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Porandubas Políticas

Por dentro da política.

Gaudêncio Torquato
quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

Porandubas nº 480

Os cinco judeus Abro a coluna prestando uma homenagem aos cinco judeus que plasmaram a história do mundo. Tudo O primeiro foi Moisés, para quem A Lei é Tudo ! O segundo foi Cristo, para quem O Amor é Tudo ! O terceiro foi Karl Marx, para quem O Capital é Tudo ! O quarto foi Freud, para quem O Sexo é Tudo ! E o quinto foi Einstein, para quem Tudo é Relativo ! Por isso, abro minhas reflexões avisando : tudo que falo tem um depende. Acarajando A operação Acarajé é mais uma bomba nos costados do PT. Vai ser difícil explicar dinheiro pago a João Santana no exterior. Três contas, uma em Londres, outra em Nova Iorque e a terceira na Suíça. Santana teria recebido nas duas campanhas - Lula e Dilma - mais de R$ 170 milhões. Mas ele fez campanhas presidenciais no exterior, em Angola, República Dominicana e Argentina, entre outras praças. Sérgio Moro, ao que parece, tem ainda muitos trunfos até a reta final. P.S. Esse tal de Zwi Skornicki, operador, deve ser uma ponte para grandes descobertas. O bombardeio Luiz Inácio continua sendo bombardeado. Não vai escapar de novos depoimentos. Agora, a PF diz que há indícios que requerem investigação no entorno de Lula. Pesquisa Ibope mostra que aumentou rejeição contra ele. 61% não votariam de jeito nenhum no ex-presidente. Mas ele ainda é protagonista forte : 19% dizem que votarão de qualquer maneira nele. E aí, FHC ? Fernando Henrique ainda está devendo explicação clara sobre os pagamentos feitos por uma empresa a Mirian Dutra, mãe de seu filho. Ele diz que mandou 100 mil dólares para a empresa pagar mensalmente três mil dólares à ex-namorada. Mandar dinheiro para uma empresa ? Por que o dinheiro não foi dado diretamente a ela ? Ele poderia dizer : estou pagando 35 mensalidades. Algo assim. A boa comunicação Atenção, candidatos : a boa comunicação, ao contrário do que muitos imaginam, não é a superplástica dos programas de televisão, aqueles quadros movidos à computação gráfica, repletos de elementos de ficção. A boa comunicação é aquela que chega de maneira fácil e objetiva na mente do eleitor. É a comunicação que induz e motiva o eleitor a tomar uma decisão. As campanhas eleitorais têm abusado de efeitos gráficos na TV. Geram efeito devastador sobre o perfil de alguns políticos : a chamada fadiga de imagem. O uso exagerado da cosmética televisiva gera desconfiômetro. Blá blá blá. Brasif Mas o PT quer abafar também esse caso da empresa que teria recebido o dinheiro de FHC. Afinal, ela foi vendida em 2006 por R$ 500 milhões ao grupo suíço Dufry. Sob o governo Lula. Pergunta-se: quem teria avalizado/endossado esta operação ? A Brasif era de propriedade de Jonas Barcellos. Que imbróglio ! Decisão STF A decisão do Supremo de autorizar o encarceramento de condenados na 2ª instância, relativizando o princípio da presunção de inocência, passa a impressão de que a Corte está vivendo um afrouxamento constitucional. Está assumindo o lugar de uma Assembleia Constituinte, invadindo a esfera legislativa e politizando a Justiça. Nunca vi uma Corte agindo sob o clamor das ruas. Dedo para cima ou dedo para baixo ? Esse era o gesto que a galera fazia no Coliseu Romano quando um gladiador caia pela espada do adversário. O imperador deixava o gladiador viver ou morrer, olhando para o polegar levantado ou baixado da turba. Cuidado, magistrados ! Efeitos colaterais Os efeitos colaterais da quebra da presunção de inocência serão, entre outros : a. multiplicação das delações premiadas ; b. superlotação de presídios com políticos e empresários ; c. abertura de janelas para outras quebras de cláusulas da Constituição Federal. TSE ganha fôlego A operação Acarajé vai suprir o TSE com muitos documentos. Sérgio Moro não pode fazer a investigação eleitoral. Vai mandar farta documentação para o TSE. Que irá apurar se propina da Petrobras entrou nas doações oficiais da campanha do PT. E os tucanos ? Pergunta que não quer calar : se PT, PMDB e PSDB receberam doações das mesmas empreiteiras, por que a grana de um partido é diferente da outra ? Por que a grana de um é suja e de outro, limpa ? Os tucanos receberam 40 milhões, sete a menos que o PT. Precisam também explicar. Delcídio Deve assumir o mandato com moderação. Não se espere do senador um discurso inflamado. Ele sabe muitas coisas, mas deve saber que palavras duras contra colegas, mesmo os que o condenam, podem ser decisivas para sua cassação. Vai mostrar que foi vítima de um complô. Mas o Senado, a partir do Conselho de Ética, terá de decidir sobre a perda do mandato. O PT vai excluí-lo dos quadros. Zika A tal Zika congênita se espalha pelos cantos do país, a partir do Nordeste. Vejo muita autoridade nos lugares, mas não vejo ataque ao mosquito. A vacina vai demorar. Enquanto isso, a da dengue está sendo testada. Resultados em um ano. Imaginem, agora, os efeitos da zika numa geração. Impeachment Se o impeachment havia refluído, ganhou fôlego com a operação Acarajé. Digamos que o sentimento social aumentou um pouco as expectativas. Mas o leit-motiv para o afastamento de Dilma ainda não surgiu. Se for por meio das pedaladas fiscais, ficará até o fim do mandato. Se for demonstrado desvio de propina para campanha, TSE poderá cassar chapa. E autorizar novas eleições. Este consultor político não acredita nessa hipótese. Ela irá até o final do mandato. A arte de governar Saint Just, um dos jacobinos da Revolução Francesa, executado após a queda de Robespierre, expressou uma desilusão ao dizer que "todas as artes produziram maravilhas, exceto a arte de governar, que só produziu monstros". A mesma amargura pegou o coração do segundo presidente dos Estados Unidos, John Adams, que nos legou a seguinte leitura : "todas as ciências progrediram, menos a de governar, que não avançou : hoje é praticada apenas um pouco melhor do que há quatro mil anos". Eleição para comissões Afinal, vai ser possível haver chapa avulsa para eleição de Comissões ? Ou apenas chapas arrumadas pelas lideranças ? O embargo de declaração de Eduardo Cunha ao presidente ainda não foi respondido. O executivo pede nulidade da questão, que é matéria vencida, segundo argumenta. Cunha teria feito o embargo antes de sair o acórdão. Pautas fortes Senado e Câmara organizam pautas fortes : CPMF, DRU, Reforma da Previdência, Ajuste Fiscal, Partilha na Exploração do Pré-Sal, etc. Este último projeto, de autoria do senador José Serra, quebra o monopólio da Petrobras. Deve passar. CPMF hoje não passa. Daqui a um tempinho, pode passar. DRU, sim. Reforma da Previdência, mesmo sob a guerra do PT e CUT, passa. A vez da mulher Cresce o papel da mulher na política. Neste ano, terá um desempenho especial no pleito. Lembro Margareth, ex-mulher do ex-primeiro ministro do Canadá, Pierre Trudeau, pai do atual primeiro ministro, Justin Pierre James Trudeau : "quero ser algo mais que uma rosa na lapela do meu marido". Sigilo O STF passa mesmo a impressão de que está agindo de acordo com o viés político. Vai autorizar a quebra do sigilo bancário dos contribuintes, mesmo sem autorização judicial. Basta a Receita Federal pedir. Big Brother nos cerca. Acabou o sigilo no país. Adeus, intimidade. Oposicionismo O oposicionismo deve levar a melhor na campanha deste ano. Não me refiro aos partidos de oposição. Falo dos oposicionistas nos planos Federal, estadual e municipal. Os candidatos de oposição, contra o status quo nos ambientes e espaços, deverão fazer a maioria de prefeitos. A campanha terá como foco o "contra". A conferir. Os brasileiros Deus carimbou alguns povos com tintas muito acentuadas. Diz-se que aos gregos concedeu o amor à ciência ; aos povos asiáticos, o espírito combativo ; aos egípcios e fenícios (sendo estes últimos os atuais libaneses), imprimiu a marca do amor ao dinheiro. Aos brasileiros, Deus deu a capacidade de improvisar mais que outras gentes. O brasileiro sabe dançar na corda bamba. Não é de sim, sim, não, não. Prefere o talvez. O senhor tem religião ? "Sou católico, mas não praticante" ! Trabalha quantas horas por semana ? "Mais ou menos 40 horas". O turismo e o Direito O Sindetur/SP (Sindicato das Empresas de Turismo no Estado de São Paulo) promoverá dois grandes eventos para convidados e seus associados no dia 2 de março, no Hotel Pullman Ibirapuera. O primeiro será às 18h, durante o 29º Fórum dos Empresários de Turismo : os palestrantes da noite - o desembargador Tasso Duarte de Melo e o juiz Paulo Jorge Scartezzini Guimarães - discorrerão sobre as cautelas e recomendações para as agências de viagens reduzirem o risco de seu negócio. Um livro para os agentes Ainda no hotel, mas às 19h30, será lançado o livro "Manual Jurídico para Agências de Turismo", escrito por um dos maiores especialistas em Direito do Turismo País, Joandre Ferraz, em parceria com a filha Patrícia Leal Ferraz Bove, a irmã Josebel Ferraz Tambellini e a sobrinha Christiane Ferraz Tambellini. O Sindetur/SP patrocina esse livro, uma importante ferramenta de trabalho para os agentes de viagens. Suicídio Por que : angústia ? Depressão ? Vida sem sentido ? Cresce o número de suicídio na área das jovens mulheres em São Paulo. A taxa cresceu 25% de 2010 até hoje. Eleições As eleições de outubro próximo deverão ser mais seletivas que as de 2012, na crença de que o eleitorado comparecerá às urnas com um sentimento de que poucos políticos estão a merecer o seu voto. A constatação mais comum que se flagra na interlocução cotidiana é a de que "todos os políticos são farinha do mesmo saco". Ante a expansão da descrença social, é oportuno resgatar os traços que ornam o perfil político do gosto do eleitor. 67 anos : Sescon/SP Em comemoração aos 67 anos de atuação, o Sindicato das Empresas de Contabilidade e de Assessoramento no Estado de São Paulo - Sescon/SP recebeu autoridades, lideranças empresariais e parceiros, no último dia 19, no Clube Atlético Monte Líbano, em São Paulo, em evento da posse da nova diretoria da entidade para 2016/2018. Continuidade com inovação é o lema da gestão liderada por Márcio Massao Shimomoto, que inicia o ano com uma boa notícia : suspensão pelo STF das novas regras para cobrança do ICMS interestadual a empresas do Simples Nacional, um pleito do Sindicato. Em seu discurso, Marcio firmou compromisso na luta pela melhoria do ambiente de negócios. Quebra de empresa A imprensa noticiou há poucos dias que a empresa Higilimp abandonou os serviços para os quais foi contratada pelo Metrô, Corpo de Bombeiros, Universidade de São Paulo, Assembleia Legislativa e outros. Sem receber salários, os funcionários fizeram greves pela cidade e deixaram banheiros de metrô fechados, lixo acumulado e outros prejuízos para a população. Noticiou-se que a crise econômica provocou a quebra da empresa. Pregão eletrônico Mas não se deve jogar a culpa na crise. O verdadeiro responsável é o governo estadual, que realiza suas licitações em pregão eletrônico e contrata sempre pelo menor preço. Ou seja, sem saber se a empresa vencedora tem capacidade para realizar o serviço. Todo o mercado tem conhecimento de que empresas oportunistas ou de fachada se aproveitam dos pregões eletrônicos para ganhar dinheiro fácil, pois os órgãos públicos não se dão ao trabalho de averiguar a seriedade das concorrentes. Mas não é só : o governo estadual tem um índice de reajuste de contratos bem inferior ao índice de reajuste dos salários, o que também ajuda a quebrar as empresas. E dá nisso - funcionários e serviços abandonados. Como se vê, o poder público tem grande responsabilidade na "precarização" do trabalho, termo usado pelo próprio poder público (este, Federal) para investir contra a Terceirização de Serviços no país.
quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

Porandubas nº 479

Newton Cardoso, ex-governador de Minas Gerais, é um bom contador de histórias. Já ouvi alguns "causos" narrados por ele. Mas Newtão, como é conhecido, coleciona muitas histórias sobre ele mesmo. Vejamos algumas. Heliocóptero Quando assumiu o governo de Minas, foi, no dia seguinte, ao aeroporto para viajar no helicóptero da administração estadual. Ao tomar conhecimento de que aquele "trem" tinha o nome de seu adversário (ex-governador Hélio Garcia), foi logo dando bronca no piloto : - Não entro de jeito nenhum nesse trem com o nome do Hélio. O piloto, constrangido, respondeu : - Mas governador, esse helicóptero é do governo do Estado e não do ex-governador Hélio. Newtão não quis saber : - Esse trem agora vai se chamar Newtoncóptero. Falei e tá falado. Burrinhos Outra historinha envolvendo o folclórico ex-governador. Resolveu passear de carro com a família. O carro pifou na estrada. O mecânico, que o socorreu, diagnosticou : - São os burrinhos dos freios ; estão danificados. Acho bom trocar logo esses burrinhos. Cardoso deu a bronca : - Calma, seu mecânico, meus filhos não descerão dos burrinhos de jeito nenhum. Leite pasteurizado Preocupado com as notícias de que o leite estava contaminado, Newtão pegou um pastel e começou a mexer dentro da xícara. Alguém perguntou : - Mas o que é isso, governador ? - Estou pasteurizando o leite. Porquinos Em palanque : - Minas sempre se preocupou mais com a criação de bovinos e equinos. Mas eu, agora, vou cuidar da criação de porquinos. Grande figura ! ______________ Cerco a Lula O cerco a Lula continua. Deverá ser ouvido, hoje, em São Paulo. O empresário Jonas Suassuna, um dos nomes em que está registrado o sítio de Atibaia, também deverá prestar depoimentos nos próximos dias. Parece não haver mais dúvidas sobre a propriedade do sítio, ou seja, pertence mesmo aos empresários Jonas Suassuna e Fernando Bittar. Mas as reformas no sítio, como está evidente, foram feitas sob o olhar e os interesses da família Lula da Silva. O fato é que a dissonância está no ar. Entrou nas ondas sociais. Lula, por mais que negue ser o dono do sítio, não se livrará tão cedo deste imbróglio. A verdade A verdade sempre aparecerá. Mais cedo ou mais tarde. É preferível enfrentar uma verdade que resulte em danos de imagem do que arrumar uma versão estrambótica. A aceitação da verdade - com enfrentamento das consequências - ao longo do tempo acabará sendo a opção mais viável para recompor a identidade dos protagonistas envolvidos em situações polêmicas. Essa observação se aplica tanto a Lula como a outros atores que vivem o dilema de dizer a verdade ou contar lorotas. Impeachment recua A ideia do impeachment da presidente Dilma recuou. Digamos que, na régua de 0 a 100, já havia frequentado a casa 70. Hoje, circula entre as casas 20 e 30. Ou seja, continua na tela do radar, mas com sinais fracos. A hipótese mais provável é a de que a presidente continue no cargo, mesmo sob a mira de opositores, que acompanharão, atentos, os processos em análise e julgamento no TSE. TSE tem 4 processos O Tribunal Superior Eleitoral julga quatro casos contra a chapa Dilma/Temer, relativos às contas de campanha e abuso de poder. Foram impetrados pelo PSDB, que, há dois meses, tentava se encostar no vice-presidente Michel Temer, em quem enxergava a alternativa de poder. Hoje, os tucanos se afastam do PMDB. O vice-presidente lembrou, em sua defesa, que o PSDB recebeu cerca de 40 milhões das mesmas fontes doadoras de recursos ao PMDB. Moro aponta O juiz Sérgio Moro, indagado pelo TSE, respondeu ter constatado propina direcionada a doações oficiais ao PT. Por isso, o TSE deverá aprofundar as investigações, juntando os quatro processos que analisa. O vice-presidente Temer, por sua vez, alega na densa defesa feita pelo advogado Gustavo Bonini Guedes, que as contas de sua campanha foram separadas das contas da presidente. As duas tiveram tesourarias próprias e doações diferentes. Processo lento Por mais que o TSE se esforce para acelerar as investigações, esse processo deverá correr até o final de ano. Abarca oitivas, recursos, embargos e subida ao Supremo, onde deverá ser julgado. Ou seja, o contencioso sob investigação e julgamento nas Cortes da Justiça deverá tomar todo o ano jurídico. Vitorino, o filósofo Vitorino Freire, ex-manda chuva e filósofo do Maranhão : - Quando o pasto pega fogo, preá cai no brejo. - O risco que corre o pau, corre o machado. - Não quero que ajudem meu roçado. Só quero que os bois do vizinho não entrem nele. - O Sarney não conhece o tamanho do meu roçado. De um lado da cerca eu grito e ele não ouve do outro lado. - Política no Maranhão é um bumba-meu-boi que não sai sem mim. Picciani versus Motta Hoje, deverá ser eleito o novo líder do PMDB. Leonardo Picciani ou Hugo Motta. Os dados favorecem Picciani, mas o voto secreto poderá apresentar surpresas. Picciani, se for eleito, estampará em sua face a condição de "líder do governo", por mais que se esforce para unir a bancada. Motta, se for o escolhido, será visto como extensão dos braços de Eduardo Cunha. Essa divisão marcará o PMDB pelos próximos tempos. A unidade virá, mas não tão cedo. A sobrevida de Cunha depende da eleição do paraibano. A cunha de Cunha Seja qual for o resultado, o presidente da Câmara tentará inserir uma cunha na agenda de interesse do governo Dilma. A pauta governista não será aprovada com facilidade. A CPMF, por exemplo. Cunha agirá como um aríete a fustigar a fortaleza governista. A conferir. Janela da infidelidade A partir da promulgação da emenda que permite aos parlamentares migrar de sigla, sem perder o mandato, veremos nos próximos dias um troca-troca partidário que poderá mudar a composição das forças governistas e oposicionistas. O PT pode perder mais de 10 deputados. Que temem desgaste se ficarem no partido. Mas a migração maior deverá ser mais adiante com a fundação de novos partidos. As oposições podem crescer um pouco, não no volume que se imaginava. Cerca de 10% dos deputados devem mudar de casa, algo como 50 nomes. Opinião pública Dos trechos de discursos mais pinçados do juiz Sérgio Moro, um chama bastante atenção : é o que traz o apelo de Moro ao apoio da Opinião Pública. Taxativamente, ele diz que a prisão de atores de primeira grandeza "depende de vocês", referindo-se à plateia que o assistia. Moro acha que a cooptação social é fundamental para que o processo de investigação e condenação de altos políticos tenha inteiro sucesso. Está certíssimo. Refluxo dos movimentos Os movimentos sociais podem voltar com força às ruas. Como e em que circunstâncias ? 1. Se o bolso vazio começar a apertar o estômago ; a classe média C, emergente, descendo para a classe D, acharia o motivo para engrossar a fileira das ruas ; 2. Caso haja uma denúncia-bomba, com provas fartas, envolvendo a presidente da República ; 3. Nas margens eleitorais de outubro, ante a possibilidade de as Cortes Judiciais decidirem inocentar os atores políticos envolvidos no petrolão. PMDB em 2018 Não há mais dúvida. De tanto repetir que terá candidato a presidente da República em 2018, o PMDB não tem mais condições de recuar. O Congresso do partido, em março, tomará esta decisão. Procura-se, desde já, um nome. Condições : respeitado pela sociedade ; admirado na área política ; experiente e articulado ; com autoridade para definir rumos ; capaz de formar uma equipe plural, os melhores entre os melhores ; visto como a síntese da unidade nacional. Quem preencher estas condições habilite-se. Sabendo que uma candidatura assim nasce de baixo, não de cima. Tempestade informativa Para refletir : quando o vento forte corre numa direção, ninguém é capaz de detê-lo. Outra imagem : quando um tufão informativo vai na direção norte, uma ventania contrária será por ele engolido. Ou seja, o vento mais forte afasta o vento menos forte. O PT e Lula tentarão se contrapor à tempestade midiática que bate nos costados do lulopetismo. Não conseguirão impor sua versão contra a abordagem midiática. Por isso mesmo, este consultor acha complicada a tentativa do PT de resgatar a imagem do Lula herói, salvador da pátria. O dano já está feito. Lobby O lobby tem como principal objetivo intermediar interesses de grupos perante a esfera pública, organismos (estruturas administrativas) e Poderes do Estado (Executivo, Legislativo e Judiciário). Tal modalidade não é um fenômeno contemporâneo. Faz-se presente nos ciclos históricos, inscrevendo-se, inclusive, nos primeiros dicionários de política. Rousseau, no Contrato Social, perorava sobre a oportunidade de cada cidadão participar nos rumos políticos, garantindo haver "inter-relação contínua" do "trabalho das instituições" com as "qualidades psicológicas dos indivíduos que interagem em seu interior". Esse é, aliás, um dos fundamentos da democracia participativa, aqui entendida como o sistema que permite aos cidadãos e suas representações se livrarem da coerção para influir de maneira autônoma no processo decisório. O lobby tem relação com este conceito. Legalização O lobby não pode ser feito às escuras em defesa de interesses de grupos e pessoas. Por isso, carece ser legalizado. O projeto que tramita no Congresso, há anos, carece nova avaliação à luz da realidade social e política do país. Somente o marco regulatório sobre a matéria poderá diminuir a taxa de corrupção, eis que desvendará o que está por trás das máscaras. Reivindicações gerais, difusas, particulares, explícitas ou latentes, passarão pela lupa da mídia. A publicidade das ações contribuirá para distinção entre o justo e o injusto, o lícito e o ilícito, o correto e o incorreto, o oportuno e o inoportuno. Lobistas ou articuladores institucionais da sociedade civil terão identidades e representações divulgadas. Seria uma maneira de adensar o corpo de nossa democracia participativa, conferindo mais força e significado à democracia, o regime do poder visível. Pérolas do Barão de Itararé - A esperança é o pão sem manteiga dos desgraçados. - Adolescência é a idade em que o garoto se recusa a acreditar que um dia ficará chato como o pai. - O advogado, segundo Brougham, é um cavalheiro que põe os nossos bens a salvo dos nossos inimigos e os guarda para si. - Senso de humor é o sentimento que faz você rir daquilo que o deixaria louco de raiva se acontecesse com você. - Mulher moderna calça as botas e bota as calças. - A televisão é a maior maravilha da ciência a serviço da imbecilidade humana.
quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016

Porandubas nº 478

Abro a Coluna com uma historinha de promessas de campanha em Minas Gerais. Eclipses ? Aqui não O Coronel Zé Azul, chefe político de São Gonçalo do Abaeté, em Minas Gerais, era candidato a prefeito pela UDN, às vésperas de um eclipse do sol que a imprensa vinha prevendo para começo do ano seguinte, como o mais forte já visto no Brasil. O medo generalizou-se. Corriam relatos de crianças que iam nascer defeituosas, galinhas que deixariam de pôr ovos, cabritos que não mais berrariam e a cachaça que ficaria envenenada. No dia 1º de outubro, o coronel Zé Azul fez o último comício da campanha e acabou com um juramento sagrado : - Pode ser que, na prefeitura, a partir de janeiro, eu não consiga fazer tudo que pretendo por esta terra. Mas juro para vocês que meu primeiro decreto será proibir definitivamente eclipses em São Gonçalo do Abaeté. Ganhou a campanha ! Cuidado, candidatos : os tempos mudaram ! A válvula do carnaval O carnaval é a válvula da panela de pressão social. A folia deste ano ganha uma interpretação adicional por ocorrer num momento de grandes dificuldades. A falta de grana sugere uma movimentação maior nas ruas. Os foliões deverão fazer o carnaval das circunstâncias : mais natural, menos dispendioso, descontraído. Multidões buscarão em seus blocos compensar angústias e esquecer, por alguns dias, o déjà-vue da política. A cada dia, aumenta o fosso entre sociedade e os políticos. Alguns atores, a propósito, inspiram marchas do carnaval. Risíveis. Zika, o medo A doença é uma emergência mundial. A OMS deu o alerta. A microcefalia dispara um sentimento de medo. O carnaval, dizem especialistas, produz ambientes adequados para propagação do mosquito Aedes aegypti. Logo, favorece a massificação da doença. O Brasil está perdendo a batalha para o bichinho, reconhece a própria presidente Dilma. Geração de amanhã Pequena reflexão : que efeitos a microcefalia provocará na geração do amanhã ? Uma geração com distúrbios ? O Brasil real O país real será revisitado depois do meio dia da quarta-feira de cinzas. A vida rotineira encontrará seus fios e as pessoas buscarão a melhor maneira de administrar os próximos tempos de escassez. Os negócios tenderão a diminuir de volume e ritmo. As Operações de investigação continuarão - Lava Jato, Zelotes, Merenda Escolar/SP - e os órgãos de controle deverão recolocar seus exércitos nos ambientes de indiciados e suspeitos. A área política funcionará como sanfona : abre e fecha, fecha e abre. O que significa isso ? Expliquemos. A sanfona política A representação política age de maneira pragmática, tateando no amplo salão da Opinião Pública. Esta, por sua vez, ajusta seus sentimentos ao clima da crise econômica : quando as carências e necessidades batem no bolso, a indignação sai do coração para a cabeça. E reage. Haverá, portanto, um sentimento negativo muito intenso nos próximos meses. Que calibrará o ânimo da Opinião Pública. Que funcionará como espelho aos políticos. Daí a sanfona : sístole e diástole, pressão e descontração. Pressão implica aperto no coração do governo : desaprovação de matérias de interesse de Dilma ; descontração, maior simpatia às teses da administração, com aprovação de matérias de seu interesse no Parlamento. CPMF Imaginem, dentro dessa moldura, o voto (ou o veto ?) à CPMF. Para passar, o ambiente econômico e social precisa ser harmônico. Caso contrário, será difícil sua aprovação. Os parlamentares podem, até, ser mobilizados - como é previsível - para aprovar a contribuição financeira ; mas não agirão como suicidas. Governadores, de pires na mão, querem a CPMF. Como, porém, defender um novo imposto em ano eleitoral ? Terão eles coragem de fazer esta pregação em praça pública ? No Congresso Já se viu, ontem, um ligeiro retrato do que pode ocorrer com a CPMF. Em sua fala na abertura da Legislatura, a presidente foi vaiada quando falou do Imposto. Aliás, ela foi ao Congresso por sugestão de Delfim Netto. Que sugeriu enfrentar cara a cara o Parlamento. Prometeu, ainda, fazer a Reforma da Previdência e o ajuste fiscal. Dois temas que não são consenso no próprio PT. Cunha na guerra Eduardo Cunha tem provado ser resistente na luta. Quando se imaginava apeado da cadeira de presidente da Câmara, ele volta mostrando disposição de não ceder um passo na estratégia de ataque contra o Procurador-Geral da República, Rodrigo Janot, e de enfrentamento contra o STF. Entra com embargos de declaração junto ao Supremo para fazer reverter o rito do impeachment. Dispõe-se a demonstrar que a Câmara pode eleger comissões (pelo voto secreto e sem indicação de partidos) e o Senado não pode bloquear decisão de dois terços dos deputados para evitar julgamento de eventual pedido de impeachment da presidente. Vai e vem Como se sabe, esses embargos deverão ser apreciados e, assim, o presidente da Câmara vai ganhando tempo. Na esfera interna, procura estancar o processo contra ele na Comissão de Ética, alegando irregularidades. Por ser um especialista em regimento interno, Cunha acabará adiando seu afastamento do assento presidencial. O STF já sinaliza a dificuldade de afastá-lo do cargo. As próximas semanas serão decisivas. Governo desmonta turismo O turismo vive dias de angústia. Depois de renovar um compromisso do passado - isenção de IR para as agências de turismo sobre valores de compras feitas no exterior - o governo acabou taxando o setor em 25%. Calculado sobre o "gross up", a soma chega a 33%. Os termos assumidos pelo ex-ministro Joaquim Levy e pelo Secretário da Receita Jorge Rachid, sob o patrocínio do ministro do Turismo, Henrique Alves, eram sobre o pagamento de 6% de IOF. Qual não foi a surpresa ao se perceber que o prometido não se cumpriu. As agências de turismo, a partir de 1º de janeiro, são obrigadas a arcar com 33%. Essa situação destruirá o setor : cerca de R$ 20 bilhões deixarão de ser recolhidos aos cofres públicos, na esteira de 185 mil vagas diretas e 430 mil vagas indiretas eliminadas. Só de salários a perda será de R$ 4,1 bilhões. E assim se desmonta um setor. Grau de risco A Moody's está desembarcando no país para reavaliar os nossos indicadores. Pelo andar da carruagem, Brasil será mais uma vez rebaixado pela agência de reclassificação de risco. Liderança do PMDB Mesmo que leve a melhor na eleição para líder do PMDB na Câmara, Leonardo Picciani sairá com a imagem borrifada. Acabou colando sua imagem ao Palácio do Planalto, o que implicará desconfiança de metade da bancada peemedebista, mais de 30 deputados. Acenou com a possibilidade de mudança na presidência do PMDB, tirando o presidente Michel Temer. Não esperava que Michel costurasse - como está fazendo - um consenso em torno de sua recondução. Hugo Motta, o paraibano que disputa com Picciani, pode vencer a parada. Com o apoio de Eduardo Cunha. A costura de Temer Michel Temer esteve em cinco Estados, semana passada, costurando a unidade do Partido (PR, SC, PB, RN e PE). Foi aclamado em todos, recebendo o apoio de lideranças históricas do partido, como o senador Roberto Requião e o deputado Jarbas Vasconcelos. Certa movimentação de senadores - contra a recondução de Temer - refluiu. O senador Romero Jucá (RR) deverá ser o primeiro vice-presidente do partido. O senador Eunício de Oliveira (CE) deverá substituir o senador Renan Calheiros (AL) na próxima legislatura, podendo este voltar a liderar a bancada no Senado. A imagem de Lula O ex-presidente Lula não tem conduzido com eficiência o imbróglio do tríplex no edifício Solaris, no Guarujá, e do sítio em Atibaia. Deveria, desde o início, ter dito que comprou um apartamento do qual desistiu quando percebeu a onda que se formou com a aquisição. No entanto, falou em uma cota da Bancoop em nome de dona Marisa. Cota é uma coisa, compra do imóvel é outra. Quanto ao sítio, poderia ter dito que, apesar de estar no nome de dois sócios de um de seus filhos, ele e a família têm o usufruto. Pronto. Ele pode ter apartamento, duplex, tríplex, sítio etc. Não pode, isso sim, é driblar a informação sobre propriedade e recursos. Fingimento na política Exemplar é a historinha envolvendo Benedito Valadares e José Maria Alkmin (1901-74), que se encontraram no aeroporto de Belo Horizonte. "Alkmin, para onde você vai?", indaga Valadares. "Vou para Brasília". "Ah, para Brasília, ah, sim para a Capital." Puxando para perto o amigo Olavo Drummond, presente ao ato, cochicha : "O Alkmin está dizendo que vai para Brasília para eu pensar que ele vai para o Rio. Mas ele vai mesmo é para Brasília". Tem muita gente fingindo na política. Sem a graça do Valadares. Chances Qual a possibilidade de Lula resgatar sua boa imagem e voltar a ser considerado forte candidato em 2018 ? Resposta : vai depender da recuperação da economia. E da imagem da presidente Dilma. Vejamos os cenários. Dilma sairá do governo com imagem em alta, aplaudida, com reconhecimento do povo ao seu bom governo. Chance entre 0 a 10 ? 2 a 3. Dilma sairá com imagem arranhada e PT reaparecerá em cena depois de mudança geral em seus costumes. Chance ? 4 a 5. Dilma sairá com imagem profundamente comprometida, rota, rasgada. Chance ? 8 a 9. Qual é chance da economia se recuperar ? Em 2016, 0 a 2. Em 2017, 4 a 5. Em 2018, 5 a 6. Em 2020, 8 a 9. A imagem de Dilma A presidente Dilma parece mais aliviada. Mesmo assim, 60% da população são favoráveis ao impeachment. Essa ideia tem condições de ainda causar rebuliço no Congresso, mas tende a arrefecer. A não ser que novas denúncias apareçam envolvendo diretamente o nome da mandatária. Sem novos atos, a leitura deste consultor é de que ela caminhará até o fim do mandato, mesmo capengando. A política é mutante como nuvem. Dilma sempre esteve sob o escudo imagético de Lula. Ante o tiroteio sofrido pelo ex-presidente nas últimas semanas, deixa de ser interessante buscar refúgio naquele abrigo. Cabral ? Por onde anda o Sérgio Cabral ? Deve estar na oitiva : "passarinho na muda não canta". Lava Jato A Operação Lava Jato tem uma sobrevida : apurar as últimas delações e analisar as imbricações/conexões. Vai correr por todo o semestre. STF na frente política A Suprema Corte deverá se debruçar sobre os mais de 30 processos de políticos que enchem suas gavetas. Vai ganhar ainda mais visibilidade. Aécio ? Por onde anda Aécio Neves ? Por que o senador está em refluxo ? Ó, jardineira Tempos de carnaval, tempos da marcinhas. Como a velha canção dos carnavais de outrora. Na cidadezinha do norte do Rio de Janeiro, a procissão de Senhor Morto caminhava lenta e piedosa, na Sexta-Feira da Paixão, com o povo cantando hinos sacros. O velho padre na frente, o sacristão ao lado e os fiéis atrás, cantando as músicas que o vigário puxava. De repente um pequeno ônibus, que na região chamam de "jardineira", passou perto e começou a subir a íngreme ladeira da igreja, bem em frente da procissão. No meio da ladeira, a "jardineira" afogou, encrencou, parou, deu aceleradas fortes e inúteis e começou a dar para trás, de costas. Os fiéis não viram, mas o padre, atento, viu. E ficou apavorado. A "jardineira" já despencava numa grande velocidade. O padre gritou : - Olha a jardineira ! E os fiéis começaram a cantar, em ritmo de samba - Ó jardineira, por que estás tão triste ? Mas o que foi que te aconteceu ? Foi a camélia que caiu do galho, deu dois suspiros e depois morreu. A "jardineira" veio até embaixo e acabou parando. Sem atropelar ninguém. Dicas para entrevistas Atenção, fontes e emissores : - Seja a fonte e não a notícia ; - Diga a verdade ou então não fale ; - Controle o que puder controlar - use roupas adequadas, maquiagem sóbria, evite extravagâncias de caras e bocas ; - Estude muito bem a matéria que vai desenvolver ; - Antes da entrevista, faça uma exposição geral a fim de que o jornalista possa entender claramente o assunto ; - Dê respostas curtas e objetivas - a concisão é importante e deixa o discurso mais claro ; - Construa frases completas : com sujeito, verbo e complemento ; - Não fale mais do que foi perguntado - perspicácia para responder apenas o que interessa ; - Evite clichês : destaque os pontos fundamentais e chame a atenção do jornalista para eles ; - Não fale sinalizando com a cabeça ou olhos baixos, evite cacoetes, e tente não se mexer muito durante a entrevista ; - É importante ser didático e explicar de forma que todos possam compreender o que se fala - para isso, o entrevistado deve dominar o assunto sobre o qual vai tratar (Nem sempre o jornalista está bem preparado para a entrevista, mas o porta-voz não deve se sentir intimidado e, sim, tentar explicar o assunto como se fosse para uma pessoa leiga) ; - Mesmo tendo todas as informações na cabeça, a memória pode falhar - até por nervosismo. Para evitar constrangimento, tenha sempre em mãos uma "cola" com os principais tópicos. Principalmente, se a informação a ser transmitida abrigar números.
quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

Porandubas nº 477

Uma historinha para abrir a coluna O nome do médico ? Dois desembargadores aposentados, do alto de uma juventude acumulada durante oito décadas e meia, encontram-se no aniversário do neto de um deles. Os desembargadores Amaro Quintal da Rocha e Antônio Vidal de Queiroz, como sói acontecer com amigos que se conheceram no início da idade da razão, foram direto ao assunto que mais os motivava : - Até que enfim, encontrei o médico que curou a minha amnésia, disse Amaro. - Como é mesmo o nome dele ? Perguntou Vidal. - É, é, é, deixe-me ver, é... é... Como é mesmo o nome dele ? Espere aí... é, é... é. O nome, escondido num cantinho do cérebro, relutava em aparecer. Começou a se perturbar. Mas não deixou a onda abatê-lo. - É, é, como se chama... é... é... como se chama mesmo aquela coisa vermelha, amarela, branca, que nasce em um galho cheio de espinhos, aquele assim ? (e foi mostrando o tamanho do galho e o formato da coisa). Vidal matou a charada : - Rosa, o nome é Rosa. Amaro, radiante, grita para a mulher que estava sentada logo adiante : - Rosa, oh, Rosa, como é mesmo o nome daquele médico que curou a minha amnésia ? Zika, o inimigo O ministro da Saúde, o piauiense Marcelo Castro, não poderia ser mais sincero : estamos perdendo a batalha contra o Zika. O mosquito avança em todas as regiões. Castro chegou a alertar sobre o dano de termos uma "geração de retardados" no Brasil. (O que podem pensar os pais de pessoas dessa geração ?) O fato é que a presidente Dilma parece não ter gostado de tanta franqueza. Ainda mais quando o país de 2016 precisa se mostrar harmônico, saudável, seguro e com muito dinheiro enchendo o bolso dos habitantes. Afinal, a cosmética disfarça a lama política. Frases castrenses - Só temos um caminho para nos livrarmos, para evitarmos ter uma geração de sequelados no Brasil : é não deixar o mosquito nascer. - Vamos torcer para que as pessoas, antes de entrar no período fértil, peguem o Zika, para ficarem imunizadas pelo próprio mosquito. Aí não precisa de vacina. - Tomem os cuidados devidos quando forem engravidar. Sexo é para amador, gravidez é para profissional. A pessoa que vai engravidar precisa verdadeiramente tomar os devidos cuidados preparatórios antes e durante a gravidez. - Devemos usar a Marinha, porque ele, o mosquito, se reproduz em água ; e a Aeronáutica, porque ele voa. Castro ficará ? Diante de tantas frases bombásticas, surge a pergunta : Marcelo Castro vai ficar no Ministério ? Pior será a emenda (sua demissão) do que o soneto (palavras atestando a força do Zika). PT contra Moro O juiz Sérgio Moro começa a levar tiros nas redes sociais, principalmente dos exércitos do PT, inconformados com sua determinação de ir adiante com a Operação Lava Jato e continuar segurando na prisão figurões do partido, como José Dirceu e o ex-tesoureiro Vaccari. Moro tem recebido elogios esparsos nas redes sociais. Mas nenhum partido tem feito sua defesa. Todos estão receosos de sua conduta. Vazamentos Há muita queixa de líderes partidários de que o vazamento de informação continua alimentando espaços midiáticos. Ora, faz parte da estratégia de expansão dos balões da opinião pública. Os vazamentos dão conta de detalhes - malinha com rodas para levar dinheiro, uso de jatinhos, quem esteve com quem a que horas - que acabam criando indignação no bojo social. Deverão, pois, continuar. PF independente Não adianta querer conter as frentes de trabalho da PF. Que continuarão a cumprir tarefas de investigação e prisão. Urge lembrar que a PF cumpre mandados judiciais. E as autorizações judiciais, por sua vez, atendem recursos do Ministério Público, cuja função básica é defender a sociedade. O momento vivido pelo país exibe ações independentes e harmônicas entre os entes da administração da Justiça e dos controles do Estado. O compromisso do MP O Ministério Público, por sua vez, está impregnado da seiva moral, tão necessária ao país nesse ciclo de transição. Os jovens promotores que agem nas frentes de apuração e controle se acham seriamente comprometidos com a meta de "passar o Brasil a limpo", pelo que se irmanam sob o consenso dos caminhos a seguir. Transição O país vive um ciclo de transição. Que não se esgotará com o final das ações desenvolvidas pela Operação Lava Jato. O ciclo terminará com as necessárias mudanças na fisionomia política. O que vai significar reformas em profundidade na maneira de fazer a representação política, na forma das campanhas eleitorais, na organização partidária e na própria cultura do voto. É para acreditar que o país atravessa um corredor longo, ao final do qual se divisam horizontes menos conturbados. Impeachment longe Fica cada vez mais distante a ideia do impeachment da presidente Dilma. A tese de que o impeachment se ancora na balança da economia tem lá suas razões. E a economia, em 2016, será pior que a economia de 2015. Logo, o pior ainda está por vir. Mas os fatos obedecem ao espírito do tempo. O tempo de dezembro de 2015 é bem diferente desse tempo (ainda suave) de final de janeiro. O impeachment dá sinais de que está deixando para trás o bonde que o arrastava. Mera impressão ? Contra o PT O PSDB entrou com um recurso exigindo a extinção do PT. Que coisa mais fora de moda. É algo como ganhar no tapetão. Se quiser acabar com o PT, que dispute a eleição na arena do voto. Só o voto popular pode acabar ou fortalecer um partido. Ainda bem que FHC não concorda com esta bobagem perpetrada por alguns tucanos. Barbosa voltou animado Pelo que se lê, o ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, voltou animado de sua peregrinação pelo Fórum Mundial de Davos. Conversou com empresários, banqueiros, economistas, jornalistas e políticos. Não se cansou de botar conversa fora. Mas não se viu nenhum elogio de porte ao que o ministro falou. O fato de não ter sido execrado já foi uma vitória. Ao chegar, o ramerrão de sempre. Sob o dilema : como arrumar dinheiro para jogar em algumas áreas ? Prometeu estas metas na volta : destravar os nós da logística e baratear produtos nacionais. Lula e os processos Lula prometeu processar doravante jornalistas que ferirem sua honra e reputação. Falou de maneira séria. Mas o quê e como escrever sobre um perfil que se acha a alma mais honesta do país ? Este analista acha que Sua Excelência erra quando faz uma peroração de auto-enaltecimento. Minha avó já dizia : elogio em boca própria é vitupério. Lula poderia falar menos. Aliás, coisa que aconselhou a FHC fazer quando este deixou o governo. Haddad no segundo turno Dizem que Fernando Haddad começa a recuperar prestígio. As ciclovias começam a dar resultados. A avenida Paulista fechada, aos domingos, tem sido um sucesso. A ponto de haver lista para deixá-la fechada também nos feriados. É bem possível que sua imagem, no meio, tenha melhorado uns pontinhos. Mas, e nas margens ? Lá não há ciclovia. O que se vê são serviços públicos sucateados. A propósito, o ex-deputado e ex-presidente da Câmara, João Paulo Cunha, acaba de se formar em Direito. Seu primeiro prognóstico. Fernando Haddad ganhará a campanha municipal em São Paulo e será candidato a presidente da República em 2018. Hum... Mera torcida, não grande projeção. Delfim : Dilma, vá ao Congresso O mago Delfim Netto foi direto ao ponto. Sugeriu que Dilma fosse ao Congresso para apresentar suas reformas : Previdência, flexibilização do mercado de trabalho, desindexação e desvinculação de verbas no Orçamento. Se fizer isso, o setor privado terá motivos para voltar a operar. Dívida de R$ 3,3 trilhões A dívida pública Federal chegará ao fim deste ano a R$ 3,3 trilhões. Pequenas lições sobre comunicação e crise Questão recorrente nesse ciclo de crises. Como administrar a identidade da empresa, evitar danos maiores à imagem e trabalhar com a comunicação. Eis alguns princípios : - A verdade sempre aparece - Prevenir é melhor que remediar - Abrir o guarda-chuva de valores contra as chuvas da tempestade  Valores são permanentes  Chuvas de tempestade são fortes, porém passageiras - Não temer entrar na guerra - Convocar a imprensa e mostrar disposição para esclarecer os fatos - Não deixar denúncias sem resposta - Estabelecer estreita articulação com editores / jornalistas especializados / cabeça da mídia - Evitar postura do avestruz - Estabelecer articulações com autoridades - Estabelecer articulação com setores / entidades / ONGs - representantes dos públicos atingidos Ações internas - Envolver diretores e chefias - Homogeneizar a linguagem - Preparar cartilha com questões e respostas - Organizar um grupo para administrar a crise - Treinar porta-vozes - Preparar materiais - notas, sugestões de pauta, roteiros, etc. - Produzir anúncio - preciso e conciso - para veiculação publicitária - Contratar assessoria especializada em administração de crise - Públicos atingidos Princípios e recomendações - Se não souber esclarecer os fatos, procure as informações adequadas - Evite : "não tenho nada a declarar" - Evite formação de redes informais - teia de boatos - Expresse as ideias com calma e segurança - Seja objetivo - Procure o máximo de compreensão - Evite brincadeiras / sofismas - Evite trapacear os ouvintes - Não transmita imagem de arrogante - Não procure exagerar na diminuição / atenuação dos fatos Resumo : A comunicação eficaz é um guarda-chuva contra as crises.
quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

