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Política, Direito & Economia NA REAL

Enfoque político, jurídico e econômico.

Francisco Petros
terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Política & Economia NA REAL n° 132

Política econômica em mudança Há a máxima - muito desgastada, diga-se - de que "não existe almoço grátis". Pois bem : Dilma terá de escolher entre o combate à inflação e o nível de atividade. Tão simples assim : a manutenção da atividade no atual patamar gerará inflação maior e incompatível com as metas estabelecidas pelo próprio governo. E vice-versa. Deve-se notar que a inflação já é um fenômeno consistente e perigoso. Além disso, se o governo resolver operar em favor de uma taxa de câmbio mais depreciada, haverá mais combustão para a inflação. As medidas de contenção de crédito anunciadas pelo BC na última sexta-feira não são suficientes para conter o galopante consumo. São, ademais, uma alerta relevante de que o crédito excessivo dá sinais de deterioração em termos de adimplência e comprometimento da renda disponível da classe média (incluindo a "nova classe média") e da classe de baixa renda. Investimento sob risco Quando se restringe o crédito, a demanda agregada como um todo é afetada. Por mais que as autoridades tentem segmentar o crédito de curto e longo prazo (o que é correto), evitando efeitos nefastos sobre o investimento, as restrições de crédito tendem a se generalizar e atingem os investimentos de médio e longo prazo. O que significa que projetos de expansão acabam por ser prejudicados e o papel dos bancos oficiais permanece muito relevante. O problema é que a capacidade do governo emprestar para financiar os investimentos não é infinita. Ao contrário : está bastante limitada pelos riscos fiscais que causam a transferência de recursos do Tesouro. Portanto, devemos esperar menor nível de investimento, muito embora com efeitos menores que no caso do consumo. COPOM, Selic, etc. Não deve vir aumento da Selic na próxima e última reunião de 2010. Se virá na primeira de 2011, ficará por conta do "novo BC" : se este estiver comprometido de fato com a política de metas, terá de haver aumento. Caso contrário, a leitura do tal de mercado será negativa, relativamente à política monetária do governo de Dilma. O caso aqui não é fazer uma aposta. É o de verificar a ação governamental e agir depois dos fatos. Há dentro do governo correntes de opinião sobre a condução da política monetária. A presidente terá de optar. Desta opção nascerão as expectativas em relação à inflação, em particular, e à política econômica, em geral. O resto é ruído nos jornais. É a política, estúpido Em complemento às análises econômicas, algumas considerações de teor menos, digamos assim, técnico : 1. É curioso, para dizer o menos, que se tenham tomado medidas, um mês depois da eleição, para combater problemas da economia brasileira que, durante a campanha, a presidente eleita e o ministro da Fazenda diziam não existir, embora apontados por especialistas e não apenas identificados com a oposição - ameaça inflacionária, excesso de consumo, crédito mais ou menos frouxo.2. É curioso que as medidas entrem em vigor às vésperas da última reunião do Copom no governo Lula, quando mais e mais entendidos acham que o BC já deveria ter começado a elevar os juros. Lula, como está visível, não aceita nem um mínimo grão de areia no salto alto que alimenta sua popularidade. Nem Dilma parece querer começar o governo com uma pedra dessas.3. Para muitos é um sinal das dificuldades - das resistências - de realizar um ajuste fiscal necessário ao corte do consumo via governo.4. Seria também sinal de que o governo ainda não encontrou uma saída para o Real valorizado. A Irlanda é vítima Ao contrário daquilo que muitos analistas brasileiros e estrangeiros opinaram, o caso da Irlanda não é de irresponsabilidade na condução da política de crédito bancário. O país quebrou por causa da crise bancária generalizada na Europa (e nos EUA, obviamente). O socorro aos bancos do país é que gerou um endividamento excessivo do tesouro irlandês. A falta de sensibilidade da Alemanha e do BCE contribuiu para que o país ficasse à deriva da fortíssima especulação contra o seu financiamento externo. Com consequências ainda incertas sobre Portugal e, perigosamente, sobre a Espanha. Mais uma vez, o governo de Angela Merkel prova que a Alemanha continua mostrando que não está apta a liderar a Europa do ponto de vista político e econômico devido ao seu comportamento jurássico que espalha crises pelos países-membros da UE. É bem provável que a crise persista crescendo, se o governo alemão continuar com suas propostas ortodoxas para um cenário muito heterodoxo. Com crise bancária não se brinca. Radar NA REAL 3/12/10   TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA estável alta - Pós-Fixados NA estável alta Câmbio ² - EURO 1,3304 alta alta - REAL 1,6870 estável/alta estável/alta Mercado Acionário - Ibovespa 69.766,10 estável/baixa estável/baixa - S&P 500 1.224,71 estável/alta alta - NASDAQ 2.591,46 estável/alta alta (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável Confronto adiado ? Reza um antigo truísmo botocudo, cheio da sabedoria, que "o jogo só termina quando acaba". Para as relações do governo com os partidos e o Congresso, o jogo não se encerra com a posse dos ministros e nomes de escalões superiores escalados pela presidente para acompanhá-la na jornada presidencial - é apenas o início. Mas para um início, a iniciante nas coisas das "mumunhas" políticas Dilma lavrou um gol a se confirmarem as informações disponíveis até o momento desta manhã de terça-feira em que a coluna está indo para o ar : ela está dando um nó, uma chave de cadeia, nos decantados profissionais do PMDB. A cota peemedebista, oferecida por Dilma, perdeu substância - o PMDB não levará os Transportes, as Comunicações, as Cidades, a Integração Nacional, alguns dos seus sonhos de consumo. Ficará com os já usados Minas e Energia e Agricultura, talvez o problemático (se for para ser bem administrado) ministério da Previdência e o desconhecido Turismo (por causa da divisão do dinheiro da Copa e da Olimpíada com os Esportes). E como prêmio de consolação, se quiser, terá o Assuntos Estratégicos, ou seja, cinco ministérios para chamar de seus. Vai ter troco ? O panorama traçado na nota acima é o que se desenha até esta coluna ser publicada. Nunca se sabe, porém, se a política brasileira gira como o mundo. De toda forma, o sorriso peemedebista, depois de escancarado, está um tanto amarelado. A questão é saber em que curva do Congresso o partido de Temer vai esperar Dilma. O PMDB não é de levar desaforos pra casa. Lula tentou resistir e cedeu. No início, desprezou um acordo com o PMDB negociado por José Dirceu. Depois do mensalão, deu quase o céu ao PMDB, enciumando até o PT. E nunca teve a fidelidade total. Que o diga a derrota da CPMF. O PMDB ajudou a oposição a acabar com o imposto. Amigos, amigos... Em nome do nordeste, os petistas Jaques Wagner (Bahia) e Marcelo Deda (Sergipe) acertaram a paz com Eduardo Campos (PSB/PE). O medo da hegemonia ministerial do sul e do sudeste os uniu. Foi, porém, união circunstancial. Há petistas enciumados com a desenvoltura e o prestígio em Brasília do governador pernambucano. Campos, que quando mais jovem carregava o apelido de Dudu Beleza, desperta ciúmes também no seu partido. Que o digam os irmãos Gomes, Ciro e Cid. Mineirice Não é propriamente de felicidade o sentimento nutrido pelo PMDB de MG em relação ao futuro governo Dilma. Pelo menos por enquanto. Os petistas das Gerais, que na gestão Lula chegaram a deter nada menos do que cinco ministérios, farejam que com a futura presidente podem ficar com uma mísera pasta, para Fernando Pimentel. Consideram-se abandonados, depois de terem feito o sacrifício de apoiar Hélio Costa para o governo estadual e injustiçados depois de terem dado a Dilma uma estrondosa votação no Estado. Mineirice II Não é propriamente de paz o sentimento nutrido pelo PSDB de MG em relação ao grupo tucano que segue a liderança de Serra. Embora a sua vocação tancrediana esteja na base do "paz e amor", é com impropérios que tucanos das Gerais se referem ao ex-candidato. Entendem os mineiros que, como Serra disse que em 2010 era a sua vez de conquistar a candidatura, agora ela já passou. Pedras no mocassim A oposição continua, ao mesmo tempo, apática e conturbada. De um lado, desde as eleições, não marcou nenhuma posição, não disse o que pretende - se pretende algo mais substancial. De outro, administra problemas. O PSDB tem Serra, um inconformado. O DEM, tem Kassab, um político em busca de espaço. A continuar assim, destina-se à irrelevância. Vírus da discórdia Se duas novidades que Dilma pode adotar em seu governo vingarem, a presidente eleita pode estar criando fontes de intermináveis enxaquecas para si mesma. A primeira, dada como certa desde a campanha, é a criação de uma assessoria especial no Planalto, como uma existente na Casa Branca, com um grupo de especialistas em diversas áreas para ajudá-la na análise das políticas propostas pelos ministérios e conferir sua execução. Muitos ministros não vão ficar satisfeitos com isto. Nem todos têm a passividade de Celso Amorim, que aceitou a dividir o espaço com Marco Aurélio Garcia e, em um tempo, até com José Dirceu. A segunda, especulada esta semana, é a divisão entre os ministérios da Comunicação e da Ciência e Tecnologia na condução do Plano Nacional de Banda Larga, entre o pacato Paulo Bernardo e o atropelador Aloizio Mercadante. Não é receita de paz. O valente Juca Ferreira O ministro da Cultura, Juca Ferreira, faz tão desbragada campanha para continuar no cargo no futuro Dilma que, além de reunir artistas e intelectuais chapas-brancas para eventos em defesa de sua permanência, convocou um espaço obrigatório no rádio e na televisão para dizer que a cultura brasileira vai indo bem, obrigado. Graças a ele, naturalmente. Ferreira é um "verde" que se negou a apoiar a candidata de seu partido, Marina Silva, para sacrificar-se no ministério da Cultura de Lula no apoio à candidata oficial. Se a moda pega e todos os 37 atuais ministros passarem a convocar horários no rádio e na TV... Ministeriômetro - Notas técnicas 3 Para entender a lista na nota seguinte, alguns esclarecimentos : - Os atuais ministros não confirmados, continuam na luta. Mesmo Celso Amorim, que fora do Itamaraty, pensa ser aproveitado em outro local.- Dilma deve criar pelo menos dois outros ministérios (ou secretarias como tal) e descartar um - o da Comunicação Social.- Criamos duas outras categorias : "quase confirmados", sobre os quais falta apenas a palavra oficial, e "genéricos", para convidados sem designação da pasta.- Na lista estão não só estatais, mas também órgãos cobiçados por seu valor financeiro e eleitoral. É o caso da Funasa, por exemplo, do Ministério da Saúde, e do Porto de Santos, hoje na Secretaria dos Portos.- Acrescentamos mais duas torres ao edifício dos cargos, o BB e os Correios, ambos arduamente disputados pelo PT e o PMDB.- Há estatais novas no ar : a do petrosal, uma para o São Francisco transposto, a do tem bala (quando ele sair), até uma nova diretoria na Petrobras. Sem contar que há gente querendo reviver uma para o setor de seguros. E uma nova agência reguladora, a Agência Nacional de Comunicações (Anacom), paralela à Anatel. Ministeriômetro - Capítulo X O rol do início da semana : Confirmados Ministério da Fazenda - Guido MantegaMinistério do Planejamento - Miriam BelchiorAssessoria Especial da Presidência - Marco Aurélio GarciaBanco Central - Alexandre TombiniJustiça - José Eduardo CardozoCasa Civil - Antonio PalocciSecretaria Geral da Presidência - Gilberto de Carvalho Quase confirmados Minas e Energia - Edison LobãoAgricultura - Wagner RossiRelações Exteriores - Antonio PatriotaRelações Institucionais - Alexandre PadilhaDefesa - Nelson JobimBNDES - Luciano CoutinhoSaúde - Sergio CortesEducação - Fernando HadadPetrobras - José Sergio GabrielliCiência e Tecnologia - Aloizio MercadanteComunicações - Paulo Bernardo Genéricos Fernando Pimentel Candidatos, indicados Assessoria Especial da Presidência - Nelson BarbosaPesca - Ideli SalvattiMulheres - Iriny LopesPortos e Aeroportos - PMDB, PT e PSB, Henrique MeirellesDireitos Humanos - Gabriel ChalitaSecretaria de Política das Mulheres - Maria do Rosário, Ideli SalvatiEsportes - Manuela D'AvilaIgualdade Racial - Vicentinho (abre vaga para José Genoíno na Câmara), Luis Alberto, uma mulher afro-descendenteIntegração Nacional - PMDB, PSB, Ciro Gomes, PT, Fernando Bezerra CoelhoCidades - Moreira Franco, Marta Suplicy, PP, PSB, PMDB, Fernando Pimentel, Jose Filippi Junior, Luiz Fernando Pezão, Antonio Carlos Valadares, Mario NegromonteTransportes - Henrique Meirelles, PMDB, PT, PR, Alfredo Nascimento, Blairo MagiCultura - José Abreu, Ideli Salvatti, Emir Sader, Celso Amorim, Antonio Grassi, Ângelo Osvaldo, Ângelo Vanhoni, Fernando MoraisPortos - PSB, Fernando SchimidtPorto de Santos - PSBCaixa Econômica Federal - Moreira FrancoAgricultura - Blairo Magi, Osmar Dias, Mendes RibeiroVale - Rossano MaranhãoPrevidência - Luis Sérgio, Fernando Pimentel, PMDBTurismo - Luis Sérgio, Marta Suplicy, Antonio Carlos Valadares, Marcio França. Mendes Ribeiro, Pedro NovaisAssuntos estratégicos - Moreira FrancoPequena e média empresa - Alexandre Teixeira, Antonio Carlos Valadares, Paulo OkamotoDesenvolvimento Agrário - Joaquim Soriano. Wellington DiasDesenvolvimento Social - Patrus Ananias, Moema PassosMeio Ambiente - Carlos MincDesenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior - Abílio Diniz, Fernando PimentelFunasa - PMDBSTF - PMDBBanco do Brasil - PT, PMDBCorreios - PT, PMDBSaúde - Fausto Pereira dos Santos, Alexandre Padilha. Jorge Solla Avulsos Abrir vaga para José Genoino na CâmaraAbrir vaga para José Eduardo Dutra no SenadoEva ChiavonBeto AlbuquerqueMarcelo CrivellaOlívio DutraEmpresário (grife, como Roberto Rodrigues e Luis Furlan no primeiro ministério de Lula)SindicalistaClara Ant (no Palácio do Planalto)Alexandre Teixeira (Apex)Jorge Gerdau Credores Virgilio GuimarãesCiro GomesHenrique Meirelles (em baixa) Patrus AnaniasIdeli SalvattiOsmar Dias
quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Política & Economia NA REAL n° 131

Dilma e suas desculpas Porta-vozes da sombra da presidente eleita já tratam de espalhar que o ministério que ela está anunciando, visivelmente marcado pelos dedos de Lula, é uma espécie de ministério tampão ou provisório. Com o tempo ela moldaria a equipe a sua imagem e perfeição. Por enquanto, paga a dívida que tem com Lula. A semelhança com a obra do criador é tanta que já se diz com certa ironia que Dilma está fazendo apenas uma "reforma ministerial" para o terceiro mandato de Lula. Maldade à parte, e nisso há a mais pura maledicência, não é bom para quem já carrega a imagem de uma espécie de Lula de saias, iniciar o governo com uma equipe com cara de uma noite mal dormida e mais - com prazo de validade vencido a se crer no que os amigos dela espalham. Dilma precisa dar logo um toque político-pessoal ao seu governo. As perguntas mais frequentes que se ouve fora dos meios políticos continuam sendo : o que será ? como será ? O feliz e os zangados Quem está mesmo com todas as velas ao vento nestas primeiras escaramuças da formação do time de Dilma, é o presidente Lula. Até agora, o que não é dele não entrou sem aos menos rubricazinha presidencial. O PT está pacificado só em parte, pois até agora abocanhou quase tudo. Mas teme, pelo andar do tilburi, ficar mais com abacaxis, honrarias e periferias do que aquilo que conta eleitoralmente, partidariamente. Os petistas do nordeste, por exemplo, estão começando a entrar em ebulição com o prestígio do governador Eduardo Campos e seu PSB. Há uma sensação de que Dilma, ao contrário do que esperavam, e José Dirceu disse durante a campanha, será menos petista no governo do que chegou a ser Lula. Já o PMDB fareja certo desprestígio de seu comando. E uma tentativa - que não será difícil - de dispersar suas forças, dividindo-o pelas ambições. O episódio da quase certa escolha do secretário da Saúde do Rio, Sérgio Cortes, para o Ministério da Saúde, acertado diretamente com o governador Sergio Cabral à margem do comando partidário, não foi deglutido. E os pequenos, ansiosos, esperam para ver as migalhas que vão sobrar depois de satisfeito o apetite dos grandes, PT, PMDB e agora PSB. Estrela ascendente O secretário de política econômica do ministério da Fazenda, Nelson Barbosa, que deu grande ajuda à presidente eleita durante a campanha aparece na imprensa explicando - ou seria corrigindo ? - declarações do ministro Guido Mantega sobre a possibilidade de o governo expurgar do índice oficial de inflação os aumentos dos alimentos e dos combustíveis, por sua sazonalidade. Com isso, a necessidade de subir os juros, defendida por um bom número de especialistas, seria diluída. Barbosa garante que a política de metas não mudará e que Mantega foi mal interpretado. Ou seja, a inflação para base dos juros será a cheia, sem mágicas. Em tempo : é bom prestar atenção. O secretário de política econômica é cotado para uma assessoria especial de Dilma, diretamente no Palácio do Planalto. Um caso de amor De um conhecedor de cabeças coroadas : "Dilma e Mantega não farão um rigoroso ajuste fiscal por convicção, por livre e espontânea vontade. Só o farão em estado de suprema necessidade, atropelados pela realidade". Lula sobe o morro ? O presidente da República vai estar hoje, quinta feira, no Rio de Janeiro. A expectativa é saber se ele vai dar um subidinha no Complexo do Alemão ou outro morro carioca, onde, em épocas menos conturbadas, participou de memoráveis inaugurações. Lula vai subir os juros ? Há a expectativa entre os agentes do mercado, uns poucos ainda, de que o BC de Lula e Meirelles possa aumentar a taxa Selic na reunião do Copom semana que vem. Seria uma contribuição dos dois a um início de governo sem marolinhas no BC de Dilma e Tombini. Do Aerolula ao AeroDilma Nada como viver num país rico, sem desajustes sociais, para se poder comprar um jato presidencial bem novinho a cada oito anos. Notícia antiga Na muda os tucanos estavam e na muda vão permanecer por um bom tempo. Segundo especialista em ornitologia política, eles correm o risco de não recuperarem a vistosa plumagem se não voltarem à cena rapidamente. E, de preferência, com garra, um novo canto e sem rusgas no ninho, principalmente aquelas provocadas por vaidades infladas. Ministeriômetro - Notas técnicas 2 Para entender a lista na nota seguinte, alguns esclarecimentos : - Os atuais ministros não confirmados, continuam na luta. Mesmo Celso Amorim, que fora do Itamaraty, pensa ser aproveitado em outro local.- Dilma deve criar pelo menos dois outros ministérios (ou secretarias como tal) e descartar um - o da Comunicação Social.- Criamos duas outras categorias : "quase confirmados", sobre os quais falta apenas a palavra oficial, e "genéricos", para convidados sem designação da pasta.- Na lista estão não só estatais, mas também órgãos cobiçados por seu valor financeiro e eleitoral. É o caso da Funasa, por exemplo, do Ministério da Saúde, e do Porto de Santos, hoje na Secretaria dos Portos.- Note-se que há um bom número de polivalentes, como Paulo Bernardo e Aloizio Mercadante, candidatos a vários postos.- Acrescentamos mais duas torres ao edifício dos cargos, o BB e os Correios, ambos arduamente disputados pelo PT e o PMDB. Ministeriômetro - Capítulo IX A lista mais recente : Confirmados Ministério da Fazenda - Guido MantegaMinistério do Planejamento - Miriam BelchiorAssessoria Especial da Presidência - Marco Aurélio GarciaBanco Central - Alexandre Tombini Quase confirmados Casa Civil - Antonio PalocciSecretaria Geral da Presidência - Gilberto de CarvalhoRelações Institucionais - Alexandre PadilhaDefesa - Nelson JobimJustiça - José Eduardo CardozoBNDES - Luciano CoutinhoSaúde - Sergio CortesEducação - Fernando HadadPetrobras - José Sergio GabrielliComunicações - Paulo Bernardo Genéricos Paulo BernardoFernando Pimentel Candidatos, indicados Assessoria Especial da Presidência - Nelson BarbosaPesca - Ideli SalvattiMulheres - Iriny LopesMinistério dos Portos e Aeroportos - PMDB, PT e PSB, Henrique MeirellesDireitos Humanos - Gabriel ChalitaSecretaria de Política das Mulheres - Maria do Rosário, Ideli SalvatiCiência e Tecnologia - Aloizio MercadanteEsportes - Manuela D'AvilaSecretaria da Igualdade Racial - Vicentinho (abre vaga para José Genoíno na Câmara), Luis Alberto, uma mulher afro-descendenteIntegração Nacional - PMDB, PSB, Ciro Gomes, PT, Fernando Bezerra CoelhoMinas Energia - Graça Foster (assim ela gosta de ser chamada), Edison LobãoCidades - Moreira Franco, Marta Suplicy, PP, PSB, PMDB, Fernando Pimentel, Jose Filippi Junior, Luiz Fernando Pezão, Antonio Carlos Valadares, Mario NegromonteItamaraty - Antonio Patriota, José Maurício Bustami, José Viegas, Mangabeira Unger, uma mulherTransportes - Henrique Meirelles, PMDB, PT, PR, Alfredo NascimentoCultura - José Abreu, Ideli Salvatti, Emir Sader, Celso Amorim, Antonio Grassi, Ângelo Osvaldo, Ângelo Vanhoni, Fernando MoraisPortos - PSB, Fernando SchimidtPorto de Santos - PSBCaixa Econômica Federal - Moreira FrancoAgricultura - Blairo Magi, Osmar Dias, Mendes RibeiroVale - Rossano MaranhãoPrevidência - Luis Sérgio, Fernando Pimentel, PMDBTurismo - Luis Sérgio, Marta Suplicy, Antonio Carlos ValadaresPequena e média empresa - Alexandre Teixeira, Antonio Carlos Valadares, Paulo OkamotoDesenvolvimento Agrário - Joaquim SorianoDesenvolvimento Social - Patrus AnaniasMeio Ambiente - Carlos MincDesenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior - Abílio Diniz, Aloizio Mercadante, Fernando PimentelFunasa - PMDBSTF - PMDBBanco do Brasil - PT, PMDBCorreios - PT, PMDB Avulsos Abrir vaga para José Genoino na CâmaraAbrir vaga para José Eduardo Dutra no SenadoEva ChiavonBeto AlbuquerqueMarcelo CrivellaOlívio DutraEmpresário (grife, como Roberto Rodrigues e Luis Furlan no primeiro ministério de Lula)SindicalistaClara Ant (no Palácio do Planalto)Alexandre Teixeira (Apex)Jorge Gerdau Credores Virgilio GuimarãesCiro GomesHenrique Meirelles (em baixa) Aloizio MercadantePatrus AnaniasIdeli SalvattiFernando PimentelOsmar Dias Lulômetro - Capítulo Dois Apenas um acréscimo às missões de Lula pós-Palácio do Planalto : - Provar que o mensalão não existiu e anistiar José Dirceu e Cia. Quando abril chegar As pompas e circunstancias murcharam também no ambicioso plano nacional de banda larga, uma das vitrines eleitorais lançada pelo presidente Lula para turbinar Dilma. Deu até numa nova Telebrás retirada das tumbas. Previa, nos primórdios, plantar torres de internet de alta velocidade em todo o Brasil num prazo curtíssimo. Depois, contentou-se com levar a banda larga a preços módicos para 300 cidades até dezembro. Na lista das 300, municípios na maioria já com bons serviços particulares, uma facilidade a mais para sua implantação. Mesmo assim, a banda larga universal limitada não tocou. Acaba de ser adiada para abril. Para abril também foi adiada a licitação do trem bala. O poeta Ezra Pound, em poema famoso, diz que "abril é o mais cruel dos meses".
terça-feira, 30 de novembro de 2010

Política & Economia NA REAL n° 130

A batalha de Brasília No RJ, a guerra contra o tráfico já deixou, em menos de 10 dias, um saldo de cerca de 30 mortos e um número incerto de feridos, sem contar a principal vítima, a pacata e alegre população. A batalha que se iniciou ontem, em Brasília, com a presidente eleita Dilma negociando diretamente com os presidentes dos partidos aliados a partilha dos ministérios e de cargos mais vistosos no governo promete deixar muito mais mortos e feridos no caminho. Pelo nosso "ministeriômetro", somados os atuais ministros, todos re-candidatos, vê-se que há mais de cem candidatos, declarados e auto-declarados a pouco mais de 40 lugares de peso. O grande desafio de Dilma vai ser conciliar os interesses pelos ministérios e cargos eleitoralmente atraentes como os ministérios da Comunicação, dos Transportes, das Cidades, da Integração Nacional, do Turismo, dos Esportes e órgãos como a CEF, a Funasa e o BB. Vamos ver como funciona o estômago político da futura presidente. Azeda Outro desafio da presidente será ajustar os interesses do PMDB e do PT pelo comando da Câmara e do Senado. Debaixo de boas aparências, o ambiente está azedando. De olho no velho Brasil Pelas caras já anunciadas e muitas prometidas, a face mais poderosa do governo Dilma terá muito das barbas de Lula. Tensão para Marta O grupo de Marta Suplicy em SP está certo de que a futura senadora será bem aquinhoada no ministério de Dilma. O nome dela é soprado para diversas áreas, do Turismo à Educação e ao das Cidades, este último o preferido. Porém, os espaços para a ex-prefeita parecem se estreitar. Dos nomes confirmados, ou quase confirmados, a maioria quase absoluta é de paulistas petistas : Palocci, Padilha, Gilberto, Mantega, Miriam, Cardozo, Garcia. Há a dívida com Mercadante e a intenção de dar lugar na Câmara para Genoíno, o que levaria um deputado do PT para um Ministério. Seria gente demais do PT paulista para o gosto dos PTs de outros Estados. Sem contar que são de SP os candidatos à presidência da Câmara e à liderança do governo na casa dos deputados. Aumento dos juros Crescem, no mercado, as apostas no aumento dos juros mais cedo do se esperava. Já há analistas pensando que pode vir até na reunião do Copom na próxima semana. Seria um "favor" de Lula e Meirelles a Dilma. Mas há quem aposte que ficará para janeiro, para dar a oportunidade de Tombini mostrar serviço. Inflação Há duas semanas já escrevemos nesta coluna que a inflação voltou e não é um fenômeno de choque de oferta, no caso do setor de alimentos. O que está a ocorrer é que a demanda aquecida tem sancionado aumentos generalizados de preços o que é chamado de inflação. Para controlar a inflação, portanto, será necessário diminuir o ritmo de crescimento via aumento dos juros. A maior probabilidade é que a queda da demanda no setor privado seja maior que no setor público de vez que dificilmente haverá contenção dos gastos correntes do governo. Os setores que mais pagarão a conta serão os relacionados com a renda líquida dos trabalhadores, tais como os de bens de consumo duráveis e de produtos com maior valor agregado do setor de não-duráveis. Empréstimos Também teremos a contenção do aumento de crédito no sistema financeiro, além do aumento da inadimplência. Ademais, não podemos esquecer que no primeiro trimestre do ano, os gastos com educação e impostos (IRPF, IPTU, IPVA, por exemplo) reduzem a capacidade de consumo das classes média e baixa. Tudo isto causa efeito sobre a popularidade presidencial. Conclusão O cenário econômico estará piorado, não necessariamente negativo. Uma pausa relevante na trajetória positiva dos últimos anos. Brigas na oposição A oposição está como sempre esteve : com Minas e São Paulo em contraposição, apenas com Serra se expondo diretamente e Aécio na muda, falando por parceiros. Figuras do tucanato começam a acalentar a ideia de oferecer a presidência do partido a FHC, o único tido como capaz de apaziguar o azedume. No DEM, dois movimentos : o do prefeito Kassab para aderir ao governo e, por consequência, ao governismo ; e o das lideranças mais tradicionais para retomar o comando da legenda, hoje com Rodrigo Maia. Neste caso, o nome preferido é o de Marco Maciel, não reeleito ao Senado. Desta oposição, por enquanto, Dilma não precisará se defender. Falta programa Não foi somente a derrota que deixou um gosto ruim no ar oposicionista. De fato, não existe dentre os partidos derrotados um programa ou uma ideologia que reúna os ingredientes necessários para que possa ser praticada a saudável atividade de fiscalizar e criticar o governo. Nem Serra, nem Aécio e muito menos FHC tem algo a oferecer neste sentido, que seja aceitável pela maioria da oposição. Lula na história Ainda com Lula na presidência, teremos em breve o lançamento de um livro sobre a trajetória do presidente que deve colocá-lo numa perspectiva menos mitológica. O livro descarta a imagem criada nas telas como "o filho do Brasil". A relação do presidente com seus companheiros e o seu papel na construção do PT mostrará uma alma demasiadamente humana, com qualidades e defeitos que alguns preferem esconder diante de sua popularidade. Descarrilou ? Pelo menos por enquanto os brasileiros ficaram livres de serem brindados pelo governo com uma nova "Ferrovia do Aço" - o trem bala. A Ferrovia do Aço, para quem não se lembra, foi um projeto imaginado pelos governos militares ligando a região produtora de Minas a São Paulo e Volta Redonda. Foi iniciada sem que os projetos estivessem elaborados e hoje é um dos monumentos à incúria oficial. Infraestrutura Basta pegar um avião SP/RJ para verificar que o caos aéreo já está nos ares brasileiros. O aeroportos brasileiros evidenciam que, até a próxima Copa do Mundo e Olimpíadas, os riscos em relação à infraestrutura brasileira são gigantescos. Radar NA REAL 28/11/10 TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA estável alta - Pós-Fixados NA estável alta Câmbio ² - EURO 1,3159 alta alta - REAL 1,7284 estável/alta estável/alta Mercado Acionário - Ibovespa 68.226,06 estável/baixa estável/baixa - S&P 500 1.189,40 estável/alta alta - NASDAQ 2.534,56 estável/alta alta (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável Ministeriômetro - Notas técnicas Para entender a lista na nota seguinte, alguns esclarecimentos : - Os atuais ministros não confirmados, continuam na luta. Mesmo Celso Amorim, que fora do Itamaraty, pensa ser aproveitado em outro local.- Dilma deve criar pelo menos dois outros ministérios (ou secretarias como tal) e descartar um - o da Comunicação Social.- Criamos duas outras categorias : "quase confirmados", sobre os quais falta apenas a palavra oficial, e "genéricos", para convidados sem designação da pasta.- Na lista estão não só estatais, mas também órgãos cobiçados por seu valor financeiro e eleitoral. É o caso da Funasa, por exemplo, do Ministério da Saúde, e do Porto de Santos, hoje na Secretaria dos Portos.- Note-se que há um bom número de polivalentes, como Paulo Bernardo e Aloizio Mercadante, candidatos a vários postos. Ministeriômetro - Capítulo VIII A lista mais recente : Confirmados Ministério da Fazenda - Guido MantegaMinistério do Planejamento - Miriam BelchiorAssessoria Especial da Presidência - Marco Aurélio GarciaBanco Central - Alexandre Tombini Quase confirmados Casa Civil - Antonio PalocciSecretaria Geral da Presidência - Gilberto de CarvalhoRelações Institucionais - Alexandre PadilhaDefesa - Nelson JobimJustiça - José Eduardo CardozoBNDES - Luciano Coutinho Genéricos Paulo BernardoFernando Pimentel Candidatos, indicados Assessoria Especial da Presidência - Nelson BarbosaMinistério dos Portos e Aeroportos - PMDB, PT e PSB, Henrique MeirellesDireitos Humanos - Gabriel ChalitaSecretaria de Política das Mulheres - Maria do Rosário, Ideli SalvatiCiência e Tecnologia - Aloizio MercadanteEducação - Gabriel Chalita, Aloizio Mercadante, Newton Lima, Pedro Wilson, Marta SuplicyEsportes - Manuela D'AvilaSecretaria da Igualdade Racial - Vicentinho (abre vaga para José Genoíno na Câmara), Luis AlbertoPetrobras - Maria das Graças FosterSaúde - Jorge Sola, Aloizio Mercadante, Sergio Cortes, Paulo Bernardo, Drauzio VarelaIntegração Nacional - PMDB, PSB, Ciro Gomes, PT, Eunicio Oliveira, José Sergio Gabrielli, Fernando Bezerra CoelhoMinas Energia - Graça Foster (assim ela gosta de ser chamada), Edison LobãoCidades - Moreira Franco, Marta Suplicy, PP, PSB, PMDB, Fernando Pimentel, Jose Filippi Junior, Luiz Fernando Pezão, Antonio Carlos Valadares, Mario NegromonteItamaraty - Antonio Patriota, José Maurício Bustami, José Viegas, Mangabeira Unger, uma mulherTransportes - Henrique Meirelles, PMDB, PT, PR, Alfredo NascimentoCultura - rol abre-se com mais de 20 nomes, entre eles o ator José Abreu, a senadora Ideli Salvatti, o sociólogo Emir Sader, Celso Amorim, Antonio Grassi, Ângelo Osvaldo, Ângelo Vanhoni, Fernando MoraisPortos - PSB, Fernando SchimidtPorto de Santos - PSBCaixa Econômica Federal - Moreira FrancoAgricultura - Blairo Magi, Osmar Dias, Mendes RibeiroVale - Luciano Coutinho, José Sergio GabrielliComunicações - Hélio Costa, Moreira Franco, Paulo BernardoPrevidência - Luis Sérgio, Fernando Pimentel, Paulo BernardoTurismo - Luis Sérgio, Marta Suplicy, Antonio Carlos ValadaresPequena e média empresa - Alexandre Teixeira, Antonio Carlos Valadares, Paulo OkamotoDesenvolvimento Agrário - Joaquim SorianoDesenvolvimento Social - Patrus AnaniasMeio Ambiente - Carlos MincDesenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior - Abílio Diniz, Aloizio Mercadante, Fernando PimentelFunasa - PMDBSTF - PMDB Avulsos Abrir vaga para José Genoino na CâmaraAbrir vaga para José Eduardo Dutra no SenadoEva ChiavonBeto AlbuquerqueMarcelo CrivellaOlívio DutraEmpresário (grife, como Roberto Rodrigues e Luis Furlan no primeiro ministério de Lula)SindicalistaClara Ant (no Palácio do Planalto)Alexandre Teixeira (Apex) Credores Virgilio GuimarãesCiro GomesHenrique Meirelles (em baixa) Aloizio MercadantePatrus AnaniasIdeli SalvattiFernando PimentelOsmar Dias No Rio, só o começo O processo de limpeza do Rio de Janeiro, aplaudido pela população está apenas no início. Para se ter uma ideia das forças que estão sendo enfrentadas, vejam alguns dados de um estudo de dois funcionários da Secretaria Estadual da Fazenda, Sergio Guimarães Ferreira e Luciana, em abril de 2009, citado pelo ex-prefeito César Maia em seu ex-blog. É a economia da droga, com dados certamente subavaliados pelas dificuldades em compilá-los. Mesmo assim é impressionante : 1. Estimativa de consumo anual : Maconha - 90 toneladas. Cocaína - 8,8 toneladas. Crack - 4,3 toneladas.2. Faturamento anual do tráfico (ajustando a subestimativa das pesquisas diretas) : Maconha - R$ 108,1 milhões. Cocaína - R$ 423,2 milhões. Crack - R$ 102,1 milhões. Total : R$ 633,4 milhões.3. Custo anual estimado : Pessoal - R$ 158,7 milhões. Compra das drogas - R$ 193,9 milhões. Armas - R$ 24,8 milhões. Perdas por apreensões - R$ 19,4 milhões. Total : R$ 396,8 milhões. Lucro operacional : R$ 236,6 milhões.4. Quantidade de delinquentes envolvidos no tráfico : 16.387 pessoas (estimativa da Polícia Civil).
quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Política & Economia NA REAL n° 129

