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Esclarecendo dúvidas de Inglês jurídico.

Luciana Carvalho Fonseca
As áreas do direito e sua tradução para o inglês - Parte III Concluindo o tema iniciado há duas semanas, abaixo mais algumas áreas do direito com suas respectivas traduções e abonações1. Se a sua área não foi mencionada em nenhuma das três partes da coluna, envie-nos a sua migalha. direito internacional privado international private law conflict of laws § In addition, the department has responsibility for Commercial Law [.] International Private Law (Conflict of Laws), [.]. direito internacional público international public law § Evidence of this tendency lies in international public law for inland waters and territorial seas, airspace [.]2., law of nations § [.] as distinct from what is said to be the situation in municipal law, there are certainly no obligations incumbent on a subject which are not matched by an international subjective right of another subject or subjects, or even. of the totality of the other subjects of the law of nations. direito municipal - Atenção para o falso cognato Municipal law que é o termo empregado pelo direito internacional para se referir ao direito interno de um país. local government law § Mr. C. M. G. Himsworth writes widely on housing law, local government law, planning and environmental law, judicial review, and administrative law generally. direito marítimo maritime law § The ocean bill of lading's demise or metamorphosis can be evaluated from a strictly maritime law perspective (an evaluation that this writer is not equipped to make), or from a banking law perspective. direito obrigacional - ver direito das obrigações law of obligations direito penal - ver direito criminal criminal law penal law direito probatório law of evidence § In the 1984 Law of Evidence, any financial or promissory note is deemed valid if two men have signed it3. discovery law § The discovery law does not impose any allegation to prepare reports or statements4. direito processual procedural law § [.] the litigation department revised engagement letters so that they inform clients about Iowa procedural law, the logistics and timing of court dates, and ways of reaching attorneys [.]. direito da seguridade social social security law § Under tax and social security law they are normally regarded as dependent employees, but under labour law most are regarded as self-employed. direito societário - ver direito empresarial company law business law direito trabalhista - ver direito do trabalho labor law direito tributário tax law § These instruments do not fit well into existing tax law, raising uncertainties and anomalies. __________________ 1 Todos os exemplos, salvo quando indicado, foram retirados do British National Corpus disponível em https://www.natcorp.ox.ac.uk/ 2 Fonte: https://www.americancorpus.org/ 3 Fonte: https://www.americancorpus.org/ 4 Fonte: https://www.americancorpus.org/ ______
As áreas do direito e sua tradução para o inglês - Parte II Dando continuidade ao tema da semana passada, abaixo apresentamos mais algumas áreas do direito com suas respectivas traduções e abonações para fins de contexto1. direito de autor copyright law § Publications are not available for loan, but photocopying within the terms of copyright law is available. direito de família family law § Arguments in favour of delegalization of family law stem from dissatisfaction with law as an instrument for dealing with family relationships. direito de imprensa media law § When British media law is compared with the jurisprudence of America, Canada, France, Scandinavia and Australia, however, it is seen to lack a number of features which are regarded as fundamental to press freedom in a democracy. direito do consumidor consumer law § I have also written quite extensively on product liability and on aspects of consumer law. direito do trabalho labor law § Labour law will always reflect the balance of power in society, and a fully fledged labour court system will not remove class and fundamental employer-employee differences. direito eleitoral electoral law § Chirac used this (1986-; 88) for a series of economic and social measures, including privatisation and for a reform of the electoral law in 1986. direito empresarial company law § Legislative decisions on most issues, including competition law and company law, are taken by; 'qualified'; majority before the Council. business law § You'd then be able to choose between, say, Economics I, Business Law I, Accounting I, Industrial Relations I and so on. direito falimentar insolvency law § It is a principle of insolvency law that the expenses of a company's liquidation are payable out of the assets of the company in priority to all other claims. bankruptcy law § The Insolvency Act 1986, which became law on 29 December 1986, brings about the greatest changes in bankruptcy law and practice for more than a century. direito habitacional housing law § Great questions such as the way in which buildings may be rehabilitated, or private and council landlords forced to meet basic standards of health and safety within their properties, have been largely pushed into the field of what has been designated "Housing Law [.]". Na semana que vem, apresentaremos a terceira e última parte da coluna com mais traduções de áreas do direito. Até lá! _____________ 1Todos os exemplos, salvo quando indicado, foram retirados do British National Corpus disponível em https://www.natcorp.ox.ac.uk/ ______
As áreas do direito e sua tradução para o inglês - Parte I O termo direito possui diversas traduções em inglês, entre as quais: law, right, entitlement, freedom. Entretanto, para designarmos as áreas do direito, a tradução, em regra, será law. Consequentemente, o termo que deverá merecer mais atenção será aquele que representa a referida área. Em alguns casos, o qualificador é uma palavra cognata, em outros, o cognato existe, porém nem sempre é usado, ou - em casos mais delicados - é completamente falso. Abaixo apresentamos diversas áreas do direito com suas respectivas traduções e abonações para fins de contexto1. direito administrativo administrative law § The details of the availability, scope and grounds for such orders need not detain us here because they form part of substantive administrative law. direito agrário agricultural law § In addition, the department has responsibility for Commercial Law [.] Agricultural Law, Criminal Law, and Evidence. direito ambiental environmental law § The government is sponsoring a new environmental law and it is hoped to make smuggling animals a criminal, rather than a civil offence. direito bancário banking law § The banking law perspective, although narrower in scope, is likely to reveal what lies ahead for the ocean bill of lading. direito civil civil law § Broadly, civil law refers to the resolving of disputes between individuals, and the breaking of civil law results in less severe penalties, often the paying of compensation or damages. direito comercial commercial law § British commercial law is amongst the most expensive in the world. direito comercial internacional international trade law § In response to these concerns, the United Nations Commission on International Trade Law (UNCITRAL) undertook a revision of Hague-Visby. direito concorrencial competition law § By contrast, competition law in the USA and the EC is ostensibly more focused on competition and economic efficiency. direito constituicional constitutional law § Conventions, an important source of constitutional law can be extremely flexible, reflecting changes in the political situation as and when they occur. direito contratual contract law § The latter are intended to offer a set of principles providing the best solutions to typical problems in contract law. law of contract § Judges consistently use the law of contract against trade unions. direito criminal criminal law § English criminal law has two degrees of homicide, murder and manslaughter. penal law (muito menos usado) § To complicate matters further, substantial changes in criminal and penal law were made by the Criminal Justice Act, 1967. direito da propriedade intelectual intellectual property law § You might also wish to pursue, or hope that someone else had pursued, the new Postgraduate Diploma in Intellectual Property Law. direito das gentes - ver direito internacional público direito das obrigações law of obligations § Using these frames of reference, lawyers advocate particular legal doctrines and mould the fundamental principles of the law of obligations. direito das sucessões law of probate and succession § The Law of Probate and Succession. This part of law deals with wills, probate and administration.2 __________________ 1Todos os exemplos, salvo quando indicado, foram retirados do British National Corpus disponível em https://www.natcorp.ox.ac.uk/ 2Fonte: Kouladis, Nicholas. Principles of Law Relating to International Trade. Springer, 2006 ______
O plural no inglês : lexemas originários do latim e do grego comuns no inglês jurídico Em regra, para formar o plural de substantivos em inglês, acrescenta-se -s ou -(i)es dependendo da terminação da palavra. Por outro lado, muitos lexemas, comuns na língua geral, possuem plurais totalmente irregulares como, por exemplo, child - children, man - man, woman - women. Há, ainda, aquelas palavras cuja origem estrangeira influencia também sua forma no plural. É o caso das palavras de origem latina e grega. Como algumas delas possuem alto índice de ocorrência no inglês jurídico, abordaremos sua forma plural. As principais terminações para a formação do plural de palavras com origem no latim1 são : a) -i para palavras terminando em -us (singular masculino) · syllabus (resumo de julgamento) > syllabi2 b) -ae para palavras terminando em -a (singular feminino) · lacuna (lacuna) > lacunae c) -a para palavras terminando em -um (singular neutro) · memorandum (memorando, minuta) > memoranda d) -ces para palavras terminando em -x · appendix (anexo, apêndice) > appendices3 No caso das palavras com origem no grego, aplica-se : a) -a para formar o plural de substantivos neutros terminados em -on: · criterion (critério) > criteria a) -es para formar o plural de substantivos terminados em -is · analysis (análise) > analyses Por fim, com base nas informações acima, quais, dentre os períodos abaixo, estão corretos ? E qual seria a forma correta do plural nos incorretos ? Confira as respostas ao final da coluna. 1. Legal phenomenon are overlapped and interlocked in many ways with political phenomenon. 2. The hypothesis is still tentative. 3. The thesis will have been reviewed by counsel by tomorrow afternoon. 4. Obiter dicta is not binding, but may be regarded as persuasive in a future decision. 5. A referenda is being carried out on the whole territory of Georgia. 6. The crisis has caused concern. 7. The stimulus has been found to be effective. 8. These were the criterions used to decide which proposals should be accepted. Confira as respostas : 1. Incorreto. A forma correta seria : phenomena 2. Correto. 3. Correto. 4. Incorreto. A forma correta seria : obiter dictum 5. Incorreto. A forma correta seria : referendum 6. Correto. 7. Correto. 8. Incorreto. A forma correta seria : criteria ____________ 1Na coluna do dia 18 de julho (Ex-officio ou ex officio ? - clique aqui), abordamos a influência do latim no inglês jurídico. 2A forma anglicizada do plural, syllabuses, também é admitida em inglês. 3A forma anglicizada do plural, appendixes, também é admitida em inglês. ______
segunda-feira, 18 de maio de 2009

O vocabulário dos votos no judiciário

O vocabulário dos votos no judiciário Nas instâncias superiores do judiciário brasileiro, os desembargadores (appellate judges) e ministros (justices), ao julgar uma ação de competência originária (original jurisdiction) ou ao julgar um recurso (appeal) em decorrência de sua competência recursal (appellate jurisdiction), expressam-se em votos: escrevendo-os e votando. Em inglês, para nos referirmos a ambas as acepções, i.e. escrever/redigir um voto e votar, favorável ou contrariamente, podemos valer-nos de construções como as nos exemplos abaixo1 traduzidos livremente : a) 'Justice White wrote the opinon of the Court' i. O juiz White foi o relator. b) 'Justice Blackmun wrote a dissent joined by Justices Brennan, Marshall, and Stevens' i. Blackmun redigiu voto contrário / deu voto contrário o qual recebeu o apoio de outros três membros da Suprema Corte. c) 'Chief Justice Burger concurred' i. O juiz-presidente votou favoravelmente. d) 'Justice White concurred in the opinion and emphasized.' i. O juiz White votou com [o relator] e ressaltou... Além do sintagma verbal (escrever um voto / write an opinion) e do verbo (votar / vote), observamos que no contexto da Suprema Corte, por exemplo, o substantivo voto é expressado por diversos nomes (vote / opinion) e/ou qualificado em diversos sintagmas nominais, cujas definições, exemplos2 e possibilidade de tradução apresentamos abaixo: a) dissenting opinion / dissent - voto contra, voto contrário - 'In his dissent, Blackmun disagreed with the majority on what issue was raised by the case' · Em voto contrário, Blackmun discordou da maioria sobre qual a questão levantada pela ação. b) concurring opinon - voto a favor, voto favorável - 'In a concurring opinion, Justice Stevens argued that.' · Em voto favorável, o juiz Steves defendeu que... c) plurality opinion - voto majoritário - 'In a plurality opinion written by Justice Brennan.' · Em voto majoritário redigido pelo Juiz Brennan... d) straw vote - votação informal para verificar a tendência de votação futura - 'He said the Supreme Court had taken a straw vote on the case shortly after the January hearing3'. · Informou que a Suprema Corte havia feito uma votação informal após a audiência de janeiro. e) swing vote - voto que muda de lado, ou é moderado, às vezes votando com um grupo, às vezes com outro. No contexto, às vezes com os conservadores, outras com os liberais. - 'Sandra Day O'Connor's surprise resignation unleashes a battle over whether the high court will gain a new swing vote or a solid-right identity4'. · A aposentaria de Sandra Day O'Connor surpeende e lança uma dúvida no ar : será que o novo indicado será outro moderado ou um membro da direita ? ________________ 1Os exemplos foram retirados de Hartman, Mersky & Tate (2007) Landmark Supreme Court Cases. New York: Checkmark Books. 2Idem, com exceção das letras 'd' e 'e'. 3Exemplo retirado do site https://www.trutv.com em 13 de maio de 2009. 4Exemplo retirado do site https://www.time.com em 13 de maio de 2009. ______
segunda-feira, 4 de maio de 2009