Porandubas nº 476

Abro a Coluna com Padre Elesbão organizando seu confessionário. Padre Elesbão e a hora da morte Numa cidadezinha de Minas, Padre Elesbão estava esgotado de tanto ouvir pecados, ou, como dizia, besteiras. Decidiu moralizar o confessionário. Afixou um papelão na porta da Igreja. O Vigário só confessará : 2ª feira - As casadas que namoram 3ª feira - As viúvas desonestas 4ª feira - As donzelas levianas 5ª feira - As adúlteras 6ª feira - As falsas virgens Sábado - As "mulheres da vida" Domingo - As velhas mexeriqueiras O confessionário ficou vazio. Padre Elesbão só assim pôde levar vida folgada. Gabava-se : - Freguesia boa é a minha... mulher lá só se confessa na hora da morte ! (Leonardo Mota, em seu livro Sertão Alegre) TPL A esfera política vive sua TPL : Tensão Pré-Legislatura. Deputados e senadores em férias mostram preocupação com o início das atividades parlamentares, na abertura da legislatura em fevereiro. E a tensão tem lógica : a fase empresarial da Lava Jato está chegando ao fim sob a expectativa de que a fase política subirá a montanha. Fecha-se o leque das delações premiadas, que diminuíram o tempo de prisão de 13 delatores, de 283 anos e 9 meses de reclusão para 6 anos e 11 meses de cumprimento de pena em regime fechado. Queda de 276 anos e 10 meses. Uma grande dúvida : o senador Delcídio entrará nesse circuito ? Aspectos positivos e negativos As delações premiadas fincam pé no país. O juiz Sérgio Moro, que estudou profundamente a Operação Mani Puliti, na Itália, está rigorosamente aplicando o que aprendeu. A delação premiada é um dos eficientes instrumentos de que se vale para levar adiante as apurações que tentam extirpar os tumores cancerígenos da corrupção no corpo da administração pública em conluio com a administração privada. Mas o instrumento, segundo muitos, de tão instrumentalizado, acaba maculando o Estado de Direito, por forçar de maneira feroz os indiciados. A verdade, em muitos casos, é driblada ou esticada. Advogados e juízes se postam na arena com suas armas de ataque e defesa. O manifesto dos advogados Um grupo de 105 advogados, dentre os quais criminalistas de renome, em um manifesto publicado em jornais, enxerga na Operação Lava Jato "uma espécie de inquisição, em que já se sabe, antes mesmo de começarem os processos, qual será o seu resultado". Os advogados questionam o fato de que os réus, encarcerados por força de decisões que afirmam a imprescindibilidade de suas prisões, fazem acordo de delação premiada e são postos em liberdade, "como se num passe de mágica toda essa imprescindibilidade da prisão desaparecesse". O ataque e a defesa Os advogados recriminam "o menoscabo à presunção de inocência, ao direito de defesa, à garantia da imparcialidade da jurisdição e ao princípio do juiz natural, o desvirtuamento do uso da prisão provisória, o vazamento seletivo de documentos e informações sigilosas, a sonegação de documentos às defesas dos acusados, a execração pública dos réus e a violação das práticas da advocacia". A defesa dos juízes Os juízes federais respondem com um manifesto em defesa de um "trabalho imparcial e exemplar, sem dar tratamento privilegiado a réus que dispõem dos recursos necessários para contratar os advogados mais renomados do país". Argumentam que a Lava Jato "não corre frouxa, isolada, inalcançável pelos mecanismos de controle do Poder Judiciário. Além de respaldada pelo juízo federal de 1º grau, a operação tem tido a grande maioria de seus procedimentos mantidos pelo Tribunal Regional Federal da 4ª região (TRF4), pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ) e pelo Supremo Tribunal Federal (STF)". Nem lá nem cá O fato é que a polêmica entre advogados e juízes precisa ser analisada sob os seguintes ângulos : 1. A Operação Lava Jato aparece no meio de uma crise sem precedentes na história do país, recebendo os aplausos da sociedade, que começa a ver gente graúda na cadeia ; 2. Um sentimento de que a Justiça resolveu dar as caras por estas plagas baliza decisões e anima juízes ; 3. É visível o apoio da sociedade ao esforço para "passar o Brasil a limpo" ; 4. A Operação Lava Jato, na esteira dos aplausos da sociedade, comete exageros, ao fazer vazamentos, ao espetacularizar depoimentos e prisões, ao concentrar o processo nas mãos de um único juiz, enfim, ao tentar forçar (induzir, influenciar) as delações premiadas. Portanto, os advogados não deixam de ter razões para queixas ; e o Judiciário, por sua vez, ampara-se na cooptação social para avançar. Filhotismo Lauro Jardim deu ontem, em seu site em O Globo, que o advogado Marcos Meira, filho do ex-ministro do STJ, José de Castro Meira, recorre ao pai para chegar a magistrados. O ex-ministro, que voltou a advogar, segundo Jardim, costuma apresentar o filho a desembargadores e ministros de tribunais superiores. Em outra ponta, advogados se utilizam de seus parentes (pais ou mães), que militam nas Cortes, para dar cobertura indireta a suas demandas. Onde está o Conselho Nacional de Justiça ? A propósito, este consultor tomou conhecimento de que, no TST, atua um advogado afamado que tem sua genitora como ministra da Corte. Isso é legal, mas é ético ? Com a palavra o ministro Lewandowski, presidente do STF e do CNJ. O fato é que essa ética (?) mostra a cara do Brasil, Pátria do filhotismo, essa mazela que persiste ao lado do nepotismo, familismo, coronelismo, caciquismo, mandonismo, feudalismo, galhos da gigantesca árvore do Patrimonialismo. 50 milhões de propina ? Nestor Cerveró continua a ter a boca mais aberta no rol de delatores premiados. Afirmou que a campanha do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 2006, recebeu R$ 50 milhões em propina, dinheiro que teria origem em negociação para a compra de US$ 300 milhões em blocos de petróleo na África em 2005. Manuel Domingos Vicente, hoje vice-presidente de Angola e que presidiu, na época, o Conselho de Administração da Sonangol, estatal petrolífera angolana, teria dito isso a ele. Lula sempre depõe Diante de tantos depoimentos sobre propina jogada na campanha de Lula, em 2006, vem a pergunta que não quer calar : Luiz Inácio será indiciado ? Por enquanto, ele tem dado depoimentos. É complicado envolver no rolo da Lava Jato e arredores um ex-presidente da República. Mas o fato é que as referências de propina na campanha de Lula se multiplicam. O caso continua alimentando especulações. PMDB dividido Não se espere unidade plena no PMDB. Sempre foi um partido muito dividido. Partido. Cada Estado tem seu chefão. Por isso, essa briga que a imprensa vê entre as alas governista e oposicionista ao governo Dilma logo, logo, irá para o baú das coisas já vistas. O PMDB é pragmático. Se Dilma continuar dando as cartas, o partido deverá permanecer ao seu lado. A recíproca é verdadeira. No momento em que entra no centro da fogueira, o que menos pode interessar a Renan é mais tiroteio, desta feita com artilharia de uma das alas do partido. A unidade virá mais cedo ou mais tarde fazendo a cola que prega o PMDB ao poder. Disputa em São Paulo O pleito em São Paulo, que será o mais emblemático do país, poderá ter o seguinte desfecho : PT x PSDB, ou seja, Fernando Haddad x um tucano (João Dória, Andrea Matarazzo, Ricardo Tripoli) ; PMDB x PSDB, ou seja, Marta x um tucano ; PRB x PT, ou seja, Celso Russomano x Haddad. Hipóteses : se um tucano entrar no segundo turno contra Haddad, leva a melhor. Se a adversária do tucano for Marta, esta também perde. Marta e Haddad contam com forte rejeição. E se for Celso Russomano a entrar num segundo turno ? Este analista acha que também perde. Em suma, o candidato vitorioso tenderá a ser o menos rejeitado. Vamos acompanhar e conferir. Cenários Quais são os cenários que se apresentam para os próximos tempos ? Céu de brigadeiro - Chance, 0 ; Sol com nuvens esparsas - Chance, 3 a 4 ; Cinza/chumbo pesado - Chance, 5 a 6 ; Amarelo-perigo de batida - Chance, 7 a 8 ; Encarnado/sangue escorrendo - Chance, 9 a 10. Sescon/SP e Aescon/SP com novo presidente Representante oficial do setor contábil no Estado de São Paulo, o Sescon/SP e a Aescon/SP - respectivamente sindicato e associação estadual das empresas de serviços contábeis e assessoramento - têm novo presidente. A gestão 2016-2018 será liderada pelo empresário Márcio Massao Shimomoto, graduado em Ciências Contábeis, Administração de Empresas e Direito e com experiência de mais de 30 anos no segmento contábil. "Nossa missão é continuar o trabalho das gestões anteriores, superando os desafios, prestando o melhor serviço e oferecendo suporte necessário às empresas representadas", afirma Shimomoto, que pretende elevar o papel das duas entidades como interlocutoras das empresas contábeis e de assessoramento nas esferas públicas, privadas e junto à sociedade. Perfil ideal Qual o perfil com maior preferência do eleitor nas eleições de outubro ? - Empreendedor / realizador ; Asséptico / passado limpo / novo na política ; Identificado com programas sociais para as margens / populista ; Político tradicional ; Líder comunitário / movimento social ; Esportista / celebridade / profissional da mídia ; Candidata mulher. Simula e dissimula O cardeal Mazzarino, sucessor de Richelieu e preceptor de Luis XIV, o Rei Sol, começa seu tratado - Breviário dos Políticos - que versa sobre a arte de operar a política com um conselho não muito sagrado : simula e dissimula. Esta lição de engodo começa a ser submetida ao crivo da população pelas ondas do rádio e telas de televisão durante a programação eleitoral gratuita. A simulação e a dissimulação - e aqui já entra o ensinamento do filósofo inglês Francis Bacon - ocorrem de três formas : a cautelosa, quando uma pessoa impede que a tomem tal qual é ; a negativa, quando expressa sinais de que não é o que é ; e a maneira positiva, quando finge e pretende ser o que não é. Eleições de outubro No espaço da propaganda eleitoral, este ano de 35 dias, a partir de 26 de agosto (primeiro turno), os brasileiros verão as três formas. Se o elogio em boca própria é vitupério, como reza o ditado, e se vitupério significa o poder de ofender a dignidade, ato infame e vergonhoso, pode-se aduzir que a programação eleitoral no rádio e na TV será palco para um espetáculo de infâmias e indignidades. Exemplos são as promessas que jamais serão cumpridas, não havendo em nossa legislação dispositivo que possa vir a condenar eventuais rufiões da palavra. Lembram-se do Arco do Futuro, prometido por Haddad ? E o Fura-Fila, da época do Celso Pitta ? Marketing de campanha O marketing político eleitoral abriga duas vertentes : o marketing massivo, voltado para atingir classes sociais e categorias profissionais, indistintamente ; e o marketing vertical, segmentado ou diferenciado, voltado para atender agrupamentos especializados : profissionais liberais, donas de casa, formadores de opinião, núcleos religiosos, militares, funcionários públicos, etc. Nas campanhas, o marketing segmentado acaba assumindo tanta importância quanto o marketing massivo. E a razão está na intensa organicidade da sociedade brasileira.
quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

Porandubas nº 475

Abro a primeira coluna de 2016 com um pouco de graça para contrastar com a cara feia do ano que se inicia. Com minha fé e.... Em tempos de preparo eleitoral, cai bem essa historinha. Parece absurda, mas é verdadeira. Deixamos de dar os nomes para evitar constrangimentos às famílias. Um ex-prefeito de Aracati, cidade litorânea do Ceará, em comício animado, gritou no palanque : "Meu povo e minha pova. Vou ser reeleito prefeito de Aracati com minha fé e as fezes de vocês." Farta feição José Aparecido chegou à sua Conceição do Mato Dentro/MG, começou a romaria dos amigos. Entrou um coronel, mansos passos e chapéu na mão : - Bom dia, doutor. Boa viagem ? - Boa. Como vão as coisas ? - Tudo correndo como de costume. Novidade aqui nunca tem e lá pra fora não sei, porque minha televisão está defeituada. - O que é que aconteceu com ela ? - Não sei não. Às vez farta prosa, às vez farta feição. (José Aparecido foi deputado Federal, ministro da Cultura, governador de Brasília e embaixador em Portugal. Excepcional figura.) Abrem-se as cortinas As cortinas do palco começam a ser abertas. Os movimentos ainda são cautelosos, com os atores temendo entrar em cena antes do tempo. A peça estará pronta para ser exibida em início de fevereiro. Até lá, estaremos vendo alguns atores ensaiando a performance. Dilma, Lula, Jaques Wagner, do lado do PT ; Michel, Renan, Picciani, a bancada mineira, do lado do PMDB ; os atores do Judiciário, sem folga, ouvem depoimentos, fechando o círculo das delações ; a esfera econômica, com Nelson Barbosa na frente da ala, margeando as expectativas ; e as ruas, em compasso de espera. Dilma Vemos uma presidente mais alegre, solta, sorridente, embalada pelo sono do anjo, o segundo neto Guilherme. Dilma tenta transmitir confiança no futuro. Parece convencida de que o fantasma do impeachment foi afastado e que a economia dará sinais de recuperação antes mesmo do segundo semestre, o que, convenhamos, é excesso de confiança. O impeachment realmente refluiu na esteira da diástole provocada pelo final de ano. Dilma sente recuperar poder junto à base aliada. Divide para somar com a atração que provoca no PMDB mineiro, ao oferecer a Secretaria da Aviação Civil, com status de Ministério, ao deputado Mauro Lopes. Lula O ex-presidente tem se prontificado a atender aos chamados da PF para depor. Mas não esconde a irritação com as suspeitas que envolvem seu filho Luís Cláudio. E Nestor Cerveró acaba de alimentar suspeitas sobre ele, Lula, ao dizer que foi indicado para a Diretoria Financeira da Petrobras por "reconhecimento da ajuda" na contratação da Schain para operar o navio-sonda Vitória em troca da quitação de um empréstimo do PT junto ao banco Schain. Lula aguarda, com expectativas, os próximos acontecimentos. Wagner O homem forte do governo Dilma é Jaques Wagner, ex-governador da Bahia. Na Casa Civil, age como o articulador político e o filtrador de programas do governo. Entrou no jogo, a partir das conversas divulgadas entre ele e o executivo da OAS, Leo Pinheiro. JW responde não temer a situação. FHC O mesmo Cerveró afirma ter havido uma "propinagem" de R$ 100 milhões ao governo FHC por conta da venda da petrolífera Pérez Companc, argentina, em 2002. A empresa foi comprada pela Petrobras por R$ 1 bilhão. Fernando Henrique diz não ter a menor ideia dessa matéria e alega que o então presidente da empresa na época, Francisco Gros, falecido, tinha "reputação ilibada". Canibalização A teia de denúncias que atingem os atores políticos de todos os naipes mostra uma coisa : os vazamentos não selecionam grupos e partidos e os efeitos se repartem por todos, gerando canibalização recíproca. Todos são devorados pela boca do Mal. Esse fenômeno expande o descrédito na área política e afasta a sociedade de partidos. Mesmo assim, o impacto mais negativo ainda se projeta sobre o PT, que comanda o país. Michel e Renan O vice-presidente Michel Temer tem um objetivo pela frente : unir as alas do PMDB, sob a convicção de que o partido, repartido em divisões regionais, acaba se unindo nos momentos de maior tensão e crise. Teria, hoje, a oposição de Renan Calheiros, que comanda com força o espaço dos senadores. O vice-presidente vai correr o país com o discurso do Municipalismo - tema central no ano das eleições para as prefeituras - e, ainda, conclamando os grupos à unidade. Renan, apoio ao governo O presidente do Senado mostra-se um intransigente defensor do governo Dilma, fazendo contraponto ao presidente da Câmara, Eduardo Cunha. Irá até o final no papel de pilastra de sustentação de Dilma ? Difícil. O alagoano é pragmático. Pode sair do barco se perceber que será afundado pela borrasca. Renan mostra-se disposto a bancar uma candidatura senatorial à presidência do PMDB. Terá, porém, condições de liderar esse processo ? Vai depender do envolvimento de seu nome na Operação Lava Jato. Cordato, Michel vai esperar que as querelas entre alas sejam atenuadas e a unidade surja. Não se aposte na ruptura entre deputados e senadores. O Congresso do PMDB será em março. Momento em que o partido decidirá sobre candidatura própria em 2018 à presidência da República. Picciani, líder Leonardo Picciani está ultimando as negociações para continuar a ser líder do PMDB. Deve conseguir. A bancada mineira aceitaria o acordo que ele propõe e que consiste na ideia do deputado Newton Cardoso Junior assumir a liderança após Picciani. Claro, todas essas negociações têm como pano de fundo a locomotiva que puxa o trem da política, a economia. Se degringolar de vez, babau. Os acordos feitos não resistirão ao tempo. A bancada mineira é a segunda maior do PMDB, abaixo da carioca, a primeira. Judiciário, a jato ? O Judiciário será cobrado a agilizar a Operação Lava Jato, coisa que vem fazendo na primeira instância do juiz Sérgio Moro. Mas o processo de delação premiada deverá ser fechado para que sejam ultimados os casos envolvendo empresários e políticos. Reina sobre os juízes a dúvida sobre a permanência prolongada de pessoas sem condenação. A alegação de que, soltos, poderiam atrapalhar as investigações, parece frouxa. O fato é que a Lava Jato ainda vai demorar bom tempo e dará o tom da política nos próximos meses, chegando às margens eleitorais. Veremos um pleito sob a orquestra da Justiça buzinando nos ouvidos do eleitor. Economia em frangalhos Nelson Barbosa pode ser um bom economista, mas não se espere que seja capaz de operar milagres. Ele promete continuar o ajuste nas contas do governo. A recessão se escancara. O desemprego se alastra. A inflação ultrapassa a casa dos dois dígitos. Promete também adoçar a boca amarga de pequenas e médias empresas com o adoçante do BNDES. Não se sabe ainda como será essa receita. Mas o fundo de poço, em março/abril, poderá pegar Barbosa no contraponto das promessas. A verdade do arrocho ameaçará a versão de que as coisas caminharão bem. Ruas em compasso de espera As galeras arregimentadas pelas entidades de intermediação social estão esperando para começarem a esquentar o pirão das ruas. Voltarão com seus movimentos de protesto e reivindicação. E voltarão furiosas, como acabamos de ver no final de semana passado, quando os Black-Blocs fizeram o primeiro aceno de violência do ano. Se a economia chegar mesmo ao fundo do poço, a movimentação de rua será mais quente. Tipos de candidatos Teremos uma campanha mais enxuta, menos extravagante, objetiva, parca de recursos. Campanha de 45 dias, rádio e TV com 35 dias, candidatos sendo controlados e sob um olhar exigente e crítico dos eleitores. Iremos eleger 5.568 prefeitos e cerca de 60 mil vereadores. Quem serão eleitos ? Uma mistura de tipos. Eis alguns : O asséptico Perfis não comprometidos com a velha política, que podem desfraldar a bandeira : passado limpo, vida decente. Idade entre 30 a 50 anos. Respeitados na comunidade. O braço social Perfis conhecidos por seu desempenho na área social, seja por meio de entidades de intermediação, seja por meio de uma vida profissional dedicada à assistência a comunidades carentes. O tradicional Perfis que ainda fazem a política tradicional, manobram currais eleitorais e são extensões dos braços do populismo. Infelizmente, continuarão a ser eleitos, porque a mudança política não ocorre de maneira abrupta. Visão empresarial Perfis de visão empresarial que, em função de circunstâncias e situações criadas pela erosão política, serão chamados pelas comunidades para ingressar na esfera executiva municipal. Religiosidade e fé Perfis saídos das fileiras religiosas - igrejas, credos e evangelhos -, ancorados pelas respectivas entidades. São perfis que podem não ter o apoio de toda a comunidade, mas certamente fecharão densos núcleos em torno de suas candidaturas. Demagogos e populistas Perfis conhecidos pelas promessas mirabolantes. Serão poucos os eleitos, mas uma parcela ainda terá chances no caleidoscópio político. Profissionais liberais Médicos, engenheiros, arquitetos, advogados, professores, perfis respeitados na comunidade, que, por seus méritos, serão chamados a compor chapas. Mulheres A batalha dos gêneros ganhará evidência em função da crise que solapa a esfera da representação política. A mulher é vista como alguém que pode cuidar melhor da casa, da família, da educação dos filhos. Essa simbologia se transfere também à política, embora saibamos que há muita corrupção envolvendo o gênero feminino. Esportistas e stars As estrelas do mundo esportivo e as estrelas do Estado-Espetáculo, pela visibilidade alcançada nos campos, palcos e palanques também serão uma atrativa opção, principalmente junto aos bolsões menos desenvolvidos cultural e politicamente. Oposicionistas Perfis que marcarão suas candidaturas por um discurso meramente oposicionista : contra o atual prefeito, contra os atuais governantes. A linguagem de contundência oposicionista é muito ouvida e aplaudida em tempos de vacas magras. Ser contra é maneira de atrair todos os indignados. OAB-SP em ação I A OAB-SP vai propor a criação de uma CPI na Assembleia Legislativa de São Paulo para investigar atrasos nos repasses da Defensoria Pública paulista para os advogados que atuam na defesa jurídica de pessoas de baixa renda. A Defensoria atrasou repasses a advogados relativos a pagamentos devidos a partir do início de dezembro e de janeiro. Conta a instituição com 719 defensores públicos, insuficiente para atender à demanda no Estado. Parte desse trabalho é feito por cerca de 38 mil advogados que atuam segundo as regras de um convênio assinado entre a OAB-SP e a Defensoria. A Defensoria atrasou as transferências para os advogados, mas pagou gratificações ilegais para os defensores públicos de seu quadro, e isso deve ser investigado pela CPI, de acordo com o presidente da OAB-SP, Marcos da Costa. OAB-SP em ação II Marcos da Costa enviou ao Congresso projeto que pretende criar um critério objetivo para a definição de carente, evitando a subjetividade adotada pela Defensoria Pública. Somente aqueles que estejam no cadastro de programas sociais do governo Federal devem ter direito à advocacia gratuita. Ou seja, o nivelamento será de acordo com a lei 6.135/2007, que assim define o carente : aquela com renda familiar mensal per capita de até meio salário mínimo ; ou a que possua renda familiar mensal de até três salários mínimos. Hoje, há pessoas que não se enquadram em critérios de hipossuficiência e acabam usufruindo do sistema. O projeto foi entregue ao deputado Arnaldo Faria de Sá, presidente da frente parlamentar da advocacia.
quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

Porandubas nº 474

Abro a coluna com uma historinha de Caruaru, PE. Uma infelicidade Em Caruaru/PE, o coronel João Guilherme, senador estadual e chefe político, lá pelos anos 30, comprou a um matuto um cavalo de sela. Cavalo bonito, mas com a pálpebra caída. Cego de uma das vistas. Ao descobrir o logro, o coronel ficou indignado. Fez vir à sua presença o espertalhão. Ameaçou-o de cadeia. - Você teve a coragem de me vender um cavalo cego dum olho ! Isso é uma falta de seriedade ! Você fez negócio com um homem e não com um tratante da sua laia ! Por que você não teve a franqueza de me dizer que o cavalo tinha esse defeito ? - Mas, seu coroné, vamincê me desculpe que eu lhe diga : o cavalo que eu lhe vendi não tem defeito, não ! - Não tem defeito ? Não tem defeito ? Então, você acha que um cavalo cego dum olho não tem defeito ? - Seu coroné, vamincê me desculpe, mas eu acho que não tem não ! Ser cego não é defeito : ser cego é uma infelicidade... (Historinha de Leonardo Mota em Sertão Alegre) Catilinária Quousque tandem abutere, Catilina, patienta nostra ? Até quando, Catilina, abusarás de nossa paciência ? Parece claro que o recado é para Eduardo Cunha. O procurador Janot pediu e Teori Zavascki endossou a operação Catilinária, cujo alvo principal é seguramente o PMDB. As ações de busca e apreensão bateram nas casas de peemedebistas de alto coturno : Eduardo Cunha, presidente da Câmara, (na casa oficial em Brasília e em seu endereço no Rio) ; Renan Calheiros, presidente do Senado, no escritório do PMDB, em AL, que dirige ; dois ministros do PMDB, Henrique Alves, do Turismo, e Celso Pansera, da Ciência e Tecnologia ; e Edison Lobão, senador. Por enquanto, são investigados, ainda não indiciados. O que isso pode significar ? Consequências O caso de Eduardo Cunha vem rolando há tempos, podendo-se dizer que essa ação da PF era bastante previsível. O PGR tem contra ele denso arsenal e quis dizer : estamos com a paciência esgotada. Mais cedo ou mais tarde, deverá deixar o comando da Câmara. Mas o tiroteio sobre quadros do PMDB gera, de imediato, uma tensão insuportável no partido, agitando as alas contrárias e favoráveis ao impeachment. Sobra a impressão de que o grupo contrário ao governo pode querer antecipar a convenção partidária para janeiro, tendo como pauta, entre outras, o afastamento do PMDB do governo Dilma. A operação Catilinária não foi de todo digerida. Os dirigentes trocam impressões. Bombas pré-natalinas Segunda, no programa Roda Viva, cheguei a antecipar : vem bomba pré-natalina. Só não sabia que a bomba seria lançada no dia seguinte. Correm versões sobre a aceleração das operações da Lava Jato como modelagem para se fechar o circuito. Donde é possível aduzir que mais bombas poderão explodir às vésperas do Natal. O fato é que o juiz Sérgio Moro é rápido no gatilho e o procurador-Geral, Janot, dá mostras de que quer correr contra o relógio. Roda viva Um amplo debate no último programa Roda Viva, da TV Cultura, percorreu as trilhas do impeachment. A advogada Janaina Paschoal, autora do pedido de impeachment, ao lado de Hélio Bicudo e Miguel Reale Júnior, mostrou que o Senado não pode recusar o acolhimento do pedido de impeachment, devendo mesmo votá-lo, sob pena de se criar uma regra nova, rompendo a lei de 1950 e a disposição constitucional. Alerta contra a criação de um tribunal de exceção. O professor Heleno Torres, do alto de seus conhecimentos técnicos, demonstrou que o país vive situação de ilegalidade, sob o prisma de pedaladas fiscais praticadas por quase todos os Estados. Os deputados José Américo, estadual, (PT) e Carlos Sampaio, Federal, líder do PSDB, defenderam as visões de seus partidos. E este consultor jogou a decisão sobre impeachment sobre as ruas. A pressão popular será o termômetro da febre que tem condições de afastar a presidente. O refluxo das ruas Era previsível o refluxo das manifestações de rua, como se viu no domingo passado. Alguns fatores têm contribuído para o arrefecimento do fenômeno : a. sensação de coisa já vista, portanto, a banalização. Tornaram-se comuns a ponto de gerar a seguinte locução : já fui a duas, me motivei a ir a uma terceira, mas acho que será tudo do mesmo jeito ; b. a fragmentação dos movimentos, provocada pela divisão dos grupos e entidades promotoras, cada qual desejando ser a mais importante no processo. Isso leva a visões múltiplas, discursos divergentes e acusações recíprocas ; c. a época - vale lembrar que duas semanas antes do Natal começa a prevalecer o espírito natalino de confraternização. O momento, portanto, não ajudou ; d. inutilidade - as pessoas pensam : de que adiantou ter ido às manifestações ? Mudou alguma coisa ? Momento Para este consultor, as massas estão no aguardo do momento propício, quando a economia chegar ao fundo do poço - meados do próximo semestre -, quando a situação política também pode se mostrar mais complicada, com o envolvimento de mais protagonistas importantes identificados pela operação Lava Jato. Impeachment sobe Apesar do refluxo das ruas, não se pode aferir que tenha havido refluxo na ideia de impeachment. A sensação é a de que o afastamento da presidente Dilma ganha mais adeptos e conquista maior adesão a cada mês. A razão ? O estado de recessão em que se encontra o país, a inflação e o desemprego ultrapassando a casa dos dois dígitos, as delações premiadas que se aproximam da família Lula, os apoiadores das campanhas começando a confirmar propinas, etc. Em suma, o Produto Nacional Bruto da Infelicidade - PNBInf - emerge como pano de fundo das pressões pelo impeachment. Recesso Se o STF adiar para fevereiro decisão sobre impeachment não teria sentido quebrar o recesso em janeiro. Hoje, saberemos isso. É mais provável que feche hoje a decisão sobre o rito. Mas a decisão da Câmara deverá ser na nova legislatura, quando os ânimos aparecerão em Brasília balizados pela vontade das ruas, pelo pulso das bases. A hipótese continua valendo : quanto pior a situação econômica, mais quente será a fervura social ; e o caldeirão da política tende a explodir com a fogueira acesa pelas massas. Janelinha de saída A janela que permitirá a migração partidária por determinado tempo deve ser aprovada em fevereiro. Há muita expectativa. A migração será maior ou menor a depender da aprovação do impeachment da presidente Dilma. Se for aprovada, PT saudações. A tendência será a de saída de uma grande leva de parlamentares petistas. A recíproca é verdadeira. Mas outros partidos da base passarão por intenso movimento de chegada e entrada. Judicialização da política É inevitável a participação mais ativa do STF no campo da política. Afinal, ele é o órgão - o único - que pode dar a palavra final em matéria de leitura e interpretação da Constituição. É claro que os partidos políticos querem puxar a brasa para a sua sardinha, defendendo teses que os favorecem na arena da política. Daí as conversas que os partidos procuram fazer com ministros da Corte. Muita polêmica se estabelece. Por que o rito aplicado na época de Collor não pode ser o mesmo de hoje ? Pode haver tanta divergência entre o hoje e o ontem se as regras não mudaram ? A regra do impeachment é a de uma lei de 1950, mas a CF de 1988 também contém disposições claras. A dúvida : afinal, o Senado deve necessariamente julgar o que foi decidido pela Câmara ou tem a prerrogativa de negar o acolhimento do pedido de impeachment desde o início ? Esta é a real queda de braço. Decisão que se espera para hoje. Caindo no ranking Brasil cai no ranking do IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) da ONU, composto por 188 países. Incrível : fomos ultrapassados pelo Sri Lanka, uma ilha ao sul da Índia. Ficamos no 75º lugar. Os seis primeiros são : Noruega, Austrália, Suíça, Dinamarca, Holanda e Alemanha. Daqui a pouco, poderemos cair mais ainda na classificação da agência Moodys, que seria um balde de água fria no ânimo dos investidores internacionais. A gazela e o leão Historinha de guerra. "Toda manhã, na África, uma gazela desperta. Sabe que deverá correr mais depressa do que o leão para não ser devorada. Toda manhã, na África, um leão desperta. Sabe que deverá correr mais que a gazela para não morrer de fome. Quando o sol surge, não importa se você é um leão ou uma gazela : é melhor que comece a correr". Esse lembrete ainda é exibido em ambientes de trabalho como profissão de fé de executivos e dirigentes empresariais. À primeira vista, parece um bom conselho para quem quer vencer na vida. Trata-se, porém, de uma exaltação à barbárie. Arena dos humanos Pela hipótese, "leões humanos" (aspas nossas) são autorizados a agarrar "gazelas humanas" (aspas nossas), que, apavoradas, devem se desdobrar para realizar suas tarefas ou a se esconder para fugir das intempéries do trabalho (ou dos ataques dos leões). É evidente a estimulação ao instinto da violência, ao cultivo dos perfis agressivos, às lutas por espaço e poder, às táticas aéticas e aos golpes traiçoeiros, tudo justificado pela necessidade da competitividade. Nessa arena de "leões e gazelas", a alternativa que se apresenta é única : correr ou golpear. Isso é o que se vê nos ambientes de trabalho competitivos, no chão das fábricas, nos palácios públicos e nas ruas. Apartheid O Brasil continua muito dividido. A guerra de palavras é acirrada nas redes sociais e nas manifestações de rua. Uns contrários (a maioria) ao governo, outros grupos a favor. A agressividade é galopante. Mas uma constatação se faz necessária : Lula foi o primeiro organizador do gigantesco apartheid que separa a sociedade. Foi ele que insistiu (e ainda insiste) no surrado refrão : "nós e eles". Nós éramos os petistas, éticos, morais, dignos e cívicos ; eles, as elites endinheiradas e corruptas. O mensalão e o petrolão desconstruíram o discurso lulista. A corrupção se espraiou no petismo. Doria, candidato de Alckmin O governador Geraldo Alckmin é um bom leitor de pesquisas. Olhou algumas e escolheu seu candidato : João Doria, que percorre a periferia de SP, já tendo feito incursões em mais de 70. Conversa com membros do Diretório municipal do PSDB, abre papo com moradores, ouve demandas. Corajoso, determinado, João fez uma imersão na cidade de SP. Trata-se de um perfil asséptico, bom de fluência, sobe nas pesquisas. Grande potencial de crescimento em uma campanha. Marta, a candidata A essa altura, Marta Suplicy, senadora eleita pelo PT, deverá ser a candidata do PMDB à prefeitura de SP, que já esteve sob seu comando. Recém-chegada ao PMDB, parece já ter conquistado o Diretório municipal. Mesmo que este continue sob o comando de Gabriel Chalita. Este gostaria de ver uma parceria entre PMDB e PT em torno do prefeito Fernando Haddad. Sem chances. Chalita até pensa em abandonar o partido. Marketing : os cinco eixos O marketing eleitoral comporta cinco eixos : pesquisa ; discurso (propostas) ; comunicação (bateria de meios impressos - jornalísticos e publicitários - e eletrônicos) ; articulação política e social ; e mobilização (encontros, reuniões, passeatas, carreatas, etc.). A mobilização dá vida às campanhas. Energiza os espaços e ambientes. A articulação com as entidades organizadas e com os candidatos a vereador manterá exércitos na vanguarda. A comunicação é a moldura da visibilidade. Principalmente em cidades médias e grandes. Sem ideias, programas, projetos, os eleitores rejeitarão meros blá blá blás. Para mapear as expectativas, anseios e vontade, urge pesquisar o sistema cognitivo do eleitorado.
quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

