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Política, Direito & Economia NA REAL

Enfoque político, jurídico e econômico.

Francisco Petros
terça-feira, 26 de julho de 2011

Política & Economia NA REAL n° 162

Inflação e crescimento : como acomodar Dilma não poderia ter sido mais explícita nas conversas que teve com um grupo de jornalistas na sexta-feira : não haverá combate à inflação com sacrifício do PIB (ela chamou "crescimento zero"). Com isso, confirma-se o que escrevemos mais de uma vez neste espaço e muitos analistas já punham em suas contas : nem em 2012 o BC chegará à meta de inflação de 4,5%. Ficará para 2013. Isto explica também o comunicado lacônico do Copom. Após o último aumento da Selic, na semana passada, de 0,25%. E pode ser lido na entrevista concedida por Marcio Holland, secretário de Política Econômica ao "Estadão", ao defender que a inflação no Brasil tem ainda forte componente externo. Se tem, o que se pode fazer por aqui é pouco. Entre os especialistas não oficiai,s a dúvida é como acomodar o crescimento que a presidente quer - não menos de 4% - com inflação mais ou menos obediente. É desafio para mágico. Um amparo Por isso, não devem os empresários esperar grande esforço do BC e da Fazenda para melhorar o câmbio. O dólar faz parte do arsenal de combate à elevação de preços. A aposta do governo para ajudar a indústria nacional, cada vez menos competitiva, é o plano de incentivos que Dilma promete anunciar hoje. Sem grandes ilusões : incentivos que signifiquem perdas pesadas de receita ficarão para outra ocasião. A cota da Petrobras A Petrobras, como se noticiou, foi obrigada a manter seu plano de investimentos 2011/15, depois de pesadas discussões com o ministério da Fazenda, praticamente no mesmo nível do programa 2010/14, com um aumento de menos de 0,5%. Esta foi a contribuição que a estatal terá de dar à política anti-inflacionária : para investir mais teria de reajustar os combustíveis, artificialmente controlados há algum tempo. Nesta área, para o governo basta a pressão do etanol, que nem na safra está se comportando. Perda de confiança ? O envolvimento do BC e o da Petrobras (quem sabe, no futuro, de outras instituições) nesse tipo de política (ver nota abaixo) não pode abalar a confiança dos agentes econômicos e dos investidores na autonomia dos dois ? Eles passam a ser órgãos "de governo" e não de "Estado" e isso pode ser perigoso. O mercado, por meio da pesquisa Focus (consulta que o BC faz à 100 especialistas), já deu uma indicação esta semana : apesar do aumento da Selic, eles aumentaram a previsão para a inflação do ano que vem. Brasil, em pauta Na semana passada, a coluna esteve em contato com bem posicionados investidores. Destes que têm seus fundos estacionados em paraísos fiscais e contratam PhDs para formularem suas "teses de investimento". Pois bem : qual não foi a surpresa destes colunistas sobre os comentários destes investidores dando conta de uma crise imobiliária no Brasil. O mais interessante é que o rol de argumentos destes é insustentável, não apenas porque a inadimplência na área imobiliária não é tão elevada como também não há uma queda monumental do preço dos imóveis no país. Há algo de novo no front. É o que pudemos constatar. O Brasil nunca foi o paraíso pregado há pouco tempo por estes mesmos investidores. Todavia, não está na iminência de uma crise. De toda a forma, vale o alerta : o dinheiro não tem pátria. Sua pátria é o lucro. É a política, sempre a política Não custa repetir, para lembranças posteriores : as razões que estão levando a presidente Dilma a aceitar um pouco mais de inflação, por um tanto mais de crescimento, são de ordem meramente política. Ela precisa ainda firmar sua imagem e sua liderança, o que poderia (ou pode) ficar complicado se a economia cair muito e surgirem demissões e a renda do assalariado perder força. Os aliados começariam logo a chiar. Por isso, o salto de equilibrista (sem rede ?) que está sendo exigido do BC e do ministério da Fazenda. E ainda tem o fantasma Escutem três pessoas ligadas ao mundo oficial e vocês terão três informações sobre as relações de Dilma e Lula : (a) estão excelentes; (b) estão mais ou menos; (c) há queixas dos dois lados. A realidade é que, boas ou más, há ciúmes de um lado e apreensão de outro. Queira ou não, Lula é um fantasma que assombra Dilma. A questão da popularidade é uma. Se a economia, por exemplo, perder um pouco de rumo, as atenções vão ser voltar para o "oráculo" de São Bernardo : "com ele era diferente" e coisas assim. E Lula, mesmo querendo ajudar com sua movimentação, mais complica do que tudo. Está sempre lembrando que não se aposentou nem é de ficar no banco de reservas. O efeito demonstração O governo está sorrindo como nunca com as pesquisas reservadas (nem tão assim, na verdade) que indicam que a "faxina" que a presidente está fazendo no ministério dos Transportes está sendo muito bem vista entre os formadores de opinião, principalmente na classe média. Mesmo que seja uma limpeza incompleta, pois o problema lá não é apenas de nomes, dos valdemares, mas também e especialmente de procedimentos, de normas. E de controle e de fiscalização. Por onde andou por todo esse tempo a CGU ? E os fiscais do PAC, com seus pais e mães. Mas mesmo com esse sucesso de público, não se espere, a não ser que novas denúncias surjam, que a faxina vá extrapolar a área de rodovias e ferrovias e avançar em outras direções na Esplanada dos Ministérios. A presidente ainda não sabe o cacife que tem para enfrentar aliados mais fortes e mais sabidos. O PR pagará sozinho - e deverá ter uns afagos discretos. As decisões da presidente de fazer a limpeza, bem em cima das denúncias da imprensa, deixou ressabiados e assustados os parceiros do governo no Congresso. Por isso, arquivem-se informações de que, por incompetência, inapetência, inadaptação e outras razões o rolo da faxina poderia passar logo logo também pelo lados do Turismo e das Cidades. A ordem é deixar a poeira baixar. Quando agosto chegar Somente depois das férias de meio de ano dos parlamentares será possível saber qual o efeito real das ações da "nova Dilma" sobre os aliados, se ela vai se impor e tomar de vez as rédeas do processo político. Qualquer que seja o sentimento dos parceiros presidenciais, a começar pelo "ofendido" PR, não se deve esperar nenhum rompimento espetacular com o governo, de alguém passando a oposição. De PT e PMDB ao menor dos aliados, nenhum tem fôlego para sobreviver ao sol. Se houver ressentimento, a reação será sem gestos tresloucados de atear fogo às vestes. O estilo está mais para aquele romance de Jorge Amado, "Tocaia Grande". Liberou geral ? Um dos temores do mundo político é que a presteza com que agiu Dilma no caso dos Transportes, demitindo à primeira denúncia, incentive daqui para frente uma guerrilha de denúncias, uma guerra de dossiês. Não é por outra razão que Lula está pedindo juízo ao PT e parceiros. Grécia não foi salva, mas a Europa Não houve propriamente um "resgate" da Grécia por parte da União Europeia e, muito menos, uma "vitória" de Angela Merkel na satisfação de seu desejo de impor aos investidores uma parte das perdas que virão a ocorrer na troca dos títulos helênicos pelos novos títulos lastreados pela UE. De fato, não havia saída para a Grécia, endividada acima daquilo que podia pagar. Tardiamente, a UE reconhece este fato. Depois de enormes custos para todos os países. Ademais, Portugal, Espanha, Irlanda e Itália terão maior tranquilidade para se equilibrarem no curto prazo. Afinal, a solução patrocinada pela Alemanha e França salvam não apenas a Grécia, mas toda a Europa meridional. De toda a forma, a situação continuará instável diante da impossibilidade de alavancar o consumo e o investimento destes países. Além do desemprego que continuará a trazer os conhecidos transtornos políticos. E agora ? Cadê a solução política Um aspecto relevante a ser observado doravante é o quanto esta crise econômica criará novos mecanismos de aprofundamento da União Europeia. Ao escolher uma solução mais construtiva para o Velho Continente, os principais países da UE deveriam abandonar as suas políticas paroquiais e se voltar para uma relação mais completa na gestão econômica, sobremaneira no que tange à dívida pública e ao financiamento dos déficits públicos. A crise é de todos, como se provou, mas a solução dependerá da inteligência política da França e da Alemanha, países que sempre tiveram dificuldades em serem de facto europeus. Agências de risco : para que servem ? Não é preciso ir longe para constatarmos que as agências de risco se tornaram um problema a mais na administração das crises e colapsos financeiros de países e empresas. Seus alertas são tardios e, no momento da crise, seus ratings, inúteis. Tudo muito estranho. Além disso, há muitas indicações de que sua forma de atuar colabora com a especulação. Fosse diferente, seus alertas quanto à crise imobiliária dos EUA teriam ocorrido anos antes da catástrofe de 2008, bem como a classificação dos bancos norte-americanos teria sido revista muito tempo antes de quase todo o sistema quebrar. Agora, depois da solução apresentada pela União Europeia para a dívida dos governos, as agências de classificação de riscos especulam sobre um default. De fato, este default existirá. Não há outra forma de não existir. Todavia, o default das agências de risco já ocorreu há muito tempo. Copa/Olimpíada : quando teremos informações ? Em matéria de falta de transparência, o governo pode levar a taça. A Copa do Mundo é dele. Cadê as informações sobre as obras da Copa e das Olimpíadas ? A razão para esta falta de transparência é a que todos podem estar imaginando : as obras estão atrasadas, os custos são cada vez mais elevados e falta um plano estratégico para sanar os problemas. Não à toda, Henrique Meirelles deixou para trás a ambição de ser o "gerente das olimpíadas". Radar NA REAL 22/7/11 TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA estável estável - Pós-Fixados NA estável estável Câmbio ² - EURO 1,4393 estável alta - REAL 1,5560 estável/queda estável/queda Mercado Acionário - Ibovespa 60.270,00 baixa estável - S&P 500 1.345,02 estável/baixa baixa - NASDAQ 2.858,83 estável/baixa baixa (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável ____________
terça-feira, 19 de julho de 2011

Política & Economia NA REAL n° 161

Confirmação de tendência Na coluna do dia 9/5 escrevemos que os mercados sinalizavam uma mudança substantiva de tendência. Depois de quase um ano de recuperação do colapso financeiro ocorrido nos países centrais do capitalismo. a partir de agosto de 2008, os mercados refletiram em larga medida o sucesso imediato da adoção de políticas dos governos para evitar que a atividade econômica atingisse patamares de uma crise como a de 1929. Ao final do primeiro trimestre deste ano, quase todos os segmentos do mercado local e mundial apresentaram um desempenho que espelhou este processo inicial de recuperação. Restavam os aspectos estruturais das economias para serem "recuperados" por meio de políticas governamentais. Não foi isto que ocorreu na maioria dos países, incluso o Brasil, que permaneceu letárgico diante de seus problemas. Sistemas emperrados A crise europeia, deflagrada pelo colapso da Grécia, é a representação de que a absorção dos "créditos podres" do sistema privado (e estatal) não está cabendo na dimensão da dívida externa e interna dos países. Os investidores que se beneficiaram do socorro do Estado são aqueles que, sem as perdas gigantescas das quais foram protegidos, agora constatam que as dívidas de países como Portugal, Espanha, Irlanda e, até mesmo, Itália e França, podem não ser solventes na sua plenitude. O mesmo raciocínio vale para a os EUA, muito embora a sua posição estratégica lhe permita melhores condições. O dilema europeu Há um problema estrutural muito maior que uma conjuntura negativa. A crise é estrutural e requererá um encaminhamento político sobre o qual não temos convicção que os sistemas políticos estão preparados para solver. Portanto, trata-se de uma crise de enormes proporções. A Europa está diante de uma "escolha de Sofia". Ou aprofunda a União Europeia, sonhada destes os anos 50 do século passado, ou dissolverá o seu sistema monetário "jogando ao mar" os países menores do Velho Continente. Angela Merkel e sua visão de um germanismo econômico simboliza a restrição à estratégia pró-aprofundamento. De outro lado, a França e a Inglaterra simbolizam a hesitação na defesa da União. A questão não está apenas mal parada. Ela está ainda sob o impacto da análise de ganhos e perdas. Os EUA tem a sua própria miopia O caso norte-americano é ainda mais simbólico do momento decisivo pelo qual passamos. Obama é uma figura política pálida, sem sustentação política no Congresso e incapaz de promover mudanças estruturais no seu próprio sistema econômico. Suas políticas maneiam entre aspectos exclusivamente ideológicos (universalização da saúde e previdência, intervenção do Estado sobre o sistema produtivo, etc.) e aspectos concretos (limites orçamentários e de dívida, apatia dos investimentos privados, desemprego elevado, etc.). Há ainda a constatação que somente as urnas abençoarão a renovação (ou não) da liderança americana e, assim, capacitá-la a mudar o curso do declínio do Império. China não é fiadora, é outro risco Até pouco tempo atrás, as colunas dos principais jornais econômicos do mundo atribuíam à China a extraordinária capacidade de mover para cima e para baixo a economia mundial num momento de fraqueza de demanda. Ao aprofundar-se a crise neste momento, fica evidente o que já se sabia : num sistema aberto como o do comércio mundial, não há vencedores quando todos perdem. A desaceleração chinesa já é fruto da fragilidade das economias capitalistas centrais. E tem mais : a China detém 1/3 dos títulos do Tesouro norte-americano e boa parte (algo como ¼) dos títulos dos países europeus. O questionamento da solvência plena das dívidas antes consideradas "certas" impõe dúvidas sobre a China, que resvalarão no seu próprio desempenho econômico. A China não é, portanto, apenas esperança de demanda, é também um sinal de alerta para o mundo, particularmente o ocidental. Brasil, com os dedos cruzados I No resumo analítico que fizemos acima, cujo objetivo é apenas qualificar nossas visões, vê-se que estamos diante de um processo estruturalmente complexo e que, inevitavelmente, trará consequências para o Brasil. Muito embora sejamos uma economia relativamente fechada, os vasos comunicantes do preço das commodities e das transações entre os mercados financeiros e de capital são suficientes para nos contaminar. Neste sentido, é preciso reconhecer de saída que em 2008 as condições da economia brasileira eram melhores que as atuais para enfrentar uma conjuntura desfavorável. Atualmente, a crise estrutural é mais grave. O Brasil ainda tem números fiscais razoáveis frente a seus pares europeus e os EUA, mas estes são piores que há dois anos. A nossa maior virtude se concentra no excelente nível das reservas, mas estas estão aplicadas em quase 100% em títulos europeus e norte-americanos. Vê-se que a situação não é simples. Brasil, com os dedos cruzados II O maior problema brasileiro é o câmbio. Desde o governo de FHC, passando pelo de Lula e chegando a Dilma, a política cambial carece de cuidados. Não apenas em função da inflação, mas, sobretudo, em função da prometida política de desenvolvimento econômico. A taxa de câmbio é a variável mais sensível para viabilizar (ou não) o desenvolvimento industrial. O que se viu até agora nos últimos dez anos, pelo menos, foi uma total falta de visão estratégica em relação ao tema. Não se discute esta variável para não comprometer o "mercadismo" financeiro e, de outro lado, as forças produtivas internas não se apresentam como viabilizadoras políticas de uma discussão em torno de seus interesses. Afora o fato de que a alta das commodities obscureceu os efeitos estruturais do comércio exterior sobre o processo de desenvolvimento tecnológico e econômico. A conta sempre chega neste campo, estejamos certos disso. Inflação, boas novas (e ruins) A inflação projetada cai. Uma boa notícia quando há dois meses especulava-se que os preços podiam tomar um rumo perigoso. Todavia, dois aspectos têm que ser qualificados para que não sejamos tomados de ânimos que não se sustentam logicamente : a inflação caiu porque a atividade econômica está menor (com o BC puxando os juros) e em razão do câmbio comportado e para baixo (o que força os preços domésticos também para baixo). E tem mais : uma taxa de inflação entre 6% e 7% não é baixa. Ao contrário, agrega mais riscos ao cenário atual. Copom, cheio de opções Escapemos das análises do mercado sobre o tema e vejamos a questão de um ângulo mais estrutural. O BC tem todas as opções a sua disposição em relação à taxa de juros, mas as dúvidas são grandes. Vejamos : (i) a desaceleração da atividade econômica é evidente - e ficará mais evidente à frente - (ii) - os preços podem cair mais, dependendo do comportamento do câmbio (iii) e, o risco externo está aumentando. Seria prudente o BC esperar para agir, pois o cenário é muito incerto e a taxa de juros, convenhamos, um presente dos céus para quem tem recursos aplicados no Brasil... De todo modo, amanhã o Copom deve aplicar mais 0,25% na Selic, para desgosto de certas áreas oficiais. O dito mercado ainda aposta em outro 0,25 até o fim do ano, mas então tudo é incerto. Por tudo isso... Estamos reforçando a nossa visão negativa (desde 9/5/11) em relação ao desempenho econômico mundial e brasileiro, cujos efeitos sobre os mercados são igualmente negativos, muito embora muito difíceis de serem dimensionados. Feliz 2013 Não há muitas dúvidas, a não ser que o BC dê um grito de autonomia, que no momento não está a seu alcance : a meta oficiosa é só levar a inflação para o centro da meta (4,5%) em 2013. 2012 tem eleição municipal, com as consequências já conhecidas, ainda mais que petistas e aliados querem ampliar suas forças com vistas a 2014, e há bombas contratadas como o aumento de cerca de 14%, cerca de 8 pontos reais acima da inflação, para o salário mínimo. E em 2011, além de ainda influenciado pelos ares de otimismo que Lula espalhou antes de sair do governo e está alimentando depois dele, de que o Brasil já entrara na rota do paraíso, há a necessidade de a presidente Dilma de firmar-se sobre suas próprias pernas. Antes disso, ela não pode bater forte na política nem na economia. Política e economia A dúvida de alguns especialistas é simples : a presidente não pode "bater" duro este ano nos fantasmas econômicos - casos do câmbio em que ela precisa se equilibrar entre proteger a indústria brasileira e a ajuda que o dólar desvalorizado dá ao combate à inflação e do próprio juro - por razões de ordem política. Não estaria ela, no entanto, apenas comprando um problema para o ano eleitoral ? Não seria melhor ser dura agora para respirar em 2012 ? Lá como cá Se alguém julga que serve de consolo : parte da queda de braço entre Obama e os adversários republicanos tem, de fato, a ver com princípios ideológicos, com opções de ordem econômica. Parte, porém, como lembrou o economista (democrata) Paulo Krugman, tem a ver com as disputas eleitorais de 2012. Já não se fazem países do lado de cima do equador como antigamente ! Transportes congestionados Destaca-se a oficial e oficiosamente diferença entre as ações da presidente Dilma no caso Palocci, no qual ela demorou 23 dias para livrar-se do bem sucedido consultor de empresas, e o episódio dos ministérios dos Transportes, no qual no mesmo dia da notícia da "farra dos aditivos" ela já mandou para casa três suspeitos e aceitou as "férias" de um terceiro - em dois dias mandou de volta para o senado o próprio ministro Alfredo Nascimento. As razões levantadas pelas vozes que fazem questão de apontar tais diferenças são três : 1. Dilma percebeu que as vacilações na ocorrência Palocci pegou mal para certos setores da sociedade, especialmente a classe média conservadora.2. Aproveitou para livrar-se de um grupo que nunca foi o dela.3. Aaproveitou também a situação para firmar sua própria liderança, à revelia do próprio padrinho e de aliados. Não seria bem assim Os adversários das interpretações acima e aqui não se trata da oposição, pois esta... contestam com outros argumentos : 1. Palocci era do PT, a turma em desgraça nos Transportes era (e é) de outra freguesia. Se fosse um petista no lugar de Nascimento e troupe Costa Neto, haveria a mesma eficiência ? 2. A escolha de Paulo Sérgio Passos para o lugar de Nascimento, também como (ainda que formalmente) como homem do PR, mostra os limites do tal grito de independência política. 3. A demora de fazer uma profilaxia total no ministério dos Transportes, com Luis Antonio Pagot e todo o DNIT, incluindo um petista gaúcho citado por Pagot como um homem muito poderoso no departamento, sinaliza dificuldades e necessidade de muitas negociações. Efeito colateral Quando Dilma age, como está agindo no ministério dos Transportes, para efeito externo (opinião pública) e como efeito demonstração (público interno), afastando ou demitindo à primeira denúncia, ela, ao mesmo tempo, está criando um ambiente de insegurança em muita áreas sob seu comando e incentivando o velho e corrosivo fogo amigo. "Publicou, caiu. Então, vamos soltar as labaredas" pode ser o novo lema das "pacificadas e unidas" forças governistas. Otelo Como escreviam os colunistas de outros tempos, "causou espécie" nas áreas a quem se julga de direito, os elogios que a presidente Dilma fez ao ex-presidente FHC e ao governo dele, em carta pela celebração dos 80 anos do tucano. Não foi por outra razão que a presidente, que andava avara em referências ao patrono, numa semana fez três citações ao ex-presidente Lula. E ainda falou em "herança bendita" em pleno desenvolvimento da crise do ministério dos Transportes, mandada e comandada por gente e acordos recebidos do passado. Não foi à toa ainda que o ex-presidente petista insurgiu-se novamente - seu tema recorrente - contra a imprensa em evento oficioso (tal o patrocínio estatal) da UNE em Goiás, entre outras coisas, por tentar "intrigar" criador de criatura. Quem tem paredes com bons ouvidos em São Paulo e em Brasília sabe o que se passa no mundo real. E sabe, de lado a lado, de onde sopram as "intrigas". Apelidos delicados No meio das ferrovias, havia um Juquinha incômodo, mandado definitivamente pelo desvio em que o PR foi metido (temporariamente ou para sempre ?) No caminho dos armazéns nos quais o governo fez estoques alimentícios, há um Juca (com acento no "a" muito familiar) da cota do maior, e no momento mais estridentemente silencioso, partido da base aliada. O perigoso terreno da galhofa Ridículo é pouco para classificar certos gestos e atos públicos destinados transmitir para o distinto público sinais de que nas hostes políticas oficiais os aliados vivem na maior harmonia. Como, por exemplo, o bolo de noiva (Dilma e Temer nos papéis principais) cortado entre o PMDB e o PT; e os coquetéis e jantares agora oferecidos pela presidente, antes avessa a esse tipo de coisa, aos políticos aliados, nos quais, ao modo dos call centers, ela diz aos neoamigos, "vocês são muito importantes para mim". O risco é descambar para a galhofa. Sherlock Holmes A serviço do país não seria o caso de contratar o personagem de Conan Doyle e outras criaturas como Hercule Poirot, de Agatha Christie, numa convenção dos grandes detetives ficcionais da história, para descobrir os rimos da oposição brasileira ? Antes que ela própria vire apenas uma ficção ? Jornalismo em choque e em xeque Ruppert Murdoch, para o jornalismo de respeito, é e sempre foi uma excrescência. Mas que há uma certa dose de hipocrisia, acolá e aqui, em relação às revelações sobre os métodos do Publisher (se assim se pode chamá-lo). Basta ver o teor (se alguns conteúdos assim merecem a classificação) de certas publicações de sucesso e o lixo eletrônico que toma as tardes nacionais e estrangeiras. Além de cair em cima de Murdoch seria com que cada um, publicações, publicadores e público fizéssemos uma passagem pelo confessionário. A propósito, valeria, para jornalistas (e advogados) a leitura de "O jornalista e o assassino", da jornalista norte-americana Janet Malcolm, edição da Cia. das Letras. Radar NA REAL 15/7/11   TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA alta alta - Pós-Fixados NA alta alta Câmbio ² - EURO 1,4053 estável alta - REAL 1,5825 estável estável/queda Mercado Acionário - Ibovespa 59.478,00 baixa baixa - S&P 500 1.316,14   estável/baixa baixa - NASDAQ 2.789,80 estável/baixa baixa (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável ____________
terça-feira, 12 de julho de 2011

Política & Economia NA REAL n° 160

Uma transamazônica de problemas Embora parcela dos analistas e, obviamente, os empedernidos governistas tenham entendido que Dilma agiu com eficiência nas suspeitas envolvendo o ministério dos Transportes, a interpretação é bondosa em demasia. É fato que não seguiu o padrão "episódio Palocci", mas as vacilações foram - e ainda são as mesmas - uma demonstração de que o governo, sem tutelas, sem temores e sem titubeios ainda não foi ainda inaugurado pra valer. O simples fato de a presidente ter "prestigiado" inicialmente o ministro Alfredo Nascimento, entregando a ele a investigação das supostas irregularidades, para depois forçá-lo a se demitir e, em seguida, convidar outro condestável do partido (PR) para o cargo e considerar ainda o ministério dos Transportes um feudo dos comandados de Valdemar da Costa Neto já diz sobre o grau de amarras que cercam S. Exa.. Asfalto movediço Tem mais a demonstrar os grilhões do governo : 1. Luiz Antonio Pagot foi dado como demitido, amuou e então foi aceito como estando de férias. 2. O movimento para barrar uma possível CPI do DNIT que uma oposição combalida ameaça, sem nenhuma chance, convocar. 3. A preocupação com a reação do PR. O que ele fez, fazia e agora vai fazer Na estrutura dos ministérios, o secretário executivo é apontado como vice-ministro, o homem que toca o expediente, substitui o titular e coisas assim. No ministério dos Transportes, Paulo Sergio Passos exerce esta função desde a era de Lula. Já foi até ministro interino, quando o agora ex-Alfredo Nascimento saiu para concorrer ao Senado e depois ao governo do Amazonas. Guardou o lugar do titular. No caso levantado pela "Veja" o que viu Passos ? Ou não viu ? Ou fingiu-se de técnico apenas ? Ou contou tudo para alguém e viu o circo explodir ? Quais dessas credenciais fizeram de Passos o novo ministro, como o Palácio do Planalto anunciou ontem à noite. Curvas traiçoeiras Pelas primeiras indicações, a crise foi jogada temporariamente para debaixo do tapete. É uma tentativa de acomodação política. Pelo ambiente do mundo de fora, Dilma precisa dar um murro geral na mesa. O Congresso e os partidos estão abarrotados de escaninhos e curvas traiçoeiras. Esta semana vota-se a Lei de Diretrizes Orçamentárias. Com armadilhas para pegar onça pintada. E ele, o que é ? Pouca gente, pelo menos quem não é do "ramo", conseguiu entender ainda o papel do secretário geral da presidência da República, Gilberto Carvalho, no governo Dilma. Ele está em todas (ou quase todas) as exposições para a mídia, ao contrário do discreto e eficiente mineiro Luiz Dulci no posto palaciano com Lula. Foi de Carvalho a solução (temporária) das férias de Pagot, depois de o Planalto ter saído com a notícia da demissão imediata do homem do DNIT. Disseram a jornalistas que Dilma teria ficado irritada com o auxiliar direto por isso. Mas ficou irritada apenas neste caso ? O silêncio dos inocentes - O retorno Ativos no episódio Palocci, um muito diretamente, o outro mais nos bastidores, o presidente de honra do PT e ex-presidente da República, Lula da Silva, e o presidente licenciado do PMDB e vice-presidente da República, Michel Temer, guardaram obsequiosa e silenciosa distância do asfalto selvagem do ministério dos Transportes. Afinal, o negócio Palocci, embora atingisse indiretamente o governo, era mais uma questão pessoal. Já rodovias, ferrovias e tais... Em tempo : o PMDB, na fase de formação do governo Dilma, teve entre seus ministérios mais cobiçados o dos Transportes. A foice está solta Na esfera oficial o jogo já está feito para 2014 : como na loteria zoológica inventada pelo Barão de Drummond, "na cabeça vai dar", fora imprevistos pouco prováveis, Dilma ou Lula. Não necessariamente nessa ordem de preferência. As caneladas ficam por conta do segundo lugar, já em plena disputa, despontado na frente o atual donatário, o PMDB e, em segundo, o PSB. Por essas e outras é que, tirando o lado da tragédia familiar e pessoal pela qual ele passou recentemente, ninguém nesse mundo está se comovendo com as agruras do governador Sérgio Cabral, do Rio, amigo e cópia carbono mal tirada do ex-presidente Lula. Solidariedade política ele não está tendo nem de seu partido. Vale o oposto também. Uma falsa calmaria Quem olha o PMDB só pela superfície, vê hoje quase "um manso lago azul sem ondas nem espuma". Nada mais falso - o que talvez explique o retraimento de alguns de seus caciques, temporariamente aposentados da mídia. Ou a nova postura de Sarney a cobrar explicações de quem aparece no governo encalacrado, como fez na semana passada com Alfredo Nascimento, o oposto do que havia feito com Palocci semanas atrás. A razão é que ganham corpo e consistência duas dissidências dentro das bancadas do partido na Câmara e no Senado, não apenas contra os pajés que tudo podem e tudo levam, mas em defesa de uma nova imagem para a legenda. No Senado, oito senadores "independentes" já vão longe nas discussões de que posições devem tomar, sem radical oposicionismo ao governo. Na Câmara o movimento é mais incipiente, mas já ocorreram reuniões de debates com a presença de cerca de 20 deputados. É a política O julgamento do "mensalão", que começou a entrar nos "finalmentes", tem aspectos político-institucionais infinitamente mais relevantes que todos os aspectos técnico-jurídicos que engloba : o seu resultado vai definir o país democrático, republicano que queremos ter. O Supremo, com muitos de seus titulares agraciados mais ao gosto político-partidário-emocional do que jurídico, terá de mostrar, coletiva e individualmente, qual sua real dimensão como Corte Suprema. A calmaria é real A oposição está parecendo a seleção do Mano Menezes : não é uma equipe, não tem conjunto, não tem plano de jogo e é incapaz de transformar em fatos e ações (gols) de interesse nacional as oportunidades que os adversários (os governistas) lhes entregam gratuitamente. Dão sempre um drible a mais ou tentam as surradas soluções que não levam a nada. Propaganda enganosa Chega ao limite do deboche, para dizer o "menos pior", a propaganda que algumas ditas (mas não provadas) instituições de ensino fizeram publicar nos últimos dias celebrando o desempenho de seus alunos no último exame da OAB. É caso, isto sim, para luto fechado da sociedade e da comunidade jurídica nacional e para uma ação sumária, cirúrgica das autoridades. Mas o MEC, entenda-se, é uma entidade política... É a economia O governo Dilma está na berlinda, desde o seu começo - já lá se vão mais de seis meses- por razões de política e adjacências. É o acerto partidário nunca concluso, é a cobrança no Congresso, é o caso Palocci, é o caso Mercadante-aloprados, é o caso do ministério dos Transportes, são as idiossincrasias dos aliados, os amuos dos que se acham donatários e ministérios e cargos, e outras historinhas menos votadas. Mas no horizonte real, para cidadãos e agentes econômicos empresariais e particulares, é um crescente incômodo econômico, com ameaça de inflação, juros em alta, crédito limitado, câmbio escorregadio e crescimento da concorrência externa que vão trazendo uma inquietação crescente fora do mundo da política. Por razões que vão do otimismo exacerbado de alguns auxiliares de Dilma às atitudes boquirrotas de outros, passando por desentendimentos conceituais entre os setores oficiais, deixam a impressão da falta de uma política econômica orgânica e de longo prazo e de pesadas doses de improvisação e remendos. Não pode um ministro dizer que está assustado com o câmbio, por exemplo ! A fila anda Os mercados comemoraram na semana passada a "salvação" da Grécia depois da liberação de novos recursos da União Européia em função da aprovação de mais um pacote de austeridade. Não se passaram dois ou três pregões para que os especuladores de mercado mirassem no pequeno Portugal e na Itália. Discute-se em relação a ambos os países a possibilidade de seus créditos serem insuportáveis no que tange à solvência. As agências de ratings, apesar de muito questionadas durante a crise norte-americana de 2008, voltaram a prestar seus serviços e a opinar sobre a dívida alheia em plena erupção do magma especulativo. Soa no mínimo estranho... Sem solução no curto prazo Uma coisa é certa : a Europa ainda vai viver durante um bom tempo sob forte escrutínio do tal do mercado. A Grécia irá, de alguma forma, reescalonar (ou reestruturar) a sua dívida. Poucos cálculos aritméticos são necessários para se verificar que o país não terá condições de honrar seus compromissos, apesar de já ter jogado quase 25% de sua população economicamente ativa no desemprego. Portugal e Espanha dependerão da "boa vontade" do mercado, coisa que não existe na prática. Irlanda está quebrada também. Até mesmo a França tem lá suas imbricações entre o sistema financeiro e seu setor produtivo, uma fonte constante de problemas para a higidez do sistema financeiro. Muitas análises ainda trazem estimativas/avaliações sobre as possibilidades de Grécia, Portugal, Espanha e cia. voltarem a ter paz para obter crédito. Tais avaliações não passam de uma cortina de fumaça sobre a realidade. Tudo com anuência da Alemanha, a sócia rica da UE e eterna fonte de problemas para a efetivação de uma política econômica consolidada no Velho Continente. Os alemães, quando o assunto é economia, se comportam como uma raça superior. Infelizmente. A tensão vai continuar. Obama pede, os republicanos respondem Enquanto Obama pavimenta seu caminho para disputar a reeleição, também pede que os republicanos que aceitem aumentos de impostos para minimizar os efeitos do gigantesco déficit fiscal utilizado para salvar o país do colapso de seu sistema financeiro. A resposta republicana vem em doses pouco homeopáticas : aponta o corte para os programas de universalização da saúde e da previdência. Algo duro para os democratas. A possibilidade mais efetiva é que tudo fique "no meio do caminho", nem muito ao déficit e nem muito aos impostos. O que significa que a dívida pública do país vai continuar gravitando acima de seu PIB, algo como US$ 14 trilhões. Neste ambiente, a coisa mais provável de ocorrer é o pessimismo continuar em alta no país. Mais emissões de ações Três empresas de grande porte brasileiras preparam o lançamento de suas ações nos EUA. Apesar de todo o pessimismo reinante no mercado internacional. A conferir. Radar NA REAL 8/7/11 TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA alta alta - Pós-Fixados NA alta alta Câmbio ² - EURO 1,4016 alta alta - REAL 1,5810 estável/queda estável/queda Mercado Acionário - Ibovespa 61.513,26 baixa estável/alta - S&P 500 1.343,80 estável/baixa alta - NASDAQ 2.859,81 estável/baixa alta (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável ________________
terça-feira, 5 de julho de 2011

