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Apito Legal

Artigos sobre a copa do mundo de 2010 e 2014.

Roberto Benevides
segunda-feira, 14 de julho de 2014

Maracanã coroa os novos reis do futebol

O Brasil esperou 24 anos para conquistar o tetracampeonato em 1994, na decisão por pênaltis com a Itália. A Itália esperou 24 anos para conquistar o tetracampeonato em 2006, na decisão por pênaltis com a França. A Alemanha esperou 24 anos para conquistar o tetracampeonato em 2014 e estava a sete minutos da decisão por pênaltis com a Argentina, mas o feitiço contra os tricampeões do mundo foi desfeito por um golaço de Mario Gotze, que entrara no jogo meia hora antes. Primeiro jogador nascido na Alemanha unificada a vestir a camisa da seleção, o garoto de 22 anos, completados em 3 de junho, foi um dos sete jogadores do Bayern escalados por Joachim Low para arrebatar ao Brasil, talvez não em definitivo, mas certamente por um bom tempo, o título de país do futebol. Não há em todo o mundo da bola nenhum outro país jogando hoje o futebol redondinho, organizado tanto quanto criativo, e incansável que os alemães vêm mostrando com a seleção e seus principais times. E não se viu nesta Copa do Mundo nenhuma seleção que se comparasse à alemã na busca incessante da vitória sem perder jamais a consciência de que correr riscos, muitas vezes necessários, não implica em desorganização tática. A Alemanha sabe se defender, mas não abre mão de atacar. Diferentemente da Holanda, outra equipe que se destacou nos campos brasileiros, não depende exclusivamente dos contra-ataques e da inspiração solitária de um grande craque. Se ao seu futebol coletivo e fluente acrescentasse o encanto eventual do drible, esta Alemanha tetracampeã do mundo seria um time inesquecível. Talvez lhe falte um fora-de-série, como Messi ou Neymar, ou pelo menos um atacante esfuziante como Robben, outro destaque do Bayern, mas não lhe falta criatividade na exploração dos caminhos que levam a bola da área em que Neuer é soberano àquela em que o craque Muller, o eterno Klose, o jovem Gotze ou o incansável Schurrle fuzilarão o goleiro adversário. Vale comparar: a Alemanha de todos eles e mais Lahm, Boateng, Howedes, Hummels, Schweinsteiger, Ozil, Kroos venceu cinco jogos no tempo normal, dois na prorrogação, marcou 18 gols (sete no Brasil!!!!!!!!!!) e sofreu apenas quatro; a Argentina de Messi marcou oito gols, seis deles na primeira fase, e jogou 450 minutos das oitavas até a final deste domingo, dia 13, para marcar os outros dois. Na semifinal com a Holanda, depois de 120 minutos em branco, ganhou na decisão por pênaltis. A Copa que craques de todo o mundo têm festejado como a melhor de todos os tempos não poderia ter outro campeão. Os alemães são os novos reis do futebol, consagrados por mais de 70 mil súditos nas dependências reais do Maracanã. Que vergonha, gente! É verdade: o árbitro argelino Djamel Haimuidi presenteou os holandeses, aos dois minutos de jogo, ao transformar em pênalti a falta cometida por Thiago Silva em Robben fora da área. É verdade: De Guzmán estava impedido ao receber a bola de Robben e cruzar para David Luiz dar uma preciosa assistência que Blind agradeceu para fazer 2 a 0 aos 16 minutos. É verdade: aos 34 minutos, o cegueta argelino também não viu o agarrão de Vlaar em David Luiz dentro da área e, portanto, roubou ao Brasil a chance de fazer 1 a 2. E, aos 20 do segundo tempo, não viu o zagueiro holandês usar o braço para cortar uma bola na área. É igualmente verdade que o quarto lugar em 2014 é uma posição melhor do que o Brasil alcançou nas Copas de 1966 (com Pelé, Garrincha, Gerson, Tostão e Jairzinho, entre outros, no grupo), 1982 (com Edinho, Junior, Falcão, Zico e Sócrates), 1986 (com Edinho, Junior, Sócrates, Zico, Careca, Muller e Casagrande), 1990 (com Taffarel, Jorginho, Ricardo Rocha, Ricardo Gomes, Dunga, Muller, Careca e Romário), 2006 (com Cafu, Roberto Carlos, Juninho Pernambucano, Robinho, Ricardinho, Ronaldinho Gaúcho, Fred e Ronaldo) e 2010 (com Julio Cesar, Daniel Alves, Maicon, Ramires, Kaká, Luís Fabiano e Robinho). E é a mesma colocação