Dicionários e Vocabulários Jurídicos

Dicionários e Vocabulários Jurídicos Atendendo a pedidos de leitores indagando sobre referências léxico-terminográficas na área jurídica, abaixo uma lista que inclui dicionários e vocabulários1, tanto bilíngues como monolíngues. Vale ressaltar que não se trata de uma lista crítica, mas de mera compilação de algumas das obras disponíveis no mercado em ordem alfabética. Para um estudo crítico acerca de dicionários jurídicos bilíngues português/inglês, remeto o leitor a Carvalho (2006). Para ampliar a lista de referências, convido os leitores que fizerem uso de outras obras jurídico-terminográficas a indicar títulos que não constam da lista abaixo. Obras monolíngues em inglês : 1) A Dictionary of Modern Legal Usage de Bryan Garner. New York : Oxford University Press, USA. 2) A Dictionary of Words and Phrases Used in Ancient and Modern Law, Vol. 1 de English. Frederick : Beard Books. 3) Black's Law Dictionary de Henry Campbell Black. St. Paul, Minn. : West Publishing. 4) Law Dictionary de Gifis, S., & Gifis, S. Hauppauge NY : Barron's Educational Series. Obras monolíngues em português : 1) Dicionário Técnico Jurídico de Deocleciano Trrieri Guimarães. São Paulo : Rideel. 2) Vocabulário Jurídico De Plácido e Silva. Rio de Janeiro : Forense Obras bilíngues : 1) Compacto Dicionário Jurídico inglês-português de Flávio de Castro. Rio de Janeiro : Editora Aide. 2) Dicionário de Direito Ambiental - Terminologia das leis do meio ambiente de Maria da Graça Krieger, Anna Maria Becker Maciel, João Carlos de Carvalho Rocha, Maria José Bocorny Finatto, Cleci Regina Bevilacqua. Editora da UFRGS. 3) Dicionário de Direito Economia e Contabilidade Inglês/Português Português/Inglês de Marcílio M. de Castro2. 4) Dicionário Jurídico inglês-português / português-inglês de Durval de Noronha Goyos Jr. São Paulo : Editora Observador Legal. 5) Dicionário Jurídico : inglês-português / português-inglês de Maria Chaves de Mello. Rio de Janeiro : Editora Método. 6) Vocabulário para Direito Societário Português-Inglês Inglês-Português (Mil & Um Termos) de Danilo Nogueira. São Paulo : Special Book Services Livraria Ltda. Referências: a) BARBOSA, M. A. (1996) Dicionário, vocabulário, glossário : concepções. In : ALVES, I. M. (org.) A Constituição da normalização terminológica no Brasil. Cadernos de Terminologia. Vol. I. São Paulo : FFLCH/CITRAT. b) CARVALHO, L. (2006) Os dicionários jurídicos bilíngues e o tradutor - dois binômios em Direito Contratual in TradTerm 12 - Revista do Centro Interdepartamental de Tradução e Terminologia. São Paulo : FFLCH/USP. (p. 309-347) c) HAENSCH, G. et al. (1982) La lexicografía. Madrid : Espanha. ______________________ 1Não nos deteremos ao aspecto tipológico das obras (fato de receberem o nome de dicionário ora de vocabulário), pois isso implicaria um exame detalhado da terminologia pouco uniforme na questão da tipologia dos textos léxico-terminográficos. Uma das razões da falta de uniformidade é, para Haensch (1982), "(...) [el] uso arbitrario de estas denominaciones por parte de los distintos autores o casas editoriales y, hasta cierto punto, también, a modas de las distintas épocas" (Haensch, 1982 apud Barbosa, 1996). Assim, ao leitor que desejar informações acerca da tipologia dos textos lexicográficos, recomendamos o artigo "Dicionário, vocabulário, glossário: Concepções" de Barbosa (1996). 2https://sites.google.com/site/marciliotradutor/ ______
segunda-feira, 27 de abril de 2009

Homologação

Homologação Segundo o Dicionário Aurélio, as acepções de homologação são: "1) Ato ou efeito de homologar. 2) Jur. Aprovação dada por autoridade judicial ou administrativa a certos atos particulares para que produzam os efeitos jurídicos que lhes são próprios. 3) Jur. Ato pelo qual o Supremo Tribunal Federal aprova a executoriedade duma sentença estrangeira no território nacional, depois de ter verificado que ela atende a certos requisitos legais.[...]" No Black's Law Dictionary, encontramos homologation, cujo verbete, - sugerindo que o termo da entrada não é tão comum em inglês -, traz a informação de que o termo é empregado no âmbito da Civil Law (em oposição à Common Law). "Civil Law. 1) Confirmation, esp. of a court granting its approval to some action. 2) The consent inferred by law from a party's failure, for a ten-day period, to complain of an arbitrator's sentence, of an appointment of a syandic (or assignee) of an insolvent, or of a settlement of succestions. 3) The approval given by a judge of certain acts and agreements, to render them more readily enforceable - Also termed (in Spanish law) homologación [.]". De fato, o termo homologation não ocorre tanto no inglês fora do contexto da Civil Law, que não é, em regra, o sistema adotado nos países de língua inglesa. Em contextos de Common Law, os termos preferidos são approval, confirmation e ratification. Alguns exemplos de padrões linguísticos em que esses termos ocorrem, juntamente com algumas possibilidades de tradução, seriam: a) homologar give/grant approval provide/give confirmation b) aguardar homologação await/wait for confirmation c) obter homologação gain/get/obtain/receive approval get/have/obtain/receive confirmation d) rejeitar [pedido de] homologação refuse/withhold approval e) pedir/solicitar homologação submit something for/seek approval ask for/require confirmation ________ Referências: (2004) Novo Dicionário Eletrônico Aurélio versão 5.11 Editora Positiva. (2004). Black's Law Dictionary, Eighth Edition (Black's Law Dictionary (Standard Edition)). Mason, Ohio: Thomson West. (2002). Oxford Collocations Dictionary. New York: Oxford University Press, USA. ______
segunda-feira, 13 de abril de 2009

