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Porandubas Políticas

Por dentro da política.

Gaudêncio Torquato
quarta-feira, 12 de dezembro de 2018

Porandubas nº 600

Abro a coluna com duas mineirinhas. Sou mineiro Tancredo Neves foi ex-tudo na política brasileira. Voltando à crista da onda, explica a um correligionário como conseguiu sobreviver após 64: - Aceitando o impossível, passando sem o indispensável e suportando o intolerável. Afinal, sou mineiro! Por merecimento José Maria Alkmin encontra-se com dona Lia Salgado, famosa soprano mineira: - Mas como a senhora está jovem, dona Lia. - Qual o quê, dr. Alkmin. Já sou até avó. - A senhora pode ser avó por merecimento. Jamais por antiguidade. Primeiros borrões O governo Bolsonaro, a se instalar em 1º de janeiro, começa a enfrentar os primeiros tropeços. Nos últimos dias, a família Bolsonaro foi pressionada para dar explicações sobre movimentação financeira de um ex-assessor de Flávio Bolsonaro, Fabrício Queiroz, PM lotado no gabinete do deputado. A lebre foi levantada pela Coaf - Conselho de Controle de Atividades Financeiras, que apontou uma "movimentação atípica" de R$ 1,2 milhão entre janeiro de 2016 e janeiro de 2017. O presidente eleito chegou a dizer que R$ 24 mil teriam sido para sua esposa, Michele, mas o assessor teria de explicar a origem desse dinheiro. Dano à imagem Bolsonaro pai disse ainda que se responsabiliza por eventual erro cometido junto ao Fisco. Ou seja, se não declarou essa quantia, que seria dele, por falta de tempo para ir ao banco, pagará multa, se for constatada irregularidade. De qualquer maneira, o dano à imagem já está feito. A mídia tem interesse em explorar o fato. E ante a atitude dos filhos - muito parecida com o modus operandi "bateu, levou" -, a imprensa tentará descobrir o tamanho da ilicitude. Já há até comparação com o Fiat Elba dos tempos de Collor. Curva à direita Os Bolsonaros parecem firmes na estratégia de fixar estacas na direita. O deputado Eduardo Bolsonaro quer abrir a Liga de Direita, um movimento com vistas a agrupar os perfis da direita e adensar o escopo desse espaço. A intenção teria sido feita por ocasião do evento que reuniu, há dias, os conservadores por ocasião da Cúpula das Américas em Foz de Iguaçu. Palavras do deputado Bolsonaro: "Nossa intenção é fazer com que esse movimento não acabe somente nessa eleição de outubro. É fazer algo permanente para que possamos ter um norte... não ao socialismo e não ao Foro de São Paulo." Os núcleos do governo Formada a bancada ministerial, é possível verificar os comandos temáticos do governo: 1) o núcleo da economia, sob o mando do super-ministro Paulo Guedes; 2) o núcleo da agricultura/agronegócio, sob a batuta da ministra deputada Teresa Cristina; 3) o núcleo evangélico, que tem na bancada evangélica seu poder de fogo (a ministra Damares Alves será instrumento desse poderio); 4) o núcleo militar, que terá o mando repartido entre os militares escolhidos para as Pastas, a partir do general Augusto Heleno, da Segurança Institucional, com relevância para o vice-presidente Mourão, que tem aberto forte locução; 5) o núcleo de combate à corrupção, sob a regência do ministro Sérgio Moro. Os técnicos Dos 22 ministros e secretários, 11 são considerados quadros técnicos: Paulo Guedes (Joaquim Levy - BNDES e Pedro Guimarães - CEF); Ricardo Vélez Rodrigues (Educação); Sérgio Moro (Justiça); André Luiz de Almeida Mendonça (AGU); Roberto Campos Neto (Banco Central); Ernesto Araújo (Relações Exteriores); Gustavo Henrique Canuto (Desenvolvimento Regional); Damares Alves (Mulheres, Família e Direitos Humanos); e Wagner de Campos Rosário (Transparência, Fiscalização e CGU). Os militares Militares somam 9: Tarcísio Gomes de Freitas (Infraestrutura); Carlos Alberto dos Santos Cruz (Secretaria de Governo); general Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional); general Fernando Azevedo e Silva (Defesa); brigadeiro Raul Botelho (Estado Maior); general Edson Leal Pujol (Exército); almirante Ilques Barbosa Junior (Marinha); e tenente-brigadeiro Antonio Carlos Moretti Bermudez (Aeronáutica); almirante Bento Costa Lima Leite de Albuquerque (Minas e Energia). Os políticos Políticos são 7: Luiz Henrique Mandetta (Saúde); Teresa Cristina (Agricultura); Gustavo Bebianno (Secretaria-Geral da Presidência); Ônyx Lorenzoni (Casa Civil); Marcelo Álvaro Antônio (Turismo); Osmar Terra (Cidadania) e Ricardo Aquino Salles (Meio Ambiente). Guedes, o czar da economia Paulo Guedes será o czar da economia. Se as coisas derem certo, será o responsável pela imagem positiva do governo; a recíproca é verdadeira. Ocorre que não fará milagres no curto prazo. A cobrança sobre ele será maior. A população quer o bolso cheio ou com recursos suficientes para suportar o dia a dia. O mercado quer ver juros e inflação sob controles. Os investidores querem voltar a apostar no país. As classes médias vão ficar de olho nas chances de melhoria dos serviços públicos e o resgate da força econômica do país. Guedes será o alvo de aplausos ou vaias. Sem caixa 11 governadores correm o risco de deixar seus Estados sem caixa para cobrir despesas realizadas na gestão. A prática é vedada pela Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) e criminalizada no Código Penal, sujeita a pena de um a quatro anos de reclusão, embora até hoje ninguém tenha sido responsabilizado formalmente. Os governadores precisam pagar todas as despesas feitas em seu mandato. Devem quitar todos os compromissos ou deixar dinheiro em caixa para honrar as parcelas que ficarem para seu sucessor. No entanto, muitos já admitem publicamente que não terão dinheiro, por exemplo, para pagar o 13º salário dos servidores. A fatura ficará para os governadores eleitos. Os onze Somadas as disponibilidades de caixa dos governos estaduais, a estimativa do rombo que deve ficar para os eleitos é de R$ 78,4 bilhões. Eis os 11 Estados por ordem de rombo: Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, São Paulo, Pernambuco, Goiás, Mato Grosso, Sergipe, Rio Grande do Norte, Maranhão e Mato Grosso do Sul. Segundo escalão O presidente eleito começa a cair na real. Sabe que tem projetos a aprovar, a partir da complexa reforma da Previdência. Por isso, fechada a fase de escolha dos ministros, começa a fase de preenchimento de cargos para o segundo e terceiro escalões. Os partidos se aproximam com faro apurado. Sabem onde estão os mais disputados cargos da estrutura. Portanto, já chegarão montados no cavalo mais corredor. Quem se apressa, sai na dianteira. A partir desta semana, terá início o loteamento. O Supremo é alvo O STF sofre um bombardeio de grupos, setores e cidadãos comuns. Quando se constata que a nossa mais elevada Corte já não figura como o sagrado altar da Pátria, respeitada pela sapiência de seus membros, reverenciada em tempos idos pela nobreza, dignidade e independência, virtudes inerentes à guardiã da Lei Maior, há de se concluir que graves distorções pairam sobre a vida institucional. As causas do tiroteio: o processo de escolha dos magistrados, onde se observa viés político; a ausência de regulamentação de dispositivos constitucionais, que obriga o Supremo a adentrar o território legislativo; e, nos últimos tempos, a própria índole da instituição, que ganhou a imagem de poderosa corte criminal. O manto criminal Desde o mensalão (Ação Penal 470), o Supremo cobriu-se com o manto de tribunal criminal por mais que sua ação tenha se estendido a outros importantes nichos temáticos. Mas o matiz político se adensou na esteira de ilações e inferências sobre condenações de figuras e partidos. A polarização política acabou respingando em alguns membros da Suprema Corte. A operação Lava Jato, em curso, ampliou o bombardeio crítico, e as decisões de altos magistrados têm sido inseridas em campos carimbados com as referências "simpatia" e "antipatia" em relação a alguns protagonistas. Ministros foram jogados em terrenos da política partidária. A judicialização da política Outro fio do novelo é puxado pelo Poder Legislativo. Ao deixar solto um conjunto de dispositivos da CF/88, sem legislação infraconstitucional, os congressistas abriram o espaço para a Suprema Corte agir. Não há vácuo no poder. Os ministros ocuparam os vazios que os parlamentares abriram. A acusação de politização do Judiciário tem no Parlamento, portanto, sua principal fonte. Se uma questão chega ao Supremo - e não está regulamentada - Suas Excelências acabam dando sua interpretação. E os exageros tendem a aparecer, como as incursões de ministros no terreno das privatizações ou do indulto a presos, prerrogativa do Poder Executivo. O STF não pode querer ser o protagonista central da cena institucional. Deveria se preservar. Pressões no trabalho e no campo Como o MST trabalhará na era Bolsonaro? E como o novo governo vai agir para conter o ímpeto das invasões de terra? As centrais sindicais, hoje em visível refluxo, continuarão a ter a mesma performance agressiva? São interrogações e expectativas sobre as pressões nessas esferas. Uma cidade no despenhadeiro João de Deus, o médium, não resistirá à avalanche de denúncias de mulheres que o acusam de abuso sexual. Abadiânia, em Goiás, sofrerá um esvaziamento. É previsível o despenhadeiro que espera essa cidade. Fecho a coluna com um conselho: O esterco A dona de casa, em um vilarejo, ouve alguém batendo palmas em sua porta... - Ó de casa, tô entrando! Ela se depara com um homem que vai entrando na casa e joga esterco de cavalo em seu tapete da sala. A mulher apavorada pergunta: - O senhor está maluco? O que pensa que está fazendo em meu tapete? Sem deixar a mulher falar, o vendedor deita o verbo: - Boa tarde! Eu estou oferecendo ao vivo o meu produto; e vou provar pra senhora que os nossos aspiradores são os melhores e mais eficientes do mercado, tanto que vou fazer um desafio: se eu não limpar este esterco em seu tapete, eu prometo que irei comê-lo! A mulher se retirou para a cozinha sem falar nada. O vendedor curioso, perguntou: - A senhora vai aonde? Não vai ver a eficiência do meu produto? A mulher responde: - Vou pegar uma colher, sal e pimenta e um guardanapo de papel. Também uma cachaça para te abrir o apetite, pois aqui em casa não tem energia elétrica! Moral da história: conheça o seu cliente antes de oferecer qualquer coisa!
quarta-feira, 28 de novembro de 2018

Porandubas nº 599

Abro a coluna com uma historinha que revela uma faceta da malandragem em nossos Trópicos. Retrato do Brasil O advogado viajava de carro por uma BR quando um tatu atravessou na frente do carro. O motorista não teve dúvidas. Parou e pegou o bichinho, colocando-o no porta-malas. Adiante, defrontou-se com uma blitz da Polícia Federal. Pediram os documentos. Os policiais mandaram o advogado descer do carro e abrir o porta-malas. O policial viu o tatu. - Cara, você é louco? Esse é um animal selvagem; isso vai te dar cana. Você tá frito! O advogado entristeceu a cara: - Bem, amigo, esse tatu é meu. Meu bichinho de estimação. Tá comigo desde novinho. Se você soltá-lo, ele corre, mas volta ao ouvir o meu chamado. Dou dois assobios e ele vem correndo pro meu lado. É treinado. O policial: - ah, ah, ah, duvido! - Quer ver? Solta ele pra você ver que não estou mentindo, respondeu o advogado. O policial pegou o tatu, soltou-o no chão e o tatu correu pro mato. - Agora, chama o tatu de volta. E o advogado: - Que tatu? Panorama geral A direita no poder É fato. A direita ganhou as eleições e vai ocupar o centro do poder. Não se trata de observação que leva em conta apenas a índole militar do presidente eleito, Jair Bolsonaro, que se mostra por inteiro na escolha dos generais reformados que estarão ao seu redor. Na verdade, desta feita houve uma clara narrativa de direita durante a campanha, mesmo que o capitão não tenha exposto todo o seu discurso em função do atentado que sofreu. Mas foi recorrente o escopo que abriga a defesa de valores tradicionais da nossa cultura, o culto à família, a Escola sem Partido, mudanças na lei do desarmamento (com a clara defesa de armas para os proprietários rurais), a visão polêmica sobre questões de gênero (incluindo a desigualdade que recai sobre a mulher), etc. A par do endurecimento no combate à violência. Esse discurso recebeu o endosso de quase 58 milhões de eleitores. Rodízio democrático Na verdade, o que estamos presenciando no país é a transferência do bastão de comando, de um grupo que, desde o princípio da redemocratização, dava as cartas, para outro, considerado retrógrado e, não raras vezes, associado aos tempos pesados da intervenção militar no país. Pois bem, esse grupo que recebe o selo de "conservador" (conceito infelizmente atrofiado em nosso meio, eis que é borrado com viés negativo), chega ao "centro do poder" para jogar uma partida que tende a ter uma vida não tão curta. "Centro do poder" Quando me refiro ao "centro do poder", claro que estou jogando as fichas na cadeira do Palácio do Planalto. Temos de entender que o poder ainda se distribui por muitos núcleos na sociedade, a partir dos Estados comandados pelo PT e estruturas (em todas as instâncias) que abrigam o petismo e seus satélites. Social-liberalismo? Quando se procura carimbar a identidade do futuro governo de "liberal", principalmente no que tange aos domínios da economia, algo permanece cercado de interrogações. Primeiro, porque os chamados "Chicago oldies" (como os ex-alunos brasileiros da escola monetarista fundada por Milton Friedman se refere o futuro superministro Paulo Guedes, que os convoca para sua assessoria), reciclaram suas ideias ao longo das últimas décadas. Contraponto à social-democracia Claro que continuam a defender a disciplina monetária e fiscal, mas entendem que os conceitos de liberdade econômica e liberdade política hão de se ancorar nas realidades de cada Estado, a par do reconhecimento de que uma forte faceta social - com foco na distribuição de riqueza, no combate à pobreza - passou a incorporar o acervo do próprio liberalismo. É assim que se chega a uma nova nomenclatura, como o "liberalismo social", uma espécie de alternativa à "democracia social", que, nos últimos anos, tem descido o despenhadeiro do prestígio. Intervenção do Estado O fato é que, por mais liberal que seja a face econômica da política de um governo, o Estado não poderá abdicar de sua tarefa de intervir, quando assim se fizer necessário, para ajustar os eixos da economia. Foi o que vimos nos Estados Unidos, matriz mais prestigiada do liberalismo econômico, por ocasião da crise de 2008. Obama recebeu uma economia em queda livre, perto de atingir uma depressão plena durante a crise. Os Estados Unidos O presidente norte-americano foi à frente de batalha. Implementou uma série de medidas orçamentárias importantes, nomeadamente a Lei de Recuperação e Reinvestimento de 2009. Ofereceu forte apoio moral à Reserva Federal (incluindo a renomeação de Ben Bernanke, que havia sido nomeado pelo presidente Bush). O governo ainda restaurou o setor financeiro mais rapidamente do que o esperado, operando um resgate bem-sucedido da indústria automobilística. O modelo brasileiro Portanto, o liberalismo à brasileira, que Paulo Guedes se esforçará para implantar, deverá abrigar um componente nacionalista, nos moldes que defendem os militares, significando certa precaução na política de privatizações das empresas estatais. A ideia é a do Estado se desfazer de ativos que não estejam no core business das empresas, principalmente aquelas que estejam na faixa do prejuízo. O nosso liberalismo haverá, ainda, de continuar e, alguns casos, até reforçar as frentes sociais, particularmente em regiões carentes, como o Nordeste, o Norte e o Centro-Oeste. O assistencialismo Programas como Bolsa Família, que serão passados pela lupa de rígidos controles, continuarão. Não há como deixar de reconhecer as desigualdades sociais. Ainda mais pelo fato de que a ascensão social das margens durante o ciclo Lula - com sua política de incremento ao consumo - foi torpedeada pelo governo Dilma. Milhões de brasileiros que chegaram ao meio da pirâmide voltaram ao seu habitat na base da pirâmide. Empobreceram. Problemas na área política Serão inevitáveis conflitos e tensões entre o novo governo e a área política. A estratégia do presidente eleito, de se ancorar nas estacas que estão sendo oferecidas pelas bancadas temáticas (bala-armamento, boi-agronegócio e bíblia-evangélica), não se sustentará no longo prazo. Nos primeiros instantes, a resistência será menor, na esteira da grande força que os governos iniciantes exibem. Mas o presidencialismo de coalizão não cederá a apelos para aprovar, mais adiante, projetos de interesse do Executivo. Delegar essa tarefa a algumas bancadas não funcionará. Infelizmente, esse "presidencialismo de delegação" não resistirá. O papel dos militares Não se vê na escolha de quatro generais reformados para compor o quadro ministerial como "a militarização do governo". Entendamos: a formação militar de Bolsonaro o empurra para o lado dos amigos de confiança que teve na caserna. Ele conhece a índole de seus pares. E certamente quer se cercar de pessoas de alta confiança. Com seus 28 anos de mandato, deve ter aprendido que o político age sob a mão do pragmatismo. É dando que se recebe. Bolsonaro gostaria de mudar essa moeda de troca. Não será fácil. Quanto aos militares, pelo que se percebe, são quadros que exibem uma base de altos conhecimentos, com alguns tendo exercido funções de relevância ao país. P.S. Cerca de 100 militares (incluindo quadros das polícias militares) tiveram o endosso das urnas para entrar na política. General Mourão O vice-presidente eleito, general Mourão, está se mostrando ser um quadro de muito bom senso. Ao contrário da primeira impressão que passou. Ponderado, alerta para eventuais brigas com a China, com os países árabes e com os vizinhos do MERCOSUL. Escola sem partido? Não será um mero decreto que imprimirá o selo "Escola sem Partido". Trata-se de uma questão que não pode ser resolvida por decisões de Justiça (STF) ou via Parlamento. A questão é cultural. Envolve um debate permanente com a sociedade organizada. Enquanto exércitos de ambos os lados azeitam seus armamentos, o foco das modalidades educacionais acaba sumindo na algaravia da Torre de Babel que se criou. Refinamento O presidente eleito dá mostras de estar mais contido. Cumpre a liturgia do poder. Visita autoridades. Anuncia, via Twitter, escolha de ministros. E tem escapado das "cascas de banana" que a mídia frequentemente joga com algumas perguntas mais polêmicas. Lula na pior fase Fernando Haddad visitou Lula nos últimos dias e anunciou: Lula está na pior fase de sua prisão. Isolado. Preocupado. O pior é que continua a ser alvo da Justiça. Denúncias aparecem quase todas as semanas. O PT está atravessando seu "corredor polonês". Rodrigo Maia Há alguns nomes que postulam a presidência da Câmara, inclusive deputados do PSL, partido de Bolsonaro. Mas Rodrigo Maia desponta como o mais forte. Trata-se de um grande articulador. Tem gente fazendo intriga contra ele. Para o governo Bolsonaro, seria a voz da experiência no comando da Câmara. No Senado No Senado, Renan Calheiros reúne uma boa bancada em torno de seu nome. Mas pode haver um acordo para guindar o senador Tasso Jereissati à presidência. Governadores do NE Os governadores do Nordeste fizeram mal em boicotar a reunião de governadores com o presidente eleito, Jair Bolsonaro. Dias depois, apareceram em Brasília, sem marcar audiência, e não foram recebidos pelo presidente eleito. Que falta de compostura. Estados falidos e os governadores oposicionistas querendo botar banca? Que coisa imperdoável. O que é tática? No futebol, quando o atacante joga a bola para trás, recuando-a para seu próprio campo de defesa, parece realizar um movimento covarde. Às vezes, é apupado. Muitos acham que a jogada não tem lógica. Mas essa bola recuada pode abrir espaços, deslocar o adversário, obrigá-lo a avançar de maneira descuidada e abrir a defesa. Pois bem, tal manobra pode gerar uma sequência de ações que culminarão com um gol. Essa é uma operação clássica. Um gol assim é uma tática de caráter terminal. E é construído por jogadas intermediárias. A tática é ferramenta de vitória.
quarta-feira, 14 de novembro de 2018

Porandubas nº 598

Abro a coluna com a sabedoria do padre Elesbão. No confessionário Numa cidadezinha de Minas, Padre Elesbão estava esgotado de tanto ouvir pecados, ou, como dizia, besteiras. Decidiu moralizar o confessionário. Afixou um papelão na porta da Igreja, dizendo: O vigário só confessará: 2ª feira - As casadas que namoram. 3ª feira - As viúvas desonestas. 4ª feira - As donzelas levianas. 5ª feira - As adúlteras. 6ª feira - As falsas virgens. Sábado - As "mulheres da vida". Domingo - As velhas mexeriqueiras. O confessionário ficou vazio. Padre Elesbão só assim pode levar vida folgada. Gabava-se: - Freguesia boa é a minha... mulher lá só se confessa na hora da morte! (Leonardo Mota em seu livro Sertão Alegre) Acertos Os primeiros movimentos do presidente eleito Jair Bolsonaro no tabuleiro do poder mostram alguns acertos e recuos. Há uma preocupação em escolher perfis com bom conhecimento dos objetos e ações que deverão cuidar. Mesmo polêmica, a escolha do juiz Sérgio Moro foi bem aceita pela sociedade. Os do andar mais alto da pirâmide - incluindo os pares - podem ter achado precipitada a aceitação. Mas, para o presidente, foi um gol de placa. A ideia de grupos de transição - com boa interlocução com equipes do atual governo - é a garantia de que a nova administração pisará na realidade dos números e situações, sem invenções. Cautela Bolsonaro tem sido mais cauteloso no uso da expressão. E garantindo cumprir rigorosamente o livrinho de nossa Lei Maior. O presidente recuou da ideia de fundir os Ministérios da Agricultura e do Meio Ambiente. Está de ouvidos abertos. Guedes, precavido Depois que pediu a "prensa" sobre o Congresso, Paulo Guedes também tomou cautela. Os parlamentares são ciosos de suas funções e não gostam de ser censurados ou monitorados. Será difícil, portanto, passar a reforma da Previdência. Guedes, chamado à atenção pelo presidente eleito, ficou mais precavido. Previdência entrará em pauta este ano? A não ser que o presidente eleito, do alto de sua força, use a lábia para convencer deputados e senadores. Qualquer decisão - idade, regras de transição - poderia ajudar, aliviando o ônus a ser enfrentado pelo novo governo em 2019. Time de primeira Paulo Guedes está formando uma equipe de primeira para suprir as áreas-chave do Ministério da Fazenda. Mansueto deverá continuar no Tesouro; Ivan Monteiro continuará na presidência da Petrobras e Joaquim Levy deve vir do Banco Mundial para assumir o BNDES. Guedes deve escolher outros quadros importantes para comandar as áreas da Indústria e Comércio, do Trabalho e do Turismo, que ficarão em sua Pasta. Para o Turismo, há um forte lobby pela continuidade de Vinícius Lummertz, que teria o apoio do trade. Cícero "É preferível um remédio que cure as partes defeituosas da democracia do que um que as ampute". (Cartas a Ático, II, 1,7) Descentralização Pelo andar da carruagem e sabendo que a índole do capitão Bolsonaro sinaliza gosto por trabalho em equipe, é razoável apostar no conceito de descentralização da gestão, ou seja, os comandantes de áreas e setores deverão ter liberdade de gerir, claro, dentro da visão governamental, e serão cobrados por resultados. Aquele que não der respostas satisfatórias será expurgado. Desmonte da máquina Barreira imensa a ser escalada: o desmonte da máquina. Até hoje, o governo Temer não conseguiu afastar grupos de petistas que, ao longo de 13 anos, se imiscuíram nas malhas do poder. Houve muita sabotagem nos últimos tempos. Ordens que não foram cumpridas, desleixo, incúria, indisciplina são os resultados que se observam em algumas estruturas. Pois bem, o governo Bolsonaro deve fazer uma limpeza geral. Não será fácil. Os malabaristas se escondem, desaparecem, se fazem de mortos. Muitos continuarão na mamata. A conferir. Barbárie Montesquieu em "Meus pensamentos". A barbárie pertence a todas as épocas e a todos os países... Não sei como, aconteceu que um turco se encontrou um dia com um canibal. - Sois muito cruéis, disse o maometano, comeis os cativos que fazeis na guerra. -E o que fazeis dos vossos?, replicou o canibal. Ah! Nós os matamos. Mas, depois que estão mortos, não os comemos. "Parece-me que não há povo que não tenha sua crueldade particular". Mourão e Heleno Os generais Mourão e Heleno terão forte presença no governo. Mourão não é de ficar na moita. Fala abertamente, tem vontade de palpitar, quer ser um grande cogestor. Terá sala ao lado do presidente. Já o general Heleno, em vez da Defesa, assumirá o GSI, o Gabinete de Segurança Institucional. Assim, ficará no Palácio do Planalto, ao lado do presidente, formando o "núcleo duro". Parece perfil centrado, moderado. Será um conselheiro-mor do presidente. Os nomes-chave da administração passarão sob seus olhos. Os filhos Os filhos do presidente serão alvo da mídia, que buscarão sua expressão para abrir polêmica. Tudo que disserem abrirá espaço midiático. O pai já deve ter feito o alerta. Mas tanto o senador quanto o deputado, em Brasília, não resistirão a declarações polêmicas. Poderão causar dores de cabeça. Os bastiões do radicalismo têm neles duas grandes fontes. Centro radical Fernando Henrique, vez por outra, expressa tiradas que ganham força na mídia. Fala agora do "centro radical", que juntaria alguns protagonistas do tradicional centro, formando uma frente dura, crítica, forte, capaz de liderar o discurso político. Seria formado por quadros de boa visibilidade e influência, como Ciro Gomes, Geraldo Alckmin, Paulo Hartung, ele mesmo, FHC, e outros que poderiam sair do PSDB. Luciano Huck, o animador, também estaria nesse grupo. Esses nomes seriam o imã para a formação de um grande partido. A vitória de Doria, em São Paulo, praticamente lhe confere domínio do tucanato. Os tucanos antigos querem migrar de ninho. Fusão Dos 14 partidos que não conseguiram passar pelo teste da Cláusula de Barreira, cinco estudam a possibilidade de fusão ou incorporação a outros. Querem garantir recursos partidários e tempo de mídia a que os partidos têm direito. São eles: Rede, PC do B, Patriota, PPL e PHS. Mas PTC, PMN, PMB, PSTU, PCB pensam em ir adiante, apoiando-se apenas nas contribuições e doações de seus filiados, sob a esperança de obterem melhor desempenho em 2022. Doria, a boa costura Não se duvide de João Doria. Aplicado, determinado, lendo ainda os resultados das urnas, João começa a formar uma equipe de secretários de primeira grandeza. Puxa ministros do governo Temer (o da Educação e o da Cultura), traz o médico que já dirigiu os hospitais Einstein e Sírio-Libanês e ensaia um convite na direção de Henrique Meirelles para assumir a Secretaria da Fazenda. O governador eleito promete uma gestão inovadora. João tem reunido em São Paulo alguns governadores eleitos, antecipando a criação de um Fórum de governadores. Será importante protagonista no cenário político nos próximos tempos. A conferir. Juntando os cacos O PT está quebrando a cabeça para decidir o que fazer nos próximos tempos. Continuará ou não a defender o lema "Lula Livre"? Qual será o papel de Fernando Haddad no jogo petista? As alas do partido brigarão pela presidência? Lula continuará a centralizar todas as decisões do partido? E caso seja novamente condenado, o que fazer? São perguntas que atordoam a cuca dos dirigentes partidários. Villas Bôas O comandante do Exército, general Villas Bôas, em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo do último domingo enfatizou que a eleição de Bolsonaro não quer significar a volta dos militares ao poder. Interessante é que no mesmo dia, no blog do Noblat, na Veja, defendi em meu artigo semanal ponto de vista contrário. Explico: a eleição do capitão reformado significa o fechamento do ciclo da redemocratização que teve início em meados dos anos 80. Nova era A eleição de um militar sinaliza novos ventos ao puxar para o cotidiano da política o maior grupo de militares que já participou de pleitos democráticos, a par da convocação inusitada de generais da reserva para formar o núcleo governamental. Um feito e tanto, quando se leva em consideração a índole militar: agir com discrição, cumprir o rito hierárquico, colaborar com governos em postos-chave de comando das Forças Armadas, enfim, evitar a intromissão exacerbada no dia a dia da política. Assim é a cultura militar. Pelo voto Os militares ascendem na política cotidiana não por intromissão indevida, mas em função do redesenho institucional, onde se contabilizam o desprestígio da classe política, a indignação social contra o modus operandi dos nossos representantes, a intensa vontade popular de dar um passo adiante. Entram nos salões do poder pela força do voto. Os quase 58 milhões de eleitores credenciam Bolsonaro como a expressão da vontade da maioria. Outros sinais Outros sinais de fim de ciclo aparecem na própria engenharia da campanha, em que paradigmas do chamado marketing político foram derrubados, como tempo de rádio e TV (duração maior não ajudando candidatos), dinheiro (não elegendo aqueles com maiores recursos), escolha de representantes na cola do candidato presidencial (PSL fazendo uma bancada de 52 nomes), entre outros aspectos. Sêneca "Não é curto o tempo que temos, mas dele muito perdemos. A vida é suficientemente longa e com generosidade nos foi dada, para a realização das maiores coisas, se a empregamos bem. Mas, quando ela se esvai no luxo e na indiferença, quando não a empregamos em nada de bom, então, finalmente constrangidos pela fatalidade, sentimos que ela já passou por nós sem que tivéssemos percebido". Fecho a coluna com mais humor. Zeca I Zeca Boca de Bacia fazia a alegria do povo em Campina Grande/PB. Personagem folclórico, amigo de políticos. Dava assessoria informal a Ronaldo Cunha Lima e a seu filho Cássio, prestes a ganhar o mandato de senador. Quando Zeca abria a boca, a galera caía na risada. Certa vez, numa de suas internações na clínica Santa Clara, em Campina Grande, a enfermeira foi logo perguntando: - Zeca, qual o seu plano (de saúde)? E ele: - Ficar bom! Zeca II Outra vez, Zeca pegou um táxi em Brasília para ir à casa de Ronaldo Cunha Lima. Em frente à casa do poeta, o taxista cobrou R$ 15. Zeca só tinha R$ 10. Sem acordo, disparou: - Então, amigo, dê cinco reais de ré!
quarta-feira, 7 de novembro de 2018

Porandubas nº 597

Abro a coluna lembrando momentos cômicos de tempos pesados. Ditador de plantão Humberto Castelo Branco, presidente, encontra Carlos Castelo Branco, jornalista: - Você leu a notícia de um jornal do Uruguai dizendo que é filho do presidente do Brasil? - Não, presidente. Li uma notícia dizendo que sou filho do ditador de plantão. O anjo no alto Entrevista coletiva no Palácio do Planalto. Carlos Castelo Branco pergunta ao presidente Humberto Castelo Branco: - Como V. Exa. se sentiu ao ler a declaração de Carlos Lacerda chamando-o de Anjo da Rua Conde Laje? - O anjo fica na parede, no alto, de onde contempla o desfile das prostitutas. (Da verve de Sebastião Nery) Primeiros movimentos Os primeiros movimentos do presidente eleito começam a mostrar seu estilo de jogo. Trata-se de um protagonista que joga avançado, no ataque, evitando a retaguarda. Sua ideia de enxugar a Esplanada dos Ministérios para 15 ou 16 Pastas ganha aplausos na opinião pública. E por escolha de pessoas com bom trânsito, a partir do juiz Sérgio Moro, o perfil mais admirado e elogiado na praça. A amplitude que deseja dar ao Ministério da Justiça significará que o foco no combate à corrupção continuará aceso. Moro na Justiça A aceitação do juiz Sérgio Moro, de aceitar o encargo do Ministério da Justiça, com escopo ampliado, foi um gol de placa de Bolsonaro, mesmo sob críticas de patamares da intelectualidade e da mídia. Moro sinaliza ímpeto em sua gestão moralizadora. O juiz, ao aceitar de pronto a missão, abandona a carreira. Para muitos, principalmente petistas e opositores ao novo governo, sua escolha sinaliza um viés antilulista, dando margem às especulações de que não teria sido justo e imparcial na condenação de Lula. Daí a onda que se forma, de que o juiz ajudou Bolsonaro a se eleger e, agora, é recompensado. A campanha de "Lula livre" ganhará força. STF na mira Especula-se que o juiz Moro, na verdade, está de olho no STF, para onde seria guindado dentro de dois anos, tempo em que a Corte abrirá vaga com a aposentadoria do decano Celso de Mello, que chegará aos 75 anos. Bolsonaro já sinalizou nessa direção. Tirar um juiz de 1ª instância e jogá-lo na Corte Suprema seria uma decisão de muita polêmica. Coisa diferente de puxar para a Corte um ministro da Justiça. A nomeação seria algo mais corriqueiro. Quanto à decisão de Moro, alguns acham que deveria passar um tempo antes de ingressar na política. Ele acaba de dizer que jamais concorrerá a cargo eletivo. O fato de ingressar no Poder Executivo, para alguns intérpretes, não significa ingresso na política. Juiz e política Juízes italianos, que trabalharam na Mani Pulite, a operação Lava Jato da Itália, até defendem a entrada de magistrados na política, mas não de maneira abrupta, durante o tempo em que ainda operam nas frentes de combate à corrupção. Lá, o juiz Giovanni Falcone, apontado por Sergio Moro como sua inspiração para deixar a toga e assumir cargo no governo, foi um dos responsáveis por deflagrar a operação Mãos Limpas no país, tendo, antes, trabalhado contra a máfia siciliana Cosa Nostra. Inspiração Diz Moro: "Lembrei-me do juiz Falcone, muito melhor do que eu, que depois dos sucessos em romper a impunidade da Cosa Nostra, decidiu trocar Palermo por Roma, deixou a toga e assumiu o cargo de Diretor de Assuntos Penais no Ministério da Justiça, onde fez grande diferença mesmo em pouco tempo. Se tiver sorte, poderei fazer algo também importante". Falcone no governo Falcone construiu sua trajetória em Palermo, na Sicília. Em 1991 aceitou um cargo no Ministério da Justiça no governo de Giulio Andreotti. Naquele momento, o governo italiano estava pressionado pela opinião pública a investigar a máfia na Sicília. A pressão foi causada, sobretudo, após a morte de Salvo Lima, político do partido Democracia Cristã e aliado de Andreotti. No Ministério da Justiça, o juiz assumiu o cargo de Diretor-Geral de Investigação Criminal, sendo bem-sucedido. Amigos de Falcone acreditavam que o convite era uma armadilha para afastá-lo das investigações locais. "Foi a decisão correta porque a luta contra a máfia começava em Palermo, mas só poderia ser vencida em Roma", disse seu amigo, o juiz Ignazio de Francisci. Foi morto após a Suprema Corte italiana confirmar as condenações de mafiosos feitas por ele em Palermo. O atentado Em 23 de maio de 1992, foi vítima de um atentado, uma carga de 400 quilos de TNT enterrados sob o asfalto da estrada para o aeroporto de Palermo. Além do juiz, morreram também a sua mulher e três guarda-costas. Seis meses depois, foi morto o procurador Paolo Borsellino, em um atentado com um carro bomba, carregado com 100 quilogramas de dinamite, numa autoestrada em Palermo. O astronauta O astronauta Marcos Pontes, escolhido para comandar o Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovação e Comunicação, também é objeto de polêmica. Trata-se de uma pessoa simpática, sempre sorridente, mas pairam dúvidas sobre as condições que preenche para administrar uma área que exige conhecimento. Um leitor me lembra: ele é formado pelo ITA, uma exemplar escola de engenharia e está no métier há décadas. O Ministério poderá abrigar as universidades públicas. O astronauta está cheio de boas intenções, mas a comunidade acadêmica está com um pé atrás. Guedes, o arquiteto da economia Paulo Guedes, que dará forma à economia, compõe sua equipe, abre conversas a torto e a direito, ganha poder à medida que entra nos domínios do amplo ministério que comandará. Guedes está cercado de expectativas, com o mercado apostando forte em sua visão liberal-privatista. Gostaria ele de ver parte da reforma da Previdência aprovada ainda este ano, pelo menos a que abriga a questão da idade para aposentadoria. Não será fácil. O presidente eleito tem dúvidas sobre o modelo de capitalização que Guedes quer imprimir na Previdência Social. Lorenzoni Como deputado, Onyx Lorenzoni não era confinado, como dizem alguns comentaristas, no grupo menos qualificado da Câmara. Falou alto no microfone. Foi um dos mais destacados atacantes do petismo/lulismo, levando adiante a bandeira liberal do DEM. Liderou grupos e teve importante desempenho como relator das 10 Medidas contra a Corrupção. Graças a suas habilidades culinárias, aprovadas pelo pequeno grupo que frequentava seu apartamento em Brasília, liderou o projeto Bolsonaro. Assim atesta seu amigo, o eleito senador Major Olímpio. O pequeno grupo fez germinar a seara que acabou se alastrando pelo país. Major Olímpio O senador eleito será uma das extensões mais firmes do governo Bolsonaro no Congresso. Com mais de nove milhões de votos obtidos em São Paulo, deverá ser um perfil de forte expressão na Câmara Alta, com possibilidade de vir a ser líder do governo ou líder da bancada do PSL. Tem boa expressão e coordenou uma campanha bolsonarista bem-sucedida no maior colégio eleitoral do país, onde desbancou o candidato Eduardo Suplicy. Articulação direta Entremos, agora, no modus operandi do governo Bolsonaro. Lê-se que, ao invés de fazer uma ampla coligação partidária, o capitão teria inclinação para fazer uma articulação direta, olho no olho, palavra na palavra, com cada parlamentar. Ou seja, o presidencialismo de coalizão daria lugar ao bolsonarismo, expressão que mostra a nova modelagem a ser posta em prática. Para tanto, ele poderia contar com a simpatia dos integrantes da bancada da bala (segurança), da bíblia (evangélicos) e do boi (agronegócio). Essas bancadas somariam cerca de 250 parlamentares na Câmara. A ideia seria a de atender demandas setoriais das bancadas e, por conseguinte, cooptar seu apoio. Essa modelagem resistirá ao tempo? Pragmatismo Esse é o busílis. Os parlamentares são afeitos ao jogo de recompensas. E o jogo pressupõe não apenas atendimento de demandas temáticas, mas espaços na estrutura governamental. A justificativa é simples: a política visa a conquista do poder. E a conquista do poder, por sua vez, implica ganhos na máquina administrativa. Com esses espaços e nomeações, o parlamentar aumenta seu cacife e obtém mais prestígio nas bases. Essa corrente forma o presidencialismo de coalizão. É possível, até, fazer-se uma articulação direta, mão na mão; depois de algum tempo, o toma lá, dá cá vai aparecer. Em suma, a base de apoios do governo Bolsonaro retomaria, mais cedo ou mais tarde, o modelo tradicional. Passaria um tempinho na articulação direta até se deparar com a real politik. Mensalão Urge lembrar que o mensalão, composto nos tempos de Lula, começou com a "compra" isolada de parlamentares. Em vez de se firmar no apoio de grandes partidos, Luiz Inácio teria orientado o então ministro José Dirceu a cooptar isoladamente cada parlamentar. Deu no que deu. Afastamento O presidente eleito não deve desconsiderar os fundamentos da nossa tradição e posicionamento no cenário das relações internacionais. Tensões colocam o país em situação desconfortável com as declarações do presidente eleito sobre as relações com o Mercosul (Argentina, Paraguai, Uruguai), União Europeia, China (nosso principal parceiro comercial), países árabes e muçulmanos, desprezando três bilhões de consumidores, um quarto do mercado mundial. Acende-se sinal amarelo. Peça-chave O ministro das Relações Exteriores, a ser escolhido, será peça-chave para garantir portas abertas com os países que se surpreenderam com a sinalização diplomática feita pelo presidente Bolsonaro. A conferir. Estética simples As fotos não poderiam ser mais reveladoras. O presidente eleito falando atrás de uma mesa simples, sob um fundo onde se via uma bandeira do Brasil pregada na parede com durex. Ao lado, a tradutora de sinais. Noutra cena, o capitão toma café da manhã, cortando o pão e jogando nele leite condensado. A mesa está sem toalha. Tudo muito rústico. Simples. Natural. A produtora de campanha está numa garagem nos fundos da casa do empresário Paulo Marinho. Sem sofisticação tecnológica. Sem grandes equipamentos. Coisa rudimentar. O métier dos tradicionais marqueteiros virou de cabeça para baixo. Ufa! A expressão bolsonarista O presidente eleito não procura esconder cacoetes linguísticos. Ancora-se em uma linguagem coloquial, cheia de oks, "mandando ver", "botar pra quebrar", "cortar a cabeça", sem querer parecer alguém que escolhe o melhor termo para se expressar. É assim com todos, jornalistas ou assessores. Transmite impressão de ser sincero em suas convicções. Mas os exageros causam medo, mesmo sob desculpa de que, em certos casos, usa figuras de linguagem: "fuzilar a petralhada", por exemplo.
quarta-feira, 31 de outubro de 2018