alcançada pelo Brasil de Leão, Carpegiani, Rivellino, Paulo César Caju e Jairzinho na Copa de 1974. Nenhuma destas verdades apaga, porém, a vergonha de termos perdido em casa por 3 a 0 para a Holanda no sábado, 12, oito dias depois de sermos goleados por 7 a 1 pela Alemanha. Vergonha maior o futebol brasileiro jamais viveu. Nem igual. É a pura verdade. Mistério Acaba a Copa do Mundo, ficará a dúvida: onde ficou o futebol instigante e intenso da Seleção na Copa das Confederações? Como aquele Brasil compacto, organizado e insistente no ataque virou este bando dividido em linhas estanques, nervoso e cheio de pressa para se livrar da bola, como vimos em tantos momentos dos cinco primeiros jogos e quase sempre no duplo vexame diante da Alemanha e da Holanda? Por que diabos a Seleção não conseguiu resgatar aquele futebol de um ano atrás que nos deu, mais do que a esperança, a convicção de que éramos favoritos ao título mundial, mesmo sabendo que a Alemanha viria ao Brasil com um time tecnicamente superior a todos os adversários? Certidão Depois da derrota por 3 a 0 para a Holanda, Luiz Felipe Scolari voltou a invocar o argumento de que a equipe brasileira "é muito jovem" para justificar os vexames sofridos na reta final da Copa. Errou mais uma vez. A média de idade da Alemanha que goleou o Brasil por 7 a 1 é de 27,7 anos se considerarmos apenas os 11 titulares, ou de 27,10 se contarmos os 14 jogadores usados por Joachim Low em toda a partida. Média brasileira: dos 11 que começaram a partida, 28,25 anos; dos 14 usados por Felipão, 27,83. Contra os holandeses, o time do Brasil envelheceu um pouco, entrando em campo com 28,47 anos de idade na média, que aumenta para 28,52 quando consideramos os 14 jogadores que atuaram na partida. A Holanda titular de Louis Van Gaal tinha média de 26,59 anos. Esta, sim, é uma equipe jovem. E contando os três que entraram no final, a idade média quase não se altera - 26,47. Que surpresa, gente! Mais surpreendente do que a ausência dos jogadores brasileiros na solenidade de entrega das medalhas aos holandeses pela conquista do terceiro lugar na Copa, embora menos vexaminosa, foi a de José Maria Marin. O presidente da CBF, como se sabe, adora uma medalha! O que fazer? São tantas as análises, os meros palpites, as boas e más intenções, os interesses dissimulados ou ostensivos publicados nos últimos dias sobre o que fazer com o futebol brasileiro nos próximos tempos que mal consigo digeri-los e processá-los. Esta é uma discussão e uma tarefa de todos os brasileiros que se interessam pelo futebol. Foi a sociedade que o criou e tantas vezes o reinventou pelos campos do Brasil afora. É, portanto, a nação que pode salvá-lo mais uma vez - e não cartolas ou os governantes. Agora que se deu a tragédia, poupo você de mais pitacos neste Apito Legal. De qualquer maneira, se quiser ler uma palhinha do que penso sobre o assunto, dê uma olhadinha na coluna "A Copa do Mundo é nossa. E daí?", publicada em 14 de abril. Para lê-la, clique aqui. Se lhe sobrar paciência, clique aqui para ler também a última coluna escrita em 2010 - "A Copa do Mundo é nossa". Campeã Viva a torcida brasileira!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! Estrelas Cristiano Ronaldo chegou, viu a festa, brilhou fugazmente nos 2 a 1 sobre Gana que marcaram a despedida dos portugueses e se foi, deixando a confirmação de que o prêmio de melhor jogador do mundo na temporada é mesmo uma maldição na Copa do Mundo. Neymar brilhou intensamente nos primeiros jogos, foi baleado pela violência dos chilenos nas oitavas de final, abatido em campo pela deslealdade do colombiano Zuniga nas quartas e teve de assistir em casa à tragédia do Mineirão e no banco de reservas do Mané Garrincha ao último suspiro do Brasil na Copa. Messi carregou a Argentina até a final, com seus gols e assistências, mais sai de sua terceira Copa do Mundo consecutiva devendo uma exibição à altura do talento que esbanja com a camisa do Barcelona, embora leve consigo o troféu oficial de melhor jogador da competição que, por Justiça, deveria ser do holandês Arjen Robben. A seleção da