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Porandubas Políticas

Por dentro da política.

Gaudêncio Torquato
quarta-feira, 23 de julho de 2014

Porandubas nº 407

Da burrice e da engenharia Abro a coluna com uma historinha mineira. Viajando pelo interior de Minas, o arquiteto Marcos Vasconcelos encontrou um grupo de trabalhadores abrindo uma estrada : - Esta estrada vai até onde ? - Muito longe, muito longe, doutor. Atravessa o vale, retorce na beirada da serra, quebra pela esquerda, retoma pela direita, desemboca em frente, e vai indo, vai indo, até chegar a Ponte Nova, passando pelos baixios e cabeceiras. - Vocês têm engenheiro, arquiteto, teodolito, instrumentos de medição ? - Num tem não, doutor. Nós tem um burro, que nós manda ir andando, andando. Por onde ele for, aí é o melhor caminho. Nós vai picando, picando. - E quando não tem burro ? - Aí não tem jeito, doutor ; nós chama um engenheiro mesmo. O arquiteto seguiu adiante filosofando sobre as artes da burrice e da engenharia. O cenário político O olhar na paisagem permite divisar a direção do vento. Vê-se uma gradativa queda da avaliação do governo Dilma, com tendência a bater na sua imagem e nos índices de intenção de voto. Mas a presidente continuará com a forte visibilidade, podendo resgatar algumas posições. Contará com o dobro de TV de Aécio Neves, a partir de 20/8. Terá dois imensos desafios : sustar sua crescente queda no Sudeste e sustentar seus índices no Nordeste, onde chegou a bater a oposição, em 2010, por 12 milhões de votos. BA, PE e CE Esses três Estados constituem um desafio especial : a BA é o maior eleitorado da região nordestina. Hoje, os ventos correm em direção a Paulo Souto, candidato ao governo pelo DEM, com apoio do PMDB e do PSDB. Dilma não terá na BA a votação de 2010. O mesmo se pode dizer em relação a PE e ao CE. No primeiro, Eduardo Campos deverá ser amplamente vitorioso, tirando preciosos votos da candidata ; no CE, apesar de contar com o apoio dos Gomes - Cid e Ciro - e do candidato Eunício de Oliveira, do PMDB, não terá a votação de 2010, porque o PMDB está coligado com o tucano Tasso Jereissatti. Aécio vai ter boa votação na terra do Padim Ciço. Rejeição A taxa de rejeição da presidente Dilma em SP assusta. Chega a 43% junto ao maior eleitorado brasileiro. É possível diminuir esse índice, deixando-o na metade ? Sim. Mas essa tarefa será árdua. Precisa contar com alavancas de adesão muito fortes, a partir de sensível melhora na economia. Precisa que Lula corra todo o Estado e os bairros da capital, fazendo um corpo a corpo intenso. Precisa que o prefeito Fernando Haddad melhore sua avaliação junto ao munícipe. Precisa que a candidata entre em um mutirão de corpo a corpo. Esta campanha, mais que outras, exige o candidato nas ruas. Aperto no bolso Já é possível ver o bolso dos integrantes das classes médias mais apertado. A inflação das ruas - que se pode medir nas feiras livres - começa a ser expressa de forma indignada na linguagem de donas de casa que se queixam de uma cesta básica que encarece a olhos vistos. É evidente que esse bolso mais apertado influi no processo decisório do voto. Como sempre lembro : bolso com menos dinheiro significa geladeira mais vazia, barriga roncando alto, coração indignado e cabeça revoltada. Daí o desafio que se impõe à presidente Dilma : evitar o estouro da boiada nas ruas. Um voto do contra Este consultor identifica um voto do contra se expandindo em muitos espaços. Trata-se de um voto contra o status quo, a situação de sempre, a lengalenga da velha política. Esse voto é de protesto, não necessariamente a favor de A ou B. Claro, que acaba beneficiando alguns atores da política. SP, a grande batalha Non ducor, duco. "Não sou conduzido, conduzo". O lema do brasão da cidade de SP, criado em 1916 pelo prefeito Washington Luiz, que veio a assumir, depois, a presidência da República, expressa de modo adequado a importância do Estado mais poderoso da Federação no pleito eleitoral. Ancorando a hipótese, eis densa lista de superlativos : cerca de 32 milhões de eleitores ; as mais populosas classes sociais, com destaque para três contingentes de classe média ( A, B e C) e super-povoadas margens sociais ; os maiores conglomerados de categorias setoriais, abarcando trabalhadores e profissionais liberais ; centrais sindicais e entidades de áreas produtivas ; movimentos organizados, que promovem intensa mobilização e abrem a locução das ruas ; núcleos em defesa de direitos humanos, minorias e igualdade de gêneros ; e, para dar vazão às demandas dessa gigantesca teia de representação, SP dispõe de vigorosa tuba de ressonância. A força além do PIB A força de SP vai além da liderança no ranking eleitoral, com seus 23% do eleitorado brasileiro. Outros parâmetros entram na abordagem. O Estado exibe o maior grupamento de eleitores racionais, fator decisivo para avanços na esfera política. A racionalidade transparece no voto ponderado, na comparação entre perfis, na cobrança aos governantes, nas mobilizações de setores e nos movimentos reivindicatórios, a denotar a emergência de uma força centrípeta que se expande. Tal percepção provém da organicidade social. Ao longo dos últimos anos, a comunidade criou múltiplas ilhas no arquipélago do poder, tornando-as canais para fazer chegar demandas aos governantes e representantes, praticando, assim, exercícios de democracia direta. A metrópole O epicentro dessa movimentação é a capital, SP, com quase nove milhões de eleitores, eleitorado maior do o que de 23 Estados brasileiros, perdendo apenas para o próprio Estado, MG (15.248.680), RJ (12.141.143) e BA (10.185.417). A metrópole impregna-se de vibração, com suas regiões (norte, sul, leste e oeste) exibindo identidades peculiares (polos habitacionais, industriais e de serviços) e incorporando os adereços estéticos dos espaços chiques. O Triângulo das Bermudas Costuma-se dizer que o pleito será decidido pela passagem do transatlântico eleitoral pelo Triângulo das Bermudas, constituído por SP, MG e RJ, os três maiores colégios. Ou ainda que Minas é quem decide, sob o argumento de que o Estado do Sudeste é uma encruzilhada que representa a síntese do país. Ora, quando há na disputa dois candidatos mineiros (Aécio e Dilma), a tese parece fraquejar. O fato é que SP possui os maiores exércitos da guerra eleitoral. As ondas de seu mar costumam empurrar para longe os eventos que geram : protestos, denúncias, discursos positivos/negativos, avaliações de candidatos, percepções sobre o cotidiano. Na simbologia da pedra jogada no meio da lagoa (associada à classe media), o Estado é a força centrípeta que faz as marolas chegarem às margens. As alavancas As alavancas de empuxo são constituídas pelas classes médias, a emergente classe média C, com suas demandas em torno do "quero mais e melhor" ; a tradicional classe B, onde os índices de racionalidade são altos ; e a classe média A, de renda elevada. (A propósito, as classes médias somam, hoje, mais de 50% da população brasileira, cerca de 105 milhões de pessoas). Os discursos mais críticos e salientes provêm desses aglomerados, que se unem em cobranças e na disposição de votar contra o status quo. Tal posicionamento pode resultar nos chamados "não votos", contabilizados hoje pelas pesquisas em cerca de 30%, soma de abstenção, votos nulos e brancos. O cabo de guerra Por isso mesmo, SP viverá um disputado "cabo de guerra" entre as classes médias e os entrincheirados nos bastiões trabalhistas atrelados ao Estado, que tentarão segurar suas mãos nas alças do poder. A batalha eleitoral aponta, ainda, para dois territórios diferenciados : o da metrópole, onde o nível de insatisfação e angústia atinge índices elevados em decorrência dos problemas rotineiros (congestionamentos, violência, serviços públicos precários) ; e o do interior, habitado por populações menos estressadas, orgânicas e integradas aos valores de uma rotina mais harmônica. Nunca foi tão forte o clamor pela micro-política, programas e projetos destinados às melhorias da estrutura urbana. À frente das bandeiras, desfilam grupos organizados, categorias profissionais sob comandos de novas lideranças e movimentos que pregam ruptura. Em suma, o nível de conscientização - gerando um voto autônomo - é mais elevado. Padilha subirá ? O candidato Alexandre Padilha tende a chegar entre 15% a 20% da intenção de voto. Será puxado por Lula, que ainda tem força para arregimentar os bastiões do petismo e mobilizar as margens sociais. Daí a projeção de polarização entre petismo e tucanismo. Alckmin está bastante confortável, mas poderá ser atacado mais adiante, caso a água comece a faltar nas torneiras. Até o momento, reagiu bem ao tiroteio da oposição e ao bombardeio midiático. Os 54% de Alckmin Geraldo Alckmin conseguirá segurar os 54% obtidos na última pesquisa Datafolha ? Este consultor acha que ele bateu no teto. Será razoável apostar numa queda ao correr da campanha. Seu índice estará entre 40% a 45% na beirada da campanha. TV não faz milagres Quem estiver confiando em programa eleitoral para alavancar seu nome poderá acertar apenas parcialmente. Há uma percepção por parcela ponderável do eleitorado de que os programas eleitorais, mesmo bem feitos, exageram na cosmética e nas promessas. Trens balas, fura-filas, hospitais do primeiro mundo já foram mostrados em maquetes espetaculares. As promessas não foram cumpridas. A desconfiança grassa. Recessão bate a porta Há quem veja a recessão nos horizontes, tendo em vista a projeção de um PIB com resultados negativos no segundo e no terceiro trimestre do ano. Venda de energia Ante o aumento de cerca de 20% no preço da energia, alguns grupos, que têm amplos contratos de compra, passaram a fazer disso um negócio : vendem energia no mercado e fecham unidades industriais. Conseguem ter mais lucro com essa exótica operação invertida. Itaquerão sem segurança No primeiro jogo pós-Copa realizado no Itaquerão, os torcedores se depararam com um show de improviso. Em vez de contratar empresas de segurança privada e vigilância sérias, a organização do time optou por empregar vigias autônomos - função que não existe, uma vez que o profissional de segurança deve estar registrado numa empresa especializada, possuir o Certificado de Conclusão do Curso de Formação de Vigilantes, devidamente registrado na Polícia Federal e a CNV - Carteira Nacional do Vigilante para exercer a atividade. O presidente do Corinthians é Mario Gobbi, delegado de polícia. Clandestinas O combate às empresas clandestinas e aos vigias autônomos é um dos pilares do SESVESP (Sindicato das Empresas de Segurança Privada, Segurança Eletrônica e Cursos de Formação do Estado de São Paulo). "Devemos alertar a sociedade quanto ao despreparo dessas empresas e de vigias que trabalham por conta própria, e o quanto eles colocam em risco a vida de todos os torcedores que querem se divertir de maneira segura", afirma João Palhuca, presidente do SESVESP. Conselhos A coluna vai aproveitar o ciclo eleitoral para oferecer sugestões aos atores políticos e a suas equipes : Aos candidatos 1. Procurem expressar a característica mais importante de sua identidade - o foco. 2. Não esqueçam que o eleitor deseja travar conhecimento com o personagem. Circular no meio da massa é importante. 3. Façam grande esforço para multiplicar presença em vários locais - a onipresença é um valor insuperável. Planejar eventos rápidos em lugares e cidades diferentes em um mesmo dia. Aos assessores 1. A lei da verdade suplanta a lei da mistificação. 2. O eleitor sabe se o candidato foi aumentado artificialmente um palmo ou dois acima de sua altura. 3. Falar com o coração é mais eficaz do que falar pela cabeça. 4. Agir com grandeza, sem golpes baixos, até o fim. 5. Prometer apenas o que poderá ser cumprido. Demonstre a viabilidade. 6. Tenha fé e não desista até o último segundo.
quarta-feira, 16 de julho de 2014

Porandubas nº 406

Abro a coluna com um "causo" do PI. Dois vereadores da Arena de Parnaíba, nos tempos da ditadura, entraram em querela. Um, da Arena de Petrônio Portela, outro, da Arena de Alberto Silva. Inimigos políticos. Um, dentista, pôs os dentes na boca do outro, nos tempos em que eram amigos. Mas, na primeira sessão da Câmara, brigaram feio : - Vossa Excelência é um desonesto. - Desonesto é você, filho de uma... Devolva o meu dente, pois fui eu que pus. - Canalha, mas eu paguei essa merda. - E daí que pagou ? Falar mal de mim, até pode. Com meu dente, não. Partiu para cima. Atracaram-se. E arrancou o dente. Sem anestesia. Eduardo em sabatina Eduardo Campos foi submetido à sabatina na TV UOL, em evento promovido pela Folha de S.Paulo, SBT e Jovem Pan. Fui lá conferir, a convite da Pan. Campos enfrentou todas as questões abordadas, inclusive as perguntas "cascas de banana". De modo geral, saiu-se bem pela fluência e raciocínio. Mas deslizou em algumas, ficando nas generalidades e sem respostas diretas e objetivas. Por exemplo : promete fazer um governo diferente, mesmo tendo de fazer alianças com políticos das antigas. Até porque é de opinião de que "não se pode destruir o que existe". Vantagem no NE O ex-governador de PE confia que terá uma grande votação no Nordeste, chegando a ultrapassar a presidente Dilma, que obteve extraordinária aprovação nas urnas em 2010, com mais de 12 milhões de votos de maioria na região. Campo acredita que, em final de agosto, já estará na frente. Quer mudar a modelagem econômica, é favorável ao "passe livre", trabalha com o conceito de gestão eficaz, põe fé na meritocracia, faz duras críticas à presidente, mas procura preservar o ex-presidente Lula. A feição de Marina Marina Silva, a quem Campos sempre se refere muitas vezes nas entrevistas, mostra-se afinada ao discurso do companheiro de chapa. Pelo menos é que diz sua cabeça, ao confirmar, de maneira positiva, as respostas de Eduardo. O candidato faz críticas fortes ao tucano Aécio Neves, que, segundo ele, faz alianças com o conservadorismo. E, quando apontado que ele também busca parcerias nas alas conservadoras, sai pela tangente dizendo que não barganha por espaços de mídia, mas negocia em torno de ideias. As Copas Finda a Copa de futebol, outras copas serão enfrentadas, doravante, na visão de Campos. E nas Copas da Saúde, Educação, Segurança, Mobilidade Urbana, acha que tem melhores condições de fazer os gols que o país está a merecer. O PT meio perdido O PT parece meio perdido com a situação : o país fez uma belíssima Copa do Mundo, mas nossa seleção foi um desastre. O que explorar ? Claro, o lado do desempenho do país e não o lado da performance futebolística. Mas um lado teima em canibalizar o outro. Para complicar, registra-se uma querela entre dois profissionais da campanha do PT, o ex-ministro Franklin Martins, e o marqueteiro-mor, João Santana. O motivo da briga ? A questão de um "Mais" ; que, para Franklin, deveria vir depois, "Muda Mais" ; para Santana, antes : "Mais Mudanças". A disputa, ganha por João, teve até um fundo de semiologia. Haja lábia para encantar a presidente. E Lula, hein ? Esta coluna mais uma vez pergunta : e Lula hein, onde se escondeu durante a Copa ? Por que não apareceu torcendo pela seleção ? E por que calou o bico, ele que tanto gosta de falar ? Futebol e eleição Reforço o que tenho dito em entrevistas (entre as quais, a da revista Veja, desta última semana) e escrito em artigos : o eleitor sabe separar política de futebol. Claro, uma derrota acachapante como a que tivemos contribui para criar um clima de desânimo e desmotivação. Mas o futebol é apenas um dos fios do rolo comportamental. Sozinho, não terá influência nas urnas. Minta tese é a da equação BO+BA+CO+CA. O Bolso cheio será fundamental para a barriga saciar-se, o coração agradecer comovido e a cabeça decidir votar nos patrocinadores do bolso. Arremato : o dinheiro no bolso das massas, em outubro, é que decidirá o processo eleitoral, dando continuidade ou quebrando as amarras do PT na árvore do poder. Nuvens pesadas Este consultor foi para o meio da massa, no último fim de semana, para presenciar a confraternização do povo em uma festa típica de uma região. Foi em Pirassununga, na festa Nenete, em homenagem a um músico da região, já falecido. Comidas típicas, muita música sertaneja, danças, costumes, galeras animadas. Multidão na rua. Não vi briga. As conversas giravam em torno da degradação geral da política. E muito desprezo pela Seleção brasileira. Elogios mil à equipe alemã pela simplicidade, respeito ao Brasil, simpatia dos jogadores e integração comunitária. Em compensação, os argentinos Relatos se ouviam de muitos lados sobre a grosseria dos argentinos, a balbúrdia, as agressões contra as mulheres (inclusive, mulheres casadas, acompanhadas de seus maridos), desprezo e discriminação aos brasileiros. Minha lupa não flagrou simpatia pelos hermanos (hermanos?), melhor dizendo, pelos vizinhos. As mulheres A Alemanha, em primeiro lugar na Copa, a Argentina, em segundo, e o Brasil, em quarto. Países dirigidos por mulheres. A Holanda, até pouco tempo, estava sob o reinado da rainha Beatriz, que acabou abdicando em favor de seu filho. O que isso quer dizer ? Mera coincidência. Ou simples curiosidade. Não queiram tirar ilações sobre o governo de Cristina Kirchner, por exemplo. Impugnados e sujos Há uma batelada de nomes impugnados pelo MP, por frequentarem a lama dos fichas sujas. São 1.308 candidatos impugnados, 177 com o nome sujo. E há, até, candidatos ao governo de Estado que estão na lista, como é o caso de José Roberto Arruda, que quer voltar ao governo do DF. E a grana das campanhas ? A grana das campanhas deste ano é escassa. Empresas, mesmo as tradicionais doadoras, estão com um pé tapando o cofre. Temem entrar nas listas dos Tribunais, receiam oferecer recursos a um candidato e rejeitar pedidos de outros, e muitos estão sem saber quais os potenciais de cada um : quem vai ganhar ou perder ? Esta campanha tem grande número de interrogações. Mais adiante, quando as pesquisas mostrarem os cavalos que correm na frente, os doadores até vão pensar em suprir o estoque de pasto. 20 pedidos Um empresário confessou a este consultor que recebeu cerca de 20 pedidos de recursos. Está sem saber o que fazer. Ou, melhor dizendo, saberá o que vai fazer um pouco mais adiante. Mercadante O ministro Aloizio Mercadante, da Casa Civil, está sendo inflado para assumir o comando da campanha da presidente Dilma. Ele tem voz forte. Alguns fazem objeção : não gera empatia. Choque de gestão Faz-se urgente um "choque de gestão" no futebol brasileiro, o que implicaria a oxigenação nas cúpulas da cartolagem, a busca de perfis adequados aos contextos de competitividade e o fim do ciclo até então vivido pela seleção, com foco em grupinhos, prepotência, arrogância. Pode ser um caminho. Mas não se espere que mexer com uma pedra do tabuleiro será suficiente para conduzir o nosso futebol aos primeiros lugares do ranking mundial. Ele é parte de um todo, não um fio separado do rolo. O ethos nacional é mescla de hábitos, costumes, atitudes, visões, história e tradição. Serviços públicos Clama-se, ainda, por um choque na gestão do Estado. Trata-se de dever inalienável da administração do Estado cuidar para suprir as demandas dos contingentes sociais. Daí a importância de um "choque geral de gestão". A escorchante e vergonhosa derrota do Brasil para a Alemanha pode abrir o encontro do Brasil com suas realidades. Passar uma camada de tinta sobre o nosso futebol, deixando o reboco mofado sobre as paredes da saúde, educação, segurança pública, transportes urbanos, enfim, continuar a encobrir a paisagem torta das ruas é perpetuar o estado de carências. O mergulho profundo do país no oceano de suas grandes causas pode ser a luz de um novo horizonte. Vai significar a gestão da responsabilidade, tempo dos compromissos com metas e resultados, exigência de qualidade, reparo e reengenharia nas estruturas existentes, busca da simplicidade e da priorização de questões essenciais com plena transparência. Mobilização e articulação Não adianta apenas saber fazer bons programas nas campanhas de TV. Eles são ferramentas essenciais, mas não exclusivas. Outros eixos são importantes : a mobilização, caracterizada pelos eventos, comícios, showmícios, reuniões, encontros do candidato com as massas ; e a articulação, que aparece na formação de alianças, nas parcerias com associações e sindicatos, enfim, com as entidades organizadas da sociedade civil. Sem a combinação desses cinco eixos fundamentais, as campanhas ficarão capengas, tortas, frouxas. Muito cuidado para evitar campanhas que pendem mais para um lado que para outro. Ao consultor cabe fazer uma completa análise dos pontos fortes e fracos dos candidatos, a fim de potencializar seus valores e qualidades e minimizar seus defeitos. Deve-se ter uma visão externa mais abrangente, de fora para dentro, a fim de se evitar privilegiar certas áreas em detrimento de outras. O que é tática ? No futebol, quando o atacante joga a bola para trás, recuando-a para seu próprio campo de defesa, parece realizar um movimento covarde. Às vezes, é apupado. Muitos acham que a jogada não tem lógica. Mas essa bola recuada pode abrir espaços, deslocar o adversário, obrigá-lo a avançar de maneira descuidada e abrir a defesa. Pois bem, tal manobra pode gerar uma sequência de ações que culminarão com um gol. Essa é uma operação também chamada de OP. O gol é uma operação OP, de caráter terminal. E é construído por jogadas intermediárias. A tática é ferramenta de vitória. E os índices ? E os índices de intenção de voto não contam ? Não servem para nada ? Aqui vai a resposta : índice de intenção de voto é igual ao desenho do elefante visto nos céus. Dentro de pouco tempo, o que era elefante se esgarça e se transforma em gafanhoto ; e o que era uma nesga de nuvem, parecendo um gafanhoto, se agiganta, mais parecendo o incrível Hulk. Durante uma exposição massiva, de 45 dias seguidos e intensos, qualquer desconhecido se transforma em astro, celebridade. As campanhas eleitorais fazem esse milagre. Canibalização Entende-se por canibalização o esmaecimento de um perfil de baixa visibilidade perante outros, de alta visibilidade. Canibalizar - comer, devorar, superpor, ultrapassar, esmaecer. Esse é um princípio consagrado da comunicação. O mais forte massacra o menor. O sistema cognitivo do povão acaba substituindo nomes e perfis visíveis por outros muito mais visíveis, principalmente se houver um bom programa de TV e rádio. Campanha política, porém, abriga outros componentes : estruturas administrativas, peso das máquinas municipais, estaduais e Federal. Tais estruturas comportam milhares de funcionários, muitos ligados a partidos e políticos. (Do meu recente livro, Novo Manual de Marketing Político, editora Summus) Conselho aos dirigentes de futebol Na última nota, a coluna oferece pequenos conselhos a políticos, governantes, membros dos Poderes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos nossos jogadores. Hoje, volta sua atenção aos dirigentes de clubes e às autoridades : 1. Chegou o momento de mudar a estrutura do futebol brasileiro : regras, calendários, comandos, exportação de jogadores, etc. 2. Urge um choque de gestão e inovação, voltado para eliminar a cartolagem viciada e os velhos padrões de mando. 3. A área política deve atentar para a situação e buscar mecanismos que possam impulsionar as estruturas do esporte brasileiro.
terça-feira, 8 de julho de 2014

Porandubas nº 405

Abro a coluna com uma historinha do Nordeste. Quatro freis Historinha em homenagem ao Frei Damião, sob as bênçãos de quem os nordestinos viveram parte de sua história. Lá vinha o carro desembestado pelas estradas poeirentas, entre Patos e Cajazeiras, na PB. Dentro, dois frades : Frei Fernando e Frei Damião, cuja expressão religiosa é tão enaltecida quanto o "padim" Ciço (padre Cícero Romão Batista). O guarda do posto divisou, de longe, aquele automóvel em louca disparada. E foi logo fechando a cancela do posto. O motorista teve de se conformar com a freada brusca. O guarda foi duro : - Esse carro disimbestado não tem frei ? Expliquemos que a fonética na região é essa mesmo : disimbestado e frei (em vez de desembestado e freio). Resposta lacônica na ponta da língua : -Tem, sim, seu guarda. Tem logo quatro : frei de pé, frei de mão, Frei Fernando e Frei Damião. Surpreso e curioso, o guarda olhou e viu os "freis". Pediu a bênção ao Frei Damião, pediu desculpas, liberou o carro e abriu a cancela. A campanha começou - I Oficialmente, a campanha está nas ruas. Os candidatos começam a por em prática suas estratégias. O discurso tende a configurar os territórios. Dilma realçará os feitos da era lulo-dilmista, fazendo o casamento entre ela e seu antecessor. A estratégia tende a esmaecer as críticas ao pequeno crescimento do país, eis que serão realçados alguns espaços, como o campo do emprego, o campo da assistência social com inserção de 30 milhões de brasileiros ao meio da pirâmide, o campo das obras de infraestrutura, sob o clima de "uma copa vitoriosa", mesmo que o Brasil não levante o troféu. Se conseguir, melhor ainda. A campanha começou - II O discurso de Aécio vai na direção de reformas, enxugamento da máquina do Estado e redirecionamento da política econômica, a par da preservação de programas sociais, como o Bolsa Família. O neto de Tancredo, com seu lema de mudança, quer se fixar como principal candidato da oposição. Tem obtido bons índices de votos no Sudeste e uma taxa muito baixa no Nordeste, onde a presidente Dilma o supera por mais de 10 milhões de votos de maioria. Aécio quer sair de MG com uma vantagem de quatro milhões. Dilma espera que tal vantagem ali, em seu Estado, não ultrapasse um milhão. A campanha começou - III Para Eduardo Campos, a imagem ainda não se fixou no eleitorado. Tem ainda menos de um dígito nas pesquisas de intenção de voto, e seu principal desafio é ser conhecido. Mas contará com menos de dois minutos na TV e rádio, tempo curto para alavancar a visibilidade. Em comparação, Dilma terá mais de 10 minutos. Poderá o ex-governador de PE abrir larga frente no eleitorado jovem, eis que encarna com mais intensidade o conceito de inovação na esteira da vice, Marina Silva, e sua corrente ambientalista. O Nordeste poderá lhe dar fôlego, mas sua luta maior será travada no Sudeste do país. Lula não é o mesmo Lula continua a ser o maior cabo eleitoral do país. Mas já não tem a mesma força do Luiz Inácio de 2010. O país foi sacudido por escândalos e denúncias, a partir do mensalão, o PT passou a ser alvo de tiroteios midiáticos, a partidarização da máquina pública ficou patente, os rachas na aliança se escancararam e, nessa paisagem, o líder absoluto do PT perde densidade. É o que se vê. Para resgatar a força, Lula sugere : vamos procurar a nossa turma. Ou, para quem não sabe, sindicatos, organizações não governamentais, movimentos de massa. Ocorre que esses mesmos grupamentos também se impregnam dos ventos dos novos tempos. Não dispõe essa cadeia do poder que construiu no passado. PMDB revigorado Quem apostava na fragilização do PMDB poderá ter surpresa. Conta com candidatos a governador bem cotados nos Estados, sendo bastante provável que fique nos primeiros lugares do ranking. O PT, que esperava fazer as maiores bancadas de governador, senadores, deputados Federais e estaduais, se mostra, hoje, reticente. Não tem a força que imaginava. A conferir. Padilha sem padilhar Alexandre Padilha confiava tanto em seu rápido crescimento em SP que chegou a se valer do sobrenome para cunhar o verbo "padilhar", no sentido de avançar, mudar, ganhar, etc. Formou uma caravana em SP e correu o interior, visitando municípios, antecipando a campanha. Padilhou ? Não. Não avançou. Que coisa, hein ? E Lula, o grande chefe que sempre consegue tirar coelho da cartola, o que diz ? Está encafifado. Recomenda ao Padilha : "vamos procurar nossa turma". Ao lado do processo, o prefeito Haddad transforma o "padilhar" em "puxar para baixo". E esse PROS, hein ? E esse PROS, vai para onde ? Quais suas possibilidades ? Partido meio confuso ou confuso e meio. Poucos sabem quem são seus líderes. Os Gomes do CE, Cid e Ciro, estão eles. Se perderem no CE, o PROS aumentará os contra. Economia global No Brasil, diversos indicadores sinalizam um arrefecimento da economia brasileira, dentre os quais desaceleração da demanda por serviços, redução do nível de empregos, aumento de estoques e comércio com resultados abaixo do esperado. O panorama mundial não é muito diferente, uma vez que ainda não houve a recuperação total da economia mundial após a crise de 2008. Nesse contexto, "Economia Global" será tema de debate em painel do 25º Congresso Brasileiro do Aço. O economista Eduardo Giannetti será o conferencista e o painel contará com os debatedores : o economista Delfim Netto ; o conselheiro do Aço Brasil e presidente da Câmara de Políticas de Gestão, Desempenho e Competitividade, Jorge Gerdau Johannpeter ; e o economista Maílson da Nóbrega. O evento será realizado nos dias 12 e 13 de agosto, no Complexo WTC, em SP. Maior campanha Serão 11 os candidatos à presidência da República. A campanha oficial custará R$ 916,7 milhões, soma dos recursos indicados pelos partidos no TSE. São dados oficiais. Agora, multipliquemos por três esse número para se chegar quase aos R$ 3 bilhões. Como se sabe, o custo informal é três a quatro vezes maior. Imagine-se, agora, a campanha de governador, senador, deputados Federais e estaduais nos 27 entes Federativos. Quem se habilita a dar um número ? Campanhas nas redes Os dados são do poeta Cícero, atento analista da cena política e do desempenho de candidatos nas redes sociais. Mostra-me que Barack Obama tem 44 milhões de seguidores, segue cerca de 650 mil pessoas ; Dilma Rousseff tem apenas 2,5 milhões de seguidores e acompanha (pasmem !) apenas 340 pessoas. Mas a presidente e Lula fazem constantes reuniões com blogueiros. Por que ainda não conseguiram alavancar seus blogs nas redes sociais ? O menu eleitoral Que condimentos entram no caldeirão eleitoral ? O medo é o primeiro deles. Os efeitos do medo são muito grandes ante situações de fome, sede, doença, depressão e até cansaço, o que explica a eficácia da linguagem da ameaça nas abordagens. Exerce o medo maior influência sobre camadas em precária situação econômica, contingentes esgotados ou amedrontados por diversos motivos. O desconhecido, a surpresa, o isolamento, a tensão agravam o estado de medo. Por isso mesmo, procura-se marcar candidatos com a pecha de contrários a programas assistenciais, como o Bolsa Família. É sabido que os valores econômicos e os interesses materiais, fundamento dos dois instintos de conservação do ser humano (combativo e nutritivo), lideram o rol de "alimentos psíquicos" que entram na panela eleitoral. O bolso, portanto, é a parte mais sensível do eleitor. Credenda e Miranda Harold Lasswell, estudioso norte-americano, coloca ainda no caldeirão que começa a ferver duas categorias assim designadas : os Credenda e os Miranda, ou seja, as coisas a serem acreditadas e as coisas a serem admiradas. A primeira comporta o discurso, as propostas, as promessas, repertório, aliás, hoje bastante desprestigiado. Ele parte da lógica que aponta para as prioridades das famílias, ou seja, as demandas urgentes e prementes do cotidiano : alimento barato, transporte fácil, rápido e confortável, escola de qualidade próxima à casa, hospital capaz de prestar bom atendimento, segurança nas ruas, harmonia comunitária. Já na galeria da admiração, emerge, primeiro, o candidato com sua história e valores que modulam o perfil : experiência, mudança, avanço, domínio temático, capacidade expressiva, simplicidade, maneira de se apresentar. Geram simpatia, empatia ou antipatia, elementos que carregam o voto do coração para uns e rejeição para outros. Os amigos Os grupos de amigos, a vizinhança e a própria vida no bairro têm peso no processo decisório do eleitor, eis que funcionam como cola de pertinência social e do cotidiano comum, o que é importante para estabelecer as demandas comunitárias. Explica-se, assim, a proximidade como fator gerador da distritalização do voto, tendência crescente no país. As bases buscam cada vez mais candidatos que se identifiquem com as localidades, que são os centros da micro-política. Partidos e pesquisa Não é desprezível também o tempero dos partidos, principalmente nos fundões do território, onde ainda se vota de acordo com os costumes antigos e sob a égide de lideranças e famílias que repartem o espaço político e as estruturas de poder. Da mesma forma, é inegável a influência de pesquisas junto a alguns compartimentos, particularmente nas beiradas que agregam camadas incultas e embaladas pelo celofane de "vitórias" arrumadas por mapeamentos "fajutos" e de utilização eleitoreira. Em algumas regiões, pesquisa vira cabo eleitoral. Emoção e razão Questão instigante na propaganda política é a que procura distinguir a linguagem da emoção da linguagem da razão. "As pessoas que votam com o coração são mais numerosas que as que votam com a cabeça ; as eleições são ganhas e perdidas pela emoção, não pela lógica", proclama o famoso profissional de propaganda norte-americano, Joseph Napolitano. É verdade que a espetacularização da política, que se expande no bojo da sociedade de informação, procura maximizar as alavancas da adesão do eleitorado, o que implica adoção de signos que impactem o hemisfério emotivo do cérebro. Urge, porém, reconhecer a promoção educacional e social de grupos saídos das margens, que começam a fazer exame criterioso de candidaturas e escolha mais racional de perfis. Ou será que os 30 milhões de eleitores que ascenderam ao meio da pirâmide nos últimos 10 anos votam apenas com o coração ? Conselho aos jogadores Na última nota, a coluna oferece pequenos conselhos a políticos, governantes, membros dos Poderes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos jogadores da seleção brasileira. Hoje, mantém o foco na Copa e nos nossos jogadores : 1. A saída de Neymar da Copa pode significar mais garra, mais arrojo, mais união. 2. Trabalhem com a perspectiva de transformar as dificuldades em motivo para criar oportunidades. 3. O país espera que cada um cumpra seu dever. Com dignidade.
quarta-feira, 2 de julho de 2014

Porandubas nº 404

Seu Lunga Pois é, abro a coluna com o impagável Seu Lunga, o desbocado cearense. Chegou a ele um amigo de quem tomou emprestado um dinheiro : - Seu Lunga, a promissória venceu. Resposta mais que rápida : - Meu amigo, para mim tanto faz como tanto fez. Podia ter perdido, ganho ou empatado. Não torço por nenhuma Promissória. E despachou ligeirinho o amigo. Pequenas lições A indagação central ao consultor é : como deve ser a campanha eleitoral deste ano sob o prisma do marketing político ? Não há uma resposta fechada. Toda campanha deve ser plasmada, planejada, focada com base nas realidades regionais, locais, onde os climas e as circunstâncias determinam maior ou menor ênfase aos chamados elementos do marketing. O que se pode indicar como vetores que devem balizar o planejamento é um conjunto de abordagens pinçadas a partir do ciclo político-eleitoral-lúdico que estamos vivenciando no Brasil. Sob este entendimento, uso a coluna de hoje para sugerir as ênfases abaixo nos chamados cinco eixos do marketing político : a pesquisa, o discurso, a comunicação, a articulação e a mobilização. 1. Descobrir o que se passa na cachola Neste ano, mais importante que pesquisa quantitativa, voltada para aferir as intenções de voto em candidatos, é pesquisa qualitativa com o objetivo de mapear o sistema cognitivo do eleitor. Como é sabido, o processo de tomada de decisão por parte do eleitor - a preferência por um candidato e a rejeição a outros - leva em conta um conjunto de situações : proximidade, conhecimento, circunstâncias, qualidades do candidato, passado do candidato, experiência, compromissos, ações já realizadas, maneira de expressar, capacidade de argumentação, ligações partidárias, grupos envolvidos na eleição, etc. O importante é descobrir as razões íntimas de aprovação e rejeição a candidatos. O eleitor pode mudar de posição se o discurso de um candidato preencher plenamente suas expectativas e demandas. 2. Arrumar o discurso adequado e crível A pesquisa oferecerá muitos subsídios para a formação de um discurso ajustado à cachola dos eleitores. O eleitor de 2014 está desconfiado da lenga-lenga. Nesse sentido, vale a pena conferir as seguintes abordagens para o estabelecimento das linhas do discurso : a) questões da proximidade e do cotidiano do eleitor - nesse caso, o discurso agregará os pontos e as demandas imediatas do eleitor, todas as reivindicações e desejos que moldam seu processo decisório ; b) questões intermediárias, de impacto mais geral, que possam expressar o conceito do candidato no ranking dos avanços, mudanças, modernidade, atraso, retrocesso, representação do passado e projeção do futuro ; c) atenção às demandas mais da própria comunidade local, regional e aos movimentos organizados por setores e categorias profissionais. 3. Internalizar o discurso : comunicação eficaz O terceiro desafio é o de procurar fazer com que o discurso entre na cachola do eleitor. Não apenas que chegue a ele, mas que possa ser entendido, assimilado, avaliado e consumido. Ou penetre fundo nos espaços sensoriais e gere empatia, aceitação. Para isso, a comunicação acertada é fundamental. Buscar uma interlocução direta, olho no olho, mão na mão. A par dos veículos de comunicação disponíveis. Os candidatos majoritários terão maior tempo e condições para desenvolver uma comunicação mais eficiente e eficaz. Já os candidatos proporcionais - deputados - terão que usar mais suas capacidades expressivas, a par de um arrojado grupo de cabos eleitorais capazes de verbalizar suas propostas. 4. Criar redes de apoio Mais que outros anos, a articulação com os eleitores agrupados em redes ou nas entidades organizadas é um dos principais desafios desta campanha. A sociedade afasta-se da política. Indigna-se contra a corrupção que campeia por todos os lados. Esse fenômeno tem propiciado a organização de grupos, setores, núcleos que passam a formar novos polos de poder. Que agem sobre os poderes centrais - Congresso, Executivo, Judiciário, etc. Pois bem, os candidatos devem auscultar as vozes das ruas e dos movimentos sociais. Todo esforço deve ser empreendido para se estreitar relacionamentos com as redes organizadas, interpretando seus anseios e assumindo o compromisso de defender suas causas. A articulação com a sociedade e com a própria teia de partidos é um dos eixos mais importantes da campanha deste ano. 5. Pequenos e rápidos encontros O último eixo é o da mobilização. Este é o vetor voltado para a energia da campanha, a movimentação, a circulação do candidato no meio do povo, os eventos, as caravanas, as passeatas e carreatas, etc. Pois bem, em vez de grandes comícios e encontros - que faziam os espetáculos do passado - devem ser organizados pequenos e rápidos encontros : cafés da manhã, pequenas palestras, reuniões com grupos de 100, 200, 300 pessoas, na esteira de uma agenda que possa contemplar 10 a 15 cidades por dia. Difícil, claro, principalmente em Estados de grande superfície. A lógica nesse caso se ancora na onipresença - ou seja, o candidato se fará presente em diversas cidades em um só dia, abrindo vasto campo de visibilidade, estreitando contatos, falando diretamente com lideranças e eleitores. Uma agenda bem planejada é capaz de fazer milagres. A campanha em SP SP sediará a mais emblemática campanha nacional. Pelas seguintes razões : tem o maior eleitorado brasileiro - quase 33 milhões de votos ; os maiores conjuntos de classes médias ; os maiores contingentes de eleitores das margens sociais ; os maiores conglomerados trabalhistas ; enfim, a maior organicidade social do Brasil. SP é a representação maior do país, com suas divisões de classes e os novos polos de poder. E também será a maior tuba de ressonância. Posições em SP O PT mostra-se sem força nesse momento para enfrentar o governador Geraldo Alckmin. Por isso, as atenções se concentram, hoje, em Paulo Skaf, que terá o maior espaço de TV e rádio na programação eleitoral. Skaf deve ir ao segundo turno pelas projeções que se fazem hoje. Muito difícil será Alckmin ganhar esta eleição no primeiro turno, eis que é visível a corrosão nos canos do tucanato depois de 20 anos governando o Estado. No segundo turno, se Skaf confirmar presença, certamente o eleitorado petista concentrará nele seus votos. Daí a previsão que aponta um segundo turno dramático e muito disputado em SP. Kassab, Serra e Suplicy Kassab e o seu time do PSD formam aliança com Paulo Skaf. E Kassab decidiu aceitar o convite para ser o candidato ao Senado. Pelo PT, Eduardo Suplicy. Depois de idas e vindas, José Serra decidiu também ser candidato. Mas Kassab só aceitou a candidatura por saber que Serra disputaria um mandato de deputado e não de senador. Ambos conservam uma amizade alicerçada nos tempos da prefeitura. Pois bem, e agora ? Serra havia desistido do Senado. Recuou e agora diz que aceita. Vamos acompanhar o imbróglio. A situação de Suplicy não é boa. Café com leite ? A escolha do senador Aloysio Nunes Ferreira, PSDB/SP, como candidato a vice na chapa de Aécio objetiva fechar o pacto MG/SP, os dois maiores colégios eleitorais do país. O senador teve 11 milhões de votos. E pode ser uma ponte importante para interiorizar o nome de Aécio Neves junto ao vasto eleitorado das grandes cidades de SP. No Nordeste, hoje, Dilma leva uma maioria de 12 milhões de votos sobre Neves. Tarso no RS Muito difícil a reeleição de Tarso Genro ao governo do RS. A senadora Ana Amélia está com boa dianteira. Armando em PE Interessante a situação de PE. O senador Armando Monteiro, do PTB, apoiado pelo PT, está a quilômetros do candidato do PSB, Paulo Câmara, escolhido por Eduardo Campos. Tem cerca de 30 pontos de vantagem. E este tem a obrigação moral de ganhar no Estado onde, dizem, faz barba, cabelo e bigode. A conferir. Novo comando na Clia Brasil Desde ontem, Roberto Fusaro é o comandante da CLIA ABREMAR BRASIL (Associação Brasileira de Cruzeiros Marítimos). Após 90 dias de transição, o executivo assumiu o lugar que foi de Ricardo Amaral por cinco anos. Fusaro, que também é diretor-Geral da MSC Cruzeiros para a América do Sul desde 2006, trabalha no setor há 20 anos. Graduado em Economia e Ciências Contábeis em Buenos Aires e com MBA em Gestão de Negócios pela Universidade de Chicago, já teve experiências em companhias de cruzeiros nos Estados Unidos, Europa e acumula cargos no Brasil desde 2001. Experiente profissional no segmento, Ricardo Amaral seguirá no Conselho da CLIA ABREMAR BRASIL. Despedida de Barbosa Joaquim Barbosa em seu discurso de despedida do STF : "Saio absolutamente tranquilo, como eu disse, com a alma leve, aquilo que é fundamental para mim, o cumprimento do dever. É exatamente aquilo que eu disse hoje na sessão : é importante que o brasileiro se conscientize da importância, da fundamentalidade, da centralidade da obrigação de todos cumprirem as normas, ouvirem a lei, cumprirem a Constituição. Esse é o norte principal da minha atuação. Pouca condescendência com desvios, com essa inclinação natural a contornar os ditames da lei, da Constituição". Joaquim cumpriu a missão. Deixa a Suprema Corte pela porta da frente. Conselho aos jogadores brasileiros Na última nota, a coluna oferece pequenos conselhos a políticos, governantes, membros dos Poderes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos estrategistas do PT. Hoje, dedica sua atenção aos jogadores da Seleção brasileira. 1. Mais raça, porque ração ($) vocês têm muita. 2. Mais garra e menos medo. Menos choro, menos tensão e mais alegria. 3. Mais chutes ao gol, mais rapidez, mais meio do campo, mais gols. Em suma, mais futebol.
quarta-feira, 25 de junho de 2014