Porandubas nº 596

Abro com uma hilária historinha de Pernambuco. Quer saber mais que o doutor? O caso deu-se em São Bento do Una/PE, nos idos de 60. O caminhão, entupido de gente, voltava de um jogo de futebol, corria muito, virou na curva da estrada. Foram todos para o hospital. Uma dúzia de mortos. Lívio Valença, médico e deputado estadual do MDB, foi chamado às pressas. Pegou a carona de um cabo eleitoral, entrou na sala de emergência do hospital e foi examinando os corpos: - Este está morto. Examinava outro: - Este também está morto. O cabo eleitoral se empolgava: - Já está até frio. De um em um, passaram de 10. Lá para o fim, dr. Lívio examinou, reexaminou, decretou: - Mais um morto. O morto gritou: - Não estou morto não, doutor, estou só arrebentado. O cabo eleitoral botou a mão na cabeça dele: - Cala a boca, rapaz. Quer saber mais do que o dr. Lívio? Ufa! Vendaval passou O vendaval se foi. E com ele, o tumulto das redes sociais e a indignação entre as bandas em que se dividiu o Brasil tendem a amainar. Graças. O clímax agressivo incendiava a alma brasileira. E, depois da temporada emotiva, eis que o país reabre seus horizontes sob o evento que há muito prevíamos: a eleição do capitão reformado, o deputado Jair Messias Bolsonaro. Fará um bom governo? Conseguirá atravessar o mar de dúvidas que se apresenta à nossa frente? Se...se...se... A resposta implica uma série de condições. Se conseguir arrumar a economia, sustentar os eixos da inflação, atrair investimentos, reformar o sistema previdenciário, incluindo o dos Estados, aumentar os empregos, dar respostas imediatas às demandas sociais para as áreas da saúde e segurança, ter uma ampla base de apoio no Congresso, entre outras coisas, poderá desfraldar a bandeira dos aplausos. A recíproca é verdadeira. Se não conseguir, apupos virão. Mas há um meio termo. Bancadas especiais As bancadas dos três bês - boi, bala e bíblia - devem somar perto de 280 parlamentares. Se derem apoio ao novo governo, Bolsonaro entra com uma grande vantagem. A questão será: o que essas bancadas vão exigir em troca? O meio termo Nem aqui, nem lá. Como já insistimos nesse espaço, é incompatível adotar uma política rígida de contenção de gastos, diminuir o déficit fiscal, com ações populistas, principalmente aquelas que oneram o Tesouro. O país precisa de bilhões a mais de arrecadação e não bilhões a mais de gastos. Em suma, não é possível chupar cana e assoviar ao mesmo tempo. Paulo Guedes, novo guru da economia, está reunindo uma qualificada equipe e com ela discute as alternativas. Esperemos. Privatizar? Até onde? Mesmo com o grau de liberdade que deverá ganhar, Paulo Guedes será contido em sua ânsia privatista. Por ele, tudo seria privatizado. Mas, e a índole militarista, o nacionalismo exacerbado, o Estado forte, coisas que impregnam a alma militar, desde os tempos getulianos de criação da Petrobras, quando se incrustou na cultura nacional o lema "o petróleo é nosso?". Os militares conservam um imutável posicionamento a respeito da preservação dentro do Estado de empresas estratégicas nas áreas da energia, petróleo e gás. Por isso, há dúvidas sobre até onde Guedes poderá caminhar nessa trilha. Bolsonarismo Na frente política, o desafio será o de fundar o bolsonarismo junto aos partidos, a partir da bancada que o PSL acabará formando, provavelmente assumindo o primeiro lugar com a adesão de quadros que não se sentirão acomodados em suas siglas, principalmente aquelas que não passaram pela cláusula de barreira. O bolsonarismo há de garantir apoio aos programas governamentais, devendo ser um forte polo de forças no Congresso. Muitas siglas tiveram alteradas suas composições. O centrão, para sobreviver, haveria de juntar a bancada da bala, a evangélica e a ruralista, entre outras. Papel central terá Rodrigo Maia, eventual candidato à reeleição para o comando da Câmara. Centro-esquerda O PT lutará para ser o principal protagonista das oposições. Fará um esforço para atrair bancadas que ocuparão o espaço de centro-esquerda, a partir do PSB, PDT e outros. Ocorre que Ciro Gomes, desde já, avisa que não mais fará política com o PT. Ciro se habilita a ser o rival do PT no plano das esquerdas, preparando-se para futuros embates. Terá tempo livre para fazer palestras aqui e alhures. O PT deverá se conformar, inicialmente, com as adesões do PSOL e, possivelmente, do PC do B, da candidata a vice na chapa de Haddad, Manuel D'Ávila. O que será de Haddad? O que fará, doravante, Fernando Haddad? Será uma liderança forte depois de alcançar 47 milhões de votos? Lula o deixará livre para expandir sua liderança no partido? Ao que se diz, Lula teria dito ao deputado Emídio de Souza, que o visitou nesta segunda-feira, que Haddad se habilitou para ser o principal perfil petista na frente oposicionista. Poderá vir a presidir a Fundação Perseu Abramo. Gleisi Hoffmann, a presidente do PT, toparia entregar a ele a chave do poder petista? PSDB, para onde irá? Mesmo com a vitória de João Doria em São Paulo, o maior colégio eleitoral do país, com 33 milhões de eleitores, o PSDB é um dos maiores perdedores da eleição. Alckmin teve desempenho pífio. A vitória de Doria, em São Paulo, não foi, necessariamente, uma vitória tucana. Trata-se de uma vitória mais da pessoa do que do partido. E o PSDB deverá passar por grande reordenação, com a eventual saída de tucanos antigos, como Alberto Goldman, que não rezam pela cartilha de João. O novo governador, por sua vez, vai passar a limpo a planilha do partido, verificar quem estará ou não com ele e abrir o ciclo doriano no tucanato. O estilo João João Doria é um obstinado. Acorda por volta de 4h da manhã, vai para a sala de ginástica, exercita-se, toma café, deixa os filhos na escola e, logo cedo, adentra seu gabinete. No Palácio dos Bandeirantes, deverá ser o primeiro a chegar. E o último a sair. Trata-se de um workaholic. Aprecia o trabalho. E vai além do conjunto das coisas para se deter nos detalhes. Solidário com os correligionários, João Doria tece o novelo da política sempre querendo aumentar a teia, não diminuí-la. Deve expandir o conceito de descentralização administrativa, aumentando o apoio aos municípios com a criação da Pasta do Interior. Abrirá o diálogo com a sociedade organizada e seguramente será um dos protagonistas principais do cenário do amanhã. Kassab no figurino O atual ministro da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, Gilberto Kassab, conhecido por sua habilidade na interlocução, cabe no figurino da Secretaria do Interior a ser criada por João Doria. A conferir. E o MDB? Vê sua bancada na Câmara restringir-se a 34 deputados. Mesmo continuando com a maior bancada no Senado, passará o partido por uma fase de questionamento interno. Seu presidente, Romero Jucá, não foi reeleito. Obteve a menor votação de sua história recente. O partido passa por uma racha. E tende a estiolar-se mais ainda ante o clima pesado que reina em suas fileiras. Dissidência Como será a articulação do senador Renan Calheiros, reeleito, com o governo Bolsonaro? Ele e o filho, o governador reeleito, Renan Filho, apoiaram o candidato do PT, Fernando Haddad. O que fará doravante o derrotado senador Roberto Requião, que também apoiou Haddad? Aliás, qual será a postura dos dissidentes do MDB? Um deles goza de prestígio na comunidade política pela carreira estribada na conduta ética e na coerência em defesa dos valores da democracia: o senador eleito Jarbas Vasconcelos (MDB-PE), aliás, ex-presidente do MDB nos idos prestigiados do passado. Jarbas é um quadro de respeito. Uma agenda ambiciosa Em editorial, a Folha de S. Paulo expõe os desafios que se apresentam ao presidente eleito, Jair Bolsonaro. Eis o que chama de "agenda virtuosa":  Reequilibrar o Orçamento com controle dos gastos obrigatórios.  Conter a escalada de despesas com aposentadorias e pensões.  Eliminar privilégios de servidores; ajustar teto salarial.  Simplificar a tributação sobre bens; rever incentivos tributários.  Elevar a taxação direta sobre as vendas mais elevadas.  Vender estatais e ampliar concessões ao setor privado.  Abertura comercial, com redução de barreiras à importação.  Ampliar o crédito facilitando a recuperação de garantias.  Reduzir burocracia para abertura e fechamento de empresas.  Priorizar ensino básico, buscar outras receitas no ensino superior.  Implantar currículos nacionais para os níveis fundamental e médio.  Aprimorar a gestão do SUS, com cadastro nacional e parcerias.  Reforçar a Força Nacional de Segurança Pública.  Harmonizar produção agrícola e metas ambientais.  Instituir voto distrital misto e ajuste de bancadas na Câmara. PT nos fundões Jair Bolsonaro venceu em 97% dos municípios mais ricos e Fernando Haddad em 98% dos municípios mais pobres. A observação mostra onde o PT se refugiou. Entre os mil municípios com os maiores IDHs do país, Bolsonaro venceu em 967, enquanto Haddad conquistou 33. Já nas mil cidades menos desenvolvidas, Haddad ganhou em 975 e Bolsonaro em 25. Apesar de ter perdido a eleição, o candidato petista Fernando Haddad teve mais votos na maioria dos municípios brasileiros. O petista ganhou em 2.810 cidades, ante 2.760 de Bolsonaro. Ainda assim, a diferença de votos entre eles foi de 10,7 milhões. Não é pouca coisa. Os dados levantados pelo Estado de S. Paulo mostram ainda que, quanto menor o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do município, maior foi a votação em Haddad - e quanto maior, mais votos para Bolsonaro. O indicador mede a qualidade de vida da população com métricas de acesso à educação, longevidade e renda. Lua de mel com Bolsonaro Um relatório da XP Investimentos prevê um bom cenário para o Brasil depois da posse do presidente eleito Jair Bolsonaro, do PSL. Um governo liberal e reformista ganhará o benefício da dúvida, o que poderá levar a Bolsa de São Paulo a índices que podem variar de 90 a 120 mil pontos entre 2019 e 2020, bem além dos níveis atuais. A Selic prevista pode chegar a 7,5% ou 8,5% em 2020 e o dólar pode voltar a R$ 3,50 ou 3,70. Os especialistas antevêem a partir de janeiro um ano de transformações no Brasil, com movimentações políticas importantes. E a reforma da Previdência? A maior dúvida do mercado hoje diz respeito à priorização ou não da reforma da Previdência, segundo o relatório da XP. O presidente eleito sinaliza com a vontade de votar parte da reforma da Previdência ainda este ano. Assim, o foco está na transição do candidato para o presidente eleito, e a consequente melhora da visibilidade em relação ao plano de governo. A transição será importante para saber de fato o que o governo eleito tentará implementar no Brasil a partir de janeiro, já que na campanha eleitoral a discussão de propostas não foi a tônica. A não priorização das reformas, ou propostas mais complexas de difícil aprovação, traria risco e volatilidade. Principal despesa O Brasil possui contas públicas pressionadas e pouca flexibilidade para corte de gastos. A Previdência é a principal despesa do governo, representando em torno de 60% do orçamento Federal, e é o gasto que mais cresce por causa do rápido envelhecimento populacional. Se nada for feito, em 2030 a despesa com Previdência chegará a 70% do orçamento Federal, o que é insustentável. Abater a dívida O presidente do Itaú, Cândido Bracher, defende a possibilidade de o país usar as reservas internacionais do país, que somam cerca de US$ 380 bilhões, para a redução da dívida. "Reservas internacionais são dólares que o país tem e que para comprá-los o país emitiu dívida. O que está se falando é usar a reserva para pagar a dívida que foi emitida. Ela custa 6,5% ao ano, e a reserva rende 1% a 1,5% ao ano, que é a taxa do dólar. Acho saudável usar uma parte das reservas para amortizar dívida".
quarta-feira, 24 de outubro de 2018

Porandubas nº 595

Abro a coluna com uma historinha que exibe traços de nossa cultura. Eita, Brasil Um sujeito comprou uma geladeira nova e para se livrar da velha, colocou-a em frente da casa com o aviso: "De graça. Se quiser, pode levar". A geladeira ficou três dias sem receber um olhar dos passantes. Ele chegou à conclusão: ninguém acredita na oferta. Parecia bom demais pra ser verdade. Mudou o aviso: "geladeira à venda por R$ 50,00". No dia seguinte, a geladeira foi roubada! Paradigmas entortados O pleito deste ano quebrou ou entortou alguns paradigmas: 1. O marketing eleitoral ficou de pernas pro ar. A comunicação massiva de alguns candidatos não funcionou. 2. O dinheiro não elege candidatos - teve candidato que quase não gastou e foi eleito com grande votação. 3. As pesquisas não detectaram tendências. Detectar apenas intenção de voto é pouco. O sistema cognitivo do eleitor não foi mapeado de maneira mais profunda. 4. Foi a campanha na qual o eleitor demonstrou maior autonomia de decisão. Autogestão eleitoral. 5. Mesmo os bolsões tradicionais e os fundões do país não se submeteram às pressões dos caciques. 6. A articulação com a sociedade organizada - movimentos, entidades, associações - deu o tom maior da campanha. 7. Subestimou-se o antipetismo e o antilulismo. E o PT acabou saindo dos grandes centros para as margens do interior do Nordeste. 8. Os custos da campanha diminuíram substantivamente, em alguns casos, em até 100%. O caixa 2 praticamente desapareceu. 9. O eleitor votou em perfis mais identificados com suas demandas, rotinas e padrões. 10. Fake news, versões e meias verdades deram o tom das redes sociais, mas não puxaram votos. Apenas acenderam o ânimo das militâncias. Radicalização O clima está muito tenso. A radicalização é obra e graça das duas bandas em que se dividiu o país. Os Bolsonaros, pai e filho, capricharam na linguagem dura. A fala do filho Eduardo, mostrando a facilidade para fechar o STF (basta um cabo e um soldado) teve grande repercussão. Foi chamado de "golpista" pelo decano, ministro Celso de Mello, enquanto o ministro Alexandre de Moraes pediu para que a PGR averiguasse o caso e o presidente Toffoli proclamou que atacar a Corte é "atacar a democracia". No domingo, em fala transmitida por vídeo, o candidato Jair ameaçou banir todos os vermelhos e, ainda, sugeriu que eles fossem embora do país. Da parte do candidato do PT, restou a articulação para as instituições se rebelarem contra os Bolsonaros. Em tempo Ocorre que o deputado Wadih Damous (PT-RJ), em março passado, também defendeu, em vídeo que circula nas redes, o fechamento do STF. O mesmo ocorreu com o ex-ministro e deputado José Dirceu em entrevista amplamente veiculada. Populismo Haddad foi ao Nordeste, onde espera aumentar seus pontos para diminuir a vantagem de Bolsonaro em outras regiões. Prometeu aumentar o Bolsa Família e fixar em R$ 49,00 o preço do bujão de gás. Acena com o populismo para atrair votos nessa semana decisiva. Será difícil. O voto está consolidado, com mais de 90% dos dois grupos garantindo que votarão em seus candidatos. E mais: o candidato do PSL prometeu aos nordestinos conceder um 13º salário a quem recebe o Bolsa Família. Nem mesmo as diatribes do filho de Bolsonaro, pelo que se observa, são capazes de reverter votos a favor de Haddad. O PT parece conformado. PT, a derrota que fará bem Não há saída do imbróglio melhor para o PT do que perder as eleições com uma boa bacia de votos. É o que deve ocorrer. O imbróglio que seria o grande naufrágio do PT poderia ser uma vitória no longo prazo. Com o Brasil rachado ao meio, o partido não teria condições de cumprir as promessas de campanha. Seria um grande desastre. Não há condições de fazer garantir forte assistencialismo populista em tempos de combate duro à contenção de gastos. Já na oposição, com a maior bancada na Câmara Federal, o PT arrumará condições para se afirmar como principal protagonista da oposição. Renascerá no meio das cinzas da derrota. Um bom negócio, que revitalizará as forças do petismo e resgatará a força do lulismo mais adiante. O plano petista O Plano do PT é o de fincar estacas nas searas da oposição, e, daqui a dois anos, fazer o maior número de prefeitos e vereadores, adensando a base com a qual, em 2022, tentará novamente chegar à presidência da República, agora com um candidato capaz de integrar as chamadas "forças democráticas". Não seria necessariamente Lula o candidato. Tem sentido. Novos perfis Mas o PT, noutra linha de raciocínio, deverá escolher novos perfis para os comandos nacional e regionais. Velhas figuras foram despachadas pelo eleitor. O próprio Lula, dentro da prisão, deverá formular reflexão e apontar quem deverá pegar o lume petista e voltar a correr o país. Gleisi Hoffmann foi muito bombardeada, e não deve ter domínio do partido. Pimentel e outros amargarão tempos de esquecimento. Lua de mel mais rápida A lua de mel dos governantes costuma ser de seis meses, ou seja, no espaço de um ano o novo governo precisa dar respostas às demandas da sociedade, principalmente às camadas mais carentes. Depois de meio ano, as cobranças começam a aparecer e ganhar volume. No caso de Bolsonaro, a lua de mel com o eleitorado deve ser mais rápida. Se não aparecerem medidas, ações e programas que venham ao encontro das demandas mais prementes da população - principalmente aquelas que construíram o eixo do discurso bolsonarista - o clamor social se alevantará. Tais cobranças, a depender da habilidade/inabilidade da comunicação governamental, ameaçam fazer com que o caldeirão social entre em ebulição. Pontos polêmicos O novo governo, a ser comandado pelo capitão reformado (se não aparecer o Imponderável da Silva), abrirá logo de início grande polêmica: quais serão os limites para a privatização de empresas estatais? Se essa visão for exclusivamente a do futuro ministro da Fazenda, Paulo Guedes, tudo poderá ser privatizado. Mas há uma forte vertente no pensamento militar que prega a necessidade de o Estado controlar áreas estratégicas, como as do gás e petróleo, energia, telecomunicações, entre outras. Haveria consenso em torno disso? Haveria queda de braço? Como a sociedade reagiria às decisões de um grupo ou de outro? Imagem das Forças Armadas Há um grupo forte de oficiais que teme o desprestígio das Forças Armadas ante as posições radicais do eventual futuro governante. Lembre-se que as Forças saíram com a imagem muito borrada após as duas décadas em que os militares comandaram o país. Nos últimos anos, na esteira de um profissionalismo crescente e de um afastamento tático da política, acumularam formidável respeito em todos os segmentos da sociedade, sendo admiradas e aplaudidas. Essa camada de boa imagem está ameaçada de despencar caso as Forças adentrem com muita força no governo e se forem arrastadas por eventual tufão a bater nas costas do capitão Bolsonaro. Juízes na política É legítima a participação de militares e juízes na política, após a vida ativa na caserna e nos tribunais. Em Política, Aristóteles ensina que o cidadão tem o dever de servir à polis, sua cidade-Estado, o que justifica cumprir missão política. Ocorre que os regimentos e estatutos que regulam certas atividades inerentes à defesa e proteção do Estado proíbem a participação de militares e juízes na política quando em plena atividade profissional. Aprendemos que "o juiz realmente não pode falar fora dos autos". A lição de Francis Bacon também não pode ser esquecida: "os juízes devem ser mais instruídos do que sutis, mais reverendos do que aclamados, mais circunspectos do que audaciosos. Acima de todas as coisas, a integridade é a virtude que na função os caracteriza". Militares na política Quanto aos militares, lembre-se que o Regulamento Disciplinar do Exército proíbe militar de se manifestar publicamente a respeito de assuntos de natureza político-partidária, ao menos que seja autorizado. Aprovado por decreto de agosto de 2002, o regulamento especifica as transgressões disciplinares e prevê punições - estão listadas 113 ações que, em tese, não podem ser praticadas por quem faz parte do Exército. Direita da AL Jair Bolsonaro nem espera pelo resultado do 2º turno e já começa a falar com os chefes das Nações vizinhas. Telefonou domingo para Mário Abdo, presidente do Paraguai, a quem demonstrou interesse em fortalecer as relações do Brasil com o vizinho. Mas o trunfo do capitão será um encontro com Donald Trump, que, a esta altura, já deve fazer parte da lição de casa do seu núcleo duro, onde estão o general Heleno, o vice Mourão e o guru Paulo Guedes. Venezuela Deve ser traumática a relação do novo governo com a Venezuela. Pelo visto, o contencioso, hoje em estado de hibernação, ganhará intensidade. Não se deve descartar, por óbvio, esfriamento das relações e, conforme a reação de Nicolas Maduro, maior distância entre os dois países. Programa de Bolsonaro O programa do governo bolsonarista registrado no TSE é pouco aprofundado e o plano mais detalhado é o econômico. Uma das medidas é zerar o déficit primário em 2019 e convertê-lo em superávit no segundo ano de governo. A análise dessa promessa, segundo o jornal Valor, mostra que se trata de algo irrealista, a julgar pelas estimativas da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2019 e pelas projeções da Instituição Fiscal Independente (IFI) e do Fundo Monetário Internacional (FMI). O rombo A LDO prevê um déficit de R$ 132 bilhões, ou 1,8% do PIB, para o setor público consolidado, que reúne a União, Estados e municípios e estatais Federais, excluindo Petrobras e Eletrobrás. Para o governo Federal, o rombo projetado é de R$ 139 bilhões. O programa de Bolsonaro não detalha como seria possível zerar esse buraco. Segundo o documento, o candidato dará "especial atenção ao controle dos custos associados à folha de pagamento do governo" e "os cortes de despesas e redução das renúncias fiscais constituem peças fundamentais ao ajuste das contas públicas". 15 Ministérios Bolsonaro fala em reduzir o número de Ministérios para 15. Este consultor está curioso sobre a fórmula que usará para formar uma bancada de apoio com 200 deputados. A real politik será abandonada? Difícil, difícil. Ameaça à Folha O candidato Jair Bolsonaro, na esteira do destampatório expressivo dos últimos dias, diz que a Folha de S.Paulo é fábrica de fake news. E que, eleito presidente, cortará as verbas publicitárias do jornal. Ora, a Folha é o jornal mais lido do país. E deve ser tratado como tal. Vingar-se do jornal sob a alegação de que está falseando os fatos não é decisão de bom senso. Pode se defender com direito de resposta. A Folha costuma respeitar esse direito. TV Zimbo, do 8º ao 1º Willian Correa, ex-diretor de jornalismo da TV Cultura, faz sucesso em Angola, África. Correu para lá para tentar "salvar" a TV Zimbo, que foi sua criação, há anos, e que descia no ranking das emissoras de TV. Em seis meses, Willian conseguiu puxar a Zimbo do 8º para o 1º lugar. A fórmula do mago em suas palavras: "Criamos uma nova identidade visual e posicionamento da emissora. Lançamos um programa que se tornou campeão de audiência chamado Fala Angola (formato cidade alerta) e outro chamado vitrine (mostra os bastidores da TV), repaginamos outros programas com novos cenários e vinhetas. Entre eles, um programa musical chamado show da Zimbo. E melhoramos o clima laboral da emissora. Hoje há um empenho e envolvimento de todos os funcionários que passaram a acreditar no projeto e se sentiram parte dele. Estamos no começo ainda. Mas tenho que ser rápido para voltar para a terrinha".
quarta-feira, 17 de outubro de 2018

Porandubas nº 594

Abro a coluna com uma historinha encaminhada pelo amigo jornalista Neimar Fernandes. Só queijo francês "Na longínqua quarta-feira santa do ano de 1969, o jornalista carioca Zózimo Barrozo do Amaral foi preso e levado para o Batalhão da Polícia do Exército, na Tijuca. No segundo dia na prisão, sua esposa, Márcia Barrozo do Amaral, conseguiu visitá-lo, levando uma cesta da Lidador, fina loja de importados. A cestinha estava repleta de queijos: camembert, brie, roquefort e outras estrelas da fromagerie francesa. Zózimo, morto de vergonha com a ostentação em pleno território dos que brigavam pela ascensão do proletariado faminto, colocou as iguarias no mesão socialista. Depois, cochichando, deu um toque em Márcia: "da próxima vez traz catupiry." Dois dias depois daquele banquete lá estava novamente Márcia com outra cestinha de delicadezas. Dessa vez elas falavam o melhor carioquês. Nada de importados. Tinha catupiry, queijo minas e mortadela. Tudo gostoso, e agora politicamente compatível com o cenário espartano do presídio. A turma comeu, agradeceu e foi dormir. Bezze, "chefe" dos presos, um dos organizadores da célebre Passeata dos Cem Mil pela avenida Rio Branco e membro do Centro Acadêmico Cândido Oliveira da Faculdade de Direito da UFRJ, percebeu a mudança de sotaque no cardápio. No dia seguinte, chamou Zózimo no canto: "olha aqui, meu prezado colunista, nós estamos presos, jogados neste fim de mundo, mas nem por isso perdemos a nossa dignidade, compreendeu?" Zózimo ficou paralisado. "O que houve? O que foi que eu fiz?" Bezze explicou: "da primeira vez a sua mulher trouxe camembert, brie, um banquete delicioso. Ontem foi catupiry. Antes que a coisa chegue ao Polenguinho, eu quero te dizer o seguinte: só queijo francês! Do bom! Nós somos socialistas, mas gostamos é de queijo francês, morou?!" Neimar, com ironia, arremata: Passados 49 anos desse episódio, nada mudou". A esquerda brasileira continua "caviar". E hipócrita. PS: O episódio consta da biografia de Zózimo Barrozo do Amaral. O pulso do nordeste Acabo de voltar do Nordeste, onde passei alguns dias tentando sentir o pulso. Não deu para chegar aos fundões, mesmo assim captei sensações. A onda Bolsonaro inundou capitais e grandes cidades, enquanto o andor do "pai Lula" foi bem conduzido por cidades médias e pequenas. Haddad ganhou aqui e perdeu lá. Há um sentimento generalizado que o petismo agoniza. Incidentes ocorrem aqui e ali, como esse, no Ceará, em que o senador eleito Cid Gomes pediu autocrítica ao PT e chamou petistas de "babacas". No RN, a senadora petista Fátima Bezerra, que disparava nas pesquisas, vê diminuir distância para o candidato ao governo Carlos Eduardo, do PDT. Cidade fantasma Impressiona o jeito de "cidade fantasma" que desenha a moldura da capital potiguar. Do aeroporto de Aluízio Alves, em São Gonçalo do Amarante, até o centro, não se vê uma pessoa nas ruas. A violência é tanta que reduziu as andanças pelas ruas. Quem se aventura a fazer isso, corre alto risco de ser assaltado. Natal dá medo. Lula... Mas Não tem havido abandono a Lula ou ao lulismo. O nordestino é e será sempre agradecido pelo bem que recebeu. Emerge por toda a parte muito agradecimento pelo que ele fez. Principalmente nos fundões, onde se espera que seu candidato amplie os benefícios da era lulista. Ocorre que, em paralelo, chega em marolas a história do PT no meio dos túneis da corrupção. Dilma é apontada como a grande responsável por eventual derrocada do lulismo e da crise que o país atravessa. Duas vertentes Há, assim, duas vertentes: a do coração, que embala o "santo Lula", e o fenômeno Bolsonaro, que empolga o eleitor das capitais e grandes cidades. As circunstâncias, o ambiente tenso, a facada no capitão, a roubalheira que grassou (a) no país, a bandidagem assassina, enfim, a balbúrdia que gera insegurança, elevam o capitão às alturas. Onde desfruta a posição de "bola da vez". Nulos e brancos? Quem leva o eleitor às urnas é a enxurrada de candidatos a deputado estaduais e Federais. Portanto, o lógico seria esperar por uma debandada do eleitor no 2º turno, com abstenção e alto índice de votos brancos e nulos. Esta é a análise do abalizado observador da cena política, Lafaiete Coutinho, a partir de seu posto de observação em João Pessoa. Ele prevê que o eleitor comparecerá bem às urnas e não vai anular o voto. A campanha virou uma guerra entre duas bandas, dois exércitos, duas correntes. Um lado quer vencer o outro. Para tanto, precisa estar na praça de guerra. Grande vontade Lafaiete arremata: "O fato de quase todas as eleições nordestinas terem terminado no 1º turno poderia indicar abstenção maior no 2º turno. Dessa vez, não: os eleitores estão motivados e mesmo excitados para votar contra o PT, contra Bolsonaro e ou em nenhum dos dois. Mas é bem provável que Bolsonaro amplie sua vitória nas capitais; não acredito, porém, que a onda crescente chegue aos fundões". Conflitos Conflitos violentos, com relatos de agressões, têm ocorrido. Os comitês dos candidatos, principalmente o de Bolsonaro, continuam a agitar ruas e bairros. Multiplicam-se brigas entre eleitores. Há cidades que fazem questão de pontuar: quem não votar em Haddad, receberá um troco; e há recantos fechados com Bolsonaro. Capitais influenciam? O voto das capitais influencia o interior? O tema é polêmico. Tivéssemos uma campanha normal, sim. Haveria um processo de capilaridade com tendência de o "voto direcionado" sair do centro para as margens. Mas o ambiente de guerra acaba formando cinturões em torno das cidades, "queimando" o voto no adversário. A fidelização eleitoral tende a ser maior no Nordeste. Ademais, o sufrágio está consolidado. Cada ala bate no peito sua decidida intenção de apostar no escolhido há tempos. Cabos eleitorais Governadores eleitos no 1º turno, do PT ou simpáticos a Haddad, se esforçam para aumentar o voto no petista. Querem provar que farão barba, cabelo e bigode. Que são bons de voto. Vê-se esse esforço na Paraíba, no Ceará e no Piauí, com mais intensidade. No contraponto, as alas bolsonarianas reagem com furor, desfraldando suas bandeiras verde-amarelas. Redes sociais As redes sociais fazem a articulação das militâncias, mantendo o animus animandi, a agitação. Ciro Gomes foi para a Itália, evitando engajar-se na campanha petista. Apesar do "apoio crítico" a Haddad, persiste a dúvida: será que ele não gostaria de ver a débâcle do PT? A linguagem Bolsonaro conquista popularidade na esteira de uma linguagem debochada. Ao rés do chão. Impressiona como o eleitor o vê como um dos seus, comparável a Lula na imagem popular. Não passa a ideia de pessoa culta. Quanto mais rasteira a linguagem, mais parece agradar. O tal "mito" é: mistura de admiração ao militar, jeito simples e desbocado de ser, perfil de xerife que vai matar bandido, identificação da ordem contra a bagunça. Dizer, por exemplo, que os capitães "vão ter um dos seus em Brasília", como falou segunda ao visitar o Bope, no Rio, é coisa que coopta o coração da galera. Adeus comovido Tem-se, ainda, a impressão geral é a de que o voto em Haddad no Nordeste tem um jeitão de adeus comovido a Lula. Fraude Corre o sentimento de que as urnas eletrônicas são fraudadas por cabos eleitorais do PT em espaços com poucos controles. Ouvi diversas vezes essa denúncia em forma de lamúria. A teoria da conspiração inunda o território. Furor cívico Nunca vi e ouvi tanto furor cívico e interesse por eleições quanto presenciei nesses dias no Nordeste. Os nordestinos parecem ter descoberto o poder letal do voto. Fazem questão de recitar e acompanhar com os dedos os nomes dos perdedores da velha política. Sobram risadas após a contagem. O que se vê é um desfile de exclamações e interrogações sobre o amanhã. E ninguém quer comentar sobre eventual "reversão de expectativas", a possibilidade de um eventual governo Bolsonaro falhar. Mais forte Em suma, a onda bolsonariana é mais forte que a onda Haddad, com muita dificuldade para o PT resgatar seu peso eleitoral nesse 2º turno. A não ser que o capitão seja flagrado por monumental besteira, uma declaração contra as mulheres ou transgêneros, capaz de queimar sua imagem. Em política, não se pode excluir a possibilidade do Senhor Imponderável de Todas as Horas nos visitar. A guerra por cargos A campanha nem chegou ao final e já se vêem grupos e alas disputando espaços no futuro ministério dos dois candidatos. Haddad sinaliza simpatia pelo nome do professor Sérgio Cortella para o Ministério da Educação. Da parte de Bolsonaro, a disputa parece mais aguerrida com indicação de nomes para algumas Pastas. E poucos avançam nas hipóteses de insucesso de governos que terão de administrar a mais forte crise do país em sua contemporaneidade. Ou lá ou cá Poucos admitem alternativas como impopularidade do presidente em menos de três meses no cargo, autogolpe (como um general chegou a se referir), pautas retrógradas no Congresso, etc. O fato é que nenhum governo conseguirá o milagre de alcançar popularidade e, ao mesmo tempo, executar uma política de contenção de gastos públicos. E o Brasil não pode transitar mais na via da gastança. Uma coisa ou outra.
quarta-feira, 10 de outubro de 2018

Porandubas nº 593

Renovação da política Nesses tempos de renovação partidária e, queira Deus, da purificação de alguns costumes, a coluna relembra essa história, como exemplo. Robaina, vereador do MDB de Bagé/RS, ficou no PMDB depois da extinção da Arena e do MDB. Vivo, pôs a mulher no PDS. O senador Pedro Simon estranhou: - Robaina, como é que você fica no MDB e sua mulher no PDS? - Pois é, presidente. Ainda tenho três filhos para a reforma partidária. O eleitor no furacão O pleito de 7 de outubro vai ficar marcado na história como o mais devastador da velha política nesses tempos de crises política, econômica e ética. O eleitor fez questão de dar um recado tão intenso, que nem mesmo as pesquisas detectaram seu impacto. A velha política foi jogada na cesta do lixo. Grandes figuras da política tradicional foram alijadas do processo. A renovação veio em cheio. Foi a eleição das surpresas. No contraponto, outsiders apareceram, entre os quais o empresário Romeu Zema, em Minas Gerais, e o juiz Wilson Witzel no Rio de Janeiro, que disputarão o segundo turno da campanha contra Antônio Anastasia e Eduardo Paes. Petismo e anti-petismo No plano presidencial, o pleito se caracterizou por ser uma disputa entre o petismo e o antipetismo, na esteira do clássico bordão tão ecoado pelos petistas: "Nós e Eles". O PT foi amplamente castigado pelo voto do Sudeste, maior reduto eleitoral do país (Espírito Santo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo) e, ainda, por enclaves do Sul, Centro-Oeste e Norte. O petismo deu boa resposta no Nordeste, onde, com exceção do Ceará (Ciro levou a melhor), Haddad bateu Bolsonaro. Quase 1º turno Com quase 50 milhões de votos, o capitão quase ganhou no 1º turno. Houve um empuxo na última semana, a formar uma onda bolsonariana que puxou classes médias, contingentes das margens, setores produtivos e engajamento de grupos identificados com as bancadas evangélica, agronegócio, profissionais liberais. O voto útil acabou não aparecendo na quantidade desejada e assim Ciro Gomes, que poderia ser o catalisador dessa modalidade, ficou para trás. Campanha inusitada Vimos uma campanha inusitada: mais curta, mais asséptica quanto à limpeza das ruas, mais contundente na área dos discursos, cheia de ódio entre os militantes. E mais: os dois mais rejeitados foram os dois mais desejados, a denotar que a polarização acaba jogando a questão da rejeição ao segundo plano. Também foi uma campanha onde o líder dos votos ficou praticamente afastado das ruas. O atentado que sofreu - uma facada na barriga em Juiz de Fora - obrigou-o a ficar em um hospital e em sua casa. Inversão Praticamente sem recursos, o capitão Bolsonaro inverteu a ordem dos eixos do marketing eleitoral: sem aparecer, teve a mais forte visibilidade em função do simbolismo que passou a representar e da forte inserção de seu nome nas redes sociais. Vídeos sobre ele correram nas redes. Tiradas picantes e algumas cheias de humor. Ganhou a batalha da comunicação de bico calado. A articulação social foi a perna do marketing mais desenvolvida nessa campanha: os movimentos organizados praticamente realizaram as tarefas dos cabos eleitorais. Radicalização Haddad foi empuxado de Lula, a partir da prisão na PF em Curitiba, onde praticamente montou o comitê central da campanha petista. O padrinho transferiu cerca de 40% dos votos do Nordeste para seu afilhado. Não passou mais pela onda bolsonariana que bateu na região na última fase da campanha, com eleitores cheios de vigor e dispostos a fazer carreatas. O bolsonarismo fez campanha com a tocha acesa, assumindo posições radicais. Foi mais forte que o PT na radicalização. O PT ficou refém da Lava Jato, escondendo os erros e malfeitos de dirigentes e ex-dirigentes envolvidos na operação. Dilma, a esquecida A ex-presidente Dilma Rousseff foi esquecida na campanha de Haddad. Ficou em Minas Gerais, onde esteve sempre na frente das pesquisas. Nunca o PT fez purgação de seus pecados, na tentativa de querer terceirizar as responsabilidades pelo mensalão e pelo petrolão. Dilma se consolava com a perspectiva de pode enfrentar no Senado seus acusadores e apoiadores do impeachment que sofreu. E eis que os mineiros lhe dão um novo castigo: sem votos para sua eleição. Será difícil para a ex-presidente voltar a ter importância na moldura política. Dirceu, o estraga festa José Dirceu, o maior estrategista do PT, cometeu o deslize de dizer que uma coisa é ganhar uma eleição e outra é tomar o poder. O que seria uma questão de tempo para o partido. O efeito foi o de dar medo, sob a ilação de que o PT poderia trilhar os caminhos de um golpe. Ruim para Haddad. Vamos acompanhar o 2º turno para captar a expressão de Dirceu. Mourão na contramão Da banda bolsonarana, a expressão que causou aborrecimentos foi a do vice, o general Mourão. Falou sobre o 13º de modo a dar lugar à especulação: Bolsonaro vai acabar com ele. Quis explicar os detalhes técnicos do 13º como se isso fosse o suficiente para melhorar a compreensão de sua fala. Pior. Deu ideia de que o assunto seria enfrentado em um governo do capitão, que acabou dando um puxão de orelha no general. Como o falador irá se comportar no 2º turno? Mudanças Que mudanças poderão ocorrer nos contingentes eleitorais? Vamos a algumas posições, a partir do reconhecimento de que os votos em campanha intensamente polarizada tendem a se manter. Mas é visível o esforço de Haddad para arrastar partidos e lideres do "centro democrático", como a ele se refere. Os votantes de Ciro Gomes e os setores intelectuais do PSDB tendem em grande parte a correr em direção a Haddad. Ma há tucanos que perfilarão ao lado de Bolsonaro, como o candidato ao governo de São Paulo, João Doria. Já FHC e seu entorno irão para a banda de Haddad. Ciro já declarou apoio ao petista. Isso importa? Autonomia do eleitor O que se constata nesse pleito é a autonomia do eleitor, sua disposição de não seguir os caminhos traçados por candidatos de quaisquer partidos. Uma parcela dos eleitores de Ciro até pode caminhar com Haddad, mas isso não significa que o pedetista transfira o voto de seus maiores redutos. Quem é contra o PT, não vai raciocinar sob o manto de conceitos de democracia, autoritarismo, liberalismo, social-democracia, etc. Há um ranço antipetista imune às doutrinas. PSL, o grande salto O PSL é o partido com a maior força vitoriosa. Com 52 deputados, vem logo depois do PT, ganha posição de 1ª bancada. E assim podemos descobrir que um nanico pode ser catapultado às alturas. Não se sabe o que ocorrerá com ele. Mas, ante a perspectiva de extinção de 14 siglas, em função das obrigações contidas na cláusula de barreira, a vingar já nesse pleito, pode ser que o PSL venha a ganhar uma leva de congressistas. A conferir. A cláusula da purificação A eleição de domingo, além de toda a varrição que provocou na política, ainda servirá para purificar a barafunda de partidos sem alma e quase sempre sem ideologia que infesta o panorama. Dos 35 existentes, 14 não conseguiram atingir um desempenho mínimo nas urnas e perderão instrumentos fundamentais para sua sobrevivência. Serão impedidos pela cláusula de barreira. A nova regra exige ao menos 1,5% dos votos válidos nacionais ou mínimo de nove deputados em pelo menos nove Estados. Esses partidos ficarão sem tempo de propaganda no rádio e na TV, sem os recursos do fundo partidário e sem estrutura no legislativo, como gabinete partidário, assessores, etc. Partidos sem verba. E seu futuro? Em princípio, deverão ficar de fora a Rede (de Marina Silva), o PC do B (vice na chapa do PT), o PRTB (aliado de Jair Bolsonaro), além de Patriota, PHS, PRP, PMN, PTC, PPL, DC, PMB, PCB, PSTU e PCO. Ainda não é uma lista definitiva, pois há pendências judiciais na contagem dos votos. Vai cair bem o número de partidos de mão estendida no toma lá, dá cá de nossa política. São Paulo As campanhas no Brasil mostraram surpresas, com o deslocamento dos competidores nas pesquisas de intenção de voto. Em São Paulo, o governador Márcio França, em terceiro, acabou desbancando Paulo Skaf, do MDB. França vai disputar com João Doria, do PSDB, cujo maior desafio é administrar a alta rejeição - 38% - pelo fato de não ter sido bem recebida pelo eleitor sua renúncia ao cargo de prefeito de São Paulo. França tem condições de aproveitar a maré crescente que o embala. João terá de bater forte no petismo. Para onde irá Alckmin? Mas seu apoio terá eficácia eleitoral? Em Minas Outro grande desafio do PSDB é o enfrentamento com Zema em Minas Gerais. Anastasia, até então, liderava com folga as pesquisas de intenção de voto. Até aparecer o fenômeno Zema, que vai de Bolsonaro. Um cultor do capitão. É possível que o 2º maior colégio eleitoral do país dê adeus ao tucanato. Mas o senador Anastasia é muito bem avaliado em sua administração anterior, a par de ser um político de alta expressão. E o nordeste? A região nordestina vai continuar sendo colorida pela tinta vermelha do petismo? É bem possível. Mas minha bola de cristal está envolvida por intensa névoa cinzenta, que não oferece condições para fazer prognósticos.
quarta-feira, 3 de outubro de 2018