Porandubas nº 473

Abro a coluna com dois "causos" da política. Vácuo O grande tribuno Carlos Lacerda, da UDN, fazia inflamado discurso na Câmara dos Deputados, quando um colega pediu aparte : - Vossa Excelência pode falar o quanto quiser, porque o que me entra por um ouvido sai imediatamente pelo outro. Ao que lhe respondeu Lacerda : - Impossível, nobre colega, o som não se propaga no vácuo. Saudação Juscelino Kubitschek, presidente da República, foi ao CE com Armando Falcão, ministro da Justiça. Sebastião Nery conta que Falcão, cearense, levou JK a um desafio de cantadores. Um cego estava lá, com sua viola, gemendo rimas. Juscelino chegou, cumprimentou-o. O cego respondeu na hora : - Kubitschek, ai, meu Deus, que nome feio. Dele eu só quero o cheque porque do resto ando cheio. Um ano depois, a mesma cena. Jânio Quadros, presidente, vai a Fortaleza, há um desafio de cantadores. Chega com os óculos grossos e longos bigodes, um cantador o vê, saúda : - Vou louvar o meu patrão que já vem chegando agora. Engoliu a bicicleta e deixou o guidão de fora. Nunca mais ninguém levou presidente para ouvir cantador no CE. A carta de Michel I A carta do vice-presidente Michel Temer estava engasgada em sua garganta há muito tempo. Até que ele decidiu soltar o verbo. Como se sabe, Michel é cordato, educado, atencioso, um diplomata. Aceita ponderações e chega a balançar positivamente com a cabeça em aceno de aprovação às ideias do interlocutor. No instante seguinte, porém, se não concordar, ele desarma os argumentos do outro. Sempre de maneira educada. Essa habilidade sempre esteve presente na sua interlocução com Dilma. Que deve ter considerado : pela maneira Michel Temer de ser, ele jamais dirá algo mais duro contra mim. Errou. A carta de Michel II Não foram poucas as vezes em que Michel se sentiu desprestigiado. Um exemplo marcante. Na posse do segundo mandato, ela teve um encontro de duas horas com o vice-presidente norte-americano Joe Biden. Michel é amigo dele. Teve oportunidade de iniciar uma amizade por ocasião das missões e viagens ao exterior, oportunidade em que se encontrou algumas vezes com Biden. A aproximação dos dois se estreitou em função da identidade de ambos : constitucionalistas, professores de Direito Constitucional. Pois bem, na posse de Dilma, ela não chamou Michel, amigo de Biden, para a conversa com o vice-presidente. Ela sabia, sim, que ambos eram amigos. Por que não chamou ? Ora, por prever que teria desconforto em assistir a uma conversa mais elevada. Ou simplesmente porque queria dar um recado a Michel : aqui, nessa praça, quem manda sou eu. A carta de Michel III Ele tomou a decisão de escrever a carta quando leu a declaração de Dilma falando da extrema confiança em Michel. Ora, nada mais falso. A fala de Dilma tinha um quê de deboche, uma teia de ironia, um leve tom de zombaria. Que foi percebido por amigos do vice-presidente. Era uma maneira de constrangê-lo. Algo como : se eu o elogiar, ele não terá alternativa que não a de me elogiar. Uma espécie de dique, barreira de contenção. Não imaginava que o nó da garganta de Michel estava alto. Errou mais uma vez. A carta de Michel IV Como pode ser interpretada a carta ? Mais que um desabafo. Pode ser entendida como um passo na construção de um afastamento entre o PMDB e o governo Dilma ? De certo modo, sim. Depois dela, será muito difícil uma relação estreita entre a presidente e o vice. Continuarão a se falar, claro. Mas de maneira mais formal e litúrgica. Michel Temer, como ressaltou na missiva, sabe quais são suas funções e deveres. Vai se restringir a eles. Não fará pressão pelo impeachment ou defesa rigorosa da presidente. Deverá se pautar pelo espírito da lei e da ordem. É um constitucionalista. Que Dilma jogou fora por pura inabilidade política. A carta de Michel V Urge lembrar que o PMDB fez uma proposta para o país contida no documento Uma Ponte para o Futuro. Essa proposta, adensada, arrematada sob o comando de Moreira Franco e sugestões coletadas pelo senador Romero Jucá, será votada em março de 2016, quando o PMDB fará seu Congresso. Pois bem, nessa ocasião o partido deverá decidir sobre as estratégias para o pleito nas prefeituras, em outubro, e sobre candidatura própria em 2018. Pode-se prever, assim, uma ruptura com o governo Dilma. A carta de Michel assinala esse rumo. A carta de Michel VI É evidente que a carta também sinaliza ao PMDB a intenção dos petistas, não somente de Dilma, em aprofundar a cisão no partido. Dilma cooptou o líder Picciani com ministérios para a bancada na Câmara. O deputado, jovem e ambicioso, nunca imaginou chegar tão rápido ao pilar da fama. A tinta da caneta presidencial é um afrodisíaco. Agora, Dilma promete colocar no lugar do ministro Eliseu Padilha um nome indicado por Picciani. Que pensa no deputado mineiro Leonardo Quintão. A bancada mineira, depois da bancada carioca, é a maior. Picciani quer, desde já, garantir sua posição como candidato a substituir Eduardo Cunha na presidência da Câmara. A carta de Michel VII Nem bem Michel Temer chegava a Brasília, a carta já estava vazada. Pelo Palácio. Qual a verdadeira intenção ? Mostrar um vice-presidente lamentoso ? Achincalhar ? Não se sabe qual a intenção do sábio do Planalto com esse vazamento. Uma das razões : tentar indispor Michel com uma das alas do próprio PMDB. Desacreditá-lo. Sabe-se que os ministros do núcleo duro estavam com a carta na mão por volta de 17, 18h. Dilma pediu para vazar ? Não se sabe. Mas o ato é de extrema deseducação política. Como se vaza uma carta pessoal, portanto sigilosa, de um vice-presidente para a presidente ? Desconsideração com o vice. Mais uma prova da conduta do governo do PT. A carta de Michel VIII A carta foi bem recebida pela mídia. Até porque Dilma está no fundo do poço da imagem. Formadores de opinião viram na carta a verdade que já conheciam: a da presidente autossuficiente, arrogante e desconfiada. Esperam com expectativa sua conversa com Michel. O que dirá ? Que foi surpreendida ? Que esperava lealdade dele ? Que acha que estava tudo indo às mil maravilhas, depois das humilhações cometidas com as demissões de Moreira Franco, Edinho Araújo e contra Padilha ? Essa conversa será interessante. A carta de Michel IX E, agora, como será o dia a dia entre presidente e vice ? Uma interlocução fria, distante, litúrgica. A ponte não foi de todo fissurada, mas as fendas aparentes mostram necessidade de muito cimento para tampar os buracos. Michel como articulador Michel Temer só foi convidado para fazer a articulação política do governo Dilma por insistência de Lula junto à presidente. Por ela mesma, ficaria o Mercadante. E por que saiu ? Porque os compromissos assumidos por ele e Padilha, que o ajudava na articulação, não eram cumpridos. Ficavam na gaveta. Quiseram dar um basta na desmoralização. E saíram. E Lula, hein ? Lula já começa a construir a sua bandeira e seu slogan : querem destruir o governo dos pobres. É o discurso que vai brandir nos próximos tempos. Vingará ? Mas os cinco milhões de pessoas da classe C que desceram para a classe D ? Que governo dos pobres é esse que destrói a classe que ajudou nos últimos anos ? Lula sabe como enrolar as massas. Como trabalhador, é um exímio palanqueiro. Picciani irá em frente ? Leonardo Picciani quer tomar o lugar de Eduardo Cunha. Com o apoio de Dilma. Conseguirá ? A bancada do PMDB está rachada. Hoje, ele consegue ligeira maioria. Depois de amanhã, ficará mais difícil. Impeachment Hoje, Dilma teria uns 220 votos contra o impeachment. Em março, não conseguirá os 172 que precisa para barrar o afastamento. Economia no fundo do poço. A pergunta é : E se Dilma ganhar e continuar ? Respondo : terá de mudar de A a Z. Não teria condições de governar com a mesma estrutura, mesma equipe, mesmos métodos. O país estaria arrebentado. Urge resgatar a confiança perdida. Dilma não conseguiria recuperar o terreno perdido. A não ser que mude tudo. PT no final de linha O PT está em trajetória de derrocada. Em 2016, elegerá poucos prefeitos. Formará uma base estreita para o pleito de 2018. Com Lula ou sem Lula, uma vitória do PT em 2018 é tão difícil quanto um camelo passar pelo buraco de uma agulha. Lava Jato A operação Lava Jato é o fator que poderá desestabilizar mais ainda a esfera política. Se alguns protagonistas entrarem no cerco, será um deus-nos-acuda. Desmoronamento em série. Fecho a coluna com uma historinha triste. João Felipe O relato é do ex-juiz, hoje advogado Agamenon Fernandes, um potiguar como eu, da serrinha de Luís Gomes. Aqui no Nordeste, a seca completa quatro anos. Vamos para o quinto, sofrendo as agruras do El Nino. Preocupado com essa situação, ao visitar nossa querida cidade de Luís Gomes, fui apresentado ao meteorologista, o agricultor chamado João Felipe. Consultei-o sobre se o tempo prometia inverno em 2015. Tímido, coçou o queixo e tascou : - Pode chover ou pode não chover. João morreu de maneira trágica. Vejamos como foi. Morava na zona rural, no sítio Baixas. Levava vida tranquila como os agricultores que criam pequenos animais para consumo próprio ou mesmo para venda. O nosso meteorologista João Felipe criava um boi, que estava em fase de engorda. Sua esperança era que a venda do animal lhe trouxesse tranquilidade com a quitação de antigos débitos. Com pasto escasso, o boi se alimentava nas margens das estradas. Para facilitar o deslocamento do animal, João costumava amarrá-lo na própria cintura ; enquanto pastava, ele lia a Bíblia. Certo dia, enquanto pastava, um enxame de abelhas atacou o boi. Enfurecido, o bicho partiu em disparada na tentativa de se livrar das abelhas. E assim, o nosso querido João Felipe teve seu corpo estraçalhado.
quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

Porandubas nº 472

Os juízes estão se tornando mestres de sabedoria, bom senso e até humor. Leiam o pronunciamento do juiz na audiência inaugural de uma ação. Abro a coluna com uma historinha do CE. O tema : um cabaré processado pela Igreja. Vamos ao caso. Em Aquiraz, região metropolitana de Fortaleza, Tarcília Bezerra começou a construção de um anexo do seu cabaré, a fim de aumentar suas atividades, em constante crescimento. Em reação contrária ao empreendimento, a igreja neo-pentecostal da localidade iniciou forte campanha para bloquear a expansão. Fez sessões de oração, em seu templo, de manhã, à tarde e à noite. Porém, o trabalho da construção progrediu até uma semana antes da reabertura, quando um raio atingiu o cabaré de Tarcília, queimando instalações elétricas e provocando um incêndio que destruiu tudo. Tarcília processou a igreja, o pastor e toda a congregação, com o fundamento de que a Igreja "foi a responsável pelo fim de seu prédio e de seu negócio, seja através de intervenção divina, direta ou indireta, ações ou meios". O certo é que o raio lhe causou enormes prejuízos, objeto de indenização. Em sua defesa na ação, a igreja negou veementemente toda e qualquer responsabilidade ou ligação com o fim do cabaré, inclusive pela falta de prova da intervenção divina e orações dos pastores. O juiz, veterano, leu a reclamação da autora Tarcília e a resposta dos réus, os pastores. Na audiência de abertura, abriu o verbo : "Não sei como vou decidir neste caso, pois pelo que li até agora tem-se, de um lado, uma proprietária de casa de tolerância, que acredita firmemente no poder das orações ; e do outro lado, uma igreja inteira que afirma que as orações não valem nada". Seria o caso de medir a propriedade deste conceito ? "A ciência sem a religião é aleijada e a religião sem a ciência é cega". Vamos, agora, à análise da conjuntura. O imponderável Que ninguém aposte em previsibilidade quando o território dos acontecimentos, principalmente na esfera da política, é o Brasil. Vejam só : o impeachment da presidente Dilma, até uma semana atrás, era coisa que entrava no baú. Depois da prisão do senador Delcídio do Amaral, entra novamente em cena. E por quê ? Porque o senador Delcídio é seguramente o parlamentar que mais entende de Petrobras. Portanto, é o homem certo para falar nesse momento sobre o propinoduto construído ao largo da petroleira. Delação premiada Caso aceite entrar na roda da delação premiada, Delcídio pode relembrar coisas do tempo em que era diretor internacional a quem se subordinava o gerente Nestor Cerveró. Pode dizer, entre outras coisas, quem lhe fazia pressão para resolver a compra de Pasadena. Quem lhe cobrava o fluxo de decisões. Quem lhe consultou sobre se Cerveró tinha condições técnicas de ficar em seu lugar. E pode, ainda, lembrar quem ajudou quem nas campanhas de Lula e Dilma. Delcídio é um dos parlamentares mais ligados e até então respeitado por Lula, que teria se referido ao episódio da conversa gravada por Bernardo no encontro com Delcídio de "burrada", algo como uma imbecilidade. E por que Delcídio abriria o bico ? Por pressão da família. Que quer rever o pai de família junto por ocasião do Natal e das comemorações de fim de ano. Elasticidade A interpretação do STF sobre a flagrância e atos considerados criminosos tende a se consolidar no espaço da jurisprudência. Ou seja, ato flagrante não se restringe aos acontecimentos tempestivos, ilícitos cometidos em determinado momento e pegos pelo aparelho policial. A obstrução de investigação, situação que pode perdurar por um tempo, entra nessa classificação. Daí a novidade. É evidente que os políticos estão temerosos de que casos assemelhados venham à tona e flagrados. Se Delcídio falar.... Caso o senador decida dizer o que se sabe, a República fica de cabeça para baixo. Essa é, de modo geral, a visão que se projeta com a fala do ex-líder do governo no Senado. Não há dúvidas de que uma delação abrigando a presidente da República, o ex-presidente Luiz Inácio e outros protagonistas de alto coturno tende a criar fissuras no tecido institucional e abalar os alicerces da atual estrutura de poder. Ou será que o senador mato-grossense preferirá ficar em silêncio e correr o risco de uma condenação com prisão fechada e afastamento da esfera política ? Tudo aponta para a primeira hipótese. P. S. A mulher de Delcídio, Maika, teria dito que ele não deve pagar a conta do PT. Os dias se sucedem... Um interlocutor de Delcídio teria dito : "deixem estar, os dias se sucedem". A declaração se refere ao aborrecimento do senador em relação ao PT, que teria cometido "covardia atroz" e ao ex-presidente Lula, a quem se atribui a afirmação de que a conversa de Delcídio com o filho de Cerveró teria sido uma "burrada". Em suma, vem coisa pesada por aí. Bumlai e cia José Carlos Bumlai também deverá contar o que sabe. O fato é que seu envolvimento com o Grupo Schahin, tomada de empréstimos, compra de navio para a Petrobras, depósito em contas de familiares do ex-presidente Luiz Inácio, entre outras informações usualmente divulgadas pela imprensa, haverão de ser esclarecidas. Há muitas interrogações no meio dos números apontados. Bumlai deve ser intensamente questionado. O que querem saber é se ele cometeu alguma espécie de "burla". Cunha tem alguma carta ? O que Eduardo Cunha fará com os pedidos de impeachment que guarda em sua gaveta ? Alguns, ele já mandou arquivar. Mas há outros que ainda terão de receber um encaminhamento. Quanto mais ganhar tempo, melhor para ele. Ontem, o Conselho de Ética debateu a questão. Vejamos as duas possibilidades que se apresentam na Comissão de Ética : 1. Se decidir pela admissibilidade do processo de cassação do mandato do presidente da Câmara, o caso irá adiante. E o que Cunha fará ? O mais provável será o acolhimento do pedido de impeachment de Dilma. 2. Se decidir pelo arquivamento do processo contra ele, nesse caso, a hipótese mais provável é que o presidente da Câmara decida arquivar os pedidos de impeachment contra a presidente Dilma. Mas uma espada ainda paira sobre a cabeça de Cunha : um pedido do PGR, Rodrigo Janot, para que o STF o afaste da presidência da Câmara. A qualquer momento O procurador-Geral da República, Rodrigo Janot, pode entrar a qualquer momento junto ao STF com pedido de afastamento de Eduardo Cunha do cargo de presidente da Câmara. O caminho seria uma ação cautelar nos termos da que foi usada no caso do senador Delcídio. EUA : cinco perguntas Na campanha entre Bill Clinton e Bob Dole, em 1996, cinco questões básicas relacionadas a valores permitiam prever se alguém votaria num ou noutro. Os que deram respostas predominantemente conservadoras votaram em Dole. Aqueles cujas respostas relevaram que estavam menos comprometidos com os valores tradicionais votaram em Clinton. As perguntas eram as seguintes : 1. Acredita que sexo antes do casamento seja moralmente errado ? 2. A religião é importante na sua vida ? 3. Já se interessou por ver pornografia ? 4. Tem opinião mais desfavorável sobre alguém que engana o cônjuge? 5. O homossexualismo é imoral ? (Dick Morris em Jogos de Poder) Reeleição de Cedraz O presidente do TCU, Aroldo Cedraz, é candidato à reeleição. Sua candidatura abre polêmica, eis que o nome de seu filho, o advogado Tiago Cedraz, é relacionado com tráfico de influência. Nesse momento, a reeleição não seria aconselhável. Gleisi A senadora Gleisi Hoffmann é cotada para substituir o senador Humberto Costa na liderança do PT no Senado. Diz-se que ela suporta o tranco da oposição e não se encolhe. Mas ela aguentará denúncias de que teria se beneficiado com verbas dos negócios escusos da Petrobras desviados para sua campanha ? Eleição com papel Só mesmo por essas bandas. Depois de conquistarmos a tecnologia de ponta para uso nos pleitos - urnas eletrônicas - eis que os tribunais fazem um alerta : poderemos ter, em 2016, uma eleição na base da cédula eleitoral. Ou seja, podemos regredir aos velhos tempos. Interessante é observar que a eleição eletrônica acaba de ser objeto de investigação. A razão para a regressão : faltarão recursos para gastos com a tecnologia. E as urnas usadas anteriormente ? Será necessária a mesma quantidade ? As antigas tornaram-se imprestáveis ? Só mesmo no Brasil... Zika A microcefalia se espalha pelo país. Cerca de 1.300 casos já estão registrados. A doença se propaga na onda de expansão da dengue, doença transmitida pelo mesmo mosquito da febre chikungunya e zika, doença com origem nas florestas africanas. Em 2015, o país registrou 1.534.932 casos de dengue, febre chikungunya e zika. É o século passado abraçando o nosso século XXI. Inadimplente Se a meta fiscal não for aprovada este ano, o governo deve dar uma "pedalada" nas contas de água, luz e telefone. Será o fim da picada. O governo cortou R$ 11,2 bilhões do Orçamento (em despesas não obrigatórias). A máquina pública para, arrastando contas para 2016, além de atrasos em pagamentos de serviços terceirizados. A "pedalagem" para pagar no próximo ano é condenada pelo TCU. Daí a necessidade de mudar, já, a meta fiscal. Recessão Brasil se afunda na recessão. Economia encolheu 1,7% no terceiro trimestre, em comparação com o segundo trimestre. Trata-se da maior contração para um terceiro trimestre da série histórica do IBGE, de 1996, e a terceira retração seguida, prolongando o ambiente recessivo, que também já é o mais longo desde o governo Collor. Analistas esperavam queda de 1,2% frente ao segundo trimestre. Em relação ao terceiro trimestre de 2014, o PIB teve contração de 4,5% - a maior contração para um trimestre da série histórica do IBGE - e fechou os nove primeiros meses do ano com perda acumulada de 3,2%, também a maior da série. Em quatro trimestres, o resultado acumulado é de recuo de 2,5%, o pior desempenho de toda a série histórica. Os livros errados Brasília, Congresso Nacional, 11 de abril de 1964. Castelo Branco não teve o voto de Tancredo Neves, seu amigo pessoal de longa data, companheiro na Escola Superior de Guerra, em 1956. Tancredo bateu o pé. Comunicou ao PSD que votaria em branco, apesar dos méritos e credenciais do general Castelo Branco. Questão de princípio : era contra o golpe. Não queria nem um minuto de regime militar, não abria mão da democracia. Conta-se que, esgotados todos os argumentos dos pessedistas para convencê-lo, o amigo e ex-chefe JK, então senador por GO, fez um apelo : "Mas, Tancredo, o Castelo é um sorbonniano, estudou na França. É militar diferente, um intelectual como você. Já leu centenas de livros!". Tancredo : "É verdade, Juscelino. Só que ele leu os livros errados". Dois meses depois o governo cassou o mandato e os direitos políticos de JK, que partiu para o exílio e o sofrimento sem fim. (Caso narrado por Ronaldo Costa Couto) Pequenas lições de marketing Primeiras lições para pré-candidatos Procurar saber para onde vai o vento, descobrir o rumo a seguir. Cada município comporta modelagem própria : condições geográficas ; proporção entre votos das áreas urbanas e rurais (áreas centrais e periféricas nas capitais) ; demandas regionais (bairros) ; cultura das comunidades ; infraestrutura ; colchões sociais (confortáveis/desconfortáveis), linguagens e demandas comuns ; lideranças comunitárias ; tipos folclóricos ; caciques e elites ; meios de comunicação, etc. Colocar todos esses ingredientes no liquidificador e extrair o caldo grosso. Bebericar em doses pequenas apurando o gosto. Adicionar pitadas dos elementos que faltam no caldo. Testar essa receita entre agosto e outubro. Ciclos Mais orientação : estabelecer adequado cronograma dos ciclos da pré-campanha e campanha. Pré-campanha, que já deve estar bem adiantada agora em dezembro ; lançamento, por ocasião da Convenção ; crescimento, entre quatro e cinco semanas após a Convenção ; maturidade/consolidação, quando a campanha se firma no sistema cognitivo do eleitor, após ampla visibilidade ; clímax, momento em que o candidato alcança seu maior índice de intenção de votos ; e declínio, quando o candidato tende a cair nas pesquisas de opinião. Todo esforço se faz necessário para o clímax ocorrer na semana das eleições. A dosagem dos ciclos há de obedecer ao funil da comunicação - jogando-se mais água (volume de comunicação/visibilidade) na segunda quinzena de setembro. Candidato que começa a soçobrar antes do tempo corre o perigo de morrer na praia. "O maior sinal da derrota é quando já não se crê na vitória".
quarta-feira, 25 de novembro de 2015

Porandubas nº 471

Abro a coluna para quem gosta de adivinhar sobre o que pode acontecer com o Brasil de 2018. Tudo pode acontecer Um poderoso sultão, sábio entre os sábios, possuía um camelo muito inteligente. Obedecia a todas as ordens que nem precisavam ser emitidas de viva voz. Faltava-lhe apenas o dom da palavra. Esse detalhe entristecia sobremaneira o sultão. Um dia, decidiu convocar o Grande Conselho e chamou o grão-vizir. - Quero que ensine meu camelo a falar. - Mas isso é impossível. - Cortem-lhe a cabeça. Tragam-me o adjunto Mesma afirmação de desejo sultanesco, mesma resposta, mesma sentença. A cena repetiu-se diversas vezes e cabeças rolaram. Exasperado o sultão declarou : - Aquele que ensinar meu camelo a falar será meu grão-vizir. Silêncio ! O sultão repetiu a exortação. Eis que surgiu um humilde ajudante de cozinheiro. Disse : -Dá-me, ó incomparável senhor, um prazo de três anos, e farei falar teu camelo. Estupefação geral. Seguida do cumprimento da promessa. -Doravante, és meu grão-vizir. Mas se falhares, sabes o que te espera. - Bem sei. Encantado, o jovem fez profunda reverência e saiu correndo para dar a boa notícia à esposa. - Infeliz, acabas de assinar tua condenação. - Não é bem assim, meu bem. Pedi três anos. Você sabe que muitas coisas podem acontecer em três anos : morre o camelo, morre o sultão... Governistas e oposicionistas : cuidado com as previsões. Nuvens e cinzas sobre o país O Brasil atravessará tempos sombrios. A economia não dará sinais de recuperação tão cedo. A projeção é a de que o adensamento da crise ainda está por vir. As observações convergem para os meados do 1º semestre de 2016. Nesse momento, o cenário poderá exibir este quadro : desemprego em alta, ultrapassando a casa dos 10% ; inflação, idem ; contingentes da classe C descendo para o andar da classe D ; manifestações voltando às ruas em início do processo eleitoral ; governo tenta imprimir agenda positiva ; empresariado sob inteiro desânimo. Vejamos, quais, os principais tipos de nuvens e cinzas que cobrirão o país. Autoestima em baixa A autoestima dos brasileiros diminui sob o impacto das grandes necessidades. O sentimento de perda de posições e ganhos atingirá estratos da base e do meio da pirâmide. Esse sentimento criará ondas de pessimismo, que poderão atingir as bases da harmonia social. O desalento é a mãe do pessimismo. O brasileiro pessimista é um ponto fora da curva. Violência O mapa da violência, na esteira das grandes necessidades, deverá se ampliar, particularmente na esfera de assaltos e roubos nos espaços das concentrações populares. O combate à violência, por seu lado, se desenvolverá com os braços enfraquecidos dos Estados, às voltas com falta de recursos, obsolescência de equipamentos e estruturas policiais. Vazio A crise começa a bater forte no ânimo social. Espraia-se um imenso vazio, a denotar desânimo, inutilidade, falta de rumo, confusão, sentimento de perda. Amostra do desvanecimento moral. Agitação periférica As margens tendem a dar respostas mais tempestivas aos momentos. Tensas e sob a pressão de demandas crescentes, tendem a entrar em ebulição diante de situações caóticas, como deterioração dos serviços públicos - paralisações dos transportes urbanos, filas em estabelecimentos hospitalares, escolas desaparelhadas, etc. Cenas de quebra-quebra e devastação de espaços públicos poderão se inserir na paisagem. As pedras do meio do lago As classes médias abrirão suas tubas de ressonância sob as demandas e pressões que também as atingirão. O encarecimento da vida com o aperto econômico também impactarão a classe média-média, que deverá usar seu tradicional instrumento : a expressão. A classe média-média age como a pedra jogada no meio do lago : cria marolas e estas rolam até as margens. A campanha eleitoral de 2016 se dará sob o barulho da orquestra tocada no meio da sociedade. Messianismo nas margens Por descrédito e desconfiança, os contingentes massivos das margens podem avolumar eventuais perfis messiânicos que, em anos eleitorais, costumam se apresentar aos eleitores. Esse é o lado perigoso da crise na perspectiva eleitoral. As massas tendem a correr atrás de salvadores da pátria, bombeiros de plantão, imitadores de São Jorge com a espada para atacar o dragão da maldade. Felizmente, um ou outro messiânico que se vê por aqui e alhures estão com os costados abertos pelas lâminas da operação Lava Jato. Os limpos O perfil mais limpo, menos poluído, tende a ser contraponto às figuras messiânicas. O asséptico é, geralmente, um perfil que vem de fora da política tradicional, tem meia idade, não é carcomido pelos escândalos e, em suas veias, ainda corre sangue puro. Inovadores, bons administradores, são os tipos que podem elevar a campanha eleitoral de 2016. O dominó A imagem é conhecida. A primeira pedra do dominó, colocada em pé, derruba a segunda, que derruba a terceira, que derruba a quarta e assim por diante. Pode ser que, por algum desvio de rota (não estão emparelhadas), uma pedra deixe de cair, segurando as seguintes em pé. Regra geral, porém, boa parte das pedras do dominó tende a cair em 2016. E a primeira pedra é a Federal. As outras são das esferas estaduais e municipais. Leitura : a crise econômica que assola o país baterá nas pedrinhas municipais. A conferir. Perfil ideal Um empresário bem sucedido, na faixa entre 40 e 50 anos, com trajetória iniciante na vida política ; com alta visibilidade social, graças ao trabalho consistente em defesa da sustentabilidade e ajuda a grupos carentes nas frentes da educação e saúde ; pessoa bem sucedida, simples, simpática, conhecedora do país ; exemplo de cidadania ativa, vida sem máculas, considerado um exemplo de decência. Um perfil inovador. Alguém conhece um brasileiro nato com estas qualidades e características ? Seria esse o meu candidato para presidente da República em 2018. Empresários, mulheres e jovens A campanha de 2016 será uma das mais promissoras para empresários, mulheres e jovens. Parcelas ponderáveis do pequeno e médio empresariado estão desanimadas com seus negócios. Milhares de empresas abertas nos últimos tempos, principalmente micro e pequenos empreendimentos, fecham as portas. As mulheres, por sua vez, tendem a ganhar relevância na batalha dos gêneros. Subirão no ranking da participação política. Por último, os jovens se aproveitarão do esgotamento do ciclo da velha política para ingressar na área. Serão três segmentos com boa inserção no campo político em 2016. PT contra Cunha Os três deputados do PT na Comissão de Ética prometem endossar parecer do deputado Fausto Pinato no sentido de acolhimento ao processo contra o presidente da Câmara, Eduardo Cunha. Este, por sua vez, tende a não ficar esperando o pior. Deve avançar na questão do pedido de impeachment da presidente Dilma. Este consultor acha que a situação da presidente melhorou "algumas gotas", mas ainda há muito líquido no frasco. Prisão de Bumlai A prisão do empresário José Carlos Bumlai, ocorrida ontem por ocasião da abertura da 21ª fase da operação Lava Jato, traz as seguintes indicações : 1. O entorno de Lula começa a ser ocupado ; 2. Os filhos de Lula podem ser detidos para averiguações ; 3. A presidente Dilma sente mais um impacto de bomba nos arredores do Planalto ; 4. Lula deve ter aumentado sua indignação ; 5. Veremos, nos próximos dias, aumento de tensões nas cercanias do lulopetismo. Nordeste na oposição ? O Sul é açoitado por chuvas torrenciais. O Sudeste, na região de MG, é castigado pela lama que destrói santuários e sítios de vida marinha e florestal. O Nordeste continua vivendo a tragédia das secas, uma das maiores dos últimos 50 anos. O Nordeste é uma região historicamente governista. Pois bem, está virando oposicionista. Por todos os espaços do país, escorre a lama ética. Alckmin com mais chances Analistas começam a projetar cenários de força : Geraldo Alckmin terá mais condições do que Aécio de ser o candidato tucano à presidência em 2018 ; José Serra tem grandes chances de sair do PSDB e ingressar no PMDB ; Marina deve ser, sim, a candidata da Rede Sustentabilidade à presidência ; Ciro Gomes deve postular a candidatura pelo PDT ; Lula só sairá como candidato pelo PT se efetivamente o partido não conseguir chegar ao consenso em torno de nome que não seja ele. A campanha de 2016 baterá recorde em número de candidatos. Parcerias serão escassas. Todos com desconfiança de todos. PMDB do Rio sem chances Chega-se a falar que o candidato do PMDB, em 2018, pode ser Eduardo Paes. Difícil. Primeiro, o cariocas formam um clube que não fala com outros grupos. Agrega gente autossuficiente. Segundo, o PMDB carioca só enxerga seus membros. Tem chance zero de postular cargos nacionais. Cabral e Paes formam uma dupla não muito simpática aos "estrangeiros" não cariocas. Nem apareceram no evento do PMDB, em Brasília, promovido pela Fundação Ulysses Guimarães. Foram objeto de repúdio nas conversas. E Marta, hein ? Marta Suplicy, a senadora que acaba de entrar no PMDB, firma-se como candidata do partido à prefeitura de SP. Tem muitos votos nas margens, mas não tem densidade nas classes médias. De onde saiu. Marta, para grande parcela de paulistanos, tem carimbo de petista. Difícil de convencer que abandou jeitão petista de ser. A persistência -I A persistência é uma das principais virtudes dos grandes homens. Cristóvão Colombo aferrava-se à obsessão de que poderia chegar ao Oriente pelo caminho do Ocidente. O pensamento não lhe dava trégua. Esta foi a diferença entre Colombo e os seus contemporâneos. Estava convencido. Queria partir. Mas seria forçado a esperar muito. Enquanto aguardava, falava do sonho. D. João II, rei de Portugal, interessou-se pelo assunto e submeteu o projeto de Colombo a uma junta de sábios. Estes condenaram a ideia. Quando morreu a esposa, Colombo gastou a maior parte de suas economias com o enterro. E foi para a Espanha. A persistência - II Fernando e Isabel, empenhados em dispendiosa guerra com os mouros, deram apenas meio ouvido à proposta do genovês. A rainha, entretanto, foi simpática a ele. Concedeu-lhe uma pensão, enquanto a junta de notáveis do Reino estudava o assunto. Depois de dois anos, a pensão foi suspensa. Obrigado a se manter sem ajuda, durante os oito anos seguintes vendeu livros e mapas que confeccionava. Seus cabelos ficaram brancos. Foi atacado pelo artritismo. Mas nunca desesperou. E, um dia, realizou seu sonho. Pé de página Pré-candidatos e futuros candidatos : sejam persistentes !
quarta-feira, 18 de novembro de 2015

Porandubas nº 470

Verbo não "vareia" A Câmara Municipal de Paulista/PE vivia sessão agitada em função da discussão de um projeto enviado pelo prefeito, que pedia crédito para assistência social. Um vereador da oposição combatia de maneira veemente a proposição. A certa altura, disse que "era contra o crédito porque a administração municipal não merecia credibilidade". O líder da bancada governista intervém, afirmando que "o nobre colega não pode jogar pedras no telhado alheio, pois já foi acusado de algumas trampolinagens". - Menas a verdade - retrucou o acusado. Sou homem honesto, de vida limpa. - Vejam, senhores, - disse o líder - o nobre colega, além de um passado nada limpo, ainda por cima é analfabeto, pois, "menas" é verbo, e verbo não "vareia". (Historinha contada por Ivanildo Sampaio). PMDB com linha definida O evento do PMDB, ontem, em Brasília foi o passo mais avançado que o partido deu para se distanciar do PT. O documento Uma Ponte para o Futuro apresenta um programa econômico com linhas fortes e diferentes do programa de ajuste fiscal dos petistas. O PMDB tem se posicionado contra aumento de impostos e defendido cortes profundos na estrutura e nos gastos do Estado. Como o partido jamais foi governo - em função do controle rígido que os petistas detêm sobre as diretrizes econômicas - definiu, agora, seu caminho para o amanhã. O partido terá candidatos próprios no maior número de municípios em 2016 e, em 2018, contará com um candidato próprio à presidência da República. O desastre de Mariana Um dos maiores rios do Brasil, o Rio Doce, está comprometido. As populações ribeirinhas, somando mais de 3,5 milhões pessoas, sofrerão com a falta d'água ou com a água poluída, que a corrosão da barragem da mineradora Samarco provocou. A recuperação do rio Doce é meta para 30 anos, alerta o ambientalista e fotógrafo Sebastião Salgado, que vem trabalhando na recuperação de uma grande área de MG há muito tempo. Essa Samarco promete ajudar. Promessas que o vento (ou as águas) levarão para o cemitério do esquecimento. A Vale também tem responsabilidades no desastre, eis que é parceira (sócia) do empreendimento. O governo deveria não apenas cobrar pesadas multas das empresas, mas responsabilizá-las com o financiamento de recuperação da região pelo prazo definido pelos órgãos ambientais. Sebastião Salgado já apresentou um projeto. Pela seriedade que expressa, que seja aprovado seu projeto. O termômetro do SIMPI O SIMPI - Sindicato de Pequenas e Médias Indústrias - promove, a cada mês, a Pesquisa Indicador de Atividade da Micro e Pequena Indústria, a cargo do Instituto Datafolha. O índice de satisfação verificado no setor no mês de setembro, que engloba avaliação geral da empresa, faturamento e margem de lucro, caiu para 84 pontos. No mesmo mês no ano passado, o índice era de 112 pontos. A situação é gritante : a última rodada mostra que 94% dos empresários alegam que a crise econômica já afeta seus negócios. Mais um dado alarmante : 28% das microempresas correm real risco de fechar. O percentual de cortes de vagas no setor saltou de 19% para 27%, sendo que entre as micros 7% contrataram e 20% demitiram ; e dentre as pequenas, 29% contrataram e 53% demitiram. A avaliação negativa - com as respostas ruim e péssima - pulou de 31% para 36% ; o faturamento está ruim ou péssimo para 43%. O desânimo se expande no seio dos pequenos e micro empresários. O termômetro do SIMPI mostra as beiradas de uma classe média se aproximando do estado de penúria. Direita francesa avança A barbárie impetrada em Paris por três grupos terroristas do Estado Islâmico deflagrará uma abrangente onda contra imigrantes e refugiados dos conflitos no continente. Veremos o fortalecimento da direita radical de Marina Le Pen, que deverá tirar o Partido Socialista do segundo turno nas próximas eleições. O partido Os Republicanos, que substitui a União por um Movimento Popular, sob o comando do ex-presidente Nicolas Sarkozy, deve liderar o processo eleitoral nos dias de amanhã. Ou seja, veremos o enfraquecimento das siglas de esquerda, desta feita com o franco apoio dos jovens, revoltados com os ataques que vitimaram 129 pessoas e deixaram mais de 250 feridos. A xenofobia se expandirá. Muçulmanos enfrentarão ondas de repúdio e indignação. Por que Paris ? Pergunta que está no ar : por que Paris, considerada um símbolo das liberdades e o jardim mais florido da democracia contemporânea, foi escolhida como território para a tragédia ? Exatamente por isso mesmo. Como símbolo da democracia - igualité, legalité, fraternité - a França é, para os terroristas, o cartão postal mais visível do momento. Ademais, o país é considerado o mais engajado na estratégia de combater o Estado Islâmico na Síria. O EI quis mostrar reação à liderança da França nas frentes do combate ao terror. Macri vence Sciolli ? Na Argentina, é bem provável a vitória do oposicionista Maurício Macri, ex-prefeito de Buenos Aires, contra o governista Daniel Sciolli, apoiado pela presidente Cristina Kirchner. Sciolli era franco favorito há meses. Perde a condição. A Argentina padece de profunda crise. O kirchnerismo dá sinais de esgotamento. Já Macri, caso vença, sinalizará mais um avanço da direita no continente. Sua visão profundamente comprometida com o liberalismo econômico seria o contraponto que os argentinos querem estabelecer com o populismo funcional da esquerda de Sciolli/Cristina. Sem pauzinho Fortunato Pinto Júnior, jornalista e ghost writer, escrevia os discursos de João Almeida, deputado de MG. Sábio e generoso, o doce coronel só não gostava de proparoxítonos : - Fortunato, não bota no discurso palavra que tem um pauzinho lá atrás, porque a dentadura cai. Defesa de Cunha O presidente Eduardo Cunha apresenta, esta semana, sua defesa no Conselho de Ética da Câmara. Ele já antecipou as linhas : as contas na Suíça não estão no nome dele, mas de trusts. Essa firula jurídica convencerá os integrantes do Conselho ? Na verdade, o julgamento será político. Apesar do parecer contrário a ele, a ser apresentado pelo deputado Fausto Pinato (esse é o convencimento geral), é bem provável que Eduardo Cunha tenha a maioria dos votos no Conselho. A pressão das ruas não tem sido suficiente para convencer alguns parlamentares. A votação será mais adiante, dia 24 próximo, com direito à ampla defesa do acusado. Impeachment de Dilma Cunha, por seu lado, tem uma carta na manga : o pedido de impeachment da presidente Dilma. Acolherá ? Se acolher, perde os votos do PT no Conselho de Ética. O PSDB já tomou posição contra Cunha. Que está entre a cruz e a caldeirinha. Repatriação e vetos O projeto de repatriação de recursos está no Senado, onde deve ser também votado esta semana. Passará ? Este consultor acredita que sim. Da mesma forma, os vetos da presidente que tramitam no Senado serão votados, entre eles, aquele que propicia aumento de até 78% aos servidores do Judiciário. O veto deve ser endossado pela Câmara Alta. A conferir. Paes irá à guerra ? O prefeito Eduardo Paes, do PMDB, tem dito que faça chuva ou faça sol, não substituirá o nome de Pedro Paulo, seu amigo e secretário do governo, como candidato do partido à prefeitura em 2016. O imbróglio ocorre em função do affaire Pedro Paulo x ex-mulher, a quem teria agredido duas vezes. O caso tem sido explorado intensamente pela mídia. Pedro Paulo deu até entrevista coletiva sobre o assunto com a presença da ex-mulher. Expandiu a visibilidade do problema. E Paes, o prefeito, diz e repete : Pedro Paulo será candidato nem que a vaca tussa. Este consultor acredita que o tema passou a ser um estigma na imagem do PP. Uma mancha suja. Difícil de sair com o detergente da desculpa sobre "a intimidade da vida privada". Ora, a vida privada do homem público é do interesse do eleitor. Tocqueville e a imprensa Alexis de Tocqueville, em seu belo "A Democracia na América", lançado em 1835, analisando a importância da imprensa na construção dos valores americanos, confessava : "amo a imprensa pela consideração dos males que impede, mais ainda do que pelos bens que produz". E arrematava, dizendo que a soberania de um povo e a liberdade de imprensa são duas coisas inteiramente correlatas. A consciência social De fato, a imprensa é a própria consciência da sociedade. Em sua missão de informar, interpretar, orientar, opinar, persuadir, argumentar, criticar, contextualizar, os meios de comunicação propiciam o equilíbrio social. Pois o alimento da informação harmoniza a cultura dos grupos sociais, tornando-os partícipes dos mesmos eventos de significação social. A imprensa é um dos mecanismos mais efetivos para o processo de desenvolvimento dos países. Populariza a ciência, divulgando, em linguagem acessível, criações, descobertas e fatos de natureza técnico-científica. Tuba de ressonância A imprensa mostra os avanços em todos os campos do conhecimento humano, atualizando contingentes, elevando os índices culturais, fazendo avançar a sociedade. Investiga e faz o controle da administração pública, denunciando os abusos e desvios, evitando a continuidade e a perpetuação das malhas de corrupção. Eleva o ser humano, na promoção de seus valores, no reconhecimento de suas qualidades e competências, no traçado de seus perfis e identidades. Luta pelo desenvolvimento harmônico e saudável da sociedade, patrocinando grandes causas nas áreas da saúde, educação, habitação, segurança, esportes e lazer. A imprensa é a tuba de ressonância de um povo. É bom lembrar isso quando figuras de proa continuam a execrar os meios de comunicação. O arremate O senador Romero Jucá colheu sugestões para arrematar o documento Uma Ponte para o Futuro. Mesmo assim, será difícil conciliar visões. O PMDB é um partido descentralizado. Por isso mesmo, sobre ele tem-se dito : é um partido que inverte a aritmética - soma na divisão. Levy fica, Levy sai Quanto mais se diz que Levy sairá do governo em função da pressão feita por Lula para colocar no lugar dele Henrique Meirelles, mais Levy finca pé. É o que se depreende da mais recente garantia da presidente Dilma : não adianta fazer pressão, ele fica. Então é isso. Joaquim Levy, nas palavras de quem manda, ficará. Ou será que teremos de desdizer isso mais adiante ? E minhas ordens, tenente ? Camilo de Holanda, presidente da PB (nessa época, 1916/1920, governador era presidente), tinha uma namorada. Mas a namorada era mulher de um sargento da PM. Uma vez por semana, o tenente-comandante, auxiliar direto de Camilo, dava prontidão noturno no quartel. Uma noite, Camilo vai chegando à casa de seu amor e vê pendurado na cadeira da sala, o dólmã do sargento. Voltou furioso ao quartel : - Tenente, e minhas ordens ? - Que ordens, presidente ? - Prontidão rigorosa, pois a ordem pública está ameaçada. O tenente mandou tocar a corneta, dentro de pouco tempo o batalhão estava todo lá. De prontidão absoluta. Não faltava ninguém. Meia-noite, Camilo voltou lépido : - Tenente, relaxa a prontidão que o perigo já passou. O perigo fora afastado.
quinta-feira, 12 de novembro de 2015