Porandubas nº 403

Abro a coluna com uma historinha contada pelo impagável Zé Abelha. Jaeder Albergaria foi, sem dúvida, o mais famoso político do antigo PSD no Vale do Rio Doce. Fazia parte do que se convencionou chamar de o jardim de infância de Benedito Valadares. Fundador do PSD. Médico, começa a clinicar em Itanhomi. Primeira semana, nada de cliente. O jovem médico entrava em desespero. De repente, quando está almoçando na pensão onde mora, surge um pai aflito com um garoto ao colo. O garoto havia aspirado um caroço de feijão e respirava mal. Dr. Jaeder diz ao aflito pai que vá caminhando para o seu consultório. - Termino rápido o almoço. O primeiro cliente já garantiria o pagamento da cama e boia ao jovem médico. Acocorado na porta da pensão, um velho cuspinha e pergunta ao assustado pai o quê é que o aflige. - Isso num é nada. Dá esse rapé para ele cheirá. É fava contada - garante. Dito e feito ! O garoto cheira o rapé, espirra e o caroço de feijão voa longe. E bem pra longe voam os primeiros honorários do dr. Jaeder Albergaria. O Futebol venceu Ufa, o futebol venceu. A Copa é um sucesso. De plateias, animação e gols. Quem achava que não daria certo, caiu da arquibancada. Isso é um fato. Mas a política não vai tirar proveito do evento. Vejam-se as vaias. Que continuam aqui e ali. Se o Brasil não chegar às finais, mas fizer boa performance, os ânimos serão apaziguados. Se a seleção não melhorar, é possível que o clima fique ácido. Mas tudo indica que, catando milho, sem grandes exibições, os canarinhos deverão chegar perto da gaiola e, quem sabe, comer os grãos nas finais. A conferir. Zelites Essa mania de achar que a "zelite branca" é a responsável pelas maldades que assolam o território nacional já bateu no teto. Ninguém aguenta mais tal bobagem. Afinal, Lula é de que zona da "zelite" ? E a presidente Dilma ? Os réus do mensalão fazem parte de que parte da "zelite" ? Joaquim Barbosa, o juiz que preside a mais alta Corte, é ou não é "zelite" ? Faz mal ou bem à Nação ? Se fez mal ou bem, que "zelite" representa no repertório das maldades do país ? A "zelite negra" ? Haja mistificação. Haja sofisma. Haja paciência com a imbecilidade. Nós e eles Mas é claro que o apartheid entre pobres e ricos, "nós e eles", interessa ao PT. Que, apesar dos avanços institucionais e atitudinais que ocorrem no país, teima em ressuscitar motes do passado. Lula acha que o discurso da separação de classes favorece o PT. Está equivocado. Até as massas ignaras não toleram mais viver sob refrãos obsoletos. O resgate desse discurso é uma tentativa de botar novamente no palanque a polarização PT x PSDB, os primeiros vestindo a pele da ética e os segundos, o manto da maldade. Será que Lula e adjacências acreditam que podem continuar a enrolar as massas com o celofane da mistificação ? Quem prega ódio ? Lembremos : em 1972, Lula vestia a camiseta do João Ferrador, personagem criado pelo jornalista Antônio Felix Nunes para apresentar as reivindicações dos metalúrgicos. O bordão do raivoso Ferrador era : "hoje eu não tô bom". Em 2002, adotou o slogan "Lulinha paz e amor", contrapondo-se ao perfil combativo e sisudo das eleições de 1989, quando recebeu de Leonel Brizola a alcunha "sapo barbudo". Passou a ecoar o slogan : "a esperança vencerá o medo". Foi um tento. Hoje, tenta recompor o dito sob nova roupagem : "a esperança vencerá o ódio". Nesse ponto, emerge a dissonância. O ódio faz parte da estratégia lulista, quando procura resgatar a polarização entre petistas e tucanos, identificando os primeiros com os ricos e os segundos com os pobres. Vacinação A questão, porém, é mais complexa. Os habitantes do meio da pirâmide e parcelas das bordas já estão vacinados contra os refrãos carcomidos pela poeira do tempo. O slogan das ruas é outro : "mais e melhores serviços públicos". Não acreditam que estatutos como o Bolsa Família serão extintos qualquer que seja o futuro presidente. Aos tucanos, por sua vez, interessa acender a tocha da polarização, crentes de suas chances no pleito deste ano. Fernando Henrique decide ir à trincheira : "Lula vestiu a carapuça", resposta à crítica de que teria "comprado" apoios para aprovar a reeleição. O mais corrupto ? Depois de ter brilhado na constelação da ética, o PT aparece nas pesquisas como o ente que mais encarna o vírus da corrupção. Mesmo assim, aposta na dualidade "nós e eles", o bem e o mal. E continua a desprezar os parceiros partidários da aliança governista, alargando seu império na administração Federal. E haja sofisma, a denotar um duplo padrão ético que lembra a resposta do rei africano sobre o bem e o mal, dada ao pesquisador Carl Jung : "O bem é quando roubo as mulheres do meu inimigo ; o mal é quando o inimigo rouba minhas mulheres". Nessa toada, a campanha eleitoral, já começada, se cerca de grandes interrogações. A aposta maior é a de que os rumos finais serão ditados pelo andar da carruagem econômica : maior inflação, aumento do desemprego, barrigas roncando, massas apertando o cerco, pior para a presidente Dilma, melhor para as oposições ; a recíproca é verdadeira. Lula no ataque No plano dos discursos, o PT se esforça para dar credibilidade a um escopo ideológico, que ainda causa receio à parcela ponderável do eleitorado. É um partido que enxerga, muito assustado, a corrosão de sua identidade, que era a mais confiável há 20 anos. Teme ser desalojado do primeiro andar do poder. Sente que já não tem tanto respaldo popular quanto nos dourados anos da era Lula, de quem espera papel de vanguarda na estratégia de continuidade. Por isso, Luiz Inácio, valendo-se do conhecido instinto, desenvolvido ao longo do contato direto com as massas, resgata o velho axioma de guerra : "a melhor defesa é o ataque". Ataque contra a imprensa ; ataque contra as elites ; ataque contra quem cospe no prato em que comeu ; ataque contra o ex-presidente Fernando Henrique (que teria "comprado" apoio no Congresso ao projeto da reeleição). O tiroteio, vale frisar, tem o mérito de fazer recuar exércitos adversários, obrigando-os à defesa. Beócio Agenor Leal de Souza, vereador de Peçanha, chamou seu companheiro de Câmara Municipal, Tibúrcio Alves Pereira, de beócio. Tibúrcio levantou-se solene : - Nobre senhor vereador Agenor Leal de Souza, se a palavra beócio for agradativa ou adulativa, muito obrigado a V.Exa. Mas se for atacativa, beócio é a mãe de V.Exa. Era atacativa! O bacanal eleitoral Uns dizem : vivemos um bacanal eleitoral ; outros falam : estamos vendo a orgia em plena esfera partidária. Esculhambação geral. O PSB de Eduardo Campos, que pretende se apresentar como o novo, alia-se, no Rio, ao senador Lindbergh, do PT, candidato ao governo. Logo, o "lindinho", como é chamado pela presidente Dilma o candidato petista ao governo, abre um palanque misto no RJ. Ou seja, em seu palco poderão se apresentar Dilma e Eduardo Campos, ambos candidatos à presidência. Em SP, o mesmo PSB (o novo ?), faz aliança com Alckmin, podendo, então, aparecer no mesmo palanque do tucano Aécio Neves. No Rio, agora é o DEM, de César Maia, que se junta ao PMDB. Esse casamento de zebra com bode, de jacaré com cobra d'água, se repete na maioria dos 27 Estados. E Pezão, hein ? Pezão, o governador do Rio, tem um pé no PT, apoiando Dilma, e também um pé no PSDB, apoiando Aécio. Daí a chapa Aezão, como já se vê. Quem tem boca vai a Roma. E quem tem um Pezão, embarca em duas canoas. Assim é a política brasileira. Em tempo : esse consultor tende a acreditar que Pezão levará a melhor no RJ. A conferir. Partidos no Rio No RJ, os partidos conservam a seguinte posição em matéria de prefeituras : PMDB, 22, com 53,% do eleitorado ; PR, 6, com 9,5% do eleitorado ; PT, 12, com 6,6% do eleitorado ; PC do B, 4, com 3,9% do eleitorado ; PDT, 5, com 3,5% do eleitorado ; PSB, 6, com 3,2% do eleitorado ; PP, 8, com 3,1% do eleitorado ; PSC, 7, com 2,8% do eleitorado ; PSD, 7, com 2,5% do eleitorado ; PV, 1, com 1,2% do eleitorado ; PMN, 1, com 1, 06% do eleitorado. Os partidos restantes(PRB, PSDB, PPS, DEM, PSDC, PTB e PSOL) têm menos de 1% dos eleitores. Computo Pachequinho e Chico Fulô (Waldomiro Lobo) eram muito populares e vereadores do PTB em BH. Disputavam as mesmas áreas e viviam brigando. Na tribuna, Waldomiro falava de tuberculose e tuberculosos, seu assunto predileto : - A cidade está cheia de tuberculosos. Não sei ao certo quantos são, mas eu computo... Pachequinho aparteou : - Não é computo não, ilustre vereador. É cômputo. - Eu sei que cômputo. Mas, falando com V.Exa., eu falo computo. Foram aos tapas ! Adeus, Sarney 60 anos de vida política. Uma única derrota em uma eleição para a Câmara Federal. O poderoso ex-presidente da República e senador José Sarney está abandonando a lide eleitoral. Não a trajetória da política. Alega motivos pessoais. Quer ficar mais tempo perto de sua mulher, dona Marly. Mas é evidente que pesam nessa decisão as possibilidades estreitas de uma vitória para o Senado, no AP, que representa na Câmara Alta, e as dificuldades que a família enfrenta no MA, onde os Sarney dominam a política há 60 anos. Sarney promete continuar a influenciar os bastidores do poder. PT abre a porteira Parceiros do PT continuam a fazer alianças nos Estados com adversários do petismo, fato que pesará bastante na balança da presidente Dilma. O PT é o responsável por esta situação. Não abre para os aliados as condições para sua expansão. Ao contrário, mantém-se firme em seu projeto de hegemonia. No Triângulo das Bermudas - SP, MG e RJ - a presidente Dilma perde bastante densidade eleitoral. PTB já saiu da aliança. PP está insatisfeito. PSD, de Kassab, também tem divergências com PT. Esses dois partidos fecharão com o PT no plano Federal, mas as bases expressam resistência. CE No CE, o senador Eunício Oliveira, candidato do PMDB ao governo, tende a fechar aliança com o empresário e ex-governador Tasso Jereissati, que será candidato ao Senado pelo PSDB. E pode ainda formar aliança com o DEM. Carvalho tem razão O ministro Gilberto Carvalho, conhecido por não ter papa na língua, foi direto ao ponto : não apenas as "elites brancas" apupam o governo. Segundo ele, a coisa está "gotejando" e chegando mais embaixo. O ministro tem razão. Basta conferir, de passagem, o Produto Nacional Produto da Insatisfação, que se vê nas ruas e vielas do território. Conselho aos estrategistas do PT Na última nota, a coluna oferece pequenos conselhos a políticos, governantes, membros dos Poderes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos marqueteiros dos candidatos. Hoje, volta sua atenção aos estrategistas do PT, a começar pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva : 1. Trata-se de um erro querer resgatar o velho mote da luta de classes, pobres contra ricos. O Brasil quer apagar esse discurso de separação. 2. Urge apresentar à sociedade programas, ideias, projetos, ações, que possam colocar as questões substantivas acima das abordagens adjetivas. 3. As manifestações que ocorrem nos principais centros do país, a partir de SP, apontam para o slogan desses tempos inquietos : mais e melhores serviços públicos.
quarta-feira, 18 de junho de 2014

Porandubas nº 402

Abro a coluna de hoje com uma historinha contada pelo jornalista e escritor Gerardo Mello Mourão, em seu belo livro "Um Senador de Pernambuco - Breve Memória de Antônio de Barros Carvalho". Livro que me foi ofertado pelo grande professor e amigo, o advogado Paulo de Barros Carvalho. O livro trata da vida e obra do famoso senador de PE, Barros Carvalho, figura ímpar da República, deputado, depois senador, ministro de Estado, líder da maioria e líder do governo no Senado, tendo atravessado longos corredores da política desde a era Getúlio Vargas. Pague o almoço O autor destas notas recebeu certa vez telefonema do ministro Horácio Lafer, que tinha urgência em falar com Barros. O encontro foi marcado imediatamente na barbearia do Jockey Club, na avenida Rio Branco. O poderoso ministro da Fazenda explicou : voltara da Europa e sua bagagem estava retida na alfândega há cinco dias, com alegações de irregularidade. Lafer era um homem absolutamente sério, e não queria supor que tivesse cometido irregularidades, mas também não podia expor-se à suspeita de fazer pressões sobre funcionários da Receita. Alguns servidores mais antigos da Fazenda lhe informaram : só o Barros Carvalho pode resolver o problema. Na mesma tarde o inspetor da alfândega, o guarda-mor e um modesto fiscal que apreendera a bagagem trouxeram a papelada a Barros. Até onde se lembra o autor destas notas, havia uma pequena peça de prata oferecida ao ministro por um colega, na França ou na Alemanha, e dois ou três vidros de perfume além do limite permitido em lei. Todos concordaram em que não havia necessidade de lavrar auto de infração e que o passageiro Horácio Lafer podia pagar ali mesmo a pequena soma das alíquotas devidas. Barros pagou de seu bolso, resolveu-se tudo na hora, foi almoçar com o ministro no dia seguinte e, perguntado sobre o montante da despesa, respondeu : "Pague o almoço, que eu acho que ainda saio ganhando". Hoje não se fazem mais ministros da Fazenda como antigamente. Copa para todos os lados O Brasil respira Copa por todos os lados. De futebol à política, dos apupos nas ruas aos gritos de ovação nos estádios. O que era esperado se confirma. O brasileiro torce pela seleção canarinho, não confunde alhos com bugalhos, política com futebol. Isso explica, em parte, a indignação de torcidas contra governantes de todos os naipes. Não apenas contra governistas. O que tem mais surpreendido, nesse início de Copa, é a acidez expressiva de candidatos e cabos eleitorais. Pensava-se que iria haver trégua. Não. Após os apupos (de baixo nível) à presidente Dilma, no Itaquerão, o tom esquentou. Vaia em estádio A vaia conserva uma simbiose com os estádios. Faz parte do ambiente. É bem verdade que as vaias recebidas pela presidente no Itaquerão partiram das galeras endinheiradas. O que ali ocorreu foi uma falta de respeito. O uso de palavras de baixo calão pega mal. Dá-se respeito quem respeita. Era previsível a vaia. Para todos os políticos. Mas não se esperava uma linguagem chula. O tiro pode ter saído pela culatra. A presidente surge, agora, como vítima. Ataques de todos os lados Aécio fala que um tsunami varrerá os governantes do PT. Campos fala que saiu do governo por não concordar com a bandalheira. Dilma refuta dizendo que não se incomoda com vaias de ricos. Lula rebate Aécio Neves resgatando o velho discurso dos ricos contra os pobres, a luta de classes. E prega que a esperança vencerá o ódio. Esperava-se uma trégua sem rancores. Mas a indignação se expande. Imagine-se o que veremos até outubro. A guerra de palavras - e estocadas recíprocas - tende a fazer desta campanha a mais ácida de todos os tempos. Tentativa de polarizar O que se nota é a tentativa do PT e do PSDB de acirrar a polarização. O país está saturado da velha querela entre petistas e tucanos. Mas, ao que se percebe, há interesse dos dois lados em manter a rixa. O PT tem errado muito. Conseguiu o feito de estabelecer um apartheid no corpo social e político : nós contra vocês ; nós somos os bons, vocês são os ruins. Mocinhos e bandidos. Mas o PT não é mais o partido da ética e da inovação, aquele que foi criado para mudar o status quo. Envolveu-se no maior escândalo da contemporaneidade política : a AP 470, o mensalão. Perdeu credibilidade. E passou a ser sinônimo de partido comprometido com a corrupção. Logo... PT sem credibilidade Logo, o discurso do PT perdeu credibilidade. A fala de Lula em resgatar a esperança contra o ódio pode, até, animar incautos e incultos. Mas é um discurso para as bases petistas com o intuito de armar os exércitos das ruas. Consegue, assim, enraivecer setores médios, inclusive parte do segmento que ascendeu ao meio da pirâmide. Lula sabe disso. Sabe também que não tem mais o prestígio de antigamente. Entusiasma os fundões e parcela considerável da classe C, mas afasta-se das classes médias tradicionais. Pode recuperar o terreno perdido pela presidente Dilma em espaços do Nordeste, mas é sensível o desgaste do governismo na região Sudeste, onde se concentra a maior parte do eleitorado. SP, o fator central SP é a joia da coroa entre os Estados. Ganhar dos tucanos em SP tem sido meta prioritária do PT. É o sonho dos sonhos de Lula. Cada vez mais difícil de se concretizar. A falta de água no sistema Cantareira poderia ser o grande trunfo/argumento do petismo para tomar as rédeas do Estado. Mas os rombos nos costados do PT não conseguem torná-lo capaz de engatar um bom discurso no Estado. Alexandre Padilha, que navega em águas baixas - 3% dos votos - conseguirá recuperar os chamados 30% históricos do PT no Estado ? Parece impossível. Nem Lula nem Dilma, dizem, acreditam mais na possibilidade. Embate Alckmin x Skaf Por isso, cresce a possibilidade de um embate entre o governador Alckmin e o candidato do PMDB, Paulo Skaf, que, nesse momento, exibe 21% de intenção de voto, taxa que permite projetar seu ingresso no segundo turno. Sob essa alternativa, vê-se uma dura disputa, desta feita entre um candidato menos comprometido com a velha política e um ícone do tucanato, Geraldo Alckmin, que simboliza 20 anos de poder dos tucanos no mais forte ente estadual da Confederação. Desafios Aécio Neves se sente na obrigação de eleger seu candidato ao governo de MG, Pimenta da Veiga, que está atrás de Fernando Pimentel, do PT ; o mesmo se dá com Eduardo Campos, que enfrenta o desafio de vencer o senador Armando Monteiro, PTB, apoiado pelo PT, ao governo de PE. O candidato de Campos, do PSB, é o ex-secretário da Fazenda, Paulo Câmara, que está bem atrás de Monteiro. BA e RS Na BA, é mais que provável a vitória de Paulo Souto, do DEM, apoiado pelo PMDB e pelo PSDB. O PT deverá perder nesse importante bastião político do Nordeste. No RS, a reeleição de Tarso Genro, do PT, é muito difícil. Apesar dos pesares As arenas dos 12 Estados que sediam a Copa estão dando conta do recado. Há problemas no acesso, nas obras de entorno, mas, ao que se enxerga, os estádios estão aprovados. Ou será que ainda não ? Resta saber como serão mantidos após o campeonato. Visão do país O imenso contraste entre o ar pesado do momento e o clima descontraído, previsível pelo fato de o Brasil patrocinar a maior festa esportiva de sua história, aponta para múltiplos significados. O primeiro deles é o de que a batizada "Copa das Copas", mesmo que consiga dar vazão ao ufanista título, se desenvolverá sob um tecido social esgarçado, a exibir a incapacidade do Estado no acolhimento às demandas da sociedade. Harmonia é uma quimera Os clássicos de nossa sociologia e antropologia chegam a apontar a cordialidade como a característica essencial do brasileiro, o que nos faria um povo por excelência gentil e pacífico. Alguns perguntam : onde estaria o espírito cordato, a tendência à harmonia, ao diálogo, à confraternização, quando movimentos contestatórios fluem em todas as direções e sob a atenção de um Estado sem condições de acolher reivindicações de setores e categorias ? Nossa alma pacífica é uma quimera, como bem o demonstra Darcy Ribeiro, ao frisar que "conflitos de toda a ordem dilaceraram a história brasileira, étnicos, sociais, econômicos, religiosos, raciais etc., cada qual se pintando com as cores dos outros". Se há um traço de união entre os eventos que pontuaram nossa história, ele é a ineficiência do Estado na administração das demandas populares. Sociedade à frente O clamor das ruas não é de hoje. Desde os primeiros tempos da era Vargas, na década de 30, as elites, recitavam, com temor, o mantra : "Façamos a revolução antes que o povo a faça". O fato é que o Brasil moderno flagra uma sociedade correndo à frente das instituições. Dentro dessa moldura, é possível interpretar o que se passa. Primeiro, é oportuno lembrar os valores que contribuíram para balizar o ethos social. Por aqui, a "estadania" fixou-se antes da cidadania. O termo foi cunhado por José Murilo de Carvalho para designar uma cultura mais orientada para o Estado, contrastando com a cidadania, cultura mais voltada para os cidadãos. Nossa pirâmide invertida Os direitos sociais (educação, trabalho, salário justo, saúde, aposentadoria), vieram antes dos direitos civis (liberdade, propriedade, igualdade perante a lei) e dos direitos políticos (organização de partidos, votar e ser votado, etc). No estudado modelo inglês, desenhado por Thomas Marshall, a cidadania foi implantada antes. Na Inglaterra, vieram, primeiro, as liberdades civis, garantidas por um Judiciário independente, depois, os direitos políticos consolidados por partidos e o Legislativo e, finalmente, os direitos sociais. Por aqui, o social prevaleceu sobre os outros. Tal situação gerou a dependência ao Estado, que foi obrigado a ampliar os braços assistencialistas que, na esteira da competição política, incorporaram um viés populista. O Estado todo poderoso, por seu lado, passou a interessar às elites políticas, na medida em que enxergam no presidencialismo imperial a forma de perpetuação no poder. Velhos métodos Chega-se, assim, à esfera da política. Que não se renova. Os métodos são os mesmos do passado. Escândalos explodem. A corrupção campeia. Os problemas se repetem. Descobre-se, agora, o mesmo improviso da Copa de 50, com estádios inconclusos. A sete dias da abertura do Mundial, o Maracanã estava em obras e andaimes seguravam as arquibancadas e a cobertura, apesar de o Brasil ter sido escolhido em 1946. Sobressaem, na radiografia, o país da sociedade organizada, mais exigente e crítica ; e a estampa de um território de gastos superlativos, obras inacabadas, desvios de dinheiro e escândalos. Ora, não resta outro caminho que o protesto, a contestação, a impaciência, a indignação. A pimenta nesse caldo é o pleito eleitoral, que se apresenta como ideal para grupos exibirem suas performances. Violência é parte A violência faz parte da estratégia. A ciência política mostra que na maior parte das sociedades, a paz cívica é impossível sem alguma reforma e a reforma é impossível sem alguma violência. Nos Estados Unidos, na década de 60, Kennedy apregoava a aprovação da lei dos direitos civis para tirar a violência das avenidas e "levar a luta para os tribunais". Já os flagrantes de nossas ruas estão a indicar que os confrontos só amainarão quando as estruturas governativas atenderem ao clamor social. E quando as reformas, que claudicam no Parlamento, forem feitas. Enquanto isso não ocorrer, as forças sociais, como locomotiva, continuarão a puxar as instituições, a partir dos agrupamentos mais esclarecidos. Trunfos Aécio tem ainda um trunfo nas mãos : a candidatura à vice. Quem será ? Alckmin tem um trunfo e um desafio : a vaga de vice e atrair, ao mesmo tempo, o PSD de Kassab e o PSB de Eduardo Campos. Que partido conseguirá ceder o nome na chapa de Alckmin ? Conselho aos marqueteiros Na última nota, a coluna oferece pequenos conselhos a políticos, governantes, membros dos Poderes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos atletas da seleção brasileira. Hoje, volta sua atenção aos marqueteiros dos candidatos : 1. Procurem evitar campanhas negativas, de ataques ferozes. O momento do país exige discursos densos. 2. A população quer ouvir propostas, ideias concretas e factíveis. 3. Evitem a cosmética exagerada em seus candidatos, procurando justapor identidade (o que os candidatos efetivamente encarnam) com imagem (a percepção que eles desejam passar aos eleitores).
quarta-feira, 4 de junho de 2014

Porandubas nº 401

Ir à lua ? Apoio, diga data Abro a coluna com a engraçada historinha do inesquecível José Maria Alkmin, político mineiro, ministro da Fazenda de JK, raposa e matreiro : Um correligionário de Bocaiúva, meio lelé da cuca, sem eira nem beira, vai ao gabinete do ministro, ainda no RJ, onde lhe pede uma inusitada colaboração. - Dr. Zé Maria, eu quero ir à lua e preciso da ajuda do senhor, diz o visitante. - Isto não é problema, diz Alkmin, dando asas à imaginação do conterrâneo. Dou-lhe o apoio, de ministro e correligionário. Existe um pequeno e contornável problema, que é de definição, e só depende do amigo. E Alkmin continua : - Você sabe que há quatro luas : nova, crescente, minguante e cheia. Agora, compete a você escolher qual das luas o nobre amigo deseja visitar, pois o apoio está dado. Diante de um atônito conterrâneo, o ministro levanta-se da poltrona, estende a mão para a despedida e afirma, olhando no fundo dos olhos do eleitor : - Me procure, novamente, quando definir ! 8 dias para a Copa Faltam oito dias para começar o maior evento esportivo do mundo. 10 das 12 arenas esportivas que abrigarão os jogos se encontram ainda em conclusão, principalmente obras no entorno, vias de acesso, etc. Vai haver manifestação aqui e ali, a cargo dos black blocs, mas os movimentos não contarão com a simpatia da população. O clima de tensão pode se acirrar, isso sim, caso haja algum incidente mais grave no meio da Copa, uma ruptura de construção, queda de arquibancada, etc, coisa improvável. Mas o mundo do imponderável não tem controle. Candidatos, cuidado Aos candidatos, singelo lembrete : os torcedores vão às arenas ver a performance dos times, não a exibição de candidatos dando tapinhas nas costas e beijando crianças. Evitem, portanto, os trejeitos caso queiram ver os jogos nos estádios. O povão pode aproveitar para usar a presença de um candidato como recado aos políticos, de forma geral, em vaias continuadas. Quanto mais alta a autoridade, mais forte é a possibilidade de um apupo das gerais. Político está em baixa na escala de prestígio. O que dizem as pesquisas Tenho feito uma leitura mais vertical das pesquisas. Minha visão : 1. Os índices quantitativos do momento podem, até, indicar as mesmas posições mais adiante no ranking, mas é mais provável que mudem e muito ; há uma tendência para virar de posição de acordo com o maior conhecimento que o eleitor tenha do candidato ; 2. A polarização entre PT e PSDB será quebrada em alguns Estados, com a possibilidade de alavancagem de nomes que simbolizem uma nova via ; 3. Observa-se uma tendência para quebrar hegemonia dos grandes partidos ; 4. As parcerias "malucas" que estão se fazendo nos Estados estão a indicar a necessidade de uma reforma política - essa pode ser a última eleição do "samba do crioulo doido"; 5. Os perfis mais assépticos, menos contaminados com o vírus da velha política, caem bem na paisagem eleitoral ; 6. Bolsa Família deixou de ser moeda eleitoral. O grupo Quero Mais e Melhor (saúde, educação, transportes, segurança, etc.) é quem faz barulho nas ruas. O papel de Lula Será a campanha em que Lula desempenhará um papel sem a força de antes. Continua a ser o maior cabo eleitoral do país. Sem dúvida. Mas Lula entrou no figurino da mesmice, da banalização. Seu discurso é o mesmo. Sua voz continua a mesma. Seus cabelos estão mais brancos. E o PT, que era o novo, tornou-se velho, decrépito. Não cola mais sua pregação de mudança. Dilma continua a ser a favorita, mas sem a aura da campanha de 2010. A mudança foi pouca em seu governo. Daí os buracos que se observam na paisagem eleitoral. A paisagem de SP Deverá sair pesquisa nos próximos dias em SP. Este consultor arrisca dizer que : a. Geraldo Alckmin reverteu tendência de queda, com administração (por enquanto eficiente) do tema falta d'água em SP (capital) ; b. Paulo Skaf, candidato do PMDB, que acaba de se licenciar da presidência da Fiesp, deve permanecer em torno de 20%. Com tendência a crescer ; c Alexandre Padilha, após maior exposição midiática, deve chegar aos 15%. O PT arregimenta suas bases e passa a vestir a camisa do candidato. As camadas continuam sem uma percepção clara do jogo político. Quem mais aparece, por conta da liturgia do cargo, é o governador Alckmin, cuja base eleitoral no interior de SP é seu ponto forte. Palestra hoje na Assembleia Farei, hoje, às 15h, uma palestra para candidatos, assessores, profissionais da comunicação e do marketing sobre o tema : "10 respostas para a pergunta : como ganhar uma eleição em tempo de grandes mudanças?". A palestra será no auditório Paulo Kobayashi, aberta ao público. É patrocinada pelo Sindeepres, comandado por Genival Beserra, e com o apoio do PMDB, dirigido em SP pelo deputado Baleia Rossi. E os vices, hein ? Partidos e candidatos procuram esconder o jogo. Não fecharam as chapas por conta da indefinição das parcerias. Quem será o vice de Alckmin, Skaf e Padilha ? O ex-prefeito Gilberto Kassab está sendo muito assediado. Abriu conversas com o PMDB, mas, nos últimos tempos, sua articulação com os tucanos ficou mais intensa. O que teria motivado Kassab a sinalizar parceria com o tucanato ? A possibilidade de ser candidato em 2018, com a saída de Alckmin do governo para se candidatar ao Senado ou a outro cargo ; como vice de Geraldo, Kassab teria nove meses para viabilizar seu nome e assumir a candidatura ao governo do Estado. No caso de Skaf, não teria essa chance, muito menos com o Padilha. Aécio e Eduardo Aécio Neves continua a tentar colocar o ex-presidente do BC, Henrique Meirelles, em sua chapa como candidato a vice. Guilherme Afif nega : não há hipótese de Meirelles ser vice de Aécio. Eduardo Campos, com Marina firme na vice, tenta tirar o atraso. Será pouco provável que faça parceria com partidos fortes. Vai se contentar mesmo com dois minutos de TV e rádio. Curiosidades O candidato de Aécio Neves ao governo de MG, Pimenta da Veiga, leva um banho de Fernando Pimentel, candidato do PT. O candidato de Eduardo Campos e do PSB ao governo de PE, ex-secretário estadual da Fazenda, Paulo Câmara, leva um banho do candidato do PTB, senador Armando Monteiro, que é apoiado pelo PT. Mas ambos - Aécio e Eduardo - garantem : vão eleger seus candidatos. A conferir. Fechando o ciclo de 64 A campanha deste ano fecha o ciclo de 1964. Expliquemos : os pesados anos de chumbo redefiniram os rumos da política, fazendo nascer partidos, formando grupos, multiplicando alas e dando margem à diástole que propiciou a abertura dos horizontes democráticos. Os atores alçaram ao patamar contemporâneo sob o empuxo de um discurso que teve como eixo o combate ao passado sombrio. Fernando Henrique, José Serra, Luiz Inácio e Dilma, entre outros, fazem a ponte entre o ontem e o hoje, eles que padeceram sob o tacão da ditadura militar. Vozes do passado ainda se ouvem. Mas é forte o clamor para que o país descortine uma nova era, dando vez ao grupo pós-64. Antecipação Por isso mesmo, a batalha se cerca de um inusitado preparo com o uso antecipado de ferramentas, incluindo intensa propaganda política, manipulação das massas, alianças políticas sem eira nem beira, lógica/ilógica dos discursos. O medo torna-se arma de guerra. É um recurso extremo, mas de efeito devastador. Como pregava Hitler : "É apenas na aplicação permanentemente uniforme da violência que consiste a primeira das condições de sucesso". Implicava a "violação psíquica das massas pela propaganda emotiva baseada no medo". Serge Tchakhotine, em Mistificação das Massas pela Propaganda Política, explica que Hitler usou a estratégia do medo para ativar os dois primeiros instintos humanos : o impulso combativo (o medo e a luta pela sobrevivência - contra incertezas, obstáculos, inimigos, etc) e o impulso nutritivo (alimento, bolso com dinheiro para suprir o estômago). Para ganhar as massas, ensinava Goebbels, "é preciso contar com sua fraqueza e bestialidade, baixar o nível intelectual da propaganda, simplificar as ideias complicadas". Os tempos são outros Ora, os tempos são outros. O dito hitlerista "quanto maior a mentira, maior a chance de todos nela acreditarem" não engabela como no passado, apesar da possibilidade de ainda enrolar incautos e incultos. Entre nós, a estratégia do medo bate nos fundões sob os braços do assistencialismo. Ocorre que a estratégia do terror foi banalizada. Já não finca raízes profundas. A população, mesmo a das margens, parece vacinada contra a artilharia psicológica adotada em guerras eleitorais. Será difícil convencer comunidades que um programa como Bolsa Família, por exemplo, será extinto. Tornou-se política de Estado. E é pouco provável que temas abstratos - privatização da Petrobras, BB e CEF - sejam palatáveis aos sentidos das massas. Os governantes têm a vantagem do "poder da caneta" - liberar verbas, aprovar projetos, nomear pessoas - para dar crédito às promessas. Mesmo assim, a credibilidade do discurso palanqueiro perde força. Transparência tributária Entra em vigor a partir do dia 9/6 a lei 12.741/12, conhecida como "Lei de Olho no Imposto", que prevê o detalhamento da carga tributária nas notas e cupons fiscais sob pena de multa em caso de descumprimento. A obrigatoriedade vale para todo o Brasil e deve atingir cerca de dois milhões de estabelecimentos. Na avaliação de Sérgio Approbato Machado Júnior, presidente do Sindicato das Empresas de Contabilidade no Estado de São Paulo (Sescon/SP), significa uma revolução e um avanço para a cidadania fiscal. "Sabendo o quanto pagamos de impostos, fica mais tangível exigir do governo retorno em serviços públicos como educação, segurança, saúde e lazer", exemplifica. Pouco mais de 30% das empresas em SP discriminam os tribunos nas notas fiscais. Em seguida, estão RJ (10%) e MG (8%), segundo o Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributação (IBPT). Ninguém tem provas Fecho a coluna com uma historinha que mostra a imagem do político nesses tempos de denúncias e escândalos : Numa festa, a dona de casa recebe um político famoso. - Muito prazer ! - diz ele. - O prazer é meu ! Saiba que já ouvi muito falar do senhor ! - É possível, minha senhora, mas ninguém tem provas ! Conselho aos assessores dos candidatos Na última nota, a coluna oferece pequenos conselhos a políticos, governantes, membros dos Poderes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos atletas da seleção brasileira. Hoje, volta sua atenção aos assessores dos candidatos : 1. Mais que na campanha anterior, o pleito deste ano deverá dar ênfase ao discurso e à articulação com a sociedade organizada. Implica escolher abordagens adequadas, temas de alto interesse da coletividade, e desenvolver contatos estreitos com as entidades de intermediação social. 2. O marketing segmentado (categorias profissionais e classes sociais) deverá prevalecer sobre o marketing massivo (a coletividade como um todo), principalmente nas campanhas estaduais (majoritárias e proporcionais). 3. Essas orientações implicam mapear as forças sociais, verificar quais os novos polos de poder e estabelecer junto a eles um estreito contato, a par de propostas que venham atender suas demandas.
quarta-feira, 28 de maio de 2014

Porandubas nº 400

Abro a coluna com historinhas sobre Ademar, Brizola e Simonsen Como Adhemar virou político Getúlio Vargas não gozava de prestígio na imprensa em 1932. Nesse ano, veio descansar numa fazenda no interior do Estado. Mas adoeceu. Chamaram um médico local muito respeitado e jeitoso, doutor Adhemar de Barros. O ilustre paciente tomou remédios e adormeceu. Mais tarde, ao despertar, ainda encontrou o dedicado médico à cabeceira : - Que horas são ? - perguntou Getúlio. - As horas que o senhor desejar, presidente, respondeu o médico, gentil. Ali nascia a amizade que faria de Adhemar o interventor do Estado de São Paulo. A decolagem do homem político estava selada. A burguesia em Miami Os jornalistas pernambucanos Ivanildo Sampaio e Ernani Régis contam no livro "Quincas Borba no Folclore Político" a reunião de Leonel Brizola com amigo, em 1982, quando disputou o governo do RJ. Um jovem esquerdista insistia para que o manifesto de lançamento da candidatura propusesse reforma agrária e distribuição de renda radicais. Com a prudência curtida em anos de exílio e sofrimento, Brizola descartou : - Meu filho, o Brasil não é Cuba nem a burguesia cabe em Miami. Simonsen, o sincero Mário Henrique Simonsen, engenheiro, economista, professor, brilhante intelectual, presidente do BC no governo Castelo Branco, ministro da Fazenda do governo Geisel e ministro do Planejamento do Governo João Figueiredo, decidiu pedir demissão. Estava insatisfeito e parecia saturado da vida pública. Fez a carta de demissão e foi entregá-la ao presidente que se exercitava no haras que mantinha na Granja do Torto. O ajudante de ordens pediu para o ministro aguardar um pouco. Três, quatro, cinco cigarros depois, aparece o general Figueiredo, saindo da ducha, dorso nu, toalha enrolada : - Presidente, vim aqui trazer este documento. Figueiredo, em pé, abre a carta e lê o pedido de demissão. Explode : - Quer dizer que o senhor está dizendo que o meu governo é uma merda ? Impávido, sem titubear, Simonsen responde : - É isso mesmo ! E saiu calmamente fumando mais um cigarrinho. (Caso contado pelo amigo Barros, o bom e experiente jornalista Guilherme Barros, a quem Simonsen narrava os bastidores da política e fazia confidências) Sismo no meio da pirâmide Tento ler a movimentação social que, desde junho do ano passado, toma conta das ruas do país. E, a cada semana, incorporo mais uma pedrinha no tabuleiro. Vamos à pedrinha : parcela da população brasileira é arrastada para cima e para baixo da pirâmide social pelas ondas de marés enchentes e marés vazantes. A primeira carrega as pessoas da classe C, a chamada nova classe média, para um passeio pelos territórios do grupo B, às vezes com direito a uma escapulida (rápida) ao topo, onde habita a categoria A. Quem propicia a subida é grana extra. A segunda maré, a baixa, empurra o contingente para as águas do fundo. Isso se dá quando a renda das famílias fica apenas no parco rendimento de aposentadoria, pensão ou bolsas, sem os ganhos com bicos e atividades paralelas. O bolso apertado Quando o bolso aperta, a equação BO+BA+CO+CA fica desarrumada. Lembram-se ? BOlso cheio, BArriga satisfeita, COração agradecido, CAbeça apoia patrocinadores. No sufoco do bolso apertado, quem foi induzido a consumir e se vê sem condição de ressarcir despesas, passa a usar de maneira indiscriminada cartões de crédito e a resvalar pela inadimplência. Tal radiografia, flagrada por pesquisa encomendada pelo Consultative Group to Assist the Poor (CGAP), organismo ligado ao Banco Mundial, pode explicar fenômenos que estão a ocorrer no país, a partir de manifestações de movimentos organizados e categorias profissionais. Ponderável parcela da classe média que muda de condição, muitas vezes de um mês para outro, acaba ingressando no perigoso meio-fio da instabilidade, tornando-se, ela própria, um dos eixos a mover a engrenagem da insatisfação social. Entre nada e cinco mil A expressão desolada de um microempreendedor sobre seus ganhos mensais arremata a situação que abriga milhões de brasileiros : "ganho algo entre nada e R$ 5 mil; não dá para adivinhar quando e quanto vai entrar". A insegurança que grassa por classes, espaços, setores e profissões tem se avolumado nos últimos meses, apesar de constatarmos que a taxa de desemprego se mantém estável (em torno de 5%, em março último, nas cinco maiores regiões metropolitanas). A questão é a baixa qualidade do emprego, que leva muitos a buscar outros meios de sobrevivência. Ademais, o cobertor social tem sido curto para cobrir novas demandas. Serviços precários A precária estrutura de serviços não tem recebido do Estado alavancagem para oferecer bom atendimento ao povo. Portanto, por conta do estranho fenômeno que aqui se forma - uma classe C mutante que tateia na escuridão entre as portas do céu e do inferno, passando pelo limbo - as pessoas decidiram abrir a locução sob propícia temperatura ambiental. As políticas sociais do governo abriram buracos. A decisão de implantar gigantesco programa de distribuição de renda - elogiável, porquanto se vive, hoje, o menor nível de desigualdade de nossa história - não tem sido acompanhada de uma política educacional estruturante, capaz de elevar o grau civilizatório de milhões de pessoas que ascenderam na vida. Basta avaliar a estratégia de indução ao consumo, adotada pelo governo brasileiro para enfrentar a crise por que passaram as economias mundiais, a partir de 2008. Crédito e poder de compra Especialistas, dentre eles, Celso Amâncio, ex-diretor das Casas Bahia (OESP, 18/5/2014), dizem : "o governo incentivou o consumo, mas crédito é uma coisa e poder de compra é outro". Quer dizer, o banco até oferece crédito, mas os novos consumidores não dispõem de educação financeira. Acabam usando e abusando de cartões de crédito, um pagando o outro. O governo forjou, de um lado, o populismo econômico para abrir as portas do consumo aos grupos emergentes, mas, por outro, deixou de oferecer a eles ferramentas (e valores) que balizam comportamentos da classe média tradicional. A cesta de compra dos emergentes inchou : TV por assinatura, internet, plano de saúde, escola privada para os filhos, moto ou carro novo. A ignorância em matéria financeira acabou estourando o bolso de tantos quantos achavam ter encontrado o Eldorado. Manjaram ? Isso provoca o sismo Sob essa engenharia, pode-se compreender o movimento das "placas tectônicas" que geram sismos nas camadas do centro da pirâmide. Como se recorda, o losango tem sido apresentado como o formato do novo Brasil : de topo mais espaçado, alargamento do meio e estreitamento da base. Ocorre que o saracoteio da classe C - que ora dança na pista do meio, ora na de baixo -, não permite apostar na substituição definitiva da pirâmide pelo losango. O que se vê na configuração é um redemoinho nas camadas centrais, a denotar insatisfação e impactos que afetam a vida de milhões de brasileiros, principalmente os habitantes de grandes cidades, cujas rotinas sofrem com congestionamentos, mobilizações, greves e paralisações de frentes de serviços públicos. Clima de Copa e eleições É verdade que parte considerável da tensão urbana se deve ao momento especial do país : vésperas de Copa do mundo e de campanha eleitoral. A estratégia de sensibilização do poder e de atores políticos ganha fôlego. Mas é inegável que há uma força centrípeta em ação, aqui mais forte e organizada, ali mais tênue e dispersa, dando a impressão de que o gigante "deitado eternamente em berço esplendido" faz parte da retórica do passado. A dissonância se forma em nossas mentes quando somos levados a cantar (sem interpretar os versos) nosso belo hino nacional. Remanesce a questão : e para onde as altas e baixas marés carregarão a classe C (que soma 64 milhões de pessoas) e, ainda, que consequências serão sentidas em outros conjuntos ? A hipótese mais provável é a que, a continuar o vaivém dos grupos emergentes, os sismos continuarão a balançar o losango e este voltará a dar lugar à velha pirâmide. Pesquisas Onde estão as pesquisas para governos de Estado ? Não aparecem na mídia. O momento é de muita especulação. E mudança. Alguns Institutos, por precaução, deixam de fazê-las, esperando que as "camadas tectônicas" se ajustem às plataformas. O que se pode falar é sobre tendências. Regra geral, há uma tendência de se repartir as coisas negativas com os governantes, que simbolizam o status quo. Governante subindo nesse momento é coisa rara. Pode, sim, resgatar índices anteriores. Ronaldo e Aécio Ronaldo "Fenômeno" anuncia que vai trabalhar para Aécio Neves, seu amigo. Só vejo uma função para ele : embaixador da "boa vontade" para fazer alguma articulação com círculos esportivos. Vai agregar votos ? Não. Vai abrir visibilidade ? Sim. E isso em campanha eleitoral é muito importante. Motivos para campanha contundente Os pré-candidatos começam a se preparar para enfrentar o pleito mais contundente de nossa contemporaneidade. Por que o mais contundente ? 1. Pelo fato de o país viver um momento de mudanças ; 2. Pelo fato de o PT ter maiores dificuldades em realizar o seu intento, o de alcançar a hegemonia política ; 3. Pelo fato de recursos de campanha serem mais escassos, por medo dos doadores de enfiarem a mão no bolso ; 4. Pelo fato de o país ainda vivenciar o clima do mensalão, com denunciados na prisão ; 5. Pelo fato de se visualizar a "corrosão de materiais", 20 anos de poder tucano em SP e 12 anos de PT na área Federal ; 6. Pelo fato de termos candidatos competitivos para a presidência do país ; 7. Pelo fato de vermos a expansão da movimentação das ruas, na esteira de uma democracia participativa ; 8. Pelo fato de termos um eleitorado mais racional e mais exigente ; 9. Pelo fato de o país, pela primeira vez, ir às urnas com uma classe média pontuando em primeiro lugar ; 10. Pelo fato de o conceito de mudança impregnar todas as classes sociais. Repasse de 30% De acordo com o previsto na lei 8.666/93, artigo 65, inciso II, alínea d., Estado e prefeitura de SP deveriam repassar o adicional de periculosidade às empresas de Segurança Privada contratadas pelo governo. No entanto, estão demorando a pagar os 30% do adicional desses contratos, estabelecido na lei 12.740/12, regulamentada pela portaria 1.885/13 do MTE. O atraso tem levado as empresas do segmento à quase insolvência. Vale ressaltar que as empresas de segurança de todos os Estados vêm, desde dezembro de 2013, pagando por sua conta a periculosidade de seus vigilantes. Governantes e assessores deveriam saber que se as empresas por eles contratadas começarem a falir devido à defasagem de preços dos contratos celebrados, o Estado terá de arcar com a demanda trabalhista dos empregados vinculados ao contrato. De 3G O ministro Paulo Bernardo, das Comunicações, disse que a tecnologia de terceira geração (3G) de telefonia móvel só estará totalmente implantada no Brasil em 2019. Se levará tanto tempo, por qual motivo o governo quer apressar o leilão de tecnologia mais moderna, a 4G, na frequência de 700 MHz ? Tem razão a presidente do Sindicato das Prestadoras de Serviço em Telefonia, Vivien Suruagy, quando diz que o governo está sendo precipitado e quer apenas fazer caixa com este leilão, de olho no superávit primário. Para 4G A 4G em funcionamento no Brasil opera na frequência de 2.5 GHz. Mas tem poucos consumidores, pois a infraestrutura é precária e os aparelhos são muito caros. As operadoras estão temerosas, não recebem informações necessárias da Anatel, mas serão obrigadas a desembolsar muito dinheiro no leilão sem saber se haverá retorno. Para piorar a situação, existem problemas de conflito de sinal entre televisores digitais e celulares com a tecnologia 4G na frequência 700 MHz, cuja resolução vai exigir altos investimentos. Quem paga, se o governo só quer receber ? Arenas esportivas Vespasiano, o imperador, em 22 de junho de 79 d. C., pouco antes de morrer, em carta ao filho Tito, aconselhava-o a concluir a construção do Colosseum (Coliseu), que daria a ele "muitas alegrias e infinita memória". Pois, entre um banheiro, um banco de escola ou um estádio, o povo preferia sentar nas arquibancadas deste último. Conselho aos atletas Na última nota, a coluna oferece pequenos conselhos a políticos, governantes, membros dos Poderes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos governantes. Hoje, volta sua atenção para os atletas da Seleção brasileira : 1. Não se deixem contaminar com aplausos nem apupos. Não deixem que eventuais balbúrdias de rua prejudiquem seu rendimento. Entrem na Copa de maneira inteira : mens sano in corpore sano(mente sã em um corpo são). 2. É preciso ter confiança em si mesmo. Os ambientes e o clima serão impregnados de estrelismo, auras cívicas e muitas lantejoulas. Cuidado para não se deixarem levar por glórias antecipadas. 3. Coragem para enfrentar os desafios. "Somente aqueles que acreditam ter forças para subir a montanha mais alta, sabem até onde podem chegar".
quarta-feira, 21 de maio de 2014

