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Política, Direito & Economia NA REAL

Enfoque político, jurídico e econômico.

Francisco Petros
terça-feira, 6 de outubro de 2009

Política & Economia NA REAL n° 72

BC versus Fazenda : uma questão de fundo A última desavença entre o ministério da Fazenda e o BC, agora a respeito dos efeitos de uma política fiscal "frouxa" que poderia levar a uma elevação da taxa básica de juros proximamente (tese do BC), não deve ser vista apenas como mais uma picuinha entes os dois órgãos, um dos quais oficialmente subordinado ao outro. Nem às constantes trocas de farpas entre Henrique Meirelles e Guido Mantega, que acabam sendo resolvidas intra-muros ou com o passar de mão na cabeça dos dois, uma clara disputa de comando da economia. Mas não é apenas uma questão pontual, como as queixas ao conservadorismo do BC na política de juros. Dessa vez é uma questão mais profunda e que envolve opções de política econômica. Trata-se de uma crítica do BC à forma como está sendo conduzida a política fiscal, à forma como o governo vem gastando. Seja para garantir a recuperação da atividade econômica, seja como incentivo eleitoral. Os reparos do BC bateram fundo. Não foi à toa a reação do secretário de política econômica do ministério da Fazenda, Nelson Barbosa, por ordem do próprio ministro Mantega. Mantega também reagiu sem subterfúgios. Até prova em contrário, a opção por gastar e a forma como a expansão das despesas está se dando é decisão do presidente Lula e de sua ministra-chefe da Casa Civil. Portanto, não há que ser mudada. Definitivamente, passou a era dos superávits primários (economia para pagar juros) elevados. Talvez tenha passado até a do próprio superávit. Pelo menos até as urnas de outubro de 2010. Quem ficou em situação delicada foi o BC. Ou pelo menos uma parte de sua diretoria. E seu presidente, Henrique Meirelles. Debandada ? Já circulava em Brasília a informação de que o diretor de política econômica do BC, Mario Mesquita, estava preparando sua saída da instituição até dezembro. Também estariam com as malas prontas outros dois diretores vindos do sistema financeiro privado : Mario Toros e Antonio Gustavo do Vale. As divergências com a turma do ministro Mantega podem apressar as decisões. Principalmente a de Mesquita, pivô das discussões abertas sobre a política fiscal, que na sexta-feira foi alvo de uma nota pesada do sindicato dos servidores do BC. Prestígio O secretário Nelson Barbosa, da Fazenda, escalado por Mantega para responder a Mesquita, é uma estrela em ascensão na burocracia econômica. E queridinho da ministra Dilma. Finanças de padaria de periferia Há algumas semanas o secretário do Tesouro informou que a entrega de novos recursos ao BNDES, para ampliar sua capacidade de financiamento, contribuiu para um aumento de R$ 106 bi na dívida pública. Esta dívida é remunerada pela Selic, hoje em 8,75%. Para evitar que apareçam números vermelhos na conta do governo, o ministério da Fazenda tem utilizado alguns expedientes - transferir pagamentos de negócios já realizados, apropriação de depósitos judiciais que um dia terão de ser resolvidos... e o aumento do pagamento de dividendos por parte de empresas estatais ao Tesouro. Somente de janeiro a agosto deste ano a contribuição das estatais foi de R$ 18,2 bilhões, o dobro do mesmo período do ano passado. Somente o BNDES entrou com R$ 4 bilhões neste bolo. Traduzindo : o BNDES entrega ao Tesouro dinheiro que não tem nenhum custo para ele e depois o governo vai ao mercado pagar juros de 8,75% para capitalizar o banco. Alguém andou faltando a algumas aulas básica de introdução à economia. Jogo de risco O governo está apostando que, depois das eleições, com a vitória de sua candidata e a recuperação da economia, todo e qualquer desvio será naturalmente corrigido. A vitória olímpica aumentou ainda mais a certeza nesses poderes quase divinos de Brasília. Um país de contrastes Duas notícias que estavam em "O Globo" de sábado : 1. "O governo já comemora o resultado da economia no terceiro trimestre de 2009. Projeções preliminares feitas pela equipe econômica que, entre julho e setembro, o PIB terá crescimento entre 2% e 2,5% em relação ao segundo trimestre." 2. "O desligamento voluntário de hospitais privados do SUS reduziu a oferta de leitos públicos para internação no país : de 2007 a 2009, 3.129 foram fechados. (...) Insatisfeitos com a tabela de pagamentos aos credenciados, 1.082 hospitais particulares se desvincularam do sistema em uma década. O reflexo foi imediato no número de atendimentos pelo SUS na rede privada : uma queda de 3,27 milhões para 1,75 milhões, de 1998 a 2007." Pode-se chamar a isto de crescimento sustentável, saudável ? Radar "NA REAL" 2/10/9 TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA estável/alta alta - Pós-Fixados NA estável estável/alta Câmbio ² - EURO 1,4705 estável/alta alta - REAL 1,7902 estável/baixa alta Mercado Acionário - Ibovespa 60.355,73 estável/queda estável/alta - S&P 500 1.025,21 estável/queda alta - NASDAQ 2.048,11 estável/queda alta (1) - Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais)(2) - Em relação ao dólar norte-americanoNA - Não aplicável Os desafios olímpicos Não há como não aplaudir, apesar de todos os senões que podem ser apontados, o esforço público e privado, mais ainda o primeiro, para trazer a Olimpíada de 2016 para o RJ. Mas tantas devoções e lágrimas só serão justificadas de fato se, ao fim e ao cabo, as promessas feitas ao COI forem integralmente cumpridas e a velha capital voltar a ser o que foi até meados, fins dos anos 1960. Urbanamente remodelada, livre da miséria, da sujeira e da violência que a assolam. Aí sim os cariocas e todos os brasileiros terão conquistado verdadeiramente uma medalha de ouro, independentemente das que nossos atletas vierem a conquistar. Caso contrário, tudo o que viu até agora e se verá pelo menos até outubro do ano que vem, não terá sido mais do que um bom expediente eleitoral. De doer de rir Especialistas em planejamento, em urbanismo e em construção estão, como diria Eça de Queirós, tendo "frouxos de riso" com as previsões preliminares de que as obras necessárias para fazer um "Rio" até a Olimpíada vão custar pouco menos de R$ 30 bilhões. Ainda mais agora que o presidente Lula anunciou que até lá todas as favelas cariocas terão se transformado em bairros civilizados. A desastrosa operação Pan custou quase cinco vezes mais do que foi esforçada. E com dezenas de contestações do TCU. Negócios educacionais Irrepreensível o trabalho dos repórteres Renata Cafardo e Sérgio Pompeu do "Estadão" no caso do vazamento das provas do Enem. Jornalismo de responsabilidade. Há algo mais a olhar, porém. As investigações oficiais encaminham-se para a conclusão de uma delinquência civil, de um grupelho tentando ganhar dinheiro fácil. É possível. Não devemos nos esquecer, contudo, que pode ter havido algo mais importante. Por que não pensar numa tentativa de desmoralizar o Enem e jogar para um futuro bem mais distante a tentativa de substituir o vestibular por algo mais consistente. O fim do vestibular como o conhecemos hoje põe em xeque um dos melhores "negócios" (sim, com a carga pejorativa que esta expressão carrega) da mercantilizada educação nacional. Segue a mesma linha e tem a mesma intenção das tentativas de desqualificar as avaliações que o ministério da Educação aplica nas escolas de ensino superior. Lula continua "nomeando" Teve o dedo do presidente Lula - e somente o dele - na decisão, de última hora, do deputado Ciro Gomes de transferir seu título de eleitor para São Paulo. É uma pedra mexida por Lula para acuar o PSDB e principalmente o governador José Serra. E dar também um recadinho ao PMDB, que anda confiado demais quando se trata de discutir a sucessão presidencial. Como Ciro podia ser candidato à presidência da República sem se fixar eleitoralmente em São Paulo, conclui-se que sua candidatura à sucessão de Lula é tão "irrevogável" quanto a renúncia do senador Aloízio Mercadante à liderança do PT. O árbitro da "revogabilidade" é Lula. Assim : 1. Ciro poderá manter a candidatura se Lula o desejar, dependendo do desenrolar das pesquisas eleitorais, até mesmo como um plano B. 2. Ciro poderá ser escalado por Lula para brigar em SP, para espezinhar os tucanos (aliás, ele já disse que seu propósito é provocar Serra). 3. O deputado cearense com título em São Paulo poderá numa eventualidade compor a chapa situacionista como vice de Dilma. Falta combinar A estratégia, porém, tem alguns furos : 1. Não será fácil convencer o PT a abrir mão de comandar a chapa governista. Depois do que ele andou dizendo do PMDB, será difícil convencer o peemedebismo a apoiar Ciro. Se com Dilma já há resistências. 2. Parte do petismo paulista não vê com simpatia a importação de um candidato para SP, ainda mais de outro partido. 3. Será que o PMDB dará seus seis minutos eleitorais no rádio e na televisão para a coligação aliada sem ficar com a vice ? Preço alto Se o eleitor perceber que Ciro Gomes está ainda vacilando entre a Presidência, a vice, e o governo de SP, pode começar a fugir de seu nome nas listas dos institutos de pesquisa. E a partir do momento em que ele parar de crescer ou mesmo começar a cair nessas sondagens, seu cacife eleitoral vai diminuir naturalmente. Pode ficar sem nada - sem Presidência, sem vice, sem governo estadual. Como a Greta Garbo de uma peça famosa no Brasil, pode acabar em Irajá. Sem reação Enquanto Lula - não se sabe ainda se com genialidade política ou desastradamente - monta suas armações eleitorais, o PSB e seu candidatos continuam numa modorra só. Ou estão muito confiantes ou estão perdidos, perplexos. Mais para a segunda, parece. Dilma Olímpica A ministra Dilma, com uma camisa amarela alusiva à campanha carioca, comemorou a escolha do RJ para sediar a Olimpíada de 2016 no Copacabana Palace. Há alguns metros do hotel, um dos preferidos dos milionários do Brasil e estrangeiros, ocorria uma grande manifestação popular pela gloriosa escolha do Rio. Cada um em seu lugar. Socialismo moreno Do jornalista Carlos Brickman em sua coluna eletrônica a respeito do vírus "socialista" que, de repente passou a contaminar alguns empresários e celebridades de vários quilates: "Já dá para fazer convenção socialista no Terraço Daslu. Mas alguém poderia explicar aos socialites que socialismo é uma coisa e coluna social é outra". É como disse o senador cassado Joaquim Roriz, candidato ao governo do DF, ao explicar a troca do PMDB pelo PSC : "Ele tem social no nome e tudo o que eu quero é ser social". O número vale muito O motivo pelo qual muitos políticos, na área regional, relutam em abrir mão de um candidato próprio ao governo do Estado, em benefício de uma aliança no plano federal (como é o caso do PT com o PMDB, mas não apenas este) está no fato de que o número do partido cabeça de chave aparecerá muito mais nas peças de propaganda do que os coligados. E isso pode custar votos vitais para a eleição de deputados federais e estaduais. Coluna de empregos 1. O número de candidatos dos partidos governistas às vagas na diretoria e nos conselhos da Petrosal já é de tal ordem que daria para formar a direção de pelo menos duas dúzias de empregos públicos. 2. O governo já decidiu que vai reativar a Telebrás para entregar a ela o comando do Programa Nacional de Banda Larga. 3. Depende apenas de uma votação no Senado a criação da Previc (Superintendência Nacional de Previdência Complementar). Ela terá diretoria colegiada e ao menos 14 cargos-chave sem concurso, fora o corpo de quase uma centena de técnicos. Lavagem de dinheiro O Senado anuncia que vai aperfeiçoar o projeto que legaliza os bingos e outras "cositas" mais, que tem entre seus maiores patrocinadores visíveis o deputado Paulo Pereira da Silva, o Paulinho da Força. O único aperfeiçoamento possível para uma excrescência dessas é a lata de lixo. Mas como estamos em época eleitoral e os interessados no projeto são grandes "investidores" nesta área, pode-se esperar pelo pior.
terça-feira, 29 de setembro de 2009

Política & Economia NA REAL n° 71

  Lula "nomeou" Meirelles para o PMDB Foi o presidente da República quem "indicou" Henrique Meirelles, um político em busca de legenda e votos, para o PMDB de Goiás. Meirelles estava quase acertado com o PP do governador goiano quando Lula interferiu para levar Meirelles a trocar de camisa antes mesmo de vesti-la. O PP também é da aliança governista. Portanto, do ponto de vista formal tanto fazia uma ou outra opção. Mas Lula tem outros objetivos : 1. Precisa reforçar a ala lulista do PMDB, uma vez que a ala serrista está mostrando muita desenvoltura e entre os aliados presidenciais começam a aparecer algumas vacilações depois que Dilma passou a derrapar nas pesquisas. 2. Uma de suas obsessões em 2010 é derrotar o senador tucano Marcone Perillo na disputa pelo governo de Goiás. Perillo, por ocasião do episódio do mensalão, quando Lula já havia abraçado a teoria jurídica (depois bordão oficial) do ministro Marcio Tomaz Bastos do "eu não sabia", disse mais de uma vez que o presidente "não sabia o que estava ocorrendo em seu quintal". Acredita-se que uma chapa com Íris Rezende (ex-governador, atual prefeito de Goiânia) para governador e Meirelles para o Senado, com apoio do PT, seria imbatível. 3. Lula precisa de mais opções de prestígio no PMDB para escolher o vice de Dilma no partido. Meirelles pode ser especialmente útil no caso de um algum sacolejo na economia ou no caso de os pequenos temores hoje já existentes no mercado a respeito das posições econômicas menos ortodoxas de sua preferida cresçam e comece a surgir no cenário um "risco Dilma". Meirelles seria o aval de que nada na economia mudará. Pelo menos "visualmente". Pergunta inocente Meirelles se filia ao PMDB, entra em campanha, e continua comandando a política monetária num momento em que o governo puxa por mais gastos e os fundamentos aconselham um pouco mais de austeridade e menos gastos com a máquina administrativa e com a folha de pagamentos ? Noivado antecipado Lula dará ao PMDB o acordo pré-nupcial que seus aliados no partido estão pedindo, entre as cláusulas a declaração formal de que o vice será da legenda aliada. Não indicará o nome agora, porém, se reserva para indicá-lo em outra ocasião e de acordo com as injunções do momento. Por isso, a inscrição de Meirelles no PMDB de Goiás, por decisão de Lula está causando tantos ciúmes no partido. A realização do matrimônio, no entanto, vai depender do comportamento dos irmãos da noiva e do noivo nos Estados. Se alguns insistirem em tomar conta da festa, vai dar briga. E quem vai ter de ceder mais é o PT. Em Minas, por exemplo, a ruptura pode ocorrer a qualquer momento. O ministro Hélio Costa, líder nas pesquisas, parece que se cansou de esperar gestos de boa vontade dos petistas. Costa anda entusiasmado com os afagos de Aécio. Tudo por um vice Agora que começou a ficar mais bem situado nas pesquisas, o deputado Ciro Gomes voltou a ficar saidinho. Foi nesse estado de espírito, quando começa a se considerar superior a tudo e a todos, que Ciro "escorregou" duas vezes em outras corridas presidenciais. Pelas últimas entrevistas, parece que não aprendeu muita coisa. Ciro já está à procura de parceiros, para aumentar seu tempo de propaganda no rádio e na televisão. Seus operadores admitem até oferecer a candidatura a vice ao presidente licenciado do PDT e ministro do trabalho, Carlos Lupi. Estranha esta postura de Ciro o qual fala em "hegemonia ética" e critica o tipo de relação que Lula e o PMDB estão estabelecendo. Ela já está incomodando O PT e seus aliados e a oposição já começaram a perder a "ternura" com que inicialmente receberam na corrida eleitoral a ex-ministra do Meio Ambiente, Marina Silva. Conversa fiada Não paguem pelo valor de face afirmações como princípios programáticos, identidade de objetivos, co-gestão estatal e outras balelas sacadas pelos líderes partidários para edulcorar as alianças que estão sendo montadas, tanto no nível federal quanto no nível estadual com vistas às eleições de 2010. A verdadeira moeda de troca é uma só : o tempo eleitoral no rádio e na televisão a ser compensado com cargos na máquina pública. O resto é paisagem. E a fidelidade partidária ? A intensa a troca de partidos nessas últimas semanas. O movimento é em todas as legendas, por isso mesmo ninguém quer recorrer à Justiça Eleitoral para reaver eventuais mantas dos trânsfugas. E depois querem ser levados a sério. Nada de novo no front Houve uma pequena "realização de lucros" nas cotações dos ativos de renda fixa e variável no mercado internacional. Nada que possa alterar a visão positiva em relação ao cenário de recuperação que está se desfraldando em todas as principais economias, bem como na maioria dos setores e segmentos. A demanda agregada mundial está se expandindo da excepcional crise que vivemos desde meados do ano passado. Obviamente, processos de recuperação são cheios de altos e baixos, bem como o fato da elevação da atividade econômica normalmente ser muito mais lenta que a sua queda, sobretudo nas crises. Portanto, a recuperação demorará anos e não meses. Todavia, não se pode negar que o atual momento é benigno e a melhora dos mercados é justificada, a despeito dos riscos consideráveis presentes no cenário. Em relação às últimas semanas não há novidades relevantes capazes de influenciar os investidores. Uma pausa bem vinda no processo de alta. BC manda seu recado A divulgação do Relatório de Inflação do terceiro trimestre do ano por parte do Banco Central do Brasil não trouxe novidades no que tange às informações, mas de certa forma surpreendeu no que se refere ao tom. Ficou evidente a preocupação da autoridade monetária com a combinação dos elevados gastos do governo e a expansão da demanda. Basicamente, o que o BC está prognosticando é que quando a demanda privada crescer mais esta se somará a demanda pública (que já é elevada) e, assim, os riscos para a inflação crescerão. O BC não antecipa, mas o que está a dizer é que o freio para inflação é a elevação da taxa básica de juros. Não devemos esquecer que no início de 2010, o presidente do BC Henrique Meirelles deverá sair da presidência e iniciar a sua carreira política. A expectativa de elevação da inflação e as modificações esperadas no BC são problemas significativos para a política econômica no ano eleitoral. O sinal está amarelo. Bem amarelo. Eleição em primeiro lugar Saem esta semana os resultados das contas do governo federal no mês de agosto, despesas e receitas e despesas do mês passado mais os resultados do BC. Alguns artifícios contábeis deverão ser usados para pintar as coisas menos difíceis do que estão. Não há risco de ampliação - nem de manutenção - da antiga austeridade fiscal em conturbados tempos de urna. Pelo contrário: quem gritar "quero mais !", leva. Teste de prestígio Tomou posse o novo ministro das Relações Institucionais, uma burocrata de segundo escalão escolhido para substituir José Múcio, brindado com uma vaga no TCU por serviços prestados. A opção de Lula foi uma solução para não reabrir uma briga entre o PT e o PMDB pelo cargo no momento em que os dois partidos tentam uma aliança pré-nupcial em torno de Dilma. O teste do novo ministro virá esta semana : liberar pelos menos R$ 1 bilhão das verbas das emendas dos parlamentares, já prometida há um mês pelo ministro Paulo Bernardo e que Múcio não conseguiu assegurar. Tanto na agenda da Câmara quanto na do Senado há projetos previstos para serem votados bem ao gosto daqueles que gostam de dar o troco e mandar recados para o Planalto. Se falhar, o burocrata perderá de cara qualquer condição de comandar a base aliada no Congresso. G-20 : o papo continua Foram três os principais assuntos discutidos pelo G-20 em Pittsburgh nos EUA: 1 - coordenação das políticas econômicas para manter a demanda mundial em um tom crescente; 2 - a regulação mais efetiva e restritiva do sistema financeiro e 3 - a redução dos subsídios governamentais, sobretudo dos países europeus para o setor agrícola. Vejamos os resultados (além da maquiagem das declarações oficiais) : 1 - há certamente certa coordenação das políticas econômicas dentre os países do G-20. Todavia, na ausência de sanções (enforcement) para quem não cumprir a sua parte é difícil acreditarmos que esta coordenação será crível ao longo do tempo. E credibilidade é fator essencial para os agentes econômicos; 2 - a regulação do sistema financeiro depende em larga medida de medidas domésticas para funcionar. Nenhum país está disposto a submeter os seus sistemas financeiros às regras internacionais, sobretudo quando se referem às regras para concessão de crédito, contabilização de ativos e passivos e regras para premiação de executivos (bônus). Portanto, há pouca esperança de que esta regulação funcione e 3 - nenhum país rico abdica do direito (e do interesse) em proteger o seu setor agrícola. Os países mais pobres ficam sem acesso aos mercados para vender suas commodities. Como se vê estes encontros de cúpula são importantes para sentir a temperatura da crise, mas nos parecem pouco efetivas para resolver problemas. Questão de timing Escreveu o "Estadão" : "Só no fim de 2012 a nova ordem deverá vigorar de forma completa. Além disso, ficou para o fim do próximo ano o acordo sobre as novas normas de segurança dos bancos - regras de capitalização, limites de operação e critérios de gestão de riscos. Também levará três anos a reforma do perigoso mercado de derivativos, onde indivíduos, empresas e instituições financeiras arriscaram e perderam bilhões num jogo obscuro e sem lei." Será que, até tudo sugerido pelo G-20 entrar em vigor, dará tempo para evitar a construção de um novo desastre, de vez que a euforia já está a toda velocidade nos lugares de sempre e a "criatividade" dos financistas está novamente em plena efervescência ? Questão de vontade A entrada em vigor das "recomendações" do G-20 vai depender das decisões individuais e soberanas de cada governo. A valer a amostra do nível de obediência geral à orientação do Grupo na primeira reunião do G-8 "ampliado" a respeito do protecionismo nada importante do encontro nos Estados Unidos vai prevalecer de fato. E o FMI ? Há um detalhe incrível a ser observado nos encontros do G-20. O FMI, desmoralizado nos últimos anos em função de seus diagnósticos irrelevantes e suas recomendações equivocadas, vai ganhando força de novo. Além de receber recursos dos países do G-20 para voltar a atuar, O FMI é o organismo responsável pela análise da "coordenação" das políticas econômicas. Uma espécie de "supervisor" sem poder de coerção. Nada se fala das reformas recomendadas para os organismos internacionais. Tudo continua na mesma. Radar "NA REAL" Assim como nas últimas semanas, não estamos procedendo nenhuma alteração no que se refere às recomendações contidas no nosso radar. Continuamos acreditando na estabilidade dos diversos segmentos do mercado financeiro mundial. Eventuais quedas das cotações dos ativos de renda fixa, das ações e das commodities devem ser entendidas como "normais". O cenário é benigno e para que haja alteração da tendência positiva, somente novos (e relevantes) fatos têm de surgir. Por fim, no Brasil continuamos recomendando distância da compra dos títulos prefixados (e do mercado futuro de juros) com prazo além de doze meses. A inflação é risco relevante conforme comentamos em nota acima. 25/9/9   TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹        - Pré-fixados NA estável/alta alta  - Pós-Fixados NA estável estável/alta Câmbio ²        - EURO 1,4705 estável/alta alta  - REAL 1,7902 estável/baixa alta Mercado Acionário        - Ibovespa 60.355,73 estável/queda estável/alta  - S&P 500 1.044,38 estável/queda alta  - NASDAQ 2.090,92 estável/queda alta (1) - Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais)(2) - Em relação ao dólar norte-americanoNA - Não aplicável Honduras é detalhe De fato, o papel do Brasil nesta crise com Honduras necessita ser esclarecida. Embora o governo esteja com a premissa política absolutamente correta no caso (defesa da legitimidade do governo deposto de Manuel Zelaya), o aparecimento inesperado do presidente deposto entre os muros da embaixada em Tegucigalpa é um mistério. O apoio brasileiro ao presidente deposto merece reparos sob todos os aspectos. Este aguça divisões entre os países do continente e deixa evidentes as contradições da diplomacia brasileira, sobretudo no que se refere à ditadura cubana e ao regime bolivariano de Hugo Chávez. Muito barulho por nada. Ou por Honduras... Enquanto isto, o Irã No momento em que gastamos tempo político com Honduras, as novas revelações relacionadas ao desenvolvimento do potencial bélico atômico do Irã mostram que o posicionamento diplomático do Brasil no caso é muito mais problemático e merece mais atenção da mídia e dos analistas. Alguém tem dúvida de que o Irã é uma ameaça à estabilidade do Oriente Médio e do Mundo ? Alguém de bom senso pode apoiar as declarações de Mahmoud Ahmadinejad ? A aproximação do Brasil com o Irã é uma questão muito relevante na política externa brasileira, não apenas em função dos riscos à imagem do país, mas também devido à aproximação da vizinha Venezuela com o Irã. Pois é : Chávez é apoio certo aos discursos de Mahmoud Ahmadinejad. ____________
terça-feira, 22 de setembro de 2009

Política & Economia NA REAL n° 70

Produção em alta Todos os sinais vitais da economia brasileira convergem para um crescimento consistente nos próximos meses e, quiçá, em 2010 o PIB pode vir a crescer entre 5% - 6%. Obviamente, previsões econômicas são sempre marcadas por elevados graus de incerteza, sobretudo em função da rapidez e profundidade pelas quais as expectativas se alteram nos tempos modernos. Os indicadores de consumo, divulgados na semana passada, somam-se aos indicadores anteriores (inclusive o crescimento do PIB de 1,7% no segundo trimestre) e dão evidências de que o PIB será positivo este ano e o grau de aceleração da demanda agregada é acelerado. A novidade que poderemos ter (esperamos !) é uma alta dos investimentos privados que foram paralisados por conta da crise. Os orçamentos empresariais estão sendo superados e os acionistas das empresas estão animados. Além disto, não são poucos os executivos de empresas multinacionais que tomam o caminho das matrizes e estão a negociar mais dinheiro para investir. Inflação em alta Não preste atenção nos números da inflação dos próximos meses. Estes não são os mais importantes para mensurar os riscos de inflação no médio prazo. É muito provável que a inflação se torne um perigoso risco no ano que vem. Todos os fatores convergem para o aumento dos riscos inflacionários. Vejamos : (1) a demanda cresce rapidamente e, possivelmente em meados do ano que vem, baterá num nível de capacidade instalada (80%) no qual as pressões de custos costumam emergir; (2) a queda do dólar já ocorreu e é improvável que possa "colaborar" ainda mais para reduzir a inflação no ano que vem; (3) à demanda privada crescente se somará a já alta demanda pública. Os gastos públicos elevados, tanto para investimento quanto para consumo, vão ajudar a acelerar a inflação. Difícil imaginar gastos públicos em queda num ano eleitoral; (4) haverá pressões de custos salariais com o nível de emprego melhorando e, finalmente, (5) se o cenário externo melhorar, os preços das commodities sobem e "contaminam" os preços domésticos. E o BC ? Como se vê nas notas acima, há razões justificadas para apostarmos num ótimo 2010. E existem preocupações sérias para acreditarmos numa inflação crescente. Vejamos o lado da autoridade monetária, que costuma ser "preventiva". Quando poderia aumentar a taxa de juros básica, já que estamos vivendo os primeiros passos da recuperação ? É difícil apostar nisto, mas uma coisa é certa : o mercado vai apostar na alta de juros e os juros dos títulos prefixados vão subir, bem como o mercado futuro. Talvez logo. De outro lado, há um fator "político" a influir no BC : Henrique Meirelles é candidatíssimo ao governo de Goiás e abre um "vácuo" no BC difícil de ser avaliado. A própria diretoria do BC deve ser bem alterada em 2010. Por tudo isto é muito provável que o BC seja testado em 2010 no que diz respeito à sua competência e credibilidade. BC independente não tem defensores Embora seja um dos arcabouços mais importantes na defesa da moeda (contenção da inflação), a independência do BC não deve ter defensores com peso político (e votos) nas próximas eleições. Tanto Dilma quanto Serra, ou mesmo Marina, não acreditam num BC com independência funcional. Tudo fica para o futuro. Distante, diga-se. Radar NA REAL Semana passada houve o vencimento triplo de futuros, opções e opções de futuros nas bolsas norte-americanas. Não é fato pouco relevante dentre as notícias "intra-mercado". Nestes momentos, a volatilidade pode cair ou subir conforme o posicionamento dos investidores. Desta feita, caiu e o mercado comemorou os lucros dos últimos meses. As ações permanecem com sinais muito positivos nos principais mercados, embora as expectativas possam ser exageradas. As moedas oscilaram um pouco e o dólar perdeu valor frente a quase todas as moedas internacionais - trata-se do nível mais baixo dos últimos doze meses aqui no Brasil e frente às outras moedas conversíveis. As taxas de juros caíram (referimo-nos às taxas de títulos com prazo de cinco e dez anos). O Brasil foi um dos poucos países no qual a taxa de juros de títulos de prazos de vencimento mais longos (2 e 3 anos, sobretudo) subiram. É o medo da inflação (vide nota acima). Continuamos acreditando numa "realização de lucros" nas próximas semanas em quase todos os segmentos do mercado (ações, renda fixa, commodities, etc.). O final de ano deve ser de otimismo no mundo inteiro. Devemos lembrar, contudo, que a recuperação da atividade econômica está numa fase ainda muito inicial. 18/9/9 TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA estável/alta alta - Pós-Fixados NA estável estável/alta Câmbio ² - EURO 1,4712 estável/alta alta - REAL 1,8082 estável/baixa alta Mercado Acionário - Ibovespa 60.703,01 estável/queda estável/alta - S&P 500 1.068,30 estável/queda alta - NASDAQ 2.132,86 estável/queda alta (1) - Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais)(2) - Em relação ao dólar norte-americanoNA - Não aplicável Resultados do terceiro trimestre A partir de 1º de outubro as principais empresas de capital aberto do mundo começarão a divulgar os seus resultados nos principais mercados. Isto inclui as empresas brasileiras. Tais divulgações serão determinantes para o movimento das bolsas de valores, cujos desempenhos são espetaculares neste ano. Se os lucros, de uma forma geral, apresentarem taxas de crescimento consistentes, os investidores reavaliarão suas projeções para cima e o mercado subirá ainda mais. Da mesma forma, se houver baixo crescimento, as cotações cairão, talvez de maneira mais acentuada. A aposta desta coluna é que os resultados serão positivos e crescentes. Uma característica muda a partir de agora nos mercados : a variação de desempenho entre setores será muito mais acentuada. Os investidores serão mais seletivos. Ajuste eleitoral Quem leu a entrevista da ministra Dilma Roussef à "Folha de S.Paulo" de domingo percebeu que o PAC não é mais o principal carro-chefe eleitoral da preferida de Lula. Agora é o pré-sal e os programas sociais. É especulação demais Não se deve comprar pelo valor de face um bom número de "informações" a respeito da sucessão presidencial dando conta de que (i) já houve um acerto de uma aliança, (ii) que dois candidatos firmaram um acordo, (iii) que um partido está prestes a firmar outra aliança e coisas tais. São lances para "valorizar passes". Quem confia no PMDB ? O PMDB que quer apoiar Dilma iniciou uma cruzada para levar Lula a definir logo, publicamente (quem sabe, até oficialmente), que o partido é prioritário na aliança situacionista e que a vice-presidência será dele. Ao mesmo tempo, porém, o PMDB não dá indicações de que pode definir logo sua aliança federal com o PT. Quem confia no PT ? O PMDB que é do governo Federal somente vai definir oficialmente o apoio a Dilma depois que as alianças estaduais com o PT estiverem fechadas. Voto regional é diferente A se confirmar a aliança PT-PMDB para apoiar Dilma e fazer o máximo de "palanques únicos" para a candidata de Lula, o PMDB poderá levar uma enorme vantagem sobre o PT se o acordo for celebrado como o partido quer. O PMDB quer prioridade nos palanques estaduais. São esses palanques que determinam os votos para o Senado e, principalmente, para a Câmara. O eleitor vota com uma cabeça para a presidência e com outra completamente diferente no seu Estado, de olho em outros interesses. O PT corre o risco de ganhar a presidência da República e ficar menor do que é hoje no Congresso. Marina e os "processos cumulativos" Não se sabe se alguém no Planalto leu e comentou com Lula este trecho da entrevista da ex-ministra Marina Silva ao diário espanhol El País. El País : A senhora manteria a política econômica do governo Lula ? Marina : Os processos são acumulativos. Não existe espaço para processos niilistas com relação ao já conquistado. Existe um reconhecimento de que nos últimos 16 anos o Brasil conseguiu o equilíbrio fiscal e a estabilização da moeda, junto com a grande inovação introduzida por Lula e que foi a questão da distribuição de renda. Tudo deve ser preservado. Creio que temos espaços para melhorar e já existe o perigo de que se destrua tudo o que se foi construindo nos últimos 16 anos. Se os leitores palacianos tiveram conhecimento, coitada da senadora ! Afinal, tudo de bom no Brasil não ocorreu depois de 2002 ? Como falar em 16 anos, se Lula está apenas há pouco menos de 7 anos em Brasília ? Simpatia ambiental Ainda na mesma edição, em artigo sobre a entrada de Marina na corrida sucessória, na matéria intitulada "A companheira que desafiou Lula", os repórteres J. Arias e S. Gallego-Diaz, do El País, classificam a candidata de Lula, Dilma Roussef, como "uma espécie de primeira-ministra na sombra". O conjunto das matérias é muito simpático com a ambientalista. Qual o discurso ? Que "coletinho" o Brasil vestirá na Conferência do Clima em dezembro em Copenhague ? O do pré-sal ou o do etanol ? Vocês já repararam que desde que virou um "futuro magnata do petróleo", Lula nunca mais fez uma referência aos biocombustíveis ? Há informações - efeito Marina ? - que o presidente abordará o tema do meio ambiente em sua fala amanhã na Assembleia Geral da ONU. Obama é verde Um dos mais ambiciosos programas para o futuro de Obama é a redução da dependência dos EUA de combustíveis fósseis, não apenas do petróleo do Oriente Médio. Na Inglaterra - e na Europa, em geral - o tema do momento é a "Revolução Verde". Muito estranho É ótimo que as autoridades de meio ambiente se preocupem com a emissão de gases poluentes pelos veículos automotivos. É saudável que divulguem, como o fizeram na semana passada, a lista dos carros mais ou menos poluentes. Curioso é que só tenham tomado esta providência agora e para mostrar, segundo o estudo oficial contestado pelas montadoras, que os carros movidos a álcool poluem mais do que a gasolina. O que a Opep do pré-sal não faz... Sarney e suas pérolas Sarney cita o Le Monde em sua coluna da última sexta-feira na Folha de S.Paulo e parafraseia um "assessor de Sarkozy" : "a transparência absoluta [em tempo real] é o começo do totalitarismo". Outra frase reproduzida por Sarney seria de "um membro do partido governista francês UMP" : [a internet] "é um perigo para a democracia". Depois destas frases esclarecedoras, o autor de "Maribondos de Fogo" encerra o artigo louvando a livre imprensa e que nunca a atacaria : "Meu Deus, eu nunca fiz isto e não faria", encerra. Sarney é mesmo um vanguardista : mesmo antes da internet ele já via riscos à imprensa livre, não é mesmo ? Afinal, o que fazia a ditadura militar pós-64 que ele tanto apoiou ? Não censurava ? Sarney é um visionário. Lembrando Chico Ciência Nesse tempo de tanta sapiência jurídica que emana do ministério da Justiça do ministro Tarso Genro, não custa lembrar o que Rubem Braga disse da sabedoria do jurista Francisco Campos, dito Chico Ciência, autor de obras jurídicas "republicanas" para Getúlio, o ditador : "Quando as luzes de Chico Ciência acendem, há um curto-circuito na democracia brasileira". Algumas "jurídicas" de Tarso são de assustar os republicanos (sem aspas). Collor, Franklin e os escrúpulos Franklin Martins foi condenado na semana passada a pagar R$ 50 mil ao eminente senador e ex-presidente cassado Fernando Collor de Mello, por danos morais. Martins proclamou em artigo publicado na revista "Brasília em Dia", que Collor era "ladrão", "corrupto" e "chefe de quadrilha". Martins diz que vai recorrer da decisão. Resta saber o que ele diz ao seu chefe sobre as alianças políticas que envolvem Collor. Quem tem a força É cada vez maior a influência de Franklin Martins. Já está causando uma danada de uma ciumeira. Vejam um trecho de um artigo da jornalista Maria Cristina Fernando, no "Valor Econômico", relatando os bastidores de uma entrevista do jornal com o presidente Lula : "Lula é aparteado pelo ministro Franklin Martins -"Não foram só os bancos públicos que quebraram. Os privados, também." - antes de responder que o problema não foi com os banco públicos, mas a irresponsabilidade política dos governantes." Não consta que haja muitos mortais capazes de apartear e interromper impunemente o presidente. Dúvida cruel Mais do presidente Lula ao jornal "Valor Econômico" : "Se Dilma for eleita, ela tem todo direito de chegar em 2014 e falar 'eu quero a reeleição'. Se isso não acontecer, obviamente a história política pode ter outro rumo". É por esses e outros "ses" que alguns maldosos em Brasília costumam especular que Lula não ficaria totalmente infeliz se a sua favorita não vencesse. Oposição sem falas É triste verificarmos o padrão ético da política brasileira. É desesperador verificarmos que a corrupção e a falta de interesse na res publica é generalizada. O senador Sérgio Guerra acaba de ser condenado pelo TCU a pagar as diárias de sua filha na estadia em Nova York em janeiro de 2007. O presidente do Senado que autorizou a viagem do senador por Pernambuco e sua filhinha foi nada menos que Renan Calheiros. Todos os gatos são pardos e não somente à noite... Quem encontrar, avise Já fizemos o apelo, mas não custa renová-lo : quem souber o que as ideias que a oposição vai apresentar para disputar os votos do processo eleitoral com a candidata do governo, por favor, remeta as informações para esta coluna. Se o governo vacila, a oposição cala. E consente. Serra acelera Assessores de segundo escalão do governo paulista já estão sendo escalados e convocados para a campanha presidencial. Pouco a pouco os auxiliares diretos de Serra no governo paulista estão revelando as intenções efetivas do governador em relação aos planos de um possível próximo mandato federal. Demanda e oferta de ações de bancos Grandes bancos internacionais vão passar por uma nova fase nos próximos dois anos. Socorridos pelos governos de seus países, estes bancos trocaram capital por ações - são estatizações parciais. Mesmo com o socorro governamental, muitos dos bancos apresentam indicadores sofríveis de capitalização e liquidez. Precisam de mais capitalizações. Para isto muitos deles terão de emitir novas ações. Assim sendo, os investidores se defrontarão com uma forte pressão do lado da oferta : (i) possíveis vendas de posições dos governos (privatizações) e (ii) novas capitalizações. Haja demanda para tanto. Pré-sal e Petrobras Sabe-se que a estatal de petróleo do Brasil terá papel preponderante nos investimentos e na exploração da camada do pré-sal. O que está difícil de estimar é a influência destes investimentos nos resultados da empresa. Investir em ações da Petrobras se tornou muito mais arriscado que há pouco tempo. Essa a Petrobras vai perder São facilmente identificáveis as digitais da Petrobras nas emendas aos projetos do pré-sal que reduzem o poder a abrangência da nova estatal da área, a Petro-Sal. Não vai vingar. Nos bastidores, antes de nascer, a nova estatal já está sendo devidamente loteada pela base, dita aliada. Tudo pelo social A ideia de se utilizar os ganhos do petróleo na execução de projetos sociais não é nada nova. Países (dentre muitos) como o México, a Nigéria e até mesmo a Arábia saudita já usaram o padrão ideológico "petróleo versus menos pobreza". Recentemente, o falastrão Chávez vem utilizando o argumento político, politiqueiro e populista. A discussão da exploração da camada pré-sal brasileira também passará por este tema. Em tempo : os resultados concretos deste falatório todo nos outros países foram, no geral, desastrosos. Os pobres continuaram pobres, mesmo que tenha jorrado petróleo por todos os lados ! Hino à Negritude Foi aprovado pela Câmara o "Hino à Negritude", de autoria do professor Eduardo de Oliveira. O projeto que oficializou a homenagem ao negro é de autoria do deputado Vicentinho do PT paulista. Foi rejeitada a exigência da obrigatoriedade de sua execução nas cerimônias comemorativas. Esta exigência foi considerada pela maioria dos deputados como sectária na medida em que criaria uma "divisão" entre brancos e negros. Depois das complicadas quotas raciais nas universidades, agora temos o hino ao negro. Será que copiaremos os norte-americanos e teremos agora de dizer "afro-brasileiros", "nipo-brasileiros" e assim por diante ? Mudança de ramo A Força Sindical que um dia se pretendeu uma entidade totalmente independente está em um novo negócio. Depois de engordar seus cofres com parte do dinheiro do Imposto Sindical em troca do amaciamento de suas reivindicações, depois de se meter no BNDES e depois de apropriar-se do controle dos recursos do FAT, a Força Sindical agora se voltou para o pano verde. Seu presidente, Paulinho da Força, foi um dos principais artífices da aprovação, na CCJ da Câmara, do projeto que legaliza os bingos e os caça-níqueis no Brasil. É uma porta aberta ao crime organizado e ao caixa dois. Talvez, estes sejam grandes "investidores eleitorais". ____________
terça-feira, 15 de setembro de 2009

Política & Economia NA REAL n° 69

Crise : superação espetacular Temos de admitir que a crise que se instalou na economia mundial foi gigantesca. Sem dúvida, a maior do capitalismo desde os anos 30 do século passado. Não há tergiversação possível sobre isto. Basta dizer que o sistema financeiro norte-americano simplesmente quebrou como inequívoco sinal das generalizadas irresponsabilidades na gestão das carteiras de crédito e na especulação acentuada com o capital próprio dos bancos (e dos seus acionistas). Pois bem : à luz destes fatos, também cabe reconhecer que a recuperação desta crise foi espetacular. A atuação dos governos - somente por parte dos EUA o gasto total ultrapassa US$ 3,0 trilhões -, bem como a resposta dos diversos segmentos do mercado mostraram que, embora a crise tenha sido perigosa e desastrosa, a saída dela tem sido muito positiva. Para aqueles que se pronunciaram pelo fim do capitalismo, viu-se as profecias serem contrariadas e os profetas se tornaram risíveis figuras. O resto é detalhe. Pouca mudança à vista Se de um lado é preciso reconhecer que a crise produziu menores catástrofes que alguns previram, de outro lado também é preciso aceitar que há algo errado na atuação dos agentes de mercados em relação ao andamento do processo econômico. A especulação deixou de ser uma forma de agregar eficiência à formação de preços dos ativos para ser um processo de distorção desta eficiência. Os agentes econômicos, durante processos agudos de alta e de baixa dos preços dos ativos, se comportam como "macacos enlouquecidos" e não como "seres racionais". Despreza-se a correlação eficiente entre riscos incorridos e retornos esperados e os preços passam a não representar adequadamente o valor dos ativos, a chamada "bolha especulativa". Há muita conversa sobre mudanças na regulamentação dos mercados, mas o fato é que há poucos sinais de mudança sensível na regulação. Muito papo e pouca ação. Nem mesmo os órgãos multilaterais (BIS, BIRD, FMI, BID, etc.), dominados pelos interesses do mercado financeiro, estão dispostos a fazer grandes mudanças. Os mercados devem voltar, talvez no curto prazo, a incorrer nos seus excessos e os governos parecem dispostos a socorrê-los. Há um "risco moral" o qual todos parecem desejar incorrer. BIS e os grandes bancos O Banco de Compensações Internacionais (BIS, na sigla em inglês) é considerado o banco central dos bancos centrais. De fato, é desta instituição que surgem novas regras sobre o funcionamento do mercado financeiro. Pois bem : apesar do pouco apetite do BIS para mudar a regulamentação do mercado financeiro mundial, a instituição está a sugerir que as grandes instituições financeiras mundiais sejam tributadas com alíquotas mais altas para que, desta forma, sejam inibidas a fazer concessões de créditos mais arriscados. Bem, trata-se apenas de um "conselho" do BIS, que antes da crise fazia poucos pronunciamentos sobre a especulação generalizada das instituições financeiras dos países mais desenvolvidos. Agora parece agir. Cautelosamente, talvez para que ninguém lhe ouça. China, a próxima bolha ? Há muita empolgação quando se comenta sobre a China. O país comunista, pródigo na destruição do meio ambiente e no desrespeito aos direitos humanos, tem grandes comentadores e fãs ao redor do mundo. Todavia, há razões de sobra para acreditarmos que há sinais de que aquele país possa ser a próxima "bolha" do mercado financeiro mundial. Dentre estes sinais destacam-se o (i) gasto governamental inconsistente com o crescimento do PIB nos próximos anos, (ii) a falta de higidez no (pouco transparente) sistema financeiro estatal do país e na (iii) na farta abundância de crédito num ambiente de enorme especulação, inclusive no mercado imobiliário. Nós já vimos este filme antes, não ? Barack Obama entre os bancos e os contribuintes Em discurso ontem, o presidente norte-americano lembrou que a intervenção emergencial do governo está começando a surtir efeito, mas alertou que Wall Street não deve deixar para trás as lições aprendidas com a crise. Puro jogo de cena. O fato é que os contribuintes dos EUA estão enfurecidos com o aumento do desemprego que superará 10% neste mês e o farto apoio do democrata às instituições financeiras. Obama não consegue nem conter a ira da opinião pública e nem os ativos lobbies que cercam a Casa Branca e o Congresso. Ficar sobre o muro não é exclusividade dos tucanos brasileiros apenas... No Brasil, a crise parece superada Salve, salve ! O PIB do segundo trimestre subiu 1,9%. Faltam somente 200 mil empregos para que o país recupere o nível de emprego formal pré-crise. O consumo rompe barreiras fruto da maior confiança dos consumidores e da retomada do crédito. Fatos são fatos. A crise mundial afetou muito menos o nosso país. Verdade seja dita e o governo conseguiu administrá-la bem. Não é possível tecer críticas negativas à essência do que foi feito (apoio governamental ao consumo e investimento). O fato de o Brasil não estar vulnerável do ponto de vista externo foi o maior fator para que a crise não nos afetasse dramaticamente. Assim sendo, deveremos voltar ao potencial de crescermos mais de 5% ao ano. Há méritos na política governamental, mas há pecados. Não são veniais. São mortais. Vejamos : 1. A gestão das contas públicas piorou. 2. O sistema tributário não muda, aliás, está ameaçado de piorar com o projeto que tramita no Congresso. Há ainda a nova CPMF. 3. Os investimentos públicos estão em ritmo devagar quase parando. 4. Viu-se algum de novo no setor portuário ? 5. E nas rodovias ? 6. O pré-sal ainda é uma miragem. Se todos estivessem tão confiantes na "gloriosa" recuperação não estariam dizendo que não é o momento ainda de tirar os incentivos que foram dados emergencialmente. Não se surpreendam se a isenções de IPI foram prorrogadas (leia abaixo). Meirelles, Mantega e a crise Sintomático o fato de o ministro da Fazenda e o presidente do BC terem se ocupado na tarefa de dar entrevistas para grandes órgãos de imprensa neste fim de semana. Ambos disputavam o mérito na vitória contra a crise. Uma observação sobre cada personagem : (i) Guido Mantega deixou claro o papel crescente e relevante do Estado na intervenção no processo econômico. Mantega anunciou inclusive novos incentivos à indústria. A crise justificou esta política, mas tal política merece ser consolidada como permanente ? (Pergunta nossa) (ii) No caso de Meirelles, as entrevistas concedidas neste fim de semana têm um evidente sinal por detrás delas : a política de redução de juros acabou. A taxa básica pode ficar estável por um tempo, mas o próximo passo é de elevação. Lula, segundo ele mesmo A vaidade sempre foi considerada o mais grave dos pecados capitais. Dela decorrem outras faltas graves. Bem, não nos cabe especular sobre estas faltas. Mas vejamos esta história. Lula conversa com assessores na sede provisória do governo em Brasília, o Centro Cultural Banco do Brasil. Sabe antecipadamente sobre o resultado do PIB do segundo trimestre. Feliz, solta esta : "hoje não acho que seja justa a comparação de meu governo com nenhum outro da República. O meu governo é melhor que o de Vargas." Bem, os fatos estão a favor do presidente, mas não há ninguém mais a seu favor do que ele mesmo. Alerta para a oposição O grande eleitor de 2010 será a economia. E nesse ponto a notícia do PIB do segundo trimestre foi um verdadeiro desastre para a oposição. Um estudo de dois professores da USP, Alex Ferreira e Sérgio Sakurai, com base em dados de uma série longa das pesquisas de opinião sobre eleições e popularidade presidencial, comprovou que o fato que mais contribui para o prestígio de Lula é o índice de emprego. Por essas e outras, sem um discurso afirmativo, a oposição está meio desarvorada. Radar "NA REAL" As notícias são promissoras, tanto do ponto de vista doméstico quanto do ponto de vista externo. A recuperação está se tornando visível. Ainda não sabemos minimamente sobre a grandeza desta recuperação, mas o fato é que não era tão esperada há seis meses. O mercado mundial parece estar apostando que tal recuperação será crescente e consistente. Bem, somente na confortável cadeira do futuro é que poderemos saber se estas expectativas são verdadeiras. Todavia, o mercado vive de expectativas. Assim sendo, os sinais vitais de benignidade dos fundamentos do mercado permanecem firmes, sólidos e consistentes. Não há razões objetivas para acreditarmos em nada negativo no curto prazo. No médio prazo, os riscos externos estão relacionados à capacidade de sustentação da demanda sem o suporte fiscal dos governos e aqui no Brasil o risco principal é fiscal - o governo gasta mais do que deveria e de forma inconsistente com o crescimento do PIB. Continuamos acreditando em uma "realização de lucros" no mercado de renda fixa e variável, aqui no Brasil e no exterior. Até agora, nenhum sinal de baixa (momentânea) nos preços dos ativos. Todavia, permanecemos aconselhando cautela no curtíssimo prazo em relação aos mercados. Mais uma vez repetimos : cautela não é pessimismo. 11/9/9 TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA estável alta - Pós-Fixados NA estável estável/alta Câmbio ² - EURO 1,4602 estável/alta alta - REAL 1,8306 estável/baixa alta Mercado Acionário - Ibovespa 58.366,38 estável/queda estável/alta - S&P 500 1,042,73 estável/queda alta - NASDAQ 2,080,90 estável/queda alta (1) - Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais)(2) - Em relação ao dólar norte-americanoNA - Não aplicável Olhar para dentro O governo Lula acaba de lançar o programa "Fim de Linha" para evitar que o Brasil, como vemos às vezes retratado em alguns filmes, continue sendo visto como um paraíso para o banditismo internacional, um refúgio seguro para marginais de várias categorias. Ótimo ! Contudo, seria bom também que se lançasse um programa idêntico para o banditismo tupiniquim, este (tanto o banditismo comum como o de colarinho branco) muito mais pernicioso aos brasileiros que Ronald Biggs, Buschetta e Battisti... Juntos ! A guerra é pesada Lula, maior cabo eleitoral de Dilma Roussef, queria que o Congresso apenas assinasse embaixo dos seus quatro projetos com as novas regras de exploração de petróleo no Brasil. Vai ter de administrar disputas fratricidas no Congresso : 1. A briga entre estados produtores e não produtores no pré-sal pelos royalties do negócio. Ele queria deixar isto para depois de 2011, mas os governadores não querem. 2. A disputa pelo dinheiro a ser aportado no Fundo Social. Era para ser apenas para saúde, educação e ciência e tecnologia ; por causa da Marina Silva foi ampliado para o meio ambiente e a cultura (ministério do PV) ; e no Congresso todos querem uma lasquinha : os defensores da reforma agrária, dos esportes, dos quilombolas, a previdência, dos aposentados, dos índios, etc. 3. A pressão de setores econômicos para serem incluídos na lista dos que receberão incentivos fiscais, outros benefícios e proteções por serem da "cadeia" do petróleo. Se Lula não tiver pulso firme, em vez de incentivar a campanha de Dilma o pré-sal pode azedar as relações com aliados e companheiros. O grande mote de Dilma O governo vai badalar os sinos na recuperação econômica para azeitar Dilma. Porém, o grande mote de campanha da ministra, se Lula vencer os embates relacionados acima, será mesmo o pré-sal. É uma promessa fascinante e que não poderá ser cobrada ou confrontada, pois tudo está ancorado no futuro, no mínimo para 2014, 2015. Por isso, substituirá gradativamente o PAC nos palanques. O sucesso deste pode ser objetivamente medido e comprovado e, pelo andar do cabriolé, não vai render muitas fotos positivas. É Dilma e acabou ! Os insatisfeitos - e eles estão crescendo depois dos dados de algumas pesquisas públicas e privadas - que se mudem : para Lula é Dilma, Dilma, Dilma e pronto. As mudanças de tom em algumas falas do presidente, que parecem indicar alguma vacilação, são apenas indicações de que ele se rendeu à evidência de que a candidatura de Ciro Gomes é quase irreversível e que a de Marina Silva não é irrelevante conforme ele gostaria. Sabe o presidente que não pode brigar com os dois. Por causa de um provável segundo turno, engole os dois sapos a contragosto. Vingança maligna Tancredo Neves dizia que o ex-presidente Itamar Franco guardava suas raivas na geladeira para destilá-las publicamente em algum momento. Lula não é diferente. Que se cuidem aqueles que ele classifica como inimigos, na oposição e até entre os aliados. Aqueles que ousaram, ousam ou ousarão contrariá-lo. Chuvas e trovoadas sobre eles se abaterão na hora certa. Promessa do próprio vingador. O jogo do PMDB e de Lula Reservadamente, sem alardes públicos, desenvolve-se nos bastidores da sucessão presidencial uma pesada queda de braço entre Lula e o PMDB que tende a apoiar Dilma em 2010 : 1. Lula deseja que o PMDB defina o mais rápido possível a aliança formal em torno da candidatura da ministra da Casa Civil. O PMDB quer ganhar tempo, para ver como vai o nível de intenção de votos em Dilma. 2. O PMDB quer que Lula indique oficialmente que a vaga de vice de Dilma será do partido. Lula não deseja se comprometer com isso, publicamente, tão cedo. 3. Lula deseja que o PMDB trabalhe suas direções regionais para fechar logo os acordos dos palanques estaduais com o PT, enquadrando alguns de seus diretórios estaduais. O PMDB quer que Lula e a ministra Dilma Roussef force o PT a aceitar todas as ambições regionais do partido. Dedé, Didi, Mussum e Zacarias O quarteto deve ter sido consultado sobre a compra dos 36 aviões de caça franceses pelo Brasil lá pelos lados do paraíso. Nunca neste país se viu tanta trapalhada política, diplomática e militar juntas. Os desdobramentos serão pesados. Mas é ilusão pensar que a preferência pelo Rafale francês, anunciada pessoalmente pelo presidente Lula, possa ser alterada. Seria outra trapalhada pior ainda. Além do mais, ainda mais quando criticado, Lula não é de recuar. Os últimos ensaios são apenas jogo de cena para tentar conter as consequências mais desastrosas que vêm por aí. Promessa francesa, promessa japonesa Uma das alegações brasileiras para justificar a opção pelos Rafale foi a de que Nicolas Sarkozy prometeu a transferência irrestrita de tecnologia para o Brasil. Em matéria de tecnologia militar, seria o primeiro caso no mundo. Além do mais, devemos lembrar outro precedente. Quando decidiu que o Brasil iria usar o padrão japonês no lançamento da tevê digital, o ministro Hélio Costa apontou como uma das razões o compromisso dos japoneses de instalar um fábrica de chips no país. Passados mais de três, até agora o ministro das Comunicações ainda não anunciou o lugar onde a indústria japonesa de chips será construída no Brasil. O protecionismo, de novo No final de semana, os EUA aumentaram as tarifas sobre os pneus importados da China, e os chineses responderam aplicando restrições às importações de carne de frango e de produtos automotivos norte-americanos. Este não é um fato isolado. Há muitos executivos de indústrias "tradicionais" (de menor conteúdo tecnológico) pressionando as autoridades norte-americanas a adotarem barreiras alfandegárias e não-alfandegárias contra importações, sobretudo chinesas. É uma das formas de se reduzir o impacto do desemprego nestes setores. De outro lado, está aberto o flanco para que outros países venham a adotar medidas protecionistas. ____________
terça-feira, 8 de setembro de 2009

