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Política, Direito & Economia NA REAL

Enfoque político, jurídico e econômico.

Francisco Petros
terça-feira, 30 de outubro de 2012

Política & Economia NA REAL n° 221

A ofensiva da política econômica Há duas semanas, o Ministério da Fazenda e o BC estão preparando a estrada para alguns ajustes na política econômica. A intenção, primeiro, é adaptar o discurso a uma realidade que está teimando em não acontecer como a presidente Dilma e seus conselheiros econômicos esperavam. A inflação, dizem os especialistas, anda danada de teimosa, e não vai chegar ao centro da meta em 2013, como o próprio BC já admite. E ainda está rebelde o suficiente para empurrar os preços este ano para algo acima dos 5,5%. Na outra ponta, a atividade econômica, depois de um alento em agosto, voltou a ficar preguiçosa em setembro e não dá sinais de ter despertado inteiramente da letargia em outubro. Assim, um "PIBinho" entre 1,5% e 1,6% em 2012 já está no baú e muitos analistas dizem que não é muito difícil que o crescimento do PIB de 2013 entre 4% e 4,5% ficar apenas como num sonho de verão. Um analista com grande índice de acerto nessas previsões, o economista José Roberto Mendonça de Barros, já está cravando suas apostas num crescimento da economia nacional apenas entre 3% e 3,5% em 2013. Por isso, a economia andou inundada de boatos, inclusive de dança de cadeiras na área econômica. O que fazer ? Os boatos nascem de uma constatação : o que mais o governo pode fazer para dar um piparote maior na economia, uma vez que medidas como mais incentivo ao consumo, queda substancial dos juros básicos e as desonerações fiscais, mesmo considerando-se o tempo necessário à produção de resultados, não está sendo o bastante. Um novo ataque na base de bondades fiscais começa a esbarrar nas dificuldades orçamentárias. A arrecadação não se recupera ao nível imaginado. E ela vai enfrentar uma safra de prefeitos com os cofres arrombados e ávidos e recursos. Boatos apenas ? No que tange à dança das cadeiras, já se comenta abertamente a saída de Guido Mantega do comando da Fazenda. Sabe-se que o ministro enfrenta problemas pessoais. O que se especula é quem poderia substituí-lo. O nome de Alexandre Tombini aparece no topo da lista. É natural que o apreço da presidente por ele seja grande uma vez que cumpriu a "meta" de reduzir os juros básicos, apesar da inflação relativamente alta e dos exorbitantes juros dos empréstimos. Uma coisa é certa : a presidente, dado o seu perfil, deve querer alguém obediente às diretrizes emanadas do Planalto. Ou seja, dela. Câmbio : um problema sem solução no momento Já comentamos nesta coluna que a taxa de câmbio continua muito pouco competitiva para tornar a indústria nacional menos obsoleta e aumentar o investimento industrial local. Como se sabe, a taxa de câmbio nominal foi controlada pelo governo, na linha do que outros governos, da ditadura à FHC já o fizeram. O problema é que a taxa de câmbio real é incontrolável por definição : depende da taxa de inflação local e externa e da normalidade dos fluxos de capitais. O governo sabe disso, é claro. Tão claro quanto a constatação de que "mexer" na taxa nominal agora implica em mais inflação, estourando ainda mais a meta já estourada. Uma safra magra de resultados Para complicar, a safra de balanço das grandes empresas começou sujeita a uma pesada dieta, o que pressupõe menos impostos de parte dessas companhias para os cofres públicos no curto prazo. Bradesco, Itaú e Santander decepcionaram. A salvação, não total, porém, pode vir dos bancos estatais, BB e CEF, que ampliaram sensivelmente suas carteiras de empréstimos. O lucro da Vale mergulhou. E a Petrobras, embora tenha se recuperado do prejuízo-vexame do segundo trimestre do ano, veio com um lucro bem abaixo do esperado pelo mercado. O que coloca outro dilema para o governo : a companhia precisa fazer recursos com urgência para sustentar seus planos de investimentos e poder entrar, como está obrigada por lei, nos leilões do pré-sal do ano que vem. Desânimo bursátil Se o cenário externo melhorar um pouco, sobretudo na Ásia, a China em especial, dizem os especialistas, o mercado de ações brasileiro pode sofrer um substancial revés. O Brasil ainda é visto como "porto seguro" frente aos "furacões" no hemisfério norte. Todavia, gestores de recursos já não se impressionam com os planos de crescimento governamentais. Sabem que o jogo é apenas para a plateia, pois os fundamentos do país carecem de fortaleza para crescer. Mesmo que ninguém veja um desastre titânico pela frente. De "apaguinho" em "apaguinho"... ... o apagão enche o papo. Para boa parte dos especialistas na área e para os observadores atentos da cena de infraestrutura no Brasil, o blecaute que na madrugada de sexta-feira assolou o Nordeste inteiro e mais parte do Pará e do Tocantins não foi uma surpresa. Era apenas uma questão de tempo. Ele havia sido recentemente prenunciado por dois outros "apaguinhos" menores também no Nordeste e duas interrupções no fornecimento de energia em plena capital da República. E mais : somente este ano, foram registrados, até sexta-feira em todo o país 65 blecautes de porte razoável - uma média de um a cada cinco dias. "Não é normal", nas conformadas palavras do ministro interino das Minas e Energia, Márcio Zimmerman. Alertas já existiam Alertas foram feitos de que caminhávamos para uma situação dessas, por falta de investimentos, porque a Aneel não cumpre direito suas funções, porque as estatais que têm grande peso no setor ainda estão em parte loteadas... E a situação pode se agravar com o susto que está sendo aplicado nos investidores com as novas regras para o setor. Este é o campo que a presidente domina, que fez sua fama de "gerontona" eficiente. Note-se que em outras áreas de infraestrutura, as agências reguladoras também perderam eficiência. Nestas o aparelhamento estatal é muito parecido e outros "apagões" já estão no ar. Só não aparecem tanto porque não tem a visibilidade que existe numa interrupção de fornecimento de eletricidade. O que Dilma vai fazer para dar um choque de eficiência no seu quintal ? No caso, não dá para culpar nem a oposição nem as "perdas internacionais". O sentido de uma eleição Bem ponderados o dever e o haver, os vencedores e vencidos, os achados e os partidos, festejadas a vitórias e lamentadas as derrotas individuais e coletivas, o saldo real das urnas de outubro aponta para um eleitor-cidadão insatisfeito, inquieto, exigente e com extraordinário sentido de urgência. Sentimentos fruto das carências de atendimento público, em todas as esferas da administração, dos serviços minimamente básicos a ela devidos e da mobilidade social alcançada nos últimos anos. Um desafio para quem vai botar os pés nas prefeituras em janeiro - que não terão "dias de graça" para pensar muito -, para os que estão já com assento nos palácios estaduais e no federal e para todos os que sonham com dias de glória em 2014. O futuro político e eleitoral no Brasil nunca se viu diante de tão grande interrogação. O pedaço do latifúndio de Dilma Misturados os ovos, a omelete da recandidatura de Dilma ficou mais vistosa e mais saborosa. Mas ele terá de ser temperado no dia a dia da economia, cujo horizonte tem nuvens internas e externas já visíveis. A presidente, portanto, terá de recompor imediatamente seu conjunto aliado, aparar arestas, atender novas reivindicações que se formaram, para ter tempo e paz para atacar os problemas que estão pipocando (ver notas). O tempo agora é de operar o governo e as relações com o Legislativo. Acerto de contas Têm créditos com a presidente, a serem saldados até fevereiro, quando Dilma deverá encerrar os ajustes que fará paulatinamente em sua equipe : o PMDB e o PSD. O PP, pelo apoio de Maluf (quem diria ?) a Haddad em São Paulo, quer mais, mas pode ter menos. PRP não deu o que recebeu com o Ministério da Pesca. E o PSB, com grande crescimento eleitoral, está no limbo, dependendo de como se comportar o seu presidente nacional, Eduardo Campos. Dilma não é de aceitar ambiguidades. A presidente terá também de haver-se com o PT, partido que sempre quer mais. Sorrindo às escondidas Não se pode dizer que o Palácio do Planalto tenha ficado infeliz com a vitória do candidato do PSB à prefeitura de Fortaleza, derrotando um petista para o qual Lula fez campanha ao vivo. O resultado fortalece os irmãos Cid e Ciro Gomes, uma espécie de contraponto ao imenso poder do governador de Pernambuco no partido. Ao cara o que é do cara Fernando Haddad é a "cara" do Lula. A espetacular aposta do ex-presidente em São Paulo, de tão bem sucedida, mascarou outras visões "caolhas" dele : Manaus, Recife, Belo Horizonte, Campinas, Fortaleza. Modesto, nem foi à festa petista em São Paulo, na qual, sintomaticamente, ganhou justa prioridade sobre Dilma nos agradecimentos do prefeito eleito e mais aplausos que a presidente. Como Zagalo, Lula parece repetir : "Vocês vão ter de me aturar". No PT já não haverá quem conteste as suas vontades. O partido é o homem. Kassab e o PT Vai ser intrigante para o eleitor ver o "famigerado" prefeito de São Paulo virar queridinho do Planalto quando a reforma ministerial vier. Oposição e governo são palavras obscuras para os analistas, mas são uma confusão ainda maior para quem vota na condição de cidadão de uma cidade. Haddad falou horrores de Kassab na campanha, mas este último será recebido em breve pela presidente como parte de sua base de apoio. A política nacional não é apenas incompreensível. Chega a ser algo bem mais complicado de escrever. Seria "impublicável". Não foi dizimada, porém... A oposição, no cômputo geral, ganhou uma boa sobrevida. Porém, ou se renova, arranja outra "cara", mergulha nos problemas nacionais que estão a tirar o sono dos empresários e, dizem, um pouco também do Palácio do Planalto, e apresenta-se como alternativa de fato de poder, ou terá apenas adiado sua extinção para 2014. A diferença entre o PT, maior força do governismo, e o PSDB, ainda a maior força do oposicionismo, é que enquanto o primeiro faz política com vontade (até com um certo exagero religioso), de maneira geral, os tucanos fazem política com um ar blasée, como quem tem coisas mais sérias e mais atraentes para fazer. FHC acerta ao falar em "renovação", mesmo que o próprio príncipe não saiba como fazê-lo. Insatisfação confirmada Como no primeiro turno, com exceções, o eleitor mostrou pouco entusiasmo com partidos e candidatos no domingo. Abstenções, votos brancos e nulos de um modo geral superaram os 25%. Em São Paulo, chegaram a 32%. A maioria dos eleitos ficou com cerca de 37% a 40% dos votos dos eleitores de suas cidades. O que traz para todos os novos prefeitos um desafio : atrair esses eleitores insatisfeitos e desconfiados. Todos começam em débito. A fila andou em São Paulo O sucesso do "poste" Haddad em São Paulo aconselha os ministros Marta Suplicy, da Cultura, e Aloizio Mercadante, da Educação, a manterem muito bem afivelados seus cintos na Esplanada dos Ministérios e traçarem para 2014 planos alternativos. Lula, com a autoridade de quem vislumbrou com acuidade rara o que o paulistano desejava, não resistirá a outro "dedaço" na sucessão de Alckmin. O faro do ex-presidente já se dirige para o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, e o prefeito de São Bernardo, Luís Marinho. Além de São Paulo A experiência vitoriosa em São Paulo, apesar do fracasso em Campinas com Marcio Porchman, deve fazer Lula a levar o PT a tentativas semelhantes em 2014 não só em território paulista. Onde ele colheu alguns de seus grandes fracassos, como em Recife, Belo Horizonte, Fortaleza e mesmo em Salvador, estava associado ao "velho", a figuras já carimbadas como Humberto Costa, Patrus Ananias, Luziane Lins, à dupla Nelson Pelegrini - Jaques Wagner. Um "choque de gerações" deve agitar as entranhas do partido antes das definições de 2014 - ressalvada, na luta presidencial, a prioridade de Dilma. O julgamento do mensalão também vai ajudar nesse processo. O PT vai dar toda solidariedade a seus companheiros condenados, mas não vai jogar seu futuro nisto. As dificuldades que Dirceu e Genoino enfrentaram quando foram votar (e até o aperto passado pelo ministro Ricardo Lewandowski quando foi depositar seu voto) são indicações insofismáveis do potencial de desgaste político do processo. O que vem por aí Reforçado pelas eleições, o PT aquece as turbinas para abrir duas frentes de batalha : uma "nova" reforma do Judiciário e controle social da imprensa. Apenas analisa a melhor hora para desencadear as batalhas. O caso do Judiciário deve ficar para depois do fim da aplicação das penas do mensalão. Não se cutuca uma onça tão grande com uma vara tão curta. Marcos Valério não obedece ao calendário político O destino do empresário Marcos Valério é trágico. Sua vida estará marcada pelo maior escândalo de corrupção da história brasileira e ficar atrás das grades lhe custará parcela preciosa da vida. Sabedor de seu destino poderá não se conformar com ele, pelo menos com a verdade que está nos autos. Esta nuvem pairará sobre a cabeça de muitos poderosos, por muito tempo. Será que emissários irão conversar com ele como ocorreu antes do julgamento do mensalão ? Radar NA REAL 26/10/12 TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA estável estável/alta - Pós-Fixados NA baixa baixa Câmbio ² - EURO 1,2899 baixa/estável baixa - REAL 2,0309 baixa/estável estável/baixa Mercado Acionário - Ibovespa 57.148,58 estável estável/alta - S&P 500 1.411,94 estável alta - NASDAQ 2.987,95 estável alta (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável
terça-feira, 23 de outubro de 2012

Política & Economia NA REAL n° 220

Descompasso político e econômico I Temos chamado a atenção de nossos leitores para o "paradoxo" resultante do fato de a economia brasileira estar relativamente estagnada ou crescendo em patamares inferiores aos outros países emergentes (China, Índia, África do Sul, Rússia, quase todos os países da bacia asiática), bem como comparativamente aos outros países da América do Sul, e, de outro lado, não existir nenhuma deterioração política face a este paradoxo. Isso se deve à constatação de que a economia brasileira está praticamente no pleno emprego, apesar deste ser aparentemente incompatível com o nível de atividade atual e prospectivo de 2013. A pergunta que deve ser feita é : esta peculiar situação persistirá ? Bem, ninguém tem bola de cristal para formular uma resposta firme a uma pergunta tão inquietante. Todavia, enquanto as perspectivas estruturais das economias centrais permanecerem obscuras, esta situação pode prosperar. Apesar de muitos senões... Descompasso político e econômico II Uma situação como a acima apontada cria uma crescente instabilidade aos agentes econômicos. Estes apostam, por ora, nas perspectivas de médio e longo prazo, mesmo porque a estes faltam alternativas relativamente aceitáveis no mundo confuso de hoje. O capital é covarde, como dizia Lord Keynes. Porém não tenhamos ilusões : o cenário econômico brasileiro, pouco a pouco, vai se deteriorando no que tange a sua atratividade de longo prazo. Os agentes econômicos ressentem-se de um plano estrutural mais consistente da parte do governo, assustam-se para custos tão altos em moeda estrangeira, temem o intervencionismo governamental - este é muito evidente -, preocupam-se com a falta de infraestrutura, educação e tecnologia, dentre muitos aspectos. Além é claro, da ausência de reformas estruturais e estruturantes nas áreas tributária, trabalhista, previdenciária e de regulamentação de serviços públicos. Descompasso político e econômico III Voltemos à pergunta inicial sobre a estabilidade política e a situação de desemprego, o que se pode dizer com relativa segurança é que as "luzes amarelas" estão acesas na relação entre o governo e os agentes econômicos. Podem não ser ainda muito visíveis na mídia, mas são muito intensos nos bastidores. Do lado do governo, o que nos parece é que esta percepção já foi acolhida no centro do poder. Porém, o que colhemos em nossos contatos é que há certa desorganização estratégica no governo e pouca pressa para mudar os rumos do país. Isto apesar da solidez da base política e da apetência dos agentes políticos pela manutenção do poder. Ainda não se vê sinais de que há mudanças substantivas à vista, mesmo que estas sejam necessárias à satisfação de certas vontades pantagruélicas pelo poder político. Apesar de tudo não seria surpresa se 2013 fosse um ano mais tenso neste sentido que este ano recheado de decepções com a atividade econômica e apesar da "surpreendente" estabilidade política. Dilemas econômicos O "Estadão" está fazendo uma série de entrevistas com ex-presidentes do BC. Já conversou com Armínio Fraga, Affonso Celso Pastore, Carlos Langoni e Gustavo Franco. Embora com alguns pontos de vista diferentes e guardadas as posições da cada um em matéria econômica, há elogios, em tons diversos à condução da política econômica, mas todos apontam que o BC de Dilma caminha para um dilema : para manter os juros como estão em termos reais (1,5% a 1,7%) e não deixar a inflação desgarrar perigosamente, ele terá de liberar o câmbio, acabando com essa situação de um câmbio "flutuante quase fixo". O IPCA-15, uma espécie de prévia da inflação do mês de outubro, deu sinais claros de que os preços andam inquietos - e não apenas os agrícolas. Dilemas políticos Segurar o ambiente econômico em boas condições como agora, é essencial para os planos reeleitorais de Dilma. Seu agudo envolvimento na campanha no segundo turno não deixa ninguém mentir a respeito dos desejos menos secretos dela de ficar no Palácio do Planalto até 2018. Faz na campanha favores a Lula e ao PT e aliados, mas faz mesmo um serviço para ela : compartilhar com eles as vitórias e não ser apontada como culpada de algumas derrotas por omissão. Imagine-se que Fernando Haddad, como recentes pesquisas apontam com bem provável, vença a eleição em SP, sem que ela tivesse dado as caras por aqui ? Seria apenas uma vitória de Lula. Imagine-se - também com grandes probabilidades segundo os institutos de pesquisa - que Nelson Pelegrino, em Salvador, e Vanessa Graziottin, em Manaus, sejam derrotados por detestados oposicionistas, sem que Dilma desse as caras para tentar ajudá-los. A derrota também seria dela. A presidente está aproveitando as eleições para se ligar mais organicamente ao PT e aos partidos aliados, os quais ela sempre tratou com uma certa distância. Há indicações de que fará o mesmo com o mundo sindical. Embora nesse campo, ela possa enfrentar algumas dificuldades em função de sua agenda trabalhista - regulamentação do direito de greve dos servidores públicos, tornar mais flexível as negociações salariais... Dilma tem todos esses grupos gravitando em torno dela - afinal, ela tem a caneta, o "Diário Oficial" e muita popularidade. Mas o apoio popular já se sabe como é volátil : depende da satisfação do eleitor com suas condições de vida. Muitos candidatos situacionistas sentiram essa verdade mais uma vez na pele agora nas urnas municipais. Para preservar esse patrimônio e não ser trocada pelos aliados, terá de operar a economia com grande perícia. A hora e a vez do ministério Auxiliares da presidente têm dito que não é intenção dela fazer uma reforma ministerial mais ampla, nem agora nem no início de 2013. Se acontecer, seriam mudanças pontuais, levadas por circunstâncias específicas. Uma informação que não bate com a realidade e visa livrar a presidente da fila de candidatos e de partidos com pretensões de vagas que já se formam nos bastidores. É inevitável que ela faça a reforma, como já dissemos para se livrar de alguns auxiliares com desempenho insatisfatório, para compensar os "bons parceiros" (caso PMDB, PSD de Kassab) e punir maus companheiros (como o PRB e, dependendo do andar da carruagem do segundo turno e seus desdobramentos, até o PSB e o governador Eduardo Campos). Um manobra que está sendo bem articulada (não se sabe se ainda com o aval da presidente e que depende do sucesso de Gustavo Fruet) em Curitiba é a que levaria Aloizio Mercadante do Ministério da Educação para a muito mais poderosa e influente Casa Civil, alojaria o peemedebista Gabriel Chalita no Ministério da Educação e jogaria a ministra Gleisi Hoffmann de volta ao Senado, para que ela tenha tempo de preparar sua candidatura do governo do PR. Especula-se também que o Ministério dos Transportes, o Ministério das Cidades e até o pouco cobiçado Ministério da Pesca poderão ter outros titulares. Em outros tempos, quando ainda posava de avessa a esse tipo de política menor, Dilma recusaria tais movimentos. Agora, não se sabe. Entre o dizer e o fazer Com grande entusiasmo - nem tão grande assim do BC - o governo está apostando finalmente no aumento dos investimentos públicos e privados para sustentar o crescimento da economia nacional sem sustos e solavancos. O mundo real, porém, parece que pode ter ainda muitas contrariedades para a realização de tais propósitos. Por exemplo : a MP 579 do setor elétrico ameaça dar alguma pane se não for operada bem no Congresso. E já ajudou a aumentar a desconfiança dos investidores externos no chamado "excesso de ativismo governamental". A questão dos aeroportos, mais urgente do que se imagina, depois da confusão em Viracopos no último feriado, está com jeito de emperrar. A primeira proposta para as novas concessões, com a participação majoritária da Infraero, foi rechaçada externamente. A nova, com a Infraero minoritária, mas com a obrigação da participação dos fundos de pensão, já recebeu alguns narizes torcidos também - pois os grandes fundos são controlados diretamente pelo governo. O anúncio do novo modelo virá após o segundo turno, para não desgostar a ala do PT que continua criminalizando as privatizações. Dos portos, ainda não se tem notícias do modelo. E nas estradas há uma questão chave, ainda na resolvida : a taxa de retorno para os novos negócios. Ou seja, em boa tradução : nada sairá ainda este ano. As novas concessões na área de petróleo estão amarradas à delicada aprovação no Congresso da lei dos royalties. Se não sair este ano, pode atrasar os leilões, previstos para maio (áreas antigas) e novembro (áreas do pré-sal). Para completar, os investimentos de responsabilidade do governo, estão, como sempre, no velho ritmo da inapetência oficial : segundo um levantamento do site "Contas Abertas", 651 ações do PAC são tocadas pela União e empresas estatais em 2012. Somadas chegam à cifra de R$ 116 bi, dos quais, passados nove meses do ano, apenas R$ 63,3 bi foram efetivamente pagos (54,6%). (...) a União e as empresas estatais deixaram 310 ações do PAC paradas este ano. As iniciativas somam R$ 15 bi que ainda não saíram dos cofres públicos. Na maioria das rubricas sequer foram realizados empenhos, a primeira fase da execução orçamentária. Apenas R$ 5,3 bi foram reservados em orçamento. O governo necessita, urgentemente, botar em sintonia o seu "dizer" com o seu "fazer". Esperando a oposição As notas acima valem para reflexão sobre o governo atual, mas vale igualmente para a oposição. Esta está curta de ideias, marcada pelo mesmo mal do "caciquismo" oficial, pela voracidade eleitoral e fragilidade na execução dos planos de governos. Aécio Neves, figura de proa da atividade dita de "oposicionista", carece de planos consistentes que possam identificá-lo com a população. A cristalização das estruturas de poder é um fenômeno que pode ser facilmente atribuído à palidez da oposição. Um país tão desigual quanto o Brasil necessita de uma dinâmica política compatível com as ansiedades econômicas e sociais. Não é o que se vê da oposição. Está dominada não pelo governo, mas pela sua própria fragilidade. Uma explicação de "mercado" Um investidor muito bem inteirado das coisas responde à coluna o porquê do mercado acionário brasileiro estar estagnado : "Basta olhar os principais setores do mercado. Petróleo, gás, energia elétrica, mineração, telecomunicações. Em todos eles a intervenção estatal é muito superior à necessária e a obstrução de investimentos é evidente em função dos delírios regulatórios do governo. O investidor sabe disso. Não compra e só não vende porque o mundo vai muito mal". Mensalão : ato final ? Por esta semana teremos o fim do maior julgamento penal da história brasileira. A maioria será condenada e outros tantos devem ir para detrás das grades. Todavia, a pergunta que ocorre é : será que depois das eleições municipais os réus deixarão de ser mudos ? De fato, o STF faz história em um ato mesclado de aspectos jurídicos e, ao mesmo tempo, políticos. Todavia, o script parece incompleto. Os réus são seres de alta atividade política e parte integrante do atual núcleo do ex-presidente Lula, queira este ou não. É difícil acreditar que os réus políticos capitularão às sentenças e penas sem manifestações políticas expressivas. O final do período eleitoral indica que o tempo disto ocorrer está chegando. E duas instituições que se cuidem : o STF e a imprensa. Uma dúvida Como se comportará a presidente Dilma Rousseff na posse do ministro Joaquim Barbosa na presidência do STF no dia 22/11 ? Barbosa hoje é figura detestada no mundo petista, que tem cobrado fidelidades à presidente. Para informação : Dilma não compareceu em SP ao Congresso da Sociedade Interamericana de Imprensa, evento que movimentou durante quatro dias jornalistas e jornais de nível das três Américas. Radar NA REAL 19/10/12 TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA estável estável/alta - Pós-Fixados NA baixa baixa Câmbio ² - EURO 1,3035 baixa/estável baixa - REAL 2,0277 baixa/estável estável/baixa Mercado Acionário - Ibovespa 58.922,04 estável/alta estável/alta - S&P 500 1.433,19 estável/alta alta - NASDAQ 3.005,62 estável/alta alta (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável ____________
terça-feira, 16 de outubro de 2012

Política & Economia NA REAL n° 219

O estado da economia I Abaixo seguem notas sobre aspectos pontuais relacionados à economia no período pós-eleitoral. São aspectos importantes que devem ser observados pelos leitores. Todavia, não podemos deixar de lembrar o "pano de fundo" da economia brasileira no momento. Em primeiro lugar, a atividade econômica encontra-se estagnada com o PIB crescendo muito aquém de seu potencial. Muito embora se possa atribuir ao cenário externo este fraco desempenho, aumentam as suspeitas de que este se deve essencialmente ao conhecido problema estrutural da baixa poupança do setor estatal e de sua baixa produtividade. Além disso, o histórico descaso com a educação e a tecnologia começa a distanciar o país dos BRICs e, até mesmo, dos países latino-americanos (o Brasil, segundo dados da CEPAL, é dos que menos crescem na região e é o que menos cresce dentre os emergentes). Os investimentos públicos são tocados com notória letargia e duvidosa competência. As parcerias entre o setor privado e público carecem de segurança jurídica e eficiência entre riscos e expectativas de retorno. As exportações carecem de valor agregado - somos um país de exportações de produtos primários - e a taxa de câmbio não é competitiva. O estado da economia II Do ponto de vista da inflação, os resultados passados mostram uma inflação acumulada substantiva e uma inflação futura nada promissora, acima da meta projetada pelo próprio BC. Os resultados fiscais são os dados mais positivos, mas o governo ainda não sabe tirar vantagem deste equilíbrio, sobretudo pelo excessivo uso de gastos correntes em detrimento dos investimentos. A relação dívida/PIB é segura, mas não justifica excessos. O paradoxo destas constatações é que vige na economia brasileira o pleno emprego. É o que mantém a sustentação política do governo e evita uma deterioração maior das expectativas. As recentes desonerações das folhas de pagamentos de alguns setores foram boas notícias neste sentido. Todavia, reina no país uma perigosa acomodação das forças políticas em torno do atual status quo político, sem que existam transformações permanentes. Prevalece a velha cultura do "jeitinho", do "deixa prá lá", que compromete o futuro e alija as gerações. As potencialidades do Brasil são reconhecidas mundo afora, mas ainda não emergiram dentro do país, das elites e do próprio governo. Vejamos alguns dados e fatos conjunturais que elucidam esta realidade estrutural. A economia pós-eleição I O governo deixou alguns "pepinos", como diria o ministro da Previdência Social, Garibaldi Alves, na área econômica para não perturbar a paz eleitoral dos candidatos aliados. Vai esperar mais uns dias, mais precisamente até o dia 29, pois ainda tem embates perigosos para seus planos, para começar a degluti-los. Pode ser que a sociedade tenha alguma indigestão. As cobranças já começaram. A presidente da Petrobras, Graça Foster, que logo após sua posse endossou a defesa que seu antecessor fazia de um reajuste para o preço dos combustíveis e havia emudecido suas reivindicações no calor das urnas, voltou à carga. Graça avisou que cortará alguns projetos de investimentos da empresa se não tiver como melhorar seu caixa. Mesmo sendo amiga de Dilma, a orelha de Graça está ardendo em Brasília. De um lado, a turma do Ministério da Fazenda não quer nem ouvir falar nesse assunto enquanto a inflação estiver dando alguns solavancos. De outro, parar com os investimentos é tudo que Dilma não quer ver agora, ainda mais vindo de uma empresa do governo. De quebra, põe em alerta queridos aliados do governo, como o senador José Sarney, os irmãos Cid e Ciro Gomes e o governador Sérgio Cabral. Os primeiros cortes pegariam certamente as refinarias do MA e do CE e o pólo do RJ, todos colocados uma vez "sob observação" pela presidente da Petrobras. A economia pós-eleição II Na mira também está o anúncio de que a meta de superávit primário de R$ 139,8 bi deste ano não será alcançada e que o governo adotará a prerrogativa da lei de diretrizes orçamentárias para abater do total os investimentos do PAC. Aguarda-se apenas a hora mais propícia para o anúncio, para não causar muito tumulto entre os agentes econômicos e minimizar as críticas que certamente virão. Quem conhece a dinâmica de comunicações oficiais, tem duas datas na cabeça - as vésperas dos feriadões de Finados (2 de novembro) e da República (15 de novembro) quando os brasileiros costumam relaxar um pouco. Quanto à mudança em si, muitos analistas acham que o Brasil não precisa mais de fazer um "primário" do tamanho que está fazendo. O problema, dizem, é que as medidas são adotadas "envergonhadamente", como alguém que não tem certeza absoluta do que está fazendo ou então está praticando alguma "arte". Também justifica se o gasto for para investimentos, não para pagar a conta da padaria. Até agora as despesas oficiais com custeio cresceram mais que as de investimento. A economia pós-eleição III Há outras batalhas no Congresso. Deixe-se de lado o Orçamento, cuja aprovação se faz a "toque de caixa" e depois é corrigido ao longo do ano com reprogramações orçamentárias e contingenciamentos. Todavia, não se pode esquecer a MP 579 com mudanças no setor elétrico e mais de 500 emendas que simbolizam as resistências de alguns governos estaduais e, por baixo do pano, de parte da burocracia elétrica estatal. Além disso, há a lei dos royalties do petróleo, que precisa sair logo do papel para não atrasar os leilões de novos poços prometidos para maio e novembro. Não é de responsabilidade direta do governo, mas ele precisará se meter no assunto, apesar de o STF ter dado para o Congresso o poder de mudar as regras de distribuição de recursos do Fundo de Participação dos Estados, um bolo de R$ 55 bi. O Congresso teve dois anos para preparar as novas regras - e pouco fez até agora. Nem um projeto acabado existe. O prazo dado pelo Supremo termina no dia 31/12. Intervencionismo estatal A expressão acima já faz parte das conversas dos grandes empresários e é talvez a melhor explicação para a cautela com que eles estão programando seus investimentos. O ativismo do governo Dilma, cujo último exemplo apontado por eles foi a forma como se está impondo as mudanças no setor elétrico, preocupa - e muito. Mas ninguém aqui dentro por razões que a própria razão conhece de sobra, solta a voz para criticar abertamente as ações presidenciais de intervenção quase sempre indireta, disfarçada, na atividade econômica privada. Mas o que aqui são apenas sussurros, já virou burburinho em outras plagas. É o que verbalizou em entrevista a Patrícia Campos Mello, da "Folha de S.Paulo", Mark Mobius, presidente do fundo Templeton, que tem investimentos de US$ 5 bi no Brasil : "É extremamente preocupante a maneira como o governo vem intervindo em empresas de capital aberto como a Vale e a Petrobras. Elas estão sendo usadas cada vez mais para prestar serviços públicos, o que não é a função delas e prejudica a boa governança corporativa dessas companhias. A intervenção do governo nos bancos também é muito preocupante - o governo pressionar as instituições financeiras para que reduzam os juros cobrados de clientes é uma atitude que vai contra as leis do livre mercado. Há maneiras mais eficientes de fazer isso, aumentando a concorrência. Em parte, o governo fez isso com os bancos públicos, mas não é prudente forçar as instituições financeiras a fazer alguma coisa. Se essa tendência se mantiver, poderá acarretar grandes problemas à economia". Não é um bom conceito para quem está com um pacote de concessões na praça e precisa de atrair investidores quase desesperadamente. O governo pós-eleição e pós-mensalão Será inevitável, no médio prazo, depois do segundo turno - que coincidirá também com o fim do julgamento do mensalão e seu magote de condenações - que a presidente Dilma faça uma reavaliação das forças políticas estacionadas em seu governo. As vozes oficiais que não se identificam já dizem que a presidente não tem intenção de fazer uma reforma ministerial. É informação para o público externo. As mudanças já estão em gestação, para ocorrerem entre o ano novo e o carnaval, mais provavelmente logo depois das eleições para as presidências da Câmara e do Senado. Elas virão para que Dilma se livre de alguns auxiliares de desempenho considerado insuficiente e para premiar algumas fidelidades e punir algumas infidelidades. O PMDB é quem mais ganhará força, pois leva o crédito do sacrifício que fez em BH e de não ter vacilado um minuto sequer para se colocar a serviço da candidatura de Fernando Haddad em SP. Se os sonhos insaciáveis dos peemedebistas se realizarem, como indica a nova "amizade política colorida" da presidente com o vice Michel Temer, o PMDB não só aumentará sua cota na Esplanada dos Ministérios, como ganhará postos com mais visibilidade eleitoral do que aqueles que agora o partido possui. A incógnita é o PSB do governador Eduardo Campos, uma das estrelas do primeiro turno das eleições. O "fator Campos" A aproximação de Dilma com o PMDB tem muito a ver com o crescimento eleitoral do PSB e a desenvoltura política que o governador Eduardo Campos está exibindo depois que deu uma sova no PT no Recife e, em companhia de Aécio Neves, não deu chances ao candidato de Dilma em BH, o ex-ministro Patrus Ananias, de chegar nem mesmo perto do segundo turno. Campos pode ser uma ameaça tanto para Dilma e seus planos, correndo em faixa própria ou aliado ao PSDB, bem como para o PMDB, tentando alijar os peemedebistas da condição de parceiro preferencial do PT. Por isso, se diz nos meios políticos que ele está sub judice. Seu comportamento no segundo turno e sua movimentação política serão atentamente medidos para ver se ele merece uma compensação pelo desempenho de seu partido ou se vai passar um período de seca. Já não há muito entusiasmo com os dois ministros que Campos mantém em Brasília : o da Integração Nacional e o dos Portos. Passar-lhes um bilhete azul não daria nenhuma dor na alma presidencial. O fator PT Com ou sem vitória de Fernando Haddad em SP - mais provável, segundo as pesquisas, que uma vitória de José Serra - o PT terá um tratamento preferencial na reorganização do governo. As dificuldades eleitorais em algumas praças aproximaram Dilma de seu partido. Há também a necessidade de ajudar a tapar as feridas deixadas pelas condenações do mensalão. Mas o PT que nascerá daí terá ainda a liderança incontestável de Lula, porém com enormes feições da presidente e seu estilo. Para um público específico Em desacordo com as disposições da presidente Dilma, que pediu a seus auxiliares que se abstivessem de comentar publicamente o julgamento do mensalão, o ministro Gilberto Carvalho, secretário geral da Presidência, com alguma cautela, é verdade, já falou duas vezes com a imprensa para lamentar a condenação dos petistas mais graduados pelo Supremo. Carvalho é de extrema confiança de Lula e também afinadíssimo com Dilma, além de figura com trânsito em todo o PT. Portanto, a pessoa mais indicada no governo para prestar solidariedade aos petistas. É a voz de Dilma para o assunto - ela não poderia deixar de dar um recado público aos companheiros, ainda que de forma indireta. O que eles farão ? Não se viu ainda nenhum sinal da oposição de que está se preparando para fazer um "exorcismo" pós-eleitoral para entrar no ano decisivo - para a sucessão presidencial - com uma "nova cara". Mesmo que venha a conquistar mais espaços com o segundo turno, ganhando, por exemplo, postos considerados "emblemáticos" com as prefeituras de SP (mais difícil) e de Manaus (mais provável) seu desempenho eleitoral foi frágil. Não foi trucidada como se previa, porém não foi nada brilhante. O que mostra que sua estratégia política até agora foi equivocada. Aécio Neves tem ensaiado uma linha diferente, com críticas mais objetivas a projetos do governo e com proposições em seus artigos semanais na Folha de S.Paulo. Será este o caminho ? O mensalão e duas dosimetrias : as penas e as palavras Chega a hora de se apurar a totalidade dos condenados pelos crimes contidos na AP 470 e começar a dosar a pena de cada um dos réus com base na sua participação nos referidos crimes, nos seus atenuantes e agravantes, nos seus antecedentes e assim por diante. Uma tarefa árdua para os juízes, um momento tenso para os réus, boa parte destes últimos com o destino marcado para o caminho das grades. Não fossem os réus, gente poderosa, branca, educada, com recursos, famosa, etc. pouco se comentaria. Assim como pouco se fala dos excessos das prisões do Brasil, de seus doentes e de muitos injustiçados. Obviamente, não se pode defender injustiça com outra injustiça. Todavia, como falar em injustiça quando os réus foram julgados pela Suprema Corte do país, cujos juízos em grande parte foram nomeados pelo presidente de honra do PT, o ex-presidente Lula, em cujo governo os desmandos do mensalão ocorreram ? Como falar em "tribunal de exceção" quando notáveis advogados se esmeraram na defesa dos notáveis réus ? Lembremos que dois ex-ministros da Justiça defenderam réus da famosa ação penal ! Diz José Dirceu : "O Estado de Direito Democrático e os princípios constitucionais não aceitam um juízo político e de exceção". Isso sim é um excesso. E não apenas de linguagem. Muito além da realidade mais objetiva. Fala-se até em recorrer aos tribunais internacionais de direitos humanos. Talvez seja mesmo o caso. Quem sabe assim, se possa saber se a dosimetria das palavras de certos réus está correta. Radar NA REAL 12/10/12 TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA estável estável/alta - Pós-Fixados NA baixa baixa Câmbio ² - EURO 1,2935 baixa/estável baixa - REAL 2,0389 baixa/estável estável/baixa Mercado Acionário - Ibovespa 58.986,51 estável/alta estável/alta - S&P 500 1.428,59 estável/alta alta - NASDAQ 3.042,85 estável/alta alta (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável ____________
terça-feira, 9 de outubro de 2012

Política & Economia NA REAL n° 218

A eleição da desconfiança e da insatisfação A pulverização de votos entre diferentes partidos nas disputas nas capitais e nas grandes cidades, a enorme quantidade de segundos turnos nas capitais, as renovações elevadas nas Câmaras de vereadores em diversas cidades, são indicações reais de que o eleitor brasileiro cantou nas urnas de domingo toda sua desconfiança e insatisfação com o quadro atual da política brasileira. Sobrou um pouquinho para todo mundo - governistas e oposicionistas, à esquerda, à direita, ao centro e os "nem tanto". Em SP capital, especificamente, ainda houve um crescimento dos votos nulos e brancos, a maior percentagem desde 2000 na cidade. Entre mortos e feridos e alguns sucessos individuais, perderam todos. Parte do insucesso generalizado pode ser atribuído ao mensalão. Todavia, todos perderam um pouco com a exibição ao vivo e em cores de uma das maiores "ervas daninhas" da cultura política nacional, a corrupção. O eleitor está em busca não apenas do novo, do diferente, mas do confiável. Vai parar neste recado ou em 2014 tem mais ? Renovação A Câmara municipal de SP terá renovação de 40% no próximo ano - em 2008, a dança de cadeiras foi de apenas 29%. Em BH, o índice de novatos chegou a 59% contra 39% da eleição anterior. No mundo dos vereadores foi normal o rolar de cabeças, nos grandes, médios e pequenos municípios. Pulverização No primeiro turno sete partidos elegeram prefeitos nas capitais. Mais oito diferentes desses têm chances de emplacar candidatos no segundo turno. Se tal se verificar, 15 legendas poderão ter prefeitos de capitais, contra 10 em 2008. A mesma tendência está se observando nas cidades com mais de 200 mil eleitores. Há mais gente dividindo o bolo eleitoral no país. Divórcio à vista ? Os caminhos de Eduardo Campos e do PSB com os do PT (e naturalmente de Lula e Dilma) não vão continuar correndo no mesmo sentido por muito tempo. Os projetos políticos são distintos no longo prazo. O PT, a não ser no desespero, nunca abrirá mão de seu projeto de poder hegemônico, nem em 2014 e 2018, nem nunca. Campos tem seus próprios planos. As desavenças em BH, Recife e em alguns outros lugares, por ora, serão atenuadas. Num dado momento, o divórcio será inevitável. Provavelmente, antes de 2014. Caciques em baixa A família Sarney, aliada ao PT foi alijada do segundo turno em São Luís. Jader Barbalho viu seu sobrinho amargar um terceiro lugar em Belém. Renan Calheiros (como Fernando Collor) nem candidato teve em Maceió. Mesmo que Ronaldo Lessa não tivesse a candidatura cassada, não iria para o segundo turno. Bons sinais para o país, maus sinais para as oligarquias. Réquiem para o DEM A chamada "direita" no Brasil sempre teve marcas bastante negativas ao processo democrático. Em grande parte do século XX foi golpista e associada às oligarquias mais atrasadas do país. Ao final daquele século tentou se modernizar, mas foi engolida pelo discurso social democrata que, como no mundo afora, adernou o discurso na direção do centro. No caso brasileiro, o PSDB ficou mais à direita e o PT mais social democrata. Ambos com traços de modernidade e muitos de atraso. O Democratas não conseguiu progredir em nenhuma direção de forma consistente e vê o seu transcurso eleitoral mostrar que a hora é de formalizar o funeral ou seguir outro rumo. Apenas o oligárquico ACM Neto faz às vezes junto ao distinto eleitorado nas capitais. João Alves em Aracaju é nanico. Pois bem : a probabilidade maior é que o velho partido herdeiro da ditadura militar busque uma solução junto a outro partido, via fusão. O problema será o de sempre : como acomodar os caciques em prol de projetos. Sabe-se que os primeiros têm prevalecido. Mesmo que não seja nas urnas. Reaproximação Para seus planos futuros, a presidente Dilma terá de fazer movimentos de maior aproximação (ou reaproximação) com o PMDB e outros aliados eventuais como o PSD do prefeito Gilberto Kassab. Afinal, sua principal aposta nesta eleição era impor uma derrota conjunta em Aécio Neves e Eduardo Campos em BH. De fato, viu Campos, uma incógnita para 2014, sair fortalecido com a vitória no primeiro turno em Recife e um crescimento expressivo de sua base de prefeitos no país. Para o PMDB este retorno é bem vindo, pois o fantasma do PSB e do neto de Arrais há muito assombra o partido do vice-presidente Michel Temer. Como é bom de contas - e saiu das urnas ainda como o partido com maior número de prefeitos - o PMDB saberá cobrar sua parte nesse latifúndio governista Federal. Efeito Lula e mensalão Inegavelmente a ida de Fernando Haddad para a disputa do segundo turno da eleição paulistana foi uma vitória do ex-presidente Lula. Tirado do "bolso do colete" do líder petista, o ex-ministro conseguiu dois efeitos há muito desejados por Lula : (i) tornar a eleição paulistana um "divisor de águas" do predomínio tucano no maior estado da federação com o uso de um "novo nome" e (ii) "proteger" a presidente Dilma no futuro embate presidencial de 2014 da influência tucana paulista. Bem, ambos os objetivos não foram alcançados totalmente, pois, por óbvio que seja, necessitam da vitória final de Haddad. Sem ela, tudo permanecerá à espera de 2014. Todavia, uma coisa se tornou muito certa : o mensalão adquirirá um protagonismo que não teve totalmente no primeiro turno. O jogo será pesado e no exato momento em que José Genoíno e José Dirceu sobem no cadafalso e verão se o dedo do STF vira para cima ou para baixo. Em alto som o tucanato sairá do ninho e cantará : "dai a Lula o que é de Lula e a Haddad o que também é de Lula". O teste de Serra Serra deverá se preocupar menos com suas profundas olheiras e mensagens de 140 caracteres nas madrugadas daqui para frente. A questão segundo um tucano de alto coturno é outra : ele tem de ser capaz de ser um líder partidário e erguer o dedo na direção de Lula. Se ficar com um discurso meramente tecnocrático, vai perder. A questão, segundo este líder, é simples : Serra desuniu muito o tucanato e o elo de união é derrotar o "sapo barbudo", resgatando o passado anterior dos feitos do PSDB. Coisa que Serra sempre se recusou a fazer com todas as letras. Não à toa, o octogenário FHC em suas entrevistas só falou de "mensalão" e nada sobre calçadas ou transportes. Quis pautar Serra e o partido. Voltas às aulas Mesmo com todas as juras de todos os aliados de que os embates eleitorais entre eles não deixaram sequelas, a presidente Dilma terá de fazer um carinho geral para amaciar sua base aliada na volta aos trabalhos do Congresso, prometida para esta terça-feira. A agenda da Câmara e do Senado é ampla e com algumas bombas - mais ou menos inadiáveis e a ser consumida em pouco mais de 20 dias úteis (no apertado calendário legislativo nacional). Sem contar o Orçamento, que tem sido votado cada vez com mais descaso, mas que tem de ser acompanhado com lupa para que os deputados e senadores não extrapolem demais na conta da receita. Há pelo menos dois projetos com hora marcada para sair do forno : a MP do setor elétrico (ver nota abaixo) e as novas regras de distribuição dos royalties do petróleo, essencial para que o governo possa formatar os novos leilões de áreas de exploração, marcadas para maio e novembro. E ainda a regulamentação do direito de greve do funcionalismo público. Bomba elétrica I Em meio à repercussão negativa de dois "apaguinhos" de boas proporções na semana passada, um para uso exclusivo de Brasília, a capital que costuma ser imune a intempéries nacionais, entra o governo num sério embate legislativo para aprovar a MP 579 do setor elétrico. Haverá "queda de braço" com o setor privado para que as novas regras nelas impostas sejam aceitas pelas empresas atingidas inicialmente, pelo mercado de capitais e pelos investidores, principalmente o precioso dinheiro externo. No Congresso a liderança do governo terá de tourear mais de 400 emendas de parlamentares, em todas as direções e defendendo todo tipo de interesse. É o tipo do assunto que perpassa as forças partidárias, envolve aspirações regionais e, portanto, não poderá ser resolvido no Congresso simplesmente com uma ordem unida para a base aliada. Bomba elétrica II No mundo empresarial, embora no curto prazo o mercado tenha se acalmado, há inquietações na área de eletricidade, mas também fora dela. Há certo temor com o que está sendo chamado de "excesso de ativismo governamental". Para completar a confusão, as empresas atingidas diretamente não se manifestaram, porém estavam agindo a todo vapor nos bastidores. E o prazo para que elas digam se aceitam ou não termina dia 15, p.f.. Até o governo parece "piscar" no caso : não pode ter outro sentido a ameaça, nada velada, que o presidente da Aneel fez às empresas recalcitrantes em entrevista ao "Valor Econômico". Nelson Hubner avisou que quem não quiser o jogo agora, pode ficar fora do leilão de concessões se isto vier a ocorrer. Esta confusão toda, se não for bem gerida, pode prejudicar a mais que bem intencionada - necessária e urgente mesmo - redução das tarifas de energia elétrica que está embutida na MP 579. Mensalão em doses O empenho do STF no julgamento da AP 470 já fez despertar o temor de que a roda toda da Justiça vai girar na direção apontada pelos ministros do STF, em casos que envolvam também o setor público e o setor político. Nem tanto pelas sentenças que estão sendo distribuídas, mas pela simples disposição de julgar com mais celeridade tais processos. Entram nessa roda não só outros casos do "mundo político" como o chamado mensalão mineiro (ou do PSDB) e mensalão candango (ou do DEM), como também em histórias nas quais o público e o privado se encontram, como foi o caso da "Operação Castelo de Areia". Haja trabalho para a Justiça e, como disse a respeito do atual mensalão o ministro Marco Aurélio Mello, "haja coração". Melancólica CPI Passadas as eleições, haverá reunião da CPI do Cachoeira. Sabe o que deve ocorrer ? Provavelmente, nadinha. Não porque não existam fatos a serem investigados, mas exatamente o contrário. Estes são fartos e fariam os mais ingênuos ficarem muito mais ruborizados que no caso do mensalão. Com o agravante de que a coisa toda do Cachoeira é "multipartidária", para dizer uma palavra suave. O único movimento que pode alterar a melancolia desta CPI pode vir do réu. Como se sabe, ele está estressado da vida atrás das grades, vê seus recursos negados em função de certo "clamor popular" e, assim, pode buscar alternativas na sua videoteca, desconhecida do grande público. Note-se, adicionalmente, que a situação financeira de Cachoeira vem se deteriorando em função de sua ausência frente aos negócios. Um COPOM para se ver Nosso BC gosta de se autodenominar "operacionalmente independente". Ou seja, na ausência de amarras institucionais que o libertem do jugo da influência direta do Executivo e do Legislativo, diz-se que ele "opera" livremente. Tudo um jogo de palavras. Porém, não é um jogo inútil e sem efeitos. O BC vem agindo coordenadamente na direção de fazer um correto e histórico ajuste do juro básico nativo, bem como relaxou a política monetária em prol da fraqueza da demanda e na ausência de políticas vindas da Esplanada dos Ministérios e do Planalto que jogassem a taxa de investimento para cima. Tombini e seus companheiros de COPOM, nesta quarta-feira, mostrarão se o jogo deles em relação ao juro básico terá uma parada ou se prosseguirá na direção da baixa. O fato é que a demanda permanece ainda "insustentavelmente leve", apesar de melhora que houve, e a inflação não está no figurino que o próprio governo a ela atribui, ou seja, está fora da meta. Na próxima reunião do COPOM, o BC falará sobre tudo isso. É capaz de surpreender e jogar o juros mais para baixo. Câmbio, ainda um problema Mexer com câmbio é infernal. Pode explodir ou murchar. Pode-se agir num sentido e acabar indo em outro. O governo, como se sabe, pode controlar apenas a taxa nominal. A taxa real, por sua vez, depende da inflação do país e do exterior. Os fluxos cambiais, além de imprevisíveis, costumam ser voláteis. Se não existe modelo para prever o câmbio ou fazê-lo ser uma certa taxa, uma coisa é certa : sabe-se quando ele está errado. Basta ver se há debilidade nas contas de comércio, especialmente dos produtos industriais e medir os custos dos produtos non-tradeables, aqueles que não são passíveis de substituição por outros de fora. Numa nota, como esta, não nos cabe fazer enormes digressões acadêmicas sobre o tema, mas deixamos duas mensagens claras : (i) a indústria brasileira persiste sem competitividade internacional, o que aumenta o percentual das vendas externas sobre o PIB de forma consistente e (ii) os custos dos serviços no Brasil têm deixado os "gringos" de boca aberta. Acham caro. O câmbio persiste defasado para as ambições de o país ser de fato "emergente". Radar NA REAL 5/10/12 TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA estável estável/alta - Pós-Fixados NA baixa baixa Câmbio ² - EURO 1,2894 baixa/estável baixa - REAL 2,0255 baixa/estável estável/baixa Mercado Acionário - Ibovespa 59.433,63 estável/alta estável/alta - S&P 500 1.440,67 estável/alta alta - NASDAQ 3.124,49 estável/alta alta (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável ____________
terça-feira, 2 de outubro de 2012

