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Porandubas Políticas

Por dentro da política.

Gaudêncio Torquato
quarta-feira, 9 de novembro de 2016

Porandubas nº 510

Hoje, deixo o "causo" do nosso folclore político para o final da coluna. Expectativa no topo A tensão da esfera política chega ao topo da montanha. A causa ? A delação do fim do mundo, como está sendo designada a investigação que abrigará o depoimento de 70 executivos da Odebrecht na operação Lava Jato. A suposta lista de nomes envolvidos na Lava Jato pode chegar aos 150. Mas se os braços da investigação se estenderem a campanhas mais antigas, calcula-se que cerca de 400 políticos de partidos grandes, médios e pequenos serão laçados. Rumo do processo E como se desenrolará esse gigantesco ato investigativo ? Há análises de todos os tipos e para todos os gostos. Primeiro, o processo deverá ser muito demorado, eis que cada delator deverá fazer muitos relatos, não apenas um. Segundo, calcula-se que a modalidade de ajuda do grupo Odebrecht para os políticos abrange recursos oficiais, recursos do caixa dois e propinas. A questão que se coloca é a dificuldade de classificar as contas. Donde surge a questão : e se os partidos demonstrarem que os recursos entraram pela via legal nos cofres das campanhas ? Zerar o passado ? A solução aventada por muitos protagonistas aponta para o fechamento do ciclo do caixa dois em campanhas passadas, com a anistia aos beneficiados, e a abertura de um novo ciclo, com a condenação de agentes políticos futuramente envolvidos com recursos não contabilizados. Zerar o passado seria, portanto, a saída que a esfera política encontra para administrar a situação de quem recebeu dinheiro pelo caixa dois. Mas o preço de uma medida como essa custará caro à representação política : a execração social. A indignação A sociedade não acatará de forma tranquila esse jeitinho brasileiro. Movimentos, setores, grupamentos deverão reagir de maneira muito contundente. Haverá formidável pressão sobre o Parlamento para evitar a artimanha. Mesmo assim, chega-se a avaliar que os danos provocados por eventuais condenações da Lava Jato seriam maiores que a execração pública dos protagonistas envolvidos no caixa dois. Por isso, a tendência é a de aprovação do projeto que divide o caixa dois em antes e depois. Tempo de maturação O balão da Opinião Pública está no ar. O projeto está sendo debatido nas salas e corredores das casas congressuais. Por enquanto, não se viram manifestações de peso, até porque não apareceu ainda quem queira dar as caras como seu patrocinador. Fala-se que o presidente do Senado, Renan Calheiros, quer levar a ideia adiante. Mas ainda não se viu o escopo da proposta. O fato é que o tempo de maturação começou a correr. Otimismo O índice de confiança do empresariado nas perspectivas do país é o mais alto desde 2013. Chegou a 45% no terceiro trimestre, aumento de 25 pontos porcentuais ante igual período de 2015. Constatação da consultoria Grant Thornton. A melhora do humor ajudou o Brasil a escalar nove posições no ranking mundial, indo para o 14º lugar, deixando para trás países como Estados Unidos, na 15º posição. Moro O juiz Sérgio Moro, em sua longa entrevista ao Estadão, foi ao alvo da questão. Para ele, a corrupção, que deveria ser exceção, virou rotina. Esse é um fato que lhe causou surpresa. Desordem social O economista José Roberto Afonso fez um estudo sobre a situação financeira do Rio de Janeiro. Tocou forte : pode haver desordem social no Rio. A gravidade das contas é de tal monta que na paisagem é possível enxergar até uma intervenção Federal no Estado. Contratado para fazer estudo de recuperação, o economista trabalha com medidas duras, entre elas, a subtração de 30% do salário dos servidores para pagar o déficit da Previdência. Consultor veta PEC O consultor do Senado, Ronaldo Jorge Araújo Vieira Junior, produziu um parecer considerando inconstitucional a PEC do teto dos gastos. Diz, entre outras coisas, que a PEC fere princípios como a separação de Poderes e o sub-princípio da razoabilidade. O senador José Medeiros, do PSD-MT, mostrou uma foto do consultor exaltado em um evento de protesto contra o impeachment de Dilma. Mas ele nega filiação partidária. A campanha suja A campanha eleitoral norte-americana foi uma das mais sujas da história. Viu-se ali a degradação da política, fenômeno que se espraia pela comunidade mundial. A teia de representantes não tem passado no teste de qualidade. Corre os continentes o sentimento de que a política, além de não corresponder aos anseios das sociedades, não é representada pelos melhores cidadãos, como estatuía o ideário aristotélico. A estampa dos homens públicos também se apresenta esboroada. Viram as mentiras de Trump em seu périplo pelo país ? O teste da democracia A política degradada reflete os compromissos não cumpridos pela democracia, entre eles a educação para a cidadania, objeto de análise de um dos mais proeminentes pensadores da ciência política, Norberto Bobbio, em seu vigoroso ensaio sobre o ideário democrático. Governantes das mais diferentes ideologias dão efetiva contribuição à degenerescência da arte de governar, pela qual Saint Just, um dos jacobinos da Revolução Francesa, já expressava, nos meados do século 18, grande desilusão : "Todas as artes produziram maravilhas, menos a arte de governar, que só produziu monstros." Trump e o mundo Vitória de Donald Trump traz ameaças de estabilidade nas relações entre EUA e o mundo. Abre, de imediato, uma guerra comercial com alguns países. Ele prometeu impor uma tarifa de 45% sobre importações da China. Imaginem o tamanho do litígio. O protecionismo de Trump afeta muito o Brasil. Dia D Hoje, o Supremo Tribunal Federal deverá pôr em julgamento a validade da súmula 331, do Tribunal Superior do Trabalho. Esta súmula admite a terceirização de atividades-meio, mas não de atividades-fim. O ministro Luiz Fux dará seu voto sobre o recurso da empresa Cenibra (MG), processada por um sindicato de trabalhadores por ter terceirizado atividades-fim. A empresa se ampara no princípio da Legalidade : "Ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei". Não há lei que proíba a terceirização de atividade-fim. O sindicato aponta para o enunciado 331 do TST. A Cenibra refuta : enunciado não tem força de lei. O ministro Fux dará seu voto sobre o imbróglio. (P.S. É possível que não saia decisão hoje) Previsão de Manus O ministro aposentado do TST, Pedro Paulo Teixeira Manus, acredita que o STF tende a acabar com a restrição das terceirizações às atividades-meio. Ele lembra que o ministro Dias Toffoli, em liminar, já mostrou contrariedade a essa limitação. Manus acredita que o Supremo vá meramente revogar a súmula 331, mas não regulamentar a questão - o que aumentaria ainda mais a segurança jurídica sobre o assunto. O TST só normatizou as subcontratações devido à inércia do Congresso. Há dois projetos no Congresso criando o marco regulatório da Terceirização : o PL 4302, aprovado pela Câmara e reformado no Senado, voltou à Câmara ; e o PL 4330, aprovado na Câmara e que se encontra no Senado. A verdade Há dias, The Economist, a prestigiada revista britânica, trouxe interessante análise sobre a pós-verdade, essa tendência de falsear as informações nesses turbulentos tempos contemporâneos. Expôs o painel das contrafações e mentiras, a partir da torre de babel formada na esteira da campanha norte-americana. Barack Obama teria nascido na África, fundado o Estado Islâmico ; os Clintons são assassinos e o pai de um rival estava com Lee Harvey Oswald antes de ele matar John Kennedy. Trapaças de Donald Trump. Preconceitos A manipulação da verdade não é novidade na política. Basta ver como Hitler usou a propaganda para fazer a mistificação das massas. Mas hoje a situação é até mais grave, segundo Economist : "a verdade não é falsificada, ou contestada, mas de importância secundária. Antes, o propósito da mentira política era criar uma falsa visão do mundo. As mentiras de homens como Trump não funcionam assim. Elas não buscam convencer as elites, a quem seus eleitores-alvo nem confiam ou gostam, mas reforçar preconceitos. Sentimentos, não fatos, são o que importa neste tipo de campanha." Mídia do Estado-espetáculo A "pós-verdade" é alimentada pela mídia do Estado-espetáculo. Hoje, as informações falsas escapam dos grandes meios para as redes eletrônicas. "Mentiras que são amplamente compartilhadas on-line dentro da rede, cujos membros confiam uns nos outros mais do que em qualquer fonte da mídia mainstream, podem assumir rapidamente a aparência de verdade. Apresentadas a evidências que contradizem a crença que tinham, as pessoas têm uma tendência a negar os fatos num primeiro momento", conclui The Economist. Entre nós O fato é que a desinformação e as falsas informações inundam os espaços midiáticos, particularmente na mídia eletrônica. Face a esses desvios, este analista de política decidiu criar um Movimento pela Verdade : MOVER. Tem como objetivo resgatar a verdade, atenuar o painel de falsas informações, corrigir informações erradas, sempre procurando evitar as malhas mal intencionadas, algumas sob soldo de patrocinadores com o fito de difamar e caluniar. Lei Rouanet Um exemplo recente de desinformação e informação maldosa foi o bombardeio sobre a Lei Rouanet. A partir de um ou outro caso de desvio no entorno da lei, quase todo o conjunto de pessoas que usaram recursos para patrocínio das artes foi colocado no cadafalso. Desde o ano passado, sites e blogs procuram sujar a imagem de artistas, diretores, promotores, etc. E assim a imagem de pessoas probas e honestas foi duramente atingida. Este escriba continuará a fazer sua crítica adequada sobre maus comportamentos nos amplos espaços da política e da cultura, mas não acolherá informações falseadas ou com nítida intenção de atingir a honra de pessoas. Fecho a coluna com uma deliciosa historinha do Rio Grande do Norte. "Aposentem o homem" Dinarte Mariz (UDN) era governador do Rio Grande do Norte. Em uma de suas costumeiras visitas à Caicó, visitou a feira da cidade, acompanhado da sempre presente Dona Nani, secretária de absoluta confiança. Dá de cara com um amigo de infância e logo pergunta : - "Como vai, Zé Pequeno ?" O amigo, meio tristonho e cerimonioso, responde : - "Governador, o negócio não tá fácil ; são oito filhos mais a mulher... tá difícil alimentar essa tropa vivendo de biscate. Mas vou levando até Deus permitir." O velho Dinarte o interrompe de pronto : - "Zé, que é isso, homem, deixe essa história de governador de lado. Sou seu amigo de infância, sou o Didi!" Vira-se para Dona Nani e ordena : - "Anote o nome do Zé Pequeno e o nomeie para o cargo de professor do Estado." Na segunda-feira, logo no início do expediente, Dona Nani entra na sala de Dinarte e vai logo informando : - "Governador, temos um problema, o Zé Pequeno, seu amigo, é analfabeto ; como podemos nomear..." Antes que concluísse a fala, o governador atalha : - "Virge Maria, Dona Nani ! O Rio Grande do Norte não pode ter um professor analfabeto. Aposente o homem imediatamente." E assim foi feito ! (Historinha enviada por Lindolfo Sales).
quinta-feira, 3 de novembro de 2016

Porandubas nº 509

Não tô morto, não O caso deu-se em São Bento do Una/PE, nos idos de 60. O caminhão, entupido de gente, voltava de um jogo de futebol, corria muito, virou na curva da estrada. Foram todos para o hospital. Uma dúzia de mortos. Lívio Valença, médico e deputado estadual do MDB, foi chamado às pressas. Pegou a carona de um cabo eleitoral, entrou na sala de emergência do hospital e foi examinando os corpos : - Este está morto. Examinava outro : - Este também está morto. O cabo eleitoral se empolgava : - Já está até frio. De um em um, passaram de 10. Lá para o fim, dr. Lívio examinou, reexaminou, decretou : - Mais um morto. O morto gritou : - Não estou morto não, doutor, estou só arrebentado. O cabo eleitoral botou a mão na cabeça dele : - Cala a boca, rapaz. Quer saber mais do que o dr. Lívio ? (Historinha do incomparável Sebastião Nery) Uma leitura do pleito 1. Antipolítica tradicional O eleitor deu um conjunto de recados no pleito encerrado domingo passado. O primeiro foi um puxão de orelhas na velha política, nas práticas predatórias da politicagem e de politiqueiros. Foi um aviso de basta às falsas promessas, aos dribles que candidatos costumam dar nos eleitores nos ciclos eleitorais. Portanto, o repúdio à antipolítica tradicional ficou evidente nos números de abstenção, votos nulos e brancos. Dos cerca de 25,8 milhões de eleitores que compareceram ao segundo turno, 14,3% invalidaram o voto. No Rio, abstenções, votos nulos e brancos somaram quase 47% no segundo turno. Dos 32,9 milhões de eleitores aptos a votar no país, 21,6% não compareceram às urnas, crescimento de 13% em relação ao pleito de 2012. 2. Rumo ao centro, contra extremismos A segunda leitura que se pode extrair é a de que o eleitor deu um não aos extremismos e radicalismos, optando por um ponto no meio do arco ideológico. Essa opção pode ser aferida não apenas pelos votos conferidos ao PSDB, com seu escopo social-democrata (um braço no centro-direita, outro braço no centro-esquerda), mas pela votação dada a quase 30 siglas, a maioria delas sendo de médias e pequenas, quase todos integrantes da base governista. Alguns falam de guinada conservadora, à direita. Mais adequado é apontar para uma fixação eleitoral no espaço central do arco ideológico. 3. Os tucanos O PSDB foi o grande vencedor do pleito que se encerra. Administrará 805 municípios, com uma população de 34 milhões de pessoas, 16% a mais do que obteve em 2012, e um orçamento de R$ 160,5 bilhões. A vantagem dos tucanos se dá principalmente na esfera das 92 maiores cidades brasileiras. Sua vitória permite divisar horizontes. Também representa um veto do eleitor ao PT e suas lideranças, a partir de Lula e Dilma, aos quais se atribuem a derrocada da economia e a maior recessão de nossa história. Portanto, o maior derrotado é o PT, que leva a fama de ter coordenado monumental esquema de corrupção, objeto de investigação da operação Lava Jato. O último bastião petista, João Paulo, ex-prefeito do Recife, perdeu para o atual alcaide, Geraldo Júlio, do PSB. 4. Alckmin, o maior vencedor Três tucanos se apresentam como protagonistas centrais : Aécio Neves, Geraldo Alckmin e José Serra. Alckmin certamente assume posição de maior relevo em função da extraordinária vitória de João Doria no primeiro turno em São Paulo, metrópole de maior densidade eleitoral do país. Já a derrota do tucano João Leite, em Belo Horizonte, enfraqueceu Neves. José Serra, atual chanceler, se quiser ser candidato à presidente em 2018, poderá sê-lo em outra agremiação. 5. Capilaridade do PMDB O pleito mostrou ainda um PMDB muito capilar. Administrará 1.038 municípios, com uma população de 20,6 milhões de pessoas. Além de médios, abarca considerável quantidade de pequenos municípios. O PMDB simboliza o equilíbrio da balança do poder, fazendo alianças à esquerda ou à direita, detendo, assim, imensa capacidade de ser o maestro da orquestra. Sua força poderá ainda ser avaliada pelo maior número de vereadores eleitos, ao qual se somam as maiores bancadas de deputado estadual, Federal e de senadores. 6. Pulverização Partidos médios e pequenos avançam nas cidades, sendo mais competitivos que na eleição de 2012. Vejamos os números da pulverização de votos com a planilha dos eleitos pelos partidos : PMDB - 1.037 ; PSDB - 803 ; PSD - 541 ; PP - 492 ; PSB - 413 ; PDT - 335 ; PR - 300 ; DEM - 267 ; PTB - 262 ; PT - 254 ; PPS - 122 ; PRB - 105 ; PV - 104 ; PSC - 86 ; PC do B - 81 ; SD - 63 ; PROS - 53 ; PHS - 37 ; PTN - 31 ; PSL - 30 ; PMN - 29 ; PRP - 18 ; PTC - 15 ; PEN - 14 ; PTdoB - 14 ; PRTB - 10 ; PSDC - 9 ; REDE - 7 ; PPL - 4 ; PMB - 4 ; PSOL - 2 ; PSTU - 0 ; PCO - 0 ; PCB - 0 ; NOVO - 0. 7. A base governista Os partidos que formam a base do governo administrarão 81% dos eleitores do país. Esse pode ser um trunfo do governo. Sobre o território municipalista que hoje estabelece nova base serão edificados os pilares das campanhas estaduais e Federal de 2018. A radiografia política que começa a ser vista exibe um corpo intensamente situacionista, formado por um aglomerado de partidos inseridos na base do governo. Os traços oposicionistas, fragmentados e dispersos, sugerem que as forças por eles representadas terão chances reduzidas de marcar forte presença na paisagem eleitoral de 2018. O PT foi praticamente triturado do mapa político, transferindo ao PSOL, que fica em último lugar, a herança de oposição ideológica no espectro partidário. Apesar de suas derrotas, o PSOL ganhou muita visibilidade com a candidatura Freixo, no Rio. 8. Ciclo das vacas magras Os 5.568 municípios entrarão no ciclo de vacas magras. Viverão em estado de penúria. De pires na mão, baterão às portas do governo Federal. Por conseguinte, é viável supor que, mesmo fazendo parte da aliança governista, muitos prefeitos ficarão frustrados caso não vejam o braço estendido da administração Federal. E quem vai determinar o comportamento do Executivo em relação aos prefeitos será a economia. Arrumada, organizada, trará confiança ao mercado, recuperará investimentos e diminuirá o tamanho da massa desempregada. Sob essa hipótese, é provável que o aumento do Produto Nacional Bruto da Felicidade e da Harmonia produza intensa adesão à gestão governamental. E o governo teria, assim, condições de amparar os cofres da municipalidade. 9. Pacto federativo O governo, por sua vez, defende com força a ideia de um pacto federativo, com foco na redefinição de competências e recursos envolvendo a União, Estados e municípios. Poderia ser a redenção da municipalidade, a base do edifício político. Mesmo assim, é remota a hipótese de confortabilidade para as administrações municipais. Que tentarão adotar uma nova planilha de critérios ancorados nos seguintes valores : racionalidade/enxugamento de estruturas ; clareza/transparência/ ; eficiência/eficácia ; zelo ; acuidade ; maiores cobranças do munícipe, entre outros. Não serão contempladas grandes obras. O foco estará na qualificação dos serviços básicos : saúde, educação, mobilidade urbana, segurança, etc. 10. Protagonistas de 2018 Se a conjuntura econômica, portanto, se apresentar favorável, é viável apostar na hipótese de que candidatos mais competitivos em 2018 serão aqueles que colaboraram para a melhoria de vida da população. PSDB, PMDB, PSD, PSB ou DEM, por exemplo, serão motivados a lançar candidatos. Nesse caso, dois, três ou mesmo quatro competidores deverão surgir, representando sentimentos e posicionamentos de um gigantesco centro social : um mais centro-direita, outro mais centro-esquerda e até outro que encarne o papel de antipolítico, nos moldes de João Doria, em São Paulo, ou Kalil, em BH. 11. Crivella, o evangélico A administração de Marcelo Crivella, no Rio, deverá ser uma das mais monitoradas pela mídia. O senador é bispo licenciado da Igreja Universal. E sobre ele recaem muitas suspeitas, entre as quais a de que sua eleição faz parte de um projeto hegemônico do grupo evangélico sob o comando de Edir Macedo para tomar conta dos Poderes. O projeto incluiria o adensamento das estruturas dos Poderes com quadros evangélicos. A evangelização do país, sob a infiltração da religião nos vãos e desvãos da política, puxaria uma onda de conservadorismo. 12. 147 pendentes Dos candidatos eleitos, 147 aguardarão desfecho de processos que correm contra eles no Tribunal Superior Eleitoral. Há um certo travo de amargo na boca de alguns vitoriosos. 13. Cinturão vermelho sumiu O cinturão vermelho na região metropolitana de São Paulo sumiu. O PT deixará de ter prefeitos em seu berço, o ABC paulista. Foi escorraçado. Em seu lugar, emerge um cinturão azul, dos tucanos de Geraldo Alckmin. Que sai do pleito como o maior vencedor individual. 14. Lula e Dilma O civismo recomenda obediência às leis e aos bons costumes na via eleitoral. Lula e Dilma deram um péssimo exemplo, ao deixarem de votar no segundo turno. Como é possível um líder popular como Luiz Inácio, acostumados aos palanques, fugir das urnas ? Tem o direito de se valer da prerrogativa de não votar, eis que é um setentão. Mas a idade não é desculpa para dar as costas às urnas. Papelão.
quarta-feira, 26 de outubro de 2016

Porandubas nº 508

Abro com uma historinha mineira para aliviar o peso das notas abaixo. Quiçá e cuíca Benedito Valadares, governador, foi a Uberaba para abrir a Expozebu. E passou a ler o discurso preparado pela assessoria. A certa altura, mandou ver : "cuíca daqui saia o melhor gado do Brasil". Ali estava escrito : "quiçá daqui saia o melhor gado". A imprensa caiu de gozação. Passou-se o tempo. Tempos depois, em um baile na Pampulha, o maestro, lembrando-se do famoso discurso na terra do zebu, começou a apresentar ao governador os instrumentos da orquestra. Até chegar na fatídica cuíca. E assim falou : "e esta, senhor governador, é a célebre cuíca". Ao que Benedito, querendo dar o troco, redarguiu com inteira convicção : - Não caio mais nessa não. Isto é quiçá ! (Historinha enviada por J. Geraldo) Mais tons de cinza Há um mês, os horizontes pareciam mais claros. Índices de confiança eram registrados com entusiasmo, sinais de resgate de investimentos surgiam em muitos setores, a esfera política tendia a se acalmar. Nos últimos dias, os horizontes ganharam acentuados tons de cinza. Dois fatos contribuem para o adensamento de nuvens plúmbeas nas dobras do presente : a prisão do ex-presidente da Câmara, Eduardo Cunha, e o acordo para delação premiada de Marcelo Odebrecht e mais 50 executivos do Grupo na operação Lava Jato. A delação de Cunha Primeiro, é oportuno lembrar que eventual delação premiada de Cunha visa preservar a situação da família - a mulher, jornalista Claudia Cruz, e a filha Daniela. Parece forte o argumento de que o juiz Sérgio Moro não pretende aliviar a situação do ex-deputado, mostrando disposição para puni-lo e dando vazão ao sentimento popular. Ao longo dos últimos meses, Eduardo Cunha tornou-se um "símbolo do mal". Parcela ponderável da carga de imagem negativa que recai sobre ele provém da maciça cobertura midiática de seu envolvimento na operação Lava Jato. Punição Sérgio Moro tem uma antena ligada à opinião pública. Seria desconfortável para ele e os procuradores aceitarem uma delação que transformasse a prisão de Cunha em uma retenção na residência, mesmo sob o constrangimento do uso de uma tornozeleira eletrônica. Dá mostras de que aplicará pesada condenação. Mas o deputado fará tudo o que for possível para mostrar a ausência de motivos para sua prisão. O fato é que sua detenção abriu densa camada de tensão na órbita política. Ele ajudou a uma gorda leva de deputados em suas campanhas. Deverá dar nome aos bois. E estes, por sua vez, terão de demonstrar se os recursos canalizados pelo ex-presidente da Câmara foram devidamente registrados nas planilhas entregues aos Tribunais Regionais Eleitorais de sua região. Grande ou médio impacto ? No Parlamento, espraia-se a versão de que os impactos de eventual delação premiada de Cunha não serão tão violentos quanto inicialmente se imaginava. Os efeitos tenderiam a ser menores do que as ameaças proclamadas. Por enquanto, tudo é especulação. Nada se pode afirmar. Cunha é uma pessoa inteligente, engenhosa, e saberá onde e como apertar os calos de ex-amigos, principalmente aqueles que o teriam "traído". O fato é que a delação, qual seja sua extensão, demandará tempo. O foro privilegiado arrastará as investigações e decisões para longe. Delação Odebrecht Já a delação dos componentes do Grupo Odebrecht é considerada mais impactante, eis que os delatores poderão contar casos em minúcias, com nomes, datas, números, abordagens, situações específicas. O grande número de delatores - 50 - tende a aumentar o peso da delação. Nesse caso, a imagem que se tem é a do dominó : a queda de uma pedra empurrando outra e assim por diante. O PT e seus protagonistas serão o alvo central, mas outros partidos, como PMDB e PSDB, poderão entrar na lista. Lula, o epicentro Luiz Inácio será alvejado de frente. Sabe-se, a essa altura, que seu codinome - amigo - o coloca no centro das investigações. E o fato de ser amigo do pai de Marcelo, Emílio Odebrecht, será usado para desfiar um denso novelo. Essa história dos R$ 8 milhões que a ele teriam sido destinados, negociados pelo ex-ministro Antônio Palocci, virá à tona com muita força. A intermediação de negócios para favorecer a empreiteira deverá ser esclarecida. Recursos para partidos políticos, nomes de favorecidos, enfim, o rolo será todo desvendado. Os mistérios virão à tona. A tênue esperança da área política é que as investigações sejam levadas para as calendas. Assim, adentrariam nos portões do amanhã. Calendas Sabe-se que um delator faz, em média, 10 depoimentos. Mas, a depender do perfil do delator, ele poderá prestar até 50 depoimentos. Na delação conjunta da Odebrecht, o número de delatores poderá chegar a 68. Mesmo com um grande número de investigadores, como se pode inferir, o final das investigações tomará muito tempo. Resgate do PT ? Lula planeja correr o país fazendo uma campanha onde dirá que se conspira contra ele e os ganhos sociais conquistados na era PT. Vai se fazer de vítima. Tentará mostrar que estão tramando um golpe contra ele. Para afastá-lo da peleja presidencial de 2018. Conseguirá ? Já ensinava Heráclito de Éfeso na Antiguidade : "Um homem nunca atravessa o mesmo rio duas vezes". Contrastes O fato é que o clima ambiental voltou a subir muito. As tensões aumentam. E os contrastes emergem aqui e ali. Vejamos. Já se ouve que o Brasil começa a entrar novamente nos trilhos. Esse discurso se alarga nas fronteiras do mercado. A economia entra na linha de arrumação, sob a esperança da aprovação da PEC do teto de gastos (241), cuja última votação no Senado está prevista para 14/12. A inflação dá sinais de arrefecimento. O dólar cai, a bolsa sobe. Mas o desemprego e a subocupação chegam a somar quase 17 milhões de pessoas. Se a confiança começa a ser resgatada, as interrogações se multiplicam na paisagem. É o Brasil dos contrastes. Poder de compra O poder de compra dos brasileiros caiu 9% em dois anos, voltando ao nível de 2011 : ou seja, de R$ 3,49 trilhões para R$ 3,17 trilhões. Poderes em guerra A tensão se avoluma. A invasão do Senado e a prisão de agentes policiais da Casa pela Polícia Federal abrem mais uma arena de guerra entre os Poderes. Renan Calheiros, o presidente do Senado, denuncia a ação da PF no Senado por decisão de "um juizeco de primeira instância". Com isso, abre querela com o Judiciário. A presidente do STF, ministra Cármen Lúcia, rebate : "Onde juiz for destratado, eu também sou", exigindo respeito dos demais Poderes da República. Renan também chama o ministro da Justiça, Alexandre Moraes, de "chefete da polícia", atirando em um alto quadro do Poder Executivo. O presidente da República, Michel Temer, com sua índole conciliadora, tenta acalmar os ânimos. Possivelmente, reúna a presidente do STF, ministra Cármen Lúcia, o presidente do Senado, Renan Calheiros, e o ministro da Justiça, Alexandre Moraes, no lançamento do Pacto Nacional pela Segurança Pública, previsto para esta sexta-feira. A palavra do ministro Gilmar O país está muito tenso. Judiciário polêmico. É também o que se vê. O ministro Gilmar Mendes tem sido um contundente e constante analista do comportamento de juízes da primeira instância. Argumenta que a competência para uma ação no Senado compete ao Supremo Tribunal Federal e não a um juiz de grau inicial. Na entrevista ao jornal Folha de São Paulo, Gilmar fez contundente crítica ao corpo judicial, dizendo que os 55 mil juízes brasileiros querem imitar Sérgio Moro. Lembra, ainda, que a operação Lava Jato não pode ser instrumento para reivindicar aumento salarial. Há dias expressou ácida crítica contra os componentes do TST, atribuído a alguns um voto ideológico. Gilmar tem sido um ministro duro e direto nas análises sobre o papel de nossas instituições. Merece aplausos. Pano de fundo Por trás do imbróglio criado com os últimos eventos nas frentes das instituições há um conjunto de posições, pleitos, intenções e disputas : 1. O Poder Legislativo enxerga suas funções diminuídas pelo ativismo judicial ; 2. O Poder Judiciário quer avançar posições e fazer valer sua força, inclusive em defesa corporativa de salários etc. ; 3. O Poder Judiciário ocupa espaços em função da ausência de legislação infraconstitucional em determinados campos ; 4. O Poder Executivo luta para arrumar a economia e adensar sua base política, mas vê ameaçada tal meta ante a avalanche de denúncias na esfera congressual, que deixa o corpo parlamentar mais sensível ao clamor das ruas ; 5. Os atores políticos passam a cobrar custo mais alto quando se vêem acossados pela operação Lava Jato ; 6. O Poder Legislativo quer aprovar a Lei da Autoridade para evitar abusos de operadores do Direito, mas sente-se acuado diante da reação contrária da opinião pública. Prioridades do Executivo O Poder Executivo tem os seguintes desafios (entre outros) pela frente : a. Aprovar a PEC 241 ainda este ano ; b. Aprovar a Reforma da Previdência no 1º trimestre de 2017 ; c. Aprovar a modernização da Reforma Trabalhista em 2017 (se o STF não o fizer por meio de interpretação constitucional sobre a súmula 331 do TST e a questão do acordado sobre o legislado) ; d. Ver aprovada pelo Congresso parte da Reforma Política ; e. Negociar com Estados uma política de teto de gastos ; f. Aprovar a Reforma Educacional (segundo grau) ; g. Sustar a curva crescente do desemprego ; h. Recompor a confiança de investidores ; i. Fazer um ajuste fino em uma ou outra Pasta ; j. Administrar pressões de entidades como Centrais Sindicais. Reclamação no CNJ A OAB Federal e a OAB/SP entraram com uma reclamação disciplinar no Conselho Nacional de Justiça contra magistrados trabalhistas da 2ª região, que despacharam em reclamações trabalhistas promovendo adiamento de audiências para 2017. Tais juízes usaram como justificativa para não trabalhar adesão a um ato definido pela sua associação de classe contra a PEC 241/2016 (controle de gastos públicos), PEC 62/2015 (desvinculação de subsídios da magistratura dos subsídios dos ministros do STF) e PL 280/2016 (abuso de autoridade). Argumento da Ordem : "não pode um magistrado usar de sua autoridade para praticar atos processuais estranhos à lide ou às partes, como redesignação de audiências para meses ou anos seguintes, fundamentando na participação em ato de caráter político-corporativo, qual seja, combater projetos legislativos de interesse de sua corporação". Conselhão O governo editou decreto recriando Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, que tem como tarefa o assessoramento do presidente da República na formulação de políticas e diretrizes voltadas ao desenvolvimento econômico e social e apreciar propostas de políticas públicas, reformas estruturais. Terá 80 componentes.
quarta-feira, 19 de outubro de 2016

Porandubas nº 507

Abro a coluna com uma mineirice. Engano de segundo grau 31 de março de 1964. Benedito Valadares se encontra com José Maria Alkmin e Olavo Drummond no aeroporto de Belo Horizonte : - Alkmin, para onde você vai ? - Para Brasília. - Para Brasília, ah, sim, muito bem, para Brasília. Os três saem andando para o cafezinho, enquanto Benedito cochicha no ouvido de Drummond : - O Alkmin está dizendo que vai para Brasília para eu pensar que ele vai para o Rio. Mas ele vai mesmo é para Brasília. A ciência política designa esse tipo de artimanha como engano de segundo grau. Explicando : engano meu interlocutor, dizendo-lhe a verdade para tirar proveito da sua desconfiança. Dizem que a versão original da historinha tem origem judia e expressa com humor o contorcionismo a que leva a ocultação de informações : "Que sacanagem, o senhor quis fazer-me acreditar que vai a Minsk. Acontece que o senhor não vai a Moscou, vai mesmo a Minsk". Lula e a caçada Lula fez longo artigo na Folha de São Paulo, ontem. Denunciou a "caçada judicial" montada contra ele pelos procuradores, Polícia Federal e Judiciário. Acusa "ritos burocráticos vazios". Disse que nunca roubou, não foi corrompido nem tentou obstruir a Justiça. Alega que não pretendem condenar o Lula, mas o projeto político que ele representa. E arremata com o mote de que "estão destruindo os fundamentos da democracia no Brasil". Nada aconteceu de ruim Pelo artigo de Lula, nada de ruim aconteceu no país nos anos do lulopetismo/dilmismo. Ao contrário. O que existe é uma trama para desmoralizar o PT e os seus líderes. O caradurismo do ex-metalúrgico chega ao ponto de afirmar que o país caminha na direção de um "estado de exceção". Mentira vira verdade Ou seja, o PT construiu uma pátria ética, asséptica, racional, com quadros de mérito na administração Federal. Tudo que a Justiça fez e faz é um jogo de perseguição das elites e da imprensa burguesa contra eles, os verdadeiros patriotas. Pano de fundo da engenharia cognitiva : quando a pessoa coloca uma ideia fixa na cabeça e passa anos a fio falando bem dela, acaba acreditando ser ela a pura expressão da verdade. É assim que Luiz Inácio transforma mentiras em axiomas lulistas. Clima quente Enquanto Luiz Inácio insiste na ideia de perseguição contra ele e o PT, o clima interno no partido está perto de ebulição. Alas desunidas, rachas à vista. Formou-se o grupo Muda PT, abrigando cinco correntes de esquerda, entre as quais a Mensagem ao Partido. Este Grupo defende um Congresso imediato para debater o futuro do PT e escolher uma nova direção. Bate de frente contra a tendência majoritária CNB - Construindo um Novo Brasil, liderada por Lula. Acordo PSDB e PMDB 2018 ainda é uma réstia muito difusa no horizonte político. Mas o andar da carruagem política poderá descobrir uma intersecção de interesses entre tucanos e peemedebistas. O PMDB tem dito e repetido que terá candidatura própria nas eleições de 2018. Quer deixar de ser mero coadjuvante, mesmo sendo o principal sustentáculo do poder central. Mas na política não existem regras imutáveis. A flexibilidade é o termômetro que sempre mede a temperatura dos entes partidários. Por essa visão, o candidato do PMDB poderá ser, por exemplo, um tucano. E os tucanos, por uma questão de impasse interno no PSDB, poderão fechar posição em torno de uma candidatura bancada pelo PMDB. Tudo é possível. Os tucanos Os tucanos, como se sabe, têm três candidatos : Aécio Neves, o presidente atual da sigla, que detém formidável recall da campanha anterior, quando perdeu por pouco para Dilma ; Geraldo Alckmin, o forte governador de São Paulo, que tem condição de sair bem avaliado no maior conjunto eleitoral do país, e ainda vitaminado pela vitória de João Doria no primeiro turno do pleito paulistano ; e José Serra, eterno candidato, que está ganhando volume de imagem no Ministério das Relações Exteriores. Quais as chances de cada um ? Chances As circunstâncias balizarão as decisões. Hoje, o quadro que se apresenta mostra posição mais favorável a Aécio Neves, até pelo fato de que ele manobra muito bem a máquina partidária, tendo maioria expressiva dos comandos. Ocorre que Aécio corre o risco de sair com a imagem suja dos constantes bombardeios a que é submetido pela operação Lava Jato. Nesse caso, Alckmin abriria campo para se viabilizar como candidato. José Serra é quem detém menor influência na engrenagem partidária. Mas a ele não faltariam condições e estímulo para sair como candidato pelo PSD, de Kassab, por exemplo, ou pelo próprio PMDB, partido que o acolheria com satisfação. O desempenho pessoal de cada um funcionará como alavanca de empuxo. E a Lava Jato, hein ? Pergunta que teima em aparecer nas rodinhas políticas e jornalísticas : e a Lava Jato durará quanto tempo, que atores novos pegará, quais os impactos que terá na moldura de 2018 etc. ? A resposta não é fácil. Algumas pistas podem ajudar a desvendar dúvidas. A primeira : o novelo do fio está sendo desfiado. Não dá para parar no meio sob pena de gerar dissonâncias sociais e volume crítico acentuado por parte da mídia. As investigações correrão até as proximidades eleitorais. Uns e outros Boa parcela de políticos será represada em função de eventual condenação em segunda instância, o que impedirá seus passos na arena eleitoral. Outra parcela poderá ser jogada no cofre das doações oficiais. A comprovação de recursos de campanhas livrará alguns de penalidades. E mesmo no caso de caixa dois, a tendência aponta para o alívio na situação de possíveis receptores. São meras inferências. Passíveis ou não de confirmação. PEC 241 A PEC 241 ganha apoio e defesa de imensa parcela de economistas, gestores públicos e políticos. A cada dia, a massa de artigos e entrevistas sobre a necessidade de conter os gastos públicos, estabelecendo um teto para eles, ganha densidade. São poucos os que ainda fazem críticas, entre estes os que insistem na tese de que a PEC acabará diminuindo gastos na área social. E esse aspecto, segundo eles, poderá implicar retrocesso. O governo, por sua vez, promete que não faltarão recursos para a saúde e educação, áreas prioritárias. O importante no debate é que a semente da racionalidade na questão dos gastos públicos começa a florescer. E assim o Brasil volta aos trilhos. No Senado É possível que a PEC 241 ganhe um número maior que os 366 alcançados na primeira votação da Câmara. Vai depender do quórum. Mas o tom crítico tem diminuído, o que leva a crer em aprovação maciça. No Senado, o presidente Renan Calheiros promete encerrar as duas votações em novembro. E preparar a casa para o grande debate em torno da reforma da Previdência. Previdência A reforma da Previdência é vista como a única alternativa para garantir o futuro dos aposentados. O problema é : que aspectos reformar ? Idade da aposentadoria, tempo de contribuição, gatilho para idade de aposentar ante a extensão da vida média do brasileiro, integração da previdência privada e da previdência pública etc. ? Como conciliar tudo isso em um bloco uniforme ? As Centrais e o barulho São muitos aspectos que estão sobre a mesa do debate. E o que se deve fazer ? Dialogar, debater, analisar, usar o bom senso. Não adianta chilique de Centrais Sindicais, que ameaçam fazer greve geral. O que as Centrais querem ? Ver o estouro da boiada ? Essas Centrais precisam perceber que os tempos mudaram. As tetas do Estado já não contêm leite para satisfazer suas bocarras. Fundo partidário O PT vive seu inferno astral. Mais denúncias jorram : pagou empresas com recursos do Fundo Partidário ; pagou ao marqueteiro João Santana também com esses recursos ; e ainda patrocinou viagens internacionais para seus militantes com dinheiro do Fundo Partidário. Em 2015, recebeu para o Fundo cerca de R$ 116 milhões, o maior volume. Contas separadas É possível separar as contas de candidatos a presidente e a vice. Esta hipótese foi aventada pelo ministro Luiz Fux. Portanto, as contas da ex-presidente Dilma Rousseff e as do atual presidente Michel Temer poderão ser analisadas de maneira separada. O argumento de Fux : "Tendo em vista preceito constitucional de que a pena não passa da pessoa do infrator, eu acho que não é irrazoável separar as contas prestadas". O ministro Gilmar, presidente do TSE, também já deu indicações nessa direção. Coisa para 2017. O acordado sobre o legislado Atentemos para uma questão que tem agitado o Judiciário : a questão da prevalência da autonomia coletiva (negociação entre patrões e empregados) sobre a legislação. O STF, por meio de alguns de seus ministros, já se pronunciou sobre a força da coisa acordada sobre a coisa legislada. Mas o TST entende que o princípio da autonomia deve ser "relativizado", não podendo ser aplicada a todos os direitos que os trabalhadores negociarem. Ministros questionam a natureza jurídica do "negociado", dizendo que os precedentes do STF sobre a matéria (negociado X legislado) têm sido pontuais, não podendo se estender indiscriminadamente para todos os direitos e tipos de negociação. TST legisla ? Dessa forma, o TST parece fechar questão com a tese : a Justiça do Trabalho é quem avaliará o que pode ou não ser negociado. Donde surge a inevitável questão : os ministros do TST podem julgar em contrário ao entendimento da Suprema Corte ? O fato é que o TST, ao que se induz, quer a manutenção de um Estado cada vez mais conflituoso na sociedade. Afinal, quanto mais conflitos, mais poder deterá. A recíproca é verdadeira. Daí a observação de que o TST abusa de uma função que não lhe é inerente : a de legislar. Campanha negativa A campanha eleitoral norte-americana está no clímax da propaganda negativa. Hillary Clinton e Donald Trump pouco falam de seus programas para dar ênfase aos ângulos que sujam as imagens de ambos. Pergunta : essa é uma novidade nos EUA ? Não. A revolução francesa de 1789 pode ser considerada o marco da propaganda agressiva nos termos em que hoje se apresenta. Ali, os jacobinos, insuflados por Robespierre, produziram um manual de combate político, recheado de injúrias, calúnias, gracejos e pilhérias que acendiam os instintos mais primitivos das multidões. Nos EUA Na atualidade, é a Nação norte-americana que detém a referência maior da propaganda agressiva, mola da campanha negativa. Este formato, cognominado de mudslinging, apresenta efeitos positivos e negativos. No contexto dos dois grandes partidos que se revezam no poder - democrata e republicano -, diferenças entre perfis e programas são mais nítidas e a polarização sustentada por campanhas combativas ajuda a sociedade a salvaguardar os valores que a guiam, como o amor à verdade, a defesa dos direitos individuais e sociais, a liberdade de expressão, entre outros. Nem sempre a estratégia de bater no adversário gera eficácia. Na campanha atual, Trump perde nesse campo. Cinco questões Na campanha entre Bill Clinton e Bob Dole, em 1996, cinco questões básicas relacionadas a valores permitiam prever se alguém votaria num ou noutro. Os que deram respostas predominantemente conservadoras votaram em Dole. Aqueles cujas respostas relevaram que estavam menos comprometidos com os valores tradicionais votaram em Clinton. As perguntas eram as seguintes : "1. Acredita que sexo antes do casamento seja moralmente errado ? 2. A religião é importante na sua vida ? 3. Já se interessou por ver pornografia ? 4. Tem opinião mais desfavorável sobre alguém que engana o cônjuge ? 5. O homossexualismo é imoral ?" (Dick Morris em Jogos de Poder)
quarta-feira, 5 de outubro de 2016