Política & Economia NA REAL n° 159

Dilma, confiança em concordata Dilma, antes de subir a rampa do Planalto, cultivou uma imagem de uma gestora dura, inflexível, que sabia que o que queria fazer e fazia - alguém um tanto impaciente e agressiva. Mineiramente, pão de queijo com tempero gaúcho. Os "estrategistas de marketing" que transitam em torno do poder, oficialmente e oferecidamente, fizeram de tudo para lapidar ainda mais esta percepção. Dilma não cedia, não concedia, não nomeava, não soltava verbas. Esse jogo chegou a criar até certa ciumeira no imenso território que gravita em torno do presidente Lula. É fato que nomear para o ministério do Turismo, para ficar apenas nesse exemplo, o obscuro - e bota obscuro nisso - deputado Pedro Novais, contrariava tais efeitos publicitários. Mas versão era versão e assim foi-se indo. Dilma dixit. Credibilidade em queda De repente, depois de alguns meses, com as dificuldades naturais do ato de governo e do modo de ser da política brasileira, as fissuras na pedreira de certezas e decisões cirúrgicas começaram a aparecer. Vacilações e mudanças bruscas de posição vieram a tornar a dama de ferro num poço de contradições. Muda de opinião, recua. Corrigir a rota é uma virtude, desde que sustentada em fatos. A coerência absoluta é uma burrice. Mudar ao sabor dos ventos é insegurança, vacilação. E solapa a confiança, a credibilidade. Dilma vive este delicado momento, na abertura do segundo semestre do governo, em meio a tantas mudanças de opinião e de posições, sem argumentos que justifiquem tais idas e vindas. Contradições e mais contradições Já foi a favor, já foi contra e depois ficou de novo a favor do sigilo eterno dos documentos oficiais classificados como ultrassecretos. Defendeu o sigilo no valor inicial das obras ligadas à Copa do Mundo e à Olimpíada e depois ficou nem tanto assim. Sobre os pontos mais polêmicos do Código Florestal classificou-os como inaceitáveis. Na sua mais grave concessão, a presidente, na semana passada, depois de avisar que não prorrogaria mais a anulação dos restos a pagar do Orçamento de 2009, no que tinha o irrestrito aval do ministro da Fazenda, deu mais um prazo para as verbas serem liberadas. A presidente argumentava que não podia passar para a opinião pública que estava fazendo concessões em suas políticas de austeridade fiscal, cuja base é um corte de R$ 50 bi no orçamento deste ano aprovada pelo Congresso. Falaram mais alto as pressões dos deputados e senadores. Trégua para se recompor A consequência é que a crista dos parlamentares e partidos aliados vai crescer e os agentes econômicos e privados vão ficar com a confiança no governo em concordata. Temos pela frente, depois do dia 15, duas semanas de recesso parlamentar nos quais o Planalto terá certa tranquilidade para tentar recompor suas forças. O risco que Dilma corre é passar por uma "sarneyzação" precoce de seu governo. Ela precisa de um gesto de força real, não apenas peças de marketing. Mas isso só será possível se os parceiros colaborarem. Especialmente os dois principais, PMDB e PT. Mais um caso de desvios Agora, é a vez do ministério dos Transportes trazer suplícios para a presidente. Nada surpreendente numa área tão "delicada" em matéria de verbas, licitações, aquelas coisas que fazem a delícia de certo mundo político-empresarial. Lula teve ali um dos seus calvários, com o ex-ministro Anderson Adauto. Não devemos nos esquecer que a nomeação, ainda por Lula, de Luiz Antônio Pagot, reconduzido ao cargo por Dilma, para o DNIT, foi complicadíssima no Senado. Fazer de ministérios "feudos dos partidos" é sempre comprar um bilhete de loteria que pode dar errado. Há pouco mais de dois meses o governador do Ceará Cid Gomes fez publicamente graves insinuações contra o ministro Alfredo Nascimento. É certo que Cid, como seu irmão Ciro, tem a língua perigosamente solta... A disputa pelo ministério dos Transportes no governo Dilma envolveu dois políticos com poder no Amazonas : o próprio Alfredo e o ex-governador e atual senador Eduardo Braga. Braga ficou no Senado com um tonel de mágoa guardado. São casos de natureza diferente os de Palocci, de Mercadante e agora o do ministério dos Transportes. Mas três confusões pesadas em seis meses de governo, sem contar "coisas menores" - os livros do ministério da Educação, as mumunhas da Copa, as pendências do ministério do Turismo para o Maranhão - desarranjos demais para qualquer governo... Itamar, um político decente Itamar Franco era um político complicado, meio ranzinza. Fazia jus a uma definição dele feita pelo ex-presidente Tancredo Neves, num misto de ironia e maldade : "O Itamar é capaz de guardar ódio no freezer". Tancredo foi um dos muitos políticos que tiveram com o ex-presidente da República, ex-governador de MG, ex-prefeito de Juiz de Fora e ex-senador uma relação conflituosa, mas, ao mesmo tempo, afetiva e respeitosa. E com razão, apesar de suas idiossincrasias, de suas teimosias, foi um político dedicado, digno como poucos e que deixou sua marca na vida legislativa e administrativa brasileira. Era capaz de concessões quando convencido - Dilma deveria aprender com ele. Sem bravatas, sem dizer "não faço" para depois fazer sem honra. Seu melhor momento, o Plano Real, é um exemplo. Até o último momento, Itamar tinha dúvidas sobre o programa elaborado por uma equipe de economistas comandados pelo então ministro da Fazenda, FHC. Tinha algumas ideias próprias, como um novo congelamento de preços, que a turma do Real, com base nos fracassos anteriores desde o Plano Cruzado, considerava desastrosa. Mesmo "contrariado" em alguns pontos, abraçou o Real e foi um dos responsáveis por seu sucesso. Dói no coração ver algumas pessoas aparentemente compungidas presentes às homenagens ao ex-presidente. Se ao menos aprendessem um pouco com o seu exemplo... De bravatas e constrangimentos Três episódios recentes mostraram ao PT e a Lula o custo das das bravatas do passado e do presente : 1. Lula nem o PT puderam fugir do constrangimento de não prestarem uma pequena homenagem que fosse ao ex-presidente FHC por seu seus 80 anos. Os mesmos que se confraternizam com Sarney e Collor foram constrangidos ao silêncio a respeito de um político que, além de seu legado na Presidência, esteve muito próximo de Lula nos delicados tempos das greves do ABC paulista. Livrou-os a nota menos que protocolar da presidente Dilma. 2. O mesmo quadro se repetiu na morte do ex-ministro da Educação, Paulo Renato, introdutor na área pública dos princípios de avaliação e desempenho. Lula e o PT ficaram silenciosos. Amenizou outra nota de Dilma e a presença do ministro Fernando Haddad no velório. 3. Por fim, a morte do ex-presidente Itamar Franco. Na fila lá estava Lula, ao lado de Sarney e Collor nas homenagens ao senador na Câmara Municipal de Juiz de Fora. Menos mal. Mas poucos esquecem o que o PT e Lula fizeram com Itamar, de puro olho nas eleições e no poder : (a) se recusaram a participar do governo de união nacional proposto por Itamar naquele momento de crise e até expulsaram Erundina do partido porque ela aceitou o ministério da Administração do então novo governo; (b) votaram contra o Plano Real; (c) combateram com tenacidade a mudança da moeda, a ponto de Lula apostar no seu fracasso, sob orientação de Aloizio Mercadante, na campanha eleitoral de 1994. Nada como o dia seguinte para uma boa penitência. BNDES, a serviço de quem ? A criação do BNDES, fundado no segundo governo Vargas em 1952, é símbolo da crença do país nas suas possibilidades de industrialização. Seria propulsor de crédito para criação e desenvolvimento de setores econômicos, sobretudo os nascentes e essenciais para o país. O BNDES atenderia aos interesses verdadeiramente republicanos no que tange ao desenvolvimento econômico brasileiro. Não foram poucas as fases em que o banco virou um "balcão de negócios" a serviço de transações pautadas na ausência de transparência e em interesses mesquinhos de empresários. Todavia, sua filosofia sempre foi a referência para que não se caísse na mesquinhez desprovida de uma visão verdadeiramente nacional. Conforme consta de sua apresentação "(...) o BNDES reforça o compromisso histórico com o desenvolvimento de toda a sociedade brasileira, em alinhamento com os desafios mais urgentes da dinâmica social e econômica contemporânea." (Grifo nosso). BNDES, a serviço de quem ? Diz ainda a apresentação do Banco que "o BNDES investe em empreendimentos de organizações e pessoas físicas segundo critérios que priorizam o desenvolvimento com inclusão social, criação de emprego e renda e geração de divisas". O BNDES não é obviamente uma ilha em meio à administração pública. Obedece aos programas e aos interesses do governo de plantão. É o que ocorre com a atual gestão. Note-se que está inserido num contexto no qual não existe de fato nenhuma política consistente que faça o país superar a sua condição eterna de emergente. A taxa de câmbio se valoriza por força de uma política monetária sem nenhuma evolução relevante nos últimos anos - temos a maior taxa de juros do mundo -, não há agregação de tecnologia suficiente nos produtos industriais, não há nenhuma mudança crucial no campo do desenvolvimento, o déficit externo se acumula numa velocidade impressionante... e assim vai. Uma olhadinha nas políticas da China e da Índia dão a noção exata de que estamos ficando para trás. E daí ? Perguntamos ao governo e ao BNDES. BNDES, a serviço de quem ? O anúncio da possibilidade de o BNDES apoiar a fusão do Pão de Açúcar e o Carrefour chega a ser um atentado ao bom senso, não fosse um bofetão no conceito de interesse público. O governo, por meio de sua instituição mais importante e poderosa no que tange ao desenvolvimento nacional, apóia uma fusão que concentra o mercado varejista nas principais áreas econômicas do país, que agrega valor aos acionistas em detrimento da renda do cidadão, que não agrega nada em termos de competitividade externa, que não favorece as classes mais pobres da nação... e assim vai. Enfim, uma operação que apenas serve aos poderosos acionistas de ambas as empresas. De um lado, um empresário desejoso de "emparedar" o seu atual sócio francês, o Casino, e de outro uma empresa com sérios problemas societários na França e no mundo. É disso que se trata e nada mais. O resto fica por conta de análises tendenciosas e maliciosas que pretendem dar credibilidade a esta operação. Assim sendo... O caso Pão de Açúcar/Carrefour/Casino, resulte no que venha a resultar exige providências com urgência urgentíssima : 1. Reavaliar, reestudar a política do BNDES, que, no fundo, é a nova política de capitalismo estatal brasileiro. O banco de investimento já produz carne, já vende celular, já está nos plásticos. 2. Revisar toda a política brasileira de concorrência e o papel de órgãos com o CADE, a SAE e a SDE. Há um projeto sobre isto tramitando no Congresso que, além de estar andando no "ritmo do Congresso", é considerado insatisfatório em alguns pontos e, até mesmo, perigoso pelos especialistas. 3. Tornar o consumidor, o cidadão, o verdadeiro foco as políticas públicas nacionais. Por fim, não nos esqueçamos que é o dinheiro do distinto trabalhador que está a financiar este capitalismo duvidoso. Grécia : a tragédia continua O governo grego, carente de apoio popular, mas ainda sólido no parlamento, adicionou mais aperto fiscal para sancionar as requisições da União Europeia e receber US$ 12 bi que permitem a solvência no curto prazo. Os mercados reagiram com euforia e os ganhos foram generalizados, não apenas na Europa, mas em todas as áreas geoeconômicas relevantes. Pois bem : a possibilidade do país superar a sua crise de endividamento permanece distante. Não há uma luta a ser travada pelos gregos, quase sempre vitoriosos em sua bela história. O que há é uma impossibilidade lógica, daquelas que os grandes pensadores helênicos logo saberiam. Sem a alternativa de desvalorizar a moeda e com a atividade econômica despencando não há como obter uma taxa de produtividade que permita consistência na solvência externa. A Grécia pagará o preço de seus erros, mas é o escudo que protege os outros países endividados da Europa, sabidamente a Espanha, Portugal, Irlanda e Itália. O custo pode ir além de uma década perdida... Visão de mercado Lá no hemisfério norte a tigrada do mercado está preparando as malas para curtir as suas férias. Mar, sol e, quem sabe, alguma tranquilidade farão parte do itinerário. Todavia, não tenhamos ilusões. Apesar de toda euforia da semana passada, o ambiente externo permanece turvo, os lucros das empresas estão cadentes e o desemprego campeia a maioria dos mercados relevantes. Os riscos cresceram nos últimos meses e os governos parecem paralisados. Os EUA, com seu PIB que equivale a ¼ da economia mundial, estão agindo como anões perdidos na multidão. Há sinais de estagnação e os riscos estruturais, do lado fiscal e monetário permanecem elevados. E o pior, a política não tem saída para nada disso... Permanecemos recomendando aos nossos leitores redução das suas posições de risco, sobretudo no mercado acionário local e externo. Radar NA REAL 1/7/11 TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA alta alta - Pós-Fixados NA alta alta Câmbio ² - EURO 1,4502 alta alta - REAL 1,5560 estável/queda estável/queda Mercado Acionário - Ibovespa 63.394,30 baixa estável/alta - S&P 500 1.339,67 estável/baixa alta - NASDAQ 2.816,03 estável/baixa alta (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável ____________
terça-feira, 28 de junho de 2011

Política & Economia NA REAL n° 158

Copa para o povo, banquete para poucos ? O sigilo dos orçamentos das obras e serviços da Copa do Mundo e da Olimpíada no Rio, que o governo diz que "não é bem assim", não é a única janela escancarada à bandalheira contida na MP 527, já aprovada em suas regras gerais na Câmara, mas ainda dependendo da votação de destaques pelos deputados e depois de apreciação pelo Senado. Ele é apenas o mais escancaradamente visível no Regime de Contratação Diferenciado. Diz o governo que o artigo sobre a licitação sem preço-base anunciado previamente é o melhor método e que houve interpretações equivocadas como classificaram as críticas à presidente Dilma. Além dos políticos do PMDB que se renderam ao argumento vindo do Palácio do Planalto, há especialistas, principalmente em obras civis, que endossam a tese. Dizem que reduz a possibilidade de corrupção. Então... Sendo assim, falta responder a algumas questões para convencer os leigos : 1. Por que foi incluído na MP, na última hora, no dia da votação, pelo relator José Nobre (PT/CE) e não constou desde o início do relatório ? 2. Por que a mudança na lei de licitação não foi proposta há mais tempo ? 3. Por que adotar a norma somente para a Copa e a Olimpíada e não estendê-la para tudo a partir de agora ? Bodes mal cheirosos No RDC para a Copa e Olimpíada, na realidade o sigilo pode ser apenas o bode na sala, para deixar, ao largo das críticas, outros itens do projeto multiplicadores de licenças para jogadas nada ludopédicas : 1. Quem faz o projeto pode também tocar a obra. 2. Foram beneficiadas com as facilidades as capitais situadas a até 350 Km de uma cidade-sede o que deixará quase todas as capitais estaduais no perímetro das vantagens. 3. Mesmo obras não diretamente ligadas ao evento esportivo (mobilidade urbana, aeroportos, por exemplo) podem entrar no rateio, desde que a União, os Estados e municípios baixem uma resolução nesse sentido. Pode entrar uma estrada, um hospital e sabe-se lá o que, no limite, até o famoso trem bala. 4. Não há limite para elevação dos custos dos projetos, basta a FIFA ou o Comitê Olímpico mostrarem a necessidade de adaptação do que foi licitado. 5. O Comitê Olímpico e a FIFA estão isentas do pagamento do ISS (imposto municipal) nos serviços que utilizarem no Brasil. Dois exímios pipoqueiros No jargão do futebol, agora não tanto em voga quanto esteve nos tempos de Lula, diz-se que um jogador é pipoqueiro quando ele não faz esforço para chegar numa bola que deve dividir com um zagueiro mais virulento - finge que corre, mas não corre. Nesta questão do jogo inaugural da Copa de 2014, a FIFA de Joseph Blatter e a CBF de Ricardo Teixeira estão se revelando dois grandes pipoqueiros. Fingem que querem a abertura do mundial em São Paulo, porém jogam com má vontade nada discreta porque, para puxar o saco do governo Federal querem mesmo que o jogo vá para Brasília. 2014 é ano de eleição presidencial, tem reeleição ou a luta por um terceiro mandato, que daria para faturar nas urnas, sem ter de dividir a festa inaugural com os tucanos paulistas. Por esse ângulo, entende-se também porque tantas facilidades para evitar um vexame logístico em 2014. Apagão olímpico Nada tão exemplar que os apagões elétricos do "Engenhão". Já somam cinco os jogos de futebol interrompidos pela falta de energia elétrica - o último neste último fim de semana. Ali, no Estádio João Havelange, ex-sogro do eterno presidente da CBF Ricardo Teixeira, projeta-se para todos os olhos a incompetência em relação às obras voltadas para os eventos esportivos : foi ali que se realizaram boa parte dos Jogos Panamericanos em 2007. O outro sigilo Pelo menos um outro sigilo - os dos documentos oficiais secretos - vai cair. O PMDB de José Sarney e o ex-presidente Fernando Collor de Mello não seguram sozinhos a bomba do Senado depois que a presidente Dilma, pressionada pela opinião pública e pelo PT, desdisse o que havia desdito. Encerra-se o trimestre Este trimestre do ano está a fechar-se com evidentes sinais de estagnação na economia dos países centrais. Semana passada os EUA divulgaram os gastos dos consumidores e o resultado foi sofrível, mesmo para os produtos de primeira necessidade. Na Europa, a crise da Grécia, Irlanda e Portugal impõe restrições ao crédito em todo o Velho Mundo. A Espanha está igualmente quebrada e a Itália super endividada. No Japão, os efeitos da tragédia de dois meses atrás ainda impõe ao governo medidas para restabelecer o status quo anterior da produção. Até mesmo na China, os sinais são de queda da atividade econômica que gravita ao redor de 8% neste ano (10% no ano passado). O segundo semestre do ano, depois das férias no hemisfério norte, definirá se estamos entrando num novo ciclo negativo para economia mundial. Até lá, mercados "andando de lado". Como os caranguejos. A Grécia e as velhas "leis de mercado" Sabe-se que os germânicos e seus atuais parceiros europeus (Inglaterra e França, sobretudo) estão interessadíssimos que a pequena Grécia não dê um calote no tal do mercado. Os bancos alemães possuem muitos ativos espanhóis e não querem reconhecer os prováveis prejuízos que virão caso a Grécia busque uma saída para a sua própria tragédia. Ora, se há uma saída legítima, esta seria impor prejuízos aos investidores que investiram mal o seu dinheiro, incluindo os acionistas dos bancos. Como ocorreu nos EUA. Enquanto isso, parcelas substanciais da juventude grega, portuguesa, irlandesa e espanhola "bancam" um desemprego ao redor de 35%. O capitalismo atual do FMI e do Banco Europeu continua com as velhas práticas que fizeram vigorar a "década perdida" dos anos 80 na América Latina. Agora chegou a vez dos europeus. Por que não uma saída verdadeiramente de mercado ? Brasil, sem estratégia Os impactos modestos da crise externa sobre o Brasil escondem os sérios problemas do país em meio à crise externa. A valorização cambial é "compensada" pelos bons preços das commodities, mas o volume global do comércio externo (exportações+importações) indica que há pouca agregação de tecnologia na produção industrial brasileira como ocorre com a China. Ora, este processo torna a economia local estruturalmente pouco competitiva. Não há, do lado político, nenhuma sensibilização em torno do tema. Afinal, o desemprego é baixo. Todavia, a conta virá no médio prazo e, nesta ocasião, virá um maior desemprego e maior inflação, caso o câmbio se desvalorize. A propósito do tema... Vejamos esta declaração de Luciano Coutinho ao jornal Valor Econômico na última sexta-feira : Valor : O que o governo pretende fazer com a nova política (industrial) ? Coutinho : O que estamos fazendo é buscar reforçar a competitividade da indústria através de uma série de medidas. Valor : Que medidas ? Coutinho : Infelizmente, não posso adiantar porque estamos ainda (grifo nosso) numa agenda de discussão. O problema de competitividade do Brasil já perdura por mais de seis anos e a agenda persiste em discussão. Todas as medidas de crédito tomadas há seis meses não produziram essencialmente nenhuma alteração de rota no que tange ao problema externo brasileiro. Parcerias privadas Em conversa com esta coluna, um dirigente de empresa muito interessado em participar de concessões de serviços públicos mostrou-se bem mais otimista que há seis meses com a visão do governo sobre o tema. "Eles (governo) perderam a arrogância e estão começando a conversar mais abertamente sobre novas concessões. Acho que vem mesmo uma onda de novas concessões a partir do segundo semestre. A incompetência estatal ficou às claras...", vaticinou o dirigente. A conferir. Lei das terras Mais uma do capitalismo estatal brasileiro : o governo quer ser sócio dos estrangeiros que compraram terras aqui, por meio de uma golden share. Para um país que não precisa de investimentos... O perigo amarelo Nem contando chinesinhos durante a noite toda, boa parte dos empresários consegue dormir tranquilamente - aliás, esse exercício costuma mesmo é aumentar a insônia crônica dos produtores nacionais. Não é para menos, enquanto pelo menos o Brasil continuar jogando para trás em matéria de (des)incentivo à competição com o mundo afora. Historinha exemplar contada por Eduardo Neger, presidente da Associação das Empresas da Area de Internet, e da Neger Tecnologia e Sistemas : a empresa utiliza no seu equipamento para amplificação dos sinais de celulares uma placa fabricada na China. Ela manda o projeto da placa para o fabricante chinês pela internet e recebe o produto pronto três dias depois, por um serviço de postagem rápida. E pagando todos os impostos, tem uma placa de alta qualidade cerca de 50% menos do que pagaria se fizesse a encomenda aqui no Brasil. Vitória lulista Justiça seja feita : Lula sabe usar a sua imagem internacional com competência. A vitória de José Graziano para a direção da FAO (sigla em inglês para Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação) foi espetacular. Graziano disse que "quem tem fome, tem pressa", ao se referir à necessidade de recursos (algo como US$ 50 bi por ano) para alavancar a produção de alimentos no mundo. Soa como lema de campanha, mas funcionou nos ouvidos dos representantes dos países em desenvolvimento e pobres que votaram em massa em Graziano. Agora, resta a Graziano estabelecer o diálogo necessário com os países desenvolvidos para reformar a FAO e fazê-la um organismo efetivo. Até lá nada de muitas taças de vinho nos bons restaurantes de Roma, a Cidade Eterna que sedia a FAO... Uma ameaça a menos Sempre é bom esperar para comemorar, contudo, tudo indica que o acerto para a votação do regulamento da Emenda 29 (aumento da aplicação orçamentário de recursos para a saúde) eliminou o renascimento da CPMF, com o nome fantasia da Contribuição Social para a Saúde (CSS). Se o Ministério da Fazenda deixar. Uma ameaça a mais No entanto, está no forno oficial a criação de um novo imposto sobre a exploração de recursos minerais no país. Incompatibilidade de gênios Se o cabriolé da reforma tributária continuar a ser conduzido do ritmo de Brasília, em pouco tempo não devem ser convidados para o mesmo pé de moleque junino os governadores do Norte e Nordeste e os do Sul e Sudeste e os negociadores do governo. Em entrevista semana passada (leitura obrigatória) ao jornal "Valor Econômico", o governador de Sergipe, Marcelo Déda, deu o tom da insatisfação geral avisando que ele e seus colegas não estão para discutir apenas mudanças no ICMS. Fora do ritmo O mesmo governador Déda indicou que não devem aparecer no mesmo forró alguns grupos de petistas, especialmente os forrozeiros paulistas. Em berço esplêndido Enquanto isso, a oposição dormita. Não sabe da reforma tributária, deixou para Sarney os primeiros (depois abafados) gritos contra o sigilo da Copa... Continua acreditando que explorar escândalos basta. E por falar em escândalos... Por que será que a oposição não prossegue as investigações sobre a fortuna amealhada por Palocci, o episódio de venda do Banco Panamericano, as nomeações governamentais e outros tantos escândalos que levaram à tribuna os próceres oposicionistas ? De olho na reforma do BC Ao que parece o BC está fazendo uma reforma que tem chance de aumentar a sua eficiência por meio da eliminação de funções intermediárias que reduzem a sua agilidade em termos de supervisão e fiscalização. Eis aí um bom princípio para reformar o Estado. Da mesma forma, seria um tema a ser analisado pela classe política que tanto critica o BC quando o assunto é a política monetária. Poderiam os políticos prestar um serviço verdadeiramente republicano e verificar se estas alterações favorecem de fato o cidadão que lá na ponta paga extorsivos juros bancários e custos de serviços que nem banqueiros internacionais acreditam ser praticados. Radar NA REAL 24/6/11 TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA alta alta - Pós-Fixados NA alta alta Câmbio ² - EURO 1,4201 alta alta - REAL 1,6003 estável/queda estável/queda Mercado Acionário - Ibovespa 61.016,70 baixa estável/alta - S&P 500 1.268,45 estável/baixa alta - NASDAQ 2.652,89 estável/baixa alta (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável ____________
terça-feira, 21 de junho de 2011

Política & Economia NA REAL n° 157

Condições externas e o Brasil As razoáveis condições econômicas da economia brasileira escondem da opinião pública a percepção sobre o quanto os riscos externos podem afetar o desempenho doméstico. Na semana passada, esta coluna esteve reunida com economistas e analistas de dois bancos internacionais que recentemente realizaram apresentações para investidores no exterior. Resumidamente eis o conteúdo destas conversas nas notas abaixo. Riscos de crédito Os problemas de crédito da Grécia podem ter um efeito dramático sobre toda a Europa. As condições da Espanha são tão deterioradas quanto da Grécia, mas o seu endividamento afeta muito mais os bancos europeus, em especial os alemães, que necessitariam de novas capitalizações para bancar os ativos de seus balanços. O default grego trará consequências, além de suas fronteiras, muito mais sérias que se imaginava há meses. Riscos de investimento De forma geral, os gestores de recursos estão muito mais restritivos à exposição de riscos. Com isso, estão reduzindo posições em ações e títulos de renda fixa de países emergentes, incluindo o Brasil, a África do Sul e a Rússia. Câmbio Os temores de desvalorizações "competitivas" entre os países voltaram com força. A ausência de competitividade de importantes setores econômicos dos EUA e da Europa não tem condições de competir com a China e a Índia e outros países do sudoeste asiático. Com isso, apenas a desvalorização da moeda pode conter este processo no curto prazo. Resultado : as pressões políticas envolvendo a taxa cambial destes países competitivos vão aumentar e as suas consequências são sempre perigosas, sobretudo no que tange à inflação e ao volume do comércio internacional. Brasil O país deixou de ser o "queridinho" dos investidores. A percepção que está prevalecendo atualmente é que o "Brasil está melhor que o resto". Desta forma, os indicadores de riscos brasileiros, expressos nas cotações de títulos de renda fixa privados e soberanos, sinalizam uma "preferência" e não confiança absoluta no desempenho do país. O baixo crescimento endógeno do país comparativamente à Índia e à China, os riscos políticos e a ausência de reformas não favorecem o momentum dentre os emergentes. Pesa como fator essencialmente positivo a confiança na solvência externa, o que não é pouco. Coalizão, colisão e chanchada Nem boi solitário anda dormindo mais com uma simples conversa, precisa de um calmante. O que quer dizer que uma boiada inteira (no sentido figurado, com todo o respeito), como a bancada governista no Congresso, sempre está pronta para um estouro se o ambiente não agrada. E este é exatamente o pé em que estão os governistas da Câmara e do Senado, mais os primeiros, um pouco mais de uma semana depois da presidente Dilma ter começado a rearranjar seu esquema político. Por razões diferentes, ninguém está feliz. Prazo fatal e curto Dilma ganhou esta semana de graça, em virtude do feriado de Corpus Christi de quinta-feira e do São João de sexta-feira, que deixaram Brasília ao sabor dos ventos. É o prazo para dizer como, na prática, vai atender os desejos de seus aliados, nos pantanosos terrenos das verbas e dos empregos. Prazo curto : até o dia 15 de julho para o dinheiro das emendas e diariamente no "Diário Oficial" com uma velocidade de atendimento digna de um Ayrton Senna. Prazo de aliado Para o bem e para o mal, o PMDB faz absoluta questão de lembrar do "prazo fatal" todos os dias, o governo tem aliados que querem partilhar o poder. E suas benesses e, quem sabe até, algumas agruras. É este o desafio da presidente : conciliar parceiros inconciliáveis e famélicos sem passar a imagem de que se rendeu ao fisiologismo e que não tem como impor seus princípios e normas. O dito "presidencialismo de coalizão" no Brasil pode descambar celeremente para um "presidencialismo de colisão" com grandes pitadas de chanchada. Em loja de louças Depoimento de parlamentares de diferentes partidos : a presidente Dilma precisa urgentemente dar um treinamento para a ministra Ideli Salvatti e colocar nas mãos dela algum poder de decisão antes que ela comece a quebrar todo o estabelecimento político. A impressão das raposas é de que Ideli precisa com rapidez de um bambolê igual aquele com o qual o PMDB presenteou Dilma durante a campanha do ano passado. E que a presidente ainda não aprendeu a usar totalmente. A voz dos oráculos Por contas das arestas que ainda ficaram da crise exposta pela revelação das super consultorias de Palocci, a presidente Dilma pediu uma mão aos chefões oficiosos do PT e do PMDB. Lula, em seu estilo mais teatral, já tratou de dar um puxão de orelhas público nos petistas de São Paulo. Meio esfinge, Temer resvala nos bastidores. A expectativa é que falarão esta semana o "oráculo de São Bernardo" e o "oráculo do Jaburu". Quando voltarem de suas festas juninas, os parlamentares chegarão um pouco mais esquentados pelas queixas dos prefeitos. Incúria oficial O Brasil já sabia desde 2007 que seria sede da Copa do Mundo de 2014. Aliás, as autoridades esportivas e os governos - Federal, estadual e municipal - esforçaram-se como poucas vezes fazem para que o evento da FIFA viesse para o país. Não tem desculpa de falta de tempo para preparar as estruturas necessárias. A correria agora, com liberação de licitações e outras escandalosas liberações, é apenas mais um retrato em todas as dimensões de nossa incúria gerencial pública e da tendência tupiniquim de se comprazer a criar facilidades para quem quer ganhar um dinheirinho fácil. E que dinheirinho ! Sob intervenção ? Alguma coisa muito estranha está acontecendo com a Petrobras. Em um mês ela teve seu plano estratégico de investimentos 2011/2015 recusado pelo governo, com voto do ministro da Fazendo, Guido Mantega, presidente do Conselho de Administração da empresa. Ao mesmo tempo, não teve autorizado o aumento pretendido de 10% no preço da gasolina na refinaria, pois implicaria em reajuste também na bomba para o consumidor final ou então redução da CIDE, e o Tesouro Nacional não pode perder arrecadação. Parece evidente que a Petrobras - assim como outras estatais (Eletrobras, os bancos oficiais, a rediviva Telebrás) - deve sujeitar-se à política econômica de Brasília. Assim sendo, não tem autonomia gerencial. Visão externa da Petrobras De um experiente analista de investimento de um banco inglês sobre a Petrobras : "não há mais nenhuma razão para recomendar as ações da Petrobras como opção de compra. Antes, os riscos eram enormes, mas previsíveis. Agora os riscos são imprevisíveis e gigantescos." Deixe-se de sonhar O ministro Guido Mantega pode enfiar no saco a viola da reforma tributária, mesmo fatiada, no curto prazo. Ela já joga os governadores do Norte e do Nordeste contra os do Sul e do Sudeste, oposição que só será vencida se o Tesouro Nacional tiver um baú muito recheado de recursos que todos pedirão para "compensar as perdas" com as mudanças no ICMS. O que, apesar dos acenos fazendários de que é possível, sabem todos que não é. Na Carta de Brasília lançada na semana passada, os governadores nortistas e nordestinos deixaram claro o preço da adesão deles ao imaginado pelo Ministério da Fazenda. Só uma coisa une Além dos discursos da simplificação tributária e do fim da guerra fiscal, está mais para estrangeiro ver, um único ponto une as partes estaduais em oposição : a mudança no índice de correção das dívidas estaduais para reduzir a contas deles de juros. O governo Federal está dizendo que topa, para ganhar em outros pontos. É operação complicada : como compensar o Tesouro com a perda do dinheiro desses pagamentos do serviço da dívida. A própria desoneração da contribuição das empresas para a previdência social, anunciada várias vezes pelo ministro Mantega para "os próximos dias" subiu na cobertura pela mesma razão. O cobertor da arrecadação é grande e bem pesado e, mesmo assim, é curto e não aquece todos os beneficiários dos impostos. Para complicar - I Voltou a guerra pela distribuição dos royalties do petróleo, pondo todos os Estados contra o Rio de Janeiro e o Espírito Santo, mais de 5 mil prefeitos no Brasil todo contra pouco mais de 100 prefeitos fluminenses e capixabas. Para complicar - II Ainda há o caso isolado do Amazonas e da Zona Franca, já pintados também para um embate com todos. Dizem os manauaras que a mudança no ICMS, como foi proposta pelo Ministério da Fazenda, mata a economia industrial da região. Além disso, já estão em pânico com os incentivos fiscais concedidos à produção dos tablets. Caso não consigam barrar a MP, vão exigir que a lei defina o tamanho das telas de tablets, para evitar que as indústrias do sul possam usar a brecha da lei para produzir aparelhos de TV de 30 polegadas ou mais como se fossem esses novos "brinquedinhos" digitais. Se continuar nessa batida, o governo Dilma vai conseguir tirar de José Serra o "troféu de político brasileiro mais odiado em Manaus e adjacências", posto que o tucano conquistou quando foi ministro do Planejamento e teve a Zona Franca sob suas asas. Apagão digital Anatel, Congresso e o Ministério das Comunicações não se entendem sobre as novas regras para o setor de telecomunicações e informática no Brasil. A nova lei do cabo está parada no Senado. O novo Plano Geral de Metas e Universalização é objeto de disputa entre o setor público e o setor privado. E nada avança na lei geral de telecomunicações. A Telebrás foi ressuscitada para tocar o Plano Nacional de Banda Larga, mas até agora não explicou porque voltou a existir e o projeto, menina dos olhos eleitoral de Lula e Dilma, já sofreu vários adiamentos e redução de metas. Mais da R$ 10 bi do Fust, criado para financiar a universalização dos serviços de telecomunicações, está parado nos cofres do Tesouro Nacional para engordar o superávit primário enquanto o governo gasta em outras coisas muito menos importantes, especialmente com aumentos de salários e despesas de custeio. É o Brasil do século 21 em marcha acelerada para ficar parado no século. Num "apagão tecnológico" que pode retardar em algumas décadas a nossa tão sonhada (e não a atualmente apenas sonhada) entrada no universos das nações verdadeiramente desenvolvidas e com qualidade de vida para seus cidadãos. Como advertiu recentemente o presidente da União Internacional de Telecomunicações, Hamadoun Touré, que estará no Brasil participando da Futurecom, de 12 a 15 de setembro, "se não forem feitas profundas modificações no sistema regulatório do setor de telecomunicações, em cinco anos poderemos ter uma crise pior do que a financeira". Para Touré, as normas existentes estão ultrapassadas, não acompanharam a evolução da tecnologia de telecomunicações e de informática. A do Brasil ainda nem descobriu a convergência digital. Radar NA REAL 17/6/11 TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA alta alta - Pós-Fixados NA alta alta Câmbio ² - EURO 1,4310 alta alta - REAL 1,6198 estável/queda estável/queda Mercado Acionário - Ibovespa 61.060,01 baixa estável/alta - S&P 500 1.271,50 estável/baixa alta - NASDAQ 2.616,48 estável/baixa alta (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável ____________
terça-feira, 14 de junho de 2011

Política & Economia NA REAL n° 156

Novos pontos no radar A crise envolvendo Palocci escondeu por algumas semanas algumas importantes alterações no cenário externo, fato este que há de repercutir no cenário econômico local. Dentre as variáveis mais importantes destacamos : (i) a crise de crédito internacional voltou a se alastrar com o rebaixamento da nota de crédito da Grécia e Portugal, bem como a perspectiva negativa para as dívidas espanholas ; (ii) a economia europeia voltou a apresentar sinais de estagnação da atividade econômica ; (iii) os EUA não apresentam nenhum ganho significativo em termos de aumento de consumo e investimentos ; (iv) novas medidas referentes à capitalização dos bancos norte-americanos indicam que o crédito dos bancos continuará restrito ; e, (v) mesmo na Índia e China há sinais de desaquecimento, lembrando que são estes países que estão a impulsionar a demanda externa no mundo. Efeitos Muito embora a economia brasileira seja ainda muito fechada e, portanto, menos dependente da demanda externa, a letargia das principais economias centrais tem efeito depreciativo no médio prazo para os produtos brasileiros, inclusas aí as commodities. Ademais, nunca é demais lembrar que riscos de créditos que contaminam o sistema financeiro nunca são bem vistos pelos agentes. Logo, o cenário externo é hoje fator relevante para a contração da economia nacional. Demanda interna Nos últimos dois meses, já alertamos nossos leitores que a demanda interna cairá nos próximos meses. O aperto no crédito e a alta dos juros básicos estão se somando a um leve aumento da inadimplência e uma menor propensão dos consumidores para gastar. Somente a demanda do governo, via gastos correntes, é fator expansionista (e restritivo ao setor privado) no âmbito interno. Portanto, teremos de conviver com salários reais menores (por conta da inflação), massa salarial com menor crescimento e investimentos ainda insuficientes para alavancar de forma compensatória a queda do consumo. Nada é muito grave, mas longe é a ideia de que o crescimento é fato líquido e certo nos próximos meses. Bolsa, juros e câmbio O mercado acionário persiste negativo. Há três meses já avisamos que a nossa visão relativamente a este segmento é negativa. Os riscos não são recompensados pelos retornos e os preços das ações persistem altos. Quanto aos juros, estes devem subir ainda mais para os empréstimos e financiamentos, mas a campanha de alta dos juros básicos está próxima do fim, mesmo porque a demanda irá enfraquecer. Já o câmbio, está abandonado pelo governo : falta coragem para impor mais restrições às operações financeiras e a taxa de câmbio tornou-se instrumento de contenção da inflação por meio das baratíssimas importações. Um risco que não deveria ter sido tomado. Aliás, a taxa de câmbio sempre foi alvo das críticas do PT na oposição. No governo, os petistas se comportam como ex-petistas. Não apenas neste item, diga-se. Radar NA REAL 10/6/11 TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA alta alta - Pós-Fixados NA alta alta Câmbio ² - EURO 1,4414 alta alta - REAL 1,5884 estável/queda estável/queda Mercado Acionário - Ibovespa 62.697,13 baixa estável/alta - S&P 500 1.270,98 estável/baixa alta - NASDAQ 2.643,73 estável/baixa alta (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável Na prática é que são elas É inegável que o clima político ficou menos carregado depois que Dilma, em dois golpes ousados, nomeou Gleisi Hoffmann (Casa Civil) e Ideli Salvatti (Relações Institucionais) por livre e espontânea decisão. De uma só tacada enquadrou o PT, pôs barreiras ao assanhamento político de Lula e, ao contrário do que pode parecer - e eles ardentemente desejavam -, não ficou em dívida com os peemedebistas. Tutores e pretendentes a tal foram, no máximo, cheirados - e por pura deferência. Política da saia justa, copa, emendas e nomeações Os mais maledicentes de Brasília chamam de "política da saia justa" a nova estratégia de Dilma. Dizem que tal política tem de mostrar na prática - e já - que é funcional. Os desafios reais começam amanhã : aprovar a MP 517, um bonde cheio de "penduricalhos" que, entre outros pontos de interesse oficial, flexibiliza as licitações para as obras da Copa. É a terceira tentativa de passar a medida. É o primeiro teste do trio palaciano, com chances de ser ultrapassado se houver um pouco de paciência. A base partidária oficial, ainda lambendo as feridas, talvez se sinta inibida de cobrar a fatura da carraspana que levou da presidente. A oposição promete obstruir a votação, mas, como tem governadores e prefeitos diretamente interessados nos negócios da Copa, deve fazer apenas um barulhinho para a plateia. Por via das dúvidas, porém, a ministra Ideli Salvatti já começou a exibir um pouco de "paciência" : anunciou que a fila das nomeações vai andar mais rapidamente e que R$ 250 milhões de emendas parlamentares vão aparecer. Se o "Diário Oficial" corresponder à promessa, dias de trégua virão. As pedras no caminho É o que vem a seguir que dá enxaquecas no Planalto : 1. No Senado, já está pronta para ser votada no plenário a PPEC (autoria de José Sarney com emendas de Aécio Neves) alterando o rito de tramitação das MPs e restringindo o poder do Executivo para editá-las. Nas comissões, teve o apoio aberto do PMDB e é de total interesse do Senado : um dos propósitos é dar mais tempo aos senadores para analisar e votar MPs. No auge da crise Palocci, Dilma mostrou irritada ao saber da existência da proposta, desconhecimento no mínimo muito esquisito. 2. Na Câmara, cresce a pressão para que sejam postos em votação o PL regulamentando a EC 29 (aumenta os recursos para a saúde) e a PEC 300 (de reajuste dos salários dos bombeiros e policiais civis e militares). Ambas encontram forte resistência da área econômica. Contudo, uma tem a simpatia de governadores e prefeitos e a outra mobiliza as corporações armadas estaduais. Para complicar, são temas transversais, fogem ao binário governo-oposição, são suprapartidários. Assim como o Código Florestal, primeira dor de cabeça real de Dilma. Quanto às novas regras para as florestas, o governo deu-se algum tempo mais para negociá-las no Senado : ao contrário do que ameaçou não fazer, para tentar assustar os ruralistas e defensores da proposta do deputado Aldo Rebelo, na semana passada o Planalto adiou por mais seis meses a cobrança de multas. Ambulante na metamorfose A nova ministra chefe da Casa Civil terá de fazer malabarismos de circo mambembe para passar a pensar como a chefe Dilma a respeito o Código Florestal. Oriunda do Paraná, Estado com forte presença do agronegócio, e no qual tem expostas ambições políticas, Gleisi Hoffmann foi defensora do projeto relatado por Aldo Rebelo. Relatório que Dilma classificou como uma "abominação". Dúvida cruel - I A partir de hoje o Brasil político começará a descobrir se a presença de Gleisi Hoffmann e Ideli Salvatti no cérebro do Planalto vai ajudar a amainar o estilo duro da presidente Dilma ou, ao contrário, o modo meio belicoso das duas ministras ajudará a explodir ainda sua paciência. Dúvida cruel - II Quanto tempo Dilma e suas escudeiras levarão para recompor as relações do Planalto com o PT e o PMDB ? Os dois estão cheios de mágoa. O PT sangra em público, no seu melhor figurino. Mais matreiro, o PMDB rumina em palácio. João odiava Teresa que odiava... Desde que a crise política esquentou com o caso Palocci posto na rua, algumas pessoas voltaram a se lembrar de um episódio da política inglesa muito ilustrativo da situação que perturba Dilma nas suas relações com os parceiros. Tendo voltado ao parlamento, depois de ter perdido a eleição pós-guerra, sir Winston Churchill se viu abordado por um parlamentar mais jovem, também conservador. Apontando para as bancadas dos trabalhistas, o jovem comentou com o experiente e sagaz ex-primeiro-ministro : "Ali estão nossos inimigos". Imediatamente, o bem humorado Churchill corrigiu o colega : "Ali estão os adversários. Nossos inimigos estão aqui." E estendeu os braços para mostrar os companheiros ao redor. Tudo como na seara dilmista : o PMDB briga com o PT, o PT briga com o PT, todos os outros não se entendem entre si e odeiam o PMDB e o PT... Parece aquele poema de Carlos Drummond às avessas : "João que amava Teresa que amava Raimundo (...)". Para graça da presidente, a oposição é apenas um retrato na parede, esmaecido e quase silente. Os ciúmes vão bater Ainda na fase de formação de seu governo, talvez já prevendo a barafunda partidária em que se metera, Dilma chegou a estender algumas pontes em direção à oposição, inclusive no discurso de posse e em outros sinais visíveis. Ficou só nisso, não se sabe ao certo por querer apenas mostrar civilidade e cordialidade ou porque sua turma não gostou. Agora, manda uma carta calorosa, bem além do protocolar, ao ex-presidente FHC cumprimentando-o por seus 80 anos... Divã no ABC O PT, como um todo, e o PT paulista, em particular, vão ter de passar por demoradas sessões de psicanálise política até descobrirem sua identidade no governo Dilma. O divã a ser usado (até ficar surrado) não tem endereço no Planalto Central. Está instalado no ainda coração da indústria automobilística nacional. O atalho do Jaburu Nos tempos gloriosos do MDB, o restaurante Piantella, em Brasília, era o ponto no qual os chefes do partido, como Ulysses Guimarães e Tancredo Neves faziam suas tramas para combater a ditadura. Nos tempos presentes do PMDB, um tanto quanto menos gloriosos dos que os de seu antecessor, as trilhas do partido desembarcam todas no ancoradouro da vice-presidência. É lá que os "grandes caciques" peemedebistas tramam. A mudança de endereço, como se diz no popular, está "causando espécie". Afasta de mim esse cargo Nunca se viu o sempre faminto PMDB tão "de regime" como na disputa pelo cargo de ministro das Relações Institucionais. O partido fez absoluta questão de nem passar, ainda que por descuido, perto da porta do ministério. O que prenuncia dias de turbulência para Ideli Salvatti. Arrogância É praticamente consenso : foi pessimamente conduzido o processo de fusão da Sadia com a Perdigão. Os donos do negócio e seus operadores perderam o tino ao acreditar que como o negócio era do gosto do governo e tinha o dedo do BNDES estava no papo. __________
terça-feira, 7 de junho de 2011