Porandubas nº 399

Abro a coluna com uma historinha de PE. Em Itapetim, alto sertão de PE, um vereador tinha a fama de não honrar compromissos financeiros. Comprava e não pagava. Fazia uma encomenda, mandava apanhar, ficava de acertar depois e tudo caía no esquecimento. Certa vez, encomendou um par de esporas ao artesão Luiz Marinho, irmão do poeta Antônio Marinho e, como este, dono de um humor cáustico. Luiz fez o par de esporas, mandou entregar ao vereador e ficou aguardando pagamento. Certo dia, o vereador sentiu-se mal, desmaiou e foi socorrido às pressas, sendo levado a Patos, na PB, onde havia maiores recursos médicos. Dias depois, a notícia : o vereador sofrera uma trombose, iria ficar paralítico para o resto da vida. Um mês depois, teve alta e regressou a Itapetim numa cadeira de rodas. Lúcido, mas paralítico. Nessa condição encontrou Luiz Marinho : - Foi por pouco, seu Luiz, mas Deus não quis ainda que fosse a minha vez. Tive uma trombose, sofri muito, fiquei com um lado "esquecido". Luiz Marinho abriu um riso malicioso : - É, meu amigo. vai ver que esse lado aí é o lado em que ficou o meu par de esporas. O medo em campanha eleitoral - I O PT passou a adotar o medo como alavanca de campanha. Dilma representa a garantia de que as conquistas do povo não serão tiradas. Os adversários, se chegarem ao poder, eliminarão os benefícios. Essa é a mensagem embutida no programa partidário e anúncios publicitários. Pois bem, vamos aos fatos : em 1989, Fernando Collor ganhou usando o medo. Se Lula vencer o Brasil será um inferno. Mário Amato, então presidente da Fiesp, prometia : 800 mil empresários irão embora do Brasil. Em 1994, Fernando Henrique ganhou o mandato com o conforto (e a esperança) do Plano Real. Em 1998, ganhou no primeiro turno com o discurso do medo, tendo a volta da inflação como motivação. O medo - II Em 2002, José Serra usou também o medo. A atriz Regina Duarte apareceu como porta-voz das trevas caso o PT ganhasse. Deu errado. "A esperança venceu o medo". Lula chegava ao poder. Em 2006, Lula também se valeu do medo, desta feita contra Geraldo Alckmin, acusando-o de que, eleito, ele privatizaria a Petrobras, a CEF e o BB. Deu certo. Em 2010, Serra voltou a usar o medo, tentando mostrar a ligação do PT com Farcs (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia, movimento com envolvimento no narcotráfico). Deu errado. Dilma ganhou com discurso da continuidade das políticas sociais de Lula. Hoje, o PT insiste no medo como alavanca de campanha. Dará certo ? Vejamos. A teoria do medo - I O medo não elege. Pode, sim, fazer parte do composto do discurso. Vejamos. Collor sinalizava a inovação na gestão. Era o novo, encarnava o espírito do tempo. O medo era apenas o pano de fundo da paisagem social. Fernando Henrique encarnou, por sua vez, a luta contra a inflação, era o artífice-mor do Plano Real. Foi eleito sob esse escudo duas vezes. Da mesma forma, Lula representou o contraponto à velha política. Era o ícone da dinâmica social. Comandou gigantesco programa social, tirando parcela da base da pirâmide social para o meio. E Dilma ganhou seu mandato sob essa engrenagem. A pergunta que agora se faz é : qual é a paisagem brasileira ? Como está o Produto Nacional Bruto da Felicidade ? A teoria do medo - II O que significa o medo como discurso de campanha ? 1. Ameaça de retorno do cidadão a uma situação pior do que a vivida por ele hoje ; ameaça de perdas de benefícios ; 2. Risco do país entrar numa era obscura, com volta da inflação e de ganhos obtidos pelas pessoas em diversas frentes. Lembremos que tais ameaças e riscos se manifestam ante os quatro impulsos do ser humano : a. o impulso combativo ; b. o impulso nutritivo ; c. o impulso sexual e d. o impulso paternal. Os dois primeiros impulsos estão ligados à conservação do indivíduo. A luta pela sobrevivência implica competitividade, oferta de emprego, dinheiro no bolso para cuidar das necessidades básicas do cidadão e de sua família. Nesse sentido, inflação, emprego, mais dinheiro no bolso, barriga cheia, harmonia social, segurança - são ingredientes do discurso eleitoral. A teoria do medo - III Ocorre que os programas sociais implantados pelo governo Lula e continuados no governo Dilma - que estão no foco dos impulsos acima mencionados - perderam muito sua capacidade de moeda eleitoral. O Bolsa Família já deu o que tinha de dar em matéria de voto. Pode cooptar as massas assistidas, mas grande parte delas considera que esse é um dever do Estado, a cargo de qualquer governante. Este é um fato que, possivelmente, o PT não tenha percebido. As manifestações de rua por todo o território abrem novos horizontes. Surgem no panorama os grupos do slogan : "queremos mais". Saúde, educação, segurança, transportes. Coisas e equipamentos melhores e em maior quantidade. A teoria do medo - IV O medo só funciona quando as pessoas fazem a comparação : "estou no paraíso e poderei ser recambiado para o inferno". Donde emerge a pergunta : estamos no paraíso ? As pessoas se sentem saudáveis, com saúde, com dinheiro no bolso, tendo fortes estruturas de segurança e meios de mobilidade urbana ? Se não estão vivenciando uma boa situação, o medo do amanhã arrisca a ser um bumerangue sobre a cabeça de quem patrocina o terror. Esta é a leitura que se deve fazer nesse momento sobre o medo. Incutir medo só dá certo quando o Produto Nacional Bruto da Felicidade for alto. A recíproca é verdadeira. Cuidado com o discurso do medo, senhores marqueteiros. A babaquice de Lula Do alto de sua onipotência, Lula bradou : "Eu cansei de ir no Morumbi ver jogo do Corinthians contra o São Paulo. Cansei de ver o Santos no Pacaembu com 60 mil pessoas e nunca tivemos problema de ir a pé. Vai a pé, vai descalço, vai de bicicleta, vai de jumento, vai de qualquer coisa. A gente está preocupado que tem que ter metrô, tem que ir até dentro do estádio ? Que babaquice é essa ? Nós temos é que dar garantias para essa gente assistir aos jogos, comer a nossa comida. É disso que temos de ter orgulho". Pois é, pegou mal. Lula tem um confortável carro à disposição ; viaja nos melhores aviões de carreira e em jatinhos executivos ; trata da saúde no Sírio Libanês, um dos melhores hospitais do país ; e, nos estádios, certamente ganha a tribuna de honra, longe da galera das arquibancadas. Luiz Inácio pode dizer o que quiser. Na pele do líder populista e carismático, é ouvido e aplaudido. Desta vez, porém, excedeu-se. Foi longe. Querer ir de metrô às arenas é algo prático e cômodo. O povo não é bobo. Por isso, a fala de Lula foi uma "babaquice". Aliás... Aliás, Luiz Inácio Lula da Silva abandonou, faz um bom tempo, a fase "Lulinha, Paz e Amor". Está, a cada dia, mais bravo e repleto de adjetivos duros. Juntos nos palanques A combinação volta a ser assunto : Lula e Dilma estarão juntos nos palanques sempre que possível. Esta notícia já é velha. Foi uma decisão do Encontro do PT para apresentar seu programa. E teve a intenção de abortar o Movimento Volta, Lula. Pois bem, o assunto retorna à mídia esta semana. E o motivo parece claro : grupos e galeras que desejam que Lula seja o candidato no lugar de Dilma continuam a agir às claras e nos bastidores. Incluem alas do próprio PT. Enquanto a presidente não recuperar os seus bons índices de avaliação positiva, essa onda continuará a despejar água no oceano da turbulência eleitoral. Presos, soltos e presos O acolhimento ao recurso de um advogado pelo ministro do STF, Teori Zavascki, deveria soltar os investigados da Operação Lava Jato. Deveria. Um dia depois da decisão, o ministro retrocede e decide deixar na cadeia 11 dos investigados. A exceção foi para Paulo Roberto, o ex-todo poderoso diretor da Petrobras. O juiz Sérgio Moro, considerado de primeira linha no Judiciário, teria oferecido argumentos pela manutenção da prisão, inclusive o da fuga de alguns presos que teriam recursos no exterior e envolvimento com cartéis de drogas. Teori revogou a decisão anterior. Mas a imagem que esse vaivém passa para a sociedade é a de um Judiciário na corda bamba. A dança dos partidos Os partidos estão vivenciando a plena dança das parcerias. A agitação é intensa nos bastidores. Um gigantesco leilão se forma no entorno das siglas para se analisar o tamanho e porte das propostas. Quem dá mais ? Quem dá menos ? Quem agrega ? Quem não agrega ? O que se começa a ver é aliança de todos os espectros, casamento de jiboia com elefante ou de calango com tatu. Os projetos pessoais estão acima dos interesses coletivos. Jantares, cafés de manhãs e almoços se sucedem na tentativa de fechar acordos. O país vive o ciclo da "prostituição gastronômica". Contra o crime - I A segurança pública acaba de ganhar mais um reforço da segurança privada. Nesta segunda-feira, 19, o governo do Estado firmou um protocolo de intenções com associações de empresas de segurança privada para receber imagens e informações que vão contribuir com o combate à criminalidade. É mais um passo no programa São Paulo Contra o Crime. Pelo protocolo, imagens de circuitos da vigilância privada podem ser compartilhadas com o sistema de videomonitoramento da Secretaria de Segurança Pública por meio do Detecta, ferramenta que integra bancos de dados já existentes com câmeras de vídeo e emite alertas automáticos de crimes em tempo real. Este mesmo sistema já está sendo instalado em áreas públicas. Contra o crime - II "No Detecta, o governo tem um sistema de monitoramento semelhante ao de Nova York, e vamos integrar as câmeras de vídeo das empresas do setor privado. Isto vai trazer uma contribuição muito importante", afirmou o governador Geraldo Alckmin. "O papel da segurança privada é justamente ser um suplemento às políticas públicas de proteção. Firmar esse acordo, portanto, é consolidar essa missão. O mercado paulista de segurança tem muito a contribuir com as forças policiais, por isso, sentimo-nos reconhecidos e ativamente participantes do processo, celebrado com este ato", declarou João Palhuca, Presidente do SESVESP - Sindicato das Empresas de Segurança Privada, Segurança Eletrônica e Cursos de Formação do Estado de SP. O protocolo de intenções foi firmado com cinco associações de empresas de segurança privada e de bares e restaurantes. Temer : homenagem pelo art. 133 da CF A OAB Federal prestou esta semana homenagem ao constitucionalista Michel Temer, vice-presidente da República. Temer foi saudado pelo presidente da Ordem, Marcus Vinicius Furtado Coelho, por seus relevantes trabalhos para a advocacia e para a sociedade brasileira. "Michel Temer tem forte compromisso com o Estado de Direito, com a democracia e com a realização de eleições diretas, livres e legítimas". Destacando o papel da OAB no movimento Diretas Já, há 30 anos, Marcus Vinicius ressaltou a luta dos advogados por uma sociedade justa, solidária e fraterna. "Aquele momento histórico nos mostrou como é importante se afastar do discurso do autoritarismo e regar a planta da democracia. As divergências devem ser resolvidas no diálogo regrado da democracia. E toda essa trajetória possui a participação de nosso homenageado, Michel Temer". Três momentos Vinicius listou três momentos-chave da atuação de Michel Temer como deputado Federal que ilustram seu compromisso tanto com a defesa da advocacia quanto com a cidadania. A redação do art. 133 da CF versa sobre a indispensabilidade do advogado à administração da Justiça e sua inviolabilidade no exercício da profissão. "Também saiu da pena do então deputado Michel Temer a lei que transforma o escritório de advocacia em local inviolável", lembrando, ainda, o diálogo do constitucionalista como presidente da Câmara com a Ordem pela elaboração e aprovação da LC 135, a Lei da Ficha Limpa, "importante para o avanço no modo de se fazer política no Brasil". Conselho aos governantes Na última nota, a coluna oferece pequenos conselhos a políticos, governantes, membros dos Poderes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos dirigentes das organizações sociais. Esta semana, dedica sua atenção aos governantes : 1. Expandem-se as manifestações e paralisações de categorias por todo o país. Urge fazer um esforço para evitar que os espaços urbanos sejam congestionados causando enormes transtornos às populações. 2. Grupos de trabalho e comitês de monitoramento podem ser criados para dialogar com as lideranças dos movimentos e chegar a um termo comum ; 3. Nas próximas semanas, a imagem do Brasil estará ganhando os foros internacionais. Todo cuidado se faz necessário para evitar o caos urbano.
quarta-feira, 14 de maio de 2014

Porandubas nº 398

Abro e fecho a coluna de hoje com duas historinhas do meu amigo Chico Santa Rita, um grande nome do nosso marketing político. Primeira : O candidato "Pato" Em setembro de 2009, fui a Campo Grande/MS fazer palestra sobre marketing político. Num grande auditório, havia mais de 500 assistentes. Sempre digo que posso falar sobre marketing político durante vários dias sem parar, pois acumulei 33 anos de prática em mais de 100 campanhas. Um dos vereadores presentes fez uma pergunta que, mesmo localizada, tem muita abrangência e me permitiu criar uma nova definição. Ele contou que, na sua cidade, o candidato a prefeito do partido era do tipo "sabe-tudo". Sabia fazer a comunicação, sabia fazer os acordos políticos, sabia o melhor lugar para o comício, sabia escolher a música, sabia o ponto fraco do adversário, sabia o que dizer na entrevista, sabia. E a pergunta : "Como agir com um candidato assim?'. Criei a definição na hora : "Esse é o 'candidato-pato'. Age exatamente como essa ave. Sabe andar, mas anda mal, todo desajeitado, balançando o corpo grande. Sabe voar, mas voa mal, tem voo curto e raso, não voa alto, nem a longas distâncias. Sabe nadar, mas nada mal, não mergulha e não é rápido. Bota ovo, mas bota mal, pois o ovo é grande demais e muito pouco frequente. Foi uma gargalhada geral, pois o "candidato-pato" também é muito frequente, como o pato, que está nos quintais, mas também nos jardins e praças públicas. Como agir com ele ? Ah, eu levo na gozação e vou tocando, devagar e sempre, assim como se toca um bando de. patos ! Com a ave de verdade, pelo menos, há possibilidade de se fazer um confit de canard - delicioso prato francês no qual a ave é cozida em fogo brando. Os ventos do segundo turno A expectativa tende a se confirmar. Os ventos de maio tendem a soprar sobre os desvãos do segundo turno. E Aécio se apresenta como o candidato com mais estofo para disputar a vaga presidencial com Dilma. Eduardo Campos até pode vestir o manto do novo. Mas tem patinado em seus índices de intenção de voto. Os bolsões que poderiam formar uma enchente de votos em suas urnas parecem retraídos, a partir dos jovens. Aécio se locomove com mais desenvoltura, correndo as plagas onde Dilma é favorita, a partir do Nordeste, onde a presidente espera ganhar com folga. Na eleição passada, tirou por lá cerca de 70% dos votos. Este ano, deve girar em torno de 50% a 60%. E se tivéssemos novas lideranças ? Diagnóstico : o Brasil é um país de velhas lideranças. Pergunta recorrente : e se tivéssemos novas lideranças no cenário institucional ? Dilma em Minas MG é a fonte cobiçada como segundo maior colégio eleitoral. Dilma passou por lá seis vezes nos últimos tempos. Quer entrar na onda de Fernando Pimentel, o candidato do T ao governo. O dilema está posto : Aécio escolheu Pimenta da Veiga como seu candidato. O tucano é um perfil tradicional. Muito conhecido, mas representante da velha política. Pimentel, por sua vez, foi um prefeito muito bem avaliado. Aécio terá de eleger o sucessor do governador Antonio Anastasia sob pena de amargar uma derrota e isso gerar efeitos negativos sobre sua campanha presidencial. E se tivéssemos mais autoridade ? Diagnóstico : o Brasil vive grave crise de falta de autoridade. Pergunta recorrente : e se tivéssemos perfis que encarnassem valores do respeito, da autoridade, da respeitabilidade e da dignidade pessoal ? O vice de Aécio Seis nomes já apareceram para formar com Aécio a chapa presidencial : Miguel Torres, dirigente da Força Sindical ; o senador tucano Aloysio Nunes Ferreira, de SP ; o senador potiguar José Agripino Maia, do DEM, presidente do DEM ; a deputada tucana Mara Gabrilli, de SP ; e a senadora gaúcha Ana Amélia, do PP. E, por último, José Serra, o tucano que ainda sonha com a presidência da República. Pois bem, Serra é o nome que mais soma para Aécio. Certamente, uma chapa puro sangue com Aécio e Serra teria grande visibilidade. E poderia aumentar a maioria de Aécio no maior colégio eleitoral do país, SP. E se tivéssemos poucos partidos, porém fortes ? Diagnóstico : o Brasil é o espaço ideal para a pasteurização partidária. Temos 33 partidos, quase todos amalgamados. Pergunta recorrente : e se tivéssemos cinco a seis partidos fortes, doutrinários ? O tormento do PT O PT ainda não saiu do inferno astral. O caso Petrobras continua a fazer fumaça. E há versões circulando dando conta : a. que o deputado André Vargas teria negociado sua cassação (no caso, não cassação) com a oposição em troca de mais informações envolvendo perfis petistas, inclusive candidatos ; b. pautas envolvendo nomes próximos à presidente estariam sendo trabalhadas ; c. o esforço monumental do ex-presidente Luiz Inácio para derrubar o movimento Volta, Lula não tem gerado muito efeito. Alas petistas continuam a apostar na hipótese de sua candidatura. O tormento de Alckmin O governador Geraldo Alckmin, apesar de ter escalado técnicos para responder sobre a questão da água da Cantareira (que está na escala de 8,5% de sua capacidade), viverá o tormento das torneiras secas. Mesmo que o chamado volume morto do sistema comece a ser usado, a ameaça de se ver a fonte secar completamente até outubro - caso não chova forte até lá - rondará a imagem do governador. Certamente esse tema estará no epicentro da campanha. Alckmin tem fortes colégios no interior do Estado. O PSDB é um partido poderoso por estas plagas. Mas é visível a corrosão do material tucano, após 20 anos de intenso uso. Provérbios "Ao término do jogo, o rei e o peão voltam para a mesma caixa". (Provérbio italiano) "Ser pedra é fácil, difícil é ser vidraça". (Provérbio chinês) "Tropeçamos sempre nas pedras pequenas, as grandes logo enxergamos". (Provérbio japonês) Carlos Mattus I Do famoso cientista chileno Carlos Mattus : "O governante deve administrar três grandes variáveis : o projeto de governo, a governabilidade necessária a seu projeto e a capacidade de governo. Esse triângulo constitui um sistema dominado pela capacidade de governo. Aí está a chave. Sem capacidade de governo não se formula um bom projeto, nem se administra com perícia a governabilidade. A capacidade de governo se prova no manejo de três balanços chaves : 1) o balanço da gestão política, em que se administra o poder político como recurso escasso ; 2) o balanço da gestão econômica, em que prima a escassez de recursos econômicos ; 3) o balanço de intercâmbio de problemas, que trata das questões cotidianas que as pessoas valorizam. O sinal positivo ou negativo de cada balanço determina o sinal positivo ou negativo do balanço global do governo". Os votos do Sudeste Atentem para este número : Dilma tem 30% dos votos do Sudeste, onde estão os maiores contingentes eleitorais do país. Aécio tem hoje 27%. Daí a concentração de viagens para Minas, SP e Rio. A maioria de Dilma no Nordeste poderá ser tirada caso as oposições aumentem sua participação nas urnas do Sudeste. Esse será o nó da campanha. O X da questão estará por aqui. PROS no CE Quem manda no PROS cearense é Cid Gomes. Mas o PROS nacional está dividido. Uma ala quer fechar com Dilma. Outra tende a ficar com Aécio e há até um grupo que pensa em aderir a Eduardo Campos. No CE, o PROS quer apoiar o nome do senador Eunício Oliveira, do PMDB, contra a vontade do governador Cid Gomes. A confusão é grande. Carlos Mattus II "A metáfora dos três cintos é boa para entender esses balanços e, certamente, nenhum bom estrategista aperta os três cintos ao mesmo tempo. Se existem dificuldades econômicas, deve-se compensar o aperto no cinto (2) com alguma folga nos outros cintos. Em outras palavras, se for necessário impor sérios sacrifícios no âmbito econômico, deve-se compensá-los com benefícios políticos na distribuição do poder, na ética pública, na legitimidade do sistema político e com benefícios não econômicos importantes para a vida dos cidadãos". Lindbergh isolado ? O senador petista Lindbergh Faria enfrenta muitas dificuldades para fechar alianças. Tem o PV e o PC do B como parceiros que lhe darão os nomes para vice (Roberto Rocco) e para o Senado (deputada Jandira Feghali). Há seis meses, Lindbergh era a aposta para ganhar. Hoje, se distancia do pódio. Fundo partidário Por terem pago advogados de condenados na AP 470 com recursos do Fundo Partidário, o PT e o PR estão ameaçados de perder a regalia. O ministro Marco Aurélio, que deixa o cargo de presidente do TSE, poderá afastá-los dos recursos. A dúvida : fará isso no último dia do mandato ? O novo presidente do TSE é o ministro José Antônio Toffoli, ex-advogado do PT. Movimentos grevistas A menos 30 dias da Copa, expandem-se as greves e manifestações de categorias profissionais : motoristas, engenheiros, policiais Federais, professores, policiais militares, entre outras. Na boca do Itaquerão Nas vizinhanças do Itaquerão, instalou-se uma comunidade de Sem Teto. Em uma semana, o número de acampados se avolumou sob a promessa do prefeito Fernando Haddad de acolher o contingente. A presidente Dilma acena com a possibilidade de incluir o grupo no programa Minha Casa, Minha Vida. A Justiça ordenou a reintegração de posse, atendendo recurso da empresa imobiliária. A confusão aumenta como bola de neve. Turistas Espera-se um contingente de 500 mil turistas na Copa do Mundo. Número projetado pela compra de ingresso. E quem não comprou ? PF de traje preto Os policiais Federais que trabalham nas 12 cidades-sede da Copa começam a usar um traje preto. E se cruzarem os braços durante a chegada dos turistas ? Sei não ! Provérbios "Uma maçã por dia mantém o médico distante". (Provérbio inglês) "Um pássaro nunca faz seu ninho em uma árvore seca". (Provérbio japonês) "Quer a faca caia no melão, ou o melão na faca, o melão vai sofrer". (Provérbio chinês) "A raposa tanto vai ao ninho, que um dia deixa o focinho". (Provérbio japonês) "A Eternidade anda apaixonada pelas produções do tempo". (Provérbio espanhol) O motorista Quércia Segunda historinha do Chico Santa Rita. O ex-governador Orestes Quércia adorava dirigir carros. Quando senador, em 1976, fiz uma entrevista/perfil dele para a revista Nova, da Editora Abril. Na nossa convivência de três dias houve uma viagem a Pedregulho/SP, sua cidade natal, para que eu conhecesse os lugares da sua infância e juventude. Ele dirigiu um velho Simca Chambord, num total de 692 km, ida e volta. Quando me ofereci para assumir a direção, ajudando-o na tarefa, tive uma resposta incisiva : - Pode deixar que eu dirijo. Adoro isso. Anos depois, já governador entre 86 e 90, novamente andei com ele dirigindo, desta vez dentro da cidade de SP. Íamos fazer uma gravação de vídeo, num estúdio no bairro de Pinheiros e, para desespero da segurança, ele resolveu ir ao volante, comigo no banco do passageiro. Era um sábado de pouco trânsito. Quando passávamos pela avenida Brasil um sinal fechou e paramos ao lado de outro carro, cujo motorista tomou um susto e acenou para o governador. Quércia pediu que eu abrisse o vidro e cumprimentou o desconhecido. A mulher que estava ao lado dele, perguntou "Quem é ?". E o companheiro, imaginando que ela se dirigia a mim, foi rápido, pois o sinal já se abria, mas ainda deu pra ouvirmos : - Não sei quem é, mas deve ser alguém importante, pois o motorista é o Quércia ! Conselho às ONGs Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes, membros dos Poderes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos presidenciáveis. Hoje, volta sua atenção aos dirigentes das Organizações Sociais : 1. Estamos a menos 30 dias da Copa do Mundo. As Organizações Sociais terão peso na balança da harmonia social do país por ocasião do maior evento futebolístico mundial. Os dirigentes de entidades deverão assumir suas responsabilidades junto ao dever de contribuir para a paz social. 2. As ONGs prestarão formidável contribuição por meio de uma expressão harmônica e alerta contra eventuais radicalismos que, eventualmente, possam gerar tensão social. 3. Que procurem, da mesma forma, evitar que o evento esportivo possa ser utilizado como ferramenta eleitoreira por atores políticos.
quarta-feira, 7 de maio de 2014

Porandubas nº 397

Abro a coluna com deliciosa historinha de uma cidade do RJ. Narrada com o toque de humor do amigo Sebastião Nery. Ô jardineira, por que estás tão triste ? Numa cidadezinha do norte do RJ, a procissão de Senhor Morto caminhava lenta e piedosa, na sexta-feira da Paixão. O povo cantava, de maneira compungida, os hinos sacros. O velho padre na frente, o sacristão ao lado e os fiéis atrás, cantando as músicas que o vigário puxava. De repente um pequeno ônibus, que na região chamam de "jardineira", passou perto e começou a subir a íngreme ladeira da igreja, bem em frente da procissão. No meio da ladeira, a "jardineira" afogou, encrencou, parou, deu aceleradas fortes e inúteis e começou a dar para trás, de costas. Os fiéis não viram, mas o padre, atento, viu. E ficou apavorado. A "jardineira" já despencava numa grande velocidade. O padre gritou : - Olha a jardineira ! E os fiéis, animados com a convocação, começaram a cantar, em ritmo de samba : - Ô jardineira, por que estás tão triste ? Mas o que foi que te aconteceu ? Foi a Camélia que caiu do galho, deu dois suspiros e depois morreu...foi a Camélia que caiu.... A "jardineira" descambou ladeira abaixo, até que parou. Não atropelou ninguém. Os fiéis não conseguiram segurar as gargalhadas. Sob o olhar fixo do Senhor Morto ! Ecos de Comandatuba O evento anual do Lide em Comandatuba reuniu empresários, deputados, senadores e governadores de diversos partidos, que, durante mais de quatro horas, ouviram as ideias e propostas dos candidatos Aécio Neves, do PSDB, e Eduardo Campos, do PSB. O evento foi muito produtivo e inaugurou, no país, o debate entre pré-candidatos. Até então, o pensamento de pré-candidatos era conhecido por meio de entrevistas individuais. João Dória, o dinâmico comandante do Lide, conseguiu fazer um evento de impacto. A presidente Dilma, convidada, não pôde comparecer. Aécio mais incisivo O que se viu em Comandatuba foi o tucano mineiro Aécio Neves mais solto, mais incisivo, mais direto e mais experiente que Eduardo Campo. Este parecia tolhido por sua candidata a vice, Marina Silva, que ouvia tudo e todos com a máxima atenção. Campos foi muito genérico, Aécio, mais pontual e convincente. Ficou patente que Aécio ganhou a primeira disputa com Eduardo, mesmo pontuando que não via nele um adversário. Abordagem que não deve ter agradado Marina, que faz questão de acentuar as profundas divergências entre eles. Provérbios "Nunca feche totalmente uma porta ; você pode querer voltar !" (Provérbio espanhol) "Não tenha medo de crescer lentamente, tenha medo de ficar parado." (Provérbio chinês) "Não pense que não há crocodilos só porque a água está calma." (Provérbio malaio) Marina atrapalha ? Para alguns, Marina está atrapalhando a rota de Eduardo Campos. Veja-se o caso de SP. Poderia o PSB fazer aliança com o PSDB de Alckmin. Marina não quer nem pensar. Márcio França, nesse caso, se prepara para ser candidato ao governo, mesmo não tendo o apoio de alguns nomes de peso no partido. Mas ele domina a máquina. As alianças do PSB com outras siglas estão, por isso mesmo, em compasso de exame. Marina age como fiscal. Campos parece querer agradá-la, confiando na migração de votos dela para ele. Não conseguirá os 20% de votos que ela angariou na eleição de 2010. Dilma em queda A impressão no meio empresarial e em parcela ponderável da esfera política é a de que a presidente Dilma continuará a cair. Impressão. Há a convicção de que a economia não apresentará melhoras até outubro. Que a inflação das ruas já corroeu os 10% que a presidente garantiu para os assistidos pelo Bolsa Família. Que alas de partidos governistas continuarão a se afastar da candidatura Dilma, seja fazendo eco ao Volta, Lula, seja mesmo sinalizando apoio aos candidatos da oposição. Este consultor coloca dúvidas em alguns pontos. Pode recuperar ? Dilma pode recuperar, sim, índices anteriores de boa avaliação. Basta que a inflação na área de alimentos recue. Bolso em boas condições garante barriga satisfeita. Portanto, isso não é impossível. Mas há ventos que podem vir em sentido contrário. Ventos da Copa. Não propriamente o desempenho do Brasil em campo, mas questões de logística - acesso às arenas esportivas, condições de chegada e saída dos estádios, e mesmo situações de desconforto causadas por obras concluídas a toque de caixa. E se houver um apagão de luz em algum jogo ? Apupos em vez de aplausos. "Posso até conceber um homem sem mãos, sem pés, sem cabeça, pois é só a experiência que nos ensina que a cabeça é mais necessária que os pés. Mas não posso conceber um homem sem pensamento. Seria uma pedra ou um bicho." (Blaise Pascal) Os fundões estão satisfeitos ? Os fundões do país estão satisfeitos ? Prefeitos dos fundões, com os quais este consultor tem conversado, são unânimes em afirmar que o Bolsa Família e outros programas assistencialistas são importantes, agradam, mas não são suficientes para manter o ânimo e a confiança dos eleitores. Eles estão mais exigentes. O ciclo do Bolsa Família cede lugar à era do Bolsa Cabeça. A turma do "quero mais" fica mais densa a cada dia. Principalmente quando se olha para a classe C, o contingente emergente. Esse grupamento é quem está nas ruas fazendo as mobilizações. Chegou no patamar do meio da pirâmide e quer ganhar as mesmas condições da classe média B ou A : mais saúde, transportes urbanos melhores, mais segurança, melhor educação. Essa turma será decisiva. Seu voto definirá o presidente da República. Matar o tempo ? Cuidado. "Quem mata tempo é suicida" (Millôr Fernandes). "Como se fosse possível matar o tempo sem ferir a eternidade" (H. Thoreau). PNBI O fato é que há no ar - coisa sentida nas conversas, nos desabafos - um Produto Nacional Bruto da Insatisfação em visível expansão. Junta indignados de todas as áreas : congestionados no trânsito ; sufocados em ônibus superlotados ; categorias profissionais insatisfeitas com salários defasados ; pessoas em gigantescas filas de hospitais ; habitantes das metrópoles e grandes cidades cercados de violência e medo, muito medo. Essa massa poderá aproveitar eventuais pistas de acesso às arenas esportivas para fazer eco à sua indignação. Evento da Mega Brasil Hoje pela manhã, no Centro de Convenção Rebouças, participarei de um debate com Jorge Gerdau, Fábio Barbosa e José Goldenberg sobre "O Brasil dos Nossos Sonhos". Minha exposição abrigará os principais gargalos e desafios para a alavancagem do país. O Congresso Brasileiro de Comunicação Corporativa é promovido pela Mega Brasil e já faz parte do calendário anual dos grandes eventos de Comunicação, pilotados pelo dinâmico jornalista Eduardo Ribeiro. Feriados demagógicos - 1 O prefeito paulistano Fernando Haddad enviou à Câmara Municipal um PL decretando feriado o 12 de junho - dia do jogo Brasil e Croácia, na abertura da Copa do Mundo -, e abrindo a possibilidade para os vereadores decidirem por feriados também os outros cincos dias em que haverá partidas do Mundial em SP. Se tudo aprovado, seis feriados no período de um mês, um absurdo, neste momento em que a economia do país desacelera, com números desanimadores. Não se compreende paralisar uma cidade de mais de 10 milhões de habitantes para beneficiar 60 mil torcedores que irão ao estádio em Itaquera. Feriados demagógicos - 2 Várias entidades protestam contra a intenção do prefeito de decretar feriado para evitar congestionamentos ou superlotação no transporte público. O SESVESP - Sindicato das Empresas de Segurança Privada do Estado de São Paulo, por exemplo, enviou ofício ao prefeito e à Câmara contestando o absurdo, ou a perda dessa "fortuna em bens e serviços não realizados". Ao lembrar que SP produz 10% do PIB nacional, o SESVESP pergunta : "Não seria demagogia e irresponsabilidade parar a produção tantos dias ?" Feriados demagógicos - 3 O prefeito Fernando Haddad talvez não saiba dos custos para a iniciativa privada em caso de feriado. Todas as atividades que não podem paralisar seu atendimento - como hospitais, farmácias, call centers, empresas de vigilância, serviços de portaria, etc. - devem pagar 100% a mais a seus funcionários nesses dias. Como podem ser seis feriados... Bem, talvez o prefeito saiba, sim. Uma alternativa seria decretar ponto facultativo. Provérbios "Se quiser conhecer um cavalo, monte nele ; se quiser conhecer uma pessoa, conviva com ela." (Provérbio japonês) "Os professores abrem a porta, mas você deve entrar por si mesmo." (Provérbio chinês) "Melhor é o pouco com Justiça do que grandes rendas com injustiça." (Provérbio bíblico) "Tome o café da manhã como um rei, almoce como um príncipe, jante como um miserável." (Provérbio inglês) Sensus sem bom senso ? Opositores de Aécio Neves se queixam da metodologia usada pelo Instituto Sensus em sua última pesquisa. Colocaram Aécio em primeiro lugar no questionário. Com senso ou falta de senso, o fato é que o tucano tem crescido. O tira-teima virá com a pesquisa Datafolha nos próximos dias. Este consultor tende a apostar em dados próximos entre as pesquisas, sob pena de desmoralização pública do Instituto que for flagrado em manipulação. Greve da PF Na manhã desta quarta-feira, agentes, escrivães e papiloscopistas vão se reunir em frente às superintendências regionais e delegacias da PF para um grande protesto, com faixas, cartazes e elefantes brancos infláveis. Os policiais querem alertar a população sobre a crise que o órgão enfrenta atualmente. Hoje é o dia do oftalmologista. Centenas de agentes Federais em todo o país vão protestar com vendas nos olhos contra a gestão míope da segurança pública brasileira. A urna da Cantareira Pela primeira vez na história, o Sistema Cantareira atingiu um patamar menor do que 10% de sua capacidade de armazenamento. Ontem, o reservatório que abastece boa parte da Grande SP atingia apenas 9,8% da sua capacidade. A eleição de SP SP comandará o pleito de outubro, tendo em vista a liderança no ranking do eleitorado nacional : são quase 33 milhões de votos. Prognósticos, a esta altura, são arriscados, mas é possível apontar algumas pistas que darão suporte ao take off das candidaturas. Vamos lá : 1. A Cantareira está com 10% de sua reserva ; até outubro, se não chover, esse índice deverá cair. Seca na metrópole, com multas aplicadas por Alckmin, significará urnas não tão cheias para o atual governador. Ele deverá sofrer uma queda em seus índices ; 2. Por mais que Padilha e o PT se esforcem para sair do sufoco do bombardeio (o nome do ex-ministro aparece em telefonemas entre o doleiro Youssef e o deputado André Vargas), o episódio devera respingar nos costados do petista ; 3. A polarização clássica PT x PSDB, sob esse ambiente turvo, tende a perder volume ; 4. Um perfil mais asséptico e distante da troca mútua de acusações tende a ganhar corpo. Esse perfil pode ser o de Paulo Skaf. Maluf e Costa Neto com Padilha O PT se esforça para fechar parceria com Paulo Maluf (PP) e Costa Neto (PR), dois perfis que se enquadram no chamado espaço conservador. Se Padilha que ser o novo já entra como Matusalém na Campanha. Mas, como se sabe, o que importa em campanha é tempo de rádio e TV. "O imoralismo chegou a uma vulgaridade extrema e qualquer um se vangloria de exercitá-lo." (Ortega Y Gasset) Fabiane e o espírito do nosso tempo Fabiane Maria de Jesus, 31 anos, foi morta no Guarujá por pessoas que a espancaram até a morte depois de arrastá-la por vielas. Seu corpo foi enterrado, ontem, no cemitério Jardim da Paz, sob forte comoção das cerca de 200 pessoas que acompanharam a cerimônia. Foi linchada depois de uma falsa acusação de que ela sequestrava crianças. O cemitério onde ela foi enterrada fica entre um lixão e um depósito de contêineres. O lugar está cercado de entulhos e insetos. Seu nome foi escrito com pregos no cimento fresco na gaveta por coveiros. Muito religiosa, Fabiane morreu depois de ter ido buscar uma Bíblia na igreja São João Batista. No choro de muitos, ouvia-se o lamento : "falta de amor no coração" das pessoas que a lincharam. Conselho aos presidenciáveis Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes, membros dos Poderes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos burocratas da economia Hoje, pede a atenção dos presidenciáveis : 1. Em ano eleitoral, costuma-se prometer mundos e fundos. O tom populista/assistencialista toma assento nos discursos. Os candidatos vestem a roupa de Robin Hood. Pois bem, evitem fazer promessas que não cumprirão. 2. Façam propostas que caibam no Orçamento-Brasil. Que primem pela responsabilidade fiscal. Que possam ser efetivamente implantadas. 3. Inspirem-se, sempre, no lema : é mais eficaz ensinar o pescador a pescar que oferecer uma migalha de peixe. Que saciará a fome de hoje, mas não a do futuro.
quarta-feira, 30 de abril de 2014