A equipe econômica é a presidente Por mais que se tente pintar com cores bem vivas os três expoentes econômicos da equipe da futura presidente Dilma, as escolhas por ela feitas e, principalmente, a recusa de manter, como sugerido por Lula, Henrique Meirelles na presidência do BC, são claros indícios de que a política econômica vai ser comandada, com rédea curta diretamente do Planalto. Nenhum dos três terá a autonomia que tiveram Meirelles e, enquanto durou, Palocci. A dúvida, portanto, continua : quais serão as linhas de política econômica que a presidente seguirá de fato. As contradições entre os discurso e atos endossados por ela, permanecem. E Dilma tem diploma de economia e reputação de entender de diversos assuntos. Assessoria especial Durante a campanha chegou-se a falar que Dilma montaria uma equipe de especialistas de alto nível no Planalto, ao estilo da existente na Casa Branca, para ajudá-la a acompanhar o trabalho dos ministérios. Lula teve algo parecido, mas somente nas questões externas, com Marco Aurélio Garcia. Agora, como não sobrou nem o ministério do Planejamento, nem o BC, nem deverá sobrar o BNDES para encaixar, com upgrade, o secretário de Política Econômica do ministério da Fazenda, Nelson Barbosa, retoma-se a conversa de que ele poderá ir habitar o Planalto nesta categoria especial. Barbosa tornou-se muito próximo de Dilma e até tirou férias no auge do período eleitoral para assessorar a candidata petista. A política econômica sob riscos Com o núcleo da equipe econômica devidamente divulgada pela nova presidente as especulações sobre o futuro da política econômica e financeira do governo hão de crescer. Não apenas pelas razões que são apontadas nas notas acima. Como sempre afirmamos nesta coluna, em política os fatos geram as expectativas. Neste item, os fatos nos levam a crer numa política econômica controlada essencialmente por Dilma. Já na economia são as expectativas que criam os fatos. Pois bem : o contexto da economia mundial e a percepção sobre o Brasil estão mudando. A atividade econômica lá fora deve ficar letárgica por longo período. Por aqui a alta da inflação e seus efeitos combinados com juros e atividade econômica podem não garantir a sustentação de um crescimento forte como o deste ano. Já se discute as consequências deste cenário para o futuro da percepção do risco-país. Assim, erra quem acredita que o cenário daqui para frente será tão generoso quanto foi para Lula. Bolha emergente Ainda não está nos relatórios divulgados pelas instituições internacionais. Todavia, já se discute nas mesas de operações financeiras a possibilidade de existência de uma bolha nos preços dos ativos dos países emergentes, sobretudo a China. O Brasil não passa incólume nestas análises. Ainda não se sabe se este tipo de "bate-papo" informal vai resultar em vendas de posições de ativos dos emergentes. Todavia, o ritmo de investimento externo deve cair nestes países. No exato momento em que medidas de proteção cambial são especuladas abertamente pelos governos dos emergentes. Desindustrialização à vista Chega a ser tolo quem acredita que um déficit de US$ 60 bilhões na balança comercial de produtos industrializados não é sinal inequívoco de desindustrialização. Reside aí o maior problema estrutural da economia brasileira no momento. O Brasil continua a ser um país exportador de commodities sem conteúdo tecnológico e muito dependente das variações de preços no mercado externo. Falta ao país mão-de-obra, pesquisa, formação universitária de nível, etc., etc. Dilma fala em atacar estas deficiências. Não é pouca tarefa. Estilo Dilma - I A imprensa deu a indicação de Alexandre Tombini para o BC antes da decisão ser comunicada a Meirelles. Celso Amorim descobriu que não ganharia mais um período no Itamaraty quando saiu da delegação brasileira, de Lula e Dilma, na recente reunião do G-20 em Seul. Estilo Dilma - II Miriam Belchior há cerca de seis meses não serviu como substituta de Dilma na Casa Civil, quando ela saiu para candidatar-se à Presidência,. Preferida de Lula, ela foi preterida pela favorita da presidente eleita, a enrolada Erenice Guerra. Agora, reúne todas as condições para comandar o ministério do Planejamento. A história se repete ? O governo Lula está empenhado em ajudar a montar consórcios para disputar o leilão do trem bala Campinas/São Paulo/Rio, orçado em mais de R$ 33 bi e que os bons especialistas do ramo avisam que não sairá por menos de uns R$ 50 bi, com muito dinheiro público disfarçado na roda. Um dos maiores tropeções do governo FHC foi quando ele se meteu também a incentivar o nascimento de um consórcio para competir na privatização da Telebrás. Pelas rodas que a sorte dá, o consórcio incentivado, que era só para competir, ganhou o que viria ser a Telemar. No desdobramento, saíram do Governo um ministro e o presidente do BNDES. E a Telemar está aí até hoje, agora rebatizada Oi, dando dores de cabeça. Doença do sono Não estivesse a oposição curtindo ainda a ressaca da derrota eleitoral, tentando fechar suas fraturas e ainda tomada de uma macunaímica preguiça, estaria com os pulmões bem inflados para cumprir seu papel de vigiar o governo para o bem da sociedade, cobrando transparência e que tais. Temas não faltam : 1. O citado trem bala.2. As mais novas escaramuças do Enem3. O leilão da banda H de telefonia celular Ministeriômetro - Capítulo VII As cotações do dia : Confirmados Ministério da Fazenda - Guido MantegaMinistério do Planejamento - Miriam BelchiorBanco Central - Alexandre Tombini Candidatos, indicados Casa Civil - Antonio Palocci, Maria das Graças Foster, Fernando Pimentel, Paulo BernardoSecretaria Geral da Presidência - Gilberto de Carvalho, Antonio PalocciDireitos Humanos - Gabriel ChalitaCiência e Tecnologia - Aloizio MercadanteEducação - Gabriel Chalita, Aloizio Mercadante, Newton Lima, Pedro Wilson, Marta SuplicyEsportes - Manuela D'AvilaPetrobras - Maria das Graças Foster, Antonio PalocciSaúde - Jorge Sola, Aloizio Mercadante, Sergio Cortes, Alexandre PadilhaIntegração Nacional - PMDB, PSB, Ciro Gomes, PT, Eunicio Oliveira, José Sergio GabrielliMinas Energia - Graça Foster (assim ela gosta de ser chamada), Edison LobãoCidades - Moreira Franco, Marta Suplicy, PP, PSB, PMDB, Fernando Pimentel, Jose Filippi Junior, Luiz Fernando Pezão, Antonio Carlos Valadares, Mario NegromonteItamaraty - Antonio Patriota, José Maurício Bustami, José Viegas, Mangabeira Unger, Nelson Jobim, uma mulherTransportes - Henrique Meirelles, PMDB, PT, PR, Alfredo NascimentoIgualdade Racial - Luiz AlbertoCultura - rol abre-se com mais de 20 nomes, entre eles o ator José Abreu, a senadora Ideli Salvatti, o sociólogo Emir Sader, Celso Amorim, Antonio Grassi, Ângelo OsvaldoPortos - PSB, Fernando SchimidtBNDES - Ciro Gomes, Nelson Barbosa, Paulo HartungPorto de Santos - PSBCaixa Econômica Federal - Moreira FrancoJustiça - José Eduardo CardozoAgricultura - Blairo Magi, Osmar Dias, Mendes RibeiroVale - Luciano Coutinho, José Sergio GabrielliComunicações - Hélio Costa, Antonio Palocci, Moreira FrancoPrevidência - Luis SérgioTurismo - Luis Sérgio, Marta SuplicyPequena e média empresa - Alexandre Padilha, Alexandre TeixeiraDesenvolvimento Agrário - Joaquim SorianoDesenvolvimento Social - Gilberto de Carvalho, Patrus AnaniasMeio Ambiente - Carlos MincDesenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior - Abílio Diniz, Aloizio MercanteSTF - PMDB Avulsos Eva ChiavonBeto AlbuquerqueMarcelo CrivellaPaulo OkamotoOlívio DutraEmpresário (grife, como Roberto Rodrigues e Luis Furlan no primeiro ministério de Lula)SindicalistaClara Ant (no Palácio do Planalto)Alexandre Teixeira (Apex)José Eduardo Dutra Credores Virgilio GuimarãesCiro GomesHenrique Meirelles (em baixa)Aloizio MercadantePatrus AnaniasIdeli SalvattiFernando PimentelOsmar Dias
terça-feira, 23 de novembro de 2010

Política & Economia NA REAL n° 128

O novo velho governo. A escolha de Guido Mantega para continuar na Fazenda não desfaz a maior dúvida que cerca o governo Dilma : qual será a política econômica do novo governo ? É certo que Mantega é classificado e se classifica como "desenvolvimentista" - entre nós quase sempre sinônimo de "gastador" - e, portanto, muitos estão lendo na indicação do atual ministro como um sinal de que a política adotada nos últimos anos do governo Lula, de certa lassidão com os gastos, permanecerá. Não foi à toa que Mantega passou boa parte de sua gestão às turras com Meirelles. Condições de Dilma É certo que Mantega, também, tem certa "elasticidade" e se enquadraria nos desejos de Dilma, seja por uma política A + ou A -. Dilma tem dito que a política econômica será a dela, numa singela alusão de que a de Lula não foi tanto assim. Das vozes portadas da futura presidente sai a informação de que os objetivos de sua condição na economia serão : - diminuir a dívida pública a 30% do PIB até 2014.- reduzir a taxa de juros real (menos a inflação) para um patamar entre 2% e 3%.- zerar o déficit público nominal, com equilíbrio entre receita e despesa, incluindo a despesa com juros. Contradições de Dilma Esses planos, porém, não batem com outras medidas e propostas erráticas saídas do governo Lula, da fala de Dilma e assessores e das cobranças do Congresso e de aliados. Não combinam, por exemplo, com a redução da meta de superávit primário este ano e no próximo de 3,3% do PIB para 3%. Não combinam com a pressa do trem-bala, obra de utilidade duvidosa nos próximos anos e de um custo ainda inimaginável para os cofres públicos. E não batem principalmente com o apetite dos parceiros políticos, pouco dispostos a colaborar com qualquer medida que tenha o mais ligeiro cheiro de austeridade. Concluindo... Plano é plano, política é política. O cenário internacional está sob riscos substantivos, sobretudo no que tange à relação cambial entre as principais moedas globais e às imensas dúvidas sobre a recuperação da atividade econômica. A equipe econômica de Dilma não enunciou nenhum plano estratégico para combater estes problemas. Parece espectador de um cenário que ainda não lhe bateu à porta. De outro lado, o desenvolvimentismo tem lá seus limites operacionais. O PAC é uma necessidade, mas sua execução é altamente duvidosa. Basta verificarmos as notícias dando conta do risco do "caos aéreo" neste fim de ano. As intenções do governo são boas do ponto de vista fiscal, mas os limites políticos que apontamos acima são evidentes. A presidente, logo no início de seu governo, terá de fazer opções. Duras opções. Um sinal mais claro Poderemos ter melhor indicação dos caminhos do governo Dilma com a escolha, prevista para esta semana, do presidente do BC e do nível de autonomia que a futura presidente concederá à autoridade monetária. Para César o que é de César Dilma já está dividindo com Lula medidas e decisões do atual governo que podem afetar a administração dela. Mas Lula também está dividindo com Dilma, aliás, com grau de influência, digamos "superior", decisões que são, em tese, exclusivamente da candidata. Dilma precisou do socorro decisivo do presidente para abortar o "blocão", com cheiro de chantagem, que o PMDB quis montar na Câmara. E tem das duas mãos de Lula a confirmação de Mantega na Fazenda. Uma questão que se "alevanta mais alto" é como será esta parceria no ano que vem ? Para qual lado penderá o pêndulo ? Estas são as duas grandes dúvidas demandadas por nacionais e estrangeiros de assessorias e consultorias especializadas. Nacos garantidos Foi graças ao refluxo do PP e do PR que Lula conseguiu, em um pedaço da 1h da madrugada, soterrar o "blocão" peemedebista na Câmara. Com isso, os dois partidos parecem ter garantido a manutenção de seus espaços no ministérios da Cidades (PP) e dos Transportes (PR), avidamente cobiçados por PT, PMDB e PSB. Conselho Não por outra razão, com alguma sutileza "elefantina", a presidente eleita viu por bem aconselhar publicamente o PT a demonstrar maturidade e aprender a dividir espaços. Ministeriômetro - Capítulo 6 Como se aproximam as definições da partilha do bolo - e os chiliques e amuos que cada decisão vai gerar, algumas públicas outras de bastidores - vamos atualizar nossa lista, completa. Não entram nela os atuais ministros, secretários com status equivalentes a de ministros e nem os dirigentes de estatais no cargo. Todos, sem exceção, repetimos, são candidatos a um "repeteco" ou a uma promoção. Confirmados Ministério da Fazenda - Guido Mantega Candidatos, indicados Casa Civil - Antonio Palocci, Maria das Graças Foster, Fernando Pimentel, Paulo Bernardo Planejamento - Nelson Barbosa, Fernando Pimentel, Aloizio Mercadante, Miriam Belchior Secretaria Geral da Presidência - Gilberto de Carvalho, Antonio Palocci Direitos Humanos - Gabriel Chalita Ciência e Tecnologia - Aloizio Mercadante Educação - Gabriel Chalita, Aloizio Mercadante, Newton Lima, Pedro Wilson, Marta Suplicy Petrobras - Maria das Graças Foster, Antonio Palocci, Maria das Graças Foster Saúde - Antonio Palocci, Jorge Sola, Aloizio Mercadante, Sergio Cortes, Alexandre Padilha Integração Nacional - PMDB, PSB, Ciro Gomes, PT, Eunicio Oliveira, José Sergio Gabrielli Minas Energia - Graça Foster (assim ela gosta de ser chamada), Edison Lobão Cidades - Moreira Franco, Marta Suplicy, PP, PSB, PMDB, Fernando Pimentel, Jose Filippi Junior, Luiz Fernando Pezão, Antonio Carlos Valadares, Mario Negromonte Itamaraty - Antonio Patriota, José Maurício Bustami, José Viegas, Mangabeira Unger, Nelson Jobim, uma mulher Transportes - Henrique Meirelles, PMDB, PT, PR, Alfredo Nascimento Igualdade Racial - Luiz Alberto Cultura - rol abre-se com mais de 20 nomes, entre eles o ator José Abreu, a senadora Ideli Salvatti, o sociólogo Emir Sader, Celso Amorim, Antonio Grassi, Ângelo Osvaldo Portos - PSB, Fernando Schimidt BNDES - Ciro Gomes, Nelson Barbosa, Paulo Hartung Porto de Santos - PSB Caixa Econômica Federal - Moreira Franco Banco Central - Alexandre Tombini, Luciano Coutinho, Nelson Barbosa, Octavio de Barros, Fábio Barbosa Justiça - José Eduardo Cardozo Agricultura - Blairo Maggi, Osmar Dias Vale - Luciano Coutinho, José Sergio Gabrielli Comunicações - Hélio Costa, Antonio Palocci, Moreira Franco Previdência - Luis Sérgio Turismo - Luis Sérgio, Marta Suplicy Pequena e média empresa - Alexandre Padilha Desenvolvimento Agrário - Joaquim Soriano Desenvolvimento Social - Gilberto de Carvalho, Patrus Ananias Meio Ambiente - Carlos Minc Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior - Abílio Diniz, Aloizio Mercadante Avulsos Eva Chiavon Beto Albuquerque Marcelo Crivella Paulo Okamoto Olívio Dutra Empresário (grife, como Roberto Rodrigues e Luis Furlan no primeiro ministério de Lula) Sindicalista Clara Ant (no Palácio do Planalto) Alexandre Teixeira (Apex) José Eduardo Dutra Credores Virgílio Guimarães Ciro Gomes Henrique Meirelles Aloizio Mercadante Patrus Ananias Ideli Salvatti Fernando Pimentel Osmar Dias Contribuição para a saúde Diante da barreira que começa a se armar na sociedade contra a ressurreição CPMF, os imaginativos políticos nacionais propõem (a portas fechadas, desmascarados por indiscreto microfone aberto) a legalização dos bingos com a cobrança de uma taxa para o setor de saúde. Boa ideia ! Eles poderiam, inclusive, buscar mais recursos em outras atividades não só para melhorar o atendimento médico hospitalar público como também para suprir os cofres da educação, da segurança pública. Eis alguns deles : CSD - Contribuição Social sobre Drogas com alíquotas diferenciadas para cada tipo de droga, dependendo de seu alcanceIMCO - Imposto Provisório sobre Crime OrganizadoTA - Taxa sobre AssassinatosIJB - Imposto do Jogo do Bicho (poderia também ser chamado de ILZ - Imposto de Loteria Zoológica)IUC - Imposto Único da Corrupção (somente este renderia bilhões)IEPI - Imposto de Exploração da Prostituição InfantilTSP - Taxa sobre pedofilia. A ideia é velha Para lembrar : na primeira mensagem presidencial de Lula enviada ao Congresso, em 2003, pelas mãos do então ministro chefe da Casa Civil, José Dirceu, contava a proposta de regularizar os bingos e sucedâneos como as maquininhas. A ideia acabou abatida pelas revelações das peripécias do principal assessor parlamentar de Dirceu, Waldomiro Diniz, junto a conhecido "corretor" zoológico do Rio de Janeiro, Carlinhos Maracanã. História, aliás, que a operosa Polícia Federal até hoje ainda não desvendou totalmente. Diógenes Não recebemos indicações mínimas dos piedosos cidadãos brasileiros do paradeiro das oposições. A busca continua. Contribuam, por favor. Se continuar nesta toada, Dilma vai ter de se contentar apenas com as contestações dos próprios aliados. O que não é pouco, mas não tem importância para o desenrolar da economia brasileira. IFRS e os balanços das empresas Esta sigla, IFRS - International Financial Reporting Standards, diz respeito às novas normas contábeis internacionais, emanadas do IASC - International Accounting Standards Committee e relacionadas à divulgação de demonstrações financeiras de empresas, sobretudo as de capital aberto. Os princípios contábeis contidos nestas normas podem alterar substancialmente os resultados e os balanços das empresas com repercussões substantivas para as cotações das ações. Foi o que aconteceu na Europa e na maioria dos países asiáticos. No Brasil, as demonstrações financeiras deste ano (e retrospectivamente as de 2009) terão de ser publicadas logo no primeiro quadrimestre do ano que vem sob estes novos critérios. Ao que parece os investidores ainda não se deram conta da relevância deste tema, inclusive do ponto de vista dos dividendos. Além disso, poderemos ter muitas surpresas no segmento de estatais da bolsa brasileira... Radar NA REAL 19/11/10 TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA estável alta - Pós-Fixados NA estável alta Câmbio ² - EURO 1,3741 alta alta - REAL 1,7157 estável/alta estável/alta Mercado Acionário - Ibovespa 70.897,70 estável/baixa estável/baixa - S&P 500 1,199,73 estável/alta alta - NASDAQ 2.518,12 estável/alta alta (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável
quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Política & Economia NA REAL n° 127

Para constar o currículo ministerial Pelo menos ao que saiba, não há um manual, uma cartilha, com as "qualificações" que Dilma exigirá dos candidatos a cargos de alto escalão em seu governo de modo a escalá-los. Conhecem-se algumas indicações, no entanto, vazadas aqui e ali : - Conhecimento técnico- Ficha limpa- Adequação do nome ao cargo indicado ou reivindicado- Trânsito partidário- Influência no Congresso- Bom diálogo com os setores da sociedade que transitam em sua área Se tudo isso prevalecer, de fato, ou pelo menos alguns dos pontos, a lista de candidatos que estamos relacionando nas últimas cinco colunas vai, enfim, emagrecer. A ponto de sobrar vagas. PS : Sabe-se, também, que o critério Erenice Guerra, ungida ministra-chefe da Casa Civil por obra, graça e risco de Dilma, pois a candidata de Lula para o lugar era outra, está descartado. Para prestar a atenção 1. Inflação2. Câmbio3. Contas externas4. Contas públicas5. Reajuste do Judiciário6. Reajuste dos parlamentares, de ministros e do presidente7. Emenda constitucional do reajuste dos policiais civis, militares e do corpo de bombeiros8. Reajuste do salário-mínimo e das aposentadorias9. Reajuste do bolsa-família10. Nova CPMF Parafrasendo Mário Henrique Simonsen : a política aleija, mas a economia mata. O PT acordou O PT teve ministérios vistosos no governo Lula, como Fazenda e Planejamento, pastas grifes como Direitos Humanos e Integração Racial, chegou a ter debaixo de suas asas em um momento 17 pastas, quase metade de todos os ministérios, mas não tinha as chaves dos gastos que rendem fidelidades e votos. Com exceção do de Minas e Energia, primeiro como ministra de direito e depois como ministra de fato. Agora, os petistas despertaram. Honraria é bom, porém não enche nem urnas nem outras burras. O PT afiou as unhas e está na briga também pelos ministérios dos Transportes, da Integração Nacional, das Cidades, das Comunicações e até pelos do Turismo e dos Esportes, com status orçamentário elevado pela Copa de 14 e a Olimpíada de 16. E o PMDB nem dorme Não deu certo o golpe de capoeira que o PMDB tentou passar no PT - e indiretamente em Dilma - com a criação de um "blocão" na Câmara, com 202 e dois deputados, reunindo, além dele o PP, o PR, o PTB e o PSC. Inicialmente o PP pulou fora. Porém, o arsenal peemedebista não é para desprezar. E ficou o recado a quem deve : não se brinca com profissionais com anos de praia. O PP fez o jogo. E levou Ameaçado de ser rebaixado na composição governista, por não ter formalmente apoiado a aliança que elegeu Dilma, o PP aproveitou o interesse do PMDB para ganhar sua vaga. Foi para os braços dos peemedebistas por uns instantes e, com forte apelo, fugiu do blocão que irritou o PT, Dilma e o Planalto. Carimbou seu passaporte para continuar no cobiçadíssimo ministério das Cidades. A nova esquerda brasileira "A esquerda da América Latina na verdade se divide em duas. Uma populista, declaratória, assistencialista, a de Chaves (sic). Outra de Lula, responsável, segura, cumpridora de seus compromissos externos e internos." O elogio vem de José Sarney, o novo esquerdista do Brasil, no jornal Brasil Econômico. Ainda o Banco Panamericano Não será ninguém ao redor da presidente eleita ou a própria futura primeira mandatária a fazer qualquer questionamento interno ou externo sobre o caso Panamericano, o mico que foi parar na CEF. Além disto, acomodar os interesses do PMDB incluirá Meirelles, e falar em Panamericano poderia levar a desagradável pergunta sobre onde estava o BC em tudo isto... logo, melhor calar. A "queridinha" do mercado Este negócio de escutar muito os elogios dos experts do mercado financeiro é verdadeiramente um perigo. Veja o caso da Espanha e da Irlanda, para falar de dois países do Velho Continente. Nos relatórios de três anos atrás sobravam elogios ao desempenho econômico de ambos. Agora, o temor é de que eles quebrem... O Brasil está sendo muito paparicado pelos experts. Esta é uma razão para o país tomar cuidado. Sem ilusões Preparem seus corações e bolsos. Há algum tempo a inflação estava ganhando força e se generalizando. Agora é para valer. A inflação voltou. O BC muito possivelmente vai ter de subir juros logo no início da administração Dilma. Alckmin e a dívida Se viesse do PT pré-Lula os tucanos e democratas iam acusar de "caloteiro". Mas, em Geraldo Alckmin, a pecha não pega. O governador de SP vai bater forte para melhorar o nível de endividamento do Estado. Como ? Ninguém sabe, mas a quebra de contrato se dará. Para o bem, ou para o mal. Ministeriômetro - capítulo V A lista só engorda : Desenvolvimento Social - Patrus AnaniasDefesa - Michel TemerCidades - José Fillipi Junior, Antonio Carlos ValadaresCredores - Ciro Gomes, Osmar Dias, Vírgilio Guimarães Farra cambial Alguma coisa está totalmente fora do lugar quando : num país grande produtor de minério de ferro, os produtos siderúrgicos importados (com custo de frete e impostos já computados), chegam a ser 40% mais baratos do que os nacionais. Em comparação com o chinês, o aço tupiniquim pode chegar ao dobro. Como escreveu recentemente o ex-ministro e ex-deputado Delfim Neto, "parece que com a taxa de câmbio de R$ 1,60 já podemos importar o etanol de milho dos EUA..." Silêncio dos inocentes Nunca antes neste país se viu uma passagem do presidente Lula (desta vez com Dilma a bordo, na condição de futura presidente) e um retorno ao Brasil tão amuados quanto os do encontro do G-20 em Seul. Qual fantasma os dois e mais o ministro Guido Mantega viram por lá ? Não erra quem apostar na situação da economia mundial e no destino do dólar. Notícias da oposição Para não passar em branco, noticia-se que gorou a fusão DEM/PMDB, passaporte para o Democratas voltar ao governo. E que Gilberto Kassab não levará para o PMDB, se para lá se dirigir, o séquito de políticos que imaginava, a não ser que a fidelidade partidária caia. Mesmo assim... E não levará os votos que pensa deter para uma disputa para o governo estadual. Talvez nem leve a candidatura ao Palácio dos Bandeirantes pelo partido de Temer e Quércia. Tanto na prefeitura da capital quanto no Estado, em 2012 e 2014, o tira-teima ainda será entre PT e PSDB, sem vagas para intrusos.
terça-feira, 16 de novembro de 2010

Política & Economia NA REAL n° 126

G-20 e a realpolitik Esqueçam a linguagem diplomática dos sorridentes líderes dos 20 países mais ricos do mundo depois da reunião. Tudo um jogo de cena. De fato, a reunião foi um retumbante fracasso. Não pode haver diálogo quando os interesses ao redor da mesa de negociação são muito distantes um do outro e os pontos comuns insuficiente para engendrar aproximações múltiplas e contínuas. O que vai valer é o poder de cada um. A velha realpolitik. Os EUA vão tentar se ajustar realizando um ajuste cambial via injeção de liquidez e o resto do mundo vai ter de implementar, digamos, "políticas compensatórias". O resto é balela. Quem viveu, viu Nos tempos do "Consenso de Washington", o corolário de recomendações neo-liberais dos anos 90 e início desta década, pronunciar algo que estivesse relacionado com controles de capitais era levado à inquisição perante os políticos, os formadores de opinião, a mídia e assim por diante. Pois bem : em última instância será o controle de capitais o instrumento para minimizar qualquer variação maior na relação entre as taxas de câmbio das principais moedas. Não há outro instrumento disponível para tanto. Estamos no século XXI. Crédito e Capitais Há uma certeza diante da perspectiva de que sejam adotados controles à entrada de recursos externos no país : a disponibilidade de crédito será menor. Com isto as taxas de juros dos financiamentos subirá e haverá contração do tamanho das carteiras de crédito dos bancos. Dois riscos relevantes deste processo, além da queda da atividade econômica : (i) aumento da inadimplência com efeitos negativos sobre os balanços das instituições financeiras e (ii) refinanciamento de dívidas sendo feitas com instrumentos mais caros, tais como o cartão de crédito no caso das pessoas físicas. Se no meio do caminho o BC continuar a subir os juros básicos... Lula e a elegância Não surpreende o fato de o chanceler Celso Amorim ter sido desconvidado para a reunião do G-20 pelo presidente Lula. Se Dilma queria mandar um recado para o chanceler, Lula não deveria ter aceitado esta forma. Todavia, o presidente sempre agiu assim com seus companheiros indesejados. É o que registra um livro sobre Lula, de autoria de ilustre jornalista e que será lançado agora em dezembro, quando o ex-sindicalista ainda estará reinando no Planalto. O que os governadores querem ? O primeiro a reclamar foi Geraldo Alckmin, propondo a revisão dos juros que os Estados pagam ao governo Federal por conta da renegociação de suas dívidas. Ficou no limbo, pois faz parte de uma oposição sem força no Congresso - não fez nem barulho perto da assessoria da presidente eleita. Agora, o barulho ficou ensurdecedor, depois que um aliado de Dilma, e lulista de carteirinha, o governador Sérgio Cabral, entrou na justiça cobrando da União R$ 25 bi, referentes a royalties que os fluminenses teriam direito. Isto seria devido em função dos 5 bilhões de barris de petróleo do pré-sal cedidos à Petrobras e transformados em dinheiro (e/ou papel) na recente capitalização da estatal. A realidade é que oposicionistas ou lulistas, com exceção de alguns apegados petistas, os governadores da safra 2011 não estão dispostos a viver, em boa parte, dependentes de recursos Federais para tocar seus projetos. Querem reais próprios, sem ter de ficar como pedintes no Palácio do Planalto e nos ministérios. Querem caixa para fazer urnas. Alguns estão já pensando carimbar passaportes para voos mais altos. A maioria já percebeu que não dará este salto se boa parte das glórias ficarem com os de Brasília. Dilma e os governadores Dilma terá contas a ajustar pela frente, com os governadores acenando com suas bancadas estaduais no Congresso como trunfo. E não é luta de governo contra oposição. É um luta suprapartidária, como do tucano Alckmin, o peemedebista Cabral e o socialista Eduardo Campos. Pode-se incluir nesta lista até o petista Genro, do RS, Estado com as contas mais complicadas. A primeira batalha já está acesa : a reserva de recursos no orçamento de 2011 para ressarcir os Estados da desoneração da Lei Kandir. Não há um mísero real previsto até agora. História mal contada Esta quase tudo ainda por se revelar no episódio da quebra do Banco Panamericano - explicações convincentes da CEF, dos auditores e do BC ainda são mercadorias em falta. Não se constrói um rombo de R$ 2,5 bi de uma manhã para tarde. Ninguém soube ? Ninguém viu ? E mais : por que esperaram passar as eleições para anunciar a intervenção quando o BC - cego dos olhos - viu a fraude ainda em agosto ? Tudo é motivo Os defensores da permanência de Meirelles no BC já estão espalhando a tese de que o caso Panamericano, uma vez resolvido, segundo eles, sem traumas maiores para o sistema, pela ação do presidente do BC, reforça a posição dele e mostra a necessidade de mantê-lo lá. Não seria exatamente o contrário, a partir das "bolas nas costas" que a instituição levou neste caso, demorando meses, até alguns anos, para perceber as fraudes ? A força do Enem No país das coisas invertidas, como no caso de Meirelles, começa-se a espalhar que a solução do caso do Enem teria reforçado a posição do ministro Fernando Haddad para um bis no ministério de Dilma. Não deveria ser exatamente o contrário ? Bancos de não-banqueiros Chega a ser cômica a entrevista do empresário Sílvio Santos na Veja, quando afirma que não entende muito do negócio bancário. Um banqueiro que não entende de banco ? Pode ? Múltiplos exemplos mostram que bancos controlados por instituições não-financeiras não são bons do ponto de vista estratégicos. Bancos alavancam seus ativos em velocidade muito maior que outras empresas e quando mal administrados podem levar enormes grupos à bancarrota. Ministeriômetro - Capítulo IV Hoje, também, somente inclusões na lista dos ministeriáveis. Ninguém desiste desse "sacrifício". Itamaraty - Nelson Jobim (causaria furor na Casa de Rio Branco)Defesa - Michel TemerSecretaria-geral da Presidência - Paulo BernardoComunicações - Antonio PalocciPlanejamento - Aloizio MercadanteEducação - Marta SuplicyCidades - Mario NegromonteTransportes - Alfredo NascimentoBNDES - Paulo HartungAvulsos - Marcelo Crivella, Paulo Okamoto Tiririca e os zeros A Justiça continua incomodada com o ator Tiririca e a eleição dele para a Câmara. É um tanto de preconceito. Tiririca, no Congresso, será um zero à esquerda, não fará diferença. De um modo mais específico e justo a preocupação deveria ser para com aqueles dos muitos zeros à direita. Estes continuam impávidos e colossos. Dando as cartas e recebendo retribuições. E mais : se cassarem o Tiririca, dever-se-ia anular também os votos que ele recebeu. Porque os "muito vivos" é que vão se beneficiar com isto. O primeiro teste Desta semana não passa a definição do novo salário-mínimo e do índice que será aplicado à correção da aposentadoria das pessoas que recebem mais de um mínimo. O porta-voz econômico Paulo Bernardo diz que acima de R$ 540 não dá. Os sindicatos querem o mínimo em R$ 540. Pelas regras estabelecidas pelo próprio governo e aceitas no passado pelos sindicalistas, ele não chegaria nem aos R$ 540. Espalhava-se no fim de semana que Lula e Dilma vão oferecer R$ 550. Desta decisão vai se aferir o tamanho da disposição da presidente eleita de enfrentar desafios políticos para cumprir a promessa do discurso de campanha (e pós-campanha) de seguir uma linha de austeridade nos gastos públicos. Cálculos oficiais mostram que para cada R$ 1 de aumento do salário mínimo a conta da previdência engorda, anualmente, em cerca de R$ 285 milhões. Se alguém souber... ... do destino da oposição, por favor, informe aos 45 milhões de brasileiros que votaram em José Serra. Prefeito assanhado Gilberto Kassab, alcaide paulistano, tido como uma estrela ascendente no DEM, movimenta-se, nos bastidores e à luz de holofotes, para unir seu partido ao PMDB. Se não der, diz que ele e seu grupo poderão filiar-se ao partido de Michel Temer, na dependência de uma brecha que o Congresso espera abrir nas normas de fidelidade partidária. Kassab procura seu espaço. A questão é saber se o cacife que ele tem é próprio ou resulta da aliança com os tucanos paulistas, ao fato de ter sido o vice de Serra na prefeitura, na época sem muito gosto do tucanato. Não é para levar a sério Pelo menos por agora não é para valer essa história de fusão de partidos, a mais visível em discussão : do DEM com o PMDB. São jogadas para aumentar o poder de negociação dos negociadores, apenas. Radar NA REAL 12/11/10   TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA estável alta - Pós-Fixados NA estável alta Câmbio ² - EURO 1,3619 alta estável - REAL 1,7095 estável/alta estável/baixa Mercado Acionário - Ibovespa 71.195,11 estável/baixa estável/baixa - S&P 500 1.199,21 estável/alta estável - NASDAQ 2.518,21 estável/alta estável (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável
quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Política & Economia NA REAL n° 125

Não é para escrever ainda I Não é apenas de escaramuças ministeriais que estão vivendo os partidos aliados em Brasília. Além da formação do novo governo, há também as disputas por influência sobre o governo e ocupação de postos no Legislativo. Como no caso do ministério onde quase tudo é pura especulação, as intrigas e o diversionismo correm soltos, nem tudo o que é dito deve ser escrito e/ou deve ser tomado pelo valor de face. Um exercício para entender o futuro governo e, como se diz em Brasília, a nova "correlação de forças" do governismo, é tentar separar os diamantes dos falsos brilhantes. Não é para escrever ainda II Com exemplo, veja-se o caso da mais recente amizade política em Brasília - a do PT com o PMDB. Depois da primeira escaramuça, quando o PMDB protestou - e levou - por estar alijado do comando do grupo de transição, há uma lua de mel entre as siglas. José Eduardo Dutra e Michel Temer já são os mais novos devotados "amiguinhos de infância" e se entendem até por música. O que um diz, o outro assina. Dizem que vão se entender até pelos cargos na mesa da Câmara e do Senado. Nem tudo é bem assim. Os dois estão fazendo um pacto de conveniência contra as investidas de outros aliados. Partidos como o PSB, o PP e até o PC do B reivindicam mais espaços (leia-se, mais cargos), no governo Dilma. Como a presidente não tem mais o que inventar, exceto as estatais que vão surgir - a do pré-sal, a do trem bala -, "ceder mais" significa tirar de quem já tem muito - o PT e o PMDB. Do mesmo modo, não se deve assumir : (i) que estão todos interessados na verdade em colaborar com o novo governo, (ii) que a questão de cargos é uma consequência, (iii) que o PMDB só quer manter o que já tem, (iv) que não foram Lula e Dilma que induziram a discussão sobre a CPMF, (v) que vem por aí uma política de austeridade, (vi) que o principal critério para escolha da equipe será o do mérito e não as acomodações políticas, (vii) que Lula não está indicando ninguém a Dilma... e por aí vai... Voz autorizada ? O ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, tido como nota certa também do ministério da Dilma, no mesmo cargo ou em outro posto nobre, tem se revelado o porta-voz das linhas econômicas do futuro governo. Já anunciou que o governo não aceita valor maior para o salário mínimo do que R$ 540, que um ajuste fiscal está em andamento, que a meta de inflação para 2013 será reduzida a 4% (até 2012 seria de 4,5%), que o superávit primário de 2011 será de no mínimo 3,3% do PIB, que até o fim de 2014 o juro brasileiro será de 2% e o déficit nominal será zerado e muito mais. Tudo bem. Acontece que muitas desses propósitos não combinam, por exemplo, com a aventura do trem bala, com as generosidades do BNDES (a última na MP 511), com as farras que pintam no horizonte para a Copa do Mundo de 2014 e a Olimpíada de 2016. Casos clínicos (e geriátricos) O PSDB e o DEM, talvez até o PPS, estão necessitando urgentemente de boas sessões de psicanálise política. Estão sem rumo. Estão órfãos, sem propostas consistentes e sem projetos objetivos. Se o grupo de Marina Silva não se dispersar - fala-se menos do PV e mais de atores sociais e econômicos que a ela se juntaram - e ampliar seu leque de preocupações, tem chance de ocupar um bom espaço político no futuro. A oposição está envelhecida e o novo governo, pelas primeiras amostras, também já vai "nascer velho" - nos nomes e na direção das políticas. Ministeriômetro - Capítulo III Foram poucas as alterações na relação da coluna de terça-feira. Tivemos apenas acréscimos. Todos os citados ou auto-citados resistem bravamente ao processo de fritura geral. Educação - Newton Lima, Pedro WilsonCultura - Antonio Grassi, Ângelo OsvaldoComunicações - Moreira FrancoIntegração Nacional - Eunicio Oliveira, José Sergio GabrielliCidades - Jose Filippi Junior, Luiz Fernando PezãoSaúde - Sergio CortesAvulsos - Beto Albuquerque, Olívio Dutra Lulômetro Também um acréscimo : - A vaga deixada por Nestor Kirchner na Unasul. Brigas no éter Após um período de relativo com entendimento, voltaram a ficar tensas as relações entre o governo e a Anatel, hoje apenas um braço do Executivo, e o setor de telecomunicações. As empresas se queixam basicamente da preponderância quase absoluta da ressuscitada Telebrás no Plano Nacional de Banda Larga. Elas não consideram um plano de fato, mas um enunciado de intenções e das regras para o leilão da Banda H para celular, no qual as quatro grandes de hoje - Oi, Vivo, Tim e Claro - não podem concorrer na primeira rodada e já entraram até na Justiça. Vem mais queixa por aí. Dezembro quente Véspera das festas de fim de ano, o Congresso quase desacelerando e o governo em fim de mandato. Época, portanto, de mais prudência em grandes e polêmicas questões públicas. Não é, porém, o que a turma do presidente Lula quer : dia 14/12, se a Justiça deixar, correrá o leilão da Banda H. Dois dias depois, 16, a concorrência de R$ 34 bilhões do trem bala. Recursos panamericanos A injeção de R$ 2,5 bilhões de recursos no Banco Panamericano em função das possíveis fraudes contábeis ocorridas antes do processo de aquisição da instituição pela CEF demonstra, mais uma vez, que o controle acionário de empresas financeiras por parte de grupos não-financeiros é altamente problemático. Grandes grupos podem ser "engolidos" por subsidiárias financeiras aparentemente menos importantes do ponto de vista patrimonial. Radar NA REAL 9/11/10   TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA estável alta - Pós-Fixados NA estável alta Câmbio ² - EURO 1,3737 queda estável - REAL 1,7095 estável estável/baixa Mercado Acionário - Ibovespa 71.679,47 estável/alta estável/baixa - S&P 500 1.213,40 estável/alta estável - NASDAQ 2.562,98 estável/alta estável (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável Inflação em alta Muito embora a elevação dos índices de inflação reflita aumentos significativos de preços agrícolas e de energia (etanol, sobretudo), aumenta a percepção de que a inflação está se espalhando pelos outros setores econômicos. O BC sabe disto, mas nenhuma alteração na taxa básica de juros é esperada para este ano. O custo ficará para o próximo mandato do presidente do BC o qual poderá ou não ser exercido por Henrique Meirelles. Todavia, já se comenta a voz pequena no tal do "mercado" que em 2011 poderemos ter um cenário desagradável do ponto de vista político : inflação e juros em alta e redução da atividade econômica. Um teste inicial para a nova presidente. Fed sob ceticismo Há aqueles que acreditam que a reunião do G-20 hoje e amanhã será um marco importante para as decisões tomadas pelos EUA (e não somente pelo Fed) em relação à recompra de títulos de longo prazo do Tesouro norte-americano. A nosso ver, a decisão americana é unilateral e deve passar incólume pelas pressões externas por duas razões : (i) trata-se de uma "decisão heroica" do atual governo para se salvar de uma letargia da atividade econômica que pode durar anos e (ii) os países que compõe o grupo nada tem a oferecer em troca. O maior risco para o governo americano, porém, está no campo doméstico. Há enorme ceticismo em relação à estratégia de redução a taxa de longo prazo injetando mais liquidez. Segundo estes, incluindo os republicanos que tomaram conta do Congresso nas últimas eleições legislativas, a injeção de liquidez não derruba as taxas porque as expectativas de alta da inflação também se elevam. Isto não é uma queda de braço, mas no final a complexa e confusa discussão pode deixar o Fed pouco efetivo e crível para executar a política por ele proposta. A coisa está muito mal parada. O "mercado" espera. Lula e os anistiados A visão de Lula sobre os exilados políticos no final da década de 70, durante o regime militar, não era tão generosa quanto os recursos dispendidos pelo tesouro para indenizá-los durante o seu mandato presidencial. É o que poderá ser conhecido num novo livro sobre o presidente que sairá neste final de ano.
terça-feira, 9 de novembro de 2010