Política & Economia NA REAL n° 155

O vício está na origem A decisão do procurador-Geral da República de arquivar as quatro representações da oposição contra Palocci deu uma sobrevida, talvez até uma vida longa, ao chefe da Casa Civil. Deu também o argumento que o presidente da Câmara, Marco Maia, necessitava para anular a convocação de Palocci para depor na Comissão de Agricultura sem parecer demasiado parcial. A insistência de Dilma em ficar com Palocci, apesar das pressões até de partidos aliados, tem outra razão que a simples solidariedade e o respeito à presunção de inocência do ministro : as dificuldades para encontrar alguém que o substitua com as características que foram imputadas a ele quando de sua escolha - ao mesmo tempo um eficiente gerente e um hábil articulador político. Assim, sem Palocci o governo ficaria manco, pois Dilma também tem características especiais que não a deixam ocupar os espaços que foram designados para o ministro da Casa Civil. Com Palocci baleado em campo (a confusão não vai amainar tão cedo, mesmo agora com o parecer de Roberto Gurgel) ou sem ele, no entanto, o governo continuará com problemas em seus espaços políticos, pois a confusão não nasceu com a decadência política do ministro. Está na origem do governo. O caso Palocci apenas explicitou o que já estava latente. O governo Dilma é politicamente arrevesado. O grande equívoco O pecado original foi a crença de Lula - depois abraçada de forma obediente pelo PT e seus aliados - de que seria possível botar na presidência da República, cargo eminentemente político, uma pessoa de perfil gerencial, sem gosto e paciência para as negociações que a política exige - as boas e, no Brasil, as más. O arranjo foi terceirizar essa função, deixando-se um pedaço dela para o ministro da Casa Civil, outro tanto para o ministro das Relações Institucionais e, ainda, algumas funções para o ministro Secretário Geral da presidência. Lula teve todo esse aparato, mas todos os seus auxiliares nesta linha eram, por assim dizer, "subintelocutores" dos políticos, dos empresários, dos sindicalistas, das ONGs. Quem fazia a interlocução real era ele mesmo, Lula, o animal político por natureza que tinha a caneta e o poder de decisão. Linha torta Como nem Palocci (o "primeiro ministro"), nem Luiz Sérgio e nem Gilberto Carvalho tinham força para fazer acontecer o que conversavam e acertavam, uma vez que dependiam da palavra final de Dilma, as relações políticas do governo ficaram capengas. Antes de estourar o caso Palocci, a insatisfação com o Planalto no Congresso, nos partidos aliados, já era imensa. Explodiu no episódio do Código Florestal, mas teria explodido também em outra votação na Câmara e no Senado mais tarde. Com ou sem consultorias do ministro, diga-se. É insatisfação que já atingia ministros, dirigentes de estatais e até gente de fora do governo. Assim sendo... Com Palocci totalmente reabilitado ou com ele fora do governo, a crise política que cerca o governo Dilma, fato negado inicialmente e agora classificado como um "problema do ministro", não vai embora. Ela fica, instalada no Planalto. O que terá de ser feito é reformular politicamente o governo, não apenas trocar de nomes. E esta reformulação implica que Dilma assuma as funções presidenciais em sua plenitude, como uma entidade política. Inclusive com paciência para a "micropolítica". Há muito urubu rondando o telhado... Os nomes para a Casa Civil As especulações para a substituição de Palocci, e que ainda estão no ar, gravitam em torno da ministra do Planejamento Miriam Belchior que, por sua vez, seria substituída por Paulo Bernardo no Planejamento e Graça Foster, diretora da Petrobras, um dos primeiros nomes cogitados por Dilma para o lugar, ainda na fase de formação do governo. Depois é que surgiu Palocci, indicado por Lula. O único nome que preenche o requisito político (comentado nas notas acima), no que diz respeito à articulação política do governo, é o de Paulo Bernardo. Experiente burocrata e político, Bernardo pode facilitar as articulações necessárias à retomada da normalidade do governo Dilma. Já Belchior e Foster são nomes que reforçam a visão de que o governo continuará carente na arte da política. Com o agravante de que há reservas sobre a personalidade excessivamente forte de ambas as amigas da presidente. Mas, por enquanto, a vez ainda é de Palocci. Pagando também pelo que não deve Palocci está hoje em desgraça com os políticos, mesmo os que ainda o defendem não querem ser vistos em sua companhia. A razão não é apenas os embaraços causados pelos até agora mal explicados negócios de consultoria empresarial. Ele já estava em desgraça antes no meio político, porque é tido como responsável pelo represamento das nomeações para o segundo escalão e das verbas das emendas do parlamentares. Neste caso, está pagando pelo que não deve. Decisões desse tipo saem de um andar superior ao de Palocci. A não ser que ele fosse poderoso o suficiente para impor essas normas à presidente. A interpretação de que era Palocci quem barrava tudo pode ser até conveniente para Dilma, pois não a indispõe diretamente com os políticos, mas ajuda a desgastar sua imagem de pessoa decidida. Já bastam as intromissões do sucessor. A caneta é dela As decisões de bloqueio são, sim, da presidente, que não quis se render ao jogo tradicional do escambo fisiológico da política. Quis deixar isto para os ministros "políticos". Agora, o desafio da presidente é mergulhar nessa micropolítica sem entrar no jogo bruto. Um homem de peso Gabinetes muito bem postados em Brasília e em SP - e bota bem postados nisso ! - estão anotando ciosamente em suas cadernetas de "deveres e haveres" a agilidade política com que tem se movimentado o vice-presidente da República, Michel Temer. O prócer do PMDB é comparado, em termos de fidelidade, com o companheirão José Alencar nos tempos lulistas. Uma comparação penosa para o atual vice. Joguinho sem erros Pergunta um : quem quer a permanência de Palocci no governo, de preferência fragilizado ? Pergunta dois : quem não quer mais Palocci no governo de modo algum, a não ser que ele seja ungido beato ? Erra quem responder PT, para a primeira indagação, e PMDB, para a segunda. Hoje, quem está com o ministro e não abre é o peemedebismo (e outros aliados). Ninguém quer perder o que Garotinho ironicamente classificou como um "diamante de 20 milhões". Experiência Jornalista político experiente, sentado à mesa tomando chopp num tradicional bar paulistano, analisava o desempenho de Palocci na sua incursão televisiva da última sexta-feira. Depois de minuciosa observação do ministro, o jornalista lançou a conclusão : há sinais inequívocos de que Palocci falava para seus clientes e fazia um seguro para si mesmo, para Dilma e para o PT. Algo parecido com o que já fez José Dirceu. Guido em silêncio e resguardado O ministro da Fazenda era um dos principais membros do governo sujeitos ao monitoramento e, de vez em quando, ao fogo cruzado de Palocci. Desde a conversão do trotskismo juvenil para a ortodoxia de sua gestão na Fazenda, o venerável de Ribeirão Preto era os olhos e ouvidos dos segmentos mais conservadores do meio empresarial. Guido sabia disso e era alvo aberto da tentativa de Palocci em interferir no dia a dia da política econômica. A fragilidade de Mantega se reduziu drasticamente com os percalços de Palocci. Daqui para frente pode ter mais paz dentro do governo, mas será mais cobrado pelos críticos que se escondiam por detrás dos vidros do gabinete do ministro da Casa Civil. BC e os juros. De novo Em meio à crise política do governo, o Copom se reúne a partir de hoje para analisar os dados disponíveis e disparar uma decisão. É quase unânime a expectativa de que os juros básicos subam de 12% para 12,25% ao ano. Pode parecer algo cosmético, mas não devemos esquecer que as pressões em relação à autoridade monetária eram gigantescas em função da alta da inflação. Agora, por debaixo de nuvens cinzentas externas e internas, o BC deve ter mais paz para subir os juros e todos dizerem amém. Afinal, a economia continua aquecida, mesmo com sinais de desaceleração à vista. Portugal na rota conservadora A vitória do PSD português e seus aliados da direita levarão Portugal a caminhar para a ortodoxia econômica com mais docilidade. Para receber os quase 115 bilhões de euros de recursos para fechar as suas contas, Portugal deve se sujeitar a um crescimento de 12% para 15% no desemprego formal. Os credores podem até sorrir, mas a dúvida sobre a capacidade de Portugal em resistir a tanto sofrimento social voltará à tona. Por enquanto, há alguns felizes na terra de Fernando Pessoa. Já os infelizes são incontáveis. Entre a reforma e a conjuntura O BC dos EUA deve aumentar o capital mínimo para que as instituições financeiras alavanquem seus ativos, sobretudo os empréstimos. Esta é uma boa notícia no que tange à reforma do combalido sistema financeiro do país. Todavia, como nada é neutro quando o assunto é economia, esta medida adicionará dificuldades para que os indivíduos e empresas retomem sua disposição em emprestar para consumir e investir. Os últimos números de empregos e de atividade econômica dos EUA mostram que a convalescência depois da crise do final de 2008 ainda é sofrida. A retomada ainda é frágil e o mundo não está nada fácil para os americanos : a Europa está caída e, até mesmo, a China mostra sinais de esfriamento da demanda. Radar NA REAL 3/6/11 TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA alta alta - Pós-Fixados NA alta alta Câmbio ² - EURO 1,4601 alta alta - REAL 1,5815 estável/queda estável/queda Mercado Acionário - Ibovespa 64.340,50 baixa estável/alta - S&P 500 1.300,16 estável/alta alta - NASDAQ 2.732,78 estável/alta alta (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável Ainda não se viu tudo Está ainda para ser contada a verdadeira crônica da malfadada ressurreição da Telebrás e da pressa eleitoral do lançamento do Plano Nacional de Banda Larga. A demissão, na semana passada, para "readequação" do Plano, do primeiro presidente da nova Telebrás, Rogério Santana, é apenas o capítulo inicial. O segundo, foi também na semana passada, a decisão da Anatel, sem esperar a votação de um projeto já em tramitação no Congresso, da TV a cabo para as empresas de telecomunicações. A banda larga eleitoral de alta velocidade está com todos os prazos vencidos e os custos elevados. E o TCU já entrou no jogo constatando superfaturamento em licitação da Telebrás. Contradição ambiental Esqueçam-se as questões de fundo, de conteúdo, olhe-se só a questão política. Em matéria ambiental, o governo anda mergulhado em uma contradição só. Para não aceitar a proposta de Código Florestal aprovada pela Câmara, Dilma põe entre seus argumentos os estragos que ele pode causar na imagem internacional do Brasil como um país ambientalmente responsável. Mas, ao mesmo temp,o força o Ibama a apressar as licenças para a construção da Usina de Belo Monte, decisão que no mesmo dia gerou várias bordoadas no Brasil lá fora. Eles estão salivando Usinas hidrelétricas em correria, Copa do Mundo e Olimpíadas com lei de licitações abrandada, trem bala com "papai" BNDES de cofres abertos, pressões para o TCU ser menos exigente... Nunca antes neste país os construtores de obras públicas estiveram tão felizes... E mais felizes ainda estão os que concedem as obras e os consultores de negócios. Neoconvertido. Mas não sabe rezar Acompanhado de prefeitos de 47 cidades, que estiveram na capital paulista para discutir os problemas (e soluções) dos grandes aglomerados urbanos, o prefeito Gilberto Kassab virou um poço de ideias, inclusive para um dos mais graves gargalos de São Paulo - o trânsito. Logo ele, que em sua gestão (somada aos dois anos de Serra) não construiu praticamente um único quilômetro de corredores exclusivos para ônibus, solução já testada para melhorar a circulação dos veículos de transportes de massa. Um de seus grandes projetos é o de um túnel na avenida Sena Madureira, pista para veículos individuais. E a sua mais brilhante ideia agora é criar faixas exclusivas - para carros que se dispuserem a fazer o transporte solidário. Levaram Kassab à missa do transporte público. Mas não lhe ensinaram direito a rezar. ____________
terça-feira, 31 de maio de 2011

Política & Economia NA REAL n° 154

A crise, mitos e consequências A crise de "governabilidade política" de Brasília que galgou os jornais na semana passada, e que está paralisando um bom naco do governo Federal, é antiga, antecede ao caso Palocci e a derrota da presidente Dilma na votação do Código Florestal. Os dois casos só fizeram expor o descontentamento da base partidária e parlamentar do governo, com a condução dada pelo Planalto - tanto do ministro quanto da presidente - das questões partidárias e legislativas. A insatisfação batia na cara de qualquer um que pisasse apenas por algumas horas em Brasília. Descontentamento de A a Z, das legendas mais insignificantes às mais significativas - não apenas o PMDB como também o PT e o PSB. Origens da crise Dilma começou o governo tentando impor seu estilo e sua vontade - não dar bola para a política (dos políticos), não atender às reivindicações fisiológicas por empregos e segurando a enxurrada de verbas. Enfim, tentou segurar-se em sua decantada competência gerencial e no molejo político de Palocci. Viu-se - e este foi o primeiro mito que se desfez, que o molejo político de Palocci era só fantasia. Além disso, "competência gerencial" não faz verão no Congresso quando faltam outros alimentos essenciais no universo político-eleitoral. A crise estava no ar, só não tinha data marcada para acontecer. A volta do criador Por isso, foi preciso sacar, antes da hora e ao que transparece dos ventos palacianos, de forma não desejada, o maior trunfo da presidente : seu padrinho e antecessor. As consequências da intervenção de Lula no processo político ainda serão medidas. Mas não serão boas para Dilma. Lula passa a ser o desaguadouro das insatisfações. Assim, não é de estranhar que, após a apoteótica passagem de 48 horas do ex-presidente por Brasília, na qual, como disse um parlamentar governista, ele parecia "mais feliz que pinto no lixo", o Palácio do Planalto tenha espalhado por seus porta-vozes informais que Dilma não ficou satisfeita com a história toda. Não ficou ? Não foi o que se viu nesses dois dias em que Lula foi mais "o cara" do que nunca e ela manteve-se em obsequioso retiro. Para apagar esta impressão, Dilma terá de virar uma "política", desvestindo o avental de gerente e reformulando por inteiro seu esquema de coordenação parlamentar e partidário. Outros mitos decaídos Não bate com os fatos a interpretação do presidente Lula de que Palocci não teve tempo de dar mais atenção aos deputados e senadores porque estava muito atarefado com o trabalho para dentro do governo na Casa Civil. Pelo contrário, o ministro teve suas tarefas aliviadas - perdeu, por exemplo, o controle do PAC e do programa "Minha Casa, Minha Vida", para poder dar tempo integral às tarefas da coordenação política. É para quem acredita em Papai Noel a tese, também de Lula, de que está na oposição a responsabilidade pela crise. Eles, que não se seguram de pé, não estão na origem do problema nem em seus desdobramentos. Faltaram foram alicerces à casa que foi construída para sustentar quatro anos de Dilma. Um probleminha e tanto De todos os pepinos que Lula deixou para Dilma administrar, o mais grave foi a impressão de que, sem barganhas fisiológicas, o governo não sobrevive à algaravia de sua base política no Congresso e a disputa por espaços, com vistas especialmente a 2014, entre PT, PSB e PMDB e, ainda, à fogueira de vaidades e desejos petistas. No vácuo Quem cresceu politicamente nesta história toda foi o secretário-geral da Presidência, Gilberto de Carvalho, homem de estrita confiança de Lula. É o coordenador político extraoficial. Casamento quase indissolúvel Não se aposte, por mais que a crise esteja no ar ainda e as mágoas que ficaram (vide os arrufos Palocci-Michel Temer e as queixas de Dilma em relação ao PMDB), em um rompimento da aliança governista, o PMDB e o PT estão condenados a andar coladinhos ainda por um bom tempo, por mais que um desconfie do outro e do ódio mútuo. Portanto, o ambiente de crise vai estar ainda por bons meses no ar, ainda mais depois que o PMDB viu que tem de fato "a força" e o PT mostrou-se, no episódio, dividido e com certa tibieza. Tucanos de bico afiado Celebrou-se um casamento de ocasião na convenção nacional do PSDB. Não foi desta vez que o partido definiu seus rumos para 2012 e 2014. Segue com três presidenciáveis no ar - Aécio, Serra e Alckmin - três diletos "inimigos cordiais", nenhum disposto a ceder espaço para o outro, mas condenados a frequentar os mesmos banquetes. O PSDB segue totalmente unido em sua desunião, uma dádiva para o politicamente desorganizado governo Dilma no momento. De olho gordo As agruras políticas da presidente Dilma abriram os olhos do PMDB para as possibilidades de o partido deixar de ser apenas o segundo na aliança presidencial e em futuros embates eleitorais. Até um "nome" o partido já acalenta para qualquer eventualidade. É isto, mais do que o comportamento na votação do Código Florestal, que explica o elevado grau de agastamento de Dilma com seu parceiro de coalizão. Período graça A crise política não está deixando o Planalto aproveitar o período da graça que está tendo na economia, com o arrefecimento da inflação mensal e das expectativas negativas do mercado, para avançar com alguma agenda "positiva". Segundo alguns analistas, no segundo semestre, com uma série de dissídios coletivos e porte e pressões por gastos públicos, o ambiente pode se inverter. No front positivo, há a moderação no curto prazo das expectativas para a inflação. Referimo-nos não apenas à pesquisa do BC com os agentes de mercado (pesquisa Focus), mas aos menores efeitos dos preços dos alimentos sobre os indicadores de preços. O problema persiste o mesmo : o governo joga para cima a demanda em função de seus elevados gastos e o setor privado vê demanda para baixo. Isto é fruto da ineficácia da política de controle de gastos da fazenda/planejamento, apesar dos números a serem divulgados (vide nota a seguir). As contas oficiais em observação Esta semana o BC deve anunciar o resultado das contas públicas de todo o setor público até abril, com um superávit próximo dos R$ 60 bi, mais de 50% de toda a economia de recursos prevista para todo o ano para amortizar a conta de juros. Há tanta euforia com esse desempenho que o secretário do Tesouro Nacional, Arno Agustin, anunciou que o governo, a partir deste mês, poderá afrouxar o torniquete aplicado no orçamento. Até para aplacar a ira aliada no Congresso. Especialistas (não-oficiais) em contabilidade nacional, no entanto, aconselham alguma cautela. Lembram que boa parte do superávit se deve ao excepcional aumento da receita tributária, mais de 11% até agora em termos reais, ao represamento dos investimentos e o adiamento de outras despesas. No caso dos investimentos - dinheiro novo para o PAC quase ainda não saiu - os recursos para a Copa e Olimpíadas só estão até agora no papel e não podem ser mais adiados. Quanto às despesas adiadas, somente uma correção nas aposentadorias, já transitada no STF, portanto impostergável por muito tempo, pode consumir um bom pedaço do aumento das receitas - e como uma despesa continuada, permanente. Câmbio em desalinho Com a confusão política, passaram despercebidas duas declarações oficiais que jogam mais dúvidas na política cambial do governo. Sabe-se que o real valorizado está sendo administrado de modo a auxiliar no combate à inflação, o que deixa a indústria local em profunda agonia. Pois bem : segundo o ministro da Fazenda, Guido Mantega, o sistema de câmbio flutuante no momento é ineficaz para lidar com a situação. O ministro do Desenvolvimento, Fernando Pimentel, disse que não vê solução a curto prazo para a valorização do real. O que fazer : tocar um tango argentino, como no poema de Manuel Bandeira, se até o governo se confessa impotente ? Outra dor de cabeça à vista Em plena crise política o governo verá nascer, esta semana ainda, uma frente em defesa da PEC que reajusta os salários dos policiais civis e militares e do corpo de bombeiros de todo o país, equiparando-os aos de seus similares do Distrito Federal. É assunto explosivo, pela categoria que beneficia. No ano passado causou sérios problemas para o então presidente da Câmara, Michel Temer. Por pouco não houve uma invasão da Casa Legislativa. Essas forças estão mobilizadas, cobrando compromissos assumidos anteriormente pelos partidos e mostrando holerites de fato irrisórios num serviço mais que essencial. Os donos dos cofres estaduais, que pagam diretamente a conta, e os dos cofres Federais, que terão de dividir a nova despesa, não querem nem ouvir falar desse assunto agora. Calcula-se que pode chegar a R$ 60 bi mensais o ajuste. Com o governo fraco politicamente como está, é bomba de alto teor explosivo para ser desmontada. Autismo palaciano ? É inacreditável que o Planalto não saiba que está pronta para votação no Senado a PEC, cujo autor é o senador José Sarney, com emenda do senador Aécio Neves, que restringe o poder do Executivo na edição de Medidas Provisórias. Compromisso com a derrota Se o PT pretende mesmo perder mais uma vez a disputa pela prefeitura de SP está certo em seguir a sugestão do presidente Lula de apostar no "novo" : a candidatura do ministro da Educação, Fernando Haddad. Haddad terá de passar a campanha explicando pelo menos três desastres : 1. As confusões do Enem. 2. Os livros que ensina que as crianças podem pescar. 3. E os desacertos da cartilha anti-homofobia. E olha que até a eleição o MEC ainda tem muito tempo para "aprontar" outras. A política externa do Brasil Dilma começou sua gestão fazendo gestões contra o Irã no que refere aos direitos humanos e fez a sua mais importante visita internacional à China, país no qual o termo "direitos humanos" soa como uma ficção não científica. No âmbito do Mercosul, os problemas são enormes e as contradições econômicas evidenciam que não há ação coordenada entre os seus membros, sobretudo em relação à Argentina. A visita de Obama ao país trouxe poucos e "cinematográficos" resultados. Estas são apenas algumas evidências de que a política externa brasileira carece de objetivos estratégicos. Ainda mais agora quando se descobre que a China trabalha contra as ambições brasileiras de ter um assento no Conselho de Segurança da ONU. Lula, uma figura emblemática, obscurecia a ausência de uma política externa de longo prazo. Dilma, figura acanhada e "gerencial" pôs à tona as contradições no campo diplomático. México em ascensão O México já foi o queridinho dos investidores nos mercados emergentes na década de 90. Depois, foi superado pela Índia, China e Brasil. O país era uma enorme promessa nas análises exageradas de Wall Street e da City londrina. Os pobres de lá continuam pobres e os ricos no mesmo lugar de antes. Agora, começam a surgir novos relatórios a elogiar a política anti-inflacionária do BC mexicano. O dono da bola é o seu presidente Agustin Carstens que controlou as expectativas de inflação e, ao dominar a fera, tornou real suas ambições de ser o nº 1 do FMI. A onça vai beber água em Atenas Nesta semana, o FMI e oficiais da União Européia desembarcarão em Atenas propugnando novas medidas de austeridade para que o país possa retificar sua condição de solvente. Uma tarefa e tanto. Afinal, se estas medidas forem seguidas o país permanecerá estagnado e com uma taxa de desemprego que pode alcançar 30% de sua mão de obra ativa. Pois bem : o que muda a economia é a política e os gregos parecem pouco inclinados a dar suporte para o Partido Socialista realizar os planos dos investidores. A coisa toda deve acabar em algum tipo de reestruturação da dívida, seja ela consentida ou unilateral. Candidato Obama A julgar pelo conjunto de dados econômicos de atividade e emprego divulgados nas últimas semanas, o senhor Barack Obama há de ser um candidato que terá poucos resultados a mostrar a seu eleitorado no que tange à economia. A demanda persiste fraca, o crédito débil e a turma das finanças especulando doidamente com a expectativa de que a inflação subirá diante de tanto déficit público. As bolsas dos EUA estão patinando por conta disso. Todavia, o verão no hemisfério norte, período de férias, vai dar um refresco para o presidente nascido no Havaí. Obama e o terrorismo Esqueçam o Obama candidato do passado, viva o Obama candidato de agora ! A aprovação ao final da semana passada da continuidade das medidas antiterror denominadas de Patriot Act pelo Congresso dos EUA e docemente assinada por Obama é mais um sinal de que o democrata não veio para mudar muito. Apenas faz mudanças cosméticas na política antiterror implementada por George W. Bush. O governo dos EUA vai continuar podendo bisbilhotar nas contas de cartões de crédito dos cidadãos e revistando de forma constrangedora os viajantes nos aeroportos do país. Radar NA REAL  27/5/11   TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA alta alta - Pós-Fixados NA alta alta Câmbio ² - EURO 1,4277 alta alta - REAL 1,6022 estável/queda estável/queda Mercado Acionário - Ibovespa 64.294,91 baixa estável/alta - S&P 500 1.325,69 estável/alta alta - NASDAQ 2.782,92 estável/alta alta (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável ____________
terça-feira, 24 de maio de 2011

Política & Economia NA REAL n° 153

  Palocci, lucros e perdas O caso da multiplicação patrimonial do ministro Palocci dificilmente atingirá o governo da presidente Dilma, a não ser que as investigações - se estas vierem a ocorrer - encontrem um "cruzamento" dos recursos contabilizados pela empresa do chefe da Casa Civil com a campanha da então candidata de Lula. É improvável - se não impossível - também que a oposição, frágil, desunida, desnorteada, consiga arrastar Palocci e governo para um confronto no Congresso. Com um pouco do uso da caneta e o amparo de Lula, Dilma não terá dificuldades para acalmar os aliados mais assanhados e desejosos de cometer pequenas traições. Não está nem mesmo em jogo, a não ser por uma incerta "nova bomba", a permanência de Palocci, ao lado da presidente no palácio do Planalto. Todavia, não significa que, na contabilidade política, o episódio tenha sido neutro. No balanço de lucros e perdas, os prejuízos políticos foram elevados. Alguns, irrecuperáveis. O esgarçamento político Palocci ficou com o flanco exposto, perdeu a condição de coordenador "crível" das relações políticas do governo com o Congresso, com os partidos e com alguns setores da sociedade, à parte os empresários, que sempre souberam com quem estão tratando e não se importam com alguns "detalhes" no modus operandi de seus interlocutores. Na sociedade, voltaram os questionamentos éticos. Guardadas as devidas proporções, o episódio Palocci se assemelha ao mensalão do Lula, quando o ex-presidente passou por seu piores momentos políticos, chegando mesmo na ocasião a pensar em desistir da reeleição para evitar o pior. Salvou-se pela condescendência da oposição, pela boa conjuntura econômica e pelo seu extraordinário instinto político. Não fosse isso, Lula teria ficado refém dos partidos e do Congresso. De certo modo, ficou, tendo de ceder muito aos aliados, entregando-se ao PMDB o que recusara no início do mandato. Dilma não é Lula Dilma, pessoalmente, não tem os mesmos trunfos, e terá então de se desdobrar para não cair nas malhas dos ávidos aliados. A votação do Código Florestal, prevista para hoje, e o que anteceder e suceder à votação, dará os primeiros sinais do tamanho do estrago político causado pelos negócios de Palocci. O anteparo pode ser Lula, calado de público, porém ativo nos bastidores para blindar Palocci e o governo. Aí surge o fantasma da dependência da criatura face ao criador, tão comentado durante a campanha eleitoral e nunca totalmente exorcizado. Regras três O PMDB está encantado com a possibilidade de o vice-presidente da República, Michel Temer, vir a substituir o combalido Palocci como articulador político do governo no Congresso, com os partidos e até com a sociedade. Palocci, frágil, ficaria apenas com as tarefas internas, burocráticas do governo. Na realidade, esta missão para o vice é mais um desejo dos peemedebistas do que uma possibilidade de fato. Ela causa urticárias em todo o corpo do PT e em diversos outros aliados. O lobo tem pele de cordeiro e uma bocarra imensa. Eles vão bem, brigados Está tudo certo para a convenção do PSDB no fim de semana : ou seja, nada está acertado. O senador Aécio Neves, com o sorriso de quem é sempre muito cordato, fechou as portas nacionais para o grupo de José Serra, ao menos para disputar um cargo de maior relevância no partido. A presidência, que Serra um dia cogitou para ele próprio ou para alguém de seu grupo, vai continuar com Sérgio Guerra, de quem o ex-governador paulista tem queixas desde a campanha presidencial do ano passado. Aécio não abre mão de manter o mineiro Rodrigo de Castro, de seu grupo, na estratégica secretaria-geral, lugar em que Serra pensou instalar seu vice no Palácio dos Bandeirantes, Alberto Goldman. O mineiro, por interpostos terceiros, patrocina o ex-senador na direção do Instituto Teotônio Vilela, vaga que, por gratidão, Geraldo Alckmin sugeriu que fosse entregue a Serra. Alckmin e Serra O próprio Alckmin, embora tenha lançado Serra para o ITV, não dá murros na mesa para emplacar seu sucessor, faz apenas um gesto de boa vontade. O governador paulista tem seu próprio jogo, que não bate necessariamente nem com o de Serra nem com o de Aécio. O senador das Alterosas bate suas asas também em direção a outras siglas, com o PSB e o PDT. Ninguém tem dúvidas sobre as digitais de Serra no PSD de Gilberto Kassab. E Alckmin firma fidelidades abrindo o governo paulista para outras legendas, até o PP de Paulo Maluf. E FHC ? Fernando Henrique Cardoso, cuja liderança no partido é incontestável e que poderia celebrar uma pax tucana mesmo que um pouco precária, prefere agir institucionalmente, sem meter a mão na cumbuca do varejo partidário. Não será ainda desta vez que o PSDB conseguirá um mínimo de unidade para liderar a oposição no Congresso e para se preparar para as eleições municipais de 2012. No tucanato, vão todos muito bem, brigados. Radar NA REAL   20/5/11   TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA alta alta - Pós-Fixados NA alta alta Câmbio ² - EURO 1,4045 alta alta - REAL 1,6358 estável/queda estável/queda Mercado Acionário - Ibovespa 62.596,56 baixa estável/alta - S&P 500 1.333,27 estável/alta alta - NASDAQ 2.803,32 estável/alta alta (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável No dos outros é refresco O governo Federal quer concentrar a primeira etapa de sua reforma tributária no ICMS, um imposto que não é dele, mas dos governadores. Para reduzir o tributo e torná-lo mais racional, aceita até criar um fundo de compensação para os Estados que vierem a perder receitas. Os governadores aceitam, mas se a compensação for real, como, por exemplo, com a redução dos encargos da dívida estadual rolada por Brasília. Somente nos três primeiros meses do ano eles pagaram mais 30% de juros sobre ela em relação ao ano anterior. Não aceitam promessas, escaldados nas dificuldades para o ressarcimento da isenção do ICMS da Lei Kandir. Resumo da ópera : enterrem a reforma antes mesmo de ser proposta. Dinheiro é que é bom... Clésio Andrade, senador governista mas também ligado a Aécio Neves, apresentou proposta de reforma constitucional aumentando de 22,5% para 26% o repasse do governo Federal para o Fundo de Participação dos Municípios. É este o tom da reforma tributária que governadores e prefeitos querem. E o único que o governo Federal não quer. Eles só chegarão a um acordo se ninguém perder nada e, se possível, todos ganharem um pouquinho que seja. Assim, só o contribuinte é quem perde... Nos olhos dos outros A Fiesp apresentou há dias sua receita de reforma tributária, com foco na desoneração das atividades industriais. Muito justo, uma vez que a carga de impostos é mesmo pesada e não incentiva a produção. Porém, transfere o ônus para os bancos, comércio, serviços, etc. Assim, não cola. Nem o PT deixa Nas propostas de mudanças que o governo apresentou para convencer a sociedade de que vai fazer para valer um ajuste permanente nas contas públicas está a sugestão de limitar os aumentos dos gastos com pessoal anualmente à variação de inflação mais 2,5%. Uma sugestão idêntica foi apresentada no Senado, quando da discussão da derrotada prorrogação da CPMF, limitada à alíquota de 1,5%, que não chegou nem a ser analisada dada a reação dos aliados, PMDB à frente. Agora, outra PEC idêntica recebeu parecer contrário do deputado petista do RS, Pepe Vargas. O PT, que de tolo não tem nada, não vai querer brigar com uma das suas melhores e mais atuantes clientelas eleitorais. Coisas do Brasil - 1 Somente para lembrar : os medicamentos de consumo humano no país têm uma incidência tributária superior, em média, à dos insumos agrícolas, rações e medicamentos e uso animal. Coisas do Brasil - 2 A "churrascaria" BNDES vai de vento em popa : o banco estatal já se tornou o maior acionista individual da JBS Friboi. Desaceleração da atividade é evidente Há quem acredite que a economia brasileira ainda não entrou em processo de desaceleração o que justificaria mais freios via taxa de juros. Os dados do comércio em particular, do crédito e do consumo, em geral, dão evidências de que a desaceleração está em curso e é significativa. Apenas não chegou à indústria em alguns casos e a setores que comercializam commodities. O problema é outro A questão da desaceleração da atividade é que esta vem sem que o setor público tenha reduzido a sua demanda. Leia-se : as medidas de contenção dos gastos públicos não saíram do papel. Portanto, em alguns meses, ficará claro que a economia perderá sua dinâmica de crescimento na medida em que a produtividade caíra. Lembrando que : produtividade é igual a potencial de crescimento futuro. Assédio no FMI As ansiedades em relação à substituição de Dominique Strauss-Kahn, no FMI, são gigantescas e passam pelo jogo interno da política francesa. Não à toa, Christine Lagarde está sendo indicada e é a candidata mais forte : é parte da aliança governista conservadora liderada por Nicolas Sarkozy. Todavia, há uma importante questão : Lagarde é dura crítica da especulação financeira mundial. Talvez a vida dos especuladores fique mais arriscada, pois sob a batuta do "socialista" Strauss-Kahn a coisa continuava frouxa. Efeitos sobre a Grécia, Espanha, Portugal, Irlanda, Itália, etc. e tal A pequena, endividada e belíssima Grécia não está com muita sorte ultimamente. Entre as especulações em relação à reestruturação de sua dívida, o diretor-gerente do FMI foi pego no exercício de seus arroubos libidinosos. Todavia, caso Christine Lagarde seja guindada ao posto máximo do FMI, a Grécia poderá analisar concretamente as condições de reestruturação de sua dívida. Lagarde é mais favorável a "uma saída de mercado" para a situação dos países endividados da Europa. Isso deve ser lido como algo favorável à reestruturação. Assim, quem poderia perder seriam os especuladores que teriam de engolir prejuízos pelas irresponsabilidades que cometeram somadas as dos governos destes países. Espanha, um alerta ? É equivocada demais, simplista em excesso, a interpretação de que a esquerda perdeu as eleições regionais de domingo, na Espanha. Perdeu "o governo de plantão", por acaso comandado pelo Partido Socialista. Se fosse o inverso teria perdido a direita. O eleitor espanhol deste domingo se chama "crise econômica", desemprego de mais de 20%. Nova bolha Experientes analistas de mercado estão comparando indicadores das crises anteriores com dados sobre as variações de preços no mercado de commodities. Não são poucas as semelhanças com as bolhas do mercado de ações "tecnológicas" (1999) e imobiliária (toda a década dos anos 2000). A fluidez dos recursos, somada à frouxidão monetária nos países centrais, está produzindo uma bolha cujo diâmetro é desconhecido. Não resta dúvida de que se trata de uma "bolha". Resta saber se explode logo. ____________
terça-feira, 17 de maio de 2011