Porandubas nº 469

Abro a coluna com uma historinha da BA que cai bem para esses tempos de crise. Uma vaquinha para o vereador O vereador de Itiruçu, na BA, estava duro. A seca tinha comido tudo. Sem dinheiro para a feira, foi pedir ao prefeito Pedrinho. Que brincou : - Por que você não pede a Jesus Cristo ? Ele não é o pai dos pobres ? Voltou para casa, escreveu a Jesus Cristo pedindo 50 contos. Endereçou : "Para Nosso Senhor Jesus Cristo". E pôs no Correio. No correio, abriram a carta, levaram para o bar. Lá fizeram uma vaquinha, apuraram 42 contos, registraram e mandaram para o vereador. Quando ele abriu viu os 42 contos, sentou-se e escreveu nova carta : "Nosso Senhor, agradeço muito sua atenção. Recebi o dinheiro que lhe pedi. Mas rogo o seguinte : se o senhor for mandar dinheiro novamente, faça o obséquio de mandar em cheque, porque, dos 50 contos, o pessoal do correio meteu a mão em 8". E hoje, hein ? Como seria hoje ? Uma vaquinha para ajudar um amigo no valor total pedido a Jesus Cristo. Uma vaquinha com menos da metade do dinheiro solicitado. Uma vaquinha com um presente de grego, digamos, uma cobra venenosa. Uma vaquinha com um bilhete : os cofres do céu estão vazios com a crise. Qual a opção mais viável ? Meirelles na onda Henrique Meirelles voltou ao centro da onda. Começa a circular nas rodas políticas, aferindo posições, lendo cenários, ouvindo e balbuciando ponderações. É fato que Luiz Inácio quer ver injeção na economia. Está saturado de más notícias e projeções catastróficas. Defende uma agenda positiva despontando nos horizontes do Palácio do Planalto. Meirelles poderia ser a pessoa indicada para esse momento ? Sim, para Lula. Para lideranças do setor produtivo, não será peça sobressalente de grande performance. Afinal, não há dinheiro para um novo ciclo de crédito e abertura da economia. O momento é grave. Levy meio isolado O retrato fala por si mesmo : terça-feira, antes de ontem, por volta de 14h lá estava Joaquim Levy, acompanhado de uma pessoa (uma só), pegando um elevador no Senado. Fazia o seu périplo rotineiro, conversando com senadores, analisando a situação, tentando ver até onde o governo pode caminhar em matéria do emperrado pacote fiscal. Falta votar alguns vetos da presidente Dilma no Senado. Levy almoçou com um grupo de senadores. Tenta verificar se a CPMF ainda é viável, analisa a conveniência da CIDE (contribuição sobre combustíveis), etc. Parece desolado, não satisfeito com o rumo das coisas. Há quem diga que não chegará ao final do ano envergando a roupa de ministro da Fazenda. O que Lula espera Luiz Inácio colocou o resgate do PT no primeiro lugar do ranking de suas responsabilidades. Ele é o ícone do partido e maior liderança popular, hoje, no Brasil, apesar de amargar 55% de rejeição, segundo pesquisas. Sabe que o PT está no fundo do poço da imagem. Vai tomar uma surra no processo eleitoral de 2016, quando não deve eleger tantos prefeitos como imaginava há um ano. Para resgatar o PT, ou pelo menos alguns pontos em sua imagem, Lula luta por uma agenda positiva. Afinal, os programas para as margens não podem ser esmaecidos. As classes médias já abandonaram o PT. O cobertor está curto. Na contramão Por isso mesmo, Lula começa a andar na contramão do governo, fazendo críticas que acabam sendo vazadas para a imprensa. O que se lê, quase todos os dias, é sua discordância sobre a condução da economia pelas mãos de Levy. Lê-se que prega a retomada do crescimento com a vitamina do crédito. Tarefa impossível quando o orçamento se apresenta cheio de rombos. Os partidos aliados, por sua vez, tenderão a seguir, cada qual, seu caminho. As alianças com o PT serão mínimas e frouxas. Diante da grave situação, Lula tentará engatar a velha verve oposicionista. Ou seja, vai se apresentar como um palanqueiro de oposição ao desgoverno que aí está. O arranque do "contra" será um artifício para conquistar as massas. Será que elas não descobrirão o engodo do orador ? Irão identificá-lo como o patrocinador responsável pela Dilma ? Cunha O presidente da Câmara terá dificuldades de demonstrar aos parlamentares, mesmo os de seu grupo, que as contas no exterior não são suas, mas pertencem a um trust. Mais cedo ou mais tarde, esse argumento não resistirá. Do ponto de vista formal, as contas não estão no nome dele. Mas o destinatário não é o próprio ? Este consultor acredita que parte dos membros da Comissão de Ética acatará o argumento do presidente da Casa, eis que não teria mentido. Mas parte não aceitará a tese. Quem terá maioria ? PSDB contra O PSDB decidiu sair da esfera de Eduardo Cunha, passando a lhe fazer oposição. A razão ? Os tucanos esperavam que o presidente da Câmara acolhesse o pedido de impeachment de Dilma. Ora, Cunha usa a prerrogativa de aceitar ou rejeitar para adiar a questão. Quanto mais tempo ele dispuser para analisar o imbróglio, mais prolongará a pressão e as ameaças contra ele. Mas os tucanos decidiram não esperar mais. Por pressão da opinião pública. Cunha, por seu lado, sabe que no momento que acolher o pedido, perderá força. Porque a tramitação do impeachment (se for acolhido) ganha vida própria. Depois disso, ele perderia força. PT a favor e contra Veja-se como é a política. Por muito tempo, Eduardo Cunha agiu para fazer pressão sobre a presidente Dilma, a ponto de se pensar que a vida política da mandatária estaria nas mãos dele. As coisas se inverteram. Hoje, a vida política de Cunha está nas mãos de Dilma e do PT, pois este partido pode contar com uns 10 votos no Conselho de Ética. Ora, se Cunha acolher o pedido de impeachment de Dilma, o PT votará em peso contra ele na Comissão de Ética. O PT dá demonstrações de que está, hoje, a favor dele. Claro, enquanto ele não acolhe o pedido de impeachment. Moro O juiz Sérgio Moro virou referência de Justiça e moral no país. Para a banda mais larga da sociedade. Para parcelas sociais, principalmente para faixas estreitas do Direito e classes médias mais altas, Moro tem sido um ponto fora da curva, ao deixar grandes empresários mais de 150 dias presos, sem serem julgados. Seriam eles ameaças à Justiça ? É o que perguntam advogados de renome. É uma discussão que se espraia no mundo jurídico. O fundo do poço As projeções coincidem : o fundo do poço é mais embaixo. Ainda não apareceu. Este consultor acredita que a situação tende a piorar nos próximos dois a três meses com o aumento da inflação, do desemprego e do Produto Nacional Bruto da Infelicidade. O recesso do final e início do ano será angustiado. Papai Noel circulará com o saco pobre de brinquedos. Pobre árvore de Natal Ontem, vi o tamanho da crise. Onde ? Na árvore que a prefeitura de SP está montando no Parque do Ibirapuera. Bem menor do que a de anos anteriores. Sinal de tempos modestos. Sinal das agruras que se abatem sobre a figura do prefeito Fernando Haddad. Movimentos E os movimentos sociais, onde estão ? Hoje, a fotografia mostra que o movimento maior é o dos caminhoneiros. Que tentam parar o país. O governo decide multar pesadamente os grevistas. Interessante observar : os sindicatos e associações da categoria estão contrários à paralisação. O maior líder do movimento é um empresário de SC, que faliu. Mas conseguiu formar uma rede social com mais de 500 mil participantes. Um sujeito só. Desunião Quase todos os sábados ocorrem passeatas na avenida Paulista. Sem grande barulho. Os movimentos não estão unidos. Ciúmes e divisões estão por trás das ações e motivações. Sem ruas movimentadas, não haverá pressão suficiente para fazer o Parlamento avançar. A conferir. STF Há muita expectativa sobre os próximos passos do STF na trilha da operação Lava Jato. Comenta-se que a próxima leva de indiciados sairá da esfera política. Fim de ano muito tenso para as Casas Congressuais. De fato Há no PT quem veja Lula como o presidente de fato. Dilma estaria conformada com sua posição de direito ? Este consultor não aposta na hipótese de Lula presidente de fato. Armando Monteiro Um dos melhores ministros de Dilma é o experiente Armando Monteiro, senador licenciado, ex-presidente da CNI. Tem na ponta da língua a moldura das necessidades e mudanças que o país precisa, é um exímio conhecedor dos problemas dos setores produtivos e desempenha com alta eficiência as tarefas sob sua responsabilidade. Discreto e solidário. Campanhas à vista A luta política tende a se acirrar nos próximos meses. As lições de táticas e estratégias dos clássicos da política e das guerras são muito oportunas nesses tempos de competitividade. Eis alguns conselhos do general Sun Tzu : a) "Quando em região difícil, não acampe. Em regiões onde se cruzam boas estradas, una-se aos seus aliados. Não se demore em posições perigosamente isoladas. Em situação de cerco, deve recorrer a estratagemas. Numa posição desesperada, deve lutar. Há estradas que não devem ser percorridas e cidades que não devem ser sitiadas". b) "Não marche, a não ser que veja alguma vantagem; não use suas tropas, a menos que haja alguma coisa a ser ganha ; não lute, a menos que a posição seja crítica. Nenhum dirigente deve colocar tropas em campo apenas para satisfazer seu humor ; nenhum general deve travar uma batalha apenas para se vangloriar. A ira pode, no devido tempo, transformar-se em alegria ; o aborrecimento pode ser seguido de contentamento. Porém, um reino que tenha sido destruído jamais poderá tornar a existir, nem os mortos podem ser ressuscitados". c) "Prepare iscas para atrair o inimigo. Finja desorganização e esmague-o. Se ele está protegido em todos os pontos, esteja preparado para isso. Se ele tem forças superiores, evite-o. Se o seu adversário é de temperamento irascível, procure irritá-lo. Finja estar fraco e ele se tornará arrogante. Se ele estiver tranquilo, não lhe dê sossego. Se suas forças estão unidas, separe-as. Ataque-o onde ele se mostrar despreparado, apareça quando não estiver sendo esperado".
quarta-feira, 4 de novembro de 2015

Porandubas nº 468

Abro a coluna com uma hilária historinha das bandas da PB. E tome chicotada Encenação da Paixão de Cristo numa cidadezinha da PB. O dono do circo, em passagem pela cidade, resolveu encenar a Paixão de Cristo na sexta-feira santa. Elenco escolhido dentre os moradores ; no papel de Cristo, o cara mais gato da cidade. Ensaios diários. Às vésperas do evento, o dono do circo soube que 'Jesus' estava de caso com sua mulher. Furioso, deu-se conta que não podia fazer escândalo sob pena de perder o investimento. Bolou uma maneira. Comunicou ao elenco que iria participar fazendo o papel do 'centurião'. - Como ? - reclamaram - Você não ensaiou ! - Não é preciso ensaiar, porque centurião não fala ! E eu sou o dono. O elenco teve que aceitar. Dono é dono. Chegou o grande dia. A cidade em peso compareceu. No momento mais solene, plateia em profundo silêncio. Jesus carregando a cruz ... e o 'centurião' começa a dar-lhe chicotadas. - Oxente, cabra, tá machucando ! Reclamou Jesus, em voz baixa. - É pra dar mais veracidade à cena, devolveu o centurião. E tome chicotada. Chicote comendo solto no lombo do infeliz. Até que Jesus enfureceu-se, largou a cruz no chão, puxou uma peixeira e partiu pra cima do centurião : - Vem, desgraçado ! Vem cá que eu vou te ensinar a não bater num indefeso ! O centurião correu, Jesus com a peixeira correndo atrás e a galera em delírio gritando : - É isso aí ! Fura ele, Jesus ! Fura, que aqui é a PB, não é Jerusalém, não ! A locomotiva emperrada Diz-se que a crise por que passa o país tem a índole fincada na política. Em termos. Se a economia vivesse tempos saudáveis, a política seria mais amena e menos conturbada. E a razão é simples : a economia é a locomotiva que puxa o trem, com todos os vagões da sociedade e da política. Daí a triste negociação : a locomotiva está emperrada. Seus eixos estão tortos. E o pior é que não há perspectiva de arrumação das peças tortas no curto prazo. Que eixos são estes ? Vejamos. Desemprego O desemprego ameaça a cada dia mais e mais brasileiros. A taxa se aproxima perigosamente dos dois dígitos. Desempregada, a pessoa entra em desespero. Baixa a auto-estima. Sabe que vai faltar dinheiro no bolso, comida na geladeira, leite para os filhos, aperto no estômago. Pois bem, cerca de três milhões de brasileiros, entre os 30 milhões que chegaram à classe C, descem à classe D. A equação BO+BA+CO+CA (Bolso, Barriga, Coração, Cabeça) se desfaz. A situação tende a se agravar nos próximos meses. A inflação Da mesma forma que o desemprego, a inflação também se aproxima dos dois dígitos. Quer dizer : as compras nas feiras e supermercados são modestas ; para manter os suprimentos na normalidade, os consumidores terão de desembolsar mais. Ocorre que falta o "mais" ? A inflação das feiras livres beira os 12%. Esta praga, aliada ao desemprego, deixa o fogo alto queimando a imagem do governo Dilma. Imaginem se o Brasil perde a condição de investimento com a nota de uma terceira Agência de Classificação de Risco. O pior está por vir. Década perdida Os dados são desalentadores : o PIB de 2015 ficará entre 3% e 3,5% e o de 2016, segundo as projeções, ultrapassará a casa dos 2%. O quadro é ruim. Ante o despenhadeiro que se enxerga, a projeção de institutos é de que a renda dos brasileiros em 2020 seja igual à renda de 2010. Já se fala em década perdida. Gestão capenga Dilma Rousseff era considerada, no início da gestão, um perfil técnico de respeito. Perdeu o eixo de sua identidade. Mostrou-se ineficaz. Sem grandes realizações para mostrar, a presidente tateia na escuridão. Tenta incrementar a articulação política, agora distribuindo cargos no segundo e terceiro escalões. Os políticos aceitam as recompensas, mas tão logo vejam as coisas se complicarem, pularão fora do barco. Há uma questão central fustigando a administração : como fazer ajuste fiscal sem causar sacrifício ? Como fazer uma agenda positiva se o ajuste entra na agenda negativa ? Lula só pensa em agenda positiva. Lula, mostra como se faz. Congresso em chamas Não se pode dizer que o Congresso passa por momentos tranquilos. O ambiente nas duas casas é tenso. O governo vê seu pacote fiscal criando atritos por todos os lados. A Comissão de Orçamento do Senado aguarda a defesa das pedaladas fiscais. Na frente do impeachment, até se pode enxergar certo alívio por parte da presidente. Houve um refluxo nos últimos dias. Eduardo Cunha, o presidente da Câmara, se esforça para esticar seu tempo na presidência da Casa. Mas espera, a qualquer momento, o pedido do PGR, Rodrigo Janot, para que o STF o indicie. Se o fizer, a Suprema Corte deverá fazer a solicitação ao Parlamento. O Conselho de Ética instala processo para apurar se Cunha mentiu aos deputados. É possível que o relator seja favorável a ele. O ambiente é tenso. Partidos abrem veredas Os partidos sentem a temperatura e preparam seu futuro. O PMDB acaba de lançar um documento forte - Uma ponte para o futuro - onde faz sérias críticas às políticas do governo. Trata-se de um freio de arrumação que o partido adota para direcionar seus passos. O PMDB, com este documento, abre veredas para 2016 e 2018. Vai se afastar gradativamente do PT. Ou, como prega o paper, com elegância. O PDT também não concorda com a política fiscal do governo. E deixa Ciro Gomes no ataque do jogo, a fim de poder se habilitar à candidatura presidencial em 2018. O PSB começa a organizar um contraponto ao foro de SP, onde se insere o PT. Acaba de ingressar na Condução Socialista Latino-americana por meio do deputado Beto Albuquerque. Que discute a política do continente. O PSB deve ter candidato próprio em 2018. Escancarando o jogo As lupas do Parlamento e do Judiciário continuam a jogar luzes sobre a escuridão dos jogos de poder. O MPF e a PF fecham o cerco à família Lula da Silva. Há um procedimento investigativo criminal no DF ; a operação Zelotes investiga Luís Cláudio, o filho de Lula, por tráfico de influência ; a CPI da CARF, no Senado, analisa pedido para ouvir Lula e seu filho ; a operação Lava Jato investiga o amigo de Lula, José Carlos Bumlai, de fazer intermediação para compra de um navio sonda da Petrobras ; são investigados os pagamentos feitos à LILS, empresa do ex-presidente, pelas palestras que proferiu mundo afora ; a COAF (uma bomba) descobre transações bancárias de quase meio bilhão de reais nas contas de Lula, Palocci, Erenice Guerra e Fernando Pimentel. Essa história ainda vai render por muito tempo. Abrindo as comportas As comportas são abertas em todas as instâncias. No Congresso, a CPI do HSBC continua a investigar contas de brasileiros na Suíça. O STF, a par da possibilidade de indiciar o presidente da Câmara, investiga parlamentares, entre eles, os deputados Roberto Goes (PDT-AP) e Bernardo Santana (PR-MG), além do senador Ivo Cassol (PP-RO). O juiz Sérgio Moro, que acaba de condenar a quase 20 anos de prisão o herdeiro da empreiteira Mendes Junior, vai ouvir o ex-diretor da Petrobras, Renato Duque. Pode vir mais bomba deste depoimento. O TSE deve escolher Gilmar Mendes como relator do processo contra a chapa Dilma/Temer. A revista Veja também enfrenta processo. O procurador Reginaldo Pereira Trindade processa a revista no STJ. A paisagem mais se parece uma briga de foice entre cegos no escuro. Longo prazo O clima de litigiosidade que se observa no país certamente continuará por tempo. A política passou a ser um empreendimento que anima novos contendores. Além disso, estamos caindo no imenso vácuo de lideranças. Os maiores líderes nacionais pertencem à geração de 64. O país se ressente da falta de quadros que expressem grandeza e respeito. Na paisagem, quem sobressai é o Poder Judiciário, que começa a assumir o papel de redentor moral da nação. O Parlamento está no fundo do poço em matéria de credibilidade. O Executivo está na lona. O que esperar ? Pelos tempos de amanhã. O Brasil só será potência no longo prazo. Eleições de 2016 As eleições do próximo ano propiciarão a abertura de um ciclo mais radical de renovação política. Veremos perfis assépticos, não contaminados pelo vírus das mazelas tradicionais. Teremos uma campanha mais enxuta, racional e participativa. E modesta no capítulo dos recursos. Mas não se espera por reformas estruturantes no curto prazo. A semente de nova cultura política deverá frutificar. Em condições de influir em 2018. PT O PT será devastado, mas não a ponto de desaparecer. Lula continuará a ser seu ícone. Menos carismático, o bombardeado Lula pode, até, se recuperar. Se a economia de Dilma melhorar e as margens voltarem a ser contempladas com programas assistencialistas. Qual a chance de 0 a 10 ? 3. PMDB O PMDB deverá ter candidatos próprios no maior número de municípios. Pretende conservar e até alargar a base do edifício político. Nunca será um ente harmônico. Terá sempre suas divisões. Precisa ter escopo, programas, ideias. Se continuar a ser amorfo, não resistirá aos novos tempos. PSDB Os tucanos estão sem discurso. Fazem oposição por oposição. Qual é seu projeto para o país ? Todo o esforço do tucanato será nessa direção. O partido precisa chegar até as margens sociais, nos centros e no interior. PSD, PDT, PSB, PP Os partidos médios haverão, igualmente, de procurar seus ideários. Sem doutrina, fenecerão. É possível identificar uma virada à direita, encabeçada pelo PSD de Kassab, uma abordagem de esquerda por parte do PSB, cada um puxando outros partidos médios e pequenos para fortalecer seus territórios. Não haverá espaço para 33 siglas. Dilma É o fim da carreira ? Será que não entraria no Parlamento ? Tem índole para isso ? Lula Andará ainda muitas léguas. Mesmo com a língua cansada. Aécio Tem idade para circular bem na política por um bom tempo. Precisa adensar sua credibilidade. Alckmin Jeitoso, boa conversa, diplomática, precisa ter visibilidade nacional. Serra Preparado, calculista, ambicioso, carece ir às margens. Tomar um banho de povo. Marina Imagem de mulher sofrida, uma amazônica que transpira ética. Mas parece sem força para aguentar o rojão da política. Tipologia eleitoral Atenção, candidatos e assessores. Vejam os principais perfis de candidatos 1. O continuista - Candidato à reeleição na prefeitura, máquina a serviço da candidatura, cabos eleitorais multiplicados, o continuista tem grandes vantagens sobre outros. Particularmente se construiu forte identidade junto à comunidade. Pontos fortes : ações e obras a mostrar. Pontos fracos : mesmice e eventuais denúncias de corrupção/nepotismo, etc. 2. O oposicionista - Deve encarnar situação de mudança, troca de peças velhas na máquina administrativa. Para ter sucesso, precisa captar espírito da comunidade, auscultar demandas, fazer um corpo a corpo, deixar-se mostrar, ganhar confiança do eleitor. Pontos fortes : alternativa à velha ordem ; encarnação do espírito do novo. Se for um perfil já conhecido, impregná-lo com o verniz da renovação. Pontos fracos : pequena visibilidade ; estruturas de apoio mais tênues. 3. A terceira via - O candidato da terceira via apresenta-se como perfil para quebrar a polarização entre situação e oposição. Para angariar apoio de todos os lados, carece organizar um discurso moderado, ouvindo todos os segmentos, buscando uma linha intermediária. E demonstrar que tem melhor programa do que os dois candidatos. Pontos fortes : bom senso, alternativa à polarização acirrada entre grupos, inovação. Pontos fracos : falta de apoios das estruturas.
quarta-feira, 28 de outubro de 2015

Porandubas nº 467

Abro a coluna com uma historinha do ES. Robô do prefeito ? Em tempos idos, na Câmara Municipal de Mimoso do Sul/ES, Luiz Carlos da Silva, líder do PMDB, discutia com Jaime da Rocha Nogueira, líder do PDS, por causa do prefeito Pedro Costa, também do PDS. Luiz Carlos atacava o líder do prefeito : - V. Exa. é um teleguiado, sem personalidade. Só cumpre ordens. - Sou líder. E o líder tem de dizer o que o Executivo pensa. - Critico o comportamento de V. Exa., por ser um homem de recados, robô do prefeito. - Senhor vereador, até agora discutia com V. Exa. porque não me sentia agredido. Agora, V. Exa. vai ter de provar a esta Casa quando é que eu roubei o prefeito. A sessão acabou em tumulto ! A onda cresce A cada semana, a operação Lava Jato vai jogando sua onda sobre mais figuras de relevo. A semana começa com a nova fase da operação Zelotes, essa que desvenda denúncias nas proximidades do CARF, o conselho que julga recursos na Receita Federal. Chamaram atenção a busca e a apreensão de documentos na empresa de Luís Cláudio Lula da Silva, o filho de Lula que tem uma empresa de marketing esportivo. Ou seja, a onda bate nos costados da família do ex-presidente. Ao que se lê, ele continua a execrar esse tipo de ação, considerando-a exagerada. Significa intuir, como lembra Sérgio Moro, que ninguém está imune aos atos jurídicos expedidos pelo aparato da Justiça. A juíza Federal Célia Regina Ody Bernardes foi quem aceitou os argumentos do MPF. Quem também prestou depoimento foi o ex-ministro Gilberto Carvalho sobre o affaire da compra de MPs para favorecer setor automotivo. As instituições funcionam a pleno vapor. Dilma x Lula São conhecidas as manifestações da presidente Dilma sobre eventuais dissensões que teria com Lula, seu mentor. Nunca ninguém será capaz de afastá-los por meio de insinuações malévolas. É o que se depreende da recorrente expressão presidencial. Agora mesmo, ela fez homenagem a Lula por seu 70º aniversário. Mas parece que as coisas não caminham bem entre os dois polos de poder. Luiz Inácio gostaria que a crise fosse enfrentada com menos rigor ao bolso das margens carentes. Para tanto, gostaria de que o ministério da Fazenda fosse gerido por um perfil mais afeito a uma política compensatória e de acesso ao consumo. Joaquim Levy é o oposto dessa receita. Os dois estariam em campos opostos nessa matéria. E também na área do controle da PF. Zelotes A apreensão de documentos pela PF no escritório do filho Luís Cláudio é a pimenta malagueta que queima a língua do ex-presidente Lula. Mas o fato é que as instituições estão funcionando, apesar do questionamento de alguns : "desse jeito" ? Cenários do amanhã Há quem aconselhe Lula a colocar logo seu bloco na rua. Assim, ele teria condições de correr o país desfraldando a bandeira de uma pré-candidatura. Inconvenientes : dá a cara para bater antes do tempo ; a superexposição pode lhe trazer mais dissabores na corrente de uma economia desarrumada e sem perspectivas de melhoria no curto prazo ; que discurso poderia expressar ? Favorável ao governo ? Seria pior a emenda que o soneto. Contra o governo ? Ih, hipótese inimaginável. Lula só tem uma alternativa : esperar que o tempo lhe conceda algum conforto. PT saudações ? Para o PT renascer das cinzas, melhor seria que Lula fosse candidato. Mesmo com uma derrota, Lula ainda possui estoque (em baixa) de carisma ; consegue animar parte das bases desmotivadas ; é o mais conhecido líder nacional. A candidatura de Luiz Inácio poderia refazer o partido, a partir de um número menor de prefeitos eleitos em 2016. Mas há este dado : Lula tem hoje a maior rejeição, segundo o IBOPE (55%). E Dilma sofre a rejeição de 70% dos brasileiros. Consolo : os contendores de Lula estão também acima dos 50% de rejeição. Wagner Jaques Wagner faz o papel de bombeiro, aquele que era exercido pelo vice-presidente Michel Temer quando detinha a missão da articulação política. Fala com todos, da esquerda à direita. O ex-governador da BA tem perfil agregador. Seria o candidato in pectore do ex-presidente Lula, em 2018, caso ele não veja condições para sua própria candidatura. Manente Alex Manente, o jovem deputado Federal do PPS/SP, lidera a corrida para a prefeitura de São Bernardo do Campo. O segundo lugar é do deputado estadual Orlando Morondo, do PSDB, que luta pelo apoio do governador Geraldo Alckmin. Corrida paulista Marta Suplicy deve ser a candidata do PMDB à prefeitura de SP. Conserva um bom recall nas camadas periféricas, que aprovaram com fervor a criação dos CEUS, os centros educacionais. Gabriel Chalita terá dificuldades para emplacar seu nome, pois é muito ligado ao prefeito Fernando Haddad. Aliás, a tendência do PMDB é romper com o prefeito Haddad. O diretório municipal é presidido por Chalita, secretário da Educação do município. Que confa, hein ? Pelo PSDB, João Dória faz um mutirão pelos diretórios da periferia, em aplicada lição de casa. Pesquisas internas mostram que já ultrapassa o pré-candidato, vereador Andrea Matarazzo. Marta e Russomano Marta tem um bom recall. Bem como Celso Russomano. Ambos, porém, são muito rejeitados pelas áreas centrais, onde pontificam as classes médias. Marta não consegue ainda extirpar de sua identidade a marca petista. E Russomano não consegue limpar o borrão populista e demagógico. Se forem candidatos, entrarão com índices respeitáveis na campanha. Mas a projeção é a de que cairão, ao final da reta. A conferir. Campanhas pobres A campanha municipal de 2016 será uma das mais modestas das últimas décadas. Os candidatos que simbolizam a assepsia política deverão ser favoritos. O povo quer mudanças. E está à procura de perfis sérios, não comprometidos com as velhas práticas, com experiência administrativa (não necessariamente na política), vida pessoal ancorada na retidão e no compromisso. Quem vestir esse figurino, pode se apresentar. Atenção, pré-candidatos O escopo do marketing político, ao longo da história, tem se mantido praticamente o mesmo. O que muda são as abordagens e as ferramentas tecnológicas. Atentem. No ano 64 a.C., Quinto Túlio Cícero enviava ao irmão, o grande tribuno e advogado Cícero - protagonista de episódios marcantes por ocasião do fim do sistema republicano e implantação do Império Romano - uma carta que considero o primeiro manual organizado de marketing eleitoral da história. Ali, Quinto Túlio orientava Cícero sobre comportamentos, atitudes, ações e programa de governo para o consulado, que era o pleito disputado, sem esquecer as abordagens psicológicas do discurso, como a lembrança sobre a esperança, este valor tão "marketizado" no Brasil e que se transformou no eixo central do discurso da era lulista. Dizia ele : "três são as coisas que levam os homens a se sentir cativados e dispostos a dar o apoio eleitoral : um favor, uma esperança ou a simpatia espontânea". Quem, quem, quem ? Pergunta recorrente : qual é o perfil que incorpora o sentido do novo, o avanço, a modernização de costumes e práticas da política ? Quem souber, aponte. Os radicais livres, na ponta esquerda do arco ideológico, não têm votos. Marina segura a barra ? Fala-se muito na volta por cima de Marina Silva, que poderia vestir o manto da pureza ética. Marina, porém, transmite a imagem de fragilidade. Sem punch para levar adiante uma campanha pesada, contundente, cheia de curvas e percalços. Teria pouca força para segurar a barra de uma campanha presidencial. Mesmo dispondo da ajuda de amigos(as) poderosos(as). Provisório e permanente A cultura do provisório, por estas plagas, acaba ganhando vestes permanentes. Impostos provisórios tendem a se tornar permanentes. Agora, são as prisões. Uma prisão provisória, feita para tomar depoimentos e evitar influência dos indiciados nas investigações, também ganha ares de permanência. Quem fez esse alerta foi nada mais nada menos que FHC, na entrevista que deu no Roda Viva da TV Cultura desta segunda-feira. Grandes empresários estão presos há mais de 120 dias. Macri pode ganhar ? Se Maurício Macri ganhar o segundo turno na Argentina, a virada da oposição se tornará um marco no processo eleitoral do continente. Macri promete abrir a economia. O governista Daniel Scioli pode até ganhar o segundo turno do dia 22/11. Mas o eleitor, aqui e alhures, está mostrando que o voto sai do coração para subir à cabeça. A racionalidade, o exame crítico, a avaliação, o bom senso começam a balizar a decisão do eleitor em todos os espaços. 3,5% de queda Analistas e consultores projetam queda de até 3,5% no PIB em 2016. Quem ainda diz que o ano eleitoral será melhor que o atual ? O fundo do poço ainda não chegou. Cunha Nos últimos dias, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, ganhou algum fôlego. Enquanto o STF não indiciá-lo, conduzirá uma densa agenda. E mais : não está fora de tom a projeção de que o Conselho de Ética da Câmara entre em ritmo de tartaruga para analisar o pedido de um grupo de parlamentares para tirá-lo da cadeira presidencial. Propaganda negativa A revolução francesa de 1789 pode ser considerada o marco da propaganda agressiva nos termos em que hoje se apresenta. Ali, os jacobinos, insuflados por Robespierre, produziram um manual de combate político, recheado de injúrias, calúnias, gracejos e pilhérias que acendiam os instintos mais primitivos das multidões. Na atualidade, é a nação norte-americana que detém a referência maior da propaganda agressiva, mola da campanha negativa. Este formato, cognominado de mudslinging, apresenta efeitos positivos e negativos. No contexto dos dois grandes partidos que se revezam no poder - democrata e republicano -, diferenças entre perfis e programas são mais nítidas e a polarização sustentada por campanhas combativas ajuda a sociedade a salvaguardar os valores que a guiam, como o amor à verdade, a defesa dos direitos individuais e sociais, a liberdade de expressão, entre outros. Nem sempre a estratégia de bater no adversário gera eficácia. Historinha do PI fechando a coluna Dois vereadores da Arena de Parnaíba/PI. Um, da Arena de Petrônio Portela, o outro da Arena de Alberto Silva. Inimigos políticos. Um, dentista, pôs os dentes na boca do outro. Na primeira sessão, os dois brigaram : - V. Exa. é um desonesto. - Desonesto é você, filho de uma... Devolva meu dente. Pois fui eu que pus. - Eu paguei, seu sacana. - E daí que pagou ? Falar mal de mim, até pode. Com meu dente, não. Partiu pra cima. E arrancou os dentes. Sem anestesia.
quarta-feira, 21 de outubro de 2015

Porandubas nº 466

O aperitivo inicial vem do PR. Conversa de jardim Manuel Ribas, interventor no PR (1932/1935), depois governador (1935/1937), despachava no palácio, mas gostava de morar em sua casa. Bem cedinho, chega um rapaz e encontra o jardineiro regando o jardim : - Seu Ribas está ? Sou filho de um grande amigo dele. Meu pai me mandou pedir um emprego a ele. Eu podia falar com ele ? - Poder, pode. Mas, e se ele não lhe arrumar o emprego ? - Bem, meu pai me disse que, se ele não arranjasse o emprego, eu mandasse ele à merda. - Olhe, rapaz, passe às quatro da tarde lá no palácio, que é a hora das audiências, e você fala com ele. Às quatro horas, o rapaz estava lá. Deu o nome, esperou, esperou. No salão comprido, sentado atrás da mesa, o jardineiro. Ou seja, o governador. O rapaz ficou branco de surpresa. - O que é que você quer mesmo ? Repetiu a história. "Meu pai me mandou pedir um emprego ao senhor". - E se eu não arranjar o emprego ? - Então, seu Ribas, fica valendo aquela nossa conversa de hoje de manhã, lá no jardim. Troco De Dilma sobre Eduardo Cunha : "lamento que seja um brasileiro" (o caso das contas do presidente da Câmara na Suíça). De Cunha dando o troco : "lamento que seja com o governo brasileiro o maior escândalo de corrupção do mundo". Turbulências A paisagem desta semana aponta para o incremento das turbulências. E os sinais são dados por um conjunto de fatores : 1. As denúncias contra o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, agora com informações sobre montantes depositados e movimentação de contas, tornam sua situação bastante complicada. Se não tiver nenhum trunfo nas mãos, será tarefa quase impossível se manter no comando da Câmara. 2. Denúncias sobre recursos destinados ao "palestrante" Lula pela Odebrecht e também envolvendo dinheiro entregue a seu filho jogam mais fumaça no território familiar do ex-presidente. 3. Críticas do PT ao ministro Joaquim Levy, que a presidente Dilma garante que não se afastará do governo, deixam-no contrariado e expandem as especulações sobre sua saída. A alternativa de Cunha Restam ao deputado Eduardo Cunha as seguintes alternativas : a. Acolher o mais recente pedido de impeachment, feito pelos juristas Hélio Bicudo, Miguel Reale Júnior e Janaína Paschoal, agora contendo o argumento de "pedaladas fiscais" cometidas pelo governo Dilma em 2015. Como se sabe, Cunha sempre defendeu a tese de que as pedaladas como argumento para impeachment devem ocorrer no mandato vigente e não no mandato anterior ; b. Negar os pedidos de impeachment que estão em sua gaveta e dar por encerrada essa questão. Para as duas alternativas, quer mais tempo. Ocorre que não pode demorar muito porque o STF pode, a qualquer hora, indiciá-lo. Nessa condição, terá de renunciar à presidência da Câmara. E o Conselho de Ética da Casa se sentirá moralmente pressionado a afastá-lo da presidência. Mas Eduardo Cunha garante que não renunciará. Portas da frente e dos fundos A observação recorrente na esfera política é a de que a aceitação do impeachment por Eduardo Cunha lhe abriria a porta da frente para deixar a presidência da Câmara. Ou seja, mesmo deixando o comando, seria aplaudido por parcela da sociedade. Se não acolher e arquivar os pedidos, estaria saindo da presidência pela porta dos fundos. O que seria mais conveniente para ele ? Qual a decisão do Conselho de Ética ? Seu presidente garante que a tramitação do pedido de afastamento do presidente, feito por 46 parlamentares, será rápida. Cunha, porém, tem força para protelar o julgamento daquela Comissão. A conferir. Quem, quem ? No caso de afastamento, assumirá o vice-presidente, o deputado Waldir Maranhão, do PP do MA. Trata-se de um parlamentar desconhecido. Que, em 30 dias, organizará novas eleições. Quem tem condições e votos para assumir a presidência ? O líder Leonardo Picciani tem força para se eleger ? A mais provável hipótese é a de que lhe faltem apoios. Trata-se de um líder sem grande experiência, só recentemente alçado à condição de estrela, mesmo assim uma estrela sem brilho. Ocorre que os nomes do PMDB com experiência e história, como o deputado pernambucano Jarbas Vasconcelos, tem prestígio, mas não votos. Outros nomes cotados são : Osmar Serráglio, do PR; Lelo Coimbra, do ES; Osmar Terra, do RS; e Edinho Silva, de SP. Miro Teixeira é o mais longevo. Está agora na Rede de Sustentabilidade, de Marina. Teria cacife ? Fogueira cresce O ex-presidente Luis Inácio vê seu nome se aproximar do meio da fogueira. Nestes últimos dias, apareceu a informação : a Odebrecht lhe pagou R$ 4 milhões para fazer palestras. E mais : seu filho, "Lulinha", teria recebido R$ 2 milhões de Fernando Baiano. Fábio Luis está processando o Globo por esta informação. Já outro filho, Luis Claudio, teria recebido pagamento de uma das consultorias suspeitas de atuar pela MP 471. Ou é muita fofoca da mídia, como desabafa o ex-presidente, ou é informação que precisa ser investigada. Nesse ínterim, Sérgio Moro abriu a terceira ação penal contra o maior empresário brasileiro, Marcelo Odebrecht, detido há quatro meses. Classe C Esse analista trabalha com a hipótese de que impeachment da presidente é coisa para as calendas. No caso das pedaladas, não acredita que seja feito um julgamento que possa apeá-la do poder. Se passasse pela Câmara, não passaria pelo Senado. Já no caso do TSE, haveria recursos junto ao próprio Tribunal e, depois, a querela subiria ao STF, onde recursos e embargos levariam a questão para longe. A hipótese que poderia apressar decisões em todas as instâncias seria uma intensa e gigantesca movimentação de ruas. Que puxasse os indignados da classe C, que começam a perder os ganhos obtidos na era Lula, graças ao cobertor estendido pelos programas sociais. VPR Quem conversa com o vice-presidente Michel Temer distingue uma pessoa que observa os fatos, sob todos os ângulos ; ouve mais do que fala ; pondera mais do que acende discussões ; quer ajudar o governo naquilo que possível. Mostra-se disposto a usar suas habilidades de articulador para amainar situações e apaziguar espíritos. Reeleição Sempre que se fala em reeleição, puxa-se o exemplo dos Estados Unidos. Ora, lá, o presidente Roosevelt permaneceu por quase quatro períodos (1933-1945, vindo a falecer ao correr do último) seguidos na presidência. Quando foi escrita, a Constituição norte-americana não restringia mandatos consecutivos. Acontece que os norte-americanos se unem em tempos de crise. Depois da recessão de 1929, elegeram Roosevelt, dando-lhe, depois, mais três mandatos. Após a 2ª Guerra, restringiram a reeleição a apenas um segundo governo, na crença de que o excesso de poder dos governantes é prejudicial. E aqui surgem as diferenças. A força do Estado Nos Estados Unidos, o império da lei funciona. Direitos são respeitados. Aqui, nem sempre. Os tribunais fazem permanente interpretação da legislação. Mais que isso, a força da sociedade é extraordinária, agrupando associações de todos os tipos, que fiscalizam, cobram e diminuem o poder de influência do governo sobre a vida das pessoas. A pujança social é um freio a qualquer iniciativa de totalitarismo. Por aqui o Estado tem a força para expandir a sua sombra deletéria. E é nela que a reeleição se refugia, escondendo um corpo esculpido em mazelas. Financiamento público É ingênuo imaginar que campanha financiada com dinheiro público elimina o aporte de recursos privados e outros meios transferidos ilegalmente para candidaturas majoritárias e proporcionais. Nos EUA, que abrigam eficazes experimentos democráticos, os dois sistemas coexistem, de forma harmônica, podendo os candidatos optar por um deles após avaliarem seu potencial. John McCain preferiu o financiamento público, que lhe permitiu receber US$ 84 milhões, mas Obama, enxergando longe, rejeitou o limite imposto pela lei, objetivando maximizar o potencial da internet. Angariou cerca de US$ 600 milhões, mobilizando milhões de eleitores que agiram como doadores e cabos eleitorais. A veiculação eletrônica contribuiu de maneira significativa para diminuir a influência dos grupos de interesse que circundam a política norte-americana. Mas os lobbies dos grandes grupos - indústria de armamento, fumo, bebidas - são os grandes financiadores de candidatos. Exercício de sedução A presidente é o alvo de um intenso tiroteio social, não apenas midiático (como dizem Lula e outros petistas), bastando ver os míseros 8% da aprovação popular que detém. O discurso de defesa será confrontado com a realidade. A política, como exercício de sedução, será testada. Para cooptar as massas, os atores políticos, principalmente os carismáticos, costumam vestir o manto dos heróis. Lula, por exemplo. O que procura oferecer ? Esperança. Ora, mas a esperança que ele vendeu no passado foi consumida pela dura realidade desses tempos de economia em recessão. Falta grana no bolso para encher a geladeira, pagar o carro, as prestações do fogão novo. O instinto de sobrevivência e o instinto nutritivo, da lição de Pavlov, estão ameaçados. Lula, mesmo querendo parecer um "deus de plantão", poderá cair das nuvens. Subterfúgios, adjetivos, acusações fortes e promessas de um mundo melhor já não terão o efeito que causavam há 10, 15 anos.
quarta-feira, 14 de outubro de 2015