Porandubas nº 592

Abro a Coluna com um "causo" pernambucano Tá morto O caso deu-se em São Bento do Uma/PE, nos idos de 60. O caminhão, entupido de gente, voltava de um jogo de futebol, corria muito, virou na curva da estrada. Foram todos para o hospital. Uma dúzia de mortos. Lívio Valença, médico e deputado estadual do MDB, foi chamado às pressas. Pegou a carona de um cabo eleitoral, entrou na sala de emergência do hospital e foi examinando os corpos: - Este está morto. Examinava outro: - Este também está morto. O cabo eleitoral se empolgava: - Já está até frio. De um em um, passaram de 10. Lá para o fim, Dr. Lívio examinou, reexaminou, decretou: - Mais um morto. O morto gritou: - Não estou morto não, doutor, estou só arrebentado. O cabo eleitoral botou a mão na cabeça dele: - Cala a boca, rapaz. Quer saber mais do que o dr. Lívio? Chegando a hora Estas são as últimas Porandubas antes do pleito do domingo. Com o prognóstico fixado: Bolsonaro versus Haddad. Não vai dar tempo a dois candidatos - Ciro e Alckmin - passar Haddad para concorrer com o capitão no 2º turno. A única possibilidade que eles têm é um arranjo milagreiro: um acidente/incidente, até na área da expressão, algo que seja considerado uma aberração. Mas os dois que estão na frente vão se preservar. Tem um debate na quinta. O debate da TV Globo. Mas não creio que mude a moldura. Pode mudar o cenário Muito difícil haver mudança no cenário para o 2º turno. A não ser que o Imponderável dos Anjos nos faça uma visita na boca da eleição. (O imponderável apareceu por ocasião do acidente que vitimou o ex-governador Eduardo Campos, que seria forte candidato em 2014; e deu também as caras em Juiz de Fora, por ocasião da facada em Bolsonaro). O que se sente nessa reta final é a consolidação dos votos nos dois candidatos com viés de crescimento de Bolsonaro e viés de pequena baixa de Haddad. 2º turno A segunda rodada será um torneio muito aguerrido. É possível ocorrer tumulto de rua. Os militantes das duas bandas vão se engalfinhar. Há possibilidade de choque. Conflito. Murros recíprocos. As redes vão estourar com denúncias. Fakes news de todo lado. Contundência. Quem terá mais chance? Pela minha bolinha de cristal, Haddad perde fôlego ante a onda bolsonariana que cresce; Bolsonaro está subindo de patamar. Por quê? Pelo sentimento anti-PT, que nesses últimos dias ganha força. Ambos precisam administrar suas rejeições. A do capitão gira por volta de 44%; a do emissário de Lula, por volta de 38%. Diminuir rejeição? É possível? Sim. Dentro dessas hipóteses: a onda contra a volta do PT crescerá em termos geométricos; as falas inglórias de José Dirceu continuarão a corroer a imagem do petismo (ou será que Dirceu quer implodir cúpula do PT?); os ataques das militâncias eleitoras de Bolsonaro serão tão intensos contra o petismo, que conseguirão conter a onda de Haddad. E a rejeição de Haddad, que subiu para 38% segundo o Ibope, também poderá ser atenuada, caso o petismo convença indecisos de que seu candidato não é uma ameaça como Bolsonaro. (A rejeição a Haddad cresce e é maior do que a de Lula na última pesquisa como candidato do PT). O petismo trabalha com a ideia de medo da volta dos militares. Já o general Mourão produz falas devastadoras, mas Bolsonaro parece exibir o efeito teflon, nada de negativo cola nele. Denúncia de Palocci O juiz Sérgio Moro liberou partes da delação de Palocci. Traz um dado impactante: houve pagamento de propina para a inclusão de "emendas exóticas" em 900 das mil medidas provisórias editadas nos quatro governos do PT. Palocci também narra diversas formas de corrupção adotadas pela gestão petista em parceria com partidos aliados, associando diretamente o aparelhamento político da máquina pública à corrupção. Pega ou não? A denúncia conseguirá afetar a campanha de Haddad? Deverá consolidar votos de eleitores já decididos. É pouco provável que as margens tomem conhecimento dessas denúncias, de modo a compreendê-las e a torná-las fator de influência sobre sua motivação de voto. Nas classes médias, é possível que a denúncia demova algum eleitor ainda indeciso. Serão poucos a mudar na esteira da denúncia. Os votos de ambos estão consolidados. Apenas aumentarão a taxa de contundência dos discursos. São Paulo, eixo central São Paulo será decisivo na definição do vencedor. Aqui se concentra o voto racional, o voto de cabeça, o voto crítico, mais comparativo. Até 7 de outubro, é pouco provável que esse voto possa ser transferido a um perfil mais do centro. E depois do dia 7? Haddad poderia levar a melhor em SP? Há quem divise essa possibilidade, a partir da indicação de líderes do tucanato, como Fernando Henrique, que apontou Haddad como a opção de 2º turno. Mas FHC não está com essa bola toda. A polarização aguda deverá beneficiar Bolsonaro. Sob o lema: não deixar o PT voltar. Indecisão Um fenômeno a merecer registro: grande parcela das mulheres está indecisa a poucos dias da eleição. Índice atingiu 18%, ante 14% na mesma época da campanha de 2014. Alta de 4 pontos percentuais é inédita pelo menos desde 1994. Interessante: as mulheres protestaram contra Bolsonaro em movimentos por todo o país. Mas ele tem crescido junto às mulheres, pobres e ricos, segundo as últimas pesquisas. Dois planetas sangrando Não há como deixar de reconhecer: seja Haddad ou Bolsonaro o vitorioso, o Brasil, a partir de 1º de janeiro de 2019, será dividido em dois planetas: um, vermelho, outro, verde-amarelo, conforme se vestem os militantes dos dois candidatos. Esse ódio permeará as relações sociais por algum tempo. O Executivo terá grande dificuldade para dialogar com as forças congressuais. O que se vê é um PT desejando a peleja ideológica. Vai radicalizar mais ainda o discurso, sob a crença de que precisa "tomar o poder". Termos usados por José Dirceu. As bases parlamentares agirão sob a balança do pragmatismo. Quem der mais, ganha. O Judiciário será o palco elevado da briga política. A conferir. Tamanho das bancadas De acordo com pesquisas e análises dos potenciais partidários, damos, aqui, a última versão sobre as perspectivas da eleição de deputados federais (com os ajustes necessários para a somatória dar 513). PT-50; PP-50; PSDB-45; PSD-45; PR-45; MDB-40; DEM-36; PRB-36; PDT-29; PSB-25; PSL-18;PTB-17;SDD-1;PROS-10;PODEMOS-10;PCdoB-10;PSOL-10;PPS-8;PV-6;REDE-6; e NOVO-6. Cláusula de barreira Aproximadamente 18 partidos irão superar a cláusula de desempenho e poderão ter atuação plena no Congresso e nos Parlamentos Estaduais e Municipais. Também é importante ressaltar que apenas esses 18 terão acesso aos recursos do Fundo Partidário, para suas ações partidárias, assim como o acesso ao Fundo Eleitoral para as próximas eleições. Da mesma maneira, somente essas siglas terão direito ao uso gratuito dos meios de comunicação, seja em campanhas ou na apresentação de programas partidários. Por fim, vale registrar que acabaram as coligações nas eleições proporcionais (vereadores e deputados).Nas próximas eleições já não serão permitidas. A expectativa é a de que, por conta dessas mudanças, em 2023 tenhamos no máximo 10 Partidos. STF gera confusão Nossa mais alta Corte vive dias agitados. O último episódio que chamou a atenção foi o do pedido da Folha de S.Paulo para que o Supremo permitisse que Lula concedesse uma entrevista ao jornal. O ministro Lewandovski acatou o pedido. Mas o ministro Luiz Fux, vice-presidente da Corte, derrubou a autorização do colega. Lewandovski voltou a permitir, confrontando a decisão de Fux. Com o imbróglio tendendo a deixar o STF em maus lençóis, entrou em ação o presidente Dias Toffoli. Que acabou jogando a decisão para o Plenário, mas não agora. Uma entrevista de Lula nesse momento, reconhece a maioria dos ministros, influenciaria o processo eleitoral. Ficou a decisão para depois do 2º turno das eleições. Marketing capenga Um bom marketing ajuda a eleger, mas é o candidato quem se elege. Marketing mal feito, ao contrário, ajuda um candidato a perder as eleições. Não adianta um bom marketing se o candidato é um boneco sem alma. Candidato não é sabonete. Tem vida, sentimentos, emoção, choro e alegria. Portanto, muita coisa depende dele, de sua alma, de seu calor interno, de sua identidade. Marketing há de absorver essas condições para evitar transformar pessoas em produtos de gôndolas de supermercado. Em um primeiro momento, a inserção publicitária na TV até pode exibir o candidato de forma mais genérica, por falta de tempo para expor conteúdo. Mas o eleitor não se conformará com meros apelos emotivos e chavões-antigos, como os usados para embalar perfis saturados (candidatos beijando crianças e velhinhos, tomadas em câmera lenta mostrando o candidato no meio do povo, etc).
quarta-feira, 26 de setembro de 2018

Porandubas nº 591

Abro a Coluna com o dr. Dantinhas, da Bahia. O vice-versa Dr. Dantinhas, deputado da Bahia, elo de todo um clã político do Estado (neto do barão de Jeremoabo), foi convidado para padrinho de casamento da filha de um coronel do sertão. No dia de viajar, recebeu telegrama: - Compadre, não precisa vir. Deu-se o vice-versa. Menina morreu. Reta final A 11 dias da eleição, os dois candidatos que estão na frente tentam consolidar seus índices, enquanto o núcleo que registra índices abaixo de 15% luta para aumentar os números de seus protagonistas. Bolsonaro, que agrega entre 30% a 35%, e Haddad, entre 23% a 26% (pesquisas diferentes), se esforçam para ganhar o passaporte do 2º turno. Ciro e Alckmin lutam para dar um salto triplo nessa reta final, mas se deparam com grandes dificuldades. Não conseguem atrair o "voto útil", que parece entrar na bacia dos dois primeiros, cada qual querendo se apresentar como a melhor opção para o Brasil. Entrada no segundo turno Desde a redemocratização, apenas duas vezes os líderes nas pesquisas de intenções de voto na reta final das campanhas não foram para o segundo turno - faltando duas semanas para a votação, os primeiros colocados das eleições de 1989 e de 2014 perderam fôlego e não terminaram o primeiro turno entre os dois primeiros colocados. Em 1989, Leonel Brizola, do PDT, esteve em segundo durante a maior parte da campanha, mas perdeu posição a menos de 15 dias da disputa para Luiz Inácio (PT), que viria a ser derrotado por Fernando Collor (PRN). Já em 2014, a candidata Marina Silva, na época disputando pelo PSB, perdeu fôlego na reta final da campanha, sendo superada por Aécio Neves (PSDB), que foi ao 2º turno e perdeu para Dilma Rousseff (PT). BTG/Pactual A rodada FS5, patrocinada pelo BTG/Pactual, e apresentada nesta segunda, traz esses resultados: na pesquisa espontânea, Bolsonaro tem 31%, Haddad, 17%, Ciro, 7% e Alckmin, 4%. Na estimulada, Bolsonaro tem 33%, Haddad sobe para 23%, Ciro, 10% e Alckmin, 8%. Em SP, maior colégio No maior colégio eleitoral do país, SP, com 33 milhões de eleitores, a situação hoje é esta de acordo com o Instituto Paraná Pesquisas: Fernando Haddad tem 14,7%, contra 14,4% de Geraldo Alckmin. Na liderança permanece Bolsonaro com 30,4% das preferências. No grupo abaixo, estão Ciro Gomes (7,9%), Marina Silva 5%. Temor a Bolsonaro - I Os eleitores que se postam na linha contrária a Bolsonaro temem que o Brasil volte a viver sob o tacão de uma ditadura, com supressão das liberdades, censura e a índole discriminatória do capitão: racismo, violação de direitos de minorias, de gêneros (mulheres), misoginia etc. As declarações de Bolsonaro, no passado, exibem um perfil extremamente conservador e agressivo. Por conveniência eleitoral, ele anuncia um manifesto onde tentará desfazer ditos do passado e proclamar seu respeito aos direitos individuais e coletivos. Persiste, porém, o receio de uma volta aos tempos da ditadura. Temor a Bolsonaro - II Teme-se que o candidato tenha dificuldades na articulação com o Congresso Nacional, ensejando, assim, condições para a repulsa/desaprovação a suas políticas e consequente erosão do tecido governativo. Eventual ruptura implicaria grave crise institucional, com participação, inclusive, do braço armado das forças. Temor a Haddad - I O temor que Fernando Haddad gera se liga ao revanchismo do PT, que, chegando ao poder, reinstalaria uma máquina burocrática locupletada de petistas. Que certamente vão querer "dar o troco" aos grupos que afastaram o partido do poder central. A questão: o PT continua se considerando o abrigo de vestais, gente pura, pessoas assépticas. O inferno, pensa, são os outros. Consideram-se os mocinhos, e os outros, os bandidos. São mestres na arte de mistificação e da simulação. Temor a Haddad - II Chegando ao poder, fincariam militantes e quadros de todos os espectros nas profundezas da administração, adotando a estratégia de tapar todos os buracos para coibir o ingresso de adversários. A partidarização da estrutura estatal é apenas um lado da moeda. O pacote de políticas públicas será embrulhado no celofane vermelho do partido. O desfazimento de projetos levados a cabo pelo governo anterior poderia, ainda, entornar o caldo e gerar tensões com o Poder Legislativo. Exemplo: a volta da velha CLT com revogação da Reforma Trabalhista. A rejeição Ocorre que a rejeição aos dois candidatos é alta, com cerca de 30% para Haddad e 40% para Bolsonaro. Ao candidato petista cobra-se aproximação com o mercado. Daí o esforço de Hadad para tentar se aproximar do centro, o que não agrada à presidente do PT, senadora Gleisi. Mas há um grupo mais moderado que defende esta postura. Já o candidato Bolsonaro ensaia passos na direção da moderação, com um manifesto onde proclamaria não ser radical, tentando convencer que suas palavras no passado faziam parte do teatro político. O capitão perde para os adversários na projeção para 2º turno. Ganharia apenas de Marina. Tucanos de MG Jair Bolsonaro acaba de dar apoio ao candidato mineiro ao Senado da coligação de Anastasia, Dinis Pinheiro. Significa que o capitão passa a capitalizar boa parte do eleitorado do PSDB em MG, que detém o segundo maior colégio eleitoral do país, com 16 milhões de eleitores. Rede ferroviária, zero Um dado que provoca susto: a rede ferroviária no Brasil tem praticamente a mesma extensão de 1922, quase um século depois: 30 mil kms, dos quais apenas 20 mil são usados. É de estarrecer. Lembre-se que nossa rede já foi a segunda mais extensa do mundo. Mais zeros: no passado, 80% dos deslocamentos de passageiros entre cidades do Sul/Sudeste eram feitos por ferrovia. Hoje, esse índice é de zero. Brasil sucateado Renato de Souza Meirelles, integrante da Associação Brasileira da Indústria Ferroviária, comenta que a entidade preparou um documento com um diagnóstico assombroso sobre o setor e fez a entrega aos presidenciáveis. Os dados retratam o estado caótico das ferrovias: as fábricas de material rodante e sistemas ferroviários terão sua capacidade ociosa, hoje em torno de 75%, para 100%, pois "não há previsão de fabricação de trens para 2019", um dos piores momentos do setor. Como fazer? De 2010 a 2017, foram entregues em média 334 carros de passageiro por ano. Este ano, as entregas se reduzem a 298, chegando a zero no início do novo governo. De 10 mil postos de trabalho, o setor empregará apenas 2.500 em 2019, queda de 75%. A questão central levantada por Meirelles é: "como fazer para a volta dos investimentos? Como investir em Estados que estão no limite de seu endividamento?" Impugnação A candidatura de Dilma Rousseff foi aprovada pela Justiça Eleitoral de MG por 4 a 3. Mas há quem garanta, como o professor Adilson Dalari, que, se eleita, não tomará posse. Recorre ao pensamento de juristas como o Desembargador Rogério Medeiros, que emitiu parecer contrário à candidata ao Senado. O voto do desembargador examina detalhadamente a questão da perda dos direitos políticos em outras situações para chegar, finalmente, ao indeferimento do registro da candidatura dela ao Senado. Embora o TRE/MG tenha deferido o registro da candidatura da Dilma, Adilson não considera o assunto encerrado. Garante que sua posse será impugnada. Democracia em crise O cientista político americano Larry Diamond, da Universidade Stanford, ao passar pelo Brasil há dias, fez um alerta sobre o panorama da democracia e suas perspectivas no curto e médio prazos. Populismos e posições extremistas à direita e à esquerda têm ganhado força como resultado do descrédito dos regimes democráticos ao redor do mundo. Para ele, Putin, Trump, Maduro, Le Pen e Erdogan têm em comum uma verve autoritária e intolerante. A falta de fé na democracia, segundo o especialista, nasce e se dissemina somente quando há mau governo, abuso de poder ou instituições frágeis. Justiça social Diz ele: "as alternativas autoritárias têm vida curta porque não são capazes de atender aos anseios populares de mais liberdade e menos corrupção. O caminho passa pelo aprofundamento das instituições e pela criação de regimes democráticos que consigam ir além da transparência nas eleições e consigam, também, garantir justiça social e representatividade." Causos do juiz plínio Fecho a coluna com dois causos do juiz Plínio. De cócoras Plínio Gomes Barbosa era juiz de Direito em Monte Aprazível, São Paulo. Chegou um promotor novo: Edgar Magalhães Noronha. Na primeira audiência, o promotor estava todo cerimonioso: - Doutor juiz, devo requerer de pé ou sentado? - O senhor se formou há pouco? Onde? - Minha escola o MEC fechou. - Então requeira de cócoras. "Me retiro" Numa Vara da Fazenda, no interior de São Paulo, o perito era coronel do Exército e o juiz, Plínio Gomes Barbosa, não sabia. Houve discussão, o coronel começou a gritar, o juiz bateu a mão na mesa: - Se o senhor continuar nesse tom, ponho-o daqui para fora. - Não saio, não. Sou coronel do Exército. - Então quem se retira sou eu, que sou reservista da 3ª categoria. E deixou o coronel sozinho.
quarta-feira, 19 de setembro de 2018

Porandubas nº 590

Abro a Coluna com um "causo" de Arandu, em São Paulo. Empregue o plural, Zé  Arandu, em São Paulo, começou sua história como pequeno povoado, no bairro do Barreiro, no município de Avaré. Em 1898, um pedaço de uma fazenda leiteira da região foi doado para a construção de uma capela. Elevado a distrito de Avaré - SP, em 1944, recebeu na ocasião a atual denominação. Em 1964, conquistou a emancipação política. No primeiro comício, os candidatos a prefeito foram fartos em promessas. Dentre eles, o agricultor José Ferezin. Subiu ao palanque e mandou brasa: "Povo de Arandu, vô botá agua encanada, asfaltá as rua, iluminá as praça, dá mantimento nas escola...". Ao lado, um assessor cochichou: "Zé, emprega o plural". O palanqueiro emendou: "E mais: Vô dá emprego pro prural, pro pai do prural e pra mãe do prural, pois no meu governo não terá desemprego". (Historinha enviada por Márcio Assis)   Primórdios   "Rastreie, vá ao encalço de homens de toda e qualquer região, passe a conhecê-los, cultive e fortaleça a amizade, cuide para que em suas respectivas localidades eles cabalem votos para você e defendam sua causa como se fossem eles os candidatos". (Quinto Túlio Cícero aconselhando o irmão Marco Cícero, o grande tribuno, em 64. A. C., quando este fazia campanha para o Consulado de Roma)  Afunilamento A campanha está afunilando. Depois de meses de nebulosidade, eis que os horizontes começam a clarear. Os nomes e cenários finais começam a surgir, mostrando a tendência do eleitorado composto por mais de 147 milhões de eleitores, dos quais 52% são mulheres. Jair Bolsonaro, no posto de candidato de extrema direita, consolida sua boa posição e tem ingresso praticamente certo no segundo turno. Fernando Haddad, ungido pelo eleitor de maior influência eleitoral no país, Luiz Inácio Lula da Silva, é o mais indicado para fazer companhia ao capitão. Mas pode haver, ainda, a onda do voto útil nos 15 dias finais de campanha. Voto útil Se a onda do voto útil aparecer - Aécio Neves se aproximou de Dilma em 2014 nos últimos dias ancorado nesse tipo de voto - é possível que Ciro Gomes ou Geraldo Alckmin ascendam ao posto que hoje é de Haddad. Para vencer Bolsonaro, as pesquisas apontam Ciro como o candidato com a maior diferença. O voto útil, se ocorrer, virá especialmente do Sudeste. São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro somam mais de 60 milhões de votos. Nesses três Estados, que formam o Triângulo das Bermudas, onde navios perdem o rumo e acabam afundando, estão as mais esclarecidas classes médias, as maiores entidades de organização social, os maiores contingentes de profissionais liberais, enfim, os mais fortes polos de voto racional. A questão é... Ocorre que o eleitor é pragmático. Se perceber que Bolsonaro pode levar a melhor logo no dia 7 de outubro, pode despejar seu voto na direção do capitão. Por que Alckmin não se beneficiou desse voto? Porque errou muito ao bater em Bolsonaro em vez de bater no PT, alvo principal. Não conseguiu se formar como o antídoto contra o lulopetismo. Só agora começa a bater. Parece tarde. Já Ciro Gomes deveria ter fixado mais o pé no eixo São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro, onde estão as maiores fatias do eleitorado. Brasil rachado O país que irá às urnas em 7 de outubro está rachado ao meio. Seja qual for o vencedor, vai enfrentar um eleitorado dividido, com cerca de metade da população distante de sua posição. O PT, se for o vencedor, vai reabrir feridas. Os petistas habitam um pedaço do território que consideram de sua exclusiva propriedade, são vingativos, loucos para voltar a ocupar a máquina do Estado e, dessa forma, continuarão a criar um mundo à parte, escancarando as fontes que derramam bílis e sangue sobre o tecido social. Para os petistas, não foi o ciclo lulopetista que abriu o lamaçal, a partir do mensalão, e quebrou o país. Dilma foi praticamente relegada ao esquecimento, não sendo responsável pela maior recessão econômica que o Brasil enfrentou na contemporaneidade. Quem ganhar As projeções apontam para uma margem mínima entre os dois candidatos que chegarão ao 2º turno. Quem ganhar, terá entre 2% a 3% de diferença do perdedor. Pau a pau. O Brasil sob Bolsonaro Se Jair Bolsonaro for o vencedor, governará um país rachado. E se, por acaso, puser em prática sua visão extremista - com a adoção de posições radicais - vai ter problemas sérios com a base parlamentar no Congresso. O mercado poderá esperar pelas medidas liberais de seu ministro da Fazenda, Paulo Guedes, mesmo assim, sob a lupa do mercado. Quanto à visão armamentista - e liberação de armas para a população, por exemplo - é razoável apostar em ampla discussão da matéria pelos canais da sociedade. Poderá costurar uma teia de acordos com o Parlamento, mas sob o signo da desconfiança. Há militares que defendem um "autogolpe" em "caso de caos". A recordação dos anos de chumbo será recorrente. O mito demoraria muito tempo na cabeça das pessoas? O Brasil sob Haddad Nesse caso, o Brasil ficará sob o império de Lula. Que mandará no governo, podendo assumir o que quiser, segundo acaba de garantir a senadora Gleisi Hofmann. Haddad já é um fantoche. E continuaria no papel caso seja o vitorioso. O Brasil do PT vai buscar medidas de caráter populista, acabando com o teto de gastos, fomentando o consumo, procurando ampliar o colchão social. Conseguirá? Os petistas vão ocupar as extensões da máquina, tentando recuperar antigos cargos e criando outros. Vai ser uma festança. As parcerias partidárias serão refeitas. Sob a teia da fisiologia. A divisão na sociedade será marcante. O ódio fluirá das destilarias fincadas no meio da pirâmide. 1º turno? Há análises apontando eventual vitória de Bolsonaro no 1º turno, empurrado pelo "voto útil" do centro e do centro-direita. Esse voto seria um esforço eleitoral para evitar a volta do PT. Não se sabe se o capitão venceria Haddad em um 2º turno. João Doria levou no 1º turno a prefeitura de São Paulo, na esteira do temor da volta de Haddad. Anastasia e Dilma O senador Antônio Anastasia distanciou-se bem de seu adversário, o governador Fernando Pimentel, na campanha para o governo de Minas Gerais. Interessante é o voto do mineiro. Enquanto tende a eleger um tucano para o comando do Estado, pode levar ao Senado a ex-presidente Dilma Rousseff, que naquela Casa deve passar os primeiros tempos sob a amargura do discurso "golpista", quando tentará repaginar sua identidade. Na verdade, vai conviver lado a lado com "os golpistas" que aprovaram seu impeachment. Será uma das boas histórias que viveremos em 2019. Afinal, poderia? A pergunta está na boca de juristas. Um presidente afastado perde os direitos políticos. O trambique combinado pelo ministro Ricardo Lewandovski e o então presidente do Senado, Renan Calheiros, teria sido uma afronta ao Direito. Garantem eminentes juristas. A norma? Ora, bolas Alguns candidatos continuam a usar os velhos métodos de propaganda eleitoral. Principalmente na parte da fala do povo. Muita fajutice. O PT, por exemplo, mostra no programa do Haddad uma senhora, Cleide da Rocha, que diz ter sido cortada do Bolsa Família. A mulher aparece chorosa. Só que recebeu R$ 269 em agosto. Deixará doravante de receber por ter renda de beneficiários superior ao limite. Um blefe. Mas a Justiça Eleitoral só age ante as denúncias sobre os malfeitos. Falso Circula no Facebook a imagem de um "levantamento" que teria sido feito pelo Instituto Paraná Pesquisas, dando a Jair Bolsonaro mais de 50% das intenções de voto nos Estados do Brasil, exceto Ceará e Alagoas. A imagem informa que pesquisa foi registrada no TSE. Usuários do Facebook solicitaram que o material fosse analisado. O site Lupa analisou. É falso. O último levantamento do Paraná Pesquisas foi em 12 de setembro, mostrando Bolsonaro com 26,6% das intenções de voto. Não há qualquer discriminação de percentuais por Estado nesse estudo. Os ciclos da política Um dos maiores pensadores belgas, o jornalista e cientista político David Van Reybrouck, em um livrinho intitulado Contra as Eleições, lembra os ciclos da política:  1- Antes de 1800 Do período feudal à época absolutista, comanda a aristocracia.O poder pertence ao soberano. Atribui-se sua autoridade à origem divina. Com conselheiros nobres (cavaleiros, membros da corte), ele dita as leis.Não há esfera pública.  2- 1800 A Revolução Norte-Americana e a Francesa limitam o poder da aristocracia e instauram eleições para dar voz à soberania popular. A autoridade não vem mais do alto, mas de baixo. O direito a voto é ainda restrito à elite. O debate público acontece, sobretudo, nos jornais.  3- 1870-1920 Duas evoluções cruciais por toda parte: surgimento de partidos políticos e instauração do sufrágio universal. As eleições tornam-se uma luta entre grupos com interesses divergentes que procuram representar a maior fatia da população possível.  4- 1920-1940 A crise econômica do período entre-guerras coloca a democracia representativa em alta-tensão. Caem disjuntores aqui e acolá. Experimentam-se novos modelos políticos: o fascismo e o comunismo sendo os principais deles.  5- 1950 A democracia representativa é surpreendentemente reestabelecida. O poder está nas mãos dos grandes partidos políticos. O contato com o cidadão é feito através de uma série de organismos intermediários (sindicatos, corporações, em alguns casos estabelecimentos de ensino e mídias privadas). Há grande fidelidade partidária e os resultados das urnas são previsíveis. A mídia (rádio e televisão) pertence ao Estado.  6- 1980-2000 Dois desenvolvimentos decisivos: desfazem-se os organismos intermediários e a mídia comercial ganha poder. O sistema eleitoral torna-se instável. À medida que a esfera pública se preenche com atores do setor privado (a mídia pública também adota a lógica do mercado), deteriora-se a fidelidade partidária. Os partidos políticos não são mais os principais representantes da sociedade civil, e sim meros órgãos da periferia do aparelho do Estado. As eleições transformam-se em uma disputa midiática para conquistar eleitores (indecisos). 7- 2000-2020 As redes sociais e a crise econômica colocam a democracia representativa novamente sob pressão. A nova tecnologia traz autonomia, mas coloca o jogo eleitoral sob ainda mais pressão: a campanha eleitoral tornou-se permanente. O exercício do poder sofre de febre eleitoral, sua credibilidade está sempre à prova. A partir de 2008, a crise financeira joga mais lenha na fogueira. Prosperam o populismo, a tecnocracia e o antiparlamentarismo.
quarta-feira, 12 de setembro de 2018

Porandubas nº 589

Abro a coluna com uma historinha do padre Elesbão, das Minas Gerais. No confessionário Numa cidadezinha de Minas, Padre Elesbão estava esgotado de tanto ouvir pecados, ou, como dizia, besteiras. Decidiu moralizar o confessionário. Afixou um papelão na porta da Igreja, dizendo: O Vigário só confessará: 2ª feira - As casadas que namoram. 3ª feira - As viúvas desonestas. 4ª feira - As donzelas levianas. 5ª feira - As adúlteras. 6ª feira - As falsas virgens. Sábado - As "mulheres da vida". Domingo - As velhas mexeriqueiras. O confessionário ficou vazio. Padre Elesbão só assim pode levar vida folgada. Gabava-se: - Freguesia boa é a minha... mulher lá só se confessa na hora da morte! (Leonardo Mota em seu livro Sertão Alegre) Bolsonaro anima plateias A campanha esquenta sob o calor da emoção gerada pelo atentado ao candidato Bolsonaro. O imponderável, mais uma vez, fez questão de nos visitar para adensar a fumaça no horizonte. A 25 dias do pleito, não se sabe o que vai acontecer. A militância bolsonariana está gritando seu nome nos bares, nas praças e, para agredir opositores, por ocasião de visita de outros candidatos a recantos das cidades. Militantes estão mostrando a cara. Nas redes sociais, desferem pauladas em quem se opõe ao capitão. A emoção A expressão cheia de bílis, que se ouve em todos os cantos do país, se alimenta de um composto político caracterizado pelo radicalismo que habita os extremos do arco ideológico, onde exércitos de Bolsonaro jogam sua artilharia pesada contra a militância petista, gerando recíproco tiroteio na arena das redes sociais. Sob essas duas fontes de conteúdo - a bandidagem e o lulopetismo - expandem-se os fluxos de emoção, provocando engajamento mais intenso em regiões menos desenvolvidas politicamente como o Nordeste (26,62% dos votos), o Norte (7,83%) e o Centro-Oeste (7,29%). A população eleitoral dessas regiões chega a mais de 61 milhões de eleitores. Trata-se de um eleitorado integrado ao território conservador, onde é forte o voto populista/cabresto, de teor emotivo. A razão Já o discurso da razão é mais intenso nos estratos médios da pirâmide social, particularmente nas regiões Sudeste (43,38% dos votos) e Sul (14,42%), com a observação de que os sulistas tendem a surfar na onda do voto de cunho nacionalista, enquanto os votos de São Paulo, o maior colégio eleitoral do país, onde habitam as mais poderosas classes médias e as maiores organizações sociais, estão mais próximos ao abrigo da racionalidade. Nesse caso, a opção de votar fica para os momentos finais, após uma varredura na moldura dos candidatos e análise de suas qualidades. Entre 20% a 30% Se Bolsonaro segurar seu índice de intenção de voto - 24%: subiu dois pontos segundo a última pesquisa Datafolha -, entrará no segundo turno. A dúvida é se conseguirá ou não sustentar sua posição. Pelo andar da carruagem, continuará fazendo campanha a partir do quarto do hospital Albert Einstein onde se recupera. De 8 segundos de TV, ganha visibilidade total na rede aberta. Seus filhos e adeptos continuarão a enviar fotos da convalescença. Pesquisa do BTG Pactual lhe deu 30%. Aliás, os bancos continuam a acompanhar a trajetória do candidato por meio de tracking - pesquisa telefônica. Esse tipo de pesquisa mostra que Bolsonaro cresceu mais que a oscilação de dois pontos para cima dentro da margem de erro. Sudeste Bolsonaro tem como ponto nevrálgico o Nordeste, onde se abrigam quase 27% dos votos. Lá, Ciro Gomes cresce. E no Sudeste, que tem 43,38% dos votos (63.902.486 votos), o capitão precisa evitar que eventual onda racional tire dele alguns votos. Só SP, com 22% do eleitorado (33 milhões de eleitores), foi o destino de 44% das visitas dos candidatos a presidente nessa primeira temporada de campanha. Essa é a região onde Alckmin espera crescer. Se não conseguir subir por aqui, Alckmin certamente não ganhará passaporte para o segundo turno. Ainda mais quando o Nordeste lhe fecha as portas. O fato é que da região mais esclarecida do país, São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Espírito Santo, poderá sair a vitória eleitoral. É aí onde o voto mais se esconde. No Nordeste, Norte e Centro-Oeste, onde o voto segue o coração, o sufrágio se repartirá em volumes maiores para Ciro, Haddad e Marina. Marina cai Ocorre que Marina Silva tomou uma queda nessa última pesquisa Datafolha. Este analista apontou essa possibilidade lá atrás. E a razão é sua pequena estrutura de campanha. Não tem apoio de grandes partidos e cabos eleitorais. Marina é a encarnação do perfil ético. Mas está difícil romper as velhas estruturas. Ciro cresce Já Ciro Gomes, com sua metralhadora falante, está crescendo. É quem melhor se expressa. Usa palavras fortes, faz duras críticas e está presente aqui e acolá. Ciro tem condições de lutar pelo segundo turno. Só nos últimos dias deverá ocorrer o processo de seleção final dos candidatos pelos eleitores. E é muito provável que Ciro seja o beneficiário do voto útil, aquele que não irá nem para o PT nem para Bolsonaro. Alckmin devagar Geraldo Alckmin caminha devagar. Seria o natural herdeiro do voto útil se tivesse encarnado o perfil do meio contra os extremos, Haddad e Bolsonaro. Mas o tucano anda a passos de tartaruga. Quase se arrastando. Se o eleitor enxergar nele condição de entrar no segundo turno, ainda seria possível destinar a ele o voto. Por enquanto, o ex-governador de São Paulo é uma incógnita. Hoje, está perdendo para Bolsonaro em São Paulo, Estado que governou por quatro mandatos. Haddad, Andrade, Andar Fernando Haddad ganhou ontem o status de candidato por obra e graça do "Salvador da Pátria", dom Luiz Inácio. De dentro de sua sala de despachos na PF de Curitiba, Lula entronizou o ex-prefeito de São Paulo, batizando-o com o slogan: "eu sou você". Sairá o "Lula dois", o intelectual Haddad, a andar pelo país pregando a metamorfose: "Lula sou eu". Dará tempo até 7 de outubro pregar a mentira e enfiá-la na cuca do eleitor? Andrade, como é chamado no Nordeste, não tem aparência como Lula. Não fala igual a ele, não pensa igual a ele, é um acadêmico - coisa que não combina com o perfil de Luiz Inácio - e também passa longe do feeling político do ex-presidente. Transferência de votos Mas se Lula conseguir usar seu bastão mágico e passar para Haddad uns 20% de votos, não se descarta a possibilidade do ex-prefeito paulistano adentrar a porta do segundo turno. Nesse caso, veremos a polarização entre perfis abrigados nas extremidades do arco ideológico. Nesse caso, teríamos o voto de exclusão. Parcela do eleitorado votando em Haddad para evitar Bolsonaro; e parcela do eleitorado votando em Bolsonaro para evitar Haddad. Ufa! Eleger alguém com um voto de exclusão - não por opção - é o retrato de um país rachado ao meio. Derrota de Bolsonaro Impressiona a rejeição a Bolsonaro: cerca de 40%. Um alto índice. Pela pesquisa Datafolha, perde para todos os candidatos, menos para Fernando Haddad. O fato é que ele carrega o facho de "candidato mais rejeitado". A parte que o rejeita estabelece o nexo entre ele e os militares, nesse caso, lembrando os tempos de chumbo, a ditadura. Já os eleitores de Bolsonaro o identificam com a "ordem contra a bagunça", o antídoto contra o PT. Essa é a visão geral do eleitorado. Pacote de macarrão Evitar ser flagrado em mentira ou dissonância: eis o calcanhar de Aquiles dos candidatos. E isso ocorre geralmente quando um candidato é instado a mudar de identidade ou esconder o que disse no passado. O eleitor percebe quando a pessoa torna-se artificial, um mero produto de marketing. E candidato não pode ser trabalhado como se trabalha um sabonete, um pacote de macarrão. Alckmin e a marca anti-pt Geraldo Alckmin vê distante a possibilidade de vestir o manto de "anti-PT número 1". Perde a condição para Bolsonaro. Passou muito tempo de campanha atacando o capitão. Só agora começa a atacar o PT. Tarde. Deveria ser considerado o antídoto contra o lulo-petismo. Mas seus marqueteiros, possivelmente induzidos por pesquisas mal interpretadas, vestiram nele o manto de anti-Bolsonaro, esquecendo Fernando Haddad, só agora lembrado. Um erro. Deveria, ao menos, fazer sério alerta contra os dois. E de maneira criativa. Este spot não apareceu. Pelo menos até o momento. Prisão de Richa A prisão do ex-governador e candidato a senador, Beto Richa, no Paraná, deve respingar na campanha de tucanos pelo Brasil afora. Pela proximidade, a campanha de Alckmin em São Paulo ganha uma tropeçada. Só agora Tem-se a impressão de que só agora o eleitor toma conhecimento da campanha. O Não Voto - abstenção, votos nulos e brancos - refluiu bastante nos últimos dias. Queda de 10 pontos. Hoje, situa-se em torno de 25% a 28%. Já foi de 40%, segundo pesquisas. Golpe? Não O Blog do Noblat pesquisou: "Você é a favor de um golpe militar em vez da realização de eleições livres"? Responderam assim 9.565 leitores: 22% - Sou a favor do golpe 72% - Sou contra o golpe 06% - Não sei Ambição desmesurada No meu livro Marketing Político e Governamental, cito um pensamento do cientista político Robert Lane, em Political Life, que explica como a ambição desmesurada pelo poder funciona como um bumerangue. "A fim de ser bem-sucedida em política, uma pessoa deve ter habilidades interpessoais para estabelecer relações efetivas com outras e não deve deixar-se consumir por impulsos de poder, a ponto de perder o contato com a realidade. A pessoa possuída por um ardente e incontrolável desejo de poder afastará constantemente os que os que a apoiam, tornando, assim, impossível a conquista do poder". Campanha negativa A campanha negativa é a do ataque ao adversário, seja lembrando frentes abandonadas, seja tentando vincular propostas novas com situações escandalosas, como promessas mirabolantes de acabar com inclusão do eleitor no SPC. Os profissionais de marketing podem, até, se respaldar em pesquisas para decidir usar as armas de ataque em campanhas. Em casos específicos, principalmente quando fica consagrada uma gestão irresponsável em alguma área - como a da saúde - mostrar cenários devastados pode gerar efeitos. Contanto que essa estratégia seja comedida, usada de maneira tópica. Não deve significar o eixo de um programa. O eleitor quer ver coisas positivas. Nos Estados Unidos, os ataques ganham mais eficácia em função do embate histórico entre os partidos democrata e republicano.
quarta-feira, 5 de setembro de 2018