Política & Economia NA REAL n° 68

Pré-sal : a fórmula financeira Não resta dúvida de que o pré-sal é uma extraordinária e importante notícia. Trata-se da maior descoberta de petróleo desde 1976 quando foi descoberto o campo de Cantarell no México. A regulamentação apresentada pelo governo tem duas características gerais : (i) uma forte e decisiva regulação e participação do Estado, via Petrobras e (ii) uma fórmula política para viabilizar a proposta do governo. A Petrobras terá de aumentar o seu capital para bancar o papel a ela destinado nos investimentos do pré-sal. Para ter os direitos sobre cinco bilhões de barris da área do pré-sal a estatal terá de emitir ações. Para manter as suas posições os investidores terão de comprar tais ações, caso contrário haverá diluição desta participação. A grande dúvida é quanto valerão os direitos de exploração da área do pré-sal. Especialistas estimam em algo como US$ 5 e US$ 10 por barril. Por estas contas a Petrobras, terá de emitir entre US$ 25 e US$ 50 bilhões em ações. Estas contas e o papel de principal investidora no novo negócio do pré-sal tornam as ações da Petrobras muito mais arriscadas. Se antes havia o risco "político" relacionado com a gestão da empresa, agora os riscos operacionais e financeiros completam uma equação cujos resultados não são tão visíveis. Haverá muita inquietação com o tema nos próximos anos. Pré-sal : a fórmula política Ao contrário do que se comentou, o presidente Lula não deu razão aos governadores Sergio Cabral, José Serra e Paulo Hartung na questão da partilha dos royalties do pré-sal. Jogou o problema para o Congresso, onde espera que os outros 24 governadores massacrem seus colegas do Rio de Janeiro, de São Paulo e do Espírito Santo, num eventual embate nos plenários da Câmara e do Senado. O cálculo primário é simples : os três Estados contam com apenas 6 senadores e 126 deputados num Senado de 81 membros e uma Câmara de 513 parlamentares. Seria uma lavada. No entanto, a conta a ser feita é outra. O Rio de Janeiro, o mundo político, empresários, a sociedade de um modo geral, está se mobilizando para defender o que eles classificam como o interesse geral do Estado. O Rio tem mais de 11 milhões e meio de eleitores. É um dos Estados mais petistas e mais lulista e onde ele consegue seus melhores desempenhos na região Sul e Sudeste. Para se chegar ao eleitorado fluminense é preciso somar, por exemplo, o número de eleitores de Alagoas, Ceará, Maranhão e Sergipe. E o que pode acontecer caso a população do Rio fique convencida de que o presidente e sua preferida eleitoralmente trabalham para prejudicar o Estado na divisão dos dividendos do pré-sal ? Pode ser uma sangria de votos na candidatura de Dilma. Aliás, o mesmo pode ocorrer em São Paulo e no Espírito Santo, com mais de 26 milhões e meio de votos. O efeito Marina -1 Até as vésperas do anúncio dos projetos de mudança do marco regulatório da área de petróleo, o Fundo Social que vai ser criado para distribuir recursos do pré-sal contemplaria apenas as áreas de saúde, educação e ciência de tecnologia. Miraculosamente, na festa-comício de segunda-feira, foi citado também o meio ambiente. O efeito Marina - 2 Outro milagre : o governo já está arrancando da algibeira de promessas "um PAC" do Meio Ambiente. O efeito Marina - 3 A expressão "desenvolvimento sustentável" foi incorporada ao vocabulário da ministra Dilma Roussef e vai frequentar cada vez mais o discurso da preferida de Lula. Comendo pelas bordas O governo está sendo muito bem sucedido nos seus esforços, comandado pelo senador Romero Jucá, de barrar os depoimentos mais explosivos que a oposição quer ouvir na CPI da Petrobras. A oposição requer e os aliados atropelam. Para não parecer que não querem qualquer apuração, aceitam depoimentos de técnicos do segundo escalão. A tática pode se revelar perigosa. Na semana passada, dois técnicos do TCU, depuseram sobre as auditorias feitas na refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, e demonstraram que a própria companhia admitiu sobrepreço de R$ 64 milhões na obra e está renegociando pelo menos dois contratos. Pego de surpresa, Jucá tentou desqualificar os técnicos, tática que já não funciona mais. Sem alardes, sem depoimentos pirotécnicos, a oposição está formando um bom acervo sobre alguns negócios da Petrobras. Um manancial para um relatório que pode não agradar ao governo. Esqueçam o que eu disse : biocombustíveis Quando ainda tinha os biocombustíveis como um dos carros-chefe de seus discursos, principalmente fora do Brasil, um dos argumentos do presidente Lula para defender o etanol brasileiro era o de que ele era um combustível limpo, renovável, ao contrário do petróleo. O presidente aparecia como um arauto do fim da era dos combustíveis fósseis. Toda esta pregação quase religiosa foi para debaixo do tapete na euforia do pré-sal. Tudo é marketing. Agora, será preciso ajustar o discurso para a reunião sobre mudanças climáticas em dezembro, na Noruega. Classificados petrolíferos Os projetos do pré-sal nem bem começaram a tramitar no Congresso e já é violenta a briga nos bastidores pelos cargos na "Petro-Sal", 130 empregos inicialmente, entre eles uma presidência e no mínimo uma meia dúzia de diretorias. Preenchidos sem concurso e com salários de mercado, ou seja, sem a necessidade de obedecer ao teto de remuneração dos servidores públicos de carreira. PMDB e PT já estão recolhendo currículos. No galinheiro Peemedebistas e aliados outros no Senado estão se articulando para indicar o senador Renan Calheiros para relator os projetos do pré-sal numa das comissões pela qual eles deverão passar na casa dos senadores. As duas faces do FGTS Nos últimos meses o governo Lula liberou cerca de R$ 8 bilhões do FGTS para capitalizar empresas do setor de construção civil. O mesmo governo está barrando o uso do FGTS pelos trabalhadores para comprar ações da Petrobras. Quem comprou ações da estatal com dinheiro do FGTS, no governo Fernando Henrique Cardoso, teve seu capital valorizado em mais de 800%. No mesmo período, o Fundo rendeu pouco mais de 50%. Agora temos o pré-sal e a necessidade de capitalização da Petrobras. O governo não deveria reavaliar o tema ? G-20 : a discórdia sobre os estímulos O encontro neste último fim de semana dos ministros responsáveis pela economia e os presidentes dos bancos centrais das vinte maiores economias mundiais foi concluído com duas importantes concordâncias e uma substancial discordância. No que se refere ao sistema financeiro, os ministros avaliaram que seria importante dar uma passo à frente e regulamentar o pagamento de bônus aos administradores dos bancos, bem como traçar novas regras sobre a capitalização das instituições financeiras (aumentar os requisitos de capital do sistema financeiro). Do ponto de vista da manutenção dos estímulos fiscais e monetários, já há desacordo : alguns ministros já sinalizam que devem iniciar um maior aperto monetário e fiscal a partir do final deste ano. Nenhum ministro das principais economias (G-7) deseja estar comprometido com metas econômicas que os impeçam de mudar de política, caso se perceba que a crise está sendo superada. G-20 e os EUA O G-20 é hoje o principal fórum econômico para discussão de temas multilaterais. Foi fortalecido em função do fato de que alguns países emergentes (China e Índia, sobretudo) passaram a ser financiadores fundamentais dos déficits fiscais dos EUA. A importância do G-20 está diretamente relacionada com o equacionamento do déficit americano. Maior o déficit, mais importante o G-20. E vice-versa. A importância "política" do G-20 é muito relativa, embora se faça muito alarde com o tema, inclusive no Planalto Central brasileiro. Radar "NA REAL" Não há muita novidade no front econômico e financeiro na volta das férias no hemisfério norte. Embora não existam sinais vitais de que a recuperação tenha começado nos EUA - há apenas uma "estabilização dos indicadores" -, em outras economias importantes (França, Alemanha e Japão) já há sinais mais vigorosos. As moedas principais estão estáveis entre si, este é um ótimo sinal, as bolsas não apresentam maiores variações (positivas e negativas) e as taxas de juros dos títulos de renda fixa, sobretudo os do tesouro norte-americano, estão em consonância com o momento em que vivemos. De nosso lado, não alteramos o nosso radar. O momento é de transição. Alguma "realização de lucros" pode haver, mas o que os investidores esperam mesmo são indicadores novos e positivos de consumo e investimento. A crise passou, mas a recuperação ainda não é visível. O momento é de moderação das expectativas. Nada de pessimismo, mas também não há razão para euforia. 4/9/9 TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA estável alta - Pós-Fixados NA estável estável/alta Câmbio ² - EURO 1,4330 estável/alta alta - REAL 1,8450 estável/baixa alta Mercado Acionário - Ibovespa 56.652,28 estável/queda estável/alta - S&P 500 1.016,40 estável/queda alta - NASDAQ 2.018,78 estável/queda alta (1) - Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais)(2) - Em relação ao dólar norte-americanoNA - Não aplicável Mais uma da Índia A indústria automobilística indiana tem um mercado que representa 19% do tamanho do mercado chinês. Neste ano, a Índia deve se tornar maior exportadora de autos que a China e deve superar em poucos anos a Coréia do Sul e Tailândia como centro produtor. Os aspectos positivos indianos são a mão-de-obra barata e uma eficiente política industrial (combinação de impostos baixos e estímulos de investimentos públicos) que atrai indústrias internacionais para o país. Há ainda o aspecto ecológico : assim como o Japão, a Índia dedica-se à exportação de veículos leves e de baixo consumo de combustível, enquanto outros países asiáticos estão com a produção de veículos menos "ecológicos". A Índia deve ser maior destaque dentre os países emergentes neste futuro próximo. Os sinais vindos daquele país são promissores. A indústria automobilística é mais um destes sinais. Panorama visto de Minas - 1 O governador Aécio Neves vai vender muito caro a condição de candidato do PSDB à Presidência da República. Aécio, indicam assessores, não vai rachar o tucanato nem fazer "beicinho" se não for o escolhido. Mas não aceita o fato consumado da candidatura irreversível de José Serra como alguns tucanos apregoam. De quando em vez, alguém "planta" na imprensa que ele aceitou ser o vice numa chapa pura do PSDB. Não é fato e dificilmente o será. Panorama visto de Minas - 2 O governador José Serra, se vier a ser o candidato do PSDB, só terá uma votação expressiva em Minas Gerais se o acordo dos tucanos for transparente e com Aécio satisfeito. Se os mineiros sentirem que Aécio foi passado para trás a coisa não funciona. Disputa vice-presidencial Cresce a disputa entre os aliados para ver quem será o candidato a vice na chapa de Dilma, um cargo no Brasil meramente decorativo e honorífico. De um entusiasmado Michel Temer na cerimônia de lançamento do pré-sal. "Este é um projeto extraordinário! Podemos comemorar 50 anos depois um novo mote nacionalista : o pré-sal, presidente, é nosso". Trem bala De um especialista na questão de transportes : 1. O trem bala não sai sem muito dinheiro federal. E o governo já está disposto a bancar pelo menos 70% de seus custos (R$ 34 bilhões). O discurso oficial é de que será uma obra para a iniciativa privada. 2. O trem só é verdadeiramente rentável no trecho Campinas- São Paulo- São José dos Campos. Ao fim das contas, somente este trecho será tocado a tempo da Copa de 2014. O Rio de Janeiro corre o risco de ficar olhando para o vento. A palavra do lobista Dirceu Como se sabe, José Dirceu foi cassado em função de seu envolvimento com o "mensalão". Faz hoje política de bastidor como no caso da renúncia do irrenunciável Aloysio Mercadante - foi ele quem articulou politicamente para que o senador paulista ficasse no cargo. Além de política de bastidor, José Dirceu faz lobby. Vejamos o que o líder da esquerda revolucionária nos anos sessenta diz em seu blog sobre o Trem de Alta Velocidade (TAV) : "Precisaremos, realmente, de recursos do BNDES, mas acredito que os fornecedores de material rodante e dos sistemas de segurança e comunicação tem muito interesse em financiar o TAV. E temos a vantagem, nesse momento em que encaminhamos sua implantação, de contar com recursos para esse tipo de investimento no mundo, principalmente da parte dos fornecedores, Japão, China, França, Estados Unidos e Alemanha." Estará José Dirceu trabalhando para alguém neste caso ? Uma calculadora nova O Ministério do Planejamento esqueceu-se de prever na linha de despesas do Orçamento de 2010, recursos para o ressarcimento aos estados da Lei Kandir, verbas para o pagamento do reajuste dos aposentados que ganham acima do salário mínimo, acertado por Lula com os sindicatos, e ainda recursos para novas despesas com pessoal, aumentos e contratações, decididas na última semana. Somente os dois primeiros "esquecimentos" gerarão despesas adicionais de R$ 8,2 bilhões. Além do mais, o ministério de Paulo Bernardo imagina que o governo arrecadará R$ 110 bilhões a mais em 2010 do que arrecadará este ano e mais do que recolheu no "glorioso" ano de 2008. Nada de imposto novo A base aliada desistiu de atender ao pedido do ministro da Saúde José Gomes Temporão para restabelecer a CPMF, apelidada de Contribuição Social para a Saúde (CSS). Por razões meramente eleitorais, não porque acha que o brasileiro paga imposto demais para serviços públicos de menos. A Internet e as eleições É ridícula, senão inútil, as propostas aprovadas pelo Senado Federal que dão conta da censura aos comentários sobre políticos na internet durante o processo eleitoral de 2010. O relator da proposta é o tucano mineiro Eduardo Azeredo. Se até o dia 3 de outubro não for rejeitada, terá força de lei. Enquanto Obama se elegeu nos EUA democraticamente por meio de campanha cujo principal fator de articulação foi a rede mundial, no Brasil a internet será isolada do processo como se isto fosse possível. ____________
terça-feira, 1 de setembro de 2009

Política & Economia NA REAL n° 67

Recuperação : uma questão e fatos Se analisarmos os últimos números do mercado financeiro mundial, podemos concluir que não somente o pior já passou, mas que as perspectivas são promissoras. O índice S&P500, um dos principais do mercado acionário norte-americano, subiu 52% nos últimos seis meses. O MSCI World Index, o qual representa o desempenho das principais bolsas mundiais, subiu quase 60% no mesmo período. O Ibovespa este ano, entre os altos e baixos do primeiro trimestre, alçou voo. Quem comprou o índice no primeiro dia do ano ganhou quase 40%. Quem apostou no caos, simplesmente quebrou. A receita keynesiana usada para evitar uma depressão funcionou. Isto é fato. No caso do Brasil, o impacto da crise foi menor que o previsto e o país está dentre os melhores do mundo. Não foi um caso isolado. A China e a Índia se saíram muito melhor que o Brasil. A questão é : e daqui para frente ? Recuperação das economias centrais : uma necessidade O consumo mundial que andou bem capenga nos últimos meses foi sustentado em grande parte pelo desempenho chinês e indiano. Ambas as economias aumentaram os dispêndios domésticos via investimentos estatais em infra-estrutura e construção civil. Há sinais, inclusive, que no caso chinês houve muita antecipação de compras de matérias-primas o que obscurece uma melhor análise dos dados e tendências. De toda forma, daqui para frente a demanda mundial estará muito dependente da melhoria do consumo e investimento dos países centrais, notadamente os EUA, a Alemanha, o Japão e a França. Nesses países, já há evidências de que a recuperação ganha força. Não muita, mas a tração parece ser crescente. Os mercados anteciparam... Apesar da generalização do crescimento pelos principais países capitalistas, é bom que o investidor tenha em mente que em parte a atual recuperação já foi antecipada. Os mercados vivem de expectativas sobre fatos e, na medida em que os fatos ocorrem, novas expectativas se formam. Neste sentido, a expectativa de que "o mundo não ia acabar" já virou "fato". Agora, resta saber se a economia mundial vai estar bem melhor daqui a, digamos, seis meses. O futuro é incerto, por definição. De nossa parte, acreditamos que, por enquanto, o andamento dos mercados mundiais ficará prejudicado pelas indefinições e inquietações dos investidores. As cotações podem não cair, vão "andar de lado". Algo como tem ocorrido nestas últimas três semanas. Não estamos pessimistas. Apenas alertamos aos nossos leitores : não esperem grandes lucros no curto prazo, como ocorreu nos últimos seis meses. COPOM, entre a teoria e a prática Nestes tempos de recessão, torna-se difícil ser absolutamente afirmativo sobre o que o BC brasileiro irá fazer com a Selic, hoje estacionada no patamar de 8,75%. A inflação não é problema, por ora - o IGP-M caiu pelo sexto mês consecutivo. Não há nada que recomende uma taxa de juros real acima de 1%-2% ao ano. Pois bem : ela hoje está perto de 5% ! Eis a teoria. Há, contudo, um risco considerável : as contas públicas que se deterioram de forma estrutural. Esta é a variável que pode guiar o COPOM a manter a taxa Selic. Eis a prática. Radar "NA REAL" Não procedemos nenhuma alteração relevante no nosso "Radar". Conforme analisamos nas notas acima, estamos num período de transição e de formação de expectativas. Com efeito, os mercados tendem a "andar de lado" sem notáveis desempenhos positivos ou negativos. O mercado está a deglutir dados e informações. No caso do Brasil, acreditamos em alguma "realização de lucros" no mercado acionário e no mercado de juros e títulos de renda fixa prefixados. No primeiro caso, seria natural que os investidores embolsassem lucros. No caso da renda fixa há dois pontos que merecem atenção da parte de nossos leitores e investidores : o fraco e preocupante desempenho das contas públicas no médio prazo e a política do BC no curto prazo (vide nota acima). 28/8/9 TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA estável alta - Pós-Fixados NA estável estável/alta Câmbio ² - EURO 1,4303 estável/alta alta - REAL 1,8383 estável/baixa alta Mercado Acionário - Ibovespa 57.700,53 estável/queda estável/alta - S&P 500 1.028,93 estável/queda alta - NASDAQ 2.028,77 estável/queda alta (1) - Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais)(2) - Em relação ao dólar norte-americanoNA - Não aplicável A vanguarda do atraso Esqueçam Dilma, Serra (ou Aécio), Marina, Ciro ou quem lá venha assumir a presidência da República em 2010. No Executivo certamente teremos mudanças de estilo de governo e até de ênfases na política econômica. No entanto, no modo de ser da política brasileira, na maneira de atuar do Congresso e no modo de agir dos partidos políticos, nada mudará. Teremos mais do mesmo, as mumunhas de sempre da Câmara e do Senado, as "negaças negociais" dos partidos políticos. Como as leis eleitorais estão sendo alteradas, para pior, e como não se alteraram as normas partidárias, qualquer renovação que a eleição de 2010 trouxer será apenas de nomes. No Senado, por exemplo, as últimas eleições, a partir de 1998, o índice de renovação chegou a passar dos 70%. Na Câmara, tradicionalmente, esses índices se situam entre 50% e 60%. As coisas melhoraram a cada quatro anos ? Os fatos mostram que não. Como ensinava Ulysses, é inexorável : o Congresso que vem é sempre pior do que o que está saindo. Quem subir ao Planalto já pode ir se preparando para fazer as barganhas de sempre. Em nome da governabilidade. Os efeitos Marina Depois de o nome da ex-ministra Marina Silva ter sido lançado extra-oficialmente na corrida presidencial, mesmo sem uma pesquisa mais substancial sobre intenções de votos, é possível avaliar que ela pode causar avarias nos votos da chamada "esquerda", de ditos intelectuais, de setores da Igreja e de parte da classe média, tanto os postulados por Dilma quanto por Serra, muito mais para a primeira. Não dá, porém, para mensurar o tamanho desse estrago. É preciso medir melhor até onde vai o potencial eleitoral de Marina e de seus apoiadores. É preciso medir também qual a estrutura - logística, de tempo na televisão, financeira, de gente - com a qual contará. Mensurar Marina a partir do fenômeno Collor é um equívoco. Marina nunca será a queridinha dos grupos poderosos que, a partir de certo momento, jogaram todas as fichas no atual senador alagoano para conter as então ameaças de Lula e Brizola. A ex-ministra do Meio Ambiente tem potencial para tirar sono de poderosos e até abalar candidaturas. Seu discurso domingo na adesão ao PV é consistente. Para saber se vai mais longe é preciso esperar pelos menos uns seis meses. Um confronto interessante Dezembro vem aí trazendo a reunião sobre clima de Copenhague quando, se espera, serão definidos os novos parâmetros para redução em escala planetária dos gases que provocam o efeito estufa. É uma revisão do Protocolo de Kyoto, de 1997, que teve poucos efeitos práticos. Marina Silva é convidada, já confirmou que vai, e certamente será, pela sua reputação internacional com ambientalista, uma das estrelas da Conferência. Lula também deve ir. Ou pelo menos deveria. O detalhe é que o presidente não se contenta com papéis secundários nem gosta de dividir palanques. Os efeitos Palocci Não sairá antes de novembro, dezembro, alguma definição sobre o futuro político de Palocci, agora que o STF decidiu não processá-lo no caso da quebra de sigilo bancário do caseiro Francenildo. O placar apertado, os votos de alguns ministros, como o de Marco Aurélio de Mello, e o fato de o Supremo ter admitido que houve crime sem culpar Palocci por ele, esfriou o entusiasmo de quem apostava na viabilidade eleitoral do ex-ministro numa disputa para um cargo majoritário. A munição posta nas mãos dos adversários do ex-prefeito de Ribeirão Preto num ambiente de campanha é ainda altamente explosiva. Uma frase como a de Marco Aurélio Mello, de que "a corda sempre arrebenta do lado mais fraco", é cortante. O efeito Mantega Pelo menos uma estrutura já foi abalada com o livramento de Palocci : a do ministro Guido Mantega, às voltas com uma grave crise na RF, construída por ele mesmo e pelo seu segundo, Nélson Machado. Palocci, que continuou conselheiro econômico e político de Lula mesmo depois de afastado do ministério, sempre foi um fantasma a assombrar Mantega. A própria crise na Receita tem origem nesse medo : o ainda não bem explicado afastamento do secretário, que antecedeu Lina Vieira, fez parte do plano de Mantega de se livrar dos remanescentes da equipe de seu antecessor. Mesmo que eles tenham demonstrado eficiência e competência, como foi o caso de Rachid. Lula e seus preferidos Não precisa ser um analista político afiado para comentar o seguinte quadro. Lula convoca José Dirceu e Palocci. Estes dois homens "de confiança" do presidente foram os responsáveis pelas negociações que impediram a "irrevogável renúncia" do Senador Aloizio Mercadante da liderança do PT, inquieto com a proteção que o PT dava e dá a nada menos que José Sarney ! Ora, não são questões partidárias ou de governo que tornam este quadro dramático para a política brasileira. Trata-se de uma tragédia singular para a República. O resto realmente é detalhe. Antro cobiçado Segundo o "Novo Aurélio", furna significa "caverna ou gruta, fojo, antro, cova, lapa, subterrâneo". Pois é em direção a uma determinada "furna", com valores de Real Grandeza, que o PMDB fluminense mirou seu desejo. Na direção de Furnas Centrais e o fundo de pensão de seus funcionários. Brasileiros de primeira e segunda categorias Façam as contas : 1. O governo federal tem menos de 1 milhão de aposentados e pensionistas; gastou com eles de janeiro a julho de deste ano R$ 35,1 milhões.2. O INSS, responsável pelas aposentadorias e pensões de quem trabalhou no setor privado, tem cerca de 20 milhões de beneficiários; nos mesmos sete meses de 2009, gastou com eles R$ 120,6 bilhões. E nem o Palácio do Planalto nem o Congresso fazem a menor força para aprovar a regulamentação da última "reforma da previdência", que institui um teto para a aposentadoria de quem entrar no serviço público depois da lei em vigor e cria um fundo de pensão para os novos servidores, para complementar os salários quando eles deixarem de trabalhar. Generosidade ? Nem tanta O governo correu para acertar com os sindicalistas e representantes dos aposentados pelo INSS um aumento real de seus benefícios em 2010 e 2011. Não está sendo "generoso" nem praticando sua famosa "justiça social". Na verdade, corre para tentar barrar a aprovação na Câmara de três projetos do senador petista Paulo Paim (PT-RS) que criam grandes vantagens para os aposentados do setor privado. Em período eleitoral os deputados podem ser tentados a aprová-los. E Lula não quer o desgaste de ter de vetá-los. Tem briga boa Esta semana o governo deve cumprir a promessa que fez ao MST de aumentar as exigências de produtividade nas atividades rurais para efeitos de desapropriação com vistas à reforma agrária. O setor rural está em polvorosa e cobra do ministro Reinhold Stephanes uma atitude corajosa em defesa da agricultura : não assinar o documento com as novas normas ou renunciar ao cargo. O PMDB abriga também a maior bancada ruralista, além de ser o partido do ministro e principal sustentáculo do governo no Congresso. Menos horas Se for a votação, em plena efervescência eleitoral, a EC que reduz de 44 para 40 horas a jornada semanal de trabalho no Brasil tem enormes possibilidades de ser aprovada. Ainda mais estando o governo empenhado nela, como demonstrou a participação do ministro Carlos Lupi no debate sobre o assunto promovido pela Câmara. Uma calculadora nova Ou a Petrobras ou o TCU necessita fazer, urgentemente, uma licitação para comprar novas calculadoras. Um deles está com suas máquinas defeituosas, pois as contas de um e outro não batem. O TCU, por exemplo, identificou um superfaturamento de 1.490% no pagamento de verba indenizatória nas obras de terraplenagem no Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro. A Petrobras não reconhece tal valor. O TCU identificou superfaturamento nas obras da Refinaria Abreu e Lima em Pernambuco. A Petrobras aceita a existência apenas de algumas mínimas falhas. Não é por outra razão que há muita gente boa querendo mudar as regras de atuação do TCU. Como não dá para tratar a doença, quebra-se o termômetro. Votos rarefeitos O presidente da FIESP Paulo Skaf está numa rotina de quem é candidato a governador de SP. Conchavos, reuniões, viagens. É um autor em busca primeiro de uma legenda. Se continuar no ritmo que está, até o ano que vem, 3 de outubro, conseguirá angariar uns dez votos populares. Direito na rua Se o ministro Joaquim Barbosa, do STF, seguir o que ele mesmo defendeu naquele famoso entrevero com seu colega presidente da Corte Suprema, o senador José Sarney que se cuide. Barbosa é o relator do MS da oposição contra o sumário arquivamento das representações contra o presidente do Senado por quebra de decoro. Barbosa aconselhou Mendes a considerar o que as ruas pensam. E sobre Sarney, mostram as pesquisas, o que pensam as ruas não é nada abonador. Japão renova política. E o Brasil ? O Partido Democrata ganhou as eleições japonesas e derrotou o Partido Liberal Democrata. Pela primeira vez desde a segunda guerra mundial, o PD vai governar o país em meio a uma enorme recessão. Trata-se de um teste, mesmo em se tratando de um país desenvolvido como é o caso do Japão. O novo primeiro-ministro deve ser Yukio Hatoyama que conseguiu projetar uma imagem de renovação para a autárquica política japonesa. A população escolheu uma nova via, pois não conseguiu mais enxergar na elite política do país sinais de modernidade. Apesar da renovação dos quadros do PLD, as políticas propostas tornaram-se obsoletas. Os caciques perderam poder e a população parece segura em relação à segunda via. Talvez, no caso do Brasil, o cansaço social com as elites políticas seja maior que no caso do Japão. Será que optaremos por uma nova via ? Virtudes publicitárias Charles Saatchi, ex-guru da publicidade que assessorou a campanha vitoriosa de Margaret Thatcher ao final dos anos 70, lançou um livro no qual pontificam suas memórias e visões sobre a publicidade. Diz ele que para vencer na profissão é preciso ter (i) talento acadêmico mínimo, (ii) uma boa dose de cinismo e (iii) e disposição para engrandecer as ideias alheias. Valeria para a política, sobretudo a nacional ? A anistia 30 anos depois Estamos a comemorar a anistia política promovida pelo governo Figueiredo há trinta anos. Iniciava-se a fase final do regime militar brasileiro. Por que o governo Lula não aproveita a comemoração e lança a público todos os dados e arquivos relacionados com os desaparecidos políticos ? Não seria apenas um gesto de humanidade para com sofridas famílias, mas de coragem política e crença profunda na democracia. O que falta ao presidente ? Ou será que sobra medo ?
terça-feira, 25 de agosto de 2009

Política & Economia NA REAL n° 66

  A vitória e os escombros O simpósio que reuniu os presidentes dos bancos centrais dos principais países desenvolvidos e emergentes em Jackson Hole, Wyoming - EUA, foi um cenário que misturou contido otimismo com o andamento da economia mundial com alertas justificados sobre as pendências resultantes da política de estímulo fiscal adotado por todos os países. Há, de fato, razões que justificam o otimismo. Na semana passada alguns destes sinais foram emitidos nos EUA (aumento das aquisições de casas), França e Alemanha (ambas apresentaram três meses seguidos de aumento da produção industrial). Vale notar, de nossa parte nesta coluna, que daqui pra frente os números de desempenho "na margem" hão de melhorar por duas razões básicas : (i) em função da melhoria factual das expectativas e (ii) em função da base de comparação com o ano passado : a queda foi veloz e forte e isto favorece a comparação entre os indicadores (de produção e consumo) atuais e os passados. As "altas" em relação ao ano passado são apenas "estáveis" em relação há dois anos. Ainda o sistema financeiro Na reunião de Wyoming na última sexta-feira, o presidente do Fed Ben Bernanke disse que a "manutenção da taxa de juros próxima a zero é uma necessidade e assim deve permanecer por um período extenso." Estas palavras revelam insegurança em relação ao ritmo de recuperação da economia americana e mundial, mas, sobretudo, revela as inquietações com o sistema financeiro norte-americano que ainda está muito dependente dos empréstimos da autoridade monetária, bem como das expectativas favoráveis dos investidores. Bernanke fala para um Congresso, desconfiado com os banqueiros, e muito vigilante em relação ao lobby de Wall Street. Reformas, por enquanto, mínimas Obama é bom marqueteiro de si mesmo. Não resta dúvida. Faz as vezes de bom governante. E vende ideias com alguma facilidade. Basta postá-lo perante um microfone e uma câmera e ele começa a mover o mundo. Um Arquimedes da política. Todavia, sejamos práticos, analíticos e pragmáticos : ele não está conseguindo fazer nenhuma reforma radical no sistema financeiro norte-americano. Os interesses instalados em Manhattan são enormes e a sua atuação tem sido feroz na defesa destes. A conclusão é simples e vale anotar : o sistema financeiro mundial continua calcado nos mesmos padrões que levaram a ondas progressivas de especulação nos últimos anos e o governo democrata parece disposto "a mudar tudo para que tudo continue do mesmo jeito." Ora, Barack pode ser marqueteiro de boa cepa, mas não parece não ser herói. Meirelles no Wyoming Henrique Meirelles na reunião dos presidentes dos bancos centrais estava bem comportado. Ao que sabe esta coluna somente um presidente de uma organização multilateral presente ao encontro cumprimentou-o pela entrada na vida política. Não houve espaço para proselitismo político por aqueles lados dos EUA... Meirelles, os juros e a política Semana próxima poderemos ter uma ideia, ainda que inicialmente precária, de como os agentes econômicos, especialmente o mercado financeiro, no jargão do meio, está "precificando" a entrada de Henrique Meirelles na corrida sucessória em Goiás. É semana de reunião do COPOM e os diretores do BC, na última ata, indicaram que, por algum tempo, a taxa Selic não seria reduzida. De lá para cá, algumas circunstâncias mudaram : (1) a inflação se mostra cada vez mais comportada e em queda; (2) a atividade econômica dá sinais de aquecimento; (3) Lula e Mantega avisaram explicitamente que há espaço para juros menores e (4) Meirelles caiu definitivamente na vida eleitoral. Como o COPOM lidará com essas variáveis ? Se segurar os juros, dir-se-á que foi duro para mostrar que a política de Meirelles não influencia suas decisões. Se aprovar uma nova redução, outros dirão que Meirelles e companheiros cederam aos gorjeios eleitoreiros. Serão dúvidas que acompanharão cada passo do BC e de Meirelles até ele se desligar da função. Dúvidas costumam influenciar as decisões de negócio. Juros sobem. Em Israel. O primeiro país a aumentar a taxa básica de juros após o colapso financeiro mundial de setembro do ano passado foi Israel. A taxa básica subiu de 0,50% para 0,75% ao ano. Note-se que o BC lá é comandado por Stanley Fisher, ex-todo-poderoso do FMI. Outros países que analisam a possibilidade de subir os juros nos próximos meses : Austrália, Noruega, Coreia do Sul, Índia e República Checa. FMI e o chefão socialista Pesquisa feita para o noticioso Ouest-France dentre 959 franceses, o chefão do FMI Dominique Strauss-Kahn é o preferido do partido socialista para a corrida presidencial francesa com 33% da preferência, mais que o dobro da charmosa Ségòlene Royal (14%) derrotada por Sarkozy na última eleição presidencial francesa. O FMI não tem credibilidade há muito tempo. Seu chefe pode ter. Na França, diga-se. Enquanto isto o mundo espera uma reforma do sistema financeiro internacional. Radar "NA REAL" Já enfatizamos em colunas passadas o caráter benigno do atual desempenho dos mercados mundiais. Seja na renda fixa, seja na renda variável - ações, sobretudo. Ora, este caráter "benigno" dos mercados não retira os enormes riscos que o cercam. Referimo-nos, sobretudo, às largas incertezas relacionadas com a sustentação do crescimento do consumo e do investimento, especialmente nos países desenvolvidos dos quais a demanda global depende decisivamente. Os sinais são de evidente recuperação, mas isto não quer dizer de forma alguma que o cenário terá sustentação suficiente para prosseguir benigno. Esta afirmação não é uma previsão, seja positiva, seja negativa. O que queremos alertar aos nossos leitores é que, depois de uma melhoria substantiva no mercado financeiro desde o final do primeiro trimestre do ano, a hora é de realizar lucro, reduzir posições e esperar maiores confirmações de que o cenário de fato prosseguirá sendo continuamente promissor. O que foi dito no parágrafo anterior vale para todos os segmentos de mercado. Aqui no Brasil, os preços do mercado acionário estão elevados e a relação risco versus retorno recomenda cautela. No segmento de renda fixa, a hora é de ficar com os pós-fixados e o dólar é uma boa proteção, mesmo que não tenha retornos positivos muito expressivos no curto prazo. Sejamos otimistas, mas não fiquemos eufóricos. 21/8/9   TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹        - Pré-fixados NA estável alta  - Pós-Fixados NA estável estável/alta Câmbio ²        - EURO 1,4326 estável/alta alta  - REAL 1,8250 estável/baixa alta Mercado Acionário        - Ibovespa 57.728,59 estável/queda estável/alta  - S&P 500 1.026,13 estável/queda alta  - NASDAQ 2.020,90 estável/queda alta (1) - Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais)(2) - Em relação ao dólar norte-americanoNA - Não aplicável Petróleo volátil Quem quiser especular no mundo e quer suscitar grandes emoções, basta participar do mercado futuro de petróleo. Na semana encerrada no último dia 14, os operadores lamentavam a forte baixa do ouro preto para o nível de US$ 66/barril. Na semana passada os indicadores do setor imobiliário mostraram melhoras no último mês. Algo modesto frente às desgraças que caíram sobre o segmento. Pois bem : o petróleo subiu 11% em três dias. Nada mal, hein ? Os especuladores encontram razões onde a própria razão não consegue alcançar... Por aqui, mesmo com a alta, o preço base do barril que a Petrobras utiliza para calcular os preços internos da gasolina e do óleo diesel ainda está muito acima da cotação internacional, o que engorda os cofres da empresa em detrimento do consumidor. No trimestre passado, segundo especialistas, os combustíveis nacionais custaram, em média, de 25% a 30% mais do que seus preços internacionais. Por falar em petróleo... Nesta semana deveremos ter algumas novas (boas ?) sobre o pré-sal. A regulamentação está definida em quase tudo, mas há decisões pendentes sobre a forma de licitar e apurar os resultados. A luta entre os mais liberais e os mais intervencionistas continua firme e sanguinária e passa por negociações de bastidores no Congresso. Vale notar que Dilma, tida como "esquerdista" há não muito tempo, ocupa a cadeira de "mais liberal" nestas discussões. Também é o tal do pré-sal que tem acalmado os ânimos da CPI da Petrobras, mesmo tendo uma chama acesa chamada Lina Vieira... Muitos senadores pescam em águas mais profundas que aquelas que serão penetradas pelos equipamentos de extração. A fresta de arromba do pré-sal, uma das bandeiras da candidatura Dilma Roussef, está marcada para o dia 31, segunda-feira. Será um comício como nunca se viu antes no país. Apenas para anunciar que o governo está enviando ao Congresso três projetos com alterações da Lei do Petróleo. O negócio é o dinheiro As discussões sobre o pré-sal ainda estão pegando fogo a uma semana do anúncio da proposta governamental. Até o submisso governador Sérgio Cabral está dando de "bravinho". A razão é simples : calcula-se que irão sobrar dólares a rodo, em participações e royalties e o governo federal quer administrar os recursos, controlar e direcionar a utilização do dinheiro. Amplia-se extraordinariamente o poder de Brasília e a submissão de Estados e municípios. Nem os ministérios das áreas sociais a serem atendidas pelo Fundo do Pré-Sal opinarão sobre eles. Haverá um grupo especial responsável por isso. A ideia é não esperar o óleo jorrar e ser vendido para capitalizar o fundo. Nos estudos há a sugestão de antecipar o pagamento de contribuições de royalties e participações. É briga pelo poder real. PT saudações Vejam só a ironia : o PT perde espaço no Congresso e ganha espaço nas colunas políticas que tratam de Sarney, Renan e Collor. Neste cenário não devemos condenar o senador Aloizio Mercadante que maneia suas palavras entre uma "irrevogável renúncia" e um "não resisti ao pedido do presidente Lula". Mercadante é vítima do "mercado político" (sem trocadilhos) frequentado sem escrúpulos pelo PT, cuja bancada lidera no Senado. As urnas o absolverão ? Esta deve ser a sua maior dúvida. O estilo Lula... ...de transferência de responsabilidade. Trecho da carta do presidente que fez o senador Aloizio Mercadante "revogar o irrevogável" : "Você me expressou novamente, como tem feito publicamente, sua indignação com a situação do Senado federal e suas duras críticas ao posicionamento da direção do PT nos processos no Conselho de Ética." O presidente esquece, propositadamente, que o "posicionamento do PT nos processos de Conselho de Ética" foi determinado exclusivamente por ele, Lula. Apenas o vexame e a humilhação pública ficaram para os companheiros. Se havia razões políticas para tal "posicionamento" - e quem julga essas razões é o partido e seus líderes, não observadores e oposicionistas - elas deveriam ser assumidas por todos, abertamente. PT histórico Vejamos o trecho a seguir : "[...] não nos impede de apontar as limitações que o MDB partido de exclusiva atuação parlamentar - impõe às lutas populares por melhores condições de vida e por um regime democrático de verdadeira participação popular. O MDB, por sua origem, por sua ineficácia histórica, pelo caráter de sua direção, por seu programa pró-capitalista, mas, sobretudo, por sua composição social essencialmente contraditória, em que se congregam industriais e operários, fazendeiros e peões, comerciantes e comerciários, enfim, classes sociais cujos interesses são incompatíveis e nas quais, logicamente, prevalecem em toda a linha os interesses dos patrões, jamais poderá ser reformado. A proposta que levantam algumas lideranças populares de "tomar de assalto" o MDB é muito mais que insensata: é fruto de uma velha e trágica ilusão quanto ao caráter democrático de setores de nossas classes dominantes." Eis a "Carta de Princípios" assinada pelos fundadores do PT, entre eles Luiz Inácio da Silva, o Lula, em 1º/5/1979. Depois de trinta anos, o que será que pensa o PT do sucessor do MDB ? Notem o "jamais poderá ser reformado" do trecho da referida carta. É auto-explicativo. Uma boa história Agora que Lula move mundos e fundos - obviamente mais fundos do que mundos - para ter o PMDB na aliança governista no Congresso e nos palanques de Dilma Roussef, o ex-deputado José Dirceu poderia contar como foram as negociações com o PMDB no final de 2002 para que ele entrasse formalmente no governo de Lula e as razões que levaram os presidente a desautorizar o acordo depois de ele ter sido anunciado na imprensa pelo seu então futuro chefe da Casa Civil. Uma boa história - 2 Que "mercadantes" razões teriam levado o ex-ministro José Dirceu, em menos de dez dias, a ter mudado de opinião sobre a saída da senadora e ex-ministra Marina Silva do Partido dos Trabalhadores ? Tão logo surgiu a notícia de que Marina estaria de mudança para o PV, Dirceu defendeu que o PT cobrasse dela o mandato, pois ela foi eleita pelo partido e, portanto, o lugar no Senado pertence à legenda e não à senadora. Agora, limita-se a defender - com razão - a fidelidade partidária. Em tese, Marina tornou-se figura oculta. Sem intermediários Dificuldades de relacionamento e negócios emperrados na República ? Passe primeiro no Senado e procure Renan Calheiros, ele resolve. Vá direto a quem manda e é obedecido. "Precificação" em alta Se as grandes redes brasileiras de televisão conseguissem vender quase seis minutos de sua programação num único dia pelo preço que está sendo pago e ainda será pago ao PMDB pelo seu tempo no horário eleitoral obrigatório em 2010, elas poderiam ficar pelo menos um ano sem precisar vender um único anúncio. Falta de decoro e omissão Na sessão do Conselho de Ética do Senado que arquivou os processos de quebra de decoro parlamentar contra os senadores José Sarney e Arthur Virgílio, o PMDB cometeu uma falta gravíssima em qualquer parlamento sério. Algo punível com um processo por falta de decoro contra quem assinou a representação. O PMDB votou em peso pelo arquivamento da representação que ele mesmo havia apresentado contra Arthur Vírgílio. Pode-se deduzir que o ataque ao senador tucano foi uma leviandade, apenas uma represália contra quem mais atacava Sarney, ou o PMDB estava no "acórdão" para salvar a face do Senado. O curioso é que a oposição deveria ter denunciado a manobra e aberto um processo contra quem assinou o documento do PMDB. No entanto, fingiu-se de morta, interessada também em encerrar logo a história. A pantomima foi bem cumprida. Ferve a Fazenda Ao contrário do que imaginava o ministro Guido Mantega, quando nomeou o segundo de Lina Vieira, Otacílio Cartaxo, para substituí-la, a paz ainda não voltou à Receita. A fervura por lá ainda é alta. Palavras como perseguição, vingança e traição vazam as paredes do órgão. A demissão "irrevogável" de 12 funcionários da alta cúpula do órgão vai gerar graves desdobramentos. Com o risco de desestruturar de vez um dos organismos mais importante de qualquer governo : o Fisco. Como a suspeita (acusação dos funcionários demissionários) é de interferência política numa repartição que deveria ser pautada pela impessoalidade, o perigo adicional é criar temores nos cidadãos e contribuintes. Assim quem não quer - I Para pôr o trem bala na linha, o projeto mais visível do PAC, de mais de R$ 34 bilhões, o governo está disposto a fazer diversos sacrifícios. Para atrair concorrentes, está disposto a pagar pelas desapropriações e ainda a bancar boa parte dos investimentos com os cofres do BNDES. Com tanta generosidade, até o mais ingênuo vai querer entrar nesse negócio. Assim quem não quer - II No meio da reportagem sobre dois dos apartamentos usados pela família Sarney em SP, que está no nome de uma pequena empreiteira de obras pública, a Holdden, ex-Aracati, passou meio despercebida uma informação estarrecedora. E que naturalmente não diz respeito apenas ao setor elétrico, onde a empresa atua mais e nem apenas à Holdden. Trata-se existência de um esquema de "terceirização" das concorrências. Por este processo de concorrência, uma empresa com pistolões influentes na República entra na disputa, prepara todo o processo e depois repassa o negócio com grande lucro porque não tem expertise real para tocar o projeto. Ganha para mover papel. É óbvio que a empresa que comprou a execução do projeto precisará encontrar a fórmula para lucrar depois de ter gasto dinheiro no "repasse". Na maioria dos casos (e talvez em função dos "repasses") surgem os aditamentos, serviços e tarifas mais caras... Há uma próspera "indústria sem risco" instalada no setor público - não apenas em Brasília. Pelo menos enquanto os padrinhos estiverem nos lugares certos.
terça-feira, 18 de agosto de 2009

Política & Economia NA REAL n° 65

  A sucessão embaralhada A pesquisa DataFolha divulgada no domingo ainda serve para indicar as possibilidades reais da candidatura Marina Silva de angariar votos e estragar os prazeres de adversários. Foi realizada ainda quando as especulações sobre sua entrada na disputa ainda estavam muito frescas. O levantamento, além de praticamente reproduzir, para os três principais nomes - Dilma, Serra e Ciro - a mesma situação de maio, traz, contudo, dois dados que merecem melhor análise : 1. As intenções de voto da ex-senadora Heloísa Helena : quase totalmente ausente da grande mídia nacional, a líder do PSOL alcançou 12% da preferência dos pesquisados, apenas 4 pontos a menos do que Dilma e 3 pontos abaixo de Ciro. Sinal de que há uma significativa orfandade eleitoral que nem Serra, nem Dilma, nem Ciro conseguiram ainda preencher.2. Quando Ciro é retirado da disputa, numa das simulações, Dilma salta de 16% para 19%, enquanto Serra pula de 37% para 44%. Ou seja, mais votos de Ciro vão para Serra do que para Dilma. Isso reforça o argumento de Ciro e do PSB de que a candidatura dele é importante para evitar uma vitória tucana no primeiro turno. Porém, o fato que ainda está "agitando a pança" é o "fator Marina", cujo destino partidário deverá ser definido esta semana. Subiu no telhado Evoluía com fluidez a escolha do vice na chapa de Dilma em direção a uma solução peemedebista. Com a entrada na arena da senadora Marina Silva e o novo assanhamento do PSB e de Ciro Gomes, tivemos uma espécie de "parada técnica". É possível que haja necessidade de usar o lugar antes reservado ao PMDB para acomodar Ciro. E ainda ter alguém à mão para evitar que Dilma se confronte diretamente com a senadora do Acre. Ciro faria este papel. É bom prestar atenção nas reações do PMDB da Câmara, comandado por Michel Temer, para ver como essa facção peemedebista está vendo tais articulações. O PMDB na Câmara tem sido um "doce" até agora, mesmo insatisfeito com a não liberação das emendas dos parlamentares. Não gostaria de ser preterido. Índia : para se prestar atenção ! Neste último sábado foi o Dia da Independência da Índia. Em um marcante discurso o primeiro-ministro indiano Manmohan Singh afirmou que fará mais esforços para retomar a taxa de crescimento média dos últimos cinco anos do PIB (9%). A previsão de crescimento para este ano é de 6%, mas os analistas estão revendo suas projeções para algo ao redor de 7%. A crise mundial afetou a Índia em menor magnitude, assim como o Brasil, na medida em que o país é relativamente fechado no comércio exterior e o seu sistema financeiro pouco internacionalizado. O déficit público que era antes da crise ao redor de 3% do PIB mais que dobrou (para 6,2%) e supriu parte da demanda perdida com as exportações de produtos e serviços. A inflação do país permanece controlada e os maiores riscos neste item estão relacionados com o setor agrícola, ainda muito subdesenvolvido e dependente do regime de chuvas da região (monções). Manmohan Singh recentemente teve uma importante vitória nas eleições parlamentares na medida em que seu governo se tornou mais centrista do ponto de vista político e mais reformista do ponto de vista econômico. A Índia pode e provavelmente será a maior concorrente por capitais dentre os emergentes. Talvez se torne a grande estrela dos BRICs. Além da novela das oito... Ações : oferta e demandaUm dos pontos críticos para os mercados acionários diz respeito à análise da (i) demanda de ações por parte dos investidores (normalmente dependente da avaliação dos "fundamentos" das empresas e da economia) e (ii) da oferta de ações, via IPOs ou ofertas secundárias (ações já existentes que são vendidas em blocos. Neste caso, o dinheiro não entra na empresa, vai para os vendedores das ações). Como temos salientado ao longo dos últimos meses, permanecemos otimistas em relação à influência positiva dos fundamentos sobre os preços das ações, embora os riscos de médio e longo prazo estejam aumentando com certa velocidade (sobretudo os riscos fiscais). No que se refere à oferta, os investidores devem tomar muita atenção em relação ao IPOs e colocações secundárias. Algumas operações já foram concretizadas. Muitas estão em negociação. Isto significa que os controladores do capital das empresas e os seus managers consideram que os preços atuais nas bolsas são "justos" para que se efetuem ofertas de ações. Ora, todos sabem que há assimetria de informação entre aqueles que conhecem as empresas "por dentro" (controladores e managers) e os investidores em geral. Os primeiros "sabem mais" e são "insiders". Os segundos, não. Com efeito : neste momento de mercado, aqueles que "sabem mais" estão ofertando ações. Para os demandantes, o momento recomenda mais análise em relação à aquisição de ações dos IPOs e, sobretudo, das ofertas secundárias. Finalmente : estas ofertas podem sugerir que no curto prazo, os preços de mercado já chegaram próximo do topo. Tendência do mercado financeiro Em nossa opinião há quatro fatores mais evidentes a influenciar o mercado neste momento e que podem determinar a tendência do mercado financeiro local e internacional. Vejamos : 1. A alta desde meados do primeiro trimestre já levou o nível de preços dos ativos para patamares do início da crise (sobretudo do mercado acionário dos países emergentes). Necessariamente uma valorização adicional dependerá de uma maior taxa de crescimento da atividade econômica e da melhoria adicional dos fundamentos das empresas;2. Há dentre os investidores e consumidores um sentimento de que o cenário está melhor. Não são muitos os indicadores de sentimento do consumidor existentes no país, mas a melhoria na taxa de emprego e a maior disponibilidade de crédito contribuíram para esta melhoria. Para influenciar de forma adicional e positiva o mercado, as expectativas têm de melhorar de forma consistente;3. O melhor desempenho do mercado internacional ocorre com múltiplos indicadores divergentes entre si. De um lado, melhoram os indicadores de atividade (p.ex., a divulgação dos lucros das maiores empresas americanas e do PIB dos países da zona do euro), mas de outro há indicadores de consumo e desemprego muito sofríveis. A futura valorização dos ativos dependerá de indicadores mais consistentes entre si;4. As taxas de juros tem de permanecer relativamente estáveis. Referimo-nos não apenas as taxas de juros básicas, mas, especialmente, as taxas de juros dos títulos de prazo mais longo (p.ex., os títulos com vencimento de 10 anos do Tesouro norte-americano). As expectativas de inflação estão relativamente controladas, mas os temores com os déficits fiscais são relevantes e causam temor. Daqui para frente, a elevação dos preços dos ativos deverá ser mais contida e a cautela será maior em função dos fatores acima. Radar NA REAL Não estamos fazendo nenhuma mudança substantiva no nosso radar. Todavia, acreditamos que a possibilidade de uma realização mais acentuada de lucros nos mercados de renda fixa e renda variável local é muito mais provável que há algumas semanas. Não é apenas uma questão relacionada com o noticiário e a divulgação dos indicadores econômicos. Há muito lucro nos bolsos dos investidores e neste tipo de cenário muitos podem desejar embolsar os lucros. Aí, o mercado cai. Os principais segmentos (no Brasil) que podem ser influenciados por este fator são o mercado acionário e de juros futuros (títulos prefixados também). Nesta ordem. O câmbio pode subir, mas provavelmente sem força. As bolsas lá fora também podem cair de patamar. A mesma lógica de realização de lucros que vale por aqui, por lá também vale. 14/8/9   TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹        - Pré-fixados NA estável alta  - Pós-Fixados NA estável estável/alta Câmbio ²        - EURO 1,4203 alta alta  - REAL 1,8300 estável/baixa alta Mercado Acionário        - Ibovespa 56.638,00 estável/queda estável/alta  - S&P 500 1.004,09 estável/queda alta  - NASDAQ 1985,52 estável/queda alta (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável Meirelles, entre a especulação e o fato Há meses especula-se sobre a candidatura do presidente do BC Henrique Meirelles ao governo de Goiás, sua terra natal. Nesse tempo, o chefe da autoridade monetária negou que fosse disputar a cadeira de governador. Sem ênfase, é verdade. Na última sexta-feira, o presidente Lula, como sempre empolgado com seus discursos, afirmou que "se Meirelles conduzir a economia de Goiás como ele conduziu (sic) o Banco Central, Goiás só tem a ganhar." Ora, Meirelles ainda é o presidente do BC, mas o presidente já anunciou a sua candidatura. Ademais, de sua parte, Henrique Meirelles disse : "não estou pensando em partido agora. Até março o foco é no BC." Como se vê, intrinsecamente o presidente do BC admite a candidatura. De fato, é candidato. Isto lhe retira a imparcialidade para conduzir o BC. Deveria sair já. Até mesmo pela existência de claros conflitos de interesse entre a condução de um cargo de Estado e a política partidária visando um governo. Não combina A política partidária, ainda mais para um quase neófito como Meirelles, implica em "negociações", concessões, liberações... A presidência do BC exige firmeza, dureza... Alguém consegue imaginar, por exemplo, Ben Bernanke filiado ao Partido Democrata e candidato ao governo do Texas e ao mesmo tempo comandando o Fed ? Não sai mesmo A popularidade de Lula não mexeu um milímetro nos últimos dois meses, apesar de seu temerário engajamento na crise do Senado. Assim, o mandato de Sarney e sua permanência na presidência do Senado estão totalmente garantidos. Fatura em dia O filho do senador Renan Calheiros ganhou mais uma concessão de rádio para Alagoas na semana passada. Tomou posse ontem na BR Distribuidora, subsidiária da Petrobras, o até então secretário de Petróleo e Gás do Ministério de Minas e Energia, José Lima de Andrade Neto. É homem de confiança do ministro Edison Lobão, que por sua vez é do staff político de Sarney e Renan. José Eduardo Dutra está trocando a BR Distribuidora para disputar a presidência nacional do PT. Justifica o sacrifício por ser homem de partido. Certamente não ficará ao relento, caso Dilma Roussef seja eleita. Derrotado ao governo de Sergipe em 2002, foi escalado pelo governo Lula para presidir a Petrobras. Derrotado ao Senado também por Sergipe em 2006, foi chamado por Lula para presidir a BR Distribuidora. Bancos audaciosos São simplesmente fabulosos os desempenhos do BB e da CEF nos seis primeiros meses do ano. Uma coisa nunca dantes vista neste país. No caso, foram respeitados todos os pressupostos de prudência que a delicada administração do setor exige ? O passado das instituições não aconselha entusiasmo exagerado ainda mais se sabendo que os avanços superlativos se deram com espantosa velocidade. O tal do spread Está evidente que o assunto spread é muito difícil mesmo de ser analisado. Os bancos oficiais informaram níveis de taxa de risco (spread) equivalentes aos dos bancos privados. Ora, será o efeito do "mercado" ? Por que o ministro Mantega não se debruça sobre este indicador para saber a causa ? Desatenção jurídica Está sendo muito pouco discutida a proposta de "enxugamento" da CF/88 que está sendo preparada pelo deputado paulista Régis de Oliveira por encomenda do presidente da Câmara, Michel Temer. Não é "flor do recesso". É para valer. Temer quer deixar uma marca própria nessa sua passagem pelo cargo, possível alavanca para voos mais altos. Além do mais, a sugestão é sedutora. E que, deixada solta, pode se prestar tanto para o bom como para o péssimo. Reforma da saúde nos EUA O plano de reforma do setor de saúde de Obama tem por objetivo reduzir o largo déficit do governo na área e, caso o presidente norte-americano tenha sucesso em implementá-lo, haverá mais conforto com a situação fiscal do governo no médio prazo. O papel do governo na saúde será reduzido por meio de um modelo que estimula a competição e a livre escolha de médicos e hospitais. Algo mais avançado daquilo que tentou Clinton em meados dos anos 90. Um modelo liberal. (O que acharia a esquerda brasileira sobre estes planos do "esquerdista" Barack Obama ?) Do ponto de vista do mercado esta reforma é decisiva para o curso das cotações das ações e, sobretudo, dos títulos do Tesouro norte-americano. Quanto vale ? O PMDB tem 5 minutos e 45 segundos no horário eleitoral obrigatório no rádio e na televisão na corrida presidencial. Tanto o PT quanto o PSDB gostariam de se apossar dessa fortuna.
terça-feira, 11 de agosto de 2009

