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Porandubas Políticas

Por dentro da política.

Gaudêncio Torquato
quarta-feira, 13 de julho de 2016

Porandubas nº 497

Abro a coluna com o grande Padre Vieira Um truque O Padre Antônio Vieira, o célebre pregador, escritor, político e diplomata jesuíta, subindo certa vez ao púlpito, iniciou estranhamente o seu sermão exclamando : - Maldito seja o Pai !... Maldito seja o Filho !... Maldito seja o Espírito Santo !... E quando a assistência, horrorizada, pensava que o grande orador houvesse enlouquecido, ele tranquilamente prosseguiu : - Essas, meus irmãos, são as palavras e as frases que se ouvem com mais frequência nas profundezas do inferno. Houve um suspiro de alívio no templo, mas com esse recurso, teve Vieira despertada e presa a atenção dos fiéis como poucas vezes, por outra via, houvera conseguido. (Narrado por Luis Costa em Leia Comigo) O orgulho do país Pinço, ainda nessa abertura, o clássico Os Direitos do Homem de Thomas Paine : "Quando alguém puder dizer em qualquer país do mundo : meus pobres são felizes, nem ignorância nem miséria se encontram entre eles ; minhas cadeias estão vazias de prisioneiros, minhas ruas de mendigos ; os idosos não passam necessidades, os impostos não são opressivos... quando estas coisas puderem ser ditas, então o país deve se orgulhar de sua Constituição e de seu governo". PMDB joga mal Ao escolher Marcelo Castro para ser o candidato do partido à presidência da Câmara, no mandato tampão que irá até fevereiro de 2017, o PMDB joga uma bola fora. Primeiro, porque racha a base do governo Temer ; segundo, porque escolhe um deputado que votou contra o impeachment, garantindo sua posição de ministro da Saúde de Dilma ; terceiro, porque o PMDB deveria ceder o lugar de presidente da Câmara a outros partidos, eis que já tem a presidência da República e a presidência do Senado. Sinalização A escolha do piauiense Marcelo Castro pode ser interpretada como uma expressão de insatisfação da bancada do PMDB em relação ao governo. Queixa-se de não ter assento na Esplanada dos Ministérios. Gostaria de se dizer presente com o comando de Pastas importantes. Urge lembrar que são peemedebistas : o deputado Leonardo Picciani, do PMDB do Rio, na Pasta do Esporte, os ministros Geddel Vieira Lima, da Secretaria do Governo (Articulação Política), e Eliseu Padilha, da Casa Civil, a par do secretário da Infraestrutura, Moreira Franco. Lula combinou ? Marcelo Castro combinou sua candidatura com Lula ? É possível. Se isso ocorreu, mais adiante cairá a ficha do PMDB. Entrar no jogo petista, nesse momento, é uma decisão que pode custar caro, pois significa um alinhamento contra o presidente da República, que também conserva o cargo de presidente (afastado) do partido. PMDB versus PMDB só faz bem ao PT. Que, a essa altura, está comemorando o feito. Efeitos Se Marcelo Castro ganhar, é possível que a banda oposicionista do PMDB - confinada aos 28 votos por ele obtidos - possa usar a força do presidente da Câmara para expandir seus espaços na administração. Se não ganhar, se alinhará às oposições ? Difícil. O poder central exerce muita atração. Se o Centrão ganhar a cadeira de presidente da Câmara tende a consolidar sua influência junto ao governo. As jogadas atrapalhadas do PMDB fazem parte da indefinição que toma conta do partido nesse momento de mudanças. Epílogo "Um homem se propõe a tarefa de desenhar o mundo. Ao longo dos anos, povoa um espaço com imagens de províncias, de reinos, de montanhas, de baías, de naus, de ilhas, de peixes, de moradas, de instrumentos, de astros, de cavalos e de pessoas. Pouco antes de morrer, descobre que esse paciente labirinto de linhas traça a imagem de seu rosto". (Jorge Luis Borges) Presidente em 2017 A se confirmar a presidência efetiva da República nas mãos de Michel Temer, emergem cenários para 2017 sob esses traços : a) uma aliança entre partidos médios, consolidando o espaço do Centrão ; b) uma aliança entre o PMDB, PSDB e DEM, saindo o candidato à presidência da Câmara desses dois últimos partidos ; c) uma aliança entre PT, PSOL e PC do B, formando o arco ideológico da esquerda. Três blocos. O PMDB poderá continuar dividido em alas, uma delas se aproximando do bloco do Centrão, a outra com tendência a circular no centro-esquerda, junto ao PSDB. Medidas realistas Já a partir de setembro, com a decisão do Senado pelo impeachment da presidente Dilma, o governo Temer poderá apresentar um conjunto de medidas mais condizentes com as reais necessidades do país. Por mais que o presidente Michel Temer expresse a convicção de que está agindo como presidente efetivo, infere-se que algumas posições poderão ser corrigidas. Pois o olho político, nesse momento, está aberto para os posicionamentos e acolhimento das medidas por parte do Congresso. Lula é o pré-candidato O primeiro pré-candidato ao pleito presidencial de 2018 já está nas ruas. Quem ? Ora, Luiz Inácio. Começa a fazer seu périplo no Nordeste, onde recebe diplomas, esculhamba o novo governo em palanque e chega a provocar a Polícia Federal. Ao receber o título de cidadão juazeirense, ironizou : "vou levar lá para São Bernardo. Não sei se a PF vai fazer busca e apreensão e querer levar como prova. Mas acho que um diploma de Juazeiro vai impor respeito lá". Lula sabe fazer a mistificação das massas. E avisa que ele será mesmo o candidato do PT. O que Dilma fará ? Para quem não gosta da política, como a presidente Dilma, entrar na política partidária parece não ser seu sonho. E se derem para ela uma vaga no Senado pelo RS ? É a maneira de não se isolar. Pelo jeito, não se conformará com a identidade de ex-presidente da República. Um cargo na Câmara Alta, para onde costumam ir ex-presidentes e ex-governadores, cairia bem em seu perfil. Tudo vai depender do clima das ruas em 2018. Que, por sua vez, dependerá da situação da economia. Arco ideológico Este consultor acredita que o Brasil abre espaços para o fortalecimento de grupos à direita, expansão do Centrão, a ser ocupado por cerca de 10 partidos, e estreitamento da margem esquerda do arco ideológico. Esta, por sua vez, ganhará maior nitidez, eis que o PT tende a voltar às origens, encostando no PSOL. O Partido dos Trabalhadores encolherá. O espaço da social-democracia, que entra em frentes de centro-direita e centro-esquerda, também será expandido. E os partidos nebulosos, geleias partidárias, terão suas fronteiras bem mais limitadas. Campanha paulistana O prefeito Fernando Haddad, PT, tem ao seu lado a máquina da prefeitura. Milhares de funcionários trabalharão como cabos eleitorais. Vão lutar pela manutenção de suas posições. Haddad, ademais, tem se esforçado para limpar a lama petista de seu perfil. Por isso, ele tem condições de ir ao segundo turno. Celso Russomano, PRB, pode ter sua candidatura afastada por eventual condenação pelo STF. Marta Suplicy, PMDB, conta um bom recall (lembrança) junto ao eleitorado das margens. Mas tem alta rejeição (mais de 40%). Andrea Matarazzo, PSD, com poucos segundos de TV e rádio, tende a ser canibalizado. João Doria, do PSDB, terá o maior tempo de mídia eleitoral. E não tem o vírus da velha política. É sua primeira candidatura. Reúne boas condições para ser muito competitivo. Erundina, com seu discurso radical e quase sem mídia, não tem chances. Análise Este consultor faz uma análise da conjuntura política no programa Diálogo Nacional que será veiculado amanhã, às 23h, na TV Aberta (9 - NET ou 186 - TVA). A partir de quinta-feira no site do programa www.dialogonacional.com.br Ribeirão Preto O atuante deputado Duarte Nogueira manda para a coluna esta boa notícia. O ministro dos Transportes, Portos e Aviação Civil, Maurício Quintella, garante que a expansão do aeroporto internacional de Ribeirão Preto está próxima de se tornar uma realidade. O Banco do Brasil, responsável pelo projeto, se compromete em entregar o anteprojeto no mês de agosto. Feito isso, o processo de licitação desse importante investimento poderá ser iniciado. 4 a 5 milhões de passageiros Diz o deputado : "Deixamos todos os projetos sob nossa responsabilidade prontos. Esperemos que a nova gestão Federal cumpra o que o governo da presidente Dilma não teve a oportunidade de fazer : a expansão do aeroporto de Ribeirão Preto e o aumento do seu terminal de passageiros de seis mil para 30 mil metros quadrados. Assim, nos próximos anos ele atenderá de quatro a cinco milhões de passageiros, significando desenvolvimento, geração de empregos, renda e novas possibilidade de investimentos". As razões do voto O escopo do marketing político, ao longo da história, tem se mantido praticamente o mesmo. O que muda são as abordagens e as ferramentas tecnológicas. Atentem. No ano 64 a.C., Quinto Túlio Cícero enviava ao irmão, o grande tribuno e advogado Cícero - protagonista de episódios marcantes por ocasião do fim do sistema republicano e implantação do Império Romano - uma carta que considero o primeiro manual organizado de marketing eleitoral da história. Ali, Quinto Túlio orientava Cícero sobre comportamentos, atitudes, ações e programa de governo para o consulado, que era o pleito disputado, sem esquecer as abordagens psicológicas do discurso, como a lembrança sobre a esperança, este valor tão "marketizado" no Brasil e que se constituiu eixo central do discurso da era lulista. Dizia ele : "Três são as coisas que levam os homens a se sentir cativados e dispostos a dar o apoio eleitoral : um favor, uma esperança ou a simpatia espontânea". Atenção, candidatos Eis alguns pontos para a eficácia do planejamento de marketing eleitoral : 1. É preciso saber ler corretamente o meio ambiente, os novos valores do eleitorado e as novas motivações de voto ; 2. Convém escolher um candidato com o perfil mais adequado ao novo cenário ambiental ; 3. É fundamental definir os segmentos-alvo do eleitorado ; 4. É importante selecionar fortes reforçadores de decisão de voto (esquemas da administração Federal, estadual e municipal, apoio de mídia, recursos financeiros, etc.) ; 5. Convém descentralizar a campanha com a finalidade de multiplicar os pontos de eco e agregar organizações intermediárias de apoio (associações, sindicatos, federações, etc.) ; 6. Sugere-se formar um programa de propostas simples, com um eixo central forte, dentro dos princípios : desejável pela população, factível e crível.
quarta-feira, 6 de julho de 2016

Porandubas nº 496

Abro a coluna com uma historinha mineira Conhecendo um poquim de Hélio Garcia, ex-governador mineiro e que faleceu recentemente. - Doutor Hélio Garcia, o senhor é a última raposa mineira ? - Isso é ocê que tá falando... - Mas o senhor concorda ? - Com o quê ? - Que o senhor é a última raposa ? - Uai, depende. O quê que ocê chama de raposa ? - Aquele político que tem a sabedoria, a esperteza... - Eu nunca gostei de esperteza. - E a sabedoria ? - Olha, ocê sabe : tem o sabido e tem o sábio... (Enviada por uma amiga mineira) Lava Jato intocável A cada semana, a operação Lava Jato vai deixando sua marca no livro de combate à corrupção. Quando se pensa que as ações começam a refluir, eis que novos fatos investigados emergem, em uma cadeia de acontecimentos entrelaçados pelos fios de interesses de grupos. A Lava Jato continua intocável, recebendo o apoio geral da sociedade e sob o receio crescente da esfera política, temerosa que mais quadros entrem na dança. Lei ? Só depois Quem pensa em dar um basta às delações premiadas ou, pelo menos, diminuir seu ímpeto, terá de esperar. Há um projeto de lei que impede delações de condenados. Mas esse projeto, que está no Senado, deve esperar o final da atual jornada de investigações. Qualquer gesto no sentido de colocar impedimento às delações, nesse momento, será considerado intervenção indevida e repudiada pela sociedade. Mercado confiante O governo começa a receber sinais positivos do mercado. As falas de Henrique Meirelles, com seu didatismo, resgatam a confiança perdida. A segurança emerge, ainda devagar, a partir de acenos de sólidos investimentos de grupos nacionais e estrangeiros. A expressão do mercado é que dinheiro existe. O que falta é segurança para investir. Ronda setorial O presidente em exercício, Michel Temer, também recebe sinais positivos na ronda que começa a realizar junto a alguns setores. No Palácio do Planalto, recebeu um grande grupo de empresários do comércio. Que lhe foram apresentar os primeiros sinais de recuperação. Em São Paulo, em um evento do agronegócio, recebeu um documento de apoio de todo o setor. Registram-se, ainda, índices de confiança que cresce nas áreas da indústria e de serviços. Pergunta : ela pode voltar ? A pergunta é recorrente a este consultor : a presidente Dilma pode voltar ao Palácio do Planalto como mandatária número 1 ? Sim. Tudo é possível. Como isso poderia ocorrer ? Condições : a) se tivesse boa avaliação por parte da sociedade ; b) se não tivesse cometido crimes de responsabilidade fiscal, conforme demonstraram as investigações, inclusive a perícia do Senado ; c) sob essa condição, poderia ganhar a maioria dos votos dos senadores que compõem a Comissão de Impeachment ; d) se o governo do interino Michel Temer fosse um desastre total, merecendo o repúdio social. Ora, essas não são as molduras que veem na parede. Logo, a pasta não volta ao tubo É muito complexa a tarefa de enfiar a pasta no tubo depois que ela deixa o recipiente. É o caso da presidente : não tem condições de voltar nas condições descritas acima. A não ser que o tubo fosse rasgado e, depois, recosturado. Seria um remendão. Ademais, por que voltar se ela pensa em sair... Vejam. Eleições gerais Ela, a presidente, diz que promoverá um plebiscito para realizar eleições gerais. Quanta inverdade nessa promessa. Primeiro : essa figura do plebiscito para eleições presidenciais no meio do mandato inexiste ; Segundo : uma PEC não poderá remendar a CF, em se tratando de cláusula pétrea como se configura o tempo de mandato, que poderá ser interrompido por um impeachment ; Terceiro : e se ela quer voltar, porque, a seguir, quer sair ? Se já está fora, que lá fique. Se for para que Lula possa ser o candidato, outro feixe de problemas se apresenta, a partir das investigações no entorno do ex-presidente. O voto dos senadores Os senadores votarão o impeachment com um olho na realidade : as condições terríveis do país começam a mudar e uma volta ao estilo do governo anterior seria retrocesso. Claro, a condenação da presidente Dilma por ter cometido crime de responsabilidade fiscal será o fator decisivo, mas o quadro grave em que se encontra o enfermo não permitiria uma volta ao médico que lhe receitou a medicação errada. Por isso, a análise deste consultor é a de que os senadores, tanto os da Comissão quanto os do plenário, darão os votos para afastamento definitivo de Sua Excelência. Trata-se de uma dedução à luz do que se observa. Cunha fica ou sai ? Eduardo Cunha tem feito prestidigitação em seu esforço para não perder o mandato de deputado. Urge convir que o mandato de presidente da Câmara está quase perdido, restando a representação popular. Tudo indica que essa decisão entrará pelo mês de agosto, considerado o mês de desgosto. A propósito de agosto, este analista relatará, adiante, fatos ocorridos nessa última semana. O fatídico mês de agosto Nas redes sociais, a partir do Twitter, este analista fez uma nota destacando o fato de que agosto é um mês aziago. Muito anotado na história da política. Getúlio suicidou-se em 24 de agosto de 1954 ; Juscelino morreu, tragicamente, em acidente na via Dutra, em agosto de 1976 ; e Jânio renunciou em 25 de agosto de 1961. Como a votação final do impeachment da presidente está prevista para final daquele mês, fiz a observação em relação à Dilma. Coisa que alguns colunistas já haviam feito em seus jornais. A "morte" de Dilma Bastou isso para que militantes mercenários (muitas mulheres) investissem contra este consultor, usando palavras do pior baixo calão, inclusive com ameaças à sua vida e a de familiares. As mensagens, todas de caráter ofensivo, expressavam a baboseira de que este analista político pregara a morte da presidente Dilma. Interessante : as versões, todas assemelhadas, deixaram de lado a renúncia de Jânio. Ou mesmo o acidente de Kubitschek. Só lembravam Getúlio, de onde fizeram ilação com a morte da presidente. Fui pesquisar sobre a campanha suja. Canalhas sabujentos Os mais de 50 radicais, em sua maior parte mulheres, desfiaram uma torrente de textos mal escritos, chulos, com estruturas idênticas, a denotar um comando central. Anotei os nomes de alguns detratores. Por dois dias, voltaram ao espaço com as mesmas ameaças e impropérios. O comando dava a ordem. Mercenárias e mercenários, alguns de nomes poéticos, recitavam as mesmas coisas. Perfis falsos se revezavam. Ratazanas e ratões procuram não deixar rastros. Interligados, acionam-se mutuamente. A estética dos cabeçalhos é praticamente a mesma. A foto da presidente aparecia em alguns. Estertores dos esconderijos O fato é que o modus operandi de uma facção petista é bastante conhecido. A meta é atacar massivamente quem fala dos desmandos do governo do PT. Um comando central aciona a cadeia. Os termos impublicáveis são os mesmos de uma para outra ratazana. (O Facebook não tem controles ?). A troca de nomes é diária. Não se dão ao cuidado de mudar termos e estrutura das acusações. Alguns apagaram seus nomes falsos. Outros continuam. Fazem insultos, agora, sobre outros comentários deste consultor. Em suma, são os últimos estertores de uma máfia mercenária que age no esgoto. Estão sendo investigados. Bolsa família O Ministério Público Federal, a partir do cruzamento de dados do antigo Ministério do Desenvolvimento Social, e informações de órgãos como Receita Federal, Tribunais de Contas e Tribunal Superior Eleitoral chegou ao seguinte resultado : há mais de um milhão de casos de fraude em todos os Estados brasileiros. Entre os mais de um milhão de casos, mais da metade são funcionários públicos distribuídos em milhares de prefeituras petistas e de partidos da base aliada dos antigos governos do PT. São 585.000 funcionários públicos que atuavam como cabos eleitorais e se beneficiavam irregularmente dos recursos do Bolsa Família. Todos beneficiários ilegais. Prioridades Os 50 dias do novo governo mostram alguns avanços. Entre estes, destacamos as prioridades : a reforma da Previdência está em discussão por um grupo de especialistas do governo, empresários e centrais sindicais ; as contas públicas passam, agora, a obedecer a um teto ; a máquina administrativa passa a ser reduzida ; aprova-se a lei de responsabilidade das estatais ; os Estados ganham a renegociação de suas dívidas ; o FIES (Fundo de Financiamento Estudantil) ganha mais 75 mil vagas para o segundo semestre. Lula desanimado Leio em Mônica Bergamo, muito bem informada, que o ex-presidente Lula está carrancudo. Quase não sorri. Deixou de fazer palestras. Este ano, praticamente ficou recolhido. Lula em silêncio diz muita coisa. Expressa preocupação. Dilma em plenário O senador Humberto Costa anuncia a desistência da presidente de comparecer à Comissão Processante do Impeachment para fazer sua defesa. Mas adianta que ela manifesta desejo de comparecer ao Plenário, por ocasião da votação final do processo. O que motivaria a presidente ? A vontade de encarar os senadores. Talvez a crença de que sua presença em plenário possa alterar alguns votos. A conferir. Fecho a coluna com mais mineirice. Mineirinho Criativo Um mineiro, lá de Curvelo, tinha 11 filhos, precisava sair da casa onde morava e alugar outra, mas não conseguia por causa do monte de crianças. Quando ele dizia que tinha 11 filhos, ninguém queria alugar porque sabiam que a criançada iria destruir a casa ; ao mesmo tempo não podia dizer que não tinha filhos ; não podia mentir, afinal, os mineiros não podem mentir. Ele estava ficando desesperado, o prazo para se mudar estava se esgotando. Daí teve uma ideia : mandou a mulher ir passear no cemitério com 10 dos filhos. Pegou o filho que sobrou e foi ver casas junto com o agente da imobiliária. Gostou de uma e o agente perguntou quantos filhos ele tinha. Ele respondeu que tinha 11. Daí, o agente perguntou : - Mas onde estão os outros ? E ele respondeu, com um ar muito triste : -Estão no cemitério, junto com a mamãe deles. E foi assim que ele conseguiu alugar uma casa sem mentir.
quarta-feira, 29 de junho de 2016

Porandubas nº 495

Abro a coluna com um curto relato, que retrata o jeito de ser de nossas plagas. Retrato do Brasil Um sujeito comprou uma geladeira nova e, para se livrar da velha, colocou-a em frente a casa com o aviso : "De graça. Se quiser, pode levar". A geladeira ficou três dias sem receber um olhar dos passantes. Chegou à conclusão : ninguém acredita na oferta. Parecia bom demais pra ser verdade. Mudou o aviso : "geladeira à venda por R$ 50,00". No dia seguinte, a geladeira foi roubada ! (Historinha enviada por Álvaro Lopes). Rápidas pinceladas I A esfera política continua em estado de expectativa. A Câmara espera o desenrolar do processo de impeachment da presidente Dilma no Senado para redefinir seu comportamento em relação ao governo Temer. O Senado acompanha atentamente os trabalhos da Comissão de Impeachment. Mas uma impressão domina os ambientes : a cada dia, expande-se a convicção de que a pasta não voltará ao tubo. Dilma se distancia do Palácio do Planalto. Rápidas pinceladas II A comunidade acompanha a cena política com atenção, aplaudindo o Judiciário do juiz Moro, repudiando os perfis embalados no celofane da lama, e sob a angústia de ver comprimido seu poder de compra. Moro tem sido muito festejado por onde circula. O STF, principalmente pelas decisões do ministro Teori Zavascki, continua a ganhar palmas da sociedade. Mas um ou outro ministro recebe também apupos. Rápidas pinceladas III Os organismos de controle e investigação - MP e PF - continuam a desempenhar suas funções, sob o temor de quadros congressuais que temem ser envolvidos na malha das operações. O fato é que a Lava Jato está no piloto automático, seguindo seu rito e seu ritmo, não se sujeitando a forças contrárias que, eventualmente, tenham interesse em paralisá-la. As instituições funcionam a contento, anulando qualquer ideia de golpe "branco", como alguns "intelectuais" chegam a afirmar. PT também quer solução O PT está cada vez mais interessado em ver solucionado o impasse do impeachment. Não interessa ao partido permanecer choramingando e exigindo a volta de Dilma. Quanto antes houver a decisão, mais tempo ganhará para correr às ruas e subir nos palanques em defesa de seus candidatos a prefeito. Hoje, o partido conta com cerca de 650 prefeitos. Receia se inviabilizar no pleito de outubro. Seus candidatos levarão na testa a marca de corrupção que se fincou no território petista. A campanha de 45 dias de rua e 35 de rádio e TV será muito disputada. E sem uma base municipal forte, o PT verá sombrios horizontes em 2018. O que se espera Que moldura o país espera para os próximos meses ? Um retrato de cores mais nítidas para os valores da confiança, do otimismo e da crença. Valores que, por sua vez, serão resgatados sob o empuxo de algumas posições : queda da inflação, refluxo na frente do desemprego (que chega aos 12 milhões de pessoas) ; queda de juros ; maior estabilidade na área política ; maior confiança no governo. Já começa a circular a hipótese de que a melhoria das condições econômicas seja antecipada para os meados do segundo semestre. Como fazer eleições sem dinheiro ? A pergunta recorrente é : como realizar o pleito municipal de outubro sem recursos ? Doações de empresas estão proibidas ; o Caixa 2 será examinado com lupa muito precisa ; o povo está dando as costas para a política ; as campanhas eleitorais não mais entusiasmam ; e em outubro, a operação Lava Jato poderá estar disparando mais tiros por muitos lados. A campanha deste ano terá um jeito próprio : olho no olho, mão na mão, casa a casa, compromisso rígido com eleitor. Daí o conselho : candidato deve adquirir uns bons pares de sapato. Com sola grossa e borracha firme. Os 5 eixos do marketing O marketing político comporta cinco eixos : a pesquisa, o discurso (propostas, ideias, projetos), a comunicação, a articulação e a mobilização. Nas campanhas anteriores, a comunicação assumia a posição mais importante. Na campanha deste ano, a perna da articulação será prioritária. Articulação comporta a formação de uma teia de contatos estreitos com a sociedade organizada - sindicatos, associações, federações, grupos, núcleos, categorias profissionais, movimentos. Esses novos polos de poder dão empuxo à sociedade. A perna da mobilização também se faz importante pelo fato de ser a locomotiva que puxa a animação social. Urge animar o eleitor, motivá-lo a votar. Sinais positivos O governo Temer já começa a animar parcelas do mercado. Sinais positivos são deixados aqui e ali por alguns setores. A iniciativa do governo de formar um núcleo forte para impulsionar a infraestrutura - portos, aeroportos, estradas etc.- começa a ter fortes apoiadores. Essa secretaria está sendo tocada por Moreira Franco, que vem com a experiência na frente da Aviação Civil. Serra José Serra é um sujeito ambicioso. E preparado. Em pouco tempo, já criou uma identidade para as Relações Exteriores. Fura a redoma do isolacionismo a que foi relegado o país. Fura a redoma do bolivarianismo. Procura outros eixos. Serra quer alargar os caminhos entre o Brasil e a Europa. É um dos mais animados ministros do governo Temer. Claro, ele tem uma meta : preparar sua trajetória para se firmar como candidato à presidência em 2018. Meirelles Henrique Meirelles e sua equipe se apresentam como unanimidade. Formam uma equipe homogênea. Têm consciência de que a solução mais desejada pelo corpo nacional é a melhoria da economia. Se a economia der sinais de ativação no médio prazo, Meirelles despontará como o maestro da Esplanada dos Ministérios. Em condições de se tornar o principal artífice do projeto presidencial de 2018. Turismo O Ministério do Turismo deverá ganhar um novo ministro. Poderá ser um deputado do PMDB mineiro. Que reivindica um posto na Esplanada dos Ministérios. Vinicius Lumertz, de SC, um perfil que tem bom conhecimento sobre o turismo nacional, é o nome mais indicado e aplaudido pelo trade para preencher a vaga. Mas as pressões políticas falam mais alto. E o presidente carece de apoio político no Congresso. Pleito paulistano Celso Russomano é a grande incógnita que se apresenta no cenário paulistano nesse momento. O STF poderá condená-lo no processo que enfrenta e, desse modo, estaria com a ficha suja e sem condições de participar do pleito. Tem 25% de intenção de voto. Receberá a primeira decisão da ministra Cármen Lúcia, que pediu ao PGR pressa no encaminhamento do processo. Deverá ser julgado em agosto. O pedido de pressa feito pela ministra mineira quer dizer alguma coisa ? Se Russomano não puder ser candidato, João Doria poderá ser o mais beneficiado. Se chegar ao segundo turno, tem grande possibilidade de levar a melhor. A rejeição de Marta Marta Suplicy tem alta rejeição : 42%. Conseguirá reverter essa taxa ? Difícil. A rejeição se dá no meio da pirâmide. A classe média paulistana é a mais crítica do país. Reúne os conjuntos de profissionais liberais, professores, empresários etc. Marta não conta com o apoio maciço desses grupamentos. Mas registra bons índices nas margens sociais. Haddad Fernando Haddad tem condições de chegar ao segundo turno ? Sim. A máquina da prefeitura abre espaços no eleitorado, principalmente na periferia. Mas Haddad leva junto com ele formidável parcela da rejeição que se faz ao PT. Por isso, se for para o segundo turno, terá poucas chances. Lei Rouanet Ainda bem que a Lei Rouanet está sendo passada a limpo. Esta operação Boca Livre, que flagra os fraudadores da lei, mostrará quem se aproveitou das prerrogativas e benesses concedidas pela legislação. Tem gente séria fazendo arte. Mas tem gente que fez até festa de casamento com recursos da lei . A PF aponta fraudes em 250 contratos da Lei Rouanet sem fiscalização do Ministério da Cultura. Dirceu indultado O procurador-Geral da República Rodrigo Janot pede perdão judicial para o ex-ministro da Casa Civil, José Dirceu, no processo do mensalão. Em manifestação, Janot reconheceu o 'indulto ao sentenciado, com a consequente declaração de extinção da punibilidade'. O indulto atende pedido do criminalista José Luís Oliveira Lima, que defende José Dirceu. Apoio do agronegócio O agronegócio brasileiro fará manifesto de apoio ao governo Michel Temer por ocasião do Global Agribusiness Forum (GAF), a se realizar na próxima segunda-feira. Eis um trecho da mensagem : "fundamental na geração de divisas, emprego e renda, e estratégico para o desenvolvimento sustentável do Brasil, o agronegócio acredita que a nova administração Federal tem legitimidade constitucional e conta com o comprometimento de uma equipe econômica competente. Acredita também na sua capacidade para reorganizar aspectos macroeconômicos essenciais no curto prazo para que a partir de reformas estruturais profundas possamos readquirir a confiança do setor privado, retomar investimentos e, consequentemente, recolocar o Brasil na trajetória de crescimento".Fecho a Coluna com a folclórica Bahia. Conjunção rachativa Historinha da Bahia. Grande de nome e pequeno de corpo. Magricela, esperto, inteligente, José Antônio Wagner Castro Alves Araújo de Abreu, sobrinho-neto de Castro Alves, herdou o DNA, o talento e a vadiagem existencial do poeta. Não gostava de estudar. No esporte, era bom em tudo. Colega de Sebastião Nery, no primeiro ano do seminário menor, na Bahia, em 1942, na aula de português, o padre Correia lhe perguntou o que era "mas". - É uma conjunção. - Certo, mas que conjunção ? Zé Antônio olhou para um lado, para o outro e respondeu : - Conjunção rachativa, professor. - Não existe isso, Zé Antônio. - Existe, professor. Quando a gente quer falar mal de alguém, sempre diz assim : - Fulano até que é um bom sujeito, mas... E aí racha com ele.
quarta-feira, 15 de junho de 2016

Porandubas nº 494

Abro a coluna com o inesquecível Franco Montoro Depois de deixar a esfera governativa e parlamentar, Franco Montoro passou a se dedicar ao Instituto Latino-Americano - ILAM. Na condição de presidente desta entidade, foi a um almoço organizado por um pequeno grupo de professores da USP no restaurante do campus. O ex-governador, como se sabe, tem registrado em sua história muitos casos de dislexia, momentos em que confundia nomes, alhos com bugalhos, motivando risos nas cerimônias. A conversa fluía bem, versando sobre os mais diferentes problemas do país. A certa altura, ele se surpreendeu ao saber que este escriba era potiguar. Mais ainda : tio de Sônia, minha sobrinha, casada com João Faustino, tucano do melhor naipe e seu dileto amigo. (João faleceu em 9 de janeiro de 2014). Montoro e dona Lucy foram padrinhos do casamento de uma das filhas de João e Sônia. De repente, ele me lança a pergunta : - E como está o Agrário ? Você sabe como ele vai ? Passo a lupa na mente e lamento ignorar a identidade da figura. Mas vou procurar saber, logo, logo. Mudamos de assunto. Mas o Agrário continua a frequentar o meu sistema cognitivo. De repente, Eureka ! Agrário ? Agrário ? Não seria o Urbano ? Tomo a iniciativa : - Governador, será que o senhor não confundiu o Agrário com o Urbano ? - Ah, sim, é claro, é claro. Desculpe. Como vai o Urbano ? Francisco Urbano era presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura - CONTAG. Um potiguar muito conhecido nos universos sindicalista e político. A dislexia do ex-governador paulista havia trocado o espaço rural pela geografia urbana. Franco Montoro, exemplo de Honradez, Dignidade, Seriedade, Civismo, Independência e Amor à Pátria. Quanta falta ele faz nesses tempos de lamaçal político. Cunha derrotado Eduardo Cunha, o poderoso presidente afastado da Câmara, perde de 11 a 9 na Comissão de Ética. Seu advogado, Marcelo Nobre, vai recorrer. Será difícil reverter a situação. No Plenário, com voto aberto, não será complicado arrumar 257 votos pela cassação. Cunha tem cinco dias para recorrer. O processo deverá ir a plenário. Depende, agora, do presidente interino, Waldir Maranhão. Aliado de Cunha, mas com um olho na opinião pública. 30 dias de governo O presidente em exercício, Michel Temer, deve fazer esta semana um balanço de 30 dias de governo. E mostrar como recebeu o país. O resultado traz algum alento, a partir do índice de confiança que já se apura na vida produtiva. Empresários de diversos setores registram certa animação, considerando que o fundo do poço já chegou e o Brasil, nos próximos tempos, tende a se recuperar. Quase 10 bilhões foram captados por empresas brasileiras no exterior, nos últimos tempos, o que denota a volta da confiança. Economia e política Na frente econômica, o otimismo é patente, com fartos elogios à equipe econômica chefiada por Henrique Meirelles. Na área política, as articulações se estreitam visando a garantir a aprovação das medidas econômicas, a partir do teto para gastos públicos e do prazo de duração. As primeiras medidas foram aprovadas, mas o detalhamento está encaminhado nessa semana. A aprovação da DRU, que engessava recursos em educação e saúde, por exemplo, foi considerado um feito do governo. A área política certamente tende a cobrar pelo maciço apoio que está dando ao novo governo. 30% do valor dos impostos A PEC, aprovada na Câmara com o voto favorável de 340 deputados, segue para votação no Senado. Caso aprovada, a DRU vai autorizar que o Poder Executivo use livremente 30% do valor dos impostos e contribuições sociais e econômicas Federais que hoje são destinadas, por determinação constitucional ou legal, a órgãos, fundos e despesas específicos. Esta autorização para o governo equivale a um número entre R$ 117 bilhões e R$ 120 bilhões, já que a vigência é retroativa a 1º de janeiro de 2016 e validade até 2023. Na prática, esses recursos desvinculados serão transferidos para uma fonte do Tesouro Nacional que é de livre movimentação, sem qualquer tipo de vinculação ou destinação específica. O desafio O corpo parlamentar quer abrir espaço na estrutura administrativa. Os aliados partidários pressionam para ocupar cargos importantes. Ora, esse é o desafio que se apresenta ao novo governo. Cerca de quatro mil cargos comissionados serão extintos. Milhares, porém, continuarão a existir. Daí o governo avaliar a oportunidade para um enxugamento maior. Mas se obriga a enfrentar crescentes pressões dos partidos que formam a base. Entre uma votação e outra, o governo chama deputados e senadores, ouve as demandas, anota os pedidos e atende na medida do possível os casos mais urgentes. Dilma, vítima A presidente afastada promete continuar o périplo pelo país, denunciando o "golpe" que a tirou do Palácio do Planalto. E abre uma peroração de vítima, na esteira das perdas que contabiliza : só conta com o jato da FAB para levá-la de Brasília para Porto Alegre (ida e vinda), e cartões corporativos de sua equipe cortados. No último mês, ela teria gasto cerca de R$ 650 mil com passagens e alimentação. O governo eliminou, ainda, os recursos que abasteciam blogs de amigos e quadros petistas. Eleições gerais Sob pressão intensa, a partir do próprio PT, Dilma passou a defender a ideia de um plebiscito para auscultar o interesse da população por eleições gerais ainda este ano. Esta figura - eleições gerais e diretas para presidente no meio do mandato - não existe na CF. Para haver um pleito presidencial, seriam necessárias a renúncia da presidente e a do vice, Michel Temer. Ora, quem garante que o vice renunciará ? Plebiscito em ano eleitoral é maluquice. Ademais, teria de ser aprovado pelo Congresso. Que maioria Dilma tem nas duas casas congressuais ? Resumo : trata-se de lorota leve para acalentar bovinos. Cassação pelo TSE Outra hipótese seria a cassação da chapa pelo TSE ainda este ano. Se esta hipótese ocorrer em 2017, a eleição de presidente seria indireta, ou seja, teríamos a eleição de um membro do Congresso. Esse processo demandaria recursos, embargos e postergações. Portanto, a tese de cassação não resiste à análise mais séria. Dilma, por seu lado, faz o que ainda pode fazer : reclamar, usar as redes sociais, viajar em jatinho pago pelo PT, ter direito ao jus sperneandi. Observação importante : o PT não acredita na volta da Dilma. Quer subir imediatamente ao palanque da oposição. Maneira de se sentir confortável e apto a enfrentar o pleito de outubro ainda com algum gás. E garantir uns 200 prefeitos petistas dos 650 que hoje possui. Turbulências As turbulências deverão continuar pelos próximos meses. Estamos vivenciando um ciclo de grandes mudanças. E não se atravessa caminho cheio de obstáculos sem percalços e tropeços. O governo Temer tende a se equilibrar, não antes de enfrentar bombardeios, principalmente por parte da artilharia da operação Lava Jato, que atira na cúpula do PMDB. Uma grande interrogação estará no ar : como os dirigentes partidários e congressuais serão tratados nas próximas semanas ? Acordos e delações O futuro imediato abre zonas de fumaça. Muita incerteza estará no ar. Acordos de leniências e novas delações abrirão mais atritos, expandindo temores. O próprio PT está sendo aconselhado por José Dirceu a fazer um acordo de leniência, assumindo responsabilidades, pagando multas e renascendo da lama. Vaccari, o tesoureiro, também estaria negociando e/ou estudando essa hipótese. Bomba sobre bomba, se isso ocorrer. E o Marcelo Odebrecht ? O resto da República cairia se contar tudo o que sabe. Isso é o que se comenta. Por último, Eduardo Cunha. Imagine-se se, para salvaguardar a família, ele abrir o bico. O que poderia ocorrer na esfera política ? O fim de um ciclo Seja qual for o cenário - turbulento, conflituoso, harmônico, azul-celeste, pacífico, cinzento - expande-se a convicção de que estamos vivendo os últimos dias da Pompéia brasileira. Os bacanais da corrupção estão com seus dias contados. Este consultor ainda costuma lembrar ser possível nascer uma flor no pântano. A campanha paulistana O pleito na maior metrópole brasileira será desenhado por muitos simbolismos : 1. A capital paulista tem o maior eleitorado entre as cidades brasileiras (cerca de 9 milhões) ; 2. Concentra os maiores contingentes - as maiores classes médias, os maiores núcleos de profissionais liberais, as maiores categorias de trabalhadores especializados, as maiores periferias, os maiores redutos de jovens, etc.. 3. São Paulo é, por consequência, o espaço mais largo para as críticas, cobranças, participação política, etc ; 4. Agrega a maior quantidade de votos racionais e emotivos. É, assim, a capital dos superlativos. A campanha paulista comandará a orquestra eleitoral no país. Perfil e o espírito do tempo Que perfil tem condições de agregar e atrair os maiores volumes eleitorais ? Responder a essa questão implica fazer uma digressão sobre o espírito do nosso tempo. Vejamos : o eleitor está saturado das velhas promessas ; não se deixa levar mais na esteira do "Maria vai com as outras" ; está desconfiado da política ; tem simpatia por um ou outro, mas tende a nivelar todos os candidatos ; ainda sinaliza preferência por um e outro na onda da lembrança do último pleito ; quer ver serviços públicos eficientes ; clama por uma nova ordem. E assim por diante. Quem vestiria esse figurino ? Russomano Celso Russomano é o preferido das margens mais carentes. Tem o "recall" (a lembrança) do eleitor. Construiu identidade no palanque de xerife e despachante das comunidades mais distantes. Tem hoje cerca de 30% de intenção de voto. Insere-se no espírito do tempo ? Não. A começar pelo valor da assepsia. Celso tem processos no STF. Que até agosto deverá julgá-lo. Se for condenado, ganha ficha suja e nessa condição não será candidato. Seu partido, o PRB, sofre o viés de ligação com a Igreja Universal. Vista com reservas. Russomano, se for candidato, tende a cair. Não chegará ao segundo turno. Marta Marta Suplicy, ex-prefeita, sustenta forte recall também nas margens, aprovada que foi com Céus da Educação. Tem alta visibilidade. Mas difícil é retirar de seu perfil a cor vermelha de petista e o epíteto de martaxa, como os paulistanos a viam na época das taxas que cobrava quando prefeita. Marta será candidata pelo PMDB, partido que chega ao centro do poder com Michel Temer na presidência. Terá de fazer muito esforço para ganhar votos nos bolsões do meio da pirâmide. As classes médias têm forte rejeição ao petismo que muitos ainda enxergam em Marta. Ela encontrará barreiras intransponíveis para ganhar o apoio dos grupamentos médios. Mas o PMDB pode até crescer este ano. Haddad Fernando Haddad foi a maior conquista do PT no pleito de 2012. Boa estampa, ares de schollar, professor universitário, Haddad prometia fazer uma revolução na gestão da metrópole. Não conseguiu o intento. Nas promessas da campanha, sobressaía um tal Arco do Futuro, uma espécie de porta da esperança de grandes empreendimentos na zona leste da capital. Ficou na palavra perdida. O prefeito praticamente concentrou esforços nas ciclovias, mesmo assim limitando-as ao perímetro do centro expandido. As regiões periféricas não ganharam ciclovias. O programa tem recebido críticas e elogios. A reduzida velocidade para carros nas marginais e avenidas centrais tem sido outra frente de queimação do prefeito. Que deve se enrolar, ainda, no cobertor manchado de lama do PT. Tem a seu favor a força da máquina. E os braços da militância encravada nos postos da administração municipal. Doria João Doria será o candidato tucano. Virá com o apoio do governador Alckmin, o apoio do PSB e de outros partidos, que devem lhe garantir um largo espaço na mídia eleitoral. Tem contra si o fato de ainda não ser conhecido junto às camadas periféricas. A favor conta com uma imagem asséptica, não comprometida com a velha política. Empresário trabalhador, jornalista, decidiu levar a sério o ingresso na militância política, apesar de já ser experiente quadro público, pois trabalhou para o governador Franco Montoro, o ex-prefeito e ex-governador Mário Covas, tendo sido ainda presidente da Embratur no governo Sarney. Conhece bem as retas e curvas da comunicação, sendo ele um homem de televisão. Tem amplas condições de incorporar a feição do "novo", o pregoeiro de mudanças tão clamadas pela população. Detalhe : cumpre exaustiva agenda nesse ciclo de pré-campanha, já tendo corrido os 95 subdistritos da capital. Matarazzo Andrea Matarazzo entra na campanha como um tucano frustrado por não ter vencido nas prévias o adversário João Doria. Saiu do PSDB e entrou no PSD do prefeito Gilberto Kassab. Foi secretário das subprefeituras durante a administração, oportunidade em que se fez conhecer na periferia. Considerado candidato das elites, Matarazzo, de família tradicional, tem amigos fortes como FHC e José Serra, mas não sendo candidato do PSDB será difícil para ele arrumar apoios na floresta tucana. Erundina Luiza Erundina, a ex-prefeita, será candidata pelo PSOL. Terá pouco tempo de TV e rádio. Ganhará alguns votos de opinião de quem admira a "tia". Luiza estará na ponta esquerda radical com seu partido fazendo a execração de tudo e de todos. De origem humilde, é um quadro respeitado e admirado. Não se contaminou com as mazelas da política. Mas não tem chances. Chances ? Este consultor vê a campanha paulistana como uma das mais aguerridas do país. E enxerga três candidatos com possibilidade de ir ao segundo turno : Marta Suplicy, Fernando Haddad e João Doria. O candidato Russomano acabará preso na malha fina que seu partido e ele teceram. Uma barreira de suspeitas e polêmica sobre seu perfil. Se o PT se transformar em pedra amarrada no Haddad, este irá ao fundo do rio. Sobrarão Marta e João no segundo turno. Quem tem mais chances ? A conferir o perfil com maior rejeição do eleitorado. Façam suas apostas.
quarta-feira, 8 de junho de 2016