Política & Economia NA REAL n° 124

Lula e Dilma: diferenças vitais Para entender o que pode mudar no governo Dilma em relação ao governo Lula, em políticas e estilo, é preciso observar algumas diferenças entre o presidente e sua sucessora. Lula é pragmático, Dilma ideológica. Lula, não é dado a grandes elucubrações, seu projeto sempre foi, no fundo, acabar com a pobreza, fazer todos os brasileiros comerem três vezes por dia. Dilma tem projetos de transformações estruturais. Formado no sindicalismo, Lula é conciliador. Dilma é catequizada na luta política - tem lado escolhido, além do sentimento de classe e do companheirismo que move Lula. Lula não tem ideias pré-concebidas, Dilma tem posições sobre tudo. Lula age, trabalha e administra na base de, digamos, uma dialética muito peculiar. Deixa haver conflitos internos no seu entorno, ausculta as reações e decida pelo que entende ser o de maior aprovação. Foi assim na vida sindical. Nas assembleias, tinha um aliado para defender cada posição - a favor da greve, contra a greve, a favor da aceitação da proposta, contra a proposta. Olhava a reação da plateia e depois optava pela que tinha tido maior aceitação. Lula e Dilma no governo No governo não foi diferente. Veja-se na economia. Enquanto teve dois nomes afinados no comando da economia - Palocci e Meirelles - tinha no Planalto, principalmente na Casa Civil, primeiro com José Dirceu e depois com Dilma, a antítese. Para lembrar : foi Dilma, com a classificação de "rudimentar", que fulminou uma proposta de Palocci de zerar o déficit nominal do setor público. Curiosamente, a mesma ideia que, dizem, ela namora agora. Depois Lula deixou o contraponto ao BC para Mantega e Luciano Coutinho. E administrou a política pendularmente entre um e outros até a crise de 2008, quando passou a prevalecer a posição Fazenda - BNDES. Dilma, anuncia-se, não aplicará a mesma dialética lulista. A equipe econômica estará submetida inteiramente a ela e não terá contrapontos - seguirá a linha nacional-desenvolvimentista que ela adota. Por isso, não deve haver mais espaço para Meirelles no BC. E Palocci corre o risco de ter de pousar no ministério da Saúde. Para o bem e para o mal, é uma mudança e tanto. Lula em evidência Lula convocou uma entrevista conjunta dele e da presidente eleita, atrasando a viagem de férias de Dilma, somente para dizer que quem vai mandar no governo Dilma será ela mesma. Inusitado se dissesse o contrário. Depois, Lula convocou rede obrigatória de televisão e rádio para saudar a saudável eleição nacional, dizer bem do futuro com Dilma e propor um desarmamento dos espíritos. Inusitado se dissesse o contrário. Como as duas aparições não trouxeram novidades, eram totalmente dispensáveis, parecem inexplicáveis. Não são, não. Basta ver os noticiários de televisão, com a presidente entrante ocupando cada vez mais espaço e o presidente que sai desaparecendo do noticiário para se compreender tudo. Lula desmistificado em livro Vem aí um livro de um jornalista com todas as credenciais para analisar o poder e suas intimidades. Trata-se de uma obra que joga elevadas taxas de realismo sobre a mitificação de Lula. Esta coluna teve acesso ao conteúdo da obra. É explosivo. G-20 sob risco Muitas análises dão conta que o G-20 está sob o risco de deixar de ser um fórum funcional para tratar das grandes questões econômicas internacionais. Não é apenas uma possibilidade, caso os EUA mantenham sua posição em relação à desvalorização do dólar no mercado internacional. É quase certeza. Por duas razões agudas : (i) não há da parte dos países emergentes, sobretudo a China comunista, nenhuma estratégia alternativa que seja implementável e que seja satisfatória para os homens de Washington ; (ii) diante da ausência de uma estratégia alternativa é muito provável que os países emergentes e os países ricos se dividam para criar as suas próprias estratégias nacionais na defesa em relação à queda do dólar norte-americano. Neste item, a China mostrará seus dentes de dragão sem se preocupar muito com os outros "companheiros" emergentes (dentre os quais o Brasil). O FMI original O governo brasileiro se orgulhou muito de, juntamente com a China, ter aumentado sua participação no órgão multilateral. Pois bem : o FMI é algo decadente e disfuncional como vai provar, mais uma vez, a adoção da recompra de títulos do tesouro norte-americano por parte do Fed, e que resultará numa desvalorização do dólar. A guerra cambial que deve vir por aí foi a razão pela qual Lord Keynes sugeriu a criação do FMI na conferência de Betton Woods, em 1944. O FMI seria uma espécie de "caixa de compensação cambial" na qual os países superavitários depositariam suas reservas e financiariam os países deficitários nas contas externas. Assim, se evitaria a guerra cambial entre eles. Pois bem : o FMI nunca foi isto porque os EUA ao constatarem que iam ganhar não somente a guerra contra os nazistas e japoneses, mas que o dólar ia ser a moeda internacional em substituição à libra. A guerra cambial está aí e o FMI não serve para nada. O Leviatã Econômico Todos os caminhos de Dilma na economia levam a um aumento da presença do Estado na economia. A CPMF é a mais visível. Mas há muito mais. As obras da Copa do Mundo devem ganhar grande estímulo nas próximas semanas e meses com a participação de governos locais e o Federal ; o BNDES se prepara para ser uma espécie de seguradora para títulos privados de longo prazo (o balcão de negócios nesta área se agrega a um volume de crédito enorme para o setor privado) ; as obras do PAC ganharão reforço estatal significativo logo no início da nova administração. Não há no Brasil nenhuma força política relevante a impedir este processo. Ao contrário : a provável volta da CPMF mostrará que a docilidade do Congresso e dos governadores - de todas as cepas políticas - com o governo Federal deve ser maior que com Lula neste início da nova administração petista. Choremos a Argentina, de novo A morte de Kirchner foi apenas mais um capítulo na atual cena trágica do país rival do Brasil no futebol. A inflação de 30% - ou mais - e os efeitos da guerra cambial lá fora são fatores suficientes para jogar a Argentina numa nova, e enorme, crise econômica. Os investimentos brasileiros naquele país aumentaram demasiadamente nos últimos anos, com a Petrobras liderando este processo. Se somarmos à crise argentina os riscos estratégicos da Venezuela chegaremos à conclusão que há aí um ponto nevrálgico para os riscos externos do Brasil, além do problema cambial no mundo. Quem se dispõe a discutir isto no Congresso Nacional ? Radar NA REAL 5/11/10   TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA estável alta - Pós-Fixados NA estável alta Câmbio ² - EURO 1,3943 queda estável - REAL 1,6964 estável/queda estável/baixa Mercado Acionário - Ibovespa 72.606,53 estável/alta estável/baixa - S&P 500 1.221,06 estável/alta estável - NASDAQ 2.577,34 estável/alta estável (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável Começo delicado Do ponto de vista do apoio da sociedade, não dá um bom pontapé um governo que, sem discutir as questões na campanha, esquecendo-se deliberadamente delas, pode se inaugurar com a recriação da CPMF e mudanças nas regras das cadernetas de poupança. Lula e Dilma puseram para circular as notícias sobre a CPMF, usando como laranjas um grupo de governadores. Assim, o tema já frequenta os debates do grupo de transição. Uma paraestatal ? Depois de uma trégua no segundo turno, voltou às mesas decisórias em Brasília o processo de caça  - ou cassa ? - ao presidente da Vale, Roger Agnelli. O novo governo quer indicar o novo executivo da empresa, para torná-la mais cordata. Agnelli caiu em desonra depois que demitiu funcionários no auge da crise e resistiu às sugestões oficiais de investir também fortemente em siderúrgicas. Pode ser uma "reestatização" branca. Em busca de piso e teto Vai demorar algum tempo para que todas as feridas da derrota oposicionista cicatrizem. Isso se as do tucanato vierem a cicatrizar de fato. Há mágoas profundas e vaidades ainda em profusão. A disputa pela liderança no PSDB pode ser fatal. As eleições municipais já estão na rua. Para além das questões pessoais - quem será quem no novo oposicionismo - há também o desafio de saber como será esse novo oposicionismo. A oposição só sobreviverá forte e unida se for capaz de formular um projeto para o Brasil diferente do que aquilo que sendo aplicado e será continuado. Terá de mostrar porque o que ela propõe é melhor, não basta apenas criticar e dizer que pode gerir melhor. Tem de apresentar alternativa, com detalhamento e profundidade. Ingenuidade Só quem acredita em mula sem cabeça acreditou, durante a campanha presidencial, nas promessas de desoneração de impostos. Só quem convive com sacis acredita que a proposta de volta da CPMF, com codinome CSS, é uma iniciativa autônoma de governadores estaduais e não tem nenhum dedo nem de Lula nem de Dilma. Incompatibilidade Continuam sem se dar bem o ministério da Educação e o Enem, eles não se entendem embora habitem o mesmo espaço oficial. Neste fim de semana, foi a entrega de um caderno de questões incompleto e com falhas e a distribuição da folha de gabaritos com erros que alertaram sobre a falta de credibilidade do exame. Certamente, a culpa será atribuída à gráfica e não a quem deveria conferir se estava tudo certo. Em 2006, o Enem foi cancelado depois que o Estadão revelou o vazamento da prova. Em 2009, houve erro no gabarito do INEP. No início de 2010, o mesmo INEP divulgou o gabarito errado de quase mil estudantes. Em agosto de 201,0 vazaram dados sigilosos de alunos. E, no entanto, o ministro Fernando Hadad é cotado para permanecer no posto no futuro governo ou ganhar uma nova missão. É um dos queridinhos de Lula e do PT para futuras missões eleitorais em SP. Deve ser a tal de "meritocracia" a que tanto tem aludido a presidente eleita quando fala na formação de sua equipe. Dois filões Para entender a razão de muitos partidos e muitos políticos desprezarem cargos ministeriais e propugnarem vagas mais modestas em estatais ou em fundos de pensão das empresas oficiais : - Para 2011 as estatais têm uma previsão de investimentos de R$ 107 bi. E mais de 600 cargos executivos de nível, com salários superiores de R$ 20 mil, preenchíveis sem concurso. - Os fundos de pensão dos empregados das estatais, em tese privados, mas que o governo controla com fervor, têm hoje um patrimônio de mais de R$ 500 bi para investir. Cotações do ministeriômetro - capítulo II Repetimos a lista da semana passada. Os novos nomes em relação a lista anterior estão em destaque em itálico. Ainda não tivemos exclusões. Acrescentamos uma nova categoria - "credores". São aqueles que fizeram algum tipo de sacrifício em nome da eleição de Dilma e agora esperam recompensas. Algumas foram solenemente prometidas. A partir da próxima coluna vamos registrar apenas as inclusões e exclusões. Dilma vai aproveitar a companhia do presidente Lula na viagem ao G-20 em Seul para discutir com ele os convites que pretende fazer. Nenhum nome surgirá esta semana. Já depois dos feriados a angústia dos candidatos deve crescer. Ainda mais para a gente do PMDB que, segundo Michel Temer, não reivindica cargos, mas está à mercê do que Dilma e Lula determinarem. Casa Civil - Antonio Palocci, Maria das Graças Foster, Fernando Pimentel, Paulo Bernardo Planejamento - Nelson Barbosa, Fernando Pimentel, Luciano Coutinho, Aloizio Mercadante Secretaria Geral da Presidência - Gilberto de Carvalho, Antonio Palocci Direitos Humanos - Gabriel Chalita Ciência e Tecnologia - Aloizio Mercadante Educação - Gabriel Chalita, Aloizio Mercadante Petrobras - Maria das Graças Foster, Guido Mantega, Antonio Palocci Saúde - Antonio Palocci Integração Nacional - PMDB, PSB, Ciro Gomes, PT Minas Energia - Graça Foster (assim ela gosta de ser chamada), Edison Lobão Cidades - Moreira Franco, Marta Suplicy, PP, PSB, PMDB, Fernando Pimentel Itamaraty - Antonio Patriota, José Maurício Bustami, José Viegas, Mangabeira Unger Fazenda - Luciano Coutinho Transportes - Henrique Meirelles, PMDB, PT, PR Cultura - rol abre-se com mais de 20 nomes, entre eles o ator José Abreu, a senadora Ideli Salvatti, o sociólogo Emir Sader, Celso Amorim BNDES - Ciro Gomes, Nelson Barbosa Porto de Santos - PSB Caixa Econômica Federal - Moreira Franco Banco Central - Alexandre Trombini, Luciano Coutinho, Nelson Barbosa Justiça - José Eduardo CardozoAgricultura - Blairo MagiVale do Rio Doce - Mantega, Gabrielli (ver nota acima)Comunicações - Hélio CostaPrevidência - Luis SérgioTurismo - Luis SérgioDesenvolvimento Agrário - Joaquim SorianoDesenvolvimento Social - Gilberto de Carvalho, Patrus Ananias Avulsos Fabio Barbosa (Santander)Abílio Diniz Empresário (grife, como Roberto Rodrigues e Luis Furlan no primeiro ministério de Lula) SindicalistaAntonio Carlos Valadares Miriam Belchior (no Palácio do Planalto) Clara Ant (no Palácio do Planalto) Alexandre Teixeira (Apex) José Eduardo DutraCredoresHenrique MeirellesAloizio MercadantePatrus AnaniasIdeli Salvatti Lulômetro   Vamos inaugurar esta semana também os postos que são cogitados para o futuro ex-presidente Lula. A especulação também corre solta nesse campo : - Fazer churrasco no sítio em São Bernardo (anunciada por ele há tempos, mas aparentemente descartada). - ONU - FAO - Banco Mundial - Dirigir um projeto específico para erradicação da fome na África - Conselheiro de Dilma - Palpiteiro no governo Dilma - Tutor da futura presidente - Caixeiro viajante das reformas, especialmente a reforma política.
quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Política & Economia NA REAL n° 123

Um país mais dividido Ao comentar a conclusão do primeiro turno das eleições deste ano, esta coluna chamou a atenção para a divisão produzida no país pelos candidatos. A candidatura do PT tomou conta das regiões mais pobres do país, não apenas do ponto de vista da geografia política (o Nordeste, por exemplo), mas também nas regiões e micro-regiões dos Estados mais ricos. Ou seja, as classes menos favorecidas, do ponto de vista social, votaram no PT. O reverso ocorreu com a base de apoio a Serra. O Congresso haverá de refletir esta realidade, não tenhamos dúvidas. Há duas perguntas que decorrem desta realidade eleitoral : (i) há espaço fiscal para satisfazer as crescentes (e justas) demandas das classes menos favorecidas ? (ii) a presidente eleita levará em conta esta realidade em que medida ? Governará de fato para todos e observando os melhores interesses da Nação ? Há muitas tentações políticas envoltas nesta constatação. O populismo é uma delas. Sobretudo quando se observa que a melhoria da qualidade de vida dos mais pobres foi absoluta. Do ponto de vista da distribuição da renda, a mudança durante os oito anos de Lula foi mínima. Prestem atenção nas mudanças externas Não é apenas o governo brasileiro que mudará. Lá fora há uma mudança estrutural em curso e altamente relevante. Os EUA mudaram de estratégia econômica e estão forçando um ajuste cambial por meio de uma política monetária frouxa por dois lados : a taxa de juros negativa e a injeção de recursos por meio da aquisição no mercado de títulos do Tesouro norte-americano. As apostas sobre os efeitos destas medidas são muitas e variadas, mas uma coisa é certa : o capitalismo é um sistema não-cooperativo e qualquer alteração substantiva nas variáveis econômicas dos EUA será refletida nas políticas dos outros países, sobretudo a China. Nesse contexto, estamos sob riscos novos : se antes a continuação de uma atividade letárgica nas economias centrais era o aspecto mais relevante, agora o risco é maior ainda : duma inflação alta no médio prazo ou, até mesmo, uma guerra cambial. Quem contava com o mesmo perfil da economia mundial pode tirar o cavalinho da chuva. Há algo de novo no ar. Para o bem e para o mal. Os limites do poder No discurso da apoteose, a futura presidente Dilma, parafraseando Obama, soltou o slogan "nós podemos" para definir a nova situação política da mulher no Brasil, segundo ela interpreta, adquirida após sua eleição. O PT, que já estava tomado de uma grande euforia, já anterior à vitória de domingo, acreditou que ele também podia. Assumiu, pelo menos publicamente, as rédeas do novo governo e assanhou-se até a disputar internamente quem seria o presidente da Câmara - se Cândido Vaccarezza, se Arlindo Chinaglia, se Marco Maia. A festa durou segundos. O PMDB estrilou e Dilma, com o juízo no lugar, botou Michel Temer para coordenar a equipe de transição, pelo menos no papel em posição hierárquica superior aos petistas antes anunciados como comandantes do grupo - Antonio Palocci e José Eduardo Dutra. Como disse o experiente peemedebista Eduardo Cunha, "eles não vão governar sozinhos". O PMDB deu a primeira amostra de como será a vida da aliança governista no Congresso. Não deu, não levou. Com "nós podemos" e tudo mais, Obama acaba de sofrer uma derrota quase humilhante nas eleições legislativas de meio de mandato nos EUA. Recado direto O PMDB fez saber a quem de direito que não aceita perder um milímetro do que já tem, pela voz de seu candidato à presidência da Câmara, Henrique Eduardo Alves, no mesmo momento em que o partido ganhava uma vaga para Temer na equipe de transição. Ou seja, seis ministérios, o BC (Meirelles agora é da cota peemedebista, assim entendem eles), e direção e cargos em estatais de peso. Conversas podem haver se o ministério vier de "porteira fechada", ou seja, o partido nomear todo mundo de sua área, não dividir a área com ninguém. Aliás, "porteira fechada" é uma expressão da política nacional que voltou a freqüentar as conversas em Brasília. Lula e Dilma não deram esta prerrogativa ao PMDB no passado. Quando a futura presidente deixou o Ministério das Minas e Energia, ele foi alocado na cota do PMDB. Mas o partido de Temer não levou a presidência de todas as estatais de área - Petrobrás e Eletrobrás, por exemplo, ficaram de fora. Pelas escaramuças desses dois primeiros dias de conversas sobre o futuro governo, um experiente observador das coisas de Brasília diz que a equipe formada por Dilma para conversar sobre a nova administração está mais para transação do que para transição. Mais para cargos do que para políticas. Por duas razões : é um governo de continuidade, não há mistérios do atual para Dilma a parceiros - dele eles sabem tudo; o programa de governo, pelo menos assim se disse, já ficou pronto. O que falta mesmo é nomear. Cotações do ministeriômetro A corrida aos cargos já começou. Aliás, já havia começado muito antes, apenas ficou guardada discretamente para não prejudicar a campanha. Basta ler os jornais para se perceber as disputas e o vale tudo. As informações "privilegiadas" estão na ordem do dia. Há as fontes e os amigos prontos para avisar que determinado cidadão foi convidado ou está indicado para algum cargo de ministério ou de expressão nas estatais. Um dia se diz que Lula quer a continuação de fulano em tal lugar, de beltrano em tal outro e que não deseja certo amigo e determinada área. Fica-se de repente sabendo que um concorrente foi vetado por uma corrente adversária do seu próprio partido. Há os candidatos reais e os autocandidatos. Há especulação, plantações e até informações de boa confiabilidade. Difícil é separar cada uma delas. Por essas e outras esta coluna vai manter, em cada edição, um "ministeriômetro", uma lista dos nomes citados como prováveis ministros, até que a escolha oficial se dê. Não incluímos os atuais ministros, secretários especiais com status ministerial e presidentes de estatais. Até agora, sem exceções confessas, todos, absolutamente todos, são candidatos a continuar. Há nomes repetidos, cogitados para diversos lugares. São os polivalentes. Há indicações apenas do partido em muitos casos. E há uma lista de avulsos, pessoas listadas sem designação do destino. Não estranhem a designação apenas de "empresário" na relação dos avulsos. Dilma não vai abrir mão de um nome desta grife em seu ministério. Assim também como o de um sindicalista. E a cotas das mulheres deve crescer. Casa Civil - Palocci, Maria das Graças Foster, Fernando Pimentel, Paulo Bernardo Planejamento - Nelson Barbosa, Fernando Pimentel Secretaria Geral da Presidência - Gilberto de Carvalho, Palocci Direitos Humanos - Gabriel Chalita Ciência e Tecnologia - Aloizio Mercadante Educação - Chalita, Mercadante Petrobrás - Maria das Graças Foster, Mantega, Palocci Saúde - Palocci Integração Nacional - PMDB, PSB, Ciro Gomes Minas Energia - Maria Graça Foster, Edison Lobão Cidades - Moreira Franco, Marta Suplicy, PP, PSB Itamaraty - Antonio Patriota, José Maurício Bustami, José Viegas, Mangabeira Unger Fazenda - Luciano Coutinho Transportes - Henrique Meirelles Cultura - rol abre-se com mais de 20 nomes, entre eles o ator José Abreu, a senadora Ideli Salvatti e sociólogo Emir Sader. BNDES - Ciro Gomes, Nelson Barbosa Porto de Santos - PSB Caixa Econômica Federal - Moreira Franco Banco Central - Alexandre Trombini, Luciano Coutinho, Nelson Barbosa Justiça - José Eduardo Cardozo Avulsos Fabio Barbosa (Santander) Empresário (grife, como Roberto Rodrigues e Luis Furlan no primeiro ministério de Lula) Sindicalista Miriam Belchior (no Palácio do Planalto) Clara Ant (no Palácio do Planalto) Alexandre Teixeira (Apex) José Eduardo Dutra Uma lição Às voltas com tantos abnegados a um sacrifício federal e sem vagas de nível suficientes para atender a todo mundo, a futura presidente poderia se mirar numa história do avô de Aécio. Eleito governador do Estado, numa vitória apertada sobre o hoje senador Elizeu Rezende, Tancredo foi procurado certa tarde por um amigo e correligionário. O parceiro, inquieto com a falta de notícias oficiais ou oficiosas a respeito da formação da equipe do futuro governo, quis checar diretamente qual era a sua cotação, candidato que era a uma secretaria ou à direção de algum organismo estatal. Expôs logo sua angústia : - "Doutor Tancredo, os amigos e minha família, conhecedores das nossas relações, têm me procurado para saber qual a secretaria que vou ocupar na sua gestão. E eu não sei o que dizer para eles, já estou até meio constrangido." Com seu estilo sereno, meio irônico, meio paternal, o futuro governador deu a solução para o amigo : - "Sem problemas, você pode dizer para eles que eu convidei você para minha equipe, numa poderosa secretaria. E que você não aceitou." Dois vices, dois DNAs políticos De um ilustrado das coisas brasilienses, antes mesmo do episódio de terça-feira que guindou o presidente do PMDB ao comando da equipe de transição de Dilma : "Fiquem de olho no vice". De fato, há diferenças nada sutis entre ele e que podem marcar um novo tipo de relação entre o substituto eventual da presidente da República e a presidente. E também marcar o jogo de seu partido. José Alencar é estridente, porém bonachão e inofensivo politicamente. Além de cumprir missões com boa vontade, como a de falar mal dos juros e do BC, coisa que Lula não podia fazer publicamente. Temer é formal, assim como, digamos, o olhar de Capitu. Tem seus próprios missionários. Sem alarde, já passou por cima de petistas ilustres no segundo dia da eleição. As tarefas de Dilma Com a ajuda de Lula em alguns casos, em outros, sozinha, Dilma tem, até o fim do ano e os primeiros dias de seu governo, uma série de decisões cruciais a tomar e/ou participar, nem todas muito agradáveis, dependendo do que ele decidir. 1. A questão cambial.2. Se vai ou não fazer um ajuste fiscal - como e de que tamanho.3. O aumento do salário-mínimo.4. O reajuste das aposentadorias para quem recebe mais de um salário-mínimo.5. O projeto de partilha para a exploração do pré-sal, com a nova regra de divisão dos royalties com os Estados, coisa que causou já grande dor de cabeça a Lula.6. Reajuste salarial do poder judiciário.7. A emenda constitucional que cria um piso salarial nacional para as polícias militares e os corpos de bombeiros.8. A expulsão de Cesare Batisti.9. A nomeação de um Ministro do STF Ao vencedor, a glória Lula, e somente Lula, fez esta eleição. A grande contribuição dos parceiros foi não atrapalhar muito. E esta dívida será paga de alguma maneira. Por isso, a grande incógnita : qual será o papel de Lula e da própria Dilma no futuro governo Dilma ? É uma equação complexa, que ainda não está decifrada. O teorema talvez até nem tenha sido ainda formulado corretamente. Ao perdedor, as batatas Pelas circunstâncias - o prestígio avassalador de Lula, o bom momento da economia, seus próprios erros, vacilações e idiossincrasias - a oposição até que não fez feio nas eleições. Basta ver o mapa de votos no país. Mas está se comportando como se nada tivesse aprendido com esta derrota, como não aprendeu com as de 2002 e 2006. As mesmas vacilações posteriores, as mesmas vaidades, as mesmas disputas. Do jeito, vai amargar mais 20 anos na planície. Será que o Brasil vai passar outro mandato presidencial sem uma oposição digna, como é bom e necessário em qualquer regime democrático ? Radar NA REAL 2/11/10 TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA Estável Alta - Pós-Fixados NA Estável Alta Câmbio ² - EURO 1,4011 Queda Estável - REAL 1,7002 Estável/Queda Estável/Baixa Mercado Acionário - Ibovespa 71.560,95 Estável/Alta Estável/Baixa - S&P 500 1.193,57 Estável/Alta Estável - NASDAQ 2.533,52 Estável/Alta Estável (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável
terça-feira, 26 de outubro de 2010

Política & Economia NA REAL n° 122

Eles só falaram de flores O eleitor brasileiro chega aos dias finais da eleição presidencial sem a mais vaga noção do que os dois concorrentes a seus votos pensam - e pretendem fazer - diante de cruciais decisões que precisam ser adotadas para botar um pouco de rumo na economia nacional e evitar que o bom momento vivido agora comece a degringolar perigosamente. O primeiro é o câmbio, o preço da moeda nacional, responsável pela deterioração da qualidade de nossas contas externas e pondo em risco a capacidade de competição da indústria nacional. O segundo, o equilíbrio das contas públicas e o compromisso de manter um bom superávit primário, suficiente para que a dívida pública não cresça demais. Há gastos em excesso e o superávit está sendo sustentado por contabilidade artificial e manobras como os cerca de R$ 30 bi que "sobraram" da capitalização da Petrobras e serão devolvidos ao tesouro nacional em forma de receita. Em nome da elegibilidade o governo tem evitado agir com presteza e a dureza necessária. Em nome da caça aos votos, os candidatos têm contornado o tema. O depois pode ser amargo... Elegibilidade Ninguém menos loquaz nesses dias do que o sempre loquaz ministro Guido Mantega, só visível para anunciar duas medidas pontuais para o câmbio, cuja eficácia ainda precisará ser comprovada, mas que a maioria dos especialistas considera limitada. Nem a reunião preparatória do G-20, na qual o Brasil ganhou mais poder no FMI, o ministro compareceu. O que não quer dizer que Mantega esteja em fase de desaceleração, esperando o substituto. Há nele um desejo genuíno de ficar onde está, se o favoritismo de Dilma continuar. Mas as ações preferenciais da presidenciável petista estão, no momento, no BNDES de Luciano Coutinho. Saldos externos, câmbio e expansão monetária Definitivamente os EUA estão decididos a superar a crise que se instalou no país em meados de 2008 debitando boa parte do ajuste ao resto do mundo. O Fed deve comprar títulos do tesouro, expandir a moeda e forçar o consumo e o investimento. O dólar norte-americano deve cair ainda mais frente às moedas de outros países ricos e dos emergentes. Assim, o saldo das operações externas destes países frente aos EUA deve cair e alavancar a atividade interna americana. Trata-se de um jogo perigoso de vez que o capitalismo é um sistema não-cooperativo de transferência de renda : se todos agirem da mesma forma estará instalada uma guerra cambial. Por mais coordenado que seja este processo entre os países, qual deles está disposto a abrir mão de um emprego para dá-lo a um norte-americano ? Há muito em jogo e há poucas indicações de como isto tudo pode caminhar. O Brasil neste contexto está mal posicionado : a elevada taxa de juros, a expansão fiscal e os saldos externos negativos são variáveis muito sensíveis às alterações engendradas por Washington. Este enorme ponto de interrogação está sendo subestimado internamente. A persistente especulação As reformas das estruturas do mercado financeiro mundial, bem como das instituições multilaterais depois da crise de 2008, arranharam os interesses de certos segmentos do mercado, mas não alteraram a dinâmica financista que domina as estruturas capitalistas. Alterações bruscas no cenário econômico serão, portanto, impactados por esta realidade. Se hoje as operações dos bancos com seu próprio capital estão mais limitadas, de outro lado os fundos de investimento especulativos estão assumindo formas cada vez mais sofisticadas. Lord Keynes, o grande formulador da criação do FMI, Banco Mundial e BIS, disse em certa ocasião que "o capitalismo é muito importante para ser cuidado apenas pelos capitalistas". Uma lição ainda por ser aprendida. FMI : reforma e obsolescência O diretor-gerente do FMI Dominique Strauss-Kahn anunciou com pompa neste último fim de semana "a maior reforma da história do FMI". Referia-se a redistribuição de quotas entre os sócios do fundo que resultará em um alargamento do poder da China e outros emergentes, dentre os quais o Brasil. O governo comunista de Pequim será o terceiro maior sócio do organismo que foi criado na Conferência de Bretton Woods (1944) para salvar o capitalismo. Dura ironia. O que o senhor Strauss-Kahn não contou é que as funções do FMI neste século XXI estão obsoletas frente aos novos desafios econômicos e políticos. Por exemplo, como se comportaria o FMI diante da desorganização cambial que pode se originar da nova estratégia monetária dos EUA ? Outra pergunta incômoda : o FMI tem recomendações sobre a política cambial chinesa que desvaloriza artificialmente a sua taxa de câmbio ? Mercosul sem rumo A formação de um mercado comum é tarefa de longuíssimo prazo. Sabe-se disso. Todavia, a cada ano é preciso estabelecer metas macroeconômicas conjuntas entre os países-membros e de progresso institucional com o objetivo de liberar mercados. O que se vê no Mercosul é uma absoluta letargia em todos os campos. E o pior é que os riscos estão aumentando velozmente. A Argentina, comandada pelos populistas Kirchners, está com inflação ao redor de 20%, déficit público crescente, investimentos irrisórios e uma política monetária pouco crível. Estas variáveis tem implicações diretas sobre o Mercosul, mas parece que tudo isto é pouco para movimentar os sócios deste pacto. Política externa esquecida Não é somente o Mercosul que não interessa ser discutido na atual campanha eleitoral. Toda política externa brasileira ficou de lado. Pouco se sabe o que os candidatos pensam em relação ao posicionamento do Brasil no mundo global. Radar NA REAL 22/10/10   TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA estável alta - Pós-Fixados NA estável alta Câmbio ² - EURO 1,3982 queda estável - REAL 1,7071 estável/queda estável/baixa Mercado Acionário - Ibovespa 69.529,71 estável/alta estável/baixa - S&P 500 1.183,11 estável/alta estável - NASDAQ 2.479,39 estável/alta estável  (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável Acabou a trégua O aumento da vantagem de Dilma nas pesquisas contra José Serra pôs fim ao armistício celebrado entre grupos divergentes do PT a respeito das políticas que Dilma, se eleita, deverá adotar, e sobre os cargos que distribuirá. As entrelinhas dos jornais registram caneladas por debaixo das mesas cada vez mais grosseiras. E o ambiente ficará ainda mais pesado depois de domingo. Se Dilma vencer, porque terá passado todo o risco e será a hora de extinguir os concorrentes internos ou pelo menos neutralizá-los com honrarias sem poder. Se ela perder, pela distribuição de responsabilidades. Uma trégua precária A duras penas, o PMDB mantém obediente silêncio. Mas está com todas as armas revisadas e prontas para não ser passado para trás na partilha dos bens do novo governo. A cota de cinco ministérios está sendo considerada muito pequena. Nas reivindicações, estão também estatais de peso, além das do setor elétrico, feudo sarneysta nos últimos anos. Bom faro Maria Graça Foster, diretora da Petrobras pelas mãos de Dilma, já entrou no foco dos gigantes da petroquímica. É aposta certa para o primeiro escalão de um provável governo da favorita de Lula. O que explica, em parte, o "pitibulismo" político dos últimos dias do atual presidente da estatal, José Sérgio Gabrielli. Luta pela continuidade Como Gabrielli, auto-incluído numa lista de promoções ou pelo menos de permanência com Dilma no Planalto, o crescimento do favoritismo da candidata petista nas pesquisas tem sido proporcional ao crescimento dos auxiliares de Lula que fazem tudo para mostrar serviços, para aparecer. Uma esfinge O problema, de todos, é que a ex-ministra é uma incógnita. Ninguém diz ao certo o que ela é. Há quem diga que ela cederá às influências e até já fez várias concessões. E há os que dizem que ninguém perde por esperar. Para uns, será teleguiada de Lula, do PT e do PMDB. Para outros, vai surpreender. Credores Por isso, o esforço dos parceiros, Lula, PT, PMDB para se mostrarem credores da vitória da ex-ministra. Crédito ilimitado Lula está fazendo tudo e muito mais por Dilma, o fato de quase ter abandonado a presidência para cair na campanha comprova sua disposição de ter da provável futura presidente uma nota promissória em branco. Mas Lula está fazendo muito mais por ele mesmo. O adversário real Nem Serra, nem Fernando Henrique, nem outro tucano oposicionista qualquer. A mira de Lula esta apontada mesmo é para a cabeça do mineiro Aécio Neves, que um dia ele até pensou levar para seu rebanho. A desenvoltura que o senador eleito mineiro tem demonstrado no seu oposicionismo do segundo turno, o prestígio que vem amealhando, parecem a sombra mais perigosa para os planos futuros de Lula. O mineiro e algum arroubo de independência que Dilma pode exibir depois que não precisar mais de votos populares. A esperança tucana O PSDB não vai jogar a toalha. Os tucanos estão convictos de que, digamos assim, "falhas metodológicas" nas pesquisas que na semana passada apontaram o aumento da diferença, favoravelmente à adversária, entre ele e Dilma. O tom da campanha está subindo e o ápice deve ser o debate da Globo. A verificar : desde o início da campanha fala-se em uma virada depois do debate. Só para lembrar Está na agenda do PMDB : o projeto que troca o modelo de exploração de petróleo no Brasil de concessão para partilha ainda não foi aprovado pelo Congresso. Como nunca antes O país que sairá das urnas de domingo será um país dividido e com rastros de ódio como nunca se viu antes, nem depois da eleição de Fernando Collor.
terça-feira, 19 de outubro de 2010

Política & Economia NA REAL n° 121

A nova estratégia americana I Muito embora a eleição brasileira seja fundamental para a análise da política e a economia no médio prazo, temos de considerar um novo e importante fator externo na avaliação das perspectivas para 2011. Trata-se da decisão do Fed de recomprar títulos de longo prazo - 10 e 30 anos - do tesouro norte-americano. Com isto o Fed pretende aumentar ainda mais a liquidez do mercado, derrubando a taxa de juros destes títulos e produzindo um movimento adicional de desvalorização do dólar frente às demais moedas, inclusive dos países emergentes, sobretudo a China. Há algum tempo as autoridades dos EUA cogitavam esta estratégia, sobretudo diante da resistência da China em valorizar espontaneamente sua moeda. A nova estratégia americana II Como qualquer estratégia econômica, nada pode ser considerado "certo" nesse processo. Ao contrário : uma eventual desvalorização do dólar americano pode ser compensada por desvalorizações equivalentes das moedas dos outros países. Afinal, o que os EUA tentam é minimizar sua fraqueza econômica por meio de exportações mais competitivas. Nenhum país aceita receber a recessão de outro de forma passiva. Especialmente no caso da Europa, onde o crescimento econômico ainda é frágil. Dessa forma, pode ocorrer uma série de "desvalorizações competitivas" para evitar os efeitos negativos do dólar fraco. O aumento da volatilidade das moedas é talvez o maior e mais indesejado risco neste momento. Por que então os EUA tentam este caminho ? A nova estratégia americana III Claramente o governo de Obama tenta reativar a economia e evitar o doloroso desgaste que vem sofrendo e que pode minar suas pretensões na reeleição de dois anos à frente. Esta nova estratégia, apesar de ser engendrada pelo Fed, tem o apoio da Casa Branca e do tesouro. De outro lado, claramente o governo Obama está priorizando os benefícios internos em detrimento de seus aliados. Estes últimos terão de pagar a conta, mas antes terão de aceitá-la. Logo, o que pode iniciar-se é um processo cheio de senões e riscos e, dependendo do vigor, os riscos podem aumentar muito no mercado. Os efeitos sobre o Brasil Não está claro ainda o que Brasília pensa da nova estratégia americana. O governo brasileiro está de olho mesmo é na eleição presidencial. Todavia, para um país cuja moeda foi a que mais se valorizou nos últimos anos, este assunto é vital. O movimento clássico de reação em termos de política econômica seria o BC reduzir a taxa de juros. O limite desta reação é a política anti-inflação. Assim, dificilmente veremos este movimento do BC nos próximos meses. O que resta ? Mais impostos sobre operações financeiras que se apropriam dos elevados ganhos financeiros no Brasil e a compra - custosa - de dólares no mercado. Ou seja, a possibilidade de uma nova onda de valorização do real é concreta. O risco é a menor competitividade das exportações e os investimentos industriais no país. O novo presidente terá árdua tarefa para executar, tão logo a foto oficial for colocada nas paredes da administração pública Federal. Radar NA REAL 15/10/10   TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA estável alta - Pós-Fixados NA estável alta Câmbio ² - EURO 1,3968 queda estável - REAL 1,6611 estável estável/baixa Mercado Acionário - Ibovespa 71.830,18 estável/alta estável/baixa - S&P 500 1.176,19 estável/alta estável - NASDAQ 2.468,77 estável/alta estável  (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável O espírito de Minas I No início da campanha, quando as candidaturas não estavam nem oficializadas, o senso comum dizia que a sucessão presidencial poderia ser decidida em Minas, segundo colégio eleitoral do país, com seus mais de 14 milhões de eleitores. O raciocínio era simples : igualdade no centro-oeste, grande vantagem de Dilma no norte e no nordeste e no Rio, compensados pela vantagem de Serra em SP e no sul. Os mineiros alterariam a balança. Marina Silva, a inesperada, alterou o equilíbrio. Em Minas, Dilma fez 1,7 milhão de votos a mais do que Serra e não levou no primeiro turno. O espírito de Minas falhou. No segundo turno, porém, ele voltou a levitar e a assombrar tucanos e petistas. O espírito de Minas - II Para quem está estranhando o empenho de Aécio por Serra no segundo turno e para quem acha também que tudo não passa de um jogo de cena do senador eleito : Aécio não tem outra saída, para seu futuro político, do que se agarrar ao PSDB. Não dá para fundar outro partido nem há espaço para ele nas legendas de maior peso como o PT, o PMDB, o PSB. Terá, então, de mostrar serviço aos tucanos e não deixar que Alckmin, totalmente empenhado na campanha de Serra, fixe uma imagem nacional superior à dele. Os dois disputam a futura liderança nacional do partido, mesmo com Serra presidente. Espírito de Minas - III A grande pergunta para a oposição é : qual foi o acordo que fizeram Serra e Aécio em relação a um futuro governo Serra e principalmente em relação a 2014 (ou 2015) ? Lá atrás se dizia que Serra havia oferecido a Aécio, para ser vice, o comando da área social do governo e a desistência da reeleição, com um mandato de cinco anos. (Lula é quem não vai gostar nada de um acordo desses, se vier - e se Serra vencer.) Espírito de Minas - IV Qualquer que seja o resultado da eleição, mesmo com a vitória de Dilma (o que ainda parece o mais provável, segundo as cada vez mais discutidas pesquisas), Lula terá cometido seu mais brutal erro político em Minas Gerais. Erro que no limite pode custar caro a Dilma. Ao impor ao PT mineiro a candidatura de Hélio Costa, do PMDB, para ajudar Dilma, não conseguiu seu intento no primeiro turno (não teve os 2,5 milhões, 3 milhões de vantagem), não derrotou Aécio, destroçou o PT e humilhou os principais líderes locais do partido. E agora, quando Minas voltou a ser o provável centro de decisões, há muitas indefinições, divisões e mágoas na aliança governista local. O espírito do PMDB É maldade dizer que o PMDB está se preparando para botar um pé mais firme no barco serrista, só porque o diretório estadual do RS, governista no primeiro turno, recomendou aos filiados apoio ao candidato tucano no segundo turno. Os líderes peemedebistas, entre uma cobrança e outra ao PT - com certo regozijo, é claro, por terem sido escanteados da campanha de Dilma no primeiro turno e ter dado o que deu - têm reafirmado seu compromisso com a candidata de Lula. Porém, o PMDB está muito low profile nesta fase, estranhamente para quem se diz empenhado em ganhar a eleição presidencial. O PMDB se assanhou porque o PT mostrou que sozinho não sabe ganhar eleições. O partido aumentou seu poder de barganha. E aumenta ainda mais quando flerta, às escondidas, mas não muito discretamente, com os tucanos. A contribuição de Alckmin Alckmin teve para governador neste primeiro turno 2,5 milhões de votos a mais do que Serra para presidente. A contribuição de Lula Durou menos do que uma partida de futebol o arroubo de alguns conselheiros de Dilma em tentar separar a imagem da candidata da de seu mentor. A ideia era mostrar que ela tem autonomia não é apenas uma espécie de "sublula". O cálculo era que ela estava perdendo pontos entre formadores de opinião por parecer que não tem vontade nem ideias próprias. Porém, falou mais alto o cacife de Lula com seus 80% de popularidade e sua perfeita identificação com as camadas populares, o maior contingente de eleitores no Brasil. Falou também, mais alto ainda, a vontade de Lula. A dívida de Dilma e do PT com Lula vai dobrar. À venda As boas casas do ramo ainda têm em seu estoque sandálias da humildade, em modelos masculinos e femininos. Mas só em tese Quanto aos números de oposição e apoios na Câmara e no Senado que cada um se eleito supostamente terá, são números que valem apenas como estatística, só no atacado. Cada projeto importante terá de ser exaustivamente negociado, com toda a carga que esta palavra carrega. Negociação parlamentar legítima e negociação no varejão. Notáveis contabilistas Sincero - ou indiscreto - o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, disse que Dilma (seria o caso de José Serra também) terá de fazer um ajuste fiscal no ano que vem. Pequeno, segundo ele. Não é o que se pensa no ministério da Fazenda nem na campanha da candidata, pelo menos de público. O "fiscalista" José Serra também arquivou estrategicamente o tema em suas falas. Para boa parte dos especialistas independentes, no entanto, o ajuste é um imperativo. E provavelmente nem tão pequeno quanto diz o ministro Bernardo. Com ironia, diz-se até que o futuro presidente terá inicialmente de montar um grupo de trabalho com os notáveis contabilistas da área pública e privada para desvendar os artifícios contábeis adotados para mascarar o superávit primário das contas públicas. Anotem Correios, BNDES, Petrobras, Banco do Brasil, Caixa Econômica... Ainda a Petrobras Não são poucos os investidores que estão se debruçando sobre os números da Petrobras para entender o que está acontecendo de fato na empresa. Alguns advogados, inclusive no exterior, examinam se a empresa cumpriu todas as normas de divulgação requeridas na recente operação de capitalização da empresa. Ademais, há muita curiosidade para saber as razões para tantos analistas terem mudado tão rapidamente de opinião sobre as suas recomendações de investimento em relação às ações da petroleira brasileira. Novidades sobre o tema podem pipocar inclusive antes da conclusão do processo eleitoral.
terça-feira, 5 de outubro de 2010