Política & Economia NA REAL n° 64

O furacão Marina Nada indica, com certeza, que a ex-ministra Marina Silva vá aceitar o convite do PV para disputar a sucessão de Lula. Nada indica também que, aceitando concorrer, ela vá se transformar na terceira via, no "fato novo" que alguns ainda esperam ver na corrida sucessória para sacudir o ramerrão PT-tucanos. Porém, o simples surgimento do nome da senadora acreana na liça sucessória já balançou o coreto da candidatura Dilma. O governo já percebeu que ela pode arrancar votos da preferida de Lula muito mais que arrancará de Serra. Depois é uma candidata dura de ser combatida. E afasta o caráter plebiscitário que Lula quer dar à campanha. O também candidato Ciro Gomes acha que Marina implode o coreto de Dilma. Pode ser que não chegue a tanto. Mas o susto que ela já causou nas forças governistas mostra a fragilidade em que estão assentados os pressupostos da solução Dilma, idealizada solitariamente por Lula. Aconteça o que acontecer daqui para frente, Lula terá de rever sua estratégia e quem sabe preparar um plano B. De patinho feio a cisne Desde o momento em que o PV colocou oficiosamente o nome da ex-ministra na roda sucessória, muitos companheiros petistas da senadora redescobriram o número do telefone celular dela. O número havia sido perdido por eles quando Marina, quebrando uma praxe na administração pública brasileira, pediu demissão do ministério por não concordar com ações ambientais do presidente Lula e de Dilma. Alguns redescobriram até as boas maneiras, o modo civilizado de tratar os correligionários, mesmo quando há discordâncias conceituais. O que devemos a Sarney ? Além das numerosas e sérias denúncias que cercam o velho político do Maranhão, muito se fala do zelo que se deve ter em relação à "biografia" de Sarney. Ora, do que estamos mesmo a falar ? Do fato de Sarney ter "conduzido" a transição política pós-ditadura de forma "democrática" ? Bem, falta amor à verdade àqueles que formulam estas recomendações. As mais importantes marcas de Sarney estão ligadas aos seus feitos enquanto oligarca de um dos Estados mais pobres da federação e aos seus longos e lucrativos anos dedicados ao regime militar. Era ele o presidente do PDS, partido sucessor da ARENA, que sustentou os mandatos presidenciais dos generais, quando as eleições diretas foram rejeitadas pelo Congresso Nacional em 1982. Mudou de lado quando pressentiu a mudança política motivada pelos ventos democráticos vindos da sociedade e pôs-se ao lado de Tancredo. O resto nós já sabemos (e lembramos). Sarney e seu desastroso governo O seu governo (1984-1989) foi um dos maiores desastres desde o início da República, marcado por denúncias de corrupção, hiperinflação e fragilidade externa. Seu maior feito foi obter o direito a um mandato de cinco anos durante a Assembleia Constituinte, sob ameaças vindas do então ministro do Exército Leônidas Pires Gonçalves. Feito pouco "democrático", pode-se notar. Deixou o governo sob vaias e xingamentos do seu atual aliado Collor. Manteve o poder para se manter oligarca. Foi assim que percorreu a trajetória recente ao longo dos períodos de Itamar, FHC e Lula. Entre barganhas e manobras eleitoreiras. A biografia política de Sarney não é edificante. Sua atuação recente e histórica é vergonhosa. Tê-lo ainda presente na cena política é uma tragédia. Nada obriga ninguém a apoiar uma pessoa com esta biografia. Apenas os seus colegas de Senado necessitam descobrir isto. EUA : recuperação consistente, lenta e gradual A recuperação da economia norte-americana (25% do PIB mundial) está como a abertura política pós-ditadura militar nos anos 70 e 80 : lenta e gradual. Todavia, não é ainda segura. A taxa de desemprego de julho (9,4% da força de trabalho), abaixo da taxa esperada (9,7%), é uma boa notícia num contexto ruim. Além disso, dois dados adicionais são animadores : (i) a revisão para baixo, mesmo que em pequena medida, do dado de desemprego de junho, e (ii) o aumento das horas trabalhadas, a primeira desde setembro de 2008. E por que não é segura a recuperação ? Por duas razões gerais : (i) a taxa de investimento permanece muito baixa e é parcialmente compensada por investimentos públicos que causam riscos fiscais no médio prazo e (ii) o sistema financeiro permanece incapacitado e reticente em aumentar a carteira de crédito, item essencial para fomentar o aumento do consumo nos EUA. De toda a forma : o mercado de ativos (renda fixa e variável) está em rota de recuperação. Isto há de ajudar nas expectativas. Europa : recuperação lenta e desproporcional Os indicadores de atividade econômica e emprego na Europa não deram evidências de que a recuperação está à vista. Na semana passada, o Banco Central Europeu deixou claro que a recuperação é possível a partir do final do ano, mas que os sinais são tênues. Há outro problema sério na administração da política monetária na zona do euro : há diferenças discrepantes entre a atividade econômica na Alemanha e França (maiores crescimentos, especialmente no caso alemão) e os países meridionais - Espanha e Itália permanecem com dados sofríveis e ainda piorando (como é o caso do mercado laboral espanhol). Neste contexto, a política monetária tem de "espelhar" a média dos cenários. A dispersão dos dados faz com que a eficiência da política de juros seja prejudicada. BRICs : Índia e China à frente Tanto a Índia quanto a China têm sido bem avaliadas pelos analistas e investidores no que se refere à taxa de crescimento. Ambos os países tiveram os seus crescimentos reavaliados para cima : Índia de 5% para 7% este ano e China de 6% para 7%. A recuperação do setor industrial de ambos os países é notável e vai ajudar, sobretudo no caso chinês, a levantar os preços das commodities. (Neste sentido, por que não avaliar investir na Vale ?). Note-se que tanto a China quanto a Índia estão a fazer esforços fiscais muito menores que a média dos países centrais e mesmo em comparação ao Brasil. A Índia, por exemplo, teve quase que totalmente preservado o seu sistema financeiro (como no caso do Brasil.) A China não tem dados confiáveis sobre a qualidade do sistema financeiro - há quem afirme que é "quebrado" - o regime comunista também esconde números econômicos dos olhos mais curiosos. BRICs : Brasil atrás e Rússia mal O Brasil está apresentando uma recuperação consistente de sua economia. Consumo e investimento (em menor medida) sobem. O esforço fiscal do governo está a produzir bons resultados. Todavia, os gastos correntes (e permanentes) crescem maiusculamente e os riscos do médio prazo estão a subir muito. Este é o grande diferencial, digamos, de "qualidade de política econômica" quando analisamos o nosso país em relação à China e Índia. O caso da Rússia é mais específico : o sistema financeiro é bem mais frágil, a dependência do petróleo - com preços bem mais baixos que nos últimos anos - é barreira séria para a retomada da atividade econômica. Além disto, lá como cá, o Banco Central foi bem mais cauteloso na redução da taxa de juros - na semana passada, o BC russo reduziu pela quinta vez a taxa de juros (de 11% para 10,75% ao ano). A inflação lá ainda é bem alta que na média dos países emergentes. Radar NA REAL Temos insistido há alguns meses nesta coluna em relação à melhoria do cenário econômico mundial, embora reconheçamos os riscos relevantes ainda presentes no cenário. O posicionamento crescente e de longo prazo em ativos de maior risco (títulos de renda fixa e ações) é recomendável. Os investidores devem balancear as suas posições em conformidade com aquilo que é aceitável em relação ao patrimônio total. Este é sempre o melhor controle de risco, além da recomendável diversificação entre mercados e ativos. Chamamos atenção para os nossos leitores em relação ao dólar. Não acreditamos que o real (e nem outra moeda relevante no mercado) possa se valorizar substantivamente em relação à moeda norte-americana. Todavia, no caso do Brasil, o dólar pode ser um excelente hedge (proteção) para aqueles que tem investido em ativos de maior risco. Finalmente, um alerta que temos feito (e que tem se refletido no mercado) em relação aos títulos prefixados de médio prazo no Brasil. O futuro desempenho das contas fiscais brasileiras há de comprometer uma queda maior dos juros. A hora é de ficar em pós-fixados enquanto o governo não sinalizar como tratará o problema a partir de 2010. Lembrando que em tempo de eleições ninguém gosta de tratar de "coisas chatas" como essa... 7/8/9   TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹        - Pré-fixados NA estável alta  - Pós-Fixados NA estável estável/alta Câmbio ²        - EURO 1,4198 alta alta  - REAL 1,8300 estável/baixa alta Mercado Acionário        - Ibovespa 56.329,51 estável/queda estável/alta  - S&P 500 1.010,48 estável/alta alta  - NASDAQ 2.000,25 estável/alta alta (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável Mercado acionário dos EUA à frente da Bovespa Já dissemos em colunas de semanas anteriores : acreditamos que as bolsas norte-americanas terão desempenho relativo superior às ações brasileiras. Lá os ativos, sobretudo em alguns setores como o financeiro, estão muito depreciados. O cenário mercado de ações brasileiro é positivo, mas para se ganhar dinheiro será necessário correr mais riscos em setores menos importantes e empresas menos dominantes em termos de mercados e posição financeira. A hora é da "seleção de ações" - o mercado como um todo pode ficar parado enquanto certas ações hão de tomar o caminho da alta - as ações de segunda linha. Inflação e bola de cristal Segundo Eulina Nunes dos Santos, coordenadora de índices de preços do IBGE, "o IPCA em 12 meses está com tendência de queda desde março, mas é uma incógnita (grifo nosso) se ela continuará em agosto". Bom, este é o tipo de afirmação que não serve pra nada, além de complicar. Afinal, por definição, a taxa de inflação é endógena, ou seja, formada pelo mercado. A inflação no Brasil caiu por três motivos : (i) a crise que conteve o aumento de preços, (ii) a queda dos preços das commodities e (iii) o dólar que despencou (nos últimos meses). Ora, a taxa da inflação vai depender da evolução destes fatores. Tudo indica que as coisas estarão sob controle, mas a incógnita persistirá à solta. De todo modo : não aposte na alta da inflação no médio prazo. Use o bom senso, não a bola de cristal. O New Approach contra o terrorismo Foi sintomático o anúncio do Assistente de Segurança Interna e Contra-Terrorismo da Casa Branca, John Brennan, na última sexta-feira em Washington. Estava ao lado da Secretária de Estado Hillary Clinton. Foi afirmado que os EUA, embora persigam o objetivo de prover segurança para os norte-americanos, hão de apostar na "diplomacia" para enfrentar os grupos terroristas. O que significa "diplomacia" na linguagem da Casa Branca ? (I) apostar na estratégia de não-proliferação de armas de destruição em massa, (ii) luta contra a fome e a pobreza em área conflagradas, (iii) reforço das políticas e ferramentas contra ataques cibernéticos e (iv) reconstrução de alianças na área de inteligência. Tudo muito interessante. Mas...  Falta clareza na execução Quem acompanha a política externa norte-americana está confuso sobre prioridades. Sabidamente, o Império não pode e não tem condições de atuar em larga escala nos múltiplos e enormes riscos geopolíticos. Até agora, não se sabe ao certo como serão tratadas as pendências com Irã, o conflito com os palestinos, as ameaças da Coréia do Norte e a guerra afegã. Esta é a verdade. No caso do Iraque, apesar de todo alarde dos discursos de Obama, a estratégia adotada foi igualzinha a de Bush Jr. A "visita" diplomática de Bill Clinton à ditadura coreana resvala neste contexto : há tempos não se via uma foto do ditador coreano. O que os "negociadores" americanos não conseguiram, Bill com aquele seu jeitinho fez valer e libertou prisioneiros. Pode ter conversado com a esposa sobre o assunto, mas os parceiros dos EUA ficaram atônitos. Sem saber como os EUA tratarão os mísseis daquele déspota maluco... E agora a Colômbia... A confusa política externa norte-americana também repercute na América do Sul, região para a qual não existe sequer representante no Departamento de Estado. Os EUA vão instalar bases no país de Uribe e irão ter uma posição militar suficiente para atender aos interesses internos (conter a entrada de drogas) e externos (espiar por cima da fronteira de Equador, Bolívia e o fanfarrão do Chávez). Em tempo : Uribe foi um dos três líderes de países que receberam a Medalha da Liberdade, maior condecoração dos EUA ao final do ano passado. Junto com Tony Blair e o ex-primeiro-ministro australiano John Howard. Das mãos de Bush Jr., Uribe é também "queridinho" de Obama, assim como era de Bush. Não é somente o caso de Lula. O teste real A política externa e de contra-terrorismo dos EUA será testada de verdade quando um ataque mais sério acontecer no país ou em algo (ou lugar) que contrarie os interesses do país. O resto, por enquanto, é discurso. Infelizmente. Sotomayor na Suprema Corte Na nota do Congresso dos EUA que anunciou a nomeação (aprovada por 68 votos a favor e 31 contra) de Sonia Sotomayor para a alta corte americana foram listadas as suas virtudes : "ela tem o intelecto, o temperamento, o histórico de integridade e a independência mental para habilmente servir a corte mais alta de nosso país". Bom, há algum tempo não vemos pelos nossos lados alguém que reúna estas qualidades somadas... O (não) acordo ortográfico O Acordo Ortográfico entre os países de língua portuguesa é daqueles que Franz Kafka adoraria romantizar. O acordo não foi adotado em Angola, nem em Guiné-Bissau, nem em Moçambique e, agora, parece que tem grandes chances de não ser adotado em Portugal ! Os maiores grupos editoriais de Portugal (Leya e Porto Editora) não irão adotar o vernáculo unificado. Enquanto isto, nesta Ilha de Vera Cruz, estamos a mudar a nossa escrita, a abandonar sinais gráficos que lutamos para aprender nos bancos escolares e a revisar nossos escritos com algum sofrimento e tensão. Será que o tal Acordo (ou desacordo) será investigado por alguém "neste país" ? A distinta população está a aprender novas regras em vão ? Quem sabe ? Por que não voltamos ao latim ? Quem sabe encontrássemos uma língua comum entre os países que falam português. Em inglês e português Curioso o fato de as mensagens que admoestam os possíveis fumantes de locais públicos em SP estarem escritas em português e inglês. Trata-se de algo realmente especial. As mensagens que fazem alertas sobre o uso de elevadores, por exemplo, são em apenas um idioma. Talvez fumar seja mais perigoso que cair no fosso do elevador. Ou será "estratégia de marketing" ? O velho Rui sabia das coisas Rui Barbosa, patrono do Senado Federal, um grande brasileiro. Vejamos o que dizia em seu tempo : "Da política, todo o mal que dela se disser, jamais dará a medida da realidade. Eu sou um de seus convictos detratores". Em outra ocasião afirmou : "política miserável e odiosa de nossa terra", "infecto fervedoiro político". Trechos extraídos do magnífico "Três Discursos" de Goffredo da Silva Telles Junior, publicado há pouco pela Editora Migalhas. O que diria hoje ? Agravaria as palavras ? Tiroteio - 1 De um maldoso político profissional de plantão em Brasília : "O verdadeiro PAC 2 do presidente Lula é a eleição da ministra Dilma Roussef". Tiroteio - 2 Do mesmo maledicente, agora apelando para um trocadilho : "A Yeda vai ser 'crusius' do Serra ou do Aécio". Tiroteio - 3 Do mesmo autor, com apoio numa gíria "técnica" : "Collor voltou a exibir grande 'brilho' no Senado". Para mostrar serviço O chanceler alemão Otto Von Bismarck dizia que "leis são como salsichas. É melhor não ver como elas são feitas". Na semana passada, quem assistiu à sessão de discussão de votação da MP 460, viu o presidente da Câmara, Michel Temer, fazer tudo e um pouco mais para provar que a máxima de Bismarck vale também para o Brasil. Atropelou regras, regulamentos, ponderações maduras de parlamentares, para votar de qualquer modo a MP. A intenção é fazer a Câmara funcionar a qualquer custo para tentar diferenciá-la do complicado vizinho Senado. O risco é aprovar barbaridades. Dias agitados Se o calendário for observado, esta semana teremos a divulgação de estatísticas e pesquisas para dar o que falar. 1. Os resultados da arrecadação federal em julho em plena efervescência da crise na Receita Federal provocada pela demissão de Lina Vieira. Um mês depois Guido Mantega ainda não encontrou um substituto. 2. Os resultados das contas do Tesouro Nacional também de julho, já sob o impacto do aumento concedido a diversas categorias de servidores públicos a partir do mesmo passado. 3. As pesquisas eleitorais CNT/Sensus e CNI/Ibope já sob os efeitos do episódio Sarney, mas ainda sem o fator Marina. Aliás, a divulgação desses dois levantamentos já está ligeiramente atrasada... Mais uma do causídico O humorista Luis Fernando Veríssimo inventou o Analista de Bagé, personagem que tratava a ciência da psicanálise a coices e chicotadas. Seu conterrâneo Tarso Genro deu à luz o "Jurista de São Borja", que também trata com 'delicadeza' os princípios do Direito. A mais recente contribuição do Ministro da Justiça ao pensamento jurídico foi sentença declarando que a censura que o desembargador Dácio Vieira impôs ao "Estadão" não foi censura. Quem sabe, nesses tempos do "politicamente correto", na ótica de Genro, a proibição de um jornal publicar uma notícia deva ser chamada de "supressão temporária de texto desagradável aos amigos".
terça-feira, 4 de agosto de 2009

Política & Economia NA REAL n° 63

Momento de transição O cenário que o Brasil e os principais países industrializados estão a vivenciar neste momento combina, de um lado, uma incipiente recuperação da atividade econômica e, de outro, as crescentes preocupações sobre "como vamos sair desta crise do ponto de vista fiscal". Neste contexto, é hora de refletirmos sobre o médio prazo. Assim, citamos a seguir três dos principais aspectos que hão de influir nas decisões de consumo, investimento e de finanças aqui no Brasil. Gastos fiscais É inegável a preocupação com os gastos do setor público brasileiro. O Brasil vem adotando uma política fiscal de gastos crescentes que não está voltada na essência para o financiamento do investimento e do consumo (como está sendo feito na maioria dos países centrais). O Brasil gasta mal e gasta no aumento permanente de despesas do setor público. No futuro, esta será uma restrição severa para a redução estrutural da taxa de juros e do aumento do investimento do setor público. Crise política Embora a imprensa registre há muito tempo a crise política do Congresso, há que se notar que o que mais nos preocupa é que esta crise é estrutural. Há uma crise de representatividade pela qual a população não crê na capacidade da classe política (via partidos políticos) em representá-la e também há obstáculos crescentes na funcionalidade do funcionamento dos poderes do Estado, sobretudo no caso do Legislativo. O governo "manda" no Congresso e a oposição não cumpre o seu papel de alternativa de poder e fiscalização. Este aspecto há de pesar no desenvolvimento a médio prazo. A geopolítica brasileira O Brasil está a proceder, desde o início da administração de Lula, uma alteração do eixo de sua diplomacia, do centro para a periferia, com ênfase no relacionamento junto aos países da América do Sul e os emergentes. As consequências desta estratégia é que os ganhos políticos e econômicos (atuais e futuros) obtidos de países como a Venezuela, Bolívia e, até mesmo, Argentina, são bem mais incertos, e a China comunista não tem por prioridade o relacionamento com o Brasil (e sim os EUA). Este cenário propicia um moderado crescimento do setor externo brasileiro e cria instabilidades em setores estratégicos como é o caso do setor energético (Itaipu, investimentos da Petrobras na Venezuela, etc). Não tenhamos ilusões : todos os aspectos acima mencionados não devem mudar o curso de recuperação da economia no curto prazo, mas serão vitais para o Brasil depois das eleições de 2010. Sarney não fica pagão Ao gosto do governo, tem se espalhado desde Brasília que Sarney, pressionado pela família, desgostoso, cansado, deprimido, estaria disposto a renunciar ao cargo. Até o provável substituto já estaria escolhido : o senador fluminense, Francisco Dornelles (PP), com trânsito fácil em todos os partidos. Pelos gestos emitidos pelo PMDB de Sarney e sua tropa de choque, a renúncia, se for mesmo para valer, não virá de chofre. Nem Sarney nem seus aliados sairão do palco sem a garantia de que não serão massacrados. E o que eles temem não é propriamente a oposição. É o PT. Muita negociação ainda terá de passar pelas pontes que ligam o Plano Piloto às residências do Lago Sul, antes de o Senado começar a entrar nos eixos. Quem tem CPI da Petrobras e os maiores minutos no horário eleitoral obrigatório no rádio e na televisão não morre pagão. O desafio é saber como compensar todos, inclusive a oposição (interessada em não deixar a crise ir muito mais longe). Abraço de afogado O PMDB que não é de Sarney e Renan, ou seja, aquela parte da legenda que habita a Câmara e que segue a orientação de Temer, tentou se fingir de morto na crise. Não deu para continuar fazendo cara de paisagem e todos acabaram sendo arrastados para o meio do furacão. Parte do destino político de todos está atrelado ao que vier do Senado. Era ilusão mesmo acreditar que um lado não contaminasse o outro. Para o eleitor não existe o PMDB do Senado e o PMDB da Câmara, o PMDB do Sarney e o PMDB do Temer. O desgaste é geral. Lições para Lula A rebeldia de parte da bancada do PT do Senado contra ordem unida presidencial de blindagem de Sarney, ainda que tímida, sussurrada ente dentes, deve servir de alerta a Lula e seus operadores eleitorais. Há momentos em que um poder mais alto se alevanta - a urna. Também a romaria de partidos aliados a BH deve despertar alguma atenção de Lula e seus estrategistas. PSB e PDT deram sinais diretos que uma candidatura de Aécio poderia balançar o coração governista. Em parte, pode ser uma manobra para tentar manter o PSDB dividido. Mas é também um recado para o presidente : Lula é uma coisa, a candidatura de Dilma, outra. Por isso, estão sendo aguardadas com ansiedade nunca vista numa ocasião como esta as próximas pesquisas de intenção de voto. Se não houver contratempo, a partir desta semana teremos novas pesquisas. As últimas conhecidas são as de maio e a maior parte delas tem periodicidade mensal. Lição para Aécio Aécio, que é mineiro, não nasceu ontem e ainda por cima é neto da Tancredo. Finge que acredita nas juras de amor do PSB (por intermédio de Ciro Gomes) e do PDT (por intermédio de Paulinho Pereira da Silva). Estas manifestações servem a seus propósitos na luta interna no PSDB. Ele sabe que nem Ciro e muito menos Paulinho vão abandonar o barco de Lula e a candidatura da ministra Dilma Roussef se tudo correr como Lula espera que corra na sua sucessão. Mas se o barco oficial começar a fazer água... Se tal ocorrer, outros também mudarão de embarcação. A começar pelo velho PMDB. Radar NA REAL O Ibovespa atingiu o mesmo patamar anterior ao auge da crise em setembro do ano passado. Subiu cerca de 45% desde setembro do ano passado. A crise foi menor que o esperado pelos analistas de plantão. Se não foi uma "marolinha", não foi o "tsunami" anunciado por muitos. Neste período, a taxa de juros básica caiu de forma substancial e o câmbio fez o show de sempre : subiu até R$ 2,60 e, muito rapidamente, voltou ao patamar atual (abaixo de R$ 1,90). O mercado financeiro mundial é um conjunto de vasos comunicantes. A melhoria do Brasil não é única. Os principais mercados emergentes (China e Índia) melhoraram igualmente ou ainda mais que o Brasil. Além disto, nas últimas semanas, os principais mercados financeiros mundiais fizeram o seu verão e subiram fortemente, sobretudo os índices do mercado acionário norte-americano. Daqui para frente esperamos melhorias mais moderadas e cautelosas do mercado local (e de lá de fora). Chamamos a atenção para o Ibovespa que, a nosso ver, registra as melhores expectativas para o futuro próximo e de médio prazo. Talvez tenha exagerado neste processo. 1º/8/9 TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA estável alta - Pós-Fixados NA estável estável/alta Câmbio ² - EURO 1,429 alta alta - REAL 1,890 estável alta Mercado Acionário - Ibovespa 54.765,72 estável/queda estável/alta - S&P 500 987,42 estável/alta alta - NASDAQ 1.978,50 estável alta (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável Giro médio da Bovespa O número médio de negócios na Bovespa em julho foi 4,9% menor em relação ao mês anterior e o giro financeiro caiu 9% neste período. O valor de mercado das 388 empresas negociadas na Bovespa subiu 6,1% totalizando R$ 1,897 trilhão. Duas observações : (ii) merece atenção acompanhar estes números a partir de agora. Pode sugerir uma alteração na tendência de ingressos de recursos na bolsa brasileira. De outro lado, (ii) vale registrar que em julho foi batido o recorde de maior número de negócios num único dia (15/7). A produção industrial de recupera Dois dados que corroboram que a crise mundial que repercutiu no Brasil não foi nem marolinha e nem tsunami : a produção industrial no primeiro semestre caiu 13,4% em comparação ao mesmo período do ano passado. De janeiro a junho, a atividade industrial subiu 7,9%. Ficamos no meio do caminho. O principal setor que motivou esta recuperação foi o de bens de consumo duráveis, principalmente automóveis e eletrodomésticos. Tudo com isenção fiscal e disponibilidade de crédito do setor público. Ainda estamos dependentes destes estímulos. Provavelmente até meados do ano que vem... A volatilidade do câmbio Há justificativas sérias para a defesa do sistema de câmbio flutuante adotado no Brasil. Todavia, se olharmos os últimos dez anos (1999-2009) foi trágica para o setor de comércio exterior. A cada dois ou três anos o intervalo da taxa cambial varia muito. Alguém acredita que isto dá segurança aos investimentos necessários ao setor ? Por exemplo, como alguém pode acreditar que setores estratégicos como o de semicondutores possam se instalar com mais segurança no Brasil ? Essa volatilidade mereceria maiores reflexões dos economistas de dentro e fora do governo, bem como uma investigação do Legislativo. Contudo, a justeza da matéria não deve motivar nada de nenhum lado. O Brasil segue a trilha de temer discutir qualquer coisa que mexa com o "financismo" que comanda a política econômica do país. Passos de jurista I Durante mais de cinco anos, o advogado paulista Marcio Thomas Bastos comandou o Ministério da Justiça. Durante esse período, ele e o governo ao qual servia se jactavam da eficiência da Polícia Federal e de sua isenção. Algo assim como "o nunca antes neste país" de seu chefe, era como Bastos classificava o trabalho da PF sob seu comando. "Republicano", como diria o "jurista dos pampas" que veio a substituir o paulista. Agora, do outro lado do balcão, o ex-ministro, retomada a sua cada vez mais procurada banca de advocacia criminal, está sustentando uma petição na Justiça que pede a rejeição de uma denúncia criminal contra executivos e funcionários da Camargo Corrêa investigados na "Operação Castelo de Areia" da PF. Bastos e seus companheiros de patrocínio da ação da empreiteira pedem a absolvição sumária dos acusados argumentando "inépcia da denúncia". Como se perguntava Machado de Assis em célebre soneto : "Mudaria o Natal ou mudei eu ?". Passos de jurista II Nos intervalos de suas ações político-partidárias, cevando sua candidatura ao governo do Rio Grande do Sul e tentando ampliar os espaços de sua facção dentro do PT nacional, o ministro da Justiça, Tarso Genro, decretou na semana passada "o fim do segredo de justiça". É mais uma preciosa colaboração do "jurista dos pampas" às luzes jurídicas nacionais. Maior que isso somente a sua contribuição ao pensamento da nova esquerda brasileira, em memoráveis e torturados textos na imprensa burguesa nacional. Passos de jurista III Além de suas contribuições para o funcionamento da Justiça, Tarso Genro, o "jurista dos pampas" também meteu sua colher na reforma política e sugeriu o fim do Senado e a adoção de um sistema unicameral no Legislativo. Bem, neste item pode até ter razão, mas quem há de segui-lo ? Lupi, ladino e astuto No latim, o plural de lupus (lobo, um animal astuto para ninguém botar defeito) é lupi. Nós também temos um "certo lupi", assim no plural, tais a suas mil astúcias políticas. Nosso Lupi, sábio como só, não é de desperdícios : costuma ancorar seu modo ladino de ser próximo aos cofres públicos. Perigosamente, diga-se. Em manobra sibilina, ele acaba de empalmar o FAT, um patrimônio público com R$ 150 bilhões e com R$ 43 bilhões de orçamento para 2010. É o velho peleguismo, aquele cujo combate foi uma das razões de ser de Lula e da CUT, de volta, arreado pela Força Sindical e o PDT. Agências em débito Circulam, de fontes não identificadas, informações dando conta de que a ANATEL teria ficado constrangida com a ação impetrada na Justiça pelo DPDC (Departamento de Defesa do Consumidor), do MJ, contra a Oi e a Claro, cobrando R$ 300 milhões cada por danos morais coletivos, por conta dos altos índices de reclamação dos consumidores. Doeu mais na ANATEL a parte do documento que destaca, oficialmente, que ela não está sendo eficaz na fiscalização do atendimento ao consumidor. Deveria estar não apenas constrangida. Deveria estar envergonhada. A ANATEL tem instrumentos legais para forçar as companhias de telefonias a prestarem melhores serviços ao consumidor. Mas a ótica dela não é esta, e o consumidor é sua mais baixa prioridade. A agência acha que por ter instalado um serviço para quem se sentir prejudicado reclamar e por resolver essas reclamações rapidamente, cumpre seu papel. Não cumpre. Ela tem é de evitar que os problemas ocorram e não agir para remendar. PS - Este não é um mal que atinge apenas a ANATEL. É das agências reguladoras de um modo geral. Palanque de Tarso Em princípio deve-se aplaudir a decisão do MJ, anunciada com estardalhaço pelo candidato a governador do RS, no momento dando expediente na Esplanada dos Ministérios, Tarso Genro, de multar a Oi e a Claro por causa das falhas no SAC. Porém, é preciso perguntar : por que somente essas duas companhias ? Basta consultar as estatísticas dos PROCONS para ver que há muito mais gente e de muitos setores que também não está andando na linha. Ou os órgãos competentes do Ministério de Tarso agem de modo generalizado ou validam a suspeita de que nada melhor do que uma eleição para provocar milagres midiáticos. Em tempo : na mesma semana, o PROCON de SP multou 22 empresas pela mesma razão, de diversos segmentos econômicos. Na dúvida... ...quem quiser sofrer pra valer basta tentar falar por telefone, e-mail, ou mesmo via o sítio das empresas concessionárias de serviços públicos. Encontrará mais problemas que soluções. A lista de empresas é imensa tanto quanto as filas dos balcões de atendimento aos consumidores destas concessionárias. A privatização pode ter sido um bom processo para aumentar os investimentos em infra-estrutura do país. Em matéria de atendimento ao consumidor é um desastre. Responsabilidade social Muitas empresas brasileiras andam empenhadíssimas em patrocínios culturais, um dos ramos de seus programas de responsabilidade social. Têm amparo da Lei Rouanet. Mas nem sempre se utilizam dessa renúncia fiscal. Fábio Barreto, de uma família de fazedores de cinema com amparo oficial, na preparação e filmagem de "Lula, o Filho do Brasil", conseguiu arrecadar de R$ 10 milhões com Odebrecht, OAS, Camargo Corrêa, Oi, Volkswagen, Nestlé, AmBev, Embraer e GDF Suez sem utilizar a Lei. Os Barretos ficaram "constrangidos" em usar o benefício fiscal, pois poderia parecer favorecimento uma vez que o personagem principal também é presidente da República. Como o orçamento do filme ainda exige outros R$ 7 milhões para finalização, comercialização e mídia externa, eles abriram também a lista de adesões. Já tiveram a primeira contribuição, da italiana Nouvelle, do setor de cosméticos. Enquanto isso, conforme relato da coluna de Lauro Jardim, "José Padilha, diretor de 'Tropa de Elite', tem um roteiro pronto para dirigir um filme sobre corrupção na política, baseado no mensalão. Só que ele está às voltas com um pequeno problema : não consegue captar um centavo. Ainda não encontrou uma empresa que queira meter o dedo nessa cumbuca".
terça-feira, 28 de julho de 2009

Política & Economia NA REAL n° 62

  Dólar cai no mundo Na semana passada foi reforçada a tendência de queda do dólar norte-americano em relação a quase todas as moedas relevantes do mundo. Em relação ao euro, a barreira dos 1,40 euro / US$ 1,00 foi superada. Interessante notar que esta queda do dólar veio no exato momento em que surgiram novos sinais de que a maior economia mundial está se estabilizando. Na semana passada foram divulgados novos dados sobre o setor imobiliário dos EUA e os números, senão promissores, mostraram sinais evidentes de estabilização. O presidente do Fed, Ben Bernanke, deu declarações de que "apoia a política do dólar forte". O mercado desprezou tais declarações e os investidores continuaram a buscar oportunidades para arbitrar taxas de juros mais baixas (como a dos EUA e a do Reino Unido) e mais altas (Brasil, Indonésia, Filipinas, etc). Resultado : queda generalizada do dólar no mundo no exato momento em que a volatilidade (risco) cai para os níveis anteriores à fase aguda da atual crise (em setembro do ano passado). Dólar cai no Brasil O fortalecimento do Real em relação ao dólar norte-americano é um fenômeno mundial. Trata-se de um fenômeno tipicamente financeiro, motivado pelo fluxo de capital ao redor do mundo. Desta feita, os investidores buscam moedas mais específicas como é o caso do Real. Estão em busca de mais rentabilidade por meio das chamadas operações de "carry trade" (investimento em títulos de renda fixa denominados na moeda local). Há pouca relação destas operações com os chamados "fundamentos". Tudo é mera arbitragem para não dizer "jogada financeira". Os investidores não estão nem aí se há uma crise no Congresso brasileiro, se a economia cresce ou se há riscos fiscais. O único dado importante é se o ganho de curto prazo pode ser realizado e remetido para o país de origem. O resto é "bobagem". Tudo isto deve durar até o fim do ano. Pelo menos. Governo não tem como segurar o dólar Não tenhamos dúvidas. O governo e o BC não têm muito a fazer para salvar as exportações da valorização do Real. Dentro do atual regime de câmbio e das regras cambiais a valorização do Real é inevitável. Pode haver muita conversa sobre o assunto, mas tudo vai ficar no blábláblá. O governo não vai enfrentar os investidores financeiros e apenas adulará os exportadores com palavras e algum apoio de crédito. A bolsa brasileira está cara ? Desde o final do ano passado, registramos nesta coluna o nosso otimismo de que a recuperação da economia brasileira fosse mais rápida que a média mundial, embora abaixo da Índia e China, países que continuam crescendo com muito mais vigor. A bolsa brasileira subiu muito ao longo dos últimos meses, mais de 40% em termos reais, reflexo da melhor percepção em relação ao país, mas também em função das arbitragens dos investidores internacionais que estavam em busca de ativos em outras moedas que não fosse o dólar. A bolsa brasileira, assim como as de ouros países emergentes, tem uma forte correlação com as cotações das commodities. A recuperação dos preços de alguns produtos primários também ajudou a alavancar as cotações das ações. Em nossa opinião, daqui para frente a bolsa brasileira deve ter um comportamento bem mais moderado. É provável que as bolsas dos países desenvolvidos andem à frente da bolsa brasileira em função de alguns sinais de estabilização e crescimento nestes países. Há ainda um ponto importante : os fundamentos da economia brasileira no curto prazo (seis meses à frente) são bons. Todavia, os riscos fiscais de médio prazo são relevantes e estes não estão "contabilizados" pelos investidores. Vejamos as notas abaixo. Em tempo : investimentos estrangeiros no mercado de ações e renda fixa Os investimentos estrangeiros na bolsa brasileira foram negativos em US$ 85 milhões em junho. Em maio tinham entrado US$ 2,5 bi. No ano, o ingresso líquido foi de R$ 3 bi. Nenhum sinal de saída, mas as entradas estão modestas. Na renda fixa o saldo do semestre é de US$ 768 milhões, sendo que em junho as entradas foram de US$ 1,9 bi. Síndrome eleitoral... Henrique Meirelles - mas não apenas somente ele - tem sido o principal pregoeiro da tese de que os elevados juros que estão sendo "comprados" e "vendidos" no mercado futuro já seriam a "precificação" dos embates eleitorais de 2010, por causa das incertezas sobre o que virá depois de Lula. E, naturalmente, depois dele, Meirelles ! Fala-se num "risco Dilma" e num "risco Serra", principalmente sobre o segundo. Até gente que sofreu em 2002 com o "risco Lula" e o "lulômetro" abraça tal tese. Ela já frequenta inclusive análises políticas de consultores de instituições financeiras. Não seria mais prudente e objetivo procurar outras razões para esse descolamento dos juros futuros ? ... e síndrome real Um levantamento do site "Contas Abertas", especializado em análises de orçamentos públicos, com base nos dados do Siafi (Sistema Integrado de Administração Financeira do Governo Federal), dá muito mais indícios de que a alta dos juros futuros pode estar mais baseada em preocupações com o mundo real e muito menos em elucubrações eleitorais. São dados quentíssimos dos gastos federais, do primeiro trimestre de 2009, comparados com o mesmo período de 2009. Veja-se : 1. Com pessoal as despesas cresceram de 4,74% do PIB para 5,53%, um aumento de 0,79% equivalente a R$ 10,5 bilhões. 2. Os gastos com a máquina administrativa passaram 15,05% do PIB para 16,96%, 1,91% de crescimento e despesas adicionais de R$ 24,3 bilhões. 3. O dispêndio com investimentos passou de 0,67% do PIB para 0,77%, 0,10 ponto percentual superior, gastos suplementares de R$ 1,3 bilhão. Pelo que se vê, a política "anticíclica" de Brasília não parece propriamente dirigida para ampliar a infra-estrutura nacional. E é esse excesso de gastos mal direcionados que preocupa no longo e no médio prazo. O susto eleitoral Há festas no mercado financeiro e no governo pela "retomada" da economia brasileira. De fato, existem muitos sinais positivos, como, por exemplo, a redução do desemprego em junho. Porém há dados que precisam ser considerados, pesados e medidos para não mergulharmos num otimismo exagerado, que pode ter conseqüências perigosas mais à frente. 1. O seguro-desemprego no primeiro semestre do ano foi sacado por cerca de 4,1 milhões de pessoas demitidas. 2. Segundo diversos especialistas, a diminuição do desemprego se deu em boa parte pelo "desalento", o aumento do número de desempregados que desistiu de procurar emprego. 3. Os saques do FGTS no primeiro semestre foram 24,6% maiores na comparação 2009-2008. 4. O consumo de energia, um bom indicador da atividade econômica, foi 2,7% menor no mês passado. 5. O setor siderúrgico suspendeu investimentos previstos no valor de R$ 26 bilhões; o de papel e celulose, de R$ 12 bilhões. Radar NA REAL O destaque da semana passada foi a queda inédita (desde o período anterior ao início da crise) do dólar em relação ao Real. Como explicamos nas notas acima, trata-se de um fenômeno mundial. Esta tendência de queda veio para ficar (no curto prazo). De outro lado, o BC reduziu a Selic para 8,75%. Tudo dentro do esperado. O que vai ocorrer daqui para frente dependerá menos da inflação (que deve ficar baixa) e muito mais da política (eleições do ano que vem e a influência do governo sobre o BC). A situação fiscal se deteriora e são as preocupações com o médio prazo das contas públicas que têm contribuído para a relativa estabilidade das cotações dos títulos prefixados com prazo de vencimento em 2010 e 2011. (Veja notas acima sobre as contas fiscais). 24/7/9   TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹        - Pré-fixados NA estável alta  - Pós-Fixados NA estável estável/alta Câmbio ²        - EURO 1,423 alta alta  - REAL 1,890 estável alta Mercado Acionário        - Ibovespa 54.457,29 estável estável/alta  - S&P 500 979,26 estável alta  - NASDAQ 1.995,96 estável/queda alta BC dos EUA sob pressão Não é pouco o trabalho que está a despender o presidente do Fed, Ben Bernanke. Ele tem gastado muita saliva pregando junto ao Congresso e à opinião pública norte-americana que as recentes ações do banco central são justificadas para que se evite uma nova Grande Depressão semelhante à dos anos 30. Além disto, Bernanke procura deixar mais claro (mesmo que não seja completamente possível) como a autoridade monetária vai sair desta política de enorme complacência na concessão de créditos ao sistema financeiro e das taxas de juros negativas (em relação à inflação). Muitos acreditam num cenário de alta da inflação nos próximos anos em função da enorme expansão monetária e fiscal dos EUA. Esta tarefa de Bernanke prosseguirá nos próximos meses. As dúvidas também. Por aqui, ninguém questiona Com o Congresso paralisado pelas pelejas corporativas e safadezas com o dinheiro público, não existe o menor questionamento dos políticos, seja dos parlamentares que suportam o governo, seja a débil oposição, em relação a "como o país sairá da atual política de estímulo fiscal e monetário". A mesma pergunta que se faz alhures é perfeitamente cabível por aqui. O bolso do cidadão brasileiro está sob risco e ninguém na área política se importa com isto. O vazio político é assustador. Uma solução delicada Será mais complicada do que se imagina a substituição de Henrique Meirelles no BC, quando ele sair para brigar pelo governo de Goiás. Como será um mandato tampão, de nove meses, dificilmente se encontrará um nome de prestígio na área para ir a Brasília. Além do mais, as insatisfações quase públicas de Lula e Guido Mantega com o que eles classificam de excesso de autonomia do BC, também afastam possíveis interessados no lugar. Tudo indica que a solução será "caseira" e a preferência é pelo diretor de Normas e Organização do Sistema Financeiro da instituição, Alexandre Tombini. Tombini é funcionário de carreira do BC, tem sólida formação econômica, porém é tido como um dos ponta-de-lança de Mantega na diretoria dirigida por Meirelles e tem sido apontado como o principal opositor ao conservadorismo dos ditos "mercadistas" da casa. Caso sua indicação não seja bem absorvida externamente, isto pode gerar inquietações no mundo do dinheiro em ano eleitoral. Opção Se Lula continuar dizendo que só será candidato novamente à presidência da República em 2014 se a ministra Dilma Roussef não se eleger no ano que vem, as pessoas podem começar a acreditar que ele escolheu a companheira, neófita nessa matéria de urnas, apenas para ser derrotada. E abrir caminho... Aliás, essa suspeita rondou FHC em 2002, na disputa em que Lula venceu Serra. Os maldosos diziam que FHC estava mesmo era de olho num retorno em 2006. Se fato, viu-se que não deu certo. Nova corrida do ouro Os números não estão totalmente fechados, mas calcula-se que cerca de 20 dos atuais ministros de Lula deixarão o governo até abril para concorrer a algum cargo eletivo. A data ainda está distante, mas já começou a corrida pelos lugares. Como Lula disse que vai fazer a substituição natural, promovendo o secretário Executivo ao primeiro posto, os titulares tratam de levar para este lugar homens de sua inteira confiança - confiança eleitoral. Muitos dos atuais vice-ministros foram postos lá sem consulta ao seu superior, para tocar o ministério ou até vigiar o chefe da pasta. Lula cedeu aos partidos, porém quis ter algum tipo de segurança. Qual a real intenção ? O que pretende Lula com a candidatura de Ciro Gomes em SP com o apoio (constrangido) do PT ? Espezinhar Serra e os tucanos ? Ter um candidato governista que pode ser tornar competitivo no maior Estado da Federação ? Afastar Ciro da disputa presidencial para evitar que ele tire votos de Dilma ? Tudo pelo social - I Em entrevista ao The Wall Street Journal, Julius Genachowski, o novo presidente da Comissão Federal de Comunicações, a ANATEL dos EUA, informou que ampliar a oferta de banda larga da Internet é a prioridade de sua gestão por ser "o mais bem-sucedido indutor de crescimento econômico" no país. Enquanto isto, num certo país tropical, dormem nos cofres do Tesouro Nacional mais de R$ 7 bi do Fundo de Universalização dos Serviços de Telecomunicações (FUST), o que correspondente a 1% das contas que os usuários pagam por esses serviços. Sem utilização por falta de regulamentação e por deficiências operacionais. Aliás, totalmente sem uso não : mais de R$ 2 bilhões foram jogados no superávit primário e nunca mais voltarão a seu destino. Tudo pelo social - II O MPF está cobrando do governo o envio para o ministério da Saúde de R$ 5,8 bi que ele deixou de gastar na área de 2000 a 2008 por não seguir estritamente o que determina a CF/88. Há mais de um ano está pronto para ser votado na Câmara, depois de ser aprovado no Senado, o PL regulamentando a EC 29, que estabelece os percentuais a serem aplicados pelos governos federal, estaduais e municipais nos serviços médico-hospitalares públicos. Embora o governo tenha ampla maioria de deputados, o PL não anda por orientação expressa dos ministros da Fazenda e do Planejamento aos líderes da bancada aliada. Em sua última apresentação ao prefeitos, Lula exortou-os a pressionar os deputados nessa questão. Ela agora vem com um jabuti : a Contribuição Social para a Saúde, uma nova CPMF com alíquota de 0,10%. Como o "tudo pelo social" é também o "tudo pelo eleitoral", podem preparar o bolso. Corrida ao cofre Não é de tranquilidade o clima na base aliada do Congresso, nem no Senado, obviamente, nem na Câmara. A insatisfação tem nome e sobrenome : emenda parlamentar. Até agora, nem 10% delas foram efetivamente pagas pelo erário. E congressista faminto é um perigo. Ele ainda está firme Não se iludam. Embora o PT tenha puxado parte do seu tapete dos pés do senador José Sarney, o presidente do Senado não dá sinais de que vá desistir. Ele tem armas poderosas - a CPI da Petrobras, a esquecida CPI do DNIT (direto na veia do ministério dos Transportes) e outras começarão a ser apresentadas esta semana. É mais fácil o senador Aloizio Mercadante ouvir uma reprimenda pela nota de sexta-feira pedindo a Sarney para sair de licença do que Lula abandonar agora o senador maranhense. Pergunta inocente Vale repetir : alguém tem notícias da oposição e seus candidatos à presidência da República ? Falamos de notícias, fatos, não de futriquinhas políticas. Por exemplo, o governo está prestes a lançar a proposta sobre as novas regras para exploração de petróleo no Brasil, à luz das descobertas do pré-sal, e o que pensa a oposição sobre isso ? Por falar em pré-sal, noves foram os balões de ensaio do ministro Edison Lobão que não é propriamente um expert no assunto e nem tem grande poder de decisão na área. O governo está cada vez mais enrolado na definição das novas regras. O Cade "tá contigo" A multa milionária (para os padrões brasileiros), aplicada pelo Cade à Ambev por práticas anticoncorrenciais no programa "Tô Contigo" de relacionamento com seus clientes, pode estar marcando uma importante guinada na atuação do órgão. Mais condizente com o que indica o seu próprio nome e menos focado nas questões de macroeconomia e de economia empresarial. A nova linha desenhada pelo Cade coincide com a nomeação de seu novo presidente, Arthur Badin. Parece que não foi sem razão que algumas grandes empresas nacionais fizeram fortes pressões no Senado para não aprovar o nome do advogado. Nos próximos meses o Cade tem uma agenda explosiva pela frente. Estão para passar pelo seu crivo a compra da Brasil Telecom pela Oi, a compra da Sadia pelo Perdigão e a aquisição do Ponto Frio pelo Pão de Açúcar, entre outros.
terça-feira, 21 de julho de 2009

Política & Economia NA REAL n° 61

Uma pausa para boas notícias A temporada de resultados das empresas com ações negociadas nas bolsas nos EUA começou de forma promissora. Os resultados dos bancos vieram melhor que o esperado, as empresas de semicondutores (especialmente a Intel) estão com demanda acima do esperado, o que sinaliza retomada da atividade econômica no segundo semestre, e o consumo de setores básicos e aquisição de imóveis parecem ter se estabilizado. Os investidores olharam para o lado positivo da moeda e os mercados acionários mundiais reagiram comprando fortemente ações. Mais um sinal de recuperação dos mercados que continuam a trabalhar com uma recuperação econômica gradual ao longo dos próximos três semestres. De outro lado... Se há razões para se acreditar numa evolução benigna dos mercados, há de outro lado notícias desalentadoras. A taxa de desemprego nos EUA e na Europa ainda não deu sinais consistentes de estabilização. Ao contrário : as expectativas são de que irão piorar ainda mais antes de melhorarem. Há mais : a atividade de crédito permanece estagnada num patamar muito baixo nos EUA e os balanços dos bancos, embora melhores, ainda são muito preocupantes. Os investidores por ora entendem que os preços dos ativos refletem estas más (e conhecidas) notícias. Todavia, se os fundamentos mais relevantes não começarem a melhorar sistematicamente é possível que tenhamos uma decepção generalizada no terceiro trimestre. E as reformas ? Não é apenas o Brasil que não acelera mudanças e reformas estruturais. Não há, por enquanto, nenhum sinal evidente de que as prometidas reformas no sistema financeiro mundial, sobretudo no norte-americano, sejam implementadas. Há resistências dentro e fora dos governos e dos Congressos. Nos EUA, o excelente resultado do terceiro trimestre da Goldman Sachs foi acompanhado da notícia de que os bônus do banco voltarão ao mesmo patamar de antes da crise. Um assunto privado ? Não ! Com o dinheiro público sendo utilizado pelo banco para sustentar a sua posição financeira. FMI, Banco Mundial, BIS... Da mesma forma que a reforma no sistema financeiro mundial, os organismos multilaterais também não devem sofrer reformas profundas após a crise mais importante desde 1929. Os burocratas dos organismos e os governos dos países ricos adoram o atual status das instituições. Uma questão de poder. Será que Lula haverá de se posicionar sobre o tema ? Lembrando que o Brasil participou com grande estardalhaço do aumento de capital do FMI. Por falar em picaretagem Em breve o governo da Islândia irá recapitalizar os seus bancos ao custo de US$ 2,2 bi. Estes bancos serviram a toda espécie de transação durante a onda especulativa dos últimos anos. Estarão de volta em breve. Na velha forma ? Se julgarmos pela ausência de reformas no sistema financeiro mundial, a coisa muda muito para ficar do jeito que era... Os iguais e os "mais iguais" E por falar em reformas, vejamos mais uma do Brasil. Os dados são do IPEA, portanto insuspeitos de manipulação em favor do mundo oficial a que ele pertence: em 2008, a conta previdenciária do setor privado consumiu no Orçamento federal 6,9% do PIB ; a do setor público, levou 4,7% do PIB. Nesse segundo ponto, não estão incluídos os gastos previdenciários de Estados e municípios. Agora façam a conta : os aposentados e pensionistas de setor privado (INSS) são cerca de 19 milhões ; os do setor público não passam de um milhão. Radar "NA REAL" O cenário que desenhamos para o mercado financeiro permanece o mesmo. A tendência estrutural é de melhora e isto foi confirmado nas últimas semanas quando as cotações das bolsas e dos ativos de renda fixa se tornaram, de um lado, mais voláteis em função das inquietações sobre o futuro da economia mundial, mas, de outro, reagiram bem às notícias de resultados e do setor financeiro nos EUA. Recomendamos aos investidores a manutenção de posições de ações (no Brasil e no exterior) e atenção à valorização do Real no Brasil (que torna os ativos mais caros). O risco do mercado permanece elevado e o controle destes riscos deve ser feito por meio de uma sábia diversificação entre mercados e ativos. Mais um cuidado no Brasil : não compre títulos prefixados de prazo muito longo. A taxa de juros há de refletir os riscos fiscais crescentes do Brasil. Repetimos : o cenário é benigno, mas ainda o risco é elevado. 17/7/9 TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA estável alta - Pós-Fixados NA estável estável/alta Câmbio ² - EURO 1,398 alta alta - REAL 1,91 estável alta Mercado Acionário - Ibovespa 52.072,49 estável alta - S&P 500 940,38 estável/queda alta - NASDAQ 1.886,81 estável/queda alta (1) - Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais)(2) - Em relação ao dólar norte-americanoNA - Não aplicável Um recesso conveniente. Conveniente mesmo ? Sarney e Lula apostam nas férias compulsórias de 15 dias de deputados e senadores para esfriar a crise do Senado, acoplada agora, definitivamente, à CPI da Petrobras, por opção maquiavélica do PMDB. Sarney e Petrobras são faces da mesma moeda (metaforicamente e de fato). Pode ser que o descongelamento não se dê. Pelo contrário. Brasília, por suas peculiaridades urbanísticas, funciona como uma espécie de quartel-general, de fortificação. Por lá, quando quer, o governante pode se isolar - e como se isola ! - do país. Não ouve nem vê os ecos do país dos brasileiros. São elevadores privativos, carros oficiais, seguranças, garagens subterrâneas, leituras selecionadas, convivência entre pares e iguais, num quase completo alheamento às críticas e autocríticas. Uma convivência meio promíscua que não raro leva à degeneração da raça, como nas relações inter-familiares para procriações. Fora desse ambiente asséptico, porém, os políticos ficam desprotegidos, ou seja, estão mais à vista do eleitor e mais tempo expostos ao outro Brasil. É um pouco mais do que as famosas "visitas às bases" dos fins de semana. Portanto, estão mais sujeitos aos humores da opinião pública, aquela que o senador Paulo Duque definiu como "volúvel". Portanto, podem voltar a Brasília mal influenciados (para o gosto de Sarney e de Lula). Vai depender do grau de indignação da sociedade. Que no momento está em ebulição. E a sobrevivência individual costuma comover muito mais que os compromissos político-partidários. Nada menos que 54 senadores dos 81 hoje instalados na capital da República findam seus mandatos no ano que vem. Uma agenda nova, por favor ! Num evento comício para cerca de 3 mil prefeitos em Brasília, Lula aconselhou os comandantes municipais a pressionarem o Congresso pela aprovação da regulamentação da emenda constitucional 29, que destina mais recursos do Orçamento para a Saúde. Tudo indica que a presidência da República está com sua cadernetinha de endereços desatualizada. Quem não deixa a base aliada aprovar as normas reguladoras da emenda 29 são os ministros Paulo Bernardo e Guido Mantega. E como se sabe, Mantega e Bernardo são muito indisciplinados : só fazem o que Lula não quer. Alguém tem de pagar Já está escalado o alto dirigente da Petrobras que será oferecido aos sacrifícios se a CPI sair do controle e for preciso apresentar algum culpado para acalmar a oposição e a opinião pública : Wilson Santarosa, gerente executivo de Comunicação Institucional da Empresa, responsável, entre outras, pela área de patrocínio da estatal. Da fornida cota político-sindical aboletada em postos de relevo na Petrobras, Santarosa é homem de partido, de cumprir missões. Uma estratégia a mais para a CPI Os domínios da CPI da Petrobras serão do PMDB. Como dissemos em nota acima, é uma das faces da crise de Sarney (e Renan). Porém, para não perder o controle o PMDB quer que a questão do pré-sal seja o "maior debate" da CPI. Afinal, estarão os senadores tratando de coisas que virão ! Desta forma, evita-se discutir o que já passou. Qual a utilidade ? Se, como já anunciaram o lépido ministro Édison Lobão, caberá à Petrobras os principais trabalhos de campo na exploração do pré-sal e se os leilões das áreas ficarão sob a responsabilidade da ANP, por que diabos vai se criar mais uma empresa estatal - a Petrosal ? Resposta de alguém menos ingênuo : ora, são no mínimo umas cinco novas diretorias e boa dezena de gerências. Sem contar que os acionistas privados da Petrobras, que investiu com risco na área, vão ficar chupando o dedo, com a transferência dos ganhos maiores para a Petrosal. A nova estatal ajudará ainda a esvaziar um pouco mais a ANP, pois deverá ser uma espécie de supervisora e coordenadora de tudo. O governo Lula nunca morreu de amores pela autonomia das agências reguladoras. Embora a ANP esteja loteada entre políticos amigos, por via das dúvidas vão-se o resto de suas asas. Como paulatinamente o governo está fazendo com todas elas, especialmente ANEEL e ANATEL. Briga boa A Petrobras (e seus acionistas privados) pode até ficar de fora da fatia mais gorda do petróleo do pré-sal, embora a estatal deva ser agraciada com certos privilégios na definição das áreas de exploração. Mas os Estados e municípios não aceitam ser passados para trás na questão dos royalties na nova lei. Como a regulamentação terá de passar pelo Congresso, a briga vai ser boa. O governo tem um discurso pronto : o fundo social, a ser criado com recursos do pré-sal, será distribuído para todos. Governadores e prefeitos não são de cair nesse argumento : eles não administrarão esse dinheiro, portanto, "os lucros" ficarão com o governo federal. Ações da Petrobras Não há respostas claras dentre os analistas das ações da Petrobras. Ninguém informa para os investidores se a questão (risco) do pré-sal está refletida nas cotações da estatal nas bolsas. O mico pode estar solto e ninguém fala muito dele. Ética de ocasião Lista de deputados que viajaram a Paris com todas as despesas pagas por empresas francesas interessadas na venda de aviões da Dassault ao Brasil para um convescote no qual, segundo o presidente da Câmara dos Deputados, Michel Temer, um dos convivas, ocorreu "um lobby muito saudável e elegante" : Michel Temer (PMDB/SP) José Aníbal (PSDB/SP) Candido Vacarezza (PT/SP) Ronaldo Caiado (DEM/GO) Raul Jungmann (PPS/PE) Maria Lúcia Cardoso (PMDB/MG) Ibsen Pinheiro (PMDB/RS) Carlos Zarattini (PT/SP) Paris, "uma festa" na descrição de Ernest Hemingway, parece que vale mais que uma missa na política nacional. Uma sugestão da coluna Diante a crise política atual, o maior esvaziamento político em tempos democráticos da história da República, por que não se mudam as medidas de transparência na divulgação de todos os bens dos mandatários brasileiros antes e depois do mandato ? Seria uma ótima medida para que os políticos evitassem a pecha de "ladrões", livremente pronunciada nas ruas de todo o país ? Exemplo de eficiência O governo, por intermédio do ministério das Comunicações, responsável por todas as fases do processo, demorou mais de dois anos para definir os padrões que seriam adotados para a televisão digital brasileira e suas regras de funcionamento. Debaixo de críticas de muitos especialistas, optou-se pelo padrão japonês, com inovações brasileiras - daí o nome de Sistema Brasileiro de TV Digital. Acreditava-se que seria um sucesso imediato de crítica e de público, tais os cuidados adotados e as garantias das autoridades. Pois bem ! Na semana passada a procuradoria-Geral da República, em parecer pouco comentado e divulgado, considerou inconstitucional o decreto 5.820 que trata de implantação do SBTVD. Para o procurador-Geral ainda faltam informações do governo e não há esclarecimentos à sociedade sobre a adoção do padrão japonês. Além disso, até hoje nenhum sinal da fábrica de chips que os japoneses, segundo o ministro Hélio Costa, prometeram instalar no Brasil em função da vitória na batalha contra seus concorrentes europeus e americanos. É a história de uma trapalhada que ainda está para ser integralmente contada. Quem sabe o MPF não se anime. O nome correto - I Boa parte das ONGs no Brasil, pelo menos as bem sucedidas, deveria mesmo se chamar Organizações Não-Governamentais Governamentais (ONGGs). Não podem passar sem um dinheiro da viúva. Algumas até usam esses recursos para promover "protestos a favor". O nome correto - II Quem leu com atenção da Lei de Diretrizes Orçamentárias de 2010, aprovada na semana passada no Congresso, diz que em muitos aspectos ela deve chamada, na realidade, de Lei de Diretrizes Eleitorais. Esta coisa de ser "queridinho" O Brasil (e seu governo) tem o maior orgulho de ser um dos "queridinhos" do mercado financeiro internacional. Vale lembrar que o México durante anos foi paparicado pelos investidores em função da qualidade de suas políticas pró-mercado. Hoje é um país pouco lembrado pelos investidores e analistas. A ALCA - lembram-se dela ? - era o melhor dos mundos para o país. Hoje é a sua pena. O recado é claro : cuidado com os paparicos dos investidores... Lula e o futuro Não têm passadas despercebidas as alterações que Lula faz nos seus planos para depois que passar o cetro da República a seu sucessor. Inicialmente, voltaria para São Bernardo do Campo para pescar a "assar um coelhinho". Depois deu de confessar - já o fez em pelo menos duas ocasiões - que já está sentindo saudades da Presidência. Deu também para indicar que poderia aceitar alguma missão internacional, voltada para o combate à pobreza, especialmente na África. Desde a semana passada, seus subalternos fazem espalhar em Brasília que o lugar para Lula é a presidência do Banco Mundial, onde ele poderia utilizar sua experiência nessas políticas no Brasil. Yuan, a nova moeda internacional A China comunista deve ter em breve várias operações internacionais nominadas na sua moeda, o Yuan. Tudo em detrimento do dólar e do euro, principalmente. O Brasil ambiciona o mesmo para o Real. O maior problema é que, embora a China tenha muitas fragilidades do ponto de vista fiscal e financeiro (bancos quebrados), todos os capitalistas do mundo creem na capacidade da ditadura chinesa manter as coisas em ordem. No Brasil, há fragilidade fiscal e um governo democrático. Apesar da República ser capenga do ponto de vista político. Madoff à la brasileira Analistas jurídicos que avaliam os processos envolvendo as empresas de Bernard Madoff, o maior picareta de todos os tempos no mercado financeiro internacional, informam - a partir de Miami - que quase todos os requerimentos de ressarcimento dos recursos perdidos nas tramóias do "investidor" serão negados pelo governo dos EUA. Razão : trata-se de dinheiro ilegal. Muito ilegal em alguns casos.
terça-feira, 14 de julho de 2009

