COLUNAS

  1. Home >
  2. Colunas

Política, Direito & Economia NA REAL

Enfoque político, jurídico e econômico.

Francisco Petros
terça-feira, 25 de maio de 2010

Política & Economia NA REAL n° 102

A tendência é negativa A crise europeia é fato significativo o bastante para engendrar um processo negativo na economia mundial. Além das suas consequências diretas sobre as principais e menores economias do continente, há dois aspectos que merecem observação e análise neste momento : (i) os efeitos negativos sobre a (enfraquecida) economia mundial e (ii) o fato de que as políticas fiscais expansionistas estão sob severo ceticismo da parte dos agentes econômicos. Infelizmente, neste contexto, o mais recomendável seria que os governos insistissem em atacar o problema mais severo, a saber, a fraqueza da demanda e a "doença" do desemprego agudo. Todavia, a fragilidade política não permite que a maioria das principais economias mundiais viabilize este tipo de política. O risco de crédito contaminou o processo econômico e a retração do capital é evidente. Este é o fato novo e grave que está sendo reconhecido pelos mercados. É preciso incorporá-lo nas estratégias de investimento e no mercado financeiro e de capital. Ativos de risco em queda Considerando os aspectos brevemente mencionados acima, estamos prevendo um ciclo continuado de queda nos preços dos ativos do mercado. Note-se que esta é a principal característica da - nova - tendência negativa. Assim como, a partir de meados do primeiro trimestre de 2009, os indicadores começaram a evidenciar um ciclo positivo e muito lucrativo do ponto de vista dos investidores do mercado de ações e de títulos de renda fixa, desta feita deveremos verificar a inversão deste processo. Lamentavelmente, a economia norte-americana, que tem apresentado consistentes e encorajadores números econômicos os quais mostram a recuperação da atividade econômica, ainda está num estágio incipiente para mobilizar uma demanda suficiente para influenciar a economia mundial. Os EUA não são mais a "locomotiva" do mundo e os países emergentes, sobretudo a China, não serão capazes de absorver os impactos da crise europeia. Assim, veremos movimentos de preços dos ativos financeiros negativos no médio prazo, apesar dos curtos períodos de maior tranquilidade e de recuperação das cotações. A volatilidade elevada é a vedete do mercado. O Brasil neste contexto O Brasil não é uma ilha nos movimentos negativos do mercado mundial. Não foi assim no período posterior à crise financeira dos EUA, ao final de 2008, e não será agora. De outro lado, o desempenho relativo do país deve permanecer superior às principais economias. Todavia, essa superioridade não retira o caráter geral negativo dos impactos da crise mundial sobre o país. Há dois agravantes específicos que nos preocupam e que temos deixado claro em colunas anteriores : (i) o primeiro diz respeito à corrida eleitoral e à inauguração de um novo mandato presidencial, em janeiro de 2011, que gerará tensões e trará uma nova liderança política mais fraca frente ao presidente Lula, que goza de inédita popularidade. Neste sentido, estaremos politicamente mais parecidos com o negativo momento político mundial. Além disso, (ii) a possibilidade de sustentação de uma taxa de crescimento de, digamos, 7% é improvável num contexto de baixa inflação, pouco investimento e elevado gasto público (vide nota abaixo sobre os cortes no orçamento). Assim, "na margem" o crescimento é negativo, quem sabe para um patamar de 4%. Isto não é bom, por exemplo, para os diversos segmentos do mercado financeiro e de capital e nem para o entusiasmado setor privado que está a investir e crescer. Projeções e "bola de cristal" Quando fazemos as observações acima nos guiamos pelo nosso melhor juízo sobre economia e política. Todavia, abdicamos de usar qualquer bola de cristal. O que estamos a dizer é nossa opinião no melhor interesse de nossos leitores em função dos fatos. Se os fatos mudarem, mudaremos de opinião, mas por enquanto a tendência nos parece negativa e temos de ser sinceros em explicitar esta visão. Radar NA REAL O mercado acionário, como na maioria das vezes, será o principal termômetro dos movimentos econômicos mundiais. No caso da bolsa brasileira, acreditamos que o patamar de 50 mil pontos do Índice Bovespa pode ser o patamar - negativo - a ser testado nas próximas semanas. Este, obviamente, não é um processo retilíneo. Ao contrário, os movimentos curtos de altas e baixas das cotações são talvez a principal característica de todos os segmentos do mercado. De outro lado, os juros devem avançar mais, de vez que o aumento da taxa de juros por parte do BC pode ser superior ao estimado pelo mercado. O Real deve se desvalorizar, mas de forma limitada em função da grandeza das reservas cambiais e do melhor desempenho da economia local frente à mundial. O nosso radar permanece como na semana passada. As tendências negativas já foram incorporadas nas últimas edições desta coluna. 21/5/10   TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA alta alta - Pós-Fixados NA alta alta Câmbio ² - EURO 1,2409 baixa baixa - REAL 1,8505 baixa baixa Mercado Acionário - Ibovespa 60.259,33 baixa estável/baixa - S&P 500 1.087,69 baixa/estável alta - NASDAQ 2.229,04 baixa/estável alta (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável Lula e o desafio dos vetos Lula terá, nos próximos dias, excelentes oportunidades para confirmar, no papel, sua disposição de manter a austeridade fiscal em seu governo, mesmo em pleno festival de caça aos votos. Chegam a sua mesa alguns resultados das bondades eleitorais postas em práticas nas últimas semanas pelos deputados e senadores, de todas as legendas, de variados credos políticos, do governo e da oposição. Os dois primeiros, segundo cálculos apregoados pelos ministros econômicos, quando combatiam as duas propostas no Congresso, têm o potencial de gerar um aumento nos gastos da Previdência Social de mais de R$ 5 bilhões anuais, a preços de hoje. Trata-se de R$ 1,6 bilhão por conta do aumento acima do salário mínimo, de 7,7% (contra previstos 6,14%) nas aposentadorias do INSS, e cerca de R$ 3,4 bilhões com o fim de fator previdenciário. Não importa se as ações são justas. O governo apregoou que elas eram inaceitáveis e fez todo tipo de ameaça para evitar sua aprovação. A Previdência está mesmo em dificuldades e o governo vendeu quase o apocalipse. Com essa posição de "responsabilidade fiscal" só há uma indicação : o veto. No entanto, Brasília acena com uma solução "salomônica" - sanção dos 7,7% dos aposentados (cerca de 22 milhões de também eleitores) e veto ao fim do fator previdenciário (menos visível e de efeitos mais difusos). Nada como o clamor surdo das urnas. Outras contas Nem só na área previdenciária o Congresso atacou de bondades eleitorais e criou oportunidades para o presidente Lula reafirmar, juntamente com seus ministros econômicos, seu alardeado senso de responsabilidade fiscal. Uma série de emendas apostas pelos congressistas à MP 472 ampliou a farra de gastos em tempos de consulta aos eleitores. Com esta MP o governo concedia R$ 3 bilhões em renúncias fiscais a diversos setores, ainda como parte da política anti-crise. Na passagem pela Câmara e o Senado, ela saiu com 43 emendas que, no mínimo, dobram os benefícios. Sobrou um pouquinho para todo mundo : pequenos agricultores, índios, funcionários públicos, empresários, Estados, municípios. O veto total seria o caminho, porém nada como o clamor surdo das urnas para comover espíritos mais sensíveis. Os cortes não convencem As dificuldades dos ministros do Planejamento e da Fazenda apontarem com clareza de que modo e onde o governo fará os cortes, é que aumentam as dúvidas sobre se a economia de mais de R$ 10 bilhões nas previsões de gastos do governo este ano são para valer ou não. Lula e o mundo irreal Do presidente da República, para uma plateia de prefeitos que encheu Brasília na semana passada : "Por que a emenda 29 - que aumenta os recursos orçamentários obrigatoriamente destinados para a saúde - não passa ? Não é porque o presidente da República não quer. Quando eu sair daqui, perguntem ao presidente da Câmara por que - os deputados - não querem, por que não passa ? É uma vergonha !". Se os prefeitos resolverem seguir mesmo a sugestão presidencial e forem interpelar Michel Temer e o presidente da Câmara zelar pela verdade, certamente receberão uma resposta que não será do gosto de Lula : a emenda não passa porque os ministros econômicos não deixam - dizem que o Orçamento não comporta mais gastos com esta área. Só se for aprovada nova fonte de receita. É a pressão para sair a CSS - Contribuição Social para a Saúde, sonho governista para substituir a extinta CPMF. A CSS foi defendida explicitamente por Dilma há menos de dez dias. Em lua de mel Dois fatores influíram nos quase dez pontos de percentagem que Dilma tirou de Serra da antepenúltima para a última pesquisa do DataFolha divulgada no sábado. Descontada a margem de erro, a candidata de Lula e o candidato da oposição estão literalmente empatados nos 37%, empate técnico antes registrado pelo Vox Populi e pelo Sensus. O primeiro fator foi a influência de Lula, a transferência de votos, neste momento, está se dando em ritmo maior do que a oposição gostaria. O segundo fato foi sua aparição nos "programetes" de 30 segundos e no "programão" de 10 minutos na televisão. Apesar de toda a badalação da campanha na internet e nas redes sociais, a campanha ainda será marcada pela televisão. E já está provado que os "programetes" podem influenciar mais o eleitor do que o longo programa obrigatório de todas as tardes e noites. De público, PT, Lula, aliados e candidatos estão calçando franciscanas sandálias. Internamente, a euforia é alta. Fala-se em avalanche e em vitória no primeiro turno. Os efeitos da avalanche Com a íntima certeza de que Dilma subirá a rampa planaltina, no PT e até nos parceiros começam as tomadas de posição em relação ao futuro governo e aos cargos de peso na nova administração. José Eduardo Dutra, presidente do partido e, em tese, coordenador-geral da campanha, desistiu de disputar cargo eletivo. O mesmo o fez o deputado Palocci, homem forte do grupo eleitoral - e não somente na economia. Fernando Pimentel, amigo pessoal de Dilma e também do núcleo duro do staff da candidata, vai renunciar à disputa pelo governo de MG. Estão no ar os nomes de três ministros - não fariam o que estão fazendo por menos. E não erra quem achar que o destino de Palocci pode ser a Casa Civil, o gerenciamento do governo. O Dilma da Dilma. Cabeça quente Também é mais para efeito externo do que realidade o ar quase blasé da oposição diante do crescimento da intenção de votos na ex-ministra, coisa que o próprio tucanato já sentia que estava acontecendo antes mesmo da divulgação das pesquisas Vox Populi, Sensus e DataFolha. Só não se pode dizer que está se descabelando porque ela confia que pode conseguir a recuperação de Serra com os programas eleitorais do DEM e do PSDB no ar nos próximos dias. De qualquer modo, avalia-se, entre tucanos serenos, que o candidato da oposição precisa criar um fato novo para não deixar que Dilma se distancie do candidato oposicionista nas pesquisas. O fato novo, sonham todos, é Aécio correr para vice. Aécio está menos reticente, deu sinais de boa vontade, mas daí a dar o salto vai ainda uma distância muito grande. O PMDB, como sempre O deputado Michel Temer e o comando nacional do PMDB deram o recado : esperam apenas a resposta a uma consulta feita por Eduardo Cunha ao TSE sobre a obrigação de fidelidade partidária nos palanques regionais para agir contra os dissidentes. E receberam a resposta no mesmo diapasão : cuidado com o que vão fazer porque eles dependem da convenção nacional para garantir a vice-presidência e, num eventual governo Dilma, a divisão do governo. E quem tem voto nas convenções são os líderes estaduais. Mas o jogo do convencimento já começou. No Maranhão, segundo denúncia da revista Veja, bem ao estilo do partido : com oferendas a petistas para que eles abandonem a aliança já aprovada com o PCdoB para cair no terreiro de Roseane Sarney. É o PMDB de sempre. Desde que deixou de ser o partido de Ulysses, de Tancredo... Olhares desatentos Fora de círculos muito restritos, a sociedade brasileira está dando muito pouca atenção a duas discussões que o governo está travando e que em breve pode virar lei : as regras sobre o marco civil para a internet e a nova lei de direito autoral. O primeiro está em consulta pública até o dia 30 deste mês. A segunda, já tem anteprojeto, que está nos últimos retoques antes de ser enviado ao Congresso. Ambos, pelas versões oficiais, trazem o vírus de outras propostas oficiais : a concentração das decisões e dos controles de áreas vitais nas mãos do Estado em detrimento das ações dos atores privados. Fundos de pensão em uso A propósito da necessidade legal de substituir Sérgio Rosa na presidência da Previ, o milionário fundo de pensão dos funcionários do BB, e outros diretores, o governo fez modificações mais profundas na entidade, trocando também outros dirigentes e colocando gente de extrema confiança da atual diretoria do BB. E mais sujeita à influência dos comandantes oficiais da economia. Rosa, ligado ao PT, era homem de confiança do Palácio do Planalto e, segundo testemunhas de confiança, fez um trabalho de alto nível na Previ. Porém, seu estilo, mais "técnico" do que "político" não é o mais indicado para os desejos oficiais. Tanto que não conseguiu indicar seu sucessor, apesar do sucesso admitido até pela oposição. O governo prepara para a Previ um grande papel - financeiro - em seus novos projetos. A mesma linha deve ser adotada pelo BNDES. Capitalismo sem risco Disposto a fazer antes de outubro a licitação para o trem bala de R$ 34 bilhões ligando Campinas/São Paulo/Rio de Janeiro, e diante da recalcitrância de possíveis investidores - quanto ao custo real e à viabilidade econômica do projeto -, o governo admitiu que o Tesouro nacional também poderá ajudar a financiar a obra e aceita incluir no edital de concessão uma espécie de gatilho financeiro para as empresas : se os cálculos de fluxo financeiro não se confirmarem, os concessionários serão compensados. Nada como o capitalismo sem risco tupiniquim. O BNDES e seus investimentos Em novembro de 2008, já, portanto, no auge da crise dos subprimes, o BNDES investiu R$ 250 milhões no Frigorífico Independência. Não é que, menos de quatro meses depois, em fevereiro de 2009, a empresa entrou com um pedido de recuperação judicial. Agora, o BNDES está recorrendo à câmara arbitral da BMF/Bovespa para recuperar esse dinheiro. O banco tem cerca de 13% de participação no capital do encalacrado Independência. Nada como o capitalismo de Estado no Brasil. Copa : manobras abertas Na coluna da semana passada, chamamos a atenção para o lobby do "atraso nas obras para a Copa" como uma tentativa para amolecer os corações oficiais e conseguir verbas de recalcitrantes prefeitos e facilidades oficiais. Não se passaram nem três dias da notícia e menos de um mês das pressões mais explícitas, com visitas da FIFA e tais, e as almas oficiais tapuias se derreteram. Um decreto de Brasília determinou que podem ser concedidas isenções fiscais para negócios ligados à Copa. E uma MP autorizou a Infraero a gastar R$ 5 bilhões em obras nos aeroportos, contratando obras em regime de urgência, com liberação de licitações.
terça-feira, 18 de maio de 2010

Política & Economia NA REAL n° 101

A crise europeia está no começo Não devemos nos enganar com os movimentos diários dos mercados e a emissão de notícias da parte dos países da UE. A crise iniciada pela Grécia não é apenas econômica. Diz respeito a todo um modelo econômico e político, tido pelos próprios europeus como "altamente civilizado", mas que se mostrou ineficaz e desvinculado dos reais requisitos para que os países possam ser considerados uma "união". O maior símbolo deste processo é a Alemanha, país que se mostra um gigante econômico e um nanico político e diplomático. A coordenação econômica entre os países é frágil e a coordenação monetária uma ilusão. Isso custará caro : o euro já está se desvalorizando fortemente e não está descartado um cenário de colapso da moeda europeia, apesar desta probabilidade ser, por ora, remota. Os mercados prosseguirão instáveis e toda esta volatilidade se refletirá em taxas de riscos (spreads) mais elevados nas rolagens de dívidas. Anões políticos A aliança política - impensável para quem lê os programas dos partidos - entre liberais-democratas e conservadores no Reino Unido coroa a "chanchada" que se passa na arena política do Velho Continente. Lembra muito o cenário vivido nos anos 30 do século passado, quando Hitler, Mussolini e Franco se fortaleciam dentro do continente e Stálin jogava cartas com todos. Esta fragilidade política é, ao mesmo tempo, causa e efeito da falência das concepções que os europeus têm de si mesmos. Sabemos que isso não será resolvido no curto e, até mesmo, no médio prazo. Daí, decorre a análise de que o sobe-e-desce dos mercados vai trilhar um longo caminho. Brasil : e a análise de risco ? Há muitas considerações macro e micro-econômicas a serem feitas pelo atual e futuro governo brasileiro em relação à Europa. O país tem volumosos investimentos europeus alocados em sua economia e riscos financeiros assumidos pelas empresas e pelos governos. Alguém no governo está rastreando oportunidades e riscos deste cenário ? (Era assim que faziam conosco quando o Brasil vivia suas "décadas perdidas") Os conselhos dos sábios A Eurolândia tem um "Grupo de Reflexão para o Futuro da Europa", também conhecido como "Grupo dos Sábios", de 12 membros, presidido pelo ex-primeiro-ministro espanhol Felipe González, e formado, entre outros, por Lech Walesa, ex-presidente da Polônia, Vairavike Freiberga, ex-presidente da Letônia, Richard Lambert, presidente da Confederação da Indústria Britânica e Rainer Münz, economista austríaco consultor da OCDE e do Banco Mundial. No fatídico domingo em que a União Europeia anunciou uma ajuda de quase um bilhão de dólares para os países da região enfrentarem a crise que os ameaça, o grupo de González anunciou em Bruxelas o "Projeto Europa 2030", com críticas pesadas às políticas locais. "Tenho certeza que o relatório não vai agradar a todos os chefes de Estado e de Governo", avisou o ex-primeiro-ministro socialista. Na contramão As sugestões em boa parte andam na contramão do que os países europeus começam a fazer para conter o que é o seu mais imediato problema - os desarranjos fiscais. Enquanto Grécia, Espanha e Portugal já anunciam cortes de despesas, os sábios sugerem que os governos mantenham as medidas anti-crise, adotadas no auge do problema gerado pelos subprimes norte-americanos para garantir o crescimento e o emprego, e proclamam que os países que têm margem de manobra em suas contas públicas assumam a liderança do processo : um recado indireto para a Alemanha. Os sábios defendem ainda a economia social de mercado ao modo europeu, o Estado do bem estar social desenvolvido por lá depois da segunda Guerra Mundial, "altamente competitiva e sustentável ambientalmente". Pois é exatamente este Estado do bem estar que está sendo posto, em parte, em xeque, com a crise e o alto endividamento da maioria dos países da área do euro. Lula no Irã Há que se reconhecer que o presidente Lula obteve um significativo e positivo resultado na sua missão no país dos aiatolás. Diante do enorme ceticismo mundial e, sobretudo, da imprensa local, o anúncio do acordo envolvendo Brasil, Turquia e Irã mexeu nas peças do complicado tabuleiro do Oriente Médio. Diante de poucos dados dá para tecer poucos comentários, mas não dá para nos omitirmos em alguns pontos : 1 - As sanções planejadas pelos EUA contra o Irã estão mais distantes de serem executadas. A sua viabilidade política encontra barreiras fortalecidas por parte da China e da Rússia ; 2 - O Brasil acaba por firmar-se mais um pouco no cenário diplomático internacional. Todavia, temos de avaliar os efeitos : o Brasil atrapalha planos ambiciosos da maior potência mundial e este não é um movimento que ficará sem resposta. Lula colocou o seu dedo num assunto que complica demasiadamente a política externa conduzida por Hillary Clinton ; 3 - Ainda não se sabe como vão reagir os órgãos multilaterais em relação ao acordo, sobretudo no caso da Agência Internacional de Energia Nuclear, que terá de dar seu aval sobre os aspectos técnicos do acordo; e, 4 - Por fim, não devemos esquecer que o Irã tem a tradição de ir em frente com um acordo por alguns dias ou semanas e depois recuar. Esperemos que não seja o caso deste surpreendente acordo. Popularidade internacional A pressa que a chancelaria turca teve em anunciar o acordo com o Irã - em antecipação à divulgação oficial do Itamaraty - indica que o assunto tem não apenas efeitos externos, mas efeitos domésticos relevantes. No caso de Lula, tais efeitos são positivos, mesmo que os assuntos externos não sejam parte essencial do "imaginário eleitoral" dos brasileiros. Lula não tem apoio substantivo entre os chamados "formadores de opinião" no Brasil, mas de outro lado, sabe transformar seus feitos econômicos e políticos em dados assimiláveis pela grande massa de eleitores. Não será diferente em relação ao acordo com o Irã, o qual contava com franca oposição da imprensa local, mas será "fato novo" a entrar no proselitismo político. Dilma há de se beneficiar disso. Por fim, restará ao presidente brasileiro os "resíduos" favoráveis, caso este acordo se torne um sucesso completo, para futuros passos políticos em casa ou no universo dos organismos multilaterais. Coisa que poucos conseguiram. Brasil : as contas oficiais preocupam A decisão dos ministros econômicos de fazer um corte adicional de R$ 10 bilhões, além de R$ 21,8 bilhões podados anteriormente, nas previsões orçamentárias de 2010, foi recebida com reservas pelos especialistas e pelo dito mercado. Primeiramente, porque dá a impressão de improviso : anunciou-se o tamanho do corte para depois se começar a procurar onde é possível passar a tesoura. O que somente se saberá no próximo fim de semana. Depois, porque a margem de poda é pequena, preservado o que é "incortável" e o que Lula não admite rever. Intenções e expectativas A intenção é atuar mais sobre as expectativas dos agentes econômicos e conter qualquer sanha do BC em relação a novas elevações significativas da taxa de juros. O Boletim Focus desta semana, com novos reajustes nas expectativas dos agentes do mercado, mostrou que a primeira investida não foi bem sucedida. A previsão do PIB de 2010 passou de 6,26% para 6,30% e a da inflação cresceu de 5,50% paras 5,54%. Os departamentos econômicos dos principais bancos, no entanto, trabalham com números maiores : PIB acima dos 7% e inflação no topo da meta 6,5%. Venezuela : atenção para o crédito Uma eventual piora do cenário externo vai cair como se fosse uma bomba atômica sobre o governo do caudilho Hugo Chávez. Os problemas de crédito do país são muito sérios e podem desabar num cenário de riscos concretos para sua solvência. Petrobras, luz quase vermelha A Petrobras, com as pressões diretas e indiretas para a aprovação pelo Senado, o mais rápido possível, da proposta que permitirá sua capitalização na base da concessão onerosa de poços do pré-sal que receberá do governo, já começa a despertar desconfianças. A empresa ameaça, inclusive, recorrer ao mercado se a autorização não passar rapidamente no Senado, o que muitos analistas consideram complicado, pois exigiria desembolsos diretos do Tesouro Nacional, sem recursos para tanto. Alega a Petrobras que o atraso prejudicará os programas do pré-sal. Pode ser. Há outra razão Desconfia-se de outra razão também : com muitos investimentos, a empresa precisará de mais recursos de caixa para fechar as contas. Há lembranças de 2008, quando a empresa precisou se socorrer, numa emergência, na CEF, no BB e até numa operação pouco ortodoxa de diferimento no pagamento de impostos. Radar NA REAL Anote aí : pelos nossos lados, até o final do ano, o cenário que está se desfraldando é o de mercado de ações em baixa e câmbio em alta. Tudo em sintonia com a crise europeia e com o cenário eleitoral que será emocionante. Lá fora, os EUA permanecerão na liderança da recuperação econômica desde que a "contaminação" europeia não seja vigorosa - grave já é. O mais provável cenário para o mercado financeiro local é aquele em que o real desliza para baixo, juntamente com as ações, enquanto os juros sobem. Resta saber qual o grau de volatilidade que será experimentado pelo país. 14/5/10   TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA alta alta - Pós-Fixados NA alta alta Câmbio ² - EURO 1,2349 baixa baixa - REAL 1,8052 baixa baixa Mercado Acionário - Ibovespa 63.412,47 baixa/estável baixa - S&P 500 1.135,68 baixa/estável alta - NASDAQ 2.346,85 baixa/estável alta (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável Os temores do PT Apesar do alívio - para o PT- trazido pelas pesquisas do Vox Populi (empate técnico, mas com três pontos de vantagem para Dilma) e do Sensus (Dilma 35,7% versus Serra 33,2%), ainda permanecem alguns temores em relação ao desenrolar da campanha de Dilma. Questões que podem fazer estragos na imagem dela, laboriosamente em construção por seus marqueteiros a partir dos insights do presidente Lula. Temia-se - agora se teme um pouco menos - que se pudesse pespegar na criatura de Lula a imagem de quem não tem muitos compromissos com a verdade, a partir de casos envolvendo o currículo de Dilma postado na internet e do embate sobre encontros - negados - que ela teve com a ex-secretária da RF, Lina Vieira, com pedidos para amaciar investigações sobre a família Sarney. Por isso, inclusive, o PT atacou com veemência o site "Dilma Mente" patrocinado pela oposição. A experiência de Dilma Afastou-se também em parte o temor entre o confronto entre a grande experiência de Serra e a dita pouca experiência de Dilma e até de um confronto entre os dois nesse campo. Mas ficou muito vivo ainda outro empecilho : a possibilidade de a oposição tentar pregar os selos de "terrorista" e "assaltante de bancos" na candidata situacionista. É coisa capaz de assustar a parte mais conservadora da classe média brasileira. Por isso, não foi gratuita a comparação que Lula insinuou na televisão entre sua pupila e o líder sul-africano Mandela, apontado pelo presidente como alguém que também aderiu à luta armada para depois salvar seu país de suas agruras sociais, a começar pela luta contra o apartheid. Marta fez a sua parte Na mesma linha, está mais um escorregão (terá sido mesmo escorregão ou coisa de caso pensado ?) da ex-prefeita Marta Suplicy sobre o candidato verde ao governo do Rio, com apoio dos tucanos : "Vocês notaram que do Gabeira ninguém fala ? Esse sim sequestrou. (...) Ele era o escolhido para matar o embaixador. Ninguém fala porque o Gabeira é candidato ao governo do Rio e se aliou com o PSDB". "Lulodependência" em baixa ? Outro fantasma que o PT tentou afastar em seu programa da semana passada foi a visão que já começava a ganhar corpo de que Dilma só existe por causa de Lula. Com habilidade, Lula tentou transferir parte do sucesso de seu governo, traduzido em seus altos índices de audiência, para auxiliar, primeiro a "Ministra das Minas e Energia" e depois "poderosa condutora da Casa Civil e mãe do PAC". Reviravolta mineira ? Sinais emitidos desde o front mineiro - e sem desmentidos enfáticos - trouxeram alento para as hostes oposicionistas : o ex-governador Aécio Neves estaria reconsiderando sua antiga posição e admitindo formar a chapa PSDB-DEM-PPS como vice-presidente de José Serra. As fontes são das melhores e Aécio está de novo no Brasil depois de um mês de férias na Europa. A reconsideração do neto de Tancredo, no entanto, depende de uma análise da situação que encontrará em Minas Gerais. A prioridade de Aécio é eleger Antonio Anastasia como sucessor. Pela lógica da política mineira, quem não tem o Palácio da Liberdade fica capenga e sem força na política regional. E mesmo senador, sem força em Minas, Aécio perde poder de fogo na política Federal e em seu partido. Depende, então, repetimos, do que ele e seus assessores julgarem melhor para ajudar Anastasia. E nesta conta entram os movimentos do PT e do PMDB no Estado. Quando mais o governo Federal aperta o cerco para fechar um acordo para valer do PT com Hélio Costa e mais tenta limitar os espaços de Aécio mais ele pode olhar para a vice-presidência. Facho baixo Se os tucanos estão com caras mais animadas pelos sinais de fumaça desde Minas, as pesquisas mais recentes do Vox Populi e do Sensus baixaram o facho oposicionista. Eles andavam muito animados com os sucessos públicos de Serra e os ditos escorregões de Dilma. As sondagens mostraram que estas coisas ainda não chegaram aos eleitores. O que está chegando mesmo é a identificação cada vez maior entre Dilma e Lula. O PMDB e suas confusões Preocupado com as dissidências regionais em seu partido, o presidente do PMDB, Michel Temer, prepara uma contra-ofensiva. Afinal, calcula-se que em cerca de 12 Estados o PMDB local poderá optar pela candidatura de Serra ou por ficar neutro, negando palanques para Dilma Roussef em conjunto com o PT. Temer quer que a Executiva Nacional do partido dê um apoio formal, ainda que não oficial, à sua candidatura a vice de Dilma, mostrando que com o PT e Cia. está a aliança preferencial. Temer deseja também aval para intervir nos Estados nos quais o PMDB local vai preferir Serra. A dúvida, porém, é : como o PMDB é uma confederação de seções estaduais, terá o comando nacional força para se impor ? Nas condições vistas de hoje a resposta é um explosivo não. Marina, devagar e sempre Sem o estardalhaço do PT e do PSDB, o PV da ministra Marina Silva fez uma festa bem singela - ao estilo dela - para lançamento da candidatura oficial do partido. Mas, apesar de simples, foi significativa, pois permitiu à ex-ministra introduzir no debate eleitoral outros temas mais próximos da realidade do dia a dia do eleitor brasileiro, ausentes (ou pouco clamados) nos discursos dos dois principais partidos concorrentes ao Palácio do Planalto. É uma estratégia que pode angariar votos preciosos para a ex-ministra do Meio Ambiente. Insuficientes, é quase certo, para levá-la a um segundo turno, mas caros o bastante para que ela tire votos de um ou de ambos os candidatos e para que Marina comece a pautar também o debate. Não deve impressionar a estagnação de Marina registrada nas pesquisas. Somente agora ela começa a ser mais conhecida como candidata, ao contrário dos dois adversários. Um vício da imprensa ? Não deu para entender o destaque dados pelos principais órgãos de imprensa à escolha do vice de Marina, um dos donos da Natura, Guilherme Leal, e o fato de se tratar de um "milionário" em detrimento das ideias e das propostas levantadas pela candidata do PV. Preconceito ou um falso viés social ?  Copa : manobras ? Quem lida com obras, em áreas do setor público, não se impressiona com as ameaças da FIFA, de algum modo endossadas pela CBF, de que a Copa do Mundo de 2014 pode ser tirada do Brasil porque já há atrasos nos projetos apresentados pelo país para ganhar a concorrência. Os atrasos não seriam significativos a ponto de inviabilizar agora a candidatura brasileira. As pressões - na verdade, um poderoso lobby - viriam para forçar derrubadas de limites e imposições legais no processo e licitação e para amaciar o coração de governadores e prefeitos e fazê-los abrir mais generosamente seus cofres. Perguntar não faz mal O que foi feito (ou o que será feito) dos cerca de R$ 10 bilhões recolhidos pelo FUST (Fundo de Universalização dos Serviços de Telecomunicações) e depositados nos escaninhos do Tesouro Nacional ?
terça-feira, 11 de maio de 2010

Política & Economia NA REAL n° 100

A Europa e não apenas a Grécia A envergadura do pacote da UE - 750 bilhões de euros, US$ 960 bilhões aproximadamente - dá uma dimensão mais real para os problemas de liquidez dos países que fazem parte do euro e aqueles que pretendem nele ingressar. Ao contrário do que muitos pregaram fora das salas fechadas dos ministérios econômicos europeus, a crise não era somente da Grécia. O país helênico era apenas o pavio da bomba instalada no mundo financeiro do Velho Continente. Fundo de Estabilização. Estabilização ? A resposta imediata dos mercados mundiais ao anúncio (na madrugada da segunda-feira) foi de alívio, mas não deve ser de euforia. O tratamento à crise tem chance de ser um sucesso, mas a dimensão dos problemas estruturais da Europa indica que a recuperação da atividade econômica deve ser muito mais lenta que a dos EUA. Os problemas de coordenação econômica da UE ficaram evidentes, sobretudo quando o tema é financeiro. Além disso, falta à grande maioria das nações europeias condições estruturais de competir com as nações em desenvolvimento, sobretudo a China, e os EUA. O sistema de proteção social do Velho Continente é um sistema de proteção comercial e gera um insulamento impossível no mundo atual. Assim sendo, é muito provável que assistamos nos próximos meses variações bruscas no humor dos investidores em relação à zona do euro. A Grécia não está salva Muito embora o pacote de 110 bilhões de euros possibilite a rolagem da dívida grega nos próximos anos, o programa de ajuste fiscal é incompatível com as possibilidades sociais do país. Logo, não se deve descartar novas e severas turbulências, incluindo a possibilidade de reestruturação de sua dívida, bem como sua saída do sistema monetário europeu. Portugal, Espanha, Itália A prontidão dos europeus para que outros países mediterrâneos não adentrassem no cenário da Grécia deve evitar o pior no curto prazo. Todavia, como imaginar que estes países, cujas taxas de desemprego estão entre 15% e 20%, superem suas mazelas ao mesmo tempo em que fazem ajustes fiscais ? Seria infantil acreditar em um cenário de estabilização sem que esta questão seja enfrentada do ponto de vista político e econômico. Alemanha só funciona quando pressionada O ministro das relações exteriores da França Bernard Kouchner resumiu bem o quão nefasta foi a demora de ajuda à Grécia : "Não podemos viver segundo a graça dos mercados. A zona do euro deveria ter ajudado mais rapidamente a Grécia." Recado direto à Chanceler Alemão Angela Merkel, responsável maior pela péssima gestão da crise por parte da UE. Britânicos mais distantes do euro O debate sobre a entrada do Reino Unido no sistema monetário europeu foi um dos principais temas debatidos entre os três principais candidatos à cadeira de primeiro-ministro britânico. A crise atual distancia o país da Europa continental. Já há muita confusão em casa para ser resolvida. EUA fingem não ver, mas "fazem figa" A crise europeia é, neste momento, o principal obstáculo para a recuperação da economia americana, a qual emitiu bons sinais nos últimos três meses. O fortalecimento do dólar norte-americano dificulta o ajuste externo do país e a queda prolongada da atividade econômica europeia impede o espalhamento do aumento de demanda no mercado mundial. Os EUA são o país mais aberto do ponto de vista comercial dentre os países ricos. O andamento da economia mundial é muito mais vital para os americanos que para os europeus. Além disso, reviver uma crise bancária a esta altura dos acontecimentos é ver muitos fantasmas novamente... FMI, tão criticado e tão presente Depois do pacote de 750 bilhões de euros da UE, começa-se a falar num "fundo monetário europeu". Por enquanto, contudo, quem está colocando as mangas de fora é o velho FMI e seu receituário ortodoxo para que os "civilizados europeus" o sigam. Amarga ironia, não é mesmo ? Brasil : arrogância e recomendação Quem viu as declarações de Guido Mantega sobre a participação brasileira na ajuda financeira a Grécia não deixou de notar certa ironia do ministro em relação à condição do FMI de "devedor" em relação ao Brasil. É certo que o FMI sempre foi um órgão que tratou o país dentro de uma ortodoxia muitas vezes insensível à realidade. Todavia, a condição brasileira não é imutável e os caminhos da política econômica por aqui não são tão louváveis quanto imagina o governo atual. Moderação é recomendável neste momento. Brasil perde a preferência Não dá para prever a profundidade dos efeitos da crise europeia sobre o Brasil, mas dá para se afirmar que esta crise afetará mais sensivelmente os investimentos externos para o Brasil que no caso da crise americana. Durante a crise dos EUA, os ativos do Brasil - sobretudo os do mercado financeiro e de capital - ficaram baratos e tinham perspectivas de recuperação num prazo relativamente curto. Os especuladores perceberam isso rapidamente. No momento, os ativos brasileiros estão caros e o cenário de médio e longo prazo se tornou mais incerto. As oportunidades mais especulativas estão nos EUA e na Europa. Isto já era uma tendência, a qual se aprofundará a partir de agora. China : por ora, esquecida Há sinais de que a sustentação da atividade econômica da China nos níveis atuais - de 8% a 10% de crescimento anual - é incompatível com o cenário mundial e com as crises creditícias ao redor do globo. Resta saber o quão afetado será o - pouco transparente - setor financeiro do país comunista. Além dos problemas relacionados à atividade econômica, o setor financeiro da China é um destes mistérios que ninguém está muito disposto a desvendar. Crises : sem respostas teóricas e práticas Vejamos : crise do México em 1995, crise asiática em 1997, crise russa em 1998, bolha especulativa de 1999/2000 nos EUA, crise cambial do Brasil em 1998/2000 e 2002, crise Argentina ao longo da década dos 90 e início dos anos 2000, colapso do sistema financeiro norte-americano em 2008 e insolvência soberana dos países meridionais da Europa. Pergunta-se : a era financeira que vivemos não merece indicar a obsolescência dos sistemas de regulação no mundo global ? As respostas a esta pergunta por parte dos governos não são apenas incipiente, beiram a irresponsabilidade. Radar NA REAL Não estamos alterando as tendências estruturais dos mercados acompanhados por este radar as quais já vinham sendo alteradas nas últimas edições deste informativo. Todavia, alertamos para o fato de que o aumento da volatilidade veio para ficar pelo menos durante o resto deste ano. O cenário que parecia ser saudável sofreu um revés de natureza estrutural e não apenas conjuntural. No caso do Brasil, há o agravante de que teremos uma transição política que é mais delicada que parece. 7/5/10   TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA alta alta - Pós-Fixados NA alta alta Câmbio ² - EURO 1,2870 baixa baixa - REAL 1,7868 estável/baixa baixa Mercado Acionário - Ibovespa 62.870,88 baixa estável/baixa - S&P 500 1.110,88 alta alta - NASDAQ 2.265,64 alta alta (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável Banda larga ou charanga eleitoral ? Após uma longa gestação, saiu de uma cesariana improvisada a proposta do governo de universalização do acesso à internet de banda larga no Brasil. Apesar do tempo de gravidez - está na mira do governo desde os tempos de José Dirceu na Casa Civil - e de ter tido uma enfiada de padrastos e madrinhas, saiu apenas um esboço, incompleto. A tal ponto que Lula, que adora tais eventos midiáticos, não emprestou seu prestígio à festa de lançamento semana passada em Brasília. Telebrás reativada De certo mesmo, há a notícia da reativação da Telebrás, com aportes de 3,2 bilhões de reais em quatro anos, mais a intenção de multiplicar por cerca de 2,4 vezes - de 12 milhões para 28 milhões até 2014 o número de casas com banda larga no país. Não há metas específicas nem prazos a serem cumpridos nas diversas etapas do processo, não há indicações da origem dos recursos a serem usados - entre investimentos e recursos fiscais calcula-se o total em 13 bilhões de reais. Dúvidas e mais dúvidas Não se explicou como serão resolvidas as dúvidas jurídicas pertinentes levantadas por especialistas a respeito da nova Telebrás e de suas atribuições. Nem o decreto presidencial dando vida à empresa ficou pronto. Isto pelo menos depois de umas trinta entrevistas de Rogério Santana, escolhido para presidir a Telebrás Plus, nos últimos meses, sempre com detalhes do que seria o Plano Nacional de Banda Larga. Há informações de que o pacote poderá sair por R$ 15 reais para uma velocidade de 1 mega. Seria sensacional. O problema está em saber como este patamar será alcançado. Haverá certamente redução de impostos, caso contrário o milagre fica impossível. Acontece que o peso tributário maior nas telecomunicações, na média algo como 30% de uma carga média em torno de 40%, vem do ICMS. O ICMS é o principal imposto dos Estados, parte depois repassada aos municípios. Governadores e prefeitos foram consultados sobre a disposição liberarem esta receita, sem compensações ? Capitalização da Telebrás e metas A capitalização da Telebrás foi jogada para futuros governos. Este ano ela receberá pouco mais de 250 milhões de reais dos 3,2 bilhões previstos. Porém, já está pronta para montar sua diretoria. Inicialmente, o projeto era "encher" o Brasil inteiro de banda larga no menor prazo possível. Este ano mesmo o Brasil já estaria bem espetado de antenas. Depois, definiu-se que para 2010 seriam atendidas 300 cidades com projetos pilotos, palavras de Rogério Santana. Agora, serão contemplados este ano 15 capitais e mais o DF. O Brasil ainda não tem de fato um PNBL - Plano Nacional de Banda Larga. Mas desde a semana passada tem um PNBE - Plano Nacional de Banda Eleitoral. Grávidos de si mesmos Quem assistiu com os olhares menos turvados a festa de pré-lançamento da candidatura de Geraldo Alckmin ao governo de SP, evento do PSBD com amparo do DEM e do PPS, que se transformou num evento pró-Serra, sentiu certo cheiro de excesso de confiança nas searas oposicionistas Federais. Parece que os ventos favoráveis que têm soprado na campanha tucana somados às agruras internas e externas que a principal adversária vem enfrentado, subiram prematuramente à cabeça do tucanato e cia. Tucano já tem fama de não ser muito humilde... e eleitor não gosta de soberba. Fatos para a mídia O PSDB e seus aliados terão de fazer um esforço maior esta semana para criar novos fatos positivos, de repercussão, para a candidatura Serra. Apesar das dificuldades que a campanha da ex-ministra Dilma vem enfrentando em vários Estados para completar suas alianças e em que pese a convivência com um PMDB cada vez mais exigente, o grande evento da semana será da candidata petista : o horário eleitoral do PT quinta-feira, todo ele montado em torno dela. É quase certo que algum instituto sairá em campo depois da aparição da ex-ministra no rádio e na televisão e os resultados, talvez no fim de semana, poderão refletir esta exposição dela. E como a atual fase da campanha tem se caracterizado por uma guerra de pesquisas...  Marketing de Serra cheio de dúvidas O pessoal de marketing ligado a Serra ainda não está convicto sobre as linhas de campanha para lançar e manter o candidato em crescimento. A popularidade de Lula impõe redobrados cuidados na mensagem a ser emitida. É preciso mirar cirurgicamente em Dilma, mas essa não é tarefa fácil no campo da comunicação. Moeda de troca Quem estranha os arroubos de independência de partidos, outrora cães de guarda fiéis do governo, não está atento a alguns detalhes : 1. Há ciúmes demais com a prioridade total dada ao PMDB. Ciúmes até no PT. 2. O governo está sem um dos seus principais "trocos", aquilo que amalgamou a coalizão governista por muito tempo - os cargos Federais. Agora eles valem pouco com Lula. E com Dilma ainda não chegaram e são já muito cobiçados por PMDB e PT, com riscos de sobrar pouca coisa para o restante. 3. A única moeda de troca disponível imediatamente são as emendas parlamentares. Porém, há o complicador dos gastos públicos. Lula faz campanha para... ...Lula. Políticos de faro mais acurado estão cada vez mais convictos de que o presidente está menos preocupado com Dilma do que com ele mesmo, seu futuro e sua imagem. E há fatos que não negam esta interpretação. Em Recife, por exemplo, diante de insinuações de que sua candidata está estagnada, Lula lembrou que isto vai mudar e que Dilma não cresceu mais nas campanhas porque "eu ainda não subi ao palanque com ela para pedir votos". Mais significativa ainda foi a resposta da própria Dilma a uma pergunta da equipe da revista IstoÉ que a entrevistou : "P - A Sra. cederia a possibilidade de uma reeleição para o presidente Lula, no caso de ele querer se candidatar em 2014 ? R - Ele já me disse para não responder a essa pergunta." Neste ritmo, os comunicadores da ex-ministra vão ter se de desdobrar para convencer parte do eleitorado de que ela não é apenas uma espécie de boneca de ventríloquo de Lula e que o candidato de fato é ela e não ele. Um exemplo mercurial A propósito do caso Tuma, há muita gente lembrando-se do complicado presidente Itamar Franco. Diante de uma suspeita levantada contra o então ministro chefe da Casa Civil, Henrique Hargreaves, seu amigo e conterrâneo, o presidente afastou-o sem vacilar do cargo. Feitas as investigações e comprovado que as suspeitas eram infundadas, Hargreaves voltou ao governo. Qualquer falta de semelhança entre este episódio e o que agora toca o secretário de Lula, não é mera coincidência. É diferença de padrão e de conduta.
terça-feira, 4 de maio de 2010