Porandubas nº 465

Abro a coluna com JK Anos de chumbo. Tempos difíceis, época braba. Falar em Juscelino era, no mínimo, pecado mortal. Mudança das placas dos carros, as chamadas alfanuméricas. A Câmara Municipal de Diamantina oficia ao Contran solicitando as letras JK para as placas dos carros do município, "como uma forma de homenagear o grande estadista John Kennedy". O Contran não atende. Um conterrâneo de Juscelino desabafa : - Esse pessoal do Conselho deve ser republicano, eleitor do Nixon. (Historinha de Zé Abelha) O ciclo da razão O Brasil começa a deixar para trás o ciclo da emoção. A sociedade toma consciência de sua força, da capacidade que tem para mudar, pressionar e agir. Estamos abrindo o ciclo da autogestão técnica. Trata-se de uma aculturação lenta, porém firme, no sentido do predomínio da razão sobre a emoção. O crescimento das cidades e, por consequência, as crescentes demandas sociais ; o surto vertiginoso do discurso crítico, revigorado por pautas mais investigativas e denunciadoras da mídia nacional ; o sentimento de impunidade que gera, por todos os lados, movimentos de revolta e indignação ; e, sobretudo, a extraordinária organicidade social, que aparece na multiplicação das entidades intermediárias, hoje um poderoso foco de pressão sobre o poder público - formam, por assim dizer, a base do processo de mudanças em curso. Teori dá a prática Pois é, de Teori vem a prática para a liturgia do impeachment. Ao conceder a liminar a um recurso impetrado por deputados governistas invalidando o rito definido pelo presidente da Câmara, Eduardo Cunha, para a instalação de um processo de impeachment da presidente Dilma, Teori Zavascki, considerado um ministro garantista (ou seja, que decide rigidamente pela norma constitucional), dá um novo rumo ao imbróglio que mobiliza forças situacionistas e oposicionistas no Congresso. As oposições contavam com uma reclamação em plenário contra o arquivamento de um pedido de impeachment, que seria o rito definido por Cunha. A votação seria por maioria simples. Lei de 1950 Pela liminar de Zavascki (que foi acompanhado pela ministra Rosa Weber em mais duas liminares), um eventual pedido de impeachment deve ser julgado de acordo com a lei 1.079, de 1950, que não prevê a possibilidade de recurso ao plenário caso o pedido de impeachment seja negado. O processo só terá seguimento caso Cunha dê sequência a um dos pedidos de impeachment. A liminar carece ser endossada pelo Plenário. As oposições questionam sob o argumento de que nada impede que o presidente da Câmara aceite ou recuse pedidos de impeachment. Daí a decisão de solicitar rápido pronunciamento do Plenário. A visão de Celso Antônio Celso Antônio Bandeira de Mello é um dos mais renomados juristas brasileiros. Professor de Direito Constitucional, é uma referência no Direito, tendo sido professor de ministros, desembargadores e juízes espalhados por todo o território. Ele e o professor Fábio Comparato dizem que não se pode pedir impeachment com base em pedaladas fiscais. Porque estas exigem apenas maioria simples na Câmara, ao passo que impeachment requer quórum qualificado (dois terços da Câmara ou 342 votos). "São duas coisas completamente diferentes. Qualquer um vê isso, não é preciso muita lucidez para perceber que o que está acontecendo não passa de uma armação ridícula de quem quer ganhar 'no tapetão', como se diz no futebol", argumenta Bandeira de Mello. Julgar antes É viável antecipar pedidos de impeachment enquanto as tais pedaladas fiscais não forem julgadas pelo Congresso ? Celso Antônio e Fábio Konder Comparato argumentam que, para ter efeito, a reprovação do balanço pelo TCU precisa ser analisada pelo Congresso, que pode ou não acatar o entendimento fixado pelo tribunal. Mesmo se houver recusa das contas por deputados e senadores, tal recusa não caracterizaria crime de responsabilidade para justificar o impedimento, dizem eles. O TCU é um órgão de assessoramento ao Congresso e, como tal, apresenta indicações e avaliações das contas para uma decisão pelo Parlamento. Cunha no cunha As liminares têm o efeito de uma cunha na estratégia de Cunha. Ele imaginava dar as cartas nesse processo. Agora, suas cartas precisarão obedecer aos ditames ditados pelo Supremo, mesmo que a interpretação ainda esteja sujeita ao voto do Plenário da Corte. O presidente da Câmara, a cada dia mais acuado, deverá buscar outros modos de ação, que alguns enxergam como "vingança", "retaliação" à Dilma. O que faz uma fera acuada ? Parte para cima de inimigos. Inspira-se na síndrome do touro : pensa com o coração e arremete com a cabeça. O poder é como água 1945. O Brasil inaugura a redemocratização. Hermes Lima, fundador da UDN, deputado constituinte, ex-presidente do STF, foi ao Nordeste conseguir apoio de democratas ilustres para fundar outro partido, o Partido Socialista Brasileiro. Em João Pessoa, procurou Luís de Oliveira : - Luís, o socialismo é como aqueles gramados dos castelos da Inglaterra. Cada geração dá por eles um pouco de si. Um jardineiro planta, o filho cuida, o neto poda. E vai assim, de geração em geração, até que, um século depois, torna-se o que é. - Doutor Hermes, me desculpe, mas não vou entrar não. Gosto muito do socialismo, mas vai demorar muito. Eu quero é o poder. E o poder é como água. A gente tem que beber na hora. Novembro será agosto ? A previsão de muitos analistas é de que o novembro poderá ser o agosto convulsivo do agravamento da crise. Os meados do próximo mês abrem perspectivas de aumento das tensões, com expansão do desemprego, alta da inflação, menos dinheiro no bolso das margens, indignação social subindo alguns graus. Economistas acham que o pior ainda está por vir. Se a presidente atravessar novembro incólume ganhará fôlego para entrar em um dezembro menos desastroso. Mas é preciso colocar no tabuleiro a pedra do imponderável. Até quando Cunha resistirá ? O presidente da Câmara não é um novato em matéria de emboscada política, articulação, estratégia de sobrevivência. Fará tudo e um pouco mais para esticar sua sobrevida. Até quando ? Até quando houver manifestação incisiva da Corte Suprema sobre sua situação. Provas documentais contundentes e que não permitam refutação serão necessárias para um posicionamento decisivo do STF. Teremos o recesso de fim de ano e férias prolongadas do Congresso. Se Cunha atravessar novembro na presidência da Câmara, é provável que passe o Natal na cadeira de presidente da Câmara. PSB na oposição Cristaliza-se a tendência de o PSB passar ao terreno da oposição formal ao governo. Mostra-se crítico à maneira como o país é conduzido e começa a fazer um contundente discurso à política econômica. PSB se prepara para engatar o trem rumo aos anos eleitorais de 2016 e 2018. CIDE aumenta Ante a possibilidade de não contar com a CPMF, o governo cogita aumentar a CIDE sobre combustíveis ainda este ano. A inflação deve avançar mais ainda com essa decisão. A perspectiva é a de chegar ao final do ano beirando os 11%. Dilma segura No Senado, as coisas não são tão ruins para a presidente Dilma quanto na Câmara. Daí a segurança (relativa) da mandatária sobre o apoio que possui na Câmara Alta. Um processo de impeachment não teria a maioria dos senadores. Uma sessão do Congresso com esta finalidade mostraria uma divisão de forças. O PMDB da Câmara garante que conseguiu melhorar o quórum de Dilma na Casa. Será ? A conferir. O silêncio de Michel O VPR, Michel Temer, recolhe-se ao mais profundo silêncio. Que diz muita coisa. O silêncio de quem está disposto a ouvir e cansado de falar. O vice-presidente vê que intensa peroração - de aconselhamento, de alerta, de avisos - não foi bem ouvida. E se ouvida, não provocou reação nos interlocutores. Michel está ciente de seu papel. Prontifica-se a ajudar aqueles que querem ajuda. Oposições sem discurso As oposições ainda não encontraram o eixo de seu discurso. Tirar Dilma por ter cometido pedaladas fiscais não melhora sua imagem. Afinal, o que pregam as oposições em matéria de política econômica, política social em conjuntura de crise, programas para a infraestrutura, etc. Qual é o projeto das oposições para o país ? A agenda Brasil Renan Calheiros elencou um conjunto de projetos que tramitam no Senado e os inseriu na Agenda Brasil. A intenção do presidente do Senado é a de propor saídas para a crise. Mas a Agenda está patinando no meio das curvas que a conjuntura dita nesse momento. Está sendo difícil fazer avançar o programa de audiências e debates. Movimentos dispersos Os movimentos sociais apresentaram-se como as alavancas da sociedade. Desde as grandes mobilizações de 2013, passaram a ser referência da organicidade social, traduzindo demandas, exprimindo a indignação contra a velha política. Volta-se a ter dúvida sobre sua força. Os movimentos estão dispersos, as entidades envolvem-se em uma briga de egos e já não se tem tanta certeza de que reúnem condições de fazer pressão sobre o Parlamento. ONGs Há cerca de 500 mil ONGs no país. Que refletem a ocupação do vazio gerado pelo distanciamento entre a esfera política e o universo social. Indicariam, ainda, nossa inserção no terreno da democracia participativa. Tendência que se expande no mundo ao sabor da crise que solapa a democracia representativa. Municípios de pires na mão Os 5.565 municípios brasileiros atravessam seus anos de vacas magras. A campanha de 2016 será a mais enxuta e desprovida de recursos dos últimos tempos. Os prefeitos andam como Dândis na escuridão. Não dispõem de verbas nem para tocar as ações rotineiras das municipalidades. Sob essa sombria perspectiva, ocorrerão as eleições de 2016. Com muita derrota de candidatos à reeleição. Queda do varejo Mais uma indicação de retração na economia. O comércio varejista do Estado de SP registrou queda real de 6,3% no faturamento em julho deste ano, em relação ao mesmo mês de 2014. No total, o faturamento do setor chegou a R$ 42,8 bilhões, R$ 2,8 bilhões a menos do que o mesmo período do ano passado. A retração foi observada nas 16 regiões do Estado. A vida privada A vida privada dos homens públicos também é objeto da lupa social. Não há mais tolerância para abusos. Principalmente quando há manifestações de corrupção. É claro que o carisma do governante ajuda a aplainar arestas. Getúlio Vargas e Juscelino Kubitschek foram presidentes namoradores, o que não lhes corroeu a fama. Thomas Jefferson, um dos homens mais admirados dos EUA, protagonizou um "escândalo" amoroso, o caso com uma de suas escravas, Sally Hemings, que fora a Paris cuidar da filha mais velha do presidente, na época com nove anos de idade. Já o político inglês John Profumo, que tinha o cargo equivalente ao de ministro da Guerra, um dos heróis do Dia D (desembarque aliado na Normandia durante a 2ª Guerra Mundial), foi protagonista de um grande escândalo : o envolvimento com a modelo Christine Keeler, no começo dos anos 60. FHC foi objeto de forte artilharia midiática. O mesmo ocorreu com Collor. Maluf, idem. Hoje, a crítica é mais devastadora. A rejeição a comportamentos de governantes tem que ver com o espírito do tempo.
quarta-feira, 7 de outubro de 2015

Porandubas nº 464

Abro a coluna com um caso que mostra o estado de espírito dos nossos políticos. Ninguém tem provas Numa festa de aniversário de um correligionário, a dona de casa recebe um político famoso. - Muito prazer conhecer a senhora. É uma honra ser amigo do seu marido - cumprimenta ele. - O prazer é meu, deputado ! Saiba que já ouvi muito falar do senhor ! - É possível, minha senhora, é possível, mas ninguém tem provas ! A grande pergunta A maior interrogação desse ciclo de confluência de crises continua sendo esta : Dilma fica ou sai ? Renuncia ou é afastada por um impeachment ? Tentemos arrumar as pedras no tabuleiro. O leit motiv - o fato concreto - ainda não apareceu nas planilhas das Cortes Judiciais. Hoje, o TCU agendou a decisão sobre as pedaladas fiscais. A tendência é a de desaprovação das contas. Mas esse tribunal exerce apenas a função de indicar ao Parlamento sua avaliação sobre as contas do governo. Não é um órgão julgador, mas um órgão de assessoramento do Congresso. A decisão política caberá, portanto, ao Legislativo. E que rumo este dará ao processo que virá do TCU ? O tabuleiro da Câmara Primeiro, vale lembrar que o presidente da Câmara tem o poder de decidir sobre a agenda a ser submetida ao Plenário. A desaprovação das contas da presidente certamente engrossará o caldo do impeachment. Mas Eduardo Cunha fica entre a cruz e a caldeirinha, submetido que está à investigação da operação Lava Jato, agora com informações do Ministério Público da Suíça de que ele possui contas naquele país e de que o próprio teria sido avisado do congelamento de seu dinheiro. Mexida de pedra no tabuleiro não redundará em dano fatal à presidente, eis que será fácil, neste momento, escapar do xeque. Dilma ganhou fôlego com o remendo ministerial e poderá dispor de 171 votos, base suficiente para escapar da enrascada. Ou seja, o processo só será aberto se contar com 342 dos 513 deputados. Irresponsabilidade A eventual desaprovação das contas da presidente pelo TCU somar-se-á ao contencioso que já chegou à Câmara por meio dos pedidos feitos pelos juristas Hélio Bicudo e Miguel Reale Jr., sob o argumento central de que a presidente cometeu crime de responsabilidade. Passará ? Muito difícil. Porém, se o processo for aberto e aprovado, irá ao Senado, onde precisará de 54 votos, ou 2/3, para seguir adiante. Caso seja aberto, a presidente sairia para se defender, dando lugar ao vice-presidente. O processo seria presidido pelo presidente do STF. Ora, no Senado, a situação da presidente é bem mais confortável para a mandatária. Será muito difícil seguir adiante. O x da questão O respiro da presidente com o recente investimento na frente partidária, particularmente junto ao PMDB, não lhe garante chegar, incólume, ao final do mandato em 2018. Onde está o x da questão ? Nas ruas. Nesse ponto, convém explicar os mecanismos de pressão e os fatores que influenciarão a governabilidade nos próximos tempos. Abrigam coisas como : desemprego crescente ; inflação que pode ultrapassar dois dígitos ; continuidade das investigações da operação Jato, com respingos sobre a imagem de atores centrais ; insatisfação social e mobilização das massas. P.S. A abortada sessão do Congresso, ontem, para analisar os seis vetos restantes do pacotão do ajuste, mostra que nem o presidente da Câmara, apesar de queimado pelo fogo que vem da Suíça, continua dando as cartas. A equação do fundo do poço A confluência de crises - econômica, política, de gestão, ética/moral - ainda não jogou o país no fundo do poço. Mas a distância está encurtando. Basta que a equação BO+BA+CO+CA seja completada : BOlso vazio, BArriga roncando, COração sofrendo, CAbeça indignada. Ou seja, a economia destroçada poderá puxar as massas para as ruas e, assim, provocar a queda das pedrinhas do dominó. Os atores políticos tenderiam a ouvir o clamor das ruas. Os cinturões do governo Dilma terá condições de resgatar seus vetores de peso ? Carlos Matus, especialista chileno em Planejamento Situacional, mostra que uma hipótese como essa só será possível se o governante não ultrapassar o limite de perda de controle sobre a gestão, se a governabilidade não cair abaixo de seu ponto crítico e, ainda, se conseguir reverter o processo de desacumulação de força. Para que estas hipóteses sejam consideradas, é preciso analisar os três cinturões que apertam o corpo do governo : o cinturão político, o cinturão econômico e o cinturão da gestão. Quanto ao primeiro, não há certeza que seja sólido ; quanto ao segundo, todas as análises apontam para a tendência de piora nos números da economia. A propósito, o indicador de emprego da FGV recuou de 64,2 para 62,0 pontos entre agosto e setembro ; já o indicador de desemprego elevou-se 3,5% em relação a agosto, alcançando 92,6 pontos, o maior patamar desde 2007. E quanto ao terceiro, o cinturão da gestão, convenhamos, parece muito torto. Assoviar e chupar cana A política ensina : não é viável combinar sacrifícios econômicos e recessão transitória com crescimento, aumento de emprego e Justiça social. Assoviar e chupar cana ao mesmo tempo é impossível. Quem prega isso ? Lula. Que gostaria de tirar Joaquim Levy e voltar a aplicar a fórmula que adotou em 2008 - acesso ao consumo, dinheiro farto para abrigar as empresas, gastança incontrolável. Dilma aceita, por enquanto, a receita ortodoxa. Mas os sacrifícios a serem impostos poderão desapeá-la do poder. É oportuno lembrar que os efeitos da bula de Levy ainda não foram postos à prova. Supõe-se que o ajuste fiscal, mais adiante, deverá esvaziar os bolsos das massas. Os instintos E quem garante que o povo voltará às ruas ? A resposta é : dependerá do bolso e do estômago. Sergei Tchakhotine, o russo que estudou o nazismo sob a perspectiva da mistificação das massas, pinça os quatro mecanismos que afetam os seres vivos para deles extrair conclusões sobre o comportamento dos indivíduos : impulso combativo e impulso alimentar (dois mecanismos de conservação do indivíduo) e impulso sexual e impulso paternal (dois mecanismos da conservação da espécie). Pois bem, as reações dos seres humanos derivam desses impulsos. Que, segundo Pavlov, estão na base das reações ou dos reflexos inatos das pessoas. Para sobreviver, o indivíduo vai à luta, buscando todos os meios e recursos. O alimento é um deles. E o alimento depende do bolso que, vazio, deverá expandir a indignação social. As massas nas ruas - inclusive contingentes das classes C e D - não constituem, portanto, um ponto fora da curva. A descarga da massa A massa, ensina Elias Canetti em "Massa e Poder", vive em função de sua descarga. Ela passa por um período longo, ganhando densidade, preparando-se para o momento de descarga. O grito espontâneo da massa expressa sentimentos de qualquer espécie. A massa, uma vez formada, quer crescer rapidamente. E o estouro é transição de uma massa fechada para uma massa aberta. Qual é a do Lula, hein ? Luiz Inácio é conhecido pela ambiguidade. É situação, mas parece oposição. Defende a pupila, mas quer a saída de Joaquim Levy do governo. Aprova o ajuste fiscal em público, mas, em particular, o execra. Qual é a de Luiz Inácio ? Chegar às margens de 2018 com um discurso de oposição. Não tem alternativa se não a de voltar a ser candidato, única forma de fazer renascer o PT. Para tanto, conviria aos seus planos ver Dilma fora do Palácio do Planalto. Mas não gostaria vê-la saindo pelas portas do fundo. A imagem de um impeachment bateria nele. Mas uma saída pela via da renúncia - sob argumento de que a presidente precisaria tratar da saúde - cairia bem. E o PT ? Só tem um caminho : voltar à esquerda extrema. No centrão social-democrata será tragado pela constelação partidária. O alerta do TPP O Brasil, mais uma vez, fica para trás. O acordo que reúne 12 países, envolvendo 40% da economia mundial, é um alerta ao lulopetismo, com sua restrita visão focada nas adjacências do Mercosul. O TPP, a Parceria Transpacífico, será uma grande alavanca para o crescimento da economia mundial. Um alerta ao Brasil, que precisa correr atrás de parceiros e acordos, sob pena de perder as grandes oportunidades oferecidas pelas grandes economias mundiais. Faz tempo que o mercado europeu espera por nosso lerdo mercado. A previsão do FMI de que o país terminará o ano como 9ª economia mundial, deixando a 7ª posição, é mau presságio. E o PMDB, hein ? O PMDB é o fiel da balança da governabilidade. Essa imagem tem se expandido nos últimos tempos. Mas para onde a balança penderá nos próximos tempos ? A composição de Dilma com o líder Leonardo Picciani em torno do Ministério não garante todos os votos da bancada. Calcula-se que 22 votos do PMDB votarão com a oposição. O fato é que o partido poderá garantir, no curto prazo, um respiro ao governo. No médio prazo, porém, seu posicionamento estará à reboque da situação da economia. A articulação direta de Dilma com a bancada, passando por cima da cúpula, é um risco. Doravante, os deputados vão querer dialogar diretamente com a mandatária, evitando intermediários. Dilma plantou, Dilma colherá. Espertocracia Machado de Assis, mulato, gago e epilético, um dos mais ilustrados e respeitados cultores do idioma pátrio, conseguiu de modo exemplar unir o erudito ao popular. Em seus irretocáveis escritos, ensinava que a democracia deixa de ser uma coisa sagrada quando se transforma em "espertocracia" - "o governo de todos os feitios e de todas as formas". Não parece o retrato do governo que vemos na parede ? A dislexia de Montoro Fecho a coluna com uma historinha de Franco Montoro. Depois de deixar a esfera governativa e parlamentar, Franco Montoro passou a se dedicar ao Instituto Latino-Americano - ILAM. Na condição de presidente desta entidade, foi a um almoço organizado por um pequeno grupo de professores da USP no restaurante do campus. O ex-governador, como se sabe, tem registrado em sua história muitos casos de dislexia, momentos em que confundia nomes, alhos com bugalhos, motivando risos nas cerimônias. A conversa fluía bem, versando sobre os mais diferentes problemas do país. A certa altura, ele se surpreendeu ao saber que este escriba era potiguar. Mais ainda : tio de Sônia, casada com João Faustino, tucano do melhor naipe e seu dileto amigo. Montoro e dona Lucy foram padrinhos do casamento de uma das filhas de João e Sônia. De repente, lá vem a pergunta : - E como está o Agrário ? Você sabe como ele vai ? Passo a lupa na mente e lamento ignorar a identidade da figura. Mas vou procurar saber, logo, logo. Mudamos de assunto. Mas o Agrário continua a frequentar o meu sistema cognitivo. De repente, Eureka ! Agrário ? Agrário ? Não seria o Urbano ? Tomo a iniciativa : - Governador, será que o senhor não confundiu o Agrário com o Urbano ? - Ah, sim, é claro, é claro. Desculpe. Como vai o Urbano ? Francisco Urbano era presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura - CONTAG. Um potiguar muito conhecido nos universos sindicalista e político. A dislexia do ex-governador paulista havia confundido o espaço rural com a geografia urbana.
quarta-feira, 30 de setembro de 2015

Porandubas nº 463

Abro a coluna com uma historinha que vivi nos tempos em que coordenava campanhas eleitorais. O toró Os técnicos se esforçavam para instalar os aparelhos e arrumar os grossos cabos. Novembro de 1986. 18 horas na Praça do Marquês, em Teresina. Um toró (como se diz no Nordeste) começa a cair, fazendo a grande festa. Praça lotada. Três mil piauienses pulavam entusiasmados sob a água que caía. Garrafas de cachaça corriam de mão a mão. De repente, um estrondo, seguido de outros. Fogo e fumaça nos cabos. Corre-corre dos técnicos e o aviso : "Acabou o som. Não há condição". Não havia aquele tipo de cabo. Elba Ramalho foi logo atirando : - Está aqui meu contrato. Sem som, não canto. Conversa daqui, conversa dali, aflição por todos os lados. Depois de muita insistência, aceita : - Cantarei uma música, só, e me arranjem um acompanhamento. Apareceu não sei de onde um cara com um banjo. O povão gritava : - Elba, Elba, Elba, cadê a Elba ? "Bate, bate, bate, coração..." A cantora subiu ao palco. A multidão explodiu. O canto e o refrão : Bate, bate, bate, coração ! Bate no meu velho peito. Nem bem terminou a estrofe, Elba parou. Presenciei, ali, uma das maiores aflições de minha vida, um esculacho da cantora : - Seus imbecis, loucos, covardes, miseráveis. Como podem fazer uma coisa dessas ? O que era aquilo ? Por que aquele carão ? Olhei para o meio da multidão. E vi a cena constrangedora : um bêbado abrindo a boca de um jumento, enquanto outro despejava nela uma garrafa de cachaça. Foi o toque que faltava para o anticlímax. Elba xingava a multidão. Apupos. No dia seguinte, Teresina respirava um ar de gozação. O showmício de Freitas Neto (PFL) foi um desastre. Senti o ar pesado. Pesquisas nos davam 3% de maioria sobre Alberto Silva, candidato do PMDB. Perdemos a campanha de 15 de novembro por 1,66%. O desastre virou o clima. Hoje, quando me perguntam sobre o que é fator imponderável em campanha política, respondo sem hesitar : - É um jumento embriagado no PI. Jobim sobe, Lula age Nos últimos dias, o ex-ministro e ex-presidente do STF, Nelson Jobim, subiu alguns passos na escada do Planalto. Passou a ser uma espécie de embaixador informal junto aos membros das altas Cortes no esforço de defender posições do interesse do governo. Jobim saiu do governo Dilma (1º mandato) agastado com a presidente. Teria sido escanteado. Volta, agora, por cima. Trata-se de um ex-parlamentar que conhece bem as casas congressuais, é um estudioso da política e gosta da esfera da articulação. Diz-se que passou a contar, nos bastidores, com a ajuda de Lula, cuja presença em Brasília tem sido intensa nas últimas semanas. Lula anda renovando seu passaporte de articulador dos bastidores. Estará mais uma vez em Brasília esta semana para ajudar a presidente. Arrefecimento O fato é que, nos últimos dias, a tese do impeachment da presidente perdeu peso. O arrefecimento de ânimos se dá no momento em que a presidente, saindo do casulo, decide fazer ela mesma a articulação com parlamentares do PMDB da Câmara, a partir do líder Leonardo Picciani. E coincide com esta ação quase intestina do ex-ministro Nelson Jobim. O fatiamento da operação Lava Jato seria o primeiro grande desafio vencido por Jobim. Se a estratégia do Planalto se firmar, é possível que a presidente consiga atravessar o olho do furacão previsto para novembro. Viabilidade Será viável a estratégia presidencial de usar de todos os meios à disposição da caneta para resgatar vetores de força do governo ? Consideremos : 1. A mandatária decide negociar diretamente com deputados, abrindo um flanco que pode se expandir na esteira de pressões e barganhas ; 2. O grupo que receberá os cargos não tem compromisso com o amanhã. Age em função do hoje, caracterizado por uma economia recessiva, contrariedade de consumidores e forte possibilidade de intensificação dos movimentos de rua ; 3. Com inflação beirando os dois dígitos, extinção de um milhão de postos formais este ano e expansão do desemprego nos próximos meses, a situação do país se agravará ; 4. Sob este risco, será improvável uma lealdade canina à presidente Dilma por parte do grupo peemedebista aquinhoado com nacos do poder. PMDB da cúpula É visível o desconforto da cúpula do PMDB com as negociações empreendidas pela presidente e os novos articuladores - Ricardo Berzoini e Gilles Azevedo - com parlamentares peemedebistas. Os novos "donos do poder", liderados por Picciani, são perfis considerados de escalão inferior. Dos nomes aventados para ocupar cargos de ministros, pelo menos dois teriam se declarado anti-Dilma em passado recente. A cúpula do PMDB é formada por dirigentes de peso. Que, em momento oportuno, farão valer seu cacife no mando partidário. Por isso, a decolagem do grupo que escala o poder na Esplanada dos Ministérios pode ser entendida como "voo de galinha". Terá pouco alcance. Descerá tão rapidamente como subiu. Marta será candidata Marta Suplicy baixa a testa do orgulho e entra no PMDB com um discurso de conciliação. Vem para somar ; ingressa em um partido plural, aberto, esteio da redemocratização nacional, como ela lembrou em discurso. E faz um brinde expressivo a outros eventuais contendores que pretendam disputar, pelo PMDB, a vaga para a prefeitura de SP em 2016. Gabriel Chalita, por exemplo. Ocorre que o Chalita é secretário de Educação do governo Haddad. E parece gostar do que faz. Seria complicado para ele vir a disputar o cargo ao qual o prefeito do PT se habilitará como candidato à reeleição. Por isso, Marta Suplicy, que detém forte recall nas margens sociais, deverá ser a candidata do PMDB à prefeitura. Pedidos de impeachment Eduardo Cunha, o presidente da Câmara, promete ler e avaliar, a partir desta semana, entre 10 a 15 pedidos de impeachment da presidente Dilma. Na visão deste consultor, Cunha tende a arquivar os pedidos. Mas o Plenário poderá pedir que sejam submetidos à sua decisão. Palavra de Cunha : "Esta semana já despacho alguns. Não vou conversar com ninguém, vou despachar alguns, ler pareceres, pedir mais e tomar decisões em função do que está colocado lá". Reforma depois dos vetos As articulações se intensificam sob o clima de incertezas : se arrependimento matasse, Dilma estaria no velório. O acirramento de tensões é tão forte que não permite, a esta altura, divisar quem vai entrar ou quem vai sair por ocasião da propalada reforma ministerial. O PMDB é uma torre de babel. Com as interrogações se acumulando, há quem defenda a reforma ministerial apenas após a votação dos seis vetos pendentes e integrantes do pacote fiscal. A serem votados hoje, a partir de 11h. A reforma seria anunciada na quinta. PT versus PT A Fundação Perseu Abramo apresentou dois livros-documento com sérias críticas ao ajuste fiscal do governo. "Por um Brasil justo e democrático" é uma espécie de ala B do PT contra a ala A. Marcio Pochmann e Luiz Gonzaga Beluzzo, dois economistas da Unicamp, são os inspiradores da obra. Que acusa interesses dos "grandes bancos e fundos de investimento". Mais dólares na economia Que os tempos estão bicudos em termos de arrecadação, todos sabemos. E mais : onde há crise as oportunidades florescem. A equação econômica colocou o Brasil em promoção. Estamos on sale frente às moedas fortalecidas. O turismo interno, frente ao dólar, ficou mais atrativo. Mas além do fator cambial, existem gargalos que travam a vinda destes dólares para cá, como a questão da exigência dos vistos para turistas estrangeiros. Nesta semana, os deputados terão a oportunidade de reverter um pouco essa situação, com a urgência ao PL 2430 de 2003 do pernambucano Carlos Eduardo Cadoca e que pretende destravar esta amarra na entrada de turistas. Seria de grande ajuda para o turismo nacional e, claro, para nossa economia. Que venham os gringos ! PT, destino O PT terá grandes dificuldades para se refazer enquanto partido. A debandada será grande. Em 2016, o partido fará poucos prefeitos. Alternativa : sair pela tangente à esquerda. Tornar-se um partido com forte carga ideológica. Os atuais líderes, com exceção de Lula, sumiriam do mapa petista. PSDB, destino Os tucanos deverão também começar a desenhar com tintas fortes. Seu escopo está esmaecido. É conhecido como o partido de cima do muro, que "não fede nem cheira". Deverá buscar nitidez programática. E explicar o que vem a ser sua social-democracia. PMDB, destino O PMDB continuará a ser dividido em blocos e mandos estaduais. Tende a aglutinar os partidos médios. Também será instado a pisar em território mais programático. O partido tentará fincar pés na área de um programa com forte viés nacionalista. Identificado com classes médias. E com bandeiras regionais e municipais bem nítidas. O municipalismo pode ser um eixo. PSB, destino O PSB deverá incorporar núcleos de centro-esquerda, sendo alternativa a partidos de viés radicalizante. Estará à procura de uma liderança nacional. PSD, destino Terá lugar na ponta-direita do arco ideológico. Pode abrir espaço para as políticas sociais, sendo representante da direita no assistencialismo às margens. Uma novidade. Os outros, destino Devem encontrar caminhos para a fusão, integração, formação de blocos com os grandes partidos. O economista e o empresário Dois homens andavam de balão e se perderam. Decidiram baixar o balão e perguntar para algum transeunte. - Ei, você poderia nos dizer onde estamos ? - Vocês estão em um balão, respondeu o transeunte. - A resposta é correta e absolutamente inútil. Este homem deve ser um economista, comentou um deles no balão. - E você deve ser um empresário, respondeu o transeunte. - Exato. Como você sabe disto ? - Ora, você tem uma excelente visão de onde está. E mesmo assim você não sabe onde está.
quarta-feira, 23 de setembro de 2015

Porandubas nº 462

Abro a coluna com uma historinha de PE. E fecho com outra uma de AL. Apenas expectorante Reunião de vereadores com o chefe político da região numa pequena cidade de PE. Cada um tinha de falar sobre os problemas do município, reivindicações, sugestões, etc.. Todos falaram alguma coisa, com exceção de um deles, meio acabrunhado no canto da sala. O chefe político cobrou dele a palavra : - E você, amigo, não tem nada a dizer ? O vereador, tonto com a provocação, não teve saída. Respondeu : - Não, doutor, estou apenas expectorante. Abriu a gargalhada dos companheiros espectadores. (Historinha que Geraldo Alckmin me contou.) A reforma de Dilma A presidente Dilma está entre a cruz e a caldeirinha. Precisa entregar alguns ministérios ao PMDB. Mas exigirá aval e integração do partido ao governo. Não será exercício fácil. Primeiro : quais ministérios ? Segundo : quem indicará ? Terceiro : as diversas alas do PMDB serão contempladas ? Vamos aos fatos : o Ministério da Saúde poderá ser entregue à bancada do RJ. O endosso será dado pelo líder Picciani. E as outras bancadas ? A mineira, por exemplo ? E a bancada do PMDB no Senado ? O vice-presidente Michel Temer, Eduardo Cunha, presidente da Câmara, e Renan Calheiros, presidente do Senado, declinaram de indicações. Fizeram muito bem. O dilema da presidente : se correr, o bicho pega ; se ficar, o bicho come. PMDB dividido Seja qual for a fatia que caberá ao PMDB, o fato é que o partido estará dividido. Não adianta capturar o partido com Ministério da Saúde. Que, hoje, é mais um vazio a preencher. Saúde no Brasil está em destroços. Os equipamentos hospitalares estão sucateados. O PMDB tem uma ala que deseja romper com o governo, já ; outra defende rompimento em novembro ; e uma terceira está em cima do muro, a esperar o desempenho da economia. O PMDB tem hoje sete ministérios que, somados, não têm o peso de uma Pasta gorda. Por isso, Dilma tende a fundir Aviação e Portos (novidade), cedendo ainda a Pasta da Saúde ao partido e conservando Turismo, Agricultura e Minas e Energia. Sangue O sangue do corpo do governo continua jorrando. Aos borbotões. Dilma e nenhum dos seus médicos conseguem sustar o fluxo sanguíneo que vaza. O que fazer ? Tentar tampar com a reforma ministerial. Pior será a emenda que o soneto. Fazer reforma em momento de ameaça - decisão sobre vetos presidenciais - é um perigo. Ademais, a corda começa a esgarçar no cabo de guerra que o governo enfrenta com o Congresso. A desaprovação de matérias encaminhadas pelo governo, como a CPMF, quebra a coluna vertebral de Dilma. Renúncia ? Este consultor continua a não acreditar em renúncia. Por conta da índole da presidente. Seu DNA não combina com renúncia. Ocorre que esta palavra passou a ser repetida com frequência nos últimos dias. Até em hostes petistas é repetida. Será ? Comenta-se que até Lula apreciaria um gesto de renúncia para se habilitar ao pleito de 2018 como candidato das oposições. Não pode ventilar isso, ao contrário, promete construir com o povo a muralha de defesa da presidente. Seria um disfarce. Mostra-se, de um lado, solidário, e, de outro, torcedor silencioso por um desenlace que o beneficiaria. Se ela continuar sangrando até 2018, ele, Lula, não teria a mínima chance. As alternativas A cada dia, surgem alternativas : Dilma sai, Dilma fica ; Michel Temer acabaria assumindo e fazendo um pacto nacional ; Michel não assumiria e se afastaria de Dilma. São conjeturas. Este consultor continua apostando na ideia de que a solução - saída/permanência - será dada pelo bolso/barriga das pessoas. Ou seja, pelo aperto mortal que a economia poderá provocar lá para meados de novembro. Povo na rua, barriga roncando, Tribunais decidindo, Congresso votando. Contra Dilma, é claro. E o leit motiv ? Ficará a cargo das Cortes. E se tudo continuar Se as coisas continuarem como estão, teremos : uma economia recessiva corroendo o bolso e inflação subindo ; Dilma sem apoio na base, perdendo todas, mas, sob o manto de orgulho, empurrando o governo com a barriga ; TCU E TSE aprovando pedaladas fiscais e contas de campanha de Dilma ; povo nas ruas, gritaria geral, movimentos grevistas e Dilma achando que o cenário de devastação é apenas miragem ; Lula correndo o país com meia dúzia de gatos pingados ao redor, mas soltando o verbo demagógico ; casas congressuais votando contra e a favor de Dilma, dependendo do projeto ; Joaquim Levy dando lugar a outro, que também não teria condição de avançar ; em dezembro, veríamos um país sem Papais Noéis nas ruas. Um Natal triste e um janeiro sem perspectivas. Um feio desenho. Caindo na real Vamos cair na real ? Essa crise não é coisa corriqueira como os economistas, regra geral, imaginam. Todos eles gostam de dizer : passamos por piores crises. E citam a inflação de 80% ao mês. Lembra-se, Mailson ? Ora, não se trata apenas de uma crise de economia em recessão. Trata-se de uma crise moral, na esteira da maior roubalheira jamais vista, flagrada, denunciada e condenada pelos tribunais. Trata-se de um copo transbordando com as águas da indignação social. Trata-se do flagrante de um partido pego com a boca na botija, com objetivo de construir propinodutos que o levariam a um poder perpétuo. Ora, ora, economistas, não venham querer driblar a crise com números de inflação. Até quando ? Até quando ? Essa crise não terá solução no curto prazo. É uma cadeia de eventos negativos que se imbricam. A crise política continuará, mesmo com reformas cosméticas e prisão de alguns protagonistas do momento. A crise econômica poderá ser debelada com o controle das contas do governo e diminuição do tamanho do Estado. Coisa para quatro a cinco anos. As crises hídrica e energética podem durar um tempo menor. Mas a crise moral não será equacionada da noite para o dia. Não se muda cultura por decreto. A desconfiança, a descrença, a imagem negativa dos atores políticos, essas mazelas continuarão por bem mais tempo. E a Lava Jato ? Todos observam : a operação Java Jato continua a todo vapor. Novas fases se abrem. A última, a Nessum Dorma, chega mais perto de Lula. O procurador Carlos Fernando vê conexão entre mensalão, petrolão e eletronuclear. Todos os dutos de propina saindo de uma fonte só : a Casa Civil do governo Lula. É o que se infere. Mas o ministro Teori Zavascki dividiu a operação. Não vê conexão entre as denúncias sobre recursos que teriam sido repassados para a senadora Gleisi Hoffmann e Lava Jato. Por isso, separou as coisas. Skaf liderando Paulo Skaf, presidente da FIESP, está pouco a pouco vestindo o manto de principal liderança do setor produtivo nacional. Todas as grandes campanhas em defesa da produção e do consumidor são por ele promovidas. Esta última, sobre a CPMF, caiu no gosto do povo. Skaf é uma boa surpresa no estreito território dos líderes nacionais. Mercadante fica Aloísio Mercadante, o chefe da Casa Civil, não cairá. Quanto mais se fala (mal) dele, mais parece prestigiado pela presidente. Mercadante faz ouvidos de mercador. CPMF Se a CPMF passar pelo Congresso, Dilma chegará ao fim do governo. Neste caso, valerá o provérbio : "é mais fácil um camelo passar pelo fundo de uma agulha do que um rico entrar no reino dos Céus". Pimentel Ouvi, ontem, de um sensível e sensato observador da cena mineira : Fernando Pimentel, governador de MG, desapareceu de cena desde que tomou posse. Só deu as caras quando a esposa dele apareceu envolvida em denúncias de favorecimentos. Para Pimentel, passarinho na muda não apenas não pia como simplesmente desaparece. Pezão O governador Pezão, do PMDB do RJ, é o único a prestar fidelidade absoluta à presidente Dilma. Não se ouve isso nem de governador petista. Até quando durará essa fidelidade ? Delfim Delfim Netto continua com a língua afiada e o cérebro tinindo de lucidez. A entrevista que deu, domingo, ao Estadão, é um primor de análise crítica sobre o governo Dilma. Gilmar Pode-se até discordar do ministro Gilmar Mendes, do STF. Mas é admirável sua coragem. Não se faz de rogado. Diz abertamente o que pensa sobre a roubalheira cometida pelo PT. Ouvi sua peroração na OAB/SP, semana passada, em mesa que fui moderador. Ayres Britto Uma voz de bom senso : Carlos Ayres Britto, ex-presidente do STF. Que perfil de equilíbrio. Que alma poética sob a toga preta do juiz. O melhor ministro ? Outrora, era fácil distinguir os ministros e recitar seus nomes. Hoje, essa tarefa é praticamente impossível. Afinal, recite, leitor, 15 nomes de ministros. E qual o melhor ? Fecho a coluna com uma historinha de AL Sonhando com Deus Era o ano de 2006. A campanha ao governo de AL estava "fervendo". Um candidato muito conhecido no Estado pelas presepadas, cujo nome, por motivos óbvios aqui se omite, liderava as pesquisas. Era considerado imbatível. Último debate eleitoral na TV Gazeta. O apresentador passa a palavra ao mais que provável vencedor : - Candidato, após esta intensa campanha eleitoral, o senhor tem 30 segundos para as considerações finais. Fique à vontade para falar. O candidato abriu o verbo : - Povo de AL, ontem eu tive um sonho. Neste sonho, Deus meu dizia : "doutor (fulano de tal), construa hospitais para o sofrido povo deste Estado". A seguir, o apresentador passou a palavra ao outro candidato. Que usou a verve : - Povo de AL, quem sou eu para disputar uma eleição com um homem que Deus o trata por doutor ? O candidato (citou o nome do fulano ) disse há pouco que falou com Deus e Deus disse : doutor fulano de tal. Ora, se Deus chama o meu adversário de doutor, reconheço que não posso fazer melhor do que ele. Vocês não acham que o adversário (fulano de tal) já se considera nomeado por Deus ? E foi assim que o candidato (fulano de tal), líder absoluto nas pesquisas, conheceu a derrota. Perdeu para a própria arrogância. (Essa historinha foi enviada para a coluna por Manoel Pedrosa).
quarta-feira, 16 de setembro de 2015