Porandubas nº 506

Abro a coluna com os devaneios de um candidato que sonhava com Deus. Era o ano de 2006. A campanha ao governo de Alagoas estava "fervendo". Um candidato muito conhecido no Estado pelas presepadas, cujo nome, por motivos óbvios aqui se omite, liderava as pesquisas. Era considerado imbatível. Último debate eleitoral na TV Gazeta. O apresentador passa a palavra ao mais que provável vencedor : - Candidato, após esta intensa campanha eleitoral, o senhor tem 30 segundos para as considerações finais. Fique à vontade para falar. O candidato jorrou : - Povo de Alagoas, ontem eu tive um sonho. Neste sonho, Deus meu dizia : "doutor (fulano de tal), construa hospitais para o sofrido povo deste Estado". A seguir, o apresentador passou a palavra ao outro candidato. Que usou a verve : - Povo de Alagoas, quem sou eu para disputar uma eleição com um homem que Deus o trata por doutor ? O candidato (fulano de tal) disse há pouco que falou com Deus e Deus disse : doutor fulano de tal. Ora, se Deus chama o meu adversário de doutor, reconheço que não posso fazer melhor do que ele. Vocês não acham que o adversário (fulano de tal) já se considera nomeado por Deus ? E foi assim que o candidato (fulano de tal), líder absoluto nas pesquisas, conheceu a derrota. Perdeu para a própria arrogância. (Historinha enviada por Manoel Pedrosa) Leitura do pleito Como não poderia deixar de ser, as Porandubas desta semana terão como foco os resultados e impactos do pleito eleitoral. Aqui estão sumarizados os grandes vetores apontados pelos 118 milhões de eleitores que compareceram às urnas. PSDB, o maior vitorioso O partido dos tucanos foi o maior vitorioso. Obteve 26,81% dos votos, seguido do PMDB, que alcançou 17,38%. Fez 791 prefeitos. Depois, tivemos o PSB, com 9,32% ; o DEM, com 6,92% ; o PDT, com 6,08% ; o PTB, com 4,53% e o PT, com 4,39%. O PSDB elegeu dois prefeitos de capitais e terá mais oito disputando o segundo turno no dia 30 de outubro. Já o PMDB elegeu um prefeito e terá mais seis disputando o segundo turno. Mas no cômputo das cidades acima de 200 mil eleitores, os tucanos elegeram 14 prefeitos (disputando o segundo turno em mais 19 municípios) e o PMDB, oito (disputando o segundo turno em mais 13). Visão do passado : em 2012, os tucanos elegeram quatro prefeitos de capitais e o PMDB, dois. Maior número de prefeituras Já o PMDB conseguiu, mais uma vez, fazer o maior número de prefeitos : 1.029, oito a mais que o número alcançado em 2012. Por enquanto. Pois o PMDB poderá crescer mais no segundo turno, a ser disputado em 56 municípios. Dessa forma, continua a ser o mais capilar do país, com presença em todos os espaços nacionais. O maior perdedor O PT foi o maior derrotado neste pleito. Elegeu apenas 256 prefeitos - 382 a menos que o montante alcançado em 2012. Sai de 3ª posição no ranking de prefeituras para a 10ª posição, um pouco abaixo do PTB, que elegeu 262 prefeitos. Torna-se um partido dos grotões do país. Foi expulso, inclusive, do tradicional cinturão vermelho do ABC, onde tem sua origem. Não conseguiu fazer nenhum vereador em Osasco, onde imperava. Portanto, esta pode ter sido a última campanha do ciclo de mando do PT. Que sai do centro do poder para refazer o habitat nos recantos mais longínquos. Até no Nordeste, sua praça principal, levou uma grande surra. Nem o Bolsa Família conseguiu salvar o partido. Nulos, brancos e abstenção O total de votos nulos e brancos foi de 13,68%, acima dos 11,15% registrados em 2012. Já as abstenções somaram 17,5%, aumento de 6,6% em relação ao primeiro turno de 2012, quando o índice chegou a 16,41%. Na média, abstenções, brancos e nulos chegam a 32,5% nas capitais. Só em São Paulo, os votos nulos, brancos e as abstenções somaram 3,096 milhões de votos, mais que a votação do vitorioso João Doria, que obteve 3,085 mil votos. Ou seja, em São Paulo, o não voto (abstenção, nulos e brancos) somou mais de 33%. No Rio, este índice superou os 38%. A maior abstenção e o maior número de votos nulos e brancos permitem inferir que este foi também o pleito da contrariedade, da indignação. A sociedade dá as costas à política. Daí o recado : urge reformar a política. Vencedora : base de Temer A base partidária do presidente Michel Temer venceu em todos os lados, reunindo os 1.027 prefeitos do PMDB, os 791 do PSDB, os 536 do PSD, os 494 do PP, os 294 do PR, os 265 do DEM, os 261 do PTB, os 118 do PPS e uma parcela dos 412 do PSB, e outra boa fatia dos 704 prefeitos de outras legendas menores. O número de prefeituras ganhas por partidos da base aliada é de 4.930. Já as oposições encolheram, a partir do PT. Que ganhou prefeituras dos grotões, afora a capital do Acre, Rio Branco. O PSOL ainda ostenta força graças ao bom posicionamento de Marcelo Freixo, no Rio de Janeiro. O maior fenômeno : João Doria O maior fenômeno eleitoral é João Doria, que abre um fato inédito :ganhar uma eleição na maior metrópole do país em primeiro turno. Razões : vestiu o manto antipetista na cidade por excelência do antipetismo, expressou discurso da gestão, mostrou-se como empresário sem os vícios da velha política, teve a maior mídia eleitoral - em função da parceria entre PSDB e 12 partidos. Com uma cara limpa, um discurso apropriado, uma agenda que incluiu nove meses de corrida intensa pelos 93 sub-distritos de São Paulo, passou a ser amplamente conhecido e angariou o voto útil contra o PT. Quando o eleitorado percebeu que poderia despachar Fernando Haddad logo no primeiro turno, o fez. Essa corrente se formou em dois dias - sábado e domingo da eleição. Quem ganha com Doria Quem sobe com a vitória inesperada de João é o governador Geraldo Alckmin, que patrocinou sua candidatura. Alckmin apostou na candidatura do empresário e jornalista. João fez um bom programa de TV e rádio, escolheu Haddad como foco, mas foi educado. Não usou linguagem capenga. Saiu-se muito bem nos debates. A lógica da política eleitoral apontava para seu crescimento. E assim, em três meses, subiu de 6% para 53,03% dos votos em São Paulo. Alckmin ganha fôlego, desde já, para caminhar na direção de 2018. São Paulo é o maior colégio eleitoral do país com os seus 33 milhões de votos, o dobro de Minas Gerais. Perdas de Lula Lula e Dilma também foram grandes perdedores. Lula pegou Haddad pelo braço e correu a periferia de São Paulo. O PT não venceu em nenhuma zona eleitoral. Os candidatos apoiados por Lula em todas as grandes cidades perderam. Além de Haddad, estão Jandira Feghali (PC do B), no Rio ; Luizianne Lins (PT), em Fortaleza ; Fernando Mineiro (PT), em Natal ; Marcio Pochmann (PT), em Campinas ; professor Tito (PT), em Sumaré ; Fernando Santana (PT), em Barbalha, Ceará. Em sua casa, em São Bernardo do Campo, Lula não conseguiu eleger vereador seu filho, (do primeiro casamento de dona Marisa Letícia), Marcos Lula. Que teve apenas 1.504 votos. O candidato do PT a prefeito, Tarcisio Secoli, ficou em terceiro lugar e está fora do segundo turno. Os candidatos de Dilma também capengaram, como Raul Pont, em Porto Alegre, e a própria Feghali, no Rio. Rede encolheu A Rede, de Marina Silva, teve 820 candidatos a prefeito. Elegeu cinco. Sete fundadores saem do partido, decepcionados. PC do B No MA O PC do B, do governador Flávio Dino, registrou o maior avanço numérico nos municípios com população miserável, ao passar de 11 para 27, das quais 23 no Maranhão. Vencedores do PT O PT teve isolados vencedores. O prefeito de Rio Branco, capital do Acre, foi reeleito. O candidato Edinho Silva conseguiu vencer a ex-mulher, Edna Martins, como candidato de Araraquara, em São Paulo. E Eduardo Suplicy, sob as artimanhas de quem faz tudo para aparecer, foi o vereador com maior votação em São Paulo, com 301,4 mil votos, 5,62% dos votos válidos na capital. Última campanha do ciclo PT Esta foi a última campanha municipal sob o desfraldar de velhas bandeiras. Algumas delas : o apartheid social desenhado pelo PT por meio de seu insistente bordão : "nós e eles" ; o desfile de caras e bocas na mídia eleitoral, cuja audiência foi um fracasso face à rejeição do eleitor aos políticos, de forma geral, e aos candidatos, em particular ; os debates entre candidatos a prefeito, geralmente monótonos e com regras muito restritivas ; promessas que entram na esfera das extravagâncias e exageros. Campanha mais limpa Tivemos uma campanha mais asséptica : ruas ficaram mais limpas, sem o entulho publicitário de santinhos e cartazes afixados em postes ; a proibição de recursos às campanhas por parte de empresas exigiu mais sola de sapato, com os candidatos se obrigando a percorrer as ruas de regiões e bairros, reforçando os eixos da articulação social e da mobilização de grupos ; a indignação contra os escândalos que mancham o perfil de políticos, gestores públicos e empresários tem propiciado postura mais crítica do eleitor. Nós e eles A recorrente parolagem de condenação às elites, que Lula e seu entorno plasmaram com afinco nos últimos 20 anos, azedou as relações de parcelas significativas da sociedade. Construiu-se, de um lado, um inferno para "eles" e um céu para "nós", divisão que começou a fragmentar quando os "olimpianos" foram flagrados nas teias do mensalão e arremetidos ao poço do descrédito pelo tsunami do petrolão. O ambiente político e social se liberta do grilhão expressivo que ainda faz eco em grupos incrustados na universidade pública, em setores da cultura (bafejados pelo Estado protecionista da Lei Rouanet) e em turbas agressivas de movimentos do arquipélago que reúne ilhas como UNE, MST, MTST, CUT e adjacências. O amanhã É razoável supor que os partidos políticos ganharão densidade ideológica, deixando de ser entes amorfos, insossos e incolores. Da mesma forma, é possível prever campanhas menos exuberantes, mais modestas, sem estardalhaços, acompanhadas atentamente por um eleitor crítico. Observa-se em todos os rincões, mesmo os mais distantes, o crescimento da racionalidade. Donde se pode tranquilamente afirmar : no Brasil, o voto começa a escapulir do coração para entrar na cabeça. 2º turno O segundo turno mobilizará 32 milhões de eleitores.
quarta-feira, 14 de setembro de 2016

Porandubas nº 505

Abro a coluna com duas historinhas Não mudou nada Miguel Rodrigues, velho e sábio político de Goiás, foi visitar uma escola primária. Ali, a professora ensinava os primeiros dias de Brasil : - No começo do Brasil colônia, como a América e o Brasil ficavam muito longe, para cá vieram, primeiro, muitos ladrões, degredados, condenados. O coronel Miguel suspirou : - Então não mudou nada. Escombros O contínuo do doutor Ernane Galvêas, quando presidente do Banco Central, entrou correndo no gabinete : - Doutor, chegue na janela que estão passando lá embaixo os escombros de Dom Pedro. Eram os despojos de Dom Pedro I desfilando na avenida Presidente Vargas. Cassação de Cunha A cassação do deputado Eduardo Cunha foi mais uma surpreendente demonstração da gangorra que é o poder. Num dia, vê-se o perfil de um homem superpoderoso, detentor dos eixos mais fortes do poder. No dia seguinte, esse super-homem é visto isolado, sem forças, em vias de se transformar prisioneiro. Afastado do cargo por 450 votos a 10, o ex-deputado do Rio de Janeiro, que comandou o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, vai ser lembrado como símbolo da volatilidade do poder. E os apoios ? O que teria mudado a direção dos votos dos apoiadores de Cunha ? A real politik, a política como ela é. Que se ancora, por sua vez, no clamor das ruas, na perspectiva de manutenção de poder, na ideia de que o representante deve agir sob a égide do pragmatismo. Os deputados mudaram de posição ouvindo a voz da turba. Nesse ano eleitoral, a possibilidade de serem associados a um perfil demonizado provocou fuga em massa dos arredores do malfadado ex-membro da cúpula do PMDB. O receio dos apoiadores era de naufragarem com ele. A delação E o que os deputados do grupo de Cunha pensam da possibilidade de se transformarem em objeto de delação por parte do cassado ? A hipótese esteve seguramente em análise. Pensaram : "se há mais de 100 pessoas que foram ajudadas em campanhas por Eduardo Cunha, não irei sozinho para o cadafalso. Será muito difícil enterrar uma leva imensa de deputados. Portanto, vou arriscar". A segunda hipótese abriga a demora do STF em julgar. Como é sabido, até o momento o Supremo praticamente não engatou a marcha do julgamento de políticos. "Se vai demorar, então posso arriscar", avaliaram parlamentares simpáticos a Cunha. O golpe O deputado Eduardo Cunha lembrou, em defesa, que a cassação era uma vingança do PT contra sua ação no impeachment de Dilma. Tem razão. Sem sua disposição, Dilma não teria sido cassada. O fato é que a cassação de Cunha fornece oxigênio para que PT, PSOL, CUT, MST, MTST e adjacências adensarem o discurso do "golpe". Tentarão argumentar que a cassação de Cunha mostra que o mal, o ilícito, o erro estavam por trás do afastamento da petista. E o que farão os deputados que, na primeira fase, admitiram o impeachment ? A reação Se continuarem a ouvir e não reagirem ao discurso de que o impeachment foi golpe, os deputados da atual base governista ficarão reféns do petismo e seu entorno. Terão de responder, conferindo a cada evento sua identidade e suas características. O cenário é que a crise, portanto, se arrastará com o discurso do golpismo entoado pela turma da trombeta. O PT e o PSOL, entre outros, vão se fazer de vítimas. Poderão, até, dizer que a débâcle que toma conta do país - o estouro das contas, os 12 milhões de desempregados, a inflação alta, o desinvestimento, a falta de estímulos de setores produtivos, a estagnação que abate o país - é consequência do impeachment da Dilma (rsrsrsrsrs). Ora, quem conhece o PT sabe : ele é capaz de tudo. Cunha sob moro O processo contra Eduardo Cunha descerá para a República de Curitiba onde pontifica o juiz Sérgio Moro. Que não terá dúvidas em convocar o deputado cassado. Poderá, até, ordenar um mandado de prisão. E aí começará uma fase de depoimentos que abrirá expectativas. Quem Cunha denunciará ? Para salvar a família de eventuais constrangimentos, não se descarta a ideia de levar uma listinha para ler na delação premiada. A crise, portanto, se arrastará. STF vai acelerar Sob o comando da ministra Cármen Lúcia, o STF tende a acelerar o julgamento dos políticos com processo naquela Corte. Como se sabe, o Supremo praticamente não abriu a temporada de julgamentos na esfera política. É possível se prever aceleração do processo. A nova presidente da Corte fez um grande discurso. De tom poético-literário e com críticas à lerdeza do Judiciário. Portanto, é bastante viável a hipótese de que procurará correr com os processos que se encontram no STF. Maquiavel Prestem atenção : "Um príncipe precisa usar bem a natureza do animal ; deve escolher a raposa e o leão, porque o leão não tem defesa contra os laços, nem a raposa contra os lobos. Precisa, portanto, ser raposa para conhecer os laços e leão para aterrorizar os lobos". Conselho de Maquiavel. Que arremata : "não é necessário ter todas as qualidades, mas é indispensável parecer tê-las". Pleito embolado em SP O pleito em São Paulo está embolado. Como este analista já mostrara, a tendência em São Paulo aponta para a queda de Russomano. Na pesquisa Datafolha do dia 9, ele caiu de 31% para 26%, enquanto Marta subiu de 15% para 21%, João Doria saindo de 5% para 16%, um salto de 11%. Previsível. Celso Russomano tem curto tempo de mídia eleitoral. Doria ocupa o maior espaço. Haddad é o líder da rejeição. Os dois candidatos do segundo turno poderão ser Marta e Doria. Claro, se Russomano confirmar a comparação com "cavalo paraguaio" : sai na frente e chega atrás. Morna nos grandes centros A campanha nos grandes centros está morna. Os programas eleitorais não exercem atração. Os candidatos se esforçam para cumprir um longo e intenso roteiro de visitas aos bairros. Mais que as anteriores, esta é a campanha da "sola de sapato". O eleitor desconfiado quer analisar de perto os candidatos. Já nos rincões do interior, a animação está nas ruas. Comícios, entusiasmo, grupos promovendo mobilizações dão o toque do pleito. Campanha eleitoral no interior do Brasil é festa. Os contendores se vestem com os trajes de guerra. O discurso político Costumo bater nesta tecla. Muita gente se engana com a eficácia do discurso político. Pois bem, o discurso político é uma composição entre a semântica e a estética. O que muitos não sabem é que a eficácia do discurso depende 7% do conteúdo da expressão e 93% da comunicação não verbal. Esse é o resultado de pesquisas que se fazem sobre o tema desde 1960. E vejam só : das comunicações não verbais, 55% provêm de expressões faciais e 38% derivam de elementos paralinguísticos - voz, entonação, gestos, postura, etc. Ou seja, do que se diz, apenas pequena parcela é levada em consideração. O que não se diz, porém se vê, tem muito maior importância. Portanto, senhoras e senhores que encenam peças no programa eleitoral, anotem esta informação. Economia, o amortecedor Por todos os lados, ouve-se : o governo Temer está perdendo a batalha da comunicação. O sentimento se intensifica na esteira das mobilizações de PT, CUT, MST, etc. Ora, o fato é que o governo não chegou nem a 130 dias. A perspectiva é a de que a economia funcionará como o amortecedor da crise. À medida que ganhe fôlego, a tendência é a de menor movimentação nas ruas. Há sinais de recuperação, ainda tênues, aqui e acolá. A perda de poder, o corte de mamatas para grupos incrustados nas malhas da administração Federal e a perda de privilégios contribuem para os gritos de turbas nas ruas. São os últimos estertores de quem foi alijado do poder. Depredação Já começa a se consolidar o sentimento de que as mobilizações acabam sendo meio para depredações, quebra-quebra, violência. Não é a toa que os movimentos esvaziam a olhos vistos. A última manifestação em São Paulo juntou apenas três mil pessoas. A violência banalizada se impregna na estética vermelha das bandeiras e nas faces ocultas dos Black Blocs. Reforma política O Senado acaba de aprovar a PEC 36, cuja ementa altera os §§ 1º, 2º e 3º, do art. 17 da Constituição Federal e a ele acrescenta os §§ 5º, 6º, 7º e 8º, para autorizar distinções entre partidos políticos, para fins de funcionamento parlamentar, com base no seu desempenho eleitoral. Ou seja, somente terão funcionamento parlamentar os partidos que, a partir das eleições de 2018, obtenham um mínimo de dois por cento dos votos válidos apurados nacionalmente e a partir das eleições de 2022, um mínimo de três por cento desses votos, distribuídos em, pelo menos, 14 unidades da Federação, com um mínimo de dois por cento dos votos válidos em cada uma delas ; prevê que apenas os partidos que obtiverem o desempenho eleitoral exigido terão assegurado o direito à proposição de ações de controle de constitucionalidade, estrutura própria e funcional das casas legislativas, participação nos recursos do fundo partidário e acesso gratuito ao rádio e à TV. Pequena aula de política Diálogo entre Colbert e Mazarino, durante o reinado de Luís XIV, na peça teatral Le Diable Rouge, de Antoine Rault : Colbert : Para arranjar dinheiro, há um momento em que enganar o contribuinte já não é possível. Eu gostaria, senhor superintendente, que me explicasse como é possível continuar a gastar quando já se está endividado até o pescoço. Mazarino : Um simples mortal, claro, quando está coberto de dívidas, vai parar na prisão. Mas o Estado é diferente ! Não se pode mandar o Estado para a prisão. Então, ele continua a endividar-se. Todos os Estados o fazem ! Colbert : Ah, sim ? Mas como faremos isso, se já criamos todos os impostos imagináveis ? Mazarino : Criando outros. Colbert : Mas já não podemos lançar mais impostos sobre os pobres. Mazarino  : Sim, é impossível. Colbert : E sobre os ricos ? Mazarino : Os ricos também não. Eles parariam de gastar. E um rico que gasta faz viver centenas de pobres. Colbert : Então como faremos ? Mazarino : Colbert, tu pensas como um queijo, um penico de doente ! Há uma quantidade enorme de pessoas entre os ricos e os pobres : as que trabalham sonhando enriquecer e temendo empobrecer. É sobre essas que devemos lançar mais impostos. Cada vez mais, sempre mais ! Quanto mais lhes tirarmos, mais elas trabalharão para compensar o que lhes tiramos. Formam um reservatório inesgotável. É a classe média !
quarta-feira, 31 de agosto de 2016

Porandubas nº 504

Abro a coluna com uma promessinha eleitoral Eclipses ? Não O coronel Zé Azul, chefe político de São Gonçalo do Abaeté, em Minas, era candidato a prefeito pela UDN, às vésperas de um eclipse do sol, que a imprensa vinha prevendo para começo do ano seguinte como o mais forte já visto no Brasil. O medo generalizou-se. Espraiavam-se relatos de crianças que iam nascer defeituosas, galinhas que deixariam de pôr ovos, cabritos que não mais berrariam e a cachaça que ficaria envenenada. No dia 1º de outubro, o coronel Zé Azul fez o último comício da campanha e acabou com um juramento sagrado : - Pode ser que, na prefeitura, a partir de janeiro, eu não consiga fazer tudo que pretendo por esta terra. Mas juro para vocês que meu primeiro decreto será proibir definitivamente eclipses em São Gonçalo do Abaeté. Ganhou a campanha. No Brasil, candidatos continuam a prometer mundos e fundos. Dilma em dois atos A presidente Dilma fez duas performances na Comissão de Impeachment. Na primeira, leu a carta com a qual pretende registrar seu nome na história. A carta teve momentos emotivos, mas do meio para o final fixou-se em aspectos técnicos. Deixou de chamar a atenção. Por diversas vezes, bateu na mesma tecla : golpe. Golpe parlamentar, brandia ela. A segunda performance foi a resposta às perguntas dos senadores. Nesse ato, aparece a verdadeira Dilma : com dificuldades de ajustar a concordância gramatical, plena de auto-suficiência, confusa, repetitiva. Houve momentos em que os ouvintes, desesperados, torciam para ela arrematar sem atropelos o pensamento. Foi pega no contrapé por uma sintaxe mal construída. Caiu nela algumas vezes. Três filmes Mas a Dilma sabia que pouco resultado alcançaria com suas duas performances. A insistência com que defendeu o argumento de que o eventual impeachment seria golpe chegou a irritar alguns senadores. Para complicar, a senadora Gleisi Hoffmann, do PT do Paraná, mais uma vez chutou o pau da barraca ao "dedurar" ex-ministros de Dilma. Acabou reforçando o cordão do impeachment. A presença de Lula e de Chico Buarque, muito tietado, fez parte da cinematografia que se prepara para adornar o "golpe" : três filmes. Lula, com prestígio em baixa, não conseguiu demover senadores. Cercou três senadores maranhenses. Sem sucesso. Reforma partidária Robaina, vereador do MDB de Bagé/RS, ficou no PMDB depois da extinção da Arena e do MDB. Vivo, pôs a mulher no PDS. O senador Pedro Simon estranhou : - Robaina, como é que você fica no PMDB e sua mulher no PDS ? - Pois é, presidente. Ainda tenho três filhos para a reforma partidária. Destaques A sessão do depoimento de Dilma teve destaques. Dentre eles, o rompante da tropa de choque dilmista : os discursos raivosos de Gleisi Hoffmann, as derivações em tom maior da senadora Vanessa Grazziotin, do PC do B do Amazonas, e a trombeta esfuziante do senador Lindberg Faria, do PT do RJ. Todos acusando os senadores favoráveis ao impeachment. Da parte contrária, uma das falas mais contundentes partiu do ex-companheiro de lutas de Dilma, o senador José Aníbal, que conviveu com ela em Belo Horizonte nos idos guerrilheiros de 64. O senador tucano foi implacável. Dilma lhe respondeu com fúria. Dúvidas Algumas dúvidas surgiram nos últimos dias, reforçadas por atitudes de alguns senadores por ocasião do depoimento de Dilma. O senador Fernando Collor cumprimentou efusivamente o senador Roberto Requião, artilheiro da tropa de Dilma. Estaria sinalizando mudança de voto, ele, Collor, que votou a favor do impeachment por ocasião de sua admissibilidade pelo plenário ? O entorno do governo interino diz que não. Os três senadores maranhenses abordados por Lula teriam sido convencidos a votar contra o impeachment ? Da mesma forma, não, de acordo com fontes palacianas. Já o senador Telmário Mota, do PDT de Roraima, que teria ficado neutro e sinalizado, até, a possibilidade de votar a favor, recuou e anunciou voto contrário ao impeachment. Da mesma forma, pronunciou-se contra o senador Oto Alencar, do PSD da Bahia. A presidência O presidente Ricardo Lewandowski foi bastante gentil com a presidente e rigoroso com o controle de tempo das falas senatoriais. No geral, comportou-se como um magistrado, mesmo deixando a presidente Dilma exceder seus tempos de fala inicial e de respostas. O presidente do STF quer ganhar a simpatia dos senadores. Afinal, o pleito para aumento dos salários de ministros da Corte está sendo questionado por um forte conjunto parlamentar, a partir dos parlamentares tucanos. Cativando o eleitor I O escopo do marketing político, ao longo da história, tem se mantido praticamente o mesmo. O que muda são as abordagens e as ferramentas tecnológicas. Atentem. No ano 64 a.C., Quinto Túlio Cícero enviava ao irmão, o grande tribuno e advogado Cícero - protagonista de episódios marcantes por ocasião do fim do sistema republicano e implantação do Império Romano - uma carta que considero o primeiro manual organizado de marketing eleitoral da história. Cativando o eleitor II Nesse Manual, Quinto Túlio orientava Cícero sobre comportamentos, atitudes, ações e programa de governo para o consulado, que era o pleito disputado, sem esquecer as abordagens psicológicas do discurso, como a lembrança sobre a esperança, este valor tão "marketizado" no Brasil e que se constituiu eixo central do discurso da era lulista. Dizia ele : "Três são as coisas que levam os homens a se sentir cativados e dispostos a dar o apoio eleitoral : um favor, uma esperança ou a simpatia espontânea". O pós-impeachment I Como será o primeiro tempo do governo Michel Temer, depois do período de interinidade ? Alguns desafios terão de ser enfrentados. Na área congressual, o governo se esforçará para fazer passar a PEC do teto dos gastos e outros marcos que virão em sua esteira. A renegociação das dívidas dos Estados estará na ordem do dia. As reformas da Previdência, do Trabalho e da Política - esta com dois pontos quase consensuados, a cláusula de barreira e o fim das coligações proporcionais - entrarão na pauta do Executivo até o final do ano. O pós-impeachment II O aumento de salários dos ministros do STF deflagrará um jogo de pressões. Toda a esfera do Judiciário certamente fará reivindicações de aumentos, prevendo-se um forte efeito cascata. As categorias do funcionalismo, a partir do aumento para o Judiciário, também se movimentarão. Greves pontuais poderão ocorrer tendo como foco o pleito por aumentos salariais. O governo Temer dispõe de alta calibragem na frente da articulação política, razão pela qual se pode prever acertos com o Congresso e consequente estabilização da base governista. Candidatos em 2018 Mais um ponto despertará os ânimos : nomes que entrarão no tabuleiro de 2018. Esse será motivo de mais uma pendenga a fustigar o Executivo. As hipóteses correm soltas : se a economia for arrumada, o nome de Henrique Meirelles entra forte no ringue como candidato ; José Serra, o tucano encravado no Ministério das Relações Exteriores, será outro nome de peso. Serra quer ser candidato e Meirelles sempre sinalizou desejo nessa direção. Acalmando os tucanos Mas o PSDB não aceita lançamentos prévios. Daí a chamada geral que o governo deverá anunciar : ministros estarão proibidos de levantar essa lebre. Aécio Neves e Geraldo Alckmin, que disputarão a primazia no PSDB, esperam por esse alerta. O fato é que os horizontes de 2018 poderão gerar instabilidade e animosidade na base governista. Michel Temer vai ter de usar toda a experiência de articulador para administrar tensões na esfera eleitoral. Para onde irá Lula ? Essa continua sendo uma grande interrogação. Há quem o veja passando por Curitiba, sob o chamado do juiz Sérgio Moro. Há quem garanta : tem imunidade social, prestígio junto às massas, e com essa prerrogativa, desfilará leve e livre pelos palanques do pleito eleitoral ; há quem defenda a hipótese : será o próximo a se submeter ao regime da República de Curitiba. Este consultor acredita que o juiz Sérgio Moro terá muito cuidado ao tratar do affaire Lula. E não temerá pressão de movimentos sociais caso chegue à conclusão de que Lula precisa prestar contas. A conferir. Marisa e filho Lula está mesmo muito chateado com a situação a que dona Marisa, sua mulher, e o filho Fábio foram colocados. Foram incluídos no processo do sítio de Atibaia. E se forem convocados a depor ? A situação é realmente constrangedora. O pleito está nas ruas Como este consultor sempre lembrou, o pleito deste ano privilegiará as ruas. O eleitor, desconfiado, não quer escolher apenas pelo conhecimento que tem do candidato via mídia eleitoral. Quer vê-lo, olhar em seus olhos, avaliar pessoalmente seu discurso e até observar suas atitudes. Haja sola de sapato para os candidatos. Mas a mídia eleitoral ajudará em um aspecto : o da visibilidade. Quem dispõe de mais tempo na TV e no rádio é mais beneficiado. Principalmente os desconhecidos do público. À moda antiga Pois é, quem esperava uma modelagem nova, avançada, diferente na programação eleitoral da mídia (TV e rádio), ficou a ver navios. A proposta é velha. Os discursos, regra geral, são o mais do mesmo. E mesmo o primeiro debate pareceu o trololó de sempre. Identidade e imagem Candidato precisa ter forte identidade. Que significa seu conceito. O tronco da árvore. Que lembra semente, história de crescimento, tradição, valores, princípios, caráter. A imagem que projeta é resultante desta identidade. Tênue, a imagem será frágil. Forte, a imagem será clara, retilínea. Que imagens, eleitores, vocês têm dos candidatos a prefeito de sua cidade ? Vamos oferecer alguns parâmetros : experiência, conhecimento, força política, tradição partidária, inovação, compromisso com cidade, proximidade do eleitor, firmeza religiosa, apoio de entidades e grupos, arrojo, coragem, honestidade/desonestidade, moral/ética, assepsia, conservadorismo, ficha suja, infidelidade, oportunismo, populismo. Esse acervo serve para enquadrar um perfil. Em francês Santiago Dantas, ministro de Relações Exteriores, ministro da Fazenda, deputado Federal/MG, foi, um dia, à Polônia para receber o título de doutor honoris causa da Universidade de Cracóvia. Na hora da solenidade, deu-se conta de que tivera tempo de preparar por escrito o discurso de agradecimento. Era a tradição. Mas era preciso não ser indelicado. Chamou Marcílio Marques Moreira, seu assessor, pediu-lhe algumas folhas em branco, levantou-se com elas nas mãos e, fitando-as com firmeza, pronunciou longo discurso em francês, como se estivesse lendo. Só Marcílio sabia, segundo relato do amigo Sebastião Nery.
quarta-feira, 24 de agosto de 2016

Porandubas nº 503

Abro a coluna com um candidato mais que entusiasmado. Sufocando o passarinho Inflamado, o candidato eleva a fala no palanque. Argumentava que o povo livre sabe escolher seus governantes. Para entusiasmar a multidão, levou um passarinho numa gaiola, que deveria ser solto no clímax do discurso. No momento certo, tirou o pássaro e com ele, na mão direita, tascou : - "A liberdade do homem é o sonho, o desejo de construir seu espaço, sua vida, com orgulho, sem subserviência. Deus (citar Deus é um costume) nos deu a liberdade para fazermos dela o instrumento de nossa dignidade ; quero que todos, hoje, aqui e agora, comprometam-se com o ideal da liberdade. Para simbolizar esse compromisso, vamos aplaudir a soltura desse passarinho, que vai ganhar os céus". Ao abrir a mão, viu que esmagara o passarinho. A frustração por ter matado o bichinho foi um anticlímax. Vaias substituíram os aplausos. Foi um desastre. Assim é o fim de candidatos que não controlam a emoção. Debates à moda antiga Os debates de candidatos na TV voltam à ordem do dia. E ganham o desprezo dos eleitores. A TV Bandeirantes tem sido a líder nessa modelagem. Merece elogios por sua iniciativa. O problema é que a crise política, que corrói perfis, faz a sociedade dar as costas à política. Assim, o modelo de debates parece coisa velha, desgastada. Os candidatos fazem que respondem às perguntas. Cada candidato se esforça para ter uma boa performance. Os telespectadores mudam de canal. Inserções publicitárias Os spots publicitários, a serem veiculados durante o dia, serão o diferencial nesta campanha. Ganharão mais tempo do que em campanhas anteriores. Já os programa dos blocos partidários foram resumidos a 10 minutos por dia. Assim, encherão menos a paciência dos telespectadores. Leitura óbvia : os candidatos mais visíveis, aqueles com maior tempo de exposição nos programas de blocos ou nos spots, acabarão sendo mais lembrados pelos telespectadores. E tendem a ganhar pontuação nas intenções de voto. Saturação de perfis Alguns perfis de candidatos estão saturados. São os eternos figurantes, candidatos em quatro ou cinco campanhas. As mudanças são observadas nos detalhes de "lavagem" ou "renovação" de fisionomias, caso de intervenções com botox, etc. Os perfis do sexo masculino, também conhecidos, expõem o mesmo palavreado, os mesmos tiques e as mesmas entonações. Será difícil aturá-los. Impeachment O pós-impeachment está sendo aguardado com muita expectativa. O país já não aguenta o estado de dúvidas e interrogações. Quer entrar na normalidade. Por isso, o impeachment é considerado por muitos, inclusive por alas do PT, como um alívio. Partidos e atores querem decidir sobre o futuro. Outubro será um marco divisor, com a eleição municipal abrindo um ciclo de renovação política. Calcula-se que mais de 2/3 dos prefeitos serão renovados. Figurantes de sucesso Quais os figurantes com possibilidade de êxito na política ? Que perfis ganharão a preferência do eleitor ? A resposta comporta a análise dos perfis à luz das circunstâncias e do meio ambiente das cidades, da história de cada um, a tradição, o tipo de apoio que recebe, etc. Mesmo assim, é possível dizer : os candidatos mais jovens serão mais aceitos que as velhas caras ; a assepsia na política será um trunfo ; os candidatos de oposição podem ser mais votados ; os apoios de grupos e movimentos associativos serão uma alavanca de sucesso. Conselhos de marketing 1. A lei da verdade suplanta a lei da mistificação. 2. O eleitor sabe se o candidato foi aumentado artificialmente um palmo ou dois acima de sua altura. 3. Falar com o coração é mais eficaz do que falar pela cabeça. 4. Agir com grandeza, sem golpes baixos, até o fim. 5. Prometer apenas o que poderá ser cumprido. Demonstre a viabilidade. 6. Tenha fé e não desista até o último segundo. Trackings Os trackings - mapeamentos diários para captar a intenção de voto de eleitores - são muito usados. De um lado, para orientar as campanhas ; de outro, para dar vazão às notas em colunas jornalísticas. Servem como boa indicação. Transparência Esta campanha será mais aberta e transparente. Os controles por parte dos Tribunais Eleitorais e do Ministério Público estarão atentos aos eventos programados. Já começamos a ver as cidades mais limpas sem o lixo da propaganda nas ruas. Os postes e os prédios estão livres de cartazes. Presidencialismo mitigado Com a eventual consolidação de Michel Temer na presidência da República, o país verá forte transformação na modelagem do regime. Experimentado parlamentar, ex-presidente da Câmara dos deputados por três mandatos, Temer é francamente favorável a um sistema de presidencialismo mitigado. Que compartilha o governo com o Parlamento. O nosso presidencialismo tem a marca imperial, de certo viés absolutista. Os partidos da coalizão, como se sabe, ganham espaços na máquina, mas não detêm poder de definição de políticas públicas. Tem sido assim. Michel Temer quer mudar essa fisionomia, concedendo a partidos e atores decisão para definir programas de governo em suas pastas. Quebrando os ovos Não se faz omelete sem quebrar os ovos, diz o ditado. Medidas duras deverão ser tomadas para resgatar a força da economia, recuperar a trilha do crescimento, domar a inflação e diminuir os juros. Mas essas definições só deverão ser tomadas mais adiante. Por enquanto, o governo governa com um olho nas ruas e outro no Parlamento. Há tempo para ceder, para conceder, para impor e sobrepor. Cada governo tem seu ciclo de vida. Uma coisa é certa Não se faz reforma de previdência, por exemplo, atendendo aos pleitos dos conjuntos de trabalhadores. As visões são repartidas. As reivindicações são plurais. Não há consenso na matéria previdenciária. Que se arrume, portanto, o mínimo de consenso. Urge fazer esta reforma sob pena de o país entrar num buraco profundo e dele não sair. Padilha Eliseu Padilha, ministro chefe da Casa Civil, desponta como um grande maestro na orquestra ministerial. Pilota projetos importantes, harmoniza a linguagem dos ministérios, ativa setores e faz o governo avançar. Com seu estilo conciliador, Padilha torna-se referência de eficácia na equipe do governo Michel Temer. Pérolas do Barão de Itararé - A esperança é o pão sem manteiga dos desgraçados. - Adolescência é a idade em que o garoto se recusa a acreditar que um dia ficará chato como o pai. - Senso de humor é o sentimento que faz você rir daquilo que o deixaria louco de raiva se acontecesse com você. - Mulher moderna calça as botas e bota as calças. - A televisão é a maior maravilha da ciência a serviço da imbecilidade humana. - Este mundo é redondo, mas está ficando muito chato. Três estilos de fazer política O sociólogo espanhol Carlos Matus, em seu ensaio Estratégias Políticas, define três estilos de fazer política. O primeiro é o estilo Chimpanzé, baseado no projeto do poder pessoal, da rivalidade permanente, da hierarquização da força. O segundo é o modelo Maquiavel, onde o personalismo do Príncipe, eixo do sistema, se subordina a um projeto de Estado. O terceiro é o estilo Gandhi, inspirado no convívio harmônico, na solidariedade. O fim sou eu mesmo Por nossas plagas, vivenciamos uma luta renhida entre dois estilos. De um lado, o setor político, inspirado no lema "o poder pelo poder", se empenhava com capricho para ganhar espaços, usando a arma do voto para atingir o objetivo de preservar e ampliar territórios e influência. O PT até conseguiu ultrapassar o PMDB na representação parlamentar na Câmara. Perdeu essa condição só em tempos recentes. Os representantes, tanto os de ontem como os de hoje, adotam a tática de disparar processos de tensão, ameaçar o governo com retiradas de apoio, buscar coalizões de um lado e de outro. Um exemplo recente é o Centrão. Elegeu Rodrigo Maia. Quer estar no eixo de poder. A natureza política, pelo vocabulário de Matus, amolda-se ao instinto do chimpanzé, para quem o ideal de vida é a conservação da própria espécie ("o fim sou eu mesmo"). E a vontade popular, o ideal coletivo ? Fica em segundo plano. O Brasil é o projeto Noutra posição do arco político, há um núcleo que age à moda Maquiavel. Seu discurso tem uma especificidade : o grupo não encarna o projeto - o projeto é o Brasil - mas a conquista da meta parece impossível sem o grupo. Por isso, os meios devem se adequar ao fim. Que, nesse momento, é a redenção nacional. Valerá tudo para recuperar a economia, voltar a crescer o PIB, baixar a inflação e os juros. Portanto, tudo deve ser sacrificado pelo projeto, até o uso de verbas para que os parlamentares possam cumprir promessas com suas regiões. Afinal de contas, se nada fizerem receberão o bilhete de volta às suas casas, sem mandato. Essa é a lógica da política. Para atender à competição feroz da classe, a conduta maquiavélica faz concessões ao estilo chimpanzé. Interessante é que este acaba ganhando o jogo. Não há como escapar à sensação de que o país fica, portanto, à mercê dos estilos Chimpanzé e Maquiavel de fazer política. A cultura Gandhi Sozinhos, os pobres não terão munição para fazer guerra. No meio dos humildes e marginalizados, o pão é pouco. Mas é nesse espaço que se vê germinar a semente da amizade, da cooperação. Essas margens querem ver alguém com roupa asséptica. Daí a necessidade que tem como foco a busca de consenso, da austeridade, da solidariedade, do zelo, do ideal do bem comum. A forma Gandhi de governar dispensa a força física, evita a competitividade dos Chipanzés e não aceita a emboscada maquiavélica. Seu poder repousa na espiritualidade. Trata-se do grau superior de fazer política. O problema é : existe entre nós alguém que possa simbolizar tal figurino ? Há perfis assemelhados à Gandhi ou à Madre Tereza de Calcutá em nosso meio ? O maior evento do Sescon "Interagir para evoluir" é o tema central do 25º EESCON - Encontro das Empresas de Serviços Contábeis do Estado de São Paulo, considerado o maior evento do segmento empreendedor contábil de São Paulo e o segundo maior do Brasil. Realizado a cada dois anos pelo Sescon-SP, sindicato da categoria, a abertura será nesta quarta-feira, 24, no Campos do Jordão Convention Center, em Campos do Jordão/SP. Até 26 de agosto são esperados mais de mil visitantes, entre empresários, gestores e profissionais da área contábil. Paralelamente, haverá uma feira de negócios. Pérolas do ENEM - A fé é uma graça através da qual podemos ver o que não vemos. - Os estuários e os deltas foram os primitivos habitantes da Mesopotâmia. - O objetivo da Sociedade Anônima é ter muitas fábricas desconhecidas. - A Previdência Social assegura o direito à enfermidade coletiva. - O Ateísmo é uma religião anônima. - A respiração anaeróbica é a respiração sem ar que não deve passar de três minutos. - O calor é a quantidade de calorias armazenadas numa unidade de tempo. - Antes de ser criada a Justiça, todo mundo era injusto. - Caráter sexual secundário são as modificações morfológicas sofridas por um indivíduo após manter relações sexuais.
quarta-feira, 17 de agosto de 2016

