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Regulação de criptoativos e blockchain no mundo.

Tatiana Revoredo
Contexto A DFSA - Autoridade de Serviços Financeiros de Dubai publicou uma orientação abrangente sobre a regulamentação de "Crypto Tokens", criando um regime regulatório para criptomoedas - tokens nativos de blockchains públicas -, e se posicionando sobre stablecoins - tokens programáveis e não nativos em uma rede blockchain. Motivação A DFSA reconheceu que tokens cripto que compreendem aproximadamente 80% da capitalização do mercado global de criptomoedas: $BTC - Bitcoin, $ETH - ether, $LTC - litecoin, e $XRP - ripple.  Em seguida, publicou um regime regulatório para crypto tokens em setembro de 2024, com o intuito de fornecer uma estrutura clara para empresas e fundadores que operam no DIFC - Dubai International Financial Centre.  Aqui, vale lembrar que o DIFC foi projetado para promover a inovação, mantendo uma abordagem regulatória robusta para garantir a estabilidade financeira e a proteção ao consumidor de Dubai. Já tratamos do DIFC em outro artigo desta coluna1. O regime regulatório de tokens cripto da DFSA O que são "crypto tokens"? Por quê sua definição importa? Segundo consta das diretrizes2 da DFSA, "crypto tokens"  são representações digitais criptograficamente protegidas que estão remodelando o cenário financeiro. Nas palavras da DFSA, "um token é uma representação digital de valor, direitos ou obrigações, criptograficamente segura, que pode ser emitida, transferida e armazenada eletronicamente, usando tecnologia de livro-razão distribuído ou outra tecnologia similar". Já um "crypto token é um tipo de token que é utilizado, ou se destina a ser utilizado, como meio de troca ou para fins de pagamento ou para fins de investimento [ou que confere um direito ou interesse em tal token]. Para a DFSA, a definição de um crypto token não inclui "token excluído", "token de investimento", ou qualquer outro tipo de Investimento. Por que isto essa classificação é importante? Porque somente os tokens cripto que foram reconhecidos pela DFSA podem ser usados no DIFC, salvo algumas exceções.  Quais serviços financeiros devem observar o novo regime regulatório? Somente aos seguintes serviços financeiros se aplicam diretamente o regime regulatório destinado a tokens cripto: 1. negociação de investimentos como principal; 2. negociação de investimentos como agente; 3. Aconselhamento sobre produtos financeiros; 4. Organização / fornecimento de custódia; 5. Organização de negócios em investimentos; 6. Operação de uma câmara de compensação; por fim, 7. Operação de um sistema de negociação multilateral Nas diretrizes, a DFSA ressalta que outros serviços financeiros podem estar indiretamente relacionados a um token cripto. Por exemplo, um gestor de fundo pode gerenciar um fundo de investimento coletivo que investe em um token cripto, ou uma empresa autorizada pode (sujeito às restrições expressas) fornecer crédito ou organizar crédito para um investidor não varejista de token crypto, ou ainda, um prestador de serviços financeiros pode usar um token cripto em circunstâncias limitadas.  As empresas recém-chegadas ao DIFC precisam obter uma Licença apropriada para prestar um Serviço Financeiro em relação a um crypto token. As empresas que já estão autorizadas pela DFSA devem considerar se precisam de uma variação em sua licença Principais pontos  Nas diretrizes, a autoridade de serviços financeiros de Dubai se aprofunda nos detalhes intrincados de como os tokens cripto são classificados, reconhecidos e governados sob seu novo regime regulatório. Dentre os principais tópicos, podemos citar: 1. Tokens reconhecidos x não reconhecidos  Neste tópico, é possível descubrir os critérios de reconhecimento de crypto tokens usados pela DFSA, e o que é preciso para que um token seja usado no DIFC. 2. Tokens Proibidos Aqui, DFSA exclarece quais tokens, incluindo tokens de privacidade e tokens algorítmicos, são explicitamente proibidos no DIFC como, por exemplo, o token nativo da rede blockchain anônima Monero.  3. Passo-a-passo para um Crypto Token obter o reconhecimento pelo DFSA  Trata-se de um guia passo a passo para empresas que pretendem obter o reconhecimento legal de seus tokens. 4. Perguntas Frequentes No final das orientações, há um tópico com perguntas e respostas que cobre as dúvidas mais comuns sobre tokens cripto, desde os requisitos de variação de licença até qual é a abordagem do DFSA sobre stablecoins. Também, abrange quais requisitos - relacionados à prevenção à lavagem de dinheiro, proteção ao consumidor e governança de tecnologia - precisam ser cumpridos. O posicionamento do DFSA sobre stablecoins Ao responder à pergunta sobre qual é sua abordagem sobre stablecoins, a DFSA responde que "um token é um Fiat Crypto Token se, para estabilizar seu preço ou reduzir a volatilidade em seu preço, o valor do crypto token pretende ser determinado por referência a uma única moeda fiduciária".  Em seguida, a DFSA estabelece critérios de reconhecimento adicionais para stablecoins porque elas são normalmente comercializados como fornecedores de valor estável em relação a outros criptoativos e, portanto, atraem casos de uso mais amplos.  No DIFC, as stablecoins reconhecidas são permitidas para uso adicional em determinadas circunstâncias no contexto de serviços financeiros de transmissão de dinheiro e execução de transações de pagamento, compensação e liquidação e margem em conexão com a negociação de tokens cripto de garantia (derivativos). Assim, a DFSA classifica stablecoins como Fiat Crypto Tokens, e as define como aqueles tokens atrelados a uma única moeda fiduciária. Tal ocorre porque é desafiador manter uma vinculação a duas ou a uma cesta de moedas, pois isso exigiria, por exemplo, uma mudança constante na composição das reservas, o que, segundo a DFSA, causaria a deterioração da estabilidade prometida do token.  Portanto, as stablecoins atreladas a várias moedas serão tratadas pela DFSA sob o mesmo regime regulatório destinado aos tokens cripto (criptomoedas).  Embora, neste novo regime regulatório, a DFSA não regulamente a emissão de stablecoins, seus critérios de reconhecimento foram projetados para permitir que a DFSA reconheça (após o recebimento de um pedido para fazê-lo) stablecoins emitidas em outras jurisdições comparáveis, garantindo que elas mantenham um valor estável em relação à sua indexação.  Um Fiat Crypto Token (stablecoin) que não atenda à definição ou aos critérios fixados no novo regime regulatório para reconhecimento legal, pode, no entanto, atender aos critérios destinados a um crypto token (criptomoedas). Perspectivas finais Com estas orientações, as startups e fundadores - que já operam no DFIC de Dubai ou pretendem lançar projetos envolvendo crypto tokens - têm um roteiro claro para navegar no crescente ecossistema cripto regulado pelo DIFC, garantindo que suas operações estejam em conformidade com os padrões internacionais. ________ 1 Disponível aqui. 2 Disponível aqui.
A Itália planeja aumentar a alíquota do imposto sobre ganhos de capital em bitcoin de 26% para 42%. O anúncio1 foi feito pelo vice-ministro da economia, Maurizio Leo, em uma coletiva de imprensa no dia 16 de outubro. A proposta de aumento da alíquota ocorre no momento em que a União Europeia está se preparando para implementar totalmente a MiCA2 - a nova legislação de criptoativos da União Européia -, no final deste ano. Para justificar a medida, Leo classificou o medida como uma resposta à crescente popularidade do bitcoin, referindo-se a ele como um "fenômeno de disseminação". No entanto, tal medida parece fazer parte dos esforços para financiar as custosas promessas eleitorais de Giorgia Meloni e, ao mesmo tempo, reduzir o déficit fiscal. Note que esse novo plano tributário parece divergir das promessas anteriores feitas pela primeira-ministra Meloni, que garantiu aos cidadãos que não haveria aumentos amplos de impostos. Como ela própria afirmou3 em sua conta no X: "Como prometemos, não haverá novos impostos para os cidadãos. Além disso, faremos com que o corte de impostos sobre os trabalhadores seja estrutural, e 3,5 bilhões de bancos e seguradoras serão alocados para a área de saúde e para os mais vulneráveis para garantir melhores serviços que estejam mais próximos das necessidades de todos." Mas qual seria o real impacto do aumento de impostos sobre ganho de capital em criptoativos? O caso da Índia e a efetividade do aumento da tributação cripto Esforços anteriores de outros países para tributar o mercado de criptomoedas nem sempre renderam muito aos cofres estatais. A Índia - atual lider4 no ranking de adoção cripto da Chainalysis5 - introduziu uma mudança significativa em sua política tributária em fevereiro de 2022, ao impor6 um imposto de 1% deduzido na fonte sobre a transferência de ativos digitais virtuais, juntamente com um imposto fixo de 30% sobre a renda dessas transações. A mudança na tributação buscava monitorar as transações cripto, desencorajar o comércio especulativo e garantir uma receita fiscal estável. Entretanto, análises recentes mostraram que tais objetivos não foram atingidos. Pelo contrário, segundo o relatório7 "TDS on Virtual Digital Assets:  A report on the effect of the 1% TDS on tax revenue and user trends" - que analisou o efeito das mudanças tributárias sobre a receita tributária e as tendências dos usuários - o volume total de criptoativos negociados nas CEXs indianas caiu aproximadamente 97% entre 1º de fevereiro de 2022 e 31 de janeiro de 2024. Um dos principais motivos para esse declínio é a migração de traders para corretoras offshore.  Essa mudança não apenas prejudicou a intenção original de rastrear as transações de VDA, mas também resultou em uma perda significativa de receita para o governo indiano. Além disso, aumentos excessivos de impostos podem levar investidores a considerar a migração para países com ambientes fiscais mais favoráveis, como Dubai - na semana passada, os Emirados Árabes Unidos isentaram8 todas as transações de criptoativos do pagamento de imposto sobre valor agregado. Por outro lado, essa inexistência de fronteiras para as negociações com criptoativos tem preocupado a ESMA - Autoridade Europeia de Valores Mobiliários e Mercados. A preocupação da CVM Européia com a inexistência de fronteiras para negociações de criptoativos A ESMA recentemente, emitiu9 parecer sobre as licenças de empresas prestadoras de serviços de criptoativos com alcance global. O parecer aborda os riscos associados a essas empresas que buscam autorização da UE e, ao mesmo tempo, mantêm operações significativas fora do escopo regulatório da União Européia. A ESMA expressa preocupações sobre estruturas complexas, como CEXs autorizadas pela UE que encaminham ordens para locais fora da UE, o que pode afetar a proteção do consumidor. Ela aconselha as autoridades nacionais competentes a avaliar essas estruturas cuidadosamente e enfatiza uma avaliação caso a caso da execução, conflitos de interesse e obrigações de custódia. Agora que já sabemos dos planos da Itália em relação à tributação de criptoativos, vejamos por quê eles são opostos aos planos da Turquia. A pausa nos planos de tributação de criptos na Turquia Na Turquia, o governo arquivou10 os planos de tributar a renda de ativos digitais e ações, o que gerou um alvoroço entre os investidores. O vice-presidente Cevdet Yilmaz disse que o foco do governo agora é "reduzir as isenções fiscais". "Não temos um imposto sobre ações em nossa agenda. Ele foi discutido anteriormente e saiu de nossa agenda." - disse ele. A suspensão dos planos tributários aconteceu, porque o pacote tributário proposto em junho deste ano - que também se estendia aos ganhos com criptoativos - não foi bem recebido pelos investidores turcos. O aumento tributário criado pelo Ministério das Finanças buscava aumentar o imposto sobre ganhos do mercado de capitais, e não deixar nenhuma área sem tributar, sob a justificativa de "fornecer justiça e eficácia na tributação". No entanto, o pacote tributário proposto rapidamente levou a uma enorme queda nos volumes de negociação nas corretoras turcas, o que levou o Ministro das Finanças Mehmet Simsek a reverteu o curso11. "Estamos adiando a minuta do estudo tributário para a bolsa de valores por um tempo para reavaliá-lo à luz do feedback de todas as partes relevantes", disse Simsek. Apesar das garantias do ministro - e agora do vice-presidente - de que nenhum novo imposto será implementado, o mercado de ações da Turquia ainda não se recuperou, com o volume mensal de negociação caindo quase 50%. Para ativos digitais, o governo do presidente Recep Tayyip Erdogan tentou impor um imposto de 0,03%12 em todas as transações. O ministério das finanças projetou que isso adicionaria 3,7 bilhões de liras (US$ 110 milhões de dólares) aos cofres da agência tributária. A Turquia é um dos maiores mercados de ativos digitais do mundo. Ela ficou em 12º lugar em termos de adoção no ano passado, com um relatório da bolsa KuCoin em setembro passado afirmando que mais da metade de todos os turcos adultos possuem algum ativo digital. Perspectivas finais A Itália já vinha demonstrando que pretendia adotar uma linha mais dura na regulacão de criptoativos, como já exploramos13  nesta coluna. No entando, parece que os formuladores de políticas públicas italianos não fizeram a lição de casa, e estão fazendo movimentos legais e regulatórios sem olhar para as experiências práticas de outros países. Quanto à Turquia, cumpre destacar que com a suspensão de seus planos tributários, ela  se junta à Coreia do Sul no adiamento de impostos sobre ativos digitais. A nação asiática pretendia inicialmente impor um imposto de 20% sobre ganhos anuais de ativos digitais em 2021. No entanto, as críticas de traders de ativos digitais levaram o Partido do Poder Popular a adiá-lo duas vezes14, e agora está programado15 para 1º de janeiro de 2028. ________ 1 Disponível aqui. 2 Disponível aqui. 3 Disponível aqui. 4 Disponível aqui. 5 Disponível aqui. 6 Disponível aqui. 7 Disponível aqui. 8 Disponível aqui. 9 Disponível aqui. 10 Disponível aqui. 11 Disponível aqui. 12 Idem Nota 11 13 Disponível aqui. 14 Disponível aqui. 15 Disponível aqui.
Contexto  Novas regras de Taiwan e da Austrália para VASPs1 refletem o movimento  regulatório de diversos países em direção a normas mais rígidas para provedores de serviços de ativos virtuais. FSC de Taiwan aplicará novos regulamentos AML para VASPs em 2025 A FSC - Comissão de Supervisão Financeira de Taiwan aplicará novos regulamentos AMLAnti-Lavagem de Dinheiro para provedores de serviços relacionados à criptoativos a partir de 2025, exigindo licença para CEXs2 e compliance obrigatórios. As medidas atualizadas foram divulgadas3 no dia 2 de outubro pela FSC, que em 2021 havia proposto melhorar as regras de regulamentação de criptomoedas do país. Esses novos regulamentos estão em discussão desde março deste ano. Principais pontos dos novos regulamentos cripto em Taiwan As novas regras exigem que VASPs se registrem no governo até setembro de 2025, sob pena de sofrerem duras penalidades. Para se ter uma idéia, pela falta de compliance ou eventual falha no servidor das plataformas de negociação, a multa pode chegar4 até 5 milhões de dólares taiwaneses - o equivalente a US$ 155.900 -, ou ainda, pena de prisão de dois anos para os representantes da empresa no país. A nova estrutura de conformidade também estipula que VASPs apresentem Relatórios Anuais de Avaliação de Risco à agência governamental competente.  Aqueles que já aderiram aos padrões AML anteriores também devem cumprir os novos procedimentos de conformidade e se registrar no órgão competente. Quando os novos regulamentos entram em vigor em Taiwan? Os novos regulamentos substituirão5 o sistema atual de VASPs taiwaneses a partir de 1º de janeiro de 2025.  As empresas foram aconselhadas a esperar até que o novo sistema estivesse operacional e enviar seus documentos para evitar confusão causada por diferentes requisitos regulatórios. Esforços regulatórios buscam competitividade com países vizinhos Com os novos regulamentos, o governo taiwanês busca cumprir as recomendações do GAFI6 e, ao mesmo tempo expandir seu envolvimento na indústria cripto. Nesse passo, em 30 de setembro, a FSC se aventurou no domínio do mercado de ETFs de ativos digitais, autorizando investimentos via Fundos de Índice, voltados para investidores profissionais locais. Esta iniciativa é parte de esforços mais amplos para criar mais impulso no mercado de criptoativos de Taiwan, numa tentativa de se alinhar com centros financeiros vizinhos, como Hong Kong e Singapura, que são considerados centros de negócios para blockchain e criptoativos. Assim como em Taiwan, os provedores de VASPs - serviços de ativos virtuais na Austrália, se sujeitarão a um  novo regime regulatório que alguns no setor definiram como "ambíguo". CVM da Austrália quer equiparar CEXs a bancos As corretoras centralizadas de criptoativos (CEX) australianas já operam sob um regime regulatório específico criado para a indústria cripto, mas a ASIC - Comissão Australiana de Valores Mobiliários e Investimentos planeja7 ampliar os requisitos de licenciamento para exigir que VASPs obtenham as mesmas licenças para serviços financeiros. A ASIC pretende atualizar8 o "the Corporations Act's Information Sheet 225" para dar mais clareza sobre como determinados tokens9 e certos produtos devem ser tratados a partir de uma perspectiva regulatória. A CVM australiana acredita10 que a lei das Sociedades Anônimas do país abrange a maioria dos principais ativos digitais. Isso exige a inclusão das corretoras que realizam suas negociações sob esta lei. O que levou ao endurecimento de postura pela ASIC? A Austrália tem estado sob os holofotes nos últimos anos por causa de alguns golpes de grande monta, praticados com ativos digitais - o que atraiu críticas à ASIC e sua conduta regulatória, classificadas por alguns como negligentes. Quando a corretora de criptomoedas FTX Group entrou em colapso nas Bahamas em novembro de 2022, suas subsidiárias locais FTX Australia Pty Ltd e FTX Express Pty Ltd também foram atingidas11. Em 16 de novembro de 2022, a ASIC - Comissão Australiana de Valores Mobiliários e Investimentos suspendeu12 a licença australiana de serviços financeiros que a FTX Australia possuía desde março daquele ano. O fato de a FTX Australia ter um serviço financeiro australiano foi uma surpresa para algumas pessoas. Por conta disso, colapsos como o do Grupo FTX pressionaram a ASIC a se tornar mais rigorosa, especialmente no licenciamento de VASPs, em prol confiança do consumidor e da integridade do mercado. Contudo, muitos não vêem o endurecimento da CVM australiana com bons olhos. Críticas à Comissão Australiana de Valores Mobiliários Alguns legisladores e partes interessadas da indústria acreditam que a ASIC pode estar apertando demais, e estrangulando um setor nascente. Caroline Bowler, CEO da mais antiga corretora "cripto" da Austrália - o BTC Markets -, reclamou que as próximas regras sobre quais atividades exigirão uma licença não são claras, o que aumentará a confusão existente para os VASPs. Nas suas palavras13: "É super amplo, a ambiguidade na linguagem, se alguma coisa, apenas cria mais perguntas do que fornece". De outro lado, o senador Andrew Bragg14 também criticou a nova postura regulatória, que ele afirma ter empurrado a Austrália "de líder em criptomoedas para retardatária em criptomoedas". Acrescentando que o país perdeu a oportunidade de alavancar tendências interessantes como tokenização, sufocando a inovação e negando aos australianos as oportunidades de colher os benefícios que a tecnologia blockchain oferece. Aqui, vale lembrar que em 2023 a Comitê de Legislação Econômica do Senado da Austrália rejeitou o "Projeto de Lesobre Ativos Digitais (Regulamentação do Mercado)" 15, apresentado pelo Senador. O movimento regulatório global em direção a VASPs Como dito no início deste artigo, Taiwan e Austrália seguem o movimento regulatório global de endurecimento das regras relativas a VASPs. Aqui estão alguns das principais razões - dadas pelas autoridades monetárias e reguladores - que impulsionam essas mudanças regulatórias: 1. Aprimorar a conformidade e a confiança no mercado Nessa linha, no último dia 9 de outubro, a VARA - Autoridade Reguladora de Ativos Virtuais de Dubai multou16, empresas cripto não licenciadas por violações de marketing e operação sem autorização, enfatizando a necessidade de conformidade para garantir a confiança do mercado. 2. Proteção de investidores e consumidores Aqui, vale lembrar que a lei de Proteção ao Usuário de Ativos Virtuais da Coreia do Sul exige que VASPs mantenham 80% dos depósitos de criptomoedas e tokens dos usuários em armazenamento a frio (cold storage), e obtenham seguro contra hackers, com foco na proteção do usuário. 3. Prevenção de atividades ilícitas Nessa toada, o UNODC - Relatório do The United Nations Office on Drugs and Crime17 de outubro de 2024, destaca o uso de criptomoedas na facilitação de atividades ilícitas no Sudeste Asiático, exigindo maior monitoramento e melhor treinamento para as autoridades monetárias. 4. Abordando a conformidade e a evasão fiscal Os EUA finalizaram18 novas regras relatcionadas aos relatórios fiscais prestados pelas CEXs a fim de melhorar a conformidade fiscal e abordar os riscos de evasão fiscal. Regulamentações propostas19 nos EUA para regular o setor de DEFI podem exigir que os aplicativos descentralizados coletem informações dos usuários, com o objetivo de limitar a evasão fiscal. 5. Resposta às normas internacionais Novas leis estão sendo desenvolvidas como resposta20 aos padrões internacionais estabelecidos pelo GAFI, estabelecendo requisitos de licenciamento e registro para VASPs. Perspectivas finais O cenário regulatório para VASPs ainda está evoluindo. Nesses últimos meses, os formuladores de políticas tem demonstrado o desejo de enquadrar o setor de criptoativos em antigas estruturas regulatórias e forçar os prestadores de serviços de ativos virtuais (VASPs) a se comportarem como instituições financeiras. Na prática, contudo, o esforço de acelerar uma convergência nas normas de compliance entre o setor de cripto e as finanças tradicionais pode produzir resultados mistos. Por um lado, uma maior clareza sobre normas regulatórias também possibilita que instituições financeiras e outros atores institucionais regulados lancem produtos e serviços de ativos virtuais. De outro, exigir que VASPs cumpram o mesmo conjunto de práticas de compliance que serviços financeiros já adotam - confiando em estruturas regulatórias de longa data projetadas para governar bancos, podem acabar criando mais obstáculos à tentativa de solucionar questões mais complexas do espaço de criptoativos, tais como DeFi - Finanças Descentralizadas22 e DAOs - Organizações Autonomas Descentralizadas22. ________ 1 Virtual Assets Service Providers [Provedores de Serviços Relacionados a Ativos Virtuais]. 2 Centralized Exchange [CEX] é um tipo de corretora de valores que opera sob uma organização centralizada, e atua como intermediária entre compradores e vendedores de criptoativos [criptomoedas e tokens]. 3 Disponível aqui: https://shorturl.at/NaWm4/ 4 Idem Nota 3 5 Idem Nota 3 6 Disponível aqui. 7 Disponível aqui. 8 Disponível aqui. 9 Disponível aqui. 10 Idem Nota 3 11 Disponível aqui. 12 Disponível aqui. 13 Disponível aqui. 14 Disponível aqui. 15 Disponível aqui. 16 Disponível aqui. 17 Disponível aqui. 18 Disponível aqui. 19 Disponível aqui. 20 Disponível aqui. 21 Disponível aqui. 22 Disponível aqui.  
"Todos os cinco comissários da SEC testemunharam perante o Comitê de Serviços Financeiros sobre sua atuação na fiscalização de NFTs, stablecoins e cold wallets." Deputados questionam atuação da SEC na fiscalização de ativos digitais Na última terça-feira de setembro, todos os cinco comissários da SEC testemunharam perante o HFSC - Comitê de Serviços Financeiros da Câmara. Como em audiências anteriores, os membros pró-cripto criticaram o presidente da Securities and Exchange Commission, Gary Gensler, por priorizar o "Enforcement" ao invés da regulamentação transparente, bem como por colocar a política acima da missão estatutária da SEC.  Desta vez, contudo, ao contrário de audiências anteriores, os comissários republicanos "Hester Peirce" e "Mark Uyeda" estavam presentes para testemunharem sobre o histórico de atuação da CVM americana em ativos digitais.  A deputada D-NC - Sênior Maxine Waters falou sobre stablecoins, o deputado D-MA - Stephen Lynch defendeu o histórico de atuação do presidente Gensler, e o deputado D-IL - Bill Foster levantou brevemente preocupações sobre wallets não custodiadas - as chamadas "cold wallets"1. Mas, na maior parte da audiência, os democratas concentraram as perguntas em questões não relacionadas a criptomoedas. Principais destaques da audiência no Comitê de Serviços Financeiros da Câmara 1. Stablecoins A membro do Comitê de Serviços Financeiros da Câmara, Maxine Waters, disse que está comprometida em fazer uma legislação bipartidária de stablecoins2 este ano.  Em sua fala, enfatizou que o Federal Reserve deve desempenhar um papel de liderança na supervisão de emissores de stablecoins - o principal ponto de discórdia com os republicanos.  Atualmente, não há uma clara definição a quem realmente caberá a supervisão deste tipo de criptoativo. 2. SAB 121 Os membros estão cada vez mais concentrando os ataques do SAB 1213 no processo da SEC de conceder alívio único por meio de consultas com o diretor de contabilidade da SEC (CAO), em vez de revogar a regra completamente. O presidente Gensler defendeu4 o SAB 121 como uma "boa contabilidade" que protege os clientes, especialmente em caso de falência. De acordo com seu depoimento, se alguém mostra que (1) os fundos dos clientes são mantidos em uma entidade remota de falência e (2) os ativos digitais são "verdadeiramente os clientes", então "não é um passivo". Ele também rejeitou as afirmações de que o processo de consulta do CAO é novo ou exclusivo do SAB 121. 3. NFTs Os membros do "HFSC" criticaram os comissários da SEC por ações contra os criadores de NFT5: Por exemplo, o deputado D-NY - Ritchie Torres pediu6 ao presidente Gensler para explicar por que comprar um ingresso do Yankees não é uma transação de valor mobiliário, mas comprar um NFT que oferece acesso a uma série animada da Web é. Quando Gensler evitou a pergunta, Torres criticou a teoria de Gensler sobre o que constitui um contrato de investimento por não ter "nada que se assemelhe a um princípio limitador" 7.  O deputado Torres também questionou o comissário "Crenshaw" sobre se exigir o registro de obras de arte ou exigir que os criadores destruam obras de arte (conforme exigido no caso "Stoner Cats"8) levantava preocupações com a primeira emenda9. Crenshaw disse que não é especialista na primeira emenda. O deputado R-SC - "William Timmons" destacou seu projeto de lei10 para esclarecer que certos NFTs e transações neles não estão sujeitos às leis federais de valores mobiliários. Pensamentos finais A atuação da SEC, como já comentamos nesta coluna11, já está afetando o mercado de NFTs.  Recentemente, a Nike mudou12 o foco de sua plataformaWeb3 dotSWOSH - de NFTs para jogos -, muito provavelmente por conta do risco regulatório. E outros grandes players muito provavelmente seguirão o mesmo caminho. As eleições presidenciais americanas se tornam cada vez um ponto chave para a indústria de criptoativos13, já que a atual administração Biden parece ter adotado uma posição dura à tecnologias ligadas a ativos digitais - sendo criticada de implantar a Operação "Choke Point 2.0".14 Pressionada, a vice-presidente dos Estados Unidos e candidata democrata para a eleição de novembro, Kamala Harris, prometeu que será uma presidente favorável à tecnologia e comprometeu seu apoio às "indústrias do futuro", como IA - inteligência artificial e ativos digitais. Falando em um evento de arrecadação de fundos na Cipriani Wall Street em Nova York, Harris discutiu publicamente os ativos digitais pela primeira vez e prometeu apoiar tecnologias inovadoras. "Reunirei trabalhadores, fundadores de pequenas empresas e inovadores e grandes empresas. Faremos parcerias para investir na competitividade da América, para investir no futuro da América. Incentivaremos tecnologias inovadoras como IA e ativos digitais, ao mesmo tempo em que protegemos nossos consumidores e investidores", disse15 Harris aos participantes. "Criaremos um ambiente de negócios seguro com regras de trânsito consistentes e transparentes. Investiremos em semicondutores, energia limpa e outras indústrias do futuro, e cortaremos burocracia desnecessária." __________ 1 Cold wallets são carteiras digitais para quem faz autocustódia - quem armazena a própria senha privada que dá acesso às criptomoedas em uma rede blockchain. Revoredo, Tatiana. In: "AUTOCUSTÓDIA: A tecnologia está a nosso alcance. O risco está na usabilidade.", Substack, disponível aqui. 2 "Stablecoin, espécie do gênero criptoativo, é um instrumento financeiro representado em um token cujo valor está atrelado 1:1 [um por um] a um ativo financeiro mais estável, normalmente uma moeda fiduciária, ou uma cesta de moedas fiduciárias e títulos públicos". Revoredo, Tatiana. In: "Stablecoins: status da regulação no Reino Unido e na União Européia", disponível aqui. 3 SAB 121: "Legislativo dos EUA condena norma contábil da SEC". Revoredo, Tatiana, Migalhas, disponível aqui. 4 Disponível aqui.  5 NFT, ou tokens não fungíveis, é a representação de um ativo não fungível, em meio digital, sob uma forma de um número de série. Dito de outro modo, NFTs são "um padrão de contrato inteligente que fornece uma maneira padronizada de verificar a propriedade, e uma maneira padronizada de "mover" ativos digitais não fungíveis. Revoredo, Tatiana; In: "NFT: dos games às redes blockchain", MIT Technology Review.  6 Disponível aqui. 7 Disponível aqui. 8 Stoner Cats é uma curta série de animação para adultos que se acessa exclusivamente através da posse de um NFT colecionável Stoner Cat. 9 Disponível aqui. 10 "New Frontiers in Technology (NFT) Act", o primeiro projeto de lei do Congresso dos EUA que aborda diretamente o tratamento jurídico e regulamentar dos tokens não fungíveis (NFT), disponível aqui.  11 Revoredo, Tatiana. In: "SEC vs NFT: OpenSea na mira da Operação Choke Point 2.0", disponível aqui. 12 Disponível aqui.  13 Revoredo, Tatiana. In: "Eleições nos EUA e o futuro da regulação cripto", disponível aqui. 14 Idem Nota 10.  14 Disponível aqui. 
