Edinho Araújo. O receio é que, aprovada às pressas pela Câmara, chegue ao Senado fora dos prazos regulamentares, estatuídos pelo presidente Renan Calheiros. Partido Rede Boas perspectivas : o Rede Sustentabilidade, partido de Marina Silva, deverá ser formalizado até a data fatal de princípio de outubro deste ano, um ano antes das eleições. Até julho, a entidade terá suas 500 mil assinaturas. O corredor do Tribunal Eleitoral é que pode ser longo. PSD em baixa ? Ouve-se, aqui e acolá, um bochicho dando conta da fuga do PSD que alguns parlamentares estariam programando caso, até outubro, novos partidos políticos apareçam no espectro partidário. Além do Rede, de Marina, espera-se que o partido que está sendo criado por Paulinho da Força também ganhe vida. No caso do PSD, fala-se da tendência de parcela do corpo parlamentar em deixar a base governista para se aliar a Aécio Neves ou Eduardo Campos. Kassab, mãos à obra ! Padilhando... ? Dizem que o ministro Alexandre Padilha já recebeu bilhete azul para viajar no pleito de 2014 como candidato ao PT ao governo de SP. Incrível, pois o ministro tem pouca coisa a apresentar. Se há um lado feio na paisagem social é o da Saúde. A ponto de Padilhando ser chamado de ministro da Doença. Por isso, o padilhando, o gerúndio que o pré-candidato começa a semear no jardim da marquetagem, pode se transformar no vadiando ou no maltratando... ! Segurança crítica Segurança Pública será, seguramente, temática da linha de frente nas campanhas eleitorais de 2014, principalmente nos maiores Estados, cujas metrópoles pedem SOS. Os casos de barbaridade explodem. Crimes hediondos se multiplicam. Qual a solução ? Mais policiais ? Salários melhores ? Integração das Forças ? Investimento em Inteligência ? Diminuição da maioridade penal ? Aumento do prazo de detenção do adolescente criminoso ? Mudança no Estatuto da Criança e do Adolescente ? Expansão das redes dos presídios ? Instituição de bônus-prêmio para policiais com melhores resultados na diminuição dos índices de violência ? Horizontes do Bradesco "As expectativas para as principais variáveis macroeconômicas passaram por ajustes, especialmente para 2013, respondendo à frustração com o resultado do PIB do primeiro trimestre, à mudança de ritmo do aumento da Selic anunciada na decisão do Copom na última quarta-feira e à rápida depreciação da moeda brasileira, observada na semana passada, conforme apontado pelo Relatório Focus - divulgado hoje pelo Banco Central, com estimativas coletadas até o dia 31 de maio. A mediana das expectativas para o IPCA passou de 5,81% para 5,80% para este ano e seguiram em 5,80% para ano que vem". (Departamento de Estudos e Pesquisas Econômicas do Bradesco) PIB de 2,77% "A estimativa de crescimento do PIB mostrou queda para 2013, passando de 2,93% para 2,77% e caiu de 3,50% para 3,40% para 2014. A mediana da projeção para a taxa Selic subiu de 8,25% para 8,50% para este ano e continuou em 8,50% para 2014. Por fim, as projeções para a taxa de câmbio apresentaram discretos ajustes na direção do real mais depreciado, passando de R$/US$ 2,03 para R$/US$ 2,05 em 2013 e de R$/US$ 2,07 para R$/US$ 2,10 em 2014, considerando a expectativa para final de período". (Bradesco) Afif governador Pois é, Guilherme Afif assumirá, na próxima semana, o governo de SP, substituindo o governador Alckmin, que viajará à Europa. Alckmin defenderá, em Paris, ao lado do vice-presidente Michel Temer, a candidatura da capital paulista como sede da Expo 2020. Afif pedirá afastamento temporário da Pasta da Micro e Pequena Empresa. Não há nenhum obstáculo a essa ação. O ministro segue rigorosamente a orientação da AGU. Que, em parecer, defendeu não haver nenhuma ilegalidade para que o vice-governador assuma o governo temporariamente. Medo em bares e restaurantes A onda de violência em bares e restaurantes da cidade deve provocar uma procura maior por segurança privada, a maneira indicada para conter os arrastões. Mas os proprietários não podem incorrer num erro primário : contratar pessoas sem experiência e, muito menos, empresas clandestinas que infestam o mercado, dessas sem autorização da Polícia Federal para funcionar. Cautela é fundamental : informe-se sobre a idoneidade da empresa na própria PF ou no Sindicato das Empresas de Segurança Privada, Segurança Eletrônica, Serviços de Escolta e Cursos de Formação do Estado de São Paulo - Sesvesp. Picadinho A propósito da mulher que fez picadinho do marido-japonês, a coluna recebe esse alerta do amigo Álvaro Lopes : "Até a década de 70, se a mulher descobrisse uma traição ela perdoava e cuidava do marido, com medo de ser abandonada... Na década de 80, se a mulher descobrisse uma traição, juntava as próprias coisas na mala e ia embora... Na década de 90, se a mulher descobrisse uma traição, juntava as coisas do marido na mala e o mandava embora... Hoje, quando a mulher descobre a traição, junta o marido em pedaços na mala e joga tudo fora". Conselho ao novo ministro do STF Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes, membros dos Poderes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos dirigentes da ANAC. Hoje, volta sua atenção para o ministro Luís Roberto Barroso, recém-nomeado para compor o quadro do STF : 1. A sociedade organizada acompanha com atenção a movimentação que culminou com sua nomeação para o elevado cargo de ministro da mais alta Corte do país, graças aos seus méritos pessoais e reconhecida sapiência de jurista. 2. É de esperar que a passagem de Vossa Excelência pelo STF será coroada de êxitos e brilho. O momento político-institucional mostra o acirramento de tensões entre os Poderes, motivo pelo qual sua performance - decisões, julgamentos, pareceres - deverá receber alta atenção dos operadores do Direito e das lideranças da sociedade. 3. Por isso mesmo, toda cautela se fará necessária para que os julgamentos a cargo de Vossa Excelência estejam imunes ao "viés politiqueiro", que passou a carimbar as atitudes de membros da Corte Suprema. Que a recomendação de Vossa Excelência ilumine as decisões de todos os seus futuros colegas : "STF não deve ceder à pressão da sociedade".
quarta-feira, 29 de maio de 2013

Porandubas nº 359

Abro a coluna com três historinhas do incomparável Jânio Quadros, pinçadas do livrinho Bilhetinhos de Jânio, que me foi presenteado pelo amigo Luis Costa : Cães Juarez Távora, que Jânio apoiara com decisão no sentido de levá-lo à presidência da República, foi atacado com violência em sua honorabilidade. Jânio, imediatamente, telegrafou ao ex-candidato, confortando-o moralmente, dizendo : - Felizmente ainda contamos com homens da estatura moral do prezado amigo. Os cães que ladram aí, ladram aqui, também. Milagre O prefeito de Fernandópolis/SP, na audiência aos prefeitos do interior, solicitou de Jânio providências urgentes para solucionar o problema da eletricidade do seu município, "ameaçado a ficar às escuras dentro de sessenta dias". O governador tinha de arranjar a luz. - O amigo me pede um milagre ! - respondeu Jânio. Ninguém pode dar luz em sessenta dias... Após os sorrisos, o governador declarou que iria tentar o milagre. Comida e trabalho Num discurso pronunciado, de apoio à candidatura de Juarez Távora à presidência da República, Jânio emitiu a seguinte imagem, a respeito do trabalho e da comida : "Neste país, milhões e milhões de homens trabalham, trabalham para uns poucos comerem, comerem. Se o Criador desejasse que dos seus filhos uns só fossem criados para trabalhar e outros só para comer, tê-los-ia feito : uns, só com braços; e outros, só com bocas". Caixa de boatos Pois é, o boato que as oposições teriam maquinado para desestabilizar o programa-símbolo do governo Dilma foi um tiro n'água, ou melhor, um bumerangue. Voltou-se contra o próprio governo. A Caixa Econômica foi a responsável pela confusão, ao antecipar o pagamento dos benefícios do Bolsa Família na véspera da circulação da boataria sobre o fim do programa. Jorge Hereda confessa que o banco errou (cometeu uma heresia ?) e pediu desculpas, na esteira da hipótese de que a antecipação teria efetivamente provocado a onda de saques. Boato e bumerangue Seria incrível que as oposições partissem para a montagem de boatos tratando do fim do benefício. Ao final do processo, a trama se voltaria contra as oposições, bastando que a tuba de ressonância do governo desmentisse a versão. O povão, claro, acabaria se revoltando contra a fofocagem que teria sido perpetrada pelas oposições. Este consultor já alertara sobre a inconsistência da tese, na coluna da semana passada. Hoje, confirma sua posição. Há que se ter muito cuidado com boatos. Eles podem acabar matando a fonte inspiradora. Podem ser um bumerangue. Nuvens cinzentas O horizonte mostra o aparecimento de nuvens densas. A economia dá sinais de fragilidade. A inflação começa a dar as caras e o povão começa a expressar preocupação. Pesquisas já apontam nessa direção. Os investidores ensaiam passos de retraimento. A esfera política se agita e avoluma críticas ao governo. A presidente Dilma, apesar da disparada boa avaliação, já não conta com tanta simpatia de suas bases. Ao contrário, os partidos da base, com exceção do PT, abrem suas trombetas. Parlamentares querem mais atenção da presidente Dilma. Que não tem a flexibilidade de Lula para olhar com atenção as demandas políticas. Triângulo das Bermudas SP, com mais de 30 milhões de eleitores, MG, com cerca de 15 milhões e RJ, com cerca de 12 milhões formam o Triângulo das Bermudas das eleições. Como se sabe, o Triângulo das Bermudas constituem o misterioso espaço no Caribe, que abriga navios e aviões nas profundezas do oceano. Também conhecido como Triângulo do Diabo, na área ocorrem fenômenos físicos, químicos, climáticos, geográficos e geofísicos, sendo palco de desaparecimentos de aviões, barcos de passeio e navios. Pois bem, SP, MG e RJ juntam a maior fatia do eleitorado brasileiro. Essa é a razão que justifica a tese : quem atravessar, incólume, o Triângulo, estará salvo. Os votos de cada um Aécio Neves deve conduzir em torno de seu nome a maior fatia do eleitorado de 15 milhões. Teria entre 6 a 7 milhões de votos (válidos). Dilma, entre 4 e 5. O restante se diluiria. No Rio, tudo vai depender do grupo de Cabral/PMDB. Se for com Dilma, esta ganharia a maior fatia, algo entre 5 e 6 milhões. Mas se for com Aécio, o mineiro poderá ter a maior vantagem. E se Lindenberg entrar no páreo ? É possível que o senador na disputa rache o eleitorado, deixando Cabral com Aécio ou mesmo com Eduardo Campos, se este confirmar sua candidatura. Cabral garante que não topará apoiar Dilma se o senador Lindenberg for ao páreo. Em SP, o tucanato de Alckmin estará fechado com Aécio. Mas a presidente Dilma pode abocanhar os 30% tradicionais que o PT tem no maior contingente eleitoral do país. Ademais, o PMDB e outros partidos da base devem continuar a chancelar o nome da presidente. Há, ainda, o fator Lula, capaz de puxar mais uma sacola de votos na reta final. No Nordeste, com quase 30% dos votos do país, a maré tende a encher a praia de Dilma. Campos, lá e cá A cada semana, o governador Eduardo Campos acrescenta uma bateria de interrogações a respeito de seu futuro. Esta semana, longa matéria no jornal Valor Econômico praticamente mostra que as pontes com o governo Dilma e o PSB foram quebradas. Há uma ampla crítica ao governo e ao PT, que não respeitaria outros partidos, considerando-se o único responsável pelos êxitos da administração. Campos volta a ter uma agenda de viagens e a ouvir as bases do seu partido. Abriu as portas para o ingresso de seu vice, João Lyra, e estaria dando adeus ao seu correligionário, Fernando Bezerra, ministro da Integração. Que estaria arrumando as malas para deixar o PSB e ingressar noutra sigla. Mas as interrogações se expandem : entre os governadores socialistas, qual apoiaria a candidatura Eduardo Campos ? Serra candidato ? SDS O governador Geraldo Alckmin garante : José Serra será candidato. A que ? Resposta : perguntem a ele. Maneira mineira de despistar. Serra poderá ser candidato a presidente da República ? Sim, caso queira e seja acolhido pelo MD, partido a ser formado com a fusão do PPS e do PMN. Serra também poderá ser candidato a senador. E a deputado ? Isso é coisa menor para ele. E a governador de SP pelo MD ? Hipótese improvável. Lutar contra o tucanato que ajudou a nascer e a se consolidar ? Nem mesmo ele, Serra, sabe quais são as rotas de seu futuro. SDS - Só Deus Sabe. O ano da contabilidade Foi lançada na segunda-feira, 27/5, na Assembleia Legislativa, a campanha "2013 - O ano da contabilidade no Brasil", iniciativa do Conselho Federal de Contabilidade, em parceria com as demais entidades da categoria. A profissão, regulamentada há quase 70 anos, é hoje uma das cinco mais procuradas nas universidades, segundo o deputado estadual Itamar Borges, que presidiu a sessão solene. Para Sérgio Approbato Machado Júnior, presidente do Sindicato das Empresas de Serviços Contábeis e de Assessoramento no Estado de São Paulo (Sescon/SP), a categoria contábil vem conquistando um canal de comunicação importante na esfera política. "Buscamos sempre mudanças significativas para a sociedade como a desburocratização e a redução da carga tributária. Não há desenvolvimento que não passe pelo contador. A contabilidade faz parte da gestão das empresas". Mídias sociais no turismo Um estudo realizado pelo Ipeturis (Instituto de Pesquisas, Estudos e Capacitação em Turismo), por encomenda do Sindetur/SP (Sindicato das Empresas de Turismo no Estado de São Paulo), mapeou o uso das mídias sociais no setor de agenciamento turístico. Entre as agências pesquisadas, 54% utilizam a rede para aumentar as vendas e fidelizar clientes. O Facebook é a ferramenta mais popular, citada por 97% das empresas. "Com a evolução tecnológica, as mídias sociais se tornaram indispensáveis para o trabalho dos agentes de turismo na comunicação com o cliente. Quem saiu na frente já ocupa um valioso espaço no mercado", afirma Marciano Freire, diretor do Ipeturis. Em respeito aos passageiros Diante da total omissão da ANAC, que tapa os olhos para as relações injustas entre empresas aéreas e seus passageiros, o Sindicato das Empresas de Turismo no Estado de São Paulo - Sindetur/SP, levanta a bandeira da defesa dos consumidores, sob o comando de seu presidente Eduardo Nascimento. O decálogo do sindicato mostra as obrigações que a ANAC deveria impor, mas não impõe : 1. indiquem a quantidade de assentos disponíveis nas tarifas promocionais; 2. atendam chamadas telefônicas no tempo máximo de um minuto; 3. atribuam validade mínima de 24 horas para o valor da tarifa oferecida; 4. informem claramente o preço total e as restrições da tarifa oferecida; 5. não apliquem taxas abusivas por remarcação ou cancelamento; 6. reparem, em no máximo 30 dias, os danos por voos cancelados; 7. reparem de imediato danos por extravio de bagagem em voos de ida; 8. reparem, em no máximo 30 dias, danos ou extravio de bagagem, na volta; 9. reembolsem, em no máximo 30 dias, passagens não utilizadas; 10. transportem consumidores de empresas que paralisarem atividades. Choque de qualidade O secretário do Desenvolvimento Econômico Sustentável do Estado de SC, Paulo Bornhausen, acaba de marcar um gol de placa com o lançamento de seu projeto "Gestão Municipal para a Nova Economia". Ao custo de R$ 3 milhões, o projeto pretende estimular o desenvolvimento econômico sustentável dos municípios catarinenses por meio do aumento da capacidade de investimento, qualificação dos serviços e dos servidores públicos, e melhoria da gestão para questões estratégicas. Com isso, quer dar um choque de qualidade na precária administração das prefeituras. Vários prefeitos e empresários já aderiram, entre eles Jorge Gerdau. A Anvisa e os clandestinos Donas de casa, pessoas responsáveis, continuam a sentir falta do álcool líquido mais forte nas prateleiras de supermercados e recusam aquele mais fraco ou o gel. Enquanto isso, os postos de gasolina continuam a vender o álcool mais forte (etanol) em garrafas pet para pessoas nem tão responsáveis assim. Usam este produto negado às donas de casa para fazer suas fogueiras nessas noites frias de outono ou então para, depois de muitos goles a mais, acender suas churrasqueiras. A Anvisa é a responsável por tamanha incoerência : proíbe o álcool 92 INPM para pessoas sérias e empurra outros consumidores para a clandestinidade, passíveis de acidentes. O governo Federal precisa entender que a sociedade brasileira não precisa da tutela da Anvisa. Cachorro-quente e Aluízio Aluizista roxo, que tinha no dedo polegar erguido um dos seus símbolos, o comerciante Francisquinho Nunes do Café e Bar Mossoró não se descuidava no culto à sua paixão. Em seu comércio no centro da cidade de Mossoró, com clientela diversificada, não tergiversava na hora de expressar sua preferência política. Para causar embaraço a Francisquinho, partidários do deputado Vingt Rosado ou mesmo circunstantes diversos, apenas à cata de diversão, chegam ao Café e Bar Mossoró e tascam o pedido. Um deles repete o que outros já vinham provocando : - Francisquinho, dois cachorros-quentes. Aliado ao pedido verbal, o cliente sinaliza com dois dedos formando um "V" de Vingt Rosado, ferrenho adversário do líder Aluízio Alves. Incontinenti, o comerciante não amolece, nem cai na armadilha simbológica. - Está certo ! Vai um e um - avisa ele, sinalizando com o polegar erguido duas vezes (Historinha contada por Carlos Santos em "Só Rindo 2".) Conselho aos diretores da ANAC Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes, membros dos Poderes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado ao governador de SP, Geraldo Alckmin. Hoje, volta sua atenção aos dirigentes da ANAC : 1. A infraestrutura de serviços nos aeroportos e a falta de controle sobre as companhias aéreas atestam a ineficiência da Agência dirigida por Vossas Excelências. 2. Assumam suas responsabilidades, fiscalizem de maneira exemplar as companhias aéreas, atentem para as queixas dos consumidores, procurem cumprir de maneira rigorosa as funções que cabe à ANAC executar. 3. O Brasil se prepara para sediar os dois mais importantes eventos do calendário esportivo mundial. A continuarem os buracos, vazios e descontroles no sistema de transportes aéreos, o país será submetido à mais intensa bateria de críticas e denúncias de sua história. Atentem para evitar esse descalabro.
quarta-feira, 22 de maio de 2013