Bootstrapping

Bootstrapping Na coluna do dia 30/031, abordamos duas expressões metafóricas - nose counting e cherry picking - utilizadas no contexto da Suprema Corte americana. Ainda na esfera do direito constitucional (constitutional law), mais especificamente na esfera semântica das assembléias constituintes (constitutional assembleys), abordaremos boostrapping / bootstrap-pulling. Bootstrapping vem de bootstrap que, em sentido denotativo, corresponde a cadarço de bota. Seria esse o sentido literal do sintagma. Entretanto, em muitos casos, palavras e expressões perdem seu sentido literal adquirindo um sentido conotativo (ou figurado) que costuma variar também de cultura para cultura, língua para língua etc. É o que ocorre com bootstrapping2. A definição Em, Constituional Bootstrapping in Philadelphia and Paris3 , Jon Elster define constitutional bootstrapping como: 'the process by which a constituent assembly severs its ties with the authorities that have called it into being and arrogates some or all of their powers to itself" "o processo pelo qual uma assembléia constituinte rompe os laços com a autoridade que a criou e se apropria de alguns ou de todos os poderes dessa autoridade". O contexto Abaixo alguns contextos4 em que bootstrapping e bootstrap-pulling ocorrem: a) 'Elster demonstrates that constitution making necessarily involves a bootstrapping operation, whereby a constituent assembly severs its ties with the authorities that brought it into being." (p. 16) b) "George Mason argued more robustly that 'in certain seasons of public danger it is commendable to exceed power". Randolph, similarly, "Was not scrupulous on the point of power." Bootstrap-pulling can be justified by external circumstances. This kind of statement was also frequently made in the French Assembly. The exceptional conditions that create the call for a constituent assembly also justify arrogations of power that would appear illegal under normal circumstance. In the constitutiona-making process the kingmaker should beware of the king." (p. 72) c) "There is no general set of conditions that ensures success in the bootstrap-pulling enterprise of organizing political life." (p. 82) d) "Political scientist and theorist Jon Elster provides a third account: that pre-existing or prior structures provide ready-made focal points around which constitutional assembly participants begin 'the bootstrap-pulling enterprise of organizing political life'5. A dificuldade da tradução Apesar de o termo apresentar uma definição clara, em muitos casos, o tradutor necessitará de mais elementos para fornecer um correspondente na língua de chegada. Assim, como parte da estratégia de tradução, vale também buscar a possível origem. No caso de bootstrapping, há uma expressão idiomática (idiom) em inglês que é by one's own bootstraps, com algumas variações: - to pull oneself up by one's own bootstraps - to lift oneself up by one's own bootstraps A metáfora atrás dessa expressão idiomática6 é fazer algo sem ajuda externa, de forma autônoma, independentemente. No contexto de Elster, a assembléia constituinte é independente de qualquer outra autoridade externa. Uma outra acepção, que também se encaixa perfeitamente ao contexto de constitutional bootstrapping, é fazer algo impossível (i.e. ficar de pé puxando o cadarço das próprias botas, em tradução literal). No contexto de Elster, a assembléia constituinte não teria legitimidade para, por exemplo, fazer uma constituição completamente nova, mas a produziu mesmo assim. Correspondentes possíveis Nos contextos acima, após examinar a definição, explorar a expressão idiomática e o sentido metafórico do termo, é possível concluir por diversas possibilidades, que, -sempre com base no objetivo e função do texto traduzido (Skopos) e tendo em mente o que o tradutor-comunicador visa privilegiar -, poderão ser adotadas ou descartadas, entre as quais: - Autonomia constituinte - Independência constituinte - Subversão constituinte - Extrapolação do poder constituinte Os dois primeiros correspondentes possuem uma carga semântica positiva, i.e., não refletem uma condenação do papel da assembléia constituinte que extrapola seus poderes. Os dois últimos, por outro lado, são negativos e expressam que a mesma assembléia realizou algo sem autorização, que foi além de sua competência. Quem decide? O tradutor-comunicador._______ 1Metáforas na discussão sobre o uso do direito estrangeiro nos julgamentos da Suprema Corte: nose counting e cherry picking (clique aqui) 2Bootstrapping também é utilizado em outras áreas do conhecimento. Para essa e mais informações sobre a origem da expressão - (clique aqui) 3in Constitutionalism, Identity, Difference, and Legitimacy: Theoretical Perspectives, Michael Rosenfeld (org.), 1994, p. 57. 4in Constitutionalism, Identity, Difference, and Legitimacy: Theoretical Perspectives, Michael Rosenfeld (org.), 1994. 5in Recreating the American Republic de Charles Aloysius Kromkowski 6Imagem mental - alguém puxando os cadarços da própria bota para tentar se levantar; Analogia - a pessoa agindo sozinha; Metáfora - uma ação individual, independente, autônoma; Expressão idiomática - to pull oneself up by one's own bootstraps. ______
As acepções de exhibit, schedule, attachment e annex na linguagem contratual Contratos redigidos originalmente em inglês, quando comparados a contratos da mesma espécie em português, costumam ser mais bem mais extensos por diversas razões (Carvalho, 2007), uma delas é o fato de conterem muitos anexos que, por sua vez, recebem diversos nomes: exhibit, schedule, attachment e annex. Para determinar como esses termos são utilizados em inglês na linguagem contratual, utilizamos o Corpus de Instrumentos Contratuais do CorTec que faz parte do Projeto COMET da FFLCH/USP1. Assim, a partir de todas as ocorrências dos termos em questão no CorTec, examinamos as acepções em que são empregados para determinar a tradução em português. Abaixo, o leitor encontrará os termos selecionados, com o respectivo número de ocorrências lematizadas - para que o leitor possa observar quais os mais frequentes -, a classe gramatical, o número de acepções de cada termo com exemplos autênticos, bem como a sugestão de tradução de acordo com o contexto apresentado. Todas as abonações foram extraídas de contratos autênticos do CorTec (2007) que consideramos representativo da linguagem contratual em inglês. a) exhibit (113 ocorrências) 1) substantivo  "JH shall give WI written notice in substantially the form attached as Exhibit A ("Notice of Availability") setting forth the approximate volume of Logs" tradução: anexo 2) substantivo  "Client's papers and property 'include correspondence, deposition transcripts, exhibits, experts' reports, legal documents, physical evidence, and other items reasonably necessary to Client's representation" tradução: prova (documentos/objetos submetidos em juízo para fazer prova) b) schedule (99 ocorrências) 1) substantivo  "'Guarantor' means each and every prime financial institution set forth in the Schedule IV to this Agreement," tradução: anexo 2) substantivo  "Schedules are subject to change without notice." tradução: cronograma 3) verbo  "Owner is strongly urged to take steps to schedule the acquisition of all Replacement Property sufficiently before the expiration of the Exchange" tradução: agendar, marcar c) attachment (10 ocorrências) 1) substantivo  "WHEREAS, EPT and SUPPLIER have determined that it is mutually desirable for SUPPLIER to supply to EPT the products listed in Attachment 1 attached hereto and made a part hereof (collectively, "Products");" tradução: anexo 2) substantivo  "to claim for itself or its revenues or assets any immunity from suit, court jurisdiction, judgment, execution of a judgment, setoff, attachment (whether before or after judgment)" tradução: arresto ou penhora2 d) annex (9 ocorrências) 1) substantivo  "This Agreement supersedes any prior agreements among the parties concerning the subject matter herein, being Annexes 1, 2 and 3 to be considered as part of the Agreement thereof in order to allow a perfect understanding of all obligations due by the Parties." tradução: anexos 2) verbo  "The report of the auditors shall be annexed to the accounts and shall be read at the meeting of members at which the accounts are laid before the Company or shall be served on the members.."  tradução: anexar3 E o que fazer quando os termos são empregados lado a lado como nos exemplos abaixo ?  "Neither this Participation Agreement (including the schedules and exhibits hereto), nor any of the other Operative Documents, nor any written statement prepared or furnished by or on behalf of the Guarantor."  "Exhibits and Annexes: All exhibits and annexes referenced herein are incorporated into this Agreement as though fully set forth herein." A resposta pode ser encontrada em uma de nossas colunas: O hábito de multiplicar palavras no inglês jurídico: um padrão cultural (clique aqui) Referências: a) (2007). Corpus de Instrumento Contratuais. CorTec - Corpora Técnicos. Projeto Comet. FFLCH-USP b) CARVALHO, L. (2007) A tradução de binômios em contratos de common law à luz da Lingüística de Corpus. [Dissertação de Mestrado] FFLCH/USP. c) Castro, M. M. de (2006) Dicionário de Direito Economia e Contabilidade Inglês/Português Português/Inglês. Belo Horizonte. _______________________ 1Corpus de Instrumentos Contratuais com 204 249 tokens, 6 041 types e T/T ratio de 2.96 (clique aqui). 2"attachment. (civil procedure) ao se referir à apreensão de bens do devedor antes da sentença (prejudjment), traduza attachment por arresto. Após a sentença (postjudgment), traduza por penhora." (Castro, 2006) 3Annex na acepção de anexar ocorre apenas 3 vezes no corpus inteiro. Attach seria o termo correspondente a anexar que ocorre com mais frequência em inglês. ______
Metáforas na discussão sobre o uso do direito estrangeiro nos julgamentos da Suprema Corte: nose counting e cherry picking A metáfora A metáfora é uma transposição de termos, ou seja, é o emprego de uma palavra ou expressão fora de seu sentido prototípico (i.e. normal, padrão). Segundo a definição do Dicionário Aurélio, "consiste na transferência de uma palavra para um âmbito semântico que não é o do objeto que ela designa, e que se fundamenta numa relação de semelhança subentendida entre o sentido próprio e o figurado; translação". As metáforas fazem parte do aspecto convencional de uma língua, ou seja, "daquilo que é aceito de comum acordo" (Tagnin, 2007) pelos falantes. Uma das características do 'falante ingênuo' de Fillmore é desconhecer as imagens metafóricas da língua (Tagnin, 2007). Tais imagens ocorrem tanto na língua geral, como nas linguagens de especialidade, portanto, no Direito também. Para ilustrar o emprego de expressões metafóricas na linguagem jurídica, selecionamos duas dentro do contexto das discussões sobre a referência a direito estrangeiro nos julgamentos da Suprema Corte dos Estados Unidos, a saber: nose counting e cherry picking. O contexto Em primeiro lugar, faz-se necessário contextualizar o emprego dessas expressões para, em seguida, elucidar suas acepções e sugerir algumas estratégias de tradução. Até hoje, discute-se na Suprema Corte dos Estados Unidos (U.S. Supreme Court) se o direito estrangeiro deve ou não ser citado nos julgamentos (rulings) e votos (opinions) emitidos por aquele tribunal e seus membros. Um ponto pacífico, entretanto, é o fato de as fontes de direito internacional não serem, obviamente, consideradas vinculates (authoritative), apenas informativas (informative). Entre outras muitas ações1, a questão foi levantada em Atkins v. Virginia2 (2002) - ação sobre a apliação da pena de morte a doentes mentais - que será usada aqui para exemplificar quão calorosa é a discussão e onde entram as metáforas, objeto da coluna de hoje. Por maioria de 6 a 3 (majority vote), foi decidido que aplicar a pena de morte aos doentes mentais é uma violação à Emenda n.º 8 (Eighth Amendment) da Constituição dos Estados Unidos (U.S. Constitution), que proíbe (ban) a aplicação de penas cruéis e desumanas (cruel and unusual punishment). Em voto (opinion), o juiz Stevens, em nota de rodapé, mencionou que, atualmente, a comunidade internacional, desaprova a aplicação da pena de morte a doentes mentais. "[...] within the world community, the imposition of the death penalty for crimes committed by mentally retarted offenders is overwhelmingly disaproved." O juiz Scalia em voto contrário (dissenting vote), manifestou seu desprezo pelas "práticas, consideradas irrelevantes, da comunidade internacional, cujas noções de justiça nem sempre são (ainda bem) as mesmas das do nosso povo". "Equally irrelevant are the practices of the "world community," whose notions of justice are (thankfully) not always those of our people." Dentro desse contexto, surgem argumentos contra e a favor da utilização de fontes de direito estrangeiro nos votos dos juízes (justices) da Suprema Corte. Entre os argumentos em prol, temos, segundo o juiz Breyer: o fato de os problemas da comunidade internacional serem cada vez mais parecidos com os enfrentados pelo judiciário americano (Choudhry, 2000). Outros argumentos seriam, segundo Fine (2007): os Estados Unidos terem muito a aprender com a comunidade internacional, a universalidade dos direitos humanos e a posição de liderança dos Estados Unidos no mundo. Entre os argumentos contra, temos - e finalmente chegamos às metáforas - o perigo de cherry picking e nose counting. As expressões A prática de cherry picking (colher cerejas, em tradução literal) significa que o juiz, ao citar o direito estrangeiro, poderá valer-se daquilo que melhor lhe convier e como bem entender, i.e., o juiz poderá decidir qual o peso a ser dado a esta ou àquela fonte de direito estrangeiro (Anderson apud Parrish, 2007), o que abre margem para demasiada subjetividade e discricionariedade. "[.] Anderson [.] later suggests that the weight of any given foreign authority is too difficult to assess. Which is entitled to greater weight, he rhetorically poses, "the German constitutional court [or] the high court of India?" Because of that difficulty, Anderson suggests "a judge can use any of this material how he or she will." Assim, conclui Parrish (2007), cherry picking é uma preocupação legítima daqueles que são contrários ao emprego do direito estrangeiro: "The worry of cherry picking is a legitimate concern". No mesmo artigo, Parrish (2007) refere-se ao fenômeno denominado nose counting citando Young (2003) que também não é favorável à prática de 'contar narizes' (tradução literal). Young ilustra seu argumento com a utilização, por parte do juiz Kennedy da Suprema Corte, na ação Roper v. Simmons (2005), de referência a direito estrangeiro com base na abundância e não na qualidade dos argumentos: "Young criticizes Justice Kennedy's analysis in Roper because his use of "foreign law is all about [counting] noses, not reasons"." Para Parrish (2007), nose counting reflete o mau uso do direito estrangeiro que merece discussão aprofundada e sofisticada para que o direito estrangeiro não seja utilizado de forma inadequada ou superficial. "In fact, the nose-counting problem suggests that foreign law should be discussed in greater depth and with more sophistication, not less. The problem is not that foreign law is used, but rather that it is used inadequately or superficially." A tradução E como traduzir essas - e outras - expressões metafóricas ? Em primeiro lugar, é preciso reconhecer que estamos diante de uma metáfora e que a expressão é, em muitos casos, nada transparente. Em outras palavras, o leitor não deve se deixar levar pelo fato de reconhecer cherry + pick ou nose + count, já que, em matéria de língua, a soma dos fatores pode dar diversos produtos. Em segundo lugar, observar diversas ocorrências da expressão - em corpus eletrônico - para delas, a partir dos contextos fornecidos, extrair a acepção da metáfora, já que, dificilmente, informações sobre o aspecto convencional da língua são encontradas em obras terminográficas bilíngues. Se possível, encontrar uma metáfora correspondente na língua de chegada. Caso contrário, outras estratégias de tradução poderiam ser - após determinar o objetivo (Skopos) da tradução: a) uma paráfrase (explicação), feita dentro do contexto específico. No caso em tela, no contexto da Suprema Corte e da problemática acerca de citações de direito estrangeiro. cherry picking - referência tendenciosa ao direito estrangeiro com base na preferência ou opinião do juiz para satisfazer os argumentos deste nose counting - referência tendenciosa ao direito estrangeiro em abudância, i.e., citação do maior número de casos semelhantes para respaldar a opinião do juiz b) um calque (empréstimo lexical), i.e., manter o termo em inglês, após necessária explicação. Referências: a) ANDERSON, Kenneth (2005) Foreign Law and the U.S. Constitution, POL'Y REV., June-July. b) CHOUDHRY, S. (2006) "Migration in Comparative Constitutional Law", in Sujit Choudhry (ed.), The Migration of Constitutional Ideas, Cambridge: Cambridge University Press. c) Fine, T. (2008) Writ of Certiorari in the Supreme Court. Palestra proferida no Seminário Internacional de Direito Constitucional. São Paulo, 3 de outubro de 2008. d) Novo Dicionário Eletrônico Aurélio versão 5.11 e) PARRISH, A. L. (2007) Storm in a Teacup: the U.S. Supreme Court's Use of Foreign Law (February 13, 2007). Available at SSRN: https://ssrn.com/abstract=8912 f) TAGNIN, S. E. O. (2005) O Jeito que a Gente Diz. São Paulo: Disal Editora. g) YOUNG, E. A. (2003) The Trouble with Global Constitutionalism, 38 TEX. INT'L L.J. 527, 529. ______________ 1Printz v. United States (1997), Lawrence v. Texas (2003), Roper v. Simmons (2005), entre outras. 2A íntegra da decisão pode ser lida (clique aqui). ______
segunda-feira, 23 de março de 2009

Indenizar e suas acepções em língua inglesa

Indenizar e suas acepções em língua inglesa Em português, o lexema indenizar corresponde a 'reparar, compensar, ressarcir' (Aurélio). Em inglês, há diversas traduções para o termo indenizar. A tradução mais adequada dependerá sempre do contexto. Entre as possibilidades de tradução há mais de 40 possíveis correspondentes - sempre dependendo do contexto. No caso do correspondente indemnify, por exemplo, de acordo com Santos1 (2007): "indemnify (v.) Mais fiel à etimologia, o v. ing. guarda noção de prevenção e proteção prévia, e não só a de reparação ou compensação posterior; traduz-se por proteger, segurar, dar proteção legal contra: It was a plan indemnifying workers against time loss trough illness, Era um plano que segura os/dava cobertura aos operários contra faltas por doenças." Como a indagação da semana não contempla um contexto específico, agrupamos algumas acepções de indenizar em inglês a partir de campos semânticos definidos por termos em português retirados de corpus compilado em Carvalho (2007). a) Restituir 1) give back 2) pay 3) pay back 4) redeem 5) remunerate 6) return b) Reparar 7) answer for 8) make good 9) make good against anticipated loss 10) make up for 11) offer compensation 12) offer reparation 13) offer satisfaction 14) restore 15) redress c) Reembolsar 16) repay 17) requite 18) return money paid out 19) refund 20) reimburse d) Isentar de responsabilidade 21) save harmless 22) hold harmless 23) answer for 24) secure against damage 25) secure against loss e) Indenizar por perdas e danos 26) give satisfaction for damage 27) give satisfaction for injury 28) pay compensation 29) pay reparations 30) recompense 31) recompense for past loss 32) compensate 33) compensate for injury 34) compensate for loss sustained 35) make good, make good against anticipated loss 36) make reparation 37) make restitution f) Indenizar em dinheiro 38) grant monetary compensation 39) pay monetary compensation 40) make monetary payment g) Assegurar (indenizar quantia paga por seguro) 41) indemnify 42) guarantee 43) insure Por fim, lembramos aos leitores que, para responder à pergunta de qual a melhor tradução para um determinado termo do português em uma língua estrangeira, qualquer que seja, é sempre necessário examinar o contexto em que o determinado termo ocorre. Só assim é possível apresentar traduções idiomáticas, isto é, traduções em uma linguagem que naturalmente ocorre em inglês e que não desperte estranheza no público-alvo da tradução. Referências: a) Santos, A. S. (2007). Guia Prático de Tradução Inglesa. São Paulo: Campus Elsevier. b) Carvalho, L. (2007) A tradução de binômios em contratos de common law da linguística de corpus. São Paulo: FFLCH/USP (Corpus compilado em dissert. Mestrado) _______ 1Além de ser um excelente guia de tradução em língua geral, Santos (2007) também traz diversos verbetes com informações relativas à linguagem jurídica em inglês. ______
segunda-feira, 16 de março de 2009