O papel da SCA na regulamentação do setor cripto dos Emirados Árabes Unidos Em 2022, a SCA - Securities and Commodities Authority1 assumiu a responsabilidade de supervisionar e regulamentar o setor de ativos virtuais nos EAU - Emirados Árabes Unidos.  Com o objetivo de aprimorar a estrutura legislativa do setor, fiscalizar as atividades associadas e provedores de serviços, tinha como objetivo proteger direitos e deveres de todas as partes envolvidas, garantindo a conformidade com as obrigações internacionais aplicáveis. Mas paralelamente a SCA, Dubai designou uma autoridade dedicada apenas a criptoativos. A competência da VARA, a Autoridade Reguladora de Ativos Virtuais em Dubai A VARA é fundamental no desenvolvimento da estrutura legal, na governança da indústria de ativos virtuais de Dubai. Ela tem como foco a proteção do investidor e o suporte a uma visão de economia sem fronteiras dos EAU. Desde março de 2022, a VARA2 foi designada como responsável pela regulamentação e supervisão de ativos virtuais e atividades relacionadas em Dubai, incluindo as zonas especiais de desenvolvimento e zonas francas, excluído o DIFC - Dubai International Financial Center. A atuação de DIFC e VARA é complementar, não competitiva Enquanto o DIFC é uma zona franca financeira para empresas localizadas no seu território, a VARA é destinada aos participantes do continente, bem como às demais zonas francas do Emirado de Dubai, oferecendo assim aos fundadores e investidores a opção de escolha. Quando exploramos as competências relacionadas à criptoativos3 (criptomoedas  e tokens) no Emirado Árabe de Dubai, vimos que "uma empresa cujo negócio tenha natureza de TradFi pode optar por obter uma licença fornecida pelo DIFC, enquanto outra, que exerce atividades relacionadas a DeFi, pode buscar uma licença da VARA, se assim desejar"4. Mas como fica a atuação da Securities and Commodities Authority e da Autoridade Reguladora de Ativos Virtuais de Dubai? O acordo de cooperação entre SCA e VARA No dia 5 de setembro, a SCA assinou5 acordo de cooperação com a VARA para reforçar a posição dos Emirados Árabes Unidos como um centro global líder em ativos virtuais, em alinhamento com os "The Principles of the 50" e as aspirações visionárias do governo6 de construir a melhor e mais dinâmica economia do mundo.  A cerimônia de assinatura, que ocorreu na filial da SCA em Dubai, contou7 com a presença do presidente da SCA, sua excelência Mohamed Ali Al Shorafa, e do presidente do Conselho Executivo da VARA, sua excelência Helal Saeed Al Marri.  O acordo foi assinado pela CEO da SCA (Dra. Maryam Buti Al Suwaidi) e pelo CEO da VARA (Sr. Matthew White), na presença de altos funcionários de ambas as organizações. Em seu discurso na cerimônia de assinatura, o presidente da SCA, Mohamed Ali Al Shorafa, disse: "Nós nos esforçamos para estabelecer estruturas eficazes em cooperação com nossos parceiros para promover o crescimento e a estabilidade do setor de ativos virtuais nos Emirados Árabes Unidos, garantindo assim a aplicação da legislação antilavagem de dinheiro e reforçando a confiança no ecossistema de investimentos dos Emirados Árabes Unidos".  A presidente da VARA, a Sra. Helal Al Marri, definiu a colaboração como um marco que demonstra a coesão regulatória nos Emirados Árabes Unidos.  Marri disse8 que a força da colaboração entre parceiros federais como a SCA "permite a portabilidade perfeita e eficiente de serviços regulamentados, ao mesmo tempo em que garante uma garantia de risco de mercado sem comprometimentos nos Emirados Árabes Unidos". Qual é o principal objetivo dessa cooperação? O objetivo é consolidar o status de Dubai como um hub de ativos virtuais.  Ambos os reguladores trabalharão juntos para manter a confiança do mercado, e garantir a conformidade com as leis antilavagem de dinheiro. Principais pontos do acordo Os termos do documento de cooperação, assinado pelos dois principais reguladores com sede em Dubai, traz o seguinte: A descrição dos requisitos de licenciamento para VASPs.  A definição dos mecanismos de supervisão mútua. Direcionamento para promover um setor de ativos virtuais estável e regulamentado nos EAU. Supervisão conjunta de VASPs Segundo declaração oficial conjunta9, o texto do acordo de cooperação obriga os VASPs - provedores de serviços de ativos virtuais, que operam em ou a partir de Dubai ou aqueles que buscam atingir o mercado de Dubai, a obter uma licença da VARA.  Uma vez que a licença tenha sido concedida pela VARA, o VASP também pode ser aprovado pela SCA para operar em outro Emirado Árabe.  Isto é, se o VASP quiser operar em qualquer outro Emirado, além de Dubai, precisará ser licenciado pela SCA. O acordo também abrange o mecanismo de supervisão mútua de VASPs, imposição de penalidades e multas, troca de informações e estatísticas e cooperação em treinamento e qualificação de funcionários. Regras de procedimento Tanto a SCA, quanto a VARA estabelecerão regras e procedimentos para o licenciamento e supervisão de VASPs ou quaisquer atividades, serviços ou transações associadas relacionadas.  Isso será feito de acordo com as disposições da decisão do gabinete 111 de 2022 e 112 de 2022 (Regulamentação de Ativos Virtuais e Seus Provedores de Serviços) e dentro da respectiva jurisdição de ambas as partes, acrescentou a declaração. A importância da cooperação entre diferentes autoridades regulatórias Os investimentos em ativos virtuais continuam a ter interesse e crescimento exponenciais, o que exige esforços conjuntos de reguladores para construir estruturas unificadas e eficazes que promovam o desenvolvimento sustentável e a estabilidade necessária a um setor vital para qualquer país que deseje atrair investimentos e consolidar sua economia. Como destacou o presidente da SCA, o acordo de cooperação está alinhado com as diretrizes do governo de Dubai para regular o setor de ativos virtuais locais, controlar suas atividades e aprimorar o monitoramento geral para proteger os investidores, aumentar a confiança no mercado cripto exercido nos Emirados Árabes Unidos e sua resiliência diante dos desafios globais. Ainda, com bem lembrou a presidente da VARA, este acordo ressalta um compromisso nacional conjunto para alavancar regulamentações como um facilitador para garantir a habilitação de negócios dentro do ecossistema de ativos virtuais, para que a indústria global possa evoluir de forma sustentável para se tornar uma pedra angular para a nova economia.  A nova economia a que ela se refere foi definida na "Agenda Econômica de Dubai para 2033". Essa "agenda" é um roteiro definido para se tornar o centro global para a economia de inovação do amanhã - e tal colaboração regulatória e clareza são fundamentais para garantir aos consumidores, investidores e à comunidade empresarial internacional a posição dos Emirados Árabes Unidos como um centro líder mundial para o futuro das finanças. Mas além dessa cooperação entre reguladores, EAU foram além, e também fizeram uma mudança histórica na sua legislação tributária. A mudança nos regulamentos do IVA  Com uma alteração introduzida pela FTA - Autoridade Tributária Federal, os Emirados Árabes Unidos isentaram todas as transações de criptomoeda do IVA - Imposto sobre Valor Agregado. Dentre os principais aspectos das alterações do IVA, estão: 1. Isenção de IVA sobre ativos virtuais Uma das alterações mais significativas introduzidas pela nova lei é a isenção total do IVA nas transações que envolvem ativos virtuais, incluindo criptomoedas. Esta isenção abrange todas as transferências e conversões de moedas digitais, eliminando efetivamente o IVA de todas as atividades relacionadas a criptoativos -  tanto para indivíduos como para empresas.  Notavelmente, a isenção se aplica retroativamente a partir de janeiro de 2018, o que significa que as empresas que anteriormente pagavam IVA em transações com criptomoedas podem precisar ajustar os registros de IVA anteriores por meio de divulgações voluntárias. Essa mudança é vista como um grande impulso para o setor cripto nos EAU, aumentando o apelo do país como um "hub" (centro global de inovação) em criptoativos. 2. Serviços financeiros e gestão de fundos de investimento As novas alterações alargam as isenções de IVA a uma gama mais vasta de serviços financeiros. O regulamento Executivo atualizado isenta de IVA a gestão de fundos de investimento, a transferência de propriedade de ativos virtuais e a conversão de ativos virtuais (art. 42). Esta medida irá provavelmente reduzir os custos dos gestores de fundos e das empresas envolvidas na gestão de fundos de investimento licenciados pelos EAU, reforçando o estatuto dos EAU como centro financeiro. 3. Reavaliação das obrigações de IVA para empresas cripto Com essa mudança, as empresas que oferecem produtos e serviços relacionados a criptoativos devem reavaliar suas obrigações de IVA.  As empresas que pagaram IVA sobre transações de ativos virtuais no passado devem apresentar divulgações voluntárias para corrigir suas declarações fiscais. A autoridade tributária Federal espera que todas as empresas cumpram o novo quadro e efetuem os ajustes necessários às suas posições em matéria de IVA. Perspectivas finais Tanto o acordo de cooperação entre a SCA e a VARA, quando as atualizações nos regulamentos do IVA dos EAU fazem parte da estratégia mais ampla dos EAU para simplificar o seu sistema fiscal, reduzir os encargos comerciais e criar um ambiente mais favorável, se posicionando como facilitador de mercado através da construção de um ecossistema abrangendo Web3, o metaverso, blockchain e IA, com ativos virtuais servindo como estrutura de conexão. __________ 1 Disponível aqui. 2 Disponível aqui. 3 "Ativos digitais são ativos que podem ser comercializados e armazenados em formatos digitais. Quando os ativos digitais são comercializados via tecnologia blockchain, eles são chamados de criptoativos - gênero que possui duas espécies: criptomoedas e tokens". Revoredo, Tatiana. In: "Games, Blockchain e modelos de negócio na Web3.", MIT Sloan Management Review, disponível aqui. 4 Revoredo, Tatiana. In: "Dubai [VARA]: O primeiro regulador do mundo dedicado apenas a criptoativos.", Migalhas, disponível aqui. 5 Disponível aqui. 6 Idem Nota 2. 7 Idem Nota 7. 8 Idem Nota 7. 9 Disponível aqui.
A Assembleia Geral da Carolina do Norte aprovou um projeto de lei que proíbe a participação do Estado nos testes de uma moeda digital do CBDC - Banco Central patrocinados pelo FED - Federal Reserve. Na segunda-feira, o Senado votou por 27 a 171 a favor do House Bill 6902 (projeto de lei 690) da Câmara para anular o veto3 do governador democrata Roy Cooper. O projeto de lei proíbe os pagamentos ao Estado utilizando uma CBDC e proíbe a participação do Estado nos testes do CBDC. Dan Spuller, chefe de assuntos da indústria da Blockchain Association, escreveu em sua conta no X (ex Twitter) que o projeto de lei "nunca deveria ter sido vetado" e que Cooper "estragou uma oportunidade de enviar uma mensagem forte ao Federal Reserve de que (a Carolina do Norte) está unida contra os CBDCs". A aprovação do projeto de lei anti-CBDC da Carolina do Norte veio depois que a Câmara dos EUA aprovou em maio de 2024 the CBDC Anti Surveillance State Act, um projeto de lei liderado pelos republicanos para impedir uma CBDC nos EUA. O projeto de lei busca impedir o FED (o Banco Central dos EUA) de emitir uma CBDC de varejo - isto é, para os cidadãos. Como já comentamos nesta coluna4, o FED tem explorado a possibilidade de emissão de CBDC e publicou um relatório5 que examina os seus prós e contras. O presidente do Fed, Jerome Powell, afirmou6 que o FED não emitiria um CBDC sem a aprovação do Congresso americano. O receio dos Republicanos contra as CBDCs Há já algum tempo que os políticos conservadores se opõem a uma CBDC, alegando receios de que um CBDC possa permitir ao governo vigiar as transações. Há anos que os legisladores de ambos os lados do corredor político se preocupam com o fato do dólar digital corroer a privacidade. A lista dos que disputam esse papel é extensa, com um toque de política presidencial. O governador da Flórida, Ron DeSantis, que está de olho nas primárias presidenciais republicanas, acaba de apresentar um projeto de lei para proibir os CBDCs em seu estado natal. A governadora Kristi Noem de Dakota do Sul, uma potencial escolha vice-presidencial em 2024, usou recentemente um veto para protestar contra um possível CBDC. Noutros locais, os conservadores senadores Ted Cruz (Texas), e Mike Lee (Utah), reintroduziram projetos de lei para proibir as CBDCs a nível federal, juntamente com o líder da maioria na Câmara, Tom Emmer, R-Minn. E Vivek Ramaswamy, um candidato presidencial republicano de longa data e crítico declarado do investimento ESG7, transformou o dólar digital numa questão de campanha em Iowa. As moedas digitais do Banco Central são a última questão a chamar a atenção do Partido Republicano, em grande parte devido à introdução do Yuan Digital8 -  a CBDC da China. O governo Biden-Kamala formou uma força-tarefa interagências para estudar a emissão de uma CBDC, um assunto que o Federal Reserve tem considerado há anos. No entanto, ainda subsistem grandes questões e críticas sobre as preocupações com a privacidade e cyber segurança - dado que tanto o governo americano quanto o sistema bancário dos EUA é alvo diário de ataques cibernéticos vindos de todas as partes do mundo. Vigilância e controle Este quadro tem origem no fato da a China ter sido o primeiro país a utilizar uma CBDC e, nesse processo, ter suscitado preocupações sobre a forma como a tecnologia e a política econômica poderiam ser utilizadas para exercer controlo sobre os cidadãos. De acordo com o Atlantic Council9, mais de uma dúzia de países adoptaram este ano medidas para criar moedas digitais de banco central. Dentre os argumentos a favor, pagamentos mais rápidos são um objetivo potencial para um dólar digital americano, embora haja o serviço de pagamentos em moeda não digital. Os bancos regionais do FED em Nova Iorque e Boston fizeram experiências com transações em dólares digitais. Privacidade é a principal preocupação contra CBDCS Os republicanos não são o único grupo preocupado com o fato das CBDCs poderem corroer a privacidade. Uma série de organizações sem fins lucrativos redigiu diretrizes sobre a forma como o governo deve abordar uma possível CBDC, incluindo a União Americana das Liberdades Civis, a "Demand Progress" e a "Fight for the Future", organizações civis sem fins lucrativos pró-criptoativos. O potencial de uso indevido de uma CBDC preocupa - principalmente porque um país pode ser uma democracia hoje, mas pode não ser mais amanhã. E emitir uma CBDC é permitir um grau de controle sem precedentes sobre as transações privadas dos indivíduos, ainda que o discurso inicial seja o lançamento de uma CBDC de atacado, ou que o país esteja empregando soluções de privacidade como ?zk-SNARKS e zk-STARK10 - dado que as moedas digitais dos Bancos Centrais utilizam blockchains privadas, centralizadas, programáveis e, portanto, modificáveis a qualquer tempo11. Nos EUA, a proteção do direito à privacidade financeira é uma questão que preocupa tanto republicanos, quanto democratas. Aqui no Brasil, o projeto de lei 3.341/24 busca evitar que o DREX (Real digital) substitua o papel moeda. _____ 1 Disponível aqui: https://www.ncleg.gov/Legislation/Votes/RollCallVoteTranscript/2023/S/659/  2 Disponível aqui: https://www.ncleg.gov/Legislation/Bills/Summaries/2023/H690/  3 Disponível aqui: https://webservices.ncleg.gov/ViewBillDocument/2023/9411/0/H690-BD-NBC-12421/  4 Disponível aqui. 5 Disponível aqui. 6 Disponível aqui. 7 Disponível aqui. 8 Disponível aqui. 9 Disponível aqui. 10 As as provas zk-SNARK e zk-STARK são dois exemplos de técnicas criptográficas que visam fornecer privacidade às blockchains. Disponível aqui. 11 Diferente de blockchains públicos como Bitcoin que por possuirem uma arquitetura descentralizada, precisam enfrentar um longo caminho para obter consenso dos participantes da rede sobre as atualizações propostas. Disponível aqui.
Reino Unido propõe proteção legal a participações digitais  Em 11 de setembro, o Reino Unido anunciou1 PL - Projeto de Lei que permite avaliar se bitcoin ($BTC), outras criptomoedas e tokens não fungíveis podem ser considerados "propriedade pessoal, o que traria proteção legal. O governo anunciou que o projeto de lei da propriedade esclareceria o status legal de criptomoedas, tokens não fungíveis2, criptomoedas3 e créditos de carbono4. A deputada trabalhista e ministra de Estado Heidi Alexander explicou que a nova legislação poderia ajudar a trazer clareza a casos complexos de propriedade. Segundo Alexander5: "Os nossos serviços jurídicos líderes a nível mundial constituem uma parte vital da nossa economia, ajudando a impulsionar o crescimento e a manter a Grã-Bretanha no centro da indústria jurídica internacional." "É essencial que a lei acompanhe o ritmo das tecnologias em evolução e esta legislação significará que o setor pode manter a sua posição como líder mundial em criptoativos e trazer clareza a complexos casos que envolvem a propriedade desta nova classe de ativos." O governo do Reino Unido declarou que a lei proposta daria "proteção legal" a proprietários e empresas quando "as participações digitais forem disputadas ou fizerem parte de acordos". O que motivou a nova proposta legislativa britânica? A proposta de lei foi elaborada em resposta a um relatório encomendado pelo Ministério da Justiça do Reino Unido em 2023. O relatório concluiu[6] que "alguns bens digitais não são nem coisas em posse nem coisas em ação, mas que, no entanto, a lei da Inglaterra e do País de Gales os trata como passíveis de se qualificarem como coisas às quais os direitos de propriedade pessoal podem se relacionar". Perspectivas da aprovação do PL A proposta legislativa foi um dos primeiros movimentos do governo trabalhista para abordar as políticas de ativos digitais e blockchain desde que o partido assumiu o controle dos conservadores após a eleição de 4 de julho. Apesar se ser uma luz no fim do tunel para empresas que prestam ou buscam prestar serviços e produtos relacionados a criptomoedas, NFTs e crédito de carbono no Reino Unico, em razão do recesso parlamentar e da temporada de conferências partidárias, o governo pode demorar meses a dar andamento à referida proposta legislativa. O movimento em direção à clareza regulatória também chegará aos EUA? Do outro lado do oceano, legisladores dos EUA podem adotar a mesma iniciativa britânica de iluminar o status regulatório das situações envolvendo blockchain e criptoativos. No entanto, tudo vai depender do resultado do resultado das eleições americanas de 2024, quando o controle da presidência dos EUA, da Câmara dos Representantes e do Senado será dos democratas ou dos republicanos a partir de janeiro de 2025. Aqui, vale destacar que a liderança da comissão do mercado de valores mobiliários dos EUA, presidida por Gary Gensler, é um fator nas eleições americanas. O presidente da SEC tem sido muito criticado por adotar uma abordagem de regulamentação por aplicação para empresas de blockchain e criptoativos sem esclarecer os porquê tokens ou ativos digitais podem constituir títulos mobiliários. Já comentamos sobre as perspectivas no mercado de criptoativos, a mudança nos círculos políticos e o que as eleições americanas de 2024 significam para a regulação cripto nos EUA aqui7 nesta coluna. ________ 1 Disponível aqui. 2 Tokens não fungíveis - também conhecidos como NFTs, Non Fungible Tokens - Um NFT é a representação de um ativo não fungível no meio digital sob a forma de um número de série. NFTs são um tipo de token que representam a propriedade de bens digitalmente escassos, como música, obras de arte,  nomes de domínio na Internet, colecionáveis no mercado de esportes, memes, ferrramentas usadas em jogos on line, avatares em mundos virtuais, ingressos de shows, dentre outros. Alguns NFTs se assemelham a produtos de investimento e, nesta hipótse, podem ser classificadas como títulos mobiliários - por exemplo, se por ocasião da venda de um NFT, é prometida aos compradores uma parte de negócios futuros em ações, dividendos ou ambos. Veja mais em Tatiana Revoredo, In Blockchain e Cripto em minutos, Substack, 2024. Disponível aqui. 3 Disponível aqui. 4 Disponível aqui. 5 Idem Nota 1 6 Disponível aqui. 7 Disponível aqui.
A abrangência do ecossistema DeFi  No ecossistema DeFi1 [finanças descentralizadas], vários tipos de plataformas alimentadas pela tecnologia blockchain, operam em atividades como =negociação, investimento, concessão e tomada de empréstimo, bem como obtenção de lucros com criptoativos. Nessa linha, plataformas DeFi de lending2 permitem aos usuários ganhar juros sobre depósitos de criptomoedas e obter empréstimos Já corretoras descentralizadas [DEXs3] facilitam a negociação direta de criptoativos entre usuários através de contratos inteligentes, aumentando o controle do usuário sobre as transações. DEX aggregators4, por sua vez, oferecem opções de swap de vários DEXs num único local. Por fim, existem ainda liquidity farming5 e yield agregators6. Liquidity farming oferece oportunidades de rendimento através de depósitos de criptomoedas em pools de liquidez. Yield aggregators simplificam a criação de liquidez em várias plataformas. DeFi está sujeito às responsabilidades legais de TradiFi? A maioria das plataformas de criptoativos [criptomoedas e tokens] assume a custódia dos fundos dos usuários e possui equipes para administrar internamente os fundos que foram depositados, manter livros de pedidos e resolver problemas que surgem para os clientes, de forma semelhante a uma instituição financeira convencional. Diferentemente, as plataformas DeFi são governadas por código de software autoexecutável - ou seja, podem ser executadas por conta própria, sem nenhuma equipe ou empresa que as gerencie. Elas geralmente não assumem a custódia dos fundos dos investidores e, em vez disso, os encaminham entre carteiras individuais com base no protocolo subjacente da plataforma. Logo, as plataformas DeFi não se comportam como um intermediário ativo da mesma forma que outras plataformas cripto. Tendo isto em conta, plataformas DeFi se sujeitariam às mesmas regulamentações que as empresas de serviços financeiros convencionais? A resposta a esta pergunta - pelo menos no estagio atual do desenvolvimento das plataformas DeFi  - é: Sim. Embora haja quem7 defenda8 que plataformas DeFi não se sujeitam às mesmas regulamentações da empresas do mercado financiro traidicional, fato é que as agências reguladoras possuem9 outros meios de fazer cumprir a lei nas plataformas DeFi, independentemente de estarem ou não associadas a uma empresa formal, como vimos em recente caso envolvendo a Uniswap e a CFTC. O acordo Uniswap e CFTC sobre a negociação de criptoativos alavancada Uniswap10 fez acordo com a Comissão de Negociação de Futuros de Commodities dos EUA [CFTC] sobre negociação de cripto alavancada, e concorda em pagar multa de US$ 175,000. A Uniswap Labs pagará11 US $ 175,000 de multa para liquidar as acusações de que ofereceu transações ilegais de commodities com alavancagem e margem, anunciou a Comissão de Negociação de Futuros de Commodities dos EUA. Também, a Universal Navigation Inc., que faz negócios como Uniswap Labs, foi condenada a parar de violar o Commodity Exchange Act, conhecido como CEA, como parte do acordo. Quais foram as alegações da CFTC contra a Uniswap? A Uniswap desenvolveu uma interface de usuário e um conjunto de contratos inteligentes que permitem aos usuários negociar tokens na plataforma12, segundo a CFTC. Isso incluiu tokens desenvolvidos por terceiros - ou seja, pessoas que não trabalham para a Uniswap - que expuseram os investidores a retornos marginais ou alavancados contra o preço do bitcoin ($ BTC) e do ether ($ ETH). A Uniswap não se registrou como um mercado de contrato designado com a CFTC e, por isso, não estaria autorizada a oferecer produtos de negociação alavancados. Assim, para a CFTC, as transações de tokens em questão seriam13 transações de commodities alavancadas, ou com margem, que só podem ser oferecidas a participantes contratuais não elegíveis num conselho de negociação que tenha sido designado ou registado pela CFTC como um mercado contratual - o que a Uniswap Labs não é. A CFTC reconheceu a cooperação da Uniswap Labs com a investigação e, por isso, aplicou uma multa reduzida. "A ação de hoje demonstra mais uma vez que a Divisão de Execução aplicará vigorosamente o CEA à medida que as plataformas de ativos digitais e os ecossistemas DeFi evoluam". Os operadores DeFi devem estar vigilantes para garantir que as transações cumpram a lei." - disse Ian McGinley, diretor de execução da CFTC, em comunicado oficial14. Importante destacar, aqui, que o acordo não envolveu qualquer concordância ou negação das acusações do regulador, e as comissárias da CFTC, Summer Mersinger e Caroline Pham, emitiram opiniões divergentes. O que realmente motivou a CFTC no caso Uniswap? A comissária Mersinger disse que o acordo tem "todas as caraterísticas do que passamos a conhecer como regulamentação por meio da aplicação". Apontando que a Uniswap já havia bloqueado a negociação dos tokens em questão. Já a comissãria Caroline Pham, discordou: "a nova abordagem da CFTC hoje é legalmente simplista e convenientemente para criar um pretexto para o 'enforcement'". Claro que a CFTC pode e deve perseguir vigorosamente a fraude e a manipulação em nossos mercados e levar os maus atores à justiça. Mas segundo Phan, "não é disso que se trata este caso da Uniswap." Para ela, o acordo celebrado com a Uniswap, com uma penalidade de mínima, tem pouca relação com a conduta alegada, possui declarações por demais abrangentes sobre a indústria, que não são pertinentes ao caso em questão, além de abraçar teorias jurídicas que não foram testadas em tribunal. Por fim, conclui ser lamentável que a ação da Comissão hoje seja, em vez disso, uma tentativa equivocada e apressada de vencer a SEC e reivindicar jurisdição sobre a DeFi. A disputa pela jurisdição sobre DeFi Além do procedimento da CFTC, a Uniswap já havia recebido um Wells notice15 da SEC no início deste ano. Nessa mesma linha, tanto a SEC quanto a CFTC têm recorrentemente aberto procedimetos administrativos de fiscalização, não apenas em face de corretoras cripto centralizadas como a Binance, mas também contra projetos cripto descentralizados que usam software automatizado no lugar de intermediários. Alguns alvos foram resolvidos, enquanto outros acabaram tramitando nos tribunais. Quando analisamos os processos judiciais da SEC ainda em curso contra a Coinbase e outros, bem como a sua total relutância em fornecer clareza ou um caminho para o registo daqueles que operam legalmente nos EUA, muitos - a Uniswap, inclusive16 - têm apontado que a atuação das agências reguladoras americanas tem sido um esforço político para atingir até mesmo os melhores atores da indústria cripto que constroem tecnologia em blockchains. Apesar da retórica da SEC de que "a maioria" dos tokens são títulos mobiliários, a realidade é que os tokens são um formato de arquivo digital - como um pdf ou uma folha de cálculo -, e podem armazenar muitos tipos de valor. Dessa foma, eles não são intrinsecamente valores mobiliários, assim como cada folha de papel não é um certificado de ações. Perspetivas Muitos dos tokens transacionados, quando analisados à luz da atual jurisprudência e legislação americana, não são realmente valores mobiliários - são tokens comunitários e utilitários e commodities como o ether e o bitcoin. Ainda que assim não fosse, nos casos em que projetos DeFi admitiram que um token pode representar um título mobiliário, a SEC recusou-se a criar um caminho para as empresas se registarem. Neste contexto, o Congresso americano precisa agir logo para suprir as lacunas da legislação, e estabelecer diretrizes mais claras para criptoativos, a fim de não prejudicar a indústria nos Estados Unidos. ________ 1 Disponível aqui. 2 Disponível aqui. 3 Uma Decentralized Exchange [DEX] é uma corretora de criptoativos descentralizada onde os usuários vão quando precisam negociar criptomoedas. Uma DEX traz os benefícios da descentralização para este processo, uma vez que, ao contrário das corretoras centralizadas [CEX], pelo menos em teoria, todas as transações em uma DEX são executadas através de contratos inteligentes sem quaisquer intermediários. 4 Disponível aqui. 5 Disponível aqui. 6 Disponível aqui. 7 Disponível aqui. 8 Porque a maioria das plataformas DeFi atualmente possui  equipes "centralizadas" no background, capazes de atualizar protocolos para congelar fundos de usuários ou bloquear transações se necessário. 9 Disponível aqui. 10 Disponível aqui. 11 Disponível aqui. 12 Disponível aqui. 13 Idem nota anterior. 14 Idem nota anterior. 15 Disponível aqui. 16 Disponível aqui.
A relação entre o Japão e criptoativos vem de longa data Apesar de ser um país que preza por suas tradições milenares, o Japão se manteve aberto às inovações tecnológicas, principalmente depois do final da Segunda Guerra Mundial. Este equilíbrio entre tradição e inovação permitiu que o país desempenhasse papel de destaque em duas áreas essenciais para a indústria blockchain-cripto: Ciência da computação e criptografia. Não à toa, os japoneses foram dos primeiros a reconhecer o potencial de um ecossistema digital descentralizado, enquanto outros países apenas acompanhavam o crescimento do mercado cripto. Como se diz no jargão cripto, "quando tudo ainda era mato", o Japão emergiu como o centro de criptomoedas do mundo. Em 2013, a terra do sol nascente detinha 70% do volume global de transações de bitcoin. Muitos japoneses começaram a minerar1 bitcoin quando a criptomoeda ainda tinha pouco valor real, e o volume de transações de bitcoin na maior corretora cripto do mundo, a Mt. Gox, girava na casa dos milhões de dólares.  Mesmo após a falência da Mt. Gox2  em 2014, contudo, o governo japonês não endureceu totalmente em relação à indústria de criptoativos. Pelo contrário, tomou medidas para proteger os consumidores, e permitiu o renascimento das exchanges3 no Japão. Após aprovar 11 corretoras de criptomoedas em setembro de 2017, admitiu que outras 17 criptomoedas - além de $BTC, $ETH, $XRP, e $LTH - fossem negociadas nas exchanges com sede no país. Mas não foi só isto que aconteceu. Também em 2017, o Japão alterou o The Payment Services Act - que faz parte do Banking Act  - para tornar bitcoin e outras criptomoedas uma forma legal de pagamento.4 Apesar da "aprovação oficial" das criptomoedas pelo governo japonês e das políticas restritivas5 nos países vizinhos terem ajudado a elevar o preço do bitcoin e o volume de negócios em ativos digitais para cerca de 60% - mesmo após o colapso da Mt. Gox -, em 2019 os pagamentos digitais representaram apenas 26,8% do total, segundo o Ministério da Economia, Comércio e Indústria do Japão.  Em 2020, pesquisa do Statista revelou que apenas 4% dos residentes japoneses usavam ou possuíam criptomoedas, enquanto China, Índia e Vietnã relataram 7%, 9% e 21%6, respetivamente. Com o advento da pandemia, contudo, houve um afastamento do dinheiro. Em 2022, o governo japonês concedeu NFTs - tokens não fungíveis7 a sete prefeitos8 pelas iniciativas que empreenderam em suas áreas - o que o colocou entre os primeiros governos nacionais a emitir NFTs como recompensas suplementares utilizando a tecnologia blockchain.9 O atual tratamento tributário dos criptoativos no Japão Hoje, os lucros com criptomoedas no Japão são atualmente tributados como renda diversa entre 15% e 55%. A taxa mais alta de 55% pode ser aplicada a ganhos acima de 200.000 ienes japoneses (US$ 1.377), mas varia dependendo da faixa de imposto de renda do indivíduo.10 Em comparação, os lucros obtidos com a negociação de ações incorrem apenas em uma taxa de imposto de 20% nos níveis mais altos. Os detentores corporativos de criptomoedas devem pagar uma taxa fixa de imposto de 30% sobre suas participações no final do ano fiscal, mesmo que não tenham obtido lucro por meio de uma venda. Os ministérios do governo enviam solicitações de reforma tributária ao partido no poder, que as repassa a um comitê de pesquisa do sistema tributário e à legislatura nacional do país para consideração. Defensores da indústria cripto querem reforma tributária Os defensores da indústria cripto no Japão têm pressionado por uma revisão do regime tributário nacional para ativos digitais há vários anos. A Japan Blockchain Association, um grupo de lobby pró-cripto, solicitou formalmente11 que o governo reduzisse a taxa de imposto sobre criptoativos em 2023. Em julho 19, o grupo também apresentou uma solicitação12 uma reforma tributária dos criptoativos para o ano fiscal de 2025, em uma tentativa de promover maior crescimento no setor no país. Entre suas propostas estava uma taxa fixa de imposto de 20% para cripto e uma dedução de transferência de perdas de três anos. Apesar desses esforços, as solicitações não tinham conseguido gerar nenhuma mudança de política quanto a criptos, apesar de na Conferência WebX13, o ministro da Economia, Comércio e Indústria do Japão, Takeru Saito, ter destacado a importância na redução de impostos às startups em razão do enorme potencial das indústrias Web314 e blockchian.15 Agora, contudo, parece que os ventos começaram a mudar. O regulador financeiro pede redução de impostos para criptos em 2025 No pedido16 para reforma tributária encaminhado no último dia 30/8, a FSA - Agência de Serviços Financeiros do Japão colocou os criptoativos em destaque, pressionando para que eles sejam tratados como ativos financeiros tradicionais nos quais o público pode investir.17   Segundo a FSA, "as criptomoedas devem ser tratada como um ativo financeiro que deve ser um alvo de investimento para o público".18 Resta saber se ambas as casas do governo japonês - a Câmara dos Representantes e a Câmara dos Conselheiros - vai aprovar a sugestão de reforma tributária. __________ 1 Disponível aqui. 2 Disponível aqui. 3 Exchanges ou corretoras criptosão empresas que permitem seus clientes adquirirem ou venderem criptoativos por outros ativos, como as moedas fiduciárias convencionais como dólar, euro, ien, etc. 4 Revoredo, Tatiana. In: Criptomoedas no Cenário Internacional, 2018, Amazon. Vide também aqui. 5 No início de 2017, China e Coréia do Sul reprimiram o comércio de criptomoedas e fecharam exchanges, bem como proibiram ICOs [Initial Coin Ofering], que nada mais são que ofertas de captação de recursos relacionadas a criptomoedas. 6 Disponível aqui. 7 Disponível aqui. 8 Disponível aqui. 9 Disponível aqui. 10 Disponível aqui. 11 Disponível aqui. 12 Disponível aqui. 13 Disponível aqui. 14 Disponível aqui. 15 Disponível aqui. 16 Disponível aqui. 17 Disponível aqui. 18 Idem nota anterior.