Porandubas nº 502

Abro a coluna com "causos" contados pela nossa referência maior do folclore político, o amigo Sebastião Nery. Frio aperto de mão O deputado baiano mandou cartão de Natal para uma mulher que morrera há muito tempo. A família, irritada, retribuiu : "Prezado amigo, embora jamais o tenha conhecido durante os meus 78 anos de vida terrena, daqui de além-túmulo, onde me encontro, agradeço o seu gentil cartão de boas festas, esperando encontrá-lo muito em breve nestes páramos celestiais para um frio aperto de mão. Purgatório, Natal de 2005". O deputado recebeu a resposta. E espera, angustiado e insone, pelo aperto de mão. Casa de tolerância A vereadora Lígia Lessa Bastos, da UDN, fazia discurso contra o prefeito Negrão de Lima, enfrentando os apartes dos representantes governamentais. Resolveu não conceder mais apartes. Manoel Blásques insistia, mas dona Lígia se mantinha intransigente. Quando terminou o discurso, Manoel Blásques pediu a palavra pela ordem : - Sr. presidente, estranho o comportamento da nobre colega Lígia Lessa Bastos, pois esta Casa é reconhecidamente uma casa de tolerância. 17 ou 27 ? O Brasil conquistou 17 medalhas na Olimpíada de Londres, em 2012. A meta para a "nossa carioca Olimpíada" é de 27, 10 a mais. Mas a performance brasileira tem sido aquém das expectativas. Onde a situação está dando errada ? Falta de recursos, falta de organização, muita animação e pouca disposição atlética ? Há algo de muito errado. A espetacular abertura dos jogos ganha 10 com louvor. O mundo ficou deslumbrado. Já nosso desempenho é sofrível. Dá para recuperar até o final ? Campanha eleitoral Os candidatos a prefeito em 5.568 municípios ainda não descobriram como empolgar o eleitorado. Também, pudera. Os olhos do eleitor estão atentos à Olimpíada. E seu coração não se entusiasma com as eleições. A campanha começa a ganhar as ruas. Mas a recepção, regra geral, não tem sido tão entusiasmada. Nos ambientes internos, a animação da militância mostra, até, certo entusiasmo. Radiografia da eleição Teremos, este ano, cerca de 495,4 mil pré-candidatos a prefeito e vereador (nem todos foram registrados). Em 2012, foram 492,4 mil. Concorrerão nos 5.568 municípios, candidatos a 57.931 cadeiras de vereador, totalizando 69.067 vagas (mais prefeitos e vice-prefeitos). A taxa de candidatos a prefeito por vaga é de 2,5. E a de vereadores é de 6,4 por vaga. Serão 144,1 milhões de eleitores, crescimento de 4% em relação a 2012 e 12% em relação a 2008. 31% dos candidatos têm entre 40 e 49 anos. Entre 50 e 59 anos, a percentagem é de 24%. Servidores públicos somam 16.960 ; agricultores, 16.926 ; e comerciantes, 15.952. Cerca de 55% se identificam como brancos e 36% como pardos. Os homens formam a maioria, cerca de 70%. Os casados somam 56% e os solteiros chegam a 33%. São 35 partidos que disputarão as urnas. PMDB e PSDB terão o maior número de candidatos, o PMDB com 9,3% e o PSDB com 7,5%, com o PP na terceira colocação, 6,6%. O PT está na 8ª posição com 4,9% dos registros. Mais eleitores que habitantes Em 350 cidades brasileiras há mais eleitores que habitantes. A maior defasagem está numa cidade do Pará, Canaã dos Carajás, com 40 mil eleitores e 34 mil habitantes. Apesar dos avanços alcançados pela Justiça Eleitoral, há um buraco negro nas urnas dos fundões do país. Temos, ainda, um pedaço do velho Brasil. 41 estatais Os governos Lula e Dilma, entre 2003 e 2015, criaram 41 estatais. A conta de prejuízo soma cerca de R$ 8 bilhões. Só com a folha de salários, o Tesouro bancou R$ 5,5 bilhões. Dinheiro a fundo perdido. Temperatura ambiental A temperatura do meio ambiente, medida pelo termômetro da política, começa a arrefecer. Já esteve nos 42º C, mas hoje oscila entre os 39ºC a 40ºC. A Olimpíada baixou um pouco a temperatura política. A 15 dias do desfecho do impeachment, até parece que a decisão já está cravada na mente das pessoas. A recorrência expressiva é a de que o jogo já está jogado, impressão que, segundo se lê, transborda do próprio espaço petista, onde os dirigentes se debruçam sobre as estratégias a serem estabelecidas para se alcançar um bom desempenho eleitoral. Temperatura midiática A mídia continua a abrir manchetes contra o governo, focando para recuos nas propostas de contenção de gastos, delações envolvendo figuras de proa, reforçando posições negativas a respeito da economia, em contraponto aos sinais que exibem volta da confiança dos agentes do mercado. Colunistas de política, mais que analistas da economia, mostram inclinação para acalentar a tese da catástrofe. Chamarizes estrondosos de revistas não ganham correspondência nas matérias internas, a denotar exagero. Blogs financiados com recursos públicos continuam a bater na tecla do "golpe". O fechamento de torneiras não os impede de prosseguir numa campanha visivelmente antigovernista. Temperatura na área produtiva Já nas frentes produtivas, o ânimo ganha volume, com a indicação de melhores expectativas para os próximos meses e até certa aposta em pequeno crescimento do PIB em 2017. Um dos maiores empresários brasileiros, em conversa com este consultor, traduz a expectativa : "há três trilhões de dólares vagando sobre o planeta. Se a economia brasileira caminhar na trilha da recuperação, parcela desses recursos certamente baixará por aqui. Pelos atrativos que o país oferece". Temperatura na base A pirâmide social mostra diferentes graus de temperatura. A base da pirâmide está preocupada com a sobrevivência, o cotidiano, as pressões do dia a dia. (Trata-se do contingente que age de acordo com a equação BO+BA+CO+CA= Bolso, Barriga, Coração, Cabeça). Para ele, a roubalheira iguala todos os políticos. Por isso, a base da pirâmide age com pragmatismo. Quer ver o melhor para sua vida. Tende a defender seus benfeitores e a condenar quem lhes dá as costas. Temperatura na classe média No meio da pirâmide, podemos ver três estratos : a baixa classe média, a média e a alta classe média. O segmento mais crítico está na média. Que se manifesta, forma opinião, tem uma avaliação dura dos governantes. Uma parte do meio - particularmente nas áreas do saber, das artes e da cultura - ainda pensa em um mundo bipolar, nós e eles, o socialismo clássico versus neoliberalismo. Esse grupo míngua a olhos vistos. Mas as camadas mais fortes do meio inserem os profissionais liberais. São os mais indignados contra o petismo/lulismo, principalmente na região Sudeste, onde se localizam as maiores classes médias, os maiores conjuntos de trabalhadores, os maiores núcleos estudantis, etc. São Paulo, o epicentro São Paulo, capital, é o maior território antipetista do país. Funciona como uma gigantesca pedra jogada no meio da lagoa. O ABC paulista, onde floresceu o petismo e onde mora Lula, tende a derrotar os candidatos petistas em outubro. Mesmo na USP, o petismo tem declinado. Na Unicamp, a academia na área econômica ainda abriga forte influência petista. Os movimentos sociais, divididos sobre o impeachment, refluem. Mesmo a corrente do MTST, liderada pelo polêmico Guilherme Boulos. As Centrais sindicais tendem, também, a procurar, cada uma, o seu rumo. A CUT, com seus longos braços nas comunidades bancária e metalúrgica, já não tem a força d'outrora. A Força Sindical, sob o comando do deputado Paulino, tem os dois olhos na grana. As Centrais lutam para manter as benesses junto ao Estado. Nordeste, o bastião petista Se o petismo perde força no Sudeste, ainda mantém forte influência no Nordeste, onde fincou estacas nas margens e no meio acadêmico. Nas margens, a continuação dos programas sociais poderá diminuir a força do petismo, mas nas Universidades núcleos do petismo resistem às mudanças. Aliás, as duas áreas mais ligadas ao petismo no país foram Educação e Cultura. O domínio das máquinas dos dois Ministérios pelo petismo foi uma constante nos últimos 13 anos. Mas é possível constatar uma reação dos setores de negócios, a par das classes médias, que também começam a reagir contra a partidarização do Estado. Uma nova esquerda Lerei com gosto o novo livro do senador Cristovam Buarque : "Uma Nova Esquerda e o Brasil que queremos". Ele está me mandando. 10 medidas Tem gente querendo melar as 10 Medidas contra a Corrupção, que estão sendo examinadas em Comissão Especial da Câmara, cujo relator é o deputado Onyx Lorenzoni. Que se reuniu segunda-feira com o procurador Deltan Dallagnol e promete seguir à risca o roteiro traçado. Evasão de divisas O advogado Plínio Gustavo Prado Garcia, membro efetivo da Comissão Especial de Direito Penal Econômico da OAB/SP, alerta : "Pessoas residentes ou domiciliadas no Brasil, que mantenham contas bancárias ou outros ativos no exterior, podem ter problemas penais, sob acusação de evasão de divisas. Isso pode acontecer em quatro hipóteses : a) quando tenham feito transferências financeiras ao exterior sem utilizar-se de regular operação cambial ; b) quando saírem do país portando mais de R$ 10.000,00 em espécie (ou seu equivalente em moeda estrangeira) sem apresentar Declaração de Porte de Valores (DPV) na saída ; c) quando, mesmo valendo-se de regular operação cambial por meio de instituição autorizada a operar com câmbio, esses valores ao final de cada ano, superarem US$ 100.000,00, sem comunicar ao Banco Central do Brasil, no ano subsequente, o saldo desses valores em 31 de dezembro do ano anterior, e d) quando recebam, diretamente, no exterior e lá mantenham, valores superiores a US$ 100.000,00". Como administrar uma crise Fecho a coluna com algumas sugestões para os administradores de Crises - fontes, porta-vozes, interlocutores : - Convocar a mídia e mostrar disposição para esclarecer os fatos. - Caso houver dúvidas a respeito dos fatos, procurar, previamente, preencher todas as lacunas com informações, dados e abordagens adequadas. - Evitar a postura do avestruz. - Não temer entrar na arena de guerra (enfrentar a crise de frente, não de costas). - Evitar dizer : "Não tenho nada a declarar". - Evitar formação de redes informais - teia de boatos. - Expressar as ideias com calma e segurança. - Seja objetivo e conciso. - Procurar o máximo de compreensão. - Não tentar ser brincalhão, galhofeiro. - Procurar evitar sofismas. - Evitar trapacear os ouvintes com informações fantasiosas. - Não deixar denúncias sem resposta. - Não transmitir imagem de arrogante. - Não procurar exagerar na diminuição / tentativa de atenuar os fatos - apresentar justificativa plausível - a tática de engodo será percebida. Recomendações/sugestões : - Prevenir é melhor que remediar. - A verdade sempre aparece. - Se um grupo dispõe de um sólido sistema de valores, as chuvas da tempestade não causam danos irreparáveis. - Os valores são permanentes. - As chuvas de tempestade são fortes, porém, passageiras. - Estabelecer estreita articulação com editores, jornalistas especializados, cabeça da mídia. - Estabelecer boa articulação com autoridades. - Estabelecer articulação com setores, entidades, ONGs - representantes dos públicos atingidos.
quarta-feira, 10 de agosto de 2016

Porandubas nº 501

Abro a coluna com a verve de Jânio A banana Na campanha pela prefeitura de São Paulo, em 1985, contra Fernando Henrique, Jânio foi ao bairro de São Miguel Paulista, reduto de nordestinos. Enfrentou uma feijoada, regada a caipirinhas múltiplas. Caiu na cama da casa de um eleitor. Atrasado, às 19h, foi acordado. Em sobressalto, vestiu o terno amarfanhado, pegou uma banana e colocou no bolso. Subiu o palanque e tascou : "político brasileiro não se dá o respeito. Eu, não. Desde as 7h da manhã, estou caminhando por este bairro e até agora não comi nada. Então, com licença". Sob os aplausos da galera, devorou a banana. Ganhou as eleições. Teve de desinfetar a cadeira onde, momentos antes, se sentara Fernando Henrique. O acolhimento da pronúncia A sessão pelo acolhimento do impeachment da presidente Dilma entrou pela noite. Haja discurso. Os adeptos da presidente querendo esticar o debate. Os adeptos do impeachment mostrando o Brasil quebrado e a volta da confiança com o novo governo. A decisão estava sendo aguardada com muita expectativa. Se o acolhimento da pronúncia se desse por mais de 55 votos, o acolhimento do impeachment, no final do mês, estaria, como de fato está, praticamente definido. Isso porque, quem votou a favor hoje, tende a votar amanhã da mesma forma. Este consultor, duas horas antes do início da votação cravou o número 59. E, como se viu, acertou na mosca. O voto de Cristovam O senador Cristovam Buarque (PPS-DF) fez um discurso importante. Mostrou todos os lados da questão do impeachment. Argumentou sobre a ingovernabilidade do país sob o comando de Dilma. E tomou posição a favor do relatório do senador Anastasia. A favor do impeachment. Um voto muito esperado. O senador é de muito respeito. Clima amainando A temperatura do meio ambiente esteve muito quente nos últimos tempos. O impeachment da presidente Dilma acirrou os ânimos. Mas o clima está mais temperado. Pouco a pouco a ideia de que se torna irreversível a volta de Dilma ao Palácio do Planalto toma corpo. Mesmo os petistas mais renhidos se acostumam com a retirada definitiva da pupila de Lula. O que se espraia é a observação de que, a par das pedaladas fiscais, ela está sendo retirada pelo conjunto de obra. Russomano é candidato Por 3 a 2, a 2ª Turma do STF absolveu Celso Russomano do crime de peculato. A relatora Cármen Lúcia e o ministro Teori Zavascki o condenaram, mas Gilmar Mendes, Dias Toffoli e Celso de Mello o absolveram. Candidato a prefeito de São Paulo, Russomano deverá enfrentar o desafio que o persegue : deixar de ser um cavalo paraguaio ; sai na frente, mas não consegue chegar ao pódio. Decepção A presidente não correspondeu às expectativas : 1. Da sociedade, pela perda do patrimônio formado nos dois mandatos de Lula (a inserção de 30 milhões de brasileiros ao meio da pirâmide social) ; 2. Do PT, por não ter conseguido realizar o ideário do partido e contribuído para o racha entre alas ; 3. De Lula, que pode estar arrependido pelo fato de ter escolhido um perfil que não correspondeu às expectativas ; 4. Da esfera política, que nunca se sentiu prestigiada por ela. A Carta Dilma divulga esta semana uma Carta aos Brasileiros. Onde firma um compromisso : defende eleições para a presidência da República. Ora, onde está essa figura na CF ? Como pode haver eleição no meio de um mandato ? E em que tempo esse plebiscito seria realizado ? Mais falso que uma nota de R$ 3. O perfil Na verdade, o perfil da presidente Dilma está sendo, hoje, reformatado : não é uma gerente eficaz ; expressa a imagem de autoritária e auto-suficiente, o que é bem diferente de um governante com autoridade ; a feição técnica que se impregnava no perfil, por ocasião do primeiro mandato, esfacelou-se. Dilma deu as costas ao Congresso, cercou-se de um grupo de áulicos, afastou-se do próprio PT. Que, aliás, mais a suportou do que a apoiou. Guerreira A imagem de guerreira, que não se abate com as derrotas e se sente sempre altiva, está no foco dos assessores que ainda circulam no entorno da presidente. Mas é visível que a imagem de baluarte inexpugnável tende a desmoronar. Os últimos bastiões de Dilma persistem na narrativa da guerreira : três a quatro sites patrocinados pela era lulo-dilmista ; três a quatro colunistas que deixaram de fazer análise política para fazer crítica açodada ao novo governo e insistem na lengalenga do golpe ; um ou outro grande veículo, que teima em dar manchetes alarmantes. Michel, candidato ou não ? Na política, não há certezas. As coisas mudam a cada instante. Por isso, não se pode garantir que o presidente em exercício, Michel Temer, caso seja confirmado no cargo e faça um bom governo, decline de uma eventual candidatura em 2018. Mas quem o conhece sabe de sua disposição, firme, de não querer ser candidato em 2018. Primeiro, pela óbvia constatação de que precisaria aparecer como juiz no pleito ; essa situação garantiria efetivo apoio de uma ampla base. Segundo, porque, se for aplaudido nas margens de 2018, ele daria por cumprida a missão de ter pacificado o país e colocado o trem nos trilhos. Sair pela porta da frente - no auge da carreira - seria um trunfo. Amigo do papa Rui Carneiro, paraibano matreiro, era candidato a senador pelo PSD, em 1955. A UDN tinha apoio dos comunistas. Rui esteve na Europa, voltou, foi fazer o primeiro comício da campanha : - Paraibanos, estive em Roma com o Papa. Ele me cochichou : "Rui, se destruírem meu trono aqui no Vaticano, sei que tenho um grande amigo lá na Paraíba. Vá, dê lembranças à comadre Alice e diga ao povo que estou com você". Ganhou a eleição. (O amigo Sebastião Nery, com sua graça, nos brinda com essa historinha.) Reforma ministerial É evidente que o governante precisa fazer ajustes periódicos em sua equipe. Ajustar parafusos na máquina, substituir figuras que não estão correspondendo às expectativas ; alinhavar a linguagem de forma a manter a unidade da equipe ; melhorar a performance geral - esses são algumas tarefas a que se dão os governantes. Por conseguinte, é razoável pensar em ajustes na equipe ministerial após concluído o processo de impeachment. Mas a índole do presidente em exercício aponta que eventuais ajustes serão sempre combinados com os partidos e seus líderes. Renovação na base O primeiro andar do edifício político é formado pelas municipalidades, o segundo pelos Estados e o terceiro pela esfera Federal. A base da política se assenta, pois, sobre os prefeitos e vereadores. Pois bem, qualquer projeto de inovação política só ganha sentido e força quando abarca a base dos municípios. Nessa direção, teremos o pleito mais emblemático da contemporaneidade. Veremos grande renovação de prefeitos, mais do que dois terços. O que significará a irrigação do chão da política. PT chega ao fim da linha O PT atravessa o momento mais difícil e perverso de sua vida. Sob o bombardeio de denúncias, desde os tempos do mensalão, o partido está dividido. Duas alas parecem viver grande divisão : a ala Construindo um Novo Brasil, ex-campo majoritário e a corrente Mensagem ao Partido duelam, cada qual tendo uma visão de futuro. Nem mesmo Lula consegue mais unir as bandas. O presidente do PT, Rui Falcão, expressa publicamente sua discordância da presidente Dilma, quando esta defende eleições gerais este ano para a presidência da República. O partido terá tempo de compor uma unidade antes de outubro ? Como será o discurso ? Quantos sairão do partido ? Como fazer renascer das cinzas o ex-todo-poderoso Partido da Ética ? O pior cego Vanessa Grazziotin, Lindberg Faria, Gleisi Hoffmann e Fátima Bezerra são quatro figuras do Senado que expressam o discurso de uma nota só : Dilma é inocente e o que está havendo é golpe. Vanessa é do PCdoB do Amazonas, os outros três são do PT. Para eles, está havendo uma trama. Dilma fez um ótimo governo. E o atual ocupante da presidência é usurpador. O pior cego é aquele que não quer ver. Os discursos de cada qual deverão ser lembrados na campanha de 2018. Se forem candidatos, terão de rebolar. A conferir. Lula e a família Lula e sua família continuam a ser alvo da Lava Jato. A PF intimou a mulher do ex-presidente, Marisa Letícia, e o filho mais velho, Fábio Luis, para depor sobre o sítio da Atibaia. Com esta preocupação nas costas, Lula ainda tem de mobilizar a bancada de senadores do PT e mais alguns amigos senadores de outros partidos na tentativa de convencê-los a livrar a presidente Dilma do impeachment. Já não tem mais a antiga força. Marta, a número 10 Marta, a goleadora da nossa seleção feminina, toma o lugar de Neymar no coração das massas. Neymar, um ídolo vaiado, Marta, um ícone aplaudido. É o Brasil. Que tem vergonha da seleção masculina de futebol na Olimpíada. Não é inscrito na OAB Em Antenor Navarro, Paraíba, havia um júri. O juiz da comarca, Nelson Negreiros, viu o réu chegar sem advogado de defesa : - O senhor não tem advogado ? - Tenho, doutor juiz. Meu advogado é Deus. - Não serve. Não é inscrito na Ordem. Mundo aplaudiu Foi um belo acontecimento. A abertura da Olimpíada, no Rio, foi um show de criatividade, beleza e enaltecimento à formação de nossa cultura e de nossa gente. Quem esperava um anticlímax ganhou uma decepção. O mundo aplaudiu, de pé, a mais espetacular abertura da Olimpíada nos tempos contemporâneos. Os 7 pecados capitais I Senhores prefeitos, está chegando a hora da avaliação de suas administrações. Façam uma reflexão : onde acertei, onde errei ? Eis um roteiro que pode auxiliá-los : O poder provoca delírios e, assim, com o porre que lhes adormece as mentes, os governantes cometem seu primeiro pecado capital. É o pecado da insensibilidade. De tanto ver de perto, eles se desacostumam a ver de longe. O pior é que os governantes acabam se achando com a cara de Deus. Flagra-se, aqui, seu segundo pecado capital, o sentimento da onipotência. Os governantes decidem o quê, onde e como fazer. Os sete pecados capitais II Para eles, o dinheiro compra tudo. Com muito dinheiro, não perderão a eleição. E aqui está seu terceiro pecado capital. A crença na força absoluta da grana. Não há nenhuma criatividade, não se buscam soluções inteligentes e inovadoras. E o caldo insosso acaba gerando o quarto pecado capital dos governantes, o pecado da rotina. Daí para o quinto pecado, o salto é pequeno. A desorganização grassa, bagunçando as malhas burocráticas e gerando o pecado da improvisação. Os sete pecados capitais III As assessorias desqualificadas e os grupinhos de "luas-pretas" constituem um dos maiores danos à imagem e à eficácia dos governos, descortinando o panorama do sexto pecado capital, a bajulação consentida. De tanto andarem de sapato de salto alto, os governantes acabam pisando nos pés do povo. Nesse ponto, os governantes comemoram o sétimo pecado capital, o descompasso com o senso comum. Empatando com Deus Zé Baioneta, sapateiro e muito prendado lá de Remanso/BA, bebia muito. Bebia demais. Recebeu um dinheiro do cabo chefe do destacamento policial para fazer uma bota, bebeu o dinheiro, não conseguiu comprar o couro, começou a se esconder do cabo. Uma tarde, já noitinha, ia voltando para casa bem chumbado, encontra o cabo na esquina. - Zé Baioneta, e minha bota ? - Vou fazer, seu cabo. Tive uns problemas, mas vou fazer. - Faça logo, urgente. Você recebeu meu dinheiro e está me deixando desmoralizado na cidade com essa bota toda estragada, toda furada, uma vergonha. - Nada disso, seu cabo. Pois eu vou lhe dizer uma coisa. Aqui em Remanso não tem ninguém tão importante quanto o senhor. O senhor é mais importante do que o prefeito Marcelino Régis, mais importante do que o deputado Carlos Ribeiro. - E do que Deus ? Zé Baioneta pensou um pouco : - Aí empata.
quarta-feira, 3 de agosto de 2016

Porandubas nº 500

Abro a coluna com mais uma historinha das Minas Gerais. No meio da praça, o professor baiano perguntou ao mineirinho : - Diz aí um verbo ! Ele pensou, pensou, e mesmo indeciso, respondeu : - Bicicreta. - Não é bicicreta, mineiro tonto, é bicicleta. E bicicleta não é verbo ! O mestre continuou : "Quem é mineiro aqui ?" Mais um levantou o dedo. E para ele foi a pergunta : - Diz você aí um verbo ! O segundo mineiro pensou, pensou, pensou e arriscou : - Prástico. - Como ? Prástico ? Que burrice. Ora, você quer dizer plástico ? E atente bem : plástico não é verbo. Nesse momento, um terceiro mineiro não esperou a chamada e foi logo levantando o dedo e dizendo : - Posso dizer o verbo, fessôr ? Pois lá vai : Hospedar. Hospedar. - Muito bem ! Muito bem. Parabéns. Até que enfim vejo um mineiro inteligente. Agora, diga aí uma frase com o verbo que você escolheu. Enchendo o peito, o mineiro, todo cheio de orgulho, tascou : - Hospedar da bicicreta são de prástico. (Enviado por Carla Elias) Tiro pela culatra Lula estava dividido entre recorrer à ONU, acusando perseguição a seu nome pelo juiz Sérgio Moro, ou deixar a coisa rolar e esperar pelos acontecimentos. Temia o acirramento corporativo das associações e juízes. Optou por ir à Comissão de Direitos Humanos da ONU. Queria alertar o mundo sobre a perseguição que Moro lhe faz. Acabou virando réu em processo de obstrução da Justiça, decisão tomada por um juiz Federal do DF. Ou seja, atirou no que viu - Moro - e ganhou o que não viu, ou seja, o ingresso no campo dos réus. Efeitos deletérios Os efeitos deletérios para Lula já se fazem sentir. A ONU respondeu que há cerca de 500 casos a examinar antes deste de Lula. Haja tempo. E vai verificar se todos os trâmites internos - relativos à defesa de Lula - foram seguidos no Brasil. Se 48 países tomaram conhecimento da situação - tornar o caso visível era a meta - o tiro pode sair pela culatra porque as condenações de Lula podem sair de uma esfera que não seja a de Curitiba. Aventa-se a hipótese de que Lula, com seu gesto, está aplainando o caminho para pedir asilo a algum país para evitar a prisão. A cada dia, surgem mais evidências do envolvimento de Luís Inácio com os escândalos que estão sendo apurados pela Lava Jato. Preocupação Este consultor lê que amigos de Lula estão preocupados com sua saúde : abatido, sem dormir o suficiente, voz sem força. E Lula sem ânimo é palanque sem vida. Trata-se de um palanqueiro e com eterna identidade de oposicionista. Distância de Dilma Lula e Dilma estão apenas esperando o desenlace do impeachment para cada qual tomar seu rumo. Sobre Dilma, a expectativa é a de que sofrerá um total isolamento por parte do PT e de seus líderes. Sobre Lula, a expectativa é a de que volte ao palanque de maneira rápida para melhorar o perfil eleitoral do PT no pleito de outubro, fator importante para a alavancagem de sua candidatura em 2018. Mas a hipótese de uma prisão, por decisão de 2ª instância, o tornaria inelegível pela condição de passagem para a área dos fichas-sujas. Impeachment A sensação que se apura nos mais diversos ambientes - sociais e políticos - é a de que só um milagre faria Dilma voltar a ter assento no Palácio do Planalto. Mas senadores petistas, a partir de Lindbergh Faria, continuam a manter a otimista versão de que crescem as possibilidades de derrubar o impeachment. Ora, apesar dos rombos gigantescos nas frentes da economia - déficit fiscal, desemprego de 11 milhões de pessoas, inflação alta - os sinais de melhoria aparecem em quase todas as frentes da produção. As multinacionais dão sinais de ânimo. Os investidores mostram interesse em voltar. Nessa esteira, é praticamente nula a viabilidade de Dilma voltar ao comando da Nação. O clima lúdico A Olimpíada deixará agosto menos amargo. Sabemos que decisões importantes serão tomadas neste mês, entre elas, a cassação do deputado Eduardo Cunha e o impeachment da presidente Dilma. Mas o mês terá como eixo central a realização dos Jogos Olímpicos, que ganharão total e ampla visibilidade midiática. Teremos uma superdose de matérias sobre a vasta planilha dos jogos. O fator político, portanto, ficará em segundo plano. E assim agosto será o mês da maior exibição estética esportiva do planeta. Mônica e João João Santana e a mulher Mônica ganham a liberdade, depois de pagarem fianças : a de Mônica (a diretora financeira) foi estipulada em R$ 28,7 milhões e a de João, em R$ 2,7 milhões. O advogado de ambos nega que farão delação premiada. O juiz Moro diz que já tomou os devidos depoimentos, não se justificando a continuidade da prisão. As ações penais, essas, sim, terão continuidade. Velho marketing O marketing das campanhas será outro depois dos tempos áureos de Santana e Duda Mendonça, dois ícones do marketing da espetacularização. Foram-se os tempos de milhões gastos com a exuberância de campanhas que privilegiavam mais a forma do que o conteúdo. Santana como Duda são dois craques. Mas os tempos de escassez sugerem pleitos mais modestos e, sobretudo, mais honestos perante o eleitor. Menos extravagantes e mistificadores. Até 50 anos As mudanças mais drásticas na Previdência valerão para quem tiver até 50 anos, tanto na iniciativa privada como no setor público. Acima desta faixa etária haverá um "pedágio" para quem quiser se aposentar, a chamada regra de transição, prevendo um período adicional de trabalho de 40% a 50% do tempo que falta para que se tenha direito ao benefício. Essas poderão ser as propostas do governo. A ideia é que a idade mínima para que o trabalhador exija a aposentadoria seja de 65 anos, no caso de homens, e de 62 para mulheres. Tudo está sendo planejado para que as mudanças atinjam funcionários de empresas privadas e também servidores públicos. "Talvez não unifiquemos o sistema, mas vamos unificar as regras", diz o ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha. Temer não será candidato O presidente em exercício Michel Temer garante que não será candidato em 2018. É mesmo para acreditar. Seu sonho é resgatar o caminho do desenvolvimento do país e abrir o conjunto de reformas modernizantes. Qualquer tentativa de inserir seu nome na planilha dos presidenciáveis de 2018 é mera deferência. Até porque quer chegar às margens do pleito, se ficar efetivamente no lugar de Dilma, na posição de juiz. Para influir de maneira positiva no processo e evitar aventureiros. Nomes do amanhã Quem seriam os perfis em condições de entrar no páreo eleitoral de 2018 ? Eis alguns : José Serra, Henrique Meirelles, Marina Silva, Luiz Inácio Lula da Silva, Ciro Gomes, Cristovam Buarque, Geraldo Alckmin, Eduardo Paes, Jair Bolsonaro, Paulo Hartung, Aécio Neves. Os atores de 2018 em desfile Serra - Experiente, preparado, se sair-se bem do papel de semeador da imagem do Brasil no mundo, terá condições de pleitear a candidatura por um partido que não o PSDB, onde dois nomes terão preferência ao dele - Aécio e Alckmin. Pode ser até pelo PMDB. Muito ambicioso, pode abrir arestas. Meirelles - Tem um pé na política. Já foi deputado pelo PSDB de Goiás, tendo a maior votação : 183 mil votos. Renunciou para ser presidente do Banco Central no governo Lula. Ministro da Fazenda, está na linha de frente do governo Temer. Se for bem sucedido na tarefa de arrumar a economia, ganha cacife para ser candidato. Pelo PMDB ou até por outro partido. É o perfil que pode angariar mais força. Faltaria jogo de cintura na articulação política. Se resolver a equação BO+BA+CO+CA (Bolso cheio, Barriga satisfeita, Coração agradecido, Cabeça votando no candidato), terá o apoio das massas. Sob a hipótese de um governo Temer vitorioso, é o perfil com melhores condições. Marina - Asséptica, exibindo ar de pureza e com discurso da ética, poderá vir a ser uma candidata dos centros urbanos mais avançados, dos setores intelectuais e dos jovens. Mas estaria lhe faltando estofo para levar a cabo a empreitada. Demonstra fragilidade. Conta com apoio de poucos e pequenos partidos. Sua Rede é tênue. Lula - Sempre a principal referência do PT. Para tanto, precisa se livrar dos processos que pairam sobre seu nome e depurar o partido dos trabalhadores, buscando uma volta às origens. Faz marolas nas margens, mas a rejeição nas cidades do Sudeste chega ao clímax. Seu discurso está em declínio. E mesmo sua voz rouca não tem o empuxo dos velhos tempos. Ciro - Metralhadora ambulante. Conhece bem a realidade brasileira, é um bom guerreiro em palanque e em debates, mas é boquirroto. Pode ser flagrado pela boca. Maltratando pessoas, grupos ou setores. Passa a imagem de inconfiável. Muda muito de partido. Mas é a aposta do PDT. Cristovam - Senador de respeito, conhece muito bem a realidade educacional do país, tem um perfil de centro-esquerda, mas tem sido muito dúbio sobre os caminhos a trilhar. Gosta de aparecer em cima do muro. Ademais, seu território político, o DF, e seu partido, PPS, ainda são limitados. Faltaria a ele densidade partidária. Ou apoios de monta para agregar condições eleitorais. Alckmin -Geraldo Alckmin é um político paciente e persistente. Quer ser o candidato tucano à presidência em 2018. Vai disputar com Aécio essa vaga. Se não conseguir, poderá ingressar no PSB e pleitear a candidatura por este partido. Deve receber alguma resistência do PSB nordestino, a partir de Pernambuco. Alckmin, se sair bem avaliado do governo de São Paulo, terá o apoio de grande contingente do maior eleitorado brasileiro. São Paulo tem cerca de 42 milhões de eleitores. Seu desafio : atenuar a careca muito paulista. Ou seja, administrar o excesso de marca paulista. E lutar para ganhar de Aécio o posto. Paes - Eduardo Paes tem uma imagem jovial. Mas, nos últimos tempos, meteu-se em muita polêmica, a última envolvendo a Olimpíada. Que poderia ser sua vitrine e está mais parecendo um pesadelo. Paes também faz papel de papagaio de pirata, querendo aparecer nos palcos populares como os do esporte. Tem sido reconhecido como prefeito polêmico e perdido apoio político, inclusive no PMDB nacional. Sua ligação com o ex-governador Cabral seria muito explorada. Bolsonaro - Perfil de extrema direita, com um discurso conservador, duro, polêmico. Como candidato, poderia alavancar seu partido, mas o voo é muito limitado. Empolgaria apenas grupos isolados na direita. Hartung - Trata-se de perfil respeitado, administrador experiente, que governa mais uma vez o Espírito Santo. Um arrumador das contas do Estado, um gerente considerado exemplar. Mas não é conhecido fora do ambiente dos capixabas. Poderia ser um quadro em ascensão no PMDB, caso o partido decidisse escolher um dos seus quadros como candidato. Político com perfil asséptico. Neves - Aécio Neves é o perfil mais recorrente do PSDB à presidência. Quase ganhou da Dilma. Portanto, tem condições para pleitear a candidatura. Seu problema : tem sido alvo constante das investigações levadas a cabo pela operação Lava Jato. Ou seja, seria abatido antes de 2018. Se conseguir se safar, continuará forte no páreo. Tem visibilidade e recall, jovial, o ex-governador sofre ainda pelo fato de seu desempenho no Senado ser aquém da expectativa. Candidato não é sabonete Diz a Bíblia : "nenhum homem, por maior esforço que faça, pode acrescentar um palmo à sua altura", e alterar o pequeno modelo que é o corpo humano. Mesmo usando a engenharia de artimanhas do marketing. Ora, candidato não é sabonete. Na eleição de outubro, o eleitor se prepara para desmascarar a ilusão, desvendar o artifício e reencontrar a realidade dos candidatos. Alguns até tentarão pôr sobre a cara a máscara da dor, que não é, necessariamente, a dor. Histriões aparecerão. Mas o país toma um banho de racionalidade. A supremacia do discurso O momento nacional sinaliza para a supremacia do discurso, para a força da razão. Não adiantará a cosmética de faces condoídas e pontuações enfáticas sobre nossa miséria. O eleitor brasileiro saberá medir versões, interpretações, verdades e boas intenções. Se a arte de mentir tem progredido muito no país, na corrente das águas sujas e das propinas, a capacidade de análise do eleitor tem aumentado, clareando as formas de percepção. Gato não mais será comprado como lebre. Se o príncipe não pode dispensar a astúcia da raposa e a força do leão, devendo trapacear e matar, de acordo com os preceitos do velho Maquiavel, o súdito não vai deixar ser pego por eles.
quarta-feira, 27 de julho de 2016

