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Política, Direito & Economia NA REAL

Enfoque político, jurídico e econômico.

Francisco Petros
terça-feira, 27 de março de 2012

Política & Economia NA REAL n° 191

Dilma : mudanças e confronto ou marketing ? (I) Dilma aproveitou a entrevista à revista "Veja" - à qual, aliás, nunca dedicou especial carinho, sempre dedicou "mau olhado" porque partiram da publicação semanal as principais denúncias de "malfeitos" que derrubaram um magote de ministros herdados de Lula - para anunciar que está adotando novas práticas políticas nas relações do Palácio do Planalto com o Congresso e os partidos aliados. "Não gosto desse negócio de toma lá dá cá" - avisou ela. Por "toma lá dá cá" entenda-se o amálgama da ampla e amorfa base aliança eleitoral e legislativa formada por Lula para facilitar a eleição de Dilma e dar sustentação a seu governo na Câmara e no Senado. Dilma : mudanças e confronto ou marketing ? (II) Antes, já se havia providenciado a divulgação dessa recente disposição da presidente com um bombardeio da imprensa com informações de fontes oficiosas a partir das derrotas recentes da presidente no Senado e na Câmara e da troca abrupta dos líderes governistas nas duas casas do Legislativo. Providenciou-se até uma declaração de apoio de ninguém menos que o presidente Lula, criador e mentor do monstrengo político que agora assombra o sono de Dilma. Como Lula está com a voz sob embargo, portou-a, para certa incredulidade geral, o novo líder da presidente no Senado, Eduardo Braga. Torce-se para que tal propósito presidencial seja para valer e que, principalmente, seja exequível. Há dúvidas fundadas, porém, entre muitos analistas de que isso seja possível e de que seja para valer por uma simples e boa razão : qual o real cacife da presidente para se confrontar com os partidos que a apóiam ? Qual a disposição dos partidos, inclusive e principalmente o PMDB, em abdicarem do "toma lá dá cá" que os sustenta a falta de programas, ideologia e identificação real com os eleitores ? A desconfiança é a de que não passa de mais um lance de marketing para desviar a atenção da opinião pública do corner político em que ela se encontra. Encontros com visibilidade É por essa razão que os encontros dos últimos dias entre a presidente e um grupo selecionado de empresários e a primeira reunião pública de Dilma com os líderes sindicais, patrocinados e badalados pelo Palácio do Planalto estão sendo vistos muito mais como uma estratégia de Dilma para acuar partidos e Congresso do que como encontros de trabalho. Afinal, os problemas que afligem empresários e trabalhadores são conhecidos até pelos bebês candangos. E para eles urge apenas soluções. Diagnóstico e receituário estão à disposição de Dilma, de Mantega, de Alexandre Tombini e de quem mais de direito para que exerçam na plenitude a tal de "vontade política" que tanto faltou aos governantes brasileiros antes de Lula. Segundo ele mesmo, Lula. Economia : sustentáculo sob risco Não há nenhum risco iminente para a economia brasileira do ponto de vista cambial ou fiscal. Mais do que as mágicas de marqueteiros, vozes empresariais e sindicais a favor, o apoio irrestrito de Lula e outros que tais, os pilares que sustentam a presidente são mais chãos : a economia e a inflação sob controle. Dilma controla a economia com as mãos de ferro, e, em segunda instância, nas de Guido Mantega e Alexandre Tombini, com os palpites dos conselheiros externos para esta área, Luis Gonzaga Belluzzo e Delfim Neto. De outro lado, o desempenho da atividade econômica dá evidências que o quadro de criação sustentada e empregos e aumento do consumo e do investimento que prevaleceu nos últimos anos não é mais um "porto seguro". Ao contrário, o PIB de 2011 foi decepcionante e os indicadores deste ano são sofríveis e declinantes. O governo terá de combater os riscos que vem de fora e que permanecerão por muito tempo e a deterioração das expectativas no front interno. Dilma e Mantega sabem disso e parecem correr contra o relógio. Todavia, falta-lhes a clareza sobre o rumo estratégico que vão tomar com o objetivo de traçar políticas de curto, médio e longo prazos. A reunião da semana passada, apesar de ser uma tentativa de acuar a classe política, também deixou rastros de que o grau de improvisação da política econômica é significativo. Os empresários sabem disso, mas não falam. Agem com discrição, reduzindo investimentos e vagas de trabalho. Os parâmetros da economia Os números oficiosos que o governo sob a batuta (e o tacape) da presidente Dilma está perseguindo este ano são os seguintes : 1. Crescimento do PIB não inferior a 4%, a ser alcançado a ferro e fogo. 2. Dólar na faixa de R$ 1,80 a R$ 1,90, o mais próximo possível do número superior. 3. Juros básicos no máximo em 9%. 4. Inflação abaixo da do ano passado, que bateu em 6,5%. Sem sacrifícios, porém, para atingir o centro da meta de 4,5%. 5. Manutenção do consumo pelo menos nos níveis do ano passado e continuidade da ascensão das famílias das classes D e E para a classe C. Como ainda não tem - e nem se sabe se conseguirá - criar condições políticas para colocar o Brasil nesta rota sem riscos de percalços, adotando as tão necessárias reformas estruturais no país, o governo apela para expedientes de curto prazo e muito artificialismo na política econômica. Dois exemplos : 1. Para garantir que a inflação não saia dos eixos, apesar dos apelos quase desesperados do Petrobras, protela um necessário (e já atrasado) reajuste no preço dos combustíveis. 2. Para cumprir a promessa de fazer um superávit primário de 3,1% do PIB, está forçando as estatais a aumentar a entrega de dividendos ao Tesouro Nacional, vai ficar este ano com mais de R$ 3 bi do FGTS e, apesar do dito em contrário, estanca seus planos de investimentos, segurando a liberação de recursos. O problema é que, em algum momento, tudo que é artificial desmancha no ar. Não seria melhor assim ? Na conversa com os jornalistas de "Veja" a presidente Dilma admitiu (até que enfim uma autoridade diz isto !) que a carga tributária no Brasil é alta demais. Como já havia acenado para os empresários, prometeu reduzi-la. Como e em que condições, porém, ficou no vazio. Anteontem, domingo, o jornal "O Estado de S. Paulo" publicou um estudo mostrando que os incentivos que o governo concedeu a determinados setores da economia, pontualmente, em seis anos custaram R$ 97,8 bi aos cofres do Tesouro. Ingênua pergunta a economistas e tributaristas oficiais e não oficiais : se os mesmos recursos viessem sido utilizados para uma diminuição linear de impostos, para todos os setores e não para alguns escolhidos, o resultado final para a economia brasileira não teria sido muito melhor ? Conselheiro marqueteiro Diz o sempre bem informado jornalista Ricardo Kotscho (por meio de seu blog "Balaio do Kotscho"), com a experiência de alguns anos vividos no Palácio do Planalto nos tempos de Lula, que o principal conselheiro de Dilma, na ausência temporária mais efetiva do ex-presidente, é João Santana. Nada contra ele, cuja competência no seu fazer de marketing político é inquestionável. Mas quando um marqueteiro passa a dar as cartas no campo da política real, algo está fora do lugar. E tem muito para não dar certo. Dilma disse, na reveladora entrevista à "Veja", que somente há crise política de fato quando se perder a legitimidade política. Porém, legitimidade, que só se conquista com o voto popular, pode ser perdida de várias maneiras e por diversas razões. Collor, por exemplo, perdeu por "malfeitorias", Sarney por inapetência gerencial e inflação nos infernos. Do macro ao micro A serem totalmente fiéis alguns relatos, sem identificação da fonte, a respeito do encontro da semana passada da presidente Dilma com 28 dos maiores empresários brasileiros, ela teria ouvido do presidente do grupo JBS Friboi, José Batista Junior, críticas a seu modo de governar, já referidas aqui nesta coluna e apontado como um dos maiores entraves a que o governo seja mais eficiente. Centralizadora, detalhista, rude a ponto de intimidar e inibir a iniciativa de ministros e colaboradores, Dilma leva sua administração a uma semiparalisia, a atrasos constantes em liberar projetos, à demora em tomar decisões. Pela expressão atribuída a Batista Junior, ela se prenderia demais ao micro em detrimento do macro. Para uma língua maldosa de Brasília, ela dá mais atenção ao consumo de grampos que ao buraco da estrada. Assim como a mestre ? Definição do líder do governo no Senado, Eduardo Braga, por um empresário amazonense bem informado e frequentador das rodas políticas locais : "Ele é realmente muito inteligente, articulado, por isso se julga quase um Deus. É arrogante, autoritário, prepotente e não escuta o que lhe falam por, como uma semidivindade, já saber tudo". Arlindo Chinaglia é visto pelos colegas da Câmara como pessoa de muitas arestas e também um tanto prepotente. A ministra Ideli Salvatti é histriônica, um elefante em loja de louças em matéria de habilidade política. Dois outros possíveis auxiliares de Dilma na tarefa de amainar o Congresso estão fora : Lula, por causa da voz prejudicada pelo tratamento médico e porque precisa manter ainda um bom repouso ; Michel Temer, sumido por razões que não se entendem (mas se explicam facilmente). O clima está, assim, mais para o confronto que para a conciliação. Pragmatismo lulista Frase do ex-presidente Lula em entrevista ao jornal "Folha de S.Paulo" anos atrás, citada semana passada pela colunista Dora Kramer : "Qualquer um que ganhar a eleição, pode ser o maior xiita ou maior direitista, não conseguirá montar o governo fora da realidade política. Entre o que se quer e o que se pode fazer vai uma diferença do tamanho do oceano. Se Jesus Cristo viesse para cá e tivesse votação num partido qualquer, Jesus teria de chamar Judas para fazer uma coalizão". Agora é fazer a unidade de fato Tucanos eram todos sorrisos, no domingo, depois da prévia que escolheu Serra como o candidato do PSDB à prefeitura de SP. Plumados federais, estaduais e municipais pareciam ter descoberto a pólvora da unidade partidária, sempre ameaçada pelo desfile de egos na passarela partidária. Contudo, os 52% alcançados por Serra, quando se esperava algo entre 70% e 80% para o ex-governador e ex-prefeito, foi, embora eles não digam, uma decepção. Mostrou a divisão ainda existente no partido e fortes resistências a Serra. Antes de começar a caçar alianças com outras legendas, os tucanos precisam fazer mesmo é uma aliança entre si. Conseguiram no domingo dar até alguma alegria à, no momento, cambaleante candidatura do petista Fernando Haddad. Dando lustro na imagem O novo presidente do TJ/SP, Ivan Sartori, está se saindo, no momento em que o Judiciário em todo o Brasil está na berlinda, pior do que a pior das encomendas : em pouco tempo à frente do TJ conseguiu desafiar a corregedora do CNJ, Eliane Calmon (voltou atrás), atacou a imprensa e ameaçou retaliar o jornal "Folha de S.Paulo", e decidiu mandar pagar auxílio alimentação a todos os magistrados do Estado, retroativamente a 2006, com justificativas um tanto canhestras. Assim se vai "lustrando" ainda mais a imagem da Justiça brasileira. Radar NA REAL 23/3/12 TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA estável estável/alta - Pós-Fixados NA baixa baixa Câmbio ² - EURO 1,3329 baixa baixa - REAL 1,8151 estável/baixa estável/baixa Mercado Acionário - Ibovespa 65.812,95 estável/alta estável - S&P 500 1.397,11 estável/alta alta - NASDAQ 3.067,92 estável/alta alta (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável Com a própria corda no pescoço Diz o advogado contratado pelo senador Demóstenes Torres (DEM/GO) para defendê-lo das suspeitas de ligações suspeitas com o bicheiro Carlinhos Cachoeira, que juridicamente nada atingirá o político do Democrata, pois as possíveis provas conta ele seriam ilegais. A questão não é esta, contudo. Politicamente, Demóstenes está liquidado. Se ficar no Senado, será um morto-vivo, enforcado na própria corda ética com que procurou (acertadamente) enforcar muita gente. É mais um político que não faz o que apregoa, com o agravante de ser também um promotor de Justiça. Não há relação de amizade possível entre um homem público e um contraventor. Há muita gente no Congresso, no entanto, com receio de bater forte nessa história. Afinal, o notório bicheiro Cachoeira está na origem do primeiro escândalo do governo petista : a o caso Waldomiro Diniz. Fed tentando manter a reputação Ben Bernanke, o presidente do Fed, está fazendo uma pregação de profeta para assegurar que a política de expansão monetária e dólar fraco permaneça por muito tempo. Para ele a hora não é para se pensar em ajustes fiscais para o imenso déficit que resta na maior economia mundial. O que ele não diz explicitamente e que todos sabem é que o mundo continua a financiar o projeto econômico norte-americano. Os investimentos em papéis do Tesouro Americano continuam enormes e não há fuga de capitais na direção de China e outros BRICS, apesar de todas as avaliações dando conta do declínio do Império Americano. Aviso aos analistas A taxa de desemprego dos EUA que vem caindo nos últimos meses reflete mais a desistência de desempregados em buscar empregos que a sustentação da demanda. Portanto, ainda não é anúncio seguro para alimentar grandes expectativas. Em defesa da liberdade de expressão Patrícia Blanco foi eleita para a presidente do Conselho Diretor do Instituto Palavra Aberta, vago desde a aposentadoria de Evandro Guimarães nas Organizações Globo. O Palavra Aberta tem por mote defender o livre direito de expressão no Brasil e foi criado, entre outros, a ANJ - Associação Nacional de Jornais, ABERT - Associação Brasileira das Emissoras de Rádio e Televisão, ANER - Associação Nacional de Editores de Revistas, e a ABAP - Associação Brasileira de Agencias de Propaganda. ____________
terça-feira, 20 de março de 2012

Política & Economia NA REAL n° 190

O pior já passou ? (I) O título desta nota é uma das perguntas mais repetidas em tempos de crise, especialmente quando se trata de uma crise de proporções equivalentes à de 1929. Há quem seja capaz de dar uma resposta clara em meio ao cenário obscuro que se desfralda perante os olhos do analista. De nossa parte, preferimos repisar alguns aspectos já abordados difusamente nos últimos meses. Vejamos : 1. A crise de crédito iniciada em meados do terceiro trimestre de 2008 ainda produzirá efeitos por mais alguns anos. Um montante enorme de capital foi "queimado", o que reduz a capacidade do sistema financeiro privado financiar o consumo e o investimento; 2. A perda de capital do sistema financeiro privado se transformou numa crise fiscal de Estados de vez que recursos públicos foram utilizados para resgatar, mesmo que imperfeitamente, o sistema privado. Assim... 3. A capacidade de consumo e investimento público também estão limitados, o que limita a criação de emprego via dispêndios públicos; 4. As taxa de desemprego das economias centrais devem permanecer elevadas por alguns anos, até que a produtividade (mais produção com o mesmo quantum de fatores de produção) cresça. O efeito é que o consumo está estagnado; 5. Faltam lideranças políticas capazes de mudar as expectativas dos agentes e, com efeito, alterar a debilitada confiança de consumidores e investidores; 6. Não houve alteração significativa na forma de operar dos mercados. Os reguladores não conseguiram alterar politicamente e de forma significativa os riscos sistêmicos relacionados à má alocação de recursos, sobretudo no que tange à especulação; 7. O preço do petróleo, bem acima de US$ 100/barril, retira ainda mais o poder de compra dos consumidores dos países centrais. O pior já passou ? (II) Em larga medida os fatores de risco acima mencionados continuam presentes no cenário mundial e estão ainda a espalhar seus efeitos, desta feita sobre os países menos desenvolvidos (ou emergentes) dentre os quais o Brasil, a China e a Índia. Estes últimos começam a dar sinais de que vão crescer menos do que se projetava há poucos meses, sobretudo a China, que ainda cresce muito, mas bem menos (para os padrões chineses) quando se analisam os últimos trimestres em relação aos imediatamente anteriores. Paradoxalmente, é possível, e até mesmo provável, que os ativos reais e financeiros dos países mais implicados com a crise se valorizem. Isso se deve não propriamente em função de uma mudança estrutural nos frágeis fundamentos, mas em função da queda do risco espelhado na volatilidade dos mercados. Cai o risco, sobem os preços. É este fenômeno que estamos a identificar nos diversos segmentos do mercado acionário norte-americano, especialmente o de empresas tecnológicas (NASDAQ). No caso dos EUA, há tênues sinais de recuperação, mesmo que não sejam ainda seguramente promissores. Assim sendo, a nossa melhor visão indica que se esta calmaria atual permanecer mais algum tempo, o valor dos ativos vai subir ainda mais. Não é o caso de se desprezar os significativos riscos. Todavia, não é o caso de majorá-los. O pior já passou ? (III) Na opinião da diretora-gerente do FMI, Christine Lagarde, já está passando sim. Embora alertando que há ainda muito o que fazer, ela percebe "os mercados financeiros estão mais calmos e os indicadores recentes sugerem um pequeno ímpeto na atividade econômica, basicamente nos Estados Unidos" e que "existem sinais de que as fortes ações de política econômica - especialmente na Europa - estão fazendo a diferença". O BC : mais transparente e menos soberano O anúncio da ata da última reunião do Comitê de Política Monetária do BC deixou ao mercado o entendimento de que a taxa básica de juros cai para o patamar de 9% e por aí fica por um bom tempo. Há quem critique o BC por esta linguagem "surpreendente". A nosso ver não há propriamente uma "surpresa". A mudança da linguagem da autoridade monetária, mais transparente e previsível, chega em boa hora. O futuro não é tão opaco desde 1929 e os BCs de todo o mundo têm procurado demonstrar que estão mais ocupados com a recessão que com a inflação. Para isto tem inovado na linguagem abandonando as frases mais tradicionais de seus informes. O Brasil segue esta linha e está correto. O que nos parece mais preocupante é que esta positiva mudança vem acompanhada por uma desconfiança crescente de que a soberania operacional do BC está mais reduzida. O governo parece interessado em dar as cartas na política monetária e isto não é institucionalmente interessante, sobretudo quando os problemas estruturais da economia brasileira estão se multiplicando e contaminando as expectativas dos agentes ansiosos por investir. O governo precisa mostrar que está operando para minorar os riscos macro e microeconômicos da economia brasileira, sem retirar da autoridade monetária a necessária soberania operacional para agir em favor do real. A bola esta com o Planalto e não com o BC. E a caderneta de poupança ? Ou o governo propõe uma mudança em relação à remuneração da caderneta de poupança ou a política monetária do BC ficará limitada no que se refere à redução dos juros. Dificilmente isto ocorrerá nestes meses pré-eleição, mas esta questão é urgente e necessária. O rumo do câmbio É certo que o governo tem um "arsenal" para tentar controlar a valorizada taxa de câmbio. Isto não significa que as medidas combinadas com vistas a este objetivo vão funcionar bem, sobretudo porque os efeitos são bem elásticos, seja sobre o mercado financeiro, seja sobre a economia real. O maior risco de todos, a nosso ver, é que uma queda mais forte dos preços das commodities possa desvalorizar mais velozmente o real. Neste caso, podemos ter o recrudescimento da inflação e os consequentes efeitos sobre a taxa de juros. E o tal do "arsenal" pode ser inútil e o BC talvez tenha de mudar sua postura de acomodação monetária mais rapidamente. É lógico que estamos falando de uma hipótese ainda não muito visível, mas o governo deveria examinar esta possibilidade para fins de estabelecer políticas macroeconômicas que evitem riscos exacerbados. A gerente e o seu perfil político Ao que parece a presidente gostaria de projetar para o seu imenso eleitorado a imagem de "gerente" em detrimento da de "líder política". O noticiário carregado de informações que dão conta de atrasos significativos no cronograma de obras indica que o perfil tecnocrático pretendido pelos viventes palacianos de Brasília está distorcido e pode contaminar o eleitorado mais à frente. Como as coisas não vão bem também na arena política, há perda de identidade por parte da presidente. Apesar disso, Dilma goza de invejável taxa de aprovação popular por conta do "bom desempenho econômico". O fato é que a taxa de emprego está menos exuberante e os ganhos de renda andam caindo. A paciência popular pode tomar o sentido contrário e resvalar na popularidade presidencial. O governo talvez esteja exagerando na crença de que são imbatíveis. Mas enquanto o amparo popular bafejar a presidente, a rebeldia de seus aliados - entre os rebeldes inclua-se parte do PT - será limitada. Dilma em seus labirintos Segundo tese que as fontes oficiais fazem questão de alimentar, a mais recente crise política que Dilma está enfrentando com seus parceiros é uma "crise da política" (ou dos partidos), sem maiores consequências. Coisa de estômagos ávidos e mau atendidos. Não é bem assim, porém, no mundo real, embora a dose de fisiologismo esteja na origem das rebeliões contra a presidente. Tudo isso gera prejuízos sim, imediatos e de longo prazo : 1. A necessidade de nomear gente não qualificada para cargos no Executivo e de manter ministérios e órgãos e secretarias inúteis torna o governo mais ineficiente ainda do que qualquer governo normalmente já é e encarece seu custo para a sociedade. 2. Por causa desses desarranjos, o governo já desistiu de levar adiante qualquer uma das reformas estruturais que dariam mais segurança à economia nacional. A reforma tributária se restringirá, se ocorrer, apenas ao fim da guerra do ICMS entre os Estados; a reforma política dorme em berço esplêndido; a previdenciária vai se resumir à criação do fundo de aposentadoria dos servidores federais; a trabalhista e sindical a presidente acaba de descartar em conversa semana passada com líderes sindicais. E assim por diante. 3. A ANTT já está parada, por falta de quorum em sua diretoria para tomar decisões colegiadas. 4. Dificilmente será votado antes de julho o Código Florestal. 5. As novas regras de distribuição dos royalties do petróleo continuam suspensas, com prejuízos para os Estados e municípios que reivindicam parte desses recursos e atrasos na licitação de novas áreas para exploração. O fisiologismo e a articulação política, ao contrário do senso comum, tem um custo elevadíssimo, não são para serem tratadas como "coisas da politiquinha". Não é dela apenas A crise que Dilma vem enfrentado praticamente desde que tomou posse, em intervalos cada vez menores entre um episódio e outro, não é uma crise do governo Dilma somente, embora a situação se agrave pelo estilo da presidente. É uma crise do "sistema político" de partilha do poder com um carrilhão de partidos. A presidente pode até mudar isso. O problema é que... ...Dilma é de choque Dilma parece não admitir ser contrariada. Lula também não. Que o diga o senador Eduardo Suplicy, no index lulista desde que ousou disputar as prévias presenciais petistas com o ex-presidente em 2002. Só que Lula tinha jogo de cintura elástico, sabia como poucos usar o bambolê da política. Como se diz popularmente, fazia com a arte do limão uma limonada. Dilma até agora só mostrou que é capaz de fazer da limonada um limão. Carrega ressentimentos e os expõe, às vezes com truculência, como se deu agora na demissão dos líderes. Mantém ministros sob permanente tensão, com cenas de humilhação diante de terceiros. Está colhendo os azedumes que espalha. Líderes sem liderança ? Eduardo Braga (Senado) e Arlindo Chinaglia (Câmara) vão ter de esforçar muito para confirmarem na prática a liderança que Dilma lhes entregou. Nenhum dos dois é conhecido por sua habilidade política, ambos costumam ser ásperos e ríspidos, ao contrário de seus antecessores, Romero Jucá e Cândido Vaccarezza. Mas Dilma não levou para casa o desaforo da derrota de Bernardo Figueiredo (ANTT) no Senado nem as conversas de Vaccarezza com os ruralistas para tentar mudar o texto do Código Florestal aprovado pelo Senado. Deu o rompante e até terá de segurar a ventania. Ontem, segunda-feira, ela já se meteu diretamente nas negociações para a aprovação da Lei Geral da Copa, ação que até agora evitava fazer. Vai ter se se meter cada vez mais. Em fogo brando Piora a situação o fato de a ministra das Relações Institucionais, Ideli Salvatti, por culpa de seu estilo não raras vezes grosseiro, não estar mais nas graças de seus liderados. Ideli está sendo cozinhada em banho-maria por gente de diferentes partidos. Se não mudar, o óleo pode ferver e vai ser outra enxaqueca para Dilma. Eduardo tropeça Não foi muito feliz do senador Eduardo Braga em algumas de suas primeiras declarações como novo líder do governo no Senado, ao dizer coisas como, por exemplo, "a política do 'toma lá, dá cá' está no passado" e "os partidos terão direito de indicar, mas dentro de um novo contexto". Primeiro, é confessar que esta prática era normal, o que a presidente sempre fez questão de negar. Segundo, porque vai irritar os parceiros, que também detestam se apontados publicamente como fisiológicos. E terceiro, porque não é real : um governo que acaba de nomear o senador Marcelo Crivella para o inútil ministério da Pesca e se prepara para recolocar o PDT no ministério do Trabalho única e exclusivamente para adular aliados, não está mudando nada. E os aliados tanto sabem disso que vão continuar chiando e levando. O novo slogan do franciscanismo político pode até ser este : "É chiando (ou chantageando) que se recebe". Este sabe o certo Veja-se o PMDB nesta história : está amuado, mas ficou quietinho, pois sabe que as mudanças vieram para tudo permanecer como está. O PMDB teme mesmo é que tentem lhe "roubar" a presidência da Câmara (e até a do Senado) em 2013 e a vice-presidência da República em 2014. Troco na agulha Para lembrar a presidente Dilma de que ele existe, é forte e merece ser bem tratado, o PMDB já prepara uma armadilha para o Palácio do Planalto : escolhido por Renan Calheiros para relatar o Orçamento da União de 2013 no mesmo dia em que foi escorraçado a liderança do governo no Senado, Romero Jucá estuda a possibilidade de tornar as normas do orçamento impositivas e não apenas autorizativas. Hoje, pela lei, o governo é "autorizado" a gastar tanto em tais lugares. Não está obrigado. Se o Orçamento virar impositivo, ele terá de cumpri-lo rigorosamente. Uma camisa de força para a gestão da economia. E um possível desastre pela forma pouco séria como o Congresso trata do assunto. Mas o PMDB sabe como pouco criar o perigo para depois salvar a "mocinha". Haddad na UTI Lula não terá muito tempo de sossego quando for liberado pelos médicos até o fim desse mês. A candidatura do ex-ministro Fernando Haddad à prefeitura de SP inspira sérios cuidados. E somente Lula, com muito esforço, pode tirá-la da UTI. Baixou o desânimo em uma parte dos petistas. E há petistas com indisfarçável sorriso de vingança, com cara de "eu não avisei". Para mal de todos os pecados do ex-ministro, seu substituto na Educação, Aloizio Mercadante, sem querer ou querendo, está "desconstruindo" sua gestão aos poucos. Depois é que serão elas Tudo indica que Serra levará as prévias do PSDB paulistano neste domingo, contra os seus dois contendores na disputa, o deputado Ricardo Trípoli e o secretário estadual José Aníbal. Mas o processo todo, até pela ação tortuosa de Serra, deixará sequelas. E Serra nunca foi bom aparador de arestas. Pelo contrário. Radar NA REAL 16/3/12 TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA estável estável/alta - Pós-Fixados NA baixa baixa Câmbio ² - EURO 1,3243 baixa baixa - REAL 1,8081 estável/baixa estável/baixa Mercado Acionário - Ibovespa 67.684,13 estável/alta estável - S&P 500 1.404,17 estável/alta alta - NASDAQ 3.055,60 estável/alta alta (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável ____________
terça-feira, 13 de março de 2012

Política & Economia NA REAL n° 189

Lula, 2012 e 2014, uma odisseia eleitoral - I Lula voltou neste fim de semana para casa, um tanto mais magro, curado da pneumonia. Até o fim do mês terá o exame definitivo para saber se está com o câncer da laringe "zerado", como se diz popularmente. Os médicos que o acompanham garantem que seguido um repouso absoluto até lá, já pelos meados de abril ele poderá retomar o que mais gosta na vida - fazer política. Porém, mesmo com esta chancela médica, as duas idas de Lula para o hospital em espaços de duas semanas, abatido por causa da queda de suas imunidades como consequencia do rigoroso tratamento a que se submeteu (e também pela inobservância de certa moderação de atividades nesse período), abriram para os aliados, de um modo geral, e os parceiros mais diretos, a terrífica visão de que não deverão (não poderão) contar com um Lula 100% provocador por um bom tempo. Lula, 2012 e 2014, uma odisseia eleitoral - II Esta possibilidade real de ter que lidar com um Lula mais moderado já abriu também disputas na seara oficial tanto para o futuro imediato de 2012, como para o futuro mais distante de 2014. Este ano, quem contava com Lula para alavancar candidaturas e ajudar a impingir derrotas humilhantes na oposição, em outubro, já está tirando não somente "o cavalinho", mas "a tropa inteira da chuva". Queira ou não a presidente Dilma, tal situação vai obrigá-la a cair na vida eleitoral mais visivelmente do que apenas dando apoio "logístico" aos aliados. Terá de mostrar a cara - e não apenas em SP. (Aliás, São Paulo, com as brigas internas do PT para ver quem comanda a campanha de Fernando Haddad, politicamente e financeiramente, com o ex-ministro patinando nas pesquisas, e com a dificuldade de somar aliados à candidatura do ex-ministro da Educação, é o mais límpido sinal da falta que Lula faz. Em outros municípios, começam a pipocar também indícios de que a união dos aliados federais no nível das prefeituras também começa a desandar). Lula, 2012 e 2014, uma odisseia eleitoral - III No plano de 2014, por mais cruel que isso possa parecer, os aliados também já dão indicações de que estão atordoados com a possibilidade de não terem mais "um craque no banco de reservas" (expressão usada por Gilberto de Carvalho como uma ameaça quando se falava no plano da oposição de desestabilizar politicamente Dilma). E já fazem movimentos para o jogo da sucessão presidencial nessas condições. Os movimentos do PMDB na Câmara (manifesto dos deputados Federais) e no Senado (participação decisiva, porém não única, na derruba do diretor-geral da ANTT) são lances que extrapolam as divergências por cargos e verbas e as eleições de outubro. O olho do furacão peemedebista está em 2014. Lula é o grande avalista de peso do PMDB na coalizão (mais parece uma "colisão") governista. Nunca foi sonho de consumo de Dilma, como ela tem demonstrado na prática ao tratar os ministros do PMDB como essência de segunda categoria. Lula, 2012 e 2014, uma odisseia eleitoral - IV Os peemedebistas temem perder o lugar de vice de Michel Temer para o PSB e, ao mesmo tempo, preparam-se para uma eventual possibilidade, dependendo do andar da carruagem econômica, de as forças aliadas ficarem sem uma candidatura forte em 2014. Os mesmos passos do PSB do governador Eduardo Campos - vice ou candidatura própria no ano da Copa - é o foco do partido. As outras legendas olham também para o fato de Dilma, por modo próprio ou induzida por circunstâncias, entre elas um menor protagonismo forçado de Lula, estar redesenhando a correlação de forças na base aliada, não só com a redivisão da participação dos partidos no poder como também dentro do próprios partidos. No PT, por exemplo, é visível a perda de força do mundo baiano do governador Jaques Wagner (perdeu de uma só vez Florence no ministério do Desenvolvimento Agrário, Negromonte no ministério das Cidades e Gabrielli na Petrobras), a contenção do "paulistanismo" e a ascensão dos gaúchos de sua lavra política. Dilma em transe Há alguns meses escrevemos nesta coluna que o excesso de centralização que a presidente Dilma está imprimindo a seu governo estava deixando os ministros em pânico e inseguros, com medo de tomar iniciativas, de tomar decisões e depois serem "espancados" (figurativamente, esclareça-se) por ela. Havia, por isso, uma paralisia decisória e um enorme déficit de execução no governo, visível até para um míope. De repente, Dilma deu-se conta dessa situação e propaga "irritação" que teria crescido segundo fontes que nunca se identificam. Gerou, embora negada como motivação, até a demissão do ministro do Desenvolvimento Agrário, Afonso Florence. Teria sido, segundo alguns, para dar um exemplo, para dar um recado do desgosto da presidente. Dilma e a área econômica A insatisfação atinge até a área econômica, exceção do BC que tem feito direitinho o dever de casa traçado por Dilma : incentivar de preferência a retomada do crescimento econômico em ritmo de avião supersônico. O carnaval já passou, mas o ministro da Fazenda, Guido Mantega, vai ter de botar seu bloco "desenvolvimentista" de novo esta semana na rua. A dúvida é saber se com a preocupação de Dilma com os detalhes a máquina vai desemperrar. Uma alma maldosa em Brasília diz que há ministro da Esplanada que não vai nem ao banheiro sem consultar antes o Palácio do Planalto. Um novo estilo Dilma, depois dos sustos políticos dos últimos dias, promete inaugurar esta semana um novo modelo de relações com os partidos aliados, o Congresso e os sindicatos. Vai amanhã ao Senado, o que não fez no ano passado, para a homenagem ao Dia das Mulheres. A presidente recebe na quarta-feira os dirigentes das centrais sindicais, a terceira vez em mais de um ano de governo. Inicia com o PMDB as rodadas de afagos aos parceiros de coalizão. Teria mandado (a conferir) as ministras Ideli Salvatti e Gleisi Hoffmann apressarem a liberação das emendas dos parlamentares, segundo fontes oficiais emperradas mesmo por culpa da lentidão (e até uma certa desobediência, pasmem !) dos ministérios. Dilma está abrindo a porteira, mas a quer sob controle. Está pagando para ver. O risco é se a abertura for limitada e as confusões continuarem. Se houver uma brecha maior, o risco é a presidente ficar nas mãos dos nunca inteiramente saciáveis parceiros. Dilma e o apoio das elites A presidência de Lula se caracterizou por uma vontade férrea em se destacar das suas bases políticas originárias, sobretudo os sindicatos e os denominados "movimentos sociais", além de boa parte dos funcionários do Estado. Assim, forjou com inegável competência política a aquisição de credibilidade junto à burguesia financeira e empresarial. Aqui e lá fora. O resultado do PIB de 2011 o qual dá mais evidências do continuado processo de desindustrialização do Brasil é mais um sinal de que as elites empresariais estão dando conta de que o atual governo e sua agenda econômica já não atendem os seus interesses como no passado lulista recente. Junte-se a isso a ineficiência governamental em gerir a coisa pública no que tange às obras de infraestrutura e reformas estruturais. Por estas e por outras, está se abrindo um espaço político de insatisfação que apenas não está sendo aproveitado em função da ausência de uma oposição ativa e de uma maior organização política das elites. Artilheiro sem precisão ? O ministério da Fazenda, em conjunto principalmente com o BC e o ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior deverá, na sequência da queda de juros patrocinada pelo BC semana passada, anunciar nos próximos dias novas medidas para incentivar a produção nacional e para não deixar o real se valorizar (em economês se diz também "apreciar") demais. Sempre que as coisas se complicam para o ministro Guido Mantega, este avisa, em tom de ameaça, que o governo dispõe de um arsenal de medidas quase infinito para combater tais ameaças. É possível, mas até agora o arsenal parece composto de armas de antes da Primeira Guerra Mundial e/ou o artilheiro não anda bem de pontaria. Um levantamento feito na semana passada pelo jornal "Valor Econômico" mostra que desde o início do governo Dilma já foram adotadas 16 medidas de proteção comercial ou para aumentar a competitividade da indústria brasileira. Com efeitos muito limitados como provam as constantes novas providências ditas no embornal. Será por essa razão que a presidente Dilma ameaça ela mesma pegar em armas ? Um fato para complicar O STF não tinha outra atitude a tomar que a de voltar atrás na decisão de considerar inconstitucional a transformação da MP que criou o Instituto Chico Mendes. Filustrias à parte, o caos jurídico que se instalaria no país, pois outras 500 leis resultantes de Medidas Provisórias, teriam o mesmo destino. Todavia, os ministros do Supremo criaram um enorme problema para o governo ao considerar que daqui para frente o rito de passar antes das MPs por uma comissão especial de deputados e senadores deve ser obrigatoriamente cumprido. O Palácio do Planalto terá de negociar muito mais com o Congresso para fazer valer sua vontade legislar sem que os parlamentares opinem para valer, como ocorre hoje com o modo de tramitação das MPs. É um avanço democrático sério e vai despertar na Câmara a discussão sobre os ritos das MPs, que tem uma proposta de alteração profunda, de autoria conjunta José Sarney-Aécio Neves, já aprovada pelo Senado e ainda em suas gavetas. A proposta visa dar mais tempo ao Senado, "dividindo-o" melhor com a Câmara para analisar as MPs, acabar com o contrabando (inclusão de assuntos de todo o tipo numa MP, fora de seu objeto específico) de emendas, e forçar o Executivo a cumprir a norma de só editar o instrumento quando de fato ele cumprir os princípios constitucionais de urgência e relevância. Novos vocábulos do economês O brasileiro já começou a ouvir falar e vai ouvir muito mais ainda a respeito de três novos termos incorporados ao vocabulário diário do economês nacional nesses tempos em que o governo trata de adaptar a política econômica de meses atrás ao propósito oficial de turbinar o crescimento econômico. Acostumem-se : 1. PIB potencial - mede quanto a economia brasileira pode crescer sem provocar inflação nem problemas sérios nas contas externas. 2. Taxa neutra de juros - é a taxa básica de juros real (Selic menos inflação) que pode ser aplicada pelo BC sem gerar inflação e sem inibir o crescimento. 3 NAIRU, sigla em inglês para taxa de desemprego de equilíbrio ou neutra, aquela que não provoca aumentos salariais que onerem demais os custos das empresas por gerarem aumentos salariais muito acima da produtividade da economia. É bom acompanhar porque não existe nenhum termômetro econômico para medir nenhum dos três com precisão. Ao contrário, estas estimativas tem um caráter experimental perigoso : podem gerar um desequilíbrio custoso para qualquer lado, sendo que somente a posteriori tais desequilíbrios podem ser corrigidos. Se nem eles sabem Não nos cobrem, por favor, informações sobre os movimentos da oposição que não sejam as mumunhas políticas e o nhem nhem nhem de sempre. Se nem os oposicionistas sabem direito o que está acontecendo e que seja relevante e mesmo ainda sabem o que fazer, o que podem dizer os pobres mortais que não têm bola de cristal ? O fator China Já começam a pulular por aí os rebentos das informações que dão conta que a China está a reduzir a atividade econômica. Por alguma destas artimanhas desconhecidas o governo comunista de Pequim conseguirá limitar o crescimento em 7,5%, nada acima e nada abaixo. Os chineses parecem dotados de conhecimentos milenares, mas é difícil acreditar que quando se "freia" uma economia é possível se prever com precisão o quanto uma economia reduzirá em termos de produção, investimentos, etc. O certo é que o mundo teme tanto o assunto que nas últimas semanas andou aumentando a tensão no mercado financeiro que costuma ser pródigo neste tipo de especulação. Também parece bem razoável acreditar que nenhum país consegue crescer constantemente a taxas de 10% ao ano sem que se gerem desequilíbrios estruturais na formação fixa de capital (vulgo, investimentos) e no setor de crédito. A China não tem tais riscos mais identificados porque transparência não é o forte de Pequim e ninguém está (ainda) conseguindo saber algo diferente sobre o gigante do oriente. Todavia, as últimas tensões no mercado devem ser levadas a sério. A China pode não continuar sendo a força motriz que movimenta o mundo enquanto os países centrais do ocidente jogam hordas de desempregados nas ruas. A China e o Brasil - I A China está sustentando o preço de nossas commodities lá nas alturas. Mesmo com algum recuo nas últimas semanas, os bons comerciantes externos sabem que as cotações estão ótimas. Todavia, não se pode ficar pendurado na ideia de que isto é eterno. Alguém poderia imaginar que estamos exagerando. Convidamos o leitor a pensar no seguinte : estaria a taxa de câmbio neste patamar valorizado e haveria tranquilidade cambial não fossem os chineses comprando as nossas valorizadas exportações. Há, como se vê, um problema estratégico a ser resolvido : ou se aumenta o consumo doméstico (e se estimula uma pauta de exportações mais variável) ou estaremos pendurados num parceiro só, para o bem e para o mal. A China e o Brasil - II Se o risco chinês é considerável e merece atenção, mesmo que seja inescapável dado seus efeitos para o mundo atual repleto de destruição de empregos, redução de consumo e investimento, há de se considerar que políticas comerciais com excessos protecionistas, bem como ajustes que tornem elevada a volatilidade do câmbio não são boas práticas. É preciso fazer ajustes significativos em todas estas variáveis sem que isto reverta as boas expectativas de forma abrupta. Uma tarefa muito complexa e que o governo da presidente Dilma não parece muito preparado para fazer em vista de seus problemas de gestão. O Brasil tem perdido a sua dinâmica em meio aos parceiros de comércio exterior. Faltam às exportações conteúdo tecnológico e exploração de nichos. Sobra às importações uma taxa de câmbio tão favorável. O país parece querer brincar com fogo. Ainda sobre a decisão sobre o juro básico Ao que parece o BC está mesmo sensibilizado com a estagnação da atividade econômica que o país está metido. A queda de 0,75% da taxa básica de juros na semana passada foi realmente um recado para os agentes econômicos de que o BC está preocupado mesmo é com a queda da produção e que abandonou o regime de metas de inflação pelo menos em seus moldes mais tradicionais, para dizer o mínimo. Tombini e sua equipe estimulam a imaginação dos analistas de plantão em prever até que nível a taxa de juros básica pode cair. Note-se que o BC de Dilma está em pleno jejum de palavras no que tange à política fiscal e aos baixos ganhos de produtividade da economia brasileira. Isto não nos parece de boa cepa. Assim sendo, é bem possível que a taxa de juros caia para patamares nunca imaginados a princípio (8% ou menos) e que isto ocorra ainda neste primeiro semestre. Resta saber se será suficiente para estimular uma economia que parece estagnada, sobretudo no campo político. Radar NA REAL 9/3/12 TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA estável estável/alta - Pós-Fixados NA baixa baixa Câmbio ² - EURO 1,3147 baixa baixa - REAL 1,8200 estável/baixa estável/baixa Mercado Acionário - Ibovespa 66.703,96 estável/alta estável - S&P 500 1.371,69 estável/alta alta - NASDAQ 2.988,34 estável/alta alta (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável ____________
terça-feira, 6 de março de 2012