O que é OpenSea ?   OpenSea é um mercado de tokens não fungíveis [NFTs] onde os usuários podem comprar, vender ou criar NFTs.   É ??uma plataforma não custodial, permitindo aos usuários controle total e acesso às suas carteiras digitais.1   Os usuários interagem diretamente entre si para comprar ou vender NFTs individualmente ou em pacotes.   Para se ter uma ideia da importância da OpenSea no mercado NFT, antes de sua criação em 2017, não havia uma plataforma para os usuários negociarem diferentes NFTs facilmente. Por isso, a OpenSea foi criada como uma solução para permitir que os usuários negociassem colecionáveis ??e outros NFTs entre si.   NFTs sob a ótica legal   Um NFT pode ser um meio de provar a propriedade de um ativo subjacente (um quadro, por exemplo), mas também pode representar apenas um ativo digital sob a forma de um código de software.   Como um NFT tanto pode ser a representação de um ativo físico ou de um ativo digital que só existe na internet (uma arte programável, por exemplo), gosto de conceituar NFTs como "um padrão de contrato inteligente2 que fornece uma maneira padronizada de verificar quem possui um NFT e uma maneira padronizada de "mover" ativos digitais não fungíveis".   Contudo, para conceituar um NFT sob a ótica legal, antes de tudo é preciso verificar o que os tokens não fungíveis significam digitalmente.   Num sentido genérico, NFT significa a representação de um ativo não fungível no meio digital sob uma forma de um número de série.3   No entanto,  quando olhamos para a forma como esse tipo de número de série reflete um ativo em meio digital e o que está incluso neste código -, nos deparamos com inúmeras questões legais e jurídicas.   Antes de prosseguirmos, é necessário que você tenha em mente que além de evidenciar a propriedade de um ativo não fungível, o NFT também aponta para onde o conteúdo desse ativo está no momento em que o NFT foi criado.   Um NFT é diferente dos direitos do ativo subjacente que o compõe   Em nossa sociedade atual, estamos acostumados com pedaços de papel indicando ou representando tipos de direito de propriedade e algum tipo de trabalho. Todos já tivemos contato com algum pedaço de papel deste tipo: A escritura de um imóvel, o certificado da propriedade de um veículo, um contrato de locação de uma casa.   Já compreendemos o que é e qual o valor de uma folha de papel "legal", e esta é uma boa maneira de ver os NFTs também, embora obviamente haja algumas diferenças em termos de quais direitos estão vinculados a eles.   Há uma percepção generalizada de que um NFT é o próprio ativo original, como se fosse o ativo em si. Mas esta percepção está realmente correta? Não seria um NFT um recibo de que você possui determinado ativo?   Aqui, como tudo no mundo das leis e do Direito, a resposta correta é: Depende; e depende de qual é o ativo subjacente que o NFT representa.   Um NFT pode ser tanto o próprio ativo original - quando se tratar de um ativo que só existe no mundo virtual (como um Cryptokitie ou um CryptoPunk) - , como pode ser apenas o recibo de que você possui determinado ativo do mundo real (como um imóvel, uma obra de arte física exposta no Louvre, em Paris).   Compreendido isto, vamos voltar ao tema central deste artigo: As consequências do Wells notice recebido pela OpenSea.   O que é um 'Wells notice'?   Aviso Wells é uma comunicação formal da SEC indicando uma possível ação de execução, mas não necessariamente um processo judicial.   A notificação informa às pessoas ou à empresa em questão que a SEC concluiu que elas devem ser acusadas de violar as leis de valores mobiliários e, portanto, a equipe da SEC lhes oferece a oportunidade de fornecer informações sobre o motivo pelo qual a ação de execução não deveria ser movida.   Geralmente, a pessoa ou empresa tem 30 dias para apresentar sua defesa, considerando argumentos legais e factuais sobre o motivo pelo qual nenhuma acusação deve ser feita contra ela. Embora a investigação seja conduzida de forma confidencial, essa notificação, bem como sua resposta, é uma informação pública que pode ser usada em audiências públicas posteriores.   Os órgãos reguladores não são legalmente obrigados a fornecer um aviso; no entanto, é praxe da SEC e da FINRA - Financial Industry Regulatory Authority emitirem esse aviso.   A posição da SEC sobre NFTs   A emissão de um Wells notice para a OpenSea indica que a SEC vê alguns NFTs como "contratos de investimento", potencialmente classificando-os como valores mobiliários, exigindo conformidade com as leis de títulos.   Como a OpenSea se posicionou após receber o aviso Wells?    A OpenSea se defendeu4 alegando que NFTs são bens criativos, e não títulos mobiliários, bem como alertou que a regulamentação da SEC pode dificultar a inovação para artistas e desenvolvedores. Ela também destacou os efeitos positivos dos NFTs em artistas, desenvolvedores de jogos e colecionadores.   Além disso, a OpenSea mencionou5 o caso Stoner Cats como um exemplo da agência perseguindo artistas e prometeu US$ 5 milhões para cobrir as taxas legais de artistas e desenvolvedores de NFTs que receberem uma notificação Wells.   Efeitos imediatos do aviso Wells à OpenSea para o setor NFT?   Em números: Os volumes de negociação da OpenSea implodiram de US$ 5 bilhões/mês em janeiro de 2022 para 43 milhões/mês em julho deste, uma queda de 99%.6   Em janeiro de 2024, a OpenSea contava com três milhões de usuários ativos, e alcançou o equivalente a mais de US$ 40 bilhões em volume de transações envolvendo NFTs.   Com o Wells notice, marcas já estão recuando dos NFTs - transformando seus itens colecionáveis em "vale presentes" -, devido ao risco regulatório. E à medida que as investidas da SEC avançarem, mais e mais empresas tendem a abandonar o barco dos tokens não fungíveis.   Ora, se o custo e a complexidade de criar e vender NFTs aumentarem enormemente em razão da excessiva rigidez regulatória, novos criadores a comunidade de criadores provavelmente desaparecerá.   Na mesma linha, se as plataformas de negociação precisarem cumprir as mesmas regulamentações de valores mobiliários - verificações KYC (Conheça seu cliente) e AML (Anti-Lavagem de dinheiro) mais rigorosas -, sua existência também ficará inviável.   Com isto, os NFTs se tornariam praticamente inutilizáveis para o consumidor convencional.   Aqui, é bom destacar que NFTs podem ser utilizados de diversas formas7, e que na grande maioria dos casos, não seriam um título mobiliário e, portanto, a exigência de cumprimento de regulamentações mais rigorosas não se justificariam. Vamos destinchar melhor isto.   Quem compra um NFT colecionável da liga de Basquete Americana, está adquirindo um título mobiliário?   Para quem não está familiarizado, o 'NBA Top Shot'8 são momentos da história da NBA, liga profissional de basquete americano, que estão sendo adquiridos via NFT por milhares de fãs da NBA de todo o mundo.   Pois bem, na compra e venda de um NFT, estamos lidando com três partes: Estamos lidando com o autor desse trabalho (fotógrafo do momento NBA, o desenvolvedor de um game, ou o artista de uma arte digital), estamos lidando com o criador do NFT e, por fim, estamos lidando com um comprador.   Ao adquirir um NFT você está, a princípio, apenas recebendo os direitos sobre o NFT, os direitos de propriedade dos direitos de se gabar de que você tem alguma conexão com esse trabalho. Todavia, você não necessariamente adquirirá o direito de propriedade intelectual para usar aquela obra - você não terá o direito de copiá-la, distribuí-la, executá-la, a menos que tais direitos tenham sido designados especificamente para você.   A análise legal de um NFT é muito semelhante ao que seria, se não houvesse um NFT.   Assim, um NBA Top Shot muito provavelmente não será um título mobiliário porque não configura "venda pública não autorizada de contratos de investimento".   Em que situações, NFTs podem ser títulos mobiliários?   Dentre seus vários usos, há alguns em que NFTs se assemelham a produtos de investimento e, assim, podem ser classificadas como títulos.    Por exemplo, se eu cunhar certificados de ações como NFTs e disser que você pode reivindicar dividendos usando-os, então, é claro, eles soam como títulos mobiliários.   Também, se por ocasião da venda de um NFT, é prometida uma parte dos negócios futuros (em ações, dividendos ou ambos) aos compradores.   Ainda, quando você anuncia no seu Discord que "Comprar uma "chave de fundador" é [como] investir na Disney, Call of Duty e YouTube ao mesmo tempo" - você definitivamente foi longe demais e está fazendo uma oferta pública de um título mobiliário.   Foi por isso que a venda de NFTs "Founders Key" da Impact Theory configurou um caso bem claro de oferta de título mobiliário.   Embora as situações descritas acima aconteçam, esse não é o tipo de NFT que as pessoas esperam encontrar no OpenSea, no NFT.io e em outros mercados. Casos assim são muito raros, porque NFTs são principalmente apenas arte digital e itens colecionáveis como os NBA Top Shots.   Ao pensar no cenário dominante no espaço NFT, parece um pouco estranho que um regulador como a SEC queira perseguir casos estranhamente tão específicos e raros.    Regulação de NFTs nos EUA   Muitos artistas e criadores estão cientes da área cinzenta da regulamentação em que os NFTs se enquadram nos EUA.    E tal é assim, porque a regulação de NFTs nos EUA tem sido feita por coerção - isto é, sem a observância de regras claras e previamente estabelecidas pelo Poder Legislativo, com potencial ofensa à legalidade e ao devido processo legal, como veremos a seguir.   Em um de seus primeiros casos envolvendo NFTs em 2023, a SEC acusou9 anteriormente a Impact Theory LLC, uma empresa de mídia e entretenimento com sede em Los Angeles, de oferecer títulos não registrados na forma de NFTs em agosto do ano passado. A empresa foi condenada a pagar mais de US$ 6 milhões em restituição, juros prévios e penalidades civis.   A SEC também fez um acordo com a Stoner Cats 2 LLC - os criadores do desenho animado on-line financiado por meio da venda de NFTs - por oferecer valores mobiliários não registrados. A empresa concordou10 em pagar uma multa de US$ 1 milhão e com a ordem para encerrar suas atividades.   Operação "Choke Point 2.0"   Funcionários públicos, profissionais financeiros e defensores do bitcoin vem denunciando um aparente preconceito contra os negócios envolvendo criptos na administração Biden. E vários eventos políticos no início de 2023 parecem corroborar essas denúncias.   A 3/1/23, "Declaração Conjunta sobre Riscos de Cripto-ativos para Organizações Bancárias"11 do Federal Reserve, FDIC e OCC - Escritório do Controlador da Moeda observou que, "Os eventos do ano passado foram marcados por volatilidade significativa e a exposição de vulnerabilidades no setor de cripto-ativos. Estes acontecimentos evidenciam uma série de riscos fundamentais associados aos criptoativos e aos participantes no sector cripto de que as organizações bancárias devem estar cientes...", servindo efetivamente para dissuadir as instituições financeiras de assumirem esses riscos.   Um "Roteiro para mitigar os riscos das criptomoedas"12 da Casa Branca, divulgado em 27/1/23, indicou que o governo Biden vê a proliferação de criptomoedas como uma ameaça ao sistema financeiro do país e alertou contra a perspetiva de conceder às criptomoedas mais acesso aos produtos financeiros convencionais.   "Como administração, nosso foco é continuar a garantir que as criptomoedas não possam minar a estabilidade financeira, proteger os investidores e responsabilizar os maus atores", de acordo com o roteiro. "A legislação não deve dar luz verde às instituições tradicionais, como fundos de pensão, para mergulhar de cabeça nos mercados de criptomoedas... Seria um erro grave promulgar uma legislação que inverta o curso e aprofunde os laços entre as criptomoedas e o sistema financeiro mais amplo."   Em 7/2/23, o Federal Reserve empurrou uma regra para o Federal Register esclarecendo que a instituição iria "presumivelmente proibir" os bancos membros estaduais de manter criptoativos como principal em qualquer valor e que "emitir tokens em redes abertas, públicas e / ou descentralizadas, ou sistemas semelhantes é altamente provável que seja inconsistente com práticas bancárias seguras e sólidas".   E em 2/5/23, o governo Biden propôs13 um imposto especial de consumo de DAME - Energia de Mineração de Ativos Digitais, sugerido como uma forma de forçar as operações de mineração de criptomoedas a compensar financeiramente o governo pelos "custos econômicos e ambientais" de suas práticas com um imposto de 30% sobre a eletricidade que usam.   Para Brian Morgenstern, diretor de políticas públicas da Riot Platforms, um dos maiores mineiros de bitcoin de capital aberto sediado nos EUA, estas sugestões de políticas, actualizações e alterações de regras indicam claramente uma tentativa maior de impedir o avanço da indústria cripto como um todo, visando pontos de estrangulamento financeiro.14   Assim, a Operação Choke Point 2.0' refere-se ao esforço coordenado dos reguladores financeiros do governo Biden para sufocar a criptoeconomia nos EUA, desbancando a indústria e separando os empresários do capital necessário para investir na América, como bem observado disse o senador americano Bill Hagerty, membro dos comitês de bancos e apropriações.15   Parece que os reguladores financeiros compraram a falsa narrativa de que os negócios focados em criptos - NFTs inclusive - existem apenas para facilitar ou conduzir atividades ilícitas e parecem cegos para as oportunidades de inovações potenciais e novos negócios que podem ser construídos. ___________ 1 Tambem conhecidas como wallets, carteiras digitais mantém suas chaves privadas - senhas que dão acesso a seus ativos digitais em uma rede blockchain - protegidas e acessíveis, permitindo que você envie e receba criptomoedas, NFTs, stablecoins e outros tokens. 2 Contratos inteligentes são códigos de software com regras autoexecutáveis. Eles funcionam como um acordo autoexecutável embutido em código de computador, gerenciado por um blockchain, por exemplo. Se e quando as regras predefinidas forem atendidas, o contrato será aplicado automaticamente. 3 Disponível aqui. 4 Disponível aqui. 5 Disponível aqui. 6 Disponível aqui. 7 NFTs podem representar partes de um imóvel, ingressos para eventos, obras de arte, nomes de domínio na Internet, itens colecionaveis e ferramentas em jogos eletrônicos, memmes na Internet, avatares em mundos virtuais, dentre outros. 8 Disponível aqui. 9 Disponível aqui. 10 Disponível aqui. 11 Disponível aqui. 12 Disponível aqui 13 Disponível aqui. 14 Disponível aqui. 15 Idem Nota anterior.
"O regulador de valores mobiliários do Brasil deu sinal verde para o segundo SOL ETF spot do país. A notícia vem depois que vários emissores de ativos dos EUA entraram com um pedido na SEC dos EUA para lançar seus próprios fundos à vista, lastreados no token da Solana. No entanto, analistas argumentam que os candidatos dos EUA têm pouca chance de aprovação". Órgão regulador de valores mobiliários do Brasil deu sinal verde para EFT à vista do token da Blockchain Solana Comissão de Valores Mobiliários (CVM) deu sinal verde para um segundo fundo negociado em bolsa [ETF1] à vista, lastreado no preço à vista do token da blockchain2 Solana3 [$SOL].  Solana é uma blockchain pública de camada 1, de código aberto, que tem como foco principal a escalabilidade e suporte a contratos inteligentes4. De acordo com um registro no site5 da CVM, o novo SOL ETF Spot será oferecido pela gestora de ativos Hashdex, sediada no Brasil, e está atualmente em um estágio "pré-operacional". A medida segue-se à aprovação6 pelo Brasil, em 8 de agosto, do primeiro ETF Solana, supervisionado pela QR Asset, uma empresa brasileira de gestão de ativos, e administrado pela Vortx, uma prestadora de serviços para operações de fundos. Enquanto isso, nos Estados Unidos, as changes de sucesso dos esforços para lançar SOL ETFs à vista não são muito altas. Os obstáculos à aprovação dos Spot ETF da Solanoa nos EUA Em junho, os gestores de ativos VanEck e 21Shares entraram com pedidos de ETFs Solana à vista após a aprovação pela SEC dos ETFs Ethereum à vista7.  Mas as esperanças dos otimistas do Solana foram frustradas em 16 de agosto, quando a Chicago Board Options Exchange (CBOE) removeu8 os registros 19b-4 de dois ETFs Solana propostos de sua página "Pending Rule Changes". Alguns especularam9 que esses registros foram retirados devido a preocupações da Securities and Exchange Commission [SEC] sobre a classificação do Solana como um título mobiliário. Como funcionam os registros de ETF nos EUA Quando uma corretora de investimentos como a CBOE apresenta o pedido inicial 19b-4 à SEC, o órgão regulador também publica o pedido em seu site10. Por exemplo, a CBOE apresentou um ETF Solana 19b-4 em 8 de julho. Normalmente, cerca de 14 dias depois, a SEC publica o registro 19b-4 em seu site, iniciando oficialmente o prazo para a análise regulatória. Essa etapa é crucial porque estabelece prazos específicos para que a SEC tome uma decisão. No entanto, nesse caso, o registro do ETF Solana nunca foi publicado no site da SEC. De outro lado, os registros nunca apareceram no site da SEC. "Uma bola de neve de chance no inferno de aprovação, a menos que haja uma mudança na liderança"11. Ademais, o resultado da eleição presidencial poderia influenciar o futuro dos ETFs da Solana nos EUA12-13. Solana é uma commodity ou título mobiliário? Para o chefe de pesquisa de ativos digitais da VanEck, Matthew Sigel,  Solana seria uma commodity - semelhante ao Bitcoin14. Isto se dá, devido à evolução das perspectivas legais, onde tribunais e reguladores começaram a reconhecer que certos criptoativos podem funcionar como títulos em mercados primários, mas se comportam mais como commodities em mercados secundários. A classificação de criptos como títulos mobiliários ou commodities é crucial para fins regulatórios, como já comentamos nesta coluna15. Os valores mobiliários incluem ações, títulos e derivativos, representando propriedade ou relações com credores, e são regulamentados pelos reguladores de valores mobiliários como a SEC, nos EUA, e a CVM, no Brasil. As commodities, por sua vez, incluem matérias-primas e produtos agrícolas primários, cuja negociação é regulamentada pela CFTC. As commodities são intercambiáveis e fungíveis, o que significa que podem ser trocadas por outras mercadorias do mesmo tipo. Pensamentos finais Tendo em conta a natureza do mercado de ETF dos EUA, aa aprovação de um ETF Spot da Solana nos EUA, pelo menos agora, parece altamente improvável. Primeiro, porque para que que um ETF à vista seja lançado, geralmente é necessário que um produto relacionado a futuros seja lançado primeiro. Ademais, o SOL [token da blockchain Solana] é relativamente novo e não tem a infraestrutura para hedge financeiro tradicional, ao contrário do $BTC [token do blockchain Bitcoin] e do $Ether [token da blockchain Ethereum]. Por fim, vários critérios devem ser atendidos para que um ETF à vista seja aprovado, incluindo liquidez sólida, descentralização, resistência à manipulação de preços e classificação regulatória do ativo subjacente. __________ 1 Disponível aqui. 2 Disponível aqui. 3 Disponível aqui. 4 Disponível aqui. 5 Disponível aqui. 6 Disponível aqui. 7 Disponível aqui. 8 Disponível aqui. 9 Disponível aqui. 10 Disponível aqui. 11 Disponível aqui. 12 Disponível aqui. 13 Disponível aqui. 14 Disponível aqui. 15 Disponível aqui.
"Dois anos se passaram desde que Dubai criou a Autoridade Reguladora de Ativos Virtuais (VARA), primeiro regulador do mundo dedicado exclusivamente a criptoativos". A Agenda Econômica D33 de Dubai The D33 Agenda1 é uma Agenda Econômica estabelecida por Dubai que busca dobrar efetivamente o tamanho da economia do país até 2033 e, ao fazê-lo, consolidar a sua posição entre as principais cidades globais para negócios. Essa iniciativa tem como objetivo melhorar a posição da cidade de Dubai como um centro de negócios atraente e de rápido crescimento, com qualidade de vida de classe mundial e os mais altos níveis de segurança para os cidadãos e residentes. Dubai foi uma das primeiras economias a reabrir totalmente após a pandemia em 2020 e, já nessa época, buscava estratégias para preparar sua economia tradicional - em grande parte baseada em serviços -  para o futuro.  Pois bem, sendo Dubai um centro super-regional que facilita o comércio transfronteiriço, os desafios inerentes colocados por restrições imprevisíveis à circulação física de pessoas e produtos durante a pandemia realçaram a oportunidade latente de complementar sua posição com uma economia de conhecimento mais diversificada. Tendo isto em conta, a Agenda D33 de Dubai procurou se centrar particularmente nas novas verticais da economia que operam na intersecção entre tecnologia e finanças, para construir um futuro exponencial - mais democratizado, participativo e seguro. O impacto econômico previsto da adoção da transformação digital Como resultado obtido com os projetos de transformação digital, decorrente das iniciativas previstas na Agenda Econômica D33, Dubai espera que sua nova economia alcance o valor estimado de AED$ 100 bilhões2 por ano.  O valor total das metas estabelecidas pela Agenda Econômica de Dubai 'D33' é de AED32 trilhões até 2033. Pois bem, com este projeto amplo de transformação digital, desde o fim da pandemia Dubai tem focado na construção de um ecossistema abrangendo Web3, o metaverso, blockchain e IA, com ativos virtuais servindo como estrutura de conexão3. É aqui que a Autoridade Reguladora de Ativos Virtuais de Dubai [VARA] tem um papel fundamental. A iniciativa regulatória VARA A Autoridade Reguladora de Ativos Virtuais [VARA] surgiu em decorrência do the D33 Agenda, com o objetivo de estabelecer diretrizes proativas para operadores de ativos virtuais, fornecendo essencialmente regras internas para as empresas realizarem atividades de ativos virtuais em Dubai. Nos seus dois anos de existência, a VARA criou um conjunto de regras para estabelecer diretrizes proativas para que operadores de ativos virtuais pudessem realizar atividades em Dubai. Sempre considerando a importância da busca pelo consenso entre jurisdições globais relevantes de primeira linha para facilitar operações transfronteiriças contínuas, a VARA concedeu aprovação regulatória para quatorze provedores de serviços de ativos virtuais, com marcas de primeiro nível de todo o ecossistema global - desde empresas cripto nativas até finanças tradicionais. Como a VARA conseguiu trazer estas empresas para a mesa de negociações com reguladores, em um ecossistema regulatório continuo e em formação? "Tivemos certamente alguns bons exemplos de erros a evitar e uma apreciação das repercussões económicas debilitantes das regulamentações concebidas para a proibição"4 -  Deepa Raja Carbon5, diretora administrativa e vice-presidente da VARA. Some-se a isto, um quadro regulamentar que responda com agilidade à evolução das necessidades de um setor dinâmico e às nuances inesperadas, capaz de mitigar riscos dentro de um regime compacto, com limites muito delimitados e inegociáveis ??em aspectos como a protecção do consumidor, a segurança do mercado e a transferência transfronteiriça de riscos6.  Equilíbrio entre regulação e invoção no gerenciamento de riscos Para fazer frente a um setor em constante transformação e de natureza acelerada, como é a indústria de criptoativos, a VARA mudou de pespectiva como regulador, e procurou se aprofundar no ecossistema dos ativos digitais.7 Ao invés de adotar regras proibitivas, com foco apenas em segurança à custa da perda de inovação e da perda de capacitação economica do uso correto do capital regulamentar, a VARA buscou regulamentações com foco na capacitação progressiva com análise de risco8. Dessa forma, a VARA tem como princípio norte regular, apoiando a inovação, enquanto gerencia riscos. Caminhos para empresas de criptoativos obterem licença em Dubai Uma licença regulatória pode ser o divisor de águas entre superar o primeiro obstáculo para se tornar empresa de prestígio ou quebrar em seus estágios de formação. Pensando nisso, como fundadores e empreendedores poderiam agilizar o processo de inscrição com VARA? O que se deve fazer para garantir um processo tranquilo? Sem dúvida, a contratação de advogados especializados e profissionais que passaram algum tempo em funções de consultoria regulatória pode ser um com começo. Aqui, vale citar o conselho de Talal Tabbaa, cofundador da CoinMENA, que garantiu a licença operacional completa da VARA em dezembro de 2023, deu este conselho aos fundadores: "Eu sugeriria seguir uma abordagem avessa ao risco. Na CoinMENA, começamos com a licença de corretora, pois adicionar algo como empréstimo levaria mais tempo."9 Considere, ainda, que o melhor caminho pode não se necessariamente o mais rápido. Como assim? Quase sempre, não é aconselhavel obter todas as licenças de uma vez. Geralmente, o melhor caminho é construir um roteiro regulatório, galgando uma etapa de cada vez. Mesmo porque, na maioria dos países, diferentes autoridades reguladoras legislarem ao mesmo tempo. E em Dubai não poderia ser diferente. DIFC vs. VARA: os diferentes reguladores de ativos digitais em Dubai Recentemente, o Centro Financeiro Internacional do Dubai (DIFC)  entrou no espaço de ativos digitais com um novo quadro regulatório. No entanto, como órgão altamente respeitado no mundo TradFi, o DIFC possui competências distintas e não se confunde com a VARA. Enquanto o DIFC é uma zona franca financeira para empresas localizadas no seu território, a VARA é destinada aos participantes do continente, bem como às demais zonas francas do Emirado de Dubai, oferecendo assim aos fundadores e investidores a opção de escolha. A atuação e o quadro regulatório do DIFIC e da VARA são, portanto, complementares e não competitivos. Dessa forma, uma empresa cujo negócio tenha natureza de TradFi pode optar por obter uma licença fornecida pelo DIFC, enquanto outra, que exerce atividades relacionadas a DeFi, pode buscar uma licença da VARA, se assim desejar. Pensamentos finais A mudança de perspectiva adotada por Dubai - se posicionando como facilitador de mercado através da construção de um ecossistema abrangendo Web3, o metaverso, blockchain e IA, com ativos virtuais servindo como estrutura de conexão  - não deve ser encarada levianamente. A agilidade e a inovação demonstradas pelo governo na navegação no domínio dos ativos virtuais são de fato louváveis ??e estabeleceram uma referência que ainda não foi alcançada a nível mundial. Neste contexto, tornar-se o primeiro regulador do mundo dedicado exclusivamente a criptoativos10 - para a "ouvir" a indústria e a tentar garantir que qualquer estrutura lançada seja preparada para o futuro - é um grande passo na construção da digitalização do país e na garantia de uma disrupção contínua. __________ 1 Disponível aqui. 2 Disponível aqui. 3 Idem Nota 1. 4 Disponível aqui. 5 Não é a toa que Deepa Raja Carbon foi a escolhida para o cargo de diretora administrativa e vice-presidente da Autoridade Reguladora de Ativos Virtuais (VARA). Com quase 20 anos de experiência na condução de programas de crescimento transformacional, Deepa atuou como consultora de estratégia na consultoria norte-americana Booz and Company, abrangendo clientes multissetoriais nas Américas, Europa e Ásia, além de realizar trabalhos especiais para o Banco Mundial e o PNUD no Quênia e na África do Sul. 6 Idem Nota 6. 7 Disponível aqui. 8 Disponível aqui. 9 Idem Nota 8. 10 Disponível aqui.
Panorama geral A agência de notícias estatal russa noticiou1 no dia 6/8 que a câmara baixa da Assembleia Federal da Rússia, conhecida como Duma Estatal, aprovou dois projetos de lei relacionados à bitcoin e moedas digitais. A nova legislação russa traz regras para a indústria de mineração de bitcoin e mira desdolarização, ao autorizar empresas selecionadas a realizar liquidações internacionais e negociações de câmbio em moeda digital. A primeira lei legaliza a mineração de bitcoin a partir de 1º/11/24.  Já a segunda, permite que o banco central autorize empresas selecionadas a realizar "liquidações transfronteiriças e negociações de câmbio em moeda digital no âmbito de regimes jurídicos experimentais (EPR) a partir de 1º/9/24".2 A nova regulação introduz3 vários conceitos-chave, incluindo mineração de criptomoedas, pools e operadores de infraestrutura de mineração.4 A nova lei russa para a indústria da mineração A primeira lei aprovada pela câmara baixa da Assembleia Federal da Rússia - conhecida como Duma Estatal - legaliza totalmente a mineração de criptomoeda no país a partir de 1º/11/24.  As atividades de mineração agora são reconhecidas pela Rússia como parte do faturamento, em vez da emissão de moeda digital. A nova legislação também específica que apenas entidades legais russas e empreendedores individuais registrados no governo poderão se envolver na atividade de mineração.  Pessoas jurídicas e empreendedores individuais registrados no Ministério do Desenvolvimento Digital também podem exercer a atividade de mineração. E os que não possuírem referido registro, poderão minerar, desde que seu consumo de energia permaneça dentro dos limites definidos pelo governo. Note que esses limites são específicos para cada região e estão sujeitos ao tamanho das operações. Essa regulação veio após o governo russo se apropriar de várias fazendas de mineração gerenciadas por empresas privadas no país.5 Aqui, vale destacar que esse "ingresso" da Rússia na indústria de mineração de bitcoin vem de encontro a recente declaração6 de Donald Trump sobre o assunto. Trump postou7: "A mineração de Bitcoin pode ser nossa última linha de defesa contra uma CBDC". (...) "Queremos que todo o Bitcoin remanescente seja FEITO NOS EUA!!! Isso nos ajudará a ser a ENERGIA DOMINANTE!!!". No tocante à fiscalização da atividade de mineração, será competência de diferentes instituições, com o Banco Central russo exercendo poderes predominantes. Com relação aos requisitos legais exigidos dos operadores de infraestrutura de mineração, o gabinete de ministros estabelecerá de forma independente seu escopo. Demais requisitos - como os exigidos dos participantes de pools de mineração -, serão estabelecidos conjuntamente pelo governo e pelo Banco Central da Rússia. Além disso, mineradores precisarão prestar informações ao órgão autorizado pelo governo sobre a moeda digital obtida como resultado da mineração. Outrossim, para garantir a estabilidade da política monetária, órgão autorizado e o banco central russo poderão impor proibição ou restrição ao mercado de criptomoedas. Ainda, fica vedada oferta publica [a um número ilimitado de pessoas], assim como anúncios e propaganda de criptomoedas. O regime jurídico experimental russo para pagamentos internacionais com moedas digitais A segunda lei aprovada pela Duma Estatal é um EPR - regime jurídico experimental, que dá ao Banco Central da Rússia poderes para permitir que empresas autorizadas realizem atividades de comércio exterior, liquidações internacionais e negociações de câmbio com criptomoedas e moedas digitais estrangeiras em plataformas DLT8 da Rússia. Além disso, o programa EPR deve definir os direitos e obrigações dos participantes em tais liquidações, bem como das autoridades e agentes de controle de moeda. Ainda, atribui ao banco central russo as funções de um órgão autorizado e regulador para esse novo EPR, bem como define os casos em que o programa de EPR aprovado pelo BACEN está sujeito à coordenação do Serviço Federal de Segurança e o Ministério das Finanças da Federação Russa. Dentro da estrutura do EPR, o banco central da Rússia terá a oportunidade de criar uma plataforma eletrônica para transações em moedas digitais com base no NPS - Sistema Nacional de Pagamentos, para determinar as regras de sua operação, bem como os requisitos para as atividades de seu operador. Segundo relatório9 da Ria Novosti, o Banco da Rússia poderá realizar não apenas um, mas três experimentos a partir de 1º/9 deste ano: Sobre o uso de moedas digitais para liquidações no comércio exterior, sobre a realização de negociações de câmbio em moeda digital e sobre a criação de uma plataforma eletrônica para transações em moeda digital com base no NPS. Empresas, corretoras e entidades precisarão solicitar ao banco central para se tornarem parte deste regime jurídico experimental, similar ao que já acontece com o DREX. Qual é a justificativa oficial do governo russo para a adoção deste regime? Por diversas vezes, Vladimir Putin mostrou interesse no uso das moedas digitais como ferramenta para o desenvolvimento econômico da Rússia, enfatizando a necessidade de regulamentação e infraestrutura adequadas. Contudo, o cenário geopolítico nos mostra que as reais intenções para Putin ao criar um regime experimental de pagamentos internacionais vão muito além disso. Desdolarização como um tema crescente e uma possível bifurcação do sistema monetário global O BRICS é um grupo cada vez maior de economias emergentes que busca cada vez mais diminuir a dependência do dólar americano para o comércio internacional. O grupo, inicialmente formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, agora é composto por mais seis membros: Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Argentina, Egito, Irã e Etiópia. Nessa linha, o bloco apresentou a ideia de uma "moeda digital" alternativa ao dólar pela primeira vez, na 11ª Cúpula anual do BRICS em 2019. Recentemente, o foco no desenvolvimento de uma moeda unificada para o BRICs - que aparentemente parecia esquecido -, voltou a receber destaque. E isto se deu principalmente depois que os EUA, União Europeia, Canadá e Reino Unido, entre outros concordaram em expulsar10 a Rússia do sistema Swift em resposta à invasão da Ucrânia, e aplicaram sanções econômicas, que podemos resumir em: 1) Proibições específicas aos maiores bancos da Rússia, seu banco central, empresas estatais e fundos de investimento; 2) Exclusão dos principais bancos russos da Swift. Sanções direcionadas contra funcionários sênior russos, oligarcas e membros de suas famílias: 3) Controles de exportação; 4) Restrições ao comércio e ao investimento em certas regiões da Rússia; 5) Exigência de bloqueio de fundos associados à evasão de sanções russas (inclusive via criptos). Ora, sem um fim claro à vista, a invasão da Ucrânia pela Rússia acabou acelerando uma ampla reorientação econômica global. Enquanto a Europa está se afastando de sua dependência do petróleo e do gás russos, a Rússia está buscando principalmente nações não alinhadas ao Ocidente para obter mercados comerciais em um futuro próximo. Não à toa, em 2023, o vice-presidente da Duma, Alexander Babakov, fez comentários no evento do Fórum Econômico Internacional de São Petersburgo em Nova Délhi, Índia, afirmando11 que a moeda poderia beneficiar a China e outros membros do BRICS, e não o Ocidente. Segundo ele: "Sua composição deve ser baseada na introdução de novos laços monetários estabelecidos em uma estratégia que não defenda o dólar ou o euro dos EUA, mas que forme uma nova moeda competente para beneficiar nossos objetivos comuns."12 Também em 2023, o ex-economista-chefe do Goldman Sachs, Jim O'Neill, já havia desafiado13 o bloco dos BRICS a se expandir e desafiar o domínio do dólar. Em um artigo publicado na revista Global Policy, ele escreveu que "o dólar americano desempenha um papel dominante demais nas finanças globais". Por óbvio, cada vez mais países não estão confortáveis com a dominância de um sistema de pagamento baseado em dólares. Isto porque, enquanto os EUA dominarem os pagamentos, eles serão capazes de aplicar sanções financeiras a um custo muito baixo, enquanto todos os países precisam dar um salto.14 Pois bem, pouco depois das declarações de Babakov, o Banco Central e o governo russo anunciaram planos para criar entidades especiais para usar ativos digitais como um método de liquidação internacional. Tal proposta, no entanto, precisa enfrentar obstáculos significativos antes de se tornar realidade, incluindo divergências entre os principais estados-membros sobre como uma moeda unificada funcionaria. Além disso, há dúvidas de que uma moeda unificada do BRICS lastreada em ouro possa destronar o dólar americano. Sobre o assunto, vale citar a macroeconomista Lyn Alden, que possui uma posição moderada15 em relação ao movimento BRICs e a criação de uma moeda única. Segundo Alden: "Estamos vendo um mundo mais multipolar, estamos vendo a unificação de grupos que se opõem a entidades como a OTAN e o G7. Vendo esses grandes blocos surgirem e acho que será uma tendência de longo prazo, acrescentando grandes produtores de petróleo. E isso certamente aumenta o poder geral dos BRICs. Portanto, isso reforça sua importância geopolítica geral".16 Para Alden, no entanto, os apelos de uma moeda compartilhada são exagerados, assim como o euro. Um problema que se vê com vários países tentando ter uma moeda compartilhada, especialmente se for um tipo de moeda centralizada17, é que todos eles têm economias muito diferentes e mercados de capital muito diferentes. Portanto, quando os países detêm reservas cambiais, eles não detêm realmente a moeda. Eles possuem um título ou algo do gênero denominado nessa moeda, até mesmo ações. E a profundidade dos mercados de capitais desses países do BRIC não é muito grande em comparação com os EUA ou partes da Europa, como a Alemanha. Esse é o problema de criar uma moeda atraente de um tipo de bloco monetário que as pessoas queiram realmente usar. Portanto, em vez disso, o que veremos é cada vez mais acordos bilaterais de moeda ou acordos multilaterais de moeda em que se decide, por exemplo, que este país venderá petróleo à China em 'yuan digital'. E isso é diferente desse tipo mais amplo de moeda compartilhada.18 Neste contexto, a real causa por trás da adoção do regime jurídico experimental de liquidações internacionais em moeda digital chama-se "desdolarização". _________ 1 Disponível aqui. 2 Idem Nota 1 3 Disponível aqui. 4 Disponível aqui. 5 Disponível aqui. 6 Disponível aqui. 7 Disponível aqui. 8 Disponível aqui. 9 Idem Nota 1 10 Disponível aqui. 11 Disponível aqui. 12 Idem Nota 11 13 Disponível aqui. 14 Disponível aqui. 15 Disponível aqui. 16 Idem Nota 15 17 Disponível aqui. 18 Idem Nota 15