Porandubas nº 499

Abro a coluna com a querida Paraíba. Cancelo chuvas A seca era medonha. A Paraíba em desespero, o governador aflito. Um dia, caiu uma chuva fininha no município de Monteiro. Inácio Feitosa, o prefeito, correu ao telégrafo : "Governador José Américo : chuvas torrenciais cobriram todo município de Monteiro. População exultante : Saudações, Feitosa". Os comerciantes da cidade, quando souberam do telegrama, ficaram desesperados. O município não ia mais receber ajuda. Ainda mais porque a mensagem era falsa e apressada. Feitosa correu de novo ao telégrafo : "Governador José Américo : cancelo chuvas. População continua aflita. Feitosa, prefeito". Confiança melhora O índice de confiança de consumidores e setores produtivos melhora, mas o ambiente econômico ainda está cheio de rombos. Na verdade, há uma expectativa positiva da sociedade em relação ao futuro, percepção se enxerga nas projeções que se fazem sobre crescimento positivo do PIB, em 2017, animação de investidores e realinhamento político entre o Executivo e o Legislativo, entre outros aspectos. A pressa do PT A cada dia, fica mais clara a posição do PT sobre o impeachment da presidente Dilma : quanto antes o Senado tomar a decisão, melhor. No início, o sentimento era o de que a protelação poderia ajudar a presidente. Com o tempo passando, constatou-se que o governo Temer sedimenta posições, abre uma grande articulação com o Congresso e a governabilidade se fortalece, tornando praticamente inviável a volta de Dilma. Daí a inferência que toma corpo : o PT precisa salvar uma parte de seu corpo. Como ? Subindo ao palanque. Campanha se abre Com a realização das convenções, as candidaturas são lançadas, abrindo a campanha de rua, de TV e rádio, nos meados de agosto. Logo, cada ente partidário precisa correr a campo, organizando palanques, mobilizando militância, contratando equipes de apoio, fechando as parcerias. O PT agora quer pressa. Lula já começou o seu périplo pelo Nordeste, a ser transformada, nos próximos tempos, como a Nova Terra Prometida para resgate de um partido alquebrado por bombardeios na esteira das operações do mensalão e da Lava Jato. Poucas parcerias O PT quer voltar às origens. Essa meta implica expurgar quadros, renovar lideranças, reacender o facho programático, aproximar-se dos movimentos sociais, enfim, resgatar algumas bandeiras do passado, entre as quais, a da ética. Não será um empreendimento fácil de construir. Para tanto, o PT deverá ter mais cuidado na formação de parcerias. Sabe que terá de reconstruir um diferencial. E isso demanda seleção de parceiros. Por isso, as parcerias a serem formadas deverão abrigar os grupamentos mais à esquerda, como PSOL, PDT e PC do B. Bastante previsível é o afastamento entre PMDB e PT. PMDB e PT Será possível o reencontro entre PT e PMDB ? Muito difícil. As circunstâncias afastaram os dois entes. Mas esse distanciamento, que deverá ocorrer até as margens de 2018, não significará um muro de Berlim entre os dois territórios. O presidente Michel Temer, permanecendo no governo, tentará convidar Luiz Inácio para um diálogo, onde o tema da governabilidade certamente será o centro. Ao PT também não interessa fechar todas as portas na relação com o governo e com os partidos. Sabe que terá de participar da vida legislativa, e essa situação vai exigir que ganhe posições de destaque em projetos e o comando de comissões nas casas congressuais. Divórcio amigável Sob essa leitura, pode-se inferir que o divórcio entre PT e partidos com os quais fez aliança, nesses 13 anos em que comandou o país, deverá ser amigável, não litigioso. Portanto, é viável se pensar em uma interlocução que permita ao PT se inserir nas estruturas legislativas, evitando isolamento e distanciamento do cotidiano parlamentar. Compartilhamento O partido deve ter aprendido bastante em sua passagem pelo Palácio do Planalto, sobretudo a lição de que, no Brasil, é impossível governar sozinho. O compartilhamento do exercício de poder se faz absolutamente necessário. Ora, o PT praticou essa ideia de maneira enviesada. Não entregava o pacote todo aos partidos. Sempre ficava com uma parte. Se cedia um Ministério, lá colocava seus quadros para monitorar os passos do ministro. Esse foi um dos erros do PT na administração do governo. Grandeza Augusto Franco, governador, cheio de si, desceu no Galeão, e foi logo respondendo à pergunta de uma atendente da Varig : - O sr. é o dr. Augusto Franco, de Sergipe ? - Não, minha filha, Sergipe é que é de Augusto Franco. Divisão das bases As eleições de outubro terão importância fundamental no redesenho do poder no país. Dos 5.568 municípios, entre 15% e 20% (835 e 1.113) deverão ser comandados por partidos de esquerda, a partir do PT, PDT, PC do B e PSOL. Pode-se calcular que essa mesma margem deverá ficar sob o comando de partidos médios e pequenos. A maior fatia (60% a 70%) deverá permanecer na órbita dos grandes partidos - PMDB, PSDB, PSD, DEM, PSB - que deverão rumar na direção de 2018 com uma base política bem arrumada. A conferir. O PT e o nordeste A região Nordeste, na concepção do PT, poderá ser o território que sediará o projeto inicial de sua redenção. Pelas condições da região - ainda dominada pelo império da velha política - Luiz Inácio, com sua voz rouca, se apresenta como um rolo compressor a destruir os resquícios das oligarquias e do coronelismo regional. O Nordeste agrupa 27% do eleitorado brasileiro. A maior parcela é das margens (classes D e E). Mas o PT abocanha, ainda, uma boa fatia das classes C e B, a primeira sob a lembrança dos pacotes assistencialistas ; a classe média reúne um barulhento grupo de professores das universidades Federais. Que usam uma tuba de ressonância para fazer loas ao partido. Porém.... Há um porém nessa leitura. Se a locomotiva econômica entrar nos trilhos e puxar com força os vagões sociais, será difícil para Lula convocar as massas para correr ao seu alcance. Bolso garantindo a grana para a sobrevivência das margens tirará o ímpeto petista. Portanto, a hipótese de Luiz Inácio usar a região Nordeste para alavancar o PT vai depender da minha sempre lembrada equação : BO+BA+CO+CA - Bolso cheio, Barriga satisfeita, Coração agradecido, Cabeça recompensando o governante da ocasião. Dilma no exterior Se for definitivamente afastada, a presidente Dilma estaria pensando em passar uns tempos no exterior, Uruguai ou Chile. Não seria assediada pela mídia, teria mais tempo para realizar estudos e pensar sobre o futuro. Comenta-se que o PT não teria muito interesse em pavimentar o caminho da presidente no pós-impeachment. Moldura econômica Índice de confiança - O Índice de Confiança do Consumidor (ICC) da FGV subiu pelo terceiro mês consecutivo em julho, mais uma vez puxado mais pela melhora das expectativas do que pela percepção sobre a situação atual. O ICC aumentou 5,4 pontos, para 76,7 pontos. Em abril, o indicador tinha atingido o menor nível da série histórica. Na comparação com julho do ano passado, houve alta de 6,7 pontos, a segunda consecutiva neste tipo de confronto. Consumo - Indicadores sugerem alguma melhora do consumo das famílias nos próximos meses. Atividade econômica - Depois de nove semanas entre estabilidade e ascensão, a expectativa dos analistas para a atividade econômica brasileira voltou a cair, de acordo com o BC. A mediana das projeções para o PIB saiu de queda de 3,25% para recuo de 3,27%, após três semanas consecutivas em alta. Antes disso, as estimativas ficaram estáveis em uma semana e subiram nas demais. Balança comercial - Balança comercial registrou superávit de US$ 852 milhões na quarta semana do mês, com melhora das exportações na comparação com junho. Inflação - A estimativa da inflação para 2018 recuou de 4,6% para 4,5%, que é a meta. Dívida pública - A dívida pública Federal subiu 2,77% no mês de junho. De acordo com o Tesouro Nacional, ela passou de R$ 2,878 trilhões para R$ 2,958 trilhões em relação ao mês anterior. Inadimplência - A inadimplência das empresas aumentou 12,34% em junho em comparação com o mesmo mês do ano passado, segundo dados do SPC e da CNDL. Ociosidade I - A indústria brasileira do aço enfrenta cerca de 30% de ociosidade. Ociosidade II - Montadoras e autopeças operam com 52% de ociosidade. Na indústria de caminhões, sobram 75% da capacidade. Desde 2011, a base de empregados diminuiu de 107 para 79 mil metalúrgicos. Hoje, 26 mil empregados da indústria automobilística participam de PPE ou "lay off" - o número equivale a mais de 23% de todo o efetivo do setor. Ociosidade III - Capacidade ociosa também aumentou em construção e serviços. Em abril de 2013, quando os índices começaram a ser calculados, o Nível de Utilização da Capacidade Instalada (Nuci) era de 88,4% nos serviços, pico da série. Até maio deste ano, recuou 6,2 pontos percentuais, para 82,2% nível mais baixo da pesquisa. PEC dos gastos - Proposta de Emenda à Constituição que estabelece um teto dos gastos públicos poderá ser aprovada até o final de dezembro. Ministro Henrique Meirelles sinalizou que o rombo nas contas públicas de 2016 pode ser maior que o esperado. Dívidas - O consumidor tem evitado dívidas. 48,2% dos carros novos vendidos no país no mês de junho foram pagos à vista. Setor imobiliário - Após um ano de crise, o setor imobiliário começa a se recuperar, com alta de 24,7% no número de apartamentos em construção e de até 72% no de empreendimentos lançados no primeiro semestre. Déficit - Além do déficit de Estados e municípios, o resultado fiscal deste ano pode ser pior do que se antecipava, uma vez que dados mostram que o resultado das empresas estatais aponta para déficit de pelo menos R$ 2 bilhões. O fraco desempenho das empresas do governo Federal já fez com que a meta fiscal de 2017 fosse definida com uma expectativa de déficit de R$ 3 bilhões. Concessões - Para viabilizar leilões de concessão ainda neste ano, o governo convocou ministros das pastas ligadas à infraestrutura a apresentar até o fim do mês os projetos que podem vir a ser levados à iniciativa privada. Etanol - Preço do etanol recua em 15 Estados e no DF. Reforma trabalhista - José Pastore, o grande mestre do Trabalho, diz ser ilustrativo para o Brasil o modelo de reforma trabalhista aplicado pela França, que passou a permitir a negociação direta entre empregados e empregadores. "Quando o jogo não compensa, fica tudo debaixo da lei. Não há retirada ou revogação de nenhum direito", diz, afirmando que a CLT está repleta de regras rígidas, que são de difícil ou impossível aplicação universal. Empresas aéreas - O presidente Michel Temer vetou o aumento da participação de capital estrangeiro nas empresas aéreas brasileiras, conforme acordo que havia celebrado com os senadores. Com isso, continuará vigorando no país o limite de 20% para essa participação. Espaço eleitoral Esta coluna fecha o espaço com pequena orientação para candidatos a prefeito e assessores. O eleitor é fiel ? Comecemos com uma pergunta : o eleitor brasileiro é fiel ? A resposta é não. Há grupamentos fiéis, particularmente entre estratos médios, formadores de opinião, segmentos engajados nos partidos, setores religiosos, imigrantes de sangue anglo-saxão e pequenos núcleos ideológicos. Os grandes contingentes são amorfos, alheios ao cotidiano político e capazes de mudar de posição, de acordo com as circunstâncias e as necessidades mais imediatas. Infidelidade A infidelidade do eleitor tem a ver com a incultura política que semeia florestas de desinteresse pelos espaços nacionais, incluindo os centros mais evoluídos. Basta lembrar que as mesmas grandes parcelas de eleitores da periferia de São Paulo que elegeram Jânio Quadros, também escolheram Luiza Erundina e ainda votaram em Paulo Maluf, nas campanhas em que se tornaram prefeitos da capital. Nas veias eleitorais, corre um sangue versátil, inseminado nos tempos da Colônia. Como decide o eleitor A decisão do eleitor é influenciada por dois elementos que parecem paradoxais. De um lado, um pessimismo galopante, que se faz presente nas locuções de que "o país não tem jeito, estamos todos perdidos, não vale a pena lutar por isso etc." De outro, um otimismo extravagante, que evidencia a superlativa dose emotiva da alma nacional. O pessimismo induz o eleitor a se afastar dos políticos, que, indistintamente, ganham a pecha de "ladrões e corruptos". Os perfis populistas e messiânicos acabam levando a melhor, ao sintonizarem a linguagem com a imprecação popular. Bandido bom... Não por acaso, o chavão "bandido bom é bandido morto, lugar de bandido é na cadeia", toca forte no coração das massas. Já o otimismo de nuances ufanistas marca o caráter nacional com os selos da displicência, da sensualidade, do ócio e da pachorra. Se o pessimismo é oposicionista, o otimismo tropical é situacionista, ou, em outras palavras, tende a reforçar o status quo. Infere-se, assim, que o desempenho do Brasil na Olimpíada poderia contribuir para candidatos governistas ao gerar catarse. Com suas vertentes de emoção, vibração, êxtase e felicidade, a catarse purga pecados acumulados. A consequência se faz presente na maior complacência dos eleitores ao analisarem os quadros de amargura e angústia que os afligem. Mudando de posição Se o eleitor gosta de mudar de posição, se navega tanto pela nau do pessimismo quanto pelo navio do otimismo, o que se deve aguardar é uma decisão que terá a influência das ondas oceânicas nas margens do pleito. Mar turbulento revirará o estômago e o passageiro pessimista irá para a oposição ; mar tranquilo levará o eleitor para a continuidade de uma travessia sem turbulências. O leitor que tire suas conclusões.
quarta-feira, 20 de julho de 2016

Porandubas nº 498

Abro a coluna com o velho personagem do folclore político das Minas Gerais. José Maria Alkmin tinha fama de pão duro e os amigos resolveram testar sua fama. Arranjaram uma freira e mandaram procurá-lo. A freira chegou e pediu um auxílio para o orfanato. Ele percebeu a brincadeira, tirou o talão de cheque, preencheu, a freira saiu. Atrás delas, os amigos deles, surpresos. Dia seguinte, no banco, a freira não pode receber. O cheque estava sem assinatura. A freira voltou ao gabinete : - Desculpe, irmã, mas, como cristão, devo obedecer o Evangelho. Quando pratico atos de caridade, mantenho-me sempre no absoluto anonimato. (Historinha enviada por Carla Elias) Animus animandi A alma nacional começa a se animar com a leitura que entidades e empreendedores passam a fazer do Brasil nos horizontes do amanhã. O FMI já aposta na economia voltando a ter força já em 2017. As projeções até sinalizam crescimento do país. Os Institutos de Pesquisa, como o Datafolha, sinalizam resgate da confiança. O número de brasileiros confiantes é, hoje, quase três vezes maior que o registrado em abril. E metade da população quer a permanência de Michel Temer no comando, rejeitando a volta de Dilma. Efeito dominó A locomotiva econômica tem o dom de puxar os vagões das massas e da política. Se o desemprego e o índice inflacionário forem contidos, as tensões sociais diminuirão. O Produto Nacional Bruto da Felicidade, com uns pontinhos a mais, funcionará como válvula a deixar escapar o vapor do panelão social. A esfera política entrará no clima de distensão, tendendo a buscar linhas de consenso e equilíbrio. Campanha eleitoral A campanha eleitoral deste ano será emblemática. Os mais endinheirados puxarão o carro da visibilidade. Sem doações de empresas, os partidos terão de repartir migalhas para seus candidatos em 5.568 prefeituras. O Caixa 2 será realimentado. Não por meio de recursos financeiros, mas via ajuda indireta : logística de transportes, imóveis cedidos para comitês de campanha, pacotes baratos de materiais de propaganda bancados por amigos e assim por diante. Sola de sapato Mas o que valerá mesmo é a corrida casa a casa, mão na mão, olho no olho. Os candidatos terão de se desdobrar para cumprir uma intensa agenda em bairros, feiras livres, mercados municipais, estações rodoviárias e ferroviárias, conversando com as pessoas, ouvindo queixas, anotando sugestões, recebendo promessas de votos e, claro, também ouvindo xingamentos e apupos. A campanha de rua será mais forte que as anteriores. O eleitorado está desconfiado. Atento. E com a língua afiada. Moro e Lula O juiz Sérgio Moro aguardará a decisão sobre as gravações de Lula, a ser tomada pelo ministro Teori Zavascki após o recesso do Supremo. Em agosto, Teori vai confirmar se as gravações ficarão sob a égide de Moro ou subirão à alta Corte. A defesa de Lula pede que as gravações fiquem na órbita do STF. Será difícil separar gravação com pessoas do foro privilegiado e fora dele. E se Lula permanecer sob o olho severo do juiz de Curitiba ? A rejeição de Lula O Datafolha mostra que Lula continua a liderar o processo eleitoral, se as eleições fossem hoje. Mas, no segundo turno, não ganharia de ninguém. Lula tem a maior rejeição : 46%. No segundo turno, perderia com estas margens : Opção 1 : Aécio 38% e Lula 36%. Opção 2 : Alckmin 38% e Lula 36%. Opção 3 : Marina 44% e Lula 32%. Opção 4 : Marina 46% e Aécio 28%. Opção 5 : Marina 47% e Alckmin 27%. Opção 6 : Marina 46% e Serra 30%. Opção 7 : Serra 40% e Lula 35%. Pai dos pobres Lula lapidou uma imagem de Pai dos Pobres. O artífice do Bolsa Família. O autor da façanha da "inserção de 30 milhões" de brasileiros no meio da pirâmide social. Grande responsável pelo aumento da auto-estima nacional. Ora, mas parcela dessas conquistas se esvaiu. A auto-estima foi pro buraco. Os milhões que escalaram a montanha estão descendo para o sopé. O Bolsa Família, hoje, é considerado uma obrigação do Estado. Sem pai nem mãe. O tsunami de lama E, além disso, um tsunami de lama e esgoto invadiu o território de Lula, o PT. A lama respinga sobre ele e seu entorno. Essa paisagem devastada vai ser mais feia nas proximidades de 2018. Por isso, esse consultor volta a lembrar a velha lição de Heráclito : um homem nunca atravessa o rio duas vezes. As águas são outras e ele próprio não será o mesmo na segunda travessia. O futuro do PT O PT não acabará. Passará por uma filtragem para expurgar as correntes sujas de lama que entopem seus dutos. Luiz Inácio será, ainda, a referência maior da sigla. O PT diminuirá de tamanho, a começar pela baciada menor de prefeitos a serem eleitos em outubro. Se fizer 300, metade do que tem hoje, já estará de bom tamanho. O debate interno será intenso após as eleições. 2017 será um ano de forte embate interno entre as alas que povoam o partido. A banda de Lula poderá até vencer a disputa interna. Mas o grande Lula sairá alquebrado de tanta refrega. A conferir. Bloqueio Uma juíza do Rio de Janeiro, Daniela Barbosa Assunção de Souza, determinou o bloqueio do WhatsApp em todo o país. Razão ? Descumprimento de ordem judicial para fornecimento de informações em uma investigação policial. A moda está pegando. Trata-se da terceira suspensão. Medida tem impacto sobre mais de 100 milhões de usuários do aplicativo de mensagens instantâneas. Juíza diz : "Aqueles na sociedade que reclamam a simples ausência de um aplicativo, como se não nos fosse mais possível viver sem tal facilidade, como se outros similares não pudessem ser utilizados, como se outros meios de comunicação não existissem, deveriam lembrar que a maior vítima dos crimes ora investigados é a própria sociedade". Hollande François Hollande, o presidente da França, ainda não confirmou sua vinda para a Olimpíada. Seu nome consta da lista de chefes de Estado que haviam prometido vir ao Brasil. Com o recente atentado terrorista em Nice, Hollande poderá desistir. Seria um risco sua presença em um evento aberto como uma Olimpíada. Por mais segurança que se possa organizar, o terror, como se viu na França, encontra maneiras de escapar dos controles. Semi-parlamentarismo A vitória de Rodrigo Maia cai como uma luva nesse momento. Michel Temer, bom conhecedor dos meandros do Parlamento, quer abrir mais espaço para os partidos, motivando-os a participar da definição das políticas públicas, não somente ocupando cargos na estrutura. Esse é o diferencial de seu presidencialismo. Quer inaugurar um novo estilo, que já está sendo chamado de semi-parlamentarismo. Valorização do Congresso. Reforma política O fim das coligações proporcionais e o estabelecimento da cláusula de barreira são os dois pontos que integram a reforma política de interesse do Executivo. O governo espera aprová-los ainda este ano. A conferir. Democracia gangrenada "Na minha opinião, o que está acontecendo com o Brasil é um protesto do setor mais saudável e criativo do país diante de uma democracia que estava gangrenada pela corrupção". (Mário Vargas Llosa) Contra a Olimpíada Metade da população (50%) é contrária à realização da Olimpíada no Rio de Janeiro. E 63% acham que trará mais prejuízos que benefícios. Terrorismo Mais um atentado terrorista : numa cidade pequena do interior da Alemanha. Os alvos se tornam cada vez mais escondidos. Progresso social Eis os cinco melhores países do mundo no ranking de progresso social : 1º Finlândia ; 2º Canadá ; 3º Dinamarca ; 4º Austrália e 5º Suíça. O pacto de Dilma Promete o líder do PT, José Guimarães, que se Dilma voltar, "será um novo governo. Dilma deve fazer um novo pacto com os brasileiros. Repactuar o país. E esta repactuação passa por nenhum direito a menos. Conversar com o Congresso e com a sociedade. É outro governo. Outro pacto. Que dará nova governabilidade". E diz que o PT está trabalhando em silêncio para reverter o impeachment. O discurso político O discurso político atravessou um longo corredor na história. Vejamos algumas passagens. Na Antiguidade, os ideários fluíam pelo gogó e pelo gestual dos governantes, rito de que são ícones Demóstenes (384-322 A.C.), político que venceu a gagueira forçando-se a falar com seixos na boca e se tornou o maior orador grego, e Cícero (106-43 a.C.), advogado e mestre de civismo, famoso também pelo discurso contra o conspirador Catilina e considerado o maior orador romano. Da ágora para o Estado-espetáculo Da ágora, a praça central de Atenas, e do Fórum romano, o discurso político avolumou-se, saindo do Estado-cidade para o Estado-Nação e agregando força na esteira dos ciclos históricos da comunicação : a era Gutenberg, no século 15 (criação da imprensa), a Galáxia Marconi (invenção do rádio, em 1896), que impulsionou a escalada de demagogos como Hitler e Mussolini, até chegarmos ao Estado-espetáculo, adornado com as luzes televisivas, a partir dos anos 1960, e com a imagem esbelta de John Kennedy. Estética sobre a semântica Nesse ciclo, a estética impõe-se à semântica e os atores políticos passam a incorporar elementos dramáticos ao desempenho, redundando não raro em performances mirabolantes com a finalidade de cativar e mobilizar as massas. A política no Estado moderno ganha operacionalidade com a implantação do governo representativo pela Constituição francesa de 1791 ("os representantes são o corpo legislativo e o rei") e o corpo social faz-se representar por um grupo de pessoas que passam a agir de acordo com a "vontade geral". Política de grupos O modelo passou a sofrer questionamentos. A crítica era a de que o sufrágio universal não teria sido capaz de melhorar a condição de vida de milhões de pessoas. Lançava-se ali a semente da representação de grupos específicos, derivando daí a democracia de grupos e facções, de que são exemplo, na atualidade, os Estados Unidos. Aí, o voto enraíza-se nas localidades, servindo de escudo de grupos e setores. É também de Bobbio a crítica de que a democracia não tem cumprido suas promessas, entre elas, a educação para a cidadania, a Justiça para todos e a segurança social. Não sem razão, a democracia representativa atravessa tempos continuados de crise, com o desvanecimento de partidos e doutrina, o arrefecimento das bases, o declínio dos Parlamentos. Hoje, a sociedade dá as costas para a política. E a democracia direta revigora-se com o clamor das ruas. Viu meu pedido ? Fecho a coluna com mais um "causo" mineiro. Murilo Badaró, senador, descobriu um bom emprego na Açominas, arrumou um candidato, foi ao governador Ozanam Coelho pedir o lugar para o seu protegido. Ozanam prometeu estudar o caso. Na semana seguinte daria a resposta. Murilo voltou : - Como é, Ozanam, viu meu pedido para a Açominas ? - Mas o rapaz é outro. Vai ser o Saulo, meu filho. - Como, Ozanam ? Descubro o lugar, trago-lhe o pedido e você nomeia seu filho ? - Ora Murilo, eu estava entre dois pedidos. Entre o pedido do senador, que é você, e do governador do Estado, que sou eu. Achei que o pedido do governador era mais forte. E nomeou o filho. (Historinha enviada por Carla Elias)
quarta-feira, 13 de julho de 2016

Porandubas nº 497

Abro a coluna com o grande Padre Vieira Um truque O Padre Antônio Vieira, o célebre pregador, escritor, político e diplomata jesuíta, subindo certa vez ao púlpito, iniciou estranhamente o seu sermão exclamando : - Maldito seja o Pai !... Maldito seja o Filho !... Maldito seja o Espírito Santo !... E quando a assistência, horrorizada, pensava que o grande orador houvesse enlouquecido, ele tranquilamente prosseguiu : - Essas, meus irmãos, são as palavras e as frases que se ouvem com mais frequência nas profundezas do inferno. Houve um suspiro de alívio no templo, mas com esse recurso, teve Vieira despertada e presa a atenção dos fiéis como poucas vezes, por outra via, houvera conseguido. (Narrado por Luis Costa em Leia Comigo) O orgulho do país Pinço, ainda nessa abertura, o clássico Os Direitos do Homem de Thomas Paine : "Quando alguém puder dizer em qualquer país do mundo : meus pobres são felizes, nem ignorância nem miséria se encontram entre eles ; minhas cadeias estão vazias de prisioneiros, minhas ruas de mendigos ; os idosos não passam necessidades, os impostos não são opressivos... quando estas coisas puderem ser ditas, então o país deve se orgulhar de sua Constituição e de seu governo". PMDB joga mal Ao escolher Marcelo Castro para ser o candidato do partido à presidência da Câmara, no mandato tampão que irá até fevereiro de 2017, o PMDB joga uma bola fora. Primeiro, porque racha a base do governo Temer ; segundo, porque escolhe um deputado que votou contra o impeachment, garantindo sua posição de ministro da Saúde de Dilma ; terceiro, porque o PMDB deveria ceder o lugar de presidente da Câmara a outros partidos, eis que já tem a presidência da República e a presidência do Senado. Sinalização A escolha do piauiense Marcelo Castro pode ser interpretada como uma expressão de insatisfação da bancada do PMDB em relação ao governo. Queixa-se de não ter assento na Esplanada dos Ministérios. Gostaria de se dizer presente com o comando de Pastas importantes. Urge lembrar que são peemedebistas : o deputado Leonardo Picciani, do PMDB do Rio, na Pasta do Esporte, os ministros Geddel Vieira Lima, da Secretaria do Governo (Articulação Política), e Eliseu Padilha, da Casa Civil, a par do secretário da Infraestrutura, Moreira Franco. Lula combinou ? Marcelo Castro combinou sua candidatura com Lula ? É possível. Se isso ocorreu, mais adiante cairá a ficha do PMDB. Entrar no jogo petista, nesse momento, é uma decisão que pode custar caro, pois significa um alinhamento contra o presidente da República, que também conserva o cargo de presidente (afastado) do partido. PMDB versus PMDB só faz bem ao PT. Que, a essa altura, está comemorando o feito. Efeitos Se Marcelo Castro ganhar, é possível que a banda oposicionista do PMDB - confinada aos 28 votos por ele obtidos - possa usar a força do presidente da Câmara para expandir seus espaços na administração. Se não ganhar, se alinhará às oposições ? Difícil. O poder central exerce muita atração. Se o Centrão ganhar a cadeira de presidente da Câmara tende a consolidar sua influência junto ao governo. As jogadas atrapalhadas do PMDB fazem parte da indefinição que toma conta do partido nesse momento de mudanças. Epílogo "Um homem se propõe a tarefa de desenhar o mundo. Ao longo dos anos, povoa um espaço com imagens de províncias, de reinos, de montanhas, de baías, de naus, de ilhas, de peixes, de moradas, de instrumentos, de astros, de cavalos e de pessoas. Pouco antes de morrer, descobre que esse paciente labirinto de linhas traça a imagem de seu rosto". (Jorge Luis Borges) Presidente em 2017 A se confirmar a presidência efetiva da República nas mãos de Michel Temer, emergem cenários para 2017 sob esses traços : a) uma aliança entre partidos médios, consolidando o espaço do Centrão ; b) uma aliança entre o PMDB, PSDB e DEM, saindo o candidato à presidência da Câmara desses dois últimos partidos ; c) uma aliança entre PT, PSOL e PC do B, formando o arco ideológico da esquerda. Três blocos. O PMDB poderá continuar dividido em alas, uma delas se aproximando do bloco do Centrão, a outra com tendência a circular no centro-esquerda, junto ao PSDB. Medidas realistas Já a partir de setembro, com a decisão do Senado pelo impeachment da presidente Dilma, o governo Temer poderá apresentar um conjunto de medidas mais condizentes com as reais necessidades do país. Por mais que o presidente Michel Temer expresse a convicção de que está agindo como presidente efetivo, infere-se que algumas posições poderão ser corrigidas. Pois o olho político, nesse momento, está aberto para os posicionamentos e acolhimento das medidas por parte do Congresso. Lula é o pré-candidato O primeiro pré-candidato ao pleito presidencial de 2018 já está nas ruas. Quem ? Ora, Luiz Inácio. Começa a fazer seu périplo no Nordeste, onde recebe diplomas, esculhamba o novo governo em palanque e chega a provocar a Polícia Federal. Ao receber o título de cidadão juazeirense, ironizou : "vou levar lá para São Bernardo. Não sei se a PF vai fazer busca e apreensão e querer levar como prova. Mas acho que um diploma de Juazeiro vai impor respeito lá". Lula sabe fazer a mistificação das massas. E avisa que ele será mesmo o candidato do PT. O que Dilma fará ? Para quem não gosta da política, como a presidente Dilma, entrar na política partidária parece não ser seu sonho. E se derem para ela uma vaga no Senado pelo RS ? É a maneira de não se isolar. Pelo jeito, não se conformará com a identidade de ex-presidente da República. Um cargo na Câmara Alta, para onde costumam ir ex-presidentes e ex-governadores, cairia bem em seu perfil. Tudo vai depender do clima das ruas em 2018. Que, por sua vez, dependerá da situação da economia. Arco ideológico Este consultor acredita que o Brasil abre espaços para o fortalecimento de grupos à direita, expansão do Centrão, a ser ocupado por cerca de 10 partidos, e estreitamento da margem esquerda do arco ideológico. Esta, por sua vez, ganhará maior nitidez, eis que o PT tende a voltar às origens, encostando no PSOL. O Partido dos Trabalhadores encolherá. O espaço da social-democracia, que entra em frentes de centro-direita e centro-esquerda, também será expandido. E os partidos nebulosos, geleias partidárias, terão suas fronteiras bem mais limitadas. Campanha paulistana O prefeito Fernando Haddad, PT, tem ao seu lado a máquina da prefeitura. Milhares de funcionários trabalharão como cabos eleitorais. Vão lutar pela manutenção de suas posições. Haddad, ademais, tem se esforçado para limpar a lama petista de seu perfil. Por isso, ele tem condições de ir ao segundo turno. Celso Russomano, PRB, pode ter sua candidatura afastada por eventual condenação pelo STF. Marta Suplicy, PMDB, conta um bom recall (lembrança) junto ao eleitorado das margens. Mas tem alta rejeição (mais de 40%). Andrea Matarazzo, PSD, com poucos segundos de TV e rádio, tende a ser canibalizado. João Doria, do PSDB, terá o maior tempo de mídia eleitoral. E não tem o vírus da velha política. É sua primeira candidatura. Reúne boas condições para ser muito competitivo. Erundina, com seu discurso radical e quase sem mídia, não tem chances. Análise Este consultor faz uma análise da conjuntura política no programa Diálogo Nacional que será veiculado amanhã, às 23h, na TV Aberta (9 - NET ou 186 - TVA). A partir de quinta-feira no site do programa www.dialogonacional.com.br Ribeirão Preto O atuante deputado Duarte Nogueira manda para a coluna esta boa notícia. O ministro dos Transportes, Portos e Aviação Civil, Maurício Quintella, garante que a expansão do aeroporto internacional de Ribeirão Preto está próxima de se tornar uma realidade. O Banco do Brasil, responsável pelo projeto, se compromete em entregar o anteprojeto no mês de agosto. Feito isso, o processo de licitação desse importante investimento poderá ser iniciado. 4 a 5 milhões de passageiros Diz o deputado : "Deixamos todos os projetos sob nossa responsabilidade prontos. Esperemos que a nova gestão Federal cumpra o que o governo da presidente Dilma não teve a oportunidade de fazer : a expansão do aeroporto de Ribeirão Preto e o aumento do seu terminal de passageiros de seis mil para 30 mil metros quadrados. Assim, nos próximos anos ele atenderá de quatro a cinco milhões de passageiros, significando desenvolvimento, geração de empregos, renda e novas possibilidade de investimentos". As razões do voto O escopo do marketing político, ao longo da história, tem se mantido praticamente o mesmo. O que muda são as abordagens e as ferramentas tecnológicas. Atentem. No ano 64 a.C., Quinto Túlio Cícero enviava ao irmão, o grande tribuno e advogado Cícero - protagonista de episódios marcantes por ocasião do fim do sistema republicano e implantação do Império Romano - uma carta que considero o primeiro manual organizado de marketing eleitoral da história. Ali, Quinto Túlio orientava Cícero sobre comportamentos, atitudes, ações e programa de governo para o consulado, que era o pleito disputado, sem esquecer as abordagens psicológicas do discurso, como a lembrança sobre a esperança, este valor tão "marketizado" no Brasil e que se constituiu eixo central do discurso da era lulista. Dizia ele : "Três são as coisas que levam os homens a se sentir cativados e dispostos a dar o apoio eleitoral : um favor, uma esperança ou a simpatia espontânea". Atenção, candidatos Eis alguns pontos para a eficácia do planejamento de marketing eleitoral : 1. É preciso saber ler corretamente o meio ambiente, os novos valores do eleitorado e as novas motivações de voto ; 2. Convém escolher um candidato com o perfil mais adequado ao novo cenário ambiental ; 3. É fundamental definir os segmentos-alvo do eleitorado ; 4. É importante selecionar fortes reforçadores de decisão de voto (esquemas da administração Federal, estadual e municipal, apoio de mídia, recursos financeiros, etc.) ; 5. Convém descentralizar a campanha com a finalidade de multiplicar os pontos de eco e agregar organizações intermediárias de apoio (associações, sindicatos, federações, etc.) ; 6. Sugere-se formar um programa de propostas simples, com um eixo central forte, dentro dos princípios : desejável pela população, factível e crível.
quarta-feira, 6 de julho de 2016

Porandubas nº 496

Abro a coluna com uma historinha mineira Conhecendo um poquim de Hélio Garcia, ex-governador mineiro e que faleceu recentemente. - Doutor Hélio Garcia, o senhor é a última raposa mineira ? - Isso é ocê que tá falando... - Mas o senhor concorda ? - Com o quê ? - Que o senhor é a última raposa ? - Uai, depende. O quê que ocê chama de raposa ? - Aquele político que tem a sabedoria, a esperteza... - Eu nunca gostei de esperteza. - E a sabedoria ? - Olha, ocê sabe : tem o sabido e tem o sábio... (Enviada por uma amiga mineira) Lava Jato intocável A cada semana, a operação Lava Jato vai deixando sua marca no livro de combate à corrupção. Quando se pensa que as ações começam a refluir, eis que novos fatos investigados emergem, em uma cadeia de acontecimentos entrelaçados pelos fios de interesses de grupos. A Lava Jato continua intocável, recebendo o apoio geral da sociedade e sob o receio crescente da esfera política, temerosa que mais quadros entrem na dança. Lei ? Só depois Quem pensa em dar um basta às delações premiadas ou, pelo menos, diminuir seu ímpeto, terá de esperar. Há um projeto de lei que impede delações de condenados. Mas esse projeto, que está no Senado, deve esperar o final da atual jornada de investigações. Qualquer gesto no sentido de colocar impedimento às delações, nesse momento, será considerado intervenção indevida e repudiada pela sociedade. Mercado confiante O governo começa a receber sinais positivos do mercado. As falas de Henrique Meirelles, com seu didatismo, resgatam a confiança perdida. A segurança emerge, ainda devagar, a partir de acenos de sólidos investimentos de grupos nacionais e estrangeiros. A expressão do mercado é que dinheiro existe. O que falta é segurança para investir. Ronda setorial O presidente em exercício, Michel Temer, também recebe sinais positivos na ronda que começa a realizar junto a alguns setores. No Palácio do Planalto, recebeu um grande grupo de empresários do comércio. Que lhe foram apresentar os primeiros sinais de recuperação. Em São Paulo, em um evento do agronegócio, recebeu um documento de apoio de todo o setor. Registram-se, ainda, índices de confiança que cresce nas áreas da indústria e de serviços. Pergunta : ela pode voltar ? A pergunta é recorrente a este consultor : a presidente Dilma pode voltar ao Palácio do Planalto como mandatária número 1 ? Sim. Tudo é possível. Como isso poderia ocorrer ? Condições : a) se tivesse boa avaliação por parte da sociedade ; b) se não tivesse cometido crimes de responsabilidade fiscal, conforme demonstraram as investigações, inclusive a perícia do Senado ; c) sob essa condição, poderia ganhar a maioria dos votos dos senadores que compõem a Comissão de Impeachment ; d) se o governo do interino Michel Temer fosse um desastre total, merecendo o repúdio social. Ora, essas não são as molduras que veem na parede. Logo, a pasta não volta ao tubo É muito complexa a tarefa de enfiar a pasta no tubo depois que ela deixa o recipiente. É o caso da presidente : não tem condições de voltar nas condições descritas acima. A não ser que o tubo fosse rasgado e, depois, recosturado. Seria um remendão. Ademais, por que voltar se ela pensa em sair... Vejam. Eleições gerais Ela, a presidente, diz que promoverá um plebiscito para realizar eleições gerais. Quanta inverdade nessa promessa. Primeiro : essa figura do plebiscito para eleições presidenciais no meio do mandato inexiste ; Segundo : uma PEC não poderá remendar a CF, em se tratando de cláusula pétrea como se configura o tempo de mandato, que poderá ser interrompido por um impeachment ; Terceiro : e se ela quer voltar, porque, a seguir, quer sair ? Se já está fora, que lá fique. Se for para que Lula possa ser o candidato, outro feixe de problemas se apresenta, a partir das investigações no entorno do ex-presidente. O voto dos senadores Os senadores votarão o impeachment com um olho na realidade : as condições terríveis do país começam a mudar e uma volta ao estilo do governo anterior seria retrocesso. Claro, a condenação da presidente Dilma por ter cometido crime de responsabilidade fiscal será o fator decisivo, mas o quadro grave em que se encontra o enfermo não permitiria uma volta ao médico que lhe receitou a medicação errada. Por isso, a análise deste consultor é a de que os senadores, tanto os da Comissão quanto os do plenário, darão os votos para afastamento definitivo de Sua Excelência. Trata-se de uma dedução à luz do que se observa. Cunha fica ou sai ? Eduardo Cunha tem feito prestidigitação em seu esforço para não perder o mandato de deputado. Urge convir que o mandato de presidente da Câmara está quase perdido, restando a representação popular. Tudo indica que essa decisão entrará pelo mês de agosto, considerado o mês de desgosto. A propósito de agosto, este analista relatará, adiante, fatos ocorridos nessa última semana. O fatídico mês de agosto Nas redes sociais, a partir do Twitter, este analista fez uma nota destacando o fato de que agosto é um mês aziago. Muito anotado na história da política. Getúlio suicidou-se em 24 de agosto de 1954 ; Juscelino morreu, tragicamente, em acidente na via Dutra, em agosto de 1976 ; e Jânio renunciou em 25 de agosto de 1961. Como a votação final do impeachment da presidente está prevista para final daquele mês, fiz a observação em relação à Dilma. Coisa que alguns colunistas já haviam feito em seus jornais. A "morte" de Dilma Bastou isso para que militantes mercenários (muitas mulheres) investissem contra este consultor, usando palavras do pior baixo calão, inclusive com ameaças à sua vida e a de familiares. As mensagens, todas de caráter ofensivo, expressavam a baboseira de que este analista político pregara a morte da presidente Dilma. Interessante : as versões, todas assemelhadas, deixaram de lado a renúncia de Jânio. Ou mesmo o acidente de Kubitschek. Só lembravam Getúlio, de onde fizeram ilação com a morte da presidente. Fui pesquisar sobre a campanha suja. Canalhas sabujentos Os mais de 50 radicais, em sua maior parte mulheres, desfiaram uma torrente de textos mal escritos, chulos, com estruturas idênticas, a denotar um comando central. Anotei os nomes de alguns detratores. Por dois dias, voltaram ao espaço com as mesmas ameaças e impropérios. O comando dava a ordem. Mercenárias e mercenários, alguns de nomes poéticos, recitavam as mesmas coisas. Perfis falsos se revezavam. Ratazanas e ratões procuram não deixar rastros. Interligados, acionam-se mutuamente. A estética dos cabeçalhos é praticamente a mesma. A foto da presidente aparecia em alguns. Estertores dos esconderijos O fato é que o modus operandi de uma facção petista é bastante conhecido. A meta é atacar massivamente quem fala dos desmandos do governo do PT. Um comando central aciona a cadeia. Os termos impublicáveis são os mesmos de uma para outra ratazana. (O Facebook não tem controles ?). A troca de nomes é diária. Não se dão ao cuidado de mudar termos e estrutura das acusações. Alguns apagaram seus nomes falsos. Outros continuam. Fazem insultos, agora, sobre outros comentários deste consultor. Em suma, são os últimos estertores de uma máfia mercenária que age no esgoto. Estão sendo investigados. Bolsa família O Ministério Público Federal, a partir do cruzamento de dados do antigo Ministério do Desenvolvimento Social, e informações de órgãos como Receita Federal, Tribunais de Contas e Tribunal Superior Eleitoral chegou ao seguinte resultado : há mais de um milhão de casos de fraude em todos os Estados brasileiros. Entre os mais de um milhão de casos, mais da metade são funcionários públicos distribuídos em milhares de prefeituras petistas e de partidos da base aliada dos antigos governos do PT. São 585.000 funcionários públicos que atuavam como cabos eleitorais e se beneficiavam irregularmente dos recursos do Bolsa Família. Todos beneficiários ilegais. Prioridades Os 50 dias do novo governo mostram alguns avanços. Entre estes, destacamos as prioridades : a reforma da Previdência está em discussão por um grupo de especialistas do governo, empresários e centrais sindicais ; as contas públicas passam, agora, a obedecer a um teto ; a máquina administrativa passa a ser reduzida ; aprova-se a lei de responsabilidade das estatais ; os Estados ganham a renegociação de suas dívidas ; o FIES (Fundo de Financiamento Estudantil) ganha mais 75 mil vagas para o segundo semestre. Lula desanimado Leio em Mônica Bergamo, muito bem informada, que o ex-presidente Lula está carrancudo. Quase não sorri. Deixou de fazer palestras. Este ano, praticamente ficou recolhido. Lula em silêncio diz muita coisa. Expressa preocupação. Dilma em plenário O senador Humberto Costa anuncia a desistência da presidente de comparecer à Comissão Processante do Impeachment para fazer sua defesa. Mas adianta que ela manifesta desejo de comparecer ao Plenário, por ocasião da votação final do processo. O que motivaria a presidente ? A vontade de encarar os senadores. Talvez a crença de que sua presença em plenário possa alterar alguns votos. A conferir. Fecho a coluna com mais mineirice. Mineirinho Criativo Um mineiro, lá de Curvelo, tinha 11 filhos, precisava sair da casa onde morava e alugar outra, mas não conseguia por causa do monte de crianças. Quando ele dizia que tinha 11 filhos, ninguém queria alugar porque sabiam que a criançada iria destruir a casa ; ao mesmo tempo não podia dizer que não tinha filhos ; não podia mentir, afinal, os mineiros não podem mentir. Ele estava ficando desesperado, o prazo para se mudar estava se esgotando. Daí teve uma ideia : mandou a mulher ir passear no cemitério com 10 dos filhos. Pegou o filho que sobrou e foi ver casas junto com o agente da imobiliária. Gostou de uma e o agente perguntou quantos filhos ele tinha. Ele respondeu que tinha 11. Daí, o agente perguntou : - Mas onde estão os outros ? E ele respondeu, com um ar muito triste : -Estão no cemitério, junto com a mamãe deles. E foi assim que ele conseguiu alugar uma casa sem mentir.
quarta-feira, 29 de junho de 2016