Política & Economia NA REAL n° 60

Vazio político preocupante : uma democracia capengaOs parlamentos na sua forma mais primitiva surgiram para fiscalizar as despesas dos soberanos, sobretudo com as guerras. Pouco a pouco, ganharam contornos crescentes nas suas funções de fazedores do orçamento e das leis que regem as relações políticas, sociais e econômicas. Uma das formas mais primárias para se aferir o grau de desenvolvimento de um país, à luz da idéia da democracia ocidental, é observar o andamento das Câmaras de Representantes da sociedade e da Federação (quando é o caso). Estas sempre estiveram metidas em crises éticas e morais ao redor do mundo, sobretudo na fase contemporânea, quando os órgãos de fiscalização do Poder (sem distinção) se multiplicaram. A imprensa livre, no caso, passou a ser uma das principais fiscalizadoras das atividades dos poderes nacionais. A relação entre todas estas entidades, poderes do Estado e órgãos da sociedade, permitem, em menor ou maior grau, que as correções no andamento das coisas políticas, econômicas e sociais possam ocorrer. Um jogo democrático legítimo e que, ao longo do tempo, melhora a eficiência do funcionamento do aparelho estatal e dos poderes dele derivados. A crise atual do parlamento brasileiro é de natureza estrutural e é gravíssima. Não é apenas o horizonte escandaloso que se vislumbra. Trata-se de algo muito além da emissão de passagens aéreas de uso duvidoso, ou das verbas que afrontam a ética e a responsabilidade que se chamava de republicana. O país está - de muitas formas - à deriva da falta de funcionalidade do Legislativo. Suas funções fiscalizadoras e provedoras de Leis que satisfaçam à ansiedade da sociedade brasileira por progresso estão esquecidas e submetidas a uma perigosa descrença social e política. Nada, ou quase nada, se preferirem, de conjuntural e estruturalmente relevante está nas cercanias do parlamento brasileiro. Há mais : o Executivo legisla, o Judiciário opina e, desta forma, caminha a República. Perigosamente. Se não há nada, digamos "formal", conspirando contra o Estado Democrático, seja um golpe militar ou uma conspiração civil, temos de reconhecer verdadeiramente a fragilidade do Legislativo nesta hora. Tudo está sendo visto sob a ótica dos efeitos políticos imediatos, sobretudo do ponto de vista do processo eleitoral que se aproxima. O conchavo oportunista não é apenas ocasional. É a política de fato. O que estamos a observar, ou melhor, viver, é a desmoralização perigosa do principal Poder da República. Aquele que deve nos proteger, hoje nos envergonha. Com o pouco douto patrocínio do Governo e, em muitos sentidos, da própria sociedade que silencia diante desta tragédia. Este cenário não é novo, mas sua magnitude é assombrosa. Haverá um preço a pagar por tudo isto, um custo político, social e econômico. Note-se : trata-se de um custo crescente em relação ao que já vimos. O recado de Obama - I Obama deu o tom das preocupações em relação à economia na reunião do G-8. Basicamente o que disse o presidente é que a economia norte-americana (que representa 1/4 da economia mundial) vai se recuperar em um patamar de consumo inferior àquele ocorrido nesta última década. Aconselhou os países emergentes a aumentarem a taxa de consumo doméstica. O recado tinha, tem e terá endereço certo : a China, que reluta em aumentar seu consumo interno em detrimento do modelo exportador que adota há pelo menos três décadas. O Brasil é parte integrante deste "pedido", mas está longe de ser o mais importante. Afinal de contas, nosso país não é partícipe relevante no comércio mundial e a abertura de sua economia é muito menor do que a média dos emergentes e dos países ricos. O recado de Obama - II No que se refere ao Brasil, a expansão do consumo doméstico é possível e desejável, porém tem limites claros. Ao contrário da China, o Brasil tem uma taxa de investimento muito baixa. A China investe cerca de 35% do PIB e o Brasil não alcança sequer metade desta taxa. Há outro limite relevante no caso do Brasil : a recente expansão dos gastos correntes criou uma demanda adicional que não poderá se somar à futura expansão da demanda privada sem que a política monetária seja colocada em cheque. Ou seja, se a demanda privada crescer, a taxa de juros deve subir para que a inflação não suba. Note-se que a taxa de investimento pública, o famoso PAC, é baixa por conta da baixa eficiência na sua realização. Portanto, esperemos que Lula não se sinta demasiadamente estimulado pelas palavras de Obama sobre o aumento do consumo doméstico. Os limites do país estão dados pelo excesso de gastos aprovados pelo próprio presidente e pela ausência de reformas estruturais patrocinadas pelo governo (que não as propõe) e pelo Congresso (que não as discute). Em baixa Por falar em política monetária, as relações entre a Fazenda e o BC estão em forte baixa. Talvez a maior baixa dos últimos tempos. Fed explica Prestem atenção. Na próxima semana o presidente do Fed, Ben Bernanke, fará sua exposição semi-anual no Congresso. Espera-se que ele explique como será a saída da volumosa injeção de recursos (US$ 1 bi) que a autoridade monetária promove neste ano. Há crescentes preocupações - mundiais, no caso, pois os EUA não são os únicos do "clube da injeção dos recursos públicos" - sobre se estamos caminhando para um cenário de inflação elevada em função dos elevados déficits públicos. Uma coisa é certa : enquanto o "mercado" continua sinalizando preocupações de médio prazo em relação à inflação, os indicadores de emprego e consumo nos EUA, e na maioria dos países do G-7, continuam sofríveis para não dizer trágicos. Em breve, a taxa de 9,5% - recentemente alcançada - será superada nos EUA. Pergunta inocente Enquanto nos EUA Ben Bernanke se explica ao Congresso, perguntamos : eticamente é compatível a atividade do presidente do BC com a de candidato declarado ao governo de um Estado e já filiado a algum partido político ? Pois bem : são cada vez mais evidentes (como anunciamos nesta coluna há mais de três meses) que o ex-tucano Henrique Meirelles vai filiar-se a um partido governista até setembro para concorrer ao governo de seu Estado natal, Goiás, ano que vem. E que, de comum acordo com Lula, só se desincompatibilizará em abril. Bancos nos EUA Preparemos os nossos corações e bolsos : nesta semana a maioria dos bancos mais importantes dos EUA informará seus resultados semestrais. A saúde dos bancos norte-americanos dará o tom do mercado financeiro mundial nesta e, quiçá, na próxima semana. Ações dos emergentes estão caras Dados extraídos do índice MSCI Emerging Markets mostram que as ações dos países emergentes estão nos patamares mais altos desde 2007. Antes da crise, portanto. A relação entre os preços das ações e os respectivos lucros por ação projetados (denominado de índice P/L) para este ano é de 15,4 enquanto entre as ações do índice norte-americano S&P500 é de 14. (Quanto mais alto o índice mais caras são as ações). Os investidores pagam mais pelas ações dos emergentes por causa do Brasil, da China e da Índia, países nos quais os investidores depositam expressivas esperanças que o crescimento mundial seja puxado por eles. Chineses no Brasil As viagens de burocratas chineses ao Brasil estão cada vez mais frequentes e intensas. O crescimento do fluxo estrangeiro proveniente da China vai crescer muito nos próximos meses (e anos). Além disto, as operações societárias envolvendo os comunistas chineses e empresas brasileiras serão cada vez mais sofisticadas. O Brasil é alvo para a China. Há conversas adiantadas com empresas dos setores básicos (metalurgia, siderurgia, mineração, etc.), mas há também muita conversa andando com setores de tecnologia e produtos de consumo. Radar "NA REAL" Dias tensos à frente. É o que deveremos ter no mercado financeiro e de capital. Como dissemos nas notas acima, os resultados semestrais do setor financeiro dos EUA e as discussões sobre o andamento da política monetária e acerca da recuperação do emprego e consumo aqui e no mundo darão o tom do mercado. Rigorosamente não há "novidades" no que tange à economia e finanças. O que há são novos fatos. As "novidades" virão das análises destes fatos. De toda forma, o nosso radar, que está mais cauteloso nas últimas semanas, assim permanece. Se tivéssemos que dar um único destaque, chamamos a atenção dos nossos leitores para a estabilidade do dólar num patamar próximo a R$ 2 / por US$ 1. Trata-se de um fato considerável. A redução da volatilidade é muito positiva e mostra de outro lado que, apesar do Brasil se encontrar no alto das preferências dos investidores mundiais, o fluxo financeiro não está desequilibrando o fluxo total cambial. O mercado acionário deve continuar "andando de lado" como se diz no jargão do mercado. No mercado de juros, tudo calmo. Como já reiteramos por diversas vezes nesta coluna, acreditamos que os investidores estão a subestimar os riscos fiscais no médio prazo. O governo gasta muito e gasta mal. Isto não está refletido nas taxas de juros a partir de 2010. 10/7/9 TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA estável alta - Pós-Fixados NA estável estável/alta Câmbio ² - EURO 1,398 alta alta - REAL 1,98 estável/alta alta Mercado Acionário - Ibovespa 49.220,78 estável/queda estável/alta - S&P 500 879,13 estável/queda alta - NASDAQ 1.756,03 estável/queda alta (1) - Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais)(2) - Em relação ao dólar norte-americanoNA - Não aplicável Conversa pra bovino adormecer Fontes "fidedignas" de Brasília asseguram que está em estudo uma proposta para limitar legalmente os aumentos das despesas do governo com a folha salarial. Esta só poderia, segundo essa versão, crescer anualmente 3% acima da inflação. Coisa para engambelar incautos. Uma proposta idêntica foi apresentada ao Congresso junto com o PAC, com um limitador de 1,5%. Está devidamente engavetada. Além do mais, os aumentos já contratados para 2010 seguramente ultrapassam o limitador. Tem mutreta ? A Lei de Diretrizes Orçamentárias inclui um dispositivo que é o sonho dos burocratas tocadores e obras e dos políticos plantadores de projetos : afasta o TCU da fiscalização de obras do governo. É primo-irmão de outro projeto em gestação nos terrenos baldios brasilienses : a reformulação das funções do TCU, inspirado numa queixa do presidente Lula, para quem o Brasil tem fiscalização demais e execução de menos. Se a política interfere, dá nisso Quando Mantega decidiu trocar o então secretário da Receita Federal, Jorge Rachid, egresso da equipe de Antonio Palocci e ligado ao ex-secretário Everardo Maciel, por Lina Vieira, não faltaram alertas de que ele estava introduzindo uma perigosa cunha política e sindical num órgão eminentemente técnico. E que, do ponto de vista do governo, do ente arrecadador, demonstrara nos últimos anos extraordinária eficiência. Para usar metáforas caras ao chefe de Mantega, ele estava mexendo num time vencedor. Onze meses depois, Mantega purga seus pecados. Foi obrigado a afastar Lina, para desgaste próprio. Alegou-se que a arrecadação está caindo. É fato. Mas não se deve a culpa apenas a ela e ao esquema que montou na SRF. De fato, Lina destruiu uma estrutura que funcionava bem desde Osires Silva, ainda no governo Itamar Franco. Entregou postos-chaves a sindicalistas e petistas ligados a Unafisco. Ninguém protestou ou notou, até recentemente. A queda da receita se deve à redução da atividade econômica e aos incentivos fiscais concedidos para ajudar a combater a crise. Cairia com qualquer um. O azar de Lina Vieira foi trombar com a Petrobras. Foi deixar sair no site da Receita uma nota técnica dizendo que era irregular a manobra contábil adotada pela estatal para pagar menos impostos. Menos R$ 4 bilhões em 2008. A verdade é que a Receita Federal está desorganizada, sindicalizada, politizada e sem liderança. Ponto para Mantega. Continuou caindo Amanhã a Receita vai anunciar os resultados da arrecadação federal de junho com mais uma queda no recolhimento de impostos. Vai ainda para a conta da gestão Lina Vieira. Vamos ver qual a desculpa daqui para frente se a tendência não se reverter rapidamente. O problema é outro As dificuldades que o governo começa a enfrentar na gestão das finanças públicas não estão do lado das receitas. Não apenas. O maior buraco está na coluna das despesas, que têm crescido exponencialmente, e vai continuar crescendo. Mas nisso não se pode tocar, segundo ordens expressas de Lula e Dilma. Acender uma vela... ...para ver se não dá tempo de o Senado votar a proposta de mudanças eleitorais aprovada na Câmara a tempo de valerem para o ano que vem. O que se salva é tão pouco que é melhor deixar como está. É porta escancarada para mais corrupção, abuso do poder econômico, continuísmo... A sucessão no limbo Têm surgido, aqui e acolá, informações que Serra estaria reconsiderando a possibilidade de disputar a presidência em 2010. Ele preferia ficar em SP onde teria uma reeleição tranquila e não teria de medir forças, ainda que indiretamente, com um Lula com popularidade acima dos 80%. Não dá para saber o quanto isto é fato, o quanto é torcida, o quanto é especulação, e o quanto é manobra do próprio Serra. A verdade é que isso congelou um pouco a corrida sucessória para os públicos externos. Se for fato, forçará naturalmente a revisão das estratégias eleitorais tanto na oposição quanto na situação. Principalmente no governo. Uma coisa é armar um esquema para disputar com o governador paulista, outra para disputar com o "tinhoso" mineiro Aécio Neves. Uma chama mais ao combate, ao confronto. Outro, às negaças chaplianianas, ao estilo Garrincha. Dilma e Serra, guardadas as devidas proporções, são muito parecidos em estilo e normas. Aécio é o avesso. Se der Dilma e Serra na cabeça, a eleição dificilmente deixará de ser plebiscitária, com apenas os dois candidatos disputando a maioria do eleitorado. Com Aécio, quem não garante que Ciro Gomes não retome seu projeto presidencial ? Com Aécio, quem pode assegurar que o PMDB não se disponha, depois de algum tempo, de ter um candidato próprio ? Serra pode não ter arquitetado essa história de que pode desistir de tentar substituir Lula. Mas é o grande beneficiário dela até agora. Queremos o nosso Lula tem duas disputas entre seus aliados para arbitrar. Dessas de gerar duelos em praça pública entre o PT e o PMDB. Uma é a substituição do ministro Mangabeira Unger. A outra, o novo titular da vaga de José Mucio, de saída para o TCU, no ministério das Relações Institucionais. Listas já pululam em Brasília. Boa parte, de auto-candidatos. Insatisfações sindicais Está nascendo uma nova organização de trabalhadores para agregar o pessoal que trabalha na Petrobras. É decisão tomada no encerramento do 3º Congresso da Frente Nacional dos Petroleiros. O monopólio dessa representação sempre foi a Federação Única dos Petroleiros, ligada à CUT. Juntamente com a Associação dos Engenheiros da Petrobras, a FUP sempre foi responsável pelos grandes movimentos reivindicatórios na empresa - greves e coisas tais - até anos recentes. Com a ascensão do PT ao poder e a grande influência que os sindicalistas passaram a ter no comando da empresa, FUP e AEPET perderam subitamente a combatividade de outrora. Aliás, um fenômeno que toma conta de todo o movimento sindical brasileiro depois que as centrais ganharam reconhecimento legal e foram agraciadas com uma fatia de 10% anuais do imposto sindical. A proposta da FNP é voltar aos velhos tempos. Da série : a Petrobras e a responsabilidade social A empresa que gasta alguns milhões para publicar um balanço somente para mostrar "olha, como somos socialmente responsáveis" acaba de ser multada em R$ 30 milhões pela 69ª vara do Trabalho do RJ. A razão : manter em seus quadros mão-de-obra terceirizada em desobediência às normas de concursos públicos. O BC inova A entidade dirigida por Meirelles colocou, em consulta pública, um estudo sobre os cartões de crédito no Brasil. A intenção era recolher subsídios para criar uma política de regulação do setor. O prazo para a apresentação de sugestões encerrou-se na semana passada. Porém, somente no mês que vem é que o BC deixará disponível em seu site as idéias apresentadas. É, certamente, o primeiro caso de "consulta pública secreta" do qual se tem conhecimento no mundo.
terça-feira, 7 de julho de 2009

Política & Economia NA REAL n° 59

Populista ou popular, não importa Não vem ao caso se se classifica o governo Lula como popular (como ele quer ser reconhecido) ou como populista conforme apregoa a oposição. A verdade é que por sua origem (o "passado" que causava medo ao "mercado") e por seus interesses futuros, o governo Lula vai cada vez mais em direção ao que ele considera que carreará votos para sua candidata e seus aliados e alimentará e consolidará através dos tempos sua altíssima popularidade. Não vem ao caso, aqui, os méritos ou deméritos das ações. Porém, não é sem propósito o cerco aos bancos privados, aos cartões de crédito, os reajustes do Bolsa-Família e dos servidores públicos no momento em que a arrecadação está em queda. Não é também despropositada a constante redução das metas de superávit primário. O de 2009, que começou em 3,8% do PIB e estava até a semana passada em 2,5% quando teve nova revisão, para 1,85%, com a retirada dos gastos do PAC de seus cálculos (leia mais na nota abaixo). Uma frase atribuída à ministra Dilma Roussef, numa conversa com técnicos da área econômica, diz tudo : "Não me venham falar de superávit primário." Cada vez mais a economia está sendo pensada e determinada no gabinete presidencial e na Casa Civil. Ministério da Fazenda, do Planejamento e BC, não formulam, não decidem, no máximo sugerem. E executam. Barragem no Congresso Não é à toa, também, que o governo tem orientado seus líderes no Congresso a barrarem a votação de alguns projetos de forte apelo popular (ou populista) de autoria até de companheiros de jornada. É o caso da redução da jornada de trabalho de 44 para 40 horas semanais, votada favoravelmente há dias numa comissão na Câmara, e a equiparação do reajuste das aposentadorias e pensões do INSS ao reajuste do salário mínimo, que já passou pelo Senado. Lula não quer ser obrigado a vetar as duas propostas para, eleitoralmente, não se indispor com dois grandes baús de votos e clientela fácil para seus candidatos. Um exemplo concreto O governo vai determinar ao BB e à CEF que entrem com vontade no mercado de cartões de crédito, para criar mais competição nesta área. Nada demais. Mas reservou uma "ação social" para a Caixa : quer a instituição distribua o chamado "dinheiro de plástico" para os beneficiários do programa Bolsa-Família. Não é temeridade demais - ou mesmo irresponsabilidade - colocar uma facilidade dessas nas mãos de pessoas com rendas tão baixas ? Em nome de uma etérea "inclusão social" pode-se estar armando um grande desastre. O exemplo do sub-prime nos EUA não recomenda medidas como esta. A ficção do Orçamento Não se ignora que o Orçamento Geral da União - e, em grande parte também os orçamentos dos Estados e municípios - é uma obra de ficção. E uma obra aberta. A Lei de Diretrizes Orçamentárias, criada para ordenar a elaboração orçamentária, caminha na mesma direção. A de 2010, a ser votada até a semana que vem para que os congressistas possam tirar seus 15 dias de férias em julho, traz grandes vôos de imaginação. Prevê, por exemplo, entre outras coisas, que o superávit primário do ano que vem será de 3,5%. Segundo especialistas ouvidos por esta coluna, é sonho - ou promessa vã. Ele já está completamente comprometido. E poderá ficar ainda mais em se tratando de lei eleitoral. Repetimos o nosso alerta O (i) irrealismo com que está sendo construído o orçamento de 2010 e (ii) a falta de critério entre "despesas correntes" (que crescem mais que o PIB) e "investimentos" (que demoram) indicam que os riscos fiscais no médio prazo (a partir de meados do ano que vem) estão crescendo celeremente. A política de estímulo fiscal (correta) neste momento de crise abriu uma "janela de oportunidade" para que se justificasse uma série de gastos correntes permanentes. O "mercado" está subestimando os riscos da política fiscal e as taxas de juros dos títulos pré-fixados não refletem tais riscos. Radar "NA REAL" O mercado internacional voltou a suspeitar da recuperação das principais economias centrais. A taxa de desemprego nos EUA (9,5%), somada a intensificação dos pedidos de auxílio-desemprego, detonou um processo de pessimismo que deve permanecer nos próximos dias, quiçá nas próximas semanas. A tendência de melhora dos mercados no médio prazo permanece. Todavia, os diversos segmentos do mercado financeiro estão mais frágeis neste momento. Para o Brasil, o cenário é muito melhor em termos relativos. Todavia, não esperamos nenhuma melhora adicional até que o cenário externo melhore. Preocupa-nos especialmente a valorização do mercado acionário brasileiro. Neste momento, julgamos as ações das principais empresas brasileiras muito elevadas frente às incertezas (ainda) presentes na economia mundial. Os preços das commodities são o mais importante sinalizador para a bolsa brasileira. Tais preços subiram em relação à média do primeiro trimestre do ano. Porém, nas últimas semanas se tornaram mais instáveis (voláteis). Um mau sinal para os países emergentes, incluso o Brasil. Finalmente, há a questão cambial. Uma eventual piora no cenário externo levará o câmbio para cima. Considerando-se (i) a política de estímulo fiscal do governo, com seus riscos e benefícios (comentados nas notas acima), bem como (ii) o menor nível de ingressos de recursos estrangeiros no país, é provável que a queda da taxa de juros cesse - não necessariamente a taxa básica de juros, mas a curva de juros (títulos prefixados de médio prazo) deve se elevar. O momento é delicado. Uma transição que deve ser para melhor. Contudo, isto não é uma certeza. Apenas uma tendência que pode mudar. 3/7/9 TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA estável alta - Pós-Fixados NA estável estável/alta Câmbio ² - EURO 1,385 alta alta - REAL 1,96 estável alta Mercado Acionário - Ibovespa 50.934,69 estável/queda estável/alta - S&P 500 896,42 estável/queda alta - NASDAQ 1.796,52 estável/queda alta (1) - Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais)(2) - Em relação ao dólar norte-americanoNA - Não aplicável Se prepare, os resultados estão chegando... Começa a temporada de divulgação de resultados de empresas de capital aberto em todo o mundo. Os investidores e analistas hão de fazer suas avaliações e revisar as suas projeções. Estas temporadas aumentam a volatilidade dos mercados ! G-8 e G-20 Tem razão o presidente Lula quando reclama mais prestígio dos países centrais ao G-20. É certo que o tal do G-8 não abdicará de sua preferência em discutir primeiro os seus interesses no âmbito dos países capitalistas centrais e depois articular tais interesses com os outros países. Nesta última década os países emergentes passaram de uma posição devedora para uma confortável posição poupadora. Isto os fez credores (financiadores) dos países ricos o que viabiliza uma maior presença política no cenário internacional. Há, contudo, um ponto que o presidente Lula e a atual liderança do Itamaraty parecem se equivocar. Uma coisa é a universalidade da idéia do G-20 ("ser o fórum privilegiado para discutir os problemas econômicos mundiais"). Outra coisa é a coesão dos países emergentes na condução de seus interesses comuns. Estes últimos não são tão homogêneos a ponto de tornar o G-20 tão efetivo quanto parece soar da boca presidencial. Os interesses econômicos da Rússia, da China, da Índia e do Brasil, apenas para citar o caso dos BRICs, são muito dispersos e as estratégias bem diferentes entre eles. Não há uma "ordem mundial" no momento. Há uma desordem mundial. O G-20 ainda é uma idéia. Muito vaga, diga-se. Mesmo que valha a pena ser perseguida. Regulação de mercados e setores Todos os países relevantes impactados pela enorme crise de crédito e dos mercados estão a proceder revisões severas na regulação do mercado financeiro e dos setores econômicos. Perguntamos : não seria o caso do mesmo acontecer aqui no Brasil ? Ao invés de o Executivo meramente questionar os procedimentos do TCU, por que não se revisa o papel das agências reguladoras, o CADE, a SDE e assim por diante ? Muitas fusões e ineficiências do mercado estão a ocorrer em função da crise mundial. A hora de haver uma modernização é agora ! Nada casuístico, apenas a velha necessidade de reformas... O santo nome em vão Entrou definitivamente na moda na política brasileira a expressão "governabilidade", definida pelo "Novo Aurélio" como "qualidade de governável". Já o Michaelis ("Moderno Dicionário da Língua Portuguesa", Melhoramentos) nem registra a palavra, prefere "governação". Para Gianfranco Paquino ("Dicionário de Política", N. Bobbio, N. Matteucci, G. Paquino, FGV) o termo "presta-se a múltiplas interpretações". E como tem se prestado no Brasil... Agora acoberta a cobertura irrestrita que o governo está dando a Sarney na presidência do Senado e, por tabela, aos esforços dele e de parceiros para transformar a grave crise que assola o Senado em uma simples "marolinha". Seja que significado tenha a expressão para os que estão evocando seu santo nome em vão, é triste o país no qual a tal governabilidade dependa de um partido como o atual PMDB e suas crescentes demandas de "governação". Contando os dias O mundo político brasiliense está ardorosamente contando os dias que faltam para a chegada das férias parlamentares de 15 de julho. Esperam que o esvaziamento de Brasília afaste o Senado das manchetes. O "acordão" celebrado sob as bênçãos do presidente Lula já deve esta semana acalmar um pouco a situação. A reunião pro forma da bancada do PT no Senado hoje sela o conchavo. Sarney e o PMDB exigiram e Lula determinou. Alguma oposição esperneará. Nem toda, porém. Do lado da micro política, portanto, está tudo praticamente certo. Faltou, no entanto, combinar com os jornalistas. E com os grupos que andam vazando as informações, boa parte localizada na burocracia do Senado. Alguns para mostrar o que sabem - chantagem ? - e outros porque querem preservar a instituição e a imagem deles. O nome da crise A ministra Dilma Roussef, saindo de seus pagos de mãe do PAC, "gerentona" do governo e vestindo o figurino da candidata presidencial, saiu em defesa do senador maranhense do Amapá dizendo que não se pode demonizar Sarney. Correto. Não se pode mesmo demonizar Sarney, "fulanizar" a crise e achar que estamos diante apenas de uma "marolinha". É muito mais profundo : estamos diante de um sistema legislativo e de um sistema político inteiramente carcomidos, disfuncionais e, se valer o neologismo, "desgovernáveis". Acomodações, conchavos, em nome de interesses imediatos e eleitoreiros, são servem para adiar a explosão. Um adiamento que pode não ultrapassar o auge da campanha eleitoral. O outro nome da crise Atende pelas alcunhas de Dilma Roussef 2010 e CPI da Petrobras o mergulho de Lula, sem colete salva-vidas, no lamaçal do Senado e sua compulsiva atração por José Sarney. Vidas em perigo Para se entender o desespero que toma conta de boa parte dos senadores e é subjacente à crise da Casa : 54 dos atuais 81 senadores terão de renovar seus mandatos no ano que vem. Entre eles, nove dos doze do PT e 16 dos 19 do PMDB. Até eles gostaram O conchavo que se armou no Senado não serviu apenas ao governo, a Sarney e ao PMDB. Traz alívio também para boa parte da oposição. Caixa preta é caixa preta. Uma coisa é discurso, outra coisa é o bastidor. Os bons companheiros O apoio - discreto, para o tamanho da confusão - do PMDB da Câmara ao PMDB de Sarney e Renan tem um destino certo : dar uma ilusão de "unidade" partidária e manter o cacife do partido nas negociações para a vaga de vice de Dilma. Aspiração maior hoje de Michel Temer. Falta, porém combinar com os caciques estaduais, ou seja, com os outros 27 PMDB's existentes no Brasil. Solidariedade é isso A Câmara está acompanhando as agruras de seu vizinho com o máximo de discrição. Não quer marolas. Afinal, a única diferença visível entre os dois é a posição das duas meias cuias que os identificam na arquitetura de Oscar Niemeyer. Jornalismo de qualidade Primorosa na concepção e na concisão, a manchete da primeira página do "Diário do Comércio" de São Paulo de sexta-feira passada a propósito do apoio do presidente Lula ao senador Sarney. Ao lado da foto de Lula, com a faixa do Corinthians "Campeão do Brasil" e segurando a taça conquistada pelo clube de seu coração, vinha o título "O gavião fiel à Sarney". Diz tudo : eles estão de modo irremediável abraçados politicamente, como dois irmãos siameses. Juntos enquadraram o outrora aguerrido PT. O santo nome em vão - versão "transparência" Desde o advento (ou ameaça, como se queira) da CPI da Petrobras a expressão "transparência" passou a frequentar o discurso do presidente da companhia e de seus diretores. O blog é em nome dela. As visitas aos ministros do TCU para explicar a portas fechadas o que não se quer explicar à CPI é em razão dela. Esta semana a estatal inundou os grandes jornais (uma página) e as revistas semanais de circulação nacional (duas páginas) com o seu balanço social. Significativamente encimado por um longo dizer : "Um balanço social cheio de novidades e com um ponto que a gente faz questão de repetir todos os anos: a transparência" (o grifo é da própria empresa). Apesar da tal, nota-se : 1. Não há nenhuma indicação de uma auditoria externa nos dados expostos, o que seria de bom tom para uma companhia de capital aberto, com ações negociadas na Bolsa de São Paulo e na Bolsa de Nova York. 2. Na área de indicadores ambientais, nenhuma referência aos passivos da companhia com o meio ambiente, inclusive com relação às multas a ela aplicadas por órgãos competentes. Talvez isso explique a razão de entidades não-governamentais de meio ambiente estarem estudando a possibilidade de pedirem aos gestores do Índice de Sustentabilidade da Dow Jones a retirada das ações da Petrobras desse índice. Desde novembro do ano passado ela está fora do Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE) da BMF Bovespa. Respeito aos consumidores é assim Terça-feira passada, dia 30, a ANATEL, que tem entre suas obrigações cuidar também da proteção ao consumidor, reativou o seu Comitê de Defesa dos Usuários de Serviços de Telecomunicações. Ele estava inativo há nove anos. Exatamente isso, ninguém leu errado. E, no entanto, a Anatel precisou de uns poucos meses para aprovar mudanças nas leis para permitir a compra da Brasil Telecom pela Oi e para aprovar o negócio. Dantas e os 13 Além de Daniel Dantas, o MP denunciou outros 13 personagens pelos crimes de formação de quadrilha, gestão fraudulenta, gestão temerária, evasão de divisas e lavagem de dinheiro. Por detrás de tudo isto há ainda (lembram-se ?) o esquema de financiamento do "Valerioduto". O tal do mensalão ainda tem de ser explicado de forma clara e transparente.
terça-feira, 30 de junho de 2009

Política & Economia NA REAL n° 58

  Macunaíma, Sarney, Renan e Lula - I Lembrem-se da cena em que Macunaíma e seus dois irmãos se banham na água que embranquece. Mário de Andrade metaforizava a formação étnica do povo brasileiro. Nesta cena, Macunaíma foi o primeiro a entrar naquela água e se tornou louro. Jiguê é o segundo e, como a água já estava escurecida pela presença anterior de Macunaíma, este se tornou bronzeado, simbolizando o índio. Seu outro irmão Manaape apenas embranquece as palmas das mãos e dos pés ao banhar-se naquela água estranha. Assim, estava representada de forma literária a raça brasileira. Mário de Andrade e sua estória. Tempos passados. Macunaíma, Sarney, Renan e Lula - II De outra forma. Havia uma poça de lama daquela região do país dominada pelo cerrado. Renan, o primeiro companheiro, com aquela cor "collorida", adentra à vasta poça e, ao sair revestido de lama, torna-se um acadêmico de fardão e com um bigodão a pesar no rosto arredondado. Carrega nas mãos livros de qualidade literária duvidosa. Ah ! Também carrega um diário "Secreto". O que haverá naquele diário ? A poça de lama se torna mais densa ainda. Sarney, o segundo companheiro, mergulha rápido naquela poça. Não perde tempo, é claro ! Quando sai, seu corpo torna-se atarracado e suas palavras resvalam por entre os lábios o que dá a sensação de que as frases, antes acabadas por um vernáculo empolado, soam agora com erros de concordância verbal. O antigo bigode torna-se uma barba bem aparada, grisalha e sem falhas. Lembra um velho sindicalista da região do ABC que pregava em praças públicas sobre as mazelas das injustiças e da corrupção. Pois bem : poderia ser assim imaginada a formação "étnica" do Governo Lula. De forma metafórica, é claro ! Tudo isto não passa de uma imaginação pictórica. De um sonho. Ou será um pesadelo ? Mário de Andrade infelizmente não entenderia este mau uso de sua obra-prima. Os poderes do Greyscol do Maranhão Não é impossível, mas é praticamente improvável que Sarney apeie por conta própria ou venha a ser apeado da presidência do Senado, por conta dos escândalos que envolvem a Casa e sua própria radiografia. E as razões são simples e objetivas, não é preciso buscar explicações na "ciência" política nem em teorias conspiratórias a favor. Eis o que temos : 1. O PMDB tem um latifúndio de tempo no horário eleitoral obrigatório em 2010. 2. As eleições de 2010 estão aí. 3. O propósito do presidente Lula de fazer uma ampla aliança na disputa presidencial, isolando do outro lado o PSDB, o DEM e o PPS. 4. O conteúdo da caixa preta do Senado, dos mais de 650 atos secretos e dos negócios do PRODASEN e a Gráfica, por onde passaram benefícios pluripartidários. 5. A CPI da Petrobras e agora também a CPI do DNIT. 6. A memória seletiva de Agaciel Maia, de João Carlos Zoghbi e de outros "senadores de gabinete", sem votos, porém não menos influentes e informados. A maior probabilidade é que apareça um grande "acordão" para superar o impasse com o menor prejuízo possível para todas as partes interessadas. Sarney tem a força ! Macunaímica, no caso ! Silêncio constrangedor Como se escrevia nas folhas de outrora, está "causando espécie" o silêncio do PMDB da Câmara em relação às agruras porque passa seu correligionário Sarney no Senado. É certo que os dois PMDBs sempre se estranharam, mas a confusão senatorial pode ferir o partido como um todo e não apenas a parcela que segue a liderança de Renan Calheiros. O que justificaria um gesto de solidariedade da turma comandada por Michel Temer. Porém, um poder mais alto está se alevantando : a vaga de vice-presidente na chapa de Dilma Roussef. Os PMDBs não são solidários nem nas dificuldades. O fato e a versão Depois de algumas dúvidas, o governo reservou mesmo para o ministro das Relações Institucionais, José Múcio, a vaga que vai se abrir no TCU. A primeira indicação direta de Lula. O PT, como em tudo e sempre, aspirava tal lugar. E a candidata, com o apoio de Dilma Roussef, era sua segunda na Casa Civil, Erenice Guerra. Erenice teria perdido a batalha porque, com o afastamento de Dilma do Ministério para disputar a sucessão de Lula, o governo precisaria de alguém de extrema confiança de Dilma e que já conhece as entranhas da Casa Civil, inclusive tudo sobre o PAC, para evitar riscos de paralisia numa área vital. Esta é a versão oficial. A razão real, no entanto, é bem outra. Erenice esteve diretamente envolvida na história do vazamento das despesas do casal presidencial FHC/Ruth, caso escabroso nunca bem esclarecido. As indicações para o TCU passam por uma aprovação no Senado, com sabatina do candidato e tudo. E não seria, digamos, de bom tom eleitoral remexer nesse monturo. Plano Real - 15 anos Amanhã, dia 1º, é o aniversário de quinze anos do Plano Real. Certamente aquele plano foi um dos mais sucedidos da história econômica no que se refere à estabilização da moeda. Diante de um processo de hiperinflação indexada, a estratégia traçada pelo governo de Itamar Franco, sob a liderança de FHC na Fazenda, foi formidável. O mecanismo utilizado (a URV) para "administrar as expectativas" foi fundamental. O risco principal estava na política cambial. A taxa de câmbio não foi fixada - isto apenas foi feito por ocasião da quebra do México no início de 1995 -, era flexível e proporcionou uma extraordinária valorização do Real nascente em função do volumoso ingresso de recursos externos. Além disso, o Real para cima significou a inflação para baixo. FHC deve sua eleição (contra Lula) ao Real. E deve à sua reeleição ao abuso na utilização do câmbio fixo como instrumento de controle da inflação. Como plano de estabilização foi um plano extraordinário. Outras conquistas foram feitas na sequência da estabilização, destacadamente o saneamento do sistema financeiro (privado e público) e a Lei de Responsabilidade Fiscal. O programa de privatização de FHC foi controvertido. Ali se fez uma espécie de "política industrial" o que favoreceu o aumento da produtividade. De outro lado, concentrou o controle acionário sob as mãos privadas de várias empresas e se perdeu a oportunidade de popularizar o capitalismo no Brasil. E Hoje ? A estabilidade monetária é certamente um valor para a sociedade. Um processo inflacionário exacerbado parece algo descabido e improvável no Brasil de hoje. Todavia, faltam-nos as reformas estruturais que do ponto de vista micro e macroeconômico reforçariam o "arcabouço" da estabilidade. Depois da introdução da Lei de Responsabilidade Fiscal quase nada foi feito do ponto de vista estrutural. A independência do BC está esquecida e quando é levantado o debate sobre ela é essencialmente ideológico. A reforma da Previdência Social simplesmente foi inviabilizada politicamente pela defesa dos interesses de setores organizados da sociedade, sobretudo o sindicalismo (sem causa) e o funcionalismo público. A reforma tributária e fiscal repousa sobre as águas do centralismo das receitas e de um federalismo que não permite que se mexa no status quo de Estados e municípios. As reformas microeconômicas, sobretudo aquelas relacionadas com menos burocracia estatal, não são parte da pauta do governo e do Congresso. As reformas do setor social caminham a passos lentos. Evoluímos no que se refere ao Bolsa-família, enquanto programa de transferência de renda. Todavia, não foi encontrada uma forma inteligente de integrá-la à educação e ao desenvolvimento das regiões mais pobres do país. A verdade é que estamos dominados pelo debate conjuntural. A eleição de Lula foi um avanço imenso da democracia brasileira. Todavia, o carisma social de seu governo obscurece a verdade de que do ponto de vista estrutural quase nada foi feito. Temos uma política econômica eficiente para manter a estabilidade, mas continuamos incapazes de engendrar um crescimento robusto acima da média mundial. Infelizmente o debate sobre estes temas está empobrecido e, de muitas formas, esquecido. E hoje - 2 Para completar, corremos o risco de perder um dos pilares da estabilidade alcançada pelo país : o relativo equilíbrio das contas públicas. O governo, mesmo diante da perda de receitas, insiste em aumentar as despesas correntes, o que, no longo prazo, pode comprometer a política antiinflacionária. E também a saudável escalada, para baixo, da taxa básica de juros. Em lugar de cortar despesas não saudáveis, para deixar sobras de recursos para incentivar os investimentos públicos, a estratégia da equipe econômica é a de comprometer o superávit primário. Vai funcionar durante algum tempo, depois, se não houver recuperação da receita... A carta de Mantega ao G-20 Foi divulgada nesta segunda-feira a carta que o ministro da Fazenda Guido Mantega enviou em 22/6 aos seus colegas do G-20 pedindo que todos os países mantivessem as políticas de estímulo econômico. Tem razão o ministro : o crescimento econômico mundial é ainda tênue e, mesmo que o pior tenha passado, a participação dos Estados no processo de recuperação persiste fundamental. Todavia, o que está se tornando mais visível é que estão crescendo velozmente no mundo as preocupações com a viabilidade de políticas fiscais com déficits dos erários tão grandes. Vejamos, apenas como um exemplo, o caso do Reino Unido. Já foi gasto mais da metade do PIB para sanear o sistema financeiro e a recuperação do crédito ainda é incipiente no médio prazo (um ou dois anos). Há quem duvide, neste caso, que a política do governo é ineficiente. Não é à toa que o Partido Conservador avança celeremente para ganhar as eleições do ano que vem. Pois bem : as inquietações com os enormes déficits públicos estão deixando o mercado de renda fixa, sobretudo no caso dos títulos dos governos, muito instável. A questão é : como os governos saberão identificar o momento certo de começar a apertar a política fiscal ? Haverá condições políticas de fazê-lo ? Mantega está a pregar corretamente pela manutenção dos estímulos fiscais dos países do G-20. A nova pauta, contudo, é somar a estes apelos uma visão de mais longo prazo sobre a política fiscal. Déficit fiscal de maio Não é um absurdo se esperar que o gasto público cresça para suportar a demanda (cadente) da economia brasileira. A queda de arrecadação de 7% em maio é coerente com esta política. Contudo, a elevação de 18,7% das despesas correntes do setor público no período de janeiro a maio deste ano em comparação com o mesmo período do ano anterior é um risco e tanto. A folha de pagamento da União já é mais de 5% do PIB o que é elevadíssimo e as despesas com os vencimentos dos funcionários subiram mais de 22% nos cinco primeiros meses. Do lado positivo destaque-se o aumento dos investimentos públicos (+25%) em programas como o PAC e o PPI (Programa-Piloto de Investimento). Nosso alerta Temos alertado os nossos leitores sobre dois aspectos. Vamos repetir mais uma vez : (1) a rota dos gastos públicos é perigosa em função da elevação constante e a taxas altas das despesas correntes do governo; (2) tanto o governo quanto a oposição precisam oferecer uma visão sobre o médio prazo no que se refere ao setor fiscal. Há elevada probabilidade de que a desconfiança com o lado fiscal que vigora lá fora "contamine" o ambiente doméstico. E não esquecemos : ano que vem é ano eleitoral. Já sabemos o que acontece com as contas públicas nesta época. Radar NA REAL Não estamos fazendo nenhuma alteração substancial nas tendências dos diversos segmentos do mercado financeiro. Apenas reforçamos a visão de que acreditamos que as taxas de juros dos títulos prefixados no médio e longo prazo (de 2010 até 2012) estão baixas demais. A situação fiscal preocupa. Aqui e lá fora. É hora de encurtar prazos nas aplicações. Do lado do câmbio, está se confirmando a nossa visão de que no curto e quiçá no médio prazo o real não se valoriza muito mais além do patamar atual. O mercado acionário deve continuar a gravitar em torno do mesmo nível atual. As bolsas lá fora devem andar nos próximos meses melhor que aqui no Brasil. Tudo isto num ambiente ainda muito desconfiado, seja com a recuperação, seja com o lado fiscal das políticas econômicas dos países centrais. 26/6/09 TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA estável alta - Pós-Fixados NA queda/estável estável/alta Câmbio ² - EURO 1,406 alta alta - REAL 1,934 estável alta Mercado Acionário - Ibovespa 51.485,61 estável/queda estável/alta - S&P 500 918,90 estável alta - NASDAQ 1838,22 estável alta (1) - Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais)(2) - Em relação ao dólar norte-americanoNA - Não aplicável Liberar geral ? A declaração do presidente Lula de que o Brasil é um país feito para não funcionar porque tem fiscalização demais, tem um endereço certo : o TCU. É um reforço aos planos do próprio governo e do Congresso de diminuir o raio de ação do Tribunal. País bom para muita gente é um país sem fiscalização, nem de órgãos oficiais nem da imprensa. Troféus para Gabrielli Se tivéssemos no Brasil um troféu para o de homem público com mais soberba e outro para o de homem público mais inábil politicamente os dois já teriam um candidato imbatível : o presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli. O petista baiano tantas tem feito, ora provocando a imprensa, ora provocando os próprios senadores, que vai acabar contribuindo decisivamente para a instalação da CPI da Petrobras. Aquela que ele diz não temer, mas que não faz outra coisa senão trabalhar para boicotá-la. Se pode piorar, piora Numa presteza e velocidade incomuns em suas atividades normais, a Câmara prepara para esta semana, provavelmente, a votação de algumas modificações na legislação eleitoral. Se não sair quarta-feira, o pacote certamente sai antes do recesso de 15 de julho. No Senado, terá a mesma célere tramitação, para ficar pronta até o início de outubro, a ponto de valer no ano da graça eleitoral de 2010. Nada de entusiasmar, coisas apenas de interesse da "política dos políticos". Vejamos três das mudanças propostas : 1. Vão ser confirmadas, para evitar a interferência da Justiça Eleitoral, as doações (na verdade, investimentos em busca de retornos no futuro) eleitorais para os partidos. Sem identificação dos destinatários. As empresas entregam o dinheiro aos partidos e eles distribuem aos candidatos. Negócios escondidos. 2. Vão restringir o uso da Internet nas campanhas. É o medo da liberdade, a tentativa de manter as coisas sob controle. Beneficia quem já está no jogo. 3. Um artigo vai permitir, por 30 dias, um ano antes das eleições, que os políticos troquem de partido sem obediência às normas de fidelidade partidária. É a janela da infidelidade. Somente o que é bom não prospera. Em que pé está, por exemplo, a ideia de criar algum empecilho às candidaturas dos chamados "fichas-suja" ? Derrota dos Kirchners Fique de olho : a deterioração política do governo argentino é equivalente à queda na qualidade dos indicadores econômicos. Lá o governo gastou quase todas as balas para recuperar a economia no curto prazo. Não conseguiu e o erário está em frangalhos. Vem mais instabilidade por aí que somada ao Paraguai, Bolívia, Venezuela e Equador demonstra que a América do Sul não é para amadores... O Brasil terá, certamente, dentro da política de "boa vizinhança" seguida pelo governo, de abrir de novo seu pronto socorro para servir os amigos. Até quando terá bala para isso sem prejudicar a economia nacional e as empresas brasileiras ?
terça-feira, 23 de junho de 2009