Motion to withdraw

Motion to withdraw Motion to withdraw é um pedido apresentado ao juiz da causa pelo advogado da parte para que cesse o dever de representá-la. Trata-se de um pedido que, em regra, fundamenta-se em: a) conflito de interesses entre a parte e o advogado (conflict of interest) b) diferenças irreconciliáveis (irreconcilable differences) entre cliente e mandatário, que, entre outras situações, podem corresponder: i) à recusa do cliente em comunicar-se com o advogado - refusal to communicate with counsel ii) à recusa do cliente em cooperar com o advogado - refusal to cooperate with counsel iii) à recusa do cliente em seguir as orientações do advogado - refusal to follow counsel's legal advice c) no fato de o advogado ter assumido outra atividade (taken other employment) ou não mais exercer a advocacia (no longer practicing law). No instrumento do motion to withdraw, o advogado deverá apresentar o motivo do pedido, cópia da notificação ao cliente (notice of motion to withdraw), bem como todos os dados que permitam identificação completa do juízo, da ação de da parte. No Brasil, a figura que, provavelmente, mais se assemelha ao motion to withdraw, é a renúncia de mandato de advogado prevista no art. 45 do Código de Processo Civil, segundo o qual: "O advogado poderá, a qualquer tempo, renunciar ao mandato, provando que cientificou o mandante a fim de que este nomeie substituto. Durante os 10 (dez) dias seguintes, o advogado continuará a representar o mandante, desde que necessário para Ihe evitar prejuízo". Entretanto, podemos observar que, no sistema americano, trata-se de um pedido feito pelo advogado e no sistema brasileiro de uma comunicação. A semelhança entre os dois sistemas é a obrigação de cientificar a parte. Assim, por haver semelhança e diferença entre os prováveis correspondentes de tradução, é importante observar o contexto da expressão muito atentamente para evitar incoerências. ______
segunda-feira, 9 de março de 2009

Excelentíssimo Senhor Juiz

Excelentíssimo Senhor Juiz O uso dos vocativos e pronomes de tratamento são parte do aspecto convencional da língua e, consequentemente, de uso consagrado em uma determinada cultura. Entre culturas diferentes, vigoram convenções diferentes que refletem padrões lexicais próprios.No Brasil, de acordo com o Manual de Redação da Presidência da República (2002), são chamados pelo pronome Vossa Excelência os membros do Judiciário: a) Presidente e membros do STF b) Presidente e membros dos tribunais superiores c) Presidente e membros dos Tribunais de Justiça d) Presidente e membros dos tribunais regionais e) Juízes e desembargadores Essas autoridades devem ser tratadas pelo vocativo Senhor, seguido do cargo. a) Senhor Presidente b) Senhor Ministro c) Senhor Desembargador d) Senhor Juiz Nas comunicações, alguns exemplos do uso desse vocativo seriam: a) Excelentíssimo Senhor Fulano de Tal Ministro... b) Excelentíssimo Senhor Fulano de Tal Juiz de Direito da... Em inglês, os membros do judiciário americano não possuem tantas designações como em português. Nos Estados Unidos, empregam-se, em regra, judge para juiz e justice para desembargadores e ministros, notadamente para os da Suprema Corte. Assim, temos, nas comunicações escritas ou em uma apresentação: a) The Honorable Judge John Doe ou, na forma abreviada, The Hon. Judge John Doe. b) The Honorable Justice John Doe ou, na forma abreviada, The Hon. Justice John Doe. Por fim, o vocativo que corresponderia ao nosso Senhor Juiz, Senhor Desembargador e/ou Senhor Ministro é, unicamente, Your Honor. ______
Os polinômios no inglês jurídico: terminate, rescind or avoid A dúvida da leitora refere-se aos verbos terminate, rescind e avoid. Em coluna anterior, 'Resolução, rescisão e resilição', abordamos os substantivos termination e rescission (clique aqui). Vimos que termination (forma verbal: terminate) corresponde à extinção do vínculo contratual por decurso do tempo, prazo, conclusão ou descontinuidade e que recission (forma verbal: rescind), menos usado que termination, é usado em expressões como mutual rescission e agreement of rescission que correspondem ao nosso distrato. A leitora indaga acerca da diferença entre os termos. Todavia, para abordar qualquer diferença - se houver - entre eles é necessário verificar como terminate, rescind e avoid são utilizados na linguagem jurídica. Observa-se de imediato que, não raro, os esses verbos são empregados na companhia uns dos outros, muitas vezes em polinômios, tal como nos exemplos abaixo: a) "The Lessee covenants that it will remain obligated under this Lease in accordance with its terms and will take no action to terminate, rescind or avoid this lease, notwithstanding the bankruptcy, insolvency, reorganization, composition, readjustment, liquidation, dissolution, winding-up or other proceeding affecting the Lessor [.]"1. b) "Tenant shall remain obligated under this Lease in accordance with its terms and shall not take any action to terminate, rescind or avoid this Lease, notwithstanding any bankruptcy, insolvency, reorganization, liquidation, dissolution or other proceeding affecting Landlord or any assign"2. c) "Terminate means, in relation to a document, to terminate, determine, rescind, repudiate, avoid, release, surrender, forfeit, discharge (other than by performance), or accept the termination, rescission or repudiation of that document and Termination has a corresponding meaning"3. O mesmo é verificado com os substantivos termination, recission, avoidance, que também co-ocorrem. Por exemplo: d) "document termination: any termination, expiry, rescission, cancellation, extinguishment, avoidance or abandonment of any agreement, or any right or obligation of any person under any agreement;4" Pelos contextos acima, sobretudo nas letras c e d, observa-se que terminate/termination abrangem os demais. Para não ficarmos apenas com fontes pragmáticas, consultamos fontes terminográficas. No dicionário Black's, por exemplo, os termos em questão compõem o verbete uns dos outros. O termo rescission, por exemplo, é definido por avoidance. A co-ocorrência aparentemente coincidente desses termos nos contextos acima revela uma característica da linguagem jurídica em inglês: a de valer-se de palavras sinonímicas ou quase-sinonímicas em binômios, trinômios (polinômios) ou verdadeiras listas de sinônimos ou quase-sinônimos (estes últimos chamados por Rossini, 2005, sequência de termos), com o aparente intuito de atingir precisão e previsões absolutas. Alguns exemplos: a) Binômios5 - each and every - any and all - due and payable - by and between b) Trinômios6 - authorized, executed and delivered - legal, valid and binding - illegal, invalid or unenforceable - full, true and correct - right, title and interest c) Sequência de termos7 - demand, presentment, protest and other notice - legality, validity, binding effect or enforceability Diferentemente da do passado, a tendência, hoje, é a de evitar o emprego de termos supérfluos. Garner (2001), entre outros autores, recomenda que o uso de binômios e trinômios seja evitado na linguagem jurídica que, em inglês, é historicamente redundante. O autor recomenda ainda a aplicação de duas regras - que a meu ver também poderiam ser aplicadas à tradução dos termos objeto da questão da leitora quando empregados em polinômios - a saber: - se uma palavra abrange o sentido de outras, usar só aquela (e.g. full, true and correct) - se as palavras são sinônimas (e.g. legal, valid and binding), usar a que couber melhor no contexto. Referências: a) (2004). Black's Law Dictionary, Eighth Edition (Black's Law Dictionary (Standard Edition)). Mason, Ohio: Thomson West. b) Carvalho, L. (2007) A tradução de binômios nos contratos de common law à luz da linguística de corpus. Dissertação de mestrado. FFLCH/USP. c) Garner, B. (2001). Legal Writing in Plain English. Chicago: University Of Chicago Press. d) Rossini. A. M. Z. P. (2005) A linguagem dos contratos bancários internacionais em inglês: um estudo descritivo baseado em linguística de corpus. Dissertação de mestrado. PUC/SP. ________ 1Fonte: FindLaw (clique aqui) 2Fonte: Projeto Comet (clique aqui) 3Fonte: Dampier Bunbury Pipeline (clique aqui) 4Fonte: SEC Info (clique aqui) 5Fonte: Carvalho (2007) 6Fonte: Carvalho (2007) 7Fonte: Rossini (2005) ______
Os efeitos suspensivo e devolutivo no direito anglo-americano O efeito padrão de um recurso (appeal), decisão (decision) ou mandado (order) no direito anglo-americano é o devolutivo (non-staying effect). É esse o efeito do writ of certiorari, por exemplo, em que o efeito suspensivo (staying effect) pode ser concedido pelo tribunal recorrido a pedido da parte que interpõe o recurso (petitioner). Caso o tribunal responda com uma negativa (denial of stay application), o recorrente pode pedir o efeito (request stay) à própria Suprema Corte - que o concederá (grant of stay) nos seguintes casos: a) probabilidade de o writ of cert ser concedido (substantial probability of success) b) dano irreparável (irreparable harm) resultante da não concessão do efeito suspensivo Termos em contexto Abaixo um trecho do pedido de efeito suspensivo em George W. Bush et al. v. Albert Gore, Jr. et al. [09/12/2000]1 "Justice Scalia, concurring. Though it is not customary for the Court to issue an opinion in connection with its grant of a stay, I believe a brief response is necessary to JUSTICE STEVENS' dissent. I will not address the merits of the case, since they will shortly be before us in the petition for certiorari that we have granted. It suffices to say that the issuance of the stay suggests that a majority of the Court, while not deciding the issues presented, believe that the petitioner has a substantial probability of success. On the question of irreparable harm, however, a few words are appropriate. The issue is not, as the dissent puts it, whether "[c]ounting every legally cast vote ca[n] constitute irreparable harm." One of the principal issues in the appeal we have accepted is precisely whether the votes that have been ordered to be counted are, under a reasonable interpretation of Florida law, "legally cast vote[s]." The counting of votes that are of questionable legality does in my view threaten irreparable harm to petitioner, and to the country, by casting a cloud upon what he claims to be the legitimacy of his election." Remanding effect Em relação ao remanding effect, observamos que o sintagma ocorre em meros 6 resultados no Google e em sites brasileiros, como no exemplo abaixo extraído de uma tradução de uma das Resoluções do CADE2: "Article 1. - Voluntary appeals against decisions issued by the Head of the Economic Law Office, [.] shall be accepted within five days and have a merely remanding effect." Consequentemente, não se trata de um padrão lexical da língua inglesa. Remand De acordo com o Black's e o American Heritage, remand possui duas acepções em Direito: a) Devolver os autos para o juízo a quo para novas medidas (e.g. nova audiência de oitiva de testemunhas, instrução). Pode, inclusive, ocorrer após decisão em recurso de apelação. - "The State appealed the trial court's ruling. A panel of this Court vacated the Defendant's guilty plea and sentence, and remanded the case for further proceedings3." b) Manter o acusado (accused person) preso (in custody) após depoimento preliminar (preliminary examination). - "An alleged drugs dealer was yesterday remanded in custody after he appeared before the Magistrate's Court in Derry charged with committing six drugs offences4." __________ 1American Presidency - clique aqui 2Conselho Administrativo de Defesa Econômica - clique aqui 3Fifth Circuit Court - clique aqui 4Derry Journal. "Alleged drug dealer remanded in custody" (23/1/09 ) - clique aqui ______
segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

O uso do subjuntivo no inglês jurídico

O uso do subjuntivo no inglês jurídico O uso do subjuntivo não é muito comum na linguagem coloquial em inglês. Entretanto, devido aos verbos e às expressões com os quais ocorre, trata-se de um tempo verbal bastante freqüente na linguagem jurídica. O subjuntivo é uma das marcas da formalidade característica do inglês jurídico, cujo registro é, quase sempre, alto. Alguns, verbos que tipicamente ocorrem com o subjuntivo1: - to advise (that) - recomendar - to agree (that) - concordar, obrigar-se - to ask (that) - pedir - to beg (that) - implorar - to command (that) - determinar - to decree (that) - decretar, determinar - to demand (that) - exigir - to order (that) - determinar, ordenar, mandar - to plead (that) - alegar - to prefer (that) - preferir - to propose (that) - propor, oferecer - to recommend (that) - recomendar - to request (that) - pedir, solicitar - to rule (that) - determinar, julgar Algumas expressões que pedem o subjuntivo: - it is crucial (that) - é indispensável - it is desirable (that) - é desejável - it is essential (that) - é importante - it is necessary (that) - é necessário A partir dos exemplos acima, observa-se que o subjuntivo é usado para expressar a importância de algo ou a opinião, desejo ou ordem de alguém. A forma do subjuntivo se parece com a forma do verbo no infinitivo (i.e. não leva 's' na terceira pessoa). Além disso, ao contrário do subjuntivo em português, o subjuntivo em inglês possui a mesma forma tanto no presente como no passado e no futuro. Exemplos a) Presente: - The Chairman insists that they keep to schedule. O presidente insiste que eles respeitem o cronograma. b) Passado: - The Chairman insisted that they keep to schedule. O presidente insistira que eles respeitassem o cronograma. c) Futuro: - The Chairman will insist that they keep to schedule. O presidente insistirá que eles respeitem o cronograma. a) Presente: - It is crucial that he be at the meeting. É imprescindível que ele compareça à reunião. b) Passado: - It was crucial that he be at the meeting. Fora imprescindível que ele comparecesse à reunião. c) Futuro: - It will be crucial that he be at the meeting. Será imprescindível que ele compareça à reunião. Em sua forma negativa, o subjuntivo não leva o auxiliar do: Exemplos - The Chairman insisted that they not stay behind. O presidente insistiu que eles não se atrasassem. - It is crucial that he not be at the meeting. É imprescindível que ele não compareça à reunião. O subjuntivo também pode ser usado nos tempos contínuos (continuous) e na voz passiva (passive forms). Exemplos a) Formas verbais contínuas: - It is vital that you be waiting for me when I finish. É essencial que você esteja me esperando quando eu terminar. - The attorney recommended that the defendant be standing when the judge entered. O advogado recomendou que o réu ficasse de pé quando o juiz entrasse. b) Voz passiva - Mr. Howald recommended that the senior attorney be engaged immediately. O Sr. Howald recomendou que o advogado sênior fosse contratado imediatamente. - It is essential that the witness be admitted. É fundamental que a testemunha seja admitida. Mais exemplos do subjuntivo extraídos de diversos gêneros textuais utilizados na linguagem jurídica em inglês: a) Fórmulas solenes. O exemplo abaixo é fórmula de abertura (enacting formula) das leis britânicas. "Be it enacted by the Queen's most Excellent Majesty, by and with the advice and consent of the Lords Spiritual and Temporal, and Commons, in this present Parliament assembled, and by the authority of the same....." b) Decisões judiciais (court decisions). "As Associate Judge Sargisson does not return from leave until after that date, counsel advises that the parties agree that this matter be recalled and reheard by me today."2 c) Pareceres (legal opinions). "If it be for the benefit of the Town, as a political body, then the right should be retained by the Town if it be for the benefit of the proprietors, as such, then the right belongs to them."3 __________ 1As respectivas sugestões de tradução não são exaustivas em nenhuma parte do texto. 2Fonte: B D CLODE V M J COOPER HC AK CIV 2007-404-005293 [2008] NZHC 15 (25 January 2008) - clique aqui 3Fonte: The legal opinion of Richard W. Green, esq., on the question of the town's interest in the ancient grist mill (1830) - clique aqui ______
segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

