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Porandubas Políticas

Por dentro da política.

Gaudêncio Torquato
quarta-feira, 18 de abril de 2018

Porandubas nº 570

Abro a coluna com uma historinha de Jânio Quadros. O selo, coronel, o selo? Logo depois de 64, Jânio é chamado ao Rio para depor em Inquérito Policial Militar (o famigerado IPM daqueles tempos de chumbo). Mas o ex-presidente não vai. E diz por que não vai: - Só falo no meu chão, na minha jurisdição. O coronel vai a São Paulo ouvi-lo. À máquina, o sargento escrevente e, ao lado de Jânio, seu amigo Vicente Almeida. O coronel começa: - Dr. Jânio Quadros, em que dia e ano o senhor nasceu? Jânio arregala os olhos, entorta-os e volta-se para o lado: - Vicente, meu bem, será que ele não sabe? Não pode ser. O coronel não entende: - Não sabe o quê? - Que perguntas têm que ser por escrito. Está na lei, coronel. Na lei. O depoimento vai indo, por escrito. O coronel tira um maço de cigarros, oferece. Jânio pega-o na ponta dos dedos, passa de uma mão à outra: - Vicente, meu bem, que coisa. O que é isto? Que estranho, Vicente! Nunca havia visto. O coronel irrita-se: - Por que o espanto, dr. Jânio? É um cigarro americano Marlboro. - Sim, sim, meu caro coronel, sei-o, sei-o muito bem. Mas, onde está o selo? O selo, coronel? O selo? O IPM acabou. (Historinha contada por Jô Soares). Aécio vira réu Aécio entrou na lista dos réus. Sua eleição em MG fica complicada. Nuvens cinzentas obscurecem os caminhos do senador. Os políticos expandem suas taxas de medo. A Lava Jato continua batendo forte. A campanha paulista A pesquisa Datafolha desta segunda-feira começa a desvendar a batalha que se travará em São Paulo, que agrega cerca de 35 milhões de eleitores. Será um dos pleitos mais disputados do país. João Doria, PSDB, sai na frente. Trata-se de um perfil com grande visibilidade adquirida nos últimos tempos, desde a campanha que ganhou em 2016 para prefeito de São Paulo. João é aguerrido, posiciona-se no centro-direita e sabe lidar muito bem com a comunicação, a partir do uso das redes sociais. Desafio: diminuir rejeição João Doria vestiu o manto do novo, com sua cara mais asséptica e não contaminada pelo vírus da velha política. Mas o bom índice de Doria - hoje ostentando 29% de intenção de voto e 36% quando Paulo Skaf não aparece na disputa, precisa ser bem administrado. Sua rejeição é alta. Sabemos quão é difícil a um candidato segurar seus bons índices durante a campanha. Há ainda dois fatores que precisam ser levados em conta: a pequena visibilidade e o pouco conhecimento que se tem do atual governador Márcio França, candidato à reeleição. O índice de rejeição a Dória, que chega a 34%, deve ser motivo de preocupação. Os paulistanos, principalmente, sinalizam insatisfação pelo fato de João ter deixado antes mesmo do meio o mandato à prefeitura da metrópole. O poder da caneta Márcio França, por sua vez, terá a favor o poder da caneta. Esse fato atrai a prefeitada. Ocorre que mesmo esse poder tem limites, até porque não poderá exercê-lo em plenitude nas margens próximas às eleições. E os prefeitos podem não dispor mais do prestígio que tinham no início do mandato. PMDB com França? Diz-se que dos 82 prefeitos do PMDB, ele teria o apoio de 70. A se confirmar. Paulo Skaf, que já se candidatou na campanha anterior, apresenta surpreendentes 20%. Tem cacife para expandir esse índice? Tem fôlego para enfrentar uma contundente campanha? Se fechar o apoio do PSB, com ajuda do seu amigo Flávio Rocha, adicionará mais tempo ao seu programa eleitoral. Claro, se o PMDB não apresentar candidato à presidência da República. Luiz Marinho O candidato do PT ao governo de São Paulo, ex-prefeito de São Bernardo do Campo, Luiz Marinho, não irá longe. Não possui uma identidade do porte de São Paulo. Parece bem menor do que o gestor que o Estado exige. Marinho firma sua imagem sobre o eixo do sindicalismo. Foi presidente da CUT, hoje uma organização que se junta ao MST e ao MTST para promover mais do que greves: depredações, arruaças, devastação de ruas e lojas. Se chegar aos 15%, fará razoável performance. O recolhimento de Lula Para quem passa o dia batendo papo, deixar a conversinha de lado deve ser um sacrifício. Diz-se que o abatimento de Luiz Inácio tem por motivo principal a falta de conversa com amigos e políticos. Lula respira política 24 horas por dia. Trata-se de um perfil acostumados aos momentos de felicidade e de infelicidade na arena política. Por isso, deverá sofrer se ficar muito tempo preso. Deve ter o conforto de ouvir, todas as manhãs, a saudação em coro de militantes nas proximidades: "bom dia, presidente Lula". Entre a cruz e a caldeirinha O PT vai ter de enfrentar o problema: deixar o nome de Lula circulando como candidato até o último momento ou, desde já, dar vazão ao plano B e escolher seu substituto. Cabe lembrar que o PT carecerá de um nome no pleito para ocupar os palanques estaduais. Formar uma grande bancada será seu objetivo. Este analista não aposta na hipótese de deixar o nome de Lula até o instante em que for considerado inelegível pelo TSE. Até agosto, o substituto deve sair a campo. P.S. O maior eleitor do PT continuará sendo Lula. O Fórum do LIDE Sem a presença de João Doria, às voltas com a pré-campanha em São Paulo, terá início, hoje, em Recife, no hotel Sheraton Reserva do Paiva, o 17º Fórum Empresarial do LIDE, o maior que se faz no país reunindo empresários, políticos e gestores públicos. A conjuntura nacional será objeto de diversos painéis, que debaterão temas centrais da realidade brasileira - Competitividade e Emprego, a Era Reformista, Democracia e Competitividade, entre outros -, sob a batuta de Luiz Fernando Furlan, Chairman do LIDE, e Roberto Giannetti da Fonseca, vice-Chairman. O Brasil à direita ou à esquerda? A pergunta embute, além da dúvida, intensa preocupação da sociedade. Uma inclinação do país à esquerda causa imensa preocupação, eis que o petismo-lulismo-dilmismo, somado ao psolismo (PSOL), sob a teia de vandalismo tecida por CUT, MST, MTST, amedronta formidáveis setores, a partir dos campos de negócios, investidores, forças do chamado mercado, e até fortes contingentes das classes médias. Um Brasil à esquerda teria o apoio de parcelas das margens - que tendem a optar por uma via populista ou neo-populista, segmentos da intelectualidade, núcleos da igreja católica, as militâncias engajadas, entre outros compartimentos. Quem teria perfil para atrair esses setores, com Lula fora do páreo? Direita Já a ponta direita do arco ideológico tende a agregar os blocos mais conservadores, proprietários rurais, margens indignadas contra a insegurança pública e parcelas das classes médias mais abastadas. Essa frente de direita é abertamente militarista, defendendo o uso de armas por parte da população e mais rigor nas punições. O momento de intranquilidade vivido pelo país abre uma larga janela para essa direita. Entre os perfis que preenchem os espaços dessas demandas estão Jair Bolsonaro e Flávio Rocha, o primeiro com uma visão de Estado mais gordo, o segundo com uma visão de Estado mais enxuto. Centro Na visão deste consultor, a tendência do eleitor médio é a afastamento das extremidades do arco ideológico e aproximação ao centro. O que significa a escolha de perfis não radicais. Por isso, a probabilidade da eleição de um candidato de centro é maior do que a eleição de um representante fincado nas margens. Um arquipélago Ocorre que o centro tem o formato de um arquipélago com ilhas separadas umas das outras. Se os candidatos da área central não se integrarem, estarão facilitando a escolha de um perfil de direita ou de esquerda. O vetor de força para ganhar a campanha será formado pelos eixos que locomovem as candidaturas do centro. Sem essa unidade, os centristas estarão cometendo um suicídio. Valores do centro O centro agrupa valores tradicionais de nossa formação cultural: o equilíbrio, a harmonia, a integração, a solidariedade, o companheirismo, a boa vontade, a disposição para o diálogo. A confusão, as querelas, a luta renhida entre grupos e classes - podem, até, ocorrer circunstancialmente, pontualmente, mas não ancoram a índole brasileira. Basta ler os nossos clássicos: Gilberto Freyre, Sérgio Buarque de Holanda, Dante Moreira Leite, Darcy Ribeiro, Raymundo Faoro, entre outros. Fadiga democrática A observação é do escritor, jornalista e poeta belga David Van Reybrouck: o mundo atravessa um momento de fadiga democrática. Quais são os sintomas da síndrome? Vejamos alguns: apatia do eleitor, abstenção às urnas, instabilidade eleitoral, hemorragia dos partidos, impotência das administrações, penúria no recrutamento, desejo compulsivo de aparecer, febre eleitoral crônica, estresse midiático extenuante, desconfiança, indiferença e outras mazelas. Legitimidade E arremata o belga: "a democracia tem um problema sério de legitimidade quando os eleitores não dão mais importância à coisa fundamental, o voto". Marina cresce Marina Silva cresce com Lula saindo do páreo. Mas continua uma dúvida: Marina teria condições de sustentar no gogó uma campanha contundente e cheia de curvas? Trata-se de um perfil asséptico e que expressa honestidade e ética. É muito confiável aos jovens. Barbosa Joaquim Barbosa está dando sinais de que poderá entrar na corrida presidencial. Joaquim pode encarnar a voz dos mais carentes e humildes. Mas se conterá nos debates televisivos? Parece bom de briga. O nome de Deus em vão É tolo pedir aos deuses o que os homens podem fazer sozinhos. O axioma, das Exortações do filósofo grego Epicuro (341-270 a.C.), é um alerta contra a ideia de que os homens têm o direito de invocar o poder divino a qualquer hora e em intensidade modulada para resolver equações terrenas. Quando o nome de Deus é usado em vão com tanta frequência, é porque aqueles que o chamam estão desesperados e clamam urgentes providências divinas para tirá-los de alguma enrascada, tentam repartir culpas por atrasos no cronograma humano de obras sob sua responsabilidade, ou ainda, se esforçam para usar a calota dos céus contra "forças demoníacas" que teimam em fechar os caminhos da salvação. Sobrenome de parlamentares Nesses tempos nebulosos, a moda virou usar em vão o apelido Lula e os sobrenomes de Moro e Bolsonaro nos nomes de parlamentares. Quanta imbecilidade. (Por que não usar adjetivos de qualificação, mais apropriados para esses tempos lamacentos? Honesto, desonesto, ético, corrupto, sério, brincalhão, digno, indigno e por aí vai).
quarta-feira, 11 de abril de 2018

Porandubas nº 569

Abro a coluna com duas historinhas, uma da Bahia, outra do Maranhão. Deu-se o vice-versa Dr. Dantinhas, deputado da Bahia, elo de todo um clã político do Estado (neto do barão de Geremoabo), foi convidado para padrinho de casamento da filha de um coronel de uma cidade do sertão. No dia de viajar, recebeu telegrama: - Compadre, não precisa vir. Deu-se o vice-versa. Menina morreu. Puxa-sacos Tempos eleitorais. Tempos de fidelidade e infidelidade. Guararé era cabo eleitoral do governador Sebastião Archer, do Maranhão. Convenção do PSD, alguém acusou Guararé de puxa-saco. Guararé argumentou: - Cada um puxa o saco de quem pode. Eu puxo o saco do senhor, governador Archer. O senhor já puxa o saco do senador Vitorino Freire. E o senador puxa o saco do general Dutra. É a lei da fidelidade partidária. Nuvens pesadas As nuvens da política continuam pesadas. Não há como evitar a montanha de interrogações à nossa frente. Por mais que partidos, alas, grupos de um lado e de outro queiram enxergar um ambiente claro, não conseguem. A prisão de Lula deixa muitas dúvidas no ar. Se há algo que parece transparente, é certamente o aumento do nível de tensões dentro do petismo e fora dele. O discurso do ódio é coisa visível e sobre isso não há dúvidas. Para onde vai o PT? Este consultor, por dever de ofício, tentará fazer uma análise da situação, mesmo sabendo que a emoção de um leitor aqui, outro leitor ali, vai considerá-la parcial. Vamos lá. O que será do PT nesse percurso imediato à prisão de Lula? Não arrefecerá, como se pode imaginar. E menos ainda desaparecerá. Lula, individualmente, é o maior eleitor do país. Terá influência sobre o processo eleitoral. Para começo de conversa, mesmo vivendo uma crise, o PT é o partido com a maior bancada após o fechamento da janela partidária: 57 deputados (data de hoje). O PP está atrás, com 54. O MDB tem hoje 53. Mas os números oficiais só serão conhecidos sexta-feira, 13. Pode ser que haja ligeira alteração. Bancadas estaduais É evidente que o PT deverá usar o "eleitor Lula" como alavanca das bancadas nos Estados, seja a da Assembleia Legislativa seja a da Câmara Federal. A militância, que se agita ao calor da prisão e fazendo pequenos comícios todos os dias defronte à PF de Curitiba, quer se transformar na tuba de ressonância do lulopetismo. Entre a cruz e a caldeirinha Gleisi Hoffmann, presidente da sigla, que ganhou status de advogada e porta-voz de Lula, está sendo mestre de cerimônia de orações e perorações que ali se realizam. Mas Gleisi precisa atualizar sua situação na OAB e, como advogada, ameaça perder o cargo de senadora, eis que o regulamento proíbe a um profissional da advocacia na condição de parlamentar é vetada a tarefa de defender uma causa contra uma empresa pública. No caso, Lula versus Petrobras. A senadora está entre a cruz e a caldeirinha. Arrufos e querelas Em alguns Estados, veremos pequenas mobilizações sob o desfraldar de bandeiras vermelhas do PT e de suas extensões, MST e MTST. Grupos contrários, sob a estética do verde-amarelo da bandeira nacional, tentarão fazer o contraponto. Arrufos, querelas, brigas e algum sangue correndo por faces e cabeças, farão parte da paisagem. Nas entranhas do PT, é provável um racha entre alas, uns defendendo linha aguerrida de ataques, outros tentando arrumar o discurso para entregá-lo ao substituto de Luis Inácio. Fernando Haddad, ex-prefeito de São Paulo, encabeça a lista. Pressão sobre os tribunais Numa outra frente, o PT deverá continuar a fazer pressão sobre o STF, particularmente na direção do julgamento das ADCs - Ações Diretas de Constitucionalidade - que permanecem sob a relatoria do ministro Marco Aurélio. O PEN está desistindo de uma. Mas o ministro Marco Aurélio dá sinais de que pretende entrar com um requerimento amanhã para forçar a votação de outra ADC, que trata da prisão após decisão em 2ª instância. Novamente Weber Vai depender da aceitação do requerimento pela ministra Cármen Lúcia. A ministra Rosa Weber continua a ser um ponto de interrogação. Comenta-se que, mesmo defendendo a ideia de prisão após esgotados todos os recursos, tende a votar pela manutenção da jurisprudência já firmada pelo STF. Se assim for, o imbróglio chega a um ponto final. STJ em junho Mas a defesa de Lula vai insistir no STJ e até no STF. Recursos devem ser interpostos contra decisão do ministro Fachin. Faz parte da estratégia petista adiar ad aeternum a decisão final dos Tribunais Superiores. Se o STF der uma resposta imediata ao caso das ADCs, a situação estará finalizada. Há quem veja o problema sendo levado até mais adiante. Lula candidato? Difícil será sustentar a candidatura de Lula com ele na prisão. Mas o PT confia em seus recursos protelatórios. É provável que o TSE o enquadre na Lei da Ficha Limpa. 17 de setembro será a data final para torná-lo inelegível. Espera-se que o Tribunal dê uma decisão antes, eis que a eleição se daria apenas 18 dias depois. Ademais, duvida-se que o PT corra o risco de deixar o nome de Lula na urna para sofrer impugnação depois. Interrogações e dúvidas no ar. PT e seu entorno As pressões também emergem do paredão partidário. Governadores petistas e outros que aderiram ao PT, como Renan Filho, do MDB de Alagoas, correm à Curitiba para participar da vigília que a militância faz nas imediações da PF. Maneira demagógica de dizer que estão ao lado de Lula. Na campanha, usarão as fotografias para iludir a boa-fé dos eleitores. O anfitrião da caravana governista em Curitiba é o senador medebista Roberto Requião. O povo sabe das coisas 7 de abril, sábado, por volta de 21h, em Monte Verde, Minas Gerais, agradável estância climática a 1.560 metros de altitude. 14º C. Ao levar o carro a um estacionamento próximo ao restaurante, este consultor, recebido pelo manobrista, depara-se com abrupta pergunta: "professor, e agora que Lula foi preso, quem tem condições de levar a melhor no pleito de outubro"? Após pequeno susto e tomando ciência do acompanhamento que o manobrista faz do Jornal da Cultura (TV Cultura, 21h15 às 22h15), passei a discorrer sobre o cenário político-jurídico. Saí impressionado desta primeira cruzada de pontos de vista. E as ADCs? Ao voltar para pegar o carro, o manobrista se fazia acompanhar de outro rapaz, que exigiu mais uma rodada de conversa, desta feita para saber minha visão sobre os ministros do STF, particularmente sobre os ministros Gilmar Mendes, Rosa Weber e Marco Aurélio. Mais uma pergunta reveladora do nível de entendimento do clima vivido pelo país: "o senhor acha que as ADCs poderão ser votadas na próxima quarta-feira como promete o ministro Marco Aurélio"? Espantei-me com o domínio temático. E, mais ainda, com o vocabulário técnico empregado. O povo acompanha As ADCs entraram em nossa conversa, introduzidas por eles de maneira natural. Lá fui eu tentar fazer inferências sobre a insistência do ministro Marco Aurélio, sobre a possibilidade de ele apresentar a questão "em mesa" ou um requerimento à mineira presidente Cármen Lúcia. Quase uma hora de papo com duas extraordinárias figuras do povo. De igual para igual. A certa altura, não tive como deixar de cumprimentá-los pela boa conversa. Responderam: "nós não sabemos os nomes dos 11 jogadores da seleção brasileira, mas os 11 ministros do Supremo sabemos quem são". Podem crer. O Brasil está mudando. PEC da prisão O presidente da Câmara, Rodrigo Maia, pré-candidato do DEM à presidência da República, promete colocar em votação uma PEC sobre a prisão após condenação em 2ª instância. Claro, só depois da intervenção na segurança pública no Rio de Janeiro. A legislação não permite votação de PEC enquanto houver intervenção Federal em algum Estado da Federação, ou seja, como a intervenção no RJ pode acabar ao final do ano, é possível que os parlamentares a votem em final de novembro ou em início de dezembro. Com forte possibilidade de mudar a jurisprudência, deixando a prisão para após sentença transitada em julgado. O parlamento em 2019 O corpo parlamentar de 2019, a ser eleito em outubro, deverá internalizar muitas lições tiradas da cartilha política da era Lava Jato. Podemos dizer que teremos parlamentares mais maduros, mais compromissados com as demandas de suas bases e, ainda, seriamente inclinados a dar passos avançados na fronteira das reformas. Não dá mais para protelar decisões fundamentais como reforma da previdência, reforma fiscal e a própria reforma política, esta de maneira profunda. Se isso não ocorrer, o castigo de Sísifo tomará conta do país (tentar depositar a pedra no topo da montanha; tarefa que desempenhará todos os dias por toda a eternidade). Ambição desmesurada No meu livro Marketing Político e Governamental, cito um pensamento do cientista político Robert Lane, em Political Life, que explica como a ambição desmesurada pelo poder funciona como um bumerangue. "A fim de ser bem-sucedida em política, uma pessoa deve ter habilidades interpessoais para estabelecer relações efetivas com outras e não deve deixar-se consumir por impulsos de poder, a ponto de perder o contato com a realidade. A pessoa possuída por um ardente e incontrolável desejo de poder afastará, constantemente os que a apóiam, tornando, assim, impossível a conquista do poder".
quarta-feira, 4 de abril de 2018

Porandubas nº 568

Abro a coluna com duas historinhas, uma do Pará, outra da Paraíba. Socorro, socorro... João Botelho, candidato a prefeito de Belém, passou o dia inteiro anunciando um comício, à noite, na praça Brasil. Chegou na praça, não havia ninguém. "Será que estou no lugar errado? Será que não estou enganado?", perguntou ao assessor. - Não houve engano não, deputado, a praça é esta mesma. Foi ao bar mais perto, pediu dois caixotes de madeira, pôs no centro da praça, subiu e passou a berrar alucinado: - Socorro, Socooorro, Socoooooooro! Correu gente de todo lado para ver o que era. Plateia arrumada, Botelho começou o comício: - Socorro para um candidato... E fez o comício. Silêncio, silêncio.... Flávio Ribeiro, presidente da Assembleia (depois foi governador da Paraíba), estava irritado com as galerias, que aplaudiam e vaiavam durante um debate entre o deputado comunista Santa Cruz e o udenista Praxedes Pitanga. De repente, tocou a campainha, pediu silêncio e avisou, grave: - Se as galerias continuarem a se manifestar, eu evacuo. Felizmente, as galerias se calaram. Inferência A inferência é uma asserção sobre o desconhecido com base no conhecimento de alguma coisa a ela relacionada: circunstâncias, análise de perfis, declarações de personagens etc. Faz parte do jornalismo interpretativo, disciplina que ministrei por anos a fio nas faculdades de comunicação de São Paulo. Pode ser uma observação certeira ou também pode ser algo fora de propósito. Sob essas duas posições, farei uma inferência: Rosa Weber tende a votar com a maioria no caso de prisão em 2ª instância. Até hoje, o entendimento do STF acolhe essa decisão. Mas a mudança de entendimento poderá ocorrer hoje, quarta, se todos os ministros do Supremo derem seu voto ou amanhã, quinta. Empate Especula-se que a votação dará empate, ou seja, será 5 a 5. O desempate caberia à ministra Rosa Weber, que sempre disse que tende a acompanhar a maioria em matérias complexas ou de mudança de entendimento. Já chegou a dizer, no passado, que a prisão só poderia ocorrer depois de esgotados todos os recursos. Se couber a ela o desempate, é possível inferir que Rosa Weber vai mudar o entendimento do Supremo mais uma vez. In dubio, pro reo? Minha ilação é esta: ao julgar o recurso de Lula contra a prisão em 2ª instância, o STF estará também decidindo alterar sua visão, ou seja, tende a decidir que a prisão só poderá ocorrer após esgotados todos os recursos nas instâncias superiores. Portanto, a ilação é extraída do próprio pensamento da ministra Weber, exposto no passado, e também sua inclinação para votar com a maioria. Em caso do provável empate, adiciono na ilação o princípio do Direito: in dubio, pro reo (na dúvida, pelo réu). E a opinião pública De qualquer maneira, a polêmica já está firmada. Se votar contra Lula, a ministra Weber vai enfrentar a contrariedade de advogados, os operadores do Direito que veem no esgotamento de todos os recursos o rígido cumprimento da letra constitucional. Por outro lado, teria o apoio irrestrito de juízes e procuradores, que defendem a prisão após decisão da 2ª instância, sob o refrão de que "o Brasil é o país da impunidade". E como a opinião pública vai reagir? De um lado, atribuirá uma decisão desfavorável ao ex-presidente como um viés "político". Se a decisão for favorável, a militância petista vai reagir com euforia e aplausos. Sinto que a ministra Rosa Weber não vai atender o apelo do amigo Sérgio Moro. Lembro: a inferência pode estar errada. Imagem do Judiciário O fato é que, seja qual for a decisão da nossa mais alta Corte, a imagem do Judiciário está muito borrada. De um lado, pelas querelas individuais, que transformam o Supremo em um arquipélago de 11 ilhas, de outro, por julgamento de matérias que seriam de competência do Poder Legislativo. O STF é em parte responsável pelo que se designa "judicialização da política". A Corte perdeu parcela ponderável de sua credibilidade. Imagens borradas As imagens dos ministros do STF estão borradas. Mesmo a do decano da Casa, o ministro Celso de Mello, que, aliás, promete um voto denso e longo hoje. (A depender do tempo que terá seu voto, o julgamento do recurso de Lula poderá se estender até amanhã). Gilmar exibe a imagem mais borrada. Na lista, estão ainda os ministros Toffoli, Lewandowski, Barroso e Marco Aurélio. A presidente Cármen Lúcia também gera certa contrariedade, inclusive por parte dos pares. Imagem negativa? O ministro Gilmar, ainda ontem em Portugal, disse que a condenação de Lula contribui para a imagem negativa do Brasil no exterior. Confesso que tive dificuldade de entender a assertiva por imaginar que um cidadão brasileiro, qual seja sua identidade, ao ser condenado pela Justiça, mostra que a instituição judiciária no Brasil funciona. O raciocínio do ministro deixa no ar a dúvida: a imagem do nosso país não seria negativa se ele fosse inocentado? Quer dizer que a Justiça errou em condenar Lula? Que reversão de conceitos, hein? Rodrigo Maia O presidente da Câmara, Rodrigo Maia, está fazendo intensa articulação para fechar apoio de partidos à sua candidatura. Rodrigo é um exímio articulador. Dialoga com todos e respeita compromissos assumidos. Tem grande potencial de crescimento na campanha. Basta ser conhecido. Já começou a viajar por todo o país, mostrando a cara e as ideias. Até junho analisará suas possibilidades. Seja qual for a alternativa, Rodrigo se apresenta como protagonista dos mais importantes para o amanhã. 20 pré-candidatos Antes que esqueçamos os nomes dos pré-candidatos à presidência da República, ei-los: 1) Flávio Rocha - PRB (10); 2) Ciro Gomes - PDT (12); 3) Lula - PT (13); 4) Michel Temer/Henrique Meirelles - MDB (15); 5) Vera Lúcia - PSTU (16); 6) Jair Bolsonaro - PSL (17); 7) Marina Silva - Rede (18); 8.) Álvaro Dias - PODEMOS (19); 9) Cristovam Buarque - PPS (23); 10) Rodrigo Maia - DEM (25); 11) Eymael - PSDC (27); 12) Levy Fidelix - PRTB (28); 13) João Amoedo - Novo (30);14) Valéria Monteiro - PMN (33); 15) Fernando Collor - PTC (36); 16) Geraldo Alckmin - PSDB (45); 17) Guilherme Boulos - PSOL (50); 18) João Vicente Goulart - PPL (54); 19) Manuela d'Ávila - PCdoB (65) e 20) Cabo Daciolo - AVANTE (70). Indefinidos Ainda há indefinição por parte de cinco partidos que pretendem lançar candidatos próprios: 1) Paulo Rabello de Castro - PSC (20); 2) Rui Costa Pimenta - PCO (29) ou apoio ao PT;3) Suêd Haidar - PMB (35); 4) Aldo Rebelo, Beto Albuquerque ou Joaquim Barbosa - PSB (40) e 4) PV - A definir. Quatro partidos já declararam apoio: PTB - dará apoio ao PSDB. O PP apoiará o MDB; o PCB deverá apoiar o PSOL e o PHS tende a apoiar o PODEMOS. Cinco partidos ainda não possuem definição sobre o pleito: PR, PEN, PROS, SD e PRP. (Via Vítor Ribeiro). Joaquim, mistério O ex-presidente do STF, Joaquim Barbosa, está ingressando no PSB, mas continua a ser um mistério. Será ou não candidato à presidência? Aguentará o tranco de uma campanha contundente? Sua saúde está bem? Todos esses ângulos pesam na definição de uma candidatura. Márcio França O vice-governador de São Paulo, Márcio França (PSB), assume o governo de São Paulo nessa sexta-feira. Trata-se de um perfil moderado, com boa expressão e grande capacidade de articulação. Na condição de governador será candidato ao governo. Assumirá o comando do Estado mais rico do país, com orçamento de 216 bilhões de reais e PIB próximo de dois trilhões de reais. Começou sua carreira política em 1989 na cidade de São Vicente, a mais pobre da Baixada Santista. Foi vereador e prefeito por dois mandatos. Tem 54 anos e foi deputado Federal. Doria O prefeito João Doria passa o comando da metrópole paulista ao vice Bruno Covas. Os dois se entendem muito bem. João vai começar o seu périplo pelo interior do Estado. E haja sola de sapato. São Paulo agrega o maior colégio eleitoral do país: mais de 33 milhões de eleitores. Seu principal desafio: explicar a razão pela qual deixou a prefeitura no meio do mandato. Como é bom de discurso, é bem provável que convença. Marketing eleitoral Nesse início de pré-campanha, talvez seja útil mostrar pequenas lições de marketing eleitoral. Marketing ganha campanha? Marketing não ganha campanha. Quem ganha campanha é o candidato. Marketing ajuda um candidato a ganhar a campanha, ao procurar maximizar seus pontos fortes e atenuar seus pontos fracos. O marqueteiro, aliás, profissional de marketing, (não gosto do designativo porque tem conotação pejorativa) é importante, na medida em que funciona como um estrategista que define linhas de ação, orienta a escolha do discurso, ajusta as linguagens, define padrões de qualidade técnica, sugere iniciativas e até pondera sobre o programa do candidato, os compromissos e ações a serem empreendidas. O profissional de marketing precisa, sobretudo, ser um profissional com visão sistêmica de todos os eixos do marketing. Que não entenda uma campanha apenas como um apelo publicitário, uma proposta de marketing televisivo. Que seja capaz de visualizar os novos nichos de interesse de uma sociedade exigente, crítica e sensível aos mandos e desmandos dos governantes. Pequeno roteiro Lições curtas de marketing eleitoral: - Saber ler corretamente o meio ambiente, os novos valores do eleitorado e as motivações de voto. - Escolher o discurso para o momento adequado. - Definir segmentos-alvo do eleitorado. - Selecionar sólidos reforçadores de decisão de voto. - Descentralizar a campanha para multiplicar pontos de eco e agregar organizações intermediárias. - Compor programa simples, objetivo, factível. - Trabalhar com modelos diferenciados de pesquisa. - Programar ações de surpresa e impacto. - Organizar estrutura adequada e estabelecer cronograma prevendo: lançamento da campanha (junho); crescimento (julho - 1ª quinzena de agosto); consolidação/maturidade (segunda semana agosto - primeira quinzena de setembro); clímax (segunda quinzena de setembro - semana da eleição); declínio (evitar que esta fase ocorra antes da eleição). - Garantir meios e recursos.
quarta-feira, 28 de março de 2018

Porandubas nº 567

Abro a coluna com uma deliciosa historinha de Apodi, no Rio Grande do Norte. O coronel Lucas Pinto, que comandava a UDN no Vale do Apodi/RN, não dormia em serviço. Quando o Tribunal Eleitoral exigiu que os títulos eleitorais fossem documentados com a foto do eleitor, mandou um fotógrafo "tirar a chapa" do seu rebanho, aliás, do seu eleitorado. Numa fazenda, um eleitor tirava o leite da vaca quando foi orientado a posar para a foto. Não teve dúvida: escolheu a vaca como companheira do flagrante. Mas o fotógrafo, por descuido, deixou-o fora. O coronel Lucas Pinto não teve dúvida. Ao entregar as fotos aos eleitores, deparando-se com a vaca, não perdeu tempo e ordenou ao eleitor: "prega a foto aí, vote assim mesmo, na próxima eleição, nós arrumamos a situação". Noutra feita, o coronel levou as urnas de Apodi para o juiz, em Mossoró, quase 15 dias após as eleições. Tomou uma bronca. - Coronel, isso não se faz. As eleições ocorreram há 15 dias. - Pode deixar, seu juiz. Na próxima, vou trazer bem cedo. Não deu outra. Na eleição seguinte, três dias antes do pleito, o velho Lucas Pinto chegava com um comboio de burros carregando as urnas. Chegando ao cartório, surpreendeu o juiz: - Taqui, seu juiz, as urnas de Apodi. - Mas coronel, as eleições serão daqui a três dias. - Ah, seu juiz, não quero levar mais bronca. Tá tudo direitinho. Todos os eleitores votaram. Trouxe antes para não ter problema. Idos das décadas de 50/60. Não havia empreiteiras financiando campanhas. A empreitada ficava mesmo a cargo dos coronéis. Moro em Roda Viva Foi uma bela entrevista de Sérgio Moro no melhor programa jornalístico da TV brasileira: o Roda Viva, da TV Cultura. Começou meio inseguro. Acabou firme e passando muita credibilidade em suas colocações. Foi instigado e pressionado. Citou ministros que admira. Lembrou que já trabalhou com a ministra Rosa Weber, em quem distingue seriedade. Weber é a incógnita no dia 4 de abril no STF. Dela, dependerá a mudança de orientação da Corte sobre prisão após condenação em 2ª instância. Hoje, a contagem estaria em 5 a 5. A ministra desempataria. Efeito dominó Se a Suprema Corte decidir pela prisão após a confirmação da condenação pelo STJ ou a causa transitada em julgado, haverá um efeito dominó nas prisões. Os presos condenados na 2ª instância começarão a recorrer. A tendência é a de saírem das prisões. O decano Celso de Mello defende essa postura, ao lado de quatro outros, inclusive o ministro Gilmar Mendes, que mudou de posição. Revisão Em 2016, o Supremo já decidira, por 6 votos a 5, que o cumprimento de pena poderia ocorrer após condenação em 2ª instância. Petistas e advogados defendem que a prisão só pode ocorrer após o trânsito em julgado no STF. A presidente Cármen Lúcia, a quem cabe definir a pauta, foi pressionada para colocar o tema em discussão. Além do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, outros protagonistas estão apreensivos sobre o julgamento dia 4 de abril, entre eles José Dirceu, João Vaccari Neto e André Vargas; Sérgio Cabral, Eduardo Cunha; Gim Argello e Anthony Garotinho. Há duas Ações Diretas de Constitucionalidade a serem avaliadas e julgadas pelo Supremo. A ministra Cármen não quer colocá-las antes do julgamento do habeas corpus de Lula. A imagem do Supremo Está em jogo a imagem do Supremo. Nunca a alta Corte foi tão execrada como se viu nos últimos dias. A viagem do ministro Marco Aurélio ao Rio de Janeiro, onde iria tomar posse na presidência de um Conselho, azedou o clima. O ministro tirou do bolso o bilhete do seu vôo e a sessão foi suspensa, mesmo podendo continuar com a maioria dos ministros presentes. As redes sociais puseram lenha na fogueira. Lula apareceu como o grande beneficiado pelo STF. E por falar em Lula... A caravana de Luiz Inácio pelo Sul do país foi um tiro no pé. Por todos os lados, os opositores ao PT e ao lulismo reagiram com paus, pedras e ovos jogados sobre o palanque do ex-presidente. Tratores impediram a passagem da caravana. RS, SC e PR mostraram sua revolta contra o petismo. O ex-deputado Paulo Frateschi foi atingido na orelha. Lula se indignou, acusando fazendeiros, trabalhadores e desempregados que participaram das manifestações. Para ele, trabalhadores deveriam fazer sua defesa. Puxão de orelha Recebeu, por isso, forte puxão de orelhas da senadora Ana Amélia, que, falando no Senado, lembrou ao ex-presidente não ser ele o dono da vontade de trabalhadores. Luiz Inácio, é sabido, não enxerga o buraco em que o lulo-dilmismo abriu no país. Considera-se o salvador da pátria. Ou será que começou a cair sua ficha? Centro embolado O centro está embolado. Geraldo Alckmin, Michel Temer, Rodrigo Maia, Henrique Meirelles, Álvaro Dias, João Amoedo, Fernando Collor, Flávio Rocha (mais à direita) formam um núcleo que aposta fichas no centro da sociedade - classes médias. Se não houver um processo de decantação das águas centrais, é provável um fortalecimento dos candidatos das margens, tanto à direita, quanto à esquerda. Bolsonaro e o candidato das esquerdas seriam beneficiados. Ciro Gomes, na ausência de Lula, se fortalece. Final de junho é o prazo que os eventuais candidatos estão se dando para análise de sua viabilidade eleitoral. Cuidado com promessas Leitores e eleitores. Muita precaução, desde já, contra promessas mirabolantes. Lembro uma delas, feita por Antônio Luvizaro, candidato ao governo da Guanabara nos idos de 60. Indagado sobre uma questão que provoca dores de cabeça no cidadão, o trânsito, disparou a resposta: "Tenho um programa com soluções rápidas e práticas. Vejam que solução barata: carro novo vai pelo túnel novo, carro velho só entra no túnel velho". Amoedo Cobram deste consultor uma análise sobre João Amoedo, o candidato do Partido Novo. Pelo que ouço de amigos (não ouvi discurso dele ainda), trata-se de um empresário com experiência no campo financeiro, um liberal de alto coturno. Preparado, é o que me dizem. Tenho minhas restrições ao Partido Novo, que não aceita filiação de políticos militantes. Só aceitam figurantes sem experiência política. Um paradoxo. Política sem políticos. Se esse partido, caso chegasse ao topo do poder, poderia governar? Sem alianças? Uma utopia. Deixem o Amoedo sonhar. Faz bem. Álvaro Dias Outros me cobram uma avaliação do senador Álvaro Dias. Trata-se de um perfil que merece respeito. Foi um bom líder do PSDB. Não sei bem as razões de sua saída da floresta tucana. Deve ser por conta de conveniências locais (do Paraná). Mas o senador está muito restrito ao Paraná. Não é conhecido em outras regiões. E seu partido - Podemos -, criado mais recentemente, não tem força e tradição. Estrutura frágil para suportar uma campanha renhida. Rio violento A intervenção na Segurança Pública do Rio de Janeiro ainda não deu respostas satisfatórias aos anseios sociais. A violência continua dando mostras de que desconhece o aparato policial. Todos os dias, registros de tiroteio e mortes. Ao que se ouve, as forças ainda estão se exercitando, aprendendo a conviver com a violência. O general Braga é visto como a luz no fim do túnel. STF no centro das atenções Nunca a Suprema Corte foi tão monitorada quanto nesses tempos de decisão com viés político. Juízes são divididos em compartimentos partidários, a favor ou contra alguém. Uma mancha sobre a imagem sagrada do STF. Lembrem-se, senhores juízes, do conselho de Francis Bacon: "os juízes devem ser mais instruídos que sutis, mais reverendos do que aclamados, mais circunspetos do que audaciosos. Acima de todas as coisas, a integridade é a virtude que na função os caracteriza". Trump torpedeado Donald Trump, o desajeitado presidente norte-americano, continua cometendo sandices e tomando decisões surpreendentes. Analistas da política norte-americana falam abertamente que se aproxima dele um torpedo destruidor: o impeachment. Difícil, mas não impossível. 116 expulsos EUA, países europeus e aliados estão expulsando 116 diplomatas russos. Impressão é que uma borrasca daqueles tempos da Guerra Fria se aproxima das Nações mais poderosas. O momento é de intranquilidade. Tirem Lula do páreo Apesar da insistente peroração da senadora Gleisi, que preside o PT, de que Lula será o candidato do partido às eleições de outubro, é mais aconselhável tirá-lo da lista. Virou ficha-suja. E com essa estampa estará fora do jogo presidencial. A não ser que Luiz Inácio seja melhor e maior entre os iguais brasileiros. As vias O PT promete inscrever Lula como candidato. O TSE pode negar a inscrição, ao constatar que ele não cumpre os requisitos da lei. Mas ele pode recorrer ao próprio TSE. E, ainda, se perder, pode apresentar recurso ao STF. Mantém-se candidato até que a Corte julgue seu recurso. Se o STF lhe conceder uma liminar, poderá continuar a concorrer. Minha régua: 90% de derrota no Supremo. Após a conclusão do processo no TRF-4, a Corte poderá mandar ofício a Sérgio Moro a fim de que ele decrete a prisão. Claro, a depender do HC preventivo a ser julgado dia 4 no Supremo. 4 tipos de sociedade Costumo contar uma historinha que serve para definir a cultura brasileira. Há quatro tipos de sociedade no mundo. A primeira é a inglesa, a mais civilizada, onde tudo é permitido, salvo o que é proibido. A segunda é a alemã, sob rígidos controles, onde tudo é proibido, salvo o que é permitido. A terceira é a totalitária, pertinente às ditaduras, na qual tudo é proibido, mesmo o que é permitido. E, coroando a tipologia, a sociedade brasileira, onde tudo é permitido, mesmo o que é proibido. Municipalização x nacionalização Questões importantes que florescem no jardim do Marketing Eleitoral: campanhas tendem a ser municipalizadas ou a receber inputs Federais? Micropolítica - política das pequenas coisas - ou macropolítica, temáticas abrangentes? O discurso da forma (estética) suplantará o discurso semântico? Campanhas privilegiarão pequenas ou grandes concentrações? Qual é o papel das entidades de intermediação social (associações, movimentos, sindicatos, federações, clubes, etc.)? Telegráficas respostas: 1) Ambiente geral - estado geral de satisfação/insatisfação - acaba adentrando a esfera regional/local (temas locais darão o tom, mas a temperatura ambiental será sentida); 2) Micropolítica, escopo que diz respeito ao bolso e à saúde, estará no centro dos debates; 3) O discurso semântico - propostas concretas e viáveis - suplantará a moldura estética; 4) Pequenas concentrações, em série, gerarão mais efeito que grandes concentrações; 5) Organizações sociais mobilizarão eleitorado.
quarta-feira, 21 de março de 2018