Porandubas nº 358

Abro a coluna com mais uma historinha da Paraíba. Zé Cavalcanti, político populista, filho de Né Cavalcanti, de São José de Piranhas, administrou a cidade de Patos entre novembro de 1963 a janeiro de 1969, devido a prorrogação de mandatos de prefeitos e vereadores. Sempre andou às turras com o governador João Agripino. Numa das campanhas, os ânimos ficaram mais acirrados. Certo dia, Zé foi surpreendido por um telefonema de João Agripino, que o chamava ao aeroporto de Patos. Sem qualquer explicação do governador, tomaram o avião e seguiram para Catolé do Rocha. Na chegada, Agripino comunicou : - O seu amigo Zé Sérgio foi quem mandou que eu lhe trouxesse para tomar parte num comício hoje aqui em Catolé. Era tarde para Cavalcanti protestar. Só que o candidato adversário de Zé Sérgio era o Frei Marcelino. A noite, no comício, Cavalcanti, o segundo orador, foi anunciado com estardalhaço. Começou pregando uma peça contra o governador, postado ao seu lado e de quem queria se vingar. - Vocês daqui de Catolé já me conhecem bem, que esta não é a primeira vez que falo aqui em campanha. E, para ser sincero, vou iniciar desagradando a todos, dizendo que se estivesse aqui, acompanharia Frei Marcelino ! Suspense ! Repetiu : - Já disse e torno a dizer: se eu estivesse aqui, acompanharia Frei Marcelino ! Antes de levar uma bofetada, emendou : - Estaria com Frei Marcelino, sim, mas na Igreja, acompanhando procissão e assistindo missa, que ofício de frade é rezar e não fazer política !... Ba(r)boseiras ? não O ministro Joaquim Barbosa acaba de receber mais uma bateria crítica por ter dito que os partidos políticos brasileiros são de "mentirinha" e mais : que o Congresso Nacional é inteiramente dominado pelo Executivo. Teria dito alguma baboseira ? Ou, usando seu sobrenome, barboseira, algo exagerado em se tratando de uma figura polêmica como Sua Excelência ? Pois bem, o presidente do STF não exagerou. Disse o que se sabe. Este consultor, ao longo dos últimos anos, tem se dedicado à tarefa de descrever a qualidade da nossa representação política. E comprova o que o ministro Barbosa diz: os partidos políticos são assemelhados, pasteurizados, perderam substância ideológica, lutam em torno da meta "o poder pelo poder". Congresso refém O nosso presidencialismo, por sua vez, é de caráter absolutista, imperial. O poder da caneta - nomeação, demissão, aprovação, desaprovação - o coloca na dianteira dos Poderes Legislativo e Judiciário. Todos comem no prato cozido pelo Executivo. Quem tem o poder de nomear os ministros do Judiciário ? Ora, o presidente da República. Herdamos a índole absolutista dos tempos do Império. A força do presidencialismo nasce nas águas do nosso passado. Tradição ibérica. Veja-se o Orçamento da República. Tem o selo autorizativo. Aprovado pelo Parlamento, as verbas nele consignadas só são liberadas com a aceitação/aprovação do Executivo. Não é a toa que o atual presidente da Câmara quer aprovar o Orçamento Impositivo, pelo qual os recursos destinados aos seus fins serão garantidos. Barbosa e a liturgia Se o ministro Joaquim Barbosa falou o que já se sabe, por que tanta reação e tantas críticas à sua expressão ? Porque ele esqueceu a liturgia do poder. Há coisas que são verdadeiras e não podem ser ditas por um comando de Poder. Joaquim representa a voz do Judiciário. Expressa a voz da autoridade máxima de um Poder. Trata-se, então, de um Poder execrando outro. A liturgia do cargo não permite que se expresse usando as palavras que usou : mentirinha, por exemplo. Quer dizer, não temos partidos políticos. Ocorre que eles existem. De maneira legal e legítima. Se são assemelhados, isso é outra coisa. O analista político pode dizer isso, mostrando que a crise da democracia representativa é exatamente o declínio dos partidos, o destroço das ideologias, o arrefecimento das bases e o enfraquecimento dos Parlamentos. Leitura correta, expressão chula A leitura pode ser correta, mas a expressão parece chula, quando emitida pelo presidente da nossa Corte maior. Acrescente-se ao fato o perfil polêmico de Joaquim Barbosa, ainda envolto no manto do mensalão. Foi um relator enérgico. Condenou importantes figuras da constelação política. Ganhou fama. Passou a ser visto como um eventual disputante da seara política. Diz o que lhe vem à cabeça. Não consegue administrar as tensões e pressões. Abriu fissuras em outras áreas que operam o Direito. Envolveu-se em projetos e recursos que formam um divisor de águas entre os Poderes Legislativo e Judiciário. Por isso, qualquer coisa que diga - mesmo as maiores obviedades - ganha alcance e gera efeitos bombásticos. Crise entre poderes ? Há quem veja o acirramento da crise entre os Poderes. Ora, essas tensões fazem parte das democracias, principalmente as incipientes como a nossa. Não temos uma árvore democrática forjada ao longo de muitos séculos. Ainda estamos vivenciando o ciclo de ajustes e afinações. Nossas instituições ainda padecem da pequena vivência histórica. Tudo está para ser reformado : os partidos políticos, o sistema de governo, as estruturas de Estado. Não será mais uma fala franca e sincera do Barbosa que trincará as bases de uma relação entre os Poderes. Estranha concorrência O governo de SP conduz de maneira estranha a concorrência para a compra de 65 trens (520 carros) para a CPTM - Companhia Paulista de Trens Metropolitanos, um negócio de quase R$ 2 bilhões, o maior da história neste setor. Ao abrir a licitação internacional, o governo impôs praticamente as mesmas condições para as empresas nacionais e estrangeiras. Detalhe da maior importância : as nacionais pagam todos os tributos, mão de obra, etc. Enfim, seu preço embute o altíssimo Custo Brasil. As estrangeiras, não : além de incentivos fiscais em seus países, entram aqui a custo zero, pois a Secretaria de Transportes Metropolitanos goza de imunidade tributária. Perda de 80 mil empregos Talvez o governo paulista não tenha avaliado as graves consequências de sua conduta nesta concorrência : ao favorecer os estrangeiros (pode-se ler chineses) com qualidade e preço inferiores, a Secretaria de Transportes pode decretar o fim da indústria ferroviária nacional. Isto significa a perda de 80 mil empregos (20 mil diretos e 60 mil indiretos), renúncia fiscal de todo imposto recolhido pelos fabricantes com plantas no Estado e a interrupção da tecnologia para este país tão carente disso. Obedecer ou não à Justiça ? O caso de SP é ainda mais emblemático, pois o Palácio dos Bandeirantes procura inviabilizar a indústria ferroviária brasileira, em atitude oposta à do governo Federal, que incentiva as indústrias automobilística e naval, em franco crescimento. Uma liminar concedida pela Justiça pede que o governo paulista leve em consideração os "favores fiscais" conferidos às empresas estrangeiras, para nivelar a situação entre as concorrentes nacionais e internacionais. Resta saber se o governo paulista obedece à Justiça ou se leva adiante sua determinação de favorecer estrangeiros para quebrar as nacionais. Mas continua estranho o fato de o governo paulista promover o desemprego em empresas que têm suas fábricas justamente no Estado de SP. Uma cunha no Cunha Quem está carecendo de uma cunha - no sentido de uma interferência em seu padrão de comando - é o líder do PMDB na Câmara, Eduardo Cunha. Trata-se de um sujeito inteligente, trabalhador, ágil, e que passou a canalizar a indignação dos atores políticos que formam a base governista. É sabido que a presidente Dilma não vê com bons olhos as pressões da esfera política. Tende a rejeitá-las. Donde se pode pinçar a hipótese de que seu conceito nas casas congressuais é muito ruim. Bem distante da aprovação que alcança na sociedade, algo em torno de 75%. Pois bem, as demandas reprimidas da base governista estão sendo canalizadas por Eduardo Cunha, que viu a oportunidade de marcar posição e, em certo sentido, fazer oposição ao próprio governo, que apóia. Uma contradição. O que fazer ? Ora, só inserindo uma cunha na estratégia oportunista do Cunha. Aécio morno Aécio Neves assumiu a presidência do PSDB com um clássico discurso de oposição. O que é ser clássico no campo da expressão ? É dizer mais ou menos o seguinte : temos de mudar para melhor; temos de fazer mais; temos de combater a corrupção; temos de incentivar os investimentos; o Brasil tem de crescer muito mais do que mostra esse pibinho. E assim por diante. A pergunta é : como fazer isso ? Quais as alavancas para mover o país ? Por onde mexer ? Quais as grandes ações prioritárias que devem merecer nossa atenção ? Ninguém viu e ouviu respostas para essas questões. Não adianta dizer que esse escopo virá no momento certo. O momento de expor um ideário para o país é esse : bem antes do ciclo eleitoral. Quanto mais cedo se apresentarem as ideias, mais condições terão de ganhar o crivo social. O PSDB não tem ainda um discurso para o país. Fernando Henrique, que deveria ajudar, também continua com sua linguagem tatibitate. Boato chegou ao bolso Este consultor tem repetido seu refrão : quem pode tirar o eleitor do sério é a equação BO+BA+CO+CA= Bolso, Barriga, Coração, Cabeça. Bolso com grana significa geladeira cheia, barriga satisfeita, coração agradecido e cabeça dando o voto a quem....joga a graninha no bolso. Pois bem, a massa está satisfeita. Vivendo situação de conforto. Quando, porém, o boato desfaz a equação, a correria se instala. Todos correm aos bancos. Para sacar seu dinheirinho do Bolsa Família. O governo passa a ser execrado. Por poucas horas. Até se descobrir que a correria foi fruto de boato. Nesse caso, a indignação se volta contra as oposições. Moral da história : quem com boato ataca, com a verdade será ferido. Que aparecerá mais cedo ou mais tarde. Slogans Slogan da Dilma : vamos fazer mais. Slogan do Eduardo Campos : vamos fazer mais e melhor. Slogan do Aécio Neves : vamos diferente para fazer melhor. Resumo : todos compromissados com a fazeção. O Brasil é uma eterna repetição. A rede de Marina O partido Rede, de Marina Silva, deve chegar às 500 mil assinaturas nos próximos 30 dias. É razoável contar com ele no próximo pleito. Honra ao mérito Vejam essa : acontecimento curioso envolvendo a Câmara de Vereadores de Arcoverde, sertão de PE, tem causado muita polêmica na cidade. Uma ex-prostituta famosa no local e conhecida como Nena Cajuína vai ganhar uma medalha de honra ao mérito por serviços prestados à comunidade. A proposta foi da vereadora Célia Cardoso e foi aprovada com unanimidade. Conselho ao governador Alckmin Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes, membros dos Poderes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado à presidente Dilma Rousseff. Hoje, volta sua atenção ao governador de SP, Geraldo Alckmin. 1. Vossa Excelência dedicou, ao longo de sua vida, uma história densa em defesa dos interesses do Estado de SP. A essa altura de seu mandato, precisa cultivar essa história e coroar assim sua passagem pelo Palácio dos Bandeirantes; 2. Assim, não convém levar adiante uma concorrência lesiva aos interesses da indústria ferroviária nacional, que planta neste Estado o seu desenvolvimento; 3. Não permita que essa indústria quebre, com uma consequente demissão em massa de milhares de trabalhadores, apenas para beneficiar empresas estrangeiras que nenhum vínculo têm com o povo paulista. ____________
quarta-feira, 15 de maio de 2013

Porandubas nº 357

Abro a coluna com mais uma historinha do folclore mineiro. Mineirim Para desvendar a alma do capiau mineirinho, conta-se a história de um empresário que viajava pelo interior de Minas e, ao ver um peão tocando as vacas, parou para lhe fazer algumas perguntas : - O compadre poderia me passar umas informações ? - Claro, uai ! - As vacas dão muito leite ? - Qual que o senhor quer saber : as maiáda ou as marrom ? - Pode ser as malhadas. - Dá uns 12 litro por dia ! - E as marrons ? - Também uns 12 litro por dia ! O empresário pensou um pouco e logo tornou a perguntar : - Elas comem o quê ? - Qual ? As maiáda ou as marrom ? - Sei lá, pode ser as marrons ! - As marrom come pasto e sal. - Hum ! E as malhadas ? - Também come pasto e sal ! O empresário, sem conseguir esconder a irritação : - Escuta aqui, meu amigo ! Por que toda vez que eu te pergunto alguma coisa sobre as vacas você me diz se quero saber das malhadas ou das marrons, sendo que é tudo a mesma resposta ? E o matuto responde : - É que as maiáda são minha ! - E as marrons ? - Também ! Fênix O governador de PE Eduardo Campos alçou voo cedo nesta temporada, correu o país, reuniu a nata dos empresários em SP e no Rio, rugiu contra o governo Federal no programa eleitoral do PSB e colheu seguidores para cimentar a estrada de sua campanha à presidência da República em 2014. De repente, submergiu. O PT até poderia achar que mais um incômodo para a eleição de 2014 estava fora do páreo. Puro engano : Campos volta à caminhada e já desembarca nesta semana em Florianópolis para uma reunião com empresários. O presidente nacional do PRB, Marcos Pereira, admite apoiar o governador no ano que vem com um discurso muito pragmático, segundo a lógica da folha de bananeira, que balança ao sabor do vento : vai aguardar para ver se a economia deslancha, se melhora, para então investir na melhor pule. O PSD na estrada O PSD do ex-prefeito Gilberto Kassab, pelo andar da carruagem, não vai precisar esperar pela evolução da economia para decidir seu apoio nas eleições de 2014 : o partido já adotou uma posição pró-Dilma em 14 Estados. Um de seus principais líderes, Guilherme Afif, já colocou o pé na estrada de Dilma. O contrabandista Lacerda fazia discurso na Câmara Federal denunciando o contrabando. Bonaparte de São Domingos Pinheiro Maia, deputado pelo Partido Rural Trabalhista e famoso por haver tomado posse de casaca e cartola pede um aparte : - Nobre líder Carlos Frederico Werneck de Lacerda, estou ouvindo com muita atenção e interesse seu rebarbativo discurso. Cheguei à conclusão de que V. Excelência quer provar que há deputados virando contrabandistas. - Não, deputado. É equívoco seu. O que ocorre é que há muitos contrabandistas virando deputado. Era o próprio. Dano social ? Mais uma novidade que surge na Justiça do Trabalho. O empregador recolhe todos os tributos legais e, por algum motivo, demite um ou mais funcionários. A praxe é : o demitido entra na Justiça e pleiteia o montante que seu advogado sugerir, como horas extras, descontos indevidos, dano moral, etc. Não bastasse a condenação por alguns dos itens baseados em provas testemunhais que prevalecem sobre as documentais, empresas vêm sendo condenadas por "dano social". Traduzindo : a empresa é condenada a ressarcir o Estado por gerar um desempregado ! Isso mesmo. Até parece que contratos contêm cláusula de vitaliciedade. Lembre-se que os tributos pagos pelas empresas abrangem coisas como o seguro desemprego. Que país é este ? Arena parlamentar Ontem, a fogueira se instalou alta na Câmara Federal por ocasião da votação da MP dos Portos. Querela entre os deputados Ronaldo Caiado e Antony Garotinho. A seguir, um parlamentar de Minas subiu à mesa, em protesto, estampando uma faixa com o número de R$ 8 bilhões. A sessão foi suspensa. Pano de fundo : o líder do PMDB, Eduardo Cunha (com sua emenda aglutinativa), e o governo cederam em suas posições. O PMDB apresentou uma versão mais enxuta de sugestões de mudanças na medida provisória que regula o setor portuário. O texto não traz mais a exigência de licitação para explorar portos privados. A medida estava prevista em uma emenda feita pelo deputado Luiz Sérgio (PT/RJ) e que foi acolhida pelo líder do PMDB, Eduardo Cunha (RJ). Até o fechamento da coluna, a matéria era objeto de debate. Seja qual for o resultado, aprovada ou não, a MP dos Portos deixará o governo de ouvidos mais abertos. PEC 37 A fogueira das vaidades pode não destruir todas as virtudes, mas desordena. Sem controle, subverte a ordem dos fatores e desequilibra sistemas e estruturas. Esta é a moldura que tem abrigado certas instâncias do MP em ações que extrapolam seu escopo funcional. Imbuindo-se do poder de polícia, passam a realizar investigações criminais, transformando suspeitas de ilícitos em roteiros sensacionalistas que acendem as luzes do espetáculo midiático. Sem mais, atraem os holofotes como "xerifes" brasileiros do século XXI. É por isso que o presidente da OAB/SP Marcos da Costa defende a PEC 37 : a CF deve tornar expressa que a apuração das infrações penais seja privativa das polícias Federal e civis dos Estados e Distrito Federal, reforçando as funções já definidas pela própria Carta Magna. A OAB/SP acaba de criar a Comissão de Defesa da Constitucionalidade das Investigações Criminais para tratar dos limites à ação investigatória do MP na esfera penal. O aliado dos passageiros Um dos maiores líderes do turismo brasileiro, o presidente do Sindetur/SP, Eduardo Nascimento, continua de espada em punho na defesa dos consumidores brasileiros, no caso os usuários do transporte aéreo. Os passageiros sabem que podem contar com esse aliado na luta contra alguns abusos costumeiros, como a mudança de voo ou cancelamento sem aviso prévio, a cobrança de taxas astronômicas por qualquer alteração no plano de viagem, a diminuição do espaço entre as poltronas, etc. Outra luta incansável é contra a burocracia nos aeroportos, aquelas filas irritantes na PF e na alfândega. Só discurso ? O metrô de SP trocou a empresa que ofereceu menor preço para executar os serviços de limpeza do sistema. Sob o argumento de economia. Até aí, tudo bem. No caso, porém, o custo menor decorreu de um corte de quase 40% no número de funcionários. Os que permaneceram trabalham, hoje, quase o dobro. No último 13 de maio, o governador Alckmin, ao assinar decreto que endurece a lei contra o trabalho escravo, foi peremptório : "Nós não queremos, no Estado de São Paulo, empregos que explorem as pessoas, que promovam um trabalho degradante e criem uma concorrência desleal com empresários sérios, que dão condições dignas de trabalho". Difícil de entender a lógica de sua Excelência. O 7º maior do mundo Entre as grandes obras anunciadas pelo governo Federal para a Copa do Mundo de 2014, um projeto chamou atenção pela grandiosidade : o futuro aeroporto internacional de São Gonçalo do Amarante, a dez quilômetros de Natal/RN. Seria um assombro, o sétimo maior aeroporto do mundo para cargas e para seis milhões de passageiros. Tão importante que o governo resolveu testar uma fórmula audaciosa : a privatização completa do novo aeroporto para fazê-lo sair do papel. Num leilão em junho de 2011, a obra foi arrematada pelo consórcio Inframérica, formado pela empresa brasileira Engevix e a argentina Corporación América. Este grupo pagou R$ 170 milhões para tocar o projeto, com um ágio de 228,82% sobre o lance mínimo fixado pelo Palácio do Planalto. Custo estimado da obra : R$ 1 bilhão, boa parte com financiamento do BNDES, comum às obras para a Copa do Mundo. Uma pista de 3 kms São Gonçalo do Amarante deveria substituir o Augusto Severo, em Parnamirim, a 18 quilômetros de Natal, aeroporto famoso por servir de base aos aviões norte-americanos durante a Segunda Guerra Mundial. É o quarto maior do Nordeste, mas as autoridades acham que está na hora de aposentá-lo. Afinal, o projeto para São Gonçalo do Amarante prometia um grande salto para a economia e o turismo do RN, além de cartão de visitas para os turistas que desembarcarão no ano que vem em Natal, uma das doze cidades-sede da Copa do Mundo. Aliás, a Arena das Dunas já está com mais de 60% das obras concluídas e deve ser entregue a tempo. Ou seja, o futebol está garantido. O aeroporto de São Gonçalo do Amarante foi idealizado em 1996 pela Infraero e pelo Exército, que durante quinze anos tentaram executar a obra. Conseguiram construir apenas uma pista de três quilômetros. Passados 17 anos, o que está feito ali, a um ano da Copa ? Elefante branco Nada existe no aeroporto de São Gonçalo do Amarante, além da velha pista, construída em mata de tabuleiro. Do projeto, não há ainda nem um pilar levantado. O grande sonho potiguar murchou, vitimado por "leis não cumpridas, Justiça tarda, projeto casuístico, prioridades invertidas, improbidade administrativa", segundo uma ação popular na Justiça desde abril com motivos óbvios : impedir a continuação das obras e investir na reforma do antigo aeroporto Augusto Severo. São Gonçalo caminha assim para mais um elefante branco de nossa história - ou mais um pedaço de mata devastado. São réus nesta ação as empresas Infravix Empreendimentos, Engevix Engenharia, BNDES, Marcelo Pacheco dos Guaranys, ANAC, a presidente Dilma Rousseff e a União Federal. Valor da ação : R$ 170 milhões, o mesmo pago em leilão pelo aeroporto. A ação popular A ação popular, proposta pelo sociólogo Paulo Sérgio Oliveira de Araújo, e sob responsabilidade dos advogados Igor Santos Steinbach e Sofia Morais de Souza Freire, sustenta : o projeto original faliu, hoje não passa de uma cópia mal feita do velho aeroporto da cidade ; por isso, tratou-se de propaganda enganosa. Dois terços da área ainda não foram desapropriadas - logo, não pode haver obra em terreno alheio e o governo não poderia leiloar um bem sem ter seu domínio pleno. Além do mais, houve desvio de finalidade. Licitou-se e proveu-se uma obra com ambições inovadoras e de proporções gigantescas para, ao final, ser executado um projeto medíocre. Não há nenhuma infraestrutura. A única estrada que liga a cidade a São Gonçalo do Amarante tem 6 quilômetros de cascalho. Outra falha : falta de licença ambiental. Os autores da ação popular pedem a anulação do contrato de concessão entre a ANAC e o Consórcio Inframérica e a desocupação da área. Fogooooo ! O deputado Edvaldo Motta, de Patos/PB, falando num comício, no bairro de São Sebastião daquela cidade, tentou vestir a camisa da honestidade. Em um tom de muita pompa, coisa que ele só usava para "inglês ver", proclamou : - Engano a tudo, menos à minha consciência. Não ! Á minha consciência, não ! Prefiro antes, dar um tiro no ouvido a enganá-la... Um gaiato, de lá do meio da multidão silenciosa, emendou : - Fogoooooo !!! (Do repertório de Ramalho Leite) Conselho à presidente Dilma Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes, membros dos Poderes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos Poderes Legislativo e Judiciário. Hoje, dedica sua atenção à presidente Dilma Rousseff. 1. Avolumam-se as críticas contra a falta ou precariedade da articulação política do governo, tarefa repartida entre as ministras Ideli Salvati e Gleisi Hoffmann. Seria oportuno que Vossa Excelência fizesse uma avaliação mais acurada do que se passa. 2. Se quiser chegar a bom termo ao correr deste ano e no ciclo eleitoral de 2014, o governo de Vossa Excelência precisa mudar (para melhor) a área da articulação com o Congresso Nacional. E se aproximar da esfera política. 3. Urge implantar um verdadeiro governo de coalizão, que significa interação com as forças políticas que dão sustentação ao governo, atendimento às grandes demandas dos representantes, dentro de critérios política e economicamente viáveis.
quarta-feira, 8 de maio de 2013