´Plea before venue´ e ´either-way´ offenses'

'Plea before venue' e 'either-way offenses' Há três principais tipos de plea no direito penal anglo-americano: a) plea of guilty - o réu se declara culpado, o réu admite/confessa o crime (admission of culpability) b) plea of not guilty - o réu se declara inocente, o réu alega inocência (denial of culpability) c) plea of nolo contendere (ou no contest) - o réu opta por não se manifestar. Em regra, os efeitos jurídico-processuais desse plea são os mesmos que o de o réu admitir o crime. A obrigatoriedade do plea system no sistema americano visa a economia processual, pois, nos casos em que o réu admite o crime, não há necessidade de um longo julgamento por júri, por exemplo. Além disso, os réus que confessam são beneficiados com penas mais brandas - reduzidas em até um terço (one-third discount). O resultado é que o plea system é responsável pela esmagadora maioria das condenações criminais (criminal convictions). No plea before venue, ao suspeito (já denominado defendant) é dada a oportunidade de confessar ou não antes de instaurada a ação penal, antes mesmo de a referida ação ser encaminhada à autoridade competente. Pergunta-se, se no caso de uma ação penal ser iniciada, o indivíduo confessaria ou não. No caso dos either-way offenses (crimes sobre os quais há jurisdições concorrentes), a fase do plea é especialmente importante, pois poderá auxiliar a determinar o órgão julgador competente. No caso da Inglaterra e do País de Gales, por exemplo, plea before venue é aplicado aos crimes que podem ser submetidos tanto ao Magistrates's Court como ao Crown Court. Dica gramatical: Atenção para não confundir as preposições! Vale lembrar que apesar de usarmos a preposição of no sintagma nominal plea of guilty, por exemplo, quando se trata do sintagma verbal, usa-se to: plea guilty to murder. ______
segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Previdência privada

Previdência privada No Brasil, o art. 202 da Constituição Federal de 1988 (EC n.º 20/98) estabelece que o regime de previdência privada é facultativo e possui caráter complementar e autônomo em relação à previdência social. A Lei Complementar n.º 109/01 que dispõe sobre o regime da previdência complementar classifica as entidades de previdência privada em duas categorias: a) fechadas: "acessíveis, na forma regulamentada pelo órgão regulador e fiscalizador, exclusivamente: aos empregados de uma empresa ou grupo de empresas e aos servidores da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, entes denominados patrocinadores; e aos associados ou membros de pessoas jurídicas de caráter profissional, classista ou setorial" (art. 31, I e II, LC 101/01). b) abertas: "constituídas unicamente sob a forma de sociedades anônimas e têm por objetivo instituir e operar planos de benefícios de caráter previdenciário [...] acessíveis a quaisquer pessoas físicas" (art. 36 LC 109/01). São, em regra, instituições financeiras que instituem e operam benefícios de renda continuada (e.g. aposentadoria) ou pagamento único (e.g. seguro de vida). Assim, enquanto nas entidades fechadas é necessário possuir um vínculo de trabalho com determinada pessoa jurídica (e.g. empresa, grupo de empresa, ente da administração pública), nas abertas a associação é voluntária e disponível a qualquer pessoa física. Nos Estados-Unidos, o federal social security system (a seguridade social americana) possui o maior programa de aposentadoria (retirement plan) do país, mas além da previdência social, os trabalhadores podem optar por um ou mais planos de previdência privada (retirement plans). Clifford (2008) elucida os tipos de planos de previdência privada existentes nos Estados Unidos, de acordo com a Receita Federal daquele país (IRS), entre eles: a) individual retirement plan - plano de previdência privada complementar à disposição de pessoas físicas mediante pagamentos periódicos realizados durante determinado período para garantir uma renda após uma determinada idade, normalmente, aos 65 ou 70 anos. Os associados determinam o valor da contribuição e os investimentos realizados pelo fundo. Esses planos podem ser: i) IRA ou Individual Retirement Account - para qualquer pessoa que possua algum tipo de renda ii) SEP-IRA ou Simplifed Employee Pension-IRA1 - para profissionais autônomos (self-employed) iii) Roth IRA - difere dos acima por ser tributado no momento em que o pagamento é feito ao plano (e não após a retirada como no IRA e no SEP-IRA) e por não determinar uma idade limite para a retirada. O associado pode contribuir por mais tempo e decidir receber a renda após os 70 anos, por exemplo. iv) 401(k) accounts e 403(b) accounts - são os planos oferecidos pelos empregadores aos seus empregados (employer sponsored retirement plans). O 401(k) para o setor privado e o 403(b) para funcionários públicos e organizações sem fins lucrativos. O empregador faz uma determinada contribuição e ao empregado é facultado fazer o mesmo. b) pensions - ao contrário dos programas individuais, o associado não participa das decisões sobre os investimentos nem sobre o funcionamento desse tipo de plano que é organizado pela empresa à qual está vinculado - a empresa determina quando e como o funcionário receberá a renda futura. Examinando as definições para os termos e sintagmas em inglês acima, observamos que a natureza dos individual retirement plans IRA, SEP-IRA e Roth IRA se assemelha a dos produtos oferecidos pelas entidades de previdência privada abertas, e os 401(k) accounts e 403(b) accounts, bem como os pensions, correspondem em grande parte aos produtos oferecidos pelas entidades de previdência privada fechadas quando restringem a possibilidade de associação (closed pension funds). Todavia, há pension funds que não restringem a associação. Esses são chamados open pension funds. O que mais caracteriza um pension fund é a impossibilidade de o associado se manifestar sobre os investimentos do referido fundo, tal fato não ocorre, como elucidamos, nos individual retirement plans. Referências: a) Clifford, Denis. Plan Your Estate (National Edition). Berkeley: Nolo, 2008. b) IRS Publication 560 c) IRS Publication 590 ________ 1Chamados antigamente profit-sharing plan ou Keogh plans (Clifford, 2008), esta última denominação em homenagem a Eugene Keogh, membro do congresso dos Estados Unidos, que, na década de 60, lutou pela da aprovação da legislação previdenciária para profissionais liberais. ______
segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Erro de Tipo e Erro de Proibição

Erro de Tipo e Erro de Proibição Ignorantia legis neminem excusat Antes da redação dada pela Lei no. 7.209/84, o Código Penal empregava os termos erro de fato e erro de direito na seguinte redação: "Ignorância ou erro de direito Art. 16 - A ignorância ou a errada de compreensão da lei não eximem de pena. Erro de fato Art. 17 - É isento de pena quem comete o crime por erro quando ao fato que o constitue, ou quem, por erro plenamente justificado pelas circunstâncias, supõe situação de fato que, se existisse, tornaria a ação legítima". Após a referida lei, foram adotados os termos erro de tipo e erro de proibição. O primeiro passou a abranger situações que anteriormente eram alcançadas ora pelo erro de fato, ora pelo erro de direito, pois passou a ser aplicado em relação aos elementos fáticos e descritivos e aos elementos jurídicos e normativos do tipo (e não aos apenas fáticos do antigo art. 17) . O segundo sintagma passou a incluir situações que até então não eram previstas no Código Penal e outras classificadas como erro de direito. Atualmente, os artigos 20 e 21, capita, do Código Penal fazem referência aos erros de tipo e de proibição: Erro sobre elementos do tipo Art. 20 - O erro sobre elemento constitutivo do tipo legal de crime exclui o dolo, mas permite a punição por crime culposo, se previsto em lei. Erro sobre a ilicitude do fato Art. 21 - O desconhecimento da lei é inescusável. O erro sobre a ilicitude do fato, se inevitável, isenta de pena; se evitável, poderá diminuí-la de um sexto a um terço. No sistema americano, para os contextos em questão, encontramos dois possíveis correspondentes: mistake of law e mistake of fact - que, todavia, mais se aproximariam da terminologia anterior da lei penal brasileira. São eles de acordo com Black's: a) mistake of law - o réu não possuía entendimento das consequências da conduta ilícita. b) mistake of fact - o réu agiu com base na compreensão errônea de um fato e não com propósito ilícito. Outras denominações segundo Black's: a) mistake of law: error in law, error of law b) mistake of fact: error in fact, error of fact Referências: a) (2004). Black's Law Dictionary, Eighth Edition (Black's Law Dictionary (Standard Edition)). Mason, Ohio: Thomson West. b) Código Penal Brasileiro - (clique aqui) ______
segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Void: -able, -ness, -ability

Void: -able, -ness, -ability Antes de abordarmos voidability, passemos perfunctoriamente por void, voidable e voidness. Ao examinarmos a língua em contexto, observamos que o adjetivo void, - cuja definição é sem efeito jurídico, nulo1 (Black's) -, é empregado na acepção de nulo em português. Exemplo2: Any void provision shall be deemed severed from this Agreement, and the balance of this Agreement shall be construed and enforced as if this Agreement did not contain the particular portion or provision held to be void. a) void provision - cláusula/disposição nula b) held to be void - considerado nulo Uma outra característica da linguagem jurídica em inglês é void coocorrer com null no binômino null and void, sem alteração da referida acepção em português, pois se trata de um binômio redundante, - i.e. composto por termos sinonímicos -, muito comuns no inglês jurídico. Exemplo: All prior agreements respecting the subject matter hereof, either written or oral, expressed or implied, are merged and canceled, and are null and void and of no effect. Entretanto, void ocorre também em outro binômio. Dessa vez em um binômio classificado como útil (useful) por Mellinkoff (1963): void or voidable (nulo ou anulável) Exemplos: Any person in which any director has a financial interest or to whom any director is related, including as a director of that other person, is void or voidable for this reason only or by reason only that the director is present at the meeting of directors or at the meeting of the committee of directors that. Not to do or permit or suffer to be done any act or thing which may render void or voidable any policy of insurance on the Premises or the building or any part thereof or on the Contents or which may cause an increased premium to be payable. Assim, acabamos de ilustrar, no inglês jurídico, dois adjetivos, em um mesmo campo semântico, dotados de acepções distintas: void (nulo) e voidable (anulável) - este último definido por válido até ser declarado nulo3 (Black's). A indagação da leitora, todavia, refere-se ao substantivo voidability que deriva de voidable (anulável) e, conseqüentemente, corresponde a anulabilidade. Ao substantivo nulidade em português, corresponde o substantivo voidness em inglês. Outro termo para designar nulidade é o substantivo nullity, empregado em contextos mais restritos, como o de casamento (e.g. decree of nullity) Em suma, gramaticalmente, mas nem sempre pragmaticamente, pois a tradução não implica a manutenção das classes gramaticais dos termos traduzidos: a) Ao adjetivo void (nulo), corresponde o substantivo voidness (nulidade). b) Ao adjetivo null (nulo), corresponde o substantivo nullity (nulidade). c) Ao adjetivo voidable (anulável), corresponde o substantivo voidability (anulabilidade). Referências: a) Mellinkoff, D. (1963). The Language of the Law. Boston: Little, Brown. b) (2004). Black's Law Dictionary, Eighth Edition (Black's Law Dictionary (Standard Edition)). Mason, Ohio: Thomson West. c) (2006) Projeto Comet - CorTec - Corpora Técnicos - FFLCH-USP. _______ 1Of no legal effect; null. 2Todos os exemplos retirados de (2006) Projeto Comet - CorTec - Corpora Técnicos - FFLCH-USP. 3Valid until annulled. ______
O poder das preposições no inglês jurídico: agree e charge De que as preposições são um grande desafio para o falante de língua estrangeira, ninguém duvida. Que o desafio é ainda maior na linguagem de especialidade, é o que pretendemos ilustrar na coluna de hoje. Algumas das preposições mais comuns em inglês são: about, above, over, across, along, around, before, below, under, beside, between, by, with, from, during, in, for, at, down, of, off, into, onto, of, behind, beyond, against, by, despite, till, to, within. O rol é extenso e o papel delas, enorme. As preposições são poderosas. São capazes de mudar a acepção de um verbo ou de um substantivo. É o que acontece com o verbo agree. Se agree vier seguido da preposição with, terá a acepção de 'ter a mesma opinião que alguém'. Se seguido de to, a acepção é 'obrigar-se a'. Exemplos: a) agree with - If Licensee does not respond or make an effort to agree with Board on the disposition of rights in the subject invention, then Board may file an application at its own expense. b) agree to - You agree to comply strictly with all such laws and regulations and acknowledge that you have the responsibility to obtain such licenses to export. O mesmo ocorre mais intensamente com charge. Se seguido de for, corresponde a 'cobrar algo'. Seguido de at, 'cobrar por [hora]'. Seguido de to, 'cobrar de alguém'. Se seguido de with, é 'acusar alguém de algo'. Exemplos: a) charge for - .in the event of them not being removed the Landlord shall be entitled to remove the same at the sole risk of The Tenant and to charge the Tenant for the cost of removal and storage. b) carge at -. the time of each [law professional] will be charged at his or her hourly rate. c) charge to - If, while this agreement is in effect, Law Firm increases the hourly rates being charged to clients generally for attorney's fees, that increase may be applied to fees incurred under this agreement. d) charge with - The mayor of Birmingham was arrested by federal agents and charged with taking bribes in exchange for doling out county financial business. Em relação a charge, abordamos acima apenas algumas das preposições da regência verbal do lexema. No caso do substantivo charge, as preposições que o regem são outras como, por exemplo, upon e against. No primeiro caso, a acepção é a de 'ônus sobre um determinado bem'. No segundo, 'acusação contra alguém'. Exemplos: a) charge upon - [ the party ] shall pay all claims for labor, materials or supplies which if unpaid might by law become a lien or charge upon any property of the Guarantor or any of its Subsidiaries. b) charge against - .there is no charge or complaint against the Company or any Company Subsidiary by the National Labor Relations Board. O fenômeno da multiplicação das acepções de um mesmo lexema em virtude da preposição que o segue é mais evidente nos famosos e temidos verbos frasais (phrasal verbs) (e.g.). E como lidar com tanta diversidade? Há alguma regra? Infelizmente, regras não há, pois o emprego das preposições faz parte da idiomaticidade e convencionalidade da língua, ou seja, do 'jeito que a gente diz' (Tagnin, 2006). Para não cair nas armadilhas das preposições, ao buscar a acepção de uma palavra, verificar se a definição ou tradução apresentada na obra de referência (e.g. dicionário, glossário, vocabulário) ou fonte de consulta (e.g. corpus eletrônico, manuais de tradução) vem abonada (i.e. com exemplos), e se dessas abonações constam as respectivas preposições. Em se tratando de preposições, todo cuidado é pouco, pois o emprego incorreto é capaz de transformar o sentido pretendido. Referência: a) TAGNIN, S.E.O. (2005) O jeito que a gente diz: expressões convencionais e idiomáticas. São Paulo: Disal. _________ Mensagem de fim de ano: A colunista gozará de breves férias a partir da próxima semana e estará de volta em janeiro. Gostaria de agradecer aos leitores pelas valiosas contribuições à MigaLaw English. Feliz 2009! ______
segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Mais sobre law e act