Porandubas nº 493

Recebo do grande jurista Ives Gandra Martins essa nota. Que abre Porandubas de hoje: "Janot parece, por vezes, estar a serviço de Dilma. Tentou barrar o processo de "impeachment" de Dilma, com o afastamento de Cunha contra letra clara do artigo 53, § 3º, da Constituição Federal. Agora pretende afastar o presidente do Senado e atinge mais três figuras do PMDB. E os do PT, que gerou o governo mais corrupto do mundo, ninguém com pedido de prisão, se não Delcídio, que diz sobre a Dilma o mesmo que Cerveró, ou seja, sabia de tudo sobre a compra de Pasadena. Palocci, Edinho Silva, Erenice, Gleisi, Wagner, Lula e outros não têm pedido de prisão.  Como explicar essa seletividade que cria uma crise institucional em momento delicado da nação?" Efeito moral O PGR deu um tiro forte pedindo a prisão de Sarney, Renan, Jucá e Cunha. Se for negado, o disparo terá sido de festim. E o efeito moral será na credibilidade do autor do pleito infundado. Terremotos na Esplanada A Esplanada dos Ministérios é uma larga reta que, a cada semana, é abalada por terremotos. Terremotos políticos, claro. Ministros se sucedem na planilha de nomes inseridos na operação Lava Jato. As denúncias ganham destaque na mídia, mas algumas situações são requentadas. É o caso das informações sobre o ministro do Turismo, Henrique Alves. A matéria é velha. Henrique diz que, até o momento, não recebeu nenhuma citação. E o presidente Michel Temer, como advogado e constitucionalista, parece apostar no instrumento da presunção de inocência. Que atrapalha, atrapalha É evidente que a onda de denúncias que inunda a Esplanada acaba atrapalhando a dinâmica do governo. Que, a cada dia, passa a examinar os casos, chamar as pessoas nomeadas, saber das motivações e justificativas de cada um, etc. Isso toma tempo e causa desgaste. O problema é que novos protagonistas poderão aparecer mais adiante. A Lava Jato tem muito ainda a correr. E, como já frisei em colunas anteriores, a operação está sob o piloto automático. Não há força que consiga detê-la. Freio de arrumação As camadas tectônicas da política, portanto, estão em movimento, esperando o tempo de acomodação à superfície. O freio de arrumação do governo só aparecerá quando a Lava Jato despejar os últimos nomes da lista. Deve abrigar nomes do PMDB e também do PT, entre estes a própria presidente Dilma e o ex-presidente Lula. Por isso mesmo, a condição de reversibilidade do impeachment da presidente tem poucas chances de prosperar. Atingida pela Lava Jato, ficará comprometida com o esquema de propina. A massa suja influenciará o conjunto senatorial. Aos trancos e barrancos O novo governo caminha. Mesmo encontrando barreiras altas na estrada. Pelo menos por mais algum tempo os horizontes estarão turvos. Mas a propensão para o equilíbrio virá mais cedo ou mais tarde. Michel Temer é hábil na articulação política. E as medidas de ajuste certamente começarão a dar resultados. Prisão de grandes O PGR, Rodrigo Janot, deve passar à história por seus feitos, mas este último certamente será sempre lembrado : pedir que o ex-presidente José Sarney, poderoso e um dos ilustres políticos da atualidade, passe a usar tornozeleira eletrônica. E, ainda, pedir a prisão do presidente do Senado, Renan Calheiros, do senador Romero Jucá e do presidente afastado da Câmara, Eduardo Cunha. Por presumíveis tentativas de obstrução das investigações da operação Lava Jato. Território da opinião Este consultor leu o conteúdo das gravações feitas por Sérgio Machado nas conversas com Sarney, Renan e Jucá. Continua achando que se trata de um conjunto de interlocuções entre amigos, todos contrariados com a Lava Jato. Mas o acervo expressivo não ultrapassa a barreira da opinião. Portanto, não se vêem naquelas conversas bloqueios contra a Lava Jato. Foram feitas referências sobre eventuais articulações que poderiam ser feitas juntas ao ministro Teori e ao advogado Ferrão. Que, pelo que se sabe, não ocorreram. Efeitos Que efeitos esses pedidos de prisão geram sobre o processo de impeachment que corre no Senado ? Ainda é cedo para se fazer uma avaliação mais precisa. Mas certamente embaralham e tumultuam o ambiente parlamentar. Com algum dano sobre a pauta que a Câmara Alta debate. Ocorre que Dilma também é alvo da Lava Jato. Os efeitos, portanto, se espalham por todos os lados. Pode ser que haja algum atraso no calendário de votações. Mercadante, antes ? Do blog do Jorge Bastos Moreno : "Um ministro do próprio STF acaba de informar ao blog do Moreno que o consenso entre eles é o de que "se Janot vazou seu pedido é porque não obteve nada do Teori". O ministro lembrou que os casos de Renan, Sarney e Jucá, gravados por Machado a pedido do procurador, são insignificantes diante do caso Mercadante. Ele ofereceu dinheiro para barrar investigações. Esses três defenderam teses, inclusive a de projetos para regular delação. Falaram em intenções. Nada disso é crime", disse o ministro. E tem mais, segundo esse mesmo ministro, se for comprovado que realmente Machado gravou os três combinados com a Procuradoria, essas provas são nulas : - Nos bancos escolares aprendemos que "flagrante preparado" não tem efeito legal. Por isso, nesse caso em questão, não acredito que o Supremo valide isso como prova. Em todo o caso, segundo o ministro, por envolver chefes de poderes, Teori deverá levar o pedido de Janot ao plenário do Supremo. Sustar as nomeações Fez bem o governo em sustar as nomeações para cargos nas empresas estatais. Em momento de contenção, as nomeações pegam mal. O governo vai aguardar a aprovação, pela Câmara, de projeto regulamentando as nomeações técnicas. O corpo parlamentar pode, até, se rebelar contra essa decisão. Mas o clamor das ruas, nesse momento, não pode deixar de ser ouvido. Entre as ruas e o Congresso Esse é, aliás, o desafio que se apresenta ao presidente em exercício, Michel Temer : satisfazer, de um lado, aos parlamentares que exigem preenchimento de cargos com seus indicados e, de outro, atender ao clamor da comunidade, que exige contenção de gastos, extinção da farra de cargos, postura franciscana. Dilma e sua Corte A presidente Dilma Rousseff está afastada de suas funções. Logo, não tem compromissos oficiais. Os eventos dos quais participa não fazem parte da liturgia governamental. Portanto, não precisa de uma Corte de 50 pessoas, aviões para transportá-la pelo país, helicóptero, etc. O que Dilma faz ? Comícios. Ou seja, ela quer continuar com as mordomias para fazer pregação contra o novo governo. Justifica-se plenamente a diminuição e de suas mordomias. Ela gasta 62 mil reais por mês com alimentação e usando o cartão corporativo. Só ela. Planos de saúde Ailton Barcelos, um dos mais competentes consultores do mercado, manda esta mensagem : "Na questão de que as Agências não devem pertencer ao Governo e sim ao Estado, a ANS é um belo exemplo. Não pertence nem ao Governo nem ao Estado. Pertence, sim, à área privada. De longa data, foi capturada pela área privada que, supostamente, deveria controlar. Aumentar os planos de saúde acima da inflação é um escracho total. Milhares (milhões) estão perdendo seus planos de saúde por este infinito abuso. O ministro da Saúde deveria peitar a ANS e determinar que o limite de correção seja a inflação. E mais : determinar a mudança da infame metodologia. Isso é o que a sociedade clama". Congresso do aço Começa hoje no espaço de convenções Frei Caneca o 27º Congresso Brasileiro do Aço. Este consultor abrirá a densa pauta a ser discutida durante dois dias com uma exposição sobre a Situação Política do País. Falácia O presidente do PSB, Carlos Siqueira, é contundente : "o PT não fez revolução social. Isso é uma falácia. Os desafios de 13 anos atrás são praticamente os mesmos". Esta é a conclusão de um estudo feito pela Fundação João Mangabeira, vinculada ao PSB. Para ele, o PT fez assistencialismo demagógico. Que não gera direitos. O PT está em declínio. Serra estrelando José Serra começa a resgatar o prestígio das nossas Relações Exteriores. Trata-se de um perfil de peso, que reorganiza o ambiente do Itamaraty, voltando a abrir as portas do país para as economias fortes da contemporaneidade. E deixando em um segundo plano a articulação com países da África e com vizinhos atrelados ao bolavarianismo. O senador Serra começou bem como chanceler. Corrupção aumentou ou diminuiu ? A corrupção no Brasil aumentou porque passou a ter mais controles ou passou a ter mais controles porque aumentou ? A resposta não provoca tantas dúvidas quanto o teorema do biscoito encaixado naquele intrigante comercial de TV de meados dos anos 80 : "Vende mais porque é fresquinho ou é fresquinho porque vende mais ?" Praga alargou-se A profusão de casos de corrupção, que se espraiam pelos espaços midiáticos, não deixa dúvidas : para 64% dos brasileiros, a praga alargou-se. Se a questão é posta para autoridades, a resposta é outra : nunca a corrupção foi tão combatida como hoje e, graças aos mecanismos de controle, tem diminuído. Sua visibilidade é grande porque o momento é de muita transparência. Mas o fato é que a era PT abriu imensos porões de corrupção nos vãos da República. A democracia plugada O dado impacta : já há mais de 2,5 bilhões de pessoas conectadas às redes sociais eletrônicas, quase um em cada três habitantes do planeta. A cada minuto, milhares de novos internautas ingressam no circuito tecnológico da informação, enquanto a assinatura de telefones celulares já passa da marca dos cinco bilhões. O mundo está plugado. O fenômeno suscita estudos, debates e análises nas frentes de pesquisas sobre comportamento social, mas um aspecto chama a atenção pela importância que passa a ter para o desenvolvimento político das nações. A questão pode ser posta desta maneira : a Era da Informação Total, caracterizada pela interligação das comunidades mundiais por meio das infovias da web, contribuirá para o aperfeiçoamento da democracia ? Perfis preferidos Este consultor tem sido indagado sobre os perfis preferenciais do eleitorado. Cada região tem suas preferências. Mas o momento de combate à corrupção que estamos atravessando define alguns traços sobre os quais parece haver consenso. Vejamos : - passado limpo, vida decente - candidatos que possam exibir sua trajetória sem ter vergonha de mostrar aspectos de sua vida ; - identificação com a cidade - candidatos que busquem vestir o manto da cidade, significando compromisso com as demandas das comunidades e as questões específicas dos bairros ; - despojamento, simplicidade - candidatos despojados, simples, descomplicados, sem as lantejoulas e salamaleques que costumam se fazer presentes no marketing exacerbado. Candidatos não afeitos ao 'dandismo' - mania de querer aparecer de maneira diferente ; - respeito, decência, dignidade pessoal - candidatos de postura respeitosa para com os eleitores e identificados com uma vida pessoal e familiar digna ; - transparência, verdade - candidatos que não temam contar as coisas como elas são ou foram ; - objetividade, viabilidade de propostas, concisão, precisão - candidatos de expressão objetiva e concisa, capazes de fazer propostas viáveis e não mirabolantes. Precisos na maneira de abordar os assuntos. Fecho a coluna com uma historinha do sertão do Ceará. Tiro pela culatra A gozação se espalhou rápida no meio da rapaziada do Ipu/CE. O velho Faca Cega foi submetido à lâmina do dr. Benjamin Hortêncio, que amputou, quase pelo tronco, seu órgão genital. Faca Cega, tipo popular, detestava a alcunha. A operação era motivo de galhofa. E ocorreu um mês após seu casamento. Conta Leonardo Mota, em seu Sertão Alegre : "se o mero consórcio provocara picarescos comentários, imagine-se o que foi a maledicência ao se divulgar o que Faca Cega sofreu nas mãos do cirurgião. As murmurações culminaram quando, um ano depois, a mulher do mutilado começou a apresentar os iniludíveis sintomas da maternidade". Nessa atmosfera de zombarias impiedosas, Faca Cega se dirigiu ao Padre Feitosa e lhe pediu uma hora para o batismo do filho. Espírito folgazão, o velho sacerdote, que jogava o gamão à calçada, fungou uma pitada e gracejou : - Mas, que história é essa ? Depois duma operação como aquela sua, você ainda consegue ser pai ? Risada geral. Pachorrento, Faca Cega retrucou : - Eu me admiro, Padre Feitosa, é de o senhor, um padre velho, homem prático na vida, vigário no sertão há tantos anos, ignorar que o tiro não saiu do cano e, sim, da culatra.
quarta-feira, 25 de maio de 2016

Porandubas nº 492

Abro a coluna com a matreirice de um professor de Direito. Cláudio Lembo, professor de Direito, ex-vice-governador de São Paulo, matreiro político, as sobrancelhas mais decorativas do país, tem a verve na ponta da língua. Um dia, telefona para um amigo de Araçatuba para sondá-lo sobre o ingresso em seu partido. "Já se inscreveu em algum partido" ? "Não. Esperava as suas ordens". Lembo pede, então, que ele entre no PP. E lá vem a pergunta : "No PT do Lula" ? O ex-vice-governador de São Paulo replica : "No PP". Matreiro, o amigo diz que ouve mal. O arremate, contado por Sebastião Nery, é uma chamada sobre a nossa cultura política : "Vou soletrar alto e devagar : PP. P de partido e P de banco". O amigo entendeu a mensagem. A historinha retrata a identidade de quadros e partidos e serve para ilustrar o cotidiano de nossa cultura política. As conversas gravadas A agenda da Lava Jato praticamente entroniza o instrumento da delação premiada. E este, por sua vez, passa a abrigar o sistema de gravações. Assim compreende-se a gravação da conversa entre o ex-senador e ex-presidente da Transpetro, Sérgio Machado, e o senador Romero Jucá. Ambos são amigos de longa data. Chama a atenção nesse episódio o vazamento da gravação, atribuída ao próprio Machado. Uma punhalada pelas costas. Na política, não há amigos, só um jogo de conveniências. Jucá sai A licença do senador Romero Jucá do Ministério do Planejamento pode ser considerada como uma saída honrosa para ele. Não foi demitido, apenas licenciou-se. A esperar pela palavra do MP, não voltará. O MP e o Judiciário serão muito duros em relação aos políticos. O presidente Michel Temer, por sua vez, tem Jucá como um baluarte na linha de frente do Senado. Experiente senador, um político polivalente, entra em todas as grandes batalhas travadas no Senado Federal. O presidente Temer precisará muito dele. Preservar forças O novo governo se esforçará para deixar o affaire gravação de conversa entre Machado e Jucá na faixa estreita do acontecimento. Ou seja, espera que o caso não afete a balança da política no plenário da Casa. O senador Telmário Mota, de Roraima, Estado de Jucá, entrou com pedido de punição ao colega no Conselho de Ética. O pedido será assinado pelo presidente do PDT, Carlos Lupi. Pouco provável que prospere. Quem, na verdade, alterará o jogo de forças no Senado deverá ser o pacote de medidas na área econômica que o governo apresentou, ontem. Medidas As medidas apresentadas sinalizam um forte reajuste nas contas públicas, a partir da redução dos gastos públicos. Ou seja, o governo, durante os próximos anos, terá um teto para gastar. Vai acabar com os limites de despesas para educação e saúde, o que significará um corte naquelas duas rubricas. A extinção do Fundo Soberano (R$ 2,4 bilhões) permitirá aliviar o déficit público. O BNDES, por sua vez, terá de devolver à União Estado cerca de R$ 100 bilhões, melhorando, assim, a posição das contas públicas. Não haverá, por enquanto, nem novo imposto nem alta de impostos. As medidas são saneadoras. O mercado aplaudiu as medidas. O fim da gastança. Liturgia do cargo Michel Temer governa na plenitude da liturgia do cargo. Presidente da Câmara por três vezes, prestigia o Parlamento. O gesto de chamar os líderes dos partidos para lhes apresentar, previamente, o conjunto de medidas foi muito bem aceito. Os líderes saíram da reunião fazendo loas ao presidente. Só na sequência, Meirelles, Padilha e Geddel detalharam as medidas para a imprensa. O uso de uma rede nacional para apresentar projetos e pacotes não faz parte do gosto do presidente em exercício. Faz bem. Trata-se de uma medida muito autoritária. Gritos de estertor Os gritos que ainda se ouvem nas ruas de algumas capitais ressoam como últimos estertores de grupos aparelhados pelo Estado. Como se sabe, o governo petista aparelhou o Estado brasileiro e passou a financiar movimentos e blocos especializados em algazarras. Esses setores deverão, doravante, ver as torneiras de recursos fechadas. Por isso, a perspectiva é de refluxo de tais movimentos. Eles tenderão a continuar por mais um pouco com o grito de "golpe". Que não cola ante a evidência : STF, golpista ? Congresso, golpista ? Imensa maioria do povo brasileiro, golpista ? Diálogo O recuo do presidente em exercício Michel Temer em recriar o Ministério da Cultura é um gesto de humildade. Sinaliza um perfil que cultiva o diálogo. Tirou, ademais, o motivo da pirraça de muitos radicais. Que imediatamente procuraram compor novos slogans. Base no Congresso Um ou outro partido continua a exigir mais fatias do bolo do poder. É o retrato de nosso presidencialismo de coalizão. Os 11 partidos que formam a nova base governista querem entrar na máquina administrativa. O PV sai da base para assumir uma postura de independência. Mas o ministro Sarney Filho, do PV, tende a continuar. O presidente Temer deve contar com uma maioria de 3/5 para promover reformas constitucionais. Tanto na Câmara quanto no Senado. Reformar : coisa difícil O lembrete é de Maquiavel : "Nada é mais difícil de executar, mais duvidoso de ter êxito ou mais perigoso de manejar do que dar início a uma nova ordem de coisas". Quem patrocina um programa reformista, explica o pensador, tem inimigos entre aqueles que lucram com a velha ordem e poucos defensores que teriam vantagens na nova ordem. A resistência se torna mais forte em territórios contaminados pelas mazelas da velha política, entre as quais podemos apontar loteamento da burocracia estatal, descontrole de gastos, ausência de planejamento, improvisação, acomodação e incúria, fatores que descambam na perpetuação do status quo. Blitzkrieg Para alcançar êxito, o princípio maquiavélico é este : os governantes devem realizar uma Blitzkrieg agora, quando iniciam o ciclo administrativo. Entre o meio e o final de governo, será mais complexa a missão de reformar processos. E para quem tem menos de dois anos de governo ? Limitar gastos públicos é a primeira disposição. A meta de cortar as gorduras do Estado começa pela exoneração de cargos comissionados (cerca de 25 mil). Chancela política Ocorre que a maior parcela desse contingente está sob a chancela política. Por isso, a prática de corte massivo de comissionados no início da gestão, apesar de gerar impacto, fica amortecida ao longo do tempo. A massa que sai acaba sendo reposta, chegando, ao final do mandato, praticamente do tamanho inicial. Os vazios da largada são preenchidos na chegada. A eliminação desse exército é tarefa difícil, eis que nele estão fincados os bastiões das forças políticas. Cunha empoderado ? Muitos dizem que Eduardo Cunha continua dando as cartas. A força do ex-presidente da Câmara é grande, mas, a cada dia, esvanece diante das novas composições que se fazem na Câmara. Mas não será fácil escapar à influência de Cunha, um patrocinador de apoios a uma bancada de cerca de 100 deputados durante a campanha eleitoral de 2014. Renan dá apoio Renan Calheiros, o todo poderoso presidente do Senado, demonstra que dará apoio ao governo presidido por Michel Temer, colocando em votação o pacote de medidas de saneamento da economia. Renan é pragmático. E age de acordo com o espírito do tempo. Lava Jato A operação Lava Jato navega no piloto automático. Nenhuma força será capaz de deter seu rumo. O juiz Sérgio Moro se imbuiu da missão de passar o Brasil a limpo. Com os meus aplausos. Paulo Rabello de Castro Deverá ser o presidente do IBGE. Porta um dos mais densos currículos da planilha dos economistas notáveis do país. Tem perfil de ministro. É um quadro em ascensão. Ouvir as ruas Nenhum governante poderá sair-se bem se não ouvir o clamor das ruas. Mas não pode deixar de olhar para o Congresso. Por isso, vejo Michel Temer com um ouvido colado às ruas e um olho atento ao Parlamento. Dosar, sopesar, analisar, ponderar - verbos do seu dicionário. Crueldade particular Um turco se encontrou um dia com um canibal. "Sois muito cruéis, pois comeis os cativos que fazeis na guerra", disse o maometano. "E o que fazeis dos vossos" ?, indagou o canibal. "Ah, nós os matamos, mas depois que estão mortos não os comemos". Montesquieu assim arremata a passagem contada no livro Meus Pensamentos : "Parece-me que não há povo que não tenha sua crueldade particular".
quarta-feira, 18 de maio de 2016

Porandubas nº 491

Abro a coluna com uma historinha de Jânio Quadros. Obrigado, colega O próprio presidente Jânio Quadros, às vezes, transmitia seus bilhetinhos para os ministros por meio do aparelho de telex que mandou instalar em seu gabinete, ligado diretamente com os Ministérios em Brasília e no Rio de Janeiro. Ele mesmo datilografava os "memorandos". Transmitiu um bilhete para um ministro e na mesma hora recebeu a seguinte resposta, pelo telex : "Prezado colega. Não há mais ninguém aqui". Ao que o presidente respondeu : "Obrigado, colega. Jânio Quadros". Do outro lado do fio, porém, o outro não se perturbou : "De nada, às ordens. John Kennedy...". (Nelson Valente, jornalista e escritor, em seu livro Jânio Quadros - O Estadista) Sob o signo da confiança E o novo governo começa sob o signo da confiança. Já se percebe um ar de esperança entrando pelos pulmões sociais. Não se espere um coelho da cartola. Não haverá. Mas a sensação de maior segurança, de ordem contra a bagunça, do zelo contra a inépcia, da autoridade contra a horda de barbárie que ameaça tomar conta do país, já repõe as energias no corpo social. Pressões e contrapressões sobre o novo governo surgem de todos os lados. Em primeiro lugar, urge fazer uma assepsia na estrutura do Estado. Que está contaminada pelo loteamento de espaços e infiltração de contingentes petistas. Artífices da mamata e artistas Há muitos artífices da mamata que se fazem de artistas e cobram a continuidade da Pasta da Cultura. Urge fazer a distinção entre estes e os verdadeiros artesãos das artes e da cultura. O fato é que o Brasil dos últimos anos foi saqueado por mercenários, oportunistas, fariseus e hipócritas. Sabotagem Percebe-se, nesse momento, a tentativa de grupos que agem nos intestinos do Estado para praticar atos de sabotagem. Procuram resistir às novas forças que passam a comandar as áreas. Correm de um lado para outro procurando buracos para se esconder. Agem como ratos. Na frente da comunicação, é perceptível a agressão de blogs e sites financiados pelo lulo-dilmismo-petismo. São velhos conhecidos. As torneiras serão fechadas. A expressão desses guerrilheiros de fachada tende a encolher. Cabidão da imprensa - I O governo Michel Temer pretende reformar a Empresa Brasil de Comunicação, aparelhada nos últimos 14 anos por militantes petistas. Em vez de servir a um só partido, a empresa deve ser voltada ao bom jornalismo, profissional, a serviço de toda sociedade brasileira. Mas o governo enfrenta fortes resistências : os caciques ali alojados alegam que estão protegidos por lei e não podem ser demitidos. Soltam até notas oficiais contra as pretensões do governo. A EBC tem mais de 2.500 funcionários, quase metade comissionados. Tem gente de alta competência. O Conselho e a Diretoria da EBC alegam amparo legal para esse imenso cabide de dirigentes bancado pelos cofres públicos. É legal ? Pode ser, mas é absolutamente imoral. Cabidão da imprensa - II O esperneio dos caciques parece ter vida curta. Ainda ontem o presidente Michel Temer demitiu o diretor-presidente da EBC, Ricardo Melo, nomeado no último dia 3 pela presidente Dilma para um mandato de quatro anos ; ou seja, a poucos dias de seu impeachment. A exoneração de Melo foi publicada ontem pelo Diário Oficial e assim começa a desmoronar mais um gueto petista. Ele tentará se manter no cargo. Vai à Justiça. Prioridades O novo governo tem pressa. Por isso, estabelecerá um conjunto de medidas para votação no Congresso. A meta é fechar o buraco de 120 bilhões nas contas públicas. Um grupo foi formado para sistematizar a nova Previdência. Serão garantidos os direitos de pessoas abrigadas no sistema previdenciário. Na área trabalhista, imperará a ideia de acordo entre patrão e empregado, na esteira da ordem que se emprega no mundo civilizado. Por aqui, temos uma legislação engessada. A tal Nova Matriz Econômica - ancorada em subsídios e desonerações - será desmontada. A desvinculação de 25% da receita de Estados, municípios e União pelos próximos quatro anos fará parte das medidas. Pasta destroçada O ministro Henrique Alves passou pouco tempo fora do Ministério. Pois bem, no tempo em que ficou afastado - após pedir exoneração do cargo- a Pasta foi simplesmente destroçada. Henrique havia organizado a estrutura. Encontrou-a entregue às baratas. Completamente desestruturada. Henrique vai precisar de umas duas semanas para pôr as coisas em ordem. Brasil na transição - I Como será o Brasil na transição ? Tentemos esboçar alguns traços : 1. Não teremos, ainda, um território integrado aos valores da modernidade - crédito à meritocracia, fim do nepotismo, eficiência dos serviços, racionalidade administrativa. Mas certamente esses eixos começarão a ser fincados ; 2. O discurso político ainda será tumultuado pela competição acirrada entre os partidos grandes e médios, interessados em ocupar espaços na máquina administrativa. Veremos, porém, um refluxo do fisiologismo, a partir de uma crítica social mais intensa e continuada ; 3. Plantar-se-ão as sementes para uma reforma política, que virá mais adiante. Brasil na transição - II 4. As margens sociais terão garantidos seus programas de assistência, considerando que eles constituem obrigação do Estado, deixando, assim, de ser marcas de um determinado governo. Por isso, desconfiarão da expressão populista de Lula, em eventual périplo pelo país ; 5. As classes médias formarão a grande base de apoio e sustentação ao novo governo, espraiando para as margens seu poder de irradiação de ideias. Respirarão aliviadas pelo fato de verem esgotada a era do PT, com sua vermelha bandeira de traços bolivarianos sendo tragada por novos ares ; 6. Os movimentos sociais verão suas torneiras fechadas e, assim, com menos recursos farão ações mais pontuais, específicas e sob o controle dos instrumentos de segurança social. Brasil na transição - III 7. Os horizontes serão menos tenebrosos e poluídos, com a vida produtiva tomando o caminho da normalidade. Sob o signo da confiança, os setores produtivos voltarão, de forma gradativa, a realizar investimentos ; 8. O país, pouco a pouco, retomará o ritmo da normalidade, diminuindo a taxa de tensões e as relações conflituosas entre as alas que fazem manifestações de rua ; 9. O voto tenderá a ser mais seletivo, apurado, sob o olho mais acurado de um eleitor atento, que não quer ser enganado. O arco ideológico Veremos, nos próximos tempos, um arco ideológico com as seguintes divisões : uma faixa vermelho-encarnada ocupando a extremidade esquerda (partidos pequenos e radicais, a partir do PSOL) ; uma faixa vermelha-embotada ocupando o espaço da esquerda (PT, mais um ou outro partido) ; uma faixa tomando o lugar de centro-esquerda (PSB, PDT, principalmente) ; uma gigantesca tira ocupando laterais esquerda e direita do centro (a constelação de partidos que formam a base do novo governo, como PMDB, PSDB, PTB, PSC etc.) ; uma faixa ocupando a margem direita, abrigando partidos como PSD, PP, PRB e DEM. Estes últimos partidos são também atraídos pelo imã do centro, sendo, portanto, maleáveis na mudança de posições. Serra José Serra, como já se começa a perceber, será um dos ministros com maior visibilidade. Já sinaliza contrariedade com os países sob a órbita bolivariana. Quer apurar o custo de embaixadas em países que, sob o aspecto de benefícios comerciais, pouco acrescem ao Brasil. No caso, alguns países africanos e do Caribe. Serra endureceu posição contra esses países pelo fato de terem considerado impeachment da presidente um "golpe". A chave A chave que vai destrancar as portas do amanhã será a nova equipe econômica sob o comando de Henrique Meirelles, ministro da Fazenda : Ilan Goldfajn, no Banco Central ; Mansueto Almeida, Carlos Hamilton e Marcelo Caetano, nas Secretarias do Ministério da Fazenda. E mais : Maria Silvia Bastos Marques, no BNDES ; Jorge Rachid, continuando na Receita Federal ; e Otávio Ladeira, no Tesouro Nacional. Uma equipe portentosa. E de grandes conhecimentos sobre matéria econômica. Alguns metros acima da equipe da era Dilma. Mulheres e negros A polêmica criada com a ausência de mulheres e negros no Ministério do novo governo tem um mérito : o de levantar a questão sobre a representatividade dos gêneros e de raças face à competência. No primeiro momento, choveram críticas contra o novo ministério ; que foram se arrefecendo ante o argumento de que a meritocracia deve prevalecer sobre outros critérios. O bom senso, ufa, apareceu. Que se nomeiem mulheres. Não, porém, com a capacidade da mandatária que acaba de ser afastada. Marco Aurélio Marco Aurélio Mello, ministro do STF, aparece novamente nas manchetes. Libera caso do impeachment do vice para votação em plenário. Deverá colher mais uma derrota. Marco Aurélio é mesmo uma pessoa que preza as luzes midiáticas. Troca de comandante Renê Hermann ocupou, neste mês, sua cadeira à frente da CLIA ABREMAR BRASIL (Associação Brasileira de Cruzeiros Marítimos). O executivo assumiu o lugar que foi de Roberto Fusaro por dois anos. Hermann, que também é diretor-Geral da Costa Cruzeiros para a América do Sul, trabalha no setor há 22 anos. Graduado em Administração, iniciou sua carreira profissional na indústria da aviação em 1974, obtendo licença como piloto. Antes de juntar-se à Costa Cruzeiros, o executivo trabalhou para Varig, British Caledonian e British Airways, ocupando nessa última empresa o cargo de diretor-Geral para o Brasil. Experiente no segmento, Roberto Fusaro seguirá no Conselho da CLIA Abremar Brasil. Programa de qualidade O Sescon-SP (Sindicato das Empresas de Contabilidade no Estado de São) realiza nesta sexta, 20/5, o evento de certificação do PQEC (Programa de Qualidade de Empresas Contábeis), criado há mais de 10 anos para incentivar a excelência das empresas de serviços contábeis. Nas palavras do presidente da entidade, Márcio Shimomoto, "com a evolução tecnológica, as mudanças legislativas, tributárias e sociais e o aumento da exigência dos consumidores, a qualidade na prestação de serviços se tornou fundamental para o sucesso das organizações". Este ano serão 473 empresas, sendo 99 certificadas também pelo ISO. O evento será no Espaço das Américas, em São Paulo, com show do cantor Luan Santana. Gerdau explica O Grupo Gerdau diz que, embora até o presente momento não tenha tido acesso ao relatório final recentemente elaborado pela Polícia Federal, recebeu com imensa surpresa e repúdio a informação de que executivos da companhia, entre os quais seu diretor-presidente (CEO), estariam entre os indiciados do processo do CARF. E explica que recursos que tramitam no órgão ainda se encontram pendentes de julgamento. Reafirma que está à disposição das autoridades competentes para prestar os esclarecimentos que vierem a ser solicitados. Fecho a coluna com uma historinha das antigas. O poder é como água 1945. O Brasil inaugura a redemocratização. Hermes Lima, fundador da UDN, deputado constituinte, ex-presidente do STF, foi ao Nordeste conseguir apoio de democratas ilustres para fundar outro partido, o Partido Socialista Brasileiro. Em João Pessoa, procurou Luís de Oliveira : - Luís, o socialismo é como aqueles gramados dos castelos da Inglaterra. Cada geração dá por eles um pouco de si. Um jardineiro planta, o filho cuida, o neto poda. E vai assim, de geração em geração, até que, um século depois, torna-se o que é. - Doutor Hermes, me desculpe, mas não vou entrar não. Gosto muito do socialismo, mas vai demorar muito. Eu quero é o poder. E o poder é como água. A gente tem que beber na hora.
quarta-feira, 11 de maio de 2016

Porandubas nº 490

Lei da gravidade A Lei da Gravidade, de vez em quando, dá dor de cabeça aos mineiros. E a lei da gravidez, essa, nem se fala. Na Câmara Municipal de Caeté, terra da família Pinheiro, de onde saíram dois governadores, discutia-se o abastecimento de água para a cidade. O engenheiro enviado pelo governador Israel Pinheiro deu as explicações técnicas aos vereadores, buscando justificar a dificuldade da captação : a água lá embaixo e a cidade, lá em cima. Seria necessário um bombeamento que custaria milhões e, sinceramente, achava o problema de difícil solução no curto prazo, conforme desejavam : - Mas, doutor - pergunta o líder do prefeito - qual é o problema mesmo ? - O problema mesmo - responde o engenheiro - está ligado à Lei da Gravidade. - Isso não é problema - diz o líder - nós vamos ao doutor Israel e ele, com uma penada só, revoga essa danada de lei que, no mínimo, deve ter sido votada pela oposição, visando perseguir o PSD. O líder da oposição, em aparte, contesta o líder do prefeito e informa à edilidade, em tom de deboche, que "o governador Israel nada pode fazer, visto ser a Lei da Gravidade de âmbito Federal". E está encerrada a sessão. (Historinha contada por José Flávio Abelha, em seu livro A Mineirice). Tiro fatal ou final O governo tenta dar o último tiro no impeachment da presidente Dilma. O atirador será, mais uma vez, o advogado-Geral da União, José Eduardo Cardozo. Que entra com um mandado de segurança no STF para pedir anulação do processo de impeachment que tramita no Senado. Alega desvio de finalidade por parte do presidente afastado da Câmara, Eduardo Cunha, ao aceitar o pedido de impeachment. O Supremo deverá rejeitar o pedido. O tiro final acabará sendo fatal para a presidente Rousseff. Almagro, não se meta Luis Almagro, secretário-Geral da OEA, é um penetra nos corredores da democracia brasileira. Diz que vai consultar a Corte Interamericana de Direitos Humanos para saber da legalidade do processo de impeachment da presidente Rousseff. Belisco-me. Será que estou lendo direito ? Esse Almagro deveria tomar um chá de simancol. De maconha uruguaia, não adianta. Almagro, Almagro, não somos uma Republiqueta bananeira. O desfecho PT, PSOL, MST, MTST e UNE ganharam algumas horas de respiro no início desta semana. O Waldir do Maranhão, que porta este mesmo sobrenome, atirou no que viu e acertou no que não viu : ele próprio. O despacho apressado por ele assinado, que não recebeu assessoria técnica da Câmara, tinha a intenção de impedir o impeachment e jogá-lo nas vibrantes páginas da história. O tiro voltou-se contra ele. Maranhão recebeu um fuzilaço do presidente do Senado, Renan Calheiros. Lá pela meia noite, Waldir acabou anulando a decisão tomada pela manhã. Temia ser expulso do partido. Entrou na terça-feira com cara de vencido. Renan sobe Renan Calheiros estava em rota de descida, pois, nos últimos meses, era encostado aos vãos do Planalto. Mas sua celebrada decisão de dar continuidade ao rito do impeachment o tira da zona de suspeição e o eleva ao patamar de senador-juiz. Sua decisão tem peso histórico. Com o ato em que anulou a decisão de sustar o impeachment, o que sobra a Maranhão ? Vergonha e silêncio. STF à espera O STF se preparava para acolher mandado de segurança contra o ato de Waldir Maranhão. Mas a política deu respostas ao imbróglio. Os parlamentares, na grande maioria, temiam que um mandado de segurança pudesse cair nas mãos do ministro Marco Aurélio, sobre quem recaem suspeitas de ser um bastião de defesa do governo Dilma. Corte de ministérios O vice-presidente Michel Temer se prepara para governar com um ministério enxuto, racional. Mas a realpolitik acaba impedindo a boa intenção, tão fortes são as pressões e reivindicações de partidos para entrar na estrutura ministerial. Procurou ouvir todos. Mas, ao final do processo de montagem do Ministério, acabou optando por uma máquina mais comprimida. Cortará umas 10 Pastas com a fusão de algumas delas. A opinião pública está de seu lado. E os partidos haverão de compreender que seriam colocados ante a parede caso o novo governo se transformasse no mais do mesmo. Como será o governo ? O eventual presidente Michel Temer, pelos valores que adornam seu perfil, procurará fazer um governo mais descentralizado, com os ministros podendo ter autonomia para tomar decisões e implementar medidas em seus respectivos espaços. Se errarem, serão cobrados. Mas a ideia é a de governar com os partidos. Que deverão não apenas ocupar espaços, mas participar da definição de políticas públicas. O eixo da economia O novo governo tentará obter sinais positivos da economia, na crença de que a confiança dos protagonistas econômicos será a chave do sucesso. Com o resgate da confiança, será possível a volta dos investimentos. Esta condição será intensamente perseguida pelos eixos que locomoverão a máquina econômica : Henrique Meirelles, na Fazenda ; Romero Jucá, no Planejamento ; José Serra, no Ministério das Relações Exteriores, dentro do qual serão desenvolvidas as atividades na área do comércio exterior ; Moreira Franco, que coordenará uma forte secretaria na área da infraestrutura. Delcídio joga aberto O senador Delcídio abriu a boca do trombone : agia sob mando de Lula e Dilma. Denúncia que, a cada dia, ganha peso. Pediu desculpas ao povo, reconhecendo que errou. E deixa no ar uma pergunta para que cada um tire suas conclusões : como pode ser chamado de mentiroso um senador que era líder do governo ? Dilma o brindou com a pecha de mentiroso. Delcídio faz o desafio. Crueldade Montesquieu, o famoso autor de O espírito das leis, e sua visão sobre a crueldade humana : "Um turco se encontra com um canibal. 'Sois muito cruéis' disse o maometano. 'Comeis os cativos que fazeis na guerra'. O canibal replicou :'e o que fazei dos vossos'? 'ah, nós os matamos, mas, depois que estão mortos, não os comemos'. E arremata o filósofo, do alto de sua moderação: 'não há povo que não tenha sua crueldade particular'." Corte internacional ? O advogado-Geral da União, José Eduardo Cardozo, é competente. Professor de Direito, ex-vereador, ex-presidente da Câmara de Vereadores de São Paulo e ex-deputado Federal. Renunciou ao mandato por discordar da maneira escandalosa de financiamento de campanhas eleitorais. Este escriba até fez um reconhecimento público, em artigo na grande mídia, sobre o ato de civismo de Zé Eduardo. Mas a promessa da AGU de levar o caso do impeachment à Corte Interamericana de Direitos Humanos parece uma coisa fora de propósito. Seria um desrespeito ao nosso próprio sistema Judiciário, um tapa na cara de Suas Excelências, os ministros da Suprema Corte, que aprovaram o rito do impeachment e acompanham, atentamente, o desenrolar dos acontecimentos. Operação Tabajara O ministro Gilmar Mendes carimba com frequência e senso de humor episódios da vida política. O ato desastroso de Waldir Maranhão ganhou dele a expressão : Operação Tabajara. Como se recorda, as Organizações Tabajara formam uma empresa fictícia, um "conglomerado monopolista" criado pelo grupo de humor Casseta & Planeta da Rede Globo de Televisão que utiliza o nome da tribo indígena Tabajara na associação a produtos fictícios de cunho pejorativo. A "empresa" fabrica produtos e serviços falsos - para não dizer esdrúxulos e absurdos - com a intenção de fazer rir. Geralmente os produtos possuem nomes que lembram inglês, mas usando o radical em português. São esses o prefixo "personal" e os sufixos "-ation" e "-ator". Exemplos: "Carro Moita Disfarceitor Tabajara" e "Personal Mentirosation Tabajara". Pimentel sob risco Fernando Pimentel, governador de Minas Gerais, pode ser afastado a qualquer momento. Foi denunciado pela PGR, acusado de ter solicitado e recebido "vantagens indevidas para conceder benefício tributário" à CAOA. Quando desempenhou as funções de ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. PGR pede derrubada de liminar O procurador-Geral da República, Rodrigo Janot, pediu que o STF derrube a liminar sobre pedido de impeachment do vice-presidente Michel Temer. Como se recorda, a liminar foi acolhida pelo ministro Marco Aurélio. Janot alega que pedido do advogado mineiro Mariel Marra era para suspender andamento do pedido do impeachment da presidente Dilma. Decisão de Marco Aurélio extrapolou pedido feito ao STF. Passarinho esmagado Inflamado, o candidato eleva a fala no palanque. Argumentava que o povo livre sabe escolher seus governantes. Para entusiasmar a multidão, levou um passarinho numa gaiola, que deveria ser solto no clímax do discurso. No momento certo, tirou o pássaro e com ele, na mão direita, tascou : "a liberdade do homem é o sonho, o desejo de construir seu espaço, sua vida, com orgulho, sem subserviência. Deus (citar Deus é sempre bom) nos deu a liberdade para fazermos dela o instrumento de nossa dignidade ; quero que todos, hoje, aqui e agora, comprometam-se com o ideal da liberdade. Para simbolizar esse compromisso, vamos aplaudir a soltura desse passarinho, que vai ganhar os céus". Ao abrir a mão, viu que esmagara o passarinho. A frustração por ter matado o bichinho foi um anticlímax. Vaias substituíram os aplausos. Foi um desastre. Cuidado, candidatos : controlem a emoção. Dilma voltaria ? Esta é a uma das mais recorrentes perguntas que enfrento em minhas palestras. É possível, mas pouco provável. Ela governaria com os "367 golpistas" que aprovaram o impeachment na Câmara ? Com os senadores golpistas que admitiram a ideia do impeachment ? E os contingentes despachados de seus cargos voltariam aos antigos locais de trabalho ? O Brasil seria uma grande bagunça. A volta só seria possível ante um formidável fracasso do novo governo. Essa alternativa é muito tênue. Lula, alquebrado Corre à boca pequena que Lula se mostra cansado e desanimado com a situação que abarca o petismo-dilmismo-lulismo. Dilma seria uma grande decepção. Não teria sabido segurar as bases governistas, a partir do PMDB. Lula não estaria tão animado a correr o país em novas caravanas da Cidadania. Como o PT pode renascer das cinzas ? Que novos perfis pode apresentar em palanque ? Tucanos, um olho aqui, outro lá Os tucanos continuam com um olho para o norte e outro para o sul. Uma banda quer entrar no governo Temer, outra quer permanecer nas margens. Fez um documento que submeteu ao vice Michel Temer com as condições para apoiar seu governo. Maneira de vacinar-se contra eventual fracasso. Mas o partido deverá emplacar o bom deputado Bruno Araújo em um importante Ministério do novo governo. A gazela e o leão A historinha é emblemática. Pinço-a mais uma vez : "Toda manhã, na África, uma gazela desperta. Sabe que deverá correr mais depressa do que o leão para não ser devorada. Toda manhã, na África, um leão desperta. Sabe que deverá correr mais que a gazela para não morrer de fome. Quando o sol surge, não importa se você é um leão ou uma gazela : é melhor que comece a correr". Esse lembrete ainda é exibido em ambientes de trabalho como profissão de fé de executivos e dirigentes empresariais. Exaltação à barbárie À primeira vista, parece um bom conselho para quem quer vencer na vida. Trata-se, porém, de uma exaltação à barbárie. Basta intuir que, pelo conselho, "leões humanos" são autorizados a agarrar "gazelas humanas", que, apavoradas, devem se desdobrar para realizar suas tarefas ou a se esconder para fugir das intempéries do trabalho (ou dos ataques dos leões). É evidente a estimulação ao instinto da violência, ao cultivo dos perfis agressivos, às lutas por espaço e poder, às táticas aéticas e aos golpes traiçoeiros, tudo justificado pela necessidade da competitividade.
quarta-feira, 27 de abril de 2016

