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Porandubas Políticas

Por dentro da política.

Gaudêncio Torquato
quarta-feira, 29 de agosto de 2018

Porandubas nº 587

Abro a coluna com o mestre Inrique. I.N.R.I. - Iesus Nazarenus Rex Iudaeorum Conta Leonardo Mota que o mestre Henrique era reputado marceneiro nos sertões de Sergipe. Sua especialidade estava nas camas francesas à Luís Quinze. Quando o freguês achava que o leito era baixo, recebia a explicação de que a cama era francesa, mas era à Luís Quatorze; se havia queixa da excessiva altura, ficava sabendo que aquilo era cama francesa à Luís Dezesseis. O mestre Henrique pôs toda a sua ciência no Cruzeiro do patamar da igreja de Aquidabã. No topo do sagrado madeiro, o vigário da freguesia fizera o mestre Henrique colocar uma tabuinha com as letras I.N.R.I., iniciais de Jesus Nazareno Rei dos Judeus, a irônica inscrição latina de que a ruindade de Pilatos se lembrara na ignominiosa sentença de morte do filho de Deus. Decorrido algum tempo, um sertanejo sergipano, intrigado com a significação daquelas quatro letras, perguntou a um seu conhecido: - O que é que quererá dizer aquele negócio de INRI, que tem escrito em riba do Cruzeiro? - Você não sabe não? Ali falta é o Q-U-E. Esse QUE não cabeu na tabuinha: aquilo é a assinatura de quem fez, que foi o mestre INRIque... Sola de sapato Haja sola de sapato. Os candidatos estão nas ruas, cada qual fazendo percursos que incluem passagens por feiras livres, eventos tradicionais, como a festa do Peão de Barretos, selfies com eleitores e muita promessa. Quem está fazendo o maior barulho é mesmo Bolsonaro. Na arena de Barretos, passeou a cavalo, chapéu típico do rodeio, acenos à multidão e os verbos de ordem de quem garante que vai arrumar a bagunça. E tem muita gente que acredita nessa lorota. Discurso conservador O fato é que eleitores antes simpáticos a Geraldo Alckmin gostam do discurso conservador do candidato do PSL à presidência. Isso explica, em parte, a migração dos votos de Alckmin para o capitão que lidera as pesquisas em cenário sem o ex-presidente Luiz Inácio. Esse eleitorado acha que Bolsonaro representa melhor o sentimento anti-PT. Olhando para o bolso Os outros candidatos estão prometendo aliviar o bolso do eleitorado. Ciro, com sua promessa de retirar da lista do SPC quem estiver encrencado; Marina, prometendo amparar os aposentados com benefícios (não diz como); Alckmin, discorrendo sobre o acesso ao crédito para micro-empreendedores; Meirelles, ancorando-se na ideia de que é o homem providencial para tirar o Brasil da crise ("Chame o Meirelles"); Álvaro Dias, dizendo que não vai aceitar indicações políticas para cargos na administração Federal. Sinais da semana Ciro Gomes e Geraldo Alckmin, ao que se depreende das últimas pesquisas, estão estacionados em seus patamares abaixo de dois dígitos. Ciro aparecia como forte herdeiro dos votos de Lula. Marina é quem mais se beneficia. Haddad é a expectativa de poder do PT. Corre o Nordeste tentando falar o lulês, a linguagem que o povo entende, a partir do uso de metáforas e palavras simples. Só se atrapalhou em João Pessoa/PB, quando disse ter ficado encantado com o "pilotis" do clube Cabo Branco. O povão boiou. Que diabo é isso? Uma coisa parece certa: Haddad deve herdar boa fatia dos votos de Lula. Já não é descartável para o 2º turno. E, nas apostas que começam a ser feitas, aparece no primeiro cenário disputando com Bolsonaro. Haddad versus Bolsonaro Pois bem, as conversas começam a tomar forma e posição dos interlocutores. Nos setores médios, onde estariam concentrados os eleitores de Geraldo Alckmin, já é comum ouvir-se: "se o 2º turno abrigar Haddad e Bolsonaro, não terei opção; votarei no petista". A polarização se acende. Os bolsonarianos, por sua vez, apostam nas posições extremadas do capitão e abrem locução feroz nas redes sociais. A fogueira está subindo. A recíproca é verdadeira. Grupos da classe média C, proprietários rurais, pequenos comerciantes também acentuam: "se Haddad chegar ao 2º turno contra Bolsonaro, acompanharão o militar". As abordagens de campanha A partir de 31 de agosto, estaremos submetidos, durante 35 dias, a uma bateria de mensagens de cunho eleitoral, que se desdobrarão em três vértices: a) a glorificação de candidatos, com ênfase no potencial do "EU" e slogans de arremate: eu fiz, eu faço, eu farei; b) a demonização do ELE, que tentará desconstruir adversários, tendo como linha de argumentação o despreparo, a ameaça ideológica/retrocesso que ele representa; c) a administração de altas taxas de rejeição, quando se verá o esforço quase desesperado de candidatos para reverter posição aferida por pesquisas e garantida pela assertiva: neste fulano não voto de jeito nenhum. Qual será a mais eficaz? Desconstrução Há casos em que a estratégia de desconstrução do perfil do adversário dá certo. Vejam este. Lyndon Johnson, candidato democrata a presidente em 1964, foi o primeiro a pagar anúncios para desmoralizar o rival Barry Goldwater. Uma menina no campo desfolhava pétalas de uma margarida, enquanto as contava uma a uma, até que, chegando ao dez, uma voz masculina começava a reverter a contagem. Na hora do zero, sob um ruído ensurdecedor, via-se na tela uma nuvem de cogumelo, simbolizando a bomba atômica, e a voz de Johnson: "Isto é o que está em jogo - construir um mundo em que todas as crianças de Deus possam viver ou, então, mergulhar nas trevas. Cabe a nós amar uns aos outros ou perecer". O arremate: "Vote em Lyndon Johnson. O que está em jogo é demais para que você se possa permitir ficar em casa". Em nenhum momento se mencionava Goldwater. O anúncio saiu apenas uma vez, mas as TVs o repetiram. O falcão republicano foi massacrado. Wallace, o racista A mistificação é uma arma do palanque. George Wallace, governador do Alabama, foi um político que encarnou o escopo da segregação racial. É dele a frase que passou para a história: "segregação agora e segregação sempre". Opunha-se à política de integração racial na Universidade do Alabama, pondo um repto ao então presidente dos Estados Unidos da América, John Fitzgerald Kennedy, por ocasião da aplicação da ordem judicial que obrigava a Universidade a matricular e permitir a assistência às aulas de Vivian Malone e John Hood. Deixou o Partido Democrata e se candidatou, em 1968, pelo partido Independente Americano à presidência dos EUA. Retornou ao Partido Democrata após sua derrota e em 1970 foi eleito novamente governador do Alabama. Em 1972, outra vez nas fileiras do Partido Democrata, foi candidato, mas acabou se afastando da disputa após sofrer uma tentativa de assassinato. Tentou de novo concorrer em 1976, sem êxito. O farsante Pois bem, candidato à presidência, usava um palanque alto, cercado por uma proteção de vidros à prova de bala, para evitar atentados. Usava uma armação de óculos para passar a ideia de pessoa compenetrada. Um dia, em um comício, esqueceu que a armação não tinha lente. Colocou o dedo no olho para tirar um cisco. Enfiou o dedo pelo buraco da armação. Nesse momento, um fotógrafo flagrou a mentira. Dia seguinte, a manchete denunciava: "Eis o grande mentiroso". O impacto negativo tirou-o do pleito. Começou aí o despenhadeiro político. Rádio e TV, a grande expectativa Enquanto as projeções e os cenários se multiplicam, incendiando as conversas, uma grande interrogação emerge: qual será o papel do rádio e da TV na influência do eleitor? Bolsonaro terá parcos oito segundos, contra mais de cinco minutos de Alckmin. O capitão segurará sua alta intenção de voto, ao ser massacrado pela mídia eleitoral do tucano, que terá, ainda, grande planilha de spots publicitários ao longo do dia? Já o PT, mesmo com um número bem menor de inserções, não ficará ao léu, eis que disporá de razoável carga comunicativa na programação eleitoral. Aqueles que devem sofrer com o pouco tempo, entre os chamados candidatos com mais força eleitoral, são Ciro Gomes e Marina Silva. As redes sociais Outra pergunta recorrente: as redes sociais influenciarão o eleitor? Este consultor tem recorrido à mesma resposta: animam a militância, mobilizam os exércitos dos candidatos, mas não chegam a puxar contingentes eleitorais. O que se percebe é um tiroteio recíproco entre guerreiros de um lado e de outro, com baleados dos dois lados. Puxar eleitores na esteira das ondas expressivas das redes, isso não ocorre. Não se deve creditar muito poder às redes sociais. Já os spots publicitários terão maior influência junto ao eleitorado que os programas eleitorais cheios, a serem veiculados no princípio da tarde e às 20h30. Por que Alckmin não decola? Geraldo Alckmin disporá do maior tempo na programação eleitoral, fechou o maior arco de alianças partidárias, conta com imensa estrutura dos partidos que o apóiam em todos os Estados da Federação. Sendo assim, por que não decola? É cedo para responder à questão. Primeiro, a campanha de comunicação só terá início em 29 de agosto. Nos 10 primeiros dias, saberemos se a força da comunicação televisiva e radiofônica será decisiva. Social-democracia repartida Mas urge reconhecer que os tucanos padecem de uma crise de identidade. O espaço da social-democracia foi repartido por entes que passaram a usar seus escopos - o Estado do bem-estar social, liberalismo econômico, Estado de tamanho adequado para cumprir suas funções, com capacidade de intervir na economia, quando necessário, etc. O que distingue, hoje, os tucanos de outros quadros políticos? Quatro mandatos A respeito de Alckmin, mais uma pergunta: depois de governar anos a fio - quatro mandatos - por que Geraldo está perdendo para Bolsonaro em São Paulo? Lembrando: O primeiro governo foi entre 2001 e 2006; Alckmin era vice de Mário Covas e, com a morte do titular, em 2001, assumiu o cargo, no qual em 2002 se elegeu ficando no governo até 2006. O segundo momento se dá entre 2011 até 2014, quando ele foi eleito em 2010. Reeleito em 2014 com 57% dos votos para um quarto mandato de 2015 até 2018, quando renuncia. Alckmin está ainda coberto pela mancha do desgaste de material. Quem não crê em nada "Quando um homem vem me dizer que não crê em nada e que a religião é uma quimera, faz com isso uma confidência muito ruim, pois devo ter, sem dúvida, ciúme de uma terrível vantagem que ele tem sobre mim. Como? Ele pode corromper minha mulher e minha filha sem remorsos, enquanto eu seria impedido de fazer o mesmo por medo do inferno! A disputa é desigual. Que ele não creia em nada, com isso posso consentir, mas que vá viver em outro país, com aqueles que se lhe parecem, ou, pelo menos, que se esconda, e que não venha insultar minha credulidade". Montesquieu em seus Escritos.
quarta-feira, 15 de agosto de 2018

Porandubas nº 586

Abro a coluna com o magistral Padre Vieira. Um truque O Padre Antônio Vieira, o célebre pregador, escritor, político e diplomata jesuíta, subindo certa vez ao púlpito, iniciou estranhamente o seu sermão exclamando: - Maldito seja o Pai!... Maldito seja o Filho!... Maldito seja o Espírito Santo!... E quando a assistência, horrorizada, pensava que o grande orador houvesse enlouquecido, ele tranquilamente prosseguiu: - Essas, meus irmãos, são as palavras e as frases que se ouvem com mais frequência nas profundezas do inferno. Houve um suspiro de alívio no templo, mas com esse recurso teve Vieira despertada e presa a atenção dos fiéis como poucas vezes, por outra via, houvera conseguido. Bolsonariando A onda Bolsonaro continua forte. Agora, não são apenas eleitores das margens que expressam voto no capitão. Até empresários de calibre estão anunciando que nele votarão. Pelo andar da carruagem, a bolsonarização do país é fruto do estado de violência e da bagunça que toma conta do país. A crônica da morte violenta se expande pelo território, a denotar o avanço da criminalidade. No Rio de Janeiro, a guerra das gangues assume proporções fantásticas. O próprio Jair Bolsonaro aparece em vídeos que mostram membros de grupos criminais agindo nas ruas. E ele no papel de xerife. Fatores do voto O voto do grupo que ainda não sabe em quem votar e os indecisos fazem a maioria do eleitorado de 147 milhões de eleitores. Esses contingentes vão decidir mais tarde. Mas serão influenciados por um conjunto de fatores, a saber: a) o estado da economia (equação BO+BA+CO+CA - Bolso, Barriga, Coração, Cabeça; b) o discurso da ordem contra a violência e a bagunça; c) as demandas mais prementes (saúde, emprego, educação, etc.); d) a esperança encarnada pelo perfil; e) o recall do passado (lembrança do candidato); f) a taxa de indignação contra os políticos; g) a proximidade do candidato; h) o tempo de exposição do candidato na mídia eleitoral e i) a maneira de apresentação/modo de falar (discurso estético). Quatro blocos Os 13 candidatos podem ser agrupados em quatro (4) blocos: 1) centro e centro direita - Alckmin, Álvaro Dias, Meirelles, Amoedo e Eymael; 2) centro e centro esquerda - Ciro, Marina e Goulart Filho; 3) Direita - Bolsonaro e Cabo Daciolo; e 4) Esquerda - Boulos, Lula (Haddad) e Vera Lúcia. No arco ideológico, esses blocos ganham as seguintes percentagens: direita, 30%; esquerda, 30%; centros (esquerda e direita), 40%. Votos regionais Se fatiarmos o Brasil nas cinco regiões, poderemos ver essa divisão: a) Sudeste tem 43,38% dos votos ou 63.902.486; Nordeste agrega 26,62% dos votos, significando 39.222.155; Sul possui 14,52% dos votos, com 21.396.027; Norte tem 7,83% dos votos, com 11.533.833; Centro-Oeste agrupa 7,29% dos votos, com 10.747.115 dos votos; e exterior, 0,35% dos votantes, com 500.728 eleitores. Tipologia Tentando decifrar a natureza desses votantes, podemos, regra geral, estabelecer algumas distinções, a saber: a) o voto do Sudeste é mais racional, independente, mas as margens sociais também tendem a dar um voto populista/messiânico; b) o voto das regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste é mais conservador, ainda contendo alta taxa de votos de cabresto, a par do tradicional voto em salvadores da Pátria, portanto, de fundo emotivo; c) Já o voto do Sul tem um cunho mais regional/nacionalista, a par do voto racional. Profissionais liberais Estamos vivenciando o I Ciclo da Campanha, com o início da presença de candidatos nas ruas. Esta será uma típica campanha de articulação com a sociedade organizada, eis que as massas estão dispersas e ainda sem rumo a tomar. Daí emerge a força do contingente de profissionais liberais e das entidades a que são associados. Esse grupo é, por excelência, o que melhor toca a tuba de ressonância. Seu som chega aos redutos mais longínquos. As classes médias fazem repercutir seu discurso para cima e para baixo da pirâmide social. Formam a pedra que bate no meio do lago, fazendo com que as marolas cheguem até às margens. Os militantes A militância organizada ou profissional, como as do PT, CUT e MST, terá nessa campanha importância vital. O bumbo que tocará tem o dom de energizar ambientes e plateias. Teremos os bumbos da esquerda e da direita. Os candidatos do centro contarão com tambores mais fracos, que não têm o poder de mobilização quanto alas dos extremos do arco ideológico. Minas Gerais O Estado de Minas Gerais é uma grande representação do Brasil. Abarca o segundo maior eleitorado brasileiro, mais de 16 milhões de eleitores. Ali, PT e PSDB entrarão em forte confronto. O que acontecer no largo espaço das Minas Gerais tende a acontecer no país. Fernando Pimentel, do PT, ganhará do senador Antônio Anastasia, do PSDB? O que se sabe é que Dilma Rousseff está liderando a corrida para o Senado. Anastasia parece ter condições de levar a melhor na esteira de denúncias que sujam a imagem do governador Pimentel. Aécio, também de imagem suja, será candidato a deputado. A estratégia do PT Ao arrastar a candidatura de Lula até quando der (prazo fatal será 17 de setembro), o PT enfrenta riscos. Poderá não haver tempo suficiente para a visibilidade nacional do vice de Lula, Fernando Haddad, que, isolado, tem hoje 2%. Quando indicado por Lula, sobe para 12%. E se essa indicação não for tão percebida pelo eleitor? Jaques Wagner, candidato do PT ao Senado pela Bahia, tem razão. O PT cometerá a barbaridade de apostar no candidato Lula, quando todos os sinais mostram que ele será jogado na inelegibilidade da lei de Ficha Limpa. Renovação 10% dos deputados Federais vão ter seus nomes substituídos por familiares: filhos, pais, primos, sobrinhos, etc. A tão proclamada renovação não aparecerá na próxima legislatura. Os mais conhecidos e os mais providos financeiramente serão os beneficiados na onda de uma campanha mais curta - 45 dias de rua e 35 dias de mídia eleitoral. Governabilidade Haverá governabilidade caso um perfil de índole muito radical chegue ao poder central? Sim. Porque quem ganha a presidência da República logo se afastará da extremidade para pular na condição de viabilidade governativa garantida pela real politik. Ou seja, fará alianças com Deus e o Diabo. O passado bombástico irá para o baú. Se não fizer isso, qualquer que seja o eleito, ao escorregar em casca de banana, poderá ser impichado. Militares na política A campanha eleitoral deste ano reunirá o maior número de candidatos militares dos tempos de redemocratização: 90. Chama a atenção a quantidade de convocados para compor chapas majoritárias aos governos estaduais. Em São Paulo, duas tenentes coronéis comporão como vices as chapas do governador Márcio França (PSB) e do presidente licenciado da FIESP, Paulo Skaf (MDB). No Paraná, a governadora Cida Borghetti (PP) terá como vice um coronel aposentado da PM. O significado Qual a razão? O ambiente de deterioração que acolhe a esfera política. A lama da corrupção tem escorrido sobre os vãos e desvãos da República, afogando protagonistas da política, da burocracia estatal e do mundo dos negócios privados. O mensalão e o petrolão (Lava Jato) compõem as duas grandes operações que, ao correr de meses, ganharam espaços midiáticos, plasmando a imagem destroçada de representantes, governantes, executivos e empresários. Pôr ordem na bagunça que virou o Brasil de ponta-cabeça, eis o apelo embutido no chamamento aos militares. Assumem conotação de profissionais sérios, de vida pacata na caserna e corajosa no cotidiano nas ruas, combatendo máfias criminosas, ainda mais quando a violência se expande nas cidades e nas áreas rurais. É o que explica Bolsonaro Deputado alvejado de críticas ao longo de 30 anos de mandato, conhecido por frases fortes, algumas de caráter machista, homofóbico e xenófobo, Bolsonaro não frequentava o ranking de representantes respeitados. Foi catapultado ao andar de cima do protagonismo eleitoral na esteira do clamor social por limpeza na política. De repente, o acervo discursivo do capitão, considerado folclórico e de baixo nível, passou a ganhar aplausos de todos os lados. A malandragem O general Mourão, vice de Bolsonaro, atribuiu aos negros a pitada de "malandragem" na cultura brasileira. General, malandro teria sido o colonizador Pero Vaz de Caminha. Veja o finalzinho da Carta de Pero Vaz a El Rei de Portugal. "E nesta maneira, Senhor, dou aqui a Vossa Alteza conta do que nesta terra vi. E, se algum pouco me alonguei, Ela me perdoe, pois o desejo que tinha de tudo vos dizer, mo fez por assim pelo miúdo. E pois que, Senhor, é certo que, assim neste cargo que levo, como em outra qualquer coisa que de Vosso serviço for, Vossa Alteza há de ser de mim muito bem servida, a Ela peço que, por me fazer graça especial, mande vir da Ilha de São Tomé Jorge de Osório, meu genro - o que dela receberei em muita mercê." E conclui Caminha: "Beijo as mãos de Vossa Alteza. Deste Porto Seguro de Vossa Ilha de Vera Cruz, hoje, sexta-feira, primeiro dia de maio de 1500. Pero Vaz de Caminha". Um pedido aqui, um oba-oba acolá e tome bajulação.
quarta-feira, 8 de agosto de 2018

Porandubas nº 585

Abro a coluna com a Semana Santa no interior da Paraíba. Fura ele, Jesus Foi por ocasião da encenação da Semana Santa numa cidadezinha da Paraíba. O dono do circo resolveu encenar a Paixão de Cristo na sexta-feira santa. Elenco escolhido dentre os moradores. No papel de Cristo, o galã da cidade. Ensaios de vento em popa. Às vésperas do evento, o dono do circo soube que 'Jesus' estava de caso com sua mulher. Furioso, deu-se conta que não podia fazer escândalo sob pena de perder o investimento. Bolou uma maneira. Comunicou ao elenco que iria participar fazendo o papel do 'centurião'. - Como? - reclamaram - Você não ensaiou! - Não é preciso ensaiar, porque centurião não fala! O elenco teve de aceitar. Dono é dono. Chegou o grande dia. Cidade em peso compareceu. No momento mais solene, a plateia chorosa e em silêncio. Jesus carregando a cruz. O 'centurião' começa a dar-lhe chicotadas. - Oxente, cabra, tá machucando! Reclamou Jesus, em voz baixa. - É pra dar mais verdade à cena - respondeu o centurião. E tome chicotada. Chicote comendo solto no lombo do infeliz. Até que Jesus enfureceu-se, largou a cruz no chão, puxou uma peixeira e partiu pra cima do centurião: - Vem, desgraçado! Vem cá que eu vou te ensinar a não bater num indefeso! O centurião corria, Jesus com a peixeira correndo atrás. O povo em delírio gritando: - É isso aí! Fura ele, Jesus! Fura, aqui é a Paraíba, não é Jerusalém, não! Nuvens em dissipação Mês de agosto é mês do azar, mês do cachorro louco, como reza o ditado popular, mas nesse ano eleitoral é também o mês em que as nuvens começam a se dissipar nos horizontes da política. Com as convenções realizadas, parcerias formadas e nomes de vices escolhidos, o pleito entra no ritmo de campanha. Dia 16 de agosto, começa a campanha de rua e a propaganda via internet. Já a propaganda no rádio e na TV terá início em 31 de agosto e fim em 4 de outubro. 13 candidatos Com a saída de Manuela D'Ávila, cujo partido, o PC do B, fechou aliança com PT, serão 13 os candidatos: CANDIDATO VICE PARTIDOS DA COLIGAÇÃO Álvaro Dias (Podemos) Paulo Rabello de Castro (PSC) Podemos, PSC, PRP,PTC Cabo Daciolo (Patriota) Suelene Balduino Nascimento (Patriota) Patriota Ciro Gomes (PDT) Kátia Abreu (PDT) PDT, Avante Geraldo Alckmin (PSDB) Ana Amélia (PP) PSDB, PP, PTB, PSD, SD, PRB, DEM, PPS, PR Guilherme Boulos (PSOL) Sônia Guajajara (PSOL) PSOL,PCB Henrique Meirelles (MDB) Germano Rigotto (MDB) MDB, PHS Jair Bolsonaro (PSL) Hamilton Mourão (PRTB) PSL,PRTB João Amoêdo (NOVO) Christian Lohbauer (Novo) NOVO João Goulart Filho (PPL) Léo Alves (PPL) PPL José Maria Eymael (DC) Helvio Costa (DC) DC Luis Inácio Lula da Silva (PT) Fernando Haddad (PT) PT, PROS Manuela D'Ávila (saiu do páreo)     Marina Silva (Rede) Eduardo Jorge (PV) REDE,PV Vera Lúcia (PSTU) Hertz Dias (PSTU) PSTU Quatro blocos Um ligeiro exercício de análise de posicionamentos aponta quatro grupos de candidatos: o maior, reunindo o centro, que agrega os candidatos Geraldo Alckmin, Álvaro Dias, Henrique Meirelles, João Amoêdo e José Maria Eymael; o grupo de esquerda, com Guilherme Boulos, Lula (Fernando Haddad) e Vera Lúcia; o grupo de direita, abrigando Jair Bolsonaro e Cabo Daciolo; e o grupo de centro-esquerda, juntando Ciro Gomes, Marina Silva e João Goulart Filho. Mas há quem não aceite mais essa classificação. Duas posições O cientista político espanhol Manuel Castells, no Caderno Aliás, do Estadão, pontua que a grande questão "não é mais o embate entre direita e esquerda e sim de partidos democráticos (ainda que corruptos) contra uma coalizão neoautoritária apoiada por grupos de interesses ideológicos extremistas internacionais". Tem certa lógica. A rigor, não se trata da versão clássica entre direita e esquerda. Leitura comparativa Após a queda do Muro de Berlim, ficou difícil sustentar o escopo do socialismo clássico ou do comunismo, ainda mais quando seu principal partido, PT, afundou-se na corrupção, flagrado com outros nos dois maiores escândalos da atualidade: mensalão e Lava Jato. Portanto, a divisão que estamos fazendo sobre os quatro grupos leva em consideração os escopos temáticos dos partidos - mesmo não se sabendo o que todos pensam sobre a densa agenda nacional -, estando sujeita a objeções. Para o leitor, a inserção dos candidatos no arco ideológico ajuda a entender as diferenças entre uns e outros. Cenário I Façamos algumas reflexões. O primeiro cenário é o da polarização entre esquerda e direita. Trata-se da paisagem que coloca na arena de lutas o capitão direitista Bolsonaro e o substituto de Lula, no caso, Fernando Haddad. Esse cenário leva em consideração o poder de fogo do ex-presidente Luiz Inácio, significando transferência de votos. Haddad poderia chegar, por exemplo, aos 20%, índice satisfatório para ingressar no segundo turno. Bolsonaro sustentaria sua posição, tornando-se o comandante da artilharia contra o PT e as esquerdas. As margens dividiram seus votos entre os dois, mas as classes médias revoltadas tenderiam a caminhar na direção de Bolsonaro, visto como um "antídoto" ao PT. Cenário II O segundo cenário é o que mostra a clássica competição entre PSDB e PT. Nesse caso, o tucano Geraldo Alckmin seria guindado ao segundo turno, deslocando, assim, o candidato Bolsonaro. O PT garantiria seu nome. Nesse caso, o voto racional seria direcionado ao ex-governador de São Paulo. Esse voto racional seria o voto de contingentes das classes médias, que não gostariam de ver um perfil da extremidade do arco ideológico governando o país. In medium virtus. A virtude está no meio. Esse lema pode explicar o cenário. Ademais, a chapa totalmente militar de Bolsonaro - com um vice que é general aposentado e radical - causa certo temor: o de vermos novamente um general no comando da Nação. Cenário III O terceiro cenário coloca no segundo turno o candidato tucano, Alckmin, contra Bolsonaro. Nesse caso, a opção eleitoral exclui o PT e abre o embate entre o eleitor emotivo do capitão e o eleitor racional do Alckmin. As margens e classes médias indignadas fechando com o militar e as classes médias-médias apostando em um perfil representando maior equilíbrio. Esse cenário leva em consideração o fato de que o eleitorado de Bolsonaro se manterá firme até o final, enquanto Alckmin, com estrutura partidária capilar e grande exposição na mídia eleitoral avançaria sobre eleitores de Ciro, Marina e Álvaro Dias. Cenário IV O temor social contra os extremos - Bolsonaro e Haddad - conduziria o voto para espaços centrais, o centro e o centro-direita do ex-governador paulista contra o perfil de centro-esquerda assumido pelo ex-governador cearense Ciro Gomes. No segundo turno, Ciro levaria os apoios de toda a esquerda, enquanto Alckmin ganharia o apoio de fortes contingentes centrais e os blocos conservadores da direita. Cenário V Esse é o cenário que colocaria Bolsonaro contra Ciro Gomes. O eleitorado não gostaria que PT e PSDB voltassem ao Palácio do Planalto, e decidiria trazer para a frente de lutas os candidatos de linguagem contundente, a chapa militar do capitão e do general Mourão e o ex-ministro de fala destemperada. Seria uma disputa com alta concentração de artilharia entre os competidores. Marina e Meirelles A candidata Marina Silva, mesmo vestindo o figurino mais ético, será tragada pelos candidatos com maior poder de fogo no campo midiático-eleitoral. Marina recolheu-se ao seu refúgio, na Rede Sustentabilidade, fechando portas para parcerias. Em política, tudo é possível, até um milagre que possa entronizar a amazônica figura no altar presidencial. Cenário sonhático. Já Henrique Meirelles trará o discurso sobre a redenção do país. Dirá que livrou o Brasil da maior recessão de sua história. Este consultor continua inserindo o candidato do MDB nas improváveis hipóteses. Fatores de influência I Um conjunto de fatores balizará a tomada de decisão do eleitor. Apresento alguns (a ordem de apresentação não quer significar mais força ou fraqueza): 1. Economia - o estado de satisfação social, que se pode resumir em minha tradicional equação: BO+BA+CO+CA= Bolso, Barriga, Coração, Cabeça, ou seja - Bolso cheio, Barriga satisfeita, Coração agradecido, Cabeça votando em quem propiciou bem-estar; 2. Ordem contra a bagunça (a corrupção); 3. Esperança - o candidato que melhor incorpora o espírito social, melhor atende às expectativas da sociedade; 4. Recall do passado - Associação com figuras/perfis que proporcionaram bem-estar. Fatores de influência II 5. Taxa de indignação/ódio - Como estarão os ânimos sociais na primeira semana de outubro? A campanha alimentou ou amainou o ódio entre grupos, militantes, bases eleitorais? Algum fenômeno de alto impacto social ocorrido durante a campanha; 6. Tempo de Exposição - O espaço midiático-eleitoral dos candidatos tem importância. Alguns, com poucos minutos, serão canibalizados pelos candidatos com maior tempo de exposição. Renovação Não será desta feita que veremos renovação política no Congresso. Essa meta ficará para as eleições de 2022, quando o país avançar com sua reforma política, objeto de retalhos e fatiamento. Tiririca Depois de desistir da reeleição, o palhaço Tiririca se arrependeu e decidiu voltar à Câmara. Viu que o mar não está pra peixe. O mercado do riso está encolhido. E, ao que dizem seus críticos, o riso dele está fora de moda. Melhor ser deputado e ter direito a um bom salário. Melhor do que está sempre fica.
quarta-feira, 1 de agosto de 2018

Porandubas nº 584

Abro a coluna com uma historinha de Pernambuco. Cala a boca, rapaz O caso deu-se em São Bento do Una/PE, nos idos de 60. O caminhão, entupido de gente, voltava de um jogo de futebol, corria muito, virou na curva da estrada. Foram todos para o hospital. Uma dúzia de mortos. Lívio Valença, médico e deputado estadual do MDB, foi chamado às pressas. Pegou a carona de um cabo eleitoral, entrou na sala de emergência do hospital e foi examinando os corpos: - Este está morto. Examinava outro: - Este também está morto. O cabo eleitoral se empolgava: - Já está até frio. De um em um, passaram de 10. Lá para o fim, dr. Lívio examinou, reexaminou, decretou: - Mais um morto. O morto gritou: - Não estou morto não, doutor, estou só arrebentado. O cabo eleitoral botou a mão na cabeça dele: - Cala a boca, rapaz. Quer saber mais do que o dr. Lívio? Luz no fim do túnel? Será que há alguma luz no fim do túnel eleitoral? A essa altura, a pouco mais de dois meses das eleições, o único fato novo de certo impacto é o apoio do chamado Centrão ao candidato Geraldo Alckmin. Que terá quase cinco minutos no tempo da programação eleitoral. Essa parceria poderá alavancar a performance eleitoral de Alckmin? A lógica responde com um sim. Sob a ressalva: a resposta abriga também um não. Explicando a luzinha A resposta com sim se ancora em três hipóteses: a) o eleitorado indefinido - que está na faixa dos 45% - começará a descer do muro e, composto por fortes contingentes de classes médias, poderá provocar a "onda racional", mais voltada para a escolha de um candidato do meio do arco ideológico; b) a performance de Lula não ocorrerá porque acabará sendo vetado pelas Cortes (STJ ou TSE); c) a performance de Bolsonaro murchará ante seu evidente despreparo. 1ª hipótese As classes médias conservam o poder de fazer circular seu ideário para cima e para baixo da pirâmide social. Podem ser comparadas à pedra jogada no meio do lago; ondas se formam, correndo até as margens. As classes médias abrigam os grupos com tuba de ressonância mais forte. As classes menos desenvolvidas politicamente tendem a escolher perfis populistas. Lula e Bolsonaro vestem esse figurino. Se a performance de Bolsonaro começar a murchar, é previsível que parcela considerável das massas abandone seu território. Sob forte peso da opinião formada no meio da pirâmide. 2ª hipótese A estratégia do PT, de sustentar o nome de Lula até a data final da decisão do TSE - 17 de setembro -, prejudicará a formação de parcerias, mas pode vir a alavancar o substituto de Lula. Este nome, ao que tudo indica, será o de Fernando Haddad. Jaques Wagner, mais político, prefere contar com a quase certeza de vitória para o Senado, na Bahia. Haddad, sob o clima emotivo expandido pela militância petista, terá condições de subir a um patamar entre 15% e 20%. Nesse caso, não está fora do jogo eleitoral, podendo disputar o segundo turno. Lula, com suas cartas e recados, será o grande eleitor do PT. 3ª hipótese A performance de Bolsonaro será vista por eleitores de todos os quadrantes. Ver-se-á uma figura comum, sem brilho, expressando um discurso duro contra a bandidagem, defendendo o porte de armas, fazendo loas ao liberalismo e fugindo de perguntas provocadoras. Foi o que se viu, segunda-feira, no programa Roda Viva, da TV Cultura. Não se viu brilho ou tirada inteligente. Apareceu uma figura cheia de cacoetes linguísticos, uma expressão pobre, justificando os tempos de chumbo vividos pelo país. Para todas as perguntas de caráter programático, vinham respostas emolduradas pelo "achismo". Mais pareceu conversa de botequim entre opostos tomando uns birinaites. Tempo eleitoral O tempo de um candidato na programação eleitoral conta muito. Mas não é sempre que dá certo. Na campanha de 1989, Ulisses Guimarães tinha o maior tempo eleitoral. Ficou para trás. Já o maior tempo de rádio e televisão de toda a história dos pleitos no país, em todos os níveis, foi usado por Quércia, em São Paulo. Candidato ao Senado, em 2002, abusou do espaço dos candidatos a governador, deputado Federal e deputado estadual. Em termos de GRP (Gross Rating Point), que dimensiona o tamanho das inserções publicitárias e a equivalência em termos de audiência, a campanha quercista bateria as campanhas anuais de campeões brasileiros de propaganda. Voto racional O eleitor, porém, não "comprou" a mercadoria quercista, na demonstração inequívoca de que mídia não elege candidato e de que, mesmo com muita cosmética, candidato de perfil corroído não coopta consciência. Vitória do voto racional. Ficou atrás de Aloizio Mercadante e Romeu Tuma. E na campanha de 1994, com enorme tempo de TV, candidato à presidente, Quércia ficou em 4º lugar, atrás de FHC, Lula e Enéas, cujo tempo apenas permitia gritar seu nome. O voto em Enéas O voto em Enéas foi de protesto. A onda "Enéas" teve tanto um componente emotivo quanto racional, indicando a contrariedade de eleitores dispersos que, de repente, acharam um motivo para se rebelar contra a situação. A barba e a careca de Enéas, como logotipos, e o linguajar disparado reforçaram a visibilidade de um ícone de indignação social. Mais do que "cacareco", um rinoceronte que ganhou 100 mil votos dos paulistanos para se eleger vereador, em 1959, ou o Macaco Tião, que ganhou 400 mil votos para prefeito, no Rio de Janeiro, em 1988, Enéas, como médico e professor de medicina, sabia o que queria. Abriu espaços para uma ideologia de certo sabor "nacionalista-ufanista-messiânica". Pode até ter sido um engodo e motivo para corrigir as distorções existentes no conceito de coeficiente eleitoral, mas seu voto saiu de estratos diferenciados. Redes sociais Bolsonaro é o mais acompanhado pelas redes sociais. Ganha de goleada de Lula, Alckmin, Ciro e outros. Seus exércitos usam o arsenal das redes sociais para incutir o adesismo. Ora, essa militância é incapaz de agregar um voto a mais. Deverá terçar armas com guerrilheiros de outros competidores dentro de uma batalha de canibalização recíproca. Todos saem feridos. E nenhum guerreiro pulará para o campo do outro. Já os seguidores de outros candidatos assistirão a batalha nas arquibancadas. Os tiros dos radicais acabarão adensando os bolsões centrais. A conferir. Ciro na ladeira A onda cirista mostra certo arrefecimento. Confirma-se aquilo que já sabe: Ciro é um peixe que morre pela boca. A índole guerrilheira do ex-governador do Ceará é polêmica. Assusta. Depois de uma onda crescente, enxerga-se uma onda declinante. Não se sabe se essa descida de ladeira vai continuar. Ciro pode ser beneficiado pelo afastamento de Lula. Portanto, não se trata de carta fora do baralho. Trata-se de um perfil preparado. Domina bem a planilha de problemas brasileiros. Mas o homem não se contém. Mineirinhas Frases de Augusto Zenun, de Campestre, sul de Minas - político, industrial, filósofo e, antes de tudo, udenista ortodoxo da linha bilaqueana (Bilac Pinto, o Bilacão, seu dileto amigo). Sempre infernou a vida de seus adversários, com as suas atitudes destemidas e sua natural mineirice. "Quando estamos no governo, todo adversário que quer se encaixar, diz ser técnico". "O preço do voto de um eleitor mentiroso é sempre o mais caro". "Há um fato na política que a torna bastante interessante: o choque dos falsos políticos com os políticos falsos". "Político é dividido em duas partes. Uma trabalha para ser eleito. A outra trabalha para conseguir um cargo público se for derrotado". "Muita campanha eleitoral se parece com sauna: depois do calorão vem uma ducha fria". (Pinçadas de A Mineirice, de José Flávio Abelha) Marina isolada Já a candidata Marina Silva parece lutar para ficar na clausura. Uma freira. Sua Rede Sustentabilidade apoia, por exemplo, o senador Romário para o governo do Rio. Mas sem o apoio dela. Faz questão de dizer que seu partido apoia Romário, não ela. É a mais ética dos candidatos. Mas a ojeriza que tem pela real politik acabará fazendo naufragar sua postulação à presidência. Marina é a nossa colhedora de rosas brancas que enfeitam o jardim dos inocentes. Essa é a imagem que passa. Esquece ela que a política tem muito a ver com o inferno. Meirelles, peso muito pesado Henrique Meirelles é um quadro técnico. Assim é e será visto. Como tal, encaixa-se no figurino de ministro da Fazenda de qualquer governo. Transformá-lo em candidato à presidência da República é uma tarefa hercúlea. Meirelles tem fala arrastada, um jeitão de avô de todos os candidatos, um conselheiro que paira acima dos guerreiros das tribos políticas. No ambiente polarizado de nossa política, parece uma figura deslocada, que procura um rumo, um norte, um jeito de ser aceito pela comunidade eleitoral. Será difícil. E os vices? Eis o gargalo do momento: achar vices à altura. O vice não pode ser qualquer um. Precisa ter perfil denso: honesto, fora dos trambiques da Lava Jato, experiente, respeitado, pessoa que agregue valor à campanha. Ante as visitas que o Senhor Imponderável dos Anjos faz ao Brasil, o vice deve ser um perfil capaz de substituir o presidente em qualquer circunstância. Essa novela terá final em mais alguns dias. Janaína? Janaina Paschoal é, por enquanto, a mais forte candidata a vice na chapa de Jair Bolsonaro. As circunstâncias Pois é, o ambiente da campanha será temperado pelas circunstâncias. O clima de beligerância poderá ser quente, assombrando parcela dos eleitores. Inflação sob controle poderá preservar o bolso, mas se a coisa degringolar, a raiva induzirá a decisão de voto. A expressão de uns e outros será ouvida com mais atenção. As movimentações das militâncias podem animar candidatos e partidos, mas propiciarão despertar outros núcleos não tão engajados. Acidentes de percurso têm o poder de mudar o vértice eleitoral. O tirano Maquiavel conta no "Livro III dos Discursos", sobre os primeiros dez livros de Tito Lívio, a história de um rico romano que deu comida aos pobres durante uma epidemia de fome e que foi por isso executado por seus concidadãos. Argumentaram que ele pretendia fazer seguidores para tornar-se um tirano. Essa reação ilustra a tensão entre moral e política. Mostra que os antigos romanos se preocupavam mais com a liberdade do que com o bem-estar social.
quarta-feira, 25 de julho de 2018