O Colapso FTX reacendeu discussão antiga sobre exigências legais aos VASPs O mercado cripto foi sacudido em 2022 pelo colapso meteórico do grupo FTX. Quem acompanha o mercado de criptoativos já há algum tempo, dificilmente viu uma crise de tamanha magnitude na última década. Mas, com certeza, a falência da Mt. Gox1 deve vir à memória.  Vejamos as principais razões, fatos e consequências que levaram à falência do grupo, depois de um crescimento recorde de R$ 32 bilhões em 3 anos, a seguir. O FTX Group era composto pelo FTX US, Alameda Research e mais 250 outras empresas.2 Após relatos de que o braço financeiro do grupo FTX -  o Alameda Research - detinha3 em seu balanço uma parte substancial do FTT - o token da corretora FTX -, os clientes da corretora começaram a sacar centenas de milhões de dólares. No dia 5 de novembro de 2022, dados on chain4 mostraram que a Binance, a maior exchange de criptomoedas do mundo, movimentou US$584 milhões em FTT, como parte de seus planos de liquidar suas participações. Conquanto no dia seguinte, o CEO do grupo tenha afirmado5 que tudo estava bem, a FTX seguiu tentando adquirir US$9,4 bilhões6 em um fundo de resgate [para fazer frente à crise de liquidez provocada pela onde saques de seus clientes], quando foi surpreendida por decisão do regulador das Bahamas que congelou7 seus ativos  - evento que impactou fortemente os preços dos criptoativos em geral e pressionou as empresas envolvidas em operações com a corretora FTX e a Alameda Research. No dia 11/11, após o $BTC atingir seu nível mais baixo em dois anos [US$ 15.660], e o token FTT perder8 90% de seu valor, sendo negociado a US$2,34, Bankman-Fried deixou o cargo de CEO, o grupo FTX publicou9 no twitter seu pedido de falência, deixando seus clientes sem saber se poderiam recuperar seus investimentos. Pois bem, dentre as principais razões que levaram à falência do grupo FTX, podemos citar: 1- Ignorar os riscos de contágio e não ser transparente Eventos como o colapso da Terra LUNA, o experimento da stablecoin algorítmica, foram tão grandes que levaram uma série de grandes empresas à falência, como Celsius, Voyager, BlockFi, dentre outros.  A FTX adquiriu todos esses negócios e continuou acumulando déficit. 2 - O token nativo de qualquer empresa ou projeto cripto nunca deve ser usado como garantia Os preços desses ativos geralmente são muito voláteis para servir como garantia sólida. E na maioria das vezes, esses ativos devem ser considerados no balanço patrimonial com um valor máximo de um dólar.  E digo isto porque a Alameda Research, o braço de investimento da FTX, colocou seus tokens nativos com valor de quase US$3 bilhões10 no seu balanço patrimonial??!! 3 - Fundos dos clientes nunca devem ser usados para financiar investimentos ou operações  E isto não é apenas péssima diligência, mas fraude. A prática e a supervisão bancária evoluíram ao longo de centenas de anos para evitar eventos como este.  Segundo a Reuters, a FTX transferiu11 pelo menos US$4 bilhões para a Alameda Research, incluindo alguns depósitos de clientes, para sustentar seu braço de investimento após uma série de prejuízos. Não à toda, a conduta fraudulenta da FTX reaqueceu discussão antiga sobre a necessidade de exigências legais aos VASPs - empresas que desejam operar como custodiante e corretora de criptoativos. A urgência de requisitos unificados para players do mercado cripto Existem muitas corretoras não regulamentadas, ou operando em certas ilhas ou países com pouca ou nenhuma regulamentação. Mais do que isso, a maioria dos países ainda não possui regulamentação e requisitos unificados para os players do mercado cripto. Por que isso é importante? Vamos tomar como exemplo o Blockchain Act Law12 (TVTG), que é atualmente vista por muitos como uma das estruturas regulatórias mais abrangentes para o mercado cripto, assim como a MiCA na Europa. Dentre os requisitos impostos pelo Blockchain Act Law, às empresas que desejam operar como custodiante e corretora de criptoativos, existe a exigência de que os ativos do cliente sejam mantidos em contas segregadas (separadas) e nunca sejam usados ??para fins operacionais.  No mesmo sentido, é o recém aprovado acordo sobre a supervisão do MiCA - Mercado de Criptoativos na União Europeia, que determina a segregação dos ativos digitais dos clientes pelos provedores de serviços de criptoativos, a fim de que os criptoativos não serão afetados em caso de insolvência de uma corretora.  Todavia, a regulamentação e os requisitos não são os mesmos em todos os países e o que é obrigatório em alguns lugares, pode não ser em outras jurisdições para empresas que operam lá. E isto é um grande problema. Principalmente se levarmos em conta a demanda crescente do lado dos players financeiros tradicionais para se envolverem com players cripto legítimos.  Atualmente, a obtenção de todos os registros e autorizações necessários para uma empresa operar como exchange, custodiante e gestor de criptoativos, nas diversas jurisdições é trabalho hercúleo, para não dizer insano. Esclarecido isto, vamos voltar ao tema central deste artigo. Por quê Taiwan - que até agora vinha adotando uma abordagem bastante passiva e laissez-faire para o setor cripto, regulando-o apenas sob as leis existentes de KYC e AML - decidiu mudar sua postura passiva, e anunciar um projeto de lei13 específico para regular os players do setor cripto? Porque a exchange FTX era muito popular entre os taiwaneses14, em razão das taxas de juros favoráveis ??em dólares americanos, em comparação com os bancos locais. Os primeiros passos de Taiwan em direção à um novo padrão regulatório O primeiro projeto de lei de Taiwan com foca em criptoativos busca definir ativos virtuais, estabelecer padrões operacionais para operadores de ativos, garantir a proteção dos clientes e exigir a filiação em associações do setor e permissões regulatórias. Ao contrário das regras de criptomoedas na vizinha Hong Kong15, o projeto de lei não assume uma posição forte sobre derivativos ou stablecoins. No entanto, ele reconhece que derivativos vinculados a criptoativos têm características únicas (contratos perpétuos são mencionados especificamente) que podem não se alinhar totalmente com as regulamentações financeiras tradicionais, abrindo a porta para regulamentações específicas de derivativos de criptomoedas em um rascunho posterior. Também, o projeto de lei de Taiwan não restringe a negociação de criptoativos a investidores profissionais como em Hong Kong. E, ao contrário do Japão - que exige especificamente o uso de custodiantes para exchanges licenciadas localmente  -, o projeto de lei taiwanês não demanda explicitamente o uso de custodiantes terceirizados, exigindo apenas a segregação patrimonial - separação de ativos dos clientes dos fundos dos VASPs, empresas prestadores de serviços com criptoativos. Além disso, PL taiwanês exige que os operadores de exchanges encomendem relatórios periódicos de contadores sobre suas operações e os ativos que administram, bem como permitam que reguladores como a FSC - Comissão de Supervisão Financeira inspecionem regularmente seus sistemas de controle interno e auditoria. Embora este rascunho do PL não mencione a "prova de reservas" especificamente, ele diz que o regulador definirá padrões para índices de ativos após consultar o setor e espera que as bolsas licenciadas os cumpram. As partes interessadas da indústria de criptomoedas de Taiwan se disseram favoráveis à supervisão regulatória formal introduzida pelo novo PL. Dentre as inovações previstas no novo projeto de lei cripto de Taiwan, está a criação de uma associação para o setor. Taiwan Virtual Asset Service Provider Association A Associação de Provedores de Serviços de Ativos Virtuais de Taiwan é um órgão de defesa de criptomoedas criado em Taiwan. Seu principal objetivo é atuar como uma ponte entre o setor privado e o governo na supervisão da indústria. Os primeiros pilares de construção da associação da indústria foram colocados em prática por nove membros no ano passado, com a aprovação do governo em 2024, preparando o cenário para a primeira reunião formal.16 Um total de 24 empresas cripto - que se registraram na Comissão de Supervisão Financeira para conformidade com o combate à lavagem de dinheiro - juntaram-se à Associação. A associação será presidida por Titan Cheng, fundador e CEO da BitoPro, uma das principais exchanges de Taiwan. A criação da associação do setor de criptoativos é uma etapa crucial para que Taiwan aprimore sua supervisão das plataformas de negociação cripto, com o governo determinando que a associação apresente regras de autossupervisão. A associação disse17 que a principal etapa após sua criação é formular as diretrizes de autorregulamentação, com o objetivo de implementar adequadamente a classificação e o gerenciamento de classificação dos VASPs - Virtual Asset Service Providers18, bem como atender aos interesses e ao desenvolvimento do setor e, ao mesmo tempo, atender às expectativas do governo, além de proteger os direitos do consumidor. Os VASPS e as leis de AML Atualmente, Taiwan exige que os prestadores de serviços de criptomoedas cumpram as leis de AML, dado que o FSC - Financial Supervisory Commission introduziu19 regras contra a lavagem de dinheiro em julho de 2021. Seguindo essa linha, em maio de 2024, o Ministério da Justiça propôs20 emendas às leis de AML existentes para exigir que empresas cripto nacionais e estrangeiras se registrem e estejam em conformidade com as leis de AML vigentes no país. Dessa forma, as plataformas cripto no exterior precisariam estabelecer entidades locais e solicitar o registro de AML, ou poderão enfrentar penalidades criminais - como prisão de até dois anos -, de acordo com o plano preliminar. As emendas propostas foram enviadas ao Parlamento nacional de Taiwan para análise. Pensamentos finais Muitos países, assim como Taiwan, decidiram mudar sua postura passiva quanto ao mercado de criptoativos após o colapso da FTX, enrijecendo as regras para os players que desejam atuar no setor. Em qualquer mercado, são as pessoas que tomam as decisões - não empresas, organizações ou marcas. A FTX, como marca, era fantástica. No início, além de fluxos de receita sólidos, ela tinha um produto que seus clientes adoravam. Se ela continuasse a fazer o que estava fazendo com diligência, continuaria na dianteira do mercado.   Contudo, em algum momento, alguém da FTX tomou a decisão de emprestar os depósitos dos clientes, deixando de lado a liquidez - o erro que qualquer mercado que se prese deve evitar, como a queda generalizada das bolsas de valores em todo o mundo também nos mostrou. Da mesma forma, o bitcoin e criptomoedas em geral nunca devem ser alavancados, pelo simples fato de que não podem ser alavancados com segurança. E qualquer um que pense o oposto, como bem nos ensina21 a brilhante Caitlin Long, ex advogada em Wall Street e CEO do Custodia Bank, aprenderá uma lição muito difícil:  "A falta de liquidez é a mesma coisa que insolvência". Por fim, é bom lembrar que o calcanhar de Aquiles - maior fraqueza - da indústria cripto está em precisar provar, constantemente, que seus players a levarão adiante, e que vale a pena investir nela. Note que nenhuma outra indústria ou mercado precisa provar isto.  Por isso, se o ecossistema cripto não tiver mais construtores que extratores de valor, ele falhará. Se não houver mais "gente que faz" do que "atores" desonestos, ele falhará. E apesar do colapso da FTX ter representado um sério risco nesse sentido, ao menos serviu de alerta para que tanto players do setor como criadores de políticas cripto adotem iniciativas de modo a proteger clientes e preservar a saúde do ecossistema como um todo. 1 Disponível aqui. 2 Disponível aqui. 3 Disponível aqui. 4 Disponível aqui.  5 Disponível aqui.  6 Disponível aqui. 7 Disponível aqui. 8 Disponível aqui. 9 Disponível aqui. 10 Disponível aqui. 11 Disponível aqui. 12 Disponível aqui. 13 Disponível aqui. 14 Disponível aqui. 15 Disponível aqui. 16 Disponível aqui. 17 Disponível aqui. 18 Provedores de serviços de Ativos Virtuais 19 Disponível aqui. 20 Disponível aqui.  21 Disponível aqui.
A regulamentação final da Declaração de Impostos sobre criptos nos EUA Adotando muitas das diretrizes do GAFI1, the IRS - Internal Revenue Service2, órgão que administra e aplica a legislação tributária federal dos EUA, publicou nova regulamentação sobre a Declaração de Impostos sobre criptos nos EUA, que incorporaram muitos comentários e recomendações enviados por líderes do setor e levantaram questões sobre o que vem a seguir. A isenção e a orientação de transição suplementar foram emitidas na forma do Aviso 2024-563, do Aviso 2024-574 e do Procedimento de Receita 2024-285. O que são essas novas regras da Receita Federal americana? As criptomoedas não são um tópico tributário novo nos EUA, os detentores de ativos digitais sempre estiveram sujeitos a impostos6 sobre a venda ou troca de ativos digitais. De acordo com o IRS, "ativos digitais são quaisquer representações digitais de valor que são registradas em um livro-razão distribuído criptograficamente seguro ou qualquer tecnologia similar". Isso inclui tokens não fungíveis (NFTs) e moedas virtuais, como criptomoedas e stablecoins.  No entanto, interpretações conflitantes sobre perdas e redações diferentes no formulário 1.040 geravam dúvidas entre os contribuintes. Por isso, as novas regras introduzidas pela Receita Federal dos EUA esclarecem quais informações devem declaradas, estabelecem requisitos a serem observados pelas corretoras de criptoativos ao emitirem relatórios reportando atividades de seus clientes - semelhantes aos relatórios que já se aplicam aos serviços financeiros tradicionais. Essas novas regras visam orientar como os contribuintes que detem criptos devem apresentar suas declarações fiscais e pagar impostos. O Formulário1.099-DA O ponto crucial da nova regulamentação é o novo formulário fiscal: o '1.099-DA, Digital Asset Proceeds From Broker Transactions' [Receitas de ativos digitais provenientes de transações com corretoras]. No início deste ano, o IRS já havia divulgado um rascunho do Formulário 1.099-DA, disponível no site do IRS. O formulário pode não é uma novidade aqueles que compram e vendem ativos digitais em corretoras centralizadas. Afinal, tais contribuintes já ter preenchiam o Formulário 1.099-B para vendas e trocas de ativos. Agora, eles simplesmente passarão a preencher o Formulário 1.099-DA em vez do Formulário 1.099-B. Logo, a emissão do Formulário 1.099-DA não altera a capacidade de tributação de uma transação - é simplesmente um mecanismo de relatório. O fator determinante do novo formulário 1.099-DA é a conformidade. Quando as informações de renda são informadas por terceiros, - a conformidade fiscal ultrapassa 90%. Entretanto, quando não há informações de renda de terceiros - autodeclaração - a conformidade fiscal é de apenas 55%. A exigência de relatórios emitidos por terceiros [corretoras] para transações de ativos digitais deve aumentar a conformidade. O benefício secundário do Formulário 1.099-DA Um benefício secundário do Formulário 1.099-DA: Relatório de base. Para alguns contribuintes, as transações de compra e venda em diferentes plataformas e em várias carteiras digitais [wallets] podem dificultar o cálculo dos ganhos tributáveis. E isto é verdade mesmo quando os contribuintes querem estar em conformidade com os impostos. Aqui, uma curiosidade. Nos anos fiscais de 2019 a 2022, o número de contribuintes nos EUA que declararam possuir ativos digitais no Formulário 1.040 totalizou 12,6 milhões.7 Isso representou um aumento de 649% em relação aos anos fiscais de 2019 a 2021. Esse número diminuiu ligeiramente em 2022, mas ainda representou um aumento de 202% em relação ao ano fiscal de 2019. Tributação de transações com criptoativos Aqui é que o relatório da base é importante.  O IRS considera criptomoedas um ativo de capital. Em 2014, a agência emitiu orientações8 deixando claro que as regras de ganhos de capital9 se aplicam a quaisquer ganhos ou perdas. Se você comprar e vender criptomoedas como um investimento, calculará os ganhos e perdas da mesma forma que compra e vende ações. Se você tratar a criptomoeda como dinheiro - gastando-a diretamente em bens ou serviços ou usando-a para comprar outros ativos digitais - as transações individuais poderão resultar em ganho ou perda. Para fins fiscais, você calcula seus ganhos ou perdas de capital determinando o quanto sua base - normalmente, o custo que você paga pelos ativos - aumentou ou diminuiu desde a aquisição do ativo até a ocorrência de um evento tributável. Um evento tributável pode incluir uma venda, doação ou outra disposição. Ora, se você não sabe quanto é sua base, é impossível calcular corretamente seu imposto. A manutenção de um ativo por mais de um ano antes de um evento tributável é considerada um ganho ou perda de longo prazo. E se você mantiver um ativo por um ano ou menos antes de um evento tributável, ele é considerado um ganho ou perda de curto prazo. Conquanto criptomoedas sejam voláteis [seu preço tem altos e baixos com frequência], você se preocupa mais com o início e o fim - o que acontece no meio não conta. Isso ocorre porque quando o preço de uma criptomoeda cai para fins fiscais, isso não equivale a uma perda realizada. Da mesma forma, quando seu preço volta a subir, isso não equivale a um ganho realizado. Ou seja, para realizar um ganho ou uma perda de capital para fins fiscais, você deve fazer algo com a moeda, vender um investimento em criptomoedas, ou a criptomoeda em si, com lucro. Reunir registros de criptoativos é um pesadelo para contribuintes em geral É realmente difícil reunir registros, especialmente em cripto. Não há apenas muitas transações acontecendo - há vários tipos de criptomoedas e tokens. De acordo com o TIGTA - The Treasury Inspector General for Tax Administration, o número de tipos de ativos virtuais cresceu significativamente desde abril de 2020, passando de 5.000 para mais de 26.000 em julho de 2023.10 Ora, tal equivale a um aumento de 420%. Historicamente, a maioria dos contribuintes buscavam atender às exigências legais, mas não possuíam os meios certos disponíveis para tanto. Por isso,  muitos contribuintes americanos questionavam a Receita Federal americana: "Como agir?" Quando os relatórios anuais das corretoras se tornarão obrigatórios? As novas regras do IRS entram em vigor para transações após 1º/1/25, para relatórios de receita bruta. Isto é, nesta data as corretoras de criptoativos passarão a ser obrigadas a cobrir os rendimentos brutos das vendas por meio do Formulário 1.099-DA. Para relatórios de base, as regras do IRS entram em vigor após 1º/1/26. Ou seja, em 2027, as corretores deverão incluir a base de custo, ou preço de compra, para determinadas vendas de ativos digitais em 2026. Porque a definição do que é corretora preocupa investidores? Algumas preocupações permanecem com relação à definição de corretoras. Essa nova regulamentação publicada pelo IRS não aliviam as dúvidas dos contribuintes. Certamente, haverá problemas de reconciliação. Isto porque, existem muitas nuances nos regulamentos do IRS como, por exemplo, dificuldades para determinar quais e quando os ativos foram adquiridos e a que custo. E isso pode ser especialmente complicado quando os ativos são rastreados em plataformas de DEX [corretoras descentralizadas e provedores de carteiras não hospedadas], pois estão atualmente fora do escopo para fins de relatório até que o IRS libere mais orientações. Compliance Alguns contribuintes confiam no software agregador de impostos de criptomoedas para preencher o Formulário 8.949 (preenchido com o Schedule D para relatar ganhos de capital). Mas o software é tão bom quanto as informações que recebe. Pode ser necessário um enorme esforço inicial em termos de tempo. Da mesma forma que um software de orçamento, as informações podem não ser precisas se você não estiver disposto a dedicar tempo suficiente para treiná-las. Ademais, pode ser que os contribuintes também não saibam como categorizar as transações com criptoativos. Por exemplo, o que é um "staking reward"? Renda? Ou o retorno de capital? (Alerta de spoiler: O IRS classifica 'staking rewards' como renda). Aqui, vale abrir um parenteses para conceituar 'staking rewards'. Detentores de criptomoedas podem gerar renda extra com 'staking rewards', quando depositam suas criptomoedas em uma rede blockchain que utiliza mecanismo de consenso11 PoS - Proof of Stake12 ou delegam suas criptomoedas a um 'pool de staking'. Ao fazer 'staking', os detentores de criptomoedas são recompensados apenas por manter suas criptomoedas em uma rede blockchain que utiliza PoS como mecanismo de consenso. Pois bem, voltando ao tema do artigo de hoje, seria interessante o contribuinte americano se antecipar a algumas dessas dificuldades buscando aconselhamento fiscal de consultores tributários experientes e confiáveis. Um profissional do Direito não somente com experiência em tributário, mas também já com um bom tempo de atuação com criptoativos - que é um assunto complexo que exige muito "aprendizado prático". Considerações finais A nova regulamentação emitida pelo IRS não incluem exigências de relatórios para DExs. Por isso, é preciso ficar atento a orientações adicionais do IRS, que poderão ser emitidas ainda este ano. Também, é aconselhável prestar atenção aos IRS Revenue Procedure [declarações oficiais sobre procedimentos legais que afetam os direitos ou deveres dos contribuintes]. ____________ 1 GAFI e os desafios à regulação de criptoativos; Revoredo, Tatiana [2023]. In: Coluna Criptogalhas. Disponível aqui. 2 Disponível aqui. 3 Disponível aqui.  4 Disponível aqui. 5 Disponível aqui. 6 Disponível aqui. 7 Disponível aqui. 8 Disponível aqui. 9 Você obtém um ganho de capital quando vende um investimento ou um ativo com lucro. Quando você realiza um ganho de capital, o produto é considerado renda tributável. 10 Disponível aqui.  11 Disponível aqui.  12 Disponível aqui. 
Notícias das eleições nos EUA afetam o mercado cripto As notícias das eleições americanas têm afetado a volatilidade do mercado cripto, e dependendo de seu resultado, pode moldar o futuro dos ativos digitais na América e, talvez, globalmente. Segundo relatório1 publicado pela QCP Capital2, tanto o bitcoin [$BTC] como o mercado mais amplo de criptoativos experimentaram um aumento no valor após a Convenção do Partido Republicano na Pensilvânia em 13/7. Dados também mostram que o mercado total cripto subiu mais de 10% na semana seguinte à convenção republicana, e o $BTC recentemente voltou à faixa entre US $ 66.000 e US $ 68.000. A notícia da saída do presidente Joe Biden da corrida eleitoral também mexeu com o mercado. O $BTC caiu quase US$ 1.000 neste fim de semana antes de se recuperar e voltar a subir. Nesse passo, a política americana tem mostrado ser capaz de impactar, e muito, no preço do bitcoin e dos criptoativos. Também, a confirmação da participação do candidato e ex-presidente Donald Trump no Bitcoin Conference3 - maior evento de bitcoin do mundo que acontece em Nashville e vai até 27/7 - pode ser o próximo fator a desencadear grandes oscilações de preços. Espera-se que na ocasião, Trump confirme os rumores de que ele transformará os EUA em uma reserva nacional estratégica de bitcoin. Mas como isto impacta as políticas sobre criptoativos? Para responder a esta pergunta, é preciso olhar o que vem acontecendo em solo americano já há algum tempo. Projeções do mercado e a mudança nos círculos políticos Com os fundos continuando a fluir para os ETFs de bitcoin4 - totalizando US$ 17 bilhões de dólares -, a aprovação do ETF de ether5 em maio e a adoção institucional contínua6, negócios baseados em criptoativos parecem destinados a continuar melhorando ao longo de 2024. Contudo, além do sentimento positivo e das tendências impulsionadas pelas boas notícias do mercado, houve uma mudança também no âmbido político. Como vimos ao longo desta coluna no primeiro semestre, a atuação dos formuladores de políticas dos EUA tem surpreendido até os mais otimistas. De início, a Cârama dos Deputados americana aprovou um projeto de lei que visa proibir que o FED aprove uma CBDC7. Este PL agora tramita no Senado. Depois, o Congresso agiu rapidamente, de forma bipartidária, em um ano eleitoral que promete ser o mais disputado da história dos EUA, para condenar o SAB121.8 Paralelamente a isto, vários estados americanos aprovaram leis que protegem a autocustódia e a mineração de bitcoin.9 Nos últimos meses, Donald Trump tem adotado uma plataforma pró-cripto. Por fim, aprovação do Crypto FIT2110 na Câmara dos Deputados, que segue para o Senado, é o mais recente sinal de que criptos são cada vez mais uma questão política, uma questão bipartidária [que interessa tanto aos Republicanos como Democratas] e uma questão importante para eleitores, investidores e formuladores de políticas. Por que criptoativos assumiram importância política singular nos EUA? Criptoativos têm adquirido importância na sociedade americana como um todo, porque já estão mudando o sistema financeiro global, têm impulsionado a inovação e melhoram a privacidade.  Independente de qual seja o preço do $BTC, $ETH, ou de qualquer outro token específico em um determinado dia, o fato é que as transações e os instrumentos financeiros tokenizados parecem ser o caminho a seguir para investidores e instituições. De outro lado, já podemos vislumbrar mudanças em maior escala em diferentes aspectos da infraestrutura bancária e de pagamentos. E exemplos de que os pagamentos com criptomoedas vieram para ficar não faltam. Estão crescendo e estão cada vez mais acessíveis, como podemos notar em alguns exemplos envolvendo empresas renomadas do mercado tradicional: PayPal, que é apenas um processador de pagamentos e está acelerando a adoção cripto, por exemplo, emitiu uma stablecoin nativa; Tanto a Visa quanto a Mastercard retomaram seus esforços em blockchain empresarial e pagamentos com criptomoedas, depois de recuarem durante as consequências da FTX; A Stripe reintroduziu os pagamentos com stablecoin por meio de uma parceria com a Circle. Além das mudanças e melhorias que ativos e pagamentos tokenizados já estão proporcionando ao espaço financeiro global, é inegável que o desenvolvimento contínuo dos criptoativos estão impulsionando a inovação e manifestando benefícios em outras áreas econômicas. A energia renovável é um exemplo disso, embora o debate sobre alternativas aos combustíveis fósseis tenha se tornado politicamente carregado. Ao atuar como produtores/consumidores de eletricidade, os mineradores de bitcoin têm ajudado11 a mitigar os picos e déficits causados por condições climáticas extremas. Por fim, mas não menos importante, criptos melhoram a "privacidade" - tema que tem sido objeto de debates em audiências no Capitólio, em busca formas de supervisão e proteção de cidadãos desde que as plataformas de mídia social adquiriram papel essencial na forma como indivíduos e empresas interagem, aprendem e se envolvem uns com os outros. Esse foco do Congresso americano - inicialmente restrito às mídias sociais - expandiu-se para incluir praticamente todos os aspectos do comércio digital e da vida nos Estados Unidos. Some-se a isto, a resistência crescente dos americanos, bem fundamentada, de acesso total, instantâneo e permanente a todas as transações que tocam uma eventual moeda do Banco Central dos EUA.12 Eis as razões para a mudança nos círculos políticos nos EUA em relação às criptos. Esclarecido isso, vejamos como as eleições presidenciais americanas podem afetar as políticas para regular criptoativos nos EUA. A evolução da posição de Trump em relação às criptomoedas Nos últimos meses, Donald Trump tem adotado uma plataforma pró-cripto, Desde 21/5, sua campanha presidencial é a primeira campanha de um grande partido político dos EUA a aceitar doações de criptomoedas. Quatro dias depois, Trump recorreu às redes sociais para anunciar que tem "a mente muito aberta às empresas de criptomoedas e a todas as coisas relacionadas a esta indústria em expansão" e deseja promover a indústria web3 dos EUA.  Em junho, Trump criticou o ambiente regulatório hostil supervisionado pelos Democratas, alegou que agirá como um "presidente cripto" se reeleito, e se encontrou com executivos de mineração de Bitcoin.13 O compromisso de campanha pró-cripto de Trump foi formalizado na plataforma política do Partido Republicano no início deste mês, que se comprometeu a: "Defender a inovação (.), defender o direito de minerar bitcoin e garantir que cada americano tenha o direito à autocustódia de seus ativos digitais". Conquanto as medidas tenham atraído o apoio de muitos na comunidade cripto, nem todos estão convencidos da nova posição pró-cripto e pró-web3 de Trump. Afinal, ele ofereceu pouco apoio à indústria durante seu mandato anterior e chamou o bitcoin de "fraude" e a indústria cripto como um todo de um "desastre esperado para acontecer" durante uma entrevista de 2021. Na semana passada, Vitalik Buterin, alertou14 os eleitores contra serem facilmente conduzidos por políticos que alegam tendências pró-cripto. Vitalik instou os espectadores a pressionar por liberdades tecnológicas mais amplas, incluindo a privacidade da comunicação e o acesso a tecnologias de identidade digital que preservam a privacidade. Exemplos mais recentes do cortejo de Trump à indústria cripto, em busca de apoio eleitoral, estão na confirmação da participação dele no Bitcoin Coinference esta semana, e na escolha de D.J. Vance como companheiro de chapa.  Aliás, muitos eleitores ficaram eufóricos com a escolha de D.J. Vance como companheiro de chapa de Trump. E estão convencidos de que a presença de um vice presidente que é favorável ao setor cripto e tem criticado a Comissão de Valores Mobiliários dos EUA, será um divisor de águas nas políticas cripto dos EUA. Será? O poder dos Vice Presidentes para conduzir políticas cripto No ano passado, Vance, juntamente com outros legisladores republicanos, enviou uma carta ao presidente da SEC, Gary Gensler, para expor suas preocupações sobre declarações imprecisas que a agência fez em seu processo contra a startup de criptografia DEBT Box. Vance, que também faz parte do Comitê Bancário do Senado, está trabalhando em um projeto de lei para regulamentar o setor e planeja apresentar o projeto em julho. Vance planeja melhorar o FIT21 e adotar uma abordagem mais amigável para o setor. Os vice-presidentes podem ter muitas responsabilidades, mas moldar a estratégia política geralmente não é uma delas. Quinze vice-presidentes acabaram se tornando presidentes dos EUA e, antes dessas trágicas transições, muitos deles permaneceram infelizes: Sem poder, isolados e amplamente ignorados. VPs, além do nome chique, exercem pouca influência sobre as políticas públicas. E há poucos motivos para pensar que a experiência do senador de Ohio J.D. Vance, escolhido pelo ex-presidente Donald Trump para vice-presidente em um eventual segundo mandato, no cargo seria diferente. John Adams, o primeiro vice-presidente da nação americana, expressou frustração manifestada por muitos de seus sucessores: "Meu país, em sua sabedoria, criou para mim o cargo mais insignificante que a invenção do homem já inventou ou sua imaginação concebeu." Desde a ratificação da 12ª Emenda à Constituição, em 1804, que permitiu uma chapa conjunta de presidente e vice-presidente, eles quase sempre foram escolhidos por motivos políticos simbólicos - para atrair uma parte específica do eleitorado. Mas, em geral, eles têm pouca influência sobre as prioridades e escolhas políticas do presidente ao longo do mandato. Agora que vimos como uma potencial eleição dos candidatos Republicanos à presidência pode influenciar o futuro dos criptoativos nos EUA, vejamos o que a retirada repentida de Joe Biden significa para as políticas cripto em solo americano. O que a desistência de Biden significa para a regulação cripto? Após Joe Biden abandonar a corrida presidencial dos EUA e apoiar a candidatura da vice-presidente Kamala Harris no último domingo, a comunidade Web3 rapidamente fez apelos ao Partido Democrata para lançar um pivô pró-cripto. No mesmo dia, a pró-cripto Cedar Innovation Foundation ressaltou15 a repórter da Fox Business, Eleanor Terrett que a retirada de Biden apresenta uma oportunidade para os democratas apoiarem a inovação cripto e web3: "Embora o secretário Gensler e o senador Warren possam ter orientado mal a política da Casa Branca no passado, este é o momento de apresentar uma nova visão para a inovação americana que mantenha empregos de inovação na América, garanta a competitividade global em ativos digitais e anuncie uma nova era de inclusão financeira e prosperidade". Votos de detendores cripto podem decidir a eleição americana? O governo Biden pode não ter começado com uma tendência anticriptográfica, mas o colapso da FTX e as consequências das doações políticas de Sam Bankman-Fried desencadearam uma reação em cadeia de hostilidade. Uma série de audiências no Congresso16 no final de 2022 e no início de 2023 destacou os riscos dos maus operadores do mercado cripto para os consumidores, e os órgãos governamentais chefiados por nomeados por Biden, como o presidente da Comissão de Valores Mobiliários, Gary Gensler, moveram ações judiciais contra alguns dos maiores participantes do setor. Ora, todo este cenário colocou Biden a caminho de perder muito entre os "eleitores cripto" devido à sua afinidade17 com a política cripto aplicada pela Exchange Commission (SEC) e o desprezo de sua campanha pelos criptoativos e Web3. No entanto, como bem observou Jake Chervinsky, advogado especializado em cripto e membro do Conselho do DeFi Education Fund, muitos democratas votaram recentemente a favor dos interesses do setor web3, apoiando a revogação da controversa regra de contabilidade cripto da SEC, SAB 121, e a aprovação da lei FIT 21. Nesse linha, Chervinsky também afirmou18 que a renúncia de Biden apresenta ao Partido Democrata uma "grande oportunidade" de competir por votos da comunidade cripto. E Chervinsky destacou: "Pesquisas recentes em estados indecisos mostram que 1 em cada 5 eleitores registrados veem a criptografia como uma questão importante, e quase 1 em cada 2 concorda que 'não confiam em candidatos que interferem em cripto'". "Goste ou não, milhares de apoiadores de criptoativos são 'eleitores de questão única' que podem influenciar esta eleição em estados como Michigan e Pensilvânia." As políticas de criptoativos sob eventual eleição de Kamala Harris Harris é natural da capital tecnológica do país, a Califórnia. Embora tenha perseguido plataformas de mídia social por assédio sexual durante seu período como procuradora-geral, ela também cultivou19 um relacionamento próximo com executivos como Sheryl Sandberg, da Meta, o que lhe rendeu a reputação de política pró-negócios. Devido ao crescimento do bipartidarismo pró-cripto que temos visto no Capitólio, muitos do setor cripto esperam que ela leve a mesma visão para a campanha eleitoral e, possivelmente, para a Casa Branca. No entanto, apesar de Kamala Harris ter se tornado senadora pela Califórnia - e depois vice-presidente - como uma política "pró-tecnologia", até hoje ela não assumiu publicamente uma posição sobre a regulamentação cripto. Considerações finais No atual estágio das eleições americanas, considerando tudo o que vimos nos parágrafos anteriores, o impacto das eleições presidenciais americanas é incerto. Há muitas promessas, mas nenhuma garantia de que elas se concretizarão. Como sempre, em política, só o tempo é senhor da razão e, conhecimento é "poder". ___________ 1 Disponível aqui. 2 QCP Capital é uma das principais plataformas de negociação cripto do mundo, com sede em Singapura, recentemente recebeu aprovação regulatória inicial para operar também em Abu Dhabi. 3 Disponível aqui. 4 Disponível aqui. 5 Disponível aqui. 6 Disponível aqui. 7 Disponível aqui. 8 Disponível aqui. Orientação de contabilidade emitido pela equipe da SEC, que tornaria mais complicado e caro para as instituições financeiras manter criptoativos em nome dos clients, que exploramos detalhadamente nesta coluna, disponível aqui. 9 Disponível aqui.  10 Um um regime regulatório para criptoativos, que já analisamos nesta coluna, disponível aqui.  11 Disponível aqui. 12 Idem Nota 6 13 Disponível aqui. 14 Disponível aqui. 15 Disponível aqui. 16 Disponível aqui. 17 Disponível aqui. 18 Disponível aqui. 19 Disponível aqui.