Política & Economia NA REAL n° 99

Grécia : problema estrutural, agravamento conjuntural A Grécia está endividada e há anos necessitava de ajustes do ponto de vista fiscal. É fato. Todavia, o agravamento de sua situação deveu-se a dois fatores essencialmente conjunturais : (i) a crise internacional que fez com que os dispêndios governamentais aumentassem para socorrer o seu sistema financeiro e (ii) o ataque especulativo da parte de fundos e posições próprias dos bancos, crescente nos últimos meses, que inviabilizou a rolagem de suas dívidas a custos razoáveis. A desunião Europeia O pacote de 110 bilhões de euros para viabilizar a rolagem da dívida da Grécia é o maior da história do sistema financeiro mundial. Este valor poderia gravitar em torno de 40-50 bilhões não fosse a ausência de mecanismos inteligentes e rápidos que viabilizassem a solvência dos países membros da UE em momentos de crise. O ajuste grego era necessário, mas a sua agonia foi um custo irresponsável da parte do sistema financeiro europeu. Há que se considerar que a Grécia não tem a opção de desvalorizar a sua moeda para iniciar o ajuste de seu balanço de pagamento de vez que a moeda é comum. A falta de mínimo consenso entre os países da UE foi um mal maior no agravamento da crise e mostrou para o mundo a debilidade do sistema monetário que rege as relações entre os países do Velho Continente. Alemanha fez um papelão Desde o início do século passado, toda vez que a Alemanha projetou as suas ambições econômicas e geopolíticas no continente europeu o resultado foi desastroso : dela nasceram duas guerras sanguinárias. Agora, a Alemanha quer "comandar" o euro, mas a sua ação em relação à Grécia mostrou que o governo germânico quer liderar sem ter os custos correspondentes impostos aos líderes. Angela Merkel nunca foi uma estadista, já se sabia. Agora, sabe-se que não passa de uma governante provinciana, incapaz de ampliar as suas visões quando as decisões são relevantes. Veja-se o exemplo de Helmut Kohl que, contra a opinião pública da então Alemanha Ocidental, lutou pela reunificação da Alemanha depois da queda do muro. Merkel se ajoelhou perante contingências políticas imediatas e impôs um custo social e político à Grécia inaceitável para um país-membro da UE. Fez mais : pregou contra o país dos helênicos e ajudou os especuladores. Angela Merkel é a personificação da incompetência europeia. O euro é moeda inferior A exposição das fragilidades da Europa na gestão de crises deve distanciar o euro do papel de alternativa, enquanto moeda-reserva, ao dólar norte-americano. Os investidores sabem disto e se sentem mais seguros para especular contra o euro. Portugal, Espanha e Itália O imbróglio na gestão dos problemas dos gregos certamente agravará os custos de rolagem da dívida dos países mais endividados da Europa, sobretudo no caso de Portugal, Espanha e Itália. Mas há outros : Irlanda e Bélgica. Note-se que no caso destes países o desemprego está acima de 15% e, no caso da Espanha, chega a 20% (dados da semana passada). Não se deve descartar a possibilidade de processos especulativos contínuos sobre estes países, nas próximas semanas, meses e anos. O risco global Se nas próximas semanas não houver controle significativo da crise europeia, há o risco de que tenhamos efeitos rápidos e significativos sobre a atividade econômica mundial, já cambaleante em função da crise do final de 2008. É difícil estabelecer uma probabilidade de colapso de outros países, mas uma coisa é provável : caso haja uma nova crise como a da Grécia, esta será mais aguda e relevante para a moeda europeia. O silêncio dos EUA Poucos comentários foram conhecidos da parte do governo dos EUA sobre os problemas da UE. Sábia decisão. Todavia, do ponto de vista geopolítico, a América ganhou espaço para fazer prevalecer os seus pontos de vistas na vasta agenda contenciosa entre os dois lados do Atlântico. FMI ressuscitado A UE, em geral, e a Alemanha, em particular, conseguiram reavivar os ânimos do FMI. O órgão multilateral, conhecido pela sua inoperância perante os riscos globais, parece muito competente quando a referência são os gestores da moeda comum europeia. E as reformas ? O exemplo grego demonstra que os mecanismos especulativos que permitem o colapso de economias inteiras continuam vivos e saudáveis. Por enquanto, não há consenso de como agir solidariamente em situações especulativas. Os governos continuam a tratar as consequências destas doenças sem que existam iniciativas para evitá-las. A reforma do sistema financeiro internacional é uma necessidade, mas permanece esquecida nas gavetas dos executivos e legislativos dos países mais ricos do mundo. Brasil : é preciso acordar I É visível a deterioração das contas públicas. As despesas continuam crescendo mais do que a receita, sem sinais de que vamos gastar menos ou arrecadar muito mais do que estamos arrecadando. Nada de assustar no curto prazo (12 meses à frente), porém o ritmo é incompatível em relação ao crescimento futuro do país. Mais um exemplo : a MP 487, editada discretamente na semana passada, escancara portas para o financiamento de empresas públicas com mais recursos do tesouro. Por exemplo : o Fundo Brasil Soberano poderá ser usado para capitalizar a Petrobras, a Eletrobrás, o Banco do Brasil. Não era esta a sua finalidade quando foi pomposamente anunciado... Brasil : é preciso acordar II A política fiscal expansionista praticada depois da eclosão da crise financeira ao final de 2008 foi uma sábia decisão do governo. Todavia, é injustificável no momento em que o ciclo econômico já se mostra saudável. O governo, ao não contrair o setor público, comete o erro clássico de não adotar uma política "anti-cíclica" quando as coisas vão bem. Isto abriria espaço para futuros aumentos de gastos governamentais quando a atividade eventualmente cair. Senão, corremos o risco de ter de fazer ajustes em meio a ciclos negativos. O exemplo grego poderia ser um fator a alertar as autoridades e a sociedade. Não é. Infelizmente. O banco eleitoral ? O BNDES está se tornando um poderoso fornecedor de financiamentos, tanto para o setor público quanto o privado, com uma facilidade e uma generosidade que surpreendem até os beneficiários. Com um dinheiro que, em boa parte, custa mais caro para ele que ele recebe de quem empresta. Radar NA REAL Mudamos a nossa visão em relação à moeda europeia, com base nos resultados de momento da crise grega. O euro deve seguir numa trajetória descendente no curto e médio prazo. De outro lado, é preciso ficar muito atento relativamente à contaminação de outras economias e seus efeitos sobre a atividade econômica mundial. Os mercados de ações devem acompanhar as variações entre as principais moedas, sobretudo a relação entre o dólar norte-americano e o euro. Eis um ponto de muita atenção. De outro lado, a trajetória da taxa de juros no Brasil se tornou vital para controlar a inflação. É hora de privilegiar os títulos pós-fixados em detrimento dos pré-fixados. (Vide abaixo sobre a decisão do COPOM). 30/4/10   TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA alta alta - Pós-Fixados NA alta alta Câmbio ² - EURO 1,3227 baixa baixa - REAL 1,7294 estável/baixa baixa Mercado acionário - Ibovespa 67.529,73 baixa estável/baixa - S&P 500 1.186,69 alta alta - NASDAQ 2.461,19 alta alta (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável COPOM : atrasado ? O BC seguiu pelo caminho correto ao aumentar a taxa de juros básica para 9,5% ao ano na reunião do COPOM da semana passada. Todavia, o aumento de 0,75% é sinal de que a autoridade monetária está atrasada em relação às perspectivas da inflação. Sobretudo, porque neste momento o ritmo de crescimento do consumo doméstico segue a ritmo chinês : mais de 10%. O problema estrutural é que os investimentos caminham lentamente. Portanto, o risco de um salto na inflação é considerável, em que pese a calma do tal do mercado em relação ao tema. Voltei, aqui é o meu lugar Como se viu em seu pronunciamento de 1º/5 no rádio e na televisão e nos comícios do dia dos trabalhadores, o presidente Lula retornou à linha de frente da campanha de Dilma. Isto se deve às trapalhadas dos companheiros do PT em relação à campanha da candidata. Já não era sem tempo, segundo a opinião de petistas bem postados. Foi Lula dar-se o direito a um descanso e a campanha desandou mais que maionese rançosa. De um lado, começaram a complicar as alianças já praticamente ajustadas. O PSC e o PP, partidos tidos como aliados incondicionais, estão ameaçando desgarrar e exigem cuidados e ofertas. O PP é caso de urgência, uma vez que está sendo assediado com uma vice de Serra para seu presidente o senador Francisco Dornelles, o que aproximaria mais os Neves de Aécio e Tancredo (e MG) do candidato tucano. O PT, que parece ter aprendido a valorizar seu passe com o PMDB, está se mostrando mais arredio aos apelos presidenciais e de sua direção nacional para abrir espaços regionais para parceiros de coalizão. Até agora as ameaças de intervenção não funcionaram e em alguns lugares a demora do acerto está deteriorando a situação em níveis quase sem volta. Só o superLula pode botar o paiol aliado em ordem. Antes que outros episódios Ciro Gomes floresçam. Hora da ordem unida Os desarranjos verificados na campanha de Dilma, admitidos até por muitos petistas ativos e outros apenas de carteirinha, tem uma origem bem visível : há coordenadores demais, muita gente mandando ou dando palpite, sem uma diretriz geral. Onde há muitos comandantes não há comandante algum. Bate-se cabeça e nada sai direito. É este papel que Lula terá de exercer, como exerceu em suas outras campanhas. E terá de começar ceifando vaidades. Mais do que ajudar a empurrar Dilma em direção à presidência, muitos dos seus assessores estão mesmo é tentando empurrar suas próprias carreiras. Entre os aliados, PT incluso, há muita gente que não vê Dilma como força e liderança suficiente para administrar o "balaio de gato" político que está se formando na aliança. E cada um que pode já quer ir cevando o seu feudo. Lula terá de descer para valer o bastão de comando nas costas dos parceiros e amigos. Esta pode ser a semana da decretação de "estado de sítio" e de uma ordem unida geral no campo oficial. Enquanto eles não se entendem... As divergências na campanha governista, de tantas e algumas tão infantis, proporcionam ao comando oposicionista oportunidade para administrar suas próprias idiossincrasias sem grandes marolas. Serra, com fama de concentrador, está mesmo com a campanha totalmente controlada - até quando ? - e continua levando vantagem sobre a adversária na qualidade de suas exposições públicas. As diferenças das perspectivas que hoje os dois lados vislumbram também contribuíram para que um lado demonstre algum juízo e outro caminhe para algum tipo de "alopramento" : 1. O que a oposição vê a possibilidade mais de 8 anos com Dilma ou mais 4 com Dilma e mais 8 com Lula depois, o que seria o seu fim. 2. Os do governo, eufóricos com a popularidade de Lula e do governo, já se vêem por mais 8 ou 12 anos no poder e tratam de assegurar seu lugar ao sol antes mesmo das urnas falarem. Em política, o medo, a perspectiva da desgraça, pode unir ; a certeza do sucesso, a glória, comumente divide. O meu pirão primeiro I Muito se comentou das razões que levaram o PSB a esganar, com humilhação, a candidatura do deputado Ciro Gomes ao Palácio do Planalto pelo partido. Sim, houve um pouquinho de tudo : fidelidade a Lula, medo de uma derrota acachapante com Ciro, abraçar o mais cedo possível o vencedor para garantir espaços no futuro governo, necessidade de alianças regionais com o PT para garantir eleição de governadores, senadores e deputados da legenda... O meu pirão primeiro II Mas houve também outra motivação, esta muito negligenciada : Ciro, além de ser um socialista relativamente recente, era um incômodo para o principal líder do partido, o governador Eduardo Campos. E incomodava não por seu estilo mercurial um tanto independente. Atrapalhava porque, do ponto de vista eleitoral, Ciro era  - ainda é - muito mais figura pública que o neto de Miguel Arraes. Tem mais votos, mais presença nacional, mais articulação fora do eixo partidário. Ciro é, digamos, universal. Campos, provinciano ainda. Portanto, o ex-ministro era um possível obstáculo aos planos de voos futuros do jovem governador. Campos, assim como Ciro, num certo período ensaiou se lançar vice na chapa de Dilma. Depois do segundo mandato, o governador espera sair de "Pernambuco para o mundo". Vingança que se come fria Mais do que as palavras, pois estas sempre podem se perder, os primeiros gestos do deputado Ciro Gomes depois que saiu do forno de microondas em que foi torrado pelo PT e o PSB, indicam que o ex-ministro da Integração Nacional não vai levar desaforos para casa. A decisão da ex-mulher dele, a senadora Patrícia Saboya, de disputar uma arriscada reeleição em lugar de uma vaga garantida para a Câmara dos Deputados complica a vida da aliança governista no CE. Na composição do PSB de Patrícia, e do candidato à reeleição do governo estadual Cid Gomes, entra o tucano Tasso Jereissatti, buscando também reeleger-se para o Senado. Abre-se, provavelmente, um espaço para Serra num dos Estados onde ele tem menos penetração. Quem dá mais ? Resumindo a ópera das buscas de coligações partidárias no plano federal : tudo se resume ao tempo de cada partido no rádio e na televisão. O tal "horário gratuito", mas que de gratuito não tem nada : as emissoras são ressarcidas pela Receita Federal do que deixam de arrecadar em publicidade quando os candidatos estão no ar. Públicas ? Não, estatais Sem entrar nas discussões das credenciais de quem saiu ou de quem entra, ambas indiscutíveis, o episódio da substituição do jornalista Paulo Markun pelo economista João Sayad, no comando da Fundação Padre Anchieta, é lastimável do ponto de vista institucional. Urdida no Palácio dos Bandeirantes, principal patrocinador financeiro da TV Cultura, demonstra apenas que no Brasil o conceito de televisão pública é uma ilusão. A injunção política fala mais alto, manda o poderoso de plantão com seus desejos e idiossincrasias. A TV Brasil (a dita "tevê do Lula"), totalmente dependente do governo federal, é uma regra no país. E a TV Cultura, apesar de algumas aparências, não é uma exceção. São televisões estatais. De públicas têm apenas o dinheiro que gastam. Nem sempre com bom proveito. Minas : teoria e prática O PT/MG já deu sua demonstração de autonomia : em prévia no fim de semana indicou o ex-prefeito de BH, Fernando Pimentel, como seu candidato ao Palácio da Liberdade. O ex-ministro Patrus Ananias, derrotado na disputa, poderá ficar com uma das vagas ao Senado. Esta é a teoria. Cumprido o ritual para consumo externo, o PT deverá agora cumprir o desígnios estabelecidos por Lula : aceitar a aliança com o PMDB, com o ex-ministro Hélio Costa disputando a sucessão de Aécio. Pimentel e Ananias poderão ser acomodar na vice e no Senado, de acordo com suas conveniências. O partido no Estado vai espernear só mais até o fim do mês. Para a platéia Sempre que algo acontece no governo ou na política que pode parecer desagradável ou contrário a idéias de Lula, há sempre uma fonte oficiosa de plantão para contar a alguns jornalistas que o presidente Lula ficou "irritado" com tal fato. Agora mesmo, diz-se que ele se irritou com as prévias do PT em Minas, como já se irritou com ministros, com a base aliada, com o PT e o diabo mais. Ora, com o poder e o prestígio que o presidente tem, como já demonstrou, por exemplo, na fritura da ex-ministra Marina Silva e no tempo em que passou assando Ciro Gomes, Lula age cirurgicamente quando quer. Se ele deixa coisas que o "irritam" prosperar, é porque tem outras intenções. No caso de Minas, precisava manter o ex-ministro Hélio Costa e o PMDB em quarentena.
terça-feira, 27 de abril de 2010

Política & Economia NA REAL n° 98

  Grécia : dívida, moeda e ajuste Muito tem sido comentado sobre a situação econômica da Grécia e sua correspondente influência sobre os mercados mundiais. O pequeno e notável país da Europa tem uma relação dívida sobre o PIB da ordem de mais de 100% e um déficit fiscal de cerca de 13% do PIB. Como se vê, uma situação insustentável, sobretudo depois do débâcle do sistema financeiro norte-americano e sua influência no mundo. Mas perguntamos : há novidade neste fato ? Não, não há. Ele existe há anos e o sistema financeiro internacional continuou financiando irresponsavelmente este cenário. Agora, questiona-se sobre a capacidade de pagamento do país. Uma contradição. O problema grego não é único Ocorre que a Grécia não é o único país nesta situação. A Itália, a Espanha e Portugal tem exatamente o mesmo perfil. E certamente merecerão questionamento no futuro sobre a sustentação da capacidade de solvência. Em menor medida, há quem questione o próprio Reino Unido, sócio maior da irresponsabilidade dos EUA na gestão do setor bancário. O problema é o câmbio Usualmente, quando países chegam a um cenário como o da Grécia e de outros países da UE, o ajuste é via câmbio : desvaloriza-se as moedas (e, por derivação, os salários) e constrói-se resultados no balanço de pagamentos que restitui a capacidade de pagamento no médio prazo. O risco é a inflação devastar este ajuste. Todavia, os países europeus estão "amarrados" ao euro que, na prática é administrado pela Alemanha e França. Portanto, nenhum dos países mais afetados pelo excesso de endividamento têm, na prática, a opção cambial.  Um teste para o euro e a UE Ora, no contexto acima devido, a Alemanha e a França tem de ajudar a viabilizar uma saída para a rolagem das dívidas da Grécia. Todavia, são estes países que mais atrapalham na tentativa do desgastado governo grego em garantir a sua solvência. Angela Merkel e Nicolas Sarkozy se deleitam com a liderança da UE, mas não assumem as responsabilidades de financiar os países mais penalizados pela crise internacional. Uma contradição, protegida pela necessidade de aprovar nos seus respectivos parlamentos o apoio à Grécia. A opção da moratória Restaria ao governo helênico exercer a sua soberania e impor uma moratória - negociada ou unilateral - para evitar um desastre na atividade econômica. Se esta opção fosse tomada, certamente o prejuízo à UE seria muito maior de vez que a pressão sobre Portugal, Espanha e Itália passaria a ser gigantesca, além de uma provável desvalorização substantiva do euro. A Grécia resiste à opção da moratória e protege a UE, a mesma que lhe nega franco apoio. Uma contradição que perdurará enquanto o povo grego suportar e não levantar suas fileiras para manter o seu interesse interno o qual sempre prevaleceu em sua história e civilização. Cadê os profetas ? A situação da UE deixa evidente que o euro está longe de se consolidar como alternativa de ser a "moeda-reserva" da comunidade internacional. Ocorre que há não muitos meses, sobravam analistas e economistas célebres pregando o declínio da moeda americana. Quem apostou nesta opção vê prejuízos pela frente. Não são poucos. No curto prazo, é possível ser categórico : o euro vai cair ainda mais frente ao dólar e as outras moedas mundiais. No longo prazo, não se sabe por uma única razão : não há modelo analítico razoável que permita esta previsão. A despeito dos irresponsáveis que dizem ter esta capacidade, digamos, "mediúnica". Radar NA REAL Não há novidades em relação ao nosso radar. Reforçamos apenas suas visões já emitidas : (i) o mercado de ações brasileiro parece estar em seu limite superior. O cenário é positivo na economia, mas parece refletido no preço das ações ; (ii) a valorização do real deve continuar no curto prazo, mas está instalando na economia brasileira riscos significativos no médio prazo. Basta vez os dados minguantes da balança comercial e no resultado externo como um todo. 23/4/10   TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA alta alta - Pós-Fixados NA alta alta Câmbio ² - EURO 1,3338 estável/queda estável/baixa - REAL 1,7466 estável/baixa baixa Mercado Acionário - Ibovespa 69.386,40 baixa estável/baixa - S&P 500 1.208,67 alta alta - NASDAQ 2.519,07 alta alta (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável COPOM : dito, mas será feito ? Já emitimos diversas notas em colunas anteriores dando conta das pressões da inflação e da impossibilidade de se sustentar uma taxa de crescimento do consumo no padrão chinês sem a contrapartida nos investimentos. Assim sendo, a probabilidade de um aumento de 0,75% na próxima reunião do COPOM é quase de 100%. Ademais, um aumento de 1% é possível e seria uma forma de afirmação do BC perante o governo. Na semana passada, Guido Mantega deu o tom da disputa entre o Planalto e a sede do BC : "quem disse que o país não pode crescer um pouco mais ?", disse o ministro. O recado tem endereço certo : os ouvidos de Henrique Meirelles e seus colegas de diretoria do BC. Eles estarão moucos a este tipo de afirmação ? Onde está o Wally planaltino ? Causou espanto a ausência do presidente Lula na festa do PT no sábado passado para lançamento do senador Aloizio Mercadante ao governo de SP, Estado de origem do partido, onde o PT nunca governou e que marca 16 anos de hegemonia do PSDB. Mercadante não queria concorrer, preferia, com grandes chances, tentar continuar senador. Foi empurrado por Lula. Dilma apareceu, muito animada, embora ainda sem jeito para o palanque. Fato será recorrente Não é de estranhar a ausência de Lula. Ele não foi também a uma festa idêntica de seu partido, no RJ, no domingo. Era o pré-lançamento de Lindberg Farias como candidato petista ao Senado. Foi uma tentativa de mostrar que vai tudo muito bem na aliança PT/PMDB por lá. Dilma e Sérgio Cabral compareceram ao evento, muito animados, diga-se. A razão é simples e não deveria espantar os parceiros : Lula não pode sair pelo país afora participando de cada evento de lançamento de pré-candidatura de aliados. Ainda mais porque há muita confusão em um bom número de Estados. O outro motivo Mas há outro motivo, mais oculto, não confessado, visível há pelo menos três semanas : Lula está, nesta fase de pré-campanha, evitando eventos de cunho eleitoral. Não abandonou sua candidata, mas está deixando ela mais sozinha. E, assim, evita polêmicas diretas com a oposição. Vai durar até quando esta posição ? Difícil saber. Mas coincide com a confirmação, pelo TSE, de duas multas - R$ 15 mil - aplicadas ao presidente por fazer campanha antecipada para sua predileta e com o endurecimento verbal da Justiça Eleitoral. Nas duas últimas semanas tanto o antigo como o atual presidente do TSE fizeram advertências ao presidente. Errou nos primeiros passos De todo modo, esse "abandono" temporário do presidente em relação à pupila está sendo prejudicial : ela ainda não está preparada para caminhar sem o amparo da cadeira de rodas presidencial. Desde a saída dela do Ministério, sua campanha praticamente só gerou fatos negativos, externa e internamente. A qualquer momento PT e aliados vão passar a empunhar um cartaz com os dizeres : "Volta Lula". Erro de cálculo e prepotência Já avisávamos nesta coluna há semanas : acuado, humilhado, o ex-ministro Ciro Gomes poderia reagir com uma biruta de aeroporto dotado de um bom estoque de mísseis. Por que o governo deixou o problema chegar tão longe ? Excesso de confiança, prepotência e coisas tais. O tal : sabemos/sei de política e podemos/posso tudo. O estrago desta primeira explosão de Ciro deverá ser eleitoralmente pequeno. O problema é se o ex-ministro gostar da brincadeira... Mordeu a isca ? A combinação, na seara governista, era que ninguém entraria em polêmica com o "mercurial" ex-ministro da Integração Nacional. Dilma, porém, não resistiu e foi ao microfone dizer que está preparada para governar. O que confirma o que se dizia em Brasília desde o primeiro momento : o que mais doeu e preocupou nas declarações de Ciro Gomes foi o ponto em que ele diz que Serra tem mais condições de governar do que Dilma. Parte da estratégia eleitoral de Serra é esta mesmo : mostrar que ele é bem mais preparado para o governo do que a ex-ministra chefe da Casa Civil. Contas a pagar A fatura que o PSB está apresentando para degolar Ciro Gomes hoje - salvo reviravoltas de última hora, impensáveis nesta altura - está inflacionando o mercado. Outros aliados estão revendo suas notas fiscais eleitorais. Há gente escolhendo até que cargo o PT deve disputar e quem compõe o quê. No PR, por exemplo, o PDT de Osmar Dias - irmão do tucano Álvaro Dias - quer que Gleise Hoffmann, mulher do ministro Paulo Bernardo, seja candidata a vice-governadora na chapa pedetista e não concorrente ao Senado. A razão : temor de algum tipo de traição. No RJ, o PMDB fincou praça e não deu espaço na chapa governista para o senador Marcelo Crivella, nem aceita Lula e Dilma no palanque de Garotinho. Com isso, isola dois bons puxadores de voto na campanha da predileta presidencial. Modéstia a parte Para completar um mês em que a exposição de seu candidato tem sido muito mais positiva do que a candidata adversária, a oposição faz um redobrado esforço para mostrar-se humilde e coesa. Mas há ebulições internas e a fogueira das vaidades está próxima de voltar a arder no campo de Serra. Especialmente no emplumado tucanato. Coalizão ou esculhambação ? O analista político Sergio Abranches inventou a expressão "presidencialismo de coalizão" para definir, na nossa balbúrdia partidária, a necessidade que o governo no Brasil - qualquer governo - tem de montar uma ampla e amorfa aliança de partidos para garantir um mínimo (mínimo mesmo) de governabilidade no Congresso. Essas alianças, legítimas numa democracia, por aqui nunca foram muito republicanas, ou melhor, nunca foram apegadas à santidade. Mas, do modo como se está caminhando nos ajustes de pré-campanha deste ano, brevemente passaremos a um "presidencialismo de esculhambação". Ou de rimas mais pobres e chulas. Ela está certa Vamos deixar de barato que a ex-ministra Marina Silva age assim para atrair a simpatia de Ciro Gomes, embora a brava senadora do AC tenha dado demonstrações completas de sua capacidade de ser generosa. Vamos deixar de barato, também, que o deputado Ciro Gomes plantou a humilhação que agora está colhendo por sua prepotência, embora ele não tenha escondido de ninguém que estava na corrida presidencial para valer e tinha esperanças de que Lula não seria contra ele, sem nunca ter sido contrariado. Ainda assim, é perfeito sobre o processo de trucidamento de Ciro o que escreveu a candidata do PV em seu blog : "Qual o sentido político da democracia ? É a liberdade de escolha bem informada. Numa eleição em dois turnos, como a presidencial, o primeiro foi concebido para oferecer ao eleitor um leque de alternativas políticas. A partir da diversidade de ideias e do debate entre elas, compete ao cidadão escolher as que entende serem as melhores para si e para o país. É particularmente perverso que esse processo, que está no cerne da democracia, seja instrumentalizado para impedir abalos na manutenção de projetos de poder. Não é admissível que se queira manipular o direito de escolha por meio da redução forçada do leque de opções. Assistimos agora, com o veto à candidatura de Ciro Gomes, uma expressão exemplar desse tipo de intolerância democrática. É fácil prever que os mesmos grupos que trabalharam para tirar Ciro da disputa presidencial tentarão agora assimilá-lo. Os que costumam agir dessa maneira são aqueles que têm dificuldade em transformar a visão democrática em ação e não admitem a alternância de poder. Primeiro, buscam eliminar os adversários que querem disputar legitimamente a preferência dos eleitores. Depois, tentam se colocar como o único hospedeiro possível para que os expurgados consigam sobreviver na vida pública. Aquele que foi empurrado para fora do processo passa então a ser apontado como bom companheiro, patriota, desde que aceite ser assimilado por aqueles que articularam o seu expurgo. Perde o país, perde a democracia." Limpa ou suja ? Está prometida para esta semana a aprovação na CCJ do Senado do projeto conhecido como dos "fichas-sujas" (ou "fichas-limpas" sob outro ângulo). Jogo para a arquibancada. O que se está tramando vai gerar no máximo uma proposta "ficha meio-suja" (ou meio-limpa). E ainda assim, para ficar no limbo. Se passar rapidamente no plenário da Câmara, empaca no Senado. Para não valer nada nas eleições deste ano. Talvez não valha nem para a eleição de 2012. MP : ameaça e chantagem A decisão da AGU de fazer uma representação contra dois integrantes do MP que atuaram contra o leilão de Belo Monte é uma tentativa inaceitável de tentar intimidar a instituição responsável pela defesa dos interesses da sociedade e da lei. Entende-se que o MP às vezes erra, exagera, mas estas falhas são poucas se comparadas com o excelente trabalho de vigilância que eles exercem sobre os poderes da República. Uma das grandes conquistas institucionais do país nos últimos anos foi o conjunto de obrigações e prerrogativas que a CF/88 legou ao MP. Mas como sabemos, não há poder, por mais democrático e republicano que seja que conviva bem com críticas, com fiscalizações, com contraditórios. Ainda mais quando ele se julga superior, acima do bem e do mal.
terça-feira, 20 de abril de 2010

Política & Economia NA REAL n° 97

A cruzada de Mantega e o dilema de Meirelles Há alguns anos, quando era ainda ministro do Planejamento, Guido Mantega classificou-se como um "levantador de PIB". Quando foi para a Fazenda, justiça se faça, Mantega se comportou como "halterofilista econômico", na retórica e em atos. Agora, ele está agindo exatamente ao contrário - pelo menos nos discursos. Diante dos evidentes sinais de que a economia brasileira caminha para um crescimento quase chinês - já há instituições prevendo um PIB 7% maior neste ano - o ministro da Fazenda nega de pés juntos e mãos atadas que isto irá ocorrer. A cruzada de Mantega tem um objetivo : evitar que o BC, na semana que vem, seja duro demais na previsível paulada, para cima, que dará nos juros. A aposta mínima dos especialistas é a de que o ajuste será de 0,75 ponto percentual, porém já há algumas pessoas pensando que pode ser de até 1 ponto. A questão é outra E a questão é menos econômica do que política : como os efeitos sobre a inflação da movimentação dos juros, tanto para cima como para baixo, demoram uns bons meses para ocorrer, o que Mantega quer conter é o efeito simbólico de uma medida dessas sobre o ânimo da população e a disposição eleitoral dela. Um encarecimento das prestações do crediário nesses meses pré-eleição pode ter consequências nas preferências eleitorais, principalmente da "nova" classe média. No fundo, o governo parece aceitar um pouco mais de inflação no futuro em troca de um pouco mais de votos nas urnas de outubro. É este o dilema do presidente do BC : isenção técnica ou comprometimento político. Contradições do ministro Para quem quer conter um pouco o crescimento da economia sem precisar apelar para o aumento dos juros, Guido Mantega tomou uma decisão contraditória ao autorizar a prorrogação da redução de impostos para materiais de construção até o fim do ano. Dá para entender, porém tem peso no marketing eleitoral da candidata do governo o programa "Minha Casa, Minha Vida". A ameaça de Mantega Mais de uma vez o ministro da Fazenda avisou os empresários que poderá reduzir as alíquotas de importação de produtos que tiverem seus preços reajustados acima do razoável. É retórica, apenas ameaça. Dificilmente qualquer importação terá efeitos imediatos para conter a inflação nos próximos meses. E há o sério problema das contas externas : aumentar as importações, ainda mais artificialmente, é um tiro. Na realidade, o governo precisa pensar em como conter a deterioração do balanço de pagamentos. Lula vai aceitar ? Com ou sem "PIB potencial" ou "hiato do produto", boa discussão para os economistas, a verdade é que começa a haver um consenso de que será preciso mesmo conter um pouco a velocidade de fórmula 1 com que vai correndo a economia brasileira. Alguns acreditam que o PIB deste ano já está dado, não há mais o que fazer, somente para o ano que vem pode-se tentar algo mais duro. Outros acham que dá para fazer algo ainda este ano, para não deixar a inflação ultrapassar até o limite superior da meta, de 6,5%. O centro de 4,5% já estaria fora de propósito. A questão é saber : Lula resistiria à tentação de encerrar seus oito anos de governo com um crescimento econômico ao redor de 7%, como nos bons (porém, não saudosos) tempos do "milagre econômico" dos governos militares ? BC deve mais explicações Não há fatos novos no que tange ao crescimento acelerado do país. Aqui mesmo nesta coluna já alertávamos para o fato. Ora, por que a autoridade monetária não agiu preventivamente em relação ao assunto ? Uma elevação - necessária - da taxa de juros básica em 1% é sinal de que o BC está atrasado em relação à prevenção da inflação. Isto lhe retira credibilidade, mesmo que a sua ação seja no sentido de conter a inflação vindoura. Tudo isto parece confirmar a intenção eleitoreira do próprio presidente do BC, o qual andou crente na sua viabilidade eleitoral em Goiás e, especialmente, como candidato à vice-presidência na chapa governista. Mais transparência A publicidade das ações do setor público é uma obrigação tanto quanto a probidade e a legalidade. No caso do COPOM, parece-nos necessário que os votos proferidos nas reuniões do comitê sejam identificados. Isto aumentaria a transparência, bem como a capacidade de análise dos rumos da política monetária por parte da sociedade. Os tribunais assim o fazem. Por que isto não deveria valer no caso do BC ? O novo escândalo financeiro Um dos mais importantes bancos de investimento de Wall Street, o Goldman Sachs está implicado em investigações e acusações sobre a sua falta de transparência em relação às suas operações. De fato, trata-se de uma acusação de fraude na medida em que certas operações visavam esconder a exposição do banco relativamente aos empréstimos para o setor imobiliário. Pois bem : este escândalo mais uma vez levanta dúvidas sobre a necessidade de maior regulação do sistema financeiro norte-americano (uma tese que o Congresso não abraçou, mas que Obama deseja), bem como a irresponsabilidade dos diretores na condução dos negócios bancários, o que muitas vezes favorece os seus próprios - e enormes - bolsos. Este escândalo, por cima de tudo, obscurece as boas notícias do front econômico que dão conta do aumento do consumo e do emprego, bem como da redução do nível das expectativas negativas sobre o futuro. Radar NA REAL Não há nada eminente que possa afetar estruturalmente a economia brasileira. Todavia, é bom que se reconheça de que há um acúmulo significativo de problemas no médio prazo - seis meses à frente - e no longo prazo. O principal deles é a inflação que está se generalizando e os riscos que a atividade econômica acelerada no Brasil e em aceleração no mundo possam sofrer. O BC terá de agir e sua ação é tardia. Assim sendo, estamos fazendo duas alterações no nosso radar : a primeira diz respeito ao mercado acionário local, o qual está, em nossa opinião, muito valorizado diante desta conjunção de riscos. Isto vale para o curto e o médio prazo. A segunda diz respeito ao Real. Apesar de todo o capital que foi recebido pelo país nos últimos anos, verifica-se que os saldos positivos estão se reduzindo e os riscos eleitorais não estão incorporados na taxa de câmbio. O Brasil não deixará de ser prioridade dentre os emergentes, mas deixou de ser "a" prioridade. 16/3/10 TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA alta alta - Pós-Fixados NA alta alta Câmbio ² - EURO 1,3437 estável/queda estável/baixa - REAL 1,7599 estável/baixa baixa Mercado Acionário - Ibovespa 69.421,35 baixa estável/baixa - S&P 500 1.194,37 alta alta - NASDAQ 2.481,26 alta alta (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável Bom para Dilma A discrepância entre as duas mais recentes pesquisas eleitorais - do Sensus, com empate técnico, e do DataFolha, com 10 pontos de vantagem para Serra - embaralhou muitas cabeças políticas. E serviu para a execração dos institutos de um modo geral por quem se sentiu prejudicado. Político acredita que as pesquisas influenciam os eleitores, o que não tem nenhuma comprovação científica. Contudo, apesar dessa confusão, há indicações de que o mar está mais para o peixe governista no momento do que para o peixe oposicionista. Um dado, especialmente : na pesquisa espontânea - na qual o entrevistado lembra o nome do candidato, sem que seja apresentada a ele uma lista dos concorrentes - o DataFolha apresenta Dilma na frente de José Serra. O que não quer dizer que muita marolinha, marolas maiores e até tsunamis não possam alterar este quadro. A campanha de Serra, no momento, segue mais serena do que a de Dilma. Pode complicar As pesquisas indicam também que a candidatura de Marina Silva tem consistência, não é um simples meteoro. Só um terremoto de elevados graus ajudaria a elegê-la, mas ela vai ter votos. E complicar a vida de algum concorrente. Inspira cuidados Há um pote de mágoas prestes a entornar na sucessão presidencial. Somente a reconhecida lábia do presidente Lula será capaz de evitar a explosão de desgosto do ex-ministro e deputado Ciro Gomes. Belo Monte : negócio estatal O leilão, marcado para hoje salvo impedimentos de última hora, da usina de Belo Monte, é coisa de governo : 1. Nos dois consórcios, há estatais com participação de 49%. 2. A Eletronorte está autorizada a entrar no grupo vencedor, como operadora da usina. 3. Os fundos de pensão das estatais também poderão compor os consórcios, posteriormente. 4. O BNDES pode financiar até 80% do projeto, com juros amigos, de 4% ao ano mais TJLP, com prazo de até 30 anos. 5. Haverá subsídios no IR, com normas válidas para a Sudam. O dono da conta A conta final vai cair nas costas dos cidadãos : será o tesouro nacional quem bancará todos os subsídios, a começar pela diferença entre os juros que as empresas pagarão e o que o governo paga ao mercado pelo dinheiro que encaminha ao BNDES. É um estilo novo de "privatização", outra "privatal" ao estilo inaugurado na compara a Brasil Telecom pela Oi. Leilão eleitoral A pressa do governo para realizar o leilão de Belo Monte, atropelando prazos e deixando dúvidas imensas sobre o real valor do projeto - o governo calcula em R$ 19 bilhões, as empresas em R$ 30 bilhões - e sobre a preservação ambiental na área, confirma que, antes de produzir energia, Lula espera que a hidrelétrica produza votos em outubro. E, neste aspecto, Belo Monte se torna mais relevante ainda uma vez que o Senado está criando problemas para aprovar logo um outro manancial de votos direcionado para a ministra Dilma : os projetos do pré-sal. Dedo oficial O governo, com o BNDES à frente, manobrou de todas as maneiras para que um outro consórcio surgisse na disputa de Belo Monte, depois da desistência da Camargo Correa e da Odebrecht. Na praça, diz-se que vem apenas pro forma, para dar foros de validade ao leilão. O que se verá hoje ainda. De todo modo, a movimentação do BNDES lembra outro episódio, muito cobrado pelo PT durante anos, e também protagonizado pelo banco estatal : a formação de um consórcio às pressas para tornar mais competitivo o leilão das subsidiárias de Telebrás. Foi quando nasceu a Telemar, hoje Oi, uma empresa agora quase para-estatal tal a quantidade de sócios estatais e financiadores estatais que ela tem. Foi quando também o economista Ricardo Sérgio foi flagrado num grampo ilegal dizendo que na negociação para formação desse consórcio havia se chegado ao "limite da irresponsabilidade". Outro negócio estatal Com o patrocínio do BNDES, a Oi habilitou-se a ser a operadora do Plano Nacional de Banda Larga, depois que as denúncias sobre negócios não muito santos envolvendo a Telebrás e a Eletronet tornaram difícil o plano de entregar à estatal em liquidação o comando do plano. A Oi pode ter sucesso na sua intenção. Mas está pedindo alto : quer subsídios, corte de impostos e financiamentos oficiais. Onipresença Não há grande negócio no Brasil no qual, direta ou indiretamente, o BNDES não esteja envolvido. Onde está Wally ? Depois de muita movimentação política no ramo da sucessão presidencial, rodando o Brasil inteiro e participando da festa de pré-lançamento da candidatura da ex-ministra Dilma, sem fazer nenhuma questão de ser discreto, o ex-ministro e hoje consultor de empresas José Dirceu desapareceu da linha de frente das ações eleitorais PT.
terça-feira, 13 de abril de 2010

Política & Economia NA REAL n° 96

Juros : política e economia no mundo real A próxima reunião do Copom acontecerá apenas nos dias 27 e 28 próximos, mas já está acesa a disputa entre os "políticos" do governo, na figura de Guido Mantega, e a dos "técnicos", na figura de Henrique Meirelles. Embora pareçam conformados, os "políticos" não consideram inevitável o aumento dos juros básicos, que o BC praticamente já anunciou, e o chamado mercado já aguarda. Deve vir algo como 0,75% de aumento da Selic na próxima reunião e até o final de ano a taxa deve chegar a 12,75% ou 13%. Estes patamares não agradam em nada os "políticos". As declarações de Mantega, de que o Brasil não passa no momento por um choque de demanda, e as análises do presidente do BNDES, Luciano Coutinho, em entrevista ao Estadão, de que o Brasil não vive um surto inflacionário, fazem parte deste cenário para angariar ajuda contra o BC do setor não-financeiro da economia. As pressões partidárias e Meirelles As pressões veladas da área partidária são ainda maiores. E saem do PT e aliados, do estafe de Dilma, e mais discretamente ainda do palácio do Planalto. Uma das estratégias - notas já começam a pulular na imprensa - é enfraquecer a autoridade de Meirelles, mostrando que ele perdeu credibilidade por conta de sua aventura política. O objetivo é isolar Meirelles, reduzindo a influência dele sobre os demais diretores do BC. A direção da instituição, com a saída do diretor Mário Mesquita, não tem mais nenhum alienígena, ou seja, é toda composta de funcionários públicos de carreira. Eles seriam mais susceptíveis aos apelos e desejos ministeriais e presidenciais. Este será um ponto a conferir. Se os adversários de um aumento mais pesado da Selic não conseguirem justificar-se com argumentos objetivos e convincentes, em vez de desacreditar Meirelles, desacreditam o BC e as promessas do governo de que não se deixará influenciar por injunções vindas do palanque. Não gostaram Muita gente na Esplanada dos Ministérios ficou profundamente infeliz com a decisão do Meirelles de abandonar prematuramente uma carreira política que ele nunca iniciou de fato. Discretamente, Meirelles foi incentivado a prosseguir, porém, na última hora, Lula não seguiu o script e deu a oportunidade a ele de recuar e ficar no BC. A disputa pela indicação do seu substituto estava acirrada e algumas áreas viam nisto a possibilidade de retomar o controle sobre o BC, perdido para Meirelles com sua interlocução direta com Lula. Outra disputa Nas rodas brasilienses, um dos nomes aventados para substituir Meirelles era o do presidente do BNDES, Luciano Coutinho. Dizia-se que era uma vantagem, pois já começaria a ser formada a equipe do BC no futuro governo Dilma. Coutinho não mordeu a casca de banana. E não foi simplesmente porque está muito bem onde está - o BNDES é hoje um dos órgãos mais influentes na política econômica de Lula. Mas porque tem outros planos mais elevados para 2011. Os mesmos de alguns daqueles que quiseram promovê-lo ao BC agora. Inflação é mesmo preocupação Os aumentos de preços do início deste ano foram fortemente influenciados pelos efeitos das chuvas sobre os produtos agrícolas. Portanto, não se tratava de inflação - que é o aumento contínuo dos preços -, mas de um aumento localizado dos preços. Todavia, os últimos dados de quase todos os indicadores de inflação demonstram que (i) o aumento de preços se espalhou por diversos setores econômicos e (ii) as expectativas sobre os aumentos de preços estão se deteriorando. Assim sendo, se é fato que não estamos em meio a um surto "superinflacionário", de outro lado é certo que há riscos contra a estabilidade de preços. A ação do BC é mais do que necessária. Terá de ser suficiente. A bolsa é o termômetro Após uma rodada de conversas desta coluna com investidores brasileiros e estrangeiros, podemos afirmar que já há um consenso de que as ações não devem apresentar um desempenho positivo e excepcional este ano. Muitos analistas falam em "seletividade" como a palavra da hora. A maioria absoluta acredita que o Ibovespa pode superar o patamar dos 73,5 mil pontos no curto prazo, mas que dificilmente este nível será mantido. Além disto, o Brasil já não é mais o queridinho dentre os emergentes. A Índia e (ainda) a China devem receber mais atenção dos investidores que o Brasil neste ano. Além disto, os EUA, caso confirmem as indicações de recuperação da demanda, terão muita demanda para o mercado acionário. A conferir. Radar NA REAL 31/3/10 TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA alta alta - Pós-Fixados NA alta alta Câmbio ² - EURO 1,3585 estável/queda estável/baixa - REAL 1,7579 estável/alta estável/baixa Mercado Acionário - Ibovespa 71.417,27 alta estável - S&P 500 1.194,37 alta alta - NASDAQ 2.454,05 alta alta (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável A coisa está ficando feia Demissões no Ibama, explicadas apenas em parte pelas questões envolvendo a usina de Belo Monte. Demissões aparentemente sem justificativas plausíveis no ministério da Cultura. O segundo escalão Federal está fervilhando. São os preparativos para a troca de poder, as forças se reposicionando para permanecerem onde estão ou então subirem de posto. A arrancada do PSDB Com um entusiasmo não muito próprio de um partido frio (cerebral ?) como o dos tucanos e com uma demonstração de unidade nunca antes vista entre eles, o tucanato deu a partida oficial para a sucessão presidencial melhor até do que seus dirigentes imaginavam. Surpreendeu até o governo, que sempre apostou no contrário : frieza na campanha e na divisão entre Aécio e Serra. Aécio surpreendeu pela vontade e pela contundência das críticas. Certamente o entorno de Dilma deverá rever seus planos. Estratégia oposicionista Ficou muito clara na festa para Serra sábado em Brasília a estratégia da oposição para se contrapor à estratégia de campanha de Lula, de esconder um pouco Dilma e concentrar as discussões na comparação entre o governo dele e suas realizações e o governo de FHC e seus feitos. Serra vai mostrar os planos de governo e do embate direto com Dilma. A discussão sobre o passado ficará por conta de Fernando Henrique, Aécio e outros líderes tucanos e dos aliados. O mote está no discurso de Aécio. O governador mineiro, aliás, nem demorou a começar a provocação. No Estadão de ontem apareceu dizendo que Dilma terá de explicar como se haverá com o PT ideológico e o PT dos aloprados. Aliados complicados A inesperada decisão do ex-ACM senador César Borges de troca uma aliança de seu PR na Bahia com o PT do governador Jaques Wagner por um acordo com o PMDB de Geddel Vieira Lima expõe outra dificuldade da formação dos palanques regionais : a coligação nas eleições proporcionais para a Câmara dos Deputados e para as Assembléias Legislativas. Wagner, em busca da reeleição, garantiu o apoio petista à candidatura de Borges ao Senado. O PT, com o justo medo de perder cadeiras de deputados estaduais e federais para o PR, partido do senador, se a aliança for total, vetou o acordo nas eleições proporcionais. Esta confusão aparece em outros lugares, inclusive na enrolada relação PT/PMDB em Minas. O partido de Lula já parece conformado com a ordem de dar a vaga de candidato a governador para o peemedebista Hélio Costa. Mas teme a eleição proporcional casada, principalmente porque o PMDB em Minas está muito mais espalhado pelos mais de 800 municípios do Estado do que o PT. Isto poderia roubar dos petistas vagas preciosas de deputados. Outra complicação em Minas Na terra de Aécio há outra pedra a pôr em risco a aliança governista por lá : o fato de o candidato tucano, Antônio Anastásia, disputar a eleição para o Palácio da Liberdade no cargo de governador. Com isso, ele não poderá ser candidato à reeleição. Já Hélio Costa, se eleito, poderá pleitear num novo mandato em 2014, o que pode significar, para o PT, ficar longe do poder em MG até 2018. Portanto, Anastásia pode ser uma solução para o futuro do PT mineiro do que o ex-ministro das Comunicações. Confusão à vista ? Do modo como está sendo atabalhoadamente o leilão da usina de Belo Monte é prenúncio de confusão na certa. Ainda mais se a disputa se ancorar na generosidade do BNDES e dos fundos de pensão das estatais. Os colonizadores e os colonizados Segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados, o aumento real acumulado na remuneração dos trabalhadores da administração pública e autarquias, entre 2003 e 2009, foi de 56,1%. Já o dos trabalhadores no setor privado foi menos da metade : 26,65%. Brasília é mesmo a metrópole de um país real colonizado. Mais um "não fato" político A política brasileira vive mais de "não-fatos" - ou factóides - do que de fatos reais. Mais um acaba de ser desmascarado. O vice-presidente José Alencar anunciou no fim de semana o que todo mundo já sabia : não será candidato a nada em outubro. Nunca foi de verdade. Entrou de mentirinha na eleição mineira, a pedido de Lula, ora como candidato ao Senado, ora como candidato a governador, para fazer confusão no mundo tucano e assustar Aécio Neves. Como a confusão se instalou mais na seara governista e Aécio não perdeu um segundo de sono com a história, tratou de, com ensinava o filósofo do futebol Neném Prancha, de "arrecuá os arfes, para evitar a catrastre (catástrofe governista em MG)". Esqueçam Trecho de uma matéria de ontem, na Folha de S.Paulo, com uma entrevista da ex-ministra Dilma : "Questionada se a reforma tributária será um dos temas de sua campanha, ela diz que sim, mas acrescenta que os 'empresários sabem da dificuldade de se fazer reforma tributária no Brasil por conta da questão federativa'. Quanto à desoneração da folha de pagamentos, ela, a princípio, diz que não preferia comentá-la. Diante da insistência, afirma que 'é fundamental, temos de caminhar para isso, temos de buscar a desoneração, é uma distorção que temos. Agora não é coisa simples de fazer. É o bom senso'". Traduções : 1. Sem o prestígio de Lula, se eleita Dilma não vai comprar briga deste tamanho no Congresso. 2. Não quer falar sobre desoneração da folha salarial porque este assunto divide os sindicatos de trabalhadores e ela não quer se indispor com este eleitorado. O fato e o marketing Há meses, quando de um dos surtos de entusiasmo oficial com o trem bala RJ/SP, dissemos aqui, com base em informações de especialistas do setor de construção civil pesada, que no máximo a obra atingira o trecho Campinas-São José dos Campos, o único tido como economicamente viável, sem precisar de subsídios governamentais. A ladainha do trem bala total, no entanto, prosseguiu. Ficou como uma estrela do PAC 1, com promessas de um leilão "amanhã". Ressurgiu ampliado há três semanas no PAC 2, ampliado para BH, Uberaba e Curitiba. De R$ 30 bilhões, saltou para mais de R$ 46 bilhões. A realidade, porém, é outra. Como disse Dilma na mesma entrevista da Folha citada acima, numa primeira etapa o trem vai apenas até São José dos Campos. O Rio fica para depois, um depois que não se sabe quando. Os cariocas de Sérgio Cabral não vão gostar. Ficha limpa Se a pressão externa se tornar insuportável, a Câmara pode aprontar para o Senado : ela aprova a proposta de barrar os "fichas-sujas" nas eleições e deixa para os senadores o desgaste de condenar a sugestão ou fazer corpo mole para que ela não vigore nas eleições deste ano. A tragédia do Rio As inundações e soterramentos na Cidade Maravilhosa e em todo o Estado são o retrato mais fiel dos efeitos da "realpolitik" sobre a administração pública. Sabe-se que a gestão urbana no Brasil é uma das faces de maior descaso, corrupção e falta de investimentos do setor público. Os acontecimentos do RJ não são apenas a consequência de tudo isto. É a alvorada de problemas crescentes no setor urbano. Em tempo Haverá efeito dos últimos acontecimentos no Rio de Janeiro sobre as pesquisas eleitorais. Pode não ser pequeno e aqueles que estão sem querer aparecer pelos lados da população carioca poderão se surpreender. Já há ensaios estatísticos correndo na praça que mostram que há mudanças relevantes na opinião pública do Rio. Cúpula atômica A presença de Lula na cúpula sobre segurança atômica promovida pelo governo Obama não deve apenas respirar constrangimentos ao país quando o assunto for o Irã. Há possibilidade concreta de mudanças na posição chinesa e, neste caso, o país poderá ficar isolado no que se refere ao tema.
terça-feira, 6 de abril de 2010

