1) É de uso corriqueiro, na linguagem comum e coloquial, o infinitivo precedido da preposição a, como nas seguintes expressões: assunto a discutir, audiência a realizar, casa a alugar, citação a realizar, depoimento a prestar, intimação a efetuar, livro a consultar, notificação a efetuar, perícia a fazer, problema a debater, processo a despachar, prova a produzir, questão a resolver, sentença a proferir, terreno a vender, testemunha a ouvir... Alguns ainda acrescentam um pronome se nesses casos: citação a realizar-se, notificação a efetuar-se...
2) No que tange ao nível que se há de manter na norma culta dos trabalhos jurídicos e forenses, porém, gramáticos e filólogos estão acordes em que tal estrutura constitui arraigado galicismo sintático.
3) Para alguns, até mesmo configura "francesia de cabelos brancos", que só por descuido se encontra, e com determinada frequência, nos que melhor falam a língua pátria, não se tendo mostrado disposta a norma culta a tolerá-la, até porque "perfeitamente evitável o vício, sem prejuízo da naturalidade".
4) Alfredo Gomes é dos que inserem expressão desse jaez no rol dos galicismos sintáticos.
5) Vitório Bergo, de igual modo, cita-a no rol dos galicismos de estrutura, daqueles "em que as palavras são portuguesas, mas a sintaxe (especialmente a colocação e a regência) é francesa".
6) Em mesma obra, tal autor, por um lado, especifica que "constitui galicismo o emprego da preposição a, em vez do relativo que, em frases como estas: 'nada tenho a dizer', 'nada tenho a fazer' e outras semelhantes".
7) Por outro lado, manda que se imitem escritores exemplares, que usam construções legítimas:
a) "Nada tinha que ver a oposição" (Alexandre Herculano); b) "Nada tenho que renunciar" (Rui Barbosa).
8) Por fim, reconhece que infelizmente se generaliza a sintaxe por ele combatida.
9) Em outra obra, confirmando tratar-se de sintaxe francesa, o mesmo autor afiança ser referível usar que em lugar de a, fundando-se em exemplo de Machado de Assis: "Das mais insignificantes, pensava ele, há sempre alguma coisa que extrair".
10) Júlio Nogueira também se posta contra o uso de expressões como "Tenho muitas coisas a fazer"; e preconiza o uso da preposição que: "Tenho muitas coisas que fazer".
11) Sem se posicionar, Domingos Paschoal Cegalla, em análise da locução nada a fazer, apenas refere tratar-se de "expressão calcada no francês, mas aceita por conceituados gramáticos, ao lado das vernáculas nada para fazer e nada que fazer".
12) Um primeiro modo de corrigir tais expressões é usar a preposição por, que tem como uma de suas atribuições apontar o que se deve fazer ou o que não está feito. Exs.: assunto por discutir, audiência por realizar, casa por alugar, citação por realizar, depoimento por prestar, intimação por efetuar, livro por consultar, notificação por efetuar, perícia por fazer, problema por debater, processo por despachar, prova por produzir, questão por resolver, sentença por proferir, terreno por vender, testemunha por ouvir...
13) Um segundo modo de correção consiste em usar a preposição para e apassivar o verbo pelo acréscimo do pronome se. Assim: assunto para se discutir, audiência para se realizar, casa para se alugar, citação para se realizar, depoimento para se prestar, intimação para se efetuar, livro para se consultar, notificação para se efetuar, perícia para se fazer, problema para se debater, processo para se despachar, prova para se produzir, questão para se resolver, sentença para se proferir, terreno para se vender, testemunha para se ouvir...
14) Um terceiro modo de perfeita correção é empregar a voz passiva analítica com o emprego da preposição para ou a: assunto para (ou a) ser discutido, audiência para (ou a) ser realizada, casa para (ou a) ser alugada, citação para (ou a) ser realizada, depoimento para (ou a) ser prestado, intimação para (ou a) ser efetuada, livro para (ou a) ser consultado, notificação para (ou a) ser efetuada, perícia para (ou a) ser feita, problema para (ou a) ser debatido, processo para (ou a) ser despachado, prova para (ou a) ser produzida, questão para (ou a) ser resolvida, sentença para (ou a) ser proferida, terreno para (ou a) ser vendido, testemunha para (ou a) ser ouvida...