Política & Economia NA REAL n° 188

Dilma, tensão, choro e lulodependência A quaresma trouxe pesadas cinzas políticas para a presidente Dilma, refletidas no choro por ela exibido sexta-feira no Palácio do Planalto. Não há que se imaginar que ela, durona como é tida, tenha soltado lágrimas por causa da dispensa do ex-ministro Luis Sérgio, político petista fluminense que humilhou duas vezes. Menos ainda se deve supor que a emoção tenha sido pela aquisição para o ministério da Pesca do senador e bispo licenciado Marcelo Crivella. Seria muita vela para pouco santo. A razão, segundo bons observadores políticos de Brasília, seria outra : o alto grau de tensão a que Dilma está submetida em razão das confusões no campo governamental, nada especificamente a ver com a economia, que é um outro departamento. Vê-se a presidente assolada por : 1. Rebelião na base aliada e as desavenças explicitadas publicamente entre o PT e o PMDB. A insatisfação é grande e é diretamente com a presidente e a forma como ele se conduz politicamente. 2. O documento dos militares da reserva com críticas indiretas à presidente e diretas do ministro Celso Amorim. Nasceu pequeno, cresceu e merece uma resposta dura do governo. Porém, isto pode acender um rastilho de pólvora, pois junta insatisfações com a Comissão da verba com desencantos salariais e com a falta de recursos para reaparelhar as Forças Armadas. 3. A disputa pelo poder dentro do BB; uma queda de braço entre petistas, com reflexos no meio ambiente da equipe econômica. 4. A inesperada (para quem não lê bem a política) entrada de José Serra na corrida eleitoral pela prefeitura de SP, criando dificuldades para a montagem de uma coligação governista ampla para apoiar a candidatura petista de Fernando Haddad. Com isto, Dilma vai ter de mostrar mais sua cara na sucessão paulistana, coisa que não estava em seus planos. E que já começou a fazer dando a Crivella o ministério da Pesca. Em consequência dessa confusão, Dilma teve de correr para os braços de seu criador, reacendendo a velha conversa da "lulodependência" coisa que ela vinha tentando apagar, até com algum sucesso, nos últimos tempos. Sistema esgotado Toda essa confusão demonstra que o sistema de coalizão partidária amplo, que sustenta o governo Dilma, montado milimetricamente pelo ex-presidente Lula, está se esvaindo. É gato demais no balaio para uma pessoa com pouca experiência e pouco apetite político como Dilma. Quando o partido do vice-presidente da República, Michel Temer, que é também seu presidente licenciado, faz circular um manifesto como o assinado pela maior parte de sua bancada na Câmara, dá para ver o tamanho da encrenca que Dilma tem pela frente. De agora em diante, a tendência é aumentar as cobranças dos aliados e as concessões por parte do Palácio. Não é esse o problema A questão preocupante não é o fato de o bispo-senador Marcelo Crivella não entender de pesca, nem ao menos colocar uma minhoca no anzol. Não tem importância. Os ministros que o antecederam na Pesca também não sabiam e o ministério não tem razão de existir. Qualquer coisa, ou nada, é a mesma coisa. O problema é o modo como ele foi escolhido e as credenciais que o levaram ao posto - apenas razões eleitorais e partidárias. Ainda é cedo O PSDB está exultante com a entrada de Serra na eleição paulistana, principalmente depois que o DataFolha já o colocou em primeiro lugar na pesquisa da intenção de votos. Por outro lado, baixou um mal estar no PT e no Palácio do Planalto, com as dificuldades que agora se apresentam para Fernando Haddad. O PT, Lula e Dilma já davam nas mãos a prefeitura de SP. E mais : um passo decisivo para a tomada do Palácio dos Bandeirantes, em 2014. É cedo para tudo isso. A eleição pode virar. O cacife dos eleitores de Haddad, do ex-presidente Lula e da presidente Dilma, é pesado. E tanto para Lula quanto agora também para Dilma ganhar a eleição na capital paulista virou ponto de honra. Espertinho demais Kassab está atirando em tantas direções que está com grandes possibilidades de terminar o seu mandato falando sozinho e com um partido natimorto nas mãos. Se o PDB não conseguir mais tempo no horário obrigatório no rádio e na televisão deixará de ser uma noiva cobiçada em qualquer lugar do Brasil. E o despacho do ministro Lewandowski, negando ao PSD o direito de ocupar presidências das Comissões permanentes da Câmara, pode ser um indício de como os tribunais decidirão quando chegar o momento de definir se ele terá direito a mais tempo na mídia. A tese é que o partido ainda não passou pelo "teste das urnas" e esse teste que define os direitos partidários. Lula em repouso Não há nenhuma indicação de que a saúde do presidente Lula, em relação ao câncer do qual ainda está se tratando, piorou. É efeito do tratamento a que foi submetido, agravado, segundo bons especialistas, com alguns "descuidos" do presidente. Por seu estilo, por exigências de seu partido e também de demandas da presidente Dilma em alguns momentos de dificuldades, Lula se expôs mais do que o aconselhável. E como diagnosticam seus médicos, ficou com a imunidade comprometida. Agora, terá de ser mais obediente e se submeter a um repouso para valer, mais prolongado, mesmo depois que sair do hospital. O que para a presidente Dilma, com os pepinos que está vivendo, não é nada bom. E menos bom ainda é para os candidatos petistas às prefeituras, especialmente Haddad, politicamente ainda incapaz de andar sem as duas muletas de Lula a escorá-lo. Economia em marcha lenta I Há poucos anos discutia-se muito entre os economistas que o crescimento não era sustentável em função das restrições cambiais que o país historicamente tinha. No governo FHC, o crescimento per capita gravitou ao redor de zero. Na era Lula, regada pela bonança internacional, o crescimento per capita pulou para algo em torno de 3%. De todo o modo, este crescimento é substancialmente inferior aos países mais importantes dentre os emergentes, os chamados BRICs, e menor que os principais países da América Latina, excetuando-se o México. Esta constatação se repete neste primeiro ano da presidente Dilma : o Brasil continua patinando, a despeito do grande prestígio que tem perante o mundo desenvolvido em crise. Note-se que estamos analisando em termos relativos o que retira o argumento de que este baixo crescimento se deve a crise externa. Economia em marcha lenta II Há muitas possibilidades para se justificar este crescimento medíocre. O mais aparente é que a taxa de investimento instável, ao redor de 20% do PIB, ainda é baixa em comparação aos outros países com características semelhantes às do Brasil. Logo, chegamos à taxa de juros básica e de crédito aberradamente desequilibradas. De outro lado, a inflação brasileira acumula perdas importantes em termos de poder de compra. Ademais, a taxa de câmbio está supervalorizada, basta se verificar o desempenho dos preços do segmento de serviços. Por fim, temos um resultado fiscal equilibrado, mas que onera em excesso os segmentos mais produtivos da economia em favor de um obeso Estado. Menor produtividade, menor crescimento. Economia em marcha lenta III Como se vê nas notas acima, a economia brasileira não parece tão saudável quanto se apregoa mundo afora. Ocorre que quem está muito adoentado são os países centrais do capitalismo. Nesta comparação, o Brasil brilha e talvez aí resida a negligência generalizada em torno de reformas essenciais para dotar a economia brasileira da vitalidade necessária que justifique os excessos verbais quando se comenta sobre a economia brasileira por aqui e lá fora. A economia, neste ritmo lento, de fato, e "atraente", na aparência, faz jus ao desempenho político da presidente Dilma, e vice-versa. A presidente gosta de ser conhecida pelo seu caráter de "gerente". Uma imagem bem discrepante com a realpolitik da coalizão partidária que preside, onde cabe tudo, de comunistas errantes pelo mundo, no ministério dos Esportes até a vanguarda do atraso, nas Minas e Energia. De Sarney às políticas da condição feminina. De Dilma à Lula. A economia imita a política. E vice-versa. Não há reformas relevantes e não há gerência competente. O que se vê é um Brasil muito melhor perante um mundo muito ruim. BC cheio de dúvidas Se fosse pelo crescimento frágil da demanda no final de 2011 e o fraco desempenho da atividade destes dois meses iniciais do ano, bem como o comportamento bem mais moderado da inflação, o BC poderia ser mais agressivo em reduzir a taxa de juros básica, bem mais rápido que se espera. Há quem aposte nisso. A nosso ver, a questão não é quem ganha esta aposta, mas o quanto isto é possível num momento em que uma boa parte dos resultados positivos da inflação se deve ao câmbio valorizado e, de outro lado, o quanto o petróleo em alta lá fora pode contaminar a dinâmica de preços por aqui. Alguém poderia chamar a atenção para os riscos chineses, mas vamos combinar que, por enquanto, chega a ser uma grande pretensão tentar adivinhar o que seria uma crise da China a estas alturas dos acontecimentos. A crise pode (deve ?) até acontecer, mas não há possibilidade de se prever quando. O que nos parece, por ora, é que Alexandre Tombini e sua turma vai continuar reduzindo o juro básico obedecendo a máxima de que "quando não se sabe exatamente o que se está fazendo, faça devagar". Se o BC apertar o passo e for mais rápido na redução dos juros, é possível que tenha de voltar a aumentar os juros mais cedo. A opção pela segurança nos parece mais óbvia. Palpites e apostas Hoje, o IBGE divulga os resultados oficiais do PIB do ano passado. Até os mais empedernidos governistas, aqueles que há pouco mais de um ano imaginavam que a economia nacional poderia crescer até 5% em 2011, estão conformados com uma elevação do PIB entre 2,7% e 2,9%. O discurso oficial será que isto é o que mostra o "retrovisor", o importante é que está em andamento. Um PIB para fechar 2012 crescendo ao ritmo de 5%. Esse dado de baixo desempenho, porém, poderá ser útil para o Copom, cuja reunião para definir a nova taxa básica de juros começa hoje e termina na quarta-feira. Alguns analistas acham que o BC pode cortar a Selic com mais força, algo entre 0,75 e 1%, sob a alegação de que é necessário incentivar o crescimento da economia. Segundo eles, o presidente do BC, Alexandre Tombini, deu a senha quando, na semana passada, em depoimento no Congresso, fez questão de enfatizar que a economia brasileira está crescendo há três trimestres abaixo de seu potencial. Faça-se o jogo. Juros da poupança Semana passada, discretamente, o ministério da Fazenda negou que esteja estudando rever a forma de remuneração da caderneta de poupança. Como se sabe, eis um assunto delicado, sobretudo porque envolve uma multidão de famílias das classes mais pobres do país. Não tenhamos ilusões : qualquer baixa consistente dos juros no patamar de um dígito requererá uma nova forma de remuneração da caderneta de poupança. A combinação de uma remuneração fixa com um "índice" é incompatível com um cenário de juros mais baixos. Resta o imenso problema político a ser gerido pelo governo de plantão. Só para lembrar : num dado momento do governo Lula esse assunto aflorou, mas foi logo descartado, tais as reações que provocou. A memória de Fernando Collor, Zélia Cardoso de Mello e seu plano econômico ainda é muito presente. Antes de mexer na poupança, Dilma e Mantega terão de fazer uma demorada catequese. E em ano eleitoral, nem os mais fiéis aliados se sentirão com vontade de meter a mão nessa arapuca. A "guerra cambial" A presidente Dilma adotou a terminologia do ministro Mantega e passou a apregoar contra a "guerra cambial". Há muitas coisas desconhecidas no mundo atual a despeito do avanço científico que vivenciamos. Definir uma "guerra cambial" é complicado, mas aparentemente devemos acreditar na presidente e seu ministro com muita boa vontade. Todavia, talvez seja o caso de acreditarmos mais na guerra comercial, marcada pelas barreiras alfandegárias e não-alfandegárias que rodeiam a Terra. Nossos hermanos do sul, por exemplo, estão fazendo acrobacias de todo tipo para evitar déficits comerciais crescentes. Os EUA estão tentando de tudo para barrar os produtos chineses que campeiam pelo país e os europeus tentam se resguardar dentro do próprio Velho Continente contra os produtos mais baratos do Leste Europeu. No que diz respeito às moedas a coisa parece comportada. As moedas flutuam de lá para cá sem grandes efeitos propriamente "cambiais". Os chineses, por exemplo, estão onde sempre estiveram : com a moeda desvalorizada para bancar as suas exportações que inundam o mundo. O Brasil, por sua vez, tem de desatar o histórico e problemático mundo dos juros altos. Não é à toa que o real é o campeão de valorização. Eleições e crise internacional Os olhos inundados de lágrimas de Vladimir Putin, vencedor da eleição deste fim de semana na Rússia, inauguram o período de eleições em países importantes. Até o meio do ano teremos eleições na França, país mais importante na estratégia alemã de colocar ordem na eurolândia. A Grécia se encontra com as urnas em meio a sua tragédia, em abril. A Itália continua com um cenário instável para o governo "tecnocrático" do professor Mario Monti. Por fim, temos a corrida eleitoral norte-americana, marcada pelo desacreditado Obama e pela oposição estridente dos "napoleões perdidos" republicanos. Neste ano haverá enorme rebuliço político no hemisfério norte. A sustentação para os planos reformistas e salvacionistas dos países centrais dependerá destes resultados. Olhada pela política, a economia será volátil. Radar NA REAL 2/3/12 TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA estável estável/alta - Pós-Fixados NA baixa baixa Câmbio ² - EURO 1,3221 baixa baixa - REAL 1,7353 estável/baixa estável/baixa Mercado Acionário - Ibovespa 67.781,60 estável/alta estável - S&P 500 1.369,63 estável/alta alta - NASDAQ 2.976,17 estável/alta alta (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável Mendes, um militante ? Chega parecer coisa de militante partidário a "cruzada" do ministro do STF, Gilmar Mendes, contra a chamada Lei da Ficha Limpa. Na sessão do STF que confirmou a validade da norma, usou argumentos um tanto canhestros, bem rebatidos por colegas como a ministra Carmem Lúcia, e deu a nítida impressão, pelo estilo e tom de voz, de querer constranger (e influenciar) a nova ministra Rosa Weber. Neste domingo, voltou ao ataque no "Estadão" preconizando a alteração da lei pelo Congresso, alegando que ela é uma roleta russa. Mas não fica claro, na entrevista, porque ela seria essa ameaça. ____________
terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Política & Economia NA REAL n° 187

Novidades da política monetária Ao que parece o BC vai tentar alternar ainda mais a política monetária vigente. Além de reduzir a taxa de juros básica por meio de um remodelado sistema de metas de inflação, o BC levará em conta alguns aspectos específicos sobre o desempenho da economia internacional. Para muitos dos policy makers incrustados na autoridade monetária o cenário de atividade econômica externa será muito pior que aquela que o tal do "mercado" prevê. Será esta a motivação mais importante para levar a taxa de juros para algo como 8% ao final do ano. O cenário fiscal do governo não se mostra mais restritivo, mas mesmo assim o BC acredita que tem os elementos econômicos para justificar uma política monetária ainda mais expansionista. O problema concreto é que a inflação continua alta e o real valorizado coloca um ponto de interrogação sobre a sustentação desta estratégia do governo. A pior notícia do ano... ...para o Brasil a economia veio da China : as importações chinesas caíram 15,3% em janeiro. Ainda não dá para saber se é uma tendência, por causa do crescimento menor, ainda que bem elevado da economia local. Mas se for... apertemos o cinto. Este parece ser a principal justificativa para o BC estar tão pessimista em relação ao cenário internacional. Grécia : o pacote vai, mas o país fica O pacote de ajuda à Grécia deve sair, mas as possibilidades do país se sustentar são cada vez menores. O corte da dívida parece ser insuficiente para o quadro recessivo e permanente a que o povo grego está sujeito. Além do mais os US$ 170 bi da dívida refinanciada tem uma taxa de juros elevada (3% ao ano) para as perspectivas do PIB do país. Até agora o que dá para dizer é que o plano franco-germânico conseguiu levar ao país a repetir o cenário da grande depressão dos EUA dos anos 30, com consequências políticas imprevisíveis. As demonstrações em Atenas simbolizam não apenas a perda do status quo da classe média do país. São protestos desesperados de um país europeu perante seus próprios parceiros. Estamos bem mais perto do colapso do país e, quiçá, do euro. A Alemanha parece que não se lembra de sua própria história pré-ascensão de Adolf Hitler. Obama e Robin Hood Em ano eleitoral, o presidente Obama tenta equilibrar as contas públicas por meio do aumento da taxação de dividendos de 15% para 39,6% para casais que ganham mais de US$ 250 mil e indivíduos que ganham mais de US$ 200 mil por ano. Adicionalmente, Obama proporá ao Congresso aumento da tributação de ganhos de capital e impostos para manter o novo sistema universal de saúde. Tudo isso, eleva a tributação em mais de US$ 1,4 trilhão de impostos nos próximos dez anos. Estas propostas terão resistência num Congresso controlado pelos republicanos. Não tenhamos ilusões, contudo. Se os republicanos ganharem as eleições novos impostos virão, para sustentar o monumental déficit realizado pelo governo para sustentar a frágil atividade econômica do país pós-2008. Para os republicanos, a taxação deve ser mais linear. Obama tenta tirar dos ricos e dar aos pobres, tal qual o simpático morador da Floresta de Sherwood. O arco e flecha de Obama é um articulado discurso voltado para os desempregados que ele quer ver colocando seu nome na urna. PMs : barrigada nacional Há um alívio e até alguma satisfação com o fim oficial da "greve" da PM da Bahia e o fracasso da paralisação dos PMs do RJ. De fato, não havia outra saída para as autoridades senão enquadrar os rebelados, com a intransigência de nem ao menos discutir, agora ou no futuro, qualquer tipo de anistia, como se fez no passado recente com aprovação do Congresso e sanção da presidente Dilma. Há na democracia um princípio chamado "Estado de Direito" que é intocável. Porém, o problema que gerou a confusão na Bahia e no Rio e ameaçou avançar por outros Estados não foi eliminado com o enquadramento dos policiais baianos e fluminenses. A polícia continua ganhando muito mal de um modo geral, é mal treinada, tem péssimas condições de trabalho, com equipamentos insuficientes e muitas vezes obsoletos, não há uma política nacional de segurança pública eficiente nem políticas regionais de qualidade. Barrar a votação da PEC 300 - que equipara os salários dos policiais e bombeiros de todo o país aos dos mais bem pagos, de Brasília - não é uma rima nem uma solução. Empurrar a questão com a barriga, escudando-se na necessidade de manter o poder da autoridade e na desculpa de que as contas públicas não suportam mais gastos nesta área, é continuar alimentando o ovo de uma serpente venenosa e de grande poder de desestabilização social e política. Wagner e os números O motim da polícia baiana ajudou a esconder o descalabro da segurança pública no Estado nos últimos anos. Os números são eloquentes demais : o total de homicídios em Salvador saltou de 315 em 2000 para 1.484 em 2011. Em 2000, a taxa de mortes por cem mil habitantes na região metropolitana da capital era de 12,9 relativamente a 26 do Brasil; em 2011, com 55,5 - pulou honrosamente para o sétimo lugar. No Rio e, principalmente, em São Paulo, essas taxas têm caído consistentemente. Mas não há nenhum governador mais festeiro no Brasil do que Jaques Wagner. A Lula, as batatas. Ou melhor, a política Lula escolheu pessoalmente e solitariamente o candidato à prefeito de SP pelo PT, Fernando Haddad. Além disso, determinou que o partido faça aliança na capital paulista com Kassab. Estabeleceu também a estratégia eleitoral petista para as grandes cidades : ceder a cabeça de chapa aos aliados quando eles tiverem alguma chance maior que a do PT. A ordem é priorizar o jogo de 2014. Lula ainda interferiu na disputa dos senadores petistas determinando que aceitassem a permanência de Marta Suplicy na vice-presidência do Senado, contrariando acordo firmado no ano passado segundo o qual ela cederia o posto a José Pimentel. Na Câmara, o ex-presidente ordenou que o deputado José Guimarães, cujo assessor foi flagrado com dólares na cueca pela polícia há poucos anos, deixasse para o paulista Gilmar Tato a liderança do PT na Câmara. A presidente Dilma consulta-se permanentemente com o presidente em questões partidárias. Nenhuma troca de ministros e funcionários graduados do governo deixou de ser comunicada com antecedência a ele. Quando uma coisa não agradou ao ex, como a ideia de reduzir o número de ministérios, foi imediatamente arquivada, sem discussões. Dilma e o PT terceirizaram de vez as operações políticas para quem de fato entende do negócio. Susto seletivo A ex-prefeita e senadora Marta Suplicy revelou-se assustada com a possibilidade de acordar de "mãos dadas" com Kassab. Para marcar posição contra esta aliança patrocinada por Lula não foi nem à festa em Brasília pelos 32 anos de vida do PT. Mais parece uma indignação coletiva, levada pela mágoa de ter sido tirada a fórceps da disputa pela prefeitura paulistana. Afinal, nunca incomodou a Marta amanhecer de "mãos dadas" com Maluf, Collor, Sarney e outras antigas bestas-feras do petismo. Unidade ameaçada Não apenas para Marta parece estar sendo indigesto demais deglutir um acordo com Kassab. Há petistas muito bem postados e politicamente maduros que temem um racha no partido em SP, com reflexos em outros lugares nos quais também companheiros estão sendo forçados a renunciar para beneficiar aliados. Também em BH a situação está fervendo, como não é tranquila no PR. Um levantamento preliminar indica que das 26 capitais em 13 o PT cederá vagas de cabeça de chapa a parceiros. É muito para os estômagos mais delicados. O homem da buzina As ações de Kassab, vendendo-se ao PT e botando preço para um acordo com o PSDB de Alckmin, ao mesmo tempo em que dá sinais de que poderá aparecer na corrida eleitoral paulistana com um candidato próprio, tem lá o seu método. Kassab precisa manter a chama de que tem força política. Até agora, ele não tem dotes a oferecer aos candidatos : sua popularidade é pífia e o PSD não tem tempo substancial no horário eleitoral obrigatório no rádio e na televisão, o grande motivador de dez entre dez alianças eleitorais. Desconfia-se também que Kassab está tão "oferecido" ao PT, a Lula e ao governo na esperança de que eles ajudem a influenciar a justiça no pleito do PSD de conquistar mais dinheiro do fundo partidário e mais tempo no rádio e na televisão. Diz um ditado da política brasileira que muita esperteza costuma comer o espertinho. Cinzas oposicionistas Pelo mover do cabriolé, a oposição não dá as caras para valer antes do Carnaval, quiçá apenas após a aleluia. Quando aparece, é mais do mesmo, fica apenas nas minudências. As ironias da semana passada sobre a incoerência do PT no caso das privatizações é pura infantilidade. Privatização, uma discussão semântica Governo e aliados, de um lado, e oposição, de outro, trocam farpas e caneladas para saber que o leilão dos aeroportos foi apenas uma concessão (tese governista) ou uma privatização (tese oposicionista). Discussão periférica. As questões centrais são : 1. Saber se há de fato uma mudança nos, como se diz, paradigmas petistas e dilmistas, e o governo vai prosseguir nessa toada ou a privatização foi levada apenas pelo "estado de necessidade" criado pela Copa e pela Olimpíada. As dúvidas são pertinentes : ainda no fim da semana passada o governo reforçou a musculatura da Telebrás, uma estatal que estava para ser extinta e foi revivida há cerca de dois anos, sem ainda ter dito para que de fato serve, embora tenha aumentado bastante seu custo para os cofres públicos. 2. Saber se de fato a concessão dos Aeroportos de Guarulhos, Campinas e Brasília foi um bom negócio, se vai funcionar ou se o governo vai correr para tapar buracos. O próprio Palácio do Planalto parece ter dúvidas, tanto que vozes oficiosas já aparecem para dizer que a presidente Dilma ficou preocupada com a situação dos consórcios e que o ministro da Fazenda, Guido Mantega, convocou dirigentes de fundos de pensão das estatais para que eles expliquem o surpreendente valor do lance no principal aeroporto licitado. Isto é o que interessa, o resto é paisagem. Bobagem maior Fazer cartilhas políticas para explicar medidas políticas soa como uma volta ao passado da esquerda soviética durante a ditadura comunista pós-1917. O PT quer fazer uma cartilha para explicar que as concessões de aeroportos não são a "privataria" tucana do passado. Mas, será que a cartilha vai explicar também as razões da incompetência estatal na gestão de empresas e concessões públicas ? Ou será que as concessões feitas às empresas privadas não são uma tentativa de sair do lamaçal estatal ? Radar NA REAL 10/2/12 TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA baixa baixa - Pós-Fixados NA baixa baixa Câmbio ² - EURO 1,3210 baixa baixa - REAL 1,7200 estável/baixa estável/baixa Mercado Acionário - Ibovespa 63.997,86 estável/alta estável - S&P 500 1.342,64 alta alta - NASDAQ 2.903,88 alta alta (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável Dialética defliniana Do ex-ministro e ex-deputado Delfim Neto em entrevista no jornal "Valor Econômico" : "Tenho uma grande confiança na dialética entre a urna e o mercado. Cada vez que a urna exagera nos benefícios, o mercado vem e pune. E cada vez que o mercado exagera, vem a urna e pune." Acerto das contas O ministro Mantega expõe amanhã, na primeira reunião do ano, o Conselho Político do governo, o estado das contas da União e dá indicações dos cortes que deverão ser anunciados no Orçamento deste ano - cortes preliminares, é verdade. No mundo oficial trabalha-se com três números : R$ 60 bi, pela calculadora dos técnicos da Fazenda; algo entre R$ 55 e R$ 50 bi pelos ábacos dos ministros econômicos, e perto de R$ 45 bi na ponta do lápis do universo do Palácio do Planalto. Em revisão Depois da comprovação dos atrasos nas obras de transposição do Rio S. Francisco e da ferrovia Transnordestina, as palavras "eficiência" e "competência" estão sendo postas em xeque em muitos gabinetes coroados de Brasília. Longevidade ministerial Não foram poucas as especulações intramuros do poder central, na semana passada, de que Guido Mantega poderia sair em breve do ministério da Fazenda em função de seus problemas pessoais relacionados com a saúde de sua esposa. ____________
terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Política & Economia NA REAL n° 186

O protecionismo no Brasil e o câmbio A valorização excessiva da moeda brasileira espalha diversos sinais de desindustrialização. A taxa de câmbio é um tema macroeconômico dificílimo, pois prever e "administrar" o câmbio é uma tarefa inglória, com resultados imprevisíveis. Também difícil é fazer ajustes em acordos comerciais em função dos generalizados interesses que se formam ao redor destes. É o caso dos acordos comerciais do setor automotivo com Argentina e México. Ambos são fontes de elevados déficits (uma soma além dos US$ 2,5 bi) e de transferência sistemática de produção e empregos. O Brasil tenta ajustar ambos os acordos, com graus de dificuldades bastante diversas nos dois casos, mas no fundo o problema essencial é a taxa de câmbio. O Brasil é atualmente um país excessivamente caro, com custos sistêmicos (trabalho, juros, impostos, etc.) elevados e com infraestrutura custosa e ineficiente. Portanto, ao ir à mesa de negociação com seus "parceiros", o Brasil leva consigo seus próprios e enormes problemas diante de poucas virtudes do lado oposto. Uma negociação de perdedores perante China, Índia, etc. Em tempo : a produção de veículos em janeiro, segundo a Anfavea caiu 19%. By by made in Brazil Depois de conhecidos os dados oficiais do desempenho da indústria no ano passado - crescimento de meros 0,3%, quando o comércio, mesmo com a parada dos últimos meses deve ter chegado a 7% - e da balança comercial de janeiro, com um déficit de US$ 1,3 bi, não dá para esconder que a indústria brasileira passa por um processo bem avançado de extermínio, ressalvados alguns setores. E a velocidade desse processo vem crescendo. E cada vez que há um sinal desses, o governo saca, algumas vezes até na prática (mas a maioria apenas no discurso e nas promessas), um arsenal de medidas pontuais para atenuar o problema. Por incapacidade - ou falta de condições políticas de atacar os verdadeiros problemas que não só estão matando nossa indústria, mas que mantém a economia nacional num nível de crescimento mediano apenas, porque qualquer avanço mais acentuado do PIB, como os 7,5% de 2010, ameaça com inflação e outros desarranjos. Vale lembrar que enquanto não tivermos condições de melhorar a infraestrutura viária, a portuária e a aeroportuária, não tivermos um sistema tributário decente, não estabelecermos um Estado mais ativo e menor oneroso, vamos de remendo em remendo, só isso. E basta ver os propósitos do governo para este ano, embora cheio de boas intenções, listados no documento de Dilma na abertura do Congresso, para sentir que nossas deficiências mais profundas vão demorar algum tempo a serem enfrentadas e sanadas para valer. Protecionismo na América Não se deve levar ao pé da letra nenhuma afirmação de candidatos durante a corrida eleitoral. Falam demais e, sabidamente, mentem. Todavia, no caso de Mitt Romney e Obama é certo que o discurso protecionista em relação à China terá sobrevida além da eleição presidencial. O questionamento sobre as "práticas comerciais injustas" (Romney) e dos "desajustes comerciais da China" (Obama) caem como uma luva perante um eleitorado sedento pela retomada da atividade econômica local e pela proteção à indústria e empregos dos norte-americanos. Note-se que esta visão tem especial apelo junto ao eleitorado mais pobre (latinos e negros), que é aquele mais disposto a votar no momento de eleger o presidente. O resultado disso tudo pode ser um comportamento mais contido dos investimentos americanos ao redor do mundo. Neste aspecto, o mundo perde. E não é pouco. A Grécia no centro das atenções Nesta semana, o governo grego deve finalizar o pacote de renegociação de sua dívida de US$ 170 bi. Uma tarefa extremamente complexa, seja no que tange ao convencimento do mercado de um "corte" no total a ser recebido futuramente, seja no âmbito interno, especialmente junto às centrais sindicais em função da redução de pensões, salários e empregos. Ao que parece, haverá um acordo, mas a dúvida vai permanecer no front : como um país poderá sobreviver tanto tempo sob recessão contínua e desesperança social ? Esta questão sensível não haverá de influenciar os investidores que são os mais hesitantes em aceitar o novo prazo de renegociação (30 anos) e a taxa de juros (3,6% ao ano), considerada baixa ? Note-se que o desconto da dívida é de mais de 70% e, mesmo assim, as condições de crédito do país não serão restabelecidas. O momento é decisivo e deve marcar o cenário nesta semana e, quiçá, na próxima. O momento dos mercados é positivo, mas esta renegociação é uma espécie de benchmark para os outros países endividados. Haverá eleições ? As eleições gerais estão marcadas para abril próximo na Grécia. Todavia, o Partido Socialista, liderado pelo ex-primeiro-ministro George Papandreou já se articula para que o governo "técnico" do primeiro-ministro Lucas Papademos permaneça por mais tempo (quanto seria ?) de forma a dar "maior credibilidade" às atuais renegociações. A questão que decorre desta proposta do Partido Socialista é "como pode um governo 'técnico' se sustentar politicamente perante uma população que está sofrendo as agruras deste monumental ajuste econômico" ? Há, desta forma, um vazio político que é incompatível com as necessidades do atual processo social e financeiro do país. Eis um sinal evidente de que a probabilidade de uma "ruptura" em relação à união monetária é elevadíssima. O papel da Alemanha, Inglaterra e França O foco da Alemanha e da França neste momento delicado da União Europeia é a manutenção da força do Euro. Angela Merkel, em especial, tem se esmerado em implementar rígidos padrões de disciplina fiscal junto aos países endividados da Zona do Euro. Não haveria nada de errado neste processo, não fosse o fato dele estar sendo acompanhado com uma visão hegemônica pela qual a Europa está sendo dividida entre "poderosos" e "periféricos". Neste contexto, a Alemanha e a França estão debilitando ainda mais os países com problemas de crédito e, em contrapartida, aumentando as dúvidas em relação à sobrevivência do Euro. Um dúbio jogo faz o primeiro-ministro inglês David Cameron, que deseja um Euro mais fraco perante a moeda nacional da Inglaterra e, ao mesmo tempo, se encarrega de se somar às duras requisições fiscais de Berlim e Paris. Um jogo perigoso cujo custo pode ser desconhecido, embora se saiba de antemão que é desastroso. Aeroportos privados Os contratos de prestação de serviços aeroportuários em processo de leilão são per se um bom e tardio sinal para a economia brasileira, tão necessitada de modernização na sua infraestrutura. Todavia, este não parece ser um sinal de mudança geral no pensamento governamental em relação ao tema. A participação privada nos setores básicos da economia brasileira continua sendo percebida pelo governo como algo "secundário". As maiores apostas do governo Dilma estão relacionadas com o próprio desempenho estatal. Não à toa, a imagem de "gerente" da presidente está associada aos gigantescos planos do Estado em várias áreas consideradas estratégicas. O que se vê de concreto, portanto, é muita falação e pouca ação, tudo em linha com a lentidão, ineficiência e outros procedimentos nefastos que convivem com as áreas de infraestrutura. Regular a participação do setor privado nestas áreas é papel essencial do governo. Todavia, considerá-lo secundário perante o Estado é miopia de muitos graus. É o que ocorre. A licitação dos aeroportos não é sinal de mudança neste tema. Comemorar ou estranhar ? O governo festeja o valor alcançado pela concessão dos três principais aeroportos brasileiros - Guarulhos, Viracopos e Brasília - no leilão de ontem - R$ 24,5 bi, quase cinco vezes mais que o lance mínimo de R$ 5,5 bi estabelecido no edital de licitação. É o caso de perguntar : não houve um erro de cálculo ? É de se imaginar que nenhum dos consórcios entrou no jogo para perder dinheiro, e, portanto, não foi perdulário no seu lance. Tudo não estaria sendo subestimado pela necessidade que o governo tinha de correr com a privatização por causa dos prazos exíguos para preparar os aeroportos para a Copa ? Além do mais, o consórcio que puxou os fabulosos ágios oferecidos tem a proeminência da Previ, do Funcef e do Petros, fundo de pensão dos empregados de empresas estatais - respectivamente do BB, da CEF e da Petrobras - sobre a vontade dos quais o governo põe e dispõe, manda e desmanda. Na outra ponta, é notável a ausência, entre os vencedores das principais empreiteiras brasileiras, Odebrecht, Camargo Correia e Andrade Gutierrez, que parecem, por não terem ousado mais nos lances, não terem percebido a possibilidade de retorno que os vencedores levaram. Ficaram ausentes também as operadoras dos maiores aeroportos do mundo. A presença de um operador experiente era exigência do edital. Em compensação, a estatal Infraero ficou com 49% nas sociedades e o BNDES, com até 80%, vai abrir suas burras para financiar os investimentos nos três aeroportos. Nem tanto assim A bem sucedida privatização de ontem, pode ser considerada (1) uma privatização envergonhada porque impôs-se a Infraero no negócio com a participação de 49% e (2) com grande empuxo estatal, pois o BNDES, vai financiar até 80% dos investimentos necessários com aquele jurinho de pai para filho. Abraços de afogados O processo de reforma ministerial e quejandos que está praticamente se encerrando com a troca do PP (Mário Negromonte) pelo PP (Aguinaldo Ribeiro) e em áreas específicas do segundo escalão, demonstra definitivamente que a presidente Dilma e seus aliados, inclusive o maior deles, o PT, estão indissoluvelmente ligados, unidos como irmão xifópagos para o que der e o que vier : 1. Todos os parceiros saíram insatisfeitos com reforma mixuruca : alguns fazem ameaças mais abertamente, outros resmungam pelos cantos, mas nenhum tem condições de romper de fato com a presidente ou mesmo aplicar-lhe um "corretivo". Não pelo menos enquanto ela estiver surfando na popularidade proporcionada pelos ainda bons ventos econômicos. 2. A presidente, por mais que faça pose de brava e ponha seus áulicos a decantar sua dureza, suas cobranças, sua intolerância com a inapetência gerencial, não tem condições de desprezar o "conselho" e as indicações dos parceiros. Se tivesse, o ministro das Cidades seria outro, não o paraibano quase desconhecido Ribeiro, nem o PDT voltaria ao ministério do Trabalho. Ele é a força Não há nada que possa acontecer no PT que não passe pelo crivo de Lula. Por isso, já se diz que o partido tem duas sedes : a oficial, na Vila Mariana, onde se hospeda normalmente o presidente nacional da legenda, Rui Falcão, e a de fato, no Ipiranga, onde dá expediente o Instituto Lula, com audiência infinitamente superior à da primeira. Ele é a consciência ? Nos últimos meses, em diversas ocasiões - as duas últimas numa entrevista para "The Economist" e em artigo no "Globo" e no "Estadão" de domingo, o ex-presidente FHC tem se esmerado em fazer criticas, provocar, apontar caminhos e dar paternais puxões de orelhas em seus companheiros de oposição. (Aliás, classificar de oposição o que está aí no momento é mera força de expressão ou licença poética.). Os conselhos são em vão : os oposicionistas só saem do sono em que mergulharam para cordialmente se desentenderem. ...da mãe Joana ? Faltam explicações convincentes para o episódio de nomeação e demissão do presidente da Casa da Moeda. 1. Foi um homem de Mantega para o qual o PTB ofereceu sua barriga de aluguel ? 2. Foi fruto de um acordo partidário que Mantega nomeou, como ele mesmo disse, sem conhecer a pessoa ? 3. Ele foi demitido por causa de suspeitas de "malfeitos" (apud Dilma). 4. Ele foi demitido porque o excelente trabalho (classificação de Mantega) executado na Casa da Moeda estava encerrado ? O episódio, quais que sejam as explicações reais, diz tudo do modelo nacional de distribuição de cargos públicos. A Casa de Moeda, pelo que se viu, foi tratada quase como uma casa de tolerância. Radar NA REAL 3/2/12 TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA baixa baixa - Pós-Fixados NA baixa baixa Câmbio ² - EURO 1,3063 baixa baixa - REAL 1,7276 estável/baixa estável/baixa Mercado Acionário - Ibovespa 65.217,40 estável/alta estável - S&P 500 1.344,90 alta alta - NASDAQ 2.905,66 alta alta (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável Ecos da incompetência É inadmissível, inaceitável, ilegítimo, ilegal e tudo o mais o terror ao qual a PM está submetendo o povo da Bahia. Terror que já ameaça se espraiar para outros Estados. É inadmissível, inaceitável e ilegítimo também os salários que são pagos aos policiais no Brasil, as condições de trabalho a que eles estão submetidos, baixa qualificação das tropas e o número insuficiente de policiais. Este é o gravíssimo impasse que o Estado brasileiro não resolve, por inapetência e incompetência, embora o país orgulhe-se de ser a sexta economia do mundo. Sexta economia para quê ? cara pálidas. ____________
terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Política & Economia NA REAL n° 185

Estados Unidos : a política em crise A eleição nos EUA está revestida de substancial simbolismo, não apenas para o Império, mas para todo o mundo civilizado e democrático. Do lado republicano, os dois candidatos têm situação notoriamente inquietante. Newt Gingrich faz um discurso que beira o reacionarismo. Isso para não falar de sua vida privada, recheada de histórias de adultérios e sinais de mau-caratismo. Mitt Romney, por seu turno, faz apologia do livre mercado, o que parece lhe favorecer de forma espetacular : o candidato milionário com seus investimentos no mercado financeiro americano e em paraísos fiscais paga 1/3 dos impostos que o trabalhador médio paga. Do lado democrata, a sustentação de Obama se dará entre os latinos, negros e os mais ricos que crêem em reformas sociais. Todos estas classes são aquelas que o próprio presidente não assistiu em sua primeira administração em função da ausência de coragem para enfrentar Wall Street. O Império tropeça não apenas na economia, mas especialmente na política. Sarkozy e a sua salvação O lançamento do plano de estabilização da economia francesa neste fim de semana foi revestido por uma apatia particular. Os franceses viram no plano um político emparedado pelas eleições de poucas semanas à frente. Além disso, o eleitorado está acomodado num padrão de vida no qual o empregado de uma casa não está dando à mínima para o desempregado da casa ao lado. Políticas verdadeiramente republicanas são difíceis de serem implementadas num contexto em que os políticos têm de convencer os súditos sobre perdas e quase nenhum ganho no curto prazo. A aliança com os alemães põe em evidência a crescente fragilidade francesa perante seus pares europeus. Os eleitores não se encantam com nada que veem à direita e esquerda. Querem mesmo é o que se vê no retrovisor. Isso eles não haverão de ter nos próximos longos anos. Europa : crise amainada e longa Na Europa, a despeito dos problemas de rolagem da dívida grega, há indicações concretas de que o risco de crédito do sistema financeiro pode ser paulatinamente afastado. O tratamento fiscalista, recomendado pela chanceler alemã Angela Merkel, há de estabilizar as piores expectativas, mesmo que imponha ao Velho Continente uma recuperação da demanda muito lenta e gradual. Ou seja, a estabilização está a ocorrer num patamar elevadíssimo de desemprego e de desesperança social para as classes mais pobres. Os traços de "estadista" da líder alemã estão associados a este deplorável contexto. Uma situação bem diversa de Margaret Thatcher nos anos 1980, quando a "Dama de Ferro" fez um ajuste modernizante em termos de produtividade num contexto de desemprego conjuntural e não estrutural. As feições de enfermeira da Primeira Guerra Mundial de Angela Merkel combinam com o cenário letárgico e sofrido da Europa. Brasil, coalizão estável ? É "chover no molhado" dizer que vivemos uma situação de estabilidade. De fato, nada parece incomodar a sociedade brasileira de forma dramática neste momento. Todavia, o que importa mesmo e é pouco comentado é o fato de que as políticas públicas emanadas do governo estão calcadas numa coalizão de partidos que instalam célere e profundamente seus interesses particulares dentro do Estado. A corrupção e o desempenho frágil dos resultados em termos de modernização e reformas são os sinais exteriores deste cenário desalentador. Se houve maior mobilidade da renda nos últimos anos, aspecto inegável, de outro lado não existem transformações estruturais e permanentes, tais como na educação, saúde, infraestrutura, tecnologia, etc. A excepcional popularidade da presidente Dilma, que coleta índices de aprovação absoluta ao redor de 50% da população, deve ser analisada sob a perspectiva de que os interesses estão acomodados e estabilizados, mesmo que não exista progresso evidente. Os conflitos mediados pela política engendram o progresso econômico e social. No Brasil de hoje há estagnação nas reformas e, sem pressões sociais organizadas, o cenário de negociatas políticas se espalha. Abrem-se a cortinas do ano político-eleitoral O ano político-partidário brasileiro começa para valer a partir desta semana com a reabertura, depois de amanhã, dos trabalhos do Congresso. Registre-se que, do ponto de vista legislativo, será um ano mais curto e menos "produtivo" que 2011, por tratar-se de um ano eleitoral. Os anos eleitorais já são naturalmente capengas no Legislativo e, até mesmo, em parte do Executivo, mas este 2012 deverá ser um pouco mais pois está marcado como prévia decisiva para 2014, tanto pelo governismo quanto pelo oposicionismo. Cada passo terá os dois olhos nas urnas antes de qualquer coisa. Dilma e os aliados Para a presidente o ano começa com os aliados insatisfeitos, como sempre com as ameaças de cortes de verbas e com a distribuição de cargos. A mini reforma ministerial em curso e as trocas anunciadas e especuladas no segundo escalão desagradaram gregos, troianos e baianos de um modo geral. E podem desagradar mais ainda os parceiros presidenciais. Especialmente a dupla do barulho PT/PMDB, dois adversários nada cordiais. Mas Dilma, montada em alta avaliação popular, nem tem nada a temer nesses primeiros momentos. O PT arrulha, chora pelos cantos, mas não morde. Aprendeu a ser obediente, até porque sabe que aconteça o que acontecer, ele ainda será o primeiro. Se não por nada, porque tem Lula. Já o PMDB estrebucha, faz ameaças, insinua chantagens, mas é um balofo sem muitas prendas. Não tem para onde correr a não ser para o poder Federal. Dilma, não tem nenhum projeto inadiável no Congresso este ano para ser submetida ao "toma lá dá cá" que marcam essas votações. Para a administração do dia a dia, o Congresso é desnecessário para o Planalto. Com quem ele está ? De um peemedebista independente, nem governista nem oposicionista, pouco chegado também ao fisiologismo de sua legenda : "A quem realmente serve Temer : ao governo do qual é vice ou ao partido do qual é presidente licenciado ? Não dá para tentar ter dois patrões o tempo inteiro, uma hora o telhado desmonta". Férias prolongadas A política volta à ativa. Mas a oposição tudo indica vai prolongar suas férias. De preferência no Exterior. No Brasil, só para brigar entre si. Dilma, gerência e eficiência Como saída do nada, começou a pipocar nos meios de comunicação, a partir da primeira reunião ministerial de Dilma, informações sobre as cobranças que a presidente está fazendo a seus auxiliares, as exigências de mais eficiência, reforçando a imagem de "gerentona intransigente" com que sempre foi apresentada aos brasileiros, intolerante com erros, desvios e malfeitos. De fato, há que pôr os auxiliares na linha, uma vez que na prática a imagem de que Dilma é de mandar e não aceitar falhas está ficando comprometida pelo mundo real. Algumas dessas falhas registradas nas últimas semanas : 1. Mais uma vez, no ano passado os investimentos em saneamento básico previstos não foram integralmente cumpridos. 2. O projeto mais vistoso do ex-presidente Lula, a transposição do Rio São Francisco, está tão atrasado a ponto de talvez não ser concluído nem até o fim deste mandado de Dilma, sem contar que vários trechos dados como concluídos precisam ser refeitos. 3. Para cumprir a promessa de inundar o país de creches até 2014 o governo precisará a partir de agora inaugurar cinco creches por dia nas cidades brasileiras. 4. Uma das "meninas dos olhos de Lula e Dilma", a parte de construção de moradias populares no programa Minha Casa, Minha Vida, sete em cada dez contratos não saem do papel como constatou reportagem do jornal "O Estado de S. Paulo". Aposte se quiser Os dados ainda não estão contabilizados, mas o governo Federal investiu no ano passado cerca de R$ 43 bi. Este ano está prevendo gastar em investimentos quase o dobro - R$ 80 bi. E ainda fazer um superávit fiscal robusto, sem subterfúgios e sem prejudicar a política social. Copa e Olimpíada : sinais exteriores de deterioração É preciso que prédios tombem no centro da Cidade Maravilhosa para que apareçam, com certa discrição, análises que questionem os caminhos que estão sendo tomados relativamente à Copa do Mundo de 2014 e a Olimpíada de 2016. Falta liderança competente e honesta para tocar tantas obras e a supervisão política de onde estão indo os recursos públicos é, para dizer o mínimo, frouxa. Os problemas de infraestrutura são gigantescos nas principais sedes da Copa do Mundo e as soluções não parecem atacar problemas básicos de mobilidade urbana, rede hoteleira, disponibilidade de mão de obra educada, assistência médica e assim vai. Basta verificarmos como está a situação de aeroportos e o deslocamento destes para os centros das principais cidades. No Estado, em qualquer nível, são poucas as informações disponíveis e os interesses comerciais ao redor dos eventos contribuem para que não exista debate sobre o tema. Rio+20 ilustra os problemas A Conferência da ONU sobre sustentabilidade que ocorrerá no Rio de Janeiro em meados do ano trará um impacto significativo para a cidade, mas bastante inferior à Olimpíada e à Copa do Mundo. Pois bem : as autoridades estão com enormes problemas apenas para acomodar os participantes deste evento, inclusos aí os mais de 150 chefes de Estados que virão. Será que podemos ter tanta convicção que em poucos anos tudo irá mudar ? Câmbio, turismo, Copa e Olimpíada Bem fez o presidente da Embratur, Flávio Dino, em levantar a questão do câmbio em entrevista à Folha de S.Paulo publicada ontem. O turismo é setor estratégico para o Brasil, mas falta organicidade às políticas públicas voltadas para o setor. Ademais, o fluxo turístico no Brasil está na direção do exterior : no ano passado os gastos de estrangeiros no país foram da ordem de US$ 7 bi e os brasileiros gastaram cerca de US$ 22 bi lá fora. O déficit de turismo de US$ 15 bi equivale às exportações do setor de soja. Dados do BC e do ministério do Desenvolvimento. Eis um evidente sinal de que temos um problema cambial a resolver. Se a situação permanecer como está é bem provável que os gigantescos investimentos em eventos esportivos não sejam remunerados. Alguém vai pagar a conta, não é mesmo ? O plano de voo da economia Os leitores desta coluna não devem ter ficado surpreendidos com as revelações da última ata do Copom do BC que confirmam tudo que se negou oficialmente durante o ano passado inteiro : a meta principal do governo, com o amplo beneplácito do BC, é o crescimento do PIB (para Dilma, repita-se, ao ritmo de 5% no fim do ano) mesmo que ao custo de mais inflação. Dilma tem o ano para firmar sua própria popularidade, ainda dependente dos fluidos da boa economia do passado e tem pela frente o ano eleitoral que vai determinar os passos decisivos das sucessões estaduais e Federal de 2014. Esses planos não combinam com qualquer fato econômico negativo, especialmente na seara do emprego. O futuro ? Ora, o futuro é outra coisa. Como ensina o conselheiro Acácio, hilariante personagem de Eça de Queiroz, o problema é que as consequências vêm sempre depois. E nos cálculos políticos, o depois nunca é medido. Depois, arranja-se. O BC de Dilma Apesar de certos analistas estarem boquiabertos com o fato de que Alexandre Tombini está alinhado com a política econômica da presidente Dilma, na realidade não há surpresas. Tombini faz o que promete o governo. A independência da política monetária nunca foi verdadeira no Brasil. No passado recente, na era FHC, o BC serviu juros elevados para bancar a política de câmbio fixo do governo e ajustar o balanço de pagamentos nas temporadas de crise. Agora, serve às ambições "desenvolvimentistas" do governo. O problema disso tudo é que se nas safras boas o BC contribui para o sucesso, nos momentos ruins o BC não é anteparo para que se chegue ao pior cenário. O tema sobre a independência da autoridade monetária está em pauta no mundo inteiro. Veja-se o caso do BC dos EUA e da Europa, ambos sob fogo cerrado de investidores e "formadores de opinião". O problema adicional que o Brasil tem é que a supervisão política sob o BC é absolutamente irrelevante. Quando o chefão do BC é forte, per se isto parece ao "mercado" uma "garantia". Quando é fraco como Tombini, o tal do "mercado" fica com a pulga atrás da orelha. Juros de um dígito É legítimo o debate, dentro e fora do governo, sobre a necessidade de juros básicos mais baixos. O erário não deve pagar juros altos e injustificados para os investidores em títulos públicos. Todavia, há limites para que isto ocorra. O principal é a inflação. No caso do Brasil, a inflação está ainda elevada e se a demanda mais forte vier é provável que ela não caia muito abaixo do nível de 6%. Este patamar impõe uma deterioração no poder de compra da moeda inaceitável no médio prazo. Portanto, o momento de transição atual, possivelmente de uma demanda cadente para algo mais elevado, é muito sensível para a política monetária. Se o governo forçar a mão, a inflação pode não cair e, até mesmo, subir. Outro ponto sensível : a taxa de câmbio da moeda brasileira é incompatível com exportações mais elevadas e com a atração de investimentos externos. Se a taxa de câmbio for desvalorizada a inflação vai sofrer dupla pressão de demanda e custos. Neste momento saberemos os custos da intervenção do governo sobre a autoridade do BC. O lado "bom da inflação" Cálculos publicados segunda-feira pelo "Valor Econômico", da lavra da própria Receita Federal, indicam que o fato da inflação no ano passado ter sido de 6,5% cravados, um pouco mais de 0,5% acima da de 2010, propiciou um aumento de R$ 50 bi na arrecadação de impostos da União em 2011. O que também pode explicar uma parte da "boa vontade" de certas autoridades com alguns pontinhos mais de inflação. Para consumo dos mais crédulos Jacta-se o ministério da Fazenda de ter alcançado com folga de R$ 1,7 bi a sua parcela do superávit primário em 2011, isto sobre a meta corrigida, que havia sido aumentada em mais R$ 10 bi em meados do segundo semestre do ano passado. A economia para pagar juros, de parte da União, teria sido de cerca de R$ 12 bi, uma garantia de que o compromisso de guardar R$ 139,8 bi em 2012 irá ser cumprido. Sucesso total da política de austeridade fiscal do ministro Guido Mantega, avalia-se oficialmente. Mas será mesmo ? Vamos aos fatos : além de parte da sobra ter sido garantida por um aumento de arrecadação de mais de 10% em 2011 na comparação com 2010 e com uma diminuição nos investimentos de também cerca de 10%, foram deixados R$ 24 bi de obras concluídas no ano passado e serviços já prestados para serem quitados este ano - os famosos restos a pagar. Ou seja, se o governo pagasse seus compromissos em dia, a promessa de superávit teria sido descumprida inteiramente.Radar NA REAL 27/1/12 TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA baixa baixa - Pós-Fixados NA baixa baixa Câmbio ² - EURO 1,3114 baixa baixa - REAL 1,7419 estável/baixa estável/baixa Mercado Acionário - Ibovespa 62.904,20 estável/alta estável - S&P 500 1.316,33 alta alta - NASDAQ 2.816,55 alta alta (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável Vai pra casa, Padilha ! Em Brasília, o ministro da Saúde é apresentado como um dos mais bem avaliados pelo dito exigentíssimo termômetro da "gerentona" Dilma. E não há mesmo semana em que Alexandre Padilha na apareça nos meios de comunicação anunciando algum programa e um providência de sua pasta ou de avental branco como um médico em plena ação visitando hospitais, unidades de saúde, postos de vacinação, a Cracolândia em São Paulo, locais onde, naturalmente por mera coincidência, encontrará a postos máquinas fotográficas, câmeras de televisão e microfones à espreita. No entanto, tal azáfama ainda não chegou ao grande público usuário dos serviços que Padilha comanda. O dever de casa do ministro parece não ter surtido efeito real. Recente pesquisa do DataFolha mostra que, apesar de ter encerrado o primeiro ano de governo com aprovação recorde de 59%, Dilma obteve um resultado negativo na pesquisa : aumentou em 11% o número de brasileiros que consideram a saúde como o principal problema do país. A comparação é entre o último ano da gestão Lula para o primeiro da governança Dilma. ____________
terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Política & Economia NA REAL n° 184