Porandubas nº 583

Abro a coluna com uma historinha da Paraíba. Quatro "freis" Historinha em homenagem ao Frei Damião, sob as bênçãos de quem os nordestinos viveram parte de sua história. E lá vinha o carro desembestado pelas estradas poeirentas, entre Patos e Cajazeiras, na Paraíba. Dentro, dois frades: Frei Fernando e Frei Damião, cuja expressão religiosa é tão enaltecida quanto a do "padim" Ciço (Padre Cícero Romão Batista). O guarda do posto divisou, de longe, aquele automóvel em louca disparada. E foi logo fechando a cancela do posto. O motorista teve de se conformar com a freada brusca. O guarda foi duro: - Esse carro disimbestado não tem frei? Expliquemos que a fonética na região é essa mesmo: disimbestado e frei (em vez de freio). Resposta lacônica na ponta da língua: - Tem, sim, seu guarda. Tem logo quatro: frei de pé, frei de mão, Frei Fernando e Frei Damião. Surpreso e curioso, o guarda olhou e viu os "freis". Pediu a bênção ao Frei Damião, pediu desculpas, liberou o carro e abriu a cancela. As visões se clareando Sufocadas as expectativas em torno da Copa, com o senso mais crítico sobre a realidade, os brasileiros começam a enxergar os primeiros movimentos de pré-candidatos ao pleito presidencial. Sua vista ainda está ofuscada pela caótica moldura que se lhes apresenta: o candidato que lidera as pesquisas está preso; um dos candidatos menos preparado para enfrentar o debate nacional e com menos tempo de exposição na mídia eleitoral confessa ignorância em matérias centrais; os candidatos mais poderosos em recursos, experiência e com maiores parcerias- o que lhes dará ampla visibilidade - estão bem atrás. Situação atípica Alguns chegam a comparar a eleição deste ano com o pleito de 1989, quando muitos candidatos do centro e das margens se apresentaram. Collor acabou ganhando de Lula. Ulisses, com o maior tempo de rádio e TV, ficou a ver navios. É erro comparar uma eleição com outra: o tempo é outro, as circunstâncias são diferentes, a política não tinha tanto desgaste quanto hoje e o eleitorado não se via tão submetido a escândalos quanto hoje. Lembremos o ditado: "um homem nunca atravessa duas vezes um rio no mesmo lugar". Referências para comparação Este consultor, ao longo de mais de três décadas de análise política, desenvolveu e tem usado bastante o seu método de aferição e delineamento de perspectivas. Para tanto, agrega um conjunto de referências e traços, cuja aplicação nas planilhas de candidaturas costuma se transformar em seu raciocínio corriqueiro. Como não se trata de segredo, aqui posto algumas referências: 1. O eleitor De regiões menos desenvolvidas culturalmente, tende a votar em perfis tradicionais; em nomes da moda/momento; em candidatos mais próximos ao lugar onde reside; em candidatos que realizaram benefícios para sua região; e em nomes que venham bater em sua porta. O eleitor quer descobrir nesta eleição se o candidato escolhido não é um engodo. 2. Porte Este é um parâmetro usado, instintivamente, por conglomerados mais racionais das classes médias, como profissionais liberais, funcionários públicos, formadores de opinião, etc. Como é usado? Em seu processamento mental, o eleitor faz comparações para distinguir a força do candidato, o porte. Leva em conta a importância do cargo que está sendo disputado, digamos, o de presidente da República. Procura ver se o candidato se encaixa no tamanho do Brasil. Ou se o candidato entra melhor no figurino do Estado ou do município, ou seja, se tem gabarito para ser presidente, governador, deputado Federal ou deputado estadual. Digamos que ele compare uma régua de 100 cm - o tamanho do Brasil - com a altura do candidato. Teria ele a altura do país ou seria muito menor? 3. Mapa e território Seu sistema cognitivo assim processa: o Brasil tem o tamanho de 100 cm, mas o candidato só tem 80, 70 ou 30, digamos. Dessa forma, vai estabelecendo uma comparação entre os protagonistas. O eleitor, com essa operação mental, procura constatar se os candidatos estão à altura da identidade do Brasil. Se A, B ou C não chegam a se encaixar nesse desenho, por serem pequenos, tendem a ser descartados. É a diferença que pode existir entre mapa e território. O território, significando os candidatos, pode ser bem menor que o mapa. Ciro Gomes é um território que entra bem no mapa? Bolsonaro está à altura ou é menor? 4. Dissonância Quando o tamanho de um candidato é escancaradamente menor do que o tamanho do país, o eleitor dispara um processo de dissonância, dúvida, incerteza, que acaba jogando por terra o compromisso que, em um primeiro momento, assumira com determinado perfil. 5. Discurso A concordância e a dissonância derivam de alguns fatores, como o discurso: programas, propostas, ações, abordagens, pontos de vista, etc. O discurso é um ponto central pelo fato de significar o compromisso-mor de um candidato. Donald Trump construiu um discurso forte: a construção de um muro na fronteira entre México e EUA para barrar o processo migratório. Ganhou a eleição. Até hoje, a polêmica está instalada, mas seu eleitorado conservador-nacionalista aplaude. 6. Comunicação O discurso deve chegar a todos os contingentes centrais e periféricos. Daí a importância da mídia eleitoral nas campanhas, exigindo parcerias e alianças. Redes Sociais, sozinhas, não elegem candidatos. São armas da guerra entre militantes, agregando poucos eleitores. Daí a importância da propaganda eleitoral com sua capilaridade. 7. Articulação - fechando a corrente Articulação é a capacidade técnica de um protagonista - partido, candidato - fechar posição e buscar apoio do maior número possível de núcleos organizados da sociedade: movimentos, entidades de todos os espectros. Em função desse fenômeno em crescimento no Brasil - a organicidade social - os candidatos se sairão melhor caso assumam compromisso com os eleitores abrigados em seus centros de referência: movimentos, associações, sindicatos, núcleos, etc. A articulação sugere que o próprio candidato bata na porta do eleitor. Este ano, a modelagem é: campanha porta a porta, testa a testa, olho no olho, mão na mão. Antes que passemos a ver os pontos positivos e negativos dos candidatos, pausa para a descontração. "Poca bala" Interior de Uruguaiana, Vila do Açude. Boteco lotado. O cara entrou, fechou a porta e gritou: - Tô armado com uma pistola 9mm, dois carregadores com 12 balas cada um. - Quero saber aqui quem é que anda pegando a minha mulher? Depois daquele silêncio, seu Fagundes, alegretense do Caverá, 88 anos, lá do fundo levanta e diz: -Chê, não quero te dizer nada, mas acho que tu trouxe poca bala.... (Historinha enviada por um ícone da propaganda brasileira, meu amigo Roberto Dualibi) Pontos positivos e negativos Ligeiro painel com os aspectos positivos e negativos dos principais candidatos. Luis Inácio Aspectos Positivos Mito - O último líder populista - Alto recall - Grande visibilidade - Liderança maior do PT - Lidera todas as intenções de votos (chegando a 30% em algumas pesquisas) - Bom de palanque - Capacidade de mobilização - Capacidade de vitimização. Aspectos negativos - Preso, deverá ser impedido de candidatar-se; condenação pela Justiça. Recaem sobre ele e outra figuras do PT parcela dos relatos de coisas ilícitas, lá de trás do mensalão, e desembocando na operação Lava Jato. Jair Bolsonaro Aspectos positivos Maior ícone da extrema direita; visão nacionalista; grande visibilidade; encarna oposicionismo ao petismo. Tem 20% das intenções de votos. Discurso emocional de forte apelo popular (porta-voz da indignação); imagem de quem tem pulso para garantir a "ordem" no país; defesa da segurança pública como principal bandeira; livre, até o momento, de denúncias de corrupção; político mais influente nas redes sociais (5,3 milhões de seguidores no Facebook e 1 milhão no Twitter). Aspectos negativos Falta de conhecimento sobre assuntos como economia e políticas sociais; 29% de rejeição; 7 segundos de tempo de rádio e TV; inexperiência política no Executivo; dificuldade de articulação política (inexpressivo como parlamentar) e para fazer alianças; discurso e imagem de radical e intolerante; poucos recursos e tempo de rádio e TV no horário eleitoral; homofóbico, encarna o discurso da discriminação contra grupos na área de gêneros; desperta polêmica que sugere armamento da sociedade. Ciro Gomes Aspectos positivos Tem bom domínio da economia; visão do país, em função de cargos ministeriais assumidos e de já ter sido governador do Ceará e prefeito de Fortaleza. Bom formulador, capcioso debatedor de tema nacionais. Alto conhecimento no Nordeste. Aspectos negativos Destrambelhado, língua solta e ferina, queima possibilidades de alianças, gerando medo na classe política. Visão muito fechada sobre temas do agrado dos setores produtivos - reformas da Previdência, Tributária, Trabalhista, etc. Geraldo Alckmin Aspectos positivos Governador de São Paulo por três vezes, presidente do PSDB, ex-deputado Federal, com bom trânsito na área política, Alckmin leva a fama de ser habilidoso, suave, harmônico, de muito equilíbrio. Conta, em tese, com o maior eleitorado do país, São Paulo, com seus 35 milhões de eleitores; apoio do mercado financeiro; moderado e previsível em suas ações; peso eleitoral do PSDB em Estados e municípios e espaço para alianças partidárias; recursos financeiros e tempo de propaganda favoráveis (projeção de recursos do fundo eleitoral para o PSDB: R$ 185,8 milhões; e quase 5 minutos no bloco partidário para uso no rádio e TV. Aspectos negativos Falta-lhe contundência, capacidade para ser mais incisivo (um murro na mesa), que compunha a coluna vertebral do falecido governador Mário Covas, a quem Alckmin serviu na gestão e com quem muito aprendeu. Comenta-se sobre sua postura (a dos tucanos, como se comenta) de ficar em cima do muro. Henrique Meirelles Aspectos positivos Foi o mestre do programa econômico do atual governo, merecendo loas pelo controle da inflação, juros baixos e resgate (apesar de ainda muito suave) da economia, após a maior recessão da contemporaneidade. Aspectos negativos Não tem trânsito/acesso fácil junto aos convencionais do MDB, sem carisma, possui uma fala arrastada e cansativa, e, até o momento, amargando míseros 1% de intenção de voto. Marina Silva (Rede) Aspectos positivos - 16% das intenções de voto; imagem de figura pública ética; reconhecida por história de superação pessoal (identificação com eleitor); reconhecimento internacional como liderança ambiental; 42 milhões de votos acumulados nas duas últimas eleições; única força política a ameaçar a polarização PT e PSDB nas últimas eleições. Aspectos negativos 23% de rejeição; tempo de rádio e TV (estimado): 12 segundos; projeção de recursos do fundo eleitoral para a Rede: R$ 10,7 milhões; dificuldade de aliança com outros partidos; desgaste na esquerda pelo apoio dado a Aécio Neves no segundo turno em 2014; vista como frágil e como quem não se posiciona em momentos de crise política; sérias dificuldades na criação da Rede, com dissidências e bancada pequena no Congresso. Álvaro Dias (Podemos) Aspectos positivos Imagem de político combativo; não teve o nome envolvido na Lava Jato nem em escândalos recentes; boa avaliação como governador no Paraná e capital político (77% dos votos válidos na última eleição para o Senado) em um Estado importante; discurso permanente de combate à corrupção e em defesa da moralidade da coisa pública; apenas 13% de rejeição. Aspectos negativos Poucos recursos e tempo de rádio e TV no horário eleitoral (12 segundos); pouco conhecido nacionalmente; dificuldade de alianças; partido pouco estruturado nacionalmente.
quarta-feira, 18 de julho de 2018

Porandubas nº 582

Abro a coluna com uma homenagem à seleção francesa, campeã do mundo. Dirran...Dirran...? Dirran (com "biquinho" para parecer um francês correto), galego meio sarará, entroncado e de pernas curtas, jogava no Clube Atlético Potengi, no Rio Grande do Norte. Um dia, disputava no Machadão uma partida contra o Potyguar de Currais Novos, pela 2ª divisão do campeonato potiguar. O jogador atleticano era o destaque. Fazia dribles desconcertantes e lançamentos perfeitos. Corria como Mbappé, esse extraordinário centro-avante da seleção francesa. Fechou as glórias com um golaço. O narrador da rádio Poti gritava: "Dirran é um craque", "Dirran, revelação do futebol norte-rio-grandense". Dirran prá cá, Dirran pra lá. No final do jogo, o Clube Atlético Potengi perdeu por 3 x 1. Mas o destaque foi Dirran. Vendo todo aquele sucesso, um jovem repórter da rádio Poti correu para fazer uma entrevista com o craque na beira do gramado. Disparou uma bateria de perguntas: "Você tem parentes na França? Qual a cidade onde nasceu, Monsieur? Como veio parar no Brasil? Pode comparar o futebol europeu com o futebol brasileiro? Qual a origem de seu nome? Já jogou na seleção francesa? Espantado, boquiaberto, o jogador tascou ao incrédulo repórter a inesperada resposta: "Pera aí, meu sinhô, num é nada disso; meu apelido é C... de Rã, mas como num pode falar na rádio, então, eles abreveia". (Historinha enviada pelo amigo Álvaro Lopes) Rússia também vitoriosa A Copa foi um sucesso extraordinário para a Rússia, que recebeu cerca de um milhão de turistas. Gastou por volta de R$ 36 bilhões para construir estádios e preparar infraestrutura. Valeu muito. As empresas globais, que patrocinaram a Copa, acorreram ao país. Os turistas ficaram encantados com a beleza da Rússia e a hospitalidade dos russos. O país ganha com a Copa uma inserção mais intensa nas Nações do planeta. Coisa que o comunismo não conseguiu. Vladimir Putin, com o alto prestígio, adensa sua estatura de estadista. Os aspectos negativos - prisão de oposicionistas, censura, controle do cotidiano - ficam num plano inferior. Exibe estatura maior que o aloprado Trump. Brasil pós-Copa O Brasil volta a viver a dura realidade. Sem as expectativas que pairavam sobre a população. Sem o gosto doce de uma grande vitória. Substitui-se o canto: "a taça é nossa" por "a traça é nossa". O país amarga a derrota. Sob uma chuva de críticas a Neymar, uma estrela que desce das altitudes celestiais para o terreno árido das críticas. Com suas 40 tatuagens no corpo - representando poder, glória, luxo, vitória, guerra, romantismo, paixão - Neymar acabou ganhando a identidade de um logotipo ambulante. O sucesso puxou o atleta para o plano das vaidades, da arrogância e de autossuficiência. Ferrari sem adesivos Pois é. Um repórter se aproxima de Cristiano Ronaldo e joga a pergunta: "Por que você não tem tatuagem como Neymar"? O craque não titubeia: "você já viu uma Ferrari com adesivos"? O mergulho na política Nos próximos três meses, a pauta será eleição, competição eleitoral, endeusamento e condenação de protagonistas, palpites de todos os tipos, militantes trocando ofensas, acusações. Teremos um pleito sob um país dividido entre alas, grupos, partidos. O racha é geral. Seja qual for o eleito (a), o Brasil chegará bastante cindido na entrada de 2019. A meta do próximo governante, a par de suas ações na economia e na vertente social, será a de unir as bandas descoladas de um território semeado por ódio e litigância. Apontamentos Entremos no capítulo das observações que merecem atenção: 1. Chances - Qualquer um dos protagonistas que pontuam na planilha de índices de intenção de voto poderá ganhar passaporte para entrar no 2º turno, dentre eles: o candidato do PT (Lula ou o plano B do PT, Jaques Wagner ou Fernando Haddad), Jair Bolsonaro, Ciro Gomes, Marina Silva e Geraldo Alckmin. 2. 2º turno - A campanha tende a ter um 2º turno, sendo praticamente impossível algum candidato levar a melhor logo no domingo, 7 de outubro. 3. Mais prováveis hoje - Os cenários mais viáveis, hoje, colocam no 2º turno Bolsonaro e Ciro; Bolsonaro e Marina; e Bolsonaro e candidato do PT. São os que lideram as intenções de voto. Ante o fato de que 64% dos eleitores dizem não saber em quem votar, Alckmin e Álvaro Dias também poderão integrar as alternativas para ingresso no 2º turno. 4. Onda racional - É lógico esperar por uma onda racional, por onde deverão surfar os grupamentos das classes médias, a se contrapor às ondas emotivas já em curso. 5. Defesa da ordem - A preferência por Jair Bolsonaro é a adesão ao seu discurso de ordem contra a bagunça, de segurança social contra o caos representado pela violência nas ruas e, ainda, pelos escândalos em série que atingem os eixos da vida política. 6. Pouco tempo - Se não somar tempo de rádio e TV, contando com apenas sete segundos do tempo de seu partido, o PSL, Bolsonaro pode ser engolfado por candidatos com maior tempo de exposição. No bloco diário de 25 minutos, se não fizer coligação, o PSL terá direito a sete segundos; já para as inserções na programação diária de 70 minutos, caberá ao PSL 19 segundos. 7. Maior tempo - Os três maiores partidos - PT, MDB e PSDB - terão 34% do tempo de TV e rádio. 8. Redes sociais - As redes tecnológicas - internet - não conseguirão, sozinhas, dar vitória a candidatos. Se isso ocorrer, estará revogada a lei da comunicação, essa que garante visibilidade e força aos atores da política junto à sociedade. 9. Debates - Os debates entre candidatos terão alta importância na estratégia de captar o eleitorado e consolidar a decisão de voto. O bom desempenho funcionará como cola para adesão mais forte; já o mau desempenho resultará em descolamento de eleitores e migração para candidatos que apresentarem boa performance. 10. Linguagem - O medo que alguns candidatos provoca, em função de atitudes, gestos, linguagem, caso não seja bem administrado, poderá ser fatal para a viabilidade de uma vitória. Atenção, Ciro Gomes e Bolsonaro. (Este, porém, tende a agradar ao seu eleitorado, que clama por um discurso duro: "bandido bom é bandido morto; policial bom é policial que mata"). 11. Real politik - Qualquer que seja o eleito, só agregará condições de governar caso pratique a real politik, a política de arranjos e combinações, a parceria com os partidos, a entrega de fatias de poder aos entes partidários vitoriosos. Se não o fizer, terá passagem abreviada pelo Palácio do Planalto. 12. Pressão social - O Brasil ainda terá uma eleição à moda antiga, com engodos e amaciamentos embalando os discursos, alianças não estribadas pela ética, mas, ao correr do ano político de 2019, por continuada pressão social, serão plantadas as condições para as reformas necessárias à abertura de um ciclo de grandes mudanças na política. 13. Copo transbordando - O copo está transbordando. Os eleitores, até por falta de elementos novos, acabará votando nos velhos perfis, mas fará continuada pressão para a inauguração de um novo tempo. Manter o status quo redundará em intensas mobilizações sociais, na esteira de uma democracia participativa em ritmo de crescimento. 14. Fundo eleitoral - De R$ 1,7 bilhão do Fundo Eleitoral, MDB terá 234,2 milhões; PT, 212,2 milhões; e PSDB, 185,8 milhões. 15. 429 Deputados na reeleição - Até o momento, 429 deputados Federais, entre os 513, concorrerão à reeleição. Ou seja, cerca de 83% do atual corpo parlamentar. A eleição paulista A eleição em São Paulo, como a eleição para presidente, também é uma incógnita. João Doria, com 19%, lidera as pesquisas, mas seu índice de rejeição na capital é grande. Daí o desafio que a ele se impõe: administrar a rejeição, que alcança mais de 50%. O 2º lugar é de Paulo Skaf, do MDB, com 17%. O 3º lugar é ocupado pelo governador Márcio França, PSB, um pouco acima de Luiz Marinho, do PT. França tem bom potencial para subir. Tem perfil municipalista e pode subir bem, na esteira da máquina governamental. O eleitorado paulista soma cerca de 35 milhões de eleitores. A sabedoria romana Nem sempre quantidade ganha a guerra. O armênio Tigrane, instalado sobre uma colina com 400 mil homens, viu avançar o exército romano, que contava apenas com 14 mil soldados. Tigrane, galhofeiro, gritou : "Para embaixada é muito, para combate é pouco". Antes do pôr do sol, o pequeno exército romano infligiu uma derrota e enorme carnificina ao gigantesco exército armênio. A criatividade é, ainda, a arma que vence pela surpresa. Onde estão os eleitores Este ano, 146,4 milhões de eleitores têm direito a comparecer às urnas. Mas, como sabemos, o chamado Não Voto (abstenções, votos nulos e brancos) cortará formidável parcela desses votos. O Sudeste lidera o ranking eleitoral, com 42,9% dos eleitores, seguido do Nordeste, com 26,7%, Sul, com 15,2%, Norte, com 7,9% e Centro-Oeste, com 7,3%. Mulheres dominam As mulheres somam, hoje, 52% do eleitorado, atingindo cerca de 76 milhões de eleitoras. A faixa etária de 45 a 49 anos é a maior parcela entre as mulheres (18,710.832), vindo, a seguir, a faixa entre 25 a 34 anos (16.241,206) e, em terceiro lugar, a faixa entre 34 a 34 a 44 anos (15.755.020). Calibrem o discurso para esses contingentes, senhores candidatos. Epílogo "Um homem se propõe a tarefa de desenhar o mundo. Ao longo dos anos, povoa um espaço com imagens de províncias, de reinos, de montanhas, de baías, de naus, de ilhas, de peixes, de moradas, de instrumentos, de astros, de cavalos e de pessoas. Pouco antes de morrer, descobre que esse paciente labirinto de linhas traça a imagem de seu rosto". (Jorge Luis Borges)
quarta-feira, 11 de julho de 2018

Porandubas nº 581

Abro a coluna com uma historinha do Rio de Janeiro. Lugar de almirante Sandra Cavalcanti era deputada da Arena, foi ao interventor Faria Lima: - Almirante, tenho três reivindicações do partido para tratar com o senhor. - Pois não, deputada. - A primeira é a transferência de um fiscal do Estado para a capital. Ele está no interior, mas é um funcionário antigo e já merece uma posição melhor. - Deputada, lugar de fiscal é na fiscalização. Qual é a segunda reivindicação? - É um gari doente, governador. Não pode ficar tomando chuva. Queríamos levá-lo para a sede da Comlurb, mas o Marcos Tamoyo não concorda. O senhor podia falar com ele? - Deputada, lugar de gari é na rua. Qual é a terceira? - Uma professora de Campo Grande. Por problemas de família, precisa vir para a Secretaria. - Lugar de professora é na escola, deputada. Só isso? - Só, governador. Muito obrigada, até logo. E antes que me esqueça: lugar de almirante é no navio. E foi embora. (Da verve de Sebastião Nery) SDS A menos de três meses das eleições, a pergunta recorrente continua sem resposta: quem vai para o 2º turno? Os horizontes estão fechados. Será que há alguma semelhança com o pleito de 1989? Cerca de 20 candidatos, os protagonistas do centro dispersos e dois candidatos das margens ganhando passaporte para o segundo tempo do jogo: Fernando Collor e Luiz Inácio Lula da Silva. Hoje, as interrogações se multiplicam. SDS - Só Deus sabe. Jus sperneandi Direito de espernear. Mais que isso: esperneando o PT chama a atenção. Essa é uma razoável explicação para a "favrética" decisão do juiz plantonista do TRF-4, desembargador Rogério Favreto (donde pinço o neologismo), que autorizava a libertação do ex-presidente Lula. Só faltou Sua Excelência expressar de público sua condição de "petista de carteirinha". Foi assessor do petismo por muito tempo. O fato abriu polêmica nessa friagem que toma conta do Sul e do Sudeste nesses dias de reversão de expectativas com o desempenho de nossa seleção na Copa do Mundo na Rússia. A estratégia do PT De pronto, urge lembrar que a recorrente e sempre anunciada estratégia do PT é a de utilizar todos os meios possíveis para alcançar a meta eleitoral: elevar seu candidato presidencial ao 2º turno, fazer uma grande bancada de deputados Federais e estaduais, livrar-se da enrascada que queima atores políticos e, acima de tudo, passar para outros protagonistas a culpa pelos graves entraves que impedem a caminhada do país rumo ao crescimento. O PT foi o responsável pelo buraco gigantesco em que está afundado o país. Usando artifícios e mistificação, tenta transferir essa carga pesada para os ombros do atual governo. Animando a militância O fato é que a decisão "favrética" atingiu o objetivo. Pegou de chofre a população ainda mastigando os restos da derrota dos nossos jogadores na Copa. A soltura de Lula decidida por Sua Excelência, o desembargador Rogério, funcionou como um beliscão na quase adormecida militância do PT, que acordou para vibrar com o episódio. A inesperada entrada em ação do juiz Sérgio Moro, que está de férias, era o que o PT também queria. Ou seja, o despacho de Moro determinando a continuidade da prisão é, para o PT, prova de parcialidade do juiz de Curitiba em relação aos processos de Lula, sob sua responsabilidade. Querela jurídica A querela jurídica que se instalou fez com que o caso Lula, que ameaçava entrar na gaveta da rotina, voltasse às manchetes. O juiz, mesmo de férias, pode entrar em ação, se seu nome é ventilado numa polêmica decisão, dizem juristas do porte de Carlos Mário Velloso. Juiz é juiz em todos os dias. Mesmo em dias de descanso. Até se aposentar. Já outros dizem que Moro deveria ter ficado em silêncio ou jogado o caso para o juiz original da 2ª instância, o desembargador Gebran Neto. A querela mexeu com os brios de membros do MP, que pedem ao CNJ a punição de Favreto. E bateu na porta do STF, onde a presidente Cármen Lúcia acabou produzindo uma nota recheada de platitudes. Politicagem A volta de Lula ao noticiário central faz parte da liturgia que o PT ensaia para inscrever seu nome como candidato, dia 15 de agosto, puxando os militantes para as ruas, abrindo o verbo solto de Gleisi Hoffmann, continuando a farta coleção de recursos - que deverão, ainda, chegar ao TSE, ao STJ e ao próprio STF. Para lembrar: só o caso do Tríplex no Guarujá ganhou 75 recursos. O PT deverá ir com Lula ao processo eleitoral até que a mais alta Corte dê uma decisão para ele sair do páreo. Já se sabe que o partido não se conformará com eventual decisão do TSE de não aprovar sua inscrição como candidato. Estão previstos recurso ao STJ e, caso este confirme posição do TSE, mais recurso deverá bater no STF. Laurita dá um carão A presidente do STJ, desembargadora Laurita Vaz, acaba de dar um "carão" no desembargador Rogério Favreto. É o que podemos aduzir de sua decisão de negar um dos muitos habeas corpus que entraram na Corte em defesa de Lula. Ela disse que o plantonista não poderia ter mandado libertar o ex-presidente no domingo. Segundo ela, Favreto causou "perplexidade" e "intolerável insegurança jurídica". E teria ocorrido um "tumulto processual, sem precedentes na história do Direito brasileiro". Defendeu Sérgio Moro e a atuação do presidente do TRF-4, desembargador Thompson Flores. A presidente do STJ foi dura e direta. Considerou a decisão de Rogério Favreto como "inusitada e teratológica", uma vez que está em "flagrante desrespeito" a decisões já tomadas pelo TRF-4, pelo STJ e pelo Supremo Tribunal Federal. Haddad Fernando Haddad, dessa forma, ficará no banco aguardando sua vez de participar do jogo. Sob o impulso das cartas de Lula, da prisão, e dos recados do seu exército de advogados, Haddad dará um salto - de 4% para 12%. Pode até avançar mais. A depender do clima social em setembro, o ex-prefeito de São Paulo poderá crescer ou permanecer em um patamar próximo aos 15%. Correrá aos Estados com o fito de frequentar os palanques de candidatos petistas ao governo e ao Parlamento. Essa estratégia do PT foi bem pensada. O Partido não estará morto, como chegou a desabafar o ex-todo poderoso ministro José Dirceu ao aposentado Newton Hidenori Ishii, o Japonês da Federal, ressuscitando das cinzas a que tem sido jogado desde o mensalão. Indefinições O PT, portanto, ganha mais espaço dentro da algaravia nacional, usando Lula como aríete para abrir muralhas e invadir arsenais de votos. Busca firmar parcerias com partidos de esquerda, sendo sua jóia da Coroa o PSB da viúva de Eduardo Campos. O PC do B e o PSOL estarão com o candidato petista que vier a disputar o 2º turno. Mas a hipótese de o PT ficar fora do segundo tempo da disputa eleitoral prevalece. E quem está sendo aguardado para os 45 minutos finais? 2º turno A voz corrente, essa que esquenta as conversas de fim de tarde e de noites homenageando Baco, é de que uma vaga pertence ao ex-capitão Bolsonaro. Este consultor acaba de chegar do Nordeste onde sentiu o crescimento da onda bolsonariana. É evidente que o deputado continua frequentando os primeiros lugares nas projeções. Mas este consultor ainda não se convenceu de que sua passagem para o 2º turno é garantida. Entre as razões, o fato de que, até o momento, disporá de ralos segundos para explicitar seu pensamento no espaço de mídia eleitoral. Ademais, ele próprio reconhece ignorância sobre os grandes temas nacionais. Lembre-se que 65% do eleitorado confessam ainda não ter escolhido seu candidato. A onda racional Estamos surfando nas ondas bolsonariana, gomista (de Ciro Gomes) e silvana (de Marina Silva). São fundamentalmente ondas emotivas, comandadas pelo coração. Há certo fervor por parte dos surfistas dessas ondas. Mas a onda racional ainda não deu as caras. Trata-se da onda que agrega os polos mais críticos de formação de opinião, como contingentes de classes médias, reunindo profissionais liberais, pequenos e médios empresários, proprietários, grupos da burocracia estatal, etc. Esses eleitores examinam de forma atenta a moldura eleitora, fazem comparações, ouvem discursos e deixam para depois uma tomada de posição. Consciente. Mais cabeça e menos coração. A tendência é que esses núcleos decidam perfilar ao lado de candidaturas mais centradas e menos engajadas nas extremidades do arco ideológico. Quem? Deixo ao critério do leitor/eleitor responder a pergunta: quem será a atração central? Deixo aqui uma lista: Álvaro Dias, João Amoedo, Flávio Rocha, Geraldo Alckmin, Henrique Meirelles. Horizontes nos Estados Nos Estados, persistem as nuvens plúmbeas, pesadas, cinzentas. Com exceção de alguns poucos, as apostas nos Estados não chegam a sinalizar vencedores. Em Pernambuco, Ceará e Bahia, a paisagem parece mais clara, indicando a reeleição dos atuais governantes, Paulo Câmara (PSB), Camilo Santana e Rui Costa (PT). Ganhariam o passaporte pelo bom desempenho em suas tarefas. E mais: os índices de indefinição nos Estados são altos. O NV - Não Voto (abstenções, votos nulos e brancos) oscila entre 40% a 45%. Muito alto. Rejeição Atenção, candidatos e assessores: vejam com cuidado e preocupação os índices de rejeição de seus candidatos. Há maneiras de atenuar esse efeito deletério, não de eliminá-lo. No meu blog, www.observatoriodaeleicao.com, vocês poderão conferir algumas abordagens para administrar o fenômeno. O discurso de Itabaiana Fecho com Jessier Querino, este famoso cronista oral da política nordestina. Aqui, o trecho inicial do famoso discurso de Amâncio Tranquilino Sossegado em Itabaiana/SE. Candidatos, que lógica calibrará seus discursos? "A lógica política experimental pós-aristotélica do município de Itabaiana causou profunda decodificação moral, cética, estóica e principalmente existencial. Há aqueles que procuram obter a todo custo uma hegemonia política sectária forte, porém dogmática, utilizando meios plutocráticos pseudo-progressista, dentro de uma visão aristocrática, independente e desqualificada. Dentro desse quadro alienante, retrógrado, discriminativo e policialesco não podemos nos curvar à mera condição de espectador que ali vivem tão somente deste processo minoritário e repressivo. Precisamos dar um basta. Basta à subjugação hierárquica endocêntrica. Basta à ação tática provocativa intransigente. Chega de avaliações restritivas e pessoais. Itabaiana precisa de uma reflexão ampla e independente. Urge atender às aspirações prioritárias reais do nosso povo. Com intuito de promover uma coalizão consensual, descompromissada da situação tecnocrática legalista existente, propomos uma profunda transformação pragmática e pluralista de todos os representantes políticos e lideranças comunitárias deste município".
quarta-feira, 4 de julho de 2018

Porandubas nº 580

Abro a coluna com o famoso Severino Pé de Chumbo, de Campina Grande/PB. Atravessando em diagonal Severino Cabral foi prefeito de Campina Grande/PB, vice-governador, chefe político de muitos votos. E conhecido pelas tiradas engraçadas. Uma tarde, no Rio, andava pela avenida Rio Branco. Resolvendo passar para o outro lado, meteu-se na frente dos carros, fora do sinal. O guarda gritou: - Cidadão, não pode ir por aí. É proibido atravessar em diagonal. Severino Cabral voltou: - Você não conhece roupa não, ignorante? Isto não é "diagonal". É "tropical maracanã". Atravessou em diagonal e tropical. Robôs como cabos eleitorais Uma das novidades da campanha eleitoral deste ano são os cabos eleitorais da era tecnológica: os robôs. Vejam o que se apura: mais de 60% dos quase 410 mil seguidores no Twitter do senador Álvaro Dias, pré-candidato à presidência pelo Podemos, são, na verdade, perfis robôs, controlados automaticamente por terceiros. Não somente Dias está sendo seguido por robôs. Todos os candidatos têm seus exércitos tecnológicos. A análise foi feita pelo Instituto InternetLab, centro de pesquisas dedicado a temas do Direito e da tecnologia. Segundo a organização, há indícios de compra de seguidores para o candidato com o objetivo de inflar artificialmente sua reputação na rede. Casa a casa O eleitor está desconfiado. Arisco. Apático. Crítico. Daí o esforço que candidatos deverão fazer para sensibilizá-lo. Como? Não há tática melhor que a conversa direta, olho no olho, mão na mão. Por isso, um conselho pode ser dado. Fazer uma campanha porta a porta, casa a casa, mão na mão, olho no olho. Em tempos de descrédito e desprezo pela classe política, este será o caminho melhor. DEM e PSB, noivas cobiçadas O DEM, presidido por ACM Neto, é a noiva cobiçada. Por Ciro Gomes, do PDT, por Geraldo Alckmin, do PSDB, por Meirelles, do MDB e outros. O DEM se divide. Parte quer fazer aliança com Alckmin, parte com Ciro. O PSB também está sendo cobiçado. Até final deste mês, os casamentos deverão ocorrer. Tempo de mídia eleitoral - eis o cacife que esses partidos terão a dar. Dilma em MG A ex-presidente Dilma Rousseff lidera a corrida para o Senado em Minas Gerais. Mas há muitas dúvidas: o governador Fernando Pimentel aguentará o tiroteio? E se o senador Anastasia disparar na frente? Como Dilma explicará o desastre que foi seu governo? Lula até o final Confirma-se a ideia do PT de jogar Lula no embate eleitoral até meados de setembro, quando o TSE deve decidir sobre sua elegibilidade. E cresce a hipótese de que entre na chapa como candidato a vice o ex-ministro de Relações Exteriores, Celso Amorim, que entraria apenas como figurante. Porque o plano B, o perfil no lugar de Lula, ainda é Fernando Haddad. Renovação Este consultor acredita que a renovação nas Casas congressuais seja por volta de 40%. Na contramão do sentimento da sociedade, que desejaria fazer uma limpeza geral. Não há assim tantos perfis novos. E por falta de opção, o eleitor costuma votar nos mais próximos e conhecidos. Abaixo, uma tentativa de interpretar o que se passa na cachola do eleitor. O eleitor, uma caixa-preta O eleitor é uma caixa-preta. Difícil de saber o que se passa em sua cabeça. Pode mudar de um momento para outro. Pesquisas que aferem hoje seu posicionamento poderão flagrar outro estado de espírito daqui a um mês ou nas proximidades da eleição. Tentemos decifrar a caixinha de surpresas que o eleitor esconde, a começar com uma pergunta: Qual é o significado do voto? Quando um eleitor opta por um candidato, que fatores balizam sua decisão? Componentes Esta é uma das mais instigantes questões das campanhas eleitorais. A resposta abriga componentes relacionados ao conceito representado pelo candidato e ao ambiente social e econômico que cerca os eleitores. No primeiro caso, o eleitor leva em consideração valores como honestidade/seriedade; simplicidade; competência/preparo; capacidade de comunicação; entendimento dos problemas; arrogância/prepotência e simpatia. Sob outra abordagem, o voto quer significar protesto, um castigo aos atuais governantes e a candidatos identificados com eles, vontade de mudar ou mesmo aprovação às ideias dos perfis situacionistas. Perfis para muitos gostos Tenho sido indagado sobre os perfis preferenciais do eleitorado. Cada região tem suas preferências. Há, porém, alguns traços sobre os quais parece haver consenso: - passado limpo, vida decente - candidatos que possam exibir sua trajetória sem ter vergonha de mostrar aspectos de sua vida; - identificação com o Estado, com as regiões - candidatos que busquem vestir o manto das regiões, significando compromisso com as demandas das comunidades e as questões específicas dos municípios; - despojamento, simplicidade - candidatos despojados, simples, descomplicados, sem as lantejoulas e salamaleques que costumam se fazer presentes no marketing exacerbado. Candidatos não afeitos ao 'dandismo' - mania de querer aparecer de maneira diferente. - respeito, decência, dignidade pessoal - candidatos de postura respeitosa para com os eleitores e identificados com uma vida pessoal e familiar digna; - transparência, verdade - candidatos que não temam contar as coisas como elas são ou foram; - objetividade, viabilidade de propostas, concisão, precisão - candidatos de expressão objetiva e concisa, capazes de fazer propostas viáveis e não mirabolantes. Precisos na maneira de abordar os assuntos. Simpatia/empatia Neste caso, os pesos da balança assumem o significado de satisfação e insatisfação; ou confiança e desconfiança. A questão seguinte é saber qual a ordem em que o eleitor coloca essas posições na cabeça e por onde começa o processo decisório. Não há uma ordem natural. O eleitor tanto pode começar a decidir por um valor representado pelo candidato - simpatia, preparo, capacidade de comunicação - como pelo cinturão social e econômico que o aperta: carestia, violência, desemprego, insatisfação com os serviços públicos precários, etc. Os dois tipos de fatores tendem a formar massas conceituais - boas e ruins - na cabeça do eleitor. Impressões positivas e negativas A exposição dos candidatos na mídia vai criando impressões no eleitorado. E as impressões serão mais positivas ou mais negativas, de acordo com a capacidade de o candidato formular ideias e apresentar respostas aprovadas ou desaprovadas pelo sistema de cognição dos eleitores. Se o candidato ajustar o discurso ao clima do momento, terá melhores condições de laçar (fisgar) o eleitor. E daí, qual a lógica para a priorização que o eleitor confere às ideias dos candidatos? Nesse ponto, cabe uma pontuação de natureza psicológica. Instintos natos As pessoas tendem a selecionar coisas (fatos, pensamentos, eventos, perfis) de acordo com os instintos natos de conservação do indivíduo e preservação da espécie. Quer dizer, o discurso mais impactante e atraente é o que dá garantias às pessoas de que elas estarão a salvo, tranquilas, com dinheiro no bolso, bem alimentadas. O discurso voltado ao estômago do eleitor, ao bolso, à saúde é prioritário. Tudo que diz respeito à melhoria das condições de vida desperta a atenção. Depois, as pessoas são atraídas por um discurso mais emotivo, relacionado à solidariedade, ao companheirismo, à vida familiar. (Este consultor não se cansa de repetir a equação que criou: BO+BA+CO+CA= Bolso cheio, Barriga satisfeita, Coração agradecido, Cabeça tende a votar em que propiciou o bem-estar). Medo e insegurança Esses apelos disparam os mecanismos de escolha. Se a insatisfação social for muito alta, os cidadãos tendem a se abrigar no guarda-chuva de candidatos da oposição. Se candidatos com forte tom mudancista provocarem medo, as pessoas recolhem-se na barreira da cautela, temendo que um candidato impetuoso vire a mesa abruptamente. Assim, mesmo com certa raiva de candidatos apoiados pela situação, os eleitores assumem a atitude dos três macaquinhos: tampam a boca, os ouvidos e olhos e acabam votando em candidatos situacionistas. Convencimento O maior desafio de um candidato de oposição, dentro dessa lógica, é o de convencer o eleitorado de que garantirá as conquistas dos seus antecessores, promovendo mudanças que melhorarão a vida das pessoas. Simples promessa não adiantará: é preciso comprovar tim-tim por tim-tim como executará as propostas. Por isso mesmo, quando o candidato agrega valores positivos, a capacidade de convencimento do eleitor será maior. Não se trata apenas de fazer marketing, mas de expressar caráter, personalidade, a história do candidato. Coerência Uma história amparada na coerência, na experiência, na lealdade, na coragem e determinação de cumprir compromissos. Proposta séria e factível transmitida por candidato desacreditado não colará. Os dois tipos de componentes que determinam as decisões do eleitor - as características pessoais dos candidatos e o quadro de dificuldades da vida cotidiana - caminham juntos, amalgamando o processo de escolha dos cidadãos. Despertar os estímulos O marketing político bem feito é aquele que procura juntar essas duas bandas, costurando os aspectos pessoais com os fatores conjunturais, conciliando posições, arrumando os discursos, analisando as demandas das populações, criando ênfases e alinhando as prioridades. O que o marketing faz, na verdade, é acentuar os estímulos para que o eleitor possa, a partir deles, tomar decisões. E os estímulos começam com a apresentação pessoal dos candidatos, a maneira de se expressar, de se vestir. Comunicação clara Os cenários aguçam ou atenuam a atenção. A fluidez de comunicação, a linguagem mais solta e coloquial cria um clima de intimidade com o eleitor. As propostas precisam ser objetivas, claras e consistentes. As influências sociais e até as características espaciais e temporais despertam ou aquecem as vontades. O eleitor é uma caixa-preta. E na eleição deste ano procurará se esconder mais que em campanhas anteriores. Está mais desconfiado e crítico. Não quer comprar gato por lebre. Aumentou sua taxa de racionalidade. Desvendar o quê e como pensa é o maior desafio dos candidatos.
quarta-feira, 27 de junho de 2018