Por que o Banco Central da Itália emitirá diretrizes para aplicação da MiCA? O BACEN italiano publicará diretrizes sobre como aplicar as novas regras cripto da União Europeia "nos próximos dias", disse o presidente da autoridade monetária italiana, Fabio Panetta. As diretrizes serão "destinadas a facilitar uma aplicação eficaz" do MiCA - Regulamento de Mercados de Ativos Criptográficos da UE e a "proteger os detentores" de algumas criptomoedas, segundo discurso de Panetta em 9/7 para a Associação Bancária Italiana. As categorias de tokens que podem ser usados como pagamento na UE A MiCA descreve duas categorias principais de tokens que atendem aos requisitos para serem usados em pagamentos: ARTs - Tokens de Referência de Ativos e EMTs - Tokens de Dinheiro Eletrônico. Todavia, para o presidente do Banco Central da Itálise, apenas os EMTs podem "desempenhar plenamente a função de meio de pagamento, preservando a confiança do público". Isto porque, segundo Panetta, o valor de um EMT está vinculado a uma única moeda fiduciária [como uma stablecoin lastreada em dólares dos Estados Unidos] - enquanto o valor de um ART está atrelado a um, dois ou uma "cesta" de ativos, como o token lastreado em ouro PAXG - PAX Gold. Panetta citou o Bitcoin e o Ether como exemplos do que ele chamou de "criptoativos sem lastro", que, segundo ele, "não têm valor intrínseco" e "são, de fato, semelhantes a uma aposta". Aqui, no entanto, é bom lembrar que desde 1970, moedas fiduciárias como o dólar, a libra esterlina e o euro (EUR) também não têm nenhum tipo de lastro. O que é lastro? Lastro é uma garantia que cobre totalmente um instrumento monetário. É a obrigação de manter um número equilibrado entre as notas de dinheiro emitidas e a quantidade de bens depositados. O lastro surgiu como um facilitador de transações, evitando a necessidade de carregar fisicamente moedas, ouro, prata ou qualquer bem que servisse como garantia. Pessoas e empresas passaram a depositar seus ativos em bancos, em busca de segurança ou lucratividade. Neste contexto, os bancos eram obrigados a manter um número equilibrado entre as notas emitidas e a quantidade de bens depositados. Caso contrário, não teria condições de cobrir os saques e, consequentemente, entraria em estado de falência. O dinheiro possui lastro? Até 1970, o dólar era pareado a 35 para cada 31,1 gramas de ouro, ou onça. Conforme já mencionado nos parágrafos anteriores, as moedas fiduciárias como o dólar (USD), a libra esterlina (GBP) e o euro (EUR) não têm nenhum tipo de lastro. No passado, o dólar era pareado a 35 para cada 31,1 gramas de ouro, ou onça. Quão importante é o lastro? No mercado financeiro, o lastro continua sendo um conceito importante, e continua sendo utilizado em LCI, CDI - Certificados de Depósitos Bancários e diversos outros instrumentos monetários. O contrato de petróleo negociado na bolsa de valores de Chicago é, por exemplo, totalmente baseado em barris de petróleo, e sua liquidação exige entrega física. Quando os bancos negociam empréstimos, empréstimos com garantia física, nada mais é do que um contrato lastreado. Se o tomador do empréstimo imobiliário não quitar as parcelas em tempo hábil, o próprio imóvel serve de garantia, podendo ser pego pelo banco. Isto é, qualquer contrato de empréstimo, seja ele terreno, automóvel, produção de uma indústria, tem uma garantia, uma fiança física que cobre integralmente o valor do empréstimo. Bitcoin e ether não possuem lastro? No sistema monetário mundial, a figura do lastro aparece como busca de garantia contra a inadimplência. Tal relação de equilíbrio e representatividade dos valores sempre se deu, historicamente, com base em algum metal precioso.  Bem por isso, o lastro da moeda norte-americana era o ouro até a década de 1970, quando governo de Richard Nixon revogou o padrão-ouro. Eis o porquê, segundo o Federal Reserve1, o dólar americano, o euro e o franco suíço também não tem valor intrínseco, nem lastro. Assim como nenhuma outra moeda fiduciária (emitida por governos). Neste contexto, afirmar a inexistência de lastro do bitcoin e do ether, supostamente comparando-o com as moedas fiduciárias, não faz sentido.2 Aqui, importante destacar as observações, feitas por Monica de Bolle3, sobre moeda e valor intrínseco. Bitcoin possui valor intrínseco? Antes do papel-moeda, da moeda-passivo cujo valor depende da confiança no governo que a cria e destrói, a moeda era uma mercadoria, um ativo, como as moedas de ouro que possuíam valor, não porque eram douradas e brilhantes, mas, porque eram metais preciosos. E tais moedas-mercadoria ou moedas-ativo também cumprem as mesmas funções do papel-moeda (são usadas para cotar preços, utilizadas como meio de troca, poupadas para guardar valor). Não dependem, contudo, da solidez de governo algum, pois têm valor intrínseco, algo que o papel-moeda não tem. É neste último sentido que bitcoin, hoje atacados por economistas mundo afora, não à toa é chamado de ouro digital. Bitcoin possui sim valor intrínseco. Valor intrínseco esse que está em seu sistema operacional, na estrutura do Blockchain Bitcoin, sem a qual esse ativo digital que solucionou o 'problema do gasto duplo' na Internet4 não existiria. Mas voltando ao tema central deste artigo, segundo o presidente do BACEN italiano, as criptomoedas "não possuem as características que os tornam adequados para desempenhar as três funções inerentes ao dinheiro: meio de pagamento, reserva de valor e unidade de conta". E acrescentou que "o número de investidores em criptomoedas "sem lastro" que talvez não conheçam seus riscos é baixo, mas não desprezível, e seu número "pode crescer no futuro"". O que o projeto das diretrizes italianas para aplicação da legislação cripto da UE nos mostra? O rascunho do PL das diretrizes italianas para aplicação da MiCA nos mostra5 que o governo italiano está pronto para aumentar a vigilância nos mercados de criptoativos para cumprir a MiCA. Segundo o teor do PL, a Itália planeja monitorar de perto os riscos vinculados aos criptoativos, bem como aplicar multas elevadas para aqueles que manipularem o mercado. As multas podem variar de 5.000 a 5 milhões de euros [US$ 5.400 a US$ 5,4 milhões], e serão aplicadas a quem se utilizar de informações privilegiadas  para negociar criptos, divulgar ilegalmente informações privilegiadas ou manipular o mercado. Considerações finais As diretrizes que serão publicadas, e devem respeitar a estrutura estabelecida pela regulamentação europeia no ano passado, designa o Banco Central da Itália e o órgão de vigilância do mercado Consob como as autoridades que supervisionam as atividades de criptomoedas para preservar a estabilidade financeira e garantir um "funcionamento ordenado dos mercados". ____________ 1 FEDERAL RESERVE BANK. (2018). Three Ways Bitcoin Is Like Regular Currency. Disponível aqui. Acesso em 12/07/2024. 2 Disponível aqui. 3 Economista e pesquisadora do Peterson Institute for International Economics e Professora da Sais/ Johns Hopkins University 4 Disponível aqui. 5 Disponível aqui.
"Quando a corretora de bitcoin japonesa Mt. Gox entrou em colapso em fevereiro de 2014, houve temores bem fundamentados de que isso poderia matar a primeira criptomoeda  antes que ela alcançasse cinco anos de vida".  Ascensão e queda da corretora cripto Mt. Gox A corretora japonesa Mt. Gox foi fundada em 2010 por Jed McCaleb e foi uma das maiores corretoras de bitcoin [BTC], lidando com 70% das transações globais de cripto em seu pico. Em 2011, seu fundador McCaleb vendeu a corretora cripto [exchange] para Mark Karpelès. Mais de 880.000 BTC foram perdidos ou roubados da Mt. Gox de várias formas entre março de 2011 e janeiro de 2014, um valor impressionante de US$ 45 bilhões hoje em dia. A Mt. Gox interrompeu  as transações de bitcoin em fevereiro de 2014, logo depois que o fundador da Messari, Ryan Selkis, publicou1 um documento interno2  sugerindo que ela havia perdido quase 750.000 BTC. Logo após, o CEO Mark Karpelès fez uma declaração não oficial3  por email à Reuters, afirmando que a corretora estava "em um ponto de inflexão". Depois de pedir falência em fevereiro de 2014, com responsabilidades que ultrapassavam largamente seus ativos, o caso passou para uma reabilitação civil em 2018, e Mark Karpelès foi condenado por falsificação de registos financeiros em 2019. Como os bitcoins da Mt. Gox foram extraviados? Dos 881.865 BTC que deixaram o Mt. Gox de forma não intencional, só é possível dizer com certeza como 72.409 BTC foram extraviados. 30.000 BTC foram registrados como depósitos para clientes pelo sistema da Mt. Gox quando, na verdade, estavam sendo desviados por hackers. Um erro cometido pelo CEO Mark Karpelès em outubro de 2011 fez com que 2.609 fossem enviados para um endereço inexistente. Dois bots que operavam no Mt. Gox, Markus e Willy, perderam 22.800 BTC. E some-se a isto o preço pago por Karpelès na compra da corretora polonesa Bitomat em julho de 2011. Com relação ao restante dos fundos, o modo de entrada é geralmente desconhecido ou apenas suspeito. No caso da invasão de junho de 2011, sabemos que o hacker conseguiu obter acesso ao servidor da Mt. Gox por meio de uma conta de nível de administrador. Essa conta foi inicialmente atribuída ao auditor Auden McKernan, mas depois foi revelado que era a conta de Jed McCaleb [fundador que havia vendido a Mt. Gox para Mark Karpelès], que inexplicavelmente ainda tinha privilégios de administrador. Acredita-se que o hacker tenha obtido os detalhes quando todo o banco de dados de usuários da Mt. Gox foi furtado junto com os 79.956 BTC no hack da 1Feex. Considerando que as autoridades dos EUA estavam confiantes em apontar os russos Alexey Bilyuchenko e Aleksandr Verner como parte de um grupo de ciber criminosos que invadiu a Mt. Gox em outubro de 2011, eles devem ter alguma evidência para apoiar suas afirmações, mas, a menos que ocorra um julgamento, provavelmente essas evidências jamais virão a tona. Quem são os responsáveis pelo colapso da Mt. Gox? Uma das principais questões que permanece desconhecida é se conhecemos todos os culpados. Mais de 809.000 BTC foram roubados em seis hacks durante a vida do Mt. Gox, e só sabemos4 de dois nomes ligados a um hack: Alexey Bilyuchenko e Aleksandr Verner, que são acusados de fazer parte do grupo de hackers russos que comprometeu a exchange em outubro de 2011. Ao longo de 26 meses, a dupla ajudou a roubar e lavar 647.000 bitcoins das cold carteiras da corretora. O Departamento de Justiça dos EUA acusou cidadãos russos, alegando que Bilyuchenko também era um operador da extinta bolsa de criptografia BTC-e. Além dessas acusações, confirmadas em 2017 e tornadas públicas em junho do ano passado, não temos ideia de quem roubou os 162.000 BTC restantes. 79.956 BTC permanecem vinculados a um endereço bem conhecido que começa com "1Feex", enquanto 77.500 roubados em setembro de 2011 nunca foram rastreados. Esse último hack foi tão bem-sucedido que só foi detectado em 2015. Há ainda o indivíduo que roubou 2.000 BTC em junho de 2011, o que fez com que o valor do bitcoin caísse de US$ 17,50 para US$ 0,01 na época, e o hacker que roubou mais da metade dos bitcoins mantidos pela corretora na época, quando o CEO da Mt. Gox, Mark Karpelès, deixou a wallet em uma unidade com rede não criptografada. Felizmente para Karpelès, o hacker ficou com medo e negociou uma recompensa de 1%, levando a uma perda de apenas 3.000 BTC para a corretora, em vez de 300.000 BTC. Muitos suspeitam que o hack da 1Feex foi um ensaio para a devastadora exploração cibernética de outubro de 2011 a janeiro de 2014, já que o modus operandi era o mesmo, mas isso nunca foi confirmado. Reação dos órgãos reguladores ao desaparecimento virtual da Mt. Gox Os órgãos reguladores se manifestaram rapidamente sobre o ocorrido. O presidente do Comitê de Segurança Interna e Assuntos Governamentais dos EUA na época, Tom Carper, emitiu uma declaração5 sobre o assunto, afirmando que os legisladores e reguladores dos EUA podem e devem aprender com o incidente da Mt. Gox para proteger os consumidores: "Há meses, nosso comitê vem solicitando que as autoridades policiais, o setor e os órgãos reguladores relevantes se reúnam e se envolvam em um diálogo significativo para fornecer regras claras para empresários, investidores e consumidores. Sem essas regras, as empresas não podem ser bem-sucedidas e os consumidores não podem ser protegidos. Se as notícias de hoje forem verdadeiras, trata-se de uma triste violação da confiança do consumidor, seja por ação maliciosa ou por simples incompetência. De qualquer forma, é inaceitável". Carper enfatizou que sua equipe estava trabalhando em estreita colaboração com as agências federais para determinar quais lições podem ser aprendidas com a falha e para garantir que isso não aconteça nos EUA. E acrescentou: "Nosso Comitê continuará a trabalhar em estreita colaboração com as entidades governamentais relevantes dos EUA para desviar o barco de atores nefastos - e cabe aos parceiros legítimos e cumpridores da lei do setor remar o barco para águas que cumpram a lei". Também o regulador norte-americano Ben Lawsky, Superintendente de Serviços Financeiros de Nova York na época, também emitiu uma declaração, afirmando que, embora todos os fatos ainda não estivessem claros, "esses acontecimentos ressaltam que uma regulamentação inteligente e personalizada poderia desempenhar um papel importante na proteção dos consumidores e na segurança do dinheiro que eles confiam às empresas de moeda virtual". Na época, tanto Carper quanto Lawsky claramente empurraram a bola para os líderes do setor cripto, que fizeram o possível para se afastar da Mt. Gox. O processo de reembolso dos credores da Mt. GOX O tão esperado processo de reembolso para credores da extinta Mt. Gox já começou, com reembolsos programados em Bitcoin (BTC) e Bitcoin Cash (BCH). De acordo com vários posts6 de usuários do Reddit, bitcoin [BTC] e bitcoin cash [BCH] começaram a e creditados em corretoras cripto para reembolso dos credores. O processo de reembolso ocorre após a aprovação do plano de reabilitação em novembro de 2021, apoiado pela maioria dos credores do Mt. Gox. O administrador, Nobuaki Kobayashi, anunciou que os credores elegíveis começarão a receber compensação neste mês de julho, após vários atrasos desde 2014. O saldo a ser reembolsado chega a impressionantes US$ 9 bilhões, que inclui BTC e BCH, bem como fundos adicionais mantidos pelo administrador. Segundo post7 do usuário do Reddit replicando e-mail recebido da Mt. Gox sobre o reembolso de BTC/BCH: "Em 5 de julho de 2024, o Administrador de Reabilitação fez uma transferência blockchain do valor em BTC/BCH reembolsável a você como Reembolso Base e Reembolso Global Antecipado ou Reembolso Intermediário." A transcrição acima detalha o e-mail recebido da "Mt. Gox Co., Ltd.", como Devedora de Reabilitação, enviado por Nobuaki Kobayashi, Advogado e Administrador do plano de reabilitação da corretora. Os reembolsos serão efetivados a determinados credores da reabilitação através de corretoras de criptomoedas designadas, de acordo com seu plano de reabilitação. De acordo com uma postagem no X de documento8 da Mt. Gox, os reembolsos de bitcoin e bitcoin cash aos credores se iniciou em 5 de julho de 2024. Quanto às condições para o reembolso, os credores reabilitados serão "efetuados imediatamente" após múltiplas condições terem sido satisfeitas. Estas condições incluem a confirmação da validade da conta e a aceitação pelos credores da intenção de assinar o contrato de recebimento de agência das bolsas de criptomoedas designadas.  Além de garantir que os reembolsos sejam feitos de forma segura, as discussões sobre os procedimentos de reembolso entre o administrador de reabilitação e as trocas também devem ser concluídas.                                         O impacto do reembolso dos credores no preço dos criptoativos "Mt. Gox movimentou 47.228 BTC, sinalizando o início de seu processo de reembolso, o que causou algum medo no mercado devido ao grande potencial de liquidação... Com isto, houve um aumento na pressão de venda bitcoin e na capitalização de mercado cripto mais amplo depois que a Mt. Gox anunciou no mês passado sua intenção de iniciar os pagamentos no início de julho. O Bitcoin caiu para US$ 53.600, seu nível mais baixo em cinco meses. A queda livre levou à liquidação de mais de US$ 580 milhões em apostas otimistas. O maior ativo digital do mundo permaneceu abaixo de US$ 55.000 no meio da manhã na Europa, de acordo com dados da CoinDesk. Começou a semana perto de US$ 63.000, chegou a bater US$ 53.550 no dia 05 de julho, segundo índice da corretora Bitstamp. Considerações finais Apesar do medo de liquidações em massa, é importante notar, no entanto, que, apesar dessas preocupações, o impacto a longo prazo no mercado cripto pode ser menos severo à medida que o setor absorve gradualmente a pressão de venda. Alguns clientes podem ter que esperar de 60 a 90 dias para receber seus pagamentos. Some-se a isto o fato de que tais prazos tem relação direta com número de transferências a processar, e que cada corretora possui uma política interna ligeiramente diferente para creditar os reembolsos aos credores. _______________ 1 "Atualização sobre a Mt. Gox: Este documento parece ser autêntico. Espero que seja uma farsa elaborada, mas não acredito que seja.  Aqui está o documento.  Tenho várias fontes próximas à Mt. Gox que confirmaram os números e estou tentando entrar em contato com os executivos da Gox para comentar".   2 https://www.scribd.com/doc/209050732/MtGox-Situation-Crisis-Strategy-Draft   3https://www.reuters.com/article/2014/02/25/bitcoin-mtgox-ceo-idUSL1N0LU12G20140225/ 4 https://www.justice.gov/usao-sdny/pr/russian-nationals-charged-hacking-one-cryptocurrency-exchange-and-illicitly-operating 5 https://www.hsgac.senate.gov/media/dems/chairman-carpers-statement-on-insolvency-of-major-bitcoin-exchange/ 6 https://www.reddit.com/r/mtgoxinsolvency/comments/1dvrsuf/my_exchange_has_been_credited_japan_based_creditor/ 7 https://www.reddit.com/r/mtgoxinsolvency/comments/1dvrsuf/my_exchange_has_been_credited_japan_based_creditor/ 8 https://x.com/MtGoxBalanceBot/status/1809120580572000274
sexta-feira, 5 de julho de 2024

Regulação cripto no Sudeste asiático

O Sudeste asiático como foco de inovação e adoção cripto Compreendendo países como Singapura, Tailândia, Malásia, Indonésia, Filipinas e Vietnã, o Sudeste asiático é uma região com uma população de quase 700 milhões e uma economia digital em rápido crescimento, que se tornou um foco de inovação e adoção de criptoativos nos últimos anos. De acordo com relatório da empresa de investimentos de risco White Star Capital, mais de 6001 empresas de blockchain e criptoativos estão sediadas no Sudeste asiático que em 2023 e primeiro quadrimestre de 2024 recebeu quase US$ 1 bilhão de dólares em financiamento para startups cripto, blockchain e Web3. Some-se a isto o fato de que o Sudeste asiático - junto com a Oceania -, abrigam o que pode ser o mercado de criptoativos mais dinâmico do mundo. Medido em volume bruto de transações, é o terceiro maior mercado cripto do mundo, respondendo por pouco menos de 20% da atividade global, (ficando atrás apenas da América do Norte e Europa). No entanto, o volume bruto de transações não conta a história completa. Quando levamos em conta o poder de compra e a população para medir a adoção de base, o Sudeste asiático domina. Percebemos isso quando analisamos o último relatório2 da Chainalysis, quatro dos dez principais países em termos de adoção cripto estão localizados na região: Vietnã (3), Filipinas (6), Indonésia (7), e Tailândia (10). Além disso, no último ano, DeFi3 assumiu um papel mais importante no Sudeste asiático, respondendo por cerca de 55,8% do volume de transações regionais entre 2022 e  2023, em comparação com 35,2% no período de um ano anterior. A adoção institucional na região também parece ter se intensificado, com 68,8% do volume total de transações provenientes de transferências avaliadas em US$ 1 milhão ou mais, em comparação com 57,6% no período anterior. O cenário regulatório para criptoativos na região, contudo, é bem diversificado e dinâmico, com diferentes países adotando diferentes abordagens e políticas. Enquanto Singapura lidera com um quadro regulamentar robusto e transparente, outros países, como a Indonésia e o Vietnã, enfrentam incertezas, promovendo um ambiente complexo tanto para investidores, como para a industria blockchain-cripto. Tendo isto em conta, no artigo de hoje, examinaremos o estado atual das regulamentações criptos no Sudeste asiático, os desafios e oportunidades que representam para investidores e a indústria cripto, bem como as tendências regulatórias na região. Singapura Singapura é amplamente considerada uma das jurisdições mais favoráveis às criptomoedas do mundo, com um quadro regulamentar claro e abrangente para atividades cripto. O PS Act, The Payment Services Act 20194 (lei de serviços e pagamento que entrou em vigor em  em 28/1/20), prevê o licenciamento e a regulamentação dos prestadores de serviços de pagamento e a supervisão dos sistemas de pagamento em Singapura. Esta lei exige que provedores de serviços cripto como instituições de pagamento licenciadas cumpram as regras de combate à lavagem de dinheiro (AML), financiamento do combate ao terrorismo (CTF) e proteção ao consumidor. A MAS - Autoridade Monetária de Singapura também supervisiona a oferta e negociação de criptoativos que são considerados valores mobiliários ou derivativos, de acordo com a lei de valores mobiliários e futuros. Singapura também implementou diretrizes fiscais e regimes de sandbox para empresas e investidores cripto, bem como promoveu um ecossistema cripto vibrante com o apoio de associações industriais, institutos de pesquisa e centros de inovação. Tailândia A Tailândia, assim como Singapura, adotou uma abordagem proativa e progressiva à regulamentação cripto, com o objetivo de abraçar a inovação e proteger os investidores. The Thai Securities and Exchange Commission (SEC), que é a Comissão de Valores Mobiliários da Tailândia, é o principal regulador das atividades de criptoativos no país e emitiu licenças para exchanges cripto, corretores, revendedores e gestores de fundos desde 2018. A SEC também regula a emissão e negociação de tokens digitais que são classificados como valores mobiliários ou contratos de investimento, de acordo com o decreto sobre negócios de ativos digitais. A SEC também publicou diretrizes e regras para ofertas iniciais de moedas (ICOs), ofertas de tokens de segurança (STOs), finanças descentralizadas (DeFi), tokens não fungíveis (NFTs) e stablecoins, e colaborou com outros reguladores e partes interessadas para desenvolver a indústria e o mercado de criptoativos na Tailândia. Malásia A Malásia tem um quadro regulatório semelhante ao da Tailândia, com a Securities Commission Malaysia (SC) como o principal regulador das atividades cripto no país. A SC (Comissão de Valores Mobiliários) exige que os provedores de serviços cripto obtenham licenças como operadores de mercado reconhecidos, bem como regula a oferta e negociação de tokens digitais que são considerados valores mobiliários ou contratos de investimento, segundo normas da lei de mercados de capitais e serviços. A SC também emitiu diretrizes e regras para ICOs, STOs, DeFi, NFTs e stablecoins, e estabeleceu uma área restrita regulatória para inovação em cripto. A SC trabalha em estreita colaboração com o BNM - Banco Central da Malásia para garantir a estabilidade e integridade do mercado criptográfico e do sistema financeiro. Indonésia Ao contrário dos países que vimos ate agora, a Indonésia possui um ambiente regulatório mais restritivo e incerto para criptoativos, com o governo e os reguladores enviando sinais confusos tanto para a indústria, como para os participantes do mercado blockchain-cripto. O Banco Central proibiu o uso de criptomoedas como meio de pagamento e alertou o público sobre os riscos e consequências legais do uso de criptomoedas. Contudo, para surpresa de muitos, o Banco Central da Indonésia reconheceu criptomoedas como uma commodity que pode ser negociada em bolsas de futuros, bem como autorizou a ICDX - Bolsa de Mercadorias e Derivativos da Indonésia e a JFX - Bolsa de Futuros de Jacarta a oferecer contratos futuros de criptomoedas desde 2019. O Ministério do Comércio da Indonésia, por sua vez, também publicou regulamentos para a negociação de criptoativos e exige que provedores de serviços cripto se registrem na Agência Reguladora de Negociação de Futuros de Commodities (Bappebti) e cumpram as regras de AML, CTF e proteção ao consumidor. Filipinas As Filipinas têm uma visão mais equilibrada e pragmática em relação aos criptoativos, com o governo e os reguladores reconhecendo seu potencial e desafios. O BSP, The Bangko Sentral ng Pilipinas (Banco Central das Filipinas) regulamenta os provedores de serviços cripto como empresas de remessa e transferência, e exige que eles obtenham licenças e cumpram as regras de AML, CTF e proteção ao consumidor. O BSP também publicou diretrizes para a emissão e troca de tokens digitais que são considerados títulos ou contratos de investimento de acordo com o Código de Regulamentação de Títulos. Há uma colaboração contínua entre o BSP, a Securities and Exchange Commission (SEC) e a the Cagayan Economic Zone Authority na supervisão do mercado de criptoativos, com respeito ao desenvolvemento da indústria blockchain-cripto. The Cagayan Economic Zone é uma zona econômica cujo objetivo se tornar um centro industrial, de investimento comercial, financeiro e turístico-recreativo autossustentável. Vietnã O Vietnã tem uma postura regulatória mais hostil em relação às criptomoedas, com o governo e os reguladores proibindo e desencorajando o uso e o comércio de criptomoedas. Talvez essa postura mais rígida se dê, porque o Vietnã possui uma grande parcela de atividade cripto acontecendo em trocas P2P. O Banco Estatal do Vietnã (SBV) proibiu o uso de criptomoedas como meio de pagamento desde 2017 e declarou que as criptomoedas não são uma moeda de curso legal ou reconhecida no país. Além disso, o  SBV também emitiu publicações sobre os riscos e as consequências legais do uso e do comércio de criptomoedas e instruiu as instituições financeiras e os prestadores de serviços a não se envolverem em atividades com criptoativos. Some-se a isto, o fato de que o SBV declarou que está estudando e pesquisando a possibilidade de emitir uma moeda digital do banco central (CBDC) no futuro. Aqui, importante destacar que apesar desta postura regulatória mais rígida, o Vietnã atualmente ocupa a 3ª posição na adoção cripto global, atrás apenas da Índia e EUA, liderando a adoção no Sudeste asiático. Ora, isto reforça a posição da maioria esmagadora dos países integrantes do G20 de que "não há aceitação global para uma proibição. A proibição não foi favorecida em nenhuma das mesas-redondas ou seminários sobre criptografia do G20. Na verdade, a opinião esmagadora que as nações observaram é que uma proibição seria cara e ineficaz".5 Desafios e oportunidades da regulação cripto no Sudeste asiático O cenário regulatório diversificado e dinâmico dos criptoativos no Sudeste asiático apresenta desafios e oportunidades para investidores e para a indústria cripto da região. O principal desafio, sem dúvida, é a inconsistência regulatória. Isto porque, a falta de clareza e coerência nas regulamentações de criptoativos em diferentes países e jurisdições no Sudeste asiático cria confusão e incerteza tanto para o setor quanto para investidores, além de dificultar a integração e a interoperabilidade transfronteiriça de serviços e produtos de criptoativos. Quanto às oportunidades geradas pelo status da regulação no Sudeste asiático, elas estão na arbitragem regulatória e na concorrência, bem como na colaboração e coordenação regulatória. A variação e a disparidade nas regulamentações de criptoativos nos diferentes países e jurisdições no Sudeste asiático também criam oportunidades e incentivos para que o setor e investidores busquem e explorem os ambientes regulatórios mais favoráveis e vantajosos para suas atividades com criptoativos. Da mesma forma, a complexidade e a diversidade das regulamentações cripto no Sudeste asiático também exigem e incentivam a colaboração e a coordenação entre diferentes reguladores e partes interessadas dentro e entre diferentes países e jurisdições na região. Considerações finais A navegação pelo intrincado cenário regulatório blockchain-cripto do Sudeste asiático exige uma postura proativa dos stakeholders da indústria. Com regulamentações variadas nos países do Sudeste asiático, espera-se que as discussões sobre interoperabilidade e colaboração entre fronteiras ganhem impulso. Como o crescimento e a inovação nos setores de DeFi6 e NFT7 são contínuos na região, países como a Tailândia e as Filipinas têm demonstrado interesse em regulamentar e promover esses segmentos. Vale a pena acompanhar iniciativas que promovam práticas responsáveis de DeFi e diretrizes para os mercados NFT, possivelmente indicando uma abordagem mais estruturada por parte dos órgãos reguladores. A conformidade com as regulamentações em evolução, a obtenção das licenças necessárias e o alinhamento com diversos padrões jurisdicionais são cruciais. Neste contexto, é recomendado monitorar as atualizações das exigências legais para licenciamento, padrões de conformidade e diretrizes fiscais - especialmente em países como a Indonésia e o Vietnã, que recentemente deram sinais nesta direção e, por isso, podem passar por mudanças regulatórias significativas. Esforços de colaboração entre os órgãos reguladores e as partes interessadas em todas as fronteiras podem simplificar as regulamentações e promover um ambiente mais coerente para a crescente indústria blockchain-cripto. Assim como tem acontecido em todo o mundo, é esperado um maior envolvimento de investidores institucionais e instituições financeiras tradicionais no espaço cripto da região. À medida que a clareza regulatória melhora e os mercados cripto amadurecem, as instituições podem explorar caminhos para investimento e integração de criptoativos em seus serviços e portfólios. ___________ 1 Disponível aqui.  2 Disponível aqui.  3 Disponível aqui.   4 Disponível aqui.   5 Disponível aqui.   6 Disponível aqui.   7 Disponível aqui.  