Porandubas nº 566

Abro com uma historinha de Pernambuco. O verbo não "vareia" A Câmara Municipal de Paulista/PE vivia sessão agitada em função da discussão de um projeto enviado pelo prefeito, que pedia crédito para assistência social. Um vereador da oposição combatia de maneira veemente a proposição. A certa altura, disse que "era contra o crédito porque a administração municipal não merecia credibilidade". O líder da bancada governista interveio, afirmando que "o nobre colega não pode jogar pedras no telhado alheio, pois já foi acusado de algumas trampolinagens". - Menas a verdade - retrucou o acusado. Sou homem honesto, de vida limpa. - Vejam, senhores, - disse o líder - o nobre colega, além de um passado nada limpo, ainda por cima é analfabeto, pois, "menas" é verbo e verbo não "vareia". (Historinha contada por Ivanildo Sampaio). O ódio está no ar O clima social está quente. Nesse inicio de pré-campanha eleitoral, quando não se sabe ainda quais os reais competidores, o clima se mostra pesado, cheio de zangas, com alas brandindo armas nas redes sociais e nas movimentações. Vejamos. O assassinato da vereadora Marielle Franco e de seu motorista Anderson, após a comoção social, ameaça abrir a polarização ideológica. Fake news invadem as redes acusando a ex-vereadora de envolvimento com Marcinho VP. Até uma desembargadora do Rio entra na onda de acusações mentirosas. Verbos da esquerda e da direita exibem elevada taxa de ódio. Lula no sul O ódio apareceu também nesse começo de andança de Lula por regiões do Rio Grande do Sul. Em Bagé, fazendeiros e trabalhadores fizeram piquete com tratores e carroças, atrapalhando o percurso do comandante petista. Poucos apoiadores apareceram. A praça sulista abriga um forte pensamento conservador, situação que deveria ter sido analisada pelos organizadores do tour. Lula, em seu primeiro discurso, falou por oito minutos. Pouco. O desânimo parece se alastrar no território petista e adjacências. Esquentamento dos motores Mas o desânimo que se observa nas hostes petistas parece ter vida curta. O calvário de Lula não começou. O PT já trabalha com a perspectiva de sua prisão, logo após decisão do recurso (embargos de declaração) no TRF-4. Se essa situação se confirmar, a pólvora poderá incendiar ruas. É até provável que não se vejam grandes mobilizações. Mas a militância petista é forte e se engaja na luta com facilidade. A prisão de Lula é a senha para o petismo tentar acender uma grande fogueira. Conseguirá? Nordeste vermelho O Nordeste tem cerca de 28% dos votos do país. E em algumas capitais Lula consegue exibir a confortável taxa de quase 60% de intenção de voto. Em Maceió, capital das Alagoas de Renan pai e Renan filho, Lula é ídolo. (Os Renans usarão Lula como bengala eleitoral). De 40% a 50% - esta tem sido a média de Lula na região. Portanto, o calvário do ex-presidente, a partir da prisão, pode disparar um continuum de movimentações por capitais, grandes e médias cidades. A cor vermelha do MST, MTST, CUT et caterva será vista nos telejornais. O petismo pretende ressuscitar o "Nós e Eles". Perdendo força O contra-ataque deverá vir dos bastiões anti-petistas, a partir de candidatos dos grandes partidos. Portanto, é razoável inferir que a força petista jamais será a mesma. Tende a arrefecer, fenômeno que deverá acontecer a partir do Sudeste, particularmente de São Paulo, com seus 33 milhões de eleitores, chegando perto da votação de todo o Nordeste. O PT fará enorme esforço para eleger boa bancada Federal. Se eleger 50 deputados, será muito. Já na searas estaduais, a situação parece mais confortável aos projetos de reeleição em Minas Gerais (Fernando Pimentel), Bahia (Rui Costa), Ceará (Camilo Santana), Piauí (Wellington Dias) e Acre (Tião Viana). Lula, o eleitor-chave O PT pensa em transformar Lula em mártir. Mais: perseguido pelo Judiciário ou, usando o palavreado petista, pelas elites. Teremos, assim, Lula como o eleitor com a chave para encher as urnas. Se for preso, deverão emergir da garganta lulista palavras cheias de gasolina, necessárias para fazer ferver o sangue da militância. Se não for preso, pode-se esperar Luiz Inácio subindo em palanques em todas as regiões. Polarização voltará? É evidente que o petismo quer muito resgatar a polarização entre "nós" (petistas) e "eles" (a zelite). Sem dúvida, parte desse discurso pode até bater bumbo em alguns cantos, mas o país está farto de engodo. O ciclo lulo-petista-dilmista abriu gigantesco buraco nas contas do Tesouro. Sofremos a maior recessão econômica da contemporaneidade. E o eleitor, mesmo os de classes sociais empobrecidas, está mais crítico e observador. Principalmente o eleitor das periferias das metrópoles. Uma brisa mudancista bate no sistema cognitivo do eleitorado, abrindo espaços para um voto mais racional. O quadro paulista Com a vitória de João Doria nas prévias tucanas, ocorridas no último domingo, o quadro paulista começa se fixar nos vãos eleitorais. Teremos, então, Doria (PSDB) e Marcio França (PSB) como os maiores protagonistas da competição. Desafios de Doria: explicar e convencer o eleitorado a razão pela qual abandonou a prefeitura no meio do mandato; expressar um bom domínio sobre as temáticas mais sensíveis à população. Desafios de Marcio França: tornar-se conhecido do eleitorado; exibir um substancioso programa de governo. França, apoio do PMDB Uma grande novidade na área de Marcio França é o apoio de cerca de 70 prefeitos do PMDB, dentre os 82 que o partido tem no Estado. França assumirá o governo em abril próximo, com a saída do governador Geraldo Alckmin, que se desincompatibiliza para se candidatar à presidência. Com a caneta na mão, ele tem condições de fechar um largo laço de alianças, fundamental para seu desempenho eleitoral. O PTB, de Campos Machado, também está fechando com ele. Doria, comunicação João Doria, por sua vez, tem um grande trunfo: conhece bem as maneiras, técnicas e métodos da comunicação. Nesse ponto, deverá ser o mais comunicativo. Sofrerá ataques. Muitos consideram-no portador de uma ambição descomunal. Skaf, limitado Paulo Skaf, o presidente da FIESP, deverá ser candidato mais uma vez ao governo pelo PMDB. É pouco provável que cresça. Skaf não agrega traços de inovação. Seu estilo é autoritário. Sua expressão é pobre. Não domina temáticas de cunho social. E mesmo temas econômicos mais complexos não são sua praia. E mais: no próprio PMDB, seu partido, é visto com grandes reservas. Marinho, fraca identidade Luiz Marinho é um sindicalista das antigas. Mesmo tendo sido prefeito de São Bernardo, a marca do sindicalismo está estampada em sua testa. Ou seja, não tem uma identidade à altura do mais forte Estado da Federação. Não quer dizer que um sindicalista não possa ser eleito governador. Não é bem isso, mas o fato de que sua viseira sindicalista é curta para contemplar a dimensão gigantesca de um Estado como São Paulo. O DEM O Democratas será um dos partidos mais prestigiados. Deverá receber um número razoável de deputados até 7 de abril, data de fechamento da janela eleitoral. A dúvida recai sobre a candidatura de Rodrigo Maia à presidência da República. Vai colar? Maia é um grande articulador. Se não crescer nas pesquisas, poderá voltar a ser deputado e concorrer à presidência da Câmara mais uma vez. Sonho de Alckmin O sonho de Geraldo Alckmin seria puxar ACM Neto como vice em sua chapa. A Bahia é o quarto colégio eleitoral do país. Sudeste e Nordeste, assim, fariam um pacto com forte viabilidade eleitoral. Novos ministros Nos bastidores, multiplicam-se as pressões e contrapressões para indicar os próximos ministros. Uma enxurrada de nomes deixará a Esplanada dos Ministérios para se candidatar. Muitos querendo arrumar um cargo no Parlamento para ganhar foro privilegiado. Marketing eleitoral Ciclos da campanha Orientação para candidatos e assessores: estabelecer adequado cronograma dos ciclos da campanha, que, como se sabe, possui cinco ciclos: lançamento, por ocasião da Convenção; crescimento, entre quatro e cinco semanas após a Convenção; maturidade/consolidação, quando a campanha se firma no sistema cognitivo do eleitor, após ampla visibilidade; clímax, momento em que o candidato alcança seu maior índice de intenção de votos; e declínio, quando o candidato tende a cair nas pesquisas de opinião. Todo esforço se faz necessário para o clímax ocorrer na semana das eleições. A dosagem dos ciclos há de obedecer ao funil da comunicação - jogando-se mais água (volume de comunicação/visibilidade) na segunda quinzena de setembro. Candidato que começa a decair antes do tempo corre o perigo de morrer na praia. Planejamento de campanhas Este consultor chama a atenção para o planejamento do marketing das campanhas. Que abriga metas como estas: 1) priorizar questões regionalizadas, localizadas, na esteira de um bairro a bairro, ou seja, fazer a micropolítica; 2) criar um diferencial de imagem, elemento que será a espinha dorsal da candidatura, facilmente captável pelo sistema cognitivo do eleitor; 3) desenvolver uma agenda que seja capaz de proporcionar "onipresença" ao candidato (presença em todos os locais); 4) organizar uma agenda contemplando as áreas de maior densidade e, concentricamente, chegando às áreas de menor densidade eleitoral; 5) entender que eventos menores e multiplicados são mais decisivos que eventos gigantescos e escassos; 6) atentar para despojamento, simplicidade, agilidade, foco para o essencial, mobilidade, propostas fáceis de compreensão e factíveis. Esse um resumido escopo de planejamento. Índice de intenção de voto Índices de intenção de voto servem para quê? Breve resposta: índice de intenção de voto é igual ao desenho do elefante visto nos céus. Dentro de pouco tempo, o que era elefante se esgarça e se transforma em gafanhoto; e o que era uma nesga de nuvem, parecendo um gafanhoto, se agiganta, mais parecendo o incrível Hulk. Durante uma exposição massiva, de 35 dias seguidos e intensos, qualquer desconhecido se transforma em astro, celebridade. As campanhas eleitorais fazem esse milagre. Peru não morre de véspera A eleição de um candidato depende do momento, das circunstâncias, da temperatura social, dos versos e reversos da economia, do perfil dos adversários, dos debates e combates na arena eleitoral, dos climas regionais, da força da mídia eleitoral (significando tamanho dos programas eleitorais), dos inputs momentâneos (uma crise abrupta, um caso espetaculoso) - enfim, de uma escala de elementos ponderáveis e imponderáveis. Os fatores imprevisíveis abrem as possibilidades. Única verdade: peru não morre de véspera.
quarta-feira, 14 de março de 2018

Porandubas nº 565

Abro a coluna com uma historinha do Maranhão. Em campanha José Burnett, chefe da Casa Civil do governador do Maranhão, João Castelo, era deputado estadual do PSD. Em 1962, candidatou-se à Câmara Federal e saiu pelo interior fazendo campanha. Chegou à cidade de Santa Helena, foi para o comício: - Povo de Santa Helena. Eu gosto tanto desta terra, tanto, que se pudesse nascer de novo pediria a Deus para nascer aqui em Santa Helena. Foi um sucesso. No dia seguinte estava em Pinheiro: - Povo de Pinheiro. Eu gosto tanto desta terra, tanto, que se pudesse nascer de novo pediria a Deus para nascer aqui em Pinheiro. Lá de trás, um caboclo, que por acaso tinha assistido ao comício da véspera em Santa Helena, gritou: - Doutor, e Santa Helena, doutor? - Santa Helena? Santa Helena? Santa Helena que me perdoe. E desceu. Quem tem mais chances? Todos os dias, perguntas insistentes batem na cabeça deste consultor: quem tem mais chances na eleição presidencial, considerando os atuais pretendentes? Quem tem mais chances em São Paulo? E lá vou eu fustigar o sistema cognitivo com uma bateria de hipóteses. Claro, todas elas sujeitas ao fracasso ante a eventual presença do Senhor Imponderável dos Anjos, que continua a nos visitar esporadicamente. Mas não tenho fugido às questões, por mais intrigantes que sejam. Primeiro, o plano conceitual Em "Mistificação das Massas pela Propaganda Política", a obra em que Sergei Tchakhotine, cientista social russo, disseca a propaganda nazista, a bíblia que está sempre à minha direita, estão descritos os quatro instintos que movem a vontade e a decisão dos eleitores. Dois são ligados à conservação do indivíduo e dois são relacionados à preservação da espécie. Os dois primeiros: o instinto combativo e o instinto nutritivo; os dois últimos: o instinto sexual e o instinto paternal. Sobrevivência Os dois primeiros são usados pelo homem para sobreviver: lutando contra as ameaças que o cercam no dia a dia; lutando contra outros e contra a natureza que pode destruir sua casa; lutando para melhorar as condições de vida. O segundo instinto é o nutritivo/alimentar. Sem alimento na barriga, nenhum ser resiste. Daí pinço a velha equação que costumo apresentar aos meus públicos: BO+BA+CO+CA= Bolso Cheio (geladeira cheia), Barriga Satisfeita, Coração Agradecido, Cabeça aprova o gestor/político que proporcionou a situação. Retórica de guerra e da barriga Não por acaso, a linguagem da política é impregnada da retórica de guerra: "vamos ganhar; vamos à vitória; nossa luta pelo povo; derrotaremos os nossos adversários; à vitória até o momento final; vamos melhorar as nossas safras, dar alimento barato ao povo etc.". Churchill em 10 de maio de 1940: "Espero que meus amigos e colegas, ou colegas de outrora, que tenham sido afetados pela reconstrução política, sejam tolerantes e me desculpem por qualquer falta de cerimônia na maneira por que fui compelido a agir. Eu diria a esta Casa, como disse àqueles que passaram a formar este governo: Eu nada mais tenho a oferecer senão sangue, trabalho, suor e lágrimas". Perpetuidade Os últimos dois instintos do ser humano são as alavancas da perpetuação da espécie: o sexual e o paternal. Donde se pinçam os valores humanos: a solidariedade, a amizade, o companheirismo, o culto à família, a defesa da criança e do velho, o amor aos pais, o culto à religião, etc. Pois bem, o eleitor tende a identificar nos candidatos os perfis que mais lhe oferecem segurança, esperança de melhores dias, harmonia e paz social (ordem nas ruas), condições de progredir na vida (assistência à família, educação, bolsas etc.). Qual candidato? Da moldura de pré-candidatos, qual aquele que mais esperança de melhoria de vida oferece? Alckmin, Henrique Meirelles, Bolsonaro, Lula, Álvaro Dias, Flávio Rocha, Afif, Ciro Gomes, Marina Silva, Guilherme Boulos? Não se trata de escolha fácil. Porque na indicação/escolha do perfil, entram outros elementos: proximidade ao eleitor; credibilidade/confiança; densidade de programas; factibilidade (capacidade de realização das propostas); maneira de se comunicar; simpatia/empatia; frequência/periodicidade no capítulo da visibilidade; estrutura partidária (recursos e cabos eleitorais); capilaridade do partido etc. Bolsonaro O deputado Jair Bolsonaro expressa a linguagem da dureza. Ordem. Contra a bagunça. É visto como extensão do braço militarista. Terá pálidos segundos na TV e no rádio dentro do espaço eleitoral. Confia muito nas redes sociais. Este consultor não aposta na capacidade das redes para eleger um candidato. Veremos uma luta renhida entre militantes adversários dentro de um processo que designo de "canibalização recíproca", uns comendo os outros. Ademais, o PSL está fracionado em duas alas, uma perdendo força e agindo contra Bolsonaro, que tomou conta da sigla. Há dúvidas sobre a capacidade de Bolsonaro segurar a barra. Mas poderá contar com as graças do Senhor Imponderável dos Anjos. Alckmin Geraldo deverá sair de São Paulo bem avaliado. O Estado tem 33 milhões de votos, com 24% dos votos válidos do país. Se conseguir uma grande bacia de votos de maioria, poderá compensar a derrota que sofrerá no Nordeste. Seu desafio: conquistar os dois outros maiores colégios eleitorais do país: Minas Gerais e Rio de Janeiro. Seu sonho: atrair ACM Neto como vice de sua chapa. Mas este poderá ser candidato na Bahia. O DEM lançou Rodrigo Maia. E esperará até junho para ver se ele emplaca. Se Alckmin até lá der sinais de alento, é razoável acreditar em uma aliança do PSDB com o DEM. Segundo turno Ante o eventual impedimento de Lula, Ciro Gomes deve ser beneficiado. A partir do Nordeste. Nesse caso, não está fora de jogo um segundo turno entre Ciro e Geraldo. Dias Álvaro Dias é um candidato da área central. Mas limitado ao Paraná. E votos esparsos aqui e alhures. Parco tempo de mídia eleitoral. Marina Frágil para suportar uma guerra de gigantes. Seu partido é limpo, mas não dispõe de forte estrutura. Tende a definhar antes de chegar à praia. Maia Tem muito poder de articulação. Sabe atrair partidos. Mas dispõe de pouco tempo. Meirelles Um mago das finanças. Pesado. Sem carisma. Rocha Flávio Rocha exibe denso discurso. É preparado. Um empresário com formação de Harvard. Corre o país levando seu plano Brasil 200 e um desafio: o tempo. Se a campanha fosse mais longa, poderia atrair as massas. Tem coisas para mostrar, a partir do emprego que seu Grupo oferece a milhares de pessoas. Tempo de campanha: 90 dias de rua para 45; tempo de mídia: de 45 dias para 35. Campanha bem curta. Território paulista Tentemos decifrar o enigma em São Paulo, considerando três candidaturas: Márcio França, vice-governador que irá assumir o comando do Estado, em abril, sendo candidato do PSB; João Doria, o atual prefeito, a ser candidato pelo PSDB e Paulo Skaf, presidente da FIESP, que pleiteará mais uma vez a candidatura ao governo pelo PMDB. Vejamos. França Marcio França é candidato de um partido de centro-esquerda, o PSB, que tem boa imagem, quando comparada com outros grandes partidos. É o partido do saudoso Eduardo Campos, morto em acidente de avião. Foi leal ao governador Alckmin. Tem bom lastro na região santista, onde foi prefeito e larga experiência política no Estado. Seu problema: não conseguiria atrair o PSB para a candidatura Alckmin, eis que a cúpula partidária é dominada pelo pernambucano Carlos Siqueira. Se o PSB não tiver Joaquim Barbosa, ex-ministro do STF como candidato, tende a pender mais a Ciro Gomes, do PDT, e com maior afinidade ideológica com o PSB. França terá a caneta à mão. Já atraiu o apoio de grande parcela de prefeitos, inclusive do PMDB. A máquina, nesse momento, costuma ser grande eleitora. Doria João Doria é um craque na comunicação. Pesa sobre ele o fato de abandonar a prefeitura no meio do mandato e ser acusado de muito ambicioso. Para a presidência da República, o eleitorado até o perdoaria, mas para o governo (só um passo acima), a impressão que transmite é a de abandono de compromissos. Mas a máquina tucana em São Paulo é forte. Se o PSDB fechar o "espírito de corpo" e se unir em torno do nome do partido, João teria condição de ultrapassar França. Com bom discurso e esclarecendo a razão pela qual deixa a prefeitura no meio do mandato, a massa eleitoral poderia lhe dar boa resposta nas urnas. No horizonte, sobram interrogações. Skaf Paulo Skaf volta a aparecer por meio da inserção publicitária em espaços da FIESP/SESI/SENAI. Paulo passa a impressão de que se aproveita da condição de presidente da FIESP para subir na escada da política. Seu perfil deixa a desejar no campo do preparo intelectual. Afora temas da área industrial, o presidente da FIESP costuma expressar platitudes e obviedades sobre temáticas nacionais. Diz-se que só ouve o que sua boca fala. Ele quer ser o novo. Conseguirá? Difícil. Nem que se vista de patinho amarelo, símbolo da FIESP para combater a alta carga de tributos. (Na campanha passada, Paulo Skaf chegou a se vestir de zebra, no intuito de convencer o eleitor de que seria a "zebra" na campanha paulista. Deu no que deu.) Marketing: os 5 eixos Lembro os cinco eixos do marketing eleitoral: pesquisa, formação do discurso (propostas), comunicação (bateria de meios impressos - jornalísticos e publicitários - e eletrônicos), articulação política e social e mobilização (encontros, reuniões, passeatas, carreatas etc.). A mobilização dá vida às campanhas. Energiza os espaços e ambientes. A articulação com as entidades organizadas e com os candidatos a vereador manterá os exércitos na vanguarda. A comunicação é a moldura da visibilidade. Principalmente em cidades médias e grandes. Sem ideias, programas, projetos, os eleitores rejeitarão a verborragia. E, para mapear as expectativas, anseios e vontade, urge pesquisar o sistema cognitivo do eleitorado. História O escopo do marketing político, ao longo da história, tem se mantido praticamente o mesmo. O que muda são as abordagens e as ferramentas tecnológicas. Atentem. No ano 64 a.C., Quinto Túlio Cícero enviava ao irmão, o grande tribuno e advogado Cícero - protagonista de episódios marcantes por ocasião do fim do sistema republicano e implantação do Império Romano - uma carta que considero o primeiro manual organizado de marketing eleitoral da história. Ali, Quinto Túlio orientava Cícero sobre comportamentos, atitudes, ações e programa de governo para o consulado, que era o pleito disputado, sem esquecer as abordagens psicológicas do discurso, como a lembrança sobre a esperança, este valor tão "marketizado" no Brasil e que se constituiu eixo central do discurso da era lulista. Dizia ele: "Três são as coisas que levam os homens a se sentir cativados e dispostos a dar o apoio eleitoral: um favor, uma esperança ou a simpatia espontânea".
quarta-feira, 7 de março de 2018

Porandubas nº 564

Abro a coluna com uma historinha de Mossoró, contada pelo amigo Carlos Santos, com quem me encontrei nesta última segunda-feira. Jumento, burro e o voto Candidato a vereador em Mossoró (2004), "Ricardo de Dodoca" assusta-se à porta de uma eleitora na periferia da cidade. Olhos arregalados, oxigênio quase faltando, ele depara-se com um cartaz do adversário Flávio Tácito à parede de "comadre Maria". Ela, teoricamente sua eleitora fiel. Com sinceridade angelical, própria das crianças, uma menina reforça a informação visual: - Mamãe não vai votar no senhor! - Por quê? - balbucia Ricardo. -Porque o "padre" (como é conhecido Flávio) deu um jumento para ela. - Ih... Ih... E o burro sou eu, que levou esse coice - constata o candidato com gagueira acentuada. (Livro Só Rindo 2) Identidade A coluna abre mais uma vez espaço para lembrar dois conceitos centrais do marketing político: identidade e imagem. O termo identidade, derivado do latim idem (igual, semelhante), corresponde à verdade de uma pessoa. Verdade que abriga sua história, tradição, valores que defende, enfim, seu pensamento. É a coluna vertebral de um perfil. Seja ele empresário, político, profissional liberal, etc. Imagem Já a imagem é a projeção da identidade, a percepção que o figurante transmite à sociedade. Tal percepção tem sido muito burilada nesses nossos tempos de Estado-Espetáculo, que obriga particularmente os agentes políticos a se transformarem em atores para desfilar no palco da visibilidade. A hipótese que cerca tal necessidade é a exposição pública: quanto mais conhecido o ator, mais prestigiado poderá vir a ser. Ocorre que na maquinação imagética ocorrem desvios fulcrais. Dândi Um dos erros, por exemplo, é tentar esticar a imagem do protagonista para além dos limites de sua identidade. Imaginemos a ideia de mapa e território. O território Brasil deve estar contido todinho em seu mapa. Não pode ser menos ou mais do que os limites traçados pelo mapa. Quando isso deixa de ocorrer, rompe-se a identidade. Daí surge a figura do dândi. Baudelaire dizia: "o dândi tem o prazer de espantar". Para aparecer na TV em horário eleitoral, os dândis procuram adereços de figurantes espalhafatosos, ancorando-se em gestos extravagantes e linguagens obtusas a título de chamar a atenção. Fazem tudo o que os "alquimistas" lhes recomendam. O Super-Homem Lembro exemplos. O ex-senador Eduardo Suplicy apreciava gestos extravagantes. Certo momento, atendendo a um pedido da animadora televisiva Sabrina Sato, vestiu por cima da roupa o traje de super-homem. E isso aconteceu nos solenes corredores do Senado. Ficou ridículo. Aquela sunga vermelha por cima da calça chamava a atenção, sim. Mas derrubava sua imagem de seriedade. Suplicy apenas corroborou a impressão de que satisfaz aos apelos e pedidos espetaculosos para aparecer na mídia. Um erro querer aparecer a qualquer custo. A zebra Aqui em São Paulo, o presidente da poderosa Federação das Indústrias, Paulo Skaf, apareceu vestido de zebra como candidato a governador pelo então PMDB, em seu programa eleitoral, nos idos de 2014. A estrambótica imagem certamente garantiu atenção, mas descambou para o perigoso terreno da galhofa. Deve ter sido conselho do marqueteiro. Vestir-se de zebra para dar ideia de que poderia ser a "zebra" da campanha é forçar a barra. Uma apelação. Pior: uma humilhação. Tiririca Já o palhaço Tiririca se apresentava todo ornado de penduricalhos com seu chapéu de palhaço. No caso dele, a imagem correspondia à identidade. É um palhaço. Aparecer como palhaço abria o sorriso. Não chegava a agredir. Idem - semelhante, igual. O sol do meio-dia Costumo pinçar a imagem do sol do meio-dia. Uma pessoa sob esse sol tem os raios incidindo sobre o centro da cabeça. A sombra criada por seu corpo não aparece. Estaria abaixo dos pés. À medida que o sol vai declinando no horizonte, os raios sobre o corpo vão formando uma sombra que se projeta na lateral. Sob o sol se pondo, a sombra se projeta ao longo do corpo, esgarçando seu formato. Deforma a pessoa. Pois bem, a imagem de um político deve corresponder em cheio à imagem projetada pelo sol do meio-dia. E não a imagem deformada e mentirosa que se vê ao sol no poente. As imagens artificiais de candidatos equivalem a essas sombras deformadas. Alguns toques Candidatos, atentem para alguns toques: 1. Procurem expressar a característica mais importante de sua identidade - o foco. 2. Não esqueçam que o eleitor deseja travar conhecimento com o personagem. Circular no meio da massa é importante. 3. Façam grande esforço para multiplicar presença em vários locais - a onipresença é um valor insuperável. Planejar eventos rápidos em lugares e cidades diferentes em um mesmo dia. Macarrão Calcanhar de Aquiles dos candidatos: evitar serem flagrados em dissonância. E isso ocorre geralmente quando um candidato é instado a mudar de identidade. O eleitor percebe quando a pessoa torna-se artificial, um mero produto de marketing. E candidato não pode ser trabalhado como se trabalha um sabonete, um pacote de macarrão. Flávio Rocha Este consultor teve oportunidade de presenciar neste início de semana, em Natal/RN, eventos em que o empresário e CEO do Grupo Riachuelo, Flávio Rocha, expôs seu Plano Brasil 200, lançado tempos atrás. Flávio foi o inspirador do programa Pró-Sertão, que abriu centenas de micro empreendimentos de costura no interior do Estado, propiciando às costureiras a oportunidade de produzir as roupas a serem adquiridas pela próprio Grupo. Uma revolução nos moldes que o empresário viu na Galícia, na Espanha, região com similaridades ao Nordeste, especialmente o RN. Intervenção no emprego As cidades começavam a mudar a feição. Empregos, renda, aquisição de motocicletas, carros, impulso ao comércio local - era a moldura que se via em dezenas de cidades pobres. Tudo parecia um sonho. Alicerçado, diga-se, na lei que dava respaldo a toda essa movimentação - a Lei da Terceirização. Até que as sirenes da PF chegaram às cidades para desmontar o empreendimento. A denúncia veio de uma procuradora, sob o esquisito conceito de "subordinação estrutural", ou seja, aquele formidável aparato de micro empreendedoras deveria ser absorvido como mão de obra efetiva da fábrica Guararapes. Pano de fundo: sob esse facão destruidor, a indústria de construção civil deveria absorver como empregados todos os contingentes que lhe prestam serviços. Idem para a indústria automobilística. O Brasil 200 O empresário não se deu por vencido. Disposto a lutar por sua ideia, imaginou o Brasil 200, na verdade um largo ideário liberal, com uma visão do Estado adequado, com suas tarefas constitucionais, ancorado na liberdade econômica, na força da livre iniciativa e com compromissos de recuperar os eixos perdidos pelo país. Passou a contar sua história, a narrar os resultados do Pró-Sertão e, mais que isso, a estabelecer um nexo entre esse projeto e outros setores da economia. Sua intenção é puxar esse cordão empreendedor por todo o Brasil. Um plano sistêmico À medida que sua narrativa passou a ser conhecida, veio o apelo: ampliar a visão liberal para outras áreas - educação, saúde, transportes, segurança pública. Nessa vertente, o movimento Brasil 200 acaba de produzir um Plano Nacional Emergencial de Segurança e Combate ao Crime com estratégias para reorganização das polícias, reformulação de presídios e alterações na legislação penal. O plano contém medidas duras: extinção de audiências de custódia, fim da progressão de regime, cumprimento integral de sentenças para crimes hediondos, penas mais duras, fim do estatuto do desarmamento. Candidato? Sim Pois bem, o que pretende Flávio Rocha com tudo isso? Começa a correr o Brasil para expor sua visão liberal? Foi a pergunta que este consultor lhe fez. Resposta: "apresentar o Brasil 200. Se este ideário for bem aceito, como vem sendo, ponho meu nome à disposição". Lendo melhor: Flávio Rocha é candidato a presidente da República. Este consultor não tem mais dúvidas. Já abriu conversa com alguns partidos. E se não der certo? Dará, respondem seus assessores. Na agenda, cidades-polo de todos os recantos serão visitadas. O entusiasmo com que as plateias ouvem suas exposições é grande. Se a onda não chegar à praia, em 2022, por ocasião dos 200 anos da Pátria independente, a semente hoje lançada poderá frutificar. E Flávio voltará a aparecer. Muita emoção A fábrica da Guararapes parou ao meio da tarde de segunda-feira. 8 mil costureiras, "companheiras de jornada", brandindo bandeiras e balões coloridos, sob aplausos e gritos continuados, ouviram Flávio Rocha narrando sua luta. Ao lado, seu pai, Nevaldo Rocha, o fundador, em vias de completar 90 anos. "Empregador e Empregados juntos" - faixas exibindo a profunda interação entre os dois polos se espalhavam por todos os lados. Pesquisa da consultoria que faz auditoria para o Grupo mostrou um índice: o engajamento e a integração dos empregados com a Guararapes é de 98%. O dado, que é público, explica o frenesi. A força moral A força moral é a arma mais poderosa da campanha eleitoral deste ano. Será o maior contraponto ao estado de degradação que corrói parcela razoável de nossos quadros políticos. Trata-se de uma força que funcionará como imã, puxando a atenção e a adesão dos eleitores. Os candidatos se esforçarão em dizer que a possuem. Ocorre que a força moral não é um conceito sobre o qual se possa cantar loas. Quem a carrega, não precisa discorrer sobre ela. Será reconhecido por isso. Gandhi, pobre e despojado, era um ícone de força moral. Arrastou multidões. Como a simplicidade, a força moral é a virtude dos sábios e a sabedoria dos santos. Quem possui esse tipo de força? Poucos. Juízes de passeata - I Desembargador do Tribunal Federal da 3ª região (SP e MS), do qual foi presidente e corregedor, com uma extensa e vitoriosa carreira na magistratura, o juiz Fábio Prieto é claro e direto nessa questão do auxílio-moradia e outros penduricalhos pagos aos juízes de todo o país, em flagrante desrespeito ao teto constitucional: a definição da remuneração no Judiciário cabe ao Supremo Tribunal Federal e ao Congresso Nacional e não às entidades de classe. Prieto defendeu sua posição num belo artigo publicado pelo jornal O Estado de S. Paulo, dia 2 de março, com o título "Juízes de Passeata". Juízes de passeata - II Prieto é contra o ativismo político no Judiciário e lembra que uma tranca já foi colocada na porta das finanças públicas: "É vedada a concessão de adicionais ou vantagens pecuniárias não previstas na presente lei, bem como em bases e limites superiores aos nela fixados". Os vencimentos dos ministros do Supremo Tribunal Federal foram fixados como teto, em nome da unidade nacional do Poder Judiciário. Juízes de passeata - III Mas houve uma reforma do Judiciário em 2000, segundo ele, manipulada para introduzir no sistema de Justiça a mensagem da luta de classes entre "nós e eles": juízes de tribunal contra os "da base", de primeiro grau. E a partir de então houve a partilha dos "penduricalhos". A pele da democracia vestida pelo assembleísmo corporativo-sindical. Esses juízes de passeata fizeram até um ato de protesto na sede do STF pela manutenção de seus privilégios. Por fim, Fábio Prieto adverte que a questão da remuneração "não pode ser privatizada pelo descansado sindicalismo de toga". Programa de qualidade O Sescon-SP (Sindicato das Empresas de Contabilidade e Assessoramento no Estado de São Paulo) realiza nesta sexta, 9/3, a 13ª edição do evento para entrega da certificação PQEC - Programa de Qualidade de Empresas Contábeis, criado para incentivar a excelência na prestação de serviços. Para o presidente da entidade, Márcio Shimomoto, "pelo caráter facilitador e indicador de caminhos, o PQEC tornou-se um grande aliado das empresas e um diferencial na busca por novos mercados". Este ano serão 482 empresas, sendo 98 certificadas também pelo ISO. O evento será no Espaço das Américas, em São Paulo.
quarta-feira, 28 de fevereiro de 2018

Porandubas nº 563

Abro a coluna com a nossa Águia de Haia. À sorrelfa e à socapa A historinha é conhecida e, por ser muito boa, merece um repeteco. Rui Barbosa, o Águia de Haia, chegava em casa, à noitinha, quando ouviu um barulho vindo do quintal. Chegando lá, viu um ladrão tentando levar seus patos de criação. Aproximou-se vagarosamente do indivíduo e, surpreendendo-o, ao tentar pular o muro com seus amados patos, passou-lhe um pito: - Oh, bucéfalo anacrônico! Não o interpelo pelo valor intrínseco dos bípedes palmípedes, mas sim pelo ato vil e sorrateiro de profanares o recôndito da minha habitação, levando meus ovíparos à sorrelfa e à socapa. Se fazes isso por necessidade, transijo; mas se é para zombares de minha elevada prosopopéia de cidadão digno e honrado, dar-te-ei com minha bengala fosfórica bem no alto da sua sinagoga, e o farei com tal ímpeto que te reduzirei à quinquagésima potência que o vulgo denomina nada. E o ladrão, perplexo e confuso, com um fio de voz, perguntou: - Doutor, eu levo ou deixo os patos? O espírito do tempo Os tempos sinalizam mudança na composição do processo de tomada de decisões. No Brasil, torna-se visível a formação de novos polos de poder, a traduzir uma força centrípeta (das margens para o centro) em contraponto à força centrífuga (do centro para as margens), que agrupa os poderes constituídos (Executivo, Legislativo e Judiciário) e os grandes complexos produtivos. Na esteira desse movimento, uma miríade de entidades organizadas (sindicatos, associações, clubes, núcleos, movimentos de todos os tipos) passa a animar a sociedade. Esse é o espírito do nosso tempo. Democracia midiática Ainda sob o fluxo desse escopo, ganha força uma "democracia midiática", que agrupa os figurantes do mundo dos divertimentos, atores e atrizes, animadores e encantadores das massas. Luiz Datena, Silvio Santos, Luciano Huck, Fausto Silva compõem, entre outros, a galeria dos grandes "candidatos" de nossa comunicação diversional. Se fossem efetivamente para a arena eleitoral, teriam forte votação. Seguramente. As massas estão saturadas da mesmice política. É assim que os outsiders da política teriam vez. Dentro do espírito do nosso tempo. Democracia supletiva Os novos polos de poder, por sua vez, funcionam como respiradouros de grupos sociais, que já não suportam ouvir as promessas da esfera política. Essas válvulas de escape arregimentam grupos e até geram multidões que vão às ruas expressar sua indignação. Roger-Gérard Scwartzenberg designa esse fenômeno como democracia supletiva. É o espírito do nosso tempo. Democracia direta Trata-se, por outro prisma, de uma expressão que também traduz o anseio de democracia direta, essa que sai da garganta das massas para chegar aos ouvidos dos figurantes de nossa democracia representativa. Como se sabe, esta modalidade padece de intensa crise: ideologias bifurcadas, partidos amorfos ou pasteurizados, massas desmotivadas, Parlamentos em declínio, oposições sem força, entre outros fatores. É o espírito do tempo. PT sob pressão (e tensão) A busca e apreensão de documentos no apartamento do ex-governador da Bahia, Jaques Wagner, em Salvador, deixa o PT em estado de tensão. Afinal, Wagner é apontado como o plano B do PT, caso Lula seja impedido de se candidatar. Com seu nome na lista de suspeição, o plano B fenece. A não ser que surja outra ideia. O fato é que uma grande interrogação paira sobre os nomes dos candidatos à presidente. Mais dúvidas Rodrigo Maia pensa em se lançar pelo DEM. Mas teme o risco da candidatura naufragar. Não seria mais interessante ser reeleito deputado e voltar a dirigir a Câmara Federal? Esta pergunta deve fustigar sua cuca. Se o DEM não sair com candidato próprio, a probabilidade maior é a de vir a apoiar Geraldo Alckmin, do PSDB, reivindicando o cargo de vice na chapa. Ele ou o deputado Mendonça Filho são os mais cotados. Mendonça deixará o Ministério da Educação em princípio de abril. PMDB em parceria Pode até ser que o PMDB, desta vez, saia com uma candidatura própria. Mas quem conhece o partido, sabe que se trata de um ente pragmático. Perdeu com Ulisses, perdeu com Quércia e, de lá para cá, aprendeu que o caminho é a parceria com o partido em melhores condições de chegar ao pódio. Se a segurança pública no Rio melhorar (bem) e a economia continuar a dar sinais de boa recuperação, é até provável acreditar em candidato próprio. Henrique Meirelles? Meio pesado, mesmo exibindo trunfos econômicos. Mas em política, tudo é possível. Temer É bom acreditar na palavra do presidente. Se ele diz que não tem intenção de ser o candidato do PMDB é porque não tem essa intenção. O que se lê é que gostaria de apoiar um nome intensamente comprometido com o legado que deixa, um dos mais substantivos e reformistas de nossa contemporaneidade. Basta ter bom senso para constatar. Sem parti pris. O nosso Trump Donald Trump diz que os professores das escolas americanas devem receber armas para se defender. Um armamentista do norte. Jair Bolsonaro diz que as mulheres brasileiras devem ter uma arma em casa para se defender. Um armamentista do sul. A parada lei das teles Por que o presidente do Senado sentou sobre esse projeto, considerado a salvação das teles no país? As operadoras prometem investir forte na banda larga. A infraestrutura montada ao longo dos anos foi para sustentar a telefonia fixa. Hoje essa estrutura está defasada. Só mesmo novos investimentos para abrir os horizontes do amanhã no campo das telecomunicações. Todos se interessam pela aprovação desse projeto: governos, operadoras, setores de serviços, usuários, etc. Mas o senador Eunício Oliveira o segura. Criminalidade A bandidagem dá sinais de que os grupos que a formam vivem uma guerra em torno do poder. O PCC teria mandado eliminar adversários e bandidos que mudaram de lado. E vê seus líderes assassinados em Estados do Nordeste, como no RN. Os líderes da facção comandam as operações de dentro das cadeias. Donde se indaga: como está hoje a integração das forças policiais nos 27 Estados da Federação? Há intercomunicação entre elas? O fim da polarização Depois de anos e anos de polarização entre PT e PSDB, a hipótese de um novo ciclo na política, com a ascensão de novas fontes de poder e de protagonistas novos, ganha corpo. O PT dividiu o Brasil em duas bandas, ocupadas por "nós e eles", sendo os petistas os mocinhos e os outros, os bandidos. Essa divisão rachou a sociedade, que quer encontrar novos atores, novos perfis, novas linguagens. No pleito desse ano, petistas vão querer continuar o seu berro. Refluirão ao perceberem que já não fazem eco. As redes x mídia massiva Há mais uma grande interrogação no ar: as redes sociais conseguirão sustentar candidatos que não disporão de espaço na mídia massiva para ganhar visibilidade? Os candidatos de grandes partidos terão espaço suficiente. Mas candidatos com tempo muito curto irão até o final com seus índices de intenção de voto? Por exemplo, Bolsonaro e Marina Silva aguentarão o tranco? Ou serão canibalizados pelos perfis que disporão de muitos minutos de rádio e TV? TV Cultura avança A TV Cultura fechou contrato com o World Economic Fórum para ser a rede de TV oficial do encontro que se realizará em São Paulo no início de março. As tratativas se iniciaram em dezembro. Marcos Mendonça, o comandante, explica: "agora em função da qualidade técnica de nossas equipes e de nossos equipamentos fomos selecionados. Seremos a geradora das imagens de todo o evento. Teremos exclusividade na geração de conteúdo e seremos responsáveis por sua distribuição para todos os veículos de comunicação do mundo. Contaremos com um espaço privativo anexo ao plenário onde poderemos produzir boletins e entrevistas exclusivas". Trata-se do reconhecimento do trabalho desenvolvido, que confere à Cultura a posição de um dos principais players do mercado de TV no Brasil. Rescisão da delação A rescisão da delação de Wesley Batista e de Francisco Assis Silva, da JBS, é mais uma demonstração de que os delatores montaram uma emboscada para atirar em uns e salvar outros. Deixaram o procurador Miller fora da história, quando este, ainda vestido no manto da Procuradoria, ajudou os irmãos Batista a armar a trama para "capturar" o presidente da República. Miller teria servido o menu a dois senhores. E embolsado, segundo se lê, R$ 700.000,00. Puxa...... A acusação sobre suposto envolvimento da concessionária CCR em denúncia de corrupção investigada pela Lava Jato baixou o valor da empresa em R$ 4,62 bilhões. Em apenas dois dias. A mão do mercado. Novo Ministério Com a saída de uns 15 ministros em abril, candidatos no pleito deste ano, o Ministério do governo Temer passará por grande mudança. É razoável apostar na hipótese de um Ministério mais técnico, mesmo que a maioria dos nomes seja indicada por partidos políticos. Seria o momento de o governo passar uma régua para harmonizar as ações e integrar a linguagem. Ministério do Trabalho Uma área que carece de impulso renovador é a do Trabalho, que navega há tempos no varejão das demandas políticas. Há Centrais que indicam seus quadros para cargos de proa na Pasta. Mas, para efeito externo, posicionam-se contra o governo e suas reformas. Como se explica isso? O perigo: transformar certos setores em balcão do toma lá, dá cá. Padre Vieira e seu truque O Padre Antônio Vieira, o célebre pregador, escritor, político e diplomata jesuíta, subindo certa vez ao púlpito, iniciou estranhamente o seu sermão exclamando: - Maldito seja o Pai! Maldito seja o Filho! Maldito seja o Espírito Santo! E quando a assistência, horrorizada, pensava que o grande orador houvesse enlouquecido, ele tranquilamente prosseguiu: - Essas, meus irmãos, são as palavras e as frases que se ouvem com mais frequência nas profundezas do inferno. Houve um suspiro de alívio no templo, mas com esse recurso teve Vieira despertada e presa a atenção dos fieis como poucas vezes, por outra via, conseguira. (Narrado por Luis Costa em Leia Comigo)
quinta-feira, 22 de fevereiro de 2018