Porandubas nº 356

Chapa e perereca Abro a coluna com mais um "causo" narrado pelo potiguar Carlos Santos em Só Rindo, um de seus livros. A campanha rola e o velho costume do assistencialismo é posto em prática. Entre outras ferramentas, a doação de "pererecas", ou seja, próteses dentárias, não perde o seu "charme". Um ancião, banguelo, assediado para trocar o seu voto por uma perereca, resolve fazer o negócio. No dia da eleição ainda com uso de chapa impressa, ele aparece para votar, com a perereca no bolso. Vota e vai saindo com a cédula na mão, quando alguém da mesa receptora lhe avisa : "Ei, o senhor tem que deixar a chapa aqui", apontando para a urna. Pensando tratar-se da perereca, o velhinho a retira do bolso e desabafa : - Eu sabia que isso tinha enrolada ! Equação BO+BA+CO+CA As interrogações se multiplicam na esfera político-eleitoral ? O que ocorrerá em 2014 ? Quem tem mais chances ? A campanha terá um segundo turno ? Dilma segurará no mesmo território os partidos que hoje lhe dão sustentação ? Diante das nuvens cinzentas, este consultor, mais uma vez, tira o espanador do baú na tentativa de aclarar um pouco os horizontes. Este exercício começa com a equação que dá o título à nota : bolso (BO) com grana significa geladeira cheia ; que gera barriga (BA) satisfeita ; o coração (CO) fica comovido e agradecido e, dessa forma, a cabeça (CA) acaba decidindo recompensar os autores da façanha (bolsas e bolsos supridos) com o voto. Pano de fundo dessa equação : economia estável, inflação sob controle e baixa taxa de desemprego. A biruta aponta : Dilma, franca favorita. Equação IA+DM+VE+IS Vamos ao segundo cenário. Nesse caso, os horizontes espanados deixam ver a inflação muito alta (IA) ; o desemprego em massa (DM), estourando a boca do balão ; a violência extremada (VE), com expansão de latrocínios e assassinatos e, por consequência, a insegurança social (IS) formando ambientes de medo e indignação. Esse panorama favorece os candidatos oposicionistas, particularmente aqueles que se identificarem com a moldura de mudanças. A biruta aponta para uma batalha de segundo turno, entre a candidata Dilma e um opositor - Aécio Neves ou Eduardo Campos. Pibinho e inflação a 5% ? Mas há um cenário intermediário. E se o Brasil continuar registrando um baixo crescimento e a inflação continuar no patamar entre 5% a 6% ? Esse quadro favorece a situação ou a oposição ? Resposta : quem leva a melhor é a situação. Pois o Pibinho não chega às margens sob uma moldura de economia estável, mesmo sob baixo crescimento. As Bolsas do governo e as compensações oferecidas a setores produtivos conseguirão empurrar com a barriga as questões centrais. E a inflação nas taxas acima descritas continuará a ser suportada pelo consumo. Significa que este cenário ainda é bastante favorável à reeleição da presidente Dilma. Segundo turno O segundo turno vai depender do número de candidatos. Com dois grandes candidatos apenas, e sob um cenário de estabilidade, o quadro favorece Dilma Rousseff. O eleitorado esbarrará na dúvida : se a situação é estável por que mudar ? A tendência é de apertar a tecla do status quo. Com quatro candidatos, a possibilidade de um segundo turno é bem maior. Quem seriam os candidatos ? Dilma, Aécio, Marina e Eduardo Campos. Lembre-se que Marina teve quase 20 milhões de votos no último pleito presidencial. Que Aécio contaria com o apoio dos governos de SP e MG, os dois maiores colégios eleitorais do país. Que Eduardo Campos poderia se identificar com o fator "novidade". Tem boa estampa. Marina Em qualquer pesquisa, Marina Silva aparece com cerca de 15% dos votos. Mais que Aécio e Eduardo Campos. Dudu Eduardo Campos aparece com cerca de 5%. E tem um bloco de correligionários contrários à candidatura : os Gomes (Cid e Ciro), do CE ; o governador Casagrande, do ES ; o prefeito Alexandre Cardoso, de Duque de Caxias ; e todos sabem que o prefeito de BH, Márcio Lacerda, reza pela bíblia de Aécio Neves ; e o governador do PI, Wilson Martins, também seria favorável à reeleição da presidente Dilma. Será por isso que, nos últimos dias, Dudu desapareceu do mapa ? Não aceitou nenhum convite para participar de eventos importantes mais recentes. Joga seus olhos azuis na paisagem árida do sertão pernambucano. Contemplando a devastação da maior seca dos últimos 50 anos. Dilma A presidente começou a circular nos espaços centrais e periféricos. Começa a frequentar de maneira assídua o palco paulista. SP tem 32 milhões de eleitores. Lula é quem estaria por trás da agenda mais cheia da presidente. E Serra, hein ? Há quem enxergue um quinto candidato : José Serra. Como ? Saindo do PSDB e ingressando no MD, partido criado com a fusão do PPS e PMN. Serra tem dito que continuará a ocupar cargos. O que significa menos nomeação e mais disputas. Cargos disputados. Deputado ? Já foi. Senador ? Já foi. Governador ? Já foi. Prefeito ? Já foi. Sobra o cargo presidencial. Sairia do PSDB ? É difícil, mas não impossível. Os tucanos em SP se bicam há tempos. Mesmo com a eleição do deputado Duarte Nogueira para chefiar o tucanato paulista, as rixas continuarão. E Serra não engole o Aécio. Logo, as especulações de que pode sair do PSDB têm sentido. Até princípio de outubro, essa alternativa será uma espada de Dâmocles na cabeça dos tucanos. E um quinto candidato ? Se Serra for candidato, a moldura do segundo turno ganha mais firmeza. Seria quase impossível Dilma vencer Aécio, Marina, Eduardo Campos e Serra logo no primeiro turno. Suas chances de levar a melhor em um segundo turno com algum desses são boas. Quem garante que Eduardo Campos e Marina, por exemplo, fechem com Aécio (por exemplo) ou com Serra em um segundo turno ? Em qualquer circunstância, urge enxergar o pano de fundo econômico. Ele será o senhor da razão. Milagre O prefeito de Fernandópolis, na audiência aos prefeitos do interior, solicitou de Jânio providências urgentes para solucionar o problema da eletricidade do seu município, "ameaçado a ficar às escuras dentro de sessenta dias". O governador tinha de arranjar a luz. - "O amigo me pede um milagre ! - respondeu Jânio. Ninguém pode dar luz em sessenta dias...". Após os sorrisos, o governador declarou que iria tentar o milagre. (Do livro Bilhetinhos de Jânio, de J. Pereira) Alckmin x PT - copo cheio Em SP, a clássica polarização entre tucanos e petistas poderá ceder lugar a outros pólos de poder. Celso Russomanno, que teve um bom desempenho como candidato a prefeito, poderá entrar no jogo. Paulo Skaf, o mais forte perfil do PMDB, tem boas condições de atrair o eleitorado. O PT e o PSDB, por sua vez, esgotaram seu estoque de disputas. Lula pensa em Alexandre Padilha, ministro da Saúde, e em Luiz Marinho, prefeito de São Bernardo. O primeiro não tem o que mostrar, a não ser o desastre na saúde ; o segundo não escapa à rejeição de uma forte classe média, que o identifica com o sindicalismo petista. E Alckmin vai esbarrar na corrosão de material. Há 20 anos, os dutos do PSDB foram instalados em SP. Estão carcomidos. E Lula, hein ? Luiz Inácio Lula da Silva continua dando vazão às mais estrambóticas especulações. Uma diz respeito à sua candidatura ao... Governo de SP. Todos sabem que o sonho dos sonhos de Lula é tomar o Estado de SP para o PT. Nunca o partido conseguiu este feito. Se não encontrar o perfil ideal para vencer os tucanos, dizem, o próprio Lula poria seu nome à disposição. Este consultor acha a ideia pouco plausível. Depois de atingir os píncaros da glória, Lula aceitaria descer os degraus da fama ? Inacreditável. Hoje, ele é o mandachuva do PT, o guru da presidente, o orientador de todos os grupos petistas. Está acima de tudo e de todos. Por que descer na escada do poder ? Cabral no senado ? Sérgio Cabral começa a aplainar os caminhos do futuro. Quer ser ministro da Dilma. Espera por mais espaço do PMDB no governo. Enquanto isso, abre caminho para voltar ao Senado em 2014. Sem cargo não fica. Senador, teria mais condições de barganhar altos postos. Afif no ministério Guilherme Afif é, reconhecidamente, o mais adequado perfil para assumir uma pasta com escopo para organizar as políticas das micro e pequenas empresas. Dedicou quase toda sua vida pública a esta causa. Sua entrada na administração Federal significa o compromisso do PSD de Kassab com a reeleição da presidente Dilma. Por mais que o ex-prefeito Kassab diga que a escolha de Guilherme está na conta pessoal da presidente. Kassab já cumpriu todos os compromissos com José Serra e o tucanato. Quer, agora, consolidar seu partido. Telefones e versos A Sra. Dahyl de Marsilac Fontes, da família do poeta Martins Fontes, dirigiu, em versos, uma petição a Jânio, reclamando contra a espera, na fila, há 15 anos, um aparelho telefônico da CTB. Na parte final, diz : "E me perdoem se esta petiçãoLhe chega às mãos à última horaE no apagar das luzes...Embora !Que importa, se outras acenderão ?" Jânio respondeu, também em verso, despachando num "bilhetinho" : "Prezada Senhora.Vencendo terras e montes;- assim é a burocracia,Chegou-me, Sra. Fontes,Descrita na poesia, a história do telefone,E o mais que a história continha...- Li, Sra., e exausto e insone,Saiba que a culpa não é minha !" (Do livro Bilhetinhos de Jânio, de J. Pereira) PSD PSD de Kassab já contabiliza 12 diretórios regionais a favor da presidente Dilma. PEC 37 O MP tem importante papel na construção de uma sociedade ética e do Estado Democrático de Direito. Nos últimos tempos, porém, alguns de seus quadros têm se mostrado como organizadores de uma nova ordem social. Espetacularizam suas ações, abrem as baterias midiáticas, chamam a si as luzes fosforescentes das TVs. Não tem sentido fazer investigações criminais como se fossem comandos especiais da polícia. Devem deixar essas operações para as forças policiais. Cada macaco no seu galho. A PEC 37 faz sentido. PEC 33 Já a PEC 33, que limita o poder do STF, é fruto de uma tensão contínua entre os Poderes Legislativo e Judiciário. Somos uma democracia em processo de consolidação. Por isso mesmo, os pesos e contrapesos do nosso sistema democrático não estão plenamente regulados. O desbalanceamento gera interpenetração de fronteiras institucionais. A judicialização da política e a politização da Justiça são as duas faces dessa moldura. Daí a importância do debate. O valor da pontuação Um homem rico, sentindo-se morrer, pediu papel e caneta e escreveu assim : "Deixo os meus bens à minha irmã não ao meu sobrinho jamais será paga a conta do alfaiate nada aos pobres". Não teve tempo de pontuar e morreu. A quem deixava ele a riqueza ? Eram quatro os concorrentes. Chegou o sobrinho e fez estas pontuações numa cópia do bilhete : "Deixo os meus bens à minha irmã ? Não. Ao meu sobrinho. Jamais será paga a conta do alfaiate. Nada aos pobres". A irmã do morto chegou em seguida, com outra cópia do escrito, e pontuou deste modo : "Deixo os meus bens à minha irmã. Não ao meu sobrinho. Jamais será paga a conta do alfaiate. Nada aos pobres". Surgiu o alfaiate que, pedindo a cópia do original, fez estas pontuações : "Deixo os meus bens à minha irmã ? Não ! Ao meu sobrinho ? Jamais ! Será paga a conta do alfaiate. Nada aos pobres". O juiz estudava o caso, quando chegaram os pobres da cidade ; e um deles, mais sabido, tomando outra cópia, pontuou-a assim : "Deixo os meus bens à minha irmã ? Não ! A meu sobrinho ? Jamais ! Será paga a conta do alfaiate ? Nada ! Aos pobres !". (Do almanaque O Pensamento, de 1958) Conselho aos chefes dos poderes Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes, membros dos Poderes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos Poderes Legislativo e Judiciário. Que continuam a merecer atenção : 1. As tensões que energizam os ambientes institucionais precisam ser contidas e administradas. Os ânimos devem ser acalmados. Diálogo e compreensão, nesse momento, se fazem absolutamente necessários. 2. Urge aprofundar a agenda do momento -as PECs 33 e 37 - e dar a elas o destino mais conveniente : modificações/alterações, arquivamento ou aproveitamento parcial de seus escopos. Se trazem alguma contribuição para elevar o debate nacional e aperfeiçoar a ordem, não podem simplesmente ser deixadas de lado. 3. O Estado Democrático de Direito e a Construção da Sociedade Cidadã estão a exigir permanente diálogo e esforço para aperfeiçoamento do sistema normativo.
quinta-feira, 2 de maio de 2013