Política & Economia NA REAL n° 95

Sinais vitais Finalmente a maior economia do globo mostrou sinais de vitalidade. O setor laboral dos EUA deixou de perder empregos e, pela primeira vez em três anos, houve geração de empregos num mês, no caso o mês passado. Este é o dado importante dentre um conjunto destes divulgados na última semana : os indicadores de consumo de matérias-primas, gastos do consumidor e expectativas dos consumidores também melhoraram. É cedo para falar em aumento dos investimentos, mas no mercado financeiro, tão recheado de previsões, já há esta expectativa. Se os EUA melhorarem... Se estes sinais vitais e iniciais da economia norte-americana se fortalecerem e se tornarem uma tendência há duas consequências imediatas sobre os países emergentes que hão de repercutir no mercado financeiro e de capital : (i) a elevação das cotações das commodities, fato este importantíssimo para a atração de capitais estrangeiros e (ii) a elevação da taxa de juros dos títulos do tesouro americano que reajustará todos os preços dos títulos de renda fixa globais. Ontem, tais títulos superaram os maiores patamares desde junho do ano passado. De outro lado... O fortalecimento da economia dos EUA implica em maiores cuidados na condução da política monetária dos emergentes. Alta das commodities significa mais divisas, mas também o repasse destas altas no mercado interno, pois que para este segmento preços domésticos e externos são alinhados. Também subirá o custo de captação das empresas e do governo brasileiro. Mas o balanço é positivo Apesar das previsões dando conta da perda da hegemonia norte-americana, a verdade é que, no curto e no médio prazo, não há a menor possibilidade da economia mundial caminhar bem e os EUA não. Um país que representa quase 1/4 do PIB do mundo tem relevância estratégica na saída da atual crise mundial. Portanto, quaisquer riscos que possam ser adicionados pela recuperação dos EUA não são maiores que a recessão daquele país. A alta de juros e dos preços das commodities é, portanto, um excelente sinal. Radar NA REAL Os últimos dados da economia dos EUA alteram as nossas recomendações de investimento, sobretudo no caso das bolsas de valores que devem ser positivamente afetadas, caso se confirme a maior solidez da economia americana. De outro lado, qualquer alta significativa do dólar em relação ao Real parece afastada no curto prazo. A elevação das cotações das commodities, somada com o provável ingresso de capital estrangeiro, deve deixar a moeda norte-americana pressionada perante as moedas dos países emergentes, especialmente no caso do Brasil, país que tem o modelo cambial mais livre dentre os BRICs. O cenário é otimista, mas dificilmente se poderia projetar um ano com resultados tão positivos quanto o ano passado no caso do Brasil. Além disto, temos eleições e este é fator de risco significativo. 31/3/10 TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA alta alta - Pós-Fixados NA alta alta Câmbio ² - EURO 1,3493 estável/queda estável/baixa - REAL 1,7645 estável/alta estável/baixa Mercado Acionário - Ibovespa 71.136,35 alta estável/alta - S&P 500 1.169,43 alta alta - NASDAQ 2.397,96 alta alta (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável O jogo de profissionais e a "PMDB-dependência" Bem que Lula tentou, mas não deu. Mesmo com sua decantada - e reconhecida - habilidade política, não deu para enquadrar o PMDB como ele e o PT pretendiam. O episódio envolvendo a decisão do presidente do BC em ficar no posto atual encerra, com um passeio peemedebista, a intenções de Lula e dos companheiros de não deixar o partido de Michel Temer, José Sarney e outras companhias tão excessivamente poderosos na aliança de apoio a Dilma. Das ambições políticas de Henrique Meirelles até a torcida da seleção brasileira tinha notícias. Mas ele não entrou de graça no PMDB. Foi superiormente aconselhado. Insuflado e discretamente ajudado pelo conselheiro, passou os últimos seis meses tentando fazer-se vice da ex-ministra, na vaga reservada ao PMDB por Lula e Dilma. As vozes do PMDB governista e seus trunfos foram mais elevados que o desejo de Meirelles, e as idiossincrasias de Lula e Dilma em relação aos principais nomes cogitados pelo maior partido governista, a começar pelo presidente da Câmara, Michel Temer. Dilma, o reverso da medalha Na outra ponta, o maior desafio de Dilma e Lula é mesmo empolgar - ou pelo menos invadir um pouco mais os corações - das regiões mais ricas - Sul e Sudeste - e dos setores mais escolarizados e de melhor nível de renda. A classe média, negligenciada há algum tempo nas análises sobre influências eleitorais, vai fazer a diferença em outubro. Por ironia, incluindo a chamada "nova classe média do Lula", os emergentes que nos últimos anos deixaram a classe D. Uma vitória completa Não foi somente em relação a Meirelles, como vice de Dilma, que o PMDB "passou a perna" nos parceiros. Nas mudanças ministeriais também conseguiu impor seus desejos pelo menos em três mudanças, contra os propósitos de Lula, do PT e até de outros peemedebistas : 1. No ministério da Agricultura o deputado Michel Temer emplacou o apadrinhado Wagner Rossi, político de portuárias utilidades. Lula pretendia, com exceções, substituir os ministros renunciantes por seus secretários gerais. Reinald Stephanes também apoiava o seu substituto. 2. Hélio Costa emplacou seu chefe de gabinete como ministro, para a esposa do qual passou a propriedade de uma rádio em Barbacena, em detrimento do secretário-geral e em detrimento de um candidato, Antonio Beldran, da Anatel, lançado dos escaninhos palacianos. 3. No ministério do Interior, prevaleceu a máxima do secretário-geral : João Santana vai substituir Geddel Vieira Lima para desgosto dos petistas baianos. O PMDB pôs e dispôs. Lula achou que tinha as chaves. Não tinha. O PMDB não somente tinha as chaves como também - e principalmente - as armas. Por essas e outras, dúvidas sobre o futuro de um futuro governo Dilma no Congresso aumentaram depois destes episódios. Se, com toda a sua malícia política, Lula levou uma pernada do PMDB, o que será de Dilma e sua quase nula vivência partidária ? Agora, Minas Gerais O PT ainda vai ter de render mais uma homenagem ao PMDB. Mais uma pelo menos. Em MG, com seus 14 milhões de votos e Aécio Neves, com índices positivos de avaliação no Estado superiores aos de Lula, o PT terá de ceder a primazia da disputa ao Palácio da Liberdade ao ex-ministro Hélio Costa. Vai haver choradeira e vestes rasgadas. Em tempo A entrevista de Aécio à revista Veja desta semana é um primor de pessedismo (do velho PSD) ou tancredismo : afirmativa em alguns pontos, ambíguas em outros. Ele deixa claro, porém, que sabe que a oposição (lá no Estado) quer quebrar suas pernas. E político em MG sem o Palácio da Liberdade é político manco. De cócoras ? O governo provavelmente terá de ajoelhar e rezar outras vezes diante do PMDB, além das orações que já destinou ao partido no altar sagrado das urnas. Uma via sacra também está instalada no Congresso. O relator da polêmica proposta de divisão dos royalties do petróleo na Comissão de Assuntos Econômicos no Senado é ninguém menos que o peemedebista alagoano Renan Calheiros. Calheiros, além de seu abissal desconhecimento dos assuntos de energia, é tido e reconhecido como um político de lealdades escolhidas. Para complicar, a relatoria de todos os quatro projetos referentes às novas regras de exploração de petróleo na Comissão de Constituição e Justiça do Senado ficaram nas mãos de oposicionistas. Ele não é do ramo mesmo As vacilações de Henrique Meirelles em relação à sua carreira no mundo partidário e eleitoral, querendo garantias de que seria vice de Dilma ou então a segurança de um apoio forte para um cargo em GO, demonstram apenas que ele não é da política, nem da pequena, nem da grande. É um homem financeiro, ou seja, quer pequenos riscos e muita segurança, para não perder nunca. E em política, quem espera nunca alcança. A desculpa de que resolveu ficar como garantia da "estabilidade econômica" é quase um insulto ao presidente Lula, aos outros membros da equipe econômica do governo e à própria ex-ministra Dilma. Pode custar caro A desastrada aventura política de Meirelles pode ter custos elevados. Para reafirmar uma credibilidade abalada, ele poderá ser tentado a ser mais ortodoxo do que vinha sendo até a fatídica - e nada explicada - reunião do COPOM de duas semanas atrás. O mercado financeiro, que não é nada amador, vai dizer qual será o preço real das vacilações de Meirelles. Salto alto Bastou o DataFolha constatar um crescimento da diferença de intenção de votos entre o tucano José Serra e a preferida de Lula Dilma Rousseff para a oposição começar a subir novamente nos tamancos. O discurso de despedida de Serra do governo paulista teve passagens que a prudência aconselharia terem sido deixados de lado. A fogueira das vaidades, que estava consumindo petistas e aliados no período em que Dilma subia a cada pesquisa, passou agora a fazer ferver o caldeirão oposicionista. O que há de "donos de candidaturas", de brigas entre aliados (como no RJ) é de fazer inveja ao que se viu até pouco tempo atrás nos meios aliados a Dilma. Além das obras Uma curiosidade em relação aos programas e discursos eleitorais dos candidatos aos cargos majoritários é saber como serão abordados dois temas que são sensíveis à população, mas que tem sido relegados a segundo plano pelos candidatos : (i) a enorme corrupção no setor público que parece penetrar no setor privado e (ii) a violência, cujos indicadores tornam o Brasil um dos mais violentos do mundo. Ou será que este assunto não interessa a ninguém ? Infraestrutura, copa do mundo e olimpíadas Não precisa ser grande pesquisador para constatar a precária situação de muitas cidades que serão sede da próxima copa do mundo, sobretudo no caso do RJ, que será também sede dos jogos olímpicos de 2016. Pouco se sabe como as obras essenciais serão tocadas pelos organizadores destes eventos, além da completa ignorância sobre seus custos. O impressionante de tudo isto, é que há muita probabilidade deste assunto ser esquecido ao longo deste ano eleitoral. Bestialógico castrense Vejam esta da coluna de Ancelmo Góis n'O Globo de ontem : "O Brasil não teve exilados, mas fugitivos". Autor : General Leônidas Pires Gonçalves, ex-ministro do Exército de José Sarney. Maribondos atacam a internet "Se não foi a internet que inventou a mentira, tornou-se difícil viver tendo que procurar onde está a verdade." Esta pérola foi escrita por José Sarney na sua coluna na Folha do dia 26/3/10. Será que Sarney gostaria de censurar a internet ?
terça-feira, 30 de março de 2010

Política & Economia NA REAL n° 94

  Sinais de estabilização e calma Na semana passada, tivemos duas boas notícias que aliviaram as tensões mais recentes na economia mundial. A primeira foi o reforço na liderança política do presidente Obama com a vitória na reforma do sistema de saúde por estreita margem de votação na Câmara dos Representantes. Isto ocorreu no exato momento em que o declínio da popularidade do presidente estava em marcha e já causava desconfianças na execução da política econômica. A segunda notícia foi o apoio da União Européia à Grécia que pôde assim emitir títulos novos no mercado e rolar sua dívida. Neste caso, foi um apoio tardio devido à teimosia da Alemanha que, apesar de ter um governo dito progressista, mostrou-se uma aliada da especulação em relação à economia helênica. Calma nos mercados As duas notícias mencionadas na nota acima foram suficientes para acalmar os ânimos especulativos, sobretudo no mercado de moedas e no mercado de ouro. Adicionalmente, os mercados acionários mais importantes do mundo se valorizaram e reforçaram a percepção de que há mais fundamentos positivos que negativos neste momento. A demanda nos EUA continua a se recuperar, mesmo que o ritmo ainda seja lento. De toda a forma é muito provável que os resultados do primeiro trimestre do ano das maiores empresas com cotações em bolsa sejam bons e corroborem as boas-novas. Brasil, também em ritmo lento Há sinais inequívocos de que os fluxos de capital para o Brasil, sobretudo no mercado financeiro e de capital, estão se reduzindo. Os investidores acreditam que o crescimento de 2010 está "garantido", mas de outro lado, não há nenhuma política nova que indique que a sustentação do crescimento a partir de 2011 seja sólida. De pouquinho em pouquinho os investidores querem saber mais sobre o processo eleitoral e a influência sobre a economia. Sonho meu... A China mantém desde o final dos anos 80 uma política cambial francamente favorável às exportações do país. Foi este um dos principais componentes para favorecer a ampla industrialização do país nestas últimas décadas. O governo Obama teme que a continuidade da fortaleza do dólar perante o Yuan, a moeda chinesa, dificulte a recuperação da economia norte-americana. Assim sendo, a questão cambial é a prioritária na relação entre os dois países. Na última quinta-feira, o secretário do Tesouro dos EUA, Timothy Geithner, disse perante o Senado que há sinais de que a China valorize a sua moeda nos próximos meses. O detalhe monstruoso da fala é que a opinião de Geithner não tem absolutamente nenhum amparo na realidade. O governo chinês continua mudo e mouco quando o assunto é câmbio. Só não é cego... Política monetária política I A leitura da última ata do Copom, referente a reunião de duas semanas atrás, que optou pela manutenção da taxa básica de juros em 8,75%, não deixa a menor dúvida - a manutenção da Selic foi uma decisão meramente política. E não de política monetária. Ou foi isto ou o BC está precisando contratar um redator para seus textos com melhores relações com a língua pátria. Política monetária política II Aventam-se três razões para esta decisão : 1. A diretoria do BC não suportou as sugestões de Lula e as pressões do ministério da Fazenda; 2. Deu-se um presente do presidente do BC, Henrique Meirelles, às vésperas de seu retorno à política eleitoral e partidária. Não ficou nas suas costas a mancha (tida como impopular eleitoralmente) de ter iniciada a nova escalada dos juros brasileiros; 3. Deu-se um presente ao futuro presidente da instituição, Alexandre Tombini : como ele é funcionário da carreira (tido, portanto, como mais influenciável por seus sucessores) e é apontado como um adversário duro dos monetaristas radicais que ocupavam algumas diretorias do BC, ganho a oportunidade de comandar a ascensão da Selic para mostrar externamente independência e firmeza de convicções quanto ao papel da política monetária. Qualquer que tenha sido a motivação do BC, as três acima ou outras, a verdade é que gerou uma desconfiança quanto ao poder da influência eleitoral nas decisões econômicas neste momento. O Relatório Trimestral da Inflação, do BC, a ser divulgado esta semana, poderá dar indicações cruciais sobre o que o BC está pensando da situação econômica. É o último redigido sob a égide e sob a orientação do diretor Mário Mesquita, o último diretor do BC nesta fase egresso do mercado financeiro. Radar NA REAL Continuamos recomendando aos nossos leitores que mantenham as suas posições de risco. Nas duas últimas semanas houve uma boa recuperação dos mercados acionários mundiais e menores inquietações no mercado de renda fixa e de moedas (por causa do plano de resgate da Grécia) e no de metais (tranquilidade maior em relação aos riscos e à inflação). Manter as posições é a melhor estratégia, mas é muito pouco provável que existam mudanças bruscas no cenário. Assim sendo, a sensação de marasmo pode voltar. É preciso olhar para um horizonte de mais longo prazo neste momento em que a renda fixa não rende muito, sobretudo lá fora, e os mercados acionários continuam de olho no perfil dos fundamentos macroeconômicos. Paciência é a palavra do momento. 30/3/10   TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA alta alta - Pós-Fixados NA alta alta Câmbio ² - EURO 1,3451 estável/queda estável/baixa - REAL 1,8090 estável/baixa estável/baixa Mercado Acionário - Ibovespa 68.682,66 estável/queda estável/alta - S&P 500 1.159,99 estável alta - NASDAQ 2.403,77 estável alta (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável A eleição ainda não fez morada no coração brasileiro O dado mais expressivo da pesquisa DataFolha que surpreendeu agradavelmente uma oposição cabisbaixa e tirou a paz dos eufóricos governistas - José Serra obteve 9% de frente sobre Dilma Roussef, contra 4 pontos do levantamento de um mês atrás - está sendo negligenciado nas análises do novo cenário constatado pelo instituto : quase 60% dos eleitores (59% para ser bem exato) não sabem ainda em quem vão votar se não se lhes apresenta a lista com os prováveis candidatos. A principal tradução disto é que o retrato que as pesquisas estão revelando até agora é extremamente precário e nada é definitivo. O coração do brasileiro "médio" ainda não assimilou a disputa eleitoral, tem outras preocupações, tais como seus afazeres do dia a dia e, em pouco tempo, a Copa do Mundo. A política eleitoral vai ficar mesmo para agosto. No momento, ela é preocupação apenas dos participantes do jogo e de parte da sociedade mais bem informada. Não chegou ainda ao que o experiente Tancredo Neves chamava de "grotões". O que, pelos sinais disponíveis, conta mais pontos para Dilma (na verdade para Lula). Todas as pesquisas dos últimos meses mostram que quanto menor o grau de escolaridade e quanto menor o nível de renda do eleitor mais seu voto tende para o governismo. Este o grande desafio de Serra e da oposição : furar a barreira do programa Bolsa-Família. Dilma, o reverso da medalha Na outra ponta, o maior desafio de Dilma e Lula é mesmo empolgar - ou pelo menos invadir um pouco mais os corações - das regiões mais ricas - Sul e Sudeste - e dos setores mais escolarizados e de melhor nível de renda. A classe média, negligenciada há algum tempo nas análises sobre influências eleitorais, vai fazer a diferença em outubro. Por ironia, incluindo a chamada "nova classe média do Lula", os emergentes que nos últimos anos deixaram a classe D. PT, o problema O partido do presidente Lula não parece nem um pouco interessado em facilitar a vida de seu líder e da candidata que ele lhe impôs. Está querendo mostrar que não é tão submisso assim. Só deste modo pode-se entender a decisão do PT do Maranhão - de, por escassos dois votos (87 a 85), apoiar a candidatura ao governo do Estado do deputado Flávio Dino, de outro aliado, o PC do B, contra a atual governadora Roseana Sarney. Logo na terra de José, o patriarca do clã, a quem Lula estendeu todos os salamaleques e que tem peso nas decisões do PMDB governista. Até parece provocação. PT, o problema - II Não foi também ao gosto do governador Sérgio Cabral, o emotivo peemedebista fluminense, homem capaz de chorar lágrimas de pré-sal por qualquer coisa, a definição do PT/RJ pela candidatura de Lindberg Farias ao Senado em detrimento da ex-ministra Benedita Silva, secretária de estadual de Assistência Social. A vitória do prefeito de Nova Iguaçu foi ampla. Só pode ser provocação. Minas na mira Com essas pequenas articulações petistas, mas significativas do ponto de vista simbólico, o governo terá de redobrar suas atenções em Minas Gerais, onde a disputa entre PMDB e PT para ver quem dá o candidato a governador da chapa governista está longe de uma solução amigável. Apesar de Lula já ter avisado aos dois contendores petistas, o ministro Patrus Ananias e o ex-prefeito Fernando Pimentel, que a preferência é do ministro Hélio Costa, do PMDB, os peemedebistas ainda não se deram por achado. E, segundo as surdas vozes políticas, que sopram das montanhas das Gerais, não vai se conformar tão cedo - e talvez nunca. Os ventos mineiros até já reentronizaram na política local uma expressão dos anos 1950, nascida a partir da frustrada candidatura do mineiro Cristiano Machado à presidência da República, pelo velho PSD, contra Getúlio Vargas - cristianização. O PSB entregou seu candidato aos leões e foi aninhar-se nos braços do ex-ditador. Cristianizar virou sinônimo de traição política. Diz um maldoso que o verbete pode ganhar um sinônimo no dicionário da política brasileira : helizar ou costear. A paz tucana Os serristas ganharam um fôlego para tentar celebrar uma paz total com seus companheiros de plumagem e contornar as insatisfações crescentes no DEM. O DEM está para o PSDB assim como o PMDB está para Lula, guardadas um pouco as proporções. Rojões peemedebistas Tanto quanto os tucanos e companhia, quem está comemorando o resultado da pesquisa DataFolha é, por paradoxal que seja, o PMDB governista de Michel Temer, José Sarney e outros abnegados de mesma estirpe. Como comentamos neste espaço outras vezes, o PT e Dilma, dada a impressionante arrancada da ministra nos últimos meses, estavam sentindo-se respaldados o suficiente para desdenhar a importância eleitoral do PMDB. Lula e os seus vão ter de rever esta posição e tomar, além de um caldinho de galinha, uma boa mezinha caseira para a ansiedade : com novo cacife, o PMDB vai voltar a ser uma noiva menos ofertada. Opacidade - I Quem conhece a ministra Dilma, para além das aparências que ela exibe, e desfruta de informações de dentro de seu esquema eleitoral, garante que é menor que zero a possibilidade de o ex-ministro José Dirceu ocupar posição de influência e destaque na campanha da preferida de Lula. E depois do tiroteio do caso Telebrás/Eletronet, que pegou o antecessor de Dilma na Casa Civil em pleno salto para voltar a dar cartas no PT, o conselho dado ao agora empresário é que ele se recolha aos bastidores, em silêncio obsequioso. Opacidade - II Apagaram-se mais algumas velinhas que iluminavam a vacilante candidatura presidencial do deputado Ciro Gomes. Não deve passar de meados de abril. Chantagem A Petrobras está ameaçando cortar parte dos seus investimentos este ano, de R$ 88 bilhões, se o Congresso (o projeto já está no Senado, mas volta à Câmara se for modificado pelos senadores) não aprovar definitivamente até meados do ano a proposta de capitalização da empresa. Candidamente seus dirigentes dizem que não estão pressionando os parlamentares. E não estão mesmo, estão indo um pouco mais longe - para o perigoso terreno da chantagem. Pode colher efeitos exatamente contrários ao visado. Congressistas gostam demais desse tipo de desafio : aumentar o poder de barganha deles. O Congresso ameaça ? A semana de feriado, com a Brasília do Congresso naturalmente mais vazia, não trará descanso para os operadores políticos do governo no legislativo. Eles precisarão costurar um acordo para a votação da MP do aumento dos aposentados que ganham acima do salário mínimo para evitar que os deputados aprovem um reajuste muito superior ao que ele julgar razoável no momento. O texto original prevê um reajuste real 50% daquele pretendido pelos deputados, inclusive boa parte dos governistas. Há ainda a possibilidade de se aprovar uma emenda equiparando daqui para frente o aumento de todas as aposentadorias ao reajuste do salário mínimo. Se for a votação sem acordo, passa. E o acordo tem de ser muito bem acertado para não haver surpresas. Tudo o que Lula não quer é ter de vetar uma coisa dessas no auge da campanha eleitoral. Rebelião no Congresso ? Se se confirmar a informação de que o contigenciamento (suspensão que pode ser temporária ou definitiva) de mais de R$ 21 bilhões determinado pelo Ministério do Planejamento no Orçamento deste ano atingirá R$ 10 bilhões dos R$ 15 bilhões previstos para as chamadas emendas parlamentares, o governo pode se preparar para alguma "falseta" por parte dos deputados e senadores. Um corte desses, em um ano em que a maioria está envolvida em árdua guerra pela reeleição ou por um novo cargo político, é considerado uma traição. E costuma ser vingado quando menos se espera, numa dessas votações que o Executivo considera cruciais. Como, por exemplo, a questão dos aposentados. Ou, do pré-sal.   
terça-feira, 23 de março de 2010

Política & Economia NA REAL n° 93

Terça-feira, 23 de março de 2010 - nº 93 Apertar ou não apertar, eis a questão ! Não é somente no BC que residem as inquietações sobre a política monetária a ser seguida nos próximos meses. Na Europa, o Banco Central Europeu está inquieto por dois fatores básicos : (i) os efeitos que uma subida da taxa de juros podem gerar sobre os países mais endividados (especialmente Grécia, Espanha, Portugal e Itália), bem como a enorme dispersão das taxas de crescimento na zona do euro. Nos EUA, apesar do enorme déficit fiscal, as dúvidas sobre a sustentação do crescimento são enormes. Na China, pouco se sabe sobre como há de se comportar o governo comunista de Pequim. Por lá há sinais de que a situação fiscal se deteriorou significativamente e as consequências da desvalorização exagerada da moeda chinesa é pauta de qualquer discussão entre o país e os seus parceiros comerciais. Uma alta dos juros seria lida como negativa neste momento. Por fim, a Índia tomou o rumo do aperto monetário ao aumentar a taxa básica na última sexta-feira. O problema é que este sinal foi visto como parte de um movimento geral dos emergentes no sentido de reduzir a atividade econômica. Assim sendo... ...a combinação de políticas fiscais frouxas e atividade econômica cambaleante é um problema enorme para o estabelecimento de políticas monetárias consistentes nas principais economias mundiais. O efeito disto tudo é que os investidores continuaram com a guarda alta, esperando para ver o que os governos vão fazer. O problema é que eles não sabem... COPOM mostra suas dúvidas Por aqui as dúvidas são menores, mas igualmente complicadas. Estas se inserem no contexto eleitoral. A votação dos membros do COPOM na última reunião mostrou mais que hesitação : há uma dúvida se a inflação alta dos últimos meses foi apenas um ponto (fora ?) da curva ou é parte de um processo. De toda a forma, a gastança pública é alta e a atividade está firme. Tudo isto recomendaria certo aperto. O problema é que a pressão governamental sobre o BC é gigantesca e a instituição carece de liderança neste momento em que Henrique Meirelles sai da cena econômica e entra na política. A nossa previsão é que na próxima reunião o processo de elevação da taxa básica de juros se iniciará. O céu não é o limite, mas determiná-lo ainda é muito incerto. Dependerá de muitos fatores, inclusive o político. E sob nova liderança no BC. A vitória de Obama Foi significativa a vitória do governo democrata no que se refere ao setor de saúde nos EUA. Trata-se de uma reforma após 40 anos da implantação do sistema atual. O efeito desta vitória vai além do seu significado objetivo : Obama se guiou pelas suas convicções a despeito da impopularidade das medidas e colherá bônus e críticas por isto. Todavia, a sua liderança permanece sólida num momento em que outra proposta entrará em votação : a reforma sobre financiamento de campanhas e partidos. De outro lado, o grande risco continua a ser a eleição parlamentar deste ano que pode fazer minguar o apoio político a Obama. Reformas no Brasil Se Obama reforma lá nos EUA, por aqui a coisa é vergonhosa. Nada de reformas estruturais. Ao contrário, o Congresso discute apenas aquilo que é conjuntural, a começar pelo ridículo processo de repartição dos recursos do pré-sal. A discussão é paroquial e sem significado mediato para a população. Sequer assuntos como a escalada da violência merecem atenção dos políticos e do governo. A mediocridade impera sob a manta do crescimento deste ano e da popularidade de Lula. Falta convicção. Alerta Do economista norte-americano Kenneth Rogoff, ex-economista-chefe do FMI, em entrevista ao repórter Fernando Dantas, do "Estadão" : "Pergunta : O sr. acha que o Brasil vai fazer isto [crescer de 6 a 7% em 2010 e manter esse ritmo por uma década] ? Resposta : O maior risco para o Brasil, como de costume, é o político. É o risco de que, em vez de continuar a melhorar a governança, o sistema político foque em transferências e outras medidas de curto prazo para impulsionar a popularidade do governo. Aí o crescimento poderia murchar um pouco. Ainda, seria um crescimento decente, mas preocupa que a dinâmica política dos últimos anos tenha sido na direção de maiores transferências e muito pouca reforma." Radar NA REAL Está repetitivo, mas é fato que não estamos prevendo nenhuma alteração imediata no andamento dos mercados : há estabilidade das cotações dos ativos, mas falta convicção sobre a evolução nos próximos meses no que se refere ao mercado local e internacional. Assim sendo, continuamos sem alterar as nossas recomendações. Se os fatos mudarem, mudaremos de opinião. Mais uma vez repetimos. O único alerta que fazemos neste momento diz respeito aos efeitos que terão sobre o Brasil se os EUA apresentarem melhor desempenho nos próximos meses : o dólar deve valorizar e as bolsas de lá devem andar à frente da nossa que já está bem valorizada. 16/3/10 TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA alta alta - Pós-Fixados NA alta alta Câmbio ² - EURO 1,3551 estável/queda estável/baixa - REAL 1,7983 estável/baixa estável/baixa Mercado Acionário - Ibovespa 68.828,98 estável/queda estável/alta - S&P 500 1.159,99 estável alta - NASDAQ 2.374,41 estável alta (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável O mau exemplo europeu Não faltaram e não faltam gênios financeiros prevendo a débâcle do dólar norte-americano. Todavia, a crise da Grécia mostrou que os europeus não conseguem se articular para solucionar o problema no âmbito da soberania de sua moeda. Ao contrário, a Alemanha e a França fazem um papelão quando o assunto é o resgate do pequeno país europeu, berço da civilização ocidental. Está claro que o euro continuará a ser uma moeda internacional, mas a credibilidade para ser a "reserva de valor" do mundo é apenas um sonho. Ou melhor, uma piada com tino alemão : sem graça. As preocupações que Dilma ainda traz Embora Lula e toda a sua entourage política estejam cada vez mais convencidos de que a Dilma vai bater Serra, e por isso mesmo já se comece a falar nos corredores oficiais de um "governo Dilma", o que já desperta disputas internas no PT e entre aliados, o comando da campanha da predileta de Lula quer manter a candidata sob proteção. Há preocupação com alguns aspectos do estilo e da história de Dilma que, acredita-se, podem causar ruídos e prejudicar a candidata. O principal deles, já referido, é a desconfiança sobre as posições econômicas da ministra, sua disposição em manter intacta a política que herdará de Lula, por sua vez herdada de FHC. Lula fala por Dilma Lula já foi interpelado sobre o assunto por empresários brasileiros e em declarações recentes tem enfatizado que Dilma não vai mudar. Ela também tem feito profissões de fé nas normas vigentes. Mas as dúvidas permanecem e já se fala num compromisso mais forte, uma "Carta aos Brasileiros" de Dilma. Enquanto isso, Henrique Meirelles, Antônio Palocci e, em menor escala, o vice-presidente José Alencar ficam como fiadores do compromisso de Dilma com a economia de mercado. O viés político Na outra linha, as preocupações são de cunho político, centradas em três pontos : 1. Demonstrar que a ministra não ficará refém do PT, louco que o partido está para mandar depois dos anos em que teve de se submeter a Lula, muitas vezes contra sua ideologia e princípios. 2. Evitar que a exploração do passado militante de Dilma em organizações clandestinas crie resistências à ministra nos setores mais conservadores da sociedade e mesmo na nova classe média. Termos como "terrorista", "assalto a bancos" podem gerar insatisfações. 3. Evitar também que a oposição tente explorar os escorregões de Dilma em relação a algumas histórias mal contadas tisnem o ambiente, tais como a (i) do curso de doutorado, (ii) do desconhecimento do dossiê contra a família de FHC, (iii) as divergências com a ex-secretária da Receita Federal por conta de investigações de negócios do filho do senador José Sarney. A palavra mentira é muito forte no imaginário do eleitor e se a campanha ficar pesada a oposição não terá muitos pudores em utilizar esses trunfos. Oposição : só um pequeno alívio Tucanos e democratas suspiraram aliviados com a entrevista do governador José Serra na qual, ainda que de forma arrevesada, à televisão ele finalmente saiu do armário eleitoral em que se metera. Serra não disse nada que não se soubesse ou esperasse, mas isto liberou os oposicionistas para articulações mais abertas. E exorcizou de vez o fantasma, espalhado por Brasília e reprisado todos os dias pelo deputado Ciro Gomes de que, diante da ascensão de Dilma e com medo de perder, ficaria mesmo em São Paulo. Calcula-se que isto estava até prejudicando o desempenho do tucano nas pesquisas. Foi, porém, um pequeno alívio. Uma declaração e nada mais Serra seguiu sem indicar como pretende enfrentar a avalanche de prestígio do presidente Lula e o rolo compressor do governo para eleger a ministra chefe da Casa Civil. O governador pode até saber como agir e estar guardando o segredo para surpreender. Seus colegas de oposição, contudo, não sabem, estão perdidos. Estrela cadente Segundo um experiente político governista, desses que não são dados a fazer intrigas, o ex-ministro e deputado Ciro Gomes, tanto aprontou, tantas fez e desfez, atirou em tantas direções, feriu tantas suscetibilidades que vai acabar a sucessão presidencial num glorioso ostracismo. Para quem quer tanto e se tem em tão alta conta... Para inglês ver Analistas afeitos a escarafunchar as contas públicas não encontram correspondência nos fatos a garantia dada pelo ministro Paulo Bernardo, do Planejamento, de que este ano o governo cumprirá a meta de 3,3% de superávit primário sem necessidade de utilizar facilidades como, em 2009, de abater os gastos com o PAC do item das despesas. Há dúvidas de que contingenciamento de pouco mais de R$ 21 bilhões de verbas no Orçamento seja factível em ano eleitoral. Além do mais, alguns parâmetros adotados podem estar ajudando a superestimar as receitas, embora aparentemente tenha se podado a superestimação feita pelos deputados e senadores. Briga de gente grande Está para expirar o mandato de Sérgio Rosa na presidência da Previ, fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil, a mais fornida de todas essas instituições no Brasil, tanto as privadas quanto as para-estatais. Para-estatais porque apesar de pertencerem aos funcionários são altamente controladas pelo governo. E já começou uma briga - segundo gente de dentro, coisa quase fratricida - pelo posto. A Previ é sócia de grandes empresas com bom volume de capital, é grande investidora e, portanto, tem grande cacife econômico e enorme influência política. Costuma-se dizer que ela vale, no concerto do poder, mais do que a maioria dos ministérios e estatais, retirando-se apenas o Banco do Brasil, a Petrobras e o BNDES. E não está tão sujeita aos controles oficiais formais quanto qualquer um desses. Daí a cobiça. E é briga interna, entre blocos de partidos e tendências sindicais.
terça-feira, 16 de março de 2010

Política & Economia NA REAL n° 92

Terça-feira, 16 de março de 2010 - nº 92 A chave do futuro se chama PT No mundo real dos homens de decisão e de negócios já se dá como certo que a reta final da corrida sucessória se dará entre Serra e Dilma. A não ser que sobrevenha algum acidente climático, desses quem nem o Cacique Cobra Coral consegue prever com um mínimo de antecedência. Ciro quase fora do páreo Ciro Gomes está a caminho da aposentadoria política em matéria de eleições. Tantas ele fez que está sem opções viáveis. Seu partido, o PSB, não vai se aventurar numa candidatura própria à Presidência. Além disto, esnobou que o PT de SP encheu-se de brios e, assim, o partido vai ao Palácio dos Bandeirantes de Aloizio Mercadante. Resta ao deputado cearense, com título eleitoral paulista, aguardar uma improvável vaga de vice de Dilma ou esperar por um Ministério se ela ganhar - se ele tiver cumprido um papel decisivo nesta eleição. Como, por exemplo, espezinhar o candidato da oposição, papel para o qual Lula deseja designá-lo. Marina, entre Serra e Dilma Quanto à senadora Marina Silva, suas chances são quase nulas. Não é impossível que, com o desenrolar da campanha, com mais espaço e com o horário eleitoral, a ex-ministra atinja números melhores nas pesquisas. Ela ainda não atingiu o nível que os analistas acreditam que ela pode alcançar. Um nível de votos que, com a aproximação de Dilma e Serra nas pesquisas, pode ser decisivo para um ou outro. É por isso que a situação gerada pelo pré-sal no Rio incomoda Brasília. Lá, em situação normal, Dilma colheria um bom cabedal de votos. E o Rio irado tem a cara de votar em Marina. Politicamente, o que será ? Definido, então, o que é Dilma ou Serra, os exercícios que começam a ser feitos agora é saber como será um governo Serra ou como será um governo Dilma. As especulações do lado econômico, já frequentam as análises que chegam à direção das grandes empresas. Mas há uma questão anterior : as condições políticas para realizar os programas de governo. E neste ponto, a chave se chama Partido dos Trabalhadores. Tanto para Dilma quanto para Serra, o papel dos petistas no jogo político é uma incógnita. De uma equação complicada. Com uma vitória da oposição Se por hipótese Serra vencer, o que se precisa definir é como será a atuação do PT na oposição. Se será um partido mais moderado, escaldado nas dificuldades que enfrentou em sua fase governista, ou voltará ao passado, "contra tudo que estará aí". E na escada rolante do PT estarão acoplados as centrais sindicais, os movimentos sociais, incluindo o MST, as ONGs financiadas com o dinheiro público e o funcionalismo - todos os segmentos em "estado de graça" durante os oito anos de Lula. A oposição será selvagem ou civilizada ? As previsões são sombrias : parece difícil para o PT, nas circunstâncias, aceitar serenamente uma derrota para os "neoliberais" se assim podemos chamá-los... Com uma vitória da situação A ascensão de Dilma Rousseff, uma neófita em política eleitoral e partidária e que, apesar de todos os esforços, não está conseguindo se despir de seu figurino tecnocrático, meio contundente, de pouca cintura, suscita outra dúvida : até que ponto ela terá ascendência para controlar seus aliados, principalmente o PT. É improvável controlar como Lula controlou, levando o PT a aceitar políticas que ele nunca sequer sonhou apoiar, a contrariar sua própria natureza. Com uma presidente com menos liderança, menos influência e menos respeitada politicamente, os planos do PT, postos no documento de seu último Congresso, que o presidente Lula diz não serem necessariamente as diretrizes do governo, podem virar programas governamentais, parcial ou integralmente. Quem dobrará quem, é a dúvida. A economia sob Dilma É muito provável que sob Dilma, o grau de intervenção governamental sobre a economia aumente. Não apenas em função do perfil ideológico da atual ministra, mas também por sua visão, digamos, "pragmática". Basta visitarmos a história para verificarmos que mesmo sob o mesmo espectro ideológico é possível que a presença do Estado na economia aumente. Foi o caso da passagem do governo Médici para Geisel, nos anos 70, e do governo Reagan para Bush, no final dos 80 e início dos 90. O risco, portanto, não é apenas o grau de intervenção, mas a administração dos aspectos colaterais desta intervenção no que tange aos aspectos fiscais (como financiar) e monetários e cambiais (como manter a estabilidade de preços e administrar o câmbio). Um exame cuidadoso destas perspectivas indica que a repetição de um "governo Lula" por parte de Dilma é bem improvável, mesmo que a maioria julgue desejável. A economia sob Serra Serra não é o neo-liberal que o proselitismo oposicionista prega e também não é o intervencionista batizado por certos segmentos da elite. Trata-se de um fiscalista rigoroso com as contas do governo, mas abundante de desconfianças em relação ao capital privado. Neste sentido, é que a aparência com Dilma é alegada. Todavia, o governador paulista é mais testado politicamente e sabe delimitar com mais clareza os limites das possibilidades de suas ações. Como costuma dizer Serra "política não é arte do possível, mas a arte de ampliar aquilo que é previamente possível". Se no aspecto fiscal, Serra é conservador provado, na administração do câmbio reside o seu maior risco. Afinal, neste tema é um "cepalino" clássico : ele acredita que no caso de países em desenvolvimento tem de ter câmbio desvalorizado. Mas, Serra nunca praticou este pensamento em um governo. Ao contrário : foi alijado da política econômica durante os anos FHC, apesar do enorme barulho que fazia nos bastidores. Duas datas para serem lembradas A "bolha" das ações de tecnologia começou a explodir há dez anos. E há exato um ano, os mercados acionários mundiais iniciaram a maior alta da história no menor período de tempo. A pergunta que se faz agora é : estamos num mercado de alta ou diante de outra "bolha" ? Transição: apatia dos investidores Exceto em alguns poucos segmentos de mercado (e.g., a especulação no mercado de ouro), tem prevalecido um grande marasmo dentre os investidores neste momento. Todos estão à espera de fatos novos ao tempo em que sabem que os "fundamentos" das principais economias já estão refletidos nos preços dos ativos. Normalmente, "períodos de transição", entendidos como confirmações ou mudanças de tendências, são caracterizados por uma aparente apatia dos investidores. A liquidez se restringe e há uma sensação de que "não se sai do lugar". Vejamos então o que pode mudar. Agenda do mercado internacional Se na aparência os investidores estão apáticos, de fato estão a esperar o andar de alguns macro-fundamentos importantes no cenário internacional. São eles : (1) a recuperação e sustentação do crescimento econômico das principais economias, sobretudo os EUA; (2) a política monetária e cambial da China, sobre a qual existem vastos comentários, mas o governo comunista de Pequim dá pouca visibilidade; (3) as reformas do sistema financeiro norte-americano, as quais devem influir em todo o mundo e que estão em processo de discussão e votação no Congresso; (4) a possibilidade de novas crises de crédito na Espanha, Portugal e Itália; (5) as políticas monetárias e fiscais dos EUA e da Europa : sua sustentação neste período de recuperação. Agenda do mercado nacional A agenda brasileira é mais óbvia, mas é bom lembrarmos de que por estes lados o valor dos ativos subiu muito mais em comparação ao resto do mundo. Portanto, o retorno esperado dependerá muito da (1) sustentação da taxa de crescimento acima de 5% ao ano; (2) da política fiscal no médio prazo, preocupação esta agravada pelos números ruins de desempenho fiscal nos últimos meses; (3) da estabilidade monetária vigiada pelo BC; (4) do resultado e dos primeiros passos pós-eleitorais. Há que se notar que não se enxerga nenhum risco iminente no caso do Brasil que seja capaz de alterar o excelente curso econômico até agora. Todavia, os fundamentos mais importantes são estruturais e definidores do crescimento no longo prazo. Radar NA REAL 16/3/10 TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA alta alta - Pós-Fixados NA alta alta Câmbio ² - EURO 1,3676 estável/queda estável/baixa - REAL 1,7640 estável/baixa estável/baixa Mercado Acionário - Ibovespa 69.341,38 estável/queda estável/alta - S&P 500 1.149,990 estável alta - NASDAQ 2.367,66 estável alta Uma questão de desconfiômetro Para ser coerente com a desculpa que arranjou para se licenciar do PV e não apoiar a candidata do partido à Presidência da República, senadora Marina Silva, o ministro da Cultura, Juca Ferreira, deveria ao menos renunciar ao ministério. Diz Ferreira que sai por causa da opção conservadora do PV nas alianças regionais. Ora, existe de fato algum "progressismo" nas alianças que o presidente Lula comanda, com o PMDB e outros aliados, um magote amorfo de partidos, invertebrados e despolitizados ? O ministro ganharia pontos se dissesse que fica porque gosta do poder e porque espera uma retribuição em 2012, com o apoio das forças aliadas à sua candidatura à prefeitura de Salvador, sonho, confesso, dele. Jogando a toalha ? As informações que pessoas chegadas ao presidente da Câmara, Michel Temer, têm feito circular nos últimos dias, de que diante do noviciado político da ministra Dilma Roussef ela precisaria, caso eleita, de um conselheiro, consultor, operador político com a experiência do deputado paulista presidente do PMDB, parecem indicar que ele já percebeu que sua indicação para vice da ministra chefe da Casa Civil não passa no buraco da agulha nem do PT nem de Lula. E por isso mesmo estaria se posicionando para um posto de prestígio na gestão da preferida de Lula. Talvez o Ministério das Relações Institucionais. O lugar tem dono Em política, sabe-se, nada é "imexível" (apud o inefável ex-ministro Magri) nem "irrevogável" (ao estilo "senador Mercadante"), porém o panorama visto da ponte, hoje, aponta para a renúncia de Henrique Meirelles à Presidência do BC até o fim do mês. Como o mais provável vice de Dilma. Tucanos mineiros com Serra ? O não-evento organizado pelo PSDB mineiro para mostrar que MG está com Serra, ontem à noite, tem mais significado do que se imagina. Afinal, a seção estadual do partido não precisaria fazer isto - é obrigação apoiar o candidato oficial da legenda. O recado é para o Planalto. Primeiro, para mostrar que Aécio não vai aceitar sorrindo o esquema que está sendo montado pelo PT e PMDB em Minas para tirar dele a liderança regional. Há um plano até para complicar a - até agora fácil - eleição do governador ao Senado. E, depois, para desautorizar os boatos, soprados pelos ventos de Brasília, de que pode se repetir com Dilma, o voto híbrido dos mineiros em 2002 e 2006 - Aécio para governador, Lula para presidente - o voto "Lulécio" como ficou conhecido. RJ : pré-sal e contaminação eleitoral Sérgio Cabral jura que sua reação à emenda Ibsen/Souto na projeto de divisão dos recursos do pré-sal, considerada totalmente prejudicial ao Rio de Janeiro (e ao Espírito Santo e em parte também a São Paulo) não atinge o presidente Lula nem a ministra Dilma. É contra os dois deputados, a Câmara e, por antecipação, o Senado. É verdade só em parte. Se a emenda for aprovada também no Senado - o que não é nada improvável, pois são 2, 3 Estados contra 25 - e não for vetada por Lula, a ira carioca vai-se se voltar sim contra o presidente e sua predileta. O clima no Rio está exacerbado e é suprapartidário. Quem circulou por lá viu que o pré-sal é o grande assunto - o "roubo" que o Estado está sofrendo. A continuar desse jeito, aconselha-se que os de Brasília guardem prudente distância da Cidade Maravilhosa. Podem ter surpresas desagradáveis - vaias... O alegre Rio é surpreendente quando tomado de ira. E tudo pode ter reflexos nos votos dos cariocas e fluminenses.
terça-feira, 9 de março de 2010