Porandubas nº 579

Abro a coluna com as Minas Gerais e seu rico folclore político. A Santíssima Trindade No confessionário, Monsenhor era rápido. Não gostava de ouvir muita lengalenga. Ia logo perguntando o suficiente e sapecava a penitência que, sempre, era rezar umas ave-marias em louvor à N. S. do Rosário. Fugindo ao seu estilo, certa feita ele resolve perguntar ao confessando quantos eram os mandamentos da lei de Deus. - São 10, Monsenhor. - E quantos são os sacramentos da Santa Madre Igreja? - São 7, Monsenhor. - E as pessoas da Santíssima Trindade, quantas são? - São 3, Monsenhor. Monsenhor, notando que o confessando só sabia a quantidade, pergunta rápido: - E quais são essas pessoas? A resposta encerrou a confissão: - As três pessoas são o senhor, o dr. Didico e o dr. Zé Augusto. (Historinha contada por José Abelha em A Mineirice). Pleito de outubro Os debates este ano terão mais importância que em campanhas anteriores. Alguns protagonistas terão dificuldades, a partir de Bolsonaro, que não domina temáticas centrais. Os marqueteiros baixaram seus preços. As redes sociais vão tentar suprir os vazios de comunicação. Dinheiro faltará para muitos, enquanto outros financiarão a própria campanha, caso de Meirelles. O maior desafio de todos: desenvolver e lapidar a identidade - o escopo do perfil. A coluna de hoje tenta apresentar um roteiro para o desenvolvimento de uma campanha. O marketing eleitoral Ante o volume de dúvidas e interrogações que se fazem a respeito da viabilidade eleitoral dos protagonistas do pleito deste ano, este consultor dedica a maior parte da coluna ao marketing eleitoral. Muita gente - candidatos e assessores, dentre muitos - crê que o marketing fará as correções sobre os perfis eleitorais, melhorando performances verbais e atos dos candidatos. Tentarei repor conceitos e comentar situações vividas ao longo de quatro décadas atuando em campanhas. 1ª questão: Marketing não elege O marketing eleitoral não elege um candidato. Ajuda-o a ajustar fatores que integram a estratégia de visibilidade dos competidores, atenuando aspectos negativos e reforçando aspectos positivos. Quem ganha campanha é o candidato com a força de suas crenças e convicções. Mas se o marketing for um desastre, também contribuirá para a derrota do candidato. Farei observações sobre campanhas majoritárias, mais complexas. 2ª questão: Crença O candidato deve acreditar em seus potenciais, mesmo que entre numa campanha apenas para ser conhecido para barganhar posição no segundo turno e até negociar posições e cargos, caso faça coligação com candidatos com condições de vir a ganhar. "Somente aqueles que conseguem ir longe saberão até podem chegar" (Elliot). Se o candidato acredita mesmo em suas condições, ele passará energia positiva para sua equipe de assessores, motivando cada um a trabalhar com mais vontade, ímpeto e motivação. 3ª questão: Identidade O candidato precisa construir e lapidar o edifício de sua identidade, que abriga sua vida, sua história, seu pensamento, seus laços, enfim, o composto conceitual que o identifica. Essa é a coluna vertebral da campanha. O eixo, a mola propulsora, o vértice de uma pessoa. Se não construir forte identidade, será uma lesma. Uma pitada de sal sobre ela a faz morrer, derretendo-se em gosma. A identidade o distinguirá de outros candidatos, permitindo que o eleitor faça sua escolha pelo critério de identificação entre os valores (dos eleitores) e os valores dos candidatos. A psicologia arremata esse conceito com dois fenômenos com os quais trabalha: identificação e projeção. É como se uma cola unisse os perfis, por meio da projeção - as pessoas atribuem a outras seus pensamentos, emoções, valores - , transferindo a outro (o candidato) sua teia de sentimentos (identificando-se, assim, com ele), com quem desenvolve empatia. 4ª questão: Construção do discurso Para se produzir o liame entre eleitor e candidato, de modo que possa haver projeção e identificação, se faz necessária a construção do discurso: ideário, programas, projetos, ações, maneiras como o candidato irá realizar sua gestão, etc. Ou seja, o discurso é peça central de uma campanha. Se não tiver ideias próprias e fortes, o candidato tende a ser abandonado pelo sistema cognitivo do eleitor. Será posto de lado. Outra precaução: formar o discurso com propostas que sejam criativas, factíveis (urge demonstrar como serão adotadas) e objetivas. Platitudes, promessas genéricas, projetos abstratos serão jogados na cesta do blá blá blá. 5ª questão: Pesquisa A pesquisa é instrumento central no processo de construção do discurso. Trata-se de aferir o sistema cognitivo do eleitor: o que ele pensa, que linguagem usa, sua visão de cada candidato. Urge descobrir como pensa nesse momento o eleitor. Conferir as imagem que ele tem de cada protagonista. A pesquisa qualitativa é o caminho para esta descoberta. Ocorre que candidatos e assessores só emprestam ênfase às pesquisas quantitativas, essas que apuram intenção de voto que, nesse momento, flagram o pensamento popular, mas não refletem circunstâncias da primeira semana de outubro. 6ª questão: O diferencial Nem sempre candidatos e assessores possuem conhecimento real das demandas populares. Daí a necessidade de construir algo no campo do discurso que traduza fielmente os desejos, as expectativas, os anseios da população. Nesse momento, o discurso tende a cair na vala comum das velhas promessas: áreas da saúde, educação, segurança, habitação, mobilidade urbana, etc. Os candidatos agregam projetos nessas áreas em seus discursos. Ora, o desafio é o de apresentar propostas usando criatividade, inovação, avanço. Urge sair do baú das velhas lembranças. Há, ainda, os projetos de infraetrutura técnica, setores estratégicos - que passam longe do conhecimento de fatias maiores do eleitorado- e aos quais se deve dedicar parte volumosa do discurso do candidato. Essas áreas menos conhecidas pedem muito poder criativo. 7ª questão: Comunicação A essência do que se produz no campo do discurso - particularmente no campo das demandas mais urgentes - precisa chegar ao conhecimento do eleitor. Por meio da bateria de comunicação, a identidade do candidato bate no eleitor, formando-se, a partir do conhecimento dos conteúdos, uma imagem. Esta imagem precisa corresponder efetivamente à identidade de um candidato. Se a mensagem que transmite oralmente no programa eleitoral não corresponder ao que foi produzido como discurso-proposta, a mídia tende a denunciar e o candidato terá dificuldades para explicar "o que escreveu e o que disse". O "pega na mentira" poderá jogar o candidato no buraco dos mortos eleitorais. 8ª questão: Abrangência A comunicação se ampara em vasto arsenal de meios: espaços eleitorais em rádios e TVs, encontro de candidatos com grupos (exposição oral), andanças dos candidatos pelas ruas, folhetos de campanha em linguagem popular (e ilustrados), uso de uma rede de promotores do discurso - cabos eleitorais preparados para traduzir o discurso do candidato junto aos eleitores, uso (parcimonioso) de redes sociais (cuidado para não usar as redes de forma burocrática, materiais de cunho propagandístico) (cartazes, santinhos. etc.). 9ª questão: Articulação A sociedade está de costas para a política. Cria-se um vácuo entre a representação política e a sociedade. Quem preenche esse vácuo é o imenso conjunto de entidades organizadas, como associações, movimentos, grupos, núcleos setores, a par da estrutura sindical/corporativista como se vê hoje: sindicatos, federações, confederações, etc. Essa rede de organizações intermediárias forma a opinião pública. Portanto, constitui um espaço mais arejado e forte para que os candidatos possam ocupá-lo com ideias e propostas. A articulação com a sociedade organizada é um dos fatores mais importantes no planejamento de uma campanha política. 10ª questão: Mobilização Por último, os atores políticos devem procurar manter ativo o eixo da mobilização. Trata-se, agora, de ir ao encontro do povo, onde ele se encontra, nos aglomerados urbanos, como feiras, estações de passageiros, praças públicas ou mesmo encontros com os setores produtivos. Aí, os candidatos poderão expor seu pensamento e recolher abordagens e sugestões. A campanha deste ano Teremos uma campanha de 45 dias de rua e 35 dias de mídia eleitoral. Portanto, será uma campanha mais curta, razão pela qual alguns candidatos já estão fazendo visitas às regiões. Será ainda uma campanha franciscana: os candidatos recorrerão aos fundos eleitoral e partidário. O teto do custo de uma campanha presidencial foi fixado em R$ 70 milhões, no primeiro turno, e R$ 35 milhões no segundo turno. Teto bem menor que o pleito presidencial de 2014. Estilo publicitário Os baianos Duda Mendonça e João Santana foram artífices das campanhas com forte viés publicitário. Uma embalagem cinematográfica, recursos e edições de grande encanto, Lula, como salvador da Pátria, sob a aclamação da plebe; Dilma como a grande gestora capaz de consolidar a felicidade construída no paraíso petista. Tudo isso veio por águas abaixo. Teremos uma campanha sob prisão de importantes lideranças. Nessa moldura de paisagem destroçada, será difícil ao PT dizer que não é responsável por 13 milhões de desempregados, a maior recessão econômica de nossa história ou, ainda, que mensalão e Lava Jato são criações de outros governos. O fato é que versões estapafúrdias, mentiras e verborragia terão, este ano, uma audiência crítica. E que poderá haver polarização em algumas regiões. Fecho a coluna também com Minas Gerais. Idôneo, o comandante Em certa cidade fluminense, o chefe local era um monumento de ignorância. A política era feita de batalhas diárias. Um dia, o chefe político recebeu um telegrama de Feliciano Sodré, que presidia o Estado: - Conforme seu pedido, segue força comandada por oficial idôneo. O coronelão relaxou e gritou para a galera que o ouvia: - Agora, sim, quero ver a oposição não pagar imposto: a força que eu pedi vem aí. E quem vem com ela é o comandante Idôneo. (Historinha contada por Leonardo Mota, em seu livro Sertão Alegre)
quarta-feira, 20 de junho de 2018

Porandubas nº 578

Hora de trabalhar O brigadeiro Eduardo Gomes fazia, no Largo da Carioca (Rio de Janeiro), seu primeiro comício da campanha presidencial de 1945. A multidão o ouvia em silêncio: - Brasileiros, precisamos trabalhar! Do meio do povo, uma voz poderosa gritou: - Já começou a perseguição! Bagunça geral. O comício acabou. Leitura do momento Este analista confessa que nunca em sua trajetória de ler a conjuntura viu horizontes tão nebulosos como os de hoje. Por isso, acha importante dedicar um tempinho à observação da temperatura ambiental, contemplando principalmente o clima social, o clima político e o clima econômico. Os três climas se imbricam para formar uma cadeia complexa, de onde se pinçam os inputs para tomar pé da situação. Vamos lá. O ambiente social I Há muita expectativa no que diz respeito à performance brasileira na Copa do Mundo, enquanto se constata um clima nada auspicioso em relação à política. O Brasil entrou na Copa com otimismo, eis que portava as bandeiras das vitórias nos dois jogos pré-Copa. Mas o que se viu contra o time suíço foi uma seleção travada, que não merecia ganhar. O sentimento social passou a ser negativo. Houve uma reversão de expectativas. Neymar, com suas quedas seguidas e cara de dor, tem sido alvo de gozações. E por mais que a CBF proteste contra a arbitragem do mexicano, que não teria se valido do árbitro eletrônico (VAR), o fato é que isso não nos daria uma vitória. O torcedor está frustrado, mas ainda esperançoso. O ambiente social II A depender do desempenho de sexta-feira contra a Costa Rica, podemos projetar um clima mais descontraído na paisagem social ou um ambiente mais pesado, que deverá abater o ânimo social, com consequências danosas sobre o processo político. Imaginem se o desempenho da seleção for desastroso. Vejo uma equação na lousa, escrita pelo povo: CR+CI+DS+NV, que podemos assim decifrar: Cabeça Revoltada, Coração Indignado, Desânimo Social, Não Voto (abstenção, nulos e brancos). Portanto, o NV poderá chegar à casa dos 35% para mais (historicamente permanece em torno de 30%). A recíproca é verdadeira. Se o Brasil levar a melhor, o animus animandi da sociedade se eleva com o incremento da autoestima, podendo ser a vitamina para enfrentar a batalha política com forte disposição. O ambiente político I Na esfera política, os pré-candidatos se movimentam sob um cruzamento de interrogações. Alguns deixarão de ser candidatos, como Rodrigo Maia. Outros ficarão isolados, como Marina Silva. É possível que falte gás aos líderes da corrida no momento, como é o caso de Bolsonaro. Os políticos estão olhando para o seu próprio umbigo, tentando pressionar seus partidos a fazerem alianças com eventuais nomes de maior probabilidade de vitória. O PT, por exemplo, vai ser assediado em Estados até por partidos de centro-direita. A política está com seu prestígio no buraco. Apesar da indignação social, a renovação no Congresso deve ficar por volta de 40%, índice menor que em campanhas passadas. O ambiente político II As pesquisas de intenção de voto, nesse momento, não flagram o ardor da campanha. Devem ser vistas como meras referências pré-eleitorais. Refletem as ondas do momento. Os recursos para essa campanha, mais curtos, e o tempo menor de propaganda e para a campanha de rua, incentivam candidatos a procurar apoios em estruturas organizadas - associações de categorias profissionais e movimentos. Não haverá tempo para o setor político se empenhar na votação de projetos importantes. Depois da Copa, a partir de 15 de julho, aguarda-se uma revoada das aves políticas para seus ninhos estaduais. O ambiente econômico I A economia, depois de uma onda de otimismo no início do ano, sinaliza passos para trás. A inflação aumenta um pouco, o bolso começa a secar, os estômagos ficam mais vazios, o coração torna-se aflito e a cabeça se revolta. A equação, que sempre lembro, é: BO+BA+CO+CA= Bolso cheio, Barriga satisfeita, Coração agradecido e a Cabeça aprovando o governante. Não é o clima que temos. A massa sofre com o alto desemprego, mais de 13 milhões de brasileiros. O acesso ao consumo se restringe, apesar do esforço do governo para melhorar a situação do bolso das margens (liberação do PIS/PASEP, Fundo de Garantia, etc.). A ameaça de mais imposto continua ganhando voz por parte da equipe econômica. As bolsas sofrem imensa queda, o dólar sobe, as dívidas das empresas em dólares vão para a estratosfera, a confiança dos investidores se esvai. O ambiente econômico II Parecia até que um princípio de euforia animava os setores produtivos. Um balde de água fria gelou os ânimos. O PIB agora já não chegará a 1,5% como se apregoava no início do ano. As vendas no varejo não sobem no ritmo que se esperava. A própria venda de televisores, sempre um fenômeno às vésperas de uma Copa do Mundo de futebol, encolheu. A economia, em compasso de refluxo, afeta o ânimo social, disparando mal-estar, desarmonia, raivas e indignação. Os movimentos sociais, sob essa cadeia de coisas negativas, poderão voltar às ruas. Basta que a pólvora, guardada em seus estoques, seja atirada nas fogueiras a serem acesas até outubro. O vulcão social I Esse analista já foi mais otimista. Mas começa a enxergar nuvens plúmbeas escurecendo o amanhã. Vejo um magma em formação subindo à superfície para explodir na erupção de um vulcão social, caso se eleja este ano um perfil de extrema direita ou esquerda. De extrema esquerda, é praticamente impossível. Não temos um perfil com esse porte. Mas na extrema direita, há o capitão Jair Bolsonaro. Se eleito (hipótese em que muitos acreditam, este analista, não), Bolsonaro conduziria o país a uma posição conflituosa. Estabeleceria de imediato a disputa de "cabo de guerra" entre militantes, com arengas e querelas expandindo posições radicais e envolvendo classes sociais em confrontos nas ruas. A ingovernabilidade ganharia corpo, o clima social ficaria sob a ameaça de um rastilho de pólvora. Os bolsonarianos parecem querer acender o pavio. O vulcão pode entrar em erupção ante gestos tresloucados de um governante. O vulcão social II Mas se um perfil da esquerda, do PT ou por Lula apoiado, ganhar a eleição e brandir o refrão do apartheid social, "nós e eles", o vulcão também pode explodir. Nunca presenciei tanto ódio entre alas em minha trajetória de analista da política. O fato é que o país está dividido. E a hipótese de harmonia social não passa de lorota expressa pelas extremidades. O que se vê na linguagem de militantes é a destilação de ódio, infâmias, acusações pesadas e enaltecimento das ditaduras. Cenários Façamos, agora, algumas projeções, levando em consideração a moldura que hoje se enxerga. A partir das pesquisas - que colocam Lula e Bolsonaro na liderança - podemos fazer alguns cenários. Como Lula não será candidato, devendo o plano B ser ocupado por Fernando Haddad, vejamos os cenários que traço para o 2º turno e respectivas vitórias. Insiro nas possibilidades os candidatos: Jair Bolsonaro, Marina Silva, Fernando Haddad, Ciro Gomes e Geraldo Alckmin. São estes com maiores cacifes para despontar no final da linha. Em minhas projeções, não vejo possibilidade de Jair Bolsonaro ganhar de nenhum candidato no 2º turno. E nem de Fernando Haddad, que será o plano B do PT. No I Cenário, Bolsonaro versus Fernando Haddad. Vitória de Haddad. No II Cenário, Bolsonaro versus Ciro Gomes. Vitória de Ciro Gomes. No III Cenário, Geraldo Alckmin versus Bolsonaro. Vitória de Alckmin. No IV Cenário, Marina versus Bolsonaro. Vitória de Marina. No V Cenário, Alckmin versus Ciro Gomes. Vitória de Alckmin. No VI Cenário, Marina versus Ciro Gomes. Vitória de Ciro Gomes. No VII Cenário, Haddad versus Alckmin. Vitória de Alckmin. VIII Cenário, Haddad versus Ciro Gomes. Vitória de Ciro Gomes. IX Cenário, Marina versus Alckmin. Vitória de Alckmin. X Cenário, Marina versus Haddad. Vitória de Marina Argumentos Nas projeções deste consultor, alguns argumentos aqui são alinhavados. O primeiro envolve a rejeição do perfil radical de Jair Bolsonaro. Na hora H, propícia a uma análise racional dos perfis, o eleitor tende a optar por um candidato que demonstre experiência, conhecimento dos problemas brasileiros e moderação, entre outros valores. Fernando Haddad, marxista convicto, exibe bom perfil, mas encarna a posição clássica do PT (apartheid social, "nós e eles"), que desperta ódio, indignação, repúdio. Entre protagonistas mais aproximados, particularmente no espaço do Centro, o eleitor tende a votar em mais experientes e de maior visibilidade. Forte traço negativo de um candidato poderá ser fatal para ele. Fecho a coluna com historinha das Minas Gerais. Lei da Gravidade A Lei da Gravidade, de vez em quando, dá dor de cabeça aos mineiros. E a lei da gravidez, essa, nem se fala. Na Câmara Municipal de Caeté, terra da família Pinheiro, de onde saíram dois governadores, discutia-se o abastecimento de água para a cidade. O engenheiro enviado pelo governador Israel Pinheiro deu as explicações técnicas aos vereadores, buscando justificar a dificuldade da captação: a água lá embaixo e a cidade, lá em cima. Seria necessário um bombeamento que custaria milhões e, sinceramente, achava o problema de difícil solução a curto prazo, conforme desejavam: - Mas, doutor - pergunta o líder do prefeito - qual é o problema mesmo? - O problema mesmo - responde o engenheiro - está ligado à Lei da Gravidade. - Isso não é problema - diz o líder - nós vamos ao doutor Israel e ele, com uma penada só, revoga essa danada de lei que, no mínimo, deve ter sido votada pela oposição, visando perseguir o PSD. O líder da oposição, em aparte, contesta o líder do prefeito e informa à edilidade, em tom de deboche, que "o governador Israel nada pode fazer, visto ser a Lei da Gravidade de âmbito Federal". E está encerrada a sessão. (A historinha é de José Flávio Abelha, em seu livro A Mineirice).
quarta-feira, 13 de junho de 2018

Porandubas nº 577

Abro a coluna com a verve do amigo Sebastião Nery numa historinha da Bahia envolvendo candidatos em campanha. O que eu sou? O caso é verídico. O farmacêutico Claodemiro Suzart, candidato do PTB à prefeitura de Feira de Santana, decidiu fazer o comício de encerramento da campanha na rua do Meio, na zona do meretrício. E jogou o verbo: "o povo precisa estudar a vida dos candidatos, desde o nascimento deles, os lugares onde nasceram, para saber em quem votar direito". Por exemplo, Arnold Silva, da UDN, nasceu em Palácio, nunca falou com o povo. O que ele é? - Candidato dos ricos - gritava a multidão. - É isso mesmo. Não pode ter o voto de vocês. E Fróes da Mota, candidato do PSD, nunca sentiu o cheiro de povo. Só gosta mesmo é do gado de sua fazenda. O que ele é? - Candidato dos fazendeiros - delirava a galera. - Isso mesmo. Não pode ter o voto do povo. Já eu, meus amigos, nasci aqui, nesta rua do Meio, a mais popular de Feira de Santana. E eu, meus amigos, o que eu sou? Lá do fundo da turba, um gaiato soltou a voz: - Filho da puta. O comício acabou ali. Panorama sob céu nublado O Brasil vive estado de letargia. Eleitorado não se motivou nem para a Copa do Mundo, que está começando, nem para a campanha eleitoral, que está se apresentando como uma gigantesca parede de mosaicos, sem nenhum bloco a chamar a atenção. A indignação contra a classe política é patente até no silêncio das massas. As mobilizações são mais escassas. Os perfis lutam para dar visibilidade ao seu pensamento. Refluxo na economia As redes sociais continuam a fazer o jogo "tiroteio recíproco" entre grupos. As pesquisas contêm um imenso viés: a de pôr Lula como candidato. A economia dá sinais de refluxo, quando as coisas começavam a melhorar. A inflação, mesmo contida, dá sinais de voltar a crescer. Os governantes dos Estados, com exceção de uns cinco, aproximadamente, não receberão o passaporte de volta. O caminho até 7 de outubro é cheio de curvas e surpresas. Imponderável Na terra "onde se plantando tudo dá", o Senhor Imponderável dos Santos do Pau Oco pode baixar a qualquer momento. Pré-campanha lenta A pré-campanha está avançando lentamente. Os candidatos esperam por algum imprevisto ou torcem para que o maná caia do céu. Só agora parece descobrirem a importância do tempo televisivo. Procuram partidos médios, com cerca de 30 parlamentares e mais, para fechar acordos e parcerias. PP, PRB, PTB e PDS estão entre os mais procurados. Josué, o cobiçado Josué Gomes da Silva, o empresário dono da Coteminas, é ambicionado por partidos. Tem dinheiro e encarna a novidade. Daí o assédio que está sofrendo. Pode custear a própria campanha se, por acaso, se transforme em candidato de um partido forte. O PP, por exemplo. Josué é filho do ex-vice-presidente de Lula, José Alencar, falecido. Tem origem em Minas, o segundo maior colégio eleitoral do país. Pode figurar ainda como candidato a vice. Tem cacife $$$$$$$. Lula animado Quem visita Lula sai dizendo que ele está muito animado. Mais magro, esbelto, lendo muitos livros, esperançoso e com a ideia mais do que fixa de que nunca cometeu erros. Não tem culpa na Justiça. Lula candidato O PT aposta na candidatura do ex-presidente, que deve entrar na Lei da Ficha Suja. Não menosprezo o PT, mas também não o glorifico. Parece que os petistas ainda não mediram o tamanho do buraco que o ciclo governativo do partido abriu no país. Mas, se Lula não for candidato, deve ser um forte eleitor. De cara, põe seu substituto no patamar de 15%. Chute pra fora Paulo Skaf, Presidente da FIESP (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), não sabe o índice da indústria de transformação na formação do PIB nacional. Na sabatina promovida pelo UOL, Folha de S. Paulo e SBT com os candidatos ao governo do Estado, o pré-candidato do MDB chutou 12%. O índice representou pouco mais de 9% no primeiro trimestre de 2018. Ainda que fosse considerado o ano de 2017, quando a indústria atingiu o patamar de 10,15% do PIB, o índice de Skaf seguiria superestimado. O jogador de chute errado! Lendo pesquisas A última pesquisa DataFolha, divulgada no fim de semana passado, foi iniciada com uma pergunta aberta, espontânea, o que, a meu ver, distorce todo o quadro. Estamos vivendo momentos de polaridade e tensão e é claro que uma pergunta aberta dispara ânimos, motiva a militância, funciona como pólvora que estende a fogueira para muitos lados. Qualquer desvio padrão distorce resultados. Distorção O eleitor vai votar numa lista que pode ver na cabine de votação. Ele pode analisar, pender para um lado e outro, comparar. Seus estímulos são levados a um processo de escolha múltipla. Colocar a pergunta espontânea na abertura é arregimentar um exército que está pronto a entrar na batalha! O esquentamento do perfil que tem mais simpatizantes se expande na esteira da pulverização de candidatos sem força. Dessa maneira, Lula tende a ganhar um peso maior do que tem e os outros candidatos acabam ficando em segundo plano. A polarização se estabelece. Bolsonaro aparece como contraponto. E, assim, ficamos com esses dois nomes que fazem campanha nos extremos: Lula e Bolsonaro! Ambos lideram as vontades nessa pré-campanha. PT em festa Diante dos resultados, o PT está vibrando com a pesquisa Datafolha. Lula na frente. Mas o partido deverá fechar a cara mais adiante. Luiz Inácio não deverá ser aceito candidato pelo TSE. A conferir. Mas vale Em suma, o meu aplauso ao DataFolha e, em especial, ao Mauro Paulino, especialista respeitado, mas nem por isso imune a críticas. A meu ver, essa pesquisa do DataFolha induz a respostas que não corresponderão ao X da questão no dia 7 de outubro. Pitacos de FHC A ideia de FHC de sugerir Marina Silva como alternativa do Centrão parece fadada ao fracasso. Marina é uma santa. Ou parece. E santidade não combina com a real politik. O centro continua disperso. Há, ainda, a eventual entrada de Josué Gomes da Silva, o megaempresário dono da Coteminas. Teria ele forças para congregar outros protagonistas? Acho que não. Um vulcão Com um monumental aparelho tecnológico, olho para as profundezas de nosso território continental. E diviso o magma se formando, quilômetros abaixo da superfície, prestes a subir, devagar, para explodir o vulcão social. Caso seja eleito alguém com perfil radical, seja na direita ou na esquerda. NV recorde Nas pesquisas de tendências, o NV - Não Voto (abstenções, nulos e brancos) pode bater o recorde este ano, saltando da média de 30% para 40% a 45%. Indignação geral. Mídias sociais nas campanhas A sociedade mundial está interconectada com as mídias tecnológicas, que passaram a constituir o novo fenômeno da sociedade contemporânea. As redes sociais permitem a interatividade, a integração, a socialização do conhecimento e da cultura. Um chinês do outro lado do mundo e o nosso amigo vizinho, enfim, todos os povos podem comungar as mesmas ideias, ou divergir por meio das redes tecnológicas. Na campanha deste ano, as redes sociais serão utilizadas com bastante intensidade pelas campanhas, funcionando como uma ferramenta tecnológica de informação, formação de opinião e propaganda. E o rádio e a TV? A televisão e o rádio, até então os dois mais poderosos instrumentos da comunicação política, continuarão a ser extremamente importantes, particularmente em períodos de campanha, quando os candidatos disporão de maior tempo para discorrer e detalhar seus programas de governo. Os candidatos com tempo mais largo de exposição tenderão a apresentar um melhor desempenho do que candidatos com curtíssimo tempo. A depender, claro, da criatividade. Lembram-se do Enéas Carneiro, do PRONA? Enéas tinha curtíssimo tempo, suficiente para dizer algo telegráfico e arrematar com "meu nome é Enéas". O cacoete linguístico lhe deu notoriedade. Mas não elegem Embora benéficas no sentido de agitar as militâncias, animar as alas que trabalham pelos candidatos, as redes sociais não serão capazes, sozinhas, de eleger este ou aquele candidato. Darão suporte, servirão como âncora, subsidiarão candidatos com informações, ajudando-os a mostrar ideias, projetos e programas de governo. Mas não elegerão candidatos. Militâncias serão mobilizadas. Mas novos eleitores não conseguirão. Campanha negativa Há que se tomar muito cuidado com a expressão verbal e escrita nas campanhas das redes sociais. Ataques, xingamentos, palavras mal utilizadas, conceitos ultrapassados, afirmações machistas ou que agridam as pessoas, a par de fake news compartilhadas poderão animar militantes. Mas arriscam a queimar o nome de candidatos. Big data Dia desses li, na coluna do Fernando Reinach, no jornal O Estado de S. Paulo, uma análise da interessantíssima pesquisa The Effect Of Partisanship And Politica Advertising On Close Family Ties. No levantamento, um grupo de cientistas descobriu que, após a eleição de Trump, os jantares de Thanksgiving (O Dia de Ação de Graças americano), nas famílias em que existe discordância política, foram 38 minutos mais curtos que a média. Em 2016, na média, esses jantares duraram 4 horas e 28 minutos. Descobrindo tudo Os cientistas ainda identificaram quais os distritos eleitorais mais bombardeados por anúncios políticos antes da eleição. Quando pessoas desses distritos se encontraram semanas depois da eleição, os jantares foram ainda mais curtos. Com essa pesquisa, fica claro o quanto já se sabe sobre o comportamento dos consumidores e eleitores e em que pé está o uso da tecnologia. Até nos pormenores. Sem segredos Com Big Data, que tende a ter sua utilização ampliada e intensificada nos próximos anos, será possível conhecer informações muito privadas. Não haverá mais segredos. O uso de pesquisas tecnológicas e algoritmos deve identificar por inteiro o ser humano: vontades, expectativas, natureza, índole, desejos, locomoção. O Donald Trump, por exemplo, descobriu que seus eleitores mais conservadores queriam um muro separando EUA e México. Então ele bateu nessa tecla. (Não importa se o muro será realidade ou não). O que importa é o que o eleitor quer ouvir. As empresas estão utilizando amplamente essas técnicas para acertar seu alvo, o público de campanhas publicitárias e políticas. Guerra e paz Donald Trump e Kim Jong-un começaram a discutir suas desavenças. A primeira conversa foi a sós. O gordinho parecia desajeitado. Um peixe fora d'água. Os dois decidiram desnuclearizar a península coreana. O encontro paira sobre uma grave crise que ameaça a economia global. O G7 praticamente rompeu com Trump. Em jogo, cerca de US$ 500 bilhões. O ambiente na Casa Branca é o pior de todos os tempos. Brigas, dissensões, querelas, puxadas de tapete. E falta de comando. E nós, por aqui, sobreviveremos?
quarta-feira, 6 de junho de 2018

Porandubas nº 576

Abro a coluna com JK. JK? Anos de chumbo grosso. Tempos magros, época de fechadura braba. Falar em Juscelino Kubitschek (JK) era, no mínimo, pecado mortal. Mudança das placas dos carros, as chamadas alfanuméricas. A Câmara Municipal de Diamantina oficia ao CONTRAN solicitando as letras JK para as placas dos carros do município, "como uma forma de homenagear o grande estadista John Kennedy". O CONTRAN não atende. Um conterrâneo de Juscelino desabafa: - Esse pessoal do Conselho deve ser republicano, eleitor do Nixon. (Historinha de Zé Abelha) Estado de expectativa Passada a turbulência da greve dos caminhoneiros, o país passa a viver um estado de expectativa. Existe alguma pedrinha do dominó a ser empurrada? Que setores poderão gerar desarmonia social, mobilização das ruas, confusão? Sabemos que alguns "exércitos" estão de prontidão. Não me refiro à prontidão das Forças Armadas, mas à articulação que setores radicais podem estabelecer para influenciar o clima do "quanto pior, melhor". Oportunistas, aventureiros, doidivanas, mercenários estão de olho nos horizontes. Urubus Como urubus disputando a carniça, vândalos querem tirar proveito para disputar o melhor pedaço político. Pedem ordem, mas pregam a bagunça, querem o império da lei, mas defendem intervenção militar. Faixas com esse apelo são usadas em movimentos de 10, 20 ou 100 pessoas. Mas o povão mesmo está afastado dessa artificial movimentação. A cúpula militar, por meio de seus chefes, entre eles o comandante do Exército, general Villas Bôas, já repeliu as insinuações. Prandi "Há uns malucos querendo a ditadura. Eles não sabem o que querem. Nunca viram, não têm ideia do que foi a intervenção militar no país, porque não têm formação. Não sabem isso e também não sabem mais nada". Sociólogo Reginaldo Prandi, um dos desenvolvedores das pesquisas de opinião no Brasil. Classes médias Vejamos. As classes médias, A, B e C, tendem a decidir sob critérios racionais. O poderoso grupamento de profissionais liberais, que forma opinião, está atento, observando o cenário, avaliando quadros e começando a se posicionar. O estrato médio mais baixo, o de classe C, tende a desenvolver um posicionamento mais duro, menos flexível e mais condizente com a ordem pública. Nele estão incluídos núcleos bolsonaristas. A esse contingente, juntam-se pequenos e médios proprietários de terras, comerciantes e alguns cantões mais conservadores. Mas as classes médias A e B tendem a formar um pensamento mais comedido, menos espalhafatoso e mais compromissado com valores democráticos. As margens As margens sociais procuram acalento, segurança, um pouquinho mais de grana no bolso, e muitos ainda procuram refúgio no cobertor do Estado. São propensos a aceitar e a admirar perfis populistas, demagogos ou representantes da política de cabresto, que abriga benesses e bolsas. Constituem massas amorfas que votam na esteira do fisiologismo em pleno vigor em espaços menos desenvolvidos do país. Como tal, são passíveis dos balões de ensaio e de inputs que saem dos polos de informação e opinião encaixados no meio da pirâmide. Portanto, o voto mais volúvel habita com intensidade a base social. A agitação e a eleição Uma das indagações recorrentes é: qual a influência da agitação de rua no processo eleitoral? Outra: quem está interessado na desorganização social? É claro que ruas sedentas de demandas terão peso no processo eleitoral. Principalmente em matérias que afetem diretamente o bolso do consumidor. Digamos que daqui a 60 dias, quando termina o prazo do desconto de R$ 0,46 no litro do diesel, organizações tentem voltar ao tema e cobrem do governo a continuidade do movimento. Políticos identificados com demandas mais claras e fortes poderão se beneficiar. Uma eleição sob tumulto melhora ou piora a situação de alguns protagonistas. Mas há um perigo Se as ondas sociais forem conduzidas sob a bitola eleitoreira, as massas poderão flagrar interesses espúrios, misturados a interesses legítimos de categorias, e dar o troco, que tende a ocorrer em forma de bumerangue: castigo, desprezo e o NV - não voto - em determinados candidatos. Os partidos de esquerda, a partir do PT, podem querer se aproveitar do tumulto social para melhorar sua performance. A operação corre o risco de ser um fracasso. Mesmo que tenha como meta tirar Lula da prisão. Brancos, nulos e abstenção A indignação social, com a consequente repulsa aos políticos, poderá aumentar, no pleito deste ano, o número de votos brancos, nulos e abstenções. Da média histórica entre 30% a 32%, podemos saltar para 40%. Vejam o que acaba de acontecer em Tocantins: abstenções, brancos e nulos somaram mais de 49% na eleição do último domingo para governo do Estado, maior que a soma dos dois candidatos que vão ao 2º turno. Aliás, em pelo menos 11 cidades do Tocantins, as abstenções, votos nulos e brancos superaram a quantidade de votos válidos. Kátia e Lula I A senadora Kátia Abreu (PDT-Tocantins) tornou-se mais conhecida fora de seu Estado como presidente da Confederação Nacional da Agricultura (2008-2011) e, mais tarde, como ministra da área no segundo mandato de sua amiga Dilma Rousseff (PT). Embora então no PMDB, votou contra o impeachment de Dilma e tornou-se feroz adversária do presidente Michel Temer. Acabou expulsa do partido no ano passado e passou para o PDT de Ciro Gomes. Kátia e Lula II Neste último domingo, concorreu ao cargo de governadora de Tocantins com o apoio do PT e do ex-presidente Lula, que fez uma carta lida em vídeo pela senadora Gleisi Hoffmann. O vídeo foi um bumerangue. Afundou Kátia Abreu. A eleição para substituir o governador cassado, Marcelo Miranda, vai para o segundo turno, a será disputado por Mauro Carlesse (PHS), governador interino, e o senador Vicentinho Alves (PR). Se vale como aperitivo para as eleições de outubro, a demonstração de força de Lula e do PT foi um tremendo fracasso. Greve de caminhoneiros O governador Márcio França, de São Paulo, teve um bom desempenho na negociação com os caminhoneiros. Enquanto o governo Federal tateava na solução, não contando com a presença de parcela ponderável das lideranças, o governo de São Paulo tomou a iniciativa de fechar o acordo. Mas a empreitada foi bem-sucedida graças à forte articulação empreendida por Marcos da Costa, presidente da OAB/SP, que funcionou como um elo entre os governos estadual, Federal e lideranças. Marcos foi imprescindível e, graças ao seu esforço, ocorreu o desbloqueio da rodovia Regis Bittencourt. Onde a resistência era maior. França, habilidade Já o governador Marcio França, às voltas com a questão do desconhecimento de seu nome, ganhou ampla cobertura da mídia, podendo sua disposição e sua liderança na condução do processo e conciliação vir a ter grande efeito na eleição de outubro. O governador, que assumiu o lugar de Geraldo Alckmin, é candidato à reeleição pelo PSB. Articulação social Na eleição deste ano, na esteira da organicidade social, o fator articulação será um dos mais importantes do marketing eleitoral. Nunca a sociedade brasileira esteve tão organizada. Uma miríade de entidades - sindicatos, federações, núcleos, associações, grupamentos, setores, áreas e categoriais profissionais - leva adiante a tarefa de mover a sociedade. Logo, a articulação com entidades e líderes se torna fundamental para o bom desempenho dos atores políticos. Mas os velhos marqueteiros não entendem disso. Acham que comunicação é apenas propaganda eleitoral. Muitos ainda não abandonaram a Idade da Pedra. Os limites do marketing Os administradores públicos se esforçam para criar uma identidade. Criam símbolos, sejam marcas, logotipos, slogans, etc. para serem reconhecidos pelo eleitor. A cruz de Cristo é, seguramente, um dos mais fortes símbolos da Humanidade. O sistema cognitivo das pessoas o associa imediatamente a Jesus. Essa tradição de uso de sinais é milenar. O marketing político faz uso deles para deixar o candidato mais próximo ao eleitor. Já o marketing governamental também neles se apoia para identificar o gestor - presidente, governador, prefeito e outros protagonistas. Ora, separar os limites entre marketing governamental e marketing eleitoral é uma tarefa quase impossível. Os limites são tênues. Candidatos se esforçam para ser reconhecidos por sua obra, que é geralmente associada a um sinal. É a estética estabelecendo ligação com a semântica. A multa de Doria Feita a análise conceitual acima, vamos ao caso. A juíza Cynthia Tomé, da 6ª vara da Fazenda Pública de São Paulo, impõe multa de R$ 200 mil, abrindo nova ação de improbidade contra o ex-prefeito João Doria (PSDB). Argumenta que ele faz promoção pessoal com o uso da expressão "Acelera SP". Tem sentido isso? Jânio usava o cabelo desgrenhado e olhos esbugalhados como marca. Juscelino Kubitschek usava o famoso JK como marca. Hoje, sua identidade seria proibida. Insensatez? Muitos usam ainda o V da Vitória, símbolo usado por Winston Churchill por ocasião da vitória das forças aliadas contra as forças nazistas de Hitler. Coisa natural. Tentar, agora, despregar o sinal do "Acelera SP" da imagem de João Doria é arrematado viés jurídico. Ele está terminantemente proibido de usá-lo. Imaginemos o ex-prefeito flagrado ao brincar com uma criança e usar o gesto. Mais 200 paus de multa. Ou mais. Meu Deus, quanta insensatez. Fecho a coluna com o presidente Dutra. Escola para quê? O presidente Dutra tinha um auxiliar capixaba, oficial do Exército, gago. Quando Dutra dava uma ordem, ele ficava mais gago ainda. Resolveu dar um jeito de curar a gagueira. Soube que o Méier tinha uma escola para gagos, tocou para lá. O endereço que levou não coincidia. Procurou no bairro todo, nada. Foi ao português da esquina, desses de bigode e tamanco, cara de quem desceu na praça Mauá: - O sesesenhor popopodia me inininformar se aaaqui temtemtem uma escola para gagagago? - Mas o senhor já fala gago tão bem, para que quer escola? (Do acervo do imperdível Sebastião Nery).
quarta-feira, 30 de maio de 2018