O Comitê de Supervisão Bancária da Basileia [BCBS] O the BCBS - Base Committee on Banking Supervision, Comitê de Supervisão Bancária de Basileia - foi criado pelos presidentes dos Bancos Centrais dos países do G10 para chegar a acordo sobre normas para a regulação prudente de instituições financeiras e facilitar a cooperação entre jurisdições reguladoras. As regras para exposição dos bancos à criptoativos entre os países do G10 Em 2022, o BCBS criou uma infraestrutura de regras - conhecidas como "Prudential Treatment  of Cryptoassets exposures" 1 - que se destinam a fornecer um quadro regulamentar que rege a capacidade dos bancos do G102 de manter a exposição a ativos digitais, stablecoins e ativos tokenizados. Tais regras classificam os ativos digitais em um de dois "grupos", dependendo do seu nível de risco. O primeiro grupo, denominado Grupo 1, captura ativos digitais considerados de menor risco e, portanto, os bancos que buscam exposição a esses ativos estarão sujeitos a regras menos rigorosas. Isso incluiu principalmente stablecoins e ativos tokenizados. Basicamente, qualquer token de segurança emitido em uma blockchain pública e não permissionada3 é automaticamente excluído do Grupo 1 e classificado no Grupo 2 de maior risco. As razões apresentadas para isso incluem que blockchains sem permissão podem envolver menos controle sobre a tecnologia, a precisão dos registros de transações e vulnerabilidades de segurança. Veja o que é uma blockchain pública no sítio. Após a criação dessas regras de exposição dos bancos à ativos digitais entre os países do G10, foi lançada uma consulta em dezembro de 2023, cujo resultado publicado em um relatório4 revelou forte oposição à abordagem do Comite. Aqui, importante destacar que a oposição às regras iniciais do Comitê veio de maneira mais proeminente de cinco grandes organismos da indústria: a Associação Global de Mercados Financeiros, o Instituto de Finanças Internacionais, a Associação Internacional de Swaps e Derivados, a Associação da Indústria de Futuros e o Fórum de Serviços Financeiros. Segundo o feedback das regras bancárias de exposição à criptoativos, fornecido por escrito5, os organismos consultados reconhecem que existem riscos com o uso de blockchains não permissionadas, no entanto, possuem a firme convicção de que a indústria possui todo o conhecimento necessário e estruturas de conformidade robustas para identificar, gerenciar e mitigar totalmente esses riscos. E ao final do feedback, os organismos consultados recomendam "permitir que os bancos conduzam uma avaliação do Grupo 1 para blockchains não permissionadas." Para fundamentar tal posição, os órgãos da indústria comparam blockchains não permissionadas com outros tipos de redes sem permissão, como a internet e o e-mail, apontando o seguinte: "A internet e o e-mail são redes globais únicas de informação construídas de acordo com padrões técnicos comuns, onde um grande número de diferentes aplicações e websites funcionam lado a lado em todo o mundo simultaneamente. Mas mesmo que a internet e o e-mail não tenham permissão na camada de rede, existem muitas formas de permissão que foram implementadas na camada de aplicação." Dito de outra forma, permissões muito sofisticadas e outras formas de controle de acesso podem ser construídas sobre uma rede subjacente não permissionada. E em termos de regulamentação, tanto a Internet como o e-mail não são regulamentados na camada de rede, dado que tais padrões técnicos são determinados pela comunidade de engenheiros de código aberto, mas os regulamentos podem certamente ser aplicados na camada de aplicação. Pois bem, as regras do Comitê de Basel - inicialmente previstas para janeiro de 2025 - serão implementadas até janeiro de 2026. No entanto, não está claro até agora se essas regras refletirão as preocupações levantadas no feedback dado pelos órgãos da indústria de criptoativos. Principais elementos da proposta das regras do G10 para exposição dos bancos a ativos digitais As regras destinam-se a orientar a forma como as exposições das instituições financeiras a criptoativos [criptomoedas, stablecoins e ativos tokenizados] são tratadas. De início, os bancos são obrigados a classificar os ativos digitais em dois grandes grupos com base no fato de cumprirem todos ou apenas alguns dos critérios definidos. Os critérios, denominados condições de classificação, são: Criptoativos do Grupo 1 são ativos que incluem ativos tradicionais tokenizados (Grupo 1a) e criptoativos com mecanismos de estabilização eficazes (Grupo 1b). Os criptoativos do Grupo 1 estão sujeitos a requisitos de capital com base nos pesos de risco das exposições subjacentes, conforme estabelecido na atual Estrutura da Basileia. Criptoativos do Grupo 2 são os que não atendem a nenhuma das condições de classificação. Como resultado, eles apresentam riscos adicionais e mais altos em comparação com os criptoativos do Grupo 1 e, consequentemente, estão sujeitos a um tratamento de capital conservador recentemente prescrito. Além de quaisquer ativos tradicionais tokenizados e stablecoins que não atendam às condições de classificação, o Grupo 2 inclui todos os criptoativos sem lastro. Todos os direitos, obrigações e interesses decorrentes do acordo de ativos digitais são claramente definidos e legalmente aplicáveis ??em todas as jurisdições onde o ativo é emitido e resgatado. As funções do ativo digital e da sua rede subjacente são concebidas e operadas para mitigar e gerir suficientemente quaisquer "riscos materiais". As entidades que executam resgates, transferências, armazenamento ou liquidação definitiva do ativo digital, ou gerem ou investem ativos de reserva, são regulamentadas ou, pelo menos, estão sujeitas a "normas adequadas de gestão de risco". Os ativos digitais que satisfazem todas as condições de classificação são considerados "criptoativos do Grupo 1" (embora sejam subdivididos em "Grupo 1a" e "Grupo 1b" com base em qual das duas categorias dentro da condição de classificação 1 é atendida). Na prática, este grupo captura em grande parte ativos tradicionais tokenizados. Estes são considerados pelo BCBS como de menor risco e, como tal, estão sujeitos a requisitos de capital semelhantes aos já em vigor durante o regime de Basileia. É importante ressaltar que stablecoins algorítmicos não são elegíveis para o Grupo 1. Os ativos digitais que não cumprem quaisquer condições de classificação enquadram-se no Grupo 2. Considera-se que representam riscos adicionais para além dos do Grupo 1. Como resultado, estão sujeitos a um "tratamento de capital conservador recentemente prescrito" e outras restrições. Por exemplo, os bancos sujeitos às regras do CBSB não devem permitir que a sua exposição a activos do Grupo 2 exceda 2% do seu capital, e essa exposição deve geralmente ser inferior a 1%. Perspectivas Espera-se que o feedback da indústria de criptoativos afete o quadro atual à proposta do Comitê da Basileia, que continuará a ser visto até o final de 2025, com previsão para implemetação em 1º janeiro de 2026. ___________ 1 Disponível aqui.  2 Grupo de países com as maiores economias do mundo 3 Disponível aqui.  4 Disponível aqui. 5 Disponível aqui. 
Por que as stablecoins estão no topo da agenda dos esforços legislativos globais? As stablecoins abundam no espaço dos ativos digitais como meio de troca, reserva de valor, ativo comercial e forma de efetuar pagamentos. Para se ter uma ideia, a Tether ($USDT), stablecoin mais utilizada no mercado, é o terceiro em valor de mercado geral, atrás apenas do bitcoin ($BTC) e Ether ($ETH) no espaço de ativos digitais. Quando olhamos para as negociações de ativos digitais em Tether, no entanto, seu token $USDT possui um volume de negociação maior do que o $BTC e o $ETH combinados. É aqui que reside a primeira preocupação dos reguladores: A utilidade de stablecoins, como $USDT e $USDC (esta última, administradas pela empresa norte-americana Circle que recentemente anunciou sua vinda para o Brasil), levou a uma situação em que o funcionamento contínuo do espaço de ativos digitais depende excessivamente da retenção de valor dessas moedas. Aqui, importante abrir um parênteses para destacar que as stablecoins diferem de tokens especulativos como as "MeMe Coins" (tokens, não necessariamente emitidos em uma blockchain, que são inspirados em memes ou piadas na internet e nas mídias sociais). Isto porque, o valor das stablecoins está atrelado 1:1 (um pra um) a um ativo mais estável - normalmente uma moeda fiduciária, ou uma cesta de moedas fiduciárias e títulos públicos. No caso das stablecoins $USDT e $USDC, é o dólar americano. Portanto, em teoria, deveriam fornecer ao espaço dos ativos digitais uma alternativa menos volátil para liquidar negociações e efetuar pagamentos. Aqui, surge o segundo ponto de preocupação dos reguladores: a confiabilidade das stablecoins em si, bem como dos sistemas que as sustentam. É necessário que o mercado financeiro tenha confiança de que as stablecoins são totalmente garantidas, seguras e resgatáveis ??- o que não é um dado adquirido. Segundo os legisladores, a única maneira de garantir que as stablecoins são e continuem sendo o que afirmam ser, mantendo seguros os mercados que as facilitam, é regulamentá-las. Some-se a isto os riscos à estabilidade financeira que advém do fato de um terceiro - além de um banco central - estar emitindo um ativo que está fora do alcance da política monetária liderada pelos bancos centrais. Tais preocupações, reais ou não, são a razão pela qual os reguladores de todo o mundo estão finalizando suas abordagens conceituais sobre como gostariam de regular e supervisionar as stablecoins. No entanto, embora os legisladores estejam de acordo que as stablecoins devem ser regulamentadas, não existe um consenso sobre como exatamente essa regulamentação deveria ser. O atual panorama regulatório diversificado e fragmentado das stablecoins Hoje, nos encontramos em uma situação não ideal, com abordagens variadas à legislação sobre stablecoins, a tal ponto que em abril desde ano, o FSB - Conselho de Estabilidade Financeira do BIS - Banco de Compensações Internacionais  - uma instituição financeira internacional de bancos centrais - sentiu a necessidade de publicar um estudo - no sítio1 lamentando a falta de uniformidade e solicitando a uma abordagem mais consistente à regulamentação das stablecoins a nível global. No texto, o BIS ressalta que apesar dos pontos comuns nos esforços regulatórios, o panorama regulatório permanece diversificado e fragmentado. As diferentes abordagens da União Europeia (UE), do Reino Unido (Reino Unido) e dos Estados Unidos (EUA) servem como exemplo desta fragmentação, que pode representar desafios significativos para um sistema financeiro integrado. Nesse passo, para termos uma ideia de como o atual panorama regulatório das stablecoins é diversificado e fragmentado, veremos a seguir as abordagens da União Europeia (UE) e do Reino Unido (RU). Nesta coluna, tratamos da legislação nos Estados Unidos (EUA) nos artigos "O movimento regulatório americano em direção às stablecoins" e "Stablecoins algorítmas na mira do Senado americano". Nos EUA, o avanço da regulação permanece estagnado em razão da preparação para as eleições de novembro, que darão o tom dos futuros esforços regulatórios. Aqui, vale a pena esclarecer que nem todas as stablecoins são criadas iguais e algumas preocupam mais os legisladores do que outras - como vimos ao tratar das "Stablecoins algorítmas na mira do Senado americano". Regulação das stablecoins na União Europeia (UE) A UE lidera o caminho de grande parte da legislação relacionada a ativos digitais, através das disposições sobre stablecoins no MiCA - Regulamento do Mercados de Criptoativos, que estão previstas para entrar em vigor no final deste mês. Em 2021, ao traçar sua proposta para regular stablecoins, a UE considerou três opções: Tomar medidas legislativas específicas; Incluí-las na EMD 2 (a segunda directiva sobre moeda electrônica, desenvolvida para alinhar os requisitos da UE e supervisionar as instituições de moeda electrônica), e/ou, Limitar seu uso. No final, decidiu pelas duas primeiras opções: Tomar medidas legislativas específicas e utilizar legislação secundária para complementar os requisitos aplicáveis ??aos prestadores de serviços de ativos digitais; e para regular certas stablecoins específicas sob o EMD 2 - nomeadamente stablecoins atreladas a uma moeda fiduciária, ou o que a UE chama de tokens de dinheiro eletrônico - Eletronic Money Tokens (EMTs). Quando as regras de stablecoin do MiCA entrarem, os emissores de tokens referenciados a ativos (ARTs) - stablecoins que pretendem manter um valor estável referenciando outro valor ou direito - e EMTs terão as seguintes obrigações regulatórias: Exigência de autorização do Banco Central e publicação de white paper contendo informações sobre o token relevante para investidores; Requisitos de conduta e governança em torno de marketing, divulgação de informações e tratamento de conflitos de interesse; Requisitos prudenciais para garantir liquidez suficiente e capacidade de satisfazer pedidos de resgate; Nenhuma stablecoin pode ser oferecida ao público ou admitida à negociação numa plataforma de negociação de ativos digitais, a menos que o emitente esteja autorizado na UE e publique um "white paper", aprovado pela autoridade nacional competente (NCA). Emitentes de EMT também devem cumprir as obrigações existentes do EMD 2, que incluem informar as autoridades sobre como salvaguardam os fundos recebidos em troca de moeda eletrónica emitida, garantindo que podem "resgatar a qualquer momento e pelo valor nominal" o valor monetário da moeda eletrónica detida, as instituições de moeda eletrónica devem deter um capital inicial não inferior a 350.000 EUR no momento da autorização , e as instituições de moeda eletrónica estão sujeitas à legislação europeia contra a lavagem de capitais.  Alguns TAR ou EMT também podem ser considerados significativos devido ao seu tamanho ou outros fatores e, como resultado, podem apresentar um risco sistêmico aumentado. Para estes, o MiCA exige medidas adicionais, que foram comparadas ao regime aplicado para classificar bancos globais sistemicamente importantes. Como tal, a EBA - Autoridade Bancária Europeia terá responsabilidades de supervisão para os emitentes de stablecoins que se considerem enquadrados nesta categoria. De acordo com o MiCA, uma stablecoin é classificada como significativa ou sistêmica se atender a três dos sete critérios, incluindo ter mais de 5 bilhões de euros (6,28 bilhões de dólares) em reservas, mais de 10 milhões de usuários ou processar mais de 500 milhões de euros diariamente. Outras considerações incluem se está interligado com o sistema financeiro e se é utilizado para pagamentos à escala global. Note que os reguladores europeus admitiram na própria legislação que as diretrizes legais sobre stablecoins no MiCA não é um "produto final acabado."  Tanto que já está programado na legislação que as regras sobre stablecoin no MiCA precisará ser revisto, adequado e atualizado. Esta ideia de que as regras de stablecoins do MiCA, na sua forma atual, talvez não sejam exatamente o produto acabado, refletiu-se de alguma forma na reação do mercado. Em fevereiro, um artigo publicado pelo emissor de stablecoins Circle ($USDC) classificou a abordagem da UE como falha, afirmando que apenas afastaria os emitentes do bloco europeu. Na mesma linha, o CEO da stablecoin Tether, Paolo Ardoino também sinalizou seu descontentamento com as regras da UE em uma entrevista em abril deste ano, quando declarou sua relutância em obter permissão para operar sob a estrutura do MiCA. Nas palavras de Ardoino, "estou bastante pessimista sobre o desenvolvimento cripto na Europa" e o MiCA sinalizou que "a Europa não quer cripto com regulamentação que limita amplamente o acesso a ela, especialmente para investidores de varejo". O MiCA tornou-se lei em 30/6/23, e a nova estrutura começará a ser aplicada em duas fases: A parte do regulamento MiCA que contém regras específicas aplicáveis ??a ARTs e EMTs começará a ser aplicada a partir de 30/6/24, e as regras aplicáveis ??a os provedores de serviços de ativos digitais começarão a se inscrever a partir de 30/12/24. Outras jurisdições com atraso na regulamentação provavelmente acompanharão o progresso do MiCA com grande interesse. Apesar das críticas acima, a grande maioria do mercado cripto vê que a União Europeia está em uma situação muito melhor com uma regulação como o MiCA do que estaria no Reino Unido ou nos EUA, onde há muita incerteza jurídica. O Reino Unido, por sua vez, não fica muito atrás, com legisladores anunciando regras sobre stablecoins para julho, mas retendo maiores detalhes. Os debates sobre a regulação de stablecoin no Reino Unido Em abril de 2024, após o primeiro ministro britânico manifestar sua intenção de regular stablecoins, o secretário econômico do Reino Unido anunciou planos para introduzir novas leis para regular a emissão e uso de stablecoins até julho de 2024. "Estamos agora a trabalhar a bom ritmo para entregar a legislação que colocará em prática as nossas propostas finais para o nosso regime", disse Afolami. "Assim que entrar em operação, toda uma série de atividades de criptoativos, incluindo a operação de uma bolsa, a custódia dos ativos dos clientes e outras coisas, entrarão no perímetro regulatório pela primeira vez." O secretário econômico não disse em detalhes sobre como será exatamente a nova legislação, mas é certo é que ela se baseará nas diretrizes estabelecidas pela aprovação da FSMA - lei de serviços e mercados financeiros em junho de 2023 - que permitiu o tratamento de stablecoins e ativos digitais como atividades regulamentadas no Reino Unido -, bem como será influenciada pelas recentes discussões sobre o assunto do BoE - Banco Central da Inglaterra e da FCA - Autoridade de Conduta Financeira. Da aprovação da FSMA 2023 e dos documentos do BoE e FCA publicados em novembro de 2023 - que juntos, provavelmente formarão a espinha dorsal da regulamentação de stablecoins do Reino Unido -, extrai-se o seguinte: 1. A aprovação da FSMA 2023 alargou as regras bancárias da iteração anterior da FSMA - tais como a manutenção de capital adequado para resistir a choques financeiros, a implementação de práticas robustas de gestão de risco e o fornecimento de informações claras e transparentes aos clientes - a stablecoins e ativos digitais. 2. A FCA - o principal regulador do setor financeiro do país - e à PRA - Autoridade de Regulação Prudencial - órgão de fiscalização bancária do RU - receberam os poderes necessários à implementar os objetivos do tesouro do Reino Unido, definidos na sua consulta de fevereiro de 2023 sobre a futura regulamentação do regime para criptoativos. 3. Para o BoE, o quadro regulatório dos sistemas de pagamentos sistêmicos que utilizam stablecoins ??e prestadores de serviços conexos BoE deveria basear-se nas stablecoins ??denominadas em libras esterlinas, eis que estas são os ativos de liquidação digital com maior probabilidade de serem amplamente utilizados para pagamentos. Tal quadro regulatório deveria ter uma abordagem de "mesmo risco, mesmo resultado regulamentar", que incluiria as seguintes exigências: A existência de uma entidade em toda a cadeia de pagamento que possa ser identificada como o operadora do sistema de pagamento. Esta entidade teria a competência para supervisionar e avaliar todos os riscos decorrentes das diferentes partes da cadeia de pagamento, garantindo a existência de controles adequados; Garantia integral pelos emissores da oferta de stablecoins com depósitos no BoE, sem juros a serem pagos sobre esses depósitos; Garantia pelos fornecedores de carteiras de que os direitos legais dos detentores de stablecoins e a capacidade de resgatar stablecoins ao valor nominal sejam protegidos em todos os momentos. 4. Para a FCA, é necessária que as atividades de stablecoin sigam seus vários padrões regulatórios já existentes como, por exemplo, a adesão aos 'princípios para negócios' abrangentes da FCA e às regras do livro de referência de conduta da FCA (relativas à incentivos, categorização de clientes e divulgação de custos e encargos). 5. Além da aplicação de suas disposições regulamentares já existentes, a FCA ainda está a considerar regras específicas adaptadas à natureza única dos emitentes e custodiantes de stablecoins, como: Garantia pelos emitentes de que suas stablecoins mantenham consistentemente o seu valor em relação à moeda de referência designada e que os detentores possam resgatar prontamente o seu valor ao par; Depósito, pelos emissores de stablecoins, de ativos de garantia que não sejam apenas estáveis ??em valor, mas também suficientemente líquidos - um problema potencial para qualquer stablecoin que não seja garantida por moeda fiduciária -, permitindo o rápido resgate pelos consumidores; A segregação das stablecoins dos clientes dos ativos próprios do custodiante; A manutenção de registros pelos custodiantes para estabelecer claramente a propriedade dos ativos e a implementação de controles organizacionais eficazes para mitigar o risco de perda ou diminuição dos ativos de custódia dos clientes. Perspectivas  A atual regulação das stablecoins - pelo menos na UE e Reino Unido -  é um trabalho em andamento, iminente, abrangente e ainda pendente. Se estamos caminhando para um mercado verdadeiramente global, no entanto, o ideal seria que o esforço legislativo global que buscasse a convergência regulatória. De todo modo, em um espaço tecnológico em rápida evolução -  onde dado momento todos pensam que sabem qual é o objetivo final, mas o objetivo final continua a evoluir -, a regulamentação é uma jornada. ________ 1 Disponível aqui.
O que é um "Spot Ethereum ETF" ?  Um ETF ("Exchange Traded Fund"), também conhecido como fundo índice negociado em bolsa, é um veículo de investimento que monitora o desempenho de um determinado ativo ou grupo de ativos. Os ETFs permitem que os investidores diversifiquem seus investimentos sem realmente possuírem os ativos rastreados por um fundo. No caso específico dos ETFs de "Ethereum" (chamado de Spot ETH ETF, eles são um fundo negociado em bolsa que permite aos investidores obterem exposição ao Ether [$ETH]), token nativo da blockchian Ethereum, por meio dos mercados de ações tradicionais, sem a necessidade de comprar ou vender diretamente o ativo digital em uma corretora de criptomoedas. Um ETF de "Ethereum" basicamente reflete o preço da criptomoeda, e podem ser liquidados em dinheiro ou fisicamente, o que significa que os investidores receberão moeda fiduciária ou ETH, respectivamente. Spot ETH ETF vs. Futures ETH ETFs Os fundos negociados em bolsa [ETFs] de futuros de Ether [Futures ETH ETFs]  mantêm contratos de derivativos, mas não negociam tokens de éter [$ETH] diretamente.  Isso permite que os investidores mais confortáveis com as bolsas regulamentadas dos EUA participem desse mercado.  Diferentemente dos ETFs da criptomoeda à vista [Spot ETH ETFs], que mante, o $ETH diretamente, os ETFs de futuros mantêm contratos vinculados ao valor do token $ETH e têm ações que são negociadas em bolsas regulamentadas. A aprovação inesperada de 8 "Spot Ethereum ETFs" pela SEC Até a semana que antecedeu à aprovação dos ETH ETFs à vista, a falta de engajamento entre a SEC e os emissores sinalizava que a aprovação não aconteceria.  No entanto, esse cenário inicial mudou após os legisladores bipartidários da Câmara do Deputados dos EUA cobrarem a SEC, destacando a necessidade de consistência na aplicação de padrões regulatórios, e o fato da agência já ter aprovado os ETFs de bitcoin à vista em janeiro.  Por conta disso, a comissão de valores mobiliários dos EUA - SEC -  The U.S. Securities and Exchange Commission - subitamente retomou conversa com os emissores de ETFs no dia 20/5, e solicitou que os formulários 19b-4 fossem devolvidos e enviados novamente.  E o que vimos a partir daí foi que alguns agentes da própria SEC foram surpreendidos com a virada de 180 graus rumo à aprovação. Assim, apenas quatro meses depois da aprovação dos ETFs de Bitcoin à vista pela primeira vez, a SEC emitiu uma ordem geral no dia 23/5, e aprovou os formulários 19b-4 para os ETH ETFs à vista da BlackRock, Fidelity, Grayscale, Bitwise, VanEck, Ark, Invesco Galaxy e Franklin Templeton.  Diferenças entre os processos de aprovação dos ETFs de bitcoin à vista e dos ETFs de ETH à vista A primeira diferença é que os ETFs de Ether à vista foram aprovados pela divisão de negociação e mercados da SEC, ao contrário dos ETFs de bitcoin à vista aprovados por votação de um comitê da SEC formado por 5 membros, incluindo o presidente da SEC Gary Gensler. A segunda diferença é que os 8 ETFs de Ether à vista podem levar semanas ou até meses para começarem a ser negociados na prática - como explicaremos mais adiante -, enquanto todos os 10 ETFs de bitcoin à vista começaram a ser negociados no dia seguinte à sua aprovação, eis que também obtiveram a autorização do formulário S-1.  Reflexos práticos da aprovação dos ETH ETFs à vista Com a aprovação, os investidores poderão adquirir Ethers via ETFs, o que lhes dá algumas vantagens como: Não há necessidade de passar pelo processo de aprender a custodiar (armazenar) Ether com segurança. Muitos investidores ainda não entendem o mercado cripto, não tem tempo para aprender, ou, ainda, se sentem mais confortáveis em contratar terceiros para investir. Comprar um ETF por meio de um corretor online pode ser significativamente mais seguro, rápido e menos sujeito a interrupções do que comprar ativos digitais diretamente de uma exchange de criptoativos (apesar de existirem excelentes corretoras no país). As bolsas de valores, dependendo do país, são mais líquidas do que as exchanges de criptomoedas, o que facilita a negociação de ETFs. Aqui, vale destacar, todavia, que um ETH ETF também possui desvantagens: Os ETFs só podem ser comprados e vendidos durante os horários de negociação do mercado, enquanto os criptomercados funcionam 24 horas por dia, sete dias por semana. Isso significa que, se o preço do Bitcoin se mover acentuadamente, você pode ter que esperar horas antes de ter a chance de descarregar para comprar mais. É gratuito manter seu próprio Ether em uma carteira digital [wallet], enquanto os ETFs cobram taxas de administração. Os ETFs exigem que você confie em custodiantes terceirizados, o que é contrário a um dos princípios basilares do mundo cripto: A autocustódia. Já tratamos de legislação relativa a autocustódia nesta coluna, quando analisamos a House Bill 3.595 do Estado de Oklahoma, EUA - lei que estabelece proteções para indivíduos e empresas envolvidos na mineração e detenção de bitcoins e criptoativos. De outro lado, essa aprovação parece indicar um caminho para a discussão sobre a natureza jurídica do token nativo da Blockchain Ethereum. Reflexos da aprovação na classificação jurídica do Ether [ETH] A classificação jurídica do Ether [$ETH], token nativo da blockchain Ethereum,  é uma questão importante que paira sobre a supervisão dos ativos digitais nos Estados Unidos desde 2014. Basicamente, o que se discute aqui é se o ativo [Ether] deve ser considerada um título mobiliário, ou uma commodity. De um lado, os críticos da blockchain Ethereum argumentam que seu token nativo [ETH] passa no teste de Howey e, portanto, deve ser classificado como um título mobiliário. E como título mobiliário, o ETH deve ser registrado e regulamentado pela SEC. De outro lado, há os que enxergam o Ether como uma commodity. Nesse sentido, argumentam o seguinte: Quando a SEC permitiu que os "Ether futures ETFs" fossem negociados em suas corretoras de valores regulamentadas, ela reconheceu explicitamente o status do subjacente, ETH, como não sendo um título mobiliário e fora de sua jurisdição.  Essa decisão de aprovação do ETF em outubro de 2023 ocorreu bem depois que a Ethereum mudou seu mecanismo de consenso para para PoS - Proof-of-Stake em setembro de 2022; o que significa que, para a comissão de valores mobiliários americana, o token $ETH, em seu estado atual em outubro de 2023, não era um título mobiliário. Se a SEC tivesse alguma dúvida sobre o tratamento regulatório do token $ETH em outubro de 2023, não teria aprovado o ETF. Se a ETH fosse de fato um título mobiliário, os contratos futuros listados na CFTC (nos quais os ETFs se baseavam) seriam ilegais, pois qualquer derivado de $ETH seria considerado um contrato futuro de título mobiliário e estaria, pois, sujeito a regras diferentes, listado em bolsas diferentes e sujeito à jurisdição conjunta da SEC e da CFTC - The Commodity Futures Trading Commission, agência federal independente que regula os mercados de derivativos, incluindo contratos futuros, opções e swaps, nos Estados Unidos. Se o token $ETH fosse um título mobiliário, o Ether Futures ETF seria um instrumento ilegal. E a SEC não poderia ter aprovado um instrumento ilegal para ser negociado em uma bolsa de valores nacional. Neste contexto, quando olhamos os recentes desenvolvimentos regulatórios, a recente aprovação dos ETFs de Ether à vista parece nos indicar que os reguladores estão considerando o ether [$ETH] como uma commodity - contrariando o entendimento do atual presidente da SEC, Gary Gensler. Vamos aguardar as cenas dos próximos capítulos. Perspectivas após aprovação dos ETH ETF à vista A aprovação foi outra conquista para o setor de criptoativos nos EUA, que na semana anterior já tinha conseguido passar na Câmara dos Deputados a aprovação do Cripto FIT 21 - que tratamos em artigo anterior desta coluna.  Contudo, pode levar semanas ou até meses para que os ETFs comecem a ser negociados na prática. Isto porque, embora os formulários de aprovação de 8 ETH ETFs à vista tenham sido aprovados, seus emissores precisam que suas declarações de registro S-1 entrem em vigor antes que a negociação possa começar.  A SEC já iniciou conversas com os emissores sobre seus formulários S-1. Mas isto ocorreu apenas recentemente, de modo que não se sabe ao certo quanto tempo esse processo levará - alguns analistas estão especulando que pode levar semanas. Segundo analista de ETFs da Bloomberg, James Seyffart, comentou em sua conta no X: "Acho que, se eles se esforçarem ao máximo, isso poderá ser feito em algumas semanas, mas há muitos exemplos de processos que, historicamente, levam mais de três meses".  Os ETFs Bitcoin à vista detêm mais de US$ 57 bilhões de dólares em ativos sob gestão. Os ETFs ETH à vista, contudo, podem ter dificuldades para obter o mesmo nível de tração. Os analistas de ETFs estimam que eles podem receber de 10 a 15% de ativos que seus equivalentes ETFs de Bitcoin à vista receberam - o que os colocaria entre US$ 5 e US$ 8 bilhões de dólares nos primeiros dois anos. 
"Essa aprovação na Câmara marca a realização legislativa mais significativa do setor cripto no Congresso americano até agora" O que é o "FIT 21" O H.R. 4.763, the Financial Innovation and Technology for the 21st Century Act ["FIT 21"] busca estruturar as balisas legais do mercado cripto nos EUA, estabelecendo um regime regulatório para ativos digitais, e estava programada para ser votado na penúltima semana de maio. Por conta disso, grande parte do setor de criptoativos assinou uma carta, destinada aos principais legisladores da Câmara dos Deputados dos EUA, para angariar o apoio dos congressistas à lei de inovação e tecnologia financeira para o século 21 [FIT21]. A Carta de Apoio da Coalização FIT 21 A Carta de apoio ao FIT21 é uma coalizão de organizações e empresas de ativos digitais, incluindo Coinbase, Kraken, Andreessen Horowitz, Digital Currency Group e cerca de 50 outras, liderada pelo Crypto Council for Innovation, endereçada ao presidente da Câmara Mike Johnson (R-La.) e ao líder da minoria Hakeem Jeffries (D-N.Y.). Seu conteúdo defende a aprovação do projeto de lei referente à inovação financeira e tecnologia para o século 21 (FIT21). O FIT 21 na Câmara dos Deputados americana A votação do projeto de lei H.R. 4.763 na Câmara dos EUA, que ocorreu no último dia 22/5 e contou com forte participação dos democratas, foi de 279-136 votos e culminou com a aprovação do projeto de lei FIT 21. Aqui, é importante destacar que essa aprovação do PL Crypto FIT 21 na Câmara marca a realização legislativa mais significativa do setor cripto no Congresso americano até agora.  Com a aprovação, agora o bastão do regime regulatório dos criptoativos passa para o Senado americano, onde as chances de uma votação decisiva continuam baixas. Objetivos e principais pontos do Projeto de Lei FIT21 Tal projeto de lei estabelece a CFTC - Commodity Futures Trading Commission como um dos principais órgãos reguladores de ativos digitais e define divisões claras para o que a CFTC irá lidar e o que ficaria sob o alcance da SEC - Securities and Exchange Commission.  Também, estabeleceria proteções ao consumidor - como, por exemplo, regras sobre a custódia dos ativos dos clientes e seu tratamento em caso de falência -, bem como criaria mais barreiras contra comportamentos de risco. O objetivo imediato do PL FIT21 consiste em acelerar o crescimento da tecnologia blockchain e dos ativos digitais nos EUA, através da inclusão financeira e proteção da segurança nacional, de acordo com o teor da FIT21 Coalition Support Letter.  Quanto ao objetivo mais remoto do FIT21, busca-se que os EUA mantenham sua liderança em inovação financeira. Panorama geral No momento, o setor de criptoativos está em alta em Washington.  Mesmo com o presidente Joe Biden prometendo vetar o esforço, tanto a Câmara quanto o Senado americano aprovaram facilmente no dia 16/5 uma resolução que anula o SAB 121 -Staff Accounting Bulletin 121 - uma orientação não vinculativa sobre política de contabilidade cripto, emitida pela equipe da SEC - Comissão de Valores dos EUA.  Aqui, importante destacar que tanto a aprovação da resolução que eliminou o SAB 121 da SEC, quanto a aprovação do FIT 121, atraíram muitos apoiadores do Partido Democrata, que tem sido mais reticente do que os Republicanos em apoiar a indústria cripto. Para se ter uma ideia da dimensão desse apoio, na votação da resolução contra o SAB 121, mais de um em cada cinco democratas do Senado votou a favor do setor cripto, incluindo o líder da maioria Chuck Schumer (D-N.Y.), e cerca de um em cada 10 democratas na Câmara. Perceba que o apoio dos democratas nessa votação do FIT 21 na Câmara pode ser um divisor de águas. Isto porque, até a semana passada, os principais democratas do Senado americano não pareciam estar dispostos a igualar o esforço da Câmara em projetos de lei envolvendo criptoativos, com exceção do PL que traça um arcabouço legislativo aos emissores de stablecoin.  Bem por isso, o presidente do Comitê de Serviços Financeiros da Câmara dos EUA - deputado Patrick McHenry (R-N.C.)-, alertou que o nível de apoio democrata ao FIT21 na Câmara pode ser um gatilho importante para que o Senado entre em ação. SAB 121 Vs FIT21 O projeto de lei FIT21 que acabou de ser aprovado na Câmara dos EUA é uma legislação mais abrangente e com magnetude muito maior que a resolução relativa ao SAB 121.  Perspectivas Se aprovado também pelo Senado americano, o projeto de lei FIT 21 introduzirá novos desafios de compliance para as empresas de criptoativos que atuam nos EUA. No entanto, a clareza regulatória obtida com a eventual aprovação do FIT21 no Senado será indiscutivelmente mais responsável, mais segura para os consumidores e preferível ao status quo.  Não são poucos os que não veem a necessidade de um novo quadro regulatório para o setor de criptoativos.  De fato, hoje, as empresas ligadas ao setor são instruídas a cumprir, de alguma forma, as leis de valores mobiliários dos EUA.  Importante destacar, contudo, que tais leis foram criadas há quase 100 anos, sem levar em consideração os avanços tecnológicos de hoje, inclusive a capacidade das transações de se movimentarem globalmente, na velocidade da internet.
"A SEC nunca deveria estabelecer políticas - sobre bancos, nada menos, um setor que ela não regulamenta - por meio de um boletim de contabilidade da equipe. Isso nada mais é do que uma tentativa do governo de burlar a lei - Senadora Cynthia Lummis". SAB 121, boletim não vinculativo da SEC sobre contabilidade cripto Emitido pela agência em 2022, o SAB 121 é uma orientação não vinculativa da equipe da SEC - US Securities & Exchange Commission sobre contabilidade cripto.  Segundo o SAB 121, uma empresa que mantém as criptomoedas de um cliente deve registrá-las em seu próprio balanço patrimonial - o que poderia ter grandes implicações de capital para os bancos que trabalham com clientes cripto. Durante anos, os legisladores republicanos lutaram com as agências financeiras federais sobre o papel dos documentos de "orientação", argumentando que os reguladores extrapolaram sua competência, e que os setores regulamentados sentem que não podem se dar ao luxo de ignorar as orientações, sejam elas "não vinculativas" ou não. Congresso americano condena política de contabilidade da SEC  Em uma votação de 60 a 38 no Senado, foi aprovada uma resolução que revoga o SAB 121 equipe da SEC - Comissão de Valores Mobiliários, o que torna muito caro para as instituições financeiras participarem do negócio de custódia de criptomoedas. Isso ocorre após a aprovação da mesma resolução pela Câmara, e comunicado da Casa Branca de que vetaria qualquer legislação nesse sentido. Fundamento utilizado pelo Congresso americano contra o SAB 121 Os legisladores da Câmara e do Senado foram atrás do SAB 121 com base na lei de revisão do congresso (congressional review act), que permite que o Congresso revogue as normas federais.    Por que isso é importante  A indústria cripto começou sua luta contra a SEC - e seu presidente Gary Gensler - nos tribunais, mas conseguiu estendê-la para um novo campo: O Poder Legislativo. Panorama de fundo A aprovação dessa resolução do Congresso que revoga o SAB 121, vem após uma série de derrotas da SEC - como no caso SEC vs. XRP e na aprovação de um ETF de bitcoin à vista. Antes desta quinta-feira, 16, a SEC até estava se sentindo mais confiante em relação a sua atuação fiscalizatória do mercado cripto depois da vitória processual na maioria dos pontos no caso SEC vs. Coinbase (a maior corretora centralizada de criptomoedas dos EUA), e em pontos-chave do seu caso SEC vs. Terraform Labs. Críticas à resolução do Congresso que revogou o SAB 121 A senadora Elizabeth Warren - conhecida por sua posição ao mercado cripto como um todo - discursou no plenário do Senado nesta quinta-feira, 16/5, para se opor à votação em si, chamando-a de uso inadequado da CRA - lei de revisão do congresso. Segundo Warren, "A votação de hoje, que ocorre mais de dois anos após a SEC ter redigido o boletim SAB 121, e que se aplica a um boletim da equipe e não a uma norma jurídica, está muito fora do escopo da CRA. Não deveríamos estar realizando essa votação". Qual recado dessa reprovação à política de contabilidade cripto da SEC?  Como resumiu a senadora Cynthia Lummis (R., Wyo.) em um comunicado: "A SEC nunca deveria estabelecer políticas - sobre bancos, nada menos, um setor que ela não regulamenta - por meio de um boletim de contabilidade da equipe. Isso nada mais é do que uma tentativa do governo de burlar a lei". 