Porandubas nº 396

Sabedoria de advogado Abro a Coluna com historinha enviada pelo amigo Luis Costa. Dois carros se chocam. Um pertencia a um advogado e o outro a um médico. Ao sair do automóvel, o médico se dirige ao carro do advogado e percebe que nada de grave ocorreu. Só então os dois passam a verificar detalhes do acidente e chegam à conclusão que não tinham como escapar. O advogado já tinha ligado para a polícia, então resolveram ficar esperando a viatura para avisar aos policiais que ambos assumiriam seus prejuízos. A conversa, no início tensa, foi se transformando em animado bate-papo. O advogado vai se tornando íntimo do médico a ponto de lhe oferecer um uísque. Vai ao carro, tira a garrafa, derrama o uísque no copo e dá ao agora companheiro. Depois de alguns goles, o médico, relaxado, pergunta : - E você não vai beber um pouco ? O advogado responde sorrindo : - Claro, mas só depois que a polícia chegar ! E fizer o boletim de ocorrência ! Lula driblando Luiz Inácio é o nosso maior driblador. Sabe fazer firulas como ninguém. Em Portugal, cometeu mais uma versão. O mensalão foi "80% julgamento político e 20% jurídico". É troço de doido, sô, foi a resposta do ministro Marco Aurélio. Ele não entende a Corte Judiciária, foi a resposta de Joaquim Barbosa. Lula, na verdade, sempre nega a existência de fatos nebulosos ou rocambolescos que circundam o PT e companhia. Mas foi ele que pediu desculpas ao povo brasileiro quando tomou conhecimento de que companheiros estariam enveredando por caminhos transversos. Depois, chegou a dizer que se tratava apenas de caixa dois. E agora diz a uma televisão em Portugal que o mensalão não existiu. Volta, Lula ? O movimento que pede a volta de Lula aos palanques como candidato, no lugar de Dilma, se expande na esteira da queda da presidente Dilma no ranking das pesquisas. Hoje, ela tem 34% de avaliação ótima/positiva, índice mínimo necessário para se reeleger conforme estudos feitos por especialistas. Seu índice de intenção de voto está entre 37% a 40%, a depender do Instituto. Dilma tem corrido o país em inaugurações. Lula acaba de chegar da Europa e entrou num labirinto, aliás, teve uma labirintite. Seria um fator de estresse, de desconforto com a situação de sua pupila ? "A abelha atarefada não tem tempo para tristezas". (Provérbio espanhol) "Por causa da rosa, a erva daninha acaba sendo regada". (Provérbio árabe) "Não há que ser forte, há que ser flexível". (Provérbio chinês) PT em inferno astral O PT vive um de seus piores momentos. Depois de atravessar o longo corredor aberto pela AP 470, eis que passa a enfrentar denúncias nas frentes da Petrobras e do Ministério da Saúde. O imbróglio recente se projetará em campanhas do partido por todo o país, mas os baques maiores serão em SP e no PR. Em SP, o tiroteio terá como alvo o candidato Alexandre Padilha, ex-ministro da Saúde, cujo nome está envolvido na teia que flagra a tal empresa Labogen. Padilha diz que é tudo mentira e vai processar os caluniadores. Mas o bombardeio midiático dará extensão às versões. O tal Marcão, que seria amigo de Padilha, ainda ganha R$ 24 mil do laboratório. No PR, a ex-ministra Gleisi Hoffmann, candidata ao governo, será alvo do tiroteio que abate o deputado André Vargas. Eleitor mais atento É possível que, em SP, o PT consiga chegar perto dos seus 30% históricos de votos. Mas será difícil. Porque, este ano, o pleito abrigará um eleitor mais atento e curioso. Ele acompanha o noticiário da mídia, mesmo o eleitor das margens, o mais carente. Por isso mesmo, as eleições deste ano deverão ser mais seletivas, mais inspiradas em critérios racionais. A vez do PMDB em SP ? O PMDB tem chances de eleger seu candidato ao governo de SP : Paulo Skaf. Mesmo sem campanha nas ruas, Skaf consegue ultrapassar a faixa dos 20% de intenção de voto. Alguns argumentam que isso se deve a exposição na mídia institucional. De fato, ele apareceu em determinado momento. Depois, apenas se viram anúncios institucionais, sem a presença dele. Ora, os índices alcançados pelo presidente da Fiesp refletem, de alguma forma, a insatisfação dos estratos sociais com o status quo. Parcela do eleitorado se queixa da mesmice e esgotamento dos tempos tucanos e também da gestão petista na área Federal. "As dificuldades são como as montanhas. Elas só se aplainam, quando avançamos sobre elas". (Provérbio japonês) "Endireite o galho enquanto a árvore é nova". (Provérbio chinês) E tem ainda a Copa Não está fora do arco de hipóteses a influência da Copa no calendário eleitoral. Não significa intuir sobre o mau desempenho de nossa Seleção. Significa projetar eventuais problemas nas arenas esportivas - acesso, falta de estrutura, incidentes decorrentes de obras improvisadas - sobre o ânimo das galeras. Isso, sim, poderá gerar apupos. Que os governantes e candidatos evitem estádios. Campos encabulado Quem viu Eduardo Campos nos últimos dias conserva a impressão de que ele se sente tolhido quando está junto de sua vice, Marina Silva. Parece conter-se no discurso, com receio de expressar algo politicamente incorreto aos ouvidos da ambientalista. Foi assim que se viu Eduardo Campos no jantar oferecido a ele por João Dória nesta segunda-feira. Marina, ao contrário, foi retumbante a ponto de ser aplaudida de pé por muitos presentes. Eduardo Campos ainda não ajustou sua identidade de candidato oposicionista. É um perfil frappé. A Justiça Eleitoral Muitos pré-candidatos estão nas ruas fazendo campanha. Em SP, o próprio Alexandre Padilha, esquecendo que ainda não pode falar como candidato, cometeu o deslize de dizer que, quando soube do envolvimento de seu nome com a empresa Labogen, deixou a caravana eleitoral que comandava no interior e correu para tomar providências. Ou seja, simplesmente disse que abandonou a campanha por algumas horas. Igual a Padilha, muitos outros correm seus Estados à procura de voto. E a Justiça Eleitoral ? Parece ter olhos dirigidos a apenas alguns candidatos. A inflação das ruas A burocracia do ar condicionado é refratária ao calor das ruas, vielas e becos. Por isso mesmo, fechados na redoma de estatísticas frias, em grande parte pinçadas de complexas operações e cruzamentos de dados que passam ao largo das feiras livres, os burocratas costumam desenhar cenários de um país diferente do que vivem seus habitantes. São também afamados pela "contabilidade criativa", que usam com frequência para puxar para baixo as contas que batem no bolso do consumidor, principalmente em ciclo de disputa eleitoral. Pouco adiantará mostrar para eles que o preço do tomate já subiu 31,72% este ano, que a batata inglesa aumentou 17,27% ou que os serviços tiveram alta de 9%. A inflação das ruas não conta para o burocrata. Sua visão é esdrúxula : "tomate e chuchu não são produtos insubstituíveis ; ninguém come morango o tempo inteiro ; e não é o índice de feirinhas e botecos que guia a política monetária". Policiais Federais Nesse momento, já é possível enxergar um alto grau de tensão a energizar setores e grupamentos, que pode originar ondas concêntricas de insatisfação social. É bastante previsível a hipótese que aponta para a existência de bolsões represados aguardando o momento para despejar sua indignação. Veja-se essa paralisação dos policiais Federais. Trata-se de um movimento inusitado que agita um braço investigativo do Poder Executivo, cuja forte atuação nos escândalos mais impactantes da contemporaneidade o posiciona como um dos atores fundamentais no combate à corrupção. Os quadros se ressentem de precárias condições de trabalho, salários defasados, "ingerências políticas nas investigações" e repasse de atribuições constitucionais da PF a outros órgãos. O aparato policial nos Estados O aparato policial militar em muitos Estados desfralda também uma larga planilha de reivindicações, centradas em salários e condições de trabalho. Vejam a BA e o RS. A insatisfação das forças policiais se expande. Teria esse fenômeno ligação com o incremento das ocorrências policiais no país ? A desmotivação dos batalhões das ruas seria motor da expansão da criminalidade ? "A paciência é uma árvore de raiz amarga, mas de frutos muito doces". (Provérbio persa) "Quem abre o coração à ambição, fecha-o à tranquilidade". (Provérbio chinês) "Não caia antes de ser empurrado". (Provérbio inglês) "Duas coisas indicam fraqueza : calar-se quando é preciso falar, e falar quando é preciso calar-se !". (Provérbio persa) Classe C quer mais que pão Cheguemos ao epicentro das manifestações de rua, formado por grupos com origem na classe média C, os emergentes que escalaram os degraus de baixo da pirâmide para chegar ao primeiro andar do meio. Nesse espaço, alinham-se os grupos que puxam a corrente do "queremos mais". O pão sobre a mesa já não lhes é suficiente. Exigem serviços públicos qualificados, a partir dos transportes urbanos, parques de lazer, segurança, saúde e educação. Jovens, desempregados, comerciários, biscateiros, comunidades, torcidas fanáticas de clubes de futebol, integrantes de ONGs, e, claro, radicais, oportunistas e baderneiros, tendem a assumir papel de vanguarda na agitação das ruas, sob os ares catárticos da Copa e competitivos do pleito de outubro. Classes médias tradicionais As classes médias tradicionais também disparam fortes sinais de descontentamento, menos por conta da pressão da inflação das ruas e mais por se verem inundadas por uma volumosa torrente de escândalos em série. O longo episódio que culminou na condenação de implicados na chamada AP 470 ; o desvendamento de teias de corrupção nos intestinos da administração pública e que batem na Petrobras, empresa-símbolo do país ; a polêmica que se estabeleceu em torno de programas polêmicos, como é o caso do Mais Médicos ; as nuvens que se formam em torno das arenas esportivas, cujo atraso no cronograma de obras ameaça causar reação popular durante a Copa ; a repetição de mantras da velha política, com as interjeições do passado a mostrar a perpetuação de vícios - esse é o cenário da degradação que acolhe a gestão pública e a esfera política. Desinteresse Não por acaso, elevado índice de brasileiros - 72%, segundo o Ibope - não tem nenhum ou quase nenhum interesse na eleição. Na pesquisa espontânea da última rodada, 56% não marcaram intenção de voto em nenhum candidato. Setores produtivos Os setores produtivos, por sua vez, se mostram igualmente insatisfeitos. Vale lembrar que nunca se abriu tanto a caixa das desonerações tributárias como no governo Dilma. Mesmo assim, são claras as manifestações de desagrado com a política econômica, a traduzir inconformismo com os rumos da economia. Como se pode inferir, há um Produto Nacional Bruto de Insatisfação que a burocracia brasiliense teima em não enxergar ou não querer medir. Sem aviso prévio, grupinhos, contingentes, categorias, setores vão formando o que se pode designar de "coalizão dos indignados". Conselho aos burocratas Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes, membros dos Poderes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado ao PT. Hoje, volta sua atenção aos burocratas da economia : 1. Tenham cuidado com a "contabilidade criativa". Querer expurgar os produtos hortifrutigranjeiros da cesta da inflação é burrice. 2. Nenhum burocrata conseguirá apagar a verdade das feiras livres e passar uma borracha nas contas que batem forte no bolso do consumidor. 3. Sejam realistas, evitem dados mirabolantes e efeitos mágicos sobre o cotidiano das pessoas.
quarta-feira, 23 de abril de 2014

Porandubas nº 395

Pena mínima Abro a Coluna com uma historinha da PB. O rapaz era advogado novo em Princesa Isabel, na PB. Ia defender um criminoso de morte a faca. Procurou o coronel Zé Pereira, o mandão da cidade : - Coronel, preciso conseguir pena mínima para meu cliente. Se não conseguir, não tenho carreira aqui. O coronel prometeu. Terminou o julgamento, pena mínima. O advogado foi agradecer a vitória ao coronel, que valorizou a ajuda : - Doutor, o senhor não calcula a força que eu fiz para conseguir a pena mínima. Todo mundo queria absolver o homem. Coalizão dos indignados Cada ciclo eleitoral possui as suas características, sendo algumas particularmente influenciadas pela vertente da economia. Este ano, ao fator econômico, somam-se situações de desconforto social, desagrado com o andar da carruagem, insatisfações, contrariedades. Há um Produto Nacional Bruto do Inconformismo, somatória de todos os problemas cotidianos, a partir do troco menor no bolso dos consumidores. Pois bem, esse PNBI é bastante visível, principalmente se aguçarmos os ouvidos. Para qualquer lado que se olhe, há um zum zum zum de insatisfações. Esse estado geral de indignação, que também se volta contra os atores políticos, dará o tom do pleito de outubro. Dilma em queda Dilma tende a cair mais ainda ? Resposta positiva se o clima econômico descambar e os consumidores dos estratos de baixo acusarem a queda. Resposta negativa se a locomotiva econômica puxar o trem do conforto social. Dilma tem boas respostas principalmente no Nordeste do Brasil, mas tem caído nos maiores colégios eleitorais, exatamente no Sudeste. Enquanto no NE ela leva, hoje, 51% das intenções de voto, no Sudeste tem uma avaliação positiva (ótimo + bom) de apenas 30%. Atenção para os dados A última pesquisa Ibope abre algumas pistas. 72% dos 37% que não indicaram preferência por nenhum candidato não têm interesse na eleição deste ano. Isso poderá aumentar o número de abstenções, votos nulos e brancos. Na pesquisa espontânea, 56% não marcaram nenhum candidato. Eleitores que disseram não votar de jeito nenhum em Dilma : 33% ; em Aécio, 25% ; e em Eduardo Campos, 21% ; e em Marina (o nome dela esteve em um cenário), 20%. Ou seja, a maior rejeição é para a presidente. Mudança O eleitorado quer mudanças. 30% querem mudar completamente. No Nordeste, 36% querem que tudo fique igual. Esse é o maior pedaço eleitoral (em termos proporcionais) de Dilma. Queda da presidente entre a pesquisa de novembro de 2013 para esta última, de abril de 2014 : 47% a 43% ; não votariam de jeito nenhum em Dilma : 25% a 33% (nesta última). Aécio saiu de 26% e subiu para 33% neste grupo e Eduardo Campos também aumentou a rejeição, de 24% a 33%. O eleitorado está descontente e desconfiado. Clima em SP No maior colégio eleitoral do país, o clima também esquenta. O governador Geraldo Alckmin, apesar da alquimia com que vem trabalhando para superar a tragédia da falta d'água (que já escasseia em torneiras periféricas), passa a ser alvo de bombardeio. O governador promete multar os consumidores flagrados em situações de extravagância. Faz campanha pelo bom senso no uso de água. E garante que o governo aplicará multas aos abusos. Alckmin não conseguirá formar um dique contra a indignação popular se a água deixar de correr nas torneiras nos próximos meses. Pérolas do Barão de Itararé -Cobra é um animal careca com ondulação permanente. -Tudo seria fácil se não fossem as dificuldades. -Sábio é o homem que chega a ter consciência da sua ignorância. -Há seguramente um prazer em ser louco que só os loucos conhecem. -É mais fácil sustentar dez filhos que um vício. Temas do ciclo eleitoral A água, ou se quiserem a falta dela, secará a roça eleitoral do governador Geraldo Alckmin, podendo lhe surrupiar gorda batelada de votos ; a insegurança da população, que se vê cercada de atos criminosos, em todos os espaços - do centro e das periferias - também se apresenta como ameaça ao candidato que dirige a segurança no Estado mais forte (e um dos mais perigosos) do país ; a bandalheira como está sendo apresentada a situação da Petrobras - teias de corrupção nos intestinos da empresa - símbolo da Nação - suja a imagem do candidato petista, Alexandre Padilha. Que terá de repetir a resposta-mantra sobre o caso da Labogen, empresa "farmacêutica" que teria sido beneficiada por negociações envolvendo o Ministério da Saúde ; a deterioração de alguns parafusos da engrenagem econômica, que se fazem ver na expansão da inflação das ruas (feiras livres) também estará recheando o bolo da campanha, podendo ser mais um ingrediente contra Padilha. O eco das ruas Sente-se por aqui e ali a sensação de que o copo transbordou. Escândalos, denúncias, troca de acusações, defesas inconsistentes, tiroteios entre alas de um mesmo partido formam um gigantesco pano de fundo a acolher a coalizão dos indignados. Ouve-se um clamor por inovação, por perfis que possam incorporar um novo conceito de gestão. O eleitorado quer, porém, uma figura que simbolize ação e menos discurso, experiência no trato administrativo, tendo como espelho situações bem empreendidas na área privada. Exemplo das boas experiências Buscam-se exemplos de iniciativas bem realizadas nas organizações privadas. O eleitorado jovem, principalmente, procura distinguir esses perfis na tentativa de se identificar com novos modelos e novas formas de fazer política. Por isso, pode-se prever, nos Estados, o crescimento de candidaturas comprometidas com o choque de gestão na administração pública, uma nova abordagem para o atendimento das prioridades e das demandas sociais, que ganham volume na contemporaneidade. Volta Lula ? Ou fica Lula ? Luiz Inácio está em silêncio. Luiz Inácio em silêncio é um monumento de interrogações ? O que tem pensado sobre a crise da Petrobras ? O que tem aconselhado Dilma a fazer ? O que tem dito aos companheiros sobre a economia sob o fio da meada ? Lula em silêncio diz tudo ou quase tudo : algo como "passarinho na muda não pia". O silêncio do maior palanqueiro do PT é um sinal de alerta para o PT. Mais pérolas do Barão - A esperança é o pão sem manteiga dos desgraçados. - Adolescência é a idade em que o garoto se recusa a acreditar que um dia ficará chato como o pai. - O advogado é um cavalheiro que põe os nossos bens a salvo dos nossos inimigos e os guarda para si. - Senso de humor é o sentimento que faz você rir daquilo que o deixaria louco de raiva se acontecesse com você. Onde estão as Centrais ? E por falar em Centrais, que carregam a bandeira dos trabalhadores, o que têm elas a dizer a Petrobras, os escândalos, as prisões, o disse me disse de diretores de nossa empresa-símbolo ? Será que defender a Petrobras deixou de fazer parte da agenda da CUT, por exemplo ? Hegemonia petista Até dois meses atrás, o projeto de hegemonia política do PT fazia parte da agenda de todos os partidos. E frequentava, ainda, a agenda de preocupações dos setores produtivos. De uns tempos para cá, sentiu-se certo alívio ante essa propalada meta petista. Mas o PT, sem dúvida, continuará a ensaiar como personagem as peças de nossa política. Trata-se do partido com a maior e melhor organização do país. Serra e Cabral ? Para onde irá José Serra, hein ? Candidato a senador ? Para onde caminhará Cabral ? Na direção do Senado ? Serra poderia ser um deputado de mais de milhão de votos. Será que isso é coisa menor ? Cabral, diz-se, quer ser ministro. De hoje e do amanhã. Em que governo ? A rima Lacerda, governador da Guanabara/RJ, candidato à presidência da República, foi a Montes Claros, lá em MG. A cidade amanheceu com os muros pichados : "Lacerda rima com m...". No comício, à noite, Lacerda acabou o discurso assim : - Aos meus amigos, deixo um grande abraço. Aos meus adversários, a rima. Conselho ao PT Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes, membros dos Poderes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado ao governador de SP, Geraldo Alckmin. Hoje, volta sua atenção ao PT. 1. Reconhecer o erro em relação a algumas decisões tomadas pela antiga diretoria da Petrobras pode ser uma alternativa interessante. Melhor do que a querela entre alas do partido. 2. É preciso coragem para repor a verdade, sem firulações, manobras e tergiversações. 3. O eleitor consegue distinguir as diferenças entre falsas versões, meias versões e a verdade. Tentativa de enrolar o eleitorado pode se transformar em bumerangue.
quarta-feira, 16 de abril de 2014

Porandubas nº 394

Quer ver ? Abro a coluna com um "padrinho" cheio de graça. Padre Aneiko, deputado estadual pelo PDC, vinha do Paraguai. Na fronteira de Foz do Iguaçu, encontrou-se com duas amigas, que lhe pediram para passar com uns perfumes de contrabando. Arrumou no cinturão, embaixo da batina. Na Alfândega, o fiscal pergunta : - Alguma mercadoria, padre ? - Claro que não. - E o que senhor tem aí embaixo da batina ? - O que tem aqui embaixo é dessas duas moças. Quer ver ? O fiscal : - De jeito nenhum. Feliz "Quando eu tinha cinco anos, a minha mãe dizia-me que a felicidade era a chave da vida. Quando fui para a escola perguntaram-me o que queria ser quando fosse grande. Escrevi : "feliz". Então eles me disseram que eu não tinha entendido o exercício e eu respondi que eles é quem não entendiam a vida". (John Lennon) A queda de uma estrela O PT sempre apreciou o simbolismo da estrela. Que conota beleza, luz, fé, esperança, o encontro do homem com os mistérios da natureza. Escolheu a estrela para acolher a estética do partido. Acolheu a cor vermelha para expressar a interação com a esquerda. Os partidos socialistas ancoram-se no vermelho. Até o jardim do Palácio da Alvorada ganhou uma estrela vermelha nos idos tempos do presidente Luiz Inácio. André Vargas era uma estrela em ascensão. O cargo parlamentar mais elevado do PT era por ele ocupado : vice-presidente da Câmara dos Deputados. Conservava o sonho de chegar à presidência da Câmara em 2014. De punho erguido, por ocasião da instalação dos trabalhos parlamentares, ao lado do presidente do STF, era a própria encarnação do poder petista. A estrela cai. Vargas desce do Olimpo para habitar a terra dos mortais. Pior : dos mortais pecadores. Decisão e indecisão A decisão para a renúncia do deputado foi decidida pela cúpula do PT. Na verdade, quanto mais protelasse a decisão, mais sangria do corpo petista Vargas proporcionaria. Ocorre que Vargas ainda tem dúvidas. A Comissão de Ética da Câmara pediu ao presidente Henrique Alves para não aceitar o pedido. Quer que a casa o julgue tendo em vista que já havia sido instaurado um processo contra ele. O Brasil é surpreendente Por nossas tropicais plagas, tudo pode acontecer. O pior virar melhor e vice-versa. Com a nuance de que essa extraordinária mutação pode ocorrer em questão de instantes. Um dia, uma hora, um flagrante bastam para o destronamento de imperadores ou para a queda de estrelas. O imponderável nos ronda. Está ali na esquina espreitando políticos de todas as estirpes. Não adianta querer esconder malfeitos. Um dia, uma hora, o véu cai e deixa ver os perfis desnudados. Sem as lantejoulas que, até então, douravam seus corpos. O Brasil dos Trópicos é um dos maiores laboratórios da ciência política contemporânea. O imponderável - I Sob o abrigo da nota acima, respondo como consultor político à insistente e recorrente pergunta : E Lula, volta ? Ele tomará o lugar de Dilma ? Tudo é possível, principalmente ante o desmoronamento da locomotiva que puxa o trem da inflação. O imponderável está na onda. O que é isso ? Explico. Eleições de 1986. Comício de encerramento de Freitas Neto, do antigo PFL. Praça do Marquês. Desde a manhã os carros de som convidavam o povo para o monumental show de Elba Ramalho. 18h, praça lotada. A massa urra : "queremos Elba, queremos Elba". Os caminhões com os equipamentos de som só chegaram em cima da hora do comício. Começa a cair um toró. Pipocos e faíscas. Os cabos, em curto circuito, queimaram. Comício sem som ? O imponderável - II Elba mostrou o contrato : "sem som, não canto". Sob insistente apelo do candidato, propôs a cantar uma música. Arrumaram um banjo para acompanhá-la. Nem mesmo começara a cantar, passou a vociferar : "imbecis, ignorantes, não façam isso". No meio da multidão, a cena constrangedora : a galera abria a boca de um jumento e derramava nela uma garrafa de cachaça. Sob apupos, acabava-se o comício. O candidato perdeu a campanha por menos de 2%. O caso foi contado de boca a boca. O imponderável : um jumento embriagado em Teresina. Confiança cai A confiança dos brasileiros nos governantes cai. Quem garante é o Datafolha, que acaba de criar um Índice de Confiança. Numa escala que vai do 0 a 200, acima de 100, o índice é positivo. Em março do ano passado, o índice apontava 148. Agora em abril, caiu para 109. Uma perda razoável de confiança no país. Coração puro "Um grande mago me ensinou uma vez que contra a maldade de um homem não era necessário tomar nenhuma medida. Basta ter um coração puro para que o tempo se encarregue de dar a resposta." Inflação, o dragão A inflação pode se transformar no dragão engolidor de votos. Hoje, o índice de 6,15% estaria dentro da meta, que vai de 4,5% a 6,5%. Ocorre que há uma inflação não controlada, essa de produtos hortifrutigranjeiros de feiras livres, por exemplo. O tomate, o chuchu, o abacaxi, o mamão papaia das feiras, quando sobem um real ou mais, pesam no bolso dos consumidores, principalmente dos contingentes que vivem da cesta básica. Há quem garanta que a inflação das ruas já está por volta de 8% a 9%. Não sei. Mas ouço um zum zum no ar. Saber administrar o tempo Sêneca, o grande sábio, escreveu sobre a brevidade da vida, quando diz : "Não é curto o tempo que temos, mas dele muito perdemos. A vida é suficientemente longa e com generosidade nos foi dada, para a realização das maiores coisas, se a empregamos bem. Mas quando ela se esvai no luxo e na indiferença, quando não a empregamos em nada de bom, então, finalmente, constrangidos pela fatalidade, sentimos que ela já passou por nós sem que tivéssemos percebido". Saber administrar o tempo é, hoje, um dos desafios instigantes do nosso cotidiano. O tempo não se mata. "Quem mata tempo é suicida", satiriza Millôr Fernandes. A reprimenda é do dramaturgo inglês H.D. Thoreau : "Como se fosse possível matar o tempo sem ferir a eternidade". A festa foi bonita, pá O casório foi bonito, pá. Fiquei contente. Ainda guardo renitente um velho cravo para mim. Não foi bonita a festa de casamento de Eduardo Campos e Marina, em Brasília, esta semana ? Com direito a imagem gastronômica de Marina : a união da tapioca com o açaí, o que, convenhamos, produz fonética esquisita ou semântica exótica: tapiçaí, ou se preferirem, açapioca. Campos prometendo botar mais feijão no Bolsa Família e dizendo : "vamos mudar, vamos mudar". Meu Deus do céu : mudar é encher as panelas do Bolsa Família ? Pelo que se sabe, o desafio é exatamente o contrário : diminuir o Bolsa Família, o assistencialismo paternalista com programas estruturantes. Onde está a saída, Eduardo e Marina ? Há quem prefira o canto de Chico Buarque : "Sei que há léguas a nos separar, tanto mar, tanto mar ; sei, também, quanto é preciso, pá ; navegar, navegar ; canta primavera, pá ; cá estou carente, manda novamente algum cheirinho de alecrim". A diretriz de Lula Lula deu a diretriz : atacar quem ataca a Petrobras. Sair da passividade. Ir à luta. Foi o que a presidente fez em PE : atacou oposicionistas que querem usar a Petrobras como arma política. O imbróglio está no ar. Literalmente. A Rede Globo coloca todos os dias nas ondas sonoras, levando ao assunto do Caburaí ao Chuí (aliás, não é do Oiapoque ao Chuí, no AP, como se insiste. Do monte Caburaí, no município de Uiramutã, em RR, ao arroio Chuí são 85 km a mais do que a distância do Oiapoque ao Chuí, que é de 4.180 km). Mas a história é outra. Dilma e Graça Foster vão à luta. Vamos ver até onde vai dar essa brigalhada. Viver o presente Procurar viver intensamente o hoje. Também é de Sêneca o pensamento : "Dedica-se a esperar o futuro apenas quem não sabe viver o presente". Há pessoas que passam o tempo preparando o futuro, deixando de lado as grandes oportunidades de momento em que poderiam ser felizes. Ocupar o tempo é viver. Deixar de ocupá-lo é um descompromisso com o ideal da existência. Como musicou John Lennon : "Vida é o que acontece quando você está ocupado, fazendo outros planos". São Geraldo pede ajuda a São Pedro São "Geraldo Alckmin" todos os dias reza uma prece a São Pedro, o porteiro do céu. O primeiro papa da Igreja Católica Apostólica Romana não está muito de aceitar preces apenas em momentos críticos. Gostaria que os pecadores rezassem todos os dias. Sem invencionices nem carolices. O fato é que o santo "Alckmin" todos os dias, ao acordar, corre para ver os aparelhos que colecionam gotas de chuva para ver se os céus atenderam a suas rezas. A Cantareira está com 12% de sua capacidade. Cantareira seca é secura nas urnas do habitante do Palácio dos Bandeirantes. Que até garantiu ter enxugado o tempo de banho. Claro, a careca do governador é um adjutório nesses tempos de economia d'água. Perdão, bom governador e amigo, pela brincadeira. Súmulas do TST O ex-ministro Almir Pazzianotto esclareceu dúvidas de empresários sobre as súmulas 244 e 378 do TST, que tratam da garantia de estabilidade à gestante e em caso de acidente de trabalho. Foi ontem no Sindeprestem, entidade que reúne empresas de serviços terceirizados e temporários. Para ele, falta união dos empresários e de entidades patronais de representação nacional para lidar com a questão. "Iniciativas isoladas não impedirão que estas súmulas sejam aplicadas nem farão o TST rever o texto. Não é simplesmente uma decisão jurídica, mas política e deve ser tratada como tal. O enfrentamento jurídico é indispensável, mas não é suficiente". Conselho a "São Geraldo" Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes, membros dos Poderes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado à presidente da Petrobras, Graça Foster. Hoje, dedica sua atenção ao governador de SP, Geraldo Alckmin. 1. Use sua providencial franqueza para explicar tim tim por tim tim as contas da Sabesp, a distribuição de dividendos acima dos limites mínimos ; a conversa direta, sem pirrepes (nordestinês para significar firulas e dribles - sem talvez no inglês) poderá ser eficaz ; 2. Há momentos na vida de um governante que são centrais para defender sua identidade e preservar sua imagem. Vossa Excelência terá pela frente um imenso desafio a enfrentar. 3. Mostre alto conhecimento de causa sobre a questão hídrica em SP.
quarta-feira, 9 de abril de 2014

Porandubas nº 393

Sou solidário e não pago Abro a coluna de hoje falando de solidariedade. Antônio Carlos Portela era um senhor rico e bom. Dava aval a todo o mundo em Petrópolis. Gostava de política. Gostava demais. Ao se aproximar a campanha eleitoral, sua maneira de ajudar os amigos era avalizar empréstimos para as despesas de campanha. Na última eleição, avalizou um título para um candidato a deputado, que perdeu feio e ficou em dificuldades de pagar. O gerente do banco, sabendo que não receberia do devedor, foi ao avalista : - Senhor Portela, o título está vencido. Preciso que o senhor pague. Como avalista, o senhor é solidário. Resposta matreira : - Sou, sim. Sou muito amigo dele e estou inteiramente solidário com ele. Se ele não pagou, é porque tem seus motivos. Porque estou solidário, não pago também. A força do imponderável O imponderável - eis o fator que muda os rumos da política. É o que estamos começando a distinguir nos esfumaçados horizontes da política. O bombardeio que se desenvolve nos costados da Petrobras pega alguns atores de chofre, maltratando suas imagens e, em alguns casos, inviabilizando seus sonhos. Vejam o caso do deputado André Vargas, um dos mais fortes perfis do PT, vice-presidente da Câmara dos Deputados e até então o mais gabaritado candidato à presidência da Casa na próxima legislatura. Pois bem, perdeu sua condição de candidato e vê ameaçado seu próprio mandato. A licença de 60 dias que tirou não o ajudará a fechar as cicatrizes abertas pelo tiroteio midiático que mostrou diálogos considerados aéticos e imorais com o senhor Alberto Youssef, sob suspeita de cometer crimes. Vargas e a sangria no PT A esta altura, não há outra alternativa para o deputado Vargas senão a de renunciar ao mandato. Ora, não será uma curta licença que apagará as manchas já deixadas nos flancos petistas. O PT quer cumprir, este ano, sua agenda : eleger um grande número de governadores e as maiores bancadas Federal e estaduais do partido. Se André Vargas continuar exercendo seu mandato, será o alvo predileto para muitos candidatos da oposição e mesmo para alguns candidatos de siglas aliadas. A partir do PR, seu Estado, onde a senadora Gleisi Hoffmann será a candidata do PT. Em SP, pelo envolvimento do deputado com o chamado doleiro Youssef - que teria ligações com a empresa de remédios Labogen - o candidato Alexandre Padilha, do PT, entrará na dança. Ou seja, nele respingará o sangue provocado pelo bombardeio midiático. O IP, Índice Petrobras A Petrobras continuará como alvo central dos opositores. Não adianta, a essa altura, exibir argumentos favoráveis à compra da refinaria de Pasadena, nos EUA. O rombo de imagem e os estragos sobre candidatos do PT são um fato irretorquível. Lula poderá atenuar os efeitos, mas a mídia terá o condão de amplificar o caso. A queda de seis pontos na pontuação da presidente Dilma já acusa o IP - o que chamo de Índice Petrobras. Ninguém está imune ao poder de destruição da mídia. Nem Lula. Como se viu, também ele, mesmos continuando a ser o maior cabo eleitoral do país, mostra tendência de queda. Os danos maiores Os danos mais impactantes do IP (Índice Petrobras) e IV (Índice Vargas) serão maiores nas arenas petistas de SP, RJ, MG e PR. Ou seja, no Triângulo das Bermudas e no Estado natal do deputado e da senadora Gleisi. Em SP, a par da questão, vê-se, ainda, a má avaliação do prefeito Fernando Haddad. Será muito difícil que o ex-ministro da Saúde, Alexandre Padilha, consiga auferir os 30% históricos do PT em SP. No RJ, o senador Lindbergh também terá dificuldades de subir no ranking eleitoral. Em Minas, o ex-ministro Fernando Pimentel também será atingido. Portanto, esses Estados, com os colégios eleitorais mais densos do país, poderão determinar o sucesso ou o insucesso da ainda favorita, presidente Dilma. E o volta Lula ? Pergunta recorrente : Lula tem condições de voltar ? Respondo : só em situação de descalabro geral com efeitos drásticos sobre a imagem da presidente Dilma. E lembro. Voltando ou não, precisamos ter em mente que nem o Brasil nem Luiz Inácio são os mesmos de tempos atrás, o que nos leva a recitar a máxima de Heráclito de Éfeso : "não se pode entrar duas vezes no mesmo rio". As águas estão sempre se renovando. O caso da Guiné A revista Piauí de março traz reveladora reportagem sobre interesses brasileiros na Guiné Equatorial. Matéria que envolve a Vale, que teria fechado acordo com um israelense em um negócio bilionário e muito suspeito na República da Guiné. Sinalizações de pesquisas Urge ler outros sinais apontados pela última pesquisa Datafolha. 65% apontam desejo de mudanças e outros tantos dizem que esperavam mais da presidente Rousseff. Mais um dado curioso : somando abstenção, votos nulos e brancos e mais os nanicos, teremos 35% dos votos. Contra 38% da presidente. Ou seja, há um imenso território a se explorar. Mas e a equação BO+BA+CO+CA - Bolso, Barriga, Coração, Cabeça ? Será que o bolso em outubro próximo terá o "rico dinheirinho" de hoje ? E se a cesta de alimentos for uns 10% a 15% mais cara ? Interrogações por todos os lados. Duas linguagens A campanha deste ano será também uma disputa de linguagens : a do PT e a do PSDB. Vejamos exemplos, a partir do dicionário de Lula : "Já tomei tanta chibatada nesta vida que minhas costas estão mais grossas que casco de tartaruga ; não sejam apressados : uma jabuticabeira leva tempo pra dar jabuticaba ; uma mulher demora nove meses para dar à luz ; no Brasil, alguns comiam a massa e o chantili do bolo, mas para a grande população ficava aquele chumbinho de enfeite que colocam em cima do bolo". Na reunião do G-20 : "Você não faz negociação com o pé na parede, na base do dá ou desce, existe uma negociação". Os tucanos usam termos herméticos : "Desconforto hídrico temporário" (no lugar de seca braba) : "redução compulsória do consumo de energia elétrica (corte de energia) ; retracionismo na empregabilidade (desemprego) ; compensação pecuniária às distribuidoras pelo déficit que enfrentam devido ao racionamento (aumento de tarifas de energia)". O estilo Jânio Apesar de sofisticar no uso da linguagem, quando estava diante de audiências intelectualizadas, Jânio Quadros foi o guru da expressão popular. Na campanha de 1985, aquela em que ganhou de Fernando Henrique, depois deste ter sentado na cadeira de prefeito de SP antes da apuração final dos votos, levou Delfim Netto para um comício na Vila Maria. O ex-ministro da Fazenda assim concluiu sua peroração palanqueira : "A grande causa do processo inflacionário é o déficit orçamentário". Após a fala, Jânio puxou Delfim de lado e cochichou : "olhe para a cara daquele sujeito ali. O que você acha que ele entendeu de seu discurso ? Ele não sabe o que é processo, não sabe o que é inflacionário, não sabe o que é déficit e não tem a menor ideia do que seja orçamentário. Da próxima vez, diga assim : a causa da carestia é a roubalheira do governo". O guru da economia, a quem todos hoje recorrem para explicar os sobressaltos que deixam interrogações no ar, passou a reservar seu economês para plateias mais acessíveis ao vocabulário de questões complexas. A agenda econômica do PT O economista Samuel Pessoa execra a agenda econômica do PT. Sua leitura no Estadão do último domingo : "É uma agenda para colocar o Estado - o setor público - interferindo no desenvolvimento econômico. É o Estado decidindo a alocação de capital. É o Estado fazendo microgerenciamento das políticas de impostos e das tarifas de importação para incentivar alguns setores escolhidos segundo certos critérios. É o Estado fazendo microgerenciamento da política de intermediação financeira. Além disso, tenta adotar teorias heterodoxas sobre o processo inflacionário que acabam interferindo na liberdade do Banco Central e tendo um impacto sobre a inflação. É uma agenda grande. Começou no governo Lula, antes de 2009. Mexe nos graus de independência das agências reguladoras. Coloca uma parte grande da regulação de volta para os ministérios e, além de colocar de volta para os ministérios, passa a ter muita discricionariedade na regulação de diversos setores da economia". A agenda econômica do PT - II "Ou seja : ao invés de usar um sistema de regras e procedimentos, pesos e contra pesos, passamos a ter a mão pesada do Estado. A gente vê isso no setor de petróleo, no setor de energia elétrica. Até na reformulação do marco ferroviário, com a ideia de separação vertical - que eu acho que não vai funcionar. Foi uma má ideia. Tem uma lista longa. Esse pacote não é da sociedade. É um pacote de um grupo de pessoas que está no centro da formulação da política econômica e que avalia que essas medidas são necessárias para acelerar o crescimento econômico. A minha avaliação é que esse ensaio nacional desenvolvimentista deu errado. Deu tudo errado. Foi uma tragédia para o País. Foi adotado por motivos ideológicos e acho que ele tem de ser revertido". Honestidade Fecho a coluna falando de Honestidade. Na China antiga, um príncipe estava para ser coroado e, de acordo com a lei, deveria se casar. Resolveu escolher a esposa entre todas as moças da corte. Distribuiu a cada uma das pretendentes uma semente, pedindo que dentro de seis meses elas trouxessem as flores que nasceriam. Quem trouxesse a mais bela flor seria escolhida a imperatriz da China. Depois de seis meses, todas as moças fizeram fila no palácio ostentando belíssimas flores. Apenas uma delas estava sem nada na mão. O príncipe chegou e depois de olhar para todas, dirigiu-se a uma das moças, proclamando : "Escolho esta moça como minha futura esposa. Ela foi a única que cultivou a flor que a torna digna de se tornar uma imperatriz - a flor da honestidade. Informo que todas as sementes que entreguei eram estéreis". Conselho à presidente da Petrobras Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes, membros dos Poderes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado às autoridades que lideram as ações voltadas para a Copa do Mundo. Hoje, dirige sua atenção à presidente da Petrobras, Graça Foster : 1. Procure enfrentar o bombardeio contra a gestão antiga da Petrobras sem medo e sem tergiversação. Quem não deve não teme. A senhora deve ter informações fundamentais para dar. O país delas precisa. 2. A Petrobras é um símbolo de nossa grandeza e dos nossos potenciais. Contar o que aconteceu com a compra da refinaria de Pasadena é um dever de sua gestão e um direito da sociedade. 3. Antes tarde do que nunca. Enfrente os convites que recebe do Congresso e faça a defesa da empresa. Afinal, a senhora não deve ter sido protagonista central de atos cometidos no passado.
quarta-feira, 2 de abril de 2014