Porandubas nº 575

Abro a coluna com uma pequena oração: "Quiçá o Brasil entre urgente na normalidade com o final de greves e paz social". E por lembrar o advérbio quiçá (quem sabe, talvez), brindo os leitores com uma mineira historinha. Quiçá e cuíca Benedito Valadares, governador, foi a Uberaba para abrir a Expozebu. E passou a ler o discurso preparado pela assessoria. A certa altura, mandou ver: "cuíca daqui saia o melhor gado do Brasil". Ali estava escrito: "quiçá daqui saia o melhor gado". A imprensa caiu de gozação. Passou-se o tempo. Tempos depois, em um baile na Pampulha, o maestro, lembrando-se do famoso discurso na terra do zebu, começou a apresentar ao governador os instrumentos da orquestra. Até chegar na fatídica cuíca. E assim falou: "e esta, senhor governador, é a célebre cuíca". Ao que Benedito, desconfiado, redarguiu com inteira convicção: - Não caio mais nessa não. Isto é quiçá! (Historinha enviada por J. Geraldo) Panorama crítico A situação está prá lá de crítica. É a primeira observação deste analista político. Ao longo de minha vida jornalística, poucas vezes presenciei tanto estrangulamento na vida produtiva do país. Esta greve dos caminhoneiros excede todas as expectativas. E sinaliza interesses outros que não as efetivas e legítimas demandas das categorias. Há grupos interessados em manter a bagunça; oportunistas de plantão; militantes a serviço de partidos. (O governo teria identificado três movimentos políticos - "Intervenção militar já", "Fora Temer" e "Lula livre" - infiltrados na paralisação dos caminhoneiros.). Eles não levantam bandeiras porque seriam escorchados. E saudosistas das ditaduras, que brandem discursos intervencionistas. Governo tardou Vamos à análise do movimento paredista. Como escrevi, ontem, na Folha de S.Paulo, o governo enfrenta um dilema, que Carlos Matus, o famoso cientista social chileno e ex-ministro de Allende, resume com essa frase: "não é possível combinar sacrifícios econômicos e recessão transitória com crescimento econômico, aumento do emprego e Justiça social". A greve dos caminhoneiros coloca o governo diante do desafio: equilibrar os três cinturões que balizam uma administração pública: o econômico, o social e o político. Concessões Ademais, o governo montou um pacote de concessões, fez um primeiro acordo sem todos os representantes das categorias envolvidas na greve, fez um segundo acordo, complementando o primeiro, mas sem as garantias de que os caminhoneiros iriam desbloquear as estradas e acabar com a greve. Foi o que não aconteceu. Mobilizou as Forças Armadas, mas, pelo que se sabe, apenas alguns cabos e sargentos tomaram a direção dos caminhões. Afinal, para onde ir, que lugares deveriam receber as cargas etc. Pareceu um grande improviso. A comunicação do governo, mais uma vez, foi um desastre. O presidente está fazendo das tripas coração para ele mesmo ser o principal porta-voz governamental. Primeiro, a economia O equilíbrio entre os cinturões é responsável pela fortaleza ou fragilidade das ações governamentais. Os campos se imbricam de forma que o sucesso alcançado por um afeta o outro. Tomemos a economia: se produzir resultados de forma a resgatar a confiança dos setores produtivos, a frente política tende a olhar de maneira simpática para a gestão, com a consequente aprovação de projetos do Executivo. Foi o que se viu nos primeiros tempos da gestão Temer. A linha adotada inicialmente pelo governo foi bem-sucedida, mas no que se refere à política de preços dos combustíveis, elogiada nos primeiros momentos e que propiciou loas ao presidente da Petrobras, Pedro Parente, hoje é alvo das críticas. Dolarizar a gasolina Dolarizar o preço da gasolina, aumentá-lo ou diminuí-lo de acordo com a oscilação do preço do barril de petróleo no mercado internacional, criou por aqui uma gangorra, com remarcações quase diárias na bomba. O impacto no bolso de caminhoneiros foi jogado no colo de um governo que, ao contrário da administração Dilma, não represou preços. E isso tirou a Petrobras do buraco. Mas a fatura chegou com uma gigantesca greve que paralisou setores vitais. As concessões feitas pelo governo ao setor do diesel motivam outras áreas a fazer exigências. O horizonte sinaliza nuvens pesadas. Horizontes sombrios Veja-se essa greve dos petroleiros marcada para hoje e com duração de 72 horas. Junta a fome com a vontade de comer. Ou seja, será mais um movimento a paralisar o país. Como atender às demandas de petroleiros, entre as quais o congelamento de preços dos combustíveis, a demissão do presidente da Petrobras, Pedro Parente, a suspensão de importação de diesel e gasolina? Os cofres do Tesouro não suportarão estender benefícios a torto e a direito, política que quebraria a coluna vertebral que segura a economia. O afrouxamento do cinturão econômico ameaça desfazer a identidade reformista do governo. O cinturão social Já a área social ressente-se do seu pequeno PNBF (Produto Nacional Bruto da Felicidade), a partir do desemprego em massa e parcos resultados que a economia joga em seu bolso. Se a locomotiva econômica dá sinais nesse momento das dificuldades para puxar os vagões do trem - ainda mais com os efeitos deletérios da greve dos caminhoneiros - a ruptura social é o desenho à vista. O fato é que a administração não tem tido a capacidade de "fazer com que as coisas aconteçam" dentro de parâmetros de normalidade. A rigidez nas contas públicas começa a perder força, derrubada pela pororoca que aumenta as carências e corrói as esperanças do povo. O temor é que o descarrilamento do trem econômico puxe dissabores por todos os lados. A sociedade, em peso, abrirá sua expressão de indignação. Impacto no governo As elogiadas iniciativas governamentais - teto de gastos, reforma trabalhista, reforma educacional, terceirização, recuperação da Petrobrás e do Banco do Brasil, resgate da credibilidade do país - serão empurradas para longe pelos destroços que a greve provoca no seio social. E se outros movimentos emergirem com pautas reivindicatórias e de difícil atendimento? De onde o governo vai tirar recursos para ajustar, ao mesmo tempo, os cinturões econômico e social? O efeito "pedrinhas do dominó" abrirá imensa cratera no meio da sociedade. O cinturão político O terceiro cinturão é o político, que também se apresenta frouxo e esgarçado. Em ano eleitoral, os representantes adotam uma postura de resguardo, voltando-se (e até votando) contra um governo impopular. Não se pode contar com o cinturão político para ajudar o governo a aprovar medidas fundamentais ao crescimento. Partidos, grupos, operadores de estruturas disputam espaços de poder em torno de uma Torre de Babel. Ninguém se entende. Não é improvável vermos o pleito de outubro com multidões nas ruas. O momento exige bom senso. A quem interessa a baderna? Aos extremos: da esquerda e da direita. Esse ensaio nas avenidas de São Paulo e em algumas estradas pedindo "intervenção militar" sinaliza na direção do perfil identificado com "militarismo", força, ordem na bagunça: o capitão Jair Bolsonaro. Do lado extremo do arco ideológico, a extrema esquerda quer revanche ao que considera "um golpe", Michel Temer na presidência. O "quanto melhor, pior" pode funcionar como meio de pressão para tirar "o santo Luiz Inácio" da cadeia. Há, portanto, uma orquestração com essa melodia. Inclusive com a expressão de alguns militares de alta patente que, já de pijama, usam as redes sociais para falar de política. Já Bolsonaro percebeu que a intervenção militar acabará batendo na testa dele: as classes médias não entrariam nessa engabelação. E já começa a recuar. Crise sistêmica O fato é que o movimento paredista dos caminhoneiros bateu em muitos setores da vida cotidiana: supermercados sem produtos essenciais; hospitais e postos de saúde sem remédios; mobilidade urbana prejudicada; sistema educacional sem aulas; usinas siderúrgicas paradas e sem produção de aço; um bilhão de aves mortas nos próximos cinco dias se o desabastecimento continuar; 20 milhões de suínos mortos; impossibilidade de transportar essa massa; risco de contaminação de áreas e rebanhos; cirurgias impedidas e adiadas, etc. Imaginem a soma de toda essa destruição. Bilhões e bilhões. O país atrasa um bom tempo em seu percurso civilizatório. Mais impostos O temor de agravamento do clima social é imenso. A solução que o governo apresenta para ressarcir a conta das concessões é o aumento de impostos, a reoneração das folhas de pagamento (o ministro Eduardo Guardia desmentiu um dia depois de ter anunciado o aumento em entrevista coletiva). Ora, os trabalhadores e as empresas não aguentam mais - uma fração mínima que seja - aumento de tributos e impostos. A carga tributária chegou ao pico. A revolta dos setores organizados da sociedade - as grandes entidades - se somará ao clamor de todos. E os efeitos se voltarão como um bumerangue contra o governo. A turma do gogó, que pede renúncia ou afastamento do presidente, vai escancarar a goela. Ibope em SP 1º cenário Pesquisa Ibope feita em São Paulo com 1.008 eleitores e divulgada neste 29 de maio revelou, no 1º cenário: 1) Lula, 23%: 2) Jair Bolsonaro; 19%: 3) Geraldo Alckmin, 13%; 4) Marina Silva, 9%: 5) Ciro Gomes, 3%; 6) Álvaro Dias, 2%; 7) Fernando Collor de Mello, Henrique Meirelles, João Goulart Filho e Rodrigo Maia, 1%. Os outros não pontuaram. Brancos e nulo, 21%. Não sabe/não respondeu, 5%. 2º cenário 1) Jair Bolsonaro, 19%; 2) Geraldo Alckmin, 15%; 3) Marina Silva, 11%; 4) Ciro Gomes, 7%; 5) Álvaro Dias, 3%; 6) Fernando Haddad, 3%. Com 1% estão Henrique Meirelles, Fernando Collor de Mello, João Goulart Filho, Rodrigo Maia, Aldo Rebelo, Guilherme Boulos, João Amoêdo, Levy Fidelix, Manoela D'Ávila, Paulo Rabelo de Castro e Flávio Rocha. Brancos e nulos, 27%; Não sabe/não respondeu, 4%. 3º cenário 1) Jair Bolsonaro, 20%; 2) Geraldo Alckmin, 15%; 3) Marina Silva, 12%; 4) Ciro Gomes,7 ; 5) Álvaro Dias, 3%; 6) Henrique Meirelles, 2%. Com 1%: Aldo Rebelo, Fernando Collor de Melo, Flávio Rocha, Guilherme Boulos, João Goulart Filho, Rodrigo Maia, João Amoêdo, Levy Fideliz e Manuela D'Ávila. Os demais não pontuaram, incluindo o candidato do PT nesse cenário, Jaques Wagner. Brancos e nulos, 27%. Não sabe/não respondeu, 4%.
quarta-feira, 23 de maio de 2018

Porandubas nº 574

Abro a coluna com a sabedoria do prefeito de Santa Rita do Sapucaí, nas Minas Gerais, em tempos de outrora. Quatro sinais Certo prefeito de Santa Rita do Sapucaí, nas Minas Gerais, ao ver nomeado um amigo para comandar o DETRAN, correu a Belo Horizonte, e não se fez de rogado. Foi logo pedindo: - Amigo, me arranje uns sinais luminosos para minha cidade. Vai ser o maior sucesso. Vai ajudar muito a minha popularidade. O diretor, tomado de surpresa, ante tão inusitado pedido, procurou administrar a euforia do prefeito, mas não tinha como escapar à pressão: - Compadre, está difícil arrumar esses aparelhos. Tenho de fazer uma grande reforma aqui na capital. Mas vou me esforçar para lhe arrumar quatro sinais. Mas, por favor, não espalhe. Insisto: não espalhe. E assim foi. Ao chegar a Santa Rita, um mês depois da entrega, ficou embasbacado. Viu os quatro sinais colocados no mesmo lugar: o centro da cidade. Perguntou ao alcaide: "por que você mandou colocar todos eles naquele lugar"? Sorriso no canto da boca, o prefeito respondeu: - Ora, compadre, você esqueceu? Me lembro bem: você bem que me pediu para não espalhar os sinais de trânsito. E Meirelles, vai ou não vai? A pergunta do início da semana: e aí, Henrique Meirelles emplacará ou não? Toma o lugar de Michel Temer como candidato do MDB. Mais uma vez, usemos nossas bolas de cristal para tentar distinguir os caminhos do ex-ministro da Fazenda do atual governo. Procuremos agrupar fatores e razões sob algumas hipóteses. A primeira é a economia. O Brasil saiu da pior recessão de sua história e, segundo se sabe, por motivos de política econômica levada a cabo pelo então ministro Meirelles. Mas esse fator começa a ser embrulhado em papel grosso. E tende a ser jogado de lado. E o desemprego? A melhoria da economia, no entanto, não ocorre de maneira tão rápida quanto alguns porta-vozes chegaram a anunciar. O consumo voltou, mas não com tanto ímpeto. As margens sentiram leve brisa nos rostos de seus ocupantes, mas não a ponto de proporcionar um clima de conforto. Até porque os efeitos da recuperação da economia se fazem sentir de maneira mais palpável pela via do emprego. E os números nessa área são pequenos. O desemprego afeta cerca de 13,5 milhões de brasileiros. PIB da felicidade O Produto Interno Bruto da Felicidade não atingiu um índice que possa comprovar generalizada sensação de conforto social. A insegurança, com a violência desbragada, campeia. Em todos os espaços, os índices de criminalidade se expandem. As metrópoles e as grandes cidades expõem suas condições nervosas: trânsito congestionado, sistemas precários de mobilidade, gasolina e diesel aumentando, impostos devendo ser pagos nos prazos sob pena de multas, etc. O Bolso não está cheio para deixar a Barriga satisfeita, o Coração comovido e a Cabeça agradecida. A equação BO+BA+CO+CA está desarrumada. Déficit de carisma Ademais, Henrique Meirelles não acrescenta pontos ao estoque de carisma. Lula ainda tem. Outros candidatos quase zeram nessa pontuação. Meirelles exibe uma fonética meio arrastada, como se estivesse cansado de chegar ao final da frase. Sua cabeça arredondada, apresentando uma careca de muito respeito, insere seu perfil na galeria das figuras enfileiradas nas fotos de preto e branco dos nossos antepassados. Se ao menos a cara do velhinho irradiasse simpatia. Lembrando Getúlio? Não tem de Getúlio Vargas, cantado em versos por Haroldo Lobo, "Retrato do Velho" (marcha/carnaval), na campanha presidencial de 1950: "Bota o retrato do velho outra vez; bota no mesmo lugar; o sorriso do velhinho faz a gente trabalhar. Eu já botei o meu; E tu não vai botar? Já enfeitei o meu, e tu vais enfeitar? O sorriso do velhinho faz a gente trabalhar". Senhor imponderável Mas em política tudo pode acontecer. Digamos que caia um raio que abata a candidatura de Geraldo Alckmin; digamos que os outros candidatos do centro - Álvaro Dias, Flávio Rocha, João Amoedo, Paulo Rabelo de Castro - não consigam empolgar o eleitor; digamos que Marina Silva dê mostras de fragilidade; digamos que a metralhadora ambulante, Ciro Gomes, apresente defeitos na campanha. Digamos que os outros candidatos de esquerda - Boulos, Manuela - não se unam. E, por último, façamos de conta que Meirelles se sobressairá por inteiro com sua linguagem trôpega e corra como um bom cavalo de corrida. Ou um milagre de Sant'Ana Se isso ocorrer, o Senhor Imponderável de Anápolis/GO aparecerá com a testa pingando de suor e exibindo ares de vitória no calor da primeira semana de outubro. (Quem é mesmo a Padroeira de Anápolis?) Meu Deus, quanta coincidência: Senhora Sant'Ana, que é a padroeira de minha querida cidade Luís Gomes, uma serra a 750 metros de altura, nos confins do RN, PB e CE. Terrinha onde vim ao mundo. A maior probabilidade Deixando o campo de hipóteses e abstrações, mas continuando a usar minhas bolas de cristal, agora sobre um pilar de razoabilidade, as projeções mais racionais conduzem o raciocínio de que o quadro da política, o estado social, o arco ideológico e o jogo de parcerias, em processo de articulação, apontam um segundo turno abrigando: de um lado, as forças e conjuntos de centro-direita e, de outro, as forças e conjuntos de centro-esquerda. Os extremos podem produzir, hoje, grande volume de expressão, mas seus dois principais protagonistas arriscam-se a não ir a bom termo. Os dois extremos De um lado, Luiz Inácio Lula da Silva. Será enquadrado na Lei da Ficha Suja. Não sairá candidato, mesmo com todos os esforços do PT para viabilizar seu nome nas urnas. De outro, Jair Bolsonaro. Gira em torno de 18%. Não deverá conseguir formar ampla maioria, em função do retalho ideológico que encarna: extrema direita, armamentista, despreparado, um perfil que se amolda ao conceito de endurecimento das regras no Brasil. O meio e suas ondas O eleitorado racional, que reúne grupamentos de centro, tenderá a se afastar dele mais adiante. O meio social funciona como a pedra jogada no meio do lago. As ondas correrão até as margens. Pelas coisas absurdas que propagará. Volto a insistir com a regra: na política não há certezas prévias. Poderemos assistir o reingresso em cena do Senhor Imponderável dos Azares. Nesse caso, um capitão fardado de presidente poderá estampar sua cabeleira sob o sol ardente do Planalto Central. Zuzinha, senador Mário Covas Neto, vereador, filho do saudoso ex-governador de São Paulo, deverá ser candidato a senador pelo Podemos. Covas é advogado e foi reeleito vereador nas eleições de 2016 com 75.583 votos, sendo o quinto parlamentar mais votado no pleito. Atualmente, é membro da Comissão de Administração Pública, da qual já foi presidente em seu primeiro mandato na Casa. PSDB Quem quer ser o candidato a senador do PSDB é o deputado Ricardo Tripoli. Mas não concordam Cauê Macris, Pedro Tobias e Mara Gabrilli. Os três querem também ser candidatos. Amoedo no Roda Viva João Amoedo, que criou o partido Novo e é candidato à presidência da República, foi o entrevistado do programa Roda Viva, da TV Cultura, na última segunda-feira. Fala bem. Mas tudo muito alto, genérico, utópico, abstrato. Se eleito, passa a ideia de que vai governar unicamente com os congressistas do Novo a serem eleitos. Um liberal nas nuvens. De boas intenções, a terra da fornalha permanente está cheia. Amoedo, pise com os pés na dureza de nossa realidade... CNC, sombra e luz Declarações do candidato à presidência da CNC, José Tadros, devem ter deixado seus pares preocupadíssimos. O presidente da Fecomércio-AM há 32 anos não percebe sinais dos tempos: atacou o jornal Valor, dando respostas estarrecedoras, como no caso das acusações de nepotismo e sobre "foro íntimo" na sua ausência de proposta sobre reeleições. Disse que o debate sobre a sucessão na entidade que representa milhões de empresas e empregos não deveria ser público, e sim "interno", nas sombras. O outro candidato, deputado Laércio Oliveira, é criticado pelo grupo de Tadros por defender a renovação na CNC e externalizar o debate sobre seus desafios. Ao contrário de Tadros, Laércio possui amplas relações com a base empresarial da CNC, com os demais setores econômicos e com a classe política. Laércio estaria jogando muita luz na eleição, o que não interessa. Protagonismo Laércio acredita que, como parlamentar e à frente da CNC, poderá defender ainda mais e valorizar a atuação das Fecomércios, do SESC e do SENAC, como fomentar a preparação das entidades para os desafios da economia digital. Exemplo de sinergia dos mandatos foi a gestão do então deputado Armando Monteiro, que ampliou o protagonismo da CNI. Sempre coerente na defesa dos setores do comércio, serviços e turismo, o parlamentar relatou a Lei da Terceirização e defendeu a Reforma Trabalhista, mesmo contrariando a visão de seu partido. Laércio é visto pelos outros presidentes da Fecomércio como uma pessoa confiável. Fecho a coluna com o Ceará Que mundo doido... - É o diabo, o mundo endoidou! Exclamava Maneco Faustino nas ruas de Limoeiro/CE. E completava: - Veja vosmicê: tá se vendo estrela a mei dia; já hai galinha com chifre; cangaceiro dá esmola pra fazer igreja; já apareceu bode que dá leite; chove no Ceará em agosto. Muié já se senta em cadeira de barbeiro. Pedro Malagueta confirmava: - Tá mesmo, cumpade, o mundo endoidou. Tenho três filha, duas casada e uma solteira: as duas casada nunca tiveram menino; agora a solteira todos os ano me dá um neto.. Marketing eleitoral Alavancas do discurso Nesse momento, os pré-candidatos começam a se preparar para o pleito. Este consultor oferece pequena ajuda, mostrando como conseguir a adesão dos ouvintes e participantes de um evento de massa ao discurso. Como conseguir atrair a atenção da multidão? Pincemos pequenas lições dos clássicos da política. Existem alguns símbolos detonadores e indutores do entusiasmo das massas em, pelo menos, quatro categorias. Eis as quatro alavancas psíquicas: 1. Alavancas de adesão - Discurso voltado para fazer com que a população aceite os programas, associando-os a valores considerados bons. Nesse caso, o candidato precisa demonstrar a relação custo-benefício da proposta ou da promessa. 2. Alavancas de rejeição - Discurso voltado para o combate à coisas ruins (administrações passadas, por exemplo). Aqui, o candidato passa a combater as mazelas de seus adversários, os pontos fracos das administrações, utilizando, para tanto, as denúncias dos meios de comunicação que funcionam como elemento de comprovação do discurso. 3. Alavancas de autoridade - Abordagem em que o candidato usa a voz da experiência, do conhecimento, da autoridade, para procurar convencer. Sob essa abordagem, entram em questão os valores inerentes à personalidade do ator, suas qualidades pessoais. Quando se trata de figura de alta respeitabilidade, o discurso consegue muita eficácia. 4. Alavancas de conformização - Abordagem orientada para ganhar as massas e que usa, basicamente, os símbolos da unidade, do ideal coletivo, do apelo à solidariedade. É quando o político apela para o sentimento de integração das massas, a solidariedade grupal, o companheirismo, as demandas sociais homogêneas. Brechas na lei O advogado, no leito de morte, pede uma Bíblia e começa a lê-la avidamente. Todos se surpreendem com a conversão daquele homem e perguntam o motivo. O advogado doente responde: "Estou procurando brechas na lei".
quarta-feira, 16 de maio de 2018

Porandubas nº 573

Abro a coluna com a verve mineira. Mudou de nome? Mariana, em Minas Gerais, já foi chamada de Roma brasileira. Terra de fé e de velhas igrejas. E cheia de placas com nomes engraçados nas ruas: - Cônego Amando - Armando Pinto Cônego Amando era conhecido pela verve. Um dia, viajando pelo interior do município, uma de suas acompanhantes caiu do cavalo. Rapidamente ficou em pé. Meio sem graça, perguntou ao Cônego: - O senhor viu a minha agilidade? - Minha filha, respondeu, eu até que vi. O que eu não sabia é que tinha mudado de nome. (Historinha de Zé Abelha em A Mineirice) Dispersão do centro As perspectivas não são muito boas para o centro político. Considerava-se, dias atrás, que a articulação seria mais intensa com vistas à integração dos candidatos do centro e consequente união em torno de um único perfil. Não é o que se vê. As estocadas entre lideres e pré-candidatos dos partidos de centro se avolumam, a ponto de quebrarem algumas vigas da ponte de aproximação. PSDB e DEM praticamente têm um oceano a separá-los. E tucanos e peemedebistas também permanecem distantes. Margens ganham força Com a dispersão dos candidatos centrais, as margens ganham força. Bolsonaro vê seu nome ganhando cada vez mais visibilidade e anunciado como forte candidato ao segundo turno. Já na esquerda, mesmo com Lula na prisão e inviabilidade de sua candidatura, os candidatos do lado esquerdo do arco ideológico adquirem musculatura. Ciro Gomes e Marina entram no rol de probabilidades. Ciro, mais loquaz e preparado, Marina, estampando mais ética, porém, com estrutura precária de campanha, avançam na direção dos grandes contingentes eleitorais. Bolsonaro segura ou não? É a pergunta que se ouve de todos os lados. Terá poucos segundos de TV e rádio. Mas ganhará ampla cobertura das redes sociais. A projeção desse consultor é a que Bolsonaro está atingindo seu teto. Poderia até ganhar mais volume caso o candidato da margem esquerda seja alguém do PT. A lógica da eleição é a de que os candidatos com maior espaço de comunicação - grandes partidos - ampliem seus índices de intenção de voto. Geraldo Alckmin, por exemplo. Álvaro Dias, caso dispusesse de um bom tempo de mídia eleitoral, teria chances de crescer. Sob essa perspectiva, e sob critérios lógicos, Bolsonaro não segurará seus índices. Mas o imponderável sempre abre uma portinha para aparecer. A maré vem das margens O fato é que as margens ganharão amplitude inusitada no pleito deste ano. Respira-se um clima de saturação. A água parece poluída em todos os rios e córregos da política. As vontades convergem para a abertura de novos poços. Todos querem beber de uma nova fonte. Há um empuxo das margens criando marolas em direção ao centro. As classes médias, que formam as ondas de opinião, também estão saturadas. Infelizmente, por falta de perfis novos, não vamos ainda inaugurar a Era das Inovações. Mas os ventos que soprarão das margens serão suficientes para arejar os jardins da política. O que falta a cada um Geraldo Alckmin (PSDB): maior arrojo, maior visibilidade nacional, discurso avançado, compromissos com reformas, mais sal no tempero do discurso. Jair Bolsonaro (PSL): posições menos retrógradas, direcionadas ao Brasil das mudanças e não compromisso com o conservadorismo, menos artilharia no discurso. Ciro Gomes (PDT): controle da expressão, cuidado para não ferir brios das classes centrais, maior disposição para o diálogo, menos propensão a briga de botequim. Marina Silva (Rede): menos suavidade e mais pluralismo no discurso, de forma a ampliar os eixos temáticos, maior capacidade para fazer parcerias e disposição para enfrentar a real politik. Álvaro Dias (Podemos): maior visibilidade nacional, discurso afinado às demandas sociais e regionais, articulação para adensar parcerias. Rodrigo Maia (DEM): ser conhecido em todo o Brasil; consolidar parcerias que o apoiam, abrir o discurso para temáticas sociais. Manuela D'Ávila (PC do B): convencer que tem experiência administrativa, mostrar domínio sobre temas nacionais, formar parcerias. Guilherme Boulos (PSOL): demonstrar que não é apenas "fogueteiro" ou ocupador de áreas publicas e privadas, abrir o discurso. Paulo Rabelo (PSC), João Amoedo(Novo) e Flávio Rocha(PRB): maior inserção do discurso nas áreas sociais, visão mais plural do Brasil, ao lado do domínio temático em matéria de economia. Michel Temer (MDB): articulação para viabilizar a candidatura; esforço para mostrar os avanços do país em dois anos de governo; visitar com frequência as regiões. Henrique Meirelles (MDB): capacidade de articulação para viabilizar sua candidatura junto aos partidos de centro, mobilidade, discurso mais afeito ao dia a dia da população, capacidade para decodificar economês ao nível popular. Guilherme Afif (PSD): convencer o PSD que é candidato pra valer; correr o país, abrir o discurso. Aldo Rebelo (Solidariedade): convencer o partido que é candidato pra valer; correr o país, abrir o discurso. Fernando Collor (PTC): convencer que seu perfil respira o espírito do tempo, convencer o partido que é candidato pra valer. José Maria Eymael (PSDC): Convencer que sua candidatura desta feita não vai se restringir ao famoso jingle. Fernando Haddad, Jaques Wagner ou outro perfil do PT: substituir o discurso do "nós e eles" pelo discurso na união nacional; reconhecer os erros cometidos pelo PT e evitar o exclusivismo nos domínios da política e do poder. Lula: liberar o PT para realizar o plano B (substituto) e aceitar as regras do jogo judicial, evitar discurso do ódio e da revanche. Pleito na CNC Pela importância do pleito que se realizará em setembro para o comando da CNC, a coluna abre espaço para comentar o evento. Fechamento de um ciclo Aos 92 anos, sendo os últimos 38 anos à frente da Confederação Nacional de Comércio de Bens, Serviços e Turismo, Antônio Oliveira Santos deixará o cargo. Trata-se da poderosa entidade patronal, liderando 27 FECOMÉRCIOs nos Estados e sete Federações nacionais de serviços, cerca de mil sindicatos e estruturas do SESC e SENAC espalhadas em todo o país. No fechamento do ciclo que consolidaria seu legado, Antônio Oliveira não conseguiu consenso e pode perder o protagonismo de abrir uma era de renovação, projetando o sistema para o futuro. Oxigênio na potência O sistema CNC destaca-se por sua força econômica. Mas há muita reclamação por ser uma entidade fechada e pouco atuante na efetiva defesa dos representados. As empresas ressentem-se de pouco espaço para participação. A hora é de suprir oxigênio na potência. Patrimonialismo A tendência do presidente que sai é a de apoiar uma chapa encabeçada por José Tadros, presidente da FECOMÉRCIO-AM há 36 anos. Eleito por seis sindicatos com os quais tem profundas relações, Tadros representa a continuidade de uma atuação patrimonialista. Com processos em investigação no TCU, uma liminar do TRF da 1ª região o mantém na disputa. Forte atuação no Congresso O outro candidato é o deputado Laércio Oliveira, Presidente da FECOMÉRCIO-SE. Laércio tem atuado como principal interlocutor do setor de comércio e serviços junto aos poderes públicos e outros setores empresariais. Com reconhecida atuação no Congresso e sem ser populista, Laércio foi relator da Lei da Terceirização, defendeu a reforma trabalhista, liderou resistência ao aumento do PIS/COFINS para os serviços e está na presidência da Comissão do Código Comercial. Trata-se de um candidato "ficha limpa". TST e o desequilíbrio As sete Federações de Serviços filiadas à CNC, representando parcela expressiva de empregos e contribuições para o sistema, querem ter direito a votar individualmente. Hoje, de acordo com estatuto da CNC, todas juntas têm um voto apenas. As entidades conseguiram decisões judiciais favoráveis em primeira e segunda instâncias, mas aguardam recurso da presidência da CNC ao TST, que precisa ser julgado antes de setembro. Hora da decisão O cenário atual é de equilíbrio, caso o TST não decida a tempo. Se as Federações de serviços puderem votar individualmente, o cenário é amplamente favorável a Laércio, que conta com apoio majoritário das FECOMÉRCIOs do Sul, Sudeste, Centro Oeste e parte do Nordeste. Tadros tem sua força no Norte e parte do Nordeste. A forte representatividade associada a Laércio, além do apoio empresarial e da classe política, tendem a puxar apoios para garantir a eleição. A eleição ocorrerá em setembro, mas praticamente será definida em junho. Força ao comércio e serviços Laércio tem conseguido alta adesão da base empresarial às suas propostas. No campo eleitoral, quer limitar a uma reeleição para o mesmo cargo na CNC. No campo institucional, sua proposta é fortalecer a atuação da entidade com maior participação das bases representativas e ampliar a comunicação, dando a ela a dimensão que a Indústria e a Agricultura têm na atuação no Congresso e no Executivo. No campo negocial, pretende apoiar a reestruturação dos sindicatos e sua capacidade de negociação no pós-reforma. Educação e tecnologia No SESC e no SENAC, seu foco principal será a educação e a necessidade de investimentos para a rápida atualização tecnológica das entidades, visando preparar trabalhadores e empresas para as transformações da economia digital. Laércio atuou na defesa do sistema S. Acredita que, como o Sistema sofre questionamentos, precisará no próximo ciclo dar respostas rápidas e se mostrar cada vez mais útil para a sociedade. Marketing eleitoral Porandubas abre espaço para o marketing eleitoral. Estratégias e táticas Candidatos de todos os partidos ganham força quando estabelecem um bom planejamento de suas campanhas. Pequeno roteiro: - Buscar o apoio de entidades organizadas da municipalidade - sindicatos, associações, Federações, clubes, movimentos, núcleos; - Montar sistema de aferição (pesquisa) de modo a mapear demandas e interesses dos bairros e regiões; - Estabelecer um programa abrigando ações e projetos específicos para as áreas e elegendo como focos determinados setores da sociedade (mulheres, crianças, jovens, etc.); - Criar agenda de eventos - pequenos eventos, bem articulados, com pequenos grupos, de forma a estabelecer forte interação entre os interlocutores; mais eventos pequenos funcionam melhor que eventos grandes; - Criar forte identidade - eleger dois ou três grandes eixos que possam identificar rapidamente o candidato, de forma a estabelecer um diferencial em relação a outros; - Escolher um grupo de conselheiros entre os nomes mais respeitados da comunidade e que sirva de referência; - Estabelecer um fluxo de comunicação para a campanha, obedecendo aos ciclos: lançamento do nome; crescimento da campanha; consolidação da visibilidade; maturidade; clímax da campanha e declínio. Deixar volumes maiores para as últimas fases; - Formar ampla rede de apoiadores/cabos eleitorais de confiança, fazendo com que cada eleitor seja, ele mesmo, um cabo eleitoral; - Formar uma teia de divulgadores/trombetas de campanha, pessoas que começam a falar das virtudes e qualidades do candidato, de modo natural, conquistando, assim, a simpatia dos ouvintes. Sem demonstrar arrogância; - Planejar o dia D. Dia das Eleições. Logística, visibilidade/publicidade (controlada), sistemas de articulação/mobilização/apuração, etc.
quarta-feira, 9 de maio de 2018