Política & Economia NA REAL n° 120

Um país dividido Qualquer eleição permite que se faça uma gama enorme de análises dos resultados. Nesta eleição, não foi diferente. Uma das mais notáveis diz respeito à divisão de votos entre Estados ricos e pobres. Do lado de Dilma, sua vitória foi nos nove Estados nordestinos - ganhou em 18 Estados. Enquanto isto, os eleitores de Serra se concentram nas classes mais elevadas e nos Estados mais ricos. Tal divisão terá efeito relevante nos próximos anos no Congresso e nas pressões políticas de regiões mais pobres e demandantes de projetos de desenvolvimento. Assim, a despeito de quem seja o presidente, os projetos presidenciais estarão pressionados por agendas crescentemente inclusivas do ponto de vista social e fiscal. A composição do Congresso - 72% dos parlamentares são governistas - ampliará o poder do PMDB como "fiel da balança", seja quem for o eleito. Exatamente o partido sobre o qual pouco se conhece em relação as suas proposições políticas, sociais e econômicas. Está aberto o caminho para o fisiologismo. Pouco a acrescentar Do ponto de vista programático, o segundo turno não deve trazer nenhuma mudança. Tudo deve ficar na superfície. Os dois candidatos deverão fixar suas críticas em aspectos mais aparentes da personalidade de cada um, bem como nas "bandeiras" partidárias. Tudo sem detalhamento e sem maiores explicações de como governarão. Conversas de bastidores na campanha tucana dão conta que "agora é tirar a máscara de Lula do rosto de Dilma". Isto significa que a luta será mais pessoal que política do ponto de vista tucano. Já os petistas tentarão grudar a imagem de Serra à de FHC, uma estratégia que retira votos, segundo os petistas. As estrelas da propaganda eleitoral continuarão a ser os marqueteiros. O resto é detalhe. Quem é a direita no país ? O DEM, sucessor direto do PDS que deu sustentação à fase final do regime militar é o grande derrotado do momento. Seja do ponto de vista desta eleição, quando o partido perdeu 14 de suas 56 cadeiras, seja na última década, quando o partido perdeu 63 de sua 105 cadeiras, num total de 513. Enfim, o partido não é mais a representação da histórica direita brasileira. Há notória dificuldade dos partidos brasileiros se identificarem como "de direita" ou "liberais" (no sentido clássico da palavra). O que ocorre é que a antiga direita está espalhada em diversos partidos, com maior concentração no PMDB e no PSDB. Mesmo para aqueles que não acreditam mais na terminologia direita/esquerda, temas como a presença do Estado na economia, privatizações e reformas trabalhista e tributária ainda carregam fortes componentes ideológicos. Todavia, a defesa das ideias liberais hoje está a cargo de "facções" ou parcelas dos partidos, já que do ponto de vista orgânico os programas políticos não são nada consistentes. Resta saber se algum partido ocupará formalmente o espaço deixado pelo DEM. A grande razão Há pequenas e grandes explicações para o fato de Dilma, favorita absoluta (mesmo descontando-se as vacilações dos institutos de pesquisa) ter escorregado para o segundo turno, quando tinha tudo para levar no primeiro. Entre elas, o caso do sigilo fiscal, as estripulias da família Erenice e até as vacilações da candidata oficial na questão do aborto. Cada uma dessas coisas, no último mês, tirou pontos da candidata. Mas a questão crucial foi outra, definida em dois vocábulos - arrogância e humilhação. A prepotência exibida pelo presidente Lula quando sua predileta ganhou fôlego, o ar superior de quem sabe tudo, o sorriso superior dos vitoriosos, somados à agressividade com que passou a tratar concorrentes e imprensa, assustaram. Completou este quadro a ameaça de extirpar os adversários, humilhá-los. O brasileiro é cordato, cordial (num estilo, aqui, diferente do definido por Sérgio Buarque) e costuma optar ou simpatizar com a vítima. Certo que se Dilma tivesse aparecido mais como ela mesma e menos como um apêndice de Lula, nada disso teria tido influência decisiva. Porém, como criatura não se desgrudou do criador, foi engolfada pelos sustos que ele causou. Um exemplo Caso mais típico da reação do eleitor com as ameaças de Lula deu-se em SC. Foi lá que Lula ameaçou extirpar o DEM da vida política nacional. Pois bem, naquela ocasião Raimundo Colombo, o candidato do partido, liderava a pesquisa local, mas não levava no primeiro turno. Pós-ameaça foi crescendo e ganhou no primeiro turno. Chá de sumiço Desde domingo pela manhã, quando passou a admitir que poderia haver segundo turno, o sempre eleitoralmente loquaz e onipresente Lula, recolheu-se. Passou a manifestar-se apenas por meio de porta-vozes oficiais e oficiosos. Para estes, traça estratégias e retempera as forças para o segundo turno. Para quem conhece Lula, ele curte frustrações e mágoas. Um grande equívoco Na contabilidade negativa do governo nesta eleição está também o fato de não ter levado a sério, ter subestimado a candidatura Marina Silva, ter até tentado em alguns momentos humilhá-la. Marina, como alguns previram, inclusive esta coluna, num texto lá atrás sobre o fator Marina, virou um pequeno fenômeno, com possibilidades de crescer se for bem gerido. Hoje, Dilma, uma das principais responsáveis pela saída de Marina do ministério do Meio Ambiente de Lula, tece loas à ex-companheira. No privado, porém, o que se diz dela, do PV e dos grupos sociais que a apoiaram não é nada publicável. Mágoas Lula não deveria estar insatisfeito. Afinal, fora o segundo turno, teve umas vitória em regra. Eliminou até alguns dos adversários mais jurados por ele, como os senadores Tasso Jereissatti, Arthur Virgílio e Marco Maciel. Mas como ele se pôs como principal missão este ano no governo eleger Dilma, deu um frio na barriga. Embora Dilma saia como franca favorita (independente do que digam os institutos de pesquisa). Reinvenção Por falar em institutos de pesquisas, eles erraram mais do que acertaram este ano, alguns mais que os outros. Vão ter de rever metodologias, métodos e motivações. Não dá para institutos trabalharem para governos, candidatos, partidos e ao mesmo tempo se pretenderem neutros. Não dá também para entender como entidades sustentadas por dinheiro público - CNT, CNI, com imposto sindical - patrocinem pesquisas eleitorais. Não é do escopo de suas atividades. O dilema da oposição : o que fazer ? Se quiser ter alguma chance no segundo turno, a oposição terá de descobrir primeiro onde e como Lula, Dilma e parceiros falharam. Afinal, o governo foi para o segundo turno mais por sua obra e graça do que pelas virtudes da oposição. Depois, terá de ser mais incisiva, mais agressiva, mais propositiva, com linguagem menos empolada. Sem perder a ternura, porém. E agora, Serra ? Aloysio Nunes provou, na sua campanha, que Fernando Henrique não tira votos, pode até acrescentá-los. E agora, Aécio ? O ex-governador de Minas, eleito apoteoticamente senador, não tem mais a desculpa de que precisava ficar restrito regionalmente para garantir seu poder no Estado. Está livre para voar com Serra. Alckmin, seu principal concorrente na futura liderança nacional tucana, vai voar. Injunções eleitorais A decisão do ministro da Fazenda, Guido Mantega, uma dia após o primeiro turno, de anunciar a duplicação do IOF na entrada de capital estrangeiro no país é a maior prova de quanto o cálculo das urnas conta nas considerações de ordem econômica no momento. Cabe perguntar : o que poderá vir depois de 31 de outubro. Para temer O governo fez maioria na Câmara e no Senado suficiente para aprovar, sem sufoco, qualquer projeto de seu interesse, até reformas constitucionais, ignorando a oposição. Para não temer Se a oposição, o que hoje se afigura quase impossível, vencer a eleição presidencial, não há o que temer : em 15 dias ele terá maioria no Congresso. Explicação Por que a cara de total constrangimento de Michel Temer e Guido Mantega no palanque em Brasília na noite de domingo quando Dilma apareceu para falar do segundo turno ? Aliás o que fazia lá o ministro da Fazenda se não fosse para a festa da vitória ?
terça-feira, 28 de setembro de 2010

Política & Economia NA REAL n° 119

Dilma, o novo governo e a quadratura do círculo - I As pesquisas continuam dando vantagem suficiente para Dilma Rousseff para vencer no primeiro turno. Tirar cinco ou seis milhões de votos da candidata oficial nos cinco dias que faltam para eleição é algo muito próximo do milagre. Isso embora a perda de cinco pontos na vantagem da escolhida de Lula sobre os adversários tenha criados esperanças na oposição e certo temor no governo. Assim, é provável, bem provável, que o Brasil amanheça segunda-feira com sua primeira mulher eleita presidente da República. Parte da sociedade, especialmente aqueles que têm a ganhar ou a perder mais diretamente com a forma que são conduzidos, direcionados os negócios do Estado, já se dão ao esporte de especular a respeito de quem será quem no futuro governo Dilma e que rumos ele tomará. Não há indicações precisas, pois a par de Dilma passar boa parte do tempo enevoada pelo marketing e pela presença avassaladora do presidente Lula, quando falou mais abertamente, deu sinais contraditórios. Dilma, o novo governo e a quadratura do círculo - II Um discurso para cada público foi a tônica oficial. Empresários acreditam que a reforma trabalhista virá, destravando as regras de contratação e dispensas de empregados e reduzindo os custos fiscais da mão-de-obra. As centrais sindicais estão convictas de que estas questões serão exacerbadas, do ponto de vista deles. E não houve programa de governo para ser cobrado oficialmente, apenas rascunhos e promessas. O governo terá de se formar no dia a dia. Sob fortes pressões do que a sociedade acreditou que Dilma faria e as ambições políticas e de outro teor dos parceiros de jornada - Lula, PT, PMDB, aliados menores, centrais sindicais... A tendência de Dilma, até para não começar com atritos, é tentar contentar a todos. Será como encontrar a quadratura do círculo. O grande perdedor Lula - ele e quase mais nada - confirmada Dilma presidente, terá ganho a eleição presidencial. E a oposição perdeu para ela mesma, desde que passou oito anos sem saber se opor e perdida em sua fogueira de vaidades. Para se recompor, terá primeiro de tomar um banho de humildade. Contabilidade Não é preciso esperar os últimos dias de campanha, que prometem ainda bom aquecimento, para algumas constatações : 1. Foi, de um modo geral, a campanha mais rica do país em todos os tempos. Não devemos descartar futuras histórias de caixa dois pipocando. 2. Foi a campanha mais pobre em ideias, discussões consistentes e debates de programas de nossa vida política. 3. Foi a campanha mais agressiva, mas radicalizada que já tivemos, embora não tenha alcançado algumas baixarias como a de 1989. 4. Foi a campanha em que os plantonistas de poder - no âmbito Federal e no âmbito dos Estados - mais envolveram as máquinas públicas em favor de seus candidatos. 5. Foi a eleição que menos atraiu a atenção dos eleitores. Realidade ou estratégia ? Depois de semanas de ataque cerrado à "mídia golpista", Lula baixou o tom. Essas idas e vindas dele em relação à imprensa são periódicas. Um dia Lula chegou até a dizer que não lia jornais para não ter azia. O que teria levado o presidente a conter sua escalada ? Há dúvidas, mas a melhor aposta é a de que o confronto chegara a um ponto que não estava favorecendo a candidatura de Dilma. A dúvida é se é uma retomada do bom senso ou apenas um recuso estratégico. Nem Lula, nem o partido dele, escondem que seus conceitos de liberdade de imprensa e liberdade de expressão são os mesmos vigentes no Brasil e nas mais avançadas democracias do mundo. De outras fontes Não somente dos sonhos autoritários de parcelas do universo político-burocrático se alimenta a ameaça à liberdade de imprensa. Também do poder responsável pela preservação da Constituição e das leis, o monstro também solta labaredas tenebrosas. Por obra e graça do Judiciário em Brasília o jornal O Estado de S. Paulo está sob censura há 424 dias, completados hoje, por conta de estranhas histórias da conexão oficial Maranhão - Capital da República. Por diligência da Justiça de Tocantins, 84 órgãos de imprensa estão proibidos desde ontem de publicar notícias sobre as extravagâncias do governo estadual. Nos dois casos, protege-se uma gama de suspeitos de corrupção. O medo dos dois documentos Na última hora - a lei foi aprovada há dois anos e regulamentada há tempos pelo TSE - o PT entrou no STF com uma ADIn contra a obrigação de o eleitor apresentar dois documentos - o título de eleitor e outro com foto - na hora de votar, sob pena de exercer esse direito. Há temor de que muitos eleitores se esqueçam dessa exigência e não possam botar seu voto na urna. O que poderia aumentar significativamente o índice de não votantes no país. Tradicionalmente, ele já é alto, em torno de 20%. No eleitorado de hoje, cerca de 27 milhões de votos. O PT parece desconfiar que o eleitor que mais se dispõe a votar em Dilma (seus índices entre as classes D e E e de baixa escolaridade são estratosféricos) é o que mais estaria a não votar por esquecimento ou falta de um dos dois documentos. Pode ser. Porém, não seria uma demonstração de preconceito de quem se diz tão ligado ao popular ? Em tempo : a exigência é dessas coisas que somente nossa tradição burocrática, cartorial, explica. Estelionatos eleitorais Embora o ministro Guido Mantega anuncie - e de vez em quando até adote - medidas para conter a excessiva valorização do Real, a verdade é que o dólar continua patinando frente à moeda brasileira. O governo parece não querer fazer onda em período eleitoral. Faz lembrar FHC em 1998. Na ocasião muitos especialistas e empresários alertavam para o Real valorizado e para os problemas que isto trazia para a economia, as contas externas e a competitividade das indústrias nacionais. Em busca da reeleição, FHC ignorou as advertências. Depois das eleições, para evitar uma crise, teve de soltar a moeda. Começou neste momento a perda da confiança da sociedade. Havia sido reeleito em primeiro turno. Saiu do governo com popularidade regrada. Foi, de acordo com seus adversários, o segundo "estelionato eleitoral" da história da política brasileira pós-ditadura militar. O primeiro foi de José Sarney escondendo o fracasso de Cruzado em 1986. Deu no governo mais impopular de nossa Nova República. Sem subterfúgios O STF se apequenou na questão dos "fichas sujas". E ainda terá de assistir ao escárnio de Joaquim Roriz talvez chegar ao governo do DF por uma interposta laranja - a própria mulher. Como o processo de Roriz se extingue, os ministros não terão como julgar antes das eleições se a lei vale agora ou somente a partir de 2011. Depois das eleições, como cassar eleitos pela vontade popular ? Há no ar um impasse político sério. No Congresso, já há propostas para mudar as regras de fidelidade partidária impostas pelo STF. Não será surpresa - já se fala nos partidos - que venha também uma proposta para invalidar cassações pós-eleição. Afinal, a lei "ficha limpa" foi aprovada com má vontade e para não valer este ano por deputados e senadores. E, afinal, cinco ministros do STF disseram que em certas circunstâncias a lei pode retroagir. Fazendo escola Na esteira de Roriz, outros complicados na Justiça, como Cássio Cunha Lima, Jader Barbalho e Paulo Rocha, pode também indicar laranjas para seus lugares. E os votos ? Que será feito dos votos dos "fichas sujas" das eleições proporcionais se eles forem cassados ? Se forem anulados, poderão alterar as bancadas dos partidos na Câmara e nas Assembleias, alterando o que o eleitor expressou nas urnas, votando no candidato de tal ou qual legenda. Se não forem anulados, teremos parlamentares beneficiados pelos "fichas sujas", maculando o espírito da lei. Não será pouca coisa. Pela última contagem oficial, são 228 candidatos de 25 partidos com candidaturas impugnadas. Coisas de outro mundo Sindicato de Jornalistas (o de SP) dando guarida a manifestações contra a imprensa. OAB/SP defendendo a censura a uma obra de arte. O Brasil é mesmo um país surrealista. Ações da Petrobras e desenvolvimento humano De fato, foi um sucesso. De público e de palanque. Porém, há questões a observar : 1. Muitos princípios da boa governança corporativa foram simplesmente para a lata de lixo, sob o olhar complacente de muita gente boa, como a CVM e BMF/BOVESPA. 2. Vendeu-se o futuro para consumir no presente. 3. O governo vai pegar algo entre R$ 20 e 30 bilhões do dinheiro da capitalização para pagar despesas correntes e fingir que faz um superávit primário de qualidade quando é pura lambança contábil. 4. O acionista minoritário foi desrespeitado ao extremo, como nunca antes... Há muita coisa a ser esclarecida, a começar pela engenharia financeira entre Tesouro, BNDES, fundo de pensão das estatais. Guimarães Rosa ensina que o diabo mora nos detalhes. Apesar de tais e outros senões, tudo oficialmente cheira a mil maravilhas. Foi o maior lançamento da história do capitalismo, a BOVESPA já é a segunda maior bolsa do mundo, a Petrobras está prestes a se tornar a quarta maior empresa do planeta. Num país, cujo IDH - Índice de Desenvolvimento Humano é o 75º do mundo. E ainda há gente rindo à toa. Sustentação do crescimento é vital A sustentação do crescimento econômico ainda é o ponto-chave para economia brasileira. Muito embora o país tenha superado o pessimismo que imperava em relação ao tema, a taxa de investimento público e privado continua relativamente baixa para que tenhamos convicções sobre o nível de crescimento que pode ser tolerado sem que existam processos de elevação da inflação. O mercado estima um crescimento para o ano que vem ao redor de 4,5% o que representará uma desaceleração significativa em relação a este ano quando o PIB deve crescer acima dos 7%. O PAC é importante neste sentido e, enquanto plano de investimento em infra-estrutura, necessário ao país. O problema é que este carece da prometida velocidade, fruto de problemas gerenciais, e de um maior estímulo à parceria com o setor privado. O próximo governo terá que administrar este processo com muito cuidado. O risco em relação ao tema é muito maior que a sua aparência. A "herança maldita" de Lula Não são poucos os vazamentos da cúpula da campanha da petista dando conta de um "ajuste fiscal" logo no início da gestão de Dilma. Bem, este assunto está muito longe de ser consenso entre os ideólogos da candidata e, até mesmo, da própria, conforme já reportamos nesta coluna nas últimas semanas. Porém, é possível que este ajuste não seja apenas necessário. Talvez seja "exigido" pelo mercado para que o Brasil permaneça como queridinho dos investidores internacionais. Obviamente, o país é soberano e pode navegar em águas mais turbulentas, mas o que parece é que os investidores estão menos condescendentes com os indicadores brasileiros. Testarão a política econômica de Dilma logo no início de sua gestão. Se ela ganhar, é claro. O Brasil vive uma "bolha" ? - I Os principais centros financeiros mundiais estão vivendo um período de revisão de projeções para o próximo ano. Os analistas estão quase que repetindo os mesmos diagnósticos em relação aquilo que prognosticaram para 2010. Os mercados emergentes persistirão como os mais promissores enquanto as economias centrais persistirão em ritmo lento. Esta coluna conversou com alguns analistas de importantes instituições internacionais. Há preocupações crescentes com o Brasil, apesar de pouca coisa acabar sendo escrita - os grandes negócios que têm sido feito com as empresas brasileiras moderam opiniões mais contundentes. A deterioração das contas públicas, a baixa taxa de investimento, o déficit externo (crescente e baixa competitividade das exportações de manufaturados), a corrupção e a fragmentação política, são alguns dos aspectos que ocupam as mentes dos analistas. O Brasil vive uma "bolha" ? - II Quando se olha o preço dos ativos brasileiros em reais a valorização foi estupenda ao longo dos últimos anos e, principalmente, depois da recessão mundial do período 2008/09. Apesar desta valorização, em termos relativos tais ativos não parecem caros. No caso do mercado de ações o índice preço da ação/lucro por ação (P/L), um dos mais utilizados no mercado, gravita ao redor de 12x, o mesmo patamar dos EUA. Teoricamente o crescimento dos lucros por aqui será maior que no caso dos EUA. Por esta lógica, vale a pena recomendar ações brasileiras, apesar destas não serem a "barganha" de há alguns anos. O problema, dizem estes analistas, é que grande parte das empresas brasileiras é de produtoras de commodities que tem pouco conteúdo tecnológico e são dependentes do desempenho da economia mundial. Assim, o baixo risco aparente do mercado não é tão baixo assim. Quando se coloca este aspecto "micro" sob os holofotes dos "macros" (conforme consta na nota anterior) é que o medo de que o Brasil esteja numa "bolha" aparece. Radar NA REAL 24/9/10 TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA estável alta - Pós-Fixados NA estável alta Câmbio ² - EURO 1,3478 queda estável - REAL 1,7084 estável estável/baixa Mercado Acionário - Ibovespa 68.196,47 estável/alta estável/baixa - S&P 500 1.145,95 estável/alta estável - NASDAQ 2.380,40 estável/alta estável (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável
terça-feira, 21 de setembro de 2010

Política & Economia NA REAL n° 118

Ao vencedor, as batatas I Não há quem não perceba que o grande eleitor dessas eleições foi Lula. Sem ele, sem sua imposição e sem suas ações o rumo do processo eleitoral poderia ter sido muito outro. Se Lula tivesse agido como FHC em 2002, a disputa presidencial este ano seria certamente muito diferente - muito mais acirrada do que está. O candidato governista de fato é Lula - com sua realidade e a extraordinária mitologia popular que foi se formando em torno dele. É isto que explica a razão pela qual, denúncia vai, denúncia vem, e Dilma permanece impávida nas pesquisas eleitorais. No imaginário da maioria da população, ela é apenas, como diz o povo humilde do nordeste, a "muié do Lula". E vai fazer tudo o que o seu senhor mandar. Eis então o grande mistério da fé lulista : qual será o papel de Lula num futuro governo Dilma ? Observador ou mentor ? As indicações são as de que o presidente não se reserva apenas para platitudes. Ao vencedor, as batatas II Pelos sinais emitido por Lula, passando a sensação de que pode estar nascendo, com um prestígio nunca antes visto, um novo condestável da República, e depois do "recado" quase direto do ex-ministro José Dirceu de que o PT terá papel preponderante no provável futuro governo comandado pela favorita nas pesquisas, surgiu um outro mistério de fé, este de parte da sociedade : qual será o papel Dilma num futuro governo Dilma Rousseff. Ao vencedor, as batatas III O terceiro mistério da fé da política brasileira atual é a função a ser destinada ao PMDB : é parceiro preferencial na aliança, sócio-cotista com o mesmo número de cotas do PT no condomínio do poder - como querem os peemedebistas - ou como um parceiro secundário, com cargos vistosos, mas sem capacidade de decisão (como sonha Dilma) ? A definição desses mistérios dará os rumos do governo Dilma, sua opção preferencial entre o pragmatismo lulista, o ideologismo do PT que Dirceu encarna ou o fisiologismo do PMDB. Para equilibrar essas tendências Dilma terá de mostrar uma habilidade política e uma liderança até aqui adormecidas em seu currículo. Para evitar confrontos Não é à toa que até agora a aliança oficial não apresentou seu programa definitivo de governo, elaborado por uma comissão de "notáveis" sob o comando de Marco Aurélio Garcia. Nem mesmo o prometido resumo de 13 princípios prometido há mais de dois meses. Nem apresentará para não fazer "marolinhas". No máximo, o que se vê são promessas na campanha e balões de ensaio na imprensa para acalmar algum setor da economia. Ajuste fiscal ? - I Com a "inconfidência" de José Dirceu de que Dilma, no governo, representa a opção pelo projeto do PT - o que Lula não representou por ser "duas vezes maior" que o partido -, voltaram a circular informações, de fontes ocultas, que a ex-ministra caso eleita como indicam as pesquisas, promoverá um ajuste nas contas oficiais. Um antídoto contra o temor que certas ideias petistas em matéria de economia causam em determinados agentes econômicos. Porém, Dilma parece pender mais para Zé Dirceu do que para, por exemplo, Antonio Palocci. Veja-se, a título de ilustração, o que ela disse recentemente em entrevista ao jornal O Globo : "O papo de ajuste fiscal é a coisa mais atrasada que tem. Não se faz ajuste fiscal porque se acha bonito. Faz porque precisa. E eu quero saber : com a inflação sob controle, com a dívida caindo e com a economia crescendo, vou fazer ajuste fiscal para contentar a quem ? Quem ganha com isso ? O povo não ganha." Até algum ajuste verbal ao contrário, ajuste fiscal em governo Dilma é conversa para engambelar a elite econômica e financeira e os economistas neoliberais. Ajuste fiscal ? - II Parece ter o mesmo sentido "engambelatório" a informação, também com origem desconhecida, de que Lula está disposto, principalmente depois das eleições, a fazer tudo que se mostre necessário para que Dilma possa começar seu governo com tranquilidade, sem riscos de desgostar eleitores. Até maldades se elas forem mesmo indicadas ? Para lembranças : Fernando Henrique, com Pedro Malan e Armínio Fraga, fizeram duas elevações pesadas na taxa de juros em seus últimos 15 dias de governo, evitando assim que Lula iniciasse sua gestão com tão impopular medida. Esta foi uma das muitas heranças malditas que FHC deixou para seu sucessor. Alvo Jornalistas e órgãos de imprensa de valor não entregam seus informantes, o sigilo da fonte é matéria de fé. Se entregassem, porém, salvariam da angústia algumas almas corroídas do petismo de fé com Dilma, ensandecidos para descobrir de qual trincheira amiga partiram os obuses que abateram Erenice Guerra : se de companheiros abespinhados com o prestígio de outros companheiros ou se de aliados agastados com perdas de espaços postais. Assim, sumiram discretamente as alegações oficiais que as histórias do sigilo fiscal e das estripulias guerreiras seriam tramóias da oposição. E se fosse poderosa ? A "imprensa comprometida, fraca, mentirosa", com uma semana de noticiário derrubou quatro pessoas no governo Federal, entre elas uma ministra e um diretor dos Correios, e deixou ao relento membros da família Guerra que se aboletavam na administração. Já pensaram se ela fosse forte ? Que estragos ! Mais que uma ameaça ? Depois do discurso de José Dirceu na Bahia e do recrudescimento dos ataques do presidente Lula à mídia, é difícil não imaginar que não esteja vindo por aí alguma coisa, patrocinada por Lula ou mesmo por Dilma, para conter o "excesso de liberdade da imprensa" existente hoje no Brasil segundo classificação do ex-ministro chefe da Casa Civil. Na mira, a prefeitura de São Paulo O produto principal da campanha petista em São Paulo é a eleição municipal de 2010 na capital paulista. Aloizio Mercadante foi para o sacrifício - trocou uma reeleição para o Senado quase certa por uma derrota anunciada para o governo estadual - para aumentar seu cacife na sucessão de Gilberto Kassab. Marta Suplicy faz da ida para o Senado e do sonho de um novo ministério com Dilma como sua plataforma para a prefeitura. Os dois sonham reconquistar o lugar de novo para o PT, ainda mais que vêem a atual situação local sem um candidato incontrastável e prestes a se dividir. Um, agora nem muito nas aparências, deseja enfeitar o bolo do outro. Marta faz uma campanha quase do "eu sozinha" e os petistas de Mercadante fazem festas para o sambista Netinho emplacar uma votação bem superior à da ex-prefeita. Último suspiro A derradeira esperança da oposição são os desdobramentos do escândalo da Casa Civil da família Guerra, com ramificações nos Correios e possíveis tentáculos também na ANAC. Por enquanto. Calcula-se que Dilma teria de perder cerca de 7% nas suas intenções de voto hoje, transferidos para Serra e/ou Marina para provocar o segundo turno. Quinta e sexta-feira teremos três novas pesquisas, iniciadas ontem, que dirão se as estripulias guerreiras terão efeito sobre o eleitorado maior do que teve a história do sigilo fiscal da filha de Serra e outros quatro tucanos. Este, pelo menos até agora, teve um efeito puramente marginal, atingindo apenas alguns formadores de opinião. O outro, porque ocorreu no lugar onde Dilma operava e por tratar de coisas mais próximas à população - corrupção, empreguismo - tem mais apelo eleitoral. Foi por perceber isto, talvez movido por pesquisas internas, que Lula chutou tão rapidamente Erenice Guerra do Palácio do Planalto. Ela não teve o mesmo período sabatino que beneficiou Dirceu e Palocci antes de serem defenestrados. Mesmo sendo a esperança a última que morre, oposicionistas mais prudentes tratam já de se preparar para o futuro. Como oposicionistas. Afinal, não basta apenas ir para o segundo turno. Será preciso depois arrumar um discurso que desconstrua o prestígio e a estratégia do grande eleitor. O outro lado da oferta da Petrobras A oferta de novas ações da Petrobras será um sucesso em que pese os aspectos menos claros da operação, sobretudo no que tange à possibilidade de diluição da posição dos acionistas não-controladores por parte do governo. A capitalização ficará próxima dos R$ 135 bilhões, um patamar significativo. Todavia, há uma questão de fundo que mereceria maior discussão pela sociedade : esta capitalização servirá como plataforma para uma extraordinária expansão dos investimentos da estatal no setor petrolífero. É interessante que o país invista tão massivamente neste setor ? Os aspectos ecológicos estão sendo levados em consideração ? O cálculo dos custos de extração é razoável ? Os investidores estão cientes do fato de que o retorno do pré-sal se dará no longo prazo ? Resta saber quem neste momento eleitoral está disposto a discutir o tema... Novas medidas para conter a queda do dólar Está aberto de novo o debate sobre o excesso de valorização do real frente ao dólar. Comenta-se que o governo poderia comprar dólares via Fundo Soberano e/ou mercado futuro (swap reverso). Ora, a valorização do real não é um fenômeno natural e imprevisível. Resulta da fraqueza da economia mundial frente à fortaleza da demanda interna e, principalmente, em função do desequilíbrio entre a taxa de juros doméstica e a externa. (O Brasil paga em termos nominais quase três vezes a taxa de juros dos títulos do Tesouro dos EUA). Portanto, as medidas que possam ser adotadas agora e à frente para administrar o câmbio terão efeitos passageiros e a tendência de queda do dólar permanecerá. Repensar a política cambial requer um exame muito profundo de todo o modelo, inclusive do ponto de vista dos efeitos sobre o nosso processo de industrialização. Assuntos (externos) eleitorais esquecidos Alguém lembrará dos temas de política externa durante esta campanha eleitoral ? Como será a política brasileira em relação ao Irã ? Como ficarão as relações com a Bolívia, grande fornecedora de gás para o país ? O governo Dilma se manterá distanciado dos EUA ? Como será a postura do Brasil em relação à licitação dos aviões de caça da Força Aérea ? Como serão tratados os contenciosos comerciais do país na OMC ? O Mercosul continuará a evoluir lentamente ? Como serão as relações do Brasil com o FMI ? Qual a estratégia do futuro presidente caso Hugo Chávez venha a ser derrotado nas próximas eleições parlamentares do país ? Temas relevantes numa campanha pobre de ideias e debate... Radar NA REAL Houve uma saudável estabilização dos diversos segmentos do mercado financeiro e de capital ao redor do globo. Os investidores estão mais calmos e cientes de que a crise é longa e que a liquidez persistirá elevada enquanto um dos elementos essenciais para que o desemprego seja reduzido. Assim sendo, na semana passada tivemos a valorização de grande parte dos ativos de risco. O Brasil segue na sua trajetória positiva e deve continuar a ser uma dos países prediletos pelos investidores. Não alteramos o nosso radar nesta semana de vez que já tínhamos feitos muitas e significativas alterações na semana passada. 17/9/10   TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA estável alta - Pós-Fixados NA estável alta Câmbio ² - EURO 1,3078 queda estável - REAL 1,7185 alta estável/baixa Mercado Acionário - Ibovespa 67.089,12 estável/alta estável/baixa - S&P 500 1.125,59 estável/alta estável - NASDAQ 2.315,61 estável/alta estável (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável Desemprego estável Há claras evidências de que as autoridades econômicas das principais economias mundiais afinaram o discurso e as políticas e manterão a altíssima liquidez para sustentar o consumo e, em menor medida, o investimento. Todavia, não deixa de ser gritante o fato de que a taxa de desemprego sequer dá mínimos sinais de melhoria na maioria dos países desenvolvidos. Vai mês, vem mês e a taxa de desemprego não oscila. Trata-se de um péssimo sinal : a confiança para investir e consumir permanece baixa, muito embora certos indicadores antecedentes de expectativas mostrem sinais de melhoria. Na hora do consumo, contudo, o consumidor acaba por conter o próprio ânimo. Nos EUA, a paciência do eleitor/consumidor será testada nas próximas eleições parlamentares de novembro. Os lobistas e os bancos oficiais Reparados os supostos fatos envolvendo a ex-ministra Erenice e seu filho, um "consultor" especializado na atração de recursos oficiais para empresas e projetos privados, não seria o caso de se pesquisar com mais afinco os critérios, padrões e formas de deliberação que os bancos oficiais adotam na concessão de crédito e efetivação de investimentos junto ao setor privado ? Há algo de muito obscuro na interação entre certos "consultores" e o setor público. Com a palavra o TCU e os políticos...
terça-feira, 14 de setembro de 2010