Política & Economia NA REAL n° 152

Brasília, temor e insatisfação O estilo público da presidente Dilma tem sido muito elogiado, já quase em prosa e verso. O estilo privado, de "gestão de pessoas" e de abordagem política, nem tanto. Comenta-se na capital, em tom de queixa e revolta, a aspereza no trato com auxiliares, um certo fastio com a operação da política dos políticos e a demora no atendimento dos pleitos partidários. Diz-se que há uma certa soberba e arrogância pairando no Planalto, disfarçada nos eventos públicos. Foi por conta desse caldo de cultura que o governo esteve a minutos de sofrer sua primeira fervorosa derrota no Congresso, mais especificamente na Câmara, na votação do novo Código Florestal. Do PMDB ao PT, passando pelos aliados menos votados, havia uma disposição na noite de quarta-feira, quase madrugada de quinta-feira, de se votar contra as posições defendidas pelo governo. Bons contabilistas das coisas do Legislativo asseguram que a proposição mais ao agrado dos ruralistas do que dos ambientalistas teria cerca de 400 votos num total de 513. Velhas raposas dizem que, se o governo não ficar mais "simpático" a mesa pode começar a mudar. (Entenda-se por simpatia : nomear mais rapidamente os segundo e terceiros escalões, soltar mais verbas das emendas dos parlamentares e para os prefeitos e afagar deputados e senadores com gestos de carinho, recebendo mais, conversando mais com eles). O temor das broncas, para completar, geram, naturalmente, o temor de avançar decisões, de tomar a iniciativa sem consultar os oráculos nas mínimas coisas. Só blábláblá, não De uma experiente alma política, da base aliada : "O governo pensa que é espertinho demais e que leva a gente aqui somente no lero-lero. Ele está arriscado a sentir logo que aliado insatisfeito é muito pior do esta oposição mambembe que está aí". Estratégia de risco Os operadores políticos do governo acreditam ter descoberto a forma para pressionar os ruralistas a apressar a votação do Código Florestal, aceitando as mudanças que os ambientalistas ainda querem fazer no relatório do deputado Aldo Rebelo, tido como excessivamente antiambiental - é que em 11 de junho termina a moratória para desmatadores concedida pelo presidente Lula. Daí em diante, quem está fora da lei fica sujeita a multas diárias, cuja repetição pode tornar os ônus para os proprietários. É fato. Mas é preciso saber se o governo terá força (ou determinação, ou coragem) para valer para punir quase 4 milhões de propriedades nessas condições, boa parte das quais trabalhadas por pequenos e microprodutores É ameaça para não cumprir porque poderia criar um problema social e político de alta combustão. O governo está condenado a buscar um acordo rapidamente por um texto de algum consenso no Código Florestal ou então a prorrogar por mais um tempo a anistia a quem desmatou fora das regras. Em ritmo de valsa As divergências entre os partidos políticos na luta pela distribuição dos cargos Federais em Brasília e nos Estados, somada à disposição da própria presidente Dilma de tratar a questão com parcimônia e em câmera lenta, além de gerar insatisfações entre os parceiros, até no obediente PT, está provocando paralisações e até uma certa anomia em vários ministérios e órgãos oficiais. Há ministros que não conseguiram nomear até agora seus preferidos para áreas vitais de suas pastas, órgãos com interinos, órgãos comandados por pessoas que não sabem se vão continuar. Há casos de escolhidos para postos chaves que começaram a trabalhar sem a nomeação oficial, com mesa e cadeira na Esplanada dos Ministérios, e, depois de um bom período de atividade tiveram que sair porque o governo precisava do posto para outra composição política. Ainda há gente nesta situação desde janeiro. E Brasília assiste ainda, como na semana passada, a duas ou três posses importantes, com o governo às vésperas de entrar em seu sexto mês. A situação só é mais tranquila nas áreas em que houve uma continuidade e naquelas nas quais o novo ministro optou por manter a equipe passada. E não se trata apenas de ministérios de peso secundário. De fato, o fenômeno se dá em áreas ditas prioritárias. Na Saúde, por exemplo, somente nos últimos dez dias definiu-se os titulares da Anvisa e da Funasa. O que gera uma certa lentidão, quando não paralisa nas decisões desses organismos. Quem se sabe interino ou não tem certeza de que vai ficar por mais tempo, decide o menos possível, apenas toca o barco. Tudo bem aqui fora Em compensação, ao contrário do mundo político, que começou o governo com entusiasmo elevado e agora já está de crista baixa, no mundo real da economia e da sociedade, depois dos meses iniciais de desconfiança, o governo começa a ultrapassar o ceticismo vigente. Aumenta o número de agentes econômicos e formadores de preço que passaram a acreditar que a estratégia traçada para a política econômica, de combate gradual à inflação para não comprometer excessivamente o crescimento econômico, tem possibilidades de ser bem sucedida. Os dois próximos meses podem ser decisivos nesta retomada da confiança, a partir dos números da inflação, do desempenho real das contas públicas, da capacidade que o governo demonstrar de que vai continuar toureando as pressões políticas, e do desempenho da economia externa; esta última variável a grande incógnita do momento. Hora imprópria Por falar em economia mundial, tudo que não se queria agora é uma complicação no FMI, como a gerada por essa história do seu diretor-gerente, Dominique Strauss-Kahn. Os mercados ontem já refletiram negativamente a confusão, num momento em que a Europa volta a pisar em ovos e esperava do Fundo um anteparo para valer. Pode ficar tudo paralisado e incerto, ainda mais que já se abriu uma disputa perigosa pela vaga de Kahn. "Conosco ninguém podemos" No idos aos anos 1960, o escritor Sérgio Porto, na pele do seu alter ego Stanislaw Ponte Preta, o criador do Febeapá (Festival de Besteiras que Assola o país), dando vazas a sua veia musical, compôs uma música que intitulou "O samba do crioulo doido". (Nome hoje politicamente incorreto. Deveria se chamar : "Samba do afro descendente com deficiência mental"). Stanislaw contava a história de uma sambista que, depois de anos chamado a compor sambas de enredo para sua escola de samba, com temas e personagens da história do Brasil, posto diante do desafio de falar da "atual conjuntura" delirou de vez, e entre outras sandices cantou o casamento de Tiradentes com a Princesa Leopoldina, lembrou a "proclamação de escravidão" e por aí afora. Um sucesso de bom humor, sem consequências. Pois foi este espírito do sambista inventado pelo criador do Febeapá (nada mais significativo aliás) que baixou nos autores de um livro, aprovado oficialmente, sobre Língua Portuguesa, que está sendo distribuído nas escolas públicas nacionais. O livro, em resumo, considera que falar (e escrever) sofra dos padrões da norma culta (não a norma complicada, a mais simples, mas gramaticalmente perfeita) não é errado, pode ser apenas inadequado. Assim, valem, por exemplo : "Nós pega o peixe" - "Os livro ilustrado mais interessante estão emprestado" E outras sandices. Ou seriam asnices? A obra faz parte do Programa Nacional do Livro Didático. Com tais conceitos, dá aval ao lema de um bloco carnavalesco no interior de Minas : "Conosco ninguém podemos". E torna norma culta um velho linguajar de alguns futebolistas menos letrados : "A gente faremos tudo para vencer nossos adversário". O Ministério da Educação andou um tanto fora do ar após seguidas trapalhadas no Enem. Mas voltou com tudo, no melhor estilo do Lalau Ponte Preta do Febeapá. Ao contrário do que diz certo jargão, nem toda ignorância é santa, nem inocente, pois manter as pessoas ignorantes e mal informadas é mantê-las atreladas à pobreza e fáceis presas do clientelismo político. Crer para ver Tucanos têm espalhado que chegaram a um acordo entre suas diversas correntes não só em São Paulo, entre os grupos de Alckmin e Serra. Como também nacionalmente, entre Aécio e Serra. São Tomé está a postos para conferir. Ver para crer A cúpula do PMDB, de público, garante que o partido está satisfeito com o desenrolar do governo. Parece que faltou combinar com as bases. ____________
terça-feira, 10 de maio de 2011

Política & Economia NA REAL n° 151

Mudança de tendência Não são poucos os sinais de que o Brasil pode deixar de ser um mercado predileto dos investidores internacionais. Estamos nos referindo especificamente ao mercado de renda fixa e ao de ações. No caso de renda fixa, as recentes medidas governamentais, com vistas a reduzir a entrada de dólares, estão surtindo efeito. Além disso, há certos temores em relação à inflação, o que pode conter certas operações pré-fixadas (ou seja, com a taxa de juros fixa até o vencimento da operação). Do lado da renda variável, começa a se formar um consenso de que o Brasil "bateu no teto de crescimento". Este segundo segmento de mercado reflete com maior ênfase o sentimento doméstico de que os investimentos permanecem baixos frente às necessidades do país e, sem eles, o que resta é ver o consumo privado reduzido. Afinal, o consumo do governo permanece alto e pouco produtivo. Assim sendo... Estamos mudando as nossas recomendações (médio e curto prazo) em relação à bolsa de valores local. Mesmo com um ambiente externo relativamente tranquilo, nos EUA e na Europa (apesar da precária situação de crédito de Grécia, Irlanda, Portugal, Espanha e Itália), o mercado acionário brasileiro deverá experimentar um período relativamente longo de baixa. Note-se que também há um bom volume de operações de colocações de ações (emissões primárias ou IPOs e secundárias) que podem pressionar os preços para baixo. O câmbio Não estamos mudando a nossa recomendação no tocante à relação entre o dólar/euro e o real. Todavia, alertamos nossos leitores : não é ocasião de ficar vendido no câmbio. É hora de zerar posições. O real pode se desvalorizar nos próximos meses e, com isso, trará ainda mais riscos para a estabilidade da inflação. O atual governo, como o anterior, imitam a estratégia de FHC e estão utilizando o dólar baixo como estratégia de contenção da alta de preços doméstica via competição dos importados. Uma estratégia que conspira contra a industrialização no longo prazo do país. Portanto, para o câmbio vale um sinal de atenção, redobrado. Pedido cândido demais Alexandre Tombini parece exercer o papel de "bonzinho" na equipe econômica. Suas intervenções verbais têm carecido de determinação e firmeza o que faz ficar muito mais perceptível a ausência de independência operacional do BC. Seu pedido para que os distintos consumidores adiem compras soa desconexo com qualquer preceito de teoria econômica que leve em consideração a racionalidade dos agentes econômicos. Por que alguém, com capacidade de consumo, atenderia às palavras do presidente do BC ? Realmente... PAC, esquecido ? Muito se comenta sobre o viés "gerencial" da presidente Rousseff. Todavia, sabemos que, num governo, as variáveis que recaem sobre a qualidade da gestão são inúmeras. Licitações, fiscalização, liberação de verbas, disponibilidade de recursos humanos e financeiros são apenas alguns dos fatores a influenciar a viabilização de uma boa gestão dos investimentos públicos. O que se vê, porém, é que há pouca sensibilidade dos agentes econômicos às palavras do governo. Muitos empresários interessados em investir no país permanecem cochichando sobre a inoperância do governo e a falta de credibilidade dos planos governamentais. Estão incluídos no rol dos descrentes os investidores estrangeiros dos setores de bens de capital e equipamentos. Suas perguntas iniciais a seus assessores locais dizem respeito à credibilidade dos planos dos governos (de todos os níveis, não apenas o Federal) e sobre a existência de corrupção. Não é um bom início de conversa. Dilma e a reforma ministerial A presidente Dilma, ao ver tanta passividade em relação aos investimentos, deve estar pensando diuturnamente sobre quando poderá trocar alguns membros de sua equipe ministerial. Sabe-se que o tema atrai a atenção das forças políticas que suportam sua administração, mas as conveniências políticas estão dando lugar às preocupações gerenciais. Afinal, daqui a quatro anos os eleitores sancionarão nas urnas suas opiniões sobre o andamento do governo. Até lá, atenção redobrada nas pesquisas de opinião sobre o governo. Na próxima, a avaliação do governo já deve piorar. Radar NA REAL 6/5/11   TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA alta alta - Pós-Fixados NA alta alta Câmbio ² - EURO 1,4336 estável alta - REAL 1,6168 estável estável/queda Mercado Acionário - Ibovespa 64.417,30 baixa baixa - S&P 500 1.340,20 estável/alta alta - NASDAQ 2.826,59 estável/alta alta (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável Os minuetos de Aécio O senador Aécio Neves trombou feio com um bafômetro há alguns dias no RJ, colisão que ainda vai lhe trazer aborrecimentos na trajetória que traçou para chegar ao Planalto, se possível logo em 2014. Tropeções juvenis à parte, o ex-governador mineiro, bem ao estilo herdado do avô e obediente ao modo de fazer política de sua gente, tem dado alguns passos que estão deixando desnorteados seus companheiros de oposição e seus adversários governistas. Dá sinais de que se aproxima, por exemplo, do PSD e ao mesmo tempo critica a iniciativa de Gilberto Kassab. Acende velas ao governo Dilma e, em seguida, critica a condução do combate à inflação e mais pesadamente lança torpedos para a presidente no Congresso (ver nota abaixo). Admite se entender com Serra e Alckmin e trabalha para minar a liderança dos dois nomes no PSDB. Ou o neto de Tancredo se revela um exímio bailarino ou pode tropeçar nas próprias pernas. Pedras no caminho Não são poucas nem simples as bombas legislativas que Aécio está montando para a presidente da República e os partidos aliados, algumas para explodir em plena campanha das eleições municipais de 2012, nas quais será jogada uma das preliminares de 2014 : 1. Como relator da PEC do presidente do Senado, José Sarney, para dar ao Senado mais poder para apreciar e votar as MPs, o senador mineiro apresentou um substitutivo mais amplo, cerceando e dificultando as edições de MPs pelo Executivo. Entre outras coisas, elas só passarão a valer depois de analisadas por uma Comissão Especial da Câmara sobre sua viabilidade, urgência e relevância. A Comissão teria três dias para se pronunciar. É tema caro ao Congresso de um modo geral, agastado com o abuso do governo na utilização de MPs. Até a base aliada reclama. 2. Esta semana Aécio deve entregar no Senado um pacote de propostas com vistas a ampliar a autonomia dos municípios, aproveitando-se da marcha dos prefeitos a Brasília a partir de hoje. Entre elas : - compensação aos municípios pelas isenções fiscais (no IR e no IPI) concedidas pelo governo Federal. - transferência da administração das estradas Federais para os Estados, acompanhada da entrega imediata aos governadores dos recursos arrecadados pela Cide. - revisão do pacto Federativo, com os municípios voltando a ter 27,2% da receita tributária, como em 2002, contra os atuais 19,4%. - isenção tributária para as empresas do setor de saneamento básico. - acabar com o contingenciamento das verbas do Fundo Penitenciário e repasse de 70% desses recursos, mensalmente, para os Estados. É agenda que causa urticárias no Planalto e no ministério da Fazenda, mas assanha deputados, senadores, governadores e prefeitos. O vai da valsa do PT Não há comprovação - nem muito fundamento - nas informações de que o deputado Estadual paulista Rui Falcão foi eleito presidente nacional do PT contra a vontade do ex-presidente Lula e da presidente Dilma. Ainda está para nascer quem ouse tanto no atual quadrante. Porém, as informações saídas na imprensa não são de livre e espontânea geração. Também não saíram da desarvorada oposição que, de tão desarranjada, nem condições tem de plantar intrigas políticas. As fontes são internas, o que denota que a insatisfação no PT com o governo não é pequena como se quer fazer crer. Há também ranger de dentes, este mais aberto, contra a volta da "hegemonia" paulista no partido. Os passos doble do PMDB O senador Valdir Raupp, presidente interino do PMDB e líder do partido no Senado, não é de contrariar os donos de seu partido : é ativo e ao mesmo tempo disciplinado. Assim, quando ele disse que o PMDB pode ter candidato a presidente da República em 2014 e citou os nomes de Michel Temer e Sérgio Cabral estava mais do que simplesmente dando uma declaração vazia. Mesmo que depois contraditado por Michel Temer, Raupp deu o recado de seu grupo. O mesmo recado que o PMDB dá ao armar-se, com Gabriel Chalita ou Paulo Skaf para disputar a prefeitura de SP, e ao dizer que terá candidato próprio no ano que vem em quase todos os municípios brasileiros. O PMDB quer apenas dizer ao PT que deve respeitá-lo e não tentar, como alguns peemedebistas farejam, deixá-lo em plano secundário em muitos municípios. Ou até trocá-lo em 2014 na vice-presidência. Já se percebeu que o discurso de Lula de manter acesa a aliança no ano que vem não soa bem para muitos petistas. O silêncio dos não inocentes Está intrigando o silêncio do governador de Pernambuco, Eduardo Campos, presidente do PSB, que começou o governo Dilma com a voz toda, articulando para ocupar o espaço do PMDB como o aliado mais fiel da presidente e para ser o preferido numa corrida pela vice em provável recandidatura de Dilma. Algumas decepções com nomeações Federais que não saem a contento e desconfianças com as manobras envolvendo a criação do PSD e com o que estaria sendo armado com os irmãos Gomes emudeceram o neto de Miguel Arraes. Não nos bastidores, porém. Já se vislumbrou que ele, "mineiramente", arma seu bote. ____________
terça-feira, 3 de maio de 2011

Política & Economia NA REAL n° 150

"Cresce a convicção de que a mudança é a nossa única permanência. E a incerteza, a nossa única certeza." Zigmunt Bauman Nossas 150 colunas - Editorial Menos de cinco anos depois de inaugurarmos, no site "Migalhas", esta coluna semanal, cujo objetivo é tentar ajudar seus leitores entenderem o que se passa na política e na economia no Brasil, na "Real", sem o ruído das especulações e dos boatos, com fatos e interpretações buscadas nas fontes e testadas com outras fontes, chegamos à nossa edição número 150. Usando um velho jargão : é um marco ! Não somente porque estamos ainda explorando um novo meio de comunicação onde praticamente todos, aqui e lá fora estão ainda tateando, mas também e principalmente, pela audiência que conquistamos, com mais de 130 mil visitas únicas de cada escrito. E tudo se deve a persistência da direção do "Migalhas" que acreditou que um tema, ou temas, infelizmente ainda de interesse restrito no Brasil, que são a política e a economia, pudesse atrair leitores realmente interessados. Sobretudo, temos a adesão dos leitores. Continuamos acreditando que, sem uma boa política e sem uma boa economia não se fará uma grande nação, democrática e desenvolvida. É o esforço de continuar contribuindo, ainda que modestamente, para o debate pela busca de um país mais justo e mais saudável que nos anima a ir sempre em frente, renovando nossa presença neste espaço a cada manhã de terça-feira e sempre que se justificar uma intervenção extra. É a busca de informação no seu sentido mais amplo, sem subterfúgios e com o ceticismo sadio que nos faz desacreditar de tudo para constatar o que é "Real". Sem "ideologismos" e "partidarismos". Falta uma explicação. Falta ? Aparentemente, está ainda carente de explicações a ausência do ex-presidente Lula e da presidente Dilma, na reunião do diretório nacional do PT, no fim de semana em Brasília e que elegeu o novo presidente da agremiação e lançou uma resolução com forte cheiro de manifesto político. Mas é só aparência. O ambiente no PT, inclusive entre antigas estrelas do partido, é de insatisfação com o governo. O PT, como disse José Dirceu numa palestra durante a campanha eleitoral do ano passado na Bahia, pensava chegar finalmente ao poder, coisa que os petistas não sentiram plenamente com Lula. Pela continuidade das políticas econômicas nada "petistas" de FHC o "lulismo" foi mais forte que o petismo. Mas Lula atendia o petismo, ainda que perifericamente. E com Dilma ? Com Dilma, está sendo diferente. Ela afaga os companheiros. E embora esteja agradando em parte, pelo quase "cavalo de pau" que está dando na política anti-inflacionária, deixa dúvidas em vários aspectos, como, por exemplo, na guinada da política externa. O PT é governo, diz-se, mas ainda não está no governo. Sinal inequívoco da insatisfação foi dado no documento do diretório onde faltou uma enfática defesa da condução da economia. Ficou-se numa referência genérica : o petismo em ebulição "considera correta a orientação geral" da política econômica. Parece até a "simpatia" que Barack Obama demonstrou pelo desejo do Brasil de ter um lugar permanente no Conselho de Segurança da ONU. Os nós políticos da presidente Dilma ainda estão todos do seu lado. O pêndulo do poder O discurso do ministro Palocci no Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, o Conselhão, indica sem muita suavidade para onde pender o pêndulo do poder quando a presidente Dilma solta, espontaneamente e deliberadamente, as rédeas do governo. A maior desenvoltura do discreto ministro do Desenvolvimento, Fernando Pimentel também. O resto é "coadjuvância", mesmo como bem falante. A oposição engasga O ex-presidente Fernando Henrique (em artigo nos jornais "O Globo" e "O Estado de S. Paulo") e o senador Aécio Neves (em discurso na festa do Dia do Trabalho da Força Sindical) fizeram um ensaio para a oposição "pegar no tranco", atracando o que o ex-governador mineiro considera condescendência com a inflação. Ainda pregam no deserto, embora o tema já assuste até aliados do governo. DEM, PPS e PSDB ainda vão arder muito na fogueira de suas vaidades e ambições antes de virem à tona. Falta um líder ao grupo. Quem tem muitos líderes não tem nenhum. É por isso que o PT, mesmo com algumas mágoas, está se apegando mais e mais a Lula. Sem ele, pode também arder. Por essas e outras, mesmo não querendo de fato, o ex-presidente FHC talvez seja forçado a aceitar o desafio de presidir o PSDB, para juntar o partido e amalgamar a oposição. A opção é a extinção ou a irrelevância via urnas. Clima apenas amenizado A meia volta dada pelo STF em decisões anteriores sobre a posse de deputados suplentes, privilegiando o suplente da coligação, em detrimento do substituto do partido, amenizou temporariamente o ambiente de beligerância existente entre Judiciário e Legislativo. Deputados e senadores ainda não desistiram de botar freios no que no Congresso se classifica de "ativismo" político e eleitoral dos tribunais. A Câmara dos Deputados, por exemplo, prepara projetos para diminuir a intervenção do Judiciário nas atividades do Legislativo : um impede o STF de alterar a interpretação de emendas constitucionais. Uma reforma sem reforma ? Não custa anotar : se tivermos reforma política, por mínima que seja, será marcada simplesmente pelo interesse direto dos políticos e dos partidos. Fim das coligações partidárias em eleições proporcionais ? Não. Voto facultativo ? Não. Regras e punições mais rígidas para "caixa 2" e "financiamentos irregulares" ? Não. Fim das contribuições eleitorais reservadas ? Não. Mas sim ao financiamento público de campanha, a uma fidelidade partidária menos fiel. O ex-secretário da Receita Federal, Everardo Maciel, que sabe das coisas, pois já foi homem dos cofres públicos, escrevendo sobre a tal reforma, foi no alvo : "Ainda que possa parecer utópico, a reforma política deveria reservar atenção para o processo orçamentário, a profissionalização da administração pública e a limitação do foro privilegiado e das medidas provisórias". O mais, como diria Millôr Fernandes, é armazém de secos e molhados. Radar NA REAL 29/4/11 TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA alta alta - Pós-Fixados NA alta alta Câmbio ² - EURO 1,4845 alta alta - REAL 1,5788 estável/queda estável/queda Mercado Acionário - Ibovespa 66.132,89 baixa estável/alta - S&P 500 1.363,61 estável/alta alta - NASDAQ 2.873,54 estável/alta alta (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável A voz do mercado Não temos especial predileção pelos dados e informações da pesquisa Focus do BC com os agentes do mercado. Trata-se de uma pesquisa que tem uma autocorrelação substantiva. Ao mesmo tempo que forma expectativas, as reproduz. Todavia, os resultados mostram que as incongruências no médio e longo prazo da política econômica governamental estão em larga medidas naquela pesquisa : o Brasil está se mostrando negligente em relação à inflação (projeção próxima de 6,5% para 2011), com crescente déficit externo (conta corrente negativa em US$ 60 bi), com crescimento muito inferior à China e Índia (menos de 50% do crescimento destes, 4%) e com uma taxa de investimento em relação ao PIB que mostra a fragilidade governamental neste item. O mercado nem sempre está certo - há muitas projeções descabidas. Todavia, devemos reconhecer que a política econômica carece de coerência para que o país seja realmente um emergente de porte. A economia e o Planalto Notaram os nossos leitores que o ministro Mantega saiu do noticiário ? Nada é ocasional. Sabe o ministro que ali na Praça dos Três Poderes, mais exatamente no Palácio do Planalto, há raposas que estão sempre prontas para ler o clipping diário fornecido pela área de comunicação governamental e assinalar as falhas do ministro em relação a sua gestão. Será que o ex-presidente Lula andou aconselhando o ministro a colocar "as barbas de molho" ? O problema é que o ministro não tem barba. Já no Planalto, há barbudinhos prontos para agir. Ben Bernanke , política econômica e eleições As últimas declarações do presidente do FED tentam dar uma visão estratégica em relação à saída da política econômica "emergencial" (desde 2008) para a "normal". O problema é que quando se confronta o que diz o chefão da política monetária com os dados o que se vê não é nada consistente : (i) como reduzir o déficit se a economia ainda patina ? A economia está ainda recebendo estímulos na veia e, se isso se reduzir muito a atividade econômica volta a patinar; (ii) Obama e as autoridades americanas mantiveram intactas as estruturas que levaram à crise atual. Assim sendo, o ambiente altamente especulativo persiste e, assim, mina as bases para a sustentação sadia da economia. Enquanto isso, tanto Obama como seus oponentes estão ficando embebedados com a chegada prematura da corrida presidencial à cena política. Tudo muito vazio. E cedo. Barack Bush Quem assistiu so discurso do presidente Obama na noite deste domingo para anunciar oficialmente a morte de Bin Laden pensou estar ouvindo George W. Bush pós-2001. Esta retórica de que "a segurança dos EUA está acima de qualquer interesse" parece muito distante de "Yes we can". Eleições criam mais caricaturas que histórias em quadrinhos... Google e J&J lideram ranking de imagem Pesquisa conduzida pela consultoria Harris Interactive com 30 mil pessoas (de diversos segmentos) que podiam votar em 60 companhias durante os dias 30 de dezembro do ano passado e 22 de fevereiro deste ano, confirmou a liderança em termos de imagem do Google. A Johnson & Johnson foi a segunda colocada, seguida de 3M, Berkshire (empresa liderada por Warren Buffett) e Apple. O interessante desta pesquisa é que há significativa conexão entre a imagem das marcas e o desempenho financeiro e operacional das empresas. Os bancos, por exemplo, altamente afetados pela crise estão mal posicionados na pesquisa (últimos lugares) a despeito de se tratarem de marcas muito conhecidas. IPOs no Brasil Há uma coleção enorme de empresas cujo capital está parcialmente nas mãos de fundos de private equity e que ambicionam ter as cotações de suas ações nas bolsas, um movimento de "reciclagem" de capital entre os investidores em geral e os "especializados", no caso os fundos private equity. O que se tem verificado é que os preços propostos pelos bancos intermediários estão aquém daquilo que os fundos imaginavam obter. Este é um sinal de que, por enquanto, a demanda adicional por ações está contida. Neste sentido, as notícias de baixo crescimento da economia brasileira é uma péssima notícia para o setor. ____________
terça-feira, 26 de abril de 2011

Política & Economia NA REAL n° 149

Os desafios reais da presidente Dilma No campo da política, o Palácio do Planalto não tem de se preocupar com a atribulada e complicada oposição (v. nota abaixo). Sua luta é com seus próprios partidários, muitos ainda insatisfeitos com a divisão do bolo dos cargos (nesta lista entram até algumas alas do petismo) e todos, praticamente sem exceções, desacorçoados com os cortes nas emendas parlamentares. Esta semana a presidente Dilma terá de dizer como vai ficar o decreto do presidente Lula, suspendendo os restos a pagar de 2007, 2008 e 2009 que não tiverem sido executados. Prefeitos, deputados e senadores estão unidos na luta pelo cancelamento do cancelamento. Se não fizer um agrado a esse grupo, a paz política de Dilma vai começar a esmaecer. E sem a contribuição do PSDB, do DEM e do PPS. É a economia Já no terreno econômico há pântanos a serem enxugados : os agentes formadores de preço ainda não estão totalmente convencidos de que o gradualismo adotado na política anti-inflacionária é o melhor remédio para a luta contra a ameaça de carestia. Não se confia na política fiscal (corte efetivo de despesas em vez de sustentar o superávit primário no aumento da receita). Nem se tem tanta certeza de que as medidas "macroprudenciais" adotadas até agora terão os efeitos e o alcance imaginado pelo BC. A própria independência do novo BC tem sido posta em dúvida aqui e acolá. Por fim, há a confusão do câmbio, pesadelo das indústrias nacionais. O novo aumento dos juros Escrevemos na semana passada em relação à decisão do COPOM : "subir 0,25% ou 0,5% será o indicador do esforço que o governo está disposto a incorrer". Pois bem : a elevação de 0,25% indica que o governo (e não mais apenas o BC) está apostando no gradualismo da política monetária. De fato, um governo não precisa fazer o que o "mercado" está a projetar, ou sugerir, ou pressionar. Todavia, a questão aqui é outra : o fato é que a inflação está efetivamente se "espalhando" na economia brasileira e não há nenhuma barreira relevante, fiscal e/ou monetária, para evitar que a inflação futura seja menor que a atual. Ademais, há mecanismos de indexação desde as tarifas de serviços públicos até a caderneta de poupança. Este é o maior risco, não necessariamente a aposta "contra o mercado". O governo errou o momento e a forma de "peitar" os agentes do mercado financeiro. A aposta do mercado Apenas para registrar : a pesquisa Focus do BC, que coleta nas instituições financeiras dados projetados sobre contas públicas, atividade e inflação, continua registrando que a atividade cai, o déficit público não sofrerá e a inflação sobe - esta já bate em 6,34% para este ano. É a infraestrutura O poço mais fundo que Dilma deve saltar, no entanto, está na área de obras e de oferta de bens e serviços de infraestrutura. A lista é longa e exige início imediato de ações : 1. O problema do preço e da garantia de abastecimento de álcool e gasolina, cujo consumo está subindo exponencialmente e, em pouco tempo e no mesmo ritmo, poderá não ser totalmente atendido pela produção local. A Petrobras e os produtores de álcool já tiveram de fazer algumas importações. 2. A questão de energia elétrica, com atrasos em projetos que podem levar a apagões temporários mais constantes em algumas regiões. A Aneel considerou a situação preocupante principalmente no Norte e está cobrando providências das companhias. E a Petrobras vai entrar com mais força no campo das termoelétricas. 3. Há um abarrotamento visível de portos e aeroportos. Com ou sem Copa, com ou sem Olimpíadas, esses últimos já chegaram ao limite, sem que se tenha uma solução desenhada, seja com recursos públicos, seja com concessões privadas. 4. O Plano Nacional de Banda Larga, de adiamento em adiamento, não saiu ainda do papel. A reativação de Telebrás só trouxe até agora despesas e empregos. O remédio vai ser apelar para as operadoras de telefonia privada, antes consideradas dispensáveis no PNBL. Mas os entendimentos estão complicados. A meta de atender mais de mil cidades este ano com internet de alta velocidade a R$ 35 já está fora de propósito. Reduzir esse preço para R$ 29 (ainda alto para um país com a renda do Brasil), como quer a presidente, depende dos governadores aceitarem abrir mão do ICMS. E nem todos querem perder receita, ainda mais que eles sabem que a banda larga tira tráfego da telefonia comum. Radar NA REAL 22/4/11 TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA alta alta - Pós-Fixados NA alta alta Câmbio ² - EURO 1,4575 estável alta - REAL 1,5720 estável/alta estável/queda Mercado Acionário - Ibovespa 67.795,90 estável/baixa estável/alta - S&P 500 1.337,38 estável/alta alta - NASDAQ 67.058,04 estável/alta alta(1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável Em nome de quem ? Dúvida assola o mundo político : quem será o patrono do PSD - Serra ou Palocci ? Serra por causa do silêncio obsequioso com que tem acompanhado o esvaziamento do DEM e até do PSDB paulistano e porque seus aliados no DEM paulista estão migrando para o partido de Gilberto Kassab. E Palocci pela contribuição desinteressada dada ao nascimento do novo partido. A voz do dono O presidente oficial do PT, cargo atualmente ocupado por José Eduardo Dutra, é função para cerimônias e os trabalhos burocráticos. Dão as cartas mesmo no partido, de fato, Lula e José Dirceu. Sem eles o PT não acontece, sem o aval deles nada acontece. Realidade ou farsa O vice-presidente Michel Temer anunciou a ida do deputado Gabriel Chalita para o PMDB e sua provável escalação como candidato peemedebista à prefeitura paulistana. Como existe uma coisa (incômoda para os partidos e para os políticos) chamada fidelidade partidária, ou Temer, que é jurista de respeito, achou uma brecha para livrar o filósofo, escritor e professor Chalita desta camisa de força ou então espera que a mini (e olhe que mini!) reforma política em gestação em Brasília vai dar uma fórmula para abrir as porteiras partidárias. Como cegos em tiroteio A oposição não sabe como se defender dos ataques do PSD de Kassab. Ainda não descobriu como se opor ao governo Dilma. Não sabe se dá forças a Aécio Neves ou insiste mais uma vez com José Serra. A pouco mais de um mês de sua convenção, o PSDB não sabe como formar seu novo diretório nacional. O DEM desmilingue-se em plena praça pública. O PPS é o único que procura preservar sua unidade, punindo como pode os infiéis - já expulsou militantes em vários Estados. Mas tem pouca força, e quase nenhuma voz. Sem mudanças profundas Se entendermos por reformas estruturais mudanças amplas nos sistemas e modelos vigentes, podemos dar adeus definitivo à reforma política, à reforma tributária, à reforma previdenciária ou qualquer outra. Poderemos ter, no máximo, algumas alterações pontuais. Não é do interesse do governo mexer nesses vespeiros. Nem dos partidos. A política... Deve ficar restrita ao financiamento público de campanha, a uma liberalização da fidelidade partidária e a alguns penduricalhos, tipo data da posse nos executivos, de nenhuma importância. Até a proibição das coligações partidárias nas eleições proporcionais, dada em algum momento como certa, perdeu força e foi para o limbo : o PT não quer e os partidos pequenos também não. A tributária... O grande nó que o governo Federal e os empresários gostariam de desatar é a complicação do ICMS, o imposto mais confuso do país. Mas os governadores não aceitam as propostas postas na mesa e sem eles não se sai do lugar. A desoneração da folha de pagamento, a redução da contribuição previdenciária, prometida por Dilma durante a campanha e reiterada no início da gestão, esbarra nos cofres do Tesouro. Terá de ser compensada por outra receita, e aí é trocar seis por meia dúzia - o custo tributário para as empresas continuará o mesmo. Além do mais, com a arrecadação Federal crescendo como cresceu nos três primeiros meses do ano - 12% em termos reais - não é de bom tom tocar no que está dando certo. A previdenciária Esta morre nas resistências dos sindicalistas e dos servidores públicos. Ouro, commodities, vídeo tapes Quanto mais lemos e pesquisamos sobre as razões para a alta dos metais preciosos e das commodities, maiores são as chances de acreditarmos que existe uma "bolha" neste segmento. São muitas as alegações para a alta das cotações, a maioria justificada, mas o nível de preços atual projeta um cenário que teria que combinar hiperinflação (para justificar os preços dos metais) com atividade em alta (para justificar os preços das commodities). Sinceramente... ____________
terça-feira, 19 de abril de 2011

Política & Economia NA REAL n° 148

A inflação não vale a missa do crescimento A presidente Dilma tem repetido continuadamente, apenas com palavras diferentes, que não "tergiversará" com a inflação. Porém, há tantos limites para esta não "tergiversação" : 1. Os juros não podem subir com fervor 2. A economia não pode afundar abaixo dos 4,5%, 5% 3. Os cortes nos gastos públicos não devem atingir investimentos, PACs e programas sociais Se assim for a decisão da presidente, o governo terá de sacar com frequência medidas "macroprudenciais" cada vez mais criativas para segurar o assanhamento dos preços. Estamos de fato diante de uma nova (velha) economia. O economista Pérsio Arida, um dos idealizadores do Real, diz que pode dar certo. Mas e se não der... O curto circuito do BC O atual presidente do BC, Alexandre Tombini, não colabora para que se possa entender com um mínimo de segurança a estratégia do BC. Antes, se trabalhava com um ajuste na taxa de juros de 0,25%. Depois do que Tombini disse em Washington, passou-se a pensar em 0,5%. E alguém poderia até pensar que a taxa ficará no atual patamar. Autonomia relativa De fato, nem o BC nem o ministério da Fazenda contam com a autonomia que tinham com Lula para elaborar as linhas de política monetária e fiscal. Afinal, Dilma fez economia e estudou pós-graduação com Luciano Coutinho na Unicamp. Na Casa Civil, com contatos diários com a presidente, está Palocci, ex-Fazenda. Há um rol de opiniões em torno de Mantega. Gustavo Franco de novo ? Poucas pessoas têm dúvida : o governo está sustentando boa parte do combate à inflação na crença de que os preços das commodities vão cair e o Real valorizado ajuda a segurar os preços domésticos. A âncora é o câmbio. Igual a FHC em 1999. Nossa opinião No que se refere ao Copom de quarta-feira, o importante é saber qual será a mensagem do BC diante de uma inflação perigosamente alta. Subir 0,25% ou 0,5% será o indicador do esforço que o governo está disposto a incorrer. Daqui para frente, a queda do dólar será menos importante para segurar a inflação. O sistema de preços já contempla o dólar fraco como hipótese básica da formação de custos. Se subir, será um agravante relevante a se somar ao quadro inflacionário. A sensação de que o governo está meio perdido no que se refere à política econômica se espalha entre os agentes e os custos para o futuro estão se elevando. O guru Quem quiser entender um pouco mais a política econômica de Dilma, aplicada pela dupla Mantega-Tombini, não pode deixar de ler os artigos que o ex-ministro e ex-deputado Delfim Neto, há tempo oráculo do Planalto, publica semanalmente nos jornais "Valor Econômico", "Folha de S.Paulo" e 'Diário do Comércio" de São Paulo. Os argumentos parecem saídos da boca de Dilma, Mantega, Tombini. Ou vice-versa, o que soa mais provável. Cenário externo A Europa ainda está a sofrer com a crise de crédito dos países meridionais do Velho Continente. Portugal ingressou no clube dos países que perderam acesso ao mercado de capitais e a Espanha e Itália estão captando recursos externos cada vez mais caros. Um cenário sofrível, principalmente quando se vê a taxa de desemprego em níveis estratosféricos. Nos EUA, o cenário é de recuperação, mas de forma absolutamente condicionada pela debilidade do consumo e investimento, ambos carentes de emprego e crédito. Por tudo isso, as bolsas de valores não saem do lugar há dois meses e os bancos centrais persistem com políticas que oscilam entre preocupações com a inflação e expansão fiscal, de um lado, e fragilidade econômica e de crédito, de outro. O risco deve subir nas próximas semanas. Grécia vai reestruturar a dívida   Há uma imensa discussão sobre se a Grécia irá reestruturar a sua dívida externa. Como sempre uma discussão inútil. Basta um pouquinho de pesquisa para saber que o país, com mais de 20% de desemprego, especialmente entre os jovens, não tem a menor condição de manter o regime de pagamentos ao qual está sujeito. Além disso, a União Europeia parece ter virado as costas para o belo país mediterrâneo. A solução virá a partir da afirmação da antiga soberania helênica : realinhar os pagamentos externos ao interesse nacional. A irresponsabilidade do governo local foi imensa, mas ligeiramente menor que a dos investidores. Portugal, Irlanda, Espanha, Itália, etc. terão de tomar suas decisões. Radar Na Real  15/4/11 TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA alta alta - Pós-Fixados NA alta alta Câmbio ² - EURO 1,4422 alta alta - REAL 1,5935 estável/queda estável/queda Mercado Acionário - Ibovespa 66.684,17 baixa estável/alta - S&P 500 1.319,68 estável/alta alta - NASDAQ 2.764,65 estável/alta alta (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável Feriado glorioso É tudo que o governo precisava, embora este não tenha nenhum controle sobre o feriadão de Tiradentes e Páscoa desta semana. Brasília política está gelada e Dilma vai ter alguma folga para tentar ajustar contas que estão sendo cobradas. Mais especificamente, a liberação das emendas parlamentares, com a anulação do decreto pelo qual Lula cancelou os "restos a pagar" de 2007, 2008 e 2009, e mais velocidade na nomeação do segundo escalão. Como quem não quer nada, o PMDB já expediu o bilhete de sua insatisfação. Na votação das regras para o trem bala, pouco menos de 70% dos senadores do partido não ficaram com o governo : ou votaram contra, ou se abstiveram, ou se ausentaram. A mágoa está para transbordar. Copa em festa Há mais ou menos 20 dias o presidente da FIFA disse que o Brasil estava atrasado com as obras da Copa do Mundo. Só faltou ser considerado persona non grata no país pelo ministro dos Esportes, Orlando Silva, e por "autoridades esportivas". O ministro torceu o nariz também para uma declaração de Pelé, na mesma ocasião, no qual afirmou que o Brasil corre o risco de dar um vexame mundial. Semana passada, para surpresa geral, divulga-se "direto dos fornos" do IPEA, organismo ligado à presidência da República e duramente controlado por seu presidente, Marcio Pochmann, ex-secretário de Marta Suplicy em SP, um estudo dando conta de que mais de um terço dos aeroportos das cidades-sede da Copa não ficarão totalmente reformados para 2014 e alguns nem para 2016, nas Olimpíadas. Soou estranho. Nada estranho No dia seguinte à divulgação do documento do IPEA, o ministério da Fazenda divulgou a lei de Diretrizes Orçamentárias de 2012 com uma norma que limita o poder do TCU de suspender execução de obras sob suspeita de irregularidades. Ainda no mesmo dia, anunciou-se o envio ao Congresso de um projeto de lei tornando mais leves as exigências nas licitações para projetos da Copa e dos Jogos Olímpicos. Mera coincidência ? Para quem acredita em duendes, sim. Capitalismo à brasileira Depois de ver resolvido o "problema" Roger Agnelli na Vale, o governo prepara-se para "escolher" o novo presidente da Oi, outra "privatal" (empresa privada com controle estatal) escolhida pelo governo para cumprir os planos do Planalto em áreas estratégicas. A Oi vai ser levada a conduzir o Plano Nacional de Banda Larga de acordo com o programa oficial, uma vez que as outras teles estão resistindo a entrar no negócio como Dilma quer e a Telebrás não dá conta do recado - só dá emprego. Desmatamento Se o novo Código Florestal Brasileiro não sair a contento dos ambientalistas privados e de uma boa parte do PT e de assessores de Dilma, não se pode jogar a culpa no deputado Aldo Rebelo (PCdoB/SP), relator da proposta. O governo tem maioria suficiente no Congresso para atropelar quem se puser no seu caminho. Mas ele não quer - nem deve - se indispor com a galinha de ouro do agronegócio. Um bode para a oposição e o governo O ex-presidente FHC claramente se expressou mal no trecho do artigo publicado na revista "Interesse Nacional" quando exorta seus companheiros oposicionistas a procurarem conquistar o que se convencionou chamar de a "nova classe média" no Brasil (para alguns a classe média do Lula). Principalmente quando usou, fora de esquadro, a expressão "povão" numa concessão bestamente popular não condizente com o teor de todo o artigo. Por isso apanhou muito (como se diz em Minas, "apanhou para aprender") e deu vezes a muita ironia, a começar pelas de Lula, que como amante do futebol, não desprezou o passe limpo na marca do pênalti. A discussão de FHC Tiradas essas questões periféricas, no entanto, Fernando Henrique botou um bode muito, mas muito mesmo, mal-cheiroso na sala eleitoral, não só da oposição, como também do governo. O fato real é que quem não falar para esse público, com 51% da população nacional, corre o risco de perder os próximos passos eleitorais. Aliás, o PT sabe tanto disso que não pensa em outra coisa senão conquistar as classes médias da cidade e do Estado de São Paulo, para poder pegar o governo da capital e, principalmente, o governo Estadual (há mais de 16 anos com o PSDB). Com Lula foi igual Outra também não foi a estratégia petista, traçada por José Dirceu, de "amansamento" do discurso e da imagem petista e de Lula no início dos anos 2000, estratégia responsável pela eleição de Lula em 2002, depois de três tentativas presidenciais frustradas. Se tivesse ficado apenas com o "povão" e alguns setores mais intelectualizados da classe média de então, Lula não teria sido emplacado no Planalto, mesmo com todo o desgaste de FHC no seu segundo mandato. O verdadeiro desafio O desafio para todos é que essa classe média, agora engordada pela classe média do Lula, tem aspirações concretas e é um tanto quanto mais exigente do que o "povão" do programa Bolsa Família e de outras bolsas. Ele é mais sensível aos suspiros da inflação, pois não tem as proteções das classes mais baixas, já não suporta o SUS, teme pela má educação, sente a baixa qualidade de vida, sabe que os impostos corroem sua renda para lhe dar o retorno devido. Ou seja, exigem outros discursos e outras políticas que não o velho apelo do "tudo pelo social". Dilma e o povão Dilma, por exemplo, vem aí com um programa de erradicação da miséria, já aumentou o Bolsa Família, fez uma política generosa para o salário mínimo. E para esta nova classe ? Até agora, mais imposto, pois o IOF no crédito atinge apenas esses novos consumidores. Sem contar que a inflação está batendo na porta. E a oposição, o que tem a dizer ? FHC, querendo ou não, tirou a paz do mundo político, acomodado na dicotomia PT-PSDB, povão versus elite. ____________
terça-feira, 12 de abril de 2011