Porandubas nº 572

Abro a coluna com uma historinha da Bahia. Vaquinha Vereador em Itiruçu, Bahia, estava duro. A seca tinha comido tudo. Sem dinheiro para a feira, foi pedir ao prefeito Pedrinho. Pedrinho brincou: - Por que você não pede a Jesus Cristo? Ele não é o pai dos pobres? Voltou para casa, escreveu a Jesus Cristo pedindo 50 contos. Endereçou: "Para Nosso Senhor Jesus Cristo". E pôs no Correio. No correio, abriram a carta, levaram para o bar. Lá fizeram uma vaquinha, apuraram 42 contos, registraram e mandaram para o vereador. Quando ele abriu viu os 42 contos, sentou-se e escreveu nova carta: "Nosso Senhor, agradeço muito sua atenção. Recebi o dinheiro que lhe pedi. Mas rogo o seguinte: se o senhor for mandar dinheiro novamente, faça o obséquio de mandar em cheque, porque, dos 50 contos, o pessoal do correio meteu a mão em 8". (Registro do amigo Sebastião Nery em seu Folclore Político). A desistência de Joaquim Joaquim Barbosa era a onda do momento. As conversas giravam em torno da história do menino pobre, filho de uma lavadeira, que fez pós-graduação na Sorbonne, prestigiada Universidade francesa. Ex-presidente do STF, Joaquim encarnava os valores da ética, da honestidade e da coragem. O tão aguardado candidato desferiu uma "reversão de expectativas". Anuncia pelo Twitter ter desistido da candidatura. A desistência pode favorecer Marina Silva, Ciro Gomes, do campo do centro-esquerda. Mas, ao enxugar a moldura de candidaturas, pode, também, ajudar os de centro-direita, como Geraldo Alckmin. Destemperado Fala-se muito do estilo rompante do ex-ministro do Supremo. Muitos torciam para ver uma luta entre ele e Ciro Gomes, dois perfis considerados "destemperados". Seria tiro pra cá e tiro pra lá. Joaquim teria uma história de vida que poderia atrair o voto de milhões de eleitores das margens. E sua identidade teria a força de um "logotipo ambulante". Seria um candidato com muitas possibilidades de canalizar as atenções das massas. Mas a democracia é isso: expectativas e surpresas. O imponderável sempre faz sua visita. A curva à direita O Brasil está fazendo uma curva à direita? A pergunta leva em conta a visível inclinação pelo lado direito da política, cujo sinal mais forte vem da opção eleitoral por Jair Bolsonaro, o capitão que agrega as demandas de uma forte parcela social. A bagunça que se desenvolve no país, a partir da violência comandada de dentro dos presídios, as investigações que flagram a propinagem para políticos e negócios escusos de empresários, formam o pano de fundo para o organizador da ordem, o militar que quer ver soldado matando bandido, o perfil que tem o discurso mais radical de nossas campanhas eleitorais. Um ciclo na direita A movimentação de parcela social nos cantos da direita não é algo firme. Trata-se de um jogo de conveniências ditadas pelas circunstâncias. A sociedade clama por assepsia. Por limpeza ética. Essa tendência também funciona como contraponto ao estado de descalabro por que o país passou e ainda passa, sob a pérfida política econômica do ciclo petista. A divisão social criada pelo PT persiste e se desenvolve por meio de ódio e indignação, de um lado, e militantes que devassam o patrimônio público com seus movimentos organizados. A curva à direita é, portanto, uma resposta à curva para a esquerda. A decantação das águas Com a decantação das águas revoltas, coisa a ocorrer nos meados do próximo ano, é razoável apostar em um tempo de maior harmonia, menos truculência nas ruas, maior controle na segurança pública, economia voltando a gerar empregos. Se isso ocorrer dentro de um cenário positivo, serão fortalecidos os eixos centrais de nossa democracia. A questão é saber se teremos um horizonte claro ainda este ano. Pouco provável. Meses turbulentos Vejamos as probabilidades. A economia, mesmo sob recuperação, não implicará em grande volume de empregos. A harmonia social é um corolário dessa hipótese. Pode haver algum conforto - pequeno - advindo da equação BO+BA+CO+CA= Bolso, Barriga, Coração, Cabeça. Ou seja, o Bolso pode ter certo alívio, mas não a ponto de satisfazer a Barriga das margens e, assim, o Coração não estará tão comovido a ponto de fazer a Cabeça agradecer o bem-estar proporcionado pelos provedores da equação. Os bons ventos soprarão com mais força apenas em 2019. Por isso, o que se prevê é uma campanha farta de arenga e disputa, fervendo e com tiroteios recíprocos. A esquerda rachada As esquerdas, por sua vez, estão rachadas. A começar pelo PT, que não abre mão de sua condição de vestal. Continua a entoar loas a si mesmo. Faz de Lula a vítima perseguida pelo regime. Um prisioneiro político. Lula não teria feito nada de errado. Nem ele nem Dilma. O PT abre a locução: "Lula está preso para não poder ser candidato e assim proporcionar a redenção do povo brasileiro". Um conto da carochinha. O Partido tenta esconder as curvas erráticas que fez em 13 anos de poder. Três alas Por isso, o próprio PT está rachado em três alas. Uma que quer Lula como candidato; a segunda que quer um plano B, alguém no lugar de Lula como candidato; e a terceira ala, a que defende um vice do PT na chapa de Ciro Gomes. Mas a divisão da esquerda vai além: pega a Rede de Marina, o PDT de Ciro, o PSOL de Boulos, o PSB da família Campos, etc. Cada qual quer dar o tom da orquestra. PSB vai para onde? Depois dessa desistência de Joaquim Barbosa, para onde irá o PSB? Há condições de se aliar ao PDT de Ciro? Ao PT do plano B? Ir para o centro-direita com Geraldo Alckmin. Lembrete: o governador de São Paulo, Márcio França, PSB, continua sendo leal a Alckmin. Será seu candidato. Até quando? A divisão das frentes partidárias abre grande indefinição na campanha. Seria mais fácil saber quais os protagonistas a entrarem no jogo se víssemos união no centro-esquerda e no centro-direita. Mais ou mais tarde, essa alternativa emergirá. Pois é a única condição para que um dos lados obtenha sucesso. A desunião será um suicídio. No caso do centro-esquerda, duas possibilidades estão claras: o PT aliando-se ao PDT e indicando o vice na chapa de Ciro Gomes; a outra alternativa seria uma composição entre Marina (Rede) e Joaquim Barbosa (PSB). A questão é de vaidade: nenhum dos dois quer a condição de vice. Só lhes interessa a cabeça de chapa. No centro-direita Já no centro-direita, a dispersão partidária deixa ver um imenso arquipélago com ilhas muito distantes umas das outras. Mas é possível que, nos meados de julho, um choque de realidade convoque os protagonistas à mesa do consenso. Ali, cada qual apresentará suas cartas: índice de intenção de voto, rejeição, organização do partido nos Estados e municípios, fundo partidário, condições de fechar parcerias, etc. Seis a sete candidatos estão perambulando pelo centro-direta. E jogando palavras ao vento. Se não se unirem, babau. Viabilidade Carlos Matus, cientista social chileno, em um magistral estudo sobre Estratégias Políticas, demonstra que a viabilidade de um ator na política tem a muito que ver com a estratégia e seus princípios fundamentais. Eis alguns princípios estratégicos: a) Avaliar a situação; b) Adequar a relação recurso/objetivo; c) Concentrar-se no foco; d) Planejar rodeios táticos e explorar a fraqueza do adversário; e) Economizar recursos; f) Escolher a trajetória de menor expectativa; g) Multiplicar os efeitos das decisões; h) Relacionar estratégias; i) Escolher diversas possibilidades; j) Evitar o pior; k) Não enfrentar o adversário quando ele estiver esperando; l) Não repetir, de imediato, uma operação fracassada; m) Não confundir "reduzir a incerteza" com "preferir a certeza"; n) Não se distrair com detalhes insignificantes; o) Minimizar a capacidade de retaliação do adversário. Panorama dos Estados Roraima... Recente pesquisa da empresa Z mostra o ex-governador Anchieta Junior (PSDB) em 1º lugar, com 35,12%, para o governo do Estado. Para o Senado, o 1º lugar cabe ao deputado estadual Mecias de Jesus (PRB), com 13%. Suely Campos (PP), a governadora, aparece em 7º lugar para o governo, com 5,66%. RN Pesquisa do Instituto Certa mostra a senadora Fátima Bezerra (PT) em 1º lugar, com 25,60%, para o governo, seguida de Carlos Eduardo (PDT), com 14,54%, e Geraldo Melo (PSDB), com 7,66%, e Robinson Faria, com 5,04%. PE Pesquisa do Instituto Múltipla para o governo do Estado de Pernambuco mostra tecnicamente empatados os quatro primeiros nomes da pesquisa. O atual governador do Estado, Paulo Câmara (PSB), aparece com 15,5% das intenções de voto, seguido pela vereadora Marília Arraes (PT) com 15%. Em seguida, o senador Armando Monteiro (PTB) com 14,5% e, em 4º, o ex-ministro da Educação Mendonça Filho (DEM) com 11%. PI Pesquisa do Instituto Amostragem mostra PT vencendo a eleição para o governo do Piauí no 1º turno. Quem lidera a pesquisa é o atual governador do Estado, Wellington Dias (PT), com 51,8% das intenções. Trata-se da reeleição. Em 2º lugar, aparece o deputado estadual dr. Pessoa (SD), com 9,9%. AM Instituto Pesquisa 365 para o governo do Amazonas mostra empate técnico entre o jornalista Wilson Lima (PSC) e o atual governador do Estado, Amazonino Mendes (PDT). 19,4% dos entrevistados apóiam Wilson Lima, enquanto Amazonino obteve 17,8% das intenções de voto. BA Com desistência do prefeito ACM Neto (DEM) de disputar o governo da Bahia, o deputado João Gualberto (PSDB) anunciou que sairá candidato, garantindo palanque tucano a Geraldo Alckmin no Estado, um dos maiores colégios eleitorais do país. Com a candidatura de José Ronaldo pelo DEM, a intenção é forçar um segundo turno contra o governador Rui Costa (PT). SE Pesquisa do Instituto Franca registrada mostra seguinte moldura se as eleições fossem hoje. Nomes citados espontaneamente: Eduardo Amorim 6,8; Jackson Barreto 2,5; Belivaldo Chagas 2,0; senador Valadares 1,9; André Moura 1,4; Mendonça Prado 1,1; Vera Lúcia 0,7; dr. Emerson 0,4. SP Última pesquisa Ibope mostra: João Doria com 24%; Paulo Skaf, com 19%; Luiz Marinho, com 4%, Márcio França, com 3%; Rogério Chequer, com 2%; e Lisete Arelaro, com 1%. ES Pesquisa FlexConsult/Rede Vitória aponta liderança do governador Paulo Hartung. Os dois candidatos que possuem o maior recall na aprovação espontânea são Paulo Hartung, com 7,4%, e o seu antecessor, Renato Casagrande, com 5,5%. Na sequência, aparece Max Filho, com 0,7%, Rose de Freitas, com 0,6%, candidato do PT, com 0,1% e Vania Valadão, com 0,1%. PR Na primeira pesquisa registrada do ano, Osmar Dias (PDT) e Ratinho Jr. (PSD) aparecem tecnicamente empatados para concorrer ao cargo de governador do Paraná. Pesquisa Ibope. RS Embora continue negando em público a possibilidade de tentar novo mandato, José Ivo Sartori assumiu pessoalmente, desde o fim de março, as conversas em busca de aliados para viabilizar a candidatura. O governador tem até 5 de agosto, quando se encerra o prazo das convenções partidárias, para confirmar seu nome.
quarta-feira, 25 de abril de 2018

Porandubas nº 571

Abro a coluna com uma historinha de Jânio em Cuba. Cadê a pistola de Fidel? "Ir-me-ei a Cuba. Encontrar-me-ei com Fidel Castro para ver e aprender o que estão fazendo por lá". O anúncio feito por Jânio Quadros em 1960 deixou de cabelos em pé os correligionários da UDN, partido conservador pelo qual concorria à presidência da República. Mas não houve quem o demovesse da ideia. O encontro com Fidel e Che Guevara na embaixada brasileira em Cuba foi regado a álcool e muitas histórias. Durante três hora e meia, a comitiva brasileira ouviu Fidel narrar empolgantes episódios da revolução. Nenhum copo ficou desguarnecido de rum durante o evento - o que se pode deduzir pela cara dos personagens na foto. Na saída, após abraços afetuosos, Fidel foi buscar a pistola que havia deixado na recepção da embaixada, a mesma que o acompanhava desde a revolução cubana. Após longos e tensos minutos, o embaixador Vasco Leitão da Cunha comunicou, assustado, que a arma histórica havia desaparecido. "Bem, só espero que quem a levou faça bom uso dela, como nós em Sierra Maestra", respondeu Fidel. (Historinha enviada por Manuel Rezende Correa- CEO do Grupo Saint-Gobain) Hauly e a reforma tributária Este consultor ficou deveras impressionado com o vasto conhecimento expresso pelo experiente deputado Luiz Carlos Hauly (PSDB-PR) na área dos tributos. É o relator da reforma tributária. Tanto em uma exposição pessoal quanto na aula que proferiu para empresários e políticos reunidos no 17º Fórum Empresarial, realizado em Recife, Hauly deu provas de denso domínio da matéria. A reforma tributária se faz absolutamente necessária. Ainda este ano. Não haverá perda de receita como teme a Receita Federal. O presidente Michel Temer e o ministro Eduardo Guardia devem se tranquilizar. O país ganhará mais uma alavanca para modernizar seu sistema de tributos. Parabéns, Hauly. Quem vai ser presidente? Essa foi a pergunta mais recorrente que este consultor recebeu no denso 17º Fórum Empresarial, ocorrido no Sheraton Reserva do Paiva no Cabo de Santo Agostinho, em Recife. Pelo menos um ligeiro desenho da situação político-eleitoral foi apresentado. Para quem não teve oportunidade de ouvir e, para os muitos leitores de Porandubas, apresento alguns traços do cenário, a começar pela nebulosa que obscurece as visões. Vamos lá. Dispersão Primeira observação: o pleito está muito perto, mas parece longe. Será daqui a pouco mais de cinco meses, mas dá impressão de que é coisa para 2019. Segunda: a planilha de pré-candidatos é vasta, contendo uns 20 perfis, que, decantadas as águas, deverão se estreitar em uma dúzia. Terceira: as forças de centro-esquerda tomam fôlego nesses tempos nebulosos, eis que alguns de seus integrantes receberão votos do custodiado Lula da Silva. Mais precisamente: ganham força Marina Silva, Ciro Gomes e Joaquim Barbosa. Quarta: os candidatos do centro estão dispersos, formando um arquipélago de ilhas distantes. O meio e as pontas O meio disperso favorece as pontas, a extrema direita e a extrema esquerda. Na direita, Bolsonaro reina isolado. Na esquerda, Lula continua liderando, mas à medida que a ficha for caindo no sistema cognitivo do eleitor, candidatos do centro-esquerda podem captar parcela dos votos lulistas. Mesmo com toda a pressão do PT, é praticamente impossível garantir a elegibilidade de Lula. Ciro Gomes tende a abocanhar parcela do lulismo no Nordeste; Joaquim se transforma em um logotipo ambulante; Marina, asséptica, pode avançar na direção do voto dos jovens. Mas o centro tem condições de reagir. E vai tentar. MDB, DEM e PSDB No centro, aparecem os nomes de Geraldo Alckmin, Michel Temer, Rodrigo Maia e Henrique Meirelles. Este consultor tende a crer que estes nomes e mais outros deverão, mais adiante, fazer uma avaliação de suas posições. O presidente Temer deverá ter seu índice aumentado, a partir de comunicação mais pesada sobre os feitos do governo em curto espaço de tempo. Maia também poderá ver subir sua avaliação. Trata-se de grande articulador. Meirelles, nesse caso, ficaria de stand by. Vai depender da decisão de Temer. 60 a 70% de chance E Alckmin? Se subir na escada da intenção de voto, pode atrair forças centrais. Mas os tucanos não são bem vistos pelo leque partidário. São considerados autossuficientes e em cima do muro. Os tempos de rádio e TV do MDB, DEM e PSDB, juntos, abririam grande visibilidade para um candidato comum aos três partidos. Se esses três partidos se unirem, as chances de ter seu candidato no segundo turno ficam entre 60 a 70 numa régua de 100. Em São Paulo, as negociações para um acordo entre MDB e PSDB avançam. Paulo Skaf, ao que se sabe, luta contra essa possibilidade. É pequena sua chance de se eleger governador. O potencial de MT Se a comunicação do governo conseguir mostrar e demonstrar os grandes avanços do país no curto tempo de governo, o presidente pode ter seus índices melhorados. É o que inúmeros interlocutores apontam. O fato é: há abissal distância entre as coisas boas e avançadas feitas pelo governo e a avaliação negativa que dele se faz. Algo está errado. O MDB tem formidável espaço de mídia eleitoral. Somado ao espaço do DEM e do PSDB, os três partidos teriam condições de posicionar bem sua candidatura. Por outro lado, partidos médios, como o PSD de Kassab e o PP, além dos pequenos seriam atraídos pela força dos grandes. O meio termo de Alckmin E Geraldo Alckmin vai subir? Depende. Primeiro, vai depender da evolução das investigações que o MP tem solicitado. O ex-governador passou a ser alvo do tiroteio. Segundo, a índole de Alckmin é a do equilíbrio, da harmonia, valores que, nesses temos de batalhas campais e sangrentas, parece destoante. Cobra-se dele uma palavra incisiva, um murro na mesa. Se não tivesse tão tíbio por ocasião das denúncias contra o presidente Temer, o MDB já teria fechado parceria com o tucanato. Na redoma de São Paulo Alckmin é a cara de São Paulo, aqui confinado desde a era Covas, não sendo conhecido no país. Poderia ter circulado mais solto pelas regiões. Quarto, não se conhece uma grande ideia do ex-governador. Trata-se de um bom gestor atuando no dia a dia. Sem projetos de forte impacto. É o que se comenta. Pode ser o imã? O crescimento de Alckmin vai depender do clima eleitoral nos idos de julho. Lava Jato avançando ou recuando, acordos entre os grandes partidos, evolução das esquerdas etc. O PSDB tem estruturas em todo o país. São Paulo será decisivo com seu colégio eleitoral de 35 milhões de eleitores. Se Alckmin for bem avaliado e levar uma grande bacia de votos no Estado poderá compensar a perda de votação no Nordeste, que tem 27% dos votos válidos do país. São Paulo tem 24% dos votos válidos. E Minas Gerais, o 2º maior colégio eleitoral? Com Aécio Neves fora do jogo, resta ao PSDB apostar na chance do senador Antônio Anastasia para o governo. E se este não for candidato? Alckmin perderá largo palanque. Rio e Bahia No Rio e na Bahia, votos para a esquerda estão garantidos. Sob a imagem de Sérgio Cabral, que acumula uma pena de mais de 100 anos, será inviável a eleição de um governista para substituir Pezão. Eduardo Paes saiu do MDB para o PP, pode ser candidato, mas sua imagem ainda se liga a Cabral. Já a esquerda, com Chico Alencar, Freixo ou outro, poderá levar a melhor no Rio, 3º colégio eleitoral. Na Bahia, o candidato Rui Costa, do PT, é o favorito. Com a desistência de ACM Neto, que preferiu continuar como prefeito, Costa alavanca suas chances. Bahia é o 4º colégio eleitoral do país. Quem no lugar do Lula? Luis Inácio está fora do jogo como candidato, mas não como eleitor. E o PT não deve demorar para colocar alguém em seu lugar. O partido precisa garantir seu porte. Daí a necessidade de ter palanque em todos os Estados. Esperar pela palavra final do TSE sobre a elegibilidade de Lula é protelar uma campanha, que já será curta. (O ministro Gilmar, porém, admite a possibilidade de uma decisão da segunda Turma resultar na libertação de Lula). Para ter palanque, urge ter candidato. Um perfil para puxar votos e eleger bancadas estaduais e Federais de deputados. Haddad se firma como o nome mais adequado. Depois que Jaques Wagner foi alvo de denúncias, seu cacife arrefeceu. Haddad não terá chances, mas o PT, como partido, deve eleger um grupo de governadores e uma bancada razoável. Diz-se que Lula deu liberdade ao PT para o partido tomar decisões. Querelas internas ganharão volume. Ciro, Barbosa e Marina Um desses tem possibilidades de entrar no 2º turno. Ciro Gomes é o mais político e com melhor conhecimento da realidade brasileira. É destemperado, sem papas na língua, o que poderá prejudicá-lo. Marina tem ótima imagem, mas deixa passar fragilidade ante as pressões políticas e incapacidade de lidar com a contundência e o combate a céu aberto. Joaquim Barbosa tem uma grande história de vida. Subiu os degraus da escada da vida, desde o mais baixo. Chegou a ser presidente da mais alta Corte do país. A ele faltaria jogo de cintura, capacidade de dançar na corda bamba da política. Não aguentaria o tranco. Exemplo arrematado da dinâmica social brasileira. Os três, principalmente Marina, terão curto espaço de mídia eleitoral. Guilherme Boulos, do MTST, lançado pelo PSOL, será o fogueteiro da campanha. E Manuela d'Ávila, com bela estampa, poderá até aumentar sua cota no vácuo deixado na esquerda pela saída de Lula. Álvaro Dias Trata-se de um senador, que transita na área central, e tem boa imagem. Mas seu Podemos, novo partido, sofre limitações: estrutura, tempo de rádio e TV etc. Portanto, estaria diante do grande desafio: tornar-se conhecido no país. No Sudeste, há sinais de que fará boa performance, a partir de seu Estado, o Paraná. Rocha, Amoedo, Rabello e Afif Flávio Rocha, do PRB, João Amoedo, do Partido Novo, Paulo Rabello de Castro, do PSC, e Guilherme Afif Domingos, do PSD, formam o eixo mais forte do liberalismo clássico. Rocha, que vem do grupo Riachuelo, ao lado da defesa de princípios liberais, transita pelas veredas do conservadorismo, inclusive com matiz religioso do evangelismo (Igreja Sara Nossa Terra, bispo Rodovalho). Ele conta com o eleitorado evangélico, que chega a somar um terço da população eleitoral. Certa importância. P.S. Anunciou que vai ele mesmo bancar sua campanha. Nova disposição Amoedo é um liberal com ideias firmes no terreno do Estado restrito a cumprir suas funções constitucionais. Rocha conhece bem a política, tendo sido deputado por dois mandatos. E já foi candidato a presidente uma vez, desistindo no meio da campanha. Amoedo é centralizador e seu Partido Novo queima eventuais perfis da velha política que nele desejem ingressar. Disporão de pouco tempo e estruturas para tornar conhecidos seus ideários. Ambos, porém, trazem sangue novo e uma nova disposição para o pleito. Ponto em comum entre Rocha e Amoedo: ambos têm raízes familiares no RN. Flávio Gurgel Rocha nasceu em Recife, em 14 de fevereiro de 1958, é empresário filiado ao Partido Republicano Brasileiro (PRB). Foi presidente das Lojas Riachuelo, terceira maior rede de moda do país. João Dionísio Filgueira Barreto Amoedo nasceu no Rio de Janeiro em 22 de outubro de 1962, é bancário, engenheiro, administrador de empresas, economista, ativista político e palestrante brasileiro. Fundador do Partido Novo. Rabello, um dos mais renomados pensadores e economistas do país, deixou ótima impressão em Recife, ao participar do 17º Fórum Empresarial do Brasil - LIDE, e Afif, desfraldando a bandeira dos batalhadores do pequeno e médio empresariado! Rabello será o candidato do PSC e Afif pode sair pelo PSD! Resumo da ópera Em síntese, consideremos o arco ideológico dividido em três partes: a esquerda, o centro e a direita. Com imbricações e interpenetrações de alguns limites - o centro abocanhando espaços à sua direita e à sua esquerda, e estas áreas invadindo roças do centro. A média eleitoral deve contemplar mais o centro do que as margens. Digamos que o centro abocanhe entre 40% a 50%. Com as margens perfazendo, cada uma, 30% a 25%. Um pouco mais para lá ou para cá. Se houver muita dispersão, o 2º turno poderá abrigar candidatos até com 15% a 18%. Bolsonaro tem chances? Não, se formos aplicar um modelo racional de política. Sim, se avaliarmos suas chances pela régua emotiva. Pelo olhar racional, trata-se de um perfil não bem preparado. Sabe o elementar de economia. Seu principal discurso é na área da segurança pública. Representa o império da ordem, o uso da força para combater a bandidagem. "Bandido bom é bandido morto". "Soldado bom é soldado que mata". Defende distribuição de armas aos fazendeiros. Ganha aplausos de corações aflitos ante a corrente de insegurança. Tempo escasso de mídia Terá poucos segundos para dar seu recado na TV e no rádio. Portanto, será canibalizado por candidatos com grande tempo de mídia. Como a política não tem regras, as emoções da massa abrem espaço para ir em frente. Este consultor, porém, não crê em suas reais chances. Ou seja, terá poucas possibilidades de sustentar seu índice de intenção de voto. Tempo de TV Face à campanha mais curta - de 90 para 45 dias e de 45 dias para 35 de mídia eleitoral - o fator comunicação será de importância capital. Mais que nos pleitos passados. Daí o intenso trabalho dos líderes para fechar alianças e parcerias. O corre-corre é grande. Joaquim versus Bolsonaro As pesquisas atestam que em um 2º turno com Joaquim Barbosa e Jair Bolsonaro, o juiz venceria o deputado. O juiz carrega a marca da ética. O deputado simboliza o ideário da segurança. A questão é: quem garante que um dos dois estará no 2º turno? PSB rachado O PSB, em sua maioria, quer ver Joaquim Barbosa como seu candidato. Essa ala é a comandada pelo presidente do partido, Carlos Siqueira, apoiado pela família Campos (do falecido Eduardo Campos, ex-governador de Pernambuco). Mas o atual governador de São Paulo, Márcio França, defende o apoio do PSB ao pré-candidato Geraldo Alckmin. O filho de Eduardo, João Campos, que será candidato a deputado, apóia Barbosa. Foi o que este consultor viu nesses últimos dias no 17º Fórum Empresarial do Lide em Recife.
quarta-feira, 18 de abril de 2018

Porandubas nº 570

Abro a coluna com uma historinha de Jânio Quadros. O selo, coronel, o selo? Logo depois de 64, Jânio é chamado ao Rio para depor em Inquérito Policial Militar (o famigerado IPM daqueles tempos de chumbo). Mas o ex-presidente não vai. E diz por que não vai: - Só falo no meu chão, na minha jurisdição. O coronel vai a São Paulo ouvi-lo. À máquina, o sargento escrevente e, ao lado de Jânio, seu amigo Vicente Almeida. O coronel começa: - Dr. Jânio Quadros, em que dia e ano o senhor nasceu? Jânio arregala os olhos, entorta-os e volta-se para o lado: - Vicente, meu bem, será que ele não sabe? Não pode ser. O coronel não entende: - Não sabe o quê? - Que perguntas têm que ser por escrito. Está na lei, coronel. Na lei. O depoimento vai indo, por escrito. O coronel tira um maço de cigarros, oferece. Jânio pega-o na ponta dos dedos, passa de uma mão à outra: - Vicente, meu bem, que coisa. O que é isto? Que estranho, Vicente! Nunca havia visto. O coronel irrita-se: - Por que o espanto, dr. Jânio? É um cigarro americano Marlboro. - Sim, sim, meu caro coronel, sei-o, sei-o muito bem. Mas, onde está o selo? O selo, coronel? O selo? O IPM acabou. (Historinha contada por Jô Soares). Aécio vira réu Aécio entrou na lista dos réus. Sua eleição em MG fica complicada. Nuvens cinzentas obscurecem os caminhos do senador. Os políticos expandem suas taxas de medo. A Lava Jato continua batendo forte. A campanha paulista A pesquisa Datafolha desta segunda-feira começa a desvendar a batalha que se travará em São Paulo, que agrega cerca de 35 milhões de eleitores. Será um dos pleitos mais disputados do país. João Doria, PSDB, sai na frente. Trata-se de um perfil com grande visibilidade adquirida nos últimos tempos, desde a campanha que ganhou em 2016 para prefeito de São Paulo. João é aguerrido, posiciona-se no centro-direita e sabe lidar muito bem com a comunicação, a partir do uso das redes sociais. Desafio: diminuir rejeição João Doria vestiu o manto do novo, com sua cara mais asséptica e não contaminada pelo vírus da velha política. Mas o bom índice de Doria - hoje ostentando 29% de intenção de voto e 36% quando Paulo Skaf não aparece na disputa, precisa ser bem administrado. Sua rejeição é alta. Sabemos quão é difícil a um candidato segurar seus bons índices durante a campanha. Há ainda dois fatores que precisam ser levados em conta: a pequena visibilidade e o pouco conhecimento que se tem do atual governador Márcio França, candidato à reeleição. O índice de rejeição a Dória, que chega a 34%, deve ser motivo de preocupação. Os paulistanos, principalmente, sinalizam insatisfação pelo fato de João ter deixado antes mesmo do meio o mandato à prefeitura da metrópole. O poder da caneta Márcio França, por sua vez, terá a favor o poder da caneta. Esse fato atrai a prefeitada. Ocorre que mesmo esse poder tem limites, até porque não poderá exercê-lo em plenitude nas margens próximas às eleições. E os prefeitos podem não dispor mais do prestígio que tinham no início do mandato. PMDB com França? Diz-se que dos 82 prefeitos do PMDB, ele teria o apoio de 70. A se confirmar. Paulo Skaf, que já se candidatou na campanha anterior, apresenta surpreendentes 20%. Tem cacife para expandir esse índice? Tem fôlego para enfrentar uma contundente campanha? Se fechar o apoio do PSB, com ajuda do seu amigo Flávio Rocha, adicionará mais tempo ao seu programa eleitoral. Claro, se o PMDB não apresentar candidato à presidência da República. Luiz Marinho O candidato do PT ao governo de São Paulo, ex-prefeito de São Bernardo do Campo, Luiz Marinho, não irá longe. Não possui uma identidade do porte de São Paulo. Parece bem menor do que o gestor que o Estado exige. Marinho firma sua imagem sobre o eixo do sindicalismo. Foi presidente da CUT, hoje uma organização que se junta ao MST e ao MTST para promover mais do que greves: depredações, arruaças, devastação de ruas e lojas. Se chegar aos 15%, fará razoável performance. O recolhimento de Lula Para quem passa o dia batendo papo, deixar a conversinha de lado deve ser um sacrifício. Diz-se que o abatimento de Luiz Inácio tem por motivo principal a falta de conversa com amigos e políticos. Lula respira política 24 horas por dia. Trata-se de um perfil acostumados aos momentos de felicidade e de infelicidade na arena política. Por isso, deverá sofrer se ficar muito tempo preso. Deve ter o conforto de ouvir, todas as manhãs, a saudação em coro de militantes nas proximidades: "bom dia, presidente Lula". Entre a cruz e a caldeirinha O PT vai ter de enfrentar o problema: deixar o nome de Lula circulando como candidato até o último momento ou, desde já, dar vazão ao plano B e escolher seu substituto. Cabe lembrar que o PT carecerá de um nome no pleito para ocupar os palanques estaduais. Formar uma grande bancada será seu objetivo. Este analista não aposta na hipótese de deixar o nome de Lula até o instante em que for considerado inelegível pelo TSE. Até agosto, o substituto deve sair a campo. P.S. O maior eleitor do PT continuará sendo Lula. O Fórum do LIDE Sem a presença de João Doria, às voltas com a pré-campanha em São Paulo, terá início, hoje, em Recife, no hotel Sheraton Reserva do Paiva, o 17º Fórum Empresarial do LIDE, o maior que se faz no país reunindo empresários, políticos e gestores públicos. A conjuntura nacional será objeto de diversos painéis, que debaterão temas centrais da realidade brasileira - Competitividade e Emprego, a Era Reformista, Democracia e Competitividade, entre outros -, sob a batuta de Luiz Fernando Furlan, Chairman do LIDE, e Roberto Giannetti da Fonseca, vice-Chairman. O Brasil à direita ou à esquerda? A pergunta embute, além da dúvida, intensa preocupação da sociedade. Uma inclinação do país à esquerda causa imensa preocupação, eis que o petismo-lulismo-dilmismo, somado ao psolismo (PSOL), sob a teia de vandalismo tecida por CUT, MST, MTST, amedronta formidáveis setores, a partir dos campos de negócios, investidores, forças do chamado mercado, e até fortes contingentes das classes médias. Um Brasil à esquerda teria o apoio de parcelas das margens - que tendem a optar por uma via populista ou neo-populista, segmentos da intelectualidade, núcleos da igreja católica, as militâncias engajadas, entre outros compartimentos. Quem teria perfil para atrair esses setores, com Lula fora do páreo? Direita Já a ponta direita do arco ideológico tende a agregar os blocos mais conservadores, proprietários rurais, margens indignadas contra a insegurança pública e parcelas das classes médias mais abastadas. Essa frente de direita é abertamente militarista, defendendo o uso de armas por parte da população e mais rigor nas punições. O momento de intranquilidade vivido pelo país abre uma larga janela para essa direita. Entre os perfis que preenchem os espaços dessas demandas estão Jair Bolsonaro e Flávio Rocha, o primeiro com uma visão de Estado mais gordo, o segundo com uma visão de Estado mais enxuto. Centro Na visão deste consultor, a tendência do eleitor médio é a afastamento das extremidades do arco ideológico e aproximação ao centro. O que significa a escolha de perfis não radicais. Por isso, a probabilidade da eleição de um candidato de centro é maior do que a eleição de um representante fincado nas margens. Um arquipélago Ocorre que o centro tem o formato de um arquipélago com ilhas separadas umas das outras. Se os candidatos da área central não se integrarem, estarão facilitando a escolha de um perfil de direita ou de esquerda. O vetor de força para ganhar a campanha será formado pelos eixos que locomovem as candidaturas do centro. Sem essa unidade, os centristas estarão cometendo um suicídio. Valores do centro O centro agrupa valores tradicionais de nossa formação cultural: o equilíbrio, a harmonia, a integração, a solidariedade, o companheirismo, a boa vontade, a disposição para o diálogo. A confusão, as querelas, a luta renhida entre grupos e classes - podem, até, ocorrer circunstancialmente, pontualmente, mas não ancoram a índole brasileira. Basta ler os nossos clássicos: Gilberto Freyre, Sérgio Buarque de Holanda, Dante Moreira Leite, Darcy Ribeiro, Raymundo Faoro, entre outros. Fadiga democrática A observação é do escritor, jornalista e poeta belga David Van Reybrouck: o mundo atravessa um momento de fadiga democrática. Quais são os sintomas da síndrome? Vejamos alguns: apatia do eleitor, abstenção às urnas, instabilidade eleitoral, hemorragia dos partidos, impotência das administrações, penúria no recrutamento, desejo compulsivo de aparecer, febre eleitoral crônica, estresse midiático extenuante, desconfiança, indiferença e outras mazelas. Legitimidade E arremata o belga: "a democracia tem um problema sério de legitimidade quando os eleitores não dão mais importância à coisa fundamental, o voto". Marina cresce Marina Silva cresce com Lula saindo do páreo. Mas continua uma dúvida: Marina teria condições de sustentar no gogó uma campanha contundente e cheia de curvas? Trata-se de um perfil asséptico e que expressa honestidade e ética. É muito confiável aos jovens. Barbosa Joaquim Barbosa está dando sinais de que poderá entrar na corrida presidencial. Joaquim pode encarnar a voz dos mais carentes e humildes. Mas se conterá nos debates televisivos? Parece bom de briga. O nome de Deus em vão É tolo pedir aos deuses o que os homens podem fazer sozinhos. O axioma, das Exortações do filósofo grego Epicuro (341-270 a.C.), é um alerta contra a ideia de que os homens têm o direito de invocar o poder divino a qualquer hora e em intensidade modulada para resolver equações terrenas. Quando o nome de Deus é usado em vão com tanta frequência, é porque aqueles que o chamam estão desesperados e clamam urgentes providências divinas para tirá-los de alguma enrascada, tentam repartir culpas por atrasos no cronograma humano de obras sob sua responsabilidade, ou ainda, se esforçam para usar a calota dos céus contra "forças demoníacas" que teimam em fechar os caminhos da salvação. Sobrenome de parlamentares Nesses tempos nebulosos, a moda virou usar em vão o apelido Lula e os sobrenomes de Moro e Bolsonaro nos nomes de parlamentares. Quanta imbecilidade. (Por que não usar adjetivos de qualificação, mais apropriados para esses tempos lamacentos? Honesto, desonesto, ético, corrupto, sério, brincalhão, digno, indigno e por aí vai).
quarta-feira, 11 de abril de 2018

Porandubas nº 569

Abro a coluna com duas historinhas, uma da Bahia, outra do Maranhão. Deu-se o vice-versa Dr. Dantinhas, deputado da Bahia, elo de todo um clã político do Estado (neto do barão de Geremoabo), foi convidado para padrinho de casamento da filha de um coronel de uma cidade do sertão. No dia de viajar, recebeu telegrama: - Compadre, não precisa vir. Deu-se o vice-versa. Menina morreu. Puxa-sacos Tempos eleitorais. Tempos de fidelidade e infidelidade. Guararé era cabo eleitoral do governador Sebastião Archer, do Maranhão. Convenção do PSD, alguém acusou Guararé de puxa-saco. Guararé argumentou: - Cada um puxa o saco de quem pode. Eu puxo o saco do senhor, governador Archer. O senhor já puxa o saco do senador Vitorino Freire. E o senador puxa o saco do general Dutra. É a lei da fidelidade partidária. Nuvens pesadas As nuvens da política continuam pesadas. Não há como evitar a montanha de interrogações à nossa frente. Por mais que partidos, alas, grupos de um lado e de outro queiram enxergar um ambiente claro, não conseguem. A prisão de Lula deixa muitas dúvidas no ar. Se há algo que parece transparente, é certamente o aumento do nível de tensões dentro do petismo e fora dele. O discurso do ódio é coisa visível e sobre isso não há dúvidas. Para onde vai o PT? Este consultor, por dever de ofício, tentará fazer uma análise da situação, mesmo sabendo que a emoção de um leitor aqui, outro leitor ali, vai considerá-la parcial. Vamos lá. O que será do PT nesse percurso imediato à prisão de Lula? Não arrefecerá, como se pode imaginar. E menos ainda desaparecerá. Lula, individualmente, é o maior eleitor do país. Terá influência sobre o processo eleitoral. Para começo de conversa, mesmo vivendo uma crise, o PT é o partido com a maior bancada após o fechamento da janela partidária: 57 deputados (data de hoje). O PP está atrás, com 54. O MDB tem hoje 53. Mas os números oficiais só serão conhecidos sexta-feira, 13. Pode ser que haja ligeira alteração. Bancadas estaduais É evidente que o PT deverá usar o "eleitor Lula" como alavanca das bancadas nos Estados, seja a da Assembleia Legislativa seja a da Câmara Federal. A militância, que se agita ao calor da prisão e fazendo pequenos comícios todos os dias defronte à PF de Curitiba, quer se transformar na tuba de ressonância do lulopetismo. Entre a cruz e a caldeirinha Gleisi Hoffmann, presidente da sigla, que ganhou status de advogada e porta-voz de Lula, está sendo mestre de cerimônia de orações e perorações que ali se realizam. Mas Gleisi precisa atualizar sua situação na OAB e, como advogada, ameaça perder o cargo de senadora, eis que o regulamento proíbe a um profissional da advocacia na condição de parlamentar é vetada a tarefa de defender uma causa contra uma empresa pública. No caso, Lula versus Petrobras. A senadora está entre a cruz e a caldeirinha. Arrufos e querelas Em alguns Estados, veremos pequenas mobilizações sob o desfraldar de bandeiras vermelhas do PT e de suas extensões, MST e MTST. Grupos contrários, sob a estética do verde-amarelo da bandeira nacional, tentarão fazer o contraponto. Arrufos, querelas, brigas e algum sangue correndo por faces e cabeças, farão parte da paisagem. Nas entranhas do PT, é provável um racha entre alas, uns defendendo linha aguerrida de ataques, outros tentando arrumar o discurso para entregá-lo ao substituto de Luis Inácio. Fernando Haddad, ex-prefeito de São Paulo, encabeça a lista. Pressão sobre os tribunais Numa outra frente, o PT deverá continuar a fazer pressão sobre o STF, particularmente na direção do julgamento das ADCs - Ações Diretas de Constitucionalidade - que permanecem sob a relatoria do ministro Marco Aurélio. O PEN está desistindo de uma. Mas o ministro Marco Aurélio dá sinais de que pretende entrar com um requerimento amanhã para forçar a votação de outra ADC, que trata da prisão após decisão em 2ª instância. Novamente Weber Vai depender da aceitação do requerimento pela ministra Cármen Lúcia. A ministra Rosa Weber continua a ser um ponto de interrogação. Comenta-se que, mesmo defendendo a ideia de prisão após esgotados todos os recursos, tende a votar pela manutenção da jurisprudência já firmada pelo STF. Se assim for, o imbróglio chega a um ponto final. STJ em junho Mas a defesa de Lula vai insistir no STJ e até no STF. Recursos devem ser interpostos contra decisão do ministro Fachin. Faz parte da estratégia petista adiar ad aeternum a decisão final dos Tribunais Superiores. Se o STF der uma resposta imediata ao caso das ADCs, a situação estará finalizada. Há quem veja o problema sendo levado até mais adiante. Lula candidato? Difícil será sustentar a candidatura de Lula com ele na prisão. Mas o PT confia em seus recursos protelatórios. É provável que o TSE o enquadre na Lei da Ficha Limpa. 17 de setembro será a data final para torná-lo inelegível. Espera-se que o Tribunal dê uma decisão antes, eis que a eleição se daria apenas 18 dias depois. Ademais, duvida-se que o PT corra o risco de deixar o nome de Lula na urna para sofrer impugnação depois. Interrogações e dúvidas no ar. PT e seu entorno As pressões também emergem do paredão partidário. Governadores petistas e outros que aderiram ao PT, como Renan Filho, do MDB de Alagoas, correm à Curitiba para participar da vigília que a militância faz nas imediações da PF. Maneira demagógica de dizer que estão ao lado de Lula. Na campanha, usarão as fotografias para iludir a boa-fé dos eleitores. O anfitrião da caravana governista em Curitiba é o senador medebista Roberto Requião. O povo sabe das coisas 7 de abril, sábado, por volta de 21h, em Monte Verde, Minas Gerais, agradável estância climática a 1.560 metros de altitude. 14º C. Ao levar o carro a um estacionamento próximo ao restaurante, este consultor, recebido pelo manobrista, depara-se com abrupta pergunta: "professor, e agora que Lula foi preso, quem tem condições de levar a melhor no pleito de outubro"? Após pequeno susto e tomando ciência do acompanhamento que o manobrista faz do Jornal da Cultura (TV Cultura, 21h15 às 22h15), passei a discorrer sobre o cenário político-jurídico. Saí impressionado desta primeira cruzada de pontos de vista. E as ADCs? Ao voltar para pegar o carro, o manobrista se fazia acompanhar de outro rapaz, que exigiu mais uma rodada de conversa, desta feita para saber minha visão sobre os ministros do STF, particularmente sobre os ministros Gilmar Mendes, Rosa Weber e Marco Aurélio. Mais uma pergunta reveladora do nível de entendimento do clima vivido pelo país: "o senhor acha que as ADCs poderão ser votadas na próxima quarta-feira como promete o ministro Marco Aurélio"? Espantei-me com o domínio temático. E, mais ainda, com o vocabulário técnico empregado. O povo acompanha As ADCs entraram em nossa conversa, introduzidas por eles de maneira natural. Lá fui eu tentar fazer inferências sobre a insistência do ministro Marco Aurélio, sobre a possibilidade de ele apresentar a questão "em mesa" ou um requerimento à mineira presidente Cármen Lúcia. Quase uma hora de papo com duas extraordinárias figuras do povo. De igual para igual. A certa altura, não tive como deixar de cumprimentá-los pela boa conversa. Responderam: "nós não sabemos os nomes dos 11 jogadores da seleção brasileira, mas os 11 ministros do Supremo sabemos quem são". Podem crer. O Brasil está mudando. PEC da prisão O presidente da Câmara, Rodrigo Maia, pré-candidato do DEM à presidência da República, promete colocar em votação uma PEC sobre a prisão após condenação em 2ª instância. Claro, só depois da intervenção na segurança pública no Rio de Janeiro. A legislação não permite votação de PEC enquanto houver intervenção Federal em algum Estado da Federação, ou seja, como a intervenção no RJ pode acabar ao final do ano, é possível que os parlamentares a votem em final de novembro ou em início de dezembro. Com forte possibilidade de mudar a jurisprudência, deixando a prisão para após sentença transitada em julgado. O parlamento em 2019 O corpo parlamentar de 2019, a ser eleito em outubro, deverá internalizar muitas lições tiradas da cartilha política da era Lava Jato. Podemos dizer que teremos parlamentares mais maduros, mais compromissados com as demandas de suas bases e, ainda, seriamente inclinados a dar passos avançados na fronteira das reformas. Não dá mais para protelar decisões fundamentais como reforma da previdência, reforma fiscal e a própria reforma política, esta de maneira profunda. Se isso não ocorrer, o castigo de Sísifo tomará conta do país (tentar depositar a pedra no topo da montanha; tarefa que desempenhará todos os dias por toda a eternidade). Ambição desmesurada No meu livro Marketing Político e Governamental, cito um pensamento do cientista político Robert Lane, em Political Life, que explica como a ambição desmesurada pelo poder funciona como um bumerangue. "A fim de ser bem-sucedida em política, uma pessoa deve ter habilidades interpessoais para estabelecer relações efetivas com outras e não deve deixar-se consumir por impulsos de poder, a ponto de perder o contato com a realidade. A pessoa possuída por um ardente e incontrolável desejo de poder afastará, constantemente os que a apóiam, tornando, assim, impossível a conquista do poder".
quarta-feira, 4 de abril de 2018