Porandubas nº 355

Infame, mas engraçada....... ! Abro a coluna com a historinha de um jogador de nome não tão afrancesado como se pode concluir pela fonética. Dirran (com "biquinho" para parecer um francês correto), galego meio sarará, entroncado e de pernas curtas, jogava no Clube Atlético Potengi, no RN. Um dia, disputava no Machadão, em Natal, uma partida contra o Potiguar de Currais Novos, pela 2ª divisão do campeonato potiguar. O jogador atleticano era o destaque. Fazia dribles desconcertantes e lançamentos perfeitos. Fechou as glórias com um golaço. O narrador da Rádio Poti gritava : "Dirran é um craque", "Dirran, revelação do futebol norte-rio-grandense". O jovem repórter estava enfeitiçado com as diabruras daquele que, em sua imaginação, acabava de chegar da França. Dirran prá cá, Dirran pra lá. No final do jogo, o Clube Atlético Potengi perdeu por 3 x 1. Mas o destaque foi Dirran. Vendo todo aquele sucesso, o jornalista jejuno da Rádio Poti correu para fazer uma entrevista com o craque na beira do gramado. Disparou uma bateria de perguntas : "Você tem parentes na França ? Qual a cidade onde nasceu, Monsieur ? Como veio parar no Brasil ? Pode comparar o futebol europeu com o futebol brasileiro ? Qual a origem de seu nome ? Como veio parar logo aqui no RN ? Como foi sua contratação? Perplexo, espantado, sem saber como responder, o jogador tascou a resposta ao incrédulo repórter : "Pera aí, meu sinhô, num é nada disso ; o sinhô se inganou ; meu apelido é Cu de Rã, mas como num pode falar na rádio, então, eles abreveia". (Historinha enviada pelo amigo Álvaro Lopes) Ecos de Comandatuba O mais abrangente Fórum de Empresários e políticos é seguramente o de Comandatuba, que o vibrante e incansável João Dória comanda há mais de uma década. Ali, empresários de grande e médio porte se reúnem com políticos de todos os calibres para debaterem aspectos da vida brasileira. São temas do mais alto interesse, como o deste último Fórum, que propiciou análise exaustiva dos eventos esportivos que vitaminarão a economia brasileira nos próximos anos : Copa do Mundo e Olimpíadas. Ministros, governadores, senadores, deputados e prefeitos de capitais acorrem ao convite de João. Empresários saem satisfeitos com o nível dos debates. E com a presença do vice-presidente da Republica, Michel Temer, que prestigiou a entrega das homenagens aos 10 empresários escolhidos pelo Lide. Temer chegou na hora do jantar e voltou à Brasília na mesma noite. Com a agenda voltada para a distensão entre o Congresso e o STF. Crença e otimismo O Fórum mostrou a confiança dos empresários no futuro do país. Quem resumiu este posicionamento de esperança e fé foi o empreendedor André Esteves, do BTG, que falou em nome dos agraciados do Lide. Mas as conversas interpessoais - pelo menos é o que este consultor pinçou - exibiram o otimismo. Ficou clara a necessidade de aperfeiçoamento das instituições. Críticas não faltam. O presidente do Congresso, Renan Calheiros, e o presidente da Câmara, falaram de seus programas e ações, sem deixar de reconhecer as dificuldades de avançar sob o escudo do consenso. Fizeram ambos uma boa peroração. Vamos a política Havia grande curiosidade em descobrir o que se passa na cabeça do governador Eduardo Campos. Este consultor, sentado à mesa em que ele se encontrava, domingo à noite, não encontrou espaço para fazer uma investida. Ficou nas conversas laterais com o prefeito Márcio Lacerda, de BH, e ACM Neto, de Salvador. Ambos estão fazendo avançar a administração. Neto importou de SP o duro e intransigente secretário das Finanças, Mauro Ricardo, que está botando ordem na casa. Lacerda, um empresário, governa com os olhos no conceito de racionalidade e eficiência. "Minha régua não está funcionando" Na segunda, após o Seminário, peguei Eduardo Campos pelo braço e joguei a pergunta que não queria calar : "governador, numa escala de 0 a 100, qual é possibilidade de sua candidatura à presidente em 2014 ?" Olhou-me com cara de surpresa, riu sem graça, e tascou a resposta : "minha régua de avaliação não está funcionando". Dudu escapou como enguia ensaboada. Não desisti. Dei uma cordinha : "governador, você só tem a ganhar. Mesmo se perder, ganha. Perdendo, você coloca seu carro no caminho de 2018". Voltou a arregalar os olhos azuis, riu mais uma vez sem graça e fechou o bico. Não disse Sim nem Não. Insisti : "você está ocupando o lugar que era de Aécio. Não percebeu ? É a bola da vez". E ouvi um balbuciar de quem queria correr dali : "é muito cedo, é muito cedo para tomar qualquer decisão". Voltou para seu Pernambuco cheio de incógnitas. E mais calado ainda. Será, sim Este consultor encaixou as respostas e não respostas no seu sistema cognitivo, sacudiu a cabeça para um lado e outro, e concluiu : "Eduardo Campos não tem mais como recuar. Já andou um bom bocado. Será candidato". Serra não sai ? Ouve-se na floresta tucana : "Serra não sai do PSDB. Apenas faz jogo de cena". Sei não. Serra não quer enfrentar novos desafios ? Rebelo, sereno e harmônico O ministro Aldo Rebelo, do Esporte, mostrou-se uma pessoa preparada e com respostas objetivas e assertivas. Tem dados, corre o país, sabe o estágio das obras, mostra as dificuldades e aponta caminhos. Não perde a serenidade e a harmonia. Foi o interlocutor mais denso do Fórum. Um bom ministro. Conhece como ninguém a realidade brasileira. Está entre os melhores do governo Dilma. Gil, 46 anos depois Gilberto Gil é como vinho envelhecido : quanto mais anos no barril, melhor. O show que deu em Comandatuba sacudiu a moleza deste consultor. Uma hora de belos e grandes clássicos musicais, acompanhado de uma grande orquestra. Pequena, mas vibrante. Depois do show, no relax do bar, quando conversava com seu amigo Furlan, ex-ministro do Desenvolvimento, sempre uma ótima companhia, este consultor se aproximou para descrever uma imagem que conserva há 46 anos na cuca : "editor dos Suplementos Especiais da Folha, um dia, na Alameda Barão de Limeira, 620, peguei o elevador no 6º andar e no 4º, entrou você, Gil, com um violão nas costas. Tinha uma barba espessa, muito bem aparada. Trocam as rápidas palavras. Você dizia que acabara de dar uma entrevista para o jornal Última Hora (ainda do Samuel Wainer), naquela época, arrendado pela Folha". Imagem que guardo do Gil. Que saudades ! Época dos Festivais da Record. Época da trajetória inicial de Gil, Caetano e Chico. Da Galeria Metrópoles. Do Bar sem Nome (onde Chico tomava seus birinaites...), ali na dr. Vilanova, onde eu morava num pequeno apartamento, exatamente na esquina da major Sertório com dr. Vilanova. Gil ouviu o relato. Última Hora, Folha, Barão de Limeira pareciam ainda frequentar sua cabeça. O episódio, claro, desmanchou-se no vácuo da Memória. Que tempos. Que saudades. De Domingo no Parque, de Gil. E Alegria, Alegria, de Caetano, que ouvi, pela primeira vez, ali perto, na rua Duque de Caxias, do som de um radinho de pilha. Na manhã esplendorosa de um domingo. Naqueles tempos, inaugurávamos os Suplementos Especiais da Folha com a coleção "Grande São Paulo : O Desafio do Ano 2.000". Época do jornalismo interpretativo. Revista Realidade e Veja. Época do Jornal da Tarde. Mino Carta e equipe. Um papo inteligente Luiz Fernando Furlan, um papo agradável e inteligente. Um empresário que mistura sapiência, experiência e simplicidade. Ex-ministro do Desenvolvimento, presta um grande serviço à causa do empreendedorismo. Anos boêmios Vivíamos anos de chumbo. O medo rondava nossos dias e noite. Nas aulas que dava na ECA/USP e na Cásper Libero, eu vigiava as palavras. Havia censores por todos os lados. Mas a boemia nos levava para cantinhos inesquecíveis : os bares charmosos da Galeria Metrópole, onde, vez outra, Chico Buarque dava suas "canjas" ; O Jogral, na Avanhandava, onde, depois de uma noitada regada a uísque, cigarro e amendoim, ouvindo Clementina de Jesus, tive a maior ressaca de minha vida. Ótimo : criei abuso ao cigarro. Deixei de fumar. Quem, naquela época, não gostava de ouvir Geraldo Cunha, com seu violão, no III Whisky, na rua Santo Antônio, lá pelas 10 da noite ? Ah, quantos bares cheios de charme : Baiuca, Oasis (do hotel Cambridge, o Captain's do hotel Comodoro, o Stardust, Cave, Juão Sebastião Bar. E aquele barzinho de um nordestino gorducho (esqueci o nome), na Praça da República, onde a cerveja ganhava a companhia de codornas importadas do Ceará ? Lembra-se, Audálio Dantas ? Onde anda José Carlos Marão, que teve uma passagem cheia de brilho na Veja e na revista Quatro Rodas ? Garibaldi Otávio, Gari, esse eu sei que voltou para a terrinha, Recife. Paro por aqui. Quanta gente boa... ! PEC 37 sob custódia Mais uma vez, o bom senso aterrissou na Câmara dos Deputados. Henrique Alves, presidente da Casa, mandou sustar a PEC 37, aquela que retira o poder do Ministério Público de executar diligências e investigações, podendo apenas solicitar ações no inquérito e supervisionar a atuação da Polícia. Henrique criou um grupo para analisar detidamente a PEC, composto por deputados, senadores, representantes do governo e das Policias e do MP. Dentro de 30 dias, será apresentada proposta alternativa. A questão é polêmica. O MP não teria imparcialidade para investigar, eis que é o responsável pela acusação nos processos criminais. Ademais, também é criticado por espetacularizar as ações. Abusos têm sido cometidos. Procuradores e promotores temem expansão da impunidade, já que o cidadão não tem a quem recorrer em casos de omissão da polícia. Vai ser difícil chegar ao consenso. Mas o esforço se faz necessário. CLT, 70 anos A Consolidação das Leis do Trabalho chega aos 70 anos caducando. E exibindo moldura disforme : 20% de toda a mão de obra do país não dispõe de carteira assinada, representando 18,6 milhões de admitidos ilegalmente, não sendo atingidos, assim, pela lei. Há, ainda, 15,2 milhões de trabalhadores por conta própria sem qualquer proteção, por não contribuírem para a Previdência Social. O país patina nessa via porque o espaço das relações do trabalho é ocupado por uma visão retrógrada de algumas Centrais Sindicais. Que defendem inchamento do Estado ; que não aceitam a regulação da Terceirização, medida que poderia ampliar o universo legal de trabalhadores ; que sonham com a volta aos tempos da Revolução Industrial. As Centrais disputam entre si para ganharem mais trabalhadores e locupletarem seus cofres. É o peleguismo agindo em pleno início da segunda década do século XXI. Qualidade das empresas contábeis Hoje à noite, será realizada em SP a 8ª edição do Programa de Qualidade de Empresas Contábeis, promovido pelo Sindicato das Empresas de Serviços Contábeis e de Assessoramento no Estado de São Paulo (Sescon/SP). Cerca de 4 mil pessoas devem participar do evento. Este ano 432 empresas serão certificadas, sendo que 379 receberão a certificação PQEC e 53 a certificação PQEC+ISO, reconhecida em âmbito internacional, numa parceria entre o Sescon/SP e a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). O evento será no Credicard Hall, em São Paulo, a partir das 19h. Após a cerimônia, haverá o show especial da cantora baiana Daniela Mercury. Conselho aos Poderes Judiciário e Legislativo Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes, membros dos Poderes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos tucanos. Hoje, volta sua atenção aos Poderes Legislativo e Judiciário : 1. O momento exige cautela. O que mais o país precisa evitar, nesse momento, é um conflito inconsequente entre os Poderes Legislativo e Executivo. Procurem, senhores presidentes das Casas Congressuais e do STF, um ponto de convergência. Nem a PEC 33 nem a proibição para que Congresso deixe de votar matérias pautadas. 2. É evidente que as tensões entre os Poderes da República fazem parte de nosso processo democrático, ainda em consolidação. Os discursos radicais devem ser isolados. 3. O Brasil espera que cada um dos Poderes cumpra o seu dever. Sem exageros, sem espetacularização, sem acirramento, sem retaliações.
quarta-feira, 24 de abril de 2013

Porandubas nº 354

Abro a coluna com o deputado Newton Cardoso, ex-governador de MG, fonte cheia de histórias hilárias. Assumiu o governo de Minas e, no dia seguinte, foi ao aeroporto para viajar no helicóptero da administração estadual. Ao tomar conhecimento de que aquele "trem" tinha o nome de seu adversário, foi logo dando bronca no piloto : - Não entro de jeito nenhum nesse trem com o nome do Hélio. O piloto, constrangido, respondeu : - Mas governador, esse helicóptero é do governo do Estado e não do ex-governador Hélio. Newtão não quis saber : - Esse trem agora vai se chamar Newton-Cóptero. Falei e tá falado. Outra historinha envolvendo o folclórico ex-governador. Resolveu passear de carro com a família. O carro pifou na estrada. O mecânico, que acorreu em socorro, diagnosticou : - É o burrinho dos freios ; está danificado. Acho bom trocar logo esses burrinhos. Cardoso deu a bronca : - Calma, seu mecânico, meus filhos não descerão dos burrinhos de jeito nenhum. Novo julgamento ? A questão da semana é : o mensalão ganhará um novo julgamento no STF ? Há quem veja esse cenário. Isso poderá ocorrer caso a maioria dos membros do Supremo acolha os chamados embargos infringentes que, desde 1990, não são objeto de análise por parte da Corte. Alguns dizem que esses embargos teriam deixado de existir face a lei 8.038/90, que regulamentou os processos em tribunais superiores, não os prevendo no STF. Se forem acolhidos, 12 condenados poderão ter suas penas alteradas, a partir de dois itens - formação de quadrilha e lavagem de dinheiro. Significa, no frigir dos ovos, penas atenuadas. José Dirceu, por exemplo, condenado a 10 anos e 10 meses, teria deduzidos de sua pena 2 anos e 11 meses. Não entraria no regime fechado, mas no semiaberto. Efeitos políticos O presidente do STF, Joaquim Barbosa, fará das tripas coração para evitar que esse "novo julgamento" possa ocorrer. Basta que haja o acolhimento de um juiz - Teori Zavascki - para empatar o julgamento (5 a 5) e favorecer os réus. In dubio pro reo. Se isso ocorrer, o que Barbosa poderá fazer ? Nada. Este consultor não acredita na hipótese aventada por uns : pegará o chapéu, dará um tchau aos colegas e, mais adiante, postará seu nome no rol de candidatos à presidência da República. Seria oportunismo puro. Chance maluca. Suicida, até. Não seria com um gesto tresloucado que Joaquim ganharia mais espaço na história. Hipótese sem eira nem beira. O mundo está de olho Então, o que pode sobrar de tudo isso ? Uma advertência : o mundo está de olho no Brasil. E quem faz esse alerta ? O próprio Joaquim Barbosa, escolhido pela revista Time como umas das 100 personalidades de maior influência no planeta. Tucanos conflagrados O tucanato, a partir da floresta mais densa, a de SP, está conflagrado. A ala Alckmin briga com a ala Serra. Andrea Matarazzo, da ala Serra, perdeu a cadeira de presidente do diretório municipal do PSDB, desbancado por um assessor do secretário de Energia de Alckmin, José Aníbal. A briga, agora, se volta para o diretório estadual. O bom deputado Duarte Nogueira tem tudo para levar a melhor se não for desbancado pelo atual presidente da sigla, deputado estadual Pedro Tobias. Nogueira seria aceito pelas alas de Alckmin e Serra. Mas Tobias mudou o critério de eleição : aumentou o colégio eleitoral, de 105 militantes, para 5 mil dirigentes regionais de todo o Estado. Aécio ainda tem dúvidas Por conta da brigalhada que envolve os tucanos paulistas, o senador Aécio Neves, prestes a assumir a presidência do PSDB, ainda tem dúvidas sobre sua candidatura à presidência da República em 2014. Se a confusão continuar na floresta tucana e o MD - partido originado com a fusão do PPS com o PMN, sob a batuta do deputado Roberto Freire - se viabilizar, ganha força a possibilidade de José Serra sair do PSDB para fazer fileiras na nova sigla. Serra e Freire são muito amigos, desde os tempos de exílio no Chile. Serra continua olhando para o alto do Planalto. Suas olheiras profundas se assemelham a uma grande interrogação. Campos sem lavoura ? Pois é, a cada dia expandem-se os sinais de que Eduardo Campos trabalha para viabilizar sua candidatura presidencial em 2014. Usa campanha pesada de TV e rádio mostra Eduardo Campos para dizer que "podemos fazer mais". Que o Brasil quer mais. Trata-se de um modo educado de fazer crítica à presidente Dilma, que estaria, assim, não fazendo tudo o que deveria fazer. A mensagem não é dura, mas tira uma lasquinha. Sinal claríssimo de que o governador de PE, cuja propaganda diz ser o mais bem avaliado no país, põe seu nome no tabuleiro. Dito isso, vamos à observação : e o apoio interno de seus correligionários ? Os irmãos Gomes (Cid e Ciro), do PSB cearense, dizem que apoiarão Dilma ; o governador do ES, Renato Casagrande, também do PSB de Campos, prega a candidatura da presidente à reeleição. E assim por diante, outros governadores do PSB também perfilam ao lado de Dilma. Campos colhe lavoura escassa. E no sudeste ? Ademais, emerge a questão : qual é a enxada de Eduardo Campos no Sudeste ? Em SP, que tem o maior eleitorado do país (mais de 30 milhões de votos), quem é o cabo eleitoral de Campos ? Em Minas, segundo maior colégio eleitoral do país (mais de 15 milhões de eleitores), há um forte peso do PSB, o prefeito Márcio Lacerda, de BH. Ora, mas até os corvos de Londres sabem que Lacerda vai na onda de Aécio Neves. Irmão siamês do neto de Tancredo. Campos, portanto, tem imagem extraordinariamente mais esticada do que a identidade. E no Rio, terceiro maior colégio eleitoral, quem é a alavanca de Dudu ? Seu vice-presidente, Roberto Amaral ? Trata-se de um bom pensador, mas não tem voto. Padilhando O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, fez em abril 5 viagens ao Estado de SP. Quer se credenciar como candidato ao governo. Fez um "pacotão de saúde" para atender cerca de 95% dos municípios paulistas. Seria o candidato de Lula, pelo PT, ao governo de SP. Diz-se que a maioria dos mandões do PT paulista já estaria fechada com seu nome. Lula apostaria, mais uma vez, no fator assepsia. Quanto menos conhecido, quanto menos político tradicional, maiores possibilidades de levar a melhor. Foi assim que Lula escolheu Dilma, para presidente, e Fernando Haddad, para prefeito de SP. Mas essa mesma estratégia valerá para Padilha ? Pouco provável. Essa figura, cuja carteira de eleitor é do PA, não tem absolutamente nada para mostrar. É mais ministro da doença do que da saúde. A conferir. Mercadante no comando Já Aloísio Mercadante, o ministro da Educação, que também sonha em governar SP, deposita seu futuro nas mãos da presidente. Que, diz-se à boca pequena, já o teria escolhido para comandar sua campanha à reeleição. Mercadante ambicionaria, se for confirmado comandante da campanha, a Casa Civil. Ministério que poderia resgatar o antigo mando e a própria coordenação política. O papel do vice O vice-presidente da República, Michel Temer, está fazendo excepcional trabalho de bastidores. No seu estilo apaziguador, convoca a área política, conversa com líderes, ajusta posições, abre alternativas, busca o consenso. Tem sido assim com a MP dos Portos, com o projeto para evitar o troca-troca partidário, com a lei dos royalties, enfim, com os projetos centrais de interesse do país. A presidente Dilma deposita em seu vice inteira confiança. Sabe que ele tem ótimo trânsito nas casas congressuais. Ademais, Michel tem plena liberdade para ser o interlocutor mais eficaz nas conversações com os dois peemedebistas que comandam o Parlamento, Renan Calheiros e Henrique Alves. Essa é a face interna. A par de ampla mobilização interna, ao VPR tem sido solicitado representar o governo brasileiro em importantes eventos internacionais. Barriga de aluguel O PL 4.470, do deputado Edinho Araújo (PMDB/SP), que trata da migração partidária, tem um cunho moralizador. Seu objetivo central é o de acabar com as siglas que funcionam como "barriga de aluguel". Todos sabem que os partidos, na margem das eleições, negociam alianças, promovem parcerias visando obter mais espaço de TV e rádio, ao lado de recursos para tocar campanhas e financiar a vida partidária. Esse balcão de negócios se expande em anos pré-eleitorais. Ora, os parlamentares não podem deixar os partidos pelos quais se elegeram sob pena de punição. A janela se abre quando se cria uma nova sigla ou ante a fusão de siglas existentes. Nesses casos, o parlamentar pode migrar de um partido para outro sem ser apenado. E, por interpretação do TSE, leva consigo tempo de TV e uma parte dos recursos partidários. O projeto de Edinho proíbe que essa bagagem seja transportada pelo emigrante. E o PSD de Kassab ?  Quem se opõe ao projeto, lembra que o ex-prefeito de SP, Gilberto Kassab, criou o PSD, em 2011, e conseguiu atrair 50 deputados, que trouxeram consigo tempo de TV e rádio e recursos. Por que não ter isonomia e continuar com essa possibilidade ? Esse é o argumento de alguns partidos que se sentem prejudicados, como o MD - fusão do PPS com PMN -, a Rede Sustentabilidade, de Marina Silva, em processo de formação, e o partido Solidariedade, de Paulinho da Força Sindical. Essas entidades imaginavam contar com o reforço de parlamentares e expansão de sua força político-eleitoral. Agora, se vêem impedidas. O problema é o timing. Adotar a fórmula em 2014 ou a partir de 2015 ? Quem é dono da flauta, dá o tom. PT e PMDB, maiores partidos, deverão comandar essa votação no Senado. A conferir. 50 legendas ? A política abarca, atualmente, quase 30 siglas. E há 20 partidos em processo de formação. Portanto, a moldura partidária poderá chegar a 50 entidades. Não há no Brasil mais que cinco a seis tendências sociais : esquerda, direita, centro-esquerda, centro-direita e margens radicais. Fórum de Comandatuba Começa neste sábado, 27/4, o 12º Fórum de Comandatuba, promovido pelo LIDE - Grupo de Líderes Empresariais. O maior encontro empresarial do Brasil reunirá oito ministros, quatro governadores, cinco prefeitos das principais capitais, 15 parlamentares, além de 320 empresários e personalidades, que serão mobilizados em prol de um debate amplo sobre o Brasil. O Fórum acontece de 27 a 30 de abril, no hotel Transamérica, na Ilha de Comandatuba, na BA, e está lotado com 100% de ocupação. O evento será comandado pelo mais arrojado empreendedor de eventos do país, o dinâmico empresário e jornalista João Dória Junior. Segurança Privada Insegurança jurídica, tendências das relações trabalhistas, terceirização e o aumento da criminalidade no país foram alguns dos temas debatidos no IX FESP - Fórum Empresarial de Segurança Privada do Estado de São Paulo, promovido pelo SESVESP entre os dias 17 e 19 de abril, em Campos do Jordão. O panorama do setor - como o controle e a fiscalização das atividades, autorização e funcionamento das empresas e vigilância patrimonial em grandes eventos - foi apresentado pelo Delegado Substituto da DELESP/SP, Dr. Ricardo Sancovich. O encontro contou com importantes palestras, como a do advogado e professor de Direito Luiz Flávio Borges D'Urso, do dramaturgo e professor de oratória Emilio Gahma, do professor e doutor em administração Paulo Vicente Alves e do professor e consultor em relações do trabalho José Pastore. E o vinho, hein ? "Nunca fiz amigos bebendo leite, por isso bebo vinho". (Silas Sequetin) "Nas vitórias é merecido, nas derrotas é necessário". (Napoleão Bonaparte) "O bom vinho alegra o coração dos homens". (Sagrada Escritura) "Os que bebem vinho vivem mais do que os médicos que o proíbem". (Mussolini) "Cristo não consagrou a água, o leite ou a coca-cola : consagrou o pão e o vinho como alimento do corpo e do espírito". (Fernando Sabino) "Agora que a velhice começa, preciso aprender com o vinho a melhorar envelhecendo e, sobretudo, escapar do terrível perigo de, envelhecendo, virar vinagre". (Dom Helder Câmara) "O vinho é medicamento que rejuvenesce os velhos, cura os enfermos e enriquece os pobres". (Platão) "O vinho é a parte intelectual da comida". (Alexandre Dumas) "Uma barrica de vinho produz mais milagres que uma igreja cheia de santos". (Provérbio Italiano) "Um bom vinho é poesia engarrafada". (Robert Louis Stevenson) "Toma conselhos com o vinho, mas toma decisões com a água". (Benjamin Franklin) Conselho aos tucanos Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes, membros dos Poderes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado ao senador Aécio Neves. Hoje, dirige-se a todos os tucanos : 1. O ambiente político sugere consolidação de forças, integração de esforços, busca de consenso nas bases eleitorais. O tucanato precisa encontrar seus pontos de convergência. 2. A divisão de forças no PSDB afasta suas possibilidades, deixando cada vez mais longínqua a meta de alcançar o poder central. 3. Vejam onde estão os pontos fortes e os pontos fracos, tentem encontrar meios de ajuste e convoquem suas lideranças para um encontro a portas fechadas.
quarta-feira, 17 de abril de 2013