Porandubas nº 392

As pedras de Drummond Abro a coluna com os versos do Drummond. Historinha dos nossos tempos. A verdade de hoje é bem diferente da realidade de ontem. Hoje, até a poesia se depara com outras pedras no caminho. Na sala de aula, o professor analisa com seus alunos aquele famoso poema do Carlos Drummond de Andrade : "No meio do caminho tinha uma pedraTinha uma pedra no meio do caminho.E eu nunca me esquecerei...no meio do caminho tinha uma pedraTinha uma pedra no meio do caminho." O professor pergunta : - Joãozinho, qual a característica do Carlos Drummond de Andrade que você pode perceber neste poema ? Joãozinho tascou a resposta : - Se não era traficante, era usuário... Fumaceira no ar O ambiente está esfumaçado. Muita fumaça e fogo crescente à vista. Tudo porque a avaliação da presidente Dilma baixou sete pontos. Tentemos desanuviar os ares. Estamos a seis meses das eleições. Muito tempo. A pesquisa sobre queda da avaliação não quer dizer que Dilma perdeu pontos no índice de intenção de voto. Fosse assim, alguém teria de ganhar esses pontinhos. Por enquanto, os escalados mantêm suas posições : ela, como 43% ; Aécio, com cerca de 15%, e Eduardo Campos com 7%. A partir da campanha de rua e após a Copa, os índices de intenção de voto poderão ganhar nova escala. Mas a avaliação em queda pode sinalizar queda de intenção de voto ? Em termos, sim. Expliquemos. Bolso cheio e melhores serviços Se o bolso dos contingentes das margens se mantiver em condições de comprar os mesmos produtos de um ano atrás, o status quo se mantém. Se falta grana para as coisas essenciais, a situação ficará ruim para quem patrocina a queda. E mais : os cidadãos que tiveram acesso à mesa de consumo, querem dar um passo adiante : exigem melhores serviços, a partir de transportes mais rápidos e confortáveis ; malha de saúde em condições de atender rapidamente os casos ; mais segurança nas ruas, etc. Temos pela frente a Copa do Mundo. Se o acesso às arenas esportivas apresentar problemas, o caldo tende a entornar. Ocupados em nada fazer "É extremamente breve e agitada a vida dos que esquecem o passado, negligenciam o presente e receiam o futuro ; quando chegam ao termo de suas exigências, os pobres coitados compreendem tardiamente que estiveram por longo tempo ocupados em nada fazer." (Sêneca - Sobre a Brevidade da Vida) Entornando o caldo Se o caldo entornar, será alta a possibilidade de manifestações de rua. E, ante as manifestações, o sistema de segurança, reforçado com tropas do Exército, dará sua contribuição para a efervescência. Por mais que haja orientação para se preservar a harmonia, a polícia, em casos de depredação, vai reagir. E reagindo, haverá vítimas nas frentes de manifestação : cenas de barbaridade, sangue e patrimônios depredados. O desenho suja a imagem de atores políticos, principalmente os situacionistas, tanto da área Federal como das áreas estaduais. Alhos e bugalhos, Chico e Francisco serão inseridos na mesma configuração de "responsáveis pelo caos" (claro, se isso ocorrer). "Ele era como um galo que pensava que o sol surgia para ouvi-lo cantar." (G. Eliot, escritora inglesa) Lula volta ? Só se a pupila, Dilma, começar a descer a alta serra do conforto de votos, que ainda frequenta. E qual será a possibilidade disso ocorrer ? Se a inflação estourar e começar a faltar alimentos nas gôndolas de supermercados. Mas a economia, segundo nossos melhores analistas econômicos, não está fora de prumo. Delfim Neto, um dos melhores, garante que estamos bem. Mas o imponderável poderá tirar o trem dos trilhos. E o país, nos últimos tempos, tem abrigado uma teia de fatores imponderáveis. "Não fico me lembrando de onde caí, mas de onde me reergui." (Cícero em Cartas a Ático) Os desafios de Aécio Neves Tenho ouvido com atenção o discurso de Aécio Neves. É fato que começa a ter uma identidade oposicionista. Convenhamos, ele estava meio apagadão no Senado. Nos últimos tempos, arrumou um bom eixo para alicerçar suas perorações. O último é o affaire Petrobras. Pois bem, essa peroração, mesmo cáustica e cravejada de adjetivos, não chega ao âmago das massas. Não sobe à cachola do eleitor que habita a base da pirâmide. E por quê ? Porque os tucanos, todos sem exceção, aprenderam a falar muito bem o tucanês, mas são ignorantes em matéria de popularês. Discorrem sobre macroeconomia com aquele palavreado que come espaço e diz pouco. E mesmo quando não têm respostas concretas para questões complexas, valem-se, como Aécio, de economistas de alto coturno, como Armínio Fraga. Pois bem, o desafio do neto de Tancredo é aprender o portuga do fim de linha e transmitir questões complexas de forma inteligível. Todos, todos O observador que ouve tucanos de alta plumagem - Fernando Henrique, Geraldo Alckmin, José Serra, Antonio Anastasia, entre outros - distingue a sonoridade do mesmo canto mavioso, ao qual têm acesso privilegiados integrantes de uma plêiade do Olimpo. O grupo é realmente bom de bico. Sabe dizer as coisas que os ouvidos finos entendem ; mas são os ouvidos grossos das margens que, na hora do voto, selecionam as mensagens que encherão as urnas. Democracia "É preferível um remédio que cure as partes defeituosas da democracia do que um que as ampute." (Cícero em Cartas a Atiço, II, 1.7) Petrobras chegará na ponta ? Eis o caso Pasadena/Petrobras. O que o povão entende disso ? Como dizer às massas que a Petrobras, em 10 anos, perdeu mais da metade de seu valor de mercado ? Bilhões e milhões para as massas são montanhas difíceis de escalar. E como meter nessa cumbuca responsáveis ligados ao governismo ? Se Aécio Neves conseguir destrinchar as curvas dessa vereda linguística, seria razoável apostar em seu crescimento na planilha de intenção de voto. Por enquanto, é isso : ele tem o apoio de 86% de um grupo de empresários que comparece ao almoço do LIDE, empreendimento comandado pelo competente João Dória, mas não alcança nem 5% da galera das arquibancadas. Esse é seu principal desafio. Ganhar em Minas O dito é bastante conhecido : quem ganha em Minas, ganha no Brasil. Tem sido assim. Os candidatos à presidente da República que ganham em MG, o segundo maior colégio eleitoral do Brasil, levam a melhor. Por quê ? Explicações surgem de todos os lados. Minas é a síntese nacional. Localizado entre o Nordeste e o Sudeste, abriga DNAs dessas duas megarregiões, capta a alma brasileira. Chiste : o mineiro é o nordestino com preguiça de chegar até o Rio ; decidira conhecer as areias de Copacabana e, no meio da viagem, meio com preguiça, estendeu a rede naquelas fazendas do interior mineiro e... pernas pra que te quero. Arrumou seu trem por ali. Que trem bão. Já o carioca é o nordestino que chegou antes, que chegou logo. Instalou-se com seu matulão e caprichou nos "erres" para criar o dicionário carioquês. Depois, esse nordestino-carioca acabou, querendo experimentar o pão de queijo, arribou para as Minas. O candidato que souber conquistar alma mineira - a síntese do Brasil - ganha o pleito. Mas, e se o candidato é mineiro, essa hipótese não está viciada ? Só entro nessa discussão pitando um "cigarrim de paia". Sem pensamento É de Blaise Pascal o pensamento : "Posso até conceber um homem sem mãos, sem pés, sem cabeça, pois é só a experiência que nos ensina que a cabeça é mais necessária do que os pés. Mas não posso conceber um homem sem pensamento. Seria uma pedra ou um bicho". Os desafios de Eduardo Campos O principal desafio de Eduardo Campos é subir ao morro da visibilidade. Boa estampa, sorriso aberto, Campos vem morar em SP, num flat de três quartos, em Moema. Maneira de abrir espaços de mídia, circular no meio da massa, gastar sola de sapato nas maiores periferias do país. SP agrega as maiores classes médias, as maiores margens sociais, a mais alta pirâmide das classes, as maiores organizações da sociedade civil, o voto mais racional e também o mais emotivo. Logo, trata-se de um laboratório para o neto de Arraes treinar seu eduardês, a linguagem para as galeras. Aquífero Guarani I Lembram-se da campanha para o governo do Estado de SP em 2002 ? Em um debate, o candidato do PT, José Genoino, escorregou na "casca de banana". Candidato, qual a importância do Aquífero Guarani na estratégia de abastecimento de nossa região ? Genoino produziu uma sopa de platitudes : o aquífero é importante para a nossa região, não podendo ser deixado de lado por sua ampla capacidade de armazenar esse precioso líquido e assim por diante. Indagado onde fica esse tal aquífero, o candidato tergiversou e saiu pela tangente. Não disse coisa com coisa. Diante da grave crise de abastecimento d'água que se projeta para os próximos meses, os candidatos precisam fazer mais essa lição de casa. Aquífero Guarani II O aquífero Guarani é o maior manancial de água doce subterrânea do mundo entre fronteiras. Localiza-se na região centro-leste da América do Sul, estendendo-se pelo Brasil (840.000 km2), Paraguai (58.500 km2), Uruguai (58.500 km2) e Argentina (255.000 km2). Sua maior ocorrência é, portanto, no território brasileiro, abrangendo os Estados de GO, MS, MG, SP, PR, SC e RS. Trata-se de um reservatório de proporções gigantescas de água subterrânea formado por derrames de basalto nos períodos triássico, jurássico e cretáceo inferior (entre 200 e 132 milhões de anos). Ganância "O principal em qualquer administração dos negócios e dos serviços públicos, é rechaçar até mesmo a menor suspeita de ganância". (Dos Deveres, II, XXI.75) CPI da Petrobras Na visão deste consultor, a CPI da Petrobras vai para as calendas. A essa altura, os senadores já enterraram a CPI e agora pretendem formar apenas uma Comissão Mista. Donde não sairá nenhuma gota de óleo, ou seja, apenas barulho. O rolo compressor governista evitará quaisquer dissabores. Portanto, o furo no mar da CPI encontrará apenas água. O bichano José Inocêncio de Almeida, "Ioiô Almeida", empunha candidatura a deputado estadual em meados dos anos 60. Ao seu lado, o vereador "Expedito Bolão" se empenha em ajudá-lo. Leva-o ao distrito de Baraúna, onde costuma ser bem votado à Câmara Municipal de Mossoró. Num aglomerado de casas modestas, os dois políticos se aproximam, cumprimentando os populares. - Chegue, meu filho ! Tome o leite, senão eu dou pro gatinho - acalenta, com um bebê no colo, uma senhora de seios fartos e voz manhosa. Encarnando um "felino" imaginário, Expedido Bolão boceja, quase ronronando : "Miaau !" Despercebido até então, o marido da mãezona aparece fatiando uma carne e resolve espantar o "bichano", com sua faca reluzente à mão. - Chaninho, chaninho, chaninho. (Carlos Santos, Só rindo 2 - A política do bom humor do palanque aos bastidores) Conselho ao grupo da Copa Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes, membros dos Poderes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos candidatos. Hoje, dirige sua atenção às autoridades que lideram as ações voltadas para a Copa do Mundo : 1. Procurem mapear todas as situações, demandas, obras, voltadas para a finalização dos equipamentos que serão usados na Copa do Mundo. 2. Vejam eventuais pontos de estrangulamento, impasses, atrasos, cronogramas e fornecedores com o objetivo de tapar os buracos do empreendimento. 3. A imagem do Brasil estará nas telas mundiais. Vossas Excelências serão responsáveis por manchas e sujeiras no desenho da Copa do Mundo.
quarta-feira, 26 de março de 2014

Porandubas nº 391

Abro a coluna com uma historinha da gloriosa terra potiguar. Cuidado com o bolsoPoeta popular com vasto e multifacetado círculo de amizades, além de possuir reconhecido talento, Onésimo Maia é convidado para participar de uma festa na casa de um político seridoense. Sua tarefa é a mais simples possível, em face da sua capacidade criativa : enfocar através dos versos e com sua viola quadrantes da vida política dos envolvidos naquele encontro, como se fosse um Homero a narrar em forma de rima épicos sertanejos. Mostrando sua arte, Onésimo Maia desperta o entusiasmo de muitos circunstantes. Entre eles, o ex-governador Aluízio Alves, que resolve fazer um agrado. Aproximando-se, Aluízio, com os dedos entrançados, coloca uma cédula no bolso da camisa do poeta. Onésimo, de chofre, toma o gesto como tema ao improviso : - Doutor Aluízio Alves agora compareceu / Meteu a mão no meu bolso, vou ver o que ele me deu / Do jeito que ele é sabido, pode ter levado o meu. (Só rindo 2 - A política do bom humor do palanque aos bastidores, de Carlos Santos) Pano de fundo sujo O pano de fundo da política é uma sujeira só. Escândalos continuam abrindo as pautas dos meios de comunicação. A perda do valor de mercado da Petrobras é algo que até pode ser explicado, jamais aceito. Principalmente nesses tempos de administração petista. Como se sabe, o PT bateu forte no governo FHC, acusando-o de querer privatizar a empresa-símbolo das riquezas nacionais. Ganhou as eleições, na sombra dos refrãos do passado : não mexam com nosso petróleo; ele é nosso e de mais ninguém. E o que ocorreu? O sistema Eletrobrás/Petrobras perdeu algo em torno de US$ 100 bilhões. É muita grana. Sujeira do óleo nas costas do petismo. Dilma sincera A confissão da presidente Dilma de que aprovou a compra da refinaria de Pasadena por conta de relatórios que escondiam informações fundamentais é crível. Ela fez um desabafo. Foi corajosa. Mas não constitui um sincericídio, como alguns apontam. Apesar de ser inadmissível a aprovação para a compra de uma refinaria sem os devidos dados para embasar a decisão. CPI da Petrobras Será difícil passar pelo Senado a aprovação de uma CPI para investigar a Petrobras. O rolo compressor governista na Câmara Alta não deixaria passar essa lâmina que cortaria muito a carne viva do governo. A falta d'água A falta de água nas torneiras afetará, sobretudo, a imagem do governo de SP e, por conseguinte, a imagem do governador Geraldo Alckmin. A Sabesp fez estudos prevendo a extensão dos sistemas de captação. Não foi, portanto, por falta de planejamento que a crise do abastecimento de água na região metropolitana de SP tende a se agravar. O que faltou foi decisão política para investimento em obras. Ou seja, o dedo do governador apontou para baixo, lembrando a sinalização dos ditadores romanos quando a turba pedia morte aos gladiadores fracos. Uma Cantareira por ano Por falta de obras - contenção/represamento, captação - SP perde, por ano, o volume de uma Cantareira : um bilhão de metros cúbicos. Hoje, a Cantareira tem armazenados apenas 144 milhões de metros cúbicos. Se considerarmos a média histórica de chuvas (a menor média), teríamos 37,5 milhões de metros cúbicos por mês. Em três meses, esse volume estaria esgotado. A considerar a média maior, é possível se chegar a quatro meses de uso da Cantareira. Qual seria a solução de curto prazo ? Puxar água do sistema Billings, água poluída. Dois anos E as obras que estão sendo apontadas pelo governador Alckmin, como a que prevê a utilização da água do rio Jaguari, no Vale do Paraíba ? Demoraria cerca de dois anos. 3%, o índice da indústria Como sempre acontece, arranja-se nas crises um bode expiatório. Na questão da água da região metropolitana, a indústria é apontada por alguns como o tal bode. O fato é que a indústria consome apenas 11% de toda a bacia, ou seja, de todo o volume de chuva que cai e é recolhido na região metropolitana de SP (o complexo com 38 municípios, onde estão 50% da população do Estado de SP). A indústria usa seus próprios sistemas de captação. Dos canos da Sabesp, ou seja, da chamada água pública, a indústria recolhe menos de 3%. O restante, quase 97% são consumidos pela população. E o apagão ? Traria problema para o governo Federal e, por conseguinte, teria impacto sobre a imagem da presidente Dilma ? Sim, em caso de incidente. Por exemplo, no meio do jogo de uma partida entre a seleção brasileira e qualquer outra seleção, o estádio fica às escuras. Seria coberto de vaias. Que Deus nos livre desse risco. Qualquer incidente que mexa com o humor popular terá consequências sobre políticos e suas ambições. Jantar para Aécio Aécio Neves será recebido na próxima segunda-feira por João Dória em uma recepção que contará com pesos pesados da esfera produtiva. Aécio e Eduardo Campos disputam a preferência do empresariado. Nunca foi tão importante para os candidatos essa aproximação. Tempos competitivos. Negócios no exterior ? As versões se espalham. As empresas brasileiras que fazem negócios no exterior estariam fora dos controles de TCU ? Os empreendimentos na África, por exemplo, seriam imunes aos controles ? O exterior é fonte primeira da propinagem ? Encontro da segurança privada Empresários do setor de segurança privada realizarão, a partir desta quarta, 26, o X Fórum Empresarial de Segurança Privada do Estado de São Paulo (FESP), em Campos do Jordão. Com o objetivo de discutir a atual situação do mercado de segurança privada, o Estatuto da Segurança, e alguns problemas do setor, como a existência de empresas clandestinas, o evento, que seguirá até sexta, 28, também marcará a posse da nova diretoria, a ser liderada pelo empresário João Palhuca. Deixa a presidência o empresário José Adir Loiola após um período de oito anos de mandato. De matar em PE Eduardo Campos fará a maior campanha eleitoral da historia de PE. Lutará com armas mais pesadas do que as usadas em suas campanhas e nas de seu avô, Miguel Arraes. Afinal, ele é candidato a presidente da República. E tem de fazer bonito em sua terra. Se perder ou ganhar por um triz em PE, será um desastre. De matar em Minas Pelas mesmas razões, Aécio Neves terá de fazer a maior campanha eleitoral da história mineira. Minas tem o segundo maior colégio eleitoral do país : 16 milhões de eleitores. Precisa tirar de Minas cerca de quatro milhões de votos de maioria. Será que consegue ? Lindenberg sob risco O PT começa a temer a derrota do senador Lindenberg no RJ. Dilma tem dito que preza os amigos Sérgio Cabral e seu candidato Pezão; e teria prometido também apoio ao candidato Crivella, que pode lhe dar os votos evangélicos no RJ. Henrique no RN Henrique Alves decidiu : será candidato ao governo do RN. Henrique é o mais antigo deputado : 11 legislaturas. Deixará a presidência da Câmara para embarcar na canoa de governo de Estado. Sempre foi o sonho do pai, Aluízio Alves, a maior liderança política de toda a história do RN. Henrique está formando a mais larga e densa coligação da política potiguar. Deixará o PT de fora. Novo manual de marketing Está no forno o novo Manual de Marketing Político, mais um livro deste escriba. Apresento os conceitos fundamentais do Marketing Político, mostro a evolução da área, descrevo os desafios do Estado-Espetáculo e narro curiosidades do mundo da política. Em breve. Poderá ajudar muitos candidatos. Moldura do Senado I Mudanças à vista na composição do Senado Federal. Eis a situação em alguns Estados : Garibaldi Alves, pai do ministro Garibaldi Alves Filho, da Previdência, poderá ceder lugar a Vilma Faria, do PSB, candidata da coligação a ser comandada por Henrique Alves no RN ; é pouco provável a vitória de Fátima Bezerra, do PT ; Em PE, Jarbas Vasconcelos não disputará o mandato. Terá chances o deputado João Paulo, do PT ; Clésio Andrade, do PMDB de Minas, vai continuar a concorrer com a desistência de Anastasia, do PSDB ? Kátia Abreu, do PMDB, terá chances de se reeleger ; Cassildo Maldaner será candidato em SC ? Pedro Simon não disputará a reeleição. PMDB disputará com pequena chance de vitória para o governo do Estado ; José Sarney vai continuar no AP ? Eduardo Suplicy hoje leva vantagem, mas pode perder caso Kassab, como candidato a senador, faça coligação entre seu PSD e o PMDB de Paulo Skaf, que está bem cotado. Moldura do Senado II Com Jorge Viana no governo, é possível que Aníbal Diniz, do PT, mantenha a vaga ; no ES, Ana Rita deve manter a vaga em razão do acordo com Casagrande. O PMDB poderia tentar com Paulo Hartung para o Senado. Neste caso, o páreo será duro ; em AL, Fernando Collor enfrentará eleição difícil, mas é provável que não seja substituído pelo PT ; no DF, sairá Gim Argello, que irá para o TCU, mas o PT não tem chances de substituí-lo ; em RO, Mozarildo Cavalcanti terá dificuldades e Chico Rodrigues tem condições de levar a melhor no pleito ao governo ? ; no PI, o senador João Vicente Claudino deverá continuar ; na PB, Cícero Lucena deverá continuar bem como o senador Álvaro Dias, no PR. Na BA, João Durval poderá ser substituído por Jacques Wagner, caso este dispute a senatoria. Geddel, do PMDB, faz forte coligação em torno de sua candidatura ao governo. No CE, panorama indefinido. Em GO, Iris Resende quer ser senador pelo PMDB ? Seria fortíssimo candidato. Maria do Carmo, do PFL, terá condições em SE ?  Governo apressado I A Receita Federal quer implantar ainda este ano o eSocial, um sistema informatizado para que todas as empresas brasileiras prestem contas de suas obrigações tributárias, previdenciárias e trabalhistas. Um sistema extremamente complexo. Dois problemas : o governo não anunciou a sua invenção. É de utilidade pública, assim as datas de vacinação. Logo, a maioria dos empresários ainda não sabe que têm esse compromisso pela frente. Segundo problema : como a declaração exige software específicos, muitas empresas nem tem como comprar. Depois, os softwares ainda estão sendo desenvolvidos. Em muitos pontos do país ainda nem existe banda larga ; é conexão discada mesmo, aquele martírio. Mas o governo não consulta, exige. O pior é que a Receita Federal simulou seus testes só com as grandes corporações, que têm como preencher os formulários. E as pequenas ? Governo apressado II O presidente do SESCON-SP, Sérgio Approbato Machado Filho, ergueu essa bandeira contra a pressa do governo em implantar o eSocial , uma grande injustiça com as micro e pequenas empresas brasileiras, ou 98% do setor produtivo do país. Pior : o sistema prevê punições e multas em caso de erro ou atraso nas informações. Ora, como o sistema é complexo, erros são possíveis e com boa fé. Atrasos também, pois os formulários equivalem a câmaras de tortura, principalmente com as informações trabalhistas. O SESCON vê avanço no sistema digital, pois elimina a papelada. O problema é a urgência, desnecessária. E espera do governo um mínimo de sensibilidade para adiar por mais tempo a implantação do programa. Se não adiar, fica configurado que o governo quer mesmo é arrecadar. E dos menores, para não fugir à regra. Conselho aos políticos Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes, membros dos Poderes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos candidatos. Hoje, reforça o conselho anterior. A pedidos. 1. Atentem para o ciclo que o país está vivendo. Cuidado com mais lenha na fogueira. O eleitor prepara-se para ouvir propostas. E não quer participar de querelas entre candidatos. 2. Este é o momento de planejamento de suas campanhas. Procure formar boa equipe, arrumar discurso eficaz, conseguir recursos necessários a uma boa luta e, desde já, disponha-se a gastar sola de alguns sapatos. 3. Leve verdade, muita verdade, para os eleitores. Só prometa o que poderá realizar.
quarta-feira, 19 de março de 2014

Porandubas nº 390

Conjunção rachativa Abro a coluna com uma historinha da BA. Grande de nome e pequeno de corpo, magricela, esperto, inteligente, José Antônio Wagner Castro Alves Araújo de Abreu, sobrinho-neto de Castro Alves, herdou o DNA, o talento e a vadiagem existencial do poeta. Não gostava de estudar. No esporte, era bom em tudo. Colega de Sebastião Nery, no primeiro ano do seminário menor, na BA, em 42, na aula de português, o padre Correia lhe perguntou o que era "mas". - É uma conjunção. - Certo, mas que conjunção ? Zé Antônio olhou para um lado, para o outro e respondeu : - Conjunção rachativa, professor. - Não existe isso, Zé Antônio. - Existe, professor. Quando a gente quer falar mal de alguém, sempre diz assim - Fulano até que é um bom sujeito, mas... E aí racha com ele. O clima ambiental Nem chuva demais, nem seca de menos. Não é o que ocorre em nossa natureza tropical. Refiro-me ao ambiente político. Não se distinguem, ainda, águas caudalosas descendo em direção ao oceano da política e nem a temperatura tórrida, sufocante, capaz de matar bode na caatinga. Não. Estamos vivenciando tempos com certa nebulosidade, com o céu povoado de nuvens plúmbeas, sem ameaça de catástrofe. O que tem muitos significados : nesse ambiente, Dilma continua como franca favorita ; Eduardo Campos, por ver enxergar a pasmaceira, bota mais ácido em seu discurso ; e Aécio Neves, por falta de grandes ideias para o país, tira do colete o nome de um vice que poderia movimentar a roda gigante da campanha. Quem ? Fernando Henrique. Ele mesmo. FHC como vice ? É possível. (Na política, tudo é possível). Basta ele querer. Pois um nome de peso, mais denso do que o de Aécio, na chapa majoritária Federal, seria um impacto. Dizem que FHC autorizou inserir seu nome nas pesquisas junto com o nome de Aécio. Procurei sondar : tucanos de bicos longos me disseram que nada é improvável. Ou seja, que depende de Fernando Henrique. Seria uma chapa tucana puro sangue. O fato é que seria algo menor para ele. Que está inteiro, correndo mundo, fazendo palestras e vivendo um novo casamento. Sua candidatura teria o mérito de agregar os tucanos paulistas e atrair grupamentos sediados na classe média. Classe média tradicional, não a classe média emergente, essa que se designa também por classe média C, localizada no pavimento inferior das classes médias (alta, média e baixa). Este consultor não aposta nessa firula. Luiz Inácio não toparia Ante essa estratégia, que se desenvolve no calor de debates internos e pesquisas encomendadas pelo PSDB, começa-se a abrir a hipótese de que a bicada tucana receberia uma estocada petista. Qual ? Luiz Inácio Lula da Silva, candidato a vice. Bom, puríssima especulação. Lula não toparia tal empreendimento. Por que ? Primeiro, porque arrebentaria a aliança com o PMDB, perda de quatro minutos de TV e corrida frenética dos exércitos peemedebistas em direção aos oposicionistas. Seria um embate histórico, única maneira de se chegar ao clímax da polarização entre os dois partidos. O Brasil seria dividido meio a meio. O ódio, a indignação, as estocadas de ambos os lados. Guerra sanguinolenta. Este consultor não põe um fio de cabelo na cabeça desta hipótese. Lula não é ela Lula acaba de dizer em São José dos Pinhais, no PR, por ocasião do lançamento da campanha da senadora Gleisi Hoffmann ao Governo : "votem em mim, votem nela. Porque ela sou eu". Luiz Inácio é conhecido por suas tiradas esquisitas. Mas querer se colocar no papel de todos os candidatos petistas, incluindo as mulheres candidatas, é, por assim dizer, uma inversão de perfis e de valores nunca vista "na história deste país". É claro que ele ainda é o maior cabo eleitoral tupiniquim, mas a auto-estima, quando chega ao topo do Himalaia, pode extrapolar e entrar, de maneira abrupta, no terreno da demência. Ocorre que Lula é assim (apertem e deslizem os indicadores das mãos um contra o outro) com Deus. José Saramago "Se tens um coração de ferro, bom proveito. O meu, fizeram-no de carne, e sangra todo dia." "Gostar é provavelmente a melhor maneira de ter, ter deve ser a pior maneira de gostar." "Não tenhamos pressa, mas não percamos tempo." "O que as vitórias têm de mal é que não são definitivas. O que as derrotas têm de bom é que também não são definitivas." Água secando urnas A falta d'água nas torneiras, nos próximos tempos, poderá ajudar a faltar votos nas urnas. De quem ? De candidatos que encarnem os Poderes. O eleitor tende a distribuir as culpas pelos governantes, principalmente o eleitorado da base da pirâmide. Racionamento de água vai fechar algumas torneiras. E deixar os eleitores indignados, abrindo as imprecações. Urnas sem luz No caso da energia, o governo Federal acionará as usinas elétricas. Nesse caso, as raivas só ocorreriam se os rombos - os bilhões para as distribuidoras - chegarem aos bolsos dos consumidores. Em forma de aumentos, de inflação, enfim, menos grana para pagar a cesta básica. Espera-se que o estouro da boiada não ocorra antes de outubro. O represamento das ondas de indignação é mais provável após a abertura das urnas. Nesse caso, Inês estará morta e vai adiantar pouco chorar. O fator Copa Este consultor já adiantou neste espaço sua visão sobre o fator Copa do Mundo no processo eleitoral de outubro. Os oposicionistas trabalham com a hipótese de que uma derrota do Brasil na Copa poderá azedar o ânimo nacional e isto ter consequências negativas sobre a candidatura de Dilma. Se o Brasil tiver boa performance, mas não ganhar a Copa, sustentam outros, os efeitos seriam tênues. E se o Brasil for o campeão mundial de futebol, Dilma estará consagrada já no primeiro turno, argumentam uns. Este consultor tende a crer que esporte e política são territórios bastante definidos. Por isso mesmo, os eleitores não tentarão imbricar um no outro. As questões de acesso aos estádios, as dificuldades de operação da Copa, os serviços de apoio, esses, sim, poderão resultar em manifestações e quebradeiras. Blocão quebrado O blocão interpartidário, criado com a finalidade de fazer pressão sobre o governo, acabou fragmentado, disperso e, se quiserem, transformou-se em quimera. Ninguém tenha dúvidas. O presidencialismo de caráter imperial que temos no Brasil é capaz de aliciar blocos, blocões, bloquinhos, boquinhas e bocarras. O rolo compressor formado por 250 deputados deu em nada. Bastou o governo afrouxar as torneiras e atender às demandas de grupos. O PMDB resiste ainda porque, conforme se viu, a "reforma ministerial" passou ao largo da bancada na Câmara Federal. As igrejas e o voto As igrejas evangélicas terão mais influência na campanha eleitoral que a igreja católica. Simples : os evangélicos são mais fechados, verticais, atendem a comandos, orientam-se de acordo com as normas emanadas de seus pastores. Os católicos são dispersos e não têm lideranças fortes, capazes de orientar o eleitorado. Resposta simplista para uma questão complexa. Mas pode ser a abertura para uma esquentada discussão. A dança das pesquisas Os partidos estão fazendo pesquisas. Mas não soltam. Não têm interesse. A próxima pesquisa eleitoral em SP deverá ser mais uma rodada do Datafolha. Há versões e contraversões. Uma delas aponta para uma quedinha do governador Alckmin. Que hoje estaria na faixa dos 30%. Mas pesquisa nesse momento abre apenas conversa. Tudo é flagrante do instante. Skaf com os dois lados Começa a ganhar força hipótese sobre a moldura eleitoral paulista. À princípio, a polarização PT versus PSDB tenderia levar Padilha e Alckmin ao segundo turno. À princípio. No meio e no final, a hipótese começa a definhar. O eleitorado está saturado de 20 anos de tucanato. O forte eleitorado de classe média - média/média e não média/baixa - expande a contundência contra o petismo. A reação ao prefeito Haddad é amostra disso. Paulo Skaf, do PMDB, insere-se nesse retrato como o perfil asséptico, vitaminado pelo empreendedorismo, sem contaminação com o vírus da velha política. Uma alternativa à polarização. Donde, pode se pinçar a hipótese : tem boas condições de entrar no segundo turno. Na segunda rodada, teria o apoio dos petistas contra Alckmin ; se o opositor for o Padilha, ganharia a preferência dos tucanos. Resumo da ópera : Skaf não é remota possibilidade, mas opção que se torna, a cada dia, mais sólida. Hecatombe na economia Dilma Rousseff continua favorita porque as bases macroeconômicas deste ano, neste momento, continuam muito parecidas com as do ano passado. A economia é a locomotiva. A política são os carros da composição. Se a locomotiva está em bom estado, o trem correrá tranquilamente pelos trilhos. Haverá percalços ? Analistas econômicos se dividem. Os não votos É bem possível que a abstenção, os votos nulos e brancos somem, este ano, cerca de 30%. Pode até ser mais que isso. A depender do clima ambiental da segunda quinzena de setembro. Muito quente, maior número de não votos. Clima agradável, menor número de não votos. Melhor escolaridade Pesquisa feita pelo economista Marcio Pochmann a pedido do Sindeepres, maior sindicato laboral representativo do setor de Terceirização (sob o comando competente de Genival Beserra), divulgada ontem, 18, mostra melhora significativa na escolaridade dos trabalhadores desse segmento : 57% dos entrevistados possuem ensino médio completo ou incompleto, 28% estudaram até o nível fundamental e 5% concluíram algum curso superior. Foram consultados 813 trabalhadores terceirizados no Estado de SP. Tendência mundial De acordo com a Organização Internacional do Trabalho (OIT), os contratos clássicos de trabalho tendem a ceder espaço a outras modalidades mais modernas e flexíveis nos países desenvolvidos, seguidos pelos emergentes. Quatro em cada 10 terceirizados entrevistados - 42% da amostragem - são funcionários de uma prestadora de serviços há menos de doze meses. Apenas 5% trabalham há mais de oito anos com o mesmo empregador, o que evidencia que a transformação do mercado de trabalho começa realmente a chegar nas bandas de cá. Guerra Fria ? Gorbachev, o cara da Perestroika, faz um alerta : cuidado, pessoal, não resgatem as condições da Guerra Fria. Tudo por conta da Crimeia e sua anexação à Rússia. O alerta do Gorba é dirigido a Putin e a Obama. Será que, em plenos meados da segunda década do século XXI, o planeta ainda pensa em guerra entre as potências ? Eduardo e Collor ? Esta é uma incógnita. Lula teria atirado pesado em Eduardo Campos em recente almoço com empresários. Chega a versão de que dissera : "A minha grande preocupação é repetir o que aconteceu em 1989 : que venha um desconhecido, que se apresente muito bem, jovem. e nós vimos o que deu". Imediatamente, veio a ideia de que a comparação era com Collor. Este consultor está pasmo. Os dois pernambucanos, mesmo separados, fizeram juras de eterna amizade. Conselho aos candidatos a deputado Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes, membros dos Poderes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos assessores de candidatos e marqueteiros. 1. O clima eleitoral deste ano favorece candidatos a deputados que mais se identifiquem com os problemas e demandas de regiões. Daí a importância de mapear as situações regionais. 2. O eleitor procura perfis mais próximos ao seu cotidiano, aqueles que conhecem as localidades e lá apareçam de maneira continuada. Recriminam os chamados deputados "Copa do Mundo", aqueles que só visitam a região de quatro em quatro anos. 3. Essa tendência aponta para a regionalização do voto, em outros termos, no voto mais distritalizado. Atentem para a tendência, senhores candidatos.
quarta-feira, 12 de março de 2014

Porandubas nº 389

Pelo correio, não ! Abro a coluna com uma historinha do alto sertão da PB. A campanha de 1994 mobilizava todos os políticos. Contra o PMDB velho de guerra, Lúcia Braga, pelo PDT, para governadora. Naquele final de semana, as principais lideranças do partido estavam em Cajazeiras : Antonio Mariz (que ganhou a campanha), José Maranhão, Humberto Lucena e Ronaldo Cunha Lima se movimentavam para definir a eleição a partir no Sertão. Estavam todos na casa de um velho líder político em Cajazeiras, quando chegou um antigo correligionário de Humberto, que lhe fez um relato dramático. Dizia que sua esposa se encontrava operada no Hospital Edson Ramalho, em João Pessoa, e ele não tinha sequer o dinheiro da passagem. Humberto, sensibilizado com a situação, decidiu ajudar. Tirou do bolso uma nota de um R$ 1 e deu ao rapaz. Quando viu o dinheiro, o rapaz balbuciou : - Senador, eu quero ir pelo menos de ônibus. Pelo correio, não ! A campanha começou A foto da presidente Dilma com Lula, dando-se as mãos em torno de uma mesa no Palácio da Alvorada, inaugura oficialmente a campanha. Que, segundo o calendário eleitoral, deve ir às ruas apenas em 6/7. Mas, como sabemos, no Brasil, tudo pode ser feito, inclusive o que é proibido. Na foto, o time que vai comandar o pleito, tendo a frente o marqueteiro João Santana e o jornalista Franklin Martins, este designado comandante da comunicação nas redes sociais. O ministro Mercadante, propositalmente, foi escondido pelo fotógrafo. Ficaria feio o chefe da Casa Civil fazendo reunião de campanha. O menestrel Lula será o menestrel da campanha. Dará o tom geral. Correrá o país em trajetória própria. Quer duplicar a caravana, Dilma, de um lado, ele, de outro. Meta : fazer o maior número de governadores, 130 deputados Federais, e, ainda, a maior bancada de deputados estaduais. Com esse arsenal, o PT fará uma campanha para arrebentar a boca do balão em 2016 : o maior número de prefeitos e vereadores. À vista, o projeto de eleição de Lula, em 2018, com reeleição em 2022. O projeto do PT é grandioso : até 2030. Grana, dizem, existe. E muita. Daí o interesse em sufocar o PMDB. O PT quer que os partidos sejam todos médios. Só ele, gigantesco. A ele, o filé. Aos outros, o osso. Barão de Itararé I "O uísque é uma cachaça metida a besta". "O que se leva desta vida é a vida que a gente leva". "A criança diz o que faz, o velho diz o que fez e o idiota o que vai fazer". "Os homens nascem iguais, mas no dia seguinte já são diferentes". "Dize-me com quem andas e eu te direi se vou contigo". Campos azeda a língua Eduardo Campos azedou a língua. Jamais havia se referido de maneira negativa à presidente Dilma. Agora, proclama : o país não aguenta quatro anos mais de Dilma. Ou seja, definiu o território. O leão, ele, a leoa, ela, estão com os espaços definidos. Lula, que é amigo de Eduardo Campos, deve se achar liberado para mandar brasa no verbo. Vamos esperar o que pode ocorrer. Os bilhões - uns 50 - injetados em PE, para alavancagem do Estado, vieram lá de cima. Lula e Dilma deverão dizer isso quando percorrerem as pernambucanas terras. PMDB x PT Se o PT tem 19 ministérios, quantos ministérios deveria ter o PMDB ? Pelos cálculos de analistas políticos, entre 12 e 15. Afinal, o partido tem a maior bancada de senadores, a maior bancada de deputados estaduais, as maiores bancadas de prefeitos e de vereadores. Só perde para a maior bancada de deputados Federais, que é do PT. Petistas podem dizer : mas o governo é do PT. E o que é o tal presidencialismo de coalizão ? Brincadeira ? Ficção ? Rótulo para inglês zombar dele ? Ou será que o projeto hegemônico do PT despreza esse tal presidencialismo de coalizão ? A Geni da República O fato é que o PMDB, que age como uma confederação de partidos regionais, ganhou fama de fisiológico. Qualquer coisa que fizer acaba levando a pecha de partido que quer abocanhar fatias do poder. Veja-se a crise do momento. A questão é menos de espaço na Esplanada dos Ministérios e mais na frente das parcerias regionais. O PT só pensa em eleger o maior número de governadores. Não quer abrir espaços ao PMDB. Ora, os deputados, ante a percepção de que serão sufocados, agem em defesa de sua sobrevivência. Só em dois ou três Estados, o PT tende a apoiar candidatos do PMDB. E João Santana, de olho nas pesquisas, cochicha no ouvido da presidente : não dê trégua ao PMDB, mande brasa, o povão gosta disso, faça a faxina ética. Puro jogo de cena. Ou seja, o partido virou a Geni da República. Barão de Itararé II "A forca é o mais desagradável dos instrumentos de corda". "Sábio é o homem que chega a ter consciência da sua ignorância". "Não é triste mudar de ideias, triste é não ter ideias para mudar". "Mantenha a cabeça fria, se quiser ideias frescas". "O tambor faz muito barulho, mas é vazio por dentro". Lata d'água na cabeça A imagem da lata d'água na cabeça é bem nordestina. E ecoa os cantos da seca. Pois bem, a falta de água em SP poderá bater na cabeça de Geraldo Alckmin. Que teria deixado de investir em reservatórios. Que não priorizou o abastecimento de água. E que carece da boa vontade de São Pedro para que o sistema Cantareira possa sair dos seus atuais 15,8% de reservas para uns 25% a 30%. A massa tende a jogar no colo dos governantes parcelas de suas agruras e aflições. Luz para ver a novela Se faltar luz para que as galeras possam ver as novelas de sua predileção, nos horários nobres, é possível que o choque das tomadas chegue aos braços de dona Dilma Rousseff. Apagão dá rima em televisão. Temos, ainda, uma Copa do Mundo. Deus nos livre de falta de luz em estádios, em casos de jogos noturnos. Mas isso é especulação. Façamos uma oração a São Francisco. Com a ajuda do papa Francisco. Mesmo que ele venha a torcer por sua querida Argentina. Poder público na berlinda Todos conhecem a historinha : há quatro tipos de sociedade no mundo. A primeira é a inglesa, libertária, onde tudo é permitido, salvo o que for proibido ; a segunda é a alemã, autoritária, onde tudo é proibido, salvo o que for permitido ; a terceira é a fascista/nazista, ditatorial, onde tudo é proibido, mesmo o que for permitido ; e a quarta é a brasileira, onde tudo é permitido, mesmo o que for proibido. Ora, o próprio Poder Público é quem abre o terreno das proibições e das coisas erráticas. Veja este caso : há semanas, viu-se uma mancha no mar de Búzios, com ocorrência de intoxicação de pessoas. A balbúrdia se instalou. Sem laudos técnicos, sem comprovação, o poder público trombeteou : foram os transatlânticos que jogaram seu lixo no mar. E haja verbos duros contra os navios. TVs, jornais e revistas foram inundados de matérias sensacionalistas. A imagem suja É assim que a imagem de um setor entra, de repente, no buraco sujo. Pouco adianta dizer que os descartes de lixos de navios com a mais alta tecnologia e segurança são feitos em terra ; pouco adianta dizer que os produtos encontrados nas águas de Búzios não são usados pelos transatlânticos ; pouco adianta insistir : apurem o caso com responsabilidade. Autoridades municipais e estaduais abrem uma locução popularesca. Afinal de contas, estamos em ano eleitoral e políticos precisam de "bodes expiatórios". Na ausência de um, mandam balas nos navios. Até o momento, os laudos ainda não conclusivos mostram que a contaminação não foi provocada por lixo de navios de cruzeiros. Mas, quem vai limpar a tinta suja jogada sobre eles ? Por falta de argumento sólido, as autoridades ficam na moita. Escondem-se. Deram um fora e procuram, agora, o esconderijo do silêncio. Esse é o Brasil, onde até o Poder Público é iconoclasta, destruidor de imagens. Brasil dos velhos vícios. Brasil da demagogia ! Barão de Itararé III "Genro é um homem casado com uma mulher, cuja mãe se mete em tudo". "Neurastenia é doença de gente rica. Pobre neurastênico é malcriado". "De onde menos se espera, daí é que não sai nada". "Quem dá aos pobres ou empresta, adeus". "Pobre, quando mete a mão no bolso, só tira os cinco dedos". Biondi e Duda Nelson Biondi vai cuidar do marketing televisivo de Geraldo Alckmin. Um profissional sério e experiente. Não é dado a espetacularização. Por isso, não se espere uma campanha agressiva. Duda Mendonça vai cuidar da campanha televisiva de Paulo Skaf. Trata-se de um ás do marketing político. Muito criativo. Ambos, Biondi e Duda, foram companheiros em célebres campanhas em SP, como a de Paulo Maluf. Uma boa dupla em campos opostos. Eunício e Tasso Não está fechada a hipótese de parceria entre PSDB, de Tasso Jereissatti, e PMDB, de Eunício Oliveira, no CE. Tasso poderá voltar ao Senado e Eunício deixar o Senado para ser governador. PSB/Rede Este consultor não tem dúvida : qual seja o resultado do pleito de outubro, quem ganhará de qualquer jeito é o PSB/Rede de Eduardo Campos e Marina. Perdendo, ele eleva seu nome no ranking da política nacional, abrindo caminhos para a luta de 2018. Já será conhecido. E Marina, com sua Rede consolidada, poderá, amanhã, firmar posição, sozinha ou ainda acompanhada de Campos. Barão de Itararé IV "O banco é uma instituição que empresta dinheiro à gente, se a gente apresentar provas suficientes de que não precisa de dinheiro". "Tudo seria fácil, se não fossem as dificuldades". "A televisão é a maior maravilha da ciência a serviço da imbecilidade humana". "Este mundo é redondo, mas está ficando muito chato". "Precisa-se de uma boa datilógrafa. Se for boa mesmo, não precisa ser datilógrafa". "O fígado faz muito mal à bebida". Conselho aos assessores e marqueteiros Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes, membros dos Poderes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos pré-candidatos. Hoje, dedica sua atenção aos assessores e marqueteiros. 1. Ocorre significativa mudança na feição social. As ruas estão movimentadas e as mobilizações se multiplicam na esteira da organicidade social mais intensa. Significa desejo de participação mais ativa de grupos e contingentes no processo político. 2. Mudanças nos sistemas de cognição/percepção dos eleitores sinalizam maior preocupação e atenção para os conteúdos e propostas. Promessas mirabolantes e firulas visuais de efeito pictórico não terão, nesta campanha, tanto impacto como os fura-filas do passado. Há de se ter cuidado com mirabolâncias. 3. Os eleitores querem sentir o candidato, apurar sua verdade, olho no olho, e avaliar se suas propostas são críveis e factíveis. Esse será um dos diferenciais nos pacotes mercadológicos desse ano.
quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