Brasil : calma externa e letargia Num contexto em que a economia norte-americana dá evidentes sinais de fortalecimento e que os riscos sistêmicos, embora altos, estão menos agudos, a economia brasileira vai se saindo bem dos turbilhões dos últimos anos. Todavia, há que se observar o enorme desperdício de oportunidades para colocar o país diante de um cenário sustentável e progressista. Há uma conformidade, não somente do governo, mas de toda a sociedade, em permanecer ao largo de reformas estruturais. Da educação à infraestrutura, passando pela tributação e previdência, nada de novo se verifica na política brasileira. A ausência de conflitos é mais sinal de doença que de vitalidade : a coalizão serve à manutenção da estabilidade do governo, mas cria um imobilismo secular. Mesmo os avanços, tal qual a previdência do setor público, são mitigados pelos interesses corporativos, os quais são pacificados antes mesmo de serem conflitados. Não há debate e nem greves. Os partidos são aglomerados comandados por elites que loteiam o setor público com seus asseclas. O cenário não é de calma, é de letargia. O imediato e o futuro Como não há um "projeto Brasil" vamos de remendo em remendo, de tapa buraco, em tapa buraco, de olho sempre na próxima eleição : sobe e desde IOF ; IPI ; juros ; crédito ; compulsório bancário ; contingenciamento do Orçamento ; carga tributária... Não é sem razão que um funcionário do tipo burocrata-obediente fez um desabafo na semana passada que define a situação com perfeição e vale para tudo. De Bernardo Figueiredo, presidente da ANTT : "Estamos no limite da gambiarra, do apagão logístico". O país do etanol e autossuficiente em petróleo importa... etanol e petróleo. Inflação e câmbio lideram preocupações Se no âmbito dos fatores estruturais a economia brasileira é letárgica, do ponto de vista conjuntural sobra à sociedade dois problemas críticos : a inflação elevada que está destruindo o poder da moeda no longo prazo e a sobrevalorização cambial que inviabiliza a indústria brasileira do ponto de vista da competitividade externa. Há chances concretas da inflação cair um pouco mais neste primeiro trimestre e, talvez no segundo. Todavia, isto dependerá, como vem dependendo, do desempenho da taxa cambial e da relativamente fraca atividade econômica. Qualquer mexida para cima destes dois fatores há de influenciar a evolução dos preços domésticos. Ou seja, há uma equação entre atividade, câmbio e inflação, ainda para ser resolvida. Por enquanto, o governo não esboça nenhuma solução que seja crível. EUA : PIB para cima Nesta semana, será divulgado o PIB norte-americano do quarto trimestre de 2011. O crescimento deve gravitar ao redor de 3% em função do aumento do consumo e da reposição de estoques do setor produtivo. Uma excelente notícia para o mundo e para o pálido presidente Obama. O crescimento deste ano deve atingir algo entre 2,5% e 3,0%. Todavia, os eleitores irão às urnas pensando no próprio emprego. Reunião do Fed Nada de novo deve ser esperado da reunião do Banco Central dos EUA nos próximos dias 24 e 25 de janeiro. Já se sabe que a taxa de juros básica ficará praticamente zerada daqui até meados de 2013 e que os riscos de alta da inflação são negligenciáveis. Enquanto isso, todos esperarão a análise dos policy makers sobre a atividade econômica em alta. Agências de rating Os investidores não deram a menor bola para os rebaixamentos da nota do risco de crédito de países europeus, inclusa aí a França, da Standard & Poor's. De outro lado, os burocratas da União Europeia, em Bruxelas, continuam a observar as ordens emanadas de Berlim. As agências de classificação de risco não têm credibilidade, como sabemos. Os erros seguidos desde meados dos anos 90 ensinaram que daquele oráculo não há pitonisa que seja crível. Todavia, ainda há efeitos significativos nestas reclassificações : há fundos que são obrigados a vender ou comprar títulos de países que são "reclassificados" pelas agências de risco. Isto ocorre por força de previsões nos estatutos destes fundos. Portanto, apesar de toda a falta de credibilidade das agências, há quem seja obrigado a segui-las. Isto fere a própria eficiência de mercado. Radar NA REAL Continuamos a acreditar que o mercado acionário norte-americano continuará a ser o destaque dentre os diversos segmentos do mercado financeiro mundial. A recuperação da atividade econômica americana num cenário de menores riscos agudos, até mesmo no Velho Continente, vai "inflacionando" os preços dos ativos. No Brasil, o BC deu provas que tentará estabilizar os juros básicos num patamar ainda mais baixo, apesar da inflação ainda estar num patamar elevado. No mercado de câmbio, a estabilidade é jogo quase dado. Resta o mercado acionário que será positivamente influenciado pelo melhor desempenho do mercado externo, mas que encontra duas barreiras muito importantes : (i) há muitas operações de venda de ações da parte de fundos de private equity e de acionistas controladores, o que aumenta a oferta de ativos num mercado ainda débil de demanda e (ii) a cada vez menor atuação de investidores estrangeiros no mercado local. 20/1/12   TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA baixa baixa - Pós-Fixados NA baixa baixa Câmbio ² - EURO 1,2864 baixa baixa - REAL 1,7553 estável/baixa estável/baixa Mercado Acionário - Ibovespa 62.312,10 estável/alta estável - S&P 500 1.315,38 alta alta - NASDAQ 2.786,70 alta alta (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável Caroço no angu baiano Fica combinado assim : o presidente da Petrobras, José Sergio Gabrielli, deixa o cargo no próximo mês para Maria das Graças Foster (conhecida como Graça Foster) e desembarca numa secretaria do governo da Bahia para se preparar para a sucessão de Jaques Wagner, daqui a três anos. Esta é a versão oficial. Mas as paredes dizem : 1. As relações da presidente Dilma com Gabrielli, desde os tempos que ela ainda estava apenas ministra, sempre estiveram mais para UFC do que para Pequeno Príncipe. 2. Graça é das graças de fé de Dilma, que quando formava seu governo pensou para ele a própria presidência da Petrobras e até a Casa Civil, mas prevaleceram as preferências de Lula, respectivamente por Gabrielli e Palocci. 3. Gabrielli tinha laivos de independência ; Graça é técnica e dedicada. 4. Na Petrobras, Dilma aposta muitas fichas de investimentos para o PIB brasileiro crescer os 5% que ela espera este ano. No ano passado, a empresa de Gabrielli não cumpriu seu cronograma de gastos. 5. O TCU está de olho nos gastos da empresa sem licitações. De barbas e pulgas Depois de tudo que Brasília deixou vazar para explicar a troca de Gabrielli para Graça Foster, com insinuações de que se dá mais um esvaziamento do lulismo e do petismo no poder Federal, os últimos fios das barbas do PT entraram de molho e a pulga atrás da orelha de Lula ficou assanhadíssima. Na esteira de Gabrielli sairiam outros apadrinhados políticos da direção da empresa, substituídos, ao gosto da presidente, por técnicos. Finalmente começam a desconfiar que Dilma está balançando a árvore da aliança partidária escalada por Lula para elegê-la, sustentá-la e tutelá-la. Outros aliados também que se apoquetem. Sem força política própria ainda, Dilma tenta comê-los pelas bordas. E como tem a caneta, o Diário Oficial e a carranca... Nó em pingo de chuva Dilma, no ajuste ministerial, está enrolando em papel machê todos os aliados, inclusive o PT e o PMDB de Michel Temer. Estão todos emburradinhos. Ninguém, porém, vai chiar em público contra uma presidente que chega ao segundo ano de mandato com mais popularidade até do que Lula na mesma ocasião. Nesse páreo, FHC não vê nem poeira. E a única ameaça que a presidente pode ter pela frente nos próximos meses é um desarranjo na economia, cujos cordões ela não controla todos. Simples assim Do professor Renato Janine Ribeiro, da USP, em artigo no jornal "Valor Econômico" de ontem : "O PT está fazendo muita falta ao Brasil : na oposição... Dizendo isso, não estou criticando - aliás, nem elogiando - seu governo ; só constato que desde 2003, quando ele ganhou as eleições para a presidência da República, não tivemos mais oposição digna desse nome." Algo a acrescentar ? Balançando a roseira FHC balançou todos os galhos da frondosa árvore onde os tucanos, em prolongado ano sabático de oposicionismo, curtiam suas fogueiras de vaidades e idiossincrasias. Há tempos o ex-presidente vem tentando tirar os parceiros da modorra em que mergulharam dando-lhes algumas indicações de como fazer oposição. Inclusive quando mandou os procurar a nova tal classe média. Na verdade, indicava que eles deveriam sair do ar condicionado e ir comer poeira atrás dos eleitores. Não conseguiu grande entusiasmo e agora então balançou a roseira dos parceiros ao meter seu palpite na disputa que paralisa o PSDB e toda a oposição, entre Aécio e Serra para ver quem "perderá" a próxima eleição de Lula e o PT e os seus parceiros. Com a defesa da candidatura do mineiro, que ele considera natural, deve obrigar os tucanos a se mexer e joga Serra no sereno. Será curioso ver a reação do ex-governador paulista, em tese mais amigo de FHC que Aécio. O jogo de Kassab Não é preciso ir muito longe para verificarmos o absurdo : o PSD de Kassab flerta com o PT para ver se o antigo parceiro fiel, o PSDB, cai em seus braços. O PT que faz acirrada oposição ao prefeito paulistano, começa a avaliar a aliança não apenas como "possível", mas como "desejável" dada a sua ambição de retomar o controle da maior cidade do país. A situação seria risível se não tivesse os efeitos nefastos sobre o processo democrático que necessita de mínima sintonia entre ideologia partidária e o distinto eleitorado. Diz-se, nas rodinhas de políticos, inclusos os de alto coturno, que "a política é a arte do possível". No caso de Kassab, "a política é o circo do impossível". Sem cacife O problema do prefeito paulistano é que, no momento, ele não tem um dote muito generoso a oferecer aos parceiros que tem procurado, a não ser que inclua nesses bens a máquina da prefeitura na campanha. Sua popularidade está no porão e o PSD não sabe se terá um tempinho alentado no horário gratuito no rádio e na televisão. Quem precisa mesmo, desesperadamente, de alianças, e não só na capital paulista, é o partido de Kassab. Para não virar um natimorto. Mercadante e a arrogância Ao que parece, o ministro Mercadante terá muita chance de reaver um pouco de seu debilitado capital político, ao assumir o ministério da Educação. Não sossega em pensar em nova candidatura o governo de SP em 2014. Dentre os vários percalços em seu caminho político está a sua conhecida arrogância. Conta-nos um transeunte contumaz dos corredores do poder de Brasília uma cena que ilustra esta característica de sua personalidade. Vinha certo dia o bochechudo senador (hoje ex) Heráclito Fortes (DEM/PI) andando pelos corredores do Senado Federal quando vê um colega dando entrevista para a TV. Passa por ele e cumprimenta o colega : "bom dia Mercadante!". Logo após a entrevista, o colega questiona Fortes a razão de chamá-lo não pelo seu nome, mas pelo nome do ex-senador paulista. Fortes explica : "se está dando entrevista para a TV com grande afinco e não responde sequer "bom dia" aos colegas, só pode ser o Mercadante...". A "simpatia" ambulante de Mercadante já causa arrepios nos habitantes de sua nova pasta, acostumados à suavidade no trato de Fernando Haddad. ____________
terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Política & Economia NA REAL n° 183

Dilma, entre o corte e o crescimento No mundo economicamente conturbado que descrevemos em notas abaixo, a presidente da República prepara-se para definir os rumos da economia brasileira em 2012. Os objetivos básicos, teóricos, de Dilma são três : 1. Crescimento do PIB para chegar num ritmo de 5% no final do ano, com um mínimo de 4% para o ano cheio. 2. Trazer a inflação para perto dos 5% ao ano, o quanto mais próximo possível dos 4,5% do centro de meta marcado pelo Conselho Monetário Nacional. 3. Fechar o ano com o juro Selic de um dígito, de 9% ou 9,5%. O essencial, no entanto, é o crescimento, do qual a presidente não abre mão depois dos decepcionantes, para ela, 3% ou menos de PIB no ano passado. A chave dessa equação é o investimento público, tido como indutor do investimento privado, segundo a ótica oficial. E, por isso, o jogo é saber quanto é possível cortar do Orçamento deste ano sem comprometer esta rubrica e ainda manter os programas sociais os quais Dilma também não dispensa. Analistas privados e parte da equipe econômica calculam que será necessário um corte inicial de entre R$ 60 e R$ 70 bi para que se cumpra a meta de superávit primário cheia de 3,1% e com isso o BC possa tranquilamente continuar cortando os juros e mesmo assim ajustando a inflação. Outra parte dos que falam de economia no governo acham que um corte desta magnitude é impossível sem sacrificar investimentos. É equilibrar essas duas posições que a presidente está desafiada a fazer nas próximas semanas, uma vez que as divergências de opiniões entre seus auxiliares já começam a pipocar na imprensa e a provocar disputas e boatos. Veja, a propósito, declarações do secretário-executivo do ministério da Fazenda, Nelson Barbosa, sexta-feira em SP, entrevista do secretário do Tesouro Arno Augustin, no "Valor Econômico" de ontem, e declarações esparsas do ministro Guido Mantega. Eles não estão totalmente em sintonia. Para completar as dificuldades da presidente, há a avidez eleitoral de deputados, senadores, governadores e prefeitos para menos rigidez no controle dos gastos públicos. Brasil, em ritmo lento O Brasil sofre os efeitos do enfraquecimento da economia mundial nos últimos três anos, mas a perda de dinâmica se deve fundamentalmente à letargia governamental em promover reformas e engendrar políticas públicas para sustentar o crescimento econômico. Não há reformas econômicas estruturais, sobretudo no que tange à desoneração tributária e o conteúdo tecnológico de nossas exportações é baixo e pouco dinâmico num ambiente internacional altamente competitivo. O governo teima na viabilização de seu PAC, mas o que se vê é um lento, gradual, mas consistente processo de desindustrialização. A moeda está valorizada, sob qualquer critério de avaliação, e os juros, muito embora sejam declinantes no curto prazo, se mantêm elevados nos prazos mais elásticos. O que se vê é uma estagnação muito além da mera observação dos indicadores econômicos. É quase uma atitude mental. As atividades no setor financeiro ou de fusões e aquisições, apenas para citar um exemplo, estão bem vigorosas. Todavia, escondem a essência daquilo que transformaria o país : os investimentos públicos são pouco eficientes e produtivos, a infraestrutura carece de uma oferta crescente e o setor privado ainda está desconfiado com o ambiente externo e com a consistência do crescimento doméstico. Mesmo que o Brasil cresça, digamos, 5% este ano, falta ao país a evidência de que este crescimento é sustentável e digno da denominação de país emergente. Cenário do mercado O desempenho da bolsa de valores brasileira demonstra claramente que o Brasil está estagnado. Os resultados para o investidor no ano passado foram negativos e no último trimestre relativamente ao início do ano, o resultado pode ser considerado irrelevante. Como sempre enfatizamos aos nossos leitores, não fazemos previsões. Preferimos falar de tendências. A nosso ver o destaque positivo do mercado neste primeiro trimestre deve ser o mercado acionário dos EUA, que vivem um momento de recuperação econômica que merece redobrada atenção. O Brasil deve ser favorecido por esta tendência favorável nos EUA. Do ponto de vista negativo, apontamos a China como o principal risco potencial e a Europa, obviamente, como o risco visível mais relevante. Assim sendo, para o investidor ainda é tempo de manter cautela, dado que nada indica que a crise internacional terá solução mais duradoura por força da confusão da política europeia. De toda a forma, não há porque se acreditar piamente num processo ainda mais danoso, muito embora esta possibilidade sempre exista. Os custos de um colapso do euro, apenas para citar o exemplo mais evidente, é algo tão grandioso que de nada adianta fazer previsões sobre as consequências, caso esta hipótese se tornasse real. Por fim, é concretamente possível que ao menor sinal de consistente recuperação da Europa, o desempenho mundial seja bem melhor que estimam os analistas, economistas e agentes. Rupturas ocorrem em momentos de euforia e recuperações em momentos de depressão. O importante é observar as mutações das variáveis de risco e retorno. Uma tarefa diária já que as bolas de cristal dos gurus de mercado parecem trincadas. A teimosia alemã e a derrocada europeia Não precisa ser um analista financeiro para perceber que a estratégia fiscalista da Alemanha está fracassando na busca da recuperação da economia europeia. Desde outubro de 2011, quando foi adotada completamente a estratégia de Angela Merkel, o euro caiu 9,5% frente ao dólar, as bolsas europeias despencaram, enquanto o S&P 500, principal indicador do mercado acionário norte-americano, subiu 3,4%. E tem mais : nem a estratégia do presidente do Banco Central Europeu, Mario Draghi, de emprestar recursos, de forma ilimitada, para o sistema resultou na recuperação da confiança no Velho Continente. Os "tecnocratas" que estão a comandar a política na Espanha, Portugal, Grécia e Itália, continuam com o seu receituário de contenção fiscal, mas os agentes persistem inquietos e pedindo mais "prêmios por risco" a cada leilão de títulos europeus. Agora a Standard & Poor's. Não bastasse o euro ser a pior moeda entre as dez mais relevantes, incluso aí o Brasil (que teve o melhor desempenho em termos de valorização cambial), o México, e a Nova Zelândia, a agência de classificação de risco Standard & Poor's revisou no fechamento da semana passada a nota de nove países europeus ; a França foi "rebaixada" e perdeu a sua condição de "triple A". O efeito deste rebaixamento é a redução da demanda por títulos franceses de vez que muitos fundos são proibidos de adquirir títulos que não possuam a classificação máxima em termos de risco de crédito. Do ponto de vista informacional a S&P nada mais fez do que colocar gasolina na fogueira e projetar o que todos esperam no atual contexto : mais depreciação do euro, mais turbulência financeira, mais risco de colapso de empresas privadas e o desemprego campeando o Velho Continente. O setor privado vê o crédito se contrair A elevação dos prêmios de risco dos títulos soberanos está alijando as empresas europeias do mercado de crédito. Os custos de contratação e rolagem de empréstimos estão subindo celeremente e as empresas começam a concorrer ainda mais para obter recursos no sistema financeiro. Este processo maléfico está se espalhando pelo sistema e já atinge inclusive grandes conglomerados empresariais de toda a Europa. A Alemanha não é uma ilha O PIB alemão mostrou-se sólido em 2011 e cresceu 3%. Isto está no retrovisor. Daqui para frente, a demanda europeia por produtos alemães vai cair e o desempenho do país dependerá ainda mais de seu sólido setor exportador. Além disso, a crise bancária pode (deve ?) contaminar os bancos alemães que estão com ativos recheados de títulos soberanos da Itália, Espanha, Portugal e Grécia. Angela Merkel sabe disso, mas se recusa a admitir que o BCE cumpra o seu papel de emprestador de última instância, como faz o Fed do outro lado do Atlântico. A aposta de Merkel é grande e há quem creia nela. Até agora, o barco europeu só fez balançar e se encher de água. Veremos. Lembrança Nas três vezes em que o Brasil, no governo FHC, sofreu colapsos cambiais, as autoridades econômicas assinavam acordos com o FMI prometendo aumentar o superávit fiscal. Era uma medida importante. Todavia, o essencial era o papel de "emprestador de última instância" do FMI e outras instituições multilaterais. Por que, no caso europeu, isto seria diferente ? EUA, recuperação consistente ? Não resta dúvida de que houve uma recuperação significativa do consumo dos norte-americanos no último trimestre, com resultados ainda reduzidos sobre o desemprego. Todavia, a estratégia de "atolar o mercado com liquidez" do Fed, está com menor pressão política da parte dos republicanos e dos agentes econômicos. Ponto para o candidato à reeleição Barack Obama. Os diversos segmentos econômicos estão em recuperação, muito embora a consistência deste movimento apenas se confirme ao longo deste ano. O mercado financeiro e de capital está com um desempenho crescentemente otimista e, não fosse o risco europeu, os investidores poderiam estar comemorando lucros maiores. O grande teste, todavia, será político. Obama tentará a reeleição e, até agora, conta com a fragilidade do discurso republicano, muito embora as pesquisas eleitorais mostrem um empate técnico entre Obama e seu provável adversário Mitt Romney. O tempo dirá, mas a eleição será decisiva para reforçar ou mitigar o enorme esforço monetário da maior economia mundial. China, o enigma Os dados econômicos divulgados pelo governo comunista de Pequim mostram que o vigor da economia chinesa está à prova. O crescimento marginal da atividade econômica está tendendo para uma redução para algo entre 6% e 7%. A China perde dinamismo interno em setores vitais, tais como a construção civil e alguns setores de consumo. O emprego se sustenta e pouco se sabe concretamente sobre a situação de crédito. As exportações estão vigorosas, mas as importações crescem, sobretudo em setores tecnologicamente mais avançados. Para o bem do mundo e especialmente para os exportadores de commodities, tal qual o Brasil, é essencial que a China estabilize o seu crescimento em patamares elevados. Caso contrário poderemos assistir a um ajuste negativo na economia mundial, absolutamente indesejável num momento em que os países centrais estão atolados na estagnação. Radar NA REAL 13/1/12   TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA baixa baixa - Pós-Fixados NA baixa baixa Câmbio ² - EURO 1,2677 baixa baixa - REAL 1,7873 estável/baixa estável/baixa Mercado Acionário - Ibovespa 59.146,60 estável/alta estável - S&P 500 1.289,09 alta alta - NASDAQ 2.710,67 alta alta (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável Reforma sem reforma E improvável que Dilma faça uma ampla alteração na composição nominal de seu ministério, como em algum momento se chegou a imaginar e alguns ainda torcem para que aconteça : uns de olho na possibilidade de se melhorar a qualidade da equipe e outros (os partidos aliados) nos cargos. É mais improvável ainda, como assessores da presidente chegaram a insinuar que poderia acontecer, que Dilma aproveite a ocasião gerada pela saída de ministros candidatos para fazer também uma reforma da conformação ministerial, fechando e fundindo pastas. Sairão uns quatro ou cinco ministros e no máximo haverá um enxugamento. Por duas razões : 1. Embora infunda medo nos aliados, Dilma não tem condições de afrontar os partidos, como ficou agora claro no episódio envolvendo o ministro da Integração Nacional, Fernando Bezerra, e o PSB do governador Eduardo Campos. 2. Não dá ainda para romper bruscamente com a herança pessoal de Lula, de quem o PT, os aliados e o próprio governo vão depender muito para um bom desempenho eleitoral em outubro. Ainda mais se a economia se complicar, Lula será a salvação. Ele e a fraqueza da oposição. Na trilha de Ascenso Ferreira O poeta pernambucano tem um verso que diz mais ou menos assim (citado de memória) : "Hora de comer, comer / Hora de dormir, dormir / Hora de descansar, descansar / Hora de trabalhar, pernas pro ar que ninguém é de ferro". Este é o lema que a oposição brasileira adotou no ano sabático que se concedeu em 2011, com o fito de incomodar o menos possível a presidente Dilma e seus aliados. E que ainda não foi encerrado, haja vista a vista grossa que se fez com o caso Bezerra. Será que Aécio Neves, José Serra e suas turmas sabem que haverá eleição este ano e que elas poderão ser determinantes para 2014 ? Balanço preliminar de 2012 Para não perdermos tempo este ano, nem gastarmos bits inutilmente, vamos já de uma vez eliminar alguns temas que costumam rondar os debates políticos brasileiros todos os anos. 1. Por ser um ano eleitoral, a reforma política ampla não se realizou, ficou adiada para 2013. 2. Do mesmo modo, pelas mesmas razões, a reforma tributária ampla, voltada para simplificar o sistema de cobrança de impostos no Brasil e começar uma redução da carga tributária nacional, não avançou, está à espera de melhor ocasião. 3. Foi ainda protelada a reforma sindical e trabalhista. Dito isto, vamos nos concentrar nos assuntos possíveis. ____________
domingo, 8 de janeiro de 2012

Política & Economia NA REAL n° 228

Assim, não há confiança que resista ! No mais recente Boletim Trimestral de Inflação, o BC, em leve tom de advertência, escreveu : "A lenta recuperação da confiança contribuiu para que os investimentos ainda não mostrassem reação após estímulos introduzidos na economia". Ainda como um alerta, o BC classificou como ligeiramente expansionista a política fiscal do governo. Pois bem, daí para cá, depois de contribuir para que o Congresso Nacional entrasse em férias sem aprovar o Orçamento de 2013, o Palácio do Planalto editou uma MP autorizando o direito de gastar R$ 42,5 bi em investimentos até que os deputados e senadores produzam uma peça orçamentária qualquer. Este valor é quase 70% de tudo que o governo terá gasto em 2012 em investimentos. Está inaugurada desse modo a administração centralizada e arbitrária do Orçamento. Flexibilização da LRF Foi remetido também ao Congresso um projeto de modificação do ICMS com um artigo que permite a flexibilização da lei de responsabilidade fiscal. Como se diz popularmente, onde passa um boi passa também uma boiada. Além disso, uma série de decretos, portarias e que tais, com triangulações contábeis entre o Tesouro Nacional, BNDES e CEF, envolvendo títulos públicos e ações de estatais, permitirá ao governo anunciar que cumpriu a meta cheia de superávit primário em 2012 de R$ 139,8 bi (cerca de 3,1% do PIB). No entanto, a economia real primária (receitas menos despesas excluídos juros) de todo o setor público ficará mesmo em torno de 1,9% do PIB. O resto não é poupança de fato para reduzir a conta de juros, é desconto de gastos com o PAC e contabilidade criativa. No entanto, segundo a maior parte dos analistas, o governo teria um amontoado de boas e justas justificativas para não cumprir a meta de superávit. Um documento recente do BC, pouco comentado, mostrava que um superávit bem menor do que o atual será possível manter a relação dívida/PIB (uma medida da solvência do governo) em níveis aceitáveis. Realidade maquiada O governo preferiu, à luz de suas manobras contábeis, em lugar de um encontro com a verdade, que poderia parecer um fracasso, maquiar a realidade. Como as pessoas do lado de fora sabem minimamente fazer contas, ele apenas praticou um autoengano. E leva a suspeitar que outras maquiagens podem ter acontecido ou ainda vieram a acontecer. Não é uma boa forma de conquistar a confiança dos agentes econômicos, ressabidos nos últimos tempos com a política oficial, como constatou o BC. BB de fora Enquanto o BNDES manipula ações que tem em carteira de lá para cá e a Caixa Econômica virou acionista até de frigoríficos e de empresas com fraco desempenho na bolsa, o BB, pelo menos aparentemente, foi poupado de dar sua contribuição nessas manobras. O fato de ter ações negociadas em bolsa e acionistas privados parece ter salvado a instituição. BNDES e CEF não têm supervisão de acionistas, têm de cumprir fielmente a vontade do dono. Muy amigo ! O BNDES empurrou um monte de ações complicadas da carteira do BNDESpar para a Caixa Econômica. Se der prejuízo, o Tesouro, ou seja, "a viúva", garante. Discordância fiscal Ao que tudo indica, há uma certa "má consciência" nas hostes federais em relação ao pacote de salvação do superávit primário. Imediatamente após a divulgação (atrasada) das principais manobras da contabilidade criativa, começaram a aparecer nos jornais informações de que houve constrangimentos na equipe econômica, que houve discordâncias, de que se defendia o anúncio de um superávit menor e coisas tais. Como sempre, não se identifica quem é quem na história, numa comprovação de que, se houve divergências mesmo, ninguém teve coragem de contestar quem manda de fato. Não é crível que a presidente Dilma não esteve a par da cada manobra, ela que não abre mão nem de decidir que tipo de clipes o governo comprará. Confusão à vista - I Neste dia 10, o governo deve pagar aos Estados a primeira parcela de 2013 do Fundo de Participação dos Estados - FPE correspondente a 21,5% do IPI e do IR, tributos arrecadados pelo Tesouro Nacional mas compartilhado com Estados e municípios. Serão cerca de R$ 50 bi este ano. Acontece que em fevereiro de 2010 o STF considerou caduca a regra de divisão do bolo, datada de 1989, e deu prazo ao Congresso, até 31 de dezembro de 2012, para estabelecer uma nova divisão, com base nas mais recentes pesquisas censitárias e econômicas do IBGE. Acontece também que Câmara e Senado foram para as férias sem cumprir esta obrigação. Está um impasse. O Congresso acha que uma norma do TCU pode vigorar até que ele se disponha a votar a nova regra. Não é esta a decisão do STF : para ele a distribuição dos recursos tem de cessar. Os governadores, com razão, estão apavorados e furibundos. O dinheiro é essencial para todos, para boa parte é vital, pois o FPE representa até 60%, 70% do orçamento. Quem não receber, não paga servidores e terá de parar muitos serviços. O governo está temeroso de soltar o dinheiro e incorrer num crime de responsabilidade. O STF não pode agir se não for provocado. José Sarney, Marco Maia e os líderes partidários foram para o doce descanso sem ao menos pedir ao Supremo a dilatação do prazo. Dilma está de férias na Bahia. Quem vai resolver o problema, fruto da pura inapetência do Congresso para o trabalho ? Confusão à vista - II Há um sincero empenho de Brasília em dar uma mãozinha (ou seria "mãozona" ?) ao prefeito de SP, Fernando Haddad. Pode ser por razões, digamos assim, humanitárias, ajudar a cidade mais complicada - a mais rica, mas também das mais miseráveis - do país e também político-eleitorais : a administração do ex-ministro da Educação, como foi admitido já por caciques petistas e do governo Federal, será a vitrine da nova maneira de governar do PT e, por tabela, de Dilma. Uma das formas de ajuda envolve renegociar em melhores bases a enorme dívida pública paulistana (que monta 200% da arrecadação anual). A confusão é que se der para um e não quiser arranjar um problemão, Dilma terá de facilitar para todos. E não há prefeito que não esteja de pires não. Nem governador que não queira rever suas dívidas garantidas pelo governo Federal. Revisionismo petista ? O PT - até porque não é de seu estilo - não abandonará os companheiros condenados no mensalão. As palavras de solidariedade se multiplicarão. Este, porém, parece ser o limite, o mesmo da presidente Dilma. Nada de campanha nas ruas, de incentivo a qualquer tipo de movimento de confronto com o Judiciário. A leitura mais atenta de algumas declarações de Fernando Haddad, Tarso Genro e até de Rui Falcão indicam este caminho. Latir sem morder. As prioridades do PT são outras : preservar a imagem do presidente Lula, inegavelmente abalada pelas histórias dos "bebês de Rosemary" e o seu silêncio em torno do assunto ; e preparar o partido para as eleições de 2014, que, a depender do andar do cabriolé da economia, pode se configurar complicada. Será preciso mostrar mais eficiência administrativa em Brasília e nos Estados e prefeituras administradas pelo partido para se contrapor ao discurso oposicionista. Não tem explicação, ou... ...será que tem a ausência do ex-presidente Lula da Silva na posse de seu pupilo Fernando Haddad na prefeitura de SP ? Lula parece estar numa fase em que prefere não ter contatos com aglomerações não controláveis e jornalistas idem. O PSDB se move ? Como anotado neste espaço há alguns meses, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso está tomando a dianteira dos tucanos, com Aécio Neves a tiracolo, para preparar o PSDB para o embate eleitoral de 2014. Algumas estrelas do tucanato econômico já estão engajadas no projeto, entre eles Armínio Fraga e Pedro Malan. Não há ainda, pelo menos ao que se saiba, um mote para a campanha, mas de início dois pontos devem ser atacados : o fraco desempenho da economia brasileira e a proverbial (e comprovada) inapetência executiva do governo. Basta ler alguns dos últimos artigos que Aécio assinou na Folha de S.Paulo para ver que a campanha já começou. Os últimos textos e entrevista do ex-presidente FHC também estão nesta linha. Um problema de discurso A principal dificuldade oposicionista para conquistar o eleitorado é a de "traduzir" os seus diagnósticos acadêmicos para um plano politicamente factível de transformação social e política do país. Reuniões de estrelados ex-governistas ao som das garças cariocas de pouco valem se as grandes questões sociais do país não foram apreciadas no contexto atual, depois de quase três administrações petistas. O Brasil é um país de fortes contradições e desigualdades. Não será um discurso acadêmico a desenrolar soluções de livro-texto que fará a população mudar o voto. É preciso que se construam alternativas de mudanças críveis do ponto de vista político. Senão, o voo tucano continuará curto e o bico enorme. A disputa está acesa Na Bahia, de onde só retorna oficialmente no dia 11, a presidente Dilma descansa e medita. Em suas elucubrações, naturalmente, mudanças no ministério. A bendita reforma, para acomodar alguns compromissos, como os assumidos com Gilberto Kassab e com o PMDB de SP, e dar uma sacudidela em algumas áreas. A reforma já teve várias faces, segundo informantes informais de Brasília : primeiro seria apenas pontual, depois seria mais ampla, depois voltou a ser pontual, agora... Publicamente Dilma nunca deu nenhum sinal de que será assim, ou assado, ou cru. Já na "ilha da fantasia" Em Brasília, mesmo nesses tempos vazios de homens e de política, especula-se. E parece que a frigideira de assar ministros em fogo brando já foi acesa - se não pelo presidente, por gente do mundo oficial. Na semana passada, em mais de uma nota de origem anônima dos jornais, duas ministras tiveram referências nada airosas : Ideli Salvatti, das Relações Institucionais, e Miriam Belchior, do Planejamento. Guido Mantega parece fora do fogo, até porque a política econômica não é dele, é de Dilma. Os ministros das Minas e Energia e dos Transportes também parecem preservados, mas as áreas deles não, pois são as que geraram mais reclamações nos últimos tempos. Dilma não quer fazer muito barulho, mas se depender do apetite dos aliados, haverá um trucidamento na Esplanada dos Ministérios, em órgãos públicos e até em estatais. Cenário pouco promissor Já comentamos diversas vezes neste espaço que há uma contradição entre o fato de a economia brasileira estar "atolada" no baixo crescimento e o emprego persistir elevado. Com efeito, a deterioração política do governo foi muito aquém de seu desempenho sofrível em termos de PIB, especialmente na área econômica onde falta capacidade de gestão, visão estratégica e liderança. O que sobra no governo é criatividade para esconder os fracos resultados e para fazer maquiagem de indicadores de resultado fiscal, conforme já comentamos acima. Neste início de ano não há nenhum sinal emitido com razoável consistência de que o país está alterando seu caminho. Nada. Pode ser que o governo recomponha a sua capacidade diretiva, seja por meio de mudanças ministeriais, seja por mudanças efetivas de visões políticas. Todavia, em política os fatos precedem as expectativas - ao contrário do tal do "mercado". Até agora nada pode ser elaborado que indique que o Brasil crescerá razoavelmente e que a dinâmica do desenvolvimento mudará. Apesar do discurso oficial. Sobre o abismo O acordo fiscal de Barack Obama com o Congresso dos EUA é algo muito provisório e pouco alentador. Na prática, o acordo não vale mais de dois meses. Em meio ao (nosso) carnaval teremos de novo as manchetes mundiais comentando a nova possibilidade de a maior economia do mundo cair no "abismo". As dúvidas sobre o desempenho fiscal dos EUA também estão presentes nas minutas da última reunião do Federal Reserve, divulgadas na semana passada. A divisão de visões na autoridade monetária indica que será o principal problema de Obama no curto prazo. Talvez no médio também. Suspiros, de alívio... As novas regras relacionadas às exigências de liquidez por parte do sistema financeiro internacional, emitidas sob o guarda-chuva do "Acordo da Basiléia", foram recebidas, mundo afora, com alívio pelas instituições financeiras e pelos governos. Apesar de regras mais duras serem essenciais para uma nova tentativa de disciplinar o funcionamento do sistema financeiro internacional, se houvesse um maior endurecimento destas, dois tipos de riscos seriam incorridos : (i) o puro e simples descumprimento dos "novos diplomas" sobre a necessidade de capital por parte das instituições financeiras, por absoluta incapacidade dos bancos em cumprir as determinações do acordo e (ii) a percepção de que o risco sistêmico voltou a imperar. A retirada de recursos do sistema também seria muito negativa para uma economia mundial carente de créditos para financiar o crescimento. Feitas as contas, esqueceu-se a ortodoxia. Novas regras de emissão de títulos de mercado Apesar da flexibilização do "Acordo da Basiléia" ser favorável a disponibilização do crédito, as novas regras para emissão de títulos de empresas de capital fechado (limitadas e sociedades anônimas) não deveriam ser deixadas de lado pelo BC e pela CVM, os quais estão estudando o assunto há algum tempo. Afinal, estes títulos são alternativas essenciais para a queda do spread bancário e para uma melhor distribuição dos recursos entre os aplicadores de recursos e captadores de dívidas. Vale conferir o comportamento do governo após a decisão sobre o "Acordo da Basiléia". Pobre presidente ! Esquema que se desenha na capital da República : Presidente da Câmara : Henrique Eduardo Alves (PMDB/RN) Presidente do Senado : Renan Calheiros (PMDB/AL) Líder do PMDB na Câmara : Eduardo Cunha (RJ) Líder do PMDB no Senado : Eunício de Oliveira (CE) Além disso, vice-presidente da República : Michel Temer (PMDB/SP) Nas mãos dos dois primeiros, Alves e Calheiros, de forma quase autocrática, estarão decisões cruciais para a tranquilidade do Palácio do Planalto : a pauta de votação da Câmara, do Senado e do Congresso e a instalação de CPIs. Tudo indica que o estoque de Lexotan das farmácias próximas do Palácio do Planalto e do Palácio da Alvorada terá de ser reforçado.Radar NA REAL 04/01/13 TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA estável estável/alta - Pós-Fixados NA estável estável/alta Câmbio ² - EURO 1,3043 baixa/estável baixa - REAL 2,0358 baixa/estável baixa Mercado Acionário - Ibovespa 62.523,06 estável/baixa estável/baixa - S&P 500 1.466,47 estável/abaixa estável/baixa - NASDAQ 3.101,66 estável/baixa estável/baixa (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável ___________
terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Política & Economia NA REAL n° 182

Brasil, "deitado em berço esplêndido" O título desta nota pode sugerir que somos a famosa "ilha de prosperidade em meio a um mundo caótico". Não é o caso. Estamos mais para aquele que fica a "olhar as estrelas do céu, mesmo que esteja deitado sobre um terreno pouco seguro". O modelo de governança baseado na coalizão de partidos políticos pouco interessados naquilo que se chama de res publica é um fracasso monumental. Se serve à estabilidade do governo, não serve ao progresso social e econômico. A queda de sete ministros do governo atual ao longo do primeiro ano de governo não é apenas um sintoma deste fracasso. É a própria doença. O Brasil é o país de maior potencial para ser o melhor de se viver diante dos desafios do século XXI. Todavia, a nação se sujeita aos entraves mais perniciosos da política, da corrupção ao descaso na gestão pública. Há os que acham que nunca estivemos tão bem. De nosso lado, preferimos acreditar no nosso potencial e verificar os resultados. A coisa não vai bem. A inflação está elevada e corrói os contratos e os salários, o desempenho fiscal é mediano e pouco preventivo, os juros permanecem altos em função dos dois fatores anteriores e há uma irradiante letargia em relação aos investimentos públicos e privados. O país cresce pouco e, não fosse o desempenho agrícola, ficaria evidente que estamos em um perigoso processo de perda de competitividade industrial, com baixa produtividade e câmbio valorizado. Infelizmente, a tendência é que permaneçamos nesta toada. Aquém do que devemos e muito aquém do que podemos. Ao modo de um balanço Um resumo bem sucinto do que foi nosso país nos últimos 365 dias dirá o seguinte : avançamos, para continuar onde estávamos. O Brasil ficou mais velho, mas não mais leve, nem mais sábio. Nossas instituições político-administrativas não evoluíram (algumas até, muito pelo contrário), não aperfeiçoamos nossas práticas políticas nem corrigimos nossas incríveis falhas na infraestrutura econômica nacional. Como diria um bom caipira, não vivemos, vegetamos. Sem sustos, mas também sem brilhos. Seja o que Ele quiser Começa mais um ano eleitoral, com eleições municipais com cara de eleição presidencial e eleições Federais. A experiência nos mostra que é bom elevar as mãos aos céus. 2011 e 2012 estão custando ao país o preço da farra de 2010. Custo dividido em partes iguais com a crise internacional. Reforma sem reforma Com a crista elevada pelos dados da última pesquisa CNI/Ibope, na qual aparece mais bem avaliada em seu primeiro ano de governo do que o foram no mesmo período os ex-presidentes FHC e Lula, Dilma estabeleceu parâmetros para a tal reforma ministerial que vai fazer em janeiro, de uma só vez ou em conta-gotas, num espaço de um mês, não se sabe ao certo. 1. Não haverá profundas, talvez nem rasas, alterações na estrutura ministerial, com fechamento e/ou fusão de ministérios e secretarias. Festa entre os apreensivos aliados. 2. Os partidos indicarão nomes, mas não conduzirão as escolhas e feudos partidários serão eliminados. Tristeza entre os parceiros, mas a conferir ainda a viabilidade política desta pretensão. 3. As mudanças trarão surpresas - não se sabe se agradáveis ou desagradáveis - para amigos e conselheiros. Noves fora tudo isso e mais o que se disser, a tendência é uma reforma sem reforma, mudanças para continuar tudo como está. Marta ao léu Na lista das "surpresas" das mudanças ministeriais, começou a aparecer o nome do ministro da Ciência e Tecnologia, Aloizio Mercadante para o ministério da Educação, local que Fernando Haddad vai deixar vago para disputar, com a muleta de Lula, a prefeitura de SP. É tudo que Mercadante deseja : um ministério com muita verba, cheio de capilaridade, de enorme importância e visibilidade, bom para alavancar sua candidatura ao governo paulista em 2014. E é tudo que Marta Suplicy não gostará de ver. Depois de ser posta de lado por Lula na disputa pela sucessão de Kassab, a ex-prefeita e os "martistas" remanescentes sonhavam exatamente com a Educação para empurrá-la para uma candidatura ao Palácio dos Bandeirantes. Marta parece condenada por seu próprio partido e por seus "amigos" a passar um bom período na chuva e no sol da política, sem proteção. Ainda Fernando Pimentel A presidente Dilma não é nem a firme combatente à corrupção e falta de ética pública que alguns midiáticos querem tornar e nem uma condescendente com tais desvios. É o que se chama de "pragmática". Faz uns cálculos políticos de um lado e, de outro, acaba por escolher o que lhe parece mais fácil. O mineiro Pimentel bem que pode merecer os polpudos fees que recebeu no seu período pós-cargo público em Minas. Todavia, as explicações dadas para estes recebimentos elevados mostram que seus talentos permanecem desconhecidos para que se possa medir o merecimento da fortuna. Pimentel, José Dirceu e Palocci, para citar três próceres da esquerda brasileira, podem ser chamados de "burgueses afortunados" cujas virtudes nos negócios ainda precisam ser desvendadas pela investigação científica, já que a policial não produz resultados. Quatro mosqueteiros e um coringa Não são apenas os números medíocres das pesquisas eleitorais que deixam dúvidas em relação à candidatura própria dos tucanos em SP. Na verdade, os líderes partidários, mesmo aqueles que se dizem comprometidos com este ou aquele pretendente, reconhecem que falta um discurso para cada um dos candidatos (ou mosqueteiros sem rei). Um dos fundadores do PSDB diz mais : "Quando se discute a 'herança' de Mário Covas é sinal de que estamos num funeral". Por tudo isso, o Palácio dos Bandeirantes mantém bem aceso o diálogo com Kassab. A candidatura de Guilherme Afif Domingos pode até não agradar alguns palacianos, mas quando comparada aos "mosqueteiros", o "coringa" Afif parece bem melhor como candidato. Chalita, o ambicioso Sabe-se que as ambições do deputado Gabriel Chalita não são pequenas. Conta-se que mesmo antes de ter a expressiva votação para deputado Federal ele já especulava sobre a hipótese de um dia ser presidente da República, contaram a esta coluna colegas de faculdade em Lorena. Chalita, o escritor Na roda de ex-colegas estudantes de Chalita se faz a seguinte brincadeira : "o Gabriel escreveu mais livros do que leu". Na semana passada, o deputado Federal lançou mais um de seus livros : "Sócrates e Thomas More - Correspondências Imaginárias". Deve ser mais um best seller. Oposição de brincadeira Nas rodas dos bares da esquerda festiva dos anos 70, o gostoso era falar mal do governo da ditadura. Agora que a esquerda e direita não existem e os velhos esquerdistas viraram burgueses empedernidos, as rodas de amigos podem falar mal, não apenas do governo, mas também da oposição. Não há algo mais pálido na política brasileira que a oposição. Simplesmente porque esta de fato não existe. E a que existe parece clamar para aderir ao governo, incluso aí o mineiro Aécio Neves, a quem se atribui enormes chances de ser candidato à presidência da República. Aliás, os artigos do ex-governador na Folha de S.Paulo podem ser apontados como absolutamente distantes do debate dos grandes temas nacionais. Por tudo isso, os holofotes persistem próximos à sociologia do ex-presidente Fernando Henrique. Aos 80 anos ainda é a grande renovação da oposição brasileira. Prorrogação Por tantas assim, nada indica que a oposição oficial a Dilma, representada pelo PSDB, pelo PPS e pelo DEM sairá em 2012 do "ano sabático" que se concedeu em 2011, no qual se dedicou a espezinhar a si própria, em infindáveis disputas, e a encher a paciência da parte mais bem informada da sociedade brasileira que sabe que sem uma oposição firme e atuante a democracia latu sensu no país e a administração pública ficam capengas. Prorrogação - II ...já a oposição oficiosa, representada pelos partidos da base aliada, que tanto trabalho deu à presidente Dilma este ano, promete entrar, no ano que logo vai se iniciar, mais afiada do que nunca, tangida pela intermináveis disputadas por postos e cargos, de vários escalões, e pelas eleições municipais. Dilma, orçamento e vetos A presidente da República tem seu último embate no Congresso marcado para quinta-feira, dia 22 : a votação do Orçamento Geral do ano que vem. Como sempre, o documento sairá das mãos dos deputados e senadores engordado em sua previsão de receita e, em consequência, inchado nos gastos. Isto nunca foi problema para o governo. Ele fez no início do ano o chamado "contingenciamento" de despesas e suspende todos os gastos que considerar desnecessário. Entretanto, em ano eleitoral, uma coisa está incomodando Dilma : a insistência de deputados e senadores de aprovarem verbas para aumentos de algumas categorias e funcionários públicos, em especial no Judiciário (quase 15% para juízes, média de 56% para servidores) e ainda garantir um reajuste bem acima da inflação para os aposentados que recebem acima do salário mínimo. Quem ganha até o mínimo já tem 14,5% de aumento garantido a partir de janeiro. Político gosta de fazer esses favores em ano eleitoral. E há ainda o indisfarçado compromisso do PMDB com o STF de lutar pelo reajuste do Judiciário em troca do pronto restabelecimento do mandato de senador de Jader Barbalho. Dilma avisou que se correr risco de perder esses embates vai acionar seus mais fiéis para deixar a votação do Orçamento de 2012 para uma ocasião mais propícia. É possível tocar a administração alguns meses sem um Orçamento consolidado. A presidente, porém, poderia deixar o Congresso agir como quisesse e depois usar o seu poder de veto para bloquear os aumentos que julgar inconvenientes. Ela parece, contudo, estar no mesmo jogo dos parlamentares : não quer arcar com uma medida (corte de aumento de funcionários e aposentados) considerada impopular. Supremas questões judiciárias Por causa da briga por esse aumento e mais o caso Jader (pela visível barganha), declarações extemporâneas do ministro Lewandowski a respeito de possível prescrição de parte dos supostos crimes dos mensaleiros, e, ainda, por disputas de vacilações no CNJ, o Judiciário vai para suas férias regulamentares sob os olhares muito desconfiados da sociedade brasileira. Muito se diz que ele está se tornando muito político e nem sempre a política com P maiúsculo. 2011 : a crise é dos países ricos Estamos a viver a maior crise econômica desde o período pós-1929. Há pelo menos 35 milhões de desempregados nas maiores economias mundiais. A tipologia desta crise difere daquelas que presenciamos durante os anos 90 do século passado quando países como o Brasil, Argentina, México, Coréia do Sul, Tailândia, Indonésia e Rússia sofreram crises cambiais, fruto do elevado endividamento externo e interno e de modelos com taxas de juros fixas. Desta feita, a crise ocorre no capitalismo central e, apesar da conjunção de fatores semelhantes às da crise dos anos 90, as soluções não dependem de mudanças de "modelo", mas de garantias políticas para que medidas fiscais e monetárias sejam adotadas. Eleições nos EUA definirão rumo da crise Nos EUA, Obama mostrou-se, até agora, um anão político, incapaz de arregimentar na sociedade forças que sejam capazes de suportar mudanças estruturais na economia norte-americana, a começar pelas disfunções existentes no sistema financeiro. Além disso, suas políticas "keynesianas" encontram barreiras substantivas no Congresso, torneado por um esquisito "conservadorismo" que pode levar o país a não financiar as suas despesas do setor público. Nos EUA, o ano é eleitoral em 2012 e, neste caso, a briga das urnas vai dizer se o modelo keynesiano de recuperação - que já produz resultados em termos de elevação da atividade econômica - vai seguir em frente, como ocorreu com Roosevelt nos anos 30, ou se o "fiscalismo" republicano vai ser testado. Uma rápida olhada nos candidatos à presidência do Império, incluindo Barack Obama, não é dos mais alentadores. Quem viver, verá. Europa : indefinições germânicas Na Europa, a coisa é bem mais complicada. Os "interesses nacionais" se misturam a um modelo confederativo sem estruturas suficientes para acomodar políticas necessárias à gestão fiscal e, mais importante no momento, a gestão monetária. O jogo do poder acaba por dividir o Velho Continente entre "ricos" e "pobres", "centrais" e "periféricos". Angela Merkel e Nicolas Sarkozy parecem gostar de desfilar perante os fotógrafos como líderes da Europa, cheio de regras a impor às nações que seriam seus pares. Não passam de míopes políticos a transitar por estradas econômicas inviáveis que faz o mundo discutir seriamente o colapso da moeda de 17 países. Nem a história política e nem as sábias análises de John Maynard Keynes lhes abrem os olhos. 2011 foi mais que um ano difícil. Foi um ano em que a Política (com "P" maiúsculo) fracassou para a solução de uma crise que alimenta a desesperança de muitos em meio a processos de especulação e ausência de regulação em favor de um capitalismo progressista. A Europa em 2012 Neste espaço sempre fomos cautelosos em fazer previsões. Por uma razão simples : estas estão fadadas ao erro. Preferimos analisar processos e deles extrair tendências. Na semana passada, afirmamos que houve uma mudança importante na crise europeia. Ao que parece a ação do Banco Central Europeu (BCE), num misto de "emprestador de última instância" e de "fiscal orçamentário de Berlim", pode resultar na extinção paulatina da "crise aguda" de crédito. Todavia, restará uma vasta "crise crônica" que tornará o desempenho econômico da Europa a soma de letargia econômica com momentos de agonia. Os países meridionais do continente terão de rolar bilhões e bilhões de dívidas soberanas. Neste cenário as mesas de operação do sistema financeiro vão pedir spreads elevados para financiar os países. Enquanto isso, Berlim reclamará reformas fiscais e estruturais que demoram anos para serem viabilizadas. Em singelas palavras : os países meridionais vão ter de apagar incêndios enquanto Berlim quer discutir as causas do incêndio. O BCE deve moderar este jogo perigoso até o limite que impeça o colapso do euro, mas sem resolver o problema básico do crescimento, do desemprego e, logicamente, do endividamento. Resta saber se a política suporta esse perverso jogo. De olho na China É possível que a China, promovida nos últimos anos a "motor da economia mundial" por economistas de várias vertentes, seja um fator de risco enorme, muito embora não esteja diariamente em pauta. É difícil imaginar que o país possa sustentar nos próximos anos uma taxa de investimento de 40% do PIB, o dobro da taxa brasileira, sem desequilíbrios e formação de "bolhas especulativas". Há quem acredite nisso - até mesmo já acreditaram no fim da história. O país tem a virtude de ser credor de todo o mundo e ter reservas elevadas, como é o caso do Brasil. De outro lado, é um país pouco transparente, comandado por uma estranha classe de burocratas comunistas, e que pode estar escondendo "esqueletos" no armário, tais como a subcapitalização do sistema financeiro e a inadimplência do setor de construção civil. Talvez seja impossível analisar tantas vertentes de riscos na China comunista. Todavia, há o concreto risco de o mundo estar acreditando demasiadamente que esta estrela do oriente seja um sustentáculo sólido de brilho eterno. Protecionismo em alta A OMC já reclama do Brasil. O protecionismo está à solta por aqui. Há duas semanas houve uma reunião entre 50 grandes empresários e os ministros da área econômica, incluído o ministro do Desenvolvimento, o abastado consultor Fernando Pimentel. O que se viu foi o seguinte : de um lado, os empresários pedem protecionismo tarifário, não-tarifário e câmbio desvalorizado. De outro lado, assumem pouquíssimos compromissos com a competitividade externa e alta produtividade. O que quer a elite econômica brasileira é uma reserva de mercado para aqui vender e poucos compromissos para vender lá fora. Tudo às custas do consumidor daqui. Para este, um sonoro "enquadre-se" para não dizer palavra mais grosseira. Radar NA REAL 16/12/11 TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA baixa baixa - Pós-Fixados NA baixa baixa Câmbio ² - EURO 1,3022 baixa baixa - REAL 1,8625 baixa estável/baixa Mercado Acionário - Ibovespa 59.096,90 estável/alta estável - S&P 500 1.219,66 estável/alta alta - NASDAQ 2.555,33 estável/alta alta (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável Furos na telefonia Apontando graves irregularidades no relacionamento da Anatel com as operadoras de telefonia no Brasil e ainda a violação dos direitos dos usuários entre outros problemas, o deputado Federal Nelson Marchezan Filho entrou com uma representação em Brasília, na 3ª Câmara de Coordenação e Revisão do MPF, contra essas empresas. São 54 páginas de duras acusações. Por exemplo : apesar do elevado índice de Procedimentos de Apuração por Descumprimento de Obrigação (6.921 em 2010), num total de cerca de R$ 136 milhões em multas, apenas R$ 10 milhões, menos de 8% foram pagas de fato. É por essa e tantas que a Anatel é vista como uma agência reguladora (não é a única) caolha : olha quase nunca para o lado do consumidor do serviço _________
terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Política & Economia NA REAL n° 181