Porandubas nº 562

Abro a coluna com uma historinha do Pará. Um que vale por muitos O Pará já teve políticos muito engraçados. Um deles, João Botelho, foi interventor, deputado e constituinte. Certo dia encontra um cabo eleitoral: - Como vai? E senhora sua esposa? E as crianças? - Tudo bem, deputado. Minha mulher está ótima. Mas, por enquanto, é só um menino, certo? - E eu não sei que é um filho só? Mas é um menino que vale por muitos. Então, como vão os meninos? Segurança, tema central A questão da segurança pública será o eixo principal do discurso eleitoral. Não apenas pela decisão do governo Federal de intervir na segurança pública do Rio de Janeiro, mas pelo reconhecimento de que todas as unidades da Federação convivem com violência crescente, que tem se expandido na esteira da crise. Alguns Estados do Nordeste estão em situação calamitosa. Os índices de assaltos e roubos crescem assustadoramente. O RN é um deles. O Ceará acaba de receber um grupo especial de policiais (das forças especiais e da PF) para apoiar as ações contra a criminalidade. A grande surpresa: São Paulo O grande destaque no mapa da segurança nacional é São Paulo. O Estado mais populoso da Federação, com cerca de 46 milhões de habitantes, tem registrado queda em seus índices de violência: assaltos de todos os tipos, roubos, assassinatos, etc. O Estado investe pesadamente na segurança. Novos equipamentos, informatização das redes policiais (registros eletrônicos), integração das polícias civil e militar, efetivos nas ruas, esforço para fazer das delegacias ambientes mais acolhedoras - uma política de humanização - qualificação dos quadros, tudo sob o comando de um perfil sereno, harmônico e eficaz, o ex-procurador de Justiça Mágino Alves Barbosa Filho, seguramente um dos melhores secretários de segurança dos últimos tempos. Este consultor teve oportunidade de registrar o panorama da segurança pública em São Paulo em palestra feita pelo secretário. Um trunfo para Alckmin O governador Geraldo Alckmin terá, portanto, um trunfo a apresentar: um discurso de resultados na área da segurança pública. Mesmo sabendo que é muito difícil "vender" o produto "segurança", os dados de São Paulo, comparados com os do Brasil como um todo e de outros Estados, exibem forte diferença. O risco do governo Federal A população do Rio de Janeiro aprova maciçamente a intervenção na segurança pública do Estado decidida pelo governo Federal. As Forças Armadas serão recebidas com aplausos. É um fato. Mas o governo enfrenta um grande risco. Imaginemos conflitos e mortes no embate entre gangues e as forças. Partidos de oposição e mídia não deixarão de dar os seus tiros. Sabe-se que as Forças Armadas não são especializadas para fazer segurança pública. Mas o Rio de Janeiro vive um drama cotidiano. O Estado está sob o império da violência e da bandidagem. Os tanques, os quadros bem armados causam sensação de segurança. Suporte sócio-educativo Critica-se a intervenção por não ser apoiada por um conjunto de ações de caráter sócio-educativo. Tem procedência a crítica. Realmente o embate pelo embate pode redundar em contenção imediata da bandidagem, mas no longo prazo tudo pode voltar à situação de antes. Se a intervenção fosse acompanhada de programas nas áreas do saneamento, saúde, educação, certamente os ambientes mais saudáveis comporiam a moldura de melhorias que dificultaria os negócios das drogas e das armas. Como fazer isso emergencialmente? Difícil. Outros Estados E se outros Estados fizerem o mesmo tipo de apelo, como fez o governador Pezão, que reconheceu a falência do RJ em matéria de segurança pública? Haverá meios, recursos, condições? O que se consegue distinguir é o envio de grupos de policiais, como este enviado ao Ceará por apelo do senador Eunício Oliveira, presidente do Senado. Um tento Se tudo der certo, o governo Federal e, particularmente o presidente Michel Temer, acrescentarão alguns pontos positivos à sua imagem. Interventor - I O general do Exército Walter Souza Braga Netto, comandante militar do Leste indicado interventor para a segurança no Rio de Janeiro, conhece bem a violência carioca, e pelo lado mais doloroso: seu irmão Ricardo, então oficial da Marinha, foi assassinado em 1980 na ponte Rio-Niterói quando tentava evitar um assalto. Uma parcela de emoção entra na disposição do general. Interventor - II Braga Netto atuou como coordenador-Geral da Assessoria Especial para os Jogos Olímpicos e Paralímpicos e seu trabalho foi considerado exemplar. O Comando Militar do Leste coordena, controla e executa as atividades administrativas e logísticas do Exército nos Estados do Rio de Janeiro, Minas Gerais e Espírito Santo. Abrange 141 organizações e mais de 50 mil militares, ou 24% do efetivo da Força Terrestre. É a maior concentração de tropas e escolas militares da América Latina. Interventor - III Mas nem uma tropa enorme como essa pode ser capaz de combater ou eliminar o que parece ser a maior das tragédias do Rio de Janeiro: a corrupção que corrói a polícia e toda a máquina estatal do Estado do Rio. Aí é caso para muitos anos de inteligência. A esperança é que o general Braga, militar experiente e sensato, seja coroado de sucesso em sua missão. Avanço no jornalismo: JC Se há um avanço a se registrar no jornalismo televisivo, ele se abriga no Jornal da Cultura, que vai ao ar às 21h15. Pilotado até semana passada por Willian Corrêa, o telejornal ganha aplausos plurais pela coleção de debatedores - cerca de 20 nomes - que, em rodízio, comentam uma longa pauta temática, propiciando dessa forma ao telespectador uma visão plural e substantiva dos fatos do cotidiano nacional e internacional. Willian, infelizmente, deixa a condição de diretor de Jornalismo da TV e âncora do jornal. Vai para Angola dirigir a TV Zimbo, uma de suas criações. Nele distinguem-se os valores da eficiência, simplicidade, modéstia e companheirismo, com os quais fez um batalhão de admiradores e amigos, a partir da bancada de debatedores que formou. Homenagem Willian será homenageado por seus amigos de bancada no próximo sábado. Deixa uma boa marca no jornalismo brasileiro. Será substituído por seu braço direito no jornalismo da emissora, Ricardo Taira, competente, dedicado e experiente jornalista. Um editor de grande capacidade técnica. A TV Cultura, sob o comando de Marcos Mendonça, continuará abrindo trilhas de qualidade. O plano B Rodrigo Maia e Eunício, os presidentes das duas Casas parlamentares, não receberam bem a ideia de um programa de alavancagem da economia, 15 medidas apresentadas como um colchão econômico para aliviar a frustração com a saída de pauta da reforma da Previdência. Por que a indignação pública de ambos? Pelo fato de que 11 medidas já seriam objeto de projetos que tramitam na Câmara? Coisa requentada? Interferência? Mas esse requentamento seria motivo para a contrariedade de Rodrigo e Eunício? O Executivo estaria interferindo na pauta do Legislativo? Talvez este seja o real motivo. Por essa razão, infere-se que os articuladores políticos do governo, a partir do ministro Marun, deveriam ter feito, antes, a lição de casa. Ou seja, conversado com os dois presidentes para sondar o assunto. França, Doria e Virgílio O governador Geraldo Alckmin deverá apoiar um candidato do seu PSDB em São Paulo. O vice-governador Márcio França (PSB) contará com o apoio de alguns partidos, o que aumenta substancialmente seu tempo de mídia eleitoral: 18 minutos. João Doria deve ser apadrinhado por Alckmin. As prévias no PSDB estão marcadas para dia 18 de março, e o segundo turno para o dia 25. Já na área Federal, o prefeito de Manaus Arthur Virgílio continua dizendo que vai enfrentar prévias. Muitos tucanos tentam demovê-lo da ideia em nome da unidade do PSDB. Virgílio, um exímio lutador de jiu-jitsu, parece irremovível. Russomano? Márcio França continua a costurar alianças para encorpar sua candidatura e já convidou o deputado Celso Russomano (PRB-SP) para compor a chapa como vice. Não será tarefa fácil ganhar o apoio do PRB, eis que os candidatos do partido à Câmara precisam de um puxador de votos na legenda para alimentar a bolsa eleitoral de alguns. Outro pré-candidato tucano a governador, o ex-senador José Aníbal, afirma que há espaço para duas candidaturas da base de Geraldo Alckmin. Como seria a participação de Alckmin em dois palanques? Complicado. Panela de pipoca Seria muito difícil para Alckmin navegar com um pé em cada canoa. A ebulição política em São Paulo no momento se assemelha mais a uma panela de pipoca. Flávio Rocha A desistência do apresentador de tevê Luciano Huck de se candidatar à presidência levou o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso a mirar seu facho de luz para o empresário Flávio Rocha, dono das lojas Riachuelo. Flávio patrocina importante projeto para o país, o movimento "Brasil 200", de feição liberal. Nega qualquer aceno na direção de uma candidatura presidencial. Já foi deputado Federal por duas vezes. Estava lá na Constituinte. Argumenta que essa lembrança do ex-presidente FHC chega tarde. Teria pouco tempo para viabilizar seu nome. EUA: cinco questões Na campanha entre Bill Clinton e Bob Dole, em 1996, cinco questões básicas relacionadas a valores permitiam prever se alguém votaria num ou noutro. Os que deram respostas predominantemente conservadoras votaram em Dole. Aqueles cujas respostas relevaram que estavam menos comprometidos com os valores tradicionais votaram em Clinton. As perguntas eram as seguintes: "1. Acredita que sexo antes do casamento seja moralmente errado? 2. A religião é importante na sua vida? 3. Já se interessou por ver pornografia? 4. Tem opinião mais desfavorável sobre alguém que engana o cônjuge? 5. O homossexualismo é imoral?" (Dick Morris em Jogos de Poder) Princípios estratégicos Carlos Matus, cientista social chileno, em um magistral estudo sobre Estratégias Políticas, demonstra que a viabilidade de um ator na política tem a muito que ver com a estratégia e seus princípios fundamentais. Eis alguns princípios estratégicos: a) Avaliar a situação; b) Adequar a relação recurso/objetivo; c) Concentrar-se no foco; d) Planejar rodeios táticos e explorar a fraqueza do adversário; e) Economizar recursos; f) Escolher a trajetória de menor expectativa; g) Multiplicar os efeitos das decisões; h) Relacionar estratégias; i) Escolher diversas possibilidades; j) Evitar o pior; k) Não enfrentar o adversário quando ele estiver esperando; l) Não repetir, de imediato, uma operação fracassada; m) Não confundir "reduzir a incerteza" com "preferir a certeza"; n) Não se distrair com detalhes insignificantes; o) Minimizar a capacidade de retaliação do adversário.
quarta-feira, 7 de fevereiro de 2018

Porandubas nº 561

Abro a coluna com um "causo" das Minas Gerais Mata o bicho O monsenhor Aristides Rocha, mineirinho astuto, fazia política no velho PSD e odiava udenistas. Ainda jovem, monsenhor foi celebrar missa em uma paróquia onde o sacristão apreciava uma boa aguardente. Um dia, o sacristão, seguindo o ritual, sobe o degrau do altar com a pequena bandeja e as garrafinhas de vinho e água, e não vê uma pequena barata circulando entre as peças do altar. Monsenhor interrompe o seu latim e, de olho na bandeja, diz baixinho ao sacristão: - Mata o bicho... O sacristão não entende a ordem. Atônito, fica olhando para o jovem padre, que repete a ordem, agora com mais energia: - Mata o bicho, sô! Ordem dada, ordem executada. O sacristão não se faz de rogado. Diante dos fiéis que lotam a capela, ele pega a garrafinha e, num gole só, sorve todo o vinho da santa missa. No interior de Minas, "matar o bicho" é dar uma boa bebericada. (Do livro de Zé Abelha, A Mineirice.) Tudo como dantes O ditado cai bem: "tudo como dantes no quartel D'Abrantes". (Quem quiser saber como surgiu esse ditado, vá até o final da coluna). As ruas permanecem sem grandes mobilizações, o inferno que o PT pregava caso Lula fosse condenado não apareceu, as palavras de ódio e de incitação à violência amainaram. Essa é a primeira leitura que se pode extrair desses tempos "pós-condenação de Lula". O Brasil não virou de cabeça para baixo. E o PT parece que começa a se convencer da necessidade de pôr os pés no chão e arrumar um plano B - ou seja, indicar um candidato para substituir Luiz Inácio no pleito de outubro. O plano do PT Sabe-se que o PT esgotará todos os recursos à disposição para inserir o nome de Lula na planilha eleitoral. Mesmo condenado no TRF-4, seu caso poderá ser decidido no TSE. O PT poderá pedir o registro da candidatura a partir de 20 de julho, acabando o prazo em 15 de agosto. Após essa data, haverá um prazo de alguns dias para que partido, MP e cidadãos questionem as candidaturas apresentadas. O julgamento pelo TSE pode se estender até 17 de setembro. O PT poderá levar o caso até o STF. E se eleito? Se Lula garantir seu nome nas urnas de 7 de outubro, criará um grande embaraço. Será mais difícil condená-lo ou cassar sua votação, após o pleito? Por isso, a hipótese mais razoável aponta para uma decisão contrária ao PT pelos Tribunais e a substituição do nome de Lula na planilha de candidaturas. Wagner Jaques Wagner, ex-governador da Bahia, e Fernando Haddad, ex-prefeito de São Paulo, são dois nomes mais cotados para substituir Lula. Wagner é um carioca "abaianado" (virou baiano) e pode, até, ter uma votação expressiva no Nordeste, mas passa a impressão de que o cargo de presidente está bem acima dele, de sua identidade. Haddad Haddad não foi bem avaliado como prefeito de São Paulo, e passa a impressão de que continua com jeito de schollar, um acadêmico mais atento às ideias marxistas do que às coisas da administração pública. De qualquer forma, ambos poderiam puxar os votos da legenda para a formação de uma grande bancada na Câmara dos Deputados, nas Assembleias e nos governos dos Estados. O maior cabo eleitoral A imagem já está pronta: Lula correrá o território com a pregação de vítima, um político perseguido pelo Judiciário e pelas elites. Fará isso, claro, se não estiver preso. Este é o maior temor do PT, que promete fazer apelos a organismos internacionais. Os petistas tentarão resgatar o apartheid, com o surrado discurso de "nós" e "eles". Falta de sensibilidade. Incitação à luta armada O discurso de separação e ódio dispara reações fortíssimas contra o petismo-lulismo. Mais ainda quando se ouvem disparates, como aquele lançado pelo senador do RJ, o ex-cara pintada Lindberg Farias, de sugerir o uso da violências nas ruas para defender "o legado do PT". Esquecem ele e os militantes o gigantesco buraco em que jogaram o país no ciclo de 13 anos do petismo. Centro dividido Continua a pasmaceira nos espaços do centro. Álvaro Dias, Geraldo Alckmin, Henrique Meirelles e Rodrigo Maia são nomes que perambulam pelas áreas centrais, mas nenhum deles, até o momento, mostrou condição de avançar. É possível que não tenha havido, ainda, condição para esquentamento das bases eleitorais. Meirelles daria um bom salto se a economia corresse mais rápido na pista do crescimento. Mas não tem nenhum carisma. Quem subirá? Alckmin pode sair com uma grande votação em São Paulo, mas não finca estacas nas roças eleitorais do Nordeste e outras regiões. Rodrigo Maia é muito desconhecido, mas pode canalizar os efeitos da agenda positiva que passou pela Câmara. E Álvaro Dias sofrerá as restrições impostas por pequenas siglas - tempo de mídia eleitoral. Chances De qualquer forma, as chances do centro inserir um nome no segundo turno são grandes. Começa a se firmar a convicção de que Bolsonaro é um nome de ocasião, sem condições de segurar o rojão de uma campanha pesada, densa. Parece estar muito aquém de uma figura presidencial. Será apequenado. Marina e Ciro À esquerda - entrando pelo espaço do centro-esquerda, os nomes de Marina e Ciro Gomes podem se aproveitar bem do afastamento do nome de Lula. Ciro, principalmente, pode avançar com sua linguagem dura. O risco é ser atropelado pela própria língua, com o uso de impropriedades. Marina avançará no terreno dos jovens e de fortes núcleos que votarão sob o compromisso da ética. Huck I Pois é, o nome do animador de auditório passa a ser novamente especulado. Seus programas, ultimamente, se voltam muito para plateias nordestinas. O outsider teria condições de engabelar as massas, principalmente com a exclusão de Lula na lista de presidenciáveis. Fala-se da ideia de resgatar, aqui, o roteiro de Macron, na França. Huck II Lá ele fez uma campanha de lá para cá, ou seja, do povo mobilizado. Criou uma legião de cabos eleitorais, que passaram a fazer a comunicação nas redes. Passou por cima de partidos. Huck teria condições de fazer isso por aqui? Se eleito, passaria por cima de partidos? Como governaria? O Brasil entraria numa grande escuridão. Napoleão e Sherman Napoleão ensinava: faire son thème en deux façons (fazer as coisas de dois modos). O general William Sherman, que comandou a campanha de devastação durante a guerra da secessão norte-americana, também lembrava : "Ponha o inimigo nos cornos de um dilema". Nunca um político deve trabalhar com uma única hipótese. Um candidato precisa dispor de algumas alternativas. França e Doria A guerra está, por enquanto, nos bastidores. Marcio França, do PSB, vice-governador, é candidato ao governo. Terá a máquina na mão a partir de abril. Forte arma. Mas parcela dos tucanos quer lançar o nome do prefeito João Doria. Será difícil uma composição entre PSB e PSDB. Alckmin vai decidir O governador Alckmin está silente. Contempla a cena. Certamente a decisão final caberá a ele. Doria tem maior chance de pegar o apoio do PSDB, tucano que é. Mas França, com a arma da administração, pode atrair uma parcela razoável de partidos. E ganhar musculatura na mídia eleitoral. João é obstinado. Se decidir mesmo ser candidato, irá para a luta com um grande arsenal e muita disposição. Onde anda Paulo Skaf? Paulo Skaf, o arrojado presidente da FIESP, que foi candidato ao governo de São Paulo, em 2014, anda desaparecido. Fez rápida incursão na propaganda do SESI e desapareceu. Deve estar pensando na reza: passarinho na muda não pia. Skaf quer ser novamente candidato ao governo pelo MDB. A impressão é a de que o dirigente da maior Federação de indústria do país tem ojeriza a fazer campanha usando a sola de sapato, praticando o mão na mão, olho no olho, casa a casa. Ele gosta mesmo é de fazer campanha na televisão. Esquece que os tempos são outros. A articulação com a sociedade organizada é, hoje, a principal perna do marketing eleitoral. Índice de intenção de voto Como deve se interpretar índice de intenção de voto muito tempo antes da reta final de uma campanha? Eis a resposta: índice de intenção de voto é igual ao desenho do elefante visto nos céus. Dentro de pouco tempo, o que era elefante se esgarça e se transforma em gafanhoto; e o que era uma nesga de nuvem, parecendo um gafanhoto, se agiganta, mais parecendo um grande urso. Durante uma exposição massiva, de 35 dias seguidos e intensos, desconhecidos se transformam em astros, celebridades. Afora outsiders saídos da TV. Estes já saem com base bem mais ampla para uma decolagem. Peru não morre de véspera A eleição de um candidato depende do momento, das circunstâncias, da temperatura social, dos versos e reversos da economia, do perfil dos adversários, dos debates e combates na arena eleitoral, dos climas regionais, da força da mídia eleitoral (significando tamanho dos programas eleitorais), dos inputs momentâneos (uma crise abrupta, um caso espetaculoso) - enfim, de uma escala de elementos ponderáveis e imponderáveis. Os fatores imprevisíveis abrem as possibilidades. Única verdade: peru não morre de véspera. PSB vai com quem? Grande dúvida: com que candidato fechará o PSB? Terá candidato próprio? Ciro Gomes e Paulo Câmara, governador de Pernambuco, do PSB, andaram conversando semana passada. Descarte-se essa ideia de Joaquim Barbosa, o esquentado ex-presidente do STF. Juízes sob fogo Os juízes estão sob intenso tiroteio. Os tiros procuram atingir o departamento de privilégios do Judiciário, que abriga muitos auxílios, sendo o mais visado o auxílio-moradia. Como podem um juiz e uma juíza, casados e morando sob o mesmo teto, receberem ambos auxílio-moradia? Se tudo é legal, de acordo com decisões já tomadas pelas Cortes Superiores, abre-se nessa legalidade formidável paredão antiético. O Judiciário até resgatou seu papel de protagonista central nos espaços da crise política. Mas os privilégios estão corroendo a toga. O discurso político Costumo bater nesta tecla. Muita gente se engana com a eficácia do discurso político. Pois bem, o discurso político é uma composição entre a semântica e a estética. O que muitos não sabem é que a eficácia do discurso depende 7% do conteúdo da expressão e 93% da comunicação não verbal. Esse é o resultado de pesquisas que se fazem sobre o tema desde 1960. E vejam só: das comunicações não verbais, 55% provêm de expressões faciais e 38% derivam de elementos paralinguísticos - voz, entonação, gestos, postura, etc. Ou seja, do que se diz, apenas pequena parcela é levada em consideração. O que não se diz, mas se vê, tem muito maior importância. Portanto, senhoras e senhores que encenam peças no programa eleitoral, anotem esta informação. A origem do ditado "A frase surgiu no início do século 19, com a invasão de Napoleão Bonaparte à Península Ibérica. Portugal foi tomado pelas forças francesas, porque havia demorado a obedecer ao Bloqueio Continental, imposto por Napoleão, que obrigava o fechamento dos portos a qualquer navio inglês. Em 1807, uma das primeiras cidades a serem invadidas pelo general Jean-Andoche Junot, braço-direito de Napoleão, foi Abrantes, a 152 quilômetros de Lisboa, na margem do rio Tejo. Lá instalou seu quartel-general e, meses depois, se fez nomear duque d'Abrantes". Nada mudou. "O general encontrou o país praticamente sem governo, já que o príncipe-regente Dom João VI e toda a Corte portuguesa haviam fugido para o Brasil. Durante a invasão, ninguém em Portugal ousou se opor ao duque. A tranquilidade com que ele se mantinha no poder provocou o dito irônico. A quem perguntasse como iam as coisas, a resposta era sempre a mesma: 'Esta tudo como dantes no quartel d'Abrantes'. Até hoje se usa a frase para indicar que nada mudou". A explicação é de Flávia Souto Maior, que assim se define: tradutora inglês e espanhol/português. Formada em jornalismo pela ECA-USP, trabalha quase exclusivamente com tradução de livros desde 2007. Tem no currículo mais de 60 obras traduzidas para grandes editoras brasileiras. Amante de idiomas e literatura.
quarta-feira, 24 de janeiro de 2018

Porandubas nº 560

Abro a Coluna com uma historinha da Bahia. O medo do aperto de mão O deputado baiano mandou cartão de Natal para uma mulher que morrera há muito tempo. A família, irritada, retribuiu: "Prezado amigo, embora jamais o tenha conhecido durante os meus 78 anos de vida terrena, daqui de além-túmulo, onde me encontro, agradeço o seu gentil cartão de boas-festas, esperando encontrá-lo muito em breve nestes páramos celestiais para um frio aperto de mão. Purgatório, Natal de 2005." O deputado recebeu a resposta. E até hoje espera, angustiado e insone, pelo aperto de mão. Hoje tem espetáculo Vamos ao hit dos tempos de criança. O palhaço, montado sobre cavaletes, movimentando-se de forma capenga, gritava a pergunta para a criançada atrás dele: "hoje tem espetáculo?" A galera respondia: "tem sim, senhor". Pois bem, hoje tem espetáculo em Porto Alegre. Que dá direito a ver atiradores de elite, policiais encouraçados, exércitos do MST e da CUT berrando slogans e agitando bandeirinhas vermelhas, militantes petistas, sob o comando da "guerrilheira" Gleisi Hoffmann, suando suas camisetas, palavras de ordem jogadas a torto e a direito. Em São Paulo, depois de participar, ontem, de comício em Porto Alegre, o principal ator - ele mesmo, Luiz Inácio - deverá subir ao palco para desfechar tiros verbais contra o Judiciário, vestindo o manto de vítima, caso tenha recebido condenação. Se for inocentado, vai dizer que a justiça se cumpriu. O julgamento de Lula pelo TRF da 4ª Região é o evento que abre a campanha petista. A agitação política Não poderia ser melhor este espetáculo para o jogo premeditado do PT: abrir com pompa a campanha petista no país, tendo como protagonista maior o comandante-em-chefe do petismo, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O PT quer não apenas sobreviver no meio da borrasca, mas fazer o que for possível para manter e até aumentar suas bancadas nos Estados e no Congresso Nacional. Candidato ou não, Lula já foi entronizado como o símbolo da campanha: vítima das elites, perseguido por um Judiciário venal, predestinado que puxou o Brasil para o Olimpo da felicidade. Esse será o discurso que já se ouve por todos os lados. Firulas jurídicas O fato é que se Lula for condenado, hoje, as firulas jurídicas darão o tom dos próximos tempos. Embargos de declaração, embargos infringentes, recursos ao próprio TRF4, recursos ao STJ, ao TSE e até ao STF constam da pauta do PT. O Brasil acompanhará, de norte a sul, o bombardeio expressivo do petismo, sob aplausos de grupos de operadores do Direito que simpatizam com Lula, grupinhos de intelectuais e artistas que o idolatram, tapando os olhos para o maior processo de corrupção de toda a história brasileira, cujo epicentro nasceu e tomou corpo na era lulodilmista. Ir às urnas? Este consultor concorda com a tese de que as coisas não devem ser misturadas: uma coisa é a condenação ou absolvição pela Justiça, outra é o desejo de muitos de que Lula vá às urnas e seja derrotado. Uma situação não pode substituir a outra. Como se fosse possível trocar os corredores da Justiça pelas ruas. Lula deve ser julgado, como todos os outros implicados em denúncias, sem exceção. Absolvido, pode, sim, se submeter ao crivo do sufrágio universal. Pelo barulho que está fazendo, até parece que o petismo desejaria, no íntimo de muitos de seus quadros, que Lula não fosse candidato. Ou perdesse nas urnas. Seria uma oportunidade para se reciclar. A judicialização da política Não é preciso que as pessoas sejam doutas e com denso estofo jurídico para concluir que o Brasil aprofunda, a cada episódio envolvendo quadros do Judiciário decidindo sobre questões políticas, o que se chama de "judicialização da política". Que significa o modus faciendi da política sob os ditames do Judiciário. Caso exemplar é esse da proibição da posse da nomeada ministra do Trabalho, Cristiane Brasil. Pois bem, um juiz de primeira instância fez o primeiro impedimento. Depois, dois desembargadores da 2ª instância mantiveram a proibição. Um desembargador do STJ despachou favoravelmente e a ministra, ufa, se preparou para tomar posse anteontem. Advogados impetraram recurso junto ao STF. E a presidente daquela Corte, ministra Cármen Lúcia, decidiu sustar a posse. Interferência Ora, fica clara a interpenetração de funções. Nomear ministro é prerrogativa exclusiva do presidente da República. Se a pessoa nomeada tem ou teve problemas com a Justiça, que a deusa Têmis, com sua balança e sua espada, use seu poder em julgamento obedecendo aos parâmetros do Judiciário. Se for condenada mais adiante, deixe o posto para o qual foi indicada. Imaginemos, agora, a hipótese. Até 15 de março, o presidente deve nomear 15 novos ministros, em lugar dos atuais que serão candidatos em outubro. Pois bem, em tese, e na esteira do que acabamos de assistir, um juiz de 1ª instância poderá simplesmente impedir a nomeação dos 15, caso enxergue em todos eles passagem pelos corredores do Judiciário. Por que isso ocorre? Espetacularização Esses fatos ocorrem porque o Brasil atravessa imensa crise e a classe política sofre apupos da sociedade. Promotores e juízes, nesse contexto de deterioração ética e moral, passam a ser vistos como os expurgadores do Mal, anjos a fustigar demônios. Evidentemente, o espelho de Narciso é tirado dos armários para que os operadores do Direito nele se vejam. Ganhar visibilidade, receber aplausos da sociedade e da mídia, cantar Hosana nas Alturas - são situações que fazem parte do Estado-Espetáculo e acendem a fogueira das vaidades de muitos. Este consultor veria outro cenário, de menor interferência de um Poder em outro, caso a classe política estivesse, hoje, sob o conforto dos aplausos da sociedade. Bolívar O timoneiro Simon Bolívar tinha sua inspiração. Eis um pensamento para retratar a América Latina: "Não há boa-fé na América nem entre os homens, nem entre as Nações. Os tratados são papéis, as Constituições não passam de livros, as eleições são batalhas, a liberdade é anarquia e a vida é um tormento". A expressão, apesar de rigorosa, exibe traços de uma desorganização institucional, que propicia a luta do "poder pelo poder", o excesso de detalhes de nossa Constituição, na qual os grupamentos organizados da sociedade cunharam sua assinatura, e os excessos burocráticos. O Brasil em Davos O presidente Michel Temer, ministros do governo, a partir de Henrique Meirelles, o prefeito João Doria e empresários brasileiros estão em Davos, na Suíça, para participar do anual evento que reúne as lideranças do planeta. Vale acentuar que as agendas dos representantes brasileiros estão lotadas de compromissos e audiências pedidas por interlocutores de muitos países. Em suma, o Brasil desperta o interesse dos investidores. Ficha limpa O julgamento de Lula, hoje, deixa a lei da Ficha Limpa sob acurada observação. Ganhará força ou será desmoralizada. As próximas semanas serão decisivas para se firmar esta hipótese. Ovelhas John Stuart Mill, um dos pensadores liberais mais influentes do século 19, classificava os cidadãos em ativos e passivos, aduzindo que os governantes preferem os segundos, mas a democracia necessita dos primeiros. A comparação do filósofo inglês, pinçada por Norberto Bobbio em seu livro O Futuro da Democracia, expressa, ainda, a ideia de que os súditos são transformados num bando de ovelhas a pastar capim uma ao lado da outra. Ao que Bobbio acrescenta: "Ovelhas que não reclamam nem mesmo quando o capim é escasso." Pois bem, por estas bandas, a imagem do grande cientista político continua viva. Equinos, caprinos e bovinos continuam nos currais aguardando capim farto. Haja capim. Algemas do Cabral Humilhação. Esta é a obvia observação que se tira da imagem das algemas nas mãos e nos pés do ex-governador Sérgio Cabral em sua chegada à Curitiba, vindo do Rio. Juízes querem saber os motivos que levaram a PF a algemar desse jeito o preso. Segurança, alega a PF. Segurança contra eventual atitude de Cabral ao reagir a curiosos que poderiam querer avançar sobre ele. Mas os policiais, eles próprios, não poderiam entrar em ação, caso isso ocorresse? Mais uma ação do Estado-Espetáculo. A febre amarela Oswaldo Cruz, o grande sanitarista que honra a galeria do combate às endemias e epidemias, debelou a febre amarela no Rio de Janeiro em 1903. Depois liderou o combate à varíola, sob a revolta de uma população que temia se vacinar. Hoje, vemos a população batendo as portas de estabelecimentos hospitalares para receber a vacina contra a... febre amarela. O Brasil vive a Síndrome do Eterno Retorno. Previdência O déficit da Previdência da União (INSS e servidores) atingiu R$ 268,798 bilhões em 2017. E ainda há gente que acha esse rombo uma quimera. Os Estados estão falidos. Seus sistemas previdenciários sem condições de aguentar o pagamento da folha dos servidores aposentados. E os deputados federais dizem que a reforma da Previdência é impopular. Ora, impopulares serão eles quando começarem a enfrentar a gritaria de aposentados que não recebem seu benefício por causa de cofres estaduais vazios.
quarta-feira, 17 de janeiro de 2018

Porandubas nº 559

Abro a Coluna com a graça do Piauí. Dois vereadores da Arena de Parnaíba/PI. Um, da Arena de Petrônio Portela, o outro da Arena de Alberto Silva. Inimigos políticos. Um, dentista, pôs os dentes na boca do outro. Na primeira sessão, os dois brigaram: - V. Ex.ª é um desonesto. - Desonesto é você, filho de uma... Devolva meu dente. Pois fui eu que pus. - Eu paguei, seu sacana. - E daí que pagou? Falar mal de mim, até pode. Com meu dente, não. Partiu pra cima. E arrancou os dentes. Sem anestesia. A nova Carta Pois é, Luiz Inácio está encomendando a um grupo de economistas e assessores uma nova Carta aos Brasileiros, nos moldes do documento que apresentou em 2002, com a grande ajuda do amigo de então, Antônio Palocci. O objetivo é o mesmo: acalmar o mercado. Pelo menos nesse aspecto, a senadora Gleisi, presidente do PT, não blefa. A carta está sendo confeccionada e vai apontar os rumos da economia em um eventual novo governo petista. O problema é a credibilidade. Diminui sensivelmente no meio da sociedade o número daqueles que botam fé em Lula. As margens O discurso lulista continua a ter fortes influências nas margens. Que consideram todos os políticos iguais, com a diferença de que Lula teria lhes dado um cobertor social longo. A pior recessão da história brasileira passa longe do sistema cognitivo das massas. Ao correr da campanha, caso Lula seja confirmado candidato, é possível que parcela das margens seja induzida pela força dos círculos concêntricos, essas ondas que saem do meio, formando marolas até as margens. Ou seja, o aparato discursivo anti-PT será intensificado ao correr da campanha. E a tuba de ressonância tende a ser tocada por núcleos do centro da sociedade. Lula na urna Para muitos brasileiros, seria mais útil para a democracia que Lula fosse candidato. Se for impedido, circulará por bom tempo no território a ideia de que Luiz Inácio foi impedido. Uma derrota nas urnas é mais provável que eventual vitória. A considerar a hipótese de melhoria do bem-estar de vida da população, a partir do resgate da economia. Já o cenário de uma vitória do lulopetismo teria como eixo a economia em frangalhos, sob ecos do desespero social. Tudo é possível. Acompanharemos essa trajetória de perto até outubro. A pressão em Porto Alegre Não se justifica o estardalhaço que o PT está organizando para pressionar os juízes do TRF da 4ª Região. A democracia pressupõe o jogo dos contrários, as manifestações contra e a favor de Lula. Mas há um limite para tais manifestações. A ordem pública tem de ser mantida. A segurança da população há de ser garantida. Ameaçar juízes, como se tem feito, é um expediente de regimes autoritários. Pior, ainda, é prever "morte", "assassinatos", em caso de eventual prisão de Luiz Inácio. Foi isso que anunciou a senadora Gleisi Hoffmann, do alto de seu cargo de presidente do PT. Menos, senadora, menos. Maquiavel Uma de suas lições: "Um príncipe precisa usar bem a natureza do animal; deve escolher a raposa e o leão, porque o leão não tem defesa contra os laços, nem a raposa contra os lobos. Precisa, portanto, ser raposa para conhecer os laços e leão para aterrorizar os lobos." Arremata: "não é necessário ter todas as qualidades, mas é indispensável parecer tê-las." O oposicionismo na eleição Os candidatos classificados como de "oposição" aos atuais governantes dos Estados exibem uma extraordinária vantagem: apresentam-se como alternativa às más e péssimas administrações. Só isso lhes confere uma posição melhor. E se forem símbolos do novo, perfis não contaminados pelo vírus da velha política, aumentarão ainda mais as chances. Cofres vazios, funcionários públicos com salários atrasados, greves de polícias, assaltos em profusão deixando a população amedrontada - constituem o pano de fundo que acolherá o pleito deste ano. Mas os candidatos da oposição precisam ser confiáveis. Não serão eleitos apenas com o verbo de destruição do adversário. O discurso político Costumo bater nesta tecla. Muita gente se engana com a eficácia do discurso político. Pois bem, o discurso político é uma composição entre a semântica e a estética. O que muitos não sabem é que a eficácia do discurso depende 7% do conteúdo da expressão e 93% da comunicação não verbal. Esse é o resultado de pesquisas que se fazem sobre o tema desde 1960. E vejam só: das comunicações não verbais, 55% provêm de expressões faciais e 38% derivam de elementos paralinguísticos - voz, entonação, gestos, postura, etc. Ou seja, do que se diz, apenas pequena parcela é levada em consideração. O que não se diz, mas se vê, tem muito maior importância. Portanto, senhoras e senhores que encenam peças no programa eleitoral, anotem esta informação. O perfil do empresário O perfil do empresário moderno, arrojado e empreendedor, entra com muita naturalidade no figurino do atual pleito. É visto pelo eleitor como alguém que fez e faz sucesso, não está contaminado com o sangue da velha política, e pode, nessa condição, emprestar sua experiência para redimir o Estado, resgatando sua força. O momento do empresário é esse: se o cavalo passar encilhado à sua porta, você, empreendedor com esse perfil, monte nele. E faça boa viagem. Chegará bem a seu destino. O estrategista na campanha Dinheiro curto, campanha menor - proibição de doação de recursos por empresas, tempo de campanha de 90 dias nas ruas para 45 dias e de 45 dias no rádio e TV para 35 dias - sugerem a realização de uma campanha racional, focada em prioridades, concisão e precisão no discurso (propostas), intensa articulação social. Esqueçam aqueles filmetes cinematográficos, de belo efeito visual. Não haverá espaço para engodo. O marqueteiro tradicional cederá lugar ao estrategista. Marketing resgata identidade Graças à crise, o marketing eleitoral se reencontra com sua verdadeira identidade. Que é formada por cinco eixos; pesquisas (quanti/quali), discurso, comunicação, articulação e mobilização. Os publicitários da era de Duda Mendonça estão dando adeus. Fizeram, vale reconhecer, celebradas campanhas de publicidade - criativas, sem dúvida. Mas os tempos de hoje exigem mais condimentos, outras engrenagens. Marketing eleitoral não se resume a programas de rádio e TV. Ufa! Viva a crise. Redes sociais As redes sociais terão papel muito forte na campanha eleitoral. Serão muito acessadas, principalmente na esteira do tiroteio verbal que, aliás, já começou. As redes serão inundadas de fake news. A mentira, a deturpação, o engodo, a mistificação, enfim, situações tendenciosas serão massificadas. O jurídico das campanhas deve ficar atento para as notícias sobre seus candidatos. Convido, desde já, as equipes de plantão e os milhões de internautas a não se deixarem levar pela falsidade. Feminismo exacerbado Nos últimos tempos, têm explodido denúncias de assédio sexual envolvendo personalidades do mundo artístico. Urge saudar esses tempos de expressão feminina contra os abusos masculinos. A atriz Catherine Deneuve teve a coragem de fazer um artigo onde defende a liberdade do homem de paquerar. Foi execrada. O fato é que o mundo feminino, ao que parece, divide-se entre mulheres que defendem o feminismo exacerbado e mulheres que enxergam certo exagero nas denúncias. A situação abre muita polêmica. O bom senso haverá de prevalecer. Não se pode confundir uma paquera com assédio. Ou será que este consultor perdeu as estribeiras? CNJ e leis inconstitucionais Por falar em polêmica, abriu-se uma, recentemente, que tem por base a decisão do STF de permitir ao Conselho Nacional de Justiça que não aplique leis que considere inconstitucionais. A tese foi definida pelo Supremo Tribunal Federal, por unanimidade, na última sessão do Plenário de 2016, mas o acórdão só foi publicado em dezembro de 2017. A ministra Cármen Lúcia, relatora do caso, permitiu que o Conselho Nacional de Justiça reconheça inconstitucionalidade de leis ao analisar situações específicas. Em seu voto, ela disse que deixar de aplicar uma norma por entendê-la inconstitucional é diferente de declará-la inconstitucional, algo que só pode ser feito pelo Judiciário. Órgãos de controle administrativo têm o "poder implicitamente atribuído" de adotar essa prática. Cármen citou o CNJ, o Conselho Nacional do Ministério Público e o Tribunal de Contas da União. Vitória das extremidades? Este consultor tem refletido bastante sobre uma questão recorrente nos debates de que tem participado. Afinal, é possível termos, este ano, a vitória de alguém das extremidades do arco ideológico, Lula ou Bolsonaro? Confesso que vejo o fortalecimento de correntes que não fecham com perfis das margens. Sob essa observação, seria mais viável a vitória de um perfil que transite pelo espaço de centro-direita ou centro-esquerda. As margens não fariam maioria. Mesmo assim, coloco em ênfase a relatividade das coisas no campo da política. Ou seja, o imponderável frequenta nosso meio com certa frequência. Reversão de expectativas Outra questão para a qual chamo a atenção é: a renovação no Parlamento será grande? Respondo: paradoxalmente, não. Explico: menos recursos, campanhas mais curtas (de rua e de tempo de rádio e TV), favorecem quais perfis? Os já conhecidos. Ou seja, é mais provável que os atuais parlamentares, na condição de candidatos, sejam reeleitos. Em 1990, a renovação se deu por volta de 63%. Este ano, projeto uma renovação abaixo da média histórica: apenas de 40%. A conferir. Fecho a Coluna com uma historinha do Espírito Santo. Robô do prefeito? Na Câmara Municipal de Mimoso do Sul (ES), Luiz Carlos da Silva, líder do MDB, discutia com Jaime da Rocha Nogueira, líder do PDS, por causa do prefeito Pedro Costa, também do PDS. Luiz Carlos atacava o líder do prefeito: - V. Exa. é um teleguiado, sem personalidade. Só cumpre ordens. - Sou líder. E o líder tem de dizer o que o Executivo pensa. - Critico o comportamento de V. Exa., por ser um homem de recados, robô do prefeito. - Senhor vereador, até agora discutia com V. Exa. porque não me sentia agredido. Agora, V. Exa. vai ter de provar a esta Casa quando é que eu roubei o prefeito. A sessão acabou.
quarta-feira, 10 de janeiro de 2018