Porandubas nº 489

O ciclo Kubitschek Figura carismática, Juscelino Kubitschek era jovial, alegre. Encarnava o Brasil moderno. Em 1959, o palhaço Carequinha popularizou uma batucada de Miguel Gustavo - Dá um jeito nele, Nonô : ("Meu dinheiro não tem mais valor. / Meu cruzeiro não vale nada. / Já não dá nem pra cocada. / Já não compra mais banana. / Já não bebe mais café. / Já não pode andar de bonde. / Nem chupar picolé. / Afinal, esse cruzeiro é dinheiro ou não é ?") O clima ambiental era de descontração, como demonstra a historieta gráfica da revista Careta: Juscelino: - Preciso de divisas, ouro, seu Alkmim, para as realizações do meu governo. O ministro: - Ouro, seu Juscelino ?! Eu sou Alkmim, não sou alquimista. Vestiu a camisa do desenvolvimento, e seu slogan "50 anos em 5" foi um sucesso. Colou. Seu sorriso era a estampa de um país feliz. (História contada pela historiadora Isabel Lustosa) _____________ Fluxo do impeachment Com a Comissão de 21 senadores formada, dia 12 já se pode ter uma votação para julgar a admissibilidade do impeachment. O plenário, por sua vez, deliberará sobre o relatório a ser produzido pelo senador Antônio Anastasia. O acolhimento exigirá maioria simples, ou seja, 41 votos. Hoje, o número de senadores já decididos a acolher chega a 50. Os já declarados 39 senadores já se manifestaram pelo afastamento definitivo da presidente Dilma. Faltam 15 para completar os 54 necessários. O número será alcançado ? Esta é uma recorrente pergunta que jogam a este consultor. Respondo com estas hipóteses. Dilma volta ? 1ª abordagem : o país aguenta 180 dias de governo provisório ? Difícil. Este consultor defende a ideia de que em 2 meses a questão estará decidida. Imagine-se, agora, esta situação : um eventual Governo Temer compõe um ministério com nomes de peso. Os ministros, por sua vez, comporão suas equipes. Portanto, haverá um desmonte da paisagem ministerial de Dilma e a substituição por uma batelada de novos protagonistas, os quais seriam defenestrados caso a presidente Dilma voltasse à cadeira presidencial. Este consultor vê o abismo dentro do abismo caso essa hipótese prevaleça. O país estará paralisado. A máquina parada. Um horror. Por isso, não acredita no retorno de Sua Excelência, a presidente Rousseff. E a força de Lula? Luiz Inácio é um leão cansado : ruge, mas não morde. Já começou a trabalhar ativamente na linha de defesa de Dilma no Senado. Mas não carrega o calor do envolvimento pessoal d'antigamente. Sua peroração entra por um ouvido do interlocutor e sai pelo outro. Por essa força decadente, Lula teria chorado três vezes por ocasião da votação do impeachment na Câmara. 20 contra 70 Muitos falam de Lula como um grande potencial de amanhã. Trata-se, sem dúvida, do maior líder do PT e adjacências. Segundo as pesquisas, conserva, ainda, cerca de 20% dos votos no Brasil. Mas este consultor costuma ler pesquisas do fim para o começo. E a parte final das pesquisas mostra Lula com quase 70% de rejeição. Serra José Serra deverá ocupar um lugar em um eventual Ministério Temer. Fernando Henrique, com sua fala sugerindo a participação do PSDB no novo governo, deu o sinal para que Serra possa entrar na equipe. Se Alckmin ou Aécio não gostarem, a questão poderá, até, ser decidida pela Executiva dos tucanos. Há receio de que Serra, fazendo uma boa gestão em um ministério de infraestrutura, por exemplo, possa se habilitar a ser um forte candidato a presidente em 2018. Pelo PSDB ou pelo PMDB ? Façam suas apostas. Alckmin no PSB ? Geraldo Alckmin tem um largo espaço para ocupar. Como governador do Estado mais forte da Federação, terá mais força que Aécio Neves para viabilizar seu nome pelo PSDB em 2018. Mas se o senador Aécio continuar a dominar a máquina tucana, Alckmin não terá dúvidas : será candidato em 2018 pelo PSB. PT em declínio O PT perdeu muitos quadros nos últimos tempos. Ameaça definhar nas eleições municipais de outubro. Lula vai ter de rebolar nos palanques para garantir a eleição de petistas em médias e grandes cidades. Anastasia O senador Antônio Anastasia (PSDB-MG) é um dos melhores quadros do Parlamento Nacional. Preparado, contido, organizado, planejador, expressa bem as ideias. Terá muita visibilidade com o cargo de relator da Comissão de Impeachment do Senado. Pelo perfil de harmonia, assepsia e preparo, entra fácil na moldura dos grandes protagonistas do amanhã. Lira O senador Raimundo Lira (PMDB-PB) é um perfil comedido. Empresário, conhece bem os meandros do mercado. Já presidiu a Comissão de Assuntos Econômicos por três vezes e já comandou a Comissão Mista do Orçamento. Presidirá a Comissão do impeachment. Ele e Anastasia pertencem à linha do bom senso. Renan O presidente do Senado, Renan Calheiros, pressionado pelas circunstâncias, deverá acelerar o fluxo do impeachment na Câmara Alta. Diz ele que vai fazer tudo para "garantir o máximo de previsibilidade" ao longo do processo do impeachment para evitar "equívocos". Terá, logo, logo, uma conversa demorada com o vice-presidente Michel Temer para acertar as coisas. Jucá O senador Romero Jucá está a dois passos do Ministério do Planejamento. Trata-se de importante senador do PMDB. Mas deverá continuar a fazer articulação com os companheiros do Senado mesmo como ministro. Mariz Um dos mais afamados e preparados advogados do país está pertinho do Ministério da Justiça : Antonio Claudio Mariz de Oliveira. É um dos mais próximos amigos de Michel Temer! Henrique Henrique Alves poderá continuar como ministro do Turismo, acrescentando mais uma área para administrar: o Esporte. Teremos um Ministério do Turismo e Esporte. Geddel Geddel Vieira Lima, pela habilidade na articulação política, pode ganhar um posto no Palácio do Planalto. Padilha e Moreira São dois auxiliares diretos e leais de Michel Temer. Eliseu Padilha é organizado. O homem das planilhas. Sabe quem são as pessoas. E como se comportam. Deve ocupar a Casa Civil. Já Moreira Franco usa a cabeça para definir diretrizes e rumos. Pode ocupar um Ministério de peso. Meirelles Henrique Meirelles quer ser ministro da Fazenda. Há quem aposte que, bem-sucedido, possa usar o cargo como trampolim para uma candidatura presidencial em 2018. Rodrigo, Márcio e Yunes Três nomes que estarão, todo tempo, no entorno de Temer. Rodrigo Rocha Loures, ex-deputado, é uma alavanca na área das relações institucionais. Márcio Freitas é um experimentado jornalista e um bom analista de situações. Administra bem crises. Deverá assumir a Comunicação Social. José Yunes é um velho companheiro do vice-presidente, uma espécie de conselheiro. Que sabe ouvir e dizer as coisas no momento certo. Um assessor de alto nível. Paulo Rabello Paulo Rabello de Castro é um dos melhores e mais preparados economistas brasileiros. Didático, criativo, um grande formulador. Seus textos são clássicos. Sempre deu grande ajuda ao PMDB. _____________ Marketing Eleitoral Questões importantes que deverão florescer no jardim do Marketing Eleitoral em outubro deste ano : 1 - Campanhas serão municipalizadas ou tendem a receber influência da crise política ? 2 - Micropolítica - política das pequenas coisas - suplantará a macropolítica, temáticas abrangentes ? 3 - O discurso da forma (estética) suplantará o discurso semântico ? 4 - Campanhas privilegiarão pequenas ou grandes concentrações ? 5 - Qual será o papel das entidades de intermediação social (associações, movimentos, sindicatos, Federações, clubes, etc.) ? Telegráficas respostas : 1) Ambiente geral - estado geral de satisfação/insatisfação do povo - tende a causar impacto nas eleições municipais (os temas locais darão o tom, mas a temperatura ambiental será sentida); 2) A micropolítica, escopo que diz respeito ao bolso e a saúde, estará no centro dos debates; 3) O discurso semântico - propostas concretas e viáveis - suplantará a cosmética, as campanhas meramente publicitárias; 4) Pequenas concentrações, em série, gerarão mais efeito que grandes concentrações; 5) As organizações sociais mobilizarão o eleitorado.
quarta-feira, 20 de abril de 2016

Porandubas nº 488

O nome de deus em vão Nunca se ouviu falar tanto de Deus como na votação do impeachment, dia 17, domingo. Dedico esse voto, primeiro, a Deus, que me deu a vida ; depois, à minha mãe, à minha mulher, aos meus filhos etc. Portanto, Deus continua sendo a porta do Paraíso para nossos políticos. Vejamos Deus na vida de alguns protagonistas... O ditador Francisco Franco usava a Providência Divina para se afirmar : "Deus colocou em nossas mãos a vida de nossa Pátria para que a governemos". Não satisfeito, mandou cunhar nas moedas : "Caudilho da Espanha pela graça de Deus". Idi Amin Dada, o cabo que se tornou marechal de Uganda, ditador sanguinário, dizia ao povo que falava com Deus nos sonhos. Um dia, um jornalista faz a inquietante pergunta : "o senhor tem com frequência esses sonhos ? Conversa muito com Deus ?" Lacônico, o cara de pau respondeu : "Só quando necessário". Vitimização Está clara a estratégia da presidente Dilma e de seu entorno : tornar-se vítima. A liturgia da vitimização pode ser assim descrita : escolha de um refrão para abrir o discurso - conspiradores tramam um golpe ; aparecimento em entrevistas coletivas exibindo a estética das vítimas - olhos vermelhos, feições contraídas ; expressão pausada e ritmada, entremeada de pausas, que procuram enfatizar os refrãos ; postura humilde na audição e respostas às perguntas. Foi o que se viu em Dilma em suas entrevistas coletivas. Golpe A ideia de que estaria sendo tramado um golpe invade espaços midiáticos, multiplicados pela teia lulopetista. O vice-presidente da República, Michel Temer, e o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, seriam os conspiradores. A estratégia, nesse caso, é tentar colar a imagem de Cunha à imagem de Michel. Como sofre uma bateria de denúncias, o presidente da Câmara, como tentam o PT e o governo, contaminaria a imagem do presidente da República. Ou seja, o mal de um geraria sombra sobre o outro. Essa é a intenção dos comunicadores petistas. Golpe e contragolpe Ora, o que Dilma esquece é que o povo não é bobo. Não compra gato por lebre. Ela acha que é simples dizer que fulano é o demônio em pessoa e que esta identidade demoníaca pode ser simplesmente transferida a um grupo pelo simples fato deste grupo ser contrário ao governo. Por isso, Dilma começa a sofrer o contragolpe : os 367 deputados que votaram são conspiradores ? Os cinco milhões de pessoas que saíram às ruas desde 2013 são conspiradores ? O STF, que definiu o rito do impeachment, é golpista ? Os oito ministros do STF entre os 11 que formam o Colegiado são traidores golpistas ? Dilma, lacrimosa, pode até gerar comoção em algumas pessoas. Mas ela é uma pessoa dura, autoritária, nervosa, arrogante. O véu começa a cair. O rito no Senado O Senado abriu o rito do impeachment, que deverá ser acolhido pela maioria dos senadores. Hoje, cerca de 45 já definiram suas posições. A Comissão de 21 senadores fará um relatório inicial a ser votado pelo plenário. Aceito o impeachment, a presidente deverá ser afastada. A Câmara Alta terá 180 dias para apurar, julgar e decidir sobre seu afastamento. Vejamos as hipóteses. 180 dias ? Se o vice-presidente vier a assumir a presidência na segunda semana de maio, conforme calendário estabelecido, deverá fazê-lo com uma equipe já escolhida. Ou seja, se houver acolhimento por metade mais um dos senadores, a presidente será afastada por 180 dias. A depender da maneira como o presidente provisório der respostas às expectativas sociais, o processo de impeachment poderá ser logo decidido ou se estender até o prazo previsto pelo rito. Se as respostas forem satisfatórias, o Senado será instado a apressar o fluxo do impeachment. A recíproca é verdadeira. O fato é que o país não aguentará todo o prazo - 180 dias - de um governo provisório. Um eventual governo Temer Se chegar a ocupar a cadeira presidencial, o vice Michel Temer terá pela frente o maior desafio de sua vida : governar o país numa quadra das mais difíceis de sua história, marcada por uma economia em recessão, uma fila de 10 milhões de desempregados, 10% de inflação, perspectiva de queda entre 3,5% a 4% do PIB este ano. Para fechar os buracos do rombo na economia, o eventual presidente deverá escolher um nome de alto gabarito para coordenar a área mais crítica do governo. Como assoviar e chupar cana ao mesmo tempo ? Como fazer o ajuste e, ao mesmo tempo, arrumar o bolso dos consumidores, de forma que possam conservar certo poder de compra ? Desafios Os desafios serão monumentais. A estrutura ministerial deverá ser enxugada, sob o critério da racionalidade. Enxugamento, fusão e junção de cinco a sete Pastas. Nomeação de grandes perfis para comandar os Ministérios mais importantes : economia, saúde, educação, Justiça, infraestrutura. Como atender às demandas partidárias, sabendo que os partidos querem se fazer representar na Esplanada dos Ministérios ? Como manter uma sólida base de apoios no Congresso, condição que faz absolutamente necessária para preparar o país e avançar nas reformas fundamentais ? Reformas : Política, Previdência, Fiscal-Tributária, Trabalhista e do Pacto Federativo. Nomes e ensaios Qual será o prazo que a sociedade dará a um novo presidente nessa quadra de economia em descalabro ? Menos do que os 100 dias tradicionais que se costuma dar aos novos governantes. Por conseguinte, 60 dias (dois meses) fechariam a agenda das expectativas. Mais que isso, o clima social estaria muito tenso. Se, em menos tempo, as expectativas começarem a ser atendidas, melhor para o ânimo governamental. Nesse ínterim, a sociedade tomaria conhecimento da disposição de um novo governo e passaria a responder com o reconhecimento e a simpatia. O Estado adequado Nem Estado gordo, nem Estado magro. Um Estado adequado. Essa é a concepção que passa pela cabeça do vice-presidente Michel Temer. Um Estado capaz de dar respostas aos anseios sociais, em condições de atender às demandas prioritárias nas áreas da saúde, educação, emprego, segurança. Não se trata de dizer que o país verá um amplo programa de privatização. Não se pode fazer terrorismo com esse conceito. A privatização deve ocorrer em áreas que fogem às competências constitucionais do Estado brasileiro. Os investidores querem ganhar confiança para voltar a reinvestir. Credibilidade, eis a palavra mágica que precisa ser resgatada. Senadores sob pressão das ruas A imensa maioria da população brasileira quer ver a presidente Dilma afastada do comando da Nação. Parece dizer : o ciclo do PT chegou ao fim. Queremos inaugurar uma nova era. O Senado deverá agir sob esse clamor das ruas. Ademais, a vitória do impeachment na Câmara foi muito expressiva. Acima das expectativas. Ou seja, essa avalanche de votos favoráveis funcionará como alavanca de impulso no Senado. A Câmara representa o povo brasileiro, enquanto o Senado representa os interesses dos Estados. A vontade do povo entra na Casa que representa a identidade dos 27 entes estaduais. E se Dilma ficar ? Dilma terá condições de voltar a governar, caso o Senado arquive o processo do impeachment ? Difícil imaginar a situação. Economia descalibrada, massas nas ruas, falta de apoio no Congresso, Lula girando como um autômato na Esplanada dos Ministérios... enfim, a paisagem de Dilma voltando a comandar o Estado é aterradora. Pobre português A deputada Jandira Feghali (PCdoB-Rio) reclamou muito do "baixo nível" do Congresso no dia seguinte ao da votação do impeachment, principalmente pelos erros grosseiros nos discursos dos parlamentares - alusão direta aos deputados que votaram "sim". É provável que a deputada não tenha ouvido direito, mas as principais agressões ao vernáculo e à inteligência vieram justamente dos seus pares da situação - ou da turma do "não". O sonho de Lula É claro que Luiz Inácio acalenta o sonho de voltar a ser candidato em 2018. Como se sabe, a melodia que sai do aparelho fonador de Lula não tem a suavidade de um bolero ou mesmo de samba-canção. A melodia é frenética. Lula gosta mesmo é de ser oposição. Por isso, quanto antes Dilma se afastar, melhor para seu desígnio de se candidatar. Precisa voltar com as caravanas pelo Brasil afora. Ora, essa condição exige que seja oposicionista contra "esse governo golpista" que está aí. As massas aplaudirão seu discurso ? Possivelmente, as massas instrumentalizadas, que recebem cachê para comparecer aos comícios. Lula já não é o mesmo de 10, 15 anos atrás. P.S. Ademais, Luiz Inácio terá de dar algumas respostas à República de Curitiba. Evento em Foz Este consultor irá ao evento do LIDE - Grupo de Líderes Empresariais - a se realizar em Foz de Iguaçu, de 21 a 24 de abril. Sob coordenação do dinâmico jornalista, empresário e presidente do LIDE, João Dória. O tema principal será : Cenários e soluções para a crise econômica. A mesa debatedora central será formada pelo CEO Global da BRF, Pedro Faria ; o presidente da Riachuelo, Flávio Rocha ; a presidente da Microsoft Brasil, Paula Bellizia ; e o presidente da CPFL, Wilson Ferreira. Infidelidade A infidelidade partidária no Brasil vem lá de trás, dos idos tempos do general Golbery do Couto e Silva, que a importou do México. Como é sabido, a lei de governabilidade naquele país garantiu 71 anos de governo ininterrupto ao Partido Revolucionário Institucional (PRI). Existiu até a vitória de Vicente Fox, do Partido de Ação Nacional (PAN). Considerada coisa da ditadura, a fidelidade foi abolida, apesar da reação de Tancredo Neves, logo depois de eleito, em 1985, no sentido de que a lei eleitoral deveria ganhar mudanças, mas não a ponto de se ter "a porta arrombada". Foi o que ocorreu. De lá para cá, criaram-se dezenas de siglas e a política passou a ser um espaço de beltranos e sicranos. Fulanização Pegando carona no atual sistema eleitoral proporcional, que data de 1950, o fenômeno da fulanização tomou corpo, contribuindo, por meio das listas abertas, para o voto "salada mista", pelo qual o eleitor tem liberdade de escolher candidatos, em um visível enfraquecimento das estruturas partidárias. Isso porque os partidos, com raras exceções, além de não possuírem controle sobre os perfis e as chances de seus candidatos, passam a presenciar, estáticos, uma feroz disputa entre eles próprios. Para coroar o ritual de personalização política, muitos eleitos acabam trocando a sigla, contribuindo, assim, para a pasteurização partidária.
quarta-feira, 13 de abril de 2016

Porandubas nº 487

Abro a coluna com duas historinhas, uma da Bahia, outra do Maranhão. O vice-versa Dr. Dantinhas, deputado da Bahia, elo de todo um clã político do Estado (neto do barão de Geremoabo), foi convidado para padrinho de casamento da filha de um coronel do sertão. No dia de viajar, recebeu telegrama : - Compadre, não precisa vir. Deu-se o vice-versa. Menina morreu. Puxa quem pode Tempos eleitorais. Tempos de fidelidade e infidelidade. Guararé era cabo eleitoral do governador Sebastião Archer, do Maranhão. Convenção do PSD, alguém acusou Guararé de puxa-saco. Guararé argumentou : - Cada um puxa quem pode. Eu puxo o senhor, governador Archer. O senhor já puxa o senador Vitorino Freire. E o senador puxa o general Dutra. É a lei da fidelidade partidária. Semana decisiva O Brasil vive uma das semanas mais decisivas de sua contemporaneidade. Segunda, a Comissão de Impeachment aceitou, por 38 a 27, o relatório produzido pelo deputado Jovair Arantes (PTB/GO) que recomendou o impeachment da presidente Dilma por crime de responsabilidade. O clima foi todo tempo acirrado naquela Comissão. O resultado era previsível, mas o governo esperava chegar a 30 votos. Não colou a tentativa dos governistas de relacionar impeachment a golpe. Pelo menos, até o momento. Domingo, o dia D Domingo será a votação em plenário. O governo diz ter 40 votos a mais do que necessita - 172 - para impedir o pedido de impeachment pela Câmara. As oposições garantem já ter alcançado os 342 votos necessários para aprovação. O corpo a corpo é intenso. Um estudo feito por estatísticos da USP, levando em consideração indecisos, partidos a que pertencem e Estados de origem, chega a este número : impeachment poderá ter entre 357 e 375 votos. Se não houver uma avalanche em contrário nessa semana, o afastamento da presidente passará pela Câmara. Voto a voto Luiz Inácio ocupa há duas semanas a suíte de um hotel estrelado de Brasília para receber deputados. Dizem que faz a pergunta clássica : o que você quer ? O governo estaria negociando com verbas de 38 bilhões de Ministérios. Ou seja, parte para a guerra com farto arsenal sob o lema : é tudo ou nada. Deputados nunca foram tão assediados. Mas Lula pode não assumir a Casa Civil, o que gera certa desconfiança. Há muitas dúvidas sobre a continuidade do governo Dilma. Liberação de bancadas Alguns partidos - PP, PR e PSB - estavam em dúvidas. PP e PR foram fortemente pressionados pelo governo a se manter na base governista. Mas a maioria dos deputados desses partidos, sob o clamor das ruas, já tomaram posição a favor do impeachment. Daí a mudança de rumos : o PSB decidiu pelo impeachment. Os outros liberaram as bancadas. O que favorece o voto das oposições, ou seja, a favor do impeachment. O PMDB O PMDB deverá ser o fator decisivo no domingo. O líder Leonardo Picciani, sob conselho do pai, Jorge Picciani, liberou a bancada. Ou seja, mais de 80% dos peemedebistas devem acompanhar os votos a favor do impeachment. Do Rio, com exceção dele e de mais um ou outro, os deputados do PMDB deverão votar pelo afastamento. A se confirmar essa tendência, não se descarta a possibilidade de indecisos de algumas siglas aderirem em massa à tese do impeachment. O vazamento da mensagem O vazamento do áudio com uma mensagem do vice-presidente Michel Temer sobre o Day after - no caso de aprovação do impeachment pela Câmara - as coisas são mais simples do que as histórias contadas, inventadas, espetacularizadas. Não houve conspiração nem há intenções golpistas com a mensagem vinda a público. O vice-presidente simplesmente foi instado a gravar algo ante a observação de um interlocutor : o que você dirá se, por acaso, houver uma decisão da Câmara pedindo o impeachment da presidente ? De supetão, gravou um áudio de 13 minutos com ideias sobre o país. Uma fala de bom senso. Sob o respeito de qualquer decisão a ser tomada pelo Senado caso o pedido chegue até lá. A tecla Era apenas um exercício de resposta eventual pergunta que poderá surgir, no caso - é bom lembrar - de aprovação do pedido de impeachment pela Câmara. Cautela e caldo de galinha não fazem mal a ninguém. A mensagem deveria ser encaminhada a um amigo. Uma tecla acionada no WhatsApp destinou a mensagem para um grupo. Foi o que aconteceu. Sem conspiração, sem tramóia, sem intenções malévolas. Sem premeditação. Golpe ? Piada No dia seguinte, uma enxurrada de críticas da militância petista : golpe. O PT não olha para o próprio umbigo : quem assaltou os cofres do Estado ? Quem negocia em um hotel de Brasília espaços na Esplanada dos Ministérios ? Quem cometeu os maiores golpes contra a decência, a moral, a ética e os bons costumes ? Todas as respostas indicam que os canos do mensalão se encontraram com os dutos do petrolão. Sob a era PT. Comparação Qual o presidente afastado por escândalos de corrupção ? Não foi Getúlio. Não foi Jango. O caso de afastamento mais parecido com a situação da presidente Dilma é a de Collor. Lembram-se de PC Farias ? Ora, há quem diga que, ante os corruptos de hoje, mais parecia um coroinha. A avalanche de escândalos torna inviável a continuidade de um governo petista. As condenações de seus próceres que o diga. Day after Segunda-feira, dia 18. Como estará o Brasil ? Em clima de grande decepção se impeachment não passar pela Câmara. Em clima de euforia, caso o processo vá ao Senado. Este, por sua vez, terá condições de brecar a aprovação de um instrumento aprovado pela casa que representa o povo brasileiro ? 41 senadores teriam condições de desaprovar um recurso aprovado por 2/3 dos deputados ? Difícil imaginar essa possibilidade. O Brasil continuará agitado, tenso. A agenda do Senado estará nas mãos de Renan Calheiros, que tende a rezar pela cartilha de Dilma/Lula. Mas terá ele condições de suportar o peso das ruas ? Este consultor acha que ele se dobrará às circunstâncias. Roberto Jefferson Este consultor teve a oportunidade de entrevistar o ex-deputado Roberto Jefferson no programa Roda Viva desta segunda-feira. Trata-se de um político que domina a arte da oratória. Educado, mas firme, decidido, modesto. Sabe reconhecer erros. Volta com a cabeça erguida, como diz. Aponta Lula como o comandante do mensalão e do petrolão. Ele achava que Luiz Inácio ignorava as peripécias de José Dirceu. Acabou reconhecendo que o projeto de poder do PT foi sempre comandado por Lula. Acha, ainda, que o ex-presidente acabará atrás das grades. E que Eduardo Cunha, logo após o pedido de impeachment pela Câmara, será interditado pelo Supremo. Agenda do impeachment Sexta, as 8h50, começa a sessão da Câmara para debater o impeachment. Todos os 25 partidos com representação na Casa poderão usar seu tempo por até 1 hora. Cada partido designará até 5 deputados para usar a palavra. Os tempos de um partido não poderão ser cedidos a outro. Não há tempo para terminar. No sábado, a sessão terá início às 9h. Cada deputado, entre os 513, poderá usar a palavra por 3 minutos. Líderes se revezarão na tribuna. No domingo, a sessão terá início às 14h. O resultado da votação está previsto para as 21/22h. Nomes Ao final perguntei ao Jefferson sobre Lula, Alckmin, Aécio e Marina. Lula : vai ter de prestar contas à Justiça ; Alckmin, fortíssimo candidato à presidência da República em 2018 ; Aécio, tende a se enfraquecer com envolvimento na Lava Jato ; e Marina, é uma pessoa com pensamento igual ao do PT. Governo cansado Zaratustra, o pródigo e sábio filósofo de Nietzsche, oferece um banho de oxigênio aos governantes sem motivação, sem competência e sob o apupo das ruas : "Novos caminhos sigo, uma nova fala me empolga ; como todos os criadores, cansei-me das velhas línguas. Não quer mais, o meu espírito, caminhar com solas gastas". O recado é oportuno, principalmente para este governo cansado, incompetente, rodeado de corrupção. Aragão fora, por enquanto O novo Ministro da Justiça, Eugênio Aragão, por enquanto é apenas mais um ex em Brasília. A juíza Luciana Raques Tolentino de Moura, da 7ª vara do Distrito Federal, suspendeu sua posse. Aragão entrou para o Ministério procurando fama : prometeu demitir qualquer equipe da Polícia Federal se farejasse cheiro de vazamento. Claro, provocou um tremendo mal-estar no país. Antes, o STF afastara o primeiro substituto de José Eduardo Martins Cardozo, Wellington César Lima e Silva, pois a Constituição Federal de 1988 impede integrantes do Ministério Público de exercer outras atividades fora da instituição. O governo entendeu que, como Aragão foi admitido no Ministério Público antes de 1988, não estaria impedido de integrar o Executivo. Para a magistrada de Brasília, no entanto, a regra da Constituição vale para todos. A rotinite Há uma doença que aflige os governantes. Chama-se rotinite. As consequências são drásticas para os corpos administrativos : acomodação, ausência de criatividade, expansão da malha de interesses grupais, favorecimentos, saturação de ideias, obsolescência de estruturas. E tudo resulta em administrações que patinam, ou seja, movimentam-se para ficar no mesmo lugar. Um governo cansado é uma usina improdutiva. Os comandos dirigentes das áreas e setores são sonolentos e catatônicos. Parecem dândis andando no deserto infértil. Cuidado, prefeitos, governadores e presidente da República. Epílogo do PT ? O escândalo da Petrobras é o porto final do projeto do PT ? Tudo indica que sim. Pois o mensalão se conecta ao petrolão no formidável empreendimento em torno do projeto do PT. O partido construiu uma base para sua decolagem. Depois de navegar por 14 anos, a turbulência desestabiliza a aeronave petista. Que ainda está no ar, mas ameaça desabar. Lê-se que uma boa parcela de petistas tende a migrar para uma nova sigla a ser criada. Não será fácil. O PT encerrará um ciclo. Pode ter alguma sobrevida. Não muito extensa. Brasil potência ? Maurice Duverger, o famoso sociólogo, afirmou que "o Brasil só será uma grande potência no dia em que for uma grande democracia. E só será uma grande democracia no dia em que tiver partidos e um sistema partidário forte e estruturado". A receita demonstra que estamos muito longe do ideal do pensador francês. O nosso sistema é instável. Para se consolidar, carece que o país adote a modalidade eleitor-partido, para a qual será necessária, no sistema proporcional, a lista fechada para escolha de representantes, como na Espanha, Suécia, Holanda e Áustria, ou mesmo um sistema misto, que permita ao eleitor visualizar as duas alternativas, permanecendo o sistema majoritário em dois turnos. Estamos longe disso. Correr ou morrer ? "Toda manhã, na África, uma gazela desperta. Sabe que deverá correr mais depressa do que o leão ou será morta. Toda manhã, na África, um leão desperta. Sabe que deverá correr mais do que a gazela ou morrerá de fome. Quando o sol surge, não importa se você é um leão ou uma gazela : é melhor que comece a correr." Os apologistas dessa historinha são os maiores defensores de uma sociedade esquizofrênica, voltada para a agressividade competitiva. (Domenico de Masi)
quarta-feira, 6 de abril de 2016

Porandubas nº 486

Abro a coluna com duas historinhas contadas pelo acadêmico maranhense Benedito Buzar. Meia direita Aproximava-se o fim do mandato do governador Nunes Freire e ele desejava saber com quantos deputados estaduais poderia contar na Assembleia Legislativa para eleger o seu sucessor, tendo em vista que o nome do deputado Federal João Castelo ganhava força, fazendo a bancada da Arena aderir à sua candidatura ao governo do Estado. Convocados os deputados estaduais para uma reunião de avaliação no Palácio dos Leões, a todos Nunes Freire fazia a mesma pergunta : - Qual a sua posição na sucessão ? Ao dirigir a pergunta ao deputado Djalma Campos, ex-craque de futebol e ídolo do Sampaio Corrêa, este respondeu enfaticamente : - Governador, na época em que eu jogava pelo meu clube, minha posição era meia-direita. O murro de Alemão Em comemoração à nomeação do engenheiro Haroldo Tavares a prefeito de São Luís, o governador Pedro Neiva convocou a imprensa para tomar conhecimento do secretariado do novo gestor da capital do Maranhão. Um jornalista resolveu perguntar ao chefe do Executivo do Estado se não considerava fraco o secretariado de Haroldo Tavares. Sem hesitar, Pedro Neiva respondeu : - Você acha o secretariado de Haroldo fraco porque ainda não pegou um murro de Cláudio Alemão. ______________________ Traição na reforma ? A presidente Dilma, com a ajuda do balconista-mor, Luiz Inácio, e dos auxiliares Jaques Wagner e Ricardo Berzoini, abriu gigantesco balcão de trocas na Esplanada dos Ministérios. PR, PP e PSD são algumas siglas que estão no meio da feira. Devem ganhar mais espaço na estrutura governativa para formar o rolo compressor na Câmara, capaz de evitar o impeachment. Mas o sinal amarelo foi ligado. Trair e coçar é só começar O sinal amarelo foi ligado em função da nova/velha descoberta : se o governo pagar antes, pode não receber a mercadoria. Quer dizer, não terá certeza se receberá os votos de eventuais "vendedores". Nossa cultura política não é anglo-saxã, à base do sim, sim, não, não. Ancora-se no talvez, quem sabe, vamos ver, pode ser. Ou seja, só se tem certeza do voto quando ele for apurado. Por isso mesmo, o governo teme expandir os espaços sinalizados para partidos médios e pequenos. Quer fazer cumprir a promessa só depois da votação do impeachment. Por enquanto, o Ministério não muda. A antena das ruas O corpo parlamentar, principalmente a banda sem muita convicção política, tende a mudar de posição na onda das marés. Sob maré vazante, puxa o carro da situação ; sob maré enchente, entra no vagão das oposições. Como estarão as marés das ruas lá pelos meados deste mês de abril ? Haverá grandes mobilizações ? As massas gritarão a favor ou contra Dilma ? As duas coisas ? As maiores densidades populares estarão de que lado ? Como se sabe, há uma imensa fogueira na paisagem. E alas brigando. Ficar ao lado de uma banda - a governista, por exemplo - pode ser uma opção para ingressar no inferno político. A defesa do governo O advogado-Geral da União, José Eduardo Cardozo, fez candente e competente defesa da presidente Dilma na Comissão de Impeachment da Câmara nesta segunda-feira. Depois de uma contextualização, arrematou com a hipótese de que impeachment só pode ocorrer ante um atentado à Constituição cometido pela presidente, ou seja, se fosse autora de uma violência de proporções gigantescas à letra da lei. O ambiente na Comissão está repartido, polarizado. O ministro não conseguirá puxar um voto para o lado da presidente. O ódio generalizado Em mais de três décadas de análise política, este consultor jamais viu tanta destilação de ódio na sociedade. O Brasil mais parece um arquipélago repleto de grandes, médias e pequenas ilhas, cada qual com seus grupos de habitantes. De um lado, as grandes correntes - as classes sociais -, de outro, os núcleos e categorias profissionais. As classes médias, em sua imensa maioria, mostram-se contrárias ao governo da presidente Dilma. As classes C, D e E tendem a se dividir, mas sua maioria não está mais na banda governista. A classe C, a chamada classe emergente, depois de ascender ao primeiro andar do meio da pirâmide, volta à base com as perdas que sofre. E muda de posição, agora indignada com o governo. A ressonância do refrão Uma parte da intelectualidade e uma larga base do meio artístico se mostram favoráveis ao governo e se juntam à militância lulopetista na exclamação do refrão : "não vai ter golpe". O dito ecoa como grito de guerra nas redes sociais e nas avaliações interpessoais e grupais. O historiador argentino, Carlos Malamud, carimba o refrão como "retórica bolivariana". Tornou-se o escudo que o comandante Lula, sua pupila Dilma, os capitães petistas e a militância usam na convocação de guerra. Já os profissionais liberais, em sua imensa maioria, querem a saída da presidente. Catarse A essa altura, o impeachment da presidente assume a identidade de uma catarse social. Ou seja, pelo sentimento da maioria - 73% dos brasileiros querem o impeachment - o afastamento de Dilma equivaleria ao vapor da panela de pressão. Necessário para a panela não estourar. Criou-se uma onda que, em círculos concêntricos, vai saindo do meio do oceano social, ganhando força e chegando às margens. Qualquer ventania em sentido contrário poderá gerar borrascas gigantescas. A permanência da presidente criará o efeito "reversão de expectativas" - frustração, desânimo, desorientação social, perda de autoestima, indolência, automatismo. Se assim ocorrer, a questão emerge : terá condições de governar ? Marco Aurélio O ministro Marco Aurélio ficou na corda bamba ao responder à bancada de jornalistas do programa Roda Viva de segunda-feira. Mas, em determinado momento, defendeu a posição de que, mesmo se for afastada pelo Senado, o STF pode derrubar o impeachment da presidente. Alegou ser a Corte a última instância para resolver o imbróglio. Trata-se de visão polêmica. Ora, é sabido que o impeachment da presidente da República é prerrogativa do Congresso Nacional. A vingar a opinião de Marco Aurélio, o sistema de pesos e contrapesos é jogado no lixo. Legislativo e Executivo se subordinariam à Corte. Ontem, o ministro determinou ao presidente da Câmara que acolhesse pedido de impeachment impetrado contra o vice-presidente Michel Temer por um advogado. Eduardo Cunha havia arquivado o pedido sob o argumento de que a solicitação carecia de fundamento. Panamá Papers Os milhões de páginas do chamado Panamá Papers mostram como os grandes comandantes da política e dos negócios no mundo capitalista procuram se proteger das intempéries. Buscam empresas em paraísos fiscais para guardar seus tesouros. Explícito sinal de desconfiança nos governos, nos sistemas políticos, nos organismos internacionais, nas Nações. Eleições gerais As crises permitem as mais razoáveis e também as mais estapafúrdias alternativas para os impasses na política e na economia. Surge, agora, a "luminosa" sugestão de realização de eleições gerais este ano. Ideia sem respaldo legal. Isso só poderia ocorrer, este ano, com a renúncia da presidente e do vice-presidente. Fazer isso por meio de uma PEC ? Coisa absurda. Inconstitucional. Seria uma ruptura no sistema normativo. Um casuísmo. Mas tem gente que quer pôr mais lenha na fogueira. PMDB, a decisão O PMDB decidiu sair do governo. Decisão da Convenção Nacional ocorrida dia 12 de março. Que deu 30 dias para a realização de uma reunião, quando seria definido o rito. Em função das circunstâncias políticas - delações, gravações vindas a público - o partido antecipou a reunião de 12 de abril para 29 de março. Para evitar humilhação dos eventuais perdedores - partidários do governo - aprovou-se uma sugestão do senador Eunício : a decisão pelo afastamento seria por aclamação. Isso foi feito. PMDB, a divisão A surpresa veio rápido. Apenas o ministro do Turismo, Henrique Alves, deixou o governo. Deu-se o prazo até 12 de abril para os ministros organizarem sua saída. E o que ocorreu ? Negociações de uns e outros para permanecer no governo. Ora, a decisão pela saída, o modus operandi (por aclamação), tudo isso ocorreu numa reunião na casa do presidente do Senado, Renan Calheiros. Que aplaudiu a unidade conseguida. Dias depois, Renan dá mostras que está contrariado com a decisão partidária. Kátia Abreu, em claro desafio ao partido, proclama : não vou sair do Ministério e nem do PMDB. Helder Barbalho luta para ficar no comando dos portos ; Mauro Lopes, na Aviação Civil ; Celso Pansera, na Ciência e Tecnologia e Marcelo Castro, na Saúde. Um picolé de pimenta para quem descobrir se o PMDB vai aguentar o tranco das ruas. Jucá no comando O senador Romero Jucá assume a presidência do PMDB. O vice-presidente se reserva para acompanhar a cena política, deixando a arena dos debates a cargo do senador, experiente na arte de batalhar. ______________________ Fecho a coluna com mais um "causo" narrado por Benedito Buzar. Retirem meu nome Na eleição ao governo do Maranhão, em 1965, o candidato oposicionista, José Sarney, impôs ao deputado Renato Archer, candidato do PTB, impiedosa derrota no município de Governador Archer. Em Brasília, ao ter ciência de que o filho Renato havia obtido uma votação ridícula no município que tem o seu nome, o senador Sebastião Archer da Silva enviou um telegrama ao deputado Baima Serra com este teor : - "Solicito urgentemente apresentar projeto à Assembleia Legislativa retirando meu nome do município onde Renato não poderia jamais perder para Sarney".
quarta-feira, 30 de março de 2016