Política & Economia NA REAL n° 217

Eleições e oposicionismo A vida não está muito fácil para os "situacionistas" nesta sucessão municipal. De qualquer legenda, sem exceções. As eleições parecem marcadas por uma explosão de insatisfações mais ou menos generalizadas com os partidos no poder nas prefeituras. Os dados disponíveis nas capitais, por exemplo, indicam, claramente, que os candidatos que trazem alguma tinta de oposicionismo mais visível estão em vantagem na maioria das cidades. Um caso típico é o de Celso Russomano em SP. Outra indicação : o índice de reeleições, que vinha crescendo ano a ano e na última eleição chegou a passar dos 50%, deverá ser bem menor este ano. É fato que boa parte da decisão dos eleitores é tomada somente na reta final, quando algumas posições dos candidatos podem se inverter. Principalmente pela "força" inerente a quem detém o poder. Pode haver também interferências de fatos externos inesperados, como no caso da eleição de Luiza Erundina em SP, tida como impossível dez dias antes da abertura das urnas, e que virou depois da repercussão da morte de operários em confronto policial em Volta Redonda. É fato ainda que a influência de uma eleição municipal nas eleições para governador e presidente da República é limitada. Mas é bom que os candidatos de 2014 e seus partidos prestem um pouco mais de atenção nesse desapontamento que o eleitor está manifestando agora. A influência do mensalão Pesquisa do Datafolha indica que 81% dos eleitores não levam o mensalão em consideração na hora de votar. Isto indicaria a pouca influência do julgamento do STF na eleição municipal. O teste final desta constatação estatística será quando os principais acusados forem julgados a partir desta semana, especialmente no caso de José Dirceu, José Genoíno e Delúbio Soares. Este trio reflete a essência da relação do poder central pós-eleitoral da era Lula com a classe política de então. Se a indiferença popular continuar grande em relação ao tema, o mais provável é que o eleitor vá à urna pensando apenas nos interesses de suas cidades. A variável mais interessante deste julgamento é que para Lula, padrinho de vários candidatos de grandes cidades brasileiras, o julgamento é muito sensível para os seus sentimentos de ex-presidente. Na medida em que ele "politiza" o discurso em relação aos veredictos dos juízes da Corte Suprema o eleitor pode começar a prestar atenção no mensalão na hora do voto. Paradoxalmente, o "fogo amigo" é o maior risco para os candidatos oficiais. Silêncio dos inocentes O atual silêncio dos advogados dos principais acusados da Ação Penal 470 tem razão de ser. Um observador das coisas da Suprema Corte e interlocutor frequente de dois ministros do STF confidenciou a esta coluna que os ministros reagiram mal ao barulho inicial dos advogados em relação aos temas do julgamento. Especialmente, com a hipótese levantada publicamente de se recorrer à Corte Interamericana de Justiça, caso os direitos de seus clientes não fossem preservados. Para este interlocutor um ministro disse que seria "estranho que se alegasse 'cerceamento de defesa' quando há réus defendidos por importantes advogados, sendo dois deles ex-ministros da Justiça". Aparentemente, o atual silêncio dos advogados deve permanecer após as sentenças finais. A maior reação deve ficar a cargo dos réus condenados. Com a participação de seus companheiros da política. 2012...2014 Não foi por "boniteza" ou para atender aos insistentes apelos dos aliados, especialmente do ex-presidente Lula e do PT, quase em desespero em alguns lugares como SP, que a presidente Dilma acabou se envolvendo na campanha eleitoral no primeiro turno com muito mais afinco do que deu sinais de que o faria. A ponto de subir no palanque em SP e terçar armas com a oposição em terreno não propriamente institucional. Foi por "precisão" mesmo. Dilma, que daquela principiante em micropolítica do início do governo não tem mais nada, percebeu que seus potenciais adversários em 2014 estavam à vontade para firmar suas posições. Aécio Neves, Eduardo Campos e até Marina Silva estão aproveitando a campanha para ampliar sua visibilidade, a ter contatos com eleitores em pontos chaves. Aécio e Marina peregrinam pelo Brasil de Norte a Sul, e Campos, mesmo com suas obrigações de governador, não perde oportunidade de fazer campanhas para aliados. Dilma precisava então confrontá-los, especialmente Aécio e Marina, que tem aproveitado a campanha para fazer duras críticas a seu governo. O eleitor está pensando somente nas prefeituras. Os figurões só pensam naquela coisa : em Brasília. O verdadeiro peso Veja-se o PMDB. Ele tem seus candidatos às prefeituras nas capitais e em grandes cidades, mas não demonstra a mesma ansiedade que seu rivais como o PT, o PSDB e o PSB para fazer muitos prefeitos nesta área. O negócio do PMDB é o micro, onde ele ainda é imbatível - deve sair das urnas de domingo ainda como o partido com maior número de prefeitos e de vereadores do país. É isto que interessa aos peemedebistas, para manter o seu poder no âmbito Federal. As eleições municipais são determinantes para as eleições para as casas legislativas - a Câmara, o Senado e as Assembleias Legislativas. Em grande parte, com raras exceções de figuras de porte nacional, quem faz o deputado é o prefeito e a máquina municipal - a formiguinha. E nisso o PMDB parece que vai continuar imbatível. Mitos da "nova" classe média Boa parte do mundo político passou a apostar na chamada "nova" classe média, os mais de 40 milhões de brasileiros que nos últimos dez anos, apontados pelas estatísticas do IBGE, saltaram das classes D e E para a classe C. É inegável que mudou o padrão de consumo dessas pessoas e, em consequência, sua qualidade de vida. Mas é inegável também que ainda não se chegou ao paraíso. A começar pelo fato de que uma renda per capita entre R$ 291 e R$ 1.019 por mês, renda esta que o mundo oficial define essa nova classe, não é nenhuma maravilha. É mínimo para a sobrevivência. Depois porque a evolução ainda está no meio do caminho, os padrões de vida mudaram muito pouco, além dos limites da sobrevivência e da aquisição de alguns bens. Levantamento feito pelo portal G1, ligado ao grupo Globo, indica, por exemplo, que pelo menos metade das famílias que moram em favelas e ocupações no Brasil é da nova classe média. Outro estudo aponta ainda que, embora tenha caído 5,5% entre 2009 e 2011, o número de miseráveis no Brasil ainda é de oito milhões de pessoas. Ou seja, há carências e aspirações elevadas ainda. O que pode explicar o clima de "oposicionismo" dessas eleições e a decepção de muitos candidatos e seus padrinhos com os votos da "nova" classe. Destampou-se o caldeirão, criaram-se mais expectativas sem condições de atender a tudo. Preparando o terreno Nem mesmo com aquilo que alguns críticos chamam de "contabilidade criativa" o setor público brasileiro como um todo deverá cumprir este ano a meta cheia de superávit primário de quase R$ 140 bi, correspondente a cerca de 3,1% do PIB. Até agosto os governos economizaram apenas R$ 74,2 bi. Como já era esperado por parte do analistas, está sendo preparado o terreno para anunciar a mudança da meta, com o abatimento de 0,5% desse valor em função de investimentos do PAC, conforme admitido na lei de Diretrizes Orçamentárias. O primeiro passo para essa revisão foi dado pelo BC, sempre tido como o mais exigente nesse item, num anexo ao último Boletim Trimestral de Inflação. Apresenta estudos mostrando que não é necessário um superávit primário da magnitude do atual para manter a diminuição da dívida pública como porcentagem do PIB. Esta também é a posição de um bom número de economistas, que concorda que um "primário" mais alto não é mais necessário, ainda mais depois da mudança do nível de juros. O problema seria de confiança, de controle das expectativas : não se faz essa coisa bem às claras, é sempre meio envergonhadamente, como se não fossem feitas com convicção, apenas na base da tentativa e erro. O mesmo se dá nos debates sobre alterações no tripé de política econômica (câmbio livre, metas de inflação e rigidez fiscal). Super Dilma Acumulam-se as queixas, obviamente no jargão do jornalismo de antanho, "à boca pequena" - ou mais modernamente, em "off" - de setores empresariais com o que chamam de "ativismo governamental", de excesso de "intervencionismo" presidencial. Na última lista de "reclamações" estão novamente os ataques aos juros e agora também às tarifas bancárias, o foco nos cartões de crédito e as mudanças planejadas para o setor elétrico. Mesmo quem aplaude e está sendo diretamente beneficiado, fica apreensivo. Vão ter muitas razões para isto. O governo não vai parar por aí. Tudo que tem relação com o público, está sob o escrutínio do governo. Dilma aprendeu com Lula que é preciso ter certo pragmatismo quando se está no governo, mas em todas as suas ações ele põe também, um viés ideológico, de suas convicções mais profundas. Goste-se ou não, é com isto que os agentes econômicos terão de conviver. Simplesmente foi-se do tempo da "metamorfose ambulante". Super Mantega O ministro Guido Mantega está prevendo que a economia brasileira pode estar crescendo lá para o fim de 2013 ao ritmo de 4,5% a 5% ao ano. O BC é mais modesto, prevê 3,3% entre julho deste ano e junho do ano que vem. Relembrando outras previsões de Mantega, como a do início de 2012 de que o PIB arrancaria 4,5% de elevação, e diante do realismo do BC, que jogou suas expectativas para apenas 1,6% neste ano da graça, o jornalista Sandro Vaia comentou em nota no twitter : "Está na margem de erro". (Assim como nas pesquisas eleitorais, que costumam admitir desvios em suas previsões de até 3% para cima ou para baixo.) A promessa de Ben Bernanke "Mesmo que a economia dos EUA comece a crescer a taxas maiores, os juros permanecerão baixos até meados de 2015". Com esta frase, o presidente do Fed está tentando evitar especulações em relação à taxa de juros básica dos EUA. A boa notícia por detrás desta frase solta é que há uma consistente reunião de dados macroeconômicos que mostram que a maior economia mundial está se recuperando mesmo. Os sinais são de todos os lados, o que mostra que a demanda agregada como um todo está se movendo para cima. Isso é um cenário promissor, mas ainda muito incipiente para que existam especulações a respeito das taxas de juros e inflação - afinal de contas o problema nos EUA é a deflação. Do lado negativo, há a inundação de dólares norte-americanos que deprimem as moedas a eles alinhadas. É o caso de real. Enquanto a Europa se debate sobre a consistência das políticas de expansão monetária, os EUA mostram que há resultados visíveis e positivos em relação a esta. Obama cada vez mais firme. Nas eleições. O debate entre os candidatos republicano (Mitt Romney) e democrata (Barack Obama) programado para a próxima quarta-feira deve mostrar que ambos não devem abandonar a retórica meramente de palavras. Ideias diversas sabe-se que existem. Visões sobre a economia também. Política internacional, a mesma coisa. Todavia, nestes temas, tanto Obama como Romney não tem passado da linha de oportunismo e obviedades. Neste campo, Barack Obama parece jogar bem melhor, pois o republicano tem uma afeição especial pela bobagem. Já falou de um ataque ao Irã, sem que soubesse avaliar as suas consequências; já acusou a parcela mais pobre da população de viver de "esmola do governo"; já acusou a política de tributação nos EUA de ser dura demais, mas o dinheirão do republicano fica estacionado nas Bahamas. Com tanta bobagem, até mesmo os conservadores norte-americanos estão abandonando o barco de Romney (barco não, iate). Alguns conservadores até preferem o neoconservador Obama. Radar NA REAL 28/9/12 TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA estável estável/alta - Pós-Fixados NA baixa baixa Câmbio ² - EURO 1,2894 baixa/estável baixa - REAL 2,0255 baixa/estável estável/baixa Mercado Acionário - Ibovespa 59.433,63 estável/alta estável/alta - S&P 500 1.440,67 estável/alta alta - NASDAQ 3.124,49 estável/alta alta (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável ____________
terça-feira, 25 de setembro de 2012

Política & Economia NA REAL n° 216

Nas mãos dela O governo, entre seus afazeres executivos, também é dado a preocupações - digamos assim - semânticas. Foi assim que Dilma decidiu-se intitular presidenta, no que os bons gramáticos apontam como um erro crasso de língua pátria. Assim também, com o sempre incomodado com neologismos e estrangeiros no Brasil, o ministro dos Esportes, Aldo Rebelo, decidiu que os documentos brasileiros grafarão o evento esportivo escorreitamente como paraolimpíada e não como pretendem as autoridades esportivas internacional paralimpíada. Paralimpíada, diria um mais desaforado, é a genitora. Tal preâmbulo se justifica por nossa dúvida em saber como a presidente gostaria de ver grafada a nova realidade da política nacional no campo dos aliados : se dilmodependência ou dilmadepêndencia. Uma ou outra expressão marca a extraordinária guinada nas relações da presidente com seu criador político, seu partido e os partidos aliados. De uma situação de dependência dessas forças - a muito cantada lulodependência - ela passou a ser credora. No quadro atual, para as forças governistas, especialmente o PT e Lula, é Dilma ou Dilma. Esta situação vai se refletir não somente na recomposição do território governista no pós-eleição e no pós-mensalão, bem como na formação da equipe que seguirá a presidente Dilma nos seus dois últimos anos deste mandato. Por que ? Três razões explicam a consolidação da liderança da presidente Dilma, sem contrastes : (1) os elevados índices de audiência que seu governo mantém; (2) as dificuldades eleitorais que o PT está enfrentando nas capitais e em algumas cidades grandes e médias, o que fez o partido lançar seguidos sinais de SOS para ela; (3) as trombadas que o PT está recebendo do julgamento do mensalão no STF, o que está deixando o partido desnorteado. Dilma só perde alguns pontos porque se envolveu nesses dois casos mais que esperava, para amainar as angústias de Lula e amigos. A corrida começou Antes do que se imaginava, ainda no primeiro turno das eleições, já começaram as especulações e os balões de ensaio a respeito das mudanças ministeriais que a presidente fará no início do ano, provavelmente logo após a eleição para as presidências da Câmara e do Senado e antes do Carnaval. Na semana passada, o tema mais constante foi uma possível transferência de Aloizio Mercadante do ministério da Educação para a Casa Civil e a volta de Gleisi Hoffmann para o Senado, para cuidar da candidatura ao governo do PR em 2014. A manobra abriria espaço para Gabriel Chalita cuidar das questões educacionais, compensação pelos serviços que ainda vai prestar a Fernando Haddad em SP. Um conhecedor dos humores da presidente ao ouvir tudo isso, ironizou : "Só falta combinar com ela". Todavia, é bom lembrar : o mesmo se dizia de Marta Suplicy no ministério... Na mesma linha, o prefeito Gilberto Kassab já vestiu o fraque de ministro, para ele ou para alguém do seu PSD, e o PMDB mineiro já mandou fazer o terno para reassumir o cobiçado ministério dos Transportes. Por fim, o ministro das Minas e Energia, Edison Lobão, levanta peso e halteres para não ser remetido de volta ao Senado. Ao mesmo tempo, arrefeceram os boatos do ofidiário diplomático sobre um possível bilhete azul para o ministro Antonio Patriota. Mais dividido ainda A menos de dez dias das eleições, as pesquisas disponíveis no país começam a dar sinais de que os maiores partidos nacionais, especialmente o PT e o PSDB, começam a recuperar algumas posições. No entanto, o clima geral indica que o quadro partidário sairá mais atomizado ainda no âmbito municipal do que já é. Mais partidos fora do circuito PT/PSDB/PMDB elegerão mais prefeitos. O que leva a supor que o Congresso Nacional (e as Assembleias Legislativas) a ser eleito em 2014 estará ainda mais dividido do que este. Ou seja : mais dificuldades para o presidente eleito em 2014 administrar suas relações políticas. Simples assim Já passam de uma dezena as explicações para o chamado "fenômeno Russomano" em SP, até que provem o contrário, a maior surpresa desta temporada de eleições municipais. Enquanto não se desvenda o "mistério", a melhor lição está numa definição de um velho e experiente político. Perguntado por que havia perdido as eleições, ele foi simples assim : "Porque mais eleitores votaram no meu adversário do que em mim". Uma vitória e uma derrota, numa cidade com população complexa como a de SP, com suas inúmeras carências, não têm uma única, nem mesmo apenas duas ou três explicações. É a soma de um conjunto de variáveis. Do cansaço com os donos do poder - municipal, estadual e Federal - aos surtos de populismo que de vez em quando assolam o país, passando por discursos velhos travestido de novo ou de vozes da experiência. Com diria Nelson Rodrigues, o eleitor (e os analistas) podem não saber as razões do sufoco pelo qual estão passando, mas José Serra, Fernando Haddad e seus partidos sabem muito bem porque estão apanhando. Quanta tristeza José Serra e Fernando Haddad só não serão ao mesmo tempo escorraçados de um segundo turno nas eleições na capital paulista porque seus partidos, por inércia, ainda tem adeptos em bom número no eleitorado e porque os outros concorrentes não têm cacoetes para ocupar uma prefeitura de SP. Se dependessem da campanha que estão fazendo, de seus programas no rádio e na televisão, já estavam fora da disputa desde já. Nunca se viu tanto dinheiro desperdiçado em marketing e em propaganda. Alemanha agora pressiona a Espanha Mariano Rajoy, primeiro-ministro da Espanha, alcançou o poder em novembro do ano passado por meio de um discurso conservador recheado de fórmulas para resgatar o país ibérico da barafunda em que se encontrava. Sua eleição foi saudada como uma espécie de contrapeso à revolta social dos gregos, povo sabidamente afeito à crítica e à luta. A primeira-ministra alemã sempre quis estrelar o cenário dos conservadores europeus, guiando-se por um comportamento calculado e aparentemente austero na tentativa de lembrar Margaret Thatcher. Dentro deste figurino a alemã, saudou a eleição de Rajoy como positiva para a solução da crise europeia. Pois bem : passados alguns meses, a irritadiça Angela Merkel já demonstra infelicidade em relação ao colega espanhol. Acusa-o de "prevaricar", adotando sempre medidas parciais e sem efetividade. Sobretudo no que tange ao resgate dos bancos (que necessita de pelo menos US$ 130 bi) e a necessidade de "equilibrar o orçamento". A irritação de Merkel é compreensível : a germânica não tem quase 30% da mão de obra ativa desempregada na porta de seu gabinete. Quando isso ocorreu na Alemanha, o novo eleito foi, nada mais nada menos, que Adolf Hitler. China : medidas de estímulo e pessimismo em alta A pesquisa do chamado "livro bege" chinês, documento vital sobre o "estado da economia", entrevistou entre o início de agosto e início de setembro cerca de 2.000 executivos daquele país. A conclusão do estudo foi que estes executivos esperam o ano mais fraco em 22 anos, desde a chamada era Deng Xiaoping, ideólogo da abertura econômica chinesa. Os fatores críticos desta conclusão são conhecidos : (i) crise europeia profunda e (ii) baixa vitalidade da economia norte-americana. O governo comunista de Pequim já lançou um programa de estímulo à economia doméstica, algo como US$ 150 bi a serem gastos em setores absorvedores de mão de obra, como é o caso da construção civil. De toda a forma, o crescimento do PIB do país este ano será de algo como 7,5%, um invejável patamar quando comparado à tragédia europeia e ao atoleiro americano. O mais importante para o Brasil é o risco de que permaneça altamente dependente no campo externo da China no momento exato em que esta mostra sinais de vitalidade em declínio. BRICs : faz sentido ? Que vivemos um mundo mediático não resta dúvida. Ideias e o desenvolvimento destas se fazem à luz de uma nova restrição ao pensamento : a modelação intelectual que seja capaz de rotular e nem sempre explicar muito. O estudo da economia e das relações entre os países não escapa a esta sina. Na década de 70, o Brasil era vislumbrado juntamente com a Coréia do Sul e o Japão, as novas forças motrizes da economia mundial. Os países asiáticos seguiram em frente e investiram em educação e tecnologia de forma a sair altamente competitivos para competir fora de suas fronteiras. O tal do "planejamento industrial" foi usado largamente para proteger as economias locais e alavancar o desenvolvimento social. O Brasil ficou ao largo envolto em uma mistura potente de inflação e endividamento. Agora, sob a cunha de BRICs, o Brasil se coloca juntamente com a Rússia, Índia, China e África do Sul. A sigla ficou sonora, mas os resultados da política diplomática e comercial deste grupo de país é pífia. A Rússia joga um jogo estratégico próprio, a Índia emerge de interesses essencialmente domésticos, a China tem objetivos claramente imperiais na África e (em menor medida na América Latina) e a África do Sul é pequena demais para tourear as políticas de seus, digamos, "colegas". O Brasil tem pouco a ganhar numa estratégia conjunta com estes países, mas ainda há quem leve a sério analisar profundamente o tema. Ruídos entre BC e Fazenda, ou vice e versa I Após um período de calmaria, quando pareciam jogar "por música" - sob a batuta da presidente Dilma, bem mais ligada nas minudências da política econômica que seu antecessor - o ministério da Fazenda e o BC voltaram a se estranhar. Não foi do gosto da turma do BC a série de declarações do ministro Guido Mantega e, com menos insistência, do secretário Executivo Nelson Barbosa de que o BC não precisará elevar os juros no Brasil ano que vem. Parte dos agentes do mercado acha que pode ser necessário, porque a inflação ainda não está nos eixos, caminhando para o centro da meta. O clima chegou a ficar pesado na semana passada, depois que Mantega disse, na Europa, que ainda há espaço para os juros no Brasil caírem mais ainda. Mantega espargia seu otimismo em nível planetário, na "Europa, Franca e Bahia". Amuo do BC forçou imediatamente o ministério da Fazenda a soltar uma nota em Brasília explicando que o ministro se referia não à taxa Selic e sim aos juros dos empréstimos e financiamentos, os chamados spreads. Ruídos entre BC e Fazenda, ou vice e versa II O resultado é que os analistas consultados pelo BC para o Boletim Focus aumentaram nessa segunda-feira não somente a previsão para a inflação deste ano como também para os juros. Um dado intrigante dessa nova rodada de divergências entre a Fazenda e o BC é que, nas outras ocasiões em que elas surgiram, a presidente Dilma discretamente pediu aos fazendários para não fazerem comentários sobre juros - e também a respeito de câmbio - de público. Agora, ela ainda não disse nada. Com isso, o BC, terá de redobrar suas falas. O governo vive um momento bom demais para ter esse tipo de escorregão. Em tempo : sai esta semana o Boletim Trimestral de Inflação do BC. Vai dar para ver até que ponto a Fazenda e BC pensam da mesma maneira. Mensalão : Barbosa e Dilma O ministro Joaquim Barbosa pode até ter um tom mais aguçado na leitura de seus votos e certo peso na pena na hora de sentenciar. Todavia, a motivação de seus votos é exemplar, calcada nos autos e no famoso (e pouco praticado) silogismo aristotélico. Sempre podem caber reflexões jurídicas na boa prática forense, sobretudo em temas complexos. Citar a doutrina e repisar a jurisprudência nada mais são do que explorar os percursos das fontes de Direito. Barbosa, nesta labuta do chamado mensalão, tem sido mais direto com construções diretas sobre um montante considerável de provas. A citação do depoimento da ex-ministra das Minas e Energia e atual presidente da República no voto de Barbosa foi extraída dos autos e nada conspira para a distorção da forma e congruência do voto do ministro. A nota da presidente após o voto, esse sim, destoa da boa prática republicana da separação dos poderes. De Locke a Montesquieu. De Paris a Washington. Uma conclusão pode ser extraída : Dilma tem um estilo chamado "direto". No caso, direto para o público interno do PT e seu ex-chefe quando era uma comportada ministra. Mensalão : a hora dos políticos Doutrinadores repisam em volumosos livros que a verdade dos autos é aquela possível e não a real. Isso porque quase sempre não é possível enquadrar todos os fatos de um crime no necessário e garantista meio formal de se alcançar a Justiça, o processo. Dos autos do mensalão o que se vê não são volumosas "verdades", mas conceitualmente apenas uma : existia um vasto esquema financeiro com financiadores de um lado e financiados de outro. A causa e o efeito também são evidentes : imensos e atuantes bolsos políticos foram recheados com dinheiro "sujo". O objetivo deste esquema foi qual mesmo ? Diz o MP que para fundear outro esquema, o político. Ora, provou-se que o financiamento existia e era imoral e ilegal. Agora, examina-se se o esquema político existia e como funcionava. Daí, basta colocar a espada da Justiça sob os agentes do esquema criminoso. Ao que tudo indica isso acaba por acontecer e, provavelmente, sobre boa parcela dos "líderes políticos" dos partidos aliados do primeiro mandato do presidente Lula. Com a possibilidade concreta de que os culpados sejam levados para detrás das grades, uma consequência que se vê diariamente nos fóruns do país, sobretudo no caso de acusados pobres. Do lado político, conforma-se um discurso de que há uma "conspiração" em torno do julgamento e para além dos autos. Lula e o PT neste último item é que tem de provar se isso é a verdade real. Até agora, não conseguiram e é isto que protege o STF que felizmente sabe disso e tem agido bem. Escorregão ? Não surpreende, ao contrário do que se está dizendo, a renúncia do ex-ministro do STF, Sepúlveda Pertence, da presidência da Comissão de Ética Pública da Presidência da República. Pertence, como se diz lá em MG, sua terra de origem, é "uma pessoa de opinião". E, embora comungue posições políticas com a presidente Dilma, Pertence andava incomodado com as constantes informações plantadas oficiosamente na imprensa, de que ela não tinha gostado de algumas decisões da Comissão, de investigar e pedir explicações a auxiliares dela. As trocas recentes de conselheiros foram apenas as gotas d'água. Não bate com o discurso de transparência do governo. Radar NA REAL 21/9/12 TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA estável estável/alta - Pós-Fixados NA baixa baixa Câmbio ² - EURO 1,3118 baixa/estável baixa - REAL 2,0311 baixa/estável estável/baixa Mercado Acionário - Ibovespa 61.176,25 estável/alta estável/alta - S&P 500 1.460,15 estável/alta alta - NASDAQ 3.175,09 estável/alta alta (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável ____________
terça-feira, 18 de setembro de 2012

Política & Economia NA REAL n° 215

Momento presidencial Em que pese ter de "tourear" as angústias petistas com a questão do mensalão e com o risco de Fernando Haddad não ir nem para o segundo turno em SP, a presidente Dilma vive um de seus melhores, talvez o melhor até agora, momento na presidência. Ela, sim, poderá se declarar vencedora das eleições, pois os partidos governistas, naturalmente tantos que são, farão muito mais votos que a mirrada e às vezes assustada oposição. Pode ter essa "vitória" tisnada um pouco caso o PT fracasse em SP e em BH, onde ela acabou se metendo mais do que inicialmente pretendia. Economia melhora Do ponto de vista da economia, depois dos sustos do primeiro semestre, há sinais consistentes de retomado crescimento do PIB. Não com o vigor que o ministro da Fazenda, Guido Mantega projeta, mas para dar um alívio de apontar para um crescimento de 4% em 2013, aliás, como estão prevendo os analistas ouvidos pelo BC para o Boletim Focus. E está sendo muito aplaudida pelos empresários pela guinada que deu na política econômica, com foco na redução do dito "custo Brasil" e mais incentivo aos investimentos. Esta parte falta apenas decolar para valer. No terreno das intenções, vai muito bem, obrigado. Com isso, Dilma vai firmando o próprio caminho, livre das amarras dos parceiros e formando o próprio "dilmismo". De mãos menos atadas ainda ficará dependendo do resultado das eleições em alguns lugares e dos votos finais dos ministros do STF no mensalão. Congresso dá trabalho Mesmo com todo esse cacife, a presidente continua enfrentando dificuldades na hora do vamos ver no Congresso com os aliados. Pode sofrer uma nova derrota na votação da MP do Código Florestal e não está conseguindo domar os parceiros na questão da destinação de 10% do orçamento para a Educação. O governo quer 7%. Ela tentou barrar o projeto na Câmara e não deu certo. Agora está nas mãos dos senadores. "Mensalão" norte-americano A reunião do Comitê de Mercado Aberto do Fed (sigla em inglês, FOMC), decidiu na semana passada recomprar US$ 40 bi por mês em títulos do Tesouro norte-americano "até que o mercado laboral apresente melhoria", bem como se comprometeu a manter a taxa de juros básica perto de zero até meados de 2015. No caso das compras de títulos o BC dos EUA comprará títulos com prazos mais longos (de até 30 anos) com o objetivo de deixar uniformes (e baixas) as taxas de curto e longo prazo. Com isso, espera a autoridade monetária levar a taxa de desemprego para um nível de 7% da mão de obra disponível, por meio do incremento do consumo. Em poucas palavras, o Fed vai injetando dinheiro no sistema financeiro todo mês para estimular a economia. O contribuinte americano teme pagar conta mais alta no médio prazo, via aumento de impostos. Mas, por enquanto, a ordem é colocar mais comida na mesa do trabalhador desempregado. Uma escolha política a ser legitimada nas eleições de novembro. Dólar para baixo Como sabemos, os EUA estão com a atividade econômica debilitada, mas, do ponto de vista cambial, se financia junto ao mundo o qual teme o andar da carruagem dos europeus e não confia nem no iene e nem na moeda chinesa, o Yuan. Para o Brasil, o "mensalão" do Fed joga uma incerteza sobre a estabilidade do dólar no mercado externo, o que pode valorizar o real e prejudicar a já debilitada competitividade brasileira. Todavia, não nos esqueçamos que os EUA representam 1/4 da economia mundial e a sua recuperação ajuda mais o mundo do que a tão comemorada China. Os próximos dias dirão mais sobre os efeitos do adicional (e enorme) relaxamento monetário dos EUA, mas uma coisa é certa : o Brasil terá de se adaptar à nova situação. Quem sabe, reduzindo mais que o esperado a taxa básica de juros. Tensão no poleiro brasiliense A manobra da presidente Dilma para ajudar a candidatura de Fernando Haddad em SP, levando a senadora Marta Suplicy para o ministério da Cultura, vai, com o correr do tempo, criar forte tensão em seu ministério, agora com três indisfarçáveis candidatos ao governo paulista : a própria Marta, Aloizio Mercadante, que só "pensa naquilo", e o ministro da Saúde Alexandre Padilha, um dos mais ativos cabos eleitorais de candidatos petistas a prefeito no Estado. Os planos de Lula, porém, segundo boas fontes, seriam outros, na dependência, é claro !, de uma vitória de Haddad na capital paulista : reservar a vaga para o prefeito de São Bernardo, Luis Marinho. Mudanças radicais ? Uma derrota conjunta do PT e do PSDB em SP, ou seja, uma vitória de Celso Russomano na capital, já não mais improvável, provocará, inevitavelmente, um deslocamento do centro do poder no petismo, apesar ainda de Lula, e no PSDB, de SP para outras regiões. E moverá também o eixo da política nacional, que passará a gravitar mais em torno da presidente Dilma e menos do PT lulista e, dependendo do resultado as urnas em Belo Horizonte e Recife, de Aécio Neves e Eduardo Campos. O PMDB, mesmo que "ganhe" as eleições, continuará como coadjuvante. Está difícil Leitura atenta das últimas pesquisas DataFolha e Ibope indicam que não será nada fácil para José Serra e Fernando Haddad alijarem Celso Russomano do segundo turno. Só se vier uma revelação estrondosa contra o candidato do PRP. A "guerra religiosa" que estão criando não deve surtir efeito. Aos vencedores, as batatas As direções dos partidos políticos, os dois que sempre se digladiam nacionalmente, PT e PSDB, além do PMDB e agora de um ativo PSB e até do novel PSD, já estão azeitando suas calculadoras para, tão logo findas as eleições, se declararem vencedores. Porque... 1. Ganharam a eleição em SP (nessa pode furar o bloco o PRB) 2. Elegeram o maior número de prefeitos 3. Elegeram o maior número de vereadores 4. Tiveram o maior número de votos para prefeito em todo o país 5. Tiveram o maior número de votos para vereador em todo o país 6. Fizeram mais prefeitos nas capitais 7. Fizeram mais prefeitos nas cidades com mais de 200 mil habitantes 8. Fizeram mais prefeitos nas cidades médias Motivos para comemorar, assim, não faltarão. E todos farão jus a um saco de batatas. A política sem programa e sem afeto Uma leitura mais, digamos, republicana das eleições brasileiras e do próprio político brasileiro mostra que, na ausência de substanciais diferenças entre os programas partidários, o jogo na arena política está cada vez mais situado no campo dos personagens e não no enredo. Em SP, Russomano é sinal mais evidente do processo, mas não se poderia excluir o caso de Eduardo Paes no Rio, Márcio Lacerda em BH, Gustavo Fruet em Curitiba e assim vai. No plano nacional temos os apáticos Aécio Neves e Eduardo Campos, personagens que podem renovar a política brasileira, mesmo que não saiba se para melhor. Num país com tantas diferenças sociais, disparidades regionais e culturas diversificadas, este processo de "fulanização" da política é caminho certo para o populismo que permite que qualquer um "dos que aí estão" assuma a carapuça. CPI da Pizza Assim como não quer nada, o Congresso está para sepultar a CPI Cachoeira-Delta sem grandes revelações. As sessões foram suspensas até depois das eleições. E não há sinais de que os parlamentares estejam aproveitando esse tempo para analisar os documentos provenientes das quebras de sigilo pedidas por eles. Depois, o tempo será muito até o fim do ano para mais debates na Comissão de vez que a Câmara e o Senado estão atulhados com matérias para votar. A verdade é que eles se dão por satisfeitos com o barulho que fizeram no início e não têm a menor intenção de investigar profundamente a empreiteira Delta e suas relações com o poder em todo o país, não apenas no Centro-Oeste. Teme-se que desta cartola possam sair coelhos muito raivosos. Principalmente se puxarem o fio das "empresas-laranjas" usadas pela empresa de Fernando Cavendish. É um laranjal de alta qualidade e que abastece mais gente além da Delta. Mensalão : um dia após o outro A principal "novidade" da Ação Penal 470, vulgo "mensalão", não veio ao final da semana passada, do plenário do STF, mas da revista Veja. A nosso ver, a referida reportagem não traz propriamente uma "novidade", mas explicita com fidelidade as tensões em torno do julgamento do "núcleo político" da referida ação penal. Marcos Valério deve ir para a prisão e, diante do fato quase concreto, jogou para o público interno acusado, sinalizando que pode não ser tão silencioso quanto nos últimos anos. Para o público externo, a distinta opinião pública, os efeitos ainda são desconhecidos, mas os votos do STF parecem que darão o tom das expectativas que se formarão no campo político, na fronteira temporal das eleições de outubro e novembro. Neste sentido, a voz cansada de Marcos Valério não ajuda em nada no andamento da Suprema Corte e pode até piorar. É o caso dos vídeos gravados por Valério, cuja existência foi revelada no Blog do jornalista Ricardo Noblat (clique aqui). Alguns dos acusados sabem disso e podem sair da "toca" para projetar e proteger a própria imagem. Parece ser o caso de José Dirceu. A sanha jurisdicional tende claramente à condenação. A opinião eleitoral ainda está por se manifestar. O caminho dos acusados pode ser na direção da prisão e isto pode causar ainda muitos distúrbios. Cruzeiro do Sul liquidado Ainda estão para ser bem mais transparentes os acontecimentos que levarão à bancarrota do Banco Cruzeiro do Sul. Não que seja certo que isso venha acontecer, mas porque não deixa de ser curioso como um banco pode estar tão débil por tanto tempo nas barbas do BC. Não há surpresa na liquidação do banco depois de evidente ausência de interesse por parte do eficiente mercado financeiro. O banco vai para o seu crepúsculo, silenciosamente. O que deixa mais curiosidade sobre outro caso, agora já esquecido : a salvação do Banco Panamericano. Esta história precisa ser conhecida. Liberação de compulsórios Parecem muito boas as ideias que dão conta que o BC estuda a liberação de depósitos compulsórios do sistema bancário. Faz sentido para a política governamental de achatamento dos famosos (e elevados) spreads bancários brasileiros. Tal liberação deve acontecer talvez no curto prazo. E pode ajudar, sobretudo, a galera pequenina dos pequenos bancos. Radar NA REAL 14/9/12 TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA estável estável/alta - Pós-Fixados NA baixa baixa Câmbio ² - EURO 1,3118 baixa/estável baixa - REAL 2,0311 baixa/estável estável/baixa Mercado Acionário - Ibovespa 62.057,68 estável/alta estável/alta - S&P 500 1.459,33 estável/alta alta - NASDAQ 3.184,97 estável/alta alta (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável ____________
terça-feira, 11 de setembro de 2012

Política & Economia NA REAL n° 214

Tripé da política econômica mudou... A última ata do Copom do BC, divulgada na quinta-feira, desencadeou, mais uma vez, a discussão sobre se o governo teria abandonado ou não a meta de inflação como um dos pilares da política econômica. O Copom admite que o centro da meta, de 4,5%, não será mais alcançado nem em 2012, nem em 2013, nem no primeiro semestre de 2014. Como o câmbio está sempre vigiado pelo BC, e deixou de ser flutuante para valer há tempo, e como o superávit primário tem sido alcançado a bordoadas certo artificialismo, estaria então, no governo Dilma definitivamente esquecido o tripé que sustentou a economia brasileira desde 2000. ...a meta é o crescimento Não há surpresa quanto a isso - só se surpreende quem não acompanha os movimentos da presidente Dilma. Pode-se entender que ela sempre se alinhou com a corrente dita desenvolvimentista. E é o que ela e sua equipe estão revelando. O governo, tem, na realidade, um meta de crescimento, que, pelas declarações públicas das autoridades, é de no mínimo 4% para os próximos dois anos. Coincidentemente é o período que a sucessão presidencial começará a pegar fogo com Dilma tendo no seu encalço naturalmente um oposicionista, além do governador Eduardo Campos e o fantasma de Lula. Assim, as metas da estabilidade econômica serão adaptadas tanto às circunstâncias econômicas quanto às da política. Não é obrigação São muitos os economistas que defendem, nas circunstâncias atuais, a flexibilização das metas. Muitos dizem mesmo que "o primário" está demais. O problema não é o governo trocar de parâmetros. É fazer isso de forma envergonhada, sem dizer oficialmente, dando a impressão de que não está seguro quanto à necessidade e ao acerto das mudanças. Afinal, as metas não são uma norma rígida - são um compromisso político assumido por ele. Ninguém vai ser preso se não cumprir. Do modo que leva causa insegurança nos agentes econômicos. O que pode explicar boa parte da cautela dos investidores. Como mostram os dados do PIB, ele vem caindo desde o final de 2010. Hollande : depois das eleições A marca histórica mais relevante desde os anos 90 em matéria econômica diz respeito ao fato de que o tal do "mercado" é aquele que acaba em última instância impondo às regras da política econômica. A despeito das eleições, os governantes tão logo empossados sucumbem às "normas gerais" advindas do imperativo categórico mercadológico. Socialistas acabam se parecendo com liberais e liberais acabam concedendo às matizes socialistas. Partidos políticos pouco significam e a sociedade acaba inerte às mudanças políticas e econômicas. François Hollande, presidente da França, acaba por realizar a sina de todo governante. Partiu para um ajuste fiscal significativo (30 bi de euros) com o fito de ajustar o déficit público para algo como 3% do PIB. Contraria a própria campanha, marcada por uma visão divergente da ortodoxia alemã. Com isso, o desemprego deixou de ser a prioridade nº 1, o crescimento vai cair e é o fim da visão keynesiana do político francês. Tudo para que a política econômica agrade o financiador da dívida francesa. Em detrimento inclusive dos ricaços franceses que terão uma forte tributação sobre seus ganhos correntes. E Obama ? Barack Obama vem tratando do tema econômico com base nas necessidades de reduzir o desemprego e aumentar a atividade econômica. Reprisa, com o apoio do Fed e do mundo inteiro (que compra dólares norte-americanos), a política de Franklin D. Roosevelt. Isso tudo sem mexer muito com o poder de Wall Street e dos financistas que estão a financiar seu adversário nas eleições de novembro, Mitt Romney. A questão vital para depois das eleições será sobre a continuidade (e até aprofundamento) desta estratégia. Com uma relação dívida pública/PIB acima de 110%, o elegante e competitivo Obama vai ser mais agressivo em relação a sua estratégia ou fará um governo de "ajustes". Não será dos discursos eleitorais que retiraremos esta resposta. China : queda da atividade Que a recuperação da economia europeia e norte-americana será sofrida, todos já puderam verificar, seja em função dos indicadores divulgados, seja pelo animus dos analistas. Agora, o que se discute para valer é o quanto a China pode desacelerar e se há fôlego doméstico para manter o crescimento em chama alta. São crescentes as notícias de que o governo comunista de Pequim irá lançar um pacote de estímulo econômico de pelo menos US$ 500 bi. O problema é saber se será suficiente para barrar o longo declínio da taxa de crescimento a qual ainda é robusta (mais de 6% este ano), mas dá sinais de que vai cair mais. Além disso, dez em cada dez analistas do setor financeiro da China tem dúvidas sobre a higidez do sistema daquele país. A transparência é deficiente e o governo insiste em manter rédeas curtas quando o assunto é prestação de informações. Por fim, o mundo desenvolvido depende muito mais do que deveria da China. O Brasil, por sua vez, vem perdendo participação da indústria no PIB e as suas commodities são o alento chinês para o crescimento. Agora sai ? Depois de uma ofensiva em que parecia mostrar suas garras, a presidente da Petrobras, Graça Foster, esqueceu a história do aumento da gasolina e do óleo diesel para reforçar o caixa de investimentos da companhia. O BC diz que não espera reajuste de combustíveis para este ano. Mesmo não perseguindo com perseverança o centro da meta inflacionária de 4,5%, o governo não pode deixar que ela fuja demais do limite - e a Petrobras terá de continuar pagando sua cota. Agora, com a redução dos preços das tarifas de energia elétrica em 2013 os combustíveis sobem ? Segundo o próprio ministério da Fazenda a redução da conta de luz ajudará a reduzir ao redor de 0,55% da inflação no ano que vem. Uma tentação para o aumento da conta do tanque dos veículos. Cândida confissão Se não recebeu ainda não deve estar longe de receber um puxão de orelhas o ministro das Minas e Energia, Edison Lobão. O governo fez tudo para apresentar como uma medida puramente econômica a redução das tarifas de luz. De fato, a decisão deve ter um impacto positivo no custo de produção no Brasil, sem contar que reduz também o custo das famílias, deixa um pouquinho mais de dinheiro para a poupança e o consumo. Porém, com uma candura de quem não é nada ingênuo, Lobão admitiu os frutos eleitorais da medida, convenientemente anunciada um mês antes das urnas, em cadeia de rádio e televisão. Não esquecer que a medida vinha sendo estudada há mais de três anos. Disse o ministro : "Não haverá um brasileiro que não ficará feliz com isso. Isso mexe com o humor de todos. (...) esse anúncio pode vir a ter um reflexo político. E se isso for bom para a campanha de aliados, é um ótimo sinal". Lobão lembra o estilo prosador e revelador de boas notícias de seu padrinho José Sarney. Resta saber se agrada a presidente, apreciadora de comedimentos eleitorais. Ela vai entrar em campo para valer ? I Esta semana será possível ver qual a disposição de presidente Dilma de se envolver com mais vigor na campanha eleitoral a favor dos aliados governistas, ainda no primeiro turno. A disposição inicial era não se queimar, não desagradar parceiros optando por um ou outro candidato de sua base de sustentação política. Aliados governistas estão se enfrentando por todo o país. A exceção admitida foi BH, onde ela resolveu se meter diretamente, pela candidatura do petista Patrus Ananias. Menos para dar um socorro ao PT em si e muito mais para tentar barrar um possível fortalecimento de dois de seus possíveis adversários em 2014 - Aécio Neves e Eduardo Campos. Agora, Dilma já gravou participação exclusiva para o programa de Fernando Haddad em SP. E está sendo insistentemente solicitada a fazer o mesmo para Humberto Costa, no Recife, e Nelson Pelegrino, em Salvador, ambos petistas como Haddad. Mesmo correndo o risco de tornar-se sócia de alguns fracassos eleitorais, uma razão mais alta se alevantou para Dilma. Aliás, duas : mostrar solidária com seu criador, o presidente Lula, e dar satisfações a seu partido, o PT. Ela vai entrar em campo para valer ? II Tanto Lula como o PT vivem uma espécie de "crise existencial" provocada, em parte, pelos rumos que está tomando o julgamento do mensalão, e pelos sinais trazidos pelas pesquisas eleitorais de que o partido não vai tão bem como imaginou que poderia ir nas eleições nas capitais e algumas grandes cidades. A presidente sabe que o PT com algum transtorno pode virar um transtorno para ela depois de outubro. Não foi à toa que ela foi à SP na quarta-feira passada para uma conversa reservada com o ex-presidente Lula, sem nenhuma agenda oficial na cidade. A confortável situação de Eduardo Campos e do PSB O governador Eduardo Campos, sem direito a mais uma reeleição em PE, tem indicado a pessoas que conversam com ele que não tem intenções de candidatar-se ao Senado, que é o caminho natural de quem como ele quer continuar na política e com menos de 50 anos de idade, tem todo tempo do mundo para entrar na fila de voos mais altos. Sendo assim, ele traçou seu rumo, a partir de um alicerce montado no crescimento do PSB nas eleições de 2010 e de audaciosas manobras eleitorais este ano, como o rompimento das alianças com o PT em Recife, em BH e em Fortaleza, entre outras, com três possibilidades : 1. Ocupar a vice-presidência na chapa oficial, mais do que provavelmente com a cabeça de chapa de Dilma, mas não descartando Lula também. Tomaria o lugar do PMDB de Michel Temer. 2. Virar vice numa chapa de oposição, atrelado a uma candidatura de Aécio Neves pelo PSDB. Os dois estão se dando as mil maravilhas em Minas e têm um diálogo fácil. 3. Virar ele próprio candidato a presidente pela base aliada, caso a economia complique-se e complique a vida de Dilma, e Lula não tenha fôlego para disputar outra corrida presidencial. Campos percebeu que o PT não conseguiu renovar seus quadros e não dá sinais de que terá um grande nome nacional até 2014. É Dilma ou Lula, ou nada. Campos, com habilidade, fez seu plano sabendo que não corre grandes riscos : a tendência do PSB é sair mais forte das eleições municipais, principalmente se ganhar Recife, onde Lula fez uma aposta de risco, e Fortaleza, a reeleger Marcio Lacerda em BH. O governo Dilma não tem a menor condição de brigar com a legenda. Seria um desastre para o governo no Congresso com sua base aliada amorfa e indisciplinada. Campos fez uma aposta de muito pouco risco. E os aprendizes de feiticeiro, hein ? Até a última pesquisa DataFolha surpreendeu todos os analistas, políticos e palpiteiros de plantão, apontando a solidez da candidatura de Celso Russomano do PRB à prefeitura de SP, petistas e tucanos não estavam incomodados com o desempenho dele, na verdade estavam até gostando. Há indícios de que uns e outros, por baixo do pano, deram força para Russomano. Os petistas achavam que Russomano tiraria votos de Serra e ajudaria a levar Haddad para o segundo turno. Os tucanos acreditavam que ele esvaziaria o petista. De fato, está acontecendo - Russomano está sugando os dois. É no que dá brincar de feiticeiro em eleição. Língua ferina De um maldoso de plantão em SP : "Engana-se quem pensa que o prefeito Gilberto Kassab traiu o ex-presidente Lula e a presidente Dilma ao apoiar José Serra e não Fernando Haddad para a prefeitura paulistana. Pelo contrário, foi o melhor serviço que ele prestou aos dois, jogando nas costas de Serra seus baixíssimos índices de aprovação". Mensalão : as contas dos advogados Em Direito Penal é duvidoso usar apenas indícios para acusar. É necessário que existam provas "concretas" que se constatam no caso concreto. Pois bem : o julgamento do mensalão passou da fase dos indícios para a das provas cabais de que o viés punitivo do STF é gritante. Os efeitos imediatos recairão sobre os réus, cuja probabilidade de irem para detrás das grades passou do campo das hipóteses para o campo dos fatos. Os réus estão tensos e pedindo aos notáveis do Direito Penal que lhes dê referências sobre a possibilidade de prisão. As bancas, é lógico, já fizeram as contas, mas em pelo menos dois casos mais "graves" ainda não passaram a informação a seus clientes. Ainda apostam em medidas dilatórias. Mensalão : além das penas Dura a realidade de quem apostou que o mensalão não produziria efeitos políticos relevantes. Já há pesquisas que mostram que o noticiário tem efeito significativo para o eleitor. Terá maior efeito quando mais políticos foram julgados pelo STF, notadamente os casos de José Dirceu e José Genoíno. A mídia irá repercutir estes casos com intensidade e seus efeitos se propagarão no exato momento da eleição em primeiro turno ou entre os dois turnos. Ademais, os líderes políticos permanecem tensos com a possibilidade de que Marcos Valério e seus companheiros da SMPB acabem de complicar a situação, revelando novos dados e informações sobre o caso. Nesta hipótese, o mensalão enfim pode chegar ao Palácio do Planalto. Não necessariamente na atual ocupante da cadeira presidencial. Radar NA REAL 7/9/12 TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA estável estável/alta - Pós-Fixados NA baixa baixa Câmbio ² - EURO 1,2795 baixa/estável baixa - REAL 2,0242 baixa/estável estável/baixa Mercado Acionário - Ibovespa 58.335,27 estável/alta estável/alta - S&P 500 1.437,92 estável/alta alta - NASDAQ 3.140,01 estável/alta alta (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável ____________
terça-feira, 4 de setembro de 2012