Porandubas nº 568

Abro a coluna com duas historinhas, uma do Pará, outra da Paraíba. Socorro, socorro... João Botelho, candidato a prefeito de Belém, passou o dia inteiro anunciando um comício, à noite, na praça Brasil. Chegou na praça, não havia ninguém. "Será que estou no lugar errado? Será que não estou enganado?", perguntou ao assessor. - Não houve engano não, deputado, a praça é esta mesma. Foi ao bar mais perto, pediu dois caixotes de madeira, pôs no centro da praça, subiu e passou a berrar alucinado: - Socorro, Socooorro, Socoooooooro! Correu gente de todo lado para ver o que era. Plateia arrumada, Botelho começou o comício: - Socorro para um candidato... E fez o comício. Silêncio, silêncio.... Flávio Ribeiro, presidente da Assembleia (depois foi governador da Paraíba), estava irritado com as galerias, que aplaudiam e vaiavam durante um debate entre o deputado comunista Santa Cruz e o udenista Praxedes Pitanga. De repente, tocou a campainha, pediu silêncio e avisou, grave: - Se as galerias continuarem a se manifestar, eu evacuo. Felizmente, as galerias se calaram. Inferência A inferência é uma asserção sobre o desconhecido com base no conhecimento de alguma coisa a ela relacionada: circunstâncias, análise de perfis, declarações de personagens etc. Faz parte do jornalismo interpretativo, disciplina que ministrei por anos a fio nas faculdades de comunicação de São Paulo. Pode ser uma observação certeira ou também pode ser algo fora de propósito. Sob essas duas posições, farei uma inferência: Rosa Weber tende a votar com a maioria no caso de prisão em 2ª instância. Até hoje, o entendimento do STF acolhe essa decisão. Mas a mudança de entendimento poderá ocorrer hoje, quarta, se todos os ministros do Supremo derem seu voto ou amanhã, quinta. Empate Especula-se que a votação dará empate, ou seja, será 5 a 5. O desempate caberia à ministra Rosa Weber, que sempre disse que tende a acompanhar a maioria em matérias complexas ou de mudança de entendimento. Já chegou a dizer, no passado, que a prisão só poderia ocorrer depois de esgotados todos os recursos. Se couber a ela o desempate, é possível inferir que Rosa Weber vai mudar o entendimento do Supremo mais uma vez. In dubio, pro reo? Minha ilação é esta: ao julgar o recurso de Lula contra a prisão em 2ª instância, o STF estará também decidindo alterar sua visão, ou seja, tende a decidir que a prisão só poderá ocorrer após esgotados todos os recursos nas instâncias superiores. Portanto, a ilação é extraída do próprio pensamento da ministra Weber, exposto no passado, e também sua inclinação para votar com a maioria. Em caso do provável empate, adiciono na ilação o princípio do Direito: in dubio, pro reo (na dúvida, pelo réu). E a opinião pública De qualquer maneira, a polêmica já está firmada. Se votar contra Lula, a ministra Weber vai enfrentar a contrariedade de advogados, os operadores do Direito que veem no esgotamento de todos os recursos o rígido cumprimento da letra constitucional. Por outro lado, teria o apoio irrestrito de juízes e procuradores, que defendem a prisão após decisão da 2ª instância, sob o refrão de que "o Brasil é o país da impunidade". E como a opinião pública vai reagir? De um lado, atribuirá uma decisão desfavorável ao ex-presidente como um viés "político". Se a decisão for favorável, a militância petista vai reagir com euforia e aplausos. Sinto que a ministra Rosa Weber não vai atender o apelo do amigo Sérgio Moro. Lembro: a inferência pode estar errada. Imagem do Judiciário O fato é que, seja qual for a decisão da nossa mais alta Corte, a imagem do Judiciário está muito borrada. De um lado, pelas querelas individuais, que transformam o Supremo em um arquipélago de 11 ilhas, de outro, por julgamento de matérias que seriam de competência do Poder Legislativo. O STF é em parte responsável pelo que se designa "judicialização da política". A Corte perdeu parcela ponderável de sua credibilidade. Imagens borradas As imagens dos ministros do STF estão borradas. Mesmo a do decano da Casa, o ministro Celso de Mello, que, aliás, promete um voto denso e longo hoje. (A depender do tempo que terá seu voto, o julgamento do recurso de Lula poderá se estender até amanhã). Gilmar exibe a imagem mais borrada. Na lista, estão ainda os ministros Toffoli, Lewandowski, Barroso e Marco Aurélio. A presidente Cármen Lúcia também gera certa contrariedade, inclusive por parte dos pares. Imagem negativa? O ministro Gilmar, ainda ontem em Portugal, disse que a condenação de Lula contribui para a imagem negativa do Brasil no exterior. Confesso que tive dificuldade de entender a assertiva por imaginar que um cidadão brasileiro, qual seja sua identidade, ao ser condenado pela Justiça, mostra que a instituição judiciária no Brasil funciona. O raciocínio do ministro deixa no ar a dúvida: a imagem do nosso país não seria negativa se ele fosse inocentado? Quer dizer que a Justiça errou em condenar Lula? Que reversão de conceitos, hein? Rodrigo Maia O presidente da Câmara, Rodrigo Maia, está fazendo intensa articulação para fechar apoio de partidos à sua candidatura. Rodrigo é um exímio articulador. Dialoga com todos e respeita compromissos assumidos. Tem grande potencial de crescimento na campanha. Basta ser conhecido. Já começou a viajar por todo o país, mostrando a cara e as ideias. Até junho analisará suas possibilidades. Seja qual for a alternativa, Rodrigo se apresenta como protagonista dos mais importantes para o amanhã. 20 pré-candidatos Antes que esqueçamos os nomes dos pré-candidatos à presidência da República, ei-los: 1) Flávio Rocha - PRB (10); 2) Ciro Gomes - PDT (12); 3) Lula - PT (13); 4) Michel Temer/Henrique Meirelles - MDB (15); 5) Vera Lúcia - PSTU (16); 6) Jair Bolsonaro - PSL (17); 7) Marina Silva - Rede (18); 8.) Álvaro Dias - PODEMOS (19); 9) Cristovam Buarque - PPS (23); 10) Rodrigo Maia - DEM (25); 11) Eymael - PSDC (27); 12) Levy Fidelix - PRTB (28); 13) João Amoedo - Novo (30);14) Valéria Monteiro - PMN (33); 15) Fernando Collor - PTC (36); 16) Geraldo Alckmin - PSDB (45); 17) Guilherme Boulos - PSOL (50); 18) João Vicente Goulart - PPL (54); 19) Manuela d'Ávila - PCdoB (65) e 20) Cabo Daciolo - AVANTE (70). Indefinidos Ainda há indefinição por parte de cinco partidos que pretendem lançar candidatos próprios: 1) Paulo Rabello de Castro - PSC (20); 2) Rui Costa Pimenta - PCO (29) ou apoio ao PT;3) Suêd Haidar - PMB (35); 4) Aldo Rebelo, Beto Albuquerque ou Joaquim Barbosa - PSB (40) e 4) PV - A definir. Quatro partidos já declararam apoio: PTB - dará apoio ao PSDB. O PP apoiará o MDB; o PCB deverá apoiar o PSOL e o PHS tende a apoiar o PODEMOS. Cinco partidos ainda não possuem definição sobre o pleito: PR, PEN, PROS, SD e PRP. (Via Vítor Ribeiro). Joaquim, mistério O ex-presidente do STF, Joaquim Barbosa, está ingressando no PSB, mas continua a ser um mistério. Será ou não candidato à presidência? Aguentará o tranco de uma campanha contundente? Sua saúde está bem? Todos esses ângulos pesam na definição de uma candidatura. Márcio França O vice-governador de São Paulo, Márcio França (PSB), assume o governo de São Paulo nessa sexta-feira. Trata-se de um perfil moderado, com boa expressão e grande capacidade de articulação. Na condição de governador será candidato ao governo. Assumirá o comando do Estado mais rico do país, com orçamento de 216 bilhões de reais e PIB próximo de dois trilhões de reais. Começou sua carreira política em 1989 na cidade de São Vicente, a mais pobre da Baixada Santista. Foi vereador e prefeito por dois mandatos. Tem 54 anos e foi deputado Federal. Doria O prefeito João Doria passa o comando da metrópole paulista ao vice Bruno Covas. Os dois se entendem muito bem. João vai começar o seu périplo pelo interior do Estado. E haja sola de sapato. São Paulo agrega o maior colégio eleitoral do país: mais de 33 milhões de eleitores. Seu principal desafio: explicar a razão pela qual deixou a prefeitura no meio do mandato. Como é bom de discurso, é bem provável que convença. Marketing eleitoral Nesse início de pré-campanha, talvez seja útil mostrar pequenas lições de marketing eleitoral. Marketing ganha campanha? Marketing não ganha campanha. Quem ganha campanha é o candidato. Marketing ajuda um candidato a ganhar a campanha, ao procurar maximizar seus pontos fortes e atenuar seus pontos fracos. O marqueteiro, aliás, profissional de marketing, (não gosto do designativo porque tem conotação pejorativa) é importante, na medida em que funciona como um estrategista que define linhas de ação, orienta a escolha do discurso, ajusta as linguagens, define padrões de qualidade técnica, sugere iniciativas e até pondera sobre o programa do candidato, os compromissos e ações a serem empreendidas. O profissional de marketing precisa, sobretudo, ser um profissional com visão sistêmica de todos os eixos do marketing. Que não entenda uma campanha apenas como um apelo publicitário, uma proposta de marketing televisivo. Que seja capaz de visualizar os novos nichos de interesse de uma sociedade exigente, crítica e sensível aos mandos e desmandos dos governantes. Pequeno roteiro Lições curtas de marketing eleitoral: - Saber ler corretamente o meio ambiente, os novos valores do eleitorado e as motivações de voto. - Escolher o discurso para o momento adequado. - Definir segmentos-alvo do eleitorado. - Selecionar sólidos reforçadores de decisão de voto. - Descentralizar a campanha para multiplicar pontos de eco e agregar organizações intermediárias. - Compor programa simples, objetivo, factível. - Trabalhar com modelos diferenciados de pesquisa. - Programar ações de surpresa e impacto. - Organizar estrutura adequada e estabelecer cronograma prevendo: lançamento da campanha (junho); crescimento (julho - 1ª quinzena de agosto); consolidação/maturidade (segunda semana agosto - primeira quinzena de setembro); clímax (segunda quinzena de setembro - semana da eleição); declínio (evitar que esta fase ocorra antes da eleição). - Garantir meios e recursos.
quarta-feira, 28 de março de 2018

Porandubas nº 567

Abro a coluna com uma deliciosa historinha de Apodi, no Rio Grande do Norte. O coronel Lucas Pinto, que comandava a UDN no Vale do Apodi/RN, não dormia em serviço. Quando o Tribunal Eleitoral exigiu que os títulos eleitorais fossem documentados com a foto do eleitor, mandou um fotógrafo "tirar a chapa" do seu rebanho, aliás, do seu eleitorado. Numa fazenda, um eleitor tirava o leite da vaca quando foi orientado a posar para a foto. Não teve dúvida: escolheu a vaca como companheira do flagrante. Mas o fotógrafo, por descuido, deixou-o fora. O coronel Lucas Pinto não teve dúvida. Ao entregar as fotos aos eleitores, deparando-se com a vaca, não perdeu tempo e ordenou ao eleitor: "prega a foto aí, vote assim mesmo, na próxima eleição, nós arrumamos a situação". Noutra feita, o coronel levou as urnas de Apodi para o juiz, em Mossoró, quase 15 dias após as eleições. Tomou uma bronca. - Coronel, isso não se faz. As eleições ocorreram há 15 dias. - Pode deixar, seu juiz. Na próxima, vou trazer bem cedo. Não deu outra. Na eleição seguinte, três dias antes do pleito, o velho Lucas Pinto chegava com um comboio de burros carregando as urnas. Chegando ao cartório, surpreendeu o juiz: - Taqui, seu juiz, as urnas de Apodi. - Mas coronel, as eleições serão daqui a três dias. - Ah, seu juiz, não quero levar mais bronca. Tá tudo direitinho. Todos os eleitores votaram. Trouxe antes para não ter problema. Idos das décadas de 50/60. Não havia empreiteiras financiando campanhas. A empreitada ficava mesmo a cargo dos coronéis. Moro em Roda Viva Foi uma bela entrevista de Sérgio Moro no melhor programa jornalístico da TV brasileira: o Roda Viva, da TV Cultura. Começou meio inseguro. Acabou firme e passando muita credibilidade em suas colocações. Foi instigado e pressionado. Citou ministros que admira. Lembrou que já trabalhou com a ministra Rosa Weber, em quem distingue seriedade. Weber é a incógnita no dia 4 de abril no STF. Dela, dependerá a mudança de orientação da Corte sobre prisão após condenação em 2ª instância. Hoje, a contagem estaria em 5 a 5. A ministra desempataria. Efeito dominó Se a Suprema Corte decidir pela prisão após a confirmação da condenação pelo STJ ou a causa transitada em julgado, haverá um efeito dominó nas prisões. Os presos condenados na 2ª instância começarão a recorrer. A tendência é a de saírem das prisões. O decano Celso de Mello defende essa postura, ao lado de quatro outros, inclusive o ministro Gilmar Mendes, que mudou de posição. Revisão Em 2016, o Supremo já decidira, por 6 votos a 5, que o cumprimento de pena poderia ocorrer após condenação em 2ª instância. Petistas e advogados defendem que a prisão só pode ocorrer após o trânsito em julgado no STF. A presidente Cármen Lúcia, a quem cabe definir a pauta, foi pressionada para colocar o tema em discussão. Além do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, outros protagonistas estão apreensivos sobre o julgamento dia 4 de abril, entre eles José Dirceu, João Vaccari Neto e André Vargas; Sérgio Cabral, Eduardo Cunha; Gim Argello e Anthony Garotinho. Há duas Ações Diretas de Constitucionalidade a serem avaliadas e julgadas pelo Supremo. A ministra Cármen não quer colocá-las antes do julgamento do habeas corpus de Lula. A imagem do Supremo Está em jogo a imagem do Supremo. Nunca a alta Corte foi tão execrada como se viu nos últimos dias. A viagem do ministro Marco Aurélio ao Rio de Janeiro, onde iria tomar posse na presidência de um Conselho, azedou o clima. O ministro tirou do bolso o bilhete do seu vôo e a sessão foi suspensa, mesmo podendo continuar com a maioria dos ministros presentes. As redes sociais puseram lenha na fogueira. Lula apareceu como o grande beneficiado pelo STF. E por falar em Lula... A caravana de Luiz Inácio pelo Sul do país foi um tiro no pé. Por todos os lados, os opositores ao PT e ao lulismo reagiram com paus, pedras e ovos jogados sobre o palanque do ex-presidente. Tratores impediram a passagem da caravana. RS, SC e PR mostraram sua revolta contra o petismo. O ex-deputado Paulo Frateschi foi atingido na orelha. Lula se indignou, acusando fazendeiros, trabalhadores e desempregados que participaram das manifestações. Para ele, trabalhadores deveriam fazer sua defesa. Puxão de orelha Recebeu, por isso, forte puxão de orelhas da senadora Ana Amélia, que, falando no Senado, lembrou ao ex-presidente não ser ele o dono da vontade de trabalhadores. Luiz Inácio, é sabido, não enxerga o buraco em que o lulo-dilmismo abriu no país. Considera-se o salvador da pátria. Ou será que começou a cair sua ficha? Centro embolado O centro está embolado. Geraldo Alckmin, Michel Temer, Rodrigo Maia, Henrique Meirelles, Álvaro Dias, João Amoedo, Fernando Collor, Flávio Rocha (mais à direita) formam um núcleo que aposta fichas no centro da sociedade - classes médias. Se não houver um processo de decantação das águas centrais, é provável um fortalecimento dos candidatos das margens, tanto à direita, quanto à esquerda. Bolsonaro e o candidato das esquerdas seriam beneficiados. Ciro Gomes, na ausência de Lula, se fortalece. Final de junho é o prazo que os eventuais candidatos estão se dando para análise de sua viabilidade eleitoral. Cuidado com promessas Leitores e eleitores. Muita precaução, desde já, contra promessas mirabolantes. Lembro uma delas, feita por Antônio Luvizaro, candidato ao governo da Guanabara nos idos de 60. Indagado sobre uma questão que provoca dores de cabeça no cidadão, o trânsito, disparou a resposta: "Tenho um programa com soluções rápidas e práticas. Vejam que solução barata: carro novo vai pelo túnel novo, carro velho só entra no túnel velho". Amoedo Cobram deste consultor uma análise sobre João Amoedo, o candidato do Partido Novo. Pelo que ouço de amigos (não ouvi discurso dele ainda), trata-se de um empresário com experiência no campo financeiro, um liberal de alto coturno. Preparado, é o que me dizem. Tenho minhas restrições ao Partido Novo, que não aceita filiação de políticos militantes. Só aceitam figurantes sem experiência política. Um paradoxo. Política sem políticos. Se esse partido, caso chegasse ao topo do poder, poderia governar? Sem alianças? Uma utopia. Deixem o Amoedo sonhar. Faz bem. Álvaro Dias Outros me cobram uma avaliação do senador Álvaro Dias. Trata-se de um perfil que merece respeito. Foi um bom líder do PSDB. Não sei bem as razões de sua saída da floresta tucana. Deve ser por conta de conveniências locais (do Paraná). Mas o senador está muito restrito ao Paraná. Não é conhecido em outras regiões. E seu partido - Podemos -, criado mais recentemente, não tem força e tradição. Estrutura frágil para suportar uma campanha renhida. Rio violento A intervenção na Segurança Pública do Rio de Janeiro ainda não deu respostas satisfatórias aos anseios sociais. A violência continua dando mostras de que desconhece o aparato policial. Todos os dias, registros de tiroteio e mortes. Ao que se ouve, as forças ainda estão se exercitando, aprendendo a conviver com a violência. O general Braga é visto como a luz no fim do túnel. STF no centro das atenções Nunca a Suprema Corte foi tão monitorada quanto nesses tempos de decisão com viés político. Juízes são divididos em compartimentos partidários, a favor ou contra alguém. Uma mancha sobre a imagem sagrada do STF. Lembrem-se, senhores juízes, do conselho de Francis Bacon: "os juízes devem ser mais instruídos que sutis, mais reverendos do que aclamados, mais circunspetos do que audaciosos. Acima de todas as coisas, a integridade é a virtude que na função os caracteriza". Trump torpedeado Donald Trump, o desajeitado presidente norte-americano, continua cometendo sandices e tomando decisões surpreendentes. Analistas da política norte-americana falam abertamente que se aproxima dele um torpedo destruidor: o impeachment. Difícil, mas não impossível. 116 expulsos EUA, países europeus e aliados estão expulsando 116 diplomatas russos. Impressão é que uma borrasca daqueles tempos da Guerra Fria se aproxima das Nações mais poderosas. O momento é de intranquilidade. Tirem Lula do páreo Apesar da insistente peroração da senadora Gleisi, que preside o PT, de que Lula será o candidato do partido às eleições de outubro, é mais aconselhável tirá-lo da lista. Virou ficha-suja. E com essa estampa estará fora do jogo presidencial. A não ser que Luiz Inácio seja melhor e maior entre os iguais brasileiros. As vias O PT promete inscrever Lula como candidato. O TSE pode negar a inscrição, ao constatar que ele não cumpre os requisitos da lei. Mas ele pode recorrer ao próprio TSE. E, ainda, se perder, pode apresentar recurso ao STF. Mantém-se candidato até que a Corte julgue seu recurso. Se o STF lhe conceder uma liminar, poderá continuar a concorrer. Minha régua: 90% de derrota no Supremo. Após a conclusão do processo no TRF-4, a Corte poderá mandar ofício a Sérgio Moro a fim de que ele decrete a prisão. Claro, a depender do HC preventivo a ser julgado dia 4 no Supremo. 4 tipos de sociedade Costumo contar uma historinha que serve para definir a cultura brasileira. Há quatro tipos de sociedade no mundo. A primeira é a inglesa, a mais civilizada, onde tudo é permitido, salvo o que é proibido. A segunda é a alemã, sob rígidos controles, onde tudo é proibido, salvo o que é permitido. A terceira é a totalitária, pertinente às ditaduras, na qual tudo é proibido, mesmo o que é permitido. E, coroando a tipologia, a sociedade brasileira, onde tudo é permitido, mesmo o que é proibido. Municipalização x nacionalização Questões importantes que florescem no jardim do Marketing Eleitoral: campanhas tendem a ser municipalizadas ou a receber inputs Federais? Micropolítica - política das pequenas coisas - ou macropolítica, temáticas abrangentes? O discurso da forma (estética) suplantará o discurso semântico? Campanhas privilegiarão pequenas ou grandes concentrações? Qual é o papel das entidades de intermediação social (associações, movimentos, sindicatos, federações, clubes, etc.)? Telegráficas respostas: 1) Ambiente geral - estado geral de satisfação/insatisfação - acaba adentrando a esfera regional/local (temas locais darão o tom, mas a temperatura ambiental será sentida); 2) Micropolítica, escopo que diz respeito ao bolso e à saúde, estará no centro dos debates; 3) O discurso semântico - propostas concretas e viáveis - suplantará a moldura estética; 4) Pequenas concentrações, em série, gerarão mais efeito que grandes concentrações; 5) Organizações sociais mobilizarão eleitorado.
quarta-feira, 21 de março de 2018

Porandubas nº 566

Abro com uma historinha de Pernambuco. O verbo não "vareia" A Câmara Municipal de Paulista/PE vivia sessão agitada em função da discussão de um projeto enviado pelo prefeito, que pedia crédito para assistência social. Um vereador da oposição combatia de maneira veemente a proposição. A certa altura, disse que "era contra o crédito porque a administração municipal não merecia credibilidade". O líder da bancada governista interveio, afirmando que "o nobre colega não pode jogar pedras no telhado alheio, pois já foi acusado de algumas trampolinagens". - Menas a verdade - retrucou o acusado. Sou homem honesto, de vida limpa. - Vejam, senhores, - disse o líder - o nobre colega, além de um passado nada limpo, ainda por cima é analfabeto, pois, "menas" é verbo e verbo não "vareia". (Historinha contada por Ivanildo Sampaio). O ódio está no ar O clima social está quente. Nesse inicio de pré-campanha eleitoral, quando não se sabe ainda quais os reais competidores, o clima se mostra pesado, cheio de zangas, com alas brandindo armas nas redes sociais e nas movimentações. Vejamos. O assassinato da vereadora Marielle Franco e de seu motorista Anderson, após a comoção social, ameaça abrir a polarização ideológica. Fake news invadem as redes acusando a ex-vereadora de envolvimento com Marcinho VP. Até uma desembargadora do Rio entra na onda de acusações mentirosas. Verbos da esquerda e da direita exibem elevada taxa de ódio. Lula no sul O ódio apareceu também nesse começo de andança de Lula por regiões do Rio Grande do Sul. Em Bagé, fazendeiros e trabalhadores fizeram piquete com tratores e carroças, atrapalhando o percurso do comandante petista. Poucos apoiadores apareceram. A praça sulista abriga um forte pensamento conservador, situação que deveria ter sido analisada pelos organizadores do tour. Lula, em seu primeiro discurso, falou por oito minutos. Pouco. O desânimo parece se alastrar no território petista e adjacências. Esquentamento dos motores Mas o desânimo que se observa nas hostes petistas parece ter vida curta. O calvário de Lula não começou. O PT já trabalha com a perspectiva de sua prisão, logo após decisão do recurso (embargos de declaração) no TRF-4. Se essa situação se confirmar, a pólvora poderá incendiar ruas. É até provável que não se vejam grandes mobilizações. Mas a militância petista é forte e se engaja na luta com facilidade. A prisão de Lula é a senha para o petismo tentar acender uma grande fogueira. Conseguirá? Nordeste vermelho O Nordeste tem cerca de 28% dos votos do país. E em algumas capitais Lula consegue exibir a confortável taxa de quase 60% de intenção de voto. Em Maceió, capital das Alagoas de Renan pai e Renan filho, Lula é ídolo. (Os Renans usarão Lula como bengala eleitoral). De 40% a 50% - esta tem sido a média de Lula na região. Portanto, o calvário do ex-presidente, a partir da prisão, pode disparar um continuum de movimentações por capitais, grandes e médias cidades. A cor vermelha do MST, MTST, CUT et caterva será vista nos telejornais. O petismo pretende ressuscitar o "Nós e Eles". Perdendo força O contra-ataque deverá vir dos bastiões anti-petistas, a partir de candidatos dos grandes partidos. Portanto, é razoável inferir que a força petista jamais será a mesma. Tende a arrefecer, fenômeno que deverá acontecer a partir do Sudeste, particularmente de São Paulo, com seus 33 milhões de eleitores, chegando perto da votação de todo o Nordeste. O PT fará enorme esforço para eleger boa bancada Federal. Se eleger 50 deputados, será muito. Já na searas estaduais, a situação parece mais confortável aos projetos de reeleição em Minas Gerais (Fernando Pimentel), Bahia (Rui Costa), Ceará (Camilo Santana), Piauí (Wellington Dias) e Acre (Tião Viana). Lula, o eleitor-chave O PT pensa em transformar Lula em mártir. Mais: perseguido pelo Judiciário ou, usando o palavreado petista, pelas elites. Teremos, assim, Lula como o eleitor com a chave para encher as urnas. Se for preso, deverão emergir da garganta lulista palavras cheias de gasolina, necessárias para fazer ferver o sangue da militância. Se não for preso, pode-se esperar Luiz Inácio subindo em palanques em todas as regiões. Polarização voltará? É evidente que o petismo quer muito resgatar a polarização entre "nós" (petistas) e "eles" (a zelite). Sem dúvida, parte desse discurso pode até bater bumbo em alguns cantos, mas o país está farto de engodo. O ciclo lulo-petista-dilmista abriu gigantesco buraco nas contas do Tesouro. Sofremos a maior recessão econômica da contemporaneidade. E o eleitor, mesmo os de classes sociais empobrecidas, está mais crítico e observador. Principalmente o eleitor das periferias das metrópoles. Uma brisa mudancista bate no sistema cognitivo do eleitorado, abrindo espaços para um voto mais racional. O quadro paulista Com a vitória de João Doria nas prévias tucanas, ocorridas no último domingo, o quadro paulista começa se fixar nos vãos eleitorais. Teremos, então, Doria (PSDB) e Marcio França (PSB) como os maiores protagonistas da competição. Desafios de Doria: explicar e convencer o eleitorado a razão pela qual abandonou a prefeitura no meio do mandato; expressar um bom domínio sobre as temáticas mais sensíveis à população. Desafios de Marcio França: tornar-se conhecido do eleitorado; exibir um substancioso programa de governo. França, apoio do PMDB Uma grande novidade na área de Marcio França é o apoio de cerca de 70 prefeitos do PMDB, dentre os 82 que o partido tem no Estado. França assumirá o governo em abril próximo, com a saída do governador Geraldo Alckmin, que se desincompatibiliza para se candidatar à presidência. Com a caneta na mão, ele tem condições de fechar um largo laço de alianças, fundamental para seu desempenho eleitoral. O PTB, de Campos Machado, também está fechando com ele. Doria, comunicação João Doria, por sua vez, tem um grande trunfo: conhece bem as maneiras, técnicas e métodos da comunicação. Nesse ponto, deverá ser o mais comunicativo. Sofrerá ataques. Muitos consideram-no portador de uma ambição descomunal. Skaf, limitado Paulo Skaf, o presidente da FIESP, deverá ser candidato mais uma vez ao governo pelo PMDB. É pouco provável que cresça. Skaf não agrega traços de inovação. Seu estilo é autoritário. Sua expressão é pobre. Não domina temáticas de cunho social. E mesmo temas econômicos mais complexos não são sua praia. E mais: no próprio PMDB, seu partido, é visto com grandes reservas. Marinho, fraca identidade Luiz Marinho é um sindicalista das antigas. Mesmo tendo sido prefeito de São Bernardo, a marca do sindicalismo está estampada em sua testa. Ou seja, não tem uma identidade à altura do mais forte Estado da Federação. Não quer dizer que um sindicalista não possa ser eleito governador. Não é bem isso, mas o fato de que sua viseira sindicalista é curta para contemplar a dimensão gigantesca de um Estado como São Paulo. O DEM O Democratas será um dos partidos mais prestigiados. Deverá receber um número razoável de deputados até 7 de abril, data de fechamento da janela eleitoral. A dúvida recai sobre a candidatura de Rodrigo Maia à presidência da República. Vai colar? Maia é um grande articulador. Se não crescer nas pesquisas, poderá voltar a ser deputado e concorrer à presidência da Câmara mais uma vez. Sonho de Alckmin O sonho de Geraldo Alckmin seria puxar ACM Neto como vice em sua chapa. A Bahia é o quarto colégio eleitoral do país. Sudeste e Nordeste, assim, fariam um pacto com forte viabilidade eleitoral. Novos ministros Nos bastidores, multiplicam-se as pressões e contrapressões para indicar os próximos ministros. Uma enxurrada de nomes deixará a Esplanada dos Ministérios para se candidatar. Muitos querendo arrumar um cargo no Parlamento para ganhar foro privilegiado. Marketing eleitoral Ciclos da campanha Orientação para candidatos e assessores: estabelecer adequado cronograma dos ciclos da campanha, que, como se sabe, possui cinco ciclos: lançamento, por ocasião da Convenção; crescimento, entre quatro e cinco semanas após a Convenção; maturidade/consolidação, quando a campanha se firma no sistema cognitivo do eleitor, após ampla visibilidade; clímax, momento em que o candidato alcança seu maior índice de intenção de votos; e declínio, quando o candidato tende a cair nas pesquisas de opinião. Todo esforço se faz necessário para o clímax ocorrer na semana das eleições. A dosagem dos ciclos há de obedecer ao funil da comunicação - jogando-se mais água (volume de comunicação/visibilidade) na segunda quinzena de setembro. Candidato que começa a decair antes do tempo corre o perigo de morrer na praia. Planejamento de campanhas Este consultor chama a atenção para o planejamento do marketing das campanhas. Que abriga metas como estas: 1) priorizar questões regionalizadas, localizadas, na esteira de um bairro a bairro, ou seja, fazer a micropolítica; 2) criar um diferencial de imagem, elemento que será a espinha dorsal da candidatura, facilmente captável pelo sistema cognitivo do eleitor; 3) desenvolver uma agenda que seja capaz de proporcionar "onipresença" ao candidato (presença em todos os locais); 4) organizar uma agenda contemplando as áreas de maior densidade e, concentricamente, chegando às áreas de menor densidade eleitoral; 5) entender que eventos menores e multiplicados são mais decisivos que eventos gigantescos e escassos; 6) atentar para despojamento, simplicidade, agilidade, foco para o essencial, mobilidade, propostas fáceis de compreensão e factíveis. Esse um resumido escopo de planejamento. Índice de intenção de voto Índices de intenção de voto servem para quê? Breve resposta: índice de intenção de voto é igual ao desenho do elefante visto nos céus. Dentro de pouco tempo, o que era elefante se esgarça e se transforma em gafanhoto; e o que era uma nesga de nuvem, parecendo um gafanhoto, se agiganta, mais parecendo o incrível Hulk. Durante uma exposição massiva, de 35 dias seguidos e intensos, qualquer desconhecido se transforma em astro, celebridade. As campanhas eleitorais fazem esse milagre. Peru não morre de véspera A eleição de um candidato depende do momento, das circunstâncias, da temperatura social, dos versos e reversos da economia, do perfil dos adversários, dos debates e combates na arena eleitoral, dos climas regionais, da força da mídia eleitoral (significando tamanho dos programas eleitorais), dos inputs momentâneos (uma crise abrupta, um caso espetaculoso) - enfim, de uma escala de elementos ponderáveis e imponderáveis. Os fatores imprevisíveis abrem as possibilidades. Única verdade: peru não morre de véspera.
quarta-feira, 14 de março de 2018

Porandubas nº 565

Abro a coluna com uma historinha do Maranhão. Em campanha José Burnett, chefe da Casa Civil do governador do Maranhão, João Castelo, era deputado estadual do PSD. Em 1962, candidatou-se à Câmara Federal e saiu pelo interior fazendo campanha. Chegou à cidade de Santa Helena, foi para o comício: - Povo de Santa Helena. Eu gosto tanto desta terra, tanto, que se pudesse nascer de novo pediria a Deus para nascer aqui em Santa Helena. Foi um sucesso. No dia seguinte estava em Pinheiro: - Povo de Pinheiro. Eu gosto tanto desta terra, tanto, que se pudesse nascer de novo pediria a Deus para nascer aqui em Pinheiro. Lá de trás, um caboclo, que por acaso tinha assistido ao comício da véspera em Santa Helena, gritou: - Doutor, e Santa Helena, doutor? - Santa Helena? Santa Helena? Santa Helena que me perdoe. E desceu. Quem tem mais chances? Todos os dias, perguntas insistentes batem na cabeça deste consultor: quem tem mais chances na eleição presidencial, considerando os atuais pretendentes? Quem tem mais chances em São Paulo? E lá vou eu fustigar o sistema cognitivo com uma bateria de hipóteses. Claro, todas elas sujeitas ao fracasso ante a eventual presença do Senhor Imponderável dos Anjos, que continua a nos visitar esporadicamente. Mas não tenho fugido às questões, por mais intrigantes que sejam. Primeiro, o plano conceitual Em "Mistificação das Massas pela Propaganda Política", a obra em que Sergei Tchakhotine, cientista social russo, disseca a propaganda nazista, a bíblia que está sempre à minha direita, estão descritos os quatro instintos que movem a vontade e a decisão dos eleitores. Dois são ligados à conservação do indivíduo e dois são relacionados à preservação da espécie. Os dois primeiros: o instinto combativo e o instinto nutritivo; os dois últimos: o instinto sexual e o instinto paternal. Sobrevivência Os dois primeiros são usados pelo homem para sobreviver: lutando contra as ameaças que o cercam no dia a dia; lutando contra outros e contra a natureza que pode destruir sua casa; lutando para melhorar as condições de vida. O segundo instinto é o nutritivo/alimentar. Sem alimento na barriga, nenhum ser resiste. Daí pinço a velha equação que costumo apresentar aos meus públicos: BO+BA+CO+CA= Bolso Cheio (geladeira cheia), Barriga Satisfeita, Coração Agradecido, Cabeça aprova o gestor/político que proporcionou a situação. Retórica de guerra e da barriga Não por acaso, a linguagem da política é impregnada da retórica de guerra: "vamos ganhar; vamos à vitória; nossa luta pelo povo; derrotaremos os nossos adversários; à vitória até o momento final; vamos melhorar as nossas safras, dar alimento barato ao povo etc.". Churchill em 10 de maio de 1940: "Espero que meus amigos e colegas, ou colegas de outrora, que tenham sido afetados pela reconstrução política, sejam tolerantes e me desculpem por qualquer falta de cerimônia na maneira por que fui compelido a agir. Eu diria a esta Casa, como disse àqueles que passaram a formar este governo: Eu nada mais tenho a oferecer senão sangue, trabalho, suor e lágrimas". Perpetuidade Os últimos dois instintos do ser humano são as alavancas da perpetuação da espécie: o sexual e o paternal. Donde se pinçam os valores humanos: a solidariedade, a amizade, o companheirismo, o culto à família, a defesa da criança e do velho, o amor aos pais, o culto à religião, etc. Pois bem, o eleitor tende a identificar nos candidatos os perfis que mais lhe oferecem segurança, esperança de melhores dias, harmonia e paz social (ordem nas ruas), condições de progredir na vida (assistência à família, educação, bolsas etc.). Qual candidato? Da moldura de pré-candidatos, qual aquele que mais esperança de melhoria de vida oferece? Alckmin, Henrique Meirelles, Bolsonaro, Lula, Álvaro Dias, Flávio Rocha, Afif, Ciro Gomes, Marina Silva, Guilherme Boulos? Não se trata de escolha fácil. Porque na indicação/escolha do perfil, entram outros elementos: proximidade ao eleitor; credibilidade/confiança; densidade de programas; factibilidade (capacidade de realização das propostas); maneira de se comunicar; simpatia/empatia; frequência/periodicidade no capítulo da visibilidade; estrutura partidária (recursos e cabos eleitorais); capilaridade do partido etc. Bolsonaro O deputado Jair Bolsonaro expressa a linguagem da dureza. Ordem. Contra a bagunça. É visto como extensão do braço militarista. Terá pálidos segundos na TV e no rádio dentro do espaço eleitoral. Confia muito nas redes sociais. Este consultor não aposta na capacidade das redes para eleger um candidato. Veremos uma luta renhida entre militantes adversários dentro de um processo que designo de "canibalização recíproca", uns comendo os outros. Ademais, o PSL está fracionado em duas alas, uma perdendo força e agindo contra Bolsonaro, que tomou conta da sigla. Há dúvidas sobre a capacidade de Bolsonaro segurar a barra. Mas poderá contar com as graças do Senhor Imponderável dos Anjos. Alckmin Geraldo deverá sair de São Paulo bem avaliado. O Estado tem 33 milhões de votos, com 24% dos votos válidos do país. Se conseguir uma grande bacia de votos de maioria, poderá compensar a derrota que sofrerá no Nordeste. Seu desafio: conquistar os dois outros maiores colégios eleitorais do país: Minas Gerais e Rio de Janeiro. Seu sonho: atrair ACM Neto como vice de sua chapa. Mas este poderá ser candidato na Bahia. O DEM lançou Rodrigo Maia. E esperará até junho para ver se ele emplaca. Se Alckmin até lá der sinais de alento, é razoável acreditar em uma aliança do PSDB com o DEM. Segundo turno Ante o eventual impedimento de Lula, Ciro Gomes deve ser beneficiado. A partir do Nordeste. Nesse caso, não está fora de jogo um segundo turno entre Ciro e Geraldo. Dias Álvaro Dias é um candidato da área central. Mas limitado ao Paraná. E votos esparsos aqui e alhures. Parco tempo de mídia eleitoral. Marina Frágil para suportar uma guerra de gigantes. Seu partido é limpo, mas não dispõe de forte estrutura. Tende a definhar antes de chegar à praia. Maia Tem muito poder de articulação. Sabe atrair partidos. Mas dispõe de pouco tempo. Meirelles Um mago das finanças. Pesado. Sem carisma. Rocha Flávio Rocha exibe denso discurso. É preparado. Um empresário com formação de Harvard. Corre o país levando seu plano Brasil 200 e um desafio: o tempo. Se a campanha fosse mais longa, poderia atrair as massas. Tem coisas para mostrar, a partir do emprego que seu Grupo oferece a milhares de pessoas. Tempo de campanha: 90 dias de rua para 45; tempo de mídia: de 45 dias para 35. Campanha bem curta. Território paulista Tentemos decifrar o enigma em São Paulo, considerando três candidaturas: Márcio França, vice-governador que irá assumir o comando do Estado, em abril, sendo candidato do PSB; João Doria, o atual prefeito, a ser candidato pelo PSDB e Paulo Skaf, presidente da FIESP, que pleiteará mais uma vez a candidatura ao governo pelo PMDB. Vejamos. França Marcio França é candidato de um partido de centro-esquerda, o PSB, que tem boa imagem, quando comparada com outros grandes partidos. É o partido do saudoso Eduardo Campos, morto em acidente de avião. Foi leal ao governador Alckmin. Tem bom lastro na região santista, onde foi prefeito e larga experiência política no Estado. Seu problema: não conseguiria atrair o PSB para a candidatura Alckmin, eis que a cúpula partidária é dominada pelo pernambucano Carlos Siqueira. Se o PSB não tiver Joaquim Barbosa, ex-ministro do STF como candidato, tende a pender mais a Ciro Gomes, do PDT, e com maior afinidade ideológica com o PSB. França terá a caneta à mão. Já atraiu o apoio de grande parcela de prefeitos, inclusive do PMDB. A máquina, nesse momento, costuma ser grande eleitora. Doria João Doria é um craque na comunicação. Pesa sobre ele o fato de abandonar a prefeitura no meio do mandato e ser acusado de muito ambicioso. Para a presidência da República, o eleitorado até o perdoaria, mas para o governo (só um passo acima), a impressão que transmite é a de abandono de compromissos. Mas a máquina tucana em São Paulo é forte. Se o PSDB fechar o "espírito de corpo" e se unir em torno do nome do partido, João teria condição de ultrapassar França. Com bom discurso e esclarecendo a razão pela qual deixa a prefeitura no meio do mandato, a massa eleitoral poderia lhe dar boa resposta nas urnas. No horizonte, sobram interrogações. Skaf Paulo Skaf volta a aparecer por meio da inserção publicitária em espaços da FIESP/SESI/SENAI. Paulo passa a impressão de que se aproveita da condição de presidente da FIESP para subir na escada da política. Seu perfil deixa a desejar no campo do preparo intelectual. Afora temas da área industrial, o presidente da FIESP costuma expressar platitudes e obviedades sobre temáticas nacionais. Diz-se que só ouve o que sua boca fala. Ele quer ser o novo. Conseguirá? Difícil. Nem que se vista de patinho amarelo, símbolo da FIESP para combater a alta carga de tributos. (Na campanha passada, Paulo Skaf chegou a se vestir de zebra, no intuito de convencer o eleitor de que seria a "zebra" na campanha paulista. Deu no que deu.) Marketing: os 5 eixos Lembro os cinco eixos do marketing eleitoral: pesquisa, formação do discurso (propostas), comunicação (bateria de meios impressos - jornalísticos e publicitários - e eletrônicos), articulação política e social e mobilização (encontros, reuniões, passeatas, carreatas etc.). A mobilização dá vida às campanhas. Energiza os espaços e ambientes. A articulação com as entidades organizadas e com os candidatos a vereador manterá os exércitos na vanguarda. A comunicação é a moldura da visibilidade. Principalmente em cidades médias e grandes. Sem ideias, programas, projetos, os eleitores rejeitarão a verborragia. E, para mapear as expectativas, anseios e vontade, urge pesquisar o sistema cognitivo do eleitorado. História O escopo do marketing político, ao longo da história, tem se mantido praticamente o mesmo. O que muda são as abordagens e as ferramentas tecnológicas. Atentem. No ano 64 a.C., Quinto Túlio Cícero enviava ao irmão, o grande tribuno e advogado Cícero - protagonista de episódios marcantes por ocasião do fim do sistema republicano e implantação do Império Romano - uma carta que considero o primeiro manual organizado de marketing eleitoral da história. Ali, Quinto Túlio orientava Cícero sobre comportamentos, atitudes, ações e programa de governo para o consulado, que era o pleito disputado, sem esquecer as abordagens psicológicas do discurso, como a lembrança sobre a esperança, este valor tão "marketizado" no Brasil e que se constituiu eixo central do discurso da era lulista. Dizia ele: "Três são as coisas que levam os homens a se sentir cativados e dispostos a dar o apoio eleitoral: um favor, uma esperança ou a simpatia espontânea".
quarta-feira, 7 de março de 2018