Porandubas nº 495

Abro a coluna com um curto relato, que retrata o jeito de ser de nossas plagas. Retrato do Brasil Um sujeito comprou uma geladeira nova e, para se livrar da velha, colocou-a em frente a casa com o aviso : "De graça. Se quiser, pode levar". A geladeira ficou três dias sem receber um olhar dos passantes. Chegou à conclusão : ninguém acredita na oferta. Parecia bom demais pra ser verdade. Mudou o aviso : "geladeira à venda por R$ 50,00". No dia seguinte, a geladeira foi roubada ! (Historinha enviada por Álvaro Lopes). Rápidas pinceladas I A esfera política continua em estado de expectativa. A Câmara espera o desenrolar do processo de impeachment da presidente Dilma no Senado para redefinir seu comportamento em relação ao governo Temer. O Senado acompanha atentamente os trabalhos da Comissão de Impeachment. Mas uma impressão domina os ambientes : a cada dia, expande-se a convicção de que a pasta não voltará ao tubo. Dilma se distancia do Palácio do Planalto. Rápidas pinceladas II A comunidade acompanha a cena política com atenção, aplaudindo o Judiciário do juiz Moro, repudiando os perfis embalados no celofane da lama, e sob a angústia de ver comprimido seu poder de compra. Moro tem sido muito festejado por onde circula. O STF, principalmente pelas decisões do ministro Teori Zavascki, continua a ganhar palmas da sociedade. Mas um ou outro ministro recebe também apupos. Rápidas pinceladas III Os organismos de controle e investigação - MP e PF - continuam a desempenhar suas funções, sob o temor de quadros congressuais que temem ser envolvidos na malha das operações. O fato é que a Lava Jato está no piloto automático, seguindo seu rito e seu ritmo, não se sujeitando a forças contrárias que, eventualmente, tenham interesse em paralisá-la. As instituições funcionam a contento, anulando qualquer ideia de golpe "branco", como alguns "intelectuais" chegam a afirmar. PT também quer solução O PT está cada vez mais interessado em ver solucionado o impasse do impeachment. Não interessa ao partido permanecer choramingando e exigindo a volta de Dilma. Quanto antes houver a decisão, mais tempo ganhará para correr às ruas e subir nos palanques em defesa de seus candidatos a prefeito. Hoje, o partido conta com cerca de 650 prefeitos. Receia se inviabilizar no pleito de outubro. Seus candidatos levarão na testa a marca de corrupção que se fincou no território petista. A campanha de 45 dias de rua e 35 de rádio e TV será muito disputada. E sem uma base municipal forte, o PT verá sombrios horizontes em 2018. O que se espera Que moldura o país espera para os próximos meses ? Um retrato de cores mais nítidas para os valores da confiança, do otimismo e da crença. Valores que, por sua vez, serão resgatados sob o empuxo de algumas posições : queda da inflação, refluxo na frente do desemprego (que chega aos 12 milhões de pessoas) ; queda de juros ; maior estabilidade na área política ; maior confiança no governo. Já começa a circular a hipótese de que a melhoria das condições econômicas seja antecipada para os meados do segundo semestre. Como fazer eleições sem dinheiro ? A pergunta recorrente é : como realizar o pleito municipal de outubro sem recursos ? Doações de empresas estão proibidas ; o Caixa 2 será examinado com lupa muito precisa ; o povo está dando as costas para a política ; as campanhas eleitorais não mais entusiasmam ; e em outubro, a operação Lava Jato poderá estar disparando mais tiros por muitos lados. A campanha deste ano terá um jeito próprio : olho no olho, mão na mão, casa a casa, compromisso rígido com eleitor. Daí o conselho : candidato deve adquirir uns bons pares de sapato. Com sola grossa e borracha firme. Os 5 eixos do marketing O marketing político comporta cinco eixos : a pesquisa, o discurso (propostas, ideias, projetos), a comunicação, a articulação e a mobilização. Nas campanhas anteriores, a comunicação assumia a posição mais importante. Na campanha deste ano, a perna da articulação será prioritária. Articulação comporta a formação de uma teia de contatos estreitos com a sociedade organizada - sindicatos, associações, federações, grupos, núcleos, categorias profissionais, movimentos. Esses novos polos de poder dão empuxo à sociedade. A perna da mobilização também se faz importante pelo fato de ser a locomotiva que puxa a animação social. Urge animar o eleitor, motivá-lo a votar. Sinais positivos O governo Temer já começa a animar parcelas do mercado. Sinais positivos são deixados aqui e ali por alguns setores. A iniciativa do governo de formar um núcleo forte para impulsionar a infraestrutura - portos, aeroportos, estradas etc.- começa a ter fortes apoiadores. Essa secretaria está sendo tocada por Moreira Franco, que vem com a experiência na frente da Aviação Civil. Serra José Serra é um sujeito ambicioso. E preparado. Em pouco tempo, já criou uma identidade para as Relações Exteriores. Fura a redoma do isolacionismo a que foi relegado o país. Fura a redoma do bolivarianismo. Procura outros eixos. Serra quer alargar os caminhos entre o Brasil e a Europa. É um dos mais animados ministros do governo Temer. Claro, ele tem uma meta : preparar sua trajetória para se firmar como candidato à presidência em 2018. Meirelles Henrique Meirelles e sua equipe se apresentam como unanimidade. Formam uma equipe homogênea. Têm consciência de que a solução mais desejada pelo corpo nacional é a melhoria da economia. Se a economia der sinais de ativação no médio prazo, Meirelles despontará como o maestro da Esplanada dos Ministérios. Em condições de se tornar o principal artífice do projeto presidencial de 2018. Turismo O Ministério do Turismo deverá ganhar um novo ministro. Poderá ser um deputado do PMDB mineiro. Que reivindica um posto na Esplanada dos Ministérios. Vinicius Lumertz, de SC, um perfil que tem bom conhecimento sobre o turismo nacional, é o nome mais indicado e aplaudido pelo trade para preencher a vaga. Mas as pressões políticas falam mais alto. E o presidente carece de apoio político no Congresso. Pleito paulistano Celso Russomano é a grande incógnita que se apresenta no cenário paulistano nesse momento. O STF poderá condená-lo no processo que enfrenta e, desse modo, estaria com a ficha suja e sem condições de participar do pleito. Tem 25% de intenção de voto. Receberá a primeira decisão da ministra Cármen Lúcia, que pediu ao PGR pressa no encaminhamento do processo. Deverá ser julgado em agosto. O pedido de pressa feito pela ministra mineira quer dizer alguma coisa ? Se Russomano não puder ser candidato, João Doria poderá ser o mais beneficiado. Se chegar ao segundo turno, tem grande possibilidade de levar a melhor. A rejeição de Marta Marta Suplicy tem alta rejeição : 42%. Conseguirá reverter essa taxa ? Difícil. A rejeição se dá no meio da pirâmide. A classe média paulistana é a mais crítica do país. Reúne os conjuntos de profissionais liberais, professores, empresários etc. Marta não conta com o apoio maciço desses grupamentos. Mas registra bons índices nas margens sociais. Haddad Fernando Haddad tem condições de chegar ao segundo turno ? Sim. A máquina da prefeitura abre espaços no eleitorado, principalmente na periferia. Mas Haddad leva junto com ele formidável parcela da rejeição que se faz ao PT. Por isso, se for para o segundo turno, terá poucas chances. Lei Rouanet Ainda bem que a Lei Rouanet está sendo passada a limpo. Esta operação Boca Livre, que flagra os fraudadores da lei, mostrará quem se aproveitou das prerrogativas e benesses concedidas pela legislação. Tem gente séria fazendo arte. Mas tem gente que fez até festa de casamento com recursos da lei . A PF aponta fraudes em 250 contratos da Lei Rouanet sem fiscalização do Ministério da Cultura. Dirceu indultado O procurador-Geral da República Rodrigo Janot pede perdão judicial para o ex-ministro da Casa Civil, José Dirceu, no processo do mensalão. Em manifestação, Janot reconheceu o 'indulto ao sentenciado, com a consequente declaração de extinção da punibilidade'. O indulto atende pedido do criminalista José Luís Oliveira Lima, que defende José Dirceu. Apoio do agronegócio O agronegócio brasileiro fará manifesto de apoio ao governo Michel Temer por ocasião do Global Agribusiness Forum (GAF), a se realizar na próxima segunda-feira. Eis um trecho da mensagem : "fundamental na geração de divisas, emprego e renda, e estratégico para o desenvolvimento sustentável do Brasil, o agronegócio acredita que a nova administração Federal tem legitimidade constitucional e conta com o comprometimento de uma equipe econômica competente. Acredita também na sua capacidade para reorganizar aspectos macroeconômicos essenciais no curto prazo para que a partir de reformas estruturais profundas possamos readquirir a confiança do setor privado, retomar investimentos e, consequentemente, recolocar o Brasil na trajetória de crescimento".Fecho a Coluna com a folclórica Bahia. Conjunção rachativa Historinha da Bahia. Grande de nome e pequeno de corpo. Magricela, esperto, inteligente, José Antônio Wagner Castro Alves Araújo de Abreu, sobrinho-neto de Castro Alves, herdou o DNA, o talento e a vadiagem existencial do poeta. Não gostava de estudar. No esporte, era bom em tudo. Colega de Sebastião Nery, no primeiro ano do seminário menor, na Bahia, em 1942, na aula de português, o padre Correia lhe perguntou o que era "mas". - É uma conjunção. - Certo, mas que conjunção ? Zé Antônio olhou para um lado, para o outro e respondeu : - Conjunção rachativa, professor. - Não existe isso, Zé Antônio. - Existe, professor. Quando a gente quer falar mal de alguém, sempre diz assim : - Fulano até que é um bom sujeito, mas... E aí racha com ele.
quarta-feira, 15 de junho de 2016

Porandubas nº 494

Abro a coluna com o inesquecível Franco Montoro Depois de deixar a esfera governativa e parlamentar, Franco Montoro passou a se dedicar ao Instituto Latino-Americano - ILAM. Na condição de presidente desta entidade, foi a um almoço organizado por um pequeno grupo de professores da USP no restaurante do campus. O ex-governador, como se sabe, tem registrado em sua história muitos casos de dislexia, momentos em que confundia nomes, alhos com bugalhos, motivando risos nas cerimônias. A conversa fluía bem, versando sobre os mais diferentes problemas do país. A certa altura, ele se surpreendeu ao saber que este escriba era potiguar. Mais ainda : tio de Sônia, minha sobrinha, casada com João Faustino, tucano do melhor naipe e seu dileto amigo. (João faleceu em 9 de janeiro de 2014). Montoro e dona Lucy foram padrinhos do casamento de uma das filhas de João e Sônia. De repente, ele me lança a pergunta : - E como está o Agrário ? Você sabe como ele vai ? Passo a lupa na mente e lamento ignorar a identidade da figura. Mas vou procurar saber, logo, logo. Mudamos de assunto. Mas o Agrário continua a frequentar o meu sistema cognitivo. De repente, Eureka ! Agrário ? Agrário ? Não seria o Urbano ? Tomo a iniciativa : - Governador, será que o senhor não confundiu o Agrário com o Urbano ? - Ah, sim, é claro, é claro. Desculpe. Como vai o Urbano ? Francisco Urbano era presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura - CONTAG. Um potiguar muito conhecido nos universos sindicalista e político. A dislexia do ex-governador paulista havia trocado o espaço rural pela geografia urbana. Franco Montoro, exemplo de Honradez, Dignidade, Seriedade, Civismo, Independência e Amor à Pátria. Quanta falta ele faz nesses tempos de lamaçal político. Cunha derrotado Eduardo Cunha, o poderoso presidente afastado da Câmara, perde de 11 a 9 na Comissão de Ética. Seu advogado, Marcelo Nobre, vai recorrer. Será difícil reverter a situação. No Plenário, com voto aberto, não será complicado arrumar 257 votos pela cassação. Cunha tem cinco dias para recorrer. O processo deverá ir a plenário. Depende, agora, do presidente interino, Waldir Maranhão. Aliado de Cunha, mas com um olho na opinião pública. 30 dias de governo O presidente em exercício, Michel Temer, deve fazer esta semana um balanço de 30 dias de governo. E mostrar como recebeu o país. O resultado traz algum alento, a partir do índice de confiança que já se apura na vida produtiva. Empresários de diversos setores registram certa animação, considerando que o fundo do poço já chegou e o Brasil, nos próximos tempos, tende a se recuperar. Quase 10 bilhões foram captados por empresas brasileiras no exterior, nos últimos tempos, o que denota a volta da confiança. Economia e política Na frente econômica, o otimismo é patente, com fartos elogios à equipe econômica chefiada por Henrique Meirelles. Na área política, as articulações se estreitam visando a garantir a aprovação das medidas econômicas, a partir do teto para gastos públicos e do prazo de duração. As primeiras medidas foram aprovadas, mas o detalhamento está encaminhado nessa semana. A aprovação da DRU, que engessava recursos em educação e saúde, por exemplo, foi considerado um feito do governo. A área política certamente tende a cobrar pelo maciço apoio que está dando ao novo governo. 30% do valor dos impostos A PEC, aprovada na Câmara com o voto favorável de 340 deputados, segue para votação no Senado. Caso aprovada, a DRU vai autorizar que o Poder Executivo use livremente 30% do valor dos impostos e contribuições sociais e econômicas Federais que hoje são destinadas, por determinação constitucional ou legal, a órgãos, fundos e despesas específicos. Esta autorização para o governo equivale a um número entre R$ 117 bilhões e R$ 120 bilhões, já que a vigência é retroativa a 1º de janeiro de 2016 e validade até 2023. Na prática, esses recursos desvinculados serão transferidos para uma fonte do Tesouro Nacional que é de livre movimentação, sem qualquer tipo de vinculação ou destinação específica. O desafio O corpo parlamentar quer abrir espaço na estrutura administrativa. Os aliados partidários pressionam para ocupar cargos importantes. Ora, esse é o desafio que se apresenta ao novo governo. Cerca de quatro mil cargos comissionados serão extintos. Milhares, porém, continuarão a existir. Daí o governo avaliar a oportunidade para um enxugamento maior. Mas se obriga a enfrentar crescentes pressões dos partidos que formam a base. Entre uma votação e outra, o governo chama deputados e senadores, ouve as demandas, anota os pedidos e atende na medida do possível os casos mais urgentes. Dilma, vítima A presidente afastada promete continuar o périplo pelo país, denunciando o "golpe" que a tirou do Palácio do Planalto. E abre uma peroração de vítima, na esteira das perdas que contabiliza : só conta com o jato da FAB para levá-la de Brasília para Porto Alegre (ida e vinda), e cartões corporativos de sua equipe cortados. No último mês, ela teria gasto cerca de R$ 650 mil com passagens e alimentação. O governo eliminou, ainda, os recursos que abasteciam blogs de amigos e quadros petistas. Eleições gerais Sob pressão intensa, a partir do próprio PT, Dilma passou a defender a ideia de um plebiscito para auscultar o interesse da população por eleições gerais ainda este ano. Esta figura - eleições gerais e diretas para presidente no meio do mandato - não existe na CF. Para haver um pleito presidencial, seriam necessárias a renúncia da presidente e a do vice, Michel Temer. Ora, quem garante que o vice renunciará ? Plebiscito em ano eleitoral é maluquice. Ademais, teria de ser aprovado pelo Congresso. Que maioria Dilma tem nas duas casas congressuais ? Resumo : trata-se de lorota leve para acalentar bovinos. Cassação pelo TSE Outra hipótese seria a cassação da chapa pelo TSE ainda este ano. Se esta hipótese ocorrer em 2017, a eleição de presidente seria indireta, ou seja, teríamos a eleição de um membro do Congresso. Esse processo demandaria recursos, embargos e postergações. Portanto, a tese de cassação não resiste à análise mais séria. Dilma, por seu lado, faz o que ainda pode fazer : reclamar, usar as redes sociais, viajar em jatinho pago pelo PT, ter direito ao jus sperneandi. Observação importante : o PT não acredita na volta da Dilma. Quer subir imediatamente ao palanque da oposição. Maneira de se sentir confortável e apto a enfrentar o pleito de outubro ainda com algum gás. E garantir uns 200 prefeitos petistas dos 650 que hoje possui. Turbulências As turbulências deverão continuar pelos próximos meses. Estamos vivenciando um ciclo de grandes mudanças. E não se atravessa caminho cheio de obstáculos sem percalços e tropeços. O governo Temer tende a se equilibrar, não antes de enfrentar bombardeios, principalmente por parte da artilharia da operação Lava Jato, que atira na cúpula do PMDB. Uma grande interrogação estará no ar : como os dirigentes partidários e congressuais serão tratados nas próximas semanas ? Acordos e delações O futuro imediato abre zonas de fumaça. Muita incerteza estará no ar. Acordos de leniências e novas delações abrirão mais atritos, expandindo temores. O próprio PT está sendo aconselhado por José Dirceu a fazer um acordo de leniência, assumindo responsabilidades, pagando multas e renascendo da lama. Vaccari, o tesoureiro, também estaria negociando e/ou estudando essa hipótese. Bomba sobre bomba, se isso ocorrer. E o Marcelo Odebrecht ? O resto da República cairia se contar tudo o que sabe. Isso é o que se comenta. Por último, Eduardo Cunha. Imagine-se se, para salvaguardar a família, ele abrir o bico. O que poderia ocorrer na esfera política ? O fim de um ciclo Seja qual for o cenário - turbulento, conflituoso, harmônico, azul-celeste, pacífico, cinzento - expande-se a convicção de que estamos vivendo os últimos dias da Pompéia brasileira. Os bacanais da corrupção estão com seus dias contados. Este consultor ainda costuma lembrar ser possível nascer uma flor no pântano. A campanha paulistana O pleito na maior metrópole brasileira será desenhado por muitos simbolismos : 1. A capital paulista tem o maior eleitorado entre as cidades brasileiras (cerca de 9 milhões) ; 2. Concentra os maiores contingentes - as maiores classes médias, os maiores núcleos de profissionais liberais, as maiores categorias de trabalhadores especializados, as maiores periferias, os maiores redutos de jovens, etc.. 3. São Paulo é, por consequência, o espaço mais largo para as críticas, cobranças, participação política, etc ; 4. Agrega a maior quantidade de votos racionais e emotivos. É, assim, a capital dos superlativos. A campanha paulista comandará a orquestra eleitoral no país. Perfil e o espírito do tempo Que perfil tem condições de agregar e atrair os maiores volumes eleitorais ? Responder a essa questão implica fazer uma digressão sobre o espírito do nosso tempo. Vejamos : o eleitor está saturado das velhas promessas ; não se deixa levar mais na esteira do "Maria vai com as outras" ; está desconfiado da política ; tem simpatia por um ou outro, mas tende a nivelar todos os candidatos ; ainda sinaliza preferência por um e outro na onda da lembrança do último pleito ; quer ver serviços públicos eficientes ; clama por uma nova ordem. E assim por diante. Quem vestiria esse figurino ? Russomano Celso Russomano é o preferido das margens mais carentes. Tem o "recall" (a lembrança) do eleitor. Construiu identidade no palanque de xerife e despachante das comunidades mais distantes. Tem hoje cerca de 30% de intenção de voto. Insere-se no espírito do tempo ? Não. A começar pelo valor da assepsia. Celso tem processos no STF. Que até agosto deverá julgá-lo. Se for condenado, ganha ficha suja e nessa condição não será candidato. Seu partido, o PRB, sofre o viés de ligação com a Igreja Universal. Vista com reservas. Russomano, se for candidato, tende a cair. Não chegará ao segundo turno. Marta Marta Suplicy, ex-prefeita, sustenta forte recall também nas margens, aprovada que foi com Céus da Educação. Tem alta visibilidade. Mas difícil é retirar de seu perfil a cor vermelha de petista e o epíteto de martaxa, como os paulistanos a viam na época das taxas que cobrava quando prefeita. Marta será candidata pelo PMDB, partido que chega ao centro do poder com Michel Temer na presidência. Terá de fazer muito esforço para ganhar votos nos bolsões do meio da pirâmide. As classes médias têm forte rejeição ao petismo que muitos ainda enxergam em Marta. Ela encontrará barreiras intransponíveis para ganhar o apoio dos grupamentos médios. Mas o PMDB pode até crescer este ano. Haddad Fernando Haddad foi a maior conquista do PT no pleito de 2012. Boa estampa, ares de schollar, professor universitário, Haddad prometia fazer uma revolução na gestão da metrópole. Não conseguiu o intento. Nas promessas da campanha, sobressaía um tal Arco do Futuro, uma espécie de porta da esperança de grandes empreendimentos na zona leste da capital. Ficou na palavra perdida. O prefeito praticamente concentrou esforços nas ciclovias, mesmo assim limitando-as ao perímetro do centro expandido. As regiões periféricas não ganharam ciclovias. O programa tem recebido críticas e elogios. A reduzida velocidade para carros nas marginais e avenidas centrais tem sido outra frente de queimação do prefeito. Que deve se enrolar, ainda, no cobertor manchado de lama do PT. Tem a seu favor a força da máquina. E os braços da militância encravada nos postos da administração municipal. Doria João Doria será o candidato tucano. Virá com o apoio do governador Alckmin, o apoio do PSB e de outros partidos, que devem lhe garantir um largo espaço na mídia eleitoral. Tem contra si o fato de ainda não ser conhecido junto às camadas periféricas. A favor conta com uma imagem asséptica, não comprometida com a velha política. Empresário trabalhador, jornalista, decidiu levar a sério o ingresso na militância política, apesar de já ser experiente quadro público, pois trabalhou para o governador Franco Montoro, o ex-prefeito e ex-governador Mário Covas, tendo sido ainda presidente da Embratur no governo Sarney. Conhece bem as retas e curvas da comunicação, sendo ele um homem de televisão. Tem amplas condições de incorporar a feição do "novo", o pregoeiro de mudanças tão clamadas pela população. Detalhe : cumpre exaustiva agenda nesse ciclo de pré-campanha, já tendo corrido os 95 subdistritos da capital. Matarazzo Andrea Matarazzo entra na campanha como um tucano frustrado por não ter vencido nas prévias o adversário João Doria. Saiu do PSDB e entrou no PSD do prefeito Gilberto Kassab. Foi secretário das subprefeituras durante a administração, oportunidade em que se fez conhecer na periferia. Considerado candidato das elites, Matarazzo, de família tradicional, tem amigos fortes como FHC e José Serra, mas não sendo candidato do PSDB será difícil para ele arrumar apoios na floresta tucana. Erundina Luiza Erundina, a ex-prefeita, será candidata pelo PSOL. Terá pouco tempo de TV e rádio. Ganhará alguns votos de opinião de quem admira a "tia". Luiza estará na ponta esquerda radical com seu partido fazendo a execração de tudo e de todos. De origem humilde, é um quadro respeitado e admirado. Não se contaminou com as mazelas da política. Mas não tem chances. Chances ? Este consultor vê a campanha paulistana como uma das mais aguerridas do país. E enxerga três candidatos com possibilidade de ir ao segundo turno : Marta Suplicy, Fernando Haddad e João Doria. O candidato Russomano acabará preso na malha fina que seu partido e ele teceram. Uma barreira de suspeitas e polêmica sobre seu perfil. Se o PT se transformar em pedra amarrada no Haddad, este irá ao fundo do rio. Sobrarão Marta e João no segundo turno. Quem tem mais chances ? A conferir o perfil com maior rejeição do eleitorado. Façam suas apostas.
quarta-feira, 8 de junho de 2016

Porandubas nº 493

Recebo do grande jurista Ives Gandra Martins essa nota. Que abre Porandubas de hoje: "Janot parece, por vezes, estar a serviço de Dilma. Tentou barrar o processo de "impeachment" de Dilma, com o afastamento de Cunha contra letra clara do artigo 53, § 3º, da Constituição Federal. Agora pretende afastar o presidente do Senado e atinge mais três figuras do PMDB. E os do PT, que gerou o governo mais corrupto do mundo, ninguém com pedido de prisão, se não Delcídio, que diz sobre a Dilma o mesmo que Cerveró, ou seja, sabia de tudo sobre a compra de Pasadena. Palocci, Edinho Silva, Erenice, Gleisi, Wagner, Lula e outros não têm pedido de prisão.  Como explicar essa seletividade que cria uma crise institucional em momento delicado da nação?" Efeito moral O PGR deu um tiro forte pedindo a prisão de Sarney, Renan, Jucá e Cunha. Se for negado, o disparo terá sido de festim. E o efeito moral será na credibilidade do autor do pleito infundado. Terremotos na Esplanada A Esplanada dos Ministérios é uma larga reta que, a cada semana, é abalada por terremotos. Terremotos políticos, claro. Ministros se sucedem na planilha de nomes inseridos na operação Lava Jato. As denúncias ganham destaque na mídia, mas algumas situações são requentadas. É o caso das informações sobre o ministro do Turismo, Henrique Alves. A matéria é velha. Henrique diz que, até o momento, não recebeu nenhuma citação. E o presidente Michel Temer, como advogado e constitucionalista, parece apostar no instrumento da presunção de inocência. Que atrapalha, atrapalha É evidente que a onda de denúncias que inunda a Esplanada acaba atrapalhando a dinâmica do governo. Que, a cada dia, passa a examinar os casos, chamar as pessoas nomeadas, saber das motivações e justificativas de cada um, etc. Isso toma tempo e causa desgaste. O problema é que novos protagonistas poderão aparecer mais adiante. A Lava Jato tem muito ainda a correr. E, como já frisei em colunas anteriores, a operação está sob o piloto automático. Não há força que consiga detê-la. Freio de arrumação As camadas tectônicas da política, portanto, estão em movimento, esperando o tempo de acomodação à superfície. O freio de arrumação do governo só aparecerá quando a Lava Jato despejar os últimos nomes da lista. Deve abrigar nomes do PMDB e também do PT, entre estes a própria presidente Dilma e o ex-presidente Lula. Por isso mesmo, a condição de reversibilidade do impeachment da presidente tem poucas chances de prosperar. Atingida pela Lava Jato, ficará comprometida com o esquema de propina. A massa suja influenciará o conjunto senatorial. Aos trancos e barrancos O novo governo caminha. Mesmo encontrando barreiras altas na estrada. Pelo menos por mais algum tempo os horizontes estarão turvos. Mas a propensão para o equilíbrio virá mais cedo ou mais tarde. Michel Temer é hábil na articulação política. E as medidas de ajuste certamente começarão a dar resultados. Prisão de grandes O PGR, Rodrigo Janot, deve passar à história por seus feitos, mas este último certamente será sempre lembrado : pedir que o ex-presidente José Sarney, poderoso e um dos ilustres políticos da atualidade, passe a usar tornozeleira eletrônica. E, ainda, pedir a prisão do presidente do Senado, Renan Calheiros, do senador Romero Jucá e do presidente afastado da Câmara, Eduardo Cunha. Por presumíveis tentativas de obstrução das investigações da operação Lava Jato. Território da opinião Este consultor leu o conteúdo das gravações feitas por Sérgio Machado nas conversas com Sarney, Renan e Jucá. Continua achando que se trata de um conjunto de interlocuções entre amigos, todos contrariados com a Lava Jato. Mas o acervo expressivo não ultrapassa a barreira da opinião. Portanto, não se vêem naquelas conversas bloqueios contra a Lava Jato. Foram feitas referências sobre eventuais articulações que poderiam ser feitas juntas ao ministro Teori e ao advogado Ferrão. Que, pelo que se sabe, não ocorreram. Efeitos Que efeitos esses pedidos de prisão geram sobre o processo de impeachment que corre no Senado ? Ainda é cedo para se fazer uma avaliação mais precisa. Mas certamente embaralham e tumultuam o ambiente parlamentar. Com algum dano sobre a pauta que a Câmara Alta debate. Ocorre que Dilma também é alvo da Lava Jato. Os efeitos, portanto, se espalham por todos os lados. Pode ser que haja algum atraso no calendário de votações. Mercadante, antes ? Do blog do Jorge Bastos Moreno : "Um ministro do próprio STF acaba de informar ao blog do Moreno que o consenso entre eles é o de que "se Janot vazou seu pedido é porque não obteve nada do Teori". O ministro lembrou que os casos de Renan, Sarney e Jucá, gravados por Machado a pedido do procurador, são insignificantes diante do caso Mercadante. Ele ofereceu dinheiro para barrar investigações. Esses três defenderam teses, inclusive a de projetos para regular delação. Falaram em intenções. Nada disso é crime", disse o ministro. E tem mais, segundo esse mesmo ministro, se for comprovado que realmente Machado gravou os três combinados com a Procuradoria, essas provas são nulas : - Nos bancos escolares aprendemos que "flagrante preparado" não tem efeito legal. Por isso, nesse caso em questão, não acredito que o Supremo valide isso como prova. Em todo o caso, segundo o ministro, por envolver chefes de poderes, Teori deverá levar o pedido de Janot ao plenário do Supremo. Sustar as nomeações Fez bem o governo em sustar as nomeações para cargos nas empresas estatais. Em momento de contenção, as nomeações pegam mal. O governo vai aguardar a aprovação, pela Câmara, de projeto regulamentando as nomeações técnicas. O corpo parlamentar pode, até, se rebelar contra essa decisão. Mas o clamor das ruas, nesse momento, não pode deixar de ser ouvido. Entre as ruas e o Congresso Esse é, aliás, o desafio que se apresenta ao presidente em exercício, Michel Temer : satisfazer, de um lado, aos parlamentares que exigem preenchimento de cargos com seus indicados e, de outro, atender ao clamor da comunidade, que exige contenção de gastos, extinção da farra de cargos, postura franciscana. Dilma e sua Corte A presidente Dilma Rousseff está afastada de suas funções. Logo, não tem compromissos oficiais. Os eventos dos quais participa não fazem parte da liturgia governamental. Portanto, não precisa de uma Corte de 50 pessoas, aviões para transportá-la pelo país, helicóptero, etc. O que Dilma faz ? Comícios. Ou seja, ela quer continuar com as mordomias para fazer pregação contra o novo governo. Justifica-se plenamente a diminuição e de suas mordomias. Ela gasta 62 mil reais por mês com alimentação e usando o cartão corporativo. Só ela. Planos de saúde Ailton Barcelos, um dos mais competentes consultores do mercado, manda esta mensagem : "Na questão de que as Agências não devem pertencer ao Governo e sim ao Estado, a ANS é um belo exemplo. Não pertence nem ao Governo nem ao Estado. Pertence, sim, à área privada. De longa data, foi capturada pela área privada que, supostamente, deveria controlar. Aumentar os planos de saúde acima da inflação é um escracho total. Milhares (milhões) estão perdendo seus planos de saúde por este infinito abuso. O ministro da Saúde deveria peitar a ANS e determinar que o limite de correção seja a inflação. E mais : determinar a mudança da infame metodologia. Isso é o que a sociedade clama". Congresso do aço Começa hoje no espaço de convenções Frei Caneca o 27º Congresso Brasileiro do Aço. Este consultor abrirá a densa pauta a ser discutida durante dois dias com uma exposição sobre a Situação Política do País. Falácia O presidente do PSB, Carlos Siqueira, é contundente : "o PT não fez revolução social. Isso é uma falácia. Os desafios de 13 anos atrás são praticamente os mesmos". Esta é a conclusão de um estudo feito pela Fundação João Mangabeira, vinculada ao PSB. Para ele, o PT fez assistencialismo demagógico. Que não gera direitos. O PT está em declínio. Serra estrelando José Serra começa a resgatar o prestígio das nossas Relações Exteriores. Trata-se de um perfil de peso, que reorganiza o ambiente do Itamaraty, voltando a abrir as portas do país para as economias fortes da contemporaneidade. E deixando em um segundo plano a articulação com países da África e com vizinhos atrelados ao bolavarianismo. O senador Serra começou bem como chanceler. Corrupção aumentou ou diminuiu ? A corrupção no Brasil aumentou porque passou a ter mais controles ou passou a ter mais controles porque aumentou ? A resposta não provoca tantas dúvidas quanto o teorema do biscoito encaixado naquele intrigante comercial de TV de meados dos anos 80 : "Vende mais porque é fresquinho ou é fresquinho porque vende mais ?" Praga alargou-se A profusão de casos de corrupção, que se espraiam pelos espaços midiáticos, não deixa dúvidas : para 64% dos brasileiros, a praga alargou-se. Se a questão é posta para autoridades, a resposta é outra : nunca a corrupção foi tão combatida como hoje e, graças aos mecanismos de controle, tem diminuído. Sua visibilidade é grande porque o momento é de muita transparência. Mas o fato é que a era PT abriu imensos porões de corrupção nos vãos da República. A democracia plugada O dado impacta : já há mais de 2,5 bilhões de pessoas conectadas às redes sociais eletrônicas, quase um em cada três habitantes do planeta. A cada minuto, milhares de novos internautas ingressam no circuito tecnológico da informação, enquanto a assinatura de telefones celulares já passa da marca dos cinco bilhões. O mundo está plugado. O fenômeno suscita estudos, debates e análises nas frentes de pesquisas sobre comportamento social, mas um aspecto chama a atenção pela importância que passa a ter para o desenvolvimento político das nações. A questão pode ser posta desta maneira : a Era da Informação Total, caracterizada pela interligação das comunidades mundiais por meio das infovias da web, contribuirá para o aperfeiçoamento da democracia ? Perfis preferidos Este consultor tem sido indagado sobre os perfis preferenciais do eleitorado. Cada região tem suas preferências. Mas o momento de combate à corrupção que estamos atravessando define alguns traços sobre os quais parece haver consenso. Vejamos : - passado limpo, vida decente - candidatos que possam exibir sua trajetória sem ter vergonha de mostrar aspectos de sua vida ; - identificação com a cidade - candidatos que busquem vestir o manto da cidade, significando compromisso com as demandas das comunidades e as questões específicas dos bairros ; - despojamento, simplicidade - candidatos despojados, simples, descomplicados, sem as lantejoulas e salamaleques que costumam se fazer presentes no marketing exacerbado. Candidatos não afeitos ao 'dandismo' - mania de querer aparecer de maneira diferente ; - respeito, decência, dignidade pessoal - candidatos de postura respeitosa para com os eleitores e identificados com uma vida pessoal e familiar digna ; - transparência, verdade - candidatos que não temam contar as coisas como elas são ou foram ; - objetividade, viabilidade de propostas, concisão, precisão - candidatos de expressão objetiva e concisa, capazes de fazer propostas viáveis e não mirabolantes. Precisos na maneira de abordar os assuntos. Fecho a coluna com uma historinha do sertão do Ceará. Tiro pela culatra A gozação se espalhou rápida no meio da rapaziada do Ipu/CE. O velho Faca Cega foi submetido à lâmina do dr. Benjamin Hortêncio, que amputou, quase pelo tronco, seu órgão genital. Faca Cega, tipo popular, detestava a alcunha. A operação era motivo de galhofa. E ocorreu um mês após seu casamento. Conta Leonardo Mota, em seu Sertão Alegre : "se o mero consórcio provocara picarescos comentários, imagine-se o que foi a maledicência ao se divulgar o que Faca Cega sofreu nas mãos do cirurgião. As murmurações culminaram quando, um ano depois, a mulher do mutilado começou a apresentar os iniludíveis sintomas da maternidade". Nessa atmosfera de zombarias impiedosas, Faca Cega se dirigiu ao Padre Feitosa e lhe pediu uma hora para o batismo do filho. Espírito folgazão, o velho sacerdote, que jogava o gamão à calçada, fungou uma pitada e gracejou : - Mas, que história é essa ? Depois duma operação como aquela sua, você ainda consegue ser pai ? Risada geral. Pachorrento, Faca Cega retrucou : - Eu me admiro, Padre Feitosa, é de o senhor, um padre velho, homem prático na vida, vigário no sertão há tantos anos, ignorar que o tiro não saiu do cano e, sim, da culatra.
quarta-feira, 25 de maio de 2016