Da crise aguda à crise crônica I Não existe nada mais terrível em economia que a crise cambial somada à de crédito. Eis uma combinação demoníaca. As crises cambiais normalmente são agudas e, após certo tempo, tem um desfecho evidente : ou cessam ou provocam o colapso de um modelo. O Brasil cessou sua mais recente crise cambial no governo FHC quando saiu da taxa fixa. Por sua vez, a Argentina entrou em colapso quando extinguiu o seu currency board latino-americano. Eis dois exemplos ilustrativos. Os europeus estão fazendo suas escolhas nestes últimos meses. Neste último fim de semana decidiram ampliar o papel do Banco Central Europeu (BCE) provendo-lhe o papel de "emprestador de última instância". O que isto significa ? Expandir a liquidez e o crédito quando o setor privado não o faz. A despeito da análise de uma enorme parcela da mídia local e internacional, este passo foi relevante. Retirou os europeus do imobilismo, sobretudo a Alemanha e sua líder, as marcas registradas da incompetência para lidar com crises como a atual. Da crise aguda à crise crônica II De outro lado, é preciso reconhecer que a possibilidade concreta de que não haja no Velho Continente um colapso de crédito e da moeda, não implicará uma mudança substancial no quadro recessivo de lá. Por duas razões básicas : (i) a "operação" estruturada pela França e Alemanha que resultou num papel mais ativo do BCE do ponto de vista monetário (que permite a assistência de liquidez) prevê uma contenção fiscal de curto, médio e longo prazo. Em outras palavras, o que a dupla Merkel-Sarkozy fez foi pagar o papagaio dos países endividados no banco e depois pedir para que eles vendessem suas roupas para pagá-los. Retiraram demanda futura em troca de recursos no curto prazo. Basta dar uma espiada nos números de emprego do continente para verificar que o pedido franco-alemão vai estimular a recessão e não a atividade econômica. De outro lado, (ii) a dinâmica política da Europa continuará confusa, pois os países em recessão vão se tornar mais instáveis politicamente. Em alguma hora, os "burocratas" que estão instalados em Roma, Madri e Atenas hão de ser contestados pelas hordas de desempregados que rodeiam os parlamentos. Da crise aguda à crise crônica III Considerando que o pior já passou em termos de liquidez e que a recessão vai continuar, talvez por muito tempo, forma-se um cenário cheio de paradoxos, no qual haverá um certo otimismo no curto prazo, onde haverá recuperação do valor dos ativos reais e financeiros, das ações aos títulos de crédito privados e públicos, e no médio prazo a velha Europa vai ficar cambaleando em termos de consistência da atividade econômica. Para o Brasil e o mundo, este cenário será mais razoável que o atual e, ao mesmo tempo, não permitirá que a expansão seja muito elevada. Será modesta e consistente com a modéstia das soluções políticas da crise. Assim sendo, 2012 será, a nosso ver, um ano bem melhor que este que se finda, mas será muito distante a mínima ideia da abundância que prevaleceu entre meados dos anos 90 e o final de 2007. Sejamos, portanto, otimistas, mas limitados pela realidade do poder fático da recessão que há de continuar contaminando os negócios e as sociedades dos países centrais e periféricos. EUA : a demanda mostra-se crescente Os americanos continuam amargurados, especialmente os mais pobres (que são muitos) daquele império. Todavia, a leitura "técnica" dos números de consumo do país permite que se fale em uma emergente recuperação. A massa salarial mostra-se estabilizada, ou melhor, levemente crescente, as vendas de carros crescem com certa consistência, o consumo de energia está se elevando, as vendas de bens básicos e de não-duráveis cresceu bem (uma surpresa !) e a demanda de crédito melhorou muito. Não à toa, os lucros corporativos estão em bons patamares e as ações estão mais demandadas pelos investidores. A decisão do Fed e do Governo de permitir que a inflação suba é sábia. É deste processo que nasce a recuperação, no melhor estilo de Keynes. É lógico que processos como este geram desequilíbrios, mas governar é uma tarefa que exige escolhas e, no caso, a escolha foi correta : o maior risco é a deflação e o desemprego e é preciso cuidar disso primeiramente. Depois, calçado em suporte político originado das urnas do ano que vem, a sociedade vai demandar novas soluções. Resultado : do nosso ponto de vista os EUA entraram num ciclo positivo, mesmo que inicial, e o melhor sinal de que isso deve ser verdade é que as ações estão em alta e assim deverão permanecer por um bom tempo. Quem viver (ou comprar), verá (ou lucrará). Brasil : cenário estranho, não é mesmo ? A estagnação do PIB no terceiro trimestre não é, como disse o ministro da Fazenda Guido Mantega, uma "surpresa". As restrições do crédito, a alta dos juros básicos no final de 2010 e, obviamente, a crise externa, foram fatores de monta para reduzir o consumo por estes lados. Quanto ao investimento, este mantém-se modesto, por razões estruturais, para não dizer "históricas". Neste contexto, a ação do governo ao expandir o crédito (de novo) e reduzir os juros básicos faz todo o sentido. Todavia, convenhamos que a inflação está elevada (6,5%) e a indexação (sim ela existe !) ainda há de mantê-la incômoda em 2012, além de outros fatores sazonais (preços dos serviços, educação e alimentos). Este cenário, portanto, poderia ser simplificadamente denominado de "estagflação". Isto ocorre pelas razões que elencamos logo acima, mas também pela incapacidade da atual administração de estruturar um plano de gestão de investimentos que mova a demanda para cima, sem que se force muito o consumo para o alto. Assim, a inflação poderia ficar contida pela modesta demanda por bens de consumo e a atividade ganharia força por meio dos investimentos em infraestrutura e aumento de produção, com efeitos positivos sobre a produtividade do país. O que não registramos, porém, é uma dinâmica governamental que crie as condições para isso. Em outras palavras : falta consistência na administração da economia e liderança política para criar fatos e gerar expectativas positivas. Dilma : ministérios, mistérios e ação I Quando disse que a parada da economia brasileira no terceiro trimestre foi um "serviço" brasileiro, para justificar o argumento de que "nos fizemos e agora podemos" desfazer, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, esqueceu o essencial : o BC desaqueceu a economia até levá-la ao ponto zero, para segurar a inflação, que vinha aquecida pela festa fiscal eleitoral de 2010. Também contribuiu para esse esfriamento o enxugamento dos gastos que Mantega, contrariando seus naturais pendores - e também o de Dilma no passado - passou a promover este ano. Agora, que a dose pareceu excessiva, corre-se para combater o prejuízo. Mas com o agravante de a inflação ter voltado a incomodar. A dúvida é : o governo está com armas totalmente afiadas entre o BC e o ministério da Fazenda ? Dilma : ministérios, mistérios e ação II Um dos pontos nevrálgicos desta questão continua sendo a disciplina fiscal do setor público, necessária para que o BC possa cortar os juros e as amarras ao crédito sem medo da persistência da inflação. Pelos dados disponíveis, o propósito - um superávit fiscal de 3,1% do PIB será alcançado. Sem necessidade das mágicas de 2010 que acabaram ajudando a empurrar a inflação de 2011 para perto dos 6,5% do limite superior da meta estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional. Porém, como havia sido apontado aqui neste espaço em outras ocasiões, este superávit, se não teve mágicas, está sendo alcançado de uma forma, digamos, não muito religiosa. Vem especialmente de um crescimento de cerca de 12% reais da arrecadação tributária e de uma substancial redução dos investimentos. Até novembro, os investimentos Federais caíram R$ 16,5 bilhões até novembro em relação ao mesmo período do ano passado. Segundo levantamento do site "Contas Abertas" as inversões Federais caíram em todos os níveis, enquanto as despesas de pessoal e de custeio subiram em termos em relação a 2010. Para reativar a economia até chegar em 2012 a um crescimento próximo de 5%, o governo terá de inverter esse mix de sua política fiscal. Há condições para tal ? Dilma : ministérios, mistérios e ações III É nesse ponto que entram as conversas, agora mais em surdina em Brasília, também aqui comentadas, de que a presidente Dilma pretende ir em janeiro um pouco além de uma simples reforma ministerial. Daria um pontapé numa reforma administrativa para reduzir paulatinamente o custo da máquina Federal e liberar recursos para investimentos. Faria parte dessa política as pressões sobre o Congresso para votar um Orçamento - até o dia 22, mais apertado em gastos supérfluos e sem aumentos salariais para servidores públicos nem correção das aposentadorias para quem recebe do INSS acima do salário mínimo. Surgem então novas dúvidas, a seguir. Dilma : ministérios, mistérios e ação IV Em ano eleitoral, com uma base ávida e pantagruélica, com seu próprio partido com projetos de expansão nas urnas, parece difícil que a presidente, sem pôr em risco o que aqui se chama falsamente de governabilidade, consiga promover um enxugamento real da máquina que deixe sobras substanciais para aumentar os investimentos do governo. Por isso mesmo, depois de ter alimentado a mídia de informações sobre diminuição do número de ministérios e que tais, os porta-vozes oficiais fecharam-se, tudo começou a virar um mistério. A cada informação nesse sentido, os aliados entravam em pânico e abriam suas panelas de pressão. Há indicações seguras de que até Lula entrou em campo e não foi para incentivar a limpeza. Dilma : ministérios, mistérios e ação - V Outro empecilho ao crescimento dos investimentos (tido por bons observadores como responsável também pelo fraco desempenho dos gastos oficiais deste ano) está no modus operandi do governo sob Dilma. Centralizadora, detalhista, de temperamento irascível quando algo não está exatamente como ela quer que esteja, a presidente, diz um observador privilegiado, inibe seus auxiliares. Não há quem se atreva levar para ela propostas mais audaciosas, toca-se, mesmo assim com muito cuidado, o burocrático, o que é sabido e acertado. Os temas - e as opções de gastos - só entram na agenda governamental depois que passam no radar da presidente. Por isso, os planos demoram, os investimentos param e quando os projetos surgem, saem capengas porque são analisados na correria. Esta semana mesmo teremos uma amostra disso : até depois de amanhã, o governo deveria apresentar os detalhes de uma mal chamada "política automotiva", anunciada há mais de três meses quando foi aumentado o IPI dos carros importados. Não sairá mais nesta data. Ou muda Dilma ou fica a economia com uma perna capenga ? Os oferecidos Do Padre Antonio Vieira no "Sermão da terceira dominga do Advento" : "... em todo o reino bem governado não devem os homens pretender os ofícios, senão os ofícios pretender os homens". Na sua reforma Dilma quase só se depara com multidões de oferecidos. Pergunta econômica Permitirá o governo que a taxa de câmbio se valorize novamente com o objetivo de controlar a inflação alta ? É difícil responder a esta pergunta, mesmo porque a formação da taxa cambial é endógena (feita pelo mercado), e muito dependente dos preços externos das commodities e da taxa de juros interna comparada a externa (que é negativa em termos reais, descontando-se a inflação internacional). Há que se notar que, independente de como o governo agirá no curto prazo, a taxa de câmbio atual é estruturalmente insuficiente para viabilizar a competitividade industrial do país. A taxa de câmbio é desindustrializante. Não há produtividade possível que possa generalizadamente ser praticada na economia brasileira, que nos torne um player industrial competitivo frente aos nossos pares, ditos "emergentes", e os países industrializados. A discussão é grande sobre o tema, mas quem está ganhando o jogo é quem mantém a taxa de câmbio desvalorizada. São os casos da China e da Índia. Radar NA REAL 9/12/11   TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA baixa baixa - Pós-Fixados NA baixa baixa Câmbio ² - EURO 1,3241 estável alta - REAL 1,8205 baixa estável/baixa Mercado Acionário - Ibovespa 58.236,46 estável/alta estável - S&P 500 1.255,19 estável/alta alta - NASDAQ 2.646,85 estável/alta alta (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável ____________
terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Política & Economia NA REAL n° 180

Ufa ! Enfim, o Banco Central Europeu Em matéria econômica não existe pior crise que a cambial. A dúvida sobre a credibilidade, a estabilidade e a solvência da taxa de câmbio e seus correspondentes ativos financeiros não pode persistir por longos períodos sob pena de instalar ou aumentar a dinâmica dos colapsos financeiros. Se a moeda "sob contestação dos agentes" for uma das mais transacionadas do mundo, a crise é muito maior. Embora esta assertiva seja amplamente conhecida pelos economistas e não-economistas, não deixa de ser surpreendente a irresponsabilidade dos líderes europeus em relação ao tema, sobretudo no caso da chanceler alemã Angela Merkel que quer impor modelos fiscais em meio a um turbilhão cambial. É como se os bombeiros ficassem discutindo sobre as origens de um incêndio em meio a sua propagação. Nesta hora, o que começa a aparecer no horizonte é a perspectiva de que o Banco Central Europeu (BCE) irá fazer uma intervenção da ordem de US$ 1 trilhão para aumentar a solvência de países e bancos. Talvez esta seja, de fato, a única medida cabível em meio às especulações de que o euro irá entrar em colapso. Consequências da intervenção No caso da Europa, é sempre bom ter certeza sobre o contexto e a magnitude da intervenção do BCE nos mercados antes de avançarmos em prognósticos. No próximo dia 9, a cúpula da União Européia irá se reunir para (mais uma vez) discutir a crise no Velho Continente. Até lá é possível que o BCE já esteja em plena ação. Este pacote, se for mesmo de US$ 1 trilhão, parece ser capaz de provocar a estabilização financeira em todo o continente, especialmente na Itália e Espanha. Esta estabilização é condição sine qua non para que o longo rescaldo relativo à recessão, desemprego e melhoria das contas fiscais possa andar para frente. Ainda sobrará muita dor social e econômica aos países, mas a superação da corrente especulação deve favorecer a valorização dos ativos (ações e títulos de renda fixa), bem como tornar menos neurótica as operações usuais dos agentes. O mundo agradece e torce para que dê certo. Os EUA devem ser os mais beneficiados A economia norte-americana representa cerca de 1/4 do PIB mundial e, por ser muito aberta, é muito dependente do consumo mundial e de seu próprio consumo (que, por sua, vez representa 2/3 do PIB norte-americano), deve ser a maior beneficiária da estabilização europeia. Além disso, já existem sinais iniciais de que o consumo das famílias americanas está começando a crescer. Ainda não dá para estarmos certos de que se trata de um novo ciclo econômico que se inicia, mas, como já afirmamos há um mês, as chances de reversão são concretas. Note-se que não estamos dizendo que devemos sair por aí soltando fogos. O que estamos dizendo é que o pior parece estar passando. É hora de não nos conformarmos com o pessimismo reinante, mas o de olharmos para o futuro e tentarmos extrair oportunidades (hoje) dele. Ainda a China Já repisamos muitas vezes nesta coluna que os riscos da China são múltiplos e não há transparência suficiente para se chegar a um diagnóstico da saúde da economia chinesa e, muito menos, sobre a concreta possibilidade da existência de "bolhas especulativas" naquela economia. De toda a forma, devemos reconhecer que é quase impossível uma economia sustentar uma taxa de investimento acima de 40% do PIB - no Brasil esta taxa é a metade - sem que existam desequilíbrios no sistema de crédito e de preços. É preciso estar atento para aquele lado do mundo, sobretudo o Brasil que é altamente dependente das exportações de commodities. Brasil, devagar no estrutural e tranquilo no conjuntural Se colecionarmos as reformas pelas quais o Brasil passou nos últimos 15 anos, verificaremos que estas são, no mínimo, modestas frente aos desafios que necessitam ser ultrapassados para que caminhemos para o desenvolvimento pleno de nosso país. Há uma leniência em relação aos investimentos em infraestrutura, tecnologia, educação, logística, etc. Não dá para nos enganarmos e cairmos no "conto da carochinha" de que somos o melhor país do mundo, conforme alguns daqui e de lá de fora imaginam. Falta-nos um plano estratégico de longo prazo para conquistarmos pontos na direção de um país mais equilibrado do ponto de vista social e econômico. De outro lado, é preciso reconhecer que os riscos de curto prazo são perfeitamente manobráveis, inclusive do ponto de vista fiscal (contas públicas), monetário (especialmente, no caso da inflação) e cambial (cujas reservas externas são significativos). Os juros básicos caminham para a queda - talvez estrutural -, mas os juros bancários ainda estão em patamares mundialmente recordes. Se a Europa se acalmar, o Natal pode ser mais generoso que o esperado. Poderemos comemorar. Sem entusiasmo, no entanto. Pacote anticrise Sinceramente, pouco temos a comentar sobre o "pacote anticrise" anunciado pelo ministro da Fazenda Guido Mantega, na semana passada. Criar expectativas ou desfazê-las é parte da tarefa de governar. Lançar mão de medidas pouco claras em relação aos objetivos e menos claras ainda, em relação aos meios, é algo indesejável de se ver emanado do governo. Pois foi exatamente isso que se viu em relação ao referido pacote : inepto para evitar crises e insuficiente para criar expectativas. A única observação que podemos fazer é que o governo parece adotar um ritmo bem gradualista para se colocar contra a crise. Esta prudência é positiva, mas é preciso não errar na dose e produzir "um nada" em termos de expectativas. Radar NA REAL Acreditamos que o cenário de curto prazo pode sofrer uma sensível alteração neste final de ano com um maior otimismo face às expectativas anteriores. É preciso perceber se, de fato, os europeus vão conseguir introduzir medidas monetárias e cambiais suficientes para estabilizar as expectativas dos agentes. É cedo para dizer, mas acreditamos que os diversos segmentos do mercado financeiro hão de apresentar um desempenho menos estável e mais construtivo. Relativamente ao médio prazo ainda não somos capazes de recomendar com clareza uma estratégia. Haveremos de fazê-lo em futuro breve. 2/12/11   TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA baixa baixa - Pós-Fixados NA baixa baixa Câmbio ² - EURO 1,3472 estável alta - REAL 1,7821 baixa estável/baixa Mercado Acionário - Ibovespa 57.885,84 estável/alta estável - S&P 500 1.244,28 estável/alta estável - NASDAQ 2.623,93 estável/alta estável (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável Dilma, uma autora à procura de um estilo A publicação recente de dois livros com histórias da presidente da República, uma feliz conveniência tanto do mercado editorial quanto do mercado político, coincidentemente ou não, faz parte de um esforço de criar uma identidade própria de primeira mulher a chegar ao comando supremo da nação brasileira. Contribui para reforçar as qualidades atribuídas a ela de boa gerente, durona (pero sin perder la ternura jamas), intransigente quando necessário, da faxineira intolerante com os "malfeitos". Esta fixação de estilo é um necessidade também do mercado do poder, para retirá-la das sombras, reais e/ou imaginárias, que pairam ainda sobre ela : do mentor Lula, do PT, dos partidos aliados. Realidade ou não, o certo é que, por todas essas vicissitudes, ela parece ainda não ter nas mãos todas as rédeas do poder. Vacilações As vacilações que a presidente demonstrou para demitir alguns ministros encalacrados em "malfeitorias" é um exemplo de que as rédeas do poder ainda estão frouxas. As dificuldades que ela enfrenta com os aliados, outra. Lula, por exemplo, nem mesmo no auge do mensalão, viu tantas pedras em seu caminho no Legislativo. Dilma é uma personagem em busca de um ator. Sua grande oportunidade é a reforma ministerial. Em tempo Os livros referidos na abertura desta nota são : 1. "O cofre do dr. Ruy", de Tom Cardoso, editora Civilização Brasileira. 2. "A vida quer é coragem", de Ricardo Amaral, editora Primeiro Plano. Expectativa demais Pelo que os porta-vozes "ocultos" da presidente estão prometendo para a reforma ministerial de janeiro, Dilma só reforçará sua imagem se atender a quatro requisitos : 1. Trocar ministros para além dos que precisam ser trocados por algum tipo de suspeita de "malfeitos" e insuficiência de desempenho. 2. Fazer uma dança de cadeiras no ministério entre os partidos e ainda incorporando atores não partidários à equipe. 3. Acabar com os feudos ministeriais e as entregas de porteira fechada. 4. Reduzir de forma significativa o número de ministérios. Todas essas mudanças, apregoadas como em andamento nos bastidores de Brasília, atingem diretamente o "negócio da política". Se não se realizarem, vão frustrar expectativas. Tal qual o pacote "anticrise" do governo na semana passada. Um é um, o outro é o outro Análise de um experiente político de Brasília da chamada base governista : "Lula conquistava pela simpatia, pela lábia, pela capacidade de conversar e negociar. Na hora que quis impor, tropeçou na CPMF. A linguagem da Dilma é só da vontade dela. Lula dava liga. Dá para ver que falta um mínimo de coesão na base aliada e no próprio ministério. Lá está cada um por si. Tem de tropeçar". Quem quiser que acredite É certo que estamos na época do Natal, mas mesmo os que acreditam no bom velhinho estão com dificuldades de acreditar que o senador José Sarney, com mais de 50 anos na praia da política, cometeu um cochilo na semana passada, ao contribuir com a oposição para retardar no Senado a votação do projeto que prorroga até 2015 a vigência da DRU (Desvinculação das Receitas da União). O PMDB, insatisfeito sempre com verbas e ministérios, às vésperas de mudanças na equipe de Dilma, exercita seu melhor estilo assopra (com Michel Temer, a apaziguador da República) e morde (com Sarney, Renan Calheiros, Henrique Alves, pero sin perder la ternura jamás). Se colar... Na esteira desse peemedebismo de resultados, os senadores mineiros Clésio Andrade (PR, em transição para o PMDB) e Zezé Perrela (PDT) assinaram a proposta da oposição com emendas ao projeto da DRU e avisaram, em nota oficial, que poderão retirar o apoio se Dilma não der prioridade máxima a alguns projetos do interesse de Minas. As municipais - I Não se sabe se é sonho ou fantasia apenas, mas os PSDBs paulista e paulistano começaram a ficar animadinhos com a possibilidade de José Serra negar o que vem jurando até agora e aceitar concorrer à prefeitura de São Paulo. O fantasma de uma derrota na capital paulista, menos pela força de Fernando Haddad e mais por suas fraquezas e idiossincrasias internas passou a ronda para valer o sono do tucanato. As municipais - II Com Lula articulando no momento em ritmo mais "piano" e à distância, o PT já começou a perceber que terá dificuldades de atrair todos ou a maior parte dos parceiros Federais para cidades-chaves nas eleições municipais. Sem Lula, que diz e faz o PT acontecer, os aliados estão desconfiados de que o partido de Dilma vai querer sempre comandar as melhores fatias. Ninguém é de ninguém Aliás, a aliança governista sofre desse mal : ninguém confia inteiramente em ninguém. Basta conversar com um peemedebista em relação aos petistas com a garantia de anonimato da informação ou auscultar um petista a respeito agora, do governador de Pernambuco, Eduardo Campos, e seu PSB. E assim por diante. Ademais, a oposição somente não padece do mesmo mal nas dimensões do governismo porque está em "estado de necessidade" o que a faz ir mais ou menos unida para as eleições de 2012 (onde der) e 2014.  Ronaldo "Fenômeno", CBF e governo Comenta-se na imprensa que o presidente da CBF, em vista de possíveis denúncias de corrupção vindas do exterior, mais exatamente da sede da FIFA na Suíça, estaria se "blindando" por meio de "nomes populares" sabiamente colocados ao redor de seu trono. Ora, não sabemos se uma estratégia dessas dá certo. Mesmo com inserções televisivas de comerciais dando conta da eficiência da CBF na gestão desta "coisa nossa" chamada futebol, a pergunta que fica é : e o governo ? Como vai se comportar o governo sabendo que o presidente da CBF, organizadora local da Copa, está envolvo por vastos mantos que obscurecem suas atividades ? Mais ainda : Ronaldo "Fenômeno" e seus conflitos de interesse afetam em alguma medida o interesse público ? Vejamos as próximas trocas de passe na cartolagem do futebol... Aeroportos : medidas desmedidas As autoridades que regulam aeroportos e o setor aéreo brasileiro (ANAC, Infraero, etc.) anunciaram há duas semanas um plano para evitar o "caos aéreo" no Brasil. Tudo funcionaria melhor em março do ano que vem quando o Carnaval e as férias já passaram. Acredite se quiser. ____________
terça-feira, 29 de novembro de 2011

Política & Economia NA REAL n° 179

Europa : BCE vai entrar no jogo A generalização da crise no Velho Continente já é evidente e, assim sendo, os policy makers tem motivação extra para agir, coisa que não é muito do feitio dos europeus. O melancólico encontro do final da semana passada entre a chanceler Angela Merkel e o presidente francês Nicolas Sarkozy mais uma vez levou à dúvidas, mas houve avanço : a despeito da resistência da alemã parece que finalmente o Banco Central Europeu vai pôr as mangas de fora. Com efeito : poderá exercer o seu decisivo papel de "emprestador de última instância" e, desta forma, injetar nas combalidas economias meridionais a liquidez que lhes falta neste período de turbulência. Há dois anos o debate acerca do tema se esvai pela incompetência política dos principais países europeus em lidar com os problemas de sua própria moeda. Agora, parece que a gestão do BCE se encaminhará para o seu natural processo em tempos de crise. Europa : união fiscal Tanto os franceses quanto os alemães tem soltado informações incompletas que a União Europeia estuda a consolidação fiscal dos países membros. Trata-se de informação relevante e positiva : "uma moeda e uma só dívida" faz todo o sentido e evitaria muito da contaminação que ora se verifica. Obviamente, em se tratando de Europa e de assunto tão complexo o prazo de implementação é de anos e não meses. Até porque isso resultará numa perda substantiva de soberania de cada país. Os políticos estão dispostos a fazê-lo ? Por tudo isso, é bom não apostar neste assunto como pressuposto para melhorar o conturbado momento pelo qual passa a economia continental. A solução no curto prazo é monetária : injetar liquidez e esperar que a inflação suba um pouco. O resto é conversa para diplomatas e políticos nos próximos anos. Ação de Graças, graças a Deus ! As vendas do mais importante feriado dos EUA, o dia de Ação de Graças, na semana passada foram da ordem de US$ 52,4 bi, algo como 16% superiores ao ano passado. Trata-se de um resultado espetacular e que nenhum economista neurologicamente equilibrado poderia prever. Obviamente, quando um fato destes ocorre, os analistas se socorrem das mais variadas explicações as quais, na maioria das vezes, servem a justificar os próprios erros de avaliação. De toda a forma, vamos ao que interessa : estas vendas podem ser um sinal de reversão das expectativas negativas para o consumo. Não se pode desprezar o fato de ser apenas UM indicador. Da mesma forma, não se pode esquecer que se trata de um dado importantíssimo nos EUA, pois revela o animus da sociedade em relação ao ano que vem, num país no qual o desemprego gravita em torno de 9% da sua mão de obra ativa. Abram os olhos para a China Já comentamos aqui neste espaço alguns aspectos sobre a China. Na semana passada, o governo comunista de Pequim lançou uma série de medidas de estímulo econômico, especialmente para o setor de construção civil. Este é responsável pelo menos por 3% do crescimento anual do país (entre 8% e 9%). Dificilmente, a China nos próximos anos manterá uma taxa de investimento da ordem de 40% de seu PIB. A improbabilidade não é apenas estatística de vez que pode estar se formando uma imensa "bolha de investimento" no país. Num país onde a transparência depende de um governo forte, comunista e central, estes riscos tendem a ser exacerbados. Os agentes econômicos sabem disso e, como já vimos nas dezenas de crises dos últimos dez anos, o mercado está longe de ser perfeito. No Brasil, pouca informação e algumas "desconfianças" Rigorosamente, nada de muito importante ocorreu nas últimas semanas que dê elementos novos relativamente às tendências consolidadas (inflação alta, desaceleração econômica relevante, pleno emprego e confiança alta e estável, etc.). Na imprensa tem saído, vez por outra, informações dando conta de um "pacote contra a crise" que estaria em gestão na Fazenda por estímulo do Palácio do Planalto. É preciso que se diga que faz todo o sentido que o governo se prepare para um cenário mais turbulento, mesmo que este não venha a ocorrer. De outro lado, é preciso que não se gere mais desequilíbrio em meio a um mundo de desequilíbrios. Pois bem : a maior e mais importante atuação que o governo pode protagonizar no curto prazo está no campo monetário. Trata-se de uma redução mais brusca da taxa de juros básica, ainda neste final do ano ou logo na virada de 2012. Ademais, a expansão do crédito também pode ser contemplada de forma mais imediata. Em ambos os casos os riscos existem : (i) do lado dos juros, trata-se da inflação, ainda num patamar desconfortável e (ii) do lado do crédito, o risco de tornar menos hígido o sistema financeiro num momento em que todos no mundo estão de olho neste item.Radar NA REAL 25/11/11   TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA baixa baixa - Pós-Fixados NA baixa baixa Câmbio ² - EURO 1,3343 estável alta - REAL 1,8540 baixa estável/baixa Mercado Acionário - Ibovespa 54.894,51 estável estável - S&P 500 1.158,67 estável estável - NASDAQ 2.441,51 estável estável (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável Dilma e o ministério : o desejo e o possível As reações dos aliados, nada públicas por motivos óbvios, não foram nada simpáticas. Mesmo assim, porta-vozes não oficiais da presidente Dilma continuam assegurando, "à boca pequena" como se dizia antigamente, que ela não vai se contentar apenas em trocar alguns ministros em janeiro, uns por inadequação gerencial, outros por isso e também por "malfeitorias". Dilma fará também um ajuste mais fino da máquina ministerial. Vertentes da mudança ministerial A mudança do ministério da presidente, segundo esses "bochichos", teria três vertentes : 1. Livrar o governo de ministros problemáticos, segundo os critérios de eficiência e/ou temeridade na condução da pasta. 2. Eliminar o sistema de "capitanias hereditárias", instalada nos últimos tempos, em que cada ministério é feudo de um partido e nele planta suas raízes, a tal porteira fechada. Haveria rodízio de ministérios entre os partidos aliados e nem toda a equipe dos escalões superiores de uma pasta será do mesmo time do ministro. A ocasião seria aproveitada também para rever o peso de cada aliado no governo. 3. O mais importante : cairia o número de ministros e de secretarias com tal status. É voz (sem cara) corrente que o ministério da Pesca vai virar secretaria ou coisa parecida no ministério da Agricultura, o dos Portos seria incorporado pelo Transportes e as Secretarias de Direitos Humanos, da Mulher e da Igualdade Racial virariam uma só. Alguns mais audaciosos falam também num ministério da Infraestrutura (com Transportes e Comunicações) e até na fusão de Cultura, Turismo e Esportes num guarda-chuva único. Uma revolução que está deixando o mundo político literalmente de cabelos em pé. Imagine-se o PT perder de uma só vez três ou quatro postos. Ou o PMDB ver sua cota encolher... A impressão é que Dilma lança balões de ensaio de seus desejos (bons) para testar o possível. Apoio e obstáculos As intenções reformadoras da presidente ganharam um reforço de peso semana passada quando o empresário Jorge Gerdau, escolhido por Dilma para comandar a Câmara de Políticas de Gestão, Desempenho e Competitividade do Governo Federal, tirou a caixa de ferramentas para atingir a ineficiência de Brasília e adjacências. Gerdau resumiu a ópera bufa, ao dizer, sucintamente, que é impossível administrar com 40 ministérios (na realidade são 38) e com mais de 23 mil cargos de confiança, de livre nomeação. Diz-se também que o vice presidente da República, Michel Temer, contrariando o DNA do partido do qual é presidente licenciado e hoje maior expressão política, o PMDB também defende essa dieta de emagrecimento Federal. Na outra ponta, há uma montanha rochosa com escarpas traiçoeiras - os partidos da base aliada, que não engolirão com facilidade ter seus cartórios eleitorais reduzidos, mormente em um ano de urnas eletrônicas. E uma incógnita : o que pensa o presidente Lula de tudo isso, ele que é o pai, a mãe e o avô desse esquema que sustenta politicamente o governo Dilma. All the world Em um texto luminoso na edição de domingo do "Estadão" a respeito da ex-primeira dama da França, Danielle Mitterrand, falecida na semana passada, o jornalista Gilles Lapouge, correspondente do jornal em Paris, deu a mais completa e sucinta definição do mundo de hoje em todos os quadrantes do universo : "...hipócrita, embusteiro, covarde, conformista". Algo a acrescentar no mundo dos trópicos tupiniquins, com suas mesquinhas disputas por cargos e benesses, tão bem caracterizadas nos episódios envolvendo o ministério do Trabalho e o ministério das Cidades ? Em nível superior É de solução muito mais delicada do que todos os outros casos de "malfeitorias" anteriores, tanto os que geraram as demissões de cinco ministros, o episódio envolvendo o ministério das Cidades e a troca do projeto de BRT (ônibus em corredores exclusivo) por um de VLT (Veículo Leve sobre Trilho) no plano de mobilidade para a Copa de 2014 de Cuiabá/MT. As demissões anteriores, ou foram casos individuais (Palocci) ou de uso indevido dos ministérios (casos dos Transportes, Agricultura, Turismo e Esportes). Agora não, as mudanças no parecer técnico do ministério das Cidades, para justificar a troca de um projeto de R$ 500 mi por um outro que no final das contas vai custar o triplo, foram engendradas para compromissos políticos acertados em nível superior. Pode sobrar para algum bagrinho, mas o próprio ministro Mário Negromonte, por mais trapalhadas que possa ter cometido na gestão de seu ministério, nesse episódio foi apenas uma correia de transmissão de ordens. Noites de terror Se há outra coisa que abala o sono de pessoas em Brasília e de algumas que pelo menos formalmente e de corpo presente já não habitam o Planalto Central são os fios da intrincada meada da compra do Banco Panamericano pela CEF ainda no governo Lula e que a PF está desvendando, peça por peça. O script traçado para que tudo não passasse de uma operação normal, que teve seu momento mais delicado quando dona Maria Fernanda deixou a presidência da CEF, já com Dilma e sem uma explicação convincente, está ameaçando desandar pela eficiência dos agentes Federais. Não se combinou com os russos. Anomia, anemia E a oposição hein ? Continua sem saber o que quer, se é que quer alguma coisa a não ser algumas das migalhas do Poder Público. Em um determinado momento mais duro do regime militar, quando o espaço do oposicionismo esteve perigosamente fechado, chegou-se a discutir entre eles a extinção do antigo MDB, hoje convertido no PMDB, sem nenhuma das virtudes do partido de Ulysses, Tancredo, Franco Montoro, etc. Felizmente a tese não foi para a frente e a persistência ajudou a abreviar o fim de uma ditadura que se pretendia eterna. Sem os mesmos problemas, a atual oposição parece ter optado pela inanição e, pelo andar do cabriolé e seus penachos de vaidade, para uma lenta extinção eleitoral, por absoluta irrelevância. ____________
terça-feira, 22 de novembro de 2011

Política & Economia NA REAL n° 178

A economia despenca, a política não alenta As eleições parlamentares na Espanha, que elegeram o líder do centro-direita Partido Popular Mariano Rajoy, foram frias e sem importantes divergências de visões e diagnósticos sobre a atual crise espanhola. O ganho de 186 cadeiras do PP no parlamento, contra 110 dos socialistas, uma vitória significativa, não esconde o fato de que os espanhóis continuam sem perspectivas de mudanças concretas no curto e médio prazo. A depressão na Europa não é apenas econômica. Ultrapassa os limites razoáveis dos efeitos sociais de uma crise. Faz surgir no horizonte um futuro obscuro, como ocorreu na primeira metade do século XX. Provavelmente a tragédia não alcance efeitos tão perversos, mas o risco é de as sociedades não acreditarem mais na política e na democracia como meio de sustentação do modo de convivência social no Velho Continente. Apenas para lembrar : a taxa de desemprego na Itália alcança 20%, na Espanha 23% e na Grécia pouco mais de 27%. Entre os jovens, mais de 40% na média destes países. Europa e lições para o Brasil Tem-se atribuído à crise econômica os ventos, com velocidade quase de furacão, que têm varrido diversos governos na Europa. Com a estrondosa vitória do Partido Popular nas eleições gerais espanholas no domingo, já são oito os governos substituídos nos últimos dois anos. E mais alguns estão na mira do eleitor. De fato, a economia foi apenas o estopim. A razão mais profunda é de natureza política : a absoluta incapacidade dos governantes de plantão, nas esferas executiva e legislativa, de propor soluções para os desafios que se apresentaram a eles - os antigos e os novos, trazidos pelo "admirável mundo novo" que estamos vivendo. O que suscita duas perguntas para a seara tupiniquim : 1. Quais transformações reais, institucionais e de infraestrutura, ocorrem de fato no país nos últimos dez anos, a despeito da inclusão de 40 milhões de consumidores, o que traz vantagens, mas também novos desafios e novas exigências ? 2. Quais são as propostas concretas, reais, da oposição, para romper esse quase imobilismo ? Como diz o dito popular, podemos estar caminhando para "um mato sem cachorro". A reunião (de novo) dos europeus No início de dezembro a Comissão Europeia, o órgão que de fato mantém o poder político da Zona do Euro, se reunirá novamente. Em debate, mais uma vez, o papel do BC europeu em meio a esta trágica crise. A decisão é simples (o BC ser ou não ser um 'emprestador de última instância'), a implementação é complexa (como realizar as compras de dívida soberana, determinar limites claros em termos de volumes, definir as taxas de juros, etc.) e a contrapartida dos países é arriscada politicamente (limites de superávit fiscal, privatizações, reformas estruturais, etc.). A Alemanha e a França terão mais razões para agir : a Itália e Espanha são riscos muito maiores que a Grécia e podem afetar todo o sistema financeiro europeu. Todos os três maiores implicados já mudaram seus governos para aqueles que tem feições mais "tecnocráticas" (o que quer dizer, mais alinhado com a ortodoxia de Berlim). Difícil fazer prognósticos de como agirão os principais atores deste trágico teatro (que já não é mais grego). Se o BC agir com força, há boa chance do risco de colapso ruir nos pés da especulação. Caso contrário, hummmm.... Melhor não tentar especular. No Brasil, desaceleração significativa Há pouco tempo, a inflação era o maior risco no curto prazo, motivo inclusive para que o governo adiasse aumento de impostos dos cigarros, não reajustasse os combustíveis e a telefonia em outubro - estes se constituem em "passivos" para o ano que vem. Ademais, a taxa de câmbio esboçou um ajuste, positivo do ponto de vista da indústria, mas relativamente perigoso para a inflação. Neste contexto, os "passivos" da inflação serão carregados sem solenidade para o ano que vem, o que dificultará o cumprimento da meta "central" da inflação em 4,5%. Para este ano, é provável que o BC não tenha de fazer a "cartinha" de justificativas pela não efetivação do limite de 6,5% da meta projetada. De fato, o cenário da atividade econômica mostra-se perigosamente caminhando para um nível de estagnação, em linha com o diagnóstico do próprio BC que justificou as recentes reduções na taxa básica de juros. O que provavelmente está sendo subestimado é o efeito político da desaceleração no que tange ao apoio popular ao governo, ao suporte sindical e o apoio da base aliada. A meta de crescimento de 5% em 2012 parece muito improvável, sobretudo quando se verifica que o PIB do último trimestre indicará um parco crescimento. Juros e juros O "mercado" se debate para saber se o BC cortará mais 0,5% na taxa Selic (o mais provável) ou um pouquinho. O foco da discussão é esse 0,5% prá lá, 0,75% pra cá ou se os juros básicos reais (descontada a inflação), chegarão a 4% e 2% e em quanto tempo. Para o mundo das empresas e das pessoas, no entanto, o que vem ao caso é que elas pagam pelo dinheiro quando vão se financiar ou comprar a crédito, ou seja, o "juro de fato". Este continua, na maior parte das vezes, escorchantes, a não ser para os que têm os caminhos dos cofres do BNDES. Os gastos públicos seriam a alternativa A ausência de uma menor demanda privada justificaria maiores investimentos públicos, sobretudo para melhorar a cambaleante infraestrutura do país. Maior eficiência do setor público sempre é desejável nesta conjuntura, mas no caso brasileiro a evidência mostra que (i) as denúncias de corrupção e irregularidades nas obras e gastos públicos, (ii) a falta de concepção e organização dos projetos por parte da burocracia estatal (em todos os níveis) e (iii) o pouco alinhamento do poder público com o setor privado, prejudicam a implementação de políticas compensatórias capazes de gerar demanda suficiente para evitar uma indesejável desaceleração. Dilma terá neste campo uma difícil tarefa para obter resultados concretos. Lembrando que temos Copa do Mundo e Olimpíadas... O alerta espanhol Um dos segredos do extraordinário crescimento da Espanha na última década, quando se tornou uma das "queridinhas" da União Europeia, foi a construção civil (e o mercado imobiliário), movida a crédito fácil e generoso. Hoje, 700 mil casas e apartamentos em todo o país encontram-se vazios. O nível de desemprego já chegou a mais de 23%, a economia local precisa de resgate internacional e os socialistas de Zapatero foram apeados do poder pelo voto da população. A conjuntura e o mercado Seria fútil e irresponsável tecer muitas previsões em meio a um cenário tão conturbado. Os analistas e economistas estão, mundo afora, muito pródigos nas suas previsões, apesar das imensas incertezas. O que pode se notar é que os relatórios que se lê "envelhecem" muito em poucos dias. De fato, será preciso saber da decisão dos europeus no que tange a intervenção do BC europeu nos mercados para poder verificar o quanto se reduzirá o agudo risco existente nos mercados mundiais. O Brasil é um importante mercado no mundo atual, mas relativamente pequeno para pretender ser uma "ilha" em meio a tanto risco. Alguém poderia perguntar : e a China ? Bem, neste ponto, há muita falação, mas os sinais no país comunista indicam certa e preocupante desaceleração e "bem quietinho" o governo central do país iniciou um programa de saneamento de seu obscuro sistema financeiro. Ora, se a China apresentar uma queda de demanda substancial, aí o cenário pode se agravar e as previsões se tornarão mais velhas diariamente. Nada sabemos de uma "forte desaceleração", mas sabemos que este risco existe e é concreto (e pouco comentado). De toda a forma, por aqui a taxa básica de juros vai continuar caindo, talvez mais acentuadamente no primeiro trimestre de 2012. O mercado acionário nos parece ainda caro frente ao cenário e a taxa de câmbio ainda será o termômetro mais livre e eficiente para sabermos dos efeitos externos sobre o nosso país. Sinal de alerta Sabemos o quão dependente o Brasil é do desempenho dos preços das commodities no mercado internacional. Na semana passada, 17 dos 24 itens que compõem um dos principais índices de commodities, o GSCI da Standard & Poor's, caíram, sendo os principais o gás natural (-7,5%), prata (-6,3%) e algodão (-4,9%). Além disso, as posições compradas foram reduzidas, principalmente pelos especulativos "fundos hedge". Maus sinais para um segmento de mercado que esteve firme ao longo do ano. Dólar forte Apesar de todo ceticismo em relação aos EUA, os europeus conseguiram facilitar a vida dos americanos. Por causa da crise no Velho Continente, os depósitos de bancos estrangeiros nos EUA cresceram de US$ 350 bi, em dezembro de 2010, para US$ 715 bi ao final de novembro de 2011. Obama agradece o financiamento barato concedido pelos europeus. Enquanto os bancos alemães financiam os americanos, Angela Merkel continua com a sua campanha paroquial na Alemanha enterrando os euro em nome de uma presumida credibilidade do BCE. Bancos : conversa continua As conversas para a fusão de um importante banco de varejo brasileiro e um banco de investimento prosseguem. Sem grandes definições, é verdade. As ambições dos yuppies do banco de investimento não batem muito com as dos conservadores banqueiros do varejo. Mas o bate-papo rende fofocas de todos os lados. Radar NA REAL 18/11/11   TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA baixa baixa - Pós-Fixados NA baixa baixa Câmbio ² - EURO 1,3459 estável alta - REAL 1,7865 baixa estável/baixa Mercado Acionário - Ibovespa 56.731,30 estável estável - S&P 500 1.215,65 estável estável - NASDAQ 2.572,50 estável estável (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável Moral e sistema político em concordata Não importa se o "ex-ministro ainda ministro" Carlos Lupi vai sair da pasta um dia desses qualquer, se recebe o bilhete azul somente na reforma ministerial prevista para janeiro, e até se consegue sobreviver no posto além daquela data. O lastimável episódio que envolveu o "dono do brizolismo atual", com as vacilações da presidente, a omissão envergonhada dos partidos aliados, ao mesmo tempo, torcendo para o lugar de Lupi "sobrar" para estes, mesmo que temerosos da próxima "bola da vez", e o registro definitivo da falência do sistema político brasileiro e do dito do "presidencialismo" de coalizão que o governa. O poder, no caso, está condicionado pelas "perspectivas de direito" dos associados na empreitada e pelas "perspectivas de poder" que se abre à frente. Por "perspectivas de direito" entenda-se a expectativa que cada parceiro de ser compensado, materialmente (ministérios, postos de segundo escalão, divisão "política" do orçamento). Eles precisam ser permanentemente alimentados e realimentados e nunca se consideram suficientemente atendidos. Esses são os laços, obviamente frágeis da aliança. E que podem ser rompidos se as "perspectivas de poder" futuro se esvanecem. Por isso, a necessidade constante de uma "legitimação" do governo por índices de popularidade sempre elevados. O pedestal de Dilma I Eis o dilema da presidente quando chega ao fim o seu primeiro ano de mandato : onde ancorar sua "legitimidade". Ela começou surfando na onda de Lula, da extraordinária popularidade do ex-presidente e dos bons momentos da economia. Deu o seu tom inicial, "parecendo" diferente de Lula, movimento que sofreu um esfriamento para não causar burburinhos no padrinho e no PT. Avançou a imagem própria com a proposta de uma "faxina" nos ministérios suspeitos de "malfeitorias", ideia-força que perdeu tração depois de cinco trocas de ministros sem a troca dos donatários dos ministérios e com as oscilações no caso Lupi. O pedestal de Dilma II A base da "legitimação" pela economia está um pouco minada pela queda da atividade econômica e as incertezas que estão no ar. Então, como encontrar um novo pedestal para sustentar os índices de aceitação popular ? As conversas em Brasília dão conta de uma pequena reforma da estrutura ministerial, diminuindo um pouco o números de 38 ministros locados na capital juntamente com a dança de cadeiras em janeiro. O simples vazamento dessa possível intenção presidencial já preservou amuos e reclamos no capital da República daqueles que querem manter os seus imaginados "direitos adquiridos" na máquina pública. Em quem Dilma pode se escorar para ir em frente ? Bandeira serrista e palaciana Uma das bandeiras políticas do ex-governador José Serra era a redução dos juros básicos para fugir do dilema fiscal-monetário gerado pelos elevados juros reais. Um atento e bem informado observador da cena nacional e internacional sentencia : "a presidente Dilma, com a sua atual estratégia de redução de juros, retirou do PSDB a última bandeira que os governos petistas não estavam adotando dos tucanos... Ela só não faz isso mais rapidamente porque tem medo do cenário externo. Mas ela fará tudo para reduzir os juros básicos". Comissão da Verdade : a ausência de Sarney Fez bem José Sarney, presidente do Senado, na cerimônia de lançamento da "Comissão da Verdade e de Acesso à Informação" que investigará a questão dos desaparecidos políticos durante o regime militar (1964 - 1985). Não ficaria bem para um prócer político que apoiou a ditadura e foi presidente do partido que apoiava o regime militar compor a mesa do lançamento como este. Seria demais associar seu nome com a "verdade". Contradições paulistas Enquanto o governador Geraldo Alckmin protesta e age para evitar a suspensão das obras do metrô paulistano em função de alegadas irregularidades na licitação, o palácio dos bandeirantes faz o mesmo caminho da Justiça no caso da Renovias, um consórcio formado pela CCR (40% do capital) e a Construtora Encalso (60%). Pretende o governo paulista rever o contrato de concessão em função de alegadas irregularidades na licitação. A leitura dos jornais e do Diário Oficial deixa evidente a contradição. Wall Street ocupada - Nação desocupada Não basta ir muito além da leitura dos jornais para verificarmos que o movimento de ocupação das ruas do centro financeiro de Manhattan está capengando em termos de objetivos. Os ocupantes empolgam mais seus "amigos", que mandam inócuos sinais de "curtição" no sistema de Mark Zuckerberg, do que a sociedade norte-americana que vive desocupada nas entranhas da grande democracia. Bobby Kennedy e Martin Luther King, quando pregavam mudanças e protestavam nas ruas, também pressionavam os políticos para mudarem o sistema político em Washington. Os facebookers carecem de objetivos e estratégias e acabam solapados pela polícia do prefeito de NYC Michael Bloomberg. E nada mais. Triste sina destes "navegadores" sob a indiferença da sociedade e a consagração nas redes sociais pouco solidárias. ____________
terça-feira, 8 de novembro de 2011