Porandubas nº 564

Abro a coluna com uma historinha de Mossoró, contada pelo amigo Carlos Santos, com quem me encontrei nesta última segunda-feira. Jumento, burro e o voto Candidato a vereador em Mossoró (2004), "Ricardo de Dodoca" assusta-se à porta de uma eleitora na periferia da cidade. Olhos arregalados, oxigênio quase faltando, ele depara-se com um cartaz do adversário Flávio Tácito à parede de "comadre Maria". Ela, teoricamente sua eleitora fiel. Com sinceridade angelical, própria das crianças, uma menina reforça a informação visual: - Mamãe não vai votar no senhor! - Por quê? - balbucia Ricardo. -Porque o "padre" (como é conhecido Flávio) deu um jumento para ela. - Ih... Ih... E o burro sou eu, que levou esse coice - constata o candidato com gagueira acentuada. (Livro Só Rindo 2) Identidade A coluna abre mais uma vez espaço para lembrar dois conceitos centrais do marketing político: identidade e imagem. O termo identidade, derivado do latim idem (igual, semelhante), corresponde à verdade de uma pessoa. Verdade que abriga sua história, tradição, valores que defende, enfim, seu pensamento. É a coluna vertebral de um perfil. Seja ele empresário, político, profissional liberal, etc. Imagem Já a imagem é a projeção da identidade, a percepção que o figurante transmite à sociedade. Tal percepção tem sido muito burilada nesses nossos tempos de Estado-Espetáculo, que obriga particularmente os agentes políticos a se transformarem em atores para desfilar no palco da visibilidade. A hipótese que cerca tal necessidade é a exposição pública: quanto mais conhecido o ator, mais prestigiado poderá vir a ser. Ocorre que na maquinação imagética ocorrem desvios fulcrais. Dândi Um dos erros, por exemplo, é tentar esticar a imagem do protagonista para além dos limites de sua identidade. Imaginemos a ideia de mapa e território. O território Brasil deve estar contido todinho em seu mapa. Não pode ser menos ou mais do que os limites traçados pelo mapa. Quando isso deixa de ocorrer, rompe-se a identidade. Daí surge a figura do dândi. Baudelaire dizia: "o dândi tem o prazer de espantar". Para aparecer na TV em horário eleitoral, os dândis procuram adereços de figurantes espalhafatosos, ancorando-se em gestos extravagantes e linguagens obtusas a título de chamar a atenção. Fazem tudo o que os "alquimistas" lhes recomendam. O Super-Homem Lembro exemplos. O ex-senador Eduardo Suplicy apreciava gestos extravagantes. Certo momento, atendendo a um pedido da animadora televisiva Sabrina Sato, vestiu por cima da roupa o traje de super-homem. E isso aconteceu nos solenes corredores do Senado. Ficou ridículo. Aquela sunga vermelha por cima da calça chamava a atenção, sim. Mas derrubava sua imagem de seriedade. Suplicy apenas corroborou a impressão de que satisfaz aos apelos e pedidos espetaculosos para aparecer na mídia. Um erro querer aparecer a qualquer custo. A zebra Aqui em São Paulo, o presidente da poderosa Federação das Indústrias, Paulo Skaf, apareceu vestido de zebra como candidato a governador pelo então PMDB, em seu programa eleitoral, nos idos de 2014. A estrambótica imagem certamente garantiu atenção, mas descambou para o perigoso terreno da galhofa. Deve ter sido conselho do marqueteiro. Vestir-se de zebra para dar ideia de que poderia ser a "zebra" da campanha é forçar a barra. Uma apelação. Pior: uma humilhação. Tiririca Já o palhaço Tiririca se apresentava todo ornado de penduricalhos com seu chapéu de palhaço. No caso dele, a imagem correspondia à identidade. É um palhaço. Aparecer como palhaço abria o sorriso. Não chegava a agredir. Idem - semelhante, igual. O sol do meio-dia Costumo pinçar a imagem do sol do meio-dia. Uma pessoa sob esse sol tem os raios incidindo sobre o centro da cabeça. A sombra criada por seu corpo não aparece. Estaria abaixo dos pés. À medida que o sol vai declinando no horizonte, os raios sobre o corpo vão formando uma sombra que se projeta na lateral. Sob o sol se pondo, a sombra se projeta ao longo do corpo, esgarçando seu formato. Deforma a pessoa. Pois bem, a imagem de um político deve corresponder em cheio à imagem projetada pelo sol do meio-dia. E não a imagem deformada e mentirosa que se vê ao sol no poente. As imagens artificiais de candidatos equivalem a essas sombras deformadas. Alguns toques Candidatos, atentem para alguns toques: 1. Procurem expressar a característica mais importante de sua identidade - o foco. 2. Não esqueçam que o eleitor deseja travar conhecimento com o personagem. Circular no meio da massa é importante. 3. Façam grande esforço para multiplicar presença em vários locais - a onipresença é um valor insuperável. Planejar eventos rápidos em lugares e cidades diferentes em um mesmo dia. Macarrão Calcanhar de Aquiles dos candidatos: evitar serem flagrados em dissonância. E isso ocorre geralmente quando um candidato é instado a mudar de identidade. O eleitor percebe quando a pessoa torna-se artificial, um mero produto de marketing. E candidato não pode ser trabalhado como se trabalha um sabonete, um pacote de macarrão. Flávio Rocha Este consultor teve oportunidade de presenciar neste início de semana, em Natal/RN, eventos em que o empresário e CEO do Grupo Riachuelo, Flávio Rocha, expôs seu Plano Brasil 200, lançado tempos atrás. Flávio foi o inspirador do programa Pró-Sertão, que abriu centenas de micro empreendimentos de costura no interior do Estado, propiciando às costureiras a oportunidade de produzir as roupas a serem adquiridas pela próprio Grupo. Uma revolução nos moldes que o empresário viu na Galícia, na Espanha, região com similaridades ao Nordeste, especialmente o RN. Intervenção no emprego As cidades começavam a mudar a feição. Empregos, renda, aquisição de motocicletas, carros, impulso ao comércio local - era a moldura que se via em dezenas de cidades pobres. Tudo parecia um sonho. Alicerçado, diga-se, na lei que dava respaldo a toda essa movimentação - a Lei da Terceirização. Até que as sirenes da PF chegaram às cidades para desmontar o empreendimento. A denúncia veio de uma procuradora, sob o esquisito conceito de "subordinação estrutural", ou seja, aquele formidável aparato de micro empreendedoras deveria ser absorvido como mão de obra efetiva da fábrica Guararapes. Pano de fundo: sob esse facão destruidor, a indústria de construção civil deveria absorver como empregados todos os contingentes que lhe prestam serviços. Idem para a indústria automobilística. O Brasil 200 O empresário não se deu por vencido. Disposto a lutar por sua ideia, imaginou o Brasil 200, na verdade um largo ideário liberal, com uma visão do Estado adequado, com suas tarefas constitucionais, ancorado na liberdade econômica, na força da livre iniciativa e com compromissos de recuperar os eixos perdidos pelo país. Passou a contar sua história, a narrar os resultados do Pró-Sertão e, mais que isso, a estabelecer um nexo entre esse projeto e outros setores da economia. Sua intenção é puxar esse cordão empreendedor por todo o Brasil. Um plano sistêmico À medida que sua narrativa passou a ser conhecida, veio o apelo: ampliar a visão liberal para outras áreas - educação, saúde, transportes, segurança pública. Nessa vertente, o movimento Brasil 200 acaba de produzir um Plano Nacional Emergencial de Segurança e Combate ao Crime com estratégias para reorganização das polícias, reformulação de presídios e alterações na legislação penal. O plano contém medidas duras: extinção de audiências de custódia, fim da progressão de regime, cumprimento integral de sentenças para crimes hediondos, penas mais duras, fim do estatuto do desarmamento. Candidato? Sim Pois bem, o que pretende Flávio Rocha com tudo isso? Começa a correr o Brasil para expor sua visão liberal? Foi a pergunta que este consultor lhe fez. Resposta: "apresentar o Brasil 200. Se este ideário for bem aceito, como vem sendo, ponho meu nome à disposição". Lendo melhor: Flávio Rocha é candidato a presidente da República. Este consultor não tem mais dúvidas. Já abriu conversa com alguns partidos. E se não der certo? Dará, respondem seus assessores. Na agenda, cidades-polo de todos os recantos serão visitadas. O entusiasmo com que as plateias ouvem suas exposições é grande. Se a onda não chegar à praia, em 2022, por ocasião dos 200 anos da Pátria independente, a semente hoje lançada poderá frutificar. E Flávio voltará a aparecer. Muita emoção A fábrica da Guararapes parou ao meio da tarde de segunda-feira. 8 mil costureiras, "companheiras de jornada", brandindo bandeiras e balões coloridos, sob aplausos e gritos continuados, ouviram Flávio Rocha narrando sua luta. Ao lado, seu pai, Nevaldo Rocha, o fundador, em vias de completar 90 anos. "Empregador e Empregados juntos" - faixas exibindo a profunda interação entre os dois polos se espalhavam por todos os lados. Pesquisa da consultoria que faz auditoria para o Grupo mostrou um índice: o engajamento e a integração dos empregados com a Guararapes é de 98%. O dado, que é público, explica o frenesi. A força moral A força moral é a arma mais poderosa da campanha eleitoral deste ano. Será o maior contraponto ao estado de degradação que corrói parcela razoável de nossos quadros políticos. Trata-se de uma força que funcionará como imã, puxando a atenção e a adesão dos eleitores. Os candidatos se esforçarão em dizer que a possuem. Ocorre que a força moral não é um conceito sobre o qual se possa cantar loas. Quem a carrega, não precisa discorrer sobre ela. Será reconhecido por isso. Gandhi, pobre e despojado, era um ícone de força moral. Arrastou multidões. Como a simplicidade, a força moral é a virtude dos sábios e a sabedoria dos santos. Quem possui esse tipo de força? Poucos. Juízes de passeata - I Desembargador do Tribunal Federal da 3ª região (SP e MS), do qual foi presidente e corregedor, com uma extensa e vitoriosa carreira na magistratura, o juiz Fábio Prieto é claro e direto nessa questão do auxílio-moradia e outros penduricalhos pagos aos juízes de todo o país, em flagrante desrespeito ao teto constitucional: a definição da remuneração no Judiciário cabe ao Supremo Tribunal Federal e ao Congresso Nacional e não às entidades de classe. Prieto defendeu sua posição num belo artigo publicado pelo jornal O Estado de S. Paulo, dia 2 de março, com o título "Juízes de Passeata". Juízes de passeata - II Prieto é contra o ativismo político no Judiciário e lembra que uma tranca já foi colocada na porta das finanças públicas: "É vedada a concessão de adicionais ou vantagens pecuniárias não previstas na presente lei, bem como em bases e limites superiores aos nela fixados". Os vencimentos dos ministros do Supremo Tribunal Federal foram fixados como teto, em nome da unidade nacional do Poder Judiciário. Juízes de passeata - III Mas houve uma reforma do Judiciário em 2000, segundo ele, manipulada para introduzir no sistema de Justiça a mensagem da luta de classes entre "nós e eles": juízes de tribunal contra os "da base", de primeiro grau. E a partir de então houve a partilha dos "penduricalhos". A pele da democracia vestida pelo assembleísmo corporativo-sindical. Esses juízes de passeata fizeram até um ato de protesto na sede do STF pela manutenção de seus privilégios. Por fim, Fábio Prieto adverte que a questão da remuneração "não pode ser privatizada pelo descansado sindicalismo de toga". Programa de qualidade O Sescon-SP (Sindicato das Empresas de Contabilidade e Assessoramento no Estado de São Paulo) realiza nesta sexta, 9/3, a 13ª edição do evento para entrega da certificação PQEC - Programa de Qualidade de Empresas Contábeis, criado para incentivar a excelência na prestação de serviços. Para o presidente da entidade, Márcio Shimomoto, "pelo caráter facilitador e indicador de caminhos, o PQEC tornou-se um grande aliado das empresas e um diferencial na busca por novos mercados". Este ano serão 482 empresas, sendo 98 certificadas também pelo ISO. O evento será no Espaço das Américas, em São Paulo.
quarta-feira, 28 de fevereiro de 2018

Porandubas nº 563

Abro a coluna com a nossa Águia de Haia. À sorrelfa e à socapa A historinha é conhecida e, por ser muito boa, merece um repeteco. Rui Barbosa, o Águia de Haia, chegava em casa, à noitinha, quando ouviu um barulho vindo do quintal. Chegando lá, viu um ladrão tentando levar seus patos de criação. Aproximou-se vagarosamente do indivíduo e, surpreendendo-o, ao tentar pular o muro com seus amados patos, passou-lhe um pito: - Oh, bucéfalo anacrônico! Não o interpelo pelo valor intrínseco dos bípedes palmípedes, mas sim pelo ato vil e sorrateiro de profanares o recôndito da minha habitação, levando meus ovíparos à sorrelfa e à socapa. Se fazes isso por necessidade, transijo; mas se é para zombares de minha elevada prosopopéia de cidadão digno e honrado, dar-te-ei com minha bengala fosfórica bem no alto da sua sinagoga, e o farei com tal ímpeto que te reduzirei à quinquagésima potência que o vulgo denomina nada. E o ladrão, perplexo e confuso, com um fio de voz, perguntou: - Doutor, eu levo ou deixo os patos? O espírito do tempo Os tempos sinalizam mudança na composição do processo de tomada de decisões. No Brasil, torna-se visível a formação de novos polos de poder, a traduzir uma força centrípeta (das margens para o centro) em contraponto à força centrífuga (do centro para as margens), que agrupa os poderes constituídos (Executivo, Legislativo e Judiciário) e os grandes complexos produtivos. Na esteira desse movimento, uma miríade de entidades organizadas (sindicatos, associações, clubes, núcleos, movimentos de todos os tipos) passa a animar a sociedade. Esse é o espírito do nosso tempo. Democracia midiática Ainda sob o fluxo desse escopo, ganha força uma "democracia midiática", que agrupa os figurantes do mundo dos divertimentos, atores e atrizes, animadores e encantadores das massas. Luiz Datena, Silvio Santos, Luciano Huck, Fausto Silva compõem, entre outros, a galeria dos grandes "candidatos" de nossa comunicação diversional. Se fossem efetivamente para a arena eleitoral, teriam forte votação. Seguramente. As massas estão saturadas da mesmice política. É assim que os outsiders da política teriam vez. Dentro do espírito do nosso tempo. Democracia supletiva Os novos polos de poder, por sua vez, funcionam como respiradouros de grupos sociais, que já não suportam ouvir as promessas da esfera política. Essas válvulas de escape arregimentam grupos e até geram multidões que vão às ruas expressar sua indignação. Roger-Gérard Scwartzenberg designa esse fenômeno como democracia supletiva. É o espírito do nosso tempo. Democracia direta Trata-se, por outro prisma, de uma expressão que também traduz o anseio de democracia direta, essa que sai da garganta das massas para chegar aos ouvidos dos figurantes de nossa democracia representativa. Como se sabe, esta modalidade padece de intensa crise: ideologias bifurcadas, partidos amorfos ou pasteurizados, massas desmotivadas, Parlamentos em declínio, oposições sem força, entre outros fatores. É o espírito do tempo. PT sob pressão (e tensão) A busca e apreensão de documentos no apartamento do ex-governador da Bahia, Jaques Wagner, em Salvador, deixa o PT em estado de tensão. Afinal, Wagner é apontado como o plano B do PT, caso Lula seja impedido de se candidatar. Com seu nome na lista de suspeição, o plano B fenece. A não ser que surja outra ideia. O fato é que uma grande interrogação paira sobre os nomes dos candidatos à presidente. Mais dúvidas Rodrigo Maia pensa em se lançar pelo DEM. Mas teme o risco da candidatura naufragar. Não seria mais interessante ser reeleito deputado e voltar a dirigir a Câmara Federal? Esta pergunta deve fustigar sua cuca. Se o DEM não sair com candidato próprio, a probabilidade maior é a de vir a apoiar Geraldo Alckmin, do PSDB, reivindicando o cargo de vice na chapa. Ele ou o deputado Mendonça Filho são os mais cotados. Mendonça deixará o Ministério da Educação em princípio de abril. PMDB em parceria Pode até ser que o PMDB, desta vez, saia com uma candidatura própria. Mas quem conhece o partido, sabe que se trata de um ente pragmático. Perdeu com Ulisses, perdeu com Quércia e, de lá para cá, aprendeu que o caminho é a parceria com o partido em melhores condições de chegar ao pódio. Se a segurança pública no Rio melhorar (bem) e a economia continuar a dar sinais de boa recuperação, é até provável acreditar em candidato próprio. Henrique Meirelles? Meio pesado, mesmo exibindo trunfos econômicos. Mas em política, tudo é possível. Temer É bom acreditar na palavra do presidente. Se ele diz que não tem intenção de ser o candidato do PMDB é porque não tem essa intenção. O que se lê é que gostaria de apoiar um nome intensamente comprometido com o legado que deixa, um dos mais substantivos e reformistas de nossa contemporaneidade. Basta ter bom senso para constatar. Sem parti pris. O nosso Trump Donald Trump diz que os professores das escolas americanas devem receber armas para se defender. Um armamentista do norte. Jair Bolsonaro diz que as mulheres brasileiras devem ter uma arma em casa para se defender. Um armamentista do sul. A parada lei das teles Por que o presidente do Senado sentou sobre esse projeto, considerado a salvação das teles no país? As operadoras prometem investir forte na banda larga. A infraestrutura montada ao longo dos anos foi para sustentar a telefonia fixa. Hoje essa estrutura está defasada. Só mesmo novos investimentos para abrir os horizontes do amanhã no campo das telecomunicações. Todos se interessam pela aprovação desse projeto: governos, operadoras, setores de serviços, usuários, etc. Mas o senador Eunício Oliveira o segura. Criminalidade A bandidagem dá sinais de que os grupos que a formam vivem uma guerra em torno do poder. O PCC teria mandado eliminar adversários e bandidos que mudaram de lado. E vê seus líderes assassinados em Estados do Nordeste, como no RN. Os líderes da facção comandam as operações de dentro das cadeias. Donde se indaga: como está hoje a integração das forças policiais nos 27 Estados da Federação? Há intercomunicação entre elas? O fim da polarização Depois de anos e anos de polarização entre PT e PSDB, a hipótese de um novo ciclo na política, com a ascensão de novas fontes de poder e de protagonistas novos, ganha corpo. O PT dividiu o Brasil em duas bandas, ocupadas por "nós e eles", sendo os petistas os mocinhos e os outros, os bandidos. Essa divisão rachou a sociedade, que quer encontrar novos atores, novos perfis, novas linguagens. No pleito desse ano, petistas vão querer continuar o seu berro. Refluirão ao perceberem que já não fazem eco. As redes x mídia massiva Há mais uma grande interrogação no ar: as redes sociais conseguirão sustentar candidatos que não disporão de espaço na mídia massiva para ganhar visibilidade? Os candidatos de grandes partidos terão espaço suficiente. Mas candidatos com tempo muito curto irão até o final com seus índices de intenção de voto? Por exemplo, Bolsonaro e Marina Silva aguentarão o tranco? Ou serão canibalizados pelos perfis que disporão de muitos minutos de rádio e TV? TV Cultura avança A TV Cultura fechou contrato com o World Economic Fórum para ser a rede de TV oficial do encontro que se realizará em São Paulo no início de março. As tratativas se iniciaram em dezembro. Marcos Mendonça, o comandante, explica: "agora em função da qualidade técnica de nossas equipes e de nossos equipamentos fomos selecionados. Seremos a geradora das imagens de todo o evento. Teremos exclusividade na geração de conteúdo e seremos responsáveis por sua distribuição para todos os veículos de comunicação do mundo. Contaremos com um espaço privativo anexo ao plenário onde poderemos produzir boletins e entrevistas exclusivas". Trata-se do reconhecimento do trabalho desenvolvido, que confere à Cultura a posição de um dos principais players do mercado de TV no Brasil. Rescisão da delação A rescisão da delação de Wesley Batista e de Francisco Assis Silva, da JBS, é mais uma demonstração de que os delatores montaram uma emboscada para atirar em uns e salvar outros. Deixaram o procurador Miller fora da história, quando este, ainda vestido no manto da Procuradoria, ajudou os irmãos Batista a armar a trama para "capturar" o presidente da República. Miller teria servido o menu a dois senhores. E embolsado, segundo se lê, R$ 700.000,00. Puxa...... A acusação sobre suposto envolvimento da concessionária CCR em denúncia de corrupção investigada pela Lava Jato baixou o valor da empresa em R$ 4,62 bilhões. Em apenas dois dias. A mão do mercado. Novo Ministério Com a saída de uns 15 ministros em abril, candidatos no pleito deste ano, o Ministério do governo Temer passará por grande mudança. É razoável apostar na hipótese de um Ministério mais técnico, mesmo que a maioria dos nomes seja indicada por partidos políticos. Seria o momento de o governo passar uma régua para harmonizar as ações e integrar a linguagem. Ministério do Trabalho Uma área que carece de impulso renovador é a do Trabalho, que navega há tempos no varejão das demandas políticas. Há Centrais que indicam seus quadros para cargos de proa na Pasta. Mas, para efeito externo, posicionam-se contra o governo e suas reformas. Como se explica isso? O perigo: transformar certos setores em balcão do toma lá, dá cá. Padre Vieira e seu truque O Padre Antônio Vieira, o célebre pregador, escritor, político e diplomata jesuíta, subindo certa vez ao púlpito, iniciou estranhamente o seu sermão exclamando: - Maldito seja o Pai! Maldito seja o Filho! Maldito seja o Espírito Santo! E quando a assistência, horrorizada, pensava que o grande orador houvesse enlouquecido, ele tranquilamente prosseguiu: - Essas, meus irmãos, são as palavras e as frases que se ouvem com mais frequência nas profundezas do inferno. Houve um suspiro de alívio no templo, mas com esse recurso teve Vieira despertada e presa a atenção dos fieis como poucas vezes, por outra via, conseguira. (Narrado por Luis Costa em Leia Comigo)
quinta-feira, 22 de fevereiro de 2018

Porandubas nº 562

Abro a coluna com uma historinha do Pará. Um que vale por muitos O Pará já teve políticos muito engraçados. Um deles, João Botelho, foi interventor, deputado e constituinte. Certo dia encontra um cabo eleitoral: - Como vai? E senhora sua esposa? E as crianças? - Tudo bem, deputado. Minha mulher está ótima. Mas, por enquanto, é só um menino, certo? - E eu não sei que é um filho só? Mas é um menino que vale por muitos. Então, como vão os meninos? Segurança, tema central A questão da segurança pública será o eixo principal do discurso eleitoral. Não apenas pela decisão do governo Federal de intervir na segurança pública do Rio de Janeiro, mas pelo reconhecimento de que todas as unidades da Federação convivem com violência crescente, que tem se expandido na esteira da crise. Alguns Estados do Nordeste estão em situação calamitosa. Os índices de assaltos e roubos crescem assustadoramente. O RN é um deles. O Ceará acaba de receber um grupo especial de policiais (das forças especiais e da PF) para apoiar as ações contra a criminalidade. A grande surpresa: São Paulo O grande destaque no mapa da segurança nacional é São Paulo. O Estado mais populoso da Federação, com cerca de 46 milhões de habitantes, tem registrado queda em seus índices de violência: assaltos de todos os tipos, roubos, assassinatos, etc. O Estado investe pesadamente na segurança. Novos equipamentos, informatização das redes policiais (registros eletrônicos), integração das polícias civil e militar, efetivos nas ruas, esforço para fazer das delegacias ambientes mais acolhedoras - uma política de humanização - qualificação dos quadros, tudo sob o comando de um perfil sereno, harmônico e eficaz, o ex-procurador de Justiça Mágino Alves Barbosa Filho, seguramente um dos melhores secretários de segurança dos últimos tempos. Este consultor teve oportunidade de registrar o panorama da segurança pública em São Paulo em palestra feita pelo secretário. Um trunfo para Alckmin O governador Geraldo Alckmin terá, portanto, um trunfo a apresentar: um discurso de resultados na área da segurança pública. Mesmo sabendo que é muito difícil "vender" o produto "segurança", os dados de São Paulo, comparados com os do Brasil como um todo e de outros Estados, exibem forte diferença. O risco do governo Federal A população do Rio de Janeiro aprova maciçamente a intervenção na segurança pública do Estado decidida pelo governo Federal. As Forças Armadas serão recebidas com aplausos. É um fato. Mas o governo enfrenta um grande risco. Imaginemos conflitos e mortes no embate entre gangues e as forças. Partidos de oposição e mídia não deixarão de dar os seus tiros. Sabe-se que as Forças Armadas não são especializadas para fazer segurança pública. Mas o Rio de Janeiro vive um drama cotidiano. O Estado está sob o império da violência e da bandidagem. Os tanques, os quadros bem armados causam sensação de segurança. Suporte sócio-educativo Critica-se a intervenção por não ser apoiada por um conjunto de ações de caráter sócio-educativo. Tem procedência a crítica. Realmente o embate pelo embate pode redundar em contenção imediata da bandidagem, mas no longo prazo tudo pode voltar à situação de antes. Se a intervenção fosse acompanhada de programas nas áreas do saneamento, saúde, educação, certamente os ambientes mais saudáveis comporiam a moldura de melhorias que dificultaria os negócios das drogas e das armas. Como fazer isso emergencialmente? Difícil. Outros Estados E se outros Estados fizerem o mesmo tipo de apelo, como fez o governador Pezão, que reconheceu a falência do RJ em matéria de segurança pública? Haverá meios, recursos, condições? O que se consegue distinguir é o envio de grupos de policiais, como este enviado ao Ceará por apelo do senador Eunício Oliveira, presidente do Senado. Um tento Se tudo der certo, o governo Federal e, particularmente o presidente Michel Temer, acrescentarão alguns pontos positivos à sua imagem. Interventor - I O general do Exército Walter Souza Braga Netto, comandante militar do Leste indicado interventor para a segurança no Rio de Janeiro, conhece bem a violência carioca, e pelo lado mais doloroso: seu irmão Ricardo, então oficial da Marinha, foi assassinado em 1980 na ponte Rio-Niterói quando tentava evitar um assalto. Uma parcela de emoção entra na disposição do general. Interventor - II Braga Netto atuou como coordenador-Geral da Assessoria Especial para os Jogos Olímpicos e Paralímpicos e seu trabalho foi considerado exemplar. O Comando Militar do Leste coordena, controla e executa as atividades administrativas e logísticas do Exército nos Estados do Rio de Janeiro, Minas Gerais e Espírito Santo. Abrange 141 organizações e mais de 50 mil militares, ou 24% do efetivo da Força Terrestre. É a maior concentração de tropas e escolas militares da América Latina. Interventor - III Mas nem uma tropa enorme como essa pode ser capaz de combater ou eliminar o que parece ser a maior das tragédias do Rio de Janeiro: a corrupção que corrói a polícia e toda a máquina estatal do Estado do Rio. Aí é caso para muitos anos de inteligência. A esperança é que o general Braga, militar experiente e sensato, seja coroado de sucesso em sua missão. Avanço no jornalismo: JC Se há um avanço a se registrar no jornalismo televisivo, ele se abriga no Jornal da Cultura, que vai ao ar às 21h15. Pilotado até semana passada por Willian Corrêa, o telejornal ganha aplausos plurais pela coleção de debatedores - cerca de 20 nomes - que, em rodízio, comentam uma longa pauta temática, propiciando dessa forma ao telespectador uma visão plural e substantiva dos fatos do cotidiano nacional e internacional. Willian, infelizmente, deixa a condição de diretor de Jornalismo da TV e âncora do jornal. Vai para Angola dirigir a TV Zimbo, uma de suas criações. Nele distinguem-se os valores da eficiência, simplicidade, modéstia e companheirismo, com os quais fez um batalhão de admiradores e amigos, a partir da bancada de debatedores que formou. Homenagem Willian será homenageado por seus amigos de bancada no próximo sábado. Deixa uma boa marca no jornalismo brasileiro. Será substituído por seu braço direito no jornalismo da emissora, Ricardo Taira, competente, dedicado e experiente jornalista. Um editor de grande capacidade técnica. A TV Cultura, sob o comando de Marcos Mendonça, continuará abrindo trilhas de qualidade. O plano B Rodrigo Maia e Eunício, os presidentes das duas Casas parlamentares, não receberam bem a ideia de um programa de alavancagem da economia, 15 medidas apresentadas como um colchão econômico para aliviar a frustração com a saída de pauta da reforma da Previdência. Por que a indignação pública de ambos? Pelo fato de que 11 medidas já seriam objeto de projetos que tramitam na Câmara? Coisa requentada? Interferência? Mas esse requentamento seria motivo para a contrariedade de Rodrigo e Eunício? O Executivo estaria interferindo na pauta do Legislativo? Talvez este seja o real motivo. Por essa razão, infere-se que os articuladores políticos do governo, a partir do ministro Marun, deveriam ter feito, antes, a lição de casa. Ou seja, conversado com os dois presidentes para sondar o assunto. França, Doria e Virgílio O governador Geraldo Alckmin deverá apoiar um candidato do seu PSDB em São Paulo. O vice-governador Márcio França (PSB) contará com o apoio de alguns partidos, o que aumenta substancialmente seu tempo de mídia eleitoral: 18 minutos. João Doria deve ser apadrinhado por Alckmin. As prévias no PSDB estão marcadas para dia 18 de março, e o segundo turno para o dia 25. Já na área Federal, o prefeito de Manaus Arthur Virgílio continua dizendo que vai enfrentar prévias. Muitos tucanos tentam demovê-lo da ideia em nome da unidade do PSDB. Virgílio, um exímio lutador de jiu-jitsu, parece irremovível. Russomano? Márcio França continua a costurar alianças para encorpar sua candidatura e já convidou o deputado Celso Russomano (PRB-SP) para compor a chapa como vice. Não será tarefa fácil ganhar o apoio do PRB, eis que os candidatos do partido à Câmara precisam de um puxador de votos na legenda para alimentar a bolsa eleitoral de alguns. Outro pré-candidato tucano a governador, o ex-senador José Aníbal, afirma que há espaço para duas candidaturas da base de Geraldo Alckmin. Como seria a participação de Alckmin em dois palanques? Complicado. Panela de pipoca Seria muito difícil para Alckmin navegar com um pé em cada canoa. A ebulição política em São Paulo no momento se assemelha mais a uma panela de pipoca. Flávio Rocha A desistência do apresentador de tevê Luciano Huck de se candidatar à presidência levou o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso a mirar seu facho de luz para o empresário Flávio Rocha, dono das lojas Riachuelo. Flávio patrocina importante projeto para o país, o movimento "Brasil 200", de feição liberal. Nega qualquer aceno na direção de uma candidatura presidencial. Já foi deputado Federal por duas vezes. Estava lá na Constituinte. Argumenta que essa lembrança do ex-presidente FHC chega tarde. Teria pouco tempo para viabilizar seu nome. EUA: cinco questões Na campanha entre Bill Clinton e Bob Dole, em 1996, cinco questões básicas relacionadas a valores permitiam prever se alguém votaria num ou noutro. Os que deram respostas predominantemente conservadoras votaram em Dole. Aqueles cujas respostas relevaram que estavam menos comprometidos com os valores tradicionais votaram em Clinton. As perguntas eram as seguintes: "1. Acredita que sexo antes do casamento seja moralmente errado? 2. A religião é importante na sua vida? 3. Já se interessou por ver pornografia? 4. Tem opinião mais desfavorável sobre alguém que engana o cônjuge? 5. O homossexualismo é imoral?" (Dick Morris em Jogos de Poder) Princípios estratégicos Carlos Matus, cientista social chileno, em um magistral estudo sobre Estratégias Políticas, demonstra que a viabilidade de um ator na política tem a muito que ver com a estratégia e seus princípios fundamentais. Eis alguns princípios estratégicos: a) Avaliar a situação; b) Adequar a relação recurso/objetivo; c) Concentrar-se no foco; d) Planejar rodeios táticos e explorar a fraqueza do adversário; e) Economizar recursos; f) Escolher a trajetória de menor expectativa; g) Multiplicar os efeitos das decisões; h) Relacionar estratégias; i) Escolher diversas possibilidades; j) Evitar o pior; k) Não enfrentar o adversário quando ele estiver esperando; l) Não repetir, de imediato, uma operação fracassada; m) Não confundir "reduzir a incerteza" com "preferir a certeza"; n) Não se distrair com detalhes insignificantes; o) Minimizar a capacidade de retaliação do adversário.
quarta-feira, 7 de fevereiro de 2018