Porandubas nº 558

Abro a Coluna com as coisas engraçadas do mineiro. Da burrice e da engenharia Era uma vez..... Viajando pelo interior de Minas, o arquiteto Marcos Vasconcelos encontrou um grupo de trabalhadores abrindo uma estrada: - Esta estrada vai até onde? - Muito longe, muito longe, doutor. Atravessa o vale, retorce na beirada da serra, quebra na esquerda, retoma pela direita, desemboca em frente, e vai indo, vai indo, até chegar a Ponte Nova, passando por baixios e cabeceiras. - Vocês têm engenheiro, arquiteto, teodolito, instrumentos de medição? - Num tem não, doutor. Nós tem um burro, que nós manda ir andando, andando. Por onde ele for, aí é o melhor caminho. Nós vai picando, picando. - E quando não tem burro? - Aí não tem jeito, doutor; nós chama um engenheiro mesmo. O arquiteto seguiu adiante filosofando sobre as artes da burrice e da engenharia. O ano eleitoral Esta é a primeira coluna do ano. O compromisso deste espaço é o de fazer uma leitura acurada e apurada do ambiente social, político e econômico. Claro, pelas características do ano, darei ênfase à abordagem eleitoral. Pretendo ajudar os leitores e protagonistas da política a entender o que se passa a seu redor. E vou começar analisando as chances de eventuais candidatos à presidência da República, com os prós e contras que balizam seus perfis. Lula I É o maior líder político do país. Tem perfil encravado na ponta esquerda do arco ideológico. É o que mais assume a condição populista. Exerce influência sobre as massas. Principalmente as incautas. Mas causa medo a importantes grupamentos sociais, a partir das classes médias. Lula está no epicentro da Lava Jato. Tenta se desvencilhar do rolo em que está metido. Será julgado. Com alta possibilidade de ser condenado pela 2ª. instância - o TRF da 4ª Região. Deverá se vitimizar. Dizer-se vítima dos poderosos e da Justiça. A militância se prepara para fazer barulho em 24 de fevereiro. Lula II Lula não mais mantém poder de incendiar o país. Porque, nos últimos tempos, ele e outros quadros do PT têm sido alvo de intenso bombardeio. Da mídia e de setores organizados. O mercado reage a ele negativamente. Carrega forte poder eleitoral no Nordeste, mas perde espaço no Sudeste. Está, hoje, na dianteira das pesquisas. Amanhã, tende a cair. A campanha deverá atirar pesado sobre ele. Alijado, escolherá um substituto. Que pode ser Fernando Haddad, ex-prefeito de São Paulo. Um desempenho fraco. Alckmin I O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, deverá ser o candidato tucano. Seu desafio: atrair para sua aliança os grandes partidos, a partir do MDB. Geraldo é portador da síndrome do muro: é criticado pela mania de ficar no meio do problema, sem decidir por um lado ou por outro. O MDB desconfia dele. Alckmin sabe que só terá sucesso se for o candidato das maiores forças do centro. Se o centro se diluir e apresentar outros candidatos, a fragmentação acabará beneficiando os perfis das pontas esquerda e direita. São Paulo será o grande avalista do governador. Se sair daqui com enorme bacia de votos, terá vantagem. O maior colégio eleitoral do país poderá se transformar em fator de diferença. Alckmin II Geraldo Alckmin encontrará desafios pela frente: além de convencer partidos a caminharem juntos com o PSDB, terá de escolher o candidato ao governo de São Paulo. Quem? Marcio França, o vice-governador, que assumirá o governo em abril? João Doria, o prefeito e pupilo que continua com seu nome na parada? José Serra, o senador? Um passo falso nessa vereda pode diminuir as chances de Alckmin. É vital ganhar em São Paulo. João Doria poderia ser a opção. Até pode fechar as portas do PSB, mas tem condições de abrir as portas de outros partidos, como o PSD de Kassab. Basta que este seja o vice na chapa de Doria. Bolsonaro Jair Bolsonaro existe como candidato à presidência da República por ter destemido exército nas redes sociais. O capitão é a gripe da estação. Que tende a passar. Principalmente quando for exposto por inteiro pela mídia massiva. Não resistirá ao foguetório que se abaterá sobre ele (mas em política, o imponderável costuma dar as caras. Bolsonaro pode ser o imponderável? É possível). Terá curtíssimo tempo de exposição na TV. A conferir. Álvaro Dias Podemos ou não podemos? Senador Álvaro, acho que, desta feita, o senhor não deverá sentar na cadeira presidencial. Seu perfil é muito regional, limitando-se ao Paraná e adjacências. A não ser que consiga ser o único candidato das forças do Centro. Abro, portanto, uma fresta, senador. Podemos, seu partido, ainda é uma pálida alternativa para poder (?) viabilizar uma candidatura presidencial. Henrique Meirelles O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, deverá carrear prestígio na esteira da recuperação da economia. Pode ser o candidato das forças governistas. Mas enfrenta imensa dificuldade: não tem traquejo político. Poderia se enrolar no pacote de alianças. E não tem carisma. Com sua fala difícil de ser compreendida, pode ser um perfil a não deslanchar. Meirelles terá até abril para se viabilizar como candidato dos partidos governistas. Rodrigo Maia O presidente da Câmara, Rodrigo Maia, tem grande potencial. Demonstrou ser um líder capaz de mobilizar a esfera política em sua gestão como presidente da Câmara. As vitórias do governo - reformas - na Câmara se devem muito ao comando de Maia. Que pode ser um candidato mais palatável das forças de centro. É mais jovem que Meirelles, faz parte do jogo político, exibe flexibilidade para a formação de parcerias e alianças. Marina Silva A ex-senadora Marina Silva continua tendo uma imagem limpa, asséptica, despojada, simples. Mas passa a impressão de não ter forças para resistir ao rolo compressor da política. Exibe algum grau de ingenuidade. A pureza que emoldura seu perfil pode ser devastada pelo jogo sujo da política. Seu partido - Rede Sustentabilidade - ainda não tem estrutura para aguentar, sozinho, uma campanha. E terá dificuldades para fazer alianças, a par de reduzido tempo de rádio e TV. Ciro Gomes O PDT embarca com o nome do ex-ministro e ex-governador do Ceará, Ciro Gomes. Como é sabido, Ciro porta uma metralhadora ambulante. Fala o que muitos ouvidos não querem ouvir. É o mais combativo dos perfis que desfilam no cenário presidencial. O PDT tende, porém, a se isolar. Se Lula for impedido de ser candidato, a situação de Ciro melhora bem. No Nordeste, ele poderá ser bem votado. Trata-se de pessoa bastante conhecida na região. Mas no Sudeste, o maior colégio eleitoral, o pedetista não empolga. E O MDB? Em São Paulo, o MDB tende a caminhar com Paulo Skaf. Um candidato com o letreiro na testa: sou presidente da FIESP e quero governar São Paulo. O fato é que Skaf terá muitos poréns a enfrentar. Passa imagem de aproveitador do sistema SESI, acha-se poderoso. Mesmo assim, parece ter conquistado a boa vontade de Baleia Rossi, presidente do MDB estadual e de próceres do partido. O presidente da FIESP sairia melhor como candidato ao Senado. Sem carisma, mas pessoa obstinada. No Plano nacional, o MDB deverá coordenar o esforço para encontrar o candidato das forças centristas: Alckmin? Meirelles? Maia? O DEM Fará aliança com os partidos de centro. E poderá ceder um de seus quadros para ser vice da chapa presidencial. O nome mais visível e forte para ser vice de Alckmin, por exemplo, é o do prefeito de Salvador, ACM Neto. Que faz boa gestão. Sairia da Bahia, o quarto maior colégio eleitoral do país, vestindo o manto da jovialidade. PT contra Globo? O PT entrou na Justiça contra a TV Globo. Tenta processar o canal por causa da entrevista de Luciano Huck ao Faustão, domingo passado, dizendo que o animador estaria fazendo campanha eleitoral. É para gargalhar. Huck não se apresentou como candidato. Negou, até, a possibilidade, dizendo querer ajudar o país incentivando o eleitorado a escolher melhor seus candidatos. Enquanto isso, Lula corre o país, diz ser candidato, anuncia que será eleito etc. Ou seja, faz campanha prévia. O que é proibido. Mas o PT nega isso. Gleisi, a presidente do PT, e Lindenberg Faria, líder do partido no Senado, são mesmo "cara de pau". 4 milhões de votos a mais No mais recente levantamento do TSE, realizado em novembro de 2017, o Brasil contava com 146.717.893 eleitores, um crescimento de 2,65% na comparação com outubro de 2014, data da última eleição presidencial no país. São 3,9 milhões de votos a mais daquela época, quando o eleitorado somava 142,8 milhões de pessoas. Mulheres, maioria Dentre o último número de eleitores apurado, 76,88 milhões são mulheres (52,4%); 69,75 milhões são homens (47,54%), e 0,05% (78 mil eleitores) não declararam o sexo. Em 2014, a parcela de homens era de 47,79%, mulheres 52,13%, e eleitores sem sexo declarado, 0,08%. Em 24, 34 milhões Ainda nos dados mais atuais, somente 24 municípios do País somam, juntos, 34 milhões de votos (23,9% do total de eleitores). Essas cidades contam com mais de 500 mil eleitores cada. Na ponta contrária, 92% dos municípios do Brasil possuem, juntos, 58 milhões de pessoas. São 5125 cidades com até 50 mil eleitores cada. Biometria Um dado curioso é a expansão do número de urnas biométricas. Nas eleições presidenciais de 2014, 23,8 milhões de pessoas votaram com biometria, enquanto que 118,6 milhões não puderam utilizar essa identificação. O número avançou - quase o dobro - nas eleições municipais de 2016, quando as urnas biométricas alcançaram 46,3 milhões de eleitores, um aumento de 94%. Justiça Trabalhista O ano foi bastante intenso na Justiça do Trabalho. Somente na vice-presidência do Tribunal Superior do Trabalho, até dezembro, foram proferidos mais de 70 mil despachos e 4,1 mil julgados no Órgão Especial. Segundo o ministro vice-presidente do TST, Emmanoel Pereira, o total de soluções da atual gestão ultrapassa 112 mil, média em torno de 5 mil por mês. Conciliações Em tempos de crise e de reivindicações, trabalhadores de diversos setores da economia buscam seus direitos por meio de greves e manifestações. De acordo com a vice-presidência do TST, os acordos mais significativos firmados por meios da atuação conciliatória em 2017 foram com os empregados da Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares, com os trabalhadores dos Correios e com os aeronautas. Certamente tais acordos evitaram transtornos ainda maiores para toda a sociedade. Fases da campanha As principais armas de um profissional de marketing político para ajudar uma campanha são: capacidade e sensibilidade para captar, com muita propriedade, as indicações das pesquisas; visão abrangente de todos os eixos de uma campanha, não se atendo apenas aos programas de TV, como muitas vezes ocorre com os publicitários engajados nas campanhas; poder de influência sobre o candidato, principalmente no que concerne ao foco do discurso; ter noção adequada do timing de campanha, ou seja, das seguintes fases: lançamento do candidato (junho), crescimento (julho), consolidação (agosto/setembro), auge/clímax (final de setembro/semana da eleição), declínio. Este é o ciclo de vida de uma campanha. Se o declínio ocorrer antes da semana da eleição, não tem quem sustente a posição do candidato. Um candidato que se preocupa apenas com o primeiro turno, poderá morrer antes de chegar à praia. É preciso saber ouvir o som do vento. Quando o vento sopra numa direção, na direção de crescimento, por exemplo, não há força que consiga deter seu rumo.
quarta-feira, 13 de dezembro de 2017

Porandubas nº 557

Abro a coluna com uma historinha do Rio de Janeiro. Lugar de almirante Sandra Cavalcanti era deputada da Arena, foi ao interventor Faria Lima: - Almirante, tenho três reivindicações do partido para tratar com o senhor. - Pois não, deputada. - A primeira é a transferência de um fiscal do Estado para a capital. Ele está no interior, mas é um funcionário antigo e já merece uma posição melhor. - Deputada, lugar de fiscal é na fiscalização. Qual é a segunda reivindicação? - É um gari doente, governador. Não pode ficar tomando chuva. Queríamos levá-lo para a sede da Comlurb, mas o Marcos Tamoyo não concorda. O senhor podia falar com ele? - Deputada, lugar de gari é na rua. Qual é a terceira? - Uma professora de Campo Grande. Por problemas de família, precisa vir para a Secretaria. - Lugar de professora é na escola, deputada. Só isso? - Só, governador. Muito obrigada, até logo. E antes que me esqueça: lugar de almirante é no navio. E foi embora. (Da verve de Sebastião Nery). Previdência e olhos cegos Muitos deputados Federais estão de olhos vendados. Cegos por obtusa visão sobre a reforma da Previdência. Imaginam que se votarem contra a reforma, ganharão o aplauso das ruas. Ledo engano. Pois bem, a eleição para eles seria mais fácil se o clima econômico fosse positivo. Mais dinheiro no bolso, mais harmonia social, mais felicidade propiciariam mais concordância com o status quo. E mais aceitação do quadro político. A recíproca é verdadeira. Logo, a reforma da Previdência seria uma alavanca para levantar o ânimo de investidores e do mercado. Ajudaria a formar o ambiente positivo. Tumulto e indignação A recíproca: falta de grana no bolso, carências, tumulto na economia gerarão maior dose de indignação. O que redundará em maior distância entre eleitor e candidato. Ou seja, o ambiente negativo será muito ruim para os candidatos. A aprovação da reforma da Previdência funcionaria como alavanca de empuxo. PIB da felicidade Qualquer aumento no Produto Nacional Bruto da Felicidade, que tem seu motor na economia, ajudaria o candidato. Lorota essa ideia de reforma da Previdência é ruim para o povão. Ela acabará, isso sim, com privilégios de quem recebe aposentadoria de 30, 40 mil reais, servidores públicos de modo geral, incluindo os políticos. Logo, candidatos que são contra a reforma, na verdade estão defendendo privilégios de marajás. Caindo do cavalo Só mesmo incautos, bestuntos e radicais das oposições cairão nessa de achar que a reforma será ruim para o Brasil. Sem reforma, vai faltar mais adiante dinheiro para pagar as aposentadorias. Nessa hora, os bestuntos vão reconhecer: puxa vida, cai em mais uma lorota do D. Luiz Primeiro e Único e sua Corte de áulicos. A queda do cavalo será fatal para a carreira política de alguns. A conferir. A mentira Um estudo recente feito pelo consultor do Senado, Fernando Nery, analisou o comportamento dos eleitores em 1998. Pois bem, quem votou a favor das mudanças do INSS (idade mínima) propostas pelo governo FHC teve melhor resultado nas eleições: 72% dos candidatos favoráveis se elegeram e apenas a metade dos que foram contrários conseguiu um novo mandato. Portanto, é lorota essa ideia de jerico - de quem vota a favor da reforma da Previdência perde voto. Trata-se, isso sim, de defesa de privilégios. Faltam muitos votos Falta um bom número de votos - cerca de 40 ou mais - para se alcançar os 308 necessários. Mesmo fechando questão, alguns partidos verão parcela de seus integrantes votando contra. Os partidos não deverão punir os quadros contrários à reforma da Previdência. Logo, a janela continuará aberta a votos contrários à orientação das siglas. Em fevereiro? Difícil Aqueles que enxergam fevereiro como mês mais propício para votar a reforma da Previdência podem estar cometendo um erro de análise. Quanto mais próxima a decisão do pleito, mais difícil será a aprovação. Ano eleitoral fecha a possibilidade. É mais lógico imaginar votação após o pleito. Nesse caso, os deputados eleitos estariam mais dispostos a decidir favoravelmente. Muitos daqueles que se posicionaram contra a reforma não voltarão à Câmara. A conferir. Eunício sentou sobre MP A perplexidade é geral: por que o senador Eunício Oliveira sentou sobre a MP da Reforma Trabalhista? Por que o presidente do Senado não deu vazão ao processo de discussão e decisão sobre a MP? A Comissão da MP nem ainda foi formada. Qual o interesse em dar por vencida esta Medida? 24 de fevereiro é o prazo final para sua aprovação/desaprovação. Com a protelação, entraríamos no mês de abril. Prazos Como é sabido, uma Medida Provisória produz efeitos imediatos, mas depende de aprovação do Congresso Nacional para transformação definitiva em lei. Seu prazo de vigência é de 60 dias, prorrogáveis uma vez por igual período. Se não for aprovada no prazo de 45 dias, contados da sua publicação, a MP tranca a pauta de votações da Casa em que se encontrar (Câmara ou Senado) até que seja votada. Neste caso, a Câmara só pode votar alguns tipos de proposição em sessão extraordinária. Comissão mista Ao chegar ao Congresso Nacional, é criada uma comissão mista, formada por deputados e senadores, para aprovar um parecer sobre a Medida Provisória. Depois, o texto segue para o Plenário da Câmara e, em seguida, para o Plenário do Senado. Se a Câmara ou o Senado rejeitar a MP ou se ela perder a eficácia, os parlamentares têm que editar um decreto legislativo para disciplinar os efeitos jurídicos gerados durante sua vigência. Se o conteúdo de uma Medida Provisória for alterado, ela passa a tramitar como projeto de lei de conversão. Alckmin lidera em SP Geraldo Alckmin (PSDB), com 23,7%, lidera intenções de voto para presidente no Estado de São Paulo, de acordo com levantamento do Instituto Paraná Pesquisas. Em segundo, Jair Bolsonaro (PSC), aparece com 19,9%, empatado com Lula (PT), que está em terceiro, com 19,4%. A quarta colocação é de Marina Silva (Rede), com 9,6%. E, em quinto, Ciro Gomes (PDT), com 4,6%. Em sexto, o senador Álvaro Dias (PV-PR), com 3%, seguido pelo ministro da Fazenda Henrique Meirelles, com 1%. 14% dos eleitores responderam nenhum, e 3,9% não sabem ou não quiseram responder. O exemplo de Maomé Maomé levou o povo a acreditar que poderia atrair uma montanha. E que, do cume, faria preces a favor dos observantes da sua lei. O povo reuniu-se; Maomé chamou pela montanha, várias vezes; e como a montanha ficasse quieta, não se deu por vencido, mas disse: "Se a montanha não quer vir ter com Maomé, Maomé irá ter com a montanha". Dessa forma, os homens que prometeram grandes prodígios e falharam sem vergonha (porque nisso está a perfeição da audácia), passam por cima de tudo, dão meia-volta e realizam o seu feito. (Francis Bacon em seus Ensaios) Melhoria no ambiente É visível a melhoria geral no ambiente, resultado dos dados positivos da economia. Os supermercados estão bem mais cheios do que no mesmo período do ano passado. A par do varejo, a indústria e o setor de serviços ganham índices de expansão. O ambiente está mais descontraído e os eventos de final de ano, organizados pelos setores, exibem conversas mais animadoras, recheadas de esperança. Alckmin e as barreiras Geraldo Alckmin foi escolhido presidente do PSDB, mas terá barreiras altas pela frente. A primeira será buscar a harmonia de um partido muito dividido. Ala Serra, Ala Aécio, Ala FHC, Ala Alckmin, Ala Arthur Vigílio, entre outras. Os tucanos se bicam desde sua fundação. Trata-se de um partido de muitos caciques, que disputam poder. A segunda barreira é atrair parcerias, a partir do DEM e do PMDB. Necessárias para Geraldo ganhar preciosos minutos na mídia eleitoral. Ocorre que os dois partidos pensam em lançar candidatos ou a apoiar um perfil que venha de encontro aos entes que formam o centrão. Quantidade não resolve tudo Nem sempre quantidade ganha a guerra. O armênio Tigrane, instalado sobre uma colina com 400 mil homens, viu avançar o exército romano, que contava apenas com 14 mil soldados. Tigrane, galhofeiro, gritou: "Para embaixada é muito, para combate é pouco". Antes do pôr do sol, o pequeno exército romano infligiu uma derrota e enorme carnificina ao gigantesco exército armênio. A criatividade é, ainda, a arma que vence pela surpresa. Discurso tucano A terceira barreira diz respeito ao perfil do governador, que é um conciliador por natureza. Educado, fino no trato. Mas o Brasil, nesse momento, está precisando de uma expressão forte, capaz de canalizar as vozes de indignação que se espalham a torto e a direito. O perfil, nesse momento, lembra o de Mário Covas, o espanhol esquentado que apreciava dar um murro na mesa e fazer calar adversários. Geraldo Alckmin carece de um discurso mais forte. No PMDB, há um grupo ainda muito ressentido com Alckmin e, no DEM, a parceria tradicional fica distante. Lula sai pelos cantos Quanto mais apanha, mais Lula foge pelos cantos. Não entra em luta corporal. Prefere dar cotoveladas à distância. É desse modo que Lula está se comportando nessa fase de pré-campanha. Diz que a Lava Jato está jogando o Rio de Janeiro no atoleiro; diz que a Petrobras está sendo espoliada, esquecendo que foi no ciclo petista que a maior empresa pública do país perdeu essa condição, sendo nocauteada pela corrupção; faz-se de vítima, quando é a Justiça que o condena; diz que o desemprego é culpa do Michel Temer, quando foi o ciclo petista que produziu 13 milhões de desempregados. E ainda tem artista que vai ao palco aplaudir o embuste. Violência O Brasil está despontando como um dos países mais violentos do mundo. Em 15 anos, matou o equivalente à população de uma Lisboa e meia (786 mil pessoas), mais que os habitantes de Frankfurt, na Alemanha. Os 28 países da União Europeia mataram menos. E na guerra da Síria, foram mortos 331 mil. Nos atentados terroristas do século XXI, 238 mil. Fecho a coluna com Borges. Epílogo "Um homem se propõe a tarefa de desenhar o mundo. Ao longo dos anos, povoa um espaço com imagens de províncias, de reinos, de montanhas, de baías, de naus, de ilhas, de peixes, de moradas, de instrumentos, de astros, de cavalos e de pessoas. Pouco antes de morrer, descobre que esse paciente labirinto de linhas traça a imagem de seu rosto". (Jorge Luis Borges)
quarta-feira, 6 de dezembro de 2017

Porandubas nº 556

Abro a coluna com historinha da Paraíba. Em diagonal Severino Cabral foi prefeito de Campina Grande/PB, vice-governador, chefe político de muitos votos. E conhecido pelas tiradas engraçadas. Uma tarde, no Rio, andava pela avenida Rio Branco. Resolvendo passar para o outro lado, meteu-se na frente dos carros, fora do sinal. O guarda gritou: - Cidadão, não pode ir por aí. É proibido atravessar em diagonal. Severino Cabral voltou: - Você não conhece roupa não, ignorante? Isto não é "diagonal". É "tropical maracanã". Atravessou em diagonal com seu tropical maracanã. Outra de Campina Grande Num comício em Campina Grande/PB, Alcides Carneiro falava e foi aparteado por um popular. - "Campina Grande é de Argemiro!" De imediato respondeu: - "Campina, és muito grande para pertenceres a um só homem..." Maia candidato Rodrigo Maia é uma boa surpresa do atual momento político. Guindado à presidência da Câmara em um momento de intensa crise política, Rodrigo tem se saído melhor que o figurino. Graças a ele, o Executivo tem conseguido avançar com sua coleção de reformas: teto dos gastos, reforma educacional, reforma trabalhista, lei da terceirização, mini-reforma política. E em curso, a reforma da Previdência, para a qual o presidente da Câmara tem dedicado grande esforço. Homenagem na Cebrasse Rodrigo foi homenageado nesta segunda-feira com o Prêmio Cebrasse Personalidade Política do Ano. Tive oportunidade de fazer breve saudação aos homenageados. No caso de Rodrigo, puxei algumas características de seu perfil: liderança, diálogo com todos os partidos e líderes, capacidade de mobilização, firmeza, coragem de fazer uma agenda avançada. Dessa forma, tem se tornado grande protagonista do momento político. Falei mais: por essas qualidades, gabaritava-se a entrar no figurino de 2018 como candidato das forças do centro, combinando bem com o perfil a defender o legado do atual governo. A resposta de Maia Pois bem, ao discursar agradecendo a comenda da Central Brasileira de Serviços, Maia fez um denso discurso: traçou a herança maldita da era lulo-petista, puxou a orelha de candidatos que evitam votar reformas impopulares - sem analisar o bem do país -, comprometeu-se com as reformas, mostrou conhecimento de causa sobre as ameaças que pairam sobre a previdência, conclamou os empresários a se unir em torno da agenda reformista. Enfim, fez uma peroração de candidato. Minha conclusão: se o cavalo passar encilhado na frente, ele monta. No lugar de Meirelles Se a economia for resgatada e os resultados baterem no bolso do consumidor, a lógica apontaria para o perfil responsável pelo crescimento do Produto Nacional Bruto da Felicidade: Henrique Meirelles. Acho até possível que o governo esteja trabalhando com essa hipótese. Mas, convenhamos: o ministro é pesado como uma carreta. Tem fala arrastada, como se tivesse dificuldade de concluir o raciocínio; não consegue puxar aplausos em suas lentas perorações; não tem um pingo de carisma. A economia recuperada até poderia funcionar com sua sombra ou alavanca. Mas funcionará melhor se compor o discurso de alguém mais jovem, flexível, hábil na articulação, leve e solto. Rodrigo Maia entra bem nesse traje. Por isso mesmo, pode vir a ser um bom candidato. Aventura? Não é bem assim Rodrigo acha muito cedo para uma "aventura" como uma candidatura presidencial, ele que não teria votos para se eleger governador de seu Estado, o Rio de Janeiro. Este é seu raciocínio. Ora, o pai dele, César Maia, um perito em ciência política, sabe muito que não se pode comparar os pleitos. O pleito estadual tem suas nuances. O pleito Federal ocorre ao sabor de circunstâncias, parcerias partidárias, tempo de mídia eleitoral e muito simbolismo. O que representa o candidato: o passado ou o futuro, qual sua agenda, qual tem sido seu papel na crise. Dilma foi eleita em 2010 sem nunca ter tido voto em campanhas anteriores. Eliot Cheguei, até, a lembrar ao Rodrigo Maia a lição do poeta T.S. Eliot: "somente aqueles que se arriscam a ir longe demais, sabem até onde podem chegar". Quem não arrisca, permanece no mesmo lugar. Os extremos se sustentam? A indagação é recorrente: as extremidades na campanha eleitoral de 2018 darão o tom? Este consultor analisa o caso assim: até o momento de ampla visibilidade dos principais protagonistas, a tendência é a de manutenção de elevado grau de polarização entre os extremos, à direita e à esquerda, no caso Bolsonaro e Lula. Depois a tendência é a de espraiamento das ideias e dos perfis com arrefecimento dos radicalismos e reforço de posições centrais. O candidato do centro poderá ser a alternativa contra os radicais. O candidato do centro Geraldo Alckmin entra no traje de candidato do centro? Sim. Mas falta a Geraldo a firmeza, a determinação, a coragem de ousar. Trata-se de uma figura simpática, incapaz, porém, de matar uma mosca, como se diz na linguagem das ruas. Geraldo ainda pega em seus ombros a tibieza de um partido repartido. O PSDB é um ente muito fracionado em alas, grupos, caciques. O murismo - subir no muro - faz parte da identidade tucana. Ele poderia dar uns murros sobre a mesa, como fazia Mário Covas, seu amigo e tutor. Procura-se um candidato Essa é a lógica que correrá nas margens do pleito: procura-se um candidato de centro, enérgico, líder, com boa fluência e grande discurso. Descartam-se os nomes que já estão na pré-campanha: Marina, Ciro, etc. Geraldo apresenta os vieses acima mostrados. Meirelles? Tem os problemas acima expostos. Rodrigo Maia? Combina com o momento. Mas a política é cheia de coisas imponderáveis. A posição de Lula A anunciada antecipação do voto do relator do caso Lula (tríplex), João Pedro Gebran Neto, da 2ª instância, é um forte indicativo de que o processo poderá ser julgado em março ou abril de 2018. O voto de Gebran foi enviado ao revisor dos processos da Lava Jato, desembargador Leandro Paulsen, que produzirá seu voto e fará seu encaminhamento ao 3º integrante da turma, desembargador Victor Luis dos Santos Laus. Viabilidade? Os três poderão aumentar ou diminuir a condenação feita pelo juiz Sérgio Moro. Se a decisão for unânime, caberá apenas um recurso, o embargo de declaração. Já um único voto divergente poderá ensejar um embargo infringente. Nesse caso, o processo é feito na 4ª seção, que reúne as 7ª e 8ª turmas, num total de seis desembargadores. Esses embargos atravessarão longos corredores. A decisão não é repentina. Este consultor acredita que Lula poderá viabilizar sua candidatura. E se não for candidato, fará um grande barulho. Protagonista O trem da economia mostra que a locomotiva ainda está lenta, mas caminha nos trilhos. E se o ritmo continuar o mesmo, teremos alguns avanços já no primeiro trimestre de 2018. Significa dizer que o conforto social poderá melhorar e, assim, influenciar o ânimo dos eleitores. Sob esse ângulo, o presidente Michel Temer poderá ganhar protagonismo às vésperas das eleições. A conferir. Judiciário menos turbulento O Poder Judiciário navegou em mares borrascosos. Discordâncias entre ministros do STF têm sido interpretadas como a existência de 11 tribunais naquela Corte. As decisões individuais quebram a harmonia no ambiente. Daí a hipótese que ganha corpo: os ministros se conscientizam da necessidade de união e decisões menos monocráticas. A sociedade quer ver um tribunal com menos turbulência. Renovação será alta? Fala-se que a renovação parlamentar em 2018 atingirá índices muito altos. O argumento é o de que a sociedade virou as costas para a política e, nessa esteira, fará grande renovação. A hipótese é razoável, mas esbarra num problema: e onde estão os novos nomes? O que se vê, em toda a eleição, é a volta dos quadros tradicionais ou de seus parentes. A renovação pode não ser a que se espera. Reprovação dos governos As eleições de outubro de 2018 ocorrerão sob o ciclo da maior reprovação de governos estaduais da contemporaneidade. A crise econômica corroeu as imagens de governadores. E bate forte nos redutos comandados por famílias tradicionais. Ambição desmesurada No meu livro Marketing Político e Governamental cito um pensamento do cientista político Robert Lane, em Political Life, que explica como a ambição desmesurada pelo poder funciona como um bumerangue. "A fim de ser bem-sucedida em política, uma pessoa deve ter habilidades interpessoais para estabelecer relações efetivas com outras e não deve deixar-se consumir por impulsos de poder, a ponto de perder o contato com a realidade. A pessoa possuída por um ardente e incontrolável desejo de poder afastará constantemente os que a apoiam, tornando, assim, impossível a conquista do poder". Prêmio Cebrasse - I A festa anual de entrega de prêmios da Cebrasse foi um sucesso. Além de Rodrigo Maia, receberam o Prêmio Destaque Legislativo a senadora Ana Amélia (PP-RS) e os deputados Rogério Marinho (PSDB-RN), relator da reforma trabalhista, Laércio Oliveira (SD-SE) e Walter Ihoshi (PSD-SP), além de personalidades nas áreas empresariais, sociais e jornalísticas. Prêmio Cebrasse - II Maria Cristina Frias, responsável pela coluna "Mercado Aberto" da Folha de S. Paulo, recebeu o prêmio Destaque Mídia Impressa e Ricardo Taira, editor-chefe da TV Cultura, o de Destaque Mídia Tevê. O presidente da Cebrasse, João Diniz, agradeceu a participação de todos nesta nova fase da economia brasileira, em especial no setor de serviços. Fecho a coluna com uma historinha do Rio Grande do Norte. O passarinho de Agenor Quando senador pelo Rio Grande do Norte, Agenor Maria (sindicalista rural, falecido em 1997), visitando o município de Grossos, foi interpelado pelo prefeito Raimundo Pereira. "Estamos precisando de uma escola para a comunidade de Pernambuquinho". De pronto, Agenor garantiu-lhe apoio à proposição. Semanas depois, um telegrama traz a boa-nova ao prefeito. "Escola está assegurada. Mande-me o croqui". Tomado pelo espírito de gratidão, Raimundo visita Agenor para agradecer o empenho, carregando uma gaiola à mão. Diante do senador, que estranha o acessório, Raimundo vai logo se explicando. "Eu não peguei um concriz como o senhor pediu, mas trouxe esse sabiá. O bichinho canta que é uma beleza!" (Historinha narrada em Só Rindo 2, por Carlos Santos, a quem, desde já, agradeço pela remessa dos dois livros que contam "causos" do Rio Grande do Norte).
quarta-feira, 29 de novembro de 2017