Porandubas nº 353

Prioridades do prefeito Abro a coluna com mais uma historinha de políticos do RN. Analfabeto na íntegra, Zé do Carmo, pai do deputado Manoel do Carmo, liderança do Agreste potiguar, bota na cabeça de ser prefeito de Santo Antônio. Diante do filho influente e abastado, Zé insiste em materializar o projeto pessoal. Eleito sem dificuldade pela força política de Manoel, ele não se contém de felicidade. Dias após a eleição, a Rádio Curimataú de Nova Cruz o convida para uma entrevista. Mesmo pouco afeito ao vernáculo e com clara desavença com os termos comuns à administração pública, Zé do Carmo apresenta-se impávido para o compromisso. - Prefeito, qual sua prioridade ? - começa o repórter. Sobressaltado, Zé do Carmo retruca : "É o quê ? Olha, meu filho, eu não conheço essa palavra. Fale mais fácil !". Com a tradução feita, o novo prefeito espicha seus objetivos principais : "Ah, fazer o calçamento, ajeitar o patamar e dar uma pintura na igreja...". (Carlos Santos é quem conta no livro "Só Rindo") Fusão partidária O PPS e o PMN começam a organizar o ritual da fusão para criação de uma nova sigla : MD, Mobilização Democrática. Trata-se de mais uma janela para abrir possibilidade de migração interpartidária. Por ocasião de fusão, o parlamentar poderá sair de um partido e entrar noutro sem ser apenado. Há muita gente insatisfeita com seu atual partido. O PDS, de Kassab, foi a última sigla criada que propiciou intensa mobilização partidária. Quase sufocou o DEM. Agora, os grandes partidos se mobilizam para evitar que o deputado migrante também leve tempo de TV e recursos para a nova casa escolhida. Serra no MD Fala-se a torto e a direito que o ex-governador José Serra está prestes a fechar o bico tucano. Se a Mobilização Democrática vier a se formar, Serra nele entraria. O presidente do PPS, deputado Roberto Freire, é amigo de Serra e tem esperança de seu ingresso na nova sigla. Freire tem sinalizado que ambos poderão apoiar o pernambucano Eduardo Campos, governador de PE, no pleito de 2014. Seria a maior bomba do ano, eis que Serra, rompendo com o correligionário Aécio Neves, estaria quebrando o PSDB ao meio. Nem Alckmin nem Fernando Henrique, dizem, segurarão o Serra na floresta tucana. E a Rede de Marina, hein ? Marina Silva desdobra-se para viabilizar sua Rede Sustentabilidade. Tem até outubro para fazer isso. Ocorre que a mobilização em torno da Rede tem sido pequena. Os militantes da sustentabilidade estão se mostrando pouco animados. Marina tem ido às ruas. Mas conta com pequenos exércitos. É possível que, na undécima hora, consiga formar sua Rede. Caso contrário, tenderia a apoiar Eduardo Campos. Fala-se, até, em sua candidatura a vice na chapa do pernambucano. A estupidez "Só duas coisas são infinitas : o universo e a estupidez humana ; mas não estou seguro sobre a primeira". (Einstein) PSDB meio desanimado Já o PSDB, a ser comandado pelo senador Aécio Neves, continua desanimado. Serra não tem prestigiado Aécio. Alckmin, por sua vez, está preocupado com sua candidatura à reeleição. Os tucanos não têm tido motivo para grandes alegrias. Vêem o governismo adensar suas bases. Vêem Dilma muito bem avaliada. Vêem as massas com a barriga cheia. E, para arrematar o desânimo, continuam a expressar um discurso sem muita densidade. Onde está o projeto tucano para o país ? PMDB animado Já o PMDB está animado. Domina as duas Casas legislativas. Dá as cartas no Parlamento. E está fechando parceria com o PT para 2014. O vice-presidente da República, Michel Temer, ganha, a cada dia, respeito e confiança da presidente Dilma. Representa o governo brasileiro em missões no exterior. O partido, com as exceções de praxe, está unido. Prepara uma baciada de candidatos a governador em 2014. E já começa a trabalhar na moldura de 2018. PDT repartido Já o PDT continua repartido. A banda do ministro Carlos Lupi levou a melhor na briga com o grupo de Brizola Neto. Que perdeu o Ministério do Trabalho e hoje está cercado de muita....solidão. Paulinho da Força, por sua vez, está mais interessado em criar o seu partido, Solidariedade, do que lutar pelo fortalecimento da sigla. Pátria "Pátria é comunhão de esperanças, de sonhos comuns e a busca de um ideal ; é a solidariedade sentimental de um povo e não a confabulação de politiqueiros que medram à sua sombra". (José Ingenieros) Solidariedade Paulinho tem dito que anunciará seu novo partido em 1º de maio. Será ? Sabe-se que montou grande estrutura para pegar assinaturas de apoiadores. Mas há um ritual bastante longo a cumprir. Até outubro. Alguns dizem que o Solidariedade sairá antes do partido de Marina. A conferir. Alckmin terá chances ? Muito difícil a reeleição de Geraldo Alckmin em 2014. Trata-se de um perfil afável, uma pessoa agradável. Mas qual é a marca do governo Alckmin ? Qual o eixo, a identidade ? Não há um traço de diferenciação, algo que expresse a índole da administração. Ademais, o governador enfrenta o problema de desgaste de material. A polarização PT x PSDB se mostra esgotada. O eleitorado quer ver caras novas. Skaf no tabuleiro Paulo Skaf deverá ser o candidato do PMDB ao governo de SP. Tem fôlego e garra. Um perfil arrojado, empreendedor. Dirige a FIESP com visão estratégica. Abre campanhas memoráveis, como essa última, de redução do preço da energia. Bem diferente dos perfis tradicionais da política. Poderá ser a alternativa ao velho jogo entre PT e PSDB. A conferir ! Anastasia faz o quê ? Alguém sabe onde está o choque de gestão do governador Antonio Anastasia ? Não era o perfil de renovação ? Está isolado nas Minas Gerais. Exploração "O Brasil precisa explorar com urgência a sua riqueza - porque a pobreza não aguenta mais ser explorada". (Max Nunes). Marcio Lacerda Já o prefeito de BH, Marcio Lacerda, faz uma administração revolucionária. É o que ouço de mineiros com bom olhar político. Bancadas mudarão ? STF acatará recursos dos Estados que tiveram suas bancadas parlamentares diminuídas por decisão do TSE ? Afinal de contas, não deve se levar em conta o tamanho do eleitorado ? Ou vamos ter de mudar os critérios para a formação de bancadas ? O imbróglio no Rio O PMDB deverá entrar no pleito de 2014 com Pezão. O PT com Lindbergh. Não haverá aliança entre os dois partidos. Para melhorar as chances de Pezão, Sérgio Cabral pensa em deixar o governo para o vice assumir e, assim, ter melhores condições de viabilizar a candidatura. Cabral, diz-se, poderá voltar ao Senado. Maduro bem verde Nicolas Maduro ganhou por pouco a presidência na Venezuela. Mas a derrota de Capriles pode se transformar em uma grande vitória. O país está com sua economia em destroços. Capriles vai assistir a derrocada nas arquibancadas. E Maduro, um político ainda muito verde, estará condenado a sair pelas portas do fundo. Queda O governo faz previsões menores para o crescimento da economia. E trabalha com queda significativa da dívida pública líquida como proporção do PIB - principal critério para avaliar a sustentabilidade das contas públicas. A dívida líquida terminará este ano em 33,4% do PIB, em 30,9% do PIB ao fim de 2014 e em 28,4% em 2015. Em 2012, a dívida ficou em 35,2% do PIB. IX FESP O Sindicato das Empresas de Segurança Privada do Estado de SP (SESVESP) promoverá entre os dias 17 e 19 de abril o IX FESP - Fórum Empresarial de Segurança Privada do Estado de São Paulo com o objetivo de debater as principais tendências e os desafios do mercado de Segurança Privada. O encontro será em Campos do Jordão, no Blue Mountain Hotel. E contará com palestras do advogado, ex-presidente da OAB/SP, Luiz Flávio Borges D'Urso, Emílio Gahma, Dr. Ricardo Sancovich, Paulo Vicente Alves e José Pastore. Alguns assuntos como insegurança jurídica e as inovações trazidas pela nova Portaria 3233/12 serão abordados no encontro. Lições de Winston Churchill Fecho a coluna com o maior estadista do século XX : "Se você tem conhecimento, deixe os outros acenderem suas velas com ele". "Fanático é alguém que não muda de ideia e não muda de assunto". "Minha mulher e eu tentamos tomar juntos o café da manhã por duas ou três vezes, mas era tão desagradável que tivemos de parar". "A coragem é a primeira das qualidades humanas, porque é a qualidade que garante as demais". "O sucesso consiste em ir de derrota em derrota sem perder o entusiasmo". "O político precisa ter a habilidade de prever o que vai acontecer amanhã, semana que vem, mês que vem, ano que vem. E a habilidade de explicar porque não aconteceu". "Política é quase tão excitante quanto a guerra, e quase tão perigosa. Na guerra, você é morto uma vez mas em política, várias vezes". "Minha conquista mais brilhante foi a habilidade de persuadir minha mulher a se casar comigo". "Cidadãos saudáveis são o maior bem que qualquer país pode ter". "Índia é apenas um termo geográfico e não mais uma nação unida, tal qual o Equador". "Atitude é uma pequena coisa que faz uma grande diferença". Conselho ao senador Aécio Neves Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes, membros dos Poderes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado ao governador Eduardo Campos, do PSB de PE. 1. Senador, sua imagem de pré-candidato é cada vez mais forte. Não está na hora de arrumar um discurso mais abrangente e forte sobre o país ? 2. Para a opinião pública, não convém que um pré-candidato expresse um discurso de oposição sem conteúdo condizente com o porte do PSDB. 3. Anuncie publicamente um projeto para o país ; convoque os melhores quadros para compor esse projeto.
quarta-feira, 10 de abril de 2013

Porandubas nº 352

A fonte secou Abro a coluna com uma historinha da região do Seridó/RN, década de 50. Médico-chefe de um posto de saúde do Estado do RN (região do Seridó, em Caicó) o dr. Abílio Medeiros também era responsável pela distribuição do leite em pó, o popular "leite do Fisi". Deputado estadual pela UDN, aproveita a presença do governador Dinarte Mariz para um comício no bairro Paraíba, o mais populoso e mais pobre da cidade, nos anos 50. Voz grossa e de muitos decibéis, fazia o estilo "para um bom orador, meia palavra basta" e tascou : - Governador. O povo deste bairro é miserável ! É mal entendido em sua fala - o termo usado soa pesado demais para os humildes presentes (miserável, ainda hoje, é entendido por muitos como sendo uma ofensa, o mesmo que sem vergonha, cabra safado, etc.). A derrota nas urnas é iminente ; passadas as eleições, apurados os votos, doutor Abílio volta ao trabalho nos postos de saúde. Uma pobre e ingênua mulher, lá do bairro injuriado, arrisca da porta do posto : - Dotô, o sinhô ainda tá dando leite ? O deputado derrotado estoura : - A senhora tá me achando com cara de vaca ? (Narrada pelo jornalista Orlando Rodrigues em Segura Essa...o Nhem, Nhem, Nhem da caatinga) Heleno Torres : o pingo nos is Heleno Torres é o tributarista considerado favorito para ingressar no STF. Trata-se de um dos mais qualificados profissionais do país em sua especialidade. Sexta-feira passada, este consultor almoçava em um restaurante de SP, na companhia do vice-presidente da República, Michel Temer, do professor Celso Antônio Bandeira de Melo (mestre de alguns dos maiores juristas do país) e do amigo José Yunes. Na mesa ao lado, almoçavam o advogado geral da União, Luis Inácio Adams, e Heleno Torres. Cumprimentos. Na hora da despedida, Heleno me disse : "se for convidado, você está convidado para a minha posse". Respondi : "claro que irei". Voltei ao escritório para concluir um trabalho. Por volta de 17h, acessei os jornais na Internet. Li na Folha e no Estado : Heleno Torres foi escolhido pela presidente Dilma para integrar o corpo de ministros do STF na vaga do ex-ministro Carlos Ayres Britto. Barriga de todos Ao ler a notícia, imaginei : "puxa, vida, Heleno quis dizer que foi escolhido e fui tão pouco efusivo no cumprimento...!" Imediatamente, postei no twitter : "na hora do almoço, Heleno me informou ter sido escolhido pela Dilma. E me convidou para a posse. Claro que irei". Queria eu dizer que tivera o privilégio de ser um dos primeiros a saber. Vício de jornalista. Não era verdade. Heleno não fora escolhido. Descobri quando liguei para ele para contar do meu entusiasmo e das manchetes que acabara de ler. E ele me respondeu : "pois é, não fui escolhido. Peço para que você desminta a nota, que está provocando balbúrdia". Foi o que fiz. Pedi desculpas. Fui apressado. Porém, ressalto, fui induzido à nota apressada pelo registro dos jornais. Todos cometemos o que, em jornalismo, se chama de "barriga", uma notícia não verdadeira. Antecipação A campanha de 2014 entra nas ruas. Nos Estados, pré-candidatos fazem articulações. Os atores com intenção de ocupar a cadeira central da República correm de um lado para outro. O mais açodado é o governador de PE. Que expressa, aliás, o mais dúbio discurso. Diz : deixemos 2014 para tratar em 2014. Ora, ele sai do Nordeste, perambula pelo Sudeste e bate no Sul. Faz palestra a torto e a direito. Critica o governo do qual faz parte muito mais que o tucano Aécio Neves. Faz acenos para atrair o apoio da Força Sindical, comandada pelo deputado Paulinho. Ética às avessas Eduardo Campos pratica uma ética às avessas. Ao dizer que a presidente Dilma poderia fazer muito mais, fica no plano genérico. Critica por criticar. Claro, quem quer ser candidato, mesmo pertencendo à base governista, se esforça para aparecer de modo crítico. É o diferencial. Mas criticar o governo que o PSB integra não fica feio ? Fica. O líder Beto Albuquerque promete a saída do governo para o segundo semestre, lá para setembro ou outubro, a depender do clima político. Campos, por sua vez, informa que está administrando PE à distância, por meio de um tablet. É o reconhecimento de que faz campanha. Quem comunica também se estrumbica Paulo Egydio, governador de SP, no enterro do piloto de Fórmula 1 José Carlos Pacce, vítima de um acidente aéreo : "Lamento que ele tenha morrido longe das pistas". Paulo Maluf, candidato à presidência da República, numa palestra em Belo Horizonte : "Está com desejo sexual, então estupra, mas não mata" Franco Montoro, governador de SP, visitando de barco as cidades inundadas do Vale do Ribeira : "Que lindo ! Parece Veneza !" Leonel Brizola, governador do Rio, comentando as declarações da deputada Rita Camata sobre o massacre de meninos na Cinelândia : "Essa mulher é uma vaca inútil". Fernando Henrique Cardoso, candidato do PMDB à prefeitura de SP, respondendo a Boris Casoy, que lhe perguntara se acreditava em Deus : "Oh, Boris, você me prometeu não fazer essa pergunta". (Do livro A vida é um palanque, de Carlos Brickman) E o PDT, hein ? Quanto mais Paulinho da Força abraça Eduardo Campos, mais força ganha a pergunta : e esse PDT de Carlos Lupi, hein, para onde vai ? Lupi acaba de emplacar o novo ministro do Trabalho, mas abre a expressão para anunciar que o futuro a Deus pertence. Ou seja, o PDT olha para um lado e para outro. Se integra, hoje, a base governista é porque age de acordo com o dicionário da pragmática. Por isso, não enquadra correligionários que correm para os braços de Eduardo Campos. Paulinho da Força que o diga. Hoje, Paulinho está disposto a abraçar a causa do neto de Arraes. Mas continua com um pedaço do Ministério do Trabalho. Uma no cravo, outra na ferradura. Pezão versus Lindbergh Outra frente de guerra ocorre no Rio : Pezão, do PMDB, o vice governador de Cabral contra o senador Lindbergh, do PT. Faz séculos que se sabe da candidatura de Pezão. Que conquistou Lula e Dilma. O cara é hábil, maneiro no trato. Sabe agradar. Mas não ganha, hoje, o agrado do povo. Cabral, com certa razão, diz que tem sido cabo eleitoral fechado de Lula e Dilma. Por isso, não abrirá mão de Pezão. Quer que o PT firme a parceria com o PMDB em torno de seu vice. Mas a cúpula do PT já fechou posição a favor do senador. E argumenta que Lindbergh tem quase o dobro de Pezão nas pesquisas. O vice, dizem, é um peso pesado difícil de puxar. Nem o nome - popular - ajuda. Esse imbróglio no Rio poderá ter repetições em alguns Estados. PMDB e PT A parceria do PT com o PMDB deverá ser mantida no nível Federal - em torno da chapa Dilma/Michel Temer, e em alguns Estados. É claro que interessa aos dois partidos uma política de harmonia e integração de esforços. Meta que não será cumprida. Ou cumprida parcialmente. Porque a ambos interessa adensar a base. Significa fazer o maior número de governadores, deputados Federais e estaduais. Essa será a vitamina de continuidade no poder. O PMDB tomou esse suco desde 1985 quando fez um destroço no quadro partidário, elegendo as maiores bancadas. O PT aprendeu a lição. Teremos, portanto, uma disputa contundente nos bastidores. Nem Lula nem Dilma conseguirão apaziguar os ânimos. Deixarão de ir a alguns Estados para evitar palanques duplos. Ou será que, no frigir dos ovos, irão prestigiar apenas os candidatos petistas ? PSB no DF O PSB pensa como partido grande. Quer fazer candidatos no maior número de Estados, a partir do DF, onde o senador Rodrigo Rollemberg ostenta, hoje, o índice de 27% nas pesquisas de intenção de voto contra o governador petista Agnelo Queiroz, com apenas 14%. Fim das coligações ? Henrique Alves, presidente da Câmara, promete começar a votar a reforma política, a partir de duas propostas de emenda à Constituição (PECs 10/95 e 3/99) e um projeto de lei (1.538/07), que deverão nortear a discussão. Os principais pontos são : financiamento público exclusivo de campanha ; fim das coligações para eleições proporcionais, porém permitindo que os partidos façam federações partidárias que durariam, no mínimo, quatro anos ; coincidência das eleições (municipais, estaduais e Federais) ; ampliação da participação da sociedade na apresentação de projetos de iniciativa popular, inclusive por meio da internet. Pela medida, 500 mil assinaturas garantiriam a apresentação de um projeto de lei ; e 1,5 milhão, de proposta de emenda à Constituição ; e nova opção de lista flexível, em que o eleitor continuaria votando no deputado ou no partido, mas só o voto na legenda é que reforçaria a lista apresentada pelo partido. A quem interessa ? Aos maiores partidos, PT e PMDB, interessa aprovar o fim das coligações proporcionais, que lhes daria cerca de 30 deputados a mais. Em compensação, os nanicos estariam ameaçados de desaparecer da planilha partidária. Um ponto que parece consensual é a coincidência das eleições. Ao PT interessa, também, a aprovação do financiamento público de campanha. Colocaria mais fumaça no ambiente do mensalão. A proposta de reforma não tem acordo entre os líderes partidários quanto à forma nem ao conteúdo. É possível que um item que não consta do relatório - a janela para troca de partidos - ganhe força e se sobreponha aos demais. Barbosa contra os tribunais A criação de quatro Tribunais Regionais Federais irritou, sobremaneira, o presidente do CNJ e presidente do STF, ministro Joaquim Barbosa. Que insinuou a implantação desses órgãos em "resorts" ou nas redondezas das praias. Ironia pura. Juízes tentaram contestá-lo em uma audiência. Ele ordenou que não falassem tão alto. E que não confundissem sua legitimidade. Fervura deverá continuar. Cartão postal borrado O RJ, que vinha resgatando sua imagem de capital do bom acolhimento, estampa para o mundo uma fotografia de horror. De violência. De abuso. Os estupros que se repetem no Rio desmancham as belezas naturais da capital carioca. Cristo, no Corcovado, está com vendas nos olhos de tanta vergonha. A doméstica "Se a sua empregada doméstica precisar fazer uma hora extra, lembre-se de que ela terá de descansar 15 minutos antes de começar. Se você precisa de muitas horas extras, atente que ela não pode exceder dez horas por semana. Se dorme ou não no emprego, ela terá de ficar 11 horas sem trabalhar depois de encerrada uma jornada. Atenção : ela não pode comer em menos de uma hora em cada refeição. Se ela demorar mais de dez minutos para entrar no serviço, trocar de roupa ou tomar banho na hora da saída, esse tempo será contado como hora extra. Se ela dorme no quarto com uma criança ou um doente, terá de ser remunerada com adicional noturno e eventualmente hora extra por estar à disposição daquela pessoa. Se você tiver de compensar em outro dia as horas a mais que ela trabalhou no dia anterior (banco de horas), lembre-se de que isso tem de ser previamente negociado com o sindicato das domésticas". (José Pastore). Mercadante lidera corrida O ministro da Educação, Aloísio Mercadante, lidera a corrida para o governo de SP na esfera do PT. Os outros nomes : Luiz Marinho, prefeito de São Bernardo, não tem perfil para cooptar fortes classes médias ; ministro da Saúde, Alexandre Padilha, é mal avaliado ; sua pasta é conhecida como Ministério da Doença ; a ministra da Cultura, Marta Suplicy, exibe uma rejeição histórica, difícil de ser administrada. Lula sob inquérito PF tem incumbência de realizar inquérito para apurar responsabilidades do ex-presidente Luiz Inácio no episódio do mensalão. Este consultor acha que essa ação não resultará em nada. Quem comunica também se estrumbica - II Luiz Inácio Lula da Silva, presidente nacional do PT : "O vermelho da bandeira do partido é a cor do sangue de Cristo". Antônio Rogério Magri, Ministro do Trabalho, explicando por que utilizara um carro oficial para levar sua cadela ao veterinário : "Cachorro também é gente". Francelino Pereira, presidente nacional da Arena, desmentindo que o governo pretendesse fechar o Congresso : "Que país é esse em que não se confia na palavra de seus governantes ?". (O Congresso foi fechado em seguida, pelo pacote de abril). Mário Amato, presidente da FIESP, falando sobre a ministra do Trabalho, Dorothéa Werneck : "É inteligente, apesar de ser mulher". Luiza Erundina, prefeita de SP : "Os mortos das enchentes são águas passadas". (Do livro A vida é um palanque, de Carlos Brickman) Conselho a Eduardo Campos Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes, membros dos Poderes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado ao deputado Marco Feliciano. Hoje, volta sua atenção ao governador Eduardo Campos : 1. Governador, Vossa Excelência tem dito que 2014 será resolvido em 2014. Mas faz peroração eleitoral quase todos os dias. Sua atitude é incongruente com o discurso. 2. Não seria mais lógico afastar-se da base governista logo agora para não ser considerado oportunista e de estar se valendo da máquina pública (cargos na estrutura do governo) para consolidar espaços de poder ? 3. É perfeitamente compreensível que seja candidato à presidência, dispondo de grande visibilidade, boa avaliação de sua administração e de um partido em ascensão. Mas é inaceitável que esteja, como pré-candidato, usando a esteira governamental para alavancar a candidatura.
quarta-feira, 3 de abril de 2013