Política & Economia NA REAL n° 213

A notícia desastrosa do PIBinho Não foi o resultado do PIB do segundo trimestre, com um crescimento de apenas 0,4%, o que mais assustou. Já era mais ou menos esperado, já estava "precificado", como dizem os analistas. Além disso, já havia sinais de que a partir do fim de julho, meados de agosto, a economia havia engatado uma marcha menos lenta. Assustou mesmo foi o dado sobre os investimentos. Os gastos brasileiros em máquinas, equipamentos e obras caíram 0,7% nos três meses terminados em junho, quando comparados com o trimestre encerrado em março. Nada menos do que 3,7% na comparação com o mesmo período do ano passado. A taxa de investimento no trimestre ficou em 17,9%. O ideal, apontado pelos analistas é de 24%, pelo menos. O sinal é que a economia brasileira está com fôlego curto para crescer, sem gerar problemas de inflação e/ou nas contas externas. Muitos especialistas calculam que a possibilidade de crescimento hoje (chamado PIB potencial) está entre 3,5% e 4%. O desafio é acelerar os investimentos, o que esbarra nos gargalos existentes e na proverbial insuficiência governamental em matéria de recursos e gestão. É bom, mas... Só se vê elogios para o pacote de privatizações de rodovias e ferrovias e para a disposição do governo de avançar também nesse sentido nas áreas de aeroportos e portos. São, porém, elogios teóricos, um tanto como São Tomé : esperando acontecer para crer. Em princípio, duvida-se que o governo vá cumprir o cronograma para as estradas e trens. E teme-se o modelo que poderá vir para os aeroportos, com a possível exigência de que a Infraero seja a sócia majoritária dos novos negócios. Um imenso Portugal Do ex-ministro e ex-deputado Delfim Neto, conselheiro de governos petistas : "Se quisermos ter em 2030 algo parecido com o nível de renda per capita em paridade de poder de compra de Portugal de hoje, temos de crescer em torno de 5% ao ano (mais ou menos 4% do PIB per capita), em média, nos próximos 18 anos. Isso pedirá cuidadosa e rigorosa política fiscal, capaz de sustentar a política monetária (que produzirá o equilíbrio interno), e adequada política cambial (que produzirá o equilíbrio externo)". A receita e o superávit envergonhado Há muitos economistas que não acreditam mais que seja necessário o governo fazer um superávit primário do tamanho que está prometido, de R$ 139 bi, cerca de 3,1% do PIB. É opinião de gente de dentro do mundo oficial, como de fora. Os últimos dados das contas públicas, com a arrecadação abaixo do estimado pelo Tesouro Nacional, indicam que esta promessa não será cumprida integralmente. No entanto, as autoridades insistem na fantasia - tanto agora como para o ano que vem. São coisas assim que minam a confiança na política oficial, e levam a adiamentos de decisões por parte dos agentes econômicos. Modelo em cheque Em meio a tantos assuntos conjunturais envolvendo a política econômica brasileira, bem como sob o fogo cruzado da crise internacional, há outro importante e intrigante ponto que precisa ser analisado, face à fragilidade do crescimento brasileiro. Trata-se do esgotamento do modelo de "consumo crescente" adotado durante os anos de fartura do governo Lula. As medidas de estímulo ao consumo vão surtir efeito, mas sua sustentabilidade ao longo do tempo dependerá muito mais do crescimento dos salários e do emprego do que da melhoria das condições de crédito (taxas de juros mais baixas e disponibilidade de recursos). Assim, a única e consistente alternativa é o aumento rápido e consistente do investimento (aumento da capacidade produtiva do país). Ora, por tudo que se viu até agora, os planos do governo são ambiciosos, mas, mesmo que exista muita eficiência na execução, o processo será lento e gradual. Com efeito, a somatória do esgotamento do modelo de consumo e da lentidão nos investimentos implicará numa longa estagnação do crescimento per capita. Os dois Bancos Centrais Quem quer elogiar o Banco Central de Alexandre Tombini relembra que ninguém como ele acertou na análise do recrudescimento da crise europeia e marcou um gol de placa iniciando há um ano, quando ninguém esperava, a queda da taxa básica de juros que trouxe a Selic de 12,5% para 7,5%. Quem tem dúvidas vê a situação de outra maneira : apesar da queda acentuada dos juros, o PIB segue raquítico, por uma razão : o BC teria errado a mão lá atrás quando resolveu dar uma desaquecida na economia em fins de 2010. Agora, estaria tendo dificuldades para dar ritmo mais veloz aos negócios. A realidade é que tanto a política fiscal quanto a política monetária estão em xeque. Há quem já esteja esperando alguma reviravolta numa delas - ou em ambas. Ninguém ouviu direito Embora tenha tudo a ver com um dos sujeitos nada ocultos do julgamento do mensalão - a questão dos financiamentos de campanha passou quase despercebida em algumas graves revelações do ex-diretor do DNIT, Luiz Antônio Pagot, semana passada na CPI Cachoeira-Delta. Pagot confessou que, a pedido do tesoureiro da campanha presidencial da aliança comandada pelo PT, arrecadou cerca de R$ 6 mi para os cofres eleitorais, com cerca de 30 empresas detentoras de contratos com o ministério dos Transportes. Ele teria também trabalhado por doações para Ideli Salvatti (PT), candidata ao governo de SC, e Hélio Costa (PMDB), concorrente ao governo de Minas, ambos derrotados. As doações, segundo ele, teriam sido totalmente legais. Cabe a um gestor público agir partidariamente, eleitoralmente, no uso de suas atribuições funcionais ? Pagot foi (ou é) o único. Está aí a mais aberta confissão da promiscuidade existente no Brasil entre os negócios públicos e os interesses eleitorais, tanto na esfera Federal como nas esferas estaduais e Federais. E sem distinção de colorações partidárias. Quem protege esse patrimônio ? O conselho curador do FGTS, formado com a participação de representantes dos trabalhadores, existe para fiscalizar a gestão do patrimônio dos assalariados brasileiros alocado no fundo. Esse objetivo do conselho não vem sendo cumprido, necessariamente. O governo tem feito cada vez mais "política social" com esse dinheiro, com taxas de juros negativas. O FGTS está bancando agora boa parte dos subsídios do Minha Casa Minha Vida. São políticas meritórias, mas que deveriam ser financiadas por recursos do orçamento. Lula e seus riscos eleitorais A confissão é do próprio Lula, em entrevista na semana passada ao jornal The New York Times : "Não é fácil saber como agir no papel de ex-presidente". Por esta razão, não saber ficar fora do varejo da política e também por exigências do PT e outros aliados que têm nele o mais espetacular e eficiente cabo eleitoral, Lula está se metendo na campanha eleitoral mais do que a prudência - a política, não a médica - aconselham. Envolvido em picuinhas e filustrias como está, Lula corre o risco de sair das eleições menor do que entrou, principalmente se algumas de suas apostas, como em São Paulo, Recife e Belo Horizonte, derem errado. Político de grande faro, não dá para entender como Lula, mesmo em solidariedade aos amigos e companheiros, se envolveu com tanto ardor nas eleições. Há, porém, quem entenda que o ex-presidente age assim porque sente necessidade de reafirmar sua ascendência sobre a aliança governista, em parte ameaçada pela ascensão de Dilma. Lula se acostumou com o papel de prima donna da companhia e não aceita cedê-lo a quem quer que seja. Não se pense que na aliança governista, apesar (ou em que pesem elas) das afirmações de Lula, o jogo de 2014 já esteja jogado. Fim de uma parceria ? Dependendo do crescimento geral do PSB e, principalmente se ele vencer as eleições em Belo Horizonte e em Recife, será impossível manter a aliança já longeva entre ele e o PT. As mágoas estão pesadas. Quem é o adversário ? Esta semana, pelo comportamento dos dois partidos no horário eleitoral, será possível saber se o PT e o PSDB já jogaram a toalha. Se eles esquecerem um pouco o candidato Celso Russomano, e concentrarem seus ataques um no outro, é porque consideram que o candidato do PRB já comprou o seu passaporte para o segundo turno. A trajetória de Russomano, candidato ao melhor estilo populista-conservador está surpreendendo até os mais atilados analistas políticos. Não há quem não tenha apostado que a essa altura ele já estaria desmilinguido, com a disputa polarizada entre Fernando Haddad e José Serra. Um fenômeno a ser estudado com atenção, mesmo que na frente venha a se esvaziar. Uma lição para petistas e tucanos e também para políticos arrumadinhos como o "novo" PMDB. Parece haver certo cansaço da população de SP com a mesmice dos ditos "grandes". Fato este que atesta que o desinteresse pelas eleições até agora, muito mais que em tempos passados no mesmo período. Há quem diga que pode ser a repetição de um fenômeno Collor. Guardadas as devidas proporções, é possível ver alguma semelhança. Será um caso apenas paulistano ? Algum prenúncio para 2014 ? João Paulo e o paradigma do mensalão Está evidente que a condenação do deputado João Paulo Cunha é sinal de uma tendência, no caso, rigorosa, do plenário do STF. O deputado não pode ser considerado, assim como José Dirceu e José Genoíno, uma estrela do governo passado. Apesar de ter ocupado a presidência da Câmara dos Deputados, a carreira do ex-sindicalista corria à margem do "núcleo duro do poder", formado pelo ex-ministros Palocci, Luiz Gushiken e José Dirceu. Assim, há quem especule que será sobre Dirceu, último a ser julgado da Ação Penal 470, o corolário de todo o processo ora em julgamento. Referimo-nos exclusivamente aos políticos envolvidos no caso. Se todos forem condenados e José Dirceu não o for, haverá certa estranheza no ar. Sobretudo, por se tratar de um acusado de formação de quadrilha. Os quadrilheiros serão punidos, mas "o cabeça" não será. Neste sentido, o julgamento vai ganhando ar de maior tensão, sobretudo quando se sabe que de seu resultado será extraída a estratégica política do ex-líder estudantil e ex-ministro de Lula. Reações políticas e o Direito Não deixa de ser notável que os advogados de defesa dos réus do mensalão, estejam, por esses dias, mais silenciosos e discretos em suas ações. Estes já cantaram em restaurantes e apelaram com ênfase para que a mídia refletisse suas opiniões e promoções pessoais. Agora parecem estar mais tímidos diante do fato de que as palavras do relator e dos ministros soam como uma música pouco sonora e o enredo é suficiente para arrepiar o cidadão comum. Nunca neste país a leitura dos votos mostrou tanto as tripas de como o poder pode ser (ou é) exercido. Resta saber se, ao final de tudo, com a eventual condenação dos acusados, os advogados evocarão outra vez institutos, princípios e conceitos tão importantes para o Estado e a sociedade. Assim, concepções valorosas, tais como, a ampla defesa, o contraditório e o Estado de Direito poderão se somar ao discurso político dos réus tornados condenados por força das sentenças da Corte Suprema. Se condenados poderão alegar "injustiça" por parte do STF ? Radar NA REAL 31/8/12 TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA estável estável/alta - Pós-Fixados NA baixa baixa Câmbio ² - EURO 1,2598 baixa/estável baixa - REAL 2,0333 baixa/estável estável/baixa Mercado Acionário - Ibovespa 57.061,45 estável/alta estável/alta - S&P 500 1.399,48 estável/alta alta - NASDAQ 3.048,72 estável/alta alta (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável ____________
terça-feira, 28 de agosto de 2012

Política & Economia NA REAL n° 212

Confusões e divergências fazendárias I Tem mais coisa que uma simples trapalhada por trás da retirada, poucas horas depois de ter sido divulgada no boletim economia brasileira do ministério da Fazenda, das previsões para o PIB deste ano e dois próximos e da expectativa oficial de investimentos para 2012. A explicação : os números estão sendo revistos. De fato, precisavam mesmo. Enquanto o mercado financeiro já faz previsão para o crescimento da economia abaixo de 2% e o BC já se fixou em 2,5%, com claro viés de baixa, os fazendários ainda cravavam 3%. No caso dos investimentos, elas estavam menores que o dado anterior. A desculpa é que, como o PIB oficial do segundo semestre sai sexta-feira (previsão de analistas : de + 0,3% a + 0,8%), haverá mais segurança para as pitonisas da Fazenda depois de conhecê-lo. Ora é desculpa de muito farrapo : nessa altura o ministro Guido Mantega e sua equipe já têm informações suficientes do IBGE para saber como andou oficialmente a economia brasileira em abril, maio e junho. Confusões e divergências fazendárias II O fato real é que, internamente, estão surgindo na equipe econômica divergências mais acentuadas sobre a condução da economia brasileira e, portanto, a respeito dos resultados de suas políticas, do que até pouco tempo atrás. Mantega ainda é o grande animador de tudo, mas há duas estrelas com o prestígio em franca ascensão com quem de fato decide e faz questão de decidir sempre, até, dizem as más línguas, sobre a compra de clipes - Nelson Barbosa, o secretário Executivo do Ministério, há mais tempo voz ouvida no Palácio, e mais recentemente, Arno Agustin, secretário do Tesouro. Mais e mais serão vozes influentes. Aliás, faz parte do estilo Dilma : não ouvir apenas os titulares. Que o digam ministros de várias extrações. COPOM : mais queda dos juros Em meio a apuração dos efeitos da política de estímulos monetários e tributários empreendidos desde o início do ano pelo governo, o BC vai reduzir ainda mais a taxa básica de juros na próxima reunião do COPOM. Ainda não se sabe ao certo os efeitos de todos os estímulos econômicos, como é razoável se esperar. Todavia, já se sabe, por meio de várias análises que podem ser engendradas, que a taxa de juros básica se aproxima do seu ponto mínimo possível, qual seja, o de equilibrar crescimento da atividade econômica sem acelerar a inflação. Restam, ainda no campo monetário e financeiro, os resultados (relativamente modestos) da redução dos juros dos empréstimos e financiamentos. Daqui para frente, o crescimento econômico estará muito mais dependente do estímulo ao investimento de vez que o estímulo ao consumo está quase todo dado. Neste campo, as habilidades dos senhores da Esplanada dos Ministérios terão de ser redobradas e os sinais do Palácio do Planalto terão de ser cada vez mais ressonantes. Pacote atrasado (e fatiado) I Em princípio, o pacote para turbinar a economia brasileira seria anunciado em um lance só, tudo de uma vez. Depois foi "fatiado" (palavra da moda) para permitir ao governo mais momentos de exposição positiva e marketing. Os marqueteiros oficiais teriam aconselhado esse método (estilo Joaquim Barbosa) para que se criassem mais ondas positivas e se rivalizasse na mídia com o noticiário do mensalão. As boas novas viriam em sequências semanais : concessão de ferrovias e rodovias ; concessão de portos e aeroportos ; redução das tarifas de energia elétrica ; inclusão de mais setores da economia na redução da contribuição para a Previdência Social. Pacote atrasado (e fatiado) II Todos os projetos em estudo há bastante tempo e mais do que pré-anunciados. Sobre a situação da eletricidade, por exemplo, o ministro das Minas e Energia, Edison Lobão, deu a notícia somente mais de dez vezes somente este ano. No entanto, o pacotão do PIB emperrou logo após seu primeiro filhote, o das rodovias e ferrovias, anunciado em suas grandes linhas, mas faltando o essencial : os detalhes, que ainda vão demorar alguns meses para serem todos conhecidos. O restante ficou para setembro e algo até para agosto. As razões : (1) havia muito voluntarismo, muita improvisação e pouco estudo nos pré-anúncios ; (2) as divergências entre as diversas áreas envolvidas no projeto, inclusive algumas de cunho ideológico ; (3) a presidente está sempre insatisfeita com o que se lhe é apresentado. Uma questão também de dinheiro Nos casos específicos da energia elétrica e da contribuição empresarial para a Previdência Social há um agravante : o caixa do Tesouro e o compromisso com a meta de superávit fiscal. O governo não está em condições de abrir mão da receita agora. E talvez tenha de ser comedido, pelo menos inicialmente, pelo menos nos primeiros meses de 2013. A duas medidas só devem começar a valer mesmo a partir de janeiro ou mais. O Orçamento da União, a ser enviado ao Congresso até sexta-feira, vai dar mais dicas sobre o que se pode esperar da promessa da presidente Dilma de tratar os brasileiros um pouquinho melhor em matéria de tributos. PIB do segundo semestre O PIB do segundo semestre do ano será anunciado provavelmente na próxima sexta-feira. Deve crescer algo em torno de 0,5%. Duas atenções e uma conclusão devem ser notadas. As atenções estarão voltadas para o consumo das famílias, em particular, e do setor privado, em geral. Em segundo lugar o percentual do investimento. A conclusão mais óbvia será a de que o PIB não vai além dos 1,7%-1,8% este ano. Para desgosto de todos. E ranger de dentes no PT e no Planalto. Europa : a Grécia a caminho do Dracma Não há razão para tecermos grandes considerações sobre a situação da Grécia. Basta ver que o PIB vai cair cerca de 8% somente este ano. Um acúmulo de mais de 20% desde 2008. A sustentação do país já não está ligada aos burocratas de Berlim e Frankfurt. Está nas ruas de Atenas e das cidades e campos daquela bela península e suas ilhas. O país não tem como cumprir o que querem os outros "cooperados" do sistema monetário europeu. A velha moeda, o dracma, deve voltar às mãos do povo grego, recheada de inflação e instabilidade. O cerco se fecha. Resta saber como se comportarão os investidores em relação à Itália e à Espanha. Greves : administrar as sequelas É possível que o Palácio do Planalto consiga arrefecer os ânimos dos grevistas Federais esta semana. A greve já passou dos limites, tanto para a autoridade do governo, como para a paciência da sociedade e os negócios. Os grevistas tendem a ceder em muitas áreas, pelo cansaço, pelo temor de maiores perdas e pelo desgaste perante os cidadãos atingidos direta ou indiretamente pelas paralisações. A presidente ganhou pontos diante da opinião pública, o que é bom para sua imagem e projetos futuros. Mas, terá de administrar sequelas que podem mais tarde atingir os mesmo projetos. Está com um funcionalismo de um modo geral insatisfeito, saudoso dos tempos de Lula e que, na menor oportunidade, pode voltar a criar problemas. Qualquer influência da paralisação e da insatisfação dos servidores nas eleições, com prejuízos para aliados, será debitado na conta de Dilma, na sua "inabilidade" para lidar com os sindicatos e os movimentos sociais. Em números eleitorais, os funcionários públicos são poucos no universo de votantes brasileiro, porém são politicamente ativos e influentes. O papel de Lula Ainda não é sabido se ajudou e o quanto ajudou o ex-presidente Lula na gestão desta turbulenta onda de greves. Parece que pouco. Resta saber, se for possível, como vê o Planalto esta participação do honorável ex-líder sindical. Sabe-se que as reuniões "secretas" do ex-presidente tem sido vazadas, como no caso do encontro com Gilmar Mendes e Nelson Jobim, antes do julgamento do mensalão. Se tais reuniões "secretas" com as centrais sindicais existiram, estas permaneceram tão secretas quanto visíveis eram as greves. Eleições : o que está em jogo para Dilma I Para o eleitor de um modo geral a eleição é essencialmente municipal, mas para muitos partidos e políticos as urnas de outubro tem outros significados e outro alcance, para o bem e para o mal. Vamos, nas próximas colunas, avaliar a situação de cada um deles. Começamos hoje com a presidente Dilma. A presidente está nesse jogo numa espécie de "ganha-ganha". A não ser que a combalida oposição consiga um desempenho de bom tamanho, principalmente nas capitais e nas grandes cidades, Dilma será a grande vencedora das urnas de outubro, com a enfiada de partidos aliados que tem em torno de seu governo. Onde houver um governista eleito, o troféu será dela. Eleições : o que está em jogo para Dilma II Seu grande risco é uma derrota em BH, capaz de ofuscar o grande sucesso mais do que previsível, onde se meteu para derrubar ao mesmo tempo Eduardo Campos e Aécio Neves. Se meter, por pressões dos aliados, em algumas outras cumbucas, tipo São Paulo e Recife, pode ficar com respingos de uma derrota. Outra situação problemática que terá de administrar será a insatisfação de alguns aliados, que tenderão a jogar parte de prováveis derrotas no alheamento presidencial. De todo modo é quem está mais à vontade na eleição. Até porque poder ver-se livre de alguns aliados incômodos em derrotas para as quais nem sonha nem torce, mas para que seriam bem-vindas. Só em sonhos seus aliados mais fiéis admitirão algumas derrotas específicas dos petistas e dos peemedebistas, somados aos fracassos do PSB, derrotas estas que lavariam a alma presidencial, transformando-a, sem contraste, na mais forte figura da política brasileira. Um governo vitorioso sem uma grande figura vitoriosa em seu campo é um governo sem mais sombras. O único desafio passaria então a ser a economia, única capaz de dar algum fôlego à oposição e/ou a companheiros de jornada. Mensalão : contornos (cada vez mais) incertos O STF tece um longo tecido jurídico para sentenciar 38 réus, numa mistura de argumentos factuais, jurídicos e retóricos (estes mais a cargo do relator e revisor). Ao mesmo tempo, está se formando na opinião pública - esta limitada aqueles que de facto tentam entender tudo que corre no salão principal da Corte Suprema - uma percepção de que interesses, além do livre convencimento dos juízes, estão fluindo com mais força para dentro do STF. (As entrevistas de advogados e ministros do STF complicam ainda mais). Ademais, evoca-se na Corte e, sobretudo fora dela, de forma crescente, nomes consagrados (juristas ou não) para justificar o que fizeram e o que não fizeram os réus para merecer tal penalidade ou absolvição. Falta mesmo é a opinião clara dos juízes que julgam o caso. Com efeito, a confusão está crescendo. Deve-se observar que, sem esta transparência "pedagógica" das sentenças, o distinto público vai sentir cheiro de pizza no ar. Ou seja, é preciso que os julgadores sejam mais transparentes em relação ao que estão concluindo. O tal do mensalão precisa satisfazer além dos autos. Senão, o julgamento histórico vira "retórico" e a Justiça parecerá ainda mais inalcançável para o cidadão desprovido de privilégios. Radar NA REAL 24/8/12 TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA estável estável/alta - Pós-Fixados NA baixa baixa Câmbio ² - EURO 1,2512 baixa/estável baixa - REAL 2,0308 baixa/estável estável/baixa Mercado Acionário - Ibovespa 58.425,76 estável/alta estável/alta - S&P 500 1.411,13 estável/alta alta - NASDAQ 3.069,78 estável/alta alta (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável ____________
terça-feira, 21 de agosto de 2012

Política & Economia NA REAL n° 211

Pacote : quebra de paradigma Não importa se trata de privatização ou de concessão ou até de data maxima venia ou qualquer apelido que a paranoica política brasileira queira dar ao pacote lançado pela presidente Dilma na semana para ajudar a reativar o PIBinho que tanto incomoda ao governo. O fato, em primeiro lugar, é que assistimos à mais fantástica transformação "ideológica" do grupo petista no poder, desde quando Lula, ainda candidato à presidência da República, em meados de 2002, lançou a "Carta ao Povo Brasileiro" renegando a promessa de "mudar tudo que está aí", e depois que eleito, abraçou boa parte da política econômica herdada de seu antecessor, FHC. É um tabu sério que está quebrado, é a admissão que o governo não tem condições financeiras, nem talento, para resolver um dos maiores gargalos ao desenvolvimento nacional. Pacote é bom, mas o passado condena... O pacote como carta de boas intenções de conceder (ou privatizar) foi muito bem recebido. Porém, falta o restante e o essencial que são os leilões até que os investidores possam a começar a trabalhar. E é uma etapa delicada, que precisa ser acompanhada com atenção, pois o governo não tem bons antecedentes nesta área. A primeira concessão do governo Lula, no setor rodoviário, que envolveu, entre outras estradas, a rodovia Fernão Dias, está empacada. O modelo adotado foi responsável pelo desastre, difícil de consertar sem mais gastos oficiais. A própria Dilma Rousseff ficou inconformada com o resultado do leilão dos aeroportos de Brasília, Guarulhos e Campinas. Sabe-se que são mais três dores de cabeça à vista. O governo acredita que, com a criação de uma super estatal de planejamento, com poderes bem amplos, evitará outros problemas. O interesse pelos leilões dirá se sim ou se não. Mas isto é coisa para o ano que vem. Nada acontecerá antes de meados de 2013. Com efeitos mais visíveis apenas no PIB de 2014. Sem risco As ferrovias podem se tornar o negócio mais atraente desse pacote. Haverá dinheiro farto do BNDES, com juros módicos, como sempre. E o governo poderá comprar a capacidade de carga do empreendimento, pagando ao concessionário se o serviço não for usado. É subsídio do Tesouro Nacional, um negócio que todo mundo quer - sem risco. O governo admite também algo parecido no trem bala, cuja privatização deve ser tentada outra vez, brevemente. Quem levar, terá garantia mínima de passageiros. No divã Está sendo demais para alguns delicados estômagos petistas : privatizações a granel, planos para atrair mais capitais estrangeiros para áreas estratégicas e um tratamento não muito delicado, como nos bons tempos de Lula, para o funcionalismo público e as centrais sindicais. A continuidade do pacote Outro aspecto que nos parece essencial para a consecução do sucesso do pacote é a sua continuidade. O governo precisa coletar o mesmo sucesso que teve ao lançar o pacote de logística no caso da redução do consagrado "Custo Brasil". Os sinais são positivos, como no caso da redução da tarifa de energia elétrica, mas será preciso, como no caso do pacote lançado na semana passada, que o governo persiga os objetivos com tenacidade e competência. Ademais, a paciência do governo será testada com o advento do cenário eleitoral de 2014. Até lá serão parcos os efeitos estruturais sobre a economia, mas isso não retira a importância deste pacote do governo Dilma. Todavia, as carpideiras da área política, especialmente no PT, poderão alegar que as mudanças ora feitas não foram positivas. Será um erro pensar assim. Mas, é a prática que se verifica. Rever a governança dos projetos Já comentamos nas notas acima que o governo tem dificuldades para gerenciar os enormes projetos que está a lançar para enfrentar as deficiências estruturais da economia brasileira. O passado já provou isso. Se há algo de inventivo que o governo poderia implementar seria uma nova "governança" para supervisionar estes projetos atraindo recursos humanos dispersos na órbita do setor público e privado para se organizarem em um novo modelo que possa aumentar a eficiência dos projetos. Inclusive este é aspecto essencial para que se possa atrair por meio de instrumentos financeiros e do mercado de capitais recursos privados. A CVM, por exemplo, pode dar uma colaboração excepcional nesta matéria de governança. Os primeiros sinais de recuperação I Dados econômicos de emprego, movimento do varejo e a prévia do PIB do BC trouxeram alegria para o Palácio do Planalto e arredores : foram positivos, até acima do esperado pelos mais otimistas, com sinais de que a economia brasileira pode até estar começando a sair da modorra em que se encontra há meses. Eles foram comemorados quase com foguetório por Dilma, pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, e até pelo mais contido presidente do BC, Alexandre Tombini. Mantega, incorrigível, chegou a dizer que a economia brasileira já "cruzou o Cabo da Boa Esperança". Economistas dizem que os sinais são realmente mais positivos, mas que para este ano não dá mais. A aposta agora é que se alcance o ritmo de crescimento, anualizado, de 4% no fim do ano. Os primeiros sinais de recuperação II Os indicadores do BC sobre a atividade econômica dão a exata medida do que está a ocorrer no país : os estímulos fiscais e monetários (taxa de juros) estão produzindo resultados, mas estes serão insuficientes para elevar o PIB para algo além de 1,5% - 2,0% neste ano e um pouco mais no ano que vem. A boa notícia é que a melhoria do cenário externo, mesmo que bastante incipiente, favorecerá o Brasil e daí pode haver uma boa surpresa que eleve um pouco mais o patamar de crescimento. De toda a sorte, o crescimento dependerá muito da capacidade do governo em investir entre 4% - 5% do PIB. Hoje investe perto de 0%. Neste item, as pressões grevistas são um péssimo sinal sobre o futuro estrutural do investimento público do Brasil. A inflação A inflação ganhou alguns graus de aquecimento. Tem reunião do Copom do BC na semana. Da decisão que ele vai tomar em matéria de juros (a previsão é de outra queda da Selic, de 0,5 ponto percentual e talvez mais uma em outubro) e da ata que divulgará na semana seguinte, para sabermos o que o governo está pensando e prevendo. Se teme a inflação ou não e se está satisfeito ou não com o ritmo que o PIB está tomando. Greves : Dilma complicada Passada a temporada de greves Federais, já um tormento para os brasileiros, a presidente da República precisará rever todo o seu esquema de relações com o funcionalismo público, em particular, e com as centrais sindicais, em geral. Mal acostumados com o período folgazão de Lula, eles estão infelizes e insatisfeitos com a dureza de Dilma. A greve tende a arrefecer, com as concessões que o governo já está fazendo, nem tanto quanto os sindicalistas queriam, mas além do que Dilma poderia dar. Como as negociações foram tumultuadas e há franca desobediência por parte de algumas categorias, sequelas sérias vão ficar. E nenhum governo pode ter paz se tiver a seu lado parceiros permanentemente insatisfeitos. Salvador Dali no Brasil Depois algumas pessoas se incomodam quando se diz que o Brasil às vezes é um país difícil de entender, um país surrealista na sua vida pública. Os policiais Federais, em lugar de simplesmente fazer uma greve, adotaram o que chama de "operação padrão". Em outras palavras : fazer o que dizem os manuais, trabalhar direitinho, conforme as regras. Porém, eles usam isto para tumultuar a vida dos cidadãos e chantagear o governo. O governo, por seu lado, em lugar de ficar feliz que seus funcionários decidiram trabalhar como ensina o figurino, entra na Justiça para impedir que eles façam a "operação padrão", portanto, que trabalhem direitinho. Imagine o que se passa em portos, aeroportos e fronteiras quando não há 'operação padrão". É por essas e outras que o jornalista e escritor Ivan Lessa, morto recentemente, gostava de chamar o Brasil de "Bananão". EUA voltam a crescer. Pouco São muito consistentes os indicadores de crescimento da atividade econômica nos EUA. Depois de mais de quatro anos tropeçando em variáveis negativas por todos os lado, a maior economia mundial dá sinais de que, enfim, a chamada demanda agregada começa a se movimentar consistente e generalizadamente. Todavia, a fraqueza do mercado laboral deve persistir por mais alguns anos (dois ou três). Este aspecto negativo põe um teto as possibilidades de crescimento dos EUA juntamente com a imensa irresponsabilidade com a qual a Europa lida com a crise de seu sistema financeiro. De toda a forma, as notícias dos EUA são um alento para o Brasil e a sua irmã gêmea no crescimento, a China. Melhor ainda para Obama. A Alemanha critica o BCE Há três semanas escrevemos neste espaço sobre as declarações muito positivas do presidente do Banco Central Europeu Mario Draghi sobre a necessidade de um plano de resgate para o combalido sistema financeiro europeu. Perguntávamos, contudo, se Draghi estava de posse de um mandato assinado pela Alemanha. Pois bem : o Banco Central Alemão está aumentando gradualmente as críticas ao plano do BCE de não estabelecer limites prévios para o resgate das dívidas dos bancos europeus, sobretudo da Europa Meridional. Note-se que as críticas germânicas surgem no exato momento em que a Espanha começava a se financiar com maior estabilidade nas taxas de juros e nos volumes e a Grécia está anunciando novas medidas de austeridade. Mais um sinal de que Berlim vê a crise com os olhos hegemônicos de quem está bem e jamais se financiou tão barato com o medo dos investidores em relação aos seus pares na UE. O BCE terá dificuldades para implementar seus planos e não será com a Grécia, Portugal e Espanha. A última chance Desde hoje - e pelos próximos 45 dias - estamos à mercê do horário de propaganda obrigatória no rádio e na televisão, em dois turnos diários. Com as mesmas trucagens de sempre, com ilusões sendo vendidas ao eleitor em programas de custos cada vez mais milionários. Fazer política no Brasil tornou-se um grande negócio, tanto que há sempre alguém disposto a criar um partido político. Já são atualmente 30 legalizados e cerca de 10 em processo de elaboração. Poderiam ser mais úteis se fossem menos publicidade e mais políticos. Os debates eleitorais jornalísticos também estão perdendo o sentido, tais as amarras a que são submetidos. Bem ou mal, no entanto, nesse mundo do espetáculo político, a melhor forma do eleitor entrar em contato com os candidatos e tentar encontrar um bom nome (ou o menos pior) para votar. E é a última esperança dos candidatos que andam periclitando nas pesquisas eleitorais. Dará tempo ? O modo de se fazer, vá lá, propaganda eleitoral no Brasil, somado ao modo também de fazer político e ao isolamento que a maioria dos governantes e políticos com mandado costumam adotar, estão afastando cada vez os eleitores de seus representantes. A confiança é baixa e o entusiasmo nenhum. A política no Brasil está ficando profissional demais. No mau sentido. Mensalão : hora dos resultados Três tipos de resultados serão produzidos a partir das decisões dos ministros do STF nas próximas semanas em Brasília relativamente ao denominado mensalão : (i) de caráter subjetivo serão os efeitos decorrentes das sentenças sobre a vida pessoal e política de cada um dos acusados, especialmente no caso dos mais importantes ; (ii) de caráter objetivo serão as repercussões sobre os políticos e os partidos políticos. Neste item, já há sinais de que o PT começa a estar mais sensível em relação ao que ocorre no plenário do STF e acaba por desabar sobre a imagem pública do partido ; (iii) de caráter psicossocial, na medida em que a população formará uma percepção - certa ou errada, não importa - sobre como é feita a Justiça no Brasil. Neste último item, a forma e o conteúdo das discussões entre os ministros do STF concedem ao cidadão leigo uma compreensão obscura sobre o que de fato está em jogo. O STF deveria se ocupar em exercer um papel mais "pedagógico" e menos "midiático". Ou seja, mais informação e menos entrevistas. Isso acresceria à Suprema Corte uma imagem de defensora dos temas verdadeiramente republicanos que afetam a vida do país. Do jeito que se apresenta o debate no plenário, a imagem que fica é a de os ministros se guiam por "questões menores", o que não é o caso. Estes efeitos se entrelaçam e criarão um cenário ainda pouco certo sobre o futuro. A semana promete neste sentido. Radar NA REAL 17/8/12 TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA estável estável/alta - Pós-Fixados NA baixa baixa Câmbio ² - EURO 1,2343 baixa/estável baixa - REAL 2,0188 baixa/estável estável/baixa Mercado Acionário - Ibovespa 59.082,37 estável/alta estável/alta - S&P 500 1.418,16 estável/alta alta - NASDAQ 3.076,59 estável/alta alta (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável ____________
terça-feira, 14 de agosto de 2012

Política & Economia NA REAL n° 210

Inflação elevada e crescimento baixo A inflação ano a ano vem se comportando dentro da meta, mesmo que tenha ameaçado "transbordar" nos últimos anos. O problema é que a cada cinco anos a inflação acumula, no ritmo atual, algo como 20%. É um número e tanto e provoca distorções de todos os lados, dos balanços aos preços históricos considerados para fins de tributação. Este é um dos problemas mais sérios quando se é negligente na perseguição de números mais baixos de inflação. A acumulação de variações anuais de preços também corrompe as relações econômicas entre os agentes e destes com o Estado, sobretudo nas relações capital versus trabalho. De outro lado, o crescimento pífio deste ano e do ano passado, bem como a falta de sustentação do investimento nos últimos anos, tornam o país incompatível com a categoria de "emergente". Este é estrategicamente um problema crítico que precisa ser atacado pela administração atual com o custo de não aproveitarmos a dinâmica positiva conseguida a duras penas. E o cenário externo pode até melhorar. Se correr o bicho pega... ...se ficar o bicho come. Com sua habitual generosidade com o bolso alheio, o Congresso ampliou significativamente os setores com direito às mudanças na contribuição previdenciária no Programa Brasil Maior. E ainda acrescentou à MP 563 a isenção de impostos nos produtos da cesta básica. Em princípio, boas providências. A proposta de cesta básica originalmente é até do PT. Só que não levaram em conta as limitações do caixa do governo nem apresentaram medidas compensatórias. Sobrou para Dilma. Se ela vetar, vai contra o seu próprio discurso atual e contra medidas que estão para anunciar no pacotão. Se não vetar, compromete as contas do Tesouro Nacional já um tanto delicadas. A solução seria cortar outras despesas oficiais. Mas cortar despesas é um palavrão federal. Enfim, a primeira dobra do pacote Depois de muitos balões de ensaio e alguma vacilação, a presidente Dilma marcou finalmente para amanhã, numa reunião com os empresários, o anúncio do pacotão de medidas com as quais pretende reativar a economia brasileira. As linhas gerais já são conhecidas e visam desta vez mais o investimento do que o consumo. Haverá algumas limitações, principalmente no que diz respeito à diminuição dos impostos, porque o caixa oficial está muito baixo. E também uma limitação semântica : vão ser feitas "concessões" de rodovias, ferrovias, portos e aeroportos, não "privatizações", pois esta é uma palavra maldita em certas searas governistas. Assim como não serão feitos leilões, mas licitações. Filustrias à parte, o pacote não chega a tempo de dar uma sacudidela no PIB deste ano. Este já está dado e, com muito boa vontade, passa do 1,5%. O foco é 2013 e 2014, anos decisivos para os planos eleitorais da presidente. Por diversas razões, como mostram as greves dos servidores públicos, o passaporte político de Dilma ainda não está totalmente carimbado por seus parceiros. Depende de ela ser capaz de manter intacto o sucesso econômico e social herdado de Lula. Derrubar a máscara Fechado o pacote o governo não terá mais condições de manter a fachada de que vai fazer um superávit primário este ano de quase R$ 140 bi, algo próximo a 3,1% do PIB. Não vai dar. Já alguns comentaristas preparam o ambiente para que a medida não seja interpretada como um salvo conduto à gastança pública. O problema é que o que está crescendo mais no governo é o gasto de custeio, não o de investimento. Intriga nacional Com o aumento das dificuldades econômicas, as paredes de Brasília e alguns ouvidos em SP estão cada vez mais sobrecarregados com intrigas envolvendo a equipe econômica de Dilma. Há gosto de jogar a culpa de tudo em alguém. Como não pode ser a presidente nem quem já não está no governo... Um cenário externo mais favorável ? É certo que o cenário internacional tem colaborado decisivamente para que o país tenha um desempenho ruim em termos de crescimento, mesmo que os problemas estruturais (inflação alta, despesas correntes elevadas, competitividade industrial cadente, carência tecnológica, educação deficiente, etc.). Todavia, há uma mudança importante lá fora. O mercado financeiro e de capital está mais confiante e consistente, acreditando mais firmemente nas medidas de liquidez que podem ser introduzidas pelo Banco Central Europeu, bem como em função da recuperação do consumo nos EUA. Não deve ser algo episódico. Pode ser estrutural, ou seja, o início de um novo ciclo. E há mais : a China deve lançar medidas de estímulo ao consumo doméstico e, com isso, alavancar os preços das commodities, um ponto extremamente sensível ao Brasil. Não à toa, as bolsas de todo o mundo, inclusa a brasileira, andaram subindo com o ingresso de recursos novos de investidores. Não aposte contra Nossa melhor recomendação, conforme já apontamos nas últimas semanas nesta coluna, é que os investidores e agentes não devem apostar num cenário de mais pessimismo. Ao contrário, podem até ficar mais otimistas, mesmo que isso não deva retirar a necessária moderação diante de tantas variáveis. Os movimentos que estamos registrando no mercado internacional, mesmo num momento de férias no norte do Globo, são positivos e consistentes. Os fundos hedge, especulativos como são, perceberam certas mudanças no cenário, entre as quais no segmento de commodities (metais e agrícolas) e reverteram suas imensas posições vendidas. Ademais, o Brasil vai ter uma boa safra agrícola, no exato momento em que os EUA tiveram uma queda de produção substancial em função de razões climáticas. Uma relação inamistosa I Depois de um princípio de governo em que precisou recorrer algumas vezes ao ex-presidente Lula livrar-se de algum aborrecimento, a presidente Dilma Rousseff, a partir da série de demissões em que se viu obrigada a fazer por "malfeitos" praticados por auxiliares herdados do antecessor, deu cara própria a seu governo e firmou seu papel e sua liderança. Para desgosto de muitos petistas e lulistas, ela se livrou da sombra do ex-presidente. O governo, que começou Lula-Dilma, passou a Dilma-Lula e de um ano para cá, Dilma apenas. Lula virou quase uma "fotografia na parede", respeitado, mas com pouca influência. Uma relação inamistosa II A greve dos servidores públicos em plena efervescência, trouxe uma reviravolta. Na semana passada Dilma procurou Lula em SP e pediu a ele que interferisse junto às centrais sindicais para acabar com o movimento. Lula que sempre teve total ascendência sobre a CUT, o braço sindical do PT, também ganhou influência sobre as outras centrais depois que generosamente cedeu a elas, sem necessidade de nenhuma prestação de contas, uma fatia do imposto sindical. Um dinheirinho hoje que passa dos R$ 100 mi anuais. De novo a presidente volta a ficar dependente de Lula e do PT num momento em que parcela significativa do petismo ligada a Lula também está insatisfeita com a presidente. Isso porque ela está formando o seu próprio petismo (ou dilmismo) e está se envolvendo menos do que eles gostariam na campanha eleitoral em favor dos candidatos do partido. Ainda mais : mandou o governo publicamente ficar longe do mensalão. Uma relação inamistosa III A presidente também tem queixa : ninguém entende a força das greves Federais, com ânimos cada vez mais acirrados quando se recorda que a grande influência no sindicalismo público é da CUT. Dilma e Lula não se desentendem, mas seus partidários já não rezam sempre pela mesma cartilha. Passados o mensalão e as eleições haverá naturalmente uma reacomodação de forças no PT e na base governista. Confronto à vista ? O governo apresenta contas para mostrar que não tem recursos para atender a todas as reivindicações dos servidores Federais. Seriam mais R$ 92 bi de gastos por ano. Vai atender a duas ou três categorias apenas e se der algum aumento linear, ela será mínimo, quase simbólico. Seus argumentos : precisa de recursos para as políticas de incentivo ao crescimento da economia que vai lançar, para garantir o emprego dos assalariados privados, que não gozam das mesmas vantagens dos servidores públicos. Além do mais, estes já tiveram aumentos generosos nos tempos de Lula, bem acima da inflação, o que de um modo geral é verdadeiro. Os líderes dos servidores, porém, não querem conversa. Semana passada, as lideranças sindicais chegaram até a denunciar o governo junto a OIT. E estão recrudescendo o movimento, já atingindo a sociedade com prejuízos para alguns setores econômicos. O governo mostra pouca habilidade para negociar. Os partidos governistas já começam a ficar incomodados, com medo de alguma rebarba eleitoral. Lula, como Dilma pediu, vai se meter nessa encrenca ? Quem garante ? Em tempos de mensalão, greves dos servidores e pacote econômico, os dirigentes do PT e do PMDB arranjaram um tempo para um evento público em Brasília, praticamente ignorado pela imprensa, para reafirmar o compromisso do PT de apoiar candidatos do PMDB no ano que vem às presidências da Câmara e do Senado. Embora o compromisso já estivesse lavrado em papel timbrado, o PMDB via, com razão, movimentos do PT para fugir dele pelo menos na Câmara. Esta ação agora surgiu depois que o PMDB socorreu o PT na disputa pela prefeitura de BH. E tem o aval da presidente Dilma, com interesses especiais na eleição na capital mineira. Mas quem garante de fato que o compromisso será mantido até fevereiro do ano que vem ? Afinal, o PMDB e o PT vivem brincando de Tom e Jerry e os dois estão empenhados numa briga particular para ver quem cresce mais nas urnas de outubro. E o Senado ? Um dos obstáculos a esse entendimento pode se chamar Renan Calheiros. Preferido do PMDB à presidência do Senado, nem de longe ele é o candidato dos amores de Dilma e do PT. Há movimentos para levar o ministro Edison Lobão para o Senado para concorrer como candidato governista. Dilma daria duas cartadas : troca um ministro pouco eficiente e se livra de um incômodo. Renan ficaria reservado para concorrer ao governo de AL. Não se sabe se o PMDB todo concorda com isso. Além do mais, para Renan pegar o Senado é melhor ainda para ajudar sua candidatura a governador. O resultado dessas divergências pode ser açular uma candidatura da oposição com apoio de dissidentes governistas - até de petistas. O último suspiro Mais uma semana e entra no ar a campanha eleitoral obrigatória no rádio e na televisão, última oportunidade dos candidatos que estão rateando nas pesquisas de melhorarem suas avaliações. Espremidas entre os Jogos Olímpicos e o mensalão, que está provocando mais interesse do que se imaginava, as propagandas daqui para a frente terão de se desdobrar para atingir o eleitor. Nunca se viu, nas capitais e nas cidades médias, tão parco interesse por uma eleição como a de agora. O que, em tese, dá alguma vantagem para quem disputa a reeleição ou por quem é já mais conhecido do eleitor. O índice de reeleição este ano deve crescer em relação ao de eleições anteriores. Mensalão : começam os votos Os votos do ministro-relator Joaquim Barbosa e do revisor Ricardo Lewandowski serão os primeiros e devem encaminhar uma boa parte dos votos dos demais ministros do STF no julgamento do mensalão. Obviamente, esta é uma opinião precária de vez que são muitas as possibilidades de resultado deste histórico julgamento. Aliás, as previsões iniciais relativas ao caso, foram em larga medida frustradas. O que se vê são defesas relativamente acanhadas, frente à propagada capacidade jurídica dos defensores dos acusados e ministros concentrados em sua tarefa de ouvir e rejeitar recursos dilatórios. O problema de todo o caso será o confronto entre o que está nos autos e aquilo que está no imaginário popular. Como se sabe, a classe política não é exatamente dotada de grande credibilidade junto ao cidadão. Além disso, a corrupção e o descaso dos políticos com as causas, digamos, republicanas, faz com que o distinto público queira Justiça. Eventualmente, a custos elevados. O STF terá de lidar com isso e esta será a questão final do mensalão. Ainda sem explicações Seria, no mínimo, de bom tom que o ex-presidente Lula, o ministro Gilmar Mendes e o ex-ministro Nelson Jobim explicassem claramente os objetivos daquela reunião entre os três antes do início do julgamento do STF. Além disso, cabe explicações do procurador-geral da República sobre as pressões que teria sofrido. Muito se fala sobre coisas tão sérias e pouco se explica. Suzana von Richthofen, Nardoni e Mensalão Do blog de José Dirceu em 11 de junho último, reproduzindo o fraseado de Márcio Thomaz Bastos, o "God" (segundo seus colegas) : "A imprensa faz publicidade opressiva em casos de grande repercussão", observou o ministro dizendo-se tranquilo na constatação porque "mesmo integrando um valor constitucional da mais alta nobreza, a imprensa não está livre de sofrer críticas". Para ilustrar esse comportamento da mídia, Thomaz Bastos mencionou casos de grande repercussão como os de Suzane von Richthofen, presa porque mandou matar os pais tomando parte no crime; o do casal Nardoni, condenado e preso pela morte da filha/enteada Izabela; e o da atriz Daniela Perez, assassinada pelo colega da TV Globo Guilherme Pádua e a mulher deste, Paula Thomaz, que cumpriram pena e já estão em liberdade. Ao lembrar o processo von Richthofen, Thomaz Bastos o classificou como exemplo paradigmático de casos nos quais a opinião pública atropelou o devido processo penal e a estudante, acusada de mandar matar os próprios pais foi julgada em meio ao clamor público". A voz de "God" é a voz de quem ? Radar NA REAL 10/8/12 TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA estável estável/alta - Pós-Fixados NA baixa baixa Câmbio ² - EURO 1,2340 baixa/estável baixa - REAL 2,0287 baixa/estável estável/baixa Mercado Acionário - Ibovespa 59.280,93 estável/alta estável/alta - S&P 500 1.405,87 estável/alta alta - NASDAQ 3.020,86 estável/alta alta (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável ____________
terça-feira, 7 de agosto de 2012