Copa Aos olhos deste Apito Legal, a seleção da Copa ficaria assim: Manuel Neuer (Alemanha); Philipp Lahm (Alemanha), Thiago Silva (Brasil), Mats Hummels (Alemanha) e Daley Blind (Holanda); Javier Mascherano (Argentina), Toni Kroos (Alemanha) e Lionel Messi (Argentina); Arjen Robben (Holanda), Thomas Muller (Alemanha) e Neymar (Brasil). No banco, como comandante de tantos craques, o alemão Joachim Low. Aos desavisados Juro que era ironia o que escrevi na nota "Coincidência?" da coluna de 7 de julho: "Já o delicado Juan Zuniga, que chutou violentamente o joelho de Hulk no fim do primeiro tempo e quase aleijou Neymar no fim do segundo, pode até ganhar o Troféu Fair Play da FIFA. Nenhuma das duas faltas foi marcada e ele voltou para a Colômbia sem um amarelinho sequer". Mas não é que, na festa de encerramento da Copa, a FIFA deu mesmo o Troféu Fair Play à seleção da Colômbia? Entre os critérios do Grupo de Estudos Técnicos da FIFA para premiar os colombianos, destacam-se "jogo positivo e respeito ao adversário". Você leu certo: "respeito ao adversário"! Ranking Enquanto não é atualizado pelos resultados da Copa, está assim o ranking da FIFA: Alemanha (2º), Argentina (5º), Holanda (15º) e Brasil (3º). Igualzinho ao Zagallo Em dias de tantos números desoladores para o futebol brasileiro, convém lembrar: o tetracampeonato da Alemanha consagra o melhor futebol do mundo na atualidade, mas apenas iguala o desempenho histórico de sua seleção ao do nosso Mário Jorge Lobo Zagallo, campeão das Copas de 1958 e 1962 como jogador, de 1970 como técnico e de 1994 como coordenador técnico. Fé e pé na bola Os muitos jogadores brasileiros, alguns até craques, que adoram se benzer e rezar dentro do campo, e não apenas na Copa do Mundo, deveriam meditar sobre a neutralidade divina agora que a Alemanha de Bento 16 bateu a Argentina de Francisco e conquistou o tetracampeonato mundial. Parafraseando Neném Prancha, filósofo agnóstico da Escola de General Severiano, se reza ganhasse jogo, o time do Vaticano seria o campeão do mundo. Correção Muito obrigado a Sérgio Aranha da Silva Filho, que corrigiu, em Migalhas dos Leitores, uma mancada no Apito Legal da quinta-feira, dia 10: "Não foi Aguero que 'poderia ter garantido a vitória, mas, frente a frente com Cillessen, cabeceou fraquinho uma bola que o holandês defendeu sem dificuldade', foi Palácio". Despedida Encerra-se hoje nosso encontro semanal que re(começou) em 3 de fevereiro. Adeus - ou até logo, se Migalhas resolver, mais uma vez, me convocar em 2018. A tristeza com a Seleção em 2010 e em 2014 não foi suficiente para apagar a alegria da convivência com vocês aqui no Migalhas. Fim de papo "A gente pode até dizer que sai meio perdido, né?" - Ramires, camisa 16 do Brasil, perdidinho da silva após a derrota por 3 a 0 para a Holanda, em entrevista a Mauro Naves, da Globo.
quinta-feira, 10 de julho de 2014

O sono intranquilo dos argentinos

  E o caneco vai para o melhor time da Copa, que andou se enrolando em alguns jogos até desabrochar de vez e enfiar humilhantes 7 a 1 no Brasil na hora de se garantir na final, ou vai para o melhor jogador do mundo, que anda cansado após uma temporada de frustrações e ainda nos deve uma exibição de gala, mas, antes mesmo de abrir a vantagem na cobrança de pênaltis contra a Holanda, participou de todos os gols que garantem a sua equipe no jogão das 16 horas deste domingo no Maracanã? Dá Alemanha ou dá a Argentina de Messi na decisão da Copa do Mundo de 2014? A última vez que a bola teve de se dividir num jogo pra valer entre Romero, Demichelis, Di Maria, Aguero, Mascherano, Maxi Rodriguez, Higuaín e Messi, de um lado, e Neuer, Philipp Lahm, Mertesacker, Boateng, Khedira, Kroos, Schweinsteiger, Ozil, Muller, Podolski e Klose, de outro, foi há pouquinho mais de quatro anos, na África do Sul, pelas quartas de final da Copa do Mundo de 2010. O vexame argentino naquele 3 de julho foi bem menor do que o brasileiro nesta terça, dia 8, mas não foi pequeno: com dois gols de Klose, um de Muller e um de Friedrich, o único que não veio curtir a praia na Bahia e os gramados de