Porandubas nº 485

Abro a coluna com três historinhas de Churchill Churchill 1 Telegramas trocados entre o dramaturgo Bernard Shaw e Churchill, seu desafeto. Convite de Bernard Shaw para Churchill : "Tenho o prazer e a honra de convidar digno primeiro-ministro para primeira apresentação de minha peça Pigmaleão. Venha e traga um amigo, se tiver". Resposta de Churchill : "Agradeço, ilustre escritor, honroso convite. Infelizmente não poderei comparecer à primeira apresentação. Irei à segunda, se houver". Churchill 2 Quando Churchill fez 80 anos, um repórter de menos de 30 foi fotografá-lo e disse : - Sir Winston, espero fotografá-lo novamente nos seus 90 anos. Resposta de Churchill : - Por quê não ? Você me parece bastante saudável. Churchill 3 Bate-boca no Parlamento inglês. Aconteceu num dos discursos de Churchill em que estava uma deputada oposicionista, Lady Astor, conhecida pela chatice, que pediu um aparte (sabia-se que Churchill não gostava que interrompessem os seus discursos, mas concedeu a palavra à deputada. E ela disse em alto e bom tom : - Sr. ministro, se Vossa Excelência fosse o meu marido, eu colocava veneno em seu chá ! Churchill, lentamente, tirou os óculos, seu olhar astuto percorreu toda a plateia e, naquele silêncio em que todos aguardavam, mandou : - Nancy, se eu fosse o seu marido, eu tomaria esse chá com prazer ! Impeachment não é golpe Três ministros do Supremo Tribunal, Cármen Lúcia, Dias Toffoli e Luís Roberto Barroso, e dois ex-ministros, Carlos Ayres Britto (ex-presidente) e Eros Grau, proclamam : impeachment é legal, se obedecido o rito determinado pela Justiça. As redes sociais se enchem de manifestações a favor e contra o impeachment. Qual será o desfecho da acirrada disputa ? 1ª. hipótese Primeira hipótese : o exército governista vence a luta e Dilma fica no assento presidencial. O ex-presidente Luiz Inácio, ministro-chefe da Casa Civil, dá as cartas do jogo administrativo. Segura no governo o PMDB e outros partidos governistas. Em seis meses, Lula fará uma guinada na economia e o povo volta a ter dinheiro no bolso. Quase um milagre Quase um milagre. É como este cenário pode ser caracterizado. Deus é brasileiro e, petista de carteirinha, fará jorrar dos céus o maná para apaziguar nossas desesperanças. Sob um manto vermelho, ajudaria Dilma, Lula, o PT, a CUT e o MST a recuperarem prestígio e força. 2ª. hipótese Tentemos, agora, descrever uma segunda hipótese. A sobrevivência da presidente e do ex, Lula, depende do Poder Judiciário. Que não poderá enterrar as bombas tiradas do arsenal do senador Delcídio Amaral, das delações de executivos da Odebrecht e de outros artefatos em preparação, como a aguardada carga de informações do ex-presidente do PP, deputado Pedro Corrêa. Ele garante que Lula foi o inspirador do mensalão e do Petrolão. Desse modo, a operação Lava Jato puxará Dilma e Lula para o meio do furacão. Lula de volta a Moro Ambos serão investigados. A presidente permanece na alçada do STF e Luiz Inácio descerá ao foro da 1ª instância. O pedido de impeachment, mesmo sob o argumento da irresponsabilidade cometida com o uso de pedaladas fiscais, ganha impulso na onda da contrariedade social, alavancada pelo desemprego, alta inflação, maracutaias descobertas e políticos recebendo recursos de empresas. Soma-se ao acervo negativo mais um pedido de impeachment, desta vez feito pela Ordem dos Advogados do Brasil, que junta outras situações. Dilma tenta esticar A fogueira do impedimento não se apagará. Mas há um prazo fatal para queimar as últimas estacas : junho. Dilma tentará esticar o fogaréu. Com cerca de 600 cargos vagos com a saída do PMDB do governo. E com obstrução do PT na Câmara. Cunha consegue sobreviver mais um pouco. A corda vai esticando. Entra no segundo semestre. O afastamento passa pela Câmara e chega ao Senado. A onda das ruas O governo tenta abrir os braços em direção às margens. Joga os movimentos nas ruas. Conflitos e tensões por todos os lados. A economia não consegue entrar nos eixos. Lula não consegue realizar o milagre da multiplicação de pães e peixes. O plenário aprova sua indicação para o Ministério. Mas ele não apazigua as tensões sociais. Ele e Nelson Barbosa tentam arrumar a forma de abrir o crédito, enfiar dinheiro no bolso dos pobres e massificar o consumo. Mesma receita de 2008 ? Luiz Inácio não se dá conta de que o mundo mudou. Bumerangue A situação social é calamitosa. A pressão das ruas invade o Congresso. Se a Câmara ainda não aprovou o impeachment, o fará. E, no Senado, ante a indignação social, a alternativa é dar endosso à decisão da Câmara. O PT esgota sua cota de obstrução. Os partidos da base refluem. Dilma é abandonada pelo próprio PT. Um salve-se quem puder. Um novo governo Emerge agora a hipótese de um novo governo. O processo passou pelas duas casas congressuais. Até junho, na visão dos oposicionistas, até outubro, na perspectiva de situacionistas. As contas de campanha que estão sendo analisadas pelo Tribunal Superior Eleitoral entrarão em 2017. Se houver impeachment, como se induz, a tendência será a de arrefecimento dos recursos que correm no TSE. A temperatura social seria mais amena ante a perspectiva de um novo rumo para o país. Os setores produtivos querem resgatar a confiança perdida. Crer no país - essa é a chave que poderá reabrir as portas dos investimentos e dos negócios. A agenda Temer A agenda Temer teria alguns destaques, a saber : reforma da previdência à base do tempo de contribuição ; fim do regime de partilha no setor de óleo e gás e volta ao sistema de concessões, com preferência da Petrobras ; simplificação e redução de impostos, com unificação do ICMS e transferência de cobrança para o Estado de origem ; fim dos percentuais de despesas obrigatórias, como vinculações constitucionais nas áreas da saúde e educação ; flexibilização na área trabalhista, com prevalência das convenções coletivas ; fim da indexação para salários e benefícios previdenciários, a serem reajustados pelo Congresso e acerto com o Executivo ; impulso à privatização no que concerne à concessões na área da infraestrutura ; maior abertura comercial e articulação negocial com EUA, Europa e Ásia ; segurança jurídica e simplificação na frente das licenças ambientais. Acirramento de tensões A militância lulopetista se esforçará para incendiar o país. O acirramento de tensões chega ao auge, gerando incidentes em alguns espaços, principalmente na arena de guerra paulistana, a avenida Paulista, onde as alas contrárias e a favor do governo costumam se enfrentar. A tensão se expande em função dos bolsos esvaziados das classes sociais. Diante desse cenário, não se descarta a possibilidade de intervenção de forças do Exército nas ruas para evitar catástrofes. Lava Jato As investigações da operação Lava Jato continuarão propiciando mais condenações e delações. Apesar da sensação de que o exercício de "passar o Brasil a limpo" não tem retorno, indagações surgem aqui e ali : quantos parlamentares serão condenados ? E o que acontecerá com os 200/300 (?) parlamentares arrolados nas listas da Odebrecht ? Quem teve doação oficial ? Quem recebeu pelo Caixa dois ? E quem ganhou propina ? O passado diante de nós ? Que medidas são necessárias para mudar efetivamente os rumos da política ? "Que o passado esteja diante de nós, vá lá... Mas o passado adiante de nós, sai pra lá". A expressão artística é do poeta Carlos Ayres Britto, ex-presidente do STF. Os céus do país estarão cobertos por muitas nuvens durante todo esse ano e, quiçá, em um bom pedaço de 2017. Lula ministro O procurador-Geral da República, Rodrigo Janot, argumenta : Lula pode ser ministro, mas deve continuar sob a esfera de investigação do juiz Sérgio Moro, da 1ª instância. Coisa estranha. Ministro não tem foro privilegiado ? PMDB sai Durou três minutos a reunião do Diretório do PMDB, presidida pelo senador Romero Jucá (PMDB-RR), que decidiu pelo afastamento do partido da base governista. Sob gritos de "Fora, PT", os participantes, por votação simbólica, aprovaram a saída do PMDB da administração e a entrega dos cargos. Quem quiser ficar, que tire licença ou saia do partido. Marcelo Castro e Celso Pansera, ministros da Saúde e Ciência e Tecnologia, respectivamente, querem continuar no governo. Outros sairão Na esteira do PMDB, outros partidos também deverão se afastar : PP, PRB e até o PDS, entre outros. Senado cede Ante eventual rolo compressor da Câmara, passando aí por 342 votos, o Senado não terá condições de sustar a decisão de impeachment tomada pelos deputados. Apoio da OAB em SP Ao mesmo tempo que o Conselho Federal da OAB Nacional registrava o pedido de abertura do processo de impeachment da presidente em Brasília, moções de apoio eram protocoladas por todo o Estado de São Paulo. Por iniciativa do presidente Marcos da Costa, a ação executada pelos presidentes de subseções - representantes da classe eleitos democraticamente por seus 350 mil pares paulistas - contou com o apoio de conselheiros secionais. Na capital, os focos foram a Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp) e a Câmara Municipal. Três Câmaras já votaram favoravelmente a moção de apoio : Santos, Cruzeiro e São Pedro. A vaidade dos vivos "O luxo do funeral e a suntuosidade do túmulo não melhoram as condições do morto; satisfazem apenas a vaidade dos vivos". (Dante Veoléci) Fecho a coluna com uma hilária historinha de José Maria Alkmin, a raposa mineira Quando quer ir à lua ? Um correligionário de Bocaiúva fica meio "lelé da cuca" e surge, sem eira nem beira, no gabinete do ministro, ainda no Rio de Janeiro, onde lhe pede uma inusitada colaboração. - Dr. Zé Maria, eu quero ir à lua e preciso da ajuda do senhor, diz o visitante. - Isto não é problema, diz Alkmin, dando asas à imaginação do conterrâneo. Dou-lhe o apoio, de ministro e correligionário. Existe um pequeno e contornável problema, que é de definição, e só depende do amigo. E Alkmin continua : - Você sabe que há quatro luas : nova, crescente, minguante e cheia. Agora, compete a você escolher qual das luas o nobre amigo deseja visitar, pois o apoio está dado. Diante de um atônito conterrâneo, o ministro levanta-se da poltrona, estende a mão para a despedida e afirma, olhando no fundo dos olhos do eleitor : - Me procure, novamente, quando definir !
quarta-feira, 23 de março de 2016

Porandubas nº 484

Abro a Coluna com a mineirice de José Maria Alkmin. O milagre José Maria Alkmin, a raposa mineira, mestre da arte política, chegava da Europa com cinco garrafas enroladas na pasta. A Alfândega quis saber o que era. - Água milagrosa de Fátima. - Mas tudo isso ? - Lá em Minas o pessoal acredita muito nos milagres da água de Fátima. Não dá para quem quer. - O senhor pode desenrolar ? - Pois não, meu filho. - Mas, deputado, isso é uísque. - Ué, não é que já se deu o milagre ? A crise chega ao pico A crise política chega ao pico. O processo de impeachment está acelerado. A Comissão encarregada de acolher/não acolher o processo decidiu não anexar a delação premiada do senador Delcídio Amaral ao processo inicial solicitado pelos advogados Hélio Bicudo, Janaína Paschoal e Miguel Reale Jr. Isto para não dar à situação munição para "arrastar" a tramitação. Mas novo pedido de impeachment será protocolado com base nas delações, nas quais o senador afirma que Dilma e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva atuaram junto ao Judiciário para tentar barrar as investigações da Operação Lava Jato. "A favor" ganha hoje Os deputados favoráveis ao impeachment são maioria, hoje, na Comissão. O número aumentou (bem) depois da interlocução telefônica entre Dilma e Lula. A presidente poderá, até, reverter essa posição. Não será fácil alcançar 172 votos em plenário. Hoje, contaria com 140/150. A tendência, aliás, é de expansão da maioria favorável. Causas : o peso das gravações entre Dilma e Lula e entre este e outros interlocutores ; as delações premiadas que puxam Dilma e Lula para o olho do furacão ; as manifestações de rua, favoráveis ao impeachment em sua grande maioria. Do Sul para o Norte A estratégia imaginada pelo presidente da Câmara, Eduardo Cunha, para votação do impeachment é começar pelos deputados do Sul, mais favoráveis ao afastamento da presidente, entrando pelo Sudeste e, de maneira sequencial, chegando aos Estados menos favoráveis do Norte e Nordeste. De fora, no gramado do Congresso, uma grande manifestação tocaria bumbo e cornetas azucrinando os ouvidos dos deputados. Este consultor trabalha com a hipótese de intenso conflito entre alas favoráveis e desfavoráveis ao impeachment. Tendência no Senado A tendência é a de que a Câmara Alta, ao constatar a aprovação do impeachment por 342 deputados, não terá alternativa senão a de aceitar a posição dos representantes do povo. Também acolheria a ideia. Nesse caso, depois de acolhida na Comissão de Admissibilidade do Senado, Dilma teria de se afastar. A sessão do impeachment será presidida, no Senado, pelo presidente do STF, Ricardo Lewandowski. Reação nas ruas Prevê-se intensa movimentação nas ruas, com as suas alas - favoráveis e contrárias ao impeachment - promovendo grandes manifestações. Percebe-se que a ampla maioria da população acolhe a tese do impeachment, razão pela qual pode-se inferir que a probabilidade de mudança no comando do país é muito alta. Na régua de 0 a 100, esta chance é de 80. As alas irão, raivosas, às manifestações. Conflitos poderão ser vistos no radar. Lula pode sustar ? O ex-presidente está sendo considerado a chave para fechar a porta do impeachment. Ocorre que está na corda bamba. O STF só irá avaliar a liminar concedida pelo ministro suspendendo sua nomeação para a Casa Civil após os feriados da Páscoa. Nesse ínterim, Lula tentará demover deputados pela via informal. Do alto de seu poder de convencimento, sem a força do cargo. Conseguirá ? Este consultor acredita que não terá sucesso. O maior feito de Lula O maior feito de Luiz Inácio nesses últimos tempos foi o de impor ao PT e à Dilma sua agenda particular. Ou seja, a proteção a ele acaba se transformando na segunda preocupação da presidente. A primeira é o impeachment. Que, na visão do petismo, precisa de Lula para ser barrado. PMDB, a chave do amanhã O PMDB é visto como a chave que abrirá a porta do amanhã. A imagem tem sentido. O partido detém o maior número de deputados : 69. E dia 29 de março fará reunião do Diretório Nacional para decidir sobre o desembarque do governo. É mais que provável a saída do PMDB do barco de Dilma. Os ministros - sete - deverão ganhar alguns dias para arrumar os papéis e deixar a casa pronta para receber os sucessores. O PMDB sabe se unir nas horas decisivas. Não haverá racha. A conferir. Lula e o PMDB Lula está tentando se encontrar com o vice-presidente Michel Temer, presidente do PMDB. Eles vão se falar. Será difícil convencer o vice a segurar o PMDB no governo. Afinal, há uma decisão de Convenção dando 30 dias para o desembarque do partido. Diante dos fatos recentes, o prazo foi antecipado para o dia 29. Os ministros terão um prazo para desocupar seus cargos a fim de dar tempo à presidente para fazer as substituições. O que Serra quer Em eventual governo Temer, o senador José Serra gostaria de ser um dos braços direitos do presidente. Pensa em aplainar os caminhos para vir a ser candidato à presidência em 2018. Mas ambição demasiada de Serra é uma barreira à suas pretensões. Sua desastrada entrevista ao Estadão dizendo o que Michel deveria fazer teve efeito bumerangue. Voltou-se contra ele. Será que Serra não pensa que há alas contra ele no próprio PSDB ? E pedir ao vice-presidente que "não faça uma caça às bruxas" é esquecer que o perfil de Michel Temer não combina com o pedido. Trata-se de uma pessoa cordial, sensata e afeita ao diálogo e à união. Outros partidos Não se pense que outros partidos com ministros no governo permanecerão na base situacionista. Alguns já estão desembarcando como o PRB e o PP. O PTB está com um pé fora. A razão é uma só : instinto de sobrevivência. Sobreviver em navio afundando é difícil. Principalmente em mar borrascoso. Daí a preocupação : correr para os botes salva-vidas enquanto é tempo. PT não é solidário A crise política acrescenta mais uma tinta suja na imagem do PT : a tinta do desprezo pelos companheiros. A delação do senador Delcídio Amaral deixa patente a conduta do PT para com seus quadros atingidos pelas investigações. O partido simplesmente abandona seus participantes, deixando-os que se virem, sozinhos, perante a Justiça. É a queixa de Delcídio, que se vinga contando tudo sobre o chefe Lula, com o conhecimento de Dilma. Políticos que deixaram o PT confirmam esse posicionamento. E a cúpula partidária investe na defesa dos comandantes dizendo : este partido nunca compactuou com desvios. Se isso ocorreu, ninguém da cúpula sabia. A versão tornou-se risível. Rosa Weber A ministra Rosa Weber negou ontem o pedido de habeas corpus impetrado no STF para derrubar a liminar concedida pelo ministro Gilmar Mendes suspendendo a nomeação de Lula como ministro da Casa Civil. O ministro Luiz Fachin se declarara sob suspeição e a relatoria caiu em Weber. A ministra foi citada duas vezes por Lula nas interlocuções telefônicas gravadas com autorização judicial. Lula sugeria que se conversasse com ela para suspender investigações do Ministério Público Federal (MPF) e do Ministério Público do Estado de São Paulo (MP/SP) sobre o apartamento triplex no Guarujá (SP) e o sítio em Atibaia (SP). Jurisprudência Jurisprudência do STF determina que uma decisão monocrática de um ministro não pode ser derrubada por mandado de segurança por outro ministro. Esse foi o caminho seguido pela ministra Rosa Weber. Aliás, ainda ontem, outro ministro do STF, Luiz Fux, também negara o mesmo pedido do governo para anular a decisão de Gilmar Mendes, que suspendeu a posse do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na Casa Civil. Ele decidiu extinguir o processo sem sequer analisar o mérito do pedido feito pela Advocacia-Geral da União. Alegou que a ação ia contra a jurisprudência criada pela Corte. Os recursos serão analisados pelo Plenário da Corte. Aragão sob polêmica Apesar de o procurador Eugênio Aragão reunir condições legais para ser ministro da Justiça, eis que entrou no MP antes da CF de 88, sob o ponto de vista da ética sua nomeação para o Executivo abre um grande buraco. O MP defende a sociedade. Como pode servir ao agente governamental quando este arremete contra interesses sociais ? Se é ministro da Justiça, vai sempre defender a posição do Executivo a quem serve. Nesse caso, abandona o escopo do Ministério Público. As críticas contra ele se avolumam. Até porque, segundo se diz, trata-se de perfil petista radical. Aécio na roda O senador Aécio Neves, presidente do PSDB, deverá entrar na roda de investigação. A principal denúncia vem da delação premiada do senador Delcídio Amaral. Ele diz que o senador mineiro teria sido beneficiado por esquema de corrupção na estatal Furnas. Mais de 100 Há 57 parlamentares na condição de réus no STF. Entre as principais acusações estão crimes de responsabilidade, eleitorais, contra o sistema financeiro e lavagem de dinheiro. E cerca de 100 congressistas são alvos de inquérito. João Doria O jornalista e empresário João Doria, como este consultor previra, ganhou a vaga para pleitear pelo PSDB a prefeitura da maior metrópole brasileira. Tem boa estampa, bom currículo, domina bem a linguagem da mídia, cerca-se de bons profissionais e sabe fazer a lição de casa como ninguém. Reúne condições para preencher a imagem do novo na política. A conferir. Alckmin fortalecido O governador Geraldo Alckmin avança alguns metros na trajetória de 2018 com a vitória de João Doria nas prévias tucanas. FHC, José Serra, Alberto Goldman, Aloysio Nunes Ferreira torciam pelo vereador Andrea Matarazzo. Que acabou saindo do PSDB. José Aníbal apoiava o deputado Ricardo Tripoli. E Bruno Covas acabou apoiando Doria no segundo turno. Fecho a Coluna com pequeno conselho de marketing eleitoral Identidade e Imagem Postas as candidaturas, a campanha começa a ganhar ares oficiais. Cada candidato terá de fazer chegar sua Identidade aos eleitores. Identidade é um composto de : pensamentos e ideias, experiências, história, atitudes e valores (plano semântico) ; e maneira de se vestir, de falar, de gesticular (plano estético). Identidade começa com o sufixo Idem (do latim), que significa semelhante, igual. Identidade, portanto, é a verdade da pessoa. Já Imagem é a sombra da Identidade, é a projeção. Quando a sombra está muito distante da pessoa, cria-se uma dissonância. A Imagem não corresponde à verdade. Por isso, candidatas e candidatos, procurem ajustar as Imagens que desejam transmitir aos eleitores à Identidade. Campanha negativa Os candidatos terão de controlar muito a expressão. E a razão é muito conhecida : campanha negativa não ajuda candidatura. Quem se prestar ao esforço de passar uma campanha xingando, acusando, criando atritos, poderá ser visto como perfil negativo. É claro que os contendores devem reagir à altura diante de acusações pesadas. Mas o substantivo é melhor que o adjetivo em campanha eleitoral. Porque eleva as pessoas, conferindo-lhes uma taxa de liturgia e seriedade.
quarta-feira, 16 de março de 2016

Porandubas nº 483

Duas historinhas para abrir a coluna. Uma da Bahia, uma da Paraíba. Filho inepto Velhos tempos. Tempos de deboche e criatividade. O deputado Luís Viana Neto estava na tribuna da Câmara : - Filho e neto de governadores da Bahia... Lá embaixo, o deputado Francisco Studart (MDB/RJ) gritou : - Não apoiado ! - Senhor deputado, sou filho e neto de governadores da Bahia. - Perdão, excelência. Entendi mal. Entendi : "Filho inepto de governadores da Bahia"... Risadas gerais na Câmara. Silêncio geral Flávio Ribeiro, presidente da Assembleia (depois foi governador da Paraíba), estava irritado com as galerias, que aplaudiram e vaiavam durante um debate entre o deputado comunista Santa Cruz e o udenista Praxedes Pitanga. De repente, tocou a campainha, pediu silêncio e avisou, grave : - Se as galerias continuarem a se manifestar, eu evacuo. Felizmente, as galerias se calaram. Delcídio homologado A homologação da delação premiada do senador Delcídio Amaral pelo ministro Teori Zavascki terá consequências avassaladoras sobre alguns atores políticos, a partir do ex-presidente Lula e a presidente Dilma. Puxará os dois para o meio do furacão, eis que envolve o primeiro com o mensalão/petrolão e a segunda com a aquisição da refinaria de Pasadena. Portanto, a delação adensará, dará peso ao processo de impeachment da presidente. A tese das pedaladas refluiu nos últimos tempos. Portanto, o corpo parlamentar teria, agora, mais argumentos para aprovar o afastamento. O impeachment Deverá ser aberto amanhã, quinta, o processo de impeachment da presidente. O STF deverá responder aos embargos apresentados pelo presidente da Câmara, Eduardo Cunha. Os termos do acórdão devem ser ratificados, ou seja, a Comissão a ser formada (65 membros) obedecerá à indicação das lideranças. No Senado, a Comissão de Admissibilidade poderá aceitar ou não o processo vindo da Câmara. Cunha aumentará os dias de reunião na Casa, de três para cinco, considerando segunda e sexta. Serão 15 sessões. Acolhido o recurso, Dilma terá 10 sessões para apresentar sua defesa e a Comissão terá cinco para tomar a decisão. Aprovado, o recurso irá ao Plenário. Para se salvar, a presidente precisa de 171 votos. Na Câmara A presidente tinha, no ano passado, uma base de cerca de 350 deputados. Hoje, o Brasil é outro, principalmente após o domingo, dia 13, quando se viu a maior manifestação nas ruas do país pedindo o afastamento da presidente, a prisão de Lula, o rechaço contra o PT, políticos do PSDB, a velha política, o combate à corrupção. Hoje, a base firme de Dilma giraria em torno de 130 parlamentares, número insuficiente para livrar a presidente do impeachment. O corpo parlamentar, como se sabe, não tem vocação suicida. Os nomes de Suas Excelências serão massificados pelas mídias, tanto a massiva quanto a das redes sociais. Por isso, a tendência dos deputados é a de fazer coro às pressões pela saída da presidente. Hoje, a hipótese de afastamento contaria com 342 deputados. No Senado Na Câmara Alta, a tendência é a de maior acolhimento à defesa da presidente. Mas a pressão social, a partir do dia 13, domingo passado, pode ter mudado a visão e a posição de muitos senadores. Se isso se confirmar, será praticamente certa a admissibilidade do afastamento por maioria simples (metade mais um, 41 dos 81 senadores). Nesse caso, a presidente ficará afastada do cargo, por até 180 dias, até o julgamento final sobre o mandato. A presidência da Casa caberá ao presidente do STF, Ricardo Lewandowski. Para depor a presidente em definitivo, serão necessários 2/3 dos votos (54 senadores). No Senado, o afastamento poderia ocorrer entre meados e fim de maio. Datafolha Datafolha apurou que o tríplex do Guarujá tem apenas dois andares. Lula como 1º ministro Lula é o coelho da cartola de Dilma. Está sendo convidado para assumir a Articulação Política no lugar de Ricardo Berzoini, que deve ser o secretário-executivo da Pasta. No cargo, o ex-presidente seria de fato um primeiro-ministro, a quem caberia a tarefa de fazer a articulação política, chefiar o balcão de recompensas, cooptar, convencer, derramar a lábia pelos vãos e desvãos do Congresso. Lula, como se sabe, é tarimbado nesse mister. Mas o que ele vai oferecer ? Cargos ? Quem quer cargos em um navio afundando ? Mudar a economia ? Como ? Diz-se que Lula irá determinar (o termo é esse mesmo) uma guinada na economia. Instalar os eixos da Nova (Velha) Matriz Econômica, a receita que aplicou em 2008, por ocasião da crise internacional. Massificar o consumo, escancarar o crédito, baixar os juros. Ora, como fazer isso com os setores produtivos vivendo à míngua ? Eles não teriam condições de produzir. E de onde viria a derrama de dinheiro ? O PT defende o uso das reservas internacionais, hoje na casa dos US$ 370 bilhões, para ativar a economia. Os economistas sérios acham isso uma ideia de jerico, um tremendo disparate. Uma loucura. Mas, para quem está à beira da morte, qualquer maluquice para tentar salvar o morto é possível. Imaginem a liturgia palaciana Imaginem, agora, como deverá ser a liturgia palaciana caso Lula lá esteja ao lado de Dilma. Políticos chegando ao Palácio do Planalto : o senhor vai falar com a presidente ? Resposta : não com Lula. O gabinete de Dilma estaria esvaziado. O de Lula, cheio de gente. Teríamos uma presidente emérita. O ex-presidente tentaria se apresentar com as vestes do papa Francisco. Já a presidente Dilma estaria mais na estética do Bento XVI, capengando com sua bengala no palácio de verão de Castel Gandolfo, nas proximidades de Roma. Com uma diferença : Lula não tem a nada a ver com o argentino e Dilma não tem um traço sequer que possa ser comparado ao aposentado papa alemão. Moro e Lula Se Lula entrar novamente no Palácio do Planalto, agora como primeiro-ministro (ops, ministro da Articulação), ganhará foro privilegiado. Sai da esfera da primeira instância judicial do juiz Sérgio Moro e entra no espaço da mais alta Corte do país. E agora ? Ora, os ministros também estão antenados às ruas. Face a evidências de desvios e ilegalidades eventualmente cometidas por autoridades com foro privilegiado, deverão investigar e julgar os casos. Na condição de ex-presidente que nomeou alguns ministros do Supremo, inclusive o presidente Lewandowski, Lula poderia, até, ganhar certa proteção. Controle social Ocorre que, na quadra de ampla transparência em que vive o país, qualquer ato que possa gerar suspeita de beneficiamento dispara a indignação social. Se as delações premiadas puxarem o ex-presidente para o olho do furacão, ele será irremediavelmente objeto de julgamento. Não escapará pela tangente. A conferir. O clima das ruas As ruas continuarão cheias de ardor. A esperança do PT, de Lula e Dilma é de que, no próximo dia 18, as forças do lulopetismo, sob comando dos exércitos de algumas Centrais Sindicais, a partir da CUT, e de movimentos sociais, como o MST, encham as ruas de vermelho. Seria o contraponto à extraordinária movimentação do dia 13. Conseguirão fazer uma grande manifestação ? Sim. Mas será bem menor. Há algumas divisões petistas muito bem treinadas na arte de gritar refrãos e partir para o confronto. Será o dia D do PT. Mas a estética vermelha, como se sabe, acirra ânimos e multiplica gritos em contrário. O país não suporta mais o apartheid que Lula tenta emplacar há décadas : "Nós e Eles". Semiparlamenrtarismo O parlamentarismo é um sistema de governo condizente com as modernas democracias. Separa-se o chefe de Estado do chefe do Governo. Em uma crise política de grandes proporções, o primeiro-ministro recebe um voto de desconfiança e sai da chefia do governo. A estrutura burocrática não se abala. Os cargos continuam a ser ocupados pelo corpo técnico. O chefe de Estado, o presidente, continua em sua posição. A escolha de um novo primeiro-ministro pelo conjunto de partidos se dá de maneira democrática. Constituinte Agora, criar um parlamentarismo meia sola, da noite para o dia, de maneira casuística, como defende o presidente do Senado, Renan Calheiros, é um ato insano. Primeiro, porque mudar o regime exige participação do poder constituinte originário. Não se muda regime com mera Proposta de Emenda Constitucional. Este consultor não acredita que o STF dê endosso à mudança de regime por PEC. E muito menos acredita que se tenta um golpe para pôr Lula como primeiro-ministro. Ideia risível. Seria o caos social. Urge acabar com a improvisação no Brasil. Há muita fofoca correndo por aí. O petismo está agonizando. TSE e contas de campanha Há mais uma pergunta no ar : e as contas da campanha de Dilma, que estão sendo analisadas pelo TSE ? Tendem a ser julgadas só em 2017. Na Corte Eleitoral, o processo é mais lento. Provas, contraprovas, embargos e recursos ao STF, caso haja condenação. Infere-se, assim, que o processo tende a correr por meses. Daí ser muito mais viável o recurso do impeachment. Como se sabe, a decisão pela via política é mais célere que a decisão meramente judicial. Frases célebres "Diga ao Povo que fico". D. Pedro I "Saio da vida para entrar na História". Getúlio Vargas "Um governo forte se faz perdoando". Juscelino Kubitschek "Enfia o processo no ....." Luiz Inácio Lula da Silva Recessão O país está em recessão. Em janeiro, a queda da atividade econômica foi maior, 0,61%. Há 11 milhões de desempregados no país. Mais de três milhões em ocupações precárias. 21% ficam mais de ano procurando uma vaga. Previsão Este ano, a economia deve encolher 3,4%. E em 2017, as consultorias estimam um crescimento de 1,1%. O aumento da probabilidade de impeachment ajudaria o país a reduzir risco já este ano. Analistas econômicos dão 30% de chance de Dilma concluir o mandato. Queda das empresas Eis a planilha oficial que mostra o despenhadeiro do universo empresarial no Brasil. Em 2013, foram criadas 582.194 empresas e extintas, 212.592 ; em 2014, foram criadas 531.042 e extintas, 278.704 ; em 2015, foram criadas 453.372 empresas e extintas, 354.413 empresas. Avaliação Dilma e Alckmin Atenção ! Última Pesquisa do Simpi/Datafolha no universo das micro e pequenas empresas no Estado de São Paulo : a reprovação da presidente Dilma cai de 88% para 80% de novembro para janeiro deste ano ; a reprovação do governador Geraldo Alckmin cai de 44% para 27%. Incertezas As micro e pequenas indústrias (MPIs) do Estado de São Paulo estão um pouquinho mais otimistas, segundo pesquisa mensal do sindicato da categoria, o Simpi. Ou pelo menos estão tentando. No levantamento anterior, 21% destas empresas previam a piora do cenário econômico no mês subsequente. Agora são 16%. O percentual das que acreditam em alguma melhora subiu de 25% para 26%. Mesmo assim, a situação continua difícil. Para 68% dos empresários o acesso ao capital de giro foi insuficiente, ante 59% em janeiro. Entre janeiro e fevereiro a expectativa de contratação de trabalhadores caiu de 17% para 14%.
quarta-feira, 9 de março de 2016