Porandubas nº 588

Abro a coluna com uma historinha do Pará. Socorro, socorro! João Botelho, candidato a prefeito de Belém, passou o dia inteiro anunciando um comício, à noite, na praça Brasil. Chegou na praça, não havia ninguém. Será que estou no lugar errado? pensou. Será que não estou enganado? Perguntou ao assessor. - Não houve engano não, deputado, a praça é esta mesma. Foi ao bar mais perto, pediu dois caixotes de madeira, pôs no centro da praça, subiu e passou a berrar alucinado: - Socorro, Socooorro, Socoooooooro! Correu gente de todo lado para ver o que era. Plateia arrumada, Botelho começou o comício: - Socorro para um candidato... E fez o comício. Tragédia O incêndio que destruiu o Museu Nacional do Rio, o mais antigo do país e uma das mais importantes instituições científicas e antropológicas da América Latina, queimando cerca de 20 milhões de itens, é o mais evidente exemplo da incúria e do desleixo com que o poder público trata o patrimônio da Nação. Todos apontam: era a crônica de uma tragédia anunciada. Como uma instituição que completa 200 anos não tinha estrutura de prevenção de incêndios? Como o maior abrigo cultural do país foi tratado de maneira tão irresponsável por governos ao longo de sua história? E assim caminha o Brasil na rota do descalabro. A politização do incêndio Do Blog BR 18, de jornalistas do Estadão. "Além do presidenciável Guilherme Boulos, do PSOL, dirigentes do PT e de partidos aliados tentaram politizar de forma oportunista o incêndio do Museu Nacional com publicações nas redes sociais. Da turma do PT, fazem parte da lista a presidente do partido, Gleisi Hoffmann, e o senador Lindbergh Farias. Manuela d'Ávila, do PC do B, vice do vice de Lula, seguiu no mesmo caminho. Depois, ela apagou o post, mas ele já havia sido "printado" por internautas. Manuela e os petistas dizem que o incêndio foi resultado do teto dos gastos e do "austericídio", mas o Museu Nacional está sob responsabilidade da UFRJ, que tem autonomia financeira e administrativa para gerenciá-lo. O reitor da UFRJ, Roberto Leher, é filiado ao PSOL de Boulos. Também fazem parte do PSOL outros dirigentes da Universidade". O tiroteio começou A orquestra de comunicação da campanha começou a tocar hinos laudatórios de candidatos e brados de guerra contra adversários. Como se previa, cada candidato promete ser o melhor, aquele que possui as melhores propostas para o país. Concentram forças e desenvolvem esforços, nesse início de campanha, no Sudeste, particularmente em São Paulo, com seus 33 milhões de eleitores. Desta feita, vemos uma cobertura de imprensa mais intensa, com as agendas dos principais candidatos sendo diariamente expostas. Ou seja, o discurso chega ao eleitorado. Impacto Os filmetes de desconstrução de perfis chamam a atenção. Dois deles partem da equipe de campanha de Alckmin e tentam atingir Jair Bolsonaro. Um deles resgata diálogos agressivos do candidato com a deputada Maria do Rosário (PT-RS) e com uma jornalista. Os episódios, com expressões ríspidas, procuram mostrar como Bolsonaro trata as mulheres. Donde vêm as perguntas: "você gostaria de ser tratada assim? Que sua mãe fosse tratada assim? Que sua filha fosse tratada dessa forma? Você gostaria de ter um presidente que trata as mulheres como Bolsonaro trata?" À bala A resposta dos Bolsonaro veio logo. "Sr. Geraldo Alckmin, vulgo 'merenda', essa é a mensagem que o Brasil precisa. Necessitamos de homens e mulheres para botar ordem nesta baderna que pessoas como o senhor insistem em perpetuar", respondeu Eduardo Bolsonaro, o deputado filho do candidato em tuíte acompanhado de um vídeo ironizando o filme de Alckmin. No vídeo, uma bala perfura vários objetos e estanca perto da cabeça de uma criança, com os dizeres "não é na bala que se resolve" - clara referência à proposta de Bolsonaro de liberar o porte e o uso de armas no país. "Vamos mudar o sistema corrupto, nem que seja na bala", completa Eduardo. Foco está errado? Geraldo Alckmin está certo em escolher como alvo, nesse momento, o candidato Bolsonaro? Ao que se sabe, essa estratégia deve ter sido testada por pesquisas com grupos. Ora, sabemos que tais pesquisas tomam o rumo que alguns "iluminados" querem, a partir de perguntas que invariavelmente conduzem às respostas desejadas. O fato é que Bolsonaro é mais fácil de ser derrotado em um segundo turno do que o candidato do PT, adversário histórico do PSDB. PT como alvo O PT é o responsável pelo desastre que abala o país desde o mensalão. A maior recessão econômica da história brasileira foi perpetrada pelo ciclo lulo-dilma-petista. Alckmin deveria assumir a posição de adversário número 1 do petismo. Para tanto, precisa deslocar Fernando Haddad, tirando sua chance de ser o opositor de Bolsonaro no segundo turno. Mais eficaz seria um ataque massivo ao petismo, pelo menos nesse momento. 5 horas de reunião O Comitê Político/Eleitoral do PT, sob comando de Fernando Haddad, teve uma reunião de horas, ontem, com Lula em seu escritório na prisão da PF em Curitiba. Acompanharam Haddad os advogados Cristiano Zanin, Valeska Zanin, Eugênio Aragão e Luiz Eduardo Greenhalgh. Impedida de ver Lula como advogada, Gleisi ficou do lado de fora da PF. Só mesmo no Brasil algo tão inusitado. Sinais claros: 15 de setembro Em meados deste mês, poderemos ter sinais mais claros da tendência eleitoral. Duas semanas de programa eleitoral devem nortear os rumos das candidaturas. Os nomes dos protagonistas serão conhecidos, seus discursos serão ouvidos e tudo indica que haverá movimento de ascensão e queda de posição. A dúvida que se apresenta mais forte, hoje, envolve as possibilidades do tucano Geraldo Alckmin, que dispõe do maior tempo de rádio e TV. A audiência dos programas, a partir do dia 15 de setembro, tende a refluir para voltar a subir nas duas últimas semanas, ou seja, a partir de 25 de setembro. Por enquanto... Os cenários continuam sendo praticamente os mesmos, com chances de Bolsonaro, Haddad, Ciro Gomes, Alckmin e Marina de conseguir ingressar no segundo turno. O fato é que Lula fora do páreo põe uma camada de nuvens sobre a possibilidade de Haddad. Vai depender da grande transferência de votos do lulismo para o ex-prefeito de São Paulo no Nordeste. Já Alckmin dispõe da arma da mídia eleitoral. Será o mais exposto. Marina se movimenta e pode, também, herdar votos de Lula no Nordeste. Ciro vive sob a ameaça da língua solta. Meirelles, esse parece sem chances. De todo esse quadro, emerge a posição de liderança de Bolsonaro sem Lula candidato. Mesmo assim, há quem o veja fora do segundo turno por conta do seu curto tempo na mídia eleitoral. Por enquanto, sustenta a posição. A raposa e o leão "Um príncipe precisa usar bem a natureza do animal; deve escolher a raposa e o leão, porque o leão não tem defesa contra os laços, nem a raposa contra os lobos. Precisa, portanto, ser raposa para conhecer os laços e leão para aterrorizar os lobos". Conselho do velho Maquiavel, que arremata: "não é necessário ter todas as qualidades, mas é indispensável parecer tê-las". Pesquisa de banco Lula cai e empata com Bolsonaro em 21% no voto espontâneo, diz BTG Pactual. Em cenário com Haddad, militar tem 26%, Alckmin fica com 6% a 8%. O 1º levantamento de intenção de voto do banco BTG Pactual, realizado pela FSB Pesquisa, após o início da propaganda eleitoral na TV e no rádio indica uma queda acima da margem de erro no percentual de intenção de votos do ex-presidente Lula no cenário espontâneo, em que não são apresentados os nomes dos candidatos. Recurso no Supremo Ministro do STF que votou recurso de Lula no TSE não pode relatar pedido de liminar naquela Corte, o que deixará de fora os ministros Rosa Weber, Edson Fachin e Luís Roberto Barroso. O regimento diz que quem participou do julgamento eleitoral será excluído da distribuição da relatoria de recurso no STF. Testando a Justiça O PT não tem jeito. É mesmo um partido de contestação. Mesmo proibido de inserir Lula na programação como candidato, decidiu testar a Justiça Eleitoral. Optou por não adaptar programas de rádio para ver a reação dos juízes. Mas com a multa imposta pelo ministro Luiz Felipe Salomão, de R$ 500 mil por reprodução em caso de descumprimento, o partido deve fazer as adaptações, fazendo com que Lula apareça com 25% de tempo permitidos pela lei eleitoral e Fernando Haddad, que deve assumir a candidatura, com 75% do tempo. Napoleão e Sherman É bom recordar as lições de Napoleão. Que dizia: faire som thème em deux façons (fazer as coisas de dois modos). O general William Sherman, que comandou a campanha de devastação durante a Guerra da Secessão norte-americana, também lembrava: "Ponha o inimigo nos cornos de um dilema". Nunca um político deve trabalhar com uma única hipótese. Um candidato precisa dispor de algumas alternativas. Dilma senadora Recebo do grande advogado Adilson Dallari esta mensagem a propósito da polêmica levantada pela candidatura de Dilma Rousseff ao Senado. Há analistas que dizem ter havido jogo combinado entre o presidente da nossa mais alta Corte e o presidente do Senado, Ricardo Lewandowski e Renan Calheiros, na época do impeachment, para permitir à ex-presidente o exercício de seus direitos políticos. Dallari é enfático: "não houve mudança da lei, nem vai ficar por isso mesmo. Nos exatos termos do disposto no parágrafo único, do artigo 52 da Constituição Federal, a cassação do mandato do presidente da República implicará, automaticamente, na 'inabilitação', por oito anos, para o exercício de função pública". Registro dará problema Arremata o professor: "ao Senado compete apenas julgar se o presidente da República é culpado ou inocente da acusação de crime de responsabilidade, sem qualquer possibilidade de alterar a penalidade estabelecida pela CF. Aquela ação entre amigos serviu apenas para manter as mordomias da ex-presidente, mas vai dar problema, agora, quando do registro de sua candidatura ao Senado. Se o Tribunal Regional Eleitoral de Minas Gerais cumprir o seu dever, o registro da candidatura da Dilma deverá ser negado. A impugnação foi devidamente formalizada". Viabilidade Carlos Matus, cientista social chileno, em um magistral estudo sobre Estratégias Políticas, demonstra que a viabilidade de um ator na política tem a muito que ver com a estratégia e seus princípios fundamentais. Eis alguns princípios estratégicos: a) Avaliar a situação; b) Adequar a relação recurso/objetivo; c) Concentrar-se no foco; d) Planejar rodeios táticos e explorar a fraqueza do adversário; e) Economizar recursos; f) Escolher a trajetória de menor expectativa; g) Multiplicar os efeitos das decisões; h) Relacionar estratégias; i) Escolher diversas possibilidades; j) Evitar o pior; k) Não enfrentar o adversário quando ele estiver esperando; l) Não repetir, de imediato, uma operação fracassada; m) Não confundir "reduzir a incerteza" com "preferir a certeza"; n) Não se distrair com detalhes insignificantes; o) Minimizar a capacidade de retaliação do adversário.
quarta-feira, 29 de agosto de 2018

Porandubas nº 587

Abro a coluna com o mestre Inrique. I.N.R.I. - Iesus Nazarenus Rex Iudaeorum Conta Leonardo Mota que o mestre Henrique era reputado marceneiro nos sertões de Sergipe. Sua especialidade estava nas camas francesas à Luís Quinze. Quando o freguês achava que o leito era baixo, recebia a explicação de que a cama era francesa, mas era à Luís Quatorze; se havia queixa da excessiva altura, ficava sabendo que aquilo era cama francesa à Luís Dezesseis. O mestre Henrique pôs toda a sua ciência no Cruzeiro do patamar da igreja de Aquidabã. No topo do sagrado madeiro, o vigário da freguesia fizera o mestre Henrique colocar uma tabuinha com as letras I.N.R.I., iniciais de Jesus Nazareno Rei dos Judeus, a irônica inscrição latina de que a ruindade de Pilatos se lembrara na ignominiosa sentença de morte do filho de Deus. Decorrido algum tempo, um sertanejo sergipano, intrigado com a significação daquelas quatro letras, perguntou a um seu conhecido: - O que é que quererá dizer aquele negócio de INRI, que tem escrito em riba do Cruzeiro? - Você não sabe não? Ali falta é o Q-U-E. Esse QUE não cabeu na tabuinha: aquilo é a assinatura de quem fez, que foi o mestre INRIque... Sola de sapato Haja sola de sapato. Os candidatos estão nas ruas, cada qual fazendo percursos que incluem passagens por feiras livres, eventos tradicionais, como a festa do Peão de Barretos, selfies com eleitores e muita promessa. Quem está fazendo o maior barulho é mesmo Bolsonaro. Na arena de Barretos, passeou a cavalo, chapéu típico do rodeio, acenos à multidão e os verbos de ordem de quem garante que vai arrumar a bagunça. E tem muita gente que acredita nessa lorota. Discurso conservador O fato é que eleitores antes simpáticos a Geraldo Alckmin gostam do discurso conservador do candidato do PSL à presidência. Isso explica, em parte, a migração dos votos de Alckmin para o capitão que lidera as pesquisas em cenário sem o ex-presidente Luiz Inácio. Esse eleitorado acha que Bolsonaro representa melhor o sentimento anti-PT. Olhando para o bolso Os outros candidatos estão prometendo aliviar o bolso do eleitorado. Ciro, com sua promessa de retirar da lista do SPC quem estiver encrencado; Marina, prometendo amparar os aposentados com benefícios (não diz como); Alckmin, discorrendo sobre o acesso ao crédito para micro-empreendedores; Meirelles, ancorando-se na ideia de que é o homem providencial para tirar o Brasil da crise ("Chame o Meirelles"); Álvaro Dias, dizendo que não vai aceitar indicações políticas para cargos na administração Federal. Sinais da semana Ciro Gomes e Geraldo Alckmin, ao que se depreende das últimas pesquisas, estão estacionados em seus patamares abaixo de dois dígitos. Ciro aparecia como forte herdeiro dos votos de Lula. Marina é quem mais se beneficia. Haddad é a expectativa de poder do PT. Corre o Nordeste tentando falar o lulês, a linguagem que o povo entende, a partir do uso de metáforas e palavras simples. Só se atrapalhou em João Pessoa/PB, quando disse ter ficado encantado com o "pilotis" do clube Cabo Branco. O povão boiou. Que diabo é isso? Uma coisa parece certa: Haddad deve herdar boa fatia dos votos de Lula. Já não é descartável para o 2º turno. E, nas apostas que começam a ser feitas, aparece no primeiro cenário disputando com Bolsonaro. Haddad versus Bolsonaro Pois bem, as conversas começam a tomar forma e posição dos interlocutores. Nos setores médios, onde estariam concentrados os eleitores de Geraldo Alckmin, já é comum ouvir-se: "se o 2º turno abrigar Haddad e Bolsonaro, não terei opção; votarei no petista". A polarização se acende. Os bolsonarianos, por sua vez, apostam nas posições extremadas do capitão e abrem locução feroz nas redes sociais. A fogueira está subindo. A recíproca é verdadeira. Grupos da classe média C, proprietários rurais, pequenos comerciantes também acentuam: "se Haddad chegar ao 2º turno contra Bolsonaro, acompanharão o militar". As abordagens de campanha A partir de 31 de agosto, estaremos submetidos, durante 35 dias, a uma bateria de mensagens de cunho eleitoral, que se desdobrarão em três vértices: a) a glorificação de candidatos, com ênfase no potencial do "EU" e slogans de arremate: eu fiz, eu faço, eu farei; b) a demonização do ELE, que tentará desconstruir adversários, tendo como linha de argumentação o despreparo, a ameaça ideológica/retrocesso que ele representa; c) a administração de altas taxas de rejeição, quando se verá o esforço quase desesperado de candidatos para reverter posição aferida por pesquisas e garantida pela assertiva: neste fulano não voto de jeito nenhum. Qual será a mais eficaz? Desconstrução Há casos em que a estratégia de desconstrução do perfil do adversário dá certo. Vejam este. Lyndon Johnson, candidato democrata a presidente em 1964, foi o primeiro a pagar anúncios para desmoralizar o rival Barry Goldwater. Uma menina no campo desfolhava pétalas de uma margarida, enquanto as contava uma a uma, até que, chegando ao dez, uma voz masculina começava a reverter a contagem. Na hora do zero, sob um ruído ensurdecedor, via-se na tela uma nuvem de cogumelo, simbolizando a bomba atômica, e a voz de Johnson: "Isto é o que está em jogo - construir um mundo em que todas as crianças de Deus possam viver ou, então, mergulhar nas trevas. Cabe a nós amar uns aos outros ou perecer". O arremate: "Vote em Lyndon Johnson. O que está em jogo é demais para que você se possa permitir ficar em casa". Em nenhum momento se mencionava Goldwater. O anúncio saiu apenas uma vez, mas as TVs o repetiram. O falcão republicano foi massacrado. Wallace, o racista A mistificação é uma arma do palanque. George Wallace, governador do Alabama, foi um político que encarnou o escopo da segregação racial. É dele a frase que passou para a história: "segregação agora e segregação sempre". Opunha-se à política de integração racial na Universidade do Alabama, pondo um repto ao então presidente dos Estados Unidos da América, John Fitzgerald Kennedy, por ocasião da aplicação da ordem judicial que obrigava a Universidade a matricular e permitir a assistência às aulas de Vivian Malone e John Hood. Deixou o Partido Democrata e se candidatou, em 1968, pelo partido Independente Americano à presidência dos EUA. Retornou ao Partido Democrata após sua derrota e em 1970 foi eleito novamente governador do Alabama. Em 1972, outra vez nas fileiras do Partido Democrata, foi candidato, mas acabou se afastando da disputa após sofrer uma tentativa de assassinato. Tentou de novo concorrer em 1976, sem êxito. O farsante Pois bem, candidato à presidência, usava um palanque alto, cercado por uma proteção de vidros à prova de bala, para evitar atentados. Usava uma armação de óculos para passar a ideia de pessoa compenetrada. Um dia, em um comício, esqueceu que a armação não tinha lente. Colocou o dedo no olho para tirar um cisco. Enfiou o dedo pelo buraco da armação. Nesse momento, um fotógrafo flagrou a mentira. Dia seguinte, a manchete denunciava: "Eis o grande mentiroso". O impacto negativo tirou-o do pleito. Começou aí o despenhadeiro político. Rádio e TV, a grande expectativa Enquanto as projeções e os cenários se multiplicam, incendiando as conversas, uma grande interrogação emerge: qual será o papel do rádio e da TV na influência do eleitor? Bolsonaro terá parcos oito segundos, contra mais de cinco minutos de Alckmin. O capitão segurará sua alta intenção de voto, ao ser massacrado pela mídia eleitoral do tucano, que terá, ainda, grande planilha de spots publicitários ao longo do dia? Já o PT, mesmo com um número bem menor de inserções, não ficará ao léu, eis que disporá de razoável carga comunicativa na programação eleitoral. Aqueles que devem sofrer com o pouco tempo, entre os chamados candidatos com mais força eleitoral, são Ciro Gomes e Marina Silva. As redes sociais Outra pergunta recorrente: as redes sociais influenciarão o eleitor? Este consultor tem recorrido à mesma resposta: animam a militância, mobilizam os exércitos dos candidatos, mas não chegam a puxar contingentes eleitorais. O que se percebe é um tiroteio recíproco entre guerreiros de um lado e de outro, com baleados dos dois lados. Puxar eleitores na esteira das ondas expressivas das redes, isso não ocorre. Não se deve creditar muito poder às redes sociais. Já os spots publicitários terão maior influência junto ao eleitorado que os programas eleitorais cheios, a serem veiculados no princípio da tarde e às 20h30. Por que Alckmin não decola? Geraldo Alckmin disporá do maior tempo na programação eleitoral, fechou o maior arco de alianças partidárias, conta com imensa estrutura dos partidos que o apóiam em todos os Estados da Federação. Sendo assim, por que não decola? É cedo para responder à questão. Primeiro, a campanha de comunicação só terá início em 29 de agosto. Nos 10 primeiros dias, saberemos se a força da comunicação televisiva e radiofônica será decisiva. Social-democracia repartida Mas urge reconhecer que os tucanos padecem de uma crise de identidade. O espaço da social-democracia foi repartido por entes que passaram a usar seus escopos - o Estado do bem-estar social, liberalismo econômico, Estado de tamanho adequado para cumprir suas funções, com capacidade de intervir na economia, quando necessário, etc. O que distingue, hoje, os tucanos de outros quadros políticos? Quatro mandatos A respeito de Alckmin, mais uma pergunta: depois de governar anos a fio - quatro mandatos - por que Geraldo está perdendo para Bolsonaro em São Paulo? Lembrando: O primeiro governo foi entre 2001 e 2006; Alckmin era vice de Mário Covas e, com a morte do titular, em 2001, assumiu o cargo, no qual em 2002 se elegeu ficando no governo até 2006. O segundo momento se dá entre 2011 até 2014, quando ele foi eleito em 2010. Reeleito em 2014 com 57% dos votos para um quarto mandato de 2015 até 2018, quando renuncia. Alckmin está ainda coberto pela mancha do desgaste de material. Quem não crê em nada "Quando um homem vem me dizer que não crê em nada e que a religião é uma quimera, faz com isso uma confidência muito ruim, pois devo ter, sem dúvida, ciúme de uma terrível vantagem que ele tem sobre mim. Como? Ele pode corromper minha mulher e minha filha sem remorsos, enquanto eu seria impedido de fazer o mesmo por medo do inferno! A disputa é desigual. Que ele não creia em nada, com isso posso consentir, mas que vá viver em outro país, com aqueles que se lhe parecem, ou, pelo menos, que se esconda, e que não venha insultar minha credulidade". Montesquieu em seus Escritos.
quarta-feira, 15 de agosto de 2018

Porandubas nº 586

Abro a coluna com o magistral Padre Vieira. Um truque O Padre Antônio Vieira, o célebre pregador, escritor, político e diplomata jesuíta, subindo certa vez ao púlpito, iniciou estranhamente o seu sermão exclamando: - Maldito seja o Pai!... Maldito seja o Filho!... Maldito seja o Espírito Santo!... E quando a assistência, horrorizada, pensava que o grande orador houvesse enlouquecido, ele tranquilamente prosseguiu: - Essas, meus irmãos, são as palavras e as frases que se ouvem com mais frequência nas profundezas do inferno. Houve um suspiro de alívio no templo, mas com esse recurso teve Vieira despertada e presa a atenção dos fiéis como poucas vezes, por outra via, houvera conseguido. Bolsonariando A onda Bolsonaro continua forte. Agora, não são apenas eleitores das margens que expressam voto no capitão. Até empresários de calibre estão anunciando que nele votarão. Pelo andar da carruagem, a bolsonarização do país é fruto do estado de violência e da bagunça que toma conta do país. A crônica da morte violenta se expande pelo território, a denotar o avanço da criminalidade. No Rio de Janeiro, a guerra das gangues assume proporções fantásticas. O próprio Jair Bolsonaro aparece em vídeos que mostram membros de grupos criminais agindo nas ruas. E ele no papel de xerife. Fatores do voto O voto do grupo que ainda não sabe em quem votar e os indecisos fazem a maioria do eleitorado de 147 milhões de eleitores. Esses contingentes vão decidir mais tarde. Mas serão influenciados por um conjunto de fatores, a saber: a) o estado da economia (equação BO+BA+CO+CA - Bolso, Barriga, Coração, Cabeça; b) o discurso da ordem contra a violência e a bagunça; c) as demandas mais prementes (saúde, emprego, educação, etc.); d) a esperança encarnada pelo perfil; e) o recall do passado (lembrança do candidato); f) a taxa de indignação contra os políticos; g) a proximidade do candidato; h) o tempo de exposição do candidato na mídia eleitoral e i) a maneira de apresentação/modo de falar (discurso estético). Quatro blocos Os 13 candidatos podem ser agrupados em quatro (4) blocos: 1) centro e centro direita - Alckmin, Álvaro Dias, Meirelles, Amoedo e Eymael; 2) centro e centro esquerda - Ciro, Marina e Goulart Filho; 3) Direita - Bolsonaro e Cabo Daciolo; e 4) Esquerda - Boulos, Lula (Haddad) e Vera Lúcia. No arco ideológico, esses blocos ganham as seguintes percentagens: direita, 30%; esquerda, 30%; centros (esquerda e direita), 40%. Votos regionais Se fatiarmos o Brasil nas cinco regiões, poderemos ver essa divisão: a) Sudeste tem 43,38% dos votos ou 63.902.486; Nordeste agrega 26,62% dos votos, significando 39.222.155; Sul possui 14,52% dos votos, com 21.396.027; Norte tem 7,83% dos votos, com 11.533.833; Centro-Oeste agrupa 7,29% dos votos, com 10.747.115 dos votos; e exterior, 0,35% dos votantes, com 500.728 eleitores. Tipologia Tentando decifrar a natureza desses votantes, podemos, regra geral, estabelecer algumas distinções, a saber: a) o voto do Sudeste é mais racional, independente, mas as margens sociais também tendem a dar um voto populista/messiânico; b) o voto das regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste é mais conservador, ainda contendo alta taxa de votos de cabresto, a par do tradicional voto em salvadores da Pátria, portanto, de fundo emotivo; c) Já o voto do Sul tem um cunho mais regional/nacionalista, a par do voto racional. Profissionais liberais Estamos vivenciando o I Ciclo da Campanha, com o início da presença de candidatos nas ruas. Esta será uma típica campanha de articulação com a sociedade organizada, eis que as massas estão dispersas e ainda sem rumo a tomar. Daí emerge a força do contingente de profissionais liberais e das entidades a que são associados. Esse grupo é, por excelência, o que melhor toca a tuba de ressonância. Seu som chega aos redutos mais longínquos. As classes médias fazem repercutir seu discurso para cima e para baixo da pirâmide social. Formam a pedra que bate no meio do lago, fazendo com que as marolas cheguem até às margens. Os militantes A militância organizada ou profissional, como as do PT, CUT e MST, terá nessa campanha importância vital. O bumbo que tocará tem o dom de energizar ambientes e plateias. Teremos os bumbos da esquerda e da direita. Os candidatos do centro contarão com tambores mais fracos, que não têm o poder de mobilização quanto alas dos extremos do arco ideológico. Minas Gerais O Estado de Minas Gerais é uma grande representação do Brasil. Abarca o segundo maior eleitorado brasileiro, mais de 16 milhões de eleitores. Ali, PT e PSDB entrarão em forte confronto. O que acontecer no largo espaço das Minas Gerais tende a acontecer no país. Fernando Pimentel, do PT, ganhará do senador Antônio Anastasia, do PSDB? O que se sabe é que Dilma Rousseff está liderando a corrida para o Senado. Anastasia parece ter condições de levar a melhor na esteira de denúncias que sujam a imagem do governador Pimentel. Aécio, também de imagem suja, será candidato a deputado. A estratégia do PT Ao arrastar a candidatura de Lula até quando der (prazo fatal será 17 de setembro), o PT enfrenta riscos. Poderá não haver tempo suficiente para a visibilidade nacional do vice de Lula, Fernando Haddad, que, isolado, tem hoje 2%. Quando indicado por Lula, sobe para 12%. E se essa indicação não for tão percebida pelo eleitor? Jaques Wagner, candidato do PT ao Senado pela Bahia, tem razão. O PT cometerá a barbaridade de apostar no candidato Lula, quando todos os sinais mostram que ele será jogado na inelegibilidade da lei de Ficha Limpa. Renovação 10% dos deputados Federais vão ter seus nomes substituídos por familiares: filhos, pais, primos, sobrinhos, etc. A tão proclamada renovação não aparecerá na próxima legislatura. Os mais conhecidos e os mais providos financeiramente serão os beneficiados na onda de uma campanha mais curta - 45 dias de rua e 35 dias de mídia eleitoral. Governabilidade Haverá governabilidade caso um perfil de índole muito radical chegue ao poder central? Sim. Porque quem ganha a presidência da República logo se afastará da extremidade para pular na condição de viabilidade governativa garantida pela real politik. Ou seja, fará alianças com Deus e o Diabo. O passado bombástico irá para o baú. Se não fizer isso, qualquer que seja o eleito, ao escorregar em casca de banana, poderá ser impichado. Militares na política A campanha eleitoral deste ano reunirá o maior número de candidatos militares dos tempos de redemocratização: 90. Chama a atenção a quantidade de convocados para compor chapas majoritárias aos governos estaduais. Em São Paulo, duas tenentes coronéis comporão como vices as chapas do governador Márcio França (PSB) e do presidente licenciado da FIESP, Paulo Skaf (MDB). No Paraná, a governadora Cida Borghetti (PP) terá como vice um coronel aposentado da PM. O significado Qual a razão? O ambiente de deterioração que acolhe a esfera política. A lama da corrupção tem escorrido sobre os vãos e desvãos da República, afogando protagonistas da política, da burocracia estatal e do mundo dos negócios privados. O mensalão e o petrolão (Lava Jato) compõem as duas grandes operações que, ao correr de meses, ganharam espaços midiáticos, plasmando a imagem destroçada de representantes, governantes, executivos e empresários. Pôr ordem na bagunça que virou o Brasil de ponta-cabeça, eis o apelo embutido no chamamento aos militares. Assumem conotação de profissionais sérios, de vida pacata na caserna e corajosa no cotidiano nas ruas, combatendo máfias criminosas, ainda mais quando a violência se expande nas cidades e nas áreas rurais. É o que explica Bolsonaro Deputado alvejado de críticas ao longo de 30 anos de mandato, conhecido por frases fortes, algumas de caráter machista, homofóbico e xenófobo, Bolsonaro não frequentava o ranking de representantes respeitados. Foi catapultado ao andar de cima do protagonismo eleitoral na esteira do clamor social por limpeza na política. De repente, o acervo discursivo do capitão, considerado folclórico e de baixo nível, passou a ganhar aplausos de todos os lados. A malandragem O general Mourão, vice de Bolsonaro, atribuiu aos negros a pitada de "malandragem" na cultura brasileira. General, malandro teria sido o colonizador Pero Vaz de Caminha. Veja o finalzinho da Carta de Pero Vaz a El Rei de Portugal. "E nesta maneira, Senhor, dou aqui a Vossa Alteza conta do que nesta terra vi. E, se algum pouco me alonguei, Ela me perdoe, pois o desejo que tinha de tudo vos dizer, mo fez por assim pelo miúdo. E pois que, Senhor, é certo que, assim neste cargo que levo, como em outra qualquer coisa que de Vosso serviço for, Vossa Alteza há de ser de mim muito bem servida, a Ela peço que, por me fazer graça especial, mande vir da Ilha de São Tomé Jorge de Osório, meu genro - o que dela receberei em muita mercê." E conclui Caminha: "Beijo as mãos de Vossa Alteza. Deste Porto Seguro de Vossa Ilha de Vera Cruz, hoje, sexta-feira, primeiro dia de maio de 1500. Pero Vaz de Caminha". Um pedido aqui, um oba-oba acolá e tome bajulação.
quarta-feira, 8 de agosto de 2018