Política & Economia NA REAL n° 209

Mensalão: os primeiros passos Ainda nos parece cedo para que se possa analisar o andamento do julgamento da ação penal 470 no STF. Afora o fato de o referido julgamento ter características específicas e inéditas, o noticiário sobre o caso está opaco, com as partes gastando tempo em relações públicas. Até mesmo os ministros da STF nos parecem excessivamente expostos num contexto em que estes terão de "dizer o direito" para os réus e a sociedade. Dos pontos que levantamos previamente em relação ao caso na semana passada vale acrescentar : 1. Os temores do PT em relação ao caso parecem substancialmente maiores do que poderiam ser aferidos previamente. O envolvimento de Lula no tema dá bem a conta do nível das preocupações. A "contaminação do partido" no processo eleitoral pode ocorrer; 2. A credibilidade do STF está sendo mais ameaçada pelas declarações dos advogados na mídia que pela influência da opinião pública. Alguns advogados parecem oscilar entre uma defesa dos réus perante a opinião pública e a "defesa técnica" requerida ao caso; 3. Muito embora contestada em certos aspectos "técnicos", o procurador-geral da República fez de sua fala uma descrição devastadora sobre a condução dos negócios públicos e privados no primeiro governo de Lula; 4. Dificilmente o julgamento da ação penal será um novo paradigma para os casos de corrupção que correm na Justiça brasileira. A especialidade do caso retira, a nosso ver, a esperança de que esta seja uma nova prática do Judiciário brasileiro em casos assemelhados; 5. Do ponto de vista "técnico" é possível que o julgamento do caso traga novidades no que tange às provas necessárias para que uma condenação penal possa ocorrer, especialmente nos casos dos tipos penais de "formação de quadrilha" e "corrupção". O STF pautará o assunto. A robustez das provas, sobretudo as testemunhais e documentais está sendo contestada pelos advogados de defesa; 6. Há considerável indiferença da cidadania em relação aos primeiros momentos do julgamento, apesar de toda a divulgação na mídia. A política está em baixa. Por conta da ignorância pública sobre o assunto, bem como em função da descrença de que existem homens públicos à altura dos problemas do país. (vide nota abaixo sobre as eleições). PT quer Ação Popular contra Gurgel A dimensão do incômodo que o julgamento da Ação Penal 470, o "mensalão", está provocando no principal partido que sustenta o atual governo é dada pela resolução de uma reunião na sede nacional do PT em SP que quer submeter o procurador-geral da República a uma Ação Popular. A justificativa para tal ação é a de que Gurgel gastou volumosos recursos públicos para "nenhum resultado relevante". Ao contrário, os advogados de defesa que se apresentaram no palco, ontem, embora contestem ponto por ponto das acusações de Gurgel, uns com algumas duras expressões, não o confrontaram diretamente. Parecem não querer ir na jugular de Gurgel para não mexer num vespeiro poderoso como o MP. Em ocasiões assim, as corporações sempre se fecham. Não esquecer que alguns poderes do MP estão sendo contestados no STF, o que o torna ainda mais unido. Eleições ? Que eleições ? Capítulo II As primeiras pesquisas do Ibope depois de liberada a campanha municipal nas principais capitais brasileiras indicam a indiferença do eleitor ainda em relação às disputas : menos de 30% indicaram saber quem são os candidatos em suas cidades. A audiência do primeiro debate entre os concorrentes em SP e RJ, na quinta-feira, respectivamente de 2 pontos e 1 ponto são sinais muito evidentes de que os eleitores ainda não estão nem aí para eleição, têm mais o que fazer como disse o ex-presidente Lula para explicar que não ligaria a televisão para ver o julgamento do mensalão. E o pior para os candidatos que precisam desesperadamente de exposição pública para sair do marasmo em que se encontram é que ainda vão dividir mais uma semana na mídia com a Olimpíada e mais um mês com o julgamento da Ação Penal 470, nascida mensalão. Pesquisa : quem perde o sono ? Fora Celso Russomano, o consumo de drogas contra a ansiedade deve estar crescendo vertiginosamente nos meios eleitorais de SP, em todos os ditos principais concorrentes. Serra e os tucanos precisam descobrir porque o candidato, de longe o mais conhecido de todos, não fura o teto dos 30%, e na última pesquisa do Ibope já baixou desse patamar. Os mais maldosos dizem que é o efeito Kassab. Assim como já há muito petista acreditando que o efeito Maluf está pesando demais nas costas de Fernando Haddad. "Fotografiazinha desastrada", dizia um adepto outro dia. Há, também, dois fatores que seguram Haddad no bloco de baixo : a de Lula, menos ativo até agora do que o necessário para dar gás ao protegido e a da presidente Dilma, de quem o petismo esperava um grande empurrão, mas que, pelas últimas informações, não quer meter por hora a mão na cumbuca paulistana. Vai cuidar apenas de seu predileto em BH, o de SP que outros embalem. Quanto a Gabriel Chalita, apenas cumpre a sina do PMDB em SP nos últimos anos, cada vez mais irrelevante politicamente. Parece que não há reza nem influência vice-presidencial que infle o balão do candidato peemedebista. Ainda é cedo para qualquer prognóstico. Porém, os grandes terão de fazer força maior do que esperavam para desalojar o candidato do PRB da altura onde está. Parece que subestimaram um pouco a influência da atividade de Russomano na televisão. E Lula ? O ex-presidente passou por uma extensa série de exames clínicos e de laboratório no Sírio-Libanês para avaliar suas condições físicas e saiu de lá com uma alforria para participar da campanha eleitoral a partir de hoje de modo que bem entender. Pelo menos esta foi a informação oficial. A prática se verá a partir de hoje. De toda forma, Lula deve participar com empenho de corpo presente em apenas quatro campanhas, em princípio : naturalmente do delfim Fernando Haddad em SP, de Patrus Ananias em BH, de Humberto Costa no Recife e de Luís Marinho em São Bernardo. A liberação médica, porém, vai aumentar a pressão para que o ex-presidente, com sua invejável popularidade, corra para socorrer outros companheiros e até aliados que vierem a enfrentar apuros com adversários. Os complicados desvãos do pacotão de agosto Antes de a presidente Dilma fazer seu périplo olímpico em Londres, as previsões oficiais são que o novo pacote de incentivo à economia deveria ser lançado esta semana, numa reunião festiva em Brasília com os empresários, hoje. As linhas gerais das medidas já estariam praticamente fechadas : - Redução do preço da energia elétrica; - Mais mudanças na cobrança da contribuição previdenciária das empresas; - Privatização (o PT e o governo preferem que se chame concessão) de portos, aeroportos, rodovias e ferrovias; - Reforma na cobrança do PIS e da COFINS. Porém, o pacotão não foi apenas adiado : ele será também anunciado em etapas, com parte dele possivelmente apenas em setembro. A razão é simples : como as contas do governo estão emagrecendo a olhos vistos no lado da receita, e continuam sofrendo de obesidade no lado das despesas, e como as medidas implicam em renúncia de arrecadação, as maquininhas do mundo econômico oficial foram postas a funcionar para apresentar propostas que sejam de fatos viáveis, sem levantar suspeitas de que o governo abandona os planos de superávit fiscal robusto para pagar os juros da dívida e dar segurança ao BC para manter a Selic na rota da redução. Um obstáculo a mais Para complicar ainda um pouquinho, há a greve dos servidores Federais, que Brasília está tendo dificuldades de administrar. Ela não arrefece, pelo contrário, e vai obrigar o governo a abrir suas burras um tantinho mais do que esperava. Não havia planos, por exemplo, de dar nenhum aumento geral para o funcionalismo, apenas correções para algumas categorias como professores universitários e militares. Agora, o ministério do Planejamento espreme o orçamento para encontrar recursos para um reajuste que pelo menos cubra a inflação. Vendedor de automóveis ? O ministro Guido Mantega anunciou, com a antecedência de quase um mês, que o governo não vai prorrogar a isenção de IPI para carros fabricados no Brasil. A suspensão desse benefício significa, automaticamente, o aumento dos preços dos automóveis nacionais, hoje com peso significativo na formação do PIB industrial. Lutando para botar a economia num elevador com maior velocidade, nesta altura a suspensão do benefício pode diminuir de novo a venda de veículos e, consequentemente, estancar novamente a produção da indústria. Mas uma notícia dessas, vinda da autoridade competente, tende também a provocar uma corrida às lojas, com antecipação de compras antes que o preço suba. Aliás, já ocorreu. Há fila nas revendedoras para veículos mais baratos. A indústria não poderia escolher um propagandista melhor. E Mantega pode ter garantido preciosos pontinhos no PIB industrial nos próximos meses para chegar a seu compromisso de botar a economia crescendo a 4% ou mais no fim do ano. Concentração bancária ? A presidente Dilma, segundo informações que circularam na época, teria se manifestado contrariamente a uma possível venda de parte das operações do Santander no Brasil para uma das grandes instituições financeiras nacionais. A hipótese foi levantada no auge da crise da economia espanhola, quando não se sabia ao certo o tamanho do problema dos bancos de lá. A história da possível venda foi desmentida, o Santander, apesar da confusão em sua terra natal, permanece impávido, embora como todo o sistema financeiro mundial, inclusive no Brasil, com queda nos resultados. Dilma não teria apreciado o negócio porque tema uma concentração muito forte de negócios bancários no Brasil, tida como indesejável. Mas a realidade é que tal concentração já está ocorrendo, como mostrou reportagem do jornal "Valor Econômico" na semana passada. De cada R$ 100 emprestados no Brasil, R$ 80,34 foram desembolsados por apenas cinco bancos : BB, Itaú Unibanco, Bradesco, CEF e Santander. É o maior nível de concentração bancária no país dos últimos dez anos. Os ativos desses cinco bancos foram de 57% em 2007 para 86% do PIB agora. Herança maldita ? Um mau comportamento do balanço da Petrobras no segundo trimestre já era esperado pelos analistas de mercado. Mas era apenas uma queda no lucro, não um prejuízo de mais de R$ 1,3 bi (o lucro há um ano foi de R$ 10,9 bi). As razões já são sobejamente conhecidas e podem ser definidas com poucas palavras : o uso da empresa como instrumento de política econômica do governo, tanto para aceleração de investimentos como para o combate à inflação. O primeiro efeito desse resultado, além do natural estresse na bolsa, deverá ser a liberação para a empresa aumentar mais os combustíveis nas suas refinarias, agora sem a possibilidade de o governo compensar esse reajuste nas bombas com cortes na CIDE. O imposto já está zerado. Esse dado deverá necessariamente de ser considerado pelo Copom do BC em sua próxima reunião, no fim do mês, quando se espera uma nova baixa na Selic de 0,5%. A inflação parece que começa a apertar o cerco. Do ponto de vista político, a Petrobras, sem outra saída, começa a explicitar a "herança maldita" dos recentes tempos de bonança. Os limites da Graça A presidente da Petrobras pretende - ou pretendia - indicar uma pessoa de confiança para a diretoria internacional da empresa, como já fez em outras substituições promovidas por ela na diretoria herdada de José Sérgio Gabrielli. Acontece que o ex-diretor, Jorge Zela, era da cota do PMDB na empresa. E o PMDB de Minas, dono da vaga esse tempo todo, tinha outro candidato que não o de dona Graça Foster. Como os mineiros peemedebistas são considerados peças-chave na candidatura de Patrus Ananias, apadrinhado de Dilma, à prefeitura de BH, firmou-se o impasse. Para que lado penderá o coração da presidente : para o de sua amiga Graça ou de seu interesse eleitoral em dar uma lição nas urnas a Aécio Neves e Eduardo Campos ao mesmo tempo ? Estabilidade no exterior ? O desempenho dos principais segmentos do mercado financeiro e de capital no exterior foi muito bom nas duas últimas semanas. Das commodities às ações, os investidores estão apostando que o Banco Central Europeu irá implementar uma política monetária francamente expansionista para superar a crise no Velho Continente. Será uma verdadeira novidade em função das restrições germânicas a este tipo de estratégia "global", desprovida do viés nacionalista que prevalece nos diversos governos europeus. Bom, até agora, tudo está confirmado apenas pelas palavras de Mario Draghi, o presidente do BCE. Nenhuma palavra mais substantiva dos entes da federação confirma se Draghi tem poder e condições para efetivar esta estratégia. De toda a forma, se o BCE lograr sucesso nesta estratégia, esta notícia se somará a excelente notícia de que nos EUA a recuperação ganha consistência. Inclusive no vital campo laboral, neste momento eleitoral. Pesquisa : a quem interessa ? A CNT é uma entidade patronal, como o próprio nome diz, do setor de transportes, sustentada em sua quase totalidade pelo imposto sindical, ou seja, dinheiro público. Já é estranho que uma entidade com tais características patrocine uma pesquisa periódica de cunho meramente político, com serviços do Instituto Sensus. Mais estranho ainda ficou a iniciativa da direção da CNT de incluir na sua mais recente sondagem, divulgada na semana passada, de um item sobre as preferências dos eleitores brasileiros a respeito das longínquas eleições presidenciais de 2014 e incluindo entre uma das chaves com possíveis candidatos ninguém menos do que o ex-presidente Lula da Silva. Lula, obviamente, aparece dando um banho em Aécio Neves, com mais de 60% das preferências contra pouco mais de 10% do senador mineiro. Não é essa a questão, ninguém desconhece a popularidade de Lula, ainda intocada. As dúvidas são outras : a quem interessa, uma vez que Lula, quando não tem um ato falho, se diz carta fora do baralho ? Combinaram com a presidente Dilma, cada vez mais empenhada em fazer o seu próprio caminho e montar suas próprias fidelidades ? Radar NA REAL 3/8/12 TENDÊNCIA. SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA estável estável/alta - Pós-Fixados NA baixa baixa Câmbio ² - EURO 1,2416 baixa/estável baixa - REAL 2,0281 baixa/estável estável/baixa Mercado Acionário - Ibovespa 57.255,22 estável/alta estável/alta - S&P 500 1.390,99 estável/alta alta - NASDAQ 2.967,90 estável/alta alta (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável ____________
terça-feira, 31 de julho de 2012

Política & Economia NA REAL n° 208

Dez observações sobre o "mensalão" A partir desta semana e, provavelmente, até o final de agosto, o noticiário estará recheado de notícias sobre o julgamento dos 38 réus acusados de um esquema de financiamento eleitoral, apoio partidário, tráfico de influência e tantos outros fatos - a também "alcunhada" Ação Penal 470. Não estamos relacionando "tipos penais", mas traduzindo a percepção que os crimes trazem à população. A despeito da importância do julgamento, relacionamos alguns aspectos que devem ser levados em consideração na análise da política e da economia. Vejamos : 1. É muitíssimo improvável que o julgamento influencie o andamento do mercado financeiro e de capital, a economia e os negócios; 2. O governo Dilma não se envolverá em nenhum aspecto do julgamento. O Congresso se envolverá e muito. Pode haver paralisia legislativa, motivada pelas eleições e pelo mensalão (vide nota abaixo); 3. Nenhum dos réus que serão julgados têm atualmente influência junto ao governo Federal, exceto em certas áreas de interesses específicas, como é o caso do ex-ministro José Dirceu; 4. A credibilidade do STF será testada, mas não de uma forma especial. Já houve casos em que o STF contrariou a opinião pública e sua credibilidade não foi "testada" no sentido que alguns dão à palavra; 5. A credibilidade de alguns ministros do STF será testada, principalmente aqueles que tenham impedimentos relativamente ao caso; 6. O julgamento do mensalão não é nem essencialmente político e nem essencialmente "técnico". Está revestido de múltiplos aspectos que lhe dão uma conotação "especial", "mista", o que desfavorece prognósticos razoáveis; 7. A imprensa estrangeira fará cerrada cobertura do julgamento e pautará a imagem do país mundo afora; 8. O PT sofrerá os efeitos políticos do julgamento, sobretudo por ser o partido do establishment político atual; 9. O resultado do julgamento e sua forma de condução farão jurisprudência relevante em casos relevantes no futuro e/ou a "competência originária" do STF será revista; 10. Ainda estão sem explicações a reunião de Nelson Jobim, Gilmar Mendes e Lula antes do mensalão, bem como o encontro de Paulo Okamoto, ligado à Lula, com Marcos Valério, a figura-mestra no esquema de financiamento do mensalão. Que influência terão no julgamento ? E Dilma ? A presidente ordenou peremptoriamente a seus ministros a não se envolverem num caso em que seu governo só tem a perder se se meter, e nada a ganhar. De sua parte, torce a favor dos réus, quase todos aliados seus e muitos de seu partido. Mas há cabeças pensantes da república de Brasília acreditando que, politicamente, não seria de todo mau se o STF desse um corretivo em alguns dos mensaleiros. Ela ficaria ainda mais livre de algumas amarras partidárias e livre do risco de alguns dos acusados voltarem à cena, com o diploma de inocente e vítima, cobrando espaços. Sem barulho O julgamento do mensalão deve ocorrer sem grandes manifestações públicas e passeatas, carreatas, plantões em frente ao tribunal, mobilização de massas e outros que tais antes prometidos ou imaginados por alguns acusados e seus apoiadores. Conclui-se que poderia ser daquelas táticas que poderia sair pela culatra. A voz agora, de preferência, só para os advogados. O silêncio, agora, é de prata, ouro e diamante. Há outros desafios para Dilma Nem só de mensalão viverão nesses dias o mundo político e o mundo oficial de Brasília. Dilma já determinou que seus auxiliares não se envolvam nessa história. Afinal, seu governo não tem nada com ela. Quem pariu esse "mateus" que o embale. A ajudinha que ela pode dar aos companheiros direta ou indiretamente envolvidos no processo é anunciar medidas positivas para tentar desviar um pouco o foco das notícias certamente negativas para eles que fluirão do prédio do STF. A agenda da presidente nesse dias contempla uma série de outros desafios, estes sim capazes de abalar (ou de melhorar) a imagem e a percepção da opinião pública a respeito de seu governo : 1. A greve dos servidores públicos não dá sinais de amainar, pelo contrário, está crescendo. Já há reflexos na economia e pode atingir brevemente os serviços para a população. Os dirigentes sindicais estão intransigentes e o governo toma atitudes erráticas : ora ameaça e toma atitudes severas, como mandar cortar o ponto e editar um decreto permitindo substituição de grevistas, ora acena com a possibilidade de rever punições e dar um aumento linear aos servidores, possibilidade antes veementemente negada. 2. Esboçam-se em setores privados algumas paralisações com grande poder de prejudicar a população, caso do selvagem (já) movimento dos caminhoneiros, com bloqueios de algumas rodovias estratégicas (Fernão Dias no sábado, Dutra no domingo e na segunda-feira). O Dia D para o governo dar uma solução para os problemas dos fretes, segundo os líderes da categoria é hoje. Até agora está restrito aos "fretistas" individuais, mas a questão é a mesma das grandes transportadoras. Com um agravante para o lado delas : as mudanças no regime de trabalho dos motoristas, justas por sinal, exigirão novas contratações e, portanto, aumentará também o custo dos serviços, já onerado com outros aumentos, com o do óleo diesel. 3. A presidente vai ter de se ajustar com a indústria automobilística, com ameaças de demissão nas montadoras de carros de passeio e demissões e suspensões de contratos de trabalho nas produtoras de caminhões. Dilma ameaça não prorrogar a isenção ou redução do IPI que vence em 31 de agosto, uma decisão equivocada nessa altura para quem quer incentivar o aquecimento da economia. Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come : não pode obrigar a indústria a não demitir nem pode correr o risco de as vendas de carros sofrerem novos baques. 4. É preciso fechar o pacote de agosto, com novos incentivos ao florescimento do PIB, com mais incentivos fiscais, renúncias de receita, ao mesmo tempo em que a arrecadação tributária dá sinais de que não vai atingir as metas programadas para este ano. 5. Está na hora de dar um choque gerencial para valer no setor público. Quando se descontam a maquiagem e os disfarces, o que se vê é um ritmo muito baixo na execução dos investimentos públicos. 6. A presidente e seus operadores econômicos ainda não ganharam a batalha das expectativas dos agentes econômicos. Uma coisa é que eles dizem no Palácio ou em público, outra o que dizem na surdina ou como agem. 7. O Congresso volta ao trabalho amanhã, é certo que naquele ritmo pré-eleitoral, ávido ainda por um bom tratamento e com alguns temas explosivos no gatilho : Código Florestal, royalties do petróleo, fator previdenciário... Todos são "instrumentos de barganha". Tudo isso num cenário de eleição municipal no qual os aliados, apesar das aparências, mais se digladiam do que se entendem, a exigir uma constante vigilância da presidente para não se indispor com uns e outros e ter de apagar incêndios na Câmara e no Senado. Economia : a espera de medidas De uma forma geral, o governo tem diagnosticado corretamente as vulnerabilidades da economia brasileira, sobretudo aquelas relacionadas à desindustrialização do país. Todavia, falta ao governo, um plano "orgânico" para enfrentar tais vulnerabilidades. Assim, parece que a repercussão das medidas é limitada a alguns setores e não ao "sistema" como um todo. Aparentemente, o governo percebeu o erro e agora pretende tornar os efeitos das políticas mais macroeconômicas. A queda dos juros básicos, neste sentido, atinge este objetivo. Já o ajuste cambial, difícil de ser executado, não atendeu plenamente ao objetivo pleno de "proteger" a indústria. As medidas de crédito carecem de um diagnóstico completo : não basta reduzir as taxas (o que é essencial). É preciso ter confiança no futuro e é isso que falta. Não à toa, os investimentos privados capengam e os públicos estão em níveis deploráveis. Ao governo falta um choque de competência e ao setor privado, um choque de otimismo, com medidas críveis. Agosto trará novidades. Veremos se suficientes para acabar com a letargia econômica. Fora de foco ? A imprensa, no que diz respeito à lei de transparência pública, tem concentrado suas maiores preocupações na cobrança de divulgação dos salários dos servidores públicos, no Executivo, no Legislativo e no Judiciário, na União, nos Estados e nos municípios. É preciso, de fato, saber os abusos que se cometem nesta área. Porém, é preciso não negligenciar outros ramos da administração pública, ralos de dinheiro talvez muito mais daninhos. Os contratos do DNIT, por exemplo, podem trazer grandes revelações, assim como os da Funasa e de diversos órgãos de desenvolvimento regional e os repasses voluntários da esfera Federal para Estados e municípios. E os contratos com as ONGs ? Dariam grandes revelações ainda os contratos de publicidade e a contratação de serviços de assessoria de imprensa, de comunicação, de relações públicas e realização de eventos tanto pela administração direta e pelas empresas estatais. Outro filão está na contratação de consultorias. O campo é fértil. O governo gostou Os sorrisos não poderiam estar mais escancarados em Brasília, naqueles palácios do Executivo desenhados por Oscar Niemeyer, com o sucesso de público de ações oficiais como o combate aos bancos nos juros altos, o ataque aos planos de saúde e, mais recentemente, o golpe certeiro nas telefônicas de celulares. A moda pegou... Vem mais por aí. Mario Draghi tem procuração ? O presidente do Banco Central Europeu, Mario Draghi, tem sido um dos poucos líderes europeus que reúne bom senso, credibilidade técnica e, mais importante, capacidade de agir. Em meio à passividade geral dos líderes do Velho Continente diante das tragédias que se instalaram por lá, sobretudo na Europa Meridional, Mario Draghi sabe que não adianta ficar pregando medidas de austeridade diante da miséria social de países como Espanha, Grécia, Itália. Finanças em ordem é matéria ordinária. Expansão monetária para conter a recessão é matéria extraordinária. De toda a forma, ao dizer na semana passada que "o euro será salvo a todo custo", Mario Draghi apontou na direção correta. Os investidores, parcela bem informada da opinião pública, reagiram bem ao redor do mundo, mostrando para alemães e sua banda "fiscalista", que mais ação monetária é necessária. Resta saber se o italiano tem procuração de Berlim para falar coisas tão óbvias. Agosto negro para os gregos Nas negociações de agosto, Atenas não conta nem com o FMI, nem com o BCE e nem com a União Europeia para minorar os ajustes fiscais que terá de fazer para pagar as contas. Tentará fazer e provavelmente fracassará. Será uma batalha mais difícil que a de Salamina. Boa notícia para o Brasil ? Os fundos hedge persistem comprando posições no mercado de commodities. Trata-se do movimento mais forte dos últimos três anos e está ocorrendo mais forte nas últimas três semanas. Os administradores destes fundos acreditam que a China e, até mesmo a Europa, adotarão medidas de estímulos que serão suficientes para levantar os preços das commodities. Normalmente, os fundos hedge, dado seu caráter altamente especulativo, "sinalizam" mudanças relevantes nos preços dos ativos. Se confirmada esta tendência, haverá direta e decisiva influência sobre a bolsa brasileira, bem como sobre a pauta de exportações do país. Uma adesão capenga Hoje tem festa no Palácio do Planalto, com direito à presença dos presidentes-parceiros Cristina Kirchner, da Argentina, e José Mujica, do Uruguai, para a assinatura do documento de adesão da Venezuela como membro pleno do Mercosul. Mas será apenas uma cerimônia política, pró-forma. O país de Hugo Chávez, apesar de ter tido sua adesão ao bloco aprovada há vários anos, tendo ficado apenas na dependência formal da aprovação pelos parlamentos dos outros países, não tomou nenhuma iniciativa objetiva para adotar as medidas necessárias para sua integração de fato ao bloco. As possíveis vantagens econômicas só surgirão a muito longo prazo. Agora foi só política e, se quiserem forçar a interpretação, "diplomacia". Eleição ? Que eleição ? Os políticos já estão quase se matando, os adversários e até aliados. Mas quem anda pelas ruas, principalmente das grandes cidades, nem percebe que estamos distantes apenas um pouco mais de dois meses das eleições municipais. A não ser quem está diretamente no jogo, ninguém mais está interessado nos candidatos e seus cabos eleitorais. Esta apatia pode ser até um sinal de um certo amadurecimento político da população, como nos países mais avançados, nos quais a disputas eleitorais são fatos naturais. Mas podem ser também - na verdade é o que mais parece - um sintoma da decepção dos cidadãos com a política no país, seu modo de ser e de fazer. Como a política é essencial, em algum momento esta situação vai virar - e virar-se contra os que estão hoje em cena no mundo dos políticos. De fazer inveja aos mineiros Dados do TSE indicam que em 106 dos 5.568 municípios brasileiros não haverá disputas eleitorais em outubro : neles só há um candidato a prefeito, indicação de falta de ambição, o que sobra no restante do país, e/ou de um grande espírito de conciliação e desprendimento, mercadoria em falta quase sempre no mercado político tupiniquim. Mas nenhum município supera, nesse quesito, o de Mato Queimado, no noroeste do RS. Com 16 anos de existência e 1,8 mil habitantes, nunca teve uma briga pela prefeitura. Os líderes dos quatro partidos da cidade (PT, PMDB, PTB e PP) se reúnem a quatro anos e escolhem um candidato único. Não há também oposição na escolha de vereadores : todos os candidatos concorrem numa chapa única, da coligação. E ainda são os gaúchos que carregam a fama de turrões, enquanto os mineiros desfrutam a de eternos conciliadores. Radar NA REAL 27/7/12 TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA estável estável/alta - Pós-Fixados NA baixa baixa Câmbio ² - EURO 1,2244 baixa baixa - REAL 2,0292 baixa estável/baixa Mercado Acionário - Ibovespa 56.553,12 estável estável/alta - S&P 500 1.385,87 estável alta - NASDAQ 2.958,09 estável alta (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável ____________
terça-feira, 24 de julho de 2012

Política & Economia NA REAL n° 207

O pacote de agosto e suas restrições I Está nos altos fornos da equipe econômica, sob o olhar sempre e cada vez mais atento da presidente Dilma Rousseff, uma nova rodada de medidas para turbinar o crescimento do PIB nacional, com foco agora mais nos investimentos do que no consumo. Prepara-se um "grandioso" evento, com direito ao foguetório marqueteiro que tem marcado os anúncios das políticas públicas de Dilma, como ocorreu na semana passada quando prefeitos das cidades brasileiras de mais de 250 mil e menos de 700 mil habitantes voaram para a capital da República para receberem a notícia de que podem contar com R$ 7 bi do governo central para projetos de mobilidade urbana. O pacote de agosto e suas restrições II O lançamento está cercado de grande expectativa, pois - como revelou a jornalista Claudia Safatle no jornal "Valor Econômico" - Dilma estará inaugurando a "segunda fase" da política econômica de seu governo. O forte, especula-se, será a abertura de mais concessões públicas nas áreas de portos, aeroportos, rodovias, ferrovias e hidroenergia. Haveria também redução das tarifas de energia elétrica, com o governo abrindo mão de algumas taxas penduradas na conta de luz, e alterações na forma de cobrança do PIS e da COFINS. E algo mais que a cachola burocrática expelir de última hora para tornar o pacote mais apetitoso. Um deles pode ser a redução nas contribuições previdenciárias das empresas para outros setores além dos já agraciados recentemente. Esta segunda parte implica em o Tesouro Nacional abrir mão de parcelas de sua arrecadação, o que pode colocar em xeque um dos sustentáculos da política econômica, pelo menos em tese : o superávit primário. Realismo e ideologia No PT já há discussões sobre a "contaminação" do governo Dilma pelo micróbio privatista de FHC. Afinal, o novo e correto pacote do governo busca essencialmente a atração do setor privado para o processo de investimento. Isso requererá que o setor privado encontre possibilidades concretas de lucro no futuro e um ambiente regulatório confiável capaz de ultrapassar a atual e as próximas administrações. O PT sabe disso, mas faz que não sabe. Além disso, por debaixo da saia do governo não são poucos os lobistas petistas enfronhados nos "novos" negócios do governo Federal. A ideologia ? Bem, esta fica para a militância bobinha... E o pré-sal ? Pelo menos pelo que se sabe até agora, o pacote de agosto não incluiu licitações de novas áreas para a exploração de petróleo, incluindo o pré-sal. Desde 2007 o governo não faz um único leilão de áreas marítimas, com bloqueios, portanto, de investimentos estrangeiros. Durante um tempo explicou-se a suspensão desses leilões pela necessidade de se estudar melhor a posição das reservas do pré-sal. Desconfia-se, no entanto, que o atraso visa preservar a situação da Petrobras, sem capital suficiente para entrar pesado nesses leilões. Há sinais de que companhias estrangeiras do setor já estão virando os olhos para outros mercados. Teles : lembrando Nelson Em tempos menos raivosos do "politicamente correto" e de mais bom humor no país, a seu modo de provocar polêmica, o escritor Nelson Rodrigues criou uma frase, a respeito das relações conjugais, que pode se encaixar muito bem nesta conturbada relação do governo e da Anatel com as empresas de telefonia celular. "O governo pode não saber bem porque está batendo nas teles, mas elas sabem perfeitamente bem porque estão apanhando." Elas negligenciaram e as autoridades vacilaram. Eis os fatos onde não há mocinhos. Registre-se a interferência direta do governo. Foi dele a ação para a Anatel, em tese uma agência independente, agir com a dureza que agiu. O que não é bom para a imagem de uma administração que se prepara para promover uma série de concessões de serviços públicos para a iniciativa privada, processo no qual a confiança do investidor na estabilidade das regras e na autonomia dos órgãos reguladores é essencial. A parte oficial De mais, a punição das companhias, com a apresentação de novos planos emergenciais de investimentos, por si só não resolve os problemas dos serviços em visível deterioração, se o governo não botar também seu bloco da rua : 1. Apressando a já mais do que atrasada nova lei geral de telecomunicações no Brasil. 2. Resolvendo com os Estados e municípios a questão dos obstáculos à instalação de antenas. O risco é o vexame do 3G e do 4G na Copa do Mundo. 3. Não der mais autonomia, inclusive financeira, à Anatel, para fiscalizar as teles e proteger o consumidor, inclusive liberando os recursos do Fust e do Fistel que estão represados para engordar o superávit primário das contas públicas. O primeiro é dinheiro que o contribuinte paga para a universalização dos serviços de telecomunicações ; e o segundo, para fiscalização do sistema. 4. Não reduzir a pesada carga tributária para o setor, aproximando-se de 50% da conta paga pelo consumidor, um insumo essencial na economia da informação deste século. Frouxidão fiscal ? I A grande dúvida é se o governo vai sustentar sua promessa de fazer este ano uma superávit nominal de R$ 139 bi, cerca de 3,1% do PIB, economia de recursos compartilhada também com Estados e municípios. Esta meta é considerada essencial para manter a confiança dos agentes econômicos e assegurar a credibilidade da política de redução de juros. O secretário do Tesouro Nacional, Arno Augustin, tem garantido que o a promessa de superávit será cumprida. E que os investimentos públicos não serão prejudicados, pois não há incompatibilidade entre as duas coisas. De fato não há, ou não deveria haver. Mas os números da execução financeira do Tesouro, até abril, e a revisão da programação orçamentária, divulgada na última semana, levantam dúvidas. Vejamos. Frouxidão fiscal ? II A começar por duas informações básicas : já chega a R$ 23 bi a queda na previsão de arrecadação para este ano; os investimentos Federais até agora cresceram pouco mais de 2% em relação ao ano passado ao mesmo tempo em que as despesas com a máquina pública subiram mais de 10% no mesmo período. Para não propor mais cortes nos gastos por causa de tais resultados, o que o mundo político execra sempre e mais ainda em anos eleitorais, o Tesouro já partiu para algumas prestidigitações, revisando para cima as previsões de receitas "atípicas" e cobrando mais transferência de dividendos das empresas estatais. Por isso, juras à parte, sussurra-se cada vez com mais estridência na capital que a meta de superávit será alterada, descontando-se do prometido pelo menos R$ 40 bi de despesas do PAC. Eles também vão pagar O ministério da Fazenda está prevendo uma diminuição de R$ 4,9 bi nas transferências obrigatórias para Estados e municípios, pela redução na arrecadação do IR, do IPI e da Cide. Os dois últimos em parte por causa da concessão de isenções fiscais. Prefeitos e governadores estão com os cabelos em pé porque estão pagando parcelas das "bondades" concedidas pelo governo Federal sem nenhum reconhecimento. Mais um nó para Dilma A Câmara, já a caminho da farra eleitoral, incluiu numa das MPs aprovadas no fechar das luzes do primeiro semestre, um artigo isentando totalmente os produtos da cesta básica da cobrança de IPI, PIS e COFINS. Medida socialmente justa, principalmente porque beneficia as camadas de renda mais baixa, mas que deixa os arrecadadores do governo de orelha ardendo. O governo quer barrar a proposta no Senado, para não forçar Dilma a um veto impopular num momento em que ela já está desgastada com o funcionalismo público. Os senadores toparão assumir o desgaste ? O curioso é que a medida foi incluída na MP por sugestão da oposição, que reativou um projeto já existente na Câmara de autoria de deputados do PT. Eles chiaram com a "traição" mais não tiveram coragem de votar contra. O BNDES e seus grandes negócios O BNDES não está se dando bem no ramo das carnes, um de seus maiores investimentos nos últimos anos. Segundo levantamento do jornal "Valor Econômico", o investimento do banco dos grandes negócios com recursos públicos tem um valor de R$ 2,56 bilhões menor do que quando foram realizados na JBS, na Marfig e na BRF - Brasil Foods. Sem contar as perdas no Frigorífico Independência. Boa capacidade de previsão econômica é isto, o resto é sonho. A ausência de "visão holística" Nota-se pelas notas acima que a política econômica do governo é um amontoado de medidas as quais poderiam ser maximizadas pela adoção de um plano capaz de orientar todo o governo na área econômica. Vejamos. 1) O governo diz que prima pela orientação estatal dos investimentos, mas a sua competência é duvidosa. 2) Reconhece o BNDES o atraso tecnológico da indústria, mas resolveu investir pesado no pulverizado e pouco tecnológico setor de frigoríficos, cuja governança é, digamos, no mínimo, duvidosa. 3) Tenta atrair o setor privado para os investimentos, mas o principal partido que sustenta o governo sente-se preocupado com os impactos "ideológicos". 4) Prega a transparência nas contas públicas mas faz ginásticas contábeis para a obtenção do superávit fiscal projetado pelo próprio governo. Por fim, talvez o governo não tenha um articulador das políticas governamentais porque os membros do establishment tenham medo da personalidade, digamos, forte, da presidente. Serviço incompleto O Congresso foi para as férias de meio do ano, das quais só retornará para valer em fins de outubro, depois do segundo turno das eleições municipais, deixando uma série de sérias pendências para trás, coisas cujas soluções não podem passar deste ano, tais como o novo Código Florestal e as novas regras para divisão dos royalties do petróleo e dos minérios. O mais urgente de todos, pois tem prazo inadiável para o fim do ano, estabelecido por determinação do STF, é a reformulação das regras do Fundo de Participação dos Estados. Haverá tempo suficiente em novembro e dezembro para aprovar esses novos projetos além da obrigação de decidir sobre o Orçamento de 2013 ? A Europa : Espanha, Itália e Grécia A crise na Europa caminha a passos de lebre e a solução da crise vem a passos de preguiça. No caso, de preguiça alemã. Como já comentado amplamente na imprensa internacional, o pacote do Banco Central Europeu para o sistema financeiro espanhol foi insuficiente para dar liquidez aos bancos e suficiente para atrair toda a especulação possível para o país. O regulador do mercado de capitais espanhol teve de proibir as operações de "venda a descoberto" para evitar que a especulação com as ações de bancos ganhasse ainda mais vigor. A situação é crítica e muitos bancos e médios correm o risco de entrar em colapso. Do lado da Itália, o governo "tecnocrático" tão acreditado pelo "mercado" não consegue reduzir o custo de rolagem da dívida italiana. Desta forma, as contas fiscais vão se agravando e o futuro do crescimento econômico está sendo comprometido pelo crescente endividamento do país. A especulação dos investidores a cada leilão de dívida é generalizada. Já a Grécia, a "Tróika" (UE, Banco Central Europeu e FMI) desembarca na capital dos helênicos para não fazer nenhuma concessão ao duro pacote de medidas de austeridade que a UE impõe aos gregos. Esta é a "chave" para que a Grécia saia do euro. Cumpre-se, desta forma, a estratégia alemã que considera o país um "mal menor" no Velho Continente. A caminho da depressão Teremos muita emoção vinda da Europa nos próximos dias e semanas. O momento é decisivo. Parece-nos que a Espanha está próxima de um colapso semelhante ao primeiro débâcle da Grécia e que o seu sistema financeiro pode sofrer uma insolvência espetacular. Como é notório na Europa, há uma tendência a sublimar ou subestimar a crise, mesmo quando milhões começam a tomar o caminho das ruas, seja para protestar, seja porque simplesmente foram despedidas. A Alemanha faz um papel vergonhoso. Foi sócia da irresponsabilidade fiscal do Continente, dos gregos aos franceses, passando pelos irlandeses, espanhóis, italianos e por aí vai. Agora se comporta como sempre o fez : a Alemanha acima de tudo. No passado, isto foi resolvido por meio de duas guerras mundiais. Desta feita, a solução poderá vir por uma depressão semelhante ou superior a de 1929 e anos seguintes. A Grécia deve sair do euro em breve. O euro é a pálida imagem daquilo que se imaginava de um sistema econômico de colaboração. O jogo político nas eleições municipais À medida que avança a corrida eleitoral nos municípios, aumentam as especulações em Brasília e nas capitais estaduais sobre o quadro político que se seguirá ao resultado das eleições. Do lado do governo, especula-se com a informação de que a presidente vai aproveitar quedas e subidas eleitorais, fidelidades e traições de outubro, para reformular sua base de sustentação parlamentar, para tornar mais coesa, dentro do princípio, menor e mais confiável. Alguns partidos, dados a muitas infidelidades e cobranças demais, tipo PR, PSC e PTB seriam expelidos e outros, como o PMDB, novo bom menino da praça, seriam mais apreciados e agraciados. O problema é saber se os "novos" fiéis serão fiéis mesmo, pois nem sempre as grandes dores de cabeça de Dilma (assim como antes com Lula e FHC) vieram das pequenas legendas. Os maiores amigos costumam ser os piores. O lado dos partidos pós-eleições Do lado dos partidos fala-se em fusões de legenda (o PMDB estaria saindo na frente para atrair parceiros) e em conquistas de adesões individuais. Os dois parecem movimentos fadados ao fracasso, servem na verdade para fazer barulhos e assustar adversários. As fusões parecem quase impossíveis porque nenhum cacique, dono de partido vai renunciar a dois patrimônios valiosos : o tempo no horário obrigatório no rádio e na televisão e as verbas do fundo partidário. Nesse caso, surpresas quase impossíveis à parte, o máximo que se pode esperar é formação de alguns blocos ou blocos partidários para atuação conjunta no Congresso. As adesões individuais de peso, de gente com mandato, esbarram nas normas da fidelidade partidária estabelecidas pela Justiça. Poucos se arriscarão a cair nelas e perder o mandado, enquanto não forem amainadas. A cigana está enganando ? Ensina a prudência política, a proverbial de Minas Gerais ou qualquer outra, que é bom olhar com um pouco de ceticismo qualquer pesquisa eleitoral, ainda mais nessa fase na qual as campanhas estão começando a ir para as ruas, faltando ainda mais de dois meses para a abertura das urnas em primeiro turno. Sinais emitidos pelas sondagens iniciais de diversos institutos somadas a certo faro político mais aguçado estão indicando que alguns caciques políticos podem ter dissabores em outubro, que podem ter sido enganados por ciganas de sua confiança. Haddad, a esposa e o marqueteiro Aparentemente, no caso de Fernando Haddad, será seguido o roteiro das campanhas norte-americanas, nas quais conhecer a esposa do candidato é vital para a formação da opinião pública. Ana Estela há de aparecer no vídeo e dará sua visão sobre saúde pública, bem como sobre as virtudes do marido. Ou seja, além de conhecer o desconhecido Haddad, o eleitor conhecerá a desconhecida esposa do desconhecido. Uma estratégia de marketing que deve ter as suas mensuras bem apuradas pelo "cientista" João Santana. Fundamentos da política no Brasil O "negócio" eleitoral no Brasil está ficando assim então : o candidato consegue um "padrinho", um cacique de um partido. Aí ele, o cacique, alija todo mundo do processo interno de escolha do candidato. Depois o padrinho arruma uma coalizão de outros partidos, a mais vasta possível e fecha acordos subterrâneos às custas da futura administração do apadrinhado. Tudo para conseguir horário de TV que será preenchido por um sábio marqueteiro contratado a preços altíssimos que adota uma estratégia revolucionária que torna o digníssimo eleitor uma audiência quase ovina para tudo que foi programado. Enquanto isso um tesoureiro bem informado dos negócios do território eleitoral vai percorrendo com a sua mala as salas dos poderosos de plantão. Estes últimos, temerosos das viradas das pesquisas desta e de futuras eleições depositam seus recursos nas contas do partido - esta é a forma usual. A final da corrida eleitoral temos a apuração de recursos e votos. O cacique terá de negociar ambos. De novo. Russomano, no topo Não há surpresas, ao contrário do que dizem os jornais, nas pesquisas dando conta do empate técnico entre Serra e Celso Russomano. Este empate mostra com perfeição o momento e o cenário com o qual o eleitor se defronta na eleição paulistana : desconforto com os candidatos, com as alianças, com o desconhecimento dos programas, com a atual gestão e assim vai. Russomano consegue cabalar votos dentre estes desgostosos e "perdidos", sobretudo das classes mais pobres e ligados às igrejas pentecostais. Além do candidato ter considerável presença na mídia. O problema disso, é que não será um processo simples e rápido como os marqueteiros imaginaram "extrair" Russomano da corrida, se isso for possível. Ele pode ter vindo para ficar, inclusive perto dos patamares superiores. Isto não é uma previsão. É uma possibilidade. Que os marqueteiros nem sequer admitiam. Quadrilha Um poema do mineiro Carlo Drummond de Andrade, recentemente homenageado na Flip, com o título acima : João amava Teresa que amava Raimundoque amava Maria que amava Joaquim que amava Lilique não amava ninguém.João foi para os Estados Unidos, Teresa para o convento,Raimundo morreu de desastre, Maria ficou pra tia,Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandesque não tinha entrado na história. Nos prolegômenos que cercam as defesas prévias no processo do mensalão vai-se para o mesmo "encilhamento" : Duda acusa Valério, que acusa Dirceu, que acusa Delúbio, que não acusa ninguém. Apenas uma observação : se todo mundo está passando a bola da responsabilidade para o outro, vai para o ralo a alegação de que o mensalão não existiu. Como culpar alguém por algo que teria sido um delírio coletivo ? Radar NA REAL 20/7/12 TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA estável estável/alta - Pós-Fixados NA baixa baixa Câmbio ² - EURO 1,2087 baixa baixa - REAL 2,0406 baixa estável/baixa Mercado Acionário - Ibovespa 54.194,79 estável estável/alta - S&P 500 1.362,66 estável alta - NASDAQ 2.925,30 estável alta (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável ____________
terça-feira, 17 de julho de 2012