Política & Economia NA REAL n° 147

Câmbio, juros, inflação... Podem anotar. O Brasil caminha para uma composição cruel de fatores de risco. A taxa de juros no patamar atual é incompatível com o crescimento sustentável no longo prazo. Para reduzi-la, queiram os políticos e agentes, ou não queiram, será necessário criar um ambiente fiscal sustentável e competitivo (no que tange à taxação). Do lado do câmbio, a variável mais sensível de uma política econômica, a inviabilidade é clara : não há produtividade industrial no Brasil que seja suficiente para combater a concorrência externa. O Brasil vai virar o quintal da China em muitos setores. Do lado da inflação a discussão já ultrapassou os limites do razoável : não é possível ter uma moeda crível com um BC que aceita (implícita ou explicitamente) uma meta de inflação fora de prumo. Crescimento em queda Os "indicadores antecedentes", título pomposo para os indicadores econômicos mais recentes projetados para o futuro, já indicam que os agentes econômicos, seja do lado do consumo, seja do lado do investimento, estão tirando o pé do acelerador. Quem tem orçamento (privado) a cumprir pode cravar o crescimento deste ano em 3%, que as chances de acertar são gigantescas. Ou seja, Dilma pode inaugurar seu primeiro ano com uma composição perigosa : inflação para cima, real para cima, juros oscilantes e crescimento (emprego) em baixa. Muito diferente do blábláblá eleitoral do ano passado. Torcida estranha Ouviu-se na semana passada da boca de um dos formuladores da política econômica do governo a seguinte frase, cheia de cinismo : "- ainda bem que o câmbio cai para ajudar na inflação". A coisa parece pior que aparenta, não é mesmo ? Guido, atenção ! Não há propriamente uma conspiração a perturbar a calma do ministro Mantega. A coisa é mesmo às claras. Os agentes econômicos, aqueles que têm poder, falam abertamente sobre conversas com gente do próprio governo que anunciam a decadência de Mantega na geografia do poder brasiliense. Por enquanto, Lula segura a barra, mas tudo na vida tem limite. Recordar é viver : Carta aos Brasileiros. Lula em 2002 "Como todos os brasileiros, quero a verdade completa. Acredito que o atual governo colocou o país novamente em um impasse. Lembrem-se todos : em 1998, o governo, para não admitir o fracasso do seu populismo cambial, escondeu uma informação decisiva. A de que o real estava artificialmente valorizado e de que o país estava sujeito a um ataque especulativo de proporções inéditas. Estamos de novo atravessando um cenário semelhante. Substituímos o populismo cambial pela vulnerabilidade da âncora fiscal. O caminho para superar a fragilidade das finanças públicas é aumentar e melhorar a qualidade das exportações e promover uma substituição competitiva de importações no curto prazo." Quem manda ? O presidente da Petrobras, José Sergio Gabrielli, é um dirigente afeito a ter vida própria no que tange ao governo. Sempre teve liberdade e ocasião de manifestar suas opiniões sobre a maior estatal brasileira e ao segmento de petróleo como um todo. Aqui e lá fora sempre foi enfático, algumas vezes resvalando para certo autoritarismo quando posto à prova. Suas declarações na semana passada sobre futuros aumentos dos combustíveis nada seriam de exageradas não fosse a Petrobras um quase-monopólio com larga influência na política econômica do país. Foi desautorizado por Mantega e por Dilma. Resta saber, como o governo vai coordenar as divulgações sobre temas econômicos tão sensíveis. Risco-país O risco do Brasil, embutido nos spreads dos títulos externos do país negociados no mercado internacional, está gravitando ao redor dos 180 pontos, ou 1,80% acima das cotações dos títulos do Tesouro do Tio Sam. Diante da somatória de riscos, este patamar parece o melhor que poderíamos atingir no curto prazo. É verdade que não há nada de assustador que possa acontecer no curto prazo. Todavia, devemos reconhecer que o Brasil já esteve mais atraente. Há pouco tempo, diga-se. Radar NA Real 8/4/11 TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA alta alta - Pós-Fixados NA alta alta Câmbio ² - EURO 1,4450 alta alta - REAL 1,5801 estável/queda estável/queda Mercado Acionário - Ibovespa 68.718,00 baixa estável/alta - S&P 500 1.328,17 estável/alta alta - NASDAQ 2.780,42 estável/alta alta (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicávell Alckmin e o sindicalismo Faz todo o sentido a oposição buscar ampliar seu espaço político abarcando segmentos sociais que não fazem parte de sua base tradicional. Todavia, é preciso analisar certas implicações ideológicas e pragmáticas para delimitar o campo de atuação. Note-se, por exemplo, a tentativa do governador Alckmin de pactuar com sindicalistas e patrões. Dois aspectos saltam aos olhos : o primeiro diz respeito à questão da representatividade. Será que as organizações sociais (sindicais e patronais) de fato representam tais segmentos ? O segundo diz respeito à organicidade dos pactos : buscar acordos "pragmáticos" pode fazer sentido no curto prazo, mas podem significar incompatibilidades grandiosas quando observadas à luz de "programas de governo". Talvez seja o caso de travar batalhas ideológicas em torno de grandes temas e não pequenos projetos. O discurso de Aécio É saudável não apenas para a oposição, mas também para o governo que os partidos apresentem suas propostas para serem democraticamente debatidas. Sobretudo, quando se vê um empobrecimento do debate político no Brasil. Neste estrito sentido, o discurso do senador Aécio Neves deve ser saudado como oportuno. Todavia, quando analisado no que tange às propostas que realmente fazem a diferença, há um longo caminho a ser preenchido pelo mineiro, em particular, e pela oposição, em geral. É preciso encontrar um campo ideológico que distinga os tucanos e democratas do atual governo. Afinal, o espectro social-democrata foi preenchido, quem diria, pelo PT. Corte incômodo O corte do depoimento do sobrinho de Tancredo Neves, Francisco Dornelles, no documentário de Silvio Tendler sobre o político mineiro merece ser melhor esclarecido. Tal depoimento revelaria uma doação de Paulo Maluf à campanha de Tancredo nas eleições para governadores em 1982. Aécio teria pressionado para que o corte desta informação fosse feito. Se for verdade, eis uma péssima contribuição para a história política. Obama e seu factoide Ninguém pode duvidar da capacidade de comunicação do atual presidente norte-americano. Aliás, algo que foi exaustivamente demonstrado nas aparições dele aqui no Brasil. Todavia, temos de reconhecer que Obama é a representação precisa do "vazio" político do mundo moderno. Sua condução das principais reformas nos EUA é sofrível e seu combate aos "falcões" de Wall Street um fiasco. Sua aparição como "candidato" à presidência dos EUA tem algo de pomposo e melancólico. Ele, frente a uma confusa e débil oposição, parece um grande líder. Não passa de um imperador com muitos problemas. Se vacilar os bárbaros atacam o Império e aí.... Marina sumiu ? Afora as informações dando conta das dificuldades partidárias de Marina Silva no PV nada mais sabemos sobre a ex-senadora petista e candidata à presidência da República. Seria ela daquelas candidatas que vêm pra não ficar ? Vergonha nacional Verificar que as obras do PAC estão sendo tocadas à margem de políticas sociais que minimizem os impactos sobre os trabalhadores é coisa do século XIX. A situação é crítica e as denúncias estão apenas começando. Muito mais será divulgado. Vale A conferir. As mudanças na diretoria da Vale serão mais profundas. A recente adesão dos diretores ao desejo de "ficar" de Roger Agnelli não vai passar em branco. Muito menos as alterações nas políticas, digamos, "públicas", da empresa. A posição do Zé Dirceu Vejam o que disse o ex-todo-poderoso José Dirceu em seu blog e que está diretamente ligado ao que dissemos na nota acima (os grifos são nossos) : "Discordo, e muito, porém, das análises que fazem sobre as mudanças na presidência da Vale, e da Caixa Econômica Federal. Precisavam ser feitas, e expressam exatamente duas questões destacadas nas avaliações dos jornais, uma reforma da gestão pública, tão necessária em nosso país, e a redefinição do papel do Estado e do governo na governança e na gestão de empresas onde é sócio controlador ou principal acionista." Posição estratégica Não perguntem muito sobre as posições brasileiras em relação aos países árabes e ao Oriente Médio. A política externa no país passa por uma revisão na qual sobram análises e faltam conclusões (o que é natural face às extraordinárias mudanças por que passam os países da região). O debate é quente. Ainda mais porque há muitos diplomatas policy makers ligados ao ex-chanceler Celso Amorim que resistem às mudanças muito bruscas. Dilma ainda não se interessou muito pelo tema, mas chegará o tempo em que as respostas terão de ser dadas. Muito além dos (corretos) posicionamentos dos país em relação aos direitos humanos. Prefeitura paulistana e algo mais A julgar pelo ânimo de Gabriel Chalita, sua candidatura à prefeitura de SP é irreversível. Há duas vontades que movem o deputado paulista : (i) derrotar Kassab, que andou namorando com o PSB de Chalita e (ii) derrotar José Serra, seja este candidato ou não. Os sonhos de Chalita vão muito além da grande metrópole brasileira. Realengo e o Congresso Se alguém acha que a tendência do Congresso vai mudar em relação às armas, pode tirar o cavalinho da chuva. Por lá prevalece a idéia da "vingança privada", daquelas que podemos ver nos velhos westerns de Hollywood. Infelizmente, a credibilidade na Justiça estatal é baixa no Brasil. As pessoas desejam exercer sua indignação por meio de um fumegante cano de arma. Infelizmente. É preciso parar de cinismo e convencer a opinião pública de que as armas não valem o risco e não fazem a pretendida vingança. Quem tomará a frente ? Difícil imaginar. ____________
terça-feira, 5 de abril de 2011

Política & Economia NA REAL n° 146

Estaria o BC certo ? (I) Muito se comenta sobre a possibilidade de um aumento da inflação sem que haja, do lado do governo, reação efetiva para conter este processo. Um governo nunca deve ceder aos interesses do tal do "mercado" quando estes não atendem aos interesses públicos. Veja-se, a título de ilustração, a negligência generalizada dos BCs ao redor do mundo relativamente à especulação com títulos oriundos do setor imobiliário durante mais de 15 anos até a eclosão da crise de 2008. Com boa fé, alguém poderia perguntar, no caso atual do Brasil, se o BC não estaria certo em não aumentar os juros apenas para atender ao tal do mercado ? Afinal, os juros básicos no Brasil são muito elevados. Para que mais ? Estaria o BC certo ? (II) Para responder a nota acima, é preciso analisar todo o contexto, o qual pode ser resumido em algumas perguntas capitais : (i) temos um regime fiscal sustentável a longo prazo ?; (ii) as medidas "macroprudenciais" em relação ao crédito (contenção) e ao ingresso de capitais externos (taxação e controles) estão funcionando para conter o avanço dos preços ? ; (iii) há de fato uma inflação de demanda que facilita o "espalhamento" dos preços pela economia como um todo ? ; (iv) o BC é considerado confiável pelos agentes ? Nas questões anteriores, não há nenhuma premissa de hierarquia. Vamos às nossas sucintas respostas : (i) não há um regime fiscal sustentável no Brasil a longo prazo por duas razões básicas : a primeira é que a expansão das despesas do setor público tem sido elevada e rápida e o ritmo dos investimentos (poupança) é capenga ; (ii) ainda é cedo para se afirmar se a contenção do crédito vai ser suficiente para afetar a demanda, mas a queda do dólar evidencia que, apesar das medidas implementadas para conter a entrada de moeda estrangeira, somente mais medidas de controle de capitais evitará a expansão do crédito doméstico ; (iii) a demanda persiste forte o que facilita a expansão da inflação por toda a economia. Se o real cair (dólar para cima), este processo será ainda mais acentuado ; (iv) não se trata de afirmar "que falta credibilidade ao BC". A questão vai além : foi o próprio governo que estimulou os agentes a pensarem que a política monetária passou a ser decidida na Fazenda e não mais no BC. A imagem de Alexandre Tombini foi "construída" como sendo mais "palatável" à área econômica do governo. Logo, o mercado resolve "testar" a independência operacional do BC. Concluindo (III) Se o governo quiser recuperar credibilidade, terá de ser mais enérgico : seja para aumentar os juros básicos e não deixar dúvidas de que não permitirá o aumento da inflação e/ou terá de apertar bem mais o crédito, inclusive com medidas de controle da entrada de dólares. Há quem já tenha perdido os cabelos ao analisar esta questão... Apenas para lembrar... A aplicação da austeridade fiscal continua em xeque : nos três primeiros meses do ano, os gastos do governo Federal com custeio e juros foi R$ 13 bi maiores do que o mesmo período do ano passado enquanto os investimentos foram menores em R$ 300 mi, segundo o portal Contas Abertas ; as pressões políticas, do Congresso, dos prefeitos e até dos governadores para afrouxar a "conciliação" está num nível tal que já levou até a própria presidente Dilma a prometer rever a anulação dos restos a pagar de 2007, 2008 e 2009. O consolo é que a arrecadação de impostos está em alta. Radar NA REAL 1/4/11   TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA alta alta - Pós-Fixados NA alta alta Câmbio ² - EURO 1,4222 alta alta - REAL 1,6100 estável/queda estável/queda Mercado Acionário - Ibovespa 69.268,29 baixa estável/alta - S&P 500 1.332,41 estável/alta alta - NASDAQ 2.789,60 estável/alta alta (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicávell Uma reforma sem consenso O Congresso continua prometendo que agora fará a sempre encantada reforma tributária, embora até agora não tenha dado nenhum passo em direção nenhuma. Dilma Rousseff, bem consciente das dificuldades de mexer em tal ninho de abelhas, fala em reforma fatiada - ou pontual. Coisas como redução da contribuição social das empresas, providência para acabar com a guerra fiscal entre os Estados nos portos... A Fiesp acaba de apresentar um sugestão de correções na cobrança do ICMS que pode facilitar muito a vida das empresas. É um conjunto de ideias positivas. Mas segundo lembra o professor da EAESP da FGV em São Paulo e advogado especialista em tributos, Fernando Zilveti, antes será necessário aparar arestas políticas e os interesses legítimos que tarefa de tal magnitude envolvem. Um exemplo das dificuldades está na recente decisão de 18 Estados do Norte, Nordeste e Centro-Oeste de passarem a dividir a cobrança do ICMS nas compras feitas pela internet. A cobrança atualmente é feita toda ela pelos governos estaduais onde se localizam as empresas vendedoras. Estados como São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerias não assinaram o convênio. E podem recorrer à Justiça. No ritmo de Maria Fumaça A licitação do trem bala descarrilou mais uma vez. Como está não está "atraente" para os interessados, mesmo com as concessões via BNDES, entrada de estatais e dos onipresentes fundos de pensão. O governo parou para pensar em novas atrações para os possíveis concorrentes, novas concessões. Devia se mirar no caso Bertin. O grupo foi "incentivado" a entrar no setor hidrelétrico. Não teve até agora de Brasília socorro para substituir o "socorrido". Mensalão : a fantasia e o real A divulgação pela revista "Época" do inquérito da PF sobre o mensalão Federal (ou do PT), confirmando a existência do grande negócio político-eleitoral do primeiro mandato do presidente Lula, derruba algumas fantasias em circulação - a de que o tal não existiu, a de que foram apenas recursos "não contabilizados" de campanha - e a tentativa de reabilitação de alguns dos réus do processo. A defesa dos acusados ficou mais difícil e mais e mais valerão as manobras protelatórias. Em um caso elas podem ser bem sucedidas : em agosto, a acusação de formação de quadrilha prescreve, se o STF não apressar o julgamento das ações. Será um duro golpe para a imagem do Supremo se de fato ocorrer a prescrição. Pode-se até entender que os mensaleiros fiquem livre das acusações, porque os ministros os consideraram inocentes, etc. Mas se eles ficarem livres porque a Justiça foi lenta é inimaginável, inadmissível. Em tempo : a atuação no processo do mensalão será o grande teste de "qualidade" dos dois mais recentes ministros da Corte Suprema : José Antonio Tofolli e Luiz Fux. Relações estremecidas Não convidem para a mesma mesa de conciliação alguns setores do Judiciário e o Legislativo. Há queixas quase insanáveis. O Judiciário considera insuportável a demora do Congresso de definir os aumentos salariais do setor. Os juízes Federais prometem até uma greve no fim do mês. Deputados e senadores consideram insuportável a "interferência" da Justiça, principalmente a eleitoral, em assuntos que eles consideram de sua exclusiva competência. Há até movimentos, muito bem apadrinhados, para conter a ação do Judiciário. A questão da fidelidade partidária ainda não foi ruminada totalmente. Relações delicadas É maior do que se admite a insatisfação do PMDB com o tratamento recebido pelo partido da presidente Dilma. Diz-se : é tudo para o PT. O vice-presidente Michel Temer recebe atenção, pompa e circunstância, mas sua influência, a não ser em questões jurídicas, é relativa. As "adoradas" e esperadas nomeações só saem a fórceps. Vê-se em manobras como o nascimento do PSD uma tentativa de enfraquecer o partido de Sarney e cia. na aliança governista. Até a turma peemedebista do Senado, sempre mais atendida, está infeliz. Contabiliza-se até a falta de atenção aos ministros da legenda. Segundo levantamento de "O Globo", dos seis ministros que ainda não foram recebidos uma única vez pela presidente, quatro são do PMDB. Entre eles o ministro de uma pasta estratégica - Wagner Rossi, da Agricultura. Relações delicadíssimas Os tucanos armaram seu primeiro divã sábado em Minas Gerais para buscar seus novos rumos, numa reunião que contou com seus oito vistosos governadores. E decidiu não decidir nada : estuda a formação de um conselho superior, provavelmente a ser comandado pelo ex-presidente FHC, para encontrar um rumo para a legenda. No vai da valsa que o PSDB costuma dançar é de se perguntar se terão algum sentido até as eleições de 2012 - ou até de 2014. Enquanto a "comunidade" não se decide, as figuras mais emplumadas vão se definindo. Aécio Neves surpreendeu com um contundente discurso de crítica do governo Dilma, depois de ter passado toda a campanha eleitoral e os primeiros 100 dias da presidente bem ao seu estilo "mineiro". E José Serra, como não quer nada, vai criando possíveis rotas de fuga. O PSD de seu fiel parceiro Gilberto Kassab vai nascendo para a irritação tucana, menos a dele. Seu vice na disputa com Dilma já foi para a nova legenda. Até Dilma, segundo indiscretas revelações de uma conversa reservada dela com o presidente de Portugal Cavaco Silva, sente falta de uma oposição, para deixá-la menos vulnerável ao apetite de insaciáveis parceiros. Só a oposição, parece, não sentir falta de uma oposição no país. ____________
terça-feira, 29 de março de 2011

Política & Economia NA REAL n° 145

Portugal, mais um pedindo água A irresponsabilidade na concessão de crédito durante os últimos dez anos foi gigantesca e generalizada. Quase todas as economias desenvolvidas caíram na cilada do crédito que ceifou pelo menos 35 milhões de empregos ao redor do globo. Pois bem : a evidência de que Portugal poderia entrar em colapso de crédito agita os mercados e a moeda europeia. O país terá de ser socorrido. A Espanha possivelmente também. A Itália, quem sabe ? Assim como a América Latina dos anos 80, as peças caem uma a uma. O pior é que as perspectivas de médio prazo para o Velho Continente persistem temerosas : a demografia, a imigração, a falta de produtividade e o desinteresse político dão evidências de que o que se imaginava ser o ápice da civilização está meio esclerosado. Apostar no euro e nas empresas europeias é uma aposta e tanto : cheia de riscos e retorno muito incerto. Brasil e os riscos externos O governo tem analisado os riscos das empresas europeias instaladas no país ? Afinal, importantes setores são liderados por empresas europeias. Isto é considerado nas análises "macroprudenciais" do governo ? Japão : aposta na alta A crise japonesa estimula as mentes analíticas do mundo financeiro : acredita-se que o terremoto e o tsunami vão estimular a demanda do país e contribuir para a alta da moeda e das bolsas. Em tempos de bolsas "andando de lado" e "moedas" com oscilações erráticas, nada como especular sobre temas da natureza. A conferir. Limite da austeridade Continua carente de explicações convincentes a política de austeridade anunciada há mais de um mês pela dupla Mantega/Miriam Belchior. As contas às vezes não batem - pela métrica oficial faltam detalhes essenciais. Na semana passada, sobre pressão dos parlamentares do governo, Dilma avisou que não cancelará R$ 18 bi de "restos a pagar" de 2007, 2008 e 2009 até 30 de abril, conforme decreto do ex-presidente Lula. Por coincidência, quando se anunciou a "conciliação" fiscal avisou-se que R$ 18 bi das emendas parlamentares foram cortadas do Orçamento de 2011. Não parece a mesma coisa. Ou será ? Certo mesmo é que os aumentos de impostos estão chegando... Queda de braço Por mais que se mostre o contrário, o BC e o dito mercado financeiro estão naquela situação popular em que "vaca não reconhece bezerro". Alexandre Tombini está agindo para acalmar os recalcitrantes. Mas não é uma questão de confiança na instituição monetária. Casos como o da Vale multiplicam as pulgas atrás das orelhas. Falta comunicação É claro que existe um problema econômico concreto na economia brasileira relacionado com a frouxidão fiscal, a inflação e o câmbio que destrói empregos. Todavia, a comunicação do governo se soma a tudo isso e complica ainda mais. O desencontro de dados e opiniões dentro da área econômica do governo é fator grave que deteriora expectativas. Há evidente falta de liderança na área econômica. Tombini, neste particular, parece ser mais um fator de inquietação. Parece constrangido ao ofertar opiniões. Em margarina Toda vez que Dilma faz um gesto para mostrar que o ministro da Fazenda, Guido Mantega, está "prestigiado", como os técnicos de futebol, mais cresce a convicção fora do governo (e nas intrigas "intramuros") de que está se acentuando o processo de fritura do homem dos cofres Federais. Ele estaria sendo torrado em margarina da região mais rica do interior de São Paulo (a "Califórnia Brasileira"), a seco, sem ao menos o direito a um molho de tomates com ervilhas. Dilma : boa comunicação O pessoal de dentro do governo reclama da forma de comunicação da presidente Dilma. Todavia, para fora do governo a presidente tem conseguido passar credibilidade e sobriedade. Especialmente, quando coleta e dá afagos na "inteligência" brasileira. Foi o caso da reunião com as artistas na última sexta-feira. Marcou um gol de placa. Feminista, no caso. O Sílvio Santos foi aí Operou-se com o máximo de discrição para que a demissão - o "a pedido" do anúncio oficial é uma licença poética - da presidente da CEF, Maria Fernanda Coelho, não trouxesse lembrança do mau negócio para a instituição que foi comprar quase metade do Banco PanAmericano do dono do Baú da Felicidade. Esta história não foi terminada ainda e não está nada bem contada. O balanço da CEF a ser divulgado nos próximos dias deve mostrar o quanto a aventura custou até agora. Há outro detalhe para se explicar, que o emprego que se arrumou para Maria Fernanda no exterior não deve anuviar : num negócio de tal natureza, ela não agiu sozinha. Se agiu deveria ter sido posta no olho da rua, sem direito a compensações, no mesmo dia em que se revelou a cratera do PanAmericano. PT, a salvação Consolidada a entrada da Portugal Telecom (PT, para os íntimos) na BrOi (oficialmente Oi) pode estar indo para o arquivo das histórias mal contadas um outro episódio muito similar ao do PanAmericano-Maria Fernando, estrelado pelos personagens BNDES-Oi-Brasil Telecom. Alguma semelhança não é tão mera coincidência. É da política que pode ser chamada de "de capitalismo de Estado brasileiro à moda chinesa" e que tratou muito também alguns frigoríficos. Radar NA REAL 25/3/11 TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA alta alta - Pós-Fixados NA alta alta Câmbio ² - EURO 1,4093 estável alta - REAL 1,6593 estável/alta estável/queda Mercado Acionário - Ibovespa 67.795,90 estável/baixa estável/alta - S&P 500 1.313,80 estável/alta alta - NASDAQ 2.746,06 estável/alta alta (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável As consequências aparecem depois A questão no caso Vale não é saber se Roger Agnelli fica ou não, embora nenhuma empresa séria se desfaça de um executivo com os resultados que ele apresentou. Não é também saber se o substituto do presidente da companhia será mais técnico ou menos técnico. Um técnico com menos peso pode até sofrer mais influência política do que qualquer um que não seja "técnico". O fato real é que desde a sexta-feira em que o ministro da Fazenda, Guido Mantega, foi informar ao Bradesco que o governo não queria mais Agnelli na direção da mais bem sucedida multinacional brasileira, a Vale está sob intervenção Federal branca. Ela deixou de ser uma simples empresa privada, é agora uma paraestatal ou, uma "privatal", rótulo que cabe a uma série de "privadas" nas quais o BNDES e os fundos de pensão têm grande influência e dão as cartas. O que saber ? A primeira coisa a se saber é o que o governo pretende com esta intervenção, uma vez que a gestão de Agnelli, do ponto de vista empresarial, era irretocável. O valor de mercado da Vale multiplicou-se por mais de seis vezes no seu mandato. Há outras questões : quais as outras empresas a sofrerem a mesma intervenção ? Como reagirão os investidores ? Como reagirão as empresas que estão pensando em participar em negócios de concessão em serviços públicos ? Na área oficial os dirigentes às vezes se esquecem de uma lição "óbvio ululante" do conselheiro Acácio, impagável personagem de Eça de Queiroz, em "O Primo Basílio" : "O problema é que as consequências vêm sempre depois". Um governo de técnicos Especialista disputado por várias instituições financeiras no Brasil e no exterior, o peemedebista baiano Geddel Vieira Lima, apesar de todo o assédio, rendeu-se ao sacrifício de homem público e vai aceitar ocupar uma das vice-presidências da CEF. O PMDB, sempre com quadros da mais elevada categoria técnica, está pondo à disposição do governo também os especialistas ex-governadores Iris Rezende (Goiás), José Maranhão (Paraíba) e Orlando Pessutti (Paraná). Decisão sobre o Irã Foi aplaudido o voto brasileiro na ONU na semana passada apoiando a inspeção nuclear no Irã. Mas ferveu internamente nos blocos mais à esquerda do governo e do partido oficial. Oposição ainda sem caminhos Gilberto Kassab não conseguiu ainda esvaziar a oposição como pretendia. Talvez até não consiga, pois há muitas dúvidas legais e políticas sobre a viabilidade do PSD para chegar competitivo em 2012. Mas plantou uma semente da desagregação no mundo do oposicionismo, cada vez uma nau sem rumo, sem discurso e sem projetos. Só com um projeto de poder - ou vários projetos individuais de poder - sem consequências maiores para o país. Kafka no Supremo Até que a chamada lei da Ficha Limpa se consolide e seja aplicada em 2012, muita ponte ainda terá de passar sobre os rios que correm para o STF. Pelo menos dois pontos ainda serão muito polemizados : o da retroatividade das punições e da punição antes da sentença definitiva. De todo modo, uma situação kafkiana já está no ar. Vamos ao raciocínio em tese, mas muito provável de vir a ocorrer. A lei passa a valer a partir de 2012, com o que já está. Vemos também que Jader Barbalho, agora senador com a anulação da validade da Ficha Limpa para 2010. Fica senador até 2018. Em 2014 ele pode se candidatar ao governo do Pará, o que está entre seus planos. Ele foi barrado em 2010 porque renunciou ao mandato para não ser cassado. Com a lei valendo, ele ficará inelegível em 2014. Mas continuará no Senado. Ou seja : não serve para ser governador de Estado, mas serve para ser senador da República. Como explicar ? Mal explicado Obama veio ao Brasil comprar etanol de cana ou vender álcool de milho ? ____________
terça-feira, 22 de março de 2011

Política & Economia NA REAL n° 144

Economia : está difícil convencer Em entrevista exclusiva à repórter Claudia Safatle, do jornal "Valor Econômico" de quinta-feira, tema depois repetido no mesmo dia em MG, Dilma Rousseff fez questão de enfatizar, mais de uma vez, que não tergiversará com a inflação. O objetivo era quebrar a desconfiança entre os "formadores de preços na economia", de que a política antiinflacionária com um crescimento razoável é exequível. Quem não é da economia oficial duvida que seja possível segurar o aumento geral de preços perto dos 4,5% do centro da meta este ano e ao mesmo tempo fazer o PIB subir próximo de 5%. Os dois objetivos seriam incompatíveis, no momento, segundo os analistas. A maioria diz que ou se derruba a economia, ou a inflação vai ficar inquietantemente alta. E pelo que desenha a pesquisa Focus do BC, divulgada ontem, Dilma não foi bem sucedida inicialmente em seu propósito. Os analistas financeiros reduziram a projeção de crescimento do PIB em 2011, de 4,10% para 4,03%, e elevaram a projeção da inflação (IPCA) de 5,82% para 5,88%. O pior dos mundos possíveis : preços mais altos e crescimento menor. E é na economia que Dilma joga as fichas de seu governo, bem avaliado pelos brasileiros até agora. Terá de matar alguns tigres para inverter os sentimentos econômicos da maioria. Não será fácil ganhar simpatias somente na conversa. Purgatório Além das nuvens econômicas de pouco peso ainda, o céu de brigadeiro da presidente começa a ser levemente tisnado no Congresso. É maior do que transparece a insatisfação dos parlamentares com o corte de R$ 18 bi de emendas. O próprio ministro das Relações Institucionais, Luis Sérgio, em entrevista ao "Valor Econômico", está alertando para um problema que ele classifica de muito sério - Sérgio é a favor do pagamento das emendas. E tem mais : o projeto do presidente do Congresso, José Sarney, mudando as regras das MPs, proposta que não agrada nem ao governo nem à Câmara. Céu No momento, para enfrentar essas turbulências, Dilma tem um trunfo de valor : a aceitação de seu governo nos seus primeiros três meses. Segundo o Datafolha, igual à de Lula e melhor do que as de Collor, Itamar e FHC no mesmo período. Poucos parlamentares e partidos abrirão divergências públicas com o governo nessas circunstâncias. Dilma terá paz até para continuar tratando as nomeações do segundo escalão à conta-gotas. Pergunta incômoda Em breve teremos mais medidas governamentais de restrições à oferta de crédito com o objetivo de reduzir a demanda e conter a inflação. Há uma pergunta que merece reflexão e sobre a qual não se sabe a resposta : há uma "bolha" se formando no mercado imobiliário brasileiro ? Depois de tanta valorização dos imóveis e da corrida dos bancos para financiar projetos, melhor investigação o assunto merece. Sobretudo quando vemos o exemplo dos EUA, onde o setor imobiliário passou anos como a vedete do impulso econômico e depois foi o carrasco da quebra do sistema financeiro. O BC em suas pesquisas econômicas analisa o setor ? O que pensa a respeito ? Japão : possível impacto Economistas do mundo inteiro parecem ter chegado ao consenso de que o impacto direto dos desastres ambientais do Japão gravitam entre 0,2% e 0,3% do PIB. Se se considerar o impacto indireto resultante da deterioração das expectativas, o PIB poderia cair até 1%. Esta última expectativa, contudo, é uma espécie de "bola de cristal científica". De toda a forma, o Japão deixa de ser relevante para a recuperação mundial este ano, do ponto de vista positivo. Contará do lado negativo. O maior perdedor deste processo são os EUA no campo internacional. Petróleo, Líbia e mercados Está se consolidando no mercado internacional a idéia de que os preços do barril do petróleo vão ficar ao redor de US$ 100. Atrás desta cotação virá uma tsunami de reavaliações de expectativas acerca da recuperação da maior economia mundial, os EUA, bem como as principais economias. Isto vai coincidir com a temporada de publicações dos resultados corporativos nos principais mercados mundiais. A volatilidade é para cima. Quase sem nenhuma dúvida. Panamericano O tempo passa e as informações sobre a operação de aquisição do Banco Panamericano pelo BTG permanecem obscuras. Ninguém parece lembrar mais do assunto. Terá sido esta a estratégia dos envolvidos na operação ? Até mesmo vale a pena perguntar : quem são os envolvidos ? Radar NA REAL 18/3/11 TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA alta alta - Pós-Fixados NA alta alta Câmbio ² - EURO 1,4214 alta alta - REAL 1,6637 estável/queda estável/queda Mercado Acionário - Ibovespa 66.879,93 baixa estável/alta - S&P 500 1.279,20 estável/alta alta - NASDAQ 2.643,67 estável/alta alta (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável Brasil - EUA : o real e o simbólico Do ponto de vista político e diplomático, a visita do presidente Barack Obama ao Brasil foi um sucesso para os dois países e para os dois presidentes. Obama deu seus recados ao mundo, foi simpático, conquistou. Dilma e a sua diplomacia passaram no primeiro teste de valor, com louvor, mesmo não se tendo arrancado do presidente dos EUA uma declaração enfática a respeito da vaga permanente para o Brasil no Conselho de Segurança na ONU. O "apreço" foi pouco. Mas o Brasil pode comemorar o reconhecimento de sua importância política e econômica no mundo. Do ponto de vista comercial, para o Brasil, se resultados houver serão "apreciados" apenas no longo prazo. Além de protocolares referências à cooperação, nada de concreto nas relações comerciais, na abertura maior do mercado americano para os brasileiros. Mesmo com a cobrança efetiva de Dilma, no discurso no Palácio do Planalto e, depois, na conversa reservada entre os dois, segundo relato de autoridades brasileiras. Pelo contrário Muito diretamente, o secretário de Comércio de Obama, Gary Locke, em entrevista exclusiva ao jornal "O Estado de S. Paulo", em resposta às queixas brasileiras, disse que "há poucas barreiras para exportar para os EUA" e aconselhou o Brasil a "focar no comércio com o mundo, e não país a país". Sob esse aspecto a viagem foi útil também para Obama. Ele apareceu para seu público interno, em entrevista antes da viagem e no encontro com empresários como defensor das empresas norte-americanas e seus negócios no Exterior e dos 250 mil empregos que as exportações para o Brasil geram por lá. Obama veio ser simpático e vender. E cumpriu seu papel. Neste campo, o Brasil vai ter de ir à luta, não deve esperar "apreço" pelas pretensões de tornar o comércio entre os dois países mais igual. Em tempo : a viagem de Obama foi recebida sem nenhum entusiasmo pela imprensa americana. Dilma e Patriota mostram novo estilo Antonio Patriota conseguiu grandes vitórias na visita de Obama, mesmo que sob o silêncio diplomático. O velho estilo pragmático e estratégico do Itamaraty está de volta. Muito em razão do novo chanceler, mas também devido à discrição e sobriedade de Dilma, algo distante do estilo "star" de Lula. Lula ausente Lula não faltou somente ao almoço com Obama. Faltou também com a gentileza necessária à diplomacia. A estocada de Obama veio com elegância : citou o antigo presidente sem dizer seu nome no discurso do Teatro Municipal do RJ. Lula parece não dividir palco com ninguém. Quer ser astro solitário. Lula e política doméstica O primeiro papel que Lula se atribui na política foi preparar o PT para as eleições municipais. A intenção é levar o partido ao país inteiro, lançar o máximo possível de candidatos. Sem, contudo, desprezar as alianças com os aliados, tida como bem sucedida por ele, nas eleições de outubro passado. Nem todo o PT concorda com isso - que o diga o de MG - mas a influência de Lula e seu prestígio externo devem quebrar qualquer resistência. Especificamente para SP, Lula estaria procurando uma novidade, capaz de abalar a força dos tucanos na capital. A ser posta em prática esta opção, os eternos candidatos Marta Suplicy e Aloizio Mercadante estariam fora do jogo. O PMDB está em outra O PMDB não comunga da tese de Lula de preservar no máximo nas eleições municipais o esquema das coligações nacionais e estaduais de 2010. O objetivo do partido é lançar o máximo de candidatos competitivos às prefeituras em 2012. Entende-se : é da força de uma miríade de prefeitos e vereadores em todo o Brasil que o partido pretende manter seus espaços em 2014. O PMDB precisa disso para enfrentar os aliados PT e PSB na repetição da coligação Federal de 2010. Afinal, o PT agora é mais forte na Câmara e o PSB tem mais governadores, além da chance de crescer mais com a incorporação da costela que Kassab está tirando da oposição. A nova social democracia de Kassab Lançado o partido, o prefeito Gilberto Kassab começa a enfrentar de fato os primeiros obstáculos para botar de pé um partido com força suficiente como ele pretende para disputar as eleições municipais de 2012 sem dar vexame. Terá de enfrentar contestações nos tribunais, garantir bom tempo na televisão, e naturalmente, reunir quase 500 mil assinaturas de eleitores em pelo menos nove Estados (entre eles, o Distrito Federal). Isso tudo ate o início de outubro. Só assim quebrará a desconfiança de muitos políticos que até gostariam de trocar de partido, mas não querem correr riscos de impedimento eleitoral. Kassab não deve contar com grandes incentivos, mesmo do governo que quer esvaziar mais ainda da oposição. A participação do PT baiano na festa de domingo em Salvador não vai se repetir. Há desconfianças de todos os lados em relação aos propósitos futuros do prefeito, do PSDB e do DEM ao PT, do PMDB até ao possível futuro aliado, o PSB. Inferno Kassab saiu a campo num momento particularmente indigesto, quando a rejeição a seu governo no município de SP sobe 12 pontos em apenas quatro meses - de 31% para 43% (Datafolha). E a administração paulistana é o maior dote que Kassab pode levar para a nova legenda. A oposição no purgatório DEM, PSDB e mesmo o PPS conseguiram em princípio estancar a sangria que o partido de Kassab poderia abrir em suas bases. Mas eles não estão tranquilos, um segundo round pode ocorrer se Kassab avançar. E o governo de Brasília emite bons sinais para um grupo nem tão pequeno de insatisfeitos e de alguns com comichões governistas. O contra-ataque pode ser a tentativa de fundir as três siglas em torno de um partido único. Desde o meio da semana passada se fala nessa possibilidade. Antes, porém, DEM e PSDB precisarão fazer fogo morto de suas fogueiras de vaidade internas. Tudo para vencer o boicote natural dos governistas do PT e do PMDB. Ele ainda tem muito que aprender Deu na coluna da Mônica Bergamo na Folha. Dispensa comentários : "O deputado Tiririca (PR/SP) tem sido um dos mais econômicos. Gastou só R$ 42,03 em março, com 'serviços postais'. Em janeiro pediu reembolso de R$ 519 por duas passagens aéreas - sendo que uma custou R$ 80. O deputado Valdemar Costa Neto (PR/SP), que introduziu Tiririca na política, gastou R$ 17,6 mil em janeiro, com escritório, seguranças e telefonia". E eles não aprenderam A um mês da licitação do discutível trem bala, o governo aumenta as pressões para que as empresas privadas engrossem os consórcios concorrentes ou formem novos. As estatais e os fundos de pensão já foram enquadrados. É um movimento parecido com o realizado no leilão da Usina de Belo Monte. Que já está dando confusão. O Grupo Bertin, incentivado a entrar no negócio, nem mesmo com a ajuda do BNDES, conseguiu bancar a sua parte e já saiu do consórcio. Agora corre-se para arranjar um novo sócio, com pressões a grandes grupos, entre eles a Vale. ____________
terça-feira, 15 de março de 2011