Política & Economia NA REAL n° 57

  A delicadeza do momento Há cerca de três meses, "transição" no mercado financeiro global significava sair da fase aguda da severa crise internacional para transitar em "águas mais calmas (redução da volatilidade), embora num mar perigoso (recessão profunda)". Foi exatamente isto o que aconteceu entre o final de março e este mês. De agora em diante, a "transição", no caso para melhor, dependerá fundamentalmente de duas variáveis gerais : (i) recuperação contínua do crédito e das instituições financeiras globais e (ii) retomada do crescimento econômico. A crença de que a crise atual permanecerá por muito tempo volta a rondar o mercado. Há um agravante, segundo esta corrente de mercado : a deterioração fiscal incorrida para estimular as economias dos países centrais. De nossa parte, estamos mais otimistas e permanecemos com a nossa forma de comentarmos os aspectos da crise : falamos de tendências e não fazemos previsões. Estas últimas estão completamente desmoralizadas há tempos, embora muito insistam em fazê-las. O sistema capitalista, por definição, é não-cooperativo. A mesma dinâmica que leva a criação e explosão de "bolhas" e instalação de crises nos leva à recuperação do investimento e do consumo. Isto não vai ocorrer com rapidez, mas já há sinais de que o aprofundamento da crise está se reduzindo. Até mesmo os graves números de desemprego nos EUA (9,4% da força de trabalho) já contêm sementes de esperança : alguns estados industriais começam a apresentar sinais de estabilização do tamanho da força de trabalho. No Brasil não é diferente Apesar de a crise ter sido menos impactante no caso do Brasil, isto não quer dizer que a dinâmica seja diferente. O Brasil tem uma economia relativamente fechada em termos de comércio exterior. Isto nos favoreceu no amortecimento da crise dos países centrais. Da mesma forma que nos prejudicou quando o crescimento mundial era muito bom - o Brasil tem crescido ao longo da última década abaixo da média dos principais países emergentes. O resultado menos negativo do PIB do 1º trimestre deste ano, a gradativa recuperação do emprego formal (e do consumo), o investimento governamental e os estímulos tributários estão a melhorar o desempenho da economia brasileira (que deve crescer, desta feita, acima da média mundial). A recuperação virá de forma gradual, assim como no resto do mundo. Aqui também os riscos fiscais A imensa utilização de recursos públicos para incrementar a demanda é legítima e justificada. Todavia, os agentes econômicos sempre questionam como "se vai sair destes enormes déficits". Esta é uma das razões que estão a deteriorar a imagem de Barack Obama nos EUA. O super-presidente está gastando muito e os resultados começam a ser cobrados (redução da recessão) e o questionamento sobre os riscos fiscais está crescendo velozmente (do Congresso, dos investidores e dos cidadãos). Por aqui a atitude não deveria ser diferente. O Congresso está desmobilizado em função de suas crises éticas, mas os agentes econômicos estão atentos. De nossa parte, continuamos a chamar a atenção para o fato de que o mercado brasileiro está subestimando os riscos fiscais de médio prazo, sobretudo diante de um processo eleitoral que promete ser intenso. Vejamos a nota seguinte. Arrecadação menor, mais cortes ? Doeu no coração governista mais do que imaginava o resultado da arrecadação tributária de maio, com uma entrada nos cofres do Tesouro Nacional de menos R$ 3 bilhões do que estava previsto. E esta previsão já estava revisada para baixo. O maior sinal da dor está no estilo menos eufórico do ministro Guido Mantega desde a divulgação da informação. O estilo anterior de Mantega, o repisar constante de que a situação já estava se normalizando, criou uma armadilha para o próprio ministro diante dessa realidade dura das contas públicas. Como explicar, por exemplo, o aumento, ainda que gradual, do IPI dos carros, como o Ministério da Fazenda cogita, se agora a economia "está se recuperando" ? O próprio presidente Lula já indicou que quer manter essa e outras desonerações. Sem contar a turma que faz fila e tem argumentos pesados para reivindicar também o benefício. O ministro Paulo Bernardo está falando em novos cortes no Orçamento. Terá de obedecer as determinações do presidente para não tocar nos programas sociais nem nos recursos do PAC. A massa de manobra é estreita, pois boa parte do Orçamento é vinculada com compromissos "imexíveis". Bernardo voltou a aventar a hipótese de adiar os aumentos salariais já concedidos por lei e que entram em vigor a partir do mês que vem. É possível. Porém, é um desafio político que não se sabe se o governo enfrentará com o tamanho do olho que botou na candidatura Dilma Roussef. Algumas classes de servidores já receberam seus ajustes no semestre atual. Como deixar os outros de fora, ainda mais alguns muito influentes, como os empregados do Banco Central. O funcionalismo, cevado por muitos anos no estilo da CUT, é organizado e ativo. Veja-se a greve em andamento nesse instante no INSS. Além do mais, é eleitorado cativo de Lula. Se tivesse sido mais realista antes perante o distinto público, o ministro Guido Mantega teria mais argumentos agora. Teria até antecipado algumas providências. Pode ser que, diante de tantas objeções, os acertos se façam novamente com a redução da meta de superávit primário.  Mantega versus Meirelles O ministro da Fazenda Guido Mantega frequentou pelo menos dois órgãos da grande imprensa este fim da semana - "Estadão" e "Veja" - em longas entrevistas. Em uma delas fez questão de exorcizar, mais uma vez, as conhecidas divergências entre ele e Henrique Meirelles. Pode ser. Porém, eles têm um encontro marcado com a divergência ainda este mês : a reunião, dia 30, do CMN que vai definir a meta de inflação para 2011. Por ele, o BC procura calibrar a taxa básica de juros. Meirelles quer reduzir o parâmetro dos últimos anos - 4,5% com margem de 2 pontos percentuais para cima e para baixo. Mantega quer mantê-lo, para ter mais espaço de manobra nas políticas desenvolvimentistas "modernas" como ele classifica sua própria posição. O ministério da Fazenda teme que, com metas mais apertadas, o BC venha a elevar os juros em 2010, ano eleitoral. Já sem alterações na meta, o mercado futuro já está prevendo juros mais altos (v. Radar). Vai sobrar para o pacato ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, o voto de desempate no CMN. Radar "NA REAL" Se há algo para se prestar atenção neste momento é a relação entre dólar e real, bem como entre o dólar e os juros domésticos. O BC já sinalizou na semana passada, por meio da ata da última reunião do COPOM, que o ritmo de queda dos juros irá cair. Nada mais natural depois de um processo de queda da taxa básica de juros - mais longo e menos intenso do que deveria, a nosso ver. A taxa básica até cair mais como o tal do "mercado" prevê. Mas o que nos preocupa é a "curva longa dos juros". Ou seja, as taxas de juros de prazo mais longo (2011 e 2012) estão muito baixas em vistas da continuada deterioração fiscal (que não vem de agora). Esta deterioração fiscal também não deixará, em nossa opinião, muito espaço para uma adicional valorização do dólar. Este processo será tão ou mais agudo conforme andar a crise lá fora. Por tudo isto, recomendamos atenção aos próximos movimentos do mercado financeiro local e global. Não é hora de abandonar posições de riscos (em ações e títulos de renda fixa), mas tais posições tem de estar bem calibradas (em termos de tamanho em relação ao portfólio total). É preciso observar e ser paciente antes de agir. De nossa parte, estamos mais cautelosos, sem prever nem um pânico. Como dissemos acima, o momento é delicado, um novo tipo de "transição" está no ar. 19/6/9   TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹        - Pré-fixados NA estável alta  - Pós-Fixados NA queda/estável estável/alta Câmbio ²        - EURO 1,385 alta alta  - REAL 1,97 estável/alta alta Mercado Acionário        - Ibovespa 51.373,77 estável/queda estável/alta  - S&P 500 921,23 estável alta  - NASDAQ 1.827,47 estável alta (1) - Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais)(2) - Em relação ao dólar norte-americanoNA - Não aplicável Transparência opaca A Petrobras criou um blog para se comunicar com seu público. E contratou uma assessoria de imprensa externa, mesmo tendo 1.150 pessoas em seu setor de comunicações. O presidente Lula vai ter também um blog e uma coluna semanal para falar diretamente com a população. Sarney ensaia também aderir a este hit da comunicação política. E o Senado admite criar um portal para divulgar seus atos e fatos. Tudo em nome de uma palavrinha mágica : transparência. Porém, ao mesmo tempo, governo e Congresso estão articulando a aprovação de uma lei que, a propósito de disciplinar a atuação do órgão, na prática tirará poder do TCU. A desculpa é que não se deve paralisar as obras nas quais o TCU encontra indícios de irregularidades. Isto estaria atrasando o PAC. A verdade é que o TCU mais ativo está incomodando. O presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, chegou a dar uma declaração forte contra os ministros e depois teve de se desculpar. Lula já reclamou de sua rigidez. Em matéria de transparência, o poder público prefere os blogs, onde os principais interessados escolhem o que pode ser transparente. Gazua Frase de Henrique Eduardo Alves sobre a CPI da ANEEL, que o PMDB empalmou totalmente : "O PMDB terá a relatoria porque o Ministério [das Minas e Energia] é do PMDB. Não abrimos mão de ter a relatoria do ministério que é nosso" (grifo dos colunistas). Comentários absolutamente dispensáveis sobre o modo PMDB de ser. Oposição tem medo Ninguém consegue ver, ouvir, sentir ou pressentir o que pensa a oposição brasileira sobre a economia e a política neste momento. Triste sina para os cidadãos verem uma oposição tão opaca, sem ideias e sem rumo. Temos dito aqui neste espaço. Ora, isto tem razão de ser. Não é somente a popularidade nas alturas do presidente Lula que justifica este "baixo astral oposicionista". São imensos os temores dos políticos de oposição com os recentes escândalos do Senado. Além disto, há também temores espalhados por setores da câmara baixa (sem trocadilhos) em relação ao andamento dos negócios da Casa. Ah, sim ! A CPI da Petrobras também virou problema para a oposição. Gilmar Mendes e as profissões Do ministro Gilmar Mendes, analisando as possíveis consequências da decisão do STF de acabar com a obrigatoriedade do diploma no exercício do jornalismo. De qualquer diploma : "Se não houver necessidade de conhecimento científico, a exigência do diploma vai ser considerada inconstitucional". Pergunta pertinente e provocativa para um debate : o ministro presidente do STF incluiria nesse rol a advocacia ? O Ministro consultou os outros ministros do STF para emitir esta opinião ? O espaço de Palocci Semana passada o Instituto Fernando Henrique Cardoso (IFC) promoveu um seminário para debater dois estudos do Banco Mundial - "Crescimento e Desenvolvimento" e "Investimento em Saúde e Desenvolvimento". Quem esteve por lá, para debater o primeiro tema, juntamente com o ex-BC Gustavo Franco e o ex-BNDES Antonio Barros de Castro, foi o ex-ministro deputado Antonio Palocci. Muito cumprimentado e aplaudido, cheio de amabilidades bem ao seu estilo. Por mais de uma vez referiu-se à importância da estabilidade econômica que alcançamos nos "últimos vinte anos". Não parecia deslocado num ninho tipicamente tucano. Pelo contrário... Jornada mais curta Até o recesso do Congresso, em 15 de julho, Lula terá de se haver com seus aliados sindicais antigos (CUT) e recentes (Central Sindical). icentinho quer pôr em votação - a data prevista é 30 de junho - a proposta de redução da jornada de trabalho no país de 44 horas para 40 horas semanais. As centrais sindicais já organizam caravanas de trabalhadores para uma grande manifestação em Brasília nesse dia. Os assessores econômicos do presidente detestam a ideia. Lula, por seu passado e seus discursos, como o da semana passada na OIT, não pode opor-se frontalmente à proposta. A base governista está dividida. Mas quem vai contra em plena temporada eleitoral ? A manobra, para evitar um desgaste maior, vai ser tirar o projeto da pauta. Vai acabar em Irajá Entre negaças frágeis e até comícios em SP, o ex-ministro e deputado Ciro Gomes deu sinais visíveis de que se sentiu atraído pela ideia de uma área do PT paulista de transferir seu título para o São Paulo e concorrer à sucessão do governador José Serra. Há um petismo de peso empenhado nisso. Coisa de "aloprados" deve ter pensado o presidente Lula. As reações de outros petistas foram duras. Seria uma desmoralização para o PT de São Paulo, como salientou o deputado estadual Ruy Falcão em entrevista no domingo e insinuou ontem o prefeito de Osasco Emídio de Souza, ele mesmo um dos pré-candidatos do partido ao lugar de Serra. Ruy lembrou ainda que aceitar isso é quase que confessar a derrota. A candidatura de Ciro Gomes entre outras coisas nasceu para assustar ou dividir os tucanos em seu principal território. Na realidade, está causando mais reboliço na nação petista. Incrível a capacidade que têm alguns petistas de complicar suas próprias vidas. Quanto a Ciro Gomes está na cara que ele piscou, vacilou. É um político em busca de algum espaço, um governo estadual, uma vice-presidência, o que der e vier. Novilíngua política Com a orientação profissional do então ministro da Justiça Márcio Tomaz Bastos, que traçou toda a estratégia de defesa do Palácio do Planalto e dos aliados no caso do mensalão, o então tesoureiro do PT, Delúbio Soares, deu curso à expressão "recursos não contabilizados" para explicar o "caixa dois" da aliança governista, alimentado em parte com dinheiro público. Fez escola ! Para tentar dar foros menos notórios aos "atos secretos" que inundaram o Senado de ilegalidades e outros tais, os operadores da Casa ora tratam tais atos como "falta de formalidade essencial", ora de "atos com negação de publicidade". O rótulo, porém, não encobre nada. Igualzinho ao PT. Confete e serpentina Nem o socorro de Lula, direto do Casaquistão, conseguiu e conseguira conter a sangria ética do Senado e do senador José Sarney. Só há uma saída : uma limpeza completa na Casa. Aliás, nas duas Casas Legislativas. Na Câmara também, porque muitos dos vícios de um são replicados na outra. Sobre a indesculpável declaração (pelos termos em que foi feita) que Lula fez de Sarney é muito simples entender e a explicação atende por um nome, uma sigla e uma data : Dilma, PMDB, 2010. Tudo o mais é confete e serpentina. O carnaval eleitoral já está no sambódromo político e nenhuma alegoria será montada sem levar os três em consideração. Nem na ala dos economistas. Já pensaram nisto ? Sarney é fruto da ditadura. Sem ela, talvez não existisse politicamente. Nem tivesse se servido dela para se tornar mais rico e politicamente influente. Lula é fruto da ditadura. Aquelas greves do ABC no final dos 70 e início dos 80 se tornaram políticas porque havia um general de plantão no Planalto. Talvez Lula não existisse politicamente. Hoje eles são farinha do mesmo saco. Não são "qualquer um".
terça-feira, 16 de junho de 2009

Política & Economia NA REAL n° 56

  PIB, uma boa surpresa A grande surpresa da semana passada foi a divulgação do PIB. A queda de menos de 2% indicou que as políticas de estímulo fiscal à demanda por parte do governo funcionaram. Adicionalmente, o bom desempenho do setor de serviços e o bom nível de consumo das famílias também foram fatos positivos. Tudo isto num ambiente em que o BC ainda não tinha feito a sua parte na rapidez necessária. A pergunta que fica é : este número nos levará a um PIB mais positivo que o esperado em 2009 e no próximo ano ? O mercado estima um número de crescimento próximo de zero para este ano e de 3,5% no ano que vem. Ambos factíveis. Todavia, sejamos objetivos : as expectativas serão comandadas pelo desempenho das principais economias mundiais. Será a recuperação destas que alavancará os preços dos produtos primários e mudará as expectativas de setores industriais (que apresentou um resultado ruim no 1º trimestre), tais como o metalúrgico e o siderúrgico nos quais a ociosidade é monumental. Uma coisa é certa : a recuperação virá via consumo. A taxa de investimento permanecerá sofrível. Aqui e lá fora. PIB - a observar : 1. O consumo (e o investimento) do governo colaborou também para o melhor resultado do PIB. Como será possível sustentar essa situação no médio e no longo prazo com o aumento das despesas públicas com o custeio da máquina pública ? 2. Como se comportará a renda do brasileiro (emprego e salários) ? Continuará crescendo ou o consumo passará a se basear cada vez mais no crediário, no endividamento ? PIB e eleições A leitura mais atenta indica que o PIB será o grande eleitor de 2009. Por mais que haja um índice de popularidade que é apenas do presidente, ela também oscila ao saber das "sensações" econômicas do eleitor. E nesse ponto a situação tem um grande trunfo : a renda do eleitor de renda mais baixa está mais ou menos isenta dos sabores da economia, pois o bolsa-família, o salário-mínimo e o rendimento das aposentadorias e pensões do INSS estarão cobertos de deterioração por decisões governamentais. É um público cativo de cerca de 40% do eleitorado.  G-8 pesa possibilidades Os números de crescimento dos países emergentes, inclusive o Brasil, foram bem melhores em comparação ao que era esperado há poucas semanas. O sistema financeiro internacional começa a dar sinais de estabilização e o consumo e taxa de emprego nos EUA estão iniciando um processo benigno. Na União Européia (27 países) a taxa de emprego caiu 1,2% no primeiro trimestre deste ano em comparação ao mesmo período do ano passado. Ainda não há no Velho Mundo sinais de estabilização. Pois bem : os países mais ricos do mundo reunidos neste fim de semana na Itália começam a pesar quando deixarão de dar estímulos fiscais para minimizar os efeitos da crise econômica atual. A preocupação é óbvia : todos sabem que há imensos déficits fiscais a serem controlados. Os ministros do G-8 pediram que o FMI pesquise e recomende estratégias para que tal controle possa ser feito dentro da forma mais concertada entre os países ricos. Isso é importante para não criar novos desequilíbrios entre os países mais desenvolvidos. A consequência de déficits fiscais tão elevados é evidente : as taxas de juros dos títulos de longo prazo (10 anos) dos Tesouros estão subindo em função dos temores dos investidores com a situação de crédito dos governos. A demanda por títulos dos EUA por parte de países como Rússia, China e outros emergentes está caindo. Nos EUA, a taxa de juros dos títulos de 10 anos está chegando aos 4% ao ano, enquanto a taxa básica permanece ao redor de zero. Até janeiro deste ano a taxa destes títulos era de 2,2% ao ano. Quem possuía um título destes perdeu 13% de valor deste então. A probabilidade maior é de que a taxa continue subindo ainda mais... Os investidores subestimam riscos fiscais No Brasil, pouco se discute e pouco se sabe qual é o custo fiscal que se está incorrendo para se estimular o consumo e o investimento. Sequer se tem consenso sobre prazos e custos do PAC. Todavia, sabe-se de duas coisas vitais : as despesas do governo estão crescendo na última década a um ritmo médio de cerca de duas vezes o crescimento do PIB e a taxa de investimento continua medíocre em função da baixa capacidade de investir do setor público. Tudo isto num ambiente político no qual nada se fez de relevante em termos de reformas. Nem a bancada do governo, seduzida por cargos e benefícios, e nem a da oposição, apavorada com a popularidade de Lula, cumprem o seu papel constitucional de fiscalizar e analisar o Orçamento. O Congresso está mergulhado em repetidas crises e não parece que irá sair delas com rapidez. O BC tem agido na direção certa na política monetária, mas com lentidão. Agora a taxa básica de juros está se aproximando de seu limite de baixa - quem sabe 9% ao ano. Diante de um cenário fiscal em deterioração no médio prazo, irão os investidores comprar títulos de longo prazo do Tesouro ? A taxa de juros dos títulos prefixados de janeiro com vencimento em janeiro de 2010 estão em 10,1% a.a. aproximadamente. Talvez muito baixa frente ao risco fiscal que o Brasil venha a apresentar no futuro. Ainda mais depois do ano eleitoral de 2010.  Radar "NA REAL" Estamos mantendo o cenário básico para o mercado financeiro. Não há novidades expressivas sobre o desempenho prospectivo dos diversos segmentos do mercado local e internacional. Como escrevemos nas notas acima, o grande risco do momento é o desempenho das taxas de juros dos títulos públicos dos países centrais e do Brasil em função das perspectivas dos déficits fiscais. De outro lado, prevalece uma maior calma no mercado. A volatilidade cai e a nas próximas semanas os mercados acionários devem continuar a "andar de lado". O mercado está mais seletivo e a espera de novas notícias. De toda a forma, o cenário é bem mais benigno. 12/6/9   TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹        - Pré-fixados NA estável alta  - Pós-Fixados NA queda/estável estável/alta Câmbio ²        - EURO 1,385 alta alta  - REAL 1,93 estável/alta alta Mercado Acionário        - Ibovespa 53.558,23 estável/queda alta  - S&P 500 946,21 estável alta  - NASDAQ 1.858,00 estável alta (1) - Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais)(2) - Em relação ao dólar norte-americanoNA - Não aplicável Sarney, um mal do Brasil José Sarney é daqueles males que permeiam a arena política brasileira das mais sofridas mazelas. Prócer do regime militar, presidente do partido que deu sustentação à ditadura, acabou compondo a chapa da Nova República e tomou conta do pedaço depois da morte de Tancredo. Fez um plano de estabilização que se perdeu na sua ambição de permanecer popular e não impor um ajuste fiscal necessário. Deixou o país na hiperinflação. Recolheu-se ao Senado via o Estado do Amapá eleito por um partido que já foi liderado por Ulysses Guimarães. Voltou a ser cortejado por FHC e presidiu o Senado mais duas vezes, uma delas agora. É o hábil rei da barganha política junto com o grupelho de Temer, Renan e Cia. limitada. Membro da ABL, onde participa de conversas regadas a chá e a rechonchudos bolinhos. Seus livros ? De qualidade literária duvidosa e cansativos versos e parágrafos. Agora está a nomear e exonerar secretamente (pode ?) netos e parentes. Meu Deus ! O homem tem vigor para tudo... Sarney é a cara do Congresso do país. Infelizmente. Tristemente. O que há de pior no país. Nem tudo ainda apareceu A última estatística oficiosa indicava, no fim da semana passada, que já passavam dos quinhentos os atos secretos expedidos no Senado nos últimos anos. Depois deste último fim de semana, já se falava em mais de mil. E quem conhece as entranhas da Casa presidida por Sarney diz que ainda não se viu nada. As "bisbilhotices" da imprensa ainda não chegaram à gráfica do Senado e nem ao Prodasen, o serviço de processamento de dados da Casa. E que serve também à Câmara.  Aliás, ainda não se descobriu nenhum caso de "ato secreto" na casa dos deputados. Será que os senadores não transferiram essa "tecnologia" aos colegas deputados ?  A quem interessa ? Alguns estão se perguntando de onde estão saindo as últimas informações que colocaram novamente em xeque o Senado e batem diretamente no senador Sarney. Descobrir isso pode ser útil para entender a guerra que se trava em Brasília e pode respingar na sucessão presidencial. Algumas hipóteses, sussurradas na capital da República : 1. Estaria partindo de Agaciel Maia e João Carlos Zoghbi, os funcionários graduados do Senado afastados por suspeita de irregularidades e ameaçados de virar bodes expiatórios de todas as inacreditáveis (porém reais) histórias de maus costumes protagonizadas na Casa. Seria uma forma de cobrar proteção, dizendo um pouquinho do que sabem e podem expor. 2. Estaria partindo de funcionários de carreira do Senado, que nunca fizeram parte dessas panelinhas e incomodados com a imagem de todos os servidores da casa. 3. Estaria sendo alimentado por fontes de confiança do governo, para atingir um pedaço do PMDB no Senado e afastar as veleidades de independência desse grupo em relação à CPI da Petrobras. Educação e gripe suína Enquanto Sarney, o acadêmico, lidera o Congresso Nacional, a "Folha de S.Paulo" publicou (mais uma vez) um estudo alarmante sobre a educação (analfabetismo) no país. Para os que não leram, fizemos um pequeno resumo : 1. Cerca de 90% dos analfabetos absolutos (14 milhões no Brasil) estão fora das salas de aula; 2. Em SP, apenas 4,5% dos jovens e adultos frequentam os cursos de alfabetização. No Brasil este número é ainda menor : 3,9%; 3. Há apenas dois anos do fim do prazo para a erradicação do analfabetismo, 10% da população acima de 15 anos (14 milhões) declaram que não conseguem ler um bilhete com meia dúzia de palavras; 4. Números oficiais mostram que 582 mil jovens e adultos são analfabetos na região metropolitana de SP. Portanto, esta região tem um em cada três analfabetos do total das regiões metropolitanas do país. Eis a cidade mais rica do país; 5. Das 645 cidades paulistas apenas 20% participam do programa governamental "Brasil Alfabetizado"; 6. A maior resistência para que jovens de 16 a 25 anos participem do programa de alfabetização se deve ao fator "vergonha". O trágico cenário da educação no Brasil é endêmico. Se fosse gripe suína assim seria o tratamento dispensado. Com direito a boletins diários sobre esta "doença". A educação é prioridade ? Este é o discurso oficial (aliás, não tem político que não infle os peitos quando se refere a isto). Lula e o ministro da área, Fernando Haddad, um técnico em busca de uma carreira política, não perdem a oportunidade de reiterar esta prioridade. Porém... Porém, está em fase final de tramitação no Congresso, faltando apenas uma votação, uma PEC que livra as verbas da área de educação do contingenciamento de 20% da desvinculação das receitas da União (DRU). Sobrariam anualmente cerca de R$ 5 bi a mais para serem aplicados no setor. Acontece que o ministério da Fazenda está pressionando a base governista para não votar o projeto. Precisa do dinheiro para pagar juros, pagar aumento dos funcionários federais e para obras do PAC, a maioria muito menos relevante do que acabar como analfabetismo no país e melhorar a educação pública nacional. Cada um tem a prioridade que sua formação e informação aconselham. Guido Mantega é professor universitário.  Acreditem Não levem mais na brincadeira - nem considerem algum erro de análise política - há possibilidade de o ex-ministro, ex-governador e atual deputado Ciro Gomes vir a disputar o governo de SP no ano que vem com o apoio e o entusiasmo do PT e de outros aliados - PC do B, PDT e anexos. Ciro é do PSB, em SP aliado a José Serra. O PMDB de Quércia é uma incógnita. Para o governo Lula, a candidatura Ciro teria duas serventias : 1. Afastaria o deputado cearense definitivamente da disputa presidencial. Até pouco tempo atrás Ciro era adepto da tese de que o governismo deveria ter dois candidatos à sucessão de Lula, como forma de forçar o segundo turno, evitando uma vitória dos oposicionistas (ele pensava em Serra) já na primeira rodada. Ciro também se apresentou em certa ocasião como um provável vice numa chapa comandada por Aécio Neves, quando ainda era muito forte a hipótese de o governador mineiro pular para o PMDB e sair candidato a Brasília com o apoio de Lula. 2. Ciro Gomes, com seu estilo agressivo, seria o grande mastim governista a morder os calcanhares do governador José Serra e dos tucanos, suas duas grandes obsessões. Alguns estrategistas dessa opção acreditam até que Serra poderia recuar em suas pretensões federais para não deixar a cidadela paulista cair no colo do petismo. As explicações devidas por Ciro Em política, tudo é possível. Há, porém, algumas questões a observar : 1. Ciro teria de passar boa parte da campanha explicando porque deseja governar um Estado que ele passou os últimos anos agredindo brutalmente, como responsável por todos os males econômicos e políticos do Brasil. 2. A escolha do "alienígena" Ciro Gomes (no partido e no Estado, embora tenha nascido em Pindamonhangaba) para disputar por ele o governo de SP, o petismo paulista confessa que não tem quadros no momento à altura da competição e admite publicamente um ano antes a possibilidade de uma derrota. Isso enfraquece o PT paulista, que hoje domina o PT nacional, em relação às outras seções estaduais. E se sabe que tanto no PT quanto no PSDB que o "paulistanismo" é muito criticado. Uma nova estratégia do PT Já não causa tanto estupor assim nos petistas a tese defendida por gente que sabe das coisas no partido que os dois objetivos principais do PT em 2010 devem ser, pela ordem : 1. Fazer o sucessor de Lula, de preferência com Dilma Roussef. Perder o governo federal seria um desastre para o partido, geraria inclusive sérios problemas de emprego por lá. 2. Fazer uma grande bancada na Câmara e no Senado, para evitar que o futuro presidente tenha de se submeter às tristes negociações que Lula tem sido obrigado a fazer com alguns parceiros. A força do PMDB despertou os petistas. Somente em terceiro lugar, guardadas algumas exceções, eleger o governador será prioritário. As chapas regionais serão usadas para garantir palanques para a dupla Dilma-Lula. O PT pode ceder o governo estadual para garantir, por exemplo, o Senado. É óbvio que haverá reações de muitos interessados estaduais. Mas Lula já soltou seus comissários para garantir o máximo de fidelidade possível. É o chamado centralismo democrático de volta. Não deixa de ser um lance audacioso e inteligente. Pergunta inocente Alguém por aí tem notícias da oposição e das propostas do PSDB, do DEM e do PPS para dar ao Brasil saídas alternativas para a crise ? Quem souber, por favor, envie-nos. Chão de estrelas A AmBev, a Camargo Corrêa, a Embraer, a Suez, a Nestlé, a OAS, a Odebrecht, a Oi e a Volkswagen, além do empresário Eike Batista, do Grupo EBX, que entrou com uma cota de R$ 1 milhão (como pessoa física), são os patrocinadores do filme "Lula, o filho do Brasil", com estréia prevista para o início do ano da "graça" eleitoral de 2010. Sem abatimentos permitidos pela Lei Rouanet ou do Audiovisual. Como se diz, com dinheiro próprio, ao vivo e em cores, sem incentivos fiscais. Os subscritores desta coluna, contumazes frequentadores de salas de cinema e observadores dos esforços dos cineastas brasileiros, não se lembram de terem assistido, nos últimos anos, nenhum filme produzido no Brasil que tenha tido uma plêiade de tal grandeza como seus apoiadores. Nem com todas as possibilidades de uso de incentivos fiscais. Alguns estão se "aventurando" pela primeira vez em investimentos em cinema. Tomara que gostem. A cultura nacional ficará muito grata se eles prosseguirem com esse mecenato, não somente no cinema como também em outras áreas da cultura.
terça-feira, 9 de junho de 2009

Política & Economia NA REAL n° 55

  Atividade econômica no Brasil O pior da crise já passou, conforme estamos a ressaltar nos últimos dois meses nesta coluna. Todavia, os números de atividade econômica, do PIB até os números de emprego, vão melhorar num ritmo relativamente lento. Afinal, a crise foi abundante e a recuperação nestes casos é gradual. Há ainda razões "estatísticas" a influir nos indicadores. As medidas de comparações entre períodos de 2009 e 2008 vão mostrar desempenhos medíocres. É o que ocorrerá com o PIB do primeiro trimestre (e semestre do ano), bem como ocorreu com o emprego industrial na pesquisa do IBGE : a taxa de emprego caiu em todas as 14 regiões metropolitanas pesquisadas (-5,6%) e 16 dos 18 setores industriais pesquisados apresentaram queda da taxa de emprego. A veloz queda da atividade a partir do terceiro trimestre do ano passado contribui para que estes números sejam expressivamente negativos. Todavia, a melhor medida para medir a temperatura da crise é o desempenho em relação ao mês ou trimestre anterior. Assim sendo, tanto os números de emprego quanto os de atividade econômica mostram melhora consistente nos períodos mais recentes. Conclusão : a crise não foi a "marolinha" tão comentada e nem será o desastre anunciado por tantos analistas de plantão. E mais importante : estamos numa fase de recuperação com sinais consistentes. Emprego nos EUA As observações da nota acima sobre a atividade econômica brasileira são as mesmas, do ponto de vista conceitual, para o que está a ocorrer nos EUA. Os números de empregos divulgados na semana passada mostram a maior taxa desde 1983, 9,4% da mão-de-obra. De outro lado, há sinais de moderação da deterioração : a perda de empregos no mês de maio foi de 345 mil, bem menor que os números esperados pelos analistas (500 mil). A queda do emprego deve continuar por mais alguns meses. A taxa de desemprego deve alcançar o patamar de 10% da força de trabalho. Todavia, se olharmos os indicadores gerais de atividade (produção industrial, consumo, desempenho do segmento de serviços, etc.), bem como a melhoria substantiva no ambiente do mercado financeiro, há razões para acreditar que o pior também já passou nos EUA. É obvio que os sinais lá são mais prematuros e podem mudar a tendência. Mas apostar no pior é arriscado. Escolas, aeroportos, parques nacionais, estradas... Os números de emprego de maior, embora melhores que o esperado, provocaram a reação da Casa Branca. O anúncio do plano de gastos de US$ 787 bilhões para reformar escolas, estradas, etc. e tal é uma boa notícia no campo da criação de demanda (e de emprego). Trata-se de um plano de seis meses atrás que ainda não tinha sido implementado em função de problemas burocráticos e de trâmite no Legislativo.  COPOM O mercado acredita na queda de 0,75% na Selic a ser divulgada amanhã. Enfim, o Brasil terá uma taxa de juros de um dígito (9,5% ao ano). As previsões dos analistas é que a taxa Selic deve fechar o ano em 9%. Os títulos com taxas de juros prefixadas estão com taxas acima de 10% e devem continuar pagando juros mais altos que a Selic. Afinal, ninguém acredita que a taxa de curto prazo vá cair muito mais e a inflação futura pode ser mais alta. Logo, maior prazo deve implicar em mais juros. Na opinião desta coluna, é possível, senão provável, que o mercado financeiro esteja a subestimar os riscos ficais do Brasil. Se é certo que a expansão monetária e fiscal é fundamental para que exista recuperação da atividade econômica, é muito incerto que o governo no futuro, especialmente num ano eleitoral, seja mais parcimonioso e contenha os gastos governamentais. Esta desconfiança não ocorre somente no Brasil, mas nos EUA e na Europa. Não é à toa que os juros dos títulos de prazo mais longos estão com tendência de alta e são cotados a taxa de 3,80%, muito acima da taxa básica, próxima de zero. A lei dos salários dos servidores O diligente ministro Paulo Bernardo, do Planejamento, tem feito malabarismos verbais para explicar o aumento que os números apontam nos gastos de pessoal do governo federal, muito acima do crescimento da inflação. Faz lembrar o dramaturgo Nélson Rodrigues, reagindo quando confrontado em suas análises futebolísticas com o mundo real com um "ora, bolas para os fatos" ou "o videotape é burro". Seria tão simples o governo acabar com esta discussão e mostrar que está mesmo disposto a conter a expansão real das despesas com a folha de pagamento : basta apoiar a PEC, do próprio governo, que limita o crescimento dos gastos com pessoal, anualmente, a um percentual correspondente à inflação do período mais 1,5%. Esta proposta chegou a ser apresentada como moeda de troca à oposição no Senado quando da votação da prorrogação da CPMF no fim de 2007. Como os oposicionistas, desconfiados, não aceitaram, e com a colaboração de aliados do governo derrotaram o imposto do cheque, ela foi estrategicamente relegada a alguma gaveta. É uma ótima ocasião para Bernardo ressuscitá-la e liberar mais recursos públicos para as políticas anticíclicas. Pena que certos tipos de austeridade fiscal não combinem com determinados ciclos eleitorais. Radar "NA REAL" A importante novidade no mercado financeiro mundial foi a maior demanda por ações de empresas industriais nos EUA. Assim sendo, o índice S&P500 andou à frente dos outros indicadores dos mercados acionários mundiais. Este melhor desempenho se deve a maior confiança na recuperação da atividade econômica nos meses vindouros. É um excelente sinal. Mesmo que ainda seja um movimento inicial e que possa ser revertido. O nosso radar persiste com projeções mais otimistas. 3/6/9   TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹        - Pré-fixados NA estável estável/alta  - Pós-Fixados NA queda estável/alta Câmbio ²        - EURO 1,387 alta alta  - REAL 1,97 estável/alta alta Mercado Acionário        - Ibovespa 53.341,01 estável/queda alta  - S&P 500 940,09 estável alta  - NASDAQ 1.849,42 estável alta (1) - Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais)(2) - Em relação ao dólar norte-americanoNA - Não aplicável Para elucubrações eleitorais A notícia : os eleitores dos 27 países da UE, tendo como pano de fundo a crise econômica global, consagraram a direita na escolha do novo Parlamento do bloco. Nos principais países, os conservadores venceram nas urnas, em meio a uma abstenção recorde. A vantagem das siglas ligadas ao Partido Popular Europeu sobre os socialistas se amplia na Alemanha, França, Grã-Bretanha, Itália e Espanha. Para governo e oposição observarem : 1. Em épocas de dificuldades, os eleitores tendem a não se arriscar e a buscar posições menos ousadas, daí a identificação de votos com a direita, tradicionalmente identificada com posições mais conservadoras. 2. Dependendo dos efeitos da crise - e na Europa ela está chegando brava, na ponta mais sensível do emprego - o voto está dirigindo em direção contrária à dos governos instalados. As agruras por que passa Gordon Brown, na Inglaterra, são sintomáticas. Lá a situação está mais grave no continente, exceção da Espanha, com um desemprego astronômico. E há menos de cinco meses o primeiro ministro inglês era apontado como o dirigente mundial que melhor havia entendido a crise. Birutas de aeroporto Com a retomada do prestígio de Lula pouco mais de seis meses do início da crise internacional, da chegada da "ex-marolinha" ao Brasil e com a ascensão da ministra Dilma nas pesquisas eleitorais, a oposição não perdeu apenas o norte político-eleitoral, mas também o sul, o leste e o oeste. Está tal qual biruta de aeroporto em dias de ventos muito fortes. Não tem ideias, não tem propostas, não tem o que dizer. A maior prova da perplexidade e do atarantamento dos oposicionistas é a proposta exótica de emenda constitucional de um deputado tucano proibindo a privatização da Petrobras. É sem sentido, a questão não está em jogo. É uma provocação do PT que os oposicionistas engoliram. Será que eles não têm nada de novo a apresentar em matéria de política tributária e outras tais, para serem imediatamente discutidas no Congresso ? E sobre emprego ? Se não têm agora, o que vão dizer na campanha ? No ar, mais três estatais O governo Lula prepara, para breve, a criação de mais três estatais. Na verdade, a criação de duas e a reativação de uma. A moribunda Telebrás, em lento processo de liquidação desde a privatização das telecomunicações, está sendo revivida. Ganhou, este ano, um reforço orçamentário. E, há dias, a Casa Civil da ministra Dilma encaminhou um pedido à Anatel de devolução de 50 funcionários (15 engenheiros) da Telebrás que estavam cedidos à agência. Esvazia-se a agência reguladora e se reforça o poder de intervenção do governo. A Telebrás vai ser usada principalmente para ação em novas mídias, como a Internet. Até o fim do mês ficaremos conhecendo os detalhes de como será a empresa - totalmente estatal - que vai cuidar dos negócios do pré-sal, os quais o governo não pretende entregar à Petrobras. Falta explicar claramente por que razão as obrigações não ficarão com a atual estatal petrolífera - ela deverá ficar apenas com algumas vantagens, alguns privilégios. O governo não confia na Petrobras, empresa que ele está defendendo até os limites na CPI do Senado ? Não quer distribuir os lucros com os acionistas privados, que ajudaram a bancar os riscos dos investimentos em pesquisa. Por fim - mas não por último - nascerá uma empresa para coordenar o Projeto do Trem Bala (Campinas, São Paulo, Rio), novo xodó de Dilma no PAC. Será executado pela iniciativa privada, com financiamentos públicos e privados, para estar pronto na Copa de 14. Não é nada não é nada, teremos umas boas duas dúzias de diretorias (e três presidências) e pelo menos uma centena de gerências de bom nível a serem distribuídas, pelos mesmos critérios que marcaram as partilhas na Petrobras, na Eletrobrás, nas agências reguladoras. O que não é pouca coisa em um período de convulsão eleitoral. A política acima de tudo Basta acompanhar os últimos dados do currículo do engenheiro de carreira (há muito tempo afastado de suas funções técnicas específicas) da Petrobras, José Eduardo Dutra, para se ter uma ideia dos critérios que são adotados no preenchimento de cargos públicos atualmente no Brasil e a importância (do ponto de vista gerencial, de boa governança corporativa) que se atribui a eles. Veja-se : 1. Derrotado na corrida pelo governo de Sergipe em 2002, como candidato de seu partido, o PT, Dutra foi aquinhoado com nada mais nada menos do que a presidência da Petrobras. 2. Três anos e pouco depois, deixou um dos cargos executivos mais disputados no governo, mais valioso do que quase todos os ministérios, inclusive aquele ao qual a Petrobras está subordinada, o de Minas e Energia, para concorrer a uma vaga ao Senado pelo PT de seu Estado político (ele é mineiro, com formação profissional no Rio). 3. Derrotado novamente, ganhou novo prêmio de consolação, na figura da presidência da BR Distribuidora, a maior das subsidiárias da Petrobras. 4. Agora, dois anos depois de posto no novo emprego, Dutra anuncia que deverá sair em julho para disputar a presidência nacional do PT depois que Lula decidiu manter o secretário particular Gilberto de Carvalho a seu lado. Não é difícil concluir : o partido e a política são muito mais considerados do que a Petrobras. Ela é um ancoradouro temporário, enquanto não se encontra coisa "melhor". As outras atividades da Petrobras Ao que parece, pelo que se pode depreender de dois detalhes, a estatal não é mais apenas uma empresa de petróleo e energia de um modo geral : 1. Com mais de 1.100 pessoas na sua área de comunicações (fora serviços terceirizados de publicidade, de relações públicas, de assessoria de imprensa) é uma das maiores empresas de comunicação no Brasil e, seguramente, a maior redação do país.2. Com cerca de 650 advogados em seu departamento jurídico (sem contar as contratações de estudos e pareceres externos) seguramente é um dos grandes escritórios de advocacia do Brasil e do mundo. Lembra um pouco a Eletropaulo antes da privatização : tinha em seus quadros mais jornalistas e mais advogados (separadamente, não somados) do que engenheiros.   Surrealismo à brasileira Da série "Não é comigo" : O presidente Lula acaba de assinar um manifesto em defesa da Floresta Amazônica encabeçado por alguns artistas que, entre outras coisas, diz o seguinte : "Portanto, a nosso ver, como único procedimento cabível para desacelerar os efeitos quase irreversíveis da devastação, segundo o que determina o §4º, do Artigo 225 da Constituição Federal, onde se lê : "Assim, deve-se implementar em níveis Federal, Estadual e Municipal a interrupção imediata do desmatamento da floresta amazônica. Já!" O manifesto é um ataque à falta de ações dos governos. Se Lula assinou, sendo presidente da República, Deus acuda a Amazônia. E nos acuda. Janela mais que indiscreta Quem disse que a reforma política à moda da casa está totalmente enterrada ? Não acreditem. Está agora nas mãos do deputado Flavio Dino (PC do B) apresentar a toque de caixa sugestões de alteração na legislação eleitoral. Algumas positivas, com a liberação do uso da internet nas campanhas. Outras, nem tanto, como as que visam conter a ação e a vigilância da Justiça Eleitoral. Não está descartada também a criação da chamada "janela da infidelidade".
terça-feira, 2 de junho de 2009

Política & Economia NA REAL n° 54

Segurança e risco da Petrobrás na CPI Um funcionário aposentado da Petrobras, desses apaixonados pela companhia e que chegou a ocupar cargos na diretoria por seus exclusivos méritos, tem uma explicação muito simples para a estatal estar agora ocupando espaços na imprensa por outras razões que não apenas por sua eficiência. E por que isso foi bater numa CPI que, segundo sua ótica, tem ingredientes explosivos que, se detonados, podem não ser de todos maléficos para a empresa, pois a ajudariam a retomar os rumos anteriores, quando quase não aparecia no chamado noticiário político-policial. Eis as razões que tornaram a Petrobras vulnerável : A Petrobras sempre teve um quadro funcional altamente qualificado, profundamente identificado com a companhia e que a protegia das investidas mais desastrosas do mundo político. Entidades como a AEPET (Associação dos Engenheiros da Petrobras) e a Federação Única dos Trabalhadores (FUP), embora altamente politizadas, ajudavam a servir de anteparos contra ações menos ortodoxas na companhia. Esses anteparos foram praticamente quebrados com : a cooptação da AEPET e da FUP e a ascensão de empregados com forte ação sindical e política aos postos de comando na empresa e a uma generosa política social e trabalhista adotada nos últimos anos. o crescimento vertiginoso do quadro funcional da empresa, com a incorporação de pessoas menos comprometidas com o antigo espírito da Petrobras. Isso tornou os controles internos informais menos rígidos. E naturalmente ajudará à diretoria comandada por José Sergio Gabrielli a manter uma blindagem razoável contra as investidas da CPI. Mas há também um risco : o que restou do "antigo espírito da Petrobras" em nome da preservação da imagem da empresa pode, discretamente, alimentar a oposição. Quem vai comandar a CPI Até o fim da tarde desta terça-feira deverão estar escolhidos os nomes do presidente e do relator da CPI da Petrobras e da ANP. Os nomes oficiais. Pois, de fato, a CPI já esta sendo "presidida" pelo senador Renan e seu "relator" é o senador Calheiros, também peemedebista de Alagoas. São os dois (maldosos dizem que se trata de uma única pessoa) que falam do caso com o presidente Lula, com a oposição, com o PT e com os outros aliados. Por que o governo fala em CPI eleitoreira ? Para lembrar : preside o Conselho de Administração da Petrobras a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Roussef. Normalmente, o lugar é ocupado pelo ministro de Minas e Energia, atualmente o senador licenciado Edison Lobão. Dilma mudou de Ministério, mas levou a Petrobras junto. Se arrependimento matasse Há quase dois anos o PT ajudou, de modo decisivo, a salvar o mandato do senador Renan Calheiros. O que o PMDB quer, de fato. A piada é boa, contudo, por razões óbvias, ninguém quis reivindicar o pagamento de direito autoral. Segundo se diz em Brasília, "para ser o fiel da balança, primeiro o PMDB precisará ser fiel". A realidade, porém é outra ; com o PT, o PSDB ou quem quer que seja no poder em 2011, o desejo do PMDB é continuar sendo "o infiel da balança", aquele que todos cortejam e a todos cede um pouquinho, sem ceder tudo, porém. E para continuar sendo cortejado como é hoje ou até mais, o importante para o partido, que um dia já foi comandado pelo Dr. Ulysses, é manter grandes bancadas na Câmara e no Senado e comandos importantes nos Estados e nas assembleias legislativas. Daí as pressões para que o PT ceda a ele a cabeça de chapa em vários Estados. É o preço que Lula está cobrando do PT em nome de Dilma. Petistas mais atilados, porém, já entenderam a estratégia do PMDB e também querem reforçar seu poder regional e aumentar suas representações na Câmara e no Senado. Em maio, tendências mais positivas foram confirmadas De uma forma geral, o fechamento do mês de maio confirmou as principais tendências econômicas e do mercado financeiro. Vejamos. Há sinais consistentes, mesmo que iniciais, de que a recuperação econômica na economia norte-americana tenha se iniciado. Não é possível ser categórico na crença de que este processo será contínuo, mas há grandes chances de que o seja. Por duas razões básicas : o movimento de ajuste de estoques está se encerrando e as expectativas sobre o futuro começam a dar sinais mais vigorosos. Difícil mesmo é afirmar o patamar da atividade econômica dos EUA. Este será fator decisivo para a demanda mundial. Do lado europeu, a coisa é mais sofrível. Há uma disparidade muito grande entre o desempenho dos países : Alemanha e França estão mostrando sinais melhores, Itália e Espanha estão atoladas nas suas mazelas de crédito. A Inglaterra terá de lutar mais no campo financeiro num cenário de desvalorização da Libra e dificuldades para financiar o Tesouro com base em taxas de juros baixas. Os riscos presentes Na edição passada desta coluna fizemos o alerta de que as variações nas taxas de juros de longo prazo dos títulos dos governos dos principais países desenvolvidos e os consequentes efeitos sobre as moedas são os riscos mais perigosos no momento. Durante a semana, pudemos verificar que estes riscos se manifestaram : o dólar continuou a perder valor em relação a quase todas as moedas relevantes mundiais e as emissões crescentes de títulos do Tesouro norte-americano assustaram o mercado financeiro mundial. Resultado : a taxa de juros dos títulos de 10 anos bateu o patamar mais elevado desde setembro de 2008, antes da crise bancária se tornar mais aguda. Estes riscos permanecem na cabeça dos investidores e os policy makers tem uma difícil equação para solucionar. Tudo isto deve durar meses. Real forte acende debates Dentro da atual configuração de política econômica, com câmbio flutuante, política monetária com metas de inflação e fluxos de capitais liberados há pouco para se comentar e a se fazer em relação à valorização da moeda brasileira. A tendência estrutural é que o Real se valorize mesmo. De novo, a alta volatilidade da moeda brasileira vai causar problemas de todos os lados : exportadores criticam a valorização, importadores agradecem a Deus, o setor financeiro assiste a tudo feliz pelo retorno da normalidade ao mercado cambial e o presidente do BC volta a ficar na berlinda dentro do governo. Há neste tema, assim como na política monetária, a Fazenda, o BC, o BNDES e alguns economistas de dentro do governo debatendo abertamente a questão. E não falam a mesma língua. O presidente Lula parece estimular este debate "público". Busca consenso quem sabe, mas o que se vê é uma confusão considerável. Fala-se e desmente-se a tributação sobre capitais como se o assunto fosse daqueles discutidos nas feijoadas de sábado. A única coisa que se pode afirmar é que este falatório não retirará do mercado a tendência de fragilização do dólar. Nem mesmo se "o cara" ligar para Obama e lhe aplicar um carão. Radar "NA REAL" A nossa visão mais otimista em relação ao mercado permanece intacta, mesmo com os riscos apontados nas notas acima. O mercado financeiro mundial está se tornando mais seletivo. Provavelmente teremos menos turbulências e movimentos bruscos para cima e para baixo. A volatilidade cai, mas ainda permanecerá num patamar elevado. O pior já passou, mas o melhor ainda não pode ser qualificado. 29/5/9 TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA estável estável/alta - Pós-Fixados NA queda estável/alta Câmbio ² - EURO 1,4158 alta alta - REAL 1,97 estável/alta alta Mercado Acionário - Ibovespa 53.197,73 estável/queda alta - S&P 500 919,14 estável/queda estável - NASDAQ 1.774,33 estável/alta alta (1) - Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais)(2) - Em relação ao dólar norte-americanoNA - Não aplicável Petróleo em alta, um bom sinal Não é apenas o petróleo que sobe. As commodities estão dando sinais de alta e isto é muito bom para o Brasil, que vende mais "coisa da terra e da água" que tecnologia e produtos manufaturados de maior valor agregado e conteúdo sofisticado. A OPEP se apressou para dizer que a coisa melhorou e, por enquanto, não eleva e nem reduz os volumes produzidos pelos países pertencentes ao bloco. O barril aponta na direção de US$ 70 a unidade, estimulado pela maior confiança nos países ricos e, de novo, pelo aumento da demanda da China. Aliás, a China e a Índia devem voltar a ser os principais destaques na criação de demanda mundial. Neste contexto, o Brasil tem muito a ganhar e há de ser favorecido por esta conjuntura. Deve ser algo duradouro e não passageiro. Duro mesmo vai ser aguentar as renovadas bravatas dos populistas latino-americanos, liderados pelo grande timoneiro Hugo Chávez que vive sentado no petróleo do país. A especulação "suína" Convenhamos : a gripe suína foi uma especulação tão grande quanto a onda financeira da última década. Apesar de ser justificado o alerta permanente da OMS em relação à doença, havemos de reconhecer que a credibilidade das previsões da instituição em relação às suas previsões está abalada. Não houve nem epidemia e nem pandemia. As políticas de contenção da gripe não foram tão eficientes a ponto de justificar a contenção do espalhamento da doença. Há algo de errado nas profecias proferidas pelo lado da ONU. Em tempo : na última sexta-feira foi anunciado o 15º caso da gripe suína no país. Quantas pessoas morreram de gripe ? Aquela tradicional... PAC, um novo balanço Amanhã, no Palácio do Itamaraty, Dilma vai fazer um balanço do PAC. Será o 7º. Será também um teste para a capacidade gerencial do governo no que tange a concepção e execução do programa. Num contexto de fraqueza de atividade econômica faz todo o sentido que o governo estimule a demanda via investimentos. Todavia, é preciso que se use o rigor - do Congresso ao TCU - para verificar a eficiência das políticas, bem como a boa gestão financeira, dentro da ética e da lei. Um aspecto preocupante do PAC é a sua relativa incapacidade de produzir substantivos resultados políticos. Se há dúvida sobre a eficiência econômica do programa - embora haja legítima motivação - do lado político a produção de fatos não ficou na cabeça dos cidadãos (e eleitores). Dilma tem mais uma chance de se mostrar perante o distinto público. Levantamento feito pelo site "Contas Abertas" e divulgado na semana passada, com base em dados oficiais, revelou que nos dois primeiros anos do PAC apenas 3% das obras previstas no programa foram efetivamente concluídas. O ministro Paulo Bernardo apressou-se em explicar que houve problemas nos Estados e Municípios. Vamos aguardar para ver o que as transparências da ministra-candidata mostrarão. As oposições se prepararam desta vez para contestá-la com mais fatos objetivos. Quem apresentará a versão mais charmosa e mais convincente ? É eleitoreiro ? Providências que o governo adotou nos últimos dias para acelerar as obras de "aceleração do crescimento" : 1. Vai pagar um abono salarial aos funcionários do DNIT por desempenho na execução de obras do órgão incluídas no programa. Será pago um único abono e apenas para obras do PAC; 2. Vai ser aberta uma linha especial de crédito de R$ 5 bilhões apenas para as empreiteiras que têm obras do programa; 3. A LDO de 2010 isentará os municípios de aplicar contrapartidas com verbas próprias em obras do PAC. Brasília bancará tudo. Estados e Municípios também poderão receber repasses de recursos da União, mesmo que suas contas não estejam atualizadas. Minc, o outro lado do PAC A atuação do ministro do Meio Ambiente Carlos Minc é sabidamente polêmica. Dos seus coletes coloridos até o seu falatório grosseiro tudo é muito espalhafatoso. O ministro tenta estabelecer uma barreira para os avanços do PAC sobre áreas de preservação. Conversou "longamente" (45 minutos) com o presidente na semana passada e se disse prestigiado depois de dar sinais iniciais de que não tinha mais sustentação dentro do governo. Sobretudo, no que se refere à pavimentação de trechos da BR-319, que liga Manaus a Porto Velho, e à hidrelétrica no Rio Araguaia, o ministro deseja ver a reação do pessoal do PAC às suas investidas. Sem trocadilhos. Não se iludam Está enganado quem pensa que a reforma política está definitivamente encerrada. Não se desistiu, ainda : 1. De criar a "janela da infidelidade" para permitir o troca-troca de partidos. A nova sugestão é reduzir de um ano para seis meses o prazo de filiação partidária e, conjuntamente, abrandar a interpretação dada pelo TSE e confirmada pelo STF sobre o real detentor do mandato parlamentar. À moda brasiliense, durante um determinado período, o mandato seria do parlamentar e não do partido e ele então poderia trocar de legenda. Depois o partido retomaria a titularidade, até nova "janela". 2. Do financiamento público de campanha, agora com a ampliação do fundo partidário, ao preço de R$ 10 por eleitor (divididos em R$ 7 para o primeiro turno e R$ 3 para o segundo) a serem compartilhados pelas legendas, na proporção de 10% igualmente por todas as legendas e 90% proporcionalmente ao tamanho da cada um, com os maiores levando mais. Não se fala, porém, em formas de cercear (com punições pesadas) o "caixa 2", as sobras de campanha e os recursos não contabilizados. No embalo das pesquisas Com números diferentes, as três mais recentes pesquisas de opinião divulgadas nos últimos dias deram a mesma indicação : a ascensão da candidatura Dilma Roussef e queda nas intenções de votos de José Serra. A diferença entre os dois, naturalmente, reduziu-se, mas as indicações são as de que Serra ainda bateria Dilma se, como alertam os pesquisadores, "a eleição fosse hoje". O governo, como era de se esperar, exulta. A oposição, ao contrário, procura dar pouca importância aos dados, com a alegação principal de que Dilma não cresceu tanto apesar da superexposição recente. Quanto aos efeitos (positivos, como esperados pelo PT) dos problemas de saúde sobre a posição eleitoral da candidata de Lula, eles são contraditórios. As pesquisas registram uma certa simpatia por ela dada a situação, mas ao mesmo tempo demonstram as preocupações do eleitor quanto ao futuro. Há outros dados mais relevantes até para quem quer tentar ver melhor o futuro : - A popularidade de Lula voltou a crescer, naturalmente puxada pela melhora do clima depois do susto maior da crise. Sinal definitivo de que o voto será muito influenciado pelo ambiente econômico de 2010. - Como reconheceu em seu ex-blog o ex-prefeito César Maia, do DEM, há indícios de que Lula está transferindo votos para Dilma. Ainda muito menos do que o próprio e os petistas acham que ocorrerá, mas a ponto de preocupar a oposição. - Há um empate técnico (pequena diferença para o não) entre os que são contra a re-reeleição e os que defendem o Lula Três. - Numa das sondagens, com escolha espontânea, o nome de Lula é o que aparece mais cotado entre os eleitores como candidato em que eles votariam. - A questão da saúde do candidato é um dado relevante, crucial talvez. - Há muito sobre o que meditar - e especular. O quadro não está consolidado, embora pareça encaminhado. Há sempre um "sobrenatural de Almeida" (de Nélson Rodrigues) à espreita. Relembrando a luta pela liberdade Amanhã, dia 3/6/09, será comemorado o vigésimo aniversário dos protestos de intelectuais e estudantes chineses contra a ditadura comunista no país. Até hoje não se sabe quantas pessoas foram presas, feridas ou mortas naqueles dias. A ditadura chinesa faz silêncio sobre o assunto. De lá para cá, a China passou a ser a queridinha dos investidores internacionais e "modelo" para muitos intelectuais terceiro-mundistas. Enquanto isto, na China os protestos atuais se tornaram mais permanentes e abarcam mais segmentos sociais, de pobres a intelectuais. Num regime que mistura certa liberdade econômica (vigiada) com falta de liberdade civil, religiosa e política. Um regime de fazer inveja a muitos Chávez espalhados pelo mundo.
terça-feira, 26 de maio de 2009