Política & Economia NA REAL n° 177

Europa : a dualidade ampla, geral e irrestrita Não há analista que não reconheça a gravidade da crise europeia, mas o conteúdo desta tem sido interpretada com enorme amplidão o que dificulta, ao não versado em economia, entender suas variáveis e consequências. A cobertura da mídia dá enorme ênfase à crise da Grécia, país pequeno e muito menos importante na zona do euro. Todavia, a rápida deterioração dos fundamentos deste país gerou consequências que se espalharam por todo o Velho Continente e colocaram a moeda unificada sob risco. Eis o primeiro e simbólico teste do modelo político-econômico-social da Europa : um desastre em termos de coordenação em função da política paroquial de quase todos os países que estão sob o euro, especialmente da França e da Alemanha. É da contradição entre a "união" da ideia de uma Europa e a realidade mesquinha e paroquial de cada país que resulta o maior problema de um continente que pretendia ser a gruta iluminada do processo civilizatório do século XXI. Triste engano. G-20 : uma reunião vergonhosa Pode-se resumir a ausência de soluções da reunião das 20 maiores economias mundiais em Cannes com muitas palavras. De nossa parte preferimos "vergonha". A cidade escolhida para sediar não poderia ser mais apropriada : parecia uma reunião de artistas a praticar o "realismo fantástico" do cinema. Vejamos : Nicolas Sarkozy, o anfitrião francês, queria capitalizar a imagem de grande líder europeu às custas de decisões mal construídas. O abatido Obama cobrava resultados que minimamente não alcança do outro lado do Atlântico. Angela Merkel, com seu rosto marcado, ameaçava a pequena Grécia de uma espécie de excomunhão caso não aceitasse retirar de pauta um referedum de última hora alegado pelo premiê Papandreou da Grécia. Berlusconi desembarcava na Riviera Francesa sem saber se voltava firme no cargo. Já Zapatero, que deve perder as eleições de dezembro, nada tinha para negociar. Irlandeses e portugueses eram questionados a razão de seus títulos soberanos pagarem mais juros que a Grécia. A China olhava tudo isto com água na boca. E o Brasil sem propostas em função da falta de proposta dos próprios europeus. A conclusão é simples, mesmo que desastrosa : o maior problema para a solução da crise é política. Não há lideranças críveis para elaborar planos e soluções. A Grécia e seus "parceiros" O cenário grego é trágico. Todavia, o pequeno país balcânico é a ponta de um iceberg já desvendado : Itália, Espanha, Portugal e Irlanda estão igualmente em maus lençóis e é de cada um deles ou de seu conjunto que virão novas e mais graves turbulências, se nada for feito. Por seu lado, a Grécia tenta reforçar a sua política interna aos trancos e barrancos : a proposta de um referendum não é tão descabida quando se vê um país com ¼ de sua força de trabalho desempregada, o mesmo nível dos EUA quando da depressão pós-29 e, ao mesmo tempo, Alemanha e França pedem mais "ajustes". De toda forma, ou por meio de eleições, ou de um governo de coalizão, os gregos vão buscar a solução política que falta aos outros países. Uma geração de jovens será afetada pela falta de esperança. Não dá para falar em cenário melhor, mas a cessação de pressões "na boca do caixa" já seria um fator positivo. Isto dependerá da solução política interna, mas também dependerá da capacidade de seus "parceiros" em entender a natureza da crise e agir politicamente em conjunto. O "mercadismo" intacto Não foram poucos os anos de avanço dos "tecno-banqueiros" na economia mundial. Trata-se de uma "classe social" que passou a influir decisivamente na condução de todos os assuntos relevantes às economias nacionais e ao mercado internacional. De seus interesses é que nasceram os projetos "liberalizantes", que permitiram ao cabo de poucos anos a propagação de modelos teóricos, que funcionavam e uma prática que engendrava crises de todos os lados : desde os anos 90 até o presente, mais de duas dezenas de crises afetaram a chamada "economia real". E o que se viu foi a passividade dos reguladores, em geral, e dos BCs, em particular. A crise pós-29 resultou numa guerra mundial e, ao final dela, em uma bem elaborada tentativa de coordenação de política econômica a partir de Bretton Woods, reunião que criou o FMI, o BIRD, o BIS e outros organismos de cooperação. A crise atual merece uma revisão substantiva do funcionamento do mercado de capital e financeiro ao redor do mundo. Todavia, ainda não foi construída uma fórmula política de fazê-lo. Mesmo porque banqueiros e financistas estão a controlar a antessala dos principais decision makers mundiais. O exemplo maior é Barack Obama, triste personagem democrata dos EUA que não consegue articular nenhuma política consistente em busca de soluções. É o caso de sentir saudades intensas de Franklin D. Roosevelt. Um calendário político ? De tudo que ocorreu pelos lados do Velho Continente, por ocasião do "meio sucesso" (definição de Dilma) da reunião do G-20 em Cannes, foi um fato paralelo : a inesperada decisão do novo presidente do BC Europeu, o italiano Mario Draghi, de reduzir a taxa de juros por lá. Por isso e por outras coisas, a interpretação de algumas autoridades brasileiras é de que saiu de campo a rigidez dos ajustes fiscais para dar lugar a políticas mais "sóbrias", de olho também no crescimento e no emprego. Igualzinho ao que o Brasil vem fazendo. Mesmo que a Grécia tenha levado uma prensa da dupla Merkel-Sarkozy e a França tenha anunciado ontem uma política de ajuste nas contas públicas, com aumento de tributos e cortes nas aposentadorias. O Brasil quer aprofundar sua estratégia, com o sonho de voltar a crescer até 5% no ano que vem. Há quem aposte no aumento de 14% do salário mínimo, tido como um problema para os críticos, para ativar o consumo. Há também os gastos com a Copa do Mundo e as Olimpíadas. Sem contar os gastos do ano político-eleitoral. As fichas já estão na mesa e a roleta começa rolar. A dose de otimismo em Brasília está elevada. Ortodoxia ou heterodoxia ? Ainda vai dar muito o que falar a proposta do senador Lindbergh Faria (PT/RJ), aprovada por unanimidade na Comissão de Assuntos Econômicos acrescentando duas outras obrigações à tradicional função do BC de proteger a integridade da moeda : deverá também garantir o crescimento da economia e do emprego com a política monetária. Já é um pouco do que o BC está fazendo com Dilma, embora sem confessar abertamente. É a alegria dos heterodoxos (ou desenvolvimentistas) e o horror dos ortodoxos (ou monetaristas). Alega-se que o Fed já tem tal mandato.O governo ainda não disse se é a favor ou contra. Breve revisão de nosso cenário Como enunciamos na semana passada, estamos num dificílimo período de transição. A reunião do G-20 e as decepções com os caminhos da Europa são retratos fiéis do atual momento. De toda a forma, persistimos na ideia de que não é bom negócio apostar no pior. (Vide a coluna da semana passada na qual elaboramos algumas de nossas razões que justificam esta posição - clique aqui). O ponto mais importante no curto prazo e, tão logo a Grécia se estabilize minimamente, é verificar se a Espanha, Itália, Portugal e Irlanda vão ter crises tão agudas quanto à da Grécia. O melhor sintoma que pode vir neste momento é a substituição das lideranças políticas na Itália e na Espanha. Somente a política pode mudar a economia, agora e sempre. Caso a crise se torne aguda é provável que os vários segmentos dos mercados se tornem novamente tensos, voláteis e deprimidos. Neste caso, revisaremos nossos pontos de vista. O pior ainda estará por vir. Por enquanto, não é nisso que acreditamos. Radar NA REAL 4/11/11   TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA queda estável - Pós-Fixados NA queda estável Câmbio ² - EURO 1,3959 estável alta - REAL 1,6942 baixa estável/baixa Mercado Acionário - Ibovespa 59.727,08 estável baixa - S&P 500 1.253,23 estável estável - NASDAQ 2.686,15 estável estável (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável Para quebrar o termômetro Informa-se que Lula, mesmo sem poder falar muito por recomendações médicas, ficou irado com os dados do PNUD sobre o IDH brasileiro - que teria perdido 13 posições em relação à medida anterior, quando medido também pela desigualdade social - e teria cobrado uma reação enérgica do governo Dilma. Diz que os números do Brasil adotados pelo organismo da ONU estão defasados. Dados mais recentes passados pelo governo brasileiro não teriam sido considerados. Pode ser até que sim e que uma revisão faça o Brasil subir. Todavia, parece mais uma coisa de quebrar o termômetro para disfarçar a febre. Pode um país, no qual somente 47,5% de todos os seus lares têm acesso a redes de esgoto sanitário, arvorar-se em campeão do desenvolvimento humano ? Briga-se com os números, com os fatos, nunca. Se fosse assim De um leitor assíduo desta coluna, a respeito da nota da semana passada sobre a agonia quase crônica da oposição : "Se com os oposicionistas em doce recesso, o governo já perdeu cinco ministros por suspeitas de 'malfeitorias', imagine-se o que ocorreria se PSDB, DEM e PPS tivessem um décimo da disposição de briga de Lula e do PT quando do outro lado eles infernizavam a vida dos adversários." Será assim ? Não dá para saber, até agora, se o ministro do Trabalho, Carlos Lupi, seguirá a sina dos seus outros oito indigitados colegas que perderam seus cargos em poucos dias depois de reportagens na imprensa ou se conseguirá passar incólume da fritura que se instala em Brasília. Há a denúncia, apoio formal com cobrança oficial de explicações, novas revelações até a degola. Mas não é importante saber se ele se safa desta. Há algum tempo já é, de fato, como cinco ou seis companheiros de Esplanada : um ex-ministro, um zumbi à espera de uma carta de demissão. E essa turma vai para o estaleiro, em janeiro ou fevereiro, juntamente com alguns candidatos a prefeito, por absoluta falta de aptidão gerencial, não por possíveis desvios funcionais. Mudou a explicação Desde a saída de Wagner Rossi do ministério da Agricultura, governo e partidos dos ministros que perderam os cargos desistiram definitivamente de culpar a imprensa (golpista ?) e a oposição pelas denúncias responsáveis pelas degolas. Já se conformaram com as intrigas internas e os atingidos esperam apenas para dar o troco. Pule de dez Não há (aliás, havia ?) nenhuma dúvida, depois do abalroamento de Marta Suplicy, que o candidato petista à prefeitura de SP será o ministro Fernando Haddad. Sem prévias. O que se pergunta agora é quantos diretórios estaduais e municipais do PT nas grandes cidades pelo país afora resistirão aos apelos de Lula. Se houver algum, será apenas para confirmar o ditado : manda quem pode, obedece quem tem juízo. Resistirá ? Empolgado, o PMDB tem dito que em SP não há essa coisa de aliança incondicional no primeiro turno. Gabriel Chalita é o candidato peemedebista e pronto. Será ? Somente se for para garantir o petista Haddad no segundo turno. Se tirar votos do ministro da Educação... O PMDB tem muito a perder no plano Federal, a começar pelo olho gordo de alguns aliados na vice-presidência em 2014. Tudo pelo social Governo vai pressionar o Senado a aprovar o projeto, já passado na Câmara, autorizando o uso dos recursos do FGTS para financiar obras da Copa do Mundo. É mais patrimônio dos trabalhadores jogados em negócios de retorno duvidoso - e bem duvidoso. Não basta o que se faz com o FAT ? ____________
terça-feira, 1 de novembro de 2011

Política & Economia NA REAL n° 176

Lula : o real e a especulação Tão logo foi divulgada a informação sobre o tumor na laringe do ex-presidente Lula, instalou-se uma histeria de conjecturas sobre o real alcance da doença e sobre seus efeitos políticos. Lastimável, mas é o preço a pagar pelos tempos midiáticos que vivemos. O que temos, na realidade, são apenas duas grandes interrogações. Sem respostas nos próximos meses. No caso da saúde dele, que é o que interessa em primeiro lugar, é torcer (e quem crê em Deus, orar) para que os prognósticos dos médicos que cuidam de Lula se confirmem. As especulações, nesse sentido, são desumanas. Na análise política, objeto desta coluna, são precipitadas tais especulações. A única conclusão concreta que se pode tirar é um truísmo : tudo pode mudar, mas tudo também pode ficar no mesmo. Na política e nos mercados, há gosto em especular. Tenham paciência. Para que não se queime a língua e, principalmente, imagens e reputações. O problema não é o nome Nas circunstâncias, a nomeação do deputado Aldo Rebelo para o ministério dos Esportes, foi o melhor que Dilma poderia ter feito. Mas o episódio envolvendo Orlando Silva (PC do B), numa sequência que começou com Alfredo Nascimento (PR), Wagner Rossi (PMDB) e Pedro Novais (PMDB) e com a roda já balançando para outras freguesias, os labirintos nos quais a presidente está enredada estão expostos : 1. A pressão dos partidos aliados : todos os substitutos têm no DNA partidário dos substituídos, sendo que os "malfeitos" revelados não se restringiram a ações apenas individuais. Foram solidariedades partidárias. 2. A existência de "feudos" nos ministérios, mesmo com todo o cuidado não inteiramente rompido no ministério dos Transportes, menos ainda na Agricultura e Turismo. O vício é do modelo : presidencialismo de coalizão. Não é à toa que a pergunta mais frequente depois que Orlando Silva caiu é : quem será o próximo ? Candidatos não faltam. A chance de Dilma quebrar a corrente é com a prometida reforma ministerial de janeiro ou fevereiro. Terá sustentação ? Como Arquimedes Para os leitores que reclamam a escassez de informações e análise nesta coluna sobre a oposição solicitamos um obséquio : sempre que souberem dela, nos avisem, por favor, que vamos atrás, em busca de novidades. Enem para o Supremo ? Informa-se que o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, tem dedicado parte de seu tempo a sabatinar candidatas à vaga no STF em função da aposentadoria da ministra Ellen Grace. São "candidatas" porque a presidente Dilma exige uma mulher substituindo a primeira mulher brasileira a chegar ao mais alto cargo da magistratura nacional. Mais de 10 selecionadas já passaram pelo "confessionário" de Cardoso, numa espécie de "Enem para o Supremo", um tanto inusitado. Infere-se que as "sabatinadas" tenham saber jurídico elevado e comprovado e reputação ilibada, sem precisar reafirmá-los na cátedra do professor Cardozo. O que o ministro da Justiça está tentando descobrir nessas juristas ? Há no ar em Brasília um "palavrão" pairando sobre 2012 : Mensalão. Uma rima, não uma solução. Oscar Vilhena e o STF Vale refletir sobre a sugestão do professor Oscar Vilhena, diretor da Escola de Direito da FGV/SP, e da advogada Flavia Annenberg, em artigo no jornal "O Estado de S. Paulo" de sábado : "Temos hoje o privilégio de contar com inúmeras candidatas qualificadas à vaga da ministra Ellen Gracie. Diversos setores da sociedade brasileira têm aproveitado o intervalo para fazer sugestões ao Ministério da Justiça e à presidência da República de candidatos de sua preferência, nem sempre da maneira mais republicana. A reivindicação mais urgente que um grupo de organizações da sociedade civil tem feito, no entanto, é pela criação de um processo de nomeação mais aberto e transparente. Algo central à democracia brasileira hoje e em plena conformidade com o ethos da Constituição de 1988." Garota nota 10 O Enem de 2011 ainda está sub judice. Não se sabe se todas as provas serão anuladas ou se apenas alguns alunos terão de refazer os testes. Os resultados dos concorrentes demorarão um tempo para serem divulgados. Mas uma coisa já é certa : a maior nota do exame deste ano quem tirou foi a ex-prefeita e senadora Marta Suplicy, concorrente à candidatura do PT à prefeitura de SP em 2012. Em segunda época Segundo especialistas em educação de diferentes matizes teóricos, a metodologia adotada nas provas do Enem é de excelente qualidade. Os desarranjos que o exame tem enfrentado não são, portanto, pedagógicos, têm outra natureza : programação, execução, fiscalização. Tudo temperado por uma dose de demagogia político-eleitoral. Como não desconfiar ? O governo continua assegurando - e o BC religiosamente acreditando - que fará um superávit primário (economia para pagar juros) sem fantasias este ano. Os números mostrados pelo BC, até setembro, sugerem que o governo já realizou mais de 80% da meta. Mesmo assim, analistas independentes têm suas dúvidas - sobre o nível e a qualidade dessa poupança. Dúvidas para quais o próprio governo contribui com coisas assim : - até setembro os investimentos estatais foram quase 3% menores que no mesmo período do ano passado. - a arrecadação este ano, em termos reais (ou seja, descontada a inflação) será ao redor de 12% superior à de 2010. - o superávit de setembro foi em boa parte engordado pelo aumento do recolhimento de dividendos pelas estatais. Radar NA REAL 28/10/11   TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA queda estável - Pós-Fixados NA queda estável Câmbio ² - EURO 1,3959 estável alta - REAL 1,6942 baixa estável/baixa Mercado Acionário - Ibovespa 59.514,09 estável baixa - S&P 500 1.285,09 estável estável - NASDAQ 2.737,15 estável estável (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável O acordo europeu I Nem se precisa comentar a complexidade da Europa quando se olha o resultado da reunião da União Europeia na semana passada, em Bruxelas. De fato, a única constatação objetiva é que a Grécia conseguiu grande parte de seu intento, qual seja, o desconto de sua dívida em 50%. Com isto a relação dívida/PIB do país gravitará ao redor de 85% o que ainda é alta, mas manejável. Cumpriu-se o que era necessário e que demorou pelo menos um ano para Angela Merkel pudesse agir. De outro lado, agora ficará mais evidente que as necessidades financeiras do Velho Continente são generalizadas e não tão localizadas. Não à toa, o pacote de sustentação do crédito bancário e soberano da UE já alcança 1,3 trilhão de euros e pode (deveria) chegar aos 2 trilhões. Portugal e Espanha nos parecem os casos mais urgentes de vez que em outro caso que está na UTI, a Irlanda, a possibilidade de contaminação do crédito imediata é menor. O acordo europeu II Os analistas e, especialmente, os investidores estão a especular e requerer das autoridades europeias os "detalhes" do acordo. Na ausência deles, o tal do "mercado" manda o seu recado por meio da elevação da volatilidade e a queda dos preços dos ativos. Ora, estes "detalhes" não são nada fáceis de serem divulgados por várias razões, sendo a principal o fato de que, não sendo a união monetária europeia uma "união fiscal", ainda não se sabe tudo sobre os "esqueletos" contidos nos armários dos governos dos países necessitados. No caso dos gregos, sua habilidade em esconder vem desde o famoso cavalo que levou à destruição de Tróia. No caso dos portugueses, espanhóis, irlandeses, belgas, franceses e alemães, a arte não parece tão desenvolvida, mas em compensação estes não gostam de enfrentar a verdade dos fatos como os velhos filósofos da Grécia. Assim, os "detalhes" vão demorar e o mercado pode continuar em sua própria arte do estresse. Apesar de tudo, mais otimismo Temos chamado a atenção de nossos leitores, em meio ao turbilhão de más notícias que temos assistido nos EUA e na Europa, que grande parte do ajuste dos preços e das economias europeias está consolidada o que, por sua vez, também indica que os próximos dois ou três anos devem ser duros. Todavia, do ponto de vista, strictu sensu, do mercado financeiro internacional é possível e, até mesmo, provável, que o pior já tenha passado. Como se sabe, os investidores devem se antecipar aos fatos e, neste contexto, não parece muito sábio que se continue a apostar na piora do cenário mundial. Vejamos alguns pontos desta visão na próxima nota. O novo ciclo econômico O emaranhado de números necessários ao diagnóstico econômico muitas vezes esconde quando ocorre o "ponto de mudança" dos ciclos das economias. Estes apenas ficam mais nítidos depois que ocorrem. Sem que cansemos você, leitor, com uma infinidade de números, queremos ressaltar alguns aspectos que sugerem que pode estar começando um novo e positivo ciclo na economia mundial : 1. O desemprego já beira números espetaculares o que indica que o ajuste macro e microeconômico já fez suas vítimas; 2. A situação fiscal está deteriorada, mas o risco para os investidores vai se reduzir, pouco a pouco, de vez que a atuação dos Estados vai dissipar os riscos privados; 3. Não houve nenhum processo contínuo de deflação. Ao contrário, já há evidentes sinais de inflação, o que paradoxalmente é um bom sinal no curto prazo; 4. As principais moedas do mundo, e aquelas que são periféricas, mas importantes como no caso do Yuan chinês, estão comportadas, sem que exista a "guerra cambial" de que tanto falou nosso titular da Fazenda; 5. Os preços dos ativos não indicam a existência de "bolhas especulativas" remanescentes em certos segmentos do mercado, como foi o caso do imobiliário por mais de uma década (ver nota abaixo, "O grande risco"); 6. Os fluxos de comércio estão prejudicados pelo aumento do protecionismo. Todavia, este não é um processo generalizado e não completamente sem cooperação internacional; Os aspectos acima apontados indicam que estamos em plena temporada de "exaustão" da crise. A gravidade inescapável do momento, contudo, não retira a substancial possibilidade de que esta "exaustão" não mais provoque ainda mais pessimismo, digamos, adicional aos agentes. Este é o ponto a ser seguido, sob pena de se olhar o futuro pelo retrovisor. Cenário brasileiro I Já comentamos neste espaço que a política monetária brasileira é o grande erro da estratégia econômica do governo. Não propriamente em função da queda (legítima) da taxa de juros básica, uma disfunção histórica. O que é mais perigoso é o governo apostar suas fichas monetárias na piora do cenário externo, a principal justificativa para a política de juros declinantes. A razão é simples e leva a um raciocínio curioso : se o cenário externo melhorar, a taxa de juros não cai ? Parece esquisito, não ? O governo deveria se ocupar em duas frentes mais complexas, porém mais consistentes : soterrar a alta dos preços domésticos (inflação) e ajustar as contas domésticas em termos de qualidade e resultados objetivos. Estas são as variáveis de risco para a taxa de juros. Cenário Brasileiro II A questão da atividade econômica é mais importante ao governo. De nossa parte achamos mais do que justa esta preocupação, mesmo que alguns observadores da cena econômica desconfiem de que o governo troca inflação por crescimento. Neste aspecto, o que dá para se verificar é que há dois problemas mais gritantes. O primeiro é que as expectativas estão se deteriorando mais acentuadamente que a lógica indicaria. E com a ajuda do governo soprando aos ouvidos do setor privado que a crise externa atinge o país em cheio. Nem tanto ao céu, nem ao mar : a crise é grave, mas o crescimento não deve ficar muito abaixo de 2% - 3% no curto prazo (2012). O segundo aspecto diz respeito aos investimentos públicos : estes estão carecendo de toda uma série de estratégias para incrementá-los, da qualidade da gestão à corrupção, bem como de uma inteligente associação entre o público e o privado. O governo neste item teria de dar um passo à frente. E um passo que seja sentido pela sociedade como decisivo. O grande risco Quando nas notas acima mencionamos que não há "bolhas especulativas" na economia mundial, excetuamos uma propositalmente : a China. Fala-se muito do gigantismo chinês e de seu vigor secular. Alto lá ! Este tipo de análise e percepção carece de elementar lógica por um motivo simples : em economia os recursos são escassos e limitados e os ciclos, mesmo que longos, existem. Ademais, há a própria China : trata-se de um país de capitalismo econômico com ditadura política, contradição esta que nem mesmo o velho Marx aceitaria desconsiderar. Parece muito teórico ? É este modelo que impede que se acredite na transparência dos dados (por exemplo, sobre o sistema financeiro), na estabilidade das regras, no apoio social de longo prazo e assim vai. Estes riscos são reais, mas ainda pouco aparentes no cenário. Podem surgir no horizonte e tornar o dragão econômico num tormento mundial. ____________
terça-feira, 25 de outubro de 2011

Política & Economia NA REAL n° 175

Cristina Kirchner Argentina : a vitória A vitória espetacular da presidente argentina, com mais de 53% dos votos, e superior à eleição de Raúl Alfonsín (51%), o primeiro presidente após a ditadura militar instalada em 1976, pode ser considerada "esperada", mas incorpora significados que merecem melhor análise. Vejamos : 1) Cristina Kirchner, enfim, se tornou um animal político completo, dotado de legitimidade formal e simbólica. Não é mais a sombra do marido morto. Ele é sua sombra. 2) O plano de conquista do poder foi construído de forma consistente. Embora os "analistas políticos" prefiram avaliar sua vitória à vista de modelos teóricos e republicanos, a verdade é que Cristina foi pragmática e focou seus esforços políticos dentre aqueles que têm votos e necessidade básicas, os 30% da população que vivem abaixo da linha da miséria. 3) A elite rural argentina persiste com o poder econômico, mas seus interesses maiores estão além das fronteiras. E essa elite não foi capaz de ter a decisiva influência que historicamente teve. Ao contrário, viu-se acuada e sem discurso. 4) Distribuição de renda, depois de tantos anos de concentração, é politicamente mais importante que construção de renda. E consumo crescente pesa mais que investimento, quando o assunto é eleição. 5) Oposição que não tem projetos econômico-sociais inclusivos não consegue se estabelecer perante a opinião pública. Não à toa, o Partido Radical foi quase destruído. 6) Imprensa livre é essencial, mas pouco conta num cenário onde prevalece o populismo. Rigorosamente estes aspectos não diferem de outros que podem ser coletados em diferentes sociedades para explicar uma vitória tão significativa. Cristina Kirchner Argentina : os riscos Não devemos, a despeito da constatação da imensa vitória de Kirchner, relutar em reconhecer os igualmente imensos riscos da vitória política. Vejamos : 1) O fato de Cristina ter se tornado mais, digamos, "independente" de seu marido morto, a tornará mais desprotegida em termos simbólicos e ideológicos. É preciso deixar de ser "a esposa" e passar a ter brilho próprio. 2) Eleitores mais pobres são menos politizados e para mantê-los sob o manto peronista será necessário continuar a atendê-los em suas ambições psicossociais e econômicas. Isto demandará recursos públicos, sabidamente gerados no setor privado. Caso contrário, o desequilíbrio orçamentário resulta em inflação e perda de renda, sobretudo para os mais pobres. 3) A Argentina é um país muito mais subdesenvolvido que o Brasil no que tange à industrialização. Com efeito, o surgimento de novas "elites" depende de planos nos quais o populismo é uma restrição, não uma alavanca. 4) O Estado pode apenas "criar" recursos em regimes inflacionários. O processo de acumulação de capital é condição inerente e essencial para a distribuição da renda. Este dilema intertemporal será cada vez mais urgente à Cristina e seu projeto político. 5) Um país sem oposição crível do ponto de vista intrínseco (ideologia e projetos) e extrínseco (apoio popular) é caminho para o perigoso ambiente de "vazio político" o qual já ocorreu de forma acentuada na história latino-americana e argentina. Assim, a alternativa ao populismo acaba por ser o próprio populismo. 6) A tentativa explícita de Cristina Kirchner de "enquadrar" e restringir a atuação da imprensa (mídia) favorece a um perigoso oficialismo sem fiscalização e sem crítica social. Uma tragédia contra a democracia que retira da própria Cristina sua legitimidade recém-conquistada. Como se vê, entre os riscos do governo e a constatação da vitória, o pêndulo da análise cai mais para a preocupação que para a comemoração. Some-se a isto o fato de que tudo isso ocorre num ambiente internacional desfavorável às commodities que a Argentina exporta. Triste sina para a República se algo de grave ocorrer lá no sul. Brasil e Argentina : além da doçura Cristina Kirchner considerou os cumprimentos pela vitória da presidente Dilma como "doces palavras". Cabe bem à retórica diplomática, doces palavras, quando se tem uma parceira tão importante como a Argentina. Todavia, a presidente brasileira deveria se socorrer aos dados colecionados pelo Itamaraty e pela Fazenda e estabelecer alternativas estratégicas em relação a tão importante parceria. Por dever de ofício, diplomatas e técnicos da Fazenda deveriam perguntar o que ocorreria se algo der muito errado por lá e quais os efeitos aqui. Os sintomas não são nada bons. Toda vez que a Argentina tem uma dificuldade externa e interna, a primeira reação é restringir as vantagens competitivas do Brasil no Mercosul e proteger suas fronteiras nacionais da entrada de produtos nacionais. A Argentina está longe de ser um país inimigo e igualmente distante de ser um país confiável do ponto de vista de suas relações externas. Assim, o interesse em relação à Argentina deve ser de Estado. Dilma e seu dilema Se Cristina Kirchner teve um esposo falecido a conformar sua nova estatura política, a presidente Dilma tem um ex-presidente a lhe limitar sua ação, não apenas política, mas administrativa. Infelizmente, no Brasil, ex-presidentes não são apenas "referências políticas". São agentes da ação política. FHC ainda é o maior líder da oposição fruto da ausência de lideranças capazes de arregimentar forças sociais. Lula é um caso ainda mais grave : considera o governo atual como área de manobra para seus óbvios planos políticos. Não precisa a presidente brasileira esgotar os fundamentos da lógica aristotélica para saber disso. Basta atender as ligações telefônicas de Lula. A mudança do ministério do atual governo é o fator político mais simbólico que pode dar à atual ocupante do Planalto a legitimidade que ainda lhe falta e lhe é essencial. Vejamos a continuação da crise nos Esportes. Orlando resiste Do ponto de vista stricto sensu, não há mais razão para que o atual ministro dos Esportes permaneça na cadeira. Mais que credibilidade, falta a Orlando Silva condições para implementar políticas públicas. Todavia, as movimentações políticas enquadraram o ministro numa situação na qual ele acaba por (i) catalisar o desejo da classe política em manter o atual status quo da base aliada, (ii) herdar a gratidão do atual governo à fidelidade dos comunistas ao anterior e (iii) não permitir que o lamaçal esportivo acabe por dragar o governador brasiliense Agnelo Queiroz. Há outras razões importantes (Copa do Mundo, por exemplo) que explicariam o emaranhado de interesses na manutenção de Silva, mas estas são paradoxalmente menos importantes, por ora. O que fará Dilma ? Vejamos a próxima nota. Dilma desiste ? A presidente sabe que sua popularidade e o capital próprio que arregimentou decorrem da chamada "limpeza ética" que tenta promover na Esplanada. Ora, tomado este fato como premissa, a presidente não poderia hesitar em assinar a demissão de Orlando Silva. O problema é que, ao contrário de outros demitidos, o atual ocupante dos Esportes e seu minúsculo PC do B são capazes de mexer com os pilares do PT. Sabe-se que a presidente não é muito querida do partido de Lula, e isso pode se transformar em mais um agravante para a condução do governo e a relação com o petismo. Com este tipo de equação política a vigorar nos arredores do Planalto, Dilma vê-se mais constrangida. Ainda mais quando se liga a TV e vê-se o desfile de discursos dos comunistas cerrando fileiras em torno de Orlando Silva. A despeito de tudo isso, a presidente terá de agir e tentar sair desta com uma feição cada vez mais própria ou ceder à permanência da condição de "herdeira de Lula". Não há ação sem custo para Dilma. Panamericano : fatos à tona, personagens à deriva Por diversas vezes nesta coluna chamamos a atenção de nossos leitores para os estranhos fatos que marcaram a compra do Banco Panamericano pela CEF. Agora, sabe-se que o surpreendente prejuízo de mais de R$ 4,3 bi - muito além dos R$ 2,5 bi inicialmente informados - é um dado do escândalo. Há uma teia de acontecimentos que vão das perigosas relações do ex-banco de Sílvio Santos com os fundos de pensão via líderes e tecnocratas petistas (Luiz Gushiken, sobretudo) até a "vontade de não contrariar Guido Mantega" na nomeação de Demian Fiocca, ex-BNDES para a diretoria do Banco. As revelações são da colunista da Folha de S.Paulo Renata Lo Prete. Não é necessário ter faro de policial para se imaginar as várias e vastas implicações destas revelações. Há apenas uma pequena ponta do iceberg à vista ou será uma "enorme corrente de enriquecimento ilícito". Talvez até Sílvio Santos queira saber o que havia no baú... Radar NA REAL 21/10/11   TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA queda estável - Pós-Fixados NA queda estável Câmbio ² - EURO 1,3938 estável alta - REAL 1,7568 baixa estável/baixa Mercado Acionário - Ibovespa 55.255,28 estável baixa - S&P 500 1.238,25 estável estável - NASDAQ 2.637,46 estável estável (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável Europa reunida Até o fechamento desta coluna, na noite da segunda-feira, o encontro dos principais líderes europeus em Bruxelas ainda não tinha chegado a nenhuma conclusão definitiva sobre os caminhos que a UE tomará para evitar o colapso financeiro do Continente. A despeito da falta de uma conclusão definitiva, os sintomas são positivos. A começar pelo reconhecimento de que o European Financial Stability Facility (EFSF) precisa ser substancialmente incrementado para algo como 1,5 trilhão de euros. Neste ponto, finalmente a chanceler Angela Merkel aceitou lutar no Parlamento Alemão para que o país participe do esforço europeu. Neste contexto, não apenas a Grécia se beneficiaria do maior apoio financeiro necessário à estabilização do país, mas todos os outros que estão a se esconder atrás do país balcânico. Um passo gigantesco se considerarmos a postura da Alemanha até pouco tempo atrás. Mercado pode melhorar Quase sempre é muito difícil definirmos com mais precisão o momento pelo qual passa o mercado. Nos últimos meses temos expressado nosso pessimismo em relação ao andamento dos mercados globais, em geral, e o brasileiro, em particular. De fato, a conjuntura internacional piorou significativamente e os riscos instalados de forma mais aguda em 2008, acabaram por recrudescer em 2011 de forma novamente aguda. A crise financeira europeia e a letargia da atividade econômica nos EUA são os aspectos mais gritantes da perigosa crise estrutural que vivenciamos. Pois bem : os preços dos ativos, sobremaneira os dos mercados acionários, caíram ao longo dos últimos meses. Como sabemos, os investidores se antecipam aos fatos e precipitam os movimentos de alta e baixa. O pessimismo se consolidou, desta forma. A despeito da conjuntura atual, gostaríamos de recomendar aos nossos leitores que não apostem numa piora significativa do mercado daqui para frente. Há razões para acreditarmos que os mercados estejam passando por um momento de reavaliação. Assim, a volatilidade acentuada pode estar refletindo mais esta reavaliação que o agravamento do pessimismo. Poderemos ter uma conjuntura mais favorável à frente. Nas próximas semanas iremos explorar mais este importante tema. Por enquanto, o recado é : não aposte na piora do mercado. Banco Central : como previsto Não houve surpresas na ação do BC na semana passada em relação à taxa de juros básica. A redução de 0,5% era esperada e os agentes estão mais atentos em relação à inflação dos próximos meses. Uma coisa é certa : a atividade econômica está apresentando fraqueza, possivelmente maior que a esperada pelos agentes. Todavia, não sabemos ainda se esta queda da atividade trará efeitos significativos sobre a inflação. As expectativas serão determinantes no andamento dos preços. Além da taxa de câmbio. Política industrial O governo está cada vez mais protecionista quando o assunto é importações. A maior preocupação é com os chineses e sua máquina de competição (leal e desleal). As medidas restritivas em relação aos veículos importados sofreram um revés momentâneo em função do prazo legal que tem de ser cumprido, mas uma o animus do governo continua o mesmo : a competitividade da indústria é fator político e econômico sensível e a Fazenda cumprirá a agenda de restrições de importações. Há muitos problemas neste tema, mas um é geral : falta ao governo uma estratégia industrial que melhore a percepção dos agentes de que o protecionismo atende a certos interesses paroquiais e não ao interesse coletivo. Alem do mais, é preciso combinar com o Itamaraty o que está sendo feito. Afinal, tudo pode acabar em demandas internacionais na OMC. Justiça : questão de competitividade Os magistrados brasileiros estão a discutir suas questões que envolvem o CNJ, além de outras tantas questões relativamente à transparência do Judiciário. Seria interessante que também fosse avaliado pelos líderes do Judiciário a questão da competitividade brasileira quando o tema é acesso à Justiça. A demora nas decisões, as complicações burocráticas e a falta de eficiência dos juízos e tribunais é questão vital para os agentes econômicos daqui e de lá de fora. Por que não estudar o tema ? ____________
terça-feira, 18 de outubro de 2011

Política & Economia NA REAL n° 174

Semana importante No próximo final de semana os líderes da União Europeia definirão as principais medidas de política econômica que balizarão o "resgate" do Velho Continente. Não será um "fim de semana da Grécia", como certos analistas vivem a apregoar. De fato, a Grécia não é mais a "ponta de um iceberg". É apenas uma modesta representação da crise de crédito de todos os países da Europa Meridional somada à Irlanda, o primeiro dos países a apresentar sinais de exaustão de credibilidade. Há razões objetivas para certo otimismo. Destacamos duas : (i) finalmente, os países europeus se conformaram com a ideia de que a crise é bem maior que a vocação alemã para tratar assuntos continentais e (ii) o tamanho do pacote de recursos para resgatar a credibilidade soberana e bancária - estima-se em algo como dois trilhões de euros. Reação do mercado Foram as informações sobre o resgate europeu que lideraram a onda de boas notícias nas últimas duas semanas. Como sempre, o mercado reagiu às expectativas. Resta saber o quanto a reação dos preços dos ativos realmente tem consistência com os fatos (presumidamente verdadeiros). De toda a forma, não há razões para se apostar contra e acreditar que não há algo de novo no front. O pacote, desta vez, é consistente. Se a leitura dos agentes for negativa em relação àquilo que for divulgado no próximo final de semana, teremos um cenário muito piorado, pois o esforço fiscal que está sendo feito é gigantesco. Grécia : Eureka ! Há aqueles que jocosamente dizem que a Grécia venderá suas belíssimas ilhas para salvar o país. Piada de gosto duvidoso sobre aquela que sedia a origem da civilização ocidental. Ademais, apenas os que desconhecem a história grega e os gregos são capazes de tão imenso mau gosto. De fato, erros grosseiros foram cometidos pelo governo helênico. Não cabe aqui relatá-los. Todavia, submeter um país a uma taxa de desemprego equivalente à da grande depressão pós-29 nos EUA e fazer com que uma geração inteira perca a esperança, somente policy markers localizados em Berlim ou Frankfurt podem imaginar que vai dar certo. Pois bem : finalmente se descobriu (eureka ?!) que a dívida grega é impagável e é preciso impor perdas não aos tesouros de cada país da Europa, mas também aos investidores irresponsáveis. À Grécia o sofrimento já sobra. Brasil, de novo o Copom Esta coluna sempre apoiou a queda da taxa de juros básica, injustificável lenda construída por décadas. Todavia, já alertamos os nossos leitores sobre o quão mal feita foi a introdução da estratégia governamental para reduzi-la, no exato momento em que se desconfia que a inflação caminha além do devido controle. Além disso, falta ao governo uma estratégia abrangente que envolva não apenas a política monetária, mas especialmente a política fiscal e as reformas do Estado. Pois bem : nesta quarta-feira deve vir mais queda da taxa básica de juros. Não será surpresa quando consultamos o oráculo do mercado. É certo que a atividade econômica se reduz e numa velocidade considerável. Reflexos do que ocorre lá fora, mas também fruto da falta de competência doméstica. Esta queda da atividade justificará a ação do BC. Silente ou evasiva será sua visão sobre a inflação. A taxa de câmbio Cai o real, mas nem tanto. Pode até valorizar no curto prazo. Os investidores, contudo, estão a observar a queda das commodities no mercado internacional e, neste item, não somente o ritmo preocupa, mas também os efeitos colaterais no médio prazo. Ainda mais com a China colecionando riscos que afloraram mais à frente, especialmente a falta de higidez do sistema financeiro e a inflação que campeia o país comunista. Repete-se até exageradamente que "não há almoço grátis". Verdade. O problema é que no Brasil o almoço está mesmo é caro e os seus efeitos políticos virão. Com a correção feita pelos eleitores que nas urnas depositam suas esperanças e decepções. O real é, a nosso ver, o maior risco para a política econômica do Brasil. Assunto pouco comentado, mas quando entrar na pauta vai levantar poeira. Bolsa de Valores : dúvidas Em conversa com um administrador de carteiras norte-americano ouvimos a seguinte pergunta : por que um investidor deveria pagar preços tão mais altos por ações brasileiras ? Esta questão foi feita em função de uma análise do investidor que mostra que o PIB do país não irá crescer tanto a ponto de justificar os preços das ações de empresas brasileiras. Além disso, continuou o raciocínio, "quando visito o Brasil vejo que os controladores do capital das empresas estão sedentos para vender suas posições. Ora, porque um investidor de mercado deveria comprar quando os donos do capital vendem ?". Wall Street ocupada Espalha-se o movimento surgido nas ruas da capital financeira do globo. Vai se espalhando pelos EUA e ao redor do mundo. Nada mais natural verificarmos que sociedades organizadas questionem o caminho do próprio dinheiro, aquele que sai dos cofres públicos na direção de instituições que faliram por força da irresponsabilidade de seus gestores endinheirados. Se esta constatação é factual, de um lado, de outro ainda não sabemos se as ocupações de ruas e praças resultarão na politização necessária para transformar a política. Até agora, a tradução dos fatos para as ações políticas não aconteceu. Na última semana, até o latin lover Berlusconi conseguiu sobreviver ao voto de confiança do parlamento italiano. Na França, Nicolas Sarkozy lidera as pesquisas para a eleição de 2012. Na Espanha, Zapatero finge que a crise não chegou. Na Alemanha, Angela Merkel deita e rola no parlamento e apenas apanhou nas eleições municipais. E assim vai. Ao que parece os efeitos maiores cairão sobre Obama que, além das esperanças iniciais de sua gestão, mostrou que é uma figura pálida e híbrida : mistura discursos de Bush com os de Martin Luther King e acaba gestando políticas de Jimmy Carter, o georgiano que deixou a economia dos EUA de pernas para o ar. Radar NA REAL 14/10/11   TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA queda estável - Pós-Fixados NA queda estável Câmbio ² - EURO 1,3760 estável alta - REAL 1,7520 baixa estável/baixa Mercado Acionário - Ibovespa 55.030,50 estável baixa - S&P 500 1.224,58 estável baixa - NASDAQ 2.672,96 estável baixa (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável Deve-se levar a sério Orlando Silva (I) Orlando Silva, não este patético ministro de Dilma, mas "o cantor das multidões" (1915-1978), cantava na música Tristeza : Esta será a última cançãoQue cantarei ao me despedirDepois verás entãoEm breve eu partirPara não ver em vãoO teu sorrir. Esta música cai com perfeição nos lábios de boa parte da classe política. Sobretudo, para o PT e o PMDB, ávidos não apenas pelo poder nas bordas do governo, mas também de olho nos volumosos recursos que a Copa e as Olimpíadas despejam no ex-micro ministério. Neste ponto, valerá apreciar os passos presidenciais. A presidente Dilma, ansiosa em dar um choque de gestão sobre as obras esportivas, pode cair na tentação de tornar o cargo mais, digamos, tecnocrático. Isso pode significar um reequilíbrio de forças dentro do governo com efeitos bem além deles. Deve-se levar a sério Orlando Silva (II) Um dos efeitos mais prováveis, caso a presidente tome outro rumo que não seja colocar um político do PC do B no lugar de Orlando Silva, será em relação ao jogo de poder que envolve o todo poderoso Ricardo Teixeira e o silencioso presidente do Comitê Olímpico Brasileiro, Carlos Arthur Nuzman. Este dois personagens exercem certas tarefas como se governamentais fossem e contavam com algo mais que simpatia do quase ex-ministro. Portanto, aqueles que acompanham não apenas fatos, mas tendências, devem apreciar com especial carinho os próximos passos da presidente Dilma "Limpeza ética" A presidente Dilma vem fazendo um louvável esforço para colocar certos pingos nos "is" quando o assunto é corrupção. Como herdeira dos votos de seu antecessor, não é tarefa fácil. Ao mesmo tempo em que a "limpeza do governo" lhe dá credibilidade, o que é fator de legitimação política, de outro lado a presidente se descredencia perante Lula e seu (imenso) grupo de acólitos. Ora, se a presidente prosseguir em seu esforço de higiene política, a aliança do governo tremerá de novo e, aí, não apenas Temer, Sarney, Dirceu e cia. terão de ser chamados, mas também os candidatos das próximas eleições, os quais ficam bem sensíveis em relação à obtenção de apoio político de seus parceiros que anseiam o poder municipal. Um risco que a presidente terá de correr se quiser seguir com sua imagem ética. Esquerda brasileira Muitos temeram a esquerda brasileira no governo. Há ainda os que a temem. Convenhamos : nada mais fora de esquadro. Do ponto de vista ideológico, resta-nos poucos comentários de vez que chega a ser risível imaginarmos um governo que possa convocar o marxismo real do século XX como elemento de transformação sócio-político. Do ponto de vista econômico, o que podemos ver é um quadro feliz de convivência dos esquerdistas com os antigos e modernos burgueses (na falta de melhor palavra). À esquerda brasileira no poder falta é caráter na acepção macunaímica do termo. O PC do B de Orlando Silva é daqueles partidos que pregaram o marxismo de Enver Hoxha - para quem não sabe, foi um ditador da Albânia - e acabaram se complicando com acusações de recebimento de dinheiro em garagens. Nada mais esquisito, para dizer o mínimo. Tão esquisito como ver o ex-guerrilheiro José Dirceu como lobista, o ex-trotskista Antonio Palocci como colecionador de milhões com duvidosas consultorias. Sinceramente... Nome do PC do B Aldo Rebelo, ex-candidato ao TCU, um esquerdista de velha cepa, será lembrado para o lugar de Orlando Silva, seu companheiro de lutas comunistas. Se Dilma mantiver o status do partido no governo, é claro. Comportamento de Celso Amorim De um general conhecedor das coisas que acontecem nas casernas : "Celso Amorim é um excelente ministro da Defesa. Sabe brigar silenciosamente pelas verbas para reequipar as forças armadas e não gosta de vestir roupa de general". Nelson Jobim não deixou saudades nas fileiras militares. Política paulista Convenhamos que não parece sério que um deputado estadual, no caso Roque Barbieri, faça denúncias sobre propinas na liberação de verbas do governo paulista, que o PSDB evite uma desconfortável CPI na Assembleia Legislativa, e, ao mesmo tempo, pregue investigações do governo Federal nas Casas Legislativas Federais. Falta mais do que coerência. Falta vergonha. Kassab e os infelizes A pesca do prefeito paulistano continua. Tenta, de um lado, atrair Alckmin para sua banda na eleição municipal e, ao mesmo tempo, flerta com Dilma de olho na provável reforma ministerial no início de 2012. Não bastasse o contorcionismo político, há uma proposta de Assembleia Constituinte para reformar a atual e não muito velha Constituição e, ainda, reserva espaços para o ex-banqueiro Henrique Meirelles nas suas fileiras. Pois bem : com tudo isto não será surpresa que o PSD chegue à eleição de 2014 com grandes chances de ser de fato o fiel da balança de muitos candidatos a cargos majoritários. Não são poucos os infelizes em seus respectivos partidos. Se o governo falhar na política econômica, a coisa pode ficar ainda mais favorável ao PSD de Kassab. Argentina : sob a benção das urnas A mais que provável eleição de Cristina Kirchner no próximo domingo na Argentina é daqueles acontecimentos que não apenas suscitam temores, mas também ressuscitam fantasmas. Estruturalmente, os riscos econômicos do país são consideráveis, sobretudo em relação à inflação, à política cambial - esta, estratégica para o Brasil - e à falta de investimentos privados e públicos. Falta, porém, alternativa popular para o projeto de Kirchner. A oposição patina sem programa e os empresários temem retaliações. Estes são os temores. Já os fantasmas são bem reais : o controle da mídia, marcado por uma espécie de "peleguismo", e o populismo que destruiu o projeto nacional desde Péron. Do lado do Brasil deveríamos nos preocupar com o que o Itamaraty acha de tudo isso, afinal estamos a falar do mais inquieto dentre os grandes parceiros econômicos do Brasil. ____________ A coluna Política & Economia NA REAL, integrante do portal Migalhas (www.migalhas.com.br), é assinada por José Marcio Mendonça e Francisco Petros. Se você deseja compartilhar gratuitamente estas migalhas, verdadeiras pílulas de sapiência, com algum amigo, alterar seu e-mail, ou cancelar o envio, clique aqui. ____________
terça-feira, 11 de outubro de 2011