Política & Economia NA REAL n° 143

 Japão : o novo fator de risco As imagens da TV já dizem tudo. Estamos diante de uma catástrofe natural e humana de dimensões significativas mesmo que ainda não totalmente conhecida. Do ponto de vista econômico, o Japão agora incorpora mais uma dúvida no frágil cenário internacional. Ninguém ainda apurou tais efeitos em meio aos terremotos contínuos, tsunamis ferozes e vazamentos nucleares. Todavia, o que se vê não reduz riscos, aumenta-os numa região geoeconômica que não tem sido gestora de problemas. Para o Brasil, sobressai o fato de que estamos diante de um comprador de matérias-primas e, neste quesito, a questão é estratégica. A regra é olhar as informações disponíveis, avaliá-las com calma e saber que o que está aparente é apenas aparência, não é necessariamente essencial. Todavia, saibamos que o risco aumentou. BC está no controle da inflação ? Convenhamos, o cenário está complicado e as decisões são complexas. A inflação doméstica tem vários fatores que a jogam para cima e há um receituário relativamente estreito para controlá-la. Juros para o alto e/ou contenção fiscal são as soluções. No que se refere ao corte das despesas fiscais, a credibilidade do governo se iguala à de Pinóquio. Pura e simplesmente, o fato é que somente com fatos concretos o governo voltará a ser crível. O resto é papo furado. Do lado dos juros, a questão é outra : o BC parece hesitar entre o que realmente tem de ser feito e o que o pessoal do governo espera que façam. A última ata do Copom foi uma miscelânea de análises que funcionaram como um biquíni, aquela vestimenta que mostra tudo, mas esconde o essencial. A expectativa de "medidas macroprudenciais" (que dependem do governo e não do BC exclusivamente), tais como restrições ao crédito, para que o controle da inflação seja feito indica que o BC vai "deixar como está para ver como é que fica". Bem, o que o tal do "mercado" espera é apenas um dado do problema. Todavia, a solução depende essencialmente da credibilidade que o BC tem de ter para mostrar que fará o que precisa ser feito. Uma meta A realidade é que há uma ala do governo que não está gostando nada de saber que a carruagem da economia brasileira pode estar caminhando para um crescimento de apenas cerca de 3,5% este ano. Ela quer pelo menos 4,5%. Esta é a meta - e meta de PIB, não de inflação. Por isso a "macroprudência" do BC em relação ao juros, espelhada na ata divulgada na semana passada. A taxa de câmbio O governo não vai mais implementar nada de muito forte para tentar evitar que o dólar se desvalorize perante o real. O "real forte" virou instrumento de combate à inflação, coisa que já aconteceu muitas vezes nos últimos anos. E tem mais : se o governo quiser mesmo tratar da questão, a solução teria de caminhar para mecanismos de controle de capitais e, assim, controlar os fluxos generosos que aqui aportam para se aproveitar da maior taxa de juros do mundo. Dilma e seu governo não desejam muita confusão em relação ao tema. Caderneta de poupança Segundo muitos especialistas, se quiser trazer os juros básicos reais no Brasil para um nível razoavelmente civilizado, o governo Dilma terá de enfrentar antes um violento enxame de marimbondos : a remuneração das cadernetas de poupança. Ela é de 6%, mais a inflação. E este é o piso dos juros no Brasil. Outro vespeiro Não haverá controle efetivo das contas públicas (sem aumento de impostos no Brasil) com sobra de recursos para investimentos e melhoria dos serviços públicos oficiais, enquanto o governo não resolver o déficit da previdência. No ano passado, o déficit do sistema oficial passou dos R$ 50 bi para pagar a aposentadoria e pensão de menos de um milhão de beneficiários. O déficit da previdência privada ficou em menos de R$ 48 bi pagando mais de 25 milhões de aposentados e pensionistas. Dilma vai pôr a mão para valer nesta caixa de marimbondos ? Dois Brasis Não dá para comemorar e considerar um feito o fato de o Brasil ter 13 milionários na lista das pessoas mais ricas do mundo da revista "Forbes" e, ao mesmo tempo, não ter uma única universidade no rol das 100 melhores. Radar NA REAL 11/3/11   TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA alta alta - Pós-Fixados NA alta alta Câmbio ² - EURO 1,3941 alta alta - REAL 1,6649 estável/queda estável/queda Mercado Acionário - Ibovespa 66.684,60 baixa estável/alta - S&P 500 1.304,28 estável/alta alta - NASDAQ 2.715,61 estável/alta alta (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável Ministros sem pasta A presidente Dilma tem mesmo, em muitos casos, um estilo diferente de Lula. Lula não dava bronca, afagava mesmo os auxiliares indigestos. As vozes da sombra do Planalto informam que em menos de três vezes já viram no ar a régua de castigo da presidente. Lula deixava os indigestos fritando em fogo brando até que ficassem esturricados. Aí então demitia, dizendo-se a contragosto. Dilma desidrata o poder dos auxiliares indesejados, aqueles que ela acabou tendo de engolir por razões de Lula, por razões políticas. É difícil, por exemplo, descobrir que Moreira Franco é ministro da Secretaria de Assuntos Estratégicos, a antiga "Sealopra" de Mangabeira Unger. Nada do que foi prometido ao PMDB para engordar a Secretaria até agora ocorreu. E não deve ocorrer no tamanho esperado pelo partido de Michel Temer. O comando do Conselhão dificilmente será deslocado para lá. O IPEA continua na Secretaria, mas sob completo domínio do PT. A saída de Marcio Pochmann da direção do instituto, dada como certa pelo grupo de Moreira Franco, gorou. Desidratação Na mesma linha de Moreira Franco está o homem de José Sarney no ministério do Turismo, Pedro Novais (PMDB/MA). Sua pasta parece não ter sido ainda informada oficialmente que o Brasil nos próximos anos sediará uma Olimpíada e uma Copa do Mundo, dois eventos, além de esportivos, de grande apelo turístico. E seu Ministério teve um corte tão brutal em seu orçamento que, se Novais não for comedido, ficará logo sem dinheiro até para passagens em ônibus convencionais de Brasília ao Maranhão quando quiser visitar suas bases eleitorais. Por enquanto, não estão tirando nota dez também duas outras heranças de Lula : o ministro da Fazenda, Guido Mantega, que tem a sombra de Antonio Palocci e até de seu secretário executivo, Nelson Barbosa, e o ministro da Educação, Fernando Haddad. Pedra no mocassim de Kassab A mais recente - talvez não a última estratégia do prefeito de SP, para botar de pé sua candidatura ao palácio dos Bandeirantes em 2014, passa pela (i) criação de um novo partido - o tal PDB -, (ii) levar a legenda a disputar as eleições municipais de 2012 por conta própria para evitar que se veja no PDB apenas uma manobra para burlar o princípio da fidelidade partidária e, somente depois, (iii) fundi-lo ao PSB. O possível empecilho Pode surgir, porém, um empecilho ao movimento. Para disputar com alguma chance de eleger prefeitos e vereadores em quantidade que lhe garanta certa robustez, o PDB precisará de uns bons minutos no horário eleitoral obrigatório. Esse tempo é medido pelo número de parlamentares eleitos pela legenda. Daí o empenho de Kassab em levar deputados para sua legenda. Kassab e seus seguidores acreditam que o Judiciário aplicará ao PDB a mesma norma que aplicou quando a costela do PSDB desgarrou-se do PMDB. O tempo dos deputados transferidos foi também para a nova legenda. Pode ser que o prefeito de SP e seus seguidores consigam tal interpretação. Mas não é certo. A decisão em relação ao PSDB se deu em outras circunstâncias. Na ocasião, o TSE e o STF ainda não haviam estabelecido a atual fidelidade partidária - então, o mandato era tido como do parlamentar. Agora, o mandato é do partido. E se o mandato é do partido, o tempo de televisão também, dentro da lógica, pertence ao partido pelo qual o parlamentar foi eleito. Só com a ajuda de Alckmin Kassab só conseguirá montar um PDB forte em SP, com bom número de deputados estaduais, de prefeitos e vereadores se o governador Geraldo Alckmin deixar. Quem desses se arriscará a deixar as generosas asas governistas, com riscos de viver a pão e água, tendo pela frente uma eleição municipal no ano que vem ? A reação de Alckmin à possível dissidência de aliados do DEM será uma indicação dos projetos futuros do governador. Afinal, fortalecendo Kassab ele pode estar fortalecendo um possível adversário em SP em 2014. Será isto que Alckmin quer ? Ou ele quer mais e Kassab vem a ser uma peça desse jogo ? Ciúmes masculino Está em transe na área jurídica do governo uma dose elevada de ciumeira. No governo Lula, os ministros da Justiça Márcio Thomaz Bastos e, depois, Tarso Genro, exerciam a plenitude do aconselhamento do presidente na área do Direito. Sem sombras. José Eduardo Cardozo não executa as mesmas funções, tem uma sombra a ofuscá-lo. Sombra As atuações do vice-presidente da República, Michel Temer, na área jurídica, são significativas, muito embora não sejam muito transparentes quando lemos jornais e colunas. Vejamos um fato que ilustra bem o tema : dizem que o constitucionalista, aconselhado por processualistas de escol, prepara uma investida contra o projeto de reforma do CPC, cujo principal articulador foi o ministro Luiz Fux. Se for fato, vejamos no que vai dar... Ressurgimento de Lula Há grande expectativa para a próxima rentrée de Lula no mercado da política, prometida para ele para depois do Carnaval, quarentena que ele mesmo se concedeu. Mudanças de rumo ensaiadas na política externa e na linha econômica não estão ao gosto do ex-presidente. Mas ele tem sido um fiel silencioso, em público. Por via de todas as dúvidas, a presidente Dilma, entre uma e outra revisão de políticas, faz públicos afagos a Lula. Na semana passada, na reunião com os sindicalistas, lamentou que Lula não estivesse presente ao encontro no Planalto. Segundo seus porta-vozes, na sombra ela pode também convidar Lula para acompanhá-la em uma próxima viagem ao Exterior. Lulismo : o que realmente sabemos de Lula ? Fala-se muito sobre o lulismo, este fenômeno político desconhecido que teria sido implementado no governo do ex-presidente Lula. Mas realmente sabemos muito sobre Lula a ponto de analisarmos o lulismo ? Há quem esteja pensando a respeito.
terça-feira, 1 de março de 2011

Política & Economia NA REAL n° 142

Vendaval em Brasília Se o objetivo do governo com os cortes orçamentários anunciados é o de "reverter as expectativas" dos agentes econômicos formadores de preços (empresas e mercado financeiro) em relação as suas reais intenções de agir com dureza para não deixar a inflação fugir do controle, dificilmente será bem sucedido. A poda orçamentária proposta, de responsabilidade dos ministros Guido Mantega e Miriam Belchior, foi recebida com desconfiança e ceticismo de um modo geral. Dos cerca de R$ 53 bi registrados pelos dois como sendo a economia que o governo fará este ano, os especialistas calculam que apenas pouco mais de R$ 13 bi de despesas previstas serão efetivamente cortadas. O resto, como se diz popularmente, é corte de vento: de intenções de despesas. Muito barulho por quase nada. Por exemplo : o governo não fará mais concursos este ano. Nem pagará a maior parte das emendas dos parlamentares. Credibilidade em risco Em diversas ocasiões, Dilma e seus ministros disseram que os programas sociais do PAC não seriam atingidos pela foice que vai se passar no Orçamento. Pois bem, o Programa "Minha Casa, Minha Vida", incluído no PAC e voltado essencialmente para as casas populares, perderá R$ 5,1 bil dos pouco mais de R$ 12 bi que teria este ano. São essas "pequenas coisas" que costuma abalar o crédito dos governantes. Sem explicações Entre as economias previstas por Mantega e Belchior, estão R$ 3 bi em diminuição com despesas de abono e seguro desemprego e outros R$ 2 bi de gastos menores com a Previdência. Acredita o governo que conseguirá tal feito com um pente fino para reduzir fraudes nessas duas áreas. Mas se havia suspeitas de fraude, por que tais providências não foram tomadas antes ? É impossível imaginar que com a economia crescendo menos o desemprego cairá ainda mais. E que as pessoas vão se aposentar menos... Também faltou explicar quais subsídios serão afetados pelo corte de R$ 8 bi e quais os efeitos desses cortes sobre os setores atingidos e sobre os preços de seus produtos e serviços. Mais despesas A confiança fica ainda mais perdida quando, ao mesmo tempo em que fala num plano de cortes, o governo programa medidas que trarão, na outra ponta, aumento de despesas. Tais como : no aporte de recursos para o BNDES, aumento do bolsa família, recriação da Superintendência do Desenvolvimento do Centro-Oeste (Sudeco), criação do ministério da Pequena e Média Empresa. As metas oficiais. E as oficiosas Para o público externo, o governo tentará trazer a inflação deste ano para o mais próximo possível do centro da meta, estabelecido pelo CMN, de 4,5%, nem que seja necessário o crescimento do PIB menor que o crescimento previsto hoje pelo ministério da Fazenda, entre 5% e 5,5%. No privado dos gabinetes oficiais, porém, a meta é não deixar a inflação bater no teto dos 6,5%. Nem deixar a economia despencar abaixo dos 4,5%. O BC tem sido lembrado a calibrar os juros nesta direção. Inflação e petróleo Não são poucos os técnicos do governo (inclusive do BC) envolvidos em cálculos fiscais, cambiais e de preços no que se refere aos derivados de petróleo. A alta do barril do petróleo pode não ser episódica - relacionada com a queda dos governos no oriente médio. Ela deve ter um caráter mais permanente. Os riscos, portanto, podem ser muito mais significativos do que vem sendo comentado na imprensa. Brasil menos procurado Se do lado do governo as discussões sobre o crescimento estão intensas, do lado dos investidores em ações o Brasil está sendo considerado um dos menos atraentes dentre os chamados emergentes. A China ainda desponta como o país mais interessante, enquanto o México, a Índia e a África do Sul despontam como os mais interessantes dentre os países em desenvolvimento. Isto é fruto direto da piora das expectativas de inflação e de menor crescimento. Enquanto isso, na renda fixa Já no quesito taxa de juros, os investidores acreditam que os investimentos em papéis do governo vão ser o grande negócio neste ano. Afinal, o BC deve mesmo aumentar a taxa de juros básica para um patamar próximo de 13% ano até dezembro para conter a inflação e, deste modo, o Brasil vai continuar sendo um dos portos seguros dos investimentos em renda fixa do mundo. Baixo risco de crédito e juros lá em cima. Câmbio, sem esperança Nenhuma conversa interna do governo está sendo levada a sério no que tange a melhorar o patamar da taxa de câmbio do Brasil para proteger a indústria local e aumentar as exportações. Os produtos chineses devem continuar invadindo o país comprometendo o processo industrializante nos próximos anos. Com uma taxa de juros real acima de 6% ao ano é impossível acreditar que, em condições normais, o dólar suba. Obama e Dilma O ex-embaixador brasileiro em Washington e nosso atual Chanceler do Itamaraty, Antonio de Aguiar Patriota, está conseguindo com enorme discrição tornar a pauta do encontro de Dilma com Obama bem mais atraente do que poderia ser imaginado. As questões de médio prazo das relações comerciais Brasil-EUA serão discutidas tais como a Rodada Doha, a política com a China e as questões de comércio bilateral, incluindo o etanol e a compra dos caças da FAB. Não haverá divulgação ampla dos resultados das conversas, mas o Brasil está propondo uma parceria bem mais próxima com os EUA. Uma surpresa e tanto para o Departamento de Estado Americano. No Itamaraty, a barba continua a mesma, mas a política externa...quanta diferença... Otimismo nos EUA Pesquisas recentes feitas por jornais norte-americanos confirmam a expectativa de que os EUA devem crescer 4% este ano. Será que crescerá mais que o Brasil ? Paradoxo na economia Joseph Heller, escritor norte-americano, autor, entre outros, de "Ardil 22", é mestre no uso do paradoxo e da ironia mais fina para criticar as instituições de seu país. Em "Gold vale ouro" (Good as gold, Nova Fronteira, 1979) o alvo de sua sátira é a Casa Branca e seu mundo da política, da corrupção, do nosso conhecidíssimo tráfico de influência. Uma de suas passagens nos faz lembrar as erráticas declarações de nossas autoridades sobre o que se vai fazer em matéria de política econômica. Diz um personagem : "Esta administração resolveu combater a inflação aumentando os preços, a fim de diminuir a necessidade de reduzir os preços para aumentar a procura e trazer de volta os preços inflacionários que desejamos baixar, reduzindo a necessidade de aumentar a procura e subir os preços. Não é mais ou menos isso que a nossa política econômica está pretendendo ?" Compare-se com o que disse o ministro Guido Mantega ontem : "O que nós estamos fazendo não é, prioritariamente, visando a inflação, mas um ajuste anticíclico da economia. Queremos desacelerar sem derrubar a economia. É mais um ajuste para retornar a um superávit fiscal maior". Leviandade Nem ainda foi dicionarizado pelos responsáveis pelo Aurélio ou Aulette e o vocábulo lulismo já está abandonado no linguajar político. Quando o carnaval passar Quando o presidente Geisel, em 1977, lançou o Pacote de Abril, édito imperial responsável pelo surgimento dos senadores sem voto (chamados biônicos, hoje relembrados nos suplentes sem voto) e pela total distorção do sistema representativo no Brasil, a irreverência criou um bloco carnavalesco, de sátira política, "O Pacotão" que até hoje faz sucesso nas ruas da capital da República. Passado o carnaval deste ano, "O Pacotão" vai enfrentar um novo e poderoso bloco, um tal de "Distritão" a ser inaugurado breve na passarela do Congresso Nacional. Esdrúxulo, esse "Distritão" vem para distorcer ainda nosso já insano sistema eleitoral. E para transformar os partidos ainda mais em meros veículos eleitorais, aos quais os candidatos se filiam apenas para ter uma legenda para disputar a eleição, os recursos do fundo partidário para a campanha e o horário eleitoral obrigatório no rádio e na televisão. Todo bloco carnavalesco que se preze tem um "general da banda". Na Banda de Ipanema a figura era representada pelo musicólogo e homem da cultura popular Albino Pinheiro. Quem se habilita a ser o "general da banda" do "Distritão" ? Comentários sinceros Dois próceres políticos, um do PSB e outro do DEM, conversavam tranquilamente no campus de uma universidade paulistana. Tratavam dos passos políticos de Gilberto Kassab envolto nas "negociações" para formação de um novo partido. Dois comentários chamaram a atenção desta coluna : (i) o prefeito está super capitalizado e que ele (ii) estaria oferecendo um rompimento com José Serra como "moeda de troca" nas barganhas políticas para as próximas eleições municipais. O segundo item da conversa é auto-explicativo. O primeiro, no entanto, é curioso. O que quer dizer "supercapitalizado" ? Banda meio larga É licença poética chamar a velocidade de 512 kbps, previsto no Plano Nacional de Banda Larga (PNBL), por este nome. É licença poética vender a ideia de que a banda larga popular vai custar R$ 35 por mês sem antes acertar com os governadores a retirada do ICMS dessa conta. É licença poética dizer que um serviço de Internet, num país de salário mínimo a R$ 545, é um serviço "popular". Está na hora dos bois receberem os seus nomes reais. Sem trocadilho. Banda meio estreita Quando o PNBL foi lançado, com a ressurreição da Telebrás e a pompa e circunstância que somente Lula sabia prover, o Brasil seria inundado de acesso veloz (sic) à Internet e sem a necessidade de participação das teles privadas. Devidamente implantada a Telebrás, verbas garantidas e empregos assegurados, o discurso foi sendo adaptado à realidade. De algumas milhares de cidades voando na Internet até o fim de 2010, marcou-se a festa para apenas 300 municípios experimentais em dezembro. Depois, a data passou para abril, na semana passada postergada para maio, mas como o ano tem mais meses, pode ser que outros surjam nesse calendário. Agora, as empresas privadas estão sendo imploradas a entrar no jogo. A Telebrás continua uma incógnita, não conseguiu até agora nem mesmo fechar acordo com duas outras estatais, a Eletrobrás e a Petrobrás, para usar a infraestrutura de telecomunicações que elas têm. Vem bomba nas teles Estão a caminho mudanças importantes no comando das empresas de telecomunicações no país. E não devem passar de junho, com fogo suficiente para pegar gente que se sente muito bem na fita. Radar NA REAL 25/2/11   TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA alta alta - Pós-Fixados NA alta alta Câmbio ² - EURO 1,3796 alta alta - REAL 1,6605 estável/alta estável/alta Mercado Acionário - Ibovespa 66.902,54 baixa estável/baixa - S&P 500 1.319,88 alta alta - NASDAQ 2.781,05 alta alta (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável
terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Política & Economia NA REAL n° 141

A cobrança apenas começou Foi mais fácil até do que o próprio governo imaginava aprovar o salário mínimo de R$ 545 na Câmara na semana passada. Mais tranquilo ainda o será no Senado. A oposição está aparvalhada (ver nota abaixo) e os sindicalistas sem brios depois de tudo que receberam do ex-presidente Lula. O gosto por cargos comprou fidelidades surpreendentes na amorfa base aliada. O desejo de preservar as emendas dos cortes do facão de Mantega fez o resto. Além disso, a questão do equilíbrio das contas públicas e suas conexões diretamente na veia com o ajuste do salário mínimo : a defesa de um ajuste muito alto pode cheirar a demagogia e tem eco contrário nos formadores de opinião e no chamado mercado. A presidente Dilma e os seus jogaram habilmente com isto. Outros embates Há outros embates armados para o governo nos quais uma grande parte desses fatores não se repetirá. É o caso do reajuste de mais de 50% para todo o Judiciário (ao custo calculado de R$ 6 bilhões anuais) e o da equiparação dos salários dos policiais civis e militares e dos bombeiros de todo o país aos de seus colegas de Brasília (mais R$ 40 bilhões ao ano). As emendas parlamentares já terão sido podadas, os cargos distribuídos - para cada parlamentar satisfeito haverá pelo menos dois ou três lamuriosos. Mas, além e acima de tudo, as corporações com interesses nesses projetos têm um poder de pressão direta infinitamente superior ao dos acomodados dirigentes das acoelhadas centrais sindicais. Agora, é para valer O ministro Guido Mantega terá de dizer esta semana de onde vai tirar os R$ 50 bilhões que prometeu economizar para bater com força na inflação. Ainda mais depois que se soube que o governo capitalizou mais ainda o BNDES e a CEF. Ampliando a capacidade dos dois bancos de conceder empréstimos numa conjuntura em que a ordem é a de moderar o consumo. Há contradições insanáveis entre medidas anunciadas e outras adotadas. E elas já começam a criar ruídos entre o Ministério da Fazenda e o BC. Quem precisa inspirar confiança deve comprá-la todos os dias. Para não furar o teto Os primeiros movimentos do governo, no momento, não são para trazer a inflação, hoje correndo nos 6% anuais, para mais próximo do centro da meta estabelecida, de 4,5%. A luta é para não deixar que nos próximos meses a corrida dos preços bata no teto dos 6,5%. De aí em diante o risco é, pela perda de credibilidade, a corrida se acentuar. Cortando vento As vozes oficiais escondidas de sempre estão apresentando o provável adiamento para o ano que vem da compra dos novos caças para a Aeronáutica como uma demonstração de que o governo vai mesmo fazer uma decisiva "conciliação" fiscal. Tão decidido que não se importa até em desagradar os militares - a Marinha também deixaria de ganhar novos barcos. É tudo conversa para bois, vacas, bezerros e outros mamíferos caírem no sono. Mesmo que o governo decida comprar novos equipamentos para aviadores e marinheiros, nenhum tostão seria gasto este ano, os pagamentos começariam apenas a partir de 2012, quando, nas previsões do ministro Mantega, as contas públicas conciliadas estarão navegando em mar de almirante e voando em céu de brigadeiro. Falta de credibilidade fiscal O governo está subestimando a ausência de credibilidade em relação aos cortes no orçamento propostos. Semana passada os autores desta coluna estiveram reunidos com importantes formadores de opinião do mercado financeiro. Quase sem exceção os investidores não levam a sério os propósitos governamentais. No fundo a grande maioria aposta numa inflação mais alta e num crescimento mais baixo. Não à toa, há toda uma gama de operações para reduzir a participação das operações de risco nas carteiras de bancos e fundos. Este é um fenômeno generalizado que obviamente não é comentado nos jornais. Ex-ministros Por mais que se diga o contrário, o ministro Carlos Lupi, do Trabalho, entrou irremediavelmente na lista dos futuros ex-ministros, já habitada, entre outros por Fernando Haddad, da Educação, e Pedro Novais, que muitos dizem, mas não comprovam, dirige o Turismo. Nela pode entrar em futuro próximo Orlando Silva, dos Esportes. Tudo sob a observação do ministro das Relações Institucionais, Luiz Sérgio, auxiliar de Antonio Palocci e Michel Temer na articulação política. Reforma política Se os brasileiros não ficarem atentos - e muito atentos - vão ser agredidos pela reforma política que está sendo industriada por José Sarney e Michel Temer no Congresso e por Lula com os partidos aliados, como ele promete fazer depois que voltar à ativa, após o Carnaval. Neste campo, o que é bom para o poder político não é bom para a sociedade. E adivinhem quem vai ganhar, de goleada, esse jogo ? Timing das reformas Aparentemente os políticos brasileiros esticarão a corda até que as pressões populares por reformas se tornem acesas nas ruas para que de fato estes ajam. O ex-presidente Sarney parece gostar de comentar a crises nos países árabes, mas esquece de mencionar que estas crises são fruto da letargia em executar reformas e no apego desmedido com o poder. Leilão reverso O prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, está leiloando seu cacife eleitoral, cujo tamanho real somente será conhecido quando ele não tiver mais a prefeitura e o apoio do governo estadual ao alcance, entre o PMDB e o PSDB e, em menor escala, até com o próprio DEM. Kassab está tão convicto de que tem o controle do processo que ainda nem desconfiou que os acenos recebidos dos socialistas do governador Eduardo Campos têm o dedo de Brasília e do PT. Não é do agrado dos líderes da aliança federal que o PMDB ganhe mais alguns deputados em Brasília e fique maior que os petistas na Câmara. O leilão tem tudo para virar-se contra o leiloeiro. Ilusão à toa Depois de quarta-feira, o ego do PMDB e de sua direção não cabe em nenhuma galáxia. Vai desinflar antes que o galo cante três vezes, assim que o ministro Palocci, por delegação da presidente Dilma Rousseff, começar a alimentar o Diário Oficial com as nomeações do segundo escalão. É punir ou punir Se os petistas dissidentes no salário mínimo não forem exemplar e sumariamente "executados", vai ser duro segurar a fidelidade dos outros parceiros aliados em futuras votações no Congresso. Ser ou não ser A oposição continua paralisada entre a mineira moderação de Aécio Neves e o neoradicalismo de José Serra. O rolo compressor que Dilma está acionando - ela está se mostrando mais eficiente até do que Lula neste quesito - não justifica a apatia que PSDB, DEM e PPS vêm mostrando nesses dias. Falta direção e sobram fogueiras de vaidades e ambições entre os ditos - mas não provados - oposicionistas. É certo que o embate do salário mínimo era delicado. O salário piso dos brasileiros é de fato baixo, ridículo, humilhante. Porém, havia e há questões muito sérias em torno dele - a repercussão do reajuste nas contas oficiais por conta de distorções existentes na economia. Brigar por um mínimo elevado sem mostrar como corrigir estas distorções é mesmo demagogia. Dizer que dá para dar mais simplesmente cortando a conta dos juros é repetir o discurso do PT no passado e até de alguns petistas no presente - demagogia também. Mesmo enredada nessa armadilha sobra espaço para a oposição aparecer, crescer e acontecer : o desarranjo fiscal, a inflação, o câmbio, os juros, as contas externas, o peso dos impostos, o rombo da previdência, só para ficarmos nos mais urgentes. A oposição ganha se levá-los para o Congresso, com propostas concretas para solucioná-los. Não basta "twitalos" ou exibi-los em discursos vazios. Deste modo a oposição caminha para se tornar mais irrelevante do que já está. Sindicalismo e representação política Por mais que seja pouco comentado, o setor sindical brasileiro é um dos mais atrasados segmentos sociais e políticos brasileiros. As centrais sindicais ligadas ao governo estão paralisadas e procurando posições no governo para os seus apaniguados. As outras centrais buscam espaço em discussões pontuais como no caso da votação do salário mínimo e, até mesmo, chegaram a defender pela voz de Paulinho da Força a volta dos bingos. Os sindicatos não representam de fato os trabalhadores e são financiados concretamente pela existência de um imposto sindical obsoleto e útil às lideranças sindicais. Triste sina do movimento dos trabalhadores, tão importante na redemocratização dos anos 80. Aécio e os sindicatos Está certo o senador e ex-governador Aécio Neves quando trata da ampliação da base de apoio oposicionista. Não faz sentido que a conquista de espaços com vista à reconquista do poder central seja feita a partir de um eleitorado já conquistado. É preciso ir buscar apoio em outros segmentos sociais. Todavia, não deixa de ser irônico que o mineiro busque apoio nos sindicatos carentes de representatividade e com mazelas e práticas políticas que chegam a assustar. A modernidade que Aécio quer trazer à tona não combina com esta percepção tão arcaica. O Panamericano e os "balanços apócrifos" A CVM aprovou a publicação das informações financeiras pela nova diretoria do Panamericano sem que os dados passados sejam passíveis de responsabilização por parte da atual diretoria. Esta decisão aparentemente se deve a constatação de que os controles internos do banco eram deploráveis. A pergunta que não quer calar é : quem então assumirá a responsabilidade pelo passado ? E o BC ? Nada sabia disso tudo ? Finalmente, se as contas não são confiáveis, como foram calculadas as provisões e o preço de venda do banco ? Tudo muito obscuro... Variáveis dos mercados O otimismo com o mercado acionário norte-americano está se generalizando. Todavia, este tem de sair dos operadores e "contaminar" a economia real. Uma trajetória e tanto. De toda a forma, a liquidez crescente das bolsas americanas e os resultados corporativos positivos projetam uma recuperação consistente, mesmo que ainda insuficiente para espalhar otimismo generalizado. O mesmo ocorre na Alemanha e, em menor medida, na França. O maior risco mesmo vem do Oriente Médio. O petróleo está num nível acima dos estimado pelos especialistas, o mais alto dos últimos dois anos. Isto pode conter a recuperação mundial (especialmente a dos EUA) e aumentar a inflação. Assim sendo, a nossa melhor estimativa indica que vamos vivenciar um período mais turbulento nos próximos dois meses. O aumento da volatilidade é evidente em que pese o fato de que a tendência favorável às ações americanas está intacta. Nos mercados emergentes, especialmente no Brasil, a tendência é negativa. Nada muito acentuado, mas a melhor fase passou. É preciso esperar um pouco mais para apostar no otimismo. México, depois de muito tempo Não são poucos os investidores que estão apostando que o México será o destaque dos emergentes neste ano. A inflação cai, o PIB deve crescer no ritmo mais forte na América Latina e a alta do petróleo pode ser favorável. A verificar. Radar NA REAL 18/2/11 TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA alta alta - Pós-Fixados NA alta alta Câmbio ² - EURO 1,3677 alta alta - REAL 1,6675 estável/alta estável/alta Mercado Acionário - Ibovespa 65.755,62 baixa baixa - S&P 500 1.343,01 alta alta - NASDAQ 2.833,95 alta alta (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável
terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Política & Economia NA REAL n° 140