Porandubas nº 492

Abro a coluna com a matreirice de um professor de Direito. Cláudio Lembo, professor de Direito, ex-vice-governador de São Paulo, matreiro político, as sobrancelhas mais decorativas do país, tem a verve na ponta da língua. Um dia, telefona para um amigo de Araçatuba para sondá-lo sobre o ingresso em seu partido. "Já se inscreveu em algum partido" ? "Não. Esperava as suas ordens". Lembo pede, então, que ele entre no PP. E lá vem a pergunta : "No PT do Lula" ? O ex-vice-governador de São Paulo replica : "No PP". Matreiro, o amigo diz que ouve mal. O arremate, contado por Sebastião Nery, é uma chamada sobre a nossa cultura política : "Vou soletrar alto e devagar : PP. P de partido e P de banco". O amigo entendeu a mensagem. A historinha retrata a identidade de quadros e partidos e serve para ilustrar o cotidiano de nossa cultura política. As conversas gravadas A agenda da Lava Jato praticamente entroniza o instrumento da delação premiada. E este, por sua vez, passa a abrigar o sistema de gravações. Assim compreende-se a gravação da conversa entre o ex-senador e ex-presidente da Transpetro, Sérgio Machado, e o senador Romero Jucá. Ambos são amigos de longa data. Chama a atenção nesse episódio o vazamento da gravação, atribuída ao próprio Machado. Uma punhalada pelas costas. Na política, não há amigos, só um jogo de conveniências. Jucá sai A licença do senador Romero Jucá do Ministério do Planejamento pode ser considerada como uma saída honrosa para ele. Não foi demitido, apenas licenciou-se. A esperar pela palavra do MP, não voltará. O MP e o Judiciário serão muito duros em relação aos políticos. O presidente Michel Temer, por sua vez, tem Jucá como um baluarte na linha de frente do Senado. Experiente senador, um político polivalente, entra em todas as grandes batalhas travadas no Senado Federal. O presidente Temer precisará muito dele. Preservar forças O novo governo se esforçará para deixar o affaire gravação de conversa entre Machado e Jucá na faixa estreita do acontecimento. Ou seja, espera que o caso não afete a balança da política no plenário da Casa. O senador Telmário Mota, de Roraima, Estado de Jucá, entrou com pedido de punição ao colega no Conselho de Ética. O pedido será assinado pelo presidente do PDT, Carlos Lupi. Pouco provável que prospere. Quem, na verdade, alterará o jogo de forças no Senado deverá ser o pacote de medidas na área econômica que o governo apresentou, ontem. Medidas As medidas apresentadas sinalizam um forte reajuste nas contas públicas, a partir da redução dos gastos públicos. Ou seja, o governo, durante os próximos anos, terá um teto para gastar. Vai acabar com os limites de despesas para educação e saúde, o que significará um corte naquelas duas rubricas. A extinção do Fundo Soberano (R$ 2,4 bilhões) permitirá aliviar o déficit público. O BNDES, por sua vez, terá de devolver à União Estado cerca de R$ 100 bilhões, melhorando, assim, a posição das contas públicas. Não haverá, por enquanto, nem novo imposto nem alta de impostos. As medidas são saneadoras. O mercado aplaudiu as medidas. O fim da gastança. Liturgia do cargo Michel Temer governa na plenitude da liturgia do cargo. Presidente da Câmara por três vezes, prestigia o Parlamento. O gesto de chamar os líderes dos partidos para lhes apresentar, previamente, o conjunto de medidas foi muito bem aceito. Os líderes saíram da reunião fazendo loas ao presidente. Só na sequência, Meirelles, Padilha e Geddel detalharam as medidas para a imprensa. O uso de uma rede nacional para apresentar projetos e pacotes não faz parte do gosto do presidente em exercício. Faz bem. Trata-se de uma medida muito autoritária. Gritos de estertor Os gritos que ainda se ouvem nas ruas de algumas capitais ressoam como últimos estertores de grupos aparelhados pelo Estado. Como se sabe, o governo petista aparelhou o Estado brasileiro e passou a financiar movimentos e blocos especializados em algazarras. Esses setores deverão, doravante, ver as torneiras de recursos fechadas. Por isso, a perspectiva é de refluxo de tais movimentos. Eles tenderão a continuar por mais um pouco com o grito de "golpe". Que não cola ante a evidência : STF, golpista ? Congresso, golpista ? Imensa maioria do povo brasileiro, golpista ? Diálogo O recuo do presidente em exercício Michel Temer em recriar o Ministério da Cultura é um gesto de humildade. Sinaliza um perfil que cultiva o diálogo. Tirou, ademais, o motivo da pirraça de muitos radicais. Que imediatamente procuraram compor novos slogans. Base no Congresso Um ou outro partido continua a exigir mais fatias do bolo do poder. É o retrato de nosso presidencialismo de coalizão. Os 11 partidos que formam a nova base governista querem entrar na máquina administrativa. O PV sai da base para assumir uma postura de independência. Mas o ministro Sarney Filho, do PV, tende a continuar. O presidente Temer deve contar com uma maioria de 3/5 para promover reformas constitucionais. Tanto na Câmara quanto no Senado. Reformar : coisa difícil O lembrete é de Maquiavel : "Nada é mais difícil de executar, mais duvidoso de ter êxito ou mais perigoso de manejar do que dar início a uma nova ordem de coisas". Quem patrocina um programa reformista, explica o pensador, tem inimigos entre aqueles que lucram com a velha ordem e poucos defensores que teriam vantagens na nova ordem. A resistência se torna mais forte em territórios contaminados pelas mazelas da velha política, entre as quais podemos apontar loteamento da burocracia estatal, descontrole de gastos, ausência de planejamento, improvisação, acomodação e incúria, fatores que descambam na perpetuação do status quo. Blitzkrieg Para alcançar êxito, o princípio maquiavélico é este : os governantes devem realizar uma Blitzkrieg agora, quando iniciam o ciclo administrativo. Entre o meio e o final de governo, será mais complexa a missão de reformar processos. E para quem tem menos de dois anos de governo ? Limitar gastos públicos é a primeira disposição. A meta de cortar as gorduras do Estado começa pela exoneração de cargos comissionados (cerca de 25 mil). Chancela política Ocorre que a maior parcela desse contingente está sob a chancela política. Por isso, a prática de corte massivo de comissionados no início da gestão, apesar de gerar impacto, fica amortecida ao longo do tempo. A massa que sai acaba sendo reposta, chegando, ao final do mandato, praticamente do tamanho inicial. Os vazios da largada são preenchidos na chegada. A eliminação desse exército é tarefa difícil, eis que nele estão fincados os bastiões das forças políticas. Cunha empoderado ? Muitos dizem que Eduardo Cunha continua dando as cartas. A força do ex-presidente da Câmara é grande, mas, a cada dia, esvanece diante das novas composições que se fazem na Câmara. Mas não será fácil escapar à influência de Cunha, um patrocinador de apoios a uma bancada de cerca de 100 deputados durante a campanha eleitoral de 2014. Renan dá apoio Renan Calheiros, o todo poderoso presidente do Senado, demonstra que dará apoio ao governo presidido por Michel Temer, colocando em votação o pacote de medidas de saneamento da economia. Renan é pragmático. E age de acordo com o espírito do tempo. Lava Jato A operação Lava Jato navega no piloto automático. Nenhuma força será capaz de deter seu rumo. O juiz Sérgio Moro se imbuiu da missão de passar o Brasil a limpo. Com os meus aplausos. Paulo Rabello de Castro Deverá ser o presidente do IBGE. Porta um dos mais densos currículos da planilha dos economistas notáveis do país. Tem perfil de ministro. É um quadro em ascensão. Ouvir as ruas Nenhum governante poderá sair-se bem se não ouvir o clamor das ruas. Mas não pode deixar de olhar para o Congresso. Por isso, vejo Michel Temer com um ouvido colado às ruas e um olho atento ao Parlamento. Dosar, sopesar, analisar, ponderar - verbos do seu dicionário. Crueldade particular Um turco se encontrou um dia com um canibal. "Sois muito cruéis, pois comeis os cativos que fazeis na guerra", disse o maometano. "E o que fazeis dos vossos" ?, indagou o canibal. "Ah, nós os matamos, mas depois que estão mortos não os comemos". Montesquieu assim arremata a passagem contada no livro Meus Pensamentos : "Parece-me que não há povo que não tenha sua crueldade particular".
quarta-feira, 18 de maio de 2016

Porandubas nº 491

Abro a coluna com uma historinha de Jânio Quadros. Obrigado, colega O próprio presidente Jânio Quadros, às vezes, transmitia seus bilhetinhos para os ministros por meio do aparelho de telex que mandou instalar em seu gabinete, ligado diretamente com os Ministérios em Brasília e no Rio de Janeiro. Ele mesmo datilografava os "memorandos". Transmitiu um bilhete para um ministro e na mesma hora recebeu a seguinte resposta, pelo telex : "Prezado colega. Não há mais ninguém aqui". Ao que o presidente respondeu : "Obrigado, colega. Jânio Quadros". Do outro lado do fio, porém, o outro não se perturbou : "De nada, às ordens. John Kennedy...". (Nelson Valente, jornalista e escritor, em seu livro Jânio Quadros - O Estadista) Sob o signo da confiança E o novo governo começa sob o signo da confiança. Já se percebe um ar de esperança entrando pelos pulmões sociais. Não se espere um coelho da cartola. Não haverá. Mas a sensação de maior segurança, de ordem contra a bagunça, do zelo contra a inépcia, da autoridade contra a horda de barbárie que ameaça tomar conta do país, já repõe as energias no corpo social. Pressões e contrapressões sobre o novo governo surgem de todos os lados. Em primeiro lugar, urge fazer uma assepsia na estrutura do Estado. Que está contaminada pelo loteamento de espaços e infiltração de contingentes petistas. Artífices da mamata e artistas Há muitos artífices da mamata que se fazem de artistas e cobram a continuidade da Pasta da Cultura. Urge fazer a distinção entre estes e os verdadeiros artesãos das artes e da cultura. O fato é que o Brasil dos últimos anos foi saqueado por mercenários, oportunistas, fariseus e hipócritas. Sabotagem Percebe-se, nesse momento, a tentativa de grupos que agem nos intestinos do Estado para praticar atos de sabotagem. Procuram resistir às novas forças que passam a comandar as áreas. Correm de um lado para outro procurando buracos para se esconder. Agem como ratos. Na frente da comunicação, é perceptível a agressão de blogs e sites financiados pelo lulo-dilmismo-petismo. São velhos conhecidos. As torneiras serão fechadas. A expressão desses guerrilheiros de fachada tende a encolher. Cabidão da imprensa - I O governo Michel Temer pretende reformar a Empresa Brasil de Comunicação, aparelhada nos últimos 14 anos por militantes petistas. Em vez de servir a um só partido, a empresa deve ser voltada ao bom jornalismo, profissional, a serviço de toda sociedade brasileira. Mas o governo enfrenta fortes resistências : os caciques ali alojados alegam que estão protegidos por lei e não podem ser demitidos. Soltam até notas oficiais contra as pretensões do governo. A EBC tem mais de 2.500 funcionários, quase metade comissionados. Tem gente de alta competência. O Conselho e a Diretoria da EBC alegam amparo legal para esse imenso cabide de dirigentes bancado pelos cofres públicos. É legal ? Pode ser, mas é absolutamente imoral. Cabidão da imprensa - II O esperneio dos caciques parece ter vida curta. Ainda ontem o presidente Michel Temer demitiu o diretor-presidente da EBC, Ricardo Melo, nomeado no último dia 3 pela presidente Dilma para um mandato de quatro anos ; ou seja, a poucos dias de seu impeachment. A exoneração de Melo foi publicada ontem pelo Diário Oficial e assim começa a desmoronar mais um gueto petista. Ele tentará se manter no cargo. Vai à Justiça. Prioridades O novo governo tem pressa. Por isso, estabelecerá um conjunto de medidas para votação no Congresso. A meta é fechar o buraco de 120 bilhões nas contas públicas. Um grupo foi formado para sistematizar a nova Previdência. Serão garantidos os direitos de pessoas abrigadas no sistema previdenciário. Na área trabalhista, imperará a ideia de acordo entre patrão e empregado, na esteira da ordem que se emprega no mundo civilizado. Por aqui, temos uma legislação engessada. A tal Nova Matriz Econômica - ancorada em subsídios e desonerações - será desmontada. A desvinculação de 25% da receita de Estados, municípios e União pelos próximos quatro anos fará parte das medidas. Pasta destroçada O ministro Henrique Alves passou pouco tempo fora do Ministério. Pois bem, no tempo em que ficou afastado - após pedir exoneração do cargo- a Pasta foi simplesmente destroçada. Henrique havia organizado a estrutura. Encontrou-a entregue às baratas. Completamente desestruturada. Henrique vai precisar de umas duas semanas para pôr as coisas em ordem. Brasil na transição - I Como será o Brasil na transição ? Tentemos esboçar alguns traços : 1. Não teremos, ainda, um território integrado aos valores da modernidade - crédito à meritocracia, fim do nepotismo, eficiência dos serviços, racionalidade administrativa. Mas certamente esses eixos começarão a ser fincados ; 2. O discurso político ainda será tumultuado pela competição acirrada entre os partidos grandes e médios, interessados em ocupar espaços na máquina administrativa. Veremos, porém, um refluxo do fisiologismo, a partir de uma crítica social mais intensa e continuada ; 3. Plantar-se-ão as sementes para uma reforma política, que virá mais adiante. Brasil na transição - II 4. As margens sociais terão garantidos seus programas de assistência, considerando que eles constituem obrigação do Estado, deixando, assim, de ser marcas de um determinado governo. Por isso, desconfiarão da expressão populista de Lula, em eventual périplo pelo país ; 5. As classes médias formarão a grande base de apoio e sustentação ao novo governo, espraiando para as margens seu poder de irradiação de ideias. Respirarão aliviadas pelo fato de verem esgotada a era do PT, com sua vermelha bandeira de traços bolivarianos sendo tragada por novos ares ; 6. Os movimentos sociais verão suas torneiras fechadas e, assim, com menos recursos farão ações mais pontuais, específicas e sob o controle dos instrumentos de segurança social. Brasil na transição - III 7. Os horizontes serão menos tenebrosos e poluídos, com a vida produtiva tomando o caminho da normalidade. Sob o signo da confiança, os setores produtivos voltarão, de forma gradativa, a realizar investimentos ; 8. O país, pouco a pouco, retomará o ritmo da normalidade, diminuindo a taxa de tensões e as relações conflituosas entre as alas que fazem manifestações de rua ; 9. O voto tenderá a ser mais seletivo, apurado, sob o olho mais acurado de um eleitor atento, que não quer ser enganado. O arco ideológico Veremos, nos próximos tempos, um arco ideológico com as seguintes divisões : uma faixa vermelho-encarnada ocupando a extremidade esquerda (partidos pequenos e radicais, a partir do PSOL) ; uma faixa vermelha-embotada ocupando o espaço da esquerda (PT, mais um ou outro partido) ; uma faixa tomando o lugar de centro-esquerda (PSB, PDT, principalmente) ; uma gigantesca tira ocupando laterais esquerda e direita do centro (a constelação de partidos que formam a base do novo governo, como PMDB, PSDB, PTB, PSC etc.) ; uma faixa ocupando a margem direita, abrigando partidos como PSD, PP, PRB e DEM. Estes últimos partidos são também atraídos pelo imã do centro, sendo, portanto, maleáveis na mudança de posições. Serra José Serra, como já se começa a perceber, será um dos ministros com maior visibilidade. Já sinaliza contrariedade com os países sob a órbita bolivariana. Quer apurar o custo de embaixadas em países que, sob o aspecto de benefícios comerciais, pouco acrescem ao Brasil. No caso, alguns países africanos e do Caribe. Serra endureceu posição contra esses países pelo fato de terem considerado impeachment da presidente um "golpe". A chave A chave que vai destrancar as portas do amanhã será a nova equipe econômica sob o comando de Henrique Meirelles, ministro da Fazenda : Ilan Goldfajn, no Banco Central ; Mansueto Almeida, Carlos Hamilton e Marcelo Caetano, nas Secretarias do Ministério da Fazenda. E mais : Maria Silvia Bastos Marques, no BNDES ; Jorge Rachid, continuando na Receita Federal ; e Otávio Ladeira, no Tesouro Nacional. Uma equipe portentosa. E de grandes conhecimentos sobre matéria econômica. Alguns metros acima da equipe da era Dilma. Mulheres e negros A polêmica criada com a ausência de mulheres e negros no Ministério do novo governo tem um mérito : o de levantar a questão sobre a representatividade dos gêneros e de raças face à competência. No primeiro momento, choveram críticas contra o novo ministério ; que foram se arrefecendo ante o argumento de que a meritocracia deve prevalecer sobre outros critérios. O bom senso, ufa, apareceu. Que se nomeiem mulheres. Não, porém, com a capacidade da mandatária que acaba de ser afastada. Marco Aurélio Marco Aurélio Mello, ministro do STF, aparece novamente nas manchetes. Libera caso do impeachment do vice para votação em plenário. Deverá colher mais uma derrota. Marco Aurélio é mesmo uma pessoa que preza as luzes midiáticas. Troca de comandante Renê Hermann ocupou, neste mês, sua cadeira à frente da CLIA ABREMAR BRASIL (Associação Brasileira de Cruzeiros Marítimos). O executivo assumiu o lugar que foi de Roberto Fusaro por dois anos. Hermann, que também é diretor-Geral da Costa Cruzeiros para a América do Sul, trabalha no setor há 22 anos. Graduado em Administração, iniciou sua carreira profissional na indústria da aviação em 1974, obtendo licença como piloto. Antes de juntar-se à Costa Cruzeiros, o executivo trabalhou para Varig, British Caledonian e British Airways, ocupando nessa última empresa o cargo de diretor-Geral para o Brasil. Experiente no segmento, Roberto Fusaro seguirá no Conselho da CLIA Abremar Brasil. Programa de qualidade O Sescon-SP (Sindicato das Empresas de Contabilidade no Estado de São) realiza nesta sexta, 20/5, o evento de certificação do PQEC (Programa de Qualidade de Empresas Contábeis), criado há mais de 10 anos para incentivar a excelência das empresas de serviços contábeis. Nas palavras do presidente da entidade, Márcio Shimomoto, "com a evolução tecnológica, as mudanças legislativas, tributárias e sociais e o aumento da exigência dos consumidores, a qualidade na prestação de serviços se tornou fundamental para o sucesso das organizações". Este ano serão 473 empresas, sendo 99 certificadas também pelo ISO. O evento será no Espaço das Américas, em São Paulo, com show do cantor Luan Santana. Gerdau explica O Grupo Gerdau diz que, embora até o presente momento não tenha tido acesso ao relatório final recentemente elaborado pela Polícia Federal, recebeu com imensa surpresa e repúdio a informação de que executivos da companhia, entre os quais seu diretor-presidente (CEO), estariam entre os indiciados do processo do CARF. E explica que recursos que tramitam no órgão ainda se encontram pendentes de julgamento. Reafirma que está à disposição das autoridades competentes para prestar os esclarecimentos que vierem a ser solicitados. Fecho a coluna com uma historinha das antigas. O poder é como água 1945. O Brasil inaugura a redemocratização. Hermes Lima, fundador da UDN, deputado constituinte, ex-presidente do STF, foi ao Nordeste conseguir apoio de democratas ilustres para fundar outro partido, o Partido Socialista Brasileiro. Em João Pessoa, procurou Luís de Oliveira : - Luís, o socialismo é como aqueles gramados dos castelos da Inglaterra. Cada geração dá por eles um pouco de si. Um jardineiro planta, o filho cuida, o neto poda. E vai assim, de geração em geração, até que, um século depois, torna-se o que é. - Doutor Hermes, me desculpe, mas não vou entrar não. Gosto muito do socialismo, mas vai demorar muito. Eu quero é o poder. E o poder é como água. A gente tem que beber na hora.
quarta-feira, 11 de maio de 2016

Porandubas nº 490

Lei da gravidade A Lei da Gravidade, de vez em quando, dá dor de cabeça aos mineiros. E a lei da gravidez, essa, nem se fala. Na Câmara Municipal de Caeté, terra da família Pinheiro, de onde saíram dois governadores, discutia-se o abastecimento de água para a cidade. O engenheiro enviado pelo governador Israel Pinheiro deu as explicações técnicas aos vereadores, buscando justificar a dificuldade da captação : a água lá embaixo e a cidade, lá em cima. Seria necessário um bombeamento que custaria milhões e, sinceramente, achava o problema de difícil solução no curto prazo, conforme desejavam : - Mas, doutor - pergunta o líder do prefeito - qual é o problema mesmo ? - O problema mesmo - responde o engenheiro - está ligado à Lei da Gravidade. - Isso não é problema - diz o líder - nós vamos ao doutor Israel e ele, com uma penada só, revoga essa danada de lei que, no mínimo, deve ter sido votada pela oposição, visando perseguir o PSD. O líder da oposição, em aparte, contesta o líder do prefeito e informa à edilidade, em tom de deboche, que "o governador Israel nada pode fazer, visto ser a Lei da Gravidade de âmbito Federal". E está encerrada a sessão. (Historinha contada por José Flávio Abelha, em seu livro A Mineirice). Tiro fatal ou final O governo tenta dar o último tiro no impeachment da presidente Dilma. O atirador será, mais uma vez, o advogado-Geral da União, José Eduardo Cardozo. Que entra com um mandado de segurança no STF para pedir anulação do processo de impeachment que tramita no Senado. Alega desvio de finalidade por parte do presidente afastado da Câmara, Eduardo Cunha, ao aceitar o pedido de impeachment. O Supremo deverá rejeitar o pedido. O tiro final acabará sendo fatal para a presidente Rousseff. Almagro, não se meta Luis Almagro, secretário-Geral da OEA, é um penetra nos corredores da democracia brasileira. Diz que vai consultar a Corte Interamericana de Direitos Humanos para saber da legalidade do processo de impeachment da presidente Rousseff. Belisco-me. Será que estou lendo direito ? Esse Almagro deveria tomar um chá de simancol. De maconha uruguaia, não adianta. Almagro, Almagro, não somos uma Republiqueta bananeira. O desfecho PT, PSOL, MST, MTST e UNE ganharam algumas horas de respiro no início desta semana. O Waldir do Maranhão, que porta este mesmo sobrenome, atirou no que viu e acertou no que não viu : ele próprio. O despacho apressado por ele assinado, que não recebeu assessoria técnica da Câmara, tinha a intenção de impedir o impeachment e jogá-lo nas vibrantes páginas da história. O tiro voltou-se contra ele. Maranhão recebeu um fuzilaço do presidente do Senado, Renan Calheiros. Lá pela meia noite, Waldir acabou anulando a decisão tomada pela manhã. Temia ser expulso do partido. Entrou na terça-feira com cara de vencido. Renan sobe Renan Calheiros estava em rota de descida, pois, nos últimos meses, era encostado aos vãos do Planalto. Mas sua celebrada decisão de dar continuidade ao rito do impeachment o tira da zona de suspeição e o eleva ao patamar de senador-juiz. Sua decisão tem peso histórico. Com o ato em que anulou a decisão de sustar o impeachment, o que sobra a Maranhão ? Vergonha e silêncio. STF à espera O STF se preparava para acolher mandado de segurança contra o ato de Waldir Maranhão. Mas a política deu respostas ao imbróglio. Os parlamentares, na grande maioria, temiam que um mandado de segurança pudesse cair nas mãos do ministro Marco Aurélio, sobre quem recaem suspeitas de ser um bastião de defesa do governo Dilma. Corte de ministérios O vice-presidente Michel Temer se prepara para governar com um ministério enxuto, racional. Mas a realpolitik acaba impedindo a boa intenção, tão fortes são as pressões e reivindicações de partidos para entrar na estrutura ministerial. Procurou ouvir todos. Mas, ao final do processo de montagem do Ministério, acabou optando por uma máquina mais comprimida. Cortará umas 10 Pastas com a fusão de algumas delas. A opinião pública está de seu lado. E os partidos haverão de compreender que seriam colocados ante a parede caso o novo governo se transformasse no mais do mesmo. Como será o governo ? O eventual presidente Michel Temer, pelos valores que adornam seu perfil, procurará fazer um governo mais descentralizado, com os ministros podendo ter autonomia para tomar decisões e implementar medidas em seus respectivos espaços. Se errarem, serão cobrados. Mas a ideia é a de governar com os partidos. Que deverão não apenas ocupar espaços, mas participar da definição de políticas públicas. O eixo da economia O novo governo tentará obter sinais positivos da economia, na crença de que a confiança dos protagonistas econômicos será a chave do sucesso. Com o resgate da confiança, será possível a volta dos investimentos. Esta condição será intensamente perseguida pelos eixos que locomoverão a máquina econômica : Henrique Meirelles, na Fazenda ; Romero Jucá, no Planejamento ; José Serra, no Ministério das Relações Exteriores, dentro do qual serão desenvolvidas as atividades na área do comércio exterior ; Moreira Franco, que coordenará uma forte secretaria na área da infraestrutura. Delcídio joga aberto O senador Delcídio abriu a boca do trombone : agia sob mando de Lula e Dilma. Denúncia que, a cada dia, ganha peso. Pediu desculpas ao povo, reconhecendo que errou. E deixa no ar uma pergunta para que cada um tire suas conclusões : como pode ser chamado de mentiroso um senador que era líder do governo ? Dilma o brindou com a pecha de mentiroso. Delcídio faz o desafio. Crueldade Montesquieu, o famoso autor de O espírito das leis, e sua visão sobre a crueldade humana : "Um turco se encontra com um canibal. 'Sois muito cruéis' disse o maometano. 'Comeis os cativos que fazeis na guerra'. O canibal replicou :'e o que fazei dos vossos'? 'ah, nós os matamos, mas, depois que estão mortos, não os comemos'. E arremata o filósofo, do alto de sua moderação: 'não há povo que não tenha sua crueldade particular'." Corte internacional ? O advogado-Geral da União, José Eduardo Cardozo, é competente. Professor de Direito, ex-vereador, ex-presidente da Câmara de Vereadores de São Paulo e ex-deputado Federal. Renunciou ao mandato por discordar da maneira escandalosa de financiamento de campanhas eleitorais. Este escriba até fez um reconhecimento público, em artigo na grande mídia, sobre o ato de civismo de Zé Eduardo. Mas a promessa da AGU de levar o caso do impeachment à Corte Interamericana de Direitos Humanos parece uma coisa fora de propósito. Seria um desrespeito ao nosso próprio sistema Judiciário, um tapa na cara de Suas Excelências, os ministros da Suprema Corte, que aprovaram o rito do impeachment e acompanham, atentamente, o desenrolar dos acontecimentos. Operação Tabajara O ministro Gilmar Mendes carimba com frequência e senso de humor episódios da vida política. O ato desastroso de Waldir Maranhão ganhou dele a expressão : Operação Tabajara. Como se recorda, as Organizações Tabajara formam uma empresa fictícia, um "conglomerado monopolista" criado pelo grupo de humor Casseta & Planeta da Rede Globo de Televisão que utiliza o nome da tribo indígena Tabajara na associação a produtos fictícios de cunho pejorativo. A "empresa" fabrica produtos e serviços falsos - para não dizer esdrúxulos e absurdos - com a intenção de fazer rir. Geralmente os produtos possuem nomes que lembram inglês, mas usando o radical em português. São esses o prefixo "personal" e os sufixos "-ation" e "-ator". Exemplos: "Carro Moita Disfarceitor Tabajara" e "Personal Mentirosation Tabajara". Pimentel sob risco Fernando Pimentel, governador de Minas Gerais, pode ser afastado a qualquer momento. Foi denunciado pela PGR, acusado de ter solicitado e recebido "vantagens indevidas para conceder benefício tributário" à CAOA. Quando desempenhou as funções de ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. PGR pede derrubada de liminar O procurador-Geral da República, Rodrigo Janot, pediu que o STF derrube a liminar sobre pedido de impeachment do vice-presidente Michel Temer. Como se recorda, a liminar foi acolhida pelo ministro Marco Aurélio. Janot alega que pedido do advogado mineiro Mariel Marra era para suspender andamento do pedido do impeachment da presidente Dilma. Decisão de Marco Aurélio extrapolou pedido feito ao STF. Passarinho esmagado Inflamado, o candidato eleva a fala no palanque. Argumentava que o povo livre sabe escolher seus governantes. Para entusiasmar a multidão, levou um passarinho numa gaiola, que deveria ser solto no clímax do discurso. No momento certo, tirou o pássaro e com ele, na mão direita, tascou : "a liberdade do homem é o sonho, o desejo de construir seu espaço, sua vida, com orgulho, sem subserviência. Deus (citar Deus é sempre bom) nos deu a liberdade para fazermos dela o instrumento de nossa dignidade ; quero que todos, hoje, aqui e agora, comprometam-se com o ideal da liberdade. Para simbolizar esse compromisso, vamos aplaudir a soltura desse passarinho, que vai ganhar os céus". Ao abrir a mão, viu que esmagara o passarinho. A frustração por ter matado o bichinho foi um anticlímax. Vaias substituíram os aplausos. Foi um desastre. Cuidado, candidatos : controlem a emoção. Dilma voltaria ? Esta é a uma das mais recorrentes perguntas que enfrento em minhas palestras. É possível, mas pouco provável. Ela governaria com os "367 golpistas" que aprovaram o impeachment na Câmara ? Com os senadores golpistas que admitiram a ideia do impeachment ? E os contingentes despachados de seus cargos voltariam aos antigos locais de trabalho ? O Brasil seria uma grande bagunça. A volta só seria possível ante um formidável fracasso do novo governo. Essa alternativa é muito tênue. Lula, alquebrado Corre à boca pequena que Lula se mostra cansado e desanimado com a situação que abarca o petismo-dilmismo-lulismo. Dilma seria uma grande decepção. Não teria sabido segurar as bases governistas, a partir do PMDB. Lula não estaria tão animado a correr o país em novas caravanas da Cidadania. Como o PT pode renascer das cinzas ? Que novos perfis pode apresentar em palanque ? Tucanos, um olho aqui, outro lá Os tucanos continuam com um olho para o norte e outro para o sul. Uma banda quer entrar no governo Temer, outra quer permanecer nas margens. Fez um documento que submeteu ao vice Michel Temer com as condições para apoiar seu governo. Maneira de vacinar-se contra eventual fracasso. Mas o partido deverá emplacar o bom deputado Bruno Araújo em um importante Ministério do novo governo. A gazela e o leão A historinha é emblemática. Pinço-a mais uma vez : "Toda manhã, na África, uma gazela desperta. Sabe que deverá correr mais depressa do que o leão para não ser devorada. Toda manhã, na África, um leão desperta. Sabe que deverá correr mais que a gazela para não morrer de fome. Quando o sol surge, não importa se você é um leão ou uma gazela : é melhor que comece a correr". Esse lembrete ainda é exibido em ambientes de trabalho como profissão de fé de executivos e dirigentes empresariais. Exaltação à barbárie À primeira vista, parece um bom conselho para quem quer vencer na vida. Trata-se, porém, de uma exaltação à barbárie. Basta intuir que, pelo conselho, "leões humanos" são autorizados a agarrar "gazelas humanas", que, apavoradas, devem se desdobrar para realizar suas tarefas ou a se esconder para fugir das intempéries do trabalho (ou dos ataques dos leões). É evidente a estimulação ao instinto da violência, ao cultivo dos perfis agressivos, às lutas por espaço e poder, às táticas aéticas e aos golpes traiçoeiros, tudo justificado pela necessidade da competitividade.
quarta-feira, 27 de abril de 2016

Porandubas nº 489

O ciclo Kubitschek Figura carismática, Juscelino Kubitschek era jovial, alegre. Encarnava o Brasil moderno. Em 1959, o palhaço Carequinha popularizou uma batucada de Miguel Gustavo - Dá um jeito nele, Nonô : ("Meu dinheiro não tem mais valor. / Meu cruzeiro não vale nada. / Já não dá nem pra cocada. / Já não compra mais banana. / Já não bebe mais café. / Já não pode andar de bonde. / Nem chupar picolé. / Afinal, esse cruzeiro é dinheiro ou não é ?") O clima ambiental era de descontração, como demonstra a historieta gráfica da revista Careta: Juscelino: - Preciso de divisas, ouro, seu Alkmim, para as realizações do meu governo. O ministro: - Ouro, seu Juscelino ?! Eu sou Alkmim, não sou alquimista. Vestiu a camisa do desenvolvimento, e seu slogan "50 anos em 5" foi um sucesso. Colou. Seu sorriso era a estampa de um país feliz. (História contada pela historiadora Isabel Lustosa) _____________ Fluxo do impeachment Com a Comissão de 21 senadores formada, dia 12 já se pode ter uma votação para julgar a admissibilidade do impeachment. O plenário, por sua vez, deliberará sobre o relatório a ser produzido pelo senador Antônio Anastasia. O acolhimento exigirá maioria simples, ou seja, 41 votos. Hoje, o número de senadores já decididos a acolher chega a 50. Os já declarados 39 senadores já se manifestaram pelo afastamento definitivo da presidente Dilma. Faltam 15 para completar os 54 necessários. O número será alcançado ? Esta é uma recorrente pergunta que jogam a este consultor. Respondo com estas hipóteses. Dilma volta ? 1ª abordagem : o país aguenta 180 dias de governo provisório ? Difícil. Este consultor defende a ideia de que em 2 meses a questão estará decidida. Imagine-se, agora, esta situação : um eventual Governo Temer compõe um ministério com nomes de peso. Os ministros, por sua vez, comporão suas equipes. Portanto, haverá um desmonte da paisagem ministerial de Dilma e a substituição por uma batelada de novos protagonistas, os quais seriam defenestrados caso a presidente Dilma voltasse à cadeira presidencial. Este consultor vê o abismo dentro do abismo caso essa hipótese prevaleça. O país estará paralisado. A máquina parada. Um horror. Por isso, não acredita no retorno de Sua Excelência, a presidente Rousseff. E a força de Lula? Luiz Inácio é um leão cansado : ruge, mas não morde. Já começou a trabalhar ativamente na linha de defesa de Dilma no Senado. Mas não carrega o calor do envolvimento pessoal d'antigamente. Sua peroração entra por um ouvido do interlocutor e sai pelo outro. Por essa força decadente, Lula teria chorado três vezes por ocasião da votação do impeachment na Câmara. 20 contra 70 Muitos falam de Lula como um grande potencial de amanhã. Trata-se, sem dúvida, do maior líder do PT e adjacências. Segundo as pesquisas, conserva, ainda, cerca de 20% dos votos no Brasil. Mas este consultor costuma ler pesquisas do fim para o começo. E a parte final das pesquisas mostra Lula com quase 70% de rejeição. Serra José Serra deverá ocupar um lugar em um eventual Ministério Temer. Fernando Henrique, com sua fala sugerindo a participação do PSDB no novo governo, deu o sinal para que Serra possa entrar na equipe. Se Alckmin ou Aécio não gostarem, a questão poderá, até, ser decidida pela Executiva dos tucanos. Há receio de que Serra, fazendo uma boa gestão em um ministério de infraestrutura, por exemplo, possa se habilitar a ser um forte candidato a presidente em 2018. Pelo PSDB ou pelo PMDB ? Façam suas apostas. Alckmin no PSB ? Geraldo Alckmin tem um largo espaço para ocupar. Como governador do Estado mais forte da Federação, terá mais força que Aécio Neves para viabilizar seu nome pelo PSDB em 2018. Mas se o senador Aécio continuar a dominar a máquina tucana, Alckmin não terá dúvidas : será candidato em 2018 pelo PSB. PT em declínio O PT perdeu muitos quadros nos últimos tempos. Ameaça definhar nas eleições municipais de outubro. Lula vai ter de rebolar nos palanques para garantir a eleição de petistas em médias e grandes cidades. Anastasia O senador Antônio Anastasia (PSDB-MG) é um dos melhores quadros do Parlamento Nacional. Preparado, contido, organizado, planejador, expressa bem as ideias. Terá muita visibilidade com o cargo de relator da Comissão de Impeachment do Senado. Pelo perfil de harmonia, assepsia e preparo, entra fácil na moldura dos grandes protagonistas do amanhã. Lira O senador Raimundo Lira (PMDB-PB) é um perfil comedido. Empresário, conhece bem os meandros do mercado. Já presidiu a Comissão de Assuntos Econômicos por três vezes e já comandou a Comissão Mista do Orçamento. Presidirá a Comissão do impeachment. Ele e Anastasia pertencem à linha do bom senso. Renan O presidente do Senado, Renan Calheiros, pressionado pelas circunstâncias, deverá acelerar o fluxo do impeachment na Câmara Alta. Diz ele que vai fazer tudo para "garantir o máximo de previsibilidade" ao longo do processo do impeachment para evitar "equívocos". Terá, logo, logo, uma conversa demorada com o vice-presidente Michel Temer para acertar as coisas. Jucá O senador Romero Jucá está a dois passos do Ministério do Planejamento. Trata-se de importante senador do PMDB. Mas deverá continuar a fazer articulação com os companheiros do Senado mesmo como ministro. Mariz Um dos mais afamados e preparados advogados do país está pertinho do Ministério da Justiça : Antonio Claudio Mariz de Oliveira. É um dos mais próximos amigos de Michel Temer! Henrique Henrique Alves poderá continuar como ministro do Turismo, acrescentando mais uma área para administrar: o Esporte. Teremos um Ministério do Turismo e Esporte. Geddel Geddel Vieira Lima, pela habilidade na articulação política, pode ganhar um posto no Palácio do Planalto. Padilha e Moreira São dois auxiliares diretos e leais de Michel Temer. Eliseu Padilha é organizado. O homem das planilhas. Sabe quem são as pessoas. E como se comportam. Deve ocupar a Casa Civil. Já Moreira Franco usa a cabeça para definir diretrizes e rumos. Pode ocupar um Ministério de peso. Meirelles Henrique Meirelles quer ser ministro da Fazenda. Há quem aposte que, bem-sucedido, possa usar o cargo como trampolim para uma candidatura presidencial em 2018. Rodrigo, Márcio e Yunes Três nomes que estarão, todo tempo, no entorno de Temer. Rodrigo Rocha Loures, ex-deputado, é uma alavanca na área das relações institucionais. Márcio Freitas é um experimentado jornalista e um bom analista de situações. Administra bem crises. Deverá assumir a Comunicação Social. José Yunes é um velho companheiro do vice-presidente, uma espécie de conselheiro. Que sabe ouvir e dizer as coisas no momento certo. Um assessor de alto nível. Paulo Rabello Paulo Rabello de Castro é um dos melhores e mais preparados economistas brasileiros. Didático, criativo, um grande formulador. Seus textos são clássicos. Sempre deu grande ajuda ao PMDB. _____________ Marketing Eleitoral Questões importantes que deverão florescer no jardim do Marketing Eleitoral em outubro deste ano : 1 - Campanhas serão municipalizadas ou tendem a receber influência da crise política ? 2 - Micropolítica - política das pequenas coisas - suplantará a macropolítica, temáticas abrangentes ? 3 - O discurso da forma (estética) suplantará o discurso semântico ? 4 - Campanhas privilegiarão pequenas ou grandes concentrações ? 5 - Qual será o papel das entidades de intermediação social (associações, movimentos, sindicatos, Federações, clubes, etc.) ? Telegráficas respostas : 1) Ambiente geral - estado geral de satisfação/insatisfação do povo - tende a causar impacto nas eleições municipais (os temas locais darão o tom, mas a temperatura ambiental será sentida); 2) A micropolítica, escopo que diz respeito ao bolso e a saúde, estará no centro dos debates; 3) O discurso semântico - propostas concretas e viáveis - suplantará a cosmética, as campanhas meramente publicitárias; 4) Pequenas concentrações, em série, gerarão mais efeito que grandes concentrações; 5) As organizações sociais mobilizarão o eleitorado.
quarta-feira, 20 de abril de 2016