Porandubas nº 555

Suavemente... José Maria Alkmin (sem o C do Alckmin de São Paulo), o sábio das Minas Gerais, foi advogado de um crime bárbaro. No júri, conseguiu oito anos para o réu. Recorreu. Novo júri, 30 anos. O réu ficou desesperado: - A culpa foi do senhor, dr. Alkmin. Eu pedi para não recorrer. Agora vou passar 30 anos na cadeia. - Calma, meu filho, não é bem assim. Nada é como a gente pensa da primeira vez. Primeiro, não são 30, são 15. Se você se comportar bem, cumpre só 15. Depois, esses 15 são feitos de dias e noites. Quando a gente está dormindo tanto faz estar solto como preso. Então, não são 15 anos, são 7 e meio. E, por último, meu filho, você não vai cumprir esses 7 anos e meio de uma vez só. Vai ser dia a dia, dia a dia. Suavemente. (Sebastião Nery conta a historinha em seu Folclore Político). Conferência da Advocacia O maior evento da Advocacia brasileira. É a XXIII Conferência Nacional da Advocacia, que se realiza em São Paulo, no Anhembi, após quase 50 anos do último evento na nossa metrópole. Cerca de 30 mil inscritos. Presenças de figuras expressivas da operação do Direito, a partir da presidente do STF, ministra Cármen Lúcia e dos ministros do Supremo, Gilmar Mendes e Alexandre de Moraes, além do ministro Emmanoel Pereira, vice-presidente do TST, representando a Corte. O presidente da OAB/SP, Marcos da Costa, fez peroração destacando a história de lutas da Ordem e as bandeiras levantadas pelos advogados, a partir das prerrogativas profissionais. Huck desafoga o meio A decisão do empresário-animador Luciano de desistir de candidatura presidencial em 2018, sonho de alguns partidos, desafoga o meio do espectro ideológico. Como se sabe, nas pontas, dois cavalos de corrida já abriram o páreo: Lula e Bolsonaro. No centro, Geraldo Alckmin prepara-se para ser protagonista de proa. Esse espaço ainda pode ser disputado por Marina Silva, Ciro Gomes, o senador Álvaro Dias, o outsider Joaquim Barbosa, eventualmente Henrique Meirelles e outros que tendem a adensar o grupo. O fato é que Huck era, até a última segunda, o nome mais ventilado. Com sua saída, Alckmin terá a candidatura vitaminada. Checando as possibilidades O problema que Geraldo Alckmin enfrentará é a conhecida tendência do PSDB de subir ao muro. Trata-se de um partido cercado de indefinições. E muita vaidade. De muitos caciques. Digamos que o governador de São Paulo tenha condições de unir as duas alas em briga: a do senador Tasso Jereissati e a do governador Marconi Perillo. Mesmo assim, grande desconfiança paira sobre o próprio governador. Ele trabalhou nos bastidores pela saída dos tucanos do governo Temer. E ficou na moita em matéria de posicionamento da bancada sobre a reforma da Previdência. Teria ficado mudo. Como disporia ele de condições para lutar por uma aliança com o PMDB? Minutos essenciais O PMDB disporá do maior tempo de TV e rádio na programação eleitoral. Esse espaço será vital para a massificação do nome dos candidatos e de suas propostas. O partido, mesmo execrado, é cobiçado para fazer alianças. Não se sabe quais serão seus passos: uma ala do partido defende candidatura própria; outra ala pensa em fazer aliança com um candidato do centro, podendo até ser Geraldo Alckmin. Se a economia ganhar muito fôlego, haverá pressão para que o próprio Michel seja o candidato. O fato é que o PMDB se esforçará para unir todos os partidos que integram o centrão, a partir do DEM, que possui um nome de grande potencial: Rodrigo Maia, o presidente da Câmara. A economia ditará o rumo A economia ditará o rumo a ser seguido. Por isso, não serão fechados acordos antes de maio/junho. Até lá se verá para onde irá a locomotiva econômica. Descarte-se qualquer aceno do PMDB em relação a Marina, Ciro, Joaquim Barbosa, Bolsonaro, Manuela D'Ávila, Álvaro Dias e outros. E Lula? Pois é, o PMDB pragmático será capaz de apoiar eventual candidatura de Lula, como já acenaram Renan Calheiros, em Alagoas, e até Ciro Nogueira, presidente do PP, no Piauí. Lula tem um exército de eleitores no Nordeste. E se a posição do PMDB nacional fechar questão contra eventuais apoios regionais a Lula? Esse será mais um pomo de discórdia. Ninguém tem provas... Numa festa, a dona de casa recebe um político famoso. - Muito prazer! - diz ele. - O prazer é meu! Saiba que já ouvi muito falar do senhor! - É possível, minha senhora, mas ninguém tem provas. Maia subindo Rodrigo Maia está se saindo muito bem como presidente da Câmara. Articula bem, conversa com gregos e troianos, sabe lidar com correligionários e opositores. Poderia ser o nome de consenso entre os partidos do meio. Mas Rodrigo receia arriscar-se. Prefere uma candidatura certa a deputado Federal que a vaga possibilidade de ganhar o assento presidencial. E o governo do Rio de Janeiro? Na situação em que se encontra o Rio, não será interessante sentar na cadeira de governador. Como presidente da Câmara, teria mais força e visibilidade. Mas o pai, o vereador César Maia, até veste bem o figurino de candidato. Seria uma boa composição. Michel quer pacificar Já a intenção de Michel Temer é a de ser reconhecido como o presidente das reformas e o dirigente que pacificou o país, após o terremoto da era petista. Não cogita candidatura presidencial, até porque quer atuar como magistrado na busca do entendimento e do consenso entre os partidos do centro. E se a economia bombar em 2018? Essa é uma recorrente pergunta. Os correligionários poderiam fazer enorme pressão para jogá-lo na corrida. Mesmo assim, seria pouco provável que aceitasse. Mas como a política é a arte do imprevisível, tudo pode acontecer. Barbosa Joaquim Barbosa parece muito envaidecido com a possibilidade de vestir o manto de candidato a presidente. Mas, à moda Huck, deve rejeitar a hipótese. Enfrenta problema de coluna - que lhe causa dores - e hoje está confortável no papel de ex-presidente do STF, paparicado em todos os lugares. Deixar essa situação de conforto e optar pela luta política poderia ser má opção. Este consultor não aposta na candidatura de Joaquim Barbosa. Marina, a Santa Marina Silva continua etérea, cercada por ares puros e éticos. Mas ainda assim, não teria estrutura - porte, tamanho, fortaleza, tempo de TV, etc. - para sustentar uma campanha pesada. A impressão é a de que lhe faltaria oxigênio para chegar aos últimos 500 metros da corrida. Por isso, poderá ser uma candidata respeitada e admirada, com boa bacia de votos, particularmente de segmentos jovens. Mas sem chance de sentar na cadeira presidencial. Ciro, o Canhão Trata-se de um sujeito preparado, falante, destemido. Mas diz o que pensa e um pouco mais. E essa condição lhe subtrai muito voto. Ciro sofre da síndrome do touro: pensa com o coração e ataca com a cabeça. Por isso, se sairá bem nos debates eleitorais entre candidatos, mas será visto com desconfiança por parte de parcela ponderável da sociedade. Fará bonito no Nordeste, onde circula com desenvoltura. Álvaro e Manuela O senador Álvaro Dias tem imagem muito regional. Confina-se no Paraná. E seu novo partido, o Podemos, não terá cacife para "poder" alçá-lo a um patamar elevado nas pesquisas. Quanto a Manuela D'Ávila, trata-se de perfil simpático. Encarna o poder jovem. Mas seu PC do B é limitado. Sua imagem também é muito regional (RS). E Meirelles, hein? Henrique Meirelles teria chances? Primeiro, vale dizer que o homem é pesado. Não tem um pingo de carisma. Fala de maneira arrastada, como se estivesse com dificuldade de concluir o pensamento. Mas vai que a economia dê um enorme salto... Se isso ocorrer, poderá surgir na frente dele um cavalo corredor. Milagres acontecem. E, na política, o imponderável nos faz visita de tempos em tempos. Bolsonaro emplaca? Tudo é possível. Meu amigo Lavareda, perito nas pesquisas e um grande pesquisador da "alma brasileira", acentua que "o posicionamento dele é bom". Concordo que o deputado Jair Bolsonaro se aproveita das circunstâncias. Do Brasil que clama por ordem, disciplina, autoridade. Bolsonaro encarna esse espírito. Só que precisamos verificar o que irá ocorrer: terá tempo disponível de mídia para massificar sua pregação? Não será canibalizado por protagonistas com maior poder midiático? Não será destroçado em debates? Terá tranquilidade suficiente para responder às inquietantes indagações que certamente lhe serão feitas? Lula e seu bolsão Seja ou não candidato, Lula terá bom quinhão de votos. Poderá ajudar candidatos majoritários em alguns Estados. Se for condenado em 2ª instância, abrirá a polêmica: "não querem deixar que seja candidato". A novela Lula terá muitos capítulos por todo o ano de 2018. O PT continuará na linha do ataque. E suas bandeiras vermelhas tenderão a amimar os exércitos contrários. As batalhas não serão poucas. O poder midiático A campanha de 2018 será ainda balizada por eventos da Lava Jato. Quer dizer, eventuais competidores poderão ter seus nomes ventilados, aqui e acolá, ao sabor das investigações e consequentes denúncias. Por isso, é possível que tenhamos altos e baixos nas intenções de voto. A corrida eleitoral, cheia de tropeços, poderá até desestabilizar grandes protagonistas. Os desfechos serão imprevisíveis. Baixo astral Os atores do circo eleitoral estarão submetidos, ainda, à avaliação dos eleitores. Governadores mal avaliados deverão perder a reeleição, a não ser que os adversários façam parte da velha política; senadores e deputados, da mesma forma, serão vistos como continuidade ao tradicional sistema. Candidaturas novas terão melhores condições de desempenho. O discurso será importante: o que prometer e como viabilizar as promessas. Pesquisa qualitativa Para conhecer bem o que pensa o eleitor, a indicação é a pesquisa qualitativa. Grupos bem escolhidos e representativos do colégio eleitoral poderão mostrar o que pensam, como pensam, expectativas, anseios, angústias, indignação, esperanças. Os candidatos precisam mergulhar fundo na consciência coletiva. Peru não morre de véspera A eleição de um candidato depende do momento, das circunstâncias, da temperatura social, dos versos e reversos da economia, do perfil dos adversários, dos debates e combates na arena eleitoral, dos climas regionais, da força da mídia eleitoral (significando tamanho dos programas eleitorais), dos inputs momentâneos (uma crise abrupta, um caso espetaculoso) - enfim, de uma escala de elementos ponderáveis e imponderáveis. Os fatores imprevisíveis abrem as possibilidades. Única verdade: peru não morre de véspera. A viabilidade de candidatos Carlos Matus, cientista social chileno, em um magistral estudo sobre Estratégias Políticas, demonstra que a viabilidade de um ator na política tem a muito que ver com a estratégia e seus princípios fundamentais. Eis alguns princípios estratégicos: a) Avaliar a situação; b) Adequar a relação recurso/objetivo; c) Concentrar-se no foco; d) Planejar rodeios táticos e explorar a fraqueza do adversário; e) Economizar recursos; f) Escolher a trajetória de menor expectativa; g) Multiplicar os efeitos das decisões; h) Relacionar estratégias; i) Escolher diversas possibilidades; j) Evitar o pior; k) Não enfrentar o adversário quando ele estiver esperando; l) Não repetir, de imediato, uma operação fracassada; m) Não confundir "reduzir a incerteza" com "preferir a certeza"; n) Não se distrair com detalhes insignificantes; o) Minimizar a capacidade de retaliação do adversário. Fecho a coluna com uma historinha de Tenório Cavalcanti. Armado de admiração Tenório Cavalcanti, udenista e adversário político de Vargas, foi ao Catete numa comissão de deputados. Andava nas manchetes dos jornais por causa de suas estripulias em Caxias, na base da "Lourdinha" (metralhadora) e da capa preta. Getúlio o cumprimentou, olhou bem para o volume do revólver embaixo do braço esquerdo, sob o paletó: - Deputado, o senhor está armado? Tenório ficou vermelho, mas não perdeu o bote: - Sim, presidente, armado de admiração por V. Excelência.
quarta-feira, 22 de novembro de 2017

Porandubas nº 554

Abro a coluna com uma historinha cheia de graça que presenciei e que envolve o grande e saudoso governador Franco Montoro. Agrário e urbano Franco Montoro ficou famoso pela troca de nomes que fazia. Há muitas histórias envolvendo essa modalidade de dislexia ou dislogia. Uma delas ocorreu comigo, no restaurante dos professores no campus da USP. Montoro havia sido convidado por um grupo de professores para fazer uma palestra sobre o Brasil e a América Latina, dentro do fórum de debates que desenvolvia na Fundação que criou e dirigiu. Certo momento, ao falar do RN, meu Estado, ele passou a se referir a nomes de amigos comuns e conhecidos. Foi quando, de repente, depois de vários acertos, ele me pega de surpresa com a indagação: "E o Agrário, como vai o Agrário"? Respondi: "Agrário, governador, não sei quem é, não me lembro...". Comecei a mapear os nomes de pessoas famosas. Aí lembrei-me de um nome: Urbano. E repus a pergunta: "Por acaso, governador, não é Urbano, Francisco Urbano"? Era. Na época, Urbano dirigia a Contag - Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura. Daí a confusão. Em respeito ao grande homem público, contive a risada! A política avança A articulação política ganha volume à medida que os protagonistas - partidos e lideranças - veem aproximar-se o tempo de grandes decisões voltadas ao pleito de 2018. Alguns movimentos deixam ver passos e sinais. À direita, sobe o tom da candidatura Bolsonaro, que abre um leque de conversações com lideranças e faz peregrinação em alguns países (até nos EUA) tentando se mostrar ao mundo. À esquerda, Lula se apresenta como o eixo que gira a máquina petista e seu entorno, o PC do B, o PSOL, parcela do PSB e outras pequenas fatias. No centro, a movimentação tem dois grandes articuladores, o presidente Michel Temer e o presidente da Câmara, Rodrigo Maia. Cada área está querendo ver além do horizonte. À direita O deputado Bolsonaro começa a se desfazer de adjetivos que o tornam canhão amedrontador. E ensaia um discurso liberal como forma de agradar ao mercado. Mas suas peripécias discursivas não serão esquecidas. Negocia entrada no Patriota, que faz uma limpeza de área nos Estados para colocar nomes confiáveis e comprometidos com o deputado. Como é, hoje, o único nome com grande visibilidade na direita, torna-se o principal bastião contra Lula. Doria perde essa condição em face da quase certeza que Alckmin deverá ser o candidato do PSDB. À esquerda Luiz Inácio é um caixeiro-viajante. Corre o mundo. Faz-se presente aqui e ali, inclusive em atos de lançamento de candidaturas de outros partidos. Foi assim que se fez presente no Congresso do PC do B, em Brasília, quando foi lançado o nome da deputada estadual Manuela D'Ávila à presidência da República. Manuela fez, naquele evento, a defesa de Lula, dizendo que é condenado sem provas. O objetivo fica claro: união de PT e PC do B em eventual segundo turno. O PSOL, por sua vez, mapeia os quadros para decidir se sai com Lula ou com candidatura própria. A questão esbarra na hipótese: se o candidato for um parlamentar (Chico Alencar, Marcelo Freixo ou outro), enfrentará a ameaça de perder a condição de deputado em 2018. Afinal, este partido não tem capital eleitoral para eleger um presidente. No centro Os partidos do centro precisarão de muito esforço de seus articuladores para chegar a um consenso. A ideia que passa pelas cabeças de suas lideranças é a de formar um amplo espaço central, acolhendo PMDB, DEM, PP, PTB, PRB, Podemos, etc. - e escolher um nome capaz de aglutinar no centro pedaços da esquerda e da direita. Esse perfil canalizaria os esperados bons feitos do governo, a partir da economia com números saudáveis - inflação de 2,5%, Selic de 7%, emprego crescendo, setores primário, secundário e terciário com bons dados de crescimento, PIB podendo chegar a 1,5. Quem será o nome? PSDB com dificuldades O PSDB caminha na direção de Geraldo Alckmin. Mas entrará com força diminuída no pleito. A pendenga aberta por Tasso Jereissati e os cabeças-pretas (deputados mais jovens) contra o governo deixa sequelas. Há visível contrariedade de peemedebistas e outros partidos da base em relação aos tucanos, sob a hipótese, que ganha corpo, de que o PSDB não será apoiado pelo PMDB e outros. Nesse caso, preciosos minutos de rádio e televisão seriam perdidos pelo PSDB, arrefecendo a visibilidade de seu candidato na campanha. Alckmin não saiu bem na fita do afastamento do PSDB do governo. E Doria? João Doria se afasta um pouco da guerrilha que se trava hoje entre grupos tucanos para se dedicar com mais afinco à administração. Foi criticado pelas viagens que fez aos Estados. Mesmo assim continua a ser um player forte no campo eleitoral. Trata-se de um perfil determinado. Se perceber que tem chances, não se descarta a possibilidade de sair como candidato por outras siglas, a partir do próprio PMDB. João mantém excelente relacionamento com o presidente Temer. O recuo de hoje, portanto, faz parte do jogo. Fala-se, ainda, da possibilidade de vir a ser candidato a vice na chapa de Geraldo Alckmin ou ao governo do Estado. Este consultor descarta essas alternativas, eis que será praticamente impossível uma chapa puro-sangue paulista ou uma candidatura ao governo de SP, coisa que aumentaria o racha na floresta tucana. E Huck? Luciano Huck está sendo paparicado por alguns partidos, a partir do PPS comandado por Roberto Freire. Poderá ser uma candidatura viável em 2018? Sim. Na política, tudo é possível, principalmente levando-se em consideração a indignação social contra os políticos tradicionais. Acontece que os palanques eleitorais são bem diferentes dos palcos de animação de programas de auditório. E se Huck não dispuser de tempo de TV para massificar suas ideias? Este consultor não acredita na viabilidade político-eleitoral do empresário Luciano Huck. Mas deixa no ar a famosa lição: em política, tudo é possível. E Moro? Pois é, o Instituto Paraná Pesquisas acaba de mostrar uma pesquisa dando conta do bom potencial do juiz Sérgio Moro. Teria ele melhores condições de que Huck, mais precisamente 35,5%, caso fosse o candidato. A mesma pesquisa diz que pouco mais da metade dos brasileiros votaria em um candidato estreante na política. Voltando a Lula Lula fará das tripas coração para tentar viabilizar sua candidatura. Usará todas as brechas possíveis para conseguir sua meta, a partir da sinalização de que só uma condenação transitada em julgado, na terceira instância, o impediria de seguir o caminho. Seja qual for o desenlace, Lula será o principal semeador na roça eleitoral das esquerdas. É exímio em palanque, dá nó em ponta de faca. Vai atribuir o desemprego ao atual governo. E queimará as reformas do governo Temer, mesmo diante de números que mostram o Brasil entrando nos trilhos. Este consultor tende a acreditar que Luis Inácio deverá esquentar o clima eleitoral, seja como candidato seja como fogueteiro. Voltando ao centro Os partidos do centro chegarão ao consenso em torno de um nome ou tendem a ir à luta com seus quadros? Esse é o x da questão. Unidos, poderão ir longe; desunidos, abrirão espaço para a chegada ao segundo turno do candidato da esquerda ou o candidato da direita. A hipótese do candidato da esquerda chegar ao segundo turno é mais provável que a chegada de um candidato da direita. Mais viável seria a chegada do candidato do centro. Claro, caso os partidos do bloco não se dividam. Temer e Maia O presidente Michel Temer e o presidente Rodrigo Maia estão afinados. Temer ouve muito Maia, que teria endossado o nome de Alexandre Baldy para o Ministério das Cidades. A hipótese também é viável: sob apoio do presidente da Câmara, é possível se chegar aos 308 votos necessários para a aprovação da reforma da Previdência na primeira quinzena de dezembro. Caso aprovada, ganharia o aplauso do mercado. Em 2018, (Eunício quer votar apenas em março) seria votada no Senado. Se os dados da economia mostrarem boa recuperação do país, certamente a tendência dos senadores seria de aprovação da matéria. E se isso ocorrer, o presidente da República será um grande eleitor no pleito de 7 de outubro. Imbróglio está no ar O TRF da 2ª região mandou prender novamente o presidente da Alerj, Jorge Picciani, e mais os dois deputados do PMDB que estavam presos. O imbróglio está no ar. O que acontecerá? E se a Assembleia voltar a contrariar a Justiça? E se o caso bater no STF? Diz-se que não está fora de cogitação intervenção na Casa Legislativa. O fato é que a brecha aberta pelo STF no caso Aécio Neves está produzindo denso contencioso. A palavra final será a da nossa mais Alta Corte. A força do Nordeste O Sudeste concentra mais da metade do eleitorado brasileiro. Geraldo Alckmin confia muito na boa avaliação dos paulistas ao seu governo. Só São Paulo tem 35 milhões de eleitores. Mas o Rio e Minas Gerais serão dois polos fortes de oposição. Dito isso, surge o voto nordestino. Será decisivo. O NE tem 27% dos votos do país. Daí a busca frenética do nome do vice na região. Alckmin procura um nome do Nordeste. Quem? Um quadro de respeito é o deputado Jarbas Vasconcelos, do PMDB de Pernambuco. A questão é: como o PMDB encararia esta escolha? O deputado tem lastro e história. AT&T/Times Warner O Departamento de Justiça dos EUA ajuizou ação na segunda-feira para anular a compra pela AT&T da Time Warner, dona dos estúdios Warner Bros e das redes de TV HBO e CNN. O movimento foi classificado como incomum por especialistas do setor, uma vez que o acordo entre as duas empresas, de US$ 85 bilhões, foi anunciado há mais de ano. A AT&T é operadora de telefonia e provedora de TV a cabo e internet móvel e fixa. No Brasil, tem participação na TV por assinatura Sky. O governo argumenta que o contrato viola leis antitruste, pois a AT&T poderia "usar o controle sobre a programação popular da Time Warner para causar danos à concorrência ... e resultar em oferta de conteúdo menos inovador e contas mais altas para as famílias americanas". Na nota, o estilo rompante e ameaçador de Trump. Fecho a coluna com uma historinha de Morro Agudo/SP. Tape os ouvidos Em Morro Agudo, a 80 quilômetros de Ribeirão Preto/SP, havia um comerciante de muito prestígio, mas analfabeto (verdade). Tinha um empregado que lia as coisas para ele. Um dia, o comerciante brigou com a mulher, separaram-se, contrataram advogados, foram para a Justiça. Certo dia, chegou uma carta da mulher com inúmeras folhas, passando a limpo (ou a sujo) os longos anos de vida em comum. Ele não poderia pedir ao empregado para ler. Tinha vergonha. Chamou seu melhor amigo: - Você pode ler esta carta para mim? Mas você vai me fazer um favor. Eu sei que ela vem falando tudo, contando tudo. Então você leia alto para mim, mas, se quiser continuar meu amigo, tape os ouvidos.
quarta-feira, 8 de novembro de 2017

Porandubas nº 553

Abro a coluna com a Paraíba do grande José Américo. Cancelando chuvas A seca era medonha. A Paraíba em desespero, o governador aflito. Um dia, caiu uma chuva fininha no município de Monteiro. Inácio Feitosa, o prefeito, correu ao telégrafo: "Governador José Américo: chuvas torrenciais cobriram todo município de Monteiro. População exultante: Saudações, Feitosa". Os comerciantes da cidade, quando souberam do telegrama, ficaram desesperados. O município não ia mais receber ajuda. Ainda mais porque a mensagem era falsa e apressada. Feitosa correu de novo ao telégrafo: "Governador José Américo: cancelo chuvas. População continua aflita. Feitosa, prefeito". O clima político A tensão pode ter diminuído com o fechamento da porta da 2ª denúncia contra o presidente, mas o ambiente parlamentar ainda é cheio de interrogações. E de muita pressão. Dúvidas: o governo terá forças para levar adiante a agenda reformista? Conseguirá ter suficiente número de votos para aprovar a reforma da Previdência? E a simplificação tributária? A pressão está alta. Partidos do centro querem ver tucanos fora da base e tomar seu lugar. PMDB, inclusive, faz pressão. O presidente ouve muita gente no confessionário do Planalto. PSDB, taquara rachada O tom é, como se diz no vulgo, de taquara rachada. Meio agudo, meio grave. E muito sustenido. (Desculpem os musicólogos se este escriba cometeu heresia com a partitura). O fato é que o tucanato continua sem saber que rumo tomar. Parte quer sair logo do governo, parte quer ficar até abril, prazo de desincompatibilização de ministros que serão candidatos nas eleições de outubro. A impressão é de que a saída será antecipada. O desgaste para a imagem do governo com as trapalhadas do PSDB já foi contabilizada. O que mais está em jogo? Imagens dos candidatos O que está em jogo é a imagem de candidatos. Imaginam que permanecer na máquina faria um dano a suas imagens. Ora, os tucanos não vão melhorar sua imagem com saída antecipada. Já estão depreciados sob esse prisma. O guru do partido, FHC, quer ver logo a saída. Alckmin, idem. Mas essa posição não atenuará a posição dúbia do partido. O eleitorado sabe quem é quem. E acompanha até as maquinações de efeito eleitoreiro. É evidente que o partido manteve um cordão umbilical com o governo. Constatar que a protelação da saída ligaria o PSDB ao peemedebismo, como escreveu Fernando Henrique, é sandice. Execrar agora a aliança com o PMDB é burrice. Que santidade FHC está querendo apregoar? As chances de Alckmin Se Geraldo Alckmin acha que vai ganhar mais votos com o afastamento dos tucanos do governo Temer cometerá um desatino. A real politik, governador, se ancora em parcerias entre siglas. Se não por identificação ideológica - eis que todas nadam no pântano da desideologização -, pelo menos por conveniência. Afinal, os bons minutos que o PMDB e outras execradas siglas possuem serão vitais para a massificação do discurso de candidatos. O PMDB não vai deixar seus minutos migrarem com facilidade. Detalhemos essa questão. Tempo de TV O tempo de TV e rádio será fundamental na campanha de 2018. Mais que em campanhas anteriores. Por uma simples razão: a campanha será mais curta - 35 dias de mídia e não mais 45 -, recursos financeiros também bem mais curtos, eleitorado desconfiado e indignado, expectativa por um discurso convincente. Partamos de um exemplo: João Doria, em São Paulo, fez o maior leque de alianças partidárias dos últimos tempos. Teve um tempo longo de rádio e TV para expor suas propostas. Ganhou muita visibilidade. E deixou seu opositor para trás em matéria de articulação com as massas. Articulação e mobilização A campanha de 2018 vai se amparar, além do eixo da comunicação, nos eixos da articulação e da mobilização. O primeiro diz respeito aos contatos, parcerias e efetivos vínculos que os candidatos deverão estabelecer com entidades organizadas, líderes comunitários, bases políticas nas regiões e bairros, etc. Já a mobilização diz respeito aos contatos diretos com o povo. Se o candidato em campanhas passadas chegava a gastar sola ou borracha de dois pares de sapatos, deve se preparar para gastar quatro pares. Vai ter muita andança. O eleitor indignado vai querer ver o candidato - olho no olho, ombro a ombro, testa a testa, mão na mão, porta a porta, casa a casa. Campanha mais direta Candidatos não são sabonete ou pacote de macarrão. Não adianta fazer uma bela campanha de marketing televisivo, com a fosforescência de luzes e efeitos cinematográficos. O eleitor está desconfiado de tantas promessas. Quer sentir a alma do candidato. E não apenas sua voz pelo rádio ou TV. Quer conferir o grau de verdade. E isso será objeto da maior proximidade entre candidato e eleitor. Os valores pessoais serão checados. Mas o projeto, a ideia central, as propostas, enfim, deverão ganhar substância. Programas devem ser oportunos, diretos, objetivos, de forma a atender aos reclamos mais urgentes das populações, dos Estados e regiões. Um bom candidato Em 2018, o eleitor buscará um candidato com as seguintes qualidades: experiência, honestidade; vida limpa e passado decente; assepsia; equilíbrio/ponderação; preparo; coragem/determinação; autoridade (não confundir com autoritarismo). Há uma saturação de perfis antigos, que usam as esteiras da velha política. O eleitor quer ver perfis mais identificados com suas grandes demandas: segurança, saúde, educação, melhoria das condições de vida nas regiões, nos bairros, nas ruas. Quem apresentar propostas mais condizentes com as necessidades do eleitor terá melhores condições de ser escolhido. E o medo? Lula e Bolsonaro passam Lula e Bolsonaro aparecem hoje como finalistas das eleições de 2018. Este consultor político não acredita nesta hipótese que tem sido defendida por analistas de todos os espectros. Por quê? Primeiro, porque um deve ser impedido pela Justiça e o outro, porque, além de ser considerado um perigo radical, deverá ser engolfado pela avalanche de discursos de outros. Bolsonaro terá muito pouco tempo de mídia. Não resistirá. E Lula, mesmo que garanta sua condição de candidato, passa hoje mais medo do que esperança. Em 2002, expressava esperança. Hoje é a extensão do medo. Principalmente junto aos bolsões médios, que funcionam como os clarinetes e trompetes da orquestra. Esperança Essa é a virtude mais ansiada pelos conjuntos eleitorais. Das margens carentes aos grupamentos mais altos da pirâmide social. Os pobres esperam que seu candidato abra as portas da esperança, sob a ilusão de que ele trará progresso, encherá seu bolso de dinheiro, garantirá a educação de seus filhos, comida barata, transporte ligeiro. Enfim, a felicidade está atrás da porta que o candidato promete abrir. Já as classes médias querem ver políticas mais ajustadas ao estado do país e que se reflitam em segurança, harmonia social, melhoria dos serviços públicos, conforto. O candidato que mais se identificar com estas expectativas e políticas será escolhido no momento do voto. (É claro que haverá sempre bolsões tradicionais que votarão de "cabresto"). Segurança O país está tomado pela violência, que se espraia por todo o território. Por isso, o discurso da segurança será bem acolhido. Mas as promessas vãs e banais - bandido bom é bandido morto, bandido irá para a cadeia - não conseguirão convencer. Propostas devem ser demonstradas quanto à viabilidade. O discurso exigirá comprovação sobre a aplicação das ideias. Onde estarão os recursos? De onde virão? Maná não cai do céu. Quem desejar ser crível, precisa comprovar aquilo que dirá. Rio de Janeiro O Rio de Janeiro é um caso sério. Garantir segurança no Rio de Janeiro parecerá tarefa para um semi-deus. Como? As Unidades de Polícia Pacificadora estão enfrentando problemas. No Rio, o furo é mais em cima. Conluio de corrupção. O ministro Torquato Jardim pôs o dedo na ferida. Lula perdoa Lula está dizendo que "perdoa" os golpistas. Pragmático, acena a aliança com Renan Calheiros, em Alagoas, e Eunício Oliveira, no Ceará. A Democracia Socialista (DS) reage. Combate essa formação. Gleisi, a presidente do PT, acena com parcerias de esquerda, o que faz fechando o olho direito, que reabre para ver Lula entrando de soslaio pela banda direita. Eita, PT. A invasão chinesa Os chineses iniciaram a invasão no Brasil. De janeiro a outubro deste ano, movimentaram cerca de US$ 10,84 bilhões - mais de R$ 35 bilhões. As aquisições chinesas saltaram de 6, no ano passado, para 17. E vão subir muito. Em 2018, espera-se uma enxurrada de recursos. Pelo menos 10 grandes empresas demonstram interesse em investir em áreas como energias renováveis, ferrovias, portos, mineração, papel e celulose e até em telecomunicações. Reforma trabalhista Sábado, 11, entrarão em vigor os dispositivos aprovados na reforma trabalhista. Parcela de juízes do trabalho e membros do Ministério Público do Trabalho prometem não cumprir a nova legislação. Seria um caso clássico de desobediência civil, que baterá inevitavelmente nos Tribunais Superiores. Só estes poderão sustar os "violadores" da lei. Só mesmo no Brasil pode-se constatar a aberração de um juiz - o servidor por excelência para fazer cumprir a lei - desobedecer o estatuto legal. Neil Ferreira Um nome que fez história na propaganda brasileira. Um dos mais criativos publicitários. Um contador de belas histórias. Um gozador. Um grande papo. Um crítico feroz da política e de seus protagonistas. Um amigo. Deu-nos adeus, ontem. Que Deus o acolha. Fecho a coluna com uma historinha do Paraná. Conversando no jardim Manuel Ribas, interventor no Paraná (1932/1935), depois governador (1935/1937), despachava no palácio, mas gostava de morar em sua casa. Bem cedinho, chega um rapaz e encontra o jardineiro regando o jardim: - Seu Ribas está? Sou filho de um grande amigo dele. Meu pai me mandou pedir um emprego a ele. Eu podia falar com ele? - Poder, pode. Mas, e se ele não lhe arrumar o emprego? - Bem, meu pai me disse que, se ele não arranjasse o emprego, eu mandasse ele à merda. - Olhe, rapaz, passe às 4 da tarde lá no palácio, que é a hora das audiências, e você fala com ele. Às 4 horas, o rapaz estava lá. Deu o nome, esperou, esperou. No salão comprido, sentado atrás da mesa, o jardineiro. Ou seja, o governador. O rapaz ficou branco de surpresa. - O que é que você quer mesmo? Repetiu a história. "Meu pai me mandou pedir um emprego ao senhor". - E se eu não arranjar o emprego? - Então, seu Ribas, fica valendo aquela nossa conversa de hoje de manhã, lá no jardim.
quarta-feira, 1 de novembro de 2017

Porandubas nº 552

Ronaldo Cunha Lima Abro a coluna com engraçadas historinhas envolvendo o poeta, historiador, ex-senador, ex-deputado e ex-governador da Paraíba, Ronaldo Cunha Lima, figura sempre bem lembrada nos causos de política. Quem conta é Diógenes da Cunha Lima, o grande poeta e escritor, seu primo e presidente da Academia Norte-Rio-Grandense de Letras em seu livro sobre "Ronaldo Cunha Lima, um nordestino de todo canto". O nome é Glauce Quando lhes nasceu a filha, a princesa da casa, "A doce paz que me aquieta" foi sugerido o belo nome Raquel. Ronaldo nega. Queria Glauce. E atacou com a caricatura da fala do nordestino: - Quando ela pedir alguma coisa e não souberem bem o que é, vão dizer : Qué qui Raqué qué? Bondade Na "Convenção dos Cunha Lima", em Pirangi, mostro a Ronaldo o brasão familiar com o lema que inventei: A bondade vence. Ele acrescenta: - A Bondade vence, mas é melhor quando... Convence. O verso alheio Um escritor carioca, laureado, em roda de admiradores, fala sobre suas desventuras em Recife. Ronaldo não gostou da apresentação: - Este aqui é um nordestino. Que veio advogar no Rio é poeta sonetista. O escritor, com ares superiores, proclama: - Soneto é a minha pátria. Hoje mesmo, pela manhã, fiz este soneto. E recita. Ronaldo contesta: - Não pode ser. Só se lhe baixou um espírito, foi psicografado. Conheço este soneto desde menino. Penso que é de um velho poeta português. - Que história é essa? - Posso provar, diz Ronaldo. E recita os 14 versos. Depois, sorrindo, explica que decorou o poema na hora, ao ouvir a leitura. Lula e Bolsonaro Leio e pasmo: Bolsa cai e dólar sobe por causa de pesquisa do Ibope, que mostra Lula, com 35%, e Bolsonaro, 13%. O mercado estaria reagindo negativamente ao quadro apresentado. O pior é constatar que analistas e comentaristas entram na onda dessas pesquisas que não retratam o que efetivamente ocorrerá no país em outubro de 2018. A partir da possibilidade de Lula vir a se candidatar, tudo gira em torno de uma grande interrogação. Condenação na 2ª instância A maioria das projeções, hoje, aponta para eventual condenação de Lula na 2ª instância. Mas, se não houver consenso na Turma em que será julgado, a candidatura de Lula será levada adiante, na esteira de uma interpretação ensejada pelo STJ, a de que nesses casos, recursos (de embargos infringentes) podem ser apresentados. Portanto, a tese de que só poderá ser impedido após sentença transitada em julgado continua sendo defendida. As circunstâncias Aceitemos, portanto, a hipótese da candidatura Lula. Terá ele adversários e um repertório pesado de denúncias e acusações o espera. O legado que o PT deixou no país não passará em brancas nuvens. O país deverá continuar a recuperar seus níveis de emprego, a inflação deve continuar seu controle e os juros tendem a permanecer em índice de queda. Lula aguentará? Difícil responder, mas a lógica dos tempos eleitorais indica que as circunstâncias do momento determinarão sua posição no ranking. BO+BA+CO+CA A economia puxará o trem da política. Logo, a velha equação que sempre lembro dará o tom: Bolso com dinheiro, Barriga satisfeita, Coração Agradecido, Cabeça tende a votar com os patrocinadores da boa situação. A recíproca é verdadeira. Lula será, claro, uma vedete no Nordeste, onde o eleitorado, mesmo sob bombardeio sobre ele, o admira, considerando-o o Pai dos Pobres. Mas o Sudeste, com o maior bolsão eleitoral do país, pode funcionar como a pedra jogada no lago. Ondas concêntricas se formarão até chegar às margens. O Sudeste, nesse caso, será a tuba de ressonância eleitoral. Transferência Lula terá condições de transferir sua votação caso seja impossibilitado de ser candidato? Pouco provável. Apenas uma parcela de seus eleitores poderia seguir sua recomendação. A parcela mais engajada e contrita e restrita ao Norte, Nordeste e Centro-Oeste. A campanha será realizada sob um novena de palavrórios contra a roubalheira e contra a bandidagem na política. Poucos escaparão ao bombardeio. Será um verdadeiro tiro ao alvo. Bolsonaro Este deputado, ao contrário das projeções de alguns analistas políticos, não terá chances de chegar ao segundo turno. As galeras que hoje lhe fazem festa nos aeroportos não conseguirão ter votos suficientes para torná-lo altamente competitivo. Há uma tendência de querer ver um candidato de direita para se contrapor a Lula, mas será pouco provável uma escapada das massas pela banda direita. Da mesma forma que Lula, a identidade de Bolsonaro será exposta e seu despreparo será evidenciado. Perfil do centro Este consultor insiste em manter sua visão de que o país examinará a moldura de perfis, mas, na reta final, tenderá a adotar a linha do meio. In médium, virtus - a virtude está no meio. Não há nomes a citar nesse momento. Mas os valores da harmonia, do equilíbrio, do bom senso, do apaziguamento de ânimos, da pacificação do país devem compor o discurso ansiado pela comunidade. Paz e não guerra continuada - essa seria a bandeira hasteada no coração nacional. Outsiders? A eleição de um outsider não é coisa fora de propósito no contexto da política pós-sociedade industrial, onde se amontoam as mazelas que corroem as democracias, como a desideologização, o declínio dos partidos, o declínio dos parlamentos, o declínio das oposições, a personalização do poder, a ascensão das tecnoestruturas e o aparecimento de novos circuitos de representação, como associações, sindicatos, federações, núcleos, grupos, movimentos de toda a ordem. O deslocamento da política tradicional para outros espaços é uma realidade aqui e alhures. Cacareco O momento e as circunstâncias induzem a comportamentos inusuais da base política, como a eleição de um Cacareco. Lembremos: em 1959, com a morte de Getúlio Vargas, sob o governo de Adhemar de Barros, em São Paulo, o eleitorado indignava-se contra vereadores paulistanos. Na campanha, apareceu o rinoceronte Cacareco (na verdade uma fêmea), vindo do Rio emprestado para abrilhantar a inauguração do zoológico. O empréstimo era por seis meses. Passado o tempo, os paulistanos fizeram um movimento para que o animal de 230 quilos aqui ficasse. Um movimento decidiu pela candidatura de Cacareco a vereador com este slogan: "vale quanto pesa". Um matreiro candidato saiu à rua carregando uma onça, apostando no slogan: "eleitor inteligente vota no amigo da onça". 100 mil votos Na época o voto era num pedaço de papel que o eleitor colocava em envelope recebido do mesário. Gráficas imprimiram milhares de cédulas com o nome do bicho. Cacareco recebeu 100 mil votos, quando o candidato mais votado naquele ano não ultrapassou 110 mil votos. Infelizmente, Cacareco não pode comemorar. Foi devolvido ao zoológico do Rio, vindo a morrer poucos anos depois, antes de completar 10 anos. (O coração não resistiu a tanta emoção). A revista Time acabou dando ênfase à frase de um eleitor: "é melhor eleger um rinoceronte do que um asno". Um perigo A revolta do eleitorado se faz ver na frase comum em todos os rincões: "todo político é ladrão". Infelizmente, o país corre esse risco, que o levaria a uma crise de proporções inimagináveis, porquanto um Huck ou outra celebridade não teria condição de "pôr o guizo no gato", administrar a complexidade da nossa política: 35 partidos, sistema bicameral com duas casas congressuais, presidencialismo de coalizão, etc. Teria de se submeter ao DNA de uma cultura, cujas raízes estão fincadas nas roças do fisiologismo, do nepotismo, do grupismo, do coronelismo. Nem Marina Silva, com roupagem ética, ou mesmo Ciro Gomes, com sua metralhadora expressiva, resistiriam ao poder de mando da nossa representação, 513 na Câmara e 81 no Senado. Nomes fora da política terão condições de administrar um país com sua crise política crônica. Rodrigo Maia A CEBRASSE - Central Brasileira de Serviços homenageará Rodrigo Maia, presidente da Câmara, com o Título de Personalidade Política do Ano, graças ao seu empenho e ao seu comando na esfera parlamentar, principalmente por ocasião da aprovação da Lei da Terceirização e da Reforma Trabalhista. Rodrigo foi, inquestionavelmente, figura de primeira grandeza na aprovação de projetos importantes para o país. Graças a ele, a agenda do Executivo conseguiu caminhar bem. Merece todas as homenagens. Será no dia 4/12, no Buffet Dell'Orso à rua Tuim, 1.041 - Moema, na capital paulista. O almoço reunirá 200 empresários dos setores de serviços. Meirelles O ministro Henrique Meirelles diz achar "interessante" uma candidatura a vice-presidente da República. Se a economia efetivamente se recuperar bem, vale a pena trocar a declaração: "serei candidato à presidência da República". Meirelles só pensa nisso. E o PSD do ministro Gilberto Kassab alimenta a ideia. Justiça trabalhista Deve esbarrar no STF a disposição do MPT e alguns juízes de não cumprirem as disposições emanadas na Reforma Trabalhista e na Lei da Terceirização. A Anamatra, Associação dos Magistrados do Trabalho, pilota a contrariedade. O ministro Ives Gandra Filho acredita que o enquadramento de juízes e procuradores deve ser feito pelo cabresto do Supremo. A conferir.
quarta-feira, 18 de outubro de 2017