Porandubas nº 482

Mais uma vez uma historinha de Minas Gerais abre a Coluna. Jesus e Madalena Tancredo Neves era promotor em São João Del Rey, em Minas. Um homem chamado Jesus matou uma mulher chamada Madalena. Tancredo pediu 22 anos de cadeia para Jesus, o júri deu 18, Jesus foi para a cadeia, Tancredo esqueceu. O tempo passou. Nove anos depois, Tancredo advogado, vai a Andrelândia, pequena cidade próxima a São João Del Rey. De barba por fazer, entra em modesta barbearia de canto de rua, senta-se, está cansado, fecha os olhos, o barbeiro pega a navalha, afia, começa a tirar-lhe a barba, puxa conversa : - O senhor é o Dr. Tancredo Neves, né ? Tancredo abre os olhos, reconhece Jesus, o assassino de São João Del Rey. Espia pelo canto do olho, a barbearia vazia, a rua vazia, não chegava ninguém, não passava ninguém, o suor minava aflito na testa molhada e Jesus com a navalha enorme na mão pesada correndo garganta abaixo, sobe-desce, sobe-desce, abrindo caminhos na espuma. Jesus ficou só espiando. Tancredo só teve voz para dizer : - Sou, sim. - Pois é, Dr. Tancredo, a vida. - Pois é, Jesus, a vida. - Cumpri nove anos dos 18, estou aqui, o senhor aí, o senhor com sua barba, eu com minha navalha. Só queria lhe dizer uma coisa, Dr. Tancredo. Tancredo suava, Jesus corria a navalha pelo pescoço : - Que coisa bonita é um júri, hein, Dr. Tancredo ? Que coisa mais bonita, que discursos bonitos que o senhor e o outro doutor fizeram ! Cenários de hoje e amanhã Os cenários não são retratos estanques. Ganham dinâmica própria, a partir das circunstâncias de cada momento. 1º. Cenário : Delação e provas Delcídio, com delação homologada, começa a abrir o bico. Ficar apenas nas afirmações, sem comprovação, será péssimo para ele. Tem de provar as declarações, na verdade, as denúncias. Outras testemunhas são convocadas para confirmar ou desmentir os fatos narrados. Confirmados, Lula, que teria pedido para calar Marcos Valério, ex-operador do mensalão, e Dilma, que sabia de tudo sobre a compra da Refinaria de Pasadena, são puxados para o olho do furacão. 2º. Cenário : Falta de provas Delcídio fala, mas não prova. Por falta de comprovação, sua delação cai no poço do descrédito. Outras oitivas não confirmam o que ele disse. Delcídio complica sua situação na Lava Jato. Em vez de aliviar sua pena, a vê agravada. Lula e Dilma continuam sua passagem pelo mar vermelho (opa, das tormentas), suportando outras intempéries, mas escapando do furacão gerado pelo ex-líder do governo no Senado. 3º. Cenário : Cunha se afasta STF determina afastamento de Eduardo Cunha da presidência da Câmara. Processo será demorado. Cunha, conhecedor do regimento e das manhas regimentais, tenta empurrar de barriga situação do mandato. Plenário acaba aprovando seu afastamento da presidência. Assume o vice Waldir Maranhão, do baixo clero. Comissão de Ética decide condenar Cunha pelo fato de ter mentido. Determina cassação do mandato. Mas a decisão se prolonga, enquanto processo de impeachment tem sequência. 4º. Cenário : Impeachment na Câmara A confirmação do primeiro cenário joga um tanque de combustível na fogueira do impeachment. Faíscas correm pelos cantos e recantos, enchendo os pulmões da Opinião Pública. O Congresso Nacional, inflado pela deterioração da economia e pela péssima avaliação do governo, vai se afastando de Dilma, que vê sua base de apoio em refluxo. O processo de impeachment é aprovado na Câmara, caminhando para o Senado. 5º. Cenário : Senado aprova O Senado mostrava, até pouco, boa maioria pró-Dilma. Nos últimos tempos, sob o impacto das bombas de alta precisão que atingiram Dilma e Lula (Delcídio e Operação Lava Jato levando Lula sob condução coercitiva), senadores da base governista também se afastam da presidente Dilma. O processo de impeachment da presidente é acolhido pelo Senado, obedecendo-se ao rito definido pelo STF. No afastamento da presidente Dilma, o Senado será presidido pelo presidente do STF, Ricardo Lewandovski, e o plenário tomará a decisão. Tende a aprová-lo. Pano de fundo : confirmações da delação de Delcídio. 6º. Cenário : Dilma ganha Mesmo confirmadas as declarações de Delcídio, o Senado ainda pode mostrar maioria pró-Dilma. Nesse caso, o processo é rejeitado, desde sua admissibilidade (comissão inicial no Senado), arquivando-se o processo. Dilma continua a caminhar em seu calvário, inclusive tendo de se submeter a julgamento do STF. Resta descrever, agora, a paisagem de Lula. 7º. Cenário : Lula na berlinda Processo de impeachment não é aprovado pelo Senado, mesmo confirmada a delação de Delcídio. Não tendo foro privilegiado, Lula é convocado para depoimentos, podendo entrar no regime de prisão temporária/preventiva. Aos fatos investigados, soma-se a bomba da delação premiada do ex-presidente do PP, ex-deputado Pedro Correa. A temperatura social se eleva. 8º. Cenário : Alas em conflito nas ruas Sob o cenário acima, a militância petista é convocada para ir às ruas em defesa do seu ícone. Conflitos entre alas contra e a favor de Lula se multiplicam pelo país. A onda contrária se eleva metros acima da onda favorável a Lula. Que é preso. E o efeito de ver um ex-presidente da República preso ? 9º. Cenário : Lula condenado Comprovados favorecimentos a Lula por empreiteiras (reformas no tríplex e no sítio de Atibaia), Lula é condenado. Sim. Nesse caso, uma condenação efetivada ante irrefutáveis provas. Os imóveis não estão em nome do ex-presidente. Mas as reformas indicaram suspeição de favorecimento. O cenário se agrava com a delação de Pedro Correa, ex-presidente do PP, preso em Curitiba. Ele mostrou que Lula sabia de tudo, desde as ações ilícitas ocorridas no mensalão, que ensejou a Ação Penal 470. 10º. Cenário : Economia piora A economia não se recupera no segundo semestre, conforme promessa do ministro da Fazenda, Nelson Barbosa. A economia no fundo do poço aumenta o furor social. A indignação sobe às alturas. As movimentações são intensas. Críticas se expandem. Dilma ainda no governo reforça o clamor das ruas. O processo no TSE continua. Mas o final é longo. 11º. Cenário : Economia melhora A economia dá sinais de recuperação, na esteira de análise de alguns economistas. Que consideram ter chegado ao fundo do poço, devendo, por conseguinte, começar uma escalada de melhoria, mesmo a passo de tartaruga. Sob esse desenho, a presidente Dilma, ainda no governo, passa a subir alguns centímetros na régua da imagem, podendo atravessar um final de ano menos angustiado. 12º. Cenário : Vice assume Com Dilma impedida, o vice presidente Michel Temer assume o governo, tendo condições de resgatar a confiança dos setores produtivos, promover um grande diálogo na sociedade. A economia destroçada tem condições de se recuperar em ritmo mais acelerado. A palavra-chave desse momento é : confiança. Este é o motor de arranque dos setores produtivos e dos investidores internacionais. 13º. Cenário : PT em declínio As ruas estão muito quentes, até porque este é um ano eleitoral. O PT vai perder espaços por todo o país. Alas internas tendem a acirrar suas divisões e mesmo Lula não consegue a unidade do partido. Hipótese de haver razoável enxugamento do corpo partidário. Muitos candidatos do PT nas grandes cidades serão execrados. 14º. Cenário : Junho, a fronteira Se Dilma não for afastada até junho, são quase nulas as possibilidades de ser afastada no segundo semestre. Julho será um mês de férias e, a partir de agosto, começarão os atos da campanha eleitoral. Parlamentares - deputados, senadores, conjuntos técnicos - estarão atarefados com a campanha eleitoral que elegerá 5.568 prefeitos e quase 57 mil vereadores. Brasília será um deserto. Sem condições políticas para engajamento em um processo de impeachment. 15º. Cenário : TSE TSE decide julgar os recursos do PSDB contra as contas da chapa Dilma/Michel. O processo será longo, com oitivas, recursos, devendo o caso subir ao STF. No Supremo, a situação corre para 2017. Se a chapa for cassada, realiza-se nova eleição. Persiste a possibilidade de separação das contas de Dilma das contas de Michel, eis que as Tesourarias e doações foram separadas. E há, ainda, a hipótese de o TSE não encontrar motivos para cassação da chapa. As mesmas empreiteiras que fizeram doação a Dilma o fizeram para Aécio Neves. 16º. Cenário : Preparo para 2018 Dilma continua e Lula não é preso. País caminha capengando até 2018. Moldura comportando desemprego, inflação crescente, programas sociais definhando, tende a ser um bloco fissurado. 2017 reagrupa as forças políticas com migrações partidárias e novos blocos de poder. Lula é candidato pelo PT, ressuscitando o carcomido discurso : nós e eles, peroração contra as elites, a imprensa e a Justiça. Por parte do PSDB, três nomes entram na disputa : Aécio Neves, Geraldo Alckmin e José Serra. Serra olha com atenção o PMDB. 17º. Cenário : Nada acontece As investigações em curso sobre Lula, as pedaladas fiscais dadas pela presidente Dilma, as delações premiadas em curso não incriminam os indiciados. Ou seja, as coisas continuam sob muita fumaça, mas sem grande incêndio. Sob essa perspectiva, o país patina até 2018, sendo viável que os atuais protagonistas - Lula, Dilma, Aécio, Alckmin, Serra, e o candidato próprio do PMDB - entrem todos na paisagem eleitoral de 2018. Alckmin tem uma porta aberta no PSB, se Aécio segurar sua candidatura no PSDB. Sérgio Moro A partir da condução coercitiva de Lula, constata-se a formação de uma onda opiniática batendo nos costados do juiz Sérgio Moro. Onda originada em quadros da própria Justiça e alimentada pelo ódio da militância petista. PMDB : Brasil em 1º lugar O PMDB terá seu Congresso sábado, dia 12. Deverá aprovar proposta de candidatura própria à presidência em 2018. E aprovará um documento de orientação aos quadros do partido. Cada integrante do partido deverá colocar em primeiro plano a causa Brasil, acima dos interesses partidários ou interesses do governo. Com esta indicação, o PMDB sinaliza independência em relação ao governo. Nas votações, a causa Brasil será a inspiração maior. Eleições Pequenos conselhos aos pré-candidatos deste ano : a. Cuidado com campanha negativa Os candidatos terão de controlar muito a expressão. E a razão é muito conhecida : campanha negativa não ajuda candidatura. Quem se prestar ao esforço de passar uma campanha xingando, acusando, criando atritos, poderá ser visto como perfil negativo. É claro que os contendores devem reagir à altura diante de acusações pesadas. Mas o substantivo é melhor que o adjetivo em campanha eleitoral. Porque eleva as pessoas, conferindo-lhes uma taxa de liturgia e seriedade. b. Cuidado, favoritos 1. É comum o candidato que exibe grande dianteira ante outros usar salto alto e, por consequência, fazer uma campanha modorrenta. Isso é um perigo.2. Campanha só é ganha após a apuração. Por isso, os francos favoritos devem fazer campanha como se fossem os lanterninhas.3. A arrogância, a empáfia, o excesso de confiança, a soberba puxam candidatos para o buraco. Cautela e caldo de galinha, senhores favoritos, não fazem mal a ninguém. E ajudam muito nas campanhas.
quarta-feira, 2 de março de 2016

Porandubas nº 481

Abro a coluna com historinha das Minas Gerais. Burrice e engenharia Era uma vez... Viajando pelo interior de Minas, o arquiteto Marcos Vasconcelos encontrou um grupo de trabalhadores abrindo uma estrada : - Esta estrada vai até onde ? - Muito longe, muito longe, doutor. Atravessa o vale, retorce na beirada da serra, quebra pela esquerda, retoma pela direita, desemboca em frente, e vai indo, vai indo, até chegar a Ponte Nova, passando pelos baixios e cabeceiras. - Vocês têm engenheiro, arquiteto, teodolito, instrumentos de medição ? - Num tem não, doutor. Nós tem um burro, que nós manda ir andando, andando. Por onde ele for, aí é o melhor caminho. Nós vai picando, picando. - E quando não tem burro ? - Aí não tem jeito, doutor ; nós chama um engenheiro mesmo. O arquiteto seguiu adiante filosofando sobre as artes da burrice e da engenharia. Sinal verde ? Perigo à vista Marcelo Odebrecht, o comandante, teria dado sinal verde para que executivos presos do Grupo Odebrecht possam fazer delação premiada. Nunca um sinal pode ser tão perigoso como esse do filho de Emílio. Se a turma abrir o bico, cai uma boa parcela de grandes protagonistas da República. Razões : 1. A par de oficiais, deve aparecer dinheiro por baixo do pano ; 2. Foram feitas doações a diversos partidos, não apenas ao PT ; 3. A alta grana paga a João Santana, aqui e alhures, sairá da zona do mistério ; 4. As revelações deixarão Dilma, Lula e adjacências no centro do mais terrível furacão ; 5. Delações premiadas de alto impacto acelerarão decisões na política e na Justiça. E ele, Marcelo ? Imaginem, agora, se o próprio Marcelo decidir entrar no rol de delatores. Diz-se que ele não toparia delatar. Não tem índole para suportar a situação. Mas a perspectiva de continuar por tempo indefinido na cadeia, as pressões da família, a influência do pai, uma eventual condenação pesada, podem agir como indutores de uma decisão no campo da delação premiada. O caso merece atenção. Duverger Maurice Duverger, o renomado estudioso francês dos sistemas políticos, diagnosticando nosso país : "o Brasil só será uma grande potência no dia em que for uma grande democracia. E só será uma grande democracia no dia em que tiver partidos e um sistema partidário forte e estruturado". Saída de Cardozo José Eduardo Cardozo é um dos ministros mais próximos, senão o mais, da presidente Dilma. Não é de hoje a vontade de sair do Ministério da Justiça. Sempre foi considerado por Lula um ministro sem pulso para controlar a PF. Ele, por sua vez, defende uma PF republicana, acima das injunções políticas. Que seja independente para agir, fiscalizar e cumprir ordens da Justiça. Mas o cerco à Lula está se fechando. Ante a possibilidade de um evento mais impactante na direção do ex-presidente, ele pediu o boné. Mas a presidente quer que ele esteja próximo. Vai para a Advocacia-Geral da União. As pressões A saída de Zé Eduardo escancara a divisão no PT. O campo majoritário (Construindo um Novo Brasil), que abriga Lula e José Dirceu, Rui Falcão, nunca fez uma boa avaliação de Cardozo, que pertence à ala Mensagem ao Partido, liderada pelo ex-ministro e ex-governador do RS, Tarso Genro. Há um bom tempo, o PT vem sendo bombardeado pelo seu envolvimento no mensalão e no petrolão. A ala majoritária é a mais atingida. Outras alas querem resgatar o ideário partidário das origens. A crise brasileira O conjunto de crises por que passa tem uma razão : a esfera privada (oikos, em grego) invadindo a esfera pública (koinon). Ou seja, a fome particular devorando o cardápio popular. A gestão pública merece uma grande cirurgia. O novo ministro Pensem, agora, no pepino que espera o novo ministro, Wellington César, indicado pelo poderoso chefe da Casa Civil, Jaques Wagner. Se algo mais grave vier a ocorrer a Lula - prisão - recairá sobre ele a acusação que petistas faziam a Zé Eduardo : não está controlando a PF. Ora, nesses dias de grande tensão e atenção social, será tarefa difícil - para não dizer impossível - fazer qualquer controle sobre as investigações em curso. A operação Lava Jato ganhou vida própria. Funciona no piloto-automático, comandado pelo juiz Sérgio Moro. O ex-procurador adjunto do governo baiano, portanto, já, já, entrará na zona do tiroteio. A conferir. E Dilma, como fica ? E como ficará a presidente Dilma com as ações mais impactantes sob o mando de Moro e execução da PF ? Cada vez mais afastada de Lula, como se diz, ou trancada em seu silêncio ? Cunha em torno de cunha Hoje, quarta, o STF deverá opinar sobre o pedido do procurador-Geral, Rodrigo Janot, para que o presidente da Câmara seja afastado e perca o mandato. A perspectiva é a de que a Corte acolha em parte o pedido. Ou seja, abrirá o processo de investigação. Cunha é perito na interpretação das normas. Fará tudo para empurrar para as calendas a investigação e o julgamento de seu caso. Conta com um advogado dos melhores do país, Marcelo Nobre. Impeachment ? A corrente do impeachment havia refluído, como este consultor, por diversas vezes, analisou nesta coluna. Hoje, volta a crescer. A maré vazante cede lugar à maré enchente. A prisão e os depoimentos - não de todo convincentes - de João Santana e a mulher, Mônica Moura, puxam o impeachment novamente para o centro do debate político. Se novas informações aparecerem nos próximos dias, a comprovar a hipótese de propina paga a Santana, o assunto voltará com força ao Congresso. TSE Já a análise da questão das contas no TSE caminhará por um longo corredor. Que jogaria o caso para 2017. Ademais, este consultor acredita que, no Tribunal Superior Eleitoral, é bem provável que ocorra uma separação de contas. Razão : as tesourarias e as contas da presidente e do vice foram separadas. Cada qual teve sua contabilidade. Doações de tamanhos e origens diferentes. Lula vai à guerra Luiz Inácio avisa : acabou a fase "Lulinha, Paz e Amor". Parece disposto a entrar na arena de lutas com todo o arsenal que poderá dispor. Principalmente a arma da virulência verbal. Mas a pergunta é : o verbo solto e ácido do ex-presidente será capaz de defendê-lo diante das verbas que se apresentam no seu entorno ? Pode ser. Lula tem ainda muito cartucho para gastar. Caiu na imagem, caiu na intenção de voto. Mas, segundo o Ibope, apesar de intenso tiroteio a que é submetido, dispõe, ainda, de 19% de pessoas que fecham com ele para o que der e vier. Os nós do Brasil "O Brasil é feito por nós. Está na hora de desatá-los". Se o Parlamento Nacional precisa de um conselho, este, da verve do Barão de Itararé, seguramente se apresenta como adequado. A vitória de Doria João Doria ganhou bem as prévias do PSDB em São Paulo : 43,15% contra 32,89% para Andrea Matarazzo e 22,31% para Ricardo Tripoli. João fez a lição de casa. Correu as regiões, mobilizou a militância. Não adianta agora alegar que ganhou porque teve a alavanca econômica. O fato é que o apoio do governador Geraldo Alckmin ajudou muito. Não há motivo para se pedir silêncio ou abstenção de Alckmin. Afinal, o senador José Serra, o ex-presidente FHC e o ex-governador Alberto Goldman apoiaram abertamente - fazendo campanha - para Andrea. Enquanto Zé Aníbal, presidente do Instituto Teotônio Vilela, do PSDB, e o deputado Bruno Covas apoiaram Tripoli. As brigas no dia das prévias mostram o racha partidário. O nó górdio Se os "nós" do Brasil forem difíceis de desatar, por que não se inspirar em Alexandre ? O ousado Alexandre Magno ouviu o prognóstico do oráculo : quem conseguir desatar o nó que atava o jugo à lança de Górdio, rei da Frigia, dominará a Ásia. O guerreiro não pensou duas vezes : pegou a espada e, de uma vez só, cortou-o. Há "nós" que carecem força, rapidez e destreza. Favorito Este consultor acredita que João Doria tende a atrair em maior volume os votos atribuídos a Tripoli. Deverá ser o candidato tucano à prefeitura de São Paulo. Matarazzo no PSD Não será surpresa para este escriba se Andrea Matarazzo acabar deixando o PSDB para ingressar no PSD de Gilberto Kassab. Afinal, foi secretário do Kassab quando este dirigia a metrópole. O convite teria sido feito. Andrea pediu um tempo para pensar. Oposições sem rumo As pesquisas indicam. As oposições continuam patinando. Aécio Neves, por exemplo, deveria subir alguns pontos no vácuo que Lula deixa no espaço eleitoral. Lula caiu, mas nem Aécio nem Marina cresceram. O mineiro pontua pela casa dos 23% e Marina anda na casa dos 17%. Qual o discurso das oposições ? Tomar o poder pelo poder ? Mas onde está o projeto para o país ? Quem tem projeto mais claro, hoje, é o PMDB com o seu discutido documento "Uma Ponte para o Futuro". Trump é barra Ter Donald Trump como candidato republicano à presidência da Nação mais poderosa do planeta é um atentado ao bom senso. O cara promete, se eleito, fazer um muro separando os EUA do México. Ideia de nazista. Como se explica um fenômeno como este ? Raiva, indignação, protesto contra os políticos tradicionais. É isso que os americanos estão sinalizando. No Brasil, parcela importante da sociedade está dando as costas à política. Hillary Ainda bem que os americanos disporão de outra alternativa : a senadora Hillary Clinton. Que deve ser a candidata dos democratas. Voto obrigatório É falaciosa a tese de que a obrigatoriedade do voto fortalece a instituição política. Fosse assim, os EUA ou os países europeus, considerados territórios que cultivam com vigor as sementes da democracia, adotariam o voto compulsório. O fato de se ter, em algumas eleições americanas, participação de menos de 50% do eleitorado não significa que a democracia ali seja mais frágil que a de nações onde a votação alcança dados expressivos. Como observa Paulo Henrique Soares em seu estudo sobre a diferença entre os sistemas de voto, na Grã-Bretanha, que adota o sufrágio facultativo, a participação eleitoral pode chegar a 70% nos pleitos para a Câmara dos Comuns, enquanto na França a votação para renovação da Assembleia Nacional alcança cerca de 80% dos eleitores. Portanto, não é o voto por obrigação que melhorará os padrões políticos. O Turismo e o Direito O Sindetur-SP (Sindicato das Empresas de Turismo no Estado de São Paulo) promoverá hoje dois grandes eventos para convidados e seus associados no Hotel Pullman Ibirapuera. O primeiro às 18h, com o 29º Fórum dos Empresários de Turismo : os palestrantes da noite - o desembargador Tasso Duarte de Melo e o juiz Paulo Jorge Scartezzini Guimarães - discorrerão sobre as cautelas e recomendações para as agências de viagens reduzirem o risco de seu negócio. Manual para agentes Ainda no hotel, mas às 19h30, será lançado o livro "Manual Jurídico para Agências de Turismo", escrito por um dos maiores especialistas em Direito do Turismo País, Joandre Ferraz, em parceria com Patrícia Leal Ferraz Bove, Josebel Ferraz Tambellini e Christiane Ferraz Tambellini. O Sindetur-SP patrocina esse livro, uma importante ferramenta de trabalho para os agentes de viagens. Fecho a coluna com outra historinha das Minas Gerais. Matreirice O mineiro comprou um pedaço de terra no cerrado, um cascalhão duro, seco, terrível. Passou 20 anos arando, irrigando, plantando. Um dia, estava tudo lindo, o capim alto, verde, o feijão viçoso, uma beleza, o mineiro chamou o padre para rezar uma missa em ação de graças. O padre fez o sermão : - Vejam, meus irmãos, o que Deus e o homem podem fazer juntos. Lá de trás o mineiro deu uma baforada no cigarro de palha : - Senhor padre, o senhor precisava era ter visto isso aqui quando Deus estava sozinho.
quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

Porandubas nº 480

Os cinco judeus Abro a coluna prestando uma homenagem aos cinco judeus que plasmaram a história do mundo. Tudo O primeiro foi Moisés, para quem A Lei é Tudo ! O segundo foi Cristo, para quem O Amor é Tudo ! O terceiro foi Karl Marx, para quem O Capital é Tudo ! O quarto foi Freud, para quem O Sexo é Tudo ! E o quinto foi Einstein, para quem Tudo é Relativo ! Por isso, abro minhas reflexões avisando : tudo que falo tem um depende. Acarajando A operação Acarajé é mais uma bomba nos costados do PT. Vai ser difícil explicar dinheiro pago a João Santana no exterior. Três contas, uma em Londres, outra em Nova Iorque e a terceira na Suíça. Santana teria recebido nas duas campanhas - Lula e Dilma - mais de R$ 170 milhões. Mas ele fez campanhas presidenciais no exterior, em Angola, República Dominicana e Argentina, entre outras praças. Sérgio Moro, ao que parece, tem ainda muitos trunfos até a reta final. P.S. Esse tal de Zwi Skornicki, operador, deve ser uma ponte para grandes descobertas. O bombardeio Luiz Inácio continua sendo bombardeado. Não vai escapar de novos depoimentos. Agora, a PF diz que há indícios que requerem investigação no entorno de Lula. Pesquisa Ibope mostra que aumentou rejeição contra ele. 61% não votariam de jeito nenhum no ex-presidente. Mas ele ainda é protagonista forte : 19% dizem que votarão de qualquer maneira nele. E aí, FHC ? Fernando Henrique ainda está devendo explicação clara sobre os pagamentos feitos por uma empresa a Mirian Dutra, mãe de seu filho. Ele diz que mandou 100 mil dólares para a empresa pagar mensalmente três mil dólares à ex-namorada. Mandar dinheiro para uma empresa ? Por que o dinheiro não foi dado diretamente a ela ? Ele poderia dizer : estou pagando 35 mensalidades. Algo assim. A boa comunicação Atenção, candidatos : a boa comunicação, ao contrário do que muitos imaginam, não é a superplástica dos programas de televisão, aqueles quadros movidos à computação gráfica, repletos de elementos de ficção. A boa comunicação é aquela que chega de maneira fácil e objetiva na mente do eleitor. É a comunicação que induz e motiva o eleitor a tomar uma decisão. As campanhas eleitorais têm abusado de efeitos gráficos na TV. Geram efeito devastador sobre o perfil de alguns políticos : a chamada fadiga de imagem. O uso exagerado da cosmética televisiva gera desconfiômetro. Blá blá blá. Brasif Mas o PT quer abafar também esse caso da empresa que teria recebido o dinheiro de FHC. Afinal, ela foi vendida em 2006 por R$ 500 milhões ao grupo suíço Dufry. Sob o governo Lula. Pergunta-se: quem teria avalizado/endossado esta operação ? A Brasif era de propriedade de Jonas Barcellos. Que imbróglio ! Decisão STF A decisão do Supremo de autorizar o encarceramento de condenados na 2ª instância, relativizando o princípio da presunção de inocência, passa a impressão de que a Corte está vivendo um afrouxamento constitucional. Está assumindo o lugar de uma Assembleia Constituinte, invadindo a esfera legislativa e politizando a Justiça. Nunca vi uma Corte agindo sob o clamor das ruas. Dedo para cima ou dedo para baixo ? Esse era o gesto que a galera fazia no Coliseu Romano quando um gladiador caia pela espada do adversário. O imperador deixava o gladiador viver ou morrer, olhando para o polegar levantado ou baixado da turba. Cuidado, magistrados ! Efeitos colaterais Os efeitos colaterais da quebra da presunção de inocência serão, entre outros : a. multiplicação das delações premiadas ; b. superlotação de presídios com políticos e empresários ; c. abertura de janelas para outras quebras de cláusulas da Constituição Federal. TSE ganha fôlego A operação Acarajé vai suprir o TSE com muitos documentos. Sérgio Moro não pode fazer a investigação eleitoral. Vai mandar farta documentação para o TSE. Que irá apurar se propina da Petrobras entrou nas doações oficiais da campanha do PT. E os tucanos ? Pergunta que não quer calar : se PT, PMDB e PSDB receberam doações das mesmas empreiteiras, por que a grana de um partido é diferente da outra ? Por que a grana de um é suja e de outro, limpa ? Os tucanos receberam 40 milhões, sete a menos que o PT. Precisam também explicar. Delcídio Deve assumir o mandato com moderação. Não se espere do senador um discurso inflamado. Ele sabe muitas coisas, mas deve saber que palavras duras contra colegas, mesmo os que o condenam, podem ser decisivas para sua cassação. Vai mostrar que foi vítima de um complô. Mas o Senado, a partir do Conselho de Ética, terá de decidir sobre a perda do mandato. O PT vai excluí-lo dos quadros. Zika A tal Zika congênita se espalha pelos cantos do país, a partir do Nordeste. Vejo muita autoridade nos lugares, mas não vejo ataque ao mosquito. A vacina vai demorar. Enquanto isso, a da dengue está sendo testada. Resultados em um ano. Imaginem, agora, os efeitos da zika numa geração. Impeachment Se o impeachment havia refluído, ganhou fôlego com a operação Acarajé. Digamos que o sentimento social aumentou um pouco as expectativas. Mas o leit-motiv para o afastamento de Dilma ainda não surgiu. Se for por meio das pedaladas fiscais, ficará até o fim do mandato. Se for demonstrado desvio de propina para campanha, TSE poderá cassar chapa. E autorizar novas eleições. Este consultor político não acredita nessa hipótese. Ela irá até o final do mandato. A arte de governar Saint Just, um dos jacobinos da Revolução Francesa, executado após a queda de Robespierre, expressou uma desilusão ao dizer que "todas as artes produziram maravilhas, exceto a arte de governar, que só produziu monstros". A mesma amargura pegou o coração do segundo presidente dos Estados Unidos, John Adams, que nos legou a seguinte leitura : "todas as ciências progrediram, menos a de governar, que não avançou : hoje é praticada apenas um pouco melhor do que há quatro mil anos". Eleição para comissões Afinal, vai ser possível haver chapa avulsa para eleição de Comissões ? Ou apenas chapas arrumadas pelas lideranças ? O embargo de declaração de Eduardo Cunha ao presidente ainda não foi respondido. O executivo pede nulidade da questão, que é matéria vencida, segundo argumenta. Cunha teria feito o embargo antes de sair o acórdão. Pautas fortes Senado e Câmara organizam pautas fortes : CPMF, DRU, Reforma da Previdência, Ajuste Fiscal, Partilha na Exploração do Pré-Sal, etc. Este último projeto, de autoria do senador José Serra, quebra o monopólio da Petrobras. Deve passar. CPMF hoje não passa. Daqui a um tempinho, pode passar. DRU, sim. Reforma da Previdência, mesmo sob a guerra do PT e CUT, passa. A vez da mulher Cresce o papel da mulher na política. Neste ano, terá um desempenho especial no pleito. Lembro Margareth, ex-mulher do ex-primeiro ministro do Canadá, Pierre Trudeau, pai do atual primeiro ministro, Justin Pierre James Trudeau : "quero ser algo mais que uma rosa na lapela do meu marido". Sigilo O STF passa mesmo a impressão de que está agindo de acordo com o viés político. Vai autorizar a quebra do sigilo bancário dos contribuintes, mesmo sem autorização judicial. Basta a Receita Federal pedir. Big Brother nos cerca. Acabou o sigilo no país. Adeus, intimidade. Oposicionismo O oposicionismo deve levar a melhor na campanha deste ano. Não me refiro aos partidos de oposição. Falo dos oposicionistas nos planos Federal, estadual e municipal. Os candidatos de oposição, contra o status quo nos ambientes e espaços, deverão fazer a maioria de prefeitos. A campanha terá como foco o "contra". A conferir. Os brasileiros Deus carimbou alguns povos com tintas muito acentuadas. Diz-se que aos gregos concedeu o amor à ciência ; aos povos asiáticos, o espírito combativo ; aos egípcios e fenícios (sendo estes últimos os atuais libaneses), imprimiu a marca do amor ao dinheiro. Aos brasileiros, Deus deu a capacidade de improvisar mais que outras gentes. O brasileiro sabe dançar na corda bamba. Não é de sim, sim, não, não. Prefere o talvez. O senhor tem religião ? "Sou católico, mas não praticante" ! Trabalha quantas horas por semana ? "Mais ou menos 40 horas". O turismo e o Direito O Sindetur/SP (Sindicato das Empresas de Turismo no Estado de São Paulo) promoverá dois grandes eventos para convidados e seus associados no dia 2 de março, no Hotel Pullman Ibirapuera. O primeiro será às 18h, durante o 29º Fórum dos Empresários de Turismo : os palestrantes da noite - o desembargador Tasso Duarte de Melo e o juiz Paulo Jorge Scartezzini Guimarães - discorrerão sobre as cautelas e recomendações para as agências de viagens reduzirem o risco de seu negócio. Um livro para os agentes Ainda no hotel, mas às 19h30, será lançado o livro "Manual Jurídico para Agências de Turismo", escrito por um dos maiores especialistas em Direito do Turismo País, Joandre Ferraz, em parceria com a filha Patrícia Leal Ferraz Bove, a irmã Josebel Ferraz Tambellini e a sobrinha Christiane Ferraz Tambellini. O Sindetur/SP patrocina esse livro, uma importante ferramenta de trabalho para os agentes de viagens. Suicídio Por que : angústia ? Depressão ? Vida sem sentido ? Cresce o número de suicídio na área das jovens mulheres em São Paulo. A taxa cresceu 25% de 2010 até hoje. Eleições As eleições de outubro próximo deverão ser mais seletivas que as de 2012, na crença de que o eleitorado comparecerá às urnas com um sentimento de que poucos políticos estão a merecer o seu voto. A constatação mais comum que se flagra na interlocução cotidiana é a de que "todos os políticos são farinha do mesmo saco". Ante a expansão da descrença social, é oportuno resgatar os traços que ornam o perfil político do gosto do eleitor. 67 anos : Sescon/SP Em comemoração aos 67 anos de atuação, o Sindicato das Empresas de Contabilidade e de Assessoramento no Estado de São Paulo - Sescon/SP recebeu autoridades, lideranças empresariais e parceiros, no último dia 19, no Clube Atlético Monte Líbano, em São Paulo, em evento da posse da nova diretoria da entidade para 2016/2018. Continuidade com inovação é o lema da gestão liderada por Márcio Massao Shimomoto, que inicia o ano com uma boa notícia : suspensão pelo STF das novas regras para cobrança do ICMS interestadual a empresas do Simples Nacional, um pleito do Sindicato. Em seu discurso, Marcio firmou compromisso na luta pela melhoria do ambiente de negócios. Quebra de empresa A imprensa noticiou há poucos dias que a empresa Higilimp abandonou os serviços para os quais foi contratada pelo Metrô, Corpo de Bombeiros, Universidade de São Paulo, Assembleia Legislativa e outros. Sem receber salários, os funcionários fizeram greves pela cidade e deixaram banheiros de metrô fechados, lixo acumulado e outros prejuízos para a população. Noticiou-se que a crise econômica provocou a quebra da empresa. Pregão eletrônico Mas não se deve jogar a culpa na crise. O verdadeiro responsável é o governo estadual, que realiza suas licitações em pregão eletrônico e contrata sempre pelo menor preço. Ou seja, sem saber se a empresa vencedora tem capacidade para realizar o serviço. Todo o mercado tem conhecimento de que empresas oportunistas ou de fachada se aproveitam dos pregões eletrônicos para ganhar dinheiro fácil, pois os órgãos públicos não se dão ao trabalho de averiguar a seriedade das concorrentes. Mas não é só : o governo estadual tem um índice de reajuste de contratos bem inferior ao índice de reajuste dos salários, o que também ajuda a quebrar as empresas. E dá nisso - funcionários e serviços abandonados. Como se vê, o poder público tem grande responsabilidade na "precarização" do trabalho, termo usado pelo próprio poder público (este, Federal) para investir contra a Terceirização de Serviços no país.
quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

Porandubas nº 479

Newton Cardoso, ex-governador de Minas Gerais, é um bom contador de histórias. Já ouvi alguns "causos" narrados por ele. Mas Newtão, como é conhecido, coleciona muitas histórias sobre ele mesmo. Vejamos algumas. Heliocóptero Quando assumiu o governo de Minas, foi, no dia seguinte, ao aeroporto para viajar no helicóptero da administração estadual. Ao tomar conhecimento de que aquele "trem" tinha o nome de seu adversário (ex-governador Hélio Garcia), foi logo dando bronca no piloto : - Não entro de jeito nenhum nesse trem com o nome do Hélio. O piloto, constrangido, respondeu : - Mas governador, esse helicóptero é do governo do Estado e não do ex-governador Hélio. Newtão não quis saber : - Esse trem agora vai se chamar Newtoncóptero. Falei e tá falado. Burrinhos Outra historinha envolvendo o folclórico ex-governador. Resolveu passear de carro com a família. O carro pifou na estrada. O mecânico, que o socorreu, diagnosticou : - São os burrinhos dos freios ; estão danificados. Acho bom trocar logo esses burrinhos. Cardoso deu a bronca : - Calma, seu mecânico, meus filhos não descerão dos burrinhos de jeito nenhum. Leite pasteurizado Preocupado com as notícias de que o leite estava contaminado, Newtão pegou um pastel e começou a mexer dentro da xícara. Alguém perguntou : - Mas o que é isso, governador ? - Estou pasteurizando o leite. Porquinos Em palanque : - Minas sempre se preocupou mais com a criação de bovinos e equinos. Mas eu, agora, vou cuidar da criação de porquinos. Grande figura ! ______________ Cerco a Lula O cerco a Lula continua. Deverá ser ouvido, hoje, em São Paulo. O empresário Jonas Suassuna, um dos nomes em que está registrado o sítio de Atibaia, também deverá prestar depoimentos nos próximos dias. Parece não haver mais dúvidas sobre a propriedade do sítio, ou seja, pertence mesmo aos empresários Jonas Suassuna e Fernando Bittar. Mas as reformas no sítio, como está evidente, foram feitas sob o olhar e os interesses da família Lula da Silva. O fato é que a dissonância está no ar. Entrou nas ondas sociais. Lula, por mais que negue ser o dono do sítio, não se livrará tão cedo deste imbróglio. A verdade A verdade sempre aparecerá. Mais cedo ou mais tarde. É preferível enfrentar uma verdade que resulte em danos de imagem do que arrumar uma versão estrambótica. A aceitação da verdade - com enfrentamento das consequências - ao longo do tempo acabará sendo a opção mais viável para recompor a identidade dos protagonistas envolvidos em situações polêmicas. Essa observação se aplica tanto a Lula como a outros atores que vivem o dilema de dizer a verdade ou contar lorotas. Impeachment recua A ideia do impeachment da presidente Dilma recuou. Digamos que, na régua de 0 a 100, já havia frequentado a casa 70. Hoje, circula entre as casas 20 e 30. Ou seja, continua na tela do radar, mas com sinais fracos. A hipótese mais provável é a de que a presidente continue no cargo, mesmo sob a mira de opositores, que acompanharão, atentos, os processos em análise e julgamento no TSE. TSE tem 4 processos O Tribunal Superior Eleitoral julga quatro casos contra a chapa Dilma/Temer, relativos às contas de campanha e abuso de poder. Foram impetrados pelo PSDB, que, há dois meses, tentava se encostar no vice-presidente Michel Temer, em quem enxergava a alternativa de poder. Hoje, os tucanos se afastam do PMDB. O vice-presidente lembrou, em sua defesa, que o PSDB recebeu cerca de 40 milhões das mesmas fontes doadoras de recursos ao PMDB. Moro aponta O juiz Sérgio Moro, indagado pelo TSE, respondeu ter constatado propina direcionada a doações oficiais ao PT. Por isso, o TSE deverá aprofundar as investigações, juntando os quatro processos que analisa. O vice-presidente Temer, por sua vez, alega na densa defesa feita pelo advogado Gustavo Bonini Guedes, que as contas de sua campanha foram separadas das contas da presidente. As duas tiveram tesourarias próprias e doações diferentes. Processo lento Por mais que o TSE se esforce para acelerar as investigações, esse processo deverá correr até o final de ano. Abarca oitivas, recursos, embargos e subida ao Supremo, onde deverá ser julgado. Ou seja, o contencioso sob investigação e julgamento nas Cortes da Justiça deverá tomar todo o ano jurídico. Vitorino, o filósofo Vitorino Freire, ex-manda chuva e filósofo do Maranhão : - Quando o pasto pega fogo, preá cai no brejo. - O risco que corre o pau, corre o machado. - Não quero que ajudem meu roçado. Só quero que os bois do vizinho não entrem nele. - O Sarney não conhece o tamanho do meu roçado. De um lado da cerca eu grito e ele não ouve do outro lado. - Política no Maranhão é um bumba-meu-boi que não sai sem mim. Picciani versus Motta Hoje, deverá ser eleito o novo líder do PMDB. Leonardo Picciani ou Hugo Motta. Os dados favorecem Picciani, mas o voto secreto poderá apresentar surpresas. Picciani, se for eleito, estampará em sua face a condição de "líder do governo", por mais que se esforce para unir a bancada. Motta, se for o escolhido, será visto como extensão dos braços de Eduardo Cunha. Essa divisão marcará o PMDB pelos próximos tempos. A unidade virá, mas não tão cedo. A sobrevida de Cunha depende da eleição do paraibano. A cunha de Cunha Seja qual for o resultado, o presidente da Câmara tentará inserir uma cunha na agenda de interesse do governo Dilma. A pauta governista não será aprovada com facilidade. A CPMF, por exemplo. Cunha agirá como um aríete a fustigar a fortaleza governista. A conferir. Janela da infidelidade A partir da promulgação da emenda que permite aos parlamentares migrar de sigla, sem perder o mandato, veremos nos próximos dias um troca-troca partidário que poderá mudar a composição das forças governistas e oposicionistas. O PT pode perder mais de 10 deputados. Que temem desgaste se ficarem no partido. Mas a migração maior deverá ser mais adiante com a fundação de novos partidos. As oposições podem crescer um pouco, não no volume que se imaginava. Cerca de 10% dos deputados devem mudar de casa, algo como 50 nomes. Opinião pública Dos trechos de discursos mais pinçados do juiz Sérgio Moro, um chama bastante atenção : é o que traz o apelo de Moro ao apoio da Opinião Pública. Taxativamente, ele diz que a prisão de atores de primeira grandeza "depende de vocês", referindo-se à plateia que o assistia. Moro acha que a cooptação social é fundamental para que o processo de investigação e condenação de altos políticos tenha inteiro sucesso. Está certíssimo. Refluxo dos movimentos Os movimentos sociais podem voltar com força às ruas. Como e em que circunstâncias ? 1. Se o bolso vazio começar a apertar o estômago ; a classe média C, emergente, descendo para a classe D, acharia o motivo para engrossar a fileira das ruas ; 2. Caso haja uma denúncia-bomba, com provas fartas, envolvendo a presidente da República ; 3. Nas margens eleitorais de outubro, ante a possibilidade de as Cortes Judiciais decidirem inocentar os atores políticos envolvidos no petrolão. PMDB em 2018 Não há mais dúvida. De tanto repetir que terá candidato a presidente da República em 2018, o PMDB não tem mais condições de recuar. O Congresso do partido, em março, tomará esta decisão. Procura-se, desde já, um nome. Condições : respeitado pela sociedade ; admirado na área política ; experiente e articulado ; com autoridade para definir rumos ; capaz de formar uma equipe plural, os melhores entre os melhores ; visto como a síntese da unidade nacional. Quem preencher estas condições habilite-se. Sabendo que uma candidatura assim nasce de baixo, não de cima. Tempestade informativa Para refletir : quando o vento forte corre numa direção, ninguém é capaz de detê-lo. Outra imagem : quando um tufão informativo vai na direção norte, uma ventania contrária será por ele engolido. Ou seja, o vento mais forte afasta o vento menos forte. O PT e Lula tentarão se contrapor à tempestade midiática que bate nos costados do lulopetismo. Não conseguirão impor sua versão contra a abordagem midiática. Por isso mesmo, este consultor acha complicada a tentativa do PT de resgatar a imagem do Lula herói, salvador da pátria. O dano já está feito. Lobby O lobby tem como principal objetivo intermediar interesses de grupos perante a esfera pública, organismos (estruturas administrativas) e Poderes do Estado (Executivo, Legislativo e Judiciário). Tal modalidade não é um fenômeno contemporâneo. Faz-se presente nos ciclos históricos, inscrevendo-se, inclusive, nos primeiros dicionários de política. Rousseau, no Contrato Social, perorava sobre a oportunidade de cada cidadão participar nos rumos políticos, garantindo haver "inter-relação contínua" do "trabalho das instituições" com as "qualidades psicológicas dos indivíduos que interagem em seu interior". Esse é, aliás, um dos fundamentos da democracia participativa, aqui entendida como o sistema que permite aos cidadãos e suas representações se livrarem da coerção para influir de maneira autônoma no processo decisório. O lobby tem relação com este conceito. Legalização O lobby não pode ser feito às escuras em defesa de interesses de grupos e pessoas. Por isso, carece ser legalizado. O projeto que tramita no Congresso, há anos, carece nova avaliação à luz da realidade social e política do país. Somente o marco regulatório sobre a matéria poderá diminuir a taxa de corrupção, eis que desvendará o que está por trás das máscaras. Reivindicações gerais, difusas, particulares, explícitas ou latentes, passarão pela lupa da mídia. A publicidade das ações contribuirá para distinção entre o justo e o injusto, o lícito e o ilícito, o correto e o incorreto, o oportuno e o inoportuno. Lobistas ou articuladores institucionais da sociedade civil terão identidades e representações divulgadas. Seria uma maneira de adensar o corpo de nossa democracia participativa, conferindo mais força e significado à democracia, o regime do poder visível. Pérolas do Barão de Itararé - A esperança é o pão sem manteiga dos desgraçados. - Adolescência é a idade em que o garoto se recusa a acreditar que um dia ficará chato como o pai. - O advogado, segundo Brougham, é um cavalheiro que põe os nossos bens a salvo dos nossos inimigos e os guarda para si. - Senso de humor é o sentimento que faz você rir daquilo que o deixaria louco de raiva se acontecesse com você. - Mulher moderna calça as botas e bota as calças. - A televisão é a maior maravilha da ciência a serviço da imbecilidade humana.
quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016