Porandubas nº 585

Abro a coluna com a Semana Santa no interior da Paraíba. Fura ele, Jesus Foi por ocasião da encenação da Semana Santa numa cidadezinha da Paraíba. O dono do circo resolveu encenar a Paixão de Cristo na sexta-feira santa. Elenco escolhido dentre os moradores. No papel de Cristo, o galã da cidade. Ensaios de vento em popa. Às vésperas do evento, o dono do circo soube que 'Jesus' estava de caso com sua mulher. Furioso, deu-se conta que não podia fazer escândalo sob pena de perder o investimento. Bolou uma maneira. Comunicou ao elenco que iria participar fazendo o papel do 'centurião'. - Como? - reclamaram - Você não ensaiou! - Não é preciso ensaiar, porque centurião não fala! O elenco teve de aceitar. Dono é dono. Chegou o grande dia. Cidade em peso compareceu. No momento mais solene, a plateia chorosa e em silêncio. Jesus carregando a cruz. O 'centurião' começa a dar-lhe chicotadas. - Oxente, cabra, tá machucando! Reclamou Jesus, em voz baixa. - É pra dar mais verdade à cena - respondeu o centurião. E tome chicotada. Chicote comendo solto no lombo do infeliz. Até que Jesus enfureceu-se, largou a cruz no chão, puxou uma peixeira e partiu pra cima do centurião: - Vem, desgraçado! Vem cá que eu vou te ensinar a não bater num indefeso! O centurião corria, Jesus com a peixeira correndo atrás. O povo em delírio gritando: - É isso aí! Fura ele, Jesus! Fura, aqui é a Paraíba, não é Jerusalém, não! Nuvens em dissipação Mês de agosto é mês do azar, mês do cachorro louco, como reza o ditado popular, mas nesse ano eleitoral é também o mês em que as nuvens começam a se dissipar nos horizontes da política. Com as convenções realizadas, parcerias formadas e nomes de vices escolhidos, o pleito entra no ritmo de campanha. Dia 16 de agosto, começa a campanha de rua e a propaganda via internet. Já a propaganda no rádio e na TV terá início em 31 de agosto e fim em 4 de outubro. 13 candidatos Com a saída de Manuela D'Ávila, cujo partido, o PC do B, fechou aliança com PT, serão 13 os candidatos: CANDIDATO VICE PARTIDOS DA COLIGAÇÃO Álvaro Dias (Podemos) Paulo Rabello de Castro (PSC) Podemos, PSC, PRP,PTC Cabo Daciolo (Patriota) Suelene Balduino Nascimento (Patriota) Patriota Ciro Gomes (PDT) Kátia Abreu (PDT) PDT, Avante Geraldo Alckmin (PSDB) Ana Amélia (PP) PSDB, PP, PTB, PSD, SD, PRB, DEM, PPS, PR Guilherme Boulos (PSOL) Sônia Guajajara (PSOL) PSOL,PCB Henrique Meirelles (MDB) Germano Rigotto (MDB) MDB, PHS Jair Bolsonaro (PSL) Hamilton Mourão (PRTB) PSL,PRTB João Amoêdo (NOVO) Christian Lohbauer (Novo) NOVO João Goulart Filho (PPL) Léo Alves (PPL) PPL José Maria Eymael (DC) Helvio Costa (DC) DC Luis Inácio Lula da Silva (PT) Fernando Haddad (PT) PT, PROS Manuela D'Ávila (saiu do páreo)     Marina Silva (Rede) Eduardo Jorge (PV) REDE,PV Vera Lúcia (PSTU) Hertz Dias (PSTU) PSTU Quatro blocos Um ligeiro exercício de análise de posicionamentos aponta quatro grupos de candidatos: o maior, reunindo o centro, que agrega os candidatos Geraldo Alckmin, Álvaro Dias, Henrique Meirelles, João Amoêdo e José Maria Eymael; o grupo de esquerda, com Guilherme Boulos, Lula (Fernando Haddad) e Vera Lúcia; o grupo de direita, abrigando Jair Bolsonaro e Cabo Daciolo; e o grupo de centro-esquerda, juntando Ciro Gomes, Marina Silva e João Goulart Filho. Mas há quem não aceite mais essa classificação. Duas posições O cientista político espanhol Manuel Castells, no Caderno Aliás, do Estadão, pontua que a grande questão "não é mais o embate entre direita e esquerda e sim de partidos democráticos (ainda que corruptos) contra uma coalizão neoautoritária apoiada por grupos de interesses ideológicos extremistas internacionais". Tem certa lógica. A rigor, não se trata da versão clássica entre direita e esquerda. Leitura comparativa Após a queda do Muro de Berlim, ficou difícil sustentar o escopo do socialismo clássico ou do comunismo, ainda mais quando seu principal partido, PT, afundou-se na corrupção, flagrado com outros nos dois maiores escândalos da atualidade: mensalão e Lava Jato. Portanto, a divisão que estamos fazendo sobre os quatro grupos leva em consideração os escopos temáticos dos partidos - mesmo não se sabendo o que todos pensam sobre a densa agenda nacional -, estando sujeita a objeções. Para o leitor, a inserção dos candidatos no arco ideológico ajuda a entender as diferenças entre uns e outros. Cenário I Façamos algumas reflexões. O primeiro cenário é o da polarização entre esquerda e direita. Trata-se da paisagem que coloca na arena de lutas o capitão direitista Bolsonaro e o substituto de Lula, no caso, Fernando Haddad. Esse cenário leva em consideração o poder de fogo do ex-presidente Luiz Inácio, significando transferência de votos. Haddad poderia chegar, por exemplo, aos 20%, índice satisfatório para ingressar no segundo turno. Bolsonaro sustentaria sua posição, tornando-se o comandante da artilharia contra o PT e as esquerdas. As margens dividiram seus votos entre os dois, mas as classes médias revoltadas tenderiam a caminhar na direção de Bolsonaro, visto como um "antídoto" ao PT. Cenário II O segundo cenário é o que mostra a clássica competição entre PSDB e PT. Nesse caso, o tucano Geraldo Alckmin seria guindado ao segundo turno, deslocando, assim, o candidato Bolsonaro. O PT garantiria seu nome. Nesse caso, o voto racional seria direcionado ao ex-governador de São Paulo. Esse voto racional seria o voto de contingentes das classes médias, que não gostariam de ver um perfil da extremidade do arco ideológico governando o país. In medium virtus. A virtude está no meio. Esse lema pode explicar o cenário. Ademais, a chapa totalmente militar de Bolsonaro - com um vice que é general aposentado e radical - causa certo temor: o de vermos novamente um general no comando da Nação. Cenário III O terceiro cenário coloca no segundo turno o candidato tucano, Alckmin, contra Bolsonaro. Nesse caso, a opção eleitoral exclui o PT e abre o embate entre o eleitor emotivo do capitão e o eleitor racional do Alckmin. As margens e classes médias indignadas fechando com o militar e as classes médias-médias apostando em um perfil representando maior equilíbrio. Esse cenário leva em consideração o fato de que o eleitorado de Bolsonaro se manterá firme até o final, enquanto Alckmin, com estrutura partidária capilar e grande exposição na mídia eleitoral avançaria sobre eleitores de Ciro, Marina e Álvaro Dias. Cenário IV O temor social contra os extremos - Bolsonaro e Haddad - conduziria o voto para espaços centrais, o centro e o centro-direita do ex-governador paulista contra o perfil de centro-esquerda assumido pelo ex-governador cearense Ciro Gomes. No segundo turno, Ciro levaria os apoios de toda a esquerda, enquanto Alckmin ganharia o apoio de fortes contingentes centrais e os blocos conservadores da direita. Cenário V Esse é o cenário que colocaria Bolsonaro contra Ciro Gomes. O eleitorado não gostaria que PT e PSDB voltassem ao Palácio do Planalto, e decidiria trazer para a frente de lutas os candidatos de linguagem contundente, a chapa militar do capitão e do general Mourão e o ex-ministro de fala destemperada. Seria uma disputa com alta concentração de artilharia entre os competidores. Marina e Meirelles A candidata Marina Silva, mesmo vestindo o figurino mais ético, será tragada pelos candidatos com maior poder de fogo no campo midiático-eleitoral. Marina recolheu-se ao seu refúgio, na Rede Sustentabilidade, fechando portas para parcerias. Em política, tudo é possível, até um milagre que possa entronizar a amazônica figura no altar presidencial. Cenário sonhático. Já Henrique Meirelles trará o discurso sobre a redenção do país. Dirá que livrou o Brasil da maior recessão de sua história. Este consultor continua inserindo o candidato do MDB nas improváveis hipóteses. Fatores de influência I Um conjunto de fatores balizará a tomada de decisão do eleitor. Apresento alguns (a ordem de apresentação não quer significar mais força ou fraqueza): 1. Economia - o estado de satisfação social, que se pode resumir em minha tradicional equação: BO+BA+CO+CA= Bolso, Barriga, Coração, Cabeça, ou seja - Bolso cheio, Barriga satisfeita, Coração agradecido, Cabeça votando em quem propiciou bem-estar; 2. Ordem contra a bagunça (a corrupção); 3. Esperança - o candidato que melhor incorpora o espírito social, melhor atende às expectativas da sociedade; 4. Recall do passado - Associação com figuras/perfis que proporcionaram bem-estar. Fatores de influência II 5. Taxa de indignação/ódio - Como estarão os ânimos sociais na primeira semana de outubro? A campanha alimentou ou amainou o ódio entre grupos, militantes, bases eleitorais? Algum fenômeno de alto impacto social ocorrido durante a campanha; 6. Tempo de Exposição - O espaço midiático-eleitoral dos candidatos tem importância. Alguns, com poucos minutos, serão canibalizados pelos candidatos com maior tempo de exposição. Renovação Não será desta feita que veremos renovação política no Congresso. Essa meta ficará para as eleições de 2022, quando o país avançar com sua reforma política, objeto de retalhos e fatiamento. Tiririca Depois de desistir da reeleição, o palhaço Tiririca se arrependeu e decidiu voltar à Câmara. Viu que o mar não está pra peixe. O mercado do riso está encolhido. E, ao que dizem seus críticos, o riso dele está fora de moda. Melhor ser deputado e ter direito a um bom salário. Melhor do que está sempre fica.
quarta-feira, 1 de agosto de 2018

Porandubas nº 584

Abro a coluna com uma historinha de Pernambuco. Cala a boca, rapaz O caso deu-se em São Bento do Una/PE, nos idos de 60. O caminhão, entupido de gente, voltava de um jogo de futebol, corria muito, virou na curva da estrada. Foram todos para o hospital. Uma dúzia de mortos. Lívio Valença, médico e deputado estadual do MDB, foi chamado às pressas. Pegou a carona de um cabo eleitoral, entrou na sala de emergência do hospital e foi examinando os corpos: - Este está morto. Examinava outro: - Este também está morto. O cabo eleitoral se empolgava: - Já está até frio. De um em um, passaram de 10. Lá para o fim, dr. Lívio examinou, reexaminou, decretou: - Mais um morto. O morto gritou: - Não estou morto não, doutor, estou só arrebentado. O cabo eleitoral botou a mão na cabeça dele: - Cala a boca, rapaz. Quer saber mais do que o dr. Lívio? Luz no fim do túnel? Será que há alguma luz no fim do túnel eleitoral? A essa altura, a pouco mais de dois meses das eleições, o único fato novo de certo impacto é o apoio do chamado Centrão ao candidato Geraldo Alckmin. Que terá quase cinco minutos no tempo da programação eleitoral. Essa parceria poderá alavancar a performance eleitoral de Alckmin? A lógica responde com um sim. Sob a ressalva: a resposta abriga também um não. Explicando a luzinha A resposta com sim se ancora em três hipóteses: a) o eleitorado indefinido - que está na faixa dos 45% - começará a descer do muro e, composto por fortes contingentes de classes médias, poderá provocar a "onda racional", mais voltada para a escolha de um candidato do meio do arco ideológico; b) a performance de Lula não ocorrerá porque acabará sendo vetado pelas Cortes (STJ ou TSE); c) a performance de Bolsonaro murchará ante seu evidente despreparo. 1ª hipótese As classes médias conservam o poder de fazer circular seu ideário para cima e para baixo da pirâmide social. Podem ser comparadas à pedra jogada no meio do lago; ondas se formam, correndo até as margens. As classes médias abrigam os grupos com tuba de ressonância mais forte. As classes menos desenvolvidas politicamente tendem a escolher perfis populistas. Lula e Bolsonaro vestem esse figurino. Se a performance de Bolsonaro começar a murchar, é previsível que parcela considerável das massas abandone seu território. Sob forte peso da opinião formada no meio da pirâmide. 2ª hipótese A estratégia do PT, de sustentar o nome de Lula até a data final da decisão do TSE - 17 de setembro -, prejudicará a formação de parcerias, mas pode vir a alavancar o substituto de Lula. Este nome, ao que tudo indica, será o de Fernando Haddad. Jaques Wagner, mais político, prefere contar com a quase certeza de vitória para o Senado, na Bahia. Haddad, sob o clima emotivo expandido pela militância petista, terá condições de subir a um patamar entre 15% e 20%. Nesse caso, não está fora do jogo eleitoral, podendo disputar o segundo turno. Lula, com suas cartas e recados, será o grande eleitor do PT. 3ª hipótese A performance de Bolsonaro será vista por eleitores de todos os quadrantes. Ver-se-á uma figura comum, sem brilho, expressando um discurso duro contra a bandidagem, defendendo o porte de armas, fazendo loas ao liberalismo e fugindo de perguntas provocadoras. Foi o que se viu, segunda-feira, no programa Roda Viva, da TV Cultura. Não se viu brilho ou tirada inteligente. Apareceu uma figura cheia de cacoetes linguísticos, uma expressão pobre, justificando os tempos de chumbo vividos pelo país. Para todas as perguntas de caráter programático, vinham respostas emolduradas pelo "achismo". Mais pareceu conversa de botequim entre opostos tomando uns birinaites. Tempo eleitoral O tempo de um candidato na programação eleitoral conta muito. Mas não é sempre que dá certo. Na campanha de 1989, Ulisses Guimarães tinha o maior tempo eleitoral. Ficou para trás. Já o maior tempo de rádio e televisão de toda a história dos pleitos no país, em todos os níveis, foi usado por Quércia, em São Paulo. Candidato ao Senado, em 2002, abusou do espaço dos candidatos a governador, deputado Federal e deputado estadual. Em termos de GRP (Gross Rating Point), que dimensiona o tamanho das inserções publicitárias e a equivalência em termos de audiência, a campanha quercista bateria as campanhas anuais de campeões brasileiros de propaganda. Voto racional O eleitor, porém, não "comprou" a mercadoria quercista, na demonstração inequívoca de que mídia não elege candidato e de que, mesmo com muita cosmética, candidato de perfil corroído não coopta consciência. Vitória do voto racional. Ficou atrás de Aloizio Mercadante e Romeu Tuma. E na campanha de 1994, com enorme tempo de TV, candidato à presidente, Quércia ficou em 4º lugar, atrás de FHC, Lula e Enéas, cujo tempo apenas permitia gritar seu nome. O voto em Enéas O voto em Enéas foi de protesto. A onda "Enéas" teve tanto um componente emotivo quanto racional, indicando a contrariedade de eleitores dispersos que, de repente, acharam um motivo para se rebelar contra a situação. A barba e a careca de Enéas, como logotipos, e o linguajar disparado reforçaram a visibilidade de um ícone de indignação social. Mais do que "cacareco", um rinoceronte que ganhou 100 mil votos dos paulistanos para se eleger vereador, em 1959, ou o Macaco Tião, que ganhou 400 mil votos para prefeito, no Rio de Janeiro, em 1988, Enéas, como médico e professor de medicina, sabia o que queria. Abriu espaços para uma ideologia de certo sabor "nacionalista-ufanista-messiânica". Pode até ter sido um engodo e motivo para corrigir as distorções existentes no conceito de coeficiente eleitoral, mas seu voto saiu de estratos diferenciados. Redes sociais Bolsonaro é o mais acompanhado pelas redes sociais. Ganha de goleada de Lula, Alckmin, Ciro e outros. Seus exércitos usam o arsenal das redes sociais para incutir o adesismo. Ora, essa militância é incapaz de agregar um voto a mais. Deverá terçar armas com guerrilheiros de outros competidores dentro de uma batalha de canibalização recíproca. Todos saem feridos. E nenhum guerreiro pulará para o campo do outro. Já os seguidores de outros candidatos assistirão a batalha nas arquibancadas. Os tiros dos radicais acabarão adensando os bolsões centrais. A conferir. Ciro na ladeira A onda cirista mostra certo arrefecimento. Confirma-se aquilo que já sabe: Ciro é um peixe que morre pela boca. A índole guerrilheira do ex-governador do Ceará é polêmica. Assusta. Depois de uma onda crescente, enxerga-se uma onda declinante. Não se sabe se essa descida de ladeira vai continuar. Ciro pode ser beneficiado pelo afastamento de Lula. Portanto, não se trata de carta fora do baralho. Trata-se de um perfil preparado. Domina bem a planilha de problemas brasileiros. Mas o homem não se contém. Mineirinhas Frases de Augusto Zenun, de Campestre, sul de Minas - político, industrial, filósofo e, antes de tudo, udenista ortodoxo da linha bilaqueana (Bilac Pinto, o Bilacão, seu dileto amigo). Sempre infernou a vida de seus adversários, com as suas atitudes destemidas e sua natural mineirice. "Quando estamos no governo, todo adversário que quer se encaixar, diz ser técnico". "O preço do voto de um eleitor mentiroso é sempre o mais caro". "Há um fato na política que a torna bastante interessante: o choque dos falsos políticos com os políticos falsos". "Político é dividido em duas partes. Uma trabalha para ser eleito. A outra trabalha para conseguir um cargo público se for derrotado". "Muita campanha eleitoral se parece com sauna: depois do calorão vem uma ducha fria". (Pinçadas de A Mineirice, de José Flávio Abelha) Marina isolada Já a candidata Marina Silva parece lutar para ficar na clausura. Uma freira. Sua Rede Sustentabilidade apoia, por exemplo, o senador Romário para o governo do Rio. Mas sem o apoio dela. Faz questão de dizer que seu partido apoia Romário, não ela. É a mais ética dos candidatos. Mas a ojeriza que tem pela real politik acabará fazendo naufragar sua postulação à presidência. Marina é a nossa colhedora de rosas brancas que enfeitam o jardim dos inocentes. Essa é a imagem que passa. Esquece ela que a política tem muito a ver com o inferno. Meirelles, peso muito pesado Henrique Meirelles é um quadro técnico. Assim é e será visto. Como tal, encaixa-se no figurino de ministro da Fazenda de qualquer governo. Transformá-lo em candidato à presidência da República é uma tarefa hercúlea. Meirelles tem fala arrastada, um jeitão de avô de todos os candidatos, um conselheiro que paira acima dos guerreiros das tribos políticas. No ambiente polarizado de nossa política, parece uma figura deslocada, que procura um rumo, um norte, um jeito de ser aceito pela comunidade eleitoral. Será difícil. E os vices? Eis o gargalo do momento: achar vices à altura. O vice não pode ser qualquer um. Precisa ter perfil denso: honesto, fora dos trambiques da Lava Jato, experiente, respeitado, pessoa que agregue valor à campanha. Ante as visitas que o Senhor Imponderável dos Anjos faz ao Brasil, o vice deve ser um perfil capaz de substituir o presidente em qualquer circunstância. Essa novela terá final em mais alguns dias. Janaína? Janaina Paschoal é, por enquanto, a mais forte candidata a vice na chapa de Jair Bolsonaro. As circunstâncias Pois é, o ambiente da campanha será temperado pelas circunstâncias. O clima de beligerância poderá ser quente, assombrando parcela dos eleitores. Inflação sob controle poderá preservar o bolso, mas se a coisa degringolar, a raiva induzirá a decisão de voto. A expressão de uns e outros será ouvida com mais atenção. As movimentações das militâncias podem animar candidatos e partidos, mas propiciarão despertar outros núcleos não tão engajados. Acidentes de percurso têm o poder de mudar o vértice eleitoral. O tirano Maquiavel conta no "Livro III dos Discursos", sobre os primeiros dez livros de Tito Lívio, a história de um rico romano que deu comida aos pobres durante uma epidemia de fome e que foi por isso executado por seus concidadãos. Argumentaram que ele pretendia fazer seguidores para tornar-se um tirano. Essa reação ilustra a tensão entre moral e política. Mostra que os antigos romanos se preocupavam mais com a liberdade do que com o bem-estar social.
quarta-feira, 25 de julho de 2018

Porandubas nº 583

Abro a coluna com uma historinha da Paraíba. Quatro "freis" Historinha em homenagem ao Frei Damião, sob as bênçãos de quem os nordestinos viveram parte de sua história. E lá vinha o carro desembestado pelas estradas poeirentas, entre Patos e Cajazeiras, na Paraíba. Dentro, dois frades: Frei Fernando e Frei Damião, cuja expressão religiosa é tão enaltecida quanto a do "padim" Ciço (Padre Cícero Romão Batista). O guarda do posto divisou, de longe, aquele automóvel em louca disparada. E foi logo fechando a cancela do posto. O motorista teve de se conformar com a freada brusca. O guarda foi duro: - Esse carro disimbestado não tem frei? Expliquemos que a fonética na região é essa mesmo: disimbestado e frei (em vez de freio). Resposta lacônica na ponta da língua: - Tem, sim, seu guarda. Tem logo quatro: frei de pé, frei de mão, Frei Fernando e Frei Damião. Surpreso e curioso, o guarda olhou e viu os "freis". Pediu a bênção ao Frei Damião, pediu desculpas, liberou o carro e abriu a cancela. As visões se clareando Sufocadas as expectativas em torno da Copa, com o senso mais crítico sobre a realidade, os brasileiros começam a enxergar os primeiros movimentos de pré-candidatos ao pleito presidencial. Sua vista ainda está ofuscada pela caótica moldura que se lhes apresenta: o candidato que lidera as pesquisas está preso; um dos candidatos menos preparado para enfrentar o debate nacional e com menos tempo de exposição na mídia eleitoral confessa ignorância em matérias centrais; os candidatos mais poderosos em recursos, experiência e com maiores parcerias- o que lhes dará ampla visibilidade - estão bem atrás. Situação atípica Alguns chegam a comparar a eleição deste ano com o pleito de 1989, quando muitos candidatos do centro e das margens se apresentaram. Collor acabou ganhando de Lula. Ulisses, com o maior tempo de rádio e TV, ficou a ver navios. É erro comparar uma eleição com outra: o tempo é outro, as circunstâncias são diferentes, a política não tinha tanto desgaste quanto hoje e o eleitorado não se via tão submetido a escândalos quanto hoje. Lembremos o ditado: "um homem nunca atravessa duas vezes um rio no mesmo lugar". Referências para comparação Este consultor, ao longo de mais de três décadas de análise política, desenvolveu e tem usado bastante o seu método de aferição e delineamento de perspectivas. Para tanto, agrega um conjunto de referências e traços, cuja aplicação nas planilhas de candidaturas costuma se transformar em seu raciocínio corriqueiro. Como não se trata de segredo, aqui posto algumas referências: 1. O eleitor De regiões menos desenvolvidas culturalmente, tende a votar em perfis tradicionais; em nomes da moda/momento; em candidatos mais próximos ao lugar onde reside; em candidatos que realizaram benefícios para sua região; e em nomes que venham bater em sua porta. O eleitor quer descobrir nesta eleição se o candidato escolhido não é um engodo. 2. Porte Este é um parâmetro usado, instintivamente, por conglomerados mais racionais das classes médias, como profissionais liberais, funcionários públicos, formadores de opinião, etc. Como é usado? Em seu processamento mental, o eleitor faz comparações para distinguir a força do candidato, o porte. Leva em conta a importância do cargo que está sendo disputado, digamos, o de presidente da República. Procura ver se o candidato se encaixa no tamanho do Brasil. Ou se o candidato entra melhor no figurino do Estado ou do município, ou seja, se tem gabarito para ser presidente, governador, deputado Federal ou deputado estadual. Digamos que ele compare uma régua de 100 cm - o tamanho do Brasil - com a altura do candidato. Teria ele a altura do país ou seria muito menor? 3. Mapa e território Seu sistema cognitivo assim processa: o Brasil tem o tamanho de 100 cm, mas o candidato só tem 80, 70 ou 30, digamos. Dessa forma, vai estabelecendo uma comparação entre os protagonistas. O eleitor, com essa operação mental, procura constatar se os candidatos estão à altura da identidade do Brasil. Se A, B ou C não chegam a se encaixar nesse desenho, por serem pequenos, tendem a ser descartados. É a diferença que pode existir entre mapa e território. O território, significando os candidatos, pode ser bem menor que o mapa. Ciro Gomes é um território que entra bem no mapa? Bolsonaro está à altura ou é menor? 4. Dissonância Quando o tamanho de um candidato é escancaradamente menor do que o tamanho do país, o eleitor dispara um processo de dissonância, dúvida, incerteza, que acaba jogando por terra o compromisso que, em um primeiro momento, assumira com determinado perfil. 5. Discurso A concordância e a dissonância derivam de alguns fatores, como o discurso: programas, propostas, ações, abordagens, pontos de vista, etc. O discurso é um ponto central pelo fato de significar o compromisso-mor de um candidato. Donald Trump construiu um discurso forte: a construção de um muro na fronteira entre México e EUA para barrar o processo migratório. Ganhou a eleição. Até hoje, a polêmica está instalada, mas seu eleitorado conservador-nacionalista aplaude. 6. Comunicação O discurso deve chegar a todos os contingentes centrais e periféricos. Daí a importância da mídia eleitoral nas campanhas, exigindo parcerias e alianças. Redes Sociais, sozinhas, não elegem candidatos. São armas da guerra entre militantes, agregando poucos eleitores. Daí a importância da propaganda eleitoral com sua capilaridade. 7. Articulação - fechando a corrente Articulação é a capacidade técnica de um protagonista - partido, candidato - fechar posição e buscar apoio do maior número possível de núcleos organizados da sociedade: movimentos, entidades de todos os espectros. Em função desse fenômeno em crescimento no Brasil - a organicidade social - os candidatos se sairão melhor caso assumam compromisso com os eleitores abrigados em seus centros de referência: movimentos, associações, sindicatos, núcleos, etc. A articulação sugere que o próprio candidato bata na porta do eleitor. Este ano, a modelagem é: campanha porta a porta, testa a testa, olho no olho, mão na mão. Antes que passemos a ver os pontos positivos e negativos dos candidatos, pausa para a descontração. "Poca bala" Interior de Uruguaiana, Vila do Açude. Boteco lotado. O cara entrou, fechou a porta e gritou: - Tô armado com uma pistola 9mm, dois carregadores com 12 balas cada um. - Quero saber aqui quem é que anda pegando a minha mulher? Depois daquele silêncio, seu Fagundes, alegretense do Caverá, 88 anos, lá do fundo levanta e diz: -Chê, não quero te dizer nada, mas acho que tu trouxe poca bala.... (Historinha enviada por um ícone da propaganda brasileira, meu amigo Roberto Dualibi) Pontos positivos e negativos Ligeiro painel com os aspectos positivos e negativos dos principais candidatos. Luis Inácio Aspectos Positivos Mito - O último líder populista - Alto recall - Grande visibilidade - Liderança maior do PT - Lidera todas as intenções de votos (chegando a 30% em algumas pesquisas) - Bom de palanque - Capacidade de mobilização - Capacidade de vitimização. Aspectos negativos - Preso, deverá ser impedido de candidatar-se; condenação pela Justiça. Recaem sobre ele e outra figuras do PT parcela dos relatos de coisas ilícitas, lá de trás do mensalão, e desembocando na operação Lava Jato. Jair Bolsonaro Aspectos positivos Maior ícone da extrema direita; visão nacionalista; grande visibilidade; encarna oposicionismo ao petismo. Tem 20% das intenções de votos. Discurso emocional de forte apelo popular (porta-voz da indignação); imagem de quem tem pulso para garantir a "ordem" no país; defesa da segurança pública como principal bandeira; livre, até o momento, de denúncias de corrupção; político mais influente nas redes sociais (5,3 milhões de seguidores no Facebook e 1 milhão no Twitter). Aspectos negativos Falta de conhecimento sobre assuntos como economia e políticas sociais; 29% de rejeição; 7 segundos de tempo de rádio e TV; inexperiência política no Executivo; dificuldade de articulação política (inexpressivo como parlamentar) e para fazer alianças; discurso e imagem de radical e intolerante; poucos recursos e tempo de rádio e TV no horário eleitoral; homofóbico, encarna o discurso da discriminação contra grupos na área de gêneros; desperta polêmica que sugere armamento da sociedade. Ciro Gomes Aspectos positivos Tem bom domínio da economia; visão do país, em função de cargos ministeriais assumidos e de já ter sido governador do Ceará e prefeito de Fortaleza. Bom formulador, capcioso debatedor de tema nacionais. Alto conhecimento no Nordeste. Aspectos negativos Destrambelhado, língua solta e ferina, queima possibilidades de alianças, gerando medo na classe política. Visão muito fechada sobre temas do agrado dos setores produtivos - reformas da Previdência, Tributária, Trabalhista, etc. Geraldo Alckmin Aspectos positivos Governador de São Paulo por três vezes, presidente do PSDB, ex-deputado Federal, com bom trânsito na área política, Alckmin leva a fama de ser habilidoso, suave, harmônico, de muito equilíbrio. Conta, em tese, com o maior eleitorado do país, São Paulo, com seus 35 milhões de eleitores; apoio do mercado financeiro; moderado e previsível em suas ações; peso eleitoral do PSDB em Estados e municípios e espaço para alianças partidárias; recursos financeiros e tempo de propaganda favoráveis (projeção de recursos do fundo eleitoral para o PSDB: R$ 185,8 milhões; e quase 5 minutos no bloco partidário para uso no rádio e TV. Aspectos negativos Falta-lhe contundência, capacidade para ser mais incisivo (um murro na mesa), que compunha a coluna vertebral do falecido governador Mário Covas, a quem Alckmin serviu na gestão e com quem muito aprendeu. Comenta-se sobre sua postura (a dos tucanos, como se comenta) de ficar em cima do muro. Henrique Meirelles Aspectos positivos Foi o mestre do programa econômico do atual governo, merecendo loas pelo controle da inflação, juros baixos e resgate (apesar de ainda muito suave) da economia, após a maior recessão da contemporaneidade. Aspectos negativos Não tem trânsito/acesso fácil junto aos convencionais do MDB, sem carisma, possui uma fala arrastada e cansativa, e, até o momento, amargando míseros 1% de intenção de voto. Marina Silva (Rede) Aspectos positivos - 16% das intenções de voto; imagem de figura pública ética; reconhecida por história de superação pessoal (identificação com eleitor); reconhecimento internacional como liderança ambiental; 42 milhões de votos acumulados nas duas últimas eleições; única força política a ameaçar a polarização PT e PSDB nas últimas eleições. Aspectos negativos 23% de rejeição; tempo de rádio e TV (estimado): 12 segundos; projeção de recursos do fundo eleitoral para a Rede: R$ 10,7 milhões; dificuldade de aliança com outros partidos; desgaste na esquerda pelo apoio dado a Aécio Neves no segundo turno em 2014; vista como frágil e como quem não se posiciona em momentos de crise política; sérias dificuldades na criação da Rede, com dissidências e bancada pequena no Congresso. Álvaro Dias (Podemos) Aspectos positivos Imagem de político combativo; não teve o nome envolvido na Lava Jato nem em escândalos recentes; boa avaliação como governador no Paraná e capital político (77% dos votos válidos na última eleição para o Senado) em um Estado importante; discurso permanente de combate à corrupção e em defesa da moralidade da coisa pública; apenas 13% de rejeição. Aspectos negativos Poucos recursos e tempo de rádio e TV no horário eleitoral (12 segundos); pouco conhecido nacionalmente; dificuldade de alianças; partido pouco estruturado nacionalmente.
quarta-feira, 18 de julho de 2018

Porandubas nº 582

Abro a coluna com uma homenagem à seleção francesa, campeã do mundo. Dirran...Dirran...? Dirran (com "biquinho" para parecer um francês correto), galego meio sarará, entroncado e de pernas curtas, jogava no Clube Atlético Potengi, no Rio Grande do Norte. Um dia, disputava no Machadão uma partida contra o Potyguar de Currais Novos, pela 2ª divisão do campeonato potiguar. O jogador atleticano era o destaque. Fazia dribles desconcertantes e lançamentos perfeitos. Corria como Mbappé, esse extraordinário centro-avante da seleção francesa. Fechou as glórias com um golaço. O narrador da rádio Poti gritava: "Dirran é um craque", "Dirran, revelação do futebol norte-rio-grandense". Dirran prá cá, Dirran pra lá. No final do jogo, o Clube Atlético Potengi perdeu por 3 x 1. Mas o destaque foi Dirran. Vendo todo aquele sucesso, um jovem repórter da rádio Poti correu para fazer uma entrevista com o craque na beira do gramado. Disparou uma bateria de perguntas: "Você tem parentes na França? Qual a cidade onde nasceu, Monsieur? Como veio parar no Brasil? Pode comparar o futebol europeu com o futebol brasileiro? Qual a origem de seu nome? Já jogou na seleção francesa? Espantado, boquiaberto, o jogador tascou ao incrédulo repórter a inesperada resposta: "Pera aí, meu sinhô, num é nada disso; meu apelido é C... de Rã, mas como num pode falar na rádio, então, eles abreveia". (Historinha enviada pelo amigo Álvaro Lopes) Rússia também vitoriosa A Copa foi um sucesso extraordinário para a Rússia, que recebeu cerca de um milhão de turistas. Gastou por volta de R$ 36 bilhões para construir estádios e preparar infraestrutura. Valeu muito. As empresas globais, que patrocinaram a Copa, acorreram ao país. Os turistas ficaram encantados com a beleza da Rússia e a hospitalidade dos russos. O país ganha com a Copa uma inserção mais intensa nas Nações do planeta. Coisa que o comunismo não conseguiu. Vladimir Putin, com o alto prestígio, adensa sua estatura de estadista. Os aspectos negativos - prisão de oposicionistas, censura, controle do cotidiano - ficam num plano inferior. Exibe estatura maior que o aloprado Trump. Brasil pós-Copa O Brasil volta a viver a dura realidade. Sem as expectativas que pairavam sobre a população. Sem o gosto doce de uma grande vitória. Substitui-se o canto: "a taça é nossa" por "a traça é nossa". O país amarga a derrota. Sob uma chuva de críticas a Neymar, uma estrela que desce das altitudes celestiais para o terreno árido das críticas. Com suas 40 tatuagens no corpo - representando poder, glória, luxo, vitória, guerra, romantismo, paixão - Neymar acabou ganhando a identidade de um logotipo ambulante. O sucesso puxou o atleta para o plano das vaidades, da arrogância e de autossuficiência. Ferrari sem adesivos Pois é. Um repórter se aproxima de Cristiano Ronaldo e joga a pergunta: "Por que você não tem tatuagem como Neymar"? O craque não titubeia: "você já viu uma Ferrari com adesivos"? O mergulho na política Nos próximos três meses, a pauta será eleição, competição eleitoral, endeusamento e condenação de protagonistas, palpites de todos os tipos, militantes trocando ofensas, acusações. Teremos um pleito sob um país dividido entre alas, grupos, partidos. O racha é geral. Seja qual for o eleito (a), o Brasil chegará bastante cindido na entrada de 2019. A meta do próximo governante, a par de suas ações na economia e na vertente social, será a de unir as bandas descoladas de um território semeado por ódio e litigância. Apontamentos Entremos no capítulo das observações que merecem atenção: 1. Chances - Qualquer um dos protagonistas que pontuam na planilha de índices de intenção de voto poderá ganhar passaporte para entrar no 2º turno, dentre eles: o candidato do PT (Lula ou o plano B do PT, Jaques Wagner ou Fernando Haddad), Jair Bolsonaro, Ciro Gomes, Marina Silva e Geraldo Alckmin. 2. 2º turno - A campanha tende a ter um 2º turno, sendo praticamente impossível algum candidato levar a melhor logo no domingo, 7 de outubro. 3. Mais prováveis hoje - Os cenários mais viáveis, hoje, colocam no 2º turno Bolsonaro e Ciro; Bolsonaro e Marina; e Bolsonaro e candidato do PT. São os que lideram as intenções de voto. Ante o fato de que 64% dos eleitores dizem não saber em quem votar, Alckmin e Álvaro Dias também poderão integrar as alternativas para ingresso no 2º turno. 4. Onda racional - É lógico esperar por uma onda racional, por onde deverão surfar os grupamentos das classes médias, a se contrapor às ondas emotivas já em curso. 5. Defesa da ordem - A preferência por Jair Bolsonaro é a adesão ao seu discurso de ordem contra a bagunça, de segurança social contra o caos representado pela violência nas ruas e, ainda, pelos escândalos em série que atingem os eixos da vida política. 6. Pouco tempo - Se não somar tempo de rádio e TV, contando com apenas sete segundos do tempo de seu partido, o PSL, Bolsonaro pode ser engolfado por candidatos com maior tempo de exposição. No bloco diário de 25 minutos, se não fizer coligação, o PSL terá direito a sete segundos; já para as inserções na programação diária de 70 minutos, caberá ao PSL 19 segundos. 7. Maior tempo - Os três maiores partidos - PT, MDB e PSDB - terão 34% do tempo de TV e rádio. 8. Redes sociais - As redes tecnológicas - internet - não conseguirão, sozinhas, dar vitória a candidatos. Se isso ocorrer, estará revogada a lei da comunicação, essa que garante visibilidade e força aos atores da política junto à sociedade. 9. Debates - Os debates entre candidatos terão alta importância na estratégia de captar o eleitorado e consolidar a decisão de voto. O bom desempenho funcionará como cola para adesão mais forte; já o mau desempenho resultará em descolamento de eleitores e migração para candidatos que apresentarem boa performance. 10. Linguagem - O medo que alguns candidatos provoca, em função de atitudes, gestos, linguagem, caso não seja bem administrado, poderá ser fatal para a viabilidade de uma vitória. Atenção, Ciro Gomes e Bolsonaro. (Este, porém, tende a agradar ao seu eleitorado, que clama por um discurso duro: "bandido bom é bandido morto; policial bom é policial que mata"). 11. Real politik - Qualquer que seja o eleito, só agregará condições de governar caso pratique a real politik, a política de arranjos e combinações, a parceria com os partidos, a entrega de fatias de poder aos entes partidários vitoriosos. Se não o fizer, terá passagem abreviada pelo Palácio do Planalto. 12. Pressão social - O Brasil ainda terá uma eleição à moda antiga, com engodos e amaciamentos embalando os discursos, alianças não estribadas pela ética, mas, ao correr do ano político de 2019, por continuada pressão social, serão plantadas as condições para as reformas necessárias à abertura de um ciclo de grandes mudanças na política. 13. Copo transbordando - O copo está transbordando. Os eleitores, até por falta de elementos novos, acabará votando nos velhos perfis, mas fará continuada pressão para a inauguração de um novo tempo. Manter o status quo redundará em intensas mobilizações sociais, na esteira de uma democracia participativa em ritmo de crescimento. 14. Fundo eleitoral - De R$ 1,7 bilhão do Fundo Eleitoral, MDB terá 234,2 milhões; PT, 212,2 milhões; e PSDB, 185,8 milhões. 15. 429 Deputados na reeleição - Até o momento, 429 deputados Federais, entre os 513, concorrerão à reeleição. Ou seja, cerca de 83% do atual corpo parlamentar. A eleição paulista A eleição em São Paulo, como a eleição para presidente, também é uma incógnita. João Doria, com 19%, lidera as pesquisas, mas seu índice de rejeição na capital é grande. Daí o desafio que a ele se impõe: administrar a rejeição, que alcança mais de 50%. O 2º lugar é de Paulo Skaf, do MDB, com 17%. O 3º lugar é ocupado pelo governador Márcio França, PSB, um pouco acima de Luiz Marinho, do PT. França tem bom potencial para subir. Tem perfil municipalista e pode subir bem, na esteira da máquina governamental. O eleitorado paulista soma cerca de 35 milhões de eleitores. A sabedoria romana Nem sempre quantidade ganha a guerra. O armênio Tigrane, instalado sobre uma colina com 400 mil homens, viu avançar o exército romano, que contava apenas com 14 mil soldados. Tigrane, galhofeiro, gritou : "Para embaixada é muito, para combate é pouco". Antes do pôr do sol, o pequeno exército romano infligiu uma derrota e enorme carnificina ao gigantesco exército armênio. A criatividade é, ainda, a arma que vence pela surpresa. Onde estão os eleitores Este ano, 146,4 milhões de eleitores têm direito a comparecer às urnas. Mas, como sabemos, o chamado Não Voto (abstenções, votos nulos e brancos) cortará formidável parcela desses votos. O Sudeste lidera o ranking eleitoral, com 42,9% dos eleitores, seguido do Nordeste, com 26,7%, Sul, com 15,2%, Norte, com 7,9% e Centro-Oeste, com 7,3%. Mulheres dominam As mulheres somam, hoje, 52% do eleitorado, atingindo cerca de 76 milhões de eleitoras. A faixa etária de 45 a 49 anos é a maior parcela entre as mulheres (18,710.832), vindo, a seguir, a faixa entre 25 a 34 anos (16.241,206) e, em terceiro lugar, a faixa entre 34 a 34 a 44 anos (15.755.020). Calibrem o discurso para esses contingentes, senhores candidatos. Epílogo "Um homem se propõe a tarefa de desenhar o mundo. Ao longo dos anos, povoa um espaço com imagens de províncias, de reinos, de montanhas, de baías, de naus, de ilhas, de peixes, de moradas, de instrumentos, de astros, de cavalos e de pessoas. Pouco antes de morrer, descobre que esse paciente labirinto de linhas traça a imagem de seu rosto". (Jorge Luis Borges)
quarta-feira, 11 de julho de 2018