Salvador, Fortaleza, Recife, Porto Alegre, Rio e Belo Horizonte nesta Copa, os alemães de Joachim Low, ainda em processo de formação como grande equipe, golearam a seleção de Diego Maradona por 4 a 0. O penúltimo Alemanha x Argentina numa Copa se deu em 2006, em Berlim, também pelas quartas de final. Os anfitriões saíram atrás, mas chegaram ao 1 a 1 a 10 minutos do final do jogo, com um gol de Klose, seguraram o empate na prorrogação e venceram a cobrança de pênaltis por 4 a 2. Estavam em campo, além do goleador Klose, os alemães Mertesacker, Lahm, Schweinsteiger e Podolski, e os argentinos Mascherano e Maxi Rodriguez. Low era assistente de Jürgen Klinsmann e José Néstor Pekerman, o homem que agora comandou a Colômbia, era o treinador da Argentina. Os times que disputarão o título de 2014 no domingo se conhecem, pois, e se há motivo para temores, os argentinos certamente dormirão pior do que os alemães até lá. E não é só pelo retrospecto histórico recente. A campanha das duas seleções nesta Copa aponta para o indiscutível favoritismo da Alemanha, que goleou Portugal por 4 a 0, empatou com Gana por 2 a 2, maneirou para fazer 1 a 0 nos EUA e, já na fase de mata-mata, venceu duramente a Argélia por 2 a 1 na prorrogação, a França por 1 a 0 e, quando parecia ter perdido o encanto do futebol seguro, envolvente e veloz ensaiado em 2010 e mostrado no Brasil apenas na estreia, revelou-se de vez o grande time que realmente é ao despachar os anfitriões numa semifinal com tintas de mero treino de apronto para o jogo da decisão. A Argentina fez uma campanha mais insossa até as semifinais, sempre com vitórias por um gol de diferença - 2 a 1 sobre a Bósnia, 1 a 0 sobre o Irã, 3 a 2 sobre a Nigéria, 1 a 0 sobre a Suíça no último minuto da prorrogação, 1 a 0 sobre a Bélgica. Na semifinal, contra a Holanda, nenhum golzinho. A classificação para a final saiu nos pênaltis - 4 a 2. Foi, no entanto, o melhor jogo dos argentinos na Copa. O time de Alejandro Sabella, organizado como sempre, fechou todos os caminhos na defesa, procurou mais o ataque no primeiro tempo, acelerou o ritmo no segundo, criou uma grande chance desperdiçada por Higuaín, mas acabou cedendo espaço aos holandeses no fim e quase perdeu o jogo no último minuto, quando Mascherano impediu o gol de Robben. Na prorrogação, Aguero poderia ter garantido a vitória, mas, frente a frente com Cillessen, cabeceou fraquinho uma bola que o holandês defendeu sem dificuldade. O jogo, muito equilibrado e pouco emocionante, foi todo disputado sob enorme rigor tático, o que sugere um domingo de menos facilidade para os alemães do que a terça-feira em que eles apenas desfilaram como novos reis do mundo da bola no gramado do Mineirão. Os argentinos, porém, continuam devendo um futebol de verdadeiros campeões e, obrigados a jogar as semifinais 24 horas depois dos adversários da final, ainda tiveram de dispender no Itaquerão uma dose extra de energia que certamente lhes fará falta no Maracanã. Castigo merecido Dois dias depois de Alemanha e Argentina decidirem o título de campeão mundial, se completarão 18 anos da morte do jornalista Guilherme Cunha Pinto, o Jovem Gui que era igualmente craque com as palavras e a bola, tendo até experimentado ligeiramente, entre um e outro emprego no jornalismo, as delícias e as agruras do profissionalismo no futebol belga. Será impossível não pensar mais uma vez no Jovem Gui neste sábado em que a Seleção vai curtir em clima de velório a ressaca da vexaminosa derrota na semifinal. A disputa pelo terceiro lugar é o mais deprimente jogo da Copa - de qualquer Copa. Os holandeses hão de concordar, mas os brasileiros, desta vez, se sentirão ainda mais deprimidos. Para nossos jogadores, no entanto, esse espetáculo fúnebre será um merecido castigo, embora não falte quem queira nos convencer de que a vitória no sábado é uma obrigação moral que nos redimirá, ainda parcialmente, do vexame no Mineirão. É por isso que estou me plagiando e reproduzo, quase na íntegra, o que escrevi em 2006 no site NoMínimo sobre esse triste espetáculo. (Se quiser comparar este desabafo com o original, clique aqui).  