Porandubas nº 478

Abro a Coluna com uma historinha de promessas de campanha em Minas Gerais. Eclipses ? Aqui não O Coronel Zé Azul, chefe político de São Gonçalo do Abaeté, em Minas Gerais, era candidato a prefeito pela UDN, às vésperas de um eclipse do sol que a imprensa vinha prevendo para começo do ano seguinte, como o mais forte já visto no Brasil. O medo generalizou-se. Corriam relatos de crianças que iam nascer defeituosas, galinhas que deixariam de pôr ovos, cabritos que não mais berrariam e a cachaça que ficaria envenenada. No dia 1º de outubro, o coronel Zé Azul fez o último comício da campanha e acabou com um juramento sagrado : - Pode ser que, na prefeitura, a partir de janeiro, eu não consiga fazer tudo que pretendo por esta terra. Mas juro para vocês que meu primeiro decreto será proibir definitivamente eclipses em São Gonçalo do Abaeté. Ganhou a campanha ! Cuidado, candidatos : os tempos mudaram ! A válvula do carnaval O carnaval é a válvula da panela de pressão social. A folia deste ano ganha uma interpretação adicional por ocorrer num momento de grandes dificuldades. A falta de grana sugere uma movimentação maior nas ruas. Os foliões deverão fazer o carnaval das circunstâncias : mais natural, menos dispendioso, descontraído. Multidões buscarão em seus blocos compensar angústias e esquecer, por alguns dias, o déjà-vue da política. A cada dia, aumenta o fosso entre sociedade e os políticos. Alguns atores, a propósito, inspiram marchas do carnaval. Risíveis. Zika, o medo A doença é uma emergência mundial. A OMS deu o alerta. A microcefalia dispara um sentimento de medo. O carnaval, dizem especialistas, produz ambientes adequados para propagação do mosquito Aedes aegypti. Logo, favorece a massificação da doença. O Brasil está perdendo a batalha para o bichinho, reconhece a própria presidente Dilma. Geração de amanhã Pequena reflexão : que efeitos a microcefalia provocará na geração do amanhã ? Uma geração com distúrbios ? O Brasil real O país real será revisitado depois do meio dia da quarta-feira de cinzas. A vida rotineira encontrará seus fios e as pessoas buscarão a melhor maneira de administrar os próximos tempos de escassez. Os negócios tenderão a diminuir de volume e ritmo. As Operações de investigação continuarão - Lava Jato, Zelotes, Merenda Escolar/SP - e os órgãos de controle deverão recolocar seus exércitos nos ambientes de indiciados e suspeitos. A área política funcionará como sanfona : abre e fecha, fecha e abre. O que significa isso ? Expliquemos. A sanfona política A representação política age de maneira pragmática, tateando no amplo salão da Opinião Pública. Esta, por sua vez, ajusta seus sentimentos ao clima da crise econômica : quando as carências e necessidades batem no bolso, a indignação sai do coração para a cabeça. E reage. Haverá, portanto, um sentimento negativo muito intenso nos próximos meses. Que calibrará o ânimo da Opinião Pública. Que funcionará como espelho aos políticos. Daí a sanfona : sístole e diástole, pressão e descontração. Pressão implica aperto no coração do governo : desaprovação de matérias de interesse de Dilma ; descontração, maior simpatia às teses da administração, com aprovação de matérias de seu interesse no Parlamento. CPMF Imaginem, dentro dessa moldura, o voto (ou o veto ?) à CPMF. Para passar, o ambiente econômico e social precisa ser harmônico. Caso contrário, será difícil sua aprovação. Os parlamentares podem, até, ser mobilizados - como é previsível - para aprovar a contribuição financeira ; mas não agirão como suicidas. Governadores, de pires na mão, querem a CPMF. Como, porém, defender um novo imposto em ano eleitoral ? Terão eles coragem de fazer esta pregação em praça pública ? No Congresso Já se viu, ontem, um ligeiro retrato do que pode ocorrer com a CPMF. Em sua fala na abertura da Legislatura, a presidente foi vaiada quando falou do Imposto. Aliás, ela foi ao Congresso por sugestão de Delfim Netto. Que sugeriu enfrentar cara a cara o Parlamento. Prometeu, ainda, fazer a Reforma da Previdência e o ajuste fiscal. Dois temas que não são consenso no próprio PT. Cunha na guerra Eduardo Cunha tem provado ser resistente na luta. Quando se imaginava apeado da cadeira de presidente da Câmara, ele volta mostrando disposição de não ceder um passo na estratégia de ataque contra o Procurador-Geral da República, Rodrigo Janot, e de enfrentamento contra o STF. Entra com embargos de declaração junto ao Supremo para fazer reverter o rito do impeachment. Dispõe-se a demonstrar que a Câmara pode eleger comissões (pelo voto secreto e sem indicação de partidos) e o Senado não pode bloquear decisão de dois terços dos deputados para evitar julgamento de eventual pedido de impeachment da presidente. Vai e vem Como se sabe, esses embargos deverão ser apreciados e, assim, o presidente da Câmara vai ganhando tempo. Na esfera interna, procura estancar o processo contra ele na Comissão de Ética, alegando irregularidades. Por ser um especialista em regimento interno, Cunha acabará adiando seu afastamento do assento presidencial. O STF já sinaliza a dificuldade de afastá-lo do cargo. As próximas semanas serão decisivas. Governo desmonta turismo O turismo vive dias de angústia. Depois de renovar um compromisso do passado - isenção de IR para as agências de turismo sobre valores de compras feitas no exterior - o governo acabou taxando o setor em 25%. Calculado sobre o "gross up", a soma chega a 33%. Os termos assumidos pelo ex-ministro Joaquim Levy e pelo Secretário da Receita Jorge Rachid, sob o patrocínio do ministro do Turismo, Henrique Alves, eram sobre o pagamento de 6% de IOF. Qual não foi a surpresa ao se perceber que o prometido não se cumpriu. As agências de turismo, a partir de 1º de janeiro, são obrigadas a arcar com 33%. Essa situação destruirá o setor : cerca de R$ 20 bilhões deixarão de ser recolhidos aos cofres públicos, na esteira de 185 mil vagas diretas e 430 mil vagas indiretas eliminadas. Só de salários a perda será de R$ 4,1 bilhões. E assim se desmonta um setor. Grau de risco A Moody's está desembarcando no país para reavaliar os nossos indicadores. Pelo andar da carruagem, Brasil será mais uma vez rebaixado pela agência de reclassificação de risco. Liderança do PMDB Mesmo que leve a melhor na eleição para líder do PMDB na Câmara, Leonardo Picciani sairá com a imagem borrifada. Acabou colando sua imagem ao Palácio do Planalto, o que implicará desconfiança de metade da bancada peemedebista, mais de 30 deputados. Acenou com a possibilidade de mudança na presidência do PMDB, tirando o presidente Michel Temer. Não esperava que Michel costurasse - como está fazendo - um consenso em torno de sua recondução. Hugo Motta, o paraibano que disputa com Picciani, pode vencer a parada. Com o apoio de Eduardo Cunha. A costura de Temer Michel Temer esteve em cinco Estados, semana passada, costurando a unidade do Partido (PR, SC, PB, RN e PE). Foi aclamado em todos, recebendo o apoio de lideranças históricas do partido, como o senador Roberto Requião e o deputado Jarbas Vasconcelos. Certa movimentação de senadores - contra a recondução de Temer - refluiu. O senador Romero Jucá (RR) deverá ser o primeiro vice-presidente do partido. O senador Eunício de Oliveira (CE) deverá substituir o senador Renan Calheiros (AL) na próxima legislatura, podendo este voltar a liderar a bancada no Senado. A imagem de Lula O ex-presidente Lula não tem conduzido com eficiência o imbróglio do tríplex no edifício Solaris, no Guarujá, e do sítio em Atibaia. Deveria, desde o início, ter dito que comprou um apartamento do qual desistiu quando percebeu a onda que se formou com a aquisição. No entanto, falou em uma cota da Bancoop em nome de dona Marisa. Cota é uma coisa, compra do imóvel é outra. Quanto ao sítio, poderia ter dito que, apesar de estar no nome de dois sócios de um de seus filhos, ele e a família têm o usufruto. Pronto. Ele pode ter apartamento, duplex, tríplex, sítio etc. Não pode, isso sim, é driblar a informação sobre propriedade e recursos. Fingimento na política Exemplar é a historinha envolvendo Benedito Valadares e José Maria Alkmin (1901-74), que se encontraram no aeroporto de Belo Horizonte. "Alkmin, para onde você vai?", indaga Valadares. "Vou para Brasília". "Ah, para Brasília, ah, sim para a Capital." Puxando para perto o amigo Olavo Drummond, presente ao ato, cochicha : "O Alkmin está dizendo que vai para Brasília para eu pensar que ele vai para o Rio. Mas ele vai mesmo é para Brasília". Tem muita gente fingindo na política. Sem a graça do Valadares. Chances Qual a possibilidade de Lula resgatar sua boa imagem e voltar a ser considerado forte candidato em 2018 ? Resposta : vai depender da recuperação da economia. E da imagem da presidente Dilma. Vejamos os cenários. Dilma sairá do governo com imagem em alta, aplaudida, com reconhecimento do povo ao seu bom governo. Chance entre 0 a 10 ? 2 a 3. Dilma sairá com imagem arranhada e PT reaparecerá em cena depois de mudança geral em seus costumes. Chance ? 4 a 5. Dilma sairá com imagem profundamente comprometida, rota, rasgada. Chance ? 8 a 9. Qual é chance da economia se recuperar ? Em 2016, 0 a 2. Em 2017, 4 a 5. Em 2018, 5 a 6. Em 2020, 8 a 9. A imagem de Dilma A presidente Dilma parece mais aliviada. Mesmo assim, 60% da população são favoráveis ao impeachment. Essa ideia tem condições de ainda causar rebuliço no Congresso, mas tende a arrefecer. A não ser que novas denúncias apareçam envolvendo diretamente o nome da mandatária. Sem novos atos, a leitura deste consultor é de que ela caminhará até o fim do mandato, mesmo capengando. A política é mutante como nuvem. Dilma sempre esteve sob o escudo imagético de Lula. Ante o tiroteio sofrido pelo ex-presidente nas últimas semanas, deixa de ser interessante buscar refúgio naquele abrigo. Cabral ? Por onde anda o Sérgio Cabral ? Deve estar na oitiva : "passarinho na muda não canta". Lava Jato A Operação Lava Jato tem uma sobrevida : apurar as últimas delações e analisar as imbricações/conexões. Vai correr por todo o semestre. STF na frente política A Suprema Corte deverá se debruçar sobre os mais de 30 processos de políticos que enchem suas gavetas. Vai ganhar ainda mais visibilidade. Aécio ? Por onde anda Aécio Neves ? Por que o senador está em refluxo ? Ó, jardineira Tempos de carnaval, tempos da marcinhas. Como a velha canção dos carnavais de outrora. Na cidadezinha do norte do Rio de Janeiro, a procissão de Senhor Morto caminhava lenta e piedosa, na Sexta-Feira da Paixão, com o povo cantando hinos sacros. O velho padre na frente, o sacristão ao lado e os fiéis atrás, cantando as músicas que o vigário puxava. De repente um pequeno ônibus, que na região chamam de "jardineira", passou perto e começou a subir a íngreme ladeira da igreja, bem em frente da procissão. No meio da ladeira, a "jardineira" afogou, encrencou, parou, deu aceleradas fortes e inúteis e começou a dar para trás, de costas. Os fiéis não viram, mas o padre, atento, viu. E ficou apavorado. A "jardineira" já despencava numa grande velocidade. O padre gritou : - Olha a jardineira ! E os fiéis começaram a cantar, em ritmo de samba - Ó jardineira, por que estás tão triste ? Mas o que foi que te aconteceu ? Foi a camélia que caiu do galho, deu dois suspiros e depois morreu. A "jardineira" veio até embaixo e acabou parando. Sem atropelar ninguém. Dicas para entrevistas Atenção, fontes e emissores : - Seja a fonte e não a notícia ; - Diga a verdade ou então não fale ; - Controle o que puder controlar - use roupas adequadas, maquiagem sóbria, evite extravagâncias de caras e bocas ; - Estude muito bem a matéria que vai desenvolver ; - Antes da entrevista, faça uma exposição geral a fim de que o jornalista possa entender claramente o assunto ; - Dê respostas curtas e objetivas - a concisão é importante e deixa o discurso mais claro ; - Construa frases completas : com sujeito, verbo e complemento ; - Não fale mais do que foi perguntado - perspicácia para responder apenas o que interessa ; - Evite clichês : destaque os pontos fundamentais e chame a atenção do jornalista para eles ; - Não fale sinalizando com a cabeça ou olhos baixos, evite cacoetes, e tente não se mexer muito durante a entrevista ; - É importante ser didático e explicar de forma que todos possam compreender o que se fala - para isso, o entrevistado deve dominar o assunto sobre o qual vai tratar (Nem sempre o jornalista está bem preparado para a entrevista, mas o porta-voz não deve se sentir intimidado e, sim, tentar explicar o assunto como se fosse para uma pessoa leiga) ; - Mesmo tendo todas as informações na cabeça, a memória pode falhar - até por nervosismo. Para evitar constrangimento, tenha sempre em mãos uma "cola" com os principais tópicos. Principalmente, se a informação a ser transmitida abrigar números.
quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

Porandubas nº 477

Uma historinha para abrir a coluna O nome do médico ? Dois desembargadores aposentados, do alto de uma juventude acumulada durante oito décadas e meia, encontram-se no aniversário do neto de um deles. Os desembargadores Amaro Quintal da Rocha e Antônio Vidal de Queiroz, como sói acontecer com amigos que se conheceram no início da idade da razão, foram direto ao assunto que mais os motivava : - Até que enfim, encontrei o médico que curou a minha amnésia, disse Amaro. - Como é mesmo o nome dele ? Perguntou Vidal. - É, é, é, deixe-me ver, é... é... Como é mesmo o nome dele ? Espere aí... é, é... é. O nome, escondido num cantinho do cérebro, relutava em aparecer. Começou a se perturbar. Mas não deixou a onda abatê-lo. - É, é, como se chama... é... é... como se chama mesmo aquela coisa vermelha, amarela, branca, que nasce em um galho cheio de espinhos, aquele assim ? (e foi mostrando o tamanho do galho e o formato da coisa). Vidal matou a charada : - Rosa, o nome é Rosa. Amaro, radiante, grita para a mulher que estava sentada logo adiante : - Rosa, oh, Rosa, como é mesmo o nome daquele médico que curou a minha amnésia ? Zika, o inimigo O ministro da Saúde, o piauiense Marcelo Castro, não poderia ser mais sincero : estamos perdendo a batalha contra o Zika. O mosquito avança em todas as regiões. Castro chegou a alertar sobre o dano de termos uma "geração de retardados" no Brasil. (O que podem pensar os pais de pessoas dessa geração ?) O fato é que a presidente Dilma parece não ter gostado de tanta franqueza. Ainda mais quando o país de 2016 precisa se mostrar harmônico, saudável, seguro e com muito dinheiro enchendo o bolso dos habitantes. Afinal, a cosmética disfarça a lama política. Frases castrenses - Só temos um caminho para nos livrarmos, para evitarmos ter uma geração de sequelados no Brasil : é não deixar o mosquito nascer. - Vamos torcer para que as pessoas, antes de entrar no período fértil, peguem o Zika, para ficarem imunizadas pelo próprio mosquito. Aí não precisa de vacina. - Tomem os cuidados devidos quando forem engravidar. Sexo é para amador, gravidez é para profissional. A pessoa que vai engravidar precisa verdadeiramente tomar os devidos cuidados preparatórios antes e durante a gravidez. - Devemos usar a Marinha, porque ele, o mosquito, se reproduz em água ; e a Aeronáutica, porque ele voa. Castro ficará ? Diante de tantas frases bombásticas, surge a pergunta : Marcelo Castro vai ficar no Ministério ? Pior será a emenda (sua demissão) do que o soneto (palavras atestando a força do Zika). PT contra Moro O juiz Sérgio Moro começa a levar tiros nas redes sociais, principalmente dos exércitos do PT, inconformados com sua determinação de ir adiante com a Operação Lava Jato e continuar segurando na prisão figurões do partido, como José Dirceu e o ex-tesoureiro Vaccari. Moro tem recebido elogios esparsos nas redes sociais. Mas nenhum partido tem feito sua defesa. Todos estão receosos de sua conduta. Vazamentos Há muita queixa de líderes partidários de que o vazamento de informação continua alimentando espaços midiáticos. Ora, faz parte da estratégia de expansão dos balões da opinião pública. Os vazamentos dão conta de detalhes - malinha com rodas para levar dinheiro, uso de jatinhos, quem esteve com quem a que horas - que acabam criando indignação no bojo social. Deverão, pois, continuar. PF independente Não adianta querer conter as frentes de trabalho da PF. Que continuarão a cumprir tarefas de investigação e prisão. Urge lembrar que a PF cumpre mandados judiciais. E as autorizações judiciais, por sua vez, atendem recursos do Ministério Público, cuja função básica é defender a sociedade. O momento vivido pelo país exibe ações independentes e harmônicas entre os entes da administração da Justiça e dos controles do Estado. O compromisso do MP O Ministério Público, por sua vez, está impregnado da seiva moral, tão necessária ao país nesse ciclo de transição. Os jovens promotores que agem nas frentes de apuração e controle se acham seriamente comprometidos com a meta de "passar o Brasil a limpo", pelo que se irmanam sob o consenso dos caminhos a seguir. Transição O país vive um ciclo de transição. Que não se esgotará com o final das ações desenvolvidas pela Operação Lava Jato. O ciclo terminará com as necessárias mudanças na fisionomia política. O que vai significar reformas em profundidade na maneira de fazer a representação política, na forma das campanhas eleitorais, na organização partidária e na própria cultura do voto. É para acreditar que o país atravessa um corredor longo, ao final do qual se divisam horizontes menos conturbados. Impeachment longe Fica cada vez mais distante a ideia do impeachment da presidente Dilma. A tese de que o impeachment se ancora na balança da economia tem lá suas razões. E a economia, em 2016, será pior que a economia de 2015. Logo, o pior ainda está por vir. Mas os fatos obedecem ao espírito do tempo. O tempo de dezembro de 2015 é bem diferente desse tempo (ainda suave) de final de janeiro. O impeachment dá sinais de que está deixando para trás o bonde que o arrastava. Mera impressão ? Contra o PT O PSDB entrou com um recurso exigindo a extinção do PT. Que coisa mais fora de moda. É algo como ganhar no tapetão. Se quiser acabar com o PT, que dispute a eleição na arena do voto. Só o voto popular pode acabar ou fortalecer um partido. Ainda bem que FHC não concorda com esta bobagem perpetrada por alguns tucanos. Barbosa voltou animado Pelo que se lê, o ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, voltou animado de sua peregrinação pelo Fórum Mundial de Davos. Conversou com empresários, banqueiros, economistas, jornalistas e políticos. Não se cansou de botar conversa fora. Mas não se viu nenhum elogio de porte ao que o ministro falou. O fato de não ter sido execrado já foi uma vitória. Ao chegar, o ramerrão de sempre. Sob o dilema : como arrumar dinheiro para jogar em algumas áreas ? Prometeu estas metas na volta : destravar os nós da logística e baratear produtos nacionais. Lula e os processos Lula prometeu processar doravante jornalistas que ferirem sua honra e reputação. Falou de maneira séria. Mas o quê e como escrever sobre um perfil que se acha a alma mais honesta do país ? Este analista acha que Sua Excelência erra quando faz uma peroração de auto-enaltecimento. Minha avó já dizia : elogio em boca própria é vitupério. Lula poderia falar menos. Aliás, coisa que aconselhou a FHC fazer quando este deixou o governo. Haddad no segundo turno Dizem que Fernando Haddad começa a recuperar prestígio. As ciclovias começam a dar resultados. A avenida Paulista fechada, aos domingos, tem sido um sucesso. A ponto de haver lista para deixá-la fechada também nos feriados. É bem possível que sua imagem, no meio, tenha melhorado uns pontinhos. Mas, e nas margens ? Lá não há ciclovia. O que se vê são serviços públicos sucateados. A propósito, o ex-deputado e ex-presidente da Câmara, João Paulo Cunha, acaba de se formar em Direito. Seu primeiro prognóstico. Fernando Haddad ganhará a campanha municipal em São Paulo e será candidato a presidente da República em 2018. Hum... Mera torcida, não grande projeção. Delfim : Dilma, vá ao Congresso O mago Delfim Netto foi direto ao ponto. Sugeriu que Dilma fosse ao Congresso para apresentar suas reformas : Previdência, flexibilização do mercado de trabalho, desindexação e desvinculação de verbas no Orçamento. Se fizer isso, o setor privado terá motivos para voltar a operar. Dívida de R$ 3,3 trilhões A dívida pública Federal chegará ao fim deste ano a R$ 3,3 trilhões. Pequenas lições sobre comunicação e crise Questão recorrente nesse ciclo de crises. Como administrar a identidade da empresa, evitar danos maiores à imagem e trabalhar com a comunicação. Eis alguns princípios : - A verdade sempre aparece - Prevenir é melhor que remediar - Abrir o guarda-chuva de valores contra as chuvas da tempestade  Valores são permanentes  Chuvas de tempestade são fortes, porém passageiras - Não temer entrar na guerra - Convocar a imprensa e mostrar disposição para esclarecer os fatos - Não deixar denúncias sem resposta - Estabelecer estreita articulação com editores / jornalistas especializados / cabeça da mídia - Evitar postura do avestruz - Estabelecer articulações com autoridades - Estabelecer articulação com setores / entidades / ONGs - representantes dos públicos atingidos Ações internas - Envolver diretores e chefias - Homogeneizar a linguagem - Preparar cartilha com questões e respostas - Organizar um grupo para administrar a crise - Treinar porta-vozes - Preparar materiais - notas, sugestões de pauta, roteiros, etc. - Produzir anúncio - preciso e conciso - para veiculação publicitária - Contratar assessoria especializada em administração de crise - Públicos atingidos Princípios e recomendações - Se não souber esclarecer os fatos, procure as informações adequadas - Evite : "não tenho nada a declarar" - Evite formação de redes informais - teia de boatos - Expresse as ideias com calma e segurança - Seja objetivo - Procure o máximo de compreensão - Evite brincadeiras / sofismas - Evite trapacear os ouvintes - Não transmita imagem de arrogante - Não procure exagerar na diminuição / atenuação dos fatos Resumo : A comunicação eficaz é um guarda-chuva contra as crises.
quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

Porandubas nº 476

Abro a Coluna com Padre Elesbão organizando seu confessionário. Padre Elesbão e a hora da morte Numa cidadezinha de Minas, Padre Elesbão estava esgotado de tanto ouvir pecados, ou, como dizia, besteiras. Decidiu moralizar o confessionário. Afixou um papelão na porta da Igreja. O Vigário só confessará : 2ª feira - As casadas que namoram 3ª feira - As viúvas desonestas 4ª feira - As donzelas levianas 5ª feira - As adúlteras 6ª feira - As falsas virgens Sábado - As "mulheres da vida" Domingo - As velhas mexeriqueiras O confessionário ficou vazio. Padre Elesbão só assim pôde levar vida folgada. Gabava-se : - Freguesia boa é a minha... mulher lá só se confessa na hora da morte ! (Leonardo Mota, em seu livro Sertão Alegre) TPL A esfera política vive sua TPL : Tensão Pré-Legislatura. Deputados e senadores em férias mostram preocupação com o início das atividades parlamentares, na abertura da legislatura em fevereiro. E a tensão tem lógica : a fase empresarial da Lava Jato está chegando ao fim sob a expectativa de que a fase política subirá a montanha. Fecha-se o leque das delações premiadas, que diminuíram o tempo de prisão de 13 delatores, de 283 anos e 9 meses de reclusão para 6 anos e 11 meses de cumprimento de pena em regime fechado. Queda de 276 anos e 10 meses. Uma grande dúvida : o senador Delcídio entrará nesse circuito ? Aspectos positivos e negativos As delações premiadas fincam pé no país. O juiz Sérgio Moro, que estudou profundamente a Operação Mani Puliti, na Itália, está rigorosamente aplicando o que aprendeu. A delação premiada é um dos eficientes instrumentos de que se vale para levar adiante as apurações que tentam extirpar os tumores cancerígenos da corrupção no corpo da administração pública em conluio com a administração privada. Mas o instrumento, segundo muitos, de tão instrumentalizado, acaba maculando o Estado de Direito, por forçar de maneira feroz os indiciados. A verdade, em muitos casos, é driblada ou esticada. Advogados e juízes se postam na arena com suas armas de ataque e defesa. O manifesto dos advogados Um grupo de 105 advogados, dentre os quais criminalistas de renome, em um manifesto publicado em jornais, enxerga na Operação Lava Jato "uma espécie de inquisição, em que já se sabe, antes mesmo de começarem os processos, qual será o seu resultado". Os advogados questionam o fato de que os réus, encarcerados por força de decisões que afirmam a imprescindibilidade de suas prisões, fazem acordo de delação premiada e são postos em liberdade, "como se num passe de mágica toda essa imprescindibilidade da prisão desaparecesse". O ataque e a defesa Os advogados recriminam "o menoscabo à presunção de inocência, ao direito de defesa, à garantia da imparcialidade da jurisdição e ao princípio do juiz natural, o desvirtuamento do uso da prisão provisória, o vazamento seletivo de documentos e informações sigilosas, a sonegação de documentos às defesas dos acusados, a execração pública dos réus e a violação das práticas da advocacia". A defesa dos juízes Os juízes federais respondem com um manifesto em defesa de um "trabalho imparcial e exemplar, sem dar tratamento privilegiado a réus que dispõem dos recursos necessários para contratar os advogados mais renomados do país". Argumentam que a Lava Jato "não corre frouxa, isolada, inalcançável pelos mecanismos de controle do Poder Judiciário. Além de respaldada pelo juízo federal de 1º grau, a operação tem tido a grande maioria de seus procedimentos mantidos pelo Tribunal Regional Federal da 4ª região (TRF4), pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ) e pelo Supremo Tribunal Federal (STF)". Nem lá nem cá O fato é que a polêmica entre advogados e juízes precisa ser analisada sob os seguintes ângulos : 1. A Operação Lava Jato aparece no meio de uma crise sem precedentes na história do país, recebendo os aplausos da sociedade, que começa a ver gente graúda na cadeia ; 2. Um sentimento de que a Justiça resolveu dar as caras por estas plagas baliza decisões e anima juízes ; 3. É visível o apoio da sociedade ao esforço para "passar o Brasil a limpo" ; 4. A Operação Lava Jato, na esteira dos aplausos da sociedade, comete exageros, ao fazer vazamentos, ao espetacularizar depoimentos e prisões, ao concentrar o processo nas mãos de um único juiz, enfim, ao tentar forçar (induzir, influenciar) as delações premiadas. Portanto, os advogados não deixam de ter razões para queixas ; e o Judiciário, por sua vez, ampara-se na cooptação social para avançar. Filhotismo Lauro Jardim deu ontem, em seu site em O Globo, que o advogado Marcos Meira, filho do ex-ministro do STJ, José de Castro Meira, recorre ao pai para chegar a magistrados. O ex-ministro, que voltou a advogar, segundo Jardim, costuma apresentar o filho a desembargadores e ministros de tribunais superiores. Em outra ponta, advogados se utilizam de seus parentes (pais ou mães), que militam nas Cortes, para dar cobertura indireta a suas demandas. Onde está o Conselho Nacional de Justiça ? A propósito, este consultor tomou conhecimento de que, no TST, atua um advogado afamado que tem sua genitora como ministra da Corte. Isso é legal, mas é ético ? Com a palavra o ministro Lewandowski, presidente do STF e do CNJ. O fato é que essa ética (?) mostra a cara do Brasil, Pátria do filhotismo, essa mazela que persiste ao lado do nepotismo, familismo, coronelismo, caciquismo, mandonismo, feudalismo, galhos da gigantesca árvore do Patrimonialismo. 50 milhões de propina ? Nestor Cerveró continua a ter a boca mais aberta no rol de delatores premiados. Afirmou que a campanha do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 2006, recebeu R$ 50 milhões em propina, dinheiro que teria origem em negociação para a compra de US$ 300 milhões em blocos de petróleo na África em 2005. Manuel Domingos Vicente, hoje vice-presidente de Angola e que presidiu, na época, o Conselho de Administração da Sonangol, estatal petrolífera angolana, teria dito isso a ele. Lula sempre depõe Diante de tantos depoimentos sobre propina jogada na campanha de Lula, em 2006, vem a pergunta que não quer calar : Luiz Inácio será indiciado ? Por enquanto, ele tem dado depoimentos. É complicado envolver no rolo da Lava Jato e arredores um ex-presidente da República. Mas o fato é que as referências de propina na campanha de Lula se multiplicam. O caso continua alimentando especulações. PMDB dividido Não se espere unidade plena no PMDB. Sempre foi um partido muito dividido. Partido. Cada Estado tem seu chefão. Por isso, essa briga que a imprensa vê entre as alas governista e oposicionista ao governo Dilma logo, logo, irá para o baú das coisas já vistas. O PMDB é pragmático. Se Dilma continuar dando as cartas, o partido deverá permanecer ao seu lado. A recíproca é verdadeira. No momento em que entra no centro da fogueira, o que menos pode interessar a Renan é mais tiroteio, desta feita com artilharia de uma das alas do partido. A unidade virá mais cedo ou mais tarde fazendo a cola que prega o PMDB ao poder. Disputa em São Paulo O pleito em São Paulo, que será o mais emblemático do país, poderá ter o seguinte desfecho : PT x PSDB, ou seja, Fernando Haddad x um tucano (João Dória, Andrea Matarazzo, Ricardo Tripoli) ; PMDB x PSDB, ou seja, Marta x um tucano ; PRB x PT, ou seja, Celso Russomano x Haddad. Hipóteses : se um tucano entrar no segundo turno contra Haddad, leva a melhor. Se a adversária do tucano for Marta, esta também perde. Marta e Haddad contam com forte rejeição. E se for Celso Russomano a entrar num segundo turno ? Este analista acha que também perde. Em suma, o candidato vitorioso tenderá a ser o menos rejeitado. Vamos acompanhar e conferir. Cenários Quais são os cenários que se apresentam para os próximos tempos ? Céu de brigadeiro - Chance, 0 ; Sol com nuvens esparsas - Chance, 3 a 4 ; Cinza/chumbo pesado - Chance, 5 a 6 ; Amarelo-perigo de batida - Chance, 7 a 8 ; Encarnado/sangue escorrendo - Chance, 9 a 10. Sescon/SP e Aescon/SP com novo presidente Representante oficial do setor contábil no Estado de São Paulo, o Sescon/SP e a Aescon/SP - respectivamente sindicato e associação estadual das empresas de serviços contábeis e assessoramento - têm novo presidente. A gestão 2016-2018 será liderada pelo empresário Márcio Massao Shimomoto, graduado em Ciências Contábeis, Administração de Empresas e Direito e com experiência de mais de 30 anos no segmento contábil. "Nossa missão é continuar o trabalho das gestões anteriores, superando os desafios, prestando o melhor serviço e oferecendo suporte necessário às empresas representadas", afirma Shimomoto, que pretende elevar o papel das duas entidades como interlocutoras das empresas contábeis e de assessoramento nas esferas públicas, privadas e junto à sociedade. Perfil ideal Qual o perfil com maior preferência do eleitor nas eleições de outubro ? - Empreendedor / realizador ; Asséptico / passado limpo / novo na política ; Identificado com programas sociais para as margens / populista ; Político tradicional ; Líder comunitário / movimento social ; Esportista / celebridade / profissional da mídia ; Candidata mulher. Simula e dissimula O cardeal Mazzarino, sucessor de Richelieu e preceptor de Luis XIV, o Rei Sol, começa seu tratado - Breviário dos Políticos - que versa sobre a arte de operar a política com um conselho não muito sagrado : simula e dissimula. Esta lição de engodo começa a ser submetida ao crivo da população pelas ondas do rádio e telas de televisão durante a programação eleitoral gratuita. A simulação e a dissimulação - e aqui já entra o ensinamento do filósofo inglês Francis Bacon - ocorrem de três formas : a cautelosa, quando uma pessoa impede que a tomem tal qual é ; a negativa, quando expressa sinais de que não é o que é ; e a maneira positiva, quando finge e pretende ser o que não é. Eleições de outubro No espaço da propaganda eleitoral, este ano de 35 dias, a partir de 26 de agosto (primeiro turno), os brasileiros verão as três formas. Se o elogio em boca própria é vitupério, como reza o ditado, e se vitupério significa o poder de ofender a dignidade, ato infame e vergonhoso, pode-se aduzir que a programação eleitoral no rádio e na TV será palco para um espetáculo de infâmias e indignidades. Exemplos são as promessas que jamais serão cumpridas, não havendo em nossa legislação dispositivo que possa vir a condenar eventuais rufiões da palavra. Lembram-se do Arco do Futuro, prometido por Haddad ? E o Fura-Fila, da época do Celso Pitta ? Marketing de campanha O marketing político eleitoral abriga duas vertentes : o marketing massivo, voltado para atingir classes sociais e categorias profissionais, indistintamente ; e o marketing vertical, segmentado ou diferenciado, voltado para atender agrupamentos especializados : profissionais liberais, donas de casa, formadores de opinião, núcleos religiosos, militares, funcionários públicos, etc. Nas campanhas, o marketing segmentado acaba assumindo tanta importância quanto o marketing massivo. E a razão está na intensa organicidade da sociedade brasileira.
quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

Porandubas nº 475

Abro a primeira coluna de 2016 com um pouco de graça para contrastar com a cara feia do ano que se inicia. Com minha fé e.... Em tempos de preparo eleitoral, cai bem essa historinha. Parece absurda, mas é verdadeira. Deixamos de dar os nomes para evitar constrangimentos às famílias. Um ex-prefeito de Aracati, cidade litorânea do Ceará, em comício animado, gritou no palanque : "Meu povo e minha pova. Vou ser reeleito prefeito de Aracati com minha fé e as fezes de vocês." Farta feição José Aparecido chegou à sua Conceição do Mato Dentro/MG, começou a romaria dos amigos. Entrou um coronel, mansos passos e chapéu na mão : - Bom dia, doutor. Boa viagem ? - Boa. Como vão as coisas ? - Tudo correndo como de costume. Novidade aqui nunca tem e lá pra fora não sei, porque minha televisão está defeituada. - O que é que aconteceu com ela ? - Não sei não. Às vez farta prosa, às vez farta feição. (José Aparecido foi deputado Federal, ministro da Cultura, governador de Brasília e embaixador em Portugal. Excepcional figura.) Abrem-se as cortinas As cortinas do palco começam a ser abertas. Os movimentos ainda são cautelosos, com os atores temendo entrar em cena antes do tempo. A peça estará pronta para ser exibida em início de fevereiro. Até lá, estaremos vendo alguns atores ensaiando a performance. Dilma, Lula, Jaques Wagner, do lado do PT ; Michel, Renan, Picciani, a bancada mineira, do lado do PMDB ; os atores do Judiciário, sem folga, ouvem depoimentos, fechando o círculo das delações ; a esfera econômica, com Nelson Barbosa na frente da ala, margeando as expectativas ; e as ruas, em compasso de espera. Dilma Vemos uma presidente mais alegre, solta, sorridente, embalada pelo sono do anjo, o segundo neto Guilherme. Dilma tenta transmitir confiança no futuro. Parece convencida de que o fantasma do impeachment foi afastado e que a economia dará sinais de recuperação antes mesmo do segundo semestre, o que, convenhamos, é excesso de confiança. O impeachment realmente refluiu na esteira da diástole provocada pelo final de ano. Dilma sente recuperar poder junto à base aliada. Divide para somar com a atração que provoca no PMDB mineiro, ao oferecer a Secretaria da Aviação Civil, com status de Ministério, ao deputado Mauro Lopes. Lula O ex-presidente tem se prontificado a atender aos chamados da PF para depor. Mas não esconde a irritação com as suspeitas que envolvem seu filho Luís Cláudio. E Nestor Cerveró acaba de alimentar suspeitas sobre ele, Lula, ao dizer que foi indicado para a Diretoria Financeira da Petrobras por "reconhecimento da ajuda" na contratação da Schain para operar o navio-sonda Vitória em troca da quitação de um empréstimo do PT junto ao banco Schain. Lula aguarda, com expectativas, os próximos acontecimentos. Wagner O homem forte do governo Dilma é Jaques Wagner, ex-governador da Bahia. Na Casa Civil, age como o articulador político e o filtrador de programas do governo. Entrou no jogo, a partir das conversas divulgadas entre ele e o executivo da OAS, Leo Pinheiro. JW responde não temer a situação. FHC O mesmo Cerveró afirma ter havido uma "propinagem" de R$ 100 milhões ao governo FHC por conta da venda da petrolífera Pérez Companc, argentina, em 2002. A empresa foi comprada pela Petrobras por R$ 1 bilhão. Fernando Henrique diz não ter a menor ideia dessa matéria e alega que o então presidente da empresa na época, Francisco Gros, falecido, tinha "reputação ilibada". Canibalização A teia de denúncias que atingem os atores políticos de todos os naipes mostra uma coisa : os vazamentos não selecionam grupos e partidos e os efeitos se repartem por todos, gerando canibalização recíproca. Todos são devorados pela boca do Mal. Esse fenômeno expande o descrédito na área política e afasta a sociedade de partidos. Mesmo assim, o impacto mais negativo ainda se projeta sobre o PT, que comanda o país. Michel e Renan O vice-presidente Michel Temer tem um objetivo pela frente : unir as alas do PMDB, sob a convicção de que o partido, repartido em divisões regionais, acaba se unindo nos momentos de maior tensão e crise. Teria, hoje, a oposição de Renan Calheiros, que comanda com força o espaço dos senadores. O vice-presidente vai correr o país com o discurso do Municipalismo - tema central no ano das eleições para as prefeituras - e, ainda, conclamando os grupos à unidade. Renan, apoio ao governo O presidente do Senado mostra-se um intransigente defensor do governo Dilma, fazendo contraponto ao presidente da Câmara, Eduardo Cunha. Irá até o final no papel de pilastra de sustentação de Dilma ? Difícil. O alagoano é pragmático. Pode sair do barco se perceber que será afundado pela borrasca. Renan mostra-se disposto a bancar uma candidatura senatorial à presidência do PMDB. Terá, porém, condições de liderar esse processo ? Vai depender do envolvimento de seu nome na Operação Lava Jato. Cordato, Michel vai esperar que as querelas entre alas sejam atenuadas e a unidade surja. Não se aposte na ruptura entre deputados e senadores. O Congresso do PMDB será em março. Momento em que o partido decidirá sobre candidatura própria em 2018 à presidência da República. Picciani, líder Leonardo Picciani está ultimando as negociações para continuar a ser líder do PMDB. Deve conseguir. A bancada mineira aceitaria o acordo que ele propõe e que consiste na ideia do deputado Newton Cardoso Junior assumir a liderança após Picciani. Claro, todas essas negociações têm como pano de fundo a locomotiva que puxa o trem da política, a economia. Se degringolar de vez, babau. Os acordos feitos não resistirão ao tempo. A bancada mineira é a segunda maior do PMDB, abaixo da carioca, a primeira. Judiciário, a jato ? O Judiciário será cobrado a agilizar a Operação Lava Jato, coisa que vem fazendo na primeira instância do juiz Sérgio Moro. Mas o processo de delação premiada deverá ser fechado para que sejam ultimados os casos envolvendo empresários e políticos. Reina sobre os juízes a dúvida sobre a permanência prolongada de pessoas sem condenação. A alegação de que, soltos, poderiam atrapalhar as investigações, parece frouxa. O fato é que a Lava Jato ainda vai demorar bom tempo e dará o tom da política nos próximos meses, chegando às margens eleitorais. Veremos um pleito sob a orquestra da Justiça buzinando nos ouvidos do eleitor. Economia em frangalhos Nelson Barbosa pode ser um bom economista, mas não se espere que seja capaz de operar milagres. Ele promete continuar o ajuste nas contas do governo. A recessão se escancara. O desemprego se alastra. A inflação ultrapassa a casa dos dois dígitos. Promete também adoçar a boca amarga de pequenas e médias empresas com o adoçante do BNDES. Não se sabe ainda como será essa receita. Mas o fundo de poço, em março/abril, poderá pegar Barbosa no contraponto das promessas. A verdade do arrocho ameaçará a versão de que as coisas caminharão bem. Ruas em compasso de espera As galeras arregimentadas pelas entidades de intermediação social estão esperando para começarem a esquentar o pirão das ruas. Voltarão com seus movimentos de protesto e reivindicação. E voltarão furiosas, como acabamos de ver no final de semana passado, quando os Black-Blocs fizeram o primeiro aceno de violência do ano. Se a economia chegar mesmo ao fundo do poço, a movimentação de rua será mais quente. Tipos de candidatos Teremos uma campanha mais enxuta, menos extravagante, objetiva, parca de recursos. Campanha de 45 dias, rádio e TV com 35 dias, candidatos sendo controlados e sob um olhar exigente e crítico dos eleitores. Iremos eleger 5.568 prefeitos e cerca de 60 mil vereadores. Quem serão eleitos ? Uma mistura de tipos. Eis alguns : O asséptico Perfis não comprometidos com a velha política, que podem desfraldar a bandeira : passado limpo, vida decente. Idade entre 30 a 50 anos. Respeitados na comunidade. O braço social Perfis conhecidos por seu desempenho na área social, seja por meio de entidades de intermediação, seja por meio de uma vida profissional dedicada à assistência a comunidades carentes. O tradicional Perfis que ainda fazem a política tradicional, manobram currais eleitorais e são extensões dos braços do populismo. Infelizmente, continuarão a ser eleitos, porque a mudança política não ocorre de maneira abrupta. Visão empresarial Perfis de visão empresarial que, em função de circunstâncias e situações criadas pela erosão política, serão chamados pelas comunidades para ingressar na esfera executiva municipal. Religiosidade e fé Perfis saídos das fileiras religiosas - igrejas, credos e evangelhos -, ancorados pelas respectivas entidades. São perfis que podem não ter o apoio de toda a comunidade, mas certamente fecharão densos núcleos em torno de suas candidaturas. Demagogos e populistas Perfis conhecidos pelas promessas mirabolantes. Serão poucos os eleitos, mas uma parcela ainda terá chances no caleidoscópio político. Profissionais liberais Médicos, engenheiros, arquitetos, advogados, professores, perfis respeitados na comunidade, que, por seus méritos, serão chamados a compor chapas. Mulheres A batalha dos gêneros ganhará evidência em função da crise que solapa a esfera da representação política. A mulher é vista como alguém que pode cuidar melhor da casa, da família, da educação dos filhos. Essa simbologia se transfere também à política, embora saibamos que há muita corrupção envolvendo o gênero feminino. Esportistas e stars As estrelas do mundo esportivo e as estrelas do Estado-Espetáculo, pela visibilidade alcançada nos campos, palcos e palanques também serão uma atrativa opção, principalmente junto aos bolsões menos desenvolvidos cultural e politicamente. Oposicionistas Perfis que marcarão suas candidaturas por um discurso meramente oposicionista : contra o atual prefeito, contra os atuais governantes. A linguagem de contundência oposicionista é muito ouvida e aplaudida em tempos de vacas magras. Ser contra é maneira de atrair todos os indignados. OAB-SP em ação I A OAB-SP vai propor a criação de uma CPI na Assembleia Legislativa de São Paulo para investigar atrasos nos repasses da Defensoria Pública paulista para os advogados que atuam na defesa jurídica de pessoas de baixa renda. A Defensoria atrasou repasses a advogados relativos a pagamentos devidos a partir do início de dezembro e de janeiro. Conta a instituição com 719 defensores públicos, insuficiente para atender à demanda no Estado. Parte desse trabalho é feito por cerca de 38 mil advogados que atuam segundo as regras de um convênio assinado entre a OAB-SP e a Defensoria. A Defensoria atrasou as transferências para os advogados, mas pagou gratificações ilegais para os defensores públicos de seu quadro, e isso deve ser investigado pela CPI, de acordo com o presidente da OAB-SP, Marcos da Costa. OAB-SP em ação II Marcos da Costa enviou ao Congresso projeto que pretende criar um critério objetivo para a definição de carente, evitando a subjetividade adotada pela Defensoria Pública. Somente aqueles que estejam no cadastro de programas sociais do governo Federal devem ter direito à advocacia gratuita. Ou seja, o nivelamento será de acordo com a lei 6.135/2007, que assim define o carente : aquela com renda familiar mensal per capita de até meio salário mínimo ; ou a que possua renda familiar mensal de até três salários mínimos. Hoje, há pessoas que não se enquadram em critérios de hipossuficiência e acabam usufruindo do sistema. O projeto foi entregue ao deputado Arnaldo Faria de Sá, presidente da frente parlamentar da advocacia.
quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