Política & Economia NA REAL n° 206

De Dilma para Dilma. Com ardor I Para os eleitores brasileiros e até para os candidatos às urnas de outubro, as eleições deste ano são municipais. Não é assim, porém, para o establishment político-partidário, no situacionismo ou no oposicionismo Federal. Para os caciques e seus agregados é apenas um rito de passagem necessário e importante para 2014. Lula já havia botado suas fichas na mesa desavisadamente, como não querendo, mas querendo, quando no programa do Ratinho anunciou que poderá se candidatar a um novo mandato se Dilma não quiser ou não puder. Por que Dilma não quereria ou não poderia ? - perguntou-se aos quatro quadrantes, inclusive naquele Palácio situado num dos triângulos da Praça dos Três Poderes. De Dilma para Dilma. Com ardor II A resposta veio logo, firme e sem meias palavras : ela pode, quer e vai brigar. De forma inusitada para quem era - e não escondia - avessa ao joguinho miúdo do mundo dos políticos. Dilma deixou de lado a cautela de quem não pretendia botar muito a cara nas sucessões municipais, para não se incompatibilizar com nenhum aliado, tantas as divisões deles nos municípios, e saiu para botar ordem na casa, diretamente em duas disputas cruciais - SP e BH. Ilude-se quem pensa, porém, que ela agiu para dar uma mãozona ao PT e até ao grande companheiro Lula, cujas operações políticas nessas duas capitais, especialmente em SP, com a ameaça de um isolamento de Fernando Haddad, estavam azedas. Cirurgicamente Dilma deu a Secretaria de Saneamento do Ministério das Cidades para um correligionário de Paulo Maluf e jogou o PP nos braços de Haddad. Lula foi apenas aos jardins malufistas para posar para a foto. Em BH botou o PMDB e o PSB na chapa do petista Patrus Ananias, depois do rompimento da aliança PSB/PT, por obra de ajustes entre o senador Aécio Neves e o governador Eduardo Campos. De Dilma para Dilma. Com ardor III Dilma foi exatamente tentar implodir as pedras em seu caminho de 2014 e deu seu recado de que está viva. É coincidência apenas que tenha sido na mesma direção dos interesses do PT. Em seguida, a presidente começou a assentar seu próprio caminho, em seguidas reuniões no Palácio da Alvorada, fora do horário de expediente para não parecer que faz política eleitoral quando deveria estar trabalhando. Acertou-se com o PMDB, de Michel Temer, que andava desconfiado das intenções da presidente para o futuro com ele; com o PSB de Eduardo Campos, a quem havia contrariado nas manobras mineiras; e com a bancada do PT, pelo menos parte dela. Recato presidencial ? Agora, se não houver mais ruídos, ela se recolherá a certo recato eleitoral, como chegou a ser anunciado oficialmente pela ministra Ideli Salvatti. Qualquer resultado eleitoral que não seja o fortalecimento da oposição é bom para ela. Outros movimentos políticos agora apenas depois do segundo turno e até fevereiro, após as eleições para as presidências da Câmara e do Senado, quando então deverá haver ajustes nos ministérios. Ficaram restos a pagar - Gilberto Kassab, PMDB mineiro - e contas a cobrar. Tudo isso não quer dizer que Dilma está com menos apreço, menos gratidão e menos respeito por Lula. Tudo permanece intocado. Mas o momento político dela, a não ser o desejo de botar a oposição definitivamente de joelho, não é exatamente o mesmo momento político do antecessor e benfeitor. Nem todos, porém, confiam Apesar dos movimentos da presidente, alguns aliados ainda não dão como certo que a sucessão de 2014 transcorrerá entre Dilma e um oposicionista, possivelmente Aécio Neves. 1. Os mais lulistas do PT não acreditam que o ex-presidente está fora do tabuleiro, até porque se sentem alijados da linha de frente do governismo, com o nascimento de uma espécie de PT da D (PT Dilma) em oposição ao PT do L (PT do Lula). 2. Michel Temer, com todos os cuidados, deixou claro em entrevista a Eliane Catanhêde, na "Folha de S.Paulo", que o PMDB não descarta concorrer com candidato próprio. Se o partido se destacar em outubro, a crista peemedebista vai crescer. 3. Eduardo Campos e seu PSB também dependem das urnas municipais para uma avaliação melhor de suas reais possibilidades. E todos estão de olho numa só questão - o desempenho da economia. Uma fonte de legitimação de qualquer governo hoje pelo mundo, além dos votos nas democracias, é o grau de satisfação dos eleitores com sua situação econômica e a qualidade de vida que tem. Nenhum governista acredita que Dilma vai poder ser candidata à reeleição se não garantir o leite das criancinhas. Novos articuladores Depois que a imagem de Lula como um articulador político infalível ficou comprometida por alguns tropeços cometidos por ele nos últimos tempos, dois outros nomes passaram a ser incensados em certas rodas movidas a cabrestos como novos gênios dessa raça - Gilberto Kassab, do PSD, e Michel Temer, do PMDB. Do lugar onde se encontram observando o cenário político brasileiro atual, Ulysses Guimarães, Tancredo Neves e outros da mesma estirpe devem estar, como diria Eça de Queiroz, tendo "frouxos de riso". A chave do crescimento mundial Na semana passada, a China anunciou o menor crescimento do PIB desde o início da crise financeira internacional, em setembro de 2008. As reações mundiais não foram propriamente de surpresa, mas de expectativa de como o governo comunista de Pequim iria reagir diante deste fato. Nesta segunda-feira, veio a primeira resposta do premiê chinês Wen Jiabao que anunciou medidas de estímulo ao investimento externo, bem como redução da taxa de juros e reservas bancárias. Uma receita tradicional que deve ser seguida, com menores efeitos, pelo Fed e pelo Banco Central Europeu (apesar deste enfrentar enormes divergências internas). O risco da política chinesa é a continuidade de substanciais desequilíbrios internos. Setores como o de construção civil persistem relativamente aquecidos e inflacionados, enquanto o setor industrial sofrem os efeitos da crise internacional. Especula-se no mercado internacional o quanto a China poderia gastar numa nova política de estímulo fiscal. Em novembro de 2008, os gastos foram da ordem de US$ 500 bi. A maioria dos analistas acredita em um número superior neste momento. Mudança de rumo Desde o início do primeiro trimestre deste ano, os fundos hedge, os quais especulam em diversos segmentos do mercado internacional, estavam apostando firme na queda dos preços das commodities em função da queda contínua da atividade industrial chinesa nos últimos trimestres. (A China consome 11% do petróleo produzido no mundo e 40% do cobre, apenas para citar dois exemplos). Pois bem : desde as primeiras notícias sobre o possível pacote de estímulo à economia chinesa, estes fundos reverteram suas posições baixistas e passaram a apostar na alta das commodities. Cabe observar cuidadosamente este movimento de vez que este deve ter influência decisiva sobre a economia brasileira e a bolsa local. Ainda é cedo para qualquer prognóstico, sobretudo porque o sucesso da política chinesa dependerá do aumento do consumo doméstico às custas da obtenção da poupança externa via saldo comercial, um dogma econômico até agora do governo chinês. Relembrando Keynes e Hoover Dizia Keynes que "o capitalismo é muito importante para ser cuidado pelos capitalistas". O mundo de hoje é mais estranho : os comunistas estão cuidando do capitalismo. J. Edgar Hoover ficaria boquiaberto. Brasil, na expectativa Dificilmente os efeitos das medidas adotadas pelo governo para retomar um nível mais elevado da atividade econômica surtirão efeitos substanciais. O endividamento das famílias, a insegurança com o emprego e a contenção do investimento privado e público adormeceram as melhores expectativas de crescimento. Isso tudo num ambiente internacional altamente negativo. De toda a forma, o fato novo, para o bem e para o mal, é a fragilidade da economia chinesa. Dependendo da reação de Pequim, o Brasil pode ter melhores dias. Falta de líderes Convenhamos que a crise internacional é terrível. Ceifa esperanças de gerações, de famílias e cria uma instabilidade política que contrai ainda mais o cenário econômico. Todavia, quando vemos os líderes do G-7 ficamos ainda mais alarmados. Não passam de governantes de suas paróquias, preocupados com efeitos imediatos e eleitorais e sem uma visão abrangente. Não saem às ruas para lutar por ideias que valem a pena. Apenas para coletar votos por meio de discursos preparados por marqueteiros. Este é talvez o maior problema da crise atual. Peugeot e Hollande Será muito curioso sabermos como o presidente francês François Hollande exercerá a sua "intolerância" aos planos do Grupo PSA Peugeot Citröen de fechar uma fábrica o que resultará no corte de aproximadamente 14 mil empregos. O assunto ganhou vastos contornos políticos e entrou no debate nacional, sobretudo depois da ameaça presidencial. Afinal, qual o poder que o presidente tem para evitar esta tragédia ? Sobretudo, quando a empresa francesa acaba de ter sua qualidade de crédito rebaixada e o risco de inadimplência aumentou... Delírios sobre a classe média Do economista Marcio Pochmann, ex-presidente do IPEA e candidato à prefeitura de Campinas pelo PT : "A grande maioria dos empregos criados foi de no máximo um salário mínimo e meio, e no setor de serviços. No conceito de classe média, as pessoas estão em carreiras em que o aumento da escolaridade aumenta também a renda. São funcionários públicos, professores, bancários. Não é o que acontece no Brasil agora. Se a pessoa é motorista de ônibus, não adianta fazer um pós-doutorado que não terá um salário maior." Do sociólogo Amaury de Souza : "A discussão relevante é sobre a permanência dessas pessoas que ascenderam à classe média. Temos que analisar qual o risco de elas voltarem a ser pobres. Isso vale para o Brasil e para o mundo, porque o crescimento da classe média é mundial e é um efeito da globalização." O desafio do mundo político é entender como esta dita "nova classe média" ou "classe média do Lula" se comportará eleitoralmente. Renovadora ? Emulará o comportamento da velha classe média ? Os suspeitos Depois de 57 dias de greve os professores das escolas de ensino superior Federal receberam uma proposta de reajuste salarial e não gostaram do que ouviram. Ficam pelo menos mais uma semana parados. A operação padrão dos auditores fiscais da Receita Federal está atrasando a liberação de mercadorias importadas em portos e aeroportos e na Zona Franca de Manaus há indústrias com produção reduzida ou parada por falta de insumos e componentes. Segunda-feira, mais um grupo de servidores Federais das agências reguladoras entrou em greve juntando-se, segundo cálculos dos dirigentes sindicais, a outros 300 mil, em diversos órgãos, que já estão com os braços cruzados. Os sindicalistas públicos prometem ainda transformar a esplanada dos ministérios esta semana em que um grande acampamento de funcionários insatisfeitos. A esta altura, a presidente Dilma já deveria estar se perguntando - se ainda não está - como assim tão de repente o "instinto animal", tão adormecido na era Lula, foi despertado. E não deve procurar os velhos bodes expiatórios, os suspeitos de sempre - a oposição e a crise internacional. Eles estão mesmo é dentro de casa. Mensalão : salve-se quem puder ? A proximidade do julgamento do mensalão parece que está também despertando o "instinto animal" da sobrevivência entre os acusados. A leitura dos memoriais apresentados pelos advogados de alguns dos suspeitos mostra claramente que muitos estão tentando se livrar jogando a culpa em outros. Delúbio Soares é um dos apontados e, de fidelidade canina, parece disposto a não reagir, assumindo uma culpa maior do que lhe cabe naquele latifúndio de "recursos não contabilizados". O publicitário Marcos Valério, no entanto, não parece propenso a se imolar nesse altar de sacrifício. Em outra ocasião, precisou ser devidamente acalmado. O documento de defesa de seu advogado é sinal de que ele necessita novamente de cuidados. Recordar é viver O mensalão só deu no que deu e ainda pode dar mais depois de uma entrevista do então deputado e presidente do PTB Roberto Jefferson à jornalista Renata Lo Prete no jornal "Folha de S.Paulo". Jefferson, cujo partido também se beneficiou das "mensalidades", soltou sua voz de tenor amador quando começou a desconfiar que estavam querendo jogar sobre ele e o PTB toda a culpa das falcatruas nos Correios na ocasião, motivo da CPI em andamento no Congresso. Ele viu armações do ministro chefe da Casa Civil, a época, José Dirceu, em notinhas de jornal e foi o que se viu. Qualquer semelhança com o incômodo manifestado por Marcos Valério pode vir a não ser mera coincidência. Radar NA REAL 13/7/12 TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA estável estável/alta - Pós-Fixados NA baixa baixa Câmbio ² - EURO 1,2274 baixa baixa - REAL 2,0411 baixa estável/baixa Mercado Acionário - Ibovespa 54.330,51 estável estável/alta - S&P 500 1.349,54 estável alta - NASDAQ 2.908,47 estável alta (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável ____________
terça-feira, 10 de julho de 2012

Política & Economia NA REAL n° 205

Política e Economia : não serão como antes I As evidências estatísticas e as pesquisas de tendências da economia indicam que a economia brasileira está em fase de desaceleração. O PIB de 2012 deve ficar abaixo dos 2,0% e, quiçá, até bem mais para baixo. O consumo das famílias está constrangido pelo endividamento do passado e pelo crescente medo de piores dias para o mercado de trabalho. A atividade industrial sofre abertamente os sinais de ausência de competitividade, depois de anos de negligência cambial e de uma frouxa política de competitividade externa, bem como sofre os reflexos do consumo declinante. Do lado dos investimentos, as empresas daqui e alhures percebem que o Brasil é um país emergente de categoria inferior : cresce menos e é mais oscilante em termos de atividade. O resultado é que o investimento privado está claudicando e esperando sinais mais evidentes para decidir quanto e quando investir mais. Já o setor público expõe sua incompetência para liderar os investimentos e, até mesmo, para planejá-los. Política e Economia : não serão como antes II Todas nossas observações acima relacionadas podem ser comprovadas por uma longa e consistente lista de indicadores, a qual não está especificada aqui, para tratarmos de outro assunto : a possibilidade de que o país ingresse num período, eventualmente longo, de estagnação de seu desenvolvimento. É preciso considerar que o crescimento econômico está retornando ao cenário de "voo de galinha" tão propagado pelos economistas e políticos nas duas décadas passadas. Naqueles anos, o constrangimento era essencialmente cambial, do qual decorriam os efeitos nos juros, na política fiscal e assim por diante. Desta feita, a natureza da estagnação está mais relacionada a três aspectos básicos : (i) a falta de uma gestão econômica que planeje o médio prazo em diante. Falta cérebro governamental para guiar as expectativas ; (ii) o Estado onera a economia por meio de uma carga tributária disfuncional e alta e, de outro lado, investe pouco porque gasta muito em despesas correntes ; (iii) sobram reservas ao país, mas falta uma política cambial e industrial que acresça ao PIB uma crescente participação do comércio exterior. Em poucas palavras : somos um país caro, pouco eficiente tecnologicamente no setores privado e público, e gastador na esfera dos governos. Política e Economia : não serão como antes III Apesar das evidentes deficiências do país quanto ao crescimento, há uma contradição que impressiona na política : não há nenhuma força política organizada que represente os interesses, digamos, "desenvolvimentistas". Com esta palavra, referimo-nos não às práticas conjunturais da política econômica como nas décadas passadas, mas aos que defendem a modernização do Estado e do setor privado como instrumento de transformação econômica e social. A oposição, neste particular sentido, é de deixar qualquer eleitor ruborizado de vergonha e, sobretudo, de raiva. Enquanto isso, uma espécie de "temor reverencial" ao poder central e suas ramificações regionais e no Estado se sobressai. A popularidade presidencial, neste sentido, acanha ainda mais os insatisfeitos silenciosos. Ademais, o PT, a essência política destes tempos, se entranha nas cidades e nos rincões com o que há de mais atrasado na prática política brasileira. E aí, o que é oposição e o que é governo fica ainda mais opaco de se analisar. Todavia, as mudanças estão por vir e não devem ser pequenas. Política e Economia : não serão como antes IV O pacto político existente ao final do governo Lula está muito mais carcomido que a aparência indica. Em primeiro lugar, as elites industrial e financeira já não coletam os benefícios de uma atividade econômica elevada e/ou em alta. Pouco a pouco começa a se manifestar esta insatisfação. O problema aqui, como dito logo acima, é que não há depositários políticos muito confiáveis para elevar o tom das insatisfações. Do lado do "trabalho", as mais numerosas greves já espelham que a titânica união sindical em torno da presidência está longe de ser o que foi sob Lula. A base pobre da sociedade, justa beneficiária do certo progresso dos "anos Lula", ainda está solidamente apoiando ao governo, mas a política paternalista de transformação social tem limites, sendo o principal deles a capacidade do Erário de bancar as políticas sociais. Política e Economia : não serão como antes V O que estamos a dizer é que o status quo do exercício da governança brasileira não será o mesmo na provável conjuntura de estagnação econômica e social vindoura. Nos próximos dois anos pelo menos. Tanto o governo quanto a oposição terão de enfrentar contradições novas que são incompatíveis com o imobilismo político atual. A navegação das políticas à sombra da renda crescente das commodities está em cheque. Caberão novas iniciativas. As que o governo vem fazendo até agora são condições necessárias para tal, mas largamente insuficientes para alavancar o país ao título verdadeiro de emergente. As eleições municipais serão o primeiro termômetro deste processo. Logo após teremos o início da corrida presidencial de 2014. A presidente tem a legitimidade política dos 56 milhões de votos que recebeu, mas não se legitimou ainda no poder por meio de uma governança própria que seja capaz de se chamar de "governo Dilma". Ela ensaia ações com sua marca, mas acaba tropeçando no fantasma do "sapo barbudo" de outrora. Isso tem limites. Dilma provavelmente sabe disso. Parece, contudo, não saber ainda que caminho tomar. Não é como diz a Fazenda ? Do economista Roberto Messenberg, coordenador do Grupo de Análises e Previsões do Ipea : "A política econômica está se transformando num emaranhado de medidas desconexas, pontuais, que não estão atuando no sentido de ganhar tempo para que se encontrem estratégias de longo prazo. As estratégias de longo prazo passaram a ficar de lado. (...) estamos perdendo o foco da política econômica". Porém, o ministério da Fazenda não vai desistir de seus pacotes, esta semana provavelmente teremos mais alguma dose, além de mais uma redução - prováveis 0,5% na Selic. A cada sinal de fraqueza da economia e da insatisfação presidencial, a máquina de pacotes solta mais um embrulho. A notar : quem voltou a falar com desenvoltura foi o presidente do BC, Luciano Coutinho, ex-professor de Dilma na Unicamp. E soltou o verbo contra o "erro" do câmbio subvalorizado por muito tempo. "Nova herança maldita" (ver notas na coluna da semana passada). Para não triturar a base Diz-se em Brasília que a interferência, nem tanto indireta como se queria que parecesse, na sucessão em BH, ajudando a montar a candidatura do PT com apoio do PMDB e do PSD de Gilberto Kassab, foi pontual, assim como em SP, com a Secretaria de Saneamento do Ministério das Cidades entregue a Maluf pelo apoio do PP ao petista Fernando Haddad. Diz-se que Dilma será durante o primeiro turno discreta para não descontentar partidos aliados divididos nos municípios. De fato, se expuser, pode sobrar para o governo depois, no Congresso. Mas ela, tanto no lance paulista como no mineiro, deu dois passos para si própria : tenta conter o que pode vir a ser talvez seus dois principais concorrentes em 2014, dependendo das circunstâncias : Aécio (e o PSDB, garroteando o partido em SP) e Eduardo Campo e o PSB (contendo a expansão dos socialistas para o Sudeste). Por isso, aconselha uma raposa brasiliense diplomada em Minas : que se cuidem os petistas que ainda não aderiram ao dilmismo com afeição. Feliz como pinto no lixo Quem ficou todo prosa com as divergências PT/PSB em algumas capitais (Fortaleza, Recife, João Pessoa, Belo Horizonte) foi ninguém menos que o PMDB. O partido que temia ficar alijado da condição de parceiro preferencial de Dilma e do PT em 2014 já não está com tanto medo assim. E já tem certeza também de que a presidente já não apoia os movimentos petistas para retirar dele, como acertado desde o ano passado, as presidências da Câmara e do Senado. Ministérios em nome da paz Era intenção já da presidente, segundo fontes bem oficiosas, iniciar seus dois últimos anos de governo com alguns novos ministros, mais ajustados ao modo da presidente e ao próprio jogo dela. Seriam as ditas mudanças pontuais. Com a insatisfação crescente de Dilma com o desempenho do governo em algumas áreas, por inapetência para dar um bom ritmo nos investimentos, as mudanças não devem ser tão pontuais acima. E agora, com algumas "infidelidades" comprovadas e outras "fidelidades" renovadas, as trocas devem ser maiores. O PMDB, por exemplo, já voltou a sonhar em voz mais ou menos alta com a conquista do ministério dos Transportes, para sua seção mineira. Ajustes técnicos e políticos Na lista das pastas a terem vagas abertas em Brasília para novos titulares, além da dos Transportes, especula-se sobre o Itamaraty, as Minas e Energia e a Integração Nacional. Entrariam alguns outros menos votados para conformar o ministério também à nova correção de forças que deve sair das urnas. Até um possível espaço para Gilberto Kassab ou alguém de sua legenda. Jogo de alto risco O prefeito de SP está com fama de articulador político de alta costura. Deu um nó no experiente DEM, arranjou adeptos em vários partidos, conseguiu ganhar nos tribunais superiores tempo diferenciado no horário político obrigatório no rádio e na televisão, deu um passeio com Lula em SP acenando com um apoio a Fernando Haddad e depois caindo nos braços de José Serra e outras façanhas mais. Porém, está se deixando, segundo alguns, levar demais pela esperteza e pode, como se diz popularmente, cair do cavalo. Faz praça com o PSDB em São Paulo, com o PT em Minas, com Eduardo Campos no Recife e com Dilma nacionalmente. As manobras já levaram a ruídos internos no partido que ainda nem teve um teste de urna : perdeu o apoio de parte do pessedistas mineiros, levou críticas de uma de suas estrelas, a senadora Kátia Abreu. É o que dá fazer um partido sem ideologia, sem programa, de "direita, do centro e de esquerda" ao mesmo tempo. Pode deslanchar, pois não é nada diferente do restante, como bem mostra a sopa de letrinhas das alianças partidárias formadas Brasil afora nesta eleição municipal, mas pode também virar uma viúva Porcina, a que foi sem nunca ter sido. Aliás, as composições partidárias deste ano são a prova da total falência do sistema partidário brasileiro. Ele pode trazer sérias complicações para a presidente Dilma nos seus dois últimos anos, mais do que tem trazido agora. Julgamentos e eleições O STF está decidido a julgar o tal do "mensalão" com inédita rapidez. Sobram evidências deste fato. É difícil estimar os efeitos eleitorais deste fato sobre as urnas municipais de outubro e novembro. O maior risco é que do silogismo das sentenças saiam inconsistências e injustiças que sejam incompreendidas pelo distinto público. De outro lado, vários marcos penais nascerão dos acórdãos, especialmente quanto aos crimes de lavagem de dinheiro e contra o fisco. A repercussão de tudo isso não será tão objetiva como se poderia imaginar, daí as incertezas quanto aos efeitos políticos e eleitorais. Também temos, em menor medida, o julgamento na obscura Jersey, paraíso britânico. Paraíso fiscal, diga-se. Lá o ex-alcaide paulistano Paulo Maluf é réu. Pode ter de devolver alguns milhões de volta aos cofres do município. Se condenado mostrará as suas tripas de corrupto no exato momento em que desfila com o candidato petista pelas ruas do município do qual extraiu a riqueza obscena de Jersey. Se inocentado, Jersey não terá de prestar contas ao eleitor de cá como no caso de nossa Suprema Corte. À beira de um ataque de nervos I Não é de paz o ambiente no meio dos mensaleiros e de seus advogados, apesar das aparências. Nem todos estão aceitando as transferências de culpas que estão sendo engendradas para tentar ajudar na defesa de uns poucos figurões. À beira de um ataque de nervos II Há gente do mais alto coturno que não está nada feliz com o alheamento oficial público e privado no processo de mensalão. Mas não há como cobrar nem dar o troco. Mas os amuos são sérios. Nelson Rodrigues e a internet O jornalista Matias Molina, em artigo no jornal "Valor Econômico" a respeito do extinto jornal "Diário Carioca", em cujas páginas iniciou-se nos anos 1950 a modernização do jornalismo brasileiro, relembrou algumas das "diatribes" do dramaturgo, escritor e também jornalista Nelson Rodrigues a respeito de algumas dessas inovações trazidas dos EUA pela dupla Pompeu de Sousa e Danton Jobim : "O idiota da objetividade inunda as mesas da redação e seu autor foi Pompeu de Sousa. Aliás, devo dizer que o 'copy desk' é o idiota da objetividade, são gêmeos e um explica o outro (...). O 'Diário Carioca' nada concedeu à emoção, nem ao espanto. Getúlio deu um tiro no peito. Ali estava o Brasil, novamente cara a cara com guerra civil. E o que faz o 'Diário Carioca' ? A aragem da tragédia soprou nas suas páginas ? Jamais (...) O 'Diário Carioca' não pingou uma lágrima sobre o corpo de Getúlio. Era a monstruosa e alienada objetividade". "Se lá aparecesse Proust, seria reescrito do mesmo jeito" e "se o 'copy desk' já existisse naquele tempo, os Dez Mandamentos teriam sido reduzidos a cinco". O que diria Nelson hoje da internet e de seus 140 toques no twitter ? Em tempo : este ano relembra-se o centenário de nascimento do escritor. Vale a pena revê-lo no teatro e relê-lo, agora que o Sobrenatural de Almeida parece ocupar-se da nossa política e da nossa economia. Radar NA REAL 6/7/12 TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA estável estável/alta - Pós-Fixados NA baixa baixa Câmbio ² - EURO 1,2290 baixa baixa - REAL 2,0281 baixa estável/baixa Mercado Acionário - Ibovespa 55.394,05 estável/baixa estável - S&P 500 1.354,38 estável alta - NASDAQ 2.937,33 estável alta (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável ____________
terça-feira, 3 de julho de 2012

Política & Economia NA REAL n° 204

Europa Unida ? I A reunião dos líderes das 17 nações que compõe a UE na semana passada levou a conclusão óbvia de que sem ajuda ao sistema financeiro e na ausência de medidas mínimas de estímulo econômico a zona do euro iria explodir ou passar por uma longa estagnação. Uma vitória de quase todos os países contra a burra teimosia da alemã Angela Merkel. Apesar da decisão, há que se observar as "regras" desta ajuda, as quais devem estar prontas no próximo dia cinco. Neste campo, os germânicos terão mais instrumentos para mostrar seu poder e novamente as nações em crise estarão à mercê dos debates. Dois outros pontos também são relevantes : (i) o tamanho do pacote de ajuda (150 bi de euros), se este será suficiente e (ii) as regras de união fiscal e o monitoramento centralizado no Banco Central Europeu do sistema financeiro. Neste último item houve de fato um avanço mais significativo de vez que se superou a visão excessivamente nacionalista dos membros da UE. Europa Unida ? II Enquanto os líderes europeus buscavam a solução para seus gigantescos problemas comuns, Bruxelas divulgava a taxa de desemprego nas 17 nações, 11,1%, a mais alta deste o início da série. A Espanha bateu o recorde de 24,6% e a Grécia, 23%. Neste contexto, o risco político permanece elevado e as possibilidades de que a longa duração da crise contamine as decisões recentes são muito elevadas. Nesta semana, o FMI estará visitando Atenas e cobrará mais resultados dos cansados gregos. Na Espanha e Itália os leilões de dívida pública darão o tom dos mercados e os ingleses estão debatendo se saem da UE. Como se vê, será preciso algum tempo para se verificar se a Europa conseguiu de fato um ponto de convergência ou se adiou os conflitos por mais algum tempo. Começa o período de férias no Velho Continente. Haverá descanso ? Os mercados respiram A reunião da UE e a decisão da Suprema Corte norte-americana que validou juridicamente o plano de universalização do setor de saúde proposto por Obama foram fatores suficientes para a euforia do mercado ao final da semana passada. A probabilidade maior é que exista certa calma no mercado nos próximos dias e, até mesmo, semanas. Todavia, a tendência estrutural é que os investidores mantenham-se cautelosos e que as oscilações de humor retornem com o tempo. Serão precisas constatações mais veementes de que o auge da crise foi superado para que haja uma reversão de expectativas no cenário do mercado financeiro e de capital ao redor do mundo. Até lá, haverá muita observação, mesmo porque as apostas num cenário negativo são as que prevalecem no momento. Número que assusta De todas as revisões a respeitos de suas perspectivas para a economia brasileira este ano, a mais assustadora feita pelo BC em seu último Relatório Trimestral de Inflação é a dos investimentos privados : saltou de um crescimento de 4,7% em relação ao ano passado para apenas 1%. Pior ainda diz o IBRE, da FGV : será zero o incremento dos investimentos em 2012. Assim, não há crescimento sustentável forte também em 2013. O PIBinho do BC Não foi muito ao gosto do governo a iniciativa do BC de reduzir de uma cartada só, de 3,5% para 2,5% seu prognóstico de inflação para este ano e de aumentar de 4,4% para 4,7% a previsão de inflação. A observação contra é de que o BC foi na onda do "mercado" e pode influenciar negativamente a decisão de investidores. Contudo, tudo indica que Alexandre Tombini e seus diretores estavam preocupados em perder crédito de confiança com os agentes econômicos, tal a defasagem entre as perspectivas deles e as do BC. Em matéria de crescimento da economia, por exemplo, a maioria das previsões, tanto dos "mercadistas", como dos homens dos negócios, gira em torno de 2% - esta semana a previsão na mediana do Boletim do BC ficou em 2,05%. Há um mês estava em 2,72%. Daí para baixo. A confiança sobre os efeitos das medidas constantes de aceleração do crescimento do ministro Guido Mantega são limitadíssimas. A impressão generalizada é que o governo peca por falta de ousadia, por limitações de ordem gerencial e de ambiente político. PT : o adversário é outro I O PT acreditava que os adversários a serem batidos em 2012, com vistas ao jogo principal de 2014, eram o PSDB e o PMDB, os dois únicos que poderiam, segundo a ótica petista, ameaçar seus sonhos de hegemonia na política nacional e de controle do poder para uns bons anos futuros, até 2018 ou, quem sabe, para além deste período. Os tucanos por razões óbvias são a oposição de fato e de direito, embora confusa, e os únicos que, teoricamente, podem ameaçar a permanência do PT no poder Federal. Por isso, até, o empenho superior para derrotar o PSB em seu berço - agora, na prefeitura da capital paulista, com uma preparação para tomar o Palácio dos Bandeirantes em 2014. O PMDB por seu tamanho, sua capilaridade, é um parceiro incômodo por seu apetite e suas exigências e que, como um pêndulo, pode mudar os rumos de sua aliança e fazer o negócio da política pender para outro lado. A ideia é enfraquecer o PMDB e substituí-lo por outra legenda como parceiro preferencial nos próximos anos de poder. PT : o adversário é outro II De repente, não mais que de repente, o PT começou a desconfiar que o verdadeiro adversário pode ser outro, exatamente aquele que ele estava cevando para futuras alianças prioritárias : o PSB do governador Eduardo Campos. As manobras políticas do neto do ex-governador de Pernambuco Miguel Arraes na condução das alianças municipais despertaram nos petistas a certeza de que Campos, político jovem, simpático, e bem avaliado governante, está armando voos próprios que não passam necessariamente pelas asas do PT. PT : o adversário é outro III O rompimento das alianças com os petistas em Recife e em Fortaleza foram os primeiros sinais de alerta. A demora da definição em SP e depois as confusões causadas por Luiza Erundina em SP também levantaram suspeitas. Finalmente, veio no fim de semana a decisão do PSB de BH de não aceitar coligação para a eleição de governadores, levando ao rompimento da aliança entre os dois partidos para reeleger Marcio Lacerda. Mesmo que a crise de Minas seja contornada, pois ainda há tempo, a desconfiança ficou. Para os petistas, Campos só quer vantagens, só cede mesmo onde seu partido não tem interesse ou está fraco. O fantasma da traição ronda a mente de muitos petistas. O problema é o que fazer, uma vez que o PMDB não é de incentivar ninguém a pôr a mão no fogo por sua fidelidade. O PT começa a ficar isolado politicamente. Um tanto por sua própria culpa, por seu próprio apetite. Quem com hegemonia fere, corre o risco de ser ferido com traições. Dilma : os adversários são os mesmos Não é uma divisão ainda clara, nem admitida, mas é visível nos corredores da política que já há um PT de Dilma e um PT de Lula. Enquanto Dilma e os seus, ainda muito minoritários, estão cada vez mais dilmistas, boa parte do PT é cada vez mais lulista, o que necessariamente não quer dizer a mesma coisa, embora o abrigo de ambos seja a mesma sigla. A desconfiança dos lulistas é que a presidente age cada vez mais, sem rupturas, para deslocar o eixo de poder no partido. Alguns não ousam nem pensar, mas a eleição presidencial de 2014 está neste jogo. A quem interessa ? I Lula promete federalizar a eleição municipal de SP. Será bom para Fernando Haddad ? Afinal, ele terá de se haver com discussões sobre temas com os quais nem ele e nem a cidade tem nada a ver, como o mensalão e o caso dos aloprados. Ou podem ser temas bons para Lula que quer manter um discurso nacional e ainda rever algumas das histórias de seu governo. Pode ser bom para Dilma que poderá ter algumas de suas políticas contestadas em palanques físicos e eletrônicos pela oposição ou para Lula que não aceita, de forma alguma, um papel secundário nas discussões políticas e econômicas nacionais. De qualquer modo, a presidente tem demonstrado não estar interessada em se envolver diretamente e com força na campanha municipal. Nem ela nem seus ministros de mais confiança - estes talvez com exceção de suas áreas de interesse eleitoral. A quem interessa ? II Quem também parece muito interessado na "federalização" do debate eleitoral é o senador Aécio Neves. Sem estar diretamente envolvido na disputa, com uma situação mais ou menos tranquila em MG, apesar do último arrufo na aliança PSB/PSDB/PT em BH, ele quer aproveitar a campanha para se tornar nacionalmente mais conhecido e firmar suas diferenças tanto com Dilma, Lula e o PT, mas também com José Serra, ainda seu maior - e talvez único - adversário no tucanato. Com Serra restrito a SP e tendo de se defender dos ataques que receberá de todos os adversários, Aécio estará mais ou menos livre para voar pelo Brasil, ajudando tucanos e outros aliados possíveis. Terá tempo livre até para tentar dar uma ajudazinha aos tucanos de SP - se for solicitado. Diagnóstico correto, mas incompleto Da ministra Cármen Lúcia, do STF, e presidente do TSE, ao votar contra o pedido do PSD de Gilberto Kassab, aprovado por seus pares, de ter mais tempo de TV na propaganda eleitoral obrigatória : "Eu diria que aos partidos novos falta povo. Eu não conheço democracia sem povo". Na realidade, cada vez mais falta "povo" aos partidos brasileiros de um modo geral, não apenas aos novos, agremiações de caciques e meros dutos eleitorais. A nova herança maldita - capítulo I Semanas atrás informávamos que nos bastidores oficiais de Brasília já se começava a rosnar sobre certa "herança maldita" - uma "nova", é claro, distinta daquela que Lula atribuía ao ex-presidente FHC sempre que alguma dificuldade aparecia a sua frente em seus oito anos de Palácio do Planalto. Agora, já não muito discretamente, esta nova herança começa a ser explicitada. O primeiro foco foi a Petrobras, com a revisão de seus planos de investimentos para os próximos cinco anos. Cortando daqui e dali, a presidente da empresa, Graça Foster, disse, sem citar seu antecessor, José Sergio Gabrielli, que as metas anteriores eram irrealistas, que projetos eram aprovados a esmo, sem estarem prontos e daí por diante. Graça e sua comandante no Palácio do Planalto estão jogando para o alto facas para que estão caindo em suas próprias cabeças : Lula era o presidente dessa fase de irrealismo, mas Dilma foi ministra das Minas e Energia e, portanto, chefe da Petrobras durante uma parte desse período. Durante todo o mandato de Lula, foi presidente do Conselho de Administração da empresa, só sendo substituída por Guido Mantega quando saiu para se candidatar à presidência da República. Por que só Gabrielli paga toda a responsabilidade por uma gestão de claro viés político na maior estatal brasileira ? E por falar em política A revisão feita nos investimentos da Petrobras gerou sérios ruídos políticos com aliados preferenciais e complicados de Dilma : a suspensão da construção das refinarias do CE e do MA, dois compromissos político-eleitorais de Lula, acendeu a irritação dos suscetíveis e agressivos irmãos Gomes - Ciro e Cid - e o discreto (nas reações), porém não menos agressivo quando se trata de defender seus feudos, senador José Sarney. Sobrou para o ministro das Minas e Energia, Edison Lobão, tourear as feras. Logo ele, Lobão, que de sua pasta é sempre um dos últimos a saber das coisas. A nova herança maldita - capítulo II Há muitas outras línguas coçando em Brasília, além das da Petrobras vindas diretamente do RJ. Das mais inquietas é a área educacional. Mas que está forçada a sofrer calada para não prejudicar o candidato Delfim à prefeitura de SP, Fernando Haddad. Mesmo assim, possivelmente como reflexo da greve dos professores universitários, que além de reivindicarem um plano de carreira, propugnam também por melhores condições de trabalho, a presidente Dilma baixou um decreto, pouco comentado esta semana, tornando mais rígidas as regras para aberturas de novas universidades públicas federais : "A implantação de novas unidades de ensino e o provimento dos respectivos cargos e funções gratificadas dependerá da existência de instalações adequadas e de recursos financeiros necessários ao seu funcionamento". Um dos orgulhos da dupla Dilma-Haddad é exatamente a criação de uma série de novas escolas federais. Em tempo : essas histórias sobre a nova herança maldita terão ainda muitos capítulos. Ambiente conturbado Amplia-se o clima de greve entre o funcionalismo Federal diante da quase indiferença - os líderes sindicais dizem que é má vontade e intransigência - dos negociadores oficiais. As conversas quase todas estão obstruídas ou ocorrem em escalões sem poder de decisão e não há sinais de que alguma solução possa estar a caminho, mesmo no longo prazo. Troca-troca na CPI Para aquecer a CPI Cachoeira-Delta e não deixar que ela morra desmoralizada, os partidos concordaram com a convocação do dono da Delta, Fernando Cavendish. Até porque divergências entre os aliados tornam inevitável tal procedimento. Todavia, chamar para depor uma testemunha bomba como o ex-diretor geral do DNIT, Luiz Antonio Pagot, continua fora de propósito. Para livrar Pagot do foco do PSDB e da oposição, os governistas ameaçaram convocar também Paulo Vieira de Souza, ex-diretor de engenharia da Dersa, conhecido como Paulo Preto, e acusado de fazer caixa dois para campanhas tucanas. O jogo ficará, então, no momento, empatado. Pânico supremo As circunstâncias que levaram o ministro Lewandowski a entregar seu parecer sobre o processo do mensalão num prazo que, confessado por ele, ofendeu seus desejos e princípios, criaram um pavor maior ainda entre os mensaleiros e seus defensores de que eles não deverão ter dias muito tranquilos depois do dia 2/8. Já há entre as defensorias quem já esteja fazendo contas de possíveis penas. E ninguém estranhe que, no desespero, eles comecem a se estranhar, uns acusando outros para se defenderem. Será cada um por si e nenhum por todos. Isenção do STF O STF está abalado pelas pressões de todos os lados para julgar os envolvidos no tal do mensalão. O voo raso do supersônico que quebrou as janelas do "Palácio da Justiça" é, inusitadamente, bastante simbólico do momento por que passa a Suprema Corte. Cabe-lhe por dever de ofício ter isenção nos seus julgamentos. A necessária transparência dos juízes vem dos autos, representação maior e quiçá única da honestidade e decência que se espera de qualquer juiz, sobretudo daqueles que integram o STF. Ocorre que o excesso de exposição da mídia dos ministros, suas opiniões sobre o trabalho dos colegas e a incômoda liberdade dos advogados nos corredores da Corte acabam por intrigar quem olha de fora o trabalho do STF. Estarão os togados a praticar a melhor Justiça ? Veremos. Substituição no STF Vai ser igualmente interessante verificar como será a atuação da presidente Dilma na substituição dos dois ministros do STF que se aposentam após o julgamento do mensalão, no caso, Peluso e Ayres Britto. O midiático ex-ministro Márcio Thomaz Bastos está restrito em suas ações por conta de sua clientela caudalosa, sobretudo a acusada de jogatina e corrupção e outras coisas mais. De outro lado, a presidente Dilma estará a formar a Suprema Corte possivelmente para além de seu próprio mandato. O momento do STF é especial e seu destino no médio prazo dependerá muito de eventos importantes no curto prazo. Radar NA REAL 29/6/12 TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA estável estável/alta - Pós-Fixados NA baixa baixa Câmbio ² - EURO 1,2588 baixa baixa - REAL 2,0119 baixa estável/baixa Mercado Acionário - Ibovespa 54.354,63 estável/baixa estável - S&P 500 1.362,16 estável alta - NASDAQ 2.935,05 estável alta (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável ____________
terça-feira, 26 de junho de 2012