Oklahoma House Bill 3594  No último dia 13, o governador do Estado americano de Oklahoma sancionou a House Bill 3.595, projeto de lei recém aprovado que estabelece as principais proteções para quem realiza mineração e detém bitcoins e criptoativos. O projeto de lei foi amplamente aprovado no Legislativo de Oklahama, com 76 votos a favor e apenas 2 contra. A nova legislação, que entrará em vigor em 1º/11/24, visa atrair empresas de blockchain, impulsionar a inovação e criar oportunidades econômicas, especialmente nas zonas rurais. A seguir, veremos as principais novidades trazidas pela nova legislação. O alinhamento dos criptoativos à moeda legal tradicional no que diz respeito ao tratamento tributário  A House Bill 3.595 tem como objetivo objetivo agilizar o uso de criptoativos nas transações cotidianas e promover um ambiente financeiro mais inclusivo. A garantia ao direito à autocustódia Com a entrada em vigor da nova lei, o governo não poderá obstruir a capacidade dos cidadãos de fazer autocustódia ou armazenamento a frio, permitindo que os indivíduos mantenham com segurança seus ativos digitais. A proteção da atividade de mineração de bitcoin   A legislação impede que os governos locais imponham medidas restritivas que visem especificamente as atividades de mineração [tais como limites de decibéis sonoros a fazendas de mineração de bitcoin], ou outros requisitos que não estejam relacionados aos data centers de uma empresa de mineração. Aqui, está incluída a proteção ao direito das pessoas de extrair bitcoin em casa e por meio de operações comerciais.  O projeto de lei recém aprovado também estipula que a Comissão Corporativa de Oklahoma não pode criar tabelas de tarifas discriminatórias para empresas de mineração, garantindo taxas de serviços públicos justas e incentivando práticas de mineração sustentáveis e economicamente viáveis. Por que o estado de Oklahoma quis garantir a mineração de bitcoin? Uma das razões que motivaram a elaboração do House Bill 3.594 é a intensificação do debate sobre consumo energêtico e emissão de carbono pela mineração de bitcoin. Em março de 2022, o Parlamento Europeu, desistiu do seu plano de eliminar progressivamente as criptomoedas com alto consumo energético - como bitcoin, pex. -, ao rejeitar a proposta de lei que proibia a prova de trabalho nos seus limites territoriais. E o que deixou de ser uma questão na Europa, logo depois passou a ser considerado nos Estados Unidos. Também em 2022, o Estado de Nova York que, através de uma proposição legislativa, sugeriu a criação de uma moratória de dois anos sobre as operações de mineração, a menos que 100% de sua energia venha de fontes renováveis. Outros estados americanos, como o Arkansas, impuseram restrições à mineração de criptomoedas, geralmente citando a poluição sonora como uma preocupação. A nível federal, esforços como o Digital Asset Anti-Money Laundering Act da senadora americana Elizabeth Warren visam impor restrições semelhantes a atividades relacionadas a carteiras não hospedadas, mineradores de ativos digitais e validadores. O HB 3.594 de Oklahoma estabelece um precedente significativo na proteção das atividades de criptomoeda, servindo potencialmente como modelo para outros estados que buscam criar um ambiente regulatório mais favorável para o crescente setor de criptografia. Porque a proteção à autocustódia é essencial à Web3? Conquanto a maioria das pessoas transacionem bitcoins [ou qualquer outra criptomoeda] via corretoras centralizadas [as chamadas CEXs], qualquer um pode realizar transações diretas [conhecidas como transferências P2P, peer-to-peer], desde que façam autocustódia - armazenamento de chave privada em carteira não custodiada. Aqui, cumpre esclarecer que carteiras não custodiadas, conhecidas como hardwallets, são aquelas não hospedadas por um provedor de serviço relacionado a criptoativos, ou outra entidade regulamentada. Nas transferências P2P a possibilidade de exigência regulatória é baixa, porque nelas há negociação direta dos criptoativos entre os usuários, efetivada apenas pelo software da hardwallet, sem a necessidade de supervisão humana. Por não envolverem a presença de entidades reguladas, muitos legisladores têm classificado transações P2P e a autocustódia como de alto risco, por possibilitarem quem transações cripto ocorram fora da esfera de supervisão "tradicional" de órgãos de fiscalização. No entanto, dados on chain nos mostram um cenário diferente da suposição de que as transações envolvendo carteiras de hardware, por não envolverem contrapartes regulamentadas, oferecem riscos mais altos que transações realizadas através dos provedores de serviços relacionados a criptoativos. A grande maioria das atividades transacionais de criptoativos via hardwallets é legítima e não envolve interação com entidades ilícitas. Some-se a isto o fato de tais transações P2P via hardwallets serem realizadas fora da esfera de supervisão "tradicional" não necessariamente significa impossibilidade de fiscalização. Já existem recursos na própria tecnologia que podem ajudar a solucionar a incrementar a fiscalização, como as ferramentas de análise ferramentas de análise on chain. Ainda, a utilização de uma carteira não custodiada [autocustódia] é semelhante ao uso de um navegador da web. Logo, assim como garantir acesso à navegadores da web possibilita às pessoas um amplo acesso à internet, uma carteira de autocustódia é essencial para que consumidores acessem e operem no espaço da Web3. 
Stablecoins no Brasil e no cenário mundial O atual presidente do Banco Central do Brasil declarou durante evento da Legend Capital, em São Paulo,  que o uso de stablecoins vem ganhando destaque no Brasil. Ele ressaltou que ainda existe pouca aceitação e compreensão sobre esses ativos. Além disso, relatório da Receita Federal do Brasil revela uma mudança significativa no perfil das transações envolvendo criptomoedas nos últimos anos. O volume de negociação de bitcoin e outras criptomoedas foi amplamente superado pela movimentação de stablecoins, como o Tether. De outro lado, Cuy Sheffield, Head de Cripto da Visa, destacou que, em apenas seis anos, as stablecoins passaram de um volume quase nulo para alcançar a mesma escala de transações da Visa. No momento que este artigo foi escrito, o valor total de mercado das stablecoins era de 158,2 bilhões de dólares. As stablecoins apoiadas em dólares, como a Tether e a Circle, lideram o grupo com uma quota de 90% do mercado, enquanto as stablecoins algorítmicas e as recém-chegadas, como a Ethena [2,36 bilhões de dólares], representam uma pequena parte, cerca de 3%. Tendo em conta sua crescente importância, hoje, analisaremos o Lummis-Gillibrand Payment Stablecoin Act, projeto de lei recém introduzido nos EUA que busca estabelecer uma estrutura regulatória às stablecoins de pagamento. Mas antes de mergulharmos no assunto central deste artigo, é importante dar um passo atrás para compreender alguns conceitos. Stablecoins segundo os principais organismos internacionais O BCE - Banco Central Europeu enxerga stablecoins como "unidades digitais de valor que se diferem das formas existentes de moedas (por exemplo, depósitos, dinheiro eletrônico, etc.) e contam com um conjunto de ferramentas de estabilização, para minimizar as flutuações em seus preços em relação uma moeda, ou cesta dela." O BCE, contudo, considera o termo stablecoin, usado para descrever essa inovação de pagamento digital, confuso e até impróprio.  O GAFI - Grupo de Ação Financeira Internacional - mais conhecido no exterior como FAFT - considera que "a palavra stablecoin  não é uma categoria legal ou técnica muito clara, sendo principalmente um termo de marketing usado pelos promotores de criptoativos." Já comentamos sobre o GAFI nesta coluna.1 Já o BIS - Bank for International Settlements - considerado o Banco Central dos Bancos Centrais por sua missão de auxiliá-los na busca da estabilidade financeira e monetária -, ao avaliar os riscos, potencial e regulação das stablecoins cita que "As stablecoins são baseadas em tokens; a sua validade é verificada com base no próprio token, e não na identidade da contraparte, como é o caso dos pagamentos baseados em contas" (KAHN, C. (2016). "How are payment accounts special? Payments Innovation Symposium, Federal Reserve Bank of Chicago.)". Segundo a OCDE, as stablecoins pertencem à categoria dos "ativos digitais baseados em utilidade", ao lado dos CBDCs que, por sua vez, são representativos da responsabilidade institucional.  Para o propósito deste artigo, utilizaremos o termo stablecoins principalmente como ativos monetários ao portador, projetados para imitar o preço das moedas fiduciárias, utilizando um mecanismo de estabilização. Stablecoins lastreadas, sintéticas e algoritmas Existem atualmente três categorias principais de stablecoin: As lastreadas, as sintéticas e as algorítmicas.  Ou seja, as garantidas por moedas fiduciárias [lastreadas], garantidas por criptoativos ou por uma cesta de stablecoins [sintéticas] e, por fim, as não garantidas [algorítmicas ou algos].  Stablecoins garantidas ou lastreadas As stablecoins garantidas ou lastreadas são emitidas por um terceiro centralizado e lastreadas por uma moeda fiduciária [ou, alternativamente, títulos do tesouro de curto prazo] ou ainda, por uma cesta de várias moedas fiduciárias.  A grande maioria das stablecoins com garantia fiduciária tem o respaldo de 1 para 1 em dólares americanos. Uma unidade de uma stablecoin lastreada em dólares americanos pode ser resgatada em dólares americanos. O dólar subjacente [a garantia] é mantido em contas bancárias e pode ser resgatado a qualquer momento pelos distribuidores ou, em alguns casos, pelos clientes de varejo diretamente.  As reservas bancárias devem ser sempre iguais ao valor do fornecimento emitido de cada moeda-estável.  Stablecoins lastreadas permanecem estáveis, desde que as pessoas tenham confiança de que o emissor do stablecoin realmente tem todas as reservas necessárias em sua conta bancária e que terceiros podem resgatá-las. No tocante à parte tecnológica das stablecoins lastreadas, há um emissor, uma empresa que cria um token, e hoje a maior parte delas usa o padrão ERC-20 no blockchain ethereum. E elas emitem um token a medida em que realmente entra um token na conta corrente da empresa que está lastreando aquela stablecoin.  Este é o sistema usado pelo USDT - USDollar Tether, bem como pelo true_US Dollar, Gemini US Dólar e USD Coin. Stablecoins sintéticas ou crypto-collateralizadas (cripto-lastreadas) Stablecoins sintéticas ou "cripto-lastreadas" são emitidos por "linhas de crédito descentralizadas", que permitem aos usuários tomarem empréstimos vinculados. A stablecoin sintética serve essencialmente como uma "dívida tokenizada". Os usuários que desejam criar a stablecoin sintética precisam bloquear mais de 100% dos criptoativos que serão "sobrecolateralizados" em um contrato inteligente como garantia. A maioria dos usuários que criam stablecoins dessa maneira estão essencialmente assumindo uma posição de longo prazo, alavancada sobre o colateral subjacente.  Os empréstimos podem ser liquidados se não houver garantias suficientes no sistema para garantir o valor de todas as stablecoins em aberto.  Cada empréstimo deve manter um rate de garantia mínimo e se o valor da caução for inferior a esse rate, a posição é automaticamente liquidada.  A garantia é então leiloada ou vendida para cobrir o valor garantido de todas as stablecoins em circulação.  Assim, a maioria dos usuários mantém uma proporção que é significativamente maior do que sua taxa de liquidação. A paridade dessas Stablecoins sintéticas é mantida por meio da combinação de arbitragem e política monetária (por meio de taxas de juros).  Stablecoins algorítmicas (algos), não colateralizadas, ou ainda, não lastreadas  As stablecoins algorítmicas, às vezes também chamados de não colateralizadas ou não lastreadas, não possuem garantia, pois possuem um protocolo responsável por ajustar a oferta dessa stablecoin (oferta flexível), como a stablecoin Maker Dai e a Base Coin. O mecanismo de estabilização geralmente depende de um design de "token duplo" e do mercado secundário. Portanto, as "algos" possuem uma oferta flexível, governada por um algoritmo e contratos inteligentes que incentivam os participantes do mercado a comprar ou vender determinado token para manter a estabilidade de preços pretendida. O conceito de stablecoins sem garantia (algo) foi originalmente proposto por Robert Sams em 2014, no seu trabalho "A Nota sobre Estabilização de Criptomoeda".  Esclarecidos os tipos de stablecoins e, em especial as "algos", vejamos o novo PL das senadores americanas Kirsten Gillibrand e Cynthia Lummis, que pretende regular as stablecoins de pagamento, em resposta aos riscos das stablecoins. O escândalo Terra Luna e o risco das stablecoins algorítmas Como um "dólar americano" pode chegar abaixo de 30 centavos em um dia? As stablecoins têm agregado valor, especialmente aos mercados emergentes onde as pessoas não têm acesso ao dólar e a moeda nacional é volátil.  Normalmente, quem "investe" em stablecoins são fortes adeptos das criptomoedas, mas desejam alguma estabilidade.  Contudo, a regra de ouro da estabilidade das stablecoins foi violada em maio de 2022, quando o preço da stablecoin algoritma UST - TerraUSD - que deveria se manter a US$ 1 peg - , despencou para menos de 35 centavos de dólar no que ficou conhecido como "escândalo Terra Luna". Em paralelo, seu token parceiro, LUNA - criado para estabilizar o preço da UST -, caiu de US$ 80 dólares para alguns centavos de dólar em 12/5/22. Para se ter uma ideia da dimensão do escândalo Terra Luna, confira abaixo sua linha do tempo: 7 de maio - aparecem sinais de fuga de capitais da UST. 'Curve Whale Watching', um bot que monitoriza e tweeta grandes quantidades de swaps, mostra um swap de 85 milhões de UST por 84,5 milhões de USDC. A UST caiu para um mínimo de $ 0,985 dólares no sábado, após uma série de grandes saques de UST no protocolo de empréstimo Anchor da Terra e no protocolo da exchange Curve. 8 de maio - A LFG compromete-se a emprestar 750 milhões de dólares em bitcoin aos criadores de mercado para defender a indexação da UST e outros 750 milhões de dólares de UST para serem utilizados para recomprar bitcoins depois que volatilidade diminuísse. Do Kwon, cofundador da blockchain Terra e do protocolo Anchor, faz piadas com o risco de depegging da UST. 9 de maio - Os depósitos no protocolo Anchor caem de US $ 14 bilhões para menos de US $ 9 bilhões, depois que a stablecoin algoritma UST luta para se recuperar para US $ 1 dólar. ANC, o token do protocolo, caiu 35% durante o dia.  Em seguida, a UST perde a sua referência de $1 dólar pela segunda vez e cai para menos de 35 centavos de dólar. 12 de maio - O preço do token LUNA cai 96% num dia, passando para menos de 10 cêntimos. A blockchain Terra é oficialmente paralizada - pela primeira vez - depois que o LUNA cai drasticamente de preço, ameaçando a segurança da rede. Novamente, a blockchain Terra fica interrompida, mas retoma a atividade após cerca de nove horas. Depois que a stablecoins algorítma UST perdeu sua paridade com o dólar e o token LUNA cai mais de 99%, as exchanges Okx e Binance encerram a negociação dos tokens Terra. 13 de maio - Do Kwon apresenta um "plano de revitalização" que prevê a distribuição da propriedade da rede aos detentores de UST e LUNA através de mil milhões de novos tokens. Até hoje, há desdobramentos fáticos e jurídicos do episódio Terra Luna. Não à toa, reguladores por todo o mundo estão acelerando novas legislações sobre stablecoins algorítmas - o Reino Unido planeja publicar nova lei em seis meses, e os EUA, cujo Congresso já debate o assunto desde dezembro de 2020, parece ter declarado guerra às algos. Lummis-Gillibrand Payment Stablecoin Act O S.4155 - Lummis-Gillibrand Payment Stablecoin Act é um PL de 179 páginas, criado em resposta ao escândalo Terra-Luna, que busca estabelecer uma estrutura regulatória às stablecoins de pagamento nos EUA. Para senadora Gillibrand, "A aprovação de uma estrutura regulatória para stablecoins é absolutamente crítica para manter o domínio do dólar americano, promover a inovação responsável, proteger os consumidores e reprimir a lavagem de dinheiro e as finanças ilícitas". Objetivos do Projeto de Lei de Lummis-Gillibrand Proteger os consumidores, exigindo que os emissores de stablecoin mantenham reservas de um para um e proibindo stablecoins algorítmicos sem garantia. Prevenir o uso ilícito ou não autorizado de stablecoins por emissores e utilizadores. Criar regimes regulatórios federais e estaduais para emissores de stablecoin que preservam o sistema bancário duplo. Efeitos do Projeto de Lei de Lummis-Gillibrand Se aprovada como está, a legislação: Proibirá "stablecoins algorítmicas sem lastro" - como resposta ao escândalo da TerraUSD - e exigirá que os emissores mantenham reservas de um para um. Criará regimes regulatórios federais e estaduais para emissores de stablecoin que preservam o sistema bancário duplo. Concederá permissão às 'empresas fiduciárias estaduais não depositárias' para emitir "até US $ 10 bilhões" em stablecoins de pagamento; Concederá permissão às instituições autorizadas para emitir stablecoins "até qualquer valor", sob uma carta estadual de propósito limitado. Manterá o atual sistema de cartas estaduais e federais e estabelecia regras de custódia para empresas fiduciárias não depositárias. O projeto de lei de Lummis-Gillibrand, contudo, não é uma unanimidade, e já enfrenta oposição. Críticas ao Lummis-Gillibrand Payment Stablecoin Act O grupo de defesa Coin Center expressou preocupações sobre o projeto de lei de Lummis-Gillibrand, apontando que ele seria inconstitucional e uma "má política". A proibição de stablecoins algorítmicas nos Estados Unidos apresentaria desafios constitucionais, eis que atinge essencialmente o código de software. Em linhas gerais, embora tenha como objetivo regulamentar as stablecoins como a Terra [UST],  o projeto de lei Lummis-Gillibrand pode asfixiar a inovação e violar os direitos da Primeira Emenda ao proibir todos os modelos algorítmicos. Dito de outro modo, pode haver "stablecoins algorítmicas" que - ao contrário do Terra - são totalmente descentralizadas, sem emissores ou promotores a fazer quaisquer promessas. Nesses casos, uma proibição de "stablecoins algorítmicas" é essencialmente uma proibição de publicação de código de software, o que violaria os direitos de liberdade de expressão. Nos Estados Unidos, inventar e publicar software e algoritmos, mesmo software comercial para fins comerciais e lucrativos, está protegido pela Primeira Emenda. Proibir as pessoas de publicarem código e algoritmos é uma clara restrição prévia ao discurso protegido e é inconstitucional, a menos que o governo possa demonstrar um interesse imperioso e uma adaptação restrita. Considerações finais A intenção do PL de Lummis-Gillibrand é boa, e enfrenta questões não abordadas pelos projetos de lei anteriores, como a falta de clareza sobre se o Federal Reserve [Banco Central americano] ou os reguladores estatais, como o NYDFS - Departamento de Serviços Financeiros de Nova Iorque teriam primazia na supervisão. Resta saber se o PL de Lummis e Gillibrand sobreviverá, diante de abordagens às stablecoins mais brandas - como a sugerida pelo H.R.4766 - Clarity for Payment Stablecoins Act of 2023 que, ao invés de uma proibição total, sugere uma moratória de dois anos às stablecoins algorítmas. O Clarity for Payment Stablecoins Act é um projeto de lei ainda em trâmite, mas que já recebeu a chancela em comissão na Câmara no ano passado. __________ 1 Disponível aqui.
"Se um criptoativo que não for classificado como instrumento financeiro, a estrutura da MiFID II não lhe será aplicável. Nesse caso, o regime jurídico estabelecido pela MiCA via de regra será o adequado, salvo em algumas situações excepcionais." A importância da classificação de um ativo digital como instrumento financeiro  Embora muitos não considerem importante, definir se um token ou ativo digital é, ou não, um criptoativo e se este, por sua vez, pode ser considerado, ou não, um instrumento financeiro, tal classificação é fundamental.  Isto porque, instrumentos financeiros se enquadram no escopo da Diretiva de MiFID II - Mercados de Instrumentos Financeiros, enquanto o MiCA - Mercados de Criptoativosse aplica à maioria dos criptoativos que ainda não são cobertos pela legislação existente da UE e, em especial, pela MiFID II.  Logo, a classificação de um criptoativo como instrumento financeiro, ou não, possui reflexos diretos no tratamento regulatório aplicável. É por isso que as diretrizes da ESMA - Autoridade Europeia dos Valores Mobiliários e dos Mercados sobre criptoativos são tão aguardadas.  A ESMA e a supervisão dos mercados de criptoativos da UE A ESMA possui importância ímpar na supervisão dos MiCA. Dentre os pontos chave de sua atuação, podemos citar: A ESMA - European Securities and Market Authority, junto com a Autoridade Bancária Européia [EBA, European Bank Autority] têm poderes de intervenção para proibir ou restringir a prestação de serviços criptoativos pelos provedores de serviços de criptoativos [CASPs, Cripto Assets Service Providers], bem como a comercialização, distribuição ou venda de criptoativos, em caso de ameaça à proteção do investidor, integridade do mercado ou estabilidade financeira. A ESMA também exerce um papel de coordenação significativo, sendo responsável por uma abordagem consistente à supervisão dos maiores CASPs [exchanges, corretoras de criptoativos, etc.], isto é, aqueles com uma base acima de 15 milhões de clientes como a Binance e a Kraken. Além disso, a ESMA está encarregada de desenvolver uma metodologia e indicadores de sustentabilidade para medir o impacto dos criptoativos no clima e no meio ambiente, bem como classificar os mecanismos de consenso usados para emitir criptoativos, analisando seu uso de energia e estruturas de incentivo. A ESMA também é responsável por efetuar o registro de empresas, que operam na UE sem autorização e com sede em outros países, com base nas informações submetidas pelas autoridades competentes, supervisores de terceiros países ou identificados pela ESMA. Isto viabiliza que as autoridades competentes exerçam poderes de longo alcance contra as entidades listadas pela ESMA. Por fim, a ESMA é responsável por definir as diretrizes de classificação da natureza jurídica dos criptoativos como instrumento financeiro, nos termos do artigo 2(5) do regulamento do MiCA: Art. 2(5) da MiCA: "Até 30/12/24, a ESMA deverá, para fins do parágrafo 4, alínea (a), deste artigo, emitir diretrizes de acordo com o art. 16 do Regulamento (UE) 1.095/10 sobre as condições e critérios para a qualificação de criptoativos como instrumentos financeiros." Os destinatários e o escopo das diretrizes da ESMA sobre criptoativos De acordo com este art. 2(5) da MiCA, a ESMA tem o mandato para emitir diretrizes sobre as condições e os critérios para a qualificação de criptoativos como instrumentos financeiros, conforme definido no art. 4(1), ponto (15), da Diretiva de MiFID II.  O objetivo das diretrizes é esclarecer melhor as NCAs - Autoridades Nacionais Competentes e os participantes do mercado sobre a delimitação entre os respectivos escopos de aplicação da MiCA e da MiFID II, garantindo abordagens consistentes em nível nacional em relação aos criptoativos que devem ser considerados instrumentos financeiros e, portanto, estar sujeitos às estruturas regulatórias setoriais e, principalmente, à estrutura da MiFID II.  Essas diretrizes devem ser publicadas até 30/12/24. Aqui, importante destacar que não se espera que a ESMA esclareça todo o escopo do que constitui um instrumento financeiro, mas apenas quais produtos que atendem à definição de criptoativos da MiCA se qualificam como instrumentos financeiros. Como avaliar adequadamente se um ativo digital é um criptoativo?  Antes de mergulhar neste tópico, uma ressalva: para compreender este tópico, é necessário saber a diferença entre ativo digital, criptoativo, token e criptomoeda. Basicamente, a classificação da natureza jurídica de um ativo digital é feita na prática, tendo em conta recursos específicos, o design e os direitos associados do ativo digital sob análise [abordagem caso-a-caso]. De início, é importante esclarecer que a estrutura tecnológica de um ativo é irrelevante para a finalidade dessa avaliação [neutralidade tecnológica].  Isto é, se um ativo é emitido por meio de uma DLT - Distributed Ledger Technology, ou de uma Blockchain, isso não o torna legalmente um criptoativo por padrão. Os instrumentos financeiros tokenizados [no sentido da MiFID II, com a única diferença de que são emitidos em um livro-razão digital] continuam a ser considerados instrumentos financeiros para todos os fins regulatórios. Outro ponto importante a considerar é que a classificação de um ativo digital deve ser orientada por suas características reais, em vez de depender exclusivamente do rótulo dado pelo emissor ou ofertante [substância sobre a forma]. Por fim, se um ativo digital apresentar características de um instrumento financeiro, essa característica deverá ter precedência em sua classificação [abordagem hierárquica].  Em resumo, os princípios gerais para classificar a natureza jurídica de um ativo digital são: Abordagem caso-a-caso Neutralidade tecnológica Substância sobre a forma Abordagem hierárquica Neste contexto, os criptoativos devem ser classificados como instrumentos financeiros caso estejam alinhados com a definição de instrumentos financeiros da MiFID II.  E cada tipo de instrumento financeiro, conforme previsto na seção C do anexo I da MiFID II [títulos transferíveis, instrumentos do mercado monetário, unidades de empreendimentos de investimento coletivo, derivativos e permissões de emissão], deve ser excluído antes de se concluir de que um token é de fato um criptoativo. O que deve ser considerado para avaliar se um ativo financeiro é um criptoativo utilizado como instrumento financeiro? Segundo as diretrizes propostas pela ESMA para classificar um criptoativo como instrumento financeiro, os seguintes critérios devem atendidos: Título transferível Instrumento do mercado monetário Unidade em um empreendimento de investimento coletivo Derivativo  Para ser considerado um título transferível, o criptoativo deve: conferir a seus detentores direitos semelhantes àqueles associados a valores mobiliários: por exemplo, direitos a dividendos, direitos de voto no processo de tomada de decisões do emissor, direito sobre uma parte dos ativos da empresa ou direitos sobre o produto da liquidação; não ser usado como um instrumento de pagamento; ser transferível [negociável] nos mercados de capitais2, o que deve ser interpretado de forma mais ampla: por exemplo, o ativo pode ser transferido ou negociado em locais de negociação? ser intercambiável [fungível], no sentido de que é capaz de expressar as mesmas características por unidade. Para ser considerado um instrumento do mercado monetário [art. 4(1)(17) da MiFID II c.c. art. 2(1)(o) da UCITSD c.c. Artigo 3 da Diretriz da Comissão 2.007/16/EC], o criptoativo deve: ter um período de vencimento curto e predefinido, conforme exigido pelo Regulamento de Fundos do Mercado Monetário (MMFR); apresentar valor estável e volatilidade mínima; e alinhar os retornos com as taxas de juros de curto prazo. Como nada melhor que um exemplo para se compreender algo... Já há algumas plataformas que oferecem contas de poupança de curto prazo para criptoativos com o objetivo de manter um valor estável como, por exemplo, aqueles criptoativos atrelados a moedas fiduciárias estáveis como o euro ou o dólar americano.  Ora, se tais arranjos de poupança tiverem vencimento e proporcionarem retornos aos usuários, eles podem ser classificados como ativos análogos aos instrumentos tradicionais do mercado monetário. Para ser considerado uma unidade em um empreendimento coletivo [Anexo I, seção C, ponto (3) da MiFID II], o criptoativo deve fazer parte de um projeto cripto: que envolva o agrupamento de capital de vários investidores; com o objetivo de investir de acordo com uma política de investimento definida para o benefício desses investidores; e cujos investidores não tenham controle sobre a gestão diária dos ativos incluídos no pool: muito pelo contrário, em vez disso, a gestão é controlado por terceiros ou por código de software / por algoritmos / por contratos inteligentes. Assim, na hipótese dessas condições serem atendidas, o criptoativo será qualificado como uma unidade em um fundo, enquanto o emissor do criptoativo será qualificado como um empreendimento de investimento coletivo. De outro lado, antes de vermos os critérios necessários para um criptoativo ser considerado um instrumento financeiro derivativo [art. 4(1)(49) da MiFID II c.c. Artigo 2(1)(29) do MIFIR c.c. Anexo I c.c. seção C de C(4) a (10) da MiFID], é essencial distinguir entre contratos de derivativos que tenham como subjacente um criptoativo, uma cesta de criptoativos ou um índice de criptoativos. Esses devem ser qualificados como instrumentos financeiros. Esclarecido isto, um criptoativo pode ser classificado como "instrumento financeiro derivativo" - independentemente de qual seja o meio subjacente  - se as seguintes condições forem atendidas: "Representação digital" de um contrato, o que significa que há algum tipo de acordo entre as partes envolvidas, detalhando os termos, o vencimento (se houver), o preço e outras condições do contrato; Uma referência subjacente, que determina seu valor (pode ser um ativo, um índice, uma commodity); Seu valor flutua com base em alterações nesse ativo de referência; e normalmente, envolve liquidação financeira, em que as partes trocam pagamentos em dinheiro com base na diferença entre o preço do contrato e o valor de mercado da referência subjacente. No caso de títulos que servem principalmente a uma função de investimento [derivativos securitizados], onde o investidor busca o desempenho de um ativo subjacente [como, pex., comodities, títulos transferíveis, criptoativos], não há uma reivindicação direta sobre o "ativo em si". Isso é especialmente importante no âmbito dos criptoativos, em que o direito de propriedade direta pode ser complexo ou indesejável para os investidores.    Nesse passo, os criptoativos comparáveis a esses tipos de instrumentos securitizados devem ser tratados como títulos transferíveis de acordo com a estrutura da MiFID II. Qual regime jurídico aplicável aos criptoativos que não forem considerados instrumentos financeiros? A regra geral é que a MiCA se aplicará à maioria dos criptoativos que não são considerados instrumentos financeiros e, portanto, não estão no perímetro da MiFID II.  Se um criptoativo que não for classificado como instrumento financeiro, a estrutura da MiFID II não lhe será aplicável. Nesse caso, o regime jurídico estabelecido pela MiCA via de regra será o adequado, salvo em algumas situações excepcionais.  A MiCA não se aplica a ativos digitais não transferíveis a outros titulares e àqueles que são aceitos apenas pelo emissor.  Criptoativos exclusivos e não fungíveis (NFTs) também não se enquadram no âmbito de aplicação da MiCA - art. 2(3) da MiCA -  e permanecem não regulamentados até o momento. Os critérios para classificação de NFTs fornecidos nas diretrizes da ESMA Especificamente no caso dos tokens não fungíveis [NFTs, Non Fungible Tokens], é fundamental conduzir um "teste de valor interdependente", com base nos critérios fornecidos nas diretrizes da ESMA, para verificar se um determinado criptoativo é um verdadeiro NFT. Por que? Porque, em essência, um criptoativo que não tenha exclusividade genuína devido à presença de atributos comparáveis e intercambiáveis deve estar sob a alçada regulatória da MiCA. A ESMA estabelece critérios para avaliar a exclusividade e a não fungibilidade de um criptoativo. Em essência, um criptoativo pode ser considerado exclusivo e não fungível - e portanto, é um NFT verdadeiro - se suas características e/ou os direitos que ele oferece o distinguirem de outros tokens emitidos pelo mesmo (e por qualquer outro) emissor. Aqui, cabe um parênteses para destacar como é importante a distinção entre criptoativos realmente exclusivos e aqueles que podem parecer exclusivos devido a identificadores ou padrões técnicos específicos. Nesse sentido, o critério de exclusividade não deve se basear nas especificidades técnicas do criptoativo.  Ou seja, a atribuição de um identificador exclusivo a um criptoativo não o qualifica automaticamente como não fungível. As características técnicas [por exemplo, código de identificação de token, ID de token exclusivo] e os padrões usados [por exemplo, padrão ERC-721, padrão BEP-721] podem continuar sendo um indicador, mas não devem ser de importância primordial para as autoridades nacionais competentes e os participantes do mercado ao avaliarem a fungibilidade e a exclusividade do criptoativo. O critério da não fungibilidade é decisivo, porque criptoativos emitidos "em uma grande série ou coleção", mas que podem ser consideradas "fungíveis", estão cobertas pela MiCA. Da mesma forma, o critério do valor próprio também é fundamental, porque um "NFT fracionável" pode ser qualificados como criptoativos no sentido da MiCA -  especialmente se as partes fracionadas, quando consideradas separadamente, não forem consideradas únicas e não fungíveis.  Esclarecidos os critérios de classificação dos NFTs, como a ESMA enquadra os criptoativos que se enquadram em mais de uma classificação legal? As diretrizes da ESMA sobre tokens híbridos Os criptoativos podem ser estruturados como "híbridos" que combinam, abrangem ou associam várias características, componentes e finalidades (por exemplo, meios de pagamento, tipo de utilidade, tipo de investimento) e podem desempenhar funções distintas após a emissão. Isso torna a classificação desses criptoativos particularmente difícil. Por isso, as diretrizes da ESMA estabelecem que as Autoridades Nacionais Competentes [NCAs, National Competent Authorities] devem examinar as formas híbridas de criptoativos, independentemente de como o criptoativo é designado, e seguir os princípios gerais de classificação dos criptoativos que vimos nos parágrafos anteriores. Note que, devido à natureza evolutiva dos arranjos de criptoativos no mercado, fazer uma classificação exaustiva e atualizada seria excessivamente abrangente. A determinação de uma classificação regulatória exige uma avaliação minuciosa das circunstâncias e dos atributos distintos de cada caso. Nesses casos, a classificação dos tokens híbridos pode não ser conclusiva, mesmo que sua classificação, como instrumento financeiro ou tokens de utilidade, possa oferecer uma indicação inicial da natureza do criptoativo. Quanto aos critérios associados aos tokens híbridos, definidos pela ESMA, o processo de classificação de tokens híbridos não deve apenas considerar sua natureza multifacetada, mas também priorizar sua identificação como instrumentos financeiros, quando aplicável. Nessa linha, quando um token híbrido apresenta características de um instrumento financeiro, essa característica deve ter precedência em sua classificação. Ter características de um instrumento financeiro, prevalente em sua classificação, garante clareza regulatória e consistência com a estrutura abrangente da MiCA.  Considerações finais As diretrizes da ESMA afetarão todas as empresas financeiras, além daquelas ativas no espaço das criptomoedas. Fixar premissas para classificar determinado ativo digital, ou serviços prestados em relação a esses ativos, como um instrumento financeiro ou um criptoativo, é um importante passo à frente para a clareza jurídica e a redução da incerteza regulatória.