Política & Economia NA REAL n° 91

"Triângulo das bermudas" convulsionado Com seus 42% do eleitorado brasileiro, portanto decisivos em qualquer eleição presidencial, os Estados de SP, MG e RJ são, no momento, as maiores incógnitas tanto para o governo como para a oposição em matéria de votos e preferência. Embora o senso comum veja SP como território dos tucanos de Serra, o RJ como ambiente de Lula e MG seja a única apontada por um lado e outro como "mineiramente" indefinida, o quadro é totalmente diferente. Minas deve decidir logo Por incrível que pareça, é de MG que pode sair a primeira definição, com esses sinais : 1. Aécio dará sinais mais do que evidentes de que vai se envolver de coração na campanha nacional tucana. Ele não tem outra saída uma vez que, por imposição de Lula, o governo fechou um pacote pesado contra sua pretensão (e extrema necessidade política) de fazer o sucessor. Num ponto lá na frente, de acordo com o correr das coisas em MG, Aécio pode até optar pela vice de Serra. Hoje, porém, essas chances são praticamente nulas. 2. Lula deu o soco na mesa - no sentido literal - e avisou aos mineiros mais interessados (Patrus Ananias e Fernando Pimentel, pré-candidatos petistas ao Palácio da Liberdade) que, em prol dos palanques de Dilma, o candidato da aliança deve ser o ministro Hélio Costa, do PMDB, atual líder das pesquisas. O PT tugiu, mas não mugiu. Com isso, além de um bom palanque os governistas acreditam, com Patrus ou Pimentel na chapa do Senado, ter cacife para enfrentar Aécio em todas as frentes. A única dúvida é quanto a sustentação de Costa, conhecido como um "cavalo paraguaio" na corrida para o Palácio da Liberdade : duas vezes saiu na frente, parecia imbatível, porém cansou na reta final. De todo modo, nas próximas semanas MG vai exigir ainda os maiores cuidados tanto dos tucanos quanto dos petistas. Paz ameaçada em SP O território paulista, no qual os tucanos esperam receber a maior manada de votos e botar uma grande vantagem de Serra sobre Dilma, está ficando ligeiramente minado. Um dos detalhes pouco observados na última pesquisa do DataFolha foi exatamente a diminuição da distância que separava o governador da ministra, também em SP. Os tucanos mais atilados perceberam isto e vão reforçar os movimentos pró-Serra no Estado. São as vacilações do PT paulista que ajudam. O PT está amordaçado pela decisão de Lula de dar preferência à candidatura alienígena de Ciro Gomes. Mas como Serra espera crescer nacionalmente quando aparecer de fato como candidato à sucessão de Lula, o PT espera aumentar a intenção de votos em Dilma quando o partido for para as ruas com um candidato ao Palácio dos Bandeirantes. Tranquilidade em risco no RJ O Rio é um território de Lula, não especificamente do PT. Pode, no entanto, trazer dores de cabeça. Há sinais de que Marina Silva, com a companhia de Fernando Gabeira como candidato a governador, pode ter na antiga capital da República um desempenho acima do que terá na média no resto do Brasil. E são votos que serão surrupiados mais de Dilma do que de Serra. O eleitor carioca gosta de coisas novas e diferentes. Além do mais, o PT está em ebulição por causa das prévias para escolher o candidato do Senado. Para complicar é preciso dar espaço para o parceiro senador Marcelo Crivella, também candidato à reeleição. Por fim, existe o fator Garotinho, para desagrado de Cabral. Por mais fim ainda, há a votação da partilha do pré-sal. A oposição tucana, no entanto, não deve tirar muitos proveitos dessa confusão governista. Embora possa ter o apoio do PV e aliados de Gabeira, o palanque preferencial de Gabeira é para Marina. Em haver Com o enquadramento do PT mineiro no apoio ao peemedebista Hélio Costa, o governo julga-se credor do PMDB. Um dos créditos que espera receber será a liberdade para Dilma - e Lula - escolher o seu vice. Que, de preferência, continua atendendo pelo nome de Henrique Meirelles. No BC já se dá como certa a saída de Meirelles da presidência até o dia 31 e sua substituição pelo diretor Alexandre Tombini, funcionário de carreira da instituição. Deve sair também Mário Mesquita, o último dos diretores com origem no mercado financeiro. O BC vai passar a ser dirigido totalmente por uma diretoria egressa de seus quadros. A economia e as eleições Pode-se dizer com relativa segurança que, caso não haja nenhum desastre mundial, a economia brasileira está num ritmo de crescimento sustentado. Trata-se de um paciente curado, mas ainda fraco, necessitando de certo tempo para ser saudável. Os últimos indicadores de atividade industrial e de consumo mostram claramente a rota ascendente. Esta é a chave fundamental que se soma à estratégia eleitoral do governo somada às particularidades da política regional. Ou seja, podemos contar com um bom ano em termos econômico, mas sobrará instabilidade eleitoral - não política - até a eleição. As forças políticas brasileira são cheias de melindres e podem contaminar a eleição, mas a economia vai bem e obrigado. Coisa dos "muy amigos" Machucou e preocupou, mais do que o PT está dando a transparecer, a iniciativa do promotor paulista José Carlos Blat de pedir a quebra do sigilo do petista João Vaccarri Neto, tesoureiro do partido, por conta das investigações de supostos desvios no Bancoop, do Sindicato dos Bancários de São Paulo. É munição para a oposição, com nitroglicerina. Vem se juntar a outras denúncias recentes, como a de José Dirceu e a Eletronet, de Luiz Gushiken no mesmo caso e de Fernando Pimentel no mensalão petista. Embora, para consumo externo, particularmente no caso Vaccari, pelo fato de Blat ser do MP/SP, o PT empunhe o discurso de motivações eleitorais nas denúncias, por parte da oposição, a divulgação em cadeia desses fatos, é vista por muito petistas como resultado do fogo amigo que já grassa no partido. Como há no governo e no PT a convicção de que a vitória de Dilma é coisa certa, talvez até no primeiro turno, teria começado internamente a disputa para ver quem vai ser quem num futuro governo da ministra chefe da Casa Civil. No PT tradicional, tem-se como certo de que a Dilma vai ficar dependente do partido quando chegar ao Palácio do Planalto, o que não ocorreu com Lula. E quem se sair bem na campanha vai dar as cartas. Veja-se que Dirceu, Pimentel e Vaccari eram apontados como peças-chaves na campanha da ministra. Já há refluxo nessas posições, menos ainda no caso do ex-prefeito de Belo Horizonte. Marasmo lá fora O ex-presidente do Fed e atual consultor da Casa Branca, Paul Volker, deu uma entrevista neste último fim de semana em Berlim e reafirmou a posição governamental de que é preciso ficar um longo período de tempo com a taxa de juros próximo a zero para que não seja abortada a incipiente recuperação da atividade econômica nos EUA. Este raciocínio cabe a todos os países da zona do euro e ao Japão. Se olharmos o desenrolar dos fatos externos veremos que os fatos novos nada mais são que outras faces dos mesmos problemas e soluções. Literalmente, não há nada de relevante que mereça menção. Radar NA REAL Permanecemos confiantes num bom desempenho dos diversos segmentos do mercado financeiro local e internacional. Todavia, vale relembrar que não deve haver euforia no curto prazo. Ao contrário : mesmo mantendo posições de risco, os investidores têm de ter paciência para retificar ou ratificar as suas estratégias à luz de novos fatos e indicadores. Isto demandará tempo. E tempo, no atual momento, não custa muito dinheiro uma vez que a remuneração da taxa de juros é desprezível. O pêndulo pende para uma recuperação saudável, mas no médio prazo, algo entre 12 e 24 meses. Porém, não há segurança para se falar em ciclo virtuoso até que o consumo dos EUA e da Europa se mostre sustentável. O grande risco, na verdade pouco comentado, é a China, país imerso no maior crescimento dentre as economias relevantes no mundo, mas igualmente desconhecido quando o assunto é finanças públicas e higidez do mercado financeiro. Estamos mantendo as recomendações de nosso radar 5/3/10   TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹        - Pré-fixados NA alta alta  - Pós-Fixados NA alta alta Câmbio ²        - EURO 1,3632 estável/queda estável/baixa  - REAL 1,7894 estável/baixa estável/baixa Mercado Acionário        - Ibovespa 65.846,50 estável/queda estável/alta  - S&P 500 1.138,70 estável alta  - NASDAQ 2.226,35 estável alta  (1) - Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais)(2) - Em relação ao dólar norte-americanoNA - Não aplicável Portugal Telecom vai às compras As negociações para a aquisição por parte da PT da parcela de capital da Vivo pertencente à Telefónica, estão em fase final. Resta saber quais os efeitos que esta transação produzirá em termos mercadológicos. A PT nunca pensou igual à Telefónica sobre os planos de investimento no médio prazo. Será uma separação sem litígio, mas com uma sensação de alívio de cada parte. Além disto, dinheiro hoje é prioridade para a Telefónica que apresenta um desempenho sofrível na Espanha. Europa e o seu FMI O sinal mais evidente da falência do FMI são os estudos dos países-membros da Europa para a criação de seu organismo multilateral voltado para o suporte de países em crise, como no caso da Grécia. Seria uma boa oportunidade para verificarmos se as ideias europeias sobre a administração do sistema financeiro mundial realmente funcionam. Até agora, sobra conversa e nada de reformas profundas. As mesmas reformas que o FMI recomenda para os seus "clientes".
terça-feira, 2 de março de 2010

Política & Economia NA REAL n° 90

Um Meirelles maquiavélico ? Num dia o BC elevou os depósitos compulsórios aos mesmos níveis existentes antes da crise financeira de 2008. A decisão, embora o BC se apressasse em dizer que não era o caso, foi interpretada como uma maneira da instituição de elevar o custo do dinheiro e conter o consumo para não ter de apelar, daqui a 15 dias, para o simples aumento da taxa de juros. Em seguida, possivelmente preocupado com esta interpretação e as ilações políticas que dela podem ser tiradas, o presidente do BC veio duas vezes avisar que a casa que ele dirige só toma decisões técnicas, não se deixa levar pelas circunstâncias eleitorais. Imediatamente, o mesmo mercado pragmático, que leu na história dos compulsórios sinais de estagnação da Selic, passou a ler na fala de Meirelles indicações seguras de que o Copom vai começar a escalada dos juros agora, de uma vez. A elevação do IPCA reforçaria esta tese Mas quem lê - e esta leitura precisa ser feita hoje com mais frequência - os balões de ensaio brasilienses em épocas de disputas de votos entendeu que Meirelles estava mais justificando a manutenção da Selic nos atuais 8,75% do que indicando que vai lutar por sua elevação. Meirelles quis preparar o setor financeiro, praticamente todo ele convencido de que é urgente um aperto monetário para não deixar a inflação vazar, para evitar que interpretações políticas façam turbulências. O governo não quer de modo algum aumento da Selic, nada de turbulências no céu de brigadeiro em que navega a candidatura de Dilma. As pressões sobre o BC no sentido de não fazer marolas são fortes demais e Meirelles está para mostrar que o BC não se rendeu, apenas decidiu tecnicamente. Alta dos juros entre os emergentes Os riscos para a recuperação das economias emergentes, dentre as quais a brasileira, estão aumentando. Além disto, é possível que existam quedas bruscas nos mercados acionários do Brasil, China, Índia, Turquia e Rússia. Em diferentes graus, todos estes países consideram elevar a taxa de juros básica para conter desequilíbrios fiscais e de inflação. Dados obtidos com fundos de investimentos dão evidência de que as vendas de ativos destes países começam a fervilhar. Recomendamos muita atenção dos investidores para este fato. Lula, a economia e Meirelles Lula está convencido de que a eleição de Dilma é coisa certa e atribui seu sucesso ao excelente ambiente econômico em que o país vive. E não quer brincar de reduzir substancialmente o consumo, o paraíso da "nova" classe média na qual quer ancorar o bardo eleitoral da ministra chefe da Casa Civil. Como aprendiz de político, Meirelles está se saindo melhor que a encomenda. Conferir o "maquiavelismo" goiano em duas semanas no Copom e, posteriormente, até o dia 3/4 quando o presidente do BC terá de deixar o cargo se quiser seguir sua carreira política tardiamente iniciada em 2002, e prematuramente suspensa no mesmo ano quando trocou o tucanato e a Câmara dos Deputados pelo BC e uma convivência quase nunca cordial com o PT. Um Meirelles indeciso ? A bolsa de apostas a respeito do destino do presidente do BC, que até recentemente pendia para a volta ao campo eleitoral, passou nos últimos meses a ficar dividida entre esta opção e uma permanência no cargo atual, a pedido de Lula. Agora, com a divulgação da pesquisa DataFolha, dando uma diferença de apenas 4 pontos percentuais entre Dilma e Serra, o pêndulo de especulações a respeito de Meirelles volta a optar pela carreira política. Simples a interpretação : Dilma, com as pernas de Lula, parece dispensar outras pernas e, portanto, estaria livre para impor suas - e de Lula - opções. Poderá dizer ao PMDB o que todo mundo sabe que ele e ela desejam : não querem Michel Temer de vice, querem Meirelles. Radar NA REAL 26/2/10 TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA alta alta - Pós-Fixados NA alta alta Câmbio ² - EURO 1,3532 estável/queda estável/baixa - REAL 1,8010 estável/baixa estável/baixa Mercado Acionário - Ibovespa 65.821,04 estável/queda estável/alta - S&P 500 1.102,94 estável alta - NASDAQ 2.234,22 estável alta (1) - Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais)(2) - Em relação ao dólar norte-americanoNA - Não aplicável Os labirintos do PMDB e de Ciro A ascensão de Dilma nas pesquisas - não foi inesperada, mas foi inusitada pela velocidade - tornou dispensável, na interpretação de gente do staff de Dilma e do PT de um modo geral, certas concessões que eles estavam dispostos a fazer ao PMDB e a Ciro Gomes para tê-los de corpo e alma na campanha da predileta. Julga-se que, de agora em diante, as cartas são todas de Lula e quem quiser vai ter de aceitar as normas do presidente. O PT assanha-se nos Estados para não ficar mais à mercê dos peemedebistas. Dizem poucas vozes mais cautelosas no mundo oficial que é preciso, porém, não tripudiar demais com os parceiros. Ciro é um vulcão "mercurial" e o PMDB é franco atirador que, acuado, pode fazer barulho. Muito barulho. Potes de mágoa É muito maior do que se imagina a irritação no governismo, com a ação do ex-ministro da Integração Nacional. Ao que se diz, ao contrário do que ele mesmo diz, Ciro não está pensando no que é melhor para o presidente Lula e seus planos, mas apenas em si próprio. A última entrevista do deputado cearense em sua terra natal, em que insinuou que há corrupção no governo Lula e voltou a atacar pesadamente a aliança do PT com o PMDB foi explosiva. Além do mais, ninguém vai perdoá-lo por deixar o PT paulista sem ação, pois um dia diz que não vai disputar a sucessão de Serra para no outro insinuar que pode correr em São Paulo. Ilusões tucanas I Eis uma ilusão : a interpretação dos tucanos e dos companheiros de oposição do PSDB de que o crescimento da ministra Dilma nas pesquisas e a estagnação - com ligeira baixa - de José Serra nas preferências do eleitorado no momento é fruto exclusivo da superexposição da candidata oficial e do retraimento do governador paulista, ainda fingindo não ser candidato. Os números de Dilma podem até refletir o pensamento tucano, mas o crescimento de Dilma é continuado e consistente, e reflete, como foi dito em outra nota acima, o ambiente econômico e a popularidade de Lula. Está havendo em número maior do que se imaginava possível nesta altura, a transferência de votos de Lula para Dilma. Prova disso é que ainda é alto o desconhecimento que tem o eleitor pesquisado pelo DataFolha da candidata. Estamos vendo o fenômeno "muié do Lula" como se referem eleitores de baixa renda no nordeste à candidata do presidente. Ilusões tucanas II O bloco da oposição acredita que ganhou o argumento definitivo para convencer o governador Aécio Neves a aceitar a vaga de vice na chapa de José Serra. Com o crescimento de Dilma, o governador mineiro seria decisivo na disputa e, na outra ponta, libera o governo para atacar a liderança dele, Aécio, em Minas sem constrangimentos. Candidatos e a economia Não adianta escrever programas e compêndio de intenções econômicas para tentar se posicionar perante a população e os agentes econômicos mais bem posicionados para dar uma feição ideológica às suas candidaturas presidenciais. Esta será uma eleição absolutamente pragmática no que tange ao tema econômico. O que a população quer saber dos candidatos é a sua visão em relação à sustentação do crescimento econômico e do emprego, bem como a administração dos benefícios sociais. Lula foi visto no passado como incapaz de gerir a economia. Já se sabe que a sua gestão foi obediente aos bons preceitos básicos da gestão econômica. O eleitor aprendeu desde a redemocratização que eleição e governo são coisas bem diferentes. Portanto, programa econômico não quer dizer nada. O que vale é a credibilidade daquilo que se propõe e é visto como verdadeiro. Isto dependerá muito do carisma dos candidatos. Tanto Dilma quanto Serra não têm carisma popular e é nisto que reside os seus riscos, digamos, econômicos. O exemplo da Grécia Todos sabiam que a Grécia, um dos países fundadores da UE, estava com endividamento acima do PIB quando a crise financeira eclodiu no 2º semestre de 2008. De lá para cá, o país exerceu um estímulo fiscal que agravou os seus problemas de endividamento. Hoje a dívida per capita da Grécia é da ordem de US$ 23 por habitante, mais de 30% maior que Portugal, Espanha e Itália e o dobro dos EUA. Apesar destes números, uma coisa é certa : a derrocada do padrão de crédito da Grécia se deve à ação dos especuladores financeiros, os mesmos que já agem desde a crise mexicana, asiática, russa, brasileira, etc. nos anos 90 e início desta década. Assim sendo, a crise grega é sinal de que nada foi feito para se alterar as condições para que este tipo de investidores possa agir. Mais uma evidência de que o FMI e os órgãos multilaterais continuam à espera de reformas - isto não é exclusividade da Grécia. A vez da Inglaterra A libra inglesa está sob forte ataque dos especuladores. Assim, atingiu o menor patamar dos últimos dez meses. O fundamento é que o déficit fiscal inglês é insustentável, coisa que até os botões do paletó do primeiro-ministro inglês Gordon Brown sabem. De outro lado, os dados das posições na Bolsa de Chicago mostram que o posicionamento dos investidores especulativos contra a Libra é gigantesco. Eis mais uma evidência de que nada mudou no mundo em relação à especulação. Portugal, Espanha e Itália Não será surpreendente se estes outros países da "zona do euro" forem as próximas vítimas dos ataques especulativos. Resta saber se a UE, centro das críticas ao formato especulativo do mercado financeiro internacional haverá de agir e impor perdas aos especuladores. Chile, a crise e o terremoto O Chile terá muitas dificuldades para reconstruir o país do terremoto no momento em que a economia ainda está muito contida em função da crise internacional que devastou os preços de seus produtos primários, especialmente o cobre. Talvez o crescimento deste ano seja próximo de zero depois desta tragédia. A estreia do novo presidente direitista será dolorosa no governo. Os vizinhos brasileiros O Brasil pode crescer entre 5 e 6% este ano, mas é uma ilha cercada de baixo crescimento por todos os lados. Argentina, Venezuela, Paraguai, Chile e Bolívia devem crescer muito pouco, ou até mesmo cair em termos de PIB neste ano. O presidente Lula está fazendo um esforço diplomático substantivo na região nos últimos tempos, mas o fato é que o MERCOSUL patina e os acordos comerciais de pouco servem no curto prazo ao comércio na região. O malabarista americano Ben Bernanke conseguiu acalmar os investidores com o seu depoimento semi-anual junto ao Congresso norte-americano. O presidente do Fed conseguiu encontrar argumentos para justificar a equação que combina taxas de juros próximas de zero e o preocupante déficit fiscal cuja repercussão ao longo dos próximos anos deve ser significativa. A crise do euro, e agora da libra, tiram um pouco a pressão sobre o presidente do Fed. Afinal, um dólar mais forte perante estas moedas encarece o investimento nos EUA, bem como dificulta as exportações, mas de outro lado, facilita a política anti-inflacionária em função do barateamento das importações. Telebrás em alta As altas das ações da Telebrás não são novidade. Desde o primeiro mandado de Lula, as especulações em torno da empresa são enormes e com repercussões objetivas nas cotações de suas ações no mercado. Há histórico e razões para investigar o assunto e, convenhamos, não faltam dados para punir se houver algo errado em tudo isto. A CVM e o próprio Judiciário têm os elementos para fazer o necessário em relação ao tema.
terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Política & Economia NA REAL n° 89

Brasil : sem fatos novos na economia Já se falou muito que o Brasil é destaque entre os principais países emergentes, o BRIC's - Brasil, Rússia, Índia e China. Todos já sabemos deste fato. Neste sentido, vale ressaltar que o valor dos ativos incorpora esta realidade. De outro lado, não há nenhuma perspectiva (ou expectativa) nova que justifique uma alteração dos preços dos ativos para cima, muito embora não existam fatos que justifiquem o valor destes ativos para baixo. Não à toa os fluxos de capital para cá tem sido normais, mas muito mais equilibrados que há dois meses. Os fatos novos do Brasil Considerando a nota acima temos de salientar que num contexto em que o valor de mercado já incorpora os fundamentos atuais da economia brasileira, o calendário eleitoral e as perspectivas fiscais e de crescimento devem pouco a pouco assumir papéis mais relevantes nas decisões de investimento a partir de agora. Nestes temas, as dúvidas podem não ser enormes, mas estão longe de ser "tranquilas", como pregam certos setores do mercado e, principalmente, do governo. A disposição dos candidatos em campos ideológicos contrastantes vai começar a delinear o perfil do comportamento do mercado. O provável aumento da percepção de risco deve fazer com que os preços dos ativos sejam ajustados. Desta feita, para baixo. Lá fora, a espera continua - I Se no Brasil os acontecimentos novos do processo eleitoral e a formação das expectativas sobre crescimento e o lado fiscal irão aumentar a percepção de risco, no resto do mundo o cenário também está mais confuso. Na Europa, a crise grega deve ser seguida por maiores questionamentos sobre a saúde fiscal de outros países, sobretudo a Espanha, Portugal e a Itália. O movimento do euro nas últimas semanas corrobora que este processo. Lá fora, a espera continua - II Já no caso dos EUA, a complexidade do cenário é bem maior. Em primeiro lugar porque a melhoria dos fundamentos econômicos não implicou em confiança maior em relação à sustentabilidade do crescimento e em relação à saída do processo de estímulo fiscal e monetário. O Fed deu sinais de que vai subir a taxa de juros básica para um patamar mais equilibrado. Todavia, a verdade é que o nível dos juros está quase que 100% atrelado ao grau da recuperação da demanda. Afinal, não há risco inflacionário relevante. De outro lado, há um ano eleitoral que é vital para a sustentação da administração Obama. Assim sendo, podemos dizer que a benignidade dos fundamentos nos traz otimismo, mas pouco sabemos sobre o quão otimistas podemos ficar. Ainda sobre os juros dos EUA O aumento da taxa de redesconto na semana passada por parte da autoridade monetária dos EUA é sinal de que vem aumento de juros a partir de meados do segundo trimestre. O Brasil não deve temer uma alta mais aguda dos juros em função da falta de força da demanda. Contudo, os lucros das empresas norte-americanas no último trimestre do ano passado têm sido bons e o desemprego que não cai também não tem subido. Dois fatores que justificariam alta de juros básicos. Mas a lista e o peso de fatores que justificam cautela numa possível da taxa de juros básica é enorme : vai do fato de que a taxa de desemprego deve ficar alta por longo períodos até a incipiente recuperação do investimento. Por tudo isto, Bem Bernanke, o presidente do Fed, terá de usar todo seu talento para monitorar e tourear as expectativas dos investidores, congressistas e a sociedade como um todo. Radar NA REAL Sem maior controle fiscal (improvável no curto prazo em função das eleições) e diante de uma demanda crescente, o BC brasileiro irá subir os juros em breve. Talvez já neste segundo trimestre. Somado a este fato teremos as eleições que aguçam a volatilidade. Assim sendo, não vemos muita razão para a valorização do real muito acima do atual patamar e muito menos acreditamos em altas substantivas das ações até pelo menos o terceiro trimestre deste ano. Ao contrário : uma queda da bolsa brasileira é muito mais provável que uma elevação no curto prazo. Não é o caso de se ter muita cautela de vez que não há fatos tão negativos a justificar isto. Todavia, podemos ser mais cuidadosos, pois nada justifica euforia. 19/2/10   TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹        - Pré-fixados NA alta alta  - Pós-Fixados NA alta alta Câmbio ²        - EURO 1,3589 estável/queda estável/baixa  - REAL 1,8094 estável/baixa estável/baixa Mercado Acionário        - Ibovespa 67.597,43 estável/queda estável/alta  - S&P 500 1.109,17 estável alta  - NASDAQ 2.243,87 estável alta  (1) - Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais)(2) - Em relação ao dólar norte-americanoNA - Não aplicável Programa do PT : esqueçam o que escrevi Embora o presidente Lula tenha assegurado, com a autoridade que tem sobre o partido, que o programa que o PT aprovou em seu IV Congresso Nacional é "uma feira de produtos ideológicos" em que as pessoas "compram o que querem e vendem o que não querem" e o fato da ministra Dilma ter minimizado os arroubos estatizantes mais à esquerda da nação petista, há sim grande preocupação o que o PT está propondo para um provável governo comandado pela chefe da Casa Civil. Aqui e lá fora, como se pode apurar em algumas conversas fora do eixo político desde o fim de semana e está registrado em matéria publicada pelo diário espanhol El País na semana passada com a análise do documento para discussão no Congresso elaborado pelo assessor especial de Lula, Marco Aurélio Garcia. O texto não foi tão amenizado como queriam Lula e a cúpula petista, por isso Dilma teve em seu discurso de fazer algumas profissões de fé neoliberais para contrabalançar. Um novo "cavalo de pau" ? A preocupação não é com o que está ou não escrito. O PMDB ainda vai meter a mão nessa cumbuca para produzir um programa de governo mais palatável para os setores que temem o excesso de esquerdismo e de estatismo do PT e das próprias ideias defendidas com ardor pela candidata Dilma. Programa de governo em ano eleitoral é muito pro forma, coisa para atender cobranças de certos setores da sociedade. Lula mesmo com a Carta aos Brasileiros de meados de 2002 rasgou o que o PT havia definido em dezembro de 2001 e que deveriam ser as diretrizes de seu governo. Deu o chamado "cavalo de pau". Mesmo assim, a desconfiança o acompanhou - basta ver a trajetória dos indicadores econômicos de então - até depois do segundo turno de daquela eleição. Foi preciso juntar um montão de discretos avalistas e um início de governo decepcionante para os petistas que esperavam uma ruptura com tudo que estava aí para as coisas voltarem aos eixos, lentamente. A visão de dentro do partido É mais do que sabido que boa parte do PT não se conformou com o corte neoliberal do governo petista de Lula na área econômica. Mesmo depois de comprovada a eficácia das políticas adotadas, os amuos e queixas sempre foram presentes. Que o diga o presidente do BC Henrique Meirelles, que até pouco tempo atrás ainda comia o brioche que o diabo vermelho amassou. O PT sempre sonhou com seu socialismo e mesmo pragmático ainda vive sonhando nele. Em artigo recente, o novo presidente da legenda, José Eduardo Dutra, e o antigo, Ricardo Berzoini, ainda classificaram o PT como um partido socialista. Valha a liberdade de expressão. O partido, Lula e Dilma Lula - que o próprio PT admite que é maior do que ele e sua única real liderança - com a força da influência que tem e da distribuição de cargos e poder que fez, amansou parte do petismo mais radical. A dúvida é se Dilma, que não tem o carisma de Lula, que não é petista de primeira viagem, que foi imposta ao partido quase que pela goela abaixo, vai conter os petistas depois que Lula sair de cena. Quem viu a ação dos dois na convenção percebeu que Lula carrega a plateia e Dilma é por ela induzida. O PT está se preparando para dar as cartas que não deu no governo Lula num provável governo Dilma. Por isso, o documento petista está sendo tão perscrutado. Esqueçam o que eu escrevi ? A propósito... Frase do improviso do presidente Lula sábado, dirigindo-se diretamente a Dilma : "Claro que você não vai querer estatizar borracharia, bar, pizzaria, cervejaria. Mas aquilo que for estratégico, não estiver funcionando e precisar colocar para funcionar, a gente não tem medo de tomar decisões importantes para nosso país". É o caso do renascimento da Telebrás para explorar a banda larga. Fruto desta ótica de governo. Tutela ? Tem gente boa que acha que Lula vai ter de tutelar Dilma, dada a sua inexperiência política e seu estilo meio rombudo. Não vai ser fácil para ela lidar com um PT querendo reerguer a crista e com o PMDB que já se conhece. Uma frase do ex-prefeito de BH, um dos conselheiros de Dilma, seu amigo há mais de 40 anos, em entrevista à Folha de S.Paulo de ontem é bem ilustrativa dessas preocupações : "Dilma não vai ficar refém do PT". E do PMDB ? Quem vê cara... ...não vê coração. São miragens políticas as imagens do presidente do PMDB Michel Temer sorrindo ao lado do presidente Lula e da ministra Dilma na festa de encerramento do IV Congresso do PT. É sabido que Temer quase não foi ao evento, nem ele nem ninguém do PMDB governista. A razão não foi, como alguns espalharam, o temor de desrespeito e possíveis vaias. Pelo menos não a maior razão. Vão mal as relações regionais entre o PT e o PMDB em vários Estados. E o PMDB está desconfiado - ou estava - de que Lula vinha enrolando o partido para ganhar tempo e impor sua vontade. A ameaça de ausência funcionou e Lula teve de ceder. O PT entendeu muito bem quando ouviu Lula dizer que não está certo esse negócio de dois palanques e ele não pode subir em dois altares. Dilma até pode, ele não. O PT ficou assustado. E o trunfo voltou novamente às mãos de Temer e de seu grupo (ou muitos grupos). Intervenção real E ficou tão assustado que aprovou, quase na marra, uma resolução autorizando a Executiva Nacional a intervir nos Estados nos quais as disputas regionais possam prejudicar os palanques fortes para Dilma. Uma ou outra exceção Apenas na BA, por razões que a política desconhece, o presidente pode admitir, ainda que a contra gosto, um palanque duplo dos governistas, com Jaques Wagner, do PT, em um, e Geddel Vieira Lima, do PMDB em outro. Lá e no RJ, onde Dilma, por razões que a política desconhece, resolveu também incensar Garotinho, hoje ferrenho adversário de Sérgio Cabral. Vingança do pré-sal. No resto tem de haver concessões, de lado a lado. Mas o PMDB fincou barreira : vai disputar na BA (para desgosto de Lula), quer o RJ sem Garotinho, quer MG, quer o PA, quer o MS, todos também aspirações petistas. Fora a liberdade com que trabalha no RS, em SC, no PR, em SP e em PE. Para o PT pode ser um sério obstáculo a seu sonho de ser um protagonista maior no governo Dilma do que foi no governo Lula, principalmente no segundo mandato. DEM, PSDB e a questão política Fica para os especialistas - e é o que não falta ao Migalhas - as análises, do ponto de vista jurídico da cassação do mandato do prefeito de SP Gilberto Kassab e da vice-prefeita Alda Marcantônio. Como também das questões judiciais envolvendo o governador licenciado do DF, José Roberto Arruda e o vice-governador, também sob mira, Paulo Octávio. Todos do DEM. Do ponto de vista político eleitoral, porém, é certo que tudo isso foi uma ducha na campanha da oposição - algum desgaste ficará quando a briga esquentar. O DEM, por seu lado, perdeu todas as condições de indicar o vice na provável chapa de José Serra, se Aécio Neves confirmar mesmo que não vai querer o lugar. Mas Aécio ainda vai ser muito pressionado a mudar de posição. José Serra no seu silêncio Agora que Dilma é candidata consagrada e (quase) oficial, poderemos ver nas próximas pesquisas os efeitos produzidos a partir do enorme volume de notícias sobre ela. Também poderemos verificar se a estratégia silenciosa de Serra persiste válida. Por enquanto o governador paulista se contorce para inaugurar obras em meio às intempéries que assolam o Estado...
terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Política & Economia NA REAL n° 88

Dólar soberano Há pouco tempo os analistas de plantão discutiam abertamente a substituição, mesmo que a longo prazo, do dólar norte-americano como a reserva de valor da economia mundial. Não são poucos os papers disponíveis nas comunidades acadêmica e de negócios sobre o tema. Além, é claro, dos analistas de investimentos, estes na maioria dos casos dando suporte "intelectual" para a especulação solta com as moedas. Pois bem : a crise fiscal dos países da Europa meridional - Grécia, Itália, Espanha e Portugal - dão evidências objetivas de que o euro não é o porto seguro que se imaginava. O dólar estadunidense persiste sendo o receptor natural de recursos quando os temores avançam sobre os mercados. Há ainda aqueles que apostam que a moeda chinesa irá caminhar para a solidez necessária para que se torne uma "âncora" no jogo dos investimentos internacionais. Neste caso, a coisa é mais atrevida ainda ! Apostar num país sem transparência e submetido às regras emanadas de um partido comunista é algo insano. Todavia, insanidade é o que não falta por estes dias... Default na Europa Observados os dados econômicos da Grécia, Itália, Portugal e Espanha, não resta dúvida de que a inadimplência é uma possibilidade concreta. Todavia, a saída política é simples de conceber e politicamente difícil de executar : a União Europeia tem recursos para evitar a contaminação de crédito que estes países podem provocar, mas isto dependeria de uma decisão política da Alemanha e França de impor um custo aos seus contribuintes para evitar um caos no mercado de crédito. Resta saber se, sobretudo a Grécia e a Espanha, estão dispostas a incorrer nos custos políticos internos para reverter os seus horríveis números macroeconômicos. Lembrando... Pouquíssimos economistas e analistas são capazes de afirmar que sobre moedas qualquer previsão é muito incerta. O mercado de moedas é o mais livre de todos e não existe nenhum modelo de previsão que seja razoavelmente seguro para se dizer qual o patamar que uma moeda irá tomar em determinado prazo ou data. Estimar desempenho e avaliar fundamentos são apenas métodos para expressar opiniões. Isto é muito diferente de dizer que a cotação de tal moeda será de tanto na data "x". O caminho do real Levando em consideração o que está escrito na nota acima, o que pensar sobre o real neste momento ? Em primeiro lugar, não nos parece razoável acreditar em uma valorização ainda mais substantiva da moeda brasileira neste momento. Há dois fundamentos que conspiram contra uma perspectiva muito otimista : (i) o mercado financeiro lá fora está tenso com a falta de clareza sobre a recuperação econômica. Este cenário deve permanecer por mais algum tempo; (ii) as contas externas brasileiras já mostram sinais de que a sua composição - saldo comercial em queda e forte entrada de recursos - torna o Brasil mais vulnerável aos humores dos investidores. No médio prazo, a valorização do real conspira contra a industrialização e o emprego no país. De outro lado, num cenário de curto prazo, no qual o Brasil continua sendo o queridinho do mercado, também não parece provável uma desvalorização substantiva do real. Mesmo numa conjuntura eleitoral. Ou seja, uma banda entre R$ 1,80 e R$ 2 parece bem razoável. Agenda econômica brasileira A agenda está cheia. A inflação sobe na previsão dos analistas conforme consta da pesquisa semanal publicada no Boletim Focus do BC. De outro lado, a política monetária continua sendo o último refúgio para controlar a inflação, pois do ponto de vista fiscal nada há de positivo e novo. Por cima de tudo, as exportações despencam e seus efeitos hão de aparecer. O cenário é ainda positivo, mas a qualidade da política econômica no Brasil se deteriora do ponto de vista estrutural e conjuntural (eleições). Emprego nos EUA Os dados de atividade e emprego nos EUA continuam dando sinais de recuperação. Todavia, o ritmo da recuperação está mais lento do que o esperado. A taxa de desemprego caiu para o patamar mais baixo dos últimos cinco meses (9,7% da força de trabalho). O problema é que o ritmo de demissões ainda supera o de emprego e é possível que os indicadores de desemprego voltem a piorar nos próximos meses, o que seria um fato muito negativo do ponto de vista das expectativas. FMI e cia. Observada a crise mundial (e agora a europeia), a pergunta que não quer calar é : qual a utilidade do FMI na atualidade ? Sequer a instituição tem a aura humanista da ONU e do Banco Mundial. Ao contrário, trata-se de uma instituição desmoralizada do ponto de vista técnico e político. Keynes, idealizador do Fundo, teria vergonha de seu destino... "Efeito bacalhau", "efeito paella" e "efeito pizza" A crise econômica e de crédito da Espanha, Portugal e Itália terá seus efeitos diretos pelos nossos lados : a pressão dos dividendos das multinacionais destes países localizadas no país deve ser maior neste ano. O objetivo é cobrir riscos e eventuais prejuízos nos seus países-sede. Radar NA REAL Já fizemos os nossos alertas em relação ao cenário do mercado financeiro local e internacional nas três edições anteriores deste informativo. O cenário do mercado no curto prazo é incerto e as perspectivas de médio prazo estão em cheque. Ou seja, os acontecimentos das próximas semanas hão de decidir a tendência dos mercados no médio prazo. Portanto, o momento é de decisão. Os fatores positivos (recuperação da atividade, maior normalidade do crédito em comparação ao auge da crise e, no caso do Brasil, fortaleza cambial) devem favorecer um cenário promissor no médio prazo. Todavia, a instabilidade externa não é desprezível e tem de ser levada em consideração a probabilidade de um cenário deteriorado no médio prazo. De toda a forma, estamos mantendo a nossa análise expressa neste radar. 5/2/10   TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹        - Pré-fixados NA alta alta  - Pós-Fixados NA estável alta Câmbio ²        - EURO 1,3706 estável/queda estável/baixa  - REAL 1,8794 estável/baixa estável/baixa Mercado Acionário        - Ibovespa 62.762,70 estável/queda estável/alta  - S&P 500 1.066,19 estável/queda alta  - NASDAQ 2.141,12 estável/queda alta  (1) - Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais)(2) - Em relação ao dólar norte-americanoNA - Não aplicável O PT, aos 30 anos :  volta ao passado ? Quem leu os documentos que o PT preparou para as discussões do programa de governo de um futuro governo Dilma, revelados pelo Estadão na semana passada e pelo Valor Econômico ontem, percebe que o partido está tentando retomar bandeiras que, por pragmatismo, foram abandonadas depois que a legenda, pelos pés de Lula, subiu as rampas do Planalto. Na ocasião, Lula não carregava sob as axilas as teses mais caras ao petismo. Levava a "Carta aos Brasileiros", documento elaborado sob a coordenação do futuro ministro da Fazenda, Antonio Palocci, para conter os temores de boa parte da plateia bem informada de que um governo do PT fosse mesmo mudar tudo que está aí. O PT engoliu - e continua engolindo - o sapo barbudo de uma política econômica que nunca foi dele, feliz com as oportunidades que teve no poder. Seus documentos sobre economia, agora, pregam velhos (pré) conceitos, dando sinais até de que namora novamente com o estatismo. Na diplomacia, critica o acordo Mercosul-Israel e as negociações da Rodada de Doha da OMC e, ainda, sugere a criação de um Conselho de Política Exterior. Demonstram que o PT se prepara para a "era pós-Lula" com ideias pré-Lula. Aos 30 anos, completados neste fevereiro, o PT, com Dilma, uma petista de segunda viagem, flerta com o passado. E tenta reescrever o lulismo de seu fundador. Exceção da verdade Pode ser até a chamada mera coincidência, mas como coincidência demais passa a ser fato em política, o jogo está aberto. O PSDB começa a botar em prática uma das ações eleitorais com as quais pretende desconstruir a imagem de Dilma : botar em dúvida seu compromisso com a realidade. Em outras palavras, pespegar-lhe a pecha de mentirosa. Na última semana, a expressão mentira, associada à ministra chefe da Casa Civil e/ou ao governo Lula, apareceu em três emissões da oposição : num artigo do ex-ministro Paulo Renato de Souza, no Estadão ; numa nota do deputado Fderal paulista Mendes Thame ; e, no artigo que o ex-presidente FHC escreveu este fim de semana para o Estadão e O Globo. A oposição acha que Dilma lida mal com esta situação desde que se "enrolou toda" (expressão de um tucano) para explicar aquela história do currículo com informações incorretas sobre sua formação acadêmica e não rebateu convincentemente as acusações da ex-secretária da Receita, Lina Vieira, de que tentou interferir em perícias que a RF fazia nos documentos da família Sarney. Oh Minas Gerais - capítulo 7.227 Seguramente, a solução da sucessão mineira na base aliada de Lula será a mais longa e arrastada das subnovelas da novela da sucessão presidencial. O lance mais recente é tentar fazer do vice-presidente José Alencar o candidato dos partidos governistas, uma espécie de tertius na disputa entre o PMDB (Hélio Costa) e o PT (Patrus Ananias e Fernando Pimentel). Um dos petistas seria acomodado na vice do vice e Costa disputaria a reeleição para o Senado. É mais um balão de ensaio, que pode até dar certo, mas depende de uma série de circunstâncias para prosperar. A primeira é a própria condição de saúde do vice. Depois, a disposição de Costa de ficar no mesmo lugar e ir para uma briga contra Aécio Neves e Itamar Franco. Em terceiro, a maleabilidade do PT mineiro para fazer concessões. Sem concorrer diretamente, o partido entrará na disputa pela prefeitura de BH em 2012, em franca desvantagem. Durante anos, lembremos, o PT dominou a capital mineira, ou diretamente (Patrus, Pimentel), ou em parceria com o PSB. Hoje, o PSB, com Marcio Lacerda, ainda comanda a prefeitura, mas com o coração de Aécio. A movimentação do PT e dos aliados em MG, até agora, só está mesmo servindo para aumentar a disposição de briga do governador Aécio Neves e sua total integração ao projeto nacional tucano. O Almodóvar de Ciro As reações de Ciro Gomes aos movimentos de Lula e do PT, para afastá-lo prematuramente do grid de largada da corrida presidencial, estão num crescendo tal que podem tornar inviável uma integração total e entusiasmada do deputado cearense à campanha de Dilma. Aliás, Ciro já deu este sinal quando, entre ironias ao "santo Lula" e verbosidades contra Dirceu, avisou que já está com a vida ganha e não tem ambições pessoais. O silêncio de Serra O DEM não consegue dormir com o barulho que o silêncio do governador Serra sobre sua candidatura à sucessão de Lula anda fazendo. Digam o que disserem tucanos, democratas e os ex-comunistas do PPS, a ascensão de Dilma nas últimas pesquisas assustou em todos os quadrantes. Até a imprensa estrangeira já acha que o governador paulista perdeu o timing. O que voltou a alimentar os boatos de Brasília de que ele poderia desistir da capital federal para ficar na capital paulista, abrindo espaço para uma chapa puro sangue, café com leite, com sinais invertidos : Aécio presidente e Alckmin de vice. Dilma e seus dois vices Quanto mais o deputado, recém reeleito presidente do PMDB, Michel Temer, diz que não aspira à indicação de vice na chapa de Dilma, mais dentro e fora do governo aumenta a convicção de que isto é a única coisa que o presidente da Câmara realmente aspira. E mais cresce a inquietação do presidente Lula, do PT e de outros aliados governistas que não o PMDB. Desse lado mais cresce a convicção de que Dilma precisa de um Meirelles a seu lado como contraponto às desconfianças que ela gera em alguns setores e aos "alopramentos" que o PT vem demonstrando nos esboços das propostas para um governo Dilma. Os tempos de Lula e do PMDB Lula joga com o tempo, para consolidar o crescimento de Dilma nas pesquisas, para fechar o acordo eleitoral com o PMDB sem pagar todas as faturas que o peemedebismo está cobrando. Por sua vez, o PMDB diz que tem todo o tempo do mundo e pode esperar até o início da formação do novo governo para acertar as contas. Pré-sal eleitoral Não vai ser tão tranquila como Lula imaginava e deseja a votação completa - Câmara e Senado - das novas regras para a exploração de petróleo no Brasil. A oposição vai obstruir sem dizer que está obstruindo a Petrobras. E as disputas regionais, mesmo que sejam atropeladas na Câmara, ressuscitarão no Senado, onde os Estados não produtores pretendem tirar o um quinhão mais generoso. Talvez nem dê tempo para o pré-sal frequentar os palanques eleitorais, desfalcando o tripé de realizações a ser alardeado por Dilma : petróleo, Bolsa Família e PAC. De olho no aço Depois de haver ajudado - e que ajuda ! - consolidar a Nova Brasken, como o grande player internacional do Brasil na área de petroquímica, o governo intenta agora algo parecido no setor siderúrgico. Sob esse ponto de vista foi sintomático o puxão de orelhas do presidente semana passada nos dirigentes da área, quando os acusou de tímidos. De olho nos remédios O BNDES ainda não desistiu de patrocinar, por meio de fusões e aquisições, o nascimento de uma grande indústria farmacêutica nacional, para se contrapor às multinacionais que dominam o setor. Não faltarão recursos para quem quiser se aventurar. De olho na Internet Amanhã, Lula vai definir as regras para o Plano Nacional de Banda Larga e avalizar o renascimento da Telebrás como grande operadora do programa. Uma corrente quer que a novo-velha empresa estatal faça tudo sozinha. Outra, que o programa seja dividido com o setor privado. O mais provável, para evitar ruídos e desconfiança em ano eleitoral, é que Lula opte pela segunda. Porém, com total protagonismo da Telebrás. José Sarney e a ética Na sua coluna da última sexta-feira na Folha de S.Paulo, o senador José Sarney teceu argumentos de variadas cepas para tratar da injustiça com a qual tem sido tratado nos últimos escândalos da política nacional. A certa altura do artigo diz que "(...) o famoso caso Dreyfus, de trágica memória, em que este oficial do Exército foi acusado de traição, condenado à prisão perpétua e à chamada 'guilhotina seca', que era a prisão na ilha do Diabo, na Guiana. Foi preciso a coragem de defendê-lo de Émile Zola, ao publicar um manifesto com os erros do julgamento (J'accuse !), para acabar com a fraude." Interessante o velho senador maranhense ter admiração por publicações de manifestos quando ele e seu filho Fernando censuram, mesmo que por via judicial, o jornal O Estado de S. Paulo o qual tem uns manifestos nada republicanos para divulgar sobre como se faz política na família Sarney.
terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Política & Economia NA REAL n° 87