Política & Economia NA REAL n° 53

Juros nos países ricos, uma equação difícil A superação da atual crise econômica mundial passa necessariamente pela disponibilização de recursos públicos para cobrir os imensos prejuízos do sistema financeiro e para sustentar a demanda cadente do setor privado. Estamos no início do processo de recuperação da atividade econômica sem que saibamos ainda quanto tempo será necessário, bem como em que intensidade a "nova" demanda se consolidará. O problema deste processo é que os agentes econômicos, sobretudo nos países centrais, passam a desconfiar da sustentação fiscal dos governos no médio e longo prazo. A inflação pode retornar e o aumento futuro da tributação para minorar os déficits fiscais depende da fortaleza política dos governos. Há uma difícil equação a ser resolvida : quando, como e quanto aumentar os juros sem prejudicar a atividade econômica em recuperação. Na dúvida, os investidores estão demandando menos títulos do governo e exigindo mais retorno (taxa de juros) para emprestar recursos para o setor público. Pelas razões acima, a taxa de juros dos títulos do Tesouro norte-americano engatou um processo de alta desde março último quando as expectativas sobre a atividade econômica melhoraram. Os títulos de 10 anos passaram do patamar de 2,50%-2,60% ao ano para o atual nível de 3,45% ao ano. Para cada 1% de alta na taxa de juros o valor de face dos títulos do Tesouro (que são prefixados) se desvalorizou ao redor de 7,5%. Portanto, se a taxa de juros subir rapidamente, os detentores de títulos perdem dinheiro em igual velocidade. Os investidores que antes se protegeram comprando títulos do governo agora passam a temer os prejuízos. Não é à toa que os leilões de títulos dos governos norte-americano e inglês - dois dos mais endividados do mundo - tem demanda decrescente. Note-se que a taxa de juros básica é controlada pelos bancos centrais, mas a taxa de juros dos títulos depende do comportamento do mercado. A tendência da taxa de juros dos títulos de 5 e 10 anos de prazo do Tesouro dos EUA e da maioria dos países mais ricos é de alta. Este processo é muito relevante e deve ser acompanhado, pois pode gerar turbulência no exato momento em que o mercado espera calma para se recompor. As moedas responderão às taxas de juros Os movimentos nas taxas de juros dos títulos dos tesouros nacionais das principais economias mundiais há de provocar flutuações no valor das moedas. Muitos acreditam numa sistemática desvalorização do dólar norte-americano frente ao euro e em relação às moedas dos países emergentes. Ocorre que estas possíveis flutuações provocam variações expressivas nos fluxos de capital e de comércio e, portanto, têm relação direta com a atividade econômica. É possível que as políticas econômicas de cada país tentem "compensar" via taxa de juros ou, até mesmo, protecionismo comercial, os efeitos dos movimentos entre as moedas. Trata-se de um processo perigoso e inquietante e que tem deixado as autoridades econômicas dos países centrais em alerta. A volatilidade entre as moedas se elevará nos próximos meses. Isto é muito provável. As consequências deste processo dependerão do grau e da velocidade das desvalorizações entre as moedas. O Brasil em meio às variações de juros e moedas O Brasil está mais incólume à crise externa. Todavia, sabemos que não está imune, mesmo sendo um país de economia relativamente fechada. No que tange às prováveis variações nas taxas de juros dos títulos dos tesouros dos países mais ricos e aos prováveis efeitos sobre as moedas, o Brasil deve ser mais afetado em relação ao atual cenário, mesmo que no médio prazo. Afinal, o país é demandante de capital externo e o resultado da balança de comércio é vital para a manutenção da estabilidade da moeda. Há dois agravantes sérios frente aos riscos deste processo : o primeiro diz respeito ao processo eleitoral do ano vindouro. Eleições aumentam o risco em qualquer país, pois trazem inquietações sobre futuras ações do novo governo. Lembremo-nos que o BC também vai mudar de diretoria, provavelmente antes das eleições. O segundo e mais importante problema é a deterioração fiscal que o governo vem construindo ao longo do tempo : a arrecadação cresce em função da atividade econômica, mas as despesas do governo têm crescido na última década acima da arrecadação e num cenário de baixo investimento do setor público. Neste contexto, o espaço para redução ainda maior dos juros no médio prazo está diminuindo sensivelmente. O que gerará efeitos econômicos e políticos significativos. Radar "NA REAL" 22/5/9 TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo (0 a 6 meses) Médio Prazo (6 a 12 meses) Juros ¹ - Pré-fixados NA estável Estável/Alta - Pós-Fixados NA queda Estável/Alta Câmbio ² - EURO 1,3998 alta alta - REAL 2,02 estável alta Mercado Acionário - Ibovespa 50.568,49 queda alta - S&P 500 887,00 estável/queda estável - NASDAQ 1.692,01 estável/queda alta (1) - Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais)(2) - Em relação ao dólar norte-americanoNA - Não aplicável CPI da Petrobras A inquietação na órbita do governo, dos governistas no Congresso (e alguns oposicionistas) e nas prestadoras de serviços junto à estatal de petróleo é grande. Dentre as maiores preocupações se destacam : a política "cultural" da empresa, os contratos de serviços nas plataformas (construção e manutenção) e as práticas contábeis e financeiras da empresa. Sem contar um financiamento para os usineiros. Há outro aspecto que pode gerar problemas políticos : o relacionamento entre a empresa e seu fundo de pensão. Todavia, a extensão dos interesses relacionados com o fundo de pensão dos funcionários da empresa é bem maior que aqueles que gravitam em torno do governo federal. Talvez neste ponto não exista muito interesse de se alongar nas análises. Por isso, onde se lê, em determinadas reportagens "o governo não está preocupado de fato com a CPI da Petrobras, teme apenas sua exploração político-eleitoreira", leia-se : "o governo está preocupadíssimo com a CPI da Petrobras, e não é por razões políticas ou eleitorais". Uma CPI de Gabrielli O presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, tem lá seus méritos na instalação da CPI que vai investigar ações da empresa. Irritou oposicionistas e governistas com (i) a sua pose e soberba e (ii) por estar tentando invadir territórios eleitorais demarcados na Bahia. E o PMDB nada ? Tudo. O presidente Lula e a ministra Dilma Roussef podem não dar ao PMDB de Renan a "diretoria que fura poço" da Petrobras em troca do bom comportamento do partido na CPI da empresa e da ANP. Até porque, nesta altura, seria escândalo demais. Mas o PMDB terá suas compensações, não duvidem. Afinal, o partido de Renan, Sarney e Temer tem três votos na Comissão que, somados aos três da oposição, formam maioria. Não dá para desprezá-los. O PMDB não atira a esmo. Mirou na "fura poços", mas vai acertar um bom brinde. A questão geográfica do Presidente Ontem Lula afirmou que "a tese de que era necessário alterar a geografia comercial mundial e não ficar somente na dependência dos EUA ou da União Européia (UE) deu certo. Os vendedores é que tem de sair, bater à porta dos outros e dizer que nós existimos e que temos produtos sofisticados, além das commodities (matérias-primas)". É certo que é do maior interesse do país diversificar a sua pauta de exportação, seja em produtos, seja em países. Todavia, há um limite neste processo. É igualmente essencial que o Brasil procure romper as barreiras comerciais com os países ricos. Afinal de contas, é nestes que está a grande parcela do mercado mundial, bem como a tecnologia necessária para que o país permaneça atualizado. A estratégia terceiro-mundista do Itamaraty faz sentido, mas tem limites que parecem superados. Voltar a se aproximar da União Européia e dos EUA é essencial. Sob pena de perdermos dinamismo externo no longo prazo. É eleitoreiro ? Julguem vocês leitores : o governo acaba de anunciar uma gratificação especial, por desempenho, a ser pago a um grupo de funcionários federais, "apenas uma vez", em junho de 2010. Na aparência, uma ótima medida, pois premia a eficiência. Alguns governos estaduais já fazem isso, como em Minas, em diversos setores, e em São Paulo, com os professores. No caso federal, no entanto, o mérito fica somente na aparência. A gratificação beneficiará apenas os funcionários do DNIT, em obras do PAC, aquele programa cuja mãe, salvo circunstâncias inesperadas, vai ser a candidata de Lula à sucessão. A sucessão e os compromissos políticos O deputado José Bonifácio - também conhecido como Zezinho, para não confundir com seu ancestral das glórias da Independência -, líder e "pau-para-toda-obra" no governo do general Geisel, costumava ensinar aos mais incautos que, "em política, todos os compromissos e determinações devem ser cumpridos, menos quando surgem o fato novo e o fato consumado". E é mais ou menos esta máxima que quase todos usam - as exceções são tão mínimas que nem contam - na base aliada em relação à sucessão presidencial. Dilma é a preferida e, em público, ninguém no governismo admite outra hipótese. Mas todas as hipóteses e possibilidades de planos B, C, D, etc. estão sendo analisadas e consideradas seriamente. Desde a escolha de um novo nome - Palocci voltou à berlinda, a ida de Aécio Neves para o PMDB, a retomada da candidatura de Ciro Gomes - até opções mais, digamos, "radicais" como o Lula Três ou uma coincidência geral de eleições em 2012, o que implicaria na prorrogação de todos os mandatos que vencem no ano que vem por mais dois anos. As duas ideias "radicais" já têm projetos prontos para serem apresentados. E qualquer afirmação de que não tem nada disso, de quem quer que seja, não deve ser tomada pelo seu valor de face. O teste pode ser uma proposta de reduzir de um ano para seis meses o prazo de filiação partidária. Na esteira disso tudo, pode vir uma redução total do prazo para a entrada em vigor de quaisquer modificações na lei eleitoral. Até a re-reeleição. O discurso de que isso fere a consciência cívica e jurídica da nação não penetra profundamente em nossa "consciência política". Valem mesmo são as circunstâncias e a oportunidade. Nosso jogo diplomático A diplomacia brasileira, com argumentos bem pouco convincentes, decidiu apoiar o egípcio Farouk Hosny para o cargo de secretário-geral da Unesco. Em detrimento do brasileiro Marcio Barbosa, atual secretrário-geral adjunto. Barbosa pode candidatar-se por outro país e tem chances de ganhar segundo alguns especialistas. Homem de sorte esse Barbosa não ter caído nas graças do governo brasileiro. Depois de ter perdido algumas disputas internacionais nos últimos anos - por exemplo, direção geral da OMC - o Brasil acaba de anotar mais um revés : a ministra Ellen Grace foi derrotada pelo mexicano Ricardo Ramirez. O lugar foi deixado no começo do ano pelo brasileiro Luís Olavo Baptista. Ramirez teve o apoio dos Estados Unidos e da China, entre outros. E olha que Lula acaba de voltar de uma visita aos chineses, cercado de grande cordialidade. Ou seja, amizade é amizade, negócios são à parte. Mulher de malandro O senador Cristovam Buarque foi demitido do ministério da Educação, no governo Lula Um, pelo telefone, quando estava em viagem pelo Exterior. Esperneou e, depois, aquietou-se. Às vezes tem alguns arroubos de independência, mas que logo passam. Pretendeu disputar também pelo Brasil a vaga de diretor-geral da Unesco. Foi ignorado pelo Itamaraty. Engoliu seco. Foi um dos signatários do pedido de convocação da CPI da Petrobras. Pressionado, retirou sua assinatura, sem muitas explicações convincentes. Não adiantou, porque a CPI acabou sendo instalada, sem seu nome. Dois dias depois recebeu a retribuição do governo : os líderes aliados mandaram cortar dez assinaturas do pedido liderado por ele de constituição de uma CPI destinada a investigar as causas da falência do ensino no Brasil. E a concorrência ? - 1 Já está visível a estratégia traçada pelos dirigentes da Brasil Foods para tentar convencer os órgãos de defesa da concorrência no Brasil que a concentração de mercado que a fusão da Sadia com a Perdigão inegavelmente provocará á apenas uma ilusão de ótica. As duas empresas estão realizando estudos para demonstrar que a produção "artesanal" de pizzas, salsichas, hambúrgueres e outros tais, a chamada economia informal, é tão poderosa que pode competir com a nova gigante dos alimentos no Brasil. O argumento foi desfiado por Luís Fernando Furlan e Nildemar Secches em uma entrevista com a jornalista Miriam Leitão. É tão pueril que não faz justiça ao talento empresarial dos dois. Vejamos se estes argumentos irão comover os membros do Cade e da Secretaria de Direito Econômico. E a concorrência ? - 2 O relato de um amigo desta coluna esta semana (e não foi o primeiro) a respeito das dificuldades que encontrou para transferir seu telefone celular de uma companhia para a outra, mostra, na prática o desinteresse das companhias de telefonia móvel de apoiar a tal portabilidade. Os empecilhos, os embaraços - podem ficar pasmos - não foram interpostos pela companhia que perderia o cliente - no caso a TIM - mas pela companhia que teria a vantagem de ganhar um novo assinante - a Vivo. Ao que tudo indica, elas não querem incentivos às trocas de companhias com a manutenção do mesmo número para não despertar os usuários. Não é sem razão que quase não divulgam essas possibilidades em suas campanhas publicitárias. Com os serviços que prestam e os preços que cobram, se o consumidor descobre...
terça-feira, 19 de maio de 2009

Política & Economia NA REAL n° 52

Terça-feira, 19 de maio de 2009 - nº 52 Governo opera bem as mudanças na caderneta de poupança Apesar dos justificados temores de que as mudanças no rendimento da caderneta de poupança pudessem provocar turbulência e desconfiança no mercado financeiro, o governo conseguiu executar uma eficiente alteração na forma de cálculo dos rendimentos. A utilização da tributação como forma de compatibilizar a rentabilidade da poupança comparativamente às outras aplicações nos parece adequada. Haverá quem prefira uma mudança na lei da caderneta de poupança, mas a estratégia do governo permite maior flexibilidade na execução da política monetária, embora prioritariamente tenha o governo buscado uma solução que não provocasse maior desgaste político. A flexibilidade em termos de política monetária se deve ao fato de que o BC e o governo poderão balizar as taxas de juros da caderneta de poupança e dos outros títulos públicos de forma a que se possa rolar a dívida pública em melhores condições que anteriormente quando o maior (e mais seguro) rendimento da poupança poderia atrair volumosos recursos do sistema financeiro dificultando o refinanciamento ("rolagem") da dívida pública. Ademais, o governo atingiu a nosso ver dois outros objetivos : (i) protegeu o pequeno poupador (91% do total de aplicadores) e (ii) fez uma mudança com tempo para ser percebida pelo público e, desta forma, evitar atropelos. E os dividendos políticos ? Não dá para saber, ainda, se o governo colherá frutos ou sofrerá desgastes políticos e eleitorais com a mudança na caderneta de poupança. É óbvio que o governo não foi mais fundo, com alguma alteração estrutural, porque temia - e teme - as consequências eleitorais. Assim, cercou-se de cuidados ao dizer que uma ínfima parte dos aplicadores serão atingidos. Não dá para saber porque as regras ainda não foram escritas, ou seja, não se sabe de fato como será a taxação da poupança, se haverá exceções, etc. Não se sabe também como será a redução dos impostos para os aplicadores em fundos de investimento. Vai ser uma batalha de comunicação. E o governo parece já estar perdendo o primeiro round quando a mídia já traz comentários do tipo : o governo taxa a poupança e reduz impostos dos bancos e dos grandes aplicadores. Há indicações que parte da base aliada do governo já pensa desse modo. Casa própria, uma incógnita Uma questão, a nosso ver mais vital e importante para o crescimento, diz respeito à casa própria. Nesta questão é que reside a problemática maior do processo de vez que a concessão do crédito imobiliário ainda é morosa e a recuperação dos créditos inadimplentes ainda mais crítico. Tudo isto dependeria de mudanças pontuais e bem estudadas no sistema. Também ajudaria a dar visibilidade maior para a consecução do projeto de "um milhão de casas" proposto pelo governo. Parece-nos improvável que a redução no rendimento da poupança em função da queda da taxa de juros e das alterações que serão introduzidas a partir do ano que vem possam implicar numa substancial queda no custo financeiro do crédito imobiliário. Para que isto acontecesse o spread bancário teria de cair mais abruptamente. Todavia, isto requer medidas de desburocratização para facilitar o crédito (sem estimular a concessão irresponsável de crédito), mudanças tributárias e, principalmente, uma legislação que puna o mau pagador e a instituição financeira que concede crédito sem as devidas garantias e verificações. Para que as mudanças na caderneta de poupança não sejam apenas uma necessidade "financeira" o governo tem de estimular e propor mudanças mais profundas no sistema. Aí temos um campo no qual a oposição teria espaço para exercer responsavelmente o seu papel. Parada técnica ? A recuperação das cotações dos ativos negociados no mercado financeiro mundial foi vigorosa nos últimos dois meses. Alguns exemplos : o rendimento do Índice Bovespa em dólares subiu aproximadamente 58% desde o ponto mais baixo ao final de fevereiro. O índice S&P500, das ações das 500 maiores empresas norte-americanas, subiu 29%. O índice NASDAQ, na maior parte composto por empresas de tecnologia também subiu 29%. Na última semana, os mais importantes índices de preços de ativos de renda fixa e variável apresentaram quedas. De uma forma geral a maioria dos investidores e analistas se tornou mais otimista. Há duas idéias genéricas, mas importantes, por detrás deste maior otimismo : (i) o pior já teria passado e, portanto, a recuperação econômica estaria sendo iniciada e (ii) os fluxos de capital estão menos estrangulados pela severa crise financeira mundial. Note-se o caso da Bovespa na qual o ingresso de recursos estrangeiros tem sido vigoroso nos últimos dois meses. Sempre é difícil confirmar expectativas dos investidores considerando-se a rapidez com que os mercados agem. Alguns indicadores de desempenho da economia européia e norte-americana mostraram que o consumo ainda está muito débil, apesar da melhoria na percepção dos consumidores - a intenção de compra destes vem melhorando seguidamente há três meses tanto na Europa como nos EUA e, até mesmo, no Japão. Estamos numa encruzilhada entre "expectativas" e "fatos". A nossa visão é de que os principais mercados mundiais e o brasileiro passarão por um ajuste, desta feita para baixo, no curto prazo - digamos, um mês. Todos estão à espera de mais indicadores que informem os agentes se as expectativas que têm se formado no mercado são justificadas. De toda a forma, uma última mensagem : se ainda não existem evidências de que a recuperação começou, também não dá para afirmar que a recessão vai se propagar ainda mais. A balança pende mais para um cenário mais otimista, mas a cautela vai prevalecer no curto prazo. Relembrando Na semana passada esta coluna fez várias notas sobre o desempenho estrutural e de curto prazo do mercado. Vale a pena lê-las, pois de muitas formas as nossas percepções sobre o mercado financeiro foram confirmadas durante a semana passada e os aspectos mais significativos apontados nas notas estão mantidos e refletidos no Radar "NA REAL". Radar "NA REAL" 15/5/9 TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo (0 a 6 meses) Médio Prazo (6 a 12 meses) Juros ¹ - Pré-fixados NA estável estável - Pós-Fixados NA queda estável Câmbio ² - EURO 1,351 alta alta - REAL 2,10 estável alta Mercado Acionário - Ibovespa 49.007,21 estável/queda alta - S&P 500 882,88 estável/queda estável - NASDAQ 1680,14 estável/queda alta (1) - Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais)(2) - Em relação ao dólar norte-americanoNA - Não aplicável Índia deve ser destaque entre emergentes O Primeiro-Ministro indiano Manmohan Singh ganhou um decisivo mandato para implementar políticas ainda mais sólidas e pró-mercado. A vitória nas eleições para o Parlamento indiano do Partido do Congresso foi expressiva e solidifica a aliança política governamental para implementar mais reformas econômicas, manter a inflação sob controle e abrir o mercado indiano para o investimento estrangeiro. Note-se que a Índia deve ser um dos únicos países emergentes, juntamente com a China, a apresentar crescimento econômico num cenário internacional em que todas as economias centrais estarão apresentando quedas substantivas na atividade econômica. Além disso, o país tem forte posição de reservas e não apresenta nenhum problema substantivo em seu sistema financeiro. Este ano a bolsa de valores indiana já subiu 38% e mais de 100% desde o ponto mais baixo no início de março. As apostas são de que a Índia pode ser a preferida dentre os investidores nos próximos doze meses, superando inclusive a China. CPI da Petrobras : a questão econômica Não resta dúvida de que um dos papéis mais significativos do Poder Legislativo é o de fiscalizar o Executivo. Este deveria ser um papel permanente e não ocasional. Uma CPI é uma formação excepcional para a execução deste papel legislativo e deve ser embasada em objetivos concretos. Do ponto de vista econômico, não somente a Petrobras, mas toda a questão energética merece atenção por parte dos legisladores. Afinal de contas, se trata de um dos maiores custos para a sociedade e seria muito importante, a bem do interesse público, saber, por exemplo, se a formação dos preços dos combustíveis atende às melhores práticas econômicas e sociais. Da mesma forma, é estratégico o conhecimento sobre a gestão da estatal do petróleo no que tange aos seus investimentos de curto, médio e longo prazo. A questão do pré-sal é vital neste tema. Há mais a ser analisado : os custos de prospecção, os acordos e contratos de longo prazo e a gestão das despesas de pessoal, além das políticas "culturais" e de publicidade da gigante estatal. Todavia, se é cristalina a necessidade de verificação, também é relevante saber se a formação da CPI das Petrobras atende aos melhores interesses da sociedade brasileira. Isto dependerá dos interesses políticos que sustentam esta investigação. CPI da Petrobras : a questão das contas Em que pesem as restrições expostas acima, há razões objetivas e pontuais para uma investigação sobre o modo de atuar (?) da Petrobras, algumas já listadas no requerimento da CPI : a manobra contábil para pagar menos impostos, a suspeita (levantada pelo TCU) de superfaturamento na refinaria Abreu de Lima, no Recife, os patrocínios culturais para as festas de São João, no Nordeste, especialmente na Bahia, terra do presidente José Sergio Gabrielli, e outros mais. A verdade é que, desde e sempre, com algumas exceções, sempre faltou transparência nos negócios da empresa. O que não quer dizer, necessariamente, corrupção. Mas pelo menos, muito jogo político e às vezes também eleitoral. Quando, há alguns poucos meses, de forma inusitada e quase reservada, a Petrobras pegou dinheiro na CEF para, alegadamente, pagar impostos, muita gente viu nisso problemas de administração financeira na companhia. Ela reagiu, naturalmente negando, mas o empréstimo foi ampliado e renovado. Agora, quando ela usa artifícios fiscais, considerados pela Receita Federal, em nota, irregulares, para recolher ao Fisco menos tributo, uma das alegações é a de que a empresa precisava fazer caixa para investir. O senador Aloizio Mercadante alegou que era melhor isso do que a Petrobras ser financiada pelo Tesouro. Ora, quando ela deixa de pagar impostos, está sendo financiada pelo Tesouro, embora não possa parecer. Há sim o que investigar. Deve-se evitar apenas o barulho político-eleitoral. CPI da Petrobrás : a questão política Um mero olhar superficial diria que o PSDB foi o grande ganhador do embate pela instalação das investigações na Petrobras (abrangendo também a ANP). De fato, os tucanos passaram a perna no governo, instalando uma CPI que a situação não quer ver nem pintada de cor de rosa. E expondo o temor do DEM de levar as investigações adiante para não afrontar certos parceiros. Há tempos o ex-PFL tem sido muito mais atilado que o PSDB em seu oposicionismo. No caso da Petrobras teve uma recaída ainda explicada. Mas o grande beneficiário de tudo, funcione a CPI integralmente, seja ela boicotada, será o PMDB. Não foi à toa que seus principais líderes no Senado - José Sarney, Renan Calheiros e Romero Jucá (este no papel de líder do próprio governo na Casa) - não se movimentaram para barrar a CPI. Ou se omitiram fingidamente ou, como Sarney, deixaram o tucano Marconi Perillo instalar a comissão. No momento, na sexta-feira, em que Perillo, como vice, presidia a sessão do Senado, Sarney estava confortavelmente instalado em outro local em Brasília. Agora, o PMDB tem Lula e o PT de novo como reféns. Só o PMDB pode ditar o ritmo das investigações, até onde elas vão até onde não devem chegar. E a fatura não será pequena. Há ainda a vergonhosa revolta de peemedebistas com a demissão de apadrinhados políticos na Infraero. Há que compensá-los. O partido não se conforma em ficar de fora do Conselho Político do governo. Há que agraciá-lo. O PMDB quer que o PT seja mais generoso nas negociações das alianças estaduais. Há que atendê-lo. E o pior é que, nada disso garante qualquer sombra de fidelidade do PMDB. Nem nas votações no Congresso nem na aliança em torno de Dilma Roussef em 2010. O governo vai pagar sem saber se recebe toda a mercadoria prometida. Política social made in Petrobras Segundo um levantamento do jornal a "Folha de S.Paulo" com um analista de um grande banco, desde o início do governo Lula, a Petrobras acumulou um déficit na "conta gasolina" de R$ 6,3 bilhões e um superávit de também R$ 6,3 bilhões na "conta diesel". O cálculo é feito tomando o preço de gasolina e do diesel no mercado do Golfo do México sobre os volumes negociados pela estatal brasileira. É o que se pode chamar de política social ao avesso, ou melhor, política social à moda Petrobras : o diesel, energia essencial para o movimento da economia, e que pesa fortemente nos custos dos transportes coletivos e nos custos das cargas de mercadorias, alimentos inclusos, está bancando a gasolina, usada, basicamente, pelo grupo de veículos leves, de transporte individual e de quem tem mais dinheiro para comprar um carro. Fed será reestruturado Depois de constatada a dramática recessão que se instalou na economia mundial, bem como o papel exercido pelo Fed nos últimos anos, o Congresso ianque começa a discutir mudanças estruturais na gestão do banco central do país. A independência, real ou aparente, será analisada, bem como a estrutura de "bancos centrais regionais". Além disto, a crise bancária deixou largas evidências de que a capacidade regulatória não foi suficiente para evitar os problemas de crédito, dos derivativos e da exagerada alavancagem financeira dos ativos que provocou o colapso de várias instituições financeiras norte-americanas. Também a concessão de crédito para suportar a iliquidez do mercado será outra questão visitada pelos legisladores. Tais alterações vão provocar mudanças não somente nos EUA, mas provavelmente em todo o mundo. Uma coisa parece muito provável : não serão mudanças superficiais. Uma pergunta : os legisladores brasileiros se interessariam pelo tema aqui no Brasil ? Os recuos de Obama Parece sina maquiavélica, mas a verdade é que no exercício do poder todos se tornam diferentes. No caso de Obama está evidente que ele já partiu para a linha do "esqueça o que escrevi e falei". Os dois recuos do presidente norte-americano na semana passada - a questão da divulgação das fotos das torturas da "guerra do terrorismo" e a continuidade dos tribunais militares de Guantánamo - são provas inequívocas de que uma coisa é eleição, outra é governo. Mesmo em sociedades mais organizadas. Uma pergunta : como Obama poderá criticar Cuba e suas prisões políticas quando logo ali na Ilha tem uma base norte-americana que sedia tribunais de exceção ? Aparentemente, Obama caiu no Bush shit. Qualquer semelhança... ...pode não ser mera coincidência. Junho é o mês em que o IBGE anunciará o PIB brasileiro do primeiro trimestre de 2009. E como admite até o ministro Guido Mantega, um craque em errar previsões positivas, ele será negativo. O que já está levando o mesmo Mantega a aceitar que o crescimento da economia nacional vai estar mais próximo do zero que dos 2% positivos até aqui inscritos no Orçamento. Por acaso, o presidente Lula mandou apressar os estudos para o novo marco regulatório do petróleo, para anunciar, também em junho, as regras para o pré-sal, com solenidade, com direito a discurso da ministra Dilma Roussef e tais. Pode ser na mesma ocasião do PIB, para contrabalançar o apelo negativo. Quem tem medo do TCU Por detrás das críticas (corretas, no caso) de gente do governo (a mais recente, do ministro Paulo Bernardo, na semana passada) e do Congresso à demora do TCU em liberar obras que ele mandou suspender por indícios de irregularidades, esconde-se outra manobra menos confessada : o plano de conter as ações do tribunal. A verdade é que o TCU (e alguns TCEs), muito mais ativos e vigilantes do que no passado, estão incomodando com suas novas exigências. Será um escândalo se, a pretexto de não deixar obras prioritárias atrasarem, colocarem algemas nos ministros. Parece que muitos estão com saudades dos tempos em que os tribunais de contas eram meros cabides de empregos e existiam apenas para avalizar o que o Executivo fazia. O brasileiro e suas instituições A revista "Conjuntura Econômica" da FGV de abril traz, comentada pelo professor Joaquim Falcão, os resultados de uma interessante pesquisa organizada pelo Centro de Justiça e Sociedade da Instituição, com revelações sobre o modo como o cidadão brasileiro vê suas instituições e alguns seus profissionais. O levantamento foi feito em todo o território nacional no mês de fevereiro e tinha o objetivo de perscrutar mais profundamente sobre a imagem do Judiciário. Vale ver alguns detalhes : Confiança nas instituições - saldo de confiança (resultado operação entre os que confiam e não confiam) : 1) Forças Armadas - 70 2) Escola - 68 3) Polícia Federal - 50 4) Igreja Católica - 37 5) Ministério Público - 34 6) Imprensa - 25 7) Sindicato dos Trabalhadores - 25 8) Governo Federal - 24 9) Poder Judiciário - 18 10) Igreja Evangélica - 12 11) Assembleia Legislativa - (21) 12) Senado - (33) 13) Câmara dos Vereadores - (40) 14) Câmara dos Deputados - (44) 15) Partidos Políticos - (59) Confiança nos profissionais : 1) Professores - 82 2) Policiais Federais - 49 3) Promotores de Justiça - 49 4) Presidente da República - 45 5) Juízes - 42 6) Jornalistas - 40 7) Militares - 40 8) Prefeito de sua cidade - 21 9) Padres - 19 10) Governador de seu Estado - 17 11) Senadores - (34) 12) Deputados Estaduais - (34) 13) Deputados Federais - (35) 14) Vereadores - (38) 15) Políticos em geral - (63)
terça-feira, 12 de maio de 2009

Política & Economia NA REAL n° 51

  Terça-feira, 12 de maio de 2009 - nº 51 Riscos do Brasil merecem atenção Como estamos a afirmar nas últimas colunas, não há nada de substancialmente errado na condução da política econômica durante o período de crise em que vivemos. A renúncia fiscal promovida pelo governo, as medidas pró-expansão do crédito e o aumento da liquidez via redução da taxa de juros básica e investimentos públicos foram corretos. Faltaram a nosso ver as medidas de redução da tributação sob o segmento de salários. Se do lado conjuntural, o governo foi bem, as preocupações são enormes em relação ao futuro, a saber: 1) O perfil dos gastos públicos correntes, os quais estão em sistemática expansão na última década, é um problema estrutural cuja solução não está minimamente à vista. Ao contrário, vê-se forte mobilização de setores organizados, seja no Legislativo, Executivo ou Judiciário, para a continuidade do aumento das despesas do governo; 2) O calendário eleitoral é muito problemático. Há um "encurtamento" nos prazos eleitorais em função do lançamento das candidaturas e da necessidade de se gerar "fatos políticos" que possam ser favoráveis ao governo ou à oposição; 3) A paralisia do Congresso é dramática. Não há uma reforma substantiva sendo considerada no âmbito do Legislativo. Às vezes, a popularidade elevada do presidente obscurece o papel de fazedor de leis e fiscalizador do governo. Outras, o Congresso mergulha nas suas próprias crises; 4) A melhoria da produtividade da economia brasileira depende e muito da implementação de reformas, sobretudo a tributária (um tema já batido e quase impossível de ser implementado), a previdenciária e a trabalhista. Nada anda nestes itens e a taxa de investimento relativamente ao PIB permanece baixa; 5) Como será a política monetária numa conjuntura eleitoral ? Esta pergunta, menos importante nas últimas eleições, será de relevância vital nas próximas. O tema "juros" está totalmente politizado e, caso a economia se recupere, um maior aperto monetário será necessário. Não há nenhuma proteção institucional (BC independente) que garanta que a atual expansão monetária será revertida; 6) A situação fiscal, no que se refere ao superávit primário parece controlado no curto prazo. Já no médio prazo não é certo, quiçá improvável, que o compromisso com a estabilidade da relação dívida PIB seja mantido. O Brasil permanece em lugar privilegiado dentre os emergentes, mas os riscos acima relacionados estão causando crescente inquietação. Se no mercado internacional a probabilidade de melhoria dos fundamentos está subindo de seus subterrâneos patamares, no caso do Brasil estes riscos podem fazem emergir riscos que causem inquietação à economia. Orçamento : mais acertos O desempenho da indústria em geral em março e o do setor automotivo em abril, passado a euforia das vendas puxadas pelo IPI, acordou de vez o governo. Até no ministério da Fazenda, do otimista Guido Mantega, não se leva mais em conta a história do PIB crescendo 2%. A Fazenda prepara-se para se aproximar da previsão do BC, de 1,2%. O que para muita gente ainda é "exagerado". O discurso para manter o otimismo será dizer que no último trimestre deveremos estar crescendo na faixa dos 4,5%. De todo o modo, mais uma revisão no Orçamento da União terá de ser feita brevemente, ainda mais quando não há sinais de recuperação da receita no horizonte. Seria até bom se os cortes visassem as despesas "ruins". Não será isto, até porque em julho há mais uma rodada importante de aumento da falha salarial. O sacrifício será nos planos de investimentos ou no superávit primário. Ou nos dois. Não se pode chamar tal política de anticíclica. Está mais para pró-eleitoral. Vai dar para agüentar até outubro de 2010 sem efeitos danosos sobre os juros e a economia real ?  Efeitos eleitorais A nota da ata do Copom em que a diretoria do BC explicita a necessidade de se alterar a remuneração das cadernetas de poupança para facilitar a continuidade da diminuição da Selic, não foi lida com alegria no ministério da Fazenda e mesmo em salas do Centro Cultural do BB, a sede provisória do governo federal. O executivo ainda não encontrou a fórmula técnica ideal, para como tem prometido Lula, não prejudicar a maioria dos poupadores e muito menos o discurso político para explicar as mudanças sem riscos de desgastes eleitorais e de dar de graça para a oposição um discurso que ela hoje não possui. Ainda mais que o maior beneficiário imediato da mudança será o próprio governo. E, depois, o setor financeiro.  Mercado : a pergunta do momento A pergunta do momento dentre os investidores, dos "formadores de opinião" e do público em geral é : será que o "tal do mercado" não se valorizou muito rapidamente ? No caso, se referem ao mercado como um todo, tanto o segmento de renda variável, a renda fixa e o mercado cambial. A pergunta, além de importante, é sinal de certa desconfiança de que possa haver um gap entre o nível de preços dos ativos e os fundamentos econômicos e financeiros. Enfim, outra bolha. Vejamos ! A nossa visão Quando se trata de analisar o mercado financeiro é impossível ser determinístico sobre a conjuntura. Há quem acredite nisto. Não é o caso desta coluna. Afinal de contas, estamos tratando de futuro o qual é, por definição, incerto e desconhecido. Todavia, é possível se ter uma visão sobre a situação do mercado. Eis a nossa : 1) A melhoria no mercado reflete uma maior demanda por ativos, fruto de uma extraordinária expansão da liquidez aqui e lá fora. Até o mais aguerrido monetarista há de concordar que, diante de uma provável depressão, a expansão monetária se faz necessária. Os BCs e os governos de todo o mundo incrementaram a demanda via a injeção de recursos no mercado e isto proporcionou a elevação dos preços; 2) Houve uma substantiva melhoria na estabilidade do sistema financeiro internacional. Apesar das trocas de ativos entre os bancos permanecerem bem abaixo daquelas anteriores à crise, a liquidez se expandiu. Além disso, a capitalização do sistema financeiro internacional, via recompra de ativos e emissão de ações, trouxe maior segurança. O sistema ainda está débil, mas um colapso no sistema parece afastado; 3) As principais moedas internacionais estão com um comportamento bastante estável, sem substantivas variações entre elas. Isto é importante de vez que aumenta a visibilidade sobre o comportamento dos balanços de pagamentos dos países; 4) Vários países (EUA, Reino Unido, Alemanha) mostram sinais de estabilização da produção industrial. As comparações anuais ainda mostram quedas substantivas, mas os dados de curto prazo são mais animadores, embora sofríveis. Países nos quais o peso do comércio exterior é maior em relação ao PIB (Japão, por exemplo) a estabilização da produção ainda não ocorreu; 5) Também são visíveis, mesmo que instáveis, as melhorias no mercado laboral. O desemprego está elevado em todas as economias centrais, sobretudo nos EUA, Itália e França, mas com alguns sinais de estabilização. Até mesmo os mais pessimistas descartam, no caso dos EUA, um desemprego muito superior a 10%. Atualmente gravita ao redor de 8,5%; 6) Os países emergentes, sobretudo os mais importantes (Brasil, China e Índia), estão conseguindo manter um nível satisfatório de consumo doméstico. A demanda por commodities começa a dar sinais favoráveis, algo ainda tênue, mas positivo. Rússia (muito dependente do petróleo), México (às voltas com a crise americana e a epidemia de gripe suína) e o Leste Europeu (muito dependente do Oeste Europeu) são os contrapontos negativos; 7) Os fluxos de capital para os países emergentes voltaram e com vigor. Índia e China controlam o câmbio sob regimes semifixos, mas receberam fortes entradas de recursos externos. O Brasil que adota o câmbio flutuante apresentou uma expressiva valorização do real. Um fato jamais imaginado há poucas semanas; 8) A volatilidade despencou. Há vários indicadores de volatilidade. Citamos dois: a volatilidade das ações das 500 maiores empresas industriais (S&P500) caiu para o patamar de 32%. No auge da crise era 85%. No caso das empresas de tecnologia (índice NASDAQ) os números são quase iguais. Menor a volatilidade, maior a demanda por ativos; 9) A inflação está controlada e em queda em todo o mundo, fruto na fragilidade da demanda e do (enorme) ajuste de estoques. A deflação, tão comentada por muitos analistas, parece descartada; 10) As taxas de juros de longo prazo (títulos de 10 anos, por exemplo) nos EUA e na Europa estão subindo em função da expectativa dos investidores de que a atividade econômica futura será maior e, portanto, será necessário apertar os freios da expansão monetária. Então tudo está bem ? Não cabe maniqueísmo quando analisamos o desempenho do mercado. É claro que o mundo não está nada fácil, que há uma tragédia social relacionada com o desemprego, que o sistema financeiro internacional continua debilitado, que os ativos ainda estão muito depreciados, que os investimentos estão baixos, que o protecionismo é um risco etc e tal. O que estamos a analisar no item anterior é se a melhoria dos mercados é justificada. Do nosso ponto de vista, a resposta é sim. Isto não quer dizer que os fundamentos estão positivos. Isto quer dizer que os fundamentos econômicos e financeiros estão melhores. Aquém das piores expectativas, mas longe do melhor cenário. Os riscos presentes no mercado são enormes e conhecidos - não precisamos listá-los, pois deles tratamos em muitas colunas. Todavia, as expectativas estão melhores. Os mercados, para o bem e para o mal, vivem de expectativas sobre os fatos. E o curto prazo ? Apesar de nossa análise mostrar que a melhoria nos mercados é justificada, é muito provável que os investidores fiquem mais cautelosos nas próximas semanas. Muitos se sentem confortáveis em realizar lucros depois de uma alta tão substantiva no mercado acionário local e internacional. O mesmo vale para os segmentos de câmbio e renda fixa no caso do Brasil. Além disto, é muito provável que os investidores esperem mais dados sobre o desempenho da economia doméstica e internacional para confirmar (ou não) se as expectativas mais otimistas são (ou não) justificadas. Portanto, entraremos num período de estabilização e, até mesmo, queda dos preços dos ativos. Todavia, não deve ser um processo agudo. Radar "NA REAL" 12/5/9   TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo (0 a 6 meses) Médio Prazo (6 a 12 meses) Juros ¹        - Pré-fixados NA estável estável  - Pós-Fixados NA queda estável Câmbio ²        - EURO 1,36 alta alta  - REAL 2,08 estável estável Mercado Acionário        - Ibovespa 51.396 estável/queda alta  - S&P 500 929,23 estável/queda estável  - NASDAQ 1739,00 estável/queda alta (1) - Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais)(2) - Em relação ao dólar norte-americanoNA - Não aplicável Efeito da crise ? Números que o Instituto Brasileiro de Ética Concorrencial e o Instituto Brasileiro de Economia da FGV vão divulgar depois de amanhã no Rio, mostrarão um dado preocupante: a economia subterrânea ou informal no Brasil cresceu no ano passado (portanto, abrangendo os três meses cruéis da crise) mais do que havia crescido entre 2003 e 2007, tudo somado. Os autores e analistas da pesquisa ficaram assustados. A Petrobras e o mau exemplo Há poucos dias, num inflamado discurso, Lula disse que a Petrobras precisa compreender que o Brasil é maior do que ela. Em raros momentos dos seus quase 55 anos de existência a estatal pensou assim. Ela sempre acha que é maior do que o país. Inclusive agora, com Lula, sua popularidade e tudo o mais. Devemos ao jornal "O Globo" de domingo a revelação da última façanha da estatal. Ela acionou um artifício contábil que a levou a pagar menos R$ 6,5 bilhões de impostos no ano passado, prejudicando a União, os Estados e os municípios. Tributaristas dizem que a manobra é legal, mas não poderia ter sido adotada, como o foi, retroativamente. Legalidade à parte, a Receita Federal, sempre procurou coibir o planejamento fiscal quando praticado por agentes econômicos privados. Por ser a Petrobras, até agora o Leão está desdentado. E a vida segue seu curso Está dando que se temia. Depois da algumas semanas de vacilação, o presidente da Câmara, Michel Temer, pôs em campo a interpretação jurídica por ele levantada e que permite contornar a norma constitucional de que as MPs não votadas no prazo impedem a votação de qualquer outra matéria na Câmara e no Senado. O STF, acionado pela oposição não se manifestou ainda, a oposição não protestou, e vários projetos foram liberados. O governo está feliz porque pode continuar legislando como quiser. E o Congresso pode mostrar que está trabalhando. A excrescência continua lá, porém todos serão felizes para sempre. O número três voltou a empolgar Em Brasília estão deixando de ser apenas sussurros - ou ecos de vozes esdrúxulas como as de Fernando Collor de Mello e Roberto Jefferson - as conversas sobre a possibilidade de se criar as condições para o terceiro mandato do presidente Lula. A defesa da re-reeleição somente ainda não cresceu na mídia em respeito à ministra Dilma Roussef e seu problema de saúde. Mas tem gente de boa estirpe petista que já não se agüenta de ansiedade. Barriga de aluguel A proposta de reforma política mitigada e totalmente equivocada que o presidente da Câmara Michel Temer decidiu ressuscitar é somente para tentar desviar um pouco a atenção da mídia e dos mal feitos quase diários da Câmara e do Senado. Mas, pode ser a porta por onde os defensores do terceiro mandato enfiarão a sua proposta. Lula não quer ? Esta é muito boa. O presidente também sempre foi contra a reeleição. E sempre excomungou um BC independente de fato. E tinha horror de banqueiros. Lula é, antes de tudo, um pragmático. Tomou gosto pelo poder, tanto que já não fala mais em pescar em São Bernardo depois de encerrado seu mandato, já pensa em trabalhar em algum organismo para redimir a África. E há os quase 30 mil companheiros que poderão ficar ao relento se o governismo não tiver um candidato competitivo. E, nesta altura do jogo, não há um plano B de fato, não há uma alternativa a Dilma. A não ser... Se pode piorar, piora O projeto de reforma política a ser apresentado pela Câmara, com voto em lista fechada e financiamento público de campanha (mais a janela da infidelidade), sem outras mudanças profundas na lei eleitoral e na lei dos partidos, é um desastre. Vai ajudar a perpetuar "tudo isso que está aí". É o desrespeito final deste Congresso (seus homens) com os eleitores. Não se iludam, desta vez pode passar, pois as mudanças significam a única possibilidade de sobrevivência política de muitos dos atuais parlamentares. Apesar da máxima do deputado Sérgio Moraes, muitos sabem que estão eleitoralmente marcados para morrer se a eleição parlamentar do ano que vem for minimamente aberta e competitiva.
terça-feira, 5 de maio de 2009

Política & Economia NA REAL n° 50

No Brasil, juros mais baixos e investimento estrangeiro em alta Sempre é difícil ser categórico sobre previsões, embora os analistas do mercado financeiro e de capital adorem exercer o papel de divindade. De toda a forma, acreditamos que há grande chance de que o processo de recuperação da atividade econômica e do emprego possa ter se iniciado aqui no Brasil. Generalizam-se os sinais de que isto esteja a acontecer : melhores indicadores de consumo, inflação em queda, câmbio se valorizando e juros em queda. O Real está subindo, fruto da forte entrada de recursos dos investidores estrangeiros que estão injetando recursos, sobretudo nas ações brasileiras. Este fluxo deve continuar nos próximos meses, embora as incertezas no mercado internacional ainda sejam empecilho de que este processo de generalize ainda mais. Do lado dos juros, o principal movimento é do BC. Os juros básicos foram reduzidos na semana passada em mais 1%, movimento este altamente esperado pelo mercado e analistas. O grande problema é que é cada vez menos provável que os movimentos na taxa básica de juros influenciem, de forma mais efetiva, os juros dos títulos de médio e longo prazo. Ou seja, os juros podem cair no curto prazo, mas não cairão muito no longo prazo (12 meses à frente). Isto reflete a expectativa de que haja recuperação econômica suficiente para que o foco do BC volte a ser a inflação e não a atividade econômica. Além disso, há uma preocupante elevação das despesas públicas cujos reflexos na inflação e no déficit serão sentidos a partir do ano que vem - um ano eleitoral. Já saímos do fundo do poço ? É esta a sensação mais generalizada, como registrado na nota acima. No entanto, para que o Brasil possa sair mais forte da crise como tem apregoado o presidente Lula e não cansam de repetir seus seguidores e alguns bonecos de ventríloquo do mercado, o governo terá de fazer bem mais - e um pouco diferente do que tem feito - até agora. Não dá para pensar que passado o pior da crise aqui e lá fora, voltaremos a surfar nos bons ventos econômicos que nos ajudaram a subir nos últimos anos. Em matéria de economia, o mundo nunca será como antes - pelo menos não por muitos anos. A crise, com a queda abrupta da atividade econômica, evitou que alguns gargalos sérios na infra-estrutura começassem a dar as suas caras. A deterioração do setor, porém, continuou. E o PAC, ambicioso demais na sua extensão (quem tem mais de duas mil prioridades de fato não tem nenhuma) e sofrendo crônica deficiência de gestão federal, não é e não será a solução. E não dá para ficar dependendo apenas dos cofres da Petrobras. Até porque os problemas de curto, médio e longo prazo estão nos portos, nas estradas, na energia elétrica (algumas termoelétricas foram acionadas na semana passada) e nem tudo atrai investimentos privados. O segredo é recuperar a capacidades de investimento do Estado. Portanto, é preciso que o governo gaste menos no seu próprio custeio e com mais qualidade naquilo que ajuda a melhorar as condições econômicas. O desafio é enfrentar a clientela política com o olho na sucessão presidencial. China cresce. Mais um sinal positivo A expansão da atividade industrial chinesa cresceu em abril 13,1% em comparação a março e foi a maior surpresa dentre os países emergentes nestes últimos tempos. Havia oito meses que a atividade industrial caía seguidamente na China. O maior consumo doméstico alimentou a alta. Se isto é um sinal consistente ainda não é possível afirmar, mas este melhor desempenho da maior economia emergente faz parte de um conjunto favorável de dados que indicam que a crise começa a ceder nos países mais importantes no mundo emergente. O Brasil e a Índia apresentam os melhores desempenhos entre os BRICs (Brasil, Rússia, Índia e China). A China começa a melhorar e a Rússia, país muito dependente do petróleo, é o patinho feio desta estória. A gripe suína se espalha Eis o principal fator a preocupar os mercados no momento. Não bastassem as incertezas da crise agora estamos literalmente tentando adivinhar os efeitos desta gripe sobre os diversos segmentos do mercado financeiro internacional. É certo que não bastam as projeções da OMS ou os dados dos governos. Afinal, trata-se de uma doença viral cuja expansão e efeitos são muito difíceis de serem projetados. Assim sendo, se não é para ficar alertado, não há motivos para se ficar relaxado. O assunto requer atenção e moderação em relação às conclusões sobre os efeitos que podem produzir. Não dá para fazer aposta sobre o tema. Nos EUA, bancos e emprego são os dados mais importantes Nas próximas semanas, os dados de emprego e a verificação do estado de saúde do sistema financeiro serão determinantes para o maior ou menor pessimismo dos investidores. As autoridades reguladoras do sistema financeiro vão divulgar nesta semana os resultados do "teste de stress" aplicado às instituições. Basicamente estes testes têm o objetivo de verificar o comportamento dos sistemas de risco e os informes financeiros dos bancos diante de cenários alternativos de volatilidade e inadimplência. Existem dúvidas se alguns dos principais bancos possam mostrar insuficiência de capital próprio para suportar estes testes. Num sistema financeiro combalido, este tipo de dúvida provoca inquietação de duas formas : (i) o sentimento de que o sistema não é seguro e (ii) em havendo novas captações de recursos via ações, os investidores podem ver diluídas as suas participações acionárias. Na área de emprego o que se espera é simples e objetivo : sinais de que o pior já passou, mesmo que os números ainda sejam sofríveis. Estamos num terreno perigoso de vez que é essencial que sejam revertidas as expectativas negativas instaladas há mais de ano e meio no mercado internacional - de forma mais aguda, desde setembro do ano passado. Radar "NA REAL" Os dados internacionais nos recomendam ainda muita cautela. Todavia, com base no nosso acompanhamento da conjuntura e dos mercados o cenário nos parece mais promissor. A melhor combinação do momento é prudência (nos volumes aplicados) com aumento de risco (em mercado de ações e títulos de renda fixa de menos qualidade). 5/5/9 TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo (0 a 6 meses) Médio Prazo (6 a 12 meses) Juros ¹ - Pré-fixados NA estável estável - Pós-Fixados NA queda estável Câmbio ² - EURO 1,33 alta alta - REAL 2,15 alta alta Mercado Acionário - Ibovespa 47.290 alta alta - S&P 500 877,52 estável estável - NASDAQ 1719,20 alta alta (1) - Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais)(2) - Em relação ao dólar norte-americanoNA - Não aplicável Mercado de tecnologia em alta As maiores empresas tecnológicas do mundo começam a dar sinais mais consistentes de recuperação da demanda. Depois de quase seis semestres de declínio nas vendas, empresas como Intel, Microsoft, IBM, TSM (Taiwan), Texas, etc. estão registrando alta nas vendas. O cenário ainda é muito incerto, mas os dados objetivos apontam para crescentes pedidos nos próximos meses. Esta recuperação deve ser analisada com muita atenção, pois normalmente a elevação das vendas neste setor indica que os segmentos mais ligados ao consumo estão se tornando mais otimistas. Assim sendo, começam a aumentar a produtividade (via aplicação de mais tecnologia) e a adquirir insumos (tais quais os chips) para a maior produção futura. O processo de ajuste de estoques depois da "freada" pós-quebra do Lehman Brothers está se esgotando. Mais um sinal favorável em meio à crise. O BNDES e o seu papel Ninguém vai se interessar no âmbito do Legislativo ou mesmo do Judiciário em conhecer as atividades do BNDES, especialmente durante a crise atual ? Será que a instituição está utilizando todos os seus recursos de forma absolutamente transparente, profissional e ética ? O BNDES é atualmente o principal provedor de recursos de longo prazo para as empresas tendo recebido bilhões de recursos do Tesouro Nacional. Não mereceria maior atenção dos fiscalizadores ? Lula e o pré-sal O presidente parece que ficou frustrado com o fato de não ter lançado no dia do trabalho um vasto programa de investimento para a exploração petrolífera da camada do pré-sal. "Quando descobre petróleo na camada pré-sal, o Brasil tem chance de transformar-se em um país com potencial extraordinário e aí a gente pode resolver parte dos nossos problemas econômicos", afirmou o presidente. Resta uma pergunta : mesmo sendo razoável que continuemos a investigar o potencial das áreas da camada do pré-sal, não seria razoável que o presidente deixasse claro para o país o quanto empenhará neste projeto, bem como a estrutura de financiamento ? Antes de produzir petróleo, a "camada" pode produzir muitas dúvidas inclusive algumas envolvendo a Petrobras. Ainda há uma dúvida adicional : quando o Governo se empenhará para promover investimentos em consumo e produção "de energia limpa" ? Os biocombustíveis são apenas uma parte deste processo. E o novo marco do petróleo ? Alguém se lembra que, logo que surgiram as primeiras revelações sobre as "minas de ouro" do pré-sal, foi criada uma comissão de "alto nível" para rever as regras de exploração de petróleo no país. Anunciou até a criação da Petrosal, para cuidar apenas dessas riquezas. A proposta ficaria pronta até dezembro passado. Estamos em maio, e nada. Lula cobrou pressa da proposta na sexta-feira, primeiro de maio. Em tempo : a Petrobras sempre viu com maus olhares o nascimento de um concorrente numa área em que ela faz e desfaz, sem contestações. A anistia fiscal Enquanto o país não muda a sua matriz energética, o governo e o Congresso premiam os maus pagadores de impostos com mais uma anistia, a terceira em cinco anos. O setor de álcool ganhou o seu enorme quinhão. Uma moleza sempre é boa ! Assim caminha o erário no exato momento em que mais de 25 milhões de pessoas físicas acabaram de entregar suas declarações para se sujeitarem às durezas do fisco. Calote vergonhoso e cínico O prefeito de SP, Gilberto Kassab, escreveu, com certa elegância vernacular, um artigo no jornal "O Estado de S. Paulo" da semana passada para tentar defender as novas regras para pagamento dos precatórios. Outros gestores públicos também têm ocupado espaços na mídia para explicar a proposta. Curiosamente, parece uma ação orquestrada, tal a similaridade dos argumentos e a "parecença" dos textos. Não convencem, porém, não há justificativa política (nem legal, segundo nossos melhores juristas) para tal barbaridade. O precatório, aliás, em si só já é uma excrescência. O governo deve ao cidadão, não tem mais como recorrer e simplesmente não paga, entrega a ele um "dólar furado" que, se puder não resgata nunca. É caso de polícia. O dia em que tivermos algum tribunal disposto a aplicar nos governantes as leis desse país e mandar alguns deles para a cadeia, a situação vai mudar. O Estado no Brasil trabalha para o interesse do Estado, não pelos cidadãos. Fora do tom Desde sexta-feira - e isso ficou evidente nas cerimônias do pré-sal - o presidente Lula e seus homens deixaram de se referir, pelo menos publicamente, em eventos "administrativos-eleitorais" aos problemas de saúde da ministra Dilma Roussef. Não se sabe se por uma recaída no bom senso ou porque as pesquisas de opinião que o Palácio do Planalto realiza quase que diariamente indicaram alguma "estranheza" da sociedade com possíveis explorações eleitorais do drama da candidata presidencial. A verdade é que alguns, como o presidente Lula no Amazonas, o ministro José Múcio, o senador Romero Jucá e o assessor Marco Aurélio Garcia, saíram um pouco do tom nessa história. Dilma não. O silêncio teria sido menor Lula também saiu do tom também quando resolveu justificar o uso das passagens pelo parlamentares para viagem de parentes, amigos e outros e outras tais. Mais forte do que nunca Engana-se quem dá o PMDB como em baixa apenas porque dois de seus expoentes, os presidentes da Câmara, Michel Temer, e do Senado, José Sarney, estão às voltas com os escândalos que despontam a cada dia nas instituições que eles dirigem. O partido está com uma lista de reivindicações na ante-sala do presidente Lula e vai levar parte do que pede. Além do chamado "apoio a Dilma" pretendido por Lula, o PMDB está apresentando duas novas armas na mesa de litigância : uma CPI do DNIT e outra da Petrobras. Se alguém vai ter de pular miudinho é o PT. O dom da mediunidade Um leitor assíduo e atento desta coluna cobrou as escassas referências neste espaço "às oposições", para o bem e para o mal - ou seja, com críticas ou elogios. De fato, PSDB, DEM e PPS passam pouco por aqui. Mas há uma explicação : como falar do que não existe, pelo menos do ponto de vista da discussão das grandes questões nacionais e da apresentação de soluções alternativas objetivas, concretas às políticas do governo. Os autores da coluna ainda não adquiriram o dom da mediunidade. Poupança : vamos deixar de tergiversações ? A propósito das alterações na remuneração da caderneta de poupança, anunciada pelo presidente Lula há quase dois meses e que segundo o ministro da Comunicação, Franklin Martins, acontecerá até junho, seria aconselhável que o governo dissesse as coisas como elas são, sem subterfúgios : 1. As alterações não virão para proteger o pequeno poupador. Na melhor das hipóteses, ele não terá o rendimento atual, contratado quando ele fez o depósito, diminuído. 2. O maior beneficiário de uma diminuição dos juros e da correção que alcançam os investimentos nas tradicionais cadernetas será o próprio governo. Primeiro, porque evitará o risco de ver uma fuga significativa de investidores em títulos públicos, comprometendo a rolagem de sua dívida. Segundo, porque se a solução para o imbróglio for taxar as aplicações de valores mais altos, como alguns defendem, ainda vai pingar um dinheirinho nas burras do Tesouro Nacional. 3. Os bancos, públicos e privados, também, ganharão com as mudanças. Mas ganharão também sem elas. Não lhes falta "tecnologia" para ganhar dinheiro com juros baixos ou com juros altos. O maior encrencado é mesmo o governo. Asseguram os especialistas que há fortes justificativas técnicas para que se altere, de fato, a forma de remunerar os depósitos em caderneta de poupança. Mas o governo se contorce de pavor de tomar qualquer medida que possa minimamente assustar sua clientela eleitoral. A decisão será político-eleitoreira, o que pode dar no pior.
terça-feira, 28 de abril de 2009