Porandubas nº 551

Uma historinha da terra do ministro Carlos Ayres Britto, Sergipe. Mamãe, pode morrer tranquila Fernando Leite, filho do senador Júlio Leite, presidia a Assembleia de Sergipe quando Seixas Dória era governador. Seixas teve de ir ao Rio enquanto o vice-governador Celso Carvalho estava no Rio Grande do Norte assistindo ao enterro da sogra. Assumiu o governo o presidente da Assembleia por dois dias. Fernando Leite mandou telegramas a todas as embaixadas comunicando ao mundo sua governança. Orgulhoso, como bom filho, telegrafou à mãe, internada e gravemente enferma em hospital do Rio: - Mamãe, pode morrer tranquila. Seu filho é governador. Beijos, Fernando. Mais um atrito Mais um atrito entre o presidente da Câmara Rodrigo Maia e o governo foi administrado. Rodrigo defendeu a "harmonia" entre os Poderes e afirmou que agirá com imparcialidade no processo de tramitação da segunda denúncia contra o presidente Michel Temer na Casa. Garante que o episódio sobre a divulgação dos vídeos da delação do operador Lúcio Funaro está superado. "Não há nada por trás da minha imparcialidade que seja pra ajudar ou atrapalhar o presidente Michel Temer". O fato é que há poderosas forças fazendo pressão para inflar o balão de tensões. Entre essas forças, um poderoso grupo de mídia. Voto aberto no Senado O ministro Alexandre de Moraes, do STF, decidiu nesta terça-feira, 17, que o Senado deve fazer votação aberta para decidir sobre o afastamento de Aécio Neves. Foi o que se cumpriu. O voto aberto tirou votos favoráveis ao tucano mineiro. Jader, Anastasia, Jucá e Renan fizeram discursos importantes. O resultado era imprevisível ante a manifestação prévia de 30 senadores, que se manifestaram contra Aécio, o qual ganhou com 44 votos a favor e 26 contra. Derrubada a decisão da 1ª Turma do STF. Vetores de força para 2018 Mesmo nebuloso, o tempo em que desenvolverá o pleito de 2018 já permite inferir sobre alguns eixos que calibrarão as campanhas eleitorais. Tentemos explicitá-los: - proposições substantivas - o discurso será substantivo, recheado de propostas densas, factíveis, com foco na aplicação imediata; - inovação, vigor, assepsia - esses três conceitos andarão juntos. O eleitor tende a querer ver um perfil sem máculas, sem passado sujo, asséptico. Isso não quer dizer que empresários, fora da política, ou profissionais liberais, apenas pelo fato de se apresentarem como novidade, terão sucesso. Precisam mostrar experiência; - representatividade - os perfis deverão ter uma clara representação das parcelas/setores/segmentos que formam a sociedade. A tendência à distritalização ou à categorização profissional estará em destaque. Perfis hão de preencher os nichos sociais ou regionais; - a verdade, centralidade - o discurso político sempre fica no contorno, com os perfis tentando prometer coisas, dourar a pílula com imagens espetaculares, ou seja, engabelando a audiência por meio de recursos estéticos. Desta feita, o eleitor vai dispensar a lábia; - força no indivíduo - o pleito praticamente nivelará os partidos, com exceção para aqueles entes encravados nas pontas do arco ideológico. As siglas do meio tendem a se misturar na geleia partidária. Por isso, o pleito de 2018 acentuará o peso do individualismo. Maior participação Na esteira das grandes mudanças que se operam na vida institucional, sob o signo das investigações de escândalos, a sociedade vai aproveitar o momento para sair da tradicional linha de conforto. Significa que vai se empenhar para analisar perfis, analisar propostas, revisar pontos de vista. Perderá mais tempo na observação da política. Acompanhará mais de perto o desenrolar do pleito. Execração de perfis e siglas Veremos uma campanha de execração de figuras carimbadas da velha política. O esculacho partirá principalmente das classes médias e, dentre estas, dos profissionais liberais - médicos, engenheiros, professores, empresários, economistas, etc. Esses polos de crítica e influência terão importância capital na organização de nomes e seleção de quadros que saírem candidatos por partidos. Grandes comunicadores Voltar-se-á a prestigiar os bons mocinhos que aparecem nos picos de programas de grande audiência, como Luciano Huck, com quem identificam-se milhares de jovens de áreas centrais e periféricas. Os comunicadores, face a um pleito mais franciscano (de poucos recursos financeiros) voltarão a ser prestigiados e a ser chamados para integrar a lista de candidatos. Os mais ricos As campanhas eleitorais de 2018 privilegiarão as identidades pessoais, beneficiando candidatos com maiores recursos, aqueles que têm melhores condições de bancar a liturgia do espetáculo político. O pleito, mais franciscano, será uma corrida de obstáculo. Muita sola de sapato será gasta. Marketing de valores O marketing eleitoral de 2018 terá como foco forças e valores dos protagonistas, a partir da questão da honestidade. Compromissos, propósitos, propostas para a micropolítica (educação, saúde, mobilidade urbana, segurança, creches, moradia) liderarão as planilhas programáticas. Pausa...para um riso. Filosofia de Vitorino Vitorino Freire, ex-manda chuva que filosofava sobre o Maranhão: - Quando o pasto pega fogo, preá cai no brejo. - O risco que corre o pau, corre o machado. - Não quero que ajudem meu roçado. Só quero que os bois do vizinho não entrem nele. - O Sarney não conhece o tamanho do meu roçado. De um lado da cerca eu grito e ele não ouve do outro lado. - Política no Maranhão é um Bumba meu boi que não sai sem mim. São Paulo, o emblema do país São Paulo será o fator emblemático do país. Como o Estado com a maior população e a maior densidade eleitoral, São Paulo é, por excelência, o laboratório das experiências nacionais. Por isso mesmo, tende a disseminar pelo território os ideários e os tipos de discurso que ganharão ênfase em 2018. São Paulo abriga uma exemplar coleção da gente brasileira. A teoria do 1/3 Este consultor continua a pôr fé em sua resumida equação para a disputa presidencial de 2018: 30% para a direita, 30% para a esquerda e 30% para o centro. Sobram 10%, que deverão correr pelo arco ideológico, sendo mais provável a fixação da maior parte nos espaços do centro, que deverá atrair parcelas à direita e à esquerda. Poderes desbalanceados A constatação de que a representação política se apequena a olhos vistos é mais surpreendente quando se atenta para a equação tripartite do barão de Montesquieu. Resgatemos sua argumentação. O Poder Legislativo é formado por representantes do povo soberano; por conseguinte, a lei constitui um produto direto da democracia representativa. E os juízes? Nada mais são, segundo o autor de O Espírito das Leis, "senão a boca que pronuncia as palavras da lei, seres inanimados que não podem moderar-lhe a força nem o vigor". Resulta como paradigma liberal do Estado de Direito a submissão do Judiciário à lei e, nesse caso, sob o abrigo do Parlamento, já que este Poder exprime a vontade geral. A interpenetração Ao longo do tempo, as funções típicas dos Poderes foram se distinguindo de funções atípicas, passando a dominar, cada um, escopos delimitados nos campos Legislativo, Administrativo e Judiciário. Nem por isso a invasão do espaço de um Poder por outro deixa de ocorrer. Quando há espaços não preenchidos por falta de legislação, a invasão ocorre. A justificativa é que a intromissão se faz por necessidade de se preservar a vida institucional. E é nesse ponto que o Poder Legislativo amortece sua força. Acanhado, parecendo submisso, permite que outros Poderes avancem sobre seu território. Direitos sociais Como pano de fundo do definhamento, registra-se uma inversão na cronologia da cidadania: os direitos sociais chegaram para os brasileiros antes que os direitos políticos. E isso contribuiu para a formação de um Executivo forte. Desde Getúlio Vargas, na década de 30, o povo sente-se mais atraído por um Estado de longos braços protetores - sob um regime presidencialista e centralizador - do que por uma representação sem força, de baixo conceito e pouca confiabilidade. Hoje, apenas 3% dos brasileiros acham que os parlamentares merecem confiança. Igualdade social Cada homem, no fundo de seu coração, tem direito de julgar-se inteiramente igual aos outros homens. Depois de reconhecer este direito, em seu tratado sobre a igualdade, Voltaire retrata o cozinheiro do cardeal filosofando sobre as diferenças entre as classes do gênero humano: "sou um homem como o cardeal; nasci chorando como ele, e ele morrerá como eu. Temos as mesmas funções animais. Se os turcos conquistarem Roma e se eu vier a ser cardeal e o cardeal vier a ser cozinheiro, eu o tomarei a meu serviço". Leitura na campanha política Nosso partido cumpre o que promete. Só os tolos podem crer que. não lutaremos contra a corrupção. Porque, se há algo certo para nós, é que a honestidade e a transparência são fundamentais para alcançar nossos ideais Mostraremos que é grande estupidez crer que as máfias continuarão no governo, como sempre. Asseguramos sem dúvida que a justiça social será o alvo de nossa ação. Apesar disso, há idiotas que imaginam que se possa governar com as manchas da velha política. Quando assumirmos o poder, faremos tudo para que se termine com os marajás e as negociatas. Não permitiremos de nenhum modo que nossas crianças morram de fome. Cumpriremos nossos propósitos mesmo que os recursos econômicos do país se esgotem. Exerceremos o poder até que Compreendam que Somos a nova política. ________________ Leitura depois da campanha política. *Depois de eleito (leiam de baixo para cima).
quarta-feira, 11 de outubro de 2017

Porandubas nº 550

Abro a coluna com uma historinha da Paraíba. Sinceridade e sagacidade Zé Cavalcanti, ex-deputado paraibano, conta em seu livro A Política e os Políticos, que um coronel do sertão, ao passar o comando de seus domínios para o filho, aconselhou: - Meu rapaz, se queres ser bem sucedido na política, cultiva estas duas verdades: a sinceridade e a sagacidade. - O que é sinceridade, meu pai? - É manter a palavra empenhada, custe o que custar. - E o que é sagacidade? - É nunca empenhar a palavra, custe o que custar. O relatório de Bonifácio - I O deputado Bonifácio de Andrada (PSDB-MG) apresentou ontem o relatório em que recomenda à Câmara barrar a tramitação da denúncia criminal contra o presidente Michel Temer e os ministros Eliseu Padilha (Casa Civil) e Moreira Franco (Secretaria-Geral). Bonifácio fez fortes críticas ao Ministério Público, ao dizer que ele "comanda a Polícia Federal, mancomunado com o Judiciário, causando um desequilíbrio entre os Poderes e se tornando um novo poder". O relatório de Bonifácio - II O relator afirmou que o Ministério Público exerce uma atuação policialesca com o apoio "do noticiário jornalístico que fortalece essas atuações espetacularizadas pelos meios de comunicação". Para ele, Judiciário, Ministério Público e Polícia Federal têm tido um poder exacerbado, eivado de abusos, em detrimento do Legislativo e do Executivo. A votação da CCJ deve ficar para a semana que vem, podendo ir a plenário na semana do dia 25. E assim o governo espera mais uma vitória, até mais fácil do que na primeira denúncia. Homenagem a Mariz Antônio Claudio Mariz de Oliveira, que brilha na galeria dos advogados criminalistas do país, recebeu bela homenagem da classe, anteontem, em evento de desagravo organizado pela seccional paulista da Ordem e que teve como orador principal o jurista Técio Lins e Silva, representante do IAB - Instituto dos Advogados Brasileiros, a mais antiga entidade da Advocacia. Ali se ouviu um conjunto de perorações sobre a vida de Mariz, com destaque para sua bravura desde os tempos duros do arbítrio, e um painel sobre a importância da Advocacia. Alguns significados merecem destaque. Tempos nebulosos Fez-se na sessão de desagravo ampla radiografia desses nossos tormentosos tempos. Tempos de desrespeito aos advogados, a partir da invasão de seus escritórios; tempos de mídia servindo como arauto de uma cultura punitiva, como bem salientou o homenageado Mariz; tempos em que a mídia, de maneira irresponsável e espetaculosa, noticia "fatos que chegam às redações" sem conferir o teor de verdade; tempos em que os advogados são confundidos com a clientela; tempos em que a letra da lei é jogada no lixo, puxando "interpretações" que emergem ao sabor de fluxos e ondas com impacto na mídia; tempos de judicialização da política. Advocacia nos anos de chumbo Técio Lins e Silva lembrou os tempos da ditadura, quando a advocacia teve papel fundamental na defesa dos direitos humanos. Mostrou como em nossos estranhos tempos, o arbítrio dá sinais de volta, com o ardor punitivo, na esteira de certo "conluio" entre mídia, juízes e procuradores. A indignação é geral na classe com as invasões de escritórios, o acesso ao sagrado sigilo que resguarda a interlocução do advogado e clientes; as manchetes bombásticas que, a título de informação, acabam mais adiante desmentidas ou corrigidas em parte. O desleixo e a imprudência povoam a divulgação de "fatos". Mariz e a cultura punitiva Mariz, com a verve sempre muito bem certeira, mostrou o abandono da apuração de "fatos" pela mídia. A sociedade tem o direito de ser informada. E a imprensa exerce o dever de transmitir as informações que apura, sem acréscimos, elipses ou versões estapafúrdias, de forma a aparelhar o cidadão com a moldura informativa que o ajudará a formar opinião abalizada sobre os acontecimentos. A expressão do grande criminalista foi um chamamento à razão. Os juízes, por sua vez, não podem fazer letras mortas das leis. Ou produzir julgamentos sob a inspiração de manchetes espetaculosas, que servem para irradiar uma "cultura punitiva" no país. Se assim age, a mídia se transforma em arauto dessa cultura, quando deveria apurar fundamentos verdadeiros. Tempos de ontem e de hoje A impressão é a de que, nos tempos de ontem, mesmo os mais duros, havia mais respeito pelo exercício da advocacia. Hoje, advogados não são apenas considerados "longa manus" da ilicitude que se espraia no país, como são acusados de ganhos exorbitantes, de servirem apenas aos ricos, esquecendo os acusadores que a advocacia pro bono coloca exércitos de advogados na ajuda às causas de pessoas sem posse. Observação ao pé do ouvido: entre os porta-vozes dos "extraordinários ganhos dos advogados", estão âncoras de TV, cujos salários, pela grandeza, assombram crentes e descrentes. A responsabilidade da mídia Este consultor passou três décadas dentro de salas de aula, a partir de 1968, ministrando disciplinas de jornalismo (informativo, interpretativo, opinativo, empresarial, etc.) em algumas escolas de comunicação, entre as quais a ECA-USP e a Cásper Líbero. O eixo da responsabilidade social da imprensa ganhava sempre destaque nos cursos de graduação e pós-graduação. Pois bem, urge constatar que, naquela época, a apuração de fatos se regia por acurado rigor. Hoje, a pressa nas redações - ante a rapidez das redes eletrônicas - acaba amortecendo a apuração completa de informações. A crise da democracia representativa acabou puxando a política para o fundo do poço. E o jornalismo acabou correndo atrás. Mídia detesta felicidade Mariz fez um contraponto interessante, ao mostrar que a mídia prefere notícias escandalosas, negativas, bombásticas a fatos positivos. E arrematou, cáustico: a mídia não gosta da felicidade, só de coisas ruins. Observação: o principal telejornal do país virou uma imensa galeria de fatos policiais/policialescos. Sob o signo da condenação ou da morte. Espetáculo Na verdade, a informação nesses nossos plúmbeos tempos acaba sendo envelopada com os adereços do Estado-Espetáculo. E os profissionais do espetáculo, da política e, mais recentemente, da mídia compartilham frequentemente as mesmas atitudes e os mesmos vezos. Como diz Roger-Gérard Schwartzenberg: "como se o show business de desdobrasse em um pol'business", e nosso acréscimo, vemos também a mídia'business. Os cidadãos acabam saindo de sua condição de leitores para a condição de espectadores. Degradação A política vem se transformando em talk-show. Juízes e políticos se acostumaram a exibir suas performances nas TVs de suas casas de trabalho. Os discursos se atropelam. A democracia se afasta de seus valores centrais. O tom das mensagens busca uma abordagem "euforizante", ou seja, capaz de produzir euforia, catarse, espetáculo. Gérard é duro com os artistas do espetáculo, estejam eles na política, na mídia ou no Judiciário. Diz: "Calígula, o imperador, fez cônsul o seu cavalo. Mas a história recente tem também seus casos de desequilíbrio mental". Narcisismo Sobra, ainda, aos protagonistas do Estado moderno a propensão para o desejo de se transformarem em Narcisos. O mito diz que o belo Narciso desdenhou o amor da ninfa Eco. Que morreu de desespero e seus lamentos ainda hoje soam nas florestas. Os deuses puniram Narciso. Condenaram-no a se apaixonar pela própria imagem. Por isso, tomou-se de amores pela imagem, contemplando-a nas águas transparentes de sua fonte. Ficou obcecado pela paixão do reflexo. Definhando até morrer. A mídia não seria, para muitos, o espelho de Narciso? Que parece, parece. Descrença O velho Rousseau era um descrente da representação política. Para ele, uma abstração. O filósofo, defensor do ideal da soberania popular, dizia que "toda lei que o povo não tenha ratificado diretamente é nula, não é uma lei". E arrematava: "o povo pensa ser livre, mas está enganado, pois só o é durante a eleição dos membros do Parlamento, assim que são eleitos, ele é escravo". Como explicar o fundo? A reforma política produziu uma reversão de expectativas. Ganhou poucos adereços, entre os quais o fim das coligações proporcionais e a cláusula de barreira. As coligações vão durar um pouco mais, até 2020. Mas um estatuto vai gerar muitas críticas: o fundo de campanhas. Como justificar um fundo de quase R$ 2 bilhões para financiar o pleito de 2018? Será difícil explicar ao eleitor. Que vê escândalos por todos os lados. E dinheirama jogada fora com projetos que não lhe farão bem. História Nicolas Eymerich, um frade, produziu "O Manual dos Inquisidores em 1376". O Manual mostra os dez truques do inquisidor para neutralizar os truques dos hereges, na verdade um conjunto de manipulações, pressões, ameaças, promessas, benevolências, enfim, um completo arsenal de violência psíquica contra os réus. (A escolha desse roteiro tem o propósito de mostrar como alguns políticos usam artifícios semelhantes em seu discurso cotidiano.). 1. O primeiro consiste em responder de maneira ambígua. 2. O segundo truque consiste em responder acrescentando uma condição. 3. O terceiro truque consiste em inverter a pergunta. 4. O quarto truque consiste em se fingir de surpreso. 5. O quinto truque consiste em mudar as palavras da pergunta. 6. O sexto truque consiste numa clara deturpação das palavras. 7. O sétimo truque consiste numa autojustificação. 8. O oitavo truque consiste em fingir uma súbita debilidade física. 9. O nono truque consiste em simular idiotice ou demência. 10. O décimo truque consiste em se dar ares de santidade. Nossos mestres Uma vez, perguntei a Roberto Campos, ministro do Planejamento do presidente Castelo Branco, se sua estratégia não era a de pulverizar as verbas que, na época, em 1965, o governo tinha para aplicar na região Nordeste. O conceito de pulverização era a distribuição das verbas, de maneira franciscana, um pouquinho a cada Estado, uma migalha, o que poderia não gerar os resultados desejados. Contestador, dialético, Bob Fields (como era conhecido), pegou o foca (eu mesmo) de surpresa: "O que o senhor entende por pulverização?". Fiquei calado. Jânio Quadros era perito na arte de se fazer de surpreso. Perguntado por Leon Eliachar se o oval da Esso é mesmo oval ou aval, Jânio se toma de surpresa e arremete: "Sugiro-lhe, amistosamente, uma consulta a qualquer psicanalista. O Brasil é tão mencionado nesse seu questionário quanto a Esso". Foi uma tremenda gozação. E diante da pergunta: "Qual será seu slogan, 50 anos em 5 ou 5 anos em 60?". Jânio não hesita: "50 anos em 5, mais o pagamento dos atrasados". O truque de mudar as palavras das perguntas é muito comum no meio político. Ao político, é perguntado algo assim: "O senhor vai dizer tudo que sabe aos procuradores?". E ele responde: "Quem diz a verdade tem tudo a seu favor. Quem não deve não teme". O truque de deturpar as palavras é usual. Exemplo: "O senhor acredita que o relatório do BNDES não vai condená-lo?". Resposta: "O relatório pode ser uma peça de condenação ou de inocência. Se não comprova nada sobre minha pessoa, sou inocente. Quem me condena não é o Banco. É a imprensa". Fecho a coluna com tiradas mineiras. Mineirice Frases de Augusto Zenun, de Campestre, sul de Minas - político, industrial, filósofo e, antes de tudo, udenista ortodoxo da linha bilaqueana (Bilac Pinto, o Bilacão, seu dileto amigo). Sempre infernou a vida de seus adversários, com as suas atitudes destemidas e sua natural mineirice. "Quando estamos no governo, todo adversário que quer se encaixar, diz ser técnico". "O preço do voto de um eleitor mentiroso é sempre o mais caro". "Há um fato na política que a torna bastante interessante: o choque dos falsos políticos com os políticos falsos". "Político é dividido em duas partes. Uma trabalha para ser eleito. A outra trabalha para conseguir um cargo público se for derrotado". "Muita campanha eleitoral se parece com sauna: depois do calorão vem uma ducha fria". (De A Mineirice, de José Flávio Abelha)
quarta-feira, 4 de outubro de 2017

Porandubas nº 549

Abro a coluna com uma historinha de Arandu/SP Empregando o plural Arandu, em São Paulo, começou sua história como pequeno povoado, no bairro do Barreiro, no município de Avaré. Em 1898, um pedaço de uma fazenda leiteira da região foi doado para a construção de uma capela. Elevado a distrito de Avaré/SP, em 1944, recebeu na ocasião a atual denominação. Em 1964, conquistou a emancipação política. No primeiro comício, os candidatos a prefeito exibiam seus verbos. Dentre eles, o matuto José Ferezin. Subiu ao palanque e mandou brasa: - "Povo de Arandu, vô botá água encanada, asfaltá as rua, iluminá as praça, dá mantimento nas escola...". Ao lado, um assessor cochichou: - Zé, emprega o plural. O palanqueiro emendou: - Vô dá emprego pro prural, pro pai do prural e pra mãe do prural, pois no meu governo não terá desemprego. (Historinha enviada por Marcio Assis) Bom senso Prevaleceu o bom senso! Por ampla maioria, venceu a tese de adiamento da questão do afastamento do senador Aécio Neves! Ficou para o dia 17. Recado dado: se o STF confirmar no dia 11 que a palavra final sobre o afastamento é do Judiciário, terá a visão contrária do Senado no dia 17. O senado recuou hoje para ganhar mais adiante! O perfil da vitória Que perfil encarna com mais força a possibilidade de vitória em 2018? Tento arriscar: o perfil que exprimir confiança, credibilidade, respeito, experiência, equilíbrio, capacidade de colocar o Brasil nos trilhos. Passado limpo e vida decente. De onde virá esse perfil? Arrisco: do centro. Alguém que possa agregar entre 40% a 50% dos votos. As extremidades direita e esquerda deverão abrigar, cada qual, 20%. Vão sobrar entre 10% e 20% distribuídos em duas bandas: centro-direita e centro-esquerda. O centro terá força de atração para puxar aqueles índices e ganhar o pleito. Este consultor deixa ao leitor a escolha ou indicação do perfil com alguns dos valores e qualidades apontadas. De quem é a última palavra? A tensão entre os Poderes Legislativo e Judiciário atinge um grau de fervura. A questão central é: a última palavra para afastar um parlamentar pertence à Suprema Corte ou ao Congresso? Vamos à hipótese que, mesmo absurda, fundamenta-se na lógica: se o STF tem poder para afastar um parlamentar, pode afastar todos, 81 senadores e 513 deputados. Nossa democracia vestiria o manto da "judiocracia", sistema plasmado sob obra e graça do Poder Judiciário. Uma excrescência. Judicialização É comum ouvir-se nas rodas políticas o comentário de que os magistrados usurpam funções legislativas. As tensões entre os Poderes se acirram na esteira da própria "judicialização" das relações sociais, fenômeno que se expressa tanto em democracias incipientes quanto em modelos consolidados, como os europeus e o norte-americano, nos quais os mais variados temas envolvendo políticos batem nas portas do Judiciário. O fato é que a tese da judicialização ganha força. E o STF começa a receber fortes críticas de todos os lados. Montesquieu abandonado Montesquieu ponderava que juízes significavam a boca que pronuncia as palavras da lei, entes que não podem aumentar ou enfraquecer seu vigor. O tripé dos Poderes alinhava-se numa reta, embora o Legislativo ainda tivesse maior projeção. Com o advento do Welfare State, o Executivo passou a intervir de maneira forte para expandir a rede de proteção social. Passou, inclusive, a legislar, fato hoje medido entre nós pelas medidas provisórias e leis do Executivo. A crise, que se agudiza desde os tempos do mensalão, causa efervescência entre Poderes. STF em condição superior E nesses tempos de descrédito, o Judiciário, como intérprete da letra constitucional, aumenta sua força. Ao decidir se os Poderes Executivo e Legislativo, partidos e outros entes agem de acordo com a Constituição, o STF acaba definindo as regras da política na vida nacional, elevando o Judiciário a um patamar superior. Os textos legais, por seu lado, férteis em ambiguidade, propiciam condições para a instalação de um processo de judicialização da vida social. Disputas multiplicaram-se nas esferas pública e privada. A visibilidade dos tribunais se intensifica e seus membros passam a dar interpretação política aos conflitos. Ativismo do MP O MP, por sua vez, desenvolve forte ativismo. Promotores e procuradores de Justiça abrem espaço para um arsenal de ações civis públicas, reforçando a ideia de que é o quarto Poder. Lidera investigações na operação Lava Jato. Ganha proeminência. Órgãos governamentais usam-no para acionar outros órgãos públicos. O contencioso político-jurídico se adensa. Daí a esperada reação das casas congressuais. A lei de abuso de autoridade voltará ao centro de debates. O fato é que a crise entre os Poderes tende a se estender por um bom tempo, apesar dos esforços de seus presidentes para tentar amainar as tensões. Moro e o fim da Lava Jato O juiz Sérgio Moro está começando a enxergar o fim da Lava Jato. Não se trata de lamento. Parece imbuído da ideia de que o processo deve ter um fim e o país precisa inaugurar um novo ciclo regrado pelo resgate dos legítimos valores republicanos. Partindo de Moro, a hipótese de que a operação Lava Jato está chegando ao final sugere que, da parte que lhe toca, tentará apressar decisões. "Os barões da corrupção", na acepção dele, não terão mais vez. Tudo indica que Luiz Inácio deverá ser condenado em segunda instância e assim, será impedido de concorrer ao pleito de 2018. Lula em 1º lugar Vejamos a pesquisa Datafolha. Um amontoado de aparentes contradições. Lula domina todos os cenários, liderando a disputa de outubro de 2018. Ao mesmo tempo, a maioria da população apoia sua detenção. Quer vê-lo preso. Coisa estranha. Será que Lula é mesmo favorito? Este consultor tende a acreditar que não resistirá ao bumbo midiático de acusações, contradições e versões que recairão sobre seu perfil nos próximos tempos. Diminuiria a intenção de voto sobre ele e aumentaria a rejeição. Lula lidera, hoje, porque o tiroteio eleitoral está longe de ocorrer. Imagem do governo Da mesma forma, há questões que também precisam ser analisadas e que dizem respeito à imagem do governo. Como se explica que o presidente tem apenas 3% de avaliação positiva (ótimo e bom) e a maioria da população deseja que caminhe até o fim do mandato? Há algo estranho nessa equação. A economia se recupera, a inflação chegará este ano ao menor índice dos últimos tempos (entre 2,5% e 3%), os juros podendo chegar a 7% e o PIB voltando a crescer. O Bolsa Família foi aumentado. Houve liberação do FGTS e o PASEP injetará bilhões no consumo. Portanto, o estômago das margens não reclama. Mas a insatisfação com o governo é o tom das pesquisas. Coração na cabeça Se quiserem galgar os degraus mais altos do poder, vale apreender a lição de Kennedy: "guardem o coração na cabeça". Será o bumbo? Será que a imagem negativa se dá por conta do bumbo batido pela TV Globo todos os dias? Michel Temer estaria canalizando os dutos de lama que circundam a operação Lava Jato? O fato é que a comunicação do governo não tem conseguido repor índices positivos. É a observação que se faz por todos os lados. As tubas de ressonância da banda negativa abafam qualquer clarinete que tente tocar a música governamental. É um rio Amazonas engolindo um riachinho de águas rasas. A tragédia americana Os Estados Unidos voltam às manchetes mundiais com sua bandeira pingando sangue. No maior espaço das liberdades democráticas, a violência chega aos borbotões. Las Vegas é o flagrante do horror. O que explica um aposentado milionário atacar uma multidão com armas de alto calibre, matar 59 pessoas e ferir 530? Só há uma resposta: o germe da violência que se propaga nos corpos das Nações, particularmente as democráticas, e onde o direito de um cidadão possuir uma arma é sagrado. O popularismo As administrações popularistas expandem-se pelo desempenho de atores que enxergam a política como negócio, e não como missão. O compromisso fundamental é com a eleição e a lógica que movimenta o negócio é a conquista do poder para usufruto próprio. Assim, o país caminha para trás, somando seus PIBs negativos: o do popularismo funcional, o da irresponsabilidade administrativa, o do desperdício e o da corrupção. Demagogos Os popularistas continuam a eleger o povo como referência principal do discurso, mas pregam a conciliação de classes. Saindo daí, emergem as contradições. Na fala, assumem o discurso libertário de Gandhi; nas aparências, a pompa de Luís XIV, o rei Sol. Só que a fala de Gandhi desaparece no calor da luta eleitoral. Nesse momento, aparece a expressão pérfida de Maquiavel para a preservação do território do Príncipe, na sombra da lição "deves parecer clemente, fiel, humano, íntegro, religioso e sê-lo, mas com a condição de estares com o ânimo disposto a tornar-te o contrário". O paradigma do caos O professor Samuel P. Huntington assim descreve o paradigma do caos: "A lei e a ordem são o primeiro pré-requisito da Civilização e em grande parte do mundo elas parecem estar evaporando. Quebra no mundo inteiro da lei e da ordem, Estados fracassados e anarquia crescente, onda global de criminalidade, máfias transnacionais e cartéis de drogas, declínio na confiança e na solidariedade social, violência étnica, religiosa e civilizacional e a lei do revólver predominam em grande parte do mundo". Seria esse retrato a explicação para a extrema violência? Taxa de governismo Os números pró-governo na CCJ da Câmara estão em torno de 61%, enquanto no Plenário chegam a 79%. Pesquisa feita pelo Centro de Tecnologia e Sociedade da FGV. Fachin está isolado? Lê-se que o ministro Edson Fachin está meio isolado no STF? Ou será que essa posição não reflete mais o desejo de uns? O que se observa também ali é um acentuado "espírito de corpo". Fux contundente O ministro Luiz Fux fechou questão: "por força da Constituição, o único poder que pode proferir decisões finais é o Poder Judiciário". Falou e disse. Mantega sob mira O ex-ministro da Fazenda, Guido Mantega, teve rejeitado o acordo que impedia sua prisão. Pode ser um dos próximos alvos da 10ª vara Federal de Brasília. Ética ou aética? As pesquisas indicam: eleitores querem candidatos limpos, assépticos, passado limpo, vida decente. Pergunta: quer dizer que os velhos caciques serão rejeitados? Em minha vida de analista político, há três décadas, arrisco a dizer: continuarão a ser eleitos. Principalmente os mais próximos às comunidades e aos distritos. Mudar uma cultura é desafio para mais de uma geração. Retrato do Brasil A pergunta emerge naturalmente: por que não há no Brasil planejamento de longo prazo? O Brasil cultiva o gosto pelo instantâneo, pelo provisório. Prefere-se administrar o varejo e não o atacado. É mais vantajoso apagar incêndios que preveni-los. Coisas planejadas com muita antecedência parecem não combinar com a alma lúdica brasileira, brincalhona, irreverente. Se não fosse obrigado a enfrentar o batente para sobreviver, o brasileiro adoraria passar o ano inteiro na folia. Oswald de Andrade traduziu, um dia, tal estado de espírito ao versejar: "quando dá uma vontade louca de trabalhar, eu sento quietinho num canto, e espero a vontade passar". Fecho a coluna com conselhos aos pré-candidatos de 2018. Conselho aos pré-candidatos Já é hora de começar a correr para cima, para baixo e para os lados. Atentem para alguns princípios orientadores na busca do voto: 1. Procurem expressar a característica mais importante de sua identidade - o foco. 2. Não esqueçam que o eleitor deseja travar conhecimento com o personagem. Circular no meio da massa é importante. 3. Façam grande esforço para multiplicar presença em vários locais - a onipresença é um valor insuperável. Planejar eventos rápidos em lugares e cidades diferentes em um mesmo dia. Pacote de macarrão Esse é o calcanhar de Aquiles de pré-candidatos e candidatos. Evitar serem flagrados em dissonância. E isso ocorre geralmente quando um candidato é instado a mudar de identidade. O eleitor percebe quando a pessoa torna-se artificial, um mero produto de marketing. E candidato não pode ser trabalhado como se trabalha um sabonete, um pacote de macarrão.
quarta-feira, 27 de setembro de 2017

Porandubas nº 548

Abro a coluna com uma deliciosa historinha mineira Lei da Gravidade? Ah, de âmbito Federal A Lei da Gravidade, de vez em quando, dá dor de cabeça aos mineiros. E a lei da gravidez, essa, nem se fala. Na Câmara Municipal de Caeté, terra da família Pinheiro, de onde saíram dois governadores, discutia-se o abastecimento de água para a cidade. O engenheiro enviado pelo governador Israel Pinheiro deu as explicações técnicas aos vereadores, buscando justificar a dificuldade da captação: a água lá embaixo e a cidade, lá em cima. Seria necessário um bombeamento que custaria milhões e, sinceramente, achava o problema de difícil solução a curto prazo, conforme desejavam: - Mas, doutor - pergunta o líder do prefeito - qual é o problema mesmo? - O problema mesmo - responde o engenheiro - está ligado à Lei da Gravidade. - Isso não é problema - diz o líder - nós vamos ao doutor Israel e ele, com uma penada só, revoga essa danada de lei que, no mínimo, deve ter sido votada pela oposição, visando perseguir o PSD. O líder da oposição, em aparte, contesta o líder do prefeito e informa à edilidade, em tom de deboche, que "o governador Israel nada pode fazer, visto ser a Lei da Gravidade de âmbito Federal". E está encerrada a sessão. (A historinha é de José Flávio Abelha, em seu livro A Mineirice). Primavera meio nebulosa A primavera é a mais bela estação do ano. Há uma explosão de cores nos parques, jardins e alamedas. Mas há algo fora de tom: a impressão é de que, por enquanto, esta explosão ainda não chegou. O amarelo e o roxo dos ipês não estão tão intensos como em anos passados. Será que o clima vivido pelo país é motivo para essa primavera meio nebulosa? O fato é que essa 2ª denúncia contra o presidente Michel Temer e dois ministros deixa o ambiente político mais tenso. A perspectiva é a de que, mais uma vez, a Câmara vetará o pedido de investigação contra Temer. Dessa feita, até com uma votação mais expressiva que a primeira. Mas o país perde o passo e confunde o compasso. Passo e compasso Explico. Há uma agenda de reformas posta sobre a mesa política. A economia começa a respirar. O oxigênio chega aos poucos nos poros da indústria, do comércio e dos serviços. O varejo dá sinais de vitalidade. O consumo toma fôlego. O agronegócio está bombando. A confiança de investidores cresce. A inflação desce. Os juros, idem. O PIB volta a ter aumento nas projeções de institutos. Mas o passo do país fica mais devagar. A denúncia de Janot é uma espécie de trava no compasso entre avanço e estática, andar e parar. Esse final de setembro transmite tal sensação. Nuvens ainda plúmbeas teimam em obscurecer o azul do horizonte. Ensaios presidenciais Enquanto a pauta fica travada para exame da 2ª denúncia contra o presidente, pré-candidatos ensaiam movimentos eleitoreiros. Geraldo Alckmin, o governador paulista, decidiu se movimentar após ver os passos acelerados de seu pupilo João Doria. Alckmin tem na testa o carimbo do poder paulista. Carece de feição mais nacional. Doria está aqui, ali e acolá. É o mais onipresente dos protagonistas. O excesso de andanças pode lhe dar visibilidade, mas causará canseira. Esgotamento. Marina é quase uma reclusa. Bolsonaro conta com militância aguerrida e simpatizantes nas redes. A maior interrogação A maior interrogação diz respeito a Lula. Será candidato? Na visão deste consultor, pela régua de 0 a 100, a possibilidade de emplacar uma candidatura é apenas de 20. Ganhou a sétima denúncia e já tem uma condenação em primeira instância. Vai ser muito difícil passar incólume pela segunda instância. O TRF da 4ª região se mostra muito duro. Vejam o que fez com José Dirceu: aumentou a pena de prisão para 30 anos. Sobram Fernando Haddad e Jaques Wagner. O ex-prefeito parece não ter apetite. E o ex-governador da Bahia possui uma identidade inferior ao tamanho de uma candidatura presidencial. O palrador O PDT irá de Ciro Gomes. Atrairia a esquerda se Lula não for candidato? Não. Poderia, isso sim, ter votação ampliada no Nordeste. Ciro é um canhão ambulante. Atira sem medir as consequências. Com seu arsenal linguístico, criará desconfiança junto ao eleitorado. Urge reconhecer, porém, que se trata de um perfil preparado. Em debates, consegue boa performance. Podemos ou não podemos? Álvaro Dias ensaia ser candidato pelo PODEMOS, esse partido com um nome bronzeado de marketing. Quem imaginou o nome, deve ter pensado no recado: "hei, leitor amigo, com você junto podemos alcançar a vitória". Ora, de tão óbvia, a asserção cairá no descrédito. Por isso, senador Álvaro, é bem provável que seu PODEMOS não vá muito longe. Conforme-se com a rejeição dos milhões que poderão não seguir seus passos. As grandes mudanças Hora de lembrar um preceito da ciência política: as grandes mudanças da História são produzidas quando os favorecidos e apaniguados do poder não têm a capacidade para transformá-lo em força, enquanto os que dispõem de pequeno poderio aproveitam essa capacidade ao máximo para convertê-la em força crescente. Mulheres As mulheres deverão fazer uma baciada de representantes maior que a de 2014. Estão muito organizadas. E os escândalos têm preservado a condição feminina. A contaminação do vírus da velha política abarca mais o gênero masculino. Juízes e procuradores Os juízes e procuradores estão na crista da onda, puxados pela carruagem de Curitiba. Daí a inferência: terão boa oportunidade caso alguns representantes do Judiciário e do Ministério Público decidam ser candidatos em 2018. Serão vistos como alavanca moral no panorama geral da política. Seria interessante ver alguns procuradores vivendo a real politik. Enfrentariam a dura realidade imposta por nossa cultura política. Rocinha O Rio de Janeiro vive a síndrome de Sísifo, aquele condenado pelos deuses a levar uma pedra sobre os ombros para depositá-la no cume da montanha. Quando está prestes a conseguir o feito, eis que a pedra cai e rola ao sopé da montanha. Sísifo volta para tentar novamente. Tentativa que durará por toda a eternidade. Quando imaginamos que o Rio está pacificado, o tiroteio volta intenso com facções criminosas se digladiando e matando inocentes com balas perdidas. O Rio de Janeiro continua lindo... e cada vez mais perigoso. Manipulação Em 1922, Walter Lippmann, o famoso jornalista norte-americano, fazia o alerta: "Fabricar consentimento, pela velha arte da manipulação da opinião pública, não morreu com a democracia, como se supunha". 26 recibos A defesa de Lula apresentou 26 recibos de aluguel da cobertura vizinha ao apartamento dele. Dentre esses, dois com datas inexistentes. Assinados por Glaucos da Costamarques, proprietário do imóvel e primo do pecuarista José Carlos Bumlai, amigo de Lula. Glaucos diz que só recebeu a partir de novembro de 2015. Afinal, a assinatura é dele ou não? E se ele confirmar que assinou, mas não recebeu? Onde está a verdade? Rebelião das costureiras O Rio Grande do Norte acaba de presenciar um feito histórico: trabalhadores fazendo uma grande mobilização em defesa de uma empresa, a Guararapes, e mostrando-se revoltados contra o Ministério Público do Trabalho, que está multando a empresa em R$ 38 milhões. A razão? O MPT está vetando as facções de costura (microempresas da área têxtil) que produzem peças adquiridas pela Guararapes. Pró-Sertão Trata-se de um projeto chamado Pró-Sertão que dá guarida a cinco mil trabalhadores. O MPT criminaliza a Guararapes, exigindo que essa mão de obra seja incorporada ao quadro efetivo da empresa. Ou seja, o MPT despreza a Lei da Terceirização e joga a Reforma Trabalhista no lixo. Os trabalhadores esperam que a Justiça do Trabalho preserve seus empregos. As facções também chegam a vender seus produtos para outras empresas. Mas o MPT diz que há subordinação das costureiras à Guararapes, daí a exigência para sua incorporação ao quadro de funcionários do grupo. Até quando vamos conviver com essa visão retrógrada? O Brasil de Campos Roberto Campos, exímio na arte de atirar contra a improvisação, narra: "O Brasil tem a propriedade de, no começo, anedoticamente divertir, depois exasperar e, por fim, desesperançar aqueles que confiam na racionalidade, na procura de causas e efeitos e na sequência do discurso como sujeito-verbo-predicado". Cabral, fim de linha Sérgio Cabral Filho parecia predestinado a chegar ao ápice da política. Tinha o talhe adequado para o alto cargo de presidente da República. Governador do charmoso Estado do Rio de Janeiro, jovial, bom trânsito na esfera política, filho de um grande brasileiro, também de nome Sérgio Cabral, renomado nome das artes e da música popular brasileira, Cabral Filho era um perfil dos mais elevados do PMDB. Preso e condenado a 45 anos de prisão - a pena mais pesada da Lava Jato - acaba de ter seus imóveis postos a leilão, somando um total de R$ 44 milhões. Na política, tudo é possível. Até a ressurreição de mortos. No caso de Cabral, a volta à cena seria um verdadeiro milagre. CPI da JBS A CPI da JBS está se apresentando como oportunidade para alguns deputados darem resposta a seus acusadores. Não pode ter esse viés sob pena de cair na desmoralização. Pleito à moda antiga O pleito de 2018 poderá ocorrer dentro das velhas regras. O que será um desastre. Havia muita expectativa em torno da reforma política. Que poderá se limitar a detalhes, sem grande significação. Os dois instrumentos mais badalados - cláusula de barreira e fim das coligações proporcionais - ameaçam não passar pelo crivo dos deputados. Temos poucos dias pela frente para aprová-los. Mas o interesse parece concentrado no fundão para financiar as campanhas. Um sonho Colombo aferrava-se à obsessão de que poderia chegar ao Oriente pelo caminho do Ocidente. O pensamento não lhe dava trégua. Esta foi a diferença entre Colombo e os seus contemporâneos. Estava convencido. Queria partir. Mas seria forçado a esperar muito. Enquanto aguardava, falava do sonho. D. João II, rei de Portugal, interessou-se pelo assunto e submeteu o projeto de Colombo a uma junta de sábios. Estes condenaram a ideia. Quando morreu a esposa, Colombo gastou a maior parte de suas economias com o enterro. E foi para a Espanha. Esperou, esperou Fernando e Isabel, empenhados em dispendiosa guerra com os mouros, deram apenas meio ouvido à proposta do genovês. A rainha, entretanto, foi simpática a ele. Concedeu-lhe uma pensão, enquanto a junta de notáveis do Reino estudava o assunto. Depois de dois anos, a pensão foi suspensa. Foi obrigado a se manter sem ajuda durante os oito anos seguintes com a venda de livros e de mapas que confeccionava. Seus cabelos ficaram brancos. Foi atacado pelo artritismo. Mas nunca desesperou. E, um dia, realizou seu sonho. Fecho a coluna com Tancredo Conchavo Premido pelos casuísmos, Tancredo Neves foi obrigado a fundir o seu PP com o MDB de Itamar. Alguns pepistas pularam do barco e protestaram alegando conchavo. Tancredo foi curto e seco: "Conchavo é a identificação de ideias divergentes formando ideias convergentes". Tinha razão. Há curvas que desembocam em retas.
quarta-feira, 20 de setembro de 2017