Momento de decisão Sabemos que as incertezas são o pior malefício para o funcionamento dos mercados, sejam da economia real sejam do mercado financeiro e de capital. Por sua vez, as tendências dos mercados são dadas pelas expectativas. Pois bem : o atual momento na economia mundial é de incerteza, ou seja, não há formação de uma tendência. Ao contrário : as opiniões se contradizem e os dados objetivos são deixados de lado em função das análises sobre o futuro. O que está sendo ponderado ? O estímulo fiscal generalizado ao redor do mundo foi o fator decisivo para a recuperação das principais economias mundiais. As piores perspectivas de uma recessão profunda e prolongada, tal qual nos anos 30 do século passado, foram afastadas. Resultado : elevação do valor dos ativos em geral. Como nada é neutro quando tratamos de economia, os estímulos fiscais utilizados para estimular a demanda e salvar o sistema financeiro de um colapso geraram enormes déficits fiscais. O que os investidores desejam ter mais claro é como todas as economias relevantes, sobretudo os EUA, saíram deste cenário expansionista do ponto de vista fiscal. Haverá elevação dos juros básicos por parte dos Bancos Centrais ? Em quanto tempo e quanto subirá a taxa de juros ? Como ficará a demanda neste novo (e possível) contexto ? Como ficará a relação entre as principais moedas mundiais ? Estas são apenas algumas das questões vitais que pesam sobre as economias e os diversos segmentos do mercado. Mas há dois outros fatores relevantes. Vejamos as notas seguintes. China : mudanças estruturais A China foi um dos motores que propiciaram o excepcional desempenho da economia mundial desde meados da década de 90 e, sobremaneira, a primeira década deste século. A capacidade do país de exportar a custos baixos gerou saldos enormes que, por sua vez, financiaram os gigantescos déficits da maioria dos países centrais no capitalismo, especialmente os EUA. De um papel importante no mundo, a China comunista passou a exercer um papel essencial. Todavia, pelas características do Estado chinês, não se pode avaliar com convicção como será exercido este papel daqui para frente. Do ponto de vista estrutural, a China pode começar a ter uma expansão geopolítica mais notória sobre o continente asiático e africano. Sua "fome" de matérias-primas é a principal justificativa para esta expansão. Do ponto de vista conjuntural, é possível que o governo comunista de Pequim passe a moderar o crescimento vigoroso do país para solucionar desequilíbrios perigosos, tais como a fragilidade do sistema financeiro e o excesso de investimento nas áreas de infra-estrutura e industrial. Há muita análise sobre tudo isso no mundo. Todavia, a única coisa certa é que há um maiúsculo ponto de interrogação sobre o futuro da política e da economia chinesa. No que se refere ao mercado financeiro e mundial, teme-se pela existência de uma "bolha". Um assunto que todos falam em voz baixa, mas que nem imaginam seus efeitos. A esfinge chinesa pode devorar muitos e muita coisa. EUA : as escolhas de Obama Neste momento eleitoral dos EUA, Obama emite sinais de que a agenda vai mudar. Dois itens pesam de forma especial nas suas escolhas : (i) a necessidade de recuperar a demanda, propiciando visibilidade sobre a condução do déficit fiscal, e (ii) a organização e regulação do combalido sistema financeiro norte-americano. A combinação das políticas relacionadas a ambos os aspectos dependerá em larga medida da sustentação política do governo, que está umbilicalmente ligada à melhoria dos indicadores de emprego. No teatro da política, estamos no meio da execução do script da peça. Tudo muito bem observado por um instável mercado, que treme as pernas e ajusta o preço dos ativos para baixo. Afinal, maior o risco, maior o desconto no valor destes ativos. Brasil, bom momento depende do mundo A política econômica brasileira vai bem. Mas nada é garantido quando o mundo pesa tanta coisa importante. O Brasil é essencialmente um exportador de commodities mesmo quando estamos a falar de produtos industriais. Nesse contexto, estamos submetidos aos humores chineses e do mercado financeiro na medida em que o país recebeu montanhas de recursos externos investidos nos ativos financeiros públicos e privados. O Brasil é um ator relevante no cenário mundial. Não era há pouco mais de uma década. Todavia, no jogo da política e da economia internacional ainda temos um papel secundário. Portanto, a hora é de olhar para fora e analisar a evolução do cenário. O Brasil evoluirá em função do mundo. Para o bem e para o mal. Indicadores positivos A ironia da hora é que enquanto os mercados estão inquietos, os dados da economia européia e norte-americana têm sido positivos. O PIB dos EUA no quarto trimestre do ano passado foi muito bom e surpreendente. O consumo das principais economias europeias cresce, mas a péssima situação de crédito da Grécia tem obscurecido estes dados positivos. E a China cresce espetacularmente : a produção industrial de janeiro é recorde absoluto. De forma sucinta : a maioria dos indicadores mostra ótimos resultados das políticas fiscais e monetárias. Mas a questão da hora é : para onde estamos indo ? Radar NA REAL Os investidores, conforme já dissemos nas notas acima, estão muito sensíveis ao desenvolvimento dos acontecimentos políticos e econômicos das principais economias, especialmente dos EUA. No que se refere especificamente ao mercado financeiro, o momento é negativo no curto prazo. Todavia, não é o caso de se acreditar numa tendência negativa para o resto do ano e no médio prazo. É preciso analisar o peso da evolução do noticiário sobre os diversos segmentos do mercado mundial e local. As bolsas de valores são aquelas que registram com maior intensidade os ajustes das mudanças de cenário. Portanto, a volatilidade é para cima. No que se refere às moedas, há uma corrida mundial na direção do dólar. Esta é a razão fundamental para a alta do dólar perante o real. Um fenômeno, portanto, a despeito das variáveis locais. Também os títulos de renda fixa apresentam desvalorização. As taxas de juros de médio e longo prazo, sobretudo dos títulos governamentais dos EUA, estão subindo. Logo, o valor de face dos títulos cai. É o que acontece com os títulos da dívida externa brasileira. A palavra de ordem é calma. Não há necessidade de se precipitar. Como dissemos, a tendência positiva para o médio prazo persiste positiva, apesar de a convicção sobre a benignidade do desempenho das principais economias, inclusive a brasileira, ter se deteriorado. 29/1/10   TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹        - Pré-fixados NA alta alta  - Pós-Fixados NA estável alta Câmbio ²        - EURO 1,3900 estável/queda estável/baixa  - REAL 1,8950 estável/baixa estável/baixa Mercado Acionário        - Ibovespa 65.401,77 estável/queda estável/alta  - S&P 500 1.083,87 estável/queda alta  - NASDAQ 2.147,35 estável/queda alta  (1) - Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais)(2) - Em relação ao dólar norte-americanoNA - Não aplicável Estresse à vista no Congresso Nos planos do presidente Lula, assoberbado com a campanha da ministra Dilma, e sem tempo para muitos conchavos políticos além dos eleitorais, Câmara e Senado serão muito camaradas com ele este ano. Lula confia que deputados e senadores, a maioria lutando pela sobrevivência na selva da reeleição, não lhe tragam aborrecimentos. O presidente está equivocado, ignora o essencial : ano eleitoral é propício para as demagogias. Aliás, não é que o presidente ignora, ele de fato esquece. Quem, como revelou a revista "Veja" na semana passada, adia para 31/10 (coincidência danada, já terá passado o primeiro e o segundo turno da eleição) a suspensão de mais de 250 mil benefícios do Bolsa-Família que não se recadastraram, como manda a lei, sabe muito bem do que se trata. Não tem muito do que se queixar se o Congresso adotar a mesma linha de condução. Adiando projetos Lula terá de tourear pelo menos o andamento de dois projetos, nos próximos dois três meses : 1. A MP já em vigor, que aumentou as aposentadorias acima do salário mínimo em cerca de 6%. Há um ganho real em relação à inflação dos últimos 12 meses. Mesmo assim, tanto oposicionistas como governistas vão tentar aprovar uma emenda à MP estabelecendo o mesmo índice aplicado ao salário mínimo para todos os benefícios pagos pelo INSS. 2. A proposta, de autoria do deputado Vicentinho, reduzindo a jornada de trabalho no Brasil de 44 horas semanais para 40. Os dois projetos têm apoio incondicional dos sindicatos e das centrais, CUT e Força Sindical. A área econômica considera inaceitáveis ambas as propostas. Seria uma bomba nas contas públicas. Lula, porém, não quer vetar nada do tipo popular para não ferir a campanha de Dilma. Vai cobrar mais esse sacrifício do PT e de alguns aliados. Terá sucesso com as centrais sindicais prometendo barulho no Congresso e manifestações nas ruas e, até mesmo, greves ? O governo pode ficar nas mãos do presidente da Câmara, que é quem, em última instância, determina a pauta votações e pode manobrar para evitar surpresas para o governo. E tem ainda o pré-sal A votação de três dos quatro projetos com as novas regras de exploração de petróleo no Brasil pelos deputados pode ser outro aborrecimento para Lula. A intenção é votar tudo esta semana - a capitalização da Petrobras, a criação do Fundo Social com recursos do pré-sal e as questões da partilha dos recursos e royalties. Em todos os três governistas e oposicionistas querem meter o bedelho, em direções que o governo execra. Mas o mais polêmico é o da divisão do dinheiro. Depois que, pelo menos aparentemente, houve um acordo pela partilha dos bens, de agrado dos três produtores (RJ, SP e ES), apareceu uma emenda, liderada pelo deputado Ibsen Pinheiro, do RS, estabelecendo que uma divisão igualitária, para Estados e municípios não-produtores e para Estados e municípios produtores. E valendo para o que já existe e para o que virá. É uma proposta explosiva, pois é do gosto de quase todo mundo. Vai ser difícil o governo forçar parlamentares a botarem a cara no plenário para votar contra o interesse de seus Estados e dos municípios onde buscam votos. Por isso, manobras são feitas para que a emenda não seja votada. Uma alegação é a de que é extemporânea. O deputado Eduardo Cunha, do RJ, Estado diretamente interessado em boicotar a proposta, promete recorrer ao STF para suspendê-la. Tem sido norma o Supremo não se imiscuir em assuntos que dizem respeito ao Legislativo. O governo mais uma vez terá de se aninhar nos braços de Temer. Exatamente o político do PMDB que o PT tenta afastar da posição de vice de Lula. E ainda tem a oposição Para complicar ainda mais o cenário na Câmara neste início de um ano legislativo que promete ser muito breve por causa da Copa do Mundo e das eleições, o DEM está ameaçando com uma obstrução total na Câmara. É um protesto do partido contra o veto do presidente Lula na lei orçamentária. Lula retirou a suspensão dos trabalhos de quatro obras da Petrobras - R$ 13 bilhões - decidida pelo TCU e mantida pelos congressistas. Todas barradas por suspeitas de irregularidades, entre elas excesso de faturamento. E a Petrobras segue olímpica Até agora a Petrobras finge que não é pelo menos estranho que duas horas antes da abertura dos envelopes das agências de publicidade que concorriam a sua milionária conta de propaganda, um site especializado na área de publicidade tenha divulgado exatamente quais seriam os três agraciados. O mínimo que se esperava é que ela suspendesse a licitação. Mas, ao que tudo indica, com o poder de fogo que a estatal tem, ela está acima do bem e do mal. Sucintas informações sobre a batalha sucessória Não há nada de muito novo no front, mas há avanços e definições : 1. Tanto a candidatura de Dilma, quanto a de Serra, estão consolidadas. 2. O crescimento de Dilma é consistente, como mostrou a pesquisa do instituto de pesquisas "Vox Populi" na semana passada e outras sondagens mostrarão ao longo das duas próximas semanas. 3. Ciro Gomes está fora do jogo. Agora a hora em que ele receberá o cartão amarelo (ou vermelho) está sendo acertada. 4. Marina Silva está mais desenvolta, aparecendo mais, o que pode ser espelhado nas próximas pesquisas. 5. As batalhas dos vices dos dois candidatos principais ainda vão render muito grandes confrontos. O que se pode dizer é que as resistências de Aécio a cada dia que passa se tornam menos intransponíveis. E que Temer continua no fio da navalha. 6. Nem o carnaval será refresco para as disputas entre PT e PMDB em muitos Estados. O quadro vai se afunilando, numa situação em que a oposição está visivelmente em desvantagem. As "grandes" que o governo tenta formar A empreiteira Camargo Corrêa recebe o apoio do governo, segundo a "Folha de S.Paulo" do último domingo, para comprar a Eletropaulo e a participação societária da Previ e do BB na Neoenergia. Se isto acontecer, 1/3 da energia do país será provida por uma empresa apenas. Este estímulo à formação de enormes conglomerados empresariais por parte do governo está se generalizando. Da área de varejo até a petroquímica a concentração mercadológica aumenta vertiginosamente. Resta saber quem olhará pelos interesses dos consumidores. No geral, os órgãos de defesa da concorrência - CADE e SDE - fazem poucas restrições a este processo. O consumidor está cada vez mais cerceado pelos interesses destes conglomerados. O Congresso, desmobilizado, também não intervém. Uma coisa é certa : este processo pode ser bom para as empresas, mas os riscos para o consumidor são consideráveis. PPPs, o retorno A julgar pela movimentação de grandes escritórios de advocacia, as PPPs estão em alta velocidade. A Copa do Mundo e as Olimpíadas são mais dois fatores que se somam à preferência dos estrangeiros pelos investimentos no país para que as PPPs voltassem a ser um instrumento relevante para grandes investimentos em infra-estrutura. FHC e os negócios O Instituto FHC não é apenas um ponto de encontro de certos grupos de intelectuais. Por ali estão passando alguns negócios portentosos. O ex-presidente parece estar interessado em fusões e aquisições no setor de comunicação. A conferir os resultados destas conversas... FHC e sua visão sobre a China Luiz Gonzada Beluzzo, presidente do Palmeiras e intelectual de peso, informou no programa "Painel" da "Globo News", que num encontro com FHC na Europa, o ex-presidente teria lhe dito que na China não há opressão política visível sobre os cidadãos. Ou seja, as liberdades civis são respeitadas. O que seriam então os episódios como os do Google ? Serra e São Pedro Não se sabe o grau de religiosidade de José Serra. Mas ele deve estar rezando muito invocando o meteorologista divino. O pedido é que cessem ou se reduzam dramaticamente as chuvas em São Paulo. Somente assim há chance de as obras das marginais e do rodoanel serem concluídas antes de o governador paulista se lançar candidato ao Planalto.
terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Política & Economia NA REAL n° 86

Agenda de Obama - I Uma das razões para a prolongada recessão dos anos 30 foi a crença de que os estímulos fiscais deveriam ser retirados com maior rapidez. O Congresso de então, dominado pelos republicanos, pressionava Roosevelt para que reduzisse o déficit fiscal. O dilema de Obama neste momento não é diferente : ele terá de enfrentar a oposição dos republicanos e dos próprios democratas para manter a política de expansão fiscal que ainda não consolidou a recuperação da maior economia do mundo. Isto num ano eleitoral, onde os parlamentares estão mais de olho nas pesquisas do que em "fazer a coisa certa". Agenda de Obama - II Além da política fiscal, Obama está sendo pressionado a adotar uma postura mais rígida em relação ao sistema financeiro. Não resta dúvida que a turma dos bancos está mais preocupada com seus bônus de curto prazo do que com a recuperação do setor no médio prazo. Isto tudo quando foram salvos pelo dinheiro dos contribuintes. Todavia, neste tema Obama vai ter de ser muito cuidadoso. Sem um sistema financeiro sólido, a recuperação prometida pode resultar num atolamento da atividade econômica tal qual ocorreu nos anos 90 no Japão. Portanto, a questão é saber como o governo dos EUA vai endurecer com os banqueiros sem que isto implique no enfraquecimento dos bancos. Uma equação que não foi encontrada pelo presidente americano, embora ele já tenha decidido que o alvo do ataque é Wall Street. Resultados corporativos Não dá para reclamar dos resultados do último trimestre do ano passado das empresas de capital aberto dos EUA. Apesar de toda a recessão, e de haver certa dispersão entre os setores, os lucros foram razoáveis : o setor financeiro cambaleia e o tecnológico cresce, apenas para citar dois extremos. E os analistas estão perdidos em relação ao que pode ser 2010, mesmo que suas análises apontem "certezas" sobre as quais pouco podem saber. Risco China Como já enfatizamos em nosso primeiro informe deste ano, dá arrepios analisar os riscos envolvidos na China. O sistema financeiro é verdadeiramente desconhecido, os dados fiscais inquietantes e, nas últimas semanas, crescem os sinais de que o governo comunista de Pequim vai esfriar a economia. Este é um risco tão grande que ninguém quer falar muito sobre ele. É a chamada "política de avestruz", adotada em relação ao país. Por tudo isto... A volatilidade deste ano deve ser elevada em quase todos os mercados. Muito maior que aquela ocorrida desde março do ano passado. Radar NA REAL Não vamos alterar as tendências estruturais dos diversos segmentos do mercado financeiro e de capital, seja do Brasil ou lá de fora. Todavia, fica aqui o alerta : a semana passada foi a primeira desde o início da recuperação dos mercados mundiais que demonstrou que os investidores ainda estão muito inquietos em relação à recuperação dos fundamentos de longo prazo da economia mundial, especialmente a norte-americana. Portanto, estamos num momento de análise para verificar o quão este processo pode modificar o cenário para 2010. As expectativas dominam os movimentos dos preços dos ativos. Assim, cabe verificar se as expectativas até agora positivas se manterão. De nossa parte, redobramos a atenção aos fatos que estão a ocorrer no mercado, sobretudo no que se refere aos EUA e China. No caso do Brasil, as perspectivas são promissoras, mas o país não vive isolado do mundo. Preocupa-nos, especialmente, os elevados patamares do mercado acionário. 22/1/10   TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹        - Pré-fixados NA alta alta  - Pós-Fixados NA estável alta Câmbio ²        - EURO 1,4410 estável estável/baixa  - REAL 1,8199 estável/baixa estável/baixa Mercado Acionário        - Ibovespa 66.220,04 estável estável/alta  - S&P 500 1.144,98 alta alta  - NASDAQ 2.205,29 alta alta  (1) - Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais)(2) - Em relação ao dólar norte-americanoNA - Não aplicável Para segurar o BC Dez entre dez mercadistas da economia não-oficial e boa parte dos analistas privados têm como certo que o BC começa ainda neste primeiro semestre a aumentar a Selic. Não já na próxima reunião do COPOM. No governo, pelo seu lado político (e eleitoral) considera-se que a medida, além de ser desagradável para a campanha de Dilma, não é necessariamente inevitável, mesmo que o consumo na economia brasileira continue em sua firme ascensão para gerar um crescimento em torno de 6% em 2010. Para conter a temida escalada da inflação, que viria puxada pelo aumento da demanda, estuda-se um conjunto de opções, quase todas pontuais, a saber : 1. Redução temporária de impostos nos setores ou produtos nos quais aparecerem mais pressões inflacionárias. 2. Contenção no fornecimento de créditos, principalmente por parte das instituições oficiais, BB e CEF. 3. Facilitação das importações de produtos cujos preços estejam fugindo do controle, tanto para consumo direto quando para uso industrial. 4. Promover um aperto fiscal, cortando de preferência despesas de custeio. Nem tudo é possível - I Esse arsenal anti-elevação dos juros, porém, enfrenta obstáculos e dificuldades. A redução temporária dos impostos esbarra nos problemas do orçamento, com despesas crescentes e uma incerta receita em recuperação. Poderia ser viável se o quarto ponto, o corte de gastos, acontecesse de fato. Não se deve contar com ele em ano eleitoral. Um exemplo das restrições está no caso do preço da gasolina. Por conta da redução da mistura do álcool, a partir de 1º/2, prevê-se um aumento entre 2% e 4% no combustível para o consumidor. Sugeriu-se que o governo reduzisse o valor da CIDE para evitar este reajuste e seu rebate na inflação. O ministério da Fazenda, no entanto, resiste, por causa das perdas na arrecadação. Aperto fiscal não rima, no vocabulário político, com ano eleitoral. Nem tudo é possível - II A ideia de facilitar as importações esbarra na queda dos superávits comerciais e nas reações dos empresários. Também é delicada a contenção do crédito interno para o consumo, uma vez que boa parte da estratégia para as eleições do governo baseia-se na satisfação da população com a possibilidade de adquirir novos símbolos de ascensão social. Slogans para Dilma Pelos planos dos estrategistas de Lula e da campanha da ministra Dilma, o Congresso neste curto ano de 2010, antes de mergulhar na campanha eleitoral, se dedicará apenas a aprovar dois dos grandes slogans que ele pretende apregoar da campanha da ministra : os projetos do pré-sal e a CSL - Consolidação das Leis Sociais, no modelo de CLT de Getúlio Vargas, a ser apresentado em março. Eventualmente, um ou outro projeto a mais. A ordem é nada de marolinhas. O Congresso pode "aprontar" Deputados e senadores podem aprontar (ou tentar aprontar) alguns dissabores para Lula. Sem contar com as dificuldades nas regras do pré-sal, Lula vai enfrentar a tentativa de deputados e senadores, boa parte de sua base, com apoio das centrais sindicais, de aprovar a redução da jornada de trabalho de 44 horas para 40 horas semanais e regras mais generosas para a correção dos benefícios de aposentadoria para quem recebe mais do que um salário mínimo. São medidas tidas como de grande apelo popular, capazes, portanto, de tocar o mais fundo da alma política brasileira, ainda mais quando as urnas estão batendo nos calcanhares. Lula não gostaria de vetar essas medidas, exatamente para não comprometer o jogo de Dilma. Vai ter de fazer valer sua autoridade junto aos aliados, baixar ordem do dia e pôr a tropa em fila. O gato e o rato Aguarda-se o novo lance de Lula no seu jogo para o PMDB na indicação do vice de Dilma. O presidente havia embaralhado o esquema do PMDB governista ao pedir a tal lista tríplice para Dilma escolher o parceiro. Bateu direto nas pretensões de Michel Temer, pelo qual não morre de amores. O PMDB acaba de rebater antecipando sua convenção para renovar a direção do partido e optando por reeleger Temer para sua presidência nacional. Agora, para escolher alguém para acompanhar Dilma que não seja Temer, Lula vai ter de negociar com o próprio. O PMDB sinaliza que agora é Temer ou Temer. Lula precisa de alguém que some mais que o presidente da Câmara à chapa de Dilma. Ou trazendo forças regionais desgarradas (MG, com Hélio Costa), ou repetindo a velha fórmula Sul/Sudeste - Norte/Nordeste (Edison Lobão, do MA ?) ou para acalmar setores específicos desconfiados (Henrique Meirelles para bancos e empresas em geral). As complicações mineiras Amanhã as cúpulas do PMDB e do PT têm reunião em Brasília para começar a acertar as alianças estaduais nos cinco Estados onde entendimentos para a aliança estão mais complicados : PA, MT, PE, BA e MG. O primeiro e mais delicado a ser destravado é o de MG. Lula terá de baixar o "centralismo democrático" e obrigar os dois postulantes petistas - Fernando Pimentel e Patrus Ananias - a buscar novos rumos. Sob pena de arranjar uma confusão sem volta com o PMDB de Hélio Costa. É que Costa pode ficar sem espaço se não for candidato a governador, com forte apoio do PT. Uma das vagas do Senado, que o ministro das comunicações poderia disputar, não foge das mãos do governador Aécio Neves. O vice-presidente José Alencar já manifestou o desejo de concorrer ao Senado e Lula, por gratidão, deve a ele apoio irrestrito. Para onde pode ir então Hélio Costa ? Uma opção é ser vice de Dilma. Mas esta opção é pouco viável depois que Dilma virou mineira, como política. Seria queijo com queijo, de pouco apelo eleitoral. Resta a ele disputar o governo do Estado, com ou sem o PT, dividindo Minas Gerais. A solução mineira De um DEM muito próximo ao governador Serra e ao comando tucano : "O Aécio vai ser o vice de Serra, não tenha dúvida". Em MG, a hipótese não é descartada nem é vista mais como uma rendição ou uma diminuição do prestígio do governador. Mas a decisão final só será tomada no último momento e será precedida por um acordo sobre os futuros palanques presidenciais, além de uma co-participação efetiva de Aécio e de MG num governo Serra. Já se falou - a sério - na possibilidade de Aécio ficar com o controle do maior naco das áreas sociais. Oferta que continuaria na mesa de negociações. De certo mesmo se pode assegurar apenas que Aécio desta vez vai se engajar de corpo, alma e mais o que tiver na campanha federal tucana. O tucanato mineiro percebeu que Lula vai jogar pesado no Estado para derrotar Aécio. Desamor à luz do dia Partidos e políticos preparam-se para tentar barrar a pretensão do TSE de acabar com a prática de doações ocultas nas eleições de 2010.
terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Política & Economia NA REAL n° 85

Um "novo" Legislativo Um dos argumentos dos defensores do polêmico III PNDH contra a saraivada de críticas recebidas pelo documento, pelo seu viés autoritário e por ter vindo à luz em forma de decreto presidencial, é o de que ele foi precedido de uma série de consultas públicas e de seminários/conferências em diversas regiões do país. Este caráter quase plebiscitário, de consulta direta, daria legitimidade. No próprio documento, há defesas de tal prática. É um modo de ser do governo Lula. É também uma tentativa de contornar as dificuldades naturais de um sistema de democracia representativa - mesmo falho como o nosso - que impõe certos freios ao poder do Executivo. O III PNDH nasceu de uma conferência com o mesmo nome. Em dezembro, o governo patrocinou a I Conferência Nacional de Comunicação, com o mesmo objetivo. O documento final foi atenuado, mas mesmo assim contém sugestões que botam em risco, se adotadas, a livre circulação das informações. Agora, o "Estadão" deu notícia no domingo e "O Globo" confirmou ontem : vem aí a Conferência Nacional de Cultura. O documento preliminar, preparado nos escaninhos burocráticos, tem o mesmo escopo. É o governo tentando se sobrepor ao Congresso com a desculpa de que está atendendo a anseios populares. Anseios populares muito bem controlados e direcionados. Consultas públicas, mas reservadas As consultas ou audiências públicas que precedem a elaboração dos documentos preparatórios dessas conferências, e as que são realizadas por órgãos públicos para embasar a elaboração de projetos ou resoluções oficiais, são apenas arremedos de consulta ou audiências realmente abertas. De um modo geral são pouco divulgadas e ficam restritas a grupos de interessados ou grupamentos político-partidários e ideológicos muito bem organizados. Quem participou, por exemplo, de algumas reuniões estaduais e municipais preparatórias da Confecom pôde sentir as resistências (às vezes agressivas) às opiniões oficiais. Em regra, as sugestões de fora são pouco acatadas, meçam-se os exemplos da Anvisa e da Anatel. É quase tudo pró-forma. O BC chegou ao requinte de fazer um consulta pública, ainda não terminada, a respeito das mudanças nos cartões de crédito. As sugestões apresentadas pelo setor privado não estão no site do banco. E só será conhecido o documento final da instituição, sem que saiba quais foram as propostas de mudança e quais não foram acatadas e porque razão. Se tudo o que está sendo posto virar realidade, vamos chegar à democracia relativa, sonho do general Geisel e dos militares de 1964. Democracia para poucos eleitos. Não pela população mas pelo partido e alguns "iluminados". Imprensa, uma obsessão Para um homem que não lê jornais - para não ter azia - Lula é um obcecado. Ele ainda não desistiu de moldar a chamada mídia e outras formas de comunicação à sua imagem e perfeição. Lula não descansará enquanto não conseguir o chamado controle social de imprensa. O primeiro ataque veio com a ideia de criação de um Conselho Nacional de Jornalismo e da Ancinave. Bombardeada, ela hibernou. Voltou ser sugerida na Confecom e de novo não teve audiência suficiente, embora o documento final do encontro esteja carregado desse tipo de ameaça. A tentativa seguinte, não eliminada apesar das críticas que recebeu, está no III PNDH. Não satisfeito, o governo retoma o tema nas diretrizes para a Conferência Nacional de Cultura, marcada para março, em Brasília. O documento-base para a conferência, que está no site do Ministério da Cultura, entre outras coisas, diz que "o monopólio dos meios de comunicação representa ameaça à democracia e aos direitos humanos". O texto preliminar, depois de considerar legítimo que a imprensa comercial se organize com base em demandas do mercado, afirma que esta não pode ser a única a prevalecer. E tome normas de controle social. A realidade é que, bem ou mal, mesmo com seus extraordinários defeitos, a imprensa brasileira procura cumprir seu papel de olhos e ouvidos da sociedade. E isto incomoda quem não gosta de críticas, persegue a unanimidade e tem uma visão muito peculiar de democracia. Lula e Dilma : irmãos siameses Fotos como a do presidente Lula e da ministra Dilma, juntos, compungidos, no velório da Dra. Zilda Arns, vão ser uma constante nos jornais, com imagens na televisão e tudo o mais. Os dois não vão se largar, enquanto a Justiça Eleitoral permitir e até sem respaldo das leis das eleições. A conclusão no mundo oficial é de que, se Dilma desgarrar de Lula, dificilmente sua candidatura crescerá a ponto de ameaçar a até agora liderança de Serra. A expectativa tucana O PSDB ligado ao governador Aécio está de olho no que vai acontecer em Juiz de Fora/MG, hoje, terra do ex-presidente Itamar Franco. Querem saber se o governador vai cumprir a promessa de não acompanhar o presidente Lula, com a ministra Dilma, na inauguração de uma hidrelétrica movida a etanol na cidade. Aécio teria avisado ao Planalto que não vai mais estar com Lula nesses eventos que ele considera apenas eleitorais. Para os tucanos este seria sinal definitivo de que Aécio vai se engajar para valer na campanha de Serra, mesmo que alguma mágoa ainda tenha ficado no fundo da alma do mineiro. E há indicações de que isto de fato vai acontecer. Aécio, embora possa disputar o Senado, ainda está com seu jogo aberto, à espera dos próximos passos de Serra, do PSDB e de Lula. E não pode ficar com sua imagem desgastada fora de Minas. Além disso, ele já percebeu a tacada do PT, com grandes ofertas ao PMDB e outros partidos para isolá-lo em MG. Sua eleição para o Senado está garantida. Mas por tudo e por algo mais que quer no futuro da política, Aécio precisa eleger - e, de preferência, muito bem - seu sucessor no Palácio da Liberdade. Ciro fora de órbita Para quem se diz irremediavelmente candidato à presidência, o deputado Ciro Gomes está sumido demais. Ninguém tira férias nesta altura da disputa, ainda mais alguém como ele, que ainda precisa consolidar a candidatura e negociar as alianças que a sustentarão. Não é á toa, porém, que Ciro saiu do radar político. O irremediável dele é tão sólido quando o irrevogável do senador Aloizio Mercadante. PMDB na muda Quieto também está o PMDB. O partido, na sua facção governista, está muito inquieto. Alguns de seus líderes começam a desconfiar que o governo e o PT, além de serem a fonte de intrigas (?) surgidas periodicamente na imprensa contra eles, quer ganhar tempo na negociação das alianças regionais e na escolha do vice para deixar o partido sem opções. Se isso for verdade, Lula está fazendo uma jogada de alto risco. O PMDB tem apetite e muito pouco a perder. Meirelles e a política O boletim Focus do BC - uma consulta do BC a 100 analistas do mercado a respeito das expectativas sobre diversas variáveis econômicas - voltou a apontar para um aumento de taxa de juros este ano. A previsão passou de 11% para 11,25% em dezembro. Hoje ela está em 8,75%. Todavia, quase ninguém acredita que o BC vá tocar nos juros na reunião do próximo mês. Somente começará a agir em abril ou até mais tarde, depois que Meirelles deixar a direção da instituição para se aventurar pelo mundo da política. Há quem diga que o presidente do BC está reconsiderando esta decisão, devido às dificuldades que enfrenta em Goiás, onde concorreria ao governo estadual ou ao Senado. Meirelles teria ficado empolgado também com sua eleição para o conselho do BIS. É possível. E se assim for, ele ficará até o fim do governo Lula. Porém, isto não é tão certo, pois o presidente Lula pode precisar de Meirelles para vice de Dilma. Meirelles não acrescenta muitos votos, mas pode ser uma garantia para os desconfiados de algumas propensões políticas e econômicas da ministra chefe da Casa Civil. O episódio do III PNDH, explorado pela oposição, já deu a indicação de que um antídoto desses pode ser necessário. A escalada de Chávez A imprensa nacional e internacional está dando muito pouca atenção à situação política e econômica da Venezuela. O clima, informa diplomata que passou uns dias por lá, não está dos mais saudáveis. Fim do mundo Inacreditável - para ficar no mais brando - a ciumeira que baixou no Itamaraty e no Ministério da Defesa por causa das ações dos EUA na tragédia do Haiti. Num momento como esses, disputas por liderança, hegemonia, primazia ou que tais é mortificante, desumano. Lição esquecida Do economista Paulo Ormond, autor entre outros do provocativo "A morte da economia", em artigo publicado no Brasil pela revista "Exame" : "A economia é basicamente uma teoria sobre o comportamento dos indivíduos. (...) E o comportamento desses agentes não é guiado pelo que eles são capazes de computar, mas pelo que eles enxergam em dado momento."
terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Política & Economia NA REAL n° 84

2009 : maior crise da história sem as consequências esperadas O ano de 2009 nos trouxe uma sensação estranha, sobretudo em relação ao Brasil. A crise que se instalou na economia mundial no último trimestre de 2008 foi gigantesca. A maior de toda a história econômica. Se considerarmos este fato incomum, podemos avaliar o ano passado como muito bom na medida em que as consequências da crise foram muito menores que a imaginada inicialmente. God save Keynes ! Além disto, há uma chance concreta (e ainda não prevalecente) de que a superação da crise, sobretudo nos países capitalistas centrais, seja rápida - mais um ano ou dois. É preciso ficar alerta, no entanto. Nem todos os analistas acreditam que a crise (a financeira, principalmente) está totalmente debelada. Há quem preveja novos solavancos. Especialmente nos EUA. O país de Obama poderia voltar à recessão no segundo semestre. Os últimos dados sobre o emprego, divulgados na semana passada, foram um alerta. Brasil : marolinha ? Lula é conhecido pelos seus arroubos verbais. Todavia, façamos justiça : sua ação durante a crise foi muito positiva. Vejamos : teve sensibilidade política para localizar os pontos nevrálgicos da crise e tomou decisões corretas. Note-se que não foi nenhum formulador econômico que elaborou um plano de salvação. Foi o presidente que, à luz dos fatos e do que lhe era possível, ajudou decisivamente a superar a crise. Pois bem : o resultado do PIB, ao redor de zero em 2009, foi excepcional. Se considerarmos os dados do primeiro semestre do ano, foi ainda melhor. Portanto, o presidente não poderia imaginar que seria uma "marolinha" quando pronunciou o termo ao final de 2008, mas suas ações justificam a posteriori aquela frase. Sinais de alerta O enfrentamento da "marolinha" não deixou de ter custos. O primeiro déficit da história do FAT, em 2009, mostra que os efeitos da crise sobre o mercado de trabalho, inicialmente, foram mais arrasadores do que se imagina ou prega a vã propaganda oficial. Também o aumento dos saques no FGTS aponta na mesma direção. Os próximos levantamentos do IBGE, quando alcançarem os meses mais agudos da crise, veremos o quanto isso impactou a renda das famílias. Remédio cavalar É por esta razão que Lula exige dos bancos oficiais - BB e CEF - atenção total para o crédito ao consumidor. A determinação é facilitar a festa do consumo para manter a economia aquecida no ano da graça eleitoral de 2010. Remédio cavalar - 2 Por esta razão também, os programas sociais serão turbinados. O ministro do Desenvolvimento Social, Patrus Ananias, anuncia até a possibilidade de incluir um novo critério na definição das famílias que podem ser eleitas para os benefícios do Bolsa Família : as condições de moradia. Remédio cavalar - 3 Ainda pela mesma razão, o Orçamento, aprovado no finzinho do ano, debaixo de muita polêmica e pouca claridade, está generosíssimo em matéria de gastos. E perigosamente inflado no item receitas. Brasil : seu melhor momento em décadas Apesar disso, é otimismo para 2010. Não é preciso ir longe. Se compilarmos os dados de balanço de pagamentos, investimentos privados, consumo - especialmente das famílias mais pobres - e produção industrial, podemos afirmar que a chance do país dar um passo ainda maior nos próximos cinco anos é enorme. A ausência de vulnerabilidade externa imediata retira o principal calcanhar de Aquiles das políticas econômicas desde o final do regime militar. Continuamos otimistas em relação às perspectivas do país no médio prazo. Brasil : riscos conjunturais ? Do ponto de vista exclusivamente conjuntural, não há nenhum risco iminente à economia brasileira que seja visível, muito embora os riscos externos ainda sejam consideráveis - falaremos disto em notas subsequentes. Isso não quer dizer que tais riscos não existam, mesmo porque estes têm sido salientados por parte significativa dos formadores de opinião : a ausência de suporte fiscal para incrementar os investimentos públicos (com destaque para a previdência social), a ausência de reformas micro-econômicas fundamentais e a política cambial que é no médio prazo um atentado de peso à industrialização. (O Brasil ainda é um país muito dependente da evolução dos preços das commodities). Brasil : riscos estruturais ? Não há nenhuma reforma sendo encaminhada para modernizar o Estado brasileiro. A justiça é anacrônica, o Legislativo é disfuncional e o Executivo é, ora poderoso em excesso, ora fraco demais. O sistema tributário serve para sustentar todo este anacronismo e é ele que torna as coisas muito difíceis ao setor privado. Infelizmente, não há organização social e nem um sistema político que legitime e viabilize ações para levar o país à frente em relação às reformas estruturais. Tais riscos não impedirão o país de crescer no curto prazo, mas sempre serão obstáculos para que o Brasil seja de fato moderno. Europa : dispersão do crescimento Se o cenário local é promissor, lá fora os riscos são muito maiores. A Europa ainda está cambaleando em termos de crescimento e há enorme dispersão nos dados de consumo e investimento. Alemanha e França vão à frente e Itália, Espanha e Reino Unido - nesta ordem - vão bem atrás. A absorção das economias da Europa oriental na União Européia ainda não produz benefícios, mas atrai riscos consideráveis. Se há dúvidas em relação à fortaleza do dólar norte-americano é bom que também se tenha dúvidas sobre o euro e a libra, esta muito problemática em função da crise bancária. A taxa de crescimento da Europa permanecerá baixa e a administração da política fiscal e monetária da Eurolândia é um problema sério para o BC europeu. Além da demografia declinante e dos problemas imigratórios, cujos efeitos econômicos são muito visíveis. EUA : chave do crescimento mundial Os EUA estão mais fracos, mas persistem hegemônicos. Neste contexto, é risível acreditarmos que haverá consistência na recuperação da economia mundial sem que a economia que representa 25% do PIB mundial se recupere. A tarefa da administração Obama será a de manter os estímulos fiscais e monetários até que a demanda se restabeleça. Um dos problemas sérios para o cumprimento desta necessidade é que haverá eleição para o Congresso e o vacilante presidente norte-americano já gastou moeda política em excesso. Se a demanda ficar estagnada, ou for declinante, o cenário externo vai piorar significativamente. Tudo está numa "corda bamba". Há razões para otimismo quando analisamos os dados de produção industrial, expectativas de consumo e inflação. Todavia, o emprego patina e o setor bancário persiste débil. Em relação aos EUA a melhor aposta é a favor do país. Todavia haja desconfiança ! China : uma nova bolha ? Se a recuperação da economia mundial depende decisivamente dos EUA, a China tem sido o sustentáculo de grande parte da corrente onda positiva. Porém, as dúvidas em relação à sustentação do espetacular crescimento chinês estão crescentes e não são novas. Não é possível se afirmar que os dados fiscais, a situação bancária e os planos de investimento do país sejam críveis o suficiente para que possamos dormir tranquilos. A China é uma ditadura política e sobra obscuridade quando olhamos o futuro, muito embora pouquíssimos queiram tratar do assunto. Uma coisa é certa : os valores dos ativos refletem otimismo. E é possível, para não dizer provável, que existam exageros nas avaliações que esta entidade desconhecida chamada mercado faz. Tomemos cuidados. Em suma... Não é desejo fútil de início de ano acreditar que 2010 possa ser um ano muito bom. Aqui e lá fora. Para o Brasil, mesmo diante das eleições, pode haver até mesmo euforia e a taxa de crescimento pode superar os 6%. Os riscos não são desprezíveis, mas não são dominantes. Os EUA podem ser o destaque na economia mundial, mas a balança entre riscos e oportunidades ainda está muito equilibrada para que se possa ser muito afirmativo em relação ao assunto. Assim sendo... Vejamos o nosso radar. Radar NA REAL As posições de risco podem ser mantidas num contexto de otimismo. Os mercados de ações, neste contexto, expressarão como sempre com mais vigor o movimento dos fluxos de capital (positivos). No Brasil, o mercado acionário será mais seletivo, afinal os preços já refletem a posição relativa privilegiada do país. Os mercados dos EUA podem ser o grande destaque, mas ainda sobre cautela. A queda do dólar aqui e lá fora pode ser contida, mas não revertida, caso a política monetária do FED seja de elevação da taxa de juros. Todavia, este será um movimento que dependerá sobremaneira da evolução endógena do consumo e do investimento na economia norte-americana. As commodities permanecerão valorizadas, mas esta não deve ser uma onda crescente. Não vale a pena apostar muito a favor do real (contra o dólar), mas muito dificilmente verificaremos uma desvalorização significativa do real frente às principais moedas internacionais. Enfim, o cenário é saudável e é preciso estar preparado para ele. Com confiança e certa moderação (como sempre recomendável). 8/1/10   TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹        - Pré-fixados NA alta alta  - Pós-Fixados NA estável alta Câmbio ²        - EURO 1,4410 estável estável/baixa  - REAL 1,7264 estável/baixa estável/baixa Mercado Acionário        - Ibovespa 70.262,70 estável estável/alta  - S&P 500 1.144,98 alta alta  - NASDAQ 2.317,17 alta alta (1) - Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais)(2) - Em relação ao dólar norte-americanoNA - Não aplicável Um mar de rosas para Dilma Nas condições descritas acima, a se confirmarem, como tudo indica que vão se confirmar, o mar eleitoral parece correr para os braços do presidente Lula e de sua candidata. Não existem, como se viu, ameaças econômicas no curto prazo. O governo e os marqueteiros de Dilma vão ressaltar esse bom momento. E o eleitor médio não vota olhando muito além do seu dia. Somando-se a isto a perplexidade da oposição, que até agora não encontrou (pelo menos que se tenha na vista) um antídoto para a euforia que será levada pelo governo à ruas e a extraordinária máquina de campanha que está sendo montada para carregar o porta estandarte da ministra da Casa Civil, intui-se facilmente que a candidatura Dilma será amplamente competitiva. Não se iludam com sua posição secundária, no momento, nas campanhas. Se ela vai ganhar, é outra coisa. Dilma e seus precipícios As principais ameaças à consolidação de Dilma como candidata competitiva e com elevadas chances de vitória vêm do seu próprio território e de seus próprios demônios. A saber, em resumo : 1. Seu estilo quase indomável, grosseiro em várias ocasiões, dado a destemperos. Uma espécie de Ciro Gomes de saia - ou de terninhos.2. O apetite de seu partido, o PT, resistente em abrir espaços para os aliados.3. O apetite do PMDB, que, se não totalmente satisfeito, poderá tirar palanques e tempo no rádio e na televisão da ministra. 4. O descontentamento de outros aliados de Lula - PSB e Ciro Gomes à frente - com a preferência dada ao PT e ao PMDB. Eles terão de ser bem azeitados.5. Ações do governo, como Programa Nacional de Direitos Humanos, versão III. Criou tantos embaraços, tantas divergências internas e externas, ataca em todas as frentes, que já gerou desconfianças, temores e está atingindo a própria campanha de Dilma. Lula, habilidoso como é, deverá contornar esta crise. Mas sequelas ficarão. A oposição de seus dilemas Nada de novo no front oposicionista, desde que o governador de MG, Aécio Neves, renunciou à candidatura à presidência para continuar candidato à presidência ou tornar-se o grande eleitor dos tucanos. Serra está como sempre esteve, MG também estabelecida de onde nunca se arredou, e tucanos e democratas curtindo as mesmas incertezas e as mesmas perplexidades. A oposição só vai mostrar suas primeiras artimanhas num encontro previsto para o fim do mês, em BH. Uma homenagem a Aécio para não deixá-lo, nem a Minas, desgarrar-se do ninho. Realidade ou desejo ? Alguns tucanos, de ouvido mais apurado, negam que tudo esteja como antes em seu quartel. Segundo eles, dá para notar que o governador de MG já não nega mais com tanta ênfase a possibilidade de vir a ser o vice na chapa encabeçada pelo governador paulista Serra. Será ? Os sismógrafos dos governistas, que não querem ver esta dupla junta na sucessão nem em sonhos, ainda não registrou tal mudança de tom em Aécio. Fato ou simples torcida ? Conselho útil De um cínico de plantão em Brasília, depois de analisar a panorama político-eleitoral e econômico dos próximos meses : "Vamos festejar e aproveitar. 2011 ainda está muito longe". Pragmatismo dos bons Do mesmo personagem, a respeito das tertúlias envolvendo o Programa Nacional de Direitos Humanos - versão III : "O projeto tem coisas boas e asnices. Mas ninguém deve se preocupar. Afinal, é uma carta de intenções, que depende de o governo elaborar projetos e o Congresso aprovar. E dado ao proverbial déficit de execução do governo e ao conhecido déficit laboral do Congresso, nada vai acontecer de fato. Só um desgaste desnecessário para Lula e turbulências na campanha de Dilma." Política monetária no Brasil Não são poucas as previsões que dão conta de que o nosso BC apertará a política de juros em 2010. A questão chave é quando e quanto. Afinal, é uma precipitação afirmar que os riscos de a inflação subir são elevados. Não são. Portanto, o BC se baseará essencialmente nos dados de "PIB potencial" para estabelecer as duas variantes da taxa básica de juros (quando e quanto). Ora, o problema é que este cálculo de "PIB potencial" é altamente duvidoso e subjetivo. De toda forma, a maior probabilidade é que o BC já aumente a taxa de juros neste primeiro trimestre, mesmo que a sua necessidade seja duvidosa do ponto de vista técnico. O nosso BC é bem cauteloso. Por fim, ainda pouco se sabe sobre como ficará a liderança da autoridade monetária, com ou sem Henrique Meirelles. Este é um ponto vital e nada desprezível num ano eleitoral. Meirelles joga com dois tempos : o tempo da economia e o tempo eleitoral. Não é o melhor, vide crise na Argentina. Nossos parceiros Crise séria entre o governo de Cristina Kirchner e o presidente do BC da Argentina. Na Venezuela, Hugo Chávez, depois da desvalorizar a moeda e impor câmbio duplo no país, ameaça botar o Exército na rua para vigiar as lojas que aumentarem preços por conta do novo valor do dólar. É no que dá políticas fiscalmente irresponsáveis e medidas econômicas artificiais ou emergenciais que se prolongam no tempo.
terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Política & Economia NA REAL n° 83