Política & Economia NA REAL n° 203

Decálogo da política brasileira I A democracia brasileira, do ponto de vista formal, teve avanços significativos desde o final do regime militar, sobretudo com os novos papéis que o Legislativo e Judiciário passaram a exercer. Muitos momentos difíceis do processo político, tais como o impeachment do presidente Collor ou o mensalão, foram ultrapassados graças a estes avanços formais da democracia brasileira. Nos últimos anos, contudo, nota-se uma significativa deterioração dos valores republicanos no Brasil em todos os segmentos e aspectos do poder político. Esta deterioração tem efeitos objetivos e práticos sobre o processo político com efeitos nefastos sobre a sociedade brasileira que, com indiferença e pouca participação, vê seus interesses cada vez menos representados por aqueles que recebem os votos e mandatos populares. Vejamos, a seguir, dez constatações que submetemos à apreciação de nossos leitores. São os sinais vitais da política brasileira no momento. Decálogo da política brasileira II 1) Os partidos políticos não têm mais relevante expressão ideológica e sequer programática, seja interna aos partidos, seja externa, perante a sociedade; 2) Grupos de interesses são a essência do processo parlamentar em detrimento dos partidos políticos; 3) Os mais bem votados nos partidos quase sempre não tem expressão parlamentar, sendo utilizados pelos "caciques" como mera manobra eleitoreira; 4) Escassos são os debates no parlamento a respeito das grandes questões nacionais; 5) As assembleias legislativas e as câmaras municipais estão esvaziadas pela excessiva centralização dos interesses políticos e econômicos na União; 6) As CPIs não são a forma de fiscalização do poder pelas minorias, mas meios de manobra da maioria parlamentar para pressionar o governo; 7) As indicações políticas aos cargos executivos visam primordialmente o "financiamento" das campanhas eleitorais em todos os âmbitos do poder; 8) A oposição e a situação se definem por mera aparência de discurso e se confundem por interesses imediatos; 9) Não faz sentido falar em oposição e situação quando observados os interesses eleitorais de cargos majoritários federais, estaduais e municipais. Quaisquer alianças são possíveis, dependendo da instância eleitoral; 10) Novas lideranças políticas não nascem da oposição às antigas lideranças, mas como continuidade destas. Ministérios : tensões nos céus de Brasília Não é para agora, possivelmente apenas para o fim do ano ou início de 2013, mas os bastidores de Brasília já começam a especular e a se agitar por causa da reforma ministerial que a presidente Dilma deverá fazer para dar um toque ainda mais seu à equipe de governo nos dois anos finais de seu primeiro mandato. Dilma vai livrar-se de assessores cujo desempenho, na ótica palaciana, é totalmente insatisfatório e dar ao governo a conformação partidária que sair das urnas de outubro. No jogo, também, as presidências da Câmara e do Senado. Dilma vai entrar em 2013 com suas tropas absolutamente alinhadas para os embates de 2014 - e não somente para disputar com as oposições. Antes, precisará ganhar embates interna corporis. Os partidos mais tensos são, obviamente, o PT e o PMDB, pois são os que mais têm a perder nas trocas que a presidente pode fazer. Choque elétrico Com habilidade, Dilma prepara um choque na área de energia de seu governo. Edison Lobão já foi convencido a voltar para o Senado, para disputar pelas forças governistas, como representante do PMDB, a presidência da Casa, em substituição a José Sarney. Ficaria tudo em casa e empurraria Renan Calheiros, a quem Dilma não quer ver nesse lugar, para uma candidatura ao governo de AL. Com a saída de Lobão, Dilma acabaria de profissionalizar o setor elétrico oficial. O problema de Lobão é arranjar outra vaga em Brasília para o filho, Edison Lobão Filho, seu suplente. Mas sempre se dá um jeito. De quem Dilma não gosta ? Pergunta de uma alma maldosa de Brasília depois de verificar que a presidente Dilma, para afastar as candidaturas de Renan Calheiros e Henrique Eduardo Alves às presidências, respectivamente da Câmara e do Senado, está oferecendo aos dois peemedebistas apoios às candidaturas deles aos governos de seus Estados : "O que Dilma tem contra AL e o RN para querer tão mal às suas populações?". Realpolitikagem Análises, indignações e aplausos de várias tonalidades surgiram desde que Lula cedeu aos encantos de Maluf e foi confraternizar-se com o ex-governador, ex-prefeito e deputado nos jardins de sua casa para angariar minutos eleitorais para a candidatura de Fernando Haddad à prefeitura paulistana. Lula não está sozinho nesses gestos, o dele foi apenas mais descarado. José Serra carrega nos braços o PR de Valdemar Costa Neto e do DNIT. Gabriel Chalita tem o PMDB e só não pegou ninguém até agora porque está sem charme eleitoral. Luiz Flávio D'Urso, pretenso candidato do PTB, se oferece para vice, pode ser tanto de Haddad como de Serra. E por aí vai a vergonha partidária nacional. Não é só São Paulo que está nesse caminho. A realidade é que o Brasil vive o auge da "realpolitikagem", extraordinária definição para nossa mancebia política cunhada pelo humorista Luis Fernando Veríssimo. E podem ter certeza de que dias piores virão em outras eleições, pois não há nenhum indício de que o apodrecido sistema eleitoral e partidário brasileiro possa sofrer alterações. Para pior, porque piorar é sempre possível. O verdadeiro inimigo Nas forças governistas, PT e PMDB vivem em eterna vigilância - um contra o outro, um com medo de levar uma rasteira do outro. Mas os dois já começam a desconfiar que podem estar dormindo com um nada discreto inimigo em casa - o PSB. As manobras do governador Eduardo Campos despertam a suspeita de que ele está se preparando para dois cenários em 2014 : desalojar o PMDB do lugar de parceiro preferencial do PT numa possível reeleição de Dilma ou, se o cavalo passar arriado, logo saltar para uma candidatura presidencial. Por mais paradoxal que seja, com a ajuda de Lula. No afã de derrotar José Serra de toda maneira em São Paulo, o ex-presidente está abrindo espaços para Campos que petistas já consideram excessivos. Sem régua e sem compasso Não em razão das sequelas do tratamento do câncer, visíveis nas dificuldades que ele exibiu durante algum tempo para caminhar e nas dificuldades ainda para utilizar seu principal instrumento, a voz, mas por falta de medida, por falta de crítica e autocrítica, o fato é que o ex-presidente Lula exibe indícios de perda de sua decantada sensibilidade política. Fora da presidência e sem temperamento e formação para ser um ex-presidente comum, parece ter perdido a régua e o compasso. Quanto mais Dilma firmar o seu próprio governo, mais Lula se inquietará. Dirceu e seu estado-maior Quem viu e/ou esteve envolvido com as providências para a defesa de José Dirceu no julgamento do tal do "mensalão" ficou impressionado com a organização do petista. Pareceres jurídicos de conhecidos advogados somam-se ao trabalho de especialistas em redes sociais, assessoria de imprensa e analistas políticos. Tudo ao gosto aguerrido do atual lobista de interesses privados e ex-combatente político nas fileiras petistas. Todo mundo está sendo bem pago e em dia. Eis um empreendimento privado de sucesso. Para gosto do gestor. Uma cama para Dilma O governo apressou nos últimos dias a liberação de verbas das emendas parlamentares, antes que entre em vigor a proibição da transferência de recursos para Estados e municípios em ano eleitoral. O governo quer com isso empurrar os gastos nos Estados e municípios para aquecer a economia e, ao mesmo tempo, adoçar um pouco a boca de deputados e senadores aliados. Mesmo assim não está conseguindo conter as insatisfações da base governista. Há quem esteja prevendo para breve uma derrota do governo em alguma votação no Congresso. Pode ser na Câmara. Uma possibilidade é o projeto que acaba com o fator previdenciário, defendido pelas centrais sindicais e por uma ala do PT e do PMDB. A pressão é para que Marco Maia bote o projeto na pauta esta semana. A oposição, sonhando acordada ? São tantas as idiossincrasias eleitorais entre os partidos aliados que a oposição já esta refazendo suas contas e acreditando que poderá ter um desempenho no pleito municipal bem melhor do que imaginava em suas conversas reservadas. Acreditam os oposicionistas que as disputas principalmente entre PT, PSB e PMDB para fazer o maior número de prefeituras possíveis acabará trucidando-os em muitos lugares. A questão é saber o que a própria oposição está fazendo para ficar com esse espaço. Nunca se viu uma oposição no Brasil tão dividida, tão apática, tão sem garra. Do modo como as coisas estão, se oposicionistas e governistas trocarem de lado, é bem provável que o eleitor nem perceba. Uma longa recessão Está cada vez mais consensual a percepção de que a crise internacional pode demorar ainda de três a cinco anos. Os seus efeitos econômicos já estão espalhados, sendo que a atividade econômica, bem como os seus efeitos sobre o emprego, o investimento e as finanças públicas das economias estão em fase de "consolidação". Restam os efeitos políticos os quais tem propiciado mudanças de governo sem que isso represente ainda mudanças de rumo. É a política que alterará para pior ou para melhor o andamento da economia mundial. Faltam lideranças para tanto, mesmo porque as soluções passam por extensas e dolorosas mudanças no trato das questões internacionais. Por enquanto, os políticos cuidam de seus quintais, como no caso da Alemanha e dos EUA, o que gera um jogo de baixa colaboração entre os países. Nas próximas duas semanas veremos os efeitos das negociações no âmbito da UE em Bruxelas. A Grécia voltará à pauta desta feita acompanhada pelas crises agudas na Espanha e na Itália. Angela Merkel está se enfraquecendo, mas no lugar de suas estapafúrdias propostas econômicas nada está sendo colocado que fique de pé. Os mercados Não se tenha em mente alguma tranquilidade sustentável nos diversos segmentos do mercado financeiro e de capital ao redor do globo. Ao contrário, as posições "compradas" que apostam num maior otimismo no cenário externo estão se enfraquecendo. Alguns potentes segmentos de mercado, sobretudo os hedge funds, se preparam para fazer apostas na piora ainda maior da situação da Espanha e da Itália, além de acreditarem no enfraquecimento do euro. Na margem, o Brasil e a Índia estão entre os piores emergentes. A China parece que vai sustentar uma taxa de crescimento expressiva, porém decrescente. O sistema financeiro está frágil, mas suficiente pronto para apostar no agravamento ainda maior da crise externa. Tudo indica que, desta feita, os efeitos sobre o Brasil serão mais severos. Como explicar ? A economia brasileira está visivelmente desacelerada. No entanto, o desemprego está caindo : passou de 6% em abril para 5,8% em maio segundo o IBGE. Quais as razões desse aparente paradoxo ? É sustentável nesta situação em que o crescimento do PIB deve ficar, segundo as mais diferentes análises, em torno dos 2% este ano ? É para já Esta semana sai mais um pacotinho de medidas para provocar a elevação do PIB. A paciência da presidente Dilma está a cada dia mais curta. Tudo com o olho no curto prazo mais do que no longo prazo. Gasolina e contas públicas Mais uma vez, para não aumentar a gasolina e o óleo diesel para o público e não despertar a no momento adormecida inflação, o ministério da Fazenda autorizou a Petrobras a aumentar os preços desses combustíveis nas suas refinarias e zerou a CIDE. Com isso, ele abre mão de uma receita de cerca de R$ 420 milhões mensais. Isso quando a arrecadação tributária está crescendo menos que o previsto e há pressões para a desoneração de mais impostos para as empresas. Como fica, então, o superávit primário, que é uma das garantias que o BC tem para continuar diminuindo os juros ? Não fica. É cada vez mais certo que o governo adotará a prerrogativa de abater gastos do PAC da conta do superávit. A dúvida é saber até quando o artificialismo econômico vai funcionar. Radar NA REAL 22/6/12 TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA estável estável/alta - Pós-Fixados NA baixa baixa Câmbio ² - EURO 1,2489 baixa baixa - REAL 2,0716 baixa estável/baixa Mercado Acionário - Ibovespa 55.439,50 estável/baixa estável - S&P 500 1.335,02 estável alta - NASDAQ 2.892,42 estável alta (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável Cautela e caldo de galinha Depois das duras reações iniciais ao impeachment de Fernando Lugo no Paraguai, quando chegou a avisar que o gesto extremo do Congresso paraguaio "teria consequências", a presidente Dilma está moderando nas suas posições. A suspensão do Paraguai da Unasul e do Mercosul é um gesto político forte, mas com consequências mais simbólicas do que todo o resto. O governo brasileiro fez questão de dizer que não haverá embargo comercial e todos os acordos bilaterais entre Brasil e Paraguai estão mantidos. Ou seja, a vida continua. É racional a cautela brasileira : Itaipu, brasiguaios, fronteiras porosas... De imediato, neste lado sul do continente latino-americano, a maior preocupação para o Brasil é a situação econômica da Argentina. Contas a pagar Já são três as contas do passivo do ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota, na contabilidade do Palácio do Planalto : 1. A viagem pouco expressiva de Dilma aos EUA. 2. As críticas que sobraram para o Brasil por causa do pouco ambicioso documento final da Rio+20. 3. A surpresa do impeachment do presidente do Paraguai, Fernando Lugo. Há tempos a situação política dele era gravíssima. Patriota pode conquistar pontos se conseguir conduzir com habilidade as retaliações aos paraguaios. Mas já há contagem regressiva no Palácio do Itamaraty. O fracasso da Rio+20 Quando os interesses são difusos, mesmo que sejam importantíssimos, a cooperação tem de ser reforçada. Quando não há cooperação internacional, o fracasso é retumbante. Foi o que aconteceu com a Rio+20. A ausência dos principais líderes mundiais e a falta absoluta de consenso, no momento delicado da economia internacional, jogaram a conferência para o fracasso. O Brasil percebeu isso com certa rapidez e tratou logo de colocar em pauta um texto de encerramento da conferência insosso e irrelevante. Eis a glória da diplomacia pragmática e pouco ambiciosa de Antonio Patriota e seu parceiro Luiz Alberto Figueiredo Machado. Rio+20 e o marketing Não faltaram marcas famosas dando apoio para a Conferência de Sustentabilidade, a Rio+20. O governo pareceu privatizar o evento. Em meio a tanto engarrafamento na Cidade Maravilhosa a exposição das marcas até que foi um sucesso. Tinha-se tempo para olhar as placas de apoio enquanto se esperava o trânsito fluir. Devagarinho, é claro. Em estado de alerta Cerca de 90% das universidades Federais e alguns institutos superiores oficiais de ensino estão parados há mais de um mês por uma greve de professores, sem sinais de um acordo. Semana passada funcionários do Itamaraty em diversas embaixadas e consulados no Exterior pararam - e é possível que finda a Rio+20 haja paralisações em Brasília também. Os metrôs federais saíram recentemente de uma greve, os funcionários do Judiciário fizeram várias manifestações na capital por aumentos salariais. Os auditores fiscais estão em operação-padrão há mais de uma semana, prejudicando movimentação de mercadorias e reduzindo a arrecadação de impostos aduaneiros. A PF também está se preparando para apresentar suas reivindicações salariais. Sindicatos dos servidores em Brasília já fizeram mais de uma reunião para discutir o que fazer : querem começar decretando estado de greve. A pax sindical dos tempos de Lula está por um fio. Parafraseando Brecht O que são os arrastões nos restaurantes de São Paulo quando comparados aos preços que eles andam cobrando ? Muitas pessoas estão deixando de comer em restaurantes não propriamente por medo dos meliantes, mas por estarem assustadas com as contas. ____________
terça-feira, 19 de junho de 2012

Política & Economia NA REAL n° 202

A Grécia votou Não se pode dizer que os gregos deixaram de votar pensando em ficar na chamada "eurolândia". Afinal de contas, a Nea Democratia é o partido que incorpora a visão mais eurocentrista dentre todos os partidos gregos. Além disso, a coalizão a ser formada pode alcançar uma maioria relativamente folgada num país que viveu uma inusitada fragmentação política. A pressa em formar um novo governo e a tentativa de atrair para a coalizão mais que os partidos "tradicionais" indicam que os gregos buscam uma saída para a tragédia na qual entraram. Todavia, a probabilidade de ficar no euro é pequena. Isso porque nos próximos meses haverá um grande acúmulo de pagamentos e as pressões sobre o novo governo serão enormes. A disposição da Alemanha de Merkel em flexibilizar a rigidez fiscal está muito mais vinculada ao necessário proselitismo pró-europeu que algo efetivo para que os países voltem a crescer. De toda a forma uma coalizão mais sólida entre os helênicos pode servir para que a saída do euro seja possível, sem que isso provoque uma hecatombe. Veremos. Espanha e Itália O risco da Espanha já está em níveis da América Latina dos anos 80. O mais incrível é que a União Europeia já injetou 100 bi de euros para salvar o sistema financeiro e os analistas acreditam que serão necessários mais 80-90 bi para que exista estabilização. Enquanto isso, os investidores, dotados do famoso espírito de "debandada", já voltam seus canhões especulativos para a Itália. A cada leilão de títulos públicos o risco-país sobe e o financiamento se torna mais penoso para o erário. A sina da Itália será igual a dos outros países meridionais da Europa e a Irlanda. Todos sabem disso, mas o jogo geopolítico da Alemanha ainda permanece suficientemente forte para evitar uma revisão mais drástica do processo. A calmaria durará pouco Talvez os mercados ainda reajam nos próximos dias às notícias da eleição grega e da melhoria da volatilidade. Mas a coisa está mais para "tiro curto". Não há nada suficiente para reverter este processo agudo de contenção do crédito. É certo que não é hora para os otimistas, mas não deixa de ser horrível ter que dizer que o pior pode não ter passado. Não vai jogar a tolha, mas... O ministro Guido Mantega vai continuar jurando de pés juntos que o PIB semestral brasileiro, de julho a dezembro, será de 4,5%. Contudo, hoje todo o esforço da política econômica está voltado para não deixar a economia derrapar abaixo dos 2,5%. Mas será que funciona colocar o PIB num elevador movido a empréstimos - crédito para o consumidor e, agora, dinheiro para os governos estaduais ? No caso dos governos estaduais, inclusive, quem garante que eles não vão pegar recursos no BNDES para investimentos já programados, liberando recursos para outras despesas muito apreciadas em anos eleitorais ? Os pacotinhos estão saindo, mas... ... está faltando uma parte na contribuição que a presidente Dilma deseja que o setor público dê para acelerar o ritmo da economia brasileira : um ajuste nas contas oficiais, com cortes de despesas desnecessárias, para sobrar mais dinheiro para obras e investimentos. Não há incompatibilidade entre ajuste fiscal e investimentos, ao contrário do que querem fazer crer a "obtusidade córnea e má fé cínica" de alguns analistas oficiais e oficiosos. Satisfeitos, mas nem tanto Ninguém recusa dinheiro - e ainda mais uma boa bolada - oferecido com vantagens, como é o caso da linha de crédito de R$ 20 bi oferecidos pelo governo Federal aos governadores, via BNDES, com juros de família, de 7,1% ou 8,1% (com e sem aval). Agora, os 27 chefes de Executivo estaduais vão brigar para ver como o bolo será dividido, qual a cota de cada um nesse latifúndio. Tem também na mesa mais R$ 39 bi do BB. Tudo para obras e investimentos. Os governadores gostariam, porém não era isto - ou só isto - que eles queriam. O que eles pretendem mesmo do governo Federal é dinheiro para valer, não apenas empréstimos. Eles querem melhorar seu fluxo de receitas, permanentemente. Os governadores se queixam da perda de participação no bolo tributário nacional. Querem ver na mesa, por exemplo, a definição da nova divisão dos royalties do petróleo. Só depois aceitam discutir mudanças mais profundas no ICMS. Ninguém reage, mas... As cobranças da presidente Dilma a seus ministros, para que sejam mais ágeis ao tocar a máquina do governo, principalmente no que diz respeito à liberação de recursos para investimentos e programas, estão ficando cada vez mais duros. E incomodam. Mas ninguém reage abertamente. No privado, no entanto, muitos se justificam dizendo que o problema não é de seus ministérios e sim do "detalhismo" da presidente, que tudo quer ver e interferir nos mínimos detalhes, bem como da Casa Civil, por onde tudo tem de passar e não tem a agilidade que a presidente acha que deve ter - ou tinha no tempo dela. As orelhas de Gleisi Hoffmann devem arder todos os dias. Outras que estão ardendo um tanto são as da ministra do Planejamento, Miriam Belchior. As duas estão começando a criar a fama de "engavetadoras". Radar NA REAL 15/6/12 TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA estável estável/alta - Pós-Fixados NA baixa baixa Câmbio ² - EURO 1,2585 baixa baixa - REAL 2,0609 baixa estável/baixa Mercado Acionário - Ibovespa 56.104,69 estável/baixa estável - S&P 500 1.348,84 estável alta - NASDAQ 2.872,80 estável alta (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável Encanto quebrado ? A greve em mais de 50 universidades e instituições superiores de ensino federais caminha para completar seu primeiro mês. Parece o primeiro sinal claro de que os dias da pax sindical que Lula celebrou com as centrais sindicais e o funcionalismo público Federal estão contados. Já houve paralisações nos metrôs federais e, na semana passada, boa parte dos médicos do SUS pararam por um dia. E, como se diz nos meios sindicais, "há indicativos" de que outros movimentos podem pipocar em greve. Uma turma do judiciário já fez manifestação pública na última sexta-feira. Paredes com ouvidos Certo hospital de SP - e acerta quem pensar no Sírio-Libanês - além de praticar excelente medicina, por motivos óbvios tem também dotes políticos, palco que é de atendimento de grandes figuras da República. Suas paredes são ágeis. Semana passada, dois personagens que bem conhecem tanto Dilma quanto Lula, pois prestaram atendimento a ambos, trocaram algumas confidências e concluíram que Dilma está afastada demais dos políticos, ao contrário de seu antecessor. E que isto pode sair caro para ela. Até aí não tem nada demais : o mundo político não ligado à presidente, mesmo seus aliados, pensa a mesma coisa. O intrigante é que o diagnóstico parece ter saído do pensamento do "Grande Eleitor". CPI : não adianta correr Vexames à parte, é inevitável a convocação do dono da empreiteira Delta, Fernando Cavendish, para depor na CPI. Há apenas um refresco esta semana porque se descobriu em Brasília que os deputados e senadores são imprescindíveis para os debates sobre os rumos do planeta na Rio+20 e estabeleceu-se um recesso branco na Câmara e no Senado. Porém, com a história da "tropa do cheque" e as primeiras revelações da quebra do sigilo bancário, fiscal e telefônico da empresa em todo o país, não haverá muitos parlamentares dispostos a botar a cara para bater. Nem com a blindagem que o PMDB e o PT criaram. O próprio Planalto, mesmo temendo alguns respingos pela proximidade da Delta com o PAC, não vai se meter neste pantanal para salvar quem quer que seja. A convocação do ex-diretor do DNIT, Luiz Antônio Pagot, também não escapa. A estratégia para evitar mais desastres será garantir a convocação, mas sem data para o depoimento, jogando tudo para agosto, depois do recesso parlamentar, na esperança de que o julgamento do mensalão e a campanha eleitoral arrefeçam as repercussões. As contas da Delta Esta coluna teve uma conversa reveladora sobre os pagamentos da Delta para "intermediários" das obras contratadas. Segundo as denúncias, incluídas as originadas das operações policiais, a Delta pagou algo como R$ 145 milhões às empresas suspeitas. Nossas informações de um profissional que detalhou as contas dos últimos quatro anos da empresa "está faltando dinheiro"... Ou seja, mais revelações virão à tona. Ou servirão para que as luzes não recaiam sobre os distintos beneficiários... Só de longe Quanto ao mensalão, não há hipótese de o Palácio do Planalto, se envolver ainda que muito discretamente, por baixo do pano, em qualquer coisa que diga respeito ao julgamento no STF. Bem que os envolvidos e seus padrinhos gostariam de algum gesto nesse sentido, porém vão ficar esperando sentadinhos para não cansarem muito. A turma de Dilma quer distância dessa bomba, é questão de outra turma. Também não muito perto O envolvimento da presidente Dilma na campanha eleitoral, a favor dos aliados, deverá ser muito menor do que todos gostariam vê-la ainda mais com a popularidade dela andando lá pelos 80%. Há pelo menos duas razões para isso : (1) ela quer manter uma posição mais institucional ; (2) há muita confusão entre os aliados em várias cidades importantes e isso pode criar problemas para ela com a base, quando algum partido se sentir preterido. A presidente vai ajudar, permitindo imagens nos programas eleitorais, até gravando mensagens. E dando ajudas indiretas, como fez esta semana ao reservar um lugar para um indicado de Maluf para o ministério das Cidades em troca do apoio do PP malufista ao petista Fernando Haddad em SP. Nada do engajamento do antecessor. No segundo turno esta determinação pode mudar. Bananão e bananinhas Morreu semana passada em Londres o jornalista e escritor Ivan Lessa, dono de um texto sofisticado e de fina ironia. Costumava chamar o Brasil de "Bananão", embora não deixasse de amar o país a seu modo e distante desde o fim dos anos 1970. O que a CPI fez na semana passada, com as mornas inquirições dos governadores Marconi Perillo (PSDB/GO) e Agnelo Queiroz (PT/DF) e a recusa em convocar para depor Fernando Cavendish e Luiz Antônio Pagot, parece uma homenagem do Congresso a Lessa - para provar que em matéria de política continuamos cada vez mais uma república bananeira, um Bananão. Pêndulo eleitoral 1 De repente, o PT de SP, que parecia caminhar para o isolamento na disputa pela prefeitura paulistana, deu a impressão de sair da solidão. Na sexta-feira, conseguiu, com uma mãozinha da presidente Dilma e o grande empenho de Lula, dois trunfos eleitorais : emplacou Luiza Erundina, do PSB, uma política de boa imagem, e arranjou o apoio do PP de Paulo Maluf. Assim, aumentou o tempo no horário eleitoral obrigatório no rádio e na televisão. E ficou com a que, nas circunstâncias poderia ser a melhor vice para o quase desconhecido Haddad. Porém, nem bem saboreava essas vitórias e mais o resultado da pesquisa DataFolha divulgada no domingo, com seu candidato saindo da estagnação em que se encontrava a meses, passando de 3% para 8% nas intenções de votos dos paulistanos, o PT sofreu um duro revés. Erundina, que até havia ensaiado algumas justificativas para estar do mesmo lado de Maluf, um político que ela detesta e do qual sofreu muitas agressões, tão de repente quando aceitou ser vice de Haddad, anunciou que vai rever sua posição - na verdade, disse que não quer mais o lugar - seu estômago revelou-se delicado demais para engolir o malufismo. Lula, dirigentes do PT e do PSB ainda tentarão demover Erundina. Parece difícil. Agora, é medir o prejuízo que isso pode trazer para a campanha de Haddad. Pêndulo eleitoral 2 No campo adversário, o PSDB de José Serra, que parecia navegar em águas limpas, além de perder os minutos eleitorais do partido de Maluf, está enrolado em tremenda confusão por causa da formação da chapa de vereadores de sua aliança. Ele quer um blocão, exigência dos outros partidos para apoiá-lo, porém a turma de candidatos do PSDB não quer a aliança nas eleições proporcionais, com medo de perder vagas especialmente para o pessoal do PSD de Gilberto Kassab. Mal estar Estão cada vez maiores as indisposições entre o PT e o PMDB e deste também, embora não confessada, com o governo Federal. Bons peemedebistas nem desconfiam mais, têm quase certeza de que se prepara uma cama para deixá-los mal nas disputas pelas prefeituras e diminuir seu poder de fogo na aliança governista. O epílogo desse processo seria cortar as candidaturas de Renan Calheiros à presidência do Senado, de Henrique Alves à presidência da Câmara e trocar de vice na chapa de uma reeleição de Dilma. Rio+20 Quem for ao maior encontro sobre sustentabilidade nos últimos anos no planeta vai descobrir que os resultados objetivos da reunião foram deixados de lado pelos participantes, sobretudo pelos países mais desenvolvidos. Todavia, a simbologia mais intrigante do evento é o fato de se ver o Rio congestionado de carros, sem capacidade de operar eficientemente seu transporte público e os serviços (públicos e privados) de qualidade duvidosa. Haverá quem acredite que até a Copa e as Olimpíadas as coisas melhorem, mas a amostra destes primeiros dias nas terras cariocas foi sofrível. Os correspondentes estrangeiros O cenário era eleitoral : os correspondentes estrangeiros de São Paulo elegiam uma nova diretoria para a sua associação na Escola de Direito da GV. Dois candidatos concorriam. Os programas eleitorais tinham lá suas divergências em termos de administração e finanças. Todavia, no tema mais importante todos concordavam : o governo Dilma piorou muito as relações com os jornalistas de órgãos internacionais. Estes não conseguem entrevistas com pessoas-chaves do governo, não tem acesso ao Planalto e nem aos governos estaduais. Dizem que o Brasil está em alta na mídia estrangeira, mas que, por aqui, os governos não dão bola para os correspondentes. Falta matéria-prima para "vender" lá fora. ____________
terça-feira, 12 de junho de 2012

Política & Economia NA REAL n° 201

Agora a Espanha - I O conservador Partido Popular ascendeu à chefia do governo espanhol com a sua tradicional pregação pró-mercado. Encantou a maioria do eleitorado, incluso o mais jovem, com o ideário genérico da "austeridade". A mesma pregação da alemã Angela Merkel, a mulher sem graça que tenta incorporar o espírito de Thatcher, a dama de ferro. Pois bem : depois de cerca de seis meses de governo, Mariano Rajoy teve de pedir a bagatela de 100 bi de euros para que o sistema financeiro do país não quebrasse. Ressalta-se que este pacote assiste tão somente aos problemas financeiros e nada se destina à tragédia do desemprego galopante de cerca de 25% da força de trabalho (mais de 50% entre os jovens até 30 anos). Ademais, esta é a segunda intervenção do sistema monetário europeu nos bancos do país - grande parte da injeção de recursos por parte dos maiores BCs do mundo ao final do ano passado foi parar nas mãos dos espanhóis. Agora a Espanha - II O ideário pretensamente liberal de Mariano Rajoy era uma farsa, isso até os ossos de Lord Keynes já sabiam. Afinal, o tal do "mercado" é uma ficção ideológica cada vez mais sem lugar no cotidiano. O mais incrível é que a bolha imobiliária que causou este processo foi engendrada pelos conservadores espanhóis, agora socorridos pelo sistema europeu. A austeridade caberá, sobretudo, ao povo espanhol que terá de despejar suas moedas na sacola estatal que viabiliza tudo isso. A Espanha se junta, assim, ao seleto grupo da Europa meridional, composto por Portugal e Grécia e, do outro lado, os desesperançados irlandeses que votaram, há dois fins de semana, na austeridade da senhora Merkel. Ainda falta a solução da Itália, esta mais vigorosa para se sustentar no curto prazo, mas igualmente carente de crescimento. Agora a Espanha - III Poderemos ter um pouco de calma nos próximos dias. Todavia, em breve, os helênicos voltarão a votar (no próximo dia 17) e a fragmentação política do país gerará mais tensão ao Velho Continente. É quase certa a vitória do Syriza, contrário ao acordo, muito embora seja possível uma coalizão (intrigante) entre o Socialista Pasok e o conservador Nea Democratia. De todo modo, a pequena Grécia caminha para sua saída do euro. Será ao mesmo tempo uma tragédia (sem trocadilhos) e uma esperança. Quem viver, verá. Afora isso, pode-se afirmar que não há nenhuma possibilidade concreta de que possa se reverter o dramático quadro social de toda a Europa. A política de austeridade de Merkel persiste levando o Continente para a beira do precipício. Enquanto, não se adotar um receituário expansionista do ponto de vista monetário e fiscal, o destino da Europa está mais para a depressão econômica que a simples recessão. Em tempos de Eurocopa, melhor torcer contra a política econômica da Alemanha. Não apenas nos gramados. E o FMI, quem diria ! Da Christine Lagarde, diretora-gerente do FMI, um dia antes do Comissariado Europeu decidir despejar até 100 bi para resgatar os bancos da Espanha : "As autoridades políticas tem de deixar os mercados com suas ações em lugar de permitir que os medos do mercado guiem suas políticas." A Espanha pediu e a União Europeia agiu por puro medo do mercado. CPI : o barulho e o tsunami Os depoimentos dos governadores Marconi Perillo (PSDB/GO) e Agnelo Queiroz (PT/DF), hoje e amanhã na CPI Cachoeira-Delta, vão fazer uma barulheira política, com os petistas tentando comprometer os tucanos e vice-versa. Porém, será um barulho muito mais eleitoreiro do que tudo, até porque o Congresso não pode fazer nada com os dois, se seus desvios suspeitos forem comprovados. Eles só podem ser cassados pelas respectivas Assembleias Legislativas nos Estados (Câmara Distrital em Brasília) ou depois de longo processo no Supremo. Barulho de verdade, tsunami mesmo, virá quando a Comissão, inevitavelmente, mergulhar nos negócios da Delta. As últimas informações do Coafi enviadas à CPI são, segundo pessoas que manejaram os documentos, de tirar o sono de muita gente, multipartidariamente. Rindo sozinho. Até quando ? Com o PSDB e o PT em guerra esta semana na CPI Cachoeira-Delta, enrolados hoje no depoimento do governador Marconi Perillo, tucano de GO, e amanhã no de Agnelo Queiroz, petista do DF, o PMDB está uma felicidade só. Em parte ele armou esta confusão para os dois concorrentes mais perigosos do PMDB nas eleições municipais : uniu-se aos tucanos para chamar o depoimento de Agnelo e aos petistas para convocar Perillo. Esta alegria pode durar pouco : petistas e tucanos preparam o troco para trazer Sérgio Cabral à CPI quando a empreiteira Delta entrar na berlinda de fato e de direito. Nessa hora, não haverá amizade do governador fluminense com o ex-presidente Lula e com o senador Aécio Neves. A vingança de petistas e tucanos será comida crua mesmo. PT : de nau sem rumo a nau com novo rumo ? O raciocínio que se segue é de um petista de escol, de bem com o partido e de bem com a vida, mas que, por motivos óbvios, não quer (ainda) se identificar para não cair na roda da inquisição dos companheiros mais intolerantes. Entende o interlocutor que seria útil ao PT passar por alguns "sustos" nas eleições municipais deste ano, com derrotas em cidades consideradas "chaves" para a legenda, para que os petistas revejam suas políticas dos últimos anos e retome o leito perdido quando se rendeu totalmente à realpolitik nacional. Parafraseando Delúbio Soares em uma reunião do PT, que discutia botar na internet as contas do partido, o interlocutor diz que "concessões como estão sendo feitas, alianças como estão sendo praticadas, é burrice demais". Ele lembra que a militância petista tradicional já não tem o entusiasmo de sempre - há apenas uns poucos remanescentes dos bons tempos nas ruas, a burocracia do partido e muitos assalariados temporários. Para encher convenções é preciso patrocinar alguma coisa. O partido está cada vez mais dependente do ex-presidente Lula. E, com todo respeito, diz, Lula não é eterno nem eternamente infalível em suas projeções políticas. Por fim, mesmo sendo paulista e paulistano, acredita que seria útil que o PT ficasse menos atrelado às coisas de SP. O mensalão em foco - I A entrevista do ex-ministro Márcio Thomaz Bastos, advogado de um dos réus do processo e autor da tese de que o mensalão não passou de um jogo de "recursos não-contabilizados", a um programa de televisão no fim de semana em SP, revela a surpresa que tomou conta de suspeitos e de suas equipes de defensores com os rumos que o processo tomou nos últimos tempos no STF. Os sinais, vindos de vários causídicos de acusados das estripulias mensaleiras, era de que eles esperavam - ou será que tinham ilusória certeza - que o julgamento seria postergado para o ano que vem. Por obra e graça de algum "espírito" desconhecido, dava-se como certo de que nada ocorreria neste ano. Talvez por que estivessem tão crentes, tão confiantes nesta possibilidade, é que tenham colocado as chamadas "manguinhas de fora". E a situação, que parecia segura, se inverteu. O mensalão em foco - II O STF encheu-se de brio. Não foi por pressões da opinião pública, pois esta ainda não entrou no clima do jogo, e nem por culpa da sempre culpada imprensa, que não tem a influência que se lhe atribui quando as coisas imaginadas pelos estrategistas políticos não dão certo. Foi muito mais por causa das provocações e o ar de superioridade exibido sem certo pudor pelos defensores e amigos dos acusados. Pode-se ter certeza de que o movimento da CPI Cachoeira-Delta e o encontro Lula-Gilmar Mendes (via Nélson Jobim) foram decisivos para a decisão do STF de tentar encerrar o processo até setembro. Qualquer movimento parecido com essas duas desastradas ações só pode aumentar os brios do Supremo e prejudicar, ainda mais, a defesa dos réus. É uma questão de matemática O governo não admite publicamente que reduzirá, como permitido pela lei de Diretrizes Orçamentárias, a meta de superávit primário deste ano, abatendo do total parte dos investimentos do PAC. Vai deixar simplesmente que ocorra. Avisar antes pode aumentar as desconfianças dos agentes econômicos externos e obrigar o BC a continuar justificando a baixa contínua da Selic. A ordem é acelerar os investimentos públicos - e como a arrecadação não está subindo no ritmo previsto nem as despesas correntes estão de fatos contidas, não dá para investir num ritmo maior do que foi feito até o fim de maio e, ao mesmo tempo, ficar com o superávit cheio de 3,1% do PIB. Até os milagres têm limite. É uma questão de matemática. Os planos de aceleração dos investimentos - I Da lista de medidas que se especulava em Brasília a serem possivelmente adotadas pelo governo para, de sua parte, acelerar a retomada de um ritmo mais acelerado de crescimento da economia nacional, duas já saíram do papel semana passada - a CEF reduziu os juros e ampliou o prazo para financiamentos da casa própria e o BNDES cortou os juros de empréstimos para capital de giro das empresas. Os planos de aceleração dos investimentos - II E novas providências foram incluídas no rol das medidas em estudo : 1. O aumento da capacidade de endividamento dos Estados e municípios. 2. Criar um RDC para compra de equipamentos para as áreas de saúde e educação. 3. Aumentar o limite de refinanciamento de dívidas bancárias com incentivo tributário de R$ 30 para R$ 100 mil. 4. Mudar artigo da lei de Responsabilidade Fiscal para tirar exigências de contrapartidas - novos impostos, aumentos de alíquotas - para concessão de incentivos fiscais. 5. Estabelecer juros mais baixos e regras mais generosas para financiamentos agrícolas. 6. Dar maior prazo para as empresas recolherem impostos federais. 7. Ampliar e antecipar as compras governamentais, com preferência para empresas nacionais com diferença de preço até 25%. Como Dilma está "no pé" de seus ministros, com cobranças diárias, o pacote deve ser acelerado esta semana. Cair na realidade Do economista José Roberto Mendonça de Barros, em artigo no "Estadão" de domingo : "É impossível não ver que temos aqui um problema muito maior do que uma flutuação conjuntural e que é hora de parar com avaliações triunfalistas ou a denúncia de conspirações internacionais. Num mundo que vai crescer menos, a disputa vai se elevar, e o que vai falar mais alto é a capacidade de competição de cada país." Efeito dominó ? Sem ver riscos de uma "crise sistêmica" no setor bancário brasileiro, alguns analistas dizem que o Banco Cruzeiro do Sul não vai fechar agora a lista de instituições financeiras brasileiras em dificuldades, sob intervenção ou vendidas à força, numa lista que inclui, entre outras, o Banco Panamericano, o Banco Schahin, Matone, Morada... Para esses analistas, na conformação atual do sistema financeiro do Brasil, os pequenos bancos vão se tornando inviáveis. Uma das preocupações da presidente Dilma é evitar a concentração bancária no Brasil. Radar NA REAL 8/6/12 TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA estável estável/alta - Pós-Fixados NA baixa baixa Câmbio ² - EURO 1,2534 baixa baixa - REAL 2,0329 baixa estável/baixa Mercado Acionário - Ibovespa 54.429,85 estável/baixa estável - S&P 500 1.325,66 estável alta - NASDAQ 2.858,42 estável alta (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável ____________
terça-feira, 5 de junho de 2012

Política & Economia NA REAL n° 200

PIB : Riscos e oportunidades (I) Não foi totalmente inesperado, mas teve uma dose relevante de surpresa a divulgação do crescimento de apenas 0,2% no primeiro trimestre deste ano, comparado ao mesmo período do ano passado. Neste ritmo, o PIB anual cresceria ao redor de 2%. Deixemos de lado o resultado (excepcionalmente ruim) do setor agrícola. O crescimento da indústria foi de 1,7% e do setor de serviços foi 1,3%. Ambos continuam com desempenho mensal muito fraco - o crescimento da indústria foi levemente negativo em abril (-0,2%). A análise dos segmentos da indústria e de serviços indica que o país tende à estagnação de vez que o consumo das famílias está positivo, mas está caindo em função da estabilização do mercado laboral e, principalmente, em função do endividamento pessoal. Ou seja, enquanto a indústria patina, o resultado do PIB flutuará em função do consumo. A agricultura permanece como a "incógnita" da equação. PIB : Riscos e oportunidades (II) O resultado do PIB no primeiro trimestre deste ano indica que não há espaço para o governo repetir a estratégia de 2008/09 para que o PIB do país cresça. O estímulo ao investimento e seus correspondentes reflexos sobre a competitividade brasileira são aspectos necessários, muito embora não suficientes para que o PIB retorne ao patamar de pelo menos 5% de crescimento. O estímulo ao investimento privado dependerá, do lado do empresário, da taxa de juros, mas especialmente da desoneração fiscal. Do lado do mercado é preciso alimentar o consumo doméstico. No que tange ao investimento público a coisa é mais complicada : há um "nó" que mistura problemas de regulação, eficiência de execução e problemas de litígio intra e extra no Estado. PIB : Riscos e oportunidades (III) Pelas razões acima relacionadas a questão do crescimento se tornou mais complexa que em 2008. Além disso, o contexto internacional indica um quadro de piora e não de melhora. Estes são os riscos. A oportunidade consiste em aproveitar a atual conjuntura e organizar o governo para exercer o seu papel de estimulador do crescimento. Não há no âmbito do governo "centros de planejamento e execução" de políticas públicas voltadas para o investimento. O próprio ministério do Desenvolvimento carece de mais poder para propor políticas. Ademais, o PAC necessita de uma gestão mais ativa, seja na fiscalização, seja na concepção e na implementação de investimentos públicos. O Brasil não pode confirmar a percepção de que o seu crescimento é débil e insustentável. É preciso reverter este quadro. Com paciência e gradualismo, porque não será uma tarefa fácil. Investimentos : alguns dados Para ficar num eufemismo, o governo continua demonstrando um extraordinário déficit de execução. Até abril, os gastos do PAC foram inferiores aos realizados no mesmo período em 2010 e 2011. Obras prioritárias como a transposição do rio São Francisco e a Ferrovia Norte Sul estão com seus cronogramas totalmente estourados - em anos, não simplesmente em dias ou meses. O DNIT acaba de confessar que 30 mil quilômetros de estradas dos poucos mais de 50 mil sob sua responsabilidade estão sem contratos de manutenção - e a maioria em frangalhos. Mais uma vez foi adiada a assinatura dos contratos de concessão dos aeroportos de Guarulhos, Viracopos e Brasília. O PIB e o capital político do governo O PIB é conceito incompreensível para a imensa maioria da população brasileira, uma abstração que não entra no seu estômago nem no seu bolso, assim como outros conceitos tais como superávit primário, metas de inflação... O que interessa, popularmente, é a conta final, o que vai para sua algibeira para pagar suas contas. Portanto, na frigideira de tantas discussões sobre o que se quer saber é o seguinte : qual o efeito de tudo isso no emprego e na renda do brasileiro ? É possível manter os dois em alta, com o horizonte que se tem pela frente ? O capital político a presidente Dilma é este : a paz social que isto proporciona. Crescer pelo consumo ? Pensem nesses números... 1. A classe média no Brasil, segundo os últimos estudos da Secretaria de Assuntos Estratégicos da presidência da República, é formada pelas famílias com renda per capita de R$ 291 a R$ 1.019. 2. O PIB per capita dos brasileiros é de US$ 11,6 mil. 3. Cerca de 10 milhões de famílias no Brasil já estão com mais de 30% de sua renda comprometida com pagamento de dívidas. Agora respondam : ainda é possível sustentar o crescimento da economia brasileira por muito mais tempo com simples estímulos ao consumo ? Medidas adicionais de estímulo É questão de dias - muito mais para poucos dias - o governo anunciar que vai reduzir a meta de superávit primário deste ano, estabelecida na lei de Diretrizes Orçamentárias em cerca de 3,1% (o valor real é R$ 139 bilhões) para permitir mais investimentos públicos na luta para elevar o PIB. Vai utilizar-se da facilidade concedida pela própria LDO de abater do superávit parte dos gastos com obras do PAC. Vale tudo para não deixar o PIB ficar abaixo dos 3%. Aliás, desde a revelação do PIBinho de 0,2% no primeiro trimestre, passou-se a especular em Brasília, em informações de "cocheira" ou balões de ensaio, sobre o "arsenal" que o ministro Mantega tem para elevar o ritmo de crescimento da economia : (1) mais desonerações da contribuição patronal para a Previdência Social; (2) unificação na cobrança do PIS e da Cofins; (3) ampliação dos investimentos das estatais; (4) liberação da Petrobras da obrigação de compras com um mínimo de 65% de conteúdo nacional; (5) queda da Selic em agosto para menos de 8%; (6) redução dos juros do BNDES; (7) redução dos impostos para diminuir as tarifas de energia e transporte; (8) aceleração das concessões de serviços públicos; (9) novos incentivos pontuais, com os recentemente dados a setores como o automobilístico, de motos, de ar condicionado; (10) mais liberação de crédito e novos recursos para os bancos públicos; (11) eliminação de alguns entraves à entrada de capitais externos aplicados tempos atrás. É pagar para ver. A crise é latente. E permanente A ação de bombeiros poderosos abafou a crise instalada com a revelação do encontro "secreto" entre o ex-presidente Lula e o ministro do Supremo, Gilmar Mendes, sob os auspícios, a vigilância e, inicialmente, os aplausos do ex-ministro Nelson Jobim. Jogou para a catacumba sem que o deprimente - e indecente para todos os seus personagens - episódio ficasse devidamente esclarecido. Não elimina, porém, o mal estar vigente nas relações entre os três poderes da República, especialmente entre o mundo político representado pelo Legislativo e o Executivo, de um lado e o Judiciário. Há uma tensão latente, insatisfações e queixas mútuas. Sem conciliadores à vista, num momento de descuido alguma coisa pode explodir. Por pouco não foi agora, na trêfega ação Lula-Gilmar-Jobim. É com eles também O mesmo desamor Executivo e o Legislativo dedicam ao MP - incomoda-os o trabalho investigatório dos promotores. O Supremo e o mensalão Não há mais dúvidas : a CPI Cachoeira-Delta e o "convescote" Lula-Gilmar empurraram o STF para um impasse : ou julga logo ou julga logo o processo do mensalão. E sem se render a qualquer tipo de chicana. Por isso, como se dizia na imprensa de antigamente, há "mensaleiros", petistas ou não, infelizes com o ex-presidente Lula. Jobim sim, Jobim não Nota ferina do jornalista Carlos Brickman em sua excelente coluna : "O excelente colunista político Jorge Bastos Moreno, de O Globo, conversou com Jobim logo que Veja publicou a notícia. Jobim, disse Moreno, afirmou-lhe que o encontro tinha sido casual, que Gilmar costuma ir a seu escritório e apareceu sem saber que Lula estava lá. Depois, disse aos jornais que Lula lhe havia pedido para chamar Gilmar. Em qual Jobim acreditar ? Este colunista, que viu Jobim gabar-se introduzir itens não votados na Constituição, que o viu militando entusiástico nos Governos Fernando Henrique, Lula e Dilma, que sendo ministro de Lula votou em Serra, dá uma sugestão a Moreno : em nenhum deles. Jobim seria o nome ideal para uma Comissão da Inverdade". Dilma-Lula : gratidão e dívida Como fez ainda na semana passada em cerimônia no Palácio do Planalto, na qual arrancou aplausos calorosos para Lula, a presidente Dilma faz questão de registrar publicamente sempre que pode a gratidão que tem pelo companheiro por tê-la, praticamente sozinho, elevado até onde a elevou. É gratidão eterna. Porém, Lula, aos poucos, vai acumulando passivos para com a presidente, com custos que podem pesar para ele no futuro. Na contabilidade negativa está ter jogado o governo dentro de uma CPI que nunca interessou à presidente, e na qual, está provado, o governo não tinha nada a ganhar. A abertura das contas da empreiteira Delta nacionalmente é pura dinamite pronta para explodir nas cercanias do PAC. Já se fala em Brasília que a CPI Cachoeira-Delta pode virar a CPI do PAC. Esta semana podem vir as desagradáveis convocações da ministra Miriam Belchior e de Erenice Guerra, segunda de Dilma na Casa Civil (e depois a primeira), para explicarem as relações PAC-Delta. Lula deu uma declaração - gratuita ou marota ? - num programa popularesco de televisão, dizendo que poderá ser candidato à presidência da República caso ela não concorra, para não deixar um tucano voltar ao Palácio do Planalto. Ele despertou nos aliados "descontentes" com Dilma um comichão de outra "alternativa de poder" além de Dilma. Os aliados com birra do Palácio do Planalto não são poucos. PT versus PMDB Está cada vez menos "amigável" a relação do PT com seu principal parceiro na aliança governista. A pouca confiança existente entre os dois esvaiu-se de vez. A "ajuda" peemedebista para a convocação de Agnelo Queiroz para depor na CPI e para a quebra do sigilo da matriz da Delta é fruto desse desentendimento. O PT em nome de Dilma e das alianças municipais teve de engolir mais ou menos calado. Depois das eleições será outra coisa. Congresso desobediente Por falta de acertos entre o Palácio do Planalto e suas bases, duas MPs editadas pelo governo no fim do ano passado não foram votadas a tempo e perderam validade. Uma delas continha pelo menos um ponto considerado crucial para agilizar os investimentos públicos : estendia às obras do PAC o Regime Diferenciado de Contratação adotado nos projetos para a Copa de 2014. O RDC permite queimar etapas nas exigências da lei de licitações. Os parceiros continuam insatisfeitos com o tratamento do Palácio - nem nomeações, nem o dinheiro de verbas no ritmo que desejam, nem açúcar e afeto. O mesmo desgosto contribuiu para puxar votos aliados a favor da quebra dos sigilos bancário, fiscal e telefônico da empreiteira Delta em todo o país. Dando corda ao adversário Mesmo contra a vontade deles, como mostra a confusão em que se meteram no caso do governador Marconi Perillo, os aliados, em especial o PT, têm se metido em tantas trapalhadas, que vão acabar acordando os oposicionistas e dando a eles um fôlego que não esperavam conquistar tão cedo. É o milagre da ressurreição de Lázaro. Radar NA REAL 1/6/12 TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA estável estável/alta - Pós-Fixados NA baixa baixa Câmbio ² - EURO 1,2492 baixa baixa - REAL 2,0423 baixa estável/baixa Mercado Acionário - Ibovespa 53.402,90 estável/baixa estável - S&P 500 1.278,04 estável alta - NASDAQ 2.747,48 estável alta (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável Intrigas vaticanas Para quem acha que a intriga política é coisa apenas para o mundo leigo, aconselha-se a leitura do que passa no momento na Cúria Romana, em duas reportagens do jornalista José Manuel Vidal para o jornal espanhol "El mundo" : 1. Um pastor rodeado de lobos - clique aqui. 2. Os dois partidos que mandam na cúria - clique aqui. Brasília, PT, PMDB e PSDB são fichinhas diante desta história. ____________
terça-feira, 29 de maio de 2012