Porandubas nº 388

Abro a coluna com uma historinha dos "Albuquerque" das terras pernambucanas e paraibanas. "Xecape" Despachado, bom de lábia, ar brejeiro, dono de fazendas, Carlucho Albuquerque aproveitou a viagem ao Recife para matar saudades. Afinal, poderia assistir ao desfile de maracatus e visitar o velho museu para apreciar a decoreba que os meninos de Olinda fazem sobre a saga de sua família, os Albuquerque, aberta por Matias de Albuquerque, 1595/1647. Depois do lazer, Carlucho foi ao médico fazer um exame geral. O médico pergunta : - Sr. Carlucho, o senhor está em muito boa forma para 40 anos. - E eu disse ter 40 anos ? - Quantos anos o senhor tem ? - Fiz 58 em maio que passou. - Puxa ! E quantos anos tinha seu pai quando morreu ? - E eu disse que meu pai morreu ? - Oh, desculpe ! Quantos anos tem seu pai ? - O véio tem 82. - 82 ? Que bom ! E quantos anos tinha seu avô quando morreu ? - E eu disse que ele morreu ? - Sinto muito. E quantos anos ele tem ? - 103, e anda de bicicleta até hoje. - Fico feliz em saber. E seu bisavô ? Morreu de quê ? - E eu disse que ele tinha morrido ? Ele está com 124 e vai casar na semana que vem. - Agora já é demais ! Por que um homem de 124 anos iria querer casar ? - E eu disse que ele queria se casar ? Queria nada, mas ele engravidou a moça, coitada. Carlucho se orgulha da tradição dos Albuquerque de PE. Volta, Lula O movimento Volta, Lula cresceu nas últimas semanas. Razão : cresce a insatisfação com a maneira de ser/governar da presidente Dilma. A indignação abriga partidos da base aliada, empresários e parcelas do próprio PT. Dos partidos da base aliada, o PMDB é o mais evidente. O partido é o mais capilar do país, o que tem maior número de prefeitos, vereadores, deputados estaduais e senadores. Quer uma participação à altura de seu porte no governo. Tem cinco ministérios, alguns sem ministros com poder da caneta. Empresários também se queixam da intensa interferência da presidente no mercado. Torcem o nariz para ela e abrem o sorriso para Eduardo Campos. A terceira banda da revolta abriga petistas, particularmente, partidários da ala Construindo um Novo Brasil, CNB, a do Lula. Consideram-se alijados do governo. Fica, Lula Mas o ex-presidente Luiz Inácio não dá trato às conversas do Volta, Lula. Mantém-se irredutível. Só admite ser estepe do pneu do carro em movimento, caso este saia da estrada por capotagem. Leia-se : hecatombe na economia. Entrar no lugar de Dilma seria admitir que ela fracassou. Lula fará, isso sim, uma campanha em paralelo como forma de animar as bases petistas e preparar, ele mesmo, a avenida para seu desfile em 2018. Por isso, dá trela ao clamor : Fica, Lula. As caravanas Lula respira política pelos poros. Está certíssimo quando sugere aos petistas esforço para que resgatem, nos Estados, a ideia das "caravanas da Cidadania". O momento é das ruas. Não é de gabinete. O marketing nunca foi tão propício para abrigar as estratégias de articulação e mobilização quanto nessa quadra de efervescência social. Cuidado, pré-candidatos, campanha não é apenas TV. Atenção na cidade inteira "Volte sua atenção para a cidade inteira, todas as associações, todos os distritos e bairros. Se você atrair à sua amizade seus líderes, facilmente vai ter nas mãos, graças a eles, a multidão restante." (Cícero - Manual do candidato às eleições, 34 A.C.) Mercadante sem mercadar Devemos entender, aqui, o verbo mercadar como neologismo para significar articular, negociar, ajustar, etc. Pois bem, a ideia da presidente, ao que se comenta, era escolher um perfil mais denso para melhorar a relação com o Congresso (senadores e deputados). Mas o fato é que, desde a posse de Aloizio Mercadante, a situação ficou mais azeda. Traumática. Dizem que ele é mais duro do que a ex-chefe da Casa Civil, a senadora Gleisi Hoffmann. Não houve tempo (ou houve ?) para Mercadante mostrar serviço, dizem uns. A conferir : até quando o caldeirão ferverá ? Ano curto : 70 dias úteis Os cálculos são estes : 50 dias úteis nesse 1º semestre de ano político-congressual ; 20 dias úteis no 2º semestre. Portanto, não haverá condição de votar matérias importantes, principalmente, as de caráter polêmico. Mas o presidente da Câmara, Henrique Alves, quer votar duas propostas quentes : o marco civil da Internet e o Código de Mineração. Rolecopa Sim, os rolês deverão continuar por ocasião da Copa do Mundo. Quem garante são os rolezeiros da banda Black Blocs. Que ameaça depredar ônibus que transportarão jogadores estrangeiros aos estádios de futebol. Essa turma quer posar de herói na marra. Quer ver fotos estampadas nos jornais. Quer ver as rachaduras do vandalismo. Haja catarse. A burrice campeia. Como gritava Ortega Y Gasset : é a preamar do niilismo. Classe média segura Alckmin ? Geraldo Alckmin, em SP, é o perfil votado em algumas eleições pelas classes médias de SP. Em ciclos de polarização com o PT. A dúvida se instala : os contingentes médios continuarão a acompanhar Alckmin ? Tudo vai depender do clima de agosto/setembro. É possível que a briga com o lulismo/petismo se acirre; é possível que amaine. O perfil que pode entrar no meio da arenga é de Paulo Skaf. A conferir. E as chances de Kassab ? Gilberto Kassab é exímio articulador político. Não é um perfil de massas, capaz de fazer grandes mobilizações. Tem 5% de intenção de voto, hoje. Poderá chegar aos 10%. Teria condições mais vantajosas caso fizesse uma aliança entre PSD e PMDB, saindo ele como candidato ao Senado na chapa de Skaf. E Meirelles ? Kassab quer o ex-presidente do BC como candidato a senador em sua chapa. Trata-se de uma alternativa com menor chance de vitória. A conferir. Macroeconomia de 2014 Até o momento, os dados, mesmo ínfimos, não conseguem mostrar um cenário ameaçador para a presidente Dilma. Mantidas as condições de 2013 para 2014, Dilma continua sendo franco favorita : 1,5% a 1,7% de crescimento; inflação, entre 5,5% a 6%. Emprego : estabilidade. O trio de amigos Disparam perguntas a este consultor : e o trio de amigos do Brasil não terá influência sobre o processo eleitoral ? Mais exatamente : Nicolas caindo de Maduro, Argentina desabando de Cristina Kirchner e o Porto de Mariel navegando no dinheiro brasileiro não influenciarão negativamente a campanha do PT ? Respondo : não. Apenas reforça o voto de eleitores antipetistas, que terão mais motivos para indignação. As bases estão distantes dessa esfera conceitual. Quer a equação BO+BA+CO+CA (Bolso cheio, Barriga satisfeita, Coração Agradecido, Cabeça capaz de agradecer com o voto). E querem ver outra equação, como veremos embaixo. Serviços de qualidade A classe média emergente - essa que ingressa no meio da pirâmide, mas não atingiu ainda o patamar da classe média tradicional - quer mais serviços de qualidade. Sua equação, agora, é a da cabeça, mais que a do bolso. Transporte bom e barato, estabelecimentos hospitalares com acesso e capazes de fazer um bom atendimento, segurança das comunidades. Bolsas que possam gerar algo mais que a satisfação da barriga. Haddad vai subir ? Difícil subir em pouco tempo. O prefeito de SP cometeu alguns deslizes, como a tentativa de impor um IPTU nas alturas. As faixas restritas aos ônibus podem ter melhorado o ânimo dos usuários, mas o trânsito de SP ficou caótico. A classe média tradicional não fala bem do prefeito. E vai levar para as urnas um pontinho a mais contra Alexandre Padilha. 30% históricos O PT teve, desde 2000, 30% históricos de votos em SP. Daí a pergunta : Padilha atingirá o patamar clássico do PT ? Desta feita, há forte tendência do petismo não chegar aos 30%. Hoje, a sinalização é a de que chegue entre 20% a 25%. Nesse caso, ameaça não entrar no 2º turno. Tudo, claro, vai depender da Dona Economia. Responsável pelo bom humor ou indignação da Senhora População. Dilma com menos Dilma conquistou vitórias retumbantes nos Estados do AM, CE, PE, BA e RS. Hoje, esses Estados estão bem divididos. Ela teria perdido uns 30% dos votos destas regiões. Claro, deve ser recompensada em outros Estados. Essa observação reforça a tese de uma campanha adentrando o segundo turno. Hoje, essa hipótese é de 70 na régua de 100 metros. Entusiasmo Não vejo entusiasmo de grupos com a política. Sinto : distanciamento, crítica, denúncias, frieza no trato da política. Mas vejo "cabeças de ponte" alisando partidos, adulando, bajulando, elogiando certos partidos e perfis pessoais. Pelas redes. Nunca a internet foi tão usada e "abusada" para servir de esteira de candidaturas e pessoas. Coeficiente eleitoral em SP Vejamos qual o coeficiente eleitoral para deputado Federal em SP. Número de eleitores : 32 milhões. Imaginemos uma abstenção de 20%, um pouco mais que nas eleições de 2010; imaginemos votos nulos e brancos somando uns 10%. Não votos : 30%. Teremos, então, 22.400.000 votos válidos. Há 70 vagas de deputado Federal. Os votos válidos divididos por 70 equivalem a 320.000. Esse é o coeficiente eleitoral. Bastante alto. E o coeficiente partidário ? Digamos que um partido tenha obtido dois milhões de votos válidos (nominais a seus candidatos e em legenda). Dividindo esses dois milhões pelo coeficiente eleitoral, veremos que esse partido terá direito a seis vagas. Há, ainda, um calculo de sobras. Outro calculo noutra ocasião. Tirem suas conclusões, candidatos. Se seu partido tiver poucos votos, suas chances serão mínimas. Daí o interesse de alguns partidos em fazer coligações. PSDB e PT PSDB e PT esperam obter, cada um, entre oito a dez milhões de votos, alcançando, assim, entre 25 a 31 deputados Federais. No mínimo. Supressão das provas A 6ª turma do STJ anulou provas produzidas em interceptações telefônicas e telemáticas (e-mails) realizadas na operação Negócio da China, deflagrada em 2008. Como se recorda, a operação foi deflagrada para investigar suspeitas de contrabando, sonegação de impostos e lavagem de dinheiro pelo grupo Casa & Vídeo. Os ministros consideraram que a conservação das provas é obrigação do Estado e sua perda impede o exercício da ampla defesa. Concederam o habeas corpus para anular as provas produzidas nas interceptações telemáticas e telefônicas. Determinaram ao juízo de 1º grau que as retirasse integralmente do processo e que examinasse a existência de prova ilícita por derivação. Tudo deverá ser excluído da ação penal em trâmite. A defesa alegou nulidade das provas ante a inviolabilidade do sigilo das comunicações telegráficas e de dados, prevista no artigo 5º, XII, da Constituição Federal. O criminalista Fernando Fernandes foi o advogado. Sustentou a falta de acesso dos investigados às provas, devido ao desaparecimento do material obtido por meio da interceptação telemática e de parte dos áudios telefônicos interceptados. Conselho aos pré-candidatos Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes, membros dos Poderes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos integrantes do aparato policial. Hoje, volta sua atenção aos pré-candidatos : 1. Chegou a hora de formar suas estruturas de trabalho na campanha e a organizar o discurso. Nesse sentido, urge apurar o sentimento das ruas, as ondas que rolam na sociedade, a tipologia de demandas comunitárias; 2. Campanha eleitoral não é apenas TV. A campanha deste ano requer atenção especial às estratégias de articulação e mobilização, em consonância com o espírito das ruas; 3. Atentem para as equipes de conteúdo, dando a elas a importância devida nas estruturas de campanhas. O eleitor quer ouvir propostas sérias, críveis e viáveis. E arquivem as promessas mirabolantes.
quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

Porandubas nº 387

Plural garante emprego Abro a coluna com Arandu, em SP, cuja história começa com um pequeno povoado, no bairro do Barreiro, no município de Avaré. Em 1898, um pedaço de uma fazenda leiteira da região foi doado para a construção de uma capela. Elevado a distrito de Avaré/SP, em 1944, recebeu na ocasião a atual denominação. Em 1964, conquistou a emancipação política. No primeiro comício, os candidatos a prefeito exibiam seus verbos. Dentre eles, o matuto José Ferezin. Subiu ao palanque e mandou brasa : "Povo de Arandu, vô botá água encanada, asfaltá as rua, iluminá as praça, dá mantimento nas escola...". Ao lado, um assessor cochichou : "Zé, emprega o plural". O candidato emendou : "Vô dá emprego pro prural, pro pai do prural e pra mãe do prural, pois no meu governo não terá desemprego". (Historinha enviada por Marcio Assis) PT abre a campanha A campanha eleitoral começou. Sabe-se que o prazo legal para candidatos irem às ruas é 6 de julho. Mas poucos observam isso. O candidato do PT, Alexandre Padilha, foi entronizado por Lula em comício no interior. Até ônibus especial, que se transformará na casa ambulante de Padilha, foi devidamente preparado. A campanha do PT será muito organizada. Terá comitês de conteúdo, batalhão de comunicadores e repassadores de informações, analistas de pesquisas, coordenadores regionais, tesoureiro, agências e consultores variados. Será a campanha mais densa da história do PT em SP. Mote : ou vai ou racha. O chefe da comunicação é o jornalista Eduardo Oinegue. A caravana O candidato Padilha agora é funcionário do PT, com salário de R$ 10 mil mensais. Vai fazer uma batelada de viagens pelo Estado em um ônibus especial. As caravanas lembrarão o roteiro de Lula. O ônibus, que não deve fazer nenhuma referência direta às eleições por conta de legislação, adquirido por leasing, foi adaptado para abrigar cerca de 12 pessoas. O veículo será uma espécie de escritório volante, com uma mesa de reuniões. Articulação e mobilização O PT estabeleceu uma agenda com atividades fechadas, sem atos na rua, ora com os militantes, ora com setores da sociedade, como universidades, empresários e lideranças religiosas. A preocupação é colher elementos para o programa de governo, garante Emídio de Souza, o esforçado e competente presidente do partido em SP. PSDB verticaliza O PSDB decidiu impor ordem na casa. Quer imitar o PT e vai verticalizar os comandos. Intenção é : ajustar, padronizar, normatizar as linguagens. Como o PSDB é um partido de caciques, há muita particularidade, muitos feudos. A ordem é compor uma unidade. Com um discurso homogêneo, que possa ser capilarizado. De cima para baixo. Andrea Neves, a irmã de Aécio, vai dar um empurrão nessa meta de verticalização do marketing. Temperatura ambiente A temperatura subiu neste verão. Mais que em outros verões. No Rio, chegou aos 42º C. Em SP, 38º C. Sensação térmica em alguns lugares beirando os 50º C. Mas a temperatura ambiental está mais alta. Refiro-me ao clima que se respira nas ruas : insegurança, medo, assaltos, black blocs, assassinato de cinegrafista, greve de ônibus, greve de policiais Federais, movimentos em série, vandalismo, repressão policial, descrença nos políticos, inflação se expandindo nas gôndolas de supermercados e feiras-livres, falta de energia, apagões, falta d'água, etc. Até parece que um cordão embebido de gasolina corre em direção ao arsenal de pólvora. Exagero ? Pode ser. Mas a imagem, confesso, bateu na mente. Enxergo um estado geral de beligerância. O arsenal da guerra eleitoral A campanha eleitoral deste ano, para ser eficiente e eficaz (entenda-se, nos meios e resultados) deve usar de maneira harmoniosa as ferramentas e suportes de guerra. Vamos lá : a infantaria pode ser entendida como os batalhões especializados em ações táticas em terreno hostil, no caso, os cabos eleitorais correndo para tirar votos dos adversários para os seus candidatos; são esses que olham diretamente para o eleitor de fim de linha. A cavalaria, hoje formada por carros de combate, pode ser entendida como os eventos nas cidades, com algum barulho para animar as massas eleitorais. A artilharia, composta por mísseis balísticos de longo, médio e curto alcance, é formada pelos canhões do rádio e TV nos programas eleitorais. Neste caso, a artilharia agrega também as comunicações. A engenharia agrega o planejamento da campanha, com foco na formação das propostas. O candidato é um composto de materiais bélicos, e deve se fazer presente em todas as frentes. De vanguarda e retaguarda. Pedindo votos e ouvindo conselheiros. PMDB e a corda Esta semana, mais uma rodada de conversações deve ocorrer entre a cúpula do PMDB e a presidente Dilma ou interlocutores. O governo estica a corda. E o PMDB a estica. A queda de braço deverá gerar pequena ruptura, não a ponto de inviabilizar a parceria entre peemedebistas e petistas. Quebrar a força Uma certeza vai se adensando nas entranhas da política. Projeto do PT é estiolar a força do PMDB, fazer secar suas fontes de poder. Para isso, o PT quer fazer as maiores bancadas de deputados (Federal e estadual), o maior número de governadores e de prefeitos. Nos últimos tempos, tem dado sinais de seu projeto. Fontes secam Os reservatórios exibem índices alarmantes. Há pouca água para atender a demanda nacional. A situação do Sudeste é precária. O governo garante que não faltará energia. E que as térmicas estão esperando acionamento. Claro, o custo vai subir. O governo aguentará o rombo ? Haverá racionamento ? Já imaginaram o clima eleitoral com falta de água e de luz ? A volta de Lula Por enquanto, são apenas versões. Mas o clima social, tenso e tendente a ficar mais quente, abre muita especulação. Fala-se bastante em Lula como estepe. Se a crise se intensificar, diz-se, Lula entraria tranquilamente no lugar de Dilma. Até porque estará fazendo campanha em paralelo. Quer se fazer do escudo de Dilma. Querem fazê-lo candidato no lugar da pupila. Este consultor registra a hipótese, mas não acredita que seja viável em 2014. Agenda agitada Agenda das Casas Congressuais tende a ser agitada. Na pauta, o marco civil da internet, o Código de Mineração (regras para exploração das riquezas nacionais), a reforma dos presídios, a reforma do Código Civil e até a reforma política. Este consultor acredita que não haverá ânimo para grandes debates. Os parlamentares estarão com a cabeça voltada para as bases eleitorais. Pergunta indiscreta ?  Por que o PT e a CUT não se engajam na luta para corrigir o FGTS pela inflação? A correção foi alterada em 1999, no governo do PSDB, em prejuízo dos trabalhadores. Em mais de uma década de poder, o PT nunca quis tratar desse assunto. Contas da esplanada Ilimar Franco, o bem informado colunista de O Globo, fez as contas das correntes petistas no Ministério. A tendência Um Novo Brasil, do PT, com 45 deputados e 12 senadores, tem 10 ministérios. (Mas tem a bancada inferior a do PMDB, que tem apenas cinco ministérios). A corrente Mensagem, do PT, com 12 deputados, tem um ministério, bancada inferior à do PTB, que não tem nenhuma pasta. A Democracia Socialista, do PT, com oito deputados e um senador, tem um ministério.(O PROS, que tem mais cadeiras no Congresso, nada possui). E o Movimento PT, com oito deputados, tem uma pasta. (PP, PR, PDT e PC do B têm mais parlamentares que aquela tendência para ganhar sua cota). A liturgia destoante I O vice-presidente da Câmara dos Deputados, André Vargas, elevou o punho fechado, forma de "cumprimentar os companheiros", por ocasião da abertura do ano legislativo. Ao seu lado, o ministro JB, presidente do STF, que comandou a AP 470, o mais longo da história da Corte e que condenou importantes quadros do PT, hoje presos no presídio da Papuda, em Brasília. O gesto não combinou com a liturgia, ainda mais pelo fato de Vargas portar o segundo cargo mais importante da Casa do Povo. Foi um ato escasso de polidez. A liturgia destoante II Do alto de seus domínios, o ministro Edison Lobão garantiu que o risco de faltar energia este ano é zero. Valia-se de dados que mostram uma sobra de energia de 1.773 MW, "valor que deve dobrar esse ano". No mesmo dia, leu-se que o déficit de energia passará este ano de 20% nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste. No dia seguinte, um apagão deixou sem energia seis milhões de pessoas nessas regiões, incidente que, segundo o governo, não teve vinculação com a sobrecarga do sistema nem com os baixos níveis de reservatório. Garantias e realidade são dissonantes. A situação das represas do Sudeste é a pior desde 1953, com 39,98% de sua capacidade, alerta o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS). A liturgia destoante III Cheguemos, agora, à Petrobras. No ano passado, registrou a maior perda de valor de mercado, em termos nominais, passando de US$ 124,7 bilhões no fim de 2012 para US$ 90,6 bilhões semana passada, em um recuo de US$ 34,1 bilhões. Portanto, o momento não é de comemorar, brindar o sucesso. O clima é de velório. E o que se vê ? Pesada campanha na TV, em comemoração aos 60 anos da empresa. A Petrobras fez aniversário em 3 de outubro do ano passado, quando a fornada publicitária foi lançada. Há motivo, quatro meses depois, para se fazer loas à ex-primeira empresa brasileira, cujas ações derretem na Bolsa de Valores ? Mais uma dissonância. A liturgia destoante IV A liturgia dos Poderes recomenda respeito e obediência aos ritos, normas, gestos e ações inerentes às funções que exercem. O Poder Judiciário deve ser exemplo de recato. Bacon, por volta de 1620, já pregava que os "juízes devem ser mais instruídos que sutis, mais reverendos que aclamados, mais circunspectos que audaciosos". Bela lição sobre as virtudes da magistratura. Por isso, é estranho ver altos magistrados deixando a toga de lado para usar verbos de tom político. O ministro Gilmar Mendes, um dos mais preparados da Suprema Corte, sugeriu investigação sobre as doações feitas aos apenados na AP 470, por meio de campanhas por eles acionadas nas redes sociais, nas quais vê indícios de lavagem de dinheiro. É verdade que as altas arrecadações surpreendem, principalmente quando se tem em conta o esforço de candidatos, como a presidente Dilma, que alcançaram resultados pífios quando tentaram angariar recursos pela internet. Mesmo assim, o sucesso da operação não justifica que um alto magistrado abra a boca para criar polêmica. Conselho às polícias Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes, membros dos Poderes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos investidores. Hoje, dedica sua atenção aos integrantes do aparato policial. 1. O ambiente está tenso e turvo. O país está vivendo uma intensa crise de autoridade, que tem como pano de fundo a descrença na política e nos governantes e a precariedade dos serviços públicos. Por isso, os grupamentos policiais precisam compreender a natureza das manifestações e planejar suas ações, sobretudo no campo da prevenção e da inteligência.2. Urge ter bastante cuidado para evitar a repressão que deflagre o conceito de violência gerando violência. Urge reprimir ondas de vandalismo do império da desordem. 3. O Brasil se prepara para abrigar o maior evento esportivo mundial. 100 mil homens das forças Federais e estaduais estarão envolvidos nos sistemas de segurança para a Copa. Urge muito preparo, muita cautela, muito bom senso. A segurança pública será um teste decisivo para consolidar a imagem do Brasil.
quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

Porandubas nº 386

Zeca de Campina Grande Abro a coluna com Zeca Boca de Bacia, personagem folclórico de Campina Grande/PB. Amigo de políticos, prestava assessoria informal a Ronaldo Cunha Lima (falecido, ex-governador) e a seu filho Cássio, senador. Zeca abria as risadas. Em uma de suas internações na clínica Santa Clara, em Campina Grande, a enfermeira foi logo perguntando : - Zeca, qual o seu plano (de saúde) ? E ele : - Ficar bom ! Outra vez, Zeca pegou um táxi em Brasília para ir à casa de Ronaldo Cunha Lima. Em frente à casa do poeta, o taxista cobrou R$ 15. Zeca só tinha R$ 10. Sem acordo, disparou : - Então, amigo, dê cinco reais de ré ! Em João Pessoa, num restaurante chique, Zeca pediu um bode assado. O garçom retrucou : - Desculpe-me, senhor, aqui só servimos frutos do mar. Zeca emendou sem dar tempo : - Então me traz uma água de coco. Outro dia, um taxista cobrou R$ 20 pela corrida. Zeca, liso, só tinha R$ 10. E pagou. - Cadê o resto ? - pergunta o taxista. Zeca não hesita : - E eu vim sozinho ? Vamos rachar ! A onça quer beber água A hora chegou e a onça está com muita sede. Início de fevereiro, início do ano Judiciário e Legislativo. As coisas começam a funcionar em Brasília. Mas e a água da onça ? Onde estão as fontes, é o que indagam os partidos. Claro, as águas estão nos Ministérios. A presidente Dilma, após as nomeações iniciais - Mercadante, Paim, Chioro e Traumann - concluirá nas próximas horas as consultas e deverá anunciar os nomes. Espera-se que, nas próximas semanas, tudo esteja concluído. Vamos, agora, às fontes. Pistas para as fontes Benito Gama, o atual presidente do PTB, poderá beber na fonte do Turismo, se o PMDB aceitar a troca dessa Pasta pelo Ministério da Ciência e Tecnologia. Benito tem larga experiência parlamentar, um perfil de renome no compartimento da economia, um baiano que conhece bem a realidade brasileira - e a do turismo, especialmente - sendo, assim, um perfil adequado ao setor. O PMDB pode, em troca, ficar com Ciência e Tecnologia, ministério bastante prestigiado. E também ficaria com a Secretaria dos Portos, para a qual é consensual no partido o nome do eficiente e preparado senador Vital do Rego Filho, paraibano filho do grande parlamentar e tribuno, Vital do Rego, de quem herdou o nome e a identidade política. Além disso, a pasta da Agricultura permaneceria com o PMDB. O atual titular, Antônio Andrade (MG), deve sair para se recandidatar à Câmara Federal. Deverão sair, ainda, Gastão Vieira (Turismo), Pepe Vargas (Desenvolvimento Agrário), Maria do Rosário (Direitos Humanos) e Aguinaldo Ribeiro (Cidades). Inserção na estrutura Há cargos importantes na estrutura governamental, nas agências e espaços regionais dos Ministérios. A presidente tentará administrar as demandas partidárias com outros partidos da base, tendo como ideia central o equilíbrio de poder entre os grandes partidos, apesar de saber que a fatia gigantesca do bolo continuará sendo a do PT, que disporá de 25 ministérios dos 39. Afinal, o projeto de vida longa do PT no poder está no centro das atenções do petismo sob a batuta de Lula. Eixo político As indicações iniciais, Saúde e Educação, principalmente, atestam que o projeto político do PT se firma com a indicação de quadros de confiança do partido, os ministros Arthur Chioro e Henrique Paim, que tem a confiança absoluta da presidente. Aloizio Mercadante na Casa Civil significa adensamento do eixo político do governo, eis que se trata de um parlamentar com larga experiência nas duas casas congressuais. Não é um perfil do qual se possa pinçar uma adjetivação com carimbo nas áreas de empatia e simpatia. Mas conhece bem as entranhas partidárias e as regras do jogo político. Tende a aproximar o Planalto do Congresso. Fazendo sombra a Ideli Salvatti. Mas essa ministra da articulação institucional tem vida curta. Ou não será candidata ao senado em SC ? Vida longa ao PT O fortalecimento do eixo político do Governo implica blindagem ao projeto de vida longa do PT no poder. Projeto com a seguinte dimensão : Lula voltaria em 2018 para ficar até 2026, com o olho em mais um mandato petista, se for bem sucedido, que puxaria o partido até 2030. Base do sonho : eleição da Dilma, eleição de maior bancada de deputados Federais; gigantesca bancada de deputados estaduais e eleição de 20 senadores neste ano; eleição do maior número de prefeitos em 2016 e consequente inchaço da bancada de vereadores, etc. E bala existe para essa batalha ? Bala é, claro, grana, muita grana. O PT é um partido vertical, uma igreja. Onde se paga dízimo. A par dos seus fiéis, o PT conta com doadores aqui e alhures. Tio Patinhas não passaria, no PT, de um modesto zelador do cofre. Traumann, um jornalista Thomas Traumann, ao que se sabe, dará um tom mais jornalístico à Pasta que dirige, a Secretaria de Comunicação. Dizem que o PT ambiciona abocanhar fatias publicitárias em apoio ao projeto político do partido, a partir de uma cobertura mais densa e intensa nas redes sociais, incluindo financiamento de "blocos sujos". E que faria um esforço extraordinário para implantar o cantado e decantado projeto de controle da mídia. Como jornalista, Traumann não tem perfil para ser instrumentalizado pelo partido. Franklin, a volta Franklin Martins volta à esfera da campanha eleitoral. Não assumiu cargo formal na estrutura do governo, mas, pelo se lê, é um consultor especial da presidente. Franklin também conhece, e muito, os jogos de poder. A ele atribui-se o projeto de controle da mídia, entregue ao governo Dilma, logo após a posse. Foi alvo de tiroteio. Saiu do governo. Retorna com força. Vai colaborar com João Santana (?). Diz-se que coordenará o projeto de comunicação da candidata Dilma nas redes sociais. Por seu perfil, fará mais que isso, atuando como orientador geral de atitudes, gestos e ações da presidente ao correr da campanha. Mantega, fim de jornada ? O ministro Guido Mantega tem sobrevivido a chuvas e trovoadas. Um baluarte. Mas, comenta-se à boca pequena, a fortaleza onde se abriga o ministro começa a mostrar rachaduras. O tempo desgastou as paredes. O reboco começa a cair. Fala-se de mudança radical na área econômica como medida de choque para enfrentar a tempestade eleitoral. Será ? Há muitas dúvidas. Mas muitos olhos começam a enxergar Alexandre Tombini, o presidente do BC, na cadeira potente do Ministério da Fazenda. A conferir. Skaf, alvo dos tucanos ? A história dos tucanos em SP exibe uma arena de lutas travadas contra seu tradicional adversário : o PT. Em todas as eleições das últimas duas décadas, a polarização entre petistas e tucanos foi acirrada. Pois bem, nas últimas semanas, da floresta tucana saem flechadas não contra o candidato do PT ao governo de SP, o ex-ministro Alexandre Padilha, mas contra Paulo Skaf, eventual candidato do PMDB. Qual a razão ? Por que o PT desvia seus tiros ? A resposta : Paulo Skaf, segundo pesquisas (Datafolha e outros) tem, hoje, 19% das intenções de voto. Com essa margem, bem antes da campanha eleitoral, é uma ameaça ao projeto tucano de reeleição de Geraldo Alckmin. Portanto, deve ser abatido. Propaganda ? O PSDB entrou com recurso contra Paulo Skaf alegando que este usa as inserções publicitárias do SESI e do SENAI para aparecer. Este consultor, curioso, viu as inserções. E anotou : o discurso nada mais nada menos expressa o trabalho daquelas duas entidades do sistema FIESP/CIESP. Mostra exemplos de vida a serem imitados. Não há menção à eleição e nem, de maneira indireta, referências à política. O Ministério Público Eleitoral também entrou com recurso sob o mesmo argumento. Ora, o que é legal, ilegal, ético e aético ? E a propaganda governamental, principalmente quando candidatos (ao governo de um Estado) ou candidata (à presidência da República) usam campanhas publicitárias ou redes abertas de TV para mostrar feitos ? É legal, ilegal, ético e aético ? Se querem apurar a presença de atores eleitorais nos meios de comunicação, o fato é : pré - candidatos ou candidatos engajados na máquina pública tendem a ganhar maior visibilidade midiática. Isso é inegável. Verbas gordas Os jornais anunciam : o governo de SP deverá investir, no primeiro semestre deste ano, quantia semelhante ao gasto de todo o ano passado : cerca de R$ 190 milhões. Alegação do governo : 2014 é um ano atípico, por conta das restrições no período em que a publicidade pode ser veiculada. O Estadão, em matéria de Fernando Gallo, ao final do ano passado, mostrou que as empresas públicas de SP (Dersa, Metrô, Sabesp e outras) despenderam, de 10 anos para cá, nas gestões de Geraldo Alckmin e José Serra, a soma de R$ 1,24 bilhão em campanhas promocionais. No mesmo período, outro R$ 1,2 bilhão foi consumido em divulgação da administração direta. A soma total (R$ 2,44 bilhões) seria suficiente, diz a matéria, para "construir, por exemplo, mais de metade da segunda fase da linha cinco do metrô, que vai ligar o Largo Treze à Chácara Klabin, ou custear o Instituto do Câncer por sete anos". Vacinação em março Há poucos dias, o ex-ministro Alexandre Padilha usou a cadeia de comunicação massiva - TVs e emissoras de rádio - para falar da campanha de vacinação. Claro, tem de dar orientação, conclamar as famílias a levarem seus filhos aos postos de vacinação. A publicidade se justifica. Ocorre que a campanha será apenas em março. Não seria mais viável que o novo ministro da Saúde fosse o porta-voz desse evento ? Será que o anúncio não se perderá no tempo ? Ano curto O ano será bem curto. Teremos um carnaval daqui a pouco, depois entraremos na Copa do Mundo, sairemos para as férias de julho e, logo a seguir, adentramos na atmosfera eleitoral. Setembro todo será muito quente. E em outubro, alegria para uns, tristeza para outros e muita expectativa sobre um segundo turno. Segundo turno O cobertor já foi mais confortável para a presidente Dilma. Mesmo assim, a régua aponta para um segundo turno. Muito difícil uma vitória da presidente na primeira rodada. Projeção de segundo turno hoje : 70. Outra leitura que se faz nas conversas : Eduardo Campos seria obstáculo maior que Aécio para uma vitória governista no segundo turno. Se o governador entrar nesse páreo, a projeção é da vitória dele ou da presidente no olho mecânico. Já com Aécio, a conta favorece a presidente Rousseff. Déficit de energia ? O risco de déficit de energia já chega a 20% nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste. Cálculos do próprio governo. A propósito, uma falha no sistema elétrico interrompeu parte da transmissão de energia entre o Norte e o Sudeste do país na tarde de ontem, causando falhas no abastecimento de diversas cidades. Mais de um milhão de consumidores ficaram sem energia. O Ministério de Minas e Energia, o ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico) e Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) tentam dimensionar o impacto. Crise passageira Uma nota alvissareira : a crise dos países emergentes será passageira. É o que calcula o Instituto Internacional de Finanças, que reúne os grandes bancos. A onda de instabilidade, logo, logo, arrefecerá. Os fluxos de capitais para os emergentes se recuperarão em dois anos. O nome do PSB em PE Quem Eduardo Campos escolherá como candidato do PSB ao governo de PE ? São favoritos : o ex-ministro Fernando Bezerra Coelho, secretários estaduais Danilo Cabral (Cidades), Paulo Câmara (Fazenda) e Tadeu Alencar (Casa Civil), vice-governador João Lyra Neto, que se filiou ao PSB no ano passado e até o prefeito de Recife, Geraldo Julio. Que prefere ficar na prefeitura até o fim do mandato. Campanha vital para Campos. Terá de dar um banho na oposição. Conselho aos investidores Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes, membros dos Poderes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos parlamentares. Hoje, dirige-se aos investidores. 1. O momento é de grandes interrogações. As Bolsas despencam, as economias entram em compasso de espera. Hora de direcionar recursos para ativos de baixo risco, sugerem analistas financeiros. 2. No caso do Brasil, a piora do resultado fiscal expande o pessimismo. O conselho é aguardar a divulgação da nova meta de superávit fiscal a sair no fim do mês. 3. As riquezas e potenciais do Brasil, porém, abrem perspectivas promissoras. Se o ano eleitoral sugere cautela, em função de medidas popularescas, nem tudo está perdido. Urge esperar que o clima fique mais ameno, pelo menos em 2016. Vamos ter paciência.
quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

Porandubas nº 385

Takachi e o povo Lá das bandas do PR vem a historinha de Jorge Takachi, japonês simpático, generoso e afável, muito querido. Decidiu ser candidato a prefeito de Nova Esperança. A oposição começou o tiroteio. Takachi é isso, Takachi é aquilo. O candidato não aguentou. E desabafou no palanque : - Jorge Takachi bom para a cidade, né ? Constrói hospital, dá dinheiro para igreja, ajuda pobre, paga feira dos outros. Povo diz : Jorge Takachi muito bom; Jorge Takachi muito querido. Jorge Takachi candidato prefeito, ai povo diz : Jorge Takachi filho da puta. Assim, Jorge Takachi não entende povo. Risadas gerais na plateia. E comentários entre uns e outros : "Takachi não entende mesmo". Doação do além Em coro uníssono, os vereadores em plenário na Câmara de Mossoró defendem campanha para doação de órgãos humanos. Corroborando com os colegas, o vereador Chico da Prefeitura manifesta integral apoio ao movimento, mas lamenta não poder fazer um gesto concreto. - Sou diabético e sei que nenhum órgão meu serve para nada - admite. Apesar da auto-análise catastrófica, Chico da Prefeitura reitera sua convicção na solidariedade, mesmo que do além : - Não faço questão de após a minha morte assinar qualquer termo doando meus órgãos ! (Do Livro Só Rindo 2 - A política do bom humor do palanque aos bastidores - De Carlos Santos) Cavalo não desce escada Quem se lembra de Ibrahim Sued, o famoso e impagável colunista social carioca, com seus bordões ? Pois bem, convido leitores e leitoras a seguir um de seus bordões : "olho vivo, que cavalo não desce escada". A cena brasileira merece um olho bem vivo. Tem tramóias, emboscadas, projetos mirabolantes e o tabuleiro do poder nunca esteve tão frequentado. Tempestades e turbulências A mobilização da semana passada, em SP, contra a Copa do Mundo acabou em mais um capítulo da crônica de baderna e devastação que se escreve por estas plagas. O que significa ? Primeiro, que há e haverá, sempre, grupos que não têm nada a perder e que se dispõem a tumultuar o cenário das ruas. Segundo, que a natureza do ano eleitoral, somada ao calendário esportivo, favorecerá a continuidade dos movimentos. Terceiro, é patente que a organicidade social, no país, atingindo níveis extraordinários, acabará incentivando as pressões de grupos, categorias profissionais e setores organizados. Afinal, o ano eleitoral é propício para encaminhamento público de demandas. PT, o mais prejudicado Qual a influência da movimentação sobre a imagem dos atores políticos ? Bastante forte. Temos de convir que qualquer movimentação de rua chama a atenção, paralisa o trânsito, incomoda as pessoas e acaba deflagrando impropérios contra os governantes, sejam os da esfera Federal seja os do âmbito estadual. Mas o impacto maior se faz sentir no PT. O Partido dos Trabalhadores tem parcela de sua identidade firmada sobre as bases dos movimentos sociais. Logo, deveria ele ser o partido dos encaminhamentos sociais. Não o é. Perdeu o controle. Gilberto Carvalho, o ministro que tem por atribuição administrar e monitorar o barulho das ruas, acaba de reconhecer esse fato. Chegou a insinuar ingratidão. O PT, portanto, recebe os respingos dessa movimentação. Geraldo Alckmin, idem. Como governador do Estado mais populoso do país, identifica-se com o status quo. Nuvens sobre a Copa A partir de maio, as tensões começam a ganhar força. As arenas esportivas passarão pela lupa. Condições gerais dos estádios, o acesso, os meios de mobilidade, a estrutura de serviços - tudo será analisado. O que merecer desaprovação - não há dúvidas - deverá ensejar protestos. Uma questão será, portanto, a condição de cada arena esportiva. E o desempenho do Brasil ? Veja abaixo. O desempenho do Brasil O desempenho da seleção canarinho na Copa dá margem a especulações: 1. a derrota do Brasil levaria às multidões aos protestos e revolta nas ruas; 2. a vitória brasileira consolidaria a candidatura Dilma, podendo motivar uma vitória logo no primeiro turno. Este consultor coloca as duas hipóteses sob o império das dúvidas. O povo tende a separar o futebol da política. Um urro de raiva contra os cartolas tem direção. Se esse urro se estende aos políticos, todos, sem exceção, poderão ser atingidos. Atribuir ao governismo a culpa pela derrota seria um exagero. Usar a vitória como bandeira de campanha também poderia ser um bumerangue para os candidatos que assim o fizessem. Punição aos jogadores Certamente a indignação, em caso de derrota, será mesmo junto aos atletas. E mais, a alguns atletas, não a todos. O paredão abrigará os jogadores com pior desempenho; o pódio, por seu lado, acolherá os melhores. Desse modo, haverá críticas e indignação. E se o Brasil tiver um desempenho médio, o clima tende a não endurecer, como muitos acreditam. A eleição é um evento que pode receber contaminação da Copa, mas em índices muito pequenos. Não se acredita que o bom ou mau desempenho dos jogadores no campo político tenha relação forte e direta com o desempenho dos jogadores na arena esportiva. A conferir. Pezão com as mãos nas rédeas Luiz Fernando Pezão, a essa altura, é considerado por muitos como carta fora do baralho. Perderá feio as eleições. Não é o que pensa este consultor. Com as rédeas do governo do RJ, poderá ganhar intensa visibilidade e, na sequência, exibir um perfil de obreiro, trabalhador, pessoa séria e desprovido de vaidades. Sob essa moldura, tem condições de avançar, e muito, nas veredas eleitorais e, até, alcançar o pódio no segundo turno. Claro, teria de desbancar Garotinho, Crivella e César Maia para poder enfrentar o senador petista Lindbergh. É difícil ? Sim. É improvável ? Não. Nova geografia eleitoral A geografia eleitoral de 2014 será bem diferente da geografia eleitoral de 2010. O governismo encontrará um quadro mutante em alguns Estados. Por exemplo : no AM, os tucanos podem virar o jogo e dar alguns votinhos a Aécio sob a batuta do alcaide tucano Arthur Virgílio, que comanda a capital; no CE, se o senador Eunício não tiver o apoio do PT e fechar aliança com Tasso Jereissati, do PSDB, este para senador, é evidente que Aécio ganhará um ótimo palanque nesse Estado, que deu grande vitória a Dilma em 2010; em PE, por mais que Lula se esforce para repetir o feito do pleito anterior, é evidente que Eduardo Campos fará uma boa maioria no Estado que comanda; na BA, a previsão é de que Dilma não terá uma grande vitória, eis que o candidato do PT, saído do bornal do governador Jaques Wagner, poderá ser derrotado; no RS, a reeleição do governador Tasso Genro, do PT, passará por grandes dificuldades. PT e o cálice sagrado O PT mira no cálice sagrado. O cálice é uma miragem. Mas o PT quer porque quer encontrar esse precioso objeto. Porque este cálice o levaria, até 2030, à mais alta montanha do poder. Com ele nas mãos, o PT mudaria a face da política, o sistema econômico, imprimiria uma nova marca social, deixaria seu nome nos livros de história do Brasil como a entidade que, depois de Pedro Álvares Cabral, redescobriu um imenso território para fazer dele a Pátria do socialismo mundial no século XXI. Pois bem, metáforas à parte, o PT se prepara para moldar o projetão 30. Ou, se quiserem, 28 anos. PT no comando do Brasil até 2030. Como assim ? PT, 2030 A ideia é essa : Dilma até 2018; Lula voltando em 2018 para ficar mais 8 anos, até 2026. E, na sequência, um mandato tampão até 2030, quando se encerraria o ciclo petista. Nesse ínterim, o maior conjunto de mudanças na política, na economia, nas relações trabalhistas, nos tributos e na previdência. E o lastro ? Grana, muita grana. É o que não faltaria. Miragem ou não, o fato é que esse mirabolante projeto começa a frequentar as conversas de próceres petistas. Como dizia Ibrahim Sued, "em sociedade tudo se sabe". PMDB, 1986 Em quem o PT parece se inspirar ? No PMDB de 1986. Naquele ano, as eleições ocorreram em 15 de novembro, sob o voto de 70 milhões de brasileiros. O PMDB fez 22 governadores, perdendo apenas em SE para Antônio Carlos Valadares, do então PFL. Fez maioria dos 49 senadores; elegeu 487 deputados Federais e 953 deputados estaduais. Com essa base, elegeu, no pleito seguinte, o maior número de prefeitos. Até hoje, o partido se beneficia da vitória esmagadora. PMDB, Federação; PT, religião Em sua trajetória, o PMDB se tornou uma Confederação de partidos. Cada unidade estadual tem seus comandantes e suas posições. O partido é o mais repartido do país. Mas se une na hora das urgências. Usa a divisão como soma, na medida em que faz parcerias com quase todos os grandes e médios partidos. Já o PT é uma religião. Seus participantes até pagam dízimo. É uma entidade vertical. E comandos bem definidos. Ordem dada é ordem cumprida. Com essa armadura, o PT quer buscar a hegemonia. Custe o que custar. O valor da pontuação Um homem rico, sentindo-se morrer, pediu papel e pena, e escreveu : "Deixo os meus bens à minha irmã não a meu sobrinho jamais será paga a conta do alfaiate nada aos pobres". Não teve tempo de pontuar - e morreu. A quem deixava ele a fortuna que tinha ? Eram quatro os concorrentes. Chegou o sobrinho e fez estas pontuações numa cópia do bilhete : "Deixo os meus bens à minha irmã ? Não ! A meu sobrinho. Jamais será paga a conta do alfaiate. Nada aos pobres". A irmã do morto chegou em seguida, com outra cópia do escrito; e pontuou-o deste modo : "Deixo os meus bens à minha irmã. Não a meu sobrinho. Jamais será paga a conta do alfaiate. Nada aos pobres". Surgiu o alfaiate que, pedindo cópia do original, fez estas pontuações : "Deixo os meus bens à minha irmã ? Não ! A meu sobrinho ? Jamais! Será paga a conta do alfaiate. Nada aos pobres". O juiz estudava o caso, quando chegaram os pobres da cidade; e um deles, mais sabido, tomando outra cópia, pontuou-a assim : "Deixo os meus bens à minha irmã ? Não ! A meu sobrinho ? Jamais ! Será paga a conta do alfaiate ? Nada ! Aos pobres !" (Extraído do Leia Comigo, livro do amigo Luís Costa) Conselho aos parlamentares Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes, membros dos Poderes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos governantes. Hoje, dedica sua atenção aos parlamentares : 1. O recesso chega ao fim e a retomada das atividades parlamentares, nesse ano eleitoral, requer mais esforço, mais engajamento, mais atenção às pautas e agendas. O ano será mais curto e, nem por isso, Vossas Excelências podem justificar menos trabalho. 2. Por isso mesmo, urge selecionar temáticas importantes e que correspondam ao clima e às aspirações da sociedade. Todo esforço deve ser empreendido para evitar paralisações, bloqueios, prolongamento de discussões infrutíferas. 3. A Nação espera que cada parlamentar cumpra o seu dever. Temos um eleitor mais racional, mais crítico, mais atento e bem mais disposto a participar do processo político. Que tem no voto uma arma letal.
quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