Política & Economia NA REAL n° 117

A política como maior risco I Não é preciso ser um "cientista político" com vasto cabedal de cultura e informação para perceber a substancial ausência de funcionalidade do sistema político brasileiro. Os avanços econômicos do país nos últimos vinte anos e, acentuadamente nos últimos dez, não foram acompanhados por mudanças equivalentes - para melhor - no sistema político. Os partidos, sejam os de oposição, sejam os governistas, não representam sequer razoavelmente os maiores e melhores anseios da sociedade. Todavia, cumprem o papel de "mediação" dos mais diferentes interesses e, neste campo, exercem barganhas que retardam a modernização do país. Um jogo de interesses corporativos, pessoais e que favorecem a corrupção, o tráfico de influência e a defesa dos piores interesses. A política como maior risco II Lula foi um hábil administrador da aliança política que sustenta seu governo e sua popularidade; foi uma espécie de garantia de que não houvesse maiores desequilíbrios entre o Legislativo e Executivo, face o perfil da política descrito na nota acima. Ora, a provável eleição de Dilma em outubro não resistirá ao teste de sua capacidade de administrar tal aliança sustentada por múltiplos e, em muitos casos, duvidosos interesses. É difícil imaginarmos substantivos riscos do lado econômico no curto e médio prazo (um ano à frente). Porém, os riscos políticos são enormes e a contradição entre as ideologias, as ambições em relação ao poder instalado pelos votos, a distribuição vertical e horizontal do poder nos estados e a influência do atual presidente sobre o novo governo, indicam que a tarefa da nova presidente será muito delicada. O risco, em suma, é a - pequena - política contaminar a economia. E isto não é algo que esteja tão visível neste momento em que os agentes econômicos comemoram o excelente desempenho da economia e dos negócios. A política como risco maior III Pelas indicações possíveis, a provável futura presidente terá uma maioria da Câmara e no Senado como nunca antes neste país teve outro presidente em nossa história política recente, a não ser o dos ciclos militares, por razões óbvias. E é nisto que estaciona o perigo : nenhum Congresso, em tempos recentes, pelo abandono da política na campanha, será tão fisiológico e tão glutão quanto o que espreita o Palácio do Planalto na curva de 2011. Até com um primeiro-ministro "ad hoc". "Instituições em frangalhos" Este foi o título de um nunca esquecido editorial do jornal "O Estado de S. Paulo" no dia 13 de dezembro de 1968, um dia após a edição do famigerado AI-5 pelo governo militar de turno. Caso sigilo da Receita, negócios na Casa Civil, a reação do governo e dos governistas... instituições em desmoralização. A taxa de câmbio. De novo. A relativa fraqueza das economias centrais em relação à brasileira e a elevada taxa de juros local podem motivar uma nova rodada de valorização do real frente às principais moedas internacionais. Isto não apenas gerará o custo, digamos, "conjuntural" às nossas exportações. Há riscos sérios em relação ao processo de industrialização do país no médio e longo prazo. Não à toa a China continua cuidando com esmero em não provocar nem maiores turbulências na sua taxa de câmbio e nem maior valorização da sua moeda. O país olha o futuro mais distante. Por aqui, este tema está restrito a poucas conversas de bastidores e à percepção de que os artigos importados e as viagens internacionais valem a pena. Neste fim de governo Lula e início do próximo governo será a taxa de câmbio o tema mais importante para os programadores da política econômica. Por enquanto, há pouco a ser feito. Paranapanema e Vale Pessoas próximas à operação de aquisição da Paranapanema, cujo leilão fracassou, estão especulando muito sobre o que teria acontecido para que o casamento não se realizasse. Ora, sabia-se da pressão do governo para que esta fusão fosse realizada e também era conhecido o preço (R$ 7,50 por ação) que os fundos de pensão venderiam as suas posições para a Vale. A oferta da Vale foi baixa e os fundos ficaram inertes. Perguntam alguns dos envolvidos : (i) teria a Vale apenas feito um "jogo de cena" fazendo na aparência o que o governo queria e na prática deixando que a operação fracassasse ?; (ii) estariam os fundos de pensão demonstrando "independência" perante um governo que tem interferido muito nas suas estratégias de investimentos ? Ora, não se sabe a resposta para tais questões, mas que o tema é intrigante, isto é mesmo ! Fed em ação A fraqueza da recuperação da economia norte-americana deve motivar uma nova rodada de queda da taxa de juros dos títulos de renda fixa com prazos mais longos (5 e 10 anos). Há evidências de que o Fed vai fazer novos estímulos monetários para que a economia cresça. Nas próximas semanas é possível e provável que os mercados de ativos reais, incluindo o de ações, reajam a esta expectativa e subam. Será provavelmente algo passageiro, mas poderemos ver mais otimismo entre os investidores que voltaram das férias de verão no hemisfério norte sem muito apetite por ativos de risco. Portugal e Irlanda O euro tem caído no mercado internacional por conta de muita especulação sobre a solvência de alguns países europeus, no caso, Portugal e Irlanda. Resta saber se a Alemanha e a França, sócios mais poderosos da UE vão deixar estes países ao sabor das especulações dos hedge funds e tesourarias de grandes bancos. A economia grega pagou caro pela postura desunida da União. Mais capital para os bancos A decisão deste final de semana dos 27 principais reguladores de sistemas financeiros reunidos na Basiléia num encontro do Comitê de Supervisão Bancária imporá mais rigores ao sistema financeiro mundial. Em oito anos, o volume de capital próprio dos bancos necessário para a execução das operações bancárias dobrará. Trata-se de um aperto forte para evitar novos colapsos financeiros como o ocorrido em 2008. Os reguladores continuam tentando impor medidas que retirem os temores dos investidores em relação ao sistema financeiro mundial. No Brasil, tais medidas também influenciarão aos políticas do BC em relação aos bancos, apesar de não haver nenhuma desconfiança em relação a higidez de nosso sistema. Radar NA REAL Alteramos algumas das nossas posições no radar. Como informamos em nota acima, a queda dos juros de longo prazo no exterior podem motivar maior fluxo de recursos para os ativos de risco. É difícil prognosticar os efeitos e a duração deste processo, mas este nos parece mais provável que incerto. Se será sustentável, é muito mais difícil afirmar. Todavia, os sintomas de que este movimento pode acontecer são múltiplos : volta dos investidores ao mercado de commodities (sobretudo no mercado de metais e energia), maior ingresso de recursos nos fundos de ações nas principais economias, declarações de diversos "formadores de opinião" mundo afora, bem como de autoridades governamentais. Assim sendo, estamos alterando a tendência de curto prazo das moedas (euro se desvalorizando e real e dólar dos EUA se valorizando), mercados de ações para cima e taxas de juros externas declinando. Veremos as próximas semanas. 10/9/10 TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA estável alta - Pós-Fixados NA estável alta Câmbio ² - EURO 1,2718 queda estável - REAL 1,7222 alta estável/baixa Mercado Acionário - Ibovespa 66.806,69 estável/alta estável/baixa - S&P 500 1.109,55 estável/alta estável - NASDAQ 2.242,48 estável/alta estável (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável Frente anti-PMDB ? Os peemedebistas estão na muda, quietos como nunca. Não querem ser responsabilizados por qualquer tropeção desestabilizador na campanha de Dilma. De aloprados bastam outros parceiros mais coroados. Mas se não estão preocupados, deveriam estar. É cada vez mais visível que se arma na aliança governista uma espécie de "subaliança" para se contrapor ao poder que se acredita o PMDB tirará das urnas. Motivo pelo qual algumas derrotas peemedebistas, como em Minas Gerais, por exemplo, não seriam muito choradas. Uma frente com PT, PDT, PSB e PC do B poderia contar com o dobro de deputados que deve ter o PMDB, sem contar os evangélicos do partido do vice José Alencar e Marcelo Crivella. E sem contar ainda com a ajuda pontual de uma oposição que estará sem rumo caso a derrota presidencial venha a ser avassaladora. Razões eleitoreiras ? Voltaram a circular as informações de que Dilma, se eleita, fará mesmo um ajuste fiscal de boas proporções. Na lista entra até a regulamentação das mudanças na previdência do setor público, que Lula não conseguiu fazer, e alterações também na previdência dos empregados do setor privado, para aumentar o tempo de contribuição para a aposentadoria. Pode ser que sim, pode ser que não. Estranha-se apenas que a candidata não assuma esses compromissos publicamente, antes das eleições. A razão, porém, é simples : isto pode tirar votos em territórios nos quais a ministra navega livremente - empregados do setor público, sindicalistas. Contas a pagar Quem já mergulhou mais fundo no orçamento de 2011, enviado há dias ao Congresso, não gostou do que viu. Do lado das despesas, faltam provisões : para as emendas dos parlamentares do tamanho que eles esperam e vão exigir, para ressarcimento dos Estados pela isenção do ICMS nas exportações pela Lei Kandir, para o aumento pretendido pelo Judiciário, para o novo teto salarial das policiais e corpo de bombeiros... Do lado da receita, a estimativa de arrecadação está no limite do otimismo. Mais impostos ? Por essas e outras, há desconfianças de que vem por aí um aumento de carga tributária - e não apenas por conta de ganhos de eficiência da Receita Federal. A chave poderia ser a votação de regulamentação da EC 29, aqui já referida, com regras para a transferência de recursos para a saúde. O que se prevê é que com ela o setor ganhará mais cerca de R$ 10 bilhões ao ano. No projeto está contemplada a volta da CPMF, com o novo apelido da CSS - Contribuição Social para a Saúde. A proposta está pronta para ser votada na Câmara. Contas a pagar - II Multiplicam-se os truques contábeis para garantir um superávit primário - de papel - no governo Federal este ano do tamanho do que está prometido. Até a capitalização da Petrobras vai entrar na roda. Na prática, o governo garante o gasto real e contabiliza papéis, com chumbo trocado entre o Tesouro e estatais. Desfazer este novelo será um dos desafios da próxima administração Federal. Sono inquieto Preocupa muito mais que transpareceu a revelação de tráfico de influência no governo do filho da ministra Erenice Guerra. Não é a toa que Dilma, de quem a atual ministra chefe da Casa Civil foi auxiliar de inteira confiança, está tão cautelosa, fez apenas uma declaração protocolar de confiança na parceira, sem veemência. O caso do sigilo bancário da filha e do genro de Serra, conforme se pode ler na última pesquisa DataFolha, teve efeitos negativos limitados sobre as intenções de votos na ex-ministra - atingiu apenas as camadas mais bem informadas, o que foi compensado por avanços dela na parcela do eleitorado que idolatra Lula. O tema, digamos assim, não é popular. O da Casa Civil, por envolver suspeitas de corrupção, facilitação de negócios, tem ingredientes explosivos para atingir a classe média em todos os seus extratos. Se prosperar, é claro. Últimas esperanças Há 20 dias da eleição, a única esperança da oposição é que histórias como esta desestabilizem Dilma e seu comando de campanha. O efeito Lula está irresistível. O bloco do eu sozinho Não passa despercebido, nem da oposição nem dos adeptos mais fiéis de Dilma, que a participação do presidente Lula na campanha presidencial está cada vez mais autônoma, com vôos muito próprios. Há incômodos com esta postura.
terça-feira, 31 de agosto de 2010

Política & Economia NA REAL n° 116

Temporada de caça aos tucanos Está desencadeada, na seara governista, com o crescimento de Dilma nas pesquisas, a fase de assédio aos tucanos, em duas direções : para matar e para atrair. A primeira, sob o comando do próprio presidente Lula visa dar um tiro de misericórdia nos adversários em áreas consideradas vitais para os projetos futuros do presidente, cada vez mais escancarados, como em São Paulo e para atingir "inimigos" jurados de Lula, como os senadores Arthur Virgílio e Tasso Jereissati, duros combatentes do governo no Congresso, Marconi Perillo, candidato ao governo de Goiás, pelo pecado de ter "alertado" o presidente duas vezes para as histórias do mensalão. Se possível, serão salgados e deixados ao sol. O jogo da sedução Na outra ponta do assédio aos tucanos, de modo mais ou menos discreto, por conta da própria Dilma e assessores discretos, desenvolve-se um processo de sedução a tucanos tidos como mais confiáveis. A pretensão é atrair o grupo que se imagina gravitará em torno de Aécio Neves no PSDB para uma aliança, nem que seja pontual, com alguns dos partidos apoiadores de Lula. Já se desenvolveram conversas neste sentido, não diretamente com tucanos de plumagem real, mas com quem pode fazer chegar a eles estas ideias. Há dez dias é tema de bastidores. Acabou vindo ao proscênio com uma entrevista do governador do Ceará, Cid Gomes, tão palavra aberta quanto seu irmão Ciro, em entrevista ao jornal Valor Econômico, e depois pela própria Dilma, em entrevista, quando anunciou, anteontem na tevê, que depois de eleita irá estender a mão para Serra. O propósito, já não muito secreto, seria criar uma "banda boa" de apoio ao governo Dilma para contrapor-se ao que seria uma espécie de "banda podre" da atual aliança que sustenta a candidatura da ex-ministra. Num ângulo, o PT, o PSB, o PC do B, uma face dos tucanos... Adeus ano velho O dia do trabalho nos EUA - 3/9 - inaugura uma espécie de novo ano no mercado financeiro mundial. A partir desta data as projeções para o ano seguinte passam a ser as novas referências para os cálculos de "preço justo" dos ativos baseados, por sua vez, nas estimativas macroeconômicas (PIB, taxa de juros, câmbio, etc.). Aqui no Brasil não é diferente : os analistas começam a avaliar as perspectivas do ano que vem. Esta coluna coletou de diversas fontes as principais avaliações do mercado e há dados muito interessantes para a economia local que merecem atenção. Vejamos a próxima nota. Feliz ano novo Segundo a média das projeções de mercado, o PIB brasileiro deve crescer algo ao redor de 4,5%. Trata-se de uma queda relevante frente aos 7% - 7,2% esperados para este ano. Este crescimento é, segundo a opinião corrente dos analistas, o número possível para que seja cumprida a meta de inflação (4,5%) de 2011. Um avanço maior no crescimento seria abortado por meio de uma política monetária (ou fiscal) mais restritiva. De outro lado, o crescimento dos lucros das principais empresas cotadas em bolsa alcançaria 7% o que parece ser ótimo frente ao crescimento médio da economia. A taxa de juros nominal estipulada pelo BC permaneceria ao redor da atual (10,25% ao ano). O Brasil continuaria relativamente protegido das variações dos humores em relação à economia mundial. Segundo os analistas, os países centrais, sobretudo os EUA, apresentariam um desempenho letárgico, mas benigno na medida em que não se prevê um retorno do quadro recessivo de 2009. O fluxo de investimentos externos para o Brasil, neste contexto, continuaria sólido, embora decrescente em relação a este ano. Como se vê, estas projeções reproduzem o desempenho que deve se configurar no último trimestre deste ano. Como foi no passado ? O tal do mercado leva a sério tais projeções e são elas que norteiam as principais decisões de investimento. Todavia, um exame das projeções passadas indica que a capacidade de previsão dos analistas não é tão sólida quanto se possa imaginar. Um exemplo : o PIB brasileiro projetado para este ano estimado ao final do ano passado indicava um crescimento de 4,5% - 5%. O que se vê agora é um crescimento de mais de 7%. Da mesma forma, esperava-se um desempenho muito melhor para a economia norte-americana. O que de fato ocorreu é que a Europa, agitada pela crise de confiança, apresenta mais consistência no crescimento, influenciado pelo razoável desempenho da economia alemã e, em menor medida, pela França. A "bola de cristal" do mercado pode ser relevante, ao ser observada, mas apenas como uma referência de momento e não como algo provido de ciência exata. A nova visão dos reguladores A presidente da CVM encerrou o Congresso da APIMEC - Associação dos Analistas do Mercado de Capitais ocorrido em Belo Horizonte na semana passada com uma observação extremamente interessante sobre a nova visão dos reguladores na sua tarefa de "xerife". Dentre as diversas observações feitas, salta aos olhos uma que prega que "os reguladores não devem acreditar na eficiência do mercado". Junta-se a esta a nova premissa de que é importante não apenas regular os mercados organizados e formais (bolsas de valores e de derivativos), mas também os segmentos onde as negociações são "no balcão", ou seja, entre agentes e sem maior transparência. Esta "nova visão" é consequência direta da crise instalada em 2008. Todavia, se observarmos o arcabouço normativo, sobretudo nos EUA, a capacidade de regular e punir das autoridades reguladoras não é tão compatível com esta nova visão mais intervencionista. O mercado continua relativamente dominante no que tange à formação das expectativas, sem que os governos possam controlá-lo de forma mais efetiva. É o tempo do hipercapitalismo financeiro. O BNDES e a sustentabilidade Justiça seja feita. O BNDES está adotando políticas cada vez mais rígidas na concessão de créditos no que tange à sustentabilidade. Um exemplo disso é a política para o setor de pecuária para o qual as metas de rastreamento dos rebanhos são requisitos básicos para a obtenção de crédito. Em cinco anos, quem quiser obter crédito junto ao banco oficial terá de ter absoluto controle sobre a origem do gado a ser abatido. O ponto dissonante destes novos critérios de sustentabilidade do banco é o fato que do lado do governo a tendência é a maior flexibilidade em relação às regras de sustentabilidades. Ou seja, há um gap entre as legítimas ambições do BNDES e a visão "desenvolvimentista" do atual governo e Dilma, a provável eleita em outubro. Meirelles e o mercado Entre as elites empresariais está consolidada a ideia de que a eleição deste ano para presidente está encerrada : Dilma será eleita. De outro lado, não são poucas as articulações para que Henrique Meirelles fique no BC. Seria uma certeza perante certos temores em relação aos riscos de mudança do rumo da política econômica. Não se trata de uma novidade, mas o interessante é que tais articulações nunca estiveram tão intensas. Michel Temer é o grande interlocutor desta articulação uma vez que Meirelles é parte do PMDB, um companheiro de Sarney, Barbalho e companhia limitada. Sem marolas Ortodoxos e não ortodoxos desta vez estão em linha em suas previsões. O Copom amanhã vai se fingir de morto e nem tocará na Selic, de 10,75%. Mexer para cima pode ser qualificado, em certas áreas, de crime eleitoral, mexer para baixo pode ser classificado como temeridade e gerar perigosos movimentos defensivos e ainda gerar expectativas negativas para o futuro. Radar NA REAL 27/8/10   TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA estável alta - Pós-Fixados NA estável alta Câmbio ² - EURO 1,2677 estável estável - REAL 1,7591 baixa baixa Mercado Acionário - Ibovespa 65.585,14 estável/baixa estável/baixa - S&P 500 1.064,59 baixa baixa - NASDAQ 2.153,763 baixa baixa (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável Cuidados com pelos do rosto Barbas na política brasileira atual são uma marca registrada do PT - Lula, Palocci, Genoino Dirceu e um magote da companheirada. São raros os petistas que em alguma fase de sua militância não exibiram uma. Mas quem agora vai precisar cultivar urgentemente também um bom punhado de pelos no rosto, para colocá-los devidamente de molho, é o PMDB, mesmo que seus principais líderes prefiram a cara bem aquinhoada com Aqua Velva, apenas com algumas concessões a vistosos e hirsutos bigodes. Por conta das conversas transversais nos bastidores da política, descritas em notas acima, de um vocábulo pronunciado com asco em territórios oficiais - "refém" - que se acautelem os donos do PMDB. Podem ganhar sem levar o que já dão como favas contadas. Em lugar de um parlamentarismo de coalizão no ano que vem, sonho de suas estrelas, podem estrelar um governo com parceiros inesperados. Libertas quae sera tamem Um bom teste para a segurança dos compromissos governistas e petistas com o PMDB se desenrolará em Minas Gerais. Com o crescimento de Antônio Anastasia, o candidato da ligação PSDB/DEM/PPS, o situacionista (Federal) e oposicionista (Estadual) Hélio Costa, do condomínio PMDB/PT et all, está desesperado pelo reforço direto de Lula e Dilma e sua campanha, injeção direta na veia. Vamos ver que dose, real, será aplicada, na campanha peemedebista. Será que interessa cutucar demais o futuro senador Aécio Neves ? Será que não será bom cortar um pouco as asas do PMDB não deixando em suas mãos dois dos três maiores Estados brasileiros ? Em tempo : só estranha a ascensão de Anastasia quem não conhece as minudências da política mineira. É mais que disputa pessoal O Estadão deste fim de semana explicitou o que, como se dizia no jornalismo de antigamente, já corria a boca pequena no mundo político e algumas vezes foi referido nesta coluna : as disputas pelo poder em um provável governo Dilma e a volta das escaramuças José Dirceu e Antonio Palocci tão frequentes na primeira fase da gestão Lula. Não é questão pessoal, de desgosto. Ou pelo menos não é apenas. É mais profunda : é pela condução da política econômica num mandato Dilma. De um lado está Palocci, com Henrique Meirelles, com uma visão tida como conservadora e de outros Dirceu, com Luciano Coutinho, Guido Mantega e mais Alexandre Teixeira (APEX) e Nelson Barbosa (secretário de Política Econômica da Fazenda), com visões tachadas de progressistas. A notícia de um possível ajuste fiscal no início do governo Dilma, passadas por Palocci e depois desmentidas pela própria candidata, fazem parte desta guerra. O desmentido foi estratégico. Não que a ex-ministra já se tenha definido por este ou aquele, mas qualquer apelo a ajuste fiscal - para muitos sinônimos de arrocho - atinge diretamente interesses de aliado. Melhor não agitar agora. Velha briga De qualquer forma, em matéria de ideias econômicas, Dilma e Palocci nunca se bicaram, nem quando ela estava no Ministério das Minas e Energia nem na Casa Civil. Dilma chegou a classificar de rudimentar uma ideia de Palocci de acabar com o déficit nominal no setor público, não apenas fazer um superávit primário. Acontece que Palocci é visto pelo setor financeiro, por boa parte dos empresariados e no exterior como um fiador de que aloprados econômicos não envolverão a futura presidente. E ele ainda tem a confiança de Lula. Já Dirceu fala para o público interno, sindicalistas, servidores e é de total confiança deles. Escaramuças da guerra Esta disputa tem gerado histórias curiosas. Por fontes não identificadas, para afastá-lo do centro das decisões (diz-se que poderia ir para a Casa Civil), Palocci já foi lançado para o ministério da Saúde e para a presidência da Vale, como se o governo pudesse - ou será que pode ? - nomear dirigentes de uma empresa privada. No contra-ataque, Guido Mantega, em plena campanha para permanecer onde está, acaba também de ser anunciado como um provável presidente da mesma Vale. Lula no futuro Quem estava perto do palanque no qual Lula e Dilma subiram sexta-feira em Salvador não deixou de notar o ar de satisfação, quase angelical, do presidente Lula quando a plateia começou a gritar "Lula, você vai voltar/Lula, você vai voltar". A desunião não faz a força O desenho da derrota espalhado no ar está levando tucanos, DEMs e ex-comunistas a se estranharem cada vez mais. O risco é que a fuga presidencial esvazie também disputas nos Estados e para o Congresso. Há quem ache que a oposição, somada, não fará mais 160 deputados para um bancada total de 513 parlamentares na Câmara. Como Lula joga tudo agora para fechar boas eleições para o Senado, Dilma terá, em tese, melhores condições que Lula para passear com suas propostas pelo Legislativo. Diz-se em tese porque o Legislativo, com um PMDB reforçado, tem lá suas razões que todas as razões conhecem e não cede antes de muito tergiversar. Isto embora o presidente do PMDB e vice na chapa de Dilma tenha dito recentemente, com altivez e sem corar, que, "no próximo governo, é possível que o PMDB não tenha nenhum cargo, e mesmo assim nós vamos colaborar". Mancha no lixo Foram necessários 19 anos para se aprovar, no Congresso, com algum consenso entre as partes envolvidas, uma lei nacional de Resíduos Sólidos. Agora, o governo quer regulamentá-la em três meses, segundo notícias desta semana, ainda antes das eleições. Estranhe-se a pressa. E com normas que podem tornar partes da lei inócuas, ou de difícil aplicação ou de custos elevados para o consumidor. Ou tudo junto. É que se pode chamar efeito Marina Silva nas eleições. O STF e a política A reportagem da revista Veja na semana passada revelou parte da luta de bastidores, nada amistosa, que está cercando a disputa pela vaga do ministro Eros Grau no STF. A reportagem reacendeu ódios e abalou favoritismos e certezas. Já se diz que a decisão vai ficar para depois de outubro e que desta vez pesará mais a questão de qualidade jurídica do que qualquer outro tipo de ponderação política.
terça-feira, 24 de agosto de 2010

Política & Economia NA REAL n° 115

Chaves para o terceiro mandato I Desde que as pesquisas de opinião passaram a convergir e a apontar a probabilidade até de uma vitória de Dilma no primeiro turno, tanto no centro do poder quanto nos setores da sociedade mais bem informados, mudou-se o eixo da discussão. Não mais se debate o que seria um possível governo de oposição, que mudanças de rumo poderiam ser feitas caso José Serra se elegesse, mas como será um governo Dilma - se uma continuidade perfeita da gestão Lula ou um governo de fato novo, menos pragmático na política e mais intervencionista na política. No entorno da ex-ministra garante-se que ela imprimirá sua própria marca a sua administração, sem renegar os legados de Lula, principalmente na área social. Manterá também os pilares da política econômica, em suas linhas gerais uma construção do mandato de Fernando Henrique. Porém terá linhas próprias, mais desenvolvimentista ainda. Chaves para o terceiro mandato II A grande definição da política econômica virá do papel que dois personagens, que já estão com o terno de posse prontos, terão : Antonio Palocci e Luciano Coutinho. Se as opiniões de Palocci prevalecerem, as ideias válidas no primeiro mandato de Lula, estarão de volta. Se der Coutinho, vai valer a fase inaugurada com a entrada de Guido Mantega no ministério da Fazenda. Mas quem acompanha os humores do presidente Lula e suas cada vez mais explícitas manifestações públicas, não tem dúvidas : ele está vendo na sua frente o terceiro mandato que não pode disputar por não ter encontrado respaldo suficiente no mundo político e ter enfrentado resistências na sociedade. A chave desse terceiro mandato estaria no movimento multipartidário que o presidente já avisou que vai liderar com alegado propósito de facilitar a aprovação no Congresso das reformas estruturais que ele não conseguiu realizar. No entanto, há quem veja nisto o nascimento do PL - Partido do Lula - com o qual Lula manteria influência decisiva na política e na administração pública a partir de 2011. A economia sob Dilma É um erro pensar a política econômica da provável eleita Dilma como uma reprodução ou continuidade daquela estabelecida pelo presidente Lula. Dilma tem uma visão mais "burocrática" da economia, centrada em critérios "técnicos" e com objetivos determinados. Sua visão política da economia está estruturada na crença de que o Estado é a força-motriz do processo de crescimento. Não há aversão ao setor privado, mas Dilma acredita que as suas limitações e aversão ao risco são consideráveis num país emergente como é o Brasil. Lula prefere-se ocupar da política e estrutura a economia sobre pilares gerais (macroeconômicos) e sabe escolher prioridades a partir de sua sensibilidade política. Dilma está acostumada a lidar com aspectos microeconômicos. Ainda terá de ser provada em temas mais sistêmicos. É difícil que, diante de uma conjuntura tranquila, ela venha a mudar os pilares macroeconômicos. Todavia, é difícil estimar como Dilma avaliará cenários menos favoráveis. Os agentes econômicos permanecem tranquilos com Dilma na crença de que a macroeconomia seguirá sem maiores variações. O tempo dirá. Mas que fique o alerta : Dilma não é pessoa sem ideias próprias. O cenário externo Temos insistido nas últimas semanas para a inversão das expectativas nas principais economias mundiais. Agora o questionamento sobre a possibilidade de uma recessão prolongada é aberto e os temores com a redução da atividade econômica na China começam a pipocar, aqui e ali. O Brasil tem uma economia relativamente fechada e os efeitos sobre as expectativas ainda são pequenos. Todavia, não se deve subestimar os riscos externos. Estes são significativos e começam a rodear o mundo emergente, no caso a Índia e a China. O Brasil não será exceção muito embora o bom fundamento no curto prazo seja uma barreira positiva para que a contaminação externa seja minimizada. Dilma eleita terá de lidar com isto, uma tarefa nova para o seu primeiro mandato da vida. Confissão ? Lula, Mantega, Dilma e companhia garantem que não há nada de errado na política fiscal do governo, não há nenhum desarranjo como dizem os oposicionistas e muitos economistas. Pois bem, a Folha de S.Paulo de segunda-feira, pelos bem informados repórteres Kennedy Alencar e Valdo Cruz, anunciou que Dilma já está discutindo com Lula e seus assessores um duro ajuste na contas oficiais para ser aplicado no início de seu governo. Coisa que pegaria, até mesmo, os generosos reajustes dos funcionários públicos. Ora, se não há desarranjo, por que o ajuste fiscal ? Radar NA REAL 20/8/10   TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA estável alta - Pós-Fixados NA estável alta Câmbio ² - EURO 1,2674 estável estável - REAL 1,7635 baixa baixa Mercado Acionário - Ibovespa 66.677,16 estável/baixa estável/baixa - S&P 500 1.071,69 baixa baixa - NASDAQ 2.179,76 baixa baixa (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável A equipe de Serra e a derrocada Não são poucas as notícias que dão conta da falta de ânimo dos partidários de Serra. Dão a eleição como perdida. No círculo mais próximo de Serra comenta-se a personalidade centralizadora do candidato (não é fato novo), sua visão arcaica da comunicação e a sua pouca disposição em relação às mudanças. O mais incrível de tudo isto, é a passividade : diante de uma eleição difícil e do avanço de Dilma nas intenções de voto, por que não ser inventivo do ponto de vista da propaganda ? Por que não ser arrojado na "forma" da apresentação do candidato oposicionista ? A única inovação sensível foi chamar o candidato de Zé. Convenhamos : um político que foi chamado a vida inteira de Serra ser chamado agora de Zé soa ridículo. Além disto, foi perdida a oportunidade da primeira semana da campanha de TV do candidato na qual os eleitores estão mais propensos a ouvir o que os presidenciáveis tem a dizer. É muito provável que tudo continue igual, exceto as pesquisas que devem continuar apontando o favoritismo de Lula. Agora, é o Congresso Garantida, na ótica oficial a vitória de Dilma no primeiro turno, as atenções oficiais vão se concentrar um pouco mais nas eleições para alguns governos estaduais - São Paulo, por exemplo - e nas eleições para a Câmara e o Senado. O plano é fazer bancadas fortes na Câmara e no Senado, esmagar a oposição nas duas casas para que Dilma tenha uma vida legislativa sem aborrecimentos. É quando eles divergem Nesse ponto, PT e PMDB deixam de ser aliados e passam a ser inimigos. O PMDB sabe que se não fizer as maiores bancadas na Câmara e no Senado terá de ceder o comando de um das duas casas - seria a Câmara, onde ele pode ficar menor que o PT - para o aliado. No Senado o governo ficará mesmo com um novo mandato para José Sarney, um aliado que bem fornido não cria problemas. Perder a Câmara mancha os planos do PMDB de dividir ao meio o poder com Dilma, sustentado no tripé presidência da Câmara - presidência do Senado - vice-presidência da República. O governo conta com um crescimento legislativo expressivo do PSB para tentar contrabalançar o peso do apetite peemedebista. A divisão do bolo Alheios aos debates sobre os rumos políticos e ideológicos que terá um provável governo Dilma, os partidos aliados, pragmáticos como eles só, já fazem suas listas de ministérios e outros cargos que pretendem ocupar. E dentro dos partidos já começam a surgir disputas entre companheiros. Está crescendo o recurso ao velhíssimo fogo amigo. O silêncio dos inocentes Experientes, os peemedebistas hibernaram. Deixaram os aliados se atritarem. Enquanto isso, na surdina, acertam suas contas e fazem a lista de cobranças. Que, pelo que se sabe, não será pequena. Informações levantadas pelo Estadão dão conta de que querem espaço até na área econômica. Os peemedebistas finalmente perceberam que, mesmo com ministérios com bolso recheado, como Minas e Energia e da Integração Nacional, por exemplo, se não estiverem na boca do caixa, também, podem ter suas ações restringidas por contenções orçamentárias. A esperança não morre Celso Amorim, Guido Mantega e Henrique Meirelles alimentam a esperança de permanecerem em Brasília em 2011 com Dilma no Planalto. Os dois primeiros nos mesmos lugares onde estão hoje, Meirelles com um upgrade para um dos ministérios econômicos, segundo se diz um compromisso do atual presidente. Poderia ser também o "homem do PMDB" na seara da economia. A lista dos que querem continuar é imensa. Este é um dos dilemas da candidata petista, caso vença como apontam as pesquisas : se mantém as mesmas caras, dá a impressão de que Lula ainda dá as cartas no governo. Isto pode até ser bom na identificação com a população. Porém, será este o papel que ela própria se reserva - guardando o lugar do titular enquanto ele está impedido de atuar ? Tédio noturno O grande Stanislaw Ponte Preta (pseudônimo do jornalista Sérgio Porto) dizia, tal a pobreza estilística da tevê brasileira em meados dos anos 1960, que o melhor da televisão no Brasil era o botão de desligar. Os partidos nacionais, com sua propaganda de boa qualidade técnica, mas nenhuma qualidade política, estão fazendo um grande esforço para tornar o aforismo do sobrinho de Tia Zulmira uma realidade em 2010. Não é de graça que na primeira semana de campanha obrigatória tenha caído em cerca de 10% o número de televisores ligados na hora em que os políticos vão ao ar. Os avestruzes Reunidos no litoral paulista, os dirigentes das empresas de telecomunicações no Brasil soltaram uma "Carta de Guarujá" com as reivindicações do setor para os próximos anos. O palavrório de sempre, que certamente vai parar em alguma gaveta dos comitês eleitorais, depois de receber uma manifestação formal dos candidatos, a favorita nas pesquisas à frente. E tudo ficará na mesma. Eles ainda não perceberam - ou não querem - que, se eleita, a ex-ministra Dilma vai aprofundar o avanço governamental neste setor. Se há duas áreas em que Dilma vai ser mais Dilma e o PT ideológico mais PT será na das telecomunicações e da comunicação social. Só no Brasil mesmo A Consultoria de Orçamento e Fiscalização Financeira da Câmara dos Deputados considerou inconstitucionais os projetos de autoria do STF e da Procuradoria Geral da República que fixam o valor do subsídio mensal de ministro do STF e do Procurador Geral em R$ 30,6 mil em janeiro de 2011 e atribuem ao presidente do Supremo e ao procurador o direito de fazer a revisão desse valor a partir de 2012 por simples ato administrativo, a revelia do Congresso. Só falta agora o STF e a PGR estabelecerem novos cálculos da inflação e as normas de política monetária no Brasil. Bobagens à parte, invasão de competência de lado, as duas propostas e ensejam, sim, discussões políticas e econômicas mais aprofundadas.
terça-feira, 17 de agosto de 2010

Política & Economia NA REAL n° 114

De volta ao primeiro turno Com a confirmação, via DataFolha, de boa vantagem de Dilma frente a Serra, com o buraco de três pontos a menos para fechar logo a disputa no primeiro turno, a estratégia, o desafio de oposição não é mais tentar passar a frente da preferida de Lula. É ultrapassar o primeiro turno. E o tempo é curto - e as armas até agora apresentadas, ligeiras. A estratégia de ser oposicionista sem criticar Lula não está funcionando, pois é Lula o eleitor de Dilma - é ele e nada mais. E será que atacar um presidente com 80% de aprovação é producente ? O horário eleitoral, uma das apostas dos serristas, pode ter efeito limitado : todos aprenderam a vender bem sabonetes e outras quinquilharias. E Dilma está aprendendo a se comportar nos debates e entrevistas, o que parecia seu ponto fraco. À espera de um tropeço Resta à oposição, tropeços improváveis da concorrente. À parte, apostar num fato novo, inusitado. Um "Nelsonrodriguiano Sobrenatural de Almeida", personagem que não tem aparecido com frequência nas eleições presidenciais brasileiras desde a redemocratização. Quem abriu frente, por volta de julho, levou o troféu. Exceção de 1994 : Lula tinha extraordinária vantagem sobre FHC naquela ocasião. Foi então que sobreveio o "Sobrenatural", com o codinome de Plano Real. Não há sinais de novas feitiçarias no ar. Em tempo : nas contas oficiais, não muito disfarçadas, este jogo não terá prorrogação. Mais : hoje temos mais uma pesquisa Ibope. Veio na linha das outras : Dilma 43%, Serra 32%. Em que ponto ele errou ? Quando Serra lançou oficialmente sua candidatura, num evento em Brasília, para um público mais entusiasmado do que o que acompanhou a festa parecida do PT para Dilma, teve-se a impressão de que a estratégia do tucano de segurar a candidatura ao máximo, criticada pelos parceiros, tinha sido correta. Parecia também que tudo estava em paz na seara oposicionista. Os próprios adversários petistas chegaram a se preocupar, o que os levou a fazer concessões além do que pretendiam, aos aliados, especialmente ao PMDB. De lá para cá, fórmula Serra desandou. E hoje, parceiros e imprensa especulam sobre como e em que momento Serra errou. A resposta é simples : Serra não errou, Lula acertou. Parodiando mote de campanhas de Maluf, "foi Lula quem fez". O risco do efeito manada Se os tucanos e aliados não conseguirem nos próximos dias estancar o crescimento de Dilma, a campanha de Serra pode sofrer uma debandada nos Estados. Em alguns, aliás, os candidatos regionais da aliança oposicionista já não estão muito convictos da parceria. Ventos frios do norte O Japão apresentou números de crescimento mais fracos no segundo trimestre em comparação ao primeiro : não cresceu. A China está diminuindo a atividade econômica. Os EUA estão capengando no setor laboral e o consumo se estabilizou num patamar baixo. A Europa cresceu mais que o esperado, mas concentradamente (Alemanha e França praticamente cresceram sozinhas). Todo este quadro sugere que o risco de que a atividade econômica mundial venha a passar por momentos difíceis nos próximos 12 meses é significativo. Este quadro irá se refletir no Brasil no final deste ano e na inauguração do novo governo. O quadro é instável. Pode melhorar lá fora. Todavia, não é o que os números estão a mostrar. Radar NA REAL A queda significativa dos principais mercados mundiais na semana passada é claramente um aviso de que o cenário está pior. Foi uma reação aos números macroeconômicos de diversos países desenvolvidos, à decisão do Fed (dúbio no seu comunicado ao mercado) e ao enfraquecimento da atividade chinesa. É um aviso aos investidores mais otimistas : a tendência dos mercados é de piora, sendo a estabilidade o melhor cenário. Desde março deste ano, as cotações dos ativos gravitam em torno dos mesmos níveis. Sinal de que não há o desespero do final de 2008, mas não há a euforia dos mercados de 12 meses, entre março do ano passado e este ano. Tudo se revela confuso, mas a hora é de "caldo de galinha". Temos alertado para estes fatos. Não acreditamos no pior, mas não podemos descartá-lo. Infelizmente. 13/8/10   TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA estável alta - Pós-Fixados NA estável alta Câmbio ² - EURO 1,2810 estável estável - REAL 1,7568 baixa baixa Mercado Acionário - Ibovespa 66.264,43 estável/baixa estável/baixa - S&P 500 1.079,25 baixa baixa - NASDAQ 2.173,48 baixa baixa (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável Em Minas, um enigma Mineiro tem fama de desconfiado e dissimulado, por isso mesmo Minas é sempre um desafio para os institutos de pesquisa. Coisas como "não sei", "ainda não decidi" - ou mesmo a confissão de uma escolha - podem ser apenas um disfarce, para não comprometer e até enganar o adversário. Porém, a discrepância de números entre as pesquisas do Vox Populi e do DataFolha para a eleição de governador nas terras das alterosas é de tal magnitude que não pode ser imputada apenas aos conterrâneos de Tancredo. Há um equívoco muito grande em um dos dois levantamentos. Veja-se : 1. Vox Populi - Hélio Costa 36%; Antonio Anastásia 26% - diferença de 10 pontos. 2. DataFolha - Hélio Costa 43%; Antonio Anastásia 17% - diferença 26 pontos. Nem os mais argutos experts em mineirismo político estão entendo esta. (...) e o dilema pessoal de Aécio Como Dilma passou Serra na preferência presidencial dos mineiros, põe-se um dilema para o ex-governador : vai de alma com o candidato tucano ? Ou deixa este barco ao léu para tentar captar votos petistas e dilmistas que engoliram a contragosto a aliança com o PMDB de Hélio Costa ? Outra : desagradando os tucanos paulistas, que tudo indica farão com facilidade o governador do Estado, em que barco Aécio ancorará seus planos de futuro ? Prudentemente calado Com o mundo eleitoral bem governado para sua candidata, o PMDB recolheu-se a um obsequioso silêncio, parou até de dar recados a respeito de suas pretensões. A hora da cobrança será depois de outubro. Contas erradas Aumenta entre os petistas que eles pagaram, nas alianças regionais, além da conta para ter os parceiros que hoje têm gravitando em torno de Dilma. Quem tem Lula, diz-se, não precisava ter ido a tanto. A compensação será em Brasília, quando Dilma, se eleita, começar a juntar sua turma. "Falta de educação" Em alguns lugares, costuma-se usar a expressão acima, como sinal de aprovação ou condenação de alguma coisa. "Um drible desses é até falta de educação [do autor para com o adversário]." "Perder desse modo é falta de educação [para uma derrota eleitoral acachapante]." Pois bem, os seguidos erros que o Ministério da Educação vem cometendo em relação ao Enem é, literalmente, "falta de educação". Ou melhor, de ineficiência gerencial e de respeito aos estudantes. Banda estreita Entra semana sai semana, e Rogério Santana, escalado para comandar a rediviva Telebrás, aparece para anunciar como será um aspecto do PNBL - Plano Nacional de Banda Larga. Porém, até o momento ele não saiu do papel, está exatamente apenas a carta de intenções oferecida ao país por Lula e Dilma há pouco mais de dois meses. Nem as 100 cidades que comporão a leva das primeiras beneficiadas do plano ainda foram definidas. Por razões de geografia eleitoral - têm de entrar no roteiro cruzado de viagem presidente e pupila. Mesmo com tantas indefinições em Brasília se sabe que uma paraestatal de telefonia, que recentemente adquiriu um sócio estrangeiro com as graças oficiais, é a favorita disparada para tocar o negócio, milionário, diga-se, em parceria com a Telebrás. Como diria Ibrahim Sued, "colunista mundano" em tempos mais amenos, em "sociedade tudo se sabe". Oi, com dinheiro da casa própria Segundo o jornal O Globo, a ex-supertele nacional Oi, utilizou uma manobra para reduzir os custos de seus empréstimos. Diz a reportagem : "Ela usou 263 imóveis de sua propriedade para captar R$ 1,6 bilhão a custos mais baixos. Os prédios foram transferidos a empresas controladas, a quem a Oi pagará aluguel. Os bancos Itaú e Safra compraram os contratos de aluguel de 12 anos - transformados em valores mobiliários - com dinheiro da poupança. O lastro imobiliário permite reduzir o custo de captação da Oi. Ao mesmo tempo, os bancos cumprem a meta de aplicação da poupança em crédito imobiliário." Ilegal a operação não deve ser, pois do contrário os bancos não aceitariam e o BC certamente suspenderia o negócio. Porém, para dizer o mínimo, é coisa estranha num país com as carências habitacionais do Brasil, com um ambicioso programa de construção de moradias, o badalado "Minha Casa, Minha Vida". E mais inusitado ainda que alcance uma empresa que levou alguns bilhões do BNDES e do BB para fazer um ajuste acionário e tem entre seus patrocinadores fundos de pensão de estatais.
terça-feira, 10 de agosto de 2010