Porandubas nº 474

Abro a coluna com uma historinha de Caruaru, PE. Uma infelicidade Em Caruaru/PE, o coronel João Guilherme, senador estadual e chefe político, lá pelos anos 30, comprou a um matuto um cavalo de sela. Cavalo bonito, mas com a pálpebra caída. Cego de uma das vistas. Ao descobrir o logro, o coronel ficou indignado. Fez vir à sua presença o espertalhão. Ameaçou-o de cadeia. - Você teve a coragem de me vender um cavalo cego dum olho ! Isso é uma falta de seriedade ! Você fez negócio com um homem e não com um tratante da sua laia ! Por que você não teve a franqueza de me dizer que o cavalo tinha esse defeito ? - Mas, seu coroné, vamincê me desculpe que eu lhe diga : o cavalo que eu lhe vendi não tem defeito, não ! - Não tem defeito ? Não tem defeito ? Então, você acha que um cavalo cego dum olho não tem defeito ? - Seu coroné, vamincê me desculpe, mas eu acho que não tem não ! Ser cego não é defeito : ser cego é uma infelicidade... (Historinha de Leonardo Mota em Sertão Alegre) Catilinária Quousque tandem abutere, Catilina, patienta nostra ? Até quando, Catilina, abusarás de nossa paciência ? Parece claro que o recado é para Eduardo Cunha. O procurador Janot pediu e Teori Zavascki endossou a operação Catilinária, cujo alvo principal é seguramente o PMDB. As ações de busca e apreensão bateram nas casas de peemedebistas de alto coturno : Eduardo Cunha, presidente da Câmara, (na casa oficial em Brasília e em seu endereço no Rio) ; Renan Calheiros, presidente do Senado, no escritório do PMDB, em AL, que dirige ; dois ministros do PMDB, Henrique Alves, do Turismo, e Celso Pansera, da Ciência e Tecnologia ; e Edison Lobão, senador. Por enquanto, são investigados, ainda não indiciados. O que isso pode significar ? Consequências O caso de Eduardo Cunha vem rolando há tempos, podendo-se dizer que essa ação da PF era bastante previsível. O PGR tem contra ele denso arsenal e quis dizer : estamos com a paciência esgotada. Mais cedo ou mais tarde, deverá deixar o comando da Câmara. Mas o tiroteio sobre quadros do PMDB gera, de imediato, uma tensão insuportável no partido, agitando as alas contrárias e favoráveis ao impeachment. Sobra a impressão de que o grupo contrário ao governo pode querer antecipar a convenção partidária para janeiro, tendo como pauta, entre outras, o afastamento do PMDB do governo Dilma. A operação Catilinária não foi de todo digerida. Os dirigentes trocam impressões. Bombas pré-natalinas Segunda, no programa Roda Viva, cheguei a antecipar : vem bomba pré-natalina. Só não sabia que a bomba seria lançada no dia seguinte. Correm versões sobre a aceleração das operações da Lava Jato como modelagem para se fechar o circuito. Donde é possível aduzir que mais bombas poderão explodir às vésperas do Natal. O fato é que o juiz Sérgio Moro é rápido no gatilho e o procurador-Geral, Janot, dá mostras de que quer correr contra o relógio. Roda viva Um amplo debate no último programa Roda Viva, da TV Cultura, percorreu as trilhas do impeachment. A advogada Janaina Paschoal, autora do pedido de impeachment, ao lado de Hélio Bicudo e Miguel Reale Júnior, mostrou que o Senado não pode recusar o acolhimento do pedido de impeachment, devendo mesmo votá-lo, sob pena de se criar uma regra nova, rompendo a lei de 1950 e a disposição constitucional. Alerta contra a criação de um tribunal de exceção. O professor Heleno Torres, do alto de seus conhecimentos técnicos, demonstrou que o país vive situação de ilegalidade, sob o prisma de pedaladas fiscais praticadas por quase todos os Estados. Os deputados José Américo, estadual, (PT) e Carlos Sampaio, Federal, líder do PSDB, defenderam as visões de seus partidos. E este consultor jogou a decisão sobre impeachment sobre as ruas. A pressão popular será o termômetro da febre que tem condições de afastar a presidente. O refluxo das ruas Era previsível o refluxo das manifestações de rua, como se viu no domingo passado. Alguns fatores têm contribuído para o arrefecimento do fenômeno : a. sensação de coisa já vista, portanto, a banalização. Tornaram-se comuns a ponto de gerar a seguinte locução : já fui a duas, me motivei a ir a uma terceira, mas acho que será tudo do mesmo jeito ; b. a fragmentação dos movimentos, provocada pela divisão dos grupos e entidades promotoras, cada qual desejando ser a mais importante no processo. Isso leva a visões múltiplas, discursos divergentes e acusações recíprocas ; c. a época - vale lembrar que duas semanas antes do Natal começa a prevalecer o espírito natalino de confraternização. O momento, portanto, não ajudou ; d. inutilidade - as pessoas pensam : de que adiantou ter ido às manifestações ? Mudou alguma coisa ? Momento Para este consultor, as massas estão no aguardo do momento propício, quando a economia chegar ao fundo do poço - meados do próximo semestre -, quando a situação política também pode se mostrar mais complicada, com o envolvimento de mais protagonistas importantes identificados pela operação Lava Jato. Impeachment sobe Apesar do refluxo das ruas, não se pode aferir que tenha havido refluxo na ideia de impeachment. A sensação é a de que o afastamento da presidente Dilma ganha mais adeptos e conquista maior adesão a cada mês. A razão ? O estado de recessão em que se encontra o país, a inflação e o desemprego ultrapassando a casa dos dois dígitos, as delações premiadas que se aproximam da família Lula, os apoiadores das campanhas começando a confirmar propinas, etc. Em suma, o Produto Nacional Bruto da Infelicidade - PNBInf - emerge como pano de fundo das pressões pelo impeachment. Recesso Se o STF adiar para fevereiro decisão sobre impeachment não teria sentido quebrar o recesso em janeiro. Hoje, saberemos isso. É mais provável que feche hoje a decisão sobre o rito. Mas a decisão da Câmara deverá ser na nova legislatura, quando os ânimos aparecerão em Brasília balizados pela vontade das ruas, pelo pulso das bases. A hipótese continua valendo : quanto pior a situação econômica, mais quente será a fervura social ; e o caldeirão da política tende a explodir com a fogueira acesa pelas massas. Janelinha de saída A janela que permitirá a migração partidária por determinado tempo deve ser aprovada em fevereiro. Há muita expectativa. A migração será maior ou menor a depender da aprovação do impeachment da presidente Dilma. Se for aprovada, PT saudações. A tendência será a de saída de uma grande leva de parlamentares petistas. A recíproca é verdadeira. Mas outros partidos da base passarão por intenso movimento de chegada e entrada. Judicialização da política É inevitável a participação mais ativa do STF no campo da política. Afinal, ele é o órgão - o único - que pode dar a palavra final em matéria de leitura e interpretação da Constituição. É claro que os partidos políticos querem puxar a brasa para a sua sardinha, defendendo teses que os favorecem na arena da política. Daí as conversas que os partidos procuram fazer com ministros da Corte. Muita polêmica se estabelece. Por que o rito aplicado na época de Collor não pode ser o mesmo de hoje ? Pode haver tanta divergência entre o hoje e o ontem se as regras não mudaram ? A regra do impeachment é a de uma lei de 1950, mas a CF de 1988 também contém disposições claras. A dúvida : afinal, o Senado deve necessariamente julgar o que foi decidido pela Câmara ou tem a prerrogativa de negar o acolhimento do pedido de impeachment desde o início ? Esta é a real queda de braço. Decisão que se espera para hoje. Caindo no ranking Brasil cai no ranking do IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) da ONU, composto por 188 países. Incrível : fomos ultrapassados pelo Sri Lanka, uma ilha ao sul da Índia. Ficamos no 75º lugar. Os seis primeiros são : Noruega, Austrália, Suíça, Dinamarca, Holanda e Alemanha. Daqui a pouco, poderemos cair mais ainda na classificação da agência Moodys, que seria um balde de água fria no ânimo dos investidores internacionais. A gazela e o leão Historinha de guerra. "Toda manhã, na África, uma gazela desperta. Sabe que deverá correr mais depressa do que o leão para não ser devorada. Toda manhã, na África, um leão desperta. Sabe que deverá correr mais que a gazela para não morrer de fome. Quando o sol surge, não importa se você é um leão ou uma gazela : é melhor que comece a correr". Esse lembrete ainda é exibido em ambientes de trabalho como profissão de fé de executivos e dirigentes empresariais. À primeira vista, parece um bom conselho para quem quer vencer na vida. Trata-se, porém, de uma exaltação à barbárie. Arena dos humanos Pela hipótese, "leões humanos" (aspas nossas) são autorizados a agarrar "gazelas humanas" (aspas nossas), que, apavoradas, devem se desdobrar para realizar suas tarefas ou a se esconder para fugir das intempéries do trabalho (ou dos ataques dos leões). É evidente a estimulação ao instinto da violência, ao cultivo dos perfis agressivos, às lutas por espaço e poder, às táticas aéticas e aos golpes traiçoeiros, tudo justificado pela necessidade da competitividade. Nessa arena de "leões e gazelas", a alternativa que se apresenta é única : correr ou golpear. Isso é o que se vê nos ambientes de trabalho competitivos, no chão das fábricas, nos palácios públicos e nas ruas. Apartheid O Brasil continua muito dividido. A guerra de palavras é acirrada nas redes sociais e nas manifestações de rua. Uns contrários (a maioria) ao governo, outros grupos a favor. A agressividade é galopante. Mas uma constatação se faz necessária : Lula foi o primeiro organizador do gigantesco apartheid que separa a sociedade. Foi ele que insistiu (e ainda insiste) no surrado refrão : "nós e eles". Nós éramos os petistas, éticos, morais, dignos e cívicos ; eles, as elites endinheiradas e corruptas. O mensalão e o petrolão desconstruíram o discurso lulista. A corrupção se espraiou no petismo. Doria, candidato de Alckmin O governador Geraldo Alckmin é um bom leitor de pesquisas. Olhou algumas e escolheu seu candidato : João Doria, que percorre a periferia de SP, já tendo feito incursões em mais de 70. Conversa com membros do Diretório municipal do PSDB, abre papo com moradores, ouve demandas. Corajoso, determinado, João fez uma imersão na cidade de SP. Trata-se de um perfil asséptico, bom de fluência, sobe nas pesquisas. Grande potencial de crescimento em uma campanha. Marta, a candidata A essa altura, Marta Suplicy, senadora eleita pelo PT, deverá ser a candidata do PMDB à prefeitura de SP, que já esteve sob seu comando. Recém-chegada ao PMDB, parece já ter conquistado o Diretório municipal. Mesmo que este continue sob o comando de Gabriel Chalita. Este gostaria de ver uma parceria entre PMDB e PT em torno do prefeito Fernando Haddad. Sem chances. Chalita até pensa em abandonar o partido. Marketing : os cinco eixos O marketing eleitoral comporta cinco eixos : pesquisa ; discurso (propostas) ; comunicação (bateria de meios impressos - jornalísticos e publicitários - e eletrônicos) ; articulação política e social ; e mobilização (encontros, reuniões, passeatas, carreatas, etc.). A mobilização dá vida às campanhas. Energiza os espaços e ambientes. A articulação com as entidades organizadas e com os candidatos a vereador manterá exércitos na vanguarda. A comunicação é a moldura da visibilidade. Principalmente em cidades médias e grandes. Sem ideias, programas, projetos, os eleitores rejeitarão meros blá blá blás. Para mapear as expectativas, anseios e vontade, urge pesquisar o sistema cognitivo do eleitorado.
quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

Porandubas nº 473

Abro a coluna com dois "causos" da política. Vácuo O grande tribuno Carlos Lacerda, da UDN, fazia inflamado discurso na Câmara dos Deputados, quando um colega pediu aparte : - Vossa Excelência pode falar o quanto quiser, porque o que me entra por um ouvido sai imediatamente pelo outro. Ao que lhe respondeu Lacerda : - Impossível, nobre colega, o som não se propaga no vácuo. Saudação Juscelino Kubitschek, presidente da República, foi ao CE com Armando Falcão, ministro da Justiça. Sebastião Nery conta que Falcão, cearense, levou JK a um desafio de cantadores. Um cego estava lá, com sua viola, gemendo rimas. Juscelino chegou, cumprimentou-o. O cego respondeu na hora : - Kubitschek, ai, meu Deus, que nome feio. Dele eu só quero o cheque porque do resto ando cheio. Um ano depois, a mesma cena. Jânio Quadros, presidente, vai a Fortaleza, há um desafio de cantadores. Chega com os óculos grossos e longos bigodes, um cantador o vê, saúda : - Vou louvar o meu patrão que já vem chegando agora. Engoliu a bicicleta e deixou o guidão de fora. Nunca mais ninguém levou presidente para ouvir cantador no CE. A carta de Michel I A carta do vice-presidente Michel Temer estava engasgada em sua garganta há muito tempo. Até que ele decidiu soltar o verbo. Como se sabe, Michel é cordato, educado, atencioso, um diplomata. Aceita ponderações e chega a balançar positivamente com a cabeça em aceno de aprovação às ideias do interlocutor. No instante seguinte, porém, se não concordar, ele desarma os argumentos do outro. Sempre de maneira educada. Essa habilidade sempre esteve presente na sua interlocução com Dilma. Que deve ter considerado : pela maneira Michel Temer de ser, ele jamais dirá algo mais duro contra mim. Errou. A carta de Michel II Não foram poucas as vezes em que Michel se sentiu desprestigiado. Um exemplo marcante. Na posse do segundo mandato, ela teve um encontro de duas horas com o vice-presidente norte-americano Joe Biden. Michel é amigo dele. Teve oportunidade de iniciar uma amizade por ocasião das missões e viagens ao exterior, oportunidade em que se encontrou algumas vezes com Biden. A aproximação dos dois se estreitou em função da identidade de ambos : constitucionalistas, professores de Direito Constitucional. Pois bem, na posse de Dilma, ela não chamou Michel, amigo de Biden, para a conversa com o vice-presidente. Ela sabia, sim, que ambos eram amigos. Por que não chamou ? Ora, por prever que teria desconforto em assistir a uma conversa mais elevada. Ou simplesmente porque queria dar um recado a Michel : aqui, nessa praça, quem manda sou eu. A carta de Michel III Ele tomou a decisão de escrever a carta quando leu a declaração de Dilma falando da extrema confiança em Michel. Ora, nada mais falso. A fala de Dilma tinha um quê de deboche, uma teia de ironia, um leve tom de zombaria. Que foi percebido por amigos do vice-presidente. Era uma maneira de constrangê-lo. Algo como : se eu o elogiar, ele não terá alternativa que não a de me elogiar. Uma espécie de dique, barreira de contenção. Não imaginava que o nó da garganta de Michel estava alto. Errou mais uma vez. A carta de Michel IV Como pode ser interpretada a carta ? Mais que um desabafo. Pode ser entendida como um passo na construção de um afastamento entre o PMDB e o governo Dilma ? De certo modo, sim. Depois dela, será muito difícil uma relação estreita entre a presidente e o vice. Continuarão a se falar, claro. Mas de maneira mais formal e litúrgica. Michel Temer, como ressaltou na missiva, sabe quais são suas funções e deveres. Vai se restringir a eles. Não fará pressão pelo impeachment ou defesa rigorosa da presidente. Deverá se pautar pelo espírito da lei e da ordem. É um constitucionalista. Que Dilma jogou fora por pura inabilidade política. A carta de Michel V Urge lembrar que o PMDB fez uma proposta para o país contida no documento Uma Ponte para o Futuro. Essa proposta, adensada, arrematada sob o comando de Moreira Franco e sugestões coletadas pelo senador Romero Jucá, será votada em março de 2016, quando o PMDB fará seu Congresso. Pois bem, nessa ocasião o partido deverá decidir sobre as estratégias para o pleito nas prefeituras, em outubro, e sobre candidatura própria em 2018. Pode-se prever, assim, uma ruptura com o governo Dilma. A carta de Michel assinala esse rumo. A carta de Michel VI É evidente que a carta também sinaliza ao PMDB a intenção dos petistas, não somente de Dilma, em aprofundar a cisão no partido. Dilma cooptou o líder Picciani com ministérios para a bancada na Câmara. O deputado, jovem e ambicioso, nunca imaginou chegar tão rápido ao pilar da fama. A tinta da caneta presidencial é um afrodisíaco. Agora, Dilma promete colocar no lugar do ministro Eliseu Padilha um nome indicado por Picciani. Que pensa no deputado mineiro Leonardo Quintão. A bancada mineira, depois da bancada carioca, é a maior. Picciani quer, desde já, garantir sua posição como candidato a substituir Eduardo Cunha na presidência da Câmara. A carta de Michel VII Nem bem Michel Temer chegava a Brasília, a carta já estava vazada. Pelo Palácio. Qual a verdadeira intenção ? Mostrar um vice-presidente lamentoso ? Achincalhar ? Não se sabe qual a intenção do sábio do Planalto com esse vazamento. Uma das razões : tentar indispor Michel com uma das alas do próprio PMDB. Desacreditá-lo. Sabe-se que os ministros do núcleo duro estavam com a carta na mão por volta de 17, 18h. Dilma pediu para vazar ? Não se sabe. Mas o ato é de extrema deseducação política. Como se vaza uma carta pessoal, portanto sigilosa, de um vice-presidente para a presidente ? Desconsideração com o vice. Mais uma prova da conduta do governo do PT. A carta de Michel VIII A carta foi bem recebida pela mídia. Até porque Dilma está no fundo do poço da imagem. Formadores de opinião viram na carta a verdade que já conheciam: a da presidente autossuficiente, arrogante e desconfiada. Esperam com expectativa sua conversa com Michel. O que dirá ? Que foi surpreendida ? Que esperava lealdade dele ? Que acha que estava tudo indo às mil maravilhas, depois das humilhações cometidas com as demissões de Moreira Franco, Edinho Araújo e contra Padilha ? Essa conversa será interessante. A carta de Michel IX E, agora, como será o dia a dia entre presidente e vice ? Uma interlocução fria, distante, litúrgica. A ponte não foi de todo fissurada, mas as fendas aparentes mostram necessidade de muito cimento para tampar os buracos. Michel como articulador Michel Temer só foi convidado para fazer a articulação política do governo Dilma por insistência de Lula junto à presidente. Por ela mesma, ficaria o Mercadante. E por que saiu ? Porque os compromissos assumidos por ele e Padilha, que o ajudava na articulação, não eram cumpridos. Ficavam na gaveta. Quiseram dar um basta na desmoralização. E saíram. E Lula, hein ? Lula já começa a construir a sua bandeira e seu slogan : querem destruir o governo dos pobres. É o discurso que vai brandir nos próximos tempos. Vingará ? Mas os cinco milhões de pessoas da classe C que desceram para a classe D ? Que governo dos pobres é esse que destrói a classe que ajudou nos últimos anos ? Lula sabe como enrolar as massas. Como trabalhador, é um exímio palanqueiro. Picciani irá em frente ? Leonardo Picciani quer tomar o lugar de Eduardo Cunha. Com o apoio de Dilma. Conseguirá ? A bancada do PMDB está rachada. Hoje, ele consegue ligeira maioria. Depois de amanhã, ficará mais difícil. Impeachment Hoje, Dilma teria uns 220 votos contra o impeachment. Em março, não conseguirá os 172 que precisa para barrar o afastamento. Economia no fundo do poço. A pergunta é : E se Dilma ganhar e continuar ? Respondo : terá de mudar de A a Z. Não teria condições de governar com a mesma estrutura, mesma equipe, mesmos métodos. O país estaria arrebentado. Urge resgatar a confiança perdida. Dilma não conseguiria recuperar o terreno perdido. A não ser que mude tudo. PT no final de linha O PT está em trajetória de derrocada. Em 2016, elegerá poucos prefeitos. Formará uma base estreita para o pleito de 2018. Com Lula ou sem Lula, uma vitória do PT em 2018 é tão difícil quanto um camelo passar pelo buraco de uma agulha. Lava Jato A operação Lava Jato é o fator que poderá desestabilizar mais ainda a esfera política. Se alguns protagonistas entrarem no cerco, será um deus-nos-acuda. Desmoronamento em série. Fecho a coluna com uma historinha triste. João Felipe O relato é do ex-juiz, hoje advogado Agamenon Fernandes, um potiguar como eu, da serrinha de Luís Gomes. Aqui no Nordeste, a seca completa quatro anos. Vamos para o quinto, sofrendo as agruras do El Nino. Preocupado com essa situação, ao visitar nossa querida cidade de Luís Gomes, fui apresentado ao meteorologista, o agricultor chamado João Felipe. Consultei-o sobre se o tempo prometia inverno em 2015. Tímido, coçou o queixo e tascou : - Pode chover ou pode não chover. João morreu de maneira trágica. Vejamos como foi. Morava na zona rural, no sítio Baixas. Levava vida tranquila como os agricultores que criam pequenos animais para consumo próprio ou mesmo para venda. O nosso meteorologista João Felipe criava um boi, que estava em fase de engorda. Sua esperança era que a venda do animal lhe trouxesse tranquilidade com a quitação de antigos débitos. Com pasto escasso, o boi se alimentava nas margens das estradas. Para facilitar o deslocamento do animal, João costumava amarrá-lo na própria cintura ; enquanto pastava, ele lia a Bíblia. Certo dia, enquanto pastava, um enxame de abelhas atacou o boi. Enfurecido, o bicho partiu em disparada na tentativa de se livrar das abelhas. E assim, o nosso querido João Felipe teve seu corpo estraçalhado.
quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

Porandubas nº 472

Os juízes estão se tornando mestres de sabedoria, bom senso e até humor. Leiam o pronunciamento do juiz na audiência inaugural de uma ação. Abro a coluna com uma historinha do CE. O tema : um cabaré processado pela Igreja. Vamos ao caso. Em Aquiraz, região metropolitana de Fortaleza, Tarcília Bezerra começou a construção de um anexo do seu cabaré, a fim de aumentar suas atividades, em constante crescimento. Em reação contrária ao empreendimento, a igreja neo-pentecostal da localidade iniciou forte campanha para bloquear a expansão. Fez sessões de oração, em seu templo, de manhã, à tarde e à noite. Porém, o trabalho da construção progrediu até uma semana antes da reabertura, quando um raio atingiu o cabaré de Tarcília, queimando instalações elétricas e provocando um incêndio que destruiu tudo. Tarcília processou a igreja, o pastor e toda a congregação, com o fundamento de que a Igreja "foi a responsável pelo fim de seu prédio e de seu negócio, seja através de intervenção divina, direta ou indireta, ações ou meios". O certo é que o raio lhe causou enormes prejuízos, objeto de indenização. Em sua defesa na ação, a igreja negou veementemente toda e qualquer responsabilidade ou ligação com o fim do cabaré, inclusive pela falta de prova da intervenção divina e orações dos pastores. O juiz, veterano, leu a reclamação da autora Tarcília e a resposta dos réus, os pastores. Na audiência de abertura, abriu o verbo : "Não sei como vou decidir neste caso, pois pelo que li até agora tem-se, de um lado, uma proprietária de casa de tolerância, que acredita firmemente no poder das orações ; e do outro lado, uma igreja inteira que afirma que as orações não valem nada". Seria o caso de medir a propriedade deste conceito ? "A ciência sem a religião é aleijada e a religião sem a ciência é cega". Vamos, agora, à análise da conjuntura. O imponderável Que ninguém aposte em previsibilidade quando o território dos acontecimentos, principalmente na esfera da política, é o Brasil. Vejam só : o impeachment da presidente Dilma, até uma semana atrás, era coisa que entrava no baú. Depois da prisão do senador Delcídio do Amaral, entra novamente em cena. E por quê ? Porque o senador Delcídio é seguramente o parlamentar que mais entende de Petrobras. Portanto, é o homem certo para falar nesse momento sobre o propinoduto construído ao largo da petroleira. Delação premiada Caso aceite entrar na roda da delação premiada, Delcídio pode relembrar coisas do tempo em que era diretor internacional a quem se subordinava o gerente Nestor Cerveró. Pode dizer, entre outras coisas, quem lhe fazia pressão para resolver a compra de Pasadena. Quem lhe cobrava o fluxo de decisões. Quem lhe consultou sobre se Cerveró tinha condições técnicas de ficar em seu lugar. E pode, ainda, lembrar quem ajudou quem nas campanhas de Lula e Dilma. Delcídio é um dos parlamentares mais ligados e até então respeitado por Lula, que teria se referido ao episódio da conversa gravada por Bernardo no encontro com Delcídio de "burrada", algo como uma imbecilidade. E por que Delcídio abriria o bico ? Por pressão da família. Que quer rever o pai de família junto por ocasião do Natal e das comemorações de fim de ano. Elasticidade A interpretação do STF sobre a flagrância e atos considerados criminosos tende a se consolidar no espaço da jurisprudência. Ou seja, ato flagrante não se restringe aos acontecimentos tempestivos, ilícitos cometidos em determinado momento e pegos pelo aparelho policial. A obstrução de investigação, situação que pode perdurar por um tempo, entra nessa classificação. Daí a novidade. É evidente que os políticos estão temerosos de que casos assemelhados venham à tona e flagrados. Se Delcídio falar.... Caso o senador decida dizer o que se sabe, a República fica de cabeça para baixo. Essa é, de modo geral, a visão que se projeta com a fala do ex-líder do governo no Senado. Não há dúvidas de que uma delação abrigando a presidente da República, o ex-presidente Luiz Inácio e outros protagonistas de alto coturno tende a criar fissuras no tecido institucional e abalar os alicerces da atual estrutura de poder. Ou será que o senador mato-grossense preferirá ficar em silêncio e correr o risco de uma condenação com prisão fechada e afastamento da esfera política ? Tudo aponta para a primeira hipótese. P. S. A mulher de Delcídio, Maika, teria dito que ele não deve pagar a conta do PT. Os dias se sucedem... Um interlocutor de Delcídio teria dito : "deixem estar, os dias se sucedem". A declaração se refere ao aborrecimento do senador em relação ao PT, que teria cometido "covardia atroz" e ao ex-presidente Lula, a quem se atribui a afirmação de que a conversa de Delcídio com o filho de Cerveró teria sido uma "burrada". Em suma, vem coisa pesada por aí. Bumlai e cia José Carlos Bumlai também deverá contar o que sabe. O fato é que seu envolvimento com o Grupo Schahin, tomada de empréstimos, compra de navio para a Petrobras, depósito em contas de familiares do ex-presidente Luiz Inácio, entre outras informações usualmente divulgadas pela imprensa, haverão de ser esclarecidas. Há muitas interrogações no meio dos números apontados. Bumlai deve ser intensamente questionado. O que querem saber é se ele cometeu alguma espécie de "burla". Cunha tem alguma carta ? O que Eduardo Cunha fará com os pedidos de impeachment que guarda em sua gaveta ? Alguns, ele já mandou arquivar. Mas há outros que ainda terão de receber um encaminhamento. Quanto mais ganhar tempo, melhor para ele. Ontem, o Conselho de Ética debateu a questão. Vejamos as duas possibilidades que se apresentam na Comissão de Ética : 1. Se decidir pela admissibilidade do processo de cassação do mandato do presidente da Câmara, o caso irá adiante. E o que Cunha fará ? O mais provável será o acolhimento do pedido de impeachment de Dilma. 2. Se decidir pelo arquivamento do processo contra ele, nesse caso, a hipótese mais provável é que o presidente da Câmara decida arquivar os pedidos de impeachment contra a presidente Dilma. Mas uma espada ainda paira sobre a cabeça de Cunha : um pedido do PGR, Rodrigo Janot, para que o STF o afaste da presidência da Câmara. A qualquer momento O procurador-Geral da República, Rodrigo Janot, pode entrar a qualquer momento junto ao STF com pedido de afastamento de Eduardo Cunha do cargo de presidente da Câmara. O caminho seria uma ação cautelar nos termos da que foi usada no caso do senador Delcídio. EUA : cinco perguntas Na campanha entre Bill Clinton e Bob Dole, em 1996, cinco questões básicas relacionadas a valores permitiam prever se alguém votaria num ou noutro. Os que deram respostas predominantemente conservadoras votaram em Dole. Aqueles cujas respostas relevaram que estavam menos comprometidos com os valores tradicionais votaram em Clinton. As perguntas eram as seguintes : 1. Acredita que sexo antes do casamento seja moralmente errado ? 2. A religião é importante na sua vida ? 3. Já se interessou por ver pornografia ? 4. Tem opinião mais desfavorável sobre alguém que engana o cônjuge? 5. O homossexualismo é imoral ? (Dick Morris em Jogos de Poder) Reeleição de Cedraz O presidente do TCU, Aroldo Cedraz, é candidato à reeleição. Sua candidatura abre polêmica, eis que o nome de seu filho, o advogado Tiago Cedraz, é relacionado com tráfico de influência. Nesse momento, a reeleição não seria aconselhável. Gleisi A senadora Gleisi Hoffmann é cotada para substituir o senador Humberto Costa na liderança do PT no Senado. Diz-se que ela suporta o tranco da oposição e não se encolhe. Mas ela aguentará denúncias de que teria se beneficiado com verbas dos negócios escusos da Petrobras desviados para sua campanha ? Eleição com papel Só mesmo por essas bandas. Depois de conquistarmos a tecnologia de ponta para uso nos pleitos - urnas eletrônicas - eis que os tribunais fazem um alerta : poderemos ter, em 2016, uma eleição na base da cédula eleitoral. Ou seja, podemos regredir aos velhos tempos. Interessante é observar que a eleição eletrônica acaba de ser objeto de investigação. A razão para a regressão : faltarão recursos para gastos com a tecnologia. E as urnas usadas anteriormente ? Será necessária a mesma quantidade ? As antigas tornaram-se imprestáveis ? Só mesmo no Brasil... Zika A microcefalia se espalha pelo país. Cerca de 1.300 casos já estão registrados. A doença se propaga na onda de expansão da dengue, doença transmitida pelo mesmo mosquito da febre chikungunya e zika, doença com origem nas florestas africanas. Em 2015, o país registrou 1.534.932 casos de dengue, febre chikungunya e zika. É o século passado abraçando o nosso século XXI. Inadimplente Se a meta fiscal não for aprovada este ano, o governo deve dar uma "pedalada" nas contas de água, luz e telefone. Será o fim da picada. O governo cortou R$ 11,2 bilhões do Orçamento (em despesas não obrigatórias). A máquina pública para, arrastando contas para 2016, além de atrasos em pagamentos de serviços terceirizados. A "pedalagem" para pagar no próximo ano é condenada pelo TCU. Daí a necessidade de mudar, já, a meta fiscal. Recessão Brasil se afunda na recessão. Economia encolheu 1,7% no terceiro trimestre, em comparação com o segundo trimestre. Trata-se da maior contração para um terceiro trimestre da série histórica do IBGE, de 1996, e a terceira retração seguida, prolongando o ambiente recessivo, que também já é o mais longo desde o governo Collor. Analistas esperavam queda de 1,2% frente ao segundo trimestre. Em relação ao terceiro trimestre de 2014, o PIB teve contração de 4,5% - a maior contração para um trimestre da série histórica do IBGE - e fechou os nove primeiros meses do ano com perda acumulada de 3,2%, também a maior da série. Em quatro trimestres, o resultado acumulado é de recuo de 2,5%, o pior desempenho de toda a série histórica. Os livros errados Brasília, Congresso Nacional, 11 de abril de 1964. Castelo Branco não teve o voto de Tancredo Neves, seu amigo pessoal de longa data, companheiro na Escola Superior de Guerra, em 1956. Tancredo bateu o pé. Comunicou ao PSD que votaria em branco, apesar dos méritos e credenciais do general Castelo Branco. Questão de princípio : era contra o golpe. Não queria nem um minuto de regime militar, não abria mão da democracia. Conta-se que, esgotados todos os argumentos dos pessedistas para convencê-lo, o amigo e ex-chefe JK, então senador por GO, fez um apelo : "Mas, Tancredo, o Castelo é um sorbonniano, estudou na França. É militar diferente, um intelectual como você. Já leu centenas de livros!". Tancredo : "É verdade, Juscelino. Só que ele leu os livros errados". Dois meses depois o governo cassou o mandato e os direitos políticos de JK, que partiu para o exílio e o sofrimento sem fim. (Caso narrado por Ronaldo Costa Couto) Pequenas lições de marketing Primeiras lições para pré-candidatos Procurar saber para onde vai o vento, descobrir o rumo a seguir. Cada município comporta modelagem própria : condições geográficas ; proporção entre votos das áreas urbanas e rurais (áreas centrais e periféricas nas capitais) ; demandas regionais (bairros) ; cultura das comunidades ; infraestrutura ; colchões sociais (confortáveis/desconfortáveis), linguagens e demandas comuns ; lideranças comunitárias ; tipos folclóricos ; caciques e elites ; meios de comunicação, etc. Colocar todos esses ingredientes no liquidificador e extrair o caldo grosso. Bebericar em doses pequenas apurando o gosto. Adicionar pitadas dos elementos que faltam no caldo. Testar essa receita entre agosto e outubro. Ciclos Mais orientação : estabelecer adequado cronograma dos ciclos da pré-campanha e campanha. Pré-campanha, que já deve estar bem adiantada agora em dezembro ; lançamento, por ocasião da Convenção ; crescimento, entre quatro e cinco semanas após a Convenção ; maturidade/consolidação, quando a campanha se firma no sistema cognitivo do eleitor, após ampla visibilidade ; clímax, momento em que o candidato alcança seu maior índice de intenção de votos ; e declínio, quando o candidato tende a cair nas pesquisas de opinião. Todo esforço se faz necessário para o clímax ocorrer na semana das eleições. A dosagem dos ciclos há de obedecer ao funil da comunicação - jogando-se mais água (volume de comunicação/visibilidade) na segunda quinzena de setembro. Candidato que começa a soçobrar antes do tempo corre o perigo de morrer na praia. "O maior sinal da derrota é quando já não se crê na vitória".
quarta-feira, 25 de novembro de 2015