Porandubas nº 488

O nome de deus em vão Nunca se ouviu falar tanto de Deus como na votação do impeachment, dia 17, domingo. Dedico esse voto, primeiro, a Deus, que me deu a vida ; depois, à minha mãe, à minha mulher, aos meus filhos etc. Portanto, Deus continua sendo a porta do Paraíso para nossos políticos. Vejamos Deus na vida de alguns protagonistas... O ditador Francisco Franco usava a Providência Divina para se afirmar : "Deus colocou em nossas mãos a vida de nossa Pátria para que a governemos". Não satisfeito, mandou cunhar nas moedas : "Caudilho da Espanha pela graça de Deus". Idi Amin Dada, o cabo que se tornou marechal de Uganda, ditador sanguinário, dizia ao povo que falava com Deus nos sonhos. Um dia, um jornalista faz a inquietante pergunta : "o senhor tem com frequência esses sonhos ? Conversa muito com Deus ?" Lacônico, o cara de pau respondeu : "Só quando necessário". Vitimização Está clara a estratégia da presidente Dilma e de seu entorno : tornar-se vítima. A liturgia da vitimização pode ser assim descrita : escolha de um refrão para abrir o discurso - conspiradores tramam um golpe ; aparecimento em entrevistas coletivas exibindo a estética das vítimas - olhos vermelhos, feições contraídas ; expressão pausada e ritmada, entremeada de pausas, que procuram enfatizar os refrãos ; postura humilde na audição e respostas às perguntas. Foi o que se viu em Dilma em suas entrevistas coletivas. Golpe A ideia de que estaria sendo tramado um golpe invade espaços midiáticos, multiplicados pela teia lulopetista. O vice-presidente da República, Michel Temer, e o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, seriam os conspiradores. A estratégia, nesse caso, é tentar colar a imagem de Cunha à imagem de Michel. Como sofre uma bateria de denúncias, o presidente da Câmara, como tentam o PT e o governo, contaminaria a imagem do presidente da República. Ou seja, o mal de um geraria sombra sobre o outro. Essa é a intenção dos comunicadores petistas. Golpe e contragolpe Ora, o que Dilma esquece é que o povo não é bobo. Não compra gato por lebre. Ela acha que é simples dizer que fulano é o demônio em pessoa e que esta identidade demoníaca pode ser simplesmente transferida a um grupo pelo simples fato deste grupo ser contrário ao governo. Por isso, Dilma começa a sofrer o contragolpe : os 367 deputados que votaram são conspiradores ? Os cinco milhões de pessoas que saíram às ruas desde 2013 são conspiradores ? O STF, que definiu o rito do impeachment, é golpista ? Os oito ministros do STF entre os 11 que formam o Colegiado são traidores golpistas ? Dilma, lacrimosa, pode até gerar comoção em algumas pessoas. Mas ela é uma pessoa dura, autoritária, nervosa, arrogante. O véu começa a cair. O rito no Senado O Senado abriu o rito do impeachment, que deverá ser acolhido pela maioria dos senadores. Hoje, cerca de 45 já definiram suas posições. A Comissão de 21 senadores fará um relatório inicial a ser votado pelo plenário. Aceito o impeachment, a presidente deverá ser afastada. A Câmara Alta terá 180 dias para apurar, julgar e decidir sobre seu afastamento. Vejamos as hipóteses. 180 dias ? Se o vice-presidente vier a assumir a presidência na segunda semana de maio, conforme calendário estabelecido, deverá fazê-lo com uma equipe já escolhida. Ou seja, se houver acolhimento por metade mais um dos senadores, a presidente será afastada por 180 dias. A depender da maneira como o presidente provisório der respostas às expectativas sociais, o processo de impeachment poderá ser logo decidido ou se estender até o prazo previsto pelo rito. Se as respostas forem satisfatórias, o Senado será instado a apressar o fluxo do impeachment. A recíproca é verdadeira. O fato é que o país não aguentará todo o prazo - 180 dias - de um governo provisório. Um eventual governo Temer Se chegar a ocupar a cadeira presidencial, o vice Michel Temer terá pela frente o maior desafio de sua vida : governar o país numa quadra das mais difíceis de sua história, marcada por uma economia em recessão, uma fila de 10 milhões de desempregados, 10% de inflação, perspectiva de queda entre 3,5% a 4% do PIB este ano. Para fechar os buracos do rombo na economia, o eventual presidente deverá escolher um nome de alto gabarito para coordenar a área mais crítica do governo. Como assoviar e chupar cana ao mesmo tempo ? Como fazer o ajuste e, ao mesmo tempo, arrumar o bolso dos consumidores, de forma que possam conservar certo poder de compra ? Desafios Os desafios serão monumentais. A estrutura ministerial deverá ser enxugada, sob o critério da racionalidade. Enxugamento, fusão e junção de cinco a sete Pastas. Nomeação de grandes perfis para comandar os Ministérios mais importantes : economia, saúde, educação, Justiça, infraestrutura. Como atender às demandas partidárias, sabendo que os partidos querem se fazer representar na Esplanada dos Ministérios ? Como manter uma sólida base de apoios no Congresso, condição que faz absolutamente necessária para preparar o país e avançar nas reformas fundamentais ? Reformas : Política, Previdência, Fiscal-Tributária, Trabalhista e do Pacto Federativo. Nomes e ensaios Qual será o prazo que a sociedade dará a um novo presidente nessa quadra de economia em descalabro ? Menos do que os 100 dias tradicionais que se costuma dar aos novos governantes. Por conseguinte, 60 dias (dois meses) fechariam a agenda das expectativas. Mais que isso, o clima social estaria muito tenso. Se, em menos tempo, as expectativas começarem a ser atendidas, melhor para o ânimo governamental. Nesse ínterim, a sociedade tomaria conhecimento da disposição de um novo governo e passaria a responder com o reconhecimento e a simpatia. O Estado adequado Nem Estado gordo, nem Estado magro. Um Estado adequado. Essa é a concepção que passa pela cabeça do vice-presidente Michel Temer. Um Estado capaz de dar respostas aos anseios sociais, em condições de atender às demandas prioritárias nas áreas da saúde, educação, emprego, segurança. Não se trata de dizer que o país verá um amplo programa de privatização. Não se pode fazer terrorismo com esse conceito. A privatização deve ocorrer em áreas que fogem às competências constitucionais do Estado brasileiro. Os investidores querem ganhar confiança para voltar a reinvestir. Credibilidade, eis a palavra mágica que precisa ser resgatada. Senadores sob pressão das ruas A imensa maioria da população brasileira quer ver a presidente Dilma afastada do comando da Nação. Parece dizer : o ciclo do PT chegou ao fim. Queremos inaugurar uma nova era. O Senado deverá agir sob esse clamor das ruas. Ademais, a vitória do impeachment na Câmara foi muito expressiva. Acima das expectativas. Ou seja, essa avalanche de votos favoráveis funcionará como alavanca de impulso no Senado. A Câmara representa o povo brasileiro, enquanto o Senado representa os interesses dos Estados. A vontade do povo entra na Casa que representa a identidade dos 27 entes estaduais. E se Dilma ficar ? Dilma terá condições de voltar a governar, caso o Senado arquive o processo do impeachment ? Difícil imaginar a situação. Economia descalibrada, massas nas ruas, falta de apoio no Congresso, Lula girando como um autômato na Esplanada dos Ministérios... enfim, a paisagem de Dilma voltando a comandar o Estado é aterradora. Pobre português A deputada Jandira Feghali (PCdoB-Rio) reclamou muito do "baixo nível" do Congresso no dia seguinte ao da votação do impeachment, principalmente pelos erros grosseiros nos discursos dos parlamentares - alusão direta aos deputados que votaram "sim". É provável que a deputada não tenha ouvido direito, mas as principais agressões ao vernáculo e à inteligência vieram justamente dos seus pares da situação - ou da turma do "não". O sonho de Lula É claro que Luiz Inácio acalenta o sonho de voltar a ser candidato em 2018. Como se sabe, a melodia que sai do aparelho fonador de Lula não tem a suavidade de um bolero ou mesmo de samba-canção. A melodia é frenética. Lula gosta mesmo é de ser oposição. Por isso, quanto antes Dilma se afastar, melhor para seu desígnio de se candidatar. Precisa voltar com as caravanas pelo Brasil afora. Ora, essa condição exige que seja oposicionista contra "esse governo golpista" que está aí. As massas aplaudirão seu discurso ? Possivelmente, as massas instrumentalizadas, que recebem cachê para comparecer aos comícios. Lula já não é o mesmo de 10, 15 anos atrás. P.S. Ademais, Luiz Inácio terá de dar algumas respostas à República de Curitiba. Evento em Foz Este consultor irá ao evento do LIDE - Grupo de Líderes Empresariais - a se realizar em Foz de Iguaçu, de 21 a 24 de abril. Sob coordenação do dinâmico jornalista, empresário e presidente do LIDE, João Dória. O tema principal será : Cenários e soluções para a crise econômica. A mesa debatedora central será formada pelo CEO Global da BRF, Pedro Faria ; o presidente da Riachuelo, Flávio Rocha ; a presidente da Microsoft Brasil, Paula Bellizia ; e o presidente da CPFL, Wilson Ferreira. Infidelidade A infidelidade partidária no Brasil vem lá de trás, dos idos tempos do general Golbery do Couto e Silva, que a importou do México. Como é sabido, a lei de governabilidade naquele país garantiu 71 anos de governo ininterrupto ao Partido Revolucionário Institucional (PRI). Existiu até a vitória de Vicente Fox, do Partido de Ação Nacional (PAN). Considerada coisa da ditadura, a fidelidade foi abolida, apesar da reação de Tancredo Neves, logo depois de eleito, em 1985, no sentido de que a lei eleitoral deveria ganhar mudanças, mas não a ponto de se ter "a porta arrombada". Foi o que ocorreu. De lá para cá, criaram-se dezenas de siglas e a política passou a ser um espaço de beltranos e sicranos. Fulanização Pegando carona no atual sistema eleitoral proporcional, que data de 1950, o fenômeno da fulanização tomou corpo, contribuindo, por meio das listas abertas, para o voto "salada mista", pelo qual o eleitor tem liberdade de escolher candidatos, em um visível enfraquecimento das estruturas partidárias. Isso porque os partidos, com raras exceções, além de não possuírem controle sobre os perfis e as chances de seus candidatos, passam a presenciar, estáticos, uma feroz disputa entre eles próprios. Para coroar o ritual de personalização política, muitos eleitos acabam trocando a sigla, contribuindo, assim, para a pasteurização partidária.
quarta-feira, 13 de abril de 2016

Porandubas nº 487

Abro a coluna com duas historinhas, uma da Bahia, outra do Maranhão. O vice-versa Dr. Dantinhas, deputado da Bahia, elo de todo um clã político do Estado (neto do barão de Geremoabo), foi convidado para padrinho de casamento da filha de um coronel do sertão. No dia de viajar, recebeu telegrama : - Compadre, não precisa vir. Deu-se o vice-versa. Menina morreu. Puxa quem pode Tempos eleitorais. Tempos de fidelidade e infidelidade. Guararé era cabo eleitoral do governador Sebastião Archer, do Maranhão. Convenção do PSD, alguém acusou Guararé de puxa-saco. Guararé argumentou : - Cada um puxa quem pode. Eu puxo o senhor, governador Archer. O senhor já puxa o senador Vitorino Freire. E o senador puxa o general Dutra. É a lei da fidelidade partidária. Semana decisiva O Brasil vive uma das semanas mais decisivas de sua contemporaneidade. Segunda, a Comissão de Impeachment aceitou, por 38 a 27, o relatório produzido pelo deputado Jovair Arantes (PTB/GO) que recomendou o impeachment da presidente Dilma por crime de responsabilidade. O clima foi todo tempo acirrado naquela Comissão. O resultado era previsível, mas o governo esperava chegar a 30 votos. Não colou a tentativa dos governistas de relacionar impeachment a golpe. Pelo menos, até o momento. Domingo, o dia D Domingo será a votação em plenário. O governo diz ter 40 votos a mais do que necessita - 172 - para impedir o pedido de impeachment pela Câmara. As oposições garantem já ter alcançado os 342 votos necessários para aprovação. O corpo a corpo é intenso. Um estudo feito por estatísticos da USP, levando em consideração indecisos, partidos a que pertencem e Estados de origem, chega a este número : impeachment poderá ter entre 357 e 375 votos. Se não houver uma avalanche em contrário nessa semana, o afastamento da presidente passará pela Câmara. Voto a voto Luiz Inácio ocupa há duas semanas a suíte de um hotel estrelado de Brasília para receber deputados. Dizem que faz a pergunta clássica : o que você quer ? O governo estaria negociando com verbas de 38 bilhões de Ministérios. Ou seja, parte para a guerra com farto arsenal sob o lema : é tudo ou nada. Deputados nunca foram tão assediados. Mas Lula pode não assumir a Casa Civil, o que gera certa desconfiança. Há muitas dúvidas sobre a continuidade do governo Dilma. Liberação de bancadas Alguns partidos - PP, PR e PSB - estavam em dúvidas. PP e PR foram fortemente pressionados pelo governo a se manter na base governista. Mas a maioria dos deputados desses partidos, sob o clamor das ruas, já tomaram posição a favor do impeachment. Daí a mudança de rumos : o PSB decidiu pelo impeachment. Os outros liberaram as bancadas. O que favorece o voto das oposições, ou seja, a favor do impeachment. O PMDB O PMDB deverá ser o fator decisivo no domingo. O líder Leonardo Picciani, sob conselho do pai, Jorge Picciani, liberou a bancada. Ou seja, mais de 80% dos peemedebistas devem acompanhar os votos a favor do impeachment. Do Rio, com exceção dele e de mais um ou outro, os deputados do PMDB deverão votar pelo afastamento. A se confirmar essa tendência, não se descarta a possibilidade de indecisos de algumas siglas aderirem em massa à tese do impeachment. O vazamento da mensagem O vazamento do áudio com uma mensagem do vice-presidente Michel Temer sobre o Day after - no caso de aprovação do impeachment pela Câmara - as coisas são mais simples do que as histórias contadas, inventadas, espetacularizadas. Não houve conspiração nem há intenções golpistas com a mensagem vinda a público. O vice-presidente simplesmente foi instado a gravar algo ante a observação de um interlocutor : o que você dirá se, por acaso, houver uma decisão da Câmara pedindo o impeachment da presidente ? De supetão, gravou um áudio de 13 minutos com ideias sobre o país. Uma fala de bom senso. Sob o respeito de qualquer decisão a ser tomada pelo Senado caso o pedido chegue até lá. A tecla Era apenas um exercício de resposta eventual pergunta que poderá surgir, no caso - é bom lembrar - de aprovação do pedido de impeachment pela Câmara. Cautela e caldo de galinha não fazem mal a ninguém. A mensagem deveria ser encaminhada a um amigo. Uma tecla acionada no WhatsApp destinou a mensagem para um grupo. Foi o que aconteceu. Sem conspiração, sem tramóia, sem intenções malévolas. Sem premeditação. Golpe ? Piada No dia seguinte, uma enxurrada de críticas da militância petista : golpe. O PT não olha para o próprio umbigo : quem assaltou os cofres do Estado ? Quem negocia em um hotel de Brasília espaços na Esplanada dos Ministérios ? Quem cometeu os maiores golpes contra a decência, a moral, a ética e os bons costumes ? Todas as respostas indicam que os canos do mensalão se encontraram com os dutos do petrolão. Sob a era PT. Comparação Qual o presidente afastado por escândalos de corrupção ? Não foi Getúlio. Não foi Jango. O caso de afastamento mais parecido com a situação da presidente Dilma é a de Collor. Lembram-se de PC Farias ? Ora, há quem diga que, ante os corruptos de hoje, mais parecia um coroinha. A avalanche de escândalos torna inviável a continuidade de um governo petista. As condenações de seus próceres que o diga. Day after Segunda-feira, dia 18. Como estará o Brasil ? Em clima de grande decepção se impeachment não passar pela Câmara. Em clima de euforia, caso o processo vá ao Senado. Este, por sua vez, terá condições de brecar a aprovação de um instrumento aprovado pela casa que representa o povo brasileiro ? 41 senadores teriam condições de desaprovar um recurso aprovado por 2/3 dos deputados ? Difícil imaginar essa possibilidade. O Brasil continuará agitado, tenso. A agenda do Senado estará nas mãos de Renan Calheiros, que tende a rezar pela cartilha de Dilma/Lula. Mas terá ele condições de suportar o peso das ruas ? Este consultor acha que ele se dobrará às circunstâncias. Roberto Jefferson Este consultor teve a oportunidade de entrevistar o ex-deputado Roberto Jefferson no programa Roda Viva desta segunda-feira. Trata-se de um político que domina a arte da oratória. Educado, mas firme, decidido, modesto. Sabe reconhecer erros. Volta com a cabeça erguida, como diz. Aponta Lula como o comandante do mensalão e do petrolão. Ele achava que Luiz Inácio ignorava as peripécias de José Dirceu. Acabou reconhecendo que o projeto de poder do PT foi sempre comandado por Lula. Acha, ainda, que o ex-presidente acabará atrás das grades. E que Eduardo Cunha, logo após o pedido de impeachment pela Câmara, será interditado pelo Supremo. Agenda do impeachment Sexta, as 8h50, começa a sessão da Câmara para debater o impeachment. Todos os 25 partidos com representação na Casa poderão usar seu tempo por até 1 hora. Cada partido designará até 5 deputados para usar a palavra. Os tempos de um partido não poderão ser cedidos a outro. Não há tempo para terminar. No sábado, a sessão terá início às 9h. Cada deputado, entre os 513, poderá usar a palavra por 3 minutos. Líderes se revezarão na tribuna. No domingo, a sessão terá início às 14h. O resultado da votação está previsto para as 21/22h. Nomes Ao final perguntei ao Jefferson sobre Lula, Alckmin, Aécio e Marina. Lula : vai ter de prestar contas à Justiça ; Alckmin, fortíssimo candidato à presidência da República em 2018 ; Aécio, tende a se enfraquecer com envolvimento na Lava Jato ; e Marina, é uma pessoa com pensamento igual ao do PT. Governo cansado Zaratustra, o pródigo e sábio filósofo de Nietzsche, oferece um banho de oxigênio aos governantes sem motivação, sem competência e sob o apupo das ruas : "Novos caminhos sigo, uma nova fala me empolga ; como todos os criadores, cansei-me das velhas línguas. Não quer mais, o meu espírito, caminhar com solas gastas". O recado é oportuno, principalmente para este governo cansado, incompetente, rodeado de corrupção. Aragão fora, por enquanto O novo Ministro da Justiça, Eugênio Aragão, por enquanto é apenas mais um ex em Brasília. A juíza Luciana Raques Tolentino de Moura, da 7ª vara do Distrito Federal, suspendeu sua posse. Aragão entrou para o Ministério procurando fama : prometeu demitir qualquer equipe da Polícia Federal se farejasse cheiro de vazamento. Claro, provocou um tremendo mal-estar no país. Antes, o STF afastara o primeiro substituto de José Eduardo Martins Cardozo, Wellington César Lima e Silva, pois a Constituição Federal de 1988 impede integrantes do Ministério Público de exercer outras atividades fora da instituição. O governo entendeu que, como Aragão foi admitido no Ministério Público antes de 1988, não estaria impedido de integrar o Executivo. Para a magistrada de Brasília, no entanto, a regra da Constituição vale para todos. A rotinite Há uma doença que aflige os governantes. Chama-se rotinite. As consequências são drásticas para os corpos administrativos : acomodação, ausência de criatividade, expansão da malha de interesses grupais, favorecimentos, saturação de ideias, obsolescência de estruturas. E tudo resulta em administrações que patinam, ou seja, movimentam-se para ficar no mesmo lugar. Um governo cansado é uma usina improdutiva. Os comandos dirigentes das áreas e setores são sonolentos e catatônicos. Parecem dândis andando no deserto infértil. Cuidado, prefeitos, governadores e presidente da República. Epílogo do PT ? O escândalo da Petrobras é o porto final do projeto do PT ? Tudo indica que sim. Pois o mensalão se conecta ao petrolão no formidável empreendimento em torno do projeto do PT. O partido construiu uma base para sua decolagem. Depois de navegar por 14 anos, a turbulência desestabiliza a aeronave petista. Que ainda está no ar, mas ameaça desabar. Lê-se que uma boa parcela de petistas tende a migrar para uma nova sigla a ser criada. Não será fácil. O PT encerrará um ciclo. Pode ter alguma sobrevida. Não muito extensa. Brasil potência ? Maurice Duverger, o famoso sociólogo, afirmou que "o Brasil só será uma grande potência no dia em que for uma grande democracia. E só será uma grande democracia no dia em que tiver partidos e um sistema partidário forte e estruturado". A receita demonstra que estamos muito longe do ideal do pensador francês. O nosso sistema é instável. Para se consolidar, carece que o país adote a modalidade eleitor-partido, para a qual será necessária, no sistema proporcional, a lista fechada para escolha de representantes, como na Espanha, Suécia, Holanda e Áustria, ou mesmo um sistema misto, que permita ao eleitor visualizar as duas alternativas, permanecendo o sistema majoritário em dois turnos. Estamos longe disso. Correr ou morrer ? "Toda manhã, na África, uma gazela desperta. Sabe que deverá correr mais depressa do que o leão ou será morta. Toda manhã, na África, um leão desperta. Sabe que deverá correr mais do que a gazela ou morrerá de fome. Quando o sol surge, não importa se você é um leão ou uma gazela : é melhor que comece a correr." Os apologistas dessa historinha são os maiores defensores de uma sociedade esquizofrênica, voltada para a agressividade competitiva. (Domenico de Masi)
quarta-feira, 6 de abril de 2016

Porandubas nº 486

Abro a coluna com duas historinhas contadas pelo acadêmico maranhense Benedito Buzar. Meia direita Aproximava-se o fim do mandato do governador Nunes Freire e ele desejava saber com quantos deputados estaduais poderia contar na Assembleia Legislativa para eleger o seu sucessor, tendo em vista que o nome do deputado Federal João Castelo ganhava força, fazendo a bancada da Arena aderir à sua candidatura ao governo do Estado. Convocados os deputados estaduais para uma reunião de avaliação no Palácio dos Leões, a todos Nunes Freire fazia a mesma pergunta : - Qual a sua posição na sucessão ? Ao dirigir a pergunta ao deputado Djalma Campos, ex-craque de futebol e ídolo do Sampaio Corrêa, este respondeu enfaticamente : - Governador, na época em que eu jogava pelo meu clube, minha posição era meia-direita. O murro de Alemão Em comemoração à nomeação do engenheiro Haroldo Tavares a prefeito de São Luís, o governador Pedro Neiva convocou a imprensa para tomar conhecimento do secretariado do novo gestor da capital do Maranhão. Um jornalista resolveu perguntar ao chefe do Executivo do Estado se não considerava fraco o secretariado de Haroldo Tavares. Sem hesitar, Pedro Neiva respondeu : - Você acha o secretariado de Haroldo fraco porque ainda não pegou um murro de Cláudio Alemão. ______________________ Traição na reforma ? A presidente Dilma, com a ajuda do balconista-mor, Luiz Inácio, e dos auxiliares Jaques Wagner e Ricardo Berzoini, abriu gigantesco balcão de trocas na Esplanada dos Ministérios. PR, PP e PSD são algumas siglas que estão no meio da feira. Devem ganhar mais espaço na estrutura governativa para formar o rolo compressor na Câmara, capaz de evitar o impeachment. Mas o sinal amarelo foi ligado. Trair e coçar é só começar O sinal amarelo foi ligado em função da nova/velha descoberta : se o governo pagar antes, pode não receber a mercadoria. Quer dizer, não terá certeza se receberá os votos de eventuais "vendedores". Nossa cultura política não é anglo-saxã, à base do sim, sim, não, não. Ancora-se no talvez, quem sabe, vamos ver, pode ser. Ou seja, só se tem certeza do voto quando ele for apurado. Por isso mesmo, o governo teme expandir os espaços sinalizados para partidos médios e pequenos. Quer fazer cumprir a promessa só depois da votação do impeachment. Por enquanto, o Ministério não muda. A antena das ruas O corpo parlamentar, principalmente a banda sem muita convicção política, tende a mudar de posição na onda das marés. Sob maré vazante, puxa o carro da situação ; sob maré enchente, entra no vagão das oposições. Como estarão as marés das ruas lá pelos meados deste mês de abril ? Haverá grandes mobilizações ? As massas gritarão a favor ou contra Dilma ? As duas coisas ? As maiores densidades populares estarão de que lado ? Como se sabe, há uma imensa fogueira na paisagem. E alas brigando. Ficar ao lado de uma banda - a governista, por exemplo - pode ser uma opção para ingressar no inferno político. A defesa do governo O advogado-Geral da União, José Eduardo Cardozo, fez candente e competente defesa da presidente Dilma na Comissão de Impeachment da Câmara nesta segunda-feira. Depois de uma contextualização, arrematou com a hipótese de que impeachment só pode ocorrer ante um atentado à Constituição cometido pela presidente, ou seja, se fosse autora de uma violência de proporções gigantescas à letra da lei. O ambiente na Comissão está repartido, polarizado. O ministro não conseguirá puxar um voto para o lado da presidente. O ódio generalizado Em mais de três décadas de análise política, este consultor jamais viu tanta destilação de ódio na sociedade. O Brasil mais parece um arquipélago repleto de grandes, médias e pequenas ilhas, cada qual com seus grupos de habitantes. De um lado, as grandes correntes - as classes sociais -, de outro, os núcleos e categorias profissionais. As classes médias, em sua imensa maioria, mostram-se contrárias ao governo da presidente Dilma. As classes C, D e E tendem a se dividir, mas sua maioria não está mais na banda governista. A classe C, a chamada classe emergente, depois de ascender ao primeiro andar do meio da pirâmide, volta à base com as perdas que sofre. E muda de posição, agora indignada com o governo. A ressonância do refrão Uma parte da intelectualidade e uma larga base do meio artístico se mostram favoráveis ao governo e se juntam à militância lulopetista na exclamação do refrão : "não vai ter golpe". O dito ecoa como grito de guerra nas redes sociais e nas avaliações interpessoais e grupais. O historiador argentino, Carlos Malamud, carimba o refrão como "retórica bolivariana". Tornou-se o escudo que o comandante Lula, sua pupila Dilma, os capitães petistas e a militância usam na convocação de guerra. Já os profissionais liberais, em sua imensa maioria, querem a saída da presidente. Catarse A essa altura, o impeachment da presidente assume a identidade de uma catarse social. Ou seja, pelo sentimento da maioria - 73% dos brasileiros querem o impeachment - o afastamento de Dilma equivaleria ao vapor da panela de pressão. Necessário para a panela não estourar. Criou-se uma onda que, em círculos concêntricos, vai saindo do meio do oceano social, ganhando força e chegando às margens. Qualquer ventania em sentido contrário poderá gerar borrascas gigantescas. A permanência da presidente criará o efeito "reversão de expectativas" - frustração, desânimo, desorientação social, perda de autoestima, indolência, automatismo. Se assim ocorrer, a questão emerge : terá condições de governar ? Marco Aurélio O ministro Marco Aurélio ficou na corda bamba ao responder à bancada de jornalistas do programa Roda Viva de segunda-feira. Mas, em determinado momento, defendeu a posição de que, mesmo se for afastada pelo Senado, o STF pode derrubar o impeachment da presidente. Alegou ser a Corte a última instância para resolver o imbróglio. Trata-se de visão polêmica. Ora, é sabido que o impeachment da presidente da República é prerrogativa do Congresso Nacional. A vingar a opinião de Marco Aurélio, o sistema de pesos e contrapesos é jogado no lixo. Legislativo e Executivo se subordinariam à Corte. Ontem, o ministro determinou ao presidente da Câmara que acolhesse pedido de impeachment impetrado contra o vice-presidente Michel Temer por um advogado. Eduardo Cunha havia arquivado o pedido sob o argumento de que a solicitação carecia de fundamento. Panamá Papers Os milhões de páginas do chamado Panamá Papers mostram como os grandes comandantes da política e dos negócios no mundo capitalista procuram se proteger das intempéries. Buscam empresas em paraísos fiscais para guardar seus tesouros. Explícito sinal de desconfiança nos governos, nos sistemas políticos, nos organismos internacionais, nas Nações. Eleições gerais As crises permitem as mais razoáveis e também as mais estapafúrdias alternativas para os impasses na política e na economia. Surge, agora, a "luminosa" sugestão de realização de eleições gerais este ano. Ideia sem respaldo legal. Isso só poderia ocorrer, este ano, com a renúncia da presidente e do vice-presidente. Fazer isso por meio de uma PEC ? Coisa absurda. Inconstitucional. Seria uma ruptura no sistema normativo. Um casuísmo. Mas tem gente que quer pôr mais lenha na fogueira. PMDB, a decisão O PMDB decidiu sair do governo. Decisão da Convenção Nacional ocorrida dia 12 de março. Que deu 30 dias para a realização de uma reunião, quando seria definido o rito. Em função das circunstâncias políticas - delações, gravações vindas a público - o partido antecipou a reunião de 12 de abril para 29 de março. Para evitar humilhação dos eventuais perdedores - partidários do governo - aprovou-se uma sugestão do senador Eunício : a decisão pelo afastamento seria por aclamação. Isso foi feito. PMDB, a divisão A surpresa veio rápido. Apenas o ministro do Turismo, Henrique Alves, deixou o governo. Deu-se o prazo até 12 de abril para os ministros organizarem sua saída. E o que ocorreu ? Negociações de uns e outros para permanecer no governo. Ora, a decisão pela saída, o modus operandi (por aclamação), tudo isso ocorreu numa reunião na casa do presidente do Senado, Renan Calheiros. Que aplaudiu a unidade conseguida. Dias depois, Renan dá mostras que está contrariado com a decisão partidária. Kátia Abreu, em claro desafio ao partido, proclama : não vou sair do Ministério e nem do PMDB. Helder Barbalho luta para ficar no comando dos portos ; Mauro Lopes, na Aviação Civil ; Celso Pansera, na Ciência e Tecnologia e Marcelo Castro, na Saúde. Um picolé de pimenta para quem descobrir se o PMDB vai aguentar o tranco das ruas. Jucá no comando O senador Romero Jucá assume a presidência do PMDB. O vice-presidente se reserva para acompanhar a cena política, deixando a arena dos debates a cargo do senador, experiente na arte de batalhar. ______________________ Fecho a coluna com mais um "causo" narrado por Benedito Buzar. Retirem meu nome Na eleição ao governo do Maranhão, em 1965, o candidato oposicionista, José Sarney, impôs ao deputado Renato Archer, candidato do PTB, impiedosa derrota no município de Governador Archer. Em Brasília, ao ter ciência de que o filho Renato havia obtido uma votação ridícula no município que tem o seu nome, o senador Sebastião Archer da Silva enviou um telegrama ao deputado Baima Serra com este teor : - "Solicito urgentemente apresentar projeto à Assembleia Legislativa retirando meu nome do município onde Renato não poderia jamais perder para Sarney".
quarta-feira, 30 de março de 2016

Porandubas nº 485

Abro a coluna com três historinhas de Churchill Churchill 1 Telegramas trocados entre o dramaturgo Bernard Shaw e Churchill, seu desafeto. Convite de Bernard Shaw para Churchill : "Tenho o prazer e a honra de convidar digno primeiro-ministro para primeira apresentação de minha peça Pigmaleão. Venha e traga um amigo, se tiver". Resposta de Churchill : "Agradeço, ilustre escritor, honroso convite. Infelizmente não poderei comparecer à primeira apresentação. Irei à segunda, se houver". Churchill 2 Quando Churchill fez 80 anos, um repórter de menos de 30 foi fotografá-lo e disse : - Sir Winston, espero fotografá-lo novamente nos seus 90 anos. Resposta de Churchill : - Por quê não ? Você me parece bastante saudável. Churchill 3 Bate-boca no Parlamento inglês. Aconteceu num dos discursos de Churchill em que estava uma deputada oposicionista, Lady Astor, conhecida pela chatice, que pediu um aparte (sabia-se que Churchill não gostava que interrompessem os seus discursos, mas concedeu a palavra à deputada. E ela disse em alto e bom tom : - Sr. ministro, se Vossa Excelência fosse o meu marido, eu colocava veneno em seu chá ! Churchill, lentamente, tirou os óculos, seu olhar astuto percorreu toda a plateia e, naquele silêncio em que todos aguardavam, mandou : - Nancy, se eu fosse o seu marido, eu tomaria esse chá com prazer ! Impeachment não é golpe Três ministros do Supremo Tribunal, Cármen Lúcia, Dias Toffoli e Luís Roberto Barroso, e dois ex-ministros, Carlos Ayres Britto (ex-presidente) e Eros Grau, proclamam : impeachment é legal, se obedecido o rito determinado pela Justiça. As redes sociais se enchem de manifestações a favor e contra o impeachment. Qual será o desfecho da acirrada disputa ? 1ª. hipótese Primeira hipótese : o exército governista vence a luta e Dilma fica no assento presidencial. O ex-presidente Luiz Inácio, ministro-chefe da Casa Civil, dá as cartas do jogo administrativo. Segura no governo o PMDB e outros partidos governistas. Em seis meses, Lula fará uma guinada na economia e o povo volta a ter dinheiro no bolso. Quase um milagre Quase um milagre. É como este cenário pode ser caracterizado. Deus é brasileiro e, petista de carteirinha, fará jorrar dos céus o maná para apaziguar nossas desesperanças. Sob um manto vermelho, ajudaria Dilma, Lula, o PT, a CUT e o MST a recuperarem prestígio e força. 2ª. hipótese Tentemos, agora, descrever uma segunda hipótese. A sobrevivência da presidente e do ex, Lula, depende do Poder Judiciário. Que não poderá enterrar as bombas tiradas do arsenal do senador Delcídio Amaral, das delações de executivos da Odebrecht e de outros artefatos em preparação, como a aguardada carga de informações do ex-presidente do PP, deputado Pedro Corrêa. Ele garante que Lula foi o inspirador do mensalão e do Petrolão. Desse modo, a operação Lava Jato puxará Dilma e Lula para o meio do furacão. Lula de volta a Moro Ambos serão investigados. A presidente permanece na alçada do STF e Luiz Inácio descerá ao foro da 1ª instância. O pedido de impeachment, mesmo sob o argumento da irresponsabilidade cometida com o uso de pedaladas fiscais, ganha impulso na onda da contrariedade social, alavancada pelo desemprego, alta inflação, maracutaias descobertas e políticos recebendo recursos de empresas. Soma-se ao acervo negativo mais um pedido de impeachment, desta vez feito pela Ordem dos Advogados do Brasil, que junta outras situações. Dilma tenta esticar A fogueira do impedimento não se apagará. Mas há um prazo fatal para queimar as últimas estacas : junho. Dilma tentará esticar o fogaréu. Com cerca de 600 cargos vagos com a saída do PMDB do governo. E com obstrução do PT na Câmara. Cunha consegue sobreviver mais um pouco. A corda vai esticando. Entra no segundo semestre. O afastamento passa pela Câmara e chega ao Senado. A onda das ruas O governo tenta abrir os braços em direção às margens. Joga os movimentos nas ruas. Conflitos e tensões por todos os lados. A economia não consegue entrar nos eixos. Lula não consegue realizar o milagre da multiplicação de pães e peixes. O plenário aprova sua indicação para o Ministério. Mas ele não apazigua as tensões sociais. Ele e Nelson Barbosa tentam arrumar a forma de abrir o crédito, enfiar dinheiro no bolso dos pobres e massificar o consumo. Mesma receita de 2008 ? Luiz Inácio não se dá conta de que o mundo mudou. Bumerangue A situação social é calamitosa. A pressão das ruas invade o Congresso. Se a Câmara ainda não aprovou o impeachment, o fará. E, no Senado, ante a indignação social, a alternativa é dar endosso à decisão da Câmara. O PT esgota sua cota de obstrução. Os partidos da base refluem. Dilma é abandonada pelo próprio PT. Um salve-se quem puder. Um novo governo Emerge agora a hipótese de um novo governo. O processo passou pelas duas casas congressuais. Até junho, na visão dos oposicionistas, até outubro, na perspectiva de situacionistas. As contas de campanha que estão sendo analisadas pelo Tribunal Superior Eleitoral entrarão em 2017. Se houver impeachment, como se induz, a tendência será a de arrefecimento dos recursos que correm no TSE. A temperatura social seria mais amena ante a perspectiva de um novo rumo para o país. Os setores produtivos querem resgatar a confiança perdida. Crer no país - essa é a chave que poderá reabrir as portas dos investimentos e dos negócios. A agenda Temer A agenda Temer teria alguns destaques, a saber : reforma da previdência à base do tempo de contribuição ; fim do regime de partilha no setor de óleo e gás e volta ao sistema de concessões, com preferência da Petrobras ; simplificação e redução de impostos, com unificação do ICMS e transferência de cobrança para o Estado de origem ; fim dos percentuais de despesas obrigatórias, como vinculações constitucionais nas áreas da saúde e educação ; flexibilização na área trabalhista, com prevalência das convenções coletivas ; fim da indexação para salários e benefícios previdenciários, a serem reajustados pelo Congresso e acerto com o Executivo ; impulso à privatização no que concerne à concessões na área da infraestrutura ; maior abertura comercial e articulação negocial com EUA, Europa e Ásia ; segurança jurídica e simplificação na frente das licenças ambientais. Acirramento de tensões A militância lulopetista se esforçará para incendiar o país. O acirramento de tensões chega ao auge, gerando incidentes em alguns espaços, principalmente na arena de guerra paulistana, a avenida Paulista, onde as alas contrárias e a favor do governo costumam se enfrentar. A tensão se expande em função dos bolsos esvaziados das classes sociais. Diante desse cenário, não se descarta a possibilidade de intervenção de forças do Exército nas ruas para evitar catástrofes. Lava Jato As investigações da operação Lava Jato continuarão propiciando mais condenações e delações. Apesar da sensação de que o exercício de "passar o Brasil a limpo" não tem retorno, indagações surgem aqui e ali : quantos parlamentares serão condenados ? E o que acontecerá com os 200/300 (?) parlamentares arrolados nas listas da Odebrecht ? Quem teve doação oficial ? Quem recebeu pelo Caixa dois ? E quem ganhou propina ? O passado diante de nós ? Que medidas são necessárias para mudar efetivamente os rumos da política ? "Que o passado esteja diante de nós, vá lá... Mas o passado adiante de nós, sai pra lá". A expressão artística é do poeta Carlos Ayres Britto, ex-presidente do STF. Os céus do país estarão cobertos por muitas nuvens durante todo esse ano e, quiçá, em um bom pedaço de 2017. Lula ministro O procurador-Geral da República, Rodrigo Janot, argumenta : Lula pode ser ministro, mas deve continuar sob a esfera de investigação do juiz Sérgio Moro, da 1ª instância. Coisa estranha. Ministro não tem foro privilegiado ? PMDB sai Durou três minutos a reunião do Diretório do PMDB, presidida pelo senador Romero Jucá (PMDB-RR), que decidiu pelo afastamento do partido da base governista. Sob gritos de "Fora, PT", os participantes, por votação simbólica, aprovaram a saída do PMDB da administração e a entrega dos cargos. Quem quiser ficar, que tire licença ou saia do partido. Marcelo Castro e Celso Pansera, ministros da Saúde e Ciência e Tecnologia, respectivamente, querem continuar no governo. Outros sairão Na esteira do PMDB, outros partidos também deverão se afastar : PP, PRB e até o PDS, entre outros. Senado cede Ante eventual rolo compressor da Câmara, passando aí por 342 votos, o Senado não terá condições de sustar a decisão de impeachment tomada pelos deputados. Apoio da OAB em SP Ao mesmo tempo que o Conselho Federal da OAB Nacional registrava o pedido de abertura do processo de impeachment da presidente em Brasília, moções de apoio eram protocoladas por todo o Estado de São Paulo. Por iniciativa do presidente Marcos da Costa, a ação executada pelos presidentes de subseções - representantes da classe eleitos democraticamente por seus 350 mil pares paulistas - contou com o apoio de conselheiros secionais. Na capital, os focos foram a Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp) e a Câmara Municipal. Três Câmaras já votaram favoravelmente a moção de apoio : Santos, Cruzeiro e São Pedro. A vaidade dos vivos "O luxo do funeral e a suntuosidade do túmulo não melhoram as condições do morto; satisfazem apenas a vaidade dos vivos". (Dante Veoléci) Fecho a coluna com uma hilária historinha de José Maria Alkmin, a raposa mineira Quando quer ir à lua ? Um correligionário de Bocaiúva fica meio "lelé da cuca" e surge, sem eira nem beira, no gabinete do ministro, ainda no Rio de Janeiro, onde lhe pede uma inusitada colaboração. - Dr. Zé Maria, eu quero ir à lua e preciso da ajuda do senhor, diz o visitante. - Isto não é problema, diz Alkmin, dando asas à imaginação do conterrâneo. Dou-lhe o apoio, de ministro e correligionário. Existe um pequeno e contornável problema, que é de definição, e só depende do amigo. E Alkmin continua : - Você sabe que há quatro luas : nova, crescente, minguante e cheia. Agora, compete a você escolher qual das luas o nobre amigo deseja visitar, pois o apoio está dado. Diante de um atônito conterrâneo, o ministro levanta-se da poltrona, estende a mão para a despedida e afirma, olhando no fundo dos olhos do eleitor : - Me procure, novamente, quando definir !
quarta-feira, 23 de março de 2016