Porandubas nº 581

Abro a coluna com uma historinha do Rio de Janeiro. Lugar de almirante Sandra Cavalcanti era deputada da Arena, foi ao interventor Faria Lima: - Almirante, tenho três reivindicações do partido para tratar com o senhor. - Pois não, deputada. - A primeira é a transferência de um fiscal do Estado para a capital. Ele está no interior, mas é um funcionário antigo e já merece uma posição melhor. - Deputada, lugar de fiscal é na fiscalização. Qual é a segunda reivindicação? - É um gari doente, governador. Não pode ficar tomando chuva. Queríamos levá-lo para a sede da Comlurb, mas o Marcos Tamoyo não concorda. O senhor podia falar com ele? - Deputada, lugar de gari é na rua. Qual é a terceira? - Uma professora de Campo Grande. Por problemas de família, precisa vir para a Secretaria. - Lugar de professora é na escola, deputada. Só isso? - Só, governador. Muito obrigada, até logo. E antes que me esqueça: lugar de almirante é no navio. E foi embora. (Da verve de Sebastião Nery) SDS A menos de três meses das eleições, a pergunta recorrente continua sem resposta: quem vai para o 2º turno? Os horizontes estão fechados. Será que há alguma semelhança com o pleito de 1989? Cerca de 20 candidatos, os protagonistas do centro dispersos e dois candidatos das margens ganhando passaporte para o segundo tempo do jogo: Fernando Collor e Luiz Inácio Lula da Silva. Hoje, as interrogações se multiplicam. SDS - Só Deus sabe. Jus sperneandi Direito de espernear. Mais que isso: esperneando o PT chama a atenção. Essa é uma razoável explicação para a "favrética" decisão do juiz plantonista do TRF-4, desembargador Rogério Favreto (donde pinço o neologismo), que autorizava a libertação do ex-presidente Lula. Só faltou Sua Excelência expressar de público sua condição de "petista de carteirinha". Foi assessor do petismo por muito tempo. O fato abriu polêmica nessa friagem que toma conta do Sul e do Sudeste nesses dias de reversão de expectativas com o desempenho de nossa seleção na Copa do Mundo na Rússia. A estratégia do PT De pronto, urge lembrar que a recorrente e sempre anunciada estratégia do PT é a de utilizar todos os meios possíveis para alcançar a meta eleitoral: elevar seu candidato presidencial ao 2º turno, fazer uma grande bancada de deputados Federais e estaduais, livrar-se da enrascada que queima atores políticos e, acima de tudo, passar para outros protagonistas a culpa pelos graves entraves que impedem a caminhada do país rumo ao crescimento. O PT foi o responsável pelo buraco gigantesco em que está afundado o país. Usando artifícios e mistificação, tenta transferir essa carga pesada para os ombros do atual governo. Animando a militância O fato é que a decisão "favrética" atingiu o objetivo. Pegou de chofre a população ainda mastigando os restos da derrota dos nossos jogadores na Copa. A soltura de Lula decidida por Sua Excelência, o desembargador Rogério, funcionou como um beliscão na quase adormecida militância do PT, que acordou para vibrar com o episódio. A inesperada entrada em ação do juiz Sérgio Moro, que está de férias, era o que o PT também queria. Ou seja, o despacho de Moro determinando a continuidade da prisão é, para o PT, prova de parcialidade do juiz de Curitiba em relação aos processos de Lula, sob sua responsabilidade. Querela jurídica A querela jurídica que se instalou fez com que o caso Lula, que ameaçava entrar na gaveta da rotina, voltasse às manchetes. O juiz, mesmo de férias, pode entrar em ação, se seu nome é ventilado numa polêmica decisão, dizem juristas do porte de Carlos Mário Velloso. Juiz é juiz em todos os dias. Mesmo em dias de descanso. Até se aposentar. Já outros dizem que Moro deveria ter ficado em silêncio ou jogado o caso para o juiz original da 2ª instância, o desembargador Gebran Neto. A querela mexeu com os brios de membros do MP, que pedem ao CNJ a punição de Favreto. E bateu na porta do STF, onde a presidente Cármen Lúcia acabou produzindo uma nota recheada de platitudes. Politicagem A volta de Lula ao noticiário central faz parte da liturgia que o PT ensaia para inscrever seu nome como candidato, dia 15 de agosto, puxando os militantes para as ruas, abrindo o verbo solto de Gleisi Hoffmann, continuando a farta coleção de recursos - que deverão, ainda, chegar ao TSE, ao STJ e ao próprio STF. Para lembrar: só o caso do Tríplex no Guarujá ganhou 75 recursos. O PT deverá ir com Lula ao processo eleitoral até que a mais alta Corte dê uma decisão para ele sair do páreo. Já se sabe que o partido não se conformará com eventual decisão do TSE de não aprovar sua inscrição como candidato. Estão previstos recurso ao STJ e, caso este confirme posição do TSE, mais recurso deverá bater no STF. Laurita dá um carão A presidente do STJ, desembargadora Laurita Vaz, acaba de dar um "carão" no desembargador Rogério Favreto. É o que podemos aduzir de sua decisão de negar um dos muitos habeas corpus que entraram na Corte em defesa de Lula. Ela disse que o plantonista não poderia ter mandado libertar o ex-presidente no domingo. Segundo ela, Favreto causou "perplexidade" e "intolerável insegurança jurídica". E teria ocorrido um "tumulto processual, sem precedentes na história do Direito brasileiro". Defendeu Sérgio Moro e a atuação do presidente do TRF-4, desembargador Thompson Flores. A presidente do STJ foi dura e direta. Considerou a decisão de Rogério Favreto como "inusitada e teratológica", uma vez que está em "flagrante desrespeito" a decisões já tomadas pelo TRF-4, pelo STJ e pelo Supremo Tribunal Federal. Haddad Fernando Haddad, dessa forma, ficará no banco aguardando sua vez de participar do jogo. Sob o impulso das cartas de Lula, da prisão, e dos recados do seu exército de advogados, Haddad dará um salto - de 4% para 12%. Pode até avançar mais. A depender do clima social em setembro, o ex-prefeito de São Paulo poderá crescer ou permanecer em um patamar próximo aos 15%. Correrá aos Estados com o fito de frequentar os palanques de candidatos petistas ao governo e ao Parlamento. Essa estratégia do PT foi bem pensada. O Partido não estará morto, como chegou a desabafar o ex-todo poderoso ministro José Dirceu ao aposentado Newton Hidenori Ishii, o Japonês da Federal, ressuscitando das cinzas a que tem sido jogado desde o mensalão. Indefinições O PT, portanto, ganha mais espaço dentro da algaravia nacional, usando Lula como aríete para abrir muralhas e invadir arsenais de votos. Busca firmar parcerias com partidos de esquerda, sendo sua jóia da Coroa o PSB da viúva de Eduardo Campos. O PC do B e o PSOL estarão com o candidato petista que vier a disputar o 2º turno. Mas a hipótese de o PT ficar fora do segundo tempo da disputa eleitoral prevalece. E quem está sendo aguardado para os 45 minutos finais? 2º turno A voz corrente, essa que esquenta as conversas de fim de tarde e de noites homenageando Baco, é de que uma vaga pertence ao ex-capitão Bolsonaro. Este consultor acaba de chegar do Nordeste onde sentiu o crescimento da onda bolsonariana. É evidente que o deputado continua frequentando os primeiros lugares nas projeções. Mas este consultor ainda não se convenceu de que sua passagem para o 2º turno é garantida. Entre as razões, o fato de que, até o momento, disporá de ralos segundos para explicitar seu pensamento no espaço de mídia eleitoral. Ademais, ele próprio reconhece ignorância sobre os grandes temas nacionais. Lembre-se que 65% do eleitorado confessam ainda não ter escolhido seu candidato. A onda racional Estamos surfando nas ondas bolsonariana, gomista (de Ciro Gomes) e silvana (de Marina Silva). São fundamentalmente ondas emotivas, comandadas pelo coração. Há certo fervor por parte dos surfistas dessas ondas. Mas a onda racional ainda não deu as caras. Trata-se da onda que agrega os polos mais críticos de formação de opinião, como contingentes de classes médias, reunindo profissionais liberais, pequenos e médios empresários, proprietários, grupos da burocracia estatal, etc. Esses eleitores examinam de forma atenta a moldura eleitora, fazem comparações, ouvem discursos e deixam para depois uma tomada de posição. Consciente. Mais cabeça e menos coração. A tendência é que esses núcleos decidam perfilar ao lado de candidaturas mais centradas e menos engajadas nas extremidades do arco ideológico. Quem? Deixo ao critério do leitor/eleitor responder a pergunta: quem será a atração central? Deixo aqui uma lista: Álvaro Dias, João Amoedo, Flávio Rocha, Geraldo Alckmin, Henrique Meirelles. Horizontes nos Estados Nos Estados, persistem as nuvens plúmbeas, pesadas, cinzentas. Com exceção de alguns poucos, as apostas nos Estados não chegam a sinalizar vencedores. Em Pernambuco, Ceará e Bahia, a paisagem parece mais clara, indicando a reeleição dos atuais governantes, Paulo Câmara (PSB), Camilo Santana e Rui Costa (PT). Ganhariam o passaporte pelo bom desempenho em suas tarefas. E mais: os índices de indefinição nos Estados são altos. O NV - Não Voto (abstenções, votos nulos e brancos) oscila entre 40% a 45%. Muito alto. Rejeição Atenção, candidatos e assessores: vejam com cuidado e preocupação os índices de rejeição de seus candidatos. Há maneiras de atenuar esse efeito deletério, não de eliminá-lo. No meu blog, www.observatoriodaeleicao.com, vocês poderão conferir algumas abordagens para administrar o fenômeno. O discurso de Itabaiana Fecho com Jessier Querino, este famoso cronista oral da política nordestina. Aqui, o trecho inicial do famoso discurso de Amâncio Tranquilino Sossegado em Itabaiana/SE. Candidatos, que lógica calibrará seus discursos? "A lógica política experimental pós-aristotélica do município de Itabaiana causou profunda decodificação moral, cética, estóica e principalmente existencial. Há aqueles que procuram obter a todo custo uma hegemonia política sectária forte, porém dogmática, utilizando meios plutocráticos pseudo-progressista, dentro de uma visão aristocrática, independente e desqualificada. Dentro desse quadro alienante, retrógrado, discriminativo e policialesco não podemos nos curvar à mera condição de espectador que ali vivem tão somente deste processo minoritário e repressivo. Precisamos dar um basta. Basta à subjugação hierárquica endocêntrica. Basta à ação tática provocativa intransigente. Chega de avaliações restritivas e pessoais. Itabaiana precisa de uma reflexão ampla e independente. Urge atender às aspirações prioritárias reais do nosso povo. Com intuito de promover uma coalizão consensual, descompromissada da situação tecnocrática legalista existente, propomos uma profunda transformação pragmática e pluralista de todos os representantes políticos e lideranças comunitárias deste município".
quarta-feira, 4 de julho de 2018

Porandubas nº 580

Abro a coluna com o famoso Severino Pé de Chumbo, de Campina Grande/PB. Atravessando em diagonal Severino Cabral foi prefeito de Campina Grande/PB, vice-governador, chefe político de muitos votos. E conhecido pelas tiradas engraçadas. Uma tarde, no Rio, andava pela avenida Rio Branco. Resolvendo passar para o outro lado, meteu-se na frente dos carros, fora do sinal. O guarda gritou: - Cidadão, não pode ir por aí. É proibido atravessar em diagonal. Severino Cabral voltou: - Você não conhece roupa não, ignorante? Isto não é "diagonal". É "tropical maracanã". Atravessou em diagonal e tropical. Robôs como cabos eleitorais Uma das novidades da campanha eleitoral deste ano são os cabos eleitorais da era tecnológica: os robôs. Vejam o que se apura: mais de 60% dos quase 410 mil seguidores no Twitter do senador Álvaro Dias, pré-candidato à presidência pelo Podemos, são, na verdade, perfis robôs, controlados automaticamente por terceiros. Não somente Dias está sendo seguido por robôs. Todos os candidatos têm seus exércitos tecnológicos. A análise foi feita pelo Instituto InternetLab, centro de pesquisas dedicado a temas do Direito e da tecnologia. Segundo a organização, há indícios de compra de seguidores para o candidato com o objetivo de inflar artificialmente sua reputação na rede. Casa a casa O eleitor está desconfiado. Arisco. Apático. Crítico. Daí o esforço que candidatos deverão fazer para sensibilizá-lo. Como? Não há tática melhor que a conversa direta, olho no olho, mão na mão. Por isso, um conselho pode ser dado. Fazer uma campanha porta a porta, casa a casa, mão na mão, olho no olho. Em tempos de descrédito e desprezo pela classe política, este será o caminho melhor. DEM e PSB, noivas cobiçadas O DEM, presidido por ACM Neto, é a noiva cobiçada. Por Ciro Gomes, do PDT, por Geraldo Alckmin, do PSDB, por Meirelles, do MDB e outros. O DEM se divide. Parte quer fazer aliança com Alckmin, parte com Ciro. O PSB também está sendo cobiçado. Até final deste mês, os casamentos deverão ocorrer. Tempo de mídia eleitoral - eis o cacife que esses partidos terão a dar. Dilma em MG A ex-presidente Dilma Rousseff lidera a corrida para o Senado em Minas Gerais. Mas há muitas dúvidas: o governador Fernando Pimentel aguentará o tiroteio? E se o senador Anastasia disparar na frente? Como Dilma explicará o desastre que foi seu governo? Lula até o final Confirma-se a ideia do PT de jogar Lula no embate eleitoral até meados de setembro, quando o TSE deve decidir sobre sua elegibilidade. E cresce a hipótese de que entre na chapa como candidato a vice o ex-ministro de Relações Exteriores, Celso Amorim, que entraria apenas como figurante. Porque o plano B, o perfil no lugar de Lula, ainda é Fernando Haddad. Renovação Este consultor acredita que a renovação nas Casas congressuais seja por volta de 40%. Na contramão do sentimento da sociedade, que desejaria fazer uma limpeza geral. Não há assim tantos perfis novos. E por falta de opção, o eleitor costuma votar nos mais próximos e conhecidos. Abaixo, uma tentativa de interpretar o que se passa na cachola do eleitor. O eleitor, uma caixa-preta O eleitor é uma caixa-preta. Difícil de saber o que se passa em sua cabeça. Pode mudar de um momento para outro. Pesquisas que aferem hoje seu posicionamento poderão flagrar outro estado de espírito daqui a um mês ou nas proximidades da eleição. Tentemos decifrar a caixinha de surpresas que o eleitor esconde, a começar com uma pergunta: Qual é o significado do voto? Quando um eleitor opta por um candidato, que fatores balizam sua decisão? Componentes Esta é uma das mais instigantes questões das campanhas eleitorais. A resposta abriga componentes relacionados ao conceito representado pelo candidato e ao ambiente social e econômico que cerca os eleitores. No primeiro caso, o eleitor leva em consideração valores como honestidade/seriedade; simplicidade; competência/preparo; capacidade de comunicação; entendimento dos problemas; arrogância/prepotência e simpatia. Sob outra abordagem, o voto quer significar protesto, um castigo aos atuais governantes e a candidatos identificados com eles, vontade de mudar ou mesmo aprovação às ideias dos perfis situacionistas. Perfis para muitos gostos Tenho sido indagado sobre os perfis preferenciais do eleitorado. Cada região tem suas preferências. Há, porém, alguns traços sobre os quais parece haver consenso: - passado limpo, vida decente - candidatos que possam exibir sua trajetória sem ter vergonha de mostrar aspectos de sua vida; - identificação com o Estado, com as regiões - candidatos que busquem vestir o manto das regiões, significando compromisso com as demandas das comunidades e as questões específicas dos municípios; - despojamento, simplicidade - candidatos despojados, simples, descomplicados, sem as lantejoulas e salamaleques que costumam se fazer presentes no marketing exacerbado. Candidatos não afeitos ao 'dandismo' - mania de querer aparecer de maneira diferente. - respeito, decência, dignidade pessoal - candidatos de postura respeitosa para com os eleitores e identificados com uma vida pessoal e familiar digna; - transparência, verdade - candidatos que não temam contar as coisas como elas são ou foram; - objetividade, viabilidade de propostas, concisão, precisão - candidatos de expressão objetiva e concisa, capazes de fazer propostas viáveis e não mirabolantes. Precisos na maneira de abordar os assuntos. Simpatia/empatia Neste caso, os pesos da balança assumem o significado de satisfação e insatisfação; ou confiança e desconfiança. A questão seguinte é saber qual a ordem em que o eleitor coloca essas posições na cabeça e por onde começa o processo decisório. Não há uma ordem natural. O eleitor tanto pode começar a decidir por um valor representado pelo candidato - simpatia, preparo, capacidade de comunicação - como pelo cinturão social e econômico que o aperta: carestia, violência, desemprego, insatisfação com os serviços públicos precários, etc. Os dois tipos de fatores tendem a formar massas conceituais - boas e ruins - na cabeça do eleitor. Impressões positivas e negativas A exposição dos candidatos na mídia vai criando impressões no eleitorado. E as impressões serão mais positivas ou mais negativas, de acordo com a capacidade de o candidato formular ideias e apresentar respostas aprovadas ou desaprovadas pelo sistema de cognição dos eleitores. Se o candidato ajustar o discurso ao clima do momento, terá melhores condições de laçar (fisgar) o eleitor. E daí, qual a lógica para a priorização que o eleitor confere às ideias dos candidatos? Nesse ponto, cabe uma pontuação de natureza psicológica. Instintos natos As pessoas tendem a selecionar coisas (fatos, pensamentos, eventos, perfis) de acordo com os instintos natos de conservação do indivíduo e preservação da espécie. Quer dizer, o discurso mais impactante e atraente é o que dá garantias às pessoas de que elas estarão a salvo, tranquilas, com dinheiro no bolso, bem alimentadas. O discurso voltado ao estômago do eleitor, ao bolso, à saúde é prioritário. Tudo que diz respeito à melhoria das condições de vida desperta a atenção. Depois, as pessoas são atraídas por um discurso mais emotivo, relacionado à solidariedade, ao companheirismo, à vida familiar. (Este consultor não se cansa de repetir a equação que criou: BO+BA+CO+CA= Bolso cheio, Barriga satisfeita, Coração agradecido, Cabeça tende a votar em que propiciou o bem-estar). Medo e insegurança Esses apelos disparam os mecanismos de escolha. Se a insatisfação social for muito alta, os cidadãos tendem a se abrigar no guarda-chuva de candidatos da oposição. Se candidatos com forte tom mudancista provocarem medo, as pessoas recolhem-se na barreira da cautela, temendo que um candidato impetuoso vire a mesa abruptamente. Assim, mesmo com certa raiva de candidatos apoiados pela situação, os eleitores assumem a atitude dos três macaquinhos: tampam a boca, os ouvidos e olhos e acabam votando em candidatos situacionistas. Convencimento O maior desafio de um candidato de oposição, dentro dessa lógica, é o de convencer o eleitorado de que garantirá as conquistas dos seus antecessores, promovendo mudanças que melhorarão a vida das pessoas. Simples promessa não adiantará: é preciso comprovar tim-tim por tim-tim como executará as propostas. Por isso mesmo, quando o candidato agrega valores positivos, a capacidade de convencimento do eleitor será maior. Não se trata apenas de fazer marketing, mas de expressar caráter, personalidade, a história do candidato. Coerência Uma história amparada na coerência, na experiência, na lealdade, na coragem e determinação de cumprir compromissos. Proposta séria e factível transmitida por candidato desacreditado não colará. Os dois tipos de componentes que determinam as decisões do eleitor - as características pessoais dos candidatos e o quadro de dificuldades da vida cotidiana - caminham juntos, amalgamando o processo de escolha dos cidadãos. Despertar os estímulos O marketing político bem feito é aquele que procura juntar essas duas bandas, costurando os aspectos pessoais com os fatores conjunturais, conciliando posições, arrumando os discursos, analisando as demandas das populações, criando ênfases e alinhando as prioridades. O que o marketing faz, na verdade, é acentuar os estímulos para que o eleitor possa, a partir deles, tomar decisões. E os estímulos começam com a apresentação pessoal dos candidatos, a maneira de se expressar, de se vestir. Comunicação clara Os cenários aguçam ou atenuam a atenção. A fluidez de comunicação, a linguagem mais solta e coloquial cria um clima de intimidade com o eleitor. As propostas precisam ser objetivas, claras e consistentes. As influências sociais e até as características espaciais e temporais despertam ou aquecem as vontades. O eleitor é uma caixa-preta. E na eleição deste ano procurará se esconder mais que em campanhas anteriores. Está mais desconfiado e crítico. Não quer comprar gato por lebre. Aumentou sua taxa de racionalidade. Desvendar o quê e como pensa é o maior desafio dos candidatos.
quarta-feira, 27 de junho de 2018

Porandubas nº 579

Abro a coluna com as Minas Gerais e seu rico folclore político. A Santíssima Trindade No confessionário, Monsenhor era rápido. Não gostava de ouvir muita lengalenga. Ia logo perguntando o suficiente e sapecava a penitência que, sempre, era rezar umas ave-marias em louvor à N. S. do Rosário. Fugindo ao seu estilo, certa feita ele resolve perguntar ao confessando quantos eram os mandamentos da lei de Deus. - São 10, Monsenhor. - E quantos são os sacramentos da Santa Madre Igreja? - São 7, Monsenhor. - E as pessoas da Santíssima Trindade, quantas são? - São 3, Monsenhor. Monsenhor, notando que o confessando só sabia a quantidade, pergunta rápido: - E quais são essas pessoas? A resposta encerrou a confissão: - As três pessoas são o senhor, o dr. Didico e o dr. Zé Augusto. (Historinha contada por José Abelha em A Mineirice). Pleito de outubro Os debates este ano terão mais importância que em campanhas anteriores. Alguns protagonistas terão dificuldades, a partir de Bolsonaro, que não domina temáticas centrais. Os marqueteiros baixaram seus preços. As redes sociais vão tentar suprir os vazios de comunicação. Dinheiro faltará para muitos, enquanto outros financiarão a própria campanha, caso de Meirelles. O maior desafio de todos: desenvolver e lapidar a identidade - o escopo do perfil. A coluna de hoje tenta apresentar um roteiro para o desenvolvimento de uma campanha. O marketing eleitoral Ante o volume de dúvidas e interrogações que se fazem a respeito da viabilidade eleitoral dos protagonistas do pleito deste ano, este consultor dedica a maior parte da coluna ao marketing eleitoral. Muita gente - candidatos e assessores, dentre muitos - crê que o marketing fará as correções sobre os perfis eleitorais, melhorando performances verbais e atos dos candidatos. Tentarei repor conceitos e comentar situações vividas ao longo de quatro décadas atuando em campanhas. 1ª questão: Marketing não elege O marketing eleitoral não elege um candidato. Ajuda-o a ajustar fatores que integram a estratégia de visibilidade dos competidores, atenuando aspectos negativos e reforçando aspectos positivos. Quem ganha campanha é o candidato com a força de suas crenças e convicções. Mas se o marketing for um desastre, também contribuirá para a derrota do candidato. Farei observações sobre campanhas majoritárias, mais complexas. 2ª questão: Crença O candidato deve acreditar em seus potenciais, mesmo que entre numa campanha apenas para ser conhecido para barganhar posição no segundo turno e até negociar posições e cargos, caso faça coligação com candidatos com condições de vir a ganhar. "Somente aqueles que conseguem ir longe saberão até podem chegar" (Elliot). Se o candidato acredita mesmo em suas condições, ele passará energia positiva para sua equipe de assessores, motivando cada um a trabalhar com mais vontade, ímpeto e motivação. 3ª questão: Identidade O candidato precisa construir e lapidar o edifício de sua identidade, que abriga sua vida, sua história, seu pensamento, seus laços, enfim, o composto conceitual que o identifica. Essa é a coluna vertebral da campanha. O eixo, a mola propulsora, o vértice de uma pessoa. Se não construir forte identidade, será uma lesma. Uma pitada de sal sobre ela a faz morrer, derretendo-se em gosma. A identidade o distinguirá de outros candidatos, permitindo que o eleitor faça sua escolha pelo critério de identificação entre os valores (dos eleitores) e os valores dos candidatos. A psicologia arremata esse conceito com dois fenômenos com os quais trabalha: identificação e projeção. É como se uma cola unisse os perfis, por meio da projeção - as pessoas atribuem a outras seus pensamentos, emoções, valores - , transferindo a outro (o candidato) sua teia de sentimentos (identificando-se, assim, com ele), com quem desenvolve empatia. 4ª questão: Construção do discurso Para se produzir o liame entre eleitor e candidato, de modo que possa haver projeção e identificação, se faz necessária a construção do discurso: ideário, programas, projetos, ações, maneiras como o candidato irá realizar sua gestão, etc. Ou seja, o discurso é peça central de uma campanha. Se não tiver ideias próprias e fortes, o candidato tende a ser abandonado pelo sistema cognitivo do eleitor. Será posto de lado. Outra precaução: formar o discurso com propostas que sejam criativas, factíveis (urge demonstrar como serão adotadas) e objetivas. Platitudes, promessas genéricas, projetos abstratos serão jogados na cesta do blá blá blá. 5ª questão: Pesquisa A pesquisa é instrumento central no processo de construção do discurso. Trata-se de aferir o sistema cognitivo do eleitor: o que ele pensa, que linguagem usa, sua visão de cada candidato. Urge descobrir como pensa nesse momento o eleitor. Conferir as imagem que ele tem de cada protagonista. A pesquisa qualitativa é o caminho para esta descoberta. Ocorre que candidatos e assessores só emprestam ênfase às pesquisas quantitativas, essas que apuram intenção de voto que, nesse momento, flagram o pensamento popular, mas não refletem circunstâncias da primeira semana de outubro. 6ª questão: O diferencial Nem sempre candidatos e assessores possuem conhecimento real das demandas populares. Daí a necessidade de construir algo no campo do discurso que traduza fielmente os desejos, as expectativas, os anseios da população. Nesse momento, o discurso tende a cair na vala comum das velhas promessas: áreas da saúde, educação, segurança, habitação, mobilidade urbana, etc. Os candidatos agregam projetos nessas áreas em seus discursos. Ora, o desafio é o de apresentar propostas usando criatividade, inovação, avanço. Urge sair do baú das velhas lembranças. Há, ainda, os projetos de infraetrutura técnica, setores estratégicos - que passam longe do conhecimento de fatias maiores do eleitorado- e aos quais se deve dedicar parte volumosa do discurso do candidato. Essas áreas menos conhecidas pedem muito poder criativo. 7ª questão: Comunicação A essência do que se produz no campo do discurso - particularmente no campo das demandas mais urgentes - precisa chegar ao conhecimento do eleitor. Por meio da bateria de comunicação, a identidade do candidato bate no eleitor, formando-se, a partir do conhecimento dos conteúdos, uma imagem. Esta imagem precisa corresponder efetivamente à identidade de um candidato. Se a mensagem que transmite oralmente no programa eleitoral não corresponder ao que foi produzido como discurso-proposta, a mídia tende a denunciar e o candidato terá dificuldades para explicar "o que escreveu e o que disse". O "pega na mentira" poderá jogar o candidato no buraco dos mortos eleitorais. 8ª questão: Abrangência A comunicação se ampara em vasto arsenal de meios: espaços eleitorais em rádios e TVs, encontro de candidatos com grupos (exposição oral), andanças dos candidatos pelas ruas, folhetos de campanha em linguagem popular (e ilustrados), uso de uma rede de promotores do discurso - cabos eleitorais preparados para traduzir o discurso do candidato junto aos eleitores, uso (parcimonioso) de redes sociais (cuidado para não usar as redes de forma burocrática, materiais de cunho propagandístico) (cartazes, santinhos. etc.). 9ª questão: Articulação A sociedade está de costas para a política. Cria-se um vácuo entre a representação política e a sociedade. Quem preenche esse vácuo é o imenso conjunto de entidades organizadas, como associações, movimentos, grupos, núcleos setores, a par da estrutura sindical/corporativista como se vê hoje: sindicatos, federações, confederações, etc. Essa rede de organizações intermediárias forma a opinião pública. Portanto, constitui um espaço mais arejado e forte para que os candidatos possam ocupá-lo com ideias e propostas. A articulação com a sociedade organizada é um dos fatores mais importantes no planejamento de uma campanha política. 10ª questão: Mobilização Por último, os atores políticos devem procurar manter ativo o eixo da mobilização. Trata-se, agora, de ir ao encontro do povo, onde ele se encontra, nos aglomerados urbanos, como feiras, estações de passageiros, praças públicas ou mesmo encontros com os setores produtivos. Aí, os candidatos poderão expor seu pensamento e recolher abordagens e sugestões. A campanha deste ano Teremos uma campanha de 45 dias de rua e 35 dias de mídia eleitoral. Portanto, será uma campanha mais curta, razão pela qual alguns candidatos já estão fazendo visitas às regiões. Será ainda uma campanha franciscana: os candidatos recorrerão aos fundos eleitoral e partidário. O teto do custo de uma campanha presidencial foi fixado em R$ 70 milhões, no primeiro turno, e R$ 35 milhões no segundo turno. Teto bem menor que o pleito presidencial de 2014. Estilo publicitário Os baianos Duda Mendonça e João Santana foram artífices das campanhas com forte viés publicitário. Uma embalagem cinematográfica, recursos e edições de grande encanto, Lula, como salvador da Pátria, sob a aclamação da plebe; Dilma como a grande gestora capaz de consolidar a felicidade construída no paraíso petista. Tudo isso veio por águas abaixo. Teremos uma campanha sob prisão de importantes lideranças. Nessa moldura de paisagem destroçada, será difícil ao PT dizer que não é responsável por 13 milhões de desempregados, a maior recessão econômica de nossa história ou, ainda, que mensalão e Lava Jato são criações de outros governos. O fato é que versões estapafúrdias, mentiras e verborragia terão, este ano, uma audiência crítica. E que poderá haver polarização em algumas regiões. Fecho a coluna também com Minas Gerais. Idôneo, o comandante Em certa cidade fluminense, o chefe local era um monumento de ignorância. A política era feita de batalhas diárias. Um dia, o chefe político recebeu um telegrama de Feliciano Sodré, que presidia o Estado: - Conforme seu pedido, segue força comandada por oficial idôneo. O coronelão relaxou e gritou para a galera que o ouvia: - Agora, sim, quero ver a oposição não pagar imposto: a força que eu pedi vem aí. E quem vem com ela é o comandante Idôneo. (Historinha contada por Leonardo Mota, em seu livro Sertão Alegre)
quarta-feira, 20 de junho de 2018

Porandubas nº 578

Hora de trabalhar O brigadeiro Eduardo Gomes fazia, no Largo da Carioca (Rio de Janeiro), seu primeiro comício da campanha presidencial de 1945. A multidão o ouvia em silêncio: - Brasileiros, precisamos trabalhar! Do meio do povo, uma voz poderosa gritou: - Já começou a perseguição! Bagunça geral. O comício acabou. Leitura do momento Este analista confessa que nunca em sua trajetória de ler a conjuntura viu horizontes tão nebulosos como os de hoje. Por isso, acha importante dedicar um tempinho à observação da temperatura ambiental, contemplando principalmente o clima social, o clima político e o clima econômico. Os três climas se imbricam para formar uma cadeia complexa, de onde se pinçam os inputs para tomar pé da situação. Vamos lá. O ambiente social I Há muita expectativa no que diz respeito à performance brasileira na Copa do Mundo, enquanto se constata um clima nada auspicioso em relação à política. O Brasil entrou na Copa com otimismo, eis que portava as bandeiras das vitórias nos dois jogos pré-Copa. Mas o que se viu contra o time suíço foi uma seleção travada, que não merecia ganhar. O sentimento social passou a ser negativo. Houve uma reversão de expectativas. Neymar, com suas quedas seguidas e cara de dor, tem sido alvo de gozações. E por mais que a CBF proteste contra a arbitragem do mexicano, que não teria se valido do árbitro eletrônico (VAR), o fato é que isso não nos daria uma vitória. O torcedor está frustrado, mas ainda esperançoso. O ambiente social II A depender do desempenho de sexta-feira contra a Costa Rica, podemos projetar um clima mais descontraído na paisagem social ou um ambiente mais pesado, que deverá abater o ânimo social, com consequências danosas sobre o processo político. Imaginem se o desempenho da seleção for desastroso. Vejo uma equação na lousa, escrita pelo povo: CR+CI+DS+NV, que podemos assim decifrar: Cabeça Revoltada, Coração Indignado, Desânimo Social, Não Voto (abstenção, nulos e brancos). Portanto, o NV poderá chegar à casa dos 35% para mais (historicamente permanece em torno de 30%). A recíproca é verdadeira. Se o Brasil levar a melhor, o animus animandi da sociedade se eleva com o incremento da autoestima, podendo ser a vitamina para enfrentar a batalha política com forte disposição. O ambiente político I Na esfera política, os pré-candidatos se movimentam sob um cruzamento de interrogações. Alguns deixarão de ser candidatos, como Rodrigo Maia. Outros ficarão isolados, como Marina Silva. É possível que falte gás aos líderes da corrida no momento, como é o caso de Bolsonaro. Os políticos estão olhando para o seu próprio umbigo, tentando pressionar seus partidos a fazerem alianças com eventuais nomes de maior probabilidade de vitória. O PT, por exemplo, vai ser assediado em Estados até por partidos de centro-direita. A política está com seu prestígio no buraco. Apesar da indignação social, a renovação no Congresso deve ficar por volta de 40%, índice menor que em campanhas passadas. O ambiente político II As pesquisas de intenção de voto, nesse momento, não flagram o ardor da campanha. Devem ser vistas como meras referências pré-eleitorais. Refletem as ondas do momento. Os recursos para essa campanha, mais curtos, e o tempo menor de propaganda e para a campanha de rua, incentivam candidatos a procurar apoios em estruturas organizadas - associações de categorias profissionais e movimentos. Não haverá tempo para o setor político se empenhar na votação de projetos importantes. Depois da Copa, a partir de 15 de julho, aguarda-se uma revoada das aves políticas para seus ninhos estaduais. O ambiente econômico I A economia, depois de uma onda de otimismo no início do ano, sinaliza passos para trás. A inflação aumenta um pouco, o bolso começa a secar, os estômagos ficam mais vazios, o coração torna-se aflito e a cabeça se revolta. A equação, que sempre lembro, é: BO+BA+CO+CA= Bolso cheio, Barriga satisfeita, Coração agradecido e a Cabeça aprovando o governante. Não é o clima que temos. A massa sofre com o alto desemprego, mais de 13 milhões de brasileiros. O acesso ao consumo se restringe, apesar do esforço do governo para melhorar a situação do bolso das margens (liberação do PIS/PASEP, Fundo de Garantia, etc.). A ameaça de mais imposto continua ganhando voz por parte da equipe econômica. As bolsas sofrem imensa queda, o dólar sobe, as dívidas das empresas em dólares vão para a estratosfera, a confiança dos investidores se esvai. O ambiente econômico II Parecia até que um princípio de euforia animava os setores produtivos. Um balde de água fria gelou os ânimos. O PIB agora já não chegará a 1,5% como se apregoava no início do ano. As vendas no varejo não sobem no ritmo que se esperava. A própria venda de televisores, sempre um fenômeno às vésperas de uma Copa do Mundo de futebol, encolheu. A economia, em compasso de refluxo, afeta o ânimo social, disparando mal-estar, desarmonia, raivas e indignação. Os movimentos sociais, sob essa cadeia de coisas negativas, poderão voltar às ruas. Basta que a pólvora, guardada em seus estoques, seja atirada nas fogueiras a serem acesas até outubro. O vulcão social I Esse analista já foi mais otimista. Mas começa a enxergar nuvens plúmbeas escurecendo o amanhã. Vejo um magma em formação subindo à superfície para explodir na erupção de um vulcão social, caso se eleja este ano um perfil de extrema direita ou esquerda. De extrema esquerda, é praticamente impossível. Não temos um perfil com esse porte. Mas na extrema direita, há o capitão Jair Bolsonaro. Se eleito (hipótese em que muitos acreditam, este analista, não), Bolsonaro conduziria o país a uma posição conflituosa. Estabeleceria de imediato a disputa de "cabo de guerra" entre militantes, com arengas e querelas expandindo posições radicais e envolvendo classes sociais em confrontos nas ruas. A ingovernabilidade ganharia corpo, o clima social ficaria sob a ameaça de um rastilho de pólvora. Os bolsonarianos parecem querer acender o pavio. O vulcão pode entrar em erupção ante gestos tresloucados de um governante. O vulcão social II Mas se um perfil da esquerda, do PT ou por Lula apoiado, ganhar a eleição e brandir o refrão do apartheid social, "nós e eles", o vulcão também pode explodir. Nunca presenciei tanto ódio entre alas em minha trajetória de analista da política. O fato é que o país está dividido. E a hipótese de harmonia social não passa de lorota expressa pelas extremidades. O que se vê na linguagem de militantes é a destilação de ódio, infâmias, acusações pesadas e enaltecimento das ditaduras. Cenários Façamos, agora, algumas projeções, levando em consideração a moldura que hoje se enxerga. A partir das pesquisas - que colocam Lula e Bolsonaro na liderança - podemos fazer alguns cenários. Como Lula não será candidato, devendo o plano B ser ocupado por Fernando Haddad, vejamos os cenários que traço para o 2º turno e respectivas vitórias. Insiro nas possibilidades os candidatos: Jair Bolsonaro, Marina Silva, Fernando Haddad, Ciro Gomes e Geraldo Alckmin. São estes com maiores cacifes para despontar no final da linha. Em minhas projeções, não vejo possibilidade de Jair Bolsonaro ganhar de nenhum candidato no 2º turno. E nem de Fernando Haddad, que será o plano B do PT. No I Cenário, Bolsonaro versus Fernando Haddad. Vitória de Haddad. No II Cenário, Bolsonaro versus Ciro Gomes. Vitória de Ciro Gomes. No III Cenário, Geraldo Alckmin versus Bolsonaro. Vitória de Alckmin. No IV Cenário, Marina versus Bolsonaro. Vitória de Marina. No V Cenário, Alckmin versus Ciro Gomes. Vitória de Alckmin. No VI Cenário, Marina versus Ciro Gomes. Vitória de Ciro Gomes. No VII Cenário, Haddad versus Alckmin. Vitória de Alckmin. VIII Cenário, Haddad versus Ciro Gomes. Vitória de Ciro Gomes. IX Cenário, Marina versus Alckmin. Vitória de Alckmin. X Cenário, Marina versus Haddad. Vitória de Marina Argumentos Nas projeções deste consultor, alguns argumentos aqui são alinhavados. O primeiro envolve a rejeição do perfil radical de Jair Bolsonaro. Na hora H, propícia a uma análise racional dos perfis, o eleitor tende a optar por um candidato que demonstre experiência, conhecimento dos problemas brasileiros e moderação, entre outros valores. Fernando Haddad, marxista convicto, exibe bom perfil, mas encarna a posição clássica do PT (apartheid social, "nós e eles"), que desperta ódio, indignação, repúdio. Entre protagonistas mais aproximados, particularmente no espaço do Centro, o eleitor tende a votar em mais experientes e de maior visibilidade. Forte traço negativo de um candidato poderá ser fatal para ele. Fecho a coluna com historinha das Minas Gerais. Lei da Gravidade A Lei da Gravidade, de vez em quando, dá dor de cabeça aos mineiros. E a lei da gravidez, essa, nem se fala. Na Câmara Municipal de Caeté, terra da família Pinheiro, de onde saíram dois governadores, discutia-se o abastecimento de água para a cidade. O engenheiro enviado pelo governador Israel Pinheiro deu as explicações técnicas aos vereadores, buscando justificar a dificuldade da captação: a água lá embaixo e a cidade, lá em cima. Seria necessário um bombeamento que custaria milhões e, sinceramente, achava o problema de difícil solução a curto prazo, conforme desejavam: - Mas, doutor - pergunta o líder do prefeito - qual é o problema mesmo? - O problema mesmo - responde o engenheiro - está ligado à Lei da Gravidade. - Isso não é problema - diz o líder - nós vamos ao doutor Israel e ele, com uma penada só, revoga essa danada de lei que, no mínimo, deve ter sido votada pela oposição, visando perseguir o PSD. O líder da oposição, em aparte, contesta o líder do prefeito e informa à edilidade, em tom de deboche, que "o governador Israel nada pode fazer, visto ser a Lei da Gravidade de âmbito Federal". E está encerrada a sessão. (A historinha é de José Flávio Abelha, em seu livro A Mineirice).
quarta-feira, 13 de junho de 2018