Mais sobre law e act Na coluna Leis, convênios e resoluções (17/03/08), abordamos a tradução do termo lei e chegamos à conclusão que leis federais - tanto leis ordinárias como complementares - poderiam ser traduzidas por federal laws ou federal acts dependendo do contexto. Naquela coluna, citando o 'Guia Prático de Tradução Inglesa' (A. S. dos Santos, 2007): "Act. significa lei, (...): an Act of Congress (..) vimos que lei e act são sinônimos, embora act seja sempre empregado na designação da lei. Por outro lado, em termos mais gerais, tanto law como act ocorrem. Para exemplificar: Contextos em que law e act podem ser empregados indistintamente: a) Even so, this act does not prohibit tests carried out for b) A second Act of 1840 amending the original law set out twelve schemes in three columns. c) Michael Jack quotes the same passage in the Act which the Law Commission quotes to Contextos em que apenas act é utilizado: a) as to title in Section 12 of the Sale of Goods Act 1979 is not excluded. b) which he was required to work was the Fisher Act, drafted during the war c) in Regulated Protected Tenancies under Rent Act 1977 Abordando o contexto brasileiro, a indagação feita nesta semana aponta a tradução dos sites do Banco Central, Inmetro, Anvisa etc. em que, por exemplo, a Lei nº 6.404 é traduzida por Law nº 6.404. Pergunta-se se o correto deveria ser Act nº 6.404 e se tanto law como act poderiam ser empregados indistintamente neste contexto. Em primeiro lugar, observamos as traduções fornecidas em alguns dos sites mencionados. A partir do exame das traduções, identificamos algumas diferenças na tradução: a) a lei seguida de número recebeu a tradução de law, seguida de 'n.o.' e do número da lei com ponto indicando o milhar. (e.g. Law nº 9.787) b) a lei seguida de número recebeu a tradução de law seguida do número da respectiva lei com o ponto indicador de milhar (e.g. The National Health Surveillance Agency (Anvisa) was established by Law 9.782, of January 26, 1999.) Concordo com a tradução de lei por law no contexto acima, mas também acredito que act poderia ser utilizado indistintamente. E a razão é simples. No Brasil, é comum nos referirmos a uma lei pelo número, nos países anglófonos, nem tanto. Em inglês, act é empregado seguido do nome da lei, pois é esse o nome conhecido. No Brasil, o número funciona como o nome, portanto não veria problema em empregar um pelo outro. Entretanto, não podemos nos limitar a traduzir apenas o nível da palavra (at word level), vale observar as convenções lingüísticas. Essas convenções apontam para uma maior ocorrência de law no contexto que estamos examinando. Isso ocorre não só no contexto das leis no Brasil, mas também no de outros países que adotam um sistema similar ao nosso, por exemplo: a) The International Adoption Act (Law 54/2007, of December 28), is the first special Private International Law act issued in Spain. b) Law No. 940, 31 December 1961, Passport Act [Republic of Korea] Por fim, uma observação. Ao traduzir Lei 9.782, por exemplo, convém não preservar o ponto na casa do milhar, pois isso pode confundir o leitor de língua inglesa já que naquela cultura o ponto é utilizado para indicar as casas decimais. ______
segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Act of God, force majeure e cas fortuit

Act of God, force majeure e cas fortuit De acordo com Garner (2001) a expressão act of god é uma expressão vaga e pouco clara, pois é mais restrita que force majeure ou vis major (força maior). Act of god abrange as forças incontroláveis e inesperadas da natureza, ao passo que force majeure inclui também as conseqüências provocadas pela ação do homem. Na linguagem jurídica em inglês, observando a expressão em contexto, vemos que os fatos ocasionados por força da natureza são, muitas vezes, também explicitados ainda que a expressão act of god tenha sido utilizada, além de co-ocorrer com termos que indicam ações do homem: a) .because of any reason including, but not limited to, war, act of God, governmental regulations, strike, loss, damage, destruction, obsolescence, failure of or any delay in delivery, failure of the Equipment to properly b) .if the failure is occasioned by war, strike, fire, Act of God, earthquake, flood, lockout, acts of terrorism, embargo, governmental acts or orders or restrictions, failure of suppliers or third parties. c).circumstances beyond the reasonable control of Exchangor or Trustee, including but not limited to, Act of God, war, insurrection, fire, flood, earthquake, accident, strike or other labor disturbance, interruption of or delay in transportation or power failure Em português, os contratos não fazem referência a 'atos de Deus', mas a casos fortuitos e aos de força maior, como podemos observar a partir das linhas de concordância abaixo. 1) caso fortuito ou força maior. 14.2 - Qualquer 2) de caso fortuito e força maior, relacionados ao de 3) caracterizados como força maior ou caso fortuito, s 4) caso fortuito ou de força maior, a parte impossibilidade 5) fortuitos ou casos de força maior que a impeçam de ex 6) de caso fortuito ou força maior. Da mesma forma com 7) Se por motivo de força maior o contratado ficar 8) devido a um evento de força maior ou caso fortuito, c 9) fortuitos ou motivos de força maior serão excludentes d 10) fortuito ou motivo de força maior deverá notificar a Assim como em português temos caso fortuito, em inglês temos cas fortuit, que o Black's (2004) define como um fato imprevisível ou inevitável. Por outro lado, a definição adotada pelo Código Civil (art. 393, parágrafo único) afasta o elemento imprevisibilidade: O caso fortuito ou de força maior verifica-se no fato necessário, cujos efeitos não era possível evitar ou impedir. Apesar de, pela definição, cas fortuit abranger tanto acts of god como force majeure, é uma expressão menos utilizada. Não encontramos nenhuma ocorrência no CorTec (2006). Tal ausência é explicada pela acepção dada a force majeure que, de acordo com Black's (2004) é um fato imprevisível e incontrolável. O autor esclarece ainda que a expressão abrange os 'atos da natureza' (acts of nature, acts of god) e 'atos de terceiros' (acts of people) funcionando, pois, como um hiperônimo dos demais termos em questão. Em relação aos efeitos, em ambos os sistemas, o efeito de force majeure, cas fortuit, acts of god e caso fortuito e força maior é a exclusão do dever de indenizar se a parte não se houver expressamente por eles responsabilizado (art. 393, Código Civil). Após examinarmos muito brevemente as definições, os exemplos, as diferenças e as relações de hiperonímia entre os termos em inglês e português, ao tradutor cabem algumas alternativas. Para traduzir a expressão act of God o tradutor pode optar por: fenômeno da natureza, em um contexto restritivo ou explicativo, ou por caso fortuito ou força maior, - ou por ambos - devido à convenção da linguagem de especialidade, que é a de empregá-los juntos ou como sinônimos. Referências: a) (2004). Black's Law Dictionary, Eighth Edition (Black's Law Dictionary (Standard Edition)). Mason, Ohio: Thomson West. b) (2006) Projeto Comet - CorTec - Corpora Técnicos - FFLCH-USP. c) Garner, B. (2001). A Dictionary of Modern Legal Usage (Oxford Dictionary of Modern Legal Usage). New York: Oxford University Press, USA. ______
segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Mais termos polissêmicos no inglês jurídico

Mais termos polissêmicos no inglês jurídico Como vimos na coluna da semana passada, a polissemia é o fenômeno pelo qual um mesmo termo possui mais que uma acepção. Um dos indicadores utilizados para medir a proficiência em língua estrangeira - e na materna - é a capacidade de o falante ser capaz de reconhecer as diversas acepções de um mesmo lexema. Assim, com base em Riley (1998), selecionamos algumas acepções de termos empregados no Direito para que o leitor, com base nos exemplos, procure identificar a que termo se referem e suas respectivas traduções no português do Brasil As respostas (termos e traduções) e a classificação do número de acertos serão dadas ao final da coluna. 1) O termo é ________ a) acepção 1: uma reunião ou uma série de reuniões "There is a Democratic _______ in August" b) acepção 2: um tratado internacional "All the countries agreed to a new arms ______" c) acepção 3: a forma tradicional de fazer as coisas "We have a _______ that the President enters first" 2) O termo é _________ a) acepção 1: dinheiro investido ou tomado emprestado "You don't pay off the ________ until the end of the loan period" b) acepção 2: pessoa física ou jurídica representada por um mandatário: "The agent has come to London to see his ____________" c) acepção 3: pessoa responsável por algo "Whose name appears on the contract as ______" 3) O termo é _________ a) acepção 1: objeto à venda "This ________ is very attractively priced" b) acepção 2: subdivisão de um contrato "If you look at ________ 7 of the contract you will see why" 4) O termo é __________ a) acepção 1: um pedaço de terra "The _______ is 100 square kilometres" b) acepção 2: patrimônio deixado por pessoa falecida "His ______ was worth $1.5m." 5) O termo é __________ a) acepção 1: apropriado, correto "We will not release the documents without ________ procedure being followed" b) acepção 2: devido "The next payment is _______ on the 26th of October" c) acepção 3: alguém que está sendo esperado "Edward isn't ________ until seven o'clock" 6) O termo é __________ a) acepção 1: declarar "I _________ now that my client is completely innocent" b) acepção 2: um país independente "All citizens have obligations to the ______" 7) O termo é __________ a) acepção 1: atenção especial "I took particular ________ in this case" b) acepção 2: dinheiro pago pelo uso do dinheiro "What is the current rate of ______" c) acepção 3: título sobre as ações de uma empresa "Mr. Plouff has a majority ____________ in a pulp & paper plant" 8) O termo é __________ a) acepção 1: pessoa física ou jurídica que celebra um contrato "One of the ______ to the contract has died" b) acepção 2: uma organização política: "Obama is the leader of the Democratic ______" As respostas e respectivas traduções possíveis dentro das acepções apresentadas são: 1) Convention (convenção, convenção, convenção/costume) 2) Principal (principal, outorgante/mandante, responsável) 3) Article ou item (produto, cláusula / item) 4) Estate (propriedade / terreno, espólio) 5) Due (devido, com vencimento em, esperado) 6) State (afirmar, estado) 7) Interest (interesse, juros, participação) 8) Party (parte, partido) Confira a classificação do número de acertos: 4 termos - Bom. 5 a 7 termos - Muito bom. 8 termos - Excelente! Referências: Riley, D. (1998) Check Your Vocabulary for Law. 2.a. ed. Peter Collin Publishing Ltd. ______
segunda-feira, 17 de novembro de 2008