Porandubas nº 471

Abro a coluna para quem gosta de adivinhar sobre o que pode acontecer com o Brasil de 2018. Tudo pode acontecer Um poderoso sultão, sábio entre os sábios, possuía um camelo muito inteligente. Obedecia a todas as ordens que nem precisavam ser emitidas de viva voz. Faltava-lhe apenas o dom da palavra. Esse detalhe entristecia sobremaneira o sultão. Um dia, decidiu convocar o Grande Conselho e chamou o grão-vizir. - Quero que ensine meu camelo a falar. - Mas isso é impossível. - Cortem-lhe a cabeça. Tragam-me o adjunto Mesma afirmação de desejo sultanesco, mesma resposta, mesma sentença. A cena repetiu-se diversas vezes e cabeças rolaram. Exasperado o sultão declarou : - Aquele que ensinar meu camelo a falar será meu grão-vizir. Silêncio ! O sultão repetiu a exortação. Eis que surgiu um humilde ajudante de cozinheiro. Disse : -Dá-me, ó incomparável senhor, um prazo de três anos, e farei falar teu camelo. Estupefação geral. Seguida do cumprimento da promessa. -Doravante, és meu grão-vizir. Mas se falhares, sabes o que te espera. - Bem sei. Encantado, o jovem fez profunda reverência e saiu correndo para dar a boa notícia à esposa. - Infeliz, acabas de assinar tua condenação. - Não é bem assim, meu bem. Pedi três anos. Você sabe que muitas coisas podem acontecer em três anos : morre o camelo, morre o sultão... Governistas e oposicionistas : cuidado com as previsões. Nuvens e cinzas sobre o país O Brasil atravessará tempos sombrios. A economia não dará sinais de recuperação tão cedo. A projeção é a de que o adensamento da crise ainda está por vir. As observações convergem para os meados do 1º semestre de 2016. Nesse momento, o cenário poderá exibir este quadro : desemprego em alta, ultrapassando a casa dos 10% ; inflação, idem ; contingentes da classe C descendo para o andar da classe D ; manifestações voltando às ruas em início do processo eleitoral ; governo tenta imprimir agenda positiva ; empresariado sob inteiro desânimo. Vejamos, quais, os principais tipos de nuvens e cinzas que cobrirão o país. Autoestima em baixa A autoestima dos brasileiros diminui sob o impacto das grandes necessidades. O sentimento de perda de posições e ganhos atingirá estratos da base e do meio da pirâmide. Esse sentimento criará ondas de pessimismo, que poderão atingir as bases da harmonia social. O desalento é a mãe do pessimismo. O brasileiro pessimista é um ponto fora da curva. Violência O mapa da violência, na esteira das grandes necessidades, deverá se ampliar, particularmente na esfera de assaltos e roubos nos espaços das concentrações populares. O combate à violência, por seu lado, se desenvolverá com os braços enfraquecidos dos Estados, às voltas com falta de recursos, obsolescência de equipamentos e estruturas policiais. Vazio A crise começa a bater forte no ânimo social. Espraia-se um imenso vazio, a denotar desânimo, inutilidade, falta de rumo, confusão, sentimento de perda. Amostra do desvanecimento moral. Agitação periférica As margens tendem a dar respostas mais tempestivas aos momentos. Tensas e sob a pressão de demandas crescentes, tendem a entrar em ebulição diante de situações caóticas, como deterioração dos serviços públicos - paralisações dos transportes urbanos, filas em estabelecimentos hospitalares, escolas desaparelhadas, etc. Cenas de quebra-quebra e devastação de espaços públicos poderão se inserir na paisagem. As pedras do meio do lago As classes médias abrirão suas tubas de ressonância sob as demandas e pressões que também as atingirão. O encarecimento da vida com o aperto econômico também impactarão a classe média-média, que deverá usar seu tradicional instrumento : a expressão. A classe média-média age como a pedra jogada no meio do lago : cria marolas e estas rolam até as margens. A campanha eleitoral de 2016 se dará sob o barulho da orquestra tocada no meio da sociedade. Messianismo nas margens Por descrédito e desconfiança, os contingentes massivos das margens podem avolumar eventuais perfis messiânicos que, em anos eleitorais, costumam se apresentar aos eleitores. Esse é o lado perigoso da crise na perspectiva eleitoral. As massas tendem a correr atrás de salvadores da pátria, bombeiros de plantão, imitadores de São Jorge com a espada para atacar o dragão da maldade. Felizmente, um ou outro messiânico que se vê por aqui e alhures estão com os costados abertos pelas lâminas da operação Lava Jato. Os limpos O perfil mais limpo, menos poluído, tende a ser contraponto às figuras messiânicas. O asséptico é, geralmente, um perfil que vem de fora da política tradicional, tem meia idade, não é carcomido pelos escândalos e, em suas veias, ainda corre sangue puro. Inovadores, bons administradores, são os tipos que podem elevar a campanha eleitoral de 2016. O dominó A imagem é conhecida. A primeira pedra do dominó, colocada em pé, derruba a segunda, que derruba a terceira, que derruba a quarta e assim por diante. Pode ser que, por algum desvio de rota (não estão emparelhadas), uma pedra deixe de cair, segurando as seguintes em pé. Regra geral, porém, boa parte das pedras do dominó tende a cair em 2016. E a primeira pedra é a Federal. As outras são das esferas estaduais e municipais. Leitura : a crise econômica que assola o país baterá nas pedrinhas municipais. A conferir. Perfil ideal Um empresário bem sucedido, na faixa entre 40 e 50 anos, com trajetória iniciante na vida política ; com alta visibilidade social, graças ao trabalho consistente em defesa da sustentabilidade e ajuda a grupos carentes nas frentes da educação e saúde ; pessoa bem sucedida, simples, simpática, conhecedora do país ; exemplo de cidadania ativa, vida sem máculas, considerado um exemplo de decência. Um perfil inovador. Alguém conhece um brasileiro nato com estas qualidades e características ? Seria esse o meu candidato para presidente da República em 2018. Empresários, mulheres e jovens A campanha de 2016 será uma das mais promissoras para empresários, mulheres e jovens. Parcelas ponderáveis do pequeno e médio empresariado estão desanimadas com seus negócios. Milhares de empresas abertas nos últimos tempos, principalmente micro e pequenos empreendimentos, fecham as portas. As mulheres, por sua vez, tendem a ganhar relevância na batalha dos gêneros. Subirão no ranking da participação política. Por último, os jovens se aproveitarão do esgotamento do ciclo da velha política para ingressar na área. Serão três segmentos com boa inserção no campo político em 2016. PT contra Cunha Os três deputados do PT na Comissão de Ética prometem endossar parecer do deputado Fausto Pinato no sentido de acolhimento ao processo contra o presidente da Câmara, Eduardo Cunha. Este, por sua vez, tende a não ficar esperando o pior. Deve avançar na questão do pedido de impeachment da presidente Dilma. Este consultor acha que a situação da presidente melhorou "algumas gotas", mas ainda há muito líquido no frasco. Prisão de Bumlai A prisão do empresário José Carlos Bumlai, ocorrida ontem por ocasião da abertura da 21ª fase da operação Lava Jato, traz as seguintes indicações : 1. O entorno de Lula começa a ser ocupado ; 2. Os filhos de Lula podem ser detidos para averiguações ; 3. A presidente Dilma sente mais um impacto de bomba nos arredores do Planalto ; 4. Lula deve ter aumentado sua indignação ; 5. Veremos, nos próximos dias, aumento de tensões nas cercanias do lulopetismo. Nordeste na oposição ? O Sul é açoitado por chuvas torrenciais. O Sudeste, na região de MG, é castigado pela lama que destrói santuários e sítios de vida marinha e florestal. O Nordeste continua vivendo a tragédia das secas, uma das maiores dos últimos 50 anos. O Nordeste é uma região historicamente governista. Pois bem, está virando oposicionista. Por todos os espaços do país, escorre a lama ética. Alckmin com mais chances Analistas começam a projetar cenários de força : Geraldo Alckmin terá mais condições do que Aécio de ser o candidato tucano à presidência em 2018 ; José Serra tem grandes chances de sair do PSDB e ingressar no PMDB ; Marina deve ser, sim, a candidata da Rede Sustentabilidade à presidência ; Ciro Gomes deve postular a candidatura pelo PDT ; Lula só sairá como candidato pelo PT se efetivamente o partido não conseguir chegar ao consenso em torno de nome que não seja ele. A campanha de 2016 baterá recorde em número de candidatos. Parcerias serão escassas. Todos com desconfiança de todos. PMDB do Rio sem chances Chega-se a falar que o candidato do PMDB, em 2018, pode ser Eduardo Paes. Difícil. Primeiro, o cariocas formam um clube que não fala com outros grupos. Agrega gente autossuficiente. Segundo, o PMDB carioca só enxerga seus membros. Tem chance zero de postular cargos nacionais. Cabral e Paes formam uma dupla não muito simpática aos "estrangeiros" não cariocas. Nem apareceram no evento do PMDB, em Brasília, promovido pela Fundação Ulysses Guimarães. Foram objeto de repúdio nas conversas. E Marta, hein ? Marta Suplicy, a senadora que acaba de entrar no PMDB, firma-se como candidata do partido à prefeitura de SP. Tem muitos votos nas margens, mas não tem densidade nas classes médias. De onde saiu. Marta, para grande parcela de paulistanos, tem carimbo de petista. Difícil de convencer que abandou jeitão petista de ser. A persistência -I A persistência é uma das principais virtudes dos grandes homens. Cristóvão Colombo aferrava-se à obsessão de que poderia chegar ao Oriente pelo caminho do Ocidente. O pensamento não lhe dava trégua. Esta foi a diferença entre Colombo e os seus contemporâneos. Estava convencido. Queria partir. Mas seria forçado a esperar muito. Enquanto aguardava, falava do sonho. D. João II, rei de Portugal, interessou-se pelo assunto e submeteu o projeto de Colombo a uma junta de sábios. Estes condenaram a ideia. Quando morreu a esposa, Colombo gastou a maior parte de suas economias com o enterro. E foi para a Espanha. A persistência - II Fernando e Isabel, empenhados em dispendiosa guerra com os mouros, deram apenas meio ouvido à proposta do genovês. A rainha, entretanto, foi simpática a ele. Concedeu-lhe uma pensão, enquanto a junta de notáveis do Reino estudava o assunto. Depois de dois anos, a pensão foi suspensa. Obrigado a se manter sem ajuda, durante os oito anos seguintes vendeu livros e mapas que confeccionava. Seus cabelos ficaram brancos. Foi atacado pelo artritismo. Mas nunca desesperou. E, um dia, realizou seu sonho. Pé de página Pré-candidatos e futuros candidatos : sejam persistentes !
quarta-feira, 18 de novembro de 2015

Porandubas nº 470

Verbo não "vareia" A Câmara Municipal de Paulista/PE vivia sessão agitada em função da discussão de um projeto enviado pelo prefeito, que pedia crédito para assistência social. Um vereador da oposição combatia de maneira veemente a proposição. A certa altura, disse que "era contra o crédito porque a administração municipal não merecia credibilidade". O líder da bancada governista intervém, afirmando que "o nobre colega não pode jogar pedras no telhado alheio, pois já foi acusado de algumas trampolinagens". - Menas a verdade - retrucou o acusado. Sou homem honesto, de vida limpa. - Vejam, senhores, - disse o líder - o nobre colega, além de um passado nada limpo, ainda por cima é analfabeto, pois, "menas" é verbo, e verbo não "vareia". (Historinha contada por Ivanildo Sampaio). PMDB com linha definida O evento do PMDB, ontem, em Brasília foi o passo mais avançado que o partido deu para se distanciar do PT. O documento Uma Ponte para o Futuro apresenta um programa econômico com linhas fortes e diferentes do programa de ajuste fiscal dos petistas. O PMDB tem se posicionado contra aumento de impostos e defendido cortes profundos na estrutura e nos gastos do Estado. Como o partido jamais foi governo - em função do controle rígido que os petistas detêm sobre as diretrizes econômicas - definiu, agora, seu caminho para o amanhã. O partido terá candidatos próprios no maior número de municípios em 2016 e, em 2018, contará com um candidato próprio à presidência da República. O desastre de Mariana Um dos maiores rios do Brasil, o Rio Doce, está comprometido. As populações ribeirinhas, somando mais de 3,5 milhões pessoas, sofrerão com a falta d'água ou com a água poluída, que a corrosão da barragem da mineradora Samarco provocou. A recuperação do rio Doce é meta para 30 anos, alerta o ambientalista e fotógrafo Sebastião Salgado, que vem trabalhando na recuperação de uma grande área de MG há muito tempo. Essa Samarco promete ajudar. Promessas que o vento (ou as águas) levarão para o cemitério do esquecimento. A Vale também tem responsabilidades no desastre, eis que é parceira (sócia) do empreendimento. O governo deveria não apenas cobrar pesadas multas das empresas, mas responsabilizá-las com o financiamento de recuperação da região pelo prazo definido pelos órgãos ambientais. Sebastião Salgado já apresentou um projeto. Pela seriedade que expressa, que seja aprovado seu projeto. O termômetro do SIMPI O SIMPI - Sindicato de Pequenas e Médias Indústrias - promove, a cada mês, a Pesquisa Indicador de Atividade da Micro e Pequena Indústria, a cargo do Instituto Datafolha. O índice de satisfação verificado no setor no mês de setembro, que engloba avaliação geral da empresa, faturamento e margem de lucro, caiu para 84 pontos. No mesmo mês no ano passado, o índice era de 112 pontos. A situação é gritante : a última rodada mostra que 94% dos empresários alegam que a crise econômica já afeta seus negócios. Mais um dado alarmante : 28% das microempresas correm real risco de fechar. O percentual de cortes de vagas no setor saltou de 19% para 27%, sendo que entre as micros 7% contrataram e 20% demitiram ; e dentre as pequenas, 29% contrataram e 53% demitiram. A avaliação negativa - com as respostas ruim e péssima - pulou de 31% para 36% ; o faturamento está ruim ou péssimo para 43%. O desânimo se expande no seio dos pequenos e micro empresários. O termômetro do SIMPI mostra as beiradas de uma classe média se aproximando do estado de penúria. Direita francesa avança A barbárie impetrada em Paris por três grupos terroristas do Estado Islâmico deflagrará uma abrangente onda contra imigrantes e refugiados dos conflitos no continente. Veremos o fortalecimento da direita radical de Marina Le Pen, que deverá tirar o Partido Socialista do segundo turno nas próximas eleições. O partido Os Republicanos, que substitui a União por um Movimento Popular, sob o comando do ex-presidente Nicolas Sarkozy, deve liderar o processo eleitoral nos dias de amanhã. Ou seja, veremos o enfraquecimento das siglas de esquerda, desta feita com o franco apoio dos jovens, revoltados com os ataques que vitimaram 129 pessoas e deixaram mais de 250 feridos. A xenofobia se expandirá. Muçulmanos enfrentarão ondas de repúdio e indignação. Por que Paris ? Pergunta que está no ar : por que Paris, considerada um símbolo das liberdades e o jardim mais florido da democracia contemporânea, foi escolhida como território para a tragédia ? Exatamente por isso mesmo. Como símbolo da democracia - igualité, legalité, fraternité - a França é, para os terroristas, o cartão postal mais visível do momento. Ademais, o país é considerado o mais engajado na estratégia de combater o Estado Islâmico na Síria. O EI quis mostrar reação à liderança da França nas frentes do combate ao terror. Macri vence Sciolli ? Na Argentina, é bem provável a vitória do oposicionista Maurício Macri, ex-prefeito de Buenos Aires, contra o governista Daniel Sciolli, apoiado pela presidente Cristina Kirchner. Sciolli era franco favorito há meses. Perde a condição. A Argentina padece de profunda crise. O kirchnerismo dá sinais de esgotamento. Já Macri, caso vença, sinalizará mais um avanço da direita no continente. Sua visão profundamente comprometida com o liberalismo econômico seria o contraponto que os argentinos querem estabelecer com o populismo funcional da esquerda de Sciolli/Cristina. Sem pauzinho Fortunato Pinto Júnior, jornalista e ghost writer, escrevia os discursos de João Almeida, deputado de MG. Sábio e generoso, o doce coronel só não gostava de proparoxítonos : - Fortunato, não bota no discurso palavra que tem um pauzinho lá atrás, porque a dentadura cai. Defesa de Cunha O presidente Eduardo Cunha apresenta, esta semana, sua defesa no Conselho de Ética da Câmara. Ele já antecipou as linhas : as contas na Suíça não estão no nome dele, mas de trusts. Essa firula jurídica convencerá os integrantes do Conselho ? Na verdade, o julgamento será político. Apesar do parecer contrário a ele, a ser apresentado pelo deputado Fausto Pinato (esse é o convencimento geral), é bem provável que Eduardo Cunha tenha a maioria dos votos no Conselho. A pressão das ruas não tem sido suficiente para convencer alguns parlamentares. A votação será mais adiante, dia 24 próximo, com direito à ampla defesa do acusado. Impeachment de Dilma Cunha, por seu lado, tem uma carta na manga : o pedido de impeachment da presidente Dilma. Acolherá ? Se acolher, perde os votos do PT no Conselho de Ética. O PSDB já tomou posição contra Cunha. Que está entre a cruz e a caldeirinha. Repatriação e vetos O projeto de repatriação de recursos está no Senado, onde deve ser também votado esta semana. Passará ? Este consultor acredita que sim. Da mesma forma, os vetos da presidente que tramitam no Senado serão votados, entre eles, aquele que propicia aumento de até 78% aos servidores do Judiciário. O veto deve ser endossado pela Câmara Alta. A conferir. Paes irá à guerra ? O prefeito Eduardo Paes, do PMDB, tem dito que faça chuva ou faça sol, não substituirá o nome de Pedro Paulo, seu amigo e secretário do governo, como candidato do partido à prefeitura em 2016. O imbróglio ocorre em função do affaire Pedro Paulo x ex-mulher, a quem teria agredido duas vezes. O caso tem sido explorado intensamente pela mídia. Pedro Paulo deu até entrevista coletiva sobre o assunto com a presença da ex-mulher. Expandiu a visibilidade do problema. E Paes, o prefeito, diz e repete : Pedro Paulo será candidato nem que a vaca tussa. Este consultor acredita que o tema passou a ser um estigma na imagem do PP. Uma mancha suja. Difícil de sair com o detergente da desculpa sobre "a intimidade da vida privada". Ora, a vida privada do homem público é do interesse do eleitor. Tocqueville e a imprensa Alexis de Tocqueville, em seu belo "A Democracia na América", lançado em 1835, analisando a importância da imprensa na construção dos valores americanos, confessava : "amo a imprensa pela consideração dos males que impede, mais ainda do que pelos bens que produz". E arrematava, dizendo que a soberania de um povo e a liberdade de imprensa são duas coisas inteiramente correlatas. A consciência social De fato, a imprensa é a própria consciência da sociedade. Em sua missão de informar, interpretar, orientar, opinar, persuadir, argumentar, criticar, contextualizar, os meios de comunicação propiciam o equilíbrio social. Pois o alimento da informação harmoniza a cultura dos grupos sociais, tornando-os partícipes dos mesmos eventos de significação social. A imprensa é um dos mecanismos mais efetivos para o processo de desenvolvimento dos países. Populariza a ciência, divulgando, em linguagem acessível, criações, descobertas e fatos de natureza técnico-científica. Tuba de ressonância A imprensa mostra os avanços em todos os campos do conhecimento humano, atualizando contingentes, elevando os índices culturais, fazendo avançar a sociedade. Investiga e faz o controle da administração pública, denunciando os abusos e desvios, evitando a continuidade e a perpetuação das malhas de corrupção. Eleva o ser humano, na promoção de seus valores, no reconhecimento de suas qualidades e competências, no traçado de seus perfis e identidades. Luta pelo desenvolvimento harmônico e saudável da sociedade, patrocinando grandes causas nas áreas da saúde, educação, habitação, segurança, esportes e lazer. A imprensa é a tuba de ressonância de um povo. É bom lembrar isso quando figuras de proa continuam a execrar os meios de comunicação. O arremate O senador Romero Jucá colheu sugestões para arrematar o documento Uma Ponte para o Futuro. Mesmo assim, será difícil conciliar visões. O PMDB é um partido descentralizado. Por isso mesmo, sobre ele tem-se dito : é um partido que inverte a aritmética - soma na divisão. Levy fica, Levy sai Quanto mais se diz que Levy sairá do governo em função da pressão feita por Lula para colocar no lugar dele Henrique Meirelles, mais Levy finca pé. É o que se depreende da mais recente garantia da presidente Dilma : não adianta fazer pressão, ele fica. Então é isso. Joaquim Levy, nas palavras de quem manda, ficará. Ou será que teremos de desdizer isso mais adiante ? E minhas ordens, tenente ? Camilo de Holanda, presidente da PB (nessa época, 1916/1920, governador era presidente), tinha uma namorada. Mas a namorada era mulher de um sargento da PM. Uma vez por semana, o tenente-comandante, auxiliar direto de Camilo, dava prontidão noturno no quartel. Uma noite, Camilo vai chegando à casa de seu amor e vê pendurado na cadeira da sala, o dólmã do sargento. Voltou furioso ao quartel : - Tenente, e minhas ordens ? - Que ordens, presidente ? - Prontidão rigorosa, pois a ordem pública está ameaçada. O tenente mandou tocar a corneta, dentro de pouco tempo o batalhão estava todo lá. De prontidão absoluta. Não faltava ninguém. Meia-noite, Camilo voltou lépido : - Tenente, relaxa a prontidão que o perigo já passou. O perigo fora afastado.
quinta-feira, 12 de novembro de 2015

Porandubas nº 469

Abro a coluna com uma historinha da BA que cai bem para esses tempos de crise. Uma vaquinha para o vereador O vereador de Itiruçu, na BA, estava duro. A seca tinha comido tudo. Sem dinheiro para a feira, foi pedir ao prefeito Pedrinho. Que brincou : - Por que você não pede a Jesus Cristo ? Ele não é o pai dos pobres ? Voltou para casa, escreveu a Jesus Cristo pedindo 50 contos. Endereçou : "Para Nosso Senhor Jesus Cristo". E pôs no Correio. No correio, abriram a carta, levaram para o bar. Lá fizeram uma vaquinha, apuraram 42 contos, registraram e mandaram para o vereador. Quando ele abriu viu os 42 contos, sentou-se e escreveu nova carta : "Nosso Senhor, agradeço muito sua atenção. Recebi o dinheiro que lhe pedi. Mas rogo o seguinte : se o senhor for mandar dinheiro novamente, faça o obséquio de mandar em cheque, porque, dos 50 contos, o pessoal do correio meteu a mão em 8". E hoje, hein ? Como seria hoje ? Uma vaquinha para ajudar um amigo no valor total pedido a Jesus Cristo. Uma vaquinha com menos da metade do dinheiro solicitado. Uma vaquinha com um presente de grego, digamos, uma cobra venenosa. Uma vaquinha com um bilhete : os cofres do céu estão vazios com a crise. Qual a opção mais viável ? Meirelles na onda Henrique Meirelles voltou ao centro da onda. Começa a circular nas rodas políticas, aferindo posições, lendo cenários, ouvindo e balbuciando ponderações. É fato que Luiz Inácio quer ver injeção na economia. Está saturado de más notícias e projeções catastróficas. Defende uma agenda positiva despontando nos horizontes do Palácio do Planalto. Meirelles poderia ser a pessoa indicada para esse momento ? Sim, para Lula. Para lideranças do setor produtivo, não será peça sobressalente de grande performance. Afinal, não há dinheiro para um novo ciclo de crédito e abertura da economia. O momento é grave. Levy meio isolado O retrato fala por si mesmo : terça-feira, antes de ontem, por volta de 14h lá estava Joaquim Levy, acompanhado de uma pessoa (uma só), pegando um elevador no Senado. Fazia o seu périplo rotineiro, conversando com senadores, analisando a situação, tentando ver até onde o governo pode caminhar em matéria do emperrado pacote fiscal. Falta votar alguns vetos da presidente Dilma no Senado. Levy almoçou com um grupo de senadores. Tenta verificar se a CPMF ainda é viável, analisa a conveniência da CIDE (contribuição sobre combustíveis), etc. Parece desolado, não satisfeito com o rumo das coisas. Há quem diga que não chegará ao final do ano envergando a roupa de ministro da Fazenda. O que Lula espera Luiz Inácio colocou o resgate do PT no primeiro lugar do ranking de suas responsabilidades. Ele é o ícone do partido e maior liderança popular, hoje, no Brasil, apesar de amargar 55% de rejeição, segundo pesquisas. Sabe que o PT está no fundo do poço da imagem. Vai tomar uma surra no processo eleitoral de 2016, quando não deve eleger tantos prefeitos como imaginava há um ano. Para resgatar o PT, ou pelo menos alguns pontos em sua imagem, Lula luta por uma agenda positiva. Afinal, os programas para as margens não podem ser esmaecidos. As classes médias já abandonaram o PT. O cobertor está curto. Na contramão Por isso mesmo, Lula começa a andar na contramão do governo, fazendo críticas que acabam sendo vazadas para a imprensa. O que se lê, quase todos os dias, é sua discordância sobre a condução da economia pelas mãos de Levy. Lê-se que prega a retomada do crescimento com a vitamina do crédito. Tarefa impossível quando o orçamento se apresenta cheio de rombos. Os partidos aliados, por sua vez, tenderão a seguir, cada qual, seu caminho. As alianças com o PT serão mínimas e frouxas. Diante da grave situação, Lula tentará engatar a velha verve oposicionista. Ou seja, vai se apresentar como um palanqueiro de oposição ao desgoverno que aí está. O arranque do "contra" será um artifício para conquistar as massas. Será que elas não descobrirão o engodo do orador ? Irão identificá-lo como o patrocinador responsável pela Dilma ? Cunha O presidente da Câmara terá dificuldades de demonstrar aos parlamentares, mesmo os de seu grupo, que as contas no exterior não são suas, mas pertencem a um trust. Mais cedo ou mais tarde, esse argumento não resistirá. Do ponto de vista formal, as contas não estão no nome dele. Mas o destinatário não é o próprio ? Este consultor acredita que parte dos membros da Comissão de Ética acatará o argumento do presidente da Casa, eis que não teria mentido. Mas parte não aceitará a tese. Quem terá maioria ? PSDB contra O PSDB decidiu sair da esfera de Eduardo Cunha, passando a lhe fazer oposição. A razão ? Os tucanos esperavam que o presidente da Câmara acolhesse o pedido de impeachment de Dilma. Ora, Cunha usa a prerrogativa de aceitar ou rejeitar para adiar a questão. Quanto mais tempo ele dispuser para analisar o imbróglio, mais prolongará a pressão e as ameaças contra ele. Mas os tucanos decidiram não esperar mais. Por pressão da opinião pública. Cunha, por seu lado, sabe que no momento que acolher o pedido, perderá força. Porque a tramitação do impeachment (se for acolhido) ganha vida própria. Depois disso, ele perderia força. PT a favor e contra Veja-se como é a política. Por muito tempo, Eduardo Cunha agiu para fazer pressão sobre a presidente Dilma, a ponto de se pensar que a vida política da mandatária estaria nas mãos dele. As coisas se inverteram. Hoje, a vida política de Cunha está nas mãos de Dilma e do PT, pois este partido pode contar com uns 10 votos no Conselho de Ética. Ora, se Cunha acolher o pedido de impeachment de Dilma, o PT votará em peso contra ele na Comissão de Ética. O PT dá demonstrações de que está, hoje, a favor dele. Claro, enquanto ele não acolhe o pedido de impeachment. Moro O juiz Sérgio Moro virou referência de Justiça e moral no país. Para a banda mais larga da sociedade. Para parcelas sociais, principalmente para faixas estreitas do Direito e classes médias mais altas, Moro tem sido um ponto fora da curva, ao deixar grandes empresários mais de 150 dias presos, sem serem julgados. Seriam eles ameaças à Justiça ? É o que perguntam advogados de renome. É uma discussão que se espraia no mundo jurídico. O fundo do poço As projeções coincidem : o fundo do poço é mais embaixo. Ainda não apareceu. Este consultor acredita que a situação tende a piorar nos próximos dois a três meses com o aumento da inflação, do desemprego e do Produto Nacional Bruto da Infelicidade. O recesso do final e início do ano será angustiado. Papai Noel circulará com o saco pobre de brinquedos. Pobre árvore de Natal Ontem, vi o tamanho da crise. Onde ? Na árvore que a prefeitura de SP está montando no Parque do Ibirapuera. Bem menor do que a de anos anteriores. Sinal de tempos modestos. Sinal das agruras que se abatem sobre a figura do prefeito Fernando Haddad. Movimentos E os movimentos sociais, onde estão ? Hoje, a fotografia mostra que o movimento maior é o dos caminhoneiros. Que tentam parar o país. O governo decide multar pesadamente os grevistas. Interessante observar : os sindicatos e associações da categoria estão contrários à paralisação. O maior líder do movimento é um empresário de SC, que faliu. Mas conseguiu formar uma rede social com mais de 500 mil participantes. Um sujeito só. Desunião Quase todos os sábados ocorrem passeatas na avenida Paulista. Sem grande barulho. Os movimentos não estão unidos. Ciúmes e divisões estão por trás das ações e motivações. Sem ruas movimentadas, não haverá pressão suficiente para fazer o Parlamento avançar. A conferir. STF Há muita expectativa sobre os próximos passos do STF na trilha da operação Lava Jato. Comenta-se que a próxima leva de indiciados sairá da esfera política. Fim de ano muito tenso para as Casas Congressuais. De fato Há no PT quem veja Lula como o presidente de fato. Dilma estaria conformada com sua posição de direito ? Este consultor não aposta na hipótese de Lula presidente de fato. Armando Monteiro Um dos melhores ministros de Dilma é o experiente Armando Monteiro, senador licenciado, ex-presidente da CNI. Tem na ponta da língua a moldura das necessidades e mudanças que o país precisa, é um exímio conhecedor dos problemas dos setores produtivos e desempenha com alta eficiência as tarefas sob sua responsabilidade. Discreto e solidário. Campanhas à vista A luta política tende a se acirrar nos próximos meses. As lições de táticas e estratégias dos clássicos da política e das guerras são muito oportunas nesses tempos de competitividade. Eis alguns conselhos do general Sun Tzu : a) "Quando em região difícil, não acampe. Em regiões onde se cruzam boas estradas, una-se aos seus aliados. Não se demore em posições perigosamente isoladas. Em situação de cerco, deve recorrer a estratagemas. Numa posição desesperada, deve lutar. Há estradas que não devem ser percorridas e cidades que não devem ser sitiadas". b) "Não marche, a não ser que veja alguma vantagem; não use suas tropas, a menos que haja alguma coisa a ser ganha ; não lute, a menos que a posição seja crítica. Nenhum dirigente deve colocar tropas em campo apenas para satisfazer seu humor ; nenhum general deve travar uma batalha apenas para se vangloriar. A ira pode, no devido tempo, transformar-se em alegria ; o aborrecimento pode ser seguido de contentamento. Porém, um reino que tenha sido destruído jamais poderá tornar a existir, nem os mortos podem ser ressuscitados". c) "Prepare iscas para atrair o inimigo. Finja desorganização e esmague-o. Se ele está protegido em todos os pontos, esteja preparado para isso. Se ele tem forças superiores, evite-o. Se o seu adversário é de temperamento irascível, procure irritá-lo. Finja estar fraco e ele se tornará arrogante. Se ele estiver tranquilo, não lhe dê sossego. Se suas forças estão unidas, separe-as. Ataque-o onde ele se mostrar despreparado, apareça quando não estiver sendo esperado".
quarta-feira, 4 de novembro de 2015

Porandubas nº 468

Abro a coluna com uma hilária historinha das bandas da PB. E tome chicotada Encenação da Paixão de Cristo numa cidadezinha da PB. O dono do circo, em passagem pela cidade, resolveu encenar a Paixão de Cristo na sexta-feira santa. Elenco escolhido dentre os moradores ; no papel de Cristo, o cara mais gato da cidade. Ensaios diários. Às vésperas do evento, o dono do circo soube que 'Jesus' estava de caso com sua mulher. Furioso, deu-se conta que não podia fazer escândalo sob pena de perder o investimento. Bolou uma maneira. Comunicou ao elenco que iria participar fazendo o papel do 'centurião'. - Como ? - reclamaram - Você não ensaiou ! - Não é preciso ensaiar, porque centurião não fala ! E eu sou o dono. O elenco teve que aceitar. Dono é dono. Chegou o grande dia. A cidade em peso compareceu. No momento mais solene, plateia em profundo silêncio. Jesus carregando a cruz ... e o 'centurião' começa a dar-lhe chicotadas. - Oxente, cabra, tá machucando ! Reclamou Jesus, em voz baixa. - É pra dar mais veracidade à cena, devolveu o centurião. E tome chicotada. Chicote comendo solto no lombo do infeliz. Até que Jesus enfureceu-se, largou a cruz no chão, puxou uma peixeira e partiu pra cima do centurião : - Vem, desgraçado ! Vem cá que eu vou te ensinar a não bater num indefeso ! O centurião correu, Jesus com a peixeira correndo atrás e a galera em delírio gritando : - É isso aí ! Fura ele, Jesus ! Fura, que aqui é a PB, não é Jerusalém, não ! A locomotiva emperrada Diz-se que a crise por que passa o país tem a índole fincada na política. Em termos. Se a economia vivesse tempos saudáveis, a política seria mais amena e menos conturbada. E a razão é simples : a economia é a locomotiva que puxa o trem, com todos os vagões da sociedade e da política. Daí a triste negociação : a locomotiva está emperrada. Seus eixos estão tortos. E o pior é que não há perspectiva de arrumação das peças tortas no curto prazo. Que eixos são estes ? Vejamos. Desemprego O desemprego ameaça a cada dia mais e mais brasileiros. A taxa se aproxima perigosamente dos dois dígitos. Desempregada, a pessoa entra em desespero. Baixa a auto-estima. Sabe que vai faltar dinheiro no bolso, comida na geladeira, leite para os filhos, aperto no estômago. Pois bem, cerca de três milhões de brasileiros, entre os 30 milhões que chegaram à classe C, descem à classe D. A equação BO+BA+CO+CA (Bolso, Barriga, Coração, Cabeça) se desfaz. A situação tende a se agravar nos próximos meses. A inflação Da mesma forma que o desemprego, a inflação também se aproxima dos dois dígitos. Quer dizer : as compras nas feiras e supermercados são modestas ; para manter os suprimentos na normalidade, os consumidores terão de desembolsar mais. Ocorre que falta o "mais" ? A inflação das feiras livres beira os 12%. Esta praga, aliada ao desemprego, deixa o fogo alto queimando a imagem do governo Dilma. Imaginem se o Brasil perde a condição de investimento com a nota de uma terceira Agência de Classificação de Risco. O pior está por vir. Década perdida Os dados são desalentadores : o PIB de 2015 ficará entre 3% e 3,5% e o de 2016, segundo as projeções, ultrapassará a casa dos 2%. O quadro é ruim. Ante o despenhadeiro que se enxerga, a projeção de institutos é de que a renda dos brasileiros em 2020 seja igual à renda de 2010. Já se fala em década perdida. Gestão capenga Dilma Rousseff era considerada, no início da gestão, um perfil técnico de respeito. Perdeu o eixo de sua identidade. Mostrou-se ineficaz. Sem grandes realizações para mostrar, a presidente tateia na escuridão. Tenta incrementar a articulação política, agora distribuindo cargos no segundo e terceiro escalões. Os políticos aceitam as recompensas, mas tão logo vejam as coisas se complicarem, pularão fora do barco. Há uma questão central fustigando a administração : como fazer ajuste fiscal sem causar sacrifício ? Como fazer uma agenda positiva se o ajuste entra na agenda negativa ? Lula só pensa em agenda positiva. Lula, mostra como se faz. Congresso em chamas Não se pode dizer que o Congresso passa por momentos tranquilos. O ambiente nas duas casas é tenso. O governo vê seu pacote fiscal criando atritos por todos os lados. A Comissão de Orçamento do Senado aguarda a defesa das pedaladas fiscais. Na frente do impeachment, até se pode enxergar certo alívio por parte da presidente. Houve um refluxo nos últimos dias. Eduardo Cunha, o presidente da Câmara, se esforça para esticar seu tempo na presidência da Casa. Mas espera, a qualquer momento, o pedido do PGR, Rodrigo Janot, para que o STF o indicie. Se o fizer, a Suprema Corte deverá fazer a solicitação ao Parlamento. O Conselho de Ética instala processo para apurar se Cunha mentiu aos deputados. É possível que o relator seja favorável a ele. O ambiente é tenso. Partidos abrem veredas Os partidos sentem a temperatura e preparam seu futuro. O PMDB acaba de lançar um documento forte - Uma ponte para o futuro - onde faz sérias críticas às políticas do governo. Trata-se de um freio de arrumação que o partido adota para direcionar seus passos. O PMDB, com este documento, abre veredas para 2016 e 2018. Vai se afastar gradativamente do PT. Ou, como prega o paper, com elegância. O PDT também não concorda com a política fiscal do governo. E deixa Ciro Gomes no ataque do jogo, a fim de poder se habilitar à candidatura presidencial em 2018. O PSB começa a organizar um contraponto ao foro de SP, onde se insere o PT. Acaba de ingressar na Condução Socialista Latino-americana por meio do deputado Beto Albuquerque. Que discute a política do continente. O PSB deve ter candidato próprio em 2018. Escancarando o jogo As lupas do Parlamento e do Judiciário continuam a jogar luzes sobre a escuridão dos jogos de poder. O MPF e a PF fecham o cerco à família Lula da Silva. Há um procedimento investigativo criminal no DF ; a operação Zelotes investiga Luís Cláudio, o filho de Lula, por tráfico de influência ; a CPI da CARF, no Senado, analisa pedido para ouvir Lula e seu filho ; a operação Lava Jato investiga o amigo de Lula, José Carlos Bumlai, de fazer intermediação para compra de um navio sonda da Petrobras ; são investigados os pagamentos feitos à LILS, empresa do ex-presidente, pelas palestras que proferiu mundo afora ; a COAF (uma bomba) descobre transações bancárias de quase meio bilhão de reais nas contas de Lula, Palocci, Erenice Guerra e Fernando Pimentel. Essa história ainda vai render por muito tempo. Abrindo as comportas As comportas são abertas em todas as instâncias. No Congresso, a CPI do HSBC continua a investigar contas de brasileiros na Suíça. O STF, a par da possibilidade de indiciar o presidente da Câmara, investiga parlamentares, entre eles, os deputados Roberto Goes (PDT-AP) e Bernardo Santana (PR-MG), além do senador Ivo Cassol (PP-RO). O juiz Sérgio Moro, que acaba de condenar a quase 20 anos de prisão o herdeiro da empreiteira Mendes Junior, vai ouvir o ex-diretor da Petrobras, Renato Duque. Pode vir mais bomba deste depoimento. O TSE deve escolher Gilmar Mendes como relator do processo contra a chapa Dilma/Temer. A revista Veja também enfrenta processo. O procurador Reginaldo Pereira Trindade processa a revista no STJ. A paisagem mais se parece uma briga de foice entre cegos no escuro. Longo prazo O clima de litigiosidade que se observa no país certamente continuará por tempo. A política passou a ser um empreendimento que anima novos contendores. Além disso, estamos caindo no imenso vácuo de lideranças. Os maiores líderes nacionais pertencem à geração de 64. O país se ressente da falta de quadros que expressem grandeza e respeito. Na paisagem, quem sobressai é o Poder Judiciário, que começa a assumir o papel de redentor moral da nação. O Parlamento está no fundo do poço em matéria de credibilidade. O Executivo está na lona. O que esperar ? Pelos tempos de amanhã. O Brasil só será potência no longo prazo. Eleições de 2016 As eleições do próximo ano propiciarão a abertura de um ciclo mais radical de renovação política. Veremos perfis assépticos, não contaminados pelo vírus das mazelas tradicionais. Teremos uma campanha mais enxuta, racional e participativa. E modesta no capítulo dos recursos. Mas não se espera por reformas estruturantes no curto prazo. A semente de nova cultura política deverá frutificar. Em condições de influir em 2018. PT O PT será devastado, mas não a ponto de desaparecer. Lula continuará a ser seu ícone. Menos carismático, o bombardeado Lula pode, até, se recuperar. Se a economia de Dilma melhorar e as margens voltarem a ser contempladas com programas assistencialistas. Qual a chance de 0 a 10 ? 3. PMDB O PMDB deverá ter candidatos próprios no maior número de municípios. Pretende conservar e até alargar a base do edifício político. Nunca será um ente harmônico. Terá sempre suas divisões. Precisa ter escopo, programas, ideias. Se continuar a ser amorfo, não resistirá aos novos tempos. PSDB Os tucanos estão sem discurso. Fazem oposição por oposição. Qual é seu projeto para o país ? Todo o esforço do tucanato será nessa direção. O partido precisa chegar até as margens sociais, nos centros e no interior. PSD, PDT, PSB, PP Os partidos médios haverão, igualmente, de procurar seus ideários. Sem doutrina, fenecerão. É possível identificar uma virada à direita, encabeçada pelo PSD de Kassab, uma abordagem de esquerda por parte do PSB, cada um puxando outros partidos médios e pequenos para fortalecer seus territórios. Não haverá espaço para 33 siglas. Dilma É o fim da carreira ? Será que não entraria no Parlamento ? Tem índole para isso ? Lula Andará ainda muitas léguas. Mesmo com a língua cansada. Aécio Tem idade para circular bem na política por um bom tempo. Precisa adensar sua credibilidade. Alckmin Jeitoso, boa conversa, diplomática, precisa ter visibilidade nacional. Serra Preparado, calculista, ambicioso, carece ir às margens. Tomar um banho de povo. Marina Imagem de mulher sofrida, uma amazônica que transpira ética. Mas parece sem força para aguentar o rojão da política. Tipologia eleitoral Atenção, candidatos e assessores. Vejam os principais perfis de candidatos 1. O continuista - Candidato à reeleição na prefeitura, máquina a serviço da candidatura, cabos eleitorais multiplicados, o continuista tem grandes vantagens sobre outros. Particularmente se construiu forte identidade junto à comunidade. Pontos fortes : ações e obras a mostrar. Pontos fracos : mesmice e eventuais denúncias de corrupção/nepotismo, etc. 2. O oposicionista - Deve encarnar situação de mudança, troca de peças velhas na máquina administrativa. Para ter sucesso, precisa captar espírito da comunidade, auscultar demandas, fazer um corpo a corpo, deixar-se mostrar, ganhar confiança do eleitor. Pontos fortes : alternativa à velha ordem ; encarnação do espírito do novo. Se for um perfil já conhecido, impregná-lo com o verniz da renovação. Pontos fracos : pequena visibilidade ; estruturas de apoio mais tênues. 3. A terceira via - O candidato da terceira via apresenta-se como perfil para quebrar a polarização entre situação e oposição. Para angariar apoio de todos os lados, carece organizar um discurso moderado, ouvindo todos os segmentos, buscando uma linha intermediária. E demonstrar que tem melhor programa do que os dois candidatos. Pontos fortes : bom senso, alternativa à polarização acirrada entre grupos, inovação. Pontos fracos : falta de apoios das estruturas.