Política & Economia NA REAL n° 199

Mais turbulência pela frente Se não havia ilusão de que a crise atual não comportaria saídas fáceis, está se consolidando entre os agentes econômicos mundiais de que a crise atual deve incorporar novos e perigosos elementos capazes de prejudicar ainda mais o crescimento econômico mundial pelos próximos anos. Destacamos : (a) A elevada probabilidade da retirada da Grécia do euro. Eis um assunto muito comentado, mas cujas consequências são imprevisíveis; (b) A fragilidade financeira da Espanha, Itália e, em menor medida, da França indica que os bancos centrais terão de socorrer cada vez mais estas instituições que estão tendo de financiar no mercado; (c) O desemprego campeia no Velho Continente e as mudanças políticas que virão mostrarão cada vez mais a exaustão do modelo "Merkozy" de austeridade fiscal em meio a um crise semelhante a dos anos de 1929; (d) O agravamento das relações comerciais é notório e a incapacidade de negociar dos países é notável; (e) A China e outros países asiáticos começam a apresentar quedas (na margem) de seu crescimento com efeitos severos sobre a demanda mundial; (f) Os EUA estão em ano eleitoral e o debate sobre a economia ganha contornos de certa irracionalidade no que tange à política de expansão fiscal e monetária. Não haverá somente um aumento da volatilidade nas economias em geral. A possibilidade de uma depressão mundial é concreta e será um "fantasma" a perturbar a vida dos governos e seus cidadãos. O "bom posicionamento" do Brasil frente à crise Uma simples comparação dos indicadores econômicos do Brasil e as economias centrais do capitalismo nos leva ao diagnóstico de que estamos muito bem posicionados. Todavia, trata-se de algo contextual e relativo. Os efeitos do agravamento da crise mundial hão de ser despejados sobre a economia nacional. Neste sentido, a expansão do crédito e as medidas de estímulo ao consumo doméstico são positivas, mas serão mitigadas pela deterioração sistemática das expectativas dos agentes no campo do consumo e do investimento. Haverá, por conseguinte, os efeitos políticos deste processo com os atores políticos criando ruídos que refletirão a insatisfação social do menor crescimento. Por sorte, o emprego ainda não foi atingido, mas será seguidamente "contestado" pelo agravamento da crise externa. Investimentos : a necessária urgência de reformas O PAC intrinsecamente possuiu atributos para modificar a rota econômica do Brasil. Todavia, a sua implementação está carecendo de eficiência, além de sérias barreiras regulatórias. O Planalto sabe disso, tanto é que novamente se especula sobre o "retorno" da gestão deste importante programa governamental à órbita direta da presidência da República. Centralizar este acompanhamento nas cercanias palacianas pode até aumentar a visibilidade da execução, mas é condição apenas lateral ao processo. É preciso atrair fundos e visões privadas para os investimentos públicos, alinhando competência na concepção de projetos e eficiência financeira e operacional à sua execução. Estas variáveis mexem em aspectos ideológicos que precisam ser superados, não somente pelo centro do governo, mas pelas forças que o apoiam. A tarefa é árdua. Economia : estrutura e conjuntura Até os economistas mais ligados ao governo, como o ex-ministro Delfim Neto e o professor Luiz Gonzaga Belluzzo já admitem que apenas com incentivos ao consumo, sem um forte empurrão nos investimentos - a começar pelos investimentos públicos, ainda e sempre rateando - a economia brasileira não vai muito longe. Pelo valor da face, poucos analistas creem num crescimento sustentável do PIB a uma taxa superior a 3%. Os sinais de nervosismo em Brasília indicam que o fantasma de um PIBinho, abaixo dos 2,7% de 2011, começa a rondar a Esplanada dos ministérios e o Palácio do Planalto. Sexta-feira o IBGE deve divulgar o PIB do primeiro trimestre - previsão geral para um aumento máximo de 0,5% sobre o último trimestre do ano passado. Os vidros do Palácio devem tremer. O ministério da Fazenda deve vir com novas medidas na linha do consumo para ganhar tempo e esperar o que vem lá de fora... se algum milagre acontece. Os problemas do Brasil são mais profundos e medidas circunstanciais de pouco valem. Humor azedo Por essas e outras, tirante os setores diretamente beneficiados, não são dos mais agradáveis os sentimentos dos empresários em relação à política econômica conduzida pelo ministro Mantega. No anonimato, o tal do "off", e cobras e lagartos saltarão no ar. Eles acham que o governo não tem visão de longo prazo e, muitas vezes, joga apenas para a plateia, para a arquibancada. Alguns já estão até arriscando soltar discretamente seu descontentamento. Bancos de investimento Uma das ideias que poderia ser desenvolvida pelo governo é analisar a possibilidade de estimular a formação de bancos de investimento que se especializariam na viabilização financeira de projetos com prazo de maturação maior. No passado remoto (anos 1970) quando ainda existiam de fato estas instituições a sua atividade foi se reduzindo em função da inflação. No atual contexto em que o país tem um funding de mais longo prazo, tais instituições poderiam "retornar" e contribuir para financiar novos projetos ao largo de toda a economia brasileira. Até mesmo estímulos fiscais poderiam ser dados a estas instituições. De outro lado, com a política governamental de redução de juros, encontraria maior consistência no que diz respeito ao financiamento do desenvolvimento. BC : reduções à vista O governo pode e provavelmente fará mais reduções do juro básico. Não é algo apenas para esta próxima redução do COPOM. O mercado pode ser surpreendido com quedas de juros além daquela que imaginam. O mistério da economia chinesa Os sinais são de que a China está num processo de desaceleração maior do que suas autoridades previram e o mundo não gostaria de ver. Já não deve crescer nem os 8% inicialmente projetados por analistas econômicos. Um crescimento ainda robusto, mas um desastre para o resto do mundo. Lula - Gilmar Mendes : dores de cabeça Quaisquer que sejam as versões - e muitas surgirão nas próximas horas e dias - e interpretações para o inusitado encontro entre o ex-presidente Lula da Silva e o ministro Gilmar Mendes, do STF, patrocinado pelo ex-ministro (de muitos cargos) Nelson Jobim, a verdade é que ele já plantou sobre Brasília nuvens carregadíssimas. Isto terá repercussões inevitáveis na CPI Cachoeira-Delta, nos cuidados do Supremo no julgamento do mensalão e até nas eleições municipais. E trará mais dores de cabeça políticas para a presidente Dilma, já sobrecarregada com as questões difíceis da economia, a conexão Delta-PAC e os distúrbios florestais. Lula - Gilmar Mendes : os fatos Aos fatos, para que se entenda bem a confusão saída do escritório de Jobim numa amena tarde de abril : 1. O encontro era para ter sido secreto, tanto que sua divulgação pela revista "Veja" um mês depois do ocorrido causou furor e correria por parte dos envolvidos para montar versões. 2. Somente os muitos ingênuos acreditam que foi uma coincidência Lula e Mendes aparecerem no mesmo local e hora sem um saber da presença do outro. 3. O ex-presidente e o ministro do STF não são propriamente amigos e não foram lá conversar amenidades nem discutir o esquema Corinthians e Santos na Taça Libertadores da América. 4. O único ponto de contato entre os dois é o mensalão : Lula como intransigente defensor dos suspeitos e Mendes como um dos julgadores. Em princípio, esse movimento, assim como a CPI, parece não ter sido nada positiva para a defesa dos mensaleiros. Perguntas de jurista sério Não é exagerada a intimidade de ministros do STF com as câmaras de TV e com certas bancas de advocacia ? Por que os ministros não falam mais nos autos e menos em reuniões e pela mídia ? Distúrbios florestais Foram somente apenas ruídos, de todos os lados, as primeiras reações aos vetos da presidente Dilma ao texto do Código Florestal aprovado pela Câmara. As alterações que o Planalto vai tentar aprovar por MP, para recompor o vácuo deixado pelos vetos presidenciais, apenas fazem remendos. O Código fica capenga e vai gerar novos confrontos entre ruralistas e ambientalistas no Congresso, sem grandes proveitos. E o pior : a presidente corre riscos de não colher frutos de sua ação na Rio + 20, pois o texto definitivo do novo Código brasileiro não ficará pronto até lá, gerando desconfiança entre os conservacionistas de que foi apenas um lance de marketing e que o governo cederá depois aos ruralistas. Na realidade, o governo está pagando o preço de não ter se metido mais nas discussões do projeto nos três anos em que ele tramitou no Congresso e de ter deixado que ele entrasse no ar em clima da Fla-Flu ou de Corinthians e Palmeiras, com debates muito mais marcados por motivações emocionais que por considerações de ordem técnica e científica. Pérolas coloridas Quem garimpou as joias foi o jornalista Ancelmo Gois em sua coluna em "O Globo" : Lembrando Jânio Fernando Collor, na CPI do Cachoeira, tem chamado mais atenção pelo. linguajar circuncisfláutico. Quinta, ao justificar a estapafúrdia tentativa de convocação do coleguinha Policarpo Jr., da "Veja", declamou : - Não se me acoime de ter comportamento alapado, lançadiço ou rafeiro em relação ao hebdomadário em tela. - Hã ? Gois explica. - "Acoimar", segundo o "Aurélio", é castigar, punir, censurar. "Alapado" é escondido. 'Lançadiço" é desprezível. 'Rafeiro" é o indivíduo que acompanha sempre o outro, como cão de guarda, vigiando-o, defendendo-o. "Hebdomadário" é semanário, caso da "Veja". Em tempo. - "Circuncisfláutico" quer dizer rebuscado, pretensioso. Jânio e Collor Antes de Fernando Collor tomar posse, foi consultar-se com o ex-presidente Jânio Quadros. Perguntou o presidente eleito o que achava de seu governo. Jânio respondeu que preocupava-o o fato de Collor ser muito jovem. Collor instantaneamente respondeu que a sua idade era a mesma de quando Jânio tornou-se presidente. Jânio não se fez de rogado e disse : " e veja no que deu o meu governo". O mesmo ghost writer ? O senador Collor agora se diz vítima de uma conspiração, golpe congressual levado a cabo, com a ajuda da imprensa, pelos setores mais atrasados da elite de um país que ele tentava modernizar com sua política de abertura econômica. Lula diz que o mensalão foi uma invenção das elites com o apoio da grande imprensa para dar um golpe em seu governo. Dá até a suspeita de que o orientador, o escritor fantasma desses dois textos é a mesma pessoa. Dilma e a biruta do PT O ex-ministro e ex-deputado José Dirceu, dizia, antes de Dilma tomar posse, que, agora sim, o PT estaria de fato no governo e o Brasil veria um verdadeiro governo do PT. Não era uma crítica a Lula, governo que Dirceu ajudou a criar e do qual fez parte, mas a constatação de que o ex-presidente tivera, por razões até de sobrevivência, de viver no puro pragmatismo e, por isso, fazer muitas concessões que contrariavam antigos dogmas petistas. Agora, com Dilma mais ideológica, fazendo muito daquilo que o petismo original pregava, haja vista o ataque aos bancos e aos juros altos, o maior ativismo do governo na vida econômica, o empenho em fazer da Comissão da Verdade mais próxima do que querem os petistas do que Lula de fato mandou o ministro Nelson Jobim negociar, o PT não está feliz, está mesmo até incomodado às vezes. Por que essa insatisfação ? A questão parece não estar propriamente nas "políticas", mas na "política" - a influência do partido é bem menor agora que com Lula. E parte importante da legenda está alijada das decisões da presidente. Matando dois coelhos Crescem em Brasília as especulações sobre o apoio da presidente Dilma às candidaturas de Renan Calheiros ao governo de Alagoas em 2014 e de Edison Lobão à presidência do Senado em 2013, na vaga de José Sarney. Se der certo, ela se livra de dois problemas com uma só cajadada : Renan será sempre um presidente do Senado instável e incômodo e ainda pode não se eleger em Alagoas; e abre vaga no ministério das Minas e Energia para um ministro de fato, e não apenas formal. Na encruzilhada Ou a CPI Cachoeira-Delta convoca hoje os governadores Marconi Perillo (PSDB/GO), Sérgio Cabral (PMDB/RJ), Agnelo Queiroz (PT/DF) e o empreiteiro Fernando Cavendish e aprova a quebra de sigilo bancário da empreiteira Delta nacionalmente ou pode fechar as portas por absoluta inutilidade. Radar NA REAL 25/5/12 TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA estável estável/alta - Pós-Fixados NA baixa baixa Câmbio ² - EURO 1,2534 baixa baixa - REAL 1,9797 baixa estável/baixa Mercado Acionário - Ibovespa 54.463,16 estável/baixa estável - S&P 500 1.320,68 estável alta - NASDAQ 2.839,38 estável alta (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável Voos turbulentos Sabe-se que a presidente Dilma não ficou muito entusiasmada com o resultado dos leilões de concessão dos aeroportos de Guarulhos, Campinas e Brasília. O governo chegou até a cogitar trocar alguns operadores ou mesmo trocar pelo menos um concessionário. Não encontrou amparo legal para o empenho. Agora, adia mais uma vez, por mais 15 dias, a assinatura dos contratos, mais um atraso no já atrasadíssimo processo de arrumação desses aeroportos para a Copa de 2014. Como diria o Barão de Itararé, parece que há no ar mais coisas do que simples aviões de carreira. Dinheiro fácil (I) A CEF não é a maior instituição financeira no Brasil. Mas é mais generosa na hora de gastar em publicidade, à frente do BB e de gigantes como o Itaú e o Bradesco. Segundo o ranking da publicação "Meio & Mensagem" em 2011, a CEF ficou em quinto lugar como maior compradora de anúncios, com gastos de R$ 428 milhões, atrás apenas das Casas Bahia, da Unilever, da Ambev e da Petrópolis, e na frente até da joia mais rara da coroa estatal, a Petrobras. Dinheiro fácil (II) O PT sozinho, ano passado, ano não eleitoral, portanto de vacas mais magras para os cofres do partidos políticos, arrecadou, de contribuições do setor privado, mais de R$ 50 mi, dez vezes do que conseguiram seus principais concorrentes nesse "mercado", o PMDB e o PSDB. E depois ainda falam em "financiamento público de campanha". ____________
terça-feira, 22 de maio de 2012

Política & Economia NA REAL n° 198

Pavões também não se bicam Na política brasileira acreditava-se - o que, aliás, se comprova quase todos os dias - que tucanos de plumas mais vistosas se bicam com gosto e frequência. Era, acreditava-se, uma característica apenas deles. Agora, descobre-se que os pavões partidários também não se bicam, embora suas "armas" sejam menores que a dos tucanos. Petistas de vários costados andam eriçados com certas ações da presidente Dilma, apenas ainda não botaram seus bicos para fora - é gente que se queixa de perda de espaço, de pouca atenção, de mudanças de política e até, agora, de ignorar os riscos de julgamento do mensalão. Menos discretos, dois coloridos (não são assim os pavões) peemedebistas, Nelson Jobim e Michel Temer, trocaram bicadas, aliás, flechadas mesmo, na semana passada, explicitando certo mal estar existente no partido que vende a imagem de estar unido em torno de seus líderes atuais. Se o PMDB não for muito bem nas eleições municipais, a disputa vai se acentuar. O ar político não está dos melhores para as aves partidárias. O que a Petrobras não diz ao Brasil. Nem à Argentina (I) Publicamente, o governo brasileiro e a Petrobras receberam com naturalidade a tomada pela Argentina da petroleira YPF das mãos da espanhola Repsol. O Brasil não viu ameaças aos negócios da nossa empresa estatal do setor por lá. Recebeu em Brasília o ministro argentino responsável pela área petrolífera e interventor na reestatizada YPF e até acenou, mesmo que apenas como uma cordialidade diplomática, com a possibilidade de a Petrobras fazer novos investimentos no país vizinho como deseja a presidente Cristina Kirchner. Ao mesmo tempo, apesar de desejos manifestados pelo ministro das Relações Exteriores da Espanha, que inclusive esteve em Brasília na semana passada, Dilma se recusou a condenar a posição adotada por sua colega argentina. Não aplaudiu abertamente, pela óbvia razão de não despertar desconfianças em investidores sobre o Brasil. O governo brasileiro aparentou total normalidade no caso. Para a Petrobras, dizia-se, nada muda. O que a Petrobras não diz ao Brasil. Nem à Argentina (II) Para o mundo real, no entanto, o conteúdo é outro. Em recente documento encaminhado à SEC, a Petrobras apresenta de outra forma a questão da YPF. Não a normalidade que passou para os brasileiros. Segundo relato das agências de Notícias Infolatam e Efe, a Petrobras informou aos americanos que é provável que o governo de Kirchner "siga intervindo" na indústria petroleira além do que já fez com a Repsol. Informa também que a intervenção na YPF pode ter "efeitos materiais adversos" sobre seus "próprios negócios, condição financeira e resultados operacionais". Diz ainda que "as permissões e concessões de exploração de petróleo e gás na Argentina estão sujeitas a condições e podem não ser renovadas ou ser revogadas". A CVM foi comunicada oficialmente dessas preocupações ? Os investidores brasileiros sabem dela ? O governo Kirchner, com quem Dilma quer manter uma vida serena, sabe dessas desconfianças brasileiras ? O pior dos mundos ? O governo Dilma testa uma "nova" política econômica, na qual o tripé usado nos últimos anos do governo FHC e na maior parte dos anos do governo Lula - meta de inflação, superávit primário robusto e câmbio flutuante - é relativizado e dá lugar a outras variáveis, como a do crescimento econômico vigoroso, com mais incentivo ao consumo interno num momento delicado. Os ventos do exterior sopram cada vez mais incertezas, para o lado negativo . E o mar interior não está nada róseo : 1. A inflação, discursos oficiais à parte, não dá sinais de arrefecer até agora, caminha para ficar mais para cima dos 5% do que para o perseguido centro de meta de 4,5%. 2. O crescimento da economia está lento e a recuperação do ritmo, esperada para o segundo trimestre foi adiada nas expectativas gerais, para o segundo semestre. Sem milagres, se o PIB ficar um pouco acima dos 2,7% do ano passado, em torno de 3% já será considerado excelente. 3. O forte crescimento da arrecadação tributária prevista inicialmente no Orçamento, uma das bases para, ao mesmo tempo, manter-se os gastos públicos, custeio e investimento, em níveis mais elevados que no ano passado e a meta de superávit primário de 3,1% do PIB, já está se frustrando. O Ministério do Planejamento, no relatório de avaliação fiscal do bimestre março/abril, reavaliou a previsão de receita em menos R$ 10 bilhões. 4. Os investimentos, tanto os privados quanto os públicos, estão em câmara lenta. Segundo as estimativas do Instituto Brasileiro de Economia da FGV, as inversões particulares no Brasil (medidas pela formação bruta de capital fixo, sigla FBKF) encolheram 2,5% em relação aos três meses anteriores. Do lado oficial, os investimentos tiveram uma queda de 5,5% nos primeiros quatro meses de 2012 em relação ao mesmo período do ano passado. Nessa situação, haja discurso otimista do ministro Guido Mantega, que espalha sua confiança dia sim outro também, e de seus auxiliares. Ontem mesmo, Mantega deitava esta pregação no "Valor Econômico" e o secretário da Política Econômica do Ministério da Fazenda espargia a mesma lenga lenga no "Brasil Econômico". Como Dilma não quer ver a economia patinando, o governo começou a atacar ontem, com corte no IPI dos carros e outros incentivos ao consumo. Reprises de um filme - o crescimento pelo consumo - esgotado no momento, segundo muitos analistas. Mais uma jabuticaba ? Mesmo com o gosto pela cor rósea, o governo já admite internamente que o PIB deste ano não será o dos sonhos da presidente Dilma. O ministro Guido Mantega deu a senha em entrevista ao "Estadão" ao admitir que partir de um patamar de 2,7% (o PIB de 2011) não é todo ruim. Mas não dá o braço totalmente a torcer e, como os meteorologistas costumam falar em "sensação térmica" quando o frio que as pessoas sentem parece maior do que aquele que os termômetros marcam, imagina que chegaremos ao fim do ano com uma sensação de PIB de 4,5% a 5%. Mais uma genuína contribuição brasileira para o vocabulário econômico. O BC e suas circunstâncias É diante desse quadro que o BC não terá outra circunstância do que continuar a queda, em ritmo acelerado da taxa de juros. Para a maioria dos analistas, o piso do fim do ano da Selic não será mais 8%, mas 7,5%. A volta de uma expressão Se a cabriolé da economia não mudar de ritmo como Dilma quer e Mantega assegura que ocorrerá e a situação europeia se deteriorar ainda mais como muitos parecem acreditar, não será surpresa que uma expressão em voga no Brasil depois que FHC deixou o governo, a tal "herança maldita", volte ao proscênio no linguajar oficial. Mesmo que discretamente sussurrado e endereçado não mais ao seu primeiro destinatário. Silêncio constrangedor Mesmo diante desse quadro, a oposição não tem o que dizer. Nem para uma condenável crítica aberta, puramente oportunista, muito menos com propostas concretas para políticas diferentes das que estão em jogo. O silêncio ecoa diante dos eleitores mais atentos e mais informados. Quando alguém ousa sair do óbvio, como recentemente o senador Aécio Neves em Recife, falando em uma "agenda para o Brasil da oposição para os próximos 20 anos", não explicita suas ideias. Governo politicamente balofo e oposição raquítica de nomes e ideias : eis os males do Brasil neste momento. Enquanto isso, na Europa... A cada semana que passa os sinais mostram que os líderes europeus não estão habilitados a lidar com a imensa crise do Velho Continente. O desemprego grassa por todos os países e a receita germânica de austeridade dá provas inequívocas de sua incompatibilidade com a realidade financeira dos países meridionais da Europa. A Espanha está à beira de um colapso de seu setor financeiro, a França apresenta sinais de acentuação da crise de emprego e a Itália se sustenta enfrentando a cada leilão de títulos públicos maiores custos e menor liquidez. A Grécia provavelmente sairá do euro e restará mais incerteza e sofrimento. Não vale apostar numa estabilização das economias europeias caso as medidas e políticas continuem dentro do padrão atual. Commodities em queda Desde o começo do mês as perdas dos mercados acionários foram de mais de US$ 4 trilhões. A instabilidade europeia está diretamente ligada a este resultado. Os preços das commodities persistem caindo, no rastro de uma substancial desmobilização de ativos por parte dos especulativos fundos hedge. Na semana passada, completou-se o período de três semanas seguidas de queda nos principais índices de commodities. Grande parte do segmento de metais está caindo, bem como as commodities agrícolas, especialmente o suco de laranja. Para o Brasil, este cenário é, ao mesmo tempo, deflacionário e redutor da atividade econômica. Note-se que a China pode ter um crescimento ainda menor que os 6% inicialmente imaginado considerando-se este cenário. Neste sentido, as exportações brasileiras devem sofrer muito mais que outros países, dado que a pauta de comércio exterior está muito mais dependente do desempenho das commodities que nos anos 80 e 90 do século passado. JP Morgan : mais um sinal dos tempos A perda de US$ 2 bilhões em operações de tesouraria com derivativos do banco americano não deve ser considerado como uma "exceção" na indústria financeira internacional. Muitos bancos podem não ter registrado perdas gigantescas como esta, mas o potencial de perdas é enorme. Infelizmente, desde a crise de 2008, os órgãos reguladores das principais economias não foram capazes de impor legislações mais rigorosas para que se evite este tipo de perdas. Os lobbies da área financeira são poderosos e paralisaram a onda reformista que parecia estar surgindo ao final de 2008. O que se vê é um elevado nível de complacência regulatória que enfraquece o sistema financeiro e a economia mundial. Os políticos permanecem captando recursos para as suas campanhas eleitorais no rico mundo financeiro. Sobretudo nos EUA. Especialmente, no caso do ex-reformista Barack Obama. Direto para o forno de pizza Ou alguns políticos mais audazes e menos comprometidos entram no jogo ou a CPI Cachoeira-Delta vai morrer lentamente nas mãos de pizzaiolos de diversas colorações partidárias. A oposição discursa e faz corpo mole. E os situacionistas ficam definidos no torpedo "nós somos teu" dirigido pelo deputado petista de SP e ex-líder do governo na Câmara, Cândido Vaccarezza, ao encapuzado (ou melhor, "enguardanapado") governo do RJ, Sérgio Cabral. O lado mais raivoso do situacionismo tinha como foco na CPI o procurador-Geral da República, Roberto Gurgel, parte da imprensa, em especial a "Veja" e a oposição. Agora, o foco (ou a falta de foco) é evitar que a CPI vá mais fundo nas investigações. Para Dilma é um alívio que os aliados tenham tomado juízo, pois chegar fundo na Delta e em Cachoeira paralisa o Congresso e pode parar centenas de obras federais Brasil afora. Salvando os bancos públicos ? A intenção, anunciada na imprensa e não desmentida oficialmente, de transferir créditos atrasados (também conhecidos como créditos podres) da CEF para a Empresa de Gestão de Ativos do Ministério da Fazenda, e que pode ser estendida a outros bancos oficiais, BB e que tais, tem cheiro de limpeza dos balanços dessas instituições, depois que elas foram forçadas a ser generosas nos juros e nos empréstimos ao público. Salvamento disfarçado em operação técnica. Há indícios de que o balanço da Caixa mostrará que todo o lucro dela decorre da remuneração dos serviços prestados ao governo, como um dos agentes financeiros oficiais. As operações com o público estariam no vermelho e com um azul bem tisnado. Rir para não chorar Como não tem infraestrutura viária (nem hoteleira, diga-se) para atender as necessidades de circulação de visitantes da cidade na Rio + 20, o governo carioca de Eduardo Paes, de comum acordo com o governo estadual e Brasília, declarou oficial feriado local nos dias da reunião de cúpula da Conferência da ONU sobre Desenvolvimento Sustentável, 20, 21 e 22 de junho, um feriadão que vai de quarta-feira até domingo. E, como o ritmo dos preparativos para a Copa de 2014 e a Olimpíada de 2016 está de lento a quase parando, já se prevê que feriados idênticos poderão ser decretados por ocasião de algumas das competições desses grandes eventos. Pela Copa, ainda, o calendário escolar deverá mudar no país inteiro e as cidades-sedes deverão ter feriados nos dias dos jogos para facilitar o trânsito. A possibilidade é tanta que o humor carioca já está sugerindo até que se enforque de uma vez também o ano de 2015, exprimido que ficará entre duas memoráveis festas. E a Igreja Católica ainda não sabe o porquê Atrelada a exigências e comportamentos um tanto antiquados, alguns até mediáveis, a Igreja Romana mostra as estatísticas : vem perdendo fiéis para outras denominações religiosas, especialmente os neopentecostais. Estas andam muito mais afinadas com o "novo mundo". Em São Paulo, por exemplo, a Igreja Universal tem pelo menos um templo em que há um "drive thru de oração". Outro, tem uma espécie de "terceirização" também das orações : o fiel encontra um caixinha onde deixa o pedido de uma reza, sua contribuição pecuniária e alguém de direito ora por ele. Não há conhecimento ainda se a Universal aceita orações pela Internet ou tem delivery para esse serviço. Radar NA REAL 18/5/12 TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA estável estável/alta - Pós-Fixados NA baixa baixa Câmbio ² - EURO 1,2823 baixa baixa - REAL 2,0412 baixa estável/baixa Mercado Acionário - Ibovespa 54.513,16 estável/baixa estável - S&P 500 1.295,22 estável alta - NASDAQ 2.778,79 estável alta (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável ____________
terça-feira, 15 de maio de 2012

Política & Economia NA REAL n° 197

O cenário deve piorar I A imensa dificuldade da Grécia em formar um governo, seja de união nacional ou não, simboliza o quão está esgarçada a sociedade daquele país. Todavia, o momento grego não é nada exclusivo. A desesperança, o desemprego, a ausência de alternativas reais na economia e na política não são monopólio do pequeno país balcânico. O tratamento da crise por parte da União Europeia (que segue os passos dos franceses e dos germânicos), do Banco Central Europeu e do é simplesmente um desastre, seja nos resultados produzidos até agora, seja no conteúdo recessivo das medidas de austeridade. O Velho Continente caminha para um cenário que pode combinar uma severa depressão e uma instabilidade política nunca vista depois da queda da Alemanha hitlerista. O cenário deve piorar II Os operadores e os próprios governos já tratam a Grécia como um país a caminho (curto, provavelmente) para a saída do euro. É provável que as autoridades estejam subestimando os efeitos deste fato, tratado com certa negligência pelos analistas de plantão. Todavia, os sinais são de forte deterioração do crédito no sistema financeiro espanhol, bem como em Portugal, Irlanda, Itália e, até mesmo, na França. Na Alemanha, os efeitos econômicos são bem menores, mas já há sinais de que a chanceler Angela Merkel começa a perder suporte político. A nosso ver a Europa está próxima de reviver e, quem sabe, ampliar o stress do período final de 2008 e do primeiro trimestre de 2011. As quedas das principais bolsas europeias são apenas um prenúncio do que está por vir, caso a passividade política prossiga sendo a principal marca entre os europeus. A negação da política Foi destaque no jornal espanhol "El País", mas passou longe da percepção do mundo político brasileiro, um fenômeno observado nas eleições provinciais italianas. Pouco conhecido fora da Itália, o Movimento 5 Estrelas, cujo mote é "não aos partidos", conseguiu significativa votação em várias regiões e estará representada com bom número de vereadores em grande parte dos municípios da Bota. Já é a terceira força do país nas províncias. E ontem, na Espanha, com grandes manifestações, o movimento dos "indignados", comemorou seu primeiro ano de existência. Brasil vai sofrer mais que no passado Convenhamos. Lula disse ao final de 2008 que a economia brasileira sofreria apenas os abalos de uma "marolinha" frente ao tsunami internacional. Depois de implementar medidas de estímulo econômico provou-se que o ex-presidente estava certo. O estilo Dilma é mais discreto, muito embora seja mais diretamente atuante na definição das medidas que devem ser tomadas para resguardar a economia brasileira. Só que desta vez os efeitos da crise internacional serão mais sentidos por aqui. Os preços das commodities não estão mais no pico, os investidores estrangeiros reajustam suas carteiras resgatando recursos investidos em ativos brasileiros e a confiança doméstica deve ser negativamente afetada pelo fraco crescimento da economia brasileira. O dólar é o melhor indicador da evolução dos fatos e será dele que extrairemos os principais custos políticos e econômicos que o país incorrerá nas próximas semanas. É hora de atenção e cautela. Falta qualidade ? Até os "desenvolvimentistas" do governo admitem que é preciso haver certo nível de ajuste fiscal - grosso modo, economia nos gastos para abater a conta de juros - normalmente um discurso próprio dos "conservadores neoliberais". Porém, mesmo tendo abraçado o discurso, o ministério da Fazenda continua atrás de mágicas para não ter de ir mais fundo no corte de despesas oficiais, em princípio para não comprometer a meta da presidente Dilma de fazer o PIB nacional "bombar" em pelo menos 4,5% ao final de 2012. Da cartola fazendária em prol do superávit primário continuam saindo, entre outras contribuições para as contas públicas fecharem, o aumento dos dividendos repassados pelas empresas estatais e o crescimento do uso dos depósitos judiciais - até agora este item nas contas já aumentou 20% em relação ao ano passado. Está na hora de se discutir um pouco mais a qualidade do ajuste fiscal e não apenas os números alcançados. No fundo, são contas que ficam para serem acertadas no futuro. Os juros Se na área fiscal o desempenho dos governos é sofrível, na área dos juros o governo Federal vai bem. Conseguiu estabelecer com calma os novos parâmetros da caderneta de poupança, pressiona pela queda dos custos dos empréstimos incrementando a concorrência via bancos oficiais e, com isso, capitalizou popularidade e atenção para o assunto. É provável que os efeitos deste processo sejam mitigados pelo agravamento da crise internacional. A hora parece mais apropriada para que o governo tire os investimentos da letargia e aumente o percentual das inversões no PIB. Ademais, não se deve subestimar a vontade do governo de reduzir ainda mais a taxa básica de juros. Esta pode cair além dos 8% tão comentados no mercado. Radar NA REAL 14/5/12 TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA estável estável/alta - Pós-Fixados NA baixa baixa Câmbio ² - EURO 1,2823 baixa baixa - REAL 1,9967 baixa estável/baixa Mercado Acionário - Ibovespa 57.539,61 estável estável - S&P 500 1.338,35 estável alta - NASDAQ 2.902,52 estável alta (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável Nem Kirchner nem Chávez, mas... O governo Dilma, em matéria de intervenção econômica, não pode nem de longe ser comparado ao da Argentina Cristina Kirchner, menos ainda ao do venezuelano Hugo Chávez. Inegavelmente, porém, é crescente a interferência governamental na atividade econômica privada. Haja vista : 1. O ataque aos bancos privados para obrigá-los, a ferro e fogo, a reduzirem os juros de seus empréstimos. 2. A interferência na autonomia do BC, negada por ambos, o BC e o Palácio do Planalto, mas evidente. 3. O uso da Petrobras como agente de política econômica. 4. O uso do BB como agente de política monetária, quando, tanto ele quanto a Petrobras são empresas de economia mista, portanto com acionistas minoritários que merecem respeito. 5. As pressões constantes do ministério das Comunicações sobre a Anatel, em tese uma agência independente, e sobre as empresas concessionárias, com ameaças de mudanças de regras. 6. A interferência, esta semana, no setor hoteleiro do RJ para forçar a cobrança de diárias menores do que as extorsivas diárias que o setor esta cobrando para hospedagem na cidade durante da Rio + 20. Muitas causas podem ser até justas, porém sua repetição e extensão podem criar ruídos que interferem em decisões de investidores privados em ampliar suas inversões no país. Eles acreditam O Papai Noel, o Saci Pererê, a Fada Sininho e outros entes assemelhados acreditam piamente, de jurar de pés juntos e com os dedos cruzados, que o governo não se meteu na compra da empreiteira Delta pela J&F, cujo carro chefe é o frigorífico JBS Friboi que tem 32% de seu capital nas mãos do BNDES. A derrocada da Delta ameaça quase 300 obras que a Delta tem pelo país, boa parte do PAC, cuja mãe, nomeada por Lula, é a presidente Dilma. A Delta já abandonou o Maracanã (em tese empreendimento privado, mas com dinheiro público) e as obras de um dos três corredores exclusivos para ônibus no Rio, do PAC da Mobilidade para a Copa. E, segundo o "Estadão" de domingo, a empreiteira parou também obra da transposição do São Francisco, já gerando abalos sociais na região do Cariri, Ceará. Entregar a execução dos projetos às empresas colocadas nas licitações, como começou a ser aventado em Brasília, pode levar à contestações no TCU e no Judiciário. Uma "nova" Delta, com novos gestores expelindo a "velha" Delta, é uma solução que cai do céu para o governo. Por isso, Dilma não interferiu - ela veio por obra e graça de algum santo. Resta saber se a manobra vai funcionar. O trio de ouro Causa inveja nos meios empresariais brasileiros e até internacionais a eficiência e a competência para encontrar e fazer bons negócios do trio dos mais atilados empreendedores surgidos no Brasil nos últimos anos : (pela ordem alfabética) André Esteves (BTG Pactual), Eike Batista (empresas X) e Joesley Batista (JBS Friboi e Cia.). É a turma que tudo escuta, tudo vê e tudo sabe. Bola fora Pode ser somente a tal "mera coincidência", mas a realidade é que desde que ficou explícito que o alvo principal dos patrocinadores petistas (Lula à frente) da CPI Cachoeira Delta, é embaralhar o julgamento do mensalão no STF, os mensaleiros só acumularam más notícias : (1) o ministro Joaquim Barbosa apressou a entrega de sua representação final no processo; (2) o mesmo Barbosa negou uma chicana jurídica, comandada pelo ex-ministro Márcio Thomas Bastos, que intentava jogar a maior parte do processo para a primeira instância, retardando o julgamento dos acusados; (3) o STF já começou a estabelecer os procedimentos para o julgamento, inicialmente conferindo ao procurador-geral da República cinco horas para fazer a acusação, e não apenas a uma hora de praxe. Além do mais, as pressões da CPI sobre o procurador Roberto Gurgel, geraram reações nada agradáveis no MP e no Judiciário para os que estão prestes a sentar no banco dos réus do mensalão. Popularmente falando, é tiro que pode sair pela culatra. O foco desse grupo deve mudar. O problema é que não dá, nessa altura, para concentrar apenas em Carlinhos Cachoeira e mais quatro ou cinco políticos. A Delta está no picadeiro - e isto é o motivo do maior desagrado da presidente Dilma com os "fogueteiros" da CPI. Moço ajuizado O deputado Odair Cunha, do PT de Minas, relator da CPI Cachoeira-Delta, tem jeito daquele menino arrumadinho e obediente que se sobressai na escola. Além disso, tem o pedigree da escola mineira de fazer política, a real e a folclórica. Por fim, não tinha ligações com o petismo paulista, dominante no partido e patrocinador da CPI nos moldes a pegar desafetos e proteger mensaleiros. Exatamente por essas qualidades foi o preferido do Planalto para relator. E vai cumprindo direitinho até agora a missão, de evitar que ela pegue fogo, embora às vezes pareça intimidado com o jeito grosseiro e histriônico do senador Fernando Collor. Com a ajuda do presidente da CPI Vital Rego, de perfil parecido, Cunha trabalha para evitar sobressaltos - não está com nenhum entusiasmo, pelo menos por enquanto, para convocar o procurador-geral. A fonte de inspiração da dupla é o palácio do Planalto, não o PT. É a política A nomeação do ex-senador baiano César Borges, oriundo do grupo de ACM e hoje abrigado no PR de Alfredo Nascimento, Blairo Maggi e Valdemar da Costa Neto, para uma das vice-presidências do BB apenas demonstra que o discurso da presidente Dilma de que a opção preferencial de seu governo é por técnicos, é bem relativo. O arranjo tenta acalmar o PR, em ebulição porque não consegue retomar, como deseja, o ministério dos Transportes. O PMDB, com vagas já surrupiadas na Petrobras e ameaçado de ser despachado da presidência da Transpetro, anotou direitinho no seu caderno de "deveres e haveres" esse agrado da presidente ao PR. Na Petrobras o partido já perdeu a "diretoria de furar poço" que dividia com o PP e está para sair também da área internacional - o diretor Jorge Zeleda está assim numa espécie de "aviso prévio". A preocupação é outra Embora tenha abalado algumas convicções no partido, não tirou muitas horas de sono dos petistas a pesquisa do Ibope que deu Serra com grande vantagem na intenção de votos para a prefeitura de SP e Fernando Haddad na rabeira, com apenas 3%. O potencial do partido é bem maior e mesmo um velho poste leva, somente por inércia, de 20% a 25% dos votos. O que tira mesmo o sono é a incerteza sobre condições que Lula terá para botar Haddad nas costas e sair com ele por aí. Este será o diferencial em SP. No resto do país será diferente, pois Lula não vai muito longe além dos limites do Estado, ainda por precaução. E Dilma, também precavida, talvez não se disponha a subir em palanques para dar a ajuda que o PT espera dela. Centralismo democrático O empenho do PT por SP e por Haddad é tanto que a Executiva nacional baixou um decreto tipo "centralismo democrático" : em cidades de mais de 200 mil habitantes, todas as capitais inclusas, a definição do candidato do partido à prefeitura terá de ser referendada pelo Diretório Nacional. O PT está disposto a ceifar seus talentos para angariar apoios para o ex-ministro da Educação na capital paulista. ____________
terça-feira, 8 de maio de 2012

Política & Economia NA REAL n° 196

Mercados nervosos I Dois países, duas sociedades, decidiram que querem mudar o rumo das suas economias. A França e a Grécia, esta última com maior intensidade, votaram neste último fim de semana e a conclusão é que para os cidadãos o sofrimento com o desemprego e a depressão econômica estão pesando muito para serem tratados como mero assunto econômico. A liderança da Alemanha e a sua receita "tradicional" está sob risco. Com isso, o mercado financeiro ficou novamente nervoso e temeroso de que um cenário incrementado de risco venha a prevalecer. O certo é que na Grécia mais de 50% dos jovens (até 30 anos) não tem emprego - a taxa de desemprego total é de cerca de 25%. Na Espanha o cenário é igualmente grave. Na França está se agravando. Em Portugal prevalece o pessimismo. E assim vai. Mercados nervosos I Angela Merkel, muito bem acomodada politicamente nas fronteiras alemãs, sabe que as coisas mudaram e trabalhará para que tudo continue como dantes. Todavia, o tempo e o sofrimento social não permitirão que os problemas sejam tratados como se as economias funcionem como se fossem orçamentos domésticos. Lord Keynes já descobriu nos anos 30 do século passado que num cenário depressivo receitas tradicionais de nada servem. É preciso inventividade e liderança, ainda mais quando a origem da crise surgiu pela irresponsabilidade dos governos no tratamento de suas contas fiscais associadas a uma especulação secular. Nas próximas semanas, as páginas políticas da mídia é que darão o tom dos mercados e fazer apostas neste momento é tarefa arriscada. De nosso lado, a recomendação é de cautela. De toda a forma, a tendência mais clara é que passaremos por uma nova rodada de tensões nas próximas semanas. A começar pela Grécia dividida que terá de anunciar para o seu povo que vem aí mais uma rodada de aperto fiscal para pagar as contas de junho e julho. Quem viver, verá. Riscos financeiros A estabilidade do sistema bancário europeu está mais do que tensa. O cenário de iliquidez está voltando com tudo. Enquanto isso, as agências de classificação de riscos continuam trabalhando como se fossem marinheiros do Titanic : sabem o que está acontecendo, mas ficam com seus alertas inúteis. Desconstruindo Lula ? Não por gosto, mas por necessidade, o fato é que a presidente Dilma tem procurado afastar cada vez a imagem de seu governo da de seu antecessor. Não passam despercebidos de nenhum bom observador da cena política nacional os movimentos da presidente, iniciado com a história da "faxina" - amainado em seguida porque, insegura politicamente ainda, ela precisou de Lula para acalmar muitos aliados - agora a faxina é retomada. O tiroteio contra os bancos, a firme determinação de forçar o BC a continuar empurrando os juros básicos para baixo e a ousadia política de alterar as regras de remuneração das cadernetas de poupança, contrastam com a timidez de Lula nesta área. Auxiliares de Dilma discretamente chamam a atenção para esta diferença entre os dois. Ousa-se até dizer que o padrinho dela era um tanto submisso ao interesse do mundo financeiro e à vontade do BC lembrando que o dito guardião da moeda era dirigido por um ex-banqueiro, Henrique Meirelles, e hoje o é por um homem da instituição e com uma diretoria de funcionários públicos comprometidos com a questão de Estado. Mais evidências da "faxina" A ofensiva da Dilma (com Graça Foster na presidência da Petrobras) para reduzir a influência política na empresa, também é apresentada - e visto externamente - como parte desse processo de "desconstrução" de certa herança lulista. Um processo que atinge também parte do PT mais ligado ao ex-presidente, especialmente sua vertente paulista. Dilma, avalia-se, continuará prestando todas as homenagens que Lula merece, como a participação direta nas homenagens que ele recebeu no Rio de Janeiro, das universidades públicas, na sexta-feira. Até com direito a choro presidencial. Mas o distanciamento do estilo Lula de governar será marcado cada vez mais. Desconstruindo a oposição ? Sem alarde, mas com atitudes de gosto popular, tal qual a cruzada contra os bancos e a campanha dos juros baixos, a presidente está também tirando o fôlego da oposição. Seus líderes não têm nada a dizer - de bom e de concreto - sobre essas últimas ações da presidente. Nem propostas alternativas. Nem mesmo sobre as mudanças na caderneta de poupança, um risco político calculado que Dilma resolveu tomar, os oposicionistas sabem o que falar. Perplexos, sem discurso, parecem estar esperando algum Godot : um possível, eventual fracasso das medidas da presidente. Correm risco de completa inutilidade. O PMDB desconstruído O partido de Sarney, Temer, Jucá, Henrique Alves e Renan viu os movimentos para a convocação da CPI com um sorriso maroto e com aquele ar blasé de quem não tem nada com os fatos e estava esperando o circo incendiar-se para cobrar alto pelos serviços de bombeiro para controlar a crise que, ao gosto peemedebista, engolfaria a oposição e o PT e pelo menos parte de gente do governo, com Lula e Dilma. O PMDB de tantas batalhas inglórias sentia-se desta vez nas nuvens. Mandou até um segundo time para a CPI. Errou o cálculo quando na liça entrou o volúvel governador do Rio, Sérgio Cabral, amigo de fé e irmão camarada de Fernando Cavendish e da empreiteira Delta. Sérgio Cabral nunca foi da cozinha dos caciques peemedebistas, era mais lulista que tudo - e até ousou, em suprema audácia, insinuar-se para uma vice-presidência de Dilma em 2014. Mas o comando do PMDB, mesmo a contragosto, não pode jogar Cabral aos leões - respingaria no partido, cujo currículo nesse campo nunca foi dos melhores. O PMDB já mergulhou na CPI, agora não mais como um simples e isento observador. O momento de "vestal" ao modo Demóstenes Torres dos peemedebistas durou muito pouco. A meta de Dilma Sai definitivamente do ar a meta de inflação e entra a meta do PIB. Todas as decisões do governo só têm este objetivo : alavancar o crescimento da economia. E como o ritmo ainda está lento para o lado da indústria, com estoques elevados, não se descartam novas medidas de incentivo ao setor, independentemente da baixa dos juros. Conselhos do Conselheiro Do ex-ministro Delfim Neto em artigo no jornal "Valor Econômico" : "Devido à finitude dos fatores de produção internos e do limite do crédito para financiar as importações, não é permanentemente possível maximizar, ao mesmo tempo, o crescimento econômico e a inclusão social sem produzir ou um aumento da taxa de inflação, que anula e torna uma ilusão a inclusão social, ou um déficit em conta corrente não financiável, que acaba matando ao mesmo tempo o crescimento e a inclusão. O problema é físico e não ilidível por mágicas monetárias, fiscais ou cambiais". Em tradução livre : não é possível fazer a economia crescer a tapas e pontapés. A batalha dos juros Enquanto os bancos oficiais, por "indução" da presidente, ampliam os cortes de suas linhas de crédito, os bancos privados, depois de reduzirem marginalmente suas taxas, parecem ter adotado um modelo "Gandhi" - resistência passiva para ver o que vai dar. O credo presidencial Da presidente Dilma no dia em que anunciou as alterações na poupança : "Queremos um país com taxas de juros compatíveis com aquelas praticadas no mercado internacional. Queremos que o nosso câmbio não seja objeto de políticas [monetárias] expansionistas, que, de forma artificial, sobrevalorizem a moeda brasileira e tornem também de forma artificial os nossos produtos pouco competitivos. É a chamada amarra do câmbio. E queremos que o país tenha impostos mais baixos para segurar a produtividade dos seus produtos, dos seus processos de trabalho (grifo nosso)". Para a primeira oração do credo, Dilma já botou toda a sua fé, ameaça e os bancos oficiais no ar. Para a segunda, está fazendo o que pode com o BC agindo para desvalorizar o real. Nas duas, porém, nem tudo depende dela. A terceira, porém, a dos impostos mais baixos, está totalmente no colo do governo e do Congresso. Por isso, a pergunta : quando, com a mesma vontade do ataque aos juros, ela vai botar o governo na linha dos impostos mais decentes. E como um todo e não apenas pontualmente, para alguns setores apenas ? Manda quem pode... ... obedece quem tem juízo. O ministro das Minas e Energia, Edison Lobão, anunciou como iminente a demissão do diretor financeiro da Petrobras, Almir Barbassa, um dos poucos remanescentes da era José Sérgio Gabrielli na diretoria da empresa. Sem subterfúgios, Graça Foster desmentiu secamente a informação. E Lobão calou. Que a Petrobras não dá bola, a não ser formalmente, ao ministério das Minas e Energia não é novidade. Lobão sabe das decisões da empresa na última hora, quando elas são fato consumado - quando não sabe pela imprensa. No entanto, alguns atribuem o "escorregão" do ministro, agora, a um lance político calculado. Seria uma tentativa de embolar as mudanças que Graça Foster está fazendo na direção da empresa, criar algum constrangimento para ela e salvar a cabeça de dois protegidos do PMDB que também estão quase na porta da rua : o diretor internacional, Jorge Zeleda, e o presidente da Transpetro, Sérgio Machado. Inútil tentativa. Fala quem pode Estranha-se no universo político o silêncio dos mais midiáticos dos ministros da presidente Dilma : Aloizio Mercadante, da Educação, e Alexandre Padilha, da Saúde. Eles estão agora falando para dentro ou, como diz em Brasília, roucos de tanto calar. Outro cujo silêncio deixou de incomodar, falar agora somente sobre o que é pertinente a sua área, deixou de ter opiniões próprias sobre a política econômica, é o presidente do BNDES, Luciano Coutinho. São coisas que confirmam cada vez mais o temor que os auxiliares têm da presidente Dilma, de seus humores e de suas cobranças. Poupança : só as cadernetas ? Não há analista sério, do ponto de vista econômico, estritamente técnico, que não tenha aplaudido a presidente Dilma no caso da alteração das cadernetas de poupança. Mas, há, pelo menos, três observações que são repetidas : 1. Alterou-se a remuneração, mas não se eliminou a indexação. 2. É preciso avançar na desindexação da economia brasileira, iniciada com o Plano Real e nunca completada. Outras amarras emperram mudanças mais profundas no sistema financeiro brasileiro. 3. O governo pegou a sua parte na história, pois a alteração na caderneta visa também garantir a manutenção dos clientes para os títulos da dívida pública. Quando ela vai dar uma contribuição maior, reduzindo mais velozmente essa dívida ? 4. Será preciso atacar agora também os juros do crédito imobiliário. A poupança e a política Em princípio, Dilma não enfrentará resistências políticas no Congresso no caso das cadernetas. Mas tudo vai depender de como a população reagirá, se ela vai entender as mudanças, com regras mais complexas, e aceitá-las. O governo tem agora pela frente uma batalha da comunicação e vai precisar da ajuda dos bancos particulares. Por precaução, Dilma não saiu para defender a medida. Para atacar os bancos, aproveitou todas as oportunidades possíveis. Nas cadernetas, deixou a exposição mais para Mantega e o BC. Os efeitos da política de juros Em que pese os acertos que o governo tem conseguido na política de juros e de câmbio, não há que se esperar uma taxa de crescimento robusta para este ano. Além dos efeitos nefastos da crise internacional, tem-se de considerar que o emprego se estabilizou, que a renda disponível dos assalariados está comprometida com empréstimos do passado e a confiança do consumidor e do investidor está mais baixa relativamente a fase de prosperidade do período entra 2009 e 2011. Talvez tenha chegado o momento do governo fazer um "choque de gestão" no PAC de forma a dar uma injeção de ânimo no setor privado. Radar NA REAL 4/5/12 TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA estável estável/alta - Pós-Fixados NA baixa baixa Câmbio ² - EURO 1,3059 estável baixa - REAL 1,9206 estável/baixa estável/baixa Mercado Acionário - Ibovespa 60.820,93 estável estável - S&P 500 1.369,10 estável alta - NASDAQ 2.956,34 estável alta (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável ____________
terça-feira, 24 de abril de 2012