Porandubas nº 547

Abro a coluna com uma historinha da Paraíba. Silêncio, silêncio Flávio Ribeiro, presidente da Assembleia Legislativa (depois foi governador do Estado), estava irritado com as galerias, que aplaudiram e vaiavam durante um debate entre o deputado comunista Santa Cruz e o udenista Praxedes Pitanga. Tocou a campainha, pediu silêncio, insistiu no pedido e avisou, grave e feroz: - Se as galerias continuarem a se manifestar, eu evacuo. Felizmente, as galerias se calaram. A era Dodge Raquel Dodge abre um novo tempo na Procuradoria-Geral da República. Será uma era mais focada no equilíbrio, na distensão institucional, o que não significará leniência no cumprimento das funções da PGR. Dodge, ao que sabe, não concordava com o estilo rompante-avassalador de Rodrigo Janot. Vai agir de modo mais harmônico, abrindo diálogo com as esferas política e governativa, analisando com maior profundidade os casos sob sua órbita. E dará força à descentralização das atividades. Calmaria até certo ponto É evidente que os tempos de calmaria poderão, eventualmente, desaparecer ante a probabilidade de emergirem novos escândalos, bombas e explosões às voltas da operação Lava Jato. Mas não se pense que a Lava Jato será desativada ou mesmo entrar em ritmo mais lerdo. É certo que as investigações e decisões do Judiciário deverão continuar ao longo do ano eleitoral. E quais seriam as consequências sobre os protagonistas da política? Impactos eleitorais Os impactos da operação Lava Jato sobre a política e as eleições começarão com o afastamento de alguns nomes do páreo. Candidatos - proporcionais e majoritários - sairão da corrida, com alguns fechando sua carreira política. Condenações poderão ocorrer às vésperas do pleito, o que elevaria o grau de tensão e a animosidade entre contendores e acusadores/julgadores. Mas algo será muito positivo: teremos uma eleição mais asséptica e menos contaminada pelo vírus da velha política. Tendências É bastante provável a hipótese de que a população gostaria de ver o país navegar em águas tranquilas, sem os solavancos desses tempos borrascosos. Desde o mensalão, na era Lula, o país vem atravessando turbulências. A ser verdade, abre-se grande chance para o país acolher um perfil que expresse equilíbrio, harmonia, pacificação. Mas a essa figura se cobrará posição enérgica em relação a atos ilícitos, à corrupção, à bandalheira. Sua missão: pôr ordem na casa, sem estardalhaço. Eis o sentido que deverá nortear as expectativas dos eleitores. Polarização, sim, com cuidado Haverá intensa polarização entre alas da direita e grupos da esquerda. Como é sabido, três pessoas de posições radicais, à esquerda, fazem mais barulho que um batalhão de perfis localizados nos espaços centrais e mesmo à direita do arco ideológico. Esses terão de reagir às provocações que, inevitavelmente, surgirão das tubas e das turbas da esquerda. PSOL e PT devem fazer composição, (se não no primeiro turno), provavelmente no segundo, para enfrentar o candidato do centro, que procurará atrair a parceria da direita. A polarização se estabelecerá. É pouco provável que, após a hecatombe do ciclo petista (Lula/Dilma), incluindo os escândalos do mensalão e do petrolão, vejamos um candidato de esquerda chegando ao pódio. Lindbergh delirando Lê-se que o senador Lindbergh Farias, do PT, está dizendo que seu partido fará um boicote às eleições, caso Lula seja impedido pela Justiça de ser candidato. Trata-se de bobagem. Ou puro delírio. Basta anotar que, ao não participar do processo eleitoral, o PT estaria assinando seu atestado de óbito. Não seria votado em lugar nenhum. Mas como se sabe que a fala do jovem cacique é lorota, podemos inferir que, na verdade, ele joga com as palavras, fazendo pressão sobre os juízes da segunda instância. Que decidirão sobre o destino de Lula. O fato é que o PT elegerá uma bancada bem menor, algo entre 45 a 50 deputados. PSOL O PSOL tem condições de expandir bem sua bancada em 2018. Seus representantes ganham muita visibilidade. Estão sempre na mídia massiva. E o partido tende a abocanhar boa parcela dos eleitores que, até então, têm votado no PT. É até possível que seja um competidor forte na disputa pelo governo do Rio de Janeiro. Alessandro Molon e Chico Alencar são os emblemas do partido. Partidos do centro Já os partidos de centro serão beneficiados pelo clima eleitoral de 2018. Puxarão as correntes que evitarão as margens radicais. PMDB, PSDB, PSD E DEM, por suas estruturas mais capilares, tendem a fazer uma boa safra de votos nas regiões mais distantes, onde está sediado o eleitorado tradicional e conservador. Reversão de expectativas A reforma política está indo para o brejo. Depois de muitos conchavos, a Comissão Especial que dela tratava chega a final melancólico, reconhecendo que o jacaré virará lagartixa. Há ainda condições de ser aprovada a cláusula de barreira, que imporá uma percentagem mínima de votos em um determinado número de Estados para que um partido político possa existir. E, possivelmente, o fim das coligações proporcionais. Mas o corpo parlamentar não se mostra animado com a possibilidade de fazer vingar já para 2018 esses dois estatutos. Palocci expulso Antonio Palocci, que já foi o candidato in pectore de Lula à presidência da República, será expulso do PT. Decisão que não amenizará a situação de Luiz Inácio, às voltas com a Justiça. Palocci se mostra muito auto-confiante. Sua delação premiada, em negociação com o MP, será o ponto final para o futuro de Lula. O ex-todo poderoso ministro da Fazenda certamente deve ter provas sobre o que anda dizendo do ex-presidente da República. PF x MPF Na era Dodge, espera-se que as tensões e conflitos entre a Polícia Federal e o Ministério Público sejam amainados. Haverá espaço para uma recíproca colaboração. É o que se espera. Temer atravessando a barreira As inferências são praticamente as mesmas entre colunistas e comentaristas: o presidente Michel Temer atravessará mais uma vez a barreira que o ex-procurador Janot construiu contra ele. O STF deve encaminhar para a Câmara a segunda denúncia, mas esta, como a primeira, não será aceita pelos deputados. Infere-se que o presidente terá mais votos favoráveis do que os 263 obtidos por ocasião da votação sobre a primeira denúncia. Como alguns partidos entraram no pacote de Janot, é razoável imaginar que tendem a reforçar sua fortaleza corporativa. E impedir o andamento da denúncia feita pelo ex-procurador. MPT elimina empregos na crise O Grupo Guararapes, com matriz em Natal, no Rio Grande do Norte, e dono das Lojas Riachuelo, tem sido o alvo de uma caçada empreendida pelo Ministério Público do Trabalho há quase dez anos, segundo executivos da companhia. Na ação mais recente, a procuradora do MPT, Ileana Mousinho, apontou supostas irregularidades nas facções de costura terceirizadas contratadas pelo grupo e solicita o pagamento de R$ 37 milhões em indenizações. Com isso, a empregabilidade da população está sob ameaça. "Deixe o ódio de lado e nos deixe trabalhar" O setor têxtil tem potencial para transformar a realidade socioeconômica do RN, mas encontra no MPT um impeditivo. Flávio Rocha, CEO do Grupo Guararapes, tem usado as redes sociais para esclarecer os fatos e denunciar a procuradora por perseguição. Ileana, segundo Rocha, "envia sistematicamente denúncias infundadas a todas as delegacias do Ministério, com exigências absurdas". O Grupo Guararapes já chegou a empregar 20 mil pessoas, agora são oito mil trabalhadores diretos. Estado pró-emprego O empresário não está sozinho na luta pelo emprego potiguar. Autoridades, associações, líderes sindicais e trabalhadores fazem coro por todo Rio Grande do Norte e promovem manifestações contra o Ministério Público do Trabalho e em favor do emprego. Uma grande mobilização está sendo organizada para o próximo dia 21, às 15h30, em frente à sede do Ministério Público do Trabalho, em Natal/RN. O que está por trás Esta querela, é forçoso reconhecer, ultrapassa as fronteiras do RN. Trata-se, na verdade, de uma vingança do Ministério Público do Trabalho contra dois instrumentos que acabam de ser aprovados e fazem parte do arsenal da modernização das relações capital-trabalho no Brasil: a reforma trabalhista e a lei da terceirização. O MPT já disse que irá lutar contra essas duas frentes aprovadas no Congresso e sancionadas pelo Executivo. Pelo jeito, não se conformam com a terceirização das atividades meio e fim das empresas. Vai multar, dando vazão a uma estratégia de retaliação e confronto. Até os Tribunais Superiores darem um basta aos impulsos e rompantes do MPT, muito estrago será feito. Ministros do STJ, ministros do STF, até onde o país vai aguentar a guerra que dinossauros querem travar contra a ordem normativa? Fecho a coluna com uma historinha da Bahia. Filho inepto Velhos tempos. Tempos de deboche e criatividade. O deputado Luís Viana Neto estava na tribuna da Câmara: - Filho e neto de governadores da Bahia... Lá embaixo, o deputado Francisco Studart (MDB/RJ) gritou: - Não apoiado! - Senhor deputado, sou filho e neto de governadores da Bahia. - Perdão, excelência. Entendi mal. Entendi: "Filho inepto de governadores da Bahia"... Risadas gerais em plenário.
quarta-feira, 13 de setembro de 2017

Porandubas nº 546

Denúncias e canibalização Freyre com y Abro a coluna com uma historinha vivida por este consultor. Idos de 1962, Recife. Os concluintes do científico no Colégio Americano Batista escolheram como paraninfo o sociólogo Gilberto Freyre, que também fizera seus estudos secundários no CAB. Como orador da turma, coordenei a visita à Apipucos para entrega do convite da formatura. Subimos a escadaria da bela mansão e fomos muito bem acolhidos por dona Madalena, a companheira do grande pernambucano. Não faltou o afamado licor de jenipapo, de que tanto falava o escritor. Depois de uns minutos, aparece Gilberto Freyre. Ouviu com atenção os nomes de cada componente da comitiva. Entregue, cerimoniosamente, o convite da formatura. Lá estava escrito: "Ao escritor e sociólogo Gilberto Freire". Pegou o documento, leu o nome do destinatário, mas não abriu o envelope. E foi logo me dizendo: - Meu filho, meu pai, Alfredo, quando recebia uma correspondência grafada com Freire, sem y, ele não a abria, devolvendo-a com uma mensagem anexada onde se lia: -Meu Freyre é com y. Por favor, faça a correção e me volte a remeter. Vou aceitar o convite. Mas voltem depois dessa correção. Ouvimos o puxão de orelha, surpresos, porém agradecidos. Afinal, aceitara o convite, mesmo tendo uma agenda (nacional e internacional) lotada. Uma semana depois, tomamos outro licor. Na companhia do Freyre com y. (P.S.) Nosso paraninfo fez um dos mais densos discursos que ouvi. Fato ressaltado na mídia. Mesmo tendo "voado" um pouco nas passagens mais filosóficas. Canibalização Mais uma denúncia contra Lula veio à tona. Desta feita, uma denúncia de corrupção passiva, ainda do tempo em que era presidente. A questão é: essas denúncias vão surgindo, periodicamente, contra um ou outro personagem. E o leitor acaba se confundindo, não conseguindo diferenciar uma de outra denúncia. Ocorre um processo de canibalização: a última "come" a anterior ou as anteriores, de forma a adensar a capa de sujeira que veste o político. Luiz Inácio já é réu pela 5ª vez. Poucos, muito poucos, conseguem recitar os casos em que ele foi denunciado. De terço na mão Este consultor gosta de ver detalhes, essas pequenas coisas que acompanham o cotidiano dos protagonistas da política. Que surpresa verificar, por exemplo, que Joesley Batista, ao ser levado preso para Brasília, levava um terço entre os dedos. Sim, um terço de reza. Não o de contas aritméticas. Quer dizer, o empresário devia aproveitar a aflição para rogar ao céu ou à santa de predileção. Agora, vejam que coisa menos harmônica ou santificada: pensar numa reza contrita de Joesley e reler os termos chulos que usou na conversa com seu assessor, Ricardo Saud, quando disse, por exemplo, que tinha contratado mulher e gay como parte de suas ações "estratégicas". (aspas por conta do consultor) Ficção Joesley confessa ter feito contrato fictício com escritório do sócio do advogado José Eduardo Cardozo, Marco Aurélio. A quem repassava somas mensais entre R$ 70 a R$ 80 mil. Quebra de tijolo Mais um tijolo caindo no prédio dos Batista, a JBS. A homologação do acordo de leniência do Grupo cai por terra por decisão da Justiça Federal. Efeito dominó. Aplausos da bolsa? A Bolsa de Valores ultrapassou a casa dos 74 mil pontos. Analistas fazem conexão da alta com a prisão de Joesley. Será? Se for, significa aplausos do mercado ao ato. Brasil acompanha atento a escalada da Justiça. E Miller, hein? O ex-procurador Marcello Miller conseguiu se livrar do pedido de prisão feito pelo PGR Rodrigo Janot. O que não o livrará de eventual condenação mais adiante se for comprovado o favorecimento à JBS ainda na condição de membro do MP. O caso será investigado. Afinal, ele teria orientado ou não Joesley a gravar a conversa com o presidente Temer? Saiu do MP e cumpriu a quarentena para exercer a atividade de advogado do grupo JBS? Essas questões serão analisadas nos próximos dias. Por quê? Recebo do grande advogado, mestre dos mestres, Ives Gandra Martins, esta perturbadora pergunta: "Por que a seletividade da prisão de Joesley e não de Marcelo Miller? Será por ser ex-procurador?". Excesso de confiança As conversas entre Joesley Batista e Ricardo Saud mostram uma faceta pouco recomendável a um empresário: a maneira debochada com que trata autoridades e instituições; a tendência de igualar todos, sem exceção, jogando-os no meio do conhecido dito: todos são farinha do mesmo saco; a crença no poder do dinheiro, que compra tudo, incluindo o caráter; o uso vexatório (vergonhoso) da Língua Portuguesa, com erros de concordância dos mais primários; a facilidade com que furaram a liturgia do poder, usando, para tanto, o vil metal. Calmaria e borrascas Os próximos tempos intermediarão calmarias e borrascas. A calmaria será fruto do grau de previsibilidade que a política sugere, algo sensível às bolsas de valores, cujas altas ocorrem na onda de projeções positivas para as marés da política. Mas como esta gera fatos imponderáveis, é razoável supor que os próximos tempos poderão nos trazer mais borrascas. A calmaria aponta: presidente atravessando a onda de segunda denúncia feita por Janot; continuidade de melhoria dos índices econômicos; continuidade de votação e aprovação da agenda de reformas no Legislativo, entre outras situações. Borrasca: divulgação de novos áudios com fatos "gravíssimos" revelados; delações premiadas de alguns personagens que estão presos. Palocci e o PT O ex-ministro Antonio Palocci é "uma das pessoas mais inteligentes do país". Quem disse isso há tempos foi o ex-presidente Lula. Pois bem: agora, para Luiz Inácio e a cúpula do PT, Palocci mentiu em seu depoimento ao juiz Sérgio Moro. Quem ouviu o testemunho pode atestar: a conversa tinha roteiro, começo, meio e fim; respondeu tranquilamente a todas as perguntas do juiz; não demonstrou nervosismo ou falta de conhecimento de quem poderia estar inventando coisas; enfim, foi convincente. Este depoimento será fatal para o ex-presidente Luiz Inácio. A ser lembrado muitas vezes nos tempos eleitorais que se avizinha. Reflexão de Chaparro O prof. Manuel Chaparro, conhecido pela seriedade de suas análises e reflexões, insere em seu blog esta interessante observação: "Ao rotularem Antonio Palocci de "traidor", os partidários de Lula cometem aquilo que nas ciências da linguagem é chamado de ato falho. Chamar Palocci de "traidor" é dar-lhe tratamento e qualificação de cúmplice nos crimes que agora delata. Trata-se, portanto, de um ato falho. E ato falho, nos saberes de Lacan, é discurso veraz, o discurso perfeito. No caso, um discurso que, em vez de desmentir, ratifica a veracidade das revelações. Assino embaixo. PSDB no governo Quem apostava na saída dos tucanos do governo pode se conformar com a ideia de que cresce a tendência de ficarem até o final. Depois da escaramuça organizada pelos "cabeças pretas" (os deputados mais jovens), sob certa influência do senador "cabeça branca" Tasso Jereissati, fortalece-se a tese da permanência sob o influxo da melhoria dos índices da economia. Tática? Conceito do momento O momento é adequado para se iniciar o planejamento de estratégias e táticas com vistas ao amanhã. Vejamos o que é tática. No futebol, quando o atacante joga a bola para trás, recuando-a para seu próprio campo de defesa, parece realizar um movimento covarde. Às vezes, é apupado. Muitos acham que a jogada não tem lógica. Mas essa bola recuada pode abrir espaços, deslocar o adversário, obrigá-lo a avançar de maneira descuidada e abrir a defesa. Pois bem, tal manobra pode gerar uma sequência de ações que culminarão com um gol. Essa é uma operação também chamada de OP. O gol é uma operação OP, de caráter terminal. E é construído por jogadas intermediárias. A tática é ferramenta de vitória. Na guerra "Prepare iscas para atrair o inimigo. Finja desorganização e esmague-o. Se ele está protegido em todos os pontos, esteja preparado para isso. Se ele tem forças superiores, evite-o. Se o seu adversário é de temperamento irascível, procure irritá-lo. Finja estar fraco e ele se tornará arrogante. Se ele estiver tranquilo, não lhe dê sossego. Se suas forças estão unidas, separe-as. Ataque-o onde ele se mostrar despreparado, apareça quando não estiver sendo esperado". (Sun Tzu) Mais lições As lições de táticas e estratégias dos clássicos da política e das guerras parecem não merecer nenhuma consideração por parte de nossos atores políticos, empresariais, policiais e outros que adoram as luzes do palco. Lembremos mais alguns conselhos de Sun Tzu: a) "Quando em região difícil, não acampe. Em regiões onde se cruzam boas estradas, una-se aos seus aliados. Não se demore em posições perigosamente isoladas. Em situação de cerco, deve recorrer a estratagemas. Numa posição desesperada, deve lutar. Há estradas que não devem ser percorridas e cidades que não devem ser sitiadas". b) "Não marche, a não ser que veja alguma vantagem; não use suas tropas, a menos que haja alguma coisa a ser ganha; não lute, a menos que a posição seja crítica. Nenhum dirigente deve colocar tropas em campo apenas para satisfazer seu humor; nenhum general deve travar uma batalha apenas para se vangloriar. A ira pode, no devido tempo, transformar-se em alegria; o aborrecimento pode ser seguido de contentamento. Porém, um reino que tenha sido destruído jamais poderá tornar a existir, nem os mortos podem ser ressuscitados". Marta candidata? Marta Suplicy pode sair candidata do PMDB em São Paulo. A depender das pesquisas lá para os meados de março/abril. Paulo Skaf deve lutar, e muito, para voltar a ser candidato. Teria a preferência da cúpula do partido. Mas a real politik é quem ditará as conveniências. Marta poderá ter apelo mais forte. Este consultor ouviu de gente influente: a senadora cisca para fora e consegue atrair eleitores. Skaf cisca para dentro e se isola. Só acredita no que a boca fala. Já Marta ouve. Fecho a coluna com este diálogo. Pequena aula de política O dialogo é muito conhecido. Merece ser lembrado pela oportunidade do tema. Diálogo entre Colbert e Mazarino, durante o reinado de Luís XIV, na peça teatral Le Diable Rouge, de Antoine Rault: Colbert: Para arranjar dinheiro, há um momento em que enganar o contribuinte já não é possível. Eu gostaria, senhor superintendente, que me explicasse como é possível continuar a gastar quando já se está endividado até o pescoço. Mazarino: Um simples mortal, claro, quando está coberto de dívidas, vai parar à prisão. Mas o Estado é diferente! Não se pode mandar o Estado para a prisão. Então, ele continua a endividar-se. Todos os Estados o fazem! Colbert: Ah, sim? Mas como faremos isso, se já criamos todos os impostos imagináveis? Mazarino: Criando outros. Colbert: Mas já não podemos lançar mais impostos sobre os pobres. Mazarino: Sim, é impossível. Colbert: E sobre os ricos? Mazarino: Os ricos também não. Eles parariam de gastar. E um rico que gasta faz viver centenas de pobres. Colbert: Então como faremos? Mazarino: Colbert! Tu pensas como um queijo, um penico de doente! Há uma quantidade enorme de pessoas entre os ricos e os pobres: as que trabalham sonhando enriquecer e temendo empobrecer. É sobre essas que devemos lançar mais impostos. Cada vez mais, sempre mais! Quanto mais lhes tirarmos, mais elas trabalharão para compensar o que lhes tiramos. Formam um reservatório inesgotável. É a classe média!
quarta-feira, 6 de setembro de 2017

Porandubas nº 545

Abro a coluna com uma historinha de Zeca Boca de Bacia, da Paraíba. Ficar bom Zeca Boca de Bacia era a alegria do povo em Campina Grande/PB. Personagem folclórico, amigos de políticos. Dava assessoria informal a Ronaldo Cunha Lima e a seu filho Cássio, prestes a ganhar o mandato de senador. Quando Zeca abria a boca, a galera caía na risada. Certa vez, numa de suas internações na clínica Santa Clara, em Campina Grande, a enfermeira foi logo perguntando: - Zeca, qual o seu plano (de saúde)? E ele: - Ficar bom! Outra vez, Zeca pegou um táxi em Brasília para ir à casa de Ronaldo Cunha Lima. Em frente à casa do poeta, o taxista cobrou R$ 15. Zeca só tinha R$ 10. Sem acordo, disparou: - Então, amigo, dê cinco reais de ré! O bambu flexível O procurador-Geral da República, Rodrigo Janot, produziu essa frase que ecoou forte nas entranhas políticas: "enquanto houver bambu, vai ter flecha". Referia-se às flechadas contra o presidente Michel Temer. Pois bem, uma das características do bambu é sua flexibilidade. Não quebra ao vento forte. Curva-se, dobra, vai lá e vem cá, mas não quebra. Não é que uma perigosa flecha de bambu vira bumerangue, voltando-se contra o atirador? As omissões de Joesley Batista na delação que fez à PGR ameaçam revisar ou mesmo anular o destampatório. É o que diz o próprio Janot em tensa entrevista aos meios de comunicação. O procurador Miller Pois não é que o ex-procurador Marcelo Miller, braço direito de Janot, estava por trás de toda a armação para gravar a conversa de Joesley com Michel Temer? Pois não é que esse mesmo procurador deixou a PGR para trabalhar como advogado da JBS? Pois não é que as gravações entregues por Joesley à PGR supostamente revelam fatos "gravíssimos" envolvendo Miller e até integrantes do STF? O caso entra na curva e gera uma reviravolta. Consequências A Polícia Federal desempenhou tarefa brilhante. Ao pegar as fitas, degravou o que nelas estava apagado. O relatório chegou às mãos do ministro Edson Fachin, que o reenviou à PGR. Tomando conhecimento desse grave fato, o próprio Joesley procurou corrigir a omissão - não ter entregado todo o conjunto das gravações - e mandou as gravações para a PGR. Janot ouviu as conversas que, segundo ele, têm teor "gravíssimo" e sinaliza para a anulação dos benefícios concedidos aos irmãos Batista e ao delator Ricardo Saud, entre outros. Joesley teria feito outras gravações sem saber que as conversas eram gravadas. Poderá ver rompido o escudo em que se abrigou. Observação: o nível das conversas é muito baixo. Choca o imenso desrespeito às instituições. Frente política Janot garante que os fatos narrados, mesmo "gravíssimos", não invalidam as provas. Donde surge um contencioso de complexa teia jurídica: como achar que as provas são qualificadas se os delatores são desqualificados? Como considerar que as provas continuam válidas se as operações maquinadas poderão ser consideradas criminosas? O fato é que a delação de Joesley tende a receber forte veto da classe política, inviabilizando impactos que poderiam ocorrer diante de uma segunda denúncia, que cairia certamente nas sombras da suspeição. A impressão é que a casa de Janot desmoronou. Será difícil reconstruí-la rapidamente, antes de 17/9, quando ele deixa a PGR. A economia É evidente que uma nova denúncia nas semanas que antecedem a saída de Janot da PGR ganhará fosforescência midiática. Mas a suspeição será fortíssima. A imprensa torce por confusão. A economia, por outro lado, tende a funcionar como colchão de amortecimento de eventual nova denúncia: jornais anunciando fim da recessão, melhoria nos índices de emprego, inflação e juros caindo, confiança de investidores aumentando. Malas de dinheiro Mais de 10 malas e caixas com pacotes de notas de R$ 100 e R$ 50. Nunca este consultor viu tanta mala de dinheiro. A PF fez uma blitz em apartamento que, se lê, seria usado por Geddel. Onde isso vai parar, gente? O vai-e-vem das reformas A cada semana, as reformas ganham suspiros diferentes: um, de frustração; outro, de alívio. Vejamos a reforma política. Vai ou não vai? Depende. Se for aprovado o fundão - que jorrará dinheiro nas campanhas de 2018 - é possível que vejamos aprovados dois estatutos: o fim das coligações proporcionais e a instalação de cláusula de desempenho. Para complicar, o tempo se estreita. Esta semana da Pátria adia a questão para a outra. Impedimentos O que impede a votação de uma reforma política? A vontade da maioria de defender o status quo. Os atuais parlamentares temem perder as condições que têm para enfrentar uma campanha. Com o fim do financiamento empresarial privado, os representantes querem uma compensação. Será difícil, nesse momento, aprovar a volta de doações empresariais. De onde viria o dinheiro de campanha? Resolvida esta questão, seria possível aprovar os estatutos acima citados. Cláusula de barreira Os pequenos partidos lutam contra a cláusula de barreira. O relatório da deputada Shéridan (PSDB-RR) prevê o desempenho mínimo de 1,5% dos votos em 9 Estado, chegando a 3% anos depois, lá para 2030. Muito pouco, diz-se. Há emendas que defendem um mínimo de 2,5% de votos em 14 Estados, já em 2018. Quanto às coligações proporcionais, há maior aceitação sobre sua extinção. Previdência desidratada Já a reforma da Previdência era um jacaré imenso que, a cada dia, se aproxima do tamanho de uma lagartixa. Se for adiante, poderemos ver uma reforma desidratada, restrita à questão da idade para a aposentadoria (65 anos) para os homens, um pouco menos, (63), para as mulheres e a uma regra de transição, que abrigará os atuais contingentes prestes a completar o tempo atualmente exigido. O país quebra Sem as reformas da Previdência e das carreiras do funcionalismo público, o país entrará profundamente no brejo da quebradeira. As despesas obrigatórias irão ultrapassar os 100% do Orçamento já em 2022. As despesas nas frentes dos investimentos, hoje muito pequenas, serão reduzidas gradualmente, passando de 8,2% em 2017 para 2,1% em 2021 e chegando à casa negativa em 2022, quando será de 1,4%. Darão lugar às despesas obrigatórias. Urgente Daí a urgência de uma reforma da Previdência. Se a meta for deixada para o próximo presidente, é razoável supor que esse fardo pesará sobre seus ombros, na confirmação da hipótese de que a crise terá continuidade. O futuro seria muito sombrio. O papel do atual presidente é o de abrir o caminho para que o próximo governo navegue com tranquilidade, evitando as borrascas que ameaçam afundar o barco. Tensão entre Alckmin e Doria É evidente que o governador Geraldo Alckmin lidera a fila dos pré-candidatos tucanos à presidência em 2018. É forte a ligação entre ele e João Doria. Este consultor tem acompanhado de perto as vidas políticas de ambos e testemunhado o respeito e o carinho que os unem. Mas a política tem regras próprias, entre elas a conveniência, a oportunidade, a noção adequada do tempo. João garante que não disputará prévias com Alckmin. E não o fará. O governador tem preferência na lista do PSDB. Pesquisas Mas João Doria nem por isso abandonará a perspectiva de vir a ser candidato à Presidência. Ora, ele tem convite de, pelo menos, quatro partidos, entre os quais o PMDB e o DEM. Tudo vai depender das pesquisas. Se conseguir subir a ponto de ter um bem posicionado índice no ranking - algo entre 12% a 15%, por exemplo - lá pelos meados de março/abril de 2018, e se Alckmin estiver em posição muito abaixo, João, é bem provável, irá adiante. Se Alckmin ganhar números parecidos, João desistiria. Não se descarte a possibilidade de João vir a ser candidato por outra sigla, mesmo que ele se considere tucano de coração. A política é um empreendimento aberto. O momento Façamos, agora, outra leitura. Vamos ter na campanha candidatos de campanhas anteriores, entre eles, o próprio Geraldo Alckmin, Marina Silva, Lula ou Fernando Haddad, Bolsonaro, etc. João Doria procura desenhar seu perfil como o anti-Lula, por excelência, sem o viés radical de um Bolsonaro, por exemplo. Que leitura fará o eleitorado? A imagem de novidade Um perfil novo, mais asséptico, com fluência, boa estampa. Ou seja, Doria seria um destaque entre os candidatos de jornadas anteriores, já vistas. Com um tempo razoável de TV e rádio e com a capacidade que tem de manobrar nos eixos das mídias sociais, o prefeito de São Paulo teria alta competitividade. Claro, esta é uma leitura de hoje. Amanhã, os tempos poderão ser desfavoráveis a ele. Ou... até mais favoráveis. Perfis nos Estados A campanha de 2018 será uma das mais difíceis para candidatos que encarnem a manutenção do status quo e do continuísmo. Estados quebrados, funcionalismo revoltado, serviços precários, principalmente nas áreas de saúde e educação, violência galopante, clima de déjà vue ("já vi e ouvi as falsas promessas") comporão a argamassa conceitual de muitos candidatos. Portanto, novas identidades estarão sendo buscadas pelo eleitor. Exceção: candidatos muito bem (repetimos, muito bem) avaliados pela população. Daí a pergunta: você conhece alguém, caro leitor/eleitor? Eleitor mais crítico A cada pleito, a racionalidade cresce na mente do eleitor. E seus efeitos se fazem sentir na crítica mais ácida aos governantes, nas exigências de qualidade dos serviços públicos, nas cobranças e lembranças de promessas não cumpridas. Esse tom mais apurado em relação à política é bem forte nos estratos médios. Que vão empurrando para as margens sua taxa de indignação. A força do distrito Mesmo sem a aprovação do voto distrital, é razoável apostar na hipótese de um voto mais local em 2018. Ou seja, candidatos que representem as localidades, bairros e regiões deverão ser bem contemplados, mais que os perfis gerais, aqueles que tendem a ganhar votos em todo o Estado. A distritalização da política é um fenômeno que se consolida na esteira da crise. Os eleitores querem votar em pessoas que conheçam bem, em representantes que defendam as causas de regiões e grupamentos. Campanhas menos fosforescentes Já as campanhas eleitorais serão menos fosforescentes: menos cinematográficas, com menos firulas e enfeites midiáticos e mais voltadas para coisas e causas reais, concretas, assimiláveis pelo eleitor. O marketing elevará os discursos e deixará com menor efeito na forma de espetáculo. Menos dinheiro nas campanhas redundará em mais sola de sapato para os candidatos. Pé na rua, mão a mão. Fusão Time Warner e At&T no Chile A Fiscalía Nacional Económica do Chile (FNE, o órgão chileno de defesa da concorrência) aprovou a aquisição da Time Warner pela AT&T. "A fusão entre as empresas combinará conteúdo de qualidade e infraestrutura para entrega deste conteúdo no dispositivo que o consumidor escolher", garante David McAtee, vice-presidente executivo sênior e conselheiro geral da AT&T. A FNE aprovou a fusão com condições comportamentais para endereçar questões específicas relacionadas a concorrência identificadas durante a análise da operação. 17 autorizações A aprovação não exige a venda ou desinvestimento de quaisquer ativos da AT&T ou da Time Warner. Com o aval do Chile, a fusão entre AT&T e Time Warner recebeu aprovação de 17 autoridades de defesa da concorrência que analisaram a transação em todo o mundo. "Ficamos satisfeitos com o cuidadoso trabalho realizado pela FNE para analisar e aprovar essa fusão com base nos seus benefícios para a competição no Chile e, mais importante, para os consumidores chilenos", arremata McAtee. Além dos EUA, só falta o Brasil. Fecho a coluna com uma historinha do Maranhão. Por onde começar? O desembargador Deoclides Mourão, tio do poeta Gerardo Mello Mourão, fez acordo com Urbano Santos para governador do Maranhão. Eleito, Urbano não cumpriu nada. Deoclides Mourão mandou-lhe uma carta: - Senhor governador, diz o povo que o homem se pega pela palavra, o boi pelo chifre e a vaca pelo rabo. Supondo não ter V. Exa. nenhum desses acessórios, não sei por onde começar.
quarta-feira, 30 de agosto de 2017