Porandubas nº 461

Abro, hoje, a coluna com uma parábola e um pequeno conto. A parábola "Há pessoas que não conseguem perceber o que se passa ao seu redor. Não veem que não veem, não sabem que não sabem". O conto Maria cai em um poço e está a 10 metros de profundidade. Olha para os céus e não vê o buraco. Desesperada, começa a escalar as paredes. Sobe um centímetro e escorrega. Passa o dia fazendo tentativas. As energias começam a faltar. No dia seguinte, um agricultor que passava pelo lugar ouviu um barulho. Olhou para o fundo do poço. Enxergou o vulto de Maria. Correu e pegou uma corda. Lançou-a no buraco. Concentrado em seu trabalho, esbaforida, cansada, Maria não ouve o grito da pessoa : "pegue a corda, pegue a corda". Surda, sem perceber a realidade, continua a tarefa de escalar, sem sucesso, as paredes. O homem na beira do poço joga uma pedra. Maria sente a dor e olha para cima, irritada, sem compreender nada. Grita furiosa : - O que você quer ? Não vê que estou ocupada ? O desconhecido se surpreende e volta a aconselhar : - Aí tem a corda, minha senhora, pegue a corda que eu puxo. Maria, mais irritada ainda, responde sem olhar para cima : - Não vê que estou ocupada, ó cara. Não tenho tempo para me preocupar com sua corda. E recomeça seu trabalho. Parábola : "Maria não vê que não vê, não sabe que não sabe". Qualquer semelhança com algum político ou governante é mera coincidência. Pacotão Novo pacote de cortes e impostos coloca governo Dilma no canto do ringue. O objetivo é arrecadar 66 bilhões de impostos. Esta alternativa continua a ser questionada pelos setores produtivos. Mais uma vez, veremos a OAB/SP e FIESP liderando uma frente contra a famigerada CPMF, desta feita cotada para cobrar uma alíquota de 0,20% sobre o valor da transição financeira. Só esta alíquota será responsável por 32 bilhões de receita. Mas foi acordado que nada irá para Estados e municípios, o que torna pouco provável a passagem tranquila pelos plenários das casas congressuais. A não ser que a alíquota seja aumentada para atender a súplica de governadores e prefeitos. O resto do dinheiro O resto do dinheiro será tirado do corte no programa Reintegra (créditos tributários aos exportadores) ; redução do PIS/COFINS na área da indústria química ; na limitação de juros sobre capital próprio (TJLP) e no IRPJ, com dedução de valores para SESI, SESC e SEST ; realocação de recursos do Sistema S para cobrir déficit da Previdência. Não se faz omelete sem quebrar ovos. Desta feita, os ovos de uma granja por muito tempo. Haja cocoricó. Cortes Os setores produtivos reagem : será que o governo vai fazer os cortes que se fazem necessários ou fará uma cosmética em cima de alguns programas ? O fato é que o governo se inclina a cortar parcela dos recursos destinados à agricultura familiar, Pronatec, Fies, ProUni, Bolsa Família, Minha Casa, Minha Vida. Ora, mas esses programas não são dirigidos às classes C, D e E, base principal do eleitorado do PT ? Sim. A querela, então, ganhará mais força. Pois o PT vai reagir ao corte de recursos para suas bases. A chiadeira vai engrossar. Petardos de todos os lados vão fazer feridos. CUT contra governo A CUT é um dos braços de sustentação do governo. Ou era. Agora, posiciona-se contra. Vejam. O presidente da Central, Vagner Freitas, o mesmo que disse que, se necessário, recorrerá às armas para defender Dilma, classifica como "lamentável" o pacote de medidas do ajuste fiscal. A CUT promete lutar contra Levy e seu pacote. Tensões Seja qual for o desenlace que aguarda o pacotão de cortes, o fato é que as relações entre governo e esfera política estarão mais acirradas, ao contrário do que se supunha quando a presidente Dilma parecia inaugurar uma fase de articulação política sob seu direto comando. A CPMF tem pequena possibilidade de passar pela Câmara. Mas os deputados poderão se convencer sobre sua absoluta necessidade. As tensões começam nas hostes do próprio PT, que não se conforma com os cortes em programas que considera vitais para sua sobrevivência. Saídas para a crise O mais abrangente e intenso evento na área dos grandes temas nacionais foi realizado pela OAB/SP, em parceria com a TV Cultura, Instituto de Estudos Avançados da USP e Assembleia Legislativa. Grandes expressões nas esferas da política, da economia e das questões sociais debateram, por dois dias, saídas para a crise. Destaques para o ministro Gilmar Mendes, senador Romero Jucá, empresário Jorge Gerdau e Gustavo Junqueira, presidente da Sociedade Rural Brasileira. Os resultados do evento serão reunidos em um livro, a ser entregue aos congressistas. Bola com o Congresso O governo, navegando à deriva, joga a bola para o Congresso chutar. Renan Calheiros, presidente do Senado, se mostra mais acolhedor que Eduardo Cunha, presidente da Câmara, às próximas investidas governamentais na frente do ajuste fiscal. Como o governo vai tentar passar a CPMF pelas casas congressuais se as verbas orçamentárias destinadas aos próprios parlamentares receberão ajustes ? Quero ver esse milagre. Greve de funcionários ? Já se ouve o ruído nas cercanias do funcionalismo público. Uma greve geral do funcionalismo estaria sendo preparada, caso o governo tente sustar o aumento dos quadros públicos. A paralisia geral das estruturas da administração seria a gota d'água para acelerar a próxima mobilização das ruas. Só mesmo a incompetência abrirá mais um buraco nos costados do governo. Pergunta Por que o governo não encontra meios de cortar R$ 30 bilhões em um orçamento de R$ 1,2 trilhão ? Vai e volta O Fundo Partidário, aumentado este ano para R$ 867, 5 milhões, será cortado em 64%. Vai e volta, vem e vai. Barata tonta. Frebraban Há gente, sim, entidades também, que aprovam o novo pacote de tributos e cortes do governo. A Febraban, por exemplo, a Federação dos Bancos. O sistema financeiro vai muito bem, obrigado. A resposta de Michel Ante a pergunta feita ao vice-presidente Michel Temer, em viagem à Rússia, se a presidente Dilma chegaria ao fim do mandato, foi rápido : tem certeza de que ela vai terminar o mandato. Na verdade, ele falaria na Rússia apenas sobre os assuntos tratados com o governo russo. Ante, porém, a pergunta casca de banana, não teve dúvida : respondeu. Imagine-se a especulação caso não respondesse. Nos últimos tempos, o que o vice diz ganha manchete. O rolo da Caixa Mais um rolo em apuração : a CEF teria descumprido a Lei de Responsabilidade Fiscal ao repassar recursos para programas nos ministérios da Cidade e da Agricultura. E ficou à espera do ressarcimento. Uma pedalada fiscal. O MP está investigando. Menos um A Secretaria de Assuntos Estratégicos está com os dias contados para deixar de ser Ministério. Seu titular acaba de pedir demissão : Mangabeira Unger. Que deverá continuar dando palpites como consultor do governo. Pelo menos, fica fácil para Dilma eliminar a Pasta. Petrobras, menos, menos A Petrobras valia há cinco anos cerca de R$ 280 bilhões de dólares. Hoje, vale R$ 28. Queda de grande despenhadeiro. Nova crise ? Murilo Ferreira, presidente da Vale, deixou a presidência do Conselho de Administração da Petrobras. Diz-se que divergia do presidente da petroleira, Aldemir Bendine. Alegou questões de saúde. Realmente, Petrobras é, hoje, sinônimo de dor de cabeça. Exercícios de decalagem Decalagem (com a, isso mesmo, não decolagem) é a distância entre a posição corretamente prevista de um alvo móvel e a posição real de onde os últimos sinais foram recebidos. Assim, para levar em conta a decalagem, o caçador antecipa, dispara à frente da ave em voo ou de um prato de barro ; aponta, não em direção ao próprio alvo, mas a um ponto previsto na trajetória. Em política, um governante deve ter aptidão para prever e antecipar os problemas que vão surgir. O que a presidente Dilma precisa fazer para melhorar sua taxa de decalagem ? A volta de seu Lunga Pérolas que mandaram para a coluna, atribuídas a "Seu" Lunga, o grande frasista e saudoso cearense. Não garanto que sejam dele. 1. A mulher viu Seu Lunga deitado, de olhos fechados, na cama, com a luz apagada e perguntou : - Você tá dormindo ? Ele : - "Não, tô treinando pra morrer". 2. Seu Lunga levou um aparelho eletrônico para a manutenção e o técnico pergunta : - Tá com defeito ? - Ele : - Não, é que ele estava cansado de ficar em casa e eu trouxe ele para passear. 3. Seu Lunga decidiu sair de casa na hora da chuva. A mulher perguntou : - Vai sair nessa chuva ? Ele : - Não, vou sair na próxima. 4. Um amigo ligou para ele, em sua casa, e indagou : - Onde você está ? Ele : - No Polo Norte ! Um furacão levou a minha casa pra essas bandas ! 5. Mais uma vez, a pobre da mulher faz a pergunta : - Você tomou banho ? Ele : - Não, mergulhei no vaso sanitário ! 6. E mais uma. Na frente do elevador do prédio do INSS, alguém pergunta a Seu Lunga : - Vai subir ? Ele : - Não, não, to esperando o INSS descer pra eu fazer minha inscrição no atendimento.
quarta-feira, 9 de setembro de 2015

Porandubas nº 460

Abro a coluna com uma historinha do RN. Salgar meu pai Historinha do RN, mais precisamente de Macaíba, vizinha à capital, Natal. Em certa administração municipal, constituída em sua grande maioria por pessoas de Natal, um pobre rapaz procurou o gabinete do prefeito com um problema urgente. Era uma sexta-feira. "Meu pai morreu e vim pedir o caixão", suplicou o jovem à secretária natalense da mais fina flor da moderna burocracia. "Hoje não há como atender. O prefeito e todo o pessoal foram a Natal. Volte segunda-feira, está bem?", respondeu a funcionária consciente do dever cumprido. Desolado o rapaz recuou e abriu novamente a porta do gabinete para nova abordagem : "Dona, poderia me arranjar dois reais ?" "Pra quê você quer o dinheiro ?", interrogou a eficiente servidora. "É pra comprar sal grosso, salgar o meu pai até segunda-feira !" Quem conta o "causo" é Valério Mesquita. Michel I Michel Temer é um vice-presidente da República cioso de seus deveres. Trata-se de um perfil sempre alinhado à letra da lei. Educado, equilibrado, tem uma qualidade rara entre os políticos : sabe ouvir. E pondera bastante sobre o que ouve. Costuma concordar com o interlocutor, mesmo que, a seguir, de modo que suave, comece a discordar. Atribui-se a ele a qualidade de "algodão entre cristais". Evita rachaduras, atritos. Dito isso, vale arrematar : não é de seu feitio dar recados com palavras e frases que possam parecer desrespeitosas. Michel II Os episódios em que aparece como pivô e que chegaram a criar certo distanciamento da presidente da República podem ser considerados como eventos comuns à crise. Não se pode negar a gravidade do momento, a necessidade de um ponto de união e a obviedade que nenhum governante tem condições de sustentar por muito tempo uma baixa avaliação, registrada hoje em apenas 7% para a nossa mandatária. Dilma I A presidente é cercada por um grupo de assessores e ministros que não veem como positiva a aliança tática entre PT e PMDB. Sabe-se, por exemplo, que Aloísio Mercadante exerce grande influência sobre a presidente. Mas não faria parte do grupo de Lula. Por isso mesmo, tem sido considerado um entrave na relação entre a presidente e os partidos políticos. Com a saída de Michel Temer da articulação política do varejo, esse papel tende a ser acumulado por Mercadante e, nas planilhas, por Giles Azevedo, assessor de confiança da presidente. Mercadante arrisca-se a aumentar as restrições que a área política tem contra ele. Dilma II Dilma retira parcela do poder dos chefes militares, transferindo algumas decisões - política de pessoal das Armas - para o Ministério da Defesa. Na visão desse analista, trata-se de uma posição que não deve ter agradado às cúpulas militares. A presidente desarruma mais ainda a desorganizada estrutura de mando. Lula Luiz Inácio tem dado muitos conselhos à presidente Dilma, particularmente no que se refere à articulação política. É o que se lê nos jornais. A relação da presidente com o PMDB é crítica. Lula sabe que as crises políticas da contemporaneidade se devem às precárias relações com os partidos, principalmente com o PMDB. O ex-presidente demonstra desejo de ajudar, mas tem papel limitado. Promete correr o país na tentativa de salvar o PT do naufrágio em 2016. E se Dilma sair do governo, Lula poderia viabilizar sua candidatura de oposição "aos governantes que comandam o país" (claro, projeta-se essa frase para 2018). Mercadante O chefe da Casa Civil, Aloísio Mercadante, parece mais talhado para lidar com a feição econômica do que com a feição política. Por isso, se for consolidado como articulador político, poderá ser uma espécie de macaco em um armário de louças. Mercadante teria vontade de viabilizar seu nome para o futuro, como candidato à presidente pelo PT. A ala lulista brecará. O ministro navega nas águas das investigações. O tiroteio contra ele tende a se expandir nas próximas semanas. Levy É patente que o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, perdeu força nas últimas semanas. E quem teria levado parte dessa força perdida ? Nelson Barbosa, o ministro do Planejamento, agora escalado para dar o tom maior da economia. Teria este o apoio de Mercadante. De sua cabeça teria saído a ideia de ressuscitar a CPMF. Na Europa esta semana, Levy tenta convencer empresários que a economia começa a se recuperar. Uma inverdade. A crise econômica terá muito fôlego. Edinho Edinho Silva, o ministro da Secretaria da Comunicação Social, está sendo investigado. Deve entrar na relação do STF e, nessa condição, abre mais um alvo contra o governo. Não é conveniente continuar sendo o porta-voz do Governo. Seria um ato de grandeza se os ministros arrolados na lista da Lava Jato pedissem licença de seus cargos até a conclusão das investigações. Zavascki O ministro Teori Zavascki dará o tom da Lava Jato na orquestra política. Dele dependerão os pedidos de investigação, os despachos para ouvir os indiciados, a reunião de provas, etc. O futuro de muitos políticos estará em suas mãos. Mendes O ministro Gilmar Mendes é visto como o aríete a furar os dutos das contas de campanha da presidente Dilma no TSE. Tem acusado o procurador-Geral da República, Janot, de agir como advogado de defesa da presidente. Ao fazer isso, Mendes ultrapassa o limite da linguagem sóbria que cabe aos membros da mais Alta Corte. Mas a insinuação do ministro Gilmar até provocou uma reação de Janot, que propõe a investigação das contas de campanha da presidente. Ou teria sido coincidência ? Moro O juiz Sérgio Moro continua a fazer seu árduo trabalho na primeira instância, estourando dutos e malhas intestinas que agem nos subterrâneos da administração pública. Nos últimos tempos, Moro tem aparecido em muitos eventos como palestrante. Talvez não seja muito conveniente a super exposição do juiz Moro. Deveria conter mais o verbo. Para não ser engolido pelo Estado-Espetáculo. Haddad O prefeito Fernando Haddad começa a ser identificado como Raddard, o boneco que vai desfilar na campanha de candidatos de oposição em 2016. Calcula-se que os radares de SP vão encher os cofres da municipalidade. Este consultor político ouviu dois números : R$ 500 milhões e R$ 1 bilhão. Leu também que as novas placas nas marginais, mudando a velocidade, foram encomendadas a uma empresa da capital, ao custo, cada, de R$ 1.000. Um possível candidato a vereador em 2016 garante que o preço oferecido a ele, para a confecção do mesmo tipo de placa, é de R$ 80. Marta Marta Suplicy vai lutar com todas as forças para ser a candidata do PMDB à prefeitura de SP em 2016. Tem um grande recall. Ex-prefeita, consegue ainda reunir uma grande bacia de votos nas margens. Teria condições de explorar bem o céu Educação. Mas não tem vivência com o PMDB. Terá de conquistar o partido e evitar a autossuficiência. Marta, diz-se, não se guia por cartilhas de outros. Esse é um busílis a enfrentar. Andrea Andrea Matarazzo parece ter, hoje, o maior número de apoiadores no Colégio eleitoral que escolherá o candidato tucano. Hoje. Amanhã, porém, pode ser ultrapassado por outros contendores, eventuais pré-candidatos, como o esforçado João Doria. João abre apoios por muitos lados. É conhecido pela capacidade de aglutinar. Não é jejuno em política, como se pensa, sendo um tucano dos velhos tempos. Seu pai, de mesmo nome, foi deputado Federal e cassado. Obstinado, não será fácil para os outros passarem a perna nele. Os deputados Federais Bruno Covas e Ricardo Tripoli pensam em um acordo de união entre eles. Doria João Doria é um aglutinador. Um perfil-imã. Liga um com outro, junta grupos, reúne equipes. E tem extrema facilidade com a expressão, seja na interlocução direta, seja na exposição de rádio e TV. Dos pré-candidatos tucanos, é quem melhor desempenha a arte da palavra. Claro, deverá encontrar fortes adversários - Andrea Matarazzo, por exemplo - nas prévias partidárias. Datena Este consultor acredita que José Luiz Datena não deve ser candidato. Até poderia fazer barulho. Mas a candidatura do apresentador de TV seria um ponto muito fora da curva. Campanha exige muito dinheiro. Datena teria mais essa dor de cabeça. Cunha Eduardo Cunha será o mestre-sala da política nas próximas semanas. Vamos acompanhar como o STF agirá no que diz respeito às investigações envolvendo o presidente da Câmara. Uma coisa parece certa : ele não renunciará ao cargo de presidente da Câmara. Na visão deste consultor, ficará até o término da legislatura. Renan O presidente do Senado, Renan Calheiros, poderá ser contemplado com fatia maior na próxima recomposição do Ministério. Um dos nomes que poderiam ser reconduzidos à posição de ministro é o de Vinicius Lajes, ex-ministro do Turismo, muito bem avaliado por seu perfil técnico e capacidade de liderança. Marketing eleitoral À guisa de orientação, este consultor oferece pequenas lições de marketing eleitoral que podem alimentar o planejamento da campanha de 2016. Planejamento A eleição de um candidato depende do momento, das circunstâncias, da temperatura social, dos versos e reversos da economia, do perfil dos adversários, dos debates e combates na arena eleitoral, dos climas regionais, da força da mídia eleitoral (significando tamanho dos programas eleitorais), dos inputs momentâneos (uma crise abrupta, um caso espetaculoso) - enfim, de uma escala de elementos ponderáveis e imponderáveis. Os fatores imprevisíveis abrem as possibilidades. Única verdade : peru não morre de véspera. Viabilidade Carlos Matus, cientista social chileno, em um magistral estudo sobre Estratégias Políticas, demonstra que a viabilidade de um ator na política tem a muito que ver com a estratégia e seus princípios fundamentais. Eis alguns princípios estratégicos : a) Avaliar a situação ; b) Adequar a relação recurso/objetivo ; c) Concentrar-se no foco ; d) Planejar rodeios táticos e explorar a fraqueza do adversário ; e) Economizar recursos ; f) Escolher a trajetória de menor expectativa ; g) Multiplicar os efeitos das decisões ; h) Relacionar estratégias ; i) Escolher diversas possibilidades ; j) Evitar o pior ; k) Não enfrentar o adversário quando ele estiver esperando ; l) Não repetir, de imediato, uma operação fracassada ; m) Não confundir "reduzir a incerteza" com "preferir a certeza" ; n) Não se distrair com detalhes insignificantes ; o) Minimizar a capacidade de retaliação do adversário. Importar modelos Importar modelos é uma prática lastimável. Na campanha presidencial da Argentina de 1999, uma peça produzida por um marqueteiro brasileiro mostrava o candidato governista, Eduardo Duhalde, cabisbaixo, e um locutor dizendo : "Você acha justo o que estão fazendo com ele ?" Para a machista sociedade argentina, um candidato que se apresenta como perdedor é o retrato de uma tragédia. A peça provocou a ira implacável da mulher do candidato, Hilda. A cultura argentina não cultiva tanto a emoção quanto a brasileira. O trabalho, considerado amador, provocou a queda de Duhalde nas pesquisas. Foram torrados US$ 25 milhões em dois meses. Regrinhas para candidatos Primeira orientação para um candidato : procurar saber para onde vai o vento, descobrir o rumo a seguir. Cada município comporta modelagem própria : condições geográficas, proporção entre votos das áreas urbanas e rurais, demandas regionais (bairros), cultura das comunidades, infraestrutura, colchões sociais (confortáveis/desconfortáveis), linguagens comuns, líderes populares, tipos folclóricos, caciques e elites, meios de comunicação, etc. Colocar todos esses ingredientes no liquidificador e extrair o caldo grosso. Bebericar em doses pequenas apurando o gosto. Adicionar pitadas dos elementos que faltam no caldo. Testar essa receita entre agosto e outubro de 2016.
quarta-feira, 2 de setembro de 2015

Porandubas nº 459

A coluna de hoje está recheada com historinhas do Churchill. E com um "causo" dos idos de 64. D'água ! D'água ! Historinha dos tempos de chumbo ! Newton Coumbre, pernambucano atrevido, passava em frente ao quartel de Obuzes de Olinda, logo depois do golpe de 64, levando uma bomba d'água enrolada em jornal. Dois sentinelas, fuzis em punho, avançaram sobre ele aos tapas e pontapés : - O que é isso ? - D'água ! D'água ! Mandaram jogar o embrulho no chão e levaram-no até o coronel : - O que é que tem no embrulho ? - Uma bomba d'água. - Por que não disse logo e ficou dizendo "d'água" ? - Ora, Coronel, eu fui dizendo só "d'água" e eles me bateram muito ; imagine se eu dissesse "bomba" ; aí teriam me fuzilado. O mês da Pátria Setembro é o mês da Pátria. 7 de setembro se aproxima. O que é uma Pátria ? Vejamos a definição dada por José Ingenieros, o celebrado escritor argentino, em seu memorável O Homem Medíocre : "Os países são expressões geográficas, os Estados são formas de equilíbrio político e uma Pátria, mais que isso, é um sincronismo de espíritos e de corações, uma comunhão de esperanças". Temos motivo para comemorar a Pátria ? Ou estamos ainda longe de enxergar seus pilares morais ? Deixo a pergunta na consciência de cada um. Buraco no orçamento O Orçamento enviado ao Congresso, com 30 bilhões de déficit, ameaça o grau de investimento do país. O governo esperava cobrir esse rombo com uma eventual receita da CPMF. Implodida em tempo. Pois se chegasse às casas legislativas, seria fragorosamente derrotada. Foi um aviso do vice-presidente da República, Michel Temer, que salvou o governo de mais uma derrota. Ele, Michel, nem sabia dessa tratativa desastrosa do Palácio do Planalto. E avisou que não trabalharia a seu favor. Sem essa receita, o Orçamento chegou ao Congresso exibindo um formidável buraco. Mas de que adiantaria cobrir o buraco com uma improvável receita da CPMF ? Ora, ela seria derrotada e o buraco continuaria. Churchill 1 O General Montgomery estava sendo homenageado, pois venceu Von Rommel na batalha da África, na 2ª Guerra Mundial. Discurso do General Montgomery : "Não fumo, não bebo, não prevarico e sou herói." Churchill ouviu o discurso e, com seu eterno charuto, retrucou : "Pois é, eu fumo, bebo, prevarico e sou chefe dele." Aumento da carga ? A Receita apresenta medidas para elevação de carga tributária com o objetivo de arrecadar cerca de R$ 11,2 bilhões em 2016. Entre elas : a revisão nos cálculos do Imposto de Renda e da Contribuição Social sobre Lucro Líquido ; a tributação de bebidas como vinhos e destilados ; o aumento do IOF em operações de crédito do BNDES e a revisão da desoneração do PIS/COFINS de computadores, smartphones e tablets. Atualmente, de tudo o que o indivíduo produz, 35% retornam para os governos estaduais e federal para o pagamento de impostos. Afastamento de Temer O articulador político do governo, Michel Temer, pouco a pouco se afasta dessa tarefa. É conhecida sua índole de harmonizador, pacificador, construtor de consensos. Diz-se dele : é algodão entre vidros. Ocorre que não tem recebido tratamento condigno com suas altas funções. Frequentemente, o Planalto deixa-o à margem de importantes decisões. E, pasmem, cobra dele aprovação para matérias que passaram ao largo de seu conhecimento e aprovação. É fácil deduzir que alguns negam a ele a lealdade que ele devota à presidente. O que fazer ? O que o âmago recomenda : um afastamento lento e gradual. Sem rupturas bruscas nem liturgia espalhafatosa. Essa é a impressão que se tem. Se o governo tinha dificuldades na articulação política, imagine-se agora sem o comando efetivo de Michel Temer nessa frente. Duas bandas O PMDB tem duas bandas, uma que se inclina a se afastar do governo imediatamente, outra que prega um afastamento lento e gradual. A banda que quer se afastar de imediato faz mais barulho, na esteira da desorganização da gestão e da baixíssima aprovação da presidente. Outra, pragmática, que conserva posições na estrutura governativa. Mas, na hora H, mais conveniente ao partido, essas alas tendem a um acordo. Congresso do partido Um exemplo das duas visões do PMDB se dá em relação ao Congresso partidário, marcado inicialmente para 15 de novembro. Seria o momento para o partido apresentar seu Programa ao País, sua proposta de candidaturas no maior número possível de prefeituras e a decisão sobre candidatura própria à presidência em 2018. Mas há uma ala que defende congressos regionais, uma forma de evitar conflitos e dissensões por ocasião de um grande evento nacional. Essas posições ficarão mais claras no semestre em curso. Churchill 2 Telegramas trocados entre o dramaturgo Bernard Shaw e Churchill, seu desafeto. Convite de Bernard Shaw para Churchill : "Tenho o prazer e a honra de convidar digno primeiro-ministro para primeira apresentação de minha peça Pigmaleão. Venha e traga um amigo, se tiver". Resposta de Churchill : "Agradeço ilustre escritor honroso convite. Infelizmente não poderei comparecer à primeira apresentação. Irei à segunda, se houver". A luz de Lula Luiz Inácio continua muito preocupado com o futuro do PT. Quer ser a luz no fim do túnel. Ensaia viagens pelo país como receita para alimentar a militância. O PT fechará esse ciclo político sob a imagem totalmente chamuscada. Lula quer reinventar a sigla. Como ? Refazendo seus rumos e fechando compromissos entre o PT e os movimentos sociais. Logo, deduz-se : para sobreviver, a sigla precisa de resgatar sua imagem perante os bolsões mais críticos e exigentes. Significa um PT reinserido na margem esquerda do arco ideológico. Hoje, circula no centrão desideologizado. Uma sigla como outra qualquer. AMLID A presidente parece uma governanta à procura de um rumo. Não sabe para onde e como caminhar. Perde a articulação política de Michel Temer, começa ela mesma a ouvir as queixas de parlamentares, afundando-se na baixa política, cerca-se de uma corte de áulicos, não sabe de onde tirar mais dinheiro para pagar as contas do governo e continua a expressar uma linguagem confusa. DILMA desenha a imagem de AMLID, o seu contrário, um nome estranho. Churchill 3 Quando Churchill fez 80 anos, um repórter de menos de 30 foi fotografá-lo e disse : - Sir Winston, espero fotografá-lo novamente nos seus 90 anos. Resposta de Churchill : - Por que não ? Você me parece bastante saudável. Barbosa, mais força Nelson Barbosa teria tomado o bastão das mãos de Joaquim Levy. É o que se comenta nesses últimos dias. Expande-se a impressão de que o ministro do Planejamento tem se tornado mais duro e inflexível do que o ministro da Fazenda, ao gosto da presidente Dilma. Tem, assim, entrado na seara do Joaquim. De leve. Minoria ? Perguntam-me : é possível a presidente Dilma governar sem maioria na Câmara dos Deputados ? Respondo : não vejo como. Pedaladas e contas de Campanha As análises das contas da Campanha pelo TSE e das pedaladas fiscais do governo pelo TCU constituem os dois fantasmas que amedrontam a presidente Dilma. Para as pedaladas, sobe o gráfico de desaprovação, enquanto o gráfico das contas de campanha desce. Mas, cada dia sua agonia. Pode ser que, na próxima semana, as coisas se invertam ou fiquem mais desajustadas. Churchill 4 Bate-boca no Parlamento inglês. Aconteceu num dos discursos de Churchill em que estava uma deputada oposicionista, Lady Astor, conhecida pela chatice, que pediu um aparte (sabia-se que Churchill não gostava que interrompessem os seus discursos, mas concedeu a palavra à deputada). E ela disse em alto e bom tom : - Sr. Ministro, se Vossa Excelência fosse o meu marido, eu colocava veneno em seu chá ! Churchill, lentamente, tirou os óculos, seu olhar astuto percorreu toda a plateia e, naquele silêncio em que todos aguardavam, mandou : - Nancy, se eu fosse o seu marido, eu tomaria esse chá com prazer ! Reforma política Espera-se com muita expectativa o relatório do habilidoso senador Romero Jucá (PMDB-RR) sobre a reforma política. Jucá está atento à real politik, à política como ela é. Certamente, deverá cuidar de aspectos que a Câmara dos Deputados deixou ao largo. Trata-se de um dos senadores mais experientes e gabaritados do Senado. Aplausos Se o governo Dilma recebe apupos dos setores produtivos, o vice-presidente da República, Michel Temer, colhe aplausos. Nesta última segunda-feira, durante palestra para uma grande plateia de empresários e executivos, Michel foi aplaudido duas vezes : a primeira, ao dizer que "não há mais espaço para aumento de carga tributária no pais" e a segunda, quando disse que não é possível governar com 33 partidos, criticando o amalgamento das siglas partidárias, que perderam suas doutrinas e ideologias. Aécio na berlinda Ninguém se encontra a salvo da lupa dos controles. O TSE também investiga as contas do senador Aécio Neves na campanha de 2014, quando disputou a presidência. Quem se salvou, por enquanto, foi o senador Antonio Anastasia. Picciani afastado ? Conversa de bastidor : Leonardo Picciani, guindado à liderança do PMDB pelas mãos do ex-líder da bancada e hoje presidente da Câmara, Eduardo Cunha, teria acertado seus cargos na estrutura governativa. Conversou com a presidente Dilma. Diz-se que seria uma traição a Cunha. FHC e o Psol Esta é surpresa : o ex-presidente Fernando Henrique, que sempre foi acossado pelo Psol, recebe a liderança deste partido de extrema-esquerda e promete ajudar a sigla, tentando evitar que a cláusula de barreira alcance seus limites. A durona ex-deputada Luciana Genro liderou a conversa com FHC. No confessionário Numa cidadezinha de Minas, Padre Elesbão estava esgotado de tanto ouvir pecados, ou, como dizia, besteiras. Decidiu moralizar o confessionário. Afixou um papelão na porta da Igreja, dizendo : O Vigário só confessará :2ª feira - As casadas que namoram3ª feira - As viúvas desonestas4ª feira - As donzelas levianas5ª feira - As adúlteras6ª feira - As falsas virgensSábado - As "mulheres da vida"Domingo - As velhas mexeriqueiras O confessionário ficou vazio. Padre Elesbão só assim pode levar vida folgada. Gabava-se : - Freguesia boa é a minha... lá, mulher só se confessa na hora da morte !
quinta-feira, 27 de agosto de 2015

Porandubas nº 458

Abro a coluna com uma historinha de sapiência Em 5 anos, tudo pode ocorrer Um poderoso sultão, sábio entre os sábios, possuía um camelo muito inteligente. Obedecia a todas as ordens que nem precisavam ser emitidas de viva voz. Faltava-lhe apenas o dom da palavra. Esse detalhe entristecia sobremaneira o sultão. Um dia, decidiu convocar o Grande Conselho e chamou o grão-vizir. - Quero que ensine meu camelo a falar ! - Mas isso é impossível. - Cortem-lhe a cabeça ! Tragam-me o adjunto ! Mesma afirmação de desejo sultanesco, mesma resposta, mesma sentença. A cena repetiu-se diversas vezes e cabeças rolaram. Exasperado o sultão declarou. - Aquele que ensinar meu camelo a falar será meu grão-vizir. Silêncio ! O sultão repetiu a exortação. Eis que surgiu um humilde ajudante de cozinheiro. Disse : -Dá-me, ó incomparável senhor, um prazo de cinco anos, e farei falar teu camelo. Estupefação geral. Seguida do cumprimento da promessa. -Doravante, és meu grão-vizir ! Mas se falhares, sabes o que te espera ! - Bem sei ! Encantado, o jovem fez profunda reverência e saiu correndo para dar a boa notícia à esposa. - Infeliz, acabas de assinar tua condenação. - Não é bem assim, meu bem. Pedi cinco anos. Você sabe que muitas coisas poderão acontecer em cinco anos : morre o camelo, morre o sultão... (Fábula enviada pelo atento Alexandru Solomon. "Nada a ver com o Mensalão, Lava Jato e outras questiúnculas....") O fio das tensões O fio das tensões continua a ser puxado. A acareação entre Aberto Youssef e Paulo Roberto Costa na CPI da Petrobras deixou mais interrogações que certezas. O primeiro garante que depoimentos de novos delatores deverão mostrar se houve ou não propina para a campanha de Dilma. O segundo disse nunca ter tratado desses temas com Lula ou Dilma. Youssef chegou também a dizer que tudo era decidido sob o conhecimento do Palácio do Planalto. O fio continuará a ser puxado. Impeachment muito longe A ideia de impeachment vai se afastando do terreno da probabilidade. A base governista toma fôlego com os 500 milhões de reais que estão sendo distribuídos para atender emendas parlamentares. É oxigênio a vitalizar o corpo do governo Dilma. Eduardo Cunha, por sua vez, não quer ver sua imagem dentro do pacote da vingança. Teme perder em plenário eventual pedido de abertura do processo de impeachment. E desafia o MP a mostrar prova contra ele. Até agora, diz, não se viu um cheque, contracheque, ordem de pagamento, uma prova documental que o envolva. Saídas para a crise I Uma agenda que contemple saídas para a crise começa a ser discutida no Congresso. E na mídia. A TV Cultura, a OAB/SP, o Núcleo de Estudos Estratégicos da USP e Assembleia Legislativa de São Paulo promoverão intenso debate sobre o assunto. Analisemos a questão. A bonança só virá após passar a tempestade. A borrasca atinge principalmente o atlântico da economia. Ora, a calmaria nas águas da economia não virá naturalmente. Depende de fatores externos e internos. Os externos se ligam à conjuntura internacional. Não dependem do nosso controle. Os internos abrigam medidas para conter a gastança e aumentar a poupança interna. A demora dessas medidas prolongará a tempestade. Daí a pressa do ministro Joaquim Levy pela aprovação do pacote fiscal. Ocorre que chegou ao Senado já desidratado. Por isso, a calmaria não virá de imediato. Saídas para a crise II Para complicar a equação, há outro oceano que também está borrascoso. É o oceano índico da política. Suas Excelências, os congressistas, lutam para manter suas reservas eleitorais. Precisam, para tanto, mostrar serviço em suas regiões. Carecem de verbas, recursos para atender compromissos e promessas. Acabam de receber 500 milhões tirados de um orçamento apertado. O que isso significa ? Uma retirada pesada de grana dos cofres do Tesouro, que vai significar mais obstáculo para o ministro Levy cumprir a missão de equilibrar as ondas econômicas. E, agora, como resolver esse aparente impasse ? Saídas para a crise III Uma boa alternativa seria a formação de um pacto pela governabilidade, reunindo Executivo, Legislativo e os setores produtivos. Será inviável qualquer alternativa que não imponha sacrifícios e limites. Os círculos de negócios terão de se conformar com baixa lucratividade no período de vacas magras, os políticos precisam compreender que o ciclo de aperto exige contenção de despesas e menos recursos para atendimento às demandas políticas e o Executivo, em meio às pressões e contrapressões, deverá se esforçar para evitar o naufrágio de sua embarcação. Não será fácil. A política chegou a um curso de intensa polarização. As bandas estão açodadas. Os setores produtivos estão no limite de suas possibilidades. Saídas para a crise IV O pacto pela governabilidade comportaria, necessariamente, um amplo programa de mudanças, a partir das reformas política, eleitoral, fiscal/tributária. O apaziguamento dos contrários, pelo menos no ciclo mais acirrado da crise, é tarefa hercúlea. Como chegar a um consenso em matérias tão polêmicas como sistema de voto, tributos e redistribuição de receitas, guerra fiscal, etc.? Se houver vontade política, tudo se conseguirá. Com repartição de sacrifícios, claro. Quem comandará o processo ? Que perfil terá condições de comandar este processo ? A atual mandatária ? Teria ela condições de fazer voltar a confiança, a auto-estima, a esperança dos brasileiros ? Esse é o imbróglio da toda a questão. A maioria das pessoas acha que ela não teria condições de chefiar um novo projeto para o Brasil. Muitos apontam o vice-presidente da República, Michel Temer, como eventual artífice dessa construção. Mas essa também é uma alternativa complicada, pois exigiria a renúncia da presidente. Este termo não combina com a índole da mandatária. E o impeachment ? Hipótese muito distante. Corajosa, admirada Um dirigente de uma grande empresa brasileira confessa a este escriba : "a presidente Dilma faria um gesto de grandeza cívica caso renunciasse. Não apareceria como derrotada. Emergiria como pessoa corajosa. Melhoraria sua imagem. Reconheceria as dificuldades da conjuntura e a impossibilidade de levar adiante um projeto de reconstrução nacional. Seria aplaudida. Não sairia como derrotada. E até daria chances ao PT de se viabilizar, como partido, às eleições de 2018, com Lula candidato. Esse desenho seria o mais viável e o menos curto para o Brasil refazer o caminho do desenvolvimento". Nome, quem ? As saídas para a crise esbarram, portanto, em um nome. Quem guiará o país nos próximos tempos ? O vice é o nome mais indicado. Mas, por sua índole, não é dado a maquinações, emboscadas, saídas ao arrepio da lei. Trata-se de um professor de Direito Constitucional que preza a lei a ordem. A par da fidelidade. A não ser que seu partido, o PMDB, tome a decisão de se afastar do governo. Essa é outra história. E essa data é mais ou menos consenso, a partir da decisão a ser tomada pelo Congresso do partido em novembro. Nessa ocasião, o PMDB apresentará um projeto ao país e tomará a decisão sobre candidaturas próprias aos pleitos de 2016 e 2018. O grande Rosa Guimarães Rosa, o grande escritor mineiro, prezava o que chamava de 'Relações Exteriores', ou seja, suas relações pessoais com terceiros. O velho Rosa alinhava as normas de sua 'mineirice', dentre as quais Zé Abelha nos brinda com essas : "Combater a expansividade, em todas as suas formas. De uma maneira geral, é preciso guardar silêncio". "Dominar todos os impulsos. Não comunicar notícias, não transmitir novidades". "Never explain, never complain". (Nunca explicar, nunca queixar-se !) "Não ser afirmativo (dogmático) nem demonstrativo (explicativo)". "Não expressar nunca as nossas impressões, especialmente as que resultam das conversações que ouvimos". "Cada exclamação, cada palavra, cada gesto - conservador - aumentam nossas reservas". "Moderar todos os movimentos expressivos e dar apenas mui ligeiras mostras de emoção, surpresa, alegria, descontentamento". Redução de ministérios Reduzir os ministérios de 39 para 29 tem um efeito mais simbólico. Dá ideia de corte de despesas, enxugamento da máquina administrativa. Mas é algo como cobrir um santo e descobrir outro. As estruturas serão unificadas, mas os programas e equipes deverão apenas mudar de status no papel. Por quê ? Ora, os partidos da base não vão querer perder os espaços conseguidos na velha estrutura. Poderemos assistir a uma briga de foice às claras, caso as mudanças sejam feitas. Terceirização Terça-feira, um importante grupo de dirigentes de entidades ligadas à terceirização e ao trabalho temporário foi recebido pelo presidente do Senado, Renan Calheiros. Que teve oportunidade de ouvir sugestões, observações e aspectos polêmicos do projeto 4330, que tramita pelo Senado. Falaram na oportunidade Vander Morales, presidente da Fenaserhtt e do Sindeprestem (Federação Nacional e Sindicato das Empresas de Terceirização e de Trabalho Temporário no Estado de São Paulo) ; Genival Beserra, presidente do Sindeepres (Sindicato dos Empregados em Empresas de Prestação de Serviços a Terceiros) ; Vivien Mello Suruagy, presidente do Sinstal (Sindicato Nacional das Empresas Prestadoras de Serviços em Telecomunicações) ; Jorge Vasquez, coordenador da Câmara de Trabalho Temporário do Sindeprestem ; Amâncio Barker, assessor político do Sindeepres ; José Carlos Teixeira, presidente do Sinserht (Sindicato das Empresas de Prestação de Serviços e Trabalho Temporário no Estado de Minas Gerais) ; Mario César Ribeiro, presidente do Sindeepres (Sindicato das Empresas de Prestação de Serviços no Estado do Espírito Santo). Este consultor/escriba fez a coordenação do Grupo. Desemprego na GSP A taxa de desemprego na região metropolitana de SP aumentou de 13,2% em junho para 13,7% em julho, de acordo com a Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED), realizada pela Fundação Seade e pelo Dieese. Foi a sexta alta mensal consecutiva. Em julho do ano passado, o desemprego na região era de 11,4%. No município de SP, o desemprego subiu de 13,5% para 13,8%, enquanto nos demais municípios da Grande SP houve aumento de 12,8% para 13,6%. Ética e razão Uma questão recorrente : o que impulsiona a onda ética que se propaga por quase todas as regiões brasileiras ? Em primeiro lugar, o despertar da racionalidade. O Brasil está deixando para trás o ciclo da emoção. A sociedade toma consciência de sua força, da capacidade que tem para mudar, pressionar e agir. Vivemos em pleno ciclo da autogestão técnica. Trata-se de uma aculturação lenta, porém firme, no sentido do predomínio da razão sobre a emoção. O crescimento das cidades e, por consequência, as crescentes demandas sociais ; o surto vertiginoso do discurso crítico, revigorado por pautas mais investigativas e denunciadoras da mídia nacional ; o sentimento de impunidade que gera, por todos os lados, movimentos de revolta e indignação ; e, sobretudo, a extraordinária organicidade social, que aparece na multiplicação das entidades intermediárias e nos movimentos de rua, hoje um poderoso foco de pressão sobre o poder público - formam, por assim dizer, a base do processo de mudanças em curso. Melhorar o discurso Como melhorar o discurso ? Lubrificando suas alavancas. Há quatro tipos : 1. Alavancas de adesão - Discurso voltado para fazer com que a população aceite os programas, associando-se a valores considerados bons. Nesse caso, o candidato precisa demonstrar a relação custo-benefício da proposta ou da promessa. 2. Alavancas de rejeição - Discurso voltado para o combate a coisas ruins (administrações passadas, por exemplo). Aqui, o candidato passa a combater as mazelas de seus adversários, os pontos fracos das administrações, utilizando, para tanto, as denúncias dos meios de comunicação que funcionam como elemento de comprovação do discurso. 3. Alavancas de autoridade - Abordagem em que o candidato usa a voz da experiência, do conhecimento, da autoridade, para procurar convencer. Sob essa abordagem, entram em questão os valores inerentes à personalidade do ator, suas qualidades pessoais. Quando se trata de figura de alta respeitabilidade, o discurso consegue muita eficácia. 4. Alavancas de conformização - Abordagem orientada para ganhar as massas e que usa, basicamente, os símbolos da unidade, do ideal coletivo, do apelo à solidariedade. É quando o político apela para o sentimento de integração das massas, a solidariedade grupal, o companheirismo, as demandas sociais homogêneas.
quarta-feira, 19 de agosto de 2015