Política & Economia NA REAL n° 195

O momento do mercado (I) Não se pode afirmar que os diversos segmentos de mercados não tenham sido mais otimistas que os próprios indicadores de desempenho das economias. Isso se deve ao fato de que os investidores estão operando em duas vertentes principais : (i) a primeira em função da crença (parcialmente justificada) de que a economia mundial (especialmente os países centrais do capitalismo) irão se recuperar a partir do ano que vem; (ii) uma segunda corrente acredita que um cenário de estagflação é provável e, na sua ocorrência, deter ativos reais é uma alternativa à renda fixa que tem rendimentos negativos. Como se sabe, o tal do mercado costuma acertar na tendência, mas exagera quase sempre. Não fosse esta a sua característica a "eficiência" dos investidores teria evitado muito antes as "bolhas especulativas" que destruíram o crescimento global. Os bancos centrais e as autoridades econômicas estão buscando evitar de todas as formas que exista excessiva volatilidade, esta uma inimiga visível e atuante na deterioração das expectativas. O momento do mercado (II) Do nosso ponto de vista, o próximo trimestre será, ao contrário do desejo das autoridades, um trimestre de alta volatilidade, muito embora sem os impactos devastadores do final de 2008 e início deste ano. Os preços dos ativos no mercado financeiro melhoraram muito em relação aos seus patamares inferiores e nos parecem "justos" para o momento de indecisão que vivemos. Nesta categoria se enquadram o mercado de ações local e dos EUA. No caso da Europa, por conta de sua situação de crédito, as ações devem sofrer mais, em termos relativos. Para o Brasil, o maior perigo reside no fato de que as ações locais devem acompanhar os preços das commodities no mercado externo. Como mencionamos na semana passada, há fundadas razões para acreditarmos que os investidores estão "desmontando" posições em diversos segmentos do mercado de commodities e isso conspira contra o valorizado mercado acionário brasileiro. Além disso, o resultado das exportações será afetado por este processo. Não à toa, a mexida do dólar para cima tem menos relação com as atuações do governo nos juros e no mercado cambial. O momento é de cautela. Não estamos mais pessimistas, mas não encontramos razões para acreditarmos em altas de preços nos ativos brasileiros. A dor de cabeça dos preços dos combustíveis O dólar, empurrado pelo BC, caminha celeremente para chegar aos R$ 1,90 - ou até mais. O petróleo não dá sinais de que vai perder preço tão cedo. Isto coloca em xeque a política de preço dos derivados de petróleo imposta à Petrobras pelo governo. Até Graça Foster, tida e decantada como fiel escudeira da presidente Dilma, já começa a chiar. Vai ter de ficar quietinha mais um pouco. O governo não quer botar gasolina na inflação para não atrapalhar seus planos de juros baixos e empurrão no consumo. Crescimento em foco Acerta o governo em mirar sua estratégia econômica em ativar a atividade econômica. Além disso, a queda do spread bancário é desejável e, de fato, possível. O uso dos bancos oficiais neste processo também nos parece justificável, muito embora seja necessário que exista estrita observância governamental ao aumento da inadimplência. O ponto crítico e ainda pouco atendido pelas políticas do governo é a questão do investimento. Neste item, a desconfiança dos agentes em relação ao PAC e aos investimentos em infraestrutura é considerável. É preciso retirar das mentes destes agentes a sensação de que existe uma gestão deficiente da parte do governo. Além disso, é importante se identificar no ambiente regulatório onde estão os "gargalos" e trabalhá-los com a iniciativa privada, preservando o interesse público. Ações efetivas neste campo deveriam retirar os temores de que a infraestrutura não será capaz de atender o crescimento do consumo. O governo deve saber que aí reside o maior risco. Todavia, ainda não se identificou o que o governo fará a respeito. Tem de ser algo de impacto, sob pena de ficar obscurecido pelo ambiente político tumultuado. Em suma : Os investimentos estão em queda (ou, no mínimo, estagnado), o consumo deve subir e mais incentivado ainda - essas contas podem não fechar no longo prazo. O filhote de Merkel Jens Weidmann, o jovem presidente do Bundesbank (44 anos), o banco central alemão, está fazendo uma vigorosa e pública exortação pela "disciplina fiscal e monetária" dos governos europeus. Ademais, está se confrontando com a política de acomodação monetária adotada pelo Banco Central Europeu, sob a liderança do italiano Mario Draghi. Pouco parece incomodar o tecnocrata de Merkel, o recrudescimento dos temores em relação à divida soberana da Itália, Espanha e Portugal. Também pouco leva em consideração que estes países e outros tantos, como é o caso da Grécia, estejam com um desemprego gravitando entre 20% e 25% da força de trabalho. Além disso, o burocrata alemão não faz nenhuma reflexão crítica que aponte que a causa do desarranjo fiscal e monetário atual se deve a necessidade imperiosa que os governos tiveram para salvar os bancos privados que andavam metidos no imenso processo especulativo desde o início dos anos 2000. Ora, Weidmann não é apenas inconveniente. É o retrato fiel de um conservador descolado da realidade mais óbvia. Lord Keynes deixa saudades. França : os extremos são fiéis da balança eleitoral Nicolas Sarkozy e François Hollande conquistaram a vitória para a disputa do segundo turno. Agora não deverão apenas buscar apoio nos outros candidatos presidenciais. Terão de fazer uma ginástica olímpica, marcada por evidentes traços de contorcionismo para atrair os votos de quase 30% do eleitorado que votou na extrema direita transfigurada em Marine Le Pen (18% do total de votos) e outro tanto que votou em Jean-Luc Mélenchon (11%). Ao que parece, a ginástica maior ficará por conta do atual presidente que terá de atrair os votos da extrema direita. O maior efeito deste processo pode ser sobre o "pacto" de Merkel com Sarkozy no que tange a superação da crise europeia. Os compromissos de Hollande com o seu eleitorado sindical devem mitigar os planos alemães para que exista mais aperto fiscal na Eurolândia. A CPI da vingança (ou do medo) Para alguns petistas, incendiados por Lula, a CPI do Cachoeira, será a CPI da "vingança". Para a maioria do Congresso, será a CPI do "medo" - o número de assinaturas recorde na proposta de convocação não quer dizer nada - ninguém quer ficar mal com o eleitor sendo contra investigações de corrupção. O que não quer dizer que a Comissão, cuja instalação e primeira reunião estão previstas para quarta-feira, vá seguir em frente. Pode ser que sim, pode ser que não. E o mais provável é que não. "Malfeitorias" demais passaram por esta "Cachoeira" para que haja empenho de verdade nas apurações. Como diz o dito popular, "se arrependimento matasse" muito gente boa que incentivou a CPI estaria agora apagando fogo no inferno. Só Lula não dá sinais de arrefecimento de ânimo, para desalento de muitas pessoas ligadas à presidente Dilma. Hora do PMDB Um dos efeitos, da convocação da CPI foi que Dilma, depois de uma manobra arriscada para se livrar de certo peemedebismo, vai agora depender das mesmas figuras que queria jogar no ostracismo, para não deixar as investigações atropelarem o governo - José Sarney, Renan Calheiros e Romero Jucá. Outra consequência : Dilma terá de fazer um esforço redobrado para que projetos de seu interesse andem na Câmara e no Senado e andem no rumo que ela quer. Alguns parceiros vão aproveitar a confusão para cobrar pedágio do Palácio do Planalto. A inflação na economia está acomodada, mas a política está inflacionada desde que Lula botou fogo na CPI. Dilma e as perspectivas de poder Não deixa de ter sido um pouco estranho o DataFolha haver incluído em sua última pesquisa sobre a popularidade da presidente Dilma e a aceitação de seu governo uma pergunta específica para saber quem deveria ser o candidato do PT ao Palácio do Planalto em 2014. Deu Lula com folga e não Dilma, apesar do prestígio da presidente estar nas alturas e em crescimento (66%) muito acima do que Lula e FHC alcançaram em períodos idênticos de governo. No entanto, mesmo a informação de que o PT prefere Lula a Dilma (também não é uma surpresa) é boa para ela. Por mais que sonhem os mais lulistas dos petistas, Lula, pelas peripécias que enfrentou - e ainda está enfrentando -, é peça fora do esquadro na sucessão presidencial de 2014. Vai colher votos, não para ele. Assim, Dilma aparece como única opção viável para o PT, só correndo riscos se a economia começar a fraquejar e os sonhos de consumo da chamada nova classe média sofrer um baque. O que explica a insistência dela em não deixar arrefecer o consumo, as pressões para a queda dos juros e o aumento da oferta de crédito bancário. E enquanto ela for a perspectiva de poder, os aliados, mesmo contrariados em alguns desejos, não abandonarão o iate presidencial. Judiciário em chamas As trocas de "amabilidades" entre os ministros Cezar Peluso e Joaquim Barbosa, trouxeram a nu o que já era bem evidente : a idiossincrasias e disputas de ego no Supremo Tribunal Federal. Quem leu reportagem do jornalista Luis Maklouff Carvalho em edição do ano passado de revista "Piauí" sobre o STF e os senhores magistrados percebeu o tamanho da confusão e o impasse a que está chegando a Suprema Corte. Fruto de escolhas de ministros nos últimos anos, que, mesmo com embasamento técnico, levaram em conta principalmente questões políticas. É consequência também da extraordinária "judicialização" das atividades sociais, políticas e econômicas no Brasil. Os ministros deixaram de ser apenas magistrados e agora são também partícipes do processo. O ministro Ayres Britto, no discurso de posse na presidência do STF deu sinais claros que está consciente do problema. Sua grande contribuição à Justiça brasileira nesses poucos meses (se aposenta em novembro) que ficará à frente do Supremo será colocar a instituição dos eixos, podando egos, idiossincrasias e veleidades de popularidade. Ativismo midiático De Joaquim Falcão, professor de Direito Constitucional da FGV DIREITO RIO, em entrevista ao jornal "Valor Econômico" : "O Supremo mudou de cultura. No passado tinha uma cultura mais interna, discreta, onde se sobressaia mais a Corte, o colegiado. De uns 15, 20 anos para cá essa cultura mudou e passou a ser mais individualizada, menos colegiada. Isso se reflete inclusive nas decisões do Supremo. Mais de 80% das decisões são hoje tomadas individualmente pelos ministros, e não tomadas pela Corte como órgão coletivo. Outro ponto que se fala é um certo ativismo político do Supremo, quando [o STF] tenta se expandir interferindo em matéria que seria do Legislativo, ou do Executivo ou ainda quando passa a intervir demais em assuntos de domínio privado. Esse ativismo não me preocupa nesse momento, porque não acredito que tenha passado de um ponto expressivo. O que me preocupa é o ativismo midiático, com excessiva exposição pública, individualizada dos ministros. O ativismo midiático cria mais insegurança do que o ativismo jurídico". Obama : 10 a 1 O Partido Democrata, ao final de março último, tinha US$ 100 milhões para a campanha eleitoral de Barack Obama. Dez vezes mais que o provável candidato republicano Mitt Romney. Muitos analistas têm relevado que, mais do que nunca, a eleição norte-americana não é mais um "show da democracia", mas uma aberração da "plutocracia". Em meio à crise atual, o establishment da maior economia mundial dá sinais que Obama representa mais os seus interesses que o ideário "mercadista" e liberal dos republicanos. E isto se reflete nos números da conta bancária do primeiro presidente negro. Obama docemente se converte a um moderado discurso para a eleição. Romney não consegue radicalizar : falta-lhe consistência com o dramático cenário das classes mais pobres e médias da sociedade americana. A eleição de Obama em novembro parece certa até agora. Radar NA REAL 20/4/12 TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA estável estável/alta - Pós-Fixados NA baixa baixa Câmbio ² - EURO 1,3134 estável baixa - REAL 1,8838 estável/baixa estável/baixa Mercado Acionário - Ibovespa 62.494,08 estável estável - S&P 500 1.378,53 estável alta - NASDAQ 3.000,45 estável alta (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável ____________
terça-feira, 17 de abril de 2012

Política & Economia NA REAL n° 194

"A CPI que todos apoiam e ninguém quer" O título acima é de uma reportagem do jornal "Valor Econômico" de sexta-feira e define com perfeição os rumos que o pedido de investigação das estripulias financeiras do "corretor zoológico" Carlinhos Cachoeira no Cerrado (Goiás e Brasília) e, provavelmente, alhures. Depois do entusiasmo inicial, os governistas, principalmente o PT, estão procurando agora uma forma de evitar a CPI ou, ao menos, torná-la inócua. E a oposição, que seria, segundo cálculos iniciais dos petistas, a grande vítima da Comissão, e somente aceitou a investigação porque, como minoria, não tinha outra saída, agora olha o circo governista pegar fogo. A CPI e o Planalto Dilma já espalhou sua proverbial irritação por todos os lados depois que percebeu que : (1) as investigações podem tumultuar o Congresso e prejudicar votações importantes na Câmara e no Senado; (2) os aliados insatisfeitos podem aproveitar o momento para jogar combustível na fogueira e ainda fazer suas prosaicas cobranças (vulgo chantagem); (3) um dos prováveis alvos da CPI, a Construtora Delta, queridinha de Cachoeira, é queridinha também das obras do PAC; (4) O PT, com o governador Agnelo Queiroz, também está na roda, ou seja, a bomba não deve estourar apenas nas mãos do PSDB (Marconi Perillo) ou do DEM (Demóstenes Torres) e companhias belas. A estratégia agora será ir segurando o quanto der a instalação da Comissão. Para isso, foi providencial o período que o senador Sarney passará internado em SP. A esperança é que, com esse jogo morno, dê tempo para a Comissão de Ética do Senado propor e o plenário cassar Demóstenes e a punição deixar a opinião pública satisfeita e relaxada. Lembranças de outra CPI Muitos dos que alertam para os riscos do governo da CPI lembram-se de um episódio que poderia ter mudado os rumos do governo Lula, ocorrido na CPI do Correios, a que desvendou o mensalão : acuado, o publicitário Duda Mendonça confessou que havia recebido parte do dinheiro por seus serviços prestados da campanha presidencial de 2002 em dólares e no Exterior. Foi quase o fim do mundo. Quem estava em Brasília e no Congresso aquele dia viu petistas com lágrimas nos olhos de desespero. Poderia ter sido o fim do governo Lula. E o ex-presidente, para evitar um provável processo de impeachment, chegou até a admitir a possibilidade de não se candidatar à reeleição no ano seguinte. A oposição, não se sabe bem por quais razões se acomodou - diz-se que esperava Lula sangrar sem precisar que ela brigasse. É o que dizem : se um publicitário escolado como Duda escorregou diante dos parlamentares, o que pode acontecer com gente mais inexperiente ou com contas a ajustar com o governo, nesta CPI do Cachoeira ? O medo baixou Segundo uma analista com trânsito nos meios político e jurídicos, com a decisão da semana passada autorizando o aborto de fetos anencéfalos, o STF deu mais uma demonstração de que, em questões de grande relevância (ou no "atacado"), não "decepciona". Foi assim, também, na confirmação da validade da Lei Ficha Limpa. Pode até vacilar no "varejo", porém não titubeia no essencial. Foi essa percepção, que não passou despercebida no mundo político, que levou parte dos governistas a considerar totalmente inoportuna uma fala do presidente do PT, Rui Falcão, tentando ligar a CPI do Cachoeira ao mensalão. No dia seguinte à divulgação da gravação de Falcão, ele mesmo tentou explicar que não era bem assim e petistas de escol cuidaram de dizer que uma coisa não tem nada com a outra coisa. Baixou o medo de que tal posição pudesse irritar os ministros do Supremo, pois pode parecer uma tentativa de pressionar o tribunal no julgamento do caso dos mensaleiros. Tudo que não se quer nos meios governistas é um Supremo irritado. Aliás, o que o PT quer mesmo é evitar qualquer julgamento do mensalão este ano. Para isto é que estão trabalhando os advogados dos mensaleiros, principalmente o ex-ministro da Justiça, Márcio Thomas Bastos. Aliás, Thomas Bastos, por coincidência, também é advogado de Carlinhos Cachoeira. Demasiado desumano É certo que Lula não sabe ficar quieto, e tem comichões quando vê um palanque. Mas quem viu a participação dele no evento do PT sábado em São Bernardo do Campo, quando o ex-presidente teve de suspender seu discurso por um acesso de tosse, percebeu que não são nada corretas as exigências que o PT está fazendo a seu principal líder para participar das campanhas municipais desde agora. O tratamento a que Lula se submeteu exige que ainda passe por um período de repouso quase absoluto. Notícias do manicômio tributário - I Na coluna da semana passada, lembramos que, a partir do momento em que as dobras do mais recente pacote de incentivo à indústria lançado pela presidente Dilma fossem desvendadas, outros aumentos de impostos poderiam aparecer, além do reajuste no IPI dos cigarros e mais Cofins nas importações. Pois bem, já apareceu um. Na MP 563, estão embutidos possíveis aumentos no IR e CSLL das empresas, como registra a exposição de motivos que acompanha a MP : "Como algumas das alterações introduzidas pelos artigos 38 e 40 da MP podem implicar aumento do tributo (grifo nosso), em atenção ao princípio da anterioridade foi estabelecido que a produção de efeitos ocorreria em 2013". Notícias do manicômio tributário - II Depois da leitura mais acurada da MP 563, da troca da contribuição previdenciária de 20% sobre a folha de salários por um percentual de 1% a 2% sobre o faturamento de 15 setores da indústria, as empresas começam a descobrir que a operação será tão confusa que em muitos casos pode até não compensar a mudança. E que vai encarecer os serviços contábeis fiscais das companhias. Só um exemplo : uma mesma empresa pode ter produtos desonerados e outros não, o que exigirá que ele faça separação dos custos com a folha para cada produto, pois uns continuarão recolhendo 20% e outros 1% ou 2%. A dona dos juros Quem define o tamanho dos juros no Brasil é a presidente Dilma. O ministro Guido Mantega é o transmissor do fato consumado e o BC o executor, quando é o caso. Na "guerra" do spread o BC continua calado. Aliás, o ministro da Economia de Dilma é...Dilma Rousseff. A reunião do Copom No contexto atual a queda dos juros é possível em função da tranquilidade cambial e da inflação. Assim sendo, uma queda de mais 0,75% da taxa básica para 9% ao ano é provável. Os elementos analíticos do BC devem reforçar a tendência declinante dos juros, mesmo porque a recuperação da demanda doméstica não será tão rápida quanto se imagina, algo além deste ano. O limite dos juros básicos Há dois limites que devem ser obedecidos ex ante pelo governo no atual contexto de redução de juros. O primeiro é a inflação controlada, a qual não se pode fazer maiores previsões altistas. Os fatores de elevação da inflação estão quase todos controlados. Apostar em alta contínua dos preços neste momento é de alto risco. O segundo é o risco do país, representado pela diferença entre os juros dos títulos do Tesouro dos EUA e a remuneração dos títulos soberanos do país. Este spread gravita atualmente ao redor de 3,5% ao ano. Logo, se somarmos uma inflação anual prevista de 4,5% com o risco país, a taxa de juros doméstica presumivelmente "neutra" do país seria de 8%. Este nos parece o limite da taxa de juros básica no atual contexto. Movimento das commodities e fundos hedge Sabidamente, uma das razões para a tranquilidade da macroeconomia brasileira diante dos colapsos financeiros dos últimos anos nos países de capitalismo central é o fluxo expressivamente positivo advindo do segmento das commodities. Pois bem : há um discreto movimento dos denominados hedge funds reduzindo posições nesta categoria de ativos. Dados da Commodity Futures Trading Commission, entidade fiscalizadora dos EUA, mostram que desde o final do ano passado os contratos de commodities detidos pelos fundos hedge caíram quase dez por cento. Em alguns casos, a queda das posições foi acentuada, como no caso do cobre (-84%). Este movimento pode se acentuar em função da expectativa de redução da atividade econômica da China. Eis um dado para ser observado atentamente. É crucial para o Brasil. A primeira vítima A "guerra" do spread já fez sua primeira vítima : o presidente da Febraban, Murilo Portugal. Ex-dirigente do FMI, Portugal não deverá perder o emprego, mas perdeu a utilidade para os banqueiros : não é mais interlocutor aceitável para o governo Federal. Em 2006, quando o mesmo Guido Mantega, nesse caso em apoio de Lula, como o que está tendo de Dilma, começou um movimento, via bancos oficiais também, para reduzir o spread bancário, o então economista-chefe da Febraban, Roberto Luis Troster, deu uma entrevista criticando a medida, dizendo que ela não daria certo. Pelo que se vê seis anos depois, nessa nova investida do governo, os juros persistem elevados. Troster, porém, perdeu o lugar. Há quem diga que Portugal vai para a geladeira por ter enfraquecido a posição dos bancos particulares. Erro de cálculo Muitos dos que se incomodam hoje com algumas ofensivas, na área política e econômica da presidente Dilma, como agora do spread bancário, não imaginaram o que sempre estava na cara : a presidente é diferente de seu protetor, o ex-presidente Lula. Enquanto Lula é dado a acomodações, negociações e conciliações, Dilma tem menos "cintura", é muito mais ideológica e mais determinada a fazer acontecer aquilo que acredita. A CUT e o imposto sindical - a farsa Não deve ser colocada no rol das coisas sérias a campanha da CUT contra o imposto sindical. No fundo ela retoma um mote do Lula sindicalista, dela mesmo e do PT antes de apearem no Palácio do Planalto. Só seria meritória se enterrasse de vez esta herança do getulismo e forçasse os sindicatos e suas centrais a sobreviverem apenas da contribuição voluntária de seus associados. Também associados voluntários. Não é bem isto o que a CUT prega. Ela defende a substituição do imposto por outra contribuição disfarçada do trabalhador, também compulsória, para filiados e não filiados. Muda-se o nome para permanecer tudo como está. O tempo político de Aécio Um voo sobre a sucessão presidencial, do lado da oposição, visto da terra das Alterosas : 1. Não passa pela cabeça do senador Aécio Neves outra coisa que não ser o candidato tucano à Presidência, com o apoio dos atuais aliados do PSDB, PPS e DEM e, provavelmente, com incorporação de outros parceiros - PSB, PDT, PP, PTB e, se vingar, o PSD de Kassab. 2. Não adianta cobrar agora do ex-governador mineiro uma oposição agressiva ao governo da presidente Dilma. Primeiro, porque não é o estilo dele, mais voltado para o modelo do avô, Tancredo. Depois, porque é contraproducente num momento de alta popularidade da presidente. 3. O momento de Aécio é procurar alianças e firmar sua imagem fora do circuito Minas - Rio de Janeiro - Brasília. Fará cada vez mais viagens para outros Estados, para conquistar tucanos e apresentar-se ao eleitorado. 4. Agora, ele fará apenas críticas no "atacado", procurando mostrar os equívocos da política econômica e em outras políticas como de saúde, educação. Chama-se a atenção para discursos que tem feito no Senado nesta linha e artigos semanais na "Folha de S.Paulo". Por aí vai formando uma espécie de plataforma de campanha. Acredita-se que Dilma começará a fraquejar quando a economia entrar em dificuldades. Será, então, a hora de atacar. Não antes do ano que vem, nem antes dele próprio Aécio se firmar como candidato com visibilidade. Sempre a imprensa Em entrevista ao jornalista Fausto Macedo, do "Estadão", o novo presidente do TRF da 3ª região, Newton De Lucca, usando expressões como "jornalismo trapeiro", "bandoleiros de plantão", "niquices", "meandros de certos poderes midiáticos no Brasil" e que tais, defender a criação de um "habeas mídia" no Brasil, lançado em seu discurso de posse. Apesar do estilo e do linguajar, De Lucca não consegue disfarçar sua verdadeira intenção que é de criar um instrumento capaz de constranger o livre exercício da liberdade de imprensa. Nesse item ele corre na mesma linha de parcelas do PT que nunca deixaram de sonhar com algum tipo de "controle social da mídia" e pensam aproveitar uma possível CPI do Cachoeira para voltar ao ataque a jornalistas e meios de comunicação. Em tempo : De Lucca é poeta, autor dos livros "Pintando o Sete" e "Odes e Pagodes". Radar NA REAL 13/4/12 TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA estável estável/alta - Pós-Fixados NA baixa baixa Câmbio ² - EURO 1,3126 baixa baixa - REAL 1,8375 estável/baixa estável/baixa Mercado Acionário - Ibovespa 62.105,60 estável estável - S&P 500 1.370,26 estável/alta alta - NASDAQ 3.011,33 estável/alta alta (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável ____________
terça-feira, 10 de abril de 2012

Política & Economia NA REAL n° 193

Medidas de estímulo : consumo e investimento (I) Um dos "enigmas" mais complexos na ciência econômica é aquele que tenta discernir se é o consumo que precede o investimento ou vice-versa. Este "enigma" torna-se ainda mais relevante quando se decide adotar medidas macroeconômicas : deveriam estas estimular prioritariamente a variável "consumo" ou a variável "investimento" para estimular a economia ? Bem, enquanto a ciência econômica não resolve completamente esta questão, o governo brasileiro resolveu estimular o consumo por meio de medidas fiscais e creditícias. Uma rota de mesma natureza do que ocorre nos EUA, para citar o exemplo mais gritante do momento. Todavia, contrariamente aos EUA, que têm uma magnífica base de investimentos instalada, sobretudo em termos de infraestrutura, o Brasil carece de meios de transporte, logística, energia, tecnologia, etc., que sejam suficientes para tornar o crescimento sustentável (crescimento do PIB sem inflação). Medidas de estímulo : consumo e investimento (II) Tomada a questão da nota anterior e analisado o pacote de estímulos adotado pelo governo na semana passada, não poderíamos afirmar que as medidas carecem de fundamentos e, no geral, eficiência para fazer a economia crescer. Já o total de recursos (R$ 7 bi de renúncia fiscal, por exemplo) parece pouco para reverter a atual estagnação econômica. Ademais, os estímulos às exportações foram muito pontuais e baseados essencialmente em medidas protecionistas. Nada de relevante do ponto de vista de todo o sistema foi adotado. Este sim é um ponto crucial. Além disso, medidas de proteção contra importações podem ser até justificadas em função das práticas adotadas por países como a China, mas, de outro lado, não há evidências de que a produtividade doméstica está aumentando a ponto de nos deixar mais competitivos no futuro. Em outras palavras, o pacote ataca as adversidades conjunturais com eficiência duvidosa, mas não deixa nenhum rastro de que há uma mudança estrutural à vista. Medidas de estímulo : consumo e investimento (III) Não há razão, entretanto, para que fiquemos pessimistas com o que o governo implementou na semana do feriadão de Páscoa. A direção das medidas está correta, embora o tiro seja de curto alcance e faltem medidas de estímulo ao investimento. Por exemplo, por que o governo não lança um largo programa de estímulos às PPPs para elevação dos investimentos em infraestrutura (estradas, energia, transporte ferroviário, etc.) ? Mesmo o tão comemorado pré-sal merece maiores atenções. Não é preciso ser um analista dedicado para perceber que o PAC está lento e que muitas das medidas não são efetivas para a melhoria das condições da infraestrutura nacional. Talvez estas medidas estruturais sofram um peso maior da "avaliação ideológica" que se faz delas no centro do poder. Afinal, teriam de ser discutidos temas caros ao PT e outros partidos que apoiam o governo, tais quais, a privatização e mudanças regulatórias. O que estará pensando a presidente a respeito disso ? Manicômio tributário Um fato é certo : o pacote aumentou um pouquinho mais a complicação do nosso complicado sistema tributário brasileiro. E mais discretamente do que o faz quando falava das medidas consideradas positivas adotadas semana passada, o ministro Mantega não deixou de apresentar a conta das bondades oficiais : a Cofins de produtos importados será elevada sob a alegação de que é preciso compensar o custo da "desoneração" da folha salarial de alguns setores (agora 15) e o IPI sobre bebidas também será elevado. Como algumas das propostas adotadas terão de passar pelo Congresso via MPs e nem todas as dobras do pacote, anunciado às portas de um feriado ainda não foram escarafunchadas, um analista das questões de impostos no Brasil suspeita que no fim, noves fora nada, ante o que foi dado e o que será cobrado, ainda sobrará um troquinho para o Tesouro. Caso contrário, a meta de superávit primário de 3,1% do PIB este ano somente fechará com muita mágica. A competição bancária Ninguém há de negar que o setor bancário brasileiro é um dos mais eficientes do mundo e sua higidez é inegável. Isso não é ponto a favor do ponto de vista da microeconomia. É virtude macroeconômica de vez que nos distancia de crises bancárias que juntamente com as cambiais são as mais graves que podem ocorrer numa economia. De outro lado, também parece evidente que o mercado financeiro brasileiro está excessivamente oligopolizado, isso para dizer o mínimo. As privatizações dos bancos estaduais, a fusão de bancos brasileiros e estrangeiros, a aquisição de pequenos e médios bancos por parte das grandes instituições, bem como o colapso de outras instituições financeiras na Europa e nos EUA, tornaram o mercado doméstico pouco competitivo. Esta é uma das causas para que o spread bancário seja campeão do mundo. Some-se a isso, com relevante importância, os excessos tributários que afetam o crédito e a falta de velocidade judicial na recuperação de créditos para agravar ainda mais o quadro. Neste contexto, o mercado de crédito brasileiro é um obstáculo de monta para estimular o consumo e o investimento. Neste último item, reside uma das grandes atratividades dos empréstimos oficiais do BNDES, cujo custo de captação é mais barato e a taxa final mais atraente para as empresas que desejam investir. Vejamos na próxima nota o tratamento que o governo deu ao tema no bojo das medidas divulgadas na semana passada. Bancos oficiais e aumento de competição Olhada a estrutura do mercado financeiro brasileiro, vê-se que os bancos oficiais, no caso a CEF e o BB, ocupam excelente posição dentre os grandes deste mercado. São altamente lucrativos, mesmo se comparados às instituições financeiras globais e, em menor medida, relativamente aos grandes bancos brasileiros. Em tese, seriam ótimos instrumentos para se estimular a competição no mercado doméstico. O governo sinalizou que agirá neste sentido e já "mandou" reduzir drasticamente as taxas de juros dos empréstimos destes bancos, incluindo o do cheque especial e do cartão de crédito. Há muitas e complexas variáveis a serem analisadas neste tema. De nossa parte, ficamos com duas questões que nos parecem vitais : (i) se fosse apenas uma questão de comando estatal, por que isto não foi feito antes ? Adicionalmente, (ii) será que a redução dos juros bancários levará em consideração os riscos trazidos pelo aumento da disponibilização de mais crédito, sobretudo o aumento da inadimplência e o estímulo à tomada de crédito de maneira irresponsável por parte dos agentes ? Assim como as demais medidas de estímulo ao consumo, a utilização dos bancos oficiais como "reguladores de mercado" parece tem sido realizada de supetão, sem que exista um "plano diretor" que ataque este problema de forma estrutural. Com riscos significativos para o sistema de crédito. Basta ver o exemplo do que aconteceu lá fora até 2008. É indecente, mas... Não há dúvida, tecnalidades a parte, que o spread bancário no Brasil é para além de pornográfico. Mas cabe outra pergunta : por quanto tempo os bancos oficiais aguentarão as novas taxas aplicadas a partir desta semana, se não houver mudanças total no sistema, sem tingir seus balanços de vermelho ? É político também Não era o objetivo principal, nem do pacote da indústria, nem os movimentos dos juros do BB e da CEF, mas pelo timing, pela pompa da festa para a indústria em Brasília, são dois excelentes reforços políticos para a presidente Dilma, ainda em alta nas pesquisas. É marketing do bom : ajuda a segurar os insatisfeitos aliados. De outro ponto de vista, são mais medidas que ajudam o governo a ganhar tempo antes do inevitável confronto com nossas fraquezas estruturais. O desafio é saber : até quando. Ainda sobre os bancos oficiais Há pouco tempo o governo andava preocupado com as disputas de poder envolvendo a diretoria do BB e da Previ. Está tudo em paz agora ? Estará pronta a diretoria do BB para exercer o seu papel "regulador" no mercado ? E o BC ? Foi notada a pouca presença do presidente do BC no lançamento do pacote econômico na semana passada. De outro lado, muitas das medidas tem relação direta com a autoridade monetária e financeira. Sinal de que a independência operacional do BC está cada vez menor ? O momento parece ser novamente, todo de Mantega. O ministro da Fazenda até aventurou-se, diante de outro número positivo da inflação, a dizer outra vez que estão asseguradas mais condições para a baixa dos juros Selic. Recado para o BC de que os 9% até o fim do ano previstos pelo mercado já não agradam ? Radar NA REAL 5/4/12 TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA estável estável/alta - Pós-Fixados NA baixa baixa Câmbio ² - EURO 1,3129 baixa baixa - REAL 1,8182 estável/baixa estável/baixa Mercado Acionário - Ibovespa 63.691,18 estável estável - S&P 500 1.398,08 estável/alta alta - NASDAQ 3.080,50 estável/alta alta (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável Congresso anão Em meio as mudanças econômicas em curso, o Congresso permanece como um ator coadjuvante na discussão dos grandes temas nacionais. Ao que parece, não há apetite para tal. De outro lado, qualquer tropeço do governo na Câmara ou no Senado será oportunidade para "espetar" (na palavra de um deputado que frequenta o "baixo clero"). Ou seja, entre o debate nacional e a chantagem contra o governo, a escolha do Congresso parece feita. Dilma e Obama Está certo que o governo americano deixará de pensar que cachaça é rum. Bem como o governo brasileiro vai incorporar por aqui o bourbon norte-americano. Reduzir a visita da presidente Dilma aos EUA a estes temas é empobrecer a análise. Há importante mudança de sentido na política externa brasileira, na direção dos EUA e em detrimento aos excessos terceiromundistas cometidos na octaetéride de Lula da Silva. Muito embora o Brasil seja um país bem menos importante que deveria ser para os EUA, a China comunista não parece ser um parceiro estrategicamente confiável. Dilma parece concordar. Cachoeiras e cascatas Os tentáculos de Carlinhos Cachoeira alcançaram muito além do natimorto político senador Demóstenes Torres e do Estado de Goiás. Espalharam-se por diversos partidos e pisaram também no solo do governo do DF. Por sua influência política tão vasta, trata-se, na verdade, de um "Rei do Cerrado". Na UTI Cachoeira à parte, inspira cuidados no PT o governo Agnelo Queiroz no DF. Por via das dúvidas, o governo Dilma cedeu dois servidores seus para cobrir o flanco petista na capital : Swedenberger Barbosa, ex-José Dirceu e secretário-Executivo de Gilberto Carvalho foi para a Casa Civil do DF, e Luiz Paulo Barreto, ex-secretário Executivo da Justiça saiu para a Secretaria do Planejamento. As razões do cerco petista a Agnelo são duas : histórias duvidosas e deficiência administrativa. E isso pega muito mal na vitrine que é Brasília. Na UTI - II Inspiram mais cuidados ainda o ministério da Pesca e o humor da ministra das Relações Institucionais Ideli Salvatti. Quem disse que o PMDB está na muda ? Atribui-se à ministra Gleisi Hoffmann, da Casa Civil, com by pass na colega Ideli Salvatti e no líder do governo no Senado, Eduardo Braga, a formação do bloquinho PR/PTB no Senado. A manobra teria levado o PR a voltar aos seios oficiais e reforçaria o governo no Senado. Neo-política, Gleisi parece ter caído num conto do vigário : a manobra teve, na realidade, o velho e experiente dedo peemedebista, e o bloquinho é mais uma fonte cobradora de peso no Senado. Contas a pagar Dilma celebrou uma paz momentânea na Câmara e no Senado : prometeu aos governadores mudar o indexador do contrato de rolagem das dívidas estaduais, prometeu liberar parte das emendas parlamentares até junho e prometeu resolver as pendências ministeriais do PDT e do PT. Em troca, quer levar na Câmara o Código Florestal sem mudanças no texto que saiu do Senado, e, no Senado, a Lei da Copa e a Resolução 72, que acaba com a chamada "guerra dos portos". Quem vai ter de pôr primeiro as contas na mesa. O real Do assíduo leitor desta coluna, publicitário Alexandre Filizola : "Não há mais situação ou oposição. Há um saque à coisa publica a luz do dia". ____________
terça-feira, 3 de abril de 2012

Política & Economia NA REAL n° 192

Estímulos à economia : fatos e expectativas Em matéria econômica, as expectativas antecedem aos fatos. Na política, ocorre o contrário. Na economia, os agentes operam em função das expectativas. Na política, os agentes políticos operam em função dos fatos e, assim, formam-se as expectativas. Nesta terça-feira, Dilma tentará operar as expectativas dos agentes econômicos por meio de uma série de medidas que visam reverter o quadro de letargia que está por tomar a economia. Também, criará um fato político, tentando atrair, para o suporte de seu governo, agentes econômicos desconfiados em relação a seu governo. As chances de sucesso das medidas econômicas são relativamente limitadas em função de dois aspectos gerais : (i) ao estimular setores econômicos específicos, os efeitos das medidas se limitam em larga medida a cadeias de produção limitadas. Sobretudo a desoneração de certos tributos nas exportações tenta criar uma espécie de "taxa de câmbio" para cada setor "selecionado". Com isso a competitividade do sistema é mitigada em prol de uns poucos ; (ii) a taxa de investimento cresce em função do "espírito animal" dos agentes pelo qual estes criam uma nova base produtiva para lucrar no futuro. Ora, com o consumo cadente (os salários em termos reais estão estagnados) e pouca crença dos agentes em relação às reformas estruturais e regulamentações estatais pró-iniciativa privada, o cenário torna-se mais incerto. O governo sabe disso, mas aparentemente operará conforme as necessidades forem surgindo. Ou seja, no ritmo lento e gradual que é a marca da gestão Dilma. Por tudo isso, o fato político é insuficiente para ampliar a base política do governo. A necessária criatividade e paciência presidencial Há de se reconhecer que a política econômica do governo é segura, mas carece de criatividade num mundo complexo e cheio de armadilhas. Assim, estrategicamente, o governo mostra-se incapaz de operar contra a "guerra cambial" que ele próprio diagnostica. Enquanto isso, os países centrais, especialmente os EUA, atuam com medidas vastas e de peso - no caso norte-americano, até com o "apoio" dos modelos e algoritmos do Pentágono - o governo Dilma não enfrenta assuntos pendentes e relevantes. Vejamos alguns pontos : quem estrutura "políticas industriais" que atraem investimentos externos ? Quais os efeitos concretos da "política de campeões" do BNDES ? Há algo de "esquisito" numa economia onde a tributação sobe em termos reais e a atividade econômica patina. O fisco tem de combater a sonegação, mas não estará onerando exatamente os mais produtivos ? O BC reduz (corretamente) os juros básicos, mas como agirá em relação ao spread bancário e aos elevados custos do crédito doméstico ? Eis algumas questões inquietantes que precisam ser enfrentadas e que carecerão de dois outros aspectos : (i) dependem, em parte, de apoio político congressual e social e (ii) da paciência presidencial em articular interesses e ações governamentais. Ambos os aspectos andam meio capengas. Novo imposto ? Informações extraoficiais da semana passada, enquanto Dilma carregava a tiracolo na Índia dois de seus outros conselheiros em matéria de economia - o ministro Pimentel e o secretário-executivo do ministério da Fazenda, Nelson Barbosa - davam conta de que a presidente teria pedido mais criatividade ao ministro Mantega nas medidas do pacote de indução ao crescimento mais acelerado da economia nacional e proteção da indústria pátria. Ela não quer mais do mesmo. Nesse caminho, a Fazenda deixou vazar em Brasília a informação de que pode criar, excepcionalmente, uma Cofins especial para taxar os produtos importados. Criatividade, mais do mesmo de sempre ou uma forma de compensar a desoneração de alguns impostos para alguns setores da indústria ? Silêncio constrangedor Todas essas discussões sobre pacote ou não pacote, mais ou menos subsídios, redução dos juros do BNDES (uma das medidas em estudo), que transferem dinheiro público de um lado para outro, determinando vencidos e vencedores, e de um modo ou de outro, para o bem e para o mal vão interferir na vida de milhões de brasileiros, se dão totalmente à margem do Congresso e dos partidos. A sociedade em seus momentos mais cruciais continua indefesa. A oposição não sabe o que fazer, os governistas sabem bem demais o que querem. E o ministério do Desenvolvimento ? Fernando Pimentel, ministro do Desenvolvimento e amigo da presidente, deveria ser peça fundamental para a articulação econômica do governo. Todavia, anda tropeçando na prestação de contas de seus altíssimos rendimentos pós-gestão na prefeitura de BH e, ao mesmo tempo, anda se desentendendo com a Fazenda de Guido Mantega. Não há nenhum empresário, ao que parece, querendo protestar contra a falta de apetite do Desenvolvimento para atacar os problemas da indústria nacional. Todavia, não são poucos os sussurros que se ouvem nas reuniões de empresários quando o assunto gravita em torno das políticas do Desenvolvimento. Se fossem em voz alta, tais sussurros corariam as bochechas do mineiro. Mas ele ainda tem prestígio Apesar disso, do "malfeito" (vide Dilma) de que é suspeito, o ex-prefeito de BH ainda é um dos homens de maior confiança da presidente. Basta ver as fotos das viagens dela ao Exterior, como p. ex. esta agora à Índia para a reunião dos Brics : Pimentel está sempre ao lado. Sem contar o esquema que ela montou para evitar que ele vá explicar-se na Câmara e no Senado. No calcanhar dessa estratégia está a Comissão de Ética Pública da Presidência. Abriu-se uma investigação sobre as consultorias de Pimentel, com o voto de desempate do presidente da Comissão, o ex-ministro do STF, Sepúlveda Pertence. Viu-se no voto de Pertence uma reprimenda pública e dura a Pimentel. Bons farejadores de Brasília apostam que vai ficar por aí. Pimentel poderá receber apenas uma reprimenda leve, ao contrário do que ocorreu, por exemplo, com o ex-ministro do Trabalho, Carlos Luppi. Observa-se que o pedetista carioca, ao contrário do petista mineiro, não está no coração de Dilma. Além do mais, quando a Comissão anunciou que trataria do caso Pimentel, a presidente não escondeu sua contrariedade. Algumas daquelas pessoas que portam a voz da presidente, anonimamente, informaram até que ela pensava em trocar praticamente todos os membros da Comissão. A história foi timidamente desmentida. Mas ficou o recado. Um momento decisivo para o prestígio do grupo dirigido por Pertence. Enquanto isso nos EUA... Não se sabe ainda se a demanda "em aquecimento" nos EUA será suficiente para sustentar e estimular o investimento e, sobretudo, o consumo futuro. Todavia, a patota de Wall Street começa a especular que é possível que a maior economia do mundo esteja saindo do buraco em que se meteu. Não são poucos os que temem uma disparada futura da inflação, é verdade. Basta ver que os metais e outras commodities que são "reserva de valor" persistem com demanda por parte daqueles que querem se proteger contra um dólar mais frágil e inflacionado. Todavia, no curto prazo está se consolidando a ideia de que as ações seguirão em rota de alta (o que ajuda a demanda) e o emprego sobe ainda mais no curto prazo (atualmente ao redor de 8,7%). Obama agradece duplamente o melhor desempenho da economia e o discurso desencontrado dos republicanos, além da tibieza verbal e política de seu principal candidato Mitt Romney. A sina de Obama pode ser a reeleição. Depois dela, virá a necessidade de dar maior consistência à política econômica. Aí a "onça vai beber água". Por enquanto, vale apostar na melhoria de cenário. Os BRICS O mercado financeiro e de capital é hábil em provocar movimentos mais enérgicos nas economias (grandes e pequenas) de todo o mundo. Todavia, também é pródigo em modismos e siglas. Jim O'Neill, chefe de pesquisa econômica da Goldman Sachs, cunhou o acrônimo BRICS para se referir a um "grupo" de países que inclui o Brasil, a Rússia, a Índia, a China e a África do Sul, esta última "incorporada" tardiamente aos presumidos emergentes. Pois bem : deste acrônimo nasceram muitas iniciativas governamentais, inclusas as reuniões de cúpulas que tentam articular as ações destas nações. A julgar pelos resultados da reunião da semana passada na Índia, o destino destas reuniões parece ser o de produzir muito papel e pouco resultado. O motivo é simples e, por enquanto, bem claro : nenhum destes países tem suficiente interesse comum para se somar aos outros do grupo. A China está preocupada com o seu passivo comercial perante os EUA, a Índia tenta se opor a certas estratégias da China, a Rússia vive booms e revezes conforme andam as cotações de petróleo e a África do Sul, bem... de fato, não sabemos... A fome e a sede O PT, acusa abertamente os aliados e os fatos o comprovam, é partido de deixar apenas migalhas para os aliados. Mesmo quando faz concessões, como agora quando cederá algumas disputas em capitais e grandes cidades, com mais de 150 mil habitantes, está de olho grande em coisas maiores. No caso, manter no redil petista em 2014 os parceiros de hoje. Os parceiros entregam-se ao jogo. Uns por falta de opções e porque o Palácio do Planalto, com cargos, verbas, canetas e "Diário Oficial" é um imã irresistível. Outros, visam, além dessa vantagem, estar próximos e bem situados para o momento do bote, quando ele se abrir. Nesta última posição estão o PMDB e o PSB. Os dois se preparam para eventuais vacilações petistas em 2014. Com Lula fora de uma outra empreitada eleitoral, só resta ao PT abraçar-se a Dilma ou criar uma opção em dois anos caso a presidente falhe. No primeiro caso, há parte do PT que não saboreia inteiramente a presidente, porque acha que ela usurpou o que era deles. E, no segundo, tropeços vários anularam o surgimento de líderes de peso no partido no médio prazo. É nesse vazio que apostam os sedentos aliados de hoje, possíveis adversários do PT amanhã. Lula em tempos de crise Contrariando conselhos médicos, Lula mergulhou de vez na campanha eleitoral, um dia apenas após ter tido a excelente notícia de que houve remissão do seu câncer na garganta. O fez pelo gosto, pelo prazer, e porque fazer política é tudo para ele. Já marcou até aparições públicas, que certamente desabarão em grandes comícios, em abril - uma em São Bernardo outra em Brasília. Está fazendo por gosto mas também porque, apesar da aparente tranquilidade, os pepinos políticos estão no ar : é Haddad que não deslancha, são os parceiros que estão cobrando caro do PT e do governo Federal as parcerias de outubro, e as dificuldades de Dilma com o Congresso, apenas empurradas com a barriga para "depois da Semana Santa". Somente Tio Lula para botar a casa em ordem, mesmo com sacrifício. Radar NA REAL 30/3/12 TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA estável estável/alta - Pós-Fixados NA baixa baixa Câmbio ² - EURO 1,3323 baixa baixa - REAL 1,8291 estável/baixa estável/baixa Mercado Acionário - Ibovespa 64.510,97 estável/alta estável - S&P 500 1.408,47 estável/alta alta - NASDAQ 3.091,57 estável/alta alta (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável ____________