Classe C desce do paraíso ? Um dos fenômenos mais entoados em prosa e verso da era Lula, justificativa até para teses sobre a efervescência do lulismo, foi a ascensão de milhões de brasileiros à classe média e ao mundo do consumo, sustentado em parte pelo aumento da renda média e em parte por crédito fácil, ainda que não muito barato. Este paraíso agora pode estar ameaçado, ou menos róseo, devido à conjugação da conjuntura externa com o "fiscalismo eleitoral" interno do ano passado. As fontes que estão ameaçando estender nuvens sobre o éden do consumismo popular : 1. Ameaça oficial de conter viagens e gastos dos brasileiros no exterior. 2. A contenção dos reajustes do salário mínimo e também dos aumentos do funcionalismo público. 3. E a danada da inflação, que anualizada já bateu nos 5,99% em janeiro e para as classes de baixa renda (2,5 salários mínimos) estourou acima dos 7%. Como ensina a vã filosofia os órgãos mais sensíveis do ser humano são o estômago e o bolso. Lua de mel política dura enquanto os dois estão felizes, satisfeitos. Ventos do Nilo Nenhuma insatisfação política com o excesso de ditadura e nenhum twitter ou rede social, dizem os especialistas em coisas árabes, teria sido capaz de derrubar um ditador do porte de Hosni Mubarak se a insatisfação dos egípcios não tivesse sido alimentada por uma séria crise econômica. Nos regimes duros, cai o ditador. Nos regimes abertos, o governo perde popularidade e perde o controle do processo político. A prova de São Tomé A tantas falou o ministro Guido Mantega sobre uma inflação apenas sazonal no Brasil (recuaria em dado momento sem muito esforço). A presidente Dilma sabe que a herança deixada por Lula não foi tão benéfica assim como dito. Agora, o governo está submetido à prova de São Tomé : fazer antes para que se acredite depois. O corte de R$ 50 bi no Orçamento deste ano, anunciado por Mantega de um modo meio envergonhado, como se estivesse se desculpando, está à espera desta comprovação. Mantega terá de mostrar esta semana onde e como vai passar o facão, num orçamento já engessado por natureza. Contas bem feitas por economistas não oficiais mostram que para chegar a este número não há como não avançar sobre os investimentos, inclusive o PAC, "menino dos olhos" da presidente. É este o perigo Nas sucintas contas que os ministros Mantega e Miriam Belchior apresentaram do "novo" Orçamento, desperta dúvida o substancial aumento previsto nas receitas, de 19,2% do PIB em 2010 para 19,8% do PIB em 2011. Isto num ano em que a atividade econômica, até por conta da tesourada de Mantega, vai andar em ritmo mais lento. Pode ser apenas um fantasma. Mas, na semana passada, a bancada do PT na Câmara listou entre suas prioridades neste primeiro semestre parlamentar acabar a votação do projeto que regulamenta a emenda 29 da Constituição. Calcula-se que em prática ela levará mais R$ 10 bi anuais para o setor de saúde, somados os investimentos das três esferas de governo. Dentro dela está implantado retorno do imposto do cheque, o insepulto CPMF, alcunhado, para efeitos mercadológicos de Contribuição Social para a Saúde. É a obsessão do ministro Alexandre Padilha. Provinha de São Tomé Uma boa demonstração de "responsabilidade fiscal" seria o governo esquecer, por pelo menos meia década, a história do Trem de Alva Velocidade, ligação entre Campinas, SP e RJ. Aquele que as autoridades dizem que custará cerca de R$ 33 bi, mas que o pessoal do ramo não compra por menos de R$ 50 bi. O mesmo que se diz que não terá dinheiro público, mas que terá R$ 20 bi financiados pelo BNDES a juros de avô para neto, mais R$ 5 bi de garantia para os investidores se os cálculos de receita não se confirmarem e ainda mais R$ 3 bi do Tesouro Nacional para a empresa estatal a ser criada para administrar o negócio. O trem bala, porém, avança. A concorrência está mantida para abril, depois de adiada de dezembro. E mais governo vai entrar no negócio antes dito exclusivamente privado : Correios e Eletrobrás foram "orientados" a entrar como sócios, com dinheiro, no consórcio vencedor. Mais uma garantia de que para o investido não há risco. Já para o contribuinte... Deve ser isto que se está chamando de "consolidação fiscal". Balão furado Já desinflou um dos principais balões de ensaio lançados no início do governo Dilma por seus porta-vozes ocultos : o início, ainda este ano, da redução de 20% para 14% na contribuição das empresas para o INSS, em etapas. Guido Mantega, o desenvolvimentista de Lula, travestido de "mãos de tesoura" por Dilma, já avisou que desonerações fiscais no momento só com recursos novos para compensar. Obama também terá problemas Reduzir déficits não é tarefa trivial. Requer esforço político e a convicção de não tentar ser popular. O presidente norte-americano manda esta semana para o Congresso um projeto de US$ 3,7 trilhões de orçamento e promete reduzir o déficit em US$ 1,1 trilhão em dez anos. Do jeito que está o orçamento, a oposição republicana vai brigar para aumentar a redução do déficit reduzindo o orçamento. Será um teste para a recuperação econômica dos EUA baseada na expansão dos gastos públicos. Com os mercados subindo e o otimismo financeiro crescendo o teste de Obama é bem sério. Já os desempregados (10% da força de trabalho) continuam desacreditando nos democratas e desconfiando dos republicanos. Sindicato de maldades Só pode ter partido de um inimigo jurado do deputado Vicente Paulo da Silva (PT/SP), o Vicentinho, a idéia de entregar ao ex-presidente da CUT o cargo de relator do projeto de aumento do salário mínimo, para defender o valor de R$ 545. Dilma aposta pesado para ter o salário mínimo de seu gosto. Um número assusta os "conciliadores fiscais" : cada um real a mais no salário mínimo eleva em R$ 286 milhões os gastos do setor público de um modo geral. O calmante na Casa Civil A inquietação dos ditos agentes econômicos só não é maior porque todos já perceberam que o ministro chefe da Casa Civil, Antonio Palocci, é uma espécie de primeiro ministro (discreto) do governo Dilma. Porque, se dependesse de Guido Mantega... Inflação à solta Está claro que o BC, ainda sob a gestão de Meirelles, resolveu atuar nas eleições mantendo os juros básicos estacionados à espera da decisão das urnas. Ora, o resultado está aí : a inflação se generaliza e o custo da alta dos juros pode ser muito maior se tivesse agido a autoridade monetária antes. A pesquisa Focus do BC continua mostrando que os agentes estão a desconfiar da capacidade de o BC em controlar a inflação. Reservadamente, os analistas do mercado financeiro estão dizendo o seguinte : a inflação não fugiu ao controle, mas muita tensão ainda vai provocar. Quem pode está aumentando preço e o controle da inflação vai custar mais juros e empregos. O resto é discurso. Lula e a inflação Será curioso saber como se comportará o ex-presidente Lula caso a inflação mostre os dentes e rebaixe a popularidade do governo que ajudou a eleger. Haverá fidelidade marital ? Ou o ex-sindicalista se comportará como nas assembleias sindicais onde perguntava aos trabalhadores se deviam ou não aceitar o acordo com os patrões ? Esta pergunta foi feita por um bem situado analista político, ouvido no Planalto. A China e a inflação As falas do Secretário Timothy Geithner soltas no Brasil na semana passada indicam que estava "feliz" com a inflação chinesa a qual ajusta para cima o câmbio daquele país. Se os chineses ajustarem a atividade econômica para baixo, a conta vai bater nas portas dos EUA, mas também nas nossas. Esta escolha ainda não foi consolidada, mas geram mais alertas para a nossa política econômica. Radar NA REAL 11/2/11   TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA estável alta - Pós-Fixados NA estável alta Câmbio ² - EURO 1,3486 alta alta - REAL 1,6668 estável/alta estável/alta Mercado Acionário - Ibovespa 65.755,62 estável/baixa estável/baixa - S&P 500 1.329,15 alta alta - NASDAQ 2.809,44 alta alta (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável Um prefeito sem rumo Depois de cortejar o PMDB, a mais recente invenção do prefeito de SP, Gilberto Kassab, é a criação de uma espécie de partido "fake", cognominado PDB, a ser fundido posteriormente ao PSB. Se estivesse menos preocupado em cuidar de sua carreira política e mais concentrado em cuidar de questões municipais, Kassab poderia fazer algumas operações simples, como um "tapa-buracos", outra "caça-mosquitos" e uma terceira para tentar destravar o insuportável trânsito paulistano, e ser muito mais útil à sociedade. Até porque, para ter partido forte é preciso ter votos. E pelos "elogios" que ele tem recebido em várias camadas sociais da cidade, o PDB tem tudo para ser um natimorto. Anúncio classificado A não ser pela exibição de suas picuinhas, alguém tem notícia da que deveria ser a oposição programática e responsável no Brasil. Informações podem ser dadas para os mais de 44 milhões de brasileiros que votaram nela em outubro passado. Novo profissional Prestem a atenção : dentro em breve será conhecido o novo advogado do governo em geral e da presidente da República em especial, cargo até há pouco tempo ocupado pelo jurista Márcio Thomaz Bastos. Não confundir com o advogado-geral da União, que tem funções de Estado. O novo profissional já mostrou suas credenciais nos procedimentos legais para a votação de salário mínimo. Pode ser que venha a ter mais trabalho até que o ex-ministro da Justiça, pois o "nosso" (de Lula) Delúbio Soares ameaça novamente a adentrar no campo partidário e o julgamento do mensalão deve ser este ano ainda.
terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Política & Economia NA REAL n° 139

Timothy Geithner : sem novidades Na "conversa" de ontem do Secretário do Tesouro dos EUA na FGV/SP, na atual viagem pelo Brasil, as informações foram, digamos, "burocráticas" da parte do principal artífice da política econômica de Obama. Vejamos alguns pontos : 1- A agenda interna dos EUA é a prioridade do governo Obama neste momento. Portanto, as questões internacionais não diretamente relacionadas com a política econômica do governo americano estão "congeladas"; 2- A proposta francesa de "estabilização dos preços das commodities" é difícil de ser executada. O governo americano persiste "interessado" em saber mais sobre tais propostas. Leia-se : a proposta não deverá ser incorporada pelos EUA apesar de o Secretário não ter falado, em momento algum, sobre um tipo de alinhamento com a posição brasileira em relação ao assunto. 3- A política de Obama é ter um equilíbrio entre o "mercado" e o papel do Estado no controle dos agentes. Ou seja, acabou-se o tempo em que a regulação do mercado era matéria demoníaca para o governo dos EUA. 4- A relação entre as taxas de câmbio no mundo é importante para a recuperação da economia norte-americana. Por sua vez, interessa ao mundo que os EUA cresçam. De toda a forma, as falas de Geithner deixaram transparecer um certo cuidado na preparação da viagem de Barack Obama ao Brasil daqui a cerca de dois meses. Ponto positivo para o país e uma região que sempre foi desprezada pela diplomacia americana. Geithner incomoda apenas Meirelles O ex-BC Henrique Meirelles foi o mediador da "conversa" na FGV/SP de Geithner com a comunidade acadêmica. Inicialmente, Meirelles murmurou um "not yet" para negar que exercia o cargo de "Autoridade Pública Olímpica (APO)". Parece ter gostado, contudo, que sua apresentação perante à plateia incluísse este cargo (não assumido). Ao final da "conversa", Timothy Geithner afirmou que a valorização do Real perante às principais moedas se "devia a uma taxa de juros que parece excessivamente elevada". Nesse momento, Meirelles saiu de seu papel de mediador e argumentou que "a taxa de juros só pode cair se a política fiscal for mais apertada". Claramente saiu em defesa própria. Não houve nenhum comentário adicional de Geithner sobre o assunto. Segurança americana em baixa Até que foi bastante discreta a presença dos seguranças norte-americanos que protegiam o Secretário do Tesouro dos EUA na FGV/SP. Será que isto se deve à melhoria da segurança pública na maior cidade do Brasil ? Rússia aperta o crédito Com o objetivo de não aumentar a taxa de juros básica para controlar a inflação e, desta forma, atrair mais capital especulativo, a Rússia resolveu reduzir a liquidez monetária aumentando as reservas bancárias obrigatórias. Todos os países emergentes que são relevantes (denominados de BRICs) estão com uma trajetória de aperto monetário com o objetivo de controlar a inflação. Apenas o Brasil está aumentando a taxa de juros com mais vigor. Inflação projetada pelo mercado A propósito da inflação no Brasil, as expectativas continuam piorando em relação à inflação : o relatório Focus do BC que coleta dados do mercado projeta uma inflação de 5,66% para este ano, 1,16% acima do centro da meta para o IPCA, índice que a autoridade monetária usa como meta de inflação. A julgar pelas expectativas do mercado a taxa Selic deve fechar 2011 em 12,5% ao ano. Nada bom para o crescimento. Política fiscal na geladeira Até agora não se sabe onde e quanto o governo vai cortar no orçamento para cumprir a meta fiscal proposta pelo próprio governo. Não há direções que sejam respeitadas pelo governo, mesmo quando quem emite as ordens seja a presidente da República. Anotem aí : o assunto está muito mal conduzido na esplanada ministerial de Brasília. O Baú de "seu" Sílvio é o PanAmericano ? Aparentemente o grande beneficiário da venda de 37,6% do Banco PanAmericano para o BTG de André Esteves foi o apresentador e empresário Sílvio Santos. Segundo consta na imprensa, em notícias soltas e descoladas uma das outras, Sílvio deixa os "pepinos" para os compradores e salva o seu grupo empresarial. Uma operação genial para um banqueiro desastrado, não é mesmo ? Tudo muito curioso. Afinal, o PanAmericano é de capital aberto e, portanto, tem acionistas que não são os controladores. Ora, como se chegou ao valor de R$ 450 milhões ? Haverá oferta para os acionistas de mercado que quiserem vender as suas participações ? Qual o papel e o poder que a CEF terá no banco ? Há ligações da transação com a política, especialmente o PT que aceitou dinheiro do "trabalhador-banqueiro" André Esteves ? Sílvio Santos parece ter aberto "as portas da esperança" e recebido belas mercancias. Do outro lado, pouco se sabe, mas muito se fala. Silêncio na Fazenda Quase nada se ouve no ministério da Fazenda sobre o caso PanAmericano. Por que será ? Risco sistêmico Há membros do governo que defendem o resgate/venda do Banco PanAmericano em função do risco sistêmico que poderia gerar. Se esta lógica vale para o PanAmericano, vale para qualquer outro banco. Radar NA REAL 4/2/11   TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA estável alta - Pós-Fixados NA estável alta Câmbio ² - EURO 1,3597 alta alta - REAL 1,6733 estável/alta estável/alta Mercado Acionário - Ibovespa 65.269,13 estável/baixa estável/baixa - S&P 500 1.310,87 alta alta - NASDAQ 2.769,30 alta alta (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável Os donos do poder Depois de Dilma, escrevam estes nomes : Antonio Palocci, Michel Temer, José Sarney. São as maçanetas que contam em Brasília. Rumo ao Supremo Há mais razões que o simples e inegável talento para explicar a escolha do novo ministro do STF, Luiz Fux. Tem um tanto a ver com o politicamente mais momentoso caso que o STF terá de julgar nos próximos meses. Estilo Dilma Orlando Silva não era o preferido de Dilma para continuar no ministério dos Esportes. O nome escolhido por ela era o da ex-prefeita de Recife, Luciana Santos, também do PC do B, como o repetido Orlando. O PC do B, no entanto, não concordou com a troca e Luciana ficou no ar. Queria o PC do B encaixar tudo da Copa do Mundo e das Olimpíadas do Rio na sua pasta, inclusive a tal Autoridade Pública Olímpica (APO) cobiçadíssima com seus mais de R$ 30 bi de verbas. Dilma, sem ligar para as reivindicações do aliado, agora escolheu o ex-presidente do BC, Henrique Meirelles, para o cargo. E pode dar a ele também a "autoridade" da Copa. A escolha foi aplaudida fora do mundo político. Já nesse mundinho, nem tanto. A presidente ao mesmo tempo pagou uma dívida de campanha dela e de Lula, e passou um "carraspana" no PC do B. Com recados para outros aliados. A arte de dividir No meio ambiente político da Câmara e do Senado já é voz corrente que a tática adotada por Dilma é a de dividir para governar. Dividir os aliados, diga-se, não a oposição. É enfraquecer a todos, até o PT, para não ser engolfada. Já provaram do veneno, o PMDB, em pé de estourar uma guerrilha entre os que são de Sarney e de Temer e os que não são ; o PSB já com as tropas dos irmãos Cid e Ciro Gomes e as do governador Eduardo Campos em uniforme de campanha : e o PT dos dilmistas e daqueles que na ferina capital já estão sendo classificados de "viúvas de Lula". A dúvida é saber qual o cacife de Dilma para bancar tal tática no longo prazo. No primeiro embate está goleando e os descontentes apenas amuam pelos cantos. Contencioso Por essas e tantas outras como a do PC do B, nas contas do Congresso a presidente está fechando um temível contencioso com os aliados : um pedaço do PT, o PMDB que não é de Temer nem de Sarney, o PSB está já na "contabilidade" e tende a aumentar mais sua participação à medida em que forem definidos os cargos mais amados do segundo escalão. Não há como escapar da lei natural da fisiologia de que cada nomeação gera uma alegria e dezenas de tristezas. O silêncio dos inocentes No novo governo, não é privilégio da presidente a arte de cultivar o mutismo. Não se sabe se por mimetismo, por ordens expressas, por medo ou, agora, por falta do que dizer, que governistas outrora falastrões de repente ficaram se voz. O distinto público anda intrigado, por exemplo, com o desaparecimento da mídia de figuras como o presidente da Petrobrás, José Sérgio Gabrielli, do presidente do BNDES, Luciano Coutinho, do presidente do Banco do Brasil, Ademir Benedini. Até Palocci está mais silencioso que nos seus tempos de ministro da Fazenda e de deputado Federal. Nunca se viu tanta gente fugindo de jornalistas em Brasília como nesses tempos de presidência feminina. A arte de se dividir Nos tempos ditos de antigamente, com certas ironias e maldades, mas com boa dose de acerto, se dizia que as esquerdas no Brasil, batidas por conflitos ideológicos e vaidades, só se uniam na cadeia. Pois bem, como não há possibilidade nem remota de se retomarem as prisões políticas no Brasil, o que se pode dizer das oposições brasileiras, mantido o andar do cabriolé, é que elas só deverão se unir como as paralelas que se encontram no infinito. A bola está na área, na marca do pênalti : briga por cargos, história de Furnas, negócio do PanAmericano... Coisas para os oposicionistas mostrarem pelo menos um pouco de sua cara, e lá estão eles se matando, sem nenhum gesto de altivez. Para alegria de Dilma e de seus parceiros. Em Brasília, assegura-se que as divergências Serra/Aécio no PSBD e Bornhausen/Maia no DEM não chegarão ao fim sem mortos e feridos. Pelo que se tem dito e escrito o ex-presidente FHC já está perdendo a paciência. Em Santos, uma capitania abandonada Concais é o nome da estação de passageiros do Porto de Santos. O nome mais apropriado seria Concaos, tal a precária infraestrutura para lidar com milhares de passageiros que embarcam e outros milhares que desembarcam, quase ao mesmo tempo. Misturam-se aqueles caminhões caindo aos pedaços carregando containers, enormes trens de carga cruzando o caminho de passageiros com malas, dezenas de ônibus trazendo e buscando os viajantes e mais os ônibus que trazem os passageiros dos navios até o terminal de bagagem. Acrescente-se a este pavoroso cenário, um absurdo congestionamento de táxis também trazendo e levando os infelizes usuários. Reclamar para quem ? Daqui a pouco vai ser mais apropriado embarcar do Rio de Janeiro, sem trem, sem container, sem caos. Bem isto se dá na área restrita do serviço para passageiros. Descrições mais cruas ainda se podem fazer das operações de carga e descarga de mercadorias, importações e exportações. É mais que o caos bíblico. E o porto de Santos tem donatários, muito bem situados na República. Não seria o caso de confiscar a "capitania" e entregá-la a pessoas mais dispostas ao trabalho e menos à politicagem e outros tais.
terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Política & Economia NA REAL n° 138

EUA : o ponto central é o emprego Muito embora a popularidade do presidente Obama esteja baixa, a economia norte-americana vem dando sinais consistentes de recuperação. A produção industrial tem crescido, o consumo mostra sinais de elevação sistemática mesmo que pequena, a confiança dos investidores cresce e as contas externas apresentam déficits menores. Os efeitos no longo prazo da estratégia de "inundação monetária" persistem sob ferrenho escrutínio, mas, até agora, os efeitos sobre a demanda foram positivos sem grandes alterações na inflação. O problema é que o desemprego continua cravado nos 10% da mão de obra e os efeitos políticos da recuperação são negligenciáveis. Neste contexto, é difícil de acreditar que propostas "de estadista" de Obama podem vingar. Não à toa, o seu discurso sobre "o Estado da União" na semana passada foi escutado com ceticismo pela classe política e pelo povo. O presidente quis aguçar a confiança dos americanos na América. Acabou no vazio. Na mesma semana em que o presidente chinês desfilava pelas avenidas de Washington paparicado por empresários e pelos próprios diplomatas nativos. Sinal dos tempos. EUA : mercado de ações em alta A despeito da constatação de que a recuperação dos EUA é lenta, o mercado de ações do país vem apresentando excelente desempenho. A tendência é de alta, os fluxos de capital para o mercado são consistentes e os resultados das empresas satisfatórios. Com a taxa de juros negativa em termos reais (descontada a inflação), muitos investidores sentem-se seguros de investir em ativos reais com liquidez. As ações ocupam lugar privilegiado nesta estratégia. As ações norte-americanas podem se destacar entre os mercados mundiais neste ano. PanAmericano : mais "novidades" Difícil acreditar que tantos erros possam ter passado incólumes sob os olhos de auditores e do próprio BC no caso do Banco PanAmericano. Seria até o caso para uma investigação congressual sobre como agem o BC e as empresas de auditoria nas suas fiscalizações. Espera-se que o Ministério Público faça a sua parte. Mais de R$ 6 bilhões de rombo nas contas da instituição parece um número incrível. Pergunta que merece resposta Se a aquisição do PanAmericano pode ser interessante para o competente e agressivo Banco BTG de André Esteves, então por que não seria bom para a Caixa Econômica Federal ? A pergunta vem de um bem situado executivo da instituição estatal. Daqueles que viram os números do banco de Silvio Santos. Câmbio : primeiros sinais A julgar pelo valor do dólar frente ao real depois das medidas adotadas pelo governo, estamos diante do primeiro fiasco da política econômica de Dilma. Muito barulho por nada. Como se sabe, a taxa de câmbio é a mais complexa das variáveis da política econômica de qualquer país, mas uma coisa é certa : com a taxa de juros para cima e sem fortes ajustes fiscais, é quase impossível imaginar um real mais adequado aos interesses estratégicos do país. Hora de agir Lula administrava com a "lábia" e, de uma forma ou de outra, controlava ansiedades e expectativas dos agentes econômicos, até mesmo os inquietos homens do mercado financeiro. Dilma começou a governar acreditando que poderia amainar as tensões naturais com demonstrações explícitas de possíveis virtudes gerenciais e com promessas de que colocará em ordem as contas públicas. Sem dizer quando, quanto, como e onde. E com direito a divergências internas num governo que apregoa não aceitar divergências. A ministra do Planejamento, Miriam Belchior, uma das portadoras da foice do corte, disse em alto e bom som, que as obras do PAC serão atingidas. Dilma, em alto e bom som mais alto ainda, negou três vezes que isto possa ocorrer. Ao mesmo tempo, em tom de sussurro, o BC alertou que, sem a ajuda do resto do governo, terá de ser mais duro com os juros. E o tal do "mercado" ? O mercado ainda não se convenceu com a nova "lábia" governamental. Pela oitava vez consecutiva os executivos do setor financeiro elevaram a sua previsão para a inflação deste ano, agora estimada em 5,64% contra 5,53% da semana anterior. A de 2012 subiu de 4,54% a 4,70%. Há uma desconfiança de que o governo, por seus compromissos políticos, vai trabalhar a longo prazo no combate aos males da inflação. O centro da meta, de 4,5% só seria mesmo alcançado em 2013. Obstáculos políticos Não há justificativa técnica para a demora do governo em definir o tamanho e a linha de cortes no Orçamento para chegar aos 3,1% do PIB de superávit primário este ano - sem mágicas. Afinal, a equipe responsável pelo desbaste estava toda no governo passado e acompanhou toda a tramitação da peça orçamentária. Sabe, portanto, onde os parlamentares cometeram atrocidades, inflando receitas para acomodar despesas. Tanto que o ministro das Comunicações, então no Planejamento, pediu aos deputados e senadores, antes da votação do Orçamento, que eles cortassem R$ 10 bilhões da proposta original. Eles não só não cortaram como ainda puseram outras despesas na conta. O problema é outro, é político. O extraordinário volume da poda - entre R$ 50 bilhões e R$ 64 bilhões - exige sacrifícios que vão fazer explodir insatisfações no Congresso e nos partidos aliados. Os próprios ministros, convidados a entregar suas sugestões de corte até sexta-feira, 4/2, estão ressabiados. Sem contar que há um extenso pacote de despesas rondando o governo na Câmara e no Senado : aumento do salário mínimo, aumento das aposentadorias, aumento do Judiciário, aumento dos policiais civis e militares e do corpo de bombeiros... Assim, será impossível Dilma realizar, simultaneamente, três de seus propósitos : ajuste fiscal, corte de impostos, ainda que pontuais e manutenção de todos os gastos previstos para o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). E ainda por cima pagar todos os restos a pagar deixados por Lula. Poder de convencimento O governo já tem um poderoso argumento para tentar convencer os deputados e senadores a não pesarem a mão no aumento do salário mínimo (aceitando os R$ 545 ou R$ 550 de Dilma) e no reajuste das aposentadorias acima do mínimo. Mostrará a eles que quanto maiores forem esses aumentos, maior será a necessidade de cortar outras verbas do Orçamento. E a tesourada pegaria as emendas dos parlamentares e das bancadas, poderoso instrumento de caça aos votos. Omissão da Academia de Hollywood De um maldoso de plantão em Brasília : "Vai faltar um Oscar na festa do cinema este ano : o de efeitos especiais em economia para o ministro Guido Mantega, para o superávit primário que ele está exibindo com um sorriso beatífico, em Brasília." Mercado de ações brasileiro Como temos informado há quase um ano nesta coluna, a tendência do mercado acionário brasileiro não é de alta. Também não é de baixa. A estabilidade do nível geral das cotações (variação do IBOVESPA) tem sido a marca registrada do mercado acionário e, por enquanto, assim deve continuar do nosso ponto de vista. Três fatores contribuíram e contribuem para este cenário : (i) incerteza para a sustentação do crescimento dos lucros das empresas no longo prazo consistente com aquele que está projetado pelos investidores e analistas; (ii) alta da inflação e a frouxidão fiscal do governo os quais forçam os juros para cima; (iii) excesso de ofertas primárias e secundárias de ações frente a uma demanda menos intensa. Somente neste início de ano há 14 operações de emissão/colocação de ações junto aos investidores em análise pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM). A estimativa do mercado é que entre R$ 40 e 50 bilhões de ações sejam ofertadas este ano. Um sinal de que os preços estão bons para quem vende e menos atraentes para quem compra... Radar NA REAL 28/1/11 TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA estável alta - Pós-Fixados NA estável alta Câmbio ² - EURO 1,3279 alta alta - REAL 1,6834 estável/alta estável/alta Mercado Acionário - Ibovespa 66.697,60 estável/baixa estável/baixa - S&P 500 1.276,34 alta alta - NASDAQ 2.686,89 alta alta (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável Diplomacia de Dilma Não deixa de ser interessante verificar como a presidente Dilma analisará os acontecimentos no mundo árabe e os seus efeitos sobre a política externa brasileira. O caso exige uma reavaliação de muitas variáveis da política brasileira para o Oriente Médio, incluindo as recentes investidas no vasto contencioso do Irã para com as autoridades fiscalizadoras do setor atômico. Um divã para a oposição... ... ou a arte de não fazer política. Definitivamente, a oposição, juntada no PSDB, no DEM e no PPS, desaprendeu a fazer oposição. Uma das grandes façanhas de Lula, a merecer análises mais acuradas dos cultores da tese do lulismo, foi a de praticamente eliminar a política no Brasil. Conciliador por natureza, o ex-presidente foi aos poucos eliminando ou cooptando todas as forças que pudessem fazer-lhe frente : o Congresso foi acoelhado, os partidos governistas domesticados e as centrais sindicais e as organizações não governamentais alimentadas com muitos recursos. Restou a oposição partidária institucionalizada. Mas esses partidos foram perdendo o rumo, depois da crise do mensalão quando o próprio Lula pensou em negociar uma paz com os adversários, incluindo sua não recandidatura em 2006. Depois, acovardada com a crescente popularidade de Lula, absteve-se de suas funções de vigilantes do poder de plantão. Foi apenas periférica nas suas contestações. E os votos recebidos ? Saindo de sua terceira derrota seguida, a oposição nega os 44 milhões de votos recebidos no segundo turno da sucessão presidencial se autodestruindo e deixando na orfandade a sociedade. As disputas entre Serra e Aécio, no PSDB, e entre os clãs Bornhausen e Maia no DEM, são o que há de mais mesquinho na política brasileira no momento. Mais mesquinho até que a troca de amabilidades entre o PT e o PMDB pelas "furnas" (no dicionário, cavernas, antros, subterrâneos) dos empregos públicos. Socialistas em choque Já não é das mais saudáveis as relações do governador Eduardo Campos (PE) e o governador Cid Gomes (CE) e seu irmão Ciro Gomes. Guerra por espaços no governo Dilma e pelo controle do partido. Campos tem pretensões elevadas para 2014 - no mínimo uma vice de Dilma (ou de Lula) desbancando o PMDB. E Ciro, acolitado pelo irmão, é um eterno candidato a qualquer coisa. As divergências são tantas que em Brasília já se especula sobre uma possível saída dos irmãos Gomes do PSB, em direção ao PV. Ciro inauguraria no seu currículo então o sexto partido em sua não tão longa assim carreira política - Arena (de onde saiu o DEM), PMDB, PSDB, PPS e PSB. Legitimidade e legitimidade Em entrevista ao site Estadão.com, o vice-presidente da República, Michel Temer, assim como a presidente Dilma Rousseff descartou a possibilidade de o Congresso aprovar a reforma política exigida pelo país. Para Temer, há dificuldades porque ela atinge "interesses eleitorais legítimos (grifo nosso)" e, portanto, não teria o apoio da maioria dos parlamentares, a não ser em alguns pontos específicos. Escorregou conceitualmente o político do PMDB, também um homem de letras jurídicas. Numa democracia, o único interesse eleitoral legítimo é o do eleitor. E o eleitor clama por uma alteração nos modos e procedimentos do fazer político no Brasil.
terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Política & Economia NA REAL n° 137

Dilma e os sindicatos em busca da pazA presidente escalou o ministro Gilberto Carvalho para acertar com as centrais sindicais pendências a respeito das reivindicações deles em relação ao novo salário mínimo e ao reajuste da tabela do IR. Essas pretensões, porém, são apenas a espuma no rol de insatisfações dos sindicalistas. Além de alguma concessão, para exibir como conquistas, o pessoal da CUT, da Força Sindical e outras quatro entidades querem : 1. Manter o mesmo canal presidencial aberto e o mesmo prestígio que tiveram com Lula.2. Não perder posições no governo em áreas estratégicas.3. Não avançar em nenhum ponto da reforma trabalhista, como a anunciada proposta de redução da contribuição patronal para o INSS, sem que os sindicatos opinem e concordem.4. Apoio e empenho para aprovar no Congresso a redução da jornada de trabalho para 40 horas semanais.5. Deixar de lado, como aliás a presidente já disse que deixará, intenções de avançar em uma reforma da Previdência. Ao contrário, apoiar o fim do fator previdenciário. A presidente e as pendengas com o PMDB Em quarentena, o PMDB anota os passivos que tem a receber de Dilma : 1. Perda de substâncias no ministério e no segundo escalão.2. Crescimento de sua imagem de fisiológico.3. Divisão de suas forças e os movimentos para enfraquecer alguns de seus líderes no Congresso, caso dos deputados Eduardo Cunha e Henrique Alves. Fogo amigo em alta combustão O PMDB assanhou-se a ponto de chamar o PT para "a briga" a fim de não perder a presidência da Funasa, hoje nas mãos de afilhado de Henrique Alves. No auge da controvérsia, desabou na imprensa matéria dando conta que a CGU, em investigação, levantou suspeita sobre no mínimo R$ 500 mi dos gastos efetuados pela fundação nos últimos anos, quando esteve debaixo das asas peemedebistas. O deputado Eduardo Cunha, do PMDB/RJ, tão glutão quanto audacioso, faz ameaças públicas de retaliação ao governo no Congresso, se perder o controle de Furnas, conquistado por ele depois de ajudar a derrotar a prorrogação da CPMF, em 2007. Por coincidência, esta semana, uma misteriosa e providencial mão, fez saber ao distinto público que a companhia, cuja sede fica no RJ, enfrenta denúncias de prejuízos financeiros causados pelo aparelhamento político da atual gestão. A oposição, ainda lambendo suas feridas eleitorais, não tem fontes para esse tipo de informação. Ou seja. Distúrbios na oposição Quem faz a leitura, mesmo que esporádica, do twitter que José Serra mantém na rede já percebeu o rumo que ele está tomando para tentar manter-se com a cabeça acima da enxurrada : vai fazer uma oposição dura ao governo Dilma, como não fez com Lula em seus tempos de governador nem mesmo durante a campanha eleitoral. Com isso, pretende atrair parte dos tucanos e criar constrangimentos para Aécio Neves, de estilo mais conciliador e que pretende levar os tucanos a fazer uma oposição mais "propositiva". Serra não desistiu nem de liderar o PSDB, nem de tentar ser novamente o candidato do partido à presidência em 2014. E Aécio arma-se para confirmar que é a bola da vez. Vão precisar de um conselho de arbitragem, papel que os assistentes da disputa esperam que FHC venha a exercer. Outro árbitro O mesmo papel de conciliação entre os Bornhausen e os Maia, os do DEM esperam que Marco Maciel se disponha a assumir. Pax oposicionista Enquanto não chegam os conciliadores, Dilma terá mesmo de se preocupar é com os seus "aloprados", que não são poucos nem facilmente deglutíveis. Há um PT muito inquieto na Câmara. Prazo de vencimento A tal reforma ministerial que Brasília discutia ser necessária antes mesmo da posse dos novos ministros de Dilma já tem três candidatos potenciais a encabeçar a lista dos substituídos, daqueles que deverão ser convidados a não mais fazer "sacrifícios" em Brasília : Fernando Haddad, da Educação; Luiz Sérgio das Relações Institucionais e Pedro Novais, do Turismo. A primeira vítima A saída do jovem Pedro Abramovay do Ministério da Justiça mostra, por um lado, que Dilma não se esquece do passado e, na hora certa, dá o troco. Desde a edição da revista "Veja" que revelou a queixa dele quanto aos pedidos de Dilma e Gilberto Carvalho, que a relação estava azedada. Mas a demissão revela outro lado da história. De fato, demonstra aquilo que já é voz corrente em Brasília, que José Eduardo Cardozo pretende tirar todo mundo do ministério que tem em seu DNA a indicação de Márcio Thomaz Bastos. A julgar pelas últimas movimentações, tem obtido êxito. E mostra, ainda, que Dilma quer marcar mais uma diferença entre ela e Lula, que sempre foi de tergiversar muito antes de afastar companheiros que o desagradavam ou eram surpreendidos em estripulias. Abramovay foi o "efeito demonstração" : nem passou pelas frigideiras comuns em Brasília, foi direto para o fogo. Estilos vice-presidenciais No consulado de FHC, Marco Maciel foi discreto e silencioso como pressupõe sua esguia figura. No reinado de Lula, o volumoso José Alencar só troava contra os juros altos, ecoando os silêncios que o presidente era forçado a manter sobre o tema. Nem como ministro da Defesa, Alencar inovou - foi o mineiro das anedotas, quieto e desligado. Na primeira presidência feminina, Michel Temer, um político de sorriso dietético, é um vice em busca de um estilo e de um espaço para ancorar suas expectativas políticas. Na mídia, sua atividade política intensa, mesmo que de bastidores, é alardeada quase aos berros. Estilo presidencial Do mesmo modo, causa estranheza a insistência das vozes oficiosas em soprar para os jornalistas as diferenças de postura entre Dilma e Lula e de contar que a presidente se comunica com frequência com seu antecessor. O que é natural não se apregoa, ele é visível. Critérios técnicos ? O ex-deputado (não reeleito) Rocha Loures (PMDB/PR) vai para a vice-presidência de Loterias da CEF. O ex-governador Orlando Pessutti (PMDB/PR) vai para a diretoria de Crédito Agrícola do BB. G-2 em ação Não há nenhum erro na sigla, não falta um zero à direita do mundo. Os destinos da economia mundial estão nas mãos de EUA e China. Importa é o eles fizerem ou deixarem de fazer. Todos os outros, inclusive os restantes 18 do G-20, serão simples coadjuvantes ou meros expectadores. Alta ansiedade O BC fez a média que o mercado financeiro esperava dele. No entanto, o mundo econômico ainda não se acalmou, pois falta o resto do governo dizer qual será a sua parte no processo de reorganização da economia nacional. A bola está com Dilma, Mantega e sua tesoura mágica. Pressa e perfeição Em seu artigo quinzenal no Estadão de domingo, 23/1, o excelente economista e analista José Roberto Mendonça de Barros chama a atenção para um fenômeno em ocorrência ainda na economia brasileira em função do aquecimento das atividades no ano passado, não freada no tempo devido pelo governo Lula por razões de cunho eleitoral : "todos os esforços [das empresas] foram direcionados para resolver esse gargalo [na produção], mesmo que isso implicasse em custos maiores, algum atraso, qualidade eventualmente menor e margens mais estreitas". E nada ilustra mais esta desenfreada corrida para a produção do que está ocorrendo com a indústria automotiva no país. Fabricando e vendendo como nunca, as montadoras estão batendo recordes de recall. Semana passada, foi a vez da Ford chamar mais de 300 mil carros para reparos. No ano de 2010, o setor fechou com recall de 1,4 milhão de automóveis, um aumento de quase 100% em relação a 2009.
terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Política & Economia NA REAL n° 136

  Otimismo de Mantega Foi para levantar a moral da tropa governista, acabrunhada com o poderoso facão, que Guido Mantega prometeu um crescimento médio do PIB nos próximos quatro anos de 5,9% (com Lula foi cerca de 4% e com FHC pouco mais de 2%) e aumento contínuo da taxa de investimentos. Foi também uma tentativa de abaixar um pouco o grau de ansiedade dos agentes econômicos privados, inseguros quanto aos rumos reais que a economia tomará. Doutor Pangloss não faria melhor. Como dizia Garrincha, resta saber se o ministro combinou com os russos. E no exterior ? O crescimento das principais economias mundiais continua sendo muito incerto no que se refere à sustentação nos próximos anos. Aparentemente, os europeus, sobretudo os alemães, estão mais ciosos da necessidade de manter a União Europeia dentro dos mesmos parâmetros estabelecidos nos anos 90. A política de socorro às economias mais endividadas é mais consensual e a rigidez fiscal será o fator determinante para a retomada do crescimento econômico. Nos EUA, o mercado está mais sólido e crente na política de expansão monetária promovida pelo Fed. Tanto é que o mercado acionário andou registrando altas consecutivas e sólidas em termos de volume. A China é o grande mistério da equação internacional. Um menor crescimento da economia chinesa é o fator crucial para que a Europa e, sobretudo, os EUA possam crescer mais. Para o Brasil, é a China o maior risco em função das commodities cujos preços subiram nos últimos anos movidos pela grande demanda chinesa. Como se vê, as perspectivas estão mais positivas na economia mundial, mas tudo isto é ainda muito frágil para que se possa afirmar que o front externo será azul como no passado, antes da crise de 2008. O teste do FMI Não deixa de ser incrível que o FMI, um organismo multilateral desprovido de necessárias reformas, esteja tão ativo no velho continente, impondo as suas clássicas e duras medidas aos países endividados que enfrentam desemprego da ordem de 20%. A reforma do sistema financeiro internacional não aconteceu e, provavelmente, não acontecerá. Assim sendo, o "velho FMI", tão associado à banca internacional, continua protagonizando histórias de recessão e desespero. É o caso da Irlanda e da Grécia. E talvez Portugal. Eis o FMI, o organismo silente quando a especulação corre solta nas economias... Realismo do BC Sem exibicionismo, o Copom aumentará os juros amanhã, segundo previsões dos analistas financeiros, em 0,5 ponto percentual. Outros ajustes virão e o tamanho deles vai depender de quanto o ministro Mantega conseguirá cortar, de fato, no orçamento deste ano. Se a poda for pra valer, entre os R$ 40 e os R$ 50 bi tidos como necessários para dar os 3% de superávit primário em 2011, nem os investimentos do PAC estarão livres. Por isso, está todo mundo de olho mesmo é no BC. BC está atrasado A demanda aquecida e o firme andamento dos preços nos últimos meses são evidências cristalinas de que o BC está atrasado em relação à alta dos juros básicos. O BC, ainda sob a batuta de Meirelles, operou com um olho no mercado e outro nas eleições. Por isto mesmo, poderá ser mais firme do que seria necessário para voltar a fazer política monetária com a requerida credibilidade. Contingenciamento ou corte definitivo ? Para mostrar que desta vez é para valer, o governo está dizendo que não fará um contingenciamento das verbas orçamentárias (suspensão temporária dos gastos, liberáveis quando as receitas entram no caixa), mas um corte sem volta. Vai ser a mesma coisa, pois o orçamento, na prática legislativa e administrativa brasileira, pode ser recomposto a qualquer momento, por uma simples MP. E a presidente vai precisar desse expediente quando tiver embates no Congresso e os parlamentares começarem a dar falta de suas emendas. Comendo o próprio rabo A maior dificuldade, no momento, para o ministério da Fazenda aplicar medidas corretivas na economia brasileira, para colocá-la no rumo do crescimento sustentável sem pressões inflacionárias, são os efeitos colaterais que elas provocam, tal a necessidade de ataque em várias frentes : 1. Com os juros - encarece a produção, pressionando os preços e torna mais atraente a vinda do capital estrangeiro, que por sua vez força a valorização do Real.2. Com o câmbio - uma valorização realista do Real encarecerá os produtos importados e tocará na inflação.3. Cortes nos gastos - como deverá também pegar os investimentos, servirá para retardar a eliminação de gargalos de infraestrutura, mantendo baixa a capacidade de competir da maior parte de nossa produção de manufaturas e mercadorias de alta tecnologia. Sem contar os "colateralíssimos" efeitos na política, verdadeiramente avessa a questões como verbas oficiais menores, aumentos modestos para os salários... A questão cambial Dilma escolheu bem a questão do câmbio como a mais importante a ser enfrentada no médio prazo. É do imbróglio cambial que nasce a dependência externa e o processo de desindustrialização, fontes do atraso tecnológico e do desemprego estrutural. Há dois pontos vitais que se colocam como barreiras à solução da valorização do Real : (i) as regras do comércio internacional que impedem muitas manobras da política industrial e (ii) a relação com a China, que precisa ser definida como parceira ou competidora. Todavia, no curto prazo o que está sendo analisado pelo Planalto e nos corredores das salas da equipe econômica é o controle de capitais. O mercado financeiro deve ver muitas medidas ainda em relação à matéria. Radar NA REAL 14/1/11 TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA estável alta - Pós-Fixados NA estável alta Câmbio ² - EURO 1,3279 alta alta - REAL 1,6852 estável/alta estável/alta Mercado Acionário - Ibovespa 70.940,20 estável/baixa estável/baixa - S&P 500 1.293,24 alta alta - NASDAQ 2.755,30 alta alta (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável A imagem de Dilma ou desconstruindo Lula Dilma Rousseff, por gestos, circunstâncias e muita informação vazada para a imprensa, tem feito esforço absoluto para demarcar as diferenças de estilo entre ela e Lula. Um dos mais visíveis desses sinais é a insistência divulgada incessantemente que sentencia que ela aceitará indicações políticas, mas com "critérios técnicos", numa alusão bem explícita de que este não teria sido o comportamento usual de Lula. Enquanto isto, surpreendendo a todo mundo, o ex-presidente guarda um obsequioso silêncio. Quanto tempo ? Na capital da política, da intriga e da fofoca avalia-se que não falta muito para os ouvidos das paredes do Palácio do Planalto e de alguns ministérios começarem a escutar imprecações contra o mais ilustre morador de São Bernardo do Campo. Os anões de Disney O PMDB, que deu sinais de quase unidade na campanha presidencial, está de novo dividido em Brasília entre os "felizes" e os "zangados". No grupo dos primeiros, bem menor, estão os senadores e as pessoas ligadas ao vice-presidente Michel Temer. Eles levaram de Dilma, até agora, praticamente tudo o que queriam. Na segunda categoria, está a maioria dos deputados, que até o momento levou mais promessas do que tudo e mais um lustre na imagem de fisiologia que a legenda, com enorme merecimento, carrega. Iludido Kassab, que passa mais tempo cuidando de seu futuro político do que cuidando da cidade, acertou sua entrada e do grupo que o segue no PMDB. O plano é disputar o governo estadual pelo partido, para tentar romper a polarização, na capital no Estado, entre o PSDB e o PT. O propósito kasssabiano tem tudo para ser mais um sonho de noite de verão da política brasileira, o mesmo que fez Ciro Gomes acreditar que o PT abriria para ele o espaço de candidato a governador de SP. Velho, cansado de guerra, o PMDB vai cozinhar Kassab até a hora de ver quem tem mais chances de vencer a eleição de 2014, para a ele se aliar. O PSDB ou o PT. O PMDB é o partido do pássaro na mão e nenhum voando. Vitória Esta semana deve aparecer o responsável pela façanha de praticamente garantir a condução tranquila de Marco Maia à presidência da Câmara, com as desistências já anunciadas de dois dos principais concorrentes - Aldo Rebelo e Júlio Delgado. Sozinho, Sandro Mabel não faz enchente. Maia é sabidamente um candidato que não empolga nem os "grandes caciques" de seu próprio partido. Deve a quem ? Michel Temer ? Antonio Palocci ? Ou à própria Dilma ? O ministro da Articulação Institucional, Luiz Sérgio, é que não foi. Gols a favor têm sempre autores, os contra nem sempre. Guerra é guerra Começaram a aparecer na imprensa informações sobre desvios de conduta na gestão da FUNASA nos últimos quatro anos, período no qual ela esteve sob o comando do PMDB. A FUNASA é alvo da fratricida disputa entre o PMDB e o PT do ministro Alexandre Padilha. Nos bastidores brasilienses também se têm como muito provável, nos próximos dias, notícias não muito boas sobre a CONAB, do ministério da Agricultura. O homem certo O peemedebista Edison Lobão é de fato a escolha perfeita para o ministério das Minas Energia. Para Dilma, Lobão, jornalista desviado para a política, não tem nenhuma pretensão de comandar de fato o setor elétrico. A prova vem logo aí : a retirada do logotipo da escuderia Sarney da Eletrobrás, um dos feudos maranhenses na eletricidade.
terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Política & Economia NA REAL n° 135