Política & Economia NA REAL n° 113

  Um novo PMDB na praça ? Depois de eleito em 2002, como animal político que é, Lula percebeu que precisava fazer alianças políticas nada ortodoxas para governar. Mas quis manter certa pureza política e ideológica de seu governo e do PT, e tomou duas providências : 1. Vetou um acordo formal com o PMDB, negociado pelo então ministro chefe da Casa Civil - o PMDB já era a imagem acabada do fisiologismo que Lula então execrava ; 2. Arranjou algumas legendas auxiliares para acomodar os adesistas de sempre, sem manchar o governo. O mensalão derrubou toda a estratégia e as portas tiverem de ser escancaradas sem pedidos de atestados de antecedência. As bancadas do PT que surgiram das urnas já não tinham o mesmo pedigree de antanho, embora ainda mantivessem certas características. O governo, no entanto, começou a ter uma cara mais parecida com o PMDB nascido depois que o partido chegou ao poder com Sarney. Pelos arranjos partidários patrocinados por Lula para eleger Dilma e manter seu grupo no poder, O PT das urnas de 2010 deverá sair mais forte nos legislativos, mas também mais parecido com o PMDB que um dia Lula não quis a seu lado. O autêntico PMDB A referência bíblica de Michel Temer a um grupo de senadores, sobre a arte de repartir o pão e as artimanhas de compartilhar - ou repartir, esquartejar - o governo diz bem dos propósitos governistas ao entoar loas à candidatura oficial. O PMDB não nega sua vocação, desde que perdeu a aura de partido da resistência à ditadura e provou as delícias de Brasília. Obséquio do silêncio Não foi a primeira vez nas últimas semanas que o presidente da Câmara e vice de Dilma expõe, sem máscara e cruamente, o fato de não ser um mero coadjuvante num futuro governo comandado pela petista. Como a estratégia da campanha de Dilma agora é mostrar que ela tem e terá luz própria, as intervenções peemedebistas estão desagradando. Sem espaço Em Brasília, na área de quem sabe dos ventos, analisa-se as declarações de Temer não como simples escorregões, fruto de desatenção ou afoiteza. Afinal, Temer não é nenhum neófito, tem reconhecida habilidade política. De fato, o vice estaria apenas dando voz à insatisfação peemedebista com o ambiente da campanha oficial. Não há nenhum peemedebista - ou outros aliados - no alto - nem no médio - staff que assessora Dilma e o tal conselho suprapartidário, que nem funciona. O PMDB está de verdade apenas na equipe de programa de governo. E ninguém ignora o valor que esses documentos têm : nenhum. São destinados à prateleira das coisas inúteis da política brasileira. A questão é outra O PT cedeu espaços regionais. Nacionalmente, não cede sequer um ladrilho. Os aliados estão estrilando, mas em conluios fechados, pois o objetivo é eleger Dilma, e ponto. Depois de outubro, Dilma e Lula terão de dançar diferentes minuetos para evitar tiroteios entre aliados, com mortos e feridos. E o PMDB então entrará com sua principal arma, como disse e acredita Temer : o tamanho de sua bancada na Câmara e no Senado. A microeconomia está em ritmo lento Nos últimos anos não tivemos nem as reformas micro e nem as macroeconômicas. Questões centrais, tais como a tributação, proteção alfandegária, política industrial, etc., ficaram no falatório ou nas prateleiras. O que temos hoje é uma política de crédito oficial que privilegia empresas com critérios duvidosos de eficiência e interesse público. Os próximos meses serão ainda mais curiosos nesta rota do governo : a eleição traz certa paralisia dos negócios à espera do novo governo. Já se sente isto em setores de infra-estrutura, por exemplo. Há mais um dado : nenhum dos candidatos traz à tona uma discussão consistente sobre o futuro do desenvolvimento brasileiro. Existe um deserto de ideias e a possibilidade da continuidade das políticas "dos amigos" é elevada. Para o mal do país. Primeiro o nosso Soou extraordinariamente "espontâneo" o manifesto assinado por doze entidades empresariais da indústria defendendo as generosas linhas de financiamento subsidiado do BNDES. Também deve ter sido uma mera coincidência o documento, como matéria paga, ter surgido no mesmo dia em que, em Londres, começava a circular o prestigioso semanário The Economist com uma reportagem com as mesmas críticas que se fazem no Brasil e o manifesto tenta explicar. Ele teria sido mais forte e "espontâneo" se tivesse vindo acompanhado de uma relação dos empréstimos do banco, a juros módicos, para os associados das entidades. Nenhuma suspeita pairaria sobre interesses particulares. E tudo poderia ser comemorado com um grande churrasco com carnes carimbadas pelos frigoríficos que receberam gorduchos empréstimos. Ficaria, como se diz, tudo em família. Exclusão financeira Duas reportagens saídas nos últimos dias mostram a atual vocação do BNDES : 1. O jornal Valor Econômico mostrou que o banco aprovou empréstimos de bilhões de reais para apenas dois frigoríficos e negou apoio a outros médios e pequenos, com dificuldades. 2. Segundo a Folha de S. Paulo, 57% dos R$ 168 bilhões de financiamentos contratados pelo banco de 2008 a junho deste ano foram para a Petrobras, a Eletrobrás e apenas dez grupos privados. É o que podemos chamar de exclusão financeira, o contrário do discurso oficial. Para uns poucos, tudo. Para alguns, migalhas. Sem trocadilho. Decepção nos EUA Depois de quase três anos de políticas fiscais e monetárias frouxas, os números do setor laboral dos EUA, divulgados na última sexta-feira, foram um balde água fria nas expectativas. Há três meses, o desemprego não melhora e a economia patina. Um pouco notável, porém pouco comentado no Brasil, é que a paciência da população americana está caindo velozmente e o Congresso pode começar a ser uma fonte ainda maior de problemas para Obama. Se os EUA seguirem o exemplo europeu e apertarem o lado fiscal, a possibilidade de recessão nos EUA passará a ser muito concreta. Atenção aos navegantes. Euro forte O fortalecimento do euro nos últimos dois meses é fruto da decisão dos principais países europeus de, mesmo em recessão, reduzirem os déficits fiscais. Estão apostando que o welfare state aguenta as taxas de desemprego nos céus. Está se somando ao baixo consumo doméstico europeu os problemas de competitividade conhecidos (custo de mão-de-obra, excesso de regulação, etc.) e conjunturais (euro forte). Se nos EUA a possibilidade de retorno de uma recessão mais forte está cada vez mais concreta, na Europa talvez a recuperação não venha nos próximos anos. Radar NA REAL Férias no hemisfério norte, números macroeconômicos fracos nos EUA e Europa, e poucas notícias do lado corporativo, são notícias que têm feito os diversos segmentos do mercado financeiro e de capital ficarem letárgicos. Assim deve prosseguir o ritmo nos próximos dois meses. No Brasil, a atividade econômica está se moderando e os movimentos eleitorais paralisam os investidores. Tudo sem emoção e sem motivação para que os investidores mudem de posição. A volatilidade cai, mas o movimento também. Um tempo sem graça e sem tendência definida. O acúmulo de riscos de médio prazo não é pequeno no Brasil, sobretudo do ponto de vista fiscal. Mas quem há de lembrar isto quando ninguém nem sequer está disposto a conversar sobre o assunto ? Os tempos são de calma. Como no deserto. Melhor ficar parado, por enquanto. 6/8/10   TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA estável alta - Pós-Fixados NA estável alta Câmbio ² - EURO 1,3240 estável estável - REAL 1,7533 baixa baixa Mercado Acionário - Ibovespa 68.094,76 estável/baixa estável/baixa - S&P 500 1.121,49 baixa baixa - NASDAQ 2.288,47 baixa baixa (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável Desmilinguindo Do modo como as coisas estão andando no cabriolé eleitoral, o DEM caminha celeremente para passar a integrar o bloco dos partidos intermediários. Sua sorte mais do que nunca está atrelada ao desempenho presidencial de Serra. Trabalho árduo Não será das mais fáceis a missão dos organizadores da campanha de Serra para encontrar o tom certo para ele combater o discurso da dupla Dilma/Lula e encontrar um ou mais motes para empolgar um eleitor até agora frio, distante. É uma situação que beneficia Dilma - a inércia, pela força de Lula e a imagem de seu governo. O primeiro debate entre eles não trouxe nada inovador. Sono tranquilo Se os outros encontros entre os presidenciáveis - teremos mais quatro até 3/10 - seguirem a toada do de quinta-feira passada na Bandeirantes, vão encalhar os estoques de medicamentos para dormir nas farmácias brasileiras. Meros 10 minutos em frente ao vídeo dos debates bastam para fazer adormecer o mais recalcitrante dos insones. O efeito mais importante do ponto de vista da comunicação será dado no curto prazo pelas entrevistas dos candidatos na TV Globo, nos principais telejornais. São os dez minutos de fama dos candidatos. Em ebulição A espanhola Telefônica sozinha na Vivo. A Mexicana Embratel - grupo Carlos Slim - comprando a parcela dos acionistas minoritários na Net e tornando-se o maior acionista da empresa enquanto espera melhores dias para ficar oficialmente com o controle da maior operadora de tevê por assinatura no país. A Portugal Telecom virando a maior acionista individual da supertele brasileira Oi, talvez até como controladora, o que o tempo dirá. A inglesa Vodafone lançando seus tentáculos sobre a Tim no Brasil. A francesa Vivendi controlando a GVT. Nada de estranho num mundo globalizado, multinacional. Mas diante de tudo isso soa muito falso o discurso nacionalista do presidente Lula. Vem por aí muita discussão sobre questões regulatórias e de concentração nesta área. E talvez o governo tenha de patrocinar novas mudanças nas leis brasileiras - como no caso BrOi - para acomodar todo este novo quadro.
terça-feira, 3 de agosto de 2010

Política & Economia NA REAL n° 112

Um eleitor que é uma incógnita A "nova" classe média brasileira ou ainda a "classe média do Lula" contingente engrossado nos últimos anos com a classe D, já significa mais de 50% de todo o eleitorado brasileiro. Isto é : sozinha, se votasse em uníssono, elegeria o novo presidente da República. Naturalmente isso não ocorrerá, mas como nunca antes neste país ela será tão decisiva eleitoralmente. Mais até do que as elites, ditas formadoras de opinião, que o presidente Lula ataca de quando em vez em seus discursos para agradar à "nova" classe média. E mais que os descamisados definidos por Collor nos idos de 1989, dos extratos sociais D e E, do bolsa-família e dos programas sociais. Achado decisivo Desvendar esta "nova" classe pode ser o grande achado decisivo dos candidatos. Não se pode esquecer que ela foi engrossada com a aquisição, nos últimos anos, de 20 a 30 milhões de novos componentes egressos do mundo D e E. Dois dados devem ser considerados : 1 - os egressos tendem a incorporar os valores de seus novos parceiros, entre eles certo conservadorismo, tornando-se mais sensíveis a temas como ordem, segurança ; 2 - conquistada a ascensão, suas aspirações são outras, tornam-se mais exigentes em relação aos serviços públicos como saúde, educação, qualidade de vida de um modo geral. Este é o público a ser conquistado pelos marqueteiros. E onde se encontra, ainda, a maior parte dos indecisos. Para alerta dos marqueteiros Uma das conquistas que o novo contingente da classe C incorpora é uma assinatura de tevê a cabo, sonho de consumo que vem acoplado ao de uma tevê de muitas polegadas e avançada tecnologia. Entre 2009 e 2010, depois de um período de estagnação, o setor de tevê por assinatura cresceu fabulosos 40%. Prevê-se que chegará ao fim do ano com 9 milhões de domicílios plugados nos canais pagos, o que pode representar 40 milhões de brasileiros. E a tevê por assinatura não passa o programa eleitoral obrigatório. É nela que costumam se refugiar os eleitores que não suportam o artificialismo da publicidade eleitoral imposta. Quem está apostando na propaganda televisiva... BC : ao modo Chacrinha A súbita mudança de opinião do BC sobre os movimentos da economia brasileira em relação à atividade dos negócios e à inflação, com dois informes contraditórios em um curto espaço de tempo, deixou uma parte dos analistas de mercado confusa e outra desconfiada. E deu aos adversários da autonomia operacional do BC o argumento de que ele também pode errar - e feio. No caso, ter puxado demais para cima a taxa de juros. O mundo político-eleitoral oficial está esfregando as mãos de alegria. Chacrinha não teria feito melhor se a idéia era mesmo confundir não explicar. Radar NA REAL É provável que na próxima reunião do COPOM seja registrada a última alta dos juros básico deste ano e do mandato de Meirelles à frente do BC. A taxa de juros já está alta, mas o acúmulo de riscos externos (recessão continuada e instabilidade dos mercados), bem como de riscos fiscais no Brasil, deixarão a política monetária sob constante vigilância dos agentes econômicos. Nos mercados internacionais, o mês é de férias no hemisfério norte. Os diversos segmentos do mercado estão com liquidez mais restritas e todos estão a esperar os próximos números econômicos dos principais países do velho continente e dos EUA para decifrar para onde está indo a economia. Tudo muito quieto e, ao mesmo tempo, tudo muito instável. É possível que os mercados permaneçam estáveis e levemente positivos. O tempo de decisão da tendência do mercado será provavelmente em setembro/outubro quando as apostas para 2011 começarem a ser feitas. 30/7/10 TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA estável alta - Pós-Fixados NA estável alta Câmbio ² - EURO 1,3060 estável estável - REAL 1,7549 baixa baixa Mercado Acionário - Ibovespa 67.515,40 estável/baixa estável/baixa - S&P 500 1.101,90 baixa baixa - NASDAQ 2.254,70 baixa baixa (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável A deplorável invasão O dossiê divulgado pela Folha de S.Paulo relativamente à presumida influência da filha do ministro Guido Mantega no BB é lamentável do ponto de vista ético no que se refere à evidente invasão de privacidade dela. De outro lado, também fica evidente o renovado interesse político de grupos nos vultosos recursos da Previ destinados aos investimentos. Este sim é um ponto que mereceria mais publicidade e atenção das autoridades, Congresso e da sociedade. Há "algo de estranho no reino dos fundos de pensão". Fim de semana azedo Foi de difícil digestão para tucanos e aliados o consumo da pesquisa do Ibope que deu Dilma com cinco pontos percentuais à frente de José Serra, portanto fora de curva da margem de erro, de dois pontos para cima ou para baixo. No tucanato esperava-se que a pesquisa confirmasse o resultado do DataFolha, com empate entre os dois, e não que avalizasse o Vox Populi, com os cinco pontos para Dilma e sinais de ascensão continuada da candidata de Lula. Foi uma decepção que se procura atenuar com a tese de que Dilma, pelo interposto presidente Lula, continua tendo mais exposição que Serra. É tese a conferir depois do debate de quinta-feira, na Band. Nestes debates reside a grande aposta tucana. Pode ser um erro. Ó Minas Gerais - 1 A maior decepção dos tucanos serristas veio das montanhas mineiras : o Ibope aponta por lá Dilma com 12 pontos de vantagem sobre Serra. Mais do que a vantagem que Lula alcançou sobre Alckmim em 2006, de pouco mais de 10%. A avaliação é a de que Aécio Neves ainda não arregaçou de fato as mangas, o que explicaria também a enorme vantagem que Hélio Costa tem sobre o candidato do ex-governador, Antonio Anastásia. Em Minas também há esta impressão : Aécio ainda não foi com toda a vontade para as ruas, nem por Serra nem por Anastásia, o que passaria a acontecer esta semana. Ele não pode perder o Palácio da Liberdade para não ficar sem espaço em Minas e com o futuro comprometido. A dúvida é sobre o que Aécio quer no Palácio do Planalto. Em Brasília a fofoca política diz que o jogo do mineiro seria outro e envolveria a presidência do Senado para ele já em 2011, em mais um surpreendente lance de nosso "presidencialismo de coalizão". Ó Minas Gerais - 2 Na interpretação dos tucanos, a estratégia do marqueteiro Duda Mendonça de colar a imagem do candidato Hélio Costa a de seu vice Patrus Ananias, de boa imagem no Estado, reforçada pelos anos de gerência do programa bolsa-família, expõe toda a fragilidade da candidatura do peemedebista. Ninguém vota em vice, insinuam os tucanos. Vê-se também, no caso, o tamanho do sacrifício que Lula exigiu dos petistas mineiros - a chance de tentar chegar, com um candidato competitivo, pela primeira vez ao Palácio da Liberdade. E ainda por cima com o risco de queimar eleitoralmente um bom nome como o do ex-prefeito Fernando Pimentel. Não vai ser fácil para Pimentel bater o ex-presidente Itamar Franco na disputa pela segunda vaga mineira no Senado, uma vez que a primeira vai ficar com Aécio mesmo. Para completar, se a chapa de Hélio Costa perde, Patrus Ananias também sai prejudicado. E Dilma, se eleita, não poderá compensar dois derrotados de Minas com bons lugares em Brasília. Se tudo isso ocorrer, o que não é improvável, o PT de Minas Gerais terá de começar de novo a partir do caos. Persona versus persona Será muito provavelmente no confronto entre as pessoas de Dilma e Serra que a campanha de TV e rádio tucana se desenvolverá. Na ausência de um discurso sedutor do ponto de vista programático, as lideranças tucanas acreditam que a personalidade "explosiva e antipática" de Dilma há de ser revelada ao público que tenderá a rejeitá-la. Uma aposta e tanto. Contudo, diante dos últimos números das pesquisas, já existem pressões da aliança oposicionista gritando por um plano B caso o confronto pessoal não surta efeitos. O tal plano B ainda não está totalmente idealizado, mas consistiria em atacar o governo Lula de frente, sobretudo no que tange aos escândalos conhecidos. Também seria uma aposta e tanto. Choro multipartidário Mesmo esvaziada politicamente pelo recesso do Congresso e pela campanha eleitoral, a Brasília partidária estava na semana passada mais para carpideiras do que para alegres candidatos em busca das urnas. A queixa é geral : os cofres dos investidores ainda estão muito modestos. Parece que há muito receio com a vigilância da imprensa e o ativismo do TSE. Até as "contribuições ocultas", aquelas feitas aos partidos para serem posteriormente distribuídas aos candidatos, sem necessidade de identificação do doador, estão arredias. Para a sociedade, esta conjuntura é positiva. Ataques eletivos Abriu-se a temporada de divulgação dos resultados dos bancos no Brasil no segundo trimestre do ano. Pelos primeiros já conhecidos, do Bradesco e do Santander, com excelentes desempenhos. Agora, porém, não ouviremos, pelo menos dos ares que sopram de Brasília de alguns políticos e de alguns partidos, nenhuma grita ensurdecedora contra os banqueiros e seus lucros inescrupulosos. Afinal, estão em plena temporada de caça aos investidores em campanhas eleitorais. Barganhas estatais Há mais de dois meses anunciamos nesta coluna que coisas muito estranhas estavam ocorrendo nos Correios. Semana passada, discretamente para não fazer marolinhas eleitorais, o presidente e um dos diretores da empresa foram afastados, homens de fé do PMDB e do ministro Hélio Costa. Para o lugar da presidência nomeou outro homem de fé do PMDB, agora da extração brasiliense. E para compensar Costa e o PMDB foi nomeado um diretor de time de basquete, ligado ao cabeludo suplente do candidato peemedebista ao governo de Minas, Wellington Salgado, para uma vaga na ANTT. Os nomeados nem precisam ser nominados. Sua credencial é a filiação partidária e o QI (nada relacionado com inteligência). A supertele nacional Muita água do Rio São Francisco ainda vai ser desviada até que sejam contados todos os detalhes políticos da entrada da PT - Portugal Telecom na Oi, ou BrOi. Outra quantidade idêntica de águas franciscanas ainda rolará até que sejam descobertas as vantagens para o consumidor de serviços de telecomunicações os negócios realizados na semana passada, apadrinhados por Lula e etc. Uma coisa é certa, porém : evitou-se que o governo, com seus braços empresariais do BNDES, dos fundos de pensão das estatais e outros tais, tivesse de dar uma mãozinha a mais do Tesouro à supertele nacional, agora binacional - luso-brasileira da silva. Há algum tempo escrevemos neste espaço que o governo faria tudo para desatar o mais rapidamente possível o nó da Vivo. Foi isto que foi feito.
terça-feira, 27 de julho de 2010

Política & Economia NA REAL n° 111

BC, nada de novo O COPOM reduziu o ritmo de elevação da Selic. O aumento de 0,5%, elevando-a para 10,75%, não contrariou as expectativas, ao contrário, confirmou-as. Os últimos e moderados números de crescimento reforçaram a convicção de que o BC será mais leve na atual campanha de subida dos juros. Todavia, este é apenas um detalhe em meio à percepção de que, diante de elevados gastos públicos e atividade forte, a autoridade monetária vai continuar a protagonizar seu papel de "guardiã da moeda". Os juros estão em alta e vão continuar subindo. O ritmo mudou, mas o samba-enredo é o mesmo. Até o final do mandato de Lula. A política monetária vai mudar Se no curto prazo a política do BC não muda, há razões de sobra para acreditarmos que a partir do próximo mandato, seja quem for o presidente, vai sofrer alterações. A independência do BC é incômoda para os dois principais candidatos. Eles consideram a política monetária como parte integrante de toda política econômica (o que de fato é), mas têm visões que pregam que a harmonização deve ser feita em um âmbito no qual a Fazenda e o presidente possam defini-la. Ora, isto destoa do atual cenário do BC. Isto não significa necessariamente que haverá irresponsabilidade na condução da política de juros, mas a segurança de um BC mais autônomo deve ser perdida. Note-se que o caminho para tanto está mais pavimentado de vez que a constituição atual do COPOM é mais intestina ao próprio governo e isto facilita a mudança desejada por Serra ou Dilma. A política fiscal Se a política monetária será mais independente no próximo mandato, a política fiscal assumirá um papel mais substantivo. Disciplinar os gastos públicos e aumentar a eficiência dos investimentos estatais ganhará papel crucial para a manutenção da estabilidade de preços. Ora, aqui há diferenças e semelhanças entre os candidatos de toda a ordem. Destacamos apenas uma : Serra é um fiscalista convicto, conhece a máquina pública e exerce a coerção na execução dos gastos. Todavia, é um intervencionista nos moldes da CEPAL - Comissão Econômica para a América Latina e Caribe. O seu intervencionismo é relativamente flexível frente às regras de relacionamento com o setor privado, estimulando este último a participar dos investimentos. Já Dilma acredita menos em disciplina fiscal de curto prazo e mais nos resultados futuros dos investimentos públicos e seus efeitos sobre o setor privado. Ou seja, para ela o Estado é necessariamente uma locomotiva que corrige a ausência de investimentos privados. Assim, é menos propensa em ceder nas regras de relacionamento com o setor privado. Parece uma diferença sutil como alguns órgãos de imprensa - local e internacional - informaram. Todavia, não é nada sutil. Cenário confuso De um lado, resultados corporativos estimulantes da crença de que a economia mundial vai crescer, de outro números macroeconômicos sofríveis. Assim está a conjuntura nos EUA e na Europa. Uma confusão mental e tanto, para os analistas. Com efeito, somente no próximo trimestre do ano é que teremos mais luzes para iluminar as "bolas de cristais". Até lá, tanto o mercado quanto a economia vão oscilar muito e, na média, ficar onde estão. Radar NA REAL 16/7/10   TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA alta alta - Pós-Fixados NA alta alta Câmbio ² - EURO 1,2946 estável estável - REAL 1,7643 baixa baixa Mercado Acionário - Ibovespa 66.322,99 estável/baixa estável/baixa - S&P 500 1.093,67 baixa baixa - NASDAQ 2.245,89 baixa baixa (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável As pesquisas e suas confusões Mesmos os analistas comprometidos com uma ou outra das principais candidaturas, possuidores lá de informações privilegiadas das pesquisas reservadas que as duas campanhas mandam fazer, estão confusos com a divergência de números nos últimos levantamentos do Vox Populi e do DataFolha. Algo não está batendo. As diferenças de metodologia - Vox pesquisa em casa, DataFolha nas ruas - e do tamanho da amostragem - pouco mais de 3 mil do primeiro, mais de dez mil do segundo - não explicam por si sós a vantagem de percentuais para Dilma num e de um p.p. para Serra no outro. Descarta-se, pela boa imagem dos dois institutos, qualquer hipótese de manipulação ou erro grosseiro. Mesmo um encadeamento de perguntas, ainda que involuntário, que possa induzir respostas favoráveis a um ou outro concorrente, não justifica tal discrepância. Muitas hipóteses foram levantadas por especialistas, jornalistas e palpiteiros, nenhuma conclusiva. Como não pode ser coisa do Sobrenatural de Almeida (homenagem a Nelson Rodrigues), nem artimanhas do Saci-Pererê ou do Boto, há que perscrutar mais. O Ibope vem aí até o fim de semana para talvez dar mais luz às dúvidas. Ou, para no melhor estilo Chacrinha, confundir ainda mais. Versão mineira para pesquisas Um experiente político mineiro, desses capazes de ouvir diretamente o sopro das urnas, sem precisar do auxílio da ciência estatística, e que por mineirismo no momento prefere o anonimato para não se comprometer, diz que a charada pode ser explicada pelo fato de nem a eleição nem os candidatos terem "pegado". Esperava-se que o eleitor, saído da Copa, mergulharia na campanha. Está preferindo outros divertimentos. Cinquenta por cento deles para o DataFolha e 45% para o Vox Populi ainda não definiram em quem votar. O campo está aberto, o que aumenta a relevância do horário obrigatório no rádio e na televisão e a responsabilidade dos marqueteiros. Na bolsa de apostas Nos meios mais bem informados, aqueles que já se ligaram nas eleições, a bolsa de apostas tende mais na ocasião para Dilma, mesmo entre os potenciais eleitores de José Serra. As razões para o palpite : a boa economia, Lula e a incrível falta de "pegada", de uma ideia forte, da campanha tucana. Ninguém, porém, esta jogando todas as fichas nas possibilidades da governista. Os donos do mundo Pelo que se pode inferir da longa entrevista de Michel Temer ao jornal Valor Econômico, o programa de governo de Dilma, caso eleita, será o do PMDB, ou mais próximo dele do que do PT que a candidata demonizou ao trocá-lo do TSE em menos de 12 horas. E quem dará as cartas neste governo futuro será quem fizer a maior bancada, isto é, se não sobrevier um desastre, o PMDB. Por trás de muitas ressalvas, Temer emergiu da entrevista já vestido com a faixa de primeiro-ministro ad hoc da provável gestão Dilma. É por essas e tantas outras que o PT está reforçando o cordão sanitário em torno de sua candidata e o tal conselho político da campanha da petista, com representantes de todos os partidos aliados não passa de um bibelô de penteadeira - enfeite de gosto duvidoso e inútil. Quem decide agora é Lula, Dilma, Palocci e José Dirceu. O restante é figuração. A dona do mundo Registra-se nos arrabaldes dilmistas cada vez mais irritação com conversas do tipo de que ela será submetida à vontade de Lula, à tutela de grão-petistas redivivos e de peemedebistas açodados. Passada a eleição, diz-se, ela vai mostrar de fato quem é : a Dilma de sempre, como naquela foto premonitória publicada pelo Estadão esta semana, com jeito crispado e dedo em riste. Uma seria persona eleitoral, que se deixa moldar. Outra seria a persona real. Para mostrar autonomia, ela pode tentar mudar muito mais que se imagina se for eleita. Daí a inquietação geral em Brasília, mesmo entre os adeptos da candidatura oficial, convictos de que ela já venceu. Pergunta inocente De um editorial do Estadão a respeito da desenvoltura financiadora do BNDES : "Trata-se de criar campeões nacionais ou apaniguados muito especiais ?" Ajuste de linguagem Por falar em BNDES, as autoridades econômicas precisam combinar o que vão dizer em público. O presidente do BNDES disse, viva voz, que era muito difícil calcular os custos para o Tesouro Nacional da operação "contabilidade de padaria" em que o governo toma dinheiro ao preço da taxa Selic (R$ 180 bilhões em duas operações, no ano passado e neste ano) e repassa ao banco para emprestar a 6% ou até menos. Dois dias depois, talvez com a ajuda de um super-computador, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, apareceu com um cálculo quase preciso : custa ao contribuinte, entre R$ 5 bilhões e R$ 5,5 bilhões anuais. Apetite pantagruélico Tem um gosto refinado o BNDES; ficou com quase 100% dos R$ 3,746 bilhões em ações lançados pelo frigorífico JBS e admite adquirir os R$ 2,5 bilhões também em debêntures que o frigorífico Marfrig anunciou que vai emitir caso não apareçam investidores privados interessados. Torcida no mundo da teles Em Brasília e num dos vértices do antigo "triângulo das bermudas estatal" no Centro do Rio, região onde se situam a Vale, a Petrobras e o BNDES, é imensa a torcida para que o negócio da compra da Vivo pela Telefônica se concretize o mais rápido possível e os portugueses da Portugal Telecom fiquem com o caixa gordo para desembarcarem na Oi. Isto evitaria desembolsos oficias e para-oficiais para a ex-quase multinacional brasileira de telecomunicações. O maior obstáculo, segundo gente do ramo, estaria na questão do controle acionário da Oi, o que estaria levando a certo desgaste da imagem de dois big bosses queridinhos na capital, generosos investidores eleitorais. Com as arcas recheadas e livres de um punhado de processos, Daniel Dantas gargalha nas arquibancadas. Dinheiro e política Faltando menos de dois meses para o "maior IPO do mundo" e a Petrobras ainda não explicou perfeitamente como vai proceder para vender algo como até US$ 80 bi de ações. Uma obrigação de transparência numa companhia com ações negociadas em bolsa no país e no estrangeiro e sob o controle acionário do governo. Há algo confuso nisto tudo. Pode ser apenas mera coincidência, mas as brigas pelo poder no seio oficial fazem circular, desde a semana passada, nomes de futuros presidentes da companhia. E na lista não há nada parecido com José Sérgio Gabrielli.
terça-feira, 20 de julho de 2010

Política & Economia NA REAL n° 110

Confirmada a tendência negativa A divulgação dos resultados corporativos nos EUA somada com a maior fragilidade dos indicadores de consumo e, sobretudo, de expectativas, derrubou os preços dos ativos na semana passada. Mais importante que olharmos a "fotografia" daquilo que ocorreu pontualmente na semana passada, é importante nos fixarmos no "filme" dos últimos dois meses. A crise europeia reduziu substancialmente as perspectivas de crescimento mundial. A recuperação da economia norte-americana era consistente, mas ainda frágil naquele período. De lá para cá, o consumo se tornou mais instável e os investidores mais ariscos. Resultado : pouco a pouco, os fundamentos voltaram a se deteriorar e as expectativas entraram num ciclo vicioso. Agora, discute-se abertamente a possibilidade de uma dupla recessão mundial. Se ela vai ocorrer, ninguém pode ser categórico, assim como negligenciar os seus efeitos sobre as expectativas é erro substantivo. Brasil : atividade em redução A redução dos incentivos fiscais do governo a diversos setores, a elevação da taxa de juros e a dinâmica do investimento - em alta, mas ainda insuficiente - tem influenciado o desempenho da atividade econômica no Brasil. Nada que nos leve a concluir que se trata de uma reversão da tendência positiva da economia brasileira. Todavia, os sinais são de uma estabilização e provável queda da atividade neste segundo semestre. Isto coloca o BC numa posição mais delicada para aumentar a taxa de juros básica, bem como, faz com que os agentes olhem mais para o cenário externo e seus possíveis efeitos sobre as expectativas cá no Brasil. Não à toa, a bolsa de valores patina : ela sinaliza a fortaleza do país frente ao fraco cenário externo - uma vez que permanece com preços elevados - e, ao mesmo tempo, representa a ausência de uma atividade econômica crescente. Radar NA REAL Recomendar cautela aos nossos leitores tem sido uma prática constante desde quando detectamos, há dois meses, que os mercados mundiais tinham exaurido o desempenho eufórico iniciado no primeiro trimestre do ano passado. Agora o cenário é de alta volatilidade e inquietação constante dos investidores sobre o futuro. Do nosso ponto de vista, o risco dos mercados mundiais vai aumentar ainda mais nas próximas semanas em função da divulgação dos resultados corporativos do segundo trimestre do ano, bem como os sinais vitais emanados das principais economias mundiais, sobretudo os EUA. Preocupa-nos particularmente o andamento da política monetária brasileira. Como dissemos na nota acima, a atividade econômica parece estar se reduzindo e as pressões inflacionárias devem ceder. Ora, o BC arriscaria fazer um movimento adicional de elevação da taxa de juros ? Qual seria o ganho no médio prazo ? Estas são perguntas que vão se tornar mais enfáticas nas próximas semanas. Por fim, estamos mais pessimistas relativamente ao mercado acionário dos EUA. Nas próximas semanas, serão eles a sinalizar o humor do mercado. Que não anda bom, diga-se. 16/7/10   TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA alta alta - Pós-Fixados NA alta alta Câmbio ² - EURO 1,2964 estável estável - REAL 1,7726 baixa baixa Mercado Acionário - Ibovespa 62.339,27 estável/baixa estável/baixa - S&P 500 1.064,88 baixa baixa - NASDAQ 2.179,05 baixa baixa (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável Bala envenenada Pelo andar do cabriolé, o Brasil vai engasgar feio com o tal TAV - Trem de Alta Velocidade - que está sendo empurrado goela abaixo do país em altíssima quilometragem. Nada explica tanta pressa num negócio avaliado em R$ 33 bilhões e alguns quebrados, inicialmente, com direito futuro aos aditamentos e outras providências naturais. 1. Na área de transportes, o Brasil tem outras necessidades muito mais vitais. 2. O maior problema do país, no setor, não é o transporte interurbano de passageiros. É o transporte público de massa nas grandes metrópoles e o transporte de cargas. 3. O projeto, que no passado foi vendido como "coisa da iniciativa privada", vai consumir mais dinheiro público do que se imagina, com os financiamentos subsidiados do BNDES, a capitalização de uma nova estatal em mais de R$ 3 bilhões e algo mais no futuro. A Usina de Belo Monte começou também como uma concessão e antes mesmo do início das obras já está com 80% do capital nas mãos do Estado ou dos fundos de pensão ligados às estatais. 4. O projeto está incompleto, pois menos de 5% dos estudos geológicos foram realizados até agora, o que poderá elevar substancialmente o custo final das obras. É por essas tantas que o TAV começa a ser chamado também de TAE  - Trem de Alta Eleitoralidade - e de TAP - Trem de Alta Periculosidade. Nem a "bala de prata" do Zorro é tão mortífera para os bandidos que o herói persegue quanto pode ser este trem bala para os cofres públicos nacionais. Mês produtivo. Produtivo ? Julho está sendo altamente produtivo para o lado mais estatizante do governo Federal. Viu, finalmente, nascer a Petro-Sal, com o aval do Congresso, e está para pôr de pé duas outras empresas estatais : a Segurobrás, para a área de seguros, e a Balabrás, com um capital superior a R$ 3 bilhões, para administrar o Trem de Alta Velocidade. Além da participação oficial na Usina de Belo Monte já ter passado dos 80%. Devagar, o Estado brasileiro vai engordando. É a emulação petista dos governos dos generais. Em nome do esporte A Copa de 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016 estão gerando medidas facilitadoras que, no futuro, poderão gerar coisas a respeito dos quais até Deus duvidará. A gestação destas medidas está com os burocratas do governo. Alguns torcem o nariz para o que veem. Todavia, a ordem vem de cima e com tom elevado. Competição ameaçada Embora o governo, pelo menos para o consumo externo, revele despreocupação, está crescendo entre os especialistas o temor com a acentuada perda de poder de competição da indústria nacional e com uma possível consequente desindustrialização do país. Somente entre sábado e ontem dois técnicos reputados trataram do tema : o professor David Kupfer, da UFRJ, e o economista Julio Gomes de Almeida, do IEDI - Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial e ex-secretário de política econômica do ministério da Fazenda sob a gestão Mantega. As análises se sustentam em dados da balança comercial. Por exemplo : as compras de bens de capital cresceram 26,2% no primeiro semestre na comparação com o mesmo período do ano passado, contra aumento de 49% nos bens de consumo. Ou seja, mais e mais estamos dependendo das exportações de produtos primários. No longo prazo pode ser desastre anunciado. E até antes, se a China, grande compradora dessas mercadorias, desacelerar de fato. Drogas : preocupação crescente O México viveu uma semana de terror - ou "narcoterror" como classificam suas próprias autoridades. Na madrugada de sábado um grupo armado invadiu uma festa de aniversário e matou 17 pessoas. Foram 57 mortes no fim de semana, ao todo. Na quinta-feira, um carro bomba explodiu pela primeira vez no país. A explosão e a chacina foram na região norte, na linha de passagem de drogas para os EUA. O México está definitivamente na rota do narcotráfico. No Brasil, pesquisas apontam a violência urbana (incluindo aí a questão das drogas e, em particular, o avanço do consumo de crack rumo à classe média) como a segunda maior preocupação dos brasileiros, atrás apenas da saúde (ver nota da semana passada). O governo lançou há menos de um mês um programa de combate às drogas, recebido sem entusiasmo, pois tinha ranço eleitoral. Desses que parecem feitos sob medida para cobrir lacunas de campanha, ao sabor dos eleitores. Não foi à toa que Serra há semanas acusou a Bolívia de Evo Morales, amigo de Lula - e, portanto, de Dilma - de propiciar o tráfico para o Brasil. Índio do Brasil, o vice de Serra, exagerou na dose, no tom e em tudo o mais quanto tentou ligar o PT e sua candidata ao terrorismo das Farc e tudo o mais, mas estava na rota da campanha oposicionista de acuar a situação neste assunto. O problema está ficando sério demais para ser tratado apenas com o olho gordo nas urnas. O ramerrão eleitoral Nada mais desinteressante, nada mais aborrecido no Brasil nos últimos sete dias - ou até mais - do que a campanha eleitoral, com sua charrete-chefe da sucessão presidencial. Os principais candidatos fazem todo o esforço possível para ficarem cada vez mais parecidos uns com os outros. E para que ninguém descubra suas ideias e intenções mais recônditas, apenas as mais óbvias. Esta semana talvez traga alguma emoção. Dois institutos - Vox Populi e DataFolha - vão divulgar pesquisas eleitorais nos próximos dias e, apesar de não ter ocorrido nada que justifique mudanças significativas em relação aos levantamentos de opinião anteriores, sempre pode surgir uma surpresa. Pouco a dizer Teremos também mais uma rodada de entrevistas, ainda não de debates, na TV Brasil : Dilma quarta, Serra quinta, Marina sexta. Será um teste a mais para o esconde-esconde dos candidatos e também para o jornalismo da televisão oficial. Se eles conseguirem manter o padrão das aparições anteriores, no Roda Viva da TV Cultura de SP, será tudo muito morno e dispensável. Urticária de Dilma Teremos na quarta-feira mais uma definição do BC em torno da taxa de juros básica da economia. Um assunto que causa urticárias no comitê de Dilma, pois dependendo do aumento escolhido pelo Copom ela não poderá calar, mas também não poderá falar muito. E que gera alvoroço no território de Serra, pois pode dar a ele mais um mote para bater na política monetária de Lula.
terça-feira, 13 de julho de 2010