Porandubas nº 457

Abro a coluna com pitadas de humor, pinçadas dos hilários "causos" narrados pelo amigo Sebastião Nery, em seu Folclore Político. Uni-vos Do escritor Graciliano Ramos ao escritor James Amado (irmão caçula de Jorge Amado) - A Revolução Socialista não foi feita no Brasil por causa do português. Pichavam nos muros o slogan de Marx : - "Trabalhadores do mundo, uni-vos". - Mas quem pichava e quem lia não sabia o que era uni-vos. Nem você, Maria ? Romeu de Avelar, jornalista, escritor, candidatou-se a deputado em Alagoas. Um desastre. Na seção em que votou com a mulher, apareceu apenas um voto. - Mas, Maria, nem você votou em mim ? - Querido, todo dia, no café da manhã, você me dizia que já estava eleito. Para não desperdiçar meu voto, votei no compadre Chiquinho. O jardim Pedro Duarte de Oliveira, chefe de gabinete do deputado Guilherme Palmeira, presidente da Assembleia Legislativa, saiu candidato a vereador em Maceió, pela Arena. Foi fazer comício em um bairro : - Vejo aqui um jardim. Os homens são as plantas. As crianças são as rosas. As mulheres, as trepadeiras. Não acabou. Derrubaram-no do palanque. P. S. Bem feito, queria bancar o machista (Nota da coluna) João Botelho (1908-1976), interventor no PA, ex-deputado estadual e Federal, constituinte em 1946, fazia, ele próprio, o alistamento eleitoral do interior. Foi a Tucuruí. - Caro amigo : o seu nome ? - Pedro. -Pedro ? Nome do apóstolo, fundador da Igreja, discípulo de Cristo. "Pedro, tu és a pedra e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja". Belo nome, belo nome. Pedro de quê ? - Da Silva. - Silva ! O senhor sabe que pertence a uma das famílias mais importante do Brasil ? Não há Estado, cidade, vilarejo, em que não haja um parente seu. Silva, Pedro Silva. Que nome ! -Data do nascimento ? - 7 de setembro de 1930. - O meu dileto amigo nasceu no Dia da Pátria, no ano da grande revolução. É um privilegiado. Pedro Silva do dia 7 de setembro, é demais. Nomes de seu distinto pai e de sua digníssima mãe ? - Meus pais são falecidos, deputado. - Console-se, meu amigo. No dia do Juízo Final, ressuscitaremos todos. E não esqueça de dar seu voto aqui para seu amigo. Marcelo Navarro Este eu conheço. Uma das melhores cabeças de juízes do Brasil. Um estudioso do dever. Um schollar no melhor sentido do termo. Um perfil com pós-doutorado, raro no Brasil. Marcelo Navarro Ribeiro Dantas, desembargador Federal do Tribunal Federal da 5ª região, foi indicado pela presidente Dilma para o STJ. Apoiado pelas Academias e pelos maiores expoentes do Direito e da Justiça no Brasil. Unanimidade entre governadores do Nordeste com os aplausos de partidos políticos. Por seus méritos. A imprensa, sem ir a fundo, vai longo dizendo : indicação de um fulano ou de um beltrano. Errada. Deveria conhecer o intelectual, o preparado Marcelo. Um potiguar que orgulha o universo do Direito e da Justiça. A onda de agosto I Vamos à análise sobre a onda de manifestações de agosto, a terceira, ocorrida domingo passado. Eis o que mostra : 1. A consciência crítica da sociedade, como um todo, se eleva a cada onda ; 2. Não importa a quantidade de pessoas ; o foco, a unidade de ação e o pensamento, agora, passaram a evitar a dispersão ; 3. O evento foi expressivo, mas não estrondoso ou espetacular ; 4. As classes médias continuam dando o maior tom na orquestra social ; 5. SP, como epicentro dos acontecimentos de rua, exerce a função de círculo concêntrico maior, disseminando a estética da mobilização pelos espaços nacionais ; 6. Lula, como um dos três alvos principais - ao lado de Dilma e do PT - foi a grande novidade. A onda de agosto II 7. A corrupção, a velha política, os partidos políticos serviram de pano de fundo para os discursos, ao lado das palavras de ordem pedindo o afastamento da presidente e alvejando Lula e o PT ; 8. O foco do discurso tornou-se mais preciso que as mensagens dispersas de eventos anteriores ; 9. O refluxo quantitativo ocorreu na esteira de uma ação política mais vigorosa, com Dilma correndo regiões do país e passando a conversar com líderes partidários. 10. O trabalho do articulador político, vice-presidente Michel Temer, tem sido fundamental para dar respiro ao governo ; 11. A agenda Brasil, capitaneada pelo presidente do Senado, Renan Calheiros, ajudou Dilma a sair do canto do ringue ; 12. A tese do impeachment se arrefece, também por falta do leit motiv e sob o argumento de que qualquer ato, sem a cobertura da lei, é golpismo. Os caminhos O caminho mais apontado, o do impeachment, fica distante. Sua possibilidade depende de desaprovação das pedaladas fiscais pelo TCU ou pela desaprovação de contas de campanha pelo TSE. Sejamos claros : para que Dilma seja impedida pelo Congresso, é preciso o fator causal. Até o momento, trabalha-se com hipóteses. Vale esclarecer : nada ocorrerá fora da letra constitucional. Driblar a lei seria golpismo, coisa inviável na atual conjuntura. Agirão como indutores do estado social componentes do que chamamos de Produto Nacional Bruto da Infelicidade (PNBInf) : dinheiro curto, carestia de vida, desemprego, serviços urbanos precários, etc. O balão da opinião pública Sob essa paisagem devastada, as manifestações ganham volume e a animosidade social se expande. O fluxo das pedras do dominó seria este : balão da opinião pública inflado pela Lava Jato ; economia estrangulada puxando a insatisfação ; indignação manifesta nas ruas ; força social, como aríete, pressionando Tribunais e empurrando vãos dos Poderes ; Parlamento tomando decisões sob o calor das ruas. Ou, no contraponto, pedras do dominó balançando, mas não caindo. Palácio do Planalto pichado, porém, em pé. Articulação do governo As hipóteses de agastamento se enfraquecem na esteira de forte articulação política sob a esfera do governo. Pode ser que a operação Lava Jato traga mais dados que atinjam diretamente a presidente, Lula e outros. O imponderável está à espreita. Mas, a continuar a onda informativa nos volumes que vemos, a presidente Dilma chegará ao final de seu mandato. Desgastada, mas não impedida. A tese da continuidade é, portanto, a mais provável. Renúncia está fora de seu calendário. A substituição pelo vice presidente Michel Temer também é uma hipótese, sempre vinculada à deterioração das molduras econômica e política. Efeitos Quais os efeitos da mobilização do dia 16 sobre a vida institucional ? Do ponto de vista de resultados imediatos, nada. Os efeitos são indiretos : pressão sobre a esfera política ; pressão sobre os órgãos de controle e o Judiciário (TCU, TSE, MP, etc.) ; consolidação da camada crítica da sociedade sobre a velha política ; aceleração de votação de temáticas urgentes para equacionamento da crise ; oxigenação do clima social. Descendo a ladeira A economia, como sempre lembro, é a locomotiva do trem. Se continuar a agravar o bolso dos consumidores, crescerá a insatisfação. E, com esta, a crise política também entra no atoleiro. Na frente política, o acirramento tem data e hora para acontecer. Nas próximas duas semanas. Nesse ínterim, Rodrigo Janot passará pelo crivo do Senado. E, na sequência, deverá puxar de seu bornal os primeiros políticos da operação Lava Jato : o senador Fernando Collor e o presidente da Câmara, Eduardo Cunha. Ambos rechaçarão as denúncias. O verbo subirá ao patamar mais elevado da fervura. O STF abrirá o capítulo político da Lava Jato. O Brasil descortinará a balbúrdia da Torre de Babel. A ajuda de Renan O presidente do Senado, Renan Calheiros, quer resolver a parada das desonerações e fechar o pacote fiscal para ajudar o Governo. "Há um espaço muito grande no Senado Federal no sentido de tirar aquele cadáver insepulto da nossa pauta", afirma. A ideia de Renan é trabalhar com líderes uma estratégia que leve a aprovação da pauta e abrir caminho para a retomada normal dos trabalhos. Sobre o projeto da reforma do PIS/COFINS, lembra que há um esforço para que essa discussão comece. Aguarda a proposta do governo Federal. Contra o impeachment Algumas confederações, a partir da CNI, elaboram um documento contra a ideia do impeachment da presidente Dilma. Defendem o império da ordem. Eduardo e Renan Lauro Jardim, no seu Radar de Veja, registra a diferença entre Eduardo Cunha e Renan Calheiros, na perspectiva de um peemedebista não identificado : Renan Calheiros não tem fígado ; e Eduardo Cunha só tem um órgão, o fígado. Façam suas ilações. Saídas para a crise ? Há diagnósticos a rodo, como se diz no vulgo. Instituições, associações, federações, sindicatos, enfim, entidades de todos os tipos fazem os mais completos apanhados sobre a realidade brasileira. Mas, do ponto de vista de saídas, propostas, alternativas de curto, médio e longo prazos, quais as mais viáveis ? Como operacionalizá-las ? Nessa direção, a TV Cultura de SP, com o apoio da OAB/SP, Centro de Estudos Avançados da USP e da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo, realizará uma campanha intitulada "Saídas para a Crise". Constará de uma densa agenda, a se iniciar dia 27 próximo, composta por programas especiais, inclusive dois programas Roda Viva ; debates entre especialistas em seminário de dois dias na sede da OAB ; produção de um documento a ser entregue aos comandos institucionais e, posteriormente, a edição de um livro. Lula não está morto Luiz Inácio está combalido dos tiroteios que vem sofrendo na mídia, principalmente pelos comentaristas de política. Registrou-se, nos últimos dias, um tiro ao alvo ao coração de Lula. Dados sobre suas finanças foram vazados. O Instituto Lula foi atingido por uma bomba caseira. Terá grandes dificuldades de voltar a comandar o país. Seu gogó palanqueiro não está tão afiado como antes. Os círculos concêntricos produzirão marolas no centro do lago, ajudando a desconstruir sua força junto às margens. Mas a política é como Fênix ; seus atores podem ressurgir das cinzas. Lula não está morto. Senador ou deputado, quem sabe, Lula seria o refundador do carcomido PT. Ele pode reaparecer nos cenários do amanhã como o opositor ao status quo. Lula conhece o caráter mutante das massas. A conferir. Debray O filósofo e ex-guerrilheiro francês Regis Debray esteve, semana passada, no Brasil. Vejam o que disse ao jornal O Globo : "Na década de 60, os comunistas tinham certeza que iriam colocar as religiões nos museus. Mas o que vemos nos anos 2000 é justamente o inverso : a religião colocou o comunismo nos museus. O distanciamento da política volta a trazer um sentimento de pertencimento étnico e religioso, que leva à sensação de proteção, autoestima e dignidade que antes era oferecida pelo sistema político. E quanto mais a política se corrói, mais os movimentos religiosos passam a assumir o seu papel - afirma, citando a desintegração dos partidos laicos em países como Iraque, Síria e Índia. - Os netos vão a mesquitas, templos e sinagogas. Os avós não estavam nem aí para isso. Quiseram estatizar o Islã, e agora o Islã está tomando o Estado". PT nas ruas O PT comanda, dia 20, uma manifestação pública em "defesa da democracia". É prudente ? Contará com pouca gente. Mas é um ato para energizar as bases. O PT começou, ontem, a campanha de chamamento com as inserções publicitárias a que tem direito. Vai acirrar o conflito. Correção do FGTS O governo deverá apresentar proposta para um aumento escalonado do FGTS a partir de 2016. "O projeto está na pauta de hoje e está sendo discutido um acordo que dê ganhos ao trabalhador e que se tire as dúvidas que tem sobre o impacto do financiamento social da habitação. Está se tentando chegar um acordo que escalone a entrada, o aumento dos rendimentos das contas do FGTS, a partir de 2016". É o que diz o líder do PMDB, Leonardo Picciani. Perguntas Este consultor tem tentado responder a perguntas complexas. Vejam algumas : a economia encurtará mais o dinheiro no bolso ? A inflação chegará aos dois dígitos ? O governo terá arsenal para batalhar por sua salvação ? Haverá espaço para acomodar a nova base política ? Terá condições de resistir ao tiroteio ? Nos últimos dias, a agenda Brasil abriu um respiro nos pulmões governamentais. Na arena de guerra, prevê-se que o fogo da PGR queimará o comandante da Câmara. Terá, porém, ele condições de resistir caso o STF acolha algum pedido para seu afastamento ? É certo que a luta entre as instâncias de investigação (MP, Judiciário, PF) e a tropa política será longa, ensejando conflitos até as margens eleitorais do amanhã. Quem vencerá ?
quarta-feira, 12 de agosto de 2015

Porandubas nº 456

Abro a coluna com três historinhas-aperitivo, a primeira em homenagem ao advogado, pelo memorável 11 de Agosto. O advogado O advogado, no leito de morte, pede uma Bíblia e começa a lê-la avidamente. Todos se surpreendem com a conversão daquele homem e perguntam o motivo. O advogado doente responde : "Estou procurando brechas na lei". Mundo doido... É o diabo, o mundo endoidou ! Exclamava Maneco Faustino nas ruas de Limoeiro/CE. E completava : - Veja vosmicê : tá se vendo estrela ao mei dia ; já hai galinha com chifre ; cangaceiro dá esmola pra fazer igreja ; já apareceu bode que dá leite ; chove no CE em agosto. Muié já se senta em cadeira de barbeiro. Pedro Malagueta confirmava : - Tá mesmo, cumpade, o mundo endoidou. Tenho três filha, duas casada e uma solteira : as duas casada nunca tiveram menino ; agora a solteira todos os ano me dá um neto... Que prole... Da BA, vem a historinha. José de Almeida, contador do Banco do Brasil, fazia o cadastro da agência. Um dia, chega Heroíno Pita, fazendeiro. Que respondeu na bucha o formulário : nome, idade, imóveis, renda anual, dívidas. Aí vem a pergunta : - Quantos filhos o sr. tem ? - Oito filhos. - Tudo isso ? O senhor tem uma prole grande. Heroíno, entre sorridente e cabreiro, faz o gesto com as duas mãos : - Não, senhor. É normal. Normal. Lesma e camaleão O que a lesma tem a ver com o camaleão ? Aparentemente, nada, a não ser o fato de que ambos podem se arrastar pelo chão. Estudando mais atentamente as qualidades desses dois animais, vemos que eles têm algo em comum : a capacidade transformativa. O pequeno molusco, sufocado por uma camada de sal, derrete e se transforma em água. O garboso lagarto tem a capacidade mimética de vestir as cores do ambiente em que se instala, saindo do verde das folhas para o marrom dos galhos secos com a maior facilidade. Pois bem : os dois transformistas servem de exemplo a muitos políticos, dentre eles importantes lideranças. Que não são o que dizem ser. Cada dia com sua agonia A constatação é geral : o governo Dilma definha a cada dia. Um torpor parece tomar conta do corpo governativo. A presidente até tem se esforçado para sair do mesmo lugar. Convoca reuniões com ministros, começa a fazer um périplo pelo país, mas e daí ? As conversas não têm dado resultado. Fala-se que Lula deu sugestão de fazer uma reforma ministerial "revolucionária" para recompor a base governista. Reformar com a ideia de diminuir a participação do PT e aumentar a participação de outros partidos. Ora, Ministérios sem recursos e com ministros com restrito poder de decisão ? Rejeição Ocorre que a alta rejeição do governo Dilma não facilita reforma ministerial nem ajuda a estratégia de reorganização da base governista. O corpo parlamentar navega na onda da opinião pública. Não se entusiasma com a ideia de se engajar plenamente na estrutura governamental. O governo, por sua vez, quer garantir a fidelidade de 200 parlamentares, no mínimo. No início da legislatura, esse número era de 360. O próprio PT não se sente confortável para aprovar as linhas do duro pacote fiscal do governo. Afastamento da presidente Não é de todo infundada a versão de que o próprio PT tem interesse no afastamento da Dilma. Com uma reprovação recorde na história da República, a presidente facilitaria o caminho do PT, em 2018, se saísse do cenário. Com Lula comandando o palanque, o partido poderia se aproximar do pleito de 2018 com candidato próprio, ele mesmo, Luiz Inácio, portando o discurso de... pasmem... oposição. Lula poderia bradar : esses que estão governando o país estão nos levando para o beleléu. E tome blábláblá... Poderia comover e convencer as massas. A estratégia é maquiavélica, mas faz parte do jogo do poder. A força das ruas Este analista tende a defender a tese de que qualquer alternativa de afastamento da presidente há de passar, necessariamente, pelas ruas. Só a força do povo tem condições de empurrar o Congresso nessa direção. Claro, se houver um fato concreto, o leit motiv, a justificar posicionamento do Parlamento. Não haverá alternativa fora da letra constitucional. Para tanto, o TCU ou o TSE precisam dar um passo adiante na rota do impedimento, ou seja, desaprovar as contas da presidente. Mas só as ruas poderiam respaldar decisão do corpo parlamentar. Tal possibilidade, hoje, é remota. Na balança daqueles dois Tribunais, o governo não está tão mal das pernas. Dia 16 O dia D será 16 de agosto, domingo. Vamos acompanhar a dimensão da mobilização. O governo fará, antes, eventos para tentar refluir eventual impacto das massas nas ruas. O PT, o MST e a UNE ajudarão na defesa de Dilma. Todos os partidos deverão observar de perto, mas cometerão um erro aqueles que pretendem tirar proveito da situação, como o grupo de Aécio no PSDB. O momento é de avaliação de forças. Pequena lição de política I : os instintos Os comportamentos, as ações e as reações dos seres humanos se prendem a quatro mecanismos básicos, também chamados impulsos ou instintos, dois relativos à conservação do indivíduo (impulsos combativo e alimentar) e dois inerentes à conservação da espécie (impulsos sexual e paternal). A política é, por excelência, o palco para o desempenho dos dois primeiros impulsos, na medida em que se trata de uma luta/competição entre pessoas, que expressam valores, representando situações positivas e negativas, posições ambivalentes entre o bem e o mal, o bom e o ruim. Na linguagem que remonta a nossos ancestrais, os instintos apontam para duas grandes categorias que balizam os homens : a vida e a morte. Pequena lição de política II : o discurso Pois bem, para atender às demandas inerentes aos quatro instintos, o discurso político vale-se de alguns eixos, codificados em vocábulos e símbolos que geram uma quantidade enorme de impressões, chamadas pela ciência da linguagem de engramas. São estes que formam os reflexos condicionados, importantes mecanismos para a tomada de decisões das pessoas. Nossa maquinaria psíquica depende de um complexo conjunto de fatores : o interesse despertado por mensagens, condições físicas, culturais e psicológicas de cada um. Mas os indutores das decisões humanas estão sempre relacionados aos valores do discurso político : segurança/insegurança, equilíbrio, paz, dinheiro no bolso, bem-estar, fome, devastação, perigo, medo do desconhecido, preparo/despreparo, esperanças, incertezas e certezas. Novas eleições A tese de novas eleições se liquidifica a cada dia. Primeiro, porque decisão nessa direção requer a cassação da chapa Dilma/Temer. Segundo, porque esse imbróglio demandaria muito tempo de discussão e recursos, prolongando a decisão nas Cortes. Terceiro, porque a análise de contas da campanha, pelo TSE, debaterá outra questão de vulto : a separação das contas de Dilma das contas de Michel. O fundamento é cristalino : a contabilidade se deu em separado com as campanhas de cada um fazendo prestações de contas isoladas. Cada qual teve sua estrutura. Essa tese tende a ser aceita pelo TSE. Por fim, na hipótese de cassação da chapa - com baixa possibilidade - quem assumiria a presidência seria o presidente da Câmara, Eduardo Cunha. Que tende a ser denunciado pelo procurador-Geral da República, Rodrigo Janot (a ser reconduzido ao cargo) ou eventual substituto. O STF dará a palavra final. Lula ministro ? A versão está no ar. Luiz Inácio está pensando em aceitar e/ou recusar o convite para assumir um Ministério. Da Defesa ou das Relações Exteriores. Pelo porte de Lula, seu espaço seria bem mais amplo. Do tamanho de um superministro. O problema : Dilma seria seu chefe. Claro, ele procuraria evitar constrangimento. Essa seria uma boa saída ? Sim, como ministro, Lula escaparia ao julgamento em primeira instância. Teria direito a foro privilegiado, caso seja inserido no propinoduto da Petrobras. Comenta-se que está propenso a recusar. Tempos de Collor Nos tempos de Collor, usou-se o expediente de formação de um ministério com grandes nomes. Daria respaldo e credibilidade ao governo. Mesmo assim, a coisa degringolou. Não funcionou. Fernando Collor deixou a presidência. A boa hora de Renan O presidente do Senado, Renan Calheiros, faz a manchete da semana, com sua Agenda Brasil. Trata-se de uma densa pauta de temas que pode levantar a moral do governo. É o que falta à Dilma : substância, densidade, temas sérios, um conjunto de medidas para a retomada do crescimento econômico. Os programas facilitarão o ambiente de negócios, propiciando a volta de investimentos, aumentando a segurança jurídica e a reforma do ICMS, do PIS/COFINS e a legalização da terceirização. Renan abre a pista para a administração caminhar. Oposições e a bola fora Aécio Neves, presidente do PSDB, e o governador tucano, Geraldo Alckmin, dizem que não cabe às oposições mostrar saídas para a crise. Que bola fora. As oposições deveriam, isso sim, mostrar soluções para o país, diretrizes de seu programa econômico e ajustes necessários. Se for o caso, pode, até, criticar a atual administração, sem se furtar a mostrar caminhos a serem seguidos. Todos os partidos, sem exceção, têm a obrigação de apresentar seu ideário. Afinal, a ação política não se restringe a críticas e diagnósticos. Um nó na lei O preso Ramon Hollerbach, condenado no processo do mensalão, pede diminuição da pena por ter concluído, na prisão, o ensino médio, ao fazer a prova do ENEM. O benefício está previsto pelo CNJ. É boa a ideia de incentivar a evolução educacional dos presos. Há um porém nessa história : Hollerbarch tem curso superior, ou seja, já possui registro do ensino médio. Seu advogado alega : ele fez o que lhe recomendaram. Mas o benefício vale para quem já passou por aquela etapa da aprendizagem ? Eis mais um nó a ser desfeito. Aécio, Alckmin e Serra Aécio Neves confirma que disputará novamente a presidência em 2018. Mas o governador Geraldo Alckmin também quer ser candidato. Logo, haverá disputa. Alckmin tem a poderosa máquina do governo de SP. Aécio dispõe da tribuna do Senado e do poderoso comando do partido. A decisão será tomada mais adiante, avaliando-se possibilidades de cada um, intenção de voto, apoios partidários, etc. E José Serra, que faz um bom trabalho no Senado ? Tem uma única chance : ser ministro da Fazenda de um eventual governo comandado pelo vice, Michel Temer, resgatar o Plano de Crescimento do Brasil e se apresentar como o salvador da Pátria. Nesse caso, ganharia a candidatura. A imagem é a de FHC no governo Itamar. Poderia, até, vir a ser o candidato do PMDB. Essas chances são remotas. Jumento e sal Um jumento carregado de sal atravessava um rio. A certa altura escorregou e caiu na água. Então o sal derreteu-se e o jumento, levantando-se mais leve, ficou encantado com o acontecido. Tempos depois, chegando à beira de um rio com um carregamento de esponjas, o jumento pensou que, se ele se deixasse cair outra vez, logo se levantaria mais ligeiro ; por isso resvalou de propósito e caiu dentro do rio. Todavia ocorreu que, tendo-se as esponjas embebidas de água, ele não pôde levantar-se, e morreu afogado ali mesmo. Assim também certos indivíduos não percebem que, por causa das suas próprias astúcias, eles mesmos se precipitam na infelicidade. (Esopo) Uma boa notícia A Nestlé promete contratar quatro mil jovens com menos de 30 anos nos próximos três anos. Para tanto, organizará um amplo programa de treinamento. Projeto que terá impacto sobre 38 mil pessoas. Uma boa notícia no ciclo da recessão que o país atravessa. Estado bárbaro Antes de o leitor terminar de ler este parágrafo, dois cidadãos estarão tombando ou sendo assaltados nos vastos espaços do território nacional, vítimas da bandidagem. De cinco doentes que baixam nos hospitais brasileiros, pelo menos um é vítima de uma "guerra civil" que mata por ano quase 50 mil brasileiros, três vezes mais que nos Estados Unidos, mais gente que os mortos em conflitos étnicos. Em 20 anos, o número de vítimas fatais ultrapassa a casa do milhão, mais que os 750 mil vitimados durante o período colonial da guerra de Angola. O outro ângulo da violência é o do empobrecimento do país. O rombo da Previdência tem a colaboração do cano assassino que aleija multidões, alarga fila de hospitais, multiplica pensões de viúvas e devasta 10% do PIB, dinheiro que poderia estar sendo investido em hospitais, escolas, habitação, transportes, agricultura. Mas esse é o custo do Estado Bárbaro.
quarta-feira, 5 de agosto de 2015

Porandubas nº 455

Abro a coluna com uma historinha do cacique maranhense Vitorino Freire. Vitorino estava em casa com gripe e muita febre. Recebeu telegrama do Senado (então no Monroe, na Cinelândia, Rio) para ir urgente a uma reunião da Comissão de Finanças, que dependia de sua presença. Lá fora, chovia para valer. Agasalhou-se, pôs suéter, cachecol, capa, chapéu e saiu para pegar um táxi. Não vinha táxi. Entrou numa farmácia para tomar injeção. Quando tirou a capa e o paletó, apareceu o revólver. Ia passando uma rádio-patrulha, viu, parou, chamou : - O senhor é policial, tesoureiro, caixa de banco ?     - Não. - Tem porte de arma ?     - Também não. - Então o senhor vai ter de ir até o comando da polícia. Vitorino entrou na RP e eles tocaram para a cidade. Quando chegou na Cinelândia, falou grosso :     - Para aí que vou saltar. - Não. O senhor vai até o comando.     - Comando coisíssima nenhuma. Vou é para o Senado. Sou o senador Vitorino Freire. -  Por que o senhor não avisou antes ?     - Porque estava precisando de uma carona e não tenho preconceito contra automóveis. Rodou, serve. (Da verve de Sebastião Nery) Reprovação Começo com uma constatação : as três presidentes de Nações latino-americanas reeleitas, Dilma Rousseff (Brasil), Cristina Kirchner (Argentina) e Michelle Bachelet (Chile), estão amargando uma grande desaprovação pelos seus eleitores. A prisão de Dirceu Era prevista. Mesmo assim, a prisão do ex-ministro José Dirceu caiu como uma bomba na segunda-feira. Uma segunda ordem de prisão para uma figura combalida e chegando na casa dos 70 anos é um sofrimento. Dirceu será submetido a depoimentos, investigações, provas, a par de intensa cobertura midiática. Seu irmão também foi preso. Seu braço direito, Bob, idem. Teriam eles condições de suportar o bombardeio que cai sobre suas cabeças ? Dirceu é um experiente político que sabe a importância de qualquer que seja sua manifestação. Mas seu irmão e seu assessor terão bagagem psicológica para suportar o calvário que se abre ? Pior que mensalão ? Já se começa a dizer que Dirceu teria montado as ações no entorno da Petrobras. Muita especulação. Mas o delator Pascowitch, seu amigo, foi quem abriu o bico e contou sobre a entrega de propina ao ex-todo poderoso quadro do PT. Propinas que teriam continuado até 2013. Cada vez se fecha o círculo da propinagem. No meio dele, o PT. Essa 17ª operação Lava Jato, designada de Pixuleco, tem como foco o PT e ex-dirigentes. Um dos procuradores afasta a possibilidade de prisão do ex-presidente Lula. Mas arremata que eles, procuradores, chegarão a todas as pessoas envolvidas. Credenda e Miranda   "A política é o estuário das expectativas e demandas sociais. Duas referências animam seus eixos : os "credenda", coisas a serem acreditadas, a partir do sistema legal, e os "miranda", coisas a serem admiradas, a partir dos símbolos. Daí a inescapável pergunta : o que há para crer na política brasileira e o que há para admirar ? Aos ouvidos chega o eco : nada. As razões para tanto se abrigam em campos múltiplos, mas a origem dos males recentes é a consolidação do PNBC (Produto Nacional Bruto da Corrupção), cuja raiz quadrada se extrai dos números que a esfera privada subtrai da res publica." A frase é minha, do meu livro "Era uma Vez Mil Vezes", pela Editora Topbooks. O modelo Mani Pulite Li, mais de uma vez, o trabalho, muito bom, de Sérgio Fernando Moro, "Considerações sobre a Operação Mani Pulite" (clique aqui), onde traça considerações sobre aquela operação, na Itália, "uma das mais impressionantes cruzadas judiciárias contra a corrupção política e administrativa". Ali está tudo o que o juiz Moro está fazendo. De forma didática, descreve os vetores que conduziram a Mani Pulite e são aplicados por aqui. Vejamos algumas passagens de seu documento. Como começou Começou assim, nas palavras de Moro : "Iniciou-se com a prisão de Mario Chiesa, que devia seu cargo administrativo ao Partido Socialista Italiano e foi preso com propina no bolso, cerca de sete mil liras (US$ 4.000,00), que teria recebido de uma companhia de limpeza. Posteriormente, mais de 15 bilhões de liras teriam sido arrestadas em contas bancárias, imóveis e títulos públicos de sua propriedade. Por volta do final de março de 1992, Chiesa, recolhido na prisão de São Vittore de Milão, começou a confessar". Coragem dos juízes "A coragem de muitos juízes, que ocasionalmente pagaram com suas vidas para a defesa da democracia italiana, era contrastado com as conspirações de uma classe política dividida e a magistratura ganhou uma espécie de legitimidade direta da opinião pública". Não escapa ao juiz Moro o fato de os juízes italianos serem "jovens". Qualquer semelhança com a situação brasileira não é mera coincidência. Amplitude Lembra o juiz paranaense que dois anos após ser deflagrado, "2.993 mandados de prisão haviam sido expedidos ; 6.059 pessoas estavam sob investigação, incluindo 872 empresários, 1.978 administradores locais e 438 parlamentares, dos quais quatro haviam sido primeiros-ministros". A Mani Pulite impressiona pelos números. Uma pista : todos os envolvidos na Lava Jato deverão entrar na roda. Pelo visto, o importante é descobrir as veredas e rotas, com tantos quanto foram capazes de fazer a trajetória da corrupção. Reações O juiz Moro parece precavido/vacinado contra a bateria de reações, a favor ou contra. Ele diz ser ingênuo pensar "que processos criminais eficazes contra figuras poderosas, como autoridades governamentais e empresários, possam ser conduzidos normalmente, sem reações". Crê que a opinião pública, como foi o caso italiano, é essencial para o êxito da ação judicial. Independência Moro elege a independência judiciária como elemento central para tornar possível "o círculo virtuoso" gerado pela operação Mani Pulite. De um lado, ele aponta a progressiva desligitimação de um sistema político corrupto e, de outro, a maior legitimação da magistratura em relação aos políticos profissionais, como condições favoráveis à operação. O nosso desenho é muito parecido com o que se via na Itália. Colaboração A delação premiada, ou nos termos que os juízes preferem usar, a colaboração com a Justiça, incentivada pelos magistrados italianos, foi fundamental. Apesar de ser mal vista por alguns, Moro destaca que a delação premiada não é traição à pátria. Argumenta : "um criminoso que confessa um crime e revela a participação de outros, embora movido por interesses próprios, colabora com a Justiça e com a aplicação das leis de um país. Se as leis forem justas, não há como condenar moralmente a delação ; é condenável nesse caso o silêncio". Imprensa Sérgio Moro lembra que os responsáveis pela Operação Mani Pulite fizeram largo uso da imprensa, ressaltando que "a publicidade conferida às investigações teve o efeito salutar de alertar os investigados em potencial sobre o aumento de informações nas mãos dos magistrados, favorecendo novas confissões e colaborações". Daí a equação : prisões, confissões e publicidade geraram um "circulo virtuoso". Resultados E assim vastos espaços da corrupção foram limpos. Contratos públicos teriam sido feitos com preços 50% menores do que nos anos anteriores. Conclui sua peça, lembrando que "no Brasil, encontram-se presentes várias das condições institucionais necessárias para a realização de uma ação judicial semelhante". Desvendando Moro Como se viu, o juiz Sérgio Fernando Moro contou o que viu, o que pesquisou, o que sentiu. E está fazendo, por aqui, a mesma coisa. O caso vai continuar. Pelo andar da carruagem, por aqui o novelo vai ser puxado pelas laterais, para baixo e... para cima. É a conclusão deste analista. Turismo, ferramenta valiosa Em tempos de economia em retração em quase todo o planeta, o setor de turismo sempre surge como ferramenta valiosa. A indústria "sem chaminé" conta com a vantagem de ser ágil nas repostas e com a estrutura natural já estabelecida em nossas paragens. O ministro Henrique Alves tem agido fortemente para sensibilizar seus pares junto ao governo da importância do setor. No Congresso, o deputado Alex Manente, SP, dá lustro final a um projeto que visa a incentivar o turismo Nacional. Manente tem conduzido com eficiência a Comissão de Turismo da Câmara. E vai bem nas bases. Uma pesquisa recente na intenção de votos mostra o deputado do PPS com boa folga (cerca de 40%) na disputa pela prefeitura de São Bernardo do Campo em SP. Respira-se novo ar pelos lados do ABC paulista. E as crianças ? O deputado João Botelho era candidato a prefeito de Belém, PA. Encontra o cabo eleitoral : - Como vai ? E a diletíssima esposa ? E as crianças ?     - Tudo bem, deputado. A mulher está ótima. Mas, por enquanto, é um menino só. - E eu não sei que é um filho só ? É um menino, certo, mas vale por muitos. Então, como vão os meninos ? Lula Luiz Inácio está calado. Lula calado é uma montanha de expressão. Diz tudo. Postura de silêncio parece não combinar com ele. Vamos assistir na quinta a sua pregação no programa do PT na TV. Casto Brasil "Falam tanto nesse tal de 'custo Brasil', e eu cada vez mais preocupado com o 'casto Brasil'". (Carlos Ayres Britto em Ópera do Silêncio) Panelaço Espera-se um panelaço/buzinaço, na quinta-feira, por volta das 20h30, por ocasião do programa do PT nas emissoras de rádio e TV. Esse barulho deverá ter tanto impacto quanto o anterior e determinará a temperatura das ruas. Imagens As imagens do PT e de José Dirceu estão corroídas. Serão resgatadas ? O PT, como partido, poderá resgatar parcela de sua imagem. Tem militantes aguerridos. Mas a imagem pessoal de Dirceu está estigmatizada. Sua vida política está praticamente encerrada. Mas, como em política, tudo é possível, quem sabe.... ? 23 delatores Há, nesse momento, 23 delatores. Seis ainda são desconhecidos. Seus depoimentos poderão alargar as veredas da Lava Jato. 500 dias A Lava Jato completou 500 dias. A previsão é de que vai se alongar por mais 500. Instituições funcionam Constatação : crise política das mais graves de nossa história ; crise econômica corrói poder de compra do brasileiro e ameaça harmonia social ; crise de confiança chega ao pico da montanha. Mas as instituições funcionam. Essa é a luz no fim do túnel. Descansando e trabalhando ? Depende Fecho a coluna com a lição do cientista político Carlos Matus, ex-ministro do Planejamento do governo Allende, Chile. - A ação não tem um significado absoluto ou igual para todos os atores. A ação tem uma interpretação situacional, e seu significado será ambíguo se não se explicitarem o contexto situacional e a intenção do autor. As ações das pessoas ou dos atores sociais ultrapassam os limites daquilo que eles afirmam fazer. Em outras palavras, a ação é suscetível de várias interpretações situacionais. É bem conhecido, como anedota, o diálogo entre Bernard Shaw e uma vizinha. Shaw arrumava o jardim de sua casa quando uma vizinha, que ia fazer compras, disse-lhe, em tom de pergunta afirmativa. "Trabalhando, Sr. Shaw ?". E ele respondeu : "Não vizinha, estou descansando." Ao voltar das compras, a vizinha notou que Shaw estava sentado em sua cadeira, fumando cachimbo e com o olhar perdido no horizonte. Certa de que, então sim, poderia fazer uma observação de consenso, ela perguntou : "Descansando, Sr. Shaw ?". E ele, distraído, respondeu : "Não, senhora, trabalhando". Esse exemplo mostra como uma ação é suscetível de interpretações opostas. Para Shaw, refletir é trabalhar, e arrumar o jardim é descansar ; para a vizinha, porém, o significado é o oposto. O significado da ação não é único e depende da auto-referência dos atores nela implicados. Essa é uma primeira conclusão.
quarta-feira, 29 de julho de 2015