Editorial O ano novo A posse da presidente Dilma é fato significativo do ponto de vista histórico, mas é muito mais do ponto de vista do atual quadro político brasileiro. A ascensão de uma mulher à posição de primeira mandatária do país atesta per se o papel social, político e econômico das mulheres neste século. Ademais, temos "a presidente de todos os brasileiros", como ela própria acabou por definir-se em seu discurso inaugural no Congresso. Que assim seja, em nome da democracia. Não podemos, contudo, deixar de colocar em perspectiva este novo momento. Neste sentido, é preciso aguçar o nosso espírito crítico para não cairmos na crença de que estamos diante de um quadro de continuidade. Não estamos. A história nos prova que a percepção de que "as coisas continuam iguais" é equivocada - eis a única continuidade verdadeira do ponto de vista histórico. A cada medida de tempo temos mudanças, muitas delas significativas. Os desafios brasileiros persistem imensos a despeito das mudanças das duas últimas décadas. Há oportunidades e riscos para o país que carecem de liderança. A nova presidente está necessariamente comprometida com o aproveitamento das oportunidades e a minimização dos riscos. Preocupa-nos, dentre os muitos aspectos que poderiam ser relacionados, a inexistência de verdadeiras inovações nas políticas governamentais que possam retirar tais riscos e aproveitar as oportunidades históricas que se apresentam perante o país. A inflação elevada, os elevados e ineficientes gastos estatais, a duvidosa qualidade do ministério do novo governo, a presença incômoda do ex-presidente Lula por detrás das cortinas da nova administração, a valorização cambial, a falta de competitividade tecnológica do setor industrial, a ausência de propostas dos partidos de oposição, a ausência de reformas estruturais (previdenciária, sindical, tributária, etc.), a corrupção, a insegurança pública, apenas para citar alguns, mostram a necessidade de uma ação vigorosa e inventiva da nova presidente. Dilma Rousseff tem toda a legitimidade para liderar o país. Parece-nos importante que possa estabelecer uma agenda coerente, temperada por prudência de um lado, e audácia de outro. O Brasil merece muito mais que a propalada continuidade que se espalha por aí. Feliz ano novo. Do ensaio ao bloco na rua Os primeiros dez dias do novo governo, empanados pela briga meramente fisiológica entre o PMDB por nacos de verbas, foi marcada por uma (estudada ?) diferença de estilo entre a presidente e seu antecessor - saiu a exuberância marqueteira e "palanqueira" de Lula e subiu a discrição tecnocrática de Dilma. Os porta-vozes da presidente, os oficiais, os oficiosos e os simplesmente oferecidos, fazem questão de marcar esta diferença espalhando a tese de que voou do Palácio a intuição lulista e pousou a racionalidade dilmista. Acentua-se também que Dilma é de decidir rápido em contrastes com os modos protelatórios de Lula. Mesmo assim, a primeira semana marcou uma rendição do novo ao velho modelo : o anúncio, com pompa, de um programa de erradicação da miséria absoluta no país, sem metas, sem verbas alocadas e até sem a definição do universo dos futuros beneficiados. Em princípio, um perfeito factóide. A reunião ministerial de sexta-feira, quando o ministro da Fazenda, Guido Mantega, fará uma exposição sobre a situação econômica, e poderá anunciar o tamanho da dieta que seus colegas deverão cumprir, servirá para marcar a entrada do bloco de Dilma efetivamente na rua. Até agora foi apenas concentração e ensaio. Os três desafios de Dilma Para começar a pôr sua marca no governo e acertar o passo, a presidente terá ainda que enfrentar três provações, ou, como se diz em linguagem rebuscada e imprópria : equacionar três desafios : 1. A sua relação com Lula - embora recolhido a um silêncio respeitoso no Guarujá, o ex-presidente, até telepaticamente na voz do amigo e ministro Gilberto Carvalho, emite sinais claros de que não sairá de cena nem pretende ser um protagonista de terceira categoria, desses que entram mudos e saem calados do set de filmagem, na política brasileira. Carvalho (ou Gilbertinho como os íntimos o chamam) já avisou que "temos o Pelé no banco". 2. A relação com a base política governista - montada na base do fisiologismo, do qual ninguém escapa, ela terá se ser alimentada constantemente, sob pena de virar a dor de cabeça para Dilma que a oposição promete não ser. 3. Fazer o ajuste fiscal - o corte de gastos terá de ser volumoso, para não assanhar as forças econômicas. Bons observadores do mercado já perceberam que há mais nervosismo agora, com o governo instalado, do que nas fases mais agudas da campanha eleitoral. Na outra ponta, é preciso não provocar com a poda de despesas clientelas como os sindicalistas, os funcionários públicos, os parlamentares. O governo Dilma começará de fato depois que essas contas tiverem sido acertadas. Senão, ela perderá um bom tempo administrando crises artificiais. A voz do "mercado" Esta entidade obscura, mas presente, chamada "mercado" está fazendo as contas e as análises em relação ao governo Dilma. Os indicadores internos contam muito : a inflação preocupa e a ausência de poupança pública preocupa muito mais. Não veremos no curto prazo nenhum economista do setor financeiro propagando notícias e análises negativas. Simplesmente porque não interessa fazê-lo. Por ora. Mas o Brasil não é o mundo. Há um incômodo cenário internacional, recheado de desafios, que condicionará o andamento da economia brasileira. A relação entre as principais moedas do mundo, especialmente o contencioso entre a China e os EUA, a letargia econômica nas principais economias e o desemprego que desestabiliza governos são pontos altos da agenda. O Brasil é destaque no mundo. Todavia, é ilusório pensar que sem avanços o país persistirá protagonista em termos de crescimento e investimento. BC : primeiros sinais são somente os primeiros Anotem aí : os primeiros sinais que sairão do BC em relação à política monetária serão em linha com a política anti-inflação "tradicional" de qualquer autoridade monetária séria. Não é aí que residem os riscos, digamos, institucionais para o BC. O maior risco virá com o tempo. Existe a crença em vastos setores do governo de que o BC no Brasil não pode funcionar como nos países desenvolvidos. O "modelo" mais estudado é o chinês. Esse mesmo da China comunista. Guru no Planalto Um destes gurus que não falam somente para os seus pupilos soltou esta para o ministro Mantega e a presidente Dilma : "se quiserem controlar o câmbio, não tenham ilusões = controle cambial se faz adotando controles sobre fluxos de capital. Não tem jeito". Esqueçam o que eu disse Por falar em corte de despesas, veja-se a frase da então candidata à presidência da República no dia 30 de agosto, quando da campanha eleitoral : "Eu não vou fazer ajuste fiscal em hipótese alguma por um motivo : o Brasil não precisa mais de ajuste fiscal". Nada como um dia depois das urnas. O homem e o mito É discretíssimo, porém não imperceptível, o processo em andamento em corredores de Brasília para desidratar a imagem de Lula. Simplesmente opor o mito ao homem. Teoria conspiratória ? De um atento leitor das coisas de Brasília : "A oposição não dispõe de nenhuma polícia secreta, nem mesmo de um mero Inspetor Clouseau, para levantar leviandades oficiais como, por exemplo, a concessão de passaportes diplomáticos a dois filhos e a um neto de Lula. Portanto..." Deitou na cama ? Pague e não chore ! O PMDB escarrapachou-se na cama, agora assuma a fama, pois ele bem a merece. Mas não sozinho. Quando o PMDB pede um cargo é fisiologismo - e no mais das vezes é mesmo. Quando o PT avança sobre os cargos dos outros, é uma opção técnica, para melhorar a gestão pública. Caso - sem risos, por favor - do petroleiro sindical de Campinas, Wagner Pinheiro, que de repente ganhou foros de especialista em coisas postais e surrupiou os cobiçados e encalacrados Correios das garras peemedebistas. Quando o PT e o PSB fazem acordo para barrar os avanços do PMDB no nordeste e dividir entre eles o melhor butim oficial na região trata-se de espírito desinteressado de colaboração. Já o PMDB é um faminto guloso. Se o PMDB fosse possuído de algum senso de humor, uma gota sequer, poderia dizer para o PT e adjacências da base aliada : "Eu sou vocês amanhã." Sinal aberto Primeiro Guido Mantega, depois Dilma. Abriram as porteiras para um reajuste do salário mínimo, "os imexíveis" R$ 540 decretados por Lula. O ministro da Fazenda, quando disse que o governo vetará qualquer valor diferente, deu aval para qualquer parlamentar dar um voto para agradar a plateia, pois o governo avisa que zelará pelos cofres públicos. E a presidente quando repreendeu Mantega por ter anunciado o veto, no fundo disse aos congressistas que podem ousar mais que o governo garante. Novo aparelho ? No ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Miguel Jorge trabalhou principalmente com servidores de carreira e técnicos nos postos-chave da pasta. O novo ministro, Fernando Pimentel, tem outro critério : primeiro, os nossos companheiros. Sumiço Encerramos o ano 2010 sem ter o que falar da oposição, em recesso desde a derrota eleitoral. Começamos 2011 também sem ter o que dizer dela, pois, ao que parece, continua em férias. Desses, Dilma não precisará se defender. O inimigo mora ao lado - PMDB, PT, PDT... Radar NA REAL São discretos os movimentos do mercado financeiro e de capital neste início de ano. Todavia, as dúvidas sobre o desempenho da bolsa de valores estão crescendo. Os fluxos de capital externo estão em ritmo lento e a capacidade de geração crescente de lucros das empresas está sendo colocada em dúvida. Todos sabem que no mercado não há continuidade. No Brasil, as ações são a maior dúvida do mercado. No que diz respeito ao câmbio, o mercado continua a esperar por nova medidas que contenham a valorização do Real. A reunião entre Obama e o governo chinês, no próximo dia 18, será fundamental para definir o desempenho do dólar norte-americano no cenário internacional. A taxa de juros vai para cima com o objetivo de conter a alta de preços. O problema maior da política de juros será o de coordenar a alta de juros com a desejada desvalorização cambial. Até o mundo mineral sabe que uma das razões que não proporcionaram mais inflação foi a valorização do câmbio, que aumentou a concorrência doméstica via importações, bem como conteve as variações dos preços das commodities no mercado internacional. E se o dólar subir perante o Real ? Não haverá mais inflação ? 7/1/11   TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA estável alta - Pós-Fixados NA estável alta Câmbio ² - EURO 1,2896 alta alta - REAL 1,6840 estável/alta estável/alta Mercado Acionário - Ibovespa 70.057,20 estável/baixa estável/baixa - S&P 500 1.271,50 alta alta - NASDAQ 2.703,17 alta alta (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável Centena Esta coluna atingiu ao final de 2010 a marca de 100 mil assinantes. Algo significativo para os seus autores e para a direção do prestigiado Migalhas. Isto nos gratifica e, ao mesmo tempo, impõe a continuidade da responsabilidade jornalística e ética pela tarefa a qual nos propomos. Obrigado aos nossos leitores. Continuaremos juntos neste 2011.
terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Política & Economia NA REAL n° 134

Um concerto inusitado Dois fatos significativos, mesmo que discretamente avaliados, despontaram no final da semana passada e são fundamentais para avaliar o futuro da economia mundial e do desempenho do mercado financeiro e de capital. O primeiro fato foi a firme reiteração do chairman do Fed, Bem Bernanke, de que a injeção de US$ 600 bi no mercado, via compra de títulos do Tesouro dos EUA, vai mesmo ocorrer a despeito dos protestos mundiais. O segundo fato diz respeito à moderação da linguagem de Pequim sobre a política econômica que irá seguir em 2011. Haverá mais preocupação com a inflação e o crédito pelos lados do dragão chinês. Pouco se disse, via porta-voz do governo comunista, sobre câmbio, o calcanhar de Aquiles da relação com os EUA. É possível e até provável que os chineses valorizem um pouco sua moeda, sem reagir a provável queda do dólar dos EUA. Uma guerra cambial neste momento é o que menos interessa à China. E ao mundo. Uma estrela cai É provável que os mercados emergentes não sejam destaque dentre os principais segmentos do mercado financeiro mundial. A moderação do crescimento chinês e o ajuste da política econômica brasileira revelam que há certa exaustão em relação à valorização dos ativos de renda fixa e variável destes países. Há, inclusive, quem veja uma "bolha" localizada no eixo Brasil - Índia - China. Mercado de ações nos EUA As expectativas de bons resultados corporativos em 2011, a taxa de juros negativa, a desvalorização provável do dólar estão deslocando vultosas quantias da renda fixa para as ações no mercado norte-americano. Não à toa o Índice S&P 500 está no maior patamar em 27 meses. O mesmo vale para a maioria dos índices de ações norte-americanas. Nossa aposta Está se formando um cenário mais desfavorável para o mercado acionário dos países emergentes. No caso do Brasil, a maioria dos setores é de commodities e os preços destas devem se reduzir com a redução da atividade chinesa. A correlação entre tais preços e as cotações das ações é muito forte. Além disso, a elevação da taxa de juros básica para conter a inflação, tornará o mercado mais hostil aos ativos de risco. Neste contexto, é bem provável que as ações norte-americanas se valorizem mais que as chinesas e brasileiras. Não há razões para acreditarmos em ajustes bruscos. Tudo deve ser mais suave, mesmo que surpresas sempre apareçam pelos lados do mercado financeiro... Radar NA REAL 10/12/10   TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA estável alta - Pós-Fixados NA estável alta Câmbio ² - EURO 1,3277 alta alta - REAL 1,7060 estável/alta estável/alta Mercado Acionário - Ibovespa 68.341,80 estável/baixa estável/baixa - S&P 500 1.240,40 alta alta - NASDAQ 2.637,54 alta alta (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável A penúltima de Lula para Dilma Com toda a pompa e circunstância que é capaz promover, Lula vai registrar amanhã em um cartório de Brasília - não se sabe, ainda, se apenas num notário terreno ou também, como na música de Vinicius de Moraes e Baden Powel, "no cartório do céu e assinado em baixo por Deus" - os feitos de seu governo. Ministros e até ex-ministros estão sendo convidados para o séquito presidencial. Convite irrecusável. É uma providência inédita, nunca antes vista neste país ou mesmo no planeta Terra ou em outros do sistema solar. Não há inocência Não é, porém, um gesto inocente. Aliás, do grande ator e do extraordinário político no qual Lula se transformou, nada nele tem mais a espontaneidade dos velhos tempos do sindicalismo e dos primeiros tempos do PT. Lula quer perpetuar o que ele (vide coluna passada) assume como sua "herança bendita". Perpetuar para que não venha a ser apropriada por outros, assim como se faz com o direito autoral, mas também para deixar bem claro que é o responsável pelo sucesso brasileiro dos próximos anos ou quais poderão ser os responsáveis por inesperados insucessos futuros. Depois da cadeira presidencial, é o mais importante presente de Natal de Lula para Dilma. Mas pode não parar nisso. Dilmismo e lulismo Aumenta rapidamente o número de "dilmistas", não só no PT como também em outras legendas aliadas. O movimento ainda é discreto, para não contrariar o dono da voz. Porém, já é considerável o contingente de amigos de infância da ex-presidente, mesmo muitos deles só tendo vindo a conhecê-la durante a campanha ou após a eleição. Pode ser um movimento natural, do "rei morto, rei posto" admitido até por Lula. Mas está ganhando também, como sentimos em algumas conversas com gente graduada, um início do "revisionismo" em relação à dita era lulista. A palavra populismo já é frequente nas considerações. Ministério descartável ? A cada vez que Dilma desvenda o ocupante de um dos ministérios negociáveis na sua equipe, aumenta a sensação (ou torcida) no mundo político e em setores mais antenados da sociedade de que a equipe com que ela vai inaugurar o governo é um ministério de transição. Quando tiver os pés mais firmes no chão e alguns fantasmas mais ectoplasmáticos no horizonte, a presidente eleita fará uma renovação de quadros. A tese é confortável para Dilma. Porém, uma operação de troca de ministros com pouco meses de governo, sem razões muito concretas, pode ter um custo político elevado. Basta ver as enxaquecas já provocadas pela montagem desta equipe. Fora Lula e Sarney e os escolhidos, ao que se saiba não há quem não esteja tendo uma dorzinha de cabeça ao menos. A outra tese é a de que Dilma, que já deu um "nó PMDB" e armou uma delicada situação para o PSB de Eduardo Campos, vá ser o que se diz dela : concentradora e autoritária, menos flexível do que Lula. Se será bom ou ruim é outra coisa. PS - A grande novidade no ministério é a entrada na liça de Ciro Gomes. Ministérios e subministérios, ministros e subministros Algumas pessoas andaram consultando a coluna para entender a classificação acima usada para definir postos no governo. Perguntam também se não é a mesma coisa "ministério" e "ministro", "subministério" e "subministro". Não é a mesma coisa : um subministério pode ter um ministro e um ministério pode estar ocupado por um subministro. Tudo é uma questão de poder político, de influência e de decisão, verbas, obras. Os "subs", tanto ministro quanto ministério, não tem nada disso ou têm muito pouco de alguma coisa. Exemplos práticos ajudarão a entender. Caso 1, Ministério das Minas e Energia - é um ministério, pois tem orçamento alto, toca um setor sumamente importante. Porém, o seu titular indicado, Edison Lobão, foi no passado e será novamente depois de primeiro de janeiro, um subministro. Não escolherá o secretário-geral, os presidentes da Petrobras, da Eletrobrás, de Furnas, da Chesf, de Itaipu e por aí adiante. Do que lhe sobrar, terá de pedir benção a José Sarney e ao PMDB. Terá as circunstâncias. Caso 2, o atual ministério de Assuntos Estratégicos - não tem nem orçamento próprio, abriga um punhadinho de auxiliares apenas faz "futurologia". É, portanto, um subministério. Porém, seu titular no momento, o embaixador Samuel Pinheiro Guimarães, embora discreto, é um ministro. Tem voz, inspira respeito, foi um dos formuladores da política externa brasileira ao lado do amigo Celso Amorim. A prova do pudim Até o dia 21, para não atrapalhar as férias dos parlamentares e não deixar Dilma, com as mãos atadas logo no início de seu governo, as forças governistas prometem um esforço concentrado para aprovar o orçamento do ano que vem. Um orçamento, uma façanha brasileira, teve três relatores em uma semana. Com a discrição que é possível, o esquema de Dilma tenta que o Congresso faça em parte os cortes nos gastos do ano que vem que já são por todos da equipe da presidente eleita considerados necessários. Ela seria poupada de se indispor com alguns setores do seu público logo de cara. O problema é que há uma distância de mais de R$ 20 bilhões entre o que os deputados e senadores querem que o governo gaste em 2011 e o que a turma econômica de Dilma acha que pode gastar. Fala quem sabe Quem quiser conhecer bem a história da petroquímica brasileira, um setor em constante transformação, não pode deixar de ler o livro de Otto Vicente Perrone, "A indústria petroquímica no Brasil". Mineiro de Guarani, Otto Perrone foi diretor da Petrobras, diretor e vice presidente da Petroquisa, presidente da Copene e da Norquisa, é um dos fundadores da petroquímica brasileira, figura de primeira linha no setor. Pena que o livro, editado pelo IBP - Instituto Brasileiro de Petróleo, Gás e Biocombustíveis seja tão difícil de encontrar. Ministeriômetro - Notas técnicas 5 Para entender a lista na nota seguinte, alguns esclarecimentos : - Os atuais ministros não confirmados, continuam na luta. Mesmo Celso Amorim, que fora do Itamaraty, pensa ser aproveitado em outro local.- Dilma deve criar pelo menos dois outros ministérios (ou secretarias como tal) e descartar um - o da Comunicação Social.- Criamos duas outras categorias : "quase confirmados", sobre os quais falta apenas a palavra oficial, e "genéricos", para convidados sem designação da pasta.- Na lista estão não só estatais, mas também órgãos cobiçados por seu valor financeiro e eleitoral. É o caso da Funasa, por exemplo, do Ministério da Saúde, e do Porto de Santos, hoje na Secretaria dos Portos.- Acrescentamos mais duas torres ao edifício dos cargos, o BB e os Correios, ambos arduamente disputados pelo PT e o PMDB.- Há estatais novas no ar : a do petrosal, uma para o São Francisco transposto, a do tem bala (quando ele sair), até uma nova diretoria na Petrobras. Sem contar que há gente querendo reviver uma para o setor de seguros. E uma nova agência reguladora, a Agência Nacional de Comunicações (Anacom), paralela à Anatel.- Caiu a ideia de um Ministério dos Portos e Aeroportos, ficará a Secretaria Especial dos Portos e nascerá uma Secretaria Especial de Aviação Civil. São mais lugares a distribuir.- Voltou a ideia do Ministério dos Portos e Aeroportos- Há ministros quase confirmados, até já sondados, mas que podem mudar de galho. Ministeriômetro - Capítulo XII Possivelmente a última lista. Se mantiver o cronograma que se impôs, Dilma fecha a equipe principal até amanhã. Mas parece difícil. Confirmados Ministério da Fazenda - Guido MantegaMinistério do Planejamento - Miriam BelchiorAssessoria Especial da Presidência - Marco Aurélio GarciaBanco Central - Alexandre TombiniJustiça - José Eduardo CardozoCasa Civil - Antonio PalocciSecretaria Geral da Presidência - Gilberto de CarvalhoPesca - Ideli SalvattiComunicações - Paulo BernardoTurismo - Pedro NovaisAgricultura - Wagner RossiPrevidência Social - Garibaldi AlvesAssuntos Estratégicos - Moreira FrancoMinas e Energia - Edison LobãoTransportes - Alfredo NascimentoDireitos Humanos - Maria do RosárioComunicação Social - Helena Chagas (há dúvida se permanecerá com status de ministério) Quase confirmados Relações Exteriores - Antonio PatriotaRelações Institucionais - Alexandre PadilhaDefesa - Nelson JobimBNDES - Luciano CoutinhoEducação - Fernando HadadPetrobras - José Sergio GabrielliCiência e Tecnologia - Aloizio MercadanteIntegração Nacional - Fernando Bezerra Coelho (Ciro Gomes atropela por fora)Desenvolvimento - Fernando Pimentel Candidatos, indicados Integração Nacional - Ciro GomesRelações Institucionais - Wellington Dias, Luis Sergio, Marco MaiaPortos Aeroportos - Fernando Bezerra CoelhoAssessoria Especial da Presidência - Nelson BarbosaMulheres - Iriny LopesEsportes - Manuela D'AvilaIgualdade Racial - Vicentinho (abre vaga para José Genoíno na Câmara), Luis Alberto, Luisa Bairros, uma mulher afro-descendenteCidades - Marta Suplicy, PP, Jose Filippi Junior, Luiz Fernando Pezão, Mario NegromonteCultura - José Abreu, Emir Sader, Celso Amorim, Antonio Grassi, Ângelo Osvaldo, Ângelo Vanhoni, Fernando Morais, Ana de Holanda (Dilma chegou a consultar oficialmente a mineira Ângela Gutierrez, que não se comoveu)Portos - PSB, Fernando Schimidt, Marcio FrançaPorto de Santos - PSBVale - Rossano MaranhãoPequena e média empresa - Alexandre Teixeira, Antonio Carlos Valadares, Paulo OkamotoDesenvolvimento Agrário - Joaquim Soriano. Wellington Dias, Zezeu Ribeiro, Nelson Pelegrino, Geraldo SimõesSecretaria Especial de Aviaçao Civil - Antonio Henrique da Silveira e Solange Vieira.Desenvolvimento Social - Patrus Ananias, Moema Passos Gramacho, Teresa Campelo, Maria Lucia Falcon, Ana FonsecaMeio Ambiente - Carlos MincFunasa - PMDBSTF - PMDB, PTBanco do Brasil - PT, PMDBCorreios - PT, PMDBSaúde - Fausto Pereira dos Santos, Alexandre Padilha, Jorge Solla, Gonçalo VecinaBNB - Ciro GomesEmbratur - Geddel Vieira LimaInfraero - Geddel Vieira LimaAnvisa - PT, PMDB Avulsos Abrir vaga para José Genoino na CâmaraAbrir vaga para José Eduardo Dutra no SenadoEva ChiavonBeto AlbuquerqueMarcelo CrivellaOlívio DutraEmpresário (grife, como Roberto Rodrigues e Luis Furlan no primeiro ministério de Lula)SindicalistaClara Ant (no Palácio do Planalto)Jorge Gerdau Credores Virgilio GuimarãesCiro GomesHenrique Meirelles (em baixa) Patrus AnaniasOsmar Dias
quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Política & Economia NA REAL n° 133

As asinhas de Dilma Com o cuidado que as vaidades presidenciais aconselham, a presidente eleita vai marcando algumas diferenças entre ela e Lula : 1. A crítica à posição brasileira na ONU, na questão do apedrejamento da mulher acusada de trair o marido. 2. A influência direta no adiamento da decisão sobre a compra dos caças para a Força Aérea, que pode levar à perda da vantagem dos franceses, os favoritos de Lula e Jobim. 3. Não abraça, pelo menos publicamente, as teses petistas e lulistas e o controle do conteúdo da imprensa. 4. A liberação da informação de que ela vai fazer o ajuste fiscal negado pela candidata durante a campanha. Com a indiscrição de Mantega de que o PAC pode ser atingido. Mas não vai mais longe... Dilma só não vai mais longe, diz uma pessoa que sabe das coisas, para não desagradar o criador. A reação de Lula à notícia do PAC deu o tom do clima que pode se instalar. Solto no mundo, falando de política, Lula pode virar um ancoradouro de insatisfações com certas medidas que Dilma terá de tomar. Há temores. E não é na oposição. Isto explica, em boa parte, porque Dilma está tão silenciosa em público, tão retraída. Tem gente já vendo fantasma de dois PTs no ar a partir de 2011 : o PT do governo e o PT lulista. A herança de Lula Prestem a atenção para as sutilezas políticas nas quais Lula está cada vez mais versado. Quando entrou no governo, Lula fez questão de dizer que estava pegando uma "herança maldita", ou seja, o que desse errado era responsabilidade das desídias do governo anterior. Agora, não cansa de repetir que está deixando para sua pupila uma herança bendita, ou seja, se algo der errado não deve ser cobrado dele. O castigo de Mantega Observação de uma língua venenosa : Mantega não ganhou um prêmio com a confirmação de sua permanência no ministério da Fazenda. Foi uma punição : vai corrigir o que aprontou na gestão das contas públicas nos últimos anos. Divã - I Nunca antes na história deste país psicanalistas e psiquiatras, com especialidade nos males da política e dos políticos, tiveram tanto trabalho quanto agora. Inspiram cuidados : PMDB - O partido de Temer levou um susto ao perceber que Dilma descobriu que o tamanho dos peemedebistas é bem menor do que apregoam. Apesar de ter saído das negociações com os cinco ministérios que dizia querer, o PMDB está bem menor do que entrou na campanha presidencial. Perdeu ministérios de votos e verbas, como Integração Nacional e Comunicações, não levou Cidades e Transportes e ganhou um abacaxi (Previdência), uma ficção (Assuntos Estratégicos) e uma promessa de dias melhores (Turismo). Manteve a Agricultura, que divide atenções na área com o Desenvolvimento Agrário e os programas de agricultura familiar ; e as Minas e Energia, com uma espécie de "subministro", uma vez que esta área Dilma administrou como ministra, manteve o controle na Casa Civil e dela não abrirá mão jamais. Coisas como Petrobras, Itaipu, Eletrobrás não passam pelo bico de Lobão. Livre do sofá, apenas Sarney : o Maranhão terá dois ministérios, os dois da lavra dele, mais, provavelmente, do que terão Minas, Rio de Janeiro, Bahia e Rio Grande do Sul. Diversos PT - O PT do governador baiano luta ao desespero para encaixar alguém do Estado no primeiro escalão, serve até um ministério da esquina - não pode ficar muito atrás de Eduardo Campos, de Pernambuco. O PT de Minas é caso gravíssimo, é coisa de menor abandonado, sente falta de atenção, depois de ter sido forçado a ceder tudo e um pouco mais para o PMDB. O PT do Maranhão, na mesma situação do mineiro, com o agravante de ver seu principal adversário, José Sarney, com a crista erguida. Todos os PTs estaduais, com ciúmes de SP. A bancada do PT na Câmara, que ainda não se viu representada na lista de Dilma, pois não se vê espelhada nem em Palocci nem em José Eduardo Cardozo. Sergio Cabral - Vai ganhar o veto aos royalties, mas pode ver também o Rio e o seu PMDB sem vaga de peso em Brasília. Divã - III Casos especialíssimos são os do PSDB e do DEM. Talvez não seja nem mais para especialistas com peso científico, mas para mães de santo e babalorixás. Ainda não conseguiram encontrar nem o prumo nem o rumo. Tombini no Senado É incrível o desinteresse do Senado pelos assuntos, digamos, republicanos. Ministros indicados para o STF são questionados de forma superficial, indagações aos presidentes de autarquias são fúteis e por aí vai. O questionamento ao futuro presidente do BC, Alexandre Tombini, foi simplesmente inexistente. Assim, Tombini desfilou frases dúbias e escondeu suas verdadeiras convicções sobre política monetária. Para quem leu nas entrelinhas, é bom ficar de olho. Pode ser falta de personalidade política. A "guerra cambial" Sabe-se que os EUA estão tentando derrubar o dólar para estimular as exportações, conter as importações e estimular a produção doméstica. O que não se sabe ainda são os efeitos que esta estratégia terá no campo comercial. Especialistas em comércio exterior brasileiros se reuniram recentemente com pares norte-americanos e concluíram que as barreiras não-alfandegárias serão utilizadas como estratégia de "política industrial" nos EUA. Ter 27 milhões de desempregados e sub-empregados é cenário de guerra para o governo Obama. Bolsas dos EUA e ao redor do mundo A maioria dos mercados acionários do mundo está perdendo volume nestes dias de dezembro. Trata-se de um período no qual muitos investidores fazem esforço tremendo para que as cotações dos ativos se elevem com o objetivo de que o desempenho de suas gestões seja recompensado por bônus fartos. Período arriscado para investidores mais desprevenidos. Radar NA REAL 7/12/10   TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA estável alta - Pós-Fixados NA estável alta Câmbio ² - EURO 1,3227 alta alta - REAL 1,6915 estável/alta estável/alta Mercado Acionário - Ibovespa 69.337,68 estável/baixa estável/baixa - S&P 500 1.223,53 estável/alta alta - NASDAQ 2.598,49 estável/alta alta (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável Ministeriômetro - Notas técnicas 4 Para entender a lista na nota seguinte, alguns esclarecimentos : - Os atuais ministros não confirmados, continuam na luta. Mesmo Celso Amorim, que fora do Itamaraty, pensa ser aproveitado em outro local.- Dilma deve criar pelo menos dois outros ministérios (ou secretarias como tal) e descartar um - o da Comunicação Social.- Criamos duas outras categorias : "quase confirmados", sobre os quais falta apenas a palavra oficial, e "genéricos", para convidados sem designação da pasta.- Na lista estão não só estatais, mas também órgãos cobiçados por seu valor financeiro e eleitoral. É o caso da Funasa, por exemplo, do Ministério da Saúde, e do Porto de Santos, hoje na Secretaria dos Portos.- Acrescentamos mais duas torres ao edifício dos cargos, o BB e os Correios, ambos arduamente disputados pelo PT e o PMDB.- Há estatais novas no ar : a do petrosal, uma para o São Francisco transposto, a do tem bala (quando ele sair), até uma nova diretoria na Petrobras. Sem contar que há gente querendo reviver uma para o setor de seguros. E uma nova agência reguladora, a Agência Nacional de Comunicações (Anacom), paralela à Anatel.- Caiu a ideia de um Ministério dos Portos e Aeroportos, ficará a Secretaria Especial dos Portos e nascerá uma Secretaria Especial de Aviação Civil. São mais lugares a distribuir. Ministeriômetro - Capítulo XI A lista desta quinta-feira : Confirmados Ministério da Fazenda - Guido MantegaMinistério do Planejamento - Miriam BelchiorAssessoria Especial da Presidência - Marco Aurélio GarciaBanco Central - Alexandre TombiniJustiça - José Eduardo CardozoCasa Civil - Antonio PalocciSecretaria Geral da Presidência - Gilberto de CarvalhoPesca - Ideli SalvattiComunicações - Paulo BernardoTurismo - Pedro NovaisAgricultura - Wagner RossiPrevidência Social - Garibaldi AlvesAssuntos Estratégicos - Moreira FrancoMinas e Energia - Edison LobãoTransportes - Alfredo NascimentoDireitos Humanos - Maria do RosárioComunicação Social - Helena Chagas (há dúvida se permanecerá com status de ministério) Quase confirmados Relações Exteriores - Antonio PatriotaRelações Institucionais - Alexandre PadilhaDefesa - Nelson JobimBNDES - Luciano CoutinhoEducação - Fernando HadadPetrobras - José Sergio GabrielliCiência e Tecnologia - Aloizio MercadanteIntegração Nacional - Fernando Bezerra Coelho Genéricos Fernando Pimentel Candidatos, indicados Assessoria Especial da Presidência - Nelson BarbosaMulheres - Iriny LopesEsportes - Manuela D'AvilaIgualdade Racial - Vicentinho (abre vaga para José Genoíno na Câmara), Luis Alberto, uma mulher afro-descendenteCidades - Marta Suplicy, PP, Fernando Pimentel, Jose Filippi Junior, Luiz Fernando Pezão, Antonio Carlos Valadares, Mario NegromonteTransportes - Henrique Meirelles, PT, PR, Alfredo Nascimento, Blairo MagiCultura - José Abreu, Ideli Salvatti, Emir Sader, Celso Amorim, Antonio Grassi, Ângelo Osvaldo, Ângelo Vanhoni, Fernando MoraisPortos - PSB, Fernando Schimidt, Marcio FrançaPorto de Santos - PSBVale - Rossano MaranhãoPequena e média empresa - Alexandre Teixeira, Antonio Carlos Valadares, Paulo OkamotoDesenvolvimento Agrário - Joaquim Soriano. Wellington DiasSecretaria Especial de Aviaçao Civil - Antonio Henrique da Silveira e Solange Vieira.Desenvolvimento Social - Patrus Ananias, Moema PassosMeio Ambiente - Carlos MincDesenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior - Abílio Diniz, Fernando PimentelFunasa - PMDBSTF - PMDBBanco do Brasil - PT, PMDBCorreios - PT, PMDBSaúde - Fausto Pereira dos Santos, Alexandre Padilha, Jorge Solla, Gonçalo VecinaBNB - Ciro GomesEmbratur - Geddel Vieira LimaInfraero - Geddel Vieira LimaAnvisa - PT, PMDB Avulsos Abrir vaga para José Genoino na CâmaraAbrir vaga para José Eduardo Dutra no SenadoEva ChiavonBeto AlbuquerqueMarcelo CrivellaOlívio DutraEmpresário (grife, como Roberto Rodrigues e Luis Furlan no primeiro ministério de Lula)SindicalistaClara Ant (no Palácio do Planalto)Jorge Gerdau Credores Virgilio GuimarãesCiro GomesHenrique Meirelles (em baixa) Patrus AnaniasOsmar Dias