Política & Economia NA REAL n° 49

Terça-feira, 28 de abril de 2009 - nº 49 Judiciário e Legislativo se desgastam, Executivo cresce O STF e o Congresso estão seus papéis invertidos. É sintoma de uma perigosíssima doença para o regime democrático. O Congresso, que deveria dar mais atenção à "voz rouca" das ruas, está de costas para a opinião pública. As medidas que estão sendo adotadas tanto pela Câmara quanto pelo Senado para conter os desvios "comportamentais" dos parlamentares e até de parte do corpo de funcionários das duas casas, estão muito aquém do necessário para que o Legislativo comece a retomar a confiança dos cidadãos. Estas mudanças parecem feitas para tudo permanecer como está. A faxina e a dedetização tem de ser muito mais profunda. O STF, de quem se exige serenidade, isenção político-ideológica e distanciamento para tomar suas decisões, parece ter sido "mordido" pelo bichinho da "espetacularização" que tomou conta da política e da administração pública em todo o planeta : (i) está nos debates públicos pela conquista da opinião pública quando os ministros, a começar (e principalmente) pelo presidente da Casa, Gilmar Mendes, discutem e opinam sobre quase tudo na mídia, sem reservas ; e, (ii) está na política quando um ministro como Joaquim Barbosa insta o colega a sair "às ruas". São papéis trocados, que desgastam as duas instituições, e que no longo prazo (pelo andar da carruagem, não tão longo assim) pode se transformar numa séria crise institucional. Esse quadro amplia o fosso já existente entre o Executivo de um lado, e Legislativo e Judiciário de outro. Esse desequilíbrio não é saudável numa democracia. Não é á toa que o presidente Lula tem se arvorado a dar conselhos "comportamentais" ora a um, ora a outros dos dois poderes. E não é de graça que há muito o Executivo tem avançado sobre as prerrogativas alheias. Dilma e a sucessão : especulações precipitadas Tão logo ficou conhecida a delicada situação de saúde da ministra Dilma Roussef, o mundo político, ainda perplexo e chocado, passou a elucubrar sobre as possíveis repercussões da doença sobre o quadro sucessório, uma vez que ela é a candidata preferida de Lula. E é, em conseqüência, a candidata também da base governista, pois não há no PT, nem entre os aliados, força capaz de contrariar as vontades presidenciais. Muito embora haja gente que não esteja totalmente satisfeita com a opção de Lula, seja porque tenha outros interesses, seja porque não veja na ministra densidade político-eleitoral para a empreitada. Qualquer especulação agora, além de desrespeitosa, é prematura. A candidatura da ministra ainda é uma obra em construção, e o próprio Lula, embora esteja empenhado até o limite do possível na campanha de Dilma, sabe que é real a possibilidade da candidatura não vingar, independentemente de como estiver a saúde da ministra na hora decisiva. O projeto Dilma está quase que inteiramente ligado à permanência do sucesso da política econômica do governo e dos bons ventos que sopraram. É esta a variável que conta, com ou sem Dilma em boas condições. E ela só começará a exibir seus contornos a partir do último trimestre do ano. Se a situação não entrar nos eixos, o projeto Dilma fica ameaçado, pois os aliados e até os petistas vão começar a pressionar para Lula escolher um plano B. Não é por outra razão que Lula tem feito algumas apostas perigosas - e temerárias - em matéria de política anticíclica. Ele quer garantir a qualquer preço um crescimento da economia brasileiro próximo dos 2% este ano, para evitar o "fogo amigo" que começará a atingir sua pupila se ela não subir com mais consistência nas pesquisas eleitorais. E isso, repita-se, depende mais da economia e de Lula do que das condições físicas dela. O Plano B - 1 O governo está interessado em dar um basta nessas especulações que começaram no momento em que foi revelada a situação de saúde da ministra Dilma, não somente para preservar a principal assessora do presidente, mas também para evitar as brigas na base aliada pelo Plano B. Não é a exploração desse quadro pela oposição que o governo deve temer, até porque se a opinião pública perceber qualquer deslize nesse sentido ela estará acabada. Ele tem de temer mesmo é os aliados, que já andam até alimentando a mídia com nomes de possíveis opções de Lula para substituir Dilma. O Plano B - 2 O ex-ministro e atual deputado pelo PSB do Ceará, Ciro Gomes, pode dar adeus à suas pretensões de, em caso da opção Dilma falhar, ser ele o candidato do coração de Lula à presidência em 2010. Ou, então, de compor a chapa com a ministra, como vice. A última demonstração de destempero verbal do ex-ministro, semana passada na Câmara, assustou possíveis parceiros. Mostrou que ele não tem equilíbrio suficiente para enfrentar situações adversas, numa campanha que promete ser dura. Além do mais, quem quer ser presidente ou vice não pode sair do eixo com tanta facilidade como Ciro sai. Mercados melhoraram rápido demais ? I Como os leitores que prestam atenção no noticiário puderam perceber, houve nas últimas seis semanas uma melhora significativa no desempenho dos principais mercados financeiros e de capitais. O Brasil não foi exceção. Ao contrário, está claro que os títulos de renda fixa e variável do país e de suas empresas são destino preferido dos investidores nestes tempos de crise. Este desempenho satisfatório dos mercados não é surpresa. De fato, ele representa certa estabilização diante da trágica crise que se desenvolve desde o ano passado. Há crescente confiança no combalido sistema financeiro internacional - este aspecto é condição essencial e necessária para que se possa, pouco a pouco, recuperar o crédito entre as instituições financeiras, empresas e indivíduos. A temporada de resultados das empresas com ações cotadas em bolsas também deu alento aos investidores. O que se vê são resultados muito ruins, mas de muitas formas já espelhados no valor das empresas. A contratação da atividade econômica ainda deve provocar mais ajustes no mercado corporativo, mas a magnitude destes ajustes será decrescente daqui para frente. Mercados melhoraram rápido demais? II Há um gap entre expectativas e realidade no mercado financeiro. A realidade futura pode ser pior ou melhor que as expectativas. E vice-versa. Portanto, o que é percebido neste momento pelos analistas e investidores pode não se realizar mais na frente. A crise corrente decorre de expectativas exageradas sobre o futuro, um processo especulativo imenso e irresponsável. A nossa percepção é que a partir de agora as coisas tendem a ser melhores que as (piores) expectativas dos investidores. O futuro não é brilhante, mas pode não ser a tragédia que muitos preconizaram. (Lembremo-nos que muitos do que pregavam o paraíso há poucos meses estão a propalar o inferno agora!). De toda a forma, nós acreditamos que é provável que nas próximas semanas os mercados mundiais, incluindo o brasileiro, possam sofrer um ajuste negativo. Não será uma piora estrutural, mas trata-se de um processo natural de realização de lucros numa conjuntura ainda revestida de dúvidas e mazelas. A gripe suína chega neste exato momento de ajuste dos mercados. A gripe suína vai pegar nos mercados Até o nome desta peste é feio! A influenza chega para prejudicar as pessoas e os mercados. É fato significativo e um enorme temor para os países. Setores econômicos mais vulneráveis a esta epidemia vão sofrer muito, como, por exemplo, o setor de alimentos, as linhas aéreas e o setor de turismo. A força das medidas adotadas nos EUA e no México parecem indicar um cenário muito ruim. As medidas são duras e o governo de ambos os países devem ter informações de que a epidemia é mais grave do que parece. É certo que diante de uma coisa tão séria os governos tenham de combinar o pragmatismo das medidas para conter a disseminação da epidemia com a arte de evitar o pânico. O mais perigoso deste processo é que ainda não se sabe exatamente o tamanho do problema. Este parece ter avançado mais que as próprias autoridades sanitárias dos países pudessem perceber. Do ponto de vista do funcionamento dos mercados é sempre recomendável manter a cautela, mas os fatos nos obrigam a alertar os nossos leitores que neste momento é mais prudente acreditar que os efeitos sobre os preços dos ativos podem ser mais significativos que as primeiras tendências parecem apontar. Radar "NA REAL" Baseados na nossa expectativa de "realização de lucros" nos principais mercados mundiais, bem como no mercado brasileiro, acreditávamos até a semana passada numa queda moderada nos valores dos ativos de renda fixa e variável. A gripe suína deve agravar este processo numa magnitude difícil de ser estimada, mas que não deve ser desprezível. Assim sendo, pioramos as nossas estimativas para o real (em relação às moedas mais fortes) e os mercados acionários externos e locais. 24/4/9   TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo (0 a 6 meses) Médio Prazo (6 a 12 meses) Juros ¹        - Pré-fixados NA estável estável  - Pós-Fixados NA queda estável Câmbio ²        - EURO 1,31 alta alta  - REAL 2,20 estável alta Mercado Acionário        - Ibovespa 46.772 queda alta  - S&P 500 866,23 queda estável  - NASDAQ 1694,29 queda estável (1) - Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais)(2) - Em relação ao dólar norte-americanoNA - Não aplicável Protecionismo agrícola Esta epidemia de gripe suína deve ter um efeito estrutural imediato sobre os mercados. O protecionismo, um dos maiores riscos depois do débâcle nos mercados ao longo de 2008, vai se espalhar juntamente com o vírus da influenza. Não tenhamos dúvidas disto. As empresas do setor vão ter que se redobrar com mais esta epidemia. Justificativa de ouro para que os países mais ricos levantem as muralhas do comércio. Japão em queda livre No início do ano acreditava-se que a economia japonesa, cuja higidez do sistema financeira foi recuperada depois de longa crise desde os anos 90, pudesse sofrer menos durante a atual crise que a média dos países mais ricos. Pois bem: do início do ano, quando se acreditava numa queda de 2,5% do PIB, as estimativas pioraram significativamente. A queda do PIB no ano fiscal de abril/09 a abril/10 deve ser de mais de 6,0%, segundo dados do FMI. Assim sendo, o governo japonês está propondo um enorme pacote de estímulo fiscal da ordem de US$ 155 bilhões. Trata-se do quarto pacote a se lançado desde o início do ano. As exportações japonesas podem cair cerca de 30% este ano e as importações 10%. O desemprego deve alcançar o patamar equivalente da maior taxa desde a II Guerra: 5,4%. Brasil : e o médio prazo ? Há evidências factuais de que as medidas governamentais para conter os efeitos da crise externa estejam a produzir resultados. A atividade industrial, embora com significativa piora em relação aos números do ano passado, mostra sinais de estabilização. O mesmo pode se falar em relação ao desemprego, apesar da tendência estrutural ser a de queda no nível das contratações. A sólida posição de nossas reservas somada à possibilidade de se gastar mais sem afetar demasiadamente o cenário fiscal do governo no curto prazo são os dois pilares desta recuperação. Há um terceiro aspecto, este endógeno, produzido pela própria crise: a inflação está dominada, especialmente em função do bom desempenho do real perante as principais moedas mundiais. Os investidores internacionais voltaram com força para comprar ativos brasileiros. Este cenário é de curto prazo e adequado para a fase aguda da crise internacional. As questões mais importantes, porém, vão se concentrando no médio prazo, sobretudo se considerarmos a aproximação das eleições do ano que vem. Seria de grande valia para o país e os agentes econômicos que o governo sinalizasse minimamente sobre as políticas a serem adotadas quando a crise for superada. Crescem as preocupações com a estabilidade da relação dívida pública/PIB, bem como com a qualidade das despesas públicas. Este é o "calcanhar de Aquiles" do governo e do país e sobre o qual nem a administração federal e nem mesmo a oposição tem propostas efetivas e realizáveis. Permanecer estático perante o tema é erro sério de condução da política econômica, cujo sucesso no curto prazo pode ser obscurecido pela falta de sinais sobre o futuro mais longínquo. Protógenes escuta, fala e também come Noite de domingo na capital paulista. Umas oito e meia. Pizzaria lotada e uma fila de espera longa e paciente. Adentra na pizzaria tradicional o delegado Protógenes acompanhado de pessoas de meia idade, todas muito interessadas nas palavras do delegado. Um fotógrafo absolutamente careca registra cada passo do policial em meio a pisadas nos pés e empurrões nos pacientes clientes. Protógenes está em trajes formais: terno azul marinho com listras azuis reluzentes, camisa branca e gravata bordô. Uma imagem da Santa de Fátima lhe adorna a lapela. O cabelo, já escasso, em perfeito alinhamento. Ao traje conservador se sobrepõe um par de óculos moderninho (na falta de melhor palavra). A fila de espera não anda rápido, mas logo se ouve o grito do organizador : Protógenes, quatro pessoas! Impassível o delegado vai passando por entre aqueles que esperam enquanto uma senhora, aquelas conservadoras paulistanas dos Jardins, sussurra ao pé do ouvido de alguém: só porque é delegado passa na frente ! Protógenes senta à mesa com seus comensais e prossegue a tertúlia. Moderado é o delegado. Come uns poucos pedaços de pizza e fala e fala. Escuta de forma absolutamente interessada (e legal). Parece sereno. Sem medo de perder o emprego. Nada é pantagruélico. Nem dantesco (sem trocadilhos, é claro !). Nem tudo termina em pizza, nós sabemos! A história ainda não foi toda contada, não é Dr. Protógenes? Em tempo : Protógenes quer um mandato eletivo. Por via das dúvidas... Questão de caixa Melhor não contar nos próximos meses com nenhuma redução nos preços da gasolina e talvez nem mesmo do óleo diesel. Folga há. O problema é que a Petrobrás está precisando engordar seu caixa para investimentos e o Tesouro Nacional necessitando de recursos para cobrir parte das renúncias fiscais concedidas nos últimos meses e  pagar os aumentos dos gastos de Brasília com o custeio da máquina federal e a folha de pagamentos. Uma diminuição nos preços dos combustíveis só será considerada se houver algum risco de um retorno das pressões inflacionárias. O que ninguém está vendo no horizonte - nem o BC. Como ensinou há poucos dias o presidente da Petrobrás, José Sérgio Gabrielli, o preço da gasolina é também político. E uma espécie de imposto oculto. E a concorrência ? São fortes as pressões (até agora bem sucedidas) das grandes redes abertas de televisão sobre a Anatel e o ministério das Comunicações para que este não autorize a multiprogramação na televisão digital. O sistema brasileiro, adaptado do modelo japonês, permite até quatro emissões (programação) diferentes por canal. Aliás, esta foi uma das vantagens apresentada pelo ministério para justificar a preferência pelos japoneses em detrimento do sistema americano e japonês. Agora, não parece bem assim. E como fica o consumidor nessa história ? Quem tem medo da concorrência. Aliás, a TV Cultura de São Paulo lançou há cerca de dois meses sua multiprogramação, com programas de qualidade, e foi instada pelo ministro Hélio Costa a tirar os canais adicionais do ar, pois não estava "autorizada". Há mais de um mês espera a licença formal e Brasília nem nada com isso. Em tempo : a quantas anda a fábrica de chips prometida pelos japoneses como compensação pela escolha do sistema deles ? Sumiu das conversas oficiais. Como desconfiava muita gente bem informada na época, foi conversa apenas para engabelar o distinto público brasileiro. Ou será que nossas autoridades foram enganadas ? Não venham com a desculpa que a crise, etc, etc...
quarta-feira, 22 de abril de 2009

Política & Economia NA REAL n° 48

  O furacão tornou-se uma brisa fria Na semana encerrada no dia 17/4, os principais mercados de ações globais consolidaram uma alta contínua de seis semanas. Se considerarmos a elevação dos preços das ações norte-americanas nas últimas quatro semanas a conclusão é impressionante : trata-se da maior alta em setenta anos. Algo notável se observarmos que as variáveis fundamentais mais importantes (situação do emprego e do consumo, a produção industrial, a melhoria da liquidez e a estabilidade do sistema financeiro) ainda não apresentaram uma reversão marcante nas expectativas. De toda forma, é possível ser afirmativo no sentido de que a estratégia de provisão de muita liquidez por parte de governos e bancos centrais está a funcionar. Há que se notar também que os resultados do primeiro trimestre do ano do setor financeiro têm sido em linha ou melhores que o esperado pelos investidores e analistas. De uma forma geral, os desempenhos não são nada bons. Ao contrário : a queda de rentabilidade das empresas globais é gigantesca. Todavia, analistas e investidores parecem acreditar que grande parte destes fatos já está refletida nos preços dos ativos. Se isto é verdade ou não, verificaremos no futuro. Mas há sinais sólidos de estabilização da crise. É preciso reconhecer este fato. Sem entusiasmo, ainda. Dois riscos que merecem atenção : inflação e moedas Nos últimos doze meses economistas proeminentes consideravam o risco de deflação considerável e alguns o julgavam muito provável. Depois da injeção de trilhões na economia, começam a pipocar por todos os lados análises de quando o Fed e seus parceiros internacionais começarão a subir as taxas de juros básicos com o objetivo de evitar a inflação. Nada mal que surja esta discussão. Trata-se de algo saudável levando-se em conta o quanto se discute abertamente a possibilidade de uma longa depressão (cujo risco ainda não está totalmente afastado). Somente o Fed injetou US$ 800 bi no sistema financeiro nos últimos oito meses. Na reunião da próxima semana do banco central americano não se espera nenhuma ação. Contudo, é muito provável que daqui para frente os diretores do Fed e dos principais BCs do mundo comecem a dar sinais de como sairemos deste processo de forte estímulo monetário. O objetivo é não criar novas bolhas especulativas. Preste atenção neste noticiário que deve também influenciar fortemente a política monetária do banco central brasileiro. As taxas de juros dos títulos de 5 e 10 anos do Tesouro Americano serão os indicadores mais importantes deste processo. O segundo risco é o possível movimento entre as principais moedas do mundo. O dólar foi o repouso do capital medroso nos últimos meses. Não é certo que o será num cenário mais tranqüilo. Há fortes apostas de que a moeda dos EUA possa sofrer ataques especulativos nos próximos meses. Processos especulativos com moedas são ainda mais nefastos que os processos inflacionários. Por falar em economistas... ...vale a pena ler o que escreveu sobre eles o economista britânico Anatole Kaletsky, num artigo intitulado "Adeus homo economicus", reproduzido nas páginas do UOL (clique aqui). Vai um aperitivo : "Adam Smith foi um economista ? John Maynard Keynes, David Ricardo ou Joseph Schumpeter também foram ? Segundo os padrões dos economistas acadêmicos de hoje, a resposta é não. Smith, Ricardo e Keynes não produziram modelos matemáticos. O trabalho deles carecia do 'rigor analítico' e da lógica dedutiva precisa exigida pela economia moderna. E nenhum deles produziu uma previsão econométrica (apesar de Keynes e Schumpeter terem sido matemáticos competentes). Se qualquer um destes gigantes da economia se candidatasse hoje a um emprego em uma universidade, eles seriam rejeitados. Se você acha que estamos exagerando, pergunte a si mesmo que papel os economistas acadêmicos exerceram na atual crise. Quantos tiveram algo útil a dizer a respeito do maior colapso em 70 anos? A verdade é ainda pior do que esta questão retórica sugere: não apenas os economistas, como profissão, fracassaram em conduzir o mundo para fora da crise, como também foram os principais responsáveis por nos conduzir até ela." Metais preciosos em baixa Nem tudo que brilha é ouro. Nos últimos tempos o desempenho dos metais preciosos foi brilhante. Altas e mais altas em função do medo em relação à estabilidade do sistema financeiro, bem como os temores de que a inflação se intensifique ou mesmo torne-se descontrolada no futuro (hiperinflação). O cenário mais calmo está jogando as cotações dos metais preciosos para baixo. Um bom sinal, sem dúvida. É parte da boa safra de notícias nas últimas seis semanas. É possível que esta tendência de curto prazo possa se cristalizar em um processo de queda de médio prazo. Atenção ! Radar "NA REAL" 3/4/9   TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo (0 a 6 meses) Médio Prazo (6 a 12 meses) Juros ¹        - Pré-fixados NA estável estável  - Pós-Fixados NA queda estável Câmbio ²        - EURO 1,29 alta alta  - REAL 2,19 alta alta Mercado Acionário        - Ibovespa 45.778 estável alta  - S&P 500 869,60 queda estável  - NASDAQ 1641,35 queda estável (1) - Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais)(2) - Em relação ao dólar norte-americanoNA - Não aplicável Volatilidade ainda alta Apesar do cenário melhor nas últimas semanas isto não significa que estamos convencidos de que a crise está sendo superada. Ainda temos um longo processo para que isto possa ser afirmado. Para ilustrar o que estamos a afirmar utilizemos dois índices de volatilidade : o índice de volatilidade da Bolsa de Chicago que mede o risco (volatilidade) embutido nas 100 principais ações do NASDAQ. Este índice gravita no momento ao redor de 39-42 pontos. No período de outubro a dezembro do ano passado, estava ao redor de 70 pontos. Vê-se uma grande melhoria. Todavia, antes da crise do ano passado, por volta de agosto, este índice estava entre 18-23 pontos. No caso do índice de volatilidade da Bolsa de Chicago que mede o risco das ações do S&P500 (500 maiores empresas dos EUA), os números são semelhantes : entre outubro e dezembro o indicador estava ao redor de 75-80 pontos, no momento gira ao redor de 40 pontos e por volta de agosto estava entre 16 e 20 pontos. De uma forma geral, podemos dizer que o risco hoje á o dobro de antes da instalação da crise financeira em meados no ano passado. Algo muito sério. Meirelles dá sinais sobre o momento e o futuro As várias entrevistas e declarações do Ministro Presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, sobre o cenário econômico devem ser lidas nas entrelinhas. Como costuma ser o caso dos presidentes de BCs os quais lidam, digamos assim, com assuntos conjunturalmente delicados. Quando Meirelles afirma que (i) é "prematuro" dizer que a taxa de juros de um dígito será alcançada no curto prazo em função de "fatores conjunturais (queda da atividade)" e "fatores estruturais (queda do risco país)" e que (ii) "não sabemos como será a conjugação destes fatores no futuro", ele muito provavelmente quer dizer que tudo depende da crise externa no curto prazo e de maior controle fiscal no médio e longo prazo. Há alertas de todos os lados por parte do presidente do BC. A queda da arrecadação e a estabilidade da relação dívida X PIB são destaques dentre as maiores preocupações do Presidente do BC. "Vamos aguardar o desenvolvimento da crise, a retomada das atividades, para ver como a economia brasileira vai se equilibrar (grifo nosso) mais a frente". Vê-se aqui uma afirmação de moderação frente ao intenso processo de maiores gastos públicos, bem como relativa folga monetária. No que se refere ao spread bancário há certo silêncio de Meirelles. Ele disse que "O Banco Central e a Fazenda estão trabalhando nisso...". Ora, Meirelles sabe que a questão é bem mais complexa do que vem sido comentado na imprensa e dentro e fora do governo. (Vide notas sobre o assunto na coluna de 14/4/09 - clique aqui). O Calendário não ajuda muito (ou nada) É provável que a crise internacional afete o Brasil bem menos que o esperado. Há sinais de que é isto que pode acontecer. Um início de recuperação da atividade econômica, sobretudo do emprego, pode ocorrer entre o último trimestre deste ano e o primeiro do ano que vem. Todavia, há mais coisas entre o céu e a terra nesta matéria... O tal "equilíbrio" sobre o qual menciona Henrique Meirelles é uma relação sadia entre (i) a taxa de inflação, (ii) o superávit primário que permite uma queda consistente do endividamento público e (iii) a retomada do crescimento do PIB. O problema desta equação é que, numa fase de forte expansão fiscal, não há razão objetiva para que o governo (liderado pela Fazenda e pelo gabinete presidencial) retome uma política de maior contenção fiscal no exato momento do processo eleitoral de 2010. Convenhamos que é difícil imaginar o ministro Guido Mantega e ainda muito mais difícil no caso do presidente Lula anunciando medidas de contenção fiscal em meio à campanha eleitoral do ano que vem. Meirelles sabe disto e já começou a sinalizar agora que moderação fiscal é essencial. Talvez esta seja a senha para a saída de Meirelles do BC, sabidamente um apaixonado pela idéia de ser candidato ao governo de Goiás.   O calendário é da política Meirelles deu de negar, nos últimos dias, que esteja de malas prontas para embarcar num partido político até setembro e desembarcar do Banco Central. Diz que seu compromisso com Lula vai até o fim do mandato do atual presidente. Pode ser. É bom, porém, não apostar alto nessa ficha. Meirelles está ainda mordido pela política e sua ida para o BC em 2003 foi um ponto fora da curva, que apenas adiou seus planos de governar Goiás e, quem sabe, chegar mais alto um pouco na República. Embora Meirelles esteja se mostrando um pouco menos "duro" na condução da política monetária e até se omitindo diante da farra fiscal que se delineia no horizonte, ele ainda é um incômodo nos novos rumos econômicos traçados por Dilma Roussef e Guido Mantega com o incentivo - mais até do que isso, sob pressão - do presidente Lula. A saída de Meirelles, ainda cioso da independência do BC, substituído por um funcionário de carreira do BC, facilitaria o trabalho do Planalto, que já tem bem enquadrados o BNDES, a Caixa Econômica Federal e mais recentemente o Banco do Brasil. Lula não fará força para Meirelles ficar. Pelo contrário...   Os números reais do Orçamento Com a redução da meta de superávit primário de 3,8% do PIB para 2,5% (que pode virar 1,5%) deste ano, o governo informa que liberou mais ou menos R$ 40 bilhões para garantir os investimentos, que por sua parte, garantirão que o PIB nacional chegará com um crescimento positivo ao final do ano em pelo menos 2%. Isto no ano, pois no último trimestre, pelo binóculo de Mantega, ele estará aquecido em algo entre 4% e 5%. A questão é se este volume de recursos vai mesmo para investimentos produtivos ou para investimentos de bom retorno eleitoral. Somente com os aumentos devidos aos funcionários a partir de julho, serão consumidos mais R$ 29 bilhões. As novas renúncias fiscais - produtos da linha branca, mais materiais de construção - também não foram contabilizadas. Além do mais, o déficit da Previdência Social cresceu 16% de janeiro a março deste ano em relação ao mesmo período do ano passado. Convoque-se um contador, rápido !   Poupança: uma questão eleitoral O governo inteiro já está convencido de que precisa mudar as regras de remuneração da caderneta de poupança, daqui até a próxima reunião do Copom. Caso contrário, os juros não poderão cair muito mais do que cairão no dia 29. Sabe, mas se "péla" de medo de sofrer algum desgaste político se não se explicar bem ou cometer alguma barbeiragem. O fantasma do "confisco da poupança" de Collor ronda o Planalto. Pelo mesmo motivo, o presidente Lula não quer se intrometer diretamente na confusão jurídica do ressarcimento de possíveis perdas que os poupadores tiveram com os planos econômicos heterodoxos anteriores ao Plano Real. Deixou para o Banco Central esta tarefa, mesmo sabendo também do interesse dos bancos estatais e que no final, conforme da decisão do STF pode sobrar para o governo, pois foi ele quem impôs aos bancos as regras de correção que estão sendo agora contestadas. Petrobras : gastos e mais gastos Não se constituiu em uma "surpresa" as notas registradas na imprensa sobre os gastos da estatal do "petróleo é nosso" com a ONG Fórum das Entidades Negras da Bahia, terra do presidente da empresa José Sérgio Gabrielli e de seu amigo político Jaques Wagner. Há dúvidas sobre a qualidade dos gastos da estatal, sobretudo no quesito eficiência, já há tempos. Analistas especializados no setor de petróleo comentam "à boca pequena" sobre o aumento sistemático e relevante dos gastos da Petrobras desde o início da primeira administração do presidente Lula. Obviamente, a Petrobras é parte integrante (senão atriz principal) da promoção da cultura brasileira via apoio a uma gama elástica de eventos, projetos, filmes, etc. Logo, há poucos críticos dispostos a atentar e comentar sobre a evolução das contas e dos informes financeiros da empresa. Além disso, a Petrobras é grande emissora de títulos no mercado local e externo. Razão para a moderação dos analistas em seus relatórios. Assim sendo, tudo fica sob certo silêncio. De vez em quando, pipocam informações aqui e ali sobre os gastos da Petrobras. Tal qual surgem os poços de petróleo na vastidão do mar... Críticas que são elogios O presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, seguindo a senda reaberta recentemente pelo presidente da Câmara, deputado Michel Temer (PMDB/SP), diante dos flagrantes registrados pela imprensa, de "patrocínios companheiros" da empresa que ele dirige, atacou a mídia por divulgar essas notícias. Está virando moda num mundo político em que o presidente da República não lê jornais para não ter "azia". Indignação de Gabrielli à parte, a realidade é que a Petrobras está ficando politizada demais. Aliás, o próprio admite que os preços da gasolina tem um componente político. Esta semana, a companhia, trocou o presidente de sua subsidiária de biocombustíveis, inaugurada há apenas nove meses : saiu o funcionário de carreira, Alan Kardec e entrou o ex-ministro do Desenvolvimento Agrário, Miguel Rossetto, um dos postulantes do PT ao governo do Rio Grande do Sul. E tem o caminhão de dinheiro para ONGs petistas na Bahia (nota acima) onde se diz que Gabrielli é candidato a um das vagas baianas no Senado no ano que vem. Quando às críticas à imprensa do tipo da sacada por Gabrielli e de outros, jornalistas sérios as consideram como um troféu. Graves e preocupantes, no caso, seriam os elogios.   O amor nos tempos do bispo Fernando Lugo Méndez, atual presidente do Paraguai, ex-bispo que se tornou político proeminente da chamada "esquerda" de nosso continente, é daqueles personagens latino-americanos que cabem com perfeição na literatura de Gabriel Garcia Marquéz. O primeiro mandatário do Paraguai é conhecido pelas suas bravatas sobre a exploração que o Brasil impõe ao pobre país por meio da Hidrelétrica de Itaipu, além das clássicas idéias sobre a exploração capitalista do ser humano. Todavia, o que o ex-bispo gosta mesmo é daqueles amores noturnos com as moças pobres de seu rebanho religioso. É certo que teve um filho (agora reconhecido) de Viviana Carillo há cerca de dois anos "depois de uma longa relação". Vejam só ! Agora aparece uma pobre senhora, Benigna Leguizamón, de 27 anos, que alega ter um filho com o bispo-galã Lugo de 57 anos. As mulheres indignadas de seu gabinete clamam ao presidente que faça um exame de DNA. Ou será um vexame de DNA ? Não consta que as indignadas tenham renunciado a seus cargos junto ao presidente-bispo e galã. No romance Del amor y otros demonios, Gabriel Garcia Marquéz conta-nos sobre Sierva Maria Todos los Ángeles, uma menina abandonada por sua família e criada entre os escravos. Mordida por um cachorro raivoso, lá pelas tantas e depois de várias tentativas de tratamento, é internada num convento passando a receber a generosa ajuda do Padre Cayetano Delaura. Tentado "pelas coisas do demônio" aquele obrero de Dios torna-se um caliente apaixonado. Ah ! O amor ! Tudo isto (em Marquéz) se passa 200 anos atrás, mas poderia ser reescrito em terras paraguaias por estes tempos, não é mesmo ? A vice sucessão I Todos os movimentos do presidente da Câmara, Michel Temer, têm um objetivo : ganhar a vaga de vice na chapa de Dilma Roussef, reservada pelo Planalto ao PMDB. Faltou combinar com Lula, a quem caberá a palavra final, e que tem uma alentada lista de nomes peemedebistas à frente do de Temer. Lula não tem nenhuma predileção por Temer, que no primeiro mandado do petista foi um dos líderes do chamado "PMDB (nem tanto assim) de oposição". A vice sucessão II Todos os movimentos do candidato a candidato presidencial Ciro Gomes e seu partidos visam unicamente ampliar o espaço dos dois para tentar alijar o PMDB da posição de o escolhido por Lula para formar a dupla governista com Dilma Roussef em 2010. Esforço vão. Lula não vai contrariar o PMDB que já está dando trabalho, em termos regionais em Minas Gerais, na Bahia, no Rio Grande do Sul, em Santa Catarina, no Pará, em São Paulo... A vice sucessão III Ciro Gomes às vezes aponta, como uma espécie de alerta para Brasília, para a possibilidade de fazer um dobradinha com Aécio Neves, que tem entre seus aliados em Minas o PSB. Neto de Tancredo, porém, Aécio não é de aventuras nem pode, mesmo com todo o seu prestígio nas Gerais, se dar ao luxo de ficar quatro anos sem mandato.
terça-feira, 14 de abril de 2009

Política & Economia NA REAL n° 47

Terça-feira, 14 de abril de 2009 -nº 47 Sinais promissores, mesmo que iniciais O mercado financeiro e de capital tem a característica de registrar as variações das expectativas dos investidores sobre o futuro. Vale dizer que "expectativas" não significam estimativas razoáveis. Entre a realidade presente e as expectativas anteriores, verifica-se, em geral, enorme distância. Feita esta ressalva, há sinais de estabilização dos mercados financeiros mundiais. Há cinco semanas, a maioria das principais bolsas de valores apresenta alta. Consistente, até agora. No mercado de renda fixa (bonds do setor privado e público, por exemplo) o mercado está bem menos "travado". Há mais liquidez e as injeções de recursos por parte dos BCs está produzindo resultados. O mercado de metais está mais estável, apesar dos temores no que diz respeito à inflação no longo prazo. Embora os indicadores econômicos das economias centrais ainda sejam sofríveis, a estabilidade do mercado pode indicar que a economia mundial, especialmente a norte-americana, está a tocar o seu ponto mais fundo. Quiçá não afunde mais. Até mesmo o setor financeiro, vilão ímpar nesta crise, está dando sinais de maior tranqüilidade. Os resultados do Wells Fargo, terceiro no ranking dos EUA, devem ser melhores que o esperado no primeiro trimestre do ano. Pouco a pouco, as instituições financeiras globais vão recuperando a debilitada credibilidade. Tudo é muito inicial. Todavia, melhor assim do que a turbulência de há poucas semanas. Mas, preste atenção: nas próximas semanas, durante a divulgação dos resultados do primeiro trimestre das empresas com ações negociadas negociadas em bolsas, a volatilidade deve continuar alta, mesmo que menos. Brasil com chance de ser vencedor É inegável a melhor condição de nosso país perante os seus pares na economia mundial. A boa posição externa, o controle da inflação (que permite a queda dos juros básicos) e a solidez do sistema financeiro são os destaques dentre as nossas fortalezas conjunturais. O potencial de crescimento doméstico, a disponibilidade de recursos naturais e a crescente força de nossas instituições são os aspectos estruturais mais notáveis. Os riscos estão associados à necessidade de reformas estruturais, sobretudo aquelas que permitam disciplina fiscal no longo prazo. O crescimento das despesas do setor público é muito preocupante, além da falta de qualidade destes dispêndios. A falta de funcionalidade do sistema político também merece reparos. Dado o melhor cenário, estamos alterando para melhor o nosso radar : (i) o real deve se valorizar nos próximos seis meses e (ii) os juros devem cair de forma mais consistente nos próximos meses e no longo prazo. A situação parou de piorar Análise de um ministro influente junto ao presidente, embora não faça alarde disso, e que lida com o mundo real da economia, a fábrica, todos os dias : há sinais mais seguros do que as estatísticas estão mostrando, de que a economia brasileira está retomando lentamente suas atividades. Quem vive do mercado interno vai aos poucos levantando a poeira. Mais dificuldades enfrentam os setores exportadores, e a retomada deles será mais lenta. É bom lembrar que nossas exportações representam apenas 4% de toda a economia nacional. Uma das falhas do nosso sistema econômico, mas que agora se revela uma vantagem. Pátio dos milagres Do mesmo ministro: raramente ele tem recebido em seu gabinete na Capital Federal ou durante as viagens alguém (seja um empresário, seja um representante do setor produtivo, ou ainda algum líder sindical) alguém que vá visitá-lo apenas para apresentar alguma sugestão, discutir alguma idéia. Estão todos pedindo alguma coisa, pressionando. Conselho desse ministro: não adianta pressionar e trazer uma batelada de números organizados de modo a justificar as reivindicações. O governo, ao contrário do que muitos acham, tem um sistema de acompanhamento dos agregados econômicos de alta qualidade, invejável, e sabe o que está ocorrendo de um modo geral em tempo quase real - vendas, exportações... E vai agir quando necessário, com presteza, como o fez no caso, por exemplo, da indústria automobilística. Experiente no mundo fora da burocracia, ele diz que choradeira rende mídia... Novas bondades Está praticamente definido : o governo vai realmente reduzir impostos sobre geladeiras, fogões e máquinas de lavar para incentivar o mercado dos produtos da chamada linha branca. Inicialmente, o projeto, apelidado de bolsa-geladeira, era só para essa mercadoria e visava, principalmente, promover a redução do consumo de energia. Agora, com a inclusão dos fogões e máquina de lavar no pacote, ganha uma conotação de política anticíclica. Ela somente não foi anunciada na semana passada porque ainda faltam alguns ajustes com o ministério da Fazenda, por causa da renúncia fiscal, e resolver a questão com as prefeituras, porque o IPI compõe, juntamente com o IR, a fonte de alimentação do Fundo de Participação dos Municípios. O ministro Miguel Jorge chegou a sugerir que as casas do programa "Minha Casa, Minha Vida" já fossem vendidas com esses três bens, tudo incluído no financiamento a ser pago em dez anos. Não deu tempo. O governo tinha pressa em soltar seu pacote habitacional. Radar "NA REAL" 10/4/9 TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo (0 a 6 meses) Médio Prazo (6 a 12 meses) Juros ¹ - Pré-fixados NA queda queda - Pós-Fixados NA queda queda Câmbio ² - EURO 1,3275 estável alta - REAL 2,18 alta alta Mercado Acionário - Ibovespa 45.538,71 estável alta - S&P 500 856,56 queda estável - NASDAQ 1.652,54 queda estável (1) - Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais)(2) - Em relação ao dólar norte-americanoNA - Não aplicável O tal do "spread" É legítimo que o presidente Lula fique preocupado, ansioso e obcecado com a queda do spread bancário. De fato, este é elevado no Brasil. Todavia, seria recomendável que o presidente fosse com cuidado ao carregar este andor. Afinal, não estamos a tratar de um assunto banal - ao contrário, é complexo. O spread é a diferença líquida entre o custo de capital da captação dos bancos (a taxa de captação) e a rentabilidade dos ativos (taxa de aplicação), o que inclui os empréstimos para o setor público e privado. Esta diferença inclui desde impostos incidentes nas transações financeiras (IOF, por exemplo) até a taxa de risco exigida por cada banco para conceder um empréstimo ou comprar um ativo financeiro. Há uma enorme gama de fatores que podem afetar o spread bancário. Vamos citar alguns dos mais importantes : (i) o déficit público financiado por títulos do governo que concorrem com os empréstimos privados ; (ii) a volatilidade dos ativos que reflete maiores riscos sistêmicos e não-sistêmicos - exatamente o que ocorre no momento ; (iii) o ambiente concorrencial do setor bancário - maior concorrência, menor spread ; (iv) a demanda por crédito em comparação com a oferta, incluído o que citamos no item (i) ; (v) a taxa de inadimplência e a facilidade para a recuperação judicial de empréstimos concedidos ; e, (vi) o ambiente de regulação da autoridade bancária, no caso do Brasil, o BC. Como se pode verificar... A redução (desejável) do spread bancário depende de uma gama extensa de medidas que vão desde a facilitação na concessão e recuperação de créditos, medidas tributárias e redução do risco sistêmico e não sistêmico da economia como um todo. É possível, digamos, politizar a questão, mas não é desejável e sequer viável do ponto de vista de bom funcionamento do sistema financeiro. Muito melhor, adotar medidas efetivas para reduzir a taxa de risco do sistema. Necessariamente, tais medidas dependem em larga medida do próprio governo. Cabe a ele propor, estimular e regular em prol de um menor spread. Há ainda que se modificar leis e mudar o funcionamento do Judiciário; medidas de médio prazo. Cuidado com a eficiência Tornar o spread menor por meio de medidas limitadas e, ademais, artificiais, é erro grosseiro. Pode incitar que o sistema tome riscos incompatíveis com a rentabilidade dos ativos o que gera crescentes riscos para todo o sistema. O spread bancário, dentre suas principais funções, tem o papel de dar eficiência à relação entre os retornos esperados para o sistema financeiro e os riscos existentes na economia, nas empresas e nos indivíduos. Exemplos da falta de eficiência desta equação (risco versus retorno) estão espalhados pelo mundo neste exato momento. O sistema financeiro lá fora quebrou exatamente por causa deste tal de spread ! E os bancos públicos ? Utilizar os bancos públicos para aumentar a concorrência no setor bancário é legítimo. Aliás, isto já ocorre de fato. Todavia, baixar o spread destes bancos por meio de medidas artificiais e que firam a boa técnica bancária não é apenas indesejável. É temerário. Não somente aos acionistas das instituições (o próprio Estado e os privados), mas a todo o sistema. Basta verificarmos o custo do ajuste do sistema financeiro estadual há uma década para conhecermos o custo da má gestão de bancos públicos. Em meados dos anos 90, o Tesouro Nacional colocou R$ 8,5 bilhões de dinheiro de impostos cobrados para prestar serviços ao cidadão, para capitalizar o BB. E mais uma montanha do mesmo suado dinheiro na CEF. Se o governo desejar reduzir o spread diretamente para os (ou alguns) tomadores que o faça por meio de um subsídio devidamente registrado no orçamento. Utilizar o balanço da banca estatal para esta tarefa é pouco saudável, para não dizer insano. Esta discussão pode sair cara O sistema financeiro lá fora está combalido em função da irresponsabilidade na gestão dos bancos. Levantar a questão do spread bancário da forma como o presidente Lula fez, neste momento delicado do sistema financeiro internacional, é muito imprudente. Toca-se no veio saudável do sistema de crédito brasileiro, um dos pilares de nossa estabilidade. Melhor trabalhar muito na matéria. Sem bravatas. Esta é para ser premiada Apesar de todas as condicionantes citadas acima, que desaconselham uma ação meramente voluntarista na questão dos spreads bancários, o novo presidente do BB anunciou que pretende promover uma redução "agressiva" dos juros cobrados pela instituição que ele vai passar a comandar a partir do dia 23. Se o senhor Aldemir Bendini, esse é o nome dele, conseguir tal façanha num curto espaço de tempo, sem que os entraves citados nas notas anteriores tenham sido removidos, e sem causar desarranjos perigosos na saúde do BB, ele pode começar a preparar o passaporte para no fim do ano: vai viajar até Estocolmo para receber o Prêmio Nobel de Economia de 2009. G-20 : depois de duas semanas Conforme afirmamos nesta coluna, a reunião do G-20 foi um sucesso inesperado. Todavia, este sucesso político tem de ser transformado em políticas objetivas e efetivas para reverter o deplorável estado da economia mundial. Na semana passada, uma substancial parcela de recursos foi liberada pelos países-membros para capitalizar o FMI, responsável por políticas de estímulo e saneamento financeiro. Não se sabe o que mudará nas regras do Fundo para ser mais ágil na concessão destes empréstimos. O problema ali não é exatamente o tal do spread, mas bem que o presidente Lula poderia dar uma mãozinha e ajudar na matéria... Brown, sem sorte. Gordon Brown é um excelente propugnador de políticas públicas. É inegável, basta verificar o histórico do ex-chefe das finanças inglesas. Além disso, é notável o seu papel dentre os países do G-20. O sucesso da reunião de duas semanas atrás em Londres se deveu muito a Brown. O problema do premier inglês é a falta de sorte : logo agora quando sua popularidade doméstica estava um pouquinho melhor, um dos seus principais assessores Damian McBride solta por aí uns e-mails comprometedores. O G-20 deve perder um de seus articuladores. Por falta de voto nas próximas eleições e por falta gritante de sorte. A expansão da China A China vai ampliando seus tentáculos, sobretudo na área de maior influência geopolítica. O país comunista acaba de liberar US$ 10 bi para apoiar obras de infra-estrutura nos países do sudeste asiático (que reduzem os custos de suprimentos para a própria China) e US$ 15 bilhões em créditos para os sistemas financeiros de diversos países. O Japão, pouco a pouco, está a perder a liderança regional na bacia do Pacífico. A concordata da GM A provável concordata da GM nos EUA vai ser muito importante para todo o setor automobilístico mundial. A partir deste fato, o setor deve ser redesenhado em todo o planeta, incluído neste novo cenário o setor de auto-peças. Além da esperada consolidação mundial deste segmento, é provável que a conjuntural fragilidade das autopeças, a ser acentuada com a concordata da GM, possa criar problemas para a expansão do setor nos próximos anos. Microsoft e Yahoo Voltam a namorar as duas empresas. Estabeleceram um acordo comercial para cada empresa poder vender publicidade para a outra. Será que o namoro acaba em casamento ? Transparência - I Depois que o presidente da Câmara, Michel Temer, decretou que a imprensa é a grande responsável pelo processo de desmoralização pela qual passa o Congresso - um pêndulo onde ora sobe (ou desce a Câmara), ora o Senado - fica estabelecido que: 1. Foi a mídia que construiu aquele castelo no interior de MG e não declarou nada no IR. 2. Foram os jornalistas que nomearam o senhor Agaciel Maia para a diretoria-geral do Senado e o mantiveram lá por 14 anos. 3. Foram os jornais que entregaram o celular do senador Tião Viana à filha dele para usar durante uma viagem ao México. 4. Foi a mídia que inocentou vários suspeitos do mensalão. 5. Foram os jornalistas que enviaram seguranças do Senado para tomar conta de prédios privados da família Sarney. 6. Foram os jornais que usaram empresas de segurança do deputado Edimar Moreira para justificar gastos do deputado com a verba indenizatória de R$ 15 mil que os parlamentares recebem mensalmente. 7. Etc, etc, etc... e não se fala mais nisso. Transparência - II O Senado foi um pouco - digamos - mais "sutil" no processo de "culpabilização" da imprensa pelos males do Legislativo. Está dificultando o acesso dos jornalistas às informações sobre questões administrativas da Casa. Tem a sua lógica : há muito a administração no Congresso deixou de ser uma coisa pública, foi literalmente privatizada, loteada. A determinação partiu de um membro da ABL, entidade que deveria ajudar a zelar, entre outras coisas, pela liberdade de informação e pela liberdade de expressão no Brasil. PAC : há algo de errado Alguma coisa não está batendo. Todas as vezes que têm oportunidades, Lula e Dilma, além de tecer loas ao PAC, garantem que ele vai muito bem obrigado, que não sofre grandes percalços. No entanto, nas vésperas de um grande feriado, Lula reuniu oito ministros em Brasília para cobrar mais agilidade no andamento das obras. Depois, ensaiou uma crítica aos prefeitos por certa demora, dizendo que eles se queixam da falta de recursos, mas quando aparece o dinheiro eles não têm projetos. Se está tudo bem, por que cobrar dos ministros mais presteza e tentar inculpar os dirigentes municipais ? Com a corda toda Depois de alguns meses mais ou menos desaparecido da mídia, por razões particulares, o deputado, ex-ministro e candidato a candidato a presidente da República, Ciro Gomes, retornou às lides. E com a palavra afiada, ao seu estilo. Seus alvos preferidos são os tucanos, especialmente FHC e José Serra - taticamente poupa Aécio Neves. Indiretamente (e até diretamente) dirige também suas baterias em direção à ministra Dilma Roussef e ao presidente Lula. Com o amparo de seu partido, o PSB, defende agora a tese de que o governo deve ter dois candidatos na corrida pelo lugar de Lula, para garantir um segundo turno entre um governista e Serra. Ora, com isso, Ciro está dando como certo que o candidato tucano será o governador paulista e que ele já está no segundo turno, com chances de vencer logo na primeira rodada. Na realidade, embora Ciro deseje mesmo concorrer e como preferido de Lula, eles estão num movimento para minar um pouco a posição do PMDB na aliança governista do ano que vem. Como se sabe, o PMDB é a primeira opção de Lula para o lugar de vice numa chapa liderada pela ministra chefe da Casa Civil. Um feriado oportuno ? Nesta altura, terça-feira 14 de abril, o Tesouro Nacional tem todas as informações sobre o comportamento da Receita Federal no mês março. Nada vazou até agora, se foi melhor ou pior do que os desastrosos janeiro e fevereiro. Porém, será fácil descobrir qual a tendência da arrecadação nos três primeiros meses do ano. Se o Ministério da Fazenda anunciar os resultados de hoje até quinta-feira pela manhã ou início da tarde, é porque a situação melhorou. Se deixar para sexta-feira ou para a segunda-feira da semana que vem, espremida pelo feriado de Tiradentes, é porque as coisas não foram bem. Brasília estará vazia, a população se divertindo, a mídia menos atenta e, portanto, as repercussões são menores e tudo se dilui. Esta é uma velha tática do setor público : dar as notícias desagradáveis quase sorrateiramente.
terça-feira, 7 de abril de 2009