Porandubas nº 384

Abro a Coluna com duas historinhas, uma de ontem, a doidice desse velho mundo, e outra de anteontem, o ladrão de galinhas. Que mundo doido...! - Esse velho mundo ta cada vez mais doido. Era a queixa de Maneco Faustino, nas ruas de Limoeiro, no Ceará. E arrematava : - Veja vosmicê : ta se vendo estrela de mei dia ; já hai galinha nascendo com chifre ; cangaceiro dando esmola na igreja ; já vi bode dando leite e, agora, deu pra chuver no Ceará em agosto. Querem ver mais : muié sentando em cadeira de barbeiro e home entrando em banheiro de muié. Pedro Malagueta confirmava, balançando a cabeça : - Tá mesmo tudo virado, cumpade. O mundo endoidou. Tenho três fias, duas casadas e uma sorteira ; as duas casadas nunca tiveram menino ; mas a solteira todos os ano me dá um neto. O ladrão de galinhas Historinha conhecida merece um repeteco. Certa vez, um ladrão pulou o muro da casa de Rui Barbosa para roubar uma galinha. No alvoroço, o grande tribuno acordou do profundo sono, e se dirigiu ao galinheiro. Lá chegando, viu o ladrão já com uma de suas galinhas, e passou o carão : - Não o interpelo pelos bicos de bípedes palmípedes, nem pelo valor intrínseco dos retrocitados galináceos, mas por ousares transpor os umbrais de minha residência. Se foi por mera ignorância, perdôo-te, mas se foi para abusar da minha alta prosopopéia, juro pelos tacões metabólicos dos meus calçados que dar-te-ei tamanha bordoada no alto da tua sinagoga que transformarei sua massa encefálica em cinzas cadavéricas. O ladrão, pasmo e sem entender patavina, tascou : -Cumé, doutor, posso levar ou não a galinha ? Lula arruma a cara O ex-presidente Lula será mais que caixeiro viajante na empreitada eleitoral deste ano. Correrá Estados no esforço para desfraldar a bandeira petista pelos grandes e médios centros. Ele sabe que este 2014 será o teste de fogo do PT. A primeira providência foi tomada: deixar a barba crescer. Desenha a velha e conhecida estética lulista. A voz já está no prumo. Com esse aparato, não apenas pretende reeleger a pupila, a presidente Dilma, mas fazer o maior número de governadores, o maior número de deputados federais, expandir a bancada de senadores e de deputados estaduais. Alvo: vida longa ao projeto petista de poder, uma inserção até 2022. Quem sabe, até mais. Para tanto, precisa fazer o que o PMDB fez em 1986: esticou os braços por todo o país, construindo a maior máquina partidária para atravessar décadas. Palíndromo I Palavra ou frases que se podem ler nos dois sentidos, da direita para a esquerda e da esquerda para a direita. A coluna de hoje será puxada por palíndromos. - Anotaram a data da maratona O alvo principal Pela primeira vez, o PT disputará, em condições competitivas, os governos dos três maiores colégios eleitorais do país: São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro. Em São Paulo, a meta é viabilizar o nome do ministro Alexandre Padilha, a partir de seu índice histórico de 30% de eleitorado no Estado. Vai lutar com unhas e dentes para jogar Padilha no segundo turno. Contará com a máquina da prefeitura de SP, os prefeitos do PT, o poder de mando ($$$$$) do governo federal e o comando de Lula. Fernando Haddad, mal avaliado, poderá prejudicar? Em termos, mas o eleitor petista é engajado. Palíndromo II - Assim a aia ia a missa Polarização ? É possível que a velha polarização entre petistas e tucanos prevaleça. Mas parcela considerável do eleitorado está saturada da querela histórica. E tende a rejeitar os nomes tradicionais. Alckmin conserva boa imagem no interior do Estado. Na capital, sua imagem não é tão forte. O PSDB sofre, ainda, do fenômeno da corrosão de material. Sob essa moldura, um perfil com traços de renovação teria condições de avançar, quebrando a polarização. Paulo Skaf, presidente da FIESP, entra no figurino. Já exibe, a essa altura, 20% das intenções de voto dos paulistas. É determinado, expressa atitudes corajosas, liderou campanhas vitoriosas - CPMF, barateamento da energia, IPTU menor e mais justo. Palíndromo III - A diva em Argel alegra-me a vida MG, incógnita Fernando Pimentel é perfil bastante conhecido em Minas. Sua imagem é de petista suave, sem os traços radicais que carimbam figuras clássicas do PT. Ex-prefeito de Belo Horizonte, fez boa administração. Dialoga com as correntes políticas do Estado. Dessa feita, sua luta é contra os tucanos mineiros, liderados por Aécio Neves, candidato à presidente da República, e pelo governador Antônio Anastasia. Derrubar a gaiola dos tucanos, depois de longo ciclo de mando, não será fácil. Minas abriga o maior número de municípios do país e o segundo maior colégio eleitoral. A candidatura de Aécio, muito simbólica aos mineiros, que se sentem relegados a segundo plano, depois de terem perdido o presidente Tancredo, poderá dar a seu neto grande votação. Maneira dos mineiros resgatarem o poder perdido. Esse é o pano de fundo sob o qual será disputado o pleito. Apagar esse cenário será um desafio ao PT. O candidato tucano terá charme para dar continuidade à era Aécio-Anastasia? Seu nome: Pimenta da Veiga. É conhecido. Não significa, porém, um voo ao passado ? Palíndromo IV - A droga da gorda Lacerda E como se comportará o PSB, do prefeito de BH, Márcio Lacerda? Que terá Eduardo Campos, o comandante do partido, candidato à presidente da República? Com quem o PSB fechará posição em Minas ? Palíndromo V - A mala nada na lama O terceiro vulcão O terceiro vulcão da campanha será o Rio de Janeiro. Lindbergh Farias, o senador petista, espera entrar no segundo turno. Pezão, o vice-governador, candidato do PMDB e da máquina, oscila entre 10% a 12% de intenção de voto. O deputado Garotinho, do PR, lidera o início de corrida. César Maia, do DEM, passará dos 10%. Ou apenas quer garantir visibilidade ? O senador Marcelo Crivella, do PRB, prepara-se para entrar no páreo. A incógnita toma corpo entre os cariocas. Mas a tendência é que os candidatos das máquinas cresçam. Por disporem de mais tempo de mídia eleitoral e mais recursos. É plausível prever um segundo turno entre PMDB e PT. Os candidatos evangélicos, Garotinho e Crivella, teriam condições competitivas ? Difícil. Lindbergh tem um histórico de problemas. E processos no entorno. Mas, caso entre no segundo turno, pode ganhar o apoio de outros candidatos. Será uma campanha tão árdua quanto a que se verá em SP e MG. Palíndromo VI - A torre da derrota E Marina, hein ? Marina era a grande estrela a brilhar na constelação do PSB de Eduardo Campos. A estrela não brilha quanto se esperava. Parece mais uma guerreira a fustigar (e a afastar) aliados do governador pernambucano. Palíndromo VII - Luza Rocelina, a namorada do Manuel, leu na moda da Romana anil e cor azul Chances de Campos Hoje, as chances de Eduardo Campos são pequenas. Tentar furar o bloqueio dos três maiores colégios eleitorais do país é tarefa que exige um conjunto de condições: parcerias locais, recursos, tempo de rádio e TV, ajuda de máquinas administrativas, agenda intensa nesses espaços. Por onde Eduardo Campos vai começar ? Palíndromo VIII - O romano acata amores a damas amadas e Roma ataca o namoro O exercício da função Os candidatos a cargos majoritários em comandos de estruturas - governadores de Estado, presidente da República, ministros - dispõem de condições mais favoráveis que candidatos sem máquinas administrativas. Ganham visibilidade na esteira de uma agenda locupletada de eventos : viagens, inspeções, inaugurações, articulação política, mobilização de massas. Estão praticamente todos os dias na mídia. Por isso, não podem se queixar de pessoas que, na esfera de suas entidades, ganham visibilidade e se habilitam a ingressar na política. No fundo, estão na mídia em razão do exercício de suas funções. Palíndromo IX - Saíram o tio e oito Marias Tapetão, uma vergonha Por essa razão, não se compreende a tentativa de tucanos e de um ou outro partido nanico de entrar com ação contra Paulo Skaf, do PMDB, pelo fato de aparecer em anúncios publicitários do Sesi e do SENAI. Ora, o presidente da FIESP usa o direito que tem, coerente com o exercício do cargo. Acaba de ganhar uma luta que beneficia milhões de paulistanos: o reajuste do IPTU paulistano à base do índice da inflação. Trata-se de uma campanha de relevo social. O sucesso de um empreendimento desse vulto carece de mobilização. E conhecimento da sociedade. Assim como foram as lutas contra a CPMF e o custo menor da energia, também lideradas por Skaf. A tentativa do tucanato de entrar com recurso para inviabilizar, mais adiante, sua candidatura significa temor de que o presidente da FIESP possa romper a polarização PT x PSDB. Hipótese a ser levada em alta conta. Palíndromo X - Zé de Lima rua Laura mil e dez Discórdia ministerial A reforma ministerial é o pomo da discórdia. Por mais que a presidente tente acolher as demandas de sua base partidária, a insatisfação se expande. Os 39 ministérios serão devidamente distribuídos, cabendo ao PT, claro, a parte do leão : 25 Pastas. O PMDB começa a enxergar que, ao invés de aumentar seu espaço na Esplanada dos Ministérios, poderá, até, ver diminuída sua fatia. Dilma e Lula teriam combinado oferecer ao PMDB, em compensação à perda de Ministérios que o partido reivindica (Integração, Cidades, por exemplo), palanque a seus candidatos em alguns Estados. Quer dizer, Dilma iria prestigiar candidatos petistas e, em outra oportunidade, poderia subir ao palanque de peemedebistas. Se for essa a proposta, a indignação subirá a montanha. Os ânimos estão acirrados. Lula, Dilma e o PT não acreditam que o PMDB parta para retaliação. Mas o partido sabe muito bem guardar a raiva no congelador. Para servi-la em futuros coquetéis. Palíndromo XI - O lobo ama o bolo Tucanos e aliados de Dilma Os tucanos tendem a fazer alianças com aliados do governo Dilma nos seguintes Estados : Amazonas, Mato Grosso, Maranhão, Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro e Bahia. Palíndromo XII - A cara rajada da jararaca A partilha Pelo que se observa, a partilha ministerial terá a seguinte composição : 25 ministérios para o PT ; 5 para o PMDB ; 1 para o PR ; 1 para o PP ; 1 para o PROS ; 1 para o PTB ; 2 para o PSD ; 1 para o PDT ; 1 para o PC do B e 1 para o PRB. Palíndromo XIII - Rir, o breve verbo rir Conselho aos governantes Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes, membros dos Poderes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos jovens. Hoje, volta sua atenção aos governantes e representantes : 1. Urge interpretar a quadra social que o país vivencia. As movimentações sociais, a partir dos rolezinhos dos jovens, querem significar, a par do lazer e diversão, esforço para participação mais intensa e engajada no processo decisório nacional. E expressar demandas de grupos e setores. 2. Os rolezinhos não devem ser tratados como eventos de natureza policial, mas como fenômeno social/cultural. 3. O bom senso se faz necessário, antes que os movimentos assumam posicionamentos que transbordem os limites e objetivos ao que, preliminarmente, se propõem. _____________
quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

Porandubas nº 383

Abro a Coluna com duas historinhas de Carlos Santos, pinçadas de seu "Só Rindo 2". Pedras no português Médico e candidato a prefeito de Pau dos Ferros, Etelânio Vieira retorna de outra movimentação de campanha. Ao seu lado, o vereador "Assis Bigodão". No interior do carro em que ambos estão, Assis desabafa fuzilando de morte o português : - Jogaram uma pedra "neu"...(sic). Com elegância, quase inaudível para não expor o vereador a embaraços, Etelânio sopra o que seria a expressão correta : - "Neu" não, Assis; "em mim" ! Olhar de espanto, o vereador complementa o assassinato da língua de Fernando Pessoa, Camões e Eça de Queirós : - Sim...Jogaram no senhor também, doutor ! Que coisa ! O candidato retardado Palanque armado no bairro Pereiros, o comerciante "Chico do Peixe" chega com considerável atraso, ávido por discursar na condição de candidato a vereador em 1996, no município de Mossoró. Favorecido pela escassez de oradores no comício do candidato governista, engenheiro Valtércio Silveira, apoiado pelo prefeito Dix-huit Rosado, Chico é alertado de que também terá direito a discursar. Ufa! Ele já pensava que não teria vez. Abrindo a oratória, Chico do Peixe tenta justificar sua ausência até então, mas mistura semântica com psiquiatria : - Olha, meus amigos, eu estou chegando "retardado"... Previsões para o ano Há analistas pessimistas, otimistas e realistas. Distinguir uns de outros não é tarefa fácil. Alguns apontam para a recuperação da economia americana e impactos sobre o Brasil. Outros procuram mostrar que a engenharia da "catástrofe perfeita" começa a ser desenhada. Entre uns e outros, os realistas se impõem. A tempestade perfeita ocorreria no cenário de reversão da política monetária, fortemente expansionista, empreendida pelo FED, o banco central americano. O nosso guru, Delfim Netto, diz que se a oferta de moeda estrangeira escassear, o câmbio interno poderia passar por turbulências. Como pano de fundo, rebaixamento da qualidade da dívida brasileira. Mas o próprio Delfim acredita que as chances da tempestade estão sendo afastadas. Economia de 2% do PIB Delfim argumenta : basta que a presidente Dilma assuma o compromisso firme de que o governo fará uma economia de 2% do PIB (cerca de R$ 96 bilhões) por ano, destinada a amortizar a dívida (superávit primário), para que a política econômica comece a passar firmeza e, nessas condições, a tempestade seria enfrentada sem avarias de monta para o navio. Nesse caso, teria de basear-se em cálculo transparente das contas públicas, sem os truques contábeis inventados em 2012 pelo secretário do Tesouro, Arno Augustin, que vem denunciando a existência de ataques especulativos contra as finanças do governo. Leos : garantindo grau de investimento O economista Mauro Leos, vice-presidente da Moody's, uma das maiores agências internacionais de classificação de risco, garante que se a situação macroeconômica do Brasil, em 2014, for idêntica à do ano passado, a nota do país continuará sendo a de grau de investimento. Com ele, a palavra: "o cenário que prevemos não deverá ser muito diferente de 2013, quando a economia cresceu em torno de 2%. Neste ano, deverá ficar no mesmo patamar. No caso da dívida pública, que ultrapassou 60% do PIB em 2013, deverá acontecer algo parecido. Se esse cenário se confirmar, não precisaremos mudar a classificação de risco do Brasil no curto prazo. Acreditamos que ela é consistente com a nota do país, hoje, de grau de investimento com perspectiva estável". Dilma, franco favorita Pois bem, mantida essa situação, este analista acredita que a presidente Dilma Rousseff continua na posição de franco favorita do pleito de outubro. Uma catástrofe - inflação alta, desemprego em massa, tumulto na distribuição do Bolsa Família, descalabro na saúde e segurança pública - aumentaria, consideravelmente, as chances de um candidato das oposições. A candidata governista, convenhamos, conta com gigantesca máquina - as estruturas administrativas de ministérios e agências governamentais, milhares de cabos eleitorais postados em áreas-chave. Pode ser que o clima do ano chegue a conturbar o processo eleitoral. Manifestações por ocasião da Copa, mobilizações nas margens eleitorais, movimentos paredistas de setores e categorias profissionais etc. Teriam força para mudar a paisagem eleitoral ? Essa é a pergunta que fica no ar. Dor de cabeça A dor de cabeça que afligirá a candidata à reeleição pode, também, prejudicar o rumo de sua campanha. Trata-se do imbróglio da reforma ministerial. Sairão alguns ministros para disputar a eleição. Os partidos começam a guerrear por melhores postos na administração, a partir do PMDB, o maior partido aliado. Será impossível chegar ao consenso. No Rio, as posições tendem a ser irreconciliáveis, a partir da férrea determinação do PMDB e do PT de manter as candidaturas do vice-governador, Pezão, e do senador petista Lindenberg. O vice-presidente Michel Temer, com sua conhecida habilidade para negociar, continua a tentar um acordo. O que pode ocorrer é um palanque duplo para Dilma, no Rio de Janeiro. E uma parceria estremecida. Rolezinhos Os "rolezinhos" começam a se multiplicar pelas praças do território. Aglomerados de jovens, sob o convite das redes, adentram os shoppings centers, para uma zoeira, um encontro animado, sob manifestações e palavras-chave de uma turba que quer se divertir. Os "rolezinhos", como estão sendo chamados, podem se transformar no hit das próximas estações, principalmente se o Estado não souber administrar as ondas. Proibir a entrada de jovens em um shopping center, levando em conta seu modo de vestir, é um ato discriminatório. Permitir a bagunça generalizada em um ambiente privado também é inconveniente. O Estado é transportado ao espaço entre a cruz e a caldeirinha. Significado Os "rolezinhos" são como a água corrente de um rio, que esbarra em pedras e obstáculos, até encontrar o oceano. A água se infiltra entre as pedras, procurando desvios, ladeando barreiras, adentrando os estreitos espaços entre rochas. Procuram dar vazão a seus volumes. A falta de espaços urbanos para o lazer, a compressão das grandes cidades, o estrangulamento das vias e praças públicas - eis o leit motiv dos "rolezinhos". Essa movimentação quer dar vazão à expressão de jovens contidos em suas vontades, anseios, expectativas e demandas. O marketing eleitoral Estamos quase entrando no "império dos signos". Refiro-me à campanha eleitoral. Urge lembrar aos candidatos. A esperteza, o vale-tudo, a dramatização, os recursos artificiais e a insinceridade deverão ser anotadas por um eleitor mais sabido, crítico e racional. A "feitiçaria" da publicização eleitoral não será capaz de enganar a massa eleitoral. Gato não mais será vendido como lebre. Se o Príncipe não pode dispensar a astúcia da raposa e a força do leão, devendo trapacear e matar, de acordo com os preceitos de Maquiavel, o súdito não vai deixar ser pego por eles. O eleitor saberá medir versões, interpretações e propostas. "Nenhum homem, por maior esforço que faça, pode acrescentar um palmo à sua altura e alterar o pequeno modelo que é o corpo humano". É o que diz a Sagrada Escritura. Candidato não é sabonete Candidato não pode ser tratado como sabonete. Tem identidade, alma, tem emoção. Para chegar ao fim do caminho, passará por cinco grandes fases. A primeira é a do lançamento, quando seu nome começa a ser apresentado ao eleitorado. A segunda é a do discurso, quando fará propostas condizentes com as demandas sociais. Contará com a ajuda de mapeamentos e pesquisas qualitativas e quantitativas. Usará uma ampla e densa bateria de comunicação para dar conhecimento de suas ideias, os chamados canais publicitários e jornalísticos. Deverá formar uma sólida rede de articulação com a sociedade organizada, a partir de entidades de credibilidade e respeito, a partir de convocação e parceria com os setores políticos (partidos e lideranças). E fechará seu marketing com os esquemas de mobilização, onde deverão ocorrer os eventos de contato com as massas. O eleitor de 2014 Uma pequena lição de Zaratustra para compreender melhor o eleitor de outubro próximo : "novos caminhos, sigo; uma nova fala me empolga: cansei-me das velhas línguas. Não quer mais o meu espírito caminhar com solas gastas". Debates Este consultor sugere um amplo e contínuo programa de debates entre os candidatos. Como faz a TV americana. Escolhem-se três a quatro temas e, sobre eles, cada candidato fará a sua análise e propostas. O eleitor ganhará ao poder comparar a viabilidade de cada proposta e a maneira de implementação das ideias. Sem agressões. Herói O Brasil está à procura de um Herói. Quem se habilita ? Atenção aos candidatos : cuidado com as pedradas. Grande dúvida Guido Mantega resistirá ? Continuará firme e forte no Governo Dilma ? E o Arno Agustín, Secretário do Tesouro, idem ? Papel tem pernas ?E a seguinte historinha (real) dos papéis que andam entre as instantes dos prédios públicos não passaria de folclore. O cidadão chega à repartição e pede para ver seu processo. Ouve do atendente : "ah, tem muitos outros na frente. Vai demorar um tempão até ser despachado. Papel, doutor, não tem pernas". Agastado, o interlocutor reage: "e quanto o senhor quer para por dois pés nesse papel ?" Tiro e queda. A nota de 100 fez o papel correr rapidinho. Conselho aos jovens Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes, membros dos Poderes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos maniqueístas que se multiplicam no país. Hoje, dirige-se aos jovens : 1. Compreende-se a onda jovem que irrompe nos espaços privados para fazer valer sua expressão e necessidades lúdicas. A falta de espaços públicos para as manifestações da juventude explica, em parte, a multiplicação de ondas de mobilização juvenil. 2. Convém, no entanto, não se deixar levar por oportunistas e aproveitadores, que procuram disseminar um poderio destrutivo, voltado para a depredação dos ambientes. 3. Cuidado para não servirem de massa de manobra a grupos e setores interessados em desestabilizar os climas ambientais. ____________
quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

Porandubas nº 382

Abro a Coluna com historinhas do impagável José Flávio Abelha, em A Mineirice. Lá vem a relaxada Idos de 30. Caratinga, em festa, aguarda a inauguração do ramal da estrada de ferro Leopoldina Railway, a EFLR. O pessoal da roça interpretava o LR como "Leopordinha Relaxada". No pátio da estação, gente que não acaba mais. Num canto, dois coronéis, picam o fuminho para o cigarro e conversam. A máquina apita. Coronel Antônio Fernandes comenta com o coronel Rafael da Silva Araújo: - Compadre, estão chegando os donos da cidade. Coronel Rafael contesta: - Os donos somos nós. Não, compadre, retruca o coronel Fernandes, os donos são os que chegam, porque enxergam os nossos defeitos, desconhecem as nossas virtudes e, logo, logo, ficam mandando na cidade. Veio a Revolução de 30 e não ficou um coronel em pé.Realmente, os donos da cidade haviam chegado pela Leopordinha Relaxada. Entra "disgraçada" No meio da algazarra, da emoção inusitada, das palmas e foguetes, a locomotiva quase entrando na gare, inopinadamente salta nos trilhos o coronel Galdêncio. (Nota do escriba : Isso mesmo, com L, diferente do meu que se escreve com U). Como que desejando enfrentar o cavalo de ferro ele abre o paletó, saca de uma garrucha, dispara dois tiros para o alto e grita em direção do trem de ferro, sob os olhares atônitos dos presentes : - Entra, disgraçada, qui esta terra é sua ! Entra, fiadaputa, trazedêra de pogréssio. Abrem-se as cortinas As cortinas começam a ser abertas. O palco de 2014 verá um dos mais vibrantes espetáculos eleitorais das últimas décadas. O pano de fundo não deixa dúvidas. Estamos vivenciando o fim de um ciclo : a polarização entre PT e PSDB. Não que a arenga deixe de existir. Certamente, em espaços do Sudeste (Minas e São Paulo, principalmente), a polarização deve ser forte. Mas o eleitorado dá sinais de cansaço. Como diria o profeta Zaratustra, "novos caminhos sigo, uma nova fala me empolga. Cansei-me das velhas línguas. Não quer mais o meu espírito caminhar com solas gastas." Sinais de mudar o tom da orquestra se ouvem de muitos lados. Axioma 1 (Conselhinhos importantes em ano eleitoral) "Ajuste seu fim a seus meios" (É loucura querer abocanhar mais do que se pode mastigar). B.H. Liddell Hart em As Grandes Guerras da História. Basta de maniqueísmo Não é mais possível vivermos num ambiente dividido entre o Bem e o Mal. O que é bom para uns é ruim para outros. O paraíso do PSDB é, para o PT, um inferno. E vice-versa. O céu petista é cheio de demônios queimando em brasa, segundo os tucanos. Ora, deixemos esse maniqueísmo de lado. Desde os tempos em que o PT cunhou o slogan "nunca antes na história deste país", um fosso profundo separa os dois territórios. Mas o Brasil é um só. Urge reconhecer vitórias de tucanos e petistas, avanços que os dois partidos conquistaram. Ninguém agüenta mais essa lorota : sendo PT, tudo é bom ; feito por tucanos, o empreendimento é magnífico. Ambos têm erros e acertos. Axioma 2 "Conserve seu objeto sempre em mente quando tiver que adaptar seu plano à situação." (Há mais de um caminho para atingir seu objetivo). B.H. Liddell Hart. Economia em baixa ? Este consultor tem repetido o mantra : economia nos trinques, Dilma subirá, mais uma vez, ao pódio. Economia no despenhadeiro, Dilma ameaça cair na lona. Nas últimas semanas, os analistas financeiros reacenderam suas previsões : PIB abaixo da meta (2,5%), inflação estourando a meta (6%), retração no consumo, empregabilidade sob risco. Apesar de todo esse cenário preocupante, é oportuno lembrar que o governo fará de tudo a seu alcance para empurrar a catástrofe de barriga, fazendo com que a conta a pagar entre no calendário de 2015. Por isso, este analista acredita que Dilma continua sendo a favorita no processo. Axioma 3 "Escolha a linha ou o curso de ação de menor expectativa" (Procure se colocar no lugar do adversário e verificar qual a linha de ação menos provável a ser prevista). Liddell Hart. O decisivo Triângulo das Bermudas Tudo vai depender do desempenho eleitoral do Triângulo das Bermudas. Aécio conta com uma maioria de 4 milhões de votos em Minas. Será que seu candidato, possivelmente Pimenta da Veiga, terá o apoio do PSB, do prefeito Márcio Lacerda ? Será que Alckmin conseguirá transferir para Aécio seus votos tucanos ? Há, ainda, o Rio. O PMDB do Rio de Janeiro, insatisfeito com a candidatura do senador petista, Lindenberg Faria, subirá no palanque de Dilma ? Ou um zangadão Pezão fará campanha contrária ? Ele é amigo da presidente, mas não se conformará com a decisão do PT de lançar um candidato próprio ao governo. Axioma 4 "Explore a direção de menor resistência" (Desde que possa conduzir ao objetivo que contribua para a consecução de sua meta básica). Liddell Hart PA, GO E NE As contas tucanas prevêem, ainda, um bom desempenho do PSDB no Paraná e em Goiás. Os tucanos, ademais, acreditam que a candidatura de Eduardo Campos tirará muitos votos de Dilma no Nordeste. Os mais de 10 milhões de votos que a presidente ganhou no Nordeste serão rateados com o candidato do PSB. Mas Lula promete fincar pé na campanha nordestina, a partir de sua forte participação em Pernambuco, seu estado Natal. Axioma 5 "Opere em uma direção que ofereça objetivos alternativos" (Coloque o adversário nas alternativas de um dilema). Liddell Hart Tom maior e tom menor Pois é, o desempenho eleitoral dos partidos nos Estados será o tom menor do pleito, porque o tom maior continuará a ser dado pela economia. Por isso tudo, qualquer projeção sobre votos regionais ficará sujeito às intempéries do macro-clima ambiental, ou seja, o desempenho econômico, na esteira da equação que sempre apresento : BO+BA+CO+CA= Bolso Cheio, Barriga Satisfeita, Coração Agradecido, Cabeça Decidindo dar o voto a quem arrumou o jogo. Axioma 6 "Cuide para que seu plano e seus recursos sejam flexíveis e adaptáveis à situação" (Preveja a manobra a ser realizada em caso de êxito, fracasso ou êxito parcial). Liddell Hart. Serra ? Para onde irá José Serra ? Para a Câmara Federal ? Para o Senado ? Vale um picolé de graviola quem acertar a rota serrista. Axioma 7 "Não exerça um esforço enquanto o adversário estiver em guarda" (Não se deve lançar um ataque quando o inimigo está muito organizado). Liddell Hart Ciro ? Para onde irá Ciro Gomes, atual secretário da Saúde do Ceará ? Para um Ministério do governo Dilma ? Para a equipe de campanha da presidente ? Ou continuará com trombeteiro-mor das forças governistas ? Axioma 8 "Não renove um ataque na direção em que fracassou uma vez" (O fracasso do ataque pode ter levantado o moral do inimigo). Liddell Hart Eduardo e Marina Marina começa a dar dores de cabeça no governador Eduardo Campos. Seu pacote de exigências extrapola o tamanho da parceria. É o que se diz nos bastidores. Veta alianças do PSB com PSDB, a partir de São Paulo. Quer ver a deputada Luiza Erundina como candidata do PSB ao governo paulista. Mas esta não pretende entrar nesse jogo. A questão é : Marina Silva conseguirá, como vice de Eduardo Campos, trazer para a chapa a maior fatia dos quase 20 milhões de votos auferidos no pleito presidencial de 2010 ? PMDB tenso O PMDB vive um estado de tensão. Quer ter uma participação maior no governo, significando uma cota mais forte de Ministérios ou cota de Ministérios mais gordos. No governo Lula, o partido foi mais aquinhoado. As pressões internas se avolumam. Quem administra as tensões, com sua capacidade de articulação e liderança, é o vice-presidente Michel Temer. Esse mês de janeiro será decisivo para o partido, que mostra interesse em segurar os Ministérios que comanda e ganhar outro com maior peso. Ocorre que a disputa é muito acirrada. E Dilma se esforçará para fazer uma reforma que satisfaça ao conjunto governista. Difícil. Agradar uma sigla significa desagradar a outra. É a questão do cobertor curto. Curto ? São 39 Ministérios. Mas os partidos da base são mais de 15. Gregos e romanos "Enquanto os gregos foram teóricos brilhantes, inovadores, os romanos foram agricultores-guerreiros, sérios e prudentes, menos sujeitos que seus antecessores a se deixarem levar por uma idéia. Herdamos nossas idéias dos gregos, mas nossas práticas dos romanos." (Kenneth Minogue) 30%, percentagem cabalística ? Pois é, podemos repartir o eleitorado brasileiro em três grandes blocos, cada qual somando cerca de 30% : os governistas, os oposicionistas e os eleitores que ainda não tomaram posição. Os 10% finais votarão em branco, nulo ou se absterão. 1/3 do eleitorado tende a decidir nos meses finais de campanha. Os bons "Parece que Deus escolhe os bons e os que fazem mais falta, para pagarem pela maldade dos que não fazem falta nenhuma." (Camilo Castelo Branco) Maranhão As últimas imagens sangrentas que estampam um Maranhão tomado pela violência em presídios apontam para um perfil em confronto com o status quo político : Flávio Dino, atual presidente da EMBRATUR e candidato ao governo pelo PC do B. Dilma mais política É visível. Nos últimos tempos, a presidente Dilma treinou mais o bambolê. Tornou-se mais flexível. Hora de conversar, dialogar, ouvir, atender demandas. Hora em que a onça corre ao poço para beber água. E os partidos estão sedentos. Hora da reforma ministerial. Crime desculpado "Quando alguém se vê privado de alimento e de outras coisas necessárias à sua vida, e só é capaz de preservar-se através de um ato contrário à lei, como quando durante uma grande fome obtém pela força ou pelo roubo o alimento que não consegue com dinheiro ou pela caridade, ou quando em defesa da própria vida arranca a arma das mãos de outrem, pela razão acima apresentada, nesses casos o crime é totalmente desculpado." (Leviatã - Thomas Hobbes) Mensalão e eleição O mensalão será um prato, mesmo requentado, no cardápio deste ano. Mas não conseguirá puxar votos das margens sociais. Que olham mais para o bolso. E por falar em mensalão, o que virá de Minas Gerais também subirá ao palco. O caráter "O caráter é como a gravata; uns usam por gravata uma fitinha preta, são os frívolos; outros um lenço de dois palmos de altura, são os graves. A primeira constipa, a segunda sufoca; eu uso gravata regular." (Machado de Assis) Queda no desempenho A GT Marketing e Comunicação, sob o comando deste escriba, acaba de concluir uma enquete sobre os Ministérios do governo Dilma, empreendimento que teve início no final do segundo mandato de Luiz Inácio. A nota média mais alta atribuída aos ministros do governo Dilma Rousseff foi 6,3 (em uma escala de 0 a 10), resultado pior na comparação com o governo Lula, quando a média esteve acima de 6,5. O mapeamento foi feito junto a lideranças empresariais, empresários, dirigentes de entidades, executivos, publicitários e jornalistas. Os mais bem cotados Gleisi Hoffmann, da Casa Civil, e José Eduardo Cardozo, do Ministério da Justiça, lideram o ranking como os melhores avaliados pelo grupo. Empatados no primeiro lugar, receberam nota média de 6,3. Na lanterna Os Ministérios da Fazenda, Trabalho e Emprego e Turismo foram avaliados com notas médias abaixo de 5. Para que a administração seja considerada regular, seriam necessárias notas na casa do 7. Os entrevistados, integrantes da cadeia de formação de opinião, são críticos e acompanham a dinâmica governamental. Anjos "Se os homens fossem anjos, nenhum governo seria necessário." (Kenneth Minogue) Conselho aos maniqueístas Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes, membros dos Poderes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos cartolas. Hoje, escolhe os maniqueístas que se multiplicam no país : 1. O Brasil é um todo territorial e a Pátria de Todos Nós. Não há lugar para exclusivismos e maniqueísmos. Cada grupo, setor, categoria, atividade, cada partido político tem um compromisso para com o país. O Bem-Estar da Coletividade requer integração de sentimentos. 2. Sob essa moldura, ninguém pode se considerar mais importante que outro. O Bem não é exclusividade de um Partido Político. Nem o Mal deve ser atribuído aos entes adversários. Urge acabar com o maniqueísmo burro que circula até no meio jornalístico, formando grupos contrários e excludentes. 3. Obras, livros, opiniões contrárias fazem parte da democracia. Não há razão para o combate mortífero entre petistas e tucanos. Que lutem no terreno das ideias e não na arena das agressões mortais. ___________
quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

Porandubas nº 381

De jeito nenhum Vez ou outra, valho-me do agudo observador da cena brasileira e esforçado amigo Sebastião Nery para abrir a coluna. Como é o caso desta. A historinha se dá nos tempos turvos da promulgação do AI-5, em dezembro de 68, quando foram fechados os Legislativos e os parlamentares eram obrigados a fazer uma declaração de bens de 10 anos anteriores. João Batista Botelho, conhecido na Assembleia Paulista como "João Cuiabano", preparou seu dossiê e, quando ia enviá-lo a quem de direito, foi advertido por um assessor : - Nobre deputado, Vossa Excelência tem de enviar a eles também o seu currículo. João, homem de poucas letras, do alto de sua bravura, virou uma fera : - Isto eu não vou dar de jeito nenhum. Só conseguirão se passarem sobre meu cadáver. Dito e feito ! Serra, ufa, desiste José Serra, ufa, desistiu de ser candidato à presidente da República. E assim, deixa Aécio Neves livre para botar a candidatura nas ruas. Serra fez a confissão pública da desistência, via twitter/facebook. Pediu, até, que os tucanos formalizassem a candidatura. Negócio seguinte : quanto mais Serra demorasse, mais incertezas jogaria na arena eleitoral. Exibe, hoje, uma intenção de voto maior que a de Aécio, mas, ao correr de uma campanha, a tendência aponta para um crescimento do candidato mineiro nas pesquisas. O agora liberado Aécio adensa sua movimentação e apresenta esta semana as 12 diretrizes que servirão de base ao programa do PSDB. "Os poderosos podem destruir uma, duas ou três flores, mas nunca deterão a primavera". Che Guevara Chances do mineiro As chances de Aécio dependerão do estado geral da economia em 2014, ou, mais precisamente, nas margens de outubro de 2014. Com a economia descontrolada, as oposições veriam ampliadas suas condições. A recíproca é verdadeira. No caso específico de Aécio, há uma barreira a saltar: encarnar o perfil do novo, do inovador. O neto de Tancredo Neves expressa os fortes valores da política mineira. Se sair com quatro milhões de votos de maioria, em MG, conta com boas condições de entrar no segundo turno. SP, o maior colégio eleitoral, pode vir a se encantar com a lábia mineira. Vai depender do canto mavioso de Geraldo Alckmin. E também da polarização entre tucanos e petistas. Se vingar, seria vantajosa para Aécio. "O amor é a força mais abstrata, e também mais potente, que há no mundo". Mahatma Gandhi Alckmin sob tiroteio Outro fator a ser considerado será o tiroteio sobre o governador Geraldo Alckmin. O affaire dos trens - denúncias de cartel - será muito usado pelo PT, até para tentar anular os efeitos do mensalão. Alckmin tem imagem positiva, é cordial, começa a adensar a visibilidade - com campanhas institucionais do governo - e possui forte penetração no interior do Estado. Se o eleitorado entrar no jogo da polarização com o PT, será ele o maior beneficiado. SP é um bastião feroz contra o petismo. A rejeição ao PT soma entre 30% a 35%. Em eventual segundo turno, Alckmin levaria a melhor. "Um espírito mesquinho é como um microscópio : aumenta as pequenas coisas, mas impede de ver as grandes". Philip Chesterfield Efeito maldhad O prefeito Haddad não está bem nas planilhas de avaliação. Os índices exagerados de aumento do IPTU geraram protestos. Ainda bem que recursos da FIESP e do PSDB barraram o aumento. Mesmo assim, sobram críticas. Grupos de sem terra e sem teto acampam na frente da prefeitura, no viaduto do Chá. A cidade está um caos. Os corredores exclusivos de ônibus apertam os espaços dos carros. Os congestionamentos se multiplicam. Esse efeito - chamado jocosamente de maldhad - terá consequências eleitorais. A conferir. "Deixe-me dizer, com o risco de parecer ridículo, que o verdadeiro revolucionário é feito de grandes sentimentos de amor". Che Guevara Padilhando O ministro Alexandre Padilha, da Saúde, é a grande esperança de Lula para tomar o principal bastião de resistência ao petismo, o Estado de SP. O maior cabo eleitoral do país espera repetir com Padilha o que fez com Haddad. Tirou um nome asséptico do bolso do colete e conseguiu elegê-lo prefeito. Mas a campanha municipal não foi afetada pelo episódio do mensalão. Nos últimos tempos, o episódio ganhou ampla visibilidade. Lula sabe que não será fácil alavancar seu candidato. O PT pode, até, resgatar seus históricos 25% a 30% dos votos. Mas e a rejeição ao petismo ? "Quem perde a fortuna perde muito; mas, quem perde o caráter, perde tudo". Emerson Financiamento de campanha Acabar com o financiamento privado de campanha, a partir da proibição de doações de recursos por empresas, é uma medida saneadora ? Em princípio, sim. Evitaria que o poder econômico agisse como o principal motor eleitoral. Sejamos, porém, realistas. O poder econômico vai continuar a dar apoio a candidatos. Como ? Por debaixo do pano. O caixa dois será bem usado. Desta feita, se houver proibição, com mais intensidade. Política e interesses privados caminham juntos. Poderá haver um refluxo nos custos gerais das campanhas, mas a grana privada continuará a entrar nos cofres eleitorais. Quem ganha mais Se houver proibição de doações privadas de empresas, quem ganhará mais com a medida ? O PT. Pelas seguintes razões : 1. é o partido mais orgânico, mais vertical, mais capaz de engajar os quadros na luta eleitoral; 2. é um dos partidos que mais recursos recebem do fundo partidário (tem o maior número de deputados Federais); 3. é o partido no comando do poder, ou, noutra leitura, é o partido que detém o poder da caneta. É comum se dizer que o poder da caneta lidera os outros Poderes; 4. é o partido com o maior número de quadros e comandos da máquina Federal em todos os Estados da Federação. Logo, interessa ao PT fechar os dutos financeiros dos partidos, pois os seus cofres estarão bem abastecidos. "O caráter não é esculpido em mármore, não é algo sólido e inalterável. É algo vivo e mutável, e pode tornar-se doente, como se torna doente o nosso corpo". George Eliot STF e a proibição Parece esdrúxula essa decisão do STF de julgar a questão da doação de recursos de empresas para campanhas. Trata-se de matéria típica do Congresso Nacional. O que tem a ver a Suprema Corte com um tema de exclusiva competência da representação política ? Simples. O STF foi acionado pela OAB. E se há um recurso que chega ao seu foro, não pode deixá-lo de lado. Ou seja, por falta de legislação específica, os juízes darão sua interpretação, à luz da Constituição, e julgam. E se o Supremo proibir as doações privadas, o Congresso poderá criar uma lei permitindo tais recursos ? Sim. Estamos, portanto, diante do seguinte fato : o STF pode desaprovar e o Congresso aprovar. No momento em que a lei permitir a doação de recursos por parte de empresas, a interpretação dos ministros cairá por terra. É o que se divisa no horizonte. A conferir. Posse do Marcelo Faço uma homenagem ao dr. Marcelo Cascudo, que toma posse, amanhã, quinta-feira, no Palácio dos Bandeirantes, como presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Cardiovascular. A entidade foi criada pelo inesquecível cirurgião dr. Euríclides de Jesus Zerbini, e já foi presidida pelo dr. Adib Jatene. Marcelo é um paraibano de Uiraúna, vizinha da minha querida Luis Gomes/RN, e um dos mais prestigiados cirurgiões cardíacos do país. Mas é um potiguar honorário, título recebido no Dia do Médico. Marcelo é um líder. E um médico que inscreve seu nome na galeria da excelência. Rebelião na Papuda ? Juízes substitutos da vara de Execuções Penais, responsáveis pela prisão de condenados do processo do mensalão, querem ser removidos. A causa ? Receio de rebelião na penitenciária da Papuda. Poderia haver fuga em massa nas vésperas de Natal. Criou-se, ali, a partir da prisão dos mensaleiros, um tratamento desigual. Os chamados presos comuns não se conformam com as regalias aos condenados da AP 470. Fenaserhtt elege diretoria Entidade representativa oficial do setor de prestação de serviços especializados e de trabalho temporário no Brasil, a Fenaserhtt (Federação Nacional dos Sindicatos de Empresas de Recursos Humanos, Trabalho Temporário e Terceirizado) tem nova diretoria para o quadriênio 2014/2017. Vander Morales, presidente do Sindeprestem (Sindicato Patronal Paulista do Setor), foi eleito para comandar os rumos da Fenaserhtt. "A federação representa a concretização de um antigo sonho do empresariado. É uma organização maior, com mais poder de representatividade e participação nos debates na esfera governamental e fóruns tripartites", diz Morales. O roubo de duas melancias O juiz Rafael Gonçalves de Paula, da 3ª vara criminal de Palmas/TO, deu o seguinte despacho sobre o auto de prisão em flagrante de Saul Rodrigues Rocha e Hagamenon Rodrigues Rocha, detidos em virtude de suposto furto de suas melancias. - "Para conceder a liberdade aos indiciados, eu poderia invocar inúmeros fundamentos : os ensinamentos de Jesus Cristo, Buda e Ghandi, o Direito Natural, o princípio da insignificância ou bagatela, o princípio da intervenção mínima, os princípios do chamado Direito alternativo, o furto famélico, a injustiça da prisão de um lavrador e de um auxiliar de serviços gerais em contraposição à liberdade dos engravatados que sonegam milhões dos cofres públicos, o risco de se colocar os indiciados na universidade do crime (o sistema penitenciário nacional). O juiz continuou : - Poderia sustentar que duas melancias não enriquecem nem empobrecem ninguém. Poderia aproveitar para fazer um discurso contra a situação econômica brasileira, que mantém 95% da população sobrevivendo com o mínimo necessário. Poderia brandir minha ira contra os neoliberais, o consenso de Washington, a cartilha demagógica da esquerda, a utopia do socialismo, a colonização européia ! Poderia dizer que George Bush joga bilhões de dólares em bombas na cabeça dos iraquianos, enquanto bilhões de seres humanos passam fome pela Terra - e aí, cadê a Justiça nesse mundo ? - Poderia mesmo admitir minha mediocridade por não saber argumentar diante de tamanha obviedade. Tantas são as possibilidades que ousarei agir em total desprezo às normas técnicas : não vou apontar nenhum desses fundamentos como razão de decidir. - Simplesmente mandarei soltar os indiciados. Quem quiser que escolha o motivo. Expeçam-se os alvarás. Intimem-se". Conselho aos cartolas Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes, membros dos Poderes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos membros do PT. Hoje, volta sua atenção aos cartolas : 1. Urge exigir do STJD regras mais claras para julgamento de clubes e jogadores. Um time é apenado com rebaixamento por ter escalado jogador suspenso. A Lusa desce e o Fluminense sobe. 2. Mas, em 2010, ao que se divulga, o Fluminense sagrou-se campeão nacional, cometendo a mesma penalidade da Portuguesa. Escalou o jogador Tartá, suspenso. 3. Ao que parece, há uma tentativa de deixar os grandes times em situação melhor. Os clubes médios, sem grande poder, são mais punidos. Essa é a Justiça esportiva que temos ? Por que não temos regras mais claras ? Ou será que, por nossas plagas, continua vingando o ditado : "os pobres nunca deviam fazer guerra" ?
quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