Porandubas nº 351

O circo Começo com um final de campanha numa cidadezinha mineira. Final de campanha política em Divinópolis/MG. O candidato governista patrocina uma sessão matinê de circo para a galera eleitoral. Animação geral. Depois das risadas com os palhaços, a vez do leão. O domador exibe suas qualidades com a fera. Rugindo muito, o leão abre a bocarra, arreganha os dentes e fura a gaiola. Bate o pavor. As pessoas começam a correr. O caos se instala. A criançada se atropela em alvoroço. O "mineirim", numa cadeira de rodas, com a perna engessada, se esforça para sair do sufoco. A galera, ao ver o pobre estropiado, começa a gritar para acudi-lo : - O cara engessado, o cara engessado. Pegue o cara engessado. Desesperado, o "mineirim" rodopia na cadeira de rodas, enquanto o leão se aproxima. As pessoas continuam a gritar : - O cara engessado, o cara engessado. Sem forças, quase desistindo, "o mineirim" grita, fulo da vida : - Vão se lascar, cambada de filhos da mãe ; deixa o leão iscoiê sozim.... O jogo de Dilma A presidente Dilma Rousseff deixa de lado a feição técnica que caracteriza seu perfil e arremata, com precisão de experiente política, a moldura governativa. Acaba de confirmar a indicação do ex-senador César Borges (PR) para ocupar a Pasta dos Transportes, da qual saíra, tempos atrás, o presidente da legenda, senador Alfredo Nascimento. Ou seja, o espaço continua a ser ocupado pelo partido. Nascimento foi praticamente alijado do governo. Volta em grande estilo. Tudo por conta do pleito de 2014. Dilma quer ampliar e consolidar a base governista, nesse momento em que a competitividade eleitoral, ao que parece, tende a se acirrar. Borges, apesar de não contar com o apoio maciço da bancada, não sofre restrições da cúpula. Afif no Ministério A presidente Dilma, ainda na esteira de reforço à estratégia de consolidação da base governista, escolheu Guilherme Afif Domingos para comandar a Secretaria da Pequena e Média Empresa, que terá status de Ministério. Afif, do PSD de Kassab, conhece como ninguém as questões pertinentes às pequenas empresas. A escolha foi acertada. Mas Kassab faz questão de frisar que a indicação não é do partido, mas seleção pessoal da presidente. Claro, isso faz parte do jogo. Seria feio passar a impressão de que estaria negociando apoio ao governo com uma vaga no Ministério. Ademais, com cerca de 50 parlamentares, sendo a quarta bancada da Câmara, o PSD não se contentaria com uma Pasta recém-criada e sem força política. Por isso, Kassab quis se despregar da ideia do troco. Ademais, quer ver a banda passar. A banda de Eduardo Campos. Se tocar fazendo muito barulho, poderá arrastar o folião Kassab e sua trupe. Mais adiante, é claro. Campos na arena A essa altura, está praticamente decidida a entrada na arena de 2014 do governador de PE, Eduardo Campos. O neto de Arraes ouve interlocutores de todos os lados. Consenso : deve ser candidato. Não há uma opinião em contrário. Mesmo aqueles que não acreditam em suas chances, dizem a ele : você será vencedor em qualquer circunstância. Perdendo, ganha imensa visibilidade e credencia-se para 2018. Lula não perdeu três vezes ? Campos tem boa penetração no empresariado. Mas encontra um paredão no Sudeste, particularmente nos dois maiores colégios eleitorais do país, SP, com mais de 30 milhões de eleitores, e RJ, com 15 milhões. E Lacerda, hein ? Ademais, pode não contar com sua chave para abrir portas no Sudeste : Márcio Lacerda, o prefeito de BH, que é o PSB, partido de Campos. MG é o segundo maior colégio eleitoral do país. Mineiros e não mineiros apostam que Lacerda acabará afagando a candidatura do tucano Aécio Neves. Os Gomes Pois é, com todo impulso dado pela mídia ao governador de PE, depois de jantares e almoços com empresários, eventos e conversas de bastidores, a hora da verdade está chegando : até os Gomes poderão deixar Campos correndo sozinho no prado. Cid Gomes não cansa de dizer que apoia a reeleição da presidente Dilma. O irmão, Ciro, lembra que o governador precisa comer, ainda, muito milho, o milho dos problemas brasileiros, para cavalgar a montaria presidencial. Mas, se Eduardo Campos ostentar algo como 10% de intenção de votos na primeira rodada de pesquisas de 2014, haverá uma avalanche de apoiadores. A conferir. Segundo turno O que parece ser mais visível é um cenário de segundo turno caso tenhamos no páreo : Dilma, pelo PT ; Aécio Neves, pelo PSDB ; Eduardo Campos, pelo PSB e Marina Silva, pela Rede Sustentabilidade. Em um quadro de economia estável e emprego em alta, o cenário de vitória de Dilma, em primeiro turno, ainda se sustenta. Mas quem aposta nisso ? A inflação, pela visão dos melhores analistas, excede a meta ; o crescimento neste ano ficará em torno dos 3% ; o desemprego oscilará entre pequenas quedas e estabilização. Marina, recorde-se, teve quase 20 milhões de votos em 2010. Aécio e Campos teriam condições de arregimentar grandes fatias do eleitorado de classe média. Outros cenários E se Marina não conseguir formar sua Rede até outubro, hein ? Tem boas alternativas a escolher : ser vice na chapa de Campos. Mas há também quem veja Aécio Neves como companheiro de Edu Campos ou este na chapa do mineiro. Formariam uma dupla de boa aparência. Mas e os bons votos ? Viriam ? Este consultor tende a acreditar que Eduardo Campos tem mais potencial de crescimento do que Neves. O neto de Tancredo é um novo-velho. Cara manjada. Campos exibe perfil mais asséptico. E onde estará José Serra, o tucano mais conhecido ? Serra continua a conversar muito com o deputado Roberto Freire, que comanda o PPS. Especula-se que pode vir a ser candidato a presidente por esta legenda. A especulação chega às alturas com a alternativa de Serra ser juntar a Eduardo Campos. A fome com a vontade de comer. O eleitorado Seja quais forem as alianças e parcerias, o fato é que os candidatos se depararão com um eleitorado que incorpora, a cada ciclo eleitoral, novos valores. Vejam a planilha dos conceitos-chave que iluminarão o processo decisório : ética, racionalidade, exigência, novos padrões políticos, assepsia, transparência, crítica, organicidade, maior participação, democracia participativa em ascensão. É claro que esses valores estão mais próximos dos contingentes centrais do que das massas periféricas. Mas as margens que ascendem na pirâmide social também passam a abrigar escopos mais elevados. Polarização PT versus PSDB Percebe-se, hoje, esgotamento da polarização PT x PSDB. Esta polarização é particularmente observada em SP, capital por excelência da racionalidade eleitoral. O eleitor paulistano é um destruidor de mitos. Vota em um perfil de esquerda ou um quadro da direita, analisando as circunstâncias, o espírito do tempo. Mas os perfis que têm disputado as campanhas majoritárias - do PT e do PSDB- parecem contaminados pelo vírus da corrosão de material. Sombras do passado Por isso, os velhos nomes dos dois partidos que, por acaso, encabeçarem chapas majoritárias em 2014, poderão conhecer o caminho da roça, ou seja, de volta ao lar. Os ministros Mercadante e Marta Suplicy, o prefeito de São Bernardo, Luiz Marinho e mesmo esse Padilha, do Ministério da Doença, caso candidatos, enfrentarão o denso paredão da rejeição ao PT em SP. Já Alckmin, da mesma forma, vai se deparar com o fenômeno "desgaste de material". Sobraria, então, para um perfil mais asséptico, como o de Paulo Skaf, por exemplo. Anastasia, decepção Ouço de quem entende de política mineira : o governador Antonio Anastasia tem sido uma decepção. Não fez, até o presente, a revolução de gestão que se esperava, não tem nenhum carisma, é um burocrata que se enquadrou na moldura da velha política. Neves fora ? Por isso, Aécio continua a ser o sonho de muitos mineiros, que querem vê-lo na cadeira do governador de Minas. Dizem que essa opção não está de todo afastada. Neves fora do páreo presidencial, e apoiando Eduardo Campos, é uma carta do baralho de alguns analistas. Genro ruim Comenta-se que outra decepção é Tarso Genro, do PT, que governa o RS. Tarso é um dos mais preparados quadros do PT. Ocorre que os Estados atravessam a mais séria crise da sua história. Crise na frente das finanças. E um governador preparado, seja ele Anastasia ou Genro, não pode fazer muita coisa. Fica no feijão com arroz sem tempero. Aliás, safra ruim Aliás, com exceção de um ou outro, a atual safra de governadores é fraca. Quem tem boa avaliação, como Eduardo Campos, ganhou respaldo do governo Federal. No ciclo Lula, PE ganhou uma enxurrada de recursos. Uma montanha de investimentos. Cid, o grande Já no CE, a fama de Cid Gomes se dá por conta de altos dispêndios com artistas, monumentos, eventos e objetos. Fala-se da aquisição de uma aeronave de última geração. Shows caríssimos pavimentam sua trajetória no governo cearense. PMDB O PMDB, sob a liderança de Michel Temer, está mais unido que em outros tempos. A divergência do senador Jarbas Vasconcelos, de PMDB de PE, é histórica. Se vir a apoiar Eduardo Campos, poderá receber censura e, até, ser enquadrado por uma intervenção no partido em PE. E Pedro Simon faz da zoeira discursiva o marketing da autoglorificação. Camarão pede SOS Produtores de camarão do CE reuniram-se, semana passada, para avaliar a situação do setor, ameaçado com a abertura da importação. O Banco do Nordeste cancelou, de forma abrupta, empréstimos à carcinicultura nordestina. Ocorre que os produtores investiram altos recursos em tecnologia para aumentar a produtividade das fazendas. Solicitaram à Concessionária de Energia do CE aumento da oferta. Para surpresa de todos, a Coelce informou não dispor de mais energia para fornecer além da contratada. Que país é este ? Não há energia para abrigar novos investimentos. Detalhe : em novembro do ano passado, o Ministério da Pesca promoveu uma missão para que os empresários brasileiros fossem conhecer as fazendas de camarão mais produtivas do mundo em quatro países asiáticos. Os produtores voltaram entusiasmados e perguntam : e agora ? MP dos portos ? A MP 595 continua navegando em águas turbulentas dentro do Congresso. O governo quer que investidores privados aportem recursos, mas ainda há muita insegurança. Os trabalhadores querem manter o status quo. Fato é que as amarras nos cais precisam ser soltas em busca de competitividade urgentemente. Perguntar não ofende : se a matéria é de capital importância, não seria o caso de passar pelo rito das comissões temáticas para aprofundar as discussões e buscar-se o aperfeiçoamento do texto ? O ditado diz que quem tem pressa come cru. Os dois filhos Sabem qual filme desapareceu das locadoras ? Os Dois Filhos de Francisco ! Mare nostrum Embora este consultor saiba que a âncora da MP 595 esteja sendo baixada na seara mercantil e na necessidade premente de melhorar o escoamento das nossas exportações, o setor de Cruzeiros Marítimos é ator fundamental nessa discussão. O senador Vital do Rêgo, que vem adotando velocidade de cruzeiro frente à presidência da CCJ, entendeu essa importância e enviou requerimento para que a comissão mista possa ouvir a entidade que representa os Cruzeiros em nossas águas. A conferir. É um bicho ! Todo mundo sabe que o ex-prefeito de Parnamirim, Agnelo Alves, e o ex-governador e atual deputado Lavoisier Maia não são símbolos de beleza masculina. Jamais seriam um "Deus" grego, como Apolo, que sintetizava esse privilégio estético. E no cotidiano de ambos não faltam situações hilariantes que os envolvem, porém sempre com os dois mostrando bom humor. Em certos casos, até mesmo ignorando algo de mais pesado. Governador do Estado, Lavoisier Maia é convidado a ir a SP para encontro político com uma liderança nacional. No mesmo voo está em sua companhia o jornalista Agnelo Alves, fazendo uma parceria de estilhaçar qualquer espelho. O enviado pelo político paulista para receber Lavoisier Maia é orientado de modo simplista e direto : "É o mais feio que descer do avião" ! Não tinha como errar, calculava o emissário. No aeroporto o enviado vê descer Agnelo Alves e exclama em voz baixa : "É ele !" Aproximando-se de Agnelo, o assessor destacado para aquela ingente missão o aborda consciente : "Governador, por favor me acompanhe !" Agnelo logo esclarece o mal-entendido : "O governador vem aí atrás". A reação do enviado é de torpor : "Então é um bicho !". (Quem conta é Carlos Santos, no livro Só Rindo) Conselho a Marco Feliciano Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes, membros dos Poderes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos pré-candidatos presidenciais. Hoje, volta sua atenção ao pastor deputado, Marco Feliciano, que preside a Comissão de Direitos Humanos : 1. Vossa Excelência já teve seus 15 minutos de glória. É hora de guardar os troféus alcançados por alta visibilidade, usar o bom senso e renunciar ao comando da Comissão de Direitos Humanos. 2. Vossa Excelência, ao convocar Satanás para o centro do debate político, acabou misturando questões religiosas com a pauta do Estado, o que não condiz com o escopo republicano. 3. Uma coisa é defender a pluralidade religiosa, nos termos da CF, outra coisa é usar a tribuna política para expressar um verbo de discriminação.
quarta-feira, 13 de março de 2013