Política & Economia NA REAL n° 46

  Terça-feira, 7 de abril de 2009 - nº 46 G-20, uma excelente surpresa! A reunião do G-20 na semana passada se constituiu na mais importante das últimas décadas no que se refere à economia mundial. Foi um sinal político essencial para que a atual crise comece a ser superada. Foi significativa a disposição dos mais importantes países do mundo para negociar e abrir mão de posições iniciais. Dois exemplos que ilustram o que estamos a dizer : os EUA se dispuseram a discutir a maior regulamentação dos mercados e a Inglaterra - de fato um dos maiores paraísos fiscais do mundo em função dos benefícios que dá aos milionários de toda estirpe - dispõe-se a discutir a maior fiscalização de tais mercados "obscuros". Estes foram pontos, digamos, políticos. Do lado mais "prático", a capitalização dos organismos multilaterais (FMI, BIRD, etc.) também mostrou convergência das lideranças no sentido de criar mecanismos mais "automáticos" para atender às demandas de capital, tão necessárias depois da eclosão da crise, sobretudo no caso dos países mais pobres. No mercado financeiro há diagnósticos variados sobre tal reunião. Há os que desprezam os atos políticos vinculados as estes difíceis momentos. Afinal, dizem existir apenas uma "realidade objetiva" e que as iniciativas políticas pouco servem. Há os que viram nesta reunião de Londres outro e importante passo para o aprofundamento das políticas já praticadas. De nossa parte, julgamos essencial que os políticos demonstrem a todos o que estão a propugnar e realizar. Neste momento de crise é preciso atuar intensamente sobre as expectativas. Positivamente. Foi isto que ocorreu nos arredores da Corte de St. James. Os mercados agradeceram apesar do ceticismo de alguns... G-20: a dúvida - I A grande incógnita para muitos é a capacidade dos líderes do G-20 de levar adiante o mundo de boas intenções e boa vontade contidos no documento da cúpula de Londres. Com razão: no mesmo dia em que Barak Obama com seus companheiros se comprometiam em novas práticas de controle financeiro, o governo americano mudava as regras contábeis para seus bancos, facilitando a arte de "mascarar" perdas. Não foi um bom exemplo. G-20: a dúvida - II A incapacidade do Conselho de Segurança da ONU de encontrar uma solução de consenso para "chamar a atenção" da Coréia do Norte por ter disparado um foguete, mostra perfeitamente na prática as dificuldades reais de qualquer tipo de coordenação mundial na prática, seja no campo da política, seja no campo da economia. G-20: a dúvida - III Foi mais do que vaga a referência, no documento de Londres, à retomada das negociações da Rodada Doha da OMC. Os G-20 (que, aliás, são mais de 20) nem marcaram data para a reabertura das conversas sobre a liberalização do comércio internacional. Em momentos de crise interna, não há clima para assumir compromissos definitivos que podem comprometer os arranjos políticos internos. Lula, The Good Guy ! É certo que, se o presidente Lula não brilhou entre as paredes durante as reuniões do G-20, certamente o presidente brasileiro colheu excelentes frutos políticos externos na sua passagem por Londres. O Brasil tem conseguido aumentar a sua importância na política internacional. É fato. Há certa surpresa que isto tenha ocorrido de forma mais notória durante as duas administrações do presidente Lula. Afinal, se trata de um "presidente-operário" que faz prevalecer o simbolismo político e diplomático por detrás deste papel. É igualmente fato que no mundo complexo em que vivemos, a coisa funciona. Sobretudo, quando se está em ambiente onde a língua não é o português. (Que importam os tropeços gramaticais do Presidente?). Todavia, se fugirmos um pouco desta lógica midiática, veremos que o nosso presidente está muito bem enquadrado ao "sistema" que outrora ele rejeitou ou contra o qual protestou. Neste contexto, Lula avança a passos largos, mesmo porque é "útil" à dinâmica da política internacional. Representa muito bem o papel dos "outros" e, convenhamos, não dá nenhuma dor de cabeça. Nem tem armas nucleares. Não adianta a mídia criticar Lula em função do que esta acredita ser o papel do presidente. A identificação dele com o povo é fato - basta ver os seus índices de popularidade - e sua imagem internacional construída cuidadosamente sob uma retórica conveniente a todos. Lula não é ameaça ao "sistema". É parte integrante do "sistema". Um capitalista detentor de quotas do FMI ! Lula, a frustração O Itamaraty nem o Palácio do Planalto jamais admitirão, mas foi grande a frustração dos brasileiros em relação a alguns pontos das decisões e promessas do G-20. Nada, ou quase nada de relevante das pregações de Lula anteriores ao encontro foi levado em consideração. E o que foi, foi sobre a ótica dos EUA e da União Européia. O mais fino exemplo é que nem se "cheirou" a tese do "Estado forte", carro-chefe das novas idéias de Lula para a economia global. Fatos e mercados Dois sinais muito importantes e positivos surgiram no horizonte nas últimas semanas, a saber, o plano de capitalização das instituições financeiras norte-americanas e a reunião do G-20 acima comentada. Enquanto estes sinais não criam uma nova dinâmica, ainda estamos colhendo os frutos da tsunami da crise financeira que contaminou o mundo real desde o final de 2007. O desemprego nos EUA chegou ao patamar de 8,5% (5,0 milhões de pessoas). O crédito continua a se contrair. Para se ter uma noção, a maior parte das operações de crédito interbancárias no mercado internacional, segundo dados do BIS, têm prazo máximo de três meses. Quase todas as instituições financeiras multinacionais ainda estão reduzindo ativos - na média entre 20%-30% do total de ativos registrados ao final de 2008. Na Europa, os preços industriais caíram 0,5% em fevereiro, a maior queda em 10 anos. Em relação ao mesmo período do ano passado, os preços estão 1,8% menores. Trata-se de uma perigosa deflação entre os setores mais organizados da Europa e que simboliza a fragilidade da economia neste momento crucial. No segmento de consumo as vendas na zona do euro caíram em fevereiro 0,6% em relação a janeiro e 4% em relação ao mesmo mês do ano anterior. Estes são exemplos para nos lembrar que o processo de alastramento da crise está menos intenso, mas ainda não há evidências que apontem para uma contenção efetiva da queda da atividade econômica. Os mercados estão a viver do paradoxo entre o curto prazo muito incerto e negativo e as melhores notícias para o desempenho de longo prazo dos ativos. É o mercado internacional que dará o tom da recuperação econômica. Estamos numa crise severa dos países centrais. Para o Brasil, localizado na periferia do sistema, a crise tem contornos mais suaves, mesmo que muito relevante. Deve continuar assim, desde que a política econômica combine doses de coragem combinada com doses de sabedoria e responsabilidade. Até agora, no geral, a política econômica tem rumo certo no sentido de estimular a atividade econômica. Todavia, os riscos estão também à solta: a falta de transparência sobre o custo fiscal daquilo que está sendo gasto pelo setor público e a ausência de quaisquer reformas estruturais. A letargia do Congresso é sinal evidente do atual momento de ausência de reformas. Bom sinal para a indústria A produção industrial brasileira cresceu em nove das 14 regiões pesquisadas em fevereiro ante janeiro deste ano, na série com ajuste sazonal, segundo dados do IBGE. Apesar da queda em relação ao ano anterior ser muito significativa (-17%), a estabilização da produção industrial é uma boa notícia para o país. Trata-se de um sinal de que as políticas anti-crise estão a funcionar. A dúvida é se se trata de um processo sustentável de dois pontos de vista: (i) no que diz respeito às finanças públicas e (ii) perante o cenário externo, ainda em queda. NA REAL: nosso radar Com o objetivo de dar aos nossos leitores uma visão mais clara sobre o que pensamos e sobre o andamento dos mercados, estruturamos um radar das principais tendências de alguns dos mais importantes segmentos do mercado. Não trata o radar de "recomendações" e nem de "previsões". O objetivo é dar uma perspectiva para os segmentos do mercado no que se refere às tendências de curto e médio prazo. Nada profético, mas analítico. A data das cotações será sempre a da sexta-feira imediatamente anterior à data da coluna (ou do último dia de fechamento dos mercados na semana anterior). Radar "NA REAL" 3/4/9   TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo (0 a 6 meses) Médio Prazo (6 a 12 meses) Juros ¹         - Pré-fixados NA estável estável   - Pós-Fixados NA queda estável Câmbio ²         - EURO 1,35 alta alta   - REAL 2,21 estável alta Mercado Acionário         - Ibovespa 44.391 estável alta   - S&P 500 839,75 queda estável   - NASDAQ 1602,24 queda estável (1) - Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais)(2) - Em relação ao dólar norte-americanoNA - Não aplicável Recado aos investidores Nestas próximas duas semanas o otimismo que prevaleceu nas últimas semanas, fruto da maior intervenção do governo dos EUA (novo plano de resgate de ativos dos bancos) sobre os mercados e da reunião do G-20, será testado. Inicia-se a temporada mundial de resultados das empresas negociadas em bolsa. A nossa visão é que muitos resultados ainda trarão surpresas negativas. Será um período de alta volatilidade, especialmente para o setor financeiro. Os ativos devem ter suas cotações ajustadas para baixo. Fundos de Private Equity : com liquidez, mas poucos negócios Um dos segmentos que menos sofreram durante a atual crise foram os fundos de private equity que normalmente investem no capital de empresas de capital fechado. O objetivo destes fundos é de obter retornos no longo prazo, normalmente depois de incrementada a posição financeira e a governança corporativa das empresas investidas. Apesar dos fundos terem disponibilidade de capital o que está a ocorrer é que os vendedores de posições, normalmente os empreendedores do negócio, estão paralisados - não querem vender suas posições a preços baixos (quando não baixíssimos). O mercado está travado à espera de um cenário mais confortável para ambas as partes. Frase de banqueiro A coluna esteve com um banqueiro de investimento na semana passada, daqueles versados em fazer bons negócios e com muitos diplomas de prestígio na parede. Frase ouvida e que dá a precisa imagem da crise no setor: "Nunca fiz tão poucos negócios. E estes nunca foram tão banais. Simplórios. O capital está tão escasso que até operação de desconto de duplicatas está complicado. Além disso, os executivos do banco estão mais preocupados em manter o próprio emprego do que operar para o banco..." A face explícita do protecionismo Lobistas estão tentando barrar a proposta de Obama de taxar os lucros obtidos no exterior das empresas multinacionais norte-americanas. Há nesta medida do presidente norte-americano a clara intenção de encarecer os investimentos das empresas no exterior. Assim, em tese, Obama espera aumentar a taxa de investimento nos EUA a qual está muito baixa em função da baixíssima taxa de poupança do país. Esta medida per se evidencia os intentos nacionalistas do atual governo instalado na Casa Branca. A justificativa dos mentores econômicos da Casa Branca (e dos sindicatos) é que muitos países não taxam os lucros das multinacionais, logo criam uma desigualdade tributária que traz sérios efeitos para a competitividade americana. Pense no seguinte: se todos os países começarem a agir igual a Obama o que será dos investimentos transnacionais ? Este é um risco muito sério para a recuperação mundial. Todavia, há muitos flertando com este tipo de medida. A reforma que não reforma É comovente, como nesta segunda-feira em SP, num debate da Fecomércio, ver a convencimento do senador Marco Maciel sobre a possibilidade de aprovação da reforma política este ano. É um crédulo. O tema está voltando à baila por obra e graça dos presidentes da Câmara, Michel Temer, e do Senado, José Sarney, e o incentivo do Palácio do Planalto. Foi ressuscitado, na verdade, para fazer um pouco de fumaça e desviar a atenção da mídia e da opinião pública de assuntos mais espinhosos para eles. Na Câmara e no Senado, as denúncias de desvios de conduta. No governo, as dificuldades econômicas e as divergências que começam a pipocar na base governista por causa das disputas regionais. Na realidade, como já afirmamos várias vezes, se alguma coisa passar, não será de boa qualidade. É provável que venha a tal da "janela para infidelidade" para permitir trocas de partido, hoje quase totalmente barradas por decisão da justiça. Além disto, aproveitando os rescaldos da operação da PF na Camargo Corrêa, pode-se empurrar goela abaixo do eleitorado o financiamento público de campanha, sem regras que impeçam e punam os financiamentos ilegais, o caixa 2. Se pode piorar, vai piorar. O PMDB na berlinda Esta coluna esteve recentemente em Brasília e percebeu uma coisa: em algumas rodas peemedebistas, há séria apreensão com a situação do partido. Ele se expôs demais, humilhou alguns adversários em excesso e tornou-se, por isso, uma vidraça muito sensível. Não é à toa ou a esmo o tiroteio que atinge o Senado e o presidente da Casa, José Sarney. Espera-se para breve novas revelações abrangendo também o partido na Câmara. Quem conhece os bastidores do Congresso, garante que munição não falta. A trégua que o presidente Lula ordenou para ser celebrada entre o PT e o PMDB, os dois principais litigantes na história, não funcionou. E o PMDB está perdendo um pouco a arrogância que adquiriu nos últimos meses. Arquivos vivos Até hoje, a não ser em um ou outro caso excepcional, o Senado não efetivou, de fato, a demissão dos primeiros 50 diretores em excesso na casa. Alegam-se razões de ordem burocrática. Há outra, menos prosaica: os servidores do Senado, assim como da Câmara, são um repositório de informações sobre os parlamentares, boas, não muito boas e nada boas. Não é prudente provocá-los. Muitos estão se sentindo traídos, apontados como culpados únicos por coisas que fizeram a mando ou pelo menos com o conhecimento de seus superiores. E outros se sentindo injustiçados, pois nada têm a ver com as irregularidades, cumprem suas obrigações e estão sendo amontoados no mesmo saco. O vazamento das informações sobre o uso indevido e indecente que o senador Tasso Jereissati faz das verbas de passagem aérea, além de envolver a "vestal" oposição nos podres do parlamento, foi também um recado para todo mundo que o armário tem esqueletos para todos os gostos. O único diretor do Senado demitido realmente até agora foi o da área de Comunicações: providenciou por conta própria a lista dos gastos telefônicos de todos os senadores. Foi uma dessas balas perdidas que atingiu o senador Tião Viana com o celular emprestado à filha numa viagem dela ao México. O clima no Congresso é de tensão e desconfiança. Rebelião à vista É muito maior do que se imagina a insatisfação dos prefeitos com a situação do caixa das prefeituras, atingido, ao mesmo tempo, por uma queda geral das arrecadações federal, estaduais e municipais por causa da crise econômica e por efeito das "bondades" praticadas pelo governo federal com o IPI e o IR. Dos protestos locais eles vão passar a um protesto nacional em Brasília. Lula voltou a prometer que vai arranjar dinheiro para os mais necessitados. Já sabemos que não será fácil: as contas fiscais federais também estão no fio da navalha. E na esteira dos prefeitos, virão os governadores com suas reivindicações. Lula quer soluções urgentes porque sabe o peso eleitoral dos prefeitos. Há mais: as áreas mais atingidas são as cidades com menos de 20 mil habitantes, onde se situa o maior e mais fiel manancial de votos governistas. No embate entre eleições e responsabilidade fiscal há riscos sérios de a primeira vencer, apesar dos discursos em contrário do presidente e de seus ministros. O principal projeto de Lula e seus aliados hoje é fazer o sucessor dele e preparar o caminho para a grande volta em 2014. Pergunta indiscreta Alguém, por acaso, viu por aí a oposição ao governo federal e suas propostas para combater a crise? Quem tiver notícias, favor escrever para esta coluna. Mandato a salvo Pelo andar da carruagem - e pelo "empenho" de seus pares, a começar pelo comando da Câmara - o deputado castelão Edimar Moreira não tem com que se preocupar. Por conta das estripulias que cometeu, vai ficar uma hora de castigo de cara virada para a parede e depois 15 minutos ajoelhado no milho. E não se fala mais nisso.
terça-feira, 31 de março de 2009

Política & Economia NA REAL n° 45

Terça-feira, 31 de março de 2009 - nº 45 G-20, o que esperar ? A reunião do G-20 estará concluída na próxima quinta-feira. É possível que existam surpresas, mas basicamente as tendências para a conclusão do evento são as seguintes : 1) Não deve haver uma coordenação global sustentada nos padrões que desejariam os EUA e o Reino Unido. A maior probabilidade é que os europeus (do continente, é claro !) não implementem nenhum esforço fiscal adicional. Julgam que os gastos dos governos, já definidos para 2009, são suficientes. 2) Os países emergentes (Brasil, Rússia, Índia e China) operarão à margem do processo por meio de consultas específicas. Não há de facto uma agenda comum entre eles, apenas importantes interesses passíveis de uma coordenação. 3) Esqueçamos algo como Bretton Woods, a reunião ocorrida em 1944 que lançou os mais importantes organismos multilaterais até hoje existentes (FMI, BIRD, OMC, etc.). Numa fase de crescente protecionismo e de políticas de regulação frágeis há pouco espaço para discutir a essência dos problemas. Em 1944 havia uma guerra mundial. Agora uma guerra comercial. Muda, mas vigente. 4) O FMI será capitalizado, com dinheiro dos países ricos e alguns de seus satélites, tais como a Arábia Saudita, que deve ser um dos poucos países subdesenvolvidos a colaborar com recursos para o Fundo. A China deve injetar recursos no FMI. Não muito, mas o suficiente para que as suas autoridades econômicas lembrem do enorme papel do país nas finanças internacionais. A China é a maior financiadora do déficit dos EUA. 5) Pouco andamento será dado às questões de regulação dos mercados financeiros. Normas cross-border devem ser implementadas, sobretudo no setor bancário. Todavia, os EUA desejam manter tal regulação sob a sua liderança e não parece disposto a submeter-se às eventuais novas normas internacionais - apenas alguns itens deveriam ser regulados internacionalmente, diz o Tesouro norte-americano. Como se vê, haverá avanço na agenda da crise, porém ela será contida pelos interesses que ainda prevalecem em cada país rico, mesmo sendo a crise mais grave desde a segunda guerra mundial. Os esforços do ativo primeiro-ministro inglês Gordon Brown para conciliar interesses devem cair por terra. A começar por ele mesmo, que está para perder o cargo no próximo ano segundo as mais recentes pesquisas de opinião. G-20, e o Brasil ? A posição brasileira em relação à reunião do G-20 pode ser definida em pouquíssimas palavras. Será uma posição pragmática (nada fazer), embora ideológica (muito falar). Há pouco a acrescentar. O Brasil não quer colocar dinheiro no FMI - o que nos parece muito correto - e faz um discurso internacionalista enquanto tenta proteger os efeitos da crise externa sobre a sua economia. Em tempos de medidas protecionistas é bom não piar muito. O maior risco é o vasto repertório verbal do presidente Lula : a menção aos "brancos de olhos azuis" é uma bobagem imensa. Mesmo os países ricos, causadores desta crise, merecem tratamento, digamos, mais gentil. Mesmo que duro.  Lula e o universo Apesar da gafe de Lula diante do primeiro ministro inglês, devidamente registrada pela imprensa mundial sem muito humor, o Palácio do Planalto e o Itamaraty ainda sonham com um forte protagonismo do Brasil nesta reunião. Imagina-se que há espaço para Lula brilhar e continuar sua pregação, quase messiânica, contra a ganância dos riscos e suas irresponsabilidades. Na entrevista que deu à CNN, Lula desfiou uma série de conselhos para Obama. Entre outros, que não precisa se preocupar com a guerra do Iraque e que ele "leia com atenção" sobre a crise japonesa dos anos 90.   As novas medidas fiscais do governo A nova rodada de medidas fiscais do governo para minimizar a crise continuará mais voltada para o setor industrial e bancário. Do lado da indústria, temos a continuidade da redução da alíquota do IPI para o setor automotivo, redução da Cofins para o setor de duas rodas, a diminuição de impostos para materiais de construção e a tributação ainda maior do setor de cigarros. Do lado bancário, depois das maiores garantias oferecidas aos aplicadores em títulos bancários, o governo deve reduzir mais o IOF com o objetivo de estimular o crédito. Tais medidas são justificadas e o governo age na direção certa. Contudo, faltam medidas fiscais para reduzir a tributação dos salários mais baixos e da classe média e há o problema da transparência : quanto custa tudo isto ? O Congresso sabe ? E o povo tem noção ? A rebelião dos prefeitos O aspecto mais inusitado do pacote fiscal anunciado pelo ministro Guido Mantega foi o modo como se decidiu incentivar a venda de motos : diferentemente do setor automotivo, agraciado via IPI, o de duas rodas ganhou isenção da Cofins. A mudança de enfoque tem significado político : o IPI é partilhado pela União com os Estados e municípios (assim como o IR) e quando o governo reduz a alíquota do imposto está interferindo diretamente na receita das prefeituras (e dos governos estaduais). Os prefeitos, amargando queda de mais de 20% em suas receitas globais neste ano, estavam em estado de pré-rebelião. Já se começava a falar em uma marcha sobre Brasília. Muitos falam que a partir de abril podem não ter dinheiro nem para pagar em dia o funcionalismo. Na semana passada Lula foi cobrado por prefeitos baianos e prometeu agir. Não tem muito a fazer porque os cofres federais também estão rasos. Pelo menos nesse ponto ele evitou aumentar a zona de atrito. É pouco, porém. Crise nos municípios, especialmente naqueles com menos de 20 mil habitantes, pode ser veneno direto na veia da popularidade do presidente. Exatamente no momento em que ele vem em queda. Imposto da fumaça O aumento do IPI dos cigarros - fumar vai ficar cerca de 25% mais caro - tem entre seus objetivos acalmar um pouco os prefeitos, uma vez que eles pegarão 23,5% dessa nova receita. É como se Lula estivesse cumprindo o que prometeu aos administradores municipais baianos. Mantega calcula que todas as isenções novas concedidas agora serão compensadas pelo tributo sobre o  cigarro. Há riscos : o tamanho da elevação do IPI pode reduzir o consumo ou levar o fumante a optar por um maço mais barato. Ou, então, incentivar a próspera indústria de cigarros do Paraguai, muito popular nas bancas de camelôs de todo o Brasil. Inclusive naquela que, sob o nome da Feira do Paraguai, viceja nos arredores de Brasília, vendendo centenas de produtos "genéricos" nas barbas das autoridades. PIB do Brasil : projeções vão se ajustando O relatório Focus do BC que registra a média das opiniões do "mercado" sobre as principais variáveis econômicas registra que para 2009 a previsão para o desempenho do PIB é que o crescimento será zero. Para 2010, 3,5%. O Relatório de Inflação, documento trimestral produzido pelo próprio BC, projeta um crescimento de 1,2%. Notável queda em relação ao relatório emitido em dezembro que projetava um crescimento de 3,2%. O ponto positivo é que o BC acredita em uma inflação comportada em torno dos 4% (IPCA). Esta é a matemática "meirélica". A contabilidade "manteguina" continua aferrada a um crescimento de 2%. Esta coluna não vê maiores riscos inflacionários e acredita que o PIB do ano deva cair ao redor de 3%. PIB lá fora Se no Brasil, a queda da atividade econômica está se tornando mais evidente, lá fora o desastre é colossal. Na zona do euro (16 países europeus), a indústria apresentou queda de novas encomendas da ordem de 34% (!) na comparação entre janeiro deste ano em relação ao mesmo mês do ano anterior e mais 3,4% em relação ao mês de dezembro. O PIB da região deve ter contração acima de 4% neste ano. Dentre os países ricos, o PIB calculado pela OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) deve cair 4,2%. Linguagem cifrada ? Detalhe sutil no Relatório de Inflação do BC, a exigir uma olhada de lupa de algum especialista em "bancocentralês" : a previsão de que a inflação vai ficar abaixo do centro da meta de 4,5% para este ano (ver nota acima) tem por base duas premissas : o dólar a R$ 2,30 e a taxa Selic nos atuais 11,25%. O Copom está dizendo que vai começar a pisar no freio do processo de diminuição da taxa básica ? É difícil saber - e talvez seja politicamente inviável para a turma de Henrique Meirelles voltar ao velho conservadorismo. É fato, porém, que há preocupação com algumas consequências da taxa Selic abaixo de um certo nível. A questão da poupança e dos fundos de investimento é uma delas e já está sendo analisada. Outro ponto delicado é o risco para a rolagem da dívida pública. Os investidores podem preferir outras aplicações. O pacote imobiliário O pacote de financiamento para o setor de construção civil, lançado pelo governo na semana passada, é uma boa notícia. As medidas do governo são consistentes, tocam nos problemas mais sensíveis do setor, aqueles relacionados com o financiamento para o adquirente e deve dar algum alívio para o setor que ficou paralisado após a eclosão da crise no Brasil em meados do terceiro trimestre do ano passado. Todavia, duas variáveis serão mais importantes no médio prazo : os salários reais (descontados dos efeitos da inflação) e o desemprego. Ambos têm per se mais importância que qualquer pacote de financiamento. Outro aspecto muito preocupante é a questão da burocracia, até hoje não atacada por este e outros governos anteriores. Uma coisa é liberar recursos. Outra coisa é o acesso dos mutuários ao sistema. Entre uma coisa e outra, haja papel e demora...Mas o governo já sacou seus "habeas corpus" preventivos caso o imaginado não se torne realidade. Lula avisou que "não venham me cobrar". E a ministra Dilma Roussef explicou que o governo já fez tudo o que pôde fazer, criando as condições para o pacote andar. Agora dependerá das empresas encontrarem terrenos, apresentarem projetos, construírem as casas, venderem... Pode sobrar também para prefeitos e governadores. A greve da Petrobras Há um processo grevista na estatal de petróleo do Brasil. Os sindicalistas sentem-se muito confortáveis em pressionar a Petrobras em busca de mais benefícios que aqueles que os trabalhadores têm. O fato de o sindicato pressionar a estatal para manter os empregos das empresas terceirizadas dá aos líderes grevistas a "credibilidade" necessária para pressionar a diretoria da Petrobras. Porém, os maiores beneficiários de todo este processo são os já bem remunerados trabalhadores da própria Petrobras. Mais uma vez está provado que nem aqueles que tanto se beneficiaram nos últimos anos têm a sensibilidade de observar o que está a ocorrer dentre as (outras) classes trabalhadoras. O desemprego em geral não sensibiliza os petroleiros. Sob os auspícios da CUT, a hora é de dar mais uma mordida no bolo da Petrobras. Empresa pública que pertence a todos. O que fará o governo ? Cadê o Ministro Carlos Lupi com suas observações sobre o desemprego ? Ministério do Trabalho desemprega e emprega O MT vai extinguir 1878 postos de trabalho terceirizados e substituí-los por funcionários públicos concursados "desde que comprovada a necessidade do serviço". Saiu no DOU desta segunda-feira. Seria interessante sabermos se vai haver aumento de custo e como será comprovada a tal da "necessidade do serviço"... E o mercado financeiro ? Sinais significativos de estabilização dos mercados financeiros mundiais ocorreram nestas últimas duas semanas. Fruto do pacote de salvação dos bancos por parte do Tesouro norte-americano. Este foi o grande fato. A recuperação das cotações dos ativos, sobretudo das bolsas de valores, em especial as ações do setor financeiro, foi um sinal imediato. Para se tornar mais consistente, dependerá do grau de credibilidade que as medidas governamentais nos países mais desenvolvidos forem tomando. Um fato a ser testado. No Brasil, o processo de recuperação do mercado acionário seguiu os eventos de fora. Fato exclusivamente local foi a constatação de que a taxa básica de juros está muito acima da necessária para (i) manter a estabilidade da moeda e (ii) o crescimento. Assim sendo, um ajuste substantivo dos juros futuros ocorreu. O real se valorizou, mas não muito. Em linha com a nossa expectativa. Daqui para frente, acreditamos num mercado mais volátil. A tendência básica de todos os segmentos do mercado financeiro (renda fixa, renda variável e câmbio) é negativa. Até que os fundamentos comecem a dar sinais de maior vigor. Vale a pena reduzir posições em ações, aumentar os títulos pós-fixados (alinhados com a taxa básica de juros) e manter as posições cambiais. O cenário está melhor para o mercado. Mas, não muito melhor. Teorias conspiratórias Há gente no Congresso acreditando fervorosamente que a saraivada de informações negativas que se abateu sobre o Senado e a Câmara (este menos) não tem nada de gratuidade nem pode ser arrolada entre as "meras" coincidências. Seria uma maneira de manter o Congresso na defensiva e constranger o PMDB, que anda com suas asas muito soltas. Especula-se que os ventos sopravam do outro lado da Praça dos Três Poderes, local momentaneamente desativado para reformas e transferido para o Centro Cultural do Banco do Brasil, o "Bolo de Noiva" do Itamaraty. Não há provas de que isto esteja acontecendo. Até porque cutucar o PMDB pode não ser uma boa política. Notícias da sucessão Já na semana passada circulava em Brasília a especulação de que o tucanato estaria chegando a um acordo para levar o processo sucessório interno a uma solução sem brigas ou rupturas. Aécio entraria no jogo de Serra, não como vice, mas como um grande eleitor e nome para passos futuros. O PMDB já até teria desistido de conquistar o governador mineiro como uma "terceira via". Os resultado da pesquisa CNT/Census de ontem, indicando que Dilma Roussef, embora muito distante de Serra, ultrapassou o mineiro pode precipitar tais conversas. Veja-se : ainda estamos no terreno das conjecturas e não haverá nenhuma definição tucana antes do fim do ano. Do lado do governo é um festa só com a subida consistente da "ministra-que-não-é-candidata" no placar da intenção de votos. As preocupações são duas : que tipo de estrago a crise pode fazer a partir dos efeitos sobre a popularidade de Lula; a overdose de exposição política da ministra pode esgotar o produto cedo demais. Incomodam também a persistência e as estocadas de Ciro Gomes, nos últimos tempos mais dirigidas ao governo do que à oposição. De discursos e palanques Não dá para dizer ainda se a popularidade de Lula e a aceitação de seu governo foram fortemente abalados pelos reflexos da crise entre nós. Pode ser, como virou moda agora dizer, "um ponto fora da curva" ou algo passageiro. Vai depender de quanto isto durar e do tamanho dos desarranjos que pode provocar. De qualquer modo, enquanto a "marolinha" estiver por aí, teremos mais discursos, marketing e palanque. Areia movediça I A pirotecnia da PF na execução da Operação "Castelo de Areia" e a falta de investigações mais profundas por parte de parcela da mídia (sem contar o partidarismo de alguns jornalistas e colunistas) está embaralhando tudo nessa história envolvendo a empreiteira Camargo Corrêa. São duas questões distintas no mesmo caso, porém o noticiário e os debates estão concentrado mais no político - talvez por ser mais fácil de abordar e menos delicado sob uma série de pontos de vista. Um dos pontos, o menos agraciado, é a suspeita de superfaturamento em obras da refinaria de Abreu e Lima, em Pernambuco, obra conjunta da Petrobras com a venezuelana PDVSA. Disso teria saído o dinheiro para evasão de divisas e o financiamento de campanhas políticas, "por dentro" e "por fora". Essa é uma investigação : houve o superfaturamento ? Quem praticou ? Quem deixou de fiscalizar as contas ? Pouco se tem notícia desse lado do problema. Areia movediça II O caso, do lado político, está muito bem explorado. E é simples. Ninguém está proibido de dar dinheiro aos partidos e aos políticos. Resta saber : as contribuições foram legais ? Com dinheiro legal ? Há suspeita de que não esteja tudo certinho. E é inaceitável esta situação, coisa que nem os políticos, nem muitos "financiadores" se interessam por consertar. No entanto, é estranho que se esteja dando mais ênfase a isto que à suspeita do superfaturamento. Mais estranho ainda que nem governistas nem oposicionistas tenham sacado papel e caneta para pedir a instalação de uma CPI. Se a história contada pela PF (veja-se bem, se !) for real, é escabrosa. E pode puxar um imenso novelo. Areia movediça III Houvesse seriedade, seria o momento de discutir uma dessas aberrações eleitorais brasileiras : a permissão para que se faça contribuições de campanhas diretamente para os partidos, sem identificação dos beneficiários. Depois o partido distribui para os "eleitos", os escolhidos dos financiadores. A manobra evita que os agraciados sejam depois identificados quando ajudarem seus patronos. Há "bancadas corporativas" em Brasília feitas com essas contribuições ocultas. Nos Estados também. É uma modalidade de financiamento que está crescendo muito entre nós. É legal ? Sim. É republicano, como diria o ministro Tarso Genro ? Certamente não. No entanto, os arremedos de reforma política que andam pelo Congresso nem passam perto deste tema. Boa bandeira para os presidentes da Câmara e do Senado, que vieram para mudar...
terça-feira, 24 de março de 2009

Política & Economia NA REAL n° 44

  Terça-feira, 24 de março de 2009 - nº 44 Ops! Fato novo, relevante e positivo - I Uma das razões fundamentais para a descrença na recuperação mais rápida da economia norte-americana foi o fato do pacote de US$ 787 bi, aprovado pelo Congresso há cerca de um mês, ser considerado insuficiente para cumprir dois papéis, a saber: (i) estimular a demanda (via criação de empregos) e (ii) sanear o combalido sistema financeiro do país. Neste último item, os analistas mais argutos logo perceberam que a possibilidade de que um cenário de depressão era mais provável, a mesma rota seguida pelo Japão durante a década dos noventa. Sobraram inclusive críticas de economistas que apoiaram Obama desde o lançamento de sua candidatura, tais como Paul Krugman e Joseph Stiglitz. A conseqüência da insuficiência do pacote foi que as ações dos bancos derreteram no mercado e a desconfiança ficou ainda mais acentuada em relação ao sistema financeiro. Este era o cenário prevalecente até a semana passada quando o FED surpreendeu a todos e abriu uma linha de US$ 300 bi para o Tesouro dos EUA e US$ 700 bi adicionais para a aquisição de ativos (podres) do sistema financeiro. Ops! Fato novo, relevante e positivo - II Além do que informamos na nota acima, o Tesouro dos EUA vai promover leilões a partir dos próximos dias para comprar ativos mais antigos nas carteiras dos bancos. Estes ativos poderão ser comprados não somente pelo Tesouro, mas também por investidores institucionais, os quais serão estimulados a participar uma vez que tal modalidade de operação pode ser muito lucrativa. É uma espécie de "fundo" que tem intrinsecamente dois méritos: (i) aumenta a liquidez do sistema e diminui a incerteza e (ii) cria uma "precificação" efetiva e transparente para os ativos bancários. Esta medida, somada à aquisição de "ativos tóxicos" por parte do Tesouro, é muito significativa e pode retirar o enrosco que paralisou a política de retomada da atividade econômica da maior economia do mundo (25% do PIB mundial). É para se prestar a atenção à evolução de tudo isto, pois deve haver recuperação dos mercados nas próximas semanas, o que joga para cima as expectativas. Se o governo dos EUA conseguir recuperar a credibilidade do sistema, estará aberta a possibilidade para que se adote um tratamento mais consistente para gerar empregos, renda e crescimento. Ao invés de uma longa depressão, poderemos visualizar um cenário de recessão mais breve. É tudo que o mundo espera. Como agir em relação aos investimentos A maior alteração na política de investimento é que a taxa de juros de longo prazo pode voltar a subir. Os títulos de 10 e 30 anos do Tesouro Americano estavam muito valorizados, refletindo a extraordinária demanda por este "porto seguro". De outro lado, os metais preciosos não paravam de subir com o medo de uma inflação crescente e substancial no longo prazo em função da injeção de recursos públicos no sistema. Este processo não será revertido no curto prazo, mas pode ser amainado. O que já é muito positivo. Além de ser fundamental. E quem ganha? Ganham os mercados de renda fixa de títulos privados que devem ter a sua demanda aumentada, bem como o mercado acionário. O Brasil neste contexto deve seguir a mesma rota do mercado internacional: bolsa para cima, juros de longo prazo para cima (apesar da provável queda mais acentuada da taxa Selic de curto prazo) e câmbio mais estabilizado - pode até haver uma valorização mais acentuada do Real. Estamos vendo uma luz nascente no horizonte. Esperamos que venha a ser crescente e bem mais luminosa diante de tanta incerteza desde o final de 2007 e que foi acentuada em meados do terceiro trimestre do ano passado. Lula e o FMI Lula fez muito bem ao defender que os emergentes não participem da injeção de recursos nos organismos multilaterais (FMI, Banco Mundial e BID). Embora a presente crise afete todos os países, não parece razoável que os emergentes gastem recursos para viabilizar as políticas dos organismos multilaterais os quais são controlados pelos países mais ricos. Nenhum dos países emergentes tem poder de emitir moeda transacionável no mercado internacional. Não há credibilidade para estas e nem demanda. Nem mesmo da China, país tão propalado pela imprensa e investidores nos últimos anos. Os países ricos têm estas possibilidades. Que as usem para financiar o FMI e seus anexos. Além disso, esta injeção de recursos não vem acompanhada de uma revisão da forma de agir destes organismos, os quais foram absolutamente negligentes em relação à crise. Há um ponto para se prestar atenção: será que a injeção de recursos no FMI, BIRD e BID vai implicar em mudanças na estrutura de voto e representação entre os países? Este é um ponto vital. Aerolíneas e o BNDES Novamente estamos a ver o BNDES na sua ação "desenvolvimentista". Já apoiou a BrOi, a Aracruz, o Grupo Votorantim, a indústria automobilística e por aí vai. Agora, chegou a vez de financiar aviões da Embraer para a Aerolíneas Argentinas? O ponto aqui é saber o que de fato pode e não pode o banco de desenvolvimento. Quem fiscaliza de fato a suas políticas? Quem verifica se o que está sendo feito e se isto é do interesse do país? Quanto custa tudo isto? Já criticamos por diversas vezes o BNDES e o governo por suas políticas. Falta transparência sobre o custo das políticas anticíclicas do governo - e o BNDES é parte essencial deste custo. Crises muitas vezes geram "esqueletos" fiscais que saem das tumbas e passam a gerar pressões inflacionárias e fiscais no médio prazo. Será que alguém do Congresso se importará com tudo isto? E o trabalhador? O sindicalismo brasileiro, cujo papel é altamente questionado (e questionável) no momento atual de crise bem que poderia fazer uns cálculos e verificar quais são os benefícios governamentais que recebem as empresas, e qual é o montante de recursos destinados aos trabalhadores. A desproporção entre estes segmentos é justificável e contribui de forma efetiva para a retomada da atividade econômica? Um trabalhador de classe média, por exemplo, não poderia ter o seu IR reduzido? A popularidade do governo e a crise O fato é que a queda de popularidade do presidente e a avaliação do governo no combate ao desemprego continuam em excelentes patamares tanto na pesquisa CNI/IBOPE quanto na DataFolha. É verdade que no item do desemprego (46% em março contra 57% em dezembro) não é uma nota tão boa, mas está longe de ser ruim. Contudo, a avaliação positiva do governo (64% em relação aos 73% de dezembro) é substantiva e faz valer o capital político do governo (e de Lula). O que se vê é um presidente forte para combater a crise. O que é bom. Mas, por outro lado, faz recair sobre ele uma responsabilidade ainda maior em relação à condução do governo neste delicado momento.Há mais dois fatos positivos em relação à pesquisa: a maior consciência da população em relação à gravidade da crise (37% em março contra 35% em dezembro), embora ainda não seja prevalecente a opinião de que o cenário é muito sério. De outro lado, 41% da população ainda tem pouco medo de ser afetado pela crise, aspecto relevante para a propensão ao consumo. Finalmente, é certo que o governo tem capital político, mas é igualmente certo que a população que hoje dá crédito pode retirá-lo no momento em que a crise ainda está se instalando com maior intensidade por aqui. Todavia, este é um ponto a ser verificado no futuro. Tranquilidade. Tranquilidade? Pelos sinais emitidos externamente, o governo recebeu com naturalidade os resultados das duas pesquisas. Não é uma tragédia, avalia-se. E não é. Nem dá para avaliar se ela é uma tendência. Pode ser uma barriga. É evidente que os números de Lula e do governo foram impactados pela crise e o crescimento do desemprego. Não dá para dizer até onde isso vai parar porque é impossível prever o quanto e por quanto tempo a economia mundial e nacional estarão debaixo de um terremoto. Se durar muito mais, vai afetar o projeto político envolvendo a ministra Dilma. Ela não se sustenta sem um ambiente econômico saudável. Não tem ainda luz própria. E sem os raios de Lula, murcha. O governo deve começar a fazer coisas (ou mostrar que está fazendo) para tentar manter o otimismo. O grande mal é que começaram a aparecer as greves e o sindicalismo de um modo geral está inquieto e insatisfeito. América do Sul: risco aumentando Temos salientado nesta coluna que, além dos riscos advindos da crise nos países centrais, o risco regional está se tornando perigoso para a política externa e econômica do Brasil. Juntamos aos fatos anteriormente comentados em colunas passadas mais dois que justificam a nossa preocupação: (i) o novo passo estatizante de Hugo Chávez, desta feita no que diz respeito à nacionalização da unidade local do Banco Santander e, mais importante, (ii) o aumento dos conflitos entre as elites argentinas e o governo do casal Kirchner. Neste último item, vale ressaltar que a presidente Cristina Kirchner está enfrentando por meio de medidas reguladoras a imprensa, mais especificamente o grupo Clarín, bem como o setor rural que promove um (perigoso) bloqueio, o qual deve afetar as exportações e o suprimento doméstico. Não devemos desprezar nenhuma notícia ao redor do Brasil. Isto mexe muito com a percepção dos investidores em relação à região. O que de fato pensa o presidente? Lula vai aos EUA e discursa contra o protecionismo. Semana que vem deve repetir a ladainha na reunião do G-20, na Inglaterra. Mas, quando recebe a presidente da Argentina, Cristina Kirchner, em SP, diz que o protecionismo dos vizinhos é normal. Diz que os países devem trabalhar pela definição de um "preço justo". No início do mês, Argentina ampliou barreiras a produtos brasileiros importados. O que Lula pensa de fato sobre o assunto? Talvez um pouco de cada posição. O protecionismo dos ricos é inaceitável. Dos emergentes, justificável. No caso da Argentina dos Kirchner há outro detalhe: o Brasil não cria confusão com os vizinhos. Vai acatar sempre o que eles fizerem. OCDE, novas projeções Nos próximos dias teremos o anúncio das novas projeções da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico, que analisa as maiores economias do globo. Sem que saibamos os números, podemos antecipar para os nossos leitores o quem vem por aí: projeções que mostrarão a maior crise dos últimos sessenta anos e redução das projeções para o PIB dos países emergentes. A organização previu ao final do ano uma redução de apenas 0,4% do PIB para este ano. Agora terá de fazer uma correção de rota. Simples como isto. Por aqui, também novas projeções Vejamos a tabela abaixo sobre as previsões para o PIB deste ano: Credit Suisse +1,3% Austin Ratings +0,7% Bradesco +0,6% Tendências +0,3% Relatório Focus 0% WestLB -0,2% BNP Paribas -1,5% Morgan Stanley -4,5% Estes números refletem em grande medida um ajuste das expectativas de algumas instituições em relação ao crescimento deste ano depois da queda de 3,6% do PIB no último trimestre do ano passado. A nossa opinião é que o PIB deste ano deve cair entre 2% e 3% em relação ao ano passado como um todo. Portanto, deve haver um ajuste adicional das expectativas dos agentes em relação ao crescimento. O fato novo (v. primeiras notas) é o pacote de medidas nos EUA. O saneamento do sistema financeiro pode ser mais rápido e isto pode favorecer muito as expectativas em relação ao médio prazo. Imposto oculto O preço dos combustíveis, especialmente o da gasolina e do óleo diesel, sempre foi, no governo Lula (e também em outros governos, em determinados períodos) um preço político, ajustado e estabelecido por ponderações que não as de ordem técnica. Durante um bom tempo, por exemplo, a empresa deixou de ajustar os preços desses combustíveis, para cima, mesmo com o petróleo ficado muito tempo acima dos US$ 100, para não pressionar a inflação e garantir bons fluídos políticos para o presidente. Agora que a situação se inverteu e o petróleo está a menos de US$ 60, a empresa também não está animada a fazer reajustes nos preços, agora para baixo. Só que por outra razão, como o próprio presidente Lula confessou: "Ela tem grande importância para o superávit primário". Segundo ele, também contribui para os cofres do Tesouro com impostos e royalties. Ou seja, os preços da gasolina e do diesel são mais um imposto "oculto" que a sociedade brasileira paga, pois a Petrobrás apenas arrecada - quem paga é quem usa os combustíveis. É preciso, ainda, garantir recursos para a empresa fazer seus planos de investimentos e, então, compensar o período em que a Petrobrás manteve os preços artificialmente baixos. De qualquer forma, não será surpresa se a orientação sofrer uma guinada e a Petrobrás reduzir um pouco o que cobra pelos dois combustíveis: o governo está precisando fazer alguma "bondade" para compensar a tensão econômica. Perigo nas bombas Os níveis de gasolina adulterada (ou "batizada") oferecida nos postos de SP já estão superiores aos alcançados no pior ano do "batizado", em 2005. Será que tem alguma coisa a ver com o aumento na importação de solventes registrado nos últimos meses? Lula, o STF e o italiano É firula para a platéia a informação que Lula teria avisado Gilmar Mendes que se o STF deixar para ele decidir sobre a extradição ele não extraditará o italiano Cesare Battisti, e que se o querem extraditado a casa constitucional é que deverá fazê-lo. Teria sido um recado duro de Lula. Na realidade, o que Lula quer é um favor do STF, para não se indispor com os italianos (se não assinar a extradição), não ficar mal com a sua ala esquerda e não desautorizar o ministro Tarso Genro (se mandar o italiano de volta). O ônus e as críticas recairão sobre Gilmar Mendes e os seus. Lula está se revelando um "pessedista" (do antigo e extinto PSD), principalmente o mineiro, que inventou o muro político muito antes dos tucanos da melhor estirpe. Maquiagem nas contas Poucos analistas acreditam que o "novo" Orçamento Federal deste ano, anunciado com um corte de R$ 21 bilhões em que relação ao que havia sido aprovado pelo Congresso no fim de 2008, é para valer. O ministério do Planejamento fez contas de chegada - e chegou. Novos cortes serão necessários, porque a perda de receitas, avaliadas em mais de R$ 48 bilhões pelo próprio Ministério, ainda pode estr subestimada. Há também uma previsão de crescimento do PIB de 2% já considerado otimista. Contudo, o governo fez tudo para evitar problemas políticos agora e não adiou o aumento dos servidores, não cortou nem as obras do PAC e nem avançou sobre as emendas individuais dos parlamentares. Sequer admitiu a redução do superávit primário. Fez mágica. Até previu uma redução de R$ 7 bilhões nos pedidos de aposentadoria, coisa que costuma crescer em tempos de crise e desemprego. A realidade é que o governo deverá optar mesmo é pela redução do superávit, pelo uso do Fundo Soberano do Brasil além de contar com os ganhos que terá com o serviço da dívida pública fruto da redução dos juros. O que não faz a perversa combinação de interesses eleitorais com a condução da economia... MPs: soluções e problemas Os juristas do Congresso e da nossa política - lá estavam, entre outros, Michel Temer, Nelson Jobim e José Antônio Toffoli e tiveram a anuência de José Sarney - inventaram mais um monstrengo neste país com a decisão de que as MPs só trancam as pautas da Câmara e do Senado em determinadas circunstâncias. Pode não ser uma aberração jurídica - já vimos as mais diversas interpretações para a proposta. Mas sem dúvida é uma aberração política. Neste tema pode haver mais problemas do que soluções. Deixando de trancar a pauta, as MPs obrigarão o governo a um maior esforço para aprová-las antes do prazo de validade, o que é bom. Porém, se elas caducarem, haverá sérios obstáculos jurídicos, e esta é uma possibilidade real dada a fragilidade da base governista. Por outro lado, sem o trancamento da pauta, o Planalto pode se sentir menos constrangido em editar MPs versando sobre tudo e nada. Já há sinais tanto no Congresso quanto no governo sobre o acerto da decisão. MPs: e o Congresso? A Câmara e o Senado criaram um ardil para eles próprios: não tem mais o escudo das MPs para justificar a inação parlamentar em relação a uma série de projetos de suma importância que dormitam nas Casas. Esta semana mesmo espera-se que as pautas de votação preparadas por Michel Temer e José Sarney venham recheadas desses projetos. Será que eles vão esperar uma definição do Supremo sobre a questão, inseguros diante da constitucionalidade da interpretação? Prevaleceu, na história, a norma de Abelardo "Chacrinha" Barbosa: "Eu não vim para explicar. Eu vim para confundir." Bastaria que Sarney e Temer cumprissem (como os outros anteriores a eles) o que está cristalino na Constituição: formar uma comissão para analisar liminarmente as MPs e devolver para o Planalto aquelas que não cumprem os requisitos constitucionais de urgência e relevância. Simples e direto. Mas, quem quer complicações com o governo, quando estão todos pensando na posição de vice em 2010, num novo mandato para a filha, etc. e tal...?
terça-feira, 17 de março de 2009

Política & Economia NA REAL n° 43

  Terça-feira, 17 de março de 2009 - nº 43 Contas, um desafio político para Lula Até a próxima sexta-feira, 20, a equipe econômica de Lula terá de apresentar o novo Orçamento de 2009, revisto. Ele foi aprovado quando, apesar de todas as evidências, o governo e o Congresso ainda acreditavam na fantasia da "marolinha". Foi uma festa. Agora, entre R$ 45 bi e R$ 50 bi precisarão ser cortados. Isso na melhor das hipóteses, pois se economia continuar desaquecendo como está (ver nota abaixo) a perda de receita poderá chegar próxima dos R$ 64 bi. Além do mais, será preciso abrir espaço para os subsídios do pacote imobiliário. Uma das possibilidades para diminuir as despesas previstas, aventada no fim de semana pelo ministro do Planejamento, é a suspensão dos aumentos dos servidores públicos federais, concedidos por MPs aprovadas pelo Congresso e já sancionadas pelo presidente. Seriam suspensos também os concursos para contratação de novos funcionários. Daria uma economia de R$ 29 bilhões. É briga certa com um dos bons ativos eleitorais do presidente e do PT - o funcionalismo público. Outra medida é a suspensão das emendas do parlamentares, de R$ 19 bilhões. Também nesse caso é confusão da grossa. A base parlamentar aliada, que já não é das mais fiéis, vai estrilar. E todos sabem como ela se vinga : criando dificuldades. Com um olho na administração e o outro nas eleições e na candidatura da ministra Dilma Roussef, com qual deles Lula ficará nessa questão do Orçamento ? Superávit menor Mesmo que Lula decida-se por comprar a briga com o funcionalismo e com os deputados e senadores aliados, ainda assim a conta do Orçamento não fechará totalmente. O restante sairá da meta de superávit primário, reduzido em um ponto percentual - de 3,8% do PIB para 2,8%. Ajudarão nesse expediente o Projeto Piloto de Investimentos (PPI) e das reservas do Fundo Soberano do Brasil (FSB). O governo, porém, não deve anunciar estas mudanças agora, para não assustar o chamado mercado. PIB : fraco desempenho e credibilidade Tomado o devido rigor na análise da queda de 3,6% do PIB no último trimestre do ano passado, é preciso dizer que não há surpresas. Os números de atividade industrial, somados ao aumento vigoroso do desemprego e à queda no consumo, já davam sinais de que algo mais sério iria ocorrer (ou aparecer) na economia brasileira. Alguém poderia questionar então sobre a razão para que o governo e o BC tenham se surpreendido com tal desempenho. Afinal, ambos são agentes que tem informações privilegiadas e mais eficientes para fazer previsões e projeções. Bem, muito poderia ser especulado a respeito, mas a verdade dificilmente seria conhecida em toda a sua extensão. Contudo, podemos especular que a estratégia do governo de "administrar as expectativas", dando à realidade uma tonalidade mais suave que a verdadeira, é uma das facetas reveladas sobre este preocupante desempenho da economia brasileira. O discurso oficial foi e tem sido sofrível nestes tempos duros. É normal que os governos procurem enfatizar os aspectos positivos de sua gestão ou da conjuntura. Todavia, quando estamos diante de uma crise do tamanho da que vivemos, esta estratégia tende a retirar credibilidade do governo em maior proporção que os benefícios da (tentativa) "administração das expectativas". Melhor seria apontar a realidade da crise e dar evidências de que as ações do governo serão eficientes e cabíveis. A gestão da crise vai mal tanto quanto a própria crise. Falta um plano coordenado de todas as ações do governo. Algo no atacado e não no varejo. Política monetária : erro grosseiro Não é preciso ser parte da FIESP ou do sindicalismo para constatar que houve erro significativo da parte do BC no que se refere à taxa de juros básica. Esta poderia ter caído com mais rapidez e magnitude. Não há pressões inflacionárias significativas apontadas por nenhum segmento da economia, a taxa de câmbio está relativamente comportada e a política fiscal não é fator de pressão no momento, apesar das preocupações justificadas com o aumento das despesas públicas nos últimos anos. Foi neste contexto que o BC derrubou na semana passada a taxa de juros para 11,25% ao ano. Por unanimidade. A redução de 1,5% poderia ter sido maior. E será no futuro. O tal do "mercado" já acredita em algo como 9,75% no final do ano, conforme registra o relatório Focus do BC. De nossa parte, acreditamos que este patamar pode ser atingido ainda neste semestre. A razão é que a desaceleração da atividade econômica apenas se iniciou e será maior nos próximos trimestres. PIB 2009 : será negativo O cenário mais otimista para o desempenho da economia brasileira é o que o PIB crescerá próximo de zero. Neste caso até valeria considerar verdadeiro o que o presidente do BC Henrique Meirelles afirmou neste fim de semana em Londres - "um número superior à média mundial". Infelizmente, a nossa melhor análise, considerando-se o desempenho setorial dos principais segmentos industriais, indica que algo ao redor de -2% é muito mais provável. Já existem análises próximas à nossa previsão, como no caso do ex-BC Sérgio Werlang que prevê um número de -1,5%. Tudo isto dependerá em larga medida daquilo que vier lá de fora e que mexe com as expectativas. O que era para ser uma significativa recessão está se tornando uma terrível depressão. Liderada por todos os países centrais. Todos. Dos EUA ao Canadá as previsões de crescimento têm sido cadentes e substancialmente cadentes. Aparição rara Neste último domingo a surpresa no mundo financeiro e econômico se deveu ao presidente do Fed, Ben Bernanke. Ele concedeu raríssima entrevista ao tradicional programa da CBS, 60 minutos. Estava lá a postos para defender o pacotaço de US$ 787 bi lançado pela administração de Barack Obama, para anunciar o "fim da era de enormes ganhos de Wall Street" e, o mais importante, para pregar que sem a estabilização do sistema financeiro não haverá recuperação imediata. O Fed e as autoridades norte-americanas estão preparando o terreno para novas medidas que estabilizem o sistema financeiro daquele país, inclusive por meio da opção de estatização parcial das instituições mais desacreditadas do sistema. Bancos, grandes esperanças O índice do setor bancário norte-americano, parte do índice S&P 500, subiu 46% em apenas seis pregões. Este desempenho é fruto das expectativas de que o setor possa ser resgatado pelo governo, seja via estatização, seja via uma estratégia de retirar dos balanços os "ativos tóxicos" que asfixiam o crédito e causam insegurança sistêmica a todo o mundo financeiro, não somente o norte-americano, mas os sistemas de outros países ricos. Entre as principais instituições financeiras dos EUA, a subida das ações foi muito vigorosa. Das cotações mínimas, as ações do Citibank subiram 73%, as do Bank of America 83% e as do Wells Fargo 72%. Foi uma festa. Daquelas que todos ficam felizes e não somente os acionistas, pois uma crise bancária é pior que a própria crise. G-20, entre o consenso e a inação Quem se dedicou a ler as notícias sobre o encontro, neste último fim de semana, das vinte maiores economias mundiais, representadas por seus ministros das finanças e presidentes dos BCs ficou a correta percepção de que o consenso é enorme. Quase todos os ministros do G-20, incluindo o ministro Guido Mantega e o presidente do BC Henrique Meirelles, estão a falar na urgência da tomada de medidas para minimizar a recessão, uma nova regulamentação do sistema financeiro e o aumento de capital das instituições multilaterais, sobretudo no caso do FMI. Não nos enganemos, contudo. Todos estes aspectos são relativamente consensuais, mas é nos detalhes que a coisa se complica. No caso do velho continente, as divergências são substanciais, pois cada um dos membros da União Européia quer resguardar para si mesmo o direito de fazer valer o seu interesse nacional em cada tema. Países como a França e a Alemanha querem aprofundar os seus modelos de "economia social de mercado" no qual a regulamentação é muito mais apertada. Já a Inglaterra, país mercantil e centro financeiro mundial, deseja uma regulamentação mais liberal, embora mais rígida que a atual. Do lado dos EUA, a preocupação é estratégic a: quer manter a política do dólar forte, regular mais o sistema financeiro, mas dentro de padrões já conhecidos e estabelecidos em outros segmentos. Além disso, os americanos acreditam que os limites do "internacionalismo" das proposições são bem estreitos, ou seja, regulam-se aspectos mais consensuais e relevantes e depois cada um cuida do seu galho. FMI, pedindo ajuda A capitalização do FMI é uma necessidade. Todos (do G-20) concordam. Todavia, poucos (dentre os quais, os países emergentes) querem repensar o seu papel. Afinal de contas, é certo que o FMI não foi relevante para evitar o pior. Ao contrário, foi um organismo negligente no que se refere aos seus principias acionistas, os países mais ricos. O FMI sempre foi o "auditor" do sistema financeiro internacional em casos de rupturas de balanços de pagamentos dos países mais pobres. E agora ? Continuará a exercer o mesmo papel sem nenhuma alteração conceitual ? Provavelmente sim. Um papel muito distante daquele que Lord Keynes idealizou para ele. O defeito de nascença do FMI continua a se propagar sob as ambições dos países mais ricos. Obama e Lula O encontro do presidente Lula com Barack Obama foi proveitoso a despeito das críticas nativas ao que aconteceu no salão oval da Casa Branca. O Brasil, por meio de seu presidente, se credencia a liderar a região perante o Império Americano sob nova liderança. O problema é que nem o Brasil e nem a região têm importância estratégica para os EUA no momento. As questões bilaterais de comércio, tal qual o etanol, continuarão a ser os principais assuntos em pauta. Por enquanto, é só. A alternativa para a diplomacia brasileira, diante da clara indiferença norte-americana em relação à região, é a de se credenciar junto aos outros setores relevantes da política dos EUA, sobretudo os legisladores, formadores de opinião (especialmente os que defendem mudanças no setor energético) e os sindicalistas. Destes todos, somente os sindicalistas têm ligações mais próximas com o governo brasileiro. Por razões históricas que remontam às greves da região do ABC no início dos 80. Além disso, são os líderes sindicais americanos que estão a liderar a política protecionista do "Buy American". Exatamente, o maior risco para as nossas exportações. Chávez e o nosso interesse Não se pode atribuir como adjetivo principal ao líder venezuelano Hugo Chávez o de "rei das bravatas". O caudilho venezuelano, sob manto ideológico de sua revolução bolivariana, está a cumprir a sua agenda. Passo a passo está se tornando um daqueles ditadores populistas que campeiam as páginas da história latino-americana há muito tempo. Trata-se de um empreendedor, não de um falante. Subestimá-lo é erro grosseiro.Pois bem : os riscos para o Brasil não são nada desprezíveis na relação com a Venezuela. Além do petróleo, há questões de infra-estrutura e de investimentos venezuelanos no país que precisam ser mapeados, especialmente em vista do caminho ditatorial que toma Chávez. Nem o governo nem a oposição têm clareza sobre o que fazer. Afinal, se trata de um interesse nacional. Ou isto é pouco ? Serra e Aécio, convivência forçada O governador de São Paulo e o de Minas Gerais estiveram juntos ontem em Recife, no lançamento do livro do ex-ministro Fernando Lyra, sobre o avô de Aécio, a quem Lyra chama o tempo todo de "Dr. Tancredo". A festa seria só de Aécio, mas a direção do PSDB achou conveniente Serra também dar as caras, mesmo que tenha pouco a ver com o livro e sua história. Publicamente é preciso dar sinais e unidade e de civilidade política até o partido desatar o nó das primárias. A tática de Aécio Declarações recentes do governador mineiro e de alguns seus porta-vozes indicam o tema que vai motivar a campanha de Aécio para as prévias tucanas : está na hora de o Brasil ser presidido por alguém de outra região, depois de oito anos de FHC e, até 2010, oito de Lula. Um carioca e outro pernambucano, mas ambos políticos paulistas. Dilma gosta da tese : nascida em Minas, fez carreira no RS. Não fosse a preferida de Lula para sucedê-lo, ela seria a candidata de consenso do PT gaúcho para retomar o palácio Piratini. Há, tanto no PSDB quanto no PT, um grande descontentamento nos outros Estados com o domínio que as representações paulistas de ambos exercem sobre as legendas. O homem forte do Congresso Ele atende pelo nome de Renan Calheiros. Foi decisivo para a eleição de Sarney no Senado. Deu a Comissão de Infra-Estrutura da casa para o ex-presidente Fernando Collor, de quem já foi auxiliar, depois desafeto e agora é o seu mais novo amigo de infância. Em ambos, derrotou petistas - Tião Viana e Ideli Salvatti - com a anuência do presidente Lula. Indicou Wellington Salgado, suplente de Hélio Costa, para a vice-presidência da CCJ. Mandou outro cupincha, o senador Almeida Lima, para a presidência da Comissão Mista de Orçamento, aquela da qual saíram os casos dos "Anões", do "Mensalão" e dos "Sanguessugas" entre outros menos votados. É pouco ? Tem mais : administra uma bancada particular na Câmara, liderada por outro expoente do PMDB, Jader Barbalho. Se Renan não quiser, não acontece.