Obama : totalmente condicionado Não foi apenas o belicoso discurso quando da entrega do Nobel da Paz deste ano. Não foi o papelão protagonizado em Copenhague na conferência da ONU sobre o clima. Também não foram as propostas para a solução final dos riscos geopolíticos do Afeganistão. A verdade é que quase todas as iniciativas de Obama demonstram a sua incapacidade de manobrar politicamente na política externa em função dos condicionamentos domésticos. As pressões do Congresso norte-americano no que tange as reformas no sistema de saúde, bem como os condicionamentos fiscais (inclusive de sua bancada), tornaram o ex-ícone Obama em refém para exercer o papel de príncipe do mundo. Este é um risco substantivo para o império. Como se sabe, qualquer império tem de ter dois poderes básicos : liderança e coercitibilidade. Obama está a perder os dois. Federal Reserve: a nova onda de especulação Não resta dúvida nenhuma, a nosso ver, que o banco central dos EUA está sendo transparente em relação a sua política. Todavia, a cada ata divulgada, a cada pronunciamento dos membros do comitê de política monetária e a cada ação dos outros principais bancos centrais há uma onda de notícias sobre a saída do BC dos EUA da sua política monetária de taxa negativa de juros. Isto não tem relação apenas com o que o Fed está a fazer. O que acontece é que são gigantescas as posições contra o dólar. Os investidores tomaram dinheiro em dólares e investiram em outras moedas, inclusive em moedas de países emergentes. A reversão deste processo tem de ser lenta. Todavia, os melhores fundamentos da maior economia do mundo podem estar a indicar que o pior já passou e o dólar pode voltar a subir. Se isto ocorrer, a velocidade de reversão das posições pode proporcionar grandes variações nas moedas, fato este que é risco muito perigoso. É aí que reside o problema : na especulação contra o dólar norte-americano. Real forte ? Há quase uma unanimidade em torno da ideia de que a moeda brasileira se manterá forte no próximo ano. Como já falamos em diversas colunas, não há nenhum modelo confiável para se fazer previsões em relação às moedas. Nossa opinião - não é profecia, como muitos estão a fazer no mercado - é que não é razoável acreditar em substancial valorização do Real frente ao dólar nos próximos meses. Ao contrário : recomendamos neutralidade em relação a esta possibilidade. A economia norte-americana pode continuar mais frágil relativamente ao resto do mundo, mas esta não é uma possibilidade dominante como era no início de 2009. Portanto, muita cautela. Bolsas dos EUA Se a economia dos EUA mostrar sinais de fortaleza, há razões fundamentais para acreditarmos que o mercado acionário norte-americano deve ser um dos destaques no ano que vem. Tal qual o segmento dos emergentes foi neste ano. Radar NA REAL O cenário do mercado financeiro mundial está dado até o final do ano. Um balanço objetivo mostra que a recuperação do preço dos ativos foi espetacular. Os efeitos das políticas de estímulos monetários e fiscais surtiram efeitos e uma recessão profunda foi descartada. Daqui pra frente os investidores se importarão com as duas questões básicas para decidirem sobre seus investimentos : (i) qual a taxa de crescimento sustentável das economias, sobretudo as economias desenvolvidas ?; (ii) como os governos e bancos centrais sairão das políticas de estímulos ? Se a resposta para a primeira questão for "uma taxa baixa de crescimento", haverá decepção generalizada nos mercados. Quanto a segunda questão a preocupação precípua dos investidores é se haverá inflação em função dos déficits fiscais e da taxa de juros negativas em todo o mundo. De nossa parte, acreditamos que os diversos segmentos do mercado mundial mantêm-se saudáveis. Não há razão objetiva, até o momento, que possa justificar previsões pessimistas. O cenário é de moderado otimismo. Se há uma "bolha" no mercado mundial, esta é a do ouro. A especulação domina este mercado. Não há uma hiperinflação a caminho como sugerem alguns. O ouro não é hoje uma reserva de valor. Trata-se de uma especulação sem limites. No que se refere aos mercados emergentes, em geral, e ao Brasil, em particular, o cenário é positivo, muito embora os investidores tenham antecipado em larga medida o cenário saudável para o Brasil, a Índia e a China. Não esperamos grandes desvalorizações do mercado. Todavia, não acreditamos em excepcionais valorizações. Seja das ações, das moedas ou dos ativos de renda fixa. 18/12/09   TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹        - Pré-fixados NA alta alta  - Pós-Fixados NA estável alta Câmbio ²        - EURO 1,4320 estável estável/baixa  - REAL 1,7800 estável estável/baixa Mercado Acionário        - Ibovespa 66.794,21 baixa/estável estável/alta  - S&P 500 1.102,47 estável alta  - NASDAQ 2.211,69 estável alta (1) - Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais)(2) - Em relação ao dólar norte-americanoNA - Não aplicável Aécio e a sucessão : mudar para não mudar A melhor definição para a estratégia do governador de MG, não sua renúncia à candidatura à presidência da República pela coligação comandada pelo PSDB, foi dada por um grande conhecedor da alma política do governador e de MG : "O jogo ainda não acabou." Na realidade, Aécio fez o seu lance para continuar em campo e com trunfos decisivos. Primeiro, põe em xeque o governador José Serra, obrigado a começar a atuar como candidato, mesmo sem querer. Complica a situação de Serra a ascensão de Dilma na pesquisa DataFolha. Isso aumenta suas dúvidas sobre se vai concorrer ou não ao cargo maior de Brasília em 2010. Segundo, põe em alerta o governo. Embora tenha tentado vender que temia mais a disputa com Aécio do que com Serra, a verdade é o contrário. O governo só teme mais Serra se ele vier numa chapa junto com Aécio. E Aécio não descartou nenhuma hipótese - nem o Senado, nem a presidência, nem a vice-presidência. Como se diz em MG, depois do lance de quinta-feira ele está onde sempre esteve. Somente para se ter uma ideia, já começaram a pipocar no Estado cartazes com os seguintes dizeres : "Agora ou mais na frente, Aécio presidente". Em MG, como se sabe, em matéria de política nada nasce espontaneamente, nem cafezinho é de graça. Aécio e o espírito de Minas Para entender o lance de Aécio é preciso conhecer a história do folclore de dois políticos mineiros, também atribuída a outras culturas políticas, exemplo máximo de dissimulação que é própria dos políticos e, segundo as más línguas nacionais, mais ainda de MG. Vamos a ela : Dois políticos das Alterosas, do mesmo partido, amigos, porém disputando os mesmos espaços, teriam se encontrado no aeroporto da Pampulha, em BH. Um chegando e o outro partindo. Depois dos cumprimentos de praxe, perguntas sobre a vida e a família, a comadre, o afilhado e comentários sobre o quadro político, o que estava desembarcando perguntou ao outro, assim meio desinteressado : - Fulano, para onde você está indo ? - Vou para o RJ. Lembrete : era a situação de crise e Brasília ainda não havia se fixado como capital política do país. Era apenas a capital administrativa. O RJ era a política. Despediram-se e o que chegara a BH comentou com um assessor enquanto pegavam o carro : - Sabidinho o fulano. Ele me disse que ia para o RJ para eu pensar que ele estava indo para Brasília. Mas ele está indo mesmo é para o RJ, para conspirar. O coração de Minas Caso se confirme a desistência de Aécio, o legado eleitoral de Serra como candidato tucano à sucessão de Lula vai depender de como os mineiros lerão a saída de seu governador da disputa. Se MG sentir - não precisa ser o fato, mas apenas sentir - que Aécio foi prejudicado por Serra e pelos tucanos paulistas que lideram o PSDB, vão faltar votos para o governador paulista em MG. Triângulo das bermudas Com mais de 35% dos votos nacionais, SP, MG e RJ podem acabar com uma candidatura presidencial. Por mais que as outras regiões dêem vantagem a este ou aquele, quem vacilar nesse triângulo terá muitos dissabores. Quem vai para Minas Depois da desistência de Aécio, os marqueteiros de Dilma vão correr com o projeto de identificar mais a candidata de Lula com o Estado natal dela. Embora tenha feito carreira política no RS, Dilma nasceu em BH e foi mocinha de festas na capital mineira. Está surgindo a "candidata uai". Um atropelo No governo cresce a preocupação com o comportamento do deputado Ciro Gomes e de seu partido o PSB. Ciro está cada vez mais agressivo contra a aliança PT e PMDB. E o PSB está incomodado em ser deixado em segundo plano. A pesquisa DataFolha traz um dado que fortalece as teses de Ciro : sem ele na disputa (Serra contra Marina e Dilma apenas) o governador paulista pode levar a eleição em primeiro turno. As imagens de Dilma Os marqueteiros do governo perceberam que será mais difícil do que imaginam domar a ministra Dilma : os dois escorregões que ela cometeu em Copenhague - dizer que um bilhão não faz nem cócegas e omissão de um não em uma declaração essencial sobre meio ambiente - demonstram que ela precisa de uma vigilância constante e treinamentos permanentes. Excesso de sabujismo Dilma subiu na pesquisa DataFolha e boa parte dessa ascensão pode ser creditada às suas duas aparições na TV, em propagandas do PT e ao lado de Lula. Ele é o primeiro sinal de que uma transferência de votos está se dando, em que tamanho ainda não dá para saber. Porém, alguns especialistas em marketing político acham que da forma como esta identificação tem sido posta pode se virar contra a ministra. Nos dois programas ela mostrou uma subserviência, quase uma sabujice em relação a Lula, que, se repetida demais pode passar a ideia de falta de personalidade própria. Numa, quando ela insistia com o refrão "O presidente Lula nos ensinou o caminho". Noutra, quando repetiu depois da falas do presidente "concordo com o senhor, presidente". Plataforma para vice Pessoas do governo se irritam quando alguns apontam para o perigo de um "fator Dilma" (alguns falam também em "fator Serra") conturbar um pouco a economia nacional no ano eleitoral de 2010. Algumas posições a respeito de política econômica da ministra assustariam o mercado - também as de Serra. O governo sob o terrorismo tipo efeito Lula de 2002. No entanto, mesmo na seara oficial há quem diga que o "fator Dilma" é uma possibilidade. Veja-se o que disse, resumidamente, o presidente do BC, Henrique Meirelles, na semana passada : "Após avaliar que o país cresce em bases sólidas e sustentáveis, o presidente do BC, Henrique Meirelles, disse que o principal fator de tensão e preocupação na economia não será externo, como nos últimos 15 meses de crise global, mas as eleições de 2010." Numa análise fria e realista, afirma que os temores de mudanças nos rumos da política econômica provocarão incertezas. São remotas, no entanto, as chances de o Brasil viver um novo 2002, quando Lula foi eleito para o primeiro mandato e o país mergulhou numa crise. Para ele, o Brasil está mais sólido, mas, diante da inquietação que está por vir com as eleições, avisa que o BC não hesitará e dispõe de um arsenal para combater distorções. Não é à toa que Meirelles entrou no campo eleitoral para jogar em várias posições e que Lula faz força para o PMDB incluir o presidente do BC entre os presidenciáveis do partido. Meirelles seria para Dilma o que foi para Lula a Carta ao Brasileiros, somada ao vice José Alencar. O poder de Eduardo Cunha Não há quem na política brasileira não estranhe o extraordinário poder do deputado Eduardo Cunha, do PMDB, RJ, no Congresso e junto às lideranças governistas. Ele acaba de ser indicado relator do PL 29, dos mais importantes em tramitação no Legislativo, que trata das telecomunicações no Brasil e trata, entre outras coisas, das regras de serviço de TV a cabo, produção de audiovisual, diferenciações entre conteúdo nacional e estrangeiro, a permissão para que as teles entrem na área de televisão, etc. Bombas a granel e exigem grandes negociações e acordos. Pelas mãos de Cunha, diretamente ou indiretamente por meio de seus asseclas, alguns dos mais decisivos projetos no Congresso têm passado. O curioso é que o governo tem Cunha como um dos responsáveis pela derrota da CPMF em 2007. Ele segurou tanto o projeto de prorrogação do imposto do cheque na Câmara que deixou pouco tempo para alguma negociação no Senado. E veio a derrota. Cunha só liberou o projeto quando conseguiu que o governo nomeasse um apadrinhado seu para a presidência de Furnas. Ainda assim se impõe. Esquisito, mas esquisito mesmo. Liberdade de informação Quem disse tudo sobre as sugestões apresentadas pela 1ª Conferência Nacional de Comunicações, realizada na semana passada em Brasília, foi o Estadão em editorial : "O governo agiria mais sensatamente se mandasse todas elas [as sugestões] para a lata de lixo". Nas 600 e tantas propostas há até algumas sensatas. Mas se aplicadas 10% apenas daquelas que desejam, de uma forma ou de outra, estabelecer o controle social da imprensa, a liberdade de expressão no Brasil, na imprensa e na cultura ficarão amplamente prejudicadas. Eles e a concorrência A ANATEL colocou em consulta pública, na semana passada, o texto com as novas regras para a licitação da chamada Banda H, a terceira geração da telefonia celular. A agência, para ampliar a concorrência, pretende impedir que as atuais teles - celular comprem novos espaços no espectro. É duvidoso o efeito desse tipo de proibição para os propósitos visados. Mas a reação das teles, totalmente contrárias a novas companhias nesta área, mostra como elas temem a concorrência. A ANATEL, que merece ser criticada porque não atua eficientemente para ampliar a disputa pela telefonia no Brasil, vai apanhar agora porque está agindo nesse caminho.
terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Política & Economia NA REAL n° 82

PIB : melhor que parece, pior que o esperado A maioria dos analistas econômicos apostava num crescimento de 2% no PIB do terceiro trimestre do ano. Ele foi, no entanto, de 1,3%. Em tese, uma decepção. Todavia, há razões para comemorar. O maior crescimento foi o industrial e isto é bom na medida em que ali é que se localizam os principais problemas de desemprego. A outra notícia positiva foi o crescimento dos investimentos (+ 6,5%), o que possibilitará maior equalização entre oferta e demanda agregada no futuro. Assim, a evolução do PIB pode não estar refletindo as expectativas, sobretudo do governo. Mas o ritmo é sadio e confirma a elevada probabilidade de um crescimento entre 5% e 6% em 2010. O maior risco continua sendo o ritmo alucinante do crescimento dos gastos públicos. Serra : ser ou não ser ? A lógica política indicaria a esta altura dos acontecimentos, ainda mais depois do mensalão candango do DEM, que a oposição, mais especificamente o PSDB, definiria logo seu candidato à presidência. Aliás, chegou-se a cogitar que a "coisa" não passaria do início de janeiro. E até por pressões de Aécio. Pode ser que sim, pode ser que não, bem ao estilo tucano. Se depender de Serra, volta-se a situação anterior : definição somente muito próxima da data limite de desincompatibilização, no início de abril. Serra voltou a ser assombrado (se em algum momento deixou de ser) por uma hamletiana dúvida. Em conversa com o comando de um grande grupo empresarial (simpático a ele), deixou clara sua indefinição entre ficar em SP (onde teria uma reeleição garantida, como acredita), ou disputar Brasília. Serra, entenderam muito bem os que o ouviram, calcula que uma derrota encerraria de vez sua carreira política. As razões de Serra Não é difícil entender o que está atormentando o governador paulista : 1. A popularidade de Lula.2. A disposição de Lula de jogar todas as suas fichas e todo o governo em Dilma.3. Os efeitos eleitorais dos programas sociais do governo, que a oposição não sabe como neutralizar. Ninguém se ilude com os baixos índices (para o tempo e a qualidade de sua exposição pública) de Dilma. Ela vai crescer. Quem pode atrapalhar é o PMDB e, como sempre, o PT. Ciúmes eleitorais O PSB, do governador de PE, Eduardo Campos, sempre um dos mais cordatos aliados de Lula, voltou a insistir na candidatura de Ciro Gomes à presidência. Campos foi o porta voz desta nova postura, quando tudo parecia acertado para Ciro concorrer em SP, apoiado pelo PT. Contudo, não é para valer, em princípio. O PSB está enciumado demais com o privilégio dado ao PMDB na aliança. Quer compensações, o próprio Campos enfrenta divergências com o PT. Além do mais, o partido ainda sonha em ganhar a posição de vice de Dilma, num impasse com o PMDB. Força ao PMDB Lula deu alento ao PMDB com a declaração a respeito da lista tríplice. O partido, com as reações bem programadas do fim de semana, aumentou seu cacife e o valor dos seus seis minutos no rádio e na televisão. Em compensação o presidente conseguiu botar em campo a candidatura à vice de Henrique Meirelles. O presidente do BC é um reserva que estava até fora do banco, mas que pode ser imprescindível para acalmar os empresários, caso a desconfiança mais ou menos generalizada hoje entre eles sobre as convicções, digamos, "mercadistas" de Dilma cresçam muito. O mercado não vota, mas financia e faz barulho. Vide a "Carta aos Brasileiros" que Lula teve de escrever em 2002. A contragosto dele e do PT. A história ainda registrará que esta foi aceita por Lula porque ele acreditou que não seria cumprida. As circunstâncias políticas de então forçaram a fidelidade. As nadas sutis alterações que estão sendo gradativamente postas na política econômica indicam esta interpretação. Meirelles e o calendário das urnas No mundo econômico privado, quem sabe das coisas da política tanto quanto sabe das peripécias das finanças, incluiu em seus cálculos, para tentar adivinhar quando o BC poderá começar a mexer - para cima - na taxa de juros, uma variável do calendário político : a data em que Henrique Meirelles deverá deixar o BC para mergulhar em uma candidatura em 2010. E como Meirelles tem até o dia 3/4/10 para sair, não será na primeira reunião do Copom que o BC mexerá na política monetária. Mesmo se houver imperiosa necessidade. Meirelles precisa conquistar votos. O valor dos partidos Pesquisa do Instituto Vox Populi, não divulgada oficialmente, porém revelada em seu blog pelo jornalista Fernando Rodrigues da Folha de S.Paulo, dá a dimensão exata do prestígio dos partidos políticos no Brasil : apenas 3% dos entrevistados disseram que escolhem seus candidatos por sua filiação partidária. Eles valem pelo tempo na televisão, pela máquina partidária, pela máquina pública que controlam e pela capacidade arrecadatória. Isso no período eleitoral. Depois, pelos votos que podem ter no Congresso. Um poder mais alto Fala-se na crescente influência de Franklin Martins junto ao presidente Lula. Zé Dirceu não perdeu o passo, embora tenha perdido a majestade do cargo. Dilma de fato é ouvida. Há outros interlocutores de Lula. Porém, ninguém, hoje (e sempre) é tal influente como o secretário da presidência, Gilberto de Carvalho. Com seu jeito de pacato e cordato ex-seminarista, é palavra muito forte. E nem sempre piedosa. Quem faz a política O governo concentrou toda a sua estratégia para manter a economia nacional "bombando" no ano da graça eleitoral de 2010, em quatro áreas : na Petrobras, no BNDES, na dupla BB-CEF e nos fundos de pensão das empresas estatais. O cofre de nenhum dos três depende do orçamento da União e nem está ao alcance da maioria dos órgãos fiscalizadores das contas públicas. Mudança de política Difícil ainda de dizer se para o bem ou para o mal, mas o novo "pacote de bondades", anunciado quarta-feira passada pelo ministro Guido Mantega, mostra claramente uma inflexão de quase 90° na política econômica que o presidente Lula vinha adotando desde meados do ano passado. O velho hospital Entre as medidas do novo "pacote do bem" de Mantega, quase despercebida, uma que chega a ser estarrecedora : uma linha de crédito para o BNDES financiar (não se sabe como) empresas em dificuldades. É a volta do antigo hospital empresarial do Estado brasileiro. BNDES do B O empresário Eugênio Staub, um dos primeiros de sua classe a aderir a candidatura Lula, tentou, durante anos, apoio do BNDES para reerguer a Gradiente. Não conseguiu, ao que se dizia porque sua proximidade com o presidente poderia tornar a operação, aos olhos de uma imprensa e de uma opinião pública pouco compreensiva, um escândalo. Argumento sem procedência depois do jorro de dinheiro do BNDES e do BB, para financiar a compra da Brasil Telecom pela Oi dos empresários amigos Sérgio Andrade e Carlos Jereissati. Agora, a Gradiente de Staub anuncia, ainda sem grandes detalhamentos, um plano de recuperação sem a participação do BNDES, ou seja, sem a ajuda do Estado. Porém, não deve ser bem assim. Não está o bancão, em seu lugar estarão os fundos de pensão das estatais. Entidades que não são propriamente governamentais, mas que só fazem o que seu dono (leia-se o governo) mandar . Cidade dos deuses De um especialista na capital da República, no seu universo político e administrativo : "Brasília não pode ser classificada como a cidade de corrupção, pois isto há por todo lado. Brasília é mesmo a cidade da traição : todo mundo trai todo mundo, o dia todo." Está muito feio O STF apegou-se aos pormenores processuais para não decidir sobre a suspensão da censura prévia ao jornal O Estado de S. Paulo em favor do clã Sarney. Esqueceu-se da sua obrigação de velar pelo direito constitucional irrevogável numa democracia que é o direito dos cidadãos de serem informados. Em menos de um mês o STF cometeu duas excrescências : este caso do Estadão e a decisão sobre o terrorista italiano Cesare Battisti. Já não se fazem STFs como antigamente. Silêncio dos inocentes Foi discreta demais, para a revolução interna que está provocando, a troca do diretor jurídico do BB, Joaquim Cerqueira César, ocorrida há duas semanas. Quem quiser entender um pouco mais, pode pesquisar em algumas perdas de prazo na advocacia do BB em ações que interessavam os funcionários e em alguns negócios bancários de interesse superior que estão paralisados ou simplesmente não saíram. Radar NA REAL Dubai pagou um importante vencimento de dívida nesta segunda-feira. Os US$ 10 bilhões foram refinanciados. Este é um sinal que permite duas interpretações : o mundo já tinha incorporado o problema nas suas avaliações e o fato de que ainda há muitos "cadáveres" que podem surgir por aí. De toda a forma, acreditamos que o final de ano deve ser tranquilo e positivo. 2010 deve ser mais próspero no mundo e, particularmente, no Brasil. Os preços dos ativos já incluem esta possibilidade. Todavia, com as taxas de juros negativas em relação à inflação na maioria dos países, há pouca probabilidade de uma queda brusca e contínua nos preços dos ativos. Pelo lado do Brasil, a taxa de juros básica não deve subir tão rápido depois do anúncio do PIB do terceiro trimestre do ano, mas a bolsa de valores não deve variar muito : nem para cima e nem para baixo. 11/12/09 TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA alta alta - Pós-Fixados NA estável alta Câmbio ² - EURO 1,4634 estável/alta alta - REAL 1,7506 estável alta Mercado Acionário - Ibovespa 69.267,47 baixa/estável estável/alta - S&P 500 1.102,35 baixa/estável alta - NASDAQ 2.190,86 baixa/estável alta (1) - Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais)(2) - Em relação ao dólar norte-americanoNA - Não aplicável
terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Política & Economia NA REAL n° 81

Vergonha Toda vez que ocorre uma crise política, ligada à corrupção, de grandes proporções, parte da classe política e até da sociedade mais informada se lamenta da legislação eleitoral e partidária brasileira, cujas falhas serviriam de incentivo a esse tipo de ação. E tome-se a panacéia : a reforma política. É certo que nossas leis são fracas neste ponto - não somente para inibir como também para punir, diante da morosidade do Judiciário. Porém, não é porque a lei é débil que se está autorizado a sentir a carne fraca e pecar. É uma questão de bons costumes. É o caso de se pensar, como Capistrano de Abreu, numa Constituição Federal (pelo menos para os homens públicos) de apenas dois artigos : Artigo 1º - Todo brasileiro deve ter vergonha na cara. - Artigo 2º - Revogam-se as disposições em contrário. Lula e suas ilusões Lula, na esteira do caso Arruda, foi um dos primeiros a sacar da cachola uma solução mágica para nossos males da corrupção. Relembrou que mandou duas reformas políticas para o Congresso e que deputados e senadores não quiseram saber dela. E defendeu uma Constituinte exclusiva, derivada da Câmara e do Senado, para mudar a legislação eleitoral e partidária do país. Trata-se de um acúmulo de informações trucadas e equívocos : 1. As propostas enviadas pelo governo eram restritas, não mexem nos reais problemas dessas leis.2. O governo tem extraordinária maioria no Congresso, para aprovar o que quiser, sem precisar da oposição. Acaba, agora mesmo, de aprovar, em rara velocidade, a PEC do Calote - a dos precatórios. Se não aprovou a reforma política, a reforma partidária ou qualquer outra reforma é porque não quis, não se empenhou, não teve a vontade política que Lula tanto acusava seus antecessores de não terem.3. A "Constituinte" que Lula quer, dizem bons juristas, é, no fundo, um estupro constitucional. E que pode se prestar a vários serviços, até mesmo mudar questões ligadas à duração de mandatos. E por aí adiante. Quem tem medo Para o tamanho do escândalo, foram tímidas, muito tímidas, as reações gerais no mundo político-partidário ao mensalão do DEM. Há pedidos de impeachment, é fato, protocolados por partidos. Mas tudo com muita cautela. Em casa que tem caixa dois, ninguém quer meter a mão na colmeia. Veja-se o voto do novo ministro do STF, José Antonio Toffoli, no caso do mensalão mineiro. Foi contrário ao indiciamento do ex-governador e atual senador tucano Eduardo Azeredo. Um dos argumentos apresentados está na mesma linha de defesa dos "mensaleiros" do PT. Noites insones Ainda vai dar muito mais o que falar do que se imagina a Operação Castelo de Areia, da PF, a respeito de patrocínios eleitorais da Construtora Camargo Corrêa. Peixes graúdos terão de dar explicações bem convincentes sobre dinheirinhos em suas contas. Silêncios de minutos Com os respingos que recebeu - e ainda receberá - do mensalão candango, o PSDB, bem mineiramente, vai ficar "na moita" nas próximas semanas em matéria de sucessão presidencial. Deu para trás a ideia de definir a candidatura presidencial tucano até meados de janeiro. É preciso deixar esfriar o assunto. Radar NA REAL Não há nada de relevante a informar no que tange ao funcionamento dos mercados de capital e financeiro mundo afora. Tudo corre na mais perfeita paz. As várias classes de ativos (renda fixa, ações, commodities, futuros, etc.) estão com variações moderadas, mesmo que os fundamentos ilustrem que a recuperação já atinge inclusive os EUA, muito embora por lá a superação dos sérios problemas da área financeira ainda devam ser superados. De nossa parte ainda acreditamos que os mercados vão "andar de lado" com eventuais "realizações de lucros" mais acentuadas. 4/12/09   TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹        - Pré-fixados NA alta alta  - Pós-Fixados NA estável alta Câmbio ²        - EURO 1,4792 estável/alta alta  - REAL 1,7363 estável alta Mercado Acionário        - Ibovespa 67.610,86 baixa/estável estável/alta  - S&P 500 1.105,98 baixa/estável alta  - NASDAQ 2.194,35 baixa/estável alta (1) - Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais)(2) - Em relação ao dólar norte-americanoNA - Não aplicável Foi para as mãos de Lula Os resultados das duas eleições regionais petistas, mais importantes para o partido no contexto da sucessão presidencial, não saíram a contento para os propósitos de Lula de enquadrar o PT. Em MG, fortaleceu-se o grupo da candidatura própria - do ex-prefeito Fernando Pimentel - em detrimento de uma aliança com o PMDB de Hélio Costa. No RJ, com disputa cercada de acusações de fraude - os desdobramentos indicam que a dissidência do prefeito Lindberg Farias vai criar muitas complicações para um acerto sereno com o PMDB do governador Sérgio Cabral. No PA e na BA, a possibilidade de acordos PT/PMDB negociados partidariamente já se esgotou. Dilma não tem cacife para alterar o quadro. Lula vai ter de entrar em campo. Companheiro O ministro Celso Amorim, das Relações Exteriores, deslocou-se na semana passada, fora da agenda, da Europa para o Irã. O governo brasileiro farejou que as reações negativas à aproximação com Mahmoud Ahmadinejad, bem maiores do que imaginou a vã filosofia itamaratyana. Hora de recolher os flaps e tentar corrigir o incorrigível. Sabe-se também que há setores da defesa nacional preocupados com esta aproximação. É bom prestar a atenção Quem ouviu muito atento à copiosa explanação sobre a política da Petrobras, feita pelo presidente da empresa, José Sérgio Gabrielli no encontro anual da indústria química, saiu de lá com duas certezas (e preocupações) : 1. A Petrobras não tem condições de garantir à indústria química (e certamente a outras também) o abastecimento de gás para fins industriais nem em quantidade nem em boas condições de preço. Ou seja, elas terão de utilizar outros combustíveis, mais poluentes, e entram em campo com menos poder de competição com os concorrentes de outros países.2. A estatal tem sido forçada pelo ONS (operador do setor elétrico) a fornecer gás (às vezes em regime de urgência) às termoelétricas movidas a este tipo de combustível. Gabrielli disse que às vezes recebe um pedido desses para cumprir num prazo exíguo de duas horas. Sinais de que estão havendo gargalos no sistema elétrico. Tudo ao consumo A aposta do governo para 2010 está toda no consumo. Embora diga, por exemplo, que as isenções fiscais para carros, móveis, materiais de construção podem terminar em 2010, não deve ser bem assim. Não é também absolutamente certo que novas isenções nos produtos finais estão fora de cogitação. Em compensação, outras isenções fiscais, tipos para máquinas e equipamentos, estão praticamente com os dias contados. Mercado eleitoral - classes C, D e E Quem está determinando as decisões de política econômica não é apenas o mercado financeiro, o mercado cambial ou tais. O determinante é o que se pode chamar de mercado eleitoral, traduzível na seguinte máxima : tudo o que deixar feliz o eleitor/consumidor, especialmente o de baixa renda, tem prioridade. Um dos pilares é a expansão do crédito dito popular. A compra de parcela do Banco Panamericano pela CEF tem esse foco. No terreno das obras e projetos, a prioridade é para o que tem visibilidade e é passível de ser inaugurado durante o processo eleitoral. Comprar Brasil A Petrobras criou na semana passada normas para dificultar, em seus negócios, a compra de material estrangeiro. Há dias, o Ministério da Saúde, fez o mesmo em relação à compra de equipamentos. É o projeto "Compra Brasil" : o governo quer usar as compras governamentais - da administração direta e das estatais - para incentivar a produção nacional. Este foi um dos temas mais discutidos na semana passada entre representantes do setor público e empresarial semana passada na Fiesp. Um alerta de Delfim Entusiasta do atual governo, portanto insuspeito de "terrorismo", o ex-ministro Delfim Neto terminou assim seu artigo da semana passada no jornal Valor Econômico : "(...) é mais do que evidente que o conhecimento econômico é fundamental para uma administração pública que deseje estimular o crescimento com alguma justiça social e equilíbrios interno e externo, e que ignorá-lo tem custos sociais imensos. O exemplo mais claro é a obediência às identidades da Contabilidade Nacional que governos mais sanguíneos tentam frequente e inutilmente violar e pagam caro por isso." Enigmático ? Nada. O ex-deputado paulista se refere, obviamente, às manobras contábeis que o governo está utilizando para tentar mascarar, um pouco, os desarranjos que já começam a aparecer nas contas federais. As gigantes nacionais Temos mais uma fusão enorme na praça, a das Casas Bahia com o Grupo Pão de Açúcar. A sequência de operações de fusão, no geral, contam com a "benção" do governo, sobretudo do BNDES. Em tese, espera-se que a formação de empresas maiores fortaleça a capacidade de competir desta empresas. É preciso, contudo, saber exatamente de onde vem esta "fortaleza". A concentração traz muitas economias de escala, sobretudo na órbita dos custos. Todavia, o maior temor é que estas empresas adquiram poder de mercado que lhes permita manipular preços e margens, seja de si próprias, seja de seus fornecedores. Em poucas palavras, a "fortaleza" das empresas parece residir na exploração de mais lucros dos bolsos dos consumidores locais. Interessante notar que as estruturas para fiscalizar tais fusões (CADE, por exemplo) são bem mais frágeis que aquelas que financiam tais projetos (BNDES e outros bancos oficiais). O consumidor parece desprotegido e sujeito às mazelas que virão com a concentração do mercado. Bancos estão pagando resgate O Bank of America já repagou ao governo e FED os valores referentes ao apoio recebido no âmbito do TARP - Trouble Assets Relief Plan. Há outros grandes bancos norte-americanos estruturando planos para reembolsar o tesouro e as autoridades monetárias. Certamente um bom sinal : a pressão para ter apoio oficial está declinando. Há um outro lado da moeda : isto permitirá que os executivos possam voltar a ter os seus gordíssimos planos de compensação (bônus).
terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Política & Economia NA REAL n° 80

Dubai é novidade ? O Emirado de Dubai construiu uma daquelas histórias que se tornam manchete de quase todos os jornais do mundo, mas que de fato não é um acontecimento inesperado. Aquele pedaço minúsculo de terra representa, como nenhum outro, o perfil especulativo do mercado mundial nas últimas duas décadas. Por lá, foram construídos inúmeros empreendimentos imobiliários, desde escritórios em prédios monumentais até mansões enormes doadas a personalidades públicas para promover a atração de recursos de investidores mundo afora. Ah ! Tem ainda o turismo, mesmo que lá somente existam terras inférteis e prédios de arquitetura arrojada que se desfraldam sob os olhos dos mais desavisados. Dez entre dez investidores bem informados já sabiam que aquele Emirado do Golfo Pérsico tinha lá seus problemas, velhos problemas : investiu largamente em maravilhas do mundo baseado na crença de que os preços do petróleo iriam ficar eternamente ao redor de US$ 150. Hoje estão pela metade. Talvez o mesmo percentual do valor de face das dívidas do país e do setor privado que lá despejou bilhões de dólares. E agora ? O que os empreendedores (especuladores) de Dubai querem é evitar um default formal da sua dívida de US$ 60 bi. Se fossem argentinos, os árabes que comandam o pedaço já teriam mandado não apenas recados, mas um plano de redução da dívida começando com uma moratória. Talvez isto não ocorra, mas os fatos são os mesmos. O mais provável é que aquele pessoal (o mesmo pessoal !) da City e de Wall Street que emprestou bilhões de forma irresponsável cobre umas comissões a mais (bem generosas) e refaça os planos de pagamento em termos de prazos e, quiçá, em termos de valor. Por que crer nisto ? Por uma razão simples : apesar dos problemas de caixa do emirado, não houve uma venda massiva de títulos da principal empresa estatal do país : o prêmio de risco - spread - subiu de 116 pontos (ou seja, 1,16% acima do que pagam os títulos do tesouro norte-americano) para algo ao redor de 434 pontos. Um nível muito alto, mas nada que se aproxime dos níveis do default argentino durante o governo Kirchner (tratamos do marido, no caso). Portanto, uma moratória clássica pode até ocorrer, mas ainda não é o mais provável de acontecer. Efeitos sobre os mercados Analistas, comentaristas de TV e jornal, palpiteiros de plantão etc. não gostam muito de refletir sobre os fatos um pouco além do dia-a-dia. Como dissemos, os problemas de Dubai são antigos e conhecidos. Não estavam na mídia, pois não "havia o que contar". Agora, que o país tenta um acordo para melhorar seu fluxo de caixa, há fato. Logo, está pautado pela imprensa. Teremos mais novidades pela frente, pelo menos nas manchetes. Todavia, o fato real é que os mercados em todo mundo subiram muito nos últimos meses. Dubai será uma ótima razão a justificar uma queda e um ajuste nos preços. Ao final de algumas semanas é possível e, até provável, que Dubai volte a ser, digamos, "a princesinha do golfo", com seus prédios enormes de utilidade duvidosa. Não queremos tornar as afirmações acima em previsões. Apenas queremos registrar que a ausência de novidades nos fatos até agora. É melhor observar mais um pouco. Todavia, a probabilidade de "realização nos lucros" é alta. Particularmente nos países ditos emergentes, onde o Brasil brilha como as estrelas de sua bandeira. Radar NA REAL Teremos alguns dias e semanas de maior pessimismo. Do ponto de vista estrito dos fundamentos, a evolução da economia mundial continua positiva. O mercado laboral norte-americano está mais favorável, os números do setor industrial de lá evolui a passos mais seguros e o consumo neste período de Ação de Graças e Natal foi positivo. Aqui no Brasil, o ritmo da economia preocupa, não em função do risco de recessão, mas pela elevada probabilidade de estar crescendo numa velocidade incompatível com a taxa de juros básica. Sem sinais de moderação fiscal por parte do governo, é possível que em 2010 "estouremos a boca do balão" e talvez a "boca da inflação". De toda a forma o cenário é positivo. Os riscos existentes são controláveis (mesmo a inflação), mas o desprezo dos governos em período eleitoral com a sustentação de médio prazo da economia é notável. Seja o governo social-democrata, liberal ou sindical. O nosso radar mostra tendências pioradas em relação às últimas semanas. Dubai veio reforçar estes nossos pontos de vista. 28/11/09 TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA alta alta - Pós-Fixados NA estável alta Câmbio ² - EURO 1,4988 estável/alta alta - REAL 1,7408 estável alta Mercado Acionário - Ibovespa 67.082,15 baixa/estável estável/alta - S&P 500 1.091,49 baixa/estável alta - NASDAQ 2.138,44 baixa/estável alta (1) - Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais)(2) - Em relação ao dólar norte-americanoNA - Não aplicável O inferno da política As denúncias sobre corrupção de José Roberto Arruda e de seu governo apenas são mais um exemplo do abandono dos interesses públicos por parte da classe política. Alguém poderia alegar que são "casos isolados". Em nossa visão, a corrupção e a falta de compromisso da classe política são fatos recorrentes e generalizados. Não à toa, as pesquisas de opinião pública mostram o descrédito recorde dos políticos por parte da população. Arruda é velho conhecido da malandragem política. Juntamente com o velho e já morto senador ACM foi o responsável pela quebra de sigilo do painel eletrônico do Senado. E lá está ele de novo recebendo uma graninha de seu ex-secretário. Sinceramente, não há o que falar... Já era previsto Não que fosse esperado para estourar no governo do DF, mas um escândalo como este envolvendo Arruda é sempre uma grande probabilidade aberta na administração pública brasileira. Por absoluta falta de empenho de autoridades constituídas e da política (sem contar certa leniência jurídica) de fechar as portas da corrupção. Tivemos a dupla Collor-PC Farias, os anões do orçamento, os sanguessugas, o mensalão tucano, o mensalão petista e centenas de outros casos menores ou menos notados. E o que foi feito para mudar os costumes e as leis que propiciam tais barbaridades ? Nada, mas nada efetivamente. Portanto, podemos nos preparar para novas histórias, ainda mais com este tão eleitoralmente competitivo 2010. Mau exemplo Quando ataca o TCU, o MP diz que no Brasil há fiscalização demais e prepara novas regras para o TCU nas quais se dará prioridade às perícias quando as obras já estiverem prontas, Lula apenas dá mais munição para que outros mensalões e outras ações menos ortodoxas ocorram. Todas as histórias têm o mesmo fio condutor : dinheiro público desviado e/ou dinheiro de quem trabalha para o setor público, o que dá na mesma. Não importa o partido Todos são iguais perante a lei, reza a CF/88. Sabemos que a lei não é tão imperativa assim cá no Brasil. Se o "Estado de Direito" não prevalece como deveria, o "Estado das Coisas" vai caminhando celeremente. Não há barreiras e todos os partidos têm sérios problemas. O avanço do MP nos últimos anos com suas ações é, neste contexto, positivo. Todavia, o Estado necessita avançar muito mais neste campo e tornar o problema da corrupção como se fosse uma doença, tal qual a AIDS e a dengue. Uma nova via é possível ? Se há decepções acumuladas com os grandes partidos e seus líderes, muitos deles processados e/ou condenados por seus atos ilícitos haverá possibilidade de construir uma nova via de se fazer política ? Há barreiras de natureza objetiva : estrutura partidária, acesso aos meios de comunicação, bancadas desde as câmaras municipais e até o Senado Federal, etc. Algo nada desprezível. Todavia, a oportunidade de construção de uma nova forma de se fazer política existe, mas contará com mais uma dificuldade além daquelas que listamos logo acima : a descrença da população com o novo. Neste sentido, a forma tradicional do PT de fazer política, com seus "pactos" com "Judas Iscariotes", consolida a visão negativa sobre "novas formas" de se fazer política. Marina e doze razões O professor de direito constitucional e ética da Universidade Mackenzie Marcos Peixoto será candidato a senador pelo PTN de SP. Em seu blog, o professor teceu comentários otimistas sobre a candidatura de Marina Silva. Relacionou doze razões que justificam sua possível eleição. Vale a pena ler. Nestes tempos de decepções generalizadas com a política... Marina : entusiasmo e realismo Há, de fato, um elevado entusiasmo entre os apoiadores da ex-ministra do Meio Ambiente e em setores, especialmente entre os universitários e classe média, decepcionados com o PT, o PSDB e a política tradicional. Eles acreditam que Marina vai crescer depois de vencidos alguns obstáculos políticos e depois que ela voltar com mais frequência à mídia, a partir da aparição dela em Copenhague, na conferência da ONU sobre o clima. Porém, há obstáculos a romper : 1. Falta de apoio oficial de outros partidos para aumentar o tempo da ministra no rádio e na televisão.2. Escassez de recursos materiais para conduzir uma campanha que será dura e cara e na qual os dois principais oponentes dela deverão exibir excelente saúde financeira. Climáticas A decisão dos EUA e da China de apresentarem também propostas de redução dos gases do efeito estufa com metas claras na reunião de Copenhague frustrou a estratégia do governo brasileiro para sair do encontro como o grande líder mundial nas questões ambientais. O Brasil mostraria seu projeto e informaria sua intenção de cumprir a metas independentemente dos que os outros fizerem. Agora, apresentando suas intenções numéricas, a discussão se transfere para o terreno da concretude de cada proposta e sua sustentação financeira. O palco de Lula e Dilma terá de ser dividido com outros. Agora é para valer Não passa da primeira semana de janeiro a definição do PSDB entre a candidatura de Serra e Aécio e a definição de toda a estratégia de campanha da aliança oposicionista. Incerteza e angústia Embora tenham tudo para comemorar (e, aliás, fazem isto diariamente em público), os petistas internamente não estão tão eufóricos assim com a campanha presidencial : 1. Calculam que, pela exposição que está tendo e diante das dificuldades dos adversários, a ministra Dilma já deveria estar apresentando melhores resultados nas pesquisas.2. As disputas regionais entre o PT e o PMDB em alguns estados estão chegando a um ponto que podem comprometer a campanha de Dilma. Eles não estão mais angustiados porque a oposição faz tudo e um pouco mais para ajudar o PT. Isenções eleitorais Não há justificativas técnicas, do ponto de vista macroeconômico, para a prorrogação da isenção do IPI dos carros flex fuel e para as isenções do mesmo imposto para o setor moveleiro concedidas na semana passada. Novas bondades virão este ano ainda e mais ainda no ano da graça eleitoral de 2010. Intenções eleitorais Lula condiciona a aprovação de novas regras para os reajustes das aposentadorias do INSS à votação, antes, dos projetos do pré-sal. A oposição diz que obstrui a votação do pré-sal até o governo definir a correção das aposentadorias. Os dois não querem brigar com os "velhinhos". Também, pudera, são 26 milhões de aposentados, quase que um por família no Brasil. Um caminhão de votos. Quem vale mais A briga está tão feia na base aliada pela divisão dos royalties do petróleo que Lula adiou a votação dos projetos na Câmara para quando ele voltar de Alemanha, depois do dia 8. Até lá o presidente terá de decidir se fica com os estados ricos e com o governador aliado Sergio Cabral do PMDB/RJ ou com o nordeste do governador aliado Eduardo Campos do PSB/PE. Lula poderá testar sua capacidade de dar um jeitinho e agradar a todos ao mesmo tempo. A preocupação paralela é que a disputa provoque desgaste na base de apoio à candidatura Dilma. Já há quem esteja vendo na insistência de Ciro Gomes em manter sua candidatura presidencial com um recado nordestino e do PSB a Lula. Lula e Ahmadinejad Uma análise isenta dos fatos reais relacionados com a visita do presidente do Irã ao Brasil mostrará que o governo Lula reforçou os aspectos tradicionais da política externa brasileira em relação à política do oriente médio, à utilização de energia nuclear e aos direitos civis. Ora, então qual foi exatamente a razão para a visita de Ahmadinejad ao Brasil ? O país importou problemas e não exportou nada de novo. Ao contrário, se viu associado a um presidente sobre o qual pesam dúvidas a respeito de sua legitimidade política e absoluta insensatez em relação à paz mundial. Realmente, não dá para entender. Além disto, o Brasil se desmoralizou ainda mais com a sua abstenção de votar a condenação da Agência Nuclear da ONU em relação ao programa de enriquecimento de urânio do Irã. Até os mais tradicionais aliados do Irã (China e Rússia) condenaram o parceiro. E não pegou nada bem para o Brasil e suas pretensões de ser protagonista da paz mundial o fato de o líder do Irã ter anunciado a intenção de construir mais 10 usinas nucleares no país menos de cinco dias depois de ter passado por Brasília. Lula e César Benjamin Não pode passar em branco a acusação do ex-militante político César Benjamin de que Lula em 1994, no período eleitoral, teria dito que tentou "subjugar" sexualmente um companheiro de cela quando de sua prisão durante a ditadura militar. O silêncio de Lula no caso significará uma corroboração implícita do fato. O presidente tem de reagir, caso considere os fatos descritos por Benjamin como mentirosos. Atuar "politicamente" em relação ao artigo da Folha de S.Paulo é inaceitável em função da gravidade da acusação. Outro aspecto do caso : por que Benjamin demorou tanto tempo para divulgar um fato que julgava relevante em relação ao atual presidente ? Há outras motivações por parte do ex-militante ? Cinema, política e marketing Não vimos ainda o filme "Lula, o filho do Brasil". Não dá, portanto, para julgá-lo como obra cinematográfica e nem para dizer se é fiel à vida do biografado ou é uma livre e edulcorada interpretação da trajetória de Lula. Dá, no entanto, para observar alguns pontos a respeito de suas intenções e consequências : 1. É necessário saber se o filme nasceu na cabeça apenas dos Barreto ou se eles foram "induzidos" por alguém a fazê-lo. Isso dirá tudo sobre a estratégia de marketing.2. O fato de estar ocorrendo um lançamento tão grandioso e uma campanha e divulgação tão excepcionais, já indica intenções eleitoreiras claras.3. O filme, por todas as informações disponíveis, é o início da consolidação de um mito, mesmo que esta não tenha sido sua intenção original. Lembremos que o ano de 2010 vai abrigar duas campanhas : a de Lula e, paralelamente, a de Dilma. Lula montou uma estratégia para ser ele a estrela de 2010.4. Pode também não ter sido a intenção, porém o filme tem jeito de quem quer balizar a escrita da história sobre Lula.
terça-feira, 24 de novembro de 2009