Porandubas nº 350

De repente Abro a coluna com uma historinha da Paraíba. Um ano da década de 60. O governador Pedro Gondim, da Paraíba, sai em campanha política pelo interior do Estado. Numa cidade, esbarra em uma cantoria de viola. Os organizadores da festa o levam até a dupla de poetas populares para as apresentações : - Eis aqui o nosso governador, saúda o anfitrião. - Conhece-o pessoalmente ? Indaga a um dos cantadores. O artista acena afirmativamente e lasca de improviso. - Eu conheço vários Pedros- Pedro Bom e Pedro Ruim- Pedro ruim igual a Pedro- Só conheço o Pedro Gondim ! O governador esboçou um sorriso amarelo. (Da coleção de Orlando Rodrigues em Segura Essa) O enigma Serra José Serra começa a se vestir de enigma. Para onde vai o ex-senador, o ex-governador, o ex-prefeito e o recorrente candidato à presidência da República ? Chovem versões nos bastidores políticos. Ora, ouve-se a versão de que apenas faz onda, mas acabará se conformando com a candidatura ao Senado pelo PSDB, em 2014. Afinal, tucano de bico grande não abandonaria a floresta. Ora, ouve-se à boca pequena que estaria de mala e cuia pronto para embarcar na canoa do PPS, do deputado Roberto Freire. Nesse caso, seria candidato pelo partido à presidente. Há quem o veja entrando no PDS de Kassab, hipótese sem chances, eis que a legenda já assentou pé na base governista de Dilma. Alternativa mais viável Pelo andar da carruagem e levando-se em conta a fala do deputado Roberto Freire, no Roda Viva, da TV Cultura, desta segunda-feira, o noctívago Serra quer mesmo ser candidato a presidente - "o melhor perfil", segundo o presidente do PPS. O fato é que os tucanos estão rachados em SP. O grupo de Serra tem birra e bica o grupo de Alckmin. Fernando Henrique tenta apartar a contenda e não consegue. Diz-se, ainda, que Serra não teria aprovado a iniciativa de FHC de pedir a Aécio que colocasse seu bloco na rua. Muito cedo, considera. Mas Aécio tinha de dar resposta à provocação de Lula, que anunciou a presidente Dilma como candidata à reeleição. O quadro com 5 candidatos Se Serra entrar no pleito e se Marina conseguir formar seu partido antes de outubro, a moldura seria composta por : Dilma, candidata governista, e mais quatro candidatos de oposição : Serra, pelo PPS; Eduardo Campos, pelo PSB; Marina, pela Rede Sustentabilidade e Aécio, pelo PSDB. Nesse caso, as possibilidades de um segundo turno são bastante previsíveis, mesmo sob um cenário de estabilidade econômica, crescimento médio do PIB e bolso cheio da galera das margens com a grana das Bolsas. Mas há outras hipóteses a considerar. Vejamos. O fator Marina Digamos que Marina Silva não consiga arrumar a sua Rede. Teria duas alternativas : ser vice do Serra, na chapa do PPS. Nesse caso, teria de ingressar no partido ou em outro que firmasse parceria com a sigla de Roberto Freire. Ou poderia compor a chapa de Eduardo Campos, do PSB. Este consultor acredita que esta última hipótese é mais provável, levando-se em conta o passado de Marina e a identidade tucana de Serra, mesmo que este venha a sair do PSDB. Campos/Marina seria uma chapa mais identificada com novidade, coisa diferente. Segundo turno Em qualquer hipótese, confirmando-se a candidatura do governador de PE, a questão se apresenta desta forma : com quem Campos faria parceria em um segundo turno ? Com o candidato tucano Aécio Neves ou com a presidente Dilma, considerando-se que sejam os mais prováveis candidatos a entrar na segunda rodada eleitoral ? Este consultor tem dúvidas. Lembro que Campos já me confessou uma vez : meu sonho é reunir a geração pós-64 e tomarmos conta do país. Naquela noite, em Comandatuba, essa geração abrigaria perfis como os Gomes (Ciro e Cid), Aécio Neves, Kassab e ele, Eduardo Campos, entre os mais visíveis. Por isso, não se pode descartar a possibilidade de Campos entrar na seara de Aécio, apesar da forte influência que deverá exercer, numa situação dessas, seu "irmão mais velho", Luiz Inácio Poderoso Lula da Silva. Teria ele chances ? Campos tem chances de entrar em um segundo turno ? Vejamos. Primeiro, teria de unir todo o PSB em torno de seu nome. Coisa complicada, quando se sabe que o governador Cid Gomes já manifestou sua preferência por Dilma, com o conselho ao correligionário para se preservar e ser candidato em 2018. Segundo, teria de conquistar o território do Sudeste, onde é um perfil praticamente desconhecido. SP, com 30 milhões de eleitores ; MG, com 15 milhões e RJ, com 12 milhões serão Estados decisivos. E Campos passa longe das urnas nesses três maiores colégios eleitorais do país. E mesmo no Nordeste, o maior colégio eleitoral é a Bahia, onde Campos também não tem penetração. Tudo isso pode mudar ? Sim. Mas a análise fria dos dados aponta para uma posição de parceiro menor em 2014. E qual a vantagem ? Ora, a vantagem de entrar na campanha de 2014 é mesmo o da meta da visibilidade. Desconhecido, o governador passaria a ser bastante conhecido. Aplainaria o caminho para a chegada ao pódio em 2018. Como sempre tem lembrado este consultor : a menor distância entre dois pontos na política nem sempre é uma reta como na geometria euclidiana. É uma curva. Que o digam Lula e tantos outros que colecionaram derrotas e, depois, foram glorificados pelas urnas. Papáveis Entremos, agora, na Capela Sistina, onde se realiza o Conclave para eleger o sucessor de Bento XVI. A Igreja Católica de Roma padece de forte crise : as finanças estão combalindo e graves denúncias têm corroído a imagem da instituição que governa mais de 1,2 bilhão de pessoas. O melhor perfil seria o de um Papa carismático, que tivesse condições de colocar a Igreja nos trilhos da modernidade, uma pessoa de ares santificados, que não fosse carimbado com os rótulos de conservador, progressista, reacionário, moderno. Um papa do século XXI. Principais nomes Dom Odilo Scherer, o brasileiro, tem condições ? Sem dúvida. Mas entra no círculo dos rótulos. Para o Brasil, seria ótimo. Afinal, temos a maior população católica do mundo. E SP, sua arquidiocese, a maior população de católicos do Brasil. Mas é considerado conservador e candidato da poderosa, porém polêmica, Cúria Romana. Angelo Scola, o arcebispo de Milão ? Considerado muito avançado. E que tal um meio termo, como Gianfranco Ravasi, italiano, culto e carismático ? O canadense Marc Ouellet tem chances, mas o simbolismo do poderio da América do Norte pode ser inconveniente. Orater frater O padre Edmondo Kagerer é austríaco, mas adora o Brasil em especial os sertões do Seridó, onde fundou e mantém em pé as Aldeias Infantis SOS. Fuma cachimbo e gosta de cerveja. Mas os motivos que o levaram a deixar a paróquia de São José e, por certo período, a região, foram a língua portuguesa e sua pronúncia. Chamava o motorista Paulo de Apaula, Caboré, um amigo, de Acabaré, e assim por diante. Mas quem complicou mesmo a situação foram as pressões das beatas junto ao bispo depois de tanto ouvirem e, claro, não entenderem, essa revelação do reverendo estrangeiro em seus sermões : - Ajude a igreja. A nossa piroca também é de vocês ! (o reverendo se referia à paróquia) (Quem conta em Segura Essa é Orlando Rodrigues) E o Tristiciano, hein ? O sobrenome acima, claro, é um contraponto ao Feliciano. Isso mesmo, o sobrenome do deputado Marco, do PSC, elevado ao cargo de presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara. A polêmica se estabeleceu. O deputado deu declarações discriminatórias e parece mesmo embalado por um celofane fundamentalista. A esta altura, o PSC, para evitar desgaste, deveria substituí-lo. Sob pena de ter de conviver com reações negativas que acabarão estreitando mais ainda seus votos em 2014. Ponto e contraponto E por falar em ponto e contraponto, levanto mais uma comparação : a alga e o silicone. A alga é elemento que pode descobrir a verdade. O silicone, o elemento usado para encobrir a verdade. Vejamos. Um biólogo analisou o sapato do advogado Mizael Bispo e descobriu nele uma alga que existe na represa, onde foi encontrada sua namorada, Mércia Nakashima. Ou seja, uma alga pode ser a pista para a descoberta do crime. Abrindo, agora, a outra historinha. Em SP, uma médica de 29 anos foi presa por suspeita de fraudar o ponto eletrônico nos plantões de um hospital público, usando, para tanto, dedos de silicone com a digital de médicos e enfermeiros. 11 médicos e 20 enfermeiros participariam do esquema. Tecnologia a serviço do bem e do mal. E uma pitada de cultura brasileira. A cultura do jeitinho. Temas ferventes A pauta política no horizonte deixa a ver temas candentes em intensa discussão : pacto federativo, royalties do petróleo, MP dos portos, orçamento impositivo. O pacto federativo abrigará fóruns de governadores e prefeitos interessados em aumentar a participação de Estados e municípios no bolo da União; o assunto está pra lá de discutido. RJ, ES e SP buscam, no STF, recompor a situação dos chamados Estados produtores e garantir contratos do passado. Os portos estaduais, como Suape, em PE, temem perder sua autonomia. A presidente quer acabar com prerrogativas de Centrais Sindicais de interferir no regime de contratação de avulsos. Há outros imbróglios na MP. E os deputados não vêem a hora de decidir sobre o orçamento impositivo, promessa do presidente da Câmara, Henrique Alves. Essa modalidade resgata a autonomia orçamentária aprovada pelo Congresso. Facilidade impossível Prefeito de Mossoró, João Newton da Escóssia sempre foi conhecido pelo rigor no trato das coisas públicas. Nada e ninguém poderiam violar o erário municipal. Apesar do rigor de João Newton na administração da prefeitura de Mossoró, não faltam excessos e incursões a pecados. Detectado por João Newton, o deslize era imediatamente reparado. O prefeito, ninguém tem dúvidas, não tem qualquer tipo de flexibilização, quando o assunto fere a lei. Em sua sala de trabalho, João Newton vê entrar um antigo amigo, num dia de expediente normal. Trata-se do conhecido "Telé". Após cumprimentos normais, algo comum entre amigos, Telé assinala o que o levara ao gabinete do prefeito : - João, eu vim aqui para lhe pedir uma coisa ! - Pode falar, Telé - estimula o prefeito João Newton. - Eu quero que você facilite uma coisa para mim - diz. O prefeito, então, pondera bem ao seu estilo : - Olha, Telé, se tiver tudo certinho, dentro da lei, direito mesmo, eu lhe ajudo. Casmurro, Telé vê logo como é inexpugnável o senso de legalidade do prefeito e amigo. - João, eu vim aqui para você facilitar uma coisa. Se fosse assim, tudo direito, eu não vinha lhe procurar. (O relato é de Carlos Santos em seu livro Só Rindo) Conselho aos pré-candidatos Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes, membros dos poderes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado às Centrais Sindicais. Hoje, dedica sua atenção aos pré-candidatos que começam a correr o país para viabilizar planos eleitorais. 1. No momento em que Vossas Excelências começam a pôr o carro nas ruas e abrir um amplo processo de articulação com as forças da sociedade organizada, é aconselhável que portem ideias claras, objetivas, viáveis, abrangentes. Essa sugestão visa despersonalizar o processo político/eleitoral e adensar o discurso com propostas para o país. 2. Ouçam as demandas dos grupamentos sociais, procurando compor a radiografia da realidade brasileira. E evitem fazer crítica por crítica. Façam elogios a programas/projetos que estejam mostrando resultados. 3. Evitem parolas populistas e molhadas no caldo do oportunismo que costuma embalar os pacotes de compromissos. ____________
quarta-feira, 6 de março de 2013

Porandubas nº 349

Enxergando tudo verde Os cientistas envolvidos com o estudo da agropecuária garantem que o gado bovino somente visualiza uma cor, a escura. Mas o fazendeiro (falecido) Honorim Medeiros, da Fazenda Pedra do Sino, em Caicó, não foi na conversa e, com o respaldo do seu próprio rebanho, jogou por terra a tese dos doutores em zootecnia. Foi na seca dos anos 50. Exauridos todos os recursos de pastagem, o gado rejeitava os restos do capim seco, duro, esturricado, preferindo apenas a torta de algodão, verdinha, fresquinha, ótimo sabor. Honorim vivia preocupadíssimo, aperreado, sem mais saber o que fazer : - Tô lascado, desse jeito vou alisar ! Matutou, matutou, e, criativo, bolou a ideia genial. Foi até a Paribana, casa comercial do amigo Antonio da Viola e fez uma inflacionada compra, deixando o comerciante boquiaberto : - Tem óculos de carnaval ? Pois então me dá todo o estoque, todos da cor verde (antigamente, eram comuns os óculos de plástico, com alças de elásticos, usados exclusivamente no período momesco). O fazendeiro levou-os para a Pedra do Sino e fantasiou o rebanho. Na volta à cidade, o amigo quer saber dos resultados : - Como é Honorim, deu certo ? O fazendeiro abriu um sorriso de orelha a orelha e deu a nova : - Mas, home, é um milagre. O gado tá comendo até as cercas e os mourões das porteiras ! (Quem conta em Segura Essa é Orlando Rodrigues) O diabo se prepara A presidente Dilma começa a lubrificar as armas do seu arsenal. A partir da linguagem, equipamento pesado em uma campanha. Nesta semana, na Paraíba, deu mostras de que vai atirar forte : "podemos fazer o diabo na hora da eleição, mas, no exercício do mandato, temos que nos respeitar, pois fomos eleitos pelo voto direto". A presidente, mesmo sem querer usar a linguagem de campanha, na verdade já está disparando chumbo grosso. O alvo é Aécio Neves, o tucano que começa a atirar no governo, com estilhaços atingindo Eduardo Campos, o governador pernambucano que, por enquanto, permanece na base governista. O verbo mais popular de Dilma é inspirado na verve de Lula. Eliot "Somente aqueles que se arriscam ir longe são capazes de saber até onde podem chegar". T.S. Eliot Danos ao país A campanha antecipada ocasionará sérios danos ao país, pois as agendas serão embasadas pelo espírito eleitoral. Prioridades se invertem. As ações governativas são atropeladas pelo marketing eleitoreiro. Dos quatro eventuais candidatos, apenas a ambientalista ex-senadora Marina Silva está mais contida. Aécio começa a despejar suas baterias. Eduardo Campos bate forte na tecla do pequeno crescimento e acena para os sindicalistas. E a presidente Dilma começa a correr o país. Sob o empuxo do comandante Luiz Inácio. Vinícius "A vida é a arte do encontro. Embora haja tanto desencontro pela vida...". "Viver é Amar". "Que não seja imortal, posto que é chama, mas que seja infinito enquanto dure". Vinicius de Moraes, o poetinha. É muito cedo, porém... É muito cedo para desenhar cenários. Mas nada impede que tentemos uma expressão sobre potenciais de eventuais candidaturas. É pouco provável a aliança entre Aécio Neves e Eduardo Campos, como muitos defendem. Entre esses muitos, estão tucanos interessados em colocar o governador de PE na chapa do mineiro, como vice, e oposicionistas que sonham em destronar o petismo/Lula/Dilma do poder central. Pois bem, é pouco provável uma aliança entre ambos. Porque já fizeram as contas e chegaram à conclusão de que, separados, terão melhores condições de empurrar a eleição para o segundo turno. Os dois e mais os votos de Marina Silva poderiam tirar a vitória do governismo no primeiro turno. Millôr A palavra bem humorada de Millôr Fernandes : "o preço da fidelidade é a eterna vigilância". "O cadáver é que é o produto final. Nós somos apenas a matéria prima". "Eu sei do que estou falando. Tirando isso, não sei mais nada". "O dinheiro não é tudo. Tudo é a falta de dinheiro". "Às vezes, você está discutindo com um imbecil... e ele também". "O Brasil ? Ah, está condenado à esperança". Fatores de cada um Dilma contará com o fortalecimento dos bolsões sociais (garantia de estômago satisfeito) e melhoria nos patamares de crescimento. Algo em torno de 3% a 3,5% de crescimento em 2013/2014 seria suficiente para garantir a continuidade. Enquanto a equação do voto for garantida (bolso, estômago, coração, cabeça), a posição de nossa mandatária-mor não será ameaçada. Aécio Neves seria elevado em cenário de destroço econômico, significando crescimento zero, desemprego em massa, inflação em alta, clima de instabilidade geral. Ademais, carece de um discurso convincente, denso, capaz de mobilizar e animar os contingentes eleitorais. Se ficar apenas no diagnóstico - coisa comum entre os tucanos - ficará defasado. Deve ainda ter cuidado com a artilharia de críticas que baterá nos costados pessoais. O novo, o charmoso Eduardo Campos apresenta grande potencial de crescimento. Principalmente se ganhar bom espaço midiático, a partir das alianças. Quem o conhece sabe que não encarna o perfil da inovação, da modernidade (trata-se de um herdeiro do coronel Arraes), mas, pela boa apresentação pessoal, pode vir a ser considerado o de maior assepsia política. O fato de não ser conhecido garantirá boa penetração e avaliação junto a segmentos mais jovens. Mas o PSB não tem palanques abertos no Sudeste e no Sul, regiões de alta densidade eleitoral. Por isso mesmo, procurará se ancorar na fosforescência midiática. Claro, em cenário de baixo crescimento e deterioração econômica. Já Marina Silva terá um eleitorado fiel, mais orgânico e com apoio em setores bem organizados nas frentes sociais. Encarnará o conceito de renovação/depuração. Chico "Saudade é o revés de um parto. Saudade é arrumar o quarto do filho que já morreu". Chico Buarque nos brinda com Saudade, palavra que só a beleza poética da língua portuguesa conhece. O sindicalismo de oportunidades Nunca o sindicalismo brasileiro ganhou tanta oportunidade para se expandir e fortalecer quanto nesses tempos comandados pelo PT. Pois bem, o petismo fez subir às alturas não apenas a bandeira da CUT, mas as flâmulas de todas as Centrais. Que recebem uma fortuna para fazer pressão (causar má impressão), barganhar e ganhar espaços na administração federal. Vamos lá : o sindicalismo tomou conta da área do trabalho. É quem dá as cartas. Mas se mostra frequentemente contra o governo do qual faz parte. Ou seja, faz oposição a ele mesmo. Jogo inteligente, não ? (Quem não se lembra do Lula presidente reverberando contra o governo que ele mesmo comandava ?) Bandeiras sindicais O que defendem as Centrais Sindicais ? Algumas questões são bastante concretas : redução da jornada de trabalho, fim do fator previdenciário, reforma agrária (apesar da polêmica e divisões de abordagens que o tema sugere), ratificação da Convenção da OIT que impede demissão imotivada e regulamentação de outra Convenção que estabelece negociação coletiva no serviço público. Outras propostas descambam para o terreno do discurso mais abrangente, distanciando-se de posições fechadas, como igualdade de oportunidades para homens e mulheres, valorização dos aposentados, etc. E o ministério, hein ? Veja-se o Ministério do Trabalho. Foi entregue ao deputado Brizola Neto, um bom perfil, do PDT gaúcho, endossado pela Força Sindical, comandada pelo deputado Paulinho (PDT/SP). O PDT é um partido rachado. O comando é do ex-ministro Carlos Lupi. Brizola quer apagar os vestígios por ele deixados na pasta. Lupi, que faz parte da base governista, tenta resistir. O sindicalismo organiza grande passeata em Brasília para pressionar o governo. O PDT ameaça uma greve geral nos portos. Tudo por conta da MP que cassa a autonomia dos Estados em relação aos portos, tirando o poder do Órgão Gestor de Mão de Obra, enquanto os sindicalistas defendem a continuidade dessa autonomia. Tal prerrogativa passaria a ser da União. Campos na jogada Eduardo Campos entra nessa onda e defende a autonomia estadual. Paulinho da Força, que integra a base governista, alia-se ao governador de PE, e atira forte contra o governo. O samba do crioulo doido se completa quando se sabe que o ministro dos Portos, Leônidas Cristino, pertence aos quadros do PSB, tendo sido indicado pelos irmãos Gomes (Cid e Ciro), do CE. E assim caminha o Brasil... ! PMDB e PT nos Estados PMDB e PT intentam apresentar candidatos ao governo em todos os Estados da Federação. Essa é a estratégia de adensamento do poder. Mais governadores implicarão mais deputados Federais, mais senadores, mais prefeitos e vereadores. Alongamento do ciclo do poder partidário. Mas é possível que, em alguns Estados, haja recuo de um e de outro parceiro para amparar a aliança. No Rio Pezão, pelo PMDB, e Lindberg, pelo PT, irão às urnas. Sem chance de parceria PT/PMDB. O PMDB do Rio ameaça não apoiar Dilma. Este consultor não crê na hipótese de Cabral vir a apoiar Aécio Neves. No RS Diz-se que Tarso Genro, o governador, quer ser candidato a senador. Não quer administrar um Estado sem recursos. A senadora do PP, Ana Amélia, é forte candidata ao governo. Beto Albuquerque, o líder do PSB de Eduardo Campos, também é candidato. Em SC Raimundo Colombo, do PSD de Kassab, é candidato à reeleição. Os tucanos deverão ir com o senador Paulo Bauer, enquanto Ângela Amin será candidata ao Senado. Em MG O PT deverá fechar posição em torno do ministro Fernando Pimentel, enquanto Clésio Andrade tentará ser o candidato do PMDB. Newton Cardoso, o deputado e ex-governador, será candidato ao Senado pelo PMDB. Em PE Todos apostam na ficha do ministro Fernando Bezerra, como candidato do governador Eduardo Campos. No RN Uma incógnita : o senador Garibaldi Alves, muito bem avaliado como ministro, toparia voltar ao governo ? Este consultor acredita que não. E o seu filho, Walter Alves, deputado estadual ? Já tem idade para ser candidato (32 anos), mas aconselham-no a pegar mais experiência. E o presidente da Câmara, Henrique Alves ? Mais uma incógnita. Garrote e garoto Voz melosa como poucos, o professor Gumercindo Amorim era mestre em português, lecionando nas escolas em Currais Novos, onde gozava de grande prestígio. Como locutor de rádio, na Brejuí, vez ou outra escorregava : - Atenção, garrote perdido. Procura-se um garrote trajando calça curta azul marinho, camisa de algodão, branca, conga azul com meias brancas, cabelo busca pé, aproximadamente 10 anos de idade. Quem souber do paradeiro, favor informar aqui na Brejuí ou na residência dos pais do mesmo na Avenida Desembargador Tomaz Salustino, que será bem gratificado. O sonoplasta, que também redigia os avisos para a leitura dos locutores, percebeu o trocadilho e sinalizou. Sem perder a compostura, eis de novo Gumercindo : - Mais uma vez, atenção. Retificando o aviso lido há pouco. Onde se lê garrote, leia-se ga-ro-to ! (Essa é também de Orlando Rodrigues) Conselho às Centrais Sindicais Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes, membros dos Poderes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos aos gurus do PT, Lula, e do PSDB, FHC. Hoje, dedica sua atenção às Centrais Sindicais : 1. O movimento sindicalista faz parte de uma sociedade democrática. Mas o sindicalismo não pode e não deve dormir eternamente nos cobertores do Estado. 2. É importante saber o que reivindicar, o que defender, o que propor. É irresponsável defender uma agenda que não condiz com as sensíveis economias da contemporaneidade. 3. É preciso saber recuar e não apenas fustigar as instituições. O mundo atual cultiva os valores da racionalidade, flexibilidade, diálogo, contemporização, respeito à ordem constituída. Tentem zelar por este escopo. ____________
quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Porandubas nº 348