Política & Economia NA REAL n° 109

A "dupla recessão" I Depois da reunião dos países do chamado G-20, ficou evidente a divisão entre os países europeus e os EUA no tratamento da atual crise econômica. Há duas posições nítidas : os europeus estão investindo esforços políticos para viabilizar a disciplina econômica e reduzir os déficits fiscais nos países da eurolândia. Tudo isso em meio à recessão na maioria dos membros da UE. O desemprego está elevadíssimo e a atividade econômica, já carente de consumo, é mais capenga ainda de investimento. Já os EUA permanecem numa posição menos hesitante : estão dispostos a pagar o preço dos déficits elevados e tentar recuperar o emprego e o consumo que se perderam após o final de 2008. Há limites políticos para tanto, mas estes ainda não foram preenchidos. A "dupla recessão" II O cenário entre os países desenvolvidos se completa com as perspectivas mais positivas dos países emergentes, sobretudo a China. Todavia, há algumas dúvidas no front que inspiram cuidados : a China persiste crescendo ao redor de 10% ao ano, com a inflação e as contas públicas apresentando sinais negativos. É possível que em 2011 o governo comunista de Pequim resolva estabilizar o crescimento num patamar mais baixo, digamos, 6% ou 7%. Isso no momento em que a demanda mundial está fraca. Não se trata de algo promissor. O mesmo pode acontecer na Índia e Brasil. A Rússia depende muito das variações dos preços do petróleo. Estes aspectos não causam impacto no curto prazo, mas devem afetar o cenário no médio prazo. A "dupla recessão" III O problema das variáveis acima relacionadas é que os setores mais dinâmicos da economia, sobretudo o mercado de capitais, estão se tornando paulatinamente avessos a investir. Temem que a falta de impulsos concretos à demanda possa alimentar um longo período de fraqueza econômica e, até mesmo, uma outra recessão. Os preços dos ativos (ações, títulos de renda fixa, etc.) refletem um cenário de recuperação gradual, mas a discussão em torno de uma nova recessão deve alimentar uma nova rodada de especulação. A volatilidade voltou a subir nas últimas semanas, muito embora houvesse uma recuperação dos mercados. Não tenhamos ilusões : todo mundo está "com as barbas de molho". A discussão eleitoral no Brasil A campanha política deste ano será marcada por forte proselitismo em torno do crescimento. Todavia, é muito improvável que os eleitores tenham, da parte de Serra e Dilma, evidências mais concretas de como as barreiras fiscais, tributárias, sociais e de infra-estrutura - que impedem que o crescimento seja mais robusto - serão removidas. Assim, tudo não passará de uma discussão sobre quem é o "melhor gerente" do país. Todavia, a possibilidade concreta de um cenário externo frágil por longo tempo imporá mais critério na gestão fiscal e monetária a partir da inauguração do novo governo. Infelizmente, este aspecto não será tocado pelos candidatos e nem percebido pelos eleitores. (veja as duas notas abaixo) Caça aos eleitores Desde que as modernas técnicas de marketing político e eleitoral desembarcaram no Brasil, os ditos marqueteiros têm-se se esmerado em dar na comunicação dos candidatos aquilo que as pesquisas indicam ser a agenda, as reivindicações, as preocupações da população. As pesquisas determinam a pauta, as promessas, recheiam os discursos e alimentam os programas de governo, mesmo que o futuro governante tenha outras ideias. Acredita-se que a boa abordagem dos temas que a sociedade deseja ver resolvidos ajuda a angariar votos. No Brasil, antes do Plano Real e do atual processo de distribuição de renda e crescimento da economia, o topo desta lista era ocupado por inflação, emprego e salário, não necessariamente nesta ordem, dependendo da conjuntura. Agora, nessas eleições, a situação é outra. A saúde no topo Em primeiro lugar na lista das preocupações dos brasileiros neste ano da graça de 2010 está a saúde, curiosamente a área menos bem avaliada do governo Lula em diversas pesquisas. Em seguida, pela ordem, ficam : segurança pública (com a questão das drogas), desemprego, educação/fome e pobreza. Na opinião dos eleitores pesquisados, o candidato José Serra é o mais bem preparado para resolver os primeiros (saúde e violência urbana), Dilma o terceiro e o último (desemprego/fome e pobreza) e em educação os dois teriam as mesmas condições. Será fascinante acompanhar os ditos do tucano e da petista a respeito desses assuntos. A política externa Lula alterou substancialmente a rota da política externa do Brasil. Tornou-a multipolar e com alianças pontuais e dependentes do interesse temático. Não há alinhamentos automáticos, nem mesmo na América do Sul. O episódio do acordo com o Irã é talvez o mais emblemático. Resta saber o que pensam os candidatos sobre este tema que não atrai muitas preocupações dos eleitores, mas que será vital para os negócios do país. Sobretudo, quando a expansão dos investimentos estrangeiros no país está aumentando em velocidade e relevância. Dias de alívio passaram A semana promete pelo menos uma nova pesquisa eleitoral. Vai-se o sono da oposição e do governo, depois que as mais recentes sondagens convergiram para um empate entre Dilma e Serra. Um estudo do ex-prefeito César Maia, sobre a média dos levantamentos dos principais institutos, com base apenas nos votos válidos, aponta os dois, no fim de junho, com 44% cada na intenção de votos. A expectativa da oposição é que as novas pesquisas validem suas teses de que se esgotou a capacidade de transferência de votos de Lula para a pupila dele e que ela agora terá de andar sem as muletas presidenciais. A situação espera confirmar sua análise de que a recuperação de Serra é fruto da grande exposição que ele teve no rádio e na televisão por conta das aparições em programas dos partidos que o apóiam. Para os especialistas, o início oficial - quanta hipocrisia ! - da campanha não vai alterar o retrato do fim do mês passado. Agora, o grande eleitor vai ser a televisão. A não ser que aconteça algo de muito inusitado. BNDES no foco Dois grupos estão com suas atenções voltadas para o gigante do fomento. O primeiro, feliz, pois de lá está rolando dinheiro farto e barato. O outro, preocupado, pois a generosidade da instituição pode virar uma perversidade para as contas públicas e a economia nacional. Já causa apreensão ao BC, ciúmes no BB e é mais procurado do que o Ministério da Fazenda. É quase um superministério da Economia. Promiscuidade estatal Alerta de quem entende : está ficando perigosa a relação dos cofres do Tesouro Nacional com os de algumas empresas estatais. Já se fala em "orçamento paralelo", em "nova conta movimento" que nos tempos do regime militar funcionava como fonte para os projetos estatais via BB e outras bruxarias que custaram muito caro para a sociedade. E o Congresso ? Os parlamentos surgiram como um elemento de fiscalização e controle do erário. Fosse na era absolutista ou após as revoluções pós-1789, os políticos exerceram um papel fundamental para que o Estado não avançasse mais do que deveria sobre a sociedade. No Brasil, país de forte preponderância do Executivo, chega a ser impressionante o papel passivo do Legislativo na fiscalização dos gastos do governo. Os avanços do setor estatal são enormes, tanto quanto o acanhamento do Legislativo. Trata-se de uma questão vital para a sociedade, mesmo que esta também esteja passiva perante tudo que está aí. Para o veto de Lula Quando o Congresso estava para aprovar o aumento de 7,7% para as aposentadorias do INSS acima do salário mínimo, contra os 6 e poucos por cento propostos pelo Planalto, o governo ameaçou com o veto de Lula, caso deputados e senadores insistissem numa medida que, segundo o diagnóstico dos ministros Guido Mantega, seria um desastre para as contas públicas. Com os ventos eleitorais soprando cada vez mais fortes na sua nuca, o presidente fez com que os dois ministros encontrassem os cerca de R$ 1,6 bilhão que é o que custará a "bondade" do Congresso este ano e para todo o sempre, pois é uma despesa continuada. Semana passada, os congressistas, no bojo da LDO, com os aplausos das centrais sindicais, hoje totalmente engajadas na campanha presidencial patrocinada por Lula, deram curso a outra generosidade : determinaram que todas as aposentadorias e pensões do INSS devem ter um aumento idêntico ao que for dado ao salário. Pelos cálculos iniciais, tem um poder detonador de um "desastre" pelo menos dez vezes superior ao dos 7,7% que ele não vetou. Vetará agora em nome da apregoado responsabilidade fiscal de seus ministros econômicos ? Um segundo veto ? Na mesma LDO o governo deveria observar com atenção algumas "liberdades poéticas" concedidas pelos parlamentares a ministérios e órgãos públicos com potencial para produzir gastos excessivos e escândalos de bom tamanho. É o caso da exclusão das obras oficiais para a Copa do Mundo de 2014 e para a Olimpíada de 2016 da lupa do TCU. E de normas que também dificultam o olhar o TCU sobre a Petrobras e a Eletrobrás ? Vetará Lula tais liberalidades, ele que nunca morreu de amores pelo TCU e seu rigor nos últimos anos ? Qual o jogo da Anatel ? Quem entende do riscado está alarmado com a decisão da Anatel, por medida cautelar, de tornar mais flexível o processo de concessão de TVs a cabo no Brasil. Em princípio, a liberalização é bem-vinda, pois ampliará a competição numa área ainda muito concentrada e de grande importância para a economia. Porém, do modo como está o setor e como ficaram as normas, apenas uma empresa poderá se beneficiar com as mudanças, ganhando vantagens no mercado mais cobiçado do momento e o considerado o negócio do futuro nas telecomunicações - o de banda larga. O mesmo no qual o governo está entrando, com mais volúpia do que admite publicamente, com a reinauguração da Telebrás. Segundo um estudo da IBM, conhecido na semana passada, em 2015 haverá no mundo 800 milhões de assinantes de banda larga fixa e 1 bilhão de banda larga móvel. E seria ilegal Juristas asseguram que, além de tudo, a decisão da Anatel é ilegal. Ela não pode, cautelarmente, suspender, como de fato o fez, normas da lei de TV a cabo. É função do Congresso, não de uma agência reguladora. Ainda mais uma agência cada vez mais submissa aos desejos do Executivo. Radar NA REAL Conforme dissemos nas notas que abrem esta coluna, a volatilidade dos mercados mundiais tem aumentado em função dos riscos de que haja uma nova rodada de desaquecimento da demanda global. Isto depende de muitas variáveis, é claro. Todavia, os riscos estão aí presentes e devem colocar um teto à crença de que há consistência na recuperação econômica. Assim, os diversos segmentos do mercado financeiro internacional estão nervosos com as perspectivas relativas à economia mundial. Nas próximas semanas, teremos a divulgação dos resultados trimestrais das principais empresas no mercado norte-americano. Estes resultados devem dar indicações sobre a saúde da recuperação mundial. Sobretudo, no caso das empresas transnacionais, os analistas irão se deparar sobre a origem destes resultados. Por enquanto, os resultados obtidos nas principais economias mundiais são sofríveis, exceção a uns poucos segmentos da área de tecnologia. Não estamos alterando o nosso radar que persiste negativo na maioria dos segmentos. Nas próximas semanas, teremos um aceso debate sobre a política monetária. Os indicadores brasileiros de consumo, investimento e inflação mostram sinal de estabilização. Nesse contexto, o quanto pode subir ainda a taxa de juros ? Esta pergunta ainda não tem resposta. 9/7/10   TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA alta alta - Pós-Fixados NA alta alta Câmbio ² - EURO 1,2576 baixa baixa - REAL 1,7626 baixa baixa Mercado Acionário - Ibovespa 63.476,32 estável/baixa estável/baixa - S&P 500 1.077,96 estável alta - NASDAQ 2.196,45 estável alta (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável
terça-feira, 6 de julho de 2010

Política & Economia NA REAL n° 108

Como explicar ? Na média, umas pelas outras, as pesquisas de opinião pública dão a Lula uma popularidade superior a 80%. A aprovação de seu governo fica apenas uns números abaixo. Por onde passa, Lula encanta. A economia, vista no curto prazo, vai bem, obrigado. Há mais dinheiro no bolso da maioria dos brasileiros, principalmente nos de classe de renda mais baixa. Lula faz os diabos e um tanto mais para eleger o sucessor. Os eleitores brasileiros já estão informados que Dilma é o codinome de Lula na urna eletrônica. Nunca um candidato presidencial reuniu a seu lado tão amplo e heterogêneo arco de apoio partidário. Por que, com tantos e tão variados fatores positivos e com uma oposição tão sem rumo, Dilma até agora não se distanciou com grande vantagem de Serra ? É isto que intriga e planta caraminholas em muitas cabeças coroadas. Contas tucanas Com o segundo Ibope em menos de uma semana confirmando o DataFolha no empate técnico entre Serra e Dilma, contrariando prognóstico anterior do mesmo Ibope e do Vox Populi de que a petista tinha ultrapassado o tucano, além da margem de erro, o front oposicionista começou a trabalhar com a tese de que se esgotou a capacidade de transferência de grandes levas de voto de Lula para a pupila. Seria apenas marginal agora e a eleição seria olho no olho, onde Serra levaria vantagem. Contas petistas Naturalmente, não é o que se pensa nas hostes oficiais. Por lá fala-se em desvio estatístico - se não em juízos piores para os pesquisadores. No íntimo, o jogo é dado como liquidado no primeiro turno. Se alguém tem vocação para ser a seleção de Dunga, seria a oposição. Lula é craque, avalia-se (e não há dúvida de que o é na arte da política), e ainda não se expôs nem um décimo do arsenal de providências que tem para ajudar Dilma. O baú vai começar mesmo a ser aberto depois da viagem presidencial à África, esta semana. De todo modo, por precaução, Dilma vai continuar sendo preservada dos embates mais arriscados. Estratégia agressiva Se depender de alguns conselheiros, Serra será cada vez menos condescendente e cada vez mais contundente nas críticas às políticas do governo Lula. E não apenas Serra, todos os grandes nomes da aliança oposicionista seguirão na mesma linha. Veja-se o artigo do ex-presidente FHC no Globo e no Estadão deste domingo. O problema é como atingir um governo - e alguém - com os níveis de aceitação de Lula e de sua administração. Discurso complexo Para os trabalhadores, inclusos aí os da classe média, e substancial parte do empresariado a economia vai bem. Assim, é muito difícil articular a "política econômica" da candidatura presidencial da oposição. Ademais, faltam convicções da oposição em relação aos temas mais caros ao futuro do país, por exemplo, política industrial, gestão monetária e política fiscal. Há a dúvida de quanto isto rende votos. Ambos os candidatos estarão com um discurso favorável "a tudo que está aí", sendo que Serra venderá a imagem de melhor gestor do setor público quando comparado a Dilma. Se vai funcionar, é discussão para lá de longa. Estratégia da provocação Outro ponto da estratégia oposicionista é provocar o governo e a candidata Dilma a saírem do discurso e se manifestar na prática. Esta semana, por exemplo, a oposição poderá dizer-se em obstrução total no Congresso se não for colocada na pauta de votação da Câmara o projeto, já aprovado no Senado, de regulamentação da EC 29. A emenda estabelece o percentual mínimo que União, Estados e municípios devem aplicar na área de saúde. E fecha brechas para que despesas não tipicamente do setor, como pagamento de aposentadorias, por exemplo, sejam contabilizadas como tal, como fazem praticamente todos, a começar pelo maior. Calculam os especialistas que isto levaria mais cerca de R$ 10 bi por ano para os cofres do setor. O projeto não anda porque tem a forte resistência dos ministros econômicos. Para dar mais para a saúde é preciso cortar em outro lugar. A oposição quer provocar : quer mostrar se saúde é ou não é prioridade de Lula e Dilma. A área é uma das menos bem avaliadas do governo Lula. E Serra aposta na sua imagem de ministro da Saúde de FHC para alavancar votos. Confusão eleitoral O Congresso, em passado não muito distante, acabou com a verticalização eleitoral no país, a obrigatoriedade de se repetir no nível regional as alianças nacionais - um partido coligado com uma legenda nacionalmente não poderia ter parceiros diferentes nos Estados. Foi um "liberou geral". Quem vê as coligações estaduais hoje e olha as coligações nacionais vê a promiscuidade que se gerou. "Todo mundo é de todo mundo". De repente, já com o processo de formalização das coalizões eleitorais em fase decisiva este ano, o TSE estabeleceu uma nova verticalização : candidatos e apoiadores não poderão aparecer em programas de propaganda regionais se seus partidos não estiverem formalmente coligados. Assim, Dilma e Lula não podem surgir na propaganda de Geddel Vieira Lima, na Bahia, como quer o PMDB. Nem Serra pode ilustrar a publicidade de Fernando Gabeira no Rio, como desejam ele e o candidato verde. A confusão foi tanta, a reação irada dos partidos foi tamanha que o TSE decidiu suspender a validade da decisão tomada por ele mesmo até uma nova análise do assunto, em agosto. Até lá os partidos estão sem saber o que fazer. Analisa-se até a possibilidade de suspender formalmente algumas alianças, o que pode ocorrer até quarta-feira. Desfecho provável O mais provável é que as coalizões sejam mantidas, até porque as medidas de verticalização do TSE só terão efeitos quando o horário eleitoral começar. No início de agosto, o TSE falará de novo. Se não voltar atrás, a disposição dos líderes parlamentares é votar imediatamente no Congresso uma resolução anulando a determinação do TSE. Já há nos partidos e no Legislativo certa indisposição contra o excesso de interferência da Justiça nas regras eleitorais. A queixa é a de que ela não está interpretando a lei, está fazendo leis. As divergências no STF em relação à lei dos fichas-sujas - dois ministros deram liminares para registro da candidaturas suspeitas e um negou - reforça, segundo parlamentares, os argumentos deles. O presidente do Senado, José Sarney, político anguloso e que, por isso mesmo, contrariando o dito popular, não dá nó sem ponta, verbalizou esta insatisfação em seu artigo semanal na Folha de S.Paulo da última sexta-feira, cujo tema foi o da judicialização da política. O juiz está comprado ? Não se sabe por artes de quem, mas não é difícil desconfiar, surgiu, entre as normas da LDO de 2011, com votação prevista para esta semana, um mecanismo estabelecendo que, no caso das obras ligadas à Copa do Mundo - lembram-se há um PAC especial da Copa - a fiscalização do TCU não será necessária. No linguajar do futebol se dizia, quando um juiz - hoje árbitro - estava aliciado para patrocinar um determinado resultado para um jogo, que ele "estava na gaveta". Tivemos famosos "gaveteiros" em nossa história futebolística. Em outra dimensão - e que dimensão - parece que estão querendo reavivar a categoria no Brasil, na perigosa intersecção entre a política e o esporte. A propósito, não custa recordar a observação do jornalista inglês sobre o tema, publicada aqui neste espaço na coluna passada. Toda a atenção da sociedade será insuficiente. Tudo na mesma O mercado financeiro é conhecido pela sua capacidade de gerar fortes emoções. Neste momento em que os países do hemisfério norte estão iniciando o período de férias, há quase nenhuma emoção nos diversos segmentos do mercado. Algo sobre o qual já comentamos em diversas colunas anteriores. O cenário permanece pálido, com tendência negativa definida, valorização excessiva dos ativos comparativamente a um cenário externo fragilizado, sobretudo nos EUA e na Europa, e especulação acesa em relação ao futuro da inflação - o que mantém o segmento de metais preciosos com preços elevados. Brasil, riscos minimizados, retornos incertos Dez em cada dez economistas reconhece que os riscos de curto prazo - 12 meses a frente - da economia brasileira não são relevantes, sobretudo porque não há furos no financiamento externo. Todavia, as condições para um crescimento chinês sustentável no médio prazo ainda não são tão claras. Ora, como o cenário de curto prazo é bom e o de longo prazo é pouco visível, os investidores olham os preços dos ativos e concluem que a hora não é de comprar e também não é de vender. Resultado : o mercado flutua e "não sai do lugar". Radar NA REAL 2/7/10   TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA alta alta - Pós-Fixados NA alta alta Câmbio ² - EURO 1,2534 baixa baixa - REAL 1,7721 baixa baixa Mercado Acionário - Ibovespa 61.429,79 estável/baixa estável/baixa - S&P 500 1.022,58 estável alta - NASDAQ 2.091,79 estável alta (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável Regulamentação do sistema financeiro norte-americano Esta coluna se aprofundou na análise das recentes medidas aprovadas pelo Congresso dos EUA em relação ao mercado financeiro do país. No fundo, trata-se de uma regulamentação de velha cepa e modernizada no que tange aos mecanismos de fiscalização e controle. Um passo relevante à frente com os olhos no passado. Todavia, os mecanismos de punição ainda são tênues frente ao potencial de "destruição" dos segmentos mais especulativos. Assim, a nova realidade do mercado é mais dura, mas dificilmente será suficiente para vedar os riscos de especulação. Tesouro dos EUA vende O governo norte-americano vendeu cerca de US$ 10 bi de ações do Citibank na semana passada ao mercado. Uma operação de sucesso, mas um aviso aos investidores : cada vez que os fundamentos dos bancos melhorarem haverá uma oferta governamental das ações que recebeu durante as operações de "salvação do sistema" entre o final de 2008 e meados do primeiro trimestre de 2009. O potencial de valorização das ações do setor financeiro está limitado pela farta oferta frente a demanda dos investidores.
terça-feira, 29 de junho de 2010

Política & Economia NA REAL n° 107

Serra : da política à economia I Afora os passos políticos que tem sido dados pelo candidato tucano, temos de observar cuidadosamente as suas propostas econômicas, e as possibilidades destas seduzirem um vasto eleitorado. De fato, a campanha de Serra cai nas mesmas ciladas conhecidas na fracassada campanha de Alckmin, em 2006. Tudo é colocado na perspectiva de que Serra é um "gerente" melhor que Lula. O candidato paulista poupa argumentos contras as políticas de Lula, mas diz que é preciso avançar. Ora, do ponto de vista estritamente eleitoral isto parece pouco, pois não há razões, digamos, objetivas para o eleitor crer nisto. Para este eleitor a economia vai bem, o emprego e a renda melhorar (sobretudo entre as camadas mais pobres), o país não tem riscos no curto prazo e há crença da comunidade internacional - política e econômica - em relação ao país. Serra : da política à economia II Este "vazio" de propostas demonstra uma das faces mais efetivas na política brasileira : a oposição no exercício de seu papel fica esperando o tropeço do governo e, enquanto isto, não se estrutura para oferecer, à luz de sua ideologia, novos caminhos que sejam atraentes ao eleitor. Tudo fica no varejo, na ocasião e num proselitismo frágil. Há, ainda, a vaidade e os interesses regionais que reduzem as possibilidades de um discurso abrangente para o eleitor. Até mesmo o papel fiscalizador da oposição está desmoralizado pelas mesmas razões que esta acusa o governo : há "ligações perigosas" de todos os partidos, em diversas esferas governamentais, com esquemas de corrupção e tudo mais que verificamos nos jornais diários. Portanto, o que vimos, até agora, do principal opositor à candidatura de Dilma, foi muito pouco estimulante do ponto de vista eleitoral. Serra deveria seguir a sua própria máxima : "é preciso avançar !". A política econômica de Dilma De forma absolutamente sucinta podemos resumir as propostas da candidata do PT : ela é a favor de tudo o que aí está. Sem tirar nem pôr. Ausência de Lula no Canadá O Itamaraty e o Planalto precisam burilar a desculpa dada para cancelar a participação de Lula, na última hora, na reunião do G-20 no fim de semana no Canadá. Logo o G-20 que Lula tanto incentivou e que serviu de bom palco diplomático para o presidente. Esta de coordenar a ajuda ao nordeste é bem fraca. Inicialmente porque uma "coordenação", em tempos de tecnologia avançada da informação, internet e tudo mais, se faz em qualquer lugar, em Brasília, em Toronto ou na Eslovênia. Dois dias fora de Brasília não mudariam nada. O presidente demorou a se dar conta da tragédia nordestina. Ela começou a explodir na sexta-feira, dia 18, e ele apenas sobrevoou o local uma semana depois, na quinta-feira. Até aí o governo não viu urgência na história a ponto de o presidente se afastar da campanha eleitoral para ver Pernambuco e Alagoas arrasados. A ausência de Lula, segundo olhares diplomáticos "não-itamaratianos", tem mais a ver ainda com as reações de seus parceiros ricos à ação brasileira no Irã e com o que o G-20 poderia decidir e acabou decidindo : apoiar ações drásticas de corte de déficits públicos por parte dos europeus, posição contrária à do Brasil e a dos EUA. O "cara" não é de entrar em bolas divididas. G-20 : a Europa falou grosso Os EUA e os tais emergentes não acreditavam que a União Europeia viesse com um discurso tão pragmático e surpreendentemente unificado em relação à estratégia de superação da crise econômica que afeta o mundo. A posição europeia, como consta da nota acima, foi fiscalista : cortar o déficit fiscal drasticamente e assegurar a posição de crédito dos países do velho continente, sobretudo no caso da Itália, Portugal e Espanha. O Brasil ficou junto com os EUA neste tema, mas o diálogo entre ambos está truncado pela questão iraniana. Todos os países fora da esfera europeia queriam a continuidade do afrouxamento fiscal e monetário neste momento onde a recuperação é incipiente. Os efeitos desta divisão podem não ser sentidos no curto prazo, mas a união mundial em relação ao tema acabou. E há de repercutir no médio prazo. Para a atenção xerife A Petrobras perdeu em 2010, até sexta-feira, 25% do seu valor de mercado, correspondente à bagatela de US$ 52,9 bi. Um belo prejuízo. A empresa tem outros acionistas, além do governo Federal e negocia ações no exterior. Uma coisa é certa : parte desta desvalorização se deve ao falatório dos diretores da empresa e do governo em relação ao futuro da empresa. O "xerife do mercado", a CVM, está silenciosa demais, assistindo a tudo. Contabilidade de padaria - o retorno Notícia no jornal Valor Econômico da semana passada e que nos remete a nota com o mesmo título em nossa coluna anterior : "O custo fiscal dos dois empréstimos feitos pelo tesouro ao BNDES pode chegar a R$ 66,6 bi. Um estudo feito pela área financeira do BNDES calcula em R$ 36,6 bi o custo que o Tesouro terá de bancar pelo primeiro empréstimo, de R$ 100 bi, feito em 2009. A pedido do Valor, os técnicos fizeram uma estimativa muito simplificada do custo do segundo empréstimo, de R$ 80 bi. A perda fiscal, nesse caso, ficaria em torno de R$ 30 bi. As perdas ocorrem porque o dinheiro emprestado ao BNDES a longo prazo tem a TJLP como indexador - 6% ao ano -, enquanto o custo de captação do Tesouro é referenciado na Selic, hoje em 10,25% ao ano." Radar NA REAL Estamos passando por um momento em que o mercado mundial tende a andar de lado. Sem grandes variações e com paulatina redução da volatilidade nas variações dos preços dos ativos. Não há aspecto fundamental para mudarmos de opinião em relação aos principais segmentos do mercado financeiro mundial. A variação entre as principais moedas é que dará o tom do momento. Além disto, há a variação forte e para cima dos preços dos metais preciosos. A baixa taxa de juros vigente nos principais países faz com que os investidores se protejam de um cenário de inflação robusta no médio prazo - esta é uma especulação apenas dado o fato de que a "substância dos fundamentos" indica que a inflação pode ser controlada no futuro. 25/6/10   TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA alta alta - Pós-Fixados NA alta alta Câmbio ² - EURO 1,2342 baixa baixa - REAL 1,7802 baixa baixa Mercado Acionário - Ibovespa 64.823,83 estável/baixa estável/baixa - S&P 500 1.076,76 estável alta - NASDAQ 2.223,48 estável alta (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável O vice da discórdia. E do desespero ? E da confusão ? Até amanhã, muita ponte ainda vai ver águas turbulentas passarem por elas antes que volte a concórdia no ninho de tucanos e aliados por conta da escolha do vice de Serra. É bem provável que, por falta de opção, o DEM acabe aceitando Álvaro Dias, como um mal menor. Em processo de esvaziamento, o Democratas não está em condições de escolher muito. De todo modo ficou uma fratura na aliança oposicionista, marcada por desconfianças, de parte a parte, difícil de soldar em tão pouco tempo. Ficou também a clara evidência de que há mais confusão do que entendimento na campanha tucana. Viu-se que falta aos aliados o que se dizia faltar na campanha de Dilma : comando. Em grau variado, os oposicionistas estão repetindo nesse princípio da campanha presidencial de 2010, o mesmo vício das campanhas de 2002 e 2006 : mais desentendimento do que entendimento, muitas cabeças e excesso de sentenças. É apenas amadorismo ou constatação de que Lula está no caminho certo. Incógnita Se houve uma estratégia coerente com as projeções eleitorais para a escolha de Álvaro Dias como vice de Serra, e não só a tática minúscula envolvendo a eleição do PR, ela foi tão secreta que ninguém, até agora, fora do círculo íntimo do candidato tucano, atinou o que de fato seja. Um novo Maquiavel baixou nos poleiros do tucanato paulistano. Areias ardentes Aécio Neves, desde quando era governador de MG, tinha um hábito que não abandonou nem quando deixou o Palácio da Liberdade : costuma curar-se da agruras da política nas praias do RJ, sua cidade por adoção. Deve tomar cuidado ao pisar as areias cariocas neste tempo de confusão de vices no tucanato para não queimar os pés. Nunca seu nome foi tão referido em áreas de seu partido como nos últimos dias, a partir de sexta-feira. E não é de forma elogiosa. Ao que se diz : se ele quisesse não haveria tal confusão. A imagem de Serra Já informamos na nossa coluna passada que a campanha de Serra procurará enquadrar Dilma numa feição que seja negativa aos olhos do eleitor. Algo pessoal em que Serra é projetado como um "fazedor", um "professor", um "empreendedor", alguém que sabe projetar as suas virtudes pessoais em favor do povo. Dilma será a candidata "irritada", "de mal com a vida", aquela que é incapaz de "entender o povo" e assim vai. Tudo isto pode até funcionar, mas é algo de alto risco. Com Lula ao redor da candidata, esta estratégia pode não colar na governista. O eleitor pode ser até arisco, mas está longe de ser superficial. "Não está cabendo mais" Quanto mais Lula e Dilma alertam para os perigos do "já ganhou" - de público, pois no privado a vitória já é dada como conquistada no primeiro turno - mais cresce o salto agulha dos companheiros e aliados. As duas pesquisas, previstas para esta semana, do Vox Populi e do DataFolha, se confirmarem o que o Ibope escreveu no levantamento para a CNI, vai desencadear uma briga que já se trava clandestinamente pela divisão de um provável governo Dilma. Visto e ouvido em Brasília na quinta-feira : o PT não está disposto a pagar toda a conta que o PMDB está cobrando. Depois da urnas, medidos os votos, haverá acertos. Ele só pode estar brincando O líder do governo Cândido Vaccarezza sugeriu, como solução para arranjar recursos para a área de saúde - cerca de R$ 10 bilhões anuais que viriam da aprovação da regulamentação da EC 29 -, a aprovação também da legalização dos bingos. O dinheiro arrecadado com a taxação da jogatina seria destinado aos serviços públicos médico-hospitalares. Como deu tal declaração às vésperas do jogo do Brasil com Portugal e no auge das festas juninas, Vaccarezza só pode estar brincando. Eles só podem estar brincando Há muita gente certa de que, com muita pressão, vai faltar dinheiro público para construir um novo estádio em SP para a Copa de 2014, depois que a CBF comandou o descredenciamento do Morumbi. O governador substituto de Serra, Alberto Goldman, tem sido firme ao dizer que do mato do Palácio dos Bandeirantes não sai essa erva. O prefeito Gilberto Kassab não mostra a mesma convicção quando admite engenharias financeiras para bancar o projeto. Estádio para Copa do Mundo não é uma questão pública, é coisa privada. Vale lembrar, a propósito, uma declaração do jornalista britânico Andrew Jennings, especializado em negócios dos esportes ao jornal O Estado de S. Paulo deste domingo : "Qualquer brasileiro com mais de dez anos sabe que a corrupção em torno da Copa de 2014 já está instalada." Vamos guardar para comentar muito mais sobre o assunto no futuro. Embalando Mateus O governo mudou a lei para permitir que a Oi - ex-Telemar - comprasse a Brasil Telecom. Deu dinheiro público - empréstimos do BNDES, do BB, da CEF, investimentos do fundo de pensão - para financiar os maiores acionistas privados na transação. Acreditava-se, com isso e alguns pequenos e simples ajustes acionários, que estaria nascendo a grande multinacional brasileira de telecomunicações. Com forte viés estatal. Os ajustes não saíram ainda, um ano depois, porque não eram tão fáceis. A multinacional ainda está nas nuvens. E as dificuldades começaram a surgir, levando a nova multi - também conhecida como BrOi - a correr para as saias da madrinha. Primeiro, apareceu com um plano bilionário para ser a executora do Plano Nacional de Banda Larga. Era demais e não levou. Depois, foi pedir proteção contra uma eventual tentativa de compra por uma concorrente estrangeira. Agora, informa o Estadão, leva a Brasília um plano para montar um satélite brasileiro, em parceria com as Forças Armadas. Haja capital para os grandes sócios, que por acaso são do governo. Quem criou que ajude a embalar. Não foi por falta de aviso : a nova multi foi um negócio que poderia acabar nas arcas da viúva. Desmoralização Os ministros econômicos do governo estão se insurgindo, contra a proposta colocada na LDO - Lei de Diretrizes Orçamentárias, a ser votada provavelmente ainda esta semana no Congresso, para garantir um aumento real para o salário mínimo também em 2011, maior do que o governo pretendia dar. Eles também estão fechados para evitar que o Congresso aprove uma série de bondades para vários setores com o dinheiro público em época de quermesse eleitoral. Alegam, com razão, que não há recursos para tanto. Não comovem. É argumento desmoralizado. A viúva segundo um governista Observação de um governista que não tem nenhum resquício de rebeldia na alma : "Eles sempre dizem que não têm dinheiro e depois arranjam, como foi no caso dos aposentados. Eles querem que a gente faça o jogo sujo, mas aqui ninguém é bobo. Vão chorar noutras freguesias."
terça-feira, 22 de junho de 2010

Política & Economia NA REAL n° 106

Fato novo e positivo Finalmente a China fez um movimento positivo em relação à atual conjuntura mundial. O governo comunista de Pequim parece estar iniciando um movimento de valorização de sua moeda. Usamos o "parece" porque em outros momentos as autoridades chinesas indicaram que iam fazer tal alteração de política econômica, mas acabaram não permanecendo nesta estratégia. Note-se que, na prática, a taxa de câmbio da China é estabelecida pelo governo independente das pressões por uma maior liberalidade em relação a esta variável. Por que esta alteração é importante ? A China é estruturalmente competitiva por uma série de razões, mas duas são determinantes : (i) o custo baixo de sua mão-de-obra e (ii) a política de manter o yuan desvalorizado. Numa conjuntura de baixa atividade mundial é fundamental que países como os EUA e aqueles que estão debaixo do euro sejam mais competitivos nas operações externas, seja para ativar as suas exportações, seja para aumentar a taxa de emprego via exportações. Ora, este passo dado pela China é importantíssimo para a consecução deste ajuste global. O país comunista sabe que é parte do jogo e lhe é conveniente esta flexibilização no momento. Todavia, não tenhamos ilusões : este ajuste será estrutural e as repercussões no curto prazo desta alteração de política econômica da China é apenas um pequeno passo na direção correta. Temos de observar mais. Efeitos nos mercados Há certo alívio no mercado mundial em relação à crise europeia. Este alívio pode ser apenas momentâneo em função da gravidade dos problemas encontrados no Velho Continente. Porém, é fato que o momentum é favorável nos diversos segmentos do mercado mundial. O anúncio da China relativamente à flexibilização de sua taxa de câmbio é, neste contexto, positivo e deve contribuir para levar o preço dos ativos para cima. Ainda não dá para ser mais enfático sobre a continuidade deste processo, mas é bom relevar as análises mais negativas em relação ao cenário. É o que estamos fazendo no que tange às nossas análises anteriores. Relembrando a Europa O BCE - Banco Central Europeu, as autoridades governamentais europeias e o próprio mercado ainda não sabem a dimensão dos riscos para o setor financeiro do financiamento das dívidas privadas e governamentais da Grécia, Espanha e Portugal, países mais afetados pela restrição de liquidez no mercado. Na imprensa internacional, tem saído uma série de notícias que indicam que a exposição do setor financeiro às tais dívidas é da ordem de US$ 2 trilhões. Um número gigantesco o que torna muito difícil saber qual pode ser o nível da inadimplência do sistema financeiro. De toda a forma, a restrição de liquidez no sistema permanece muito deficiente. Sobre o euro pesa o principal efeito no curto prazo perante estas enormes dúvidas. Radar NA REAL Estamos ligeiramente mais positivos em relação ao cenário externo, sobretudo no que se refere ao "fato novo" : a flexibilização da taxa cambial chinesa. Assim sendo, alteramos a nossa avaliação relativamente aos mercados acionários para estável. No cenário interno não existem "fatos novos". Ao contrário, a Copa do Mundo parece paralisar o andamento da política e da gestão econômica. O cenário de curto prazo é benigno e no médio prazo é possível que existam alterações mais substantivas na política econômica, especialmente no que se refere aos gastos públicos. Por enquanto, o que está mesmo a pesar é o cenário externo que passa por bom momento no curto prazo. 18/6/10   TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA alta alta - Pós-Fixados NA alta alta Câmbio ² - EURO 1,2392 baixa baixa - REAL 1,7622 baixa baixa Mercado Acionário - Ibovespa 64.437,58 estável/baixa estável/baixa - S&P 500 1.117,51 estável alta - NASDAQ 2.309,80 estável alta (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável O que assusta em Dilma, o que assusta em Serra Nenhum dos dois é capaz de provocar turbulências como as que aconteceram em 2002, mas tanto Dilma quanto Serra são vistos com alguma desconfiança por investidores e agentes econômicos do alto da pirâmide. Teme-se em Serra possíveis guinadas mais fortes na política de câmbio e de juros, inovações tributárias que ele costuma adotar para aumentar a arrecadação e sua indisposição com o que classifica como excesso de autonomia do BC. De Dilma teme-se o gosto pelo estatismo, a inexperiência política, a dependência excessiva do pantagruélico PMDB e da estrutura burocrática do PT. O estômago do PMDB e os contrapesos do PT Não apenas os agentes econômicos parecem preocupados com o peso que o PMDB ganhou na campanha de Dilma - protagonista, não um coadjuvante. E assusta mais ainda a influência que o partido que já foi de Ulysses Guimarães e Tancredo Neves deverá ter num futuro governo Dilma, a partir de sua bancada no parlamento. O PT, regionalmente, abriu tanto espaço para o PMDB - e para outros aliados, como o PSB - que já se fazem cálculos de que os peemedebistas terão representação na Câmara e no Senado maior do que a atual, enquanto o PT corre o risco de encolher. Sem contar que o PMDB deve aumentar também o número de governadores. Por essas e outras já se fala num possível "parlamentarismo caboclo" em 2011, com Dilma no Planalto e Michel Temer informalmente comandando o Legislativo. Pessoas-chave no PT É por essas e outras também que o PT está reforçando o cordão sanitário em torno de sua candidata, com o reforço dos papéis dos ex-ministros Palocci, um interlocutor mais do que confiável para o mundo econômico, e José Dirceu, um excelente "guarda de quarteirão" para enquadrar petistas renitentes e dar uns chegas pra lá em aliados inconvenientes. Não é ainda por outra razão que Lula tem dado sinais cada vez mais claros de que gozará a partir de 2011 de sua sonhada aposentadoria. Como o episódio do Irã, as frestas para a projeção exterior do presidente Lula estão fechadas, pelo menos por enquanto. Lula vai ficar ativo aqui mesmo. Não vai deixar Dilma entregue às feras, caso ela vença. Caso não vença, não deixará o sucessor em paz. O vice tucano - capítulo XXXX.....III Tudo indica que a escolha do companheiro de chapa de Serra se dê esta semana. Bem ao modo tucano, pode ser que fique também para depois, até a data fatal do dia 30/6. Tudo é incógnita. Certo mesmo é que os aliados oposicionistas desistiram de contar com Aécio Neves nesta vaga. Quase certo, também, é que a chapa deve ser "puro sangue", com dois tucanos que se biquem. O PP está descartado, porque ficou indeciso e também porque seu nome preferencial, o senador Francisco Dornelles, passou a dormir mal depois que ajudou a atenuar o projeto dos candidatos fichas-sujas. Os aliados PTB, DEM e PPS estão fazendo figuração externa, para consumo de seus filiados, de que estão disputando o lugar. Na realidade, vão acatar a decisão de Serra. Há muitos nomes na lista, porém ao que se saiba, Serra não abriu suas preferências para ninguém que não soubesse guardar muito segredo. Estratégia de comunicação de Serra Houve uma mudança, ainda não consolidada, em relação ao candidato tucano. Nas últimas aparições na TV é chamado de "Zé". Uma tentativa de popularizá-lo. Todavia, este é apenas um teste de conceito, como explanam os marqueteiros. A tendência é testar, além do conceito de "Zé", a imagem de professor. Uma coisa parece mais definida : o ataque em relação à Dilma vai ser mais pessoal, apostando na antipatia da candidata de Lula. A Justiça eleitoral e o caixa dois O TSE, depois de um bom tempo, aliás bons anos, validando todas as bandalhas político-partidárias e eleitorais praticadas por nossas legendas, agora resolveu fazer o que todos os eleitores esperam dele e é a sua própria razão de existir : fazer com que a atividade política no país seja mais limpa e competitiva. O primeiro sinal de que as coisas não seriam mais iguais veio com a decisão do TSE, depois confirmada pelo STF, estabelecendo normas de fidelidade partidária no país. A outra medida Em seguida, vieram as pressões, discretas, porém nada sutis, para que o Congresso aprovasse a lei dos fichas-sujas, uma iniciativa popular. Finalmente, na semana passada, veio a interpretação extremamente rígida das normas contra a inscrição eleitoral de políticos condenados, inibindo as manobras dos deputados e senadores para tornar a lei inócua. A Justiça eleitoral só não conseguiu, até agora, encontrar formas de acabar com o caixa dois e outros caixas menos nobres no financiamento das campanhas milionárias. O que já está jorrando de dinheiro agora não é brincadeira... Qualquer cálculo oficial de gastos apresentados por partidos e candidatos pode ser, sem risco de erro, ser multiplicado no mínimo por três. Com raríssimas, mas raríssimas mesmo, exceções. Campanhas estaduais inflacionadas Uma campanha para os governos estaduais dos grandes estados custa entre R$ 18 e R$ 20 milhões. Um número muito elevado se levarmos em conta que este valor não inclui os gastos comuns em relação às campanhas presidenciais. Esta informação foi repassada a esta coluna por gente que conhece muito bem o assunto de financiamento de campanhas. A fonte está impressionada com a "inflação do mercado eleitoral". Ego em baixa Levantamento feito pelo jornalista José Roberto Toledo, para o Estadão, nos discursos de aceitação de suas candidaturas, revelou que a candidata Marina Silva utilizou 28 vezes a palavra "eu", Serra, 18 vezes, e Dilma apenas 4 vezes. Nenhuma surpresa para tanta diferença Dilma não é Dilma, mas somente um codinome dele, Lula. Contabilidade de padaria No ano passado, com o balanço das contas da União consolidado, constatou-se que as principais estatais (Petrobras, BB, CEF, Eletrobrás, Correios, BNDES) entregaram ao Tesouro Nacional R$ 26,6 bilhões em forma de dividendos. Em tese, nada demais. Afinal, o governo é dono ou sócio majoritário de todas, e nada demais que usufrua de seus lucros, como qualquer acionista. Na realidade, porém, não é bem assim. O governo tem obrigado essas empresas a aumentar a transferência de seus ganhos para o Tesouro para poder mostrar que está cumprindo as metas fiscais, atenuadas no ano passado, de superávit primário. Parece que o governo obedece ao estabelecido na base de disciplina fiscal, com economia de gastos, porém não é tanto assim. No período de 1997 a 2006, segundo reportagem do jornal Valor Econômico, a contribuição dos dividendos das estatais para o superávit Federal foi em média de 11%. No ano passado, subiu para nada menos que do 67,8%, mais de dois terços. Além do mais, cria-se um problema mais sério. Para capitalizar o BNDES, por exemplo, o governo toma dinheiro emprestado ao mercado, pagando a taxa Selic. Ou seja, o BNDES dá dinheiro que ele tem de graça - seu lucro - para o Tesouro e depois o Tesouro paga juros para ajudar o BNDES. Indiretamente é o que faz também a Petrobras. Paga dividendos ao Tesouro Nacional e, em seguida, vai tomar empréstimos no BNDES e nos bancos para garantir seus investimentos. Não é nem como a contabilidade das velhas padarias.
terça-feira, 15 de junho de 2010