Política & Economia NA REAL n° 173

A guerra da inflação no "dilmismo" É preciso entender o jogo político do governo e da presidente Dilma para compreender o real movimento de ataque à inflação que está em gestação : 1. A presidente não pode ser alijada dos palanques eleitorais por causa da economia, problemas com emprego e renda. 2. Os aliados não podem perder substância, ou seja, a oposição tem de ficar como está ou diminuir para não se assanhar em 2014 e ganhar reforço no Congresso a partir do ano que vem. 3. Os parceiros não podem ficar sozinhos, donos das vitórias governistas. Se essas condições contrárias se realizarem, a força presidencial esmorece e ela passa a dividir - se não perder - o embate político para terceiros. Fica em xeque em 2014. Dilma pode até não pensar em outro mandato, o que seria inacreditável, mas precisa manter-se em condições de disputar para ser dona da decisão. Tem de evitar o envelhecimento precoce de seu governo, agora que está conseguindo livrar-se de alguns fantasmas - reais e imaginários - de tutelas e dependências. Assim, a política econômica está subordinada, salvo desastres, a não provocar turbulências no ano que vem. Em Bruxelas, semana passada, ela deu o recado : "Dificilmente se sai da crise sem aumentar o consumo, o investimento e o nível de crescimento". A inflação é uma questão política neste momento brasileiro.   No fio da navalha O desafio das autoridades econômicas é definir qual o tamanho da inflação cabe no bolso dos eleitores preferenciais de Dilma, do PT e da nova classe média. Um indicador pode ser as greves que começaram a pipocar. A calmaria sindical com Lula começou a se agitar sob Dilma. Ato falho ? O BC, com Alexandre Tombini à frente, em coro com todo o governo, tem assegurado que levará a inflação para o centro da meta, de 4,5% até o fim de 2012. Pois bem ! Em entrevista à "Folha de S.Paulo" de domingo, quando perguntado qual o Brasil espera deixar quando terminar o seu mandato no BC, saiu-se com esta : "Uma inflação estabilizada, na faixa de 4,5% (...)". O mandato dele termina, em tese, em 2014. Nenhum aperto anti-inflacionário maior até lá ? Tombini, em outros tempos, já foi favorável à redução da meta de inflação atual. E a meta de inflação ? Com a divulgação do IPCA na semana passada, a inflação "oficial" (para fins de estabelecimento da meta de inflação) está em 7,31% nos últimos doze meses. Bem acima daquilo que se julga, digamos, razoável. De outro lado, ainda não estão sequer parcialmente incluídos os efeitos da recente alta da taxa de câmbio. Seria uma irresponsabilidade operar "no limite" da inflação numa espécie de torcida para que esta caia. Isto não é autoridade monetária, é loteria. Da entrevista do presidente do BC o que se extrai é quase nada de estratégia para resgatar um nível de variação de preços mais modesto. Ora, esta forma de agir de Tombini e seus companheiros de BC afetará não apenas a economia, mas a própria credibilidade institucional da autoridade monetária. Inflação chinesa Há problemas de inflação por aqui, mas na China a coisa é mais séria e indica claros problemas mais à frente. A inflação por lá ameaça ir para 10% ao ano (como aqui) e a taxa de juros é negativa em termos reais. Há poucos dados confiáveis, mas a crença de que existe uma "bolha imobiliária" no país está crescendo. Além disso, há sinais mais consistentes dando conta de uma desaceleração no setor industrial. Não à toa, a bolsa de Xangai está em queda e os investidores, discretamente como convém ao lidar com um país comunista, estão vendendo posições. Este é um risco que ainda não surgiu no horizonte concreto das análises. Todavia, se a China se tornar um risco, o mundo tremerá. Como previu Napoleão Bonaparte há mais de dois séculos. Europa : a primeira solução A nacionalização do Dexia, o maior banco belga, é uma boa notícia num contexto desastroso na Europa. Pela primeira vez a dupla Merkel-Sarkozy agiu com pragmatismo e, de resto, ainda prometeu mais medidas consistentes até o final do mês para resgatar o euro. Ao que parece, a chanceler alemã entendeu os sinais dos eleitores que a derrotaram recentemente nas eleições regionais e se rendeu ao fato de que a Alemanha está na Europa. Uma lição que Merkel tinha se esquecido. Não dá para prever o grau de profundidade das medidas que virão ao final deste mês. Todavia, não vale a pena "apostar contra". A hora, para os agentes em geral e os investidores em particular, é de observação. Com algum otimismo, diga-se. Não é apenas a Grécia... Ultimamente os analistas tratam a Grécia como "o problema" da Europa. De fato, o país está sufocado pelas dívidas. Todavia, vale a lembrança de que a Bélgica que nacionalizou o Dexia e é uma "queridinha" das agências classificadoras de risco é o terceiro país mais endividado da Europa. Volcker e o essencial Paul Volcker, ex-presidente do Fed, é daqueles homens públicos que sabem exercer sua missão. Muito embora bem conheça e tenha ótimo trânsito no setor privado, ele não se escusa de sua missão pública. A norma que leva seu nome proíbe que os bancos norte-americanos assumam riscos utilizando-se de seu próprio capital, as chamadas operações de tesouraria. Agora os bancos estrangeiros que atuam nos EUA também devem se enquadrar à norma. Volcker toca naquilo que é essencial no controle de riscos sistêmicos : são os conflitos de interesses entre as operações proprietárias dos bancos e suas tradicionais operações de intermediação os maiores propulsores dos colapsos financeiros. O resto é consequência.... Por que não no Brasil ? O BC e o governo brasileiro bem que poderiam apertar as regras das operações de tesouraria dos bancos locais e estrangeiros. Ou será que por aqui jamais pode acontecer o mesmo que ocorreu nos EUA ? CNJ e a economia Reza uma das máximas da teoria de finanças que a eficiência informacional é essencial para o bom funcionamento dos mercados. Esta é uma ótima lição para o Judiciário brasileiro por em prática. Ao ser muito transparente e atuante nas punições ao "mau funcionamento do mercado judicial", o CNJ estaria contribuindo decisivamente para o aumento da segurança jurídica e para a melhoria dos procedimentos judiciais. Isso é parte essencial da modernidade necessária ao país e mais : é razão para o aumento da produtividade de toda a economia que, na área judiciária, pena nas filas imensas dos cartórios dos fóruns e Tribunais. Radar NA REAL 7/10/11   TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA queda estável - Pós-Fixados NA queda estável Câmbio ² - EURO 1,3654 estável alta - REAL 1,7489 baixa estável/baixa Mercado Acionário - Ibovespa 51.243,64 estável baixa - S&P 500 1.155,46 estável baixa - NASDAQ 2.479,35 estável baixa (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável Notas do Butantã Federal Anotações, do mesmo teor, de observadores do ofidiário de Brasília : 1. O vice-presidente foi extremamente mais discreto na substituição de Dilma nas recentes viagens dela aos EUA e à Europa do que havia sido em suas interinidades anteriores. 2. Lula, de público, está mais voltado para as coisas do PT e das eleições municipais e bem menos "observador" das questões Federais. 3. O alter ego ex-presidencial, ministro Gilberto de Carvalho, também tomou um chá de boca fechada. Pausas e silêncios Os partidos políticos aliados, de repente, acomodaram-se em suas reivindicações públicas. Ministros, a não ser os que parecem autorizados, falam cada vez menos e quase sempre em questões bem específicas. Instalou-se no poder certo temor reverencial à presidente. Ainda mais que ao que se especula a reforma ministerial deve ser mais ampla do que se imagina. Uma estratégia para Lula ? O ex-presidente está empenhado em montar o máximo de alianças possíveis no ano que vem entre os partidos da coalizão de apoio à Dilma. Cobra sacrifícios duros do PT em nome da unidade da aliança governista para 2014. Nem todos estão felizes com isto dentro do PT. As eleições para prefeito são determinantes para as eleições na Câmara e nas Assembleias Legislativas. O temor de alguns petistas é dar espaço para outros aliados. No RS há clima de quase insurreição. Na ótica de petistas mais críticos, para a eleição presidencial a estratégia parece perfeita. Para o resto, nem tanto : nem tudo que é bom para Lula pode ser bom para o PT. Mas como o partido pode reagir se sabe que sem Lula perde a identidade ? Aécio abre o jogo Ao abandonar a prudência mineira e se apresentar, em duas entrevistas seguidas, como candidato a candidato à presidência da República por seu partido, o PSDB, o senador faz um lance em três direções : 1. Tenta atrair seu principal concorrente, José Serra, para o centro da liça logo agora, no meio do debate das eleições municipais, nas quais, em São Paulo, o ex-governador paulista é parte diretamente interessada, queira ou não. 2. Procura se firmar como principal foco de oposição, ainda que moderada, ao governo Dilma. 3. Obriga o PSDB a sair da modorra em que se encontra e começar a se preparar para os embates de 2012 e 2014. Como partido, o PSDB não tem nenhuma estratégia geral para essas eleições. Cada cidade e cada grupo tem a sua. Não há agenda, não há planos, não há pauta. Kassab atropela. E pode ser atropelado. A conquista da adesão do ex-presidente do BC, Henrique Meirelles, para o PSD em São Paulo, embora ele pessoalmente não tenha votos, mostra que o prefeito Gilberto Kassab está jogando alto com seu novo partido. Em que direção, ainda não se sabe, pois ele já acenou com possível aliança com Dilma, fez mesuras ao PSDB e tem feitos outros sinais para outros partidos. Sua tática inicial parece ser a de confundir e dividir para tentar reinar. Tanto aparece nas especulações como futuro ministro de Dilma quanto como alguém que pode compor com Geraldo Alckmin. Está atropelando, inclusive o presidente Lula : Meirelles é uma espécie de Haddad de Kassab como Haddad pode ser uma espécie de Meirelles de Lula. Vão correr na mesma faixa. E pode esvaziar o PMDB com Chalita. Falta, no entanto, combinar com o eleitor. O maior problema de Kassab O problema maior de Kassab com o PSD não é conseguir adeptos - ele já demonstrou que sabe agir. O mais urgente é garantir um tempo maior na televisão além de um minuto a que tem direito todos os partidos inscritos legalmente no TSE. Sem esta arma, pode ir mal em 2012 e perder densidade política e eleitoral. Ou então terá de se sujeitar a outros partidos para ter espaço e fazer prefeitos e governadores. Como pensar em ganhar, por exemplo, na capital paulista, mesmo com a figura respeitada de Henrique Meirelles, com cerca de 50 segundos de propaganda no rádio e na televisão para dividir também com os candidatos a governador ? A verdadeira batalha judicial para a existência real do PSD vai ser travada no TSE quando o partido pedir para ele o tempo dos deputados Federais que conquistou. ____________
terça-feira, 4 de outubro de 2011

Política & Economia NA REAL n° 172

Dilma popular, políticas em xeque Surpreendeu, causou ciúmes e desgosto o resultado da última pesquisa de opinião realizada pelo Ibope por encomenda da CNI na qual a popularidade da presidente Dilma subiu em relação aos números de julho e já é melhor que a de Lula. O próprio Planalto foi surpreendido e, embora tivesse suas pesquisas para consumo interno, não tinha segurança quanto as repercussões das histórias de corrupção na imagem da presidente e do governo. Causou ciúmes em quem se julga monopolista da popularidade no Brasil. Seus adeptos não passarão recibo. Porém, não comemoraram. 2014 é um horizonte que mais divide do que aproxima. Já a oposição... A popularidade da presidente produziu desgosto na oposição. Ela que apostava - e só apostava nisto ! - no desgaste do governo por causa da avalanche de ministros demitidos, descobriu que precisará sair em busca de novos discursos e ações se não quiser se tornar mais irrelevante do que já está hoje. Noves fora esta maravilha para os dilmistas, a pesquisa traz números preocupantes em relação às políticas oficiais. Dois pontos principais : o descontentamento com a política de saúde, sobre a qual o governo "tergiversa" e deixa se envolver numa discussão extemporânea sobre falta de recursos e as preocupações com a volta de inflação, em torno da qual o BC anda passivo. A lição é simples : não há governo popular no longo prazo com políticas que afetam a população e também geram apreensão. A "faxina" dá louros temporários. As políticas públicas cobram votos. Economia e popularidade Já analisamos nas colunas das últimas semanas a influência da crise externa sobre o Brasil. Bem como as preocupações com a inflação crescente. O dado mais incerto de qualquer análise, contudo, diz respeito aos efeitos que uma menor atividade econômica e maior inflação terão sobre a popularidade e se a presidente estará habilitada para trocar "popularidade no curto prazo por popularidade no longo prazo". Explicamos : necessitará de ajustes na política econômica expansionista ora em vigor. O emprego ficará mais raro e o poder de compra mais restrito. A presidente saberá operar este cenário sem olhar a toda hora para as pesquisas de opinião ? Um meio argumento Para justificar a necessidade de mais recursos para a área da saúde (agora, depois de uma "faxina", na expressão da presidente) o governo tem apresentado o gasto de outros países como exemplo de que vamos mal. Primeiro foi o ministro Aloizio Mercadante, e depois a própria Dilma, a dizer que a Argentina investe no setor, per capita, 47% mais que o Brasil e o Chile 18%. Falta completar e dizer que eles fazem isso com uma carga tributária bem mais baixa que a brasileira. De novo : é questão de prioridade e não simplesmente de recursos escassos. Só faltou dizer o nome Em evento promovido em SP pela revista "Exame", a presidente Dilma justificou o que já está sendo considerado uma "nova política econômica" e defendeu algumas medidas já adotadas por seu governo para isolar o Brasil da crise que se desenha no horizonte. Disse que o país não pode repetir erros cometidos na última débâcle econômica mundial em 2008. Deu aval à tese de que na ocasião o BC perdeu uma excelente oportunidade para começar a baixar os juros. Pequena lembrança : o presidente, em 2008, era o padrinho Lula. As últimas manifestações públicas da presidente, como esta, os discursos nos EUA e algumas atitudes em relação a partidos e aliados, indicam que seu governo está se afastando, tanto na política e na economia, do legado de Lula. Não há, nem deverá haver, rompimentos pessoais. Mas os propósitos já não são os mesmos. Intrigas brasilienses De um isento observador brasiliense : "Até pouco tempo Dilma tinha a caneta, mas Lula tinha a popularidade. Agora, pelo menos por um tempo, Dilma tem os dois. E isto vai fazer a diferença." Cenário do mercado I Tudo que sabemos até agora sobre a crise europeia mostra que os governos europeus ainda não se capacitaram, inclusive do ponto de vista político, para enfrentar o desemprego, a crise bancária e de crédito e a falta de investimento público e privado. Obama do outro lado do Atlântico tenta e não consegue. Os europeus, liderados por Angela Merkel e Sarkozy, não conseguem tentar. Neste contexto, a Grécia sofre pressões desumanas e os espanhois, italianos, portugueses, franceses, etc. fingem que têm capacidade de crédito. Triste sina do Velho Continente. Cenário do mercado II Se a coisa continuar do jeito que está, as possibilidades de um colapso financeiro como o de 2008 é elevadíssima. Se os governos europeus agirem com força, decisão e porte, o colapso se torna apenas uma crise, embora profunda. Este é o tamanho da aposta de quem está a correr riscos no mercado financeiro e de capital mundo afora. A volatilidade está elevada, mas os volumes de ativos negociados estão baixos na maioria dos segmentos de mercado. Sinal ruim. A preferência dos investidores ainda será de cautela. Depois pode ser de desespero ou alguma euforia momentânea, até que a crise começar a amainar. Qual o tamanho do "resgate europeu" ? Nouriel Roubini era um economista, até cinco anos atrás, considerado "pária" e "catastrofista" por seus pares e o tal do mercado. Quando veio a crise de 2008 virou uma espécie de "oráculo". Atualmente, afirma que a Europa precisa de US$ 2,7 trilhões para solucionar a crise de crédito por que passa. Não causa surpresa. Estudos internos do FMI e Banco Mundial mostram que a necessidade é essa mesma. A "caixa de surpresas" de Roubini não surpreende mais... Ainda sobre a estratégia econômica de Dilma Reduzir a taxa de juros não é apenas um desejo deste governo. É uma meta nacional. Já comentamos nesta coluna que a crise pode ser uma excelente oportunidade para que esta redução ocorra com maior adesão dos agentes econômicos. Todavia, o que temos agora é inflação para cima e real para baixo (mais inflação). Por que o governo se adiantou aos efeitos da crise ? Difícil compreender. Também é difícil imaginar quais os "dados" que o BC e a Fazenda têm e que o "mercado" desconhece. Ora, a leitura do "relatório de inflação", divulgado na semana passada pelo BC, neste ponto particular, não deixa segurança para ninguém. Pouco explica para que as expectativas dos agentes se alinhem com as do BC. Wall Street sob protestos Não é nada desprezível que os movimentos sociais dos EUA, no passado hiperativos, estejam novamente se mobilizando para protestar contra os bancos e as estruturas financeiras do país. Neste fim de semana passado, mais de 700 foram presos durante a tentativa de ocupação de Wall Street. De fato, a punição dos diretores das instituições financeiras que agiram irresponsavelmente antes da crise de 2008 foi bastante modesta frente aos estragos provocados às famílias de trabalhadores do país. Neste momento prévio à campanha presidencial do ano que vem, o retorno do ativismo antibancos nos EUA é um mau sinal para Obama. É ele, um democrata, que é mais lembrado como "fraco" no combate aos desvios de Wall Street. Os republicanos, quem diria!, hoje defendem a economia real... Radar NA REAL 30/9/11   TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA queda estável - Pós-Fixados NA queda estável Câmbio ² - EURO 1,3269 estável alta - REAL 1,8882 baixa estável/baixa Mercado Acionário - Ibovespa 52.324,44 baixa baixa - S&P 500 1.131,42 baixa baixa - NASDAQ 2.415,40 baixa baixa (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável Constituinte, uma ideia infeliz Diante das dificuldades que está encontrando para aprovar um remendo de reforma política a seu gosto e a gosto do PT, o ex-presidente Lula sugeriu a criação de uma Constituinte exclusiva, paralela ao Congresso, para discutir e votar o assunto. Nesta esteira, o prefeito Kassab, dono da mais nova legenda partidária brasileira, propôs uma Constituinte ainda mais ampla, para todas as reformas mais urgentes - a política, a previdenciária, a tributária... A proposta implica em ampla discussão jurídica e política, sobre questões como legalidade, legitimidade, oportunidade e mais tais. Mesmo sem esses obstáculos, é o que se pode chamar de uma sugestão inoportuna, ou popularmente, uma "ideia de jerico". "Constituinte" : o que esperar ? Como esperar de uma "Constituinte" (assim entre aspas), eleita sob a legislação eleitoral e partidária viciada como a nossa, possa gerar uma reforma política sem vícios ? A "Constituinte" desse modo só vai servir aos interesses políticos já constituídos, perpetuando nos partidos e no Congresso o que já está provado e não serve aos eleitores e ao país. Basta ver os ensaios de reforma que andam na boca dos políticos. As propostas, de um modo geral, só pioram o que já é ruim. Pobre oposição Depois de fazer uma pesquisa para descobrir o óbvio - que o partido está sem rumo e sem propostas - o PSDB reuniu seus governadores e resolveu cobrar do governo a apresentação de uma agenda para o debate. A boa oposição tem sua própria agenda e procura forçar o governo a debatê-la. O resto, como diz o humorista Millôr Fernandes a respeito da imprensa "chapa branca", é armazém de secos e molhados. Os tucanos estão inventando a oposição "chapa branca" ou "oposição consentida". Dilma agradece. Caminhos para a derrota Sem proposições, sem um discurso para a sociedade e brigando mais que cachorro e gato por conta de suas vaidades, a oposição caminha, com celeridade, para a irrelevância. A última desavença entre serristas e alckimistas em SP é o mais puro sinal da perda de consciência das oposições brasileiras quanto ao seu papel. Tanto no situacionismo quanto no oposicionismo o único valor que realmente conta é o eleitoral. Um partido incômodo Não foi só enfraquecer a oposição o serviço prestado pelo recém-nascido PSD, do prefeito Kassab à presidente Dilma. É também uma grande dádiva para a presidente ter à disposição uma legenda fresquinha e disposta a colaborar para servir de anteparo aos sempre insaciáveis aliados PMDB, PP, PDT, PR e até a um PSB cheio de graça desde que o governo Eduardo Campos deu uma demonstração de prestígio elegendo a mãe, Ana Arraes, para o TCU. Os aliados já estão incomodados com o novo parceiro. Até o PT. Janela de infidelidade - Um Todos os governistas, em maior ou menor grau, ajudaram os formadores do PSD a botar o partido de pé. Mas agora perceberam que a legenda de Kassab está não apenas tirando gente da oposição, mas também deles. E que vai disputar com eles praticamente os mesmos votos em 2012. Os votos da oposição dificilmente vão para a nova legenda. Os arranjos partidários de cúpula são uma coisa, a vontade do eleitor é outra. Janela de infidelidade - Dois Já se começa a falar discretamente nas legendas governistas da abertura de uma janela de infidelidade, um período no qual os políticos poderão trocar de partido sem perder o mandato. Já era uma ideia antiga, mas foi reforçada agora com o surgimento do PSD. Hoje o partido de Kassab tem o monopólio da infidelidade, o que faz os parceiros temerem perder quadros, sem condições de repô-los. Uma vaguinha Já há rumores de que o prefeito Kassab se fará merecedor de um ministério na reforma que Dilma fará no início do ano. Sem mandato, o prefeito paulistano precisará de um espaço para sustentar seus projetos políticos. ____________
terça-feira, 27 de setembro de 2011

Política & Economia NA REAL n° 171

A real política econômica - ou o "plano real" de Dilma I Em doses homeopáticas, sem muito destaque, o governo da presidente Dilma tem dado clara indicação das diretrizes de sua política econômica, do cavalo de pau que está dando na política herdada de Lula. Esta, por sua vez, herdada por Lula de FHC. Da própria Dilma, no discurso na ONU : "O desafio colocado pela crise é substituir teorias defasadas, de um mundo velho, por novas formulações para um mundo novo. Enquanto muitos governos se recolhem, a face mais amarga da crise - a do desemprego - se amplia". Para quem lê, está enunciado o princípio de que o Estado vai intervir sempre que julgar necessário, cada vez mais. O tripé de política econômica composto pelo câmbio flutuante, política fiscal disciplinada e meta de inflação hoje tem valor relativo. A real política econômica - ou o "plano real" de Dilma II O boletim bimestral "Economia Brasileira em Perspectiva", do ministério da Fazenda, distribuído também na semana passada, informa que "uma política monetária expansionista seria uma resposta à desaceleração da economia". Na mesma linha de outro dito da presidente em NY : que não dá para sair da crise "produzindo recessão". Em Brasília, vozes mais entusiasmadas, já chamam esse arranjo de "o Plano Real" de Dilma. Dando certo, seria o passaporte para ela se livrar da sombra de Lula e projetar uma espécie de "dilmismo", para além de 2014. A economia na real Se, de um lado, é certo que Dilma começa a formular uma política econômica fora dos padrões dos governos anteriores, de outro os problemas econômicos atuais são efetivos. A crise externa começa a interferir diretamente sobre a economia brasileira. A face mais visível são os recentes movimentos altistas do câmbio e sua correspondente influência sobre a inflação. Todavia, não é o único efeito. Linhas de crédito em reais e moeda estrangeira estão substancialmente mais caras e escassas, os investimentos diretos estão sendo paulatinamente revistos, o consumo de bens duráveis mostra sinais de enfraquecimento e, com efeito, a atividade econômica está bem mais frágil, algo além do que podia se esperar. O Brasil vai crescer menos que a média da América Latina e cerca de 1/3 do que Índia e China vão crescer este ano. Tudo isso é muito significativo. Inflação : o problema mais urgente O futuro é, por definição, incerto, muito embora os economistas de plantão estejam sempre prontos a prevê-lo. Ora, quem poderia esperar que inflação superasse tão rapidamente a meta estabelecida pelo BC, a qual baliza a política monetária ? Basta verificarmos o que diziam as fontes no final do ano passado sobre o assunto. Pois bem : alguém pode duvidar que a inflação possa atingir um patamar (anual) acima dos dois dígitos ? A resposta honesta hoje é que a probabilidade de que isto aconteça é significativa e, ao mesmo tempo, crescente. As variações da taxa de câmbio pesarão sobre a inflação e é bom não esquecermos de que há mecanismos de indexação suficientes na economia brasileira (aluguéis, crédito imobiliário, salários, preços públicos, etc.) que tragam de volta o "velho" fator inercial. Não apenas o governo subestima este cenário. O próprio "mercado" também o faz. E a política ? Em nome da "política dos políticos" é que está havendo uma certa condescendência com a inflação. Acredita-se que mais PIB signifique mais votos no baú. Esquece-se de que não há maior buraco negro de votos do que preços altos e renda em queda. Principalmente para uma classe "C "emergente, a dita classe média do Lula. BC : credibilidade em baixa A taxa de juros básica no Brasil já poderia estar mais baixa há algum tempo, coisa de anos. Há uma gama de economistas que dirão o contrário, mas o certo é que não há "provas científicas" que sustentem que temos de ter uma taxa de juros real tão alta assim. Esta premissa, contudo, não afasta a constatação de que o BC escolheu a pior forma e momento para iniciar a queda dos juros. Com a inflação em alta e a taxa de câmbio supervalorizada, o BC tomou para si e, por decorrência, para o país, todos os riscos econômicos. Provavelmente, não faltou "sensibilidade" à autoridade monetária em relação ao tema, tanto é que a última decisão do COPOM foi construída com os votantes do BC divididos. Agora, a coisa ficou mais complicada, pois o esforço do BC para retomar as rédeas da inflação terá de ser muito maior. Neste caso, Tombini e sua turma poderão descobrir que estarão sozinhos nesta tarefa. A questão dos derivativos É direito de qualquer governo cuidar para a higidez de um segmento de mercado. Ainda mais quando se trata de câmbio. Os ingressos de recursos externos já são enormes desde a década de 90. Coisa de longo prazo e cujo destino sempre foi o lucrativo mercado de juros brasileiro. Em julho o governo, leia-se Fazenda, resolveu adotar uma medida de restrição cambial, escolheu o mercado de derivativos com o fito de evitar a tal da "arbitragem" entre juros locais e externos. Está claro que a medida adotada não foi concebida com a devida análise de suas consequências. Por duas razões : (i) os "hedgers" (aqueles que querem proteção cambial) tiveram que comprar posições no mercado à vista, pois não há mais vendedores de câmbio no mercado de derivativos. De outro lado, (ii) os detentores de dólares não vão liberá-los, pois poderão não ter liquidez no futuro. Resultado : apenas o governo pode fornecer dólares com suficiência para o mercado. É o que está a ocorrer. A Fazenda fez algo inesperado : deu um nó no BC. Que, obediente, calou-se. A crise europeia Não dá para ficar pessimista com o anúncio e as notícias que vieram da reunião do FMI neste último fim de semana. Isso não significa que devemos ficar eufóricos. De fato, a leitura do que saiu da autoridade multilateral mostra que, finalmente, os europeus parecem dispostos a agir, criando formas e fontes que aumentem a liquidez do sistema financeiro, bem como limitem os riscos do crédito soberano. Não será somente a pequena Grécia a ser analisada na reunião da UE na primeira semana de outubro. De fato, parece que teremos novidades e estas serão positivas. Isso não quer dizer que os mercados reverterão as expectativas. Quer dizer que talvez poderemos rever as nossas piores expectativas. Não dá para se antecipar às medidas e operar no mercado, mesmo porque caso a "nova estratégia europeia" seja um desastre, os efeitos serão terríveis. Por isto não mudamos o nosso "Radar NA REAL". A pergunta de Canotilho A edição, na última quinta-feira, do "Prêmio Mendes Junior" da GVLaw reuniu Delfim Netto, Ives Grandra e J.J. Canotilho para discutir os efeitos da segurança jurídica sobre o desenvolvimento econômico. Um debate recheado de erudição e vívida reflexão prática. A certa altura do debate, o português J.J. Canotilho, um dos maiores constitucionalistas vivos do mundo, acusou : "as parcerias público-privadas eram vistas até pouco tempo atrás como a 'salvação' da economia portuguesa na sua tarefa de se desenvolver. Hoje, depois da deflagração da crise europeia, estas PPPs são vistas como 'as maiores produtoras de déficit público' de Portugal pela União Europeia. Como isto é possível ?". Segundo o jurista, "a questão fundamental hoje não é como o Estado cumpre a sua função fiscalizadora, mas se o faz de maneira inteligente". Eis uma excelente reflexão nestes tempos de Copa do Mundo e Olimpíadas neste nosso país... Radar NA REAL 23/9/11   TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA queda estável - Pós-Fixados NA queda estável Câmbio ² - EURO 1,3448 estável alta - REAL 1,8498 queda estável/queda Mercado Acionário - Ibovespa 57.210,11 baixa baixa - S&P 500 1.136,43 baixa baixa - NASDAQ 2.483,23 baixa baixa (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável Queridinho do mercado Roger Agnelli, ex-Vale, acaba de ganhar o prêmio da prestigiada "Revista RI" como "Melhor Desempenho em RI (Relações com Investidores) por um CEO". Das sete edições deste prêmio, Agnelli foi indicado todas as vezes e ganhou quatro prêmios. Um desempenho e tanto. Resta saber se alguma autoridade da Fazenda prestigiará a entrega do prêmio, depois de tirar a coroa de Agnelli na Vale. Reforma política de fachada Até os mais ingênuos parceiros já notaram : as mudanças eleitorais que Lula abraçou são principalmente muito boas para o PT. E para ele, Lula. O voto em lista é uma aberração. Mais dinheiro público em campanha, sem democracia partidária e sem controle rígido e punição rigorosa para "caixa dois", outra. Dinheiro de estatais na campanha, crime. O PMDB não fica atrás, distritão é regressão. Não há reforma para valer. Não interessa a ninguém, nem situacionistas nem oposicionistas. Nada de mudar de fato o que está aí, correr o risco de pôr novos atores na cena política e dar mais voz e poder de escolha ao eleitor. Daí opção por novos velhos com Fernando Haddad, Gabriel Chalita, Bruno Covas, etc. O lema é mudar para permanecer como está. Constrangimentos no judiciário O silêncio da maioria dos membros da Justiça a respeito das resistências do Executivo e do Legislativo em aprovarem o pedido de reajuste salarial para eles não é de ouro. Pode, quase discretamente, fazer muito barulho. É apenas tática Nem o governo nem o Congresso desistiram de ter uma nova fonte para "financiar a saúde", ou seja, ter um novo velho imposto como a CPMF, uma outra jabuticaba tributária ou um ajuste num dos velhos tributos. Eles estão esperando apenas uma ocasião mais propícia para passar o arranjo goela abaixo da sociedade. Veja-se que nunca se fez questão, na área pública, de mostrar tanto as mazelas do setor quanto agora. O que está errado ? Da ministra Eliana Calmon, do STJ, a respeito da anulação das provas contra negócios da família Sarney : "Ou a Polícia Federal está inteiramente errada, jogando fora o dinheiro da Nação, fazendo investigações temerárias, ou a Justiça está errada". O que o ministro da Justiça vai fazer ? A China real e a China imaginária Em fulgorosa viagem à China, em abril, a presidente Dilma teve a oportunidade de, segundo informações brasileiras, patrocinar o acerto de dois grandes negócios de interesse do Brasil; - a reativação da fábrica da Embraer no país, com venda de produtos brasileiros para os chineses. - um investimento de US$ 12 bilhões da chinesa Foxconn no Brasil para fabricação dos tablets da Apple aqui. Cinco meses depois : a Embraer ainda está a "ver aviões" e os US$ 12 bi ainda não voaram, à espera do generoso BNDES. Negociar com os chineses é ciência que exige mais do gogó e deslumbramento. Descobriram a pólvora Os tucanos encomendaram uma pesquisa para descobrir o que até a torcida da Seleção Brasileira já sabia : eles perderam todas suas bandeiras, todas suas marcas para Lula e o PT. Até os louros da estabilidade da moeda e do garrote na inflação hoje são divididos com o ex-presidente. O mais grave é que ela não achou ainda o que botar no lugar, embora temas surjam no ar todos os dias. Os oposicionistas preferem desentender-se uns com os outros. ____________
terça-feira, 20 de setembro de 2011

Política & Economia NA REAL n° 170

Um efeito colateral adocicado para o governo A cada dificuldade que aparece, o governo - com o argumento de que está em defesa da economia nacional - saca do seu arsenal a velha fórmula de aumentar impostos. Assim : 1. Quando a entrada de capital estrangeiro passou a assustar, elevou o IOF. 2. Quando, mesmo com essas medidas, a avalanche não amainou, taxou os derivativos com IOF. 3. Para incentivar alguns setores, reduziu tributos, de um lado, e elevou impostos, como os de cigarros e bebidas, de outro. 4. A isenção das contribuições sociais de alguns setores - têxteis, móveis, calçados - para facilitar a competição do produto nacional com o estrangeiro - foi imediatamente compensada por um adicional do tributo sobre faturamento. As empresas supostamente beneficiadas preferem ficar no regime anterior, pois calculam que, com o novo modelo, pagarão mais. É doce e fácil aumentar imposto, não exige nem criatividade nem sacrifícios do poder cobrador. Agora, de novo, o mesmo expediente Para quem não se lembra - alguns jornais recordaram isto muito bem nos últimos dias - a conversa de dar amparo aos veículos brasileiros, esboçada no "Brasil Maior", falava em redução do IPI para que cumprisse algumas exigências com índice de nacionalização, investimentos em inovação, etc. Na conta final, sobrou um brutal aumento de IPI, numa medida altamente protecionista, mas que não beneficia o consumidor nem garante, como o governo apregoa, a manutenção ou criação de empregos, pois isto não está nas exigências apresentadas quinta-feira passada quando a divulgação do "novo" modelo automotivo. É por essas e outras que, apesar de todo o ceticismo de boa parte dos analistas privados, o governo garante que conseguirá, sem subterfúgios, fazer os 3,1% do PIB de superávit primário em 2012. Haverá sempre no meio do caminho um setor pedindo proteção e um imposto disponível. A ausência de estratégia O termo "política industrial" é um termo a partir do qual é possível se fazer muita coisa. Uma delas é o puro protecionismo à indústria com benefícios sociais duvidosos. Isto ocorre, sobretudo, quando falta ao governo uma estratégia consistente e abrangente para atender aos legítimos anseios de construção de uma indústria nacional que favoreça o desenvolvimento de um país. Políticas industriais que não são pautadas por objetivos claros, discutidos e abrangentes normalmente resultam de lobbies reunidos à sombra dos holofotes e pactos políticos nada transparentes. Foi o que ocorreu no caso dos veículos importados. Sem nenhuma meta de mais longo prazo o governo atendeu às montadoras, aos sindicatos e à indústria de componentes locais. Sem que o distinto consumidor pudesse opinar. Escorregando na "mantega" ? I Desde que foi ungido como o ministro mais "forte" do governo Dilma, o único que, segundo notas da imprensa, fala com a presidente em qualquer circunstância e o único, segundo ele mesmo, que fala em nome dela, Mantega ganhou "asas" que podem conduzi-lo a voos cegos e vacilações de quebrar costelas. Registre-se, por exemplo, seu desempenho no caso do IPI dos carros "não nacionais". Os ministros parceiros dele no "Brasil Maior", programa que pretende ser "a política industrial do país", não foram desta vez sequer coadjuvantes na decisão - foram apenas privilegiados espectadores. O que deveria focar em redução de impostos virou elevação de tributos como dissemos acima. Escorregando na "mantega" ? II O tom do ministro perdeu a suavidade, está mais ameaçador. Mesmo que o presidente da Abeiva (entidade dos importadores) tenha sido, como de fato foi, impertinente, ao tentar pedir explicações a ele numa coletiva de imprensa. Mantega foi mais do que duro ao cortá-lo, principalmente porque adotou uma medida importante, ouvindo apenas um lado. Faltou o que se chama de lhaneza. Há também a informação de que o ministro, em reuniões fechadas, ameaçou retaliar quem entrar contra o Brasil na OMC por prática de protecionismo. Nos mesmos moldes, e ainda de forma mais fechada, foi o método para a adoção da cobrança de IOF nos negócios com derivativos. Verificou-se depois, pelo improviso da medida, que ela não era de fácil aplicação a tal ponto que o ministério da Fazenda, na semana passada, adiou pela segunda vez a data do recolhimento do tributo. E já mudou algumas regras. Pergunta : Dilma sabia ? É claro que a presidente da República sabia das medidas que Mantega iria implementar. Todavia, será que a presidente sabia da magnitude e da forma das medidas restritivas à importação de veículos ? Obama : em busca do tempo perdido Desde quando o presidente Obama foi encurralado pela maioria republicana no Congresso, coisa de dois meses atrás, suas reações tem sido retóricas para não dizer "oratórias". Todavia, seu discurso nesta segunda-feira contrariou positivamente as piores expectativas. Por meio de uma proposta de aumento de US$ 1,5 trilhão em impostos e mais US$ 1,5 trilhão de corte de despesas, Obama conseguiu elaborar uma proposta abrangente para a questão do desemprego e do déficit público. Assim, coloca a oposição numa situação menos confortável. Os republicanos, caso venham enfrentar frontalmente o presidente, terão de defender os mais ricos sobre os quais recairão os impostos e reduzir benefícios sociais para os mais pobres. Nem os mais reacionários farão isso abertamente. Ponto para Obama. Fed nada decidirá Nesta quarta-feira é possível que o BC dos EUA decida alongar o prazo dos títulos que detém. O objetivo é tentar reduzir os juros de longo prazo os quais estão em ascensão em função dos temores de que a inflação volte a cantar pneus e a dívida americana aumente demasiadamente. Qual a importância desta decisão ? Pouca, para não dizer nenhuma. A bola está no campo de Obama. A recessão é crítica, o desemprego galopante e a política opaca. Um modelo de equilíbrio geral dinâmico estocástico Esta não é uma constatação ou uma invenção desta coluna. É como o BC, na última reunião do COPOM, define sua nova política. Há os que entenderam perfeitamente. Os mesmos que explicam a expressão : "a dixteridade dilemática do climatério clavicórdio". Comunicar não é ciência nem arte. E é de bom tom a simplicidade - e obrigação da autoridade. Já ensinava o Velho Guerreiro, nunca assaz lembrado e citado, que quem não se comunica, se trumbica. O BC vem colhendo os frutos do seu "estocastismo" : quanto mais ele fala, mais alguns agentes econômicos ficam em dúvida. Em tempo : segundo o "Aurélio" estocástico significa aleatório. Câmbio para cima A queda recente do real frente às principais moedas era algo há muito esperado, mas que dependia de condições específicas para ocorrer, sobretudo a reversão dos fluxos externos interessados em ganhar os frutos da maior taxa de juros do mundo. As recentes medidas do governo produzirão esta reversão que se soma ao vertiginoso aumento nas remessas de dividendos para o exterior em função da necessidade de caixa de muitas das matrizes das empresas estrangeira aqui instaladas. Todavia, o maior efeito do câmbio está para acontecer : sobre a inflação. Os preços domésticos andaram pouco comportados nos últimos tempos a despeito da valorização do real. Agora terão um impulso a mais para subir, no exato momento em que o BC reduz juros. Os riscos estão aumentando no tema "inflação". Um milagre pela metade O governo está considerando o Regime Diferenciado de Contratações, a ser adotado nas licitações de projetos da Copa com o objetivo de agilizá-los, como uma fórmula mágica, um pó de pirlimpimpim, capaz de reduzir ao limite mínimo os riscos de falcatruas. Técnicos dizem que há pontos positivos. Se for assim, porque não adotá-lo para toda e qualquer licitação ? Radar NA REAL 16/9/11   TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA queda estável - Pós-Fixados NA queda estável Câmbio ² - EURO 1,3650 estável alta - REAL 1,7899 queda estável/queda Mercado Acionário - Ibovespa 57.210,11 baixa baixa - S&P 500 1.216,01 baixa baixa - NASDAQ 2.622,31 baixa baixa (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável Petrobras : um mico ? A entrevista de José Sérgio Gabrielli à Folha de S. Paulo, nesta última segunda-feira, não esclarece quase nada da estratégia da empresa e, com efeito, do país, no setor de petróleo. Apenas uma certeza é explicitada pelo presidente da estatal : "a indústria de petróleo não trabalha no curto prazo". Assim, as ações da empresa que fez "a maior capitalização da história mundial em 2010" devem se ressentir da falta de perspectivas no curto prazo. José Sarney, um fenômeno Aos 81 anos, Sarney se renova a cada dia e prova que o poder não é assunto para principiantes. Há que se pensar se ele é literalmente um imortal. É herdeiro da cadeira nº 38 da ABL, cujo patrono é Tobias Barreto, e na qual sentou-se Santos Dumont. Ex-prócer do regime militar, apoiador do golpe que exilou, torturou, prendeu, etc., ex-presidente da República num governo que terminou em uma hiperinflação, senador da República jamais aposentado, apoiador de primeira hora de Lula, escritor de livros traduzidos, entre outras línguas, em romeno, chinês e russo, empresário de muito sucesso no paupérrimo estado do Maranhão e muitas outras virtudes que não cabem numa pequena nota como esta. Agora, depois de conseguir censurar um jornal em pleno regime democrático, consegue destruir no STJ qualquer possibilidade de que inquéritos policiais sobre seus negócios (e da família) possam prosseguir. É a glória ! Por que não elevá-lo ao cargo de "Rei do Brasil" ? Um mimo sarneyzista pra os leitores Deixo aos leitores as primeiras linhas do longo e cansativo discurso de Sarney quando tomou posse na ABL, defronte ao General João Figueiredo, último ditador militar pós-64 : "À sombra dos meus deuses o sortilégio dos meus caminhos me fez chegar. Nada mais alto, aqui é o infinito. O deus primeiro, o Deus da minha fé, da minha submissão à sua voz semeadora dos destinos, que me guardou nas dúvidas, encheu de certezas os meus clarões de perplexidades, estendeu-me a mão firme de pai para que eu a apertasse o calor de suas crenças; que me criou José, que me fez Sarney e cobriu a minha cabeça da coroa fria e sem vaidade dos dias que me entregou e eu plantei". Sarney sabe do que fala. Palocci articula Ao que parece Palocci anda em sólidas articulações com grupos políticos. Referimo-nos às articulações da candidatura petista à prefeitura de Ribeirão Preto. Esperam seus correligionários que entre uma e outra consultoria, Palocci tenha tempo para fazer política. Sem perda de seus volumosos fees pagos por seus conhecimentos nobilíssimos - relacionados ao prêmio Nobel. Faxina e dependência No episódio da demissão do peemedebista Pedro Novais e sua substituição pelo peemedebista Gastão Vieira no ministério do Turismo, revela-se toda a incongruência das políticas da presidente Dilma em relação ao Congresso e seus aliados e em relação à boa gestão dos negócios públicos. Ponto positivo para a presidente quando ela demitiu o ministro Novais. Mas ponto negativo quando ela manteve o padrão de loteamento dos ministérios. Foi, aliás, o que ela comprovou com o discurso de exaltação do PMDB, no encontro do partido dia seguinte ao desenlace no Turismo. Resta saber se essas juras de confiança que ela faz de público são correspondidas e, de fato, respeitadas no "escurinho do Congresso". Bolinhas de papel Os dois maiores partidos aliados expeliram documentos de intenção eleitoral nas duas últimas semanas, a partir de concorridos eventos midiáticos em Brasília. Nem PT nem PMDB foram além das generalidades. Em nenhum dos dois papéis encontram-se diretrizes partidárias sobre assuntos de relevância nacional. Na realidade, os dois partidos estão mesmo é interessados nas estratégias para as eleições municipais do ano que vem. Nas quais, um pretende, com todo o respeito, engolir o outro. Amigos, amigos... É amanhã a eleição para a cobiçada vaga existente no TCU. Registre-se inicialmente, a estranheza de um lugar puramente técnico-jurídico, reservar lugares para deputados e senadores pelo simples fato de eles serem parlamentares. Hoje há dois candidatos com chances reais : o paulista Aldo Rabelo (PC do B) e a pernambucana Ana Arraes (PSB), ambos da fileira governista. Entendidos em votações na Câmara acham que Ana, mãe do governador Eduardo Campos, tem mais probabilidade de ser escolhida, até pelo empenho direto e nada discreto do filho em favor dela. Observadores políticos mais maliciosos dizem que talvez esta seja maior fraqueza do filho e o melhor trunfo do deputado paulista. Nem o PT nem o PMDB tem o menor interesse em temperar o espaço político de Campos, um líder em ascensão e que tem elevadas pretensões. Sem direito à reeleição, ele tanto pode tentar ser vice de Dilma (ou Lula) como compor-se com a oposição. ____________
terça-feira, 13 de setembro de 2011