Porandubas nº 577

Abro a coluna com a verve do amigo Sebastião Nery numa historinha da Bahia envolvendo candidatos em campanha. O que eu sou? O caso é verídico. O farmacêutico Claodemiro Suzart, candidato do PTB à prefeitura de Feira de Santana, decidiu fazer o comício de encerramento da campanha na rua do Meio, na zona do meretrício. E jogou o verbo: "o povo precisa estudar a vida dos candidatos, desde o nascimento deles, os lugares onde nasceram, para saber em quem votar direito". Por exemplo, Arnold Silva, da UDN, nasceu em Palácio, nunca falou com o povo. O que ele é? - Candidato dos ricos - gritava a multidão. - É isso mesmo. Não pode ter o voto de vocês. E Fróes da Mota, candidato do PSD, nunca sentiu o cheiro de povo. Só gosta mesmo é do gado de sua fazenda. O que ele é? - Candidato dos fazendeiros - delirava a galera. - Isso mesmo. Não pode ter o voto do povo. Já eu, meus amigos, nasci aqui, nesta rua do Meio, a mais popular de Feira de Santana. E eu, meus amigos, o que eu sou? Lá do fundo da turba, um gaiato soltou a voz: - Filho da puta. O comício acabou ali. Panorama sob céu nublado O Brasil vive estado de letargia. Eleitorado não se motivou nem para a Copa do Mundo, que está começando, nem para a campanha eleitoral, que está se apresentando como uma gigantesca parede de mosaicos, sem nenhum bloco a chamar a atenção. A indignação contra a classe política é patente até no silêncio das massas. As mobilizações são mais escassas. Os perfis lutam para dar visibilidade ao seu pensamento. Refluxo na economia As redes sociais continuam a fazer o jogo "tiroteio recíproco" entre grupos. As pesquisas contêm um imenso viés: a de pôr Lula como candidato. A economia dá sinais de refluxo, quando as coisas começavam a melhorar. A inflação, mesmo contida, dá sinais de voltar a crescer. Os governantes dos Estados, com exceção de uns cinco, aproximadamente, não receberão o passaporte de volta. O caminho até 7 de outubro é cheio de curvas e surpresas. Imponderável Na terra "onde se plantando tudo dá", o Senhor Imponderável dos Santos do Pau Oco pode baixar a qualquer momento. Pré-campanha lenta A pré-campanha está avançando lentamente. Os candidatos esperam por algum imprevisto ou torcem para que o maná caia do céu. Só agora parece descobrirem a importância do tempo televisivo. Procuram partidos médios, com cerca de 30 parlamentares e mais, para fechar acordos e parcerias. PP, PRB, PTB e PDS estão entre os mais procurados. Josué, o cobiçado Josué Gomes da Silva, o empresário dono da Coteminas, é ambicionado por partidos. Tem dinheiro e encarna a novidade. Daí o assédio que está sofrendo. Pode custear a própria campanha se, por acaso, se transforme em candidato de um partido forte. O PP, por exemplo. Josué é filho do ex-vice-presidente de Lula, José Alencar, falecido. Tem origem em Minas, o segundo maior colégio eleitoral do país. Pode figurar ainda como candidato a vice. Tem cacife $$$$$$$. Lula animado Quem visita Lula sai dizendo que ele está muito animado. Mais magro, esbelto, lendo muitos livros, esperançoso e com a ideia mais do que fixa de que nunca cometeu erros. Não tem culpa na Justiça. Lula candidato O PT aposta na candidatura do ex-presidente, que deve entrar na Lei da Ficha Suja. Não menosprezo o PT, mas também não o glorifico. Parece que os petistas ainda não mediram o tamanho do buraco que o ciclo governativo do partido abriu no país. Mas, se Lula não for candidato, deve ser um forte eleitor. De cara, põe seu substituto no patamar de 15%. Chute pra fora Paulo Skaf, Presidente da FIESP (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), não sabe o índice da indústria de transformação na formação do PIB nacional. Na sabatina promovida pelo UOL, Folha de S. Paulo e SBT com os candidatos ao governo do Estado, o pré-candidato do MDB chutou 12%. O índice representou pouco mais de 9% no primeiro trimestre de 2018. Ainda que fosse considerado o ano de 2017, quando a indústria atingiu o patamar de 10,15% do PIB, o índice de Skaf seguiria superestimado. O jogador de chute errado! Lendo pesquisas A última pesquisa DataFolha, divulgada no fim de semana passado, foi iniciada com uma pergunta aberta, espontânea, o que, a meu ver, distorce todo o quadro. Estamos vivendo momentos de polaridade e tensão e é claro que uma pergunta aberta dispara ânimos, motiva a militância, funciona como pólvora que estende a fogueira para muitos lados. Qualquer desvio padrão distorce resultados. Distorção O eleitor vai votar numa lista que pode ver na cabine de votação. Ele pode analisar, pender para um lado e outro, comparar. Seus estímulos são levados a um processo de escolha múltipla. Colocar a pergunta espontânea na abertura é arregimentar um exército que está pronto a entrar na batalha! O esquentamento do perfil que tem mais simpatizantes se expande na esteira da pulverização de candidatos sem força. Dessa maneira, Lula tende a ganhar um peso maior do que tem e os outros candidatos acabam ficando em segundo plano. A polarização se estabelece. Bolsonaro aparece como contraponto. E, assim, ficamos com esses dois nomes que fazem campanha nos extremos: Lula e Bolsonaro! Ambos lideram as vontades nessa pré-campanha. PT em festa Diante dos resultados, o PT está vibrando com a pesquisa Datafolha. Lula na frente. Mas o partido deverá fechar a cara mais adiante. Luiz Inácio não deverá ser aceito candidato pelo TSE. A conferir. Mas vale Em suma, o meu aplauso ao DataFolha e, em especial, ao Mauro Paulino, especialista respeitado, mas nem por isso imune a críticas. A meu ver, essa pesquisa do DataFolha induz a respostas que não corresponderão ao X da questão no dia 7 de outubro. Pitacos de FHC A ideia de FHC de sugerir Marina Silva como alternativa do Centrão parece fadada ao fracasso. Marina é uma santa. Ou parece. E santidade não combina com a real politik. O centro continua disperso. Há, ainda, a eventual entrada de Josué Gomes da Silva, o megaempresário dono da Coteminas. Teria ele forças para congregar outros protagonistas? Acho que não. Um vulcão Com um monumental aparelho tecnológico, olho para as profundezas de nosso território continental. E diviso o magma se formando, quilômetros abaixo da superfície, prestes a subir, devagar, para explodir o vulcão social. Caso seja eleito alguém com perfil radical, seja na direita ou na esquerda. NV recorde Nas pesquisas de tendências, o NV - Não Voto (abstenções, nulos e brancos) pode bater o recorde este ano, saltando da média de 30% para 40% a 45%. Indignação geral. Mídias sociais nas campanhas A sociedade mundial está interconectada com as mídias tecnológicas, que passaram a constituir o novo fenômeno da sociedade contemporânea. As redes sociais permitem a interatividade, a integração, a socialização do conhecimento e da cultura. Um chinês do outro lado do mundo e o nosso amigo vizinho, enfim, todos os povos podem comungar as mesmas ideias, ou divergir por meio das redes tecnológicas. Na campanha deste ano, as redes sociais serão utilizadas com bastante intensidade pelas campanhas, funcionando como uma ferramenta tecnológica de informação, formação de opinião e propaganda. E o rádio e a TV? A televisão e o rádio, até então os dois mais poderosos instrumentos da comunicação política, continuarão a ser extremamente importantes, particularmente em períodos de campanha, quando os candidatos disporão de maior tempo para discorrer e detalhar seus programas de governo. Os candidatos com tempo mais largo de exposição tenderão a apresentar um melhor desempenho do que candidatos com curtíssimo tempo. A depender, claro, da criatividade. Lembram-se do Enéas Carneiro, do PRONA? Enéas tinha curtíssimo tempo, suficiente para dizer algo telegráfico e arrematar com "meu nome é Enéas". O cacoete linguístico lhe deu notoriedade. Mas não elegem Embora benéficas no sentido de agitar as militâncias, animar as alas que trabalham pelos candidatos, as redes sociais não serão capazes, sozinhas, de eleger este ou aquele candidato. Darão suporte, servirão como âncora, subsidiarão candidatos com informações, ajudando-os a mostrar ideias, projetos e programas de governo. Mas não elegerão candidatos. Militâncias serão mobilizadas. Mas novos eleitores não conseguirão. Campanha negativa Há que se tomar muito cuidado com a expressão verbal e escrita nas campanhas das redes sociais. Ataques, xingamentos, palavras mal utilizadas, conceitos ultrapassados, afirmações machistas ou que agridam as pessoas, a par de fake news compartilhadas poderão animar militantes. Mas arriscam a queimar o nome de candidatos. Big data Dia desses li, na coluna do Fernando Reinach, no jornal O Estado de S. Paulo, uma análise da interessantíssima pesquisa The Effect Of Partisanship And Politica Advertising On Close Family Ties. No levantamento, um grupo de cientistas descobriu que, após a eleição de Trump, os jantares de Thanksgiving (O Dia de Ação de Graças americano), nas famílias em que existe discordância política, foram 38 minutos mais curtos que a média. Em 2016, na média, esses jantares duraram 4 horas e 28 minutos. Descobrindo tudo Os cientistas ainda identificaram quais os distritos eleitorais mais bombardeados por anúncios políticos antes da eleição. Quando pessoas desses distritos se encontraram semanas depois da eleição, os jantares foram ainda mais curtos. Com essa pesquisa, fica claro o quanto já se sabe sobre o comportamento dos consumidores e eleitores e em que pé está o uso da tecnologia. Até nos pormenores. Sem segredos Com Big Data, que tende a ter sua utilização ampliada e intensificada nos próximos anos, será possível conhecer informações muito privadas. Não haverá mais segredos. O uso de pesquisas tecnológicas e algoritmos deve identificar por inteiro o ser humano: vontades, expectativas, natureza, índole, desejos, locomoção. O Donald Trump, por exemplo, descobriu que seus eleitores mais conservadores queriam um muro separando EUA e México. Então ele bateu nessa tecla. (Não importa se o muro será realidade ou não). O que importa é o que o eleitor quer ouvir. As empresas estão utilizando amplamente essas técnicas para acertar seu alvo, o público de campanhas publicitárias e políticas. Guerra e paz Donald Trump e Kim Jong-un começaram a discutir suas desavenças. A primeira conversa foi a sós. O gordinho parecia desajeitado. Um peixe fora d'água. Os dois decidiram desnuclearizar a península coreana. O encontro paira sobre uma grave crise que ameaça a economia global. O G7 praticamente rompeu com Trump. Em jogo, cerca de US$ 500 bilhões. O ambiente na Casa Branca é o pior de todos os tempos. Brigas, dissensões, querelas, puxadas de tapete. E falta de comando. E nós, por aqui, sobreviveremos?
quarta-feira, 6 de junho de 2018

Porandubas nº 576

Abro a coluna com JK. JK? Anos de chumbo grosso. Tempos magros, época de fechadura braba. Falar em Juscelino Kubitschek (JK) era, no mínimo, pecado mortal. Mudança das placas dos carros, as chamadas alfanuméricas. A Câmara Municipal de Diamantina oficia ao CONTRAN solicitando as letras JK para as placas dos carros do município, "como uma forma de homenagear o grande estadista John Kennedy". O CONTRAN não atende. Um conterrâneo de Juscelino desabafa: - Esse pessoal do Conselho deve ser republicano, eleitor do Nixon. (Historinha de Zé Abelha) Estado de expectativa Passada a turbulência da greve dos caminhoneiros, o país passa a viver um estado de expectativa. Existe alguma pedrinha do dominó a ser empurrada? Que setores poderão gerar desarmonia social, mobilização das ruas, confusão? Sabemos que alguns "exércitos" estão de prontidão. Não me refiro à prontidão das Forças Armadas, mas à articulação que setores radicais podem estabelecer para influenciar o clima do "quanto pior, melhor". Oportunistas, aventureiros, doidivanas, mercenários estão de olho nos horizontes. Urubus Como urubus disputando a carniça, vândalos querem tirar proveito para disputar o melhor pedaço político. Pedem ordem, mas pregam a bagunça, querem o império da lei, mas defendem intervenção militar. Faixas com esse apelo são usadas em movimentos de 10, 20 ou 100 pessoas. Mas o povão mesmo está afastado dessa artificial movimentação. A cúpula militar, por meio de seus chefes, entre eles o comandante do Exército, general Villas Bôas, já repeliu as insinuações. Prandi "Há uns malucos querendo a ditadura. Eles não sabem o que querem. Nunca viram, não têm ideia do que foi a intervenção militar no país, porque não têm formação. Não sabem isso e também não sabem mais nada". Sociólogo Reginaldo Prandi, um dos desenvolvedores das pesquisas de opinião no Brasil. Classes médias Vejamos. As classes médias, A, B e C, tendem a decidir sob critérios racionais. O poderoso grupamento de profissionais liberais, que forma opinião, está atento, observando o cenário, avaliando quadros e começando a se posicionar. O estrato médio mais baixo, o de classe C, tende a desenvolver um posicionamento mais duro, menos flexível e mais condizente com a ordem pública. Nele estão incluídos núcleos bolsonaristas. A esse contingente, juntam-se pequenos e médios proprietários de terras, comerciantes e alguns cantões mais conservadores. Mas as classes médias A e B tendem a formar um pensamento mais comedido, menos espalhafatoso e mais compromissado com valores democráticos. As margens As margens sociais procuram acalento, segurança, um pouquinho mais de grana no bolso, e muitos ainda procuram refúgio no cobertor do Estado. São propensos a aceitar e a admirar perfis populistas, demagogos ou representantes da política de cabresto, que abriga benesses e bolsas. Constituem massas amorfas que votam na esteira do fisiologismo em pleno vigor em espaços menos desenvolvidos do país. Como tal, são passíveis dos balões de ensaio e de inputs que saem dos polos de informação e opinião encaixados no meio da pirâmide. Portanto, o voto mais volúvel habita com intensidade a base social. A agitação e a eleição Uma das indagações recorrentes é: qual a influência da agitação de rua no processo eleitoral? Outra: quem está interessado na desorganização social? É claro que ruas sedentas de demandas terão peso no processo eleitoral. Principalmente em matérias que afetem diretamente o bolso do consumidor. Digamos que daqui a 60 dias, quando termina o prazo do desconto de R$ 0,46 no litro do diesel, organizações tentem voltar ao tema e cobrem do governo a continuidade do movimento. Políticos identificados com demandas mais claras e fortes poderão se beneficiar. Uma eleição sob tumulto melhora ou piora a situação de alguns protagonistas. Mas há um perigo Se as ondas sociais forem conduzidas sob a bitola eleitoreira, as massas poderão flagrar interesses espúrios, misturados a interesses legítimos de categorias, e dar o troco, que tende a ocorrer em forma de bumerangue: castigo, desprezo e o NV - não voto - em determinados candidatos. Os partidos de esquerda, a partir do PT, podem querer se aproveitar do tumulto social para melhorar sua performance. A operação corre o risco de ser um fracasso. Mesmo que tenha como meta tirar Lula da prisão. Brancos, nulos e abstenção A indignação social, com a consequente repulsa aos políticos, poderá aumentar, no pleito deste ano, o número de votos brancos, nulos e abstenções. Da média histórica entre 30% a 32%, podemos saltar para 40%. Vejam o que acaba de acontecer em Tocantins: abstenções, brancos e nulos somaram mais de 49% na eleição do último domingo para governo do Estado, maior que a soma dos dois candidatos que vão ao 2º turno. Aliás, em pelo menos 11 cidades do Tocantins, as abstenções, votos nulos e brancos superaram a quantidade de votos válidos. Kátia e Lula I A senadora Kátia Abreu (PDT-Tocantins) tornou-se mais conhecida fora de seu Estado como presidente da Confederação Nacional da Agricultura (2008-2011) e, mais tarde, como ministra da área no segundo mandato de sua amiga Dilma Rousseff (PT). Embora então no PMDB, votou contra o impeachment de Dilma e tornou-se feroz adversária do presidente Michel Temer. Acabou expulsa do partido no ano passado e passou para o PDT de Ciro Gomes. Kátia e Lula II Neste último domingo, concorreu ao cargo de governadora de Tocantins com o apoio do PT e do ex-presidente Lula, que fez uma carta lida em vídeo pela senadora Gleisi Hoffmann. O vídeo foi um bumerangue. Afundou Kátia Abreu. A eleição para substituir o governador cassado, Marcelo Miranda, vai para o segundo turno, a será disputado por Mauro Carlesse (PHS), governador interino, e o senador Vicentinho Alves (PR). Se vale como aperitivo para as eleições de outubro, a demonstração de força de Lula e do PT foi um tremendo fracasso. Greve de caminhoneiros O governador Márcio França, de São Paulo, teve um bom desempenho na negociação com os caminhoneiros. Enquanto o governo Federal tateava na solução, não contando com a presença de parcela ponderável das lideranças, o governo de São Paulo tomou a iniciativa de fechar o acordo. Mas a empreitada foi bem-sucedida graças à forte articulação empreendida por Marcos da Costa, presidente da OAB/SP, que funcionou como um elo entre os governos estadual, Federal e lideranças. Marcos foi imprescindível e, graças ao seu esforço, ocorreu o desbloqueio da rodovia Regis Bittencourt. Onde a resistência era maior. França, habilidade Já o governador Marcio França, às voltas com a questão do desconhecimento de seu nome, ganhou ampla cobertura da mídia, podendo sua disposição e sua liderança na condução do processo e conciliação vir a ter grande efeito na eleição de outubro. O governador, que assumiu o lugar de Geraldo Alckmin, é candidato à reeleição pelo PSB. Articulação social Na eleição deste ano, na esteira da organicidade social, o fator articulação será um dos mais importantes do marketing eleitoral. Nunca a sociedade brasileira esteve tão organizada. Uma miríade de entidades - sindicatos, federações, núcleos, associações, grupamentos, setores, áreas e categoriais profissionais - leva adiante a tarefa de mover a sociedade. Logo, a articulação com entidades e líderes se torna fundamental para o bom desempenho dos atores políticos. Mas os velhos marqueteiros não entendem disso. Acham que comunicação é apenas propaganda eleitoral. Muitos ainda não abandonaram a Idade da Pedra. Os limites do marketing Os administradores públicos se esforçam para criar uma identidade. Criam símbolos, sejam marcas, logotipos, slogans, etc. para serem reconhecidos pelo eleitor. A cruz de Cristo é, seguramente, um dos mais fortes símbolos da Humanidade. O sistema cognitivo das pessoas o associa imediatamente a Jesus. Essa tradição de uso de sinais é milenar. O marketing político faz uso deles para deixar o candidato mais próximo ao eleitor. Já o marketing governamental também neles se apoia para identificar o gestor - presidente, governador, prefeito e outros protagonistas. Ora, separar os limites entre marketing governamental e marketing eleitoral é uma tarefa quase impossível. Os limites são tênues. Candidatos se esforçam para ser reconhecidos por sua obra, que é geralmente associada a um sinal. É a estética estabelecendo ligação com a semântica. A multa de Doria Feita a análise conceitual acima, vamos ao caso. A juíza Cynthia Tomé, da 6ª vara da Fazenda Pública de São Paulo, impõe multa de R$ 200 mil, abrindo nova ação de improbidade contra o ex-prefeito João Doria (PSDB). Argumenta que ele faz promoção pessoal com o uso da expressão "Acelera SP". Tem sentido isso? Jânio usava o cabelo desgrenhado e olhos esbugalhados como marca. Juscelino Kubitschek usava o famoso JK como marca. Hoje, sua identidade seria proibida. Insensatez? Muitos usam ainda o V da Vitória, símbolo usado por Winston Churchill por ocasião da vitória das forças aliadas contra as forças nazistas de Hitler. Coisa natural. Tentar, agora, despregar o sinal do "Acelera SP" da imagem de João Doria é arrematado viés jurídico. Ele está terminantemente proibido de usá-lo. Imaginemos o ex-prefeito flagrado ao brincar com uma criança e usar o gesto. Mais 200 paus de multa. Ou mais. Meu Deus, quanta insensatez. Fecho a coluna com o presidente Dutra. Escola para quê? O presidente Dutra tinha um auxiliar capixaba, oficial do Exército, gago. Quando Dutra dava uma ordem, ele ficava mais gago ainda. Resolveu dar um jeito de curar a gagueira. Soube que o Méier tinha uma escola para gagos, tocou para lá. O endereço que levou não coincidia. Procurou no bairro todo, nada. Foi ao português da esquina, desses de bigode e tamanco, cara de quem desceu na praça Mauá: - O sesesenhor popopodia me inininformar se aaaqui temtemtem uma escola para gagagago? - Mas o senhor já fala gago tão bem, para que quer escola? (Do acervo do imperdível Sebastião Nery).
quarta-feira, 30 de maio de 2018

Porandubas nº 575

Abro a coluna com uma pequena oração: "Quiçá o Brasil entre urgente na normalidade com o final de greves e paz social". E por lembrar o advérbio quiçá (quem sabe, talvez), brindo os leitores com uma mineira historinha. Quiçá e cuíca Benedito Valadares, governador, foi a Uberaba para abrir a Expozebu. E passou a ler o discurso preparado pela assessoria. A certa altura, mandou ver: "cuíca daqui saia o melhor gado do Brasil". Ali estava escrito: "quiçá daqui saia o melhor gado". A imprensa caiu de gozação. Passou-se o tempo. Tempos depois, em um baile na Pampulha, o maestro, lembrando-se do famoso discurso na terra do zebu, começou a apresentar ao governador os instrumentos da orquestra. Até chegar na fatídica cuíca. E assim falou: "e esta, senhor governador, é a célebre cuíca". Ao que Benedito, desconfiado, redarguiu com inteira convicção: - Não caio mais nessa não. Isto é quiçá! (Historinha enviada por J. Geraldo) Panorama crítico A situação está prá lá de crítica. É a primeira observação deste analista político. Ao longo de minha vida jornalística, poucas vezes presenciei tanto estrangulamento na vida produtiva do país. Esta greve dos caminhoneiros excede todas as expectativas. E sinaliza interesses outros que não as efetivas e legítimas demandas das categorias. Há grupos interessados em manter a bagunça; oportunistas de plantão; militantes a serviço de partidos. (O governo teria identificado três movimentos políticos - "Intervenção militar já", "Fora Temer" e "Lula livre" - infiltrados na paralisação dos caminhoneiros.). Eles não levantam bandeiras porque seriam escorchados. E saudosistas das ditaduras, que brandem discursos intervencionistas. Governo tardou Vamos à análise do movimento paredista. Como escrevi, ontem, na Folha de S.Paulo, o governo enfrenta um dilema, que Carlos Matus, o famoso cientista social chileno e ex-ministro de Allende, resume com essa frase: "não é possível combinar sacrifícios econômicos e recessão transitória com crescimento econômico, aumento do emprego e Justiça social". A greve dos caminhoneiros coloca o governo diante do desafio: equilibrar os três cinturões que balizam uma administração pública: o econômico, o social e o político. Concessões Ademais, o governo montou um pacote de concessões, fez um primeiro acordo sem todos os representantes das categorias envolvidas na greve, fez um segundo acordo, complementando o primeiro, mas sem as garantias de que os caminhoneiros iriam desbloquear as estradas e acabar com a greve. Foi o que não aconteceu. Mobilizou as Forças Armadas, mas, pelo que se sabe, apenas alguns cabos e sargentos tomaram a direção dos caminhões. Afinal, para onde ir, que lugares deveriam receber as cargas etc. Pareceu um grande improviso. A comunicação do governo, mais uma vez, foi um desastre. O presidente está fazendo das tripas coração para ele mesmo ser o principal porta-voz governamental. Primeiro, a economia O equilíbrio entre os cinturões é responsável pela fortaleza ou fragilidade das ações governamentais. Os campos se imbricam de forma que o sucesso alcançado por um afeta o outro. Tomemos a economia: se produzir resultados de forma a resgatar a confiança dos setores produtivos, a frente política tende a olhar de maneira simpática para a gestão, com a consequente aprovação de projetos do Executivo. Foi o que se viu nos primeiros tempos da gestão Temer. A linha adotada inicialmente pelo governo foi bem-sucedida, mas no que se refere à política de preços dos combustíveis, elogiada nos primeiros momentos e que propiciou loas ao presidente da Petrobras, Pedro Parente, hoje é alvo das críticas. Dolarizar a gasolina Dolarizar o preço da gasolina, aumentá-lo ou diminuí-lo de acordo com a oscilação do preço do barril de petróleo no mercado internacional, criou por aqui uma gangorra, com remarcações quase diárias na bomba. O impacto no bolso de caminhoneiros foi jogado no colo de um governo que, ao contrário da administração Dilma, não represou preços. E isso tirou a Petrobras do buraco. Mas a fatura chegou com uma gigantesca greve que paralisou setores vitais. As concessões feitas pelo governo ao setor do diesel motivam outras áreas a fazer exigências. O horizonte sinaliza nuvens pesadas. Horizontes sombrios Veja-se essa greve dos petroleiros marcada para hoje e com duração de 72 horas. Junta a fome com a vontade de comer. Ou seja, será mais um movimento a paralisar o país. Como atender às demandas de petroleiros, entre as quais o congelamento de preços dos combustíveis, a demissão do presidente da Petrobras, Pedro Parente, a suspensão de importação de diesel e gasolina? Os cofres do Tesouro não suportarão estender benefícios a torto e a direito, política que quebraria a coluna vertebral que segura a economia. O afrouxamento do cinturão econômico ameaça desfazer a identidade reformista do governo. O cinturão social Já a área social ressente-se do seu pequeno PNBF (Produto Nacional Bruto da Felicidade), a partir do desemprego em massa e parcos resultados que a economia joga em seu bolso. Se a locomotiva econômica dá sinais nesse momento das dificuldades para puxar os vagões do trem - ainda mais com os efeitos deletérios da greve dos caminhoneiros - a ruptura social é o desenho à vista. O fato é que a administração não tem tido a capacidade de "fazer com que as coisas aconteçam" dentro de parâmetros de normalidade. A rigidez nas contas públicas começa a perder força, derrubada pela pororoca que aumenta as carências e corrói as esperanças do povo. O temor é que o descarrilamento do trem econômico puxe dissabores por todos os lados. A sociedade, em peso, abrirá sua expressão de indignação. Impacto no governo As elogiadas iniciativas governamentais - teto de gastos, reforma trabalhista, reforma educacional, terceirização, recuperação da Petrobrás e do Banco do Brasil, resgate da credibilidade do país - serão empurradas para longe pelos destroços que a greve provoca no seio social. E se outros movimentos emergirem com pautas reivindicatórias e de difícil atendimento? De onde o governo vai tirar recursos para ajustar, ao mesmo tempo, os cinturões econômico e social? O efeito "pedrinhas do dominó" abrirá imensa cratera no meio da sociedade. O cinturão político O terceiro cinturão é o político, que também se apresenta frouxo e esgarçado. Em ano eleitoral, os representantes adotam uma postura de resguardo, voltando-se (e até votando) contra um governo impopular. Não se pode contar com o cinturão político para ajudar o governo a aprovar medidas fundamentais ao crescimento. Partidos, grupos, operadores de estruturas disputam espaços de poder em torno de uma Torre de Babel. Ninguém se entende. Não é improvável vermos o pleito de outubro com multidões nas ruas. O momento exige bom senso. A quem interessa a baderna? Aos extremos: da esquerda e da direita. Esse ensaio nas avenidas de São Paulo e em algumas estradas pedindo "intervenção militar" sinaliza na direção do perfil identificado com "militarismo", força, ordem na bagunça: o capitão Jair Bolsonaro. Do lado extremo do arco ideológico, a extrema esquerda quer revanche ao que considera "um golpe", Michel Temer na presidência. O "quanto melhor, pior" pode funcionar como meio de pressão para tirar "o santo Luiz Inácio" da cadeia. Há, portanto, uma orquestração com essa melodia. Inclusive com a expressão de alguns militares de alta patente que, já de pijama, usam as redes sociais para falar de política. Já Bolsonaro percebeu que a intervenção militar acabará batendo na testa dele: as classes médias não entrariam nessa engabelação. E já começa a recuar. Crise sistêmica O fato é que o movimento paredista dos caminhoneiros bateu em muitos setores da vida cotidiana: supermercados sem produtos essenciais; hospitais e postos de saúde sem remédios; mobilidade urbana prejudicada; sistema educacional sem aulas; usinas siderúrgicas paradas e sem produção de aço; um bilhão de aves mortas nos próximos cinco dias se o desabastecimento continuar; 20 milhões de suínos mortos; impossibilidade de transportar essa massa; risco de contaminação de áreas e rebanhos; cirurgias impedidas e adiadas, etc. Imaginem a soma de toda essa destruição. Bilhões e bilhões. O país atrasa um bom tempo em seu percurso civilizatório. Mais impostos O temor de agravamento do clima social é imenso. A solução que o governo apresenta para ressarcir a conta das concessões é o aumento de impostos, a reoneração das folhas de pagamento (o ministro Eduardo Guardia desmentiu um dia depois de ter anunciado o aumento em entrevista coletiva). Ora, os trabalhadores e as empresas não aguentam mais - uma fração mínima que seja - aumento de tributos e impostos. A carga tributária chegou ao pico. A revolta dos setores organizados da sociedade - as grandes entidades - se somará ao clamor de todos. E os efeitos se voltarão como um bumerangue contra o governo. A turma do gogó, que pede renúncia ou afastamento do presidente, vai escancarar a goela. Ibope em SP 1º cenário Pesquisa Ibope feita em São Paulo com 1.008 eleitores e divulgada neste 29 de maio revelou, no 1º cenário: 1) Lula, 23%: 2) Jair Bolsonaro; 19%: 3) Geraldo Alckmin, 13%; 4) Marina Silva, 9%: 5) Ciro Gomes, 3%; 6) Álvaro Dias, 2%; 7) Fernando Collor de Mello, Henrique Meirelles, João Goulart Filho e Rodrigo Maia, 1%. Os outros não pontuaram. Brancos e nulo, 21%. Não sabe/não respondeu, 5%. 2º cenário 1) Jair Bolsonaro, 19%; 2) Geraldo Alckmin, 15%; 3) Marina Silva, 11%; 4) Ciro Gomes, 7%; 5) Álvaro Dias, 3%; 6) Fernando Haddad, 3%. Com 1% estão Henrique Meirelles, Fernando Collor de Mello, João Goulart Filho, Rodrigo Maia, Aldo Rebelo, Guilherme Boulos, João Amoêdo, Levy Fidelix, Manoela D'Ávila, Paulo Rabelo de Castro e Flávio Rocha. Brancos e nulos, 27%; Não sabe/não respondeu, 4%. 3º cenário 1) Jair Bolsonaro, 20%; 2) Geraldo Alckmin, 15%; 3) Marina Silva, 12%; 4) Ciro Gomes,7 ; 5) Álvaro Dias, 3%; 6) Henrique Meirelles, 2%. Com 1%: Aldo Rebelo, Fernando Collor de Melo, Flávio Rocha, Guilherme Boulos, João Goulart Filho, Rodrigo Maia, João Amoêdo, Levy Fideliz e Manuela D'Ávila. Os demais não pontuaram, incluindo o candidato do PT nesse cenário, Jaques Wagner. Brancos e nulos, 27%. Não sabe/não respondeu, 4%.
quarta-feira, 23 de maio de 2018

Porandubas nº 574

Abro a coluna com a sabedoria do prefeito de Santa Rita do Sapucaí, nas Minas Gerais, em tempos de outrora. Quatro sinais Certo prefeito de Santa Rita do Sapucaí, nas Minas Gerais, ao ver nomeado um amigo para comandar o DETRAN, correu a Belo Horizonte, e não se fez de rogado. Foi logo pedindo: - Amigo, me arranje uns sinais luminosos para minha cidade. Vai ser o maior sucesso. Vai ajudar muito a minha popularidade. O diretor, tomado de surpresa, ante tão inusitado pedido, procurou administrar a euforia do prefeito, mas não tinha como escapar à pressão: - Compadre, está difícil arrumar esses aparelhos. Tenho de fazer uma grande reforma aqui na capital. Mas vou me esforçar para lhe arrumar quatro sinais. Mas, por favor, não espalhe. Insisto: não espalhe. E assim foi. Ao chegar a Santa Rita, um mês depois da entrega, ficou embasbacado. Viu os quatro sinais colocados no mesmo lugar: o centro da cidade. Perguntou ao alcaide: "por que você mandou colocar todos eles naquele lugar"? Sorriso no canto da boca, o prefeito respondeu: - Ora, compadre, você esqueceu? Me lembro bem: você bem que me pediu para não espalhar os sinais de trânsito. E Meirelles, vai ou não vai? A pergunta do início da semana: e aí, Henrique Meirelles emplacará ou não? Toma o lugar de Michel Temer como candidato do MDB. Mais uma vez, usemos nossas bolas de cristal para tentar distinguir os caminhos do ex-ministro da Fazenda do atual governo. Procuremos agrupar fatores e razões sob algumas hipóteses. A primeira é a economia. O Brasil saiu da pior recessão de sua história e, segundo se sabe, por motivos de política econômica levada a cabo pelo então ministro Meirelles. Mas esse fator começa a ser embrulhado em papel grosso. E tende a ser jogado de lado. E o desemprego? A melhoria da economia, no entanto, não ocorre de maneira tão rápida quanto alguns porta-vozes chegaram a anunciar. O consumo voltou, mas não com tanto ímpeto. As margens sentiram leve brisa nos rostos de seus ocupantes, mas não a ponto de proporcionar um clima de conforto. Até porque os efeitos da recuperação da economia se fazem sentir de maneira mais palpável pela via do emprego. E os números nessa área são pequenos. O desemprego afeta cerca de 13,5 milhões de brasileiros. PIB da felicidade O Produto Interno Bruto da Felicidade não atingiu um índice que possa comprovar generalizada sensação de conforto social. A insegurança, com a violência desbragada, campeia. Em todos os espaços, os índices de criminalidade se expandem. As metrópoles e as grandes cidades expõem suas condições nervosas: trânsito congestionado, sistemas precários de mobilidade, gasolina e diesel aumentando, impostos devendo ser pagos nos prazos sob pena de multas, etc. O Bolso não está cheio para deixar a Barriga satisfeita, o Coração comovido e a Cabeça agradecida. A equação BO+BA+CO+CA está desarrumada. Déficit de carisma Ademais, Henrique Meirelles não acrescenta pontos ao estoque de carisma. Lula ainda tem. Outros candidatos quase zeram nessa pontuação. Meirelles exibe uma fonética meio arrastada, como se estivesse cansado de chegar ao final da frase. Sua cabeça arredondada, apresentando uma careca de muito respeito, insere seu perfil na galeria das figuras enfileiradas nas fotos de preto e branco dos nossos antepassados. Se ao menos a cara do velhinho irradiasse simpatia. Lembrando Getúlio? Não tem de Getúlio Vargas, cantado em versos por Haroldo Lobo, "Retrato do Velho" (marcha/carnaval), na campanha presidencial de 1950: "Bota o retrato do velho outra vez; bota no mesmo lugar; o sorriso do velhinho faz a gente trabalhar. Eu já botei o meu; E tu não vai botar? Já enfeitei o meu, e tu vais enfeitar? O sorriso do velhinho faz a gente trabalhar". Senhor imponderável Mas em política tudo pode acontecer. Digamos que caia um raio que abata a candidatura de Geraldo Alckmin; digamos que os outros candidatos do centro - Álvaro Dias, Flávio Rocha, João Amoedo, Paulo Rabelo de Castro - não consigam empolgar o eleitor; digamos que Marina Silva dê mostras de fragilidade; digamos que a metralhadora ambulante, Ciro Gomes, apresente defeitos na campanha. Digamos que os outros candidatos de esquerda - Boulos, Manuela - não se unam. E, por último, façamos de conta que Meirelles se sobressairá por inteiro com sua linguagem trôpega e corra como um bom cavalo de corrida. Ou um milagre de Sant'Ana Se isso ocorrer, o Senhor Imponderável de Anápolis/GO aparecerá com a testa pingando de suor e exibindo ares de vitória no calor da primeira semana de outubro. (Quem é mesmo a Padroeira de Anápolis?) Meu Deus, quanta coincidência: Senhora Sant'Ana, que é a padroeira de minha querida cidade Luís Gomes, uma serra a 750 metros de altura, nos confins do RN, PB e CE. Terrinha onde vim ao mundo. A maior probabilidade Deixando o campo de hipóteses e abstrações, mas continuando a usar minhas bolas de cristal, agora sobre um pilar de razoabilidade, as projeções mais racionais conduzem o raciocínio de que o quadro da política, o estado social, o arco ideológico e o jogo de parcerias, em processo de articulação, apontam um segundo turno abrigando: de um lado, as forças e conjuntos de centro-direita e, de outro, as forças e conjuntos de centro-esquerda. Os extremos podem produzir, hoje, grande volume de expressão, mas seus dois principais protagonistas arriscam-se a não ir a bom termo. Os dois extremos De um lado, Luiz Inácio Lula da Silva. Será enquadrado na Lei da Ficha Suja. Não sairá candidato, mesmo com todos os esforços do PT para viabilizar seu nome nas urnas. De outro, Jair Bolsonaro. Gira em torno de 18%. Não deverá conseguir formar ampla maioria, em função do retalho ideológico que encarna: extrema direita, armamentista, despreparado, um perfil que se amolda ao conceito de endurecimento das regras no Brasil. O meio e suas ondas O eleitorado racional, que reúne grupamentos de centro, tenderá a se afastar dele mais adiante. O meio social funciona como a pedra jogada no meio do lago. As ondas correrão até as margens. Pelas coisas absurdas que propagará. Volto a insistir com a regra: na política não há certezas prévias. Poderemos assistir o reingresso em cena do Senhor Imponderável dos Azares. Nesse caso, um capitão fardado de presidente poderá estampar sua cabeleira sob o sol ardente do Planalto Central. Zuzinha, senador Mário Covas Neto, vereador, filho do saudoso ex-governador de São Paulo, deverá ser candidato a senador pelo Podemos. Covas é advogado e foi reeleito vereador nas eleições de 2016 com 75.583 votos, sendo o quinto parlamentar mais votado no pleito. Atualmente, é membro da Comissão de Administração Pública, da qual já foi presidente em seu primeiro mandato na Casa. PSDB Quem quer ser o candidato a senador do PSDB é o deputado Ricardo Tripoli. Mas não concordam Cauê Macris, Pedro Tobias e Mara Gabrilli. Os três querem também ser candidatos. Amoedo no Roda Viva João Amoedo, que criou o partido Novo e é candidato à presidência da República, foi o entrevistado do programa Roda Viva, da TV Cultura, na última segunda-feira. Fala bem. Mas tudo muito alto, genérico, utópico, abstrato. Se eleito, passa a ideia de que vai governar unicamente com os congressistas do Novo a serem eleitos. Um liberal nas nuvens. De boas intenções, a terra da fornalha permanente está cheia. Amoedo, pise com os pés na dureza de nossa realidade... CNC, sombra e luz Declarações do candidato à presidência da CNC, José Tadros, devem ter deixado seus pares preocupadíssimos. O presidente da Fecomércio-AM há 32 anos não percebe sinais dos tempos: atacou o jornal Valor, dando respostas estarrecedoras, como no caso das acusações de nepotismo e sobre "foro íntimo" na sua ausência de proposta sobre reeleições. Disse que o debate sobre a sucessão na entidade que representa milhões de empresas e empregos não deveria ser público, e sim "interno", nas sombras. O outro candidato, deputado Laércio Oliveira, é criticado pelo grupo de Tadros por defender a renovação na CNC e externalizar o debate sobre seus desafios. Ao contrário de Tadros, Laércio possui amplas relações com a base empresarial da CNC, com os demais setores econômicos e com a classe política. Laércio estaria jogando muita luz na eleição, o que não interessa. Protagonismo Laércio acredita que, como parlamentar e à frente da CNC, poderá defender ainda mais e valorizar a atuação das Fecomércios, do SESC e do SENAC, como fomentar a preparação das entidades para os desafios da economia digital. Exemplo de sinergia dos mandatos foi a gestão do então deputado Armando Monteiro, que ampliou o protagonismo da CNI. Sempre coerente na defesa dos setores do comércio, serviços e turismo, o parlamentar relatou a Lei da Terceirização e defendeu a Reforma Trabalhista, mesmo contrariando a visão de seu partido. Laércio é visto pelos outros presidentes da Fecomércio como uma pessoa confiável. Fecho a coluna com o Ceará Que mundo doido... - É o diabo, o mundo endoidou! Exclamava Maneco Faustino nas ruas de Limoeiro/CE. E completava: - Veja vosmicê: tá se vendo estrela a mei dia; já hai galinha com chifre; cangaceiro dá esmola pra fazer igreja; já apareceu bode que dá leite; chove no Ceará em agosto. Muié já se senta em cadeira de barbeiro. Pedro Malagueta confirmava: - Tá mesmo, cumpade, o mundo endoidou. Tenho três filha, duas casada e uma solteira: as duas casada nunca tiveram menino; agora a solteira todos os ano me dá um neto.. Marketing eleitoral Alavancas do discurso Nesse momento, os pré-candidatos começam a se preparar para o pleito. Este consultor oferece pequena ajuda, mostrando como conseguir a adesão dos ouvintes e participantes de um evento de massa ao discurso. Como conseguir atrair a atenção da multidão? Pincemos pequenas lições dos clássicos da política. Existem alguns símbolos detonadores e indutores do entusiasmo das massas em, pelo menos, quatro categorias. Eis as quatro alavancas psíquicas: 1. Alavancas de adesão - Discurso voltado para fazer com que a população aceite os programas, associando-os a valores considerados bons. Nesse caso, o candidato precisa demonstrar a relação custo-benefício da proposta ou da promessa. 2. Alavancas de rejeição - Discurso voltado para o combate à coisas ruins (administrações passadas, por exemplo). Aqui, o candidato passa a combater as mazelas de seus adversários, os pontos fracos das administrações, utilizando, para tanto, as denúncias dos meios de comunicação que funcionam como elemento de comprovação do discurso. 3. Alavancas de autoridade - Abordagem em que o candidato usa a voz da experiência, do conhecimento, da autoridade, para procurar convencer. Sob essa abordagem, entram em questão os valores inerentes à personalidade do ator, suas qualidades pessoais. Quando se trata de figura de alta respeitabilidade, o discurso consegue muita eficácia. 4. Alavancas de conformização - Abordagem orientada para ganhar as massas e que usa, basicamente, os símbolos da unidade, do ideal coletivo, do apelo à solidariedade. É quando o político apela para o sentimento de integração das massas, a solidariedade grupal, o companheirismo, as demandas sociais homogêneas. Brechas na lei O advogado, no leito de morte, pede uma Bíblia e começa a lê-la avidamente. Todos se surpreendem com a conversão daquele homem e perguntam o motivo. O advogado doente responde: "Estou procurando brechas na lei".
quarta-feira, 16 de maio de 2018