Política & Economia NA REAL n° 105

O papel de Marina Para a saúde da política brasileira - e a própria sanidade do futuro governo -, depois da "comoditização" do debate eleitoral promovido pelos candidatos mais bem colocados nas pesquisas, ganha crucial importância a presença verde de Marina Silva na disputa. Deverão ser dela, no bom sentido, as melhores provocações para o debate, a introdução nas discussões de temas novos que não apenas as prioridades de praxe (educação, saúde, segurança), além do espírito verde que ela já despertou nos adversários. Principalmente, Marina será a consciência oculta da sociedade a atazanar a consciência excessivamente pragmática dos oposicionistas, liderados pelos tucanos, e dos governistas, comandados por Lula. Por imposição da livre atiradora, os dois serão obrigados a discutir - e a assumir compromissos que não pretendiam assumir e que pode lhes causar constrangimentos com aliados mais vorazes e menos comprometidos com a ética política. Marina é a esperança de que a sucessão presidencial este ano não caia num triste e vergonhoso ramerrão, desses, como diria Nelson Rodrigues, de fazer corar até um frade de pedra. Os formadores de opinião É mais significativa do que tem registrado a imprensa tradicional a penetração da candidatura da ex-ministra do Meio Ambiente nos meios intelectuais e em certos setores da classe média. Sem contar a conquista de viúvas do PT pré-poder e do tucanato dos primeiros movimentos. Não é uma massa, mas tem poder de vocalização capaz de ajudar a candidata do PV a galgar alguns degraus decisivos no termômetro das urnas. Marinistas já imaginam que ela pode chegar a 20% no primeiro turno. Com isso levará a eleição para o segundo turno e se tornará decisiva na disputa entre Serra e Dilma. PT e PSDB não estão, pelo menos para consumo externo, levando a sério esses movimentos. Alguém pode quebrar a cara com tal menoscabo. Temas-tabu Na lista de temas que Serra e Dilma querem evitar já podem ser incluídas definições sobre os termos da necessária reforma da Previdência e a questão que está na ordem do dia do Congresso, a reforma do Código Florestal. O assunto do Código está explodindo, e é séria a divisão entre ruralistas e ambientalistas ; não se sabe o que os dois pensam de fato sobre um assunto crucial. Medo de perder votos - e financiamentos de campanha. Marina - não importa se da melhor forma - já se definiu. Omissão neste caso é crime. Quanto à Previdência, o silêncio também é constrangedor. Dilma há poucos dias teve de fazer contorcionismos dignos de artistas do "Circo de Moscou" para desdizer o que tinha dito sobre o assunto. Serra e Dilma, sem definições econômicas Pode-se até especular sobre o que cada um dos candidatos à presidência da República pensa sobre os temas econômicos. Todavia, os discursos de lançamento das candidaturas não deixaram nenhuma evidência sobre as suas diferenças na condução da economia. Parecem irmãos siameses neste particular. Talvez sejam realmente iguais naquilo que diz respeito à intervenção do Estado na economia e o papel-motriz dos gastos do governo na execução de planos de desenvolvimento. Uma coisa é certa : não será na economia onde se registrará substanciais diferenças entre os candidatos : Dilma se fixará na defesa dos sucessos do governo Lula. Serra, na defensiva, terá de defender FHC. É o que parece. Enfim, oposicionista Pelo tom do discurso de sábado na Bahia, quando foi sagrado candidato tucano à Presidência, José Serra finalmente descobriu que concorre pela oposição e na corrida presidencial não há lugar para uma Dilma do B, como ele dava a impressão às vezes achar que poderia ser. Enfim, as coisas no lugar Como diz o personagem de uma série humorística na televisão, "sem querer, mas querendo", o presidente Lula estabeleceu de vez quem é candidato à Presidência na aliança governista : o próprio Lula. Dilma vai apenas ser um pseudônimo na urna, uma vez que, por injunções das leis eleitorais, há um vazio na cédula. Por essas e outras, as pulgas que ficam atrás das orelhas dos políticos dotados de mais acurácia começam a ter certeza de que o projeto político real de Lula depois de deixar o Palácio do Planalto no fim deste ano é o Palácio do Planalto em 2014. Noivado no escuro PT, PMDB e companheiros de menor porte já selaram suas alianças. Do lado da oposição de PSDB e DEM já se deu o mesmo. Faltam apenas ajustes menores. Nenhum dos dois, no entanto, apresentou seu dote, os planos de governo. É isto que eles clamam, de boca cheia, de aliança programática, "para melhor servir ao Brasil". Um bom cultor da língua pátria dá a isto outro nome bem menos nobre. Que tal convergência de interesses ? Na UTI Inspiram mais cuidados do que os analistas oficiais gostam de admitir as alianças governistas em Minas, com Hélio Costa na cabeça, e no Maranhão, liderada por Roseane Sarney. Já deixou sequelas irremediáveis. Nas terras maranhenses, pela força do clã Sarney - força em todos os sentidos - pode não dar necessariamente no desastre. Nas montanhas das Gerais, Hélio Costa caminha para ser o grande traído destas eleições. No limbo Serra e os tucanos se enrolaram tanto na escolha do vice da chapa oposicionista que estão correndo o risco de comprar um problema, qualquer que seja a escolha que venham a fazer agora. Não ter quem acrescente e sim alguém que trará complicações. O insaciável Bordão registrado por ouvidos planaltinos atentos durante a convenção peemedebista no sábado : "PMDB já decidiu. Michel e Dilma presidentes (grifo nosso) do Brasil". Michel Temer completou o recado quando disse que o PMDB não vai ser coadjuvante do poder, será condômino. Até agora, o PMDB está dando de goleada no PT na formação de alianças. No PT, já se pensa em formar um cordão sanitário, uma tropa de choque em torno de Dilma. Os mais assustados acham que o PMDB pode querer instalar uma espécie de parlamentarismo de fato na próxima gestão, com as grandes bancadas que pretende formar - com a ajuda do PT - na Câmara e no Senado e com a experiência do "presidente" Temer com as coisas do Legislativo. A história se repete ? Os Correios tiveram seus dias de glória no mensalão. Estão de novo na berlinda. São feudos do PMDB, com algumas glebas deixadas ao PT. Pré-sal eleitoral A rima do título é rima pobre, de pagodeiro ou sertanejo "muderno", mas os objetivos da pressa na votação dos projetos do governo das novas regras de exploração de petróleo no país, sabidamente não o são, do ponto de vista eleitoral. Antes de surgirem as plataformas em alto mar, nas ricas bacias do pré-sal, a riqueza marinha nacional foi escalada por Lula para integrar outra plataforma - a das eleições. Sabendo da pressa oficial, incluindo no negócio a velocidade para capitalizar a Petrobras antes que o cobertor dos fantásticos investimentos anunciados pela empresa fique curto, o Congresso e outros também quiseram ter a sua plataforma, que veio em forma da divisão equânime dos royalties do petróleo, velho e novo, sem distinção entre Estados e municípios produtores. Lula não queria que esta parte do projeto fosse votada agora, pois fere o Rio de Janeiro e o governo Sérgio Cabral do PMDB, aliados incondicionais de Dilma e onde a candidatura espera amealhar um "marzão" de votos. Mas como todos os outros também estão de olho no dinheiro e são maioria, e o pré-sal eleitoral pode render votos, o Senado confirmou esta semana o que a Câmara já havia determinado : o petróleo é de todos. Lula e Dilma até acham isto. Não confessam, ainda. E os votos do Rio ? É caso : quem com urna ameaça, com urna será ameaçado. Radar NA REAL Analistas mais independentes estão considerando seriamente, à luz dos últimos indicadores de consumo e investimento dos EUA, que a possibilidade de se voltar a um quadro recessivo é considerável. Não à toa, o ouro voltou a brilhar. Suas cotações novamente alcançam patamares próximos daqueles registrados no auge da crise financeira. Bem, os mercados de ações voltaram a patamares interessantes para realização de lucros. Aqui e lá fora. Por aqui, o BC mostrou que seguirá na sua política anti-inflação. A atividade econômica está muito acima daquela que é sustentável e os investidores poderão se surpreender com o patamar dos juros ao final desta ano, possivelmente superior ao esperado pelo mercado. 11/6/10   TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA alta alta - Pós-Fixados NA alta alta Câmbio ² - EURO 1,2248 baixa baixa - REAL 1,8047 baixa baixa Mercado Acionário - Ibovespa 63.605,38 baixa estável/baixa - S&P 500 1.091,60 baixa/estável alta - NASDAQ 2.243,54 baixa/estável alta (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável
terça-feira, 8 de junho de 2010

Política & Economia NA REAL n° 104

Os aloprados de 2002 e os aloprados de 2010 Nas eleições presidenciais anteriores, Lula, então disputando o segundo mandato, tinha todas as condições - e muita mais - de levar a vitória logo no primeiro turno. Por duas razões : 1. Depois do perigoso tropeção dos mensaleiros, quando por pouco não sofreu um processo de impeachment, ele entrou na disputa com a popularidade em alta, não tão alta como agora, mas já uma das maiores dos presidentes do Brasil República. 2. Seu adversário, Geraldo Alckmin, não era - como não é - de empolgar eleitor, uma desvantagem quando se disputa com alguém com o faro popular de Lula. E, ainda por cima, foi vítima do desânimo e da má vontade dos próprios companheiros. O dossiê paulista Mesmo com todas essas vantagens comparativas, no entanto, Lula acabou sendo forçado a disputar o segundo turno com Alckmin. Uma das razões pode ter sido a resistência de uma parte do eleitorado brasileiro - as tais elites ? - ao modo de ser petista. Não esquecer que em 2002, apesar de toda a empolgação popular e até de parte das "elites" com o novo PT, da impopularidade do presidente Lula e do pouco apelo para a oposição da então candidatura José Serra, Lula não ganhou no primeiro turno. Este fato pode ter influenciado em 2006, mas o grande fator mesmo foi a descoberta de um esquema para compra de um suposto dossiê contra o mesmo José Serra, com o fito de dar fôlego à candidatura de Aloizio Mercadante ao Palácio dos Bandeirantes. Lula classificou os companheiros envolvidos no episódio como aloprados e ficou por isto mesmo, tanto no âmbito partidário como na seara policial e jurídica. Politicamente, porém, fulminou de vez a já cambaleante pretensão governamental de Mercadante e respingou nos votos de Lula ao revelar métodos nada republicanos do petismo. Arapongagem de terceira geração Agora, ressurgem os aloprados no comitê de Dilma. O método da arapongagem e dos dossiês é o mesmo, mas as motivações são diferentes. No caso Mercadante, o sentido era simplesmente atingir o adversário e alavancar a candidatura petista. O alopramento 3G de 2010 tem mais de um objetivo do que o de meramente abater o concorrente. Um de seus alvos, talvez o principal, é formar, digamos, massa crítica contra os próprios companheiros, na disputa por cargos e influência numa futura administração. Como, com base nas análises principalmente do Vox Populi, os petistas estão já se vendo com o direito a mais quatro anos - ou oito ou até doze - no Palácio do Planalto, trata-se de uma nada surda e já pouco velada disputa interna de poder. Nesta caiu um assessor de escalão inferior, o ex-jornalista Luiz Lanzetta, e feriu-se com escoriações mais do que generalizadas uma figura de primeira linha - o ex-prefeito Fernando Pimentel, a quem seu grupo já atribuía, pela renúncia em MG, a chefia da Casa Civil. O mesmo lugar cobiçado pelo PT paulista para Antonio Palocci ou Ruy Falcão. Os aloprados 3G e as disputas antecipadas pelas graças de Dilma presidente podem fazer mais estragos à campanha governista do que tudo o que Serra e seus apoiadores podem imaginar e aprontar. O pior momento de Lula em seus oito anos não veio de tucanos e companhia, veio dos mensaleiros amigos. Manda quem pode... ...obedece quem tem juízo. Como estava escrito nas estrelas desde o início dos tempos, não chamasse o presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva, o PT de MG cedeu ao PMDB de Hélio Costa a primazia de disputar o Palácio da Liberdade. Do mesmo modo, onde Lula achou essencial, o PT seguiu a mesma sina, com nuances : no RJ, por exemplo, foi festivamente para os braços de Sérgio Cabral, sem dramalhões, ao estilo dos blocos carnavalescos. No MA, com estrilos, pôs-se neutro na disputa entre os aliados Roseana Sarney do PMDB e Flávio Dino do PC do B. Palanque duplo apenas onde Lula julgou viável. Ninguém arrosta uma popularidade acima dos 90%, ainda mais quando na sua jornada em torno do poder jogou ao mar, num estranho suicídio coletivo, suas lideranças mais promissoras trazidas com Lula à primeira cena com a eleição de 2002. Resta pensar as razões de tão forte "rebeldia" em MG, por exemplo, diante do que já se sabia inevitável e do extraordinário apego do PT e de Lula aos princípios do centralismo democrático. Para efeitos internos Desde sempre estranhou-se as resistências internas do PT mineiro, de tradição - não fosse mineiro ! - conciliadora, e de Fernando Pimentel a um aliança com o PMDB que não tivesse o próprio PT comandando a chapa. Pimentel, amigo de Dilma influente quadro nacional partidário, além de um político cordato e conciliador, sabia perfeitamente da importância do acerto em Minas para a campanha nacional de Dilma : consolidação da aliança nacional em torno dos seis minutos peemedebistas no rádio e na televisão e formação de palanque forte para a preferida de Lula no segundo maior colégio eleitoral do país, com quase 11% do eleitorado total. E, no entanto, Pimentel esticou os cordões da marionete até o fim. Esticou porque precisa dar satisfações ao PT mineiro, insatisfeito com a perda do que os petistas locais consideram como sua maior oportunidade de conquistar, pela primeira vez, o governo estadual. Eles tinham dois candidatos competitivos - o próprio Pimentel e o ex-ministro Patrus Ananias - e o adversário é tão ou mais neófito na política eleitoral quanto a petista federal Dilma. Pimentel precisava também conter a contaminação dos eleitores petistas pelo desânimo dos companheiros partidários. Quem farejou MG nesses dias percebeu que o trabalho no divã político do PT junto a seus eleitores será delicado. A alma petista mineira está sofrida. Foi bom para Lula também A dita "rebeldia" mineira no PT não foi de todo mal para Lula. Ao contrário. Tanto que em nenhum momento os "inconfidentes" mineiros foram atacados de público. E Lula sabe fazer tal com dureza e precisão cirúrgicas. Foram simplesmente admoestados, pelas vozes portadas em silêncio, oficiosamente. "Lula está agastado", "Lula não gostou" e tais, ditos sem certificado de origem. Para Lula, MG rebelada serviu de advertência ao PMDB para que ele moderasse seu apetite. Para mostrar ao time de Michel Temer que o PT tem limites que nem a razão eleitoral de Lula pode obscurecer. E que a aliança poderia ruir no momento em que Dilma cresce nas pesquisas e, segundo as contas oficiais, tem ritmo de fôlego para levar a eleição no primeiro turno. Até as convenções nacionais marcadas para o fim de semana - PMDB no sábado, PT no domingo - quando os palanques regionais estarão no mínimo apalavrados, será possível saber se o PMDB levou a sério o recado mineiro ou considerou que seu cacife de seis minutos na propaganda eleitoral era mais alto. Os gaúchos, a chave O comportamento do PMDB no RS dará a indicação para o enigma elaborado acima : se definir-se por conceder também palanque a Serra na campanha de Fogaça, o PMDB dará o sinal de que a ameaça de Lula não assustou e abre brecha para um rosário da traições partidárias pelo Brasil afora. Se fechar as portas para o tucano, reforça a aliança em todo o país. Os tucanos e sua vocação para Hamlet O PSDB e seus aliados chegam ao fim da pré-campanha - a partir de agora e até meados de julho tudo será Copa do Mundo e nada mais - e às vésperas da convenção do fim de semana com as mesmas dúvidas que o assolaram desde o lançamento oficioso de José Serra : sem um vice de convicção, sem uma estratégia clara de campanha e em busca um discurso claro e eficiente para se contrapor à palavra fácil de Lula. Por trás de seu estilo fidalgo e low profile, os oposicionistas parecem gostar de viver grandes emoções políticas. Será a falta de estratégia uma estratégia ? Nas contas tucanas, o empate absoluto entre seu candidato e a candidata de Lula no último Ibope é indício de que o devagar e sempre deles está certo dada as desproporções das campanhas até agora. Mais ajustes à vista I Há comentaristas e analistas econômicos colocando em dúvida se há correspondência fundamental entre a possibilidade de insolvência da Hungria - com PIB ao redor de US$ 160 bilhões e 10 milhões de habitantes - e os efeitos nefastos que esta possibilidade gerou na semana passada nos mercados mundiais. Pois bem : é preciso entender que o problema não é a Hungria, mas todo o sistema europeu, dentro e fora da eurolândia. Os países estão excessivamente endividados e sem perspectiva de sair do atoleiro no médio prazo (talvez coisa de dois anos à frente). Neste contexto, estão países como Portugal, Espanha, Itália, Bélgica, Irlanda e, claro, a Grécia. Portanto, o risco não é a Hungria, mas o que ela representa. Mais ajustes à vista II Há ainda o caso dos EUA que, a despeito dos sinais encorajadores de poucos meses atrás, ainda está num estágio muito frágil de recuperação. A crise europeia é um balde de água fria no sistema de crédito, este um elemento vital para a recuperação do consumo norte-americano. O fraco desempenho do setor laboral dos EUA, divulgado na última sexta-feira, é e será um dos sinais deste - novo ? - contexto de estagnação. Mais ajustes à vista III Se olharmos apenas o desempenho do mercado financeiro e de capital ao redor do mundo, veremos que estes estão ainda numa fase de ajustes, desta feita para baixo, nos preços dos ativos. Além disto, a volatilidade é alta e talvez crescente o que desestimulará investimentos com horizonte de médio e longo prazo. Sendo turvo o cenário, a tendência é de perda de valor. Já alertamos os nossos leitores para não abandonarem posições defensivas de investimento, em ativos reais e/ou financeiras. As variações diárias dos mercados muitas vezes deixam dúvidas aos investidores. Todavia, é melhor aproveitar processos de recuperação de preços para sair de posições e não aumentá-las. Brasil : ajustes e eleições I É certo que as condições macroeconômicas do Brasil são destacadas quando as avaliamos frente ao cenário confuso e negativo que impera dentre as principais economias mundiais. Todavia, se esta é uma constatação positiva, é preciso entender que não é suficiente para evitar os impactos diretos da crise externa sobre o nosso setor externo, bem como no que tange aos efeitos que as expectativas tem sobre o ânimo dos investidores. Adicionalmente, insistimos em alertar os nossos leitores sobre certa negligência relativamente aos riscos embutidos no processo eleitoral. Toda mudança de governo atrai naturais riscos ao mercado. No caso da eleição a ocorrer no último trimestre do ano, o próximo presidente será mais vulnerável politicamente que o atual. Isto há de repercutir na política econômica. Brasil : ajustes e eleições II Também não é novidade nenhuma que a situação fiscal do Brasil, embora sustentável no curto prazo, não é saudável. O recente ajuste promovido pelo governo no orçamento público é uma boa notícia, mas incapaz de retirar os obstáculos que enfrentaremos à frente, caso não existam modificações estruturais no andar das contas públicas brasileiras. Por fim, temos a inflação, a qual não está tão controlada quanto no passado uma vez que os preços estão sendo impulsionados para cima pelo aquecimento da demanda, sobretudo dos indivíduos. Os preços estão subindo num ritmo lento, mas constante e de forma generalizada. Preste atenção nas altas do setor de serviços... Assim sendo... Não cabe ilusão aos agentes econômicos. O cenário mudou e, infelizmente, para pior. É preciso paciência e cuidado na implementação de estratégias empresariais e junto ao mercado financeiro. Em tempos de tendência negativa, toda a atenção é necessária. Radar NA REAL O destaque da semana é o patamar do euro, abaixo do nível de 1,20 por dólar. Este fato simboliza a concretude e severidade da crise europeia. Também vale a pena ressaltar o desempenho do mercado acionário dos EUA que demonstra evidentes sinais de saturação e falta de demanda. Pelos nossos lados, salientamos a possibilidade do mercado financeiro estar subestimando a alta dos juros básicos acima do nível esperado pelo mercado : de até 11% doze meses à frente. No caso do mercado acionário, o Ibovespa tem se estabilizado em função do desempenho de poucas ações blue chips, mas este é fator passageiro e talvez injustificado para a manutenção do Ibovespa acima dos 60 mil pontos. 4/6/10 TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA alta alta - Pós-Fixados NA alta alta Câmbio ² - EURO 1,1949 baixa baixa - REAL 1,8648 baixa baixa Mercado Acionário - Ibovespa 61.675,75 baixa estável/baixa - S&P 500 1.064,88 baixa/estável alta - NASDAQ 2.219,27 baixa/estável alta (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável Impostos : muita conversa Um pequeno balanço do que têm dito os principais candidatos à Presidência da República dá aos mais crédulos, a turma que acredita em mula sem cabeça, por exemplo, a sensação de que, em 2011, finalmente, a tão sonhada reforma tributária no Brasil vai sair. A leitura das promessas de tucano e petista, tanto no que se refere à cobertura de nossas fragilidades de infra-estrutura como de novas aplicações nas áreas sociais, leva também os mais céticos a desconfiarem que vem mesmo uma reforma tributária por aí. A primeira, um sonho, seria a simplificação do sistema, com redução gradual da carga de impostos. A segunda, com duro gosto de realidade, indica que virão ajustes para aumentar a capacidade de gastos do Estado, com aumento da arrecadação, não importa como. Por conta de nossa atávica tradição, ganha quem apostar na segunda. O resto é sonho de verão eleitoral. Como ensina o arrecadador-mor Everardo Maciel, secretário da Receita Federal no governo FHC, não se faz reforma tributária no Brasil, em prol da sociedade, sem se pensar, primeiramente, na revisão do lado das despesas. E desta eleição, dados os compromissos partidários que os candidatos e seus apoiadores estão adotando, não sairá uma força política em condições de enfrentar as forças poderosas, políticas e empresariais, que bocejam em torno do Estado brasileiro. Venceu o de resultados Durante os anos 1980 e parte dos anos 1990 se engalfinharam no Brasil dois tipos de sindicalismo : o novo sindicalismo ou sindicalismo autêntico, de Lula, e o sindicalismo novo-velho ou de resultados, de Luis Antônio Medeiros. Não se engalfinham mais : o de resultados é o hegemônico, com a instauração do sindicalismo governamental no Brasil, projeto que nem o Getúlio Vargas, em seus anos ditatoriais, conseguiu realizar com a extensão de hoje. Há um único risco de dissidência : os sindicalistas estatais, de repente insatisfeitos com a súbita avareza governamental. Mas o governo prepara para eles uma boa pancada na moleira se não se aquietarem. Os antigos sindicalistas autênticos agora acham insuportável reivindicações e greves no funcionalismo público. Nada como o mundo girar e a lusitana rodar. Greve de serviço público é greve contra a sociedade, porém a conversão dos "cristãos novos" do novo-novo sindicalismo não deixa de ser um sinal assustador desses novos tempos brasileiros, nos quais, na política, vale quase tudo, menos coisas como princípios e convicções. O dinheiro deve estar sobrando O Ministério dos Transportes, nos dois cortes promovidos pela turma da economia no orçamento deste ano, perdeu R$ 906 milhões. O Ministério da Educação nas mesmas tesouradas ficou sem mais de R$ 2 bilhões. Porém, tanto o ministro Paulo Passos quanto o ministro Fernando Haddad garantem que seus programas não serão afetados. Das duas uma, pois não se está apenas falando de algumas poucas centenas de reais : ou eles estavam com seus orçamentos inchados, com previsões de gastar no que não é necessário ou, com base nos ventos eleitorais na herança - maldita ? - que poderão deixar para seus sucessores, não têm intenção de cumprir a ordem de cortes. Governo pode ser a salvação Sob ataque quase hostil da Telefônica para vender a sua parte na Vivo, a Portugal Telecom, sócia meio a meio da espanhola na tele celular, deve ter no governo Lula um aliado de peso para não sucumbir. Dentro do plano traçado lá no passado para as telecomunicações brasileiras, a partir do patrocínio da compra da BrT pela Oi, de fortalecimento de uma empresa genuinamente nacional, para competir com as gigantes Embratel (Carlos Slim) e a Telefônica (da Espanha, com sociedade na italiana TIM), pode sofrer um baque. Em tempo : a Portugal Telecom tem ligações com o grupo Oingoing, que edita no Brasil o diário Brasil Econômico.
terça-feira, 1 de junho de 2010

Política & Economia NA REAL n° 103

Alvíssaras, que alívio ! Desde a última sexta-feira, deixamos de trabalhar para o governo, para pagar os impostos Federais, estaduais e municipais e passamos a trabalhar para nós mesmos e o país. Mas é bom não espalhar porque eles estão atentos e a qualquer momento podem pedir um pouco mais do nosso suor. Já não era sem tempo. Para se ter uma ideia dos níveis de espoliação a que o Brasil está submetido, vai aqui uma tabela, elaborada pelo economista Amyr Kahir para FIESP com o peso dos impostos sobre a renda dos brasileiros, por classe de renda : - Ganhos até 2 salários mínimos : 48,89 da renda familiar são consumidos por impostos e tributos.- Mais de 2 até 5 SM : 35,9%- Mais de 5 até 10 SM : 31,8%- Mais de 10 até 15 SM : 30,5%- Mais de 15 até 20 SM : 28,5%- Mais de 20 até 30 SM : 28,7%- Mais de 30 SM : 26,3%. A dura realidade. Vai mudar ? Na nossa peculiar justiça social às avessas, paga mais quem pode menos. Outra amostra de nossas distorções tributárias : enquanto o peso dos impostos no preço final dos remédios de uso humano chega a 31%, sobre os remédios veterinários é de 13% somente. Com grande desenvoltura os candidatos à presidência andam prometendo mais a torto que a direito. José Serra e Dilma falam como se fossem fazer isto num átimo. Apenas Marina Silva tem advertido que mudar é um extraordinário desafio. Palocci, o apaziguador Curiosa - e esclarecedora - a estreia de Palocci como colunista do jornal Folha de S.Paulo no domingo. Palocci é o principal homem de economia na coordenação da campanha de Dilma e com todas as credenciais para virar o primeiro e único. Os outros concorrentes dele para função estão perdendo espaço : José Eduardo Dutra, presidente do partido, não tem a mesma dimensão e o mesmo desembaraço do ex-ministro da Fazenda ; Fernando Pimentel confundiu-se demais em MG e acabou se desgastando com parte do partido e com o aliado PMDB. Os outros papéis Está reservado a Palocci o papel que coube a ele mesmo em 2002 (a interlocução com os empresários), além de parte do que coube a José Dirceu : a interlocução política. É dele também a função que estava reservada para Henrique Meirelles quando do presidente do BC se cogitou a vice-presidência : acalmar o mercado financeiro, interno e externo, sobre possíveis arroubos mais "desenvolvimentistas" da ex-chefe da Casa Civil. Pois bem. Palocci estreou no colunismo falando de contas públicas e apregoando a responsabilidade fiscal. Exatamente o ponto em que Dilma desperta mais desconfiança. E sob o qual o próprio governo Lula está sob escrutínio. Em tempo Como, do ângulo de boa parte do petismo, a eleição presidencial já está decidida pró-Dilma, Palocci já desperta ciúmes e já é alvo de alguns petardos bélicos, até agora de festim apenas. Enquanto isso Os últimos dados não deixam mais nenhuma dúvida : o crescimento do país está acima daquele que pode ser construído sem inflação. A atividade econômica pode ser contida de duas formas, as quais podem ser combinadas : aumento da taxa de juros e/ou contenção fiscal. Como a segunda opção é muito difícil - e, portanto, improvável - de ser exercida, o aumento do juro básico é inevitável. O mercado pode estar subestimando a probabilidade de uma "puxada' na taxa básica acima dos patamares registrados no mercado futuro de juros. Investimentos Não há espaço fiscal nas contas do governo federal e em grande parte dos governos estaduais para incrementar os investimentos em infra-estrutura. O investimento privado neste segmento tem sido pequeno frente às necessidades. Assim sendo, o redemoinho "atividade em alta versus alta dos juros" persistirá até uma reforma fiscal séria. Inflação Também estão sendo negligenciados pelo mercado e pela sociedade a perspectiva de uma inflação bem mais alta que a esperada pelos agentes. Setores do comércio já falam em demanda muito aquecida e os preços, pouco a pouco, estão subindo. Radar NA REAL Mantemos a nossa visão negativa em relação ao andamento do mercado financeiro internacional e nacional. A crise europeia em meio à frágil recuperação da economia norte-americana é significativa barreira para a redução da volatilidade e sustentação dos preços dos ativos de renda fixa e variável. Ademais, o desempenho da economia brasileira proporciona redobrada atenção : o combate à inflação exige alta de juros e atividade econômica deve cair "na margem", sobretudo no ano que vem. Os lucros projetados das empresas de capital aberto podem estar superestimados. Por fim, há o cenário eleitoral, fonte de incertezas para os investidores. 28/5/10   TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA alta alta - Pós-Fixados NA alta alta Câmbio ² - EURO 1,2409 baixa baixa - REAL 1,8505 baixa baixa Mercado Acionário - Ibovespa 60.259,33 baixa estável/baixa - S&P 500 1.087,69 baixa/estável alta - NASDAQ 2.229,04 baixa/estável alta (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável Minas : traição no ar Dia 6/6, domingo, termina o prazo estabelecido pelas direções nacionais do PT e do PMDB para a formação da chapa governista - oposicionista em MG - para disputar a Palácio da Liberdade. O acordo da cúpula reza que o PT entregue o comando a Hélio Costa e fique com a vice e a principal vaga do Senado. Esqueceram de combinar, porém, com os eleitores petistas. E a semana começou com um ambiente pouco favorável ao acordo nas Alterosas. Tanto os peemedebistas quanto os próprios petistas temem traições, de parte a parte. Ao balanço das pesquisas Enquanto Serra aparecia ainda como líder na corrida presidencial em algumas pesquisas, o PP andou bem assanhadinho para entrar na aliança oposicionista, dando as costas para o PT de Dilma e o PMDB de Michel Temer. A direção da biruta de aeroporto do partido de Paulo Maluf deu uma reviravolta desde que a preferida de Lula empatou com Serra em todos os levantamentos confiáveis. Agora as chances do PP abraçar Serra são bem menores, a não ser que a vaga de vice que Aécio está recusando vá para o primo dele, o senador Francisco Dornelles, do RJ. Mas desde que Dornelles pôs no projeto dos "fichas-sujas" uma correção polêmica, deixando mais difícil barrar as candidaturas de quem tem contas na Justiça, o entusiasmo tucano com ele diminuiu. O jogo de gato e do rato Não dá para distinguir bem quem é o caçado e quem é o caçador nesta corrida do PMDB e do PT nesses minutos que ainda faltam para a convenção dos dois partidos, marcados para 12 e 13/6, quando ambos definirão a aliança em torno da candidatura governista. O PMDB espalha que o PT está dominado e vai ceder mais do que deseja nos Estados. O PT rebate, contando, à boca pequena, que o PMDB já foi devidamente engabelado. Os dois estão fadados - ou condenados - a se associarem. O PT tem como trunfo : o crescimento de Dilma e a sua força política. O PMDB tem, por seu lado, seis minutos no rádio e na televisão e uma infinita capacidade de causar problemas para o governo no Congresso e mesmo nos palanques estaduais. Quem conhece o ondular da política brasileira aposta que as ondas estão mais para os surfistas do PMDB. E que o PT terá de ceder, a ferro e fogo, em MG e no MA, hoje dois maiores empecilhos à paz nacional. Sem ao menos o direito de chiar. O que dá prá rir dá prá chorar O título é tirado de um samba do Paulinho da Viola. Mas se encaixa perfeitamente no programa de governo que o PMDB vai apresentar quando oficializar a candidatura de Temer a vice-presidente da República na chapa oficial e oferecerá ao PT e à candidata Dilma. Tudo para consolidar o que Temer define como uma aliança "político-eleitoral programática". Logo, a segunda mais voraz legenda eleitoral brasileira (só perdeu a primazia para o PT no governo Lula), o PMDB, sugere, entre outras coisas, o fim do aparelhamento do governo. O PMDB também quer o fortalecimento da independência das agências reguladoras, envolvido ao mesmo tempo numa disputa ferrenha com o parceiro PT por um amontoado de vagas desocupadas nesses órgãos e outras que ficarão livres até o fim do ano. Os peemedebistas proporão ainda limitar o aumento dos gastos do governo, fora investimentos e programas sociais, em um teto 2% abaixo do crescimento do PIB. Pode ser sério ? Sinceridade é isto Ninguém precisa se esforçar para responder. O ex-senador - suplente de Hélio Costa - Wellington Salgado, aquele de cabelos longos e ideias, o faz com candura e surpreendente sinceridade : "Em política é assim : surgiu uma vaga todo mundo corre para ver se pega. Igual a Cosme e Damião. Onde estão dando um saquinho de bala, todos correm para pegar. Querem pegar os nossos saquinhos." (alusão as brigas com o PT pelos 'princípios' da aliança programática) A pressa da Petrobras Homem de fé o líder do governo na Câmara, deputado Cândido Vaccarezza. Ele acredita que poderá levar deputados a Brasília nos dias 15 e 16 próximos para votar definitivamente o novo marco regulatório do petróleo, com as regras para exploração do pré-sal. Vai ter de rezar a santos e orixás com muita devoção. Com o feriado desta semana e a conhecida má vontade da oposição, vai ser um parto doloroso aprovar as propostas no Senado, mesmo que se deixe para depois o polêmico projeto dos royalties. Brasil na copa Dia 15/6 é o dia da estreia do Brasil na Copa e os abnegados parlamentares fazem questão de vibrar pela seleção de Dunga com seus eleitores. Tanto que o próprio Vaccarezza chegou a propor o recesso parlamentar deste ano para que deputados e senadores pudessem cumprir este dever cívico sem se sentirem constrangidos e ir a Brasília. Como líder do governo, Vaccarezza está apenas vocalizando os desejos da Petrobras e do governo. Está marcada para o dia 22/6 a assembleia da Petrobras para definir as regras da nova capitalização da empresa. A Petrobras quer dinheiro urgente para tocar seu ambicioso programa de investimento. Na semana passada, anunciou-se na China que ela vai pegar mais de US$ 10 bilhões emprestados, como os R$ 10 bilhões tomados no ano passado. Em tempo : os apressados que atentem para o - mau - exemplo da British Petroleum no Golfo do México.