Porandubas nº 544

Mineirice Abro a coluna com a mineirice em ação. 31 de março de 1964. Benedito Valadares se encontra com José Maria Alkmin e Olavo Drummond no aeroporto de Belo Horizonte: - Alkmin, para onde você vai? - Para Brasília. - Para Brasília, ah, sim, muito bem, para Brasília. Os três saem andando para o cafezinho, enquanto Benedito cochicha no ouvido de Drummond: - O Alkmin está dizendo que vai para Brasília para eu pensar que ele vai para o Rio. Mas ele vai mesmo é para Brasília. Esse tipo de artimanha é chamado de engano de segundo grau. Quer significar: engano meu interlocutor, dizendo-lhe a verdade para tirar proveito da sua desconfiança. Essa malandragem vem de longe. Conta-se que a historinha é judia e expressa com humor o refinamento a que leva o esconderijo de informações. Um interlocutor encontra-se com outro na rodoviária na antiga União Soviética: - Para onde o amigo está indo? - Para Minsk. - "Quer me enganar, hein? Você quer me fazer acreditar que vai a Minsk para que eu pense que vai a Moscou. Pois bem, acontece que você vai mesmo a Minsk". Campanha nas ruas A campanha presidencial de 2018 começa a ganhar as ruas. Deixemos as firulas de lado. O fato é que pré-candidatos ensaiam seus primeiros passos, ao participar de caravanas, fazer viagens pelas regiões, aceitando convites de entidades, mobilizando militância e grupos de simpatizantes, etc.. Nomes aos bois: Lula corre pelos 9 Estados do Nordeste; João Doria recebe títulos de cidadania e homenagens em grandes cidades; Jair Bolsonaro não fica atrás e corre para abraçar correligionários; Geraldo Alckmin, o mais discreto, também se movimenta. Marina, Ciro Gomes estão à espera de convites. Nos limites da lei? Afinal, pode-se começar a campanha de 2018 a essa altura? Campanha pedindo votos? Não. Mas campanha disfarçada sob a capa de visita às regiões, conversas com lideranças, encontros com o povo, isso pode. É o que garante a lei e o que dizem os juízes. É evidente que, mesmo não pedindo voto do eleitor, os pré-candidatos fazem campanha. Mostram-se por inteiro, discursam, fazem conclamações ao civismo pátrio, exaltam valores e virtudes da boa política e chegam, até, a fustigar eventuais adversários. Linha tênue A linha entre o permissível e o proibido é tênue. Pouco se distingue uma coisa de outra. Visitar regiões, fazer comício em cenas abertas ou fechadas - nas ruas ou em ambientes restritos - significa fazer o principal exercício da atividade eleitoral: apresentar-se à população, expressar ideias e discorrer sobre problemas brasileiros, a partir da análise dos vetores que estão na agenda política: gestão, emprego/desemprego, resgate do poder de compra do consumidor, ética/moral, corrupção, reformas (trabalhista, previdenciária, tributária, política, etc.). A caravana de Lula Luiz Inácio decidiu começar pelo Nordeste, a região onde continua a ter grande prestígio. Escolheu cidades grandes e médias para fazer seu périplo. Abriu intensa polêmica entre correligionários e adversários. Passam pelas redes sociais vídeos sobre suas andanças, dando conta de entreveros da caminhada - pequenas plateias, desorganização, etc.. Parcela desse material é fake, ou seja, são vídeos feitos por adversários. Inversão de discurso Digamos, porém, que a caravana não repita o sucesso de antigas jornadas. Mesmo assim, a perambulação é importante na estratégia de colocar o bonde nos trilhos. No fundo, Lula está avisando que é candidato. Matreiro como é, inverte os eixos do discurso, escondendo que o descalabro que afundou o país ocorreu nos idos do petismo no poder. Se for candidato, será muito difícil que assegure os 30% (históricos) de intenção de voto do voto do petismo. Na régua de 0 a 100 deste consultor, a chance de ser candidato chega apenas na casa dos 30. Doria aproveita bem João Doria também entra na paisagem ao aceitar parte das centenas de convites que lhe chegam. Como é um perfil não tão conhecido, aproveita para se mostrar - com sua densa experiência na vida empresarial, passagens importantes pela administração pública, valores da gestão moderna etc.. João encarna a novidade, um perfil asséptico na política, a estampa que entusiasma grupamentos centrais. Seu desafio é chegar às margens sociais, de forma que a mensagem seja percebida por todo o território. Constrói também parte de sua identidade como o anti-Lula. Prefeito da maior cidade do país, desperta curiosidade. Hoje, chance de João Doria ser candidato pela régua de 0 a 100 deste consultor: 40. Prévias com Geraldo, não Mas a candidatura de João Doria pode ficar apenas na intenção de seus simpatizantes. Ele tem dito e repetido a este consultor que não disputará prévias com Geraldo Alckmin, seu amigo e tutor. Hoje, João tem vida própria. Mas respeita o amigo. Não disputará com ele. Geraldo defende as prévias e, segundo os caciques tucanos, a partir de Tasso Jereissati, tem a preferência do partido. Hoje, contaria com a maioria do colégio eleitoral das prévias. Hoje, chance de Geraldo Alckmin ser candidato pela régua de 0 a 100 deste consultor: 60. A razão de João Por que, então, João continua a pavimentar caminho em direção ao Planalto? Por confiar no feeling: se as pesquisas derem a ele considerável percentagem de intenção de voto, deixando outro pré-candidato muito atrás (Geraldo, por exemplo), apostará em sua indicação pelo PSDB. Quem sabe, até o próprio Alckmin não faria o gesto de levá-lo até o pódio da candidatura? Em política, tudo é possível. Até mudança de partido. E o governo de SP? Essa alternativa é desconsiderada por João Doria. Há outros pré-candidatos, a partir do vice-governador Marcio França, voz forte no PSB, que tentará se viabilizar como candidato em São Paulo com o apoio de Geraldo, e levar, em contrapartida, os socialistas na direção da candidatura do tucano. Os paulistanos, por seu lado, até compreenderiam a saída de João Doria para uma disputa presidencial (a crise do país seria o pano de fundo), mas certamente não gostariam que o prefeito deixasse o cargo para disputar posto mais alto no próprio Estado. Seria oportunismo. Crítica que possivelmente ganharia suavidade no caso da opção pela presidência da República. Bolsonaro, o discurso radical Jair Bolsonaro, de seu lado, também se movimenta. Foi ao Nordeste, onde ganhou calorosos aplausos de simpatizantes, sendo recebido de forma entusiástica em aeroportos. Procura radicalizar o discurso, internalizando o sentimento da população que se indigna contra a violência nas ruas. As mortes violentas se expandem. Bolsonaro é a porta de entrada em tempos duros: militarismo nas escolas, nas ruas, guerra total às esquerdas. Não se espere dele, porém, voo longo. Seu teto terá entre 10% a 12% de votos. Reforma política A reforma política ameaça gerar uma reversão de expectativas. Pelo andar da carruagem, pouca coisa avançará. E a Câmara, sob a regência de André Fufuca, terá dificuldade de votar temas complicados. Mesmo com Rodrigo Maia exercendo monitoramento, a partir do Palácio do Planalto. Janot prepara o espetáculo Rodrigo Janot, sob a fosforescência midiática, prepara os atos finais de sua gestão na PGR. Promete uma 2ª denúncia de peso contra o presidente da República. Que, na visão deste consultor, não terá o impacto da primeira. Janot entra por completo no saguão do Estado-Espetáculo. Lava Jato nas eleições A operação Lava Jato driblará as pressões e suas águas correrão agitadas pelas veredas eleitorais de 2018. Vai afinar discursos, adensar críticas contra candidatos, gerar intensos debates. O resultado será um processo de "canibalização recíproca", com as críticas de um lado e de outro se chocando e passando ao eleitor o conceito de que todos os candidatos estão no lamaçal. A conferir. Tipos de candidatos 1. O continuista - Candidato à reeleição, máquina a serviço da candidatura, cabos eleitorais multiplicados, o continuista poderá ter vantagens sobre adversários, se, claro, houver realizado um bom governo. Particularmente se construiu forte identidade junto à comunidade. E se não tiver contas a pagar na operação Lava Jato. Pontos fortes: assepsia, ações e obras a mostrar. Pontos fracos: governo fraco, mesmice e denúncias de corrupção. 2. O oposicionista - Se encarnar situação de mudança, troca de peças velhas na máquina administrativa, terá sucesso. Para tanto, precisa absorver o espírito da comunidade, interpretar demandas, fazer intenso corpo a corpo, deixar-se mostrar, ganhar confiança do eleitor. Usar bem as redes sociais. Pontos fortes: alternativa à velha ordem; encarnação do espírito do novo. Quando se tratar de perfil já conhecido, todo esforço se fará necessário para vestir o manto da renovação. Pontos fracos: fraca visibilidade; tênues estruturas de apoio; ausência de ideias. 3. A terceira via - O candidato da terceira via tem a vantagem de poder quebrar a polarização entre situação e oposição. Para angariar apoio de todos os lados, carece organizar um discurso moderado, ouvindo todos os segmentos, buscando uma linha intermediária. Demonstrar possuir um grande programa de trabalho. Pontos fortes: bom senso, equilíbrio, experiência, alternativa à polarização acirrada entre grupos, inovação. Ponto fraco: eventual falta de apoio de estruturas e lideranças. Discurso duro O desembargador Fábio Prieto, que já presidiu o TRF da 3ª região, tomou posse, sexta-feira passada, no TRE/SP. Fez o mais duro discurso que este consultor já ouviu da boca de um membro do Judiciário sobre os desvios do sistema de Justiça no Brasil. Destaco algumas passagens: Mazelas - "O patrimonialismo, o clientelismo, o assembleísmo corporativo, o desperdício de dinheiro público, o pouco caso com a independência funcional dos juízes, a preguiça premiada, a burocratização, a demagogia e a falta de decoro - são estes velhos males que a Reforma do Judiciário tem contribuído para reforçar". Sindicalização da magistratura - Denunciou com palavras fortes a sindicalização da magistratura. - "O exercício de mandato classista, em associações privadas de juízes, foi vulgarizado e também justificou milhares de faltas ao serviço. Ninguém sabe quantas são as associações de juízes. Como foi ampliado o número de entidades ou de seus diretores. - Muitas destas associações de juízes passaram a atuar como verdadeiros sindicatos, prática vedada aos magistrados, agentes do poder estatal." Quatro conselhos - "Somados os quatro conselhos de Justiça, o Brasil deve ter um dos maiores e mais caros sistemas de controle e fiscalização judiciária do mundo. Com tal fragmentação, os órgãos são necessariamente disfuncionais. As decisões são contraditórias e inconciliáveis. A composição dos conselhos é vulnerável ao corporativismo." "Seu Lunga" Por insistentes pedidos, "Seu Lunga" faz uma visita à coluna. Respostas do mestre a perguntas idiotas 1. De olhos fechados, na cama, ele se depara com a pergunta da mulher: Você tá dormindo? - Não, tô treinando pra morrer! 2. Seu Lunga leva um aparelho eletrônico para manutenção e o técnico pergunta: - Tá com defeito? - Não, é que ele estava cansado de ficar em casa e eu o trouxe para passear. 3. Está chovendo e aí a pessoa pergunta para Seu Lunga: - Vai sair nessa chuva? - Não, vou sair na próxima. 4. Seu Lunga acabou de levantar, aí a mulher pergunta: - Acordou? - Não. Estou sonâmbulo! 5. Um amigo liga para a casa do Seu Lunga e pergunta: - Onde você está? - No Pólo Norte! Um furacão levou a minha casa pra lá!
quarta-feira, 23 de agosto de 2017

Porandubas nº 543

Abro a coluna com o confessionário de padre Elesbão Contar pecados Numa cidadezinha de Minas, Padre Elesbão estava esgotado de tanto ouvir pecados, ou, como dizia, besteiras. Decidiu moralizar o confessionário. Afixou um papelão na porta da Igreja, dizendo: O Vigário só confessará: 2ª-feira - As casadas que namoram 3ª-feira - As viúvas desonestas 4ª-feira - As donzelas levianas 5ª-feira - As adúlteras 6ª-feira - As falsas virgens Sábado - As "mulheres da vida" Domingo - As velhas mexeriqueiras O confessionário ficou vazio. Padre Elesbão só assim pode levar vida folgada. Gabava-se: - Freguesia boa é a minha! Mulher lá só se confessa na hora da morte! (Leonardo Mota em seu livro Sertão Alegre) Parte I - Pequena reflexão Fake news As Redes Sociais expandem as notícias falsas. Na semana passada, este consultor foi vítima de uma delas: a que dava conta de um suposto alinhamento da TV Globo com Lula e o PT, mensagem em um áudio falso atribuído ao diretor do Fantástico, Luiz Nascimento. Que, em boa hora, fez enérgico desmentido. Fonte crível A fonte que me enviou o áudio é crível. Ele teria recebido a mensagem de um amigo da própria TV Globo. Por isso, caí na rede falsa, mesmo levando em consideração o absurdo: um grupo de comunicação, cuja família proprietária é considerada trincheira avançada do ideário liberal e do mundo dos negócios privados fazendo aliança com Lula, o ícone das esquerdas? Inimaginável. A falsidade O fato é que as redes carecem de instrumentos para conter a teia de maldades, mentiras, calúnias e difamação. Constato em um estudo feito por um grupo da Associação de Especialistas em Políticas Públicas de São Paulo, em texto assinado pelo jornalista Alexandre Aprá, diretor do blog Isso é Notícia, que há um conjunto de sites especializados nessas tramoias. Urge denunciar a malandragem escondida nesses biombos eletrônicos, alguns bem remunerados por grupos, setores e frentes políticas. A quem serve essa teia criminosa? Estado-Espetáculo Este consultor joga a primeira hipótese sobre o adensamento das fake news: elas são produto do Estado-Espetáculo. Que é a passarela para atores de todos os tipos - política, negócios, artes e entretenimento - alcançarem visibilidade e fama. Esses perfis se esforçam para aparecer e viabilizar seus interesses, objetivando alçar voo e chegar ao Olimpo da cultura de massas. O Olimpo Na figura de Edgar Morin, o Olimpo é o habitat de celebridades de todos os tipos - reis, rainhas, jogadores de futebol, artistas e, claro, políticos - com seus adornos de divindades. Nós, que habitamos o duro terreno dos mortais, corremos ansiosos para abraçar os olimpianos, fazer com eles selfies e exibi-las nas redes, mostrando nossa aproximação com eles. Exageros, mentiras e falsidades são produto do Estado-Espetáculo, que é também o Estado-Midiático. O prazer do escândalo O fato negativo exerce intensa atração. A carga de conflitos que carrega dispara mecanismos de aproximação e engajamento. Desperta curiosidade, principalmente quando o teor informativo aparece coberto pelo manto do escândalo. Quando os protagonistas são pessoas ou entidades de renome, o poder de atrair a atenção e o interesse dos receptores é bem maior. Esta é a segunda hipótese para explicar o acolhimento de falsas notícias. Ser de oposição O fato negativo gera mais impacto que o fato positivo. A Bolsa de Valores despencou 20 pontos. O baque afeta meio mundo. Ontem, ultrapassou a casa dos 70 mil pontos na esteira do anúncio de que a Eletrobrás poderá ser privatizada. O impacto é menor. As fake news pertencem ao campo negativo. No jornalismo também é assim. Corroborando a lição do saudoso Millôr Fernandes: "jornalismo é oposição. O resto é armazém de secos e molhados". A banalização do mal Na moldura tecnológica dos meios de comunicação, as redes eletrônicas ganham projeção graças a princípios e vetores que as caracterizam: propiciam tempestividade às informações transmitidas, de modo que o universo receptor tem acesso imediato às mensagens; garantem visibilidade aos autores e fontes; inserem seus criadores no Olimpo da cultura de massas, conferindo-lhes a aura da fama e o pedestal da visibilidade. Insensibilização Todos esses fenômenos ocorrem em um ambiente social locupletado de denúncias e maldades. Quer dizer, o meio e o tempo/circunstâncias alavancam a proliferação de falsidades. O mal é coisa corriqueira, tão comum, tão rotineiro que deixa os receptores insensíveis aos danos que provoca. As pessoas são cobertas por uma camada impermeável, que acaba amortecendo o impacto das maldades. Aspiração de ser o primeiro O sonho de povoar o Olimpo da cultura de massas, com informações bombásticas que gerem estupor, impacto, abalos, confere às fontes de notas falsas singular identidade: o status de "primeiros" do ranking informativo das redes. O escândalo, o inusitado, o pitoresco, a notícia que causa espanto contribuem para marcar as fontes com a identidade de pioneirismo, da "pessoa que sabe tudo", ponta de lança da teia comunicativa das redes. Alternativas de combate A malha de situações acima pode explicar em parte o fenômeno das fake news, mas não as justifica. Urge combatê-las de frente. Como? Denunciando falsidades; exigindo rápidas providências dos acolhedores tecnológicos para retirá-las das redes; fazendo intensa articulação junto aos usuários para não servirem de meios de passagem de conteúdo falso; conferindo a natureza e a origem das informações, a partir da identificação das mensagens originais e seus balões de ar putrefato. Aqui e alhures As fake news não prosperam apenas por nossas bandas. Na campanha eleitoral norte-americana, alimentaram o noticiário contra Hillary Clinton, tendo um "mentiroso", um jovem de 22 anos, ganhado milhares de dólares com a criação de um site para difamar a candidata democrata. O próprio Trump é conhecido pelas fake news que fabrica. De acordo com uma pesquisa realizada pelo PolitiFact, desde que anunciou sua candidatura à presidência, em junho de 2015, 69% das declarações de Trump foram falsas, e apenas 4% completamente verdadeiras. Como presidente, Trump teve suas falas ainda mais analisadas. Tem sido farta a pauta de notícias falsas nos 100 dias de seu governo. Coisa velha Notícia falsa, em suma, é coisa muito antiga. Ainda no século VI a.C, o historiador Procópio espalhava notícias falsas em Roma sobre o Imperador Justiniano. Juntou essas notícias secretamente num volume chamado Anedocta, que só permitiu ser conhecido após sua morte. É o que conta o jornalista Carlos Eduardo Lins da Silva em artigo (Pós-Fato) na revista de Jornalismo ESPM (Edição Brasileira da Columbia Journalism Review), edição de jan/junho deste ano. Pasquim O escritor Pietro Aretino tentou manipular a eleição do papa que sucederia Leão X em 1522. Não adiantou, narra Carlos Eduardo, pois o escolhido foi Adriano VI, e não Giulio de Medici, para quem Aretino trabalhava. Aretino colava suas informações falsas sob o busto de um personagem conhecido como Pasquino na praça Navona, daí derivando "pasquim" como veículo de informações falsas ou sensacionalistas. Mais tarde vieram os canards na França, os tablóides na Inglaterra e os jornais sensacionalistas em todos os países, incluindo o Brasil. Enfim, manipulação dos fatos é coisa velha Parte II - Análise da conjuntura Normalização Espraia-se o sentimento de que nuvens estão se dissipando e deixando ver horizontes mais limpos. O pior já teria passado. Novas denúncias por parte do PGR contra o presidente Michel Temer não teriam o impacto obtido pela primeira. A indústria dá sinais de alento. A inflação tende a chegar aos 3,5%. A taxa Selic deverá beirar os 7,5% ao final do ano. O PIB deve crescer 0,34 e 2% em 2018. A liberação das contas inativas do FGTS e a safra agrícola recorde impulsionam a reação do mercado. Crescem vendas no varejo e o faturamento do setor de serviços sobe. Régua de 0 a 100 Minha régua de 0 a 100 marca os seguintes números para as reformas: Reforma Política - Fundo partidário de R$ 3,6 bilhões - 20 - Fundo partidário de R$ 2 bilhões - 60 - Cláusula de barreira com 1,5% dos votos nacionais para deputados Federais - 80 - Distritão - 60 -Semi-Distritão - Voto majoritário e voto contado para a legenda - 70 - Fim das coligações proporcionais - 90 - Parlamentarismo - 30 Panorama eleitoral João Doria saiu na frente com sua arrancada de viagens pelo Nordeste, Sul e Sudeste. Lula elege como foco o Nordeste. Passará por um bloco de grandes e médias cidades. Sua estratégia é comer pelas bordas. Das margens para o centro. Ciro Gomes começa a engrossar a voz. Marina está quase desaparecida. Bolsonaro é uma metralhadora ambulante. Atira para todos os lados. Mas seus tiros não são de longo alcance. Têm efeito limitado. Alckmin está contido. Espera o amanhã. Muito comedido, não quer apressar o passo. França em São Paulo Marcio França, o vice-governador de São Paulo, começa a articular apoios. Quer ser o candidato de Alckmin (PSDB) e de outros partidos de centro ao governo. Tem razão em acreditar que João Doria não disputará o cargo. João só tem interesse pela candidatura presidencial. É isso mesmo que ele pretende. Se não conseguir ser candidato a presidente, será o principal cabo eleitoral de Alckmin. Ou toparia sair candidato por outro partido? O tempo e suas circunstâncias darão a resposta. Skaf fora É possível que Paulo Skaf, presidente reeleito mais uma vez para presidir a FIESP, queira ser novamente candidato ao governo de São Paulo pelo PMDB. Se não houver nome mais denso, poderá ser ele. Mas seu passo será curto. Skaf não tem jeito para a política partidária. Faltam-lhe feeling, tino, capacidade de ver o amanhã. Marta Marta Suplicy é sempre um perfil à disposição. Poderá ser o trunfo do PMDB para São Paulo. Tem bom recall. Fecho a coluna com os conselhos do grande filósofo alemão, Arthur Schopenhauer. Schopenhauer Quer convencer alguém? Eis alguns estratagemas dos 38 que ele apresenta em A Arte de Ter Razão. Nº 1. Leve a proposição do seu oponente além dos seus limites naturais; exagere-a. Quanto mais geral a declaração do seu oponente se torna, mais objeções você pode encontrar contra ela. Nº 2. Use significados diferentes das palavras do seu oponente para refutar a argumentação dele. Exemplo: a pessoa diz: "Você não entende os mistérios da filosofia de Kant". A pessoa B replica: "Ah, se é de mistérios que estamos falando, não tenho como participar dessa conversa". Nº 3. Ignore a proposição do seu oponente, destinada a referir-se a alguma coisa em particular. Ao invés disso, compreenda-a num sentido muito diverso, e em seguida refute-a. Ataque algo diferente do que foi dito. Nº 4. Oculte a sua conclusão do seu oponente até o último momento. Semeie suas premissas aqui e ali durante a conversa. Faça com que o seu oponente concorde com elas em nenhuma ordem definida. Por essa rota oblíqua você oculta o seu objetivo até que tenha obtido do oponente todas as admissões necessárias para atingir o seu objetivo. Nº 5. Use as crenças do seu oponente contra ele. Se o seu oponente recusa-se a aceitar as suas premissas, use as próprias premissas dele em seu favor. Por exemplo, se o seu oponente é membro de uma organização ou seita religiosa a que você não pertence, você pode empregar as opiniões declaradas desse grupo contra o oponente.
quarta-feira, 16 de agosto de 2017

Porandubas nº 542

Abro a coluna com o padre Aneiko. Quer ver? Padre Aneiko, deputado estadual pelo PDC, vinha do Paraguai. Na fronteira de Foz do Iguaçu, encontrou-se com duas amigas, que lhe pediram para passar com uns perfumes de contrabando. Arrumou no cinturão, embaixo da batina. Na Alfândega, o fiscal pergunta: - Alguma mercadoria, padre? -Não. - E aí embaixo da batina? - O que tem aqui embaixo é dessas duas moças. Quer ver? O fiscal não quis. Chutômetro I Tem sido comum, nesses tempos esfumaçados, a sinalização sobre o amanhã. Com farta distribuição de chutes. A Consultoria Eurasia se apresenta como campeã de projeções furadas, fato que o Drive Premium, de Fernando Rodrigues, muito bem registrou na edição noturna de segunda-feira. Em maio, projetou em 70% as chances de Michel Temer ser derrubado. Em 13 de agosto, a probabilidade de permanecer passou para os 70%. Chutômetro II Nessa linha de adivinhação, aponta João Doria com mais chances de vir a ser o candidato tucano na eleição presidencial de 2018. Ora, João até pode ser o candidato, mas o governador Alckmin tem a maior força no PSDB. P.S. Pelo que se sabe, a Eurasia não possui estrutura em Brasília. Mas frequenta com assiduidade os espaços midiáticos. Os motores sociais Nosso roteiro, hoje, é de um passeio pela organização da sociedade. O clamor das ruas A última década incrementou a organicidade social. A miríade de entidades - associações de todos os tipos, sindicatos, federações, confederações, clubes e movimentos - passou a agir como tuba de ressonância social, expressando demandas, expectativas, anseios, enfim, o pensamento de classes, grupos, setores, categorias profissionais. Uma alta dose de autonomia orienta ações e movimentações do conglomerado organizativo. Vale lembrar que o Brasil contabiliza, hoje, mais de 500 mil Organizações Não Governamentais. Sindicalismo O sindicalismo se expandiu na esteira da defesa de interesses de trabalhadores e empregadores de novos nichos produtivos. São 16.491 sindicatos, dos quais 11.257 de trabalhadores e cerca de 5 mil sindicatos de empregadores. O Ministério do Trabalho e Emprego facilitou a explosão do sindicalismo, havendo, inclusive, suspeição sobre a emissão de cartas sindicais pela Secretaria de Relações do Trabalho daquele Ministério. O corporativismo, como se pode aduzir, ganhou volume. Federações e Confederações também se expandiram dando vazão ao sistema confederativo. Por trás de tudo, interesses financeiros. Centrais sindicais como exemplo. Bancários e metalúrgicos Continuam a compor a linha de frente das movimentações de trabalhadores, mas seu poder arrefece na esteira da organicidade social, onde outros grupamentos tomam pé. CUT e Força Sindical estão na frente das movimentações, a primeira exibindo o clássico discurso que faz liga com o PT e a segunda central, sob o comando de Paulinho, puxando o cordão da manutenção de benesses históricas. Comerciários O universo do comércio tem sua representação trabalhadora por meio da UGT, comandada por Ricardo Patah, que tem avolumado a Central a ponto de ela se posicionar na linha de frente de fortes representações. Patah exerce bom diálogo com entidades patronais do comércio. Associativismo Outra vertente da organicidade social se fez ver por meio da multiplicação de associações, estas com finalidade política e institucional, eis que não integram o sistema confederativo. As associações desenvolvem intensa articulação política junto aos Poderes constituídos, eis que suas pautas abrigam temas gerais. Muitos setores criam associações voltadas exclusivamente para a articulação política. Direitos e cidadania Desde a Constituição Cidadã de 1988, toma corpo a vertente de defesa dos Direitos Humanos, com foco principalmente na proteção e defesa das minorias (étnicas, raciais, de gênero, transgêneros, etc.). Parcela ponderável dessa agenda bateu nos tribunais, chegando à Suprema Corte, que tem decidido sobre matérias polêmicas, como as questões da união homoafetiva, cotas raciais, células-tronco, mensalão, proibição de financiamento privado de campanhas, prisão depois do julgamento em segunda instância. OAB na vanguarda A Ordem dos Advogados do Brasil tem exercido papel preponderante na defesa dos Direitos Humanos e da elevação da Cidadania. Sempre na vanguarda. No passado, sua ação era mais intensa, principalmente nos idos da redemocratização. Mas continua forte, a partir das campanhas que desfralda, como os recentes movimentos Combate à Corrupção e em prol da Reforma Política, sob a égide da seccional paulista da OAB. Jornalistas O meio jornalístico confere repercussão aos fatos sócio-políticos. Analistas, colunistas/comentaristas têm se engajado com fervor na cobertura do lamaçal que inunda o terreno da política, desde os tempos do mensalão. Ocorre que muitas análises abrigam forte viés ideológico, com jornalistas desempenhando o papel de guerreiros e militantes. Tem faltado bom senso na análise política e sobrado engajamento. Igrejas O forte eixo das igrejas/credos passou a abrigar protagonistas da política, a ponto de patrocinar a candidatura de participantes a comandos importantes, como a prefeitura do Rio de Janeiro, hoje dirigida por um membro da Igreja Universal. A bancada religiosa se expande. A religião entra forte no terreno da política. A competição entre credos sai dos grandes centros e chega aos fundões do território. A CNBB arrefeceu seu discurso político. Militares Os militares, mesmo recolhidos aos quartéis, acompanham com atenção a dinâmica da política. Vez ou outra, ouve-se uma voz militar em defesa da instituição democrática. Grande preocupação da caserna é com a carência de recursos que ameaça inviabilizar ações e programas das Forças Armadas. Em seus circuitos internos, os chefes militares sempre compartilham impressões sobre os rumos da política e do país. Mulheres As mulheres têm ganho suas batalhas por direitos iguais aos homens, constituindo assim gigantesco vetor de força. O gênero feminino tem alargado a fronteira dos direitos, sem dúvida. Por sua força, merecem um destaque no leque organizacional. As mulheres fazem crescer a participação em praticamente todas as áreas dos empreendimentos. No Congresso, infelizmente, sua presença ainda é muito pequena. Profissionais liberais Os profissionais liberais ocupam uma das mais fortes trincheiras nos espaços da pirâmide social, o do meio, onde estão as classes médias. Possuem voz e vez, assumindo o papel de contundentes porta-vozes da tuba de ressonância. Médicos, engenheiros, profissionais do universo da comunicação, comerciantes, integrantes dos círculos de negócios, enfim, quadros de praticamente toda a malha social do meio da sociedade se fazem representar por meio de suas entidades. Exercem papel privilegiado de observadores e críticos da paisagem político-social. Atentos à cena, desfraldam a bandeira dos avanços. E são contrários aos radicalismos. Estudantes Como é sabido, há um bom tempo que a estudantada deixou de participar massivamente da movimentação social. Sua representação tem diminuído em função da carga ideológica que dá o tom de entidades estudantis, como UNE, onde toma assento um grupo radical. Os estudantes participaram de modo intenso das grandes manifestações de 2013, motivados pelo aumento das tarifas de transporte público. O setor estudantil é dividido. E não tem exercido com força o papel que deveria ter na teia organizativa. Indústria Atua pela via de suas representações, sindicatos, federações, confederações. Carece de grandes lideranças. Tem papel mais destacado na luta contra impostos. CNI, FIESP e entidades congêneres perderam parcela da força protagonista do passado. E seus líderes têm sido contaminados pelo vírus da política partidária. O motor de arranque da representação industrial é o Sistema S. Hoje, sujeito a bombardeios. Ruralistas Eis um grupamento com voz e vez, principalmente o setor do agronegócio. Firma-se bem no terreno institucional, a ponto de contar, hoje, com uma das maiores bancadas no Congresso Nacional. O agronegócio ganha fama e força graças à fabulosa contribuição dada ao PIB. Consegue ter imenso poder junto ao Executivo, sendo agraciado com o atendimento de suas demandas. Serviços A novidade na moldura das organizações é a participação de setores de serviços. Que ganham força nesse ciclo, a partir de sua liderança na composição do PIB nacional, que lidera com sua participação de mais de 60%. Grandes setores, como bancos e turismo, agora contam com nichos de considerável poder de pressão, como os setores da terceirização e do trabalho temporário, que acompanham com atenção as grandes mudanças no mercado de trabalho. Os grandes centros A movimentação social tem nos grandes centros o seu motor de arranque. Se o discurso de qualquer setor do leque organizativo emergir de um grande centro, certamente terá assegurada sua capilaridade, ou seja, a capacidade de se espraiar pelo território. Os grandes centros funcionam como a pedra jogada no meio da lagoa. Forma ondas que, de maneira concêntrica, rolam até as margens. Cidades médias As cidades médias funcionam como extensões dos braços das grandes cidades. Repetem o que vem de cima e passam para as localidades menores. Cria-se, assim, gigantesca teia de barulhos. A imagem é a de um terremoto, cujas camadas de terra sofrem maior impacto no epicentro, sendo mais arrefecidas nas lonjuras. Mas os tremores aparecem a quilômetros de distância do maior impacto. O balão da opinião pública A formação do pensamento nacional deriva de um processo que agrega formadores de opinião, passa pelas lideranças de entidades, atravessa o campo de difusores aberto nos grandes espaços das classes médias, entra na tuba de ressonância dos meios de comunicação, que difundem as mensagens das áreas centrais para as áreas periféricas. A repetição A repetição das mensagens pelas mídias é fator de impulso da recepção e internalização das mensagens. Ou seja, nem sempre os fatos que se ouvem, se veem e se percebem são internalizados. Por internalização, entende-se o processo de cognição/compreensão das mensagens. Como é sabido, parcela considerável das mensagens midiáticas se perde por não entrar e descer pela cuca das pessoas. Pílulas - Luiz Inácio começará dia 17 seu périplo pelo Nordeste. Maneira inteligente de iniciar pré-candidatura. - Aécio Neves ainda tem forças no PSDB. Não morreu. - Raquel Dodge não vai arrefecer a ação da PGR. Mas vai ter diálogo mais estreito com o poder político. - Rodrigo Maia é um nome em ascensão. Trata-se de exímio articulador. E cumpre palavra. - Governo Temer poderá fazer ligeira mexida no Ministério. - ACM Neto pode figurar como vice na chapa de 2018 à presidência, caso o DEM não tenha um nome na cabeça de chapa. - Gleisi Hoffmann está saindo muito radical no figurino de presidente do PT. Sua imagem é ruim. - Dilma pode sair candidata a senadora pelo RS. Falou-se até em vir a ser candidata por um Estado do Nordeste. Seria algo incongruente. E de alto risco. - Joesley Batista poderá receber alguma punição. A partir de uma mudança de postura do STF sobre o acordo com ele feito. De 0 a 10, a chance é 7. - Alckmin terá contra ele o fato de não possuir grandes ligações com outras regiões do país. Concentrou-se no Sudeste. - Ciro Gomes começa a perder por excessos verbais. Marina Silva não terá o desempenho da última eleição. Bolsonaro pode ficar com 7% a 10% de intenção de voto. Se for candidato. Fecho a coluna com Carlos Lacerda Rima Lacerda, governador da Guanabara, candidato à presidência da República, foi a Montes Claros, no norte de Minas. A cidade amanheceu com os muros pichados: "Lacerda rima com m...". No comício, à noite, Lacerda acabou o discurso assim: - Aos meus amigos, deixo um grande abraço. Aos meus adversários, a rima.
quarta-feira, 9 de agosto de 2017

Porandubas nº 541

Abro a coluna com a querida Mossoró/RN. Tortura diocesana Convidado especial para evento comemorativo do centenário do Colégio Diocesano Santa Luzia em Mossoró, o ex-governador Lavoisier Maia boceja, mas segura o sono e a impaciência ante a série de discursos. Quando o professor João Batista Cascudo Rodrigues inicia relato sobre a história do Diocesano, Lavoisier quase capitula. O hábito de oratórias de longo curso, lavra de Cascudo, se confirma. - "Ele ainda está em 1927. Até chegar aos 100 anos...", angustia-se. Terminando o discurso de Cascudo, um balé de alunos do colégio desliza no local, entremeado pelo texto "Os artigos poéticos vão sendo reproduzidos, com pausas e o serpentear de bailarinos e bailarinas". Virando-se para o lado, Lavoisier cochicha: - "Diga-me uma coisa, esse estatuto tem quantos artigos mesmo"? - São 100, governador - exagera o interlocutor. - Ah, meu Deus, querem me matar! (Carlos Santos, Só Rindo 2) Saturação O ar está saturado. A observação, comum em ambientes contaminados por fumaça ou gás, é aqui transportada para o espaço político. As pessoas não aguentam mais as baterias de escândalos, denúncias, malfeitos e desvios de toda a ordem, envolvendo políticos, governantes, empresários e burocratas. Mais: estão saturadas com as cavalares coberturas jornalísticas dando conta do quadro político. A população quer virar a página. Mesmice O efeito causado pelas doses sempre elevadas e continuadas de denúncias sinaliza cansaço pela mesmice. O telespectador associa a denúncia do dia ao escândalo da noite anterior. Desse modo as mensagens entram na conta do déjà vu, coisa vista e registrada. A banalização informativa canibaliza a novidade. A semântica da crise aponta: a teia de corrupção é um novelo sem fim. É razoável acreditar na hipótese de que o jogo político está servindo a uns, aqueles que se esforçam para aumentar sua visibilidade midiática. O ócio "Deveriam ter posto a ociosidade contínua entre as penas do inferno; parece-me que, ao contrário, a puseram entre as alegrias do Paraíso". (Montesquieu) Janot Rodrigo Janot, o procurador-Geral, tenta elevar as tensões com sua estratégia de fazer denúncias continuadas. Sua imagem adentra o compartimento dos vingadores. Mostra-se disposto a pegar de qualquer jeito o presidente Michel Temer. Calibra o tempo para jogar mais bombas. Ou flechas como prefere chamar seus tiros. Nos meados de setembro, sai da PGR. Diz-se que gozará a aposentadoria. Outros acham que será alvo de processos. Desqualificado? O ministro Gilmar Mendes, conhecido por não ter papas na língua, diz abertamente que Janot presta um desserviço à Justiça. E que o STF está refém de seus atos. Chega até a dar "adeus" ao procurador, desejando a ele boa viagem. Segunda-feira, disse que o PGR é mais desqualificado da história e sem preparo jurídico nem emocional. Janot deu ampla entrevista a um grande jornal prometendo continuar na trincheira de guerra. O estudo "O estudo foi para mim o soberano remédio contra os desgostos da vida, e não tive jamais uma tristeza que uma hora de leitura não me tenha tirado". (Montesquieu) Terá consequências? As novas flechadas que Janot atirará contra Temer ameaçam não ter o mesmo impacto que as primeiras. A Câmara já não teria receio de continuar a votar a favor do presidente, passando a entender novas denúncias contra ele como uma "guerra pessoal" do PGR. Por outro lado, os parlamentares pretendem construir uma fortaleza de defesa: são alvos permanentes da PGR. Terão sucesso? A Lava Jato vai continuar. Reformas O continuado tiroteio contra a figura presidencial pode atrasar o cronograma de reformas. Mas a pergunta persiste: arrefecerá a mobilização dos representantes? A sensação é a de que urge encontrar saídas para a crise. Sob essa leitura, grande parcela da Câmara defende a sustentação do governo, sob a expectativa de que a planilha reformista poderá ser a alternativa para o país voltar a respirar ares sadios. Justiça "Uma coisa não é justa porque é lei; mas deve ser lei porque é justa". (Montesquieu) Viabilidade O que seria viável, hoje, em matéria de reformas? Vamos lá: a reforma previdenciária deverá abrigar dispositivo que trata da transição do sistema velho para o sistema novo. A questão da idade deverá receber leve alteração. Será possível sua tramitação e aprovação em setembro? Rodrigo Maia diz que sim. O governo contaria com os votos do PSDB - que promete votar em peso na reforma da Previdência -, dos ausentes (19) e até das abstenções. Não seria impossível alcançar o quorum de 308. A reforma política deve contemplar apenas dois aspectos: uma cláusula de barreira mais leve e o fim das coligações proporcionais. É razoável contar com essas duas decisões. Tributária Na área dos tributos, é possível fazer-se alguma simplificação, principalmente no sentido de evitar a continuação da guerra fiscal entre Estados. Buscar, porém, meios para aumentar impostos é meta arriscada. O país está no limite de sua alta carga tributária. O setor de serviços se queixa da Fazenda, que quer usá-lo como alvo para seus próximos tiros. Crueldade "Um turco se encontrou um dia com um canibal. 'Sois muito cruéis', disse o maometano, acrescentando: 'comeis os cativos que fazeis na guerra'. 'E o que fazeis dos vossos'?, replicou o canibal. 'Ah, nós os matamos. Mas, depois que estão mortos, não os comemos'. "Parece-me que não há povo que não tenha sua crueldade particular". (Montesquieu) Por amor Neymar garante que não foi o dinheiro que o levou ao PSG a abandonar o Barcelona. Este analista da política mete aqui o bedelho na área esportiva, da qual pouco entende: foi por amor... ao dinheiro. Claro, 222 milhões de euros, mais de R$ 820 milhões. As melhores leis Sólon, o legislador grego, perguntado se as leis que outorgara aos atenienses eram as melhores, respondeu: "Dei-lhes as melhores que eles podiam suportar". É o caso de indagar: e no Brasil? Os nossos legisladores dirão que as leis até são boas, mas difíceis de aplicar. Temos a sensação de que o país navega nas ondas da impunidade. Renan na oposição Renan Calheiros saiu da liderança do PMDB no Senado para se agregar ao exército da oposição. 75% dos alagoanos querem que ele seja oposição. Que já tem dois senadores peemedebistas: Roberto Requião e Kátia Abreu. Renan acena apoio a Lula em 2018. Mas Heloisa Helena está na cola dele. Renan conta com o apoio de Lula. Terá? Lula será candidato? Kátia saindo Kátia Abreu estaria preparando as malas para deixar o PMDB. Deverá escolher um partido menor. Onde ela possa ser também cacique, não mera figurante. Veto à política? E o voto? O eleitorado, ante a bateria de escândalos, dá um veto à política e aos seus protagonistas. Donde emerge a questão: votará em quem? Pois bem, alguns perfis novos terão preferência do eleitorado, principalmente em cidades grandes e médias. Mas o eleitor do Brasil profundo continuará a dar o voto aos amigos ou aos caciques de ontem e de hoje. A conferir. Pesquisa O Instituto Paraná Pesquisa, dirigido por Murilo Hidalgo, fez abrangente pesquisa sobre as tendências do eleitorado. Nas próximas eleições para deputado, o eleitorado, em sua grande maioria (63,2%) tende a votar em um nome que não tenha exercido cargo público, ou seja, novo na política, enquanto 16,9% apontam que votarão em quem já seja ou tenha sido deputado Federal. Na hora H Uma coisa é o eleitor responder a uma pergunta de pesquisa muito tempo antes da eleição. Outra é o voto na hora H. O eleitorado costuma sinalizar desejos e expectativas. Mas acaba votando frequentemente nos nomes tradicionais. Culto ao presidencialismo Nossa cultura política exerce grande atração pelo presidencialismo. Presidente disso, presidente daquilo...é uma expressão onipresente. Em 1980, no final do Campeonato Brasileiro, o Flamengo ganhou por 3 a 2 do Atlético Mineiro, em polêmica partida disputada no Maracanã. O árbitro expulsou três jogadores do Atlético, a bagunça tomou o campo e agitou os nervos. No fim, transtornado com o "resultado roubado", Elias Kalil, então presidente do Atlético, exclamou aos berros: "Vou apelar para o presidente da República, João Figueiredo! Vou falar pra ele de presidente para presidente"! Talvez tenha chegado a hora de experimentarmos novamente o parlamentarismo. Doria e Alckmin João Doria e Geraldo Alckmin são irmãos. João, o mais novo, tem sido fiel aliado de Geraldo. Há um acordo tácito entre eles. Quem tiver melhores condições - índice de votos - nas pesquisas terá a preferência. Mesmo assim, João acredita que Alckmin deverá ser o candidato tucano à presidência em 2018. Cada qual com seu tempo. Mas uma coisa é certa: se as circunstâncias assim o determinarem, João Doria partirá para a luta. Até porque o prefeito de São Paulo sabe costurar tecidos desfiados, como este exibido pelo PSDB, um partido muito dividido. Polarização O PT não tem jeito. Está no centro da crise política, desde os pecuniários idos do mensalão. É vidraça todo tempo. O governo do PT abriu o maior rombo das contas públicas no país. Abriu a maior recessão econômica da história brasileira. Separou o Brasil de alto a baixo, com sua visão do "Nós e Eles". Mas sua militância vai às ruas para pedir honestidade e ética. Ganha o Prêmio de Caradurismo. Começa a querer polarizar a luta política. Parte para as agressões. Será difícil elevar a bandeira da polarização face a outras candidaturas que aparecerão no cenário. Ou seja, não teremos apenas PT x PSDB. Gleisi conturbada A presidente do PT, senadora Gleisi Hoffmann, parece conturbada. Ou perturbada? Faz elogios ao governo de Nicolás Maduro, que ganha ares de ditador. O petismo todo bate palmas às loucuras do ex-caminheiro que sucedeu a Chávez. O que dizer da repressão venezuelana? O que dizer de um país cuja população passa fome? O que dizer de um território sem liberdades? Deputados? A propósito, Gleisi e o senador Lindbergh anunciam que serão candidatos a deputado, não mais a senadores. Por quê? Medo de derrota? Ou vão tentar ficar sob o abrigo do foro privilegiado como deputados? Impostos Os brasileiros já pagaram R$ 1,3 trilhão em impostos nesse ano. Fecho a coluna com Mossoró/RN. Um preso, um solto À saída de solenidade ao lado da candidata a prefeito de Mossoró, deputada estadual Larissa Rosado (PSB), o então secretário-Geral do PT José Eduardo Cardozo é abordado pelo popular "Paulo Doido". - Ei, me dê um real. Ponderado, o petista justifica-se: -Amigo, eu não posso lhe dar dinheiro, se não a gente vai preso. Mostrando-se mais sensato, Paulo contra-ataca: -Eu sou doido, não vou preso não; quem vai preso é você!