Porandubas nº 484

Abro a Coluna com a mineirice de José Maria Alkmin. O milagre José Maria Alkmin, a raposa mineira, mestre da arte política, chegava da Europa com cinco garrafas enroladas na pasta. A Alfândega quis saber o que era. - Água milagrosa de Fátima. - Mas tudo isso ? - Lá em Minas o pessoal acredita muito nos milagres da água de Fátima. Não dá para quem quer. - O senhor pode desenrolar ? - Pois não, meu filho. - Mas, deputado, isso é uísque. - Ué, não é que já se deu o milagre ? A crise chega ao pico A crise política chega ao pico. O processo de impeachment está acelerado. A Comissão encarregada de acolher/não acolher o processo decidiu não anexar a delação premiada do senador Delcídio Amaral ao processo inicial solicitado pelos advogados Hélio Bicudo, Janaína Paschoal e Miguel Reale Jr. Isto para não dar à situação munição para "arrastar" a tramitação. Mas novo pedido de impeachment será protocolado com base nas delações, nas quais o senador afirma que Dilma e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva atuaram junto ao Judiciário para tentar barrar as investigações da Operação Lava Jato. "A favor" ganha hoje Os deputados favoráveis ao impeachment são maioria, hoje, na Comissão. O número aumentou (bem) depois da interlocução telefônica entre Dilma e Lula. A presidente poderá, até, reverter essa posição. Não será fácil alcançar 172 votos em plenário. Hoje, contaria com 140/150. A tendência, aliás, é de expansão da maioria favorável. Causas : o peso das gravações entre Dilma e Lula e entre este e outros interlocutores ; as delações premiadas que puxam Dilma e Lula para o olho do furacão ; as manifestações de rua, favoráveis ao impeachment em sua grande maioria. Do Sul para o Norte A estratégia imaginada pelo presidente da Câmara, Eduardo Cunha, para votação do impeachment é começar pelos deputados do Sul, mais favoráveis ao afastamento da presidente, entrando pelo Sudeste e, de maneira sequencial, chegando aos Estados menos favoráveis do Norte e Nordeste. De fora, no gramado do Congresso, uma grande manifestação tocaria bumbo e cornetas azucrinando os ouvidos dos deputados. Este consultor trabalha com a hipótese de intenso conflito entre alas favoráveis e desfavoráveis ao impeachment. Tendência no Senado A tendência é a de que a Câmara Alta, ao constatar a aprovação do impeachment por 342 deputados, não terá alternativa senão a de aceitar a posição dos representantes do povo. Também acolheria a ideia. Nesse caso, depois de acolhida na Comissão de Admissibilidade do Senado, Dilma teria de se afastar. A sessão do impeachment será presidida, no Senado, pelo presidente do STF, Ricardo Lewandowski. Reação nas ruas Prevê-se intensa movimentação nas ruas, com as suas alas - favoráveis e contrárias ao impeachment - promovendo grandes manifestações. Percebe-se que a ampla maioria da população acolhe a tese do impeachment, razão pela qual pode-se inferir que a probabilidade de mudança no comando do país é muito alta. Na régua de 0 a 100, esta chance é de 80. As alas irão, raivosas, às manifestações. Conflitos poderão ser vistos no radar. Lula pode sustar ? O ex-presidente está sendo considerado a chave para fechar a porta do impeachment. Ocorre que está na corda bamba. O STF só irá avaliar a liminar concedida pelo ministro suspendendo sua nomeação para a Casa Civil após os feriados da Páscoa. Nesse ínterim, Lula tentará demover deputados pela via informal. Do alto de seu poder de convencimento, sem a força do cargo. Conseguirá ? Este consultor acredita que não terá sucesso. O maior feito de Lula O maior feito de Luiz Inácio nesses últimos tempos foi o de impor ao PT e à Dilma sua agenda particular. Ou seja, a proteção a ele acaba se transformando na segunda preocupação da presidente. A primeira é o impeachment. Que, na visão do petismo, precisa de Lula para ser barrado. PMDB, a chave do amanhã O PMDB é visto como a chave que abrirá a porta do amanhã. A imagem tem sentido. O partido detém o maior número de deputados : 69. E dia 29 de março fará reunião do Diretório Nacional para decidir sobre o desembarque do governo. É mais que provável a saída do PMDB do barco de Dilma. Os ministros - sete - deverão ganhar alguns dias para arrumar os papéis e deixar a casa pronta para receber os sucessores. O PMDB sabe se unir nas horas decisivas. Não haverá racha. A conferir. Lula e o PMDB Lula está tentando se encontrar com o vice-presidente Michel Temer, presidente do PMDB. Eles vão se falar. Será difícil convencer o vice a segurar o PMDB no governo. Afinal, há uma decisão de Convenção dando 30 dias para o desembarque do partido. Diante dos fatos recentes, o prazo foi antecipado para o dia 29. Os ministros terão um prazo para desocupar seus cargos a fim de dar tempo à presidente para fazer as substituições. O que Serra quer Em eventual governo Temer, o senador José Serra gostaria de ser um dos braços direitos do presidente. Pensa em aplainar os caminhos para vir a ser candidato à presidência em 2018. Mas ambição demasiada de Serra é uma barreira à suas pretensões. Sua desastrada entrevista ao Estadão dizendo o que Michel deveria fazer teve efeito bumerangue. Voltou-se contra ele. Será que Serra não pensa que há alas contra ele no próprio PSDB ? E pedir ao vice-presidente que "não faça uma caça às bruxas" é esquecer que o perfil de Michel Temer não combina com o pedido. Trata-se de uma pessoa cordial, sensata e afeita ao diálogo e à união. Outros partidos Não se pense que outros partidos com ministros no governo permanecerão na base situacionista. Alguns já estão desembarcando como o PRB e o PP. O PTB está com um pé fora. A razão é uma só : instinto de sobrevivência. Sobreviver em navio afundando é difícil. Principalmente em mar borrascoso. Daí a preocupação : correr para os botes salva-vidas enquanto é tempo. PT não é solidário A crise política acrescenta mais uma tinta suja na imagem do PT : a tinta do desprezo pelos companheiros. A delação do senador Delcídio Amaral deixa patente a conduta do PT para com seus quadros atingidos pelas investigações. O partido simplesmente abandona seus participantes, deixando-os que se virem, sozinhos, perante a Justiça. É a queixa de Delcídio, que se vinga contando tudo sobre o chefe Lula, com o conhecimento de Dilma. Políticos que deixaram o PT confirmam esse posicionamento. E a cúpula partidária investe na defesa dos comandantes dizendo : este partido nunca compactuou com desvios. Se isso ocorreu, ninguém da cúpula sabia. A versão tornou-se risível. Rosa Weber A ministra Rosa Weber negou ontem o pedido de habeas corpus impetrado no STF para derrubar a liminar concedida pelo ministro Gilmar Mendes suspendendo a nomeação de Lula como ministro da Casa Civil. O ministro Luiz Fachin se declarara sob suspeição e a relatoria caiu em Weber. A ministra foi citada duas vezes por Lula nas interlocuções telefônicas gravadas com autorização judicial. Lula sugeria que se conversasse com ela para suspender investigações do Ministério Público Federal (MPF) e do Ministério Público do Estado de São Paulo (MP/SP) sobre o apartamento triplex no Guarujá (SP) e o sítio em Atibaia (SP). Jurisprudência Jurisprudência do STF determina que uma decisão monocrática de um ministro não pode ser derrubada por mandado de segurança por outro ministro. Esse foi o caminho seguido pela ministra Rosa Weber. Aliás, ainda ontem, outro ministro do STF, Luiz Fux, também negara o mesmo pedido do governo para anular a decisão de Gilmar Mendes, que suspendeu a posse do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na Casa Civil. Ele decidiu extinguir o processo sem sequer analisar o mérito do pedido feito pela Advocacia-Geral da União. Alegou que a ação ia contra a jurisprudência criada pela Corte. Os recursos serão analisados pelo Plenário da Corte. Aragão sob polêmica Apesar de o procurador Eugênio Aragão reunir condições legais para ser ministro da Justiça, eis que entrou no MP antes da CF de 88, sob o ponto de vista da ética sua nomeação para o Executivo abre um grande buraco. O MP defende a sociedade. Como pode servir ao agente governamental quando este arremete contra interesses sociais ? Se é ministro da Justiça, vai sempre defender a posição do Executivo a quem serve. Nesse caso, abandona o escopo do Ministério Público. As críticas contra ele se avolumam. Até porque, segundo se diz, trata-se de perfil petista radical. Aécio na roda O senador Aécio Neves, presidente do PSDB, deverá entrar na roda de investigação. A principal denúncia vem da delação premiada do senador Delcídio Amaral. Ele diz que o senador mineiro teria sido beneficiado por esquema de corrupção na estatal Furnas. Mais de 100 Há 57 parlamentares na condição de réus no STF. Entre as principais acusações estão crimes de responsabilidade, eleitorais, contra o sistema financeiro e lavagem de dinheiro. E cerca de 100 congressistas são alvos de inquérito. João Doria O jornalista e empresário João Doria, como este consultor previra, ganhou a vaga para pleitear pelo PSDB a prefeitura da maior metrópole brasileira. Tem boa estampa, bom currículo, domina bem a linguagem da mídia, cerca-se de bons profissionais e sabe fazer a lição de casa como ninguém. Reúne condições para preencher a imagem do novo na política. A conferir. Alckmin fortalecido O governador Geraldo Alckmin avança alguns metros na trajetória de 2018 com a vitória de João Doria nas prévias tucanas. FHC, José Serra, Alberto Goldman, Aloysio Nunes Ferreira torciam pelo vereador Andrea Matarazzo. Que acabou saindo do PSDB. José Aníbal apoiava o deputado Ricardo Tripoli. E Bruno Covas acabou apoiando Doria no segundo turno. Fecho a Coluna com pequeno conselho de marketing eleitoral Identidade e Imagem Postas as candidaturas, a campanha começa a ganhar ares oficiais. Cada candidato terá de fazer chegar sua Identidade aos eleitores. Identidade é um composto de : pensamentos e ideias, experiências, história, atitudes e valores (plano semântico) ; e maneira de se vestir, de falar, de gesticular (plano estético). Identidade começa com o sufixo Idem (do latim), que significa semelhante, igual. Identidade, portanto, é a verdade da pessoa. Já Imagem é a sombra da Identidade, é a projeção. Quando a sombra está muito distante da pessoa, cria-se uma dissonância. A Imagem não corresponde à verdade. Por isso, candidatas e candidatos, procurem ajustar as Imagens que desejam transmitir aos eleitores à Identidade. Campanha negativa Os candidatos terão de controlar muito a expressão. E a razão é muito conhecida : campanha negativa não ajuda candidatura. Quem se prestar ao esforço de passar uma campanha xingando, acusando, criando atritos, poderá ser visto como perfil negativo. É claro que os contendores devem reagir à altura diante de acusações pesadas. Mas o substantivo é melhor que o adjetivo em campanha eleitoral. Porque eleva as pessoas, conferindo-lhes uma taxa de liturgia e seriedade.
quarta-feira, 16 de março de 2016

Porandubas nº 483

Duas historinhas para abrir a coluna. Uma da Bahia, uma da Paraíba. Filho inepto Velhos tempos. Tempos de deboche e criatividade. O deputado Luís Viana Neto estava na tribuna da Câmara : - Filho e neto de governadores da Bahia... Lá embaixo, o deputado Francisco Studart (MDB/RJ) gritou : - Não apoiado ! - Senhor deputado, sou filho e neto de governadores da Bahia. - Perdão, excelência. Entendi mal. Entendi : "Filho inepto de governadores da Bahia"... Risadas gerais na Câmara. Silêncio geral Flávio Ribeiro, presidente da Assembleia (depois foi governador da Paraíba), estava irritado com as galerias, que aplaudiram e vaiavam durante um debate entre o deputado comunista Santa Cruz e o udenista Praxedes Pitanga. De repente, tocou a campainha, pediu silêncio e avisou, grave : - Se as galerias continuarem a se manifestar, eu evacuo. Felizmente, as galerias se calaram. Delcídio homologado A homologação da delação premiada do senador Delcídio Amaral pelo ministro Teori Zavascki terá consequências avassaladoras sobre alguns atores políticos, a partir do ex-presidente Lula e a presidente Dilma. Puxará os dois para o meio do furacão, eis que envolve o primeiro com o mensalão/petrolão e a segunda com a aquisição da refinaria de Pasadena. Portanto, a delação adensará, dará peso ao processo de impeachment da presidente. A tese das pedaladas refluiu nos últimos tempos. Portanto, o corpo parlamentar teria, agora, mais argumentos para aprovar o afastamento. O impeachment Deverá ser aberto amanhã, quinta, o processo de impeachment da presidente. O STF deverá responder aos embargos apresentados pelo presidente da Câmara, Eduardo Cunha. Os termos do acórdão devem ser ratificados, ou seja, a Comissão a ser formada (65 membros) obedecerá à indicação das lideranças. No Senado, a Comissão de Admissibilidade poderá aceitar ou não o processo vindo da Câmara. Cunha aumentará os dias de reunião na Casa, de três para cinco, considerando segunda e sexta. Serão 15 sessões. Acolhido o recurso, Dilma terá 10 sessões para apresentar sua defesa e a Comissão terá cinco para tomar a decisão. Aprovado, o recurso irá ao Plenário. Para se salvar, a presidente precisa de 171 votos. Na Câmara A presidente tinha, no ano passado, uma base de cerca de 350 deputados. Hoje, o Brasil é outro, principalmente após o domingo, dia 13, quando se viu a maior manifestação nas ruas do país pedindo o afastamento da presidente, a prisão de Lula, o rechaço contra o PT, políticos do PSDB, a velha política, o combate à corrupção. Hoje, a base firme de Dilma giraria em torno de 130 parlamentares, número insuficiente para livrar a presidente do impeachment. O corpo parlamentar, como se sabe, não tem vocação suicida. Os nomes de Suas Excelências serão massificados pelas mídias, tanto a massiva quanto a das redes sociais. Por isso, a tendência dos deputados é a de fazer coro às pressões pela saída da presidente. Hoje, a hipótese de afastamento contaria com 342 deputados. No Senado Na Câmara Alta, a tendência é a de maior acolhimento à defesa da presidente. Mas a pressão social, a partir do dia 13, domingo passado, pode ter mudado a visão e a posição de muitos senadores. Se isso se confirmar, será praticamente certa a admissibilidade do afastamento por maioria simples (metade mais um, 41 dos 81 senadores). Nesse caso, a presidente ficará afastada do cargo, por até 180 dias, até o julgamento final sobre o mandato. A presidência da Casa caberá ao presidente do STF, Ricardo Lewandowski. Para depor a presidente em definitivo, serão necessários 2/3 dos votos (54 senadores). No Senado, o afastamento poderia ocorrer entre meados e fim de maio. Datafolha Datafolha apurou que o tríplex do Guarujá tem apenas dois andares. Lula como 1º ministro Lula é o coelho da cartola de Dilma. Está sendo convidado para assumir a Articulação Política no lugar de Ricardo Berzoini, que deve ser o secretário-executivo da Pasta. No cargo, o ex-presidente seria de fato um primeiro-ministro, a quem caberia a tarefa de fazer a articulação política, chefiar o balcão de recompensas, cooptar, convencer, derramar a lábia pelos vãos e desvãos do Congresso. Lula, como se sabe, é tarimbado nesse mister. Mas o que ele vai oferecer ? Cargos ? Quem quer cargos em um navio afundando ? Mudar a economia ? Como ? Diz-se que Lula irá determinar (o termo é esse mesmo) uma guinada na economia. Instalar os eixos da Nova (Velha) Matriz Econômica, a receita que aplicou em 2008, por ocasião da crise internacional. Massificar o consumo, escancarar o crédito, baixar os juros. Ora, como fazer isso com os setores produtivos vivendo à míngua ? Eles não teriam condições de produzir. E de onde viria a derrama de dinheiro ? O PT defende o uso das reservas internacionais, hoje na casa dos US$ 370 bilhões, para ativar a economia. Os economistas sérios acham isso uma ideia de jerico, um tremendo disparate. Uma loucura. Mas, para quem está à beira da morte, qualquer maluquice para tentar salvar o morto é possível. Imaginem a liturgia palaciana Imaginem, agora, como deverá ser a liturgia palaciana caso Lula lá esteja ao lado de Dilma. Políticos chegando ao Palácio do Planalto : o senhor vai falar com a presidente ? Resposta : não com Lula. O gabinete de Dilma estaria esvaziado. O de Lula, cheio de gente. Teríamos uma presidente emérita. O ex-presidente tentaria se apresentar com as vestes do papa Francisco. Já a presidente Dilma estaria mais na estética do Bento XVI, capengando com sua bengala no palácio de verão de Castel Gandolfo, nas proximidades de Roma. Com uma diferença : Lula não tem a nada a ver com o argentino e Dilma não tem um traço sequer que possa ser comparado ao aposentado papa alemão. Moro e Lula Se Lula entrar novamente no Palácio do Planalto, agora como primeiro-ministro (ops, ministro da Articulação), ganhará foro privilegiado. Sai da esfera da primeira instância judicial do juiz Sérgio Moro e entra no espaço da mais alta Corte do país. E agora ? Ora, os ministros também estão antenados às ruas. Face a evidências de desvios e ilegalidades eventualmente cometidas por autoridades com foro privilegiado, deverão investigar e julgar os casos. Na condição de ex-presidente que nomeou alguns ministros do Supremo, inclusive o presidente Lewandowski, Lula poderia, até, ganhar certa proteção. Controle social Ocorre que, na quadra de ampla transparência em que vive o país, qualquer ato que possa gerar suspeita de beneficiamento dispara a indignação social. Se as delações premiadas puxarem o ex-presidente para o olho do furacão, ele será irremediavelmente objeto de julgamento. Não escapará pela tangente. A conferir. O clima das ruas As ruas continuarão cheias de ardor. A esperança do PT, de Lula e Dilma é de que, no próximo dia 18, as forças do lulopetismo, sob comando dos exércitos de algumas Centrais Sindicais, a partir da CUT, e de movimentos sociais, como o MST, encham as ruas de vermelho. Seria o contraponto à extraordinária movimentação do dia 13. Conseguirão fazer uma grande manifestação ? Sim. Mas será bem menor. Há algumas divisões petistas muito bem treinadas na arte de gritar refrãos e partir para o confronto. Será o dia D do PT. Mas a estética vermelha, como se sabe, acirra ânimos e multiplica gritos em contrário. O país não suporta mais o apartheid que Lula tenta emplacar há décadas : "Nós e Eles". Semiparlamenrtarismo O parlamentarismo é um sistema de governo condizente com as modernas democracias. Separa-se o chefe de Estado do chefe do Governo. Em uma crise política de grandes proporções, o primeiro-ministro recebe um voto de desconfiança e sai da chefia do governo. A estrutura burocrática não se abala. Os cargos continuam a ser ocupados pelo corpo técnico. O chefe de Estado, o presidente, continua em sua posição. A escolha de um novo primeiro-ministro pelo conjunto de partidos se dá de maneira democrática. Constituinte Agora, criar um parlamentarismo meia sola, da noite para o dia, de maneira casuística, como defende o presidente do Senado, Renan Calheiros, é um ato insano. Primeiro, porque mudar o regime exige participação do poder constituinte originário. Não se muda regime com mera Proposta de Emenda Constitucional. Este consultor não acredita que o STF dê endosso à mudança de regime por PEC. E muito menos acredita que se tenta um golpe para pôr Lula como primeiro-ministro. Ideia risível. Seria o caos social. Urge acabar com a improvisação no Brasil. Há muita fofoca correndo por aí. O petismo está agonizando. TSE e contas de campanha Há mais uma pergunta no ar : e as contas da campanha de Dilma, que estão sendo analisadas pelo TSE ? Tendem a ser julgadas só em 2017. Na Corte Eleitoral, o processo é mais lento. Provas, contraprovas, embargos e recursos ao STF, caso haja condenação. Infere-se, assim, que o processo tende a correr por meses. Daí ser muito mais viável o recurso do impeachment. Como se sabe, a decisão pela via política é mais célere que a decisão meramente judicial. Frases célebres "Diga ao Povo que fico". D. Pedro I "Saio da vida para entrar na História". Getúlio Vargas "Um governo forte se faz perdoando". Juscelino Kubitschek "Enfia o processo no ....." Luiz Inácio Lula da Silva Recessão O país está em recessão. Em janeiro, a queda da atividade econômica foi maior, 0,61%. Há 11 milhões de desempregados no país. Mais de três milhões em ocupações precárias. 21% ficam mais de ano procurando uma vaga. Previsão Este ano, a economia deve encolher 3,4%. E em 2017, as consultorias estimam um crescimento de 1,1%. O aumento da probabilidade de impeachment ajudaria o país a reduzir risco já este ano. Analistas econômicos dão 30% de chance de Dilma concluir o mandato. Queda das empresas Eis a planilha oficial que mostra o despenhadeiro do universo empresarial no Brasil. Em 2013, foram criadas 582.194 empresas e extintas, 212.592 ; em 2014, foram criadas 531.042 e extintas, 278.704 ; em 2015, foram criadas 453.372 empresas e extintas, 354.413 empresas. Avaliação Dilma e Alckmin Atenção ! Última Pesquisa do Simpi/Datafolha no universo das micro e pequenas empresas no Estado de São Paulo : a reprovação da presidente Dilma cai de 88% para 80% de novembro para janeiro deste ano ; a reprovação do governador Geraldo Alckmin cai de 44% para 27%. Incertezas As micro e pequenas indústrias (MPIs) do Estado de São Paulo estão um pouquinho mais otimistas, segundo pesquisa mensal do sindicato da categoria, o Simpi. Ou pelo menos estão tentando. No levantamento anterior, 21% destas empresas previam a piora do cenário econômico no mês subsequente. Agora são 16%. O percentual das que acreditam em alguma melhora subiu de 25% para 26%. Mesmo assim, a situação continua difícil. Para 68% dos empresários o acesso ao capital de giro foi insuficiente, ante 59% em janeiro. Entre janeiro e fevereiro a expectativa de contratação de trabalhadores caiu de 17% para 14%.
quarta-feira, 9 de março de 2016

Porandubas nº 482

Mais uma vez uma historinha de Minas Gerais abre a Coluna. Jesus e Madalena Tancredo Neves era promotor em São João Del Rey, em Minas. Um homem chamado Jesus matou uma mulher chamada Madalena. Tancredo pediu 22 anos de cadeia para Jesus, o júri deu 18, Jesus foi para a cadeia, Tancredo esqueceu. O tempo passou. Nove anos depois, Tancredo advogado, vai a Andrelândia, pequena cidade próxima a São João Del Rey. De barba por fazer, entra em modesta barbearia de canto de rua, senta-se, está cansado, fecha os olhos, o barbeiro pega a navalha, afia, começa a tirar-lhe a barba, puxa conversa : - O senhor é o Dr. Tancredo Neves, né ? Tancredo abre os olhos, reconhece Jesus, o assassino de São João Del Rey. Espia pelo canto do olho, a barbearia vazia, a rua vazia, não chegava ninguém, não passava ninguém, o suor minava aflito na testa molhada e Jesus com a navalha enorme na mão pesada correndo garganta abaixo, sobe-desce, sobe-desce, abrindo caminhos na espuma. Jesus ficou só espiando. Tancredo só teve voz para dizer : - Sou, sim. - Pois é, Dr. Tancredo, a vida. - Pois é, Jesus, a vida. - Cumpri nove anos dos 18, estou aqui, o senhor aí, o senhor com sua barba, eu com minha navalha. Só queria lhe dizer uma coisa, Dr. Tancredo. Tancredo suava, Jesus corria a navalha pelo pescoço : - Que coisa bonita é um júri, hein, Dr. Tancredo ? Que coisa mais bonita, que discursos bonitos que o senhor e o outro doutor fizeram ! Cenários de hoje e amanhã Os cenários não são retratos estanques. Ganham dinâmica própria, a partir das circunstâncias de cada momento. 1º. Cenário : Delação e provas Delcídio, com delação homologada, começa a abrir o bico. Ficar apenas nas afirmações, sem comprovação, será péssimo para ele. Tem de provar as declarações, na verdade, as denúncias. Outras testemunhas são convocadas para confirmar ou desmentir os fatos narrados. Confirmados, Lula, que teria pedido para calar Marcos Valério, ex-operador do mensalão, e Dilma, que sabia de tudo sobre a compra da Refinaria de Pasadena, são puxados para o olho do furacão. 2º. Cenário : Falta de provas Delcídio fala, mas não prova. Por falta de comprovação, sua delação cai no poço do descrédito. Outras oitivas não confirmam o que ele disse. Delcídio complica sua situação na Lava Jato. Em vez de aliviar sua pena, a vê agravada. Lula e Dilma continuam sua passagem pelo mar vermelho (opa, das tormentas), suportando outras intempéries, mas escapando do furacão gerado pelo ex-líder do governo no Senado. 3º. Cenário : Cunha se afasta STF determina afastamento de Eduardo Cunha da presidência da Câmara. Processo será demorado. Cunha, conhecedor do regimento e das manhas regimentais, tenta empurrar de barriga situação do mandato. Plenário acaba aprovando seu afastamento da presidência. Assume o vice Waldir Maranhão, do baixo clero. Comissão de Ética decide condenar Cunha pelo fato de ter mentido. Determina cassação do mandato. Mas a decisão se prolonga, enquanto processo de impeachment tem sequência. 4º. Cenário : Impeachment na Câmara A confirmação do primeiro cenário joga um tanque de combustível na fogueira do impeachment. Faíscas correm pelos cantos e recantos, enchendo os pulmões da Opinião Pública. O Congresso Nacional, inflado pela deterioração da economia e pela péssima avaliação do governo, vai se afastando de Dilma, que vê sua base de apoio em refluxo. O processo de impeachment é aprovado na Câmara, caminhando para o Senado. 5º. Cenário : Senado aprova O Senado mostrava, até pouco, boa maioria pró-Dilma. Nos últimos tempos, sob o impacto das bombas de alta precisão que atingiram Dilma e Lula (Delcídio e Operação Lava Jato levando Lula sob condução coercitiva), senadores da base governista também se afastam da presidente Dilma. O processo de impeachment da presidente é acolhido pelo Senado, obedecendo-se ao rito definido pelo STF. No afastamento da presidente Dilma, o Senado será presidido pelo presidente do STF, Ricardo Lewandovski, e o plenário tomará a decisão. Tende a aprová-lo. Pano de fundo : confirmações da delação de Delcídio. 6º. Cenário : Dilma ganha Mesmo confirmadas as declarações de Delcídio, o Senado ainda pode mostrar maioria pró-Dilma. Nesse caso, o processo é rejeitado, desde sua admissibilidade (comissão inicial no Senado), arquivando-se o processo. Dilma continua a caminhar em seu calvário, inclusive tendo de se submeter a julgamento do STF. Resta descrever, agora, a paisagem de Lula. 7º. Cenário : Lula na berlinda Processo de impeachment não é aprovado pelo Senado, mesmo confirmada a delação de Delcídio. Não tendo foro privilegiado, Lula é convocado para depoimentos, podendo entrar no regime de prisão temporária/preventiva. Aos fatos investigados, soma-se a bomba da delação premiada do ex-presidente do PP, ex-deputado Pedro Correa. A temperatura social se eleva. 8º. Cenário : Alas em conflito nas ruas Sob o cenário acima, a militância petista é convocada para ir às ruas em defesa do seu ícone. Conflitos entre alas contra e a favor de Lula se multiplicam pelo país. A onda contrária se eleva metros acima da onda favorável a Lula. Que é preso. E o efeito de ver um ex-presidente da República preso ? 9º. Cenário : Lula condenado Comprovados favorecimentos a Lula por empreiteiras (reformas no tríplex e no sítio de Atibaia), Lula é condenado. Sim. Nesse caso, uma condenação efetivada ante irrefutáveis provas. Os imóveis não estão em nome do ex-presidente. Mas as reformas indicaram suspeição de favorecimento. O cenário se agrava com a delação de Pedro Correa, ex-presidente do PP, preso em Curitiba. Ele mostrou que Lula sabia de tudo, desde as ações ilícitas ocorridas no mensalão, que ensejou a Ação Penal 470. 10º. Cenário : Economia piora A economia não se recupera no segundo semestre, conforme promessa do ministro da Fazenda, Nelson Barbosa. A economia no fundo do poço aumenta o furor social. A indignação sobe às alturas. As movimentações são intensas. Críticas se expandem. Dilma ainda no governo reforça o clamor das ruas. O processo no TSE continua. Mas o final é longo. 11º. Cenário : Economia melhora A economia dá sinais de recuperação, na esteira de análise de alguns economistas. Que consideram ter chegado ao fundo do poço, devendo, por conseguinte, começar uma escalada de melhoria, mesmo a passo de tartaruga. Sob esse desenho, a presidente Dilma, ainda no governo, passa a subir alguns centímetros na régua da imagem, podendo atravessar um final de ano menos angustiado. 12º. Cenário : Vice assume Com Dilma impedida, o vice presidente Michel Temer assume o governo, tendo condições de resgatar a confiança dos setores produtivos, promover um grande diálogo na sociedade. A economia destroçada tem condições de se recuperar em ritmo mais acelerado. A palavra-chave desse momento é : confiança. Este é o motor de arranque dos setores produtivos e dos investidores internacionais. 13º. Cenário : PT em declínio As ruas estão muito quentes, até porque este é um ano eleitoral. O PT vai perder espaços por todo o país. Alas internas tendem a acirrar suas divisões e mesmo Lula não consegue a unidade do partido. Hipótese de haver razoável enxugamento do corpo partidário. Muitos candidatos do PT nas grandes cidades serão execrados. 14º. Cenário : Junho, a fronteira Se Dilma não for afastada até junho, são quase nulas as possibilidades de ser afastada no segundo semestre. Julho será um mês de férias e, a partir de agosto, começarão os atos da campanha eleitoral. Parlamentares - deputados, senadores, conjuntos técnicos - estarão atarefados com a campanha eleitoral que elegerá 5.568 prefeitos e quase 57 mil vereadores. Brasília será um deserto. Sem condições políticas para engajamento em um processo de impeachment. 15º. Cenário : TSE TSE decide julgar os recursos do PSDB contra as contas da chapa Dilma/Michel. O processo será longo, com oitivas, recursos, devendo o caso subir ao STF. No Supremo, a situação corre para 2017. Se a chapa for cassada, realiza-se nova eleição. Persiste a possibilidade de separação das contas de Dilma das contas de Michel, eis que as Tesourarias e doações foram separadas. E há, ainda, a hipótese de o TSE não encontrar motivos para cassação da chapa. As mesmas empreiteiras que fizeram doação a Dilma o fizeram para Aécio Neves. 16º. Cenário : Preparo para 2018 Dilma continua e Lula não é preso. País caminha capengando até 2018. Moldura comportando desemprego, inflação crescente, programas sociais definhando, tende a ser um bloco fissurado. 2017 reagrupa as forças políticas com migrações partidárias e novos blocos de poder. Lula é candidato pelo PT, ressuscitando o carcomido discurso : nós e eles, peroração contra as elites, a imprensa e a Justiça. Por parte do PSDB, três nomes entram na disputa : Aécio Neves, Geraldo Alckmin e José Serra. Serra olha com atenção o PMDB. 17º. Cenário : Nada acontece As investigações em curso sobre Lula, as pedaladas fiscais dadas pela presidente Dilma, as delações premiadas em curso não incriminam os indiciados. Ou seja, as coisas continuam sob muita fumaça, mas sem grande incêndio. Sob essa perspectiva, o país patina até 2018, sendo viável que os atuais protagonistas - Lula, Dilma, Aécio, Alckmin, Serra, e o candidato próprio do PMDB - entrem todos na paisagem eleitoral de 2018. Alckmin tem uma porta aberta no PSB, se Aécio segurar sua candidatura no PSDB. Sérgio Moro A partir da condução coercitiva de Lula, constata-se a formação de uma onda opiniática batendo nos costados do juiz Sérgio Moro. Onda originada em quadros da própria Justiça e alimentada pelo ódio da militância petista. PMDB : Brasil em 1º lugar O PMDB terá seu Congresso sábado, dia 12. Deverá aprovar proposta de candidatura própria à presidência em 2018. E aprovará um documento de orientação aos quadros do partido. Cada integrante do partido deverá colocar em primeiro plano a causa Brasil, acima dos interesses partidários ou interesses do governo. Com esta indicação, o PMDB sinaliza independência em relação ao governo. Nas votações, a causa Brasil será a inspiração maior. Eleições Pequenos conselhos aos pré-candidatos deste ano : a. Cuidado com campanha negativa Os candidatos terão de controlar muito a expressão. E a razão é muito conhecida : campanha negativa não ajuda candidatura. Quem se prestar ao esforço de passar uma campanha xingando, acusando, criando atritos, poderá ser visto como perfil negativo. É claro que os contendores devem reagir à altura diante de acusações pesadas. Mas o substantivo é melhor que o adjetivo em campanha eleitoral. Porque eleva as pessoas, conferindo-lhes uma taxa de liturgia e seriedade. b. Cuidado, favoritos 1. É comum o candidato que exibe grande dianteira ante outros usar salto alto e, por consequência, fazer uma campanha modorrenta. Isso é um perigo.2. Campanha só é ganha após a apuração. Por isso, os francos favoritos devem fazer campanha como se fossem os lanterninhas.3. A arrogância, a empáfia, o excesso de confiança, a soberba puxam candidatos para o buraco. Cautela e caldo de galinha, senhores favoritos, não fazem mal a ninguém. E ajudam muito nas campanhas.
quarta-feira, 2 de março de 2016

Porandubas nº 481

Abro a coluna com historinha das Minas Gerais. Burrice e engenharia Era uma vez... Viajando pelo interior de Minas, o arquiteto Marcos Vasconcelos encontrou um grupo de trabalhadores abrindo uma estrada : - Esta estrada vai até onde ? - Muito longe, muito longe, doutor. Atravessa o vale, retorce na beirada da serra, quebra pela esquerda, retoma pela direita, desemboca em frente, e vai indo, vai indo, até chegar a Ponte Nova, passando pelos baixios e cabeceiras. - Vocês têm engenheiro, arquiteto, teodolito, instrumentos de medição ? - Num tem não, doutor. Nós tem um burro, que nós manda ir andando, andando. Por onde ele for, aí é o melhor caminho. Nós vai picando, picando. - E quando não tem burro ? - Aí não tem jeito, doutor ; nós chama um engenheiro mesmo. O arquiteto seguiu adiante filosofando sobre as artes da burrice e da engenharia. Sinal verde ? Perigo à vista Marcelo Odebrecht, o comandante, teria dado sinal verde para que executivos presos do Grupo Odebrecht possam fazer delação premiada. Nunca um sinal pode ser tão perigoso como esse do filho de Emílio. Se a turma abrir o bico, cai uma boa parcela de grandes protagonistas da República. Razões : 1. A par de oficiais, deve aparecer dinheiro por baixo do pano ; 2. Foram feitas doações a diversos partidos, não apenas ao PT ; 3. A alta grana paga a João Santana, aqui e alhures, sairá da zona do mistério ; 4. As revelações deixarão Dilma, Lula e adjacências no centro do mais terrível furacão ; 5. Delações premiadas de alto impacto acelerarão decisões na política e na Justiça. E ele, Marcelo ? Imaginem, agora, se o próprio Marcelo decidir entrar no rol de delatores. Diz-se que ele não toparia delatar. Não tem índole para suportar a situação. Mas a perspectiva de continuar por tempo indefinido na cadeia, as pressões da família, a influência do pai, uma eventual condenação pesada, podem agir como indutores de uma decisão no campo da delação premiada. O caso merece atenção. Duverger Maurice Duverger, o renomado estudioso francês dos sistemas políticos, diagnosticando nosso país : "o Brasil só será uma grande potência no dia em que for uma grande democracia. E só será uma grande democracia no dia em que tiver partidos e um sistema partidário forte e estruturado". Saída de Cardozo José Eduardo Cardozo é um dos ministros mais próximos, senão o mais, da presidente Dilma. Não é de hoje a vontade de sair do Ministério da Justiça. Sempre foi considerado por Lula um ministro sem pulso para controlar a PF. Ele, por sua vez, defende uma PF republicana, acima das injunções políticas. Que seja independente para agir, fiscalizar e cumprir ordens da Justiça. Mas o cerco à Lula está se fechando. Ante a possibilidade de um evento mais impactante na direção do ex-presidente, ele pediu o boné. Mas a presidente quer que ele esteja próximo. Vai para a Advocacia-Geral da União. As pressões A saída de Zé Eduardo escancara a divisão no PT. O campo majoritário (Construindo um Novo Brasil), que abriga Lula e José Dirceu, Rui Falcão, nunca fez uma boa avaliação de Cardozo, que pertence à ala Mensagem ao Partido, liderada pelo ex-ministro e ex-governador do RS, Tarso Genro. Há um bom tempo, o PT vem sendo bombardeado pelo seu envolvimento no mensalão e no petrolão. A ala majoritária é a mais atingida. Outras alas querem resgatar o ideário partidário das origens. A crise brasileira O conjunto de crises por que passa tem uma razão : a esfera privada (oikos, em grego) invadindo a esfera pública (koinon). Ou seja, a fome particular devorando o cardápio popular. A gestão pública merece uma grande cirurgia. O novo ministro Pensem, agora, no pepino que espera o novo ministro, Wellington César, indicado pelo poderoso chefe da Casa Civil, Jaques Wagner. Se algo mais grave vier a ocorrer a Lula - prisão - recairá sobre ele a acusação que petistas faziam a Zé Eduardo : não está controlando a PF. Ora, nesses dias de grande tensão e atenção social, será tarefa difícil - para não dizer impossível - fazer qualquer controle sobre as investigações em curso. A operação Lava Jato ganhou vida própria. Funciona no piloto-automático, comandado pelo juiz Sérgio Moro. O ex-procurador adjunto do governo baiano, portanto, já, já, entrará na zona do tiroteio. A conferir. E Dilma, como fica ? E como ficará a presidente Dilma com as ações mais impactantes sob o mando de Moro e execução da PF ? Cada vez mais afastada de Lula, como se diz, ou trancada em seu silêncio ? Cunha em torno de cunha Hoje, quarta, o STF deverá opinar sobre o pedido do procurador-Geral, Rodrigo Janot, para que o presidente da Câmara seja afastado e perca o mandato. A perspectiva é a de que a Corte acolha em parte o pedido. Ou seja, abrirá o processo de investigação. Cunha é perito na interpretação das normas. Fará tudo para empurrar para as calendas a investigação e o julgamento de seu caso. Conta com um advogado dos melhores do país, Marcelo Nobre. Impeachment ? A corrente do impeachment havia refluído, como este consultor, por diversas vezes, analisou nesta coluna. Hoje, volta a crescer. A maré vazante cede lugar à maré enchente. A prisão e os depoimentos - não de todo convincentes - de João Santana e a mulher, Mônica Moura, puxam o impeachment novamente para o centro do debate político. Se novas informações aparecerem nos próximos dias, a comprovar a hipótese de propina paga a Santana, o assunto voltará com força ao Congresso. TSE Já a análise da questão das contas no TSE caminhará por um longo corredor. Que jogaria o caso para 2017. Ademais, este consultor acredita que, no Tribunal Superior Eleitoral, é bem provável que ocorra uma separação de contas. Razão : as tesourarias e as contas da presidente e do vice foram separadas. Cada qual teve sua contabilidade. Doações de tamanhos e origens diferentes. Lula vai à guerra Luiz Inácio avisa : acabou a fase "Lulinha, Paz e Amor". Parece disposto a entrar na arena de lutas com todo o arsenal que poderá dispor. Principalmente a arma da virulência verbal. Mas a pergunta é : o verbo solto e ácido do ex-presidente será capaz de defendê-lo diante das verbas que se apresentam no seu entorno ? Pode ser. Lula tem ainda muito cartucho para gastar. Caiu na imagem, caiu na intenção de voto. Mas, segundo o Ibope, apesar de intenso tiroteio a que é submetido, dispõe, ainda, de 19% de pessoas que fecham com ele para o que der e vier. Os nós do Brasil "O Brasil é feito por nós. Está na hora de desatá-los". Se o Parlamento Nacional precisa de um conselho, este, da verve do Barão de Itararé, seguramente se apresenta como adequado. A vitória de Doria João Doria ganhou bem as prévias do PSDB em São Paulo : 43,15% contra 32,89% para Andrea Matarazzo e 22,31% para Ricardo Tripoli. João fez a lição de casa. Correu as regiões, mobilizou a militância. Não adianta agora alegar que ganhou porque teve a alavanca econômica. O fato é que o apoio do governador Geraldo Alckmin ajudou muito. Não há motivo para se pedir silêncio ou abstenção de Alckmin. Afinal, o senador José Serra, o ex-presidente FHC e o ex-governador Alberto Goldman apoiaram abertamente - fazendo campanha - para Andrea. Enquanto Zé Aníbal, presidente do Instituto Teotônio Vilela, do PSDB, e o deputado Bruno Covas apoiaram Tripoli. As brigas no dia das prévias mostram o racha partidário. O nó górdio Se os "nós" do Brasil forem difíceis de desatar, por que não se inspirar em Alexandre ? O ousado Alexandre Magno ouviu o prognóstico do oráculo : quem conseguir desatar o nó que atava o jugo à lança de Górdio, rei da Frigia, dominará a Ásia. O guerreiro não pensou duas vezes : pegou a espada e, de uma vez só, cortou-o. Há "nós" que carecem força, rapidez e destreza. Favorito Este consultor acredita que João Doria tende a atrair em maior volume os votos atribuídos a Tripoli. Deverá ser o candidato tucano à prefeitura de São Paulo. Matarazzo no PSD Não será surpresa para este escriba se Andrea Matarazzo acabar deixando o PSDB para ingressar no PSD de Gilberto Kassab. Afinal, foi secretário do Kassab quando este dirigia a metrópole. O convite teria sido feito. Andrea pediu um tempo para pensar. Oposições sem rumo As pesquisas indicam. As oposições continuam patinando. Aécio Neves, por exemplo, deveria subir alguns pontos no vácuo que Lula deixa no espaço eleitoral. Lula caiu, mas nem Aécio nem Marina cresceram. O mineiro pontua pela casa dos 23% e Marina anda na casa dos 17%. Qual o discurso das oposições ? Tomar o poder pelo poder ? Mas onde está o projeto para o país ? Quem tem projeto mais claro, hoje, é o PMDB com o seu discutido documento "Uma Ponte para o Futuro". Trump é barra Ter Donald Trump como candidato republicano à presidência da Nação mais poderosa do planeta é um atentado ao bom senso. O cara promete, se eleito, fazer um muro separando os EUA do México. Ideia de nazista. Como se explica um fenômeno como este ? Raiva, indignação, protesto contra os políticos tradicionais. É isso que os americanos estão sinalizando. No Brasil, parcela importante da sociedade está dando as costas à política. Hillary Ainda bem que os americanos disporão de outra alternativa : a senadora Hillary Clinton. Que deve ser a candidata dos democratas. Voto obrigatório É falaciosa a tese de que a obrigatoriedade do voto fortalece a instituição política. Fosse assim, os EUA ou os países europeus, considerados territórios que cultivam com vigor as sementes da democracia, adotariam o voto compulsório. O fato de se ter, em algumas eleições americanas, participação de menos de 50% do eleitorado não significa que a democracia ali seja mais frágil que a de nações onde a votação alcança dados expressivos. Como observa Paulo Henrique Soares em seu estudo sobre a diferença entre os sistemas de voto, na Grã-Bretanha, que adota o sufrágio facultativo, a participação eleitoral pode chegar a 70% nos pleitos para a Câmara dos Comuns, enquanto na França a votação para renovação da Assembleia Nacional alcança cerca de 80% dos eleitores. Portanto, não é o voto por obrigação que melhorará os padrões políticos. O Turismo e o Direito O Sindetur-SP (Sindicato das Empresas de Turismo no Estado de São Paulo) promoverá hoje dois grandes eventos para convidados e seus associados no Hotel Pullman Ibirapuera. O primeiro às 18h, com o 29º Fórum dos Empresários de Turismo : os palestrantes da noite - o desembargador Tasso Duarte de Melo e o juiz Paulo Jorge Scartezzini Guimarães - discorrerão sobre as cautelas e recomendações para as agências de viagens reduzirem o risco de seu negócio. Manual para agentes Ainda no hotel, mas às 19h30, será lançado o livro "Manual Jurídico para Agências de Turismo", escrito por um dos maiores especialistas em Direito do Turismo País, Joandre Ferraz, em parceria com Patrícia Leal Ferraz Bove, Josebel Ferraz Tambellini e Christiane Ferraz Tambellini. O Sindetur-SP patrocina esse livro, uma importante ferramenta de trabalho para os agentes de viagens. Fecho a coluna com outra historinha das Minas Gerais. Matreirice O mineiro comprou um pedaço de terra no cerrado, um cascalhão duro, seco, terrível. Passou 20 anos arando, irrigando, plantando. Um dia, estava tudo lindo, o capim alto, verde, o feijão viçoso, uma beleza, o mineiro chamou o padre para rezar uma missa em ação de graças. O padre fez o sermão : - Vejam, meus irmãos, o que Deus e o homem podem fazer juntos. Lá de trás o mineiro deu uma baforada no cigarro de palha : - Senhor padre, o senhor precisava era ter visto isso aqui quando Deus estava sozinho.