Vacas magras Abro a coluna com Aliatá Chaves de Queiroz, figura polêmica de Pau dos Ferros, encravado na tromba do elefante. Foi prefeito da cidade, mas antes foi vice do prefeito José Fernandes, médico, e uma das celebradas figuras de políticos potiguares, sogro do ex-deputado Federal João Faustino. O titular entrou de licença saúde e viajou para SP, passando a administração ao vice, como manda a lei : - Taí. Há dinheiro no cofre e nos bancos, e a prefeitura não deve a ninguém. Aliatá, figura modesta, não dava valor à dinheiro, vivia como um peão, roupas surradas e alpargatas de rabicho, fez um rapa nas finanças da prefeitura. Quando Zé Fernandes voltou, reassumiu com a bronca : - Mas Aliatá, cadê o dinheiro do município ? Não resta um só centavo. Gastou com quê ? - Com o povo. Não ia deixar ninguém morrer de doença ou de fome, enquanto o dinheiro mofava nos cofres ! Na campanha para o Governo em 1986, Aliatá aparecia no palanque a Geraldo Melo, surpreendendo pela maneira maltrapilha de se apresentar. Surpresa maior viria a seguir, depois que o próprio Geraldo anunciava o nome de Aliatá como o próximo orador. Arredio a multidões e microfones, o homem desmaiou, quase acabando o comício...Não era só o dinheiro da prefeitura que Aliatá distribuía com a população de sua cidade. Tudo que ganhava, dividia com os munícipes. Mas ele também tinha seus rompantes, quando percebia que o eleitor queria enrolar. Como o daquela mulher com o filhinho recém-nascido nos braços : - Dotô Latá, eu queria um dinheirim pra comprar uma lata de leite pro nenê. Ríspido, o prefeito fuzila : - E prá que a senhora quer esse par de peito, abarrotado de leite ? (Do livro de Orlando Rodrigues, Segura Essa...) Campanha na rua Lula antecipou o processo de 2014 ao lançar Dilma candidata à reeleição. O que o comandante petista quis dizer com essa antecipação ? Ponto um : que não topa uma campanha "Volta, Lula" ; ponto dois : Dilma é a candidata do PT e as alas petistas precisam dar um basta às arengas ; ponto três : os partidos da base, desde já, são convocados a perfilar ao lado da candidata ; ponto quatro : vamos ter de enfrentar novamente os tucanos e vamos derrotá-los mais uma vez. Essa é a moldura que se desenha em uma primeira leitura. Mas há quem discorde dessa projeção. Gandhi O verbo da paz e da verdade de Gandhi : "o caminho da paz é o caminho da verdade. Ser honesto é ainda mais importante do que ser pacífico. A mentira é a mãe da violência. Um homem sincero não pode permanecer violento por muito tempo". Outra leitura Pibinho, economia em baixa, administração travada, Dilma centralizadora, ministérios sem autonomia para decidir sobre coisas mínimas - esse é o pano de fundo que pode desestabilizar a candidatura da atual presidente. Nesse caso, o "Volta Lula" ganharia sentido e força. Pois bem, não são poucos os analistas que fazem essa segunda leitura. Por acreditarem que o ex-presidente ainda não desgrudou das amarras do Palácio do Planalto. Respira política 24 horas. Começa, agora, a correr o país, a partir de Fortaleza, para onde irá, amanhã. Madre Teresa O verbo generoso de Madre Teresa de Calcutá, uma vida dedicada à pobreza : "o mundo que Deus nos deu é mais do que suficiente para todos ; existe riqueza mais do que sobra para todos. É só uma questão de reparti-la bem, sem egoísmo". O racha no PSB Lula quer rachar o PSB. Está chateado com seu amigo, "irmão mais novo", Eduardo Campos, que mostra, a cada dia, intenções de vir a ser o candidato socialista à presidência em 2014. Campos está muito bem avaliado no Nordeste. E começa a penetrar nos espaços do Sudeste. Encarna a alternativa de mudança, eis que os tucanos sofrem o fenômeno "desgaste de material". Campos promete dar apoio ao governo até o final do ano. Se a economia voltar a subir, o governador pernambucano pode permanecer na base governista. Mas, os seus correligionários dizem, à boca pequena, que a decisão já está tomada. Luther King O verbo da igualdade de Martin Luther King : "Sonho com o dia em que a Justiça correrá como água e a retidão como um rio caudaloso. Eu tenho um sonho em que minhas quatro pequenas crianças vão um dia viver em uma Nação onde elas serão julgadas não pela cor da pele, mas pelo conteúdo de seu caráter". Trabalho escravo Em boa hora, o Governo do Estado sancionou a lei estadual 14.946 de 2013. Agora, modesto convite : que tal o Governo ou o Ministério Público do Trabalho visitar o Metrô, na linha Norte-Sul ? Poderá se deparar com um caso escandaloso de escravidão, perpetrado pela empresa de limpeza aos trabalhadores. Perdendo, ganha Eduardo Campos sabe que a menor distância, em política, nem sempre é uma reta, mas uma curva. Se for candidato e perder, poderá usufruir, mais adiante, a visibilidade alcançada em 2014. Por isso, mesmo perdendo ele ganhará. Seu potencial de crescimento é maior do que o de Aécio Neves. De qualquer forma, ele será decisivo, eis que a campanha de 2014 desembocará no segundo turno. As projeções mostram que o cenário poderá comportar quatro candidatos : Dilma, Aécio, Campos e Marina. Mazzarino O verbo da mentira de Mazzarino. Espelho da alma. Políticos, revolucionários, ditadores assim dela se utilizaram. Cardeal Mazzarino, tutor de Luis XIV, na França, usava a palavra como arma da política. Ensinava : "simula, dissimula, não confies em ninguém, fala bem de todo mundo, prevê antes de agir". Seu breviário dos políticos é uma obra prima da mistificação. Cenários Dilma continua sendo a favorita. Mesmo com economia em baixa, ela tem condições de sustentar o bolso das margens sociais, garantindo, dessa forma, a geografia (anatomia) do voto : bolso, barriga, coração, cabeça. Bolso com dinheiro significa geladeira cheia e estômago saciado; estômago saciado implica coração agradecido; coração agradecido sinaliza cabeça decidindo a favor da candidata das bolsas/bolsos. Ganhar no primeiro turno, isso seria difícil. Aécio teria a vantagem de fechar o segundo maior colégio eleitoral do país, MG, com seus 15 milhões de eleitores. E ainda contar com a alavanca de Geraldo Alckmin, em SP ; de Beto Richa, no PR, e de Marconi Perillo, em GO. Mas esses governadores teriam boas performances ? Essa é dúvida. Maquiavel O verbo escorregadio de Maquiavel, o mestre dos mestres na arte de usar os fins para justificar os meios : "a ofensa que se fizer a um homem deve ser de tal porte que não se tema a vingança. Um príncipe deve saber dosar a natureza animal, escolhendo a raposa e o leão. Porque o leão não tem defesa contra os laços, nem a raposa contra os lobos. Precisa ser raposa para conhecer os laços e leão para aterrorizar os lobos". Tucanos desgastados Em SP, Alckmin terá grandes dificuldades de superar o que se chama de "desgaste de material". São 20 anos de tucanato. A segurança pública será o carro chefe dos discursos. A violência se expande em SP. De qualquer maneira, os tucanos podem contar com 30% dos votos, índice que também é o do PT. Um terço petista, um terço tucano e um terço para o candidato alternativo à polarização. No PR, Beto Richa está desgastado, o mesmo ocorrendo com Perillo em GO. Por isso mesmo, não se pode aduzir que as máquinas tucanas multipliquem votos para Aécio. Abre-se, portanto, espaço a ser ocupado por Campos e Marina. Mao Tsé-Tung O verbo direto de Mao Tsé-Tung para conquistar o poder : "o poder político nasce do cano de uma espingarda". Em 1949, chefiando o exército revolucionário, foi proclamado presidente da nova República Popular da China. É dele a frase :"todos os reacionários são tigres de papel". Marineiros Marina Silva deverá obter as 500 mil assinaturas que credenciarão sua Rede Sustentabilidade. Mas sua performance não será tão boa quanto a de 2010, quando alcançou quase 20 milhões de votos. Os marineiros são compostos de segmentos jovens e setores médios indignados e identificados com a sustentabilidade. Como o próprio nome indica, a Rede será muito seletiva. Mas a entrada de Marina tem condições de ajudar a empurrar a campanha para o segundo turno. E nesse segundo turno, a possibilidade de união entre Aécio e Campos é muito alta. Já a ex-seringueira poderá, mais uma vez, não tomar partido e deixar suas bases optarem por um lado ou outro. Hitler O verbo mistificador de Hitler era mistificadora para enganar as massas : "a capacidade de compreensão das multidões é muito limitada e sua compreensão escassa. Elas esquecem facilmente. A propaganda deve se restringir a poucos pontos, expostos em forma de grito de combate, até que o último homem seja capaz de compreender o significado". Candidatos estaduais A campanha presidencial será atrelada às campanhas estaduais. Sob essa hipótese, mais uma vez SP estará definindo a situação. Afinal, a clássica polarização entre tucanos e petistas poderá ocorrer, apesar de ser visível o desgaste dessa renhida luta. Poderá sobrar para o candidato do PMDB, que deverá se unir em torno de Paulo Skaf, presidente da FIESP. O sonho de Lula é derrotar os tucanos na governança estadual. Dizem que pretende somar a força adquirida pelo prefeito Fernando Haddad. Churchill O verbo criativo de Winston Churchill, o grande líder inglês da II Guerra Mundial : "a política é quase tão excitante quanto a guerra, e quase tão perigosa. Na guerra, você só pode ser morto uma vez, mas em política, muitas vezes". Haddad terá forças ? A questão é : Fernando Haddad terá forças para influenciar o pleito paulista ? Em dois anos de administração, teria algo a apresentar de positivo ? Pelo andar da carruagem, a resposta é não. O estilo haddadista é de assembleísmo. Centenas de reuniões se fazem em todos os espaços da municipalidade. Mas esses saraus discursivos acabam não dando frutos. SP está esburacada. As enchentes deterioram a anatomia urbana. E até 2014, o prefeito estará envolvido com a arrumação da maneira petista de governar. Lincoln O verbo histórico de Abraham Lincoln, ex-presidente dos Estados Unidos : "Podemos enganar alguns por todo o tempo, todos por algum tempo, mas não podemos enganar todos por todo o tempo". O ex-lavrador dizia : "não criarás a prosperidade, se desestimulares a poupança ; não fortalecerás os fracos, por enfraquecer os fortes ; não ajudarás o assalariado, se arruinares quem paga ; não ajudarás os pobres, se eliminares os ricos". A briga Ademais, o PT deverá entrar na arena de guerra. A essa altura, já se notam os movimentos dos pré-candidatos Marta Suplicy, Aloísio Mercadante, Alexandre Padilha e Luiz Marinho. Lula será, mais uma vez, o artífice da escolha. Se der vazão ao estilo, o candidato menos conhecido - como Dilma e Haddad - é o ministro da Saúde, Padilha. Ora, mas a saúde está na UTI. As epidemias se espraiam. Esse ministro não tem coisas interessantes para apresentar. Mercadante, por sua vez, exibe uma estética de carranca zangada. E Marta sofre históricos índices de rejeição. Zaratustra O verbo ousado de Zaratustra, o profeta de Nietzsche : "novos caminhos sigo, uma nova fala me empolga : como todos os criadores, cansei-me das velhas línguas. Não quer mais, o meu espírito, caminhar com solas gastas... Aprendi a voar, desde então não preciso de que me empurrem para sair do lugar. Agora, um deus dança dentro de mim". PMDB unido O PMDB deverá eleger, dia 2 março, Michel Temer, para um novo mandato à frente do partido. Michel, com sua habilidade, consegue unir as diferentes alas partidárias. Firma-se como candidato a vice na chapa de Dilma e o PMDB se organiza para apresentar candidatos ao governo em todos os Estados. A lógica do partido é : só fazer parcerias no segundo turno. Ceder o espaço para aliados, no primeiro turno, só em casos excepcionais. O partido quer fazer um bom número de governadores visando preparar terreno para 2018, quando deverá ter candidato próprio à presidência da República. Rui O verbo cidadão do nosso maior jurista e homem de letras, a Águia de Haia, Rui Barbosa : "Rompamos com a seita das pequenas Pátrias. O Brasil quer a Grande : a Pátria antiga, a Pátria unida, a Pátria vasta, a Pátria forte, a Pátria indissolúvel, com a ingênita vibratilidade nas veias e seu lugar entre as Nações". Anvisa acima da Justiça ? Os fiéis consumidores de álcool líquido vivem um momento de insegurança, sem saber se poderão continuar contando com o produto nas prateleiras. A Anvisa resolveu antecipar a decisão do processo que discute a restrição do produto na forma líquida, acima de 46°INPM/ 54°GL, ordenando a proibição da venda antes mesmo que o TRF da 1ª região julgue a questão. São questionadas as estatísticas usadas como argumento para a medida, já que informações do SUS apontam números muito menores do que os apresentados. Mas a Anvisa ignora tudo. O próprio TRF informa que a medida não tem validade até que sejam julgados os recursos pendentes. Porém, fiscalizações e multas aos que venderem álcool líquido acima de 46°INPM/ 54°GL já estão sendo aplicadas. Ou seja, a Anvisa se considera acima da Justiça e da vontade dos consumidores. Borges "Um homem se propõe a tarefa de desenhar o mundo. Povoa um espaço com imagens : reinos, montanhas, baías, ilhas, peixes, moradas, astros, pessoas. Pouco antes de morrer, descobre que esse paciente labirinto de linhas traça a imagem de seu rosto". Essa é a imagem do verbo poético de Jorge Luis Borges, patrimônio da literatura universal. Brizola firme ? O ministro do Trabalho está seguro no Ministério do Trabalho, apesar da pressão de um grupo do PDT, que pretende afastá-lo. Carlos Lupi estaria à frente dessa articulação. E Paulinho da Força, o que diz ? Paulinho, ao que se sabe, quer mesmo fazer um "partido pra chamar de seu". Conselho aos gurus Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes, membros dos Poderes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos dirigentes da Câmara e do Senado. Hoje, dirige-se aos Gurus do PT, Lula, e do PSDB, FHC. 1. A antecipação da campanha presidencial de 2014 é perniciosa para o país. Todas as ações governamentais das administrações (Federal e estaduais) terão um viés politiqueiro. 2. Procurem auscultar as demandas sociais nesse momento em que a economia dá sinais de deterioração. E orientem seus candidatos para evitar medidas, ações e projetos de cunho eleitoreiro. 3. Como ex-presidentes da República, Vossas Excelências devem agir como magistrados, ícones da boa orientação aos governantes. ____________