A polissemia no inglês jurídico

A polissemia no inglês jurídico Um termo é considerado polissêmico quando possui diversas acepções. Na língua portuguesa, um exemplo seria o lexema 'peça' para o qual o Aurélio registra mais de 20 acepções, entre elas: peça [Do céltico *pettia, 'pedaço'.] Substantivo feminino. 1) Parte ou pedaço de um todo indiviso. 2) Cada uma das partes ou elementos de um conjunto, de um mecanismo, de uma coleção: uma peça de roupa, de mobiliário, de relógio; peça numismática. 3) Qualquer objeto que forma uma unidade completa; exemplar: Esta sopeira é a peça mais bonita do serviço da Companhia das Índias. 4) V. acessório: peça de automóvel, de avião. 5) Porção de fazenda tecida de uma vez. 6) Objeto de metal precioso, ou jóia. 7) Pedra ou figura, em jogo de tabuleiro. 8) Compartimento ou divisão de uma casa. 9) Moeda portuguesa antiga, de ouro. 10) Documento que faz parte de processo. 11) Artefato. 12) Trabalho literário ou artístico: O poema "O Caçador de Esmeraldas", de Bilac, é uma bela peça. 13) Teatr. Texto e/ou representação teatral: Prefiro peças a filmes. 14) Animal abatido em caça. 15) Peça de artilharia; boca-de-fogo. 16) Fig. Engano, embuste, logro, ludíbrio, partida. Em inglês, um exemplo de termo polissêmico é brief para o qual o American Heritage Dictionary apresenta as seguintes acepções: brief (bref) n. 1) A short, succinct statement. 2) A condensation or an abstract of a larger document or series of documents. 3) Law a) A formal outline listing main contentions along with supporting evidence and documentation. b) A document containing all the facts and points of law pertinent to a specific case, filed by an attorney before arguing the case in court. 4) Roman Catholic Church A papal letter that is not as formal as a bull. 5) A briefing. 6) briefs Short, tight-fitting underpants. A polissemia costuma ser um fenômeno observado na língua geral, pois em línguas de especialidade, a regra é serem os termos específicos a uma determinada área do discurso. Entretanto, em tradução, um termo na língua de chegada, pode ter diversas acepções na língua de partida dependendo do contexto. É o que ocorre com assign nos exemplos abaixo. a) Company shall be entitled to assign its rights under this Agreement only with the prior written consent of JC, which consent shall not be unreasonably withheld. b) There are two ways in which you can assign durable powers of attorney. O primeiro é de um contrato entre 'Company' e 'JC' de acordo com o qual a primeira poderá transferir / ceder seus direitos a terceiro mediante consentimento expresso por escrito da outra parte. No segundo exemplo, o contexto é o de direito contratual, entretanto trata-se de um contrato de mandato em que, em português, o termo convencionado é, mais especificamente, substabelecer. Abaixo alguns poucos dos muitos exemplos de polissemia de um termo de partida na língua de chegada: court a) Lessee hereby consents to the jurisdiction of any Federal or State Court located in the State of New Jersey. b) The court heard testimony from another witness. No primeiro exemplo, a tradução seria tribunal, no segundo, juiz. legal a) They have a number of concerns: the legal system remains confusing b) We will file appropriate legal action to stop the unauthorized use of these marks. Possibilidades de tradução: jurídico, no primeiro exemplo e judicial no segundo. settlement a) The invoice shall be sent direct to your insurance company for settlement. b) In an out-of-court settlement, both parties agreed to a 50-50 split. No primeiro exemplo, settlement corresponde a pagamento, no segundo, a acordo. ______
A marca da Equidade no sistema anglo-americano: specific performance 1) Common Law & Equity O direito anglo-americano foi desenvolvido a partir de duas grandes vertentes. A principal, a common law - que dá no nome a esta família de direito e que foi introduzida por Guilherme, o Conquistador e subseqüentemente desenvolvida pelos tribunais reais entre 1066 e 1485 - e a equity, introduzida pelos equity courts a partir de 1485. A equity é um ramo do direito não escrito, fundado na justiça e no equilíbrio entre as partes. Por meio da equity, visava-se solucionar os litígios de uma forma mais justa que a solução prevista pelos common law courts ou a dar uma solução aos litígios para os quais a common law não previa solução devido à máxima 'remedies precede rights' (i.e. em primeiro lugar o processo). Uma das principais características da common law, foi a de que se desenvolveu com base em um determinado número de ações1 (forms of action). Em outras palavras, caso não houvesse uma ação específica, a common law não poderia ser acionada e a principal dificuldade enfrentada pelas partes em acessar o judiciário residia em fazer com que os tribunais reais admitissem sua competência. Devido a ausência de ações específicas e a insatisfação com as soluções nos juízos de common law, a equity teve origem na Inglaterra medieval. As partes insatisfeitas com a solução dada pelo judiciário, passaram a recorrer ao rei que, por sua vez, encaminhava as petições ao chanceler ou chancellor (autoridade religiosa). Assim, quando o chanceler considerava a causa justa, ele aplicava soluções com base nos princípios de equidade, cujos fundamentos estão essencialmente no direito canônico e romano. Devido à crescente demanda por intervenção do poder real e à insatisfação da população com as soluções das law courts, os remédios aplicados pelo chanceler se multiplicaram e passaram a compor um novo conjunto de princípios até dar origem a uma outra divisão do judiciário: os chamados equity courts ou chancery courts. Durante alguns séculos (1485 a 1832) os dois sistemas coexistiram, cada qual com seus próprios princípios e juízes. Mais tarde, uma reforma unificou o judiciário e as regras de equidade foram incorporadas à common law. Por esta razão, hoje, o autor de uma ação pode pleitear soluções de common law (legal remedies) ou equitativas (equitable remedies). Entretanto, o entendimento que prevalece é o de que o judiciário apenas confere as últimas na ausência das primeiras, i.e., uma instância de common law só aplicará soluções de equity, como a de specific performance2 por exemplo, se não houver a possibilidade de indenização (i.e. monetary damages3). 2) A tradução de specific performance De acordo com o direito anglo-americano, specific performance é uma das soluções de equity para o inadimplemento contratual (breach of contract), não apenas obrigacional. Por meio da specific performance, que seria a execução forçada da obrigação decorrente de contrato, a parte que não inadimpliu o contrato, i.e. a parte inocente, (party not in breach ou injured party) pode pleitear uma ordem judicial obrigando a parte inadimplente (party in breach ou injuring party) a cumprir determinada obrigação contratual. Trata-se de medida excepcional que, em regra, é concedida quando uma indenização por perdas e danos não é suficiente ou nos casos das obrigações de dar4 (e.g. compra e venda de bens móveis e imóveis). Vale ressaltar que, por ser medida de equity¸ a parte que pleiteia a specific performance, não pode estar inadimplente, pois há um princípio no direito da equidade segundo o qual: "He who comes in equity must come with clean hands". Além disso, não cabe specific performance em uma série de obrigações de fazer fungíveis (personal obligations) (e.g. contrato de prestação de serviços). No sistema pátrio, as soluções em direito para o descumprimento das obrigações são semelhantes. Apesar de o sistema romano-germânico, ao contrário da common law, historicamente privilegiar a execução da obrigação, em muitos casos a prática é inviável e o remédio contra o descumprimento obrigacional é a conversão em perdas e danos (damages), fazendo com que a execução forçada e a por terceiro sejam consideradas possíveis e permitidas em menos casos. Nesse sentido, temos os artigos 2475 , 2486 e 2497 do Código Civil. Em matéria contratual, entende-se por execução forçada 'o meio de que se serve a pessoa para exigir judicialmente o cumprimento ou satisfação das cláusulas contratuais' (Plácido e Silva). Nesse contexto, que parece ser o da indagação da leitora, specific performance poderia se traduzido por execução forçada da obrigação [de dar ou de fazer] prevista no contrato. 3) Referências: a) Código Civil Brasileiro (Lei 10 406/02) (clique aqui) b) DAVID, René. (1998) Os Grandes Sistemas do Direito Contemporâneo. Trad. Hermínio A. Carvalho. São Paulo:Martins Fontes. c) Uniform Commercial Code (clique aqui) ______ 1Em decorrência de sua historicidade, das forms of action, até hoje a common law, em muitos casos, não se apresenta como um sistema que visa realizar a justiça, mas sim assegurar a solução de litígios [e de forma rápida: Justice delayed is justice denied]. 2Outros tipos de soluções em equity: rescission, restitution, prohibitory injuction, mandamus 3Outros tipos de indenização em common law: liquidated damages, punitive damages, compensatory damages, consequential damages, nominal damages 4O artigo 2.º do Uniform Commercial Code afasta a regra tradicional da common law que é a de indenização por perdas e danos, e permite a execução forçada. (clique aqui) 5Art. 247. Incorre na obrigação de indenizar perdas e danos o devedor que recusar a prestação a ele só imposta, ou só por ele exeqüível. 6Art. 248. Se a prestação do fato tornar-se impossível sem culpa do devedor, resolver-se-á a obrigação; se por culpa dele, responderá por perdas e danos. 7Art. 249. Se o fato puder ser executado por terceiro, será livre ao credor mandá-lo executar à custa do devedor, havendo recusa ou mora deste, sem prejuízo da indenização cabível. Parágrafo único. Em caso de urgência, pode o credor, independentemente de autorização judicial, executar ou mandar executar o fato, sendo depois ressarcido. ______
segunda-feira, 3 de novembro de 2008