Porandubas nº 454

Abro a coluna com duas historinhas, da PB e de PE. Da verve de Sebastião Nery. Se as galerias... Flávio Ribeiro, presidente da Assembleia Legislativa da Paraíba (depois foi governador), estava irritado com as galerias, que aplaudiam e vaiavam durante um debate entre o deputado comunista Santa Cruz e o udenista Praxedes Pitanga. De repente, tocou a campainha, pediu silêncio e avisou grave : - Se as galerias continuarem a se manifestar, eu evacuo. Felizmente, as galerias se calaram. Perdão, eu num sabia.... Ramos de Freitas, delegado e arbitrário, entrou para a história de Pernambuco, nos anos 20, como o terror das minorias marginalizadas. Ladrões, prostitutas, gays, desempregados e vadios pobres sofriam horrores nas mãos calvinistas do D. Freitas. Era uma espécie de delegado Padilha de Recife. Quem não trabalhava, apanhava. Quem não tinha carteira profissional, xadrez. Saía pelas ruas, dia e noite, catando gente de arrastão. Uma tarde, chegam à delegacia, presos, dois gays. Dr. Freitas manda buscar a palmatória enorme, grossa como um filé malpassado, para dar uma dúzia de bolos em cada um. Chama o primeiro : - Seu nome ? - Valquíria. - Você não tem vergonha, não ? - Vergonha eu tenho, doutor. Eu não tenho é gosto de mulher. - Vocês dois trabalham ? O que é que vocês são ? - Nós semos homossexual, Dr. Freitas. - Nós semos, não. Nós somos. - Perdão, Dr. Freitas, eu num sabia que o senhor também era. Duas dúzias de bolos em Valquíria. Mês do cachorro... A volta do recesso parlamentar projeta mais sombras na bela estética das conchas côncava e convexa. A Câmara e o Senado abrirão suas portas não com o tapete vermelho, mas com um gigantesco corredor polonês formado pelos contingentes que ocupam as ruas e as redes sociais, expressando suas demandas e posicionamentos. Mas a interrogação fica no ar : como se comportarão deputados e senadores caso haja alguma denúncia formal envolvendo os presidentes das duas casas congressuais ? Comenta-se que essa situação seria deflagrada já neste mês do cachorro... Louco É sabido que o procurador-Geral da República, Rodrigo Janot, quer "pegar" o presidente da Câmara, Eduardo Cunha. Comenta-se que essa investida se daria logo na primeira quinzena de agosto. Pode até ser. Mas Cunha não deve se afastar da presidência da Câmara, onde conta com uma larga base de apoios. Explique-se que indiciamento não significa culpa. Haverá, sem dúvida, um discurso contra sua permanência na presidência, como já se ouviu de deputados como Jarbas Vasconcelos, este próprio do PMDB, e Silvio Costa, do PSC, ambos de Pernambuco. Permanecendo Cunha, veremos uma longa batalha jurídica. Que não se encerrará em menos de dois anos. A crise mais profunda A crise se acentuará. Quando se pensava que o pacote fiscal, composto por Joaquim Levy, seria desembrulhado sem estardalhaço, eis que o governo recua, reduz a meta fiscal para 0,15% do PIB, o que fará a crise se prolongar por todo o ano de 2016, quiçá entrando pelo meio de 2017. Sabe-se que paulada forte é que mata a cobra. Mas a cobra gigante da crise terá morte lenta, a pedido do próprio PT, que ouve o clamor das ruas e defende um posicionamento mais suave. Ou seja, muitos querem assoviar e chupar cana ao mesmo tempo. Impossível. O cobertor econômico só aparecerá depois da coroa de espinhos. E a crise política, hein ? Qual o cenário que se desenha para as próximas fases da crise política ? Muito sombrio. A crise política tende a se aprofundar com o envolvimento de importantes perfis do Parlamento nos dutos da Petrobras. O governo, por sua vez, terá sua situação mais complicada. É provável que as investigações batam na porta do ex-presidente Lula. A presidente Dilma terá pela frente o desafio de vencer a batalha contra as "pedaladas" fiscais. Coisa a cargo do TCU. Pode ser que o TSE venha também a pôr o dedo nas contas de sua campanha. Tudo isso entornará o caldo. Saídas Quais as saídas ? Vejamos as hipóteses: 1. Um governo de união nacional, com os partidos se unindo em torno da presidente e garantindo seu mandato até 2018 ; 2. O impedimento e/ou renúncia da presidente, com a ascensão do vice Michel Temer, e consequente instalação de um governo suprapartidário, que atenuará os espíritos e coordenará o processo eleitoral de 2018 ; 3. Prolongamento da crise até 2018, com base situacionista em processo de esfacelamento e base oposicionista vivendo ciclo de expansão e fortalecimento. Projeto do PT em desmoronamento ; 4. Governo consegue aprovar medidas de ajuste, faz agenda positiva, recupera-se do tombo, conserva forte parcela da base situacionista e PT entra em 2018 em condições de disputar pleito. Qual dessas a mais viável ? Lula e FHC Lula lançou um balão de ensaio : gostaria de conversar com FHC. Em um primeiro momento, Fernando Henrique pareceu querer. Disse : se Lula quer conversar comigo, ele tem meus telefones. Num segundo momento, possivelmente pressionado, afirmou : o momento não permite esse tipo de conversa. Como o PT está em maus lençóis, apenas quer o apoio do PSDB. Recusou. Os lideres tucano no Senado e na Câmara, Cássio Cunha Lima e Carlos Sampaio, publicaram nota recusando qualquer tipo de conversação nesse momento. A articulação, claro, só interessa ao PT. Delação de presos ? O advogado criminalista Luiz Flávio Borges D'Urso está propondo um projeto de lei para proibir delação premiada de presos. O projeto conta com o apoio do presidente da Câmara, Eduardo Cunha, e deverá ser apresentado pelo deputado Arnaldo Faria de Sá (PTB-SP). D'Urso explica : "A lei estabelece que a negociação, que é o cerne da delação premiada, não pode ter a participação do magistrado que, ao depois, deverá homologá-la. O acordo, portanto, deve ser realizado entre o delator e o agente do Estado, vale dizer, o Delegado de Polícia e/ou o representante do Ministério Público, sempre com a presença do Advogado." Delação livre O criminalista arremata : "uma das principais regras a ser observada é a da voluntariedade, pois a delação premiada não pode ser compelida ao delator, que jamais poderá ser forçado a delatar. A voluntariedade está intimamente ligada à origem da delação premiada, pois o delator deve agir movido pelo sentimento de arrependimento ou de colaboração com a Justiça, afastando-se da prática criminosa...... a voluntariedade deve significar que a delação será feita livremente, negociada sem pressões ou ameaças, isto tudo num ambiente de liberdade para decidir." 16ª fase A operação Lava Jato entra na 16ª fase, que a criatividade da PF chama de "Radioatividade", pelo elo com a Eletronuclear. O foco recai sobre pagamentos de propina a funcionários da estatal, responsável pela construção da usina Angra 3, e tem como origem o depoimento do delator Dalton Avancini. Tudo começa de novo : novos detidos, novas apreensões de documentos, liturgia repetida. A cada semana, expande-se a bola de neve. Cada fase dessa operação Lava Jato "canibaliza" a anterior, parecendo ao cidadão uma novela sem fim. A certa altura, não se sabe mais onde começa e termina o rolo dessa fiação. Governadores repartidos Os governadores, convidados pelo Planalto, se reunirão, amanhã, com a presidente para uma análise geral da situação em que vive o país. A presidente colocará em pauta temas candentes : ICMS, guerra fiscal, perdas dos Estados, repatriação de recursos, meta fiscal, crise política e assim por diante. Os governadores deverão defender seus umbigos, antes de olhar para o umbigão da Federação. Será uma reunião mais litúrgico-estética do que de semântica. 2,7 : nota de Dilma Pesquisa feita no almoço do Grupo de Líderes Empresariais (LIDE) com Eduardo Cunha, que juntou cerca de 500 empresários, em São Paulo, segunda feira, foi feita uma pesquisa sobre o governo Dilma. Cada empresário, com uma máquina à mão, deu uma nota. Entre 0 e 10, a média da avaliação foi 2,7, a menor de todos os eventos ocorridos até hoje. A moldura De 1991 até 2014, a arrecadação de impostos cresceu 184%, enquanto a renda subiu apenas 103%. Dá para explicar o Produto Nacional Bruto da Insatisfação. Dória João Dória, jornalista e empresário, surge na cena como mais um pré-candidato à prefeitura de São Paulo, em 2016. João é ligado ao PSDB, mas tem aliados fortes em alguns partidos, como PMDB, DEM, PPS, entre outros. Tem um trunfo nas mangas : a amizade que o une ao governador Geraldo Alckmin. Trata-se de um exímio comunicador. Que domina as técnicas da expressão e da articulação. Deverá enfrentar outros pré-candidatos do tucanato, a partir do vereador Andrea Matarazzo. Política e economia Há duas correntes : uma, que defende a tese de que a crise política arrasta a economia para o buraco ; outra, que argumenta no sentido contrário : a economia é a locomotiva que puxa os carros do trem da política. Este consultor defende esta segunda tese. E sempre lembra a batida equação : BO+BA+CO+CA= BOlso vazio, BArriga roncando, COração indignado, CAbeça revoltada. As ruas são mais agitadas quando a barriga ronca. E as ruas são aríetes a fustigar a representação política. 16 de agosto Vamos conferir a força e o impacto da movimentação das ruas anunciada para dia 16 de agosto. Se o Brasil gritar, em uníssono, o Parlamento ecoará o clamor ; e o Planalto se encolherá de medo. A recíproca é verdadeira. Janot saindo como herói ? O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, sabe que será muito difícil passar pela sabatina - e corredor polonês - do Senado, caso seja nomeado pela presidente Dilma para permanecer no cargo. Por isso mesmo, imbuiu-se da meta : atacar. Pedirá a condenação do presidente da Câmara, Eduardo Cunha. Não ganhando boa nota no Senado, sairá do cargo como um dos heróis do momento. Ao lado de Sérgio Moro e dos jovens promotores do Paraná. Repente Fecho a coluna com o repente de Augusto Pereira da Silva, Guriatã de Coqueiro : Quando Morre Um Poeta Nordestino "Se um dia morrer José FerreiraLouro Branco e Lourival BatistaMeu irmão, outro grande repentista, Zé Sobrinho, Juvenal e OliveiraJoão Quindingues e Lourival BandeiraJoão Silveira, Xuxú e Celestino, Eu irei a convite do DivinoCantar hinos à santa naturezaO Nordeste soluça de tristezaQuando morre um poeta nordestino". "Se um dia morrer João Adriano, Zé Barbosa também partir para o céuMandarei uma carta para Teteu Para quando ele partir levar meu mano, Se Domingos morrer no fim do ano, Não esqueça de levar Chico Galdino, Já mandei avisar a ConstantinoDisse a Pedro Bandeira em Fortaleza.O Nordeste soluça de tristezaQuando morre um poeta nordestino".
quarta-feira, 22 de julho de 2015

Porandubas nº 453

A morada do doutor Abro a coluna com o mestre Leonardo Mota. Quem entra no "Hotel Roma" de Alagoinhas, na BA, vai com os olhos a uma tabuleta agressiva em que peremptoriamente se adverte : Pagamento adiantado, hóspedes sem bagagens e conferencistas. Também, em PE, o proprietário do hotelzinho de Timbaúba é, com carradas de razão, um espírito prevenido contra conferencistas que correm terras. Notei que se tornou carrancudo comigo quando lhe disseram que eu era conferencista, a pior nação de gente que ele contava em meio à sua freguesia. Supunha o hoteleiro de Timbaúba que eu fosse doutor de doença ou doutor de questão. Por falar em Timbaúba, há na cidade um sobrado, em cuja parte térrea funciona uma loja de modas, liricamente denominada "A Noiva". O andar superior foi adaptado para residência de uma família. Eu não sabia de nada disso quando tendo indagado do major Ulpiano Ventura onde residia o dr. Agrício Silva, juiz de Direito da comarca, recebi esta informação chocante : - O doutô Agriço ? O doutô Agriço está morando em riba d' "A Noiva"... O recesso parlamentar As férias parlamentares exercerão uma função importante no animus animandi dos nossos representantes. Eles voltarão às casas congressuais sob o termômetro das ruas. Em contato com suas bases, sentirão as expectativas, demandas, anseios e urgências do eleitorado. E, é evidente, tentarão de alguma forma compor seu processo decisório com os inputs recebidos. A economia das ruas está apertando o bolso? O bolso tem dinheiro para os gastos? Os gastos têm sofrido com a carestia? O que pensam os eleitores de Dilma e deles? Todo esse caldo alimentará as decisões do corpo parlamentar após o recesso. Sob risco Há cinco milhões de pessoas que vivem em áreas de risco no Brasil. Há planos para administrar os acidentes que podem acontecer nesses espaços ? E por que não existem ? A cunha de Cunha Eduardo Cunha, presidente da Câmara, deve conversar bastante com os quadros parlamentares nestas férias. Não pense que está em relax. Tomou uma decisão pessoal : romper com o governo. Rompimento em termos. Porque o deputado carioca nunca foi, de verdade, um aliado governista. Como comandante de uma casa parlamentar, ele tem prerrogativas que batem no coração do governo : fazer a agenda, por exemplo, decidir sobre as pautas que devem ser votadas. Cunha tem, portanto, sólidas cunhas para fazer pressão. Uma : votar o projeto para repatriação de recursos de brasileiros no exterior. Calcula-se que essa dinheirama some algo como 250 bilhões de dólares. Espera-se que pelo menos uns 40 bilhões voltem em um primeiro momento. Cunha pode colocar uma cunha nisso e dificultar essa votação. Moro e o vazamento Eduardo Cunha reclama do comportamento do juiz Sérgio Moro. Diz que o juiz não tem a prerrogativa de interrogar delatores sobre os políticos. O foro para a área política é o STF. O juiz alega que não tem como fechar a boca dos depoentes. Tem razão. O que se coloca em questão é o vazamento. Pode ele vazar ou não essa informação ? Deixo que a turma do Direito, da primeira à ultima instância, debata o imbróglio. Desperdício Como um país se dá ao luxo de ver 3% de sua safra perdida por causa da péssima condição das estradas ? Como se pode deixar cair no ralo R$ 10 bilhões por ano em razão da calamidade do sistema viário ? A malha viária, de 1,7 milhão de km, tem apenas 165 mil pavimentados e, destes, 80% são classificados como regulares e ruins. Miro viu Miro Teixeira viu como nasceu o mensalão. Do alto do respeito que lhe confere a posição de deputado mais longevo, Miro disse, na FSP de segunda-feira, que participou, como ministro, de uma reunião em janeiro de 2003, com mais três pessoas no Palácio do Planalto : Palocci, ele e mais duas. Quem eram ? Não quis dizer. Mas a dedução é lógica, pois ali se decidiu sobre o mensalão. Miro garante que viu a vertente financeira vencer a vertente política. Inferência : compra de deputados se sobrepondo à articulação política. Por que sua Excelência ficou calado todo esse tempo ? Prisão Outra pergunta que os advogados fazem com frequência : por que os indiciados passam tanto tempo presos ? Depois de seus depoimentos, é necessária a continuidade da prisão ? Eles ameaçam a segurança pública ? Livres, destruiriam provas ? Não poderiam responder em liberdade às acusações ? Ou será que há alguma taxa cobrada pelo Estado-espetáculo para administrar esses casos ? Lula Erga omnes. A lei é para todos. Lula não é imune às investigações. O MPF encontrou indícios de que o ex-presidente praticou tráfico de influência internacional em favor de uma construtora. O MP/DF decidiu instaurar procedimento investigatório. Ora, essa decisão mostra que o Executivo não tem a influência que se imagina para impedir investigações sobre o comandante de honra do petismo. Portanto, é duvidosa a hipótese de que o Executivo tenha influência na apuração de denúncias envolvendo quadros do Parlamento. Fosse assim, os petistas estariam fora da lupa do MP. Pedaladas fiscais Termina o tempo para o governo mandar ao TCU sua resposta sobre as "pedaladas fiscais". O advogado-Geral da União, Luiz Inácio Adams, argumentará que 17 Estados brasileiros já fizeram isso. E o que o governo FHC também o praticou. E alegará que não escapou à Lei de Responsabilidade Fiscal. O TCU contra-argumenta que a intensidade e o volume das atuais pedaladas (governo Dilma) são maiores. É bom lembrar lição do dr. Ulysses : "uma pessoa 99% honesta é 100% desonesta". Errou por um é mesmo que errar por 100. Arrecadar é a ordem Arrecadar, arrecadar, arrecadar. Essa é a palavra de ordem que sai dos gabinetes dos burocratas das administrações estadual e municipal. Vejam essa polêmica decisão da prefeitura paulistana de diminuir a velocidade nas marginais. No perímetro central, a velocidade máxima será de 50 km/hora. A previsão aponta para mais uma chacoalhada nos bolsos dos contribuintes. Diminuir a velocidade por uma questão de segurança ? Balela. E o asfalto ? E os buracos ? E a sinalização ? O presidente da OAB/SP, Marcos da Costa, que entrou com ação para impedir essa arbitrariedade, tem razão : o tema deve ser objeto de consulta à sociedade. Senhores governadores e prefeitos : cuidado com o andor. Não aproveitem o momento para esvaziar mais ainda o bolso dos contribuintes. Kassab calado Gilberto Kassab, o ministro das Cidades, está calado. Quando se recolhe ao silêncio é sinal de que o presidente do PSD e ex-prefeito de SP está trabalhando muito na moita. Está prestes a viabilizar a criação do PL. Com a fusão a seguir, o partido do Kassab será um dos mais largos do país. A conferir. Moro condena e absolve Na primeira sentença contra empreiteiros, o juiz Sérgio Moro impôs pena de mais de 15 anos para acusados. E absolveu o empresário Márcio Andrade Bonilho do crime de corrupção ativa. O criminalista Luiz Flávio Borges D'Urso, o advogado defensor, declara : "Fez-se Justiça nesse processo, uma vez que Márcio, por intermédio da Sanko Sider, realizou uma operação comercial absolutamente regular, com preços de mercado, vendendo e entregando os produtos não tendo qualquer resquício de comportamento criminoso em sua conduta". Identidades Getúlio Vargas é sempre associado ao nacionalismo : "o petróleo é nosso". Juscelino Kubitschek portou a bandeira do desenvolvimentismo. Jânio Quadros ergueu a vassoura da moralização na vida pública. Os governos militares vinculam-se à repressão. José Sarney é o presidente da redemocratização. Fernando Collor de Mello abre as cortinas do impeachment. Itamar e FHC produziram o Plano Real e a estabilidade econômica. Lula foi o presidente da redistribuição de renda e inserção social. Mas o carimbo da corrupção ameaça sujar não apenas sua identidade, mas a do governo Dilma. Marques anistiado Cofundador da ECA/USP, INTERCOM e ORBICOM, Jose Marques de Melo, diretor-titular da Cátedra UNESCO de Comunicação na Universidade Metodista de São Paulo, foi anistiado pela Comissão do Ministério da Justiça encarregada de aplicar a legislação da Anistia política aos cidadãos apenados pela ditadura de 1964. Lúcio França, experimentado profissional na área da anistia, foi o advogado do professor. Marques iniciou sua trajetória intelectual como jornalista, engajando-se no movimento estudantil, no começo dos anos 60, na cidade de Recife. Veio a integrar a equipe do governo Miguel Arraes nas áreas de educação e cultura. Preso e processado pelos golpistas de 1964, migrou para SP, contratado para lecionar na Faculdade de Jornalismo mantida pela Fundação Cásper Líbero e prestando concurso na USP para integrar o corpo docente fundador da Escola de Comunicações Culturais. Perseguição Nas instituições, enfrentou resistências e sofreu perseguições, encabeçando a lista dos professores que o General Ednardo D'Ávila, comandante do II Exército, rotulou como "subversivos", determinando sua defenestração do sistema universitário. Por se tratar de documento sigiloso, os atos dele decorrentes permaneceram inacessíveis (alguns incinerados), na tentativa de assegurar a incolumidade dos funcionários que integravam o "terceiro estágio", atuando como "dedos-duros" nas "assessorias de segurança e informação" dos reitores que abdicaram das prerrogativas da autonomia universitária, nos estertores do regime militar (particularmente no período 1974-1979), quando cresciam em todo o país os clamores pela anistia. Dilma, 7,7% Pesquisa CNT/MDA mostra a presidente Dilma chega ao pior índice de popularidade da série histórica. O governo é considerado de forma positiva somente por 7,7% dos entrevistados. 52,4% dos entrevistados consideram o governo da petista como péssimo, e 18,5% consideram como ruim. Em março, tinha 11% de popularidade. Em relação ao desempenho pessoal de Dilma, somente 15,3% aprovam a gestão dela, contra 79,9% que desaprovam. Desinflação ? Tony Volpon, diretor de Assuntos Internacionais do BC, em encontro com investidores em SP, destaca que a retração no mercado de trabalho e a perspectiva de desaceleração dos preços regulados pelo governo no próximo ano contribuem para dar ao BC a "certeza" de que inflação será levada ao centro da meta de 4,5% em 2016 e que uma combinação de fatores aponta para um forte processo de desinflação. Se ninguém vende e ninguém compra, os preços ficam no mesmo lugar e, com o tempo, tendem a cair. Fecho a coluna com esses tempos de amnésia. O nome da rosa e o do médico Dois desembargadores aposentados, do alto de uma juventude acumulada durante oito décadas e meia, encontram-se no aniversário do neto de um deles. Os desembargadores Amaro Quintal da Rocha e Antônio Vidal de Queiroz, como sói acontecer com amigos que se conheceram no início da idade da razão, foram direto ao assunto que mais os motivava : - Até que enfim, encontrei o médico que curou a minha amnésia, disse Amaro. - Como é mesmo o nome dele ? Perguntou Vidal. - É, é, é, deixe-me ver, é... é... Como é mesmo o nome dele ? Espere aí... é, é... é. O nome, escondido num cantinho do cérebro, relutava em aparecer. Começou a se perturbar. Mas não deixou a onda abatê-lo. - É, é, como se chama... é... é... como se chama mesmo aquela coisa vermelha, amarela, branca, que nasce em um galho cheio de espinhos, aquele assim ? (e foi mostrando o tamanho do galho e o formato da coisa). Vidal matou a charada : - Rosa, o nome é Rosa. Amaro, radiante, grita para a mulher que estava sentada logo adiante : - Rosa, oh, Rosa, como é mesmo o nome daquele médico que curou a minha amnésia ?
quarta-feira, 15 de julho de 2015

Porandubas nº 452

Abro a coluna com PE nos tempos de Agamenon e o RN nos tempos de Aluízio, na verve do mestre Sebastião Nery. Bajulação Agamenon era o interventor. A seca assolava o Nordeste. De repente, começou a chover na região do São Francisco. Um prefeito telegrafou : - Chove copiosamente na região, graças à profícua administração de V. Exa. Agamenon demitiu o prefeito nomeado. Ufa, não aguento esta porcaria Dinarte Mariz era governador e inimigo de Aluízio Alves. Que saiu candidato pela oposição, ganhou. O velho Dida se recusou a passar o cargo. No dia da posse, Dinarte saiu cedo do palácio, entregou as chaves ao porteiro. Todo importante, paletó e gravata, sapato engraxado, o porteiro foi lá para frente e ficou de pé nas escadarias. Esperou uma hora, duas, três, o novo governador não chegava. A mulher mandou chamá-lo para o almoço, nada. Ele ali, de pé, cumprindo patrioticamente seu dever cívico. De repente, à frente da multidão, apareceu Aluízio Alves na esquina. O porteiro suspirou aliviado : - Ainda bem que ele está chegando. Não aguento mais governar esta porcaria. Entregou as chaves e o fugaz poder ! Lava Jato, fase política Ainda não esgotada a fase empresarial, a operação Lava Jato abre a fase política, com a busca e apreensão de documentos nas casas de parlamentares, a começar pelos senadores Fernando Collor e Ciro Nogueira. A entrada na área parlamentar tem o placet dos ministros do STF, Teori Zavascki e Ricardo Lewandowski. Significado : ao bater no Congresso, a operação agita os ânimos políticos, fazendo subir a temperatura em Brasília. A crise chegará às alturas na segunda quinzena de agosto/primeira semana de setembro. Missão divina O juiz Sérgio Moro, de um lado, e os procuradores do MP, de outro, se imbuem de uma "missão divina". Essa é uma das explicações para as fases que estão se desenvolvendo na operação Lava Jato. Como "missionários", entendem que nada os afastará do caminho apontado por Deus. Nada de pressões, nenhuma interferência de poderosos. Irão até o fim, na crença de que terão de passar o Brasil a limpo, doa a quem doer. Imaginam que serão capazes de varrer a sujeira, tirando, até, os vestígios que se escondem por baixo do tapete. O DNA brasileiro será refeito ? Há dúvidas. Vulcão de agosto Haverá condição de se fazer o impeachment da presidente ? Eis uma recorrente questão que se coloca a este consultor. Respondo sempre : a questão será política, mas para se viabilizar, precisa do empuxo de dois motores : o da locomotiva da economia e o do rolo compressor das ruas. Explicando : se a economia arrebentar o bolso dos contribuintes, o povão revoltado, sob a alavanca das classes médias também atingidas, empurrará o Congresso para a beira do impeachment. Criam-se, nesse caso, as condições para se tomar uma decisão de magnitude. E, dessa forma, o vulcão pode dar sinais de erupção já em agosto. Pulso das bases Esses sinais deverão ser visualizados já agora nessa segunda quinzena de julho, quando os parlamentares estarão tomando o pulso de suas bases. O recesso parlamentar que começa em 17, sexta-feira, propiciará um banho de massas. Deputados e senadores vão sentir de perto o que significa inflação das ruas passando da casa dos 10%, o desemprego chegando aos 9%. Só na área da construção civil, há um milhão de desempregados. E a tendência é de acirramento das carências e carestia nos próximos meses. Os grupos - I É possível aferir a seguintes abordagens e posicionamentos políticos : 1) O grupo que deseja mudanças imediatas com a saída de Dilma-Temer ; trata-se da ala aecista do PSDB. Como o senador mineiro, sob o recall da campanha do ano passado, ganharia facilmente de Lula, hoje, defende a saída dos dois ; 2) O grupo lulista do PT, que gostaria de ver Dilma fora do Palácio do Planalto, com Michel Temer assumindo a presidência. Com esse afastamento, seria possível a Lula correr o país, adoçar o gogó, armar palanques por todos os lados e se apresentar, em 2018, como oposicionista contra o marasmo geral. Os grupos - II 3) O grupo tucano ligado a Alckmin, que gostaria de empurrar a presidente ao abismo, porém conservando Temer no comando. Este faria um governo de harmonia nacional e presidiria as eleições de 2018. Alckmin, em 2018, terá melhores condições para disputar a presidência que Aécio Neves ; 4) O grupo tucano ligado ao senador José Serra, que tem interesse em deixar a situação como está até 2018. Serra se aproximaria do PMDB, podendo, até, viabilizar sua candidatura por este partido. As teses Há teses para todos os gostos : a) a primeira defende a responsabilidade de Dilma no caso das "pedaladas fiscais", o que daria ao Congresso a base para o impeachment presidencial ; b) a segunda tese argumenta com o fato de que houve "pedaladas fiscais" em governos anteriores, tanto no ciclo FHC quanto nos mandatos de Lula. Dizer que hoje a situação é mais crítica pelos volumes de recursos transferidos como empréstimo e pelos prazos mais dilatados pode não se sustentar. Dr. Ulysses dizia: uma pessoa 99% honesta é 100% desonesta, porque não existe desonestidade relativa. C) Há o argumento de que recursos de propina para a campanha da Dilma ocorreram no mandato anterior. Mas há o contra-argumento de que eventos ocorridos do mandato anterior não passam para o mandato seguinte. E, por último, há a crença e provas de que recursos desviados de contratos da Petrobras irrigaram campanhas da situação e da oposição. Três fontes do poder Diz Galbraith : "eis as três fontes do poder : a personalidade, a propriedade (a renda disponível) e a organização". Outros Completando o triângulo de Galbraith : "a personalidade, a paixão, a perícia/habilidade, o controle, a posse de recursos, e o domínio do conhecimento científico e tecnológico". A régua Na linha de 0 a 100 km, a operação Lava Jato teria caminhado, até hoje, cerca de 30 km. Ou seja, há 70 km pela frente. Haja estrada. Como a frente política passa por muitas curvas no território do STF, há quem vislumbre os horizontes políticos da operação lá pelas beiradas de 2018. Janot O procurador-Geral da República, Rodrigo Janot, parece ter um foco : Eduardo Cunha. Mas tem um olho também em outros políticos. Ocorre que deve entrar na lista dos nomes de procuradores que serão submetidos à presidente Dilma no segundo semestre. Se entrar em primeiro lugar, a presidente não terá outra alternativa que a de encaminhar seu nome para aprovação pelo Senado. Donde emerge a pergunta : passará pelo crivo dos senadores ? Este consultor acredita que passará. Oposições sob a lupa As oposições devem se precaver. O pau que bate em Francisco bate também em Chico. Não serão apenas figuras da situação a entrarem no loop do MP e do juiz Sérgio Moro. Há figuras de destaque na oposição que entrarão no ranking. Brasil e os mercados fortes O ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Armando Monteiro, falando na abertura do Congresso do Aço, em SP, defendeu a necessidade de o país melhorar a competitividade dos produtos nacionais para que indústria volte a ganhar espaço no mercado doméstico que vem sendo ocupado pelo produto importado. Para ele, o governo está trabalhando para reposicionar o país, aproximando o Brasil de mercados fortes. O Brasil tem de se integrar de maneira mais efetiva aos fluxos de comércio em regiões com maior dinamismo. O foco da política se volta para alguns mercados importantes, como o americano. Acordos Nos Estados Unidos, foram assinados, segundo Monteiro, acordos de convergência de normas técnicas com o objetivo de remover as barreiras não tarifárias aos produtos brasileiros. O México é outro parceiro com o qual o Brasil quer expandir os laços comerciais. Retração de 12,85 no aço O maior evento anual da siderurgia ocorreu esta semana em SP. Dados de impacto. O setor aguarda uma retração de 12, 8% este ano. As perspectivas negativas resultam da perda de ritmo do setor industrial. O presidente-executivo do Instituto do Aço Brasil, Marco Polo de Mello Lopes, definiu o período atual como "o pior da história" do setor siderúrgico brasileiro. Neste ano, o consumo aparente - que compreende as vendas domésticas das siderúrgicas e as importações - deverá somar 22,333 milhões de toneladas, contra 24,638 milhões de toneladas em 2014. Vendas em queda de 15,6% As vendas no mercado interno deverão somar 18,324 milhões de toneladas neste exercício, volume 15,6% inferior ao verificado no ano anterior, quando elas chegaram a 20,738 milhões de toneladas. Segundo Lopes, a situação é preocupante, pois além da economia estagnada e da falta de competitividade do país, o cenário de sobre-oferta de aço no mercado internacional está se agravando. As estimativas são que a sobra de capacidade atinja cerca de 700 milhões de toneladas neste ano. Quase quatro mil postos de trabalho deverão ser extintos. 40 anos no mesmo patamar Conselheiro do Aço Brasil e vice-presidente comercial da Usiminas, Sergio Leite destacou que o Brasil se mantém no mesmo patamar de consumo há 40 anos, mas que existe uma demanda represada na área de infraestrutura. O país precisaria investir entre 4% e 6% do PIB nos próximos 20 anos para reverter a situação atual e proporcionar às indústrias a retomada do crescimento e lembrou que a China investe 13% de seu PIB, o Vietnam 10% e a Índia 6%. Já o CEO da ArcelorMittal Aços Longos Brasil, Jefferson de Paula, chamou a atenção para o momento difícil por que passa a economia brasileira, com a perspectiva de registro do pior PIB desde a década de 70. Fiat Lux Lino Machado, médico e deputado em 1947, criticava na Tribuna da Assembleia o prefeito : - A cidade está abandonada, está às escuras. Fiat Lux ! Jefferson Nunes, todo poderoso chefão político do Interior do Maranhão, partiu para a ironia : - É um absurdo que V.Exa. vá estudar no RJ e volte para cá com esse latim de caixa de fósforo. Esporádico Lino, tempos depois, quis se vingar da ironia do coronel. Alguém foi assassinado no interior do MA. Jefferson Nunes disse que era um caso esporádico. Lino Machado deu o troco ao Fiat Lux : -V. Exa. não sabe o que é esporádico. - Eu sei, sim. V.Exa é médico. Tem 100 clientes. Morrem 99. Salva-se um. É um caso esporádico. Sete pecados capitais dos governantes 1) A insensibilidade 2) A onipotência 3) A crença na força absoluta da grana 4) A rotina 5) A improvisação 6) A bajulação consentida 7) O descompasso com o senso comum.
quarta-feira, 8 de julho de 2015

Porandubas nº 451

Abro a coluna com o grande Barão de Itararé, Aparício Torelly, mestre e glória do humorismo brasileiro. Em 1938, postou-se diante dos juízes do Tribunal de Segurança da ditadura. Com o relato, o amigo Sebastião Nery : - O senhor sabe por que está preso ? - Sei sim. Porque desobedeci a minha mãe. - Não entendi. - Muito simples, doutor juiz. Eu sempre gostei muito de café. Minha mãe reclamava : Meu filho, não tome tanto café que um dia você vai se dar mal. Eu desobedeci e continuei tomando café. No mês passado, estava eu com alguns amigos tomando um cafezinho na Galeria Cruzeiro, chegaram os homens da polícia e me levaram. Minha mãe tinha razão : eu ainda ia me dar mal por causa de café. E me dei. O interrogatório foi encerrado. Clima fervendo O ambiente está turvo. E os sinais da crise se multiplicam. Dilma dará respostas satisfatórias aos ministros do TCU ? Será condenada ? Mas, não há precedentes sobre "pedaladas" fiscais ? Hoje, diz-se, suas contas não seriam aprovadas. Mas, pelo que se sabe, há contas de governos passados que ainda não passaram pelo crivo do TCU. As respostas de Dilma estão sendo preparadas. O fato é que os olhares nacionais estarão atentos à decisão a ser tomada dia 22 de julho. Os ministros do TCU são escolhidos pela via política. As contas no TSE No TSE, a pendenga sobre irregularidades nas contas de campanhas de Dilma e também de Lula abrirá novas frentes de polêmica. O relator, o juiz corregedor Noronha, é quem decidirá. Há delação do Ricardo Pessoa, da UTC, que aponta para recursos encaminhados às campanhas. Mas haverá provas disso ? E se as doações tiverem entrado nas planilhas da formalidade ? Se o TSE desaprovar as contas, a tese é que a chapa Dilma/Temer seria impugnada. Mas é forte o argumento de que as campanhas tiveram caixas separados, o que livraria o vice-presidente de qualquer condenação. Delação continua O sistema de delações continuará aceso ainda por um bom tempo. A conversa é de que a próxima etapa cuidará de cruzar informações e procurar provas, documentos, planilhas, contas em banco etc. Cerveró, o último ex-diretor da Petrobras a ser preso, poderá se transformar na bomba mais aguardada. Ele deve ter provas sobre a compra de Pasadena. Zelada, o ex-diretor da área internacional, também entrará nessa esteira. Políticos Os políticos ganharão um bom tempo para suas defesas. Como dispõem da prerrogativa do foro privilegiado, atravessarão um corredor mais longo. O STF deve querer ver provas, contraprovas, checar depoimentos, acolher os diversos tipos de embargo etc. Essa situação deverá se alongar por mais de ano. A fogueira da política queimará às margens do pleito de 2016, com alguns atores influenciando a eleição de uns e prejudicando a de outros. Alcides "Deus estava irado quando inventou a paixão." "Paraíba : Terra que se fez pequena para não parecer tão grande." (Durante campanha eleitoral) Duas frases de Alcides Carneiro, advogado, poeta, político, um dos maiores oradores da Paraíba. Conexão PT - Lava Jato O longo duto que conecta o mensalão ao petrolão - operação Lava Jato - acaba engolfando todo o petismo, a ponto de merecer de seu inspirador e fundador principal, Luiz Inácio, o mais veemente apelo por uma "volta às origens". A guinada à esquerda que o ex-metalúrgico pretende liderar seria o contraponto à guinada conservadora que se instala no país. Ele sabe, porém, que, antes disso, precisa arrumar as parcerias. Correu à Brasília para tentar segurar as bases junto ao Governo. O calvário depois de 30 anos O lulopetismo passa por sua maior prova depois de três décadas. Poderá até não morrer, mas está na UTI. Sua maior expressão vai para o canto do ringue, tentando se desvencilhar de um adversário portentoso, treinado nas artes, ou melhor, nas letras jurídicas, o juiz do Paraná. Qual o remédio que poderá salvá-lo ? A fórmula medicinal da bula da economia, chamada BO+BA+CO+CA= Bolso, Barriga, Coração, Cabeça. Bolso satisfeito, Barriga cheia, Coração emocionado, Cabeça agradecida. Nesse caso, a médica será sua pupila, dra. Dilma Rousseff. Mas a recuperação não será este ano. Teremos um segundo semestre pior que o primeiro. E, por enquanto, não se enxerga luz no fim do túnel. Lula cai na realidade Nos últimos dias, ouviu-se um Lula mais humilde, dizendo : não podemos fazer nada. Vamos esperar para ver. Não é o caso de pensar que Luiz Inácio desistiu da parada. Ele quer salvar a imagem do PT e animar as bases petistas para os espetáculos eleitorais de 2016 e 2018. Vai tentar salvar o que for possível. Se o PT fizer 400 prefeitos, já será um sucesso. Mas será uma pequena base para a alavancagem da campanha de 2018. Lula só será candidato se divisar possibilidade de vitória. Não se dará ao sacrifício de entrar numa fria. Aécio com menos chance Aécio Neves só tem chances caso a chapa Dilma/Michel seja impugnada. Nesse caso, assume a presidência da República Eduardo Cunha. Uma campanha eleitoral seria organizada para eleição do novo presidente. Aécio, nesse caso, conta com o recall da campanha de 2014, podendo ganhar de Lula, se este for o candidato. Essa moldura deixará o país à beira da convulsão. Será uma campanha nunca vista. Não é o cenário com que contam tucanos como José Serra e Geraldo Alckmin. Para eles, o ideal seria um governo de transição com Michel Temer e eleições pacíficas em 2018. Cenário provável Este analista tende a acreditar que Dilma, depois de muita borrasca, conseguirá segurar o governo. Para tanto, precisa acelerar as medidas do ajuste fiscal e arrefecer a animosidade social. Levy será peça-chave nesse tabuleiro. A baciada maior O PMDB se prepara para ter candidatos no maior número de municípios. Quer fazer a maior baciada de prefeitos em 2016. Dispõe de condições para tanto : o maior número de prefeitos, hoje, o maior número de vereadores e de deputados estaduais ; além da maior bancada de senadores. Essa é a base de lançamento de uma candidatura própria em 2018. Zavascki O ministro Teori Zavascki, da Corte Suprema, está na lupa de todos : políticos, advogados, setores produtivos, mídia. De sua pena sairão as decisões sobre a operação Lava Jato na esfera política. Dilma tranquila A forma física faz bem à mente. A crise explodindo bombas por todos os lados e Dilma dá uma entrevista à Folha de S.Paulo, desafiando seus opositores. Auto-confiante e tranquila. É a Dilma da bicicleta. Contas reprovadas Se as contas de Dilma forem reprovadas no TCU - e tudo indica que serão - o imbróglio vai para o parlamento. Em jogo, o julgamento da responsabilidade sobre as pedaladas. Como será o processo ? O governo conseguirá apoio de sua base para se livrar do afastamento ? Provas, provas, provas Os próximos tempos serão abertos para as provas. Os advogados tentarão provar que as provas a serem apresentadas não terão o caráter comprobatório. Será um fértil tempo para acompanharmos as teses do Direito em nossos tempos contemporâneos. Dupla vitória O TJ/SP rejeitou a queixa-crime movida pelo governador do Acre, Tião Viana, contra a ex-secretária de Justiça de SP, procuradora de Justiça Eloisa Arruda. Ao se pronunciar sobre o envio de milhares de haitianos para a cidade de São Paulo, ela teria dito que o governo do Acre agia como um "coiote". A defesa da ex-secretária foi realizada pelo advogado Luiz Flávio Borges D'Urso, ex-presidente da OAB/SP, sócio do escritório D'Urso e Borges Advogados Associados, que sustentou a decadência da ação. Antes, a ação havia sido proposta por aquele governador, perante o Tribunal do Acre, mas D'Urso sustentou a incompetência absoluta do TJ acreano, alegando que Eloisa teria foro privilegiado em SP. Estratégias do líder Dois casos clássicos demonstram a capacidade estratégica de um líder. O primeiro envolve Alexandre Magno. Quem conseguisse desatar o nó que unia o jugo à lança do carro de Górdio, rei da Frígia, dominaria a Ásia. Muitos tentaram. Foram a Alexandre. Ele tinha duas opções : desatar o nó ou cortá-lo com a espada. Optou pela via mais rápida e certeira com um golpe forte. Sabia que perderia tempo tentando desatá-lo. O segundo caso é o ovo de Colombo. Levaram um ovo para o almirante e pediram que o equilibrasse. Com um pouco de força, Colombo colocou o ovo em posição vertical sobre a mesa. Corrupção, uma pandemia Temos, no Brasil, um formidável aparato contra a corrupção. Todos os buracos podem ser fechados. Vejamos : temos uma lei de responsabilidade fiscal. Temos o art. 37 da CF, que reza sobre a administração pública direta e indireta nas esferas dos Poderes, pregando os princípios da legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência. Dispomos do decreto-lei 201/67 que estabelece a responsabilidade de prefeitos e vereadores. Temos a lei 8.027/90 sobre normas de conduta de servidores públicos civis. Há a lei 8.429/92, que regula as sanções aplicáveis aos agentes públicos em casos de enriquecimento ilícito no exercício de mandato, cargo e função na administração pública. Todas parecem letras mortas. Por fim, a lei 8.730/93, que trata da obrigatoriedade de declaração de bens e rendas para o exercício do cargo. E mais controles Ao lado do cipoal legal, há, também, instituições respeitadas defendendo a bandeira da moralização. Há o MP, que procura pegar desmandos gerais dos Poderes, fiscalizando o cumprimento das leis. Há as Comissões Parlamentares de Inquérito, sob responsabilidade do Poder Legislativo, instrumento que geralmente acaba contaminado por vieses partidários, servindo de escudo de interesses personalistas. Vale, então, perguntar : se há leis, figuras respeitáveis para torná-las eficazes e até disposição política para se implantar o império da lei e da responsabilidade, por que a corrupção no país se alastra ? Qual a razão deste fenômeno se abrigar, com tanta força, nos domínios de um governo de quem se esperava ser o ícone da ética e da moral ?