Porandubas nº 561

Abro a coluna com um "causo" das Minas Gerais Mata o bicho O monsenhor Aristides Rocha, mineirinho astuto, fazia política no velho PSD e odiava udenistas. Ainda jovem, monsenhor foi celebrar missa em uma paróquia onde o sacristão apreciava uma boa aguardente. Um dia, o sacristão, seguindo o ritual, sobe o degrau do altar com a pequena bandeja e as garrafinhas de vinho e água, e não vê uma pequena barata circulando entre as peças do altar. Monsenhor interrompe o seu latim e, de olho na bandeja, diz baixinho ao sacristão: - Mata o bicho... O sacristão não entende a ordem. Atônito, fica olhando para o jovem padre, que repete a ordem, agora com mais energia: - Mata o bicho, sô! Ordem dada, ordem executada. O sacristão não se faz de rogado. Diante dos fiéis que lotam a capela, ele pega a garrafinha e, num gole só, sorve todo o vinho da santa missa. No interior de Minas, "matar o bicho" é dar uma boa bebericada. (Do livro de Zé Abelha, A Mineirice.) Tudo como dantes O ditado cai bem: "tudo como dantes no quartel D'Abrantes". (Quem quiser saber como surgiu esse ditado, vá até o final da coluna). As ruas permanecem sem grandes mobilizações, o inferno que o PT pregava caso Lula fosse condenado não apareceu, as palavras de ódio e de incitação à violência amainaram. Essa é a primeira leitura que se pode extrair desses tempos "pós-condenação de Lula". O Brasil não virou de cabeça para baixo. E o PT parece que começa a se convencer da necessidade de pôr os pés no chão e arrumar um plano B - ou seja, indicar um candidato para substituir Luiz Inácio no pleito de outubro. O plano do PT Sabe-se que o PT esgotará todos os recursos à disposição para inserir o nome de Lula na planilha eleitoral. Mesmo condenado no TRF-4, seu caso poderá ser decidido no TSE. O PT poderá pedir o registro da candidatura a partir de 20 de julho, acabando o prazo em 15 de agosto. Após essa data, haverá um prazo de alguns dias para que partido, MP e cidadãos questionem as candidaturas apresentadas. O julgamento pelo TSE pode se estender até 17 de setembro. O PT poderá levar o caso até o STF. E se eleito? Se Lula garantir seu nome nas urnas de 7 de outubro, criará um grande embaraço. Será mais difícil condená-lo ou cassar sua votação, após o pleito? Por isso, a hipótese mais razoável aponta para uma decisão contrária ao PT pelos Tribunais e a substituição do nome de Lula na planilha de candidaturas. Wagner Jaques Wagner, ex-governador da Bahia, e Fernando Haddad, ex-prefeito de São Paulo, são dois nomes mais cotados para substituir Lula. Wagner é um carioca "abaianado" (virou baiano) e pode, até, ter uma votação expressiva no Nordeste, mas passa a impressão de que o cargo de presidente está bem acima dele, de sua identidade. Haddad Haddad não foi bem avaliado como prefeito de São Paulo, e passa a impressão de que continua com jeito de schollar, um acadêmico mais atento às ideias marxistas do que às coisas da administração pública. De qualquer forma, ambos poderiam puxar os votos da legenda para a formação de uma grande bancada na Câmara dos Deputados, nas Assembleias e nos governos dos Estados. O maior cabo eleitoral A imagem já está pronta: Lula correrá o território com a pregação de vítima, um político perseguido pelo Judiciário e pelas elites. Fará isso, claro, se não estiver preso. Este é o maior temor do PT, que promete fazer apelos a organismos internacionais. Os petistas tentarão resgatar o apartheid, com o surrado discurso de "nós" e "eles". Falta de sensibilidade. Incitação à luta armada O discurso de separação e ódio dispara reações fortíssimas contra o petismo-lulismo. Mais ainda quando se ouvem disparates, como aquele lançado pelo senador do RJ, o ex-cara pintada Lindberg Farias, de sugerir o uso da violências nas ruas para defender "o legado do PT". Esquecem ele e os militantes o gigantesco buraco em que jogaram o país no ciclo de 13 anos do petismo. Centro dividido Continua a pasmaceira nos espaços do centro. Álvaro Dias, Geraldo Alckmin, Henrique Meirelles e Rodrigo Maia são nomes que perambulam pelas áreas centrais, mas nenhum deles, até o momento, mostrou condição de avançar. É possível que não tenha havido, ainda, condição para esquentamento das bases eleitorais. Meirelles daria um bom salto se a economia corresse mais rápido na pista do crescimento. Mas não tem nenhum carisma. Quem subirá? Alckmin pode sair com uma grande votação em São Paulo, mas não finca estacas nas roças eleitorais do Nordeste e outras regiões. Rodrigo Maia é muito desconhecido, mas pode canalizar os efeitos da agenda positiva que passou pela Câmara. E Álvaro Dias sofrerá as restrições impostas por pequenas siglas - tempo de mídia eleitoral. Chances De qualquer forma, as chances do centro inserir um nome no segundo turno são grandes. Começa a se firmar a convicção de que Bolsonaro é um nome de ocasião, sem condições de segurar o rojão de uma campanha pesada, densa. Parece estar muito aquém de uma figura presidencial. Será apequenado. Marina e Ciro À esquerda - entrando pelo espaço do centro-esquerda, os nomes de Marina e Ciro Gomes podem se aproveitar bem do afastamento do nome de Lula. Ciro, principalmente, pode avançar com sua linguagem dura. O risco é ser atropelado pela própria língua, com o uso de impropriedades. Marina avançará no terreno dos jovens e de fortes núcleos que votarão sob o compromisso da ética. Huck I Pois é, o nome do animador de auditório passa a ser novamente especulado. Seus programas, ultimamente, se voltam muito para plateias nordestinas. O outsider teria condições de engabelar as massas, principalmente com a exclusão de Lula na lista de presidenciáveis. Fala-se da ideia de resgatar, aqui, o roteiro de Macron, na França. Huck II Lá ele fez uma campanha de lá para cá, ou seja, do povo mobilizado. Criou uma legião de cabos eleitorais, que passaram a fazer a comunicação nas redes. Passou por cima de partidos. Huck teria condições de fazer isso por aqui? Se eleito, passaria por cima de partidos? Como governaria? O Brasil entraria numa grande escuridão. Napoleão e Sherman Napoleão ensinava: faire son thème en deux façons (fazer as coisas de dois modos). O general William Sherman, que comandou a campanha de devastação durante a guerra da secessão norte-americana, também lembrava : "Ponha o inimigo nos cornos de um dilema". Nunca um político deve trabalhar com uma única hipótese. Um candidato precisa dispor de algumas alternativas. França e Doria A guerra está, por enquanto, nos bastidores. Marcio França, do PSB, vice-governador, é candidato ao governo. Terá a máquina na mão a partir de abril. Forte arma. Mas parcela dos tucanos quer lançar o nome do prefeito João Doria. Será difícil uma composição entre PSB e PSDB. Alckmin vai decidir O governador Alckmin está silente. Contempla a cena. Certamente a decisão final caberá a ele. Doria tem maior chance de pegar o apoio do PSDB, tucano que é. Mas França, com a arma da administração, pode atrair uma parcela razoável de partidos. E ganhar musculatura na mídia eleitoral. João é obstinado. Se decidir mesmo ser candidato, irá para a luta com um grande arsenal e muita disposição. Onde anda Paulo Skaf? Paulo Skaf, o arrojado presidente da FIESP, que foi candidato ao governo de São Paulo, em 2014, anda desaparecido. Fez rápida incursão na propaganda do SESI e desapareceu. Deve estar pensando na reza: passarinho na muda não pia. Skaf quer ser novamente candidato ao governo pelo MDB. A impressão é a de que o dirigente da maior Federação de indústria do país tem ojeriza a fazer campanha usando a sola de sapato, praticando o mão na mão, olho no olho, casa a casa. Ele gosta mesmo é de fazer campanha na televisão. Esquece que os tempos são outros. A articulação com a sociedade organizada é, hoje, a principal perna do marketing eleitoral. Índice de intenção de voto Como deve se interpretar índice de intenção de voto muito tempo antes da reta final de uma campanha? Eis a resposta: índice de intenção de voto é igual ao desenho do elefante visto nos céus. Dentro de pouco tempo, o que era elefante se esgarça e se transforma em gafanhoto; e o que era uma nesga de nuvem, parecendo um gafanhoto, se agiganta, mais parecendo um grande urso. Durante uma exposição massiva, de 35 dias seguidos e intensos, desconhecidos se transformam em astros, celebridades. Afora outsiders saídos da TV. Estes já saem com base bem mais ampla para uma decolagem. Peru não morre de véspera A eleição de um candidato depende do momento, das circunstâncias, da temperatura social, dos versos e reversos da economia, do perfil dos adversários, dos debates e combates na arena eleitoral, dos climas regionais, da força da mídia eleitoral (significando tamanho dos programas eleitorais), dos inputs momentâneos (uma crise abrupta, um caso espetaculoso) - enfim, de uma escala de elementos ponderáveis e imponderáveis. Os fatores imprevisíveis abrem as possibilidades. Única verdade: peru não morre de véspera. PSB vai com quem? Grande dúvida: com que candidato fechará o PSB? Terá candidato próprio? Ciro Gomes e Paulo Câmara, governador de Pernambuco, do PSB, andaram conversando semana passada. Descarte-se essa ideia de Joaquim Barbosa, o esquentado ex-presidente do STF. Juízes sob fogo Os juízes estão sob intenso tiroteio. Os tiros procuram atingir o departamento de privilégios do Judiciário, que abriga muitos auxílios, sendo o mais visado o auxílio-moradia. Como podem um juiz e uma juíza, casados e morando sob o mesmo teto, receberem ambos auxílio-moradia? Se tudo é legal, de acordo com decisões já tomadas pelas Cortes Superiores, abre-se nessa legalidade formidável paredão antiético. O Judiciário até resgatou seu papel de protagonista central nos espaços da crise política. Mas os privilégios estão corroendo a toga. O discurso político Costumo bater nesta tecla. Muita gente se engana com a eficácia do discurso político. Pois bem, o discurso político é uma composição entre a semântica e a estética. O que muitos não sabem é que a eficácia do discurso depende 7% do conteúdo da expressão e 93% da comunicação não verbal. Esse é o resultado de pesquisas que se fazem sobre o tema desde 1960. E vejam só: das comunicações não verbais, 55% provêm de expressões faciais e 38% derivam de elementos paralinguísticos - voz, entonação, gestos, postura, etc. Ou seja, do que se diz, apenas pequena parcela é levada em consideração. O que não se diz, mas se vê, tem muito maior importância. Portanto, senhoras e senhores que encenam peças no programa eleitoral, anotem esta informação. A origem do ditado "A frase surgiu no início do século 19, com a invasão de Napoleão Bonaparte à Península Ibérica. Portugal foi tomado pelas forças francesas, porque havia demorado a obedecer ao Bloqueio Continental, imposto por Napoleão, que obrigava o fechamento dos portos a qualquer navio inglês. Em 1807, uma das primeiras cidades a serem invadidas pelo general Jean-Andoche Junot, braço-direito de Napoleão, foi Abrantes, a 152 quilômetros de Lisboa, na margem do rio Tejo. Lá instalou seu quartel-general e, meses depois, se fez nomear duque d'Abrantes". Nada mudou. "O general encontrou o país praticamente sem governo, já que o príncipe-regente Dom João VI e toda a Corte portuguesa haviam fugido para o Brasil. Durante a invasão, ninguém em Portugal ousou se opor ao duque. A tranquilidade com que ele se mantinha no poder provocou o dito irônico. A quem perguntasse como iam as coisas, a resposta era sempre a mesma: 'Esta tudo como dantes no quartel d'Abrantes'. Até hoje se usa a frase para indicar que nada mudou". A explicação é de Flávia Souto Maior, que assim se define: tradutora inglês e espanhol/português. Formada em jornalismo pela ECA-USP, trabalha quase exclusivamente com tradução de livros desde 2007. Tem no currículo mais de 60 obras traduzidas para grandes editoras brasileiras. Amante de idiomas e literatura.
quarta-feira, 24 de janeiro de 2018

Porandubas nº 560

Abro a Coluna com uma historinha da Bahia. O medo do aperto de mão O deputado baiano mandou cartão de Natal para uma mulher que morrera há muito tempo. A família, irritada, retribuiu: "Prezado amigo, embora jamais o tenha conhecido durante os meus 78 anos de vida terrena, daqui de além-túmulo, onde me encontro, agradeço o seu gentil cartão de boas-festas, esperando encontrá-lo muito em breve nestes páramos celestiais para um frio aperto de mão. Purgatório, Natal de 2005." O deputado recebeu a resposta. E até hoje espera, angustiado e insone, pelo aperto de mão. Hoje tem espetáculo Vamos ao hit dos tempos de criança. O palhaço, montado sobre cavaletes, movimentando-se de forma capenga, gritava a pergunta para a criançada atrás dele: "hoje tem espetáculo?" A galera respondia: "tem sim, senhor". Pois bem, hoje tem espetáculo em Porto Alegre. Que dá direito a ver atiradores de elite, policiais encouraçados, exércitos do MST e da CUT berrando slogans e agitando bandeirinhas vermelhas, militantes petistas, sob o comando da "guerrilheira" Gleisi Hoffmann, suando suas camisetas, palavras de ordem jogadas a torto e a direito. Em São Paulo, depois de participar, ontem, de comício em Porto Alegre, o principal ator - ele mesmo, Luiz Inácio - deverá subir ao palco para desfechar tiros verbais contra o Judiciário, vestindo o manto de vítima, caso tenha recebido condenação. Se for inocentado, vai dizer que a justiça se cumpriu. O julgamento de Lula pelo TRF da 4ª Região é o evento que abre a campanha petista. A agitação política Não poderia ser melhor este espetáculo para o jogo premeditado do PT: abrir com pompa a campanha petista no país, tendo como protagonista maior o comandante-em-chefe do petismo, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O PT quer não apenas sobreviver no meio da borrasca, mas fazer o que for possível para manter e até aumentar suas bancadas nos Estados e no Congresso Nacional. Candidato ou não, Lula já foi entronizado como o símbolo da campanha: vítima das elites, perseguido por um Judiciário venal, predestinado que puxou o Brasil para o Olimpo da felicidade. Esse será o discurso que já se ouve por todos os lados. Firulas jurídicas O fato é que se Lula for condenado, hoje, as firulas jurídicas darão o tom dos próximos tempos. Embargos de declaração, embargos infringentes, recursos ao próprio TRF4, recursos ao STJ, ao TSE e até ao STF constam da pauta do PT. O Brasil acompanhará, de norte a sul, o bombardeio expressivo do petismo, sob aplausos de grupos de operadores do Direito que simpatizam com Lula, grupinhos de intelectuais e artistas que o idolatram, tapando os olhos para o maior processo de corrupção de toda a história brasileira, cujo epicentro nasceu e tomou corpo na era lulodilmista. Ir às urnas? Este consultor concorda com a tese de que as coisas não devem ser misturadas: uma coisa é a condenação ou absolvição pela Justiça, outra é o desejo de muitos de que Lula vá às urnas e seja derrotado. Uma situação não pode substituir a outra. Como se fosse possível trocar os corredores da Justiça pelas ruas. Lula deve ser julgado, como todos os outros implicados em denúncias, sem exceção. Absolvido, pode, sim, se submeter ao crivo do sufrágio universal. Pelo barulho que está fazendo, até parece que o petismo desejaria, no íntimo de muitos de seus quadros, que Lula não fosse candidato. Ou perdesse nas urnas. Seria uma oportunidade para se reciclar. A judicialização da política Não é preciso que as pessoas sejam doutas e com denso estofo jurídico para concluir que o Brasil aprofunda, a cada episódio envolvendo quadros do Judiciário decidindo sobre questões políticas, o que se chama de "judicialização da política". Que significa o modus faciendi da política sob os ditames do Judiciário. Caso exemplar é esse da proibição da posse da nomeada ministra do Trabalho, Cristiane Brasil. Pois bem, um juiz de primeira instância fez o primeiro impedimento. Depois, dois desembargadores da 2ª instância mantiveram a proibição. Um desembargador do STJ despachou favoravelmente e a ministra, ufa, se preparou para tomar posse anteontem. Advogados impetraram recurso junto ao STF. E a presidente daquela Corte, ministra Cármen Lúcia, decidiu sustar a posse. Interferência Ora, fica clara a interpenetração de funções. Nomear ministro é prerrogativa exclusiva do presidente da República. Se a pessoa nomeada tem ou teve problemas com a Justiça, que a deusa Têmis, com sua balança e sua espada, use seu poder em julgamento obedecendo aos parâmetros do Judiciário. Se for condenada mais adiante, deixe o posto para o qual foi indicada. Imaginemos, agora, a hipótese. Até 15 de março, o presidente deve nomear 15 novos ministros, em lugar dos atuais que serão candidatos em outubro. Pois bem, em tese, e na esteira do que acabamos de assistir, um juiz de 1ª instância poderá simplesmente impedir a nomeação dos 15, caso enxergue em todos eles passagem pelos corredores do Judiciário. Por que isso ocorre? Espetacularização Esses fatos ocorrem porque o Brasil atravessa imensa crise e a classe política sofre apupos da sociedade. Promotores e juízes, nesse contexto de deterioração ética e moral, passam a ser vistos como os expurgadores do Mal, anjos a fustigar demônios. Evidentemente, o espelho de Narciso é tirado dos armários para que os operadores do Direito nele se vejam. Ganhar visibilidade, receber aplausos da sociedade e da mídia, cantar Hosana nas Alturas - são situações que fazem parte do Estado-Espetáculo e acendem a fogueira das vaidades de muitos. Este consultor veria outro cenário, de menor interferência de um Poder em outro, caso a classe política estivesse, hoje, sob o conforto dos aplausos da sociedade. Bolívar O timoneiro Simon Bolívar tinha sua inspiração. Eis um pensamento para retratar a América Latina: "Não há boa-fé na América nem entre os homens, nem entre as Nações. Os tratados são papéis, as Constituições não passam de livros, as eleições são batalhas, a liberdade é anarquia e a vida é um tormento". A expressão, apesar de rigorosa, exibe traços de uma desorganização institucional, que propicia a luta do "poder pelo poder", o excesso de detalhes de nossa Constituição, na qual os grupamentos organizados da sociedade cunharam sua assinatura, e os excessos burocráticos. O Brasil em Davos O presidente Michel Temer, ministros do governo, a partir de Henrique Meirelles, o prefeito João Doria e empresários brasileiros estão em Davos, na Suíça, para participar do anual evento que reúne as lideranças do planeta. Vale acentuar que as agendas dos representantes brasileiros estão lotadas de compromissos e audiências pedidas por interlocutores de muitos países. Em suma, o Brasil desperta o interesse dos investidores. Ficha limpa O julgamento de Lula, hoje, deixa a lei da Ficha Limpa sob acurada observação. Ganhará força ou será desmoralizada. As próximas semanas serão decisivas para se firmar esta hipótese. Ovelhas John Stuart Mill, um dos pensadores liberais mais influentes do século 19, classificava os cidadãos em ativos e passivos, aduzindo que os governantes preferem os segundos, mas a democracia necessita dos primeiros. A comparação do filósofo inglês, pinçada por Norberto Bobbio em seu livro O Futuro da Democracia, expressa, ainda, a ideia de que os súditos são transformados num bando de ovelhas a pastar capim uma ao lado da outra. Ao que Bobbio acrescenta: "Ovelhas que não reclamam nem mesmo quando o capim é escasso." Pois bem, por estas bandas, a imagem do grande cientista político continua viva. Equinos, caprinos e bovinos continuam nos currais aguardando capim farto. Haja capim. Algemas do Cabral Humilhação. Esta é a obvia observação que se tira da imagem das algemas nas mãos e nos pés do ex-governador Sérgio Cabral em sua chegada à Curitiba, vindo do Rio. Juízes querem saber os motivos que levaram a PF a algemar desse jeito o preso. Segurança, alega a PF. Segurança contra eventual atitude de Cabral ao reagir a curiosos que poderiam querer avançar sobre ele. Mas os policiais, eles próprios, não poderiam entrar em ação, caso isso ocorresse? Mais uma ação do Estado-Espetáculo. A febre amarela Oswaldo Cruz, o grande sanitarista que honra a galeria do combate às endemias e epidemias, debelou a febre amarela no Rio de Janeiro em 1903. Depois liderou o combate à varíola, sob a revolta de uma população que temia se vacinar. Hoje, vemos a população batendo as portas de estabelecimentos hospitalares para receber a vacina contra a... febre amarela. O Brasil vive a Síndrome do Eterno Retorno. Previdência O déficit da Previdência da União (INSS e servidores) atingiu R$ 268,798 bilhões em 2017. E ainda há gente que acha esse rombo uma quimera. Os Estados estão falidos. Seus sistemas previdenciários sem condições de aguentar o pagamento da folha dos servidores aposentados. E os deputados federais dizem que a reforma da Previdência é impopular. Ora, impopulares serão eles quando começarem a enfrentar a gritaria de aposentados que não recebem seu benefício por causa de cofres estaduais vazios.
quarta-feira, 17 de janeiro de 2018

Porandubas nº 559

Abro a Coluna com a graça do Piauí. Dois vereadores da Arena de Parnaíba/PI. Um, da Arena de Petrônio Portela, o outro da Arena de Alberto Silva. Inimigos políticos. Um, dentista, pôs os dentes na boca do outro. Na primeira sessão, os dois brigaram: - V. Ex.ª é um desonesto. - Desonesto é você, filho de uma... Devolva meu dente. Pois fui eu que pus. - Eu paguei, seu sacana. - E daí que pagou? Falar mal de mim, até pode. Com meu dente, não. Partiu pra cima. E arrancou os dentes. Sem anestesia. A nova Carta Pois é, Luiz Inácio está encomendando a um grupo de economistas e assessores uma nova Carta aos Brasileiros, nos moldes do documento que apresentou em 2002, com a grande ajuda do amigo de então, Antônio Palocci. O objetivo é o mesmo: acalmar o mercado. Pelo menos nesse aspecto, a senadora Gleisi, presidente do PT, não blefa. A carta está sendo confeccionada e vai apontar os rumos da economia em um eventual novo governo petista. O problema é a credibilidade. Diminui sensivelmente no meio da sociedade o número daqueles que botam fé em Lula. As margens O discurso lulista continua a ter fortes influências nas margens. Que consideram todos os políticos iguais, com a diferença de que Lula teria lhes dado um cobertor social longo. A pior recessão da história brasileira passa longe do sistema cognitivo das massas. Ao correr da campanha, caso Lula seja confirmado candidato, é possível que parcela das margens seja induzida pela força dos círculos concêntricos, essas ondas que saem do meio, formando marolas até as margens. Ou seja, o aparato discursivo anti-PT será intensificado ao correr da campanha. E a tuba de ressonância tende a ser tocada por núcleos do centro da sociedade. Lula na urna Para muitos brasileiros, seria mais útil para a democracia que Lula fosse candidato. Se for impedido, circulará por bom tempo no território a ideia de que Luiz Inácio foi impedido. Uma derrota nas urnas é mais provável que eventual vitória. A considerar a hipótese de melhoria do bem-estar de vida da população, a partir do resgate da economia. Já o cenário de uma vitória do lulopetismo teria como eixo a economia em frangalhos, sob ecos do desespero social. Tudo é possível. Acompanharemos essa trajetória de perto até outubro. A pressão em Porto Alegre Não se justifica o estardalhaço que o PT está organizando para pressionar os juízes do TRF da 4ª Região. A democracia pressupõe o jogo dos contrários, as manifestações contra e a favor de Lula. Mas há um limite para tais manifestações. A ordem pública tem de ser mantida. A segurança da população há de ser garantida. Ameaçar juízes, como se tem feito, é um expediente de regimes autoritários. Pior, ainda, é prever "morte", "assassinatos", em caso de eventual prisão de Luiz Inácio. Foi isso que anunciou a senadora Gleisi Hoffmann, do alto de seu cargo de presidente do PT. Menos, senadora, menos. Maquiavel Uma de suas lições: "Um príncipe precisa usar bem a natureza do animal; deve escolher a raposa e o leão, porque o leão não tem defesa contra os laços, nem a raposa contra os lobos. Precisa, portanto, ser raposa para conhecer os laços e leão para aterrorizar os lobos." Arremata: "não é necessário ter todas as qualidades, mas é indispensável parecer tê-las." O oposicionismo na eleição Os candidatos classificados como de "oposição" aos atuais governantes dos Estados exibem uma extraordinária vantagem: apresentam-se como alternativa às más e péssimas administrações. Só isso lhes confere uma posição melhor. E se forem símbolos do novo, perfis não contaminados pelo vírus da velha política, aumentarão ainda mais as chances. Cofres vazios, funcionários públicos com salários atrasados, greves de polícias, assaltos em profusão deixando a população amedrontada - constituem o pano de fundo que acolherá o pleito deste ano. Mas os candidatos da oposição precisam ser confiáveis. Não serão eleitos apenas com o verbo de destruição do adversário. O discurso político Costumo bater nesta tecla. Muita gente se engana com a eficácia do discurso político. Pois bem, o discurso político é uma composição entre a semântica e a estética. O que muitos não sabem é que a eficácia do discurso depende 7% do conteúdo da expressão e 93% da comunicação não verbal. Esse é o resultado de pesquisas que se fazem sobre o tema desde 1960. E vejam só: das comunicações não verbais, 55% provêm de expressões faciais e 38% derivam de elementos paralinguísticos - voz, entonação, gestos, postura, etc. Ou seja, do que se diz, apenas pequena parcela é levada em consideração. O que não se diz, mas se vê, tem muito maior importância. Portanto, senhoras e senhores que encenam peças no programa eleitoral, anotem esta informação. O perfil do empresário O perfil do empresário moderno, arrojado e empreendedor, entra com muita naturalidade no figurino do atual pleito. É visto pelo eleitor como alguém que fez e faz sucesso, não está contaminado com o sangue da velha política, e pode, nessa condição, emprestar sua experiência para redimir o Estado, resgatando sua força. O momento do empresário é esse: se o cavalo passar encilhado à sua porta, você, empreendedor com esse perfil, monte nele. E faça boa viagem. Chegará bem a seu destino. O estrategista na campanha Dinheiro curto, campanha menor - proibição de doação de recursos por empresas, tempo de campanha de 90 dias nas ruas para 45 dias e de 45 dias no rádio e TV para 35 dias - sugerem a realização de uma campanha racional, focada em prioridades, concisão e precisão no discurso (propostas), intensa articulação social. Esqueçam aqueles filmetes cinematográficos, de belo efeito visual. Não haverá espaço para engodo. O marqueteiro tradicional cederá lugar ao estrategista. Marketing resgata identidade Graças à crise, o marketing eleitoral se reencontra com sua verdadeira identidade. Que é formada por cinco eixos; pesquisas (quanti/quali), discurso, comunicação, articulação e mobilização. Os publicitários da era de Duda Mendonça estão dando adeus. Fizeram, vale reconhecer, celebradas campanhas de publicidade - criativas, sem dúvida. Mas os tempos de hoje exigem mais condimentos, outras engrenagens. Marketing eleitoral não se resume a programas de rádio e TV. Ufa! Viva a crise. Redes sociais As redes sociais terão papel muito forte na campanha eleitoral. Serão muito acessadas, principalmente na esteira do tiroteio verbal que, aliás, já começou. As redes serão inundadas de fake news. A mentira, a deturpação, o engodo, a mistificação, enfim, situações tendenciosas serão massificadas. O jurídico das campanhas deve ficar atento para as notícias sobre seus candidatos. Convido, desde já, as equipes de plantão e os milhões de internautas a não se deixarem levar pela falsidade. Feminismo exacerbado Nos últimos tempos, têm explodido denúncias de assédio sexual envolvendo personalidades do mundo artístico. Urge saudar esses tempos de expressão feminina contra os abusos masculinos. A atriz Catherine Deneuve teve a coragem de fazer um artigo onde defende a liberdade do homem de paquerar. Foi execrada. O fato é que o mundo feminino, ao que parece, divide-se entre mulheres que defendem o feminismo exacerbado e mulheres que enxergam certo exagero nas denúncias. A situação abre muita polêmica. O bom senso haverá de prevalecer. Não se pode confundir uma paquera com assédio. Ou será que este consultor perdeu as estribeiras? CNJ e leis inconstitucionais Por falar em polêmica, abriu-se uma, recentemente, que tem por base a decisão do STF de permitir ao Conselho Nacional de Justiça que não aplique leis que considere inconstitucionais. A tese foi definida pelo Supremo Tribunal Federal, por unanimidade, na última sessão do Plenário de 2016, mas o acórdão só foi publicado em dezembro de 2017. A ministra Cármen Lúcia, relatora do caso, permitiu que o Conselho Nacional de Justiça reconheça inconstitucionalidade de leis ao analisar situações específicas. Em seu voto, ela disse que deixar de aplicar uma norma por entendê-la inconstitucional é diferente de declará-la inconstitucional, algo que só pode ser feito pelo Judiciário. Órgãos de controle administrativo têm o "poder implicitamente atribuído" de adotar essa prática. Cármen citou o CNJ, o Conselho Nacional do Ministério Público e o Tribunal de Contas da União. Vitória das extremidades? Este consultor tem refletido bastante sobre uma questão recorrente nos debates de que tem participado. Afinal, é possível termos, este ano, a vitória de alguém das extremidades do arco ideológico, Lula ou Bolsonaro? Confesso que vejo o fortalecimento de correntes que não fecham com perfis das margens. Sob essa observação, seria mais viável a vitória de um perfil que transite pelo espaço de centro-direita ou centro-esquerda. As margens não fariam maioria. Mesmo assim, coloco em ênfase a relatividade das coisas no campo da política. Ou seja, o imponderável frequenta nosso meio com certa frequência. Reversão de expectativas Outra questão para a qual chamo a atenção é: a renovação no Parlamento será grande? Respondo: paradoxalmente, não. Explico: menos recursos, campanhas mais curtas (de rua e de tempo de rádio e TV), favorecem quais perfis? Os já conhecidos. Ou seja, é mais provável que os atuais parlamentares, na condição de candidatos, sejam reeleitos. Em 1990, a renovação se deu por volta de 63%. Este ano, projeto uma renovação abaixo da média histórica: apenas de 40%. A conferir. Fecho a Coluna com uma historinha do Espírito Santo. Robô do prefeito? Na Câmara Municipal de Mimoso do Sul (ES), Luiz Carlos da Silva, líder do MDB, discutia com Jaime da Rocha Nogueira, líder do PDS, por causa do prefeito Pedro Costa, também do PDS. Luiz Carlos atacava o líder do prefeito: - V. Exa. é um teleguiado, sem personalidade. Só cumpre ordens. - Sou líder. E o líder tem de dizer o que o Executivo pensa. - Critico o comportamento de V. Exa., por ser um homem de recados, robô do prefeito. - Senhor vereador, até agora discutia com V. Exa. porque não me sentia agredido. Agora, V. Exa. vai ter de provar a esta Casa quando é que eu roubei o prefeito. A sessão acabou.
quarta-feira, 10 de janeiro de 2018

Porandubas nº 558

Abro a Coluna com as coisas engraçadas do mineiro. Da burrice e da engenharia Era uma vez..... Viajando pelo interior de Minas, o arquiteto Marcos Vasconcelos encontrou um grupo de trabalhadores abrindo uma estrada: - Esta estrada vai até onde? - Muito longe, muito longe, doutor. Atravessa o vale, retorce na beirada da serra, quebra na esquerda, retoma pela direita, desemboca em frente, e vai indo, vai indo, até chegar a Ponte Nova, passando por baixios e cabeceiras. - Vocês têm engenheiro, arquiteto, teodolito, instrumentos de medição? - Num tem não, doutor. Nós tem um burro, que nós manda ir andando, andando. Por onde ele for, aí é o melhor caminho. Nós vai picando, picando. - E quando não tem burro? - Aí não tem jeito, doutor; nós chama um engenheiro mesmo. O arquiteto seguiu adiante filosofando sobre as artes da burrice e da engenharia. O ano eleitoral Esta é a primeira coluna do ano. O compromisso deste espaço é o de fazer uma leitura acurada e apurada do ambiente social, político e econômico. Claro, pelas características do ano, darei ênfase à abordagem eleitoral. Pretendo ajudar os leitores e protagonistas da política a entender o que se passa a seu redor. E vou começar analisando as chances de eventuais candidatos à presidência da República, com os prós e contras que balizam seus perfis. Lula I É o maior líder político do país. Tem perfil encravado na ponta esquerda do arco ideológico. É o que mais assume a condição populista. Exerce influência sobre as massas. Principalmente as incautas. Mas causa medo a importantes grupamentos sociais, a partir das classes médias. Lula está no epicentro da Lava Jato. Tenta se desvencilhar do rolo em que está metido. Será julgado. Com alta possibilidade de ser condenado pela 2ª. instância - o TRF da 4ª Região. Deverá se vitimizar. Dizer-se vítima dos poderosos e da Justiça. A militância se prepara para fazer barulho em 24 de fevereiro. Lula II Lula não mais mantém poder de incendiar o país. Porque, nos últimos tempos, ele e outros quadros do PT têm sido alvo de intenso bombardeio. Da mídia e de setores organizados. O mercado reage a ele negativamente. Carrega forte poder eleitoral no Nordeste, mas perde espaço no Sudeste. Está, hoje, na dianteira das pesquisas. Amanhã, tende a cair. A campanha deverá atirar pesado sobre ele. Alijado, escolherá um substituto. Que pode ser Fernando Haddad, ex-prefeito de São Paulo. Um desempenho fraco. Alckmin I O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, deverá ser o candidato tucano. Seu desafio: atrair para sua aliança os grandes partidos, a partir do MDB. Geraldo é portador da síndrome do muro: é criticado pela mania de ficar no meio do problema, sem decidir por um lado ou por outro. O MDB desconfia dele. Alckmin sabe que só terá sucesso se for o candidato das maiores forças do centro. Se o centro se diluir e apresentar outros candidatos, a fragmentação acabará beneficiando os perfis das pontas esquerda e direita. São Paulo será o grande avalista do governador. Se sair daqui com enorme bacia de votos, terá vantagem. O maior colégio eleitoral do país poderá se transformar em fator de diferença. Alckmin II Geraldo Alckmin encontrará desafios pela frente: além de convencer partidos a caminharem juntos com o PSDB, terá de escolher o candidato ao governo de São Paulo. Quem? Marcio França, o vice-governador, que assumirá o governo em abril? João Doria, o prefeito e pupilo que continua com seu nome na parada? José Serra, o senador? Um passo falso nessa vereda pode diminuir as chances de Alckmin. É vital ganhar em São Paulo. João Doria poderia ser a opção. Até pode fechar as portas do PSB, mas tem condições de abrir as portas de outros partidos, como o PSD de Kassab. Basta que este seja o vice na chapa de Doria. Bolsonaro Jair Bolsonaro existe como candidato à presidência da República por ter destemido exército nas redes sociais. O capitão é a gripe da estação. Que tende a passar. Principalmente quando for exposto por inteiro pela mídia massiva. Não resistirá ao foguetório que se abaterá sobre ele (mas em política, o imponderável costuma dar as caras. Bolsonaro pode ser o imponderável? É possível). Terá curtíssimo tempo de exposição na TV. A conferir. Álvaro Dias Podemos ou não podemos? Senador Álvaro, acho que, desta feita, o senhor não deverá sentar na cadeira presidencial. Seu perfil é muito regional, limitando-se ao Paraná e adjacências. A não ser que consiga ser o único candidato das forças do Centro. Abro, portanto, uma fresta, senador. Podemos, seu partido, ainda é uma pálida alternativa para poder (?) viabilizar uma candidatura presidencial. Henrique Meirelles O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, deverá carrear prestígio na esteira da recuperação da economia. Pode ser o candidato das forças governistas. Mas enfrenta imensa dificuldade: não tem traquejo político. Poderia se enrolar no pacote de alianças. E não tem carisma. Com sua fala difícil de ser compreendida, pode ser um perfil a não deslanchar. Meirelles terá até abril para se viabilizar como candidato dos partidos governistas. Rodrigo Maia O presidente da Câmara, Rodrigo Maia, tem grande potencial. Demonstrou ser um líder capaz de mobilizar a esfera política em sua gestão como presidente da Câmara. As vitórias do governo - reformas - na Câmara se devem muito ao comando de Maia. Que pode ser um candidato mais palatável das forças de centro. É mais jovem que Meirelles, faz parte do jogo político, exibe flexibilidade para a formação de parcerias e alianças. Marina Silva A ex-senadora Marina Silva continua tendo uma imagem limpa, asséptica, despojada, simples. Mas passa a impressão de não ter forças para resistir ao rolo compressor da política. Exibe algum grau de ingenuidade. A pureza que emoldura seu perfil pode ser devastada pelo jogo sujo da política. Seu partido - Rede Sustentabilidade - ainda não tem estrutura para aguentar, sozinho, uma campanha. E terá dificuldades para fazer alianças, a par de reduzido tempo de rádio e TV. Ciro Gomes O PDT embarca com o nome do ex-ministro e ex-governador do Ceará, Ciro Gomes. Como é sabido, Ciro porta uma metralhadora ambulante. Fala o que muitos ouvidos não querem ouvir. É o mais combativo dos perfis que desfilam no cenário presidencial. O PDT tende, porém, a se isolar. Se Lula for impedido de ser candidato, a situação de Ciro melhora bem. No Nordeste, ele poderá ser bem votado. Trata-se de pessoa bastante conhecida na região. Mas no Sudeste, o maior colégio eleitoral, o pedetista não empolga. E O MDB? Em São Paulo, o MDB tende a caminhar com Paulo Skaf. Um candidato com o letreiro na testa: sou presidente da FIESP e quero governar São Paulo. O fato é que Skaf terá muitos poréns a enfrentar. Passa imagem de aproveitador do sistema SESI, acha-se poderoso. Mesmo assim, parece ter conquistado a boa vontade de Baleia Rossi, presidente do MDB estadual e de próceres do partido. O presidente da FIESP sairia melhor como candidato ao Senado. Sem carisma, mas pessoa obstinada. No Plano nacional, o MDB deverá coordenar o esforço para encontrar o candidato das forças centristas: Alckmin? Meirelles? Maia? O DEM Fará aliança com os partidos de centro. E poderá ceder um de seus quadros para ser vice da chapa presidencial. O nome mais visível e forte para ser vice de Alckmin, por exemplo, é o do prefeito de Salvador, ACM Neto. Que faz boa gestão. Sairia da Bahia, o quarto maior colégio eleitoral do país, vestindo o manto da jovialidade. PT contra Globo? O PT entrou na Justiça contra a TV Globo. Tenta processar o canal por causa da entrevista de Luciano Huck ao Faustão, domingo passado, dizendo que o animador estaria fazendo campanha eleitoral. É para gargalhar. Huck não se apresentou como candidato. Negou, até, a possibilidade, dizendo querer ajudar o país incentivando o eleitorado a escolher melhor seus candidatos. Enquanto isso, Lula corre o país, diz ser candidato, anuncia que será eleito etc. Ou seja, faz campanha prévia. O que é proibido. Mas o PT nega isso. Gleisi, a presidente do PT, e Lindenberg Faria, líder do partido no Senado, são mesmo "cara de pau". 4 milhões de votos a mais No mais recente levantamento do TSE, realizado em novembro de 2017, o Brasil contava com 146.717.893 eleitores, um crescimento de 2,65% na comparação com outubro de 2014, data da última eleição presidencial no país. São 3,9 milhões de votos a mais daquela época, quando o eleitorado somava 142,8 milhões de pessoas. Mulheres, maioria Dentre o último número de eleitores apurado, 76,88 milhões são mulheres (52,4%); 69,75 milhões são homens (47,54%), e 0,05% (78 mil eleitores) não declararam o sexo. Em 2014, a parcela de homens era de 47,79%, mulheres 52,13%, e eleitores sem sexo declarado, 0,08%. Em 24, 34 milhões Ainda nos dados mais atuais, somente 24 municípios do País somam, juntos, 34 milhões de votos (23,9% do total de eleitores). Essas cidades contam com mais de 500 mil eleitores cada. Na ponta contrária, 92% dos municípios do Brasil possuem, juntos, 58 milhões de pessoas. São 5125 cidades com até 50 mil eleitores cada. Biometria Um dado curioso é a expansão do número de urnas biométricas. Nas eleições presidenciais de 2014, 23,8 milhões de pessoas votaram com biometria, enquanto que 118,6 milhões não puderam utilizar essa identificação. O número avançou - quase o dobro - nas eleições municipais de 2016, quando as urnas biométricas alcançaram 46,3 milhões de eleitores, um aumento de 94%. Justiça Trabalhista O ano foi bastante intenso na Justiça do Trabalho. Somente na vice-presidência do Tribunal Superior do Trabalho, até dezembro, foram proferidos mais de 70 mil despachos e 4,1 mil julgados no Órgão Especial. Segundo o ministro vice-presidente do TST, Emmanoel Pereira, o total de soluções da atual gestão ultrapassa 112 mil, média em torno de 5 mil por mês. Conciliações Em tempos de crise e de reivindicações, trabalhadores de diversos setores da economia buscam seus direitos por meio de greves e manifestações. De acordo com a vice-presidência do TST, os acordos mais significativos firmados por meios da atuação conciliatória em 2017 foram com os empregados da Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares, com os trabalhadores dos Correios e com os aeronautas. Certamente tais acordos evitaram transtornos ainda maiores para toda a sociedade. Fases da campanha As principais armas de um profissional de marketing político para ajudar uma campanha são: capacidade e sensibilidade para captar, com muita propriedade, as indicações das pesquisas; visão abrangente de todos os eixos de uma campanha, não se atendo apenas aos programas de TV, como muitas vezes ocorre com os publicitários engajados nas campanhas; poder de influência sobre o candidato, principalmente no que concerne ao foco do discurso; ter noção adequada do timing de campanha, ou seja, das seguintes fases: lançamento do candidato (junho), crescimento (julho), consolidação (agosto/setembro), auge/clímax (final de setembro/semana da eleição), declínio. Este é o ciclo de vida de uma campanha. Se o declínio ocorrer antes da semana da eleição, não tem quem sustente a posição do candidato. Um candidato que se preocupa apenas com o primeiro turno, poderá morrer antes de chegar à praia. É preciso saber ouvir o som do vento. Quando o vento sopra numa direção, na direção de crescimento, por exemplo, não há força que consiga deter seu rumo.