Porandubas nº 573

Abro a coluna com a verve mineira. Mudou de nome? Mariana, em Minas Gerais, já foi chamada de Roma brasileira. Terra de fé e de velhas igrejas. E cheia de placas com nomes engraçados nas ruas: - Cônego Amando - Armando Pinto Cônego Amando era conhecido pela verve. Um dia, viajando pelo interior do município, uma de suas acompanhantes caiu do cavalo. Rapidamente ficou em pé. Meio sem graça, perguntou ao Cônego: - O senhor viu a minha agilidade? - Minha filha, respondeu, eu até que vi. O que eu não sabia é que tinha mudado de nome. (Historinha de Zé Abelha em A Mineirice) Dispersão do centro As perspectivas não são muito boas para o centro político. Considerava-se, dias atrás, que a articulação seria mais intensa com vistas à integração dos candidatos do centro e consequente união em torno de um único perfil. Não é o que se vê. As estocadas entre lideres e pré-candidatos dos partidos de centro se avolumam, a ponto de quebrarem algumas vigas da ponte de aproximação. PSDB e DEM praticamente têm um oceano a separá-los. E tucanos e peemedebistas também permanecem distantes. Margens ganham força Com a dispersão dos candidatos centrais, as margens ganham força. Bolsonaro vê seu nome ganhando cada vez mais visibilidade e anunciado como forte candidato ao segundo turno. Já na esquerda, mesmo com Lula na prisão e inviabilidade de sua candidatura, os candidatos do lado esquerdo do arco ideológico adquirem musculatura. Ciro Gomes e Marina entram no rol de probabilidades. Ciro, mais loquaz e preparado, Marina, estampando mais ética, porém, com estrutura precária de campanha, avançam na direção dos grandes contingentes eleitorais. Bolsonaro segura ou não? É a pergunta que se ouve de todos os lados. Terá poucos segundos de TV e rádio. Mas ganhará ampla cobertura das redes sociais. A projeção desse consultor é a que Bolsonaro está atingindo seu teto. Poderia até ganhar mais volume caso o candidato da margem esquerda seja alguém do PT. A lógica da eleição é a de que os candidatos com maior espaço de comunicação - grandes partidos - ampliem seus índices de intenção de voto. Geraldo Alckmin, por exemplo. Álvaro Dias, caso dispusesse de um bom tempo de mídia eleitoral, teria chances de crescer. Sob essa perspectiva, e sob critérios lógicos, Bolsonaro não segurará seus índices. Mas o imponderável sempre abre uma portinha para aparecer. A maré vem das margens O fato é que as margens ganharão amplitude inusitada no pleito deste ano. Respira-se um clima de saturação. A água parece poluída em todos os rios e córregos da política. As vontades convergem para a abertura de novos poços. Todos querem beber de uma nova fonte. Há um empuxo das margens criando marolas em direção ao centro. As classes médias, que formam as ondas de opinião, também estão saturadas. Infelizmente, por falta de perfis novos, não vamos ainda inaugurar a Era das Inovações. Mas os ventos que soprarão das margens serão suficientes para arejar os jardins da política. O que falta a cada um Geraldo Alckmin (PSDB): maior arrojo, maior visibilidade nacional, discurso avançado, compromissos com reformas, mais sal no tempero do discurso. Jair Bolsonaro (PSL): posições menos retrógradas, direcionadas ao Brasil das mudanças e não compromisso com o conservadorismo, menos artilharia no discurso. Ciro Gomes (PDT): controle da expressão, cuidado para não ferir brios das classes centrais, maior disposição para o diálogo, menos propensão a briga de botequim. Marina Silva (Rede): menos suavidade e mais pluralismo no discurso, de forma a ampliar os eixos temáticos, maior capacidade para fazer parcerias e disposição para enfrentar a real politik. Álvaro Dias (Podemos): maior visibilidade nacional, discurso afinado às demandas sociais e regionais, articulação para adensar parcerias. Rodrigo Maia (DEM): ser conhecido em todo o Brasil; consolidar parcerias que o apoiam, abrir o discurso para temáticas sociais. Manuela D'Ávila (PC do B): convencer que tem experiência administrativa, mostrar domínio sobre temas nacionais, formar parcerias. Guilherme Boulos (PSOL): demonstrar que não é apenas "fogueteiro" ou ocupador de áreas publicas e privadas, abrir o discurso. Paulo Rabelo (PSC), João Amoedo(Novo) e Flávio Rocha(PRB): maior inserção do discurso nas áreas sociais, visão mais plural do Brasil, ao lado do domínio temático em matéria de economia. Michel Temer (MDB): articulação para viabilizar a candidatura; esforço para mostrar os avanços do país em dois anos de governo; visitar com frequência as regiões. Henrique Meirelles (MDB): capacidade de articulação para viabilizar sua candidatura junto aos partidos de centro, mobilidade, discurso mais afeito ao dia a dia da população, capacidade para decodificar economês ao nível popular. Guilherme Afif (PSD): convencer o PSD que é candidato pra valer; correr o país, abrir o discurso. Aldo Rebelo (Solidariedade): convencer o partido que é candidato pra valer; correr o país, abrir o discurso. Fernando Collor (PTC): convencer que seu perfil respira o espírito do tempo, convencer o partido que é candidato pra valer. José Maria Eymael (PSDC): Convencer que sua candidatura desta feita não vai se restringir ao famoso jingle. Fernando Haddad, Jaques Wagner ou outro perfil do PT: substituir o discurso do "nós e eles" pelo discurso na união nacional; reconhecer os erros cometidos pelo PT e evitar o exclusivismo nos domínios da política e do poder. Lula: liberar o PT para realizar o plano B (substituto) e aceitar as regras do jogo judicial, evitar discurso do ódio e da revanche. Pleito na CNC Pela importância do pleito que se realizará em setembro para o comando da CNC, a coluna abre espaço para comentar o evento. Fechamento de um ciclo Aos 92 anos, sendo os últimos 38 anos à frente da Confederação Nacional de Comércio de Bens, Serviços e Turismo, Antônio Oliveira Santos deixará o cargo. Trata-se da poderosa entidade patronal, liderando 27 FECOMÉRCIOs nos Estados e sete Federações nacionais de serviços, cerca de mil sindicatos e estruturas do SESC e SENAC espalhadas em todo o país. No fechamento do ciclo que consolidaria seu legado, Antônio Oliveira não conseguiu consenso e pode perder o protagonismo de abrir uma era de renovação, projetando o sistema para o futuro. Oxigênio na potência O sistema CNC destaca-se por sua força econômica. Mas há muita reclamação por ser uma entidade fechada e pouco atuante na efetiva defesa dos representados. As empresas ressentem-se de pouco espaço para participação. A hora é de suprir oxigênio na potência. Patrimonialismo A tendência do presidente que sai é a de apoiar uma chapa encabeçada por José Tadros, presidente da FECOMÉRCIO-AM há 36 anos. Eleito por seis sindicatos com os quais tem profundas relações, Tadros representa a continuidade de uma atuação patrimonialista. Com processos em investigação no TCU, uma liminar do TRF da 1ª região o mantém na disputa. Forte atuação no Congresso O outro candidato é o deputado Laércio Oliveira, Presidente da FECOMÉRCIO-SE. Laércio tem atuado como principal interlocutor do setor de comércio e serviços junto aos poderes públicos e outros setores empresariais. Com reconhecida atuação no Congresso e sem ser populista, Laércio foi relator da Lei da Terceirização, defendeu a reforma trabalhista, liderou resistência ao aumento do PIS/COFINS para os serviços e está na presidência da Comissão do Código Comercial. Trata-se de um candidato "ficha limpa". TST e o desequilíbrio As sete Federações de Serviços filiadas à CNC, representando parcela expressiva de empregos e contribuições para o sistema, querem ter direito a votar individualmente. Hoje, de acordo com estatuto da CNC, todas juntas têm um voto apenas. As entidades conseguiram decisões judiciais favoráveis em primeira e segunda instâncias, mas aguardam recurso da presidência da CNC ao TST, que precisa ser julgado antes de setembro. Hora da decisão O cenário atual é de equilíbrio, caso o TST não decida a tempo. Se as Federações de serviços puderem votar individualmente, o cenário é amplamente favorável a Laércio, que conta com apoio majoritário das FECOMÉRCIOs do Sul, Sudeste, Centro Oeste e parte do Nordeste. Tadros tem sua força no Norte e parte do Nordeste. A forte representatividade associada a Laércio, além do apoio empresarial e da classe política, tendem a puxar apoios para garantir a eleição. A eleição ocorrerá em setembro, mas praticamente será definida em junho. Força ao comércio e serviços Laércio tem conseguido alta adesão da base empresarial às suas propostas. No campo eleitoral, quer limitar a uma reeleição para o mesmo cargo na CNC. No campo institucional, sua proposta é fortalecer a atuação da entidade com maior participação das bases representativas e ampliar a comunicação, dando a ela a dimensão que a Indústria e a Agricultura têm na atuação no Congresso e no Executivo. No campo negocial, pretende apoiar a reestruturação dos sindicatos e sua capacidade de negociação no pós-reforma. Educação e tecnologia No SESC e no SENAC, seu foco principal será a educação e a necessidade de investimentos para a rápida atualização tecnológica das entidades, visando preparar trabalhadores e empresas para as transformações da economia digital. Laércio atuou na defesa do sistema S. Acredita que, como o Sistema sofre questionamentos, precisará no próximo ciclo dar respostas rápidas e se mostrar cada vez mais útil para a sociedade. Marketing eleitoral Porandubas abre espaço para o marketing eleitoral. Estratégias e táticas Candidatos de todos os partidos ganham força quando estabelecem um bom planejamento de suas campanhas. Pequeno roteiro: - Buscar o apoio de entidades organizadas da municipalidade - sindicatos, associações, Federações, clubes, movimentos, núcleos; - Montar sistema de aferição (pesquisa) de modo a mapear demandas e interesses dos bairros e regiões; - Estabelecer um programa abrigando ações e projetos específicos para as áreas e elegendo como focos determinados setores da sociedade (mulheres, crianças, jovens, etc.); - Criar agenda de eventos - pequenos eventos, bem articulados, com pequenos grupos, de forma a estabelecer forte interação entre os interlocutores; mais eventos pequenos funcionam melhor que eventos grandes; - Criar forte identidade - eleger dois ou três grandes eixos que possam identificar rapidamente o candidato, de forma a estabelecer um diferencial em relação a outros; - Escolher um grupo de conselheiros entre os nomes mais respeitados da comunidade e que sirva de referência; - Estabelecer um fluxo de comunicação para a campanha, obedecendo aos ciclos: lançamento do nome; crescimento da campanha; consolidação da visibilidade; maturidade; clímax da campanha e declínio. Deixar volumes maiores para as últimas fases; - Formar ampla rede de apoiadores/cabos eleitorais de confiança, fazendo com que cada eleitor seja, ele mesmo, um cabo eleitoral; - Formar uma teia de divulgadores/trombetas de campanha, pessoas que começam a falar das virtudes e qualidades do candidato, de modo natural, conquistando, assim, a simpatia dos ouvintes. Sem demonstrar arrogância; - Planejar o dia D. Dia das Eleições. Logística, visibilidade/publicidade (controlada), sistemas de articulação/mobilização/apuração, etc.
quarta-feira, 9 de maio de 2018

Porandubas nº 572

Abro a coluna com uma historinha da Bahia. Vaquinha Vereador em Itiruçu, Bahia, estava duro. A seca tinha comido tudo. Sem dinheiro para a feira, foi pedir ao prefeito Pedrinho. Pedrinho brincou: - Por que você não pede a Jesus Cristo? Ele não é o pai dos pobres? Voltou para casa, escreveu a Jesus Cristo pedindo 50 contos. Endereçou: "Para Nosso Senhor Jesus Cristo". E pôs no Correio. No correio, abriram a carta, levaram para o bar. Lá fizeram uma vaquinha, apuraram 42 contos, registraram e mandaram para o vereador. Quando ele abriu viu os 42 contos, sentou-se e escreveu nova carta: "Nosso Senhor, agradeço muito sua atenção. Recebi o dinheiro que lhe pedi. Mas rogo o seguinte: se o senhor for mandar dinheiro novamente, faça o obséquio de mandar em cheque, porque, dos 50 contos, o pessoal do correio meteu a mão em 8". (Registro do amigo Sebastião Nery em seu Folclore Político). A desistência de Joaquim Joaquim Barbosa era a onda do momento. As conversas giravam em torno da história do menino pobre, filho de uma lavadeira, que fez pós-graduação na Sorbonne, prestigiada Universidade francesa. Ex-presidente do STF, Joaquim encarnava os valores da ética, da honestidade e da coragem. O tão aguardado candidato desferiu uma "reversão de expectativas". Anuncia pelo Twitter ter desistido da candidatura. A desistência pode favorecer Marina Silva, Ciro Gomes, do campo do centro-esquerda. Mas, ao enxugar a moldura de candidaturas, pode, também, ajudar os de centro-direita, como Geraldo Alckmin. Destemperado Fala-se muito do estilo rompante do ex-ministro do Supremo. Muitos torciam para ver uma luta entre ele e Ciro Gomes, dois perfis considerados "destemperados". Seria tiro pra cá e tiro pra lá. Joaquim teria uma história de vida que poderia atrair o voto de milhões de eleitores das margens. E sua identidade teria a força de um "logotipo ambulante". Seria um candidato com muitas possibilidades de canalizar as atenções das massas. Mas a democracia é isso: expectativas e surpresas. O imponderável sempre faz sua visita. A curva à direita O Brasil está fazendo uma curva à direita? A pergunta leva em conta a visível inclinação pelo lado direito da política, cujo sinal mais forte vem da opção eleitoral por Jair Bolsonaro, o capitão que agrega as demandas de uma forte parcela social. A bagunça que se desenvolve no país, a partir da violência comandada de dentro dos presídios, as investigações que flagram a propinagem para políticos e negócios escusos de empresários, formam o pano de fundo para o organizador da ordem, o militar que quer ver soldado matando bandido, o perfil que tem o discurso mais radical de nossas campanhas eleitorais. Um ciclo na direita A movimentação de parcela social nos cantos da direita não é algo firme. Trata-se de um jogo de conveniências ditadas pelas circunstâncias. A sociedade clama por assepsia. Por limpeza ética. Essa tendência também funciona como contraponto ao estado de descalabro por que o país passou e ainda passa, sob a pérfida política econômica do ciclo petista. A divisão social criada pelo PT persiste e se desenvolve por meio de ódio e indignação, de um lado, e militantes que devassam o patrimônio público com seus movimentos organizados. A curva à direita é, portanto, uma resposta à curva para a esquerda. A decantação das águas Com a decantação das águas revoltas, coisa a ocorrer nos meados do próximo ano, é razoável apostar em um tempo de maior harmonia, menos truculência nas ruas, maior controle na segurança pública, economia voltando a gerar empregos. Se isso ocorrer dentro de um cenário positivo, serão fortalecidos os eixos centrais de nossa democracia. A questão é saber se teremos um horizonte claro ainda este ano. Pouco provável. Meses turbulentos Vejamos as probabilidades. A economia, mesmo sob recuperação, não implicará em grande volume de empregos. A harmonia social é um corolário dessa hipótese. Pode haver algum conforto - pequeno - advindo da equação BO+BA+CO+CA= Bolso, Barriga, Coração, Cabeça. Ou seja, o Bolso pode ter certo alívio, mas não a ponto de satisfazer a Barriga das margens e, assim, o Coração não estará tão comovido a ponto de fazer a Cabeça agradecer o bem-estar proporcionado pelos provedores da equação. Os bons ventos soprarão com mais força apenas em 2019. Por isso, o que se prevê é uma campanha farta de arenga e disputa, fervendo e com tiroteios recíprocos. A esquerda rachada As esquerdas, por sua vez, estão rachadas. A começar pelo PT, que não abre mão de sua condição de vestal. Continua a entoar loas a si mesmo. Faz de Lula a vítima perseguida pelo regime. Um prisioneiro político. Lula não teria feito nada de errado. Nem ele nem Dilma. O PT abre a locução: "Lula está preso para não poder ser candidato e assim proporcionar a redenção do povo brasileiro". Um conto da carochinha. O Partido tenta esconder as curvas erráticas que fez em 13 anos de poder. Três alas Por isso, o próprio PT está rachado em três alas. Uma que quer Lula como candidato; a segunda que quer um plano B, alguém no lugar de Lula como candidato; e a terceira ala, a que defende um vice do PT na chapa de Ciro Gomes. Mas a divisão da esquerda vai além: pega a Rede de Marina, o PDT de Ciro, o PSOL de Boulos, o PSB da família Campos, etc. Cada qual quer dar o tom da orquestra. PSB vai para onde? Depois dessa desistência de Joaquim Barbosa, para onde irá o PSB? Há condições de se aliar ao PDT de Ciro? Ao PT do plano B? Ir para o centro-direita com Geraldo Alckmin. Lembrete: o governador de São Paulo, Márcio França, PSB, continua sendo leal a Alckmin. Será seu candidato. Até quando? A divisão das frentes partidárias abre grande indefinição na campanha. Seria mais fácil saber quais os protagonistas a entrarem no jogo se víssemos união no centro-esquerda e no centro-direita. Mais ou mais tarde, essa alternativa emergirá. Pois é a única condição para que um dos lados obtenha sucesso. A desunião será um suicídio. No caso do centro-esquerda, duas possibilidades estão claras: o PT aliando-se ao PDT e indicando o vice na chapa de Ciro Gomes; a outra alternativa seria uma composição entre Marina (Rede) e Joaquim Barbosa (PSB). A questão é de vaidade: nenhum dos dois quer a condição de vice. Só lhes interessa a cabeça de chapa. No centro-direita Já no centro-direita, a dispersão partidária deixa ver um imenso arquipélago com ilhas muito distantes umas das outras. Mas é possível que, nos meados de julho, um choque de realidade convoque os protagonistas à mesa do consenso. Ali, cada qual apresentará suas cartas: índice de intenção de voto, rejeição, organização do partido nos Estados e municípios, fundo partidário, condições de fechar parcerias, etc. Seis a sete candidatos estão perambulando pelo centro-direta. E jogando palavras ao vento. Se não se unirem, babau. Viabilidade Carlos Matus, cientista social chileno, em um magistral estudo sobre Estratégias Políticas, demonstra que a viabilidade de um ator na política tem a muito que ver com a estratégia e seus princípios fundamentais. Eis alguns princípios estratégicos: a) Avaliar a situação; b) Adequar a relação recurso/objetivo; c) Concentrar-se no foco; d) Planejar rodeios táticos e explorar a fraqueza do adversário; e) Economizar recursos; f) Escolher a trajetória de menor expectativa; g) Multiplicar os efeitos das decisões; h) Relacionar estratégias; i) Escolher diversas possibilidades; j) Evitar o pior; k) Não enfrentar o adversário quando ele estiver esperando; l) Não repetir, de imediato, uma operação fracassada; m) Não confundir "reduzir a incerteza" com "preferir a certeza"; n) Não se distrair com detalhes insignificantes; o) Minimizar a capacidade de retaliação do adversário. Panorama dos Estados Roraima... Recente pesquisa da empresa Z mostra o ex-governador Anchieta Junior (PSDB) em 1º lugar, com 35,12%, para o governo do Estado. Para o Senado, o 1º lugar cabe ao deputado estadual Mecias de Jesus (PRB), com 13%. Suely Campos (PP), a governadora, aparece em 7º lugar para o governo, com 5,66%. RN Pesquisa do Instituto Certa mostra a senadora Fátima Bezerra (PT) em 1º lugar, com 25,60%, para o governo, seguida de Carlos Eduardo (PDT), com 14,54%, e Geraldo Melo (PSDB), com 7,66%, e Robinson Faria, com 5,04%. PE Pesquisa do Instituto Múltipla para o governo do Estado de Pernambuco mostra tecnicamente empatados os quatro primeiros nomes da pesquisa. O atual governador do Estado, Paulo Câmara (PSB), aparece com 15,5% das intenções de voto, seguido pela vereadora Marília Arraes (PT) com 15%. Em seguida, o senador Armando Monteiro (PTB) com 14,5% e, em 4º, o ex-ministro da Educação Mendonça Filho (DEM) com 11%. PI Pesquisa do Instituto Amostragem mostra PT vencendo a eleição para o governo do Piauí no 1º turno. Quem lidera a pesquisa é o atual governador do Estado, Wellington Dias (PT), com 51,8% das intenções. Trata-se da reeleição. Em 2º lugar, aparece o deputado estadual dr. Pessoa (SD), com 9,9%. AM Instituto Pesquisa 365 para o governo do Amazonas mostra empate técnico entre o jornalista Wilson Lima (PSC) e o atual governador do Estado, Amazonino Mendes (PDT). 19,4% dos entrevistados apóiam Wilson Lima, enquanto Amazonino obteve 17,8% das intenções de voto. BA Com desistência do prefeito ACM Neto (DEM) de disputar o governo da Bahia, o deputado João Gualberto (PSDB) anunciou que sairá candidato, garantindo palanque tucano a Geraldo Alckmin no Estado, um dos maiores colégios eleitorais do país. Com a candidatura de José Ronaldo pelo DEM, a intenção é forçar um segundo turno contra o governador Rui Costa (PT). SE Pesquisa do Instituto Franca registrada mostra seguinte moldura se as eleições fossem hoje. Nomes citados espontaneamente: Eduardo Amorim 6,8; Jackson Barreto 2,5; Belivaldo Chagas 2,0; senador Valadares 1,9; André Moura 1,4; Mendonça Prado 1,1; Vera Lúcia 0,7; dr. Emerson 0,4. SP Última pesquisa Ibope mostra: João Doria com 24%; Paulo Skaf, com 19%; Luiz Marinho, com 4%, Márcio França, com 3%; Rogério Chequer, com 2%; e Lisete Arelaro, com 1%. ES Pesquisa FlexConsult/Rede Vitória aponta liderança do governador Paulo Hartung. Os dois candidatos que possuem o maior recall na aprovação espontânea são Paulo Hartung, com 7,4%, e o seu antecessor, Renato Casagrande, com 5,5%. Na sequência, aparece Max Filho, com 0,7%, Rose de Freitas, com 0,6%, candidato do PT, com 0,1% e Vania Valadão, com 0,1%. PR Na primeira pesquisa registrada do ano, Osmar Dias (PDT) e Ratinho Jr. (PSD) aparecem tecnicamente empatados para concorrer ao cargo de governador do Paraná. Pesquisa Ibope. RS Embora continue negando em público a possibilidade de tentar novo mandato, José Ivo Sartori assumiu pessoalmente, desde o fim de março, as conversas em busca de aliados para viabilizar a candidatura. O governador tem até 5 de agosto, quando se encerra o prazo das convenções partidárias, para confirmar seu nome.
quarta-feira, 25 de abril de 2018

Porandubas nº 571

Abro a coluna com uma historinha de Jânio em Cuba. Cadê a pistola de Fidel? "Ir-me-ei a Cuba. Encontrar-me-ei com Fidel Castro para ver e aprender o que estão fazendo por lá". O anúncio feito por Jânio Quadros em 1960 deixou de cabelos em pé os correligionários da UDN, partido conservador pelo qual concorria à presidência da República. Mas não houve quem o demovesse da ideia. O encontro com Fidel e Che Guevara na embaixada brasileira em Cuba foi regado a álcool e muitas histórias. Durante três hora e meia, a comitiva brasileira ouviu Fidel narrar empolgantes episódios da revolução. Nenhum copo ficou desguarnecido de rum durante o evento - o que se pode deduzir pela cara dos personagens na foto. Na saída, após abraços afetuosos, Fidel foi buscar a pistola que havia deixado na recepção da embaixada, a mesma que o acompanhava desde a revolução cubana. Após longos e tensos minutos, o embaixador Vasco Leitão da Cunha comunicou, assustado, que a arma histórica havia desaparecido. "Bem, só espero que quem a levou faça bom uso dela, como nós em Sierra Maestra", respondeu Fidel. (Historinha enviada por Manuel Rezende Correa- CEO do Grupo Saint-Gobain) Hauly e a reforma tributária Este consultor ficou deveras impressionado com o vasto conhecimento expresso pelo experiente deputado Luiz Carlos Hauly (PSDB-PR) na área dos tributos. É o relator da reforma tributária. Tanto em uma exposição pessoal quanto na aula que proferiu para empresários e políticos reunidos no 17º Fórum Empresarial, realizado em Recife, Hauly deu provas de denso domínio da matéria. A reforma tributária se faz absolutamente necessária. Ainda este ano. Não haverá perda de receita como teme a Receita Federal. O presidente Michel Temer e o ministro Eduardo Guardia devem se tranquilizar. O país ganhará mais uma alavanca para modernizar seu sistema de tributos. Parabéns, Hauly. Quem vai ser presidente? Essa foi a pergunta mais recorrente que este consultor recebeu no denso 17º Fórum Empresarial, ocorrido no Sheraton Reserva do Paiva no Cabo de Santo Agostinho, em Recife. Pelo menos um ligeiro desenho da situação político-eleitoral foi apresentado. Para quem não teve oportunidade de ouvir e, para os muitos leitores de Porandubas, apresento alguns traços do cenário, a começar pela nebulosa que obscurece as visões. Vamos lá. Dispersão Primeira observação: o pleito está muito perto, mas parece longe. Será daqui a pouco mais de cinco meses, mas dá impressão de que é coisa para 2019. Segunda: a planilha de pré-candidatos é vasta, contendo uns 20 perfis, que, decantadas as águas, deverão se estreitar em uma dúzia. Terceira: as forças de centro-esquerda tomam fôlego nesses tempos nebulosos, eis que alguns de seus integrantes receberão votos do custodiado Lula da Silva. Mais precisamente: ganham força Marina Silva, Ciro Gomes e Joaquim Barbosa. Quarta: os candidatos do centro estão dispersos, formando um arquipélago de ilhas distantes. O meio e as pontas O meio disperso favorece as pontas, a extrema direita e a extrema esquerda. Na direita, Bolsonaro reina isolado. Na esquerda, Lula continua liderando, mas à medida que a ficha for caindo no sistema cognitivo do eleitor, candidatos do centro-esquerda podem captar parcela dos votos lulistas. Mesmo com toda a pressão do PT, é praticamente impossível garantir a elegibilidade de Lula. Ciro Gomes tende a abocanhar parcela do lulismo no Nordeste; Joaquim se transforma em um logotipo ambulante; Marina, asséptica, pode avançar na direção do voto dos jovens. Mas o centro tem condições de reagir. E vai tentar. MDB, DEM e PSDB No centro, aparecem os nomes de Geraldo Alckmin, Michel Temer, Rodrigo Maia e Henrique Meirelles. Este consultor tende a crer que estes nomes e mais outros deverão, mais adiante, fazer uma avaliação de suas posições. O presidente Temer deverá ter seu índice aumentado, a partir de comunicação mais pesada sobre os feitos do governo em curto espaço de tempo. Maia também poderá ver subir sua avaliação. Trata-se de grande articulador. Meirelles, nesse caso, ficaria de stand by. Vai depender da decisão de Temer. 60 a 70% de chance E Alckmin? Se subir na escada da intenção de voto, pode atrair forças centrais. Mas os tucanos não são bem vistos pelo leque partidário. São considerados autossuficientes e em cima do muro. Os tempos de rádio e TV do MDB, DEM e PSDB, juntos, abririam grande visibilidade para um candidato comum aos três partidos. Se esses três partidos se unirem, as chances de ter seu candidato no segundo turno ficam entre 60 a 70 numa régua de 100. Em São Paulo, as negociações para um acordo entre MDB e PSDB avançam. Paulo Skaf, ao que se sabe, luta contra essa possibilidade. É pequena sua chance de se eleger governador. O potencial de MT Se a comunicação do governo conseguir mostrar e demonstrar os grandes avanços do país no curto tempo de governo, o presidente pode ter seus índices melhorados. É o que inúmeros interlocutores apontam. O fato é: há abissal distância entre as coisas boas e avançadas feitas pelo governo e a avaliação negativa que dele se faz. Algo está errado. O MDB tem formidável espaço de mídia eleitoral. Somado ao espaço do DEM e do PSDB, os três partidos teriam condições de posicionar bem sua candidatura. Por outro lado, partidos médios, como o PSD de Kassab e o PP, além dos pequenos seriam atraídos pela força dos grandes. O meio termo de Alckmin E Geraldo Alckmin vai subir? Depende. Primeiro, vai depender da evolução das investigações que o MP tem solicitado. O ex-governador passou a ser alvo do tiroteio. Segundo, a índole de Alckmin é a do equilíbrio, da harmonia, valores que, nesses temos de batalhas campais e sangrentas, parece destoante. Cobra-se dele uma palavra incisiva, um murro na mesa. Se não tivesse tão tíbio por ocasião das denúncias contra o presidente Temer, o MDB já teria fechado parceria com o tucanato. Na redoma de São Paulo Alckmin é a cara de São Paulo, aqui confinado desde a era Covas, não sendo conhecido no país. Poderia ter circulado mais solto pelas regiões. Quarto, não se conhece uma grande ideia do ex-governador. Trata-se de um bom gestor atuando no dia a dia. Sem projetos de forte impacto. É o que se comenta. Pode ser o imã? O crescimento de Alckmin vai depender do clima eleitoral nos idos de julho. Lava Jato avançando ou recuando, acordos entre os grandes partidos, evolução das esquerdas etc. O PSDB tem estruturas em todo o país. São Paulo será decisivo com seu colégio eleitoral de 35 milhões de eleitores. Se Alckmin for bem avaliado e levar uma grande bacia de votos no Estado poderá compensar a perda de votação no Nordeste, que tem 27% dos votos válidos do país. São Paulo tem 24% dos votos válidos. E Minas Gerais, o 2º maior colégio eleitoral? Com Aécio Neves fora do jogo, resta ao PSDB apostar na chance do senador Antônio Anastasia para o governo. E se este não for candidato? Alckmin perderá largo palanque. Rio e Bahia No Rio e na Bahia, votos para a esquerda estão garantidos. Sob a imagem de Sérgio Cabral, que acumula uma pena de mais de 100 anos, será inviável a eleição de um governista para substituir Pezão. Eduardo Paes saiu do MDB para o PP, pode ser candidato, mas sua imagem ainda se liga a Cabral. Já a esquerda, com Chico Alencar, Freixo ou outro, poderá levar a melhor no Rio, 3º colégio eleitoral. Na Bahia, o candidato Rui Costa, do PT, é o favorito. Com a desistência de ACM Neto, que preferiu continuar como prefeito, Costa alavanca suas chances. Bahia é o 4º colégio eleitoral do país. Quem no lugar do Lula? Luis Inácio está fora do jogo como candidato, mas não como eleitor. E o PT não deve demorar para colocar alguém em seu lugar. O partido precisa garantir seu porte. Daí a necessidade de ter palanque em todos os Estados. Esperar pela palavra final do TSE sobre a elegibilidade de Lula é protelar uma campanha, que já será curta. (O ministro Gilmar, porém, admite a possibilidade de uma decisão da segunda Turma resultar na libertação de Lula). Para ter palanque, urge ter candidato. Um perfil para puxar votos e eleger bancadas estaduais e Federais de deputados. Haddad se firma como o nome mais adequado. Depois que Jaques Wagner foi alvo de denúncias, seu cacife arrefeceu. Haddad não terá chances, mas o PT, como partido, deve eleger um grupo de governadores e uma bancada razoável. Diz-se que Lula deu liberdade ao PT para o partido tomar decisões. Querelas internas ganharão volume. Ciro, Barbosa e Marina Um desses tem possibilidades de entrar no 2º turno. Ciro Gomes é o mais político e com melhor conhecimento da realidade brasileira. É destemperado, sem papas na língua, o que poderá prejudicá-lo. Marina tem ótima imagem, mas deixa passar fragilidade ante as pressões políticas e incapacidade de lidar com a contundência e o combate a céu aberto. Joaquim Barbosa tem uma grande história de vida. Subiu os degraus da escada da vida, desde o mais baixo. Chegou a ser presidente da mais alta Corte do país. A ele faltaria jogo de cintura, capacidade de dançar na corda bamba da política. Não aguentaria o tranco. Exemplo arrematado da dinâmica social brasileira. Os três, principalmente Marina, terão curto espaço de mídia eleitoral. Guilherme Boulos, do MTST, lançado pelo PSOL, será o fogueteiro da campanha. E Manuela d'Ávila, com bela estampa, poderá até aumentar sua cota no vácuo deixado na esquerda pela saída de Lula. Álvaro Dias Trata-se de um senador, que transita na área central, e tem boa imagem. Mas seu Podemos, novo partido, sofre limitações: estrutura, tempo de rádio e TV etc. Portanto, estaria diante do grande desafio: tornar-se conhecido no país. No Sudeste, há sinais de que fará boa performance, a partir de seu Estado, o Paraná. Rocha, Amoedo, Rabello e Afif Flávio Rocha, do PRB, João Amoedo, do Partido Novo, Paulo Rabello de Castro, do PSC, e Guilherme Afif Domingos, do PSD, formam o eixo mais forte do liberalismo clássico. Rocha, que vem do grupo Riachuelo, ao lado da defesa de princípios liberais, transita pelas veredas do conservadorismo, inclusive com matiz religioso do evangelismo (Igreja Sara Nossa Terra, bispo Rodovalho). Ele conta com o eleitorado evangélico, que chega a somar um terço da população eleitoral. Certa importância. P.S. Anunciou que vai ele mesmo bancar sua campanha. Nova disposição Amoedo é um liberal com ideias firmes no terreno do Estado restrito a cumprir suas funções constitucionais. Rocha conhece bem a política, tendo sido deputado por dois mandatos. E já foi candidato a presidente uma vez, desistindo no meio da campanha. Amoedo é centralizador e seu Partido Novo queima eventuais perfis da velha política que nele desejem ingressar. Disporão de pouco tempo e estruturas para tornar conhecidos seus ideários. Ambos, porém, trazem sangue novo e uma nova disposição para o pleito. Ponto em comum entre Rocha e Amoedo: ambos têm raízes familiares no RN. Flávio Gurgel Rocha nasceu em Recife, em 14 de fevereiro de 1958, é empresário filiado ao Partido Republicano Brasileiro (PRB). Foi presidente das Lojas Riachuelo, terceira maior rede de moda do país. João Dionísio Filgueira Barreto Amoedo nasceu no Rio de Janeiro em 22 de outubro de 1962, é bancário, engenheiro, administrador de empresas, economista, ativista político e palestrante brasileiro. Fundador do Partido Novo. Rabello, um dos mais renomados pensadores e economistas do país, deixou ótima impressão em Recife, ao participar do 17º Fórum Empresarial do Brasil - LIDE, e Afif, desfraldando a bandeira dos batalhadores do pequeno e médio empresariado! Rabello será o candidato do PSC e Afif pode sair pelo PSD! Resumo da ópera Em síntese, consideremos o arco ideológico dividido em três partes: a esquerda, o centro e a direita. Com imbricações e interpenetrações de alguns limites - o centro abocanhando espaços à sua direita e à sua esquerda, e estas áreas invadindo roças do centro. A média eleitoral deve contemplar mais o centro do que as margens. Digamos que o centro abocanhe entre 40% a 50%. Com as margens perfazendo, cada uma, 30% a 25%. Um pouco mais para lá ou para cá. Se houver muita dispersão, o 2º turno poderá abrigar candidatos até com 15% a 18%. Bolsonaro tem chances? Não, se formos aplicar um modelo racional de política. Sim, se avaliarmos suas chances pela régua emotiva. Pelo olhar racional, trata-se de um perfil não bem preparado. Sabe o elementar de economia. Seu principal discurso é na área da segurança pública. Representa o império da ordem, o uso da força para combater a bandidagem. "Bandido bom é bandido morto". "Soldado bom é soldado que mata". Defende distribuição de armas aos fazendeiros. Ganha aplausos de corações aflitos ante a corrente de insegurança. Tempo escasso de mídia Terá poucos segundos para dar seu recado na TV e no rádio. Portanto, será canibalizado por candidatos com grande tempo de mídia. Como a política não tem regras, as emoções da massa abrem espaço para ir em frente. Este consultor, porém, não crê em suas reais chances. Ou seja, terá poucas possibilidades de sustentar seu índice de intenção de voto. Tempo de TV Face à campanha mais curta - de 90 para 45 dias e de 45 dias para 35 de mídia eleitoral - o fator comunicação será de importância capital. Mais que nos pleitos passados. Daí o intenso trabalho dos líderes para fechar alianças e parcerias. O corre-corre é grande. Joaquim versus Bolsonaro As pesquisas atestam que em um 2º turno com Joaquim Barbosa e Jair Bolsonaro, o juiz venceria o deputado. O juiz carrega a marca da ética. O deputado simboliza o ideário da segurança. A questão é: quem garante que um dos dois estará no 2º turno? PSB rachado O PSB, em sua maioria, quer ver Joaquim Barbosa como seu candidato. Essa ala é a comandada pelo presidente do partido, Carlos Siqueira, apoiado pela família Campos (do falecido Eduardo Campos, ex-governador de Pernambuco). Mas o atual governador de São Paulo, Márcio França, defende o apoio do PSB ao pré-candidato Geraldo Alckmin. O filho de Eduardo, João Campos, que será candidato a deputado, apóia Barbosa. Foi o que este consultor viu nesses últimos dias no 17º Fórum Empresarial do Lide em Recife.