Política & Economia NA REAL n° 169

A política econômica de Dilma Rousseff é de Dilma Se no todo o governo da presidente Rousseff ainda é comumente visto como mera continuidade da administração Lula, o mesmo não pode se dito da política econômica. São muitas as digitais da própria presidente nas recentes alterações na gestão da economia. Vejamos os principais traços da "nova política econômica" : 1) A presidente quer juros primários mais baixos, mesmo que isso implique na quebra de pressupostos relevantes do sistema de metas de inflação como, por exemplo, a administração das expectativas dos agentes; 2) A independência "operacional" do BC é muito mais "relativa". Este deve observar e seguir a orientação da política econômica sancionada pelo Planalto; 3) A presidente não é uma "fiscalista" na essência, mas vê nas restrições de gastos o principal mecanismo de gestão da economia (e da inflação). Todavia, não está disposta e nem tem força para revisar os gastos correntes feitos na gestão de Lula; 4) A taxa de câmbio não é resultado de fatores endógenos (formado pelo próprio mercado) e sim da excessiva liberdade de fluxos financeiros. É preciso administrá-los e, no limite, contê-los; 5) O controle da inflação deve centrar-se na variação constante dos preços e não em fatores ocasionais. Variações sazonais dos preços tendem a ser desprezadas na gestão da política anti-inflação, apesar dos riscos destas variações se proliferarem pelo resto da economia; 6) Política industrial não é adereço da política econômica como um todo (como durante FHC e Lula). Trata-se de uma necessidade do mundo global; 7) Investimentos públicos são os que puxam o setor privado para o jogo do desenvolvimento. Parcerias entre o setor público e privado são exceção e não regra. Os testes da "nova política econômica" Como se pode observar as mudanças de lavra da presidente são profundas. É um erro dos agentes desprezá-las ou não avaliá-las corretamente. De outro lado, toda mudança impõe riscos e estes não são nada pequenos. Vejamos : 1) A inflação é um problema sério. Há, sim, componentes inerciais e de rigidez na dinâmica dos preços, apesar da provável queda da atividade econômica; 2) Retirar do BC autoridade sobre os juros implica em adicionar mais um risco político direto sobre o Planalto. Além de gerar desconfianças no sistema financeiro que, como se sabe, ao reconhecer mudanças tira proveito de qualquer conjuntura; 3) Na área fiscal falta uma estratégia global para o controle dos gastos públicos. As soluções apresentadas para a produção de superávits fiscais são pontuais e sem consistência intertemporal. Não é um problema deste governo, mas torna-se mais vital quando se altera a política monetária na velocidade em que foi alterada; 4) O câmbio é formado endogenamente e pode surpreender. Além disso, foi a principal "âncora" contra a inflação desde o início do governo Lula; 5) Se os agentes não acreditarem mais no sistema de metas de inflação a reindexação é inevitável e somente ajustes maiores na atividade econômica (para baixo) corrigem os preços; 6) Uma maior dinâmica industrial depende de inúmeros fatores de competitividade que incluem desde políticas setoriais até aspectos sistêmicos, tais como menor tributação e redução dos oligopólios e monopólios na economia. Não há planos profundos nestes temas; 7) O setor público é essencial para engendrar mais crescimento. Todavia, a poupança/investimento do setor público é pelo menos 6% inferior (relativamente ao PIB) à média de países como China e Índia. Assim, as PPPs são a alternativa à mão até que substanciais ajustes no setor público sejam implementados. Sinais da confiança abalada É perceptível pela exposição pública a que se submeteram os economistas do governo, ao afirmar e reafirmar que a decisão do BC sobre juros não foi precipitada nem "política", que - na prática - aumentou-se a desconfiança em relação aos reais propósitos da política econômica, conforme nossa análise acima. O esforço governista de convencimento tem sido reforçado por economistas extra-oficiais, alguns até saindo, em seus mais recentes artigos, de seu estilo irônico e bem humorado de tratar os críticos. Estão um tanto quanto raivosos. A realidade - e o Boletim Focus desta semana é mais uma prova disto, por mais que a opinião dos "mercadistas" seja enviesada - é que há uma queda de braço entre o governo e os formadores de opinião (e de preços) de um modo geral. Juros é questão política O pano de fundo sobre a queda dos juros é mais do que econômico, é político. Duvida-se da disposição da maior parte dos governistas e da base aliada de levar adiante um ajuste fiscal real este ano e principalmente no ano da graça eleitoral de 2012. As contas oficiais, pelo menos as apresentadas até agora, não batem. A própria ministra do Planejamento, ao entregar o orçamento do ano que vem, já admitiu que "ele nasce com a necessidade de um contingenciamento (suspensão de pagamentos) de R$ 25 bilhões". Algumas rubricas, como o retorno do ICMS para os Estados, pela Lei Kandir, nem foram contempladas. Uma das apostas do BC para baixar os juros foi a economia que o governo promete fazer em seus gastos. Como se vê, a questão está bem obscura. As contas reais Quem mexe no Congresso e faz campanha política já, como se diz em economês, "precificou" as eleições municipais de 2012 : se os parlamentares governistas não tiverem um bom "incentivo" para as urnas, a bancada aliada na Câmara e no Senado tende a se reduzir. Já se levantam insatisfações nos municípios e mais desejos e ambições não atendidas da classe média de Lula com a qualidade dos serviços públicos. O risco da oposição Desse modo, a oposição, mesmo não querendo (aliás, parece até que está fazendo força para nada acontecer) corre o risco de sair mais fortalecida das urnas do que está hoje. Por inércia. Não vai sair barato O governo, bem no sufoco, vai aprovar até o fim do ano mais uma prorrogação da Desvinculação das Receitas da União. Sem ela é que as contas nacionais não fecham satisfatoriamente no ano que vem. Vai pagar um pouquinho caro, porém. Um tanto por incúria, pois demorou a mandar a proposta , entregando de graça armas para os chantagistas amigos - os aliados confiáveis, segundo a presidente Dilma na entrevista doméstica no Fantástico. Os "patricinhos" de Lula Foi-se o tempo em que os parceiros políticos preferenciais de Lula eram os velhos amigos sindicalistas e os políticos de tradição profissional. Criador da "nova classe média" brasileira, Lula está caminhando também para lançar uma "nova classe política" - a dos "patricinhos", sem tradição de disputas eleitorais e com certo ar de "tucanos arrependidos". O protótipo é Fernando Haddad em SP. Há, porém, indicações de que outros nomes da mesma extração podem surgir no empreendimento municipal de Lula para o ano que vem. Um deles seria o de Marcio Pochmann, do IPEA, para Campinas. Há companheiros com profundas crises de ciúmes e de identidade. Radar NA REAL 9/9/11   TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA queda estável - Pós-Fixados NA queda estável Câmbio ² - EURO 1,3602 estável alta - REAL 1,7014 estável/alta estável/queda Mercado Acionário - Ibovespa 55.778,35 baixa baixa - S&P 500 1.154,23 baixa baixa - NASDAQ 2.467,99 baixa baixa (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável Imposto novo na Grécia As chances de dar certo o imposto sobre propriedades, a ser implementado na Grécia, são remotas. Pode até produzir mais resultado fiscal no curto prazo, mas não evitará o default grego. Todos os governos responsáveis sabem disso. A dívida do país é impagável sob todas as circunstâncias e o sofrimento social é insustentável politicamente. O resto é análise furada. O novo imposto brasileiro Dilma pode negar a "volta da CPMF", mas o que a presidente quer mesmo é um imposto igual ao da CPMF, mas com maior rigidez na hora de gastar. Ou seja, a "nova CPMF" voltará sob o argumento de que "agora vamos gastar mesmo com a saúde". A questão é saber se o imposto volta este ano ou em 2012. Obama e o Congresso, de novo O pacote de US$ 447 bilhões de "dinheiro novo" para gastos públicos proposto por Obama tem enorme chance de ser mitigado no Congresso, atualmente mais controlado pelos republicanos. Além disso, as desconfianças na agenda política do presidente norte-americano estão tão grandes que nem seu próprio partido acredita que haverá criação substantiva de empregos no curto e, quiçá, no médio prazo. Somente as eleições presidenciais do ano que vem podem "zerar" o jogo político em favor da redução do desemprego. Fusão de bancos Não são poucas as movimentações de um grande banco de investimento brasileiro no mercado local. Recentemente, este banco, conhecido pela sua agressividade, andou rondando os lados de um grande banco de varejo brasileiro. O objetivo era fundir as operações, criando espaços para uma internacionalização mais rápida do "novo banco". Por enquanto, prevaleceu o veto do principal executivo. Quanto ao futuro, bem, quem viver verá... Alckmin e Serra A insistência do governador de SP em lançar a candidatura de Serra à prefeitura deve ter o claro objetivo de alijar o ex-governador e candidato à presidência das negociações em torno de outra candidatura. Afinal, Serra não quer nem ouvir falar em ser prefeito e Alckmin, sabedor disso, ao insistir na candidatura, quer que a retirada de Serra do front seja declarada, mas também completa. Que não fique nenhum preposto dele na liderança das negociações. Alckmin quer reinar sozinho. Veja versus Dirceu José Dirceu espera com certa ansiedade o resultado das investigações sobre o que ele considera "uma invasão de sua privacidade", no caso, a reportagem da semanal Veja sobre suas atividades em Brasília. Com base nas investigações da polícia é que o líder do PT decidirá sobre os caminhos jurídicos a tomar. Será interessante de toda a forma sabermos como se comportará Dirceu enquanto autor, ao mesmo tempo em que é réu. ____________
terça-feira, 6 de setembro de 2011

Política & Economia NA REAL n° 168

Política monetária : mudança de tendência ? Nossa previsão, idêntica a do mercado, foi errada. Esperávamos que a taxa de juros básica permanecesse em 12,5% ao ano. O BC, por meio do COPOM, reduziu o custo básico do dinheiro para 12%. Uma análise fria concluirá que esta queda foi surpreendente na forma, mas não foi totalmente no conteúdo. Afinal, o governo havia dado evidências, desde o início da gestão da presidente Dilma, de que a taxa de juros será reduzida para "patamares civilizados". Mais que um desejo, esta premissa é uma necessidade. Portanto, não cabe surpresa (de conteúdo), mesmo porque o governo sempre fez gestões públicas e privadas para que o BC agisse neste sentido. Provavelmente, a própria presidente assim agiu. A pergunta que cabe é a seguinte : esta queda da taxa de juros é sustentável ? A sustentação da política monetária Para responder a questão enunciada na nota anterior, há que se reparar em alguns aspectos da mudança da política monetária. Em primeiro lugar, qual seria a razão para uma mudança tão rápida ? Afinal, até a reunião anterior, o BC agiu no sentido do aperto monetário, aumentando a taxa básica. O cenário externo, as perspectivas da inflação, a situação cambial e o nível de atividade econômica não sofreram drásticas mudanças neste período de apenas 40 dias. Apenas a política fiscal, na essência expansionista, sofreu uma pequena retração quando se analisa o cenário dos últimos cinco anos. Sequer um compromisso de superávit fiscal no médio prazo, digamos, de quatro anos, foi estabelecido pelo governo. Nem 2012 está previsto pelo próprio governo. Neste sentido, o BC (e o governo) agiu sem "preparar" as expectativas para a queda de juros introduzida. Um risco e tanto, num sistema de metas que opera sobre - e a partir de - expectativas. Dois riscos do mesmo lado da moeda Excluamos, para fins da análise, o complicado setor externo o qual é exógeno à capacidade de gestão do governo brasileiro e do BC. Mais à frente comentaremos sobre ele. Pois bem : ao mexer abruptamente na taxa de juros, o BC não tem como se furtar às consequências que a inflação, muito alta (ao redor de 7% nos últimos doze meses), pode provocar sobre preços privados e públicos, além da dinâmica da indexação - sim, ela ainda existe em muitos segmentos ! - e os salários reais. Não é nada difícil a inflação passar de um patamar de 5-7% ao ano para algo como 10%. Daí para frente, o ajuste da inflação (para baixo) terá de ser feito com muito mais esforço pesando sobre a atividade econômica. Como ? Por meio de uma taxa de juros mais alta ! Ou será que alguém pode acreditar racionalmente que o governo vai produzir mais resultado fiscal para conter a demanda inflacionária ? Além da inflação, há a taxa de câmbio "fora de lugar" (no que tange à competitividade da economia brasileira). Se o câmbio se desvalorizar mais acentuadamente, veremos seus reflexos sobre a inflação. Assim, o risco de uma dinâmica negativa entre "inflação passada - inflação futura - taxa de câmbio" é considerável. Por tudo isso, o BC operou mal. BCs existem para reduzir riscos e não aumentá-los. Quem dá as cartas em relação aos juros Já se sabe que o BC está cada vez mais "indexado" às vontades do governo. De outro lado, erra quem pensa que a "vontade econômica" é formulada no edifício do ministério da Fazenda. Por lá, muitos cálculos são feitos, mas quem manda mesmo na direção da economia é a presidente Dilma. Não foram poucos os estímulos recebidos por sindicatos, empresários e políticos para que falassem "mal da taxa de juros". A presidente consolidava junto ao público externo a decisão interna (e essencialmente sua) de baixar os juros básicos. Veja nota abaixo. Fato ou cortina de fumaça Ato contínuo à polêmica decisão do COPOM de quarta-feira passada passou a circular em Brasília a informação sobre um "Plano Dilma" para a economia brasileira, com profundas alterações na gestão das finanças públicas. Alterações na política de financiamento da dívida pública e até mudanças na forma de remuneração das cadernetas de poupança (comentamos mais abaixo). Para a sempre bem informada Claudia Safatle, do "Valor Econômico", seria uma espécie de "Novo Plano Real". Para levar os juros a um nível de 2% a 3% reais. Sumiu do mapa Observação de um desses espíritos de porco que habitam a economia, mas têm olhos também para as motivações políticas dos que fazem as decisões públicas : de repente sumiu do discurso do governo a tese de que o Brasil hoje, em 2011, estaria muito mais bem preparado para as turbulências externas do que estava três anos atrás, em 2008. Foi substituída por uma boa dose de catastrofismo externo, em parte percebida, em parte imaginada. Crescer e crescer É conta planaltina e manteguiana : o Brasil tem de se armar para crescer cerca de 5% em 2012. Por isso, o projeto de Orçamento mandado ao Congresso na semana passada, ao contrário do apregoado, é, no linguajar dos economistas, mais expansionista (gastador) do que contracionista (poupador). O ano de 2012 é do "ciclo político" e rito de passagem para 2014. Quem quer jogar no ano da Copa tem de estar bem treinado já no ano que vem... A questão da caderneta de poupança Já há fluxos substantivos de recursos indo para a caderneta de poupança, aplicação que combina juros medianos com indexação garantida. As contingências eleitorais do ano passado impediram o governo de mudar a regra da poupança. Assunto sensível e que toca fundo na alma do pequeno poupador. Se o governo quiser mesmo reduzir os juros para valer, a despeito dos riscos já mencionados acima, deverá incluir na sua agenda a necessidade de mexer na remuneração da caderneta de poupança. Neste tema, a onça vai beber água. Cenário externo sem tréguas Horrível. Eis uma palavra que define, sem emoção, os últimos números da economia norte-americana. O cenário não é desesperador. É cronicamente ruim. Não há incrementos na atividade econômica, a criação de empregos é desprezível do ponto de vista estatístico e trágico do ponto de vista social. Triste sina a de Obama, presidente acanhado para obra tão importante. Na Europa, o cenário é vergonhoso para um continente que se propunha a ser "alternativa" civilizatória no século XXI. O jogo lá é de cinismo absoluto. Nem governos e nem as sociedades estão dispostos a correr riscos e impor mudanças para neutralizar o elevado endividamento. Os governos são fracos para elaborar e gerir políticas e fortes o suficiente para se manterem letárgicos. Por fim, os "emergentes" são o maior "novo risco do cenário". A desaceleração da China é risco considerável e, muito provavelmente, a economia já está desacelerando. Obviamente, veremos a magnitude mais à frente, se o governo comunista do país for minimamente transparente sobre suas mazelas econômicas. Merkel perde as eleições locais Apesar de todo empenho da chanceler Angela Merkel em agradar o público interno, seu desempenho nas eleições locais da Alemanha foi sofrível. Há mudanças à vista no cenário da maior economia europeia. Muito possivelmente os social-democratas reforçarão o discurso nacionalista que dificultará a solução da atual crise das dívidas dos países do bloco europeu. Grécia não concorda com pressões Já dissemos neste espaço que a dívida da Grécia é impagável sobre qualquer critério que não considere um calote de pelo menos 30% de seu valor. Na semana passada, no retorno das férias europeias, soube-se que a Grécia não cumpriu as metas fiscais com as quais se comprometeu. Simples entender : o cenário daquele país é de depressão e os gregos não estão dispostos a incorrer em mais depressão. Nestas próximas semanas, mais confusão à vista. Os europeus se reunirão para discutir sobre o tema. Tem tudo para dar errado. Radar NA REAL 2/9/11   TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA queda estável - Pós-Fixados NA queda estável Câmbio ² - EURO 1,4106 estável alta - REAL 1,6508 estável/alta estável/queda Mercado Acionário - Ibovespa 56.531,62 baixa baixa - S&P 500 1.173,97 baixa baixa - NASDAQ 2.480,33 baixa baixa (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável O PMDB e seus fantasmas I O partido nunca vai admitir, pois está disposto a não se indispor publicamente com o governo da presidente Dilma, nem com o principal parceiro na coalizão governista aliada. Afinal, o partido, embora tenha a vice-presidência, não tem a caneta nem o "Diário Oficial" e o palácio do Planalto não tem sido, oito meses depois, generoso no uso desses instrumentos para afagar os peemedebistas. A lista de nomeações está parada quase no mesmo tamanho no início do ano e alguns lugares já foram perdidos. O PMDB e seus fantasmas II Vejamos os fantasmas que rondam o PMDB : 1. A desconfiança de que por trás do discurso "aliancista" de Lula e do PT para as eleições municipais o objetivo dos petistas é aumentar, à custa de quem quer que seja, suas prefeituras e seu número de vereadores em 2012. 2. Do mesmo modo, teme-se que tanto o PT, como Dilma e Lula possam tramar a substituição do PMDB como principal parceiro em 2014, trocando o vice do PMDB por um partido de mais "pedigree" (mais tinturas de esquerda, menos imagem fisiológica) como o PSB. A aproximação do partido de Eduardo Campos com o PSD já quase criado do prefeito Kassab, com incentivo paralelo de petistas, acirra esta disputa. 3. O estilo Dilma, de jogar no colo dos parceiros a solução dos problemas no qual eles estão envolvidos, é percebido agora como nada ingênuo, mas destinado a deixar os aliados na defensiva. O próprio PMDB "recuou as arfadas" diante do desenlace das ocorrências no ministério da Agricultura, das confusões no Turismo e dos rearranjos em Furnas. O partido das barbas na política brasileira é o PT, mas que as tem permanentemente de molho é o PMDB. O estilo Dilma Não desceu bem na goela o modo como Dilma tentou solucionar as divergências do governo com o STF no caso das verbas para aumentos do Judiciário. Ao transferir a alocação das verbas para a responsabilidade dos deputados e senadores, mas lembrando os prejuízos que isto poderá gerar nos programas sociais, a presidente teria jogado parte da sociedade contra os magistrados. É um método. Porém (observa um analista isento em Brasília na sexta-feira), como, normalmente, o juiz só costuma falar nos autos, o silêncio dos atingidos não quer dizer nada. Há autos abertos por todos os lados. O estilo Dilma II O PT não estrilou publicamente, porém este modo de Dilma incomoda também o partido. Não foi por omissão que faltou no documento petista expedido este fim de semana uma defesa explícita à "faxina" geral e irrestrita no governo, sempre que couber. O cheiro de papel queimado incomodava porque a tendência, dados os exemplos já ocorridos, era revolver sempre um passado muito recente e nada sobre o governo anterior. Melhor, portanto, ficar em generalidades. Muito barulho por nada Gastou-se muito papel, tinta e ondas de som e imagem para acompanhar o encontro do PT no fim de semana. E mais ainda vai se gastar na exegese do documento com as resoluções da legenda e as moções aprovadas. Esses documentos - e somente quase só o PT os faz periodicamente, os outros partidos nem isso - são para pura orientação interna, acomodação de correntes, para algum marketing e um tanto quanto de propaganda. Seu valor de face é quase nulo, sempre permite diversas interpretações e maiores ainda adaptações. Basta lembrar a resolução em Recife, do próprio PT em 2001, com orientações para as eleições de 2002, no qual a palavra de ordem era acabar com "tudo o que está aí" com referência à política econômica adotada nos oito anos de tucanato que se encerrariam naquele ano. Todas as palavras de ordem petista estavam lá contempladas - até a revisão da dívida externa. Não durou seis meses. Elaborada pelo então coordenador da campanha de Lula e futuro ministro da Fazenda, como a colaboração de alguns luminares, sem consultas formais a nenhuma instância partidária, uma "Carta do Povo Brasileiro" renegou tudo o que havia sido defendido na bela capital republicana. Por isso, o documento petista deve ser lido mais pelo que não escreveu do que pelo que deu a ler. E neste, divulgado no domingo, ficaram duas estranhezas : 1. A ausência de uma moção explícita, por escrito, de defesa da maior liderança partidária depois do ex-presidente Lula, o ex-ministro José Dirceu. 2. A não inclusão entre as resoluções petistas - virou uma moção (ou seja, não é uma obrigação, é uma orientação) - da criação de um "código de comportamento" da imprensa. Nenhum barulho por nada Um mês depois de encerradas as férias parlamentares, a oposição continua com sua obsessão de pegar o governo por meio de algum desvio de conduta. Contestações rasas relativamente a algumas decisões do palácio do Planalto, tão rasas e tão baixas que o Brasil não ouve. As propostas oposicionistas são mais desconhecidas que o processo de transformação de grama em grama de ouro. Eles vão durar ainda Os ex-ministros que ainda perambulam pela Esplanada dos Ministérios - os mais notórios continuam sendo Pedro Novais (Turismo) e Mário Negromonte (Cidades) - ganharam algum tempo de sobrevida. Não havendo graves ocorrências, Dilma quer tocar o barco com o time que está aí para não causar turbulências na aliança partidária mais das que já existem. Há pedras no Congresso a serem descascadas. A aprovação da prorrogação da Desvinculação das Receitas da União é uma delas. Desarmar as armadilhas do fator previdenciário, dos reajustes dos policiais e da percepção dos banqueiros são as outras. O saneamento ficará para o início do ano que vem, quando uma turminha vai receber bilhete de volta para disputar (como desculpa ou de fato) alguma prefeitura. Um retrato real do Brasil real Se quiser fugir um pouco do discurso oficial, de heranças benditas gestadas apenas pelos operadores de marketing, a tão execrada imprensa brasileira tem uma pauta criativa para explorar, muito além dos "eventos" de corrupção. Alguns deles : 1. A situação dos hospitais universitários. 2. A situação dos hospitais filantrópicos, sustentáculos dos SUS e dependentes do sistema para sobreviver. 3. A situação das novas universidades Federais, plantadas como tiririca por todo o país. 4. A situação das escolas técnicas Federais, com greves por todos os poros. 5. Um levantamento dos mini-apagões elétricos que têm ocorrido no país com incrível frequência. Na semana passada foram "agraciados" nove Estados. Parece uma soma de fadiga de materiais com fadiga de gestão e pode ser um péssimo sinal do que pode acontecer quando o país quiser crescer de novo com vontade. __________
terça-feira, 30 de agosto de 2011

Política & Economia NA REAL n° 167

O governo faz a sua escolha I Dilma parece ter se sensibilizado para o fato de que o crescimento econômico sustentável nos próximos anos não é apenas incerto, mas pode ter efeitos muito mais abrangentes sobre os investimentos e o consumo que inicialmente poderia ser imaginado. Age corretamente em se precaver em relação ao cenário internacional que, além de letárgico, tem o perigoso ingrediente do aumento do risco do sistema financeiro. Neste contexto, a presidente tomou a decisão de agregar mais poupança do setor público, via corte de gastos, ao invés de agir na direção da política monetária, pressionando o BC a reduzir os juros básicos. Até mesmo porque o crédito privado está mais escasso e caro por conta dos riscos endógenos do cenário internacional. O governo faz a sua escolha II Se do lado fiscal a presidente diagnosticou bem a natureza da crise, de outro lado há uma série de problemas e riscos que serão agregados na política econômica daqui para frente. Vejamos alguns : (i) cortar gastos correntes é atividade crítica e difícil de fazer, tanto aqui como lá fora. Há limites constitucionais e infralegais que precisam sem respeitados ; (ii) os gastos correntes passíveis de corte referem-se a muitos acordos feitos nesta gestão e na administração Lula (preenchimentos de vagas no setor público, política de recuperação de salários, aumento do salário mínimo, distribuição de verbas para as emendas parlamentares, etc.). Ora, se a premissa principal dos cortes for a manutenção dos investimentos do PAC, a presidente terá de fazer um esforço político considerável para cumprir os (novos) objetivos fiscais. Corte gastos é omelete e não se faz sem quebrar ovos. A desconfiança de sempre O anúncio do novo "arrocho" fiscal do governo, anunciado em R$ 10 bi, mas não explicitado onde ocorrerá, foi novamente recebido com ceticismo por boa parte dos agentes econômicos. Calcula-se que o governo está apenas "esterilizando" parte dos extraordinários ganhos de arrecadação - não está cortando efetivamente gastos. Assim foi também com os R$ 50 bi do início. "Economizou-se, como dizia ontem um economista neutro, promessas". Basta observar que todas as despesas correntes deste ano estão maiores que as do ano passado. A começar pelas de pessoal. Caíram mesmo foram os investimentos, até porque o governo foi obrigado a pisar um tanto pesadamente no freio das estradas e rodovias do ministério dos Transportes. Eles vão deixar ? - I Parte do novo ajuste fiscal de Dilma está nas mãos do Congresso. É evitar que sejam votados e aprovados projetos como a PEC 300 (dos bombeiros e policiais), a regulamentação da emenda 29 (mais recursos para a saúde) e o reajuste do Judiciário (média de 56%). E também a redistribuição dos royalties do petróleo (veto de Lula). Todos projetos "caros" aos parlamentares em vésperas de eleição pelos grupos que atendem. Eles vão deixar - II No "pacote" fiscal de Dilma e Mantega, nos R$ 10 mi anunciados ontem pelo ministro da Fazenda, está incluído o corte das emendas dos parlamentares ? Este, recordemos, é o principal ponto da discórdia do governo com seus aliados. E se as contas prometidas pela ministra Ideli Salvatti não forem anunciadas, a lua de mel governista azeda antes de ter começado. O papel de Guido Mantega Ainda não está claro se a estratégia econômica do governo foi estruturada pelo ministro da Fazenda a partir de seu próprio diagnóstico ou se as premissas desta estratégia brotaram do Planalto. Esta questão é relevante para sabermos se os desgastes que hão de advir dos efeitos dos cortes fiscais serão assumidos pelo governo como um todo, sob a liderança de Dilma, ou se o ministério da Fazenda terá mais responsabilidade neste processo. Afinal de contas, Mantega deu uma guinada e tanto na sua forma de conduzir os assuntos da Fazenda. Antes hesitava em agir como um fiscalista verdadeiro, agora assume a missão com empenho público. Ademais, Mantega não parece estar dividindo muitas responsabilidades com Miriam Belchior, sua colega do Planejamento e responsável funcional pelo controle do orçamento. Rudimentar, meu caro Watson. Não foi apenas o ministro Guido Mantega que deu um "cavalo de pau" em direção a uma política mais "fiscalista". Para os de boa memória ainda está viva a carraspana que a presidente Dilma, então apenas a poderosa ministra chefe da Casa Civil, deu nos ministros Palocci (Fazenda) e Paulo Bernardo (Planejamento) quando os dois, aconselhados entre outros pelo ex-ministro Delfim Neto, ousaram propor a Lula a "zeragem" do déficit público. "Rudimentar" - fulminou Dilma na ocasião. Fica então a dúvida, e era isto que se falava ontem em terras do mercado : houve uma conversão de fato ou apenas de ocasião. Uma política fiscal dura, mesmo que para valer, demora um tanto a aparecer e tem efeitos difusos. Já os juros baixos batem na veia de quem reclama mais. A interpretação corrente é que o governo está criando argumentos para dar ao BC justificativas plausíveis para reduzir os juros o mais rápido possível, sem parecer que está cedendo a pressões políticas. Quem sabe já até um 0,25 ponto percentual de baixa amanhã. Outros preveem baixa de até 1,5 ponto até dezembro. O limite de Dilma Todo o temor do governo está na desaceleração da economia nacional, que não depende apenas de nós, mas dos europeus, americanos e até chineses. O limite da presidente ainda é buscar os 4,5% de elevação do PIB este ano. Mantega finca o pé, pelo menos publicamente, em 4%. A maior parte dos analistas não pega por mais de 3,5%. Há duas razões para a insistência do governo : (1) medo de insatisfações sociais e sindicais com a queda no consumo e na renda ; (2) temor das reações da base parlamentar, que só tem olhos para as eleições e não quer ir para as urnas com uma economia claudicante. E a política monetária ? Digamos que, em larga medida, o governo tenha sucesso na sua estratégia fiscalista. É difícil acreditar que o BC não será instado pelo governo, em timing próprio, a reduzir os juros. Não resta dúvida que existe uma "armadilha dos juros altos" na economia brasileira. Não é coisa de agora, mas das últimas décadas pós-plano Real. Desarmar esta "armadilha" é uma tarefa histórica, mas carece de cuidado com duas variáveis : (i) o câmbio valorizado que, caso se desvalorize, atrai riscos de inflação e (ii) a política de metas que precisa ser crível no exato momento em que a inflação está alta, mesmo que sob controle. Por tudo isso, podemos afirmar que, mais à frente, a elevada taxa de juros será questionada dentro do próprio governo. Muita atenção será requerida para se evitar os transtornos que a queda benigna e necessária dos juros provocará, caso se efetive. A decisão do COPOM Embora haja grande dispersão entre o analistas sobre como agirá nesta quarta-feira o COPOM sobre a taxa de juros básica, nossa opinião é que a autoridade monetária manterá a taxa inalterada por um bom tempo a partir de agora e considerando as variáveis de redução da atividade econômica e inflação ainda elevada. O BC vai esperar um pouco para ver como andará a economia nos próximos meses. De todo modo, vai ser uma tensão permanente entre o político e o técnico daqui até o fim do ano. Inadimplência e estoque de empréstimos Dado que o Brasil é campeão mundial em termos de juros, o estoque de crédito e financiamentos sobre o PIB de 47% é elevado. O BC e o governo já adotaram políticas e medidas de restrição ao crédito para se evitar problemas futuros nas carteiras bancárias. Todavia, a elevação discreta, mas nada desprezível, da inadimplência, sugere que os agentes econômicos e, sobretudo, o governo aperte a regulação do sistema financeiro e evite problemas futuros. Risco de crédito é mortal para as economias, basta dar uma olhada no complicado mundo que nos rodeia. A mudança (discreta) de Obama A política sempre regula a economia e vice-versa, como num processo de sístoles e diástoles. Obama está cada dia mais condicionado pela trajetória política cujo ápice será a eleição presidencial do ano que vem. Foi pensando nisso que o presidente dos EUA atraiu para as cercanias da Casa Branca o economista Alan Krueger, um policy maker versado em estímulos tributários para as empresas e o emprego. Afinal de contas, a morosidade na reação do setor laboral norte-americano é o principal risco à reeleição. Esta mudança está em sintonia com a estratégia monetária do Fed. O presidente do BC americano Ben Bernanke não deve, por ora, aumentar o estímulo monetário, mas, de outro lado, não deveremos ter restrições à inundação de moeda vigente no sistema financeiro. A calmaria dos mercados Muito embora nada de estrutural tenha se alterado na economia mundial, os diversos segmentos do mercado financeiro e de capital têm estado mais calmos nos últimos dias. Os agentes estão reagindo a menores pressões sobre os bancos, sobretudo os europeus, as medidas de contenção dos déficits fiscais no Velho Continente e aos recentes números de consumo (gastos pessoais) nos EUA. Há que se alertar, porém, que as variáveis de risco permanecem todas presentes no cenário, especialmente o "empoçamento" da liquidez nos bancos centrais e a pressão sobre os metais preciosos, um evidente sinal de que os investidores permanecem inquietos. Não é hora de abaixar a guarda. Ao contrário, crises sempre aumentam a volatilidade ao sabor do humor dos dias. Radar NA REAL 26/8/11   TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA alta/estável estável - Pós-Fixados NA alta/estável estável Câmbio ² - EURO 1,4494 estável/alta estável/queda - REAL 1,5960 estável/alta estável/queda Mercado Acionário - Ibovespa 53.350,79 baixa baixa - S&P 500 1.176,80 baixa baixa - NASDAQ 2.479,85 baixa baixa (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável Novo figurino Com um corte ainda meio mal ajambrado, nada que tenha saído das mãos de um grande costureiro, Dilma, seguindo os conselhos de Lula, está vestindo o figurino da política que ela se recusou a usar até agora. A questão é saber como ela vai se sair diante do ofidário que a cerca. Surpresas A presidente tem demonstrado desconhecimento e surpresa diante de alguns fatos desagradáveis que cercam seu governo. Explica um observador de Brasília que é real, não é jogo de cena como os "eu não sabia" de Lula. Lula tinha olhos e espiões para alertá-lo. Dilma é neófita na política e um tanto solitária, só agora está formando de fato seu grupo político. E mais : como tem justificada fama de brava, às vezes de intratável, muita gente tem medo de chegar perto dela e contar coisas. O dono da bola Até prova em contrário - e esta dificilmente ocorrerá - a estratégia, as táticas e tudo o mais das eleições municipais do ano que vem passarão necessariamente por Lula ; será como ele quiser. E Lula e os aliados estão muito mais adiantados nesses arranjos do que parece. A possibilidade de fracasso, mesmo que a estratégia, como no caso de São Paulo, seja arriscada e perigosa, está ligada a algum tipo de desarranjo econômico. Tudo caminha para uma goleada lulista, embora para o ex-presidente e seu ego seja uma derrota perder São Paulo. Sem bola, sem campo e sem camisa Quanto à estratégia da oposição, bem... Antes ela precisa se encontrar. Nem os pênaltis que o governo comete são aproveitados. Lei do silêncio Baixou um mutismo total nos aliados desde a semana passada, as pedradas continuam voando, mas silenciosamente. Ordens superiores. O TCU da discórdia Quatro governistas disputam recente vaga aberta no TCU : Átila Lins (AM) pelo PMDB, Aldo Rebelo (SP) pelo PC do B, Ana Arraes (PE) pelo PSB e pelo filho Eduardo Campos, e Jovair Arantes (GO) pelo PTB. A campanha e as intrigas correm soltas. Até agora não se viu as credenciais dos candidatos para os cargos. O que se discute são os apadrinhamentos e as compensações políticas. Há até a possibilidade de o governo usar a vaga para compensar algum partido que esteja com déficit de lugares no ministério ou no segundo escalão. É a nossa política. As acusações a José Dirceu As denúncias da Revista Veja sobre as atividades do ex-deputado cassado José Dirceu foram reputadas pelo líder petista como um ato criminoso pelo qual "a revista Veja, por meio de um de seus repórteres, também abriu mão da legalidade e, numa prática criminosa, tentou invadir o apartamento no qual costumeiramente me (José Dirceu) hospedo em um hotel de Brasília." Esta coluna não tem a menor condição de apurar fatos e opinar sobre eles, mas acha justo que as coisas se resolvam nas cortes judiciais. A única pergunta que nos cabe em relação às atividades de José Dirceu é : quais são as atividades dele em Brasília ? O ex-deputado se qualifica como "cidadão brasileiro, militante político e dirigente partidário". À luz desta qualificação, a pergunta é legítima, mesmo que o Dirceu não queira respondê-la ? ____________ A coluna Política & Economia NA REAL, integrante do portal Migalhas (www.migalhas.com.br), é assinada por José Marcio Mendonça e Francisco Petros. Se você deseja compartilhar gratuitamente estas migalhas, verdadeiras pílulas de sapiência, com algum amigo, alterar seu e-mail, ou cancelar o envio, clique aqui. ____________
terça-feira, 23 de agosto de 2011

Política & Economia NA REAL n° 166

Os contrastes da política com a economia I Tudo parecia acertado para o governo iniciar ainda este ano um movimento consistente de queda na taxa de juros e, ao mesmo tempo, um afrouxamento na política de austeridade fiscal que a presidente Dilma e o ministro da Fazenda, secundados pelo BC, apregoam que irão adotar nos quatro (primeiros) anos do "dilmato". É o roteiro natural do Brasil em anos ditos políticos (na realidade, eleitorais) - gastos públicos mais generosos para ampliar o cacife dos parceiros nas urnas. Veja-se o que foi 2010. Um ministro chegou a anunciar a liberalidade fiscal para dois dos mais bem informados repórteres de Brasília - Claudia Safatle e Raimundo Costa, do "Valor Econômico". O governo gostaria de repetir sua receita de 2008-2009 de incentivo ao consumo que renderam frutos até as urnas do ano passado. Os contrastes da política com a economia II A engrenagem emperrou. Os dados preliminares da inflação, prévias do IPCA e do IGP-M, vieram mais salgados que o esperado. Os analistas voltaram a prever preços mais elevados. A azáfama externa para conter o tropeço das economias ricas não funcionou. Os PIBs dos grandes estão indo mais para o buraco do que se previa. O único sinal "positivo" foi o levantado pelo BC (IBC-Br) de que o PIB nacional está desacelerando, correndo hoje numa média anual de 3%. O que desagrada a Dilma : ela não deseja crescimento de menos de 3% para não começar a ter problemas mais sérios de desemprego com suas consequências políticas. Por isso, Mantega apareceu na segunda-feira garantindo que o ajuste fiscal de 2011 e 2012 serão para valer, com o superávit primário "cheio" e não com abatimentos e subterfúgios. O desafio é equilibrar esse desejo com os desejos eleitorais dos aliados, somados ao conjunto de gastos já contratados para o ano que vem. A natureza da crise As armas que o governo nacional está preparando para combater os efeitos da crise internacional sobre o Brasil, quando e se eles começarem a se manifestar, guardam semelhanças totais com a que foi adotada na "marolinha" provocada pelos subprimes americanos. Contudo, esta crise tem natureza diferente (conforme já comentamos em colunas anteriores) e, por isso mesmo, exige ataques distintos. A crise de 2008 era financeira. Agora, é uma crise dos Estados, o que implica em condicionantes políticos, como se viu na queda de braço do presidente Obama com os republicanos e também nas vacilações europeias. Alemanha conspira contra a Europa A chanceler alemã Angela Merkel é a campeã atual da falta de percepção sobre o que está a ocorrer mundo afora. Vê a Alemanha como se fosse uma ilha isolada do mundo e sujeita à necessidade de ajustes supranacionais às condicionantes paroquiais de seus pares políticos. Ao rejeitar a formação de uma "dívida europeia" como contraponto às dívidas nacionais dos países-membros, ela esquece que este é um passo necessário para que se estabeleça uma coordenação efetiva da política fiscal. Comenta a líder alemã que a emissão de títulos europeus "conspira contra a Constituição alemã". Puro argumento que distorce as discussões sobre as mudanças que permitiriam o aprofundamento da União Europeia. Típico argumento que exemplifica as "condicionantes políticas" de que trata a nota anterior. Mais volatilidade à vista I Já comentamos anteriormente que o excesso de volatilidade será a marca principal dos mercados nas próximas semanas. Talvez meses. As economias centrais vão desacelerar mais e farão brotar mais pessimismo, acentuado pela percepção crescente de que a fragilidade financeira demorará a ser solucionada. Mais volatilidade à vista II Para o Brasil, em particular, e os emergentes, em geral, a volatilidade pode ser ainda mais acentuada. O processo de "desalavancagem", fruto da redução de ativos em função de resgates de investidores de fundos está apenas começando e há investidores que vendem posições neste segmento de mercado (recheado de lucro) para "cobrir" prejuízos em outros mercados. Nunca é bom acentuar o pessimismo, mas nunca é bom minimizar os riscos. Portanto, atenção. A reunião dos bancos centrais Ao final desta semana na cidade de Jackson Role (ironicamente um nome apropriado) se reunirão os principais presidentes de bancos centrais do mundo. Será uma típica reunião onde quase todos irão para escutar. Para falar mesmo talvez apenas o presidente do Fed, Ben Bernanke. Há substantiva possibilidade de que o chefão do BC norte-americano anuncie novas medidas de estímulo à demanda da parte do Fed. Algum otimismo pode existir para o mercado. Todavia, depois que o Congresso dos EUA encurralou Obama e os candidatos republicanos lançam fogo contra o Fed, o espaço de manobra de Bernanke está muitíssimo menor. O otimismo, assim, não deve prosperar. Infelizmente. Estranho silêncio Há um mês o governo anunciou medidas na área cambial para conter o que ele classifica como abuso na área de derivativos e segurar um pouco a valorização do real. A medida foi recebida com ceticismo nos setores interessados, quando não com franca hostilidade. Falou-se em rediscutir a questão, pois as medidas, por prudência, haviam sido tomadas sem consultas. Deste então, porém, não se toca mais no assunto. Nem do lado do governo, nem do lado de fora. Radar NA REAL 19/8/11 TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA alta/estável estável - Pós-Fixados NA alta/estável estável Câmbio ² - EURO 1,4384 estável alta - REAL 1,6019 estável/alta estável/queda Mercado Acionário - Ibovespa 52.447,59 baixa baixa - S&P 500 1.123,30 baixa baixa - NASDAQ 2.341,84 baixa baixa (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável Partido de quadros Embora tenha desde o princípio atraído intelectuais, militantes e a classe média dos movimentos de combate ao regime militar, o PT nasceu principalmente como um partido de bases, sustentado nos líderes sindicais atraídos por Lula. Ao longo dos anos e a assunção ao poder, foi perdendo esta característica até virar o que é hoje - um partido de quadros. A imposição da candidatura Dilma por Lula e agora, o sucesso que o ex-presidente está conseguindo com a oferta de Fernando Haddad para disputar a prefeitura de São Paulo, são os sinais mais flagrantes desta inflexão petista. O resto se completa com o abandono, na prática, da prática de prévias para escolher os candidatos partidários aos postos eletivos no executivo. Assim se explica a inquietação dos petistas à antiga, de origem sindical. O motivo real O agora já ex-ministro da Agricultura, Wagner Rossi, estava baleado quando pediu demissão. Poderia ter ficado mais um pouco, no entanto, tentando ver se amainava o "fogo amigo" assestado em sua direção. Entendem-se também as razões familiares evocadas para Rossi não aceitar os ditos "apelos" para ele continuar. Mas a saída dele tem outro motivo : preservar gente do PMDB e do governo anterior se a saraivada de denúncias, com investigações da imprensa, continuassem ativas. O fogo já se alastrava perigosamente para a Conab e ameaçava descer a serra em direção ao porto de Santos. Por isso, há corações eternamente gratos a Rossi. A expectativa é valer a "conspiração do silêncio" que cerca certas histórias quando o personagem principal sai de cena. Que se sabe mais do episódio Palocci, da real origem do dinheiro das consultorias e da distribuição desses recursos ? Como andam as investigações sobre as estripulias no ministério dos Transportes, fora o magote de demissões. A dinheirama que saiu pelo ralo será reposta ? A contribuição de Rossi Wagner Rossi "deu importante contribuição ao governo com projetos de qualidade que fortaleceram a agropecuária brasileira". Palavra da presidente Dilma ao anunciar a mudança no ministério. Qual seria mesmo esta contribuição ? Wagner Rossi assumiu o ministério em 1º/4/10. No dia da mentira. Uma ironia apenas. Capina na Agricultura O novo ministro da Agricultura toma posse com a autorização da presidente Dilma de fazer a "faxina" no ministério que teria sido pedida a Rossi antes dele pegar o boné. O alvo maior é a Conab, dita jocosamente "o DNIT do PMDB". Mendes Ribeiro vai mostrar se a vassourada é para valer quando livrar-se da parentalha peemedebista pendurada no órgão : um filho de Renan Calheiros, um neto de Mauro Benevides, a ex-mulher de Henrique Alves. Até agora, apenas Jucazão e Jucazinho pagaram o pato, o que pode caracterizar uma discriminação odiosa, politicamente incorreta. Sem assunto A oposição precisa urgentemente mudar o lado do disco, ninguém aguenta mais o mantra das CPIs, até porque se sabe que nenhuma CPI indesejada pelo governo acontecerá no Congresso. Seria bom, também, que a oposição arranjasse outros temas, com propostas concretas de políticas alternativas às que o governo não quer apresentar : reforma previdenciária, reforma administrativa, reforma tributária. O Planalto só quer mais do mesmo, nada que provoque polêmica ou divida a base aliada. A oposição nem mais do mesmo parece querer. Aécio avançou Depois de um longo período cultivando um enorme vazio de projetos, Aécio Neves conseguiu uma bela vitória ao aprovar o seu projeto na Câmara das mudanças na tramitação das MPs entre o Senado e a Câmara. A vida dos parlamentares deve ficar mais dura, mas o Executivo é aquele que terá de se comportar melhor daqui por diante. Sobretudo, no que se refere ao "contrabando" das MPs (legislar sobre assuntos variados por meio de uma mesma MP). Paz precária A paz que a presidente Dilma celebrou com seus aliados tem rachaduras. Se as contas não forem pagas, voltará a choradeira. Afinal, a eleição municipal já começou. E as amabilidades entre os aliados e dentro dos próprios partidos continuam sendo trocadas à vontade. Além disso, as agruras estão no ar : o ministério do Turismo e, agora, o das Cidades estão na roda que moeu já os Transportes, a Agricultura e a Casa Civil. Os testes Essa paz será mesmo testada quando entrarem na pauta do Congresso algumas pendências por lá : 1. Prorrogação da Desvinculação das Receitas da União (DRU).2. O aumento do Judiciário.3. A PEC 300, com os reajustes de policiais e bombeiros.4. A regulamentação do aumento das verbas para a Saúde.5. A votação do veto de Lula sobre a nova distribuição dos royalties do petróleo.6. A EC, já aprovada na Câmara, com as mudanças na regras para edição de MPs.7. O veto de Dilma à proibição de cortar as emendas do parlamentares no Orçamento. Ciumeira geral Diz o popular que ciúme de homem é tenebroso. Mais tenebroso ainda é o ciúme de político. Os céus riscaram fogo nos quintais tucanos e petistas com as cenas de civilidade explícita protagonizadoa por Dilma, Alckmin e FHC quinta-feira no Palácio dos Bandeirantes. Preocupou também outros aliados : alguns desconfiam que a presidente está a adular a oposição para mostrar que às vezes pode passar sem eles. Revisionismo Sempre se soube - pelo menos assim foram vendidos ao distinto público - que os bem-sucedidos CEUs, uma das melhores inovações da gestão petista na prefeitura de SP, foi uma criação da prefeita Marta Suplicy. Assim como o bilhete único, os investimentos na periferia e a decisão de ampliar os corredores de ônibus. Agora, começa a aparecer nova paternidade para os CEUs : teriam nascido na cabeça do ministro da Educação Fernando Haddad, quando ele era o principal auxiliar da João Sayad na secretária de Finanças do município de São Paulo. No andar da carruagem, Marta, que já está sendo preterida na disputa municipal do ano que vem, corre o risco de perder o direito autoral de outras criações e virar apenas a "Martaxa" dos paulistanos. Chalita e a educação Se for mesmo a educação um dos temas que mais polêmicas gerarão na disputa pela prefeitura de SP, Gabriel Chalita, hoje no PMDB e ex-Secretário de Educação de SP, terá de defender a sua experiência anterior quando estava no ninho tucano frente a experiência petista de Fernando Haddad, se este vier a se confirmar como candidato petista. Novamente tucanos versus petistas. Resta saber se Chalita atacará a atual gestão estadual de seu amigo Alckmin na área de educação. Em tempo : também Chalita terá de fazer um enorme esforço para ser o candidato à prefeitura de SP e escapar das negociatas políticas que possam existir a partir de Brasília. Ali pelos lados do Jaburu. ____________ A coluna Política & Economia NA REAL, integrante do portal Migalhas (www.migalhas.com.br), é assinada por José Marcio Mendonça e Francisco Petros. Se você deseja compartilhar gratuitamente estas migalhas, verdadeiras pílulas de sapiência, com algum amigo, alterar seu e-mail, ou cancelar o envio, clique aqui. ____________
terça-feira, 16 de agosto de 2011