Política & Economia NA REAL n° 79

O PMDB da vida real A imprensa, de um modo geral, não deu importância à reunião de parte do PMDB no sábado em Curitiba, sob o comando do polêmico Roberto Requião. O PT, o governo, o PSDB e o DEM também preferiram ignorar publicamente o fato. Porém, ele veio para perturbar. A moção de 14 seções estaduais do partido - maioria entre os 26 diretórios estaduais mais o distrital de Brasília - que lançou a candidatura própria de Requião à presidência racha o partido. Mostra, no mínimo, que o que está sendo vendido pelos líderes não é de pronta entrega. A candidatura Requião dificilmente vingará, bem como dificilmente o grupo que esteve no Paraná seguirá unido em torno de uma mesma candidatura à sucessão de Lula. Contudo, põe novos atores - e novos custos, novas exigências - a montagem da ampla aliança que o presidente quer formar em torno de sua favorita. O PMDB não tem uma voz unificada nem nenhuma liderança nacional. Lula terá de negociar com uma "confederação". E o presidente parece ter percebido o desafio depois da desacorçoada declaração de que a candidata governista vai ter de conviver com palanques duplos em diversos Estados. Como isso é delicado, complicado... O PT na vida real Quando se referiu ao "complicômetro" dos palanques duplos na campanha de Dilma, Lula não apontava para o PMDB a sua metralhadora giratória. Seus alvos maiores são os companheiros petistas de jornada. Está delicado em muitos Estados cortar carreira e ambições em nome de um projeto nacional. Lula, com o prestígio que tem, poderá impor ao seu partido o "centralismo democrático" dos bons tempos. Porém, deixará sequelas graves, capazes de prejudicar não apenas uma possível administração Dilma como também os passos futuros da legenda. Ainda mais se Dilma não ganhar e a turma for apeada do poder e ficar sem força em Estados importantes. O PT ao traçar sua estratégia futura tem algumas variáveis a considerar : o pós-Lula, a possibilidade de não eleger Dilma (ou seja, voltar à planície sem cargos) e o fato de seu aliado preferencial, o PMDB, não ter nada a perder na sucessão presidencial (será governo qualquer que seja o eleito). O PSDB na vida real Antes de mais nada, quem tiver informações sobre o PSDB, por favor, informe esta coluna. Ironias à parte, os tucanos terão de pular do muro antes do fim ano, talvez nas duas próximas semanas. As aparências que Serra e Aécio procuram exibir não convencem mais ninguém. O problema é que o partido parece não ter nenhuma liderança, nem mesmo o ex-presidente FHC, em condições de botar os móveis no lugar. Será mesmo uma estratégia ? Alguns bem informados do ninho tucano garantem que faz parte da estratégia eleitoral da oposição as duras críticas conceituais que o ex-presidente FHC tem feito ao presidente Lula, como as do artigo de duas semanas atrás publicado no "Estadão" e em "O Globo" no qual falou em subperonismo e outras coisas mais. O raciocínio é simples : como Lula quer comparar os dois governos - o dele e o de FHC - o ex-presidente sairia para a liça para debater com Lula. Dizem até que o presidente já mordeu a isca. Assim, Serra ficaria livre para provocar Dilma no terreno que os tucanos julgam melhor : propostas para o futuro, não um olhar para o passado, e confronto de biografias e capacidade gerencial. Pode ser que este já seja um caminho traçado. Antes, contudo, os tucanos precisam dizer o que pretendem. Fed na corda bamba Depois de um estímulo fiscal da ordem de US$ 3,0 trilhões, o Fed está fiscalizando e analisando algumas das principais instituições financeiras do país para verificar se têm capacidade financeira (capital adequacy) para bancar os riscos de suas carteiras de investimento e de crédito. Há pressões do Congresso americano para que a autoridade monetária impeça o surgimento de novas bolhas especulativas. A fiscalização foi iniciada junto aos bancos Goldman Sachs, JP Morgan Chase, e Morgan Stanley. Pois bem : a verdade é que o Fed está num momento delicado. Ao manter as taxas de juros próximas de zero, o Fed estimula a economia, mas também o surgimento das "bolhas especulativas". Há o agravante do enfraquecimento do dólar, o que é bom para as exportações americanas, mas é ruim para o equilíbrio das contas correntes dos parceiros comerciais dos EUA. A única coisa certa é que um erro do Fed custará caro aos americanos e ao resto do mundo. Especulação : tudo como dantes A proliferação dos fundos especulativos denominados hedge funds prossegue ao redor do mundo. Mais e mais executivos estão a caminho de montar as suas próprias empresas de investimento para participar da jogatina internacional. A única coisa certa nisso tudo é que nem a administração Obama nem os organismos multilaterais (BIRD, FMI, BIS), estão dispostos a emitir opiniões sobre o fenômeno, e muito menos regular estas instituições, muitas delas localizadas em paraísos fiscais. A economia mundial está a se recuperar a passos lentos e, em alguns casos, trôpegos. Todavia, os fundos especulativos estão recuperados e preparados para construir uma nova bolha. Cadê a posição brasileira ? Lula candidato fazia bravatas contra a especulação. Como presidente sabemos que tomou o caminho conservador na gestão econômica. Tem, inclusive, orgulho de emprestar dinheiro ao FMI, instituição contra a qual mirava os seus ataques políticos na fase "xiita". Não seria este o momento do Brasil cobrar uma posição em relação ao andamento das reformas relacionadas com o sistema financeiro internacional ? Meirelles parece definido - I Deve ser mesmo verdade a declaração do presidente do BC Henrique Meirelles de que permanecerá até o final do mandato do presidente Lula na sua atual posição. Não há desencanto de Meirelles com a política, mas também não há muito consenso no seu Estado natal em relação à sua candidatura. Os diretores atuais do BC parecem inclinados a seguir a posição do chefe. Isto pode evitar uma transição atabalhoada da autoridade monetária às portas do processo eleitoral do ano que vem. Meirelles parece definido - II Ficando, Meirelles estaria atendendo a um pedido de Lula, preocupado com um possível "efeito Dilma" no dito mercado. Há também o "efeito Serra" mais ou menos idêntico ao de sua concorrente : os dois são vistos por operadores do mercado financeiro como muito "abertos" no que tange à política monetária. Porém, há outras explicações plausíveis para as hesitações de Meirelles : o pouco espaço que os muy companheiros do PMDB, nacionalmente e em Goiás reservaram até agora para ele. Meirelles não tem a garantia ainda de que poderá disputar a governadoria ou uma das vagas goianas para o Senado. Menos ainda a possibilidade de ser vice de Dilma. E uma vaga de deputado federal, com a que ele renunciou em 2003 como tucano para ir para o BC, passou a ser pequena para quem tem o prestígio interno e externo que ele tem hoje. Meirelles prefere guardar-se para quando o carnaval chegar. Portanto, diz esta interpretação da provável desistência de Meirelles que pode ser apenas uma pressão sobre o PMDB, partido que até já se apresenta em sua propaganda como detentor do BC. O Torós passou Ponto para Meirelles : muito boa a sua atuação na substituição do falante diretor do BC Mário Torós. Indicou um nome bem recebido pela comunidade de negócios e mostrou autoridade perante o antigo diretor. Ficou uma dúvida, porém, que somente será sanada nas duas ou três próximas reuniões do Copom : de que lado perfilará o novo diretor, Aldo Mendes, oriundo da burocracia financeira estatal - se do lado mais ortodoxo ou do lado dos mais desenvolvimentistas. São fortes as pressões para que o BC nem ouse em pensar em aumentar a Selic no ano que vem. Mais uma sugestão ao Congresso Não seria o caso de se criar uma regra consistente com a realidade eleitoral no que diz respeito à substituição do presidente do BC ? O mandato fixo para o presidente e diretoria do BC, bem como a discussão sobre a independência da política monetária, podem não ser assuntos populares, mas garantem segurança ao país nas transições eleitorais. O problema é que estamos em temporada eleitoral e tudo o que possa ser polêmico e tido como impopular, mesmo que necessário e urgente tende a ser negligenciado. Pitta morre, mas os seus segredos... Não são poucos os segredos que o ex-prefeito Celso Pitta leva para o túmulo. Todos relacionados com a gestão de Paulo Maluf na prefeitura paulistana, bem como com a sua própria. Não são poucos os que estão se movimentando em relação a este assunto nada fúnebre. A trajetória profissional, política e pessoal de Pitta são exemplo da tragédia na vida dos homens com excesso de ambição e a fruição demasiada do poder. De ambições e poder Por falar nesses dois assuntos, nesses nossos tempos bicudos vale lembrar a lição de Lord Acton : "O poder corrompe. E o poder absoluto corrompe absolutamente." STF decide e Lula não decide. Ainda Já se sabe que Lula demorará a decidir sobre a extradição de Cesare Battisti. Esperará os prazos legais para decidir. Nos bastidores prepara fórmulas jurídicas para justificar a extradição do "companheiro de carteirinha" de Tarso Genro. Os companheiros de Battisti comemoram a decisão do STF. Lula nem tanto. Será obrigado a tomar uma decisão delicada, o que nunca foi de seu feitio desde os tempos do sindicalismo. Apagão e sucessão Ninguém leva a sério o assunto : nem o governo, que deseja enterrar o assunto apagão, e nem a oposição, envergonhada com o seu apagão durante o governo FHC. O jogo é meramente eleitoral e por conta disto é provável que não saibamos as efetivas causas do "microincidente" (apud Tarso Genro) de agora há pouco... Radar NA REAL Mantenha suas posições de risco. Esta é a melhor indicação que podemos lhe dar neste momento. Não é hora de aumentar as posições no mercado acionário, nem de moedas, nem de commodities etc. Todavia, não é a hora de reduzir posições apesar da volatilidade recente do mercado local e internacional. Há investidores desconfiados de que a recuperação da economia mundial não é sólida. Bem, isto ainda está no campo da desconfiança, mesmo que os indicadores deem mais evidências de recuperação da atividade econômica e, em menor medida, do emprego. No Brasil, o cenário não é apenas positivo, mas é promissor. De fato, a recuperação da economia local foi muito boa. Está na hora de o governo e, principalmente, do BC se preocupar com a inflação. Aí está um risco efetivamente relevante e que tem sido subestimado pelo mercado. Esta é a razão pela qual não recomendamos títulos com taxas de juros prefixadas neste momento. O mercado mais ativo e especulado no momento é o das commodities. Petróleo e ouro estão com demanda acesa : são o melhor sinal de que a recessão está no final. Apesar de todos os riscos relacionados com a possibilidade de novas "bolhas especulativas". 21/11/9 TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA alta alta - Pós-Fixados NA estável alta Câmbio ² - EURO 1,4865 estável/alta alta - REAL 1,7314 estável/baixa alta Mercado Acionário - Ibovespa 66.327,28 alta/estável estável/alta - S&P 500 1.091,38 alta/estável alta - NASDAQ 2.146,04 alta/estável alta (1) - Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais)(2) - Em relação ao dólar norte-americanoNA - Não aplicável Todos são iguais... ...perante os impostos. O prefeito de BH, o socialista Marcio Lacerda (PSB, eleito com o apoio do tucano Aécio Neves e do petista Fernando Pimentel) aumentou o IPTU da capital mineira, acima dos índices de inflação. O prefeito de SP, o liberal Gilberto Kassab (DEM, eleito com o apoio do tucanos José Serra e dos socialistas do PSB) quer aumentar o IPTU da capital paulista em índices que podem chegar a 60%, maiores do que qualquer índice de correção monetária. Quem vive nessas duas cidades ou pelo menos passa por elas algumas vezes percebe sem muito esforço que nenhum dos dois merece receber mais dinheiro para gastar enquanto não aprenderem a administrar. Geyse e os seus direitos A vida da estudante Geyse Duarte, agredida por seus colegas de Uniban, está difícil. Não estão indo bem as negociações de seus direitos para posar nua para uma revista masculina. Ela negocia desde o primeiro dia após os fatos que geraram tanta indignação nas organizações de direitos humanos e nas hostes feministas. O cachê pedido é alto e a revista teme problemas de rentabilidade. Quanto aos eventuais outros problemas a publicação resolve com photoshop, aquele programinha de computador que tira celulite de qualquer Wilza Carla.
terça-feira, 17 de novembro de 2009

Política & Economia NA REAL n° 78

Espírito de Minas Quem anda por MG, capital e interior, e tenta auscultar, tanto entre políticos, líderes empresariais, como junto à população sobre seus sentimentos eleitorais, percebe claramente que há um forte sentimento nativista. Este pode ser definido de modo muito simples : se Aécio Neves e o Estado saírem insatisfeitos (ou "humilhados", como dizem alguns mais radicais) das tratativas da sucessão presidencial na seara oposicionista, os mineiros voltar-se-ão para as suas montanhas. Vão deixar a eleição presidencial, num segundo plano. Como dizem alguns exaltados, Minas não votará em Serra caso Aécio fique magoado. O que pode beneficiar Dilma. E muito também à ex-ministra Marina. Sentimento de Minas O PT já apreendeu esse "espírito" eleitoral que grassa entre os mineiros e se prepara para oferecer aos das Alterosas o que eles parecem desejar : a candidata "uai". Equipes de jornalistas e cinegrafistas rondam o Estado preparando matérias sobre a trajetória mineira da ministra Dilma Roussef. Criada politicamente no Sul, a ideia é mostrar que Dilma é mineira de boa cepa. Não se tem ainda informação sobre se algum fonoaudiólogo foi contratado para ensinar Dilma a falar "direitim, direitim", no idioma das Gerais. Sentimento de Minas - II Ao que se diz em BH, Aécio não se deixa impressionar com as informações vazadas por Brasília, de que o governo e o PT acham que ele será um candidato muito mais difícil para Dilma derrotar do que Serra. Até porque, se eles pensassem mesmo isso, estariam atacando o governador mineiro e não Serra. Mas a versão é boa para os planos do mineiro. Aécio está agora querendo ampliar sua imagem de bom conciliador, bom aglutinador, e de que é o indicado para promover um novo "pacto federativo" no país, com maior equilíbrio entre os Estados e as regiões. Um discurso que soa bem até para governadores e políticos aliados de Lula e comprometidos com Dilma. Pouco a acrescentar sobre a economia Na semana passada, no cenário internacional tivemos duas informações que reforçaram a percepção de que a recuperação das principais economias persiste no bom caminho. A primeira foi a melhora do mercado laboral dos EUA. Trata-se de uma informação - número de pedidos de auxílio-desemprego - ainda que ainda depende de verificação de tendência, mas que foi positivo. A outra foi a divulgação do PIB dos países da zona do euro. Esta última informação, mostrou que a Europa está saindo da recessão, mas com um aspecto negativo que é a enorme dispersão do crescimento entre os países do continente. Tudo isto em linha com as expectativas de investidores e analistas. As duas questões vitais Se as evidências de recuperação consistente da economia mundial se acumulam os dois pontos mais relevantes persistem em relação a crise : (i) qual é o limite necessário de estímulo fiscal para que a dinâmica econômica ganhe tração própria (do setor privado) ? (ii) Como sair deste processo ? Sobre ambas as perguntas, não há respostas objetivas e possíveis. No curto prazo, dá para ser afirmativo e dizer apenas que a necessidade do estímulo fiscal continua imperativo. Brasil já deveria ter respostas Todos reconhecem que o Brasil é destaque na recuperação de sua economia. Todos os sinais de investimento e consumo são expressivos e positivos, mesmo que no caso dos investimentos a necessidade seja gigantesca. Se isto é verdade, por que ainda não temos mínimas respostas sobre como vamos reduzir o estímulo do governo para a economia ? Sequer a oposição política no Congresso cobra a resposta a esta pergunta. Banco Central desmantelado O mercado financeiro local e internacional, a classe política e a sociedade em geral estão subestimando a possibilidade do BC brasileiro ter a sua credibilidade abalada enquanto guardião da moeda. A curiosa entrevista do agora ex-diretor de política monetária do BC Mário Torós mostrou deterioração ética (a prestação de informações confidenciais sem prévia consulta ao colegiado da autoridade monetária), bem como o vazio de informações em relação à substituição de quatro diretores : o próprio presidente, o "diretor falante", o diretor de política econômica e o diretor de liquidações e desestatização. Torós e suas informações Nestes tempos do verão, no qual as chuvas tendem a ser torrenciais, o nome do diretor do BC é mais que sugestivo. Ele teceu comentários específicos sobre a gravidade da crise iniciada em setembro de 2008 e sobre a atuação do BC, onde a sua própria estrela brilhou. Não seria o caso de investigar este personagem do ponto de vista do manual de conduta dos servidores públicos ? Não seria o caso de os políticos o convocarem para saber mais sobre suas façanhas heroicas no saneamento da crise ? Ou será que este será mais um daqueles diretores demissionários do BC que antes de sair dão umas entrevistas para arrumar um emprego no mercado financeiro ? O alerta de Meirelles Não merecem reparos as afirmações feitas na semana passada por Meirelles sobre os procedimentos e os cuidados na concessão de crédito por parte do sistema financeiro. O volume de crédito concedido pelo sistema até setembro atingiu o patamar inédito de R$ 1,4 trilhão. Ótimo para a economia neste momento, mas um grande risco quando o cenário se deteriora. Enquanto isto, em Wall Street Aumentaram muito os comentários no principal centro financeiro mundial dando conta de que a crise de crédito no setor imobiliário dos EUA pode recrudescer em função da inadimplência dos empréstimos concedidos ao segmento de imóveis comerciais. Radar NA REAL Mais uma vez não alteramos as nossas recomendações em relação aos segmentos do mercado financeiro incluídos no radar. De uma forma geral, o comportamento recente dos mercados comparativamente às nossas análises de tendências tem sido similar. Não há neste momento nenhuma evidência de fundamentos dos mercados locais e internacionais de que haja alguma mudança de tendência. Ao contrário, os ativos de risco permanecem atrativos, apesar do fluxo de entradas e saídas de recursos neste segmento está bem mais equilibrado em função de certos momentos de "realização de lucros". O segmento negativo do mercado brasileiro é o de renda fixa no qual não recomendamos a tomada de posições prefixadas cuja relação "risco versus retorno" nos parece ineficiente (muito risco para pouco retorno). No que se refere ao mercado acionário o nosso diagnóstico é que o mercado está "caro" e assim continuará até o final do ano. A melhor estratégia é diversificar em setores e empresas cujas expectativas de retorno são melhores num momento em que o Ibovespa deve apresentar retorno moderado. Quanto ao mercado cambial, não há novidades : o real permanecerá valorizado e o dólar não sobre. Nem aqui e nem lá fora. 14/11/9 TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA alta alta - Pós-Fixados NA estável alta Câmbio ² - EURO 1,4903 estável/alta alta - REAL 1,7225 estável/baixa alta Mercado Acionário - Ibovespa 65.325,63 alta/estável estável/alta - S&P 500 1.093,48 alta/estável alta - NASDAQ 2.167,88 alta/estável alta (1) - Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais)(2) - Em relação ao dólar norte-americanoNA - Não aplicável Eike, Paes e Cabral : a África é aqui ! Que coisa ridícula a mobilização do empresário Eike Batista, do prefeito Eduardo Paes e do governador Sérgio Cabral em torno da cantora Madonna na semana passada ! A pop star apresentou o seu projeto de implementação dos princípios da cabala em escolas africanas e em dez (isto mesmo : dez !) escolas cariocas. Para isto estava arrecadando US$ 10 milhões entre empresários brasileiros. Até o "Banquete de Estado" ocorrido na quinta-feira passada junto às altas autoridades do Rio, Madonna tinha arrecadado apenas US$ 3 milhões. Eike, impressionado com os dotes pedagógicos da cantora sacou a carteira e deu os US$ 7 milhões que faltavam. Ela chorou. Tadinha, quanta emoção. Tudo isto na mansão carioca de Batista. Logo perto dali, as favelas continuavam com suas mazelas, as escolas públicas persistem abandonadas e os "valores morais e emocionais" divulgados por Madonna não parecem ter muito valor numa cidade onde se mata no atacado. Apagões e incompetências A discussão sobre o apagão da semana passada segue em ritmo frenético. Lula finge que cobra explicações, Dilma desfila a sua personalidade intransigente, a oposição ruborizada com os seus próprios apagões finge que fiscaliza e assim vai. Convenhamos, alguém acredita que tudo isto vai levar a alguma conclusão concreta ? O Congresso está interditado pela antecipada campanha eleitoral e o distinto público parece não se importar em permanecer horas no escuro. Em São Paulo, o Rodoanel, construído há poucos anos, simplesmente cai. Serra agradece a Deus pelas poucas (e graves) vítimas do episódio. De fato, "é um Deus nos acuda". Tudo isto muito além da gestão de fulano e sicrano. Há uma deterioração moral, ética, técnica, administrativa e política no país. No setor público, Lula, Dilma e Serra são apenas a "comissão de frente" deste cenário desolador. O apagão e as eleições I Lastimável, para dizer o mínimo, o comportamento de governo e oposição na história do apagão (ou micro-incidente como prefere Tarso Genro). Todas as reações foram marcadas apenas pelo cálculo eleitoral, desde as tentativas oficiais de explicações até as cobranças da oposição. Respeito ao cidadão consumidor de energia, nenhum. Para essa gente o brasileiro não passa de um mero (e às vezes exigente demais) eleitor. O apagão e as eleições II A oposição ficou toda assanhada com a possibilidade de utilizar o "micro-incidente" (só atingiu cerca de 80 milhões de brasileiros e 7 milhões de paraguaios) para ferir e espicaçar a candidata preferida de Lula. É bom que ela, a oposição, olhe antes para o próprio rabo. Além do seu próprio apagão, ela carrega outros contenciosos pesados, como acidente numa estação do metrô e agora o do Rodoanel. Nesta linha, parece que o jogo está zerado, por enquanto. O placar conta somente contra o povo. O apagão e as eleições III Um dos maiores temores do governo em relação ao apagão é o de que as investigações técnicas concluam que as causas sejam, como dizem alguns especialistas, "falhas de gerenciamento". Afinal, Dilma é a "super-gerente" do governo, manda e desmanda no setor elétrico e um dos motes de sua campanha será apresentá-la como uma eficiente executiva. A ministra e o apagão Quem decide sobre as grandes linhas e política energética no Brasil é a ministra Dilma. Os outros são "subs" : o "subministro" das Minas e Energia, Edison Lobão, o "subpresidente" da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, o "subdiretor geral" da ANP, Haroldo Lima. O setor foi politicamente dividido entre os partidos aliados, com predominância do PT e do PMDB. Eles podem nomear, assinar contratos, fazer licitações, gerenciar e outros que tais. Mas sempre com a autorização de Dilma. A ministra, a comunicação e o apagão A conduta da ministra Dilma, quarenta horas depois do ocorrido, na entrevista coletiva na qual, junto com o "sub" Lobão tentou dar por encerrado o caso do "micro-incidente" mostrou as fraquezas dela quando colocada diante de fatos desagradáveis : perde as estribeiras, fica agressiva, arrogante. Preocupou seus marqueteiros. Em Brasília brincava-se dizendo-se que diante do estilo Serra e da eficiência dos comunicadores do governador paulista, em pouco Dilma ganharia o troféu de Miss Simpatia. Vê-se que ela vai precisar ainda de muita media training e de muito calmante para chegar lá. Mais um sub na praça Quem acaba de assumir as funções de subministro do Meio Ambiente é o carioca Carlos Minc. Vai assessorar a ministra de fato, uma das mais novas neoclorofilas da praça política, Dilma Roussef (outro novel incrível Hulk é o governador José Serra). Nada como uma Marina no ar. Quem também está prestes a ser elevado à condição de subministro é o titular dos Transportes, Alfredo Nascimento. Vai assumir tão logo o governo anuncie seu ambicioso programa de transportes para 2010, com o trem bala de mestre sala. O presidente Lula e o mensalão Em entrevista à TV Record, Lula desfiou a curiosa teoria conspiratória de que o "carequinha" Marcos Valério foi plantado dentro do PT pela oposição para desmoralizar o PT e o governo, e criar as condições para o impeachment dele, Lula. Há gente que acredita até hoje que Elvis Presley não morreu e duvida que o homem tenha chegado à lua. Mas esta não é a questão importante de fato. A verdade é que, com essa declaração, o presidente chancela a existência do mensalão federal, que os 40 indiciados continuam negando ter existido e sobre o qual Lula disse que nunca tinha ouvido falar antes da história estourar pela boca de Roberto Jefferson. A nova marca do PMDB Durante muito anos o MDB/PMDB, com justa razão tinha sua imagem associada à do deputado Ulysses Guimarães, o Dr. Ulysses. Morto Ulysses e com as trapaças da sorte que o partido passou a apresentar, a identificação com o "senhor diretas" foi esmaecendo até o partido ficar sem uma digital clara. Agora, pelo que se pode ver nas inserções comerciais que a legenda está levando ao ar na televisão, o PMDB sugere que tem uma nova cara. Em todas identifica uma pessoa, às vezes com a sua imagem, numa trucagem fílmica, substituindo lentamente na telinha a imagem do Dr. Ulysses num dos momentos históricos dos quais participou. Tenham dó. Um pouco de pudor e modéstia não fazem mal a ninguém. Vinte anos depois Em 1989, Lula, Collor e Sarney estavam xingando-se mutuamente durante a primeira eleição pós-ditadura de 64. Hoje são coleguinhas que repartem o poder e se defendem mutuamente. O Brasil é um país realmente cordial. Propomos um brinde a nossa cordialidade. Enfim, concorrência A compra da GVT pela francesa Vivendi, disposta a investir recursos na tele brasileira para ampliar seu raio de ação, é um excelente notícia : vai criar um pouco mais de competição no setor de telefonia fixa, ameaçado por um duopólio depois que o governo patrocinou e financiou a compra da Brasil Telecom pela Oi. Nem a Oi nem a Telefónica gostaram do negócio. Principalmente a Telefónica, que disputou a GVT com a Vivendi com a intenção de sair do gueto de São Paulo no qual está praticamente confinada. É de esperar que nem o governo, nem os órgãos reguladores, nem os de defesa da concorrência botem obstáculos ao negócio. Eles precisam se concentrar mesmo é no ainda indefinido - e pouco ortodoxo - acordo Oi e Brasil Telecom. Burrice na internet De vez em quando alguém, aqui ou lá fora, tentar criar algum tipo de controle sobre a rede mundial de computadores e a livre circulação de informações no cyber espaço. Quase sempre quebram a cara, embora seja necessário evitar o uso criminoso da rede. O que eles não entendem é a natureza da rede. Agora, por exemplo, no Brasil, há um movimento, do qual participam entidades ligadas aos meios de comunicação como ABERT e ANJ, para exigir que os sites noticiosos no Brasil sejam brindados com as mesmas exigências válidas para jornais, revistas, rádios, televisões no quesito propriedade e controle acionário : só possam ter em sua composição no máximo 30% de capital estrangeiro. Providência inútil. A rede é mundial, aberta, acessível em poucos segundos, por um mero clique. Nada impede que alguém monte no exterior um site noticioso sobre o Brasil, com repórteres locais e para todo mundo ler. Como controlar ?
terça-feira, 10 de novembro de 2009

Política & Economia NA REAL n° 77

O "mercado" e "as garantias" Há um princípio geral da teoria de finanças que reza que "os mercados não têm memória", ou seja, age em função do futuro e não do passado. Bem, este é um elemento crucial de uma construção teórica. Na prática, os mercados parecem agir como o mais dos humanos : "esquece do que lhe interessa e lembra o que lhe é necessário." Pois bem : desde a crise de crédito cujo auge foi em setembro do ano passado, os governos injetaram trilhões e trilhões de recursos no mercado para que ele não entrasse em colapso. Resultado : pouco a pouco, não apenas o mercado, mas as economias iniciaram um processo de recuperação. O "problema desta solução" é que a condição necessária (injeção de recursos estatais) não pode ser permanente. Todavia, o mercado parece querer uma garantia de que o estímulo dos governos permaneça sine die. Ora, isto não é possível por definição - os orçamentos dos não aguentam. Está na hora de definir a "saída de campo" dos erários. O mercado fica oscilando como se chantageasse os governos a ser um "sócio permanente" do jogo financeiro. Os liberais desapareceram e os socialistas estão travestidos. G-20 Nesta segunda, o G-20 - reunido em Londres - informou que os países membros concordaram em manter as taxas de juros baixas e os estímulos fiscais em vigor. A "garantia" continua para o mercado. Lá fora e aqui Se lá fora se discute o fim dos estímulos fiscais, por aqui ninguém nem quer ouvir falar do assunto. Nem o governo, nem o desmobilizado Congresso. O mais perigoso desta passividade é que as contas fiscais brasileiras têm piorado e terão de ser revistas num futuro não muito distante. Mais sinais da recuperação A produção industrial dos EUA cresceu 0,7% em setembro. Trata-se do terceiro mês seguido de elevação. O crescimento de setembro não foi estimado por nenhum economista. Superou todas as expectativas. No Reino Unido, a média das estimativas de crescimento para o ano que vem está em 1,0%. Há pouco tempo, esperava-se uma elevação de 0,5% no PIB britânico. Também estão sendo revistos para cima as taxas de crescimento do PIB do Japão, Alemanha e França. Radar NA REAL Apesar do aumento da volatilidade nas últimas semanas no mercado financeiro mundial - o que esperávamos e foi comentado em colunas anteriores - o desempenho dos diversos segmentos do mercado persiste saudável e consistente com os fundamentos (taxas de juros baixas, recuperação da atividade econômica, estabilidade das instituições financeiras, etc.). O maior (e crescente) fator de risco tem sido a desvalorização do dólar norte-americano. Até agora, o processo de valorização de quase todas as moedas relevantes do mundo em relação à moedas dos EUA tem sido controlado e em consonância com as expectativas. O problema é que não há formas de dar garantias mínimas de que este cenário estável no mercado cambial permaneça desta forma nos próximos meses. Em matéria de câmbio, não há nem teoria e nem prática econômica e financeira suficiente para se fazer prognósticos. De toda a forma, estamos mantendo as nossas recomendações e indicações do nosso radar. 7/11/9   TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹        - Pré-fixados NA alta alta  - Pós-Fixados NA estável alta Câmbio ²        - EURO 1,4999 estável/alta alta  - REAL 1,7606 estável/baixa alta Mercado Acionário        - Ibovespa 64.466,13 alta/estável estável/alta  - S&P 500 1.069,30 alta/estável alta  - NASDAQ 2.112,44 alta/estável alta (1) - Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais)(2) - Em relação ao dólar norte-americanoNA - Não aplicável Rumo a São Paulo Perceberam que o deputado Ciro Gomes entrou em quarentena presidencial, tomou um sumiço da mídia ? Chama-se a isto "agradar o superior". Dois pesos... O delegado Protógenes levou um gancho de 60 dias da PF por participar de comícios eleitorais. Já outros, nas barbas do TSE e de comissões de ética pública... Apertando o cerco Informa o colunista Vicente Nunes, do "Correio Braziliense", que o BB e a CEF foram "aconselhados" por Lula a disputar a presidência da Febraban no ano que vem. É a estratégia do governo para ampliar seu controle, direto e indireto, sobre o sistema financeiro. E para ter "amigos" no comando de grandes entidades corporativas nacionais. Quem já se esqueceu do apoio oficial à eleição de Paulo Skaf na Fiesp ? O PSDB e o mensalão mineiro Os tucanos fingiram que a história das incursões do "carequinha" Marcos Valério na campanha de Eduardo Azeredo em Minas não era com eles. Aliás, como fingem que as histórias envolvendo a governadora Yeda Crusius não têm nada com ela. Agora, vão carregar esta cruz em 2010. Vão dividir o peso com o mensalão federal do PT. O Supremo e os mensalões O ministro Joaquim Barbosa, relator dos dois mensalões no STF - o mineiro do PSDB e o federal do PT -, sugeriu que os dois fossem julgados conjuntamente. Se aceita a denúncia, não há ainda certeza de que será assim feito, mas seria ótimo se pudesse : daria para ver como se comportariam petistas e tucanos quando metidos neste mesmo saco. Ou será que são do mesmo saco ? Mensalões: semelhanças e dessemelhanças Embora tenha a mesma origem, os mesmos métodos, o mesmo operador, e ambos possam ser classificados sem a menor dúvida como "crimes eleitorais hediondos" (aliás, que crime eleitoral não é hediondo, uma vez que tenta burlar o momento supremo da democracia - o voto - e a vontade popular ?), o mensalão do PT e o do PSDB têm uma diferença básica : 1. O de Minas aparentemente esgotou-se no processo eleitoral. 2. O federal foi um "benefício continuado". Começou nas eleições e depois avançou para mesadas em troca de votos no Congresso. O que eles pensam ? Passamos mais uma semana de intenso blábláblá eleitoral, com trocas de acusações e outros mimos entre governo e o grupo de oposição mais forte (PSDB/DEM). E os brasileiros de um modo geral continuaram sem saber o que pensam concretamente Dilma, Serra e Aécio sobre educação, saúde, violência urbana, impostos e outras questões que assolam os brasileiros. E vamos continuar sem saber por um bom tempo, se um dia soubermos de fato. Campanha eleitoral é marketing e tais assuntos costumam ser azedos quando tratados em profundidade. Principalmente quando se chega no fulcro da questão : como fazer ? O nó está em Minas Segundo colégio eleitoral do país, e com muitas mágoas políticas acumuladas nos últimos anos, Minas Gerais, tanto para o governo quando para a oposição PSDB/DEM, é hoje a grande incógnita e a grande ameaça. Os mineiros sempre gostaram de dizer que a sucessão "passa por Minas". E, de algum modo, passaram : mesmo nos governos militares, os vices saíam prioritariamente das Gerais - José Maria Alckmin (Castelo Branco), Pedro Aleixo (Costa e Silva), Aureliano Chaves (João Figueiredo). Na democracia restaurada, Itamar e José Alencar. Quem vacilar nas composições com a gente das Alterosas pode começar a corrida eleitoral tropeçando. O primeiro grande teste político de Dilma A candidata predileta de Lula terá a oportunidade de exercitar hoje seus dotes encantatórios : reúne-se com os dirigentes regionais do PT para convencê-los a ceder espaços ao PMDB na corrida pelos governos estaduais e até para o senador nos lugares onde os liderados de Michel Temer, José Sarney, Renan Calheiros e Jáder Barbalho se julgarem merecedores de tal vênia. Em alguns Estados-chave, como Minas e Rio, se não houver concessões, não haverá acordo. E a prenda eleitoral dos seis minutos do partido no rádio e na televisão, o troféu que Lula almeja, fica em risco. A cara do cara Os planos, a estratégia traçada e os movimentos do presidente Lula não deixam mais dúvidas : o candidato à presidência da República em 2010 é ele, Lula. Disfarçado de Dilma Roussef. Dinheiro e pré-sal Esta semana começam a ser votados os projetos regulamentando a exploração do pré-sal. Por coincidência, o DOU dos próximos dias vai circular com a liberação de R$ 2 bi de recursos do orçamento para pagamento de emendas parlamentares. Mesmo com a arrecadação em queda e as despesas em alta. Demagogia previdenciária - 1 O governo está jogando nas costas de sua base aliada a tarefa de barrar a proposta - de fato inexequível nas condições atuais - de equiparar a correção das aposentadorias do INSS ao aumento do salário mínimo. Lula poderia simplesmente vetar a medida, se ela for aprovada. Mas não quer passar por este desgaste político em pleno período eleitoral. Ninguém esquece o quanto perdeu FHC quando chamou os aposentados de "vagabundos". Nenhuma explicação salvou a imagem do ex-presidente. É bom lembrar que toda família no Brasil tem pelo menos um aposentado. Lula quer negociar uma proposta menos radical que o projeto do aumento pelo mínimo (do senador petista Paulo Paim). Corre o risco de desagradar a todos. Demagogia previdenciária - 2 Não resta dúvida que o tesouro nacional, que é quem cobre os déficits da Previdência (dos trabalhadores da iniciativa privada) terá dificuldades para pagar os custos do aumento das aposentadorias e pensões como propõe o projeto do petista Paim. Serão, somente no ano que vem, algo como R$ 6,9 bi a mais. E em todos os anos seguintes, enquanto persistir os planos do governo de recuperar o poder aquisitivo do salário mínimo. Porém, não se viu dificuldades para este mesmo tesouro pagar os generosos aumentos salariais concedidos aos servidores públicos da ativa, que somente este ano significarão despesas adicionais de R$ 19 bi. Demagogia previdenciária - 3 Não se vê dificuldade também para o tesouro cobrir os rombos - e que rombos - da previdência (Executivo, Legislativo e Judiciário). Para se ter uma idéia, conforme reportagem de segunda-feira na "Folha" : - São pouco menos de 1 milhão de aposentados e pensionistas do setor público. Este ano o governo deverá pagar R$ 43 bilhões para pagar a diferença entre a contribuição dos servidores federais na ativa e o que é pago aos inativos. - O INSS paga mais de 20 milhões de aposentadorias e pensões. Seu déficit será de R$ 45 bilhões. Em 2003, o governo aprovou com pompa e circunstância uma lei criando a previdência complementar para os servidores públicos. O objetivo era, ao longo dos anos, reduzir o déficit. Até hoje a lei não foi regulamentada. Ainda há gente assim Luiza Erundina foi prefeita de SP, ministra da Administração e tem vários mandatos parlamentares. Informa o "Valor Econômico" que ela está com seus bens penhorados - o apartamento onde mora há mais de 20 anos, seus dois carros e 10% de seu salário como deputada federal - para garantir o pagamento de R$ 351 mil ao governo paulistano por gastos em anúncios explicando porque a prefeitura, na ocasião de uma greve nacional, havia suspendido a circulação de ônibus na cidade. Já outros... O escândalo dos precatórios Não há dúvidas de que o Congresso vai aprovar as novas regras para o pagamento de precatórios. Vai ser consumado mais um estupro do poder público contra a sociedade. Diz o prefeito de SP, Gilberto Kassab, que o projeto em votação pelos deputados e senadores, é consensual ? Consensual para quem, cara-pálida ?
terça-feira, 3 de novembro de 2009

Política & Economia NA REAL n° 76

Sinais misturados Nos últimos dias, o que vimos foi um conjunto enorme de dados divulgados que mostraram sinais de recuperação da economia mundial (p. ex., o PIB norte-americano do 3º trimestre do ano que cresceu 3,5% e o desempenho do setor manufatureiro em outubro) e, ao mesmo tempo, deixam dúvidas sobre a sustentação da atividade econômica nos próximos trimestres (p.ex., a fraca recuperação do emprego nos EUA, os fracos dados da indústria na Europa no mês de setembro). Esta conjunção de dados que provoca "confusão mental" é típica de períodos de transição, seja da recessão para o crescimento (o caso atual) ou vice-versa. A nossa análise é que o caminho da recuperação persiste muito mais sólido que o retrocesso. Todavia, este será um período de alteração mais brusca das expectativas. Não há razões objetivas neste momento para que mudemos a nossa opinião favorável à conjuntura de crescimento e nem a solidez dos diversos segmentos de mercado. No Brasil a recuperação é vigorosa Todos os sinais da economia brasileira desembocam num claro diagnóstico : a economia está crescendo num ritmo forte, sobretudo do consumo, e quem quiser apostar num crescimento de 6% em 2010 pode estar certo. O investimento lamentavelmente cresce num ritmo muito mais lento por duas razões básicas : o governo não é eficiente para executá-los e o setor privado ainda não tem total confiança na recuperação. O problema brasileiro é o acúmulo de problemas estruturais. O grande risco : o sistema financeiro dos EUA Não é apenas a quebra do CIT nos EUA que preocupa. O sistema financeiro dos EUA permanece frágil e com baixa capacidade de emprestar em função da debilidade da sua estrutura de capital e da ausência de confiança dos investidores nas instituições financeiras. Os resultados do 3º trimestre do ano até agora divulgados corroboram estes dois aspectos. Este é o ponto a ser acompanhado como principal fator de risco. Na economia, adiando o inadiável O ex-governador Leonel Brizola costumava usar uma expressão dos pagos gaúchos, quando queria indicar que alguém, alguma instituição, estava fugindo do fulcro da questão, tergiversando - estaria costeando o alambrado. Ou saltando de banda na malandra gíria carioca de um passado recente. É dessa forma que as autoridades econômicas brasileiras com o aval de Lula, naturalmente - Deus as livre, se for diferente ! - estão atacando os problemas que se lhe apresentam, depois da passagem mais aguda dos efeitos da quebra financeira mundial. O Real valorizado, que tudo indica veio para ficar nas atuais circunstâncias, ameaça as exportações e põe em risco o futuro de desindustrialização no país ? Além da taxação da entrada de capital externo, estuda-se o depósito em moeda estrangeira e outros tais. As contas públicas, puxadas pelas despesas de custeio da máquina administrativa, salários à frente, furam as metas de superávit primário ? Inventem-se artifícios contábeis e façam-se rezas e figas para que a arrecadação logo se recupere em ritmo alucinante. São meros paliativos para tentar empurrar o problema para quem vem depois. Uma "herança maldita" que está sendo minuciosamente preparada para quem sentar na cadeira presidencial em 2011. Não dá para salvar a indústria brasileira apenas com "câmbio". A chave se chama tornar a produção nacional mais competitiva, sem artificialismo - menos impostos, menos burocracia, melhor infraestrutura, crédito mais abundante e mais barato. E um dos primeiros passos é um governo menos oneroso, menos ávido de recursos da sociedade. Simples assim. Porém, como atacar esses pontos, que são delicados e que, para serem bem resolvidos, implicam contrariar poderosos interesses em um momento em que a prioridade á a urna de 2010 ? Daí as meias soluções que no futuro certamente virarão problemas enormes. Radar "NA REAL" Já alertamos os nossos leitores nas últimas colunas sobre a elevação da volatilidade nas próximas semanas. Estamos num período de transição, talvez longo (ao de um trimestre a frente) no qual o grau de inquietações sobre a recuperação da atividade econômica mundial. Todavia, é bom lembrar que estas inquietações se devem apenas em parte aos chamados fundamentos. Há que se considerar o fato de que os valores dos ativos tiveram enorme incremento nos últimos meses e há uma quantidade considerável de investidores querendo "realizar lucros". Isto gera uma pressão momentânea e expressiva sobre os fluxos e a relação entre a oferta e a demanda. Portanto, a vida dos investidores daqui para frente se tornará mais difícil. Todavia, em nossa opinião, a tendência estrutural dos diversos segmentos do mercado financeiro é favorável. A exceção são as apostas relacionadas com a taxa básica de juros do Brasil. Esta vai subir. Se não subir, a inflação sobe. 30/10/9 TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA alta alta - Pós-Fixados NA estável alta Câmbio ² - EURO 1,4823 estável/alta alta - REAL 1,7606 estável/baixa alta Mercado Acionário - Ibovespa 61.545,50 alta/estável alta - S&P 500 1.036,19 alta/estável alta - NASDAQ 2.045,11 alta/estável alta (1) - Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais)(2) - Em relação ao dólar norteamericanoNA - Não aplicável Artifício contábil Ninguém impôs ao governo - agora que somos até credores do FMI - qualquer meta de superávit primário, aquela economia que o setor público faz para pagar juros de sua dívida e evitar que ela aumente. Assim, ele cumpre se quiser ou não o que estabeleceu. Essa história de deduzir do cálculo do superávit as PPI, as PPPs, o "Minha Casa, Minha Vida", o PAC ou a despesas que seja é apenas conversa para disfarçar o inevitável : no fim das contas, no cofre do tesouro vai sobrar menos dinheiro para cobrir as obrigações financeiras do governo. E a dívida pública vai aumentar - foram mais de 8 pontos percentuais em relação ao PIB em um ano. Congresso desmobilizado Cabe ao Congresso fiscalizar e impor limites ao governo no que se refere ao orçamento. Além disso, caberia aos senhores parlamentares exigirem do executivo um "plano de saída" do atual estímulo fiscal dado pelo erário ao setor privado. Contudo, o Legislativo está sem força de atuação em função da dominação que o governo lhe impõe e devido a ausência de uma oposição atuante e com convicções. Lições para políticos e marqueteiros Extraído do livro "A conquista da atenção", de Richard P. Adler e Charles M. Firestone, editado no Brasil pela Nobel : "Havia uma história de que, quando ele estava em campanha para a presidência, Adlai Stevenson [Foi governador do Illinois e candidato duas vezes a presidente dos Estados Unidos da América (1952 e 1956), derrotado em ambas por Dwight D. Eisenhower] fez um discurso para um público entusiasmado no Bennington College. Depois desse discurso, um aluno fascinado correu até ele e disse : 'Senador Stevenson, o senhor vai ter o voto de todos os norteamericanos que pensam !' Stevenson, segundo a história, retrucou : 'Obrigado, mas não é suficiente. Preciso de uma maioria'." Da série 'Não é eleitoral' I Em abril, o Conselho de Política Fazendária aprovou uma resolução autorizando os Estados a reduzir ou eliminar a cobrança de ICMS nas contas de assinatura de serviços de internet banda larga popular. Seis meses depois, em outubro, o governador José Serra assinou o decreto adotando a medida no Estado e anunciando o serviço por R$ 29,90. Levou o ato para a plateia do Futurecom, o maior evento de telecomunicações da América Latina, na presença de todos os poderosos executivos do setor. Ótimo. Porém é preciso atentar para alguns detalhes : - a banda larga popular paulista começa com 200 kbps, quando o mínimo considerado oficialmente é 256 kbps, já considerada uma banda apenas "meio larga".- a Telefónica, primeira a lançar este serviço, por coincidência, no mesmo dia da assinatura de Serra, está condicionando a entrega da banda larga popular à compra de uma linha fixa da operadora espanhola. Não, não é o que o malicioso leitor está pensando. Da série 'Não é eleitoral' II O Congresso acaba de aprovar uma proposta de iniciativa do governo, instituindo uma gratificação extra para os funcionários públicos. Por desempenho. Ótimo, é o prêmio ao desempenho, um reconhecimento ao trabalho, ao mérito. Porém, é preciso atentar para alguns detalhes : - a gratificação será paga apenas uma vez, em 2010.- serão beneficiados somente os funcionários do DNIT, aquela de cuida de estradas.- a medida de desempenho só será válida para as obras do "PAC", aquele que é uma das vitrines da campanha eleitoral de 2010. Não, não é o que o malicioso leitor está pensando. O que é bom, nada Feitas as contas, apenas no fim de semana, foram consumidas pela imprensa tradicional ou grande imprensa - jornais do Rio, São Paulo e Brasília e revistas semanais - algo como 200 mil palavras sobre a sucessão presidencial, focadas quase que exclusivamente em Dilma e Serra. Apenas o "Estadão" e a "Veja" gastaram bons pares de páginas para registrar a metamorfose física e de personalidade pela qual está passando, nas mãos de seus marqueteiros e consultores, a candidata preferida de Lula. Entre outras coisas, o novo produto a ser apresentado à praça, vai emular em tudo por tudo seu criador político e ressurgirá na condição de candidata "uai" com direito a sotaque mineiro e tudo isso. E, no entanto, em todo esse palavrório, não sobrou nenhuma mísera linha sobre os que os dois pensam a respeito dos grandes problemas nacionais, sobre seus programas de governo. Para se ter uma idéia do tamanho do desperdício de papel e "abobrinhas", o texto desta nota contém 165 palavras. A oposição em seu labirinto Os partidos de oposição, especialmente o PSDB, não estão dilacerados apenas por conta da indefinição de quem será o candidato à sucessão de Lula - se Serra ou Aécio - e como será a chapa presidencial. Estão apavorados porque não conseguem encontrar os temas e o tom para se contrapor à (até agora) estratégia eleitoral engendrada pelo presidente Lula. PSDB, DEM e PPS estão literalmente acuados. É o que parece, sim Não se deve apenas ao pouco cuidado de Lula e seu pouco compromisso com a "coerência" as contradições das assertivas do próprio a respeito da imprensa. Num mesmo dia em que ele diz aos catadores de papel em São Paulo que a imprensa brasileira não publica o que deve, provocando uma vaia nos jornalistas presentes ao evento, ele reafirma em um jornal da Venezuela sua fé na liberdade de imprensa. Uma coisa não elimina a outra e faz parte da estratégia do lulismo e do petismo em relação ao tema. No atacado, o presidente defende a liberdade de imprensa. E não poderia ser de outro modo. No varejo, ataca a "liberdade" da imprensa brasileira, porque não é a mesma "liberdade" que ele e seu partido defendem, sem o "direito" de fiscalizar o poder público, de publicar notícias que não são agradáveis ao governo. A divergência está no conceito de "liberdade de imprensa" que Lula quer definir ao seu modo. Não nos esqueçamos da tentativa de criar o Conselho Nacional de Jornalismo, as investidas na área do audiovisual, a criação da TV Brasil, pública no nome, mas na prática estatal. Quem duvida, não perde por esperar. Vem aí, em dezembro, a I Confecom - Conferência Nacional de Comunicações para a qual o governo, sindicatos e ONGs estão trabalhando com extraordinário empenho. CPI do MST pode vingar Sim, apesar da gritaria exterior do governo, a Comissão para investigar os "feitos" do MST pode funcionar com eficiência - ou seja, investigando mesmo e não apenas trabalhando pro forma. Mas apenas até certo limite, pois a base aliada tem a maioria de seus membros e pode direcioná-la como bem entender. Diz-se em Brasília que há uma malévola intenção oficial dar um susto no MST e em alguns de seus líderes. Primeiro para evitar que eles extrapolem demais, pelo menos publicamente e diante de câmeras de televisão, como no caso do laranjal de SP. E segundo para que seus líderes, como ainda o fez neste fim de semana prolongado João Pedro Stedile, deixem da fazer restrições a Dilma.
terça-feira, 27 de outubro de 2009