Porandubas nº 380

Quarta-feira, 11 de dezembro de 2013 - Migalhas nº 3.267. Abro a coluna com um relato do impagável Zé Abelha, em seu A Mineirice : A distribuidora de bebidas Minasgerais Ltda., de Governador Valadares, distribuiu na cidade um opúsculo sobre as maravilhas da Catuaba, eficiente no tratamento do sistema nervoso, falta de apetite e impotência. Adicionada à cachaça, a dose teria efeitos afrodisíacos, prometia o livreto : - Tudo escureceNada amanheceA barriga cresceA junta endureceA vista enfraqueceO cabelo embranqueceA mulher ofereceEle agradeceE diz : ah ! Se eu pudesse !- Mas com Catuaba CristalIsso não acontece. O estoque acabou em menos de uma hora. Bomba ? Quais os efeitos ? Pois é, não se fabricam mais bombas como antigamente. Ou, se quiserem, outra hipótese : as bombas de hoje têm grande poder destrutivo, mas não causam tanto medo como antigamente. Querem outra ? De tantas bombas, explodindo de muitos lados, ninguém sabe qual a mais potente. E mais uma : a banalização das bombas acaba gerando insensibilidade social. Em tempos d'outrora, vandalismo, violência, destruição e morte causavam sensação. Comoção social. Hoje, virou algo comum. A morte está ali, na esquina, à espreita. O arrazoado é um narizão de cera para fechar a ideia : a bomba anunciada pela revista Veja, com a entrevista exclusiva do delegado Romeu Tuma Junior, sobre as peripécias do poder petista, não causou, por enquanto, os estragos que dela se esperavam. A estratégia do PT O PT expressou sua posição com um silêncio profundo. Tarso Genro, o governador gaúcho, foi um dos poucos a se manifestar. Disse que não tinha conhecimento detalhado dos fatos narrados pelo delegado e que teriam sido narrados a ele, quando era ministro da Justiça. O partido não deu bola à entrevista, onde se liam denúncias graves, algumas já conhecidas, outras apontando novidades. A produção de dossiês, a cargo de pessoas do partido, já era coisa conhecida. Mas dossiê, documento, vazamento, informações pela metade constituem o acervo cotidiano da política, ou, se quiserem, da politicagem. Por isso, nessa esfera, a coisa morrerá logo. O Barba Dizer que Lula, codinome Barba, foi informante do DOPS pode parecer um exagero. Preso, abriu conversa com o Tumão, o velho Romeu Tuma, que chefiava o DOPS, podendo, até, ter passado informações. Seria isso dedodurismo ? Cada qual tire suas conclusões. O clima pré-eleitoral esfumaça o ambiente. A história de que chegou a dormir em sofá da sala já era conhecida. Um dia, a verdade verdadeira aparecerá. Igualdade entre presos É evidente que houve, sim, espetacularização no episódio dos mensaleiros presos. De um lado, a intensa cobertura midiática expôs a situação dos prisioneiros do PT, com abordagens muito negativas. De outro, os posicionamentos de cada um deles exigindo tratamento diferenciado. Os doentes, como Genoino e Jefferson, devem passar, sim, pelo crivo de médicos. Só eles podem atestar o estado de saúde e as condições que devem cercá-los na prisão. Feitos os laudos, cumpra-se a lei. A reação de um ou outro, escancarando um processo de vitimização, acirrou os ânimos. Petistas tentaram formar um bastião de defesa. Sem olhar para outros prisioneiros, com penas até maiores. Por que alguns foram chamados de "prisioneiros políticos" e outros, de simples condenados ? Faltam isenção e bom senso na análise da situação. Mentiras Bismarck, o maior estadista alemão do século XIX, dizia que "nunca se mente tanto antes das eleições, durante uma guerra e depois de uma pescaria". Barbosa, fora da comitiva Comenta-se que a presidente Dilma teria cometido uma deselegância para com o presidente do STF, Joaquim Barbosa, pelo fato de não tê-lo convidado a integrar a comitiva de ex-presidentes da República que foi à África do Sul assistir ao funeral do ícone de grandeza e um dos maiores lides do século XX, Nelson Mandela. Ora, como se sabe, a comitiva foi integrada por ex-presidentes da República. Barbosa não se enquadra na situação. É chefe de um Poder ? Sim. Mas se fosse convidado, a presidente da República seria também obrigada, por um dever de Justiça, a convidar os presidentes de outros Poderes, Henrique Alves, presidente da Câmara Federal, e Renan Calheiros, presidente do Senado Federal. O fato de Joaquim ser negro não justificaria o convite. Joaquim na política ?  Não acreditem nessa hipótese. O presidente do STF é assediado, admirado, convidado para frequentar os mais diferentes eventos em todas as regiões do país. Ganhou fama pela maneira corajosa de ter administrado o julgamento da AP 470. Isso é um fato. A mosca azul da política bateu asas em sua direção ? Apelos e pressões nessa direção não faltam para que se candidate à presidente da República. Ora, seria o maior erro de sua vida se decidisse entrar agora na seara política. O tempo não é esse. Cada qual com seu bornal. E no seu devido ciclo de vida. Antecipar a carreira no Judiciário seria ruim para ele. No campo das emboscadas políticas, ele seria triturado pela máquina de sujar perfis. O momento aconselha que permaneça onde se encontra. E a Eliana Calmon ? E por que a Eliana Calmon, ex-corregedora do STJ e dura no julgamento de juízes corruptos, está entrando na política ? Possivelmente, será candidata a senadora pelo PSB na BA. Bom, primeiro é oportuno dizer que não se deve comparar uma coisa com outra. Calmon se aposentou. Fez um percurso vitorioso no Judiciário, chegando ao fim da linha. Seu tempo de vida útil ali chegara ao fim. Joaquim tem um bom tempo ainda na carreira de ministro do STF. Eliana pensa em se candidatar ao Senado pela BA. O espaço que pleiteia combina com seu perfil. Ademais, ela já vive sua quarentena, um tempo afastado do caminho da Justiça. Padilha com 30% Petistas me dizem do mais alto patamar de sua convicção : Alexandre Padilha, em julho de 2014, deverá exibir 25% de intenção de voto, devendo chegar aos 30% em final de agosto. Não duvido. Seriam os 30% históricos do PT em SP. Mas a política é um rio sinuoso. Cheio de curvas. Tudo vai depender do clima e das circunstâncias. Alckmin com 40% Pois é, na mesma linha das certezas, tucanos do bico longo me dizem : Geraldo Alckmin, que hoje ostenta 43% de intenção de voto, deverá permanecer em torno de 40% em julho, podendo chegar aos 45% em final de agosto. Respondi com a mesma hipótese : tudo vai depender do cheiro do tempo. A polarização será a mesma ? Coloco outra hipótese no caldeirão eleitoral : o arrefecimento da polarização entre PSDB e PT. Ou seja, digamos que em julho de 2014, o embate histórico entre petistas e tucanos esteja frio. Aponto algumas razões : desgaste de material ; mesmice ; sensação de que não haverá substantiva mudança com o petismo no poder estadual ; sensação de que SP carece de novos rumos, um perfil empreendedor no poder ; tiroteio intenso entre os dois exércitos e destruição recíproca de seus arsenais. Esse é um cenário que não pode ser desprezado. Nessa hipótese, teria vez o candidato do PMDB, Paulo Skaf. Sindetur/SP - 6,6 mil empresas O Sindicato das Empresas de Turismo no Estado de São Paulo (Sindetur/SP) elegeu Eduardo Nascimento para a gestão 2014/2018. Composta por 10 vice-presidentes, a Chapatur foi escolhida por aclamação em Assembleia Geral Eleitoral ocorrida na sede da entidade no final de novembro. A posse será em janeiro. "A meta é ampliar o foro de discussões sobre as necessidades do setor de Turismo e promover ações conjuntas com as demais entidades representativas do agenciamento turístico, em defesa dos interesses da categoria", destaca o presidente reeleito. O Sindetur/SP representa cerca de 6,6 mil empresas de turismo em sua base territorial. Aperto na segurança As empresas de segurança, que enfrentam grandes dificuldades para honrar o 13º salário, foram pegas de surpresa pela Portaria 1.885/13 do Ministério do Trabalho. Como é sabido, negocia-se, há tempos, a concessão de 30% de adicional de periculosidade, em SP ; 18% já foram concedidos e os restantes 12% devem ser ajustados nos próximos acordos. Daí a surpresa : o Ministério "regulou" a matéria, definindo que o benefício deve ser pago de uma só vez a contar de 3 de dezembro. Mas em janeiro ocorrerá o "Acordo Coletivo" da categoria. Ora, as empresas não teriam fôlego para integralizar os 30% já agora em dezembro. Pergunta que o setor coloca : a clientela aceitará os repasses correspondentes ? Quantas empresas terão condições de sobreviver ? As portas do desemprego começam a se abrir. A insegurança jurídica é uma constante ameaça, afastando empreendedores e investimentos. Haja sonegação ! A sonegação fiscal no Brasil chega à casa dos R$ 400 bilhões. Desenvolvido pelo Sindicato Nacional dos Procuradores da Fazenda Nacional (Sinprofaz), o "Sonegômetro" apresenta em tempo real o quanto o país deixa de arrecadar todos os dias, por meio do endereço eletrônico (clique aqui). Um painel móvel, com o placar da sonegação fiscal, circulará nas proximidades do Congresso Nacional, a partir de hoje, 11. "Sonegômetro". O Sindicato realizou um estudo que estabelece indicadores para a evasão fiscal. A ação faz parte da Campanha Nacional da Justiça Fiscal "Quanto custa o Brasil pra você ?". Velha história, nova história Carta de Vespasiano a seu filho Tito 23 de junho de 79 d.C. "Tito, meu filho, estou morrendo. Logo eu serei pó e tu, imperador. Espero que os deuses te ajudem nesta árdua tarefa, afastando as tempestades e os inimigos. "De minha parte, só o que posso fazer é dar-te um conselho : não pare a construção do Colosseum. Em menos de um ano ele ficará pronto, dando-te muitas alegrias e infinita memória." "Alguns senadores o criticam, dizendo que deveríamos investir em esgotos e escolas. Não dê ouvidos a esses poucos. Pensa : onde o povo prefere pousar seu clunis : numa privada, num banco de escola ou num estádio ? Num estádio, é claro." "Será uma imensa propaganda para ti. Ele ficará no coração de Roma 'per omnia saecula saeculorum', e sempre que o olharem dirão : 'Estás vendo este colosso ? Foi Vespasiano quem o começou e Tito quem o inaugurou'." "Outra vantagem do Colosseum : ao erguê-lo, teremos repassado dinheiro público aos nossos amigos construtores, que tanto nos ajudam nos momentos de precisão." "Moralistas e loucos dirão que mais certo seria reformar as velhas arenas. Mas todos sabem que é melhor usar roupas novas que remendadas. 'Vel caeco appareat' (Até um cego vê isso). Portanto, deves construir esse estádio em Roma". Enfim, meu filho, desejo-te sorte e deixo-te uma frase : 'Ad captandum vulgus, panem et circenses' (Para seduzir o povo, pão e circo)." "Esperarei por ti ao lado de Júpiter." Nossos coliseus Vespasiano morreu no dia seguinte à carta. Tito inaugurou o Coliseu com 100 dias de festa. Tanto o pai quanto o filho foram deificados pelo Senado. Cheguemos aos nossos dias. A pergunta de Vespasiano continua valendo : "Onde o povo prefere pousar seu clunis : nos monumentais estádios de Cuiabá, Brasília, Natal, Recife e Manaus ? Ou numa privada, num banco de escola ou num estádio ?" P. S. A Arena Pantanal, em Cuiabá, terá 43.600 lugares. No último campeonato de MT, a média foi inferior a 1.000 pessoas por partida. Em Manaus, a Arena terá 47 mil lugares. No último campeonato estadual, juntando os 80 jogos, o público total foi de 37.971. Vespasiano está vibrando. Em tempo: Em latim, clunis quer dizer nádega. (De um constante colaborador da coluna) Comida de tubarão Piada contada nas rodas do Teresina Shopping, pelo "historiador" Sena Rosa. Um piauiense chega a SP pedindo emprego e lhe é oferecida a oportunidade de entrar no mar dentro de uma jaula para enfrentar um tubarão preso em outra jaula. O empregador : "Lá no fundo do mar, você abre a sua jaula para o tubarão entrar e aguarde para pronunciar a palavra 'tuba'". O piauiense : "E porque não dizer a palavra 'tubarão' completa ?". O empregador : "Se der tempo". Conselho aos membros do PT Na última coluna, o espaço foi destinado aos eventuais candidatos aos governantes. Hoje, volta sua atenção aos membros do PT. 1. O PT realiza esta semana seu 5º Congresso Nacional com os olhos pregados no futuro. Certamente, temas sensíveis como a AP 470 deverão ser objeto de análise e debates. O PT não pode continuar argumentando que o mensalão não existiu, que o STF errou em seu julgamento, que o Partido é uma vestal da República. 2. O PT deve entender que faz parte do quadro partidário, moldando-se à cultura política e, dessa maneira, navega nas ondas dos costumes e padrões em curso, não sendo exceção à regra. 3. O PT não pode desejar ser referência de ética e moral, como alguns membros da cúpula partidária garantem. O PT precisa reconhecer seus erros.
quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

Porandubas nº 379

Nesses tempos de tanta acochambração, abro a coluna com uma historinha de Salim, de um leitor fiel de Porandubas : Salim pensou bem e decidiu ir ao banco. - Eu quer faze uma embréstimo ! Surpreso, o gerente pergunta para Salim : - Você, Salim, querendo um empréstimo ? De quanto ? - Uma real. - Um real ? Ah, isso eu mesmo te dou. - Não, não ! Eu querer embrestado da banco mesmo ! Uma real ! - Bem, são 12% de juros, para 30 dias... - Zem broblema ! Vai dar uma real e doze zentavos. Onde eu assina ? - Um momento, Salim. O banco precisa de uma garantia. Sabe como é, são as normas. - Bode begar meu Mercedes zerinha, que tá aí fora e deixa ele guardado no garagem da banco, até eu bagar a embréstimo. Tão bom azim ? - Feito! Chegando em casa, Salim diz para Jamile : - Bronto, nóis já bode viajar bra Turquia zem breogubazon. Conzegui dexar a Mercedes num garagem do Banco do Brasil bor 30 dias, e eu só vai bagar doze zentavos de estacionamento. A renúncia de Genoino A renúncia do deputado José Genoino (PT/SP) o livra do processo de cassação. O presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB/RN), garante que ele ainda pode se aposentar, por ter entrado com o pedido antes de ter anunciado a renúncia. Se a aposentadoria fosse concedida antes da abertura do processo de cassação, Genoino também não responderia pelo processo de cassação de mandato. Como se recorda, o STF - que o condenou no processo do mensalão - determinou a perda automática do mandato parlamentar, mas o presidente da Câmara dos Deputados disse que iria instaurar processo normal de cassação, que inclui votação em plenário. Caso Genoino não tivesse renunciado, o processo seria submetido ao plenário da Câmara já em votação aberta. Eletricidade no ar A eletricidade está no ar. Em todos os espaços. Ainda bem longe da feroz campanha de 2014, os ânimos já se acirram. De um lado, as oposições tentando tirar uma casquinha nas feridas do mensalão que chega ao fim, com a prisão de políticos petistas e outros ; e de outro, o governismo comemorando o avanço lento e gradual da presidente Dilma no ranking pré-eleitoral. Afinal, quais os efeitos do mensalão na campanha e por onde caminhará o governismo ? A economia das bases prevalece Os oposicionistas estão com a pulga atrás da orelha. Perguntam-se : afinal de contas, com a onda midiática em torno da prisão de mensaleiros, por que a presidente Dilma, que encarna o status quo governista, expande seus índices eleitorais ? Mais uma vez, este consultor mete a mão na cumbuca para reiterar o que tem dito ao longo dos últimos meses. A economia prevalece sobre a política. Ou seja, o bolso, neste momento, é mais importante que o barulho que a política provoca. Apesar dos pesares na esfera das contas públicas, déficits fiscais, baixo crescimento do PIB, conta exportação em baixa, o povão das margens não tem sido afetado pelos grandes números. O programa assistencialista garante geladeira cheia e barriga satisfeita. Logo, a cabeça pende para quem patrocina as benesses. Dossiês Começou o ciclo de produção de dossiês. Há gente inocente pagando por calhordas no episódio dos trens em SP. E há partidos querendo tirar proveito do episódio. Há muita versão fajuta. A conferir os resultados. O meio consolida posições Por isso mesmo, as bases têm garantido à presidente Dilma seu bom posicionamento. E mais : querem que ela faça mudanças. Esse é um dado interessante. Identificam nela o perfil capaz de fazer mudanças, não o Aécio nem o Eduardo Campos. Já as classes médias consolidam sua visão, mantendo forte rejeição ao lulopetismo, como se observa em SP, por exemplo. No maior colégio eleitoral do país estão os contingentes mais racionais e as searas mais anti-petistas. Por isso, Alckmin continua a ter bons índices - 43% - nas pesquisas. Lula, ainda o maior Luiz Inácio Lula da Silva continua a liderar o ranking de puxadores de voto. Teria, hoje, na condição de eventual, cerca de 55% de intenção de voto. Continua a desfraldar a bandeira de defensor dos pobres. Mensalões no ar É evidente que muita coisa poderá mudar até as eleições. Digamos que o efeito pedra no meio da lagoa gere consequências (marolas se formam até as margens da lagoa) ; isto é, as classes médias, contrárias ao petismo, fariam circular sua contrariedade até as beiradas. Tudo bem. Isso é possível. Mas em 2014, deveremos assistir o affaire do mensalão mineiro. Os petistas poderão brandir o escândalo mineiro em contraponto ao seu escândalo. O deputado Eduardo Azeredo, do PSDB, poderá virar o alvo do tiroteio. O Triângulo das Bermudas O centro do fenômeno eleitoral será o espaço chamado Triângulo das Bermudas : SP, maior colégio eleitoral, com 32 milhões de eleitores ; MG, com 15 milhões, segundo colégio eleitoral, e RJ, com 11 milhões, terceiro colégio eleitoral. SP e Minas são governados por tucanos. Alckmin, hoje, lidera o processo em SP, tendo mais de 40% de intenção de voto. O governador Anastasia, em Minas, quer dar a Aécio maioria de 4 milhões de votos. No Rio, Garotinho está na frente e os candidatos do PT e do PMDB, Lindbergh e Pezão, poderão crescer. Lembre-se, ainda, que GO, com Marcone Perillo, e PR, com Beto Richa, são governados por tucanos. O PSDB, teoricamente, tem boas condições de lutar pelo segundo turno. Mas... Cadê o discurso ? Ocorre que falta discurso às oposições. Aécio Neves expressa com veemência peroração política - centrando críticas em perfis do petismo, a partir da presidente Dilma - mas lhe falta uma abordagem programática. Qual é o projeto para o país ? Qual a alternativa econômica em substituição ao modelo petista ? Por onde caminhar ? Qual a proposta para a reforma tributária ? São questões como essas que continuam sem resposta por parte das oposições. E Eduardo Campos, por sua vez, tem uma banda governista. Não conseguiu, até o momento, fixar uma imagem de oposição forte. Carrega imagem frappé. Campos no Nordeste Eduardo Campos vai tentar se apresentar como o candidato da região Nordeste. E quer sair de PE com uma extraordinária votação. Tem tido boa avaliação, sem dúvida. Mas não devemos esquecer que Lula é pernambucano e vai correr seu Estado para encher a bacia de votos de sua candidata. Dirá, por exemplo, que os R$ 40 bilhões que PE recebeu, nos últimos anos, de investimentos se deram sob a égide dos governos petistas, dele e da presidente Dilma. Será interessante acompanhar a querela pernambucana. Ceará e os Ferreira Gomes No CE, os irmãos Cid Gomes e Ciro Gomes resistem a um acordo com o PMDB, cujo candidato ao governo é o senador Eunício Oliveira, hoje com 45%. Esse é um dos imbróglios a serem resolvidos pelo PT. No pano de fundo, vê-se a chance de Tasso Jereissati voltar à política como senador, pelo PSDB. Portanto, é possível que o reduto governista dos Ferreira Gomes vá às urnas bastante dividido. Sergipe e o vice Com a morte do governador Marcelo Déda, aos 53 anos, crescem as chances do vice-governador Jackson Barreto, do PMDB, levar a melhor no pleito de 2014. Terá a máquina a seu favor. Sobre Deda : um perfil de moderação ; inteligente, articulado, poeta. Um dos melhores quadros do PT. Querido amigo da presidente Dilma. Skaf em SP Paulo Skaf, que será o candidato do PMDB ao governo paulista, continua despontando com boas chances. Tem cerca de 20% de intenção de voto. O índice se mantém. Nas pesquisas qualitativas, aparece como o perfil que mais se destaca, o mais asséptico. Paulo tem, sim, condições de quebrar a polarização PSDB x PT. PMDB nos Estados No PR, o PMDB poderá vir a apoiar a senadora Gleisi, do PT, ao governo ; mas Requião, o senador com voz forte no partido, pensa em se candidatar. Em GO, o candidato deverá ser Junior, da Friboi ; em Minas, o PMDB poderá fechar com o PT, de Fernando Pimentel, e ganhar a vice, com o ministro Antônio Andrade, da Agricultura ; Clésio, o senador do PMDB pensa em disputar o cargo de governador. Na BA, Geddel será o candidato ; no RN, se não sair com candidato próprio, poderá fazer aliança com o PSB de Wilma Faria. No Rio, o imbróglio é grande. Pezão será candidato. E assumirá o governo com a saída de Cabral, que se candidatará ao Senado. E quando o PT vai deixar o governo de Cabral ? Haddad em baixa Previsível. O prefeito Fernando Haddad está no despenhadeiro da imagem. Também, pudera. Faz um pacote com alta taxa de IPTU para áreas comerciais e algumas regiões, algo entre 25% e 35%. A comparação é inevitável : quem teve aumentos salariais e de ganhos nesses índices ? Era de esperar um reajuste de 10% no máximo. Seu pacotão vai estourar nas costas de Padilha ? Padilha, Mais Médicos Se Alexandre Padilha fosse candidato a governador em um Estado do Norte ou mesmo do Nordeste, poderia ter uma ótima votação. Em SP, a coisa é mais complexa. O programa Mais Médicos renderá ótimos frutos para a presidente Dilma em 2014. Em SP os efeitos desse programa não serão tão impactantes. Mas o PT, como se sabe, tem garantido a seus candidatos majoritários cerca de 30% dos votos em SP. Desse modo, esse poderá ser o teto de Padilha. Aliás, podemos projetar a seguinte equação : 30% para o candidato governista; 30% para o candidato oposicionista e 30% para o perfil alternativo. É uma boa equação para se projetar o cenário paulista. Petrobras É surpreendente como a Petrobras descamba no perigoso terreno da má gestão. Graça Foster, diz-se, é uma ótima gestora. Mas quem está dirigindo a empresa é a dupla Dilma/Mantega. Graça apenas assina os papéis. De tombo a tombo, a Petrobras cai no poço do descrédito. Desabou, esta semana, 10,37%. Que triste. Marcha à ré no crescimento O governo anda trombando em seus próprios números. Esta semana o IBGE anunciou que a economia brasileira recuou 0,5% no terceiro trimestre deste ano em relação ao trimestre anterior. É o pior desempenho desde o primeiro trimestre de 2009, durante o auge da crise global - ali houve retração de 1,6% na comparação com o trimestre anterior. Primeiro erro : um dia antes, o ministro Guido Mantega disse que a economia deveria registrar crescimento de 2,5% neste trimestre em relação ao mesmo período do ano passado. O número correto é 2,2%. Segundo erro : em entrevista ao jornal espanhol El País, a presidente Dilma disse que o PIB de 2012 seria revisado de 0,9 para 1,5%. Foi apenas de 0,9% para 1%. Mais um gigante nacional ? Por meio de manifestação de interesse, a prefeitura de SP selecionou interessados na modelagem da PPP que será responsável pela modernização, operação e manutenção da iluminação pública da cidade. SP é uma das cinco maiores metrópoles do mundo. O consórcio que faz hoje o serviço se uniu a J&F, ou seja, Friboi. Há quem diga que o PT estaria por trás dessa tentativa de criar mais um gigante nacional. Para haver efetiva concorrência, urge lembrar que SP é tão grande que, em uma licitação nacional, quem faz o serviço em SP teria melhores condições de atestar experiência. Transparência Brasil caiu no ranking da transparência. Ocupa a 72ª posição entre 177 Nações. Tinha a 69ª posição. Um alerta à ANAC O departamento de transporte dos EUA multou a companhia aérea GOL em US$ 250 mil por violar várias normas sobre Direito do Consumidor e não revelar todas as informações necessárias sobre as taxas aplicadas aos passageiros. Esta é a maior multa aplicada pela agência Federal desde que reforçou sua legislação de proteção dos passageiros em abril de 2011. "Adotamos estas normas para assegurar que os passageiros sejam tratados com respeito quando compram um bilhete ou entram em um avião", afirmou Anthony Foxx, secretário de transporte dos EUA em uma nota de imprensa. A sanção decorre das falhas observadas no site da GOL após seu lançamento em 2012, no qual não estavam incluídas todas as informações requeridas, como os planos de contingência para longos atrasos na pista do aeroporto ou links à lista de preços por bagagem e outros serviços opcionais. É um alerta à nossa ANAC. Conselho às autoridades Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes, membros dos Poderes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos eventuais candidatos aos governos estaduais. Hoje, volta sua atenção aos governantes : Nos últimos tempos, temos assistido a eventos de impacto, principalmente acidentes envolvendo obras em construção, como estádios, prédios, etc. 1. Urge pôr uma lupa nos empreendimentos, observando-se rigorosamente as maneiras de operação, os sistemas de segurança, os licenciamentos e as condições de trabalho. 2. Nas arenas em construção para a Copa de 2014, todo cuidado é pouco. Imaginem a ocorrência de acidentes no período de realização dos jogos ; a imagem do país estaria irremediavelmente comprometida. 3. A pressa é inimiga da perfeição. Querer tirar os atrasos nos cronogramas, procurando queimar etapas ou acelerar processos, sob a ameaça de perda de qualidade, é um enorme risco. Atentem para essa questão.
quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Porandubas nº 378

Abro a coluna com historinhas do inesgotável folclore político de MG. Bias fortes Juscelino Kubitschek era presidente da República na década de 50. A questão fronteiriça entre Minas e o ES recrudesceu. JK reuniu os dois governadores dos Estados litigantes. Conseguiu de ambos o compromisso de cessarem, de imediato, as hostilidades, voltando os limites estaduais à situação anterior, enquanto comissão de alto nível das duas Unidades da Federação buscava uma solução. Ao término da reunião, os jornalistas cercaram os dois governadores, querendo saber se havia uma decisão. Bias Fortes, governador de Minas, resumiu : "Acabou-se o qui pro quo, voltamos ao status quo". Gustavo Capanema Discursava num comício em Pará de Minas. Citou verbas em cifras detalhadas, que foram de bilhões aos centavos. Um assessor perguntou-lhe : - Por que tantos quebradinhos ? Capanema esclareceu. - Para mentir é preciso ser preciosista. Assim, ninguém percebe que você está mentindo. Israel Pinheiro Ouvia as queixas do general Eurico Gaspar Dutra, candidato do PSD em 1945 à sucessão presidencial. Estava muito ressentido com os ataques da mídia. Queria responder. Exigia retratação. Israel Pinheiro interveio. - General, não se perturbe. Ataque da imprensa é como sol de praia nas férias. A pele arde nos primeiros dias, depois se acostuma. Juscelino Kubitscheck Sabia que não podia contar com o vice, Café Filho, que assumiu a presidência da República após o suicídio de Vargas, em 1954. Irritado com Café Filho, JK ouviu a pergunta de um curioso governador nordestino. - Doutor Juscelino, qual é, em toda essa história, a posição do Café ? - Que Café ? O vegetal ou o animal ? Tancredo Neves Ministro da Justiça de Vargas, que se suicidou tragicamente em 1954. Deixou a pasta da Justiça, e outro mineiro, José Monteiro de Castro, assumiu o poder como chefe da Casa Civil. Tancredo destinou-lhe este telegrama : - Mais amigos do que nunca, mais adversários do que nunca. Recuo de Dilma ? Nos últimos 10 dias, a mídia impressa baixou em alguns graus a temperatura da presidente Dilma no termômetro eleitoral. Notas críticas e análises de colunistas aumentam o cacife das oposições. Este consultor não viu nenhum evento ou situação negativa a sinalizar o rebaixamento da nota de Dilma no ranking. A economia continua nos patamares anunciados, a empregabilidade está nos conformes e a inflação, rondando os 6%, dentro do previsto. Qual teria sido o fator deflagrador do rebaixamento do índice de confiança ? Atraso nas obras Uma leitura mais aguda das páginas de política sinaliza atraso nas obras, reunião da presidente com 15 ministros para cobrar providências, definir novas metas para os programas e expandir projetos. É possível que tais sinais mostrem algum arrefecimento da confiança, a par da declaração enfática de Lula : "se encherem o saco, volto em 2018". Vejam bem : 2018. Portanto, não há um Lula disposto a encarar 2014. Até porque o ex-presidente é um oceano de confiança. E tem atividades a desempenhar : palanques nos Estados, articulação intensa para consolidar base governista, aparar arestas entre correligionários e unir o próprio PT, dividido em alas. Franco favorita A equação BO+BA+CO+CA= Bolsa+Barriga+Coração+Cabeça continua incólume. Com o bolso das bolsas, sob economia controlada, a geladeira das massas continuará farta; o coração comovido agradecerá a generosidade e enviará à cabeça a decisão de voto em quem patrocina a festa : Dilma (Lula). Este consultor, sem part pris, continua a achar que a presidente Rousseff é franco favorita. Maluf condenado e candidato Paulo Maluf tem fôlego de sete gatos. Há muito tempo o MP tenta colocá-lo fora do páreo político. Pois bem, o TJ/SP o condenou por desvios de recursos. Mas não falou em dolo. Maluf poderia se apresentar como candidato em 2014. De qualquer maneira, ele vai recorrer. Maluf terá mais dificuldades do que outras vezes de se livrar das barras da Justiça. Mas conhece como ninguém as veredas da Justiça. Haja recursos. FFF x BF x MR É inacreditável. Paulo Maluf, em sua vitoriosa campanha para a prefeitura de SP, conduzida por Duda Mendonça, já usava o bordão : Fez e Fará. Paulo Fez, Paulo Fará. Vê-se, agora, que a lei de Lavoisier continua a ser usada fartamente. Não é que a campanha de Dilma anuncia o bordão : Fez, Faz e Fará ? Claro, João Santana foi aluno de Duda Mendonça. E apenas resgata o velho refrão. Ocorre que o povo, hoje, é mais exigente. Quer coisas Bem Feitas (BF) e Mais Rápidas (MR). Não é possível que tenhamos de dar um mergulho nas lorotas do passado. Doações vão vingar ? Expande-se a corrente dos contrários às doações de empresas para campanhas eleitorais. A declaração enfática do ministro do STF, Dias Toffoli, que irá presidir o pleito de 2014, condena as doações de empresas, comparando-as com extorsões. Tudo isso deverá ser avaliado nos próximos dias pelo Congresso. Na visão deste escriba, tudo continuará como d'antes no quartel d'Abrantes. Petrobrasa A fogueira de críticas contra a Petrobras está mais alta. Há brasa por todos os lados. Petrobras vira Petrobrasa. A presidente Graça Foster promete recuperar os bons índices da ex maior empresa brasileira. Será que conseguirá colocar novamente a simbólica companhia nos nossos corações ? Os reajustes no preço da gasolina virão a conta-gotas. Em 2014, ano eleitoral, essa possibilidade se torna muito remota. Mas, tudo é possível. O pré-sal já deu muita saliva. E continuará a jorrar verbos e a consumir verbas. Graça precisa se afirmar como gestora de alto nível. À propósito... Aliás, a presidente Dilma começa a ter a imagem borrada. De gerente e voltada para resultados, a presidente adquire traços de burocrata e ocupada em mil reuniões. Pontos fortes e fracos O Nordeste deverá ser o ponto mais fraco de Aécio Neves. Seu ponto forte, é obvio, será o segundo colégio eleitoral do país, MG (15 milhões de eleitores), onde deverá fazer uma frente de 4 milhões de votos. De dois votantes, um deverá ser aliado de Aécio. Mas o Nordeste deverá ser o ponto forte de Dilma (o Bolsa Família, o programa Mais Médicos) e também o de Eduardo Campos. Que deverá ter uma frente, em PE, de 1,5 milhão de votos. SP, o maior colégio eleitoral (33 milhões de eleitores) dará a Aécio os votos tucanos de Geraldo Alckmin ? Essa é a grande dúvida. O RJ (11 milhões de eleitores) continuará a ser um forte bolsão de votos para Dilma ? SP continuará a dar ao PT 25% a 30% dos votos ? Campos entrará em SP e no Rio ? Aliás, onde será o maior colégio eleitoral (Estado) da presidente ? BA, SP, RS ? Respondam-me essas questões e direi quem serão os dois do segundo turno. PT x PMDB O PT quer desbancar o PMDB nas regiões. Vai lançar candidatos a governos para um eleitorado 44% maior que o de 2010. Serão 12 concorrentes. Deverá disputar nos sete maiores colégios eleitorais, que somam 72,6% do eleitorado nacional. Novidades : Rio e Minas, onde, em 2010, apoiou o PMDB e no PR, onde deu apoio ao PT. Em 2014, terá candidatos nesses três Estados. PMDB com novos O PMDB prepara-se para realizar uma campanha eleitoral recheada de perfis novos : Paulo Skaf, em SP, que já mostra forte potencial, com cerca de 20% de intenção de votos; José Batista Junior, do grupo JBS/Friboi, em GO; Josué Gomes da Silva, da Coteminas, filho do ex-presidente José Alencar, que poderá compor a chapa encabeçada por Fernando Pimentel (PT), em Minas. O plano do presidente licenciado do partido e vice-presidente da República, Michel Temer, é oxigenar o PMDB, preparando- para a campanha presidencial de 2018. Empresários Lula tenta arrumar os caminhos do empresariado para que nele volte a circular Dilma Rousseff. Eduardo Campos virou o queridinho dos empresários. Que começam a inserir a presidente na galeria de pessoas distantes. Mais Médicos ? Mais votos Este consultor acaba de chegar do Nordeste. Ouviu testemunho de prefeitos que receberam, em seus municípios, médicos estrangeiros. E aí, como o povo está reagindo ? Resposta : com um sorriso de um lado a outro da boca. O povo está satisfeito, agora não há fila, tem receitas imediatas. Não quer saber se o médico é daqui ou dali. Quer saber apenas se é médico. Votos no bornal de Dilma. R$ 20 mil O governador Geraldo Alckmin não quer ficar para trás. Seu plano de carreira para médicos prevê aumento de até 45% para pós-graduados que trabalharem na periferia. Um médico pós-doutorado, com carga horária de até 40 horas, na periferia, poderá ganhar cerca de R$ 20 mil. A saúde agradece. Contra o aumento do IPTU A Associação Comercial de São Paulo e entidades do empreendedorismo, entre elas o Sescon/SP, entrarão com uma ação direta de inconstitucionalidade no TJ/SP contra o aumento do IPTU na capital paulista. Com 29 votos a favor e 26 contra, foi aprovada na semana passada na Câmara Municipal de SP a proposta de aumento de até 20% para residências e até 35% para o comércio. O MP já ajuizou uma ação civil pública com pedido de liminar contra a aprovação do aumento, pois a votação não ocorreu com a devida publicidade exigida em lei. "Considerando o alto Custo Brasil, é inadmissível este aumento, que não leva em conta ao menos a capacidade contributiva do paulistano", destaca Sérgio Approbato Machado Júnior, presidente do Sescon-SP. Usinas atrasadas O Plano Decenal de Energia contempla 20 hidrelétricas com previsão de entrada em operação entre 2018 e 2022. A maioria delas está na região Norte. E os atrasos chegarão a seis anos. O culto ao "nós" O culto ao "nós", que, nos dois mandatos de Lula, foi entronizado nos palanques, não chega hoje com prestígio para convencer as massas. O marketing da louvação, em intenso desenvolvimento no país, desde os tempos galopantes de Collor (que fazia uma corrida diária de cooper, acompanhado de jornalistas), subiu ao pódio do descrédito. Essa é uma das boas novas que se pode anunciar na arena eleitoral do próximo ano. Os últimos governos rebocaram com tanta argamassa as paredes da gestão, que estas ameaçam embaular e desmoronar. O nosso carbono 14 Tanto o governo Federal, com sua planilha de grandes obras, quanto os governos estaduais deverão passar pelo teste do nosso carbono social. Ou será que não se percebeu a existência de novo processo para medir o tempo (cronogramas) e conferir promessas ? (Lembrando : os testes de objetos da mais remota antiguidade - para descobrir, por exemplo, a verdade sobre o santo Sudário de Turim -, são feitos com o carbono 14, um isótopo radioativo e instável, que declina em ritmo lento a partir da morte de um organismo vivo). O nosso carbono 14, ou melhor, para 2014, é a onda centrípeta, das margens para o centro, com suas percepções e decepções da política. Engodos até podem continuar a engabelar as massas. Há, porém, um culto ao "nós" menos sujeito a firulas demagógicas. É o olhar mais agudo da sociedade sobre as tramóias da política. Teste sua visão Fixe os olhos no texto abaixo e deixe que a sua mente leia corretamente o que está escrito. 35T3 P3QU3N0 T3XTO 53RV3 4P3N45 P4R4 M05TR4R COMO NO554 C4B3Ç4 CONS3GU3 F4Z3R CO1545 1MPR3551ON4ANT35! R3P4R3 N155O! NO COM3ÇO 35T4V4 M310 COMPL1C4DO, M45 N3ST4 L1NH4 SU4 M3NT3 V41 D3C1FR4NDO O CÓD1GO QU453 4UTOM4T1C4M3NT3, S3M PR3C1S4R P3N54R MU1TO, C3RTO? POD3 F1C4R B3M ORGULHO5O D155O! SU4 C4P4C1D4D3 M3R3C3! P4R4BÉN5 Conselho ao time que vai entrar em campo Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes, membros dos Poderes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos manifestantes dos eventos de rua. Hoje, volta sua atenção aos eventuais candidatos aos governos estaduais : 1. Os tempos são de extrema carência de recursos. Os Estados e municípios estão de pires na mão. Urge fazer um pacto, nos Estados, entre forças políticas e a sociedade civil, com vistas à montagem de um plano estratégico voltado para atender às demandas de regiões, setores organizados e classes sociais, principalmente as mais sofridas. 2. As questões regionais, nesse momento de crise, deverão estar acima de posições partidárias e veleidades pessoais. Só assim, os Estados poderão ultrapassar a fronteira das visões estreitas. 3. Urge selecionar os melhores quadros dos Estados, em suas especialidades, e convocá-los em torno de um projeto sólido, viável, crível, capaz de atender aos anseios e expectativas da sociedade.