O mandado de segurança e o writ of mandamus

O mandado de segurança e o writ of mandamus "Justice delayed is justice denied" 1) O mandado de segurança O mandado de segurança, previsto no art. 5.º, incisos LXIX e LXX da Constituição Federal1, é uma das ações constitucionais2 conferidas aos indivíduos, partidos políticos, entidades de classe e associações como meio de proteção contra ilegalidades e abusos de poder. O objeto do mandado de segurança, segundo o texto constitucional, é proteger direito 'líquido e certo, não amparado por 'habeas corpus ou habeas data', quando o responsável pela ilegalidade ou abuso de poder for autoridade pública ou agente de pessoa jurídica no exercício de atribuições do Poder Público'. São, portanto, quatro os requisitos do mandado de segurança: a) ação ou omissão por parte do Poder Público3 b) ilegalidade ou abuso de poder c) lesão ou ameaça de lesão a direito líquido e certo d) direito não protegido por habeas corpus nem habeas data 2) Writ of mandamus como tradução Assim como no writ of certiorari o termo em latim corresponde a "we wish to be informed" (queremos ser informados), o termo mandamus em writ of mandums corresponde à expressão "we command" (ordenamos). Portanto, é importante ressaltar que, enquanto o mandado de segurança é o nome de uma ação no nosso sistema, o writ of mandamus é o termo dado à ordem judicial. O pedido do impetrante (applicant) é chamado petition for writ of mandamus4 e não apenas writ of mandamus. O writ of mandamus, de acordo com Garner, até o século 19, era utilizado para restituir ou empossar em cargo público indivíduo dele privado, tal como ocorreu no célebre Marbury v. Madision (1803)5. Todavia, esclarece o autor, a partir do século 19, o referido writ passou a ser utilizado mais amplamente, i.e., por meio da referida ordem, um tribunal superior determina que uma instância inferior ou autoridade pública ou privada realize o que, de direito, está obrigada a fazer ou a deixar de fazer. Conseqüentemente, o writ não se aplica a esferas discricionárias de poder e, nesse aspecto, se assemelha ao nosso mandado de segurança. Por outro lado, a Suprema Corte estabeleceu algumas diretrizes do writ of mandamus em Kerr v. United States District Court (1976) determinando que o writ tem caráter essencialmente excepcional, pois ele perturba a ordem jurídica, gerando desequilíbrio no sistema jurídico e demora na decisão. Como sabemos, um dos principais pilares do sistema americano é a garantia de celeridade das decisões judiciais (i.e. the right to a speedy trial) prevista na Emenda n.º 6 da Constituição dos Estados Unidos. Assim, na tradução do termo, o mero caráter excepcional do writ afastaria sua correspondência ao mandado de segurança que no Brasil é ação recorrentemente empregada. Outrossim, vale notar que, em Kerr v. United States District Court (1976), o objeto do pedido era a entrega de informações por parte da diretoria de um presídio ao judiciário estadual. Portanto, nesse caso a tradução para petition of writ of mandamus, mais se aproximaria da nossa ação de habeas data, e não a de mandado de segurança. E esse é apenas um exemplo, pois os remédios obtidos por meio do nosso mandado de segurança podem ser objeto de outros writs no sistema anglo-americano que não do de mandamus (i.e. writ of certiorari, writ of injunction, writ of quo warrant). 3) Conclusão É necessário examinar o contexto sempre, pois a acepção adequada das, em muitos casos, diferentes acepções de certos termos e correspondentes de traduções depende do contexto em que está inserido o termo ou a expressão. _______ 1LXIX - conceder-se-á mandado de segurança para proteger direito líquido e certo, não amparado por "habeas-corpus" ou "habeas-data", quando o responsável pela ilegalidade ou abuso de poder for autoridade pública ou agente de pessoa jurídica no exercício de atribuições do Poder Público; LXX - o mandado de segurança coletivo pode ser impetrado por: a) partido político com representação no Congresso Nacional; b) organização sindical, entidade de classe ou associação legalmente constituída e em funcionamento há pelo menos um ano, em defesa dos interesses de seus membros ou associados; 2Outras são: habeas corpus, habeas data, mandado de injunção. 3§ 1º - Consideram-se autoridades, para os efeitos desta lei, os representantes ou administradores das entidades autárquicas e das pessoas naturais ou jurídicas com funções delegadas do Poder Público, somente no que entender com essas funções. Lei 1.533 de 1951 com redação dada pela Lei n.º 9 259 de 1996. 4Exemplo de uma petição de writ of mandamus (clique aqui) 5Que célebre foi não por ser um writ of mandamus, mas por estabelecer as bases para o poder de controle da constitucionalidade das leis pela Suprema Corte dos Estados Unidos, mas essa é outra história. ______
A Competência Discricionária da Suprema Corte dos Estados Unidos e o Writ of certiorari Como vimos na coluna da semana passada, a Suprema Corte dos Estados Unidos possui, além de competência originária (restrita) e recursal obrigatória (pequena), competência discricionária (ampla). Devido ao grande aumento do número de ações submetidas à apreciação da Suprema Corte ao longo da história dos Estados Unidos, o Congresso conferiu à Corte poderes cada vez mais amplos para que a própria Corte selecionasse os casos a examinar (Messitte). É tal a extensão desse poder que, de acordo com a Rule 10 das Rules of the Supreme Court of the United States, após a interposição do pedido da parte recorrente (petition for writ of certiorari - chamada nformalmente de cert petition), cabe à Suprema Corte examinar se há 'azões relevantes' i.e. compelling reasons1, para que o caso seja julgado por aquela instância. As razões relevantes são exemplificadas2 na própria Rule 10 que também estabelece que meros erros3, de fato ou de direito, cometidos nas instâncias inferiores não são motivo determinante para a admissão de um petition for a writ of certiorari. Em outras palavras, a Suprema Corte não toma para si a função de corrigir erros cometidos pelo judiciário estadunidense, mas a de julgar ações que tenham relevância e repercussão nacional bem como aquelas que gerem efeitos em todo o país - e não apenas em relação ao caso individual. As Rules 13 e 14 do regimento da Suprema Corte determinam o conteúdo do petition for writ (nomes das partes, necessidade de índice, lista de precedentes, dispositivos legais), limitam o número de páginas (5) palavras (5 000), definem o tipo de linguagem a ser empregada (concisa, breve, clara, sem detalhes desnecessários, não deve ser argumentativa nem repetitiva etc.), restringem a extensão dos anexos (9 000 palavras). Por ano, chegam à Suprema Corte cerca de 8 0004 cert petitions dos quais apenas cerca de 100 são deferidos e 75 efetivamente julgados. Portanto, não seria incorreto afirmar que a Suprema Corte dos Estados Unidos emprega a maior parte do tempo decidindo o que decidir que propriamente decidindo. Se 4 dos 9 juízes (i.e. menos que a maioria) da Suprema Corte forem favoráveis ao petition for writ of certiorari, o writ é concedido. Fine esclarece que a necessidade de apenas 4 votos é uma regra não escrita oriunda de um acordo entre o Congresso e o Judiciário por ocasião de uma das extensões da competência discricionária da Suprema Corte (Judge's Bill). Nos casos em que a Suprema Corte se manifesta favoravelmente ao cert petition, o tribunal envia uma ordem à instância onde estão os autos do processo para que sejam remetidos à Suprema Corte (Rule 16). Essa ordem tem o nome de writ of certiorari que é o instrumento pelo qual a Suprema Corte dos Estados Unidos expressa seu poder avocatório. E como traduzir o termo? O tradutor precisa examinar a finalidade ou Skopos da tradução (Nord), indagando-se acerca da adequação de uma tradução mais 'domesticadora' ou mais 'estrangeirizadora' para adotarmos a terminlogia de Venutti. Na primeira, o tradutor tentaria aproximar o sintagma da língua de chegada anulando ou diminuindo as diferenças culturais, caso em que poderia adotar soluções como mandado ou ordem de avocação, carta avocatória, carta requisitória, ou simplesmente pedido de envio ou remissão dos autos, entre outras. Por outro lado, em uma tradução 'estrangeirizadora' o tradutor poderia optar por aproximar a cultura de partida à cultura de chegada ressaltando as diferenças entre elas e, nesse caso, poderia optar por utilizar writ of certiorari ao longo do texto após, se julgar necessário, oferecer uma explicação ou paráfrase no momento em que o sintagma ocorrer pela primeira vez. Referências: Fine, Toni. Writ of Certiorari in the Supreme Court. Palestra proferida no Seminário Internacional de Direito Constitucional. São Paulo, 3 de outubro de 2008. Messitte, Peter J. Writ of Certiorari: Decisão sobre Que Casos Revisar. [Recuperado em: (clique aqui) Nord, C. (1997). Translating as a Purposeful Activity: Functionalist Approaches Explained (Translation Theories Explained,). Manchester: Saint Jerome Publications. Venuti, L. (1998). The Scandals of Translation: Towards an Ethics of Difference. New York: Routledge. Venuti, L. (2008). The Translator's Invisibility: A History of Translation. New York: Routledge. ________ 1Rule 10. Considerations Governing Review on Certiorari - Review on a writ of certiorari is not a matter of right, but of judicial discretion. A petition for a writ of certiorari will be granted only for compelling reasons. [.] 2Rule 10 [.] The following, although neither controlling nor fully measuring the Court's discretion, indicate the character of the reasons the Court considers: (a) a United States court of appeals has entered a decision in conflict with the decision of another United States court of appeals on the same important matter; has decided an important federal question in a way that conflicts with a decision by a state court of last resort; or has so far departed from the accepted and usual course of judicial proceedings, or sanctioned such a departure by a lower court, as to call for an exercise of this Court's supervisory power; (b) a state court of last resort has decided an important federal question in a way that conflicts with the decision of another state court of last resort or of a United States court of appeals; (c) a state court or a United States court of appeals has decided an important question of federal law that has not been, but should be, settled by this Court, or has decided an important federal question in a way that conflicts with relevant decisions of this Court. [.] 3Rule 10. [.] A petition for a writ of certiorari is rarely granted when the asserted error consists of erroneous factual findings or the misapplication of a properly stated rule of law. 4Se contarmos as demais ações das outras esferas de competência, o número se aproxima de 10 000 e os julgamentos de 100. Números impressionantemente baixos se comparados ao número de julgamentos do STF em 2007, por exemplo, ano em que o tribunal proferiu quase 160 000 decisões, 10 000 das quais relacionadas à competência originária e mais de 30.000 à recursal. (Clique aqui) ______
A Suprema Corte dos Estados Unidos e o writ of certiorari Para melhor compreendermos o que é o writ of certiorari no sistema americano, é preciso contextualizá-lo traçando um panorama sobre o funcionamento da Suprema Corte (the U.S. Supreme Court - SC) dos Estados Unidos e, quando couber, compará-la à mais alta instância do judiciário brasileiro, o Supremo Tribunal Federal (STF). A criação da Suprema Corte está prevista pelo Article III Section 11 da constituição americana de acordo com a qual a SC será o órgão mais alto do judiciário nacional. O mesmo Article III também determina que os juízes da SC sejam nomeados pelo presidente da república e confirmados pelo senado. Além disso, ocupam o cargo em caráter vitalício (life tenure) enquanto apresentarem bom comportamento (during good behaviour). A ausência de aposentadoria obrigatória faz com que haja, hoje, um juiz de 88 anos de idade em exercício: o juiz Stevens, nascido em 1920, ocupando o cargo desde 1975, considerado um dos mais liberais2. Assim como os juízes brasileiros os membros da SC, gozam de irredutibilidade de vencimentos (no diminution in salary), porém, vale ressaltar, que essa irredutibilidade não possui a mesma extensão que a conhecida no Brasil, isto é, a própria SC estabeleceu que no referido sintagma não se entende por diminution o efeito que a inflação possui sobre os vencimentos do judiciário. A SC é composta por 8 juízes (associate justices) e 1 juiz-presidente (chief justice). Os juízes da SC não se dividem em turmas nem nada decidem individualmente. Todos os recursos e ações de competência originária são decididos em plenário (en banc). O ano da SC tem início na primeira segunda-feira de outubro e termina no final de junho ou início de julho assim que corte encerra suas atividades. Entre as ações julgadas pela SC estão aquelas de: a) competência originária (original jurisdiction) b) competência recursal obrigatória (mandatory appellate jurisdiction) c) competência discricionária (discretionary appellate jurisdiction) E é dentro desta última esfera de competência na qual está inserido o writ of certiorari - ou apenas writ of cert - o qual, após essa breve contextualização, examinaremos na semana que vem. Até lá. ________ 1Article III - Section 1. The judicial power of the United States, shall be vested in one Supreme Court, and in such inferior courts as the Congress may from time to time ordain and establish. The judges, both of the supreme and inferior courts, shall hold their offices during good behaviour, and shall, at stated times, receive for their services, a compensation, which shall not be diminished during their continuance in office. 2John Paul Stevens (Clique aqui) ______
segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Contratante e Contratado

Contratante e Contratado "Lexical patterns betray cultural patterns"Mike Scott 1) Em português, para nos referirmos às partes de uma relação contratual, na maioria dos casos, empregamos os termos gerais, contratante e contratado, independentemente do contrato em questão. Por outro lado, conhecemos também termos específicos para determinados tipos de contrato como, por exemplo, locador e locatário, termos utilizados no contrato de locação; outorgante e outorgado, no de mandato, doador e donatário, em doações. 2) Na língua inglesa, o termo geralmente empregado para se referir a ambas as partes de um contrato é parties ou contracting parties, como nos exemplos abaixo1: a) Any clause of an adhesion contract concerning the liability of contracting parties shall be null and void if it. b) In consideration of the foregoing and the mutual covenants of the parties set forth in this Agreement, the parties agree as follows:. 3) Em contrapartida, para nos referirmos a cada uma delas isoladamente, ao contrário do que fazemos em português, em que temos a opção de empregar os termos gerais objeto da pergunta da leitora, será sempre necessário verificar a natureza do contrato em questão. 4) Todavia, ao consultar o verbete de contratante e contratado nas tradicionais fontes terminográficas jurídicas bilíngües, a única obra que fornece tal explicação é Castro (2006). 5) Assim, em um contrato de locação as partes serão tenant e landlord, em um contrato de mandato, agent and principal, a título ilustrativo: a) Tenant may assist Landlord in obtaining financing for the cost of any Reimbursable Expenses b) Principal desires to retain Agent to procure a buyer or user or assignee of the Property. 6) Marca cultural - Uma prática comum nos contratos em língua inglesa é a utilização do nome ou acrônimo da parte contratante. Assim, em um contrato de fornecimento entre a empresa contratante e a empresa fornecedora, as partes seriam designadas em inglês por: company e supplier, ou 'nome/acrônimo da empresa' e supplier como nos exemplos abaixo, respectivamente: a) Company may renew the Agreement for an additional five year period or such other period of time mutually agreed by the Parties. b) WHEREAS, EPT and SUPPLIER desire to work together to achieve a long-term customer-supplier relationship that is in the best interests of both Parties and furthers the respective strategic goals of the Parties; 7) Por fim, alguns outros termos utilizados em inglês para designar as parte de um contrato2: a) assignor e assignee em contrato de cessão b) bank e client em contratos bancários c) client e attorney em contrato de prestação de serviços jurídicos d) company e advisor em contrato de serviços técnicos a pessoa jurídica e) company e service provider / contractor em uma prestação de serviços f) donor e donee em contrato de doação g) employee e company em contrato de trabalho h) franchisor e franchisee em contrato de franquia i) insurer e insured em contrato de seguro j) lender e borrower em contrato de crédito k) licensor e licensee em contrato de licença l) publisher e translator em contrato de publicação de obra m) seller e purchaser em contrato de compra e venda n) trustee e beneficiary em contrato de trust 8) Conclusão: É preciso verificar a natureza da relação contratual para escolher os termos a serem empregados como correspondentes de contratante e/ou contratado. 9) Referências: a) Castro, M. M. de (2006) Dicionário de Direito Economia e Contabilidade Inglês/Português Português/Inglês. Belo Horizonte. b) Carvalho, L. (2007) A tradução de binômios em contratos de common law à luz da lingüística de corpus. [Dissert. Mestr.] FFLCH/USP _______ 1Todos os exemplos obtidos a partir do corpus de estudo em Carvalho (2007). 2Termos extraídos do corpus em Carvalho (2007) ______