sexta-feira, 1 de dezembro de 2023

GAFI e os desafios à regulação de criptoativos

"Nas atualização de suas diretrizes, o GAFI tentou enfrentar alguns desafios regulatórios mais urgentes, provocados pelas inovações trazidas pelos ativos virtuais, como transferências P2P e carteiras não custodiadas." GAFI ou FAFT O GAFI - O Grupo de Ação Financeira Internacional -, conhecido no exterior como FATF  - Financial Action Task Force -, foi criado como uma força-tarefa global de ação financeira intergovernamental cujo objetivo é o combate à lavagem de dinheiro e ao financiamento do terrorismo. Com representantes não-eleitos, indicados pelos países integrantes, que tem a missão de criar políticas e recomendações de vigilância financeira não vinculativas,  o GAFI não é considerado um órgão democrático. Entretanto, um país que se recuse a adotar suas diretrizes regulatórias está sujeito a graves consequências diplomáticas e econômicas como, por exemplo, não receber financiamento do FMI, perder direito de voto em outros órgãos internacionais, dentre outras. Assim, as recomendações do GAFI são objeto de discussão nos Parlamentos de suas países integrantes, como recentemente ocorreu aqui no Brasil, por ocasião da aprovação do Marco Legal das Criptomoedas. As orientações do GAFI destinadas aos ativos virtuais As primeiras orientações foram publicadas em 2015, e posteriormente atualizadas em 2019, em 2020 e 2021. Em 2020, foi publicado o "12 Month Review of Revised FATF Standards" - atualização sobre provedores de serviços de ativos virtuais - e também um relatório para o G20 sobre stablecoins. Por fim, em outubro de 2021, o GAFI publicou uma última atualização de suas diretrizes chamada de "Updated Guidance for a Risk-based approach - Virtual Assets and Virtual Asset Service Providers". As diretrizes do GAFI basicamente espelham as políticas existentes para o combate à lavagem de dinheiro do regulador americano FinCEN. Em sua atualização de 2019, o GAFI orientou que os países fizessem um forte monitoramento do mercado de criptoativos, equiparando provedores de produtos e serviços relacionados a criptoativos às instituições financeiras tradicionais. Aqui, vale destacar que ao contrário das políticas sobre sigilo bancário e diretrizes do FinCEN existentes nos EUA desde 2013, em 2015 e em 2019 o GAFI não sugeriu políticas rígidas ou invasivas de privacidade. Em 2021,  o GAFI sugeriu aos países a criação de dois requisitos em suas respectivas legislações que introduziam práticas de compliance do sistema bancário no mercado de criptoativos, bem como impactavam profundamente a privacidade no mercado cripto. É o que veremos a seguir. "Travel Rule" ou regra de viagem Segundo o GAFI, não basta que os "provedores de serviços de ativos virtuais" (VASPs) compartilhem dados de clientes uns com os outros. Também é preciso que seja realizada a devida diligência sobre outros VASPs, com os quais seus clientes fazem transações. Por isso, o GAFI acrescentou às suas diretrizes outros requisitos de informação que deveriam acompanhar as transferências de criptoativos -  o que está consagrado na Recomendação nº 16 do GAFI como "travel rule" ou "regra de viagem" em português: "Recommendation 16. As noted in Section III, providers in this space must comply with the requirements of Recommendation 16 (i.e. the 'travel rule'). This includes the obligation to obtain, hold, and submit required originator and beneficiary information associated with VA transfers in order to identify and report suspicious transactions, take freezing actions, and prohibit transactions with designated persons and entities. The requirements apply to both VASPs and other obliged entities such as FIs when they send or receive VA transfers on behalf of a customer." A regra de viagem não exige que estas informações sejam coletadas para cada transferência individual, mas que um VASP (ou outra entidade regulamentada) realize a devida diligência em um VASP, antes de efetuar a primeira transação com ele pela primeira vez, comprovando se existe: Evidências de que o VASP é regulamentado; Mídia adversa, incluindo se o VASP foi submetido a alguma ação regulatória; e Evidência de que o VASP possui estrutura adequada e satisfatória às políticas de combate à lavagem de dinheiro e ao financiamento ao terrorismo (AML/CFT): por exemplo, se ele executa verificações KYC e possui uma política AML/CFT, ou facilita transações com contrapartes de alto risco. Aqui, o GAFI adota uma abordagem neutra em termos de tecnologia e não prescreve uma tecnologia específica ou abordagem de software que os provedores devam implantar para cumprir a Recomendação 16. Logo, qualquer tecnologia ou solução de software é aceitável, desde que permita que a instituição ordenadora e a instituição beneficiária (quando presente na transação) cumpram suas obrigações de AML/CFT A regra de viagem é, portanto, o primeiro requisito que os países deveriam incorporar em suas respectivas legislações. Quanto ao segundo requisito, como veremos a seguir, aconselha políticas mais rígidas e, para muitos, excessivamente invasivas à privacidade dos indivíduos. Imposição de Identificação do clientes e coleta de dados Aqui, as diretrizes do GAFI também determinam que as corretoras de criptoativos coletem informações específicas sobre a quem seus clientes estão pagando, ou por quem seus clientes estão sendo pagos, o que também está consagrado na Recomendação nº 16, após a atualização de 2021: "294. VASPs must transmit relevant originator and beneficiary information as set out in the INR.16." Assim, os VASPs devem transmitir informações relevantes sobre o originador e o beneficiário, conforme estabelecido na INR. 16. Os países podem até estipular um limite mínimo para transferências de criptoativos, abaixo do qual a verificação das informações do cliente e do beneficiário não é necessária, a menos que haja suspeita de lavagem de dinheiro ou financiamento ao terrorismo. Por exemplo, para transferências ocasionais de VA abaixo de USD/EUR 1.000, ou o valor equivalente em moeda local, ou conforme definido nas regulamentações locais, os requisitos da Recomendação nº 16 se aplicam. Então, será exigido que os provedores de serviços de criptoativos: Informem às autoridades o nome do originador e do beneficiário da transferência de criptoativos; Informem às autoridades um endereço de carteira para cada um ou um número de referência de transação exclusivo. verifiquem as informações relativas ao cliente, sempre que houver circunstâncias suspeitas relacionadas a lavagem de dinheiro e financiamento ao terrorismo. Note que essa recomendação do GAFI já era exigida no Brasil desde 2019, através da primeira normativa sobre criptoativos no país. Cuida-se da Instrução Normativa da Receita Federal nº 1888/2019, expedida pela Receita Federal, que criou uma definição sobre ativos digitais e ao mesmo tempo criou a obrigação de reporte sobre operações com criptoativos para as exchanges sobre movimentações de seus clientes. Nessa linha, os titulares envolvidos na transação, quantidade de criptoativos, valor da operação e valor das possíveis taxas de serviço devem ser reportados à autoridade tributária brasileira, sob pena de multa. Neste contexto, ao atualizar suas diretrizes sobre criptoativos e orientar a prática da devida diligência da contraparte do cliente, o GAFI sugere - na mesma linha da IN nº 1888/2019 - que os governos exijam dos provedores de serviços relacionados a criptoativos as mesmas práticas de compliance comuns às instituições financeiras. Desafios gerados pelas inovações trazidas pelos criptoativos Nas atualização de suas diretrizes, o GAFI tentou enfrentar alguns desafios regulatórios mais urgentes, provocados pelas inovações trazidas pelos ativos virtuais. Vejamos, a seguir, quais são essas dificultades regulatórias. ¾ As transações Peer-to-Peer (P2P) ou via exchange descentralizada (DEX) Apesar da maioria das pessoas transacionarem criptoativos via corretoras centralizadas (CEXs), os detentores de criptoativos podem realizar transac¸o~es diretas, ponto a ponto (chamadas também de transferências P2P / peer-to-peer), ou através de corretoras descentralizadas (apelidadas de DEXs ou Decentralized Exchanges). Tanto nas transferências P2P, como nas DEXs, a possibilidade de exige^ncia regulato'ria e' baixa. Isto porque, nesse tipo de plataforma, ha' negociac¸a~o direta dos criptoativos entre os usua'rios, efetivada apenas pelo software que realiza o encontro das ordens de compra e venda, sem a necessidade de supervisa~o humana. Tendo isto em conta, a abordagem da natureza peer-to-peer (P2P) dos ativos virtuais é uma questão que em intrigado o GAFI. No setor financeiro tradicional, onde as normas do GAFI são aplicadas há mais de três décadas, não são possíveis transações eletrônicas P2P completas. Consequentemente, as normas do GAFI nunca abordaram como gerenciar eventuais riscos associados às transferências eletrônicas P2P que são a principal inovação do bitcoin. Por não envolverem a presença de entidades reguladas, o GAFI têm classificado as transações P2P como de alto risco, porque tais transações ocorrem fora da esfera de supervisão "tradicional" de órgãos de fiscalização. Por consequência, desde a publicação de suas primeiras diretrizes para o mercado de criptoativos em 2015, o GAFI se propôs a abordar os riscos relacionados às transferências P2P, por entender que este tipo de transação oferece aos atores ilícitos um método ideal para transferir fundos. Após críticas de muitos players da indústria de criptoativos e organismos internacionais como o Coin Center - que se propõe a educar os formuladores de políticas e a defender abordagens regulatórias sensatas para criptoativos - , o GAFI abrandou sua abordagem. O GAFI decidiu não estender suas diretrizes a usuários individuais de ativos virtuais, ou recomendar uma fiscalização direta pelos governos das transferências P2P, optando por uma abordagem diferente: "VASPs should be aware of the risk posed by VA transfers to/from unhosted wallets and related P2P transactions." Daí, o GAFI passou a recomendar aos países que considerem administrar os riscos relacionados às transferências P2P, mas através de uma regulação que estipule como intermediários devem interagir com carteiras não custodiadas. ¾  Carteiras não custodiadas [hardwallets] Carteiras não custodiadas, conhecidas como hardwallets, são aquelas não hospedadas por um provedor de serviço relacionado a criptoativos, ou outra entidade regulamentada. E em relação às carteiras não custodiadas, o GAFi sugere uma série de medidas que os países devem tomar para enfrentar os riscos das transações P2P, em especial a exigência de que os provedores de serviços cripto apresentem relatórios de transações monetárias, quando seus clientes fazem transações com hardwallets. Observe que tal diretriz é uma tentativa de impor um paradigma regulatório similar ao exigido de instituições financeiras  no setor de ativos virtuais. Pensamentos finais O GAFI peca ao pautar suas diretrizes na suposição de que as transações envolvendo carteiras de hardware, por não envolverem contrapartes regulamentadas, oferecem riscos mais altos que transações realizadas através dos provedores de serviços relacionados a criptoativos. Primeiro, porque o fato de tais transações P2P serem realizadas fora da esfera de supervisão "tradicional" não necessariamente significa impossibilidade de fiscalização. Na maioria das vezes, os órgãos fiscalizadores não conta com tecnologia de ponta para o exercício da fiscalização. Já existem recursos na própria tecnologia que podem ajudar a solucionar a incrementar a fiscalização, como as ferramentas de análise - disponibilizadas por empresas como Elliptic e Chainalysis, que possibilitam rastrear cada transação em todo o ecossistema cripto. Segundo, porque os dados nos mostram um contexto diferente. A grande maioria das atividades transacionais P2P em criptos é legítima e não envolve interação com entidades ilícitas. Pesquisa realizada pela empresa de análises on-chain Elliptic mostrou que apenas 0,6% das transações P2P em Bitcoin foram enviadas ou recebidas por uma entidade ilícita em 2020. Na mesma linha, em 2023, em relatório sobre as diretrizes revisadas dos fatores de risco de lavagem de dinheiro e financiamento do terrorismo, a ConsenSys apontou que o uso de carteiras não custodiadas não é, em si, um fator que, por si só, mereça a aplicação da due diligence aprimorada (EDD). Logo, a orientação do GAFI para que os países proíbam o uso de hardwallets ou imponham controles mais rigorosos pelos VASPs a clientes que se utilizem de carteiras não custodiadas é desproporcional ao quadro real de risco. A pesquisa da Elliptic indica que aproximadamente 80% dos lucros criminosos em Bitcoin são lavados através de corretoras de criptoativos e outros VASPs. De outro lado, proibir VASPs de terem qualquer interação com cold wallets é inviável. A natureza não permissionada e imutável dos VASPs de código aberto torna impossível a rejeição de transferências de fundos recebidos de hard wallets. Apesar de possível o bloqueio ou restrição ao acesso dos clientes a esses fundos após recebê-los, um VASP não pode evitar recebê-los de uma carteira auto custodiada. O uso de uma hardwallet é semelhante ao uso de um navegador da Web. Da mesma forma que os navegadores da Web permitem que os consumidores tenham amplo acesso à Internet, as carteiras não custodiadas são essenciais para que os usuários acessem e operem no espaço da Web3. 
sexta-feira, 17 de março de 2023

Projeto de lei dos EUA sobre CBDC

"As CBDCs continuaram a ganhar mais atenção, mas com essa atenção, organizações e pessoas de peso têm se manifestado contra elas em virtude dos riscos. Ser o primeiro a lançar uma CBDC, nem sempre significa chegar na frente em termos de cibersegurança, inovação e benefícios à sociedade." Mais de cem governos estão buscando emitir suas moedas digitais  Assim como o Banco Central do Brasil, a cada dia vemos por todo o mundo, mais e mais lançamentos de provas de conceito das Central Bank Digital Currencies - CBDCs, ou moedas digitais dos Bancos Centrais. China, França, Índia, Israel lançaram seus projetos piloto de CBDCs, e no Caribe, várias moedas digitais dos respectivos Bancos Centrais entraram em operação. Recentemente, o Paquistão e o Reino Unido aceleraram os planos para seus próprios lançamentos de CBDCs. O Banco Central das Bahamas passou por um projeto piloto e foi além, tornou-se a primeira autoridade monetária a lançar sua moeda digital nacional no dia 20/10/2020.  Mas no começo deste ano, um fato curioso chamou a atenção: um projeto de lei que visa proibir o Federal Reserve - the FED, que equivale ao Banco Central dos Estados Unidos - de emitir uma CBDC de "varejo".  Tendo em conta que mais de 100 (cem) governos estão buscando emitir suas CBDCs, representando mais de 95% (noventa e cinco por cento) do Produto Interno Bruto (PIB) global, de acordo com o Atlantic Council Geo-economics Center, no artigo de hoje do Criptogalhas, exploraremos uma visão geral das CBDCs e veremos por que, apesar das CBDCs continuarem a ganhar mais atenção, mais pessoas têm se manifestado contra elas. CBDCs versus criptomoedas Uma moeda digital do Banco Central em nada se parece com uma criptomoeda (Bitcoin - a primeira criptomoeda -  e as altcoins - criptomoedas que surgiram após o bitcoin). As CBDCs são centralizadas, possuem uma autoridade central responsável pelas ocorrências e problemas, geralmente uma autoridade monetária ligada a determinado país, que regula o estado das transações na rede.  Já as criptomoedas não estão vinculadas à nenhuma Economia ou país; são um novo ativo, digital e com alcance global, garantido por algoritmos criptográficos e protocolos descentralizados, executados em um blockchain de código aberto.  Cibersegurança e CBDCs Cibercriminosos estão frequentemente à espreita em busca de alguma vulnerabilidade não mitigada para lançar um ataque cibernético de sucesso. Por mais que muitos Bancos Centrais estejam buscando tecnologias como blockchain para lançar suas CBDCs, é preciso considerar que cibercriminosos representam ameaças à cibersegurança dos sistemas de informações de uma organização ou de um país.  Antes de emitir uma CBDC, é preciso considerar também os ataques cibernéticos entre estados-nação que são projetados para atingir objetivos políticos, econômicos  e militares. Hoje em dia, os conflitos entre países extrapolam o plano físico e se travam também em ambiente digital. CBDCs de atacado versus CBDCs de varejo Como o nome pode sugerir, os CBDCs de varejo são destinados ao varejo, ou ao consumidor. Estes seriam projetados para serem usados exatamente como os pagamentos digitais que já existem hoje, onde as pessoas poderiam usá-los para comprar mercadorias, pagar salários ou armazenar riqueza. Atualmente, existem três variações principais dos CBDCs de varejo: o CBDC direto, o CBDC intermediado ou indireto e a CBDC sintética. Em contraste com os diferentes modelos de "CBDCs de varejo", as CBDCs de atacado estariam restritos às instituições financeiras para uso durante a liquidação interbancária - é este tipo de CBDC que o Banco Central do Brasil está desenvolvendo.  Em outras palavras, uma CBDC de atacado serviria como uma forma de os bancos enviarem dinheiro entre si.  Aqui, importante ressaltar que uma CBDC de atacado não é unanimidade. Para Philip Lowe, , por exemplo, presidente do Banco Central da Austrália: "Até hoje, porém, não temos visto um forte argumento de política pública para avançar [em direção a uma CBDC], especialmente dado o eficiente, rápido e conveniente sistema de pagamentos eletrônicos da Austrália". FED americano e CBDC Embora o Federal Reserve não tenha tomado nenhuma decisão sobre a busca ou implementação de uma moeda digital do banco central, ou CBDC, vem explorando os benefícios e riscos potenciais dos CBDCs de diversos ângulos, inclusive através de pesquisa e experimentação tecnológica.  O foco principal do FED é "se e como" um CBDC poderia melhorar um sistema de pagamentos doméstico já seguro e eficiente nos Estados Unidos. O CBDC é geralmente definido como uma responsabilidade digital de um banco central que está amplamente disponível ao público em geral.  Hoje nos Estados Unidos, as notas do Federal Reserve (ou seja, moeda física) são o único tipo de dinheiro do banco central disponível para o público em geral.  Como as formas de dinheiro existentes, uma CBDC permitiria que o público em geral fizesse pagamentos digitais. Como um passivo do Federal Reserve, porém, uma CBDC seria o ativo digital mais seguro disponível para o público em geral, sem risco associado de crédito ou liquidez. O Conselho do Federal Reserve emitiu um documento de discussão que examina os prós e os contras de um potencial CBDC dos EUA.  Como parte deste processo, o FED tem buscado o feedback do público sobre uma série de tópicos relacionados ao CBDC.  O Federal Reserve está empenhado em ouvir uma ampla gama de vozes sobre esses tópicos, antes de decidir lançar uma CBDC, o que parece sensato em um país democrático como os EUA - apesar de muitos bradarem que eles estão atrasados no lançamento de uma moeda digital. Será mesmo? Projeto de lei diz não à CBDC "de varejo" nos EUA O deputado americano Tom Emmer (R-MN) introduziu uma um novo projeto de lei que visa proibir o Federal Reserve de emitir uma moeda digital de banco central de varejo (CBDC).  Emmer foi o primeiro membro do Congresso a fazer pressão nos CBDCs através de uma proposta de legislação no ano passado, quando ele introduziu um PL semelhante.  O primeiro projeto apresentado visa proibir que o FED emita um CBDC "de varejo", isto é, emita "uma moeda digital do banco central diretamente para um indivíduo". Também proibe explicitamente o FED de oferecer "produtos ou serviços diretamente a uma pessoa", e de manter "uma conta em nome de um indivíduo". Agora, essa versão atualizada oferece proteções adicionais como proibir tanto a Assembléia de Governadores quanto o Comitê Federal de Mercado Aberto de usar "qualquer moeda digital do banco central para implementar a política monetária".  Por fim, o novo projeto de lei proíbe o Federal Reserve de conduzir programas piloto do CBDC sem informar o Congresso. Vamos, a seguir, compreender melhor o significado de cada uma dessas disposições. CBDCs de varejo Durante os últimos 12 meses, o FED tomou uma posição curiosa sobre se emitirá um CBDC. O entendimento, frequentemente mencionado por funcionários do Federal Reserve tem sido: "O Federal Reserve não pretende proceder com a emissão de um CBDC sem o apoio claro do poder executivo e do Congresso, idealmente na forma de uma lei de autorização específica". (grifamos)  Contudo, para uma instituição que se tornou célebre por sua cuidadosa seleção de palavras, é preocupante que a postura oficial seja que a aprovação do Congresso seria "ideal" e que a intenção é não proceder sem ela. Nesse quadro, legislações como a proposta pelo Deputado Emmer é necessária para retirar oficialmente uma CBDC de varejo da mesa. CBDC e Política Monetária Antes de prosseguirmos, um esclarecimento. Nosso objetivo aqui, não é discutir os meandros da política monetária de um país, mas apenas pontuar os objetivos da proposta legislativa objeto de nosso artigo. Nesse passo, os proponentes dos CBDCs frequentemente apontam uma "política monetária melhorada" ou uma "maior eficiência da política monetária" como benefícios da adoção de uma CBDC.  Na prática, contudo, esta linguagem significa que os Bancos Centrais fiscalizariam as transações individuais em uma tentativa de "afinar" a economia.  E no caso dos EUA, uma maneira de realizar esta sintonia fina pode, por exemplo, cobrar taxas de juros negativas para penalizar essencialmente as pessoas por não gastarem dinheiro durante uma recessão. Em outras palavras, o FED cobraria das pessoas para induzi-las a gastar.  Nesse passo, esse projeto de lei americano visa proibir especificamente este tipo de comportamento, vedando o uso de CBDCs para a política monetária. Programas Piloto A seção final do projeto de lei exige que relatórios trimestrais sejam feitos ao Congresso, tanto para pesquisas da CBDC quanto para programas piloto da CBDC.  Embora não tenha sido concedida a autoridade para lançar uma CBDC, os bancos regionais do FED têm estado muito ocupados desenvolvendo e pilotando potenciais CBDCs.  Neste contexto, surgiram preocupações no final de 2022 sobre como esses programas piloto estão sendo operados - dado que, num país democrático, a transparência no pilotos de uma CBDC deve ser amplamente respeitada e observada.  Em um comunicado à imprensa da época, o próprio Emmer afirmou que quanto mais aprendemos sobre o trabalho do Boston FED em [CBDCs], mais nos preocupamos com a falta de transparência, especialmente no que diz respeito à sua parceria com o setor privado. Sabiamente, o projeto de lei do Deputado Emmer exige que o Conselho do Federal Reserve trabalhe com os bancos regionais para coletar informações sobre suas pesquisas e programas piloto e para que tais informações fossem  relatadas ao Congresso.  Embora ainda haja riscos de permitir que o Federal Reserve explore os CBDCs em desenvolvimento, a exigência do Representante Emmer introduziria um necessário e inquestionável nível de transparência. Notas finais As CBDCs continuaram a ganhar mais atenção, mas com essa atenção, organizações e pessoas de peso têm se manifestado contra elas em virtude dos riscos de que as CBDCs usurpem o setor privado e ponham em perigo as liberdades fundamentais dos cidadãos. Que bom seria se os Bancos Centrais, antes correrem para emitirem suas CDBCs, tivessem como balizas uma legislação como a proposta nos EUA, que exige a participação dos Parlamentos no processo, em um importante passo na proteção dos cidadãos em todo o mundo. Conhecimento é poder!! Nos vemos em breve! 
"Os países asiáticos como Hong Kong, Coreia do Sul, Índia e Singapura diferem em suas abordagens de tentativa de administrar e prevenir crises no mercado de criptoativos."   Regular não é uma tarefa fácil Pergunte a qualquer legislador e eles te darão a mesma resposta. Assim que eles acabam de compreender o que quer que tenha causado a última crise no mercado financeiro, algo novo surge e altera o caminho pelo qual eles estavam apurando as responsabilidades. Este cenário, no entanto, não significa que todos os reguladores adotem a mesma abordagem para gerenciar e prevenir riscos. Países asiáticos, por exemplo, como Coréia do Sul, Hong Kong, Índia e Singapura diferem em suas abordagens na tentativa de administrar e prevenir riscos no mercado de criptoativos. É isto que veremos no artigo de hoje.  As abordagens para regular o mercado de criptoativos têm sido diferentes  Diante das diversas espécies de criptoativos, os muitos tipos de de blockchains, além de tantos países diferentes envolvidos, no final de 2022, Hong Kong atualizou seus regulamentos sobre o mercado cripto, sinalizando a meta de aumentar o acesso do varejo a esta nova classe de ativos. Poucos dias depois, o FTX Group entrou em colapso e pediu falência na vizinha Cingapura, que vem endurecendo as regulamentações após grandes perdas este ano. A Coreia do Sul, que ainda está lidando com as consequências do colapso dos tokens Terra-Luna, está atualmente se concentrando no endurecimento da regulação. E a Índia, um tanto peculiar na região, está usando a política tributária para tentar direcionar o comportamento dos investidores. Neste contexto, vejamos então como esses diferentes países asiáticos estão abordando a regulamentação do mercado cripto. As diferentes jurisdições na Ásia ainda estão tentando descobrir o que fazer com essa nova classe de ativos Os países asiáticos estão se debruçando menos sobre qual é a taxonomia dos tokens e como eles operam. Pode-se dizer que eles estão mirando mais os pontos tradicionais como, por exemplo: o que sabemos sobre criptoativos? Onde estes criptoativos estão? Eles são seguros? Quando olhamos para o foco dos dois maiores players da região sobre o assunto, podemos verificar o seguinte. 1) Singapura Há alguns anos, Singapura foi um dos primeiros países a adotar a ideia de que era necessário desenvolver um hub cripto para fomentar a inovação. Portanto, eles estavam na vanguarda na tentativa de criar um ambiente que atraísse investimentos e projetos blockchain promissores, como o marketplace descentralizado de dados Ocean Protocol, capazes de trazer inovação tecnológica ao país, em um cenário de investimentos atrativos.   Então, o país começou a perseguir este objetivo.  Contudo, no ano passado, vimos o que a má-gestão de criptoativos ou a negligência em projetos cripto pode causar. Os colapsos do fundo de hedge Three Arrows (3AC) e da stablecoin algorítma Terra-Luna acabou refletindo em Singapura, porque ambos os projetos tinham uma conexão com o país, e foi grande o número de investidos atingidos. Pois bem, tudo isto levou os reguladores de Singapura a adotar uma postura muito mais cautelosa em relação à especulação de varejo e a parte da indústria cripto focada no varejo.  Assim, os reguladores se tornaram muito mais rígidos em sua abordagem regulatória quanto aos investimentos cripto no varejo, dividindo as classes de investidores para conceder maior liberdade àqueles investidores com alto patrimônio liquido. E ao fazer isto, os reguladores querem garantir que as pessoas estejam adequadamente protegidas dos riscos que vimos no mercado cripto no ano passado. Neste contexto, Singapura ainda quer se tornar um hub de inovação, mas um hub que é focado na produtividade dos usos da tecnologia blockchain. O país não quer os atores especulativos do mercado cripto, que causam toda sorte de riscos e problemas, e este é o cenário onde Singapura está agora. 2) Hong Kong No final de outubro deste ano, Hong Kong começou a migrar em direção oposta a Singapura, para um ambiente onde eles querem permitir o mercado cripto de varejo, via ETFs (Exchage-Traded Funds). O intuito, aqui, é que através de ETF's, os investidores do mercado tradicional tenham acesso a esta nova classe de ativos. Nesse passo, os reguladores começaram a analisar também o status legal das redes de contratos inteligentes e dos ativos tokenizados, a fim de criar uma estrutura regulatória em Hong Kong que funcione para eles.  E o curioso aqui é que essa mudança no approach regulatório de Hong Kong aconteceu subitamente.  Antes, o Hong Kong adotava um regime de licenciamento voluntário -  que alguns classificavam como um sinal de um ambiente pouco amigável para o mercado cripto. Pouco amigável porque a empresa que optasse se tornar licenciada, não poderia oferecer seus serviços a investidores de varejo - a menos que o investidor tivesse mais de US $1.000.000 em ativos para investir. Portanto, o regime regulatório anterior de Hong Kong estringia as empresas licenciadas a investidores com alto patrimônio liquido, por se presumir que teriam uma melhor compreensão dos riscos que estariam assumindo. E isto tudo em uma época que a China basicamente proibia tudo que era relacionado a criptoativos, como a mineração. Também houve um certo grau de agitação política em Hong Kong, e algumas restrições bastante severas por causa da Covid-19, que duraram mais tempo em Hong Kong que em outros lugares da Ásia. De modo que todo este cenário de fundo sugeria que Hong Kong não era o lugar para estar no mercado cripto. No entanto, para surpresa de todos, o país começou a se posicionar como o centro proeminente da Ásia para o mercado cripto, o que tem encorajado outras empresas cripto a investir e se estabelecer no país. Daí, temos essas duas jurisdições indo em caminhos opostos agora. E com isto, a pergunta que todos estão fazendo agora é: qual tipo de impacto essa mudança na abordagem regulatória desses dois países trará para investidores e o mercado cripto asiático? Ainda não temos a resposta para tal questão, porque em meio ao efeito dominó gerado pela quebra do FTX Group, tudo ainda está acontecendo. Some-se a isto, o fato de que o FTX, antes de ser domiciliada nas Bahamas, ela tinha domicílio empresarial em Hong Kong. E o Grupo decidiu mudar sua sede de Hong Kong, justamente porque depois de vários países da Ásia, principalmente a China, adotaram uma postura muito mais dura em relação ao mercado de criptoativos. 3) Coréia da Sul O país, por vários anos, tem sido um lugar com forte interesse e volumes significativos de atividade no mercado cripto de varejo. Também, é o lugar onde surgiram vários protocolos DeFi, com uma comunidade de desenvolvedores de software bastante ativa. Quanto à abordagem regulatória, a Coréia sempre se posicionou como um país pró-cripto, e que pegou carona no enorme boom do mercado cripto entre 2017 e 2020. Muitos investidores coreanos fizeram fortuna em cripto nesta época. Então, o cenário era favorável ao mercado cripto quando o atual Presidente sul coreano estava disputando as eleições, e propôs continuar com essa postura pró-cripto, mas através de uma estrutura regulatória abrangente para regular a indústria. No entanto, quando o Presidente John tomou posse em maio, logo depois que o episódio Terra-Luna veio a tona, houve uma mudança na proposta do regime regulatório coreano, que atualmente está paralisada. Dito de outro modo, a abordagem regulatória na Coreia foi impactada pelo colapso da Terra-Luna, tornando o complexo debate sobre qual o regime cripto mais indicado, ainda mais complexo. Isto porque, reguladores e autoridades coreanos estão debatendo a legislação do mercado cripto, enquanto lidam com a irritação de investidores causada pelo catastrófico projeto Terra-Luna, e com o alerta vermelho da Interpol emitido contra Do Kwon.  Por isso, ainda não há uma posição muito clara da Coreia do Sul sobre qual será sua abordagem regulatória do mercado cripto.   4) Índia A Índia tem usado a tributação, que não é exatamente um regime regulatório, como forma de incentivar ou desincentivar certos tipos de comportamento no mercado de criptoativos. Eles também tomaram medidas para tornar mais difícil para instituições como a Coinbase usar bancos indianos, ou ter acesso a bancos indianos, e outros serviços afins. Isso significa que, na prática, se você é um indiano tentando fundar uma empresa de carteiras digitais (wallets), o número de obstáculos pelos quais você deve passar é tão exaustivo que é mais provável que você desista no meio do caminho. Mesmo que não haja nada tecnicamente dizendo que você não tem permissão para abrir uma empresa de wallets. Notas finais Atualmente, existem muitas empresas cripto não regulamentadas, ou operando em certas ilhas ou países com pouca ou nenhuma regulamentação.  Mais do que isso, a maioria dos países ainda não possui regulamentação e requisitos unificados para os players do mercado cripto. Todavia, como vimos, a abordagem regulatória e os requisitos não são os mesmos em todos os países, e o que é obrigatório em alguns lugares, pode não ser em outras jurisdições para empresas que operam lá.  Ora, isto é um grande problema. Principalmente se levarmos em conta a demanda crescente do lado dos players financeiros tradicionais para se envolverem com players cripto legítimos.  O ideal, contudo, seria um mundo onde vigorasse um meio-termo de todas essas abordagens regulatórias, em um regime regulatório unificado para todos os países. Principalmente se o mercado a ser regulado presta serviços e gera produtos ligados a um ativo transacionado em diversas jurisdições e com alcance global. Conhecimento é poder!! Nos vemos em breve!