Política & Economia NA REAL n° 165

*** Exclusivo *** Lançamento : O QUE SEI DE LULA José Nêumanne Pinto, poeta, escritor, jornalista e chefe dos editorialistas do Jornal da Tarde, articulista de O Estado de S. Paulo e comentarista da Rádio Jovem Pan e do Jornal do SBT lança nesta terça-feira no RJ (Livraria da Travessa - Ipanema, às 19h) e no próximo dia 23 em São Paulo (Livraria da Vila - Vila Madalena, às 19h) o livro "O Que Sei de Lula" (Editora Topbooks, 522p.), uma investigação analítica sobre o ex-presidente. Um livro polêmico sobre o político "metamorfose ambulante", como o próprio Lula se intitulou. Com exclusividade, esta coluna entrevistou o autor do livro. Vale conferir a visão polêmica de Nêumanne a respeito de Lula. Para ver, clique aqui. ____________ A natureza da atual crise I Há na mídia um rol enorme de discussões nas quais os economistas debatem se a crise de agora é "nova" ou "uma continuação" da crise de 2008. Ora, muito embora esta questão seja interessante do ponto de vista acadêmico, o mais importante a se saber é que as três principais características da crise financeira de 2008 não foram superadas : (i) a fragilidade do sistema financeiro das economias centrais, (ii) a impotência do consumo e do investimento em função do elevado endividamento de indivíduos e empresas e (iii) a existência de enormes déficits fiscais dos países, fruto da "salvação" de grandes segmentos de empresas e bancos. Neste sentido, a crise é a mesma de 2008. Tomando por base esta premissa, alguém poderia argumentar que, se as causas da crise são as mesmas, por que não receitar as mesmas políticas, os mesmos "remédios" ? Aí é que a questão se torna extremamente complexa. Vejamos. A natureza da atual crise II A crise de 2008 ocorreu num momento em que os governos das principais economias, em geral, tinham capacidade de gerar déficits fiscais em larga medida, pois o crédito privado não tinha "contaminado" o setor público. Assim, a intervenção estatal funcionou como elemento de resgate da desconfiança generalizada no sistema financeiro e nas empresas. Neste momento, o fator mais crítico é que o setor público (os Estados) encontram-se sob fogo cerrado dos agentes os quais desconfiam que os elevados déficits públicos ou não serão sanados (pagos) no futuro ou/e impedirão a gradual recuperação da capacidade de poupar/investir do setor privado. Portanto, o "remédio" administrado no passado não pode ser repetido no atual momento, seja em termos de volume de recursos que podem ser disponibilizados para o setor privado pelo setor público, seja em termos de adição de credibilidade que torne hígido o sistema financeiro. Desta constatação é que nasce a convicção de que esta crise é mais perigosa e "diferente" da de 2008. Crise crônica, situações agudas A natureza da crise acima descrita faz com que se possa prever que há elevada probabilidade de que a estagnação da atividade econômica das principais economias seja muito longa. Aqui não nos cabe prever mais do que isto, pois não há modelos de previsão disponíveis que permitam uma estimativa razoável para afirmar se a estagnação será de cinco ou dez anos (há que se notar que muitos economistas continuam a prever o que não é possível prever). O risco deste processo pode ser econômico, mas a principal consequência e o meio pelo qual a situação mudará é, essencialmente, política. Até quando os governos e as sociedades dos países aguentarão taxas de desemprego tão elevadas quanto as atuais ? Como os eleitores farão mudar pelo voto as políticas econômicas ? Como serão arbitrados os conflitos entre os interesses das classes trabalhadores e os detentores do capital ? Estas são as questões mais importantes a serem observadas, muito embora devamos nos ocupar do dia a dia com grande atenção. A natureza do debate Daqui para frente o debate mais importante na política e na economia diz respeito ao binômio "política monetária versus política fiscal". Basta reparar que, por enquanto, a única reação organizada da Europa e dos EUA veio da área monetária. O BC Europeu e o Fed estão inundando o mercado financeiro de recursos com o objetivo de retirar das mesas de operação a desconfiança que impera nestes momentos agudos. Os BCs podem (e devem) criar moeda até o limite em que "as coisas se acalmem". É isto que será feito com certeza. Todavia, há o lado fiscal já deteriorado sobre o qual dois diagnósticos básicos provocam (e provocarão) acalorados debates. Economistas verdadeiramente keynesianos dizem que é necessário que os déficits sejam ainda mais elevados para evitar o colapso da demanda agregada (consumo mais investimento). De outro lado, há os fiscalistas que pregam que a expansão monetária tem de ser acompanhada pela contenção fiscal com o fito de escapar da armadilha da falta de credibilidade do crédito público. É cedo para decifrar o que será feito, mesmo porque isto dependerá muito mais da política (vide o caso de Obama) que dos PhDs que cercam os governos e o setor privado. Um número incômodo Para ver que a classe política por aqui e lá fora vai mal não é preciso ler com atenção as notícias dispostas na mídia. Quando 82% dos americanos reprovam o Congresso do país, a coisa é muito preocupante. É o que diz a pesquisa encomendada na semana passada pelo NY Times e pela CBS. Triste sina a dos pais-fundadores da grande democracia do ocidente. Uma lembrança aos "ortodoxos" Se há uma razão para a deteriorada política fiscal das principais economias temos de lembrar que a origem desta crise está sedimentada na irresponsabilidade, imperícia, negligência e imprudência dos sistemas de controles dos Estados sobre as operações do setor privado, sobretudo o setor financeiro. Não é necessário ser doutor em economia ou política para verificar que a falta de políticas verdadeiramente republicanas que deveriam salvaguardar o interesse de todos causou a tragédia atual. Ou seja, os interesses de alguns grupos de poder, sobretudo do segmento financeiro, se instalaram dentro dos Estados e desguarneceram o poderio fiscalizador e regulador destes. Premissas ideológicas (livre-mercado, desregulamentação, etc.) comprovaram-se falsas quando o assunto diz respeito ao interesse público. Mecanismos de criação de crise preservados Os hedge funds, os especuladores instalados em certas instituições financeiras, a contaminação de diferentes riscos de créditos em instituições financeiras singulares, a ausência ou excesso de flexibilidade na concessão de crédito, etc., estão, senão intactos, bastante atuantes na atual rodada da crise. Os governos permanecem débeis e incapazes de promover reformas estruturais que aumentem a segurança das economias. Tudo isto em detrimento do emprego e da produção. No jogo entre a "economia real" e "a economia financista" a vitória esmagadora é desta última. Até agora, pelo menos. O Dilema de Dilma I Declarações formais ou "vazadas" da presidente Dilma demonstram que, para combater a atual crise, ainda não houve uma definição sobre a estratégia que seu governo adotará. Assim como nas principais economias, o "espaço fiscal" no momento é bem mais diminuto para não dizer que é inexistente. Portanto, a escolha por uma política monetária expansionista seria mais natural. Todavia, há dois problemas críticos no caminho da presidente : o primeiro é que inflação está alta e é preciso controlá-la. O segundo é que o governo caiu docemente na armadilha da valorização cambial. Se os juros caírem, o câmbio pode subir e mais inflação virá. Ainda mais com a chance (cada vez mais concreta) de que as commodities caiam, talvez despenquem. Por tudo isso, a saída mais recomendável para o Brasil, país relativamente saudável frente a um mundo complicado, é que a política fiscal seja fortalecida e os juros comecem a cair na direção de um patamar civilizado. Estamos falando de uma política fiscal de superávit fiscal bem acima dos atuais 2% previstos - algo como 4% seria o ideal. A presidente escolherá este caminho ? O Dilema de Dilma II As primeiras (e incompletas) declarações da presidente dão pistas de que a escolha dela será pela via fiscal. Os jornais já noticiam esta escolha. Todavia, a presidente, o Congresso e a sociedade terão de suportar as conseqüências : menor atividade econômica e projetos de investimento adiados. A vantagem desta escolha é que esta pavimenta um crescimento no futuro - o qual pode ser mais longo que o mandato de Dilma - mais seguro e consistente. A desvantagem é que não haverá bons frutos nas próximas eleições. Não é uma "escolha de Sofia". Na verdade é uma escolha de estadista. Avaliando as muitas variáveis que normalmente agem dentro de um governo, a probabilidade maior é que algo "médio" seja feito. Os compromissos imediatos do atual governo com o PT e seus aliados dão pistas de que tarefas de grande envergadura como a da política fiscal ficam mitigadas. A conferir. Qual austeridade ? Está no discurso oficial e oficioso, inaugurado para convencer os brasileiros mais informados de que o governo não "tergiversará" com as ameaças de crise financeira internacional bater nas portas do país, a promessa de manter sob estrito controle o gastos públicos. Dilma tem dito isto sempre que pode, no público e no privado. A ministra Miriam Belchior, do Planejamento, disse até que o governo pode tornar definitivo o contingenciamento de R$ 50 bi no Orçamento anunciado no início do ano. Na realidade, não houve cortes reais. Houve suspensão de promessas. As despesas oficiais continuam crescendo em relação ao ano passado, inclusive a de pessoal, esta puxada ainda por aumentos concedidos nos tempos de Lula, alguns estendendo-se até 2012. Mantega deve anunciar esta semana mais um excelente resultado no superávit primário, a economia feita para pagar juros. O governo já fez quase dois terços do previsto para no ano todo. Porém, a maior contribuição vem da receita - e no mês passado de uma arrecadação especial de cerca de R$ 7 bi, fenômeno que não aparece todo dia no horizonte. E em 2012 ? Com alguns dos 32 vetos que assinou ontem na LDO do ano que vem, aprovada pelo Congresso em julho, Dilma reforça as suspeitas de o discurso da "austeridade fiscal" ser mesmo mais discurso do que realidade, agora e para 2012. Os temores de que ano que o governo não consiga cumprir as metas de superávit primário (3,1% do PIB), sem mágicas, obviamente, são grandes. Por pelo menos três razões : (1) é ano eleitoral ; (2) há um aumento contratado do salário mínimo de 14%, o dobro da inflação prevista para o semestre ; (3) será preciso acelerar os gastos já atrasados com obras da Copa e das Olimpíadas. Sem contar alguns reajustes salariais de difícil negociação como o pretendido pelo Judiciário, de cerca de 55% em média. Pois bem. Apesar de todas essas restrições, a presidente vetou dois itens da LDO, ambos propostos pela oposição, que ajudariam o governo a segurar as pressões gastadoras. Recusou o artigo que estabelecia que o déficit nominal do setor público (os gastos totais incluindo juros) ficasse limitado a 0,87% do PIB ; hoje eles passam dos 2%. E não aceitou também a norma que obrigava incluir no Orçamento os financiamentos feitos pelo Tesouro aos bancos oficiais através da emissão de títulos. Com isso, com os repasses periódicos feitos, por exemplo, para o BNDES, o governo estabelece um "Orçamento paralelo", fora do controle do Congresso, ampliando a dívida pública e dificultando a política monetária do BC. Como diria o "nosso Delúbio", austeridade demais é burrice - eleitoral. PS - Nisso tudo, a presidente merece um aplauso : vetou também a pretensão dos parlamentares de retirar as famosas verbas de qualquer tipo de contingenciamento de início do ano. O pagamento seria automático e obrigatório, farra para ninguém botar defeito. Radar NA REAL 12/8/11   TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA alta/estável estável - Pós-Fixados NA alta/estável estável Câmbio ² - EURO 1,4443 estável alta - REAL 1,5923 estável/alta estável/queda Mercado Acionário - Ibovespa 53.473,39 baixa baixa - S&P 500 1.178,81 baixa baixa - NASDAQ 2.507.98 baixa baixa(1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável A China vai desacelerar Além de ser um país pouco transparente frente a sua importância política e econômica na economia global, a China não é uma "ilha" isolada do mundo. Ao contrário, é muito dependente do consumo e investimento das economias mais poderosas do mundo. A provável queda (mais aguda ou mais leve) do PIB dos EUA e da Europa vai afetar o portentoso crescimento chinês. Por via indireta, portanto, isto vai bater em nossas contas externas, já que um terço de nossas exportações é para a China. O risco de o nosso déficit de transações correntes subir de 2% para algo como 4% do PIB não é nada desprezível. O risco do momento Ficar vendido em dólar e comprado em reais já foi uma estratégia muito segura. De agora em diante, talvez seja suficientemente arriscada o que pode evitar a entrada de tanto capital externo. Kassab vai ao Planalto Em meio à montagem de seu PSD, Gilberto Kassab visitou Dilma na semana passada para pedir a renegociação da dívida paulistana de R$ 46,3 bi. Kassab quer juros anuais de 6% contra os atuais 9%. É muita coisa, se levarmos em conta o prazo médio da dívida. Haveria uma redução de quase 30% em termos de valor presente. O apoio futuro do prefeito ao governo não deve valer tanto. A volta de Elena Landau O governo tem muitas mazelas para curar, sobretudo com seus aliados. Todavia, à oposição sobra letargia. A ida de Elena Landau para o Instituto Teotônio Vilela, a convite de seu presidente, Tasso Jereissati, parece oportuna para que o PSDB volte a se articular em termos programáticos para enfrentar o governo. Resta saber se Landau está renovada em termos de ideias. Se for para repetir que o PSDB fez um grande governo no passado, a coisa vai começar mal. Os intelectuais e Haddad Pela mão de Lula, o ministro Haddad está a trilhar o caminho de sua candidatura à prefeitura paulistana. Na última sexta-feira, reuniu-se com os intelectuais ligados ao PT. Pelo que soube esta coluna, o encontro foi muito cortês e não se tocou em nenhum ponto nevrálgico que pudesse retirar os sorrisos do candidato e o bom humor dos intelectuais. Todavia, o favoritismo de Marta Suplicy em relação à candidatura permanece, apesar dos efeitos da prisão de seu antigo assessor no ministério do Turismo. Renovação na política brasileira Os jovens candidatos à prefeitura de SP, Gabriel Chalita e Fernando Haddad estão sendo "apresentados" por velhas raposas da política, no caso, Lula e Michel Temer. Eis uma renovação muito bem comportada do ponto de vista partidário. Serão as raposas tomando conta do galinheiro ? Dilma e a solidão do poder Oito meses depois da posse e com a descarga de três ministros que não eram de sua cozinha no ar, a presidente Dilma está exatamente, em matéria de operação política, na mesma situação em que se encontrava às vésperas de assumir a vaga que Lula carinhosamente preparou para ela : mantém uma invejável base de apoio parlamentar no Congresso, e não sabe qual o grau de fidelidade tem de seus parceiros e em qual limite pode contar com eles. O rearranjo ministerial provocado pela saída de Palocci apenas aparentemente deu mais coesão, e, portanto, melhores condições de ação, à presidente. Na realidade, escancarou os amuos e descontentamentos dos partidos aliados. Sem que Dilma, talvez por falta de condições objetivas, talvez por vontade sincera de mudar a lógica perversa do presidencialismo do toma lá dá cá, tenha se entendido por seus apoiadores. O ar de rebelião na base governista está ficando irrespirável, pode ser despoluído um dia, mas a tensão, como o jogo está sendo jogado, é permanente. Dilma está numa encruzilhada, se cede às pressões cada vez mais escancaradas, mesmo que um tanto disfarçadamente, perde o pé das iniciativas. Se não cede, pode ser garroteada. E não tem muito para onde correr. Não tem diálogo com a oposição - o que de pouco adiantaria, pois o oposicionismo está em recesso, em crise de identidade. E as pessoas com quem poderia se socorrer no mundo político, são fervorosos adeptos da "realpolitik" a moda brasileira - é dando que se recebe. A "solidão do poder" é a síndrome que começa a acometer a presidente da República num momento em que ela precisa paz para pensar a boa política e crise econômica. O mordomo vai pagar As reações oficiais ao trabalho da PF no caso do ministério do Turismo e as imprecações contra a imprensa por causa das denúncias no ministério dos Transportes e no ministério da Agricultura indicam a intenção sibilina de jogar toda a culpa no mordomo. A PF pode até ter exagerado, a divulgação das fotos de suspeitos sem camisa saiu do controle, admita-se, para efeito de argumentação, que a imprensa tem alguma fixação por malfeitos, mas nada do que até agora veio à mira é invenção. E ninguém no mundo oficial ficou indignado com os fatos, só com os seus efeitos sobre os servidores suspeitos. Ainda no episódio das ferrovias e rodovias tivemos reações imediatas, com uma leva de demissões. Mas parece que está ficando por isso mesmo : onde estão as investigações, os processos contra os demitidos ? Ou as demissões foram injustas. Depois dos Transportes, o ânimo "faxineiro" foi arrefecendo. Quem é o protegido ? A determinação do governo de evitar investigações no Congresso sobre os desvios de conduta em vários ministérios, levanta dúvidas sobre quem o Planalto está querendo proteger : se os parceiros dos partidos aliados (depois de dar um susto geral por meio do PR) ou se o governo passado, período no qual as três histórias conhecidas se desenrolaram em sua maior parte ? Um O tratamento recebido pelo PMDB de Temer, Sarney e Renan Calheiros não é o mesmo dispensado ao PR de Alfredo Nascimento, Blairo Maggi e Valdemar da Costa Neto. Uns são mais iguais que os outros. Dois A lenta porém firme adesão que a pretendida candidatura do ministro Haddad vem conseguindo do PT paulista é a mais clara indicação de que no petismo não há ainda quem ouse contraria o ex-presidente. ____________ A coluna Política & Economia NA REAL, integrante do portal Migalhas (www.migalhas.com.br), é assinada por José Marcio Mendonça e Francisco Petros. Se você deseja compartilhar gratuitamente estas migalhas, verdadeiras pílulas de sapiência, com algum amigo, alterar seu e-mail, ou cancelar o envio, clique aqui. ____________
terça-feira, 9 de agosto de 2011

Política & Economia NA REAL n° 164

Menos preocupação com as três letrinhas O presidente da Pacific Investment Management Company, Mohamed El-Erian, definiu bem os efeitos do rebaixamento do crédito realizado pela Standard & Poor's em relação à dívida dos EUA de "AAA" para "AA" : "A ação da S&P unirá governos em um esforço para erodir o monopólio e a influência operacional [das agências de classificação de risco]". De fato, nesta segunda-feira, já tivemos um evidente sinal desta análise. Os países do G-20 decidiram manter as suas posições em títulos do Tesouro norte-americano. Não há alternativa. O dólar é a mais importante moeda internacional e não há, minimamente, nenhuma moeda que possa ocupar o seu lugar no médio prazo. A S&P, essa sim, demonstrou a olhos vistos sua irrelevância. Suas análises contam a história e não são capazes de contribuir minimamente para a prevenção de crises. A empresa está intimamente ligada aos interesses mais imediatos dos investidores e não com o sistema como um todo. O tempo dirá se isso muda, mas uma coisa é certa : não são as "letrinhas" da S&P que irão alterar as decisões de investimento em relação aos EUA no curto prazo. Muita preocupação com duas letrinhas Se há um ponto central nesta crise, este diz respeito ao impacto dos eventos recentes sobre a economia mundial, especialmente no que tange aos países centrais do capitalismo moderno. A maior probabilidade é que a recessão volte a campear a economia real e o desemprego tende a se tornar um fator de fortíssima turbulência política. Acreditou-se que, após a crise de 2008, a atividade econômica seguiria um perfil de "V", ou seja, a recessão não seria tão longa e o retorno da produção seria mais rápida, algo entre três e cinco anos. Agora, especula-se, com razão, que a trajetória seja em "W", ou seja, uma nova recessão virá, talvez mais profunda, após a de 2008. Há um terceiro cenário, no qual, a produção cai agora e se estabiliza num patamar bem inferior ao do passado recente - mas este cenário não é a essência da "sopinha de letras" dos economistas, muito embora também seja relativamente provável. Os olhos, de novo, voltarão à Europa Os EUA tiveram sua rodada de más notícias completadas, nesta fase, nas últimas duas semanas. Agora, o mundo vai observar como os europeus, desorganizados e desunidos, tratarão suas mazelas. Há considerável possibilidade de que as recentes lições sirvam de exemplo e, assim, Espanha e Itália possam sair da linha de tiro dos investidores internacionais. Ficará claro, a partir de agora, o vergonhoso papel que os europeus exerceram sobre a crise grega, sobretudo a Alemanha, sabedora dos impactos que iria gerar. Será preciso controlar os riscos de crédito para depois, quem sabe, tratar da tragédia que recai sobre o setor produtivo das economias. A chance para a União Européia é aprofundar a integração. O problema é como fazer isto quando eles não falam a mesma língua, literalmente. A China é um grande risco Não nos iludamos. A acusação chinesa de que a América é muito endividada procede. É o "óbvio ululante". Será a democracia a resolver esta realidade, na base do voto e do suor da grande nação do ocidente. Do lado chinês a coisa é bem pior : o país vive do dumping social, da ausência de condições de trabalho de grande parte de sua massa trabalhadora, da falta de liberdade política e social e das práticas comerciais que levam ao barateamento de sua produção. Os chineses nem sequer ajustaram sua taxa de câmbio para evitar o aguçamento da crise estrutural por qual passa o globo. Agora, ficará evidente que a China vive do abuso de consumo dos norte-americanos que se endividam com terceiros para comprar e comprar. Deste modelo, pacificamente participam os chineses. Os efeitos da desaceleração econômica recairão sobre a China e por lá não há democracia para estabilizar o sistema econômico. Vale a política da repressão. Este risco ainda não surgiu no horizonte, mas há de nascer como um poente para os preços inflacionados, incluindo as nossas commodities. Brasil, chance estratégica pode ser perdida O Brasil tem a oportunidade histórica de se sair melhor após esta crise. Sua situação fiscal não é deplorável como os países centrais, e sua posição externa é bem mais estável. É certo que a atividade econômica sofrerá os efeitos da queda de preços no exterior, sobretudo das matérias-primas que vende para que os outros as industrializem. Todavia, o país nos próximos dez anos deveria aumentar o grau de conteúdo tecnológico na produção industrial e reformar sua infraestrutura, além de cumprir a "velha" agenda relacionada com a educação, saúde e previdência. Bem, o que se vê é um Estado ainda despreparado para cumprir esta tarefa estratégica e, do ponto de vista conjuntural, câmbio completamente fora de lugar e, ao seu lado, os maiores juros da face da Terra. A corrupção e os desmandos na área política também compõem este misto de rara oportunidade estratégica e absoluta falta de autoestima com suas próprias possibilidades. Efeitos sobre o mercado ainda incipientes Não podemos ignorar o fato de que a crise externa ainda não contaminou nossa economia. Estamos ainda na fase primeira deste processo. Ou seja, ninguém deveria acreditar que a queda recente da bolsa de valores local e os efeitos já ocorridos no campo dos juros já passaram. Nada disso. O ciclo negativo se iniciou há cerca de três meses, conforme alertamos aqui neste espaço, e deve se propagar mais nos próximos meses. Não nos arriscamos a prever uma espiral negativa profunda, mesmo que esta possa ser provável. Que a trajetória é claramente negativa, não resta dúvida. Portanto, reforçamos nossa mensagem de prudência para os investidores e para o setor real. É preciso não sucumbir ao dia a dia do noticiário, sob pena de se adotar o comportamento esquizofrênico que o "tal do mercado" assume em momentos como o que estamos passando. Sem nos precipitarmos... Podemos dizer neste momento que a recessão que deverá vir pela frente na economia mundial tem tudo para ser mais profunda e mais longa que a de 2008. O sistema financeiro mundial está em frangalhos, as políticas keynesianas já foram implementadas e provocaram enormes crises fiscais e os investidores (da economia real e do mundo financeiro) estão mais céticos. Estas são das poucas (e relevantes) razões para evidenciar o difícil período que virá. O que falta mais ? A política, os políticos e suas estruturas não estão preparados para liderar um New Deal que possa engendrar a solução dos problemas estruturais da crise atual. Infelizmente, Obama não é Roosevelt e o Congresso dos EUA já deu provas que virou suas costas para as novas gerações e mira nas próximas eleições. Na Europa, os alemães, mais uma vez, provam que em matéria de assuntos continentais seu papel é deplorável. Por fim, temos a China e sua ditadura, pronta a dar lições para o mundo, sem que isso seja exemplo crível para ninguém. Dilemas econômicos A turbulência econômica no mundo, que ninguém sabe onde vai parar nem quanto vai durar, parece ter embaralhado de vez a cabeça econômica do governo Dilma. Há pessoas internas que acham que o governo terá de aprofundar o ajuste fiscal e elevar mais os juros para se prevenir da "marolinha" que está no ar. Há outros, que pensam o contrário : terá de reduzir juros, ampliar gastos oficiais, afrouxar o controle de crédito, mesmo receituário adotado com sucesso em 2008. Certo, ao que se sabe, é a ordem da presidente : não se sacrifica o crescimento. Não se pode também deixar a inflação desgarrar, e a renda e o emprego caírem. Como as principais variáveis da crise não estão em águas territoriais brasileiras, o como e quando agir é o grande dilema da turma do ministro Mantega. Mas justiça se faça : a dúvida é do planeta e quem diz que sabe o que vai acontecer, seguramente está muito mal informado. Cuidado com o chamado rally de alta É muito comum os investidores olharem as cotações de hoje e repararem que estas estavam bem mais altas há poucas semanas. A tentação de comprar ativos é grande... Todavia, os movimentos de recuperação, embora muitas vezes vigorosos, são um caminho que muitas vezes obscurece a verdade dos fundamentos. Neste sentido, movimentos de alta no curto prazo devem ser oportunidades de venda e não de compra. Isto exige enorme disciplina. Assim. Radar NA REAL 5/8/11   TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA alta/estável estável - Pós-Fixados NA alta/estável estável Câmbio ² - EURO 1,4215 estável alta - REAL 1,6118 estável/alta estável/queda Mercado Acionário - Ibovespa 48.876,20 baixa baixa - S&P 500 1.119,74 baixa baixa - NASDAQ 2.357,69 baixa baixa (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável PMDB : geleia real ou mel diluído ? Jactam-se os peemedebistas, pelo menos para o consumo externo, de que agora, com Dilma, o PMDB é um partido no poder, e não apenas um aliado de segunda categoria. Verdade ? Não é o que parece, haja vista : 1. O vice-presidente Michel Temer, o símbolo desse novo "poder", não participa das decisões cruciais, é comunicado a posteriori. 2. O Conselho Político, no qual o partido adquiriu assento, faz reuniões formais. O que importa é definido por Dilma, solitariamente, ou em pequenas audiências nas quais o PMDB não tem presença. 3. Num dos ministérios ditos do partido, o da Defesa, Nelson Jobim entrou e saiu sem consultas partidárias. E agora ainda voou em direção a um neopetista. 4. Outro ministro peemedebista, Pedro Novais, do Turismo, é ex-ministro desde a posse, só o PMDB e ele mesmo não se deram conta disso. 5. Moreira Franco, amigo do peito do vice-presidente Temer, ocupa uma pasta que se desaparecer ninguém notará, nem a presidente Dilma. 6. Wagner Rossi, da Agricultura, entrou na linha de tiro dos aliados. Se sobreviver, será de muletas. Se o PMDB ficar com o Ministério, será sob atenta observação palaciana. 7. Edison Lobão no ministério das Minas e Energia é ministro de meio expediente, não toma nem cafezinho sem ser monitorado pela própria Dilma ou por um dos auxiliares que ela lá pôs. 8. Da lista de mais de 40 nomes que o PMDB apresentou para cargos representativos no segundo escalão, lista que começou nas mãos de Palocci e passou para as "fraquinhas" de Ideli Salvatti, nenhum ainda frequentou o "DOU". O PMDB pensa que é geleia real. Está mais para mel aguado. Coisas de amigos Não há a menor dúvida : a saraivada de denúncias (caso Jobim é negócio separado) que há mais de três meses mantém o governo Dilma em constante ebulição, tem de fato origem nas próprias forças governistas. A maior parte dos dedos aponta para o PT, mesmo no caso Palocci. Por isso, avalia-se no Congresso que a qualquer momento pode surgir um torpedo em direção a um petista, como troco. Quando surgir, vai bater em poucos dias numa CPI no Senado, com folgas de assinaturas. Um peso, duas medidas ? Está o mundo de olho na forma como a presidente Dilma vai se comportar nas denúncias envolvendo o ministério da Agricultura e a Conab, já apelidada de "o DNIT do PMDB". Vai ficar apenas na demissão do Jucazinho e do secretário executivo do ministério, ou vai acionar também sua máquina da faxina, sem olhar a quem ? Se o tratamento for distinto do dado ao PR no ministério dos Transportes, sem justificativas plausíveis, vai ficar explícita a dependência do governo ao PMDB. Militares e diplomatas Em princípio, parece uma temeridade a escolha de Celso Amorim para o mnistério da Defesa. Um não tem nada a ver com o outro. A experiência dos militares com o diplomata José Viegas, extraordinário profissional, foi desastrosa. Mas Amorim tem o espírito maleável e isso pode ajudar. Mas ele terá de ter um trunfo na manga - quem sabe a recomposição das verbas orçamentárias que Nelson Jobim estava renegociando - para começar a conversar. A escolha de Amorim denota outra coisa : a falta de opções no quadro político oficial de quadros para os postos mais delicados. Equívocos do marketing Os marqueteiros palacianos armaram os palanques para fazer do "Programa Brasil sem Miséria" uma plataforma positiva para a presidente Dilma. Gorou por causa do episódio Palocci e também porque o programa é genérico demais. Em seguida, preparam o lançamento do Brasil Maior com o mesmo objetivo. O plano também está gorando, em parte por causa das crises Jobim/Conab, mas também porque o programa foi considerado, no mínimo, fraco pelos analistas e empresários, com raras exceções. Boas embalagens não são suficientes na maioria das vezes. O conteúdo é essencial. Um banco privilegiado O "Brasil Maior" vai jogar mais recursos do Tesouro nos cofres do BNDES, para aplicações subsidiadas, às custas dos contribuintes. Os ministros econômicos haviam avisado que esta fonte para o banco estatal havia se esgotado, mas o pacote de Dilma mudou os conceitos de Mantega e cia. O que reforça um movimento da oposição para criar no Senado uma CPI sobre o assunto. Dizem os oposicionistas que já têm 22 assinaturas para ela, das 27 mínimas necessárias. Pode ser por aí o susto que muitos governistas querem dar no Planalto. Nada de marolas Com tanta confusão, a orientação oficial é evitar a todo custo pôr em votação qualquer projeto mais polêmico na Câmara e no Senado. A tarefa é facilitada pelas MPs que trancam as pautas das duas casas e porque Marco Maia e José Sarney, responsáveis pela agenda de votação, não são de contestações. Sarney não botará em votação, se não houver acerto com o Planalto, nem o projeto de autoria dele mesmo modificando as regras de tramitação das MPs. Mas o boicote não pode durar muito O governo sabe, porém, que não pode segurar o Congresso em "banho-maria" por muito tempo. Até porque tem coisas vitais de seu interesse para votar e que demanda negociação. É o caso da prorrogação da Desvinculação das Receitas da União, a ser extinta no fim do ano. O mecanismo permite o governo gastar como quiser 20% das receitas obrigatoriamente destinadas a áreas como saúde, educação. Sem ela, a administração do Orçamento, extremamente engessado, torna-se complicada. Ela nasceu ainda no governo FHC, com o nome de Fundo Social de Emergência. Tesouro reforçado A propósito de um ajuste conjuntural aqui, um ataque a um problema surgido na economia acolá, o governo vai reforçando discretamente seu caixa. Nos últimos meses, anotem, foram elevadas as alíquota do IPI das bebidas, o imposto dos cigarros, o IOF nos cartões de crédito, nos derivativos cambiais, nos financiamentos habitacionais, no crédito ao consumo, sobre ingressos de capital externo e, por fim, a alíquota da Cofins e do PIS sobre alguns produtos importados. De grão em grão, o Tesouro vai enchendo o papo. ____________
terça-feira, 2 de agosto de 2011

Política & Economia NA REAL n° 163

Obama é negro, mas está pálido A inauguração do mandato de Obama foi saudada como símbolo da hegemonia da democracia sobre o preconceito. Num país no qual a divisão racial não é apenas evidente, mas marcada pela estratificação econômica entre as raças e pela tentativa de afirmação contínua dos direitos das "minorias", Obama era a perfeita representação de tantas aspirações em torno do tema. A crise recente evidencia que a "negritude" presidencial deixou de ser o elemento simbólico essencial do processo político. O que está em jogo são interesses objetivos em torno da continuidade de um programa econômico que alarga gastos públicos para salvar a economia como um todo. Os interesses dominantes da classe média e alta estão a se confrontar com os interesses mais universais de toda a sociedade e, de sobra, dos mais pobres. Roosevelt enfrentou este cenário nos anos 30. Todavia, era um estadista com clara percepção de onde queria chegar. Obama recalcitra, oscila, finge bater na mesa, mas logo em seguida sopra. É um ex-pretenso estadista que soube usar um slogan e ganhar uma eleição. Ficou pálido. Oposição republicana com votos e sem ideias Os republicanos por sua vez fazem um jogo perigoso. Ganham (e ganharam) seus votos por meio de um discurso meramente ideológico e, no dia a dia, estão a postos para retardar, mitigar e barganhar em torno das necessárias reformas que os EUA necessitam para tocar em frente seu Império. Tentam emparedar o presidente para viabilizar seus candidatos anões de ideias (de Sarah Palin a Mitt Romney, passando por Michele Bachmann e Tim Pawlenty). Foram os republicanos que barraram as reformas mais profundas no mercado financeiro e de capital no ano passado e tiveram a sorte de ver que o presidente recuou e se escondeu por de trás de sua palidez. Pouco importa ao GOP a importância de seus debates perante o mundo. Falam para grotões bem atuantes nas entranhas do poder : a indústria financeira, a petrolífera e assim vai. Simples assim, tristemente. A crise é estrutural Seria risível se há pouco mais de três anos, alguém dissesse que os chineses, brasileiros e indianos seriam os "queridinhos" dos investidores, que os maiores bancos do mundo estariam sob risco ou quebrados e que a Europa e os EUA estariam sob ataques especulativos em função do risco de default. Pois bem : que ninguém por aqui se orgulhe muito deste cenário. Trata-se de uma tragédia mais que grega (sem trocadilhos). Não há vencedores neste cenário. Sobretudo, para o Ocidente e sua fragilizada democracia representativa. O mundo estava discutindo no fim de semana se as agências de classificação de riscos iam tirar uma letrinha "A" da dívida dos EUA (classificada como triple "A", AAA). Bancos acostumados à especulação "projetavam" uma queda de 30% nas ações. Tudo parecido, segundo eles, à crise de 29. Vejam a que ponto nós chegamos ! Tudo isto indicaria que os tais "analistas" fossem um pouco mais profundos... Nada disso : há um tratamento "conjuntural" a toda crise. Todavia, há uma crise estrutural, na qual o endividamento das economias centrais é apenas a "ponta do iceberg". O modo e o ritmo "financista" de gerir o mundo estão vencidos, mas ainda não há nada para se colocar no lugar. Assim, a crise vai prosseguir. E talvez por mais tempo que se imaginava há pouco. O "acordo" da dívida nos EUA Vejamos, em termos bem gerais, o tal do "acordo" fechado entre republicanos e democratas para evitar o default da dívida norte-americana : corte de US$ 1 trilhão de despesas governamentais, a promessa de mais US$ 1,5 trilhão em cortes de programas sociais/previdenciários, etc. e aumento de impostos, ambos a serem propostos por uma "comissão bipartidária" do Congresso. Assim, o "teto" da dívida pública sobe para US$ 14,3 trilhões. A interpretação deste acordo (e seus muitos detalhes, disponíveis mundo afora) é que Obama sofreu uma substancial derrota de vez que não se conseguiu obter amplitude na solução do tema. Com efeito : a crise permanece crônica e, muito provavelmente, terá fases agudas como esta última. Tudo muito efêmero, para um mundo muito enfermo. Japão : a próxima "vítima" ? Não vamos nos adiantar no tema nesta coluna. Mas, caros leitores, anotem aí : não será surpresa se em poucos dias ou semanas os "canhões do mercado" forem apontados para o Japão. Sua dívida externa de US$ 10 trilhões é excessiva e isso é pecado mortal no atual momento. A dívida equivale a 200% do seu PIB. Um verdadeiro tsunami. Ainda adormecido. Bancos dos "emergentes", aposta contra Há duas semanas, reportamos aqui neste espaço que havia uma forte especulação sobre o fato de haver uma crise potencial no segmento de "crédito imobiliário" brasileiro. Pois bem : há uma forte movimentação de "fundos especulativos" com poder de fogo considerável operando contra ações de bancos de países emergentes, não apenas bancos brasileiros. Bancos chineses, indianos e brasileiros estão sob ''questionamento" em termos de qualidade de risco de crédito do setor financeiro. Especificamente, no caso do Brasil, isto soa ridículo. A capitalização dos bancos brasileiros, sobretudo os privados, é excepcional quando comparada com a de seus pares. Em termos mundiais, diga-se. Todavia, isto pode não impedir, no curto prazo, que as ações do setor financeiro caiam muito mais que a média de mercado. A especulação financeira é um fenômeno poderoso e marca registrada do capitalismo atual. Ataques de nervos Quem frequentou, nas últimas semanas, redutos de peso do setor empresarial brasileiro, entre eles, o sistema financeiro e a área de telecomunicações, pôde verificar o ambiente "almodovariano", aquele à beira de crises nervosas. No caso do sistema financeiro a explicação pode estar no pacote cambial do ministro Guido Mantega : mais do que um ataque direto ao problema da valorização do real, ele parece ter sido uma ameaça ao setor como um todo. "Dias piores poderão vir", segundo a interpretação de um analista muito bem posicionado e com foco nos humores de Brasília. O ministério da Fazenda tomou a direção, deixando de lado o BC e a CVM. No caso das telecomunicações incomoda - e irrita - a cada vez maior intervenção oficial, via Anatel e o ministério das Comunicações, na área. De ordenador e definidor, o governo está virando um controlador. Chá de maracujá Pelos lados do centro financeiro de SP estranha-se o silêncio da BM&FBovespa, uma das possíveis "vítimas" do pacote de Mantega. Armínio Fraga, presidente do Conselho de Administração da instituição e ex-presidente do BC excepcionalmente bem avaliado pelo mercado, teria muito o quê dizer nesta hora para aclarar o que está um tanto quanto confuso. A lição está sendo feita ? Na entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, uma das muitas que concedeu depois que, enfim, apossou-se do título de czar da economia brasileira, o ministro Guido Mantega procura desfazer a visão mais ou menos corrente de que o câmbio é uma das âncoras, e das mais poderosas, da inflação brasileira. Diz ele que "o câmbio pode ajudar, mas as medidas fundamentais são o crescimento menor do crédito, elevação da taxa de juros, aumento do [superávit] primário, redução do gasto público". Entendem alguns analistas que as falhas estão nesses pontos : o ritmo dos juros é incerto, o crédito continua crescendo bem e o superávit primário está sendo sustentado mais pelo aumento da receita do que pela redução consistente das despesas fiscais. O resultado é que é muito improvável, como adiantamos nesta coluna há mais de um mês, que a inflação fique dentro do centro da meta (4,5%) antes de 2013. Câmbio, ação lenta Para quem tanto criticava a valorização do câmbio nos tempos de FHC e Cia., as ações governamentais do PT em relação ao câmbio não apenas carecem de competência e coragem. A área econômica é lenta como um bicho preguiça. Radar NA REAL 29/7/11   TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA alta alta - Pós-Fixados NA alta alta Câmbio ² - EURO 1,4404 estável alta - REAL 1,5493 estável estável/queda Mercado Acionário - Ibovespa 58.823,40 baixa baixa - S&P 500 1.292,28 estável/baixa baixa - NASDAQ 2.756,38 estável/baixa baixa (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável Brasil maior Não havendo percalços de última hora, Dilma anuncia hoje o plano de incentivo à indústria brasileira, prometido desde o início do governo. Logo, será possível saber quem ganhou a disputa que se trava entre o ministério da Fazenda, de um lado, e os ministérios do Desenvolvimento e da Ciência e Tecnologia, de outro, no que se refere ao conteúdo prático das propostas. A Fazenda de olho na receita, os dois outros preocupados com a perda de poder de competição da produção nacional. O anúncio correu até o risco de ser adiado mais uma vez. Dilma interferiu porque o programa "Brasil Maior" - este era o seu nome fantasia até ontem - faz parte da agenda positiva com a qual ela pretende tirar o governo da defensiva em função da crise política, denúncias de corrupção, etc. Um número dirá quem fez o jogo : R$ 45 bi. É esta a renúncia fiscal pretendida pelo setor empresarial em quatro anos, defendida também pela turma do Desenvolvimento e da Ciência e Tecnologia. Na extensa entrevista ao "Estadão" de domingo, Mantega disse que não tem essa de R$ 45 bi. Mas, ele falou ao jornal paulista na quinta à noite, antes, portanto, da participação de Dilma no debate. É esperar para ver e crer. Aquecimento sindical I Mais até que a insatisfação e os temores dos partidos aliados, o descontentamento dos sindicatos e das centrais sindicais, por incrível que pareça CUT à frente, está pondo em fogo alto o Planalto. Os sindicalistas estão saudosos dos bons tempos de Lula, quando tinham vantagens e carinho. Sentem falta das duas coisas com Dilma. E carregam para este segundo semestre um portentoso contencioso para o governo. No Congresso, querem aprovar a redução da jornada de trabalho no país de 44 horas para 40 horas semanais, sem redução de salário, e o fim do fator previdenciário. Sem contar o aumento dos recursos destinados obrigatoriamente à saúde. Aquecimento sindical II No campo estritamente das relações trabalhistas imediatas, querem botar asas nos aumentos salariais. Pelo menos três categorias de grande peso e influência têm dissídio coletivo neste semestre - bancários, petroleiros e metalúrgicos de São Paulo. Os bancários, reduto da CUT, já deu a partida : está pedindo uma correção de 13%, o dobro da inflação prevista para o período. O BC já botou na sua última ata um alerta para a questão. Argumentam os sindicalistas que os lucros desses setores justificam os reajustes elevados. E comparam o que vão pedir com os 14% que o salário mínimo terá em janeiro. Dilma acaba de tirar um reserva de luxo do banco, o Pelé, para ajudar a lustrar a confusão da Copa do Mundo. Talvez tenha de buscar outro reserva de luxo para tentar acalmar os sindicalistas. Agora, o teste real A partir de hoje, quando de fato os deputados e senadores começam a retornar de suas férias de meio de ano, será possível testar a eficiência e funcionalidade do novo esquema de coordenação política do governo no Congresso, com a ministra Ideli Salvatti na linha de frente, a ministra Gleisi Hoffmann na retaguarda e a presidente Dilma mais ativa no trato com os políticos. Quando a nova montagem estava para ser testada, surgiram os escândalos do ministério dos Transportes, Dilma aproveitou para fazer uma eficiente ação cirúrgica, os parlamentares foram para o recesso e os partidos ficaram um tanto assustados com a "nova eficiência" do governo no combate às denúncias de corrupção. A ação criou medo, mas criou também insatisfação e insegurança entre os aliados. A ponto de, nos últimos dias, o governo ter mandado inúmeros recados aos parceiros aliados de que tal a faxina tem tempo e hora para acabar e deve, surpresas à parte, ater-se ao ministério dos Transportes. Foi o já conhecido "efeito demonstração". Os incomodados, aos poucos, serão discretamente acomodados. Volta-se ao que era antes : à espera de cargos ainda não preenchidos e das verbas não liberadas das emendas parlamentares. Um teste para a paciência do Planalto e dos partidos aliados, pois o ajuste, para não despertar desconfianças e reações, precisará ser feito discretamente. E com reza brava para não surgirem novas denúncias num ambiente em que todo mundo desconfia de todo mundo. A oposição não entra na conta Se alguma coisa tira o sono político no momento é a infelicidade de seus aliados. Ameaças da oposição com CPIs e convocações de ministros e funcionários graduados ele se livra delas com pequenos piparotes. Ou barra a convocação ou controla os depoimentos, ainda mais que os oposicionistas não andam se preparando para as inquirições. Uma entrevista de Waldemar Costa Neto ou um discurso como o que está prometido pelo ex-ministro Alfredo Nascimento para hoje causa mais furor do que a soma total da turma do PSDB, DEM e PPS no Congresso. Um estrilo do PMDB pode ser mais corrosivo que Aécio Neves e José Serra jogando no mesmo time. A oposição, para o governo, é figurante. E ela faz todo o esforço possível para ficar nessa posição. Passaporte para casa O PMDB já tem dois ex-ministros no governo Dilma : Pedro Novais e Nelson Jobim. Salvou o ministro do Turismo da guilhotina agora da confusão do ministério dos Transportes - pegaria mal mais uma demissão. Novais está monitorado na Embratur por um adversário de seu padrinho maranhense José Sarney e ex-deputado Flávio Dino e pode carregar por mais um tempo a insígnia de ministro sem incomodar. Se não incomodar, é claro. Quanto a Jobim, Dilma nunca esteve feliz com ele, uma imposição de Lula, nem Jobim esteve feliz com ela, pelos degraus que seu prestígio desceu no novo governo. A declaração de voto em Serra, que não é fácil entender como um "escorregão" em alguém tão experiente, pode precipitar o desencontro. O problema é que o ministério da Defesa é "área minada" e Jobim, bem ou mal, manteve o ambiente por lá sem borrascas. Tomando conta de horta Quem está definindo os bens que terá de dispor para cumprir as determinações do Cade é a própria BR Foods, a fusão entre a Sadia e a Perdigão, cujo aval pelo órgão de defesa da concorrência causou, como se dizia antigamente, "muita espécie" entre os especialistas. A hora foi franqueada aos bons cabritos, aqueles que berram com a corneta oficial e a regência do BNDES. ____________