Política & Economia NA REAL n° 75

Divergências públicas, insegurança externa Em uma de suas passagens por Brasília, Lula provavelmente terá de ditar uma daquelas suas "ordens unidas" para enquadrar alguns auxiliares que andam se estranhando de público. As divergências, em muitos casos, geram insegurança externa, principalmente na área sensível da economia. Outras atrasam mais a ação do governo do que os execrados TCU, MP. 1. BC e ministério da Fazenda, que divergem a respeito de tudo, resolveram divergir também a respeito da taxação do câmbio. O BC acha que a medida é, no mínimo, inócua. A Fazenda acha que o BC está muito frouxo.2. O ministro do Desenvolvimento, Miguel Jorge, também discorda do IOF na entrada de capital estrangeiro especulativo, posição que é também de parte dos empresários.3. O presidente do BNDES, Luciano Coutinho, passou a defender corte de gastos de custeio do governo e uma reforma da Previdência para que o Brasil possa crescer de forma sustentável. Por falar em ajuste fiscal, em seu boletim trimestral de inflação, a equipe do BC foi tachada de "terrorista" por auxiliares de Mantega. Por sinal, Coutinho é apontado como provável substituto de Meirelles no BC, um estágio probatório antes de assumir o ministério da Fazenda num possível governo Dilma.4. Há profundas divergências entre o ministro das Comunicações, Hélio Costa, e as equipes do ministério do Planejamento e da Casa Civil a respeito do Plano Nacional de Banda Larga que o presidente Lula quer ver pronto até o dia 10/11 para levar em seguida para as ruas. Tanto é assim que cada lado está preparando o seu próprio projeto - o de Costa envolvendo as teles, o outro privilegiando a ressurreição da Telebrás. Hélio Costa é um ministro incomodado com a insistência do PT em ter candidato próprio ao governo de MG.5. Batem boca ainda os ministérios da Agricultura e do Desenvolvimento Agrário por causa da mudança nos critérios para classificação da produtividade das propriedades rurais e os ministérios do Meio Ambiente e Transportes por causa de licenças ambientais. Estas divergências naturalmente tendem a se acentuar na medida em que mais e mais o político-eleitoral se misturar com o estritamente técnico. O imposto sobre o capital externo - I O debate sobre a procedência e/ou eficiência da tributação sobre o capital entrante destinado a aquisição de ativos de renda fixa e variável (ações) no mercado local é legítimo, mas há uma questão precedente e relevante : os efeitos dos fluxos de capital sobre a administração das contas externas brasileiras. A combinação de um sistema flutuante de câmbio e a liberdade de movimentação financeira tem vantagens (ligadas a certo "realismo" da taxa de câmbio), porém também tem suas desvantagens - os efeitos de curto prazo dos fluxos sobre a sustentabilidade do equilíbrio externo no longo prazo. E a taxação é a única forma de se tentar "controlar" esse processo. Todos sabem disso, os críticos e defensores da medida. O governo optou corretamente pela via tributária para viabilizar a gestão da política cambial e não criar inconsistências intertemporais entre o curto e o longo prazo. O imposto sobre o capital externo - II Se o governo agiu certo no sentido de sua ação, não nos parece eficiente a forma da taxação. O governo deveria optar por uma tributação relacionada com o tempo : maior o prazo da aplicação, menor a tributação. Isso remeteria a ideia de tributar "na saída" e não "na entrada". O problema de uma medida desse tipo é que o mercado financeiro provavelmente encontraria formas de "burlar" legalmente esta forma de tributação. É isto que o governo teme. Talvez o mais recomendado fosse que o governo recolhesse o imposto na "entrada", a título de "antecipação" (na fonte) e compensasse tal imposto "na saída". A única coisa certa neste processo é que não se trata de um debate "ideológico" sobre tributação. Este é um problema mundial relacionado à velocidade e quantidade de deslocamento de capitais. Por vezes estes movimentos favorecem ao andamento das economias (como ocorreu depois do ápice da crise iniciada em setembro de 2008) e em outras ocasiões destrói o sadio desenvolvimento das economias (cujos exemplos são inúmeros). Medida não reverte tendência A medida tributária adotada pelo governo em relação ao capital externo é um "ruído" na movimentação financeira. Todavia, deve prevalecer o fundamento de que o Brasil é destino privilegiado do capital externo. Assim, a taxa cambial pode ter até um solavanco para cima, mas estruturalmente não sobe. Muitas instituições financeiras apostam em mais queda. Algumas falam num dólar de R$ 1,6 no fim do ano. Não é apenas o Brasil Os problemas enfrentados pelo Brasil na gestão da taxa cambial têm de ser visto dentro do contexto mundial. Depois que a crise acalmou lá fora, os investidores que antes correram para o "porto seguro" dos títulos do tesouro norteamericano (até meados deste ano), passaram a apostar em outras moedas em detrimento do dólar. O movimento das moedas principais do mundo é uma enorme preocupação da parte das autoridades econômicas. E não há mecanismos eficientes para controlá-lo. A política monetária ganha importância Se há uma variável macroeconômica relevante para sabermos se a economia brasileira estará equilibrada para sustentar o crescimento nos próximos 12 a 24 meses, esta é a administração da taxa de juros básica. Trata-se da ferramenta mais importante para controlar os riscos fiscais expansionistas do governo e a inflação. O tal do "mercado" pode estar subestimando estes riscos. Sobretudo, porque não há certeza sobre a adequada condução do BC nesta matéria. Esta semana sai a ata da reunião do Copom da semana passada, quando poderemos ter algumas indicações de quando o BC pretende começar a mexer nos juros. Para cima, segundo indicações anteriores. De acordo com alguns analistas, porém, entre eles o ex-BC Gustavo Franco, antes de tocar na Selic a autoridade monetária pode aumentar o compulsório dos bancos, reduzido no auge da crise para irrigar o mercado de crédito. Seria uma medida de efeitos menos visíveis, portanto menos traumática do ponto de vista eleitoral. A política monetária lá fora Não é apenas o BC brasileiro que está diante de imensos desafios. Ao contrário : os desafios dos principais BCs do mundo, sobretudo o Fed, estão relacionados ao momento em que sinalizarão a elevação das taxas negativas (em relação à inflação) de juros. As autoridades monetárias sabem que a atual política é inflacionária no médio prazo, mas não há ainda evidências suficientes de que o crescimento econômico voltará de forma consistente. Resultado : as autoridades estão fazendo um jogo de palavras pelo qual muito falam e nada dizem sobre o futuro. Assim permanecerá por algum (?) tempo. E as contas ? - I Esta é a semana da divulgação do resultado consolidado da contabilidade federal - governo central, BC, Previdência - do mês de setembro. A arrecadação caiu mais de 11% ao mesmo mês do ano passado. O déficit da Previdência passou dos R$ 9 bi. A maior parte das despesas são "incomprimíveis", com diria o ex-ministro Magri. Se novos artifícios fiscais não forem aplicados - aumento dos dividendos das estatais, mais depósitos judiciais - o déficit deve vir alto. E as contas ? - II Em que pese o buraco da Previdência estar novamente se alargando, Lula firmou um acordo com as centrais sindicais para atenuar os efeitos do fator previdenciário, criado para evitar as aposentadorias precoces. Por outro lado, não se tem notícia de que o governo esteja empenhado em aprovar a regulamentação dos servidores públicos, proposta pela própria administração Lula, considerada essencial para diminuir o déficit da previdência pública, proporcionalmente muito mais pesado para os cofres do tesouro do que o do INSS. Não há "clima" para votar uma proposta dessas em tempos de eleições. Radar "NA REAL" Todos os mercados acionários relevantes do mundo estão com "lucros acumulados" consideráveis. O mesmo raciocínio vale para os ativos de renda fixa. A grande dúvida dos investidores nesta hora é se "realizam lucros" e abandonam posições ou as mantém na expectativa de lucros ainda maiores no futuro. No caso do mercado acionário brasileiro essa dúvida é ainda maior, pela óbvia razão de que os lucros são maiores em relação aos outros mercados. (Há de se considerar que no nosso caso, além da alta de mais de 60% do Bovespa, há a alta do real de mais de 35%. Se combinarmos as duas altas, um investidor estrangeiro ganhou mais de 100% com ativos brasileiros. Uma tentação para realizar lucros). De nossa parte, fazemos a seguinte análise. Há razões sólidas para que esperemos melhorias adicionais no mercado financeiro mundial. Todavia, este será um processo mais lento e comedido até que aumentem as convicções e evidências sobre a sustentação do crescimento econômico no médio prazo. 23/10/9 TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA alta alta - Pós-Fixados NA estável alta Câmbio ² - EURO 1,5008 estável/alta alta - REAL 1,7173 estável/baixa alta Mercado Acionário - Ibovespa 65.058,84 alta/estável estável/alta - S&P 500 1.079,70 alta/estável alta - NASDAQ 2.154,47 alta/estável alta (1) - Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais)(2) - Em relação ao dólar norteamericanoNA - Não aplicável PIB nos EUA O PIB norteamericano cresceu 0,7% no segundo trimestre deste ano em relação ao trimestre anterior. Uma taxa muito melhor que aquela que era esperada pelos analistas e investidores. Nesta próxima quinta-feira, será divulgado o PIB do terceiro trimestre. Espera-se um crescimento de 3,5%. Até se verificar se a economia dos EUA está se recuperando o mundo não dormirá em paz. A volatilidade dos mercados subirá nos próximos dias. Trata-se de uma certeza. Emprego preocupa Se há uma chance concreta do PIB trazer boas surpresas, a grande preocupação em relação aos EUA é o emprego. A criação de empregos continua capenga, sobretudo em função da fragilidade do setor de construção civil - o qual melhorou o desempenho por causa do aumento das vendas de casas já construídas. A melhoria no emprego será o ponto chave para detonar a euforia dos mercados mundiais. Todavia, se não há mais tempestades na economia norteamericana, o sol ainda não brilha. Só para lembrar... A atividade da maior economia mundial caiu em cinco dos últimos seis trimestres... De que paz nós estamos a falar ? Estas últimas manifestações da população carioca em Copacabana são muito justificadas. Por razões mais do que óbvias. Contudo, ficam algumas dúvidas inquietantes : os traficantes merecem paz ? Será que estas manifestações defendem a ação coercitiva do Estado na direção do crime ? Não caberia defendê-las ? Não há paz quando não há justiça. Mesmo quando há mortes pelo caminho o Estado tem de agir para conter a criminalidade. No caso do Rio, com muita força. Serra, Kassab e as marginais As obras viárias em SP podem até ser necessárias. Mas cabe perguntar às autoridades municipais e estaduais a razão de tanta passividade em relação às alternativas para o caótico trânsito paulistano. Serra é crítico às obras federais, mas em SP age igual ao governo federal : dentro de uma visão puramente desenvolvimentista e sem preocupações com a sustentabilidade ambiental e social. Tudo isto em sintonia com as eleições. Como Lula, a quem critica. Inteligência ? Aliás, por falar em tráfego paulistano, ganha um prêmio quem encontrar o menor resquício do que se convencionou chamar "inteligência de tráfego" na ação das autoridades de SP no setor. Falta também mais vontade trabalhar. Quem anda pelas ruas da cidade, vê que aqueles que deveriam orientar e facilitar a circulação de veículos estão simplesmente de canetinha na mão multando. As articulações tucanas Já se conhece a ação política de Lula em relação às próximas eleições : o presidente começa a consolidar a candidatura de Dilma dentro de uma visão de "tocadora de obras" e a amarrar esta imagem a uma larga aliança política, consistente com os objetivos eleitorais e com inúmeras inconsistências relacionadas ao perfil ideológico e padrão ético dos partidos e candidatos. De Sarney ao PCdoB cabe tudo no bonde eleitoral do presidente. De outro lado, os tucanos ficam com ensaios relacionados com o acordo de uma "chapa puro-sangue" entre Serra e Aécio. Um jogo desprovido de ligação efetiva com eleitor. Não há ainda no ninho tucano nenhuma razão especial a motivar o eleitor a votar em Serra e/ou Aécio. Não é à toa que o presidente do PSDB, Sérgio Guerra, pede ação e discurso político. Tem razão Guerra : não há, até agora, reason why para se votar nos "puro-sangue". Jogo sujo no PSDB Pode custar mais caro do que imagina a cúpula do PSDB a iniciativa de um empresário amigo (na verdade o ex-deputado Ronaldo César Coelho) de encomendar uma pesquisa ao Ibope para testar a força de uma chapa tucana pura para a presidência - Serra na cabeça e Aécio de vice. Nos arraiais mineiros foi tratada como uma tentativa de criar um fato consumado e como uma traição, palavra forte demais na terra dos Inconfidentes. Difícil será convencer os desconfiados mineiros de que o comando do partido não sabia de nada e que Serra menos ainda. O vazamento da informação talvez tenha sepultado as últimas e remotas chances de uma chapa puro-sangue dos tucanos para a presidência em 2010. Negócios De um maldoso de plantão : o contrato de gaveta entre o PT e o PMDB deve ser registrado na Junta Comercial. Não estão preocupados O PMDB pode fazer o acordo que quiser agora e em 2010, e não fazer nenhum. Este sabe, como ensinou a máxima de Lula com Jesus/Judas, que qualquer que seja o eleito no ano que vem há de chamar o maior partido brasileiro para a ceia. Com assento privilegiado. O partido está de olho mesmo é nos palanques estaduais, que ajudam a definir as bancadas partidárias na Câmara e no Senado mais do que a eleição federal. O objetivo do PMDB é aumentar seu cacife na Câmara e no Senado. Quem pode ter a bancada reduzida, de acordo com as circunstâncias, é o PT, se tiver de cumprir todas as ordens de Lula para agradar ao PMDB. Para acabar com as especulações Vamos aos fatos : a urna eleitoral de 2010 terá a seguinte composição, salvo atropelos de última hora : 1. Dilma Roussef2. José Serra ou Aécio Neves, hoje com tendências para o primeiro.3. Marina Silva4. Mais um ou outro aventureiro insignificante. Ciro Gomes comporá mesmo a lista de concorrentes em São Paulo. TCU em negociações Consta que o ex-ministro José Múcio está tratando para que os "canais" entre o TCU e o governo sejam abertos. Fala-se em diálogo entre o governo e o órgão. Ora, o TCU existe para facilitar o papel constitucional do Legislativo de fiscalizar o governo. Este papel os parlamentares executam com enorme deficiência. A possibilidade de um "diálogo" do governo com o TCU parece ser o sinal claro de que daqui para frente a fiscalização do Executivo pode se tornar apenas "cosmética". O pior dos mundos para os contribuintes. O recrudescimento dos ataques de Lula ao TCU é o sinal mais claro de que a fiscalização incomoda muito o governo. Aliás, ele mostrou isto também na semana passada quando disse que não é papel da imprensa fiscalizar, apenas informar. Outro sinal : o sistemático combate às CPIs, a última a do MST, contra qual o governo move mundos e fundos - mais estes do que aqueles. Deve ser coisa da transparência do republicanismo ao estilo ministro Tarso Genro.
terça-feira, 20 de outubro de 2009

Política & Economia NA REAL n° 74

Como nunca antes... Pense-se num país no qual o governo : 1. Trabalha para reforçar a presença das empresas estatais na economia e criar novas companhias governamentais. 2. Está empenhado em enfraquecer as agências reguladoras, podando sua independência e autonomia. 3. Se esmera para conter o que alguns deles classificam de "sanha fiscalizatória" do TCU, do MP e até de órgão do Executivo como os institutos do meio ambiente. 4. Sistematicamente tente interferir nas decisões empresariais do setor privado (como no episódio Vale) e não perde a oportunidade, em comícios eleitorais, de tentar demonizar as grandes empresas privadas. 5. Por meio de benesses com recursos do Tesouro tenha "amaciado" o mundo sindical e os movimentos sociais (ONGs, entidades estudantis). 6. Tenha realizado a mais bem sucedida e bem planejada ocupação do aparelho estatal por fiéis seguidores, de alto a baixo. 7. Deseja ardentemente exercer algum tipo de controle sobre o que alguns classificam como "imprensa burguesa" ou "grande mídia", pouco influenciável pelos incentivos oficiais. 8. Com um bem sucedido "terrorismo" verbal - utilizando termos tais como, antisocial, contra os pobres, antibrasileiro, antinacionalista - mantenha acuados a oposição e parte da sociedade. 9. Se dedique, sistematicamente, a desqualificar seus críticos. 10. Como nunca antes, tenha investido na franciscana política do "é dando que se recebe" com os aliados. 11. Não tenha muito apego à letra fria da lei. Pois é : no longo prazo, o que será das instituições e do projeto democrático deste país ? Eleições : passado e futuro Estão evidentes as estratégias do PT e aderidos e do PSDB et caterva na campanha eleitoral. Lula quer fazer as comparações entre seu governo e o do presidente FHC. Um olhar sobre o passado. Serra quer fugir desta armadilha e discutir os próximos quatro anos, pós-Lula. Uma tentativa de olhar o futuro. Até agora, os planos de Lula parecem mais bem sucedidos, tal o atarantamento da oposição. Rumo a 2014 No fundo, no fundo, a estratégia de Lula o torna, bem como o seu governo a grande estrela das eleições. Lula não sai de cena, como normalmente acontece com os governantes em fim de mandato, quando o capim começa a crescer na porta de seu gabinete e o café é servido frio. Dilma é a candidata ideal para um projeto destes, com vistas a 2014. "Miss simpatia" Se Serra continuar exibindo o sorriso e a paciência que mostra em público e se sua equipe de comunicação continuar com a simpatia e a eficiência que têm demonstrado, a ministra Dilma Roussef ainda vai ganhar o troféu de Miss Simpatia. Quem tem a força O PMDB em muitos Estados ainda resiste a Dilma. A resistência vai ser minada aos poucos, a não ser que a candidatura da ministra da Casa Civil fique patinando. Caso contrário, a adesão virá aos poucos. Afinal, Lula tem a caneta e o PMDB espera apenas que ele comece a usá-la para jurar fidelidade eterna. Os movimentos das moedas Na semana passada, os principais comentários nas mesas de operações do mercado financeiro foram relacionados à valorização das principais moedas mundiais frente ao dólar norte-americano. Há até quem comece a prever um colapso do dólar, a reserva de valor do mundo. Sem que tenhamos o objetivo de fazer uma "previsão", vejamos quais são os fatores que estão por detrás deste processo : 1. A recuperação econômica da Europa está sendo mais forte que a dos EUA. Assim sendo, a remuneração dos títulos de renda fixa (com prazo de 5 a 10 anos) do velho continente está subindo, pois os investidores buscam maior rentabilidade no atual cenário de taxas negativas de juros (descontada a inflação projetada); 2. Maior remuneração dos títulos faz com que os fluxos de capital migrem do dólar americano para outras moedas; 3. Portanto, parece que estamos a iniciar - lentamente ! - um processo de elevação dos juros nas principais economias. Isto deve ser visto como um bom sinal, pois é fruto dos bons ventos de uma maior aceleração da atividade econômica. Todavia, prever o colapso do dólar parece precipitado. O Real neste contexto Lula teria autorizado as autoridades econômicas a taxar o capital que ingressa no país. Maior o prazo de investimento, menor a taxa incidente sobre as aplicações e vice versa. De fato, a rápida valorização do real neste ano, mais de 28%, retira competitividade das exportações, muito embora os preços das commodities em alta de certa forma compensem tal valorização. Todavia, o segmento mais dinâmico da economia - a indústria - perde muito com a valorização cambial. Essa medida do governo dificilmente desvalorizará o Real. Pode conter a alta, apenas. Isto se dá em função do fato de que o Brasil é uma das poucas alternativas de investimentos atrativas no atual contexto mundial e o fluxo externo para cá, inclusive da "economia real", é inexorável. A política monetária do BC Mais difícil ainda será a manobra da política monetária do BC no atual contexto de valorização do Real. Se elevar os juros, contribuirá decisivamente para manter o Real valorizado e se não subir os juros pode estar ajudando a criar uma conjuntura ostensivamente inflacionária. Há ainda um risco político : o de Henrique Meirelles se isentar de cumprir o seu papel de guardião da moeda, no exato momento em que a sua estrela de político do PMDB sobe. É cotado até para ser candidato a vice-presidente na chapa oficial, caso o chamado "mercado" fique inquieto com o "nacional-desenvolvimentismo" da ministra Dilma. A nota e depois a ata do Copom, sobre a reunião de hoje e amanhã, poderão dar sinais de quando o BC pretende começar a mexer nos juros. Real valorizado não ajudará na inflação É improvável uma elevação tão significativa do Real daqui para frente. Portanto, do ponto de vista exclusivamente cambial, a contenção de uma possível inflação futura não contará com o "apoio" da valorização cambial que barateia importações e contém a alta das commodities. No passado (2007, por exemplo), este foi um fator fundamental para reduzir as expectativas de alta da inflação. O BC não terá este benefício daqui para frente. Radar "NA REAL" Estão mantidas as tendências estruturais dos principais segmentos do mercado financeiro aqui e no exterior. As possíveis medidas cambiais que podem ser adotadas pelo governo brasileiro para conter a alta do Real não deve mudar a tendência favorável à moeda nacional. É possível que esta seja uma semana mais tensa e com mais volatilidade nos mercados de ações em função da temporada de resultados do terceiro trimestre das empresas cotadas em bolsa nos EUA e na Europa. Atenção redobrada deve ser dispensada ao segmento das instituições financeiras. É muito importante verificar se os bancos mais importantes dos EUA e da Europa, sobretudo ingleses, estão com melhores balanços e resultados. Mantenha-se afastado dos títulos prefixados no Brasil. É hora de ir aumentando a participação de investimentos de curto prazo na carteira de investimento, sobretudo no segmento de renda fixa. Inclusive investindo na caderneta de poupança, a grande estrela da renda fixa brasileira. 16/10/9 TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA alta alta - Pós-Fixados NA estável alta Câmbio ² - EURO 1,4912 estável/alta alta - REAL 1,7100 estável alta Mercado Acionário - Ibovespa 66.200,49 alta estável/alta - S&P 500 1.087,68 alta alta - NASDAQ 2.156,80 alta alta (1) - Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais)(2) - Em relação ao dólar norte-americanoNA - Não aplicável Imóveis : recuperação à vista Mais um sinal de recuperação da economia dos EUA. O combalido mercado imobiliário americano dá sinais positivos que indicam que o pior já passou no segmento que foi a principal causa da atual crise. As vendas de imóveis usados cresceram mais de 14% em relação ao menor nível alcançado em janeiro deste ano, o início de construções de casas subiu 23%, sendo que houve o aumento de 34% das construções para famílias que têm um imóvel apenas. Este processo se deu em razão do estímulo tributário do governo para o setor e ainda não foi acompanhado pela melhoria do crédito. Estes são os necessários novos passos para indicar uma recuperação consistente. O fim dos estímulos fiscais Se há uma tarefa fundamental nas discussões do futuro da economia brasileira é verificar e analisar, inclusive do ponto de vista político, como o governo retirará os estímulos fiscais utilizados para conter a crise. Esta é uma das matérias mais discutidas nos parlamentos mundo afora. Aqui parece que o debate "não pegou". A volta da CPMF Na semana passada, líderes do governo no Congresso foram instruídos para não fazer muito barulho em relação às articulações em torno da adoção de uma nova CPMF (CSS), destinada à saúde. Cidadãos, um "novo" imposto vem aí ! Salvos pelas urnas A CSS pode naufragar somente por uma decisiva razão : os cálculos "custo-benefício eleitorais". Foi esta "matemática" que abateu, pela segunda vez, o plano dos gestores oficiais da economia de taxar a caderneta de poupança e fez o ministro Guido Mantega recuar (será mesmo ?) da manobra, já posta em andamento. Além de atrasar a devolução do IR de quem pagou a mais em 2008, para segurar, artificialmente, o superávit primário deste ano. Contas de aproximar Esta semana, salvo algum tropeço, devem ser divulgados os resultados a arrecadação federal no mês de setembro. Anotem bem : mês no qual, segundo o ministro Guido Mantega, a economia já estava "bombando". Aliás, "bombando" desde julho. Porém, de acordo com os primeiros levantamentos, a arrecadação de tributos mês passado não seguiu tal ritmo. Deve ter sido bem inferior à de agosto. No entanto, o governo tem alguns expedientes que pode adotar para tornar o bicho menos feio. Vejamos alguns deles : incorporação de depósitos judiciais, aumento do pagamento de dividendos pelas estatais... Equívoco ambiental É justo e necessário que Lula cobre dos países maiores sacrifícios nas questões climáticas para conter o aquecimento global. Esta deve ser a tônica da posição brasileira na Conferência da ONU sobre o tema, em Copenhague, em dezembro. O Brasil pode mudar o jogo. Porém, não é justo que o Brasil, como têm apregoado muitas autoridades, condicione suas ofertas na conferência (limitar o desmatamento na Amazônia, por exemplo) ao que os outros países concederem. Produzir mais limpo, poluir menos, é antes de tudo do interesse dos brasileiros, pela qualidade de vida, pela saúde dos cidadãos. Não pode estar ligado ao que os outros fazem. Ou a saúde do brasileiro, para o governo, só vale se o Obama valorizar a saúde dos americanos ? Os confrontos no Rio Embora muitos não aceitem, o fato é que não existem evidências suficientes que contrariem a premissa de que o Brasil é um país muito violento. A mortalidade relacionada à criminalidade é assustadora. Em contrapartida, o assunto carece de políticas públicas mais efetivas para conter a violência, bem como mudanças na legislação. Nem assuntos polêmicos, como a unificação das polícias civil e militar, deveriam ser evitados no atual cenário da criminalidade brasileira. Os enfrentamentos entre a política e os traficantes no Rio não são novidades. De outro lado, não temos nenhuma grande "novidade" para que a sociedade possa enfrentar o crime. Trata-se de um paradoxo evidente : o assunto é relevante, mas pouco se faz para solucioná-lo. Outra coisa : será que este cenário de fato permite que o país possa sediar com segurança eventos como a Copa do Mundo e os Jogos Olímpicos ? Por que o turista que virá ao Rio para estes eventos estará mais seguro que os moradores da cidade ? Esta é a Copa e a Olimpíada que o Brasil precisa vencer antes de 2014 e 2016. E isto não se faz com festas, propaganda e palanques. O que é real Vamos aos fatos : a implicância do governo federal com o TCU, o MP, o Ibama e até com a lei de licitações, aos quais culpa pelo atraso dos projetos e de obras ao gosto brasiliense, na realidade vem para disfarçar o real responsável por esses atrasos : a conhecida inapetência gerencial e executiva do próprio governo. Humorista O dono do futebol brasileiro, Ricardo Teixeira, entusiasmado com os resultados de público (não do jogo em si) da partida da seleção brasileira contra a Venezuela, pretende que os jogos noturnos do Campeonato Brasileiro do ano que vem sejam realizados também às 20h e não mais às quase 22h de hoje. Vai agir bem em cima do JN e da novela das oito que de fato é das nove. Quem quiser ficar rico pode apostar contra o presidente da CBF.
terça-feira, 13 de outubro de 2009

Política & Economia NA REAL n° 73

Tudo muito rápido e positivo O processo de "realização de lucros" nos principais mercados mundiais durou apenas uma semana, exatamente a última do mês de setembro. De lá para cá o que se viu foi uma renovação sistemática do crescente otimismo da parte dos investidores, em todos os segmentos do mercado e em quase todos os países relevantes do ponto de vista econômico. Os sinais objetivos de recuperação existem, todavia não são exuberantes quanto a conjuntura dos mercados. Resta saber se a melhoria das expectativas no mercado financeiro e de capital, sobretudo nos EUA e na Europa, hão de "contaminar" o lado real das economias. Por enquanto, as melhores expectativas estão mantidas. Resultados na ordem do dia A temporada de divulgação dos resultados do terceiro trimestre do ano das principais empresas com ações cotadas nas bolsas de valores iniciou-se. A nossa aposta é que os lucros serão crescentes e vale a pena manter posições compradas. Especialmente nos EUA, os primeiros resultados que apareceram foram muito bons frente à tragédia dos últimos trimestres. Brasil na ordem do dia Certamente há renovada euforia em torno do andamento da economia brasileira e de seu mercado de capital. Esta coluna teve ocasião de conversar na semana passada com dois analistas e um administrador de fundos situados em Londres e NY. Basicamente podemos dizer que eles estão eufóricos com a economia brasileira. Embora ainda não tenham publicado relatórios com estes números, eles acreditam que a economia brasileira pode crescer acima de 6% no ano que vem, mesmo que a taxa de juros básica venha a subir para conter alguma inflação. Não vislumbram nenhum tropeço nas eleições de 2010 que possa causar maiores danos econômicos, ao contrário, estimam um crescimento consistente da economia brasileira nos próximos cinco anos em função do financiamento externo proveniente do mercado de commodities que continuará sob o "efeito China". Segundo eles, já há consultas de fundos de pensão europeus e norte-americanos para investir em segmentos com retorno mais longo, por exemplo, o setor energético. Há uma exuberância racional em torno do Brasil, dizem. China, ainda a chave do crescimento Embora países como a Índia e Brasil estejam elevando o nível do crescimento mundial, é a China que agrega mais demanda ao sistema. Vale lembrar que lá o sistema financeiro não é hígido como o brasileiro e os riscos fiscais são crescentes. Potencialmente, a China também é o maior risco para a estabilidade mundial. A pauta da economia mundial neste momento O assunto macroeconômico que há de dominar o cenário nos próximos meses é como as políticas fiscais compensatórias utilizadas pelos governos dos países do G-20 para suprir a ausência de demanda do setor privado serão retiradas para evitar riscos inflacionários. O Reino Unido, liderado pelo trabalhista Gordon Brown, já está providenciando leilões de ativos para fazer caixa destinado a suprir recursos para um empobrecido erário público. Por lá também haverá eleições. Taxa de juros sobem O BC australiano já tinha avisado aos navegantes que estava prestes a iniciar um movimento de elevação da taxa básica de juros, a qual subiu para 3,25% ao ano (+ 0,25%). Agora devemos prestar atenção em relação ao que os BCs da Coréia do Sul, Japão, China e África do Sul vão fazer. São estes BCs os mais alertados em relação à elevação da inflação. No Brasil, juros vão subir. Mas quando ? O mercado futuro de juros, negociado na BMF-Bovespa, já mostra que as expectativas em relação à elevação da taxa de juros estão subindo rapidamente. Os últimos números da atividade industrial e do consumo foram expressivos e mostraram consistência. O impacto da maior atividade sobre os preços é dificílima de ser medida de vez que depende de cálculos muito carentes de uma razoável "ciência", muito embora muitos analistas se comportem como deuses quando fazem previsões. A única questão objetiva é que os gastos públicos são enormes e de natureza permanente, pois estão mais relacionados ao aumento de custeio que aos investimentos. A nossa estimativa é que no início do ano a probabilidade do início de uma "campanha de elevação da taxa de juros" se inicie. Provavelmente, ainda com Meirelles no BC. O governo e os fiscais Lula perdeu totalmente a paciência com o TCU, os gestores oficiais do meio ambiente e parte do MP. Todos, com suas exigências de transparência e cumprimento às leis, estariam, na visão presidencial, "sabotando" os projetos governamentais. Até o fim do ano, apesar do tempo apertado, espera-se que o Congresso aprove alterações na lei de licitações e nos poderes do TCU para conter a "sanha de fiscalizar" que tanto incomoda os tocadores de obras. As garras da PF já foram podadas como no caso da "Operação Castelo de Areia". De acordo com o auditor Antoninho Marmo Trevisan, que sabe o que fala, pois é dos empresários mais próximos a Lula, a intenção é entregar a fiscalização às auditorias externas independentes. Uma estranha "terceirização" num governo que faz questão de ampliar os poderes do Estado. Muitas dessas auditorias têm sido acusadas, sobretudo no exterior, de não enxergar bem o que se passa na contabilidade das empresas que auditam. Basta dar uma olhada no que ocorreu no caso do sistema financeiro norte-americano. Real valorizado e assim ficará Sabe-se do risco para o setor exportador, sobretudo o industrial, que o Real excessivamente valorizado traz. Pois bem : com a liberdade de fluxos de capital existente e com o atraente diferencial entre juros externos e domésticos há pouca esperança de que o Real volte a se desvalorizar num horizonte de tempo relativamente longo, digamos, pelo menos um ano. Não há modelo econométrico capaz de projetar o nível do Real, mas somos afirmativos em dizer que quem quiser apostar em desvalorização do Real vai se dar mal. Cicatrizes A "marolinha" deixou cicatrizes - Real valorizado, distúrbios nas contas públicas e outros tais. O crescimento que se está prevendo - ao ritmo de 6% no final de 2010 - só é sustentável se o governo curar esses desvios e fizer o que não fez quando tinha tudo a seu favor : atenuar um pouco o que se costuma chamar de "custo Brasil", na infra-estrutura, nos impostos e na burocracia. Mas em tempos de eleições, pré-sal, Copa do Mundo, Olimpíada, sobrará tempo e dinheiro para algo mais ? Radar "NA REAL" Voltamos a ficar mais otimistas em relação ao andamento dos mercados mundiais e do Brasil. Há uma positiva contaminação das melhores expectativas em relação à recuperação mundial e o Brasil é destaque neste processo, conforme consta nas notas acima. Logicamente, há riscos envolvidos no processo (inflação, eleições, excessos de gastos fiscais e inconsistência na recuperação do setor real das principais economias). O que estamos a dizer nesta nota é que tais riscos não devem interromper a trajetória sustentada dos mercados. Ou seja, a tendência estrutural de otimismo prevalecerá sobre tais riscos. Não é um processo linear de alta. Os mercados oscilam e esta é a única certeza que temos sobre eles. 9/10/9 TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA alta alta - Pós-Fixados NA estável alta Câmbio ² - EURO 1,4801 estável/alta alta - REAL 1,7433 alta alta Mercado Acionário - Ibovespa 64.071,01 alta estável/alta - S&P 500 1.071,49 alta alta - NASDAQ 2.145,63 alta alta (1) - Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais)(2) - Em relação ao dólar norte-americanoNA - Não aplicável Fala quem sabe Há informações de que o senador José Sarney, por acaso também imortal na ABL, está escrevendo um novo livro, apropriadamente intitulado "A pobreza no Maranhão". Disso ele entende : desde que Sarney foi eleito governador do Estado, em 1966, o Maranhão, com raro interregno, foi dirigido por ele, alguém da família ou agregados da Casa Grande da política maranhense. E conseguiu se transformar num dos Estados mais pobres do Brasil : o Índice de Desenvolvimento Humano do Estado somente não é inferior ao de Alagoas. De olho no FAT Há menos de três meses do ministro do trabalho, Carlos Lupi, fez uma de suas lambanças e conseguiu botar no comando do Codefat - Conselho Deliberativo do Fundo de Amparo ao Trabalhador - um dirigente de uma entidade patronal de sua total confiança. A ação do ministro afastou do Conselho outras entidades, como a CNA, CNI, CNC e a que representa o sistema financeiro. Agora, o tesouro nacional faz as contas para ver quanto vai ter de repassar ao FAT para ele não fechar o ano no vermelho. E não é pouco dinheiro, seguramente mais de R$ 3 bi. O FAT faz fundos para o BNDES, paga o seguro desemprego e financia cursos de treinamento para os trabalhadores. Competividade eleitoral Um dos fatores determinantes para o bom sucesso de um candidato é seu grau de exposição pública. Não é decisivo, mas é crucial, principalmente na fase de fixação da candidatura. Ainda mais quando o candidato é pouco conhecido fora dos meios políticos e da população mais bem informada. Hoje, a ministra Dilma está com um grau de exposição três vezes superior a qualquer outro de seus prováveis concorrentes : Ciro Gomes, José Serra, Aécio Neves e Marina Silva. Esta exposição deve se acentuar agora que Dilma está livre dos entraves provocados por sua doença e Lula decidiu botar de vez sua caravana eleitoral na estrada. Brasília, só esporadicamente, para assinar uns papéis e renovar a mala. Dilma precisa recuperar logo o que perdeu nas últimas pesquisas para exorcizar o fantasma de Ciro Gomes. Serra (ou Aécio) e Marina não são alvos preferenciais agora. Primeiro é preciso tirar Ciro do campo, por bem ou por mal. Os esqueletos do PSDB Os tucanos tanto fingiram que não era com eles que vão entrar na fase decisiva da sucessão presidencial com dois esqueletos berrando no armário : o caso Yeda Crusius no Rio Grande do Sul e os negócios da francesa Alstom em São Paulo. O PMDB do B A julgar pelas informações de bastidores, dia 21 será a data em que o PMDB (de Lula) e o PT fecharão um acordo para o primeiro apoiar Dilma e ganhar a vaga de vice. O estranho é que com toda a popularidade de Lula, seções importantíssimas do PMDB nos Estados não estão muito entusiasmadas com esse acordo agora - Minas, São Paulo, Bahia, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Pernambuco, Rio, Mato Grosso do Sul, Pará e Acre. Destas, duas ou três são praticamente serristas (ou tucanas) - São Paulo, Pernambuco e Rio Grande do Sul. A culpa pela vacilação das outras tem nome, sobrenome e endereço : PT. Nesses Estados o PMDB quer que o PT desista de disputar os palácios estaduais. Ou então que aceite dividir a atenção do presidente Lula e da ministra Dilma Roussef. Palanques para dois, gravações para dois, recursos para dois. Loteamento ministerial Se ganhar a eleição, Dilma pode assumir com vários ministros já "nomeados" e muitos outros cargos ocupados. As negociações para formar seus palanques e ganhar adesões importantes implicam ofertas futuras no novo governo : um ministério para Meirelles, outro para Ciro, uma estatal para Renan e assim por diante... Ciúmes em Brasília Pelo tom protocolar das "comemorações" brasilienses à escolha do "amigo" Barack Obama para receber o Nobel da Paz deste ano, baixou ciumeira brava na capital da República. Inveja em Brasília Os consultores de Lula em matéria de política de comunicação social, aqueles que defendem a "democratização" da mídia, devem estar se matando de inveja nos ares do Planalto Central. Inveja do casal Kirchner e do presidente de facto de Honduras. Os Kirchner, com todo o baixo prestígio político que carregam, conseguiram do Congresso argentino a aprovação de uma lei que aumenta o controle deles sobre a imprensa "adversária". E Roberto Micheletti baixou um decreto que permite a seu governo - "de facto", "golpista", "contragolpista", "provisório" ou o que seja - revogar a licença dos meios de comunicação que "incitarem a anarquia social" (seja o que isto venha a significar). Micheletti não é santo de devoção dos altares oficiais da República, mas esta sua oração tem adeptos lá. Faniquitos eleitorais A imagem da ex-ministra Marina Silva recebendo no Principado de Mônaco o Prêmio Príncipe Albert II para sua militância ambiental causou inquietação nos arraiais de seus possíveis contendores, políticos agora à caça de um "discurso verde". Além do "tudo pelo social" a campanha eleitoral brasileira vai também encampar o "tudo pelo verde". Para começar eles poderiam ler o "Relatório sobre o Desenvolvimento Mundial" divulgado pelo BIRD durante a Assembléia Anual do FMI. Os políticos "paraestatais" A trajetória "política" do empresário Paulo Skaf e outros menos votados da mesma extração, que se aboletam em entidades sustentadas em parte com o dinheiro público (o imposto sindical) para entrar depois na vida de político profissional, está a indicar a necessidade urgente de se rediscutir as bases de utilização deste imposto, tanto no veio empresarial quanto trabalhista. Para lembrar : a ascensão política do vice-presidente José Alencar, até então apenas empresário de grandes méritos, começou no final do século passado quando ele foi presidir a Fiemg - Federação das Indústrias de Minas Gerais e protagonizou uma série de anúncios televisivos mostrando as realizações do SESI e do SENAI no Estado. Imposto sindical na veia. Laranja mecânica Uns arrancam, outros semeiam. Enquanto o MST destrói sete mil pés de laranja em uma propriedade privada no interior de SP, Lula vai formando seu laranjal. Já plantou Dilma no PT e na base aliada, Ciro na política paulista, Meirelles no PMDB, Eike Batista na Vale do Rio Doce... Se colar, colou ! Pressurosos porta-vozes oficiosos de Brasília já se encarregaram de espalhar que Lula "teria ficado insatisfeito" com o atraso na restituição do IRPF pago a mais no ano passado, um dos muitos expedientes utilizados pelo ministério da Fazenda para mostrar que não há nenhum problema com as contas públicas federais. Informam ainda que o presidente não quer mandar para o Congresso o projeto que estabelece cobrança de imposto nos depósitos de poupança acima de certo valor - R$ 50 mil ?, R$ 100 mil ? É sempre assim : há algum "malvado" no governo que pensa uma barbaridade dessas e depois vem o magnânimo presidente e veta a maldade. Logo num governo em que ministro não toma nem elevador sem pedir licença ao presidente ? A tática está ficando manjada : lança-se um balão de ensaio (caderneta de poupança) ou faz-se algo na surdina (IR) e se colar, colou ! Se não colar, diz-se que foi um equívoco que o presidente desconhecia. Caso Vale Há alguns meses dissemos aqui que o presidente da Vale havia deixado de ser o mais recente "amiguinho de infância" do presidente Lula. Pelas últimas investidas oficiais, vistas nos últimos dias nos jornais, passou a inimigo. Nada de pessoal. Lula simplesmente está pegando a Vale, empresa exemplar, para mostrar como ele entende o relacionamento entre o governo e as empresas privadas : estas também devem obediência às autoridades. Têm liberdade até não contrariarem os dogmas presidenciais. No fundo, o sonho de Lula é deixar de herança para seu sucessor um capitalismo de Estado bem estruturado no Brasil.