Mais do que enfadar, esse jogo deixava indignado meu amigo Guilherme, que, muito antes de morrer, escreveu à FIFA sugerindo que os três primeiros colocados numa Copa se classificassem automaticamente para a seguinte. Não passava pela cabeça dele enxugar as Eliminatórias, queria apenas dar dignidade ao frustrante espetáculo que antecede a briga pela taça de campeão do mundo. Não houve resposta à ideia do Jovem Gui, mas, um ano depois de sua morte, entrevistei Joseph Blatter, então candidato à presidência da FIFA, e lhe perguntei o que achava da proposta. Estávamos em Paris, durante o Torneio da França que serviu de preparação para a Copa de 1998, e, ainda secretário-geral da FIFA, Blatter me convidou a ir a Zurique conferir, sobre a mesa dele, o relatório final de uma comissão que adotava não apenas a ideia do meu amigo, mas garantia também a presença na Copa de todos os campeões continentais e até dos vices da Europa e da América - Será a contribuição da FIFA para enxugar o calendário mundial - disse-me o candidato Blatter. Eleito presidente, Blatter acabou tirando até do campeão de uma Copa a classificação garantida para a outra. É o retrato de como é convenientemente administrado o futebol em escala planetária, tanto quanto a vergonha do Mineirão acaba por retratar a indigência da cartolagem brasileira no gerenciamento de um esporte cada vez mais profissional. O jogo que a FIFA viu Observadores técnicos e estatísticos da FIFA viram assim o jogo Brasil 1 x 7 Alemanha: Chances de gol - Brasil 55 x 34 Alemanha Finalizações - Brasil 18 x 14 Alemanha Passes dentro da área - Brasil 19 x 11 Alemanha Posse de bola - Brasil 52% x 48% Alemanha Chutes certos - Brasil 13 x 12 Alemanha Se você desconfia da transcrição, pode conferir os números no site da entidade. E o mais curioso é que, segundo as estatísticas da entidade, o jogo teve 56min9 de bola corrida. Ou seja: a cada 38 segundos, um dos dois times criava uma chance de gol. Jovem é a Alemanha, Felipão! Aparentemente sereno na entrevista coletiva após o vexame brasileiro da terça-feira, Luiz Felipe Scolari invocou o tempo de trabalho e a continuidade como exemplos para o sucesso da seleção alemã na Copa e acenou com um futuro igualmente luminoso para o Brasil, afirmando que "teremos 12, 13 ou 14 jogadores deste grupo preparados para a Copa de 2018". Na verdade, dos 23 jogadores de Felipão, somente Neymar, Oscar e Bernard terão menos de 30 anos na Copa que será disputada na Rússia. Farão 30 anos em 2018 o lateral Marcelo, o volante Paulinho e o meia Willian. O zagueiro David Luiz, destaque de 2014 apesar da atuação atabalhoada contra a Alemanha e candidato a líder da nova geração, e os volantes Luiz Gustavo e Ramires já terão feito 31 anos. Renovação é com a Alemanha. Não terão ainda 30 anos na Copa de 2018 os titulares Boateng, Hummels, Ozil, Muller, Kroos. Quase sempre titular agora, Goetze terá 26 anos. Hoewedes, se for à Rússia, lá desembarcará com 30 anos. Khedira terá feito 31 dois meses antes da abertura. Reservas que foram utilizados por Joachim Low no Brasil, o zagueiro Shkodran Mustafi terá 26 anos, o volante Christoph Kramer terá 27 e o meia Julian Draxler ainda não terá completado 25. O goleiro Ron-Robert Zieler chegará à Copa com 29 anos, mas muito dificilmente tomará o lugar do excepcional Neuer, que terá então 32 anos e três meses - ou seja, dois anos e meio a menos do que tem hoje o nosso Júlio César. Toni Kroos, o meia de 24 anos que foi o grande destaque dos 7 a 1, completou contra o Brasil seu décimo jogo numa Copa do Mundo - quatro e m 2010, seis agora em 2014. Thomas Muller, que vai fazer 25 anos em setembro, já tem 12 jogos em Copas - seis na última seis nesta. Mesut Ozil tem 13 - os sete de 2010 e os seis de 2014. Neymar, Oscar e Bernard, somados, participaram de 14 partidas da Copa. Outros números # Deram-se mal os campeões do mundo nas três últimas edições da Copa em que foram anfitriões: a Itália foi derrubada pela Argentina em 1990 e derrubou em 2006 a Alemanha, que agora destroçou o Brasil. # Se não levar nenhum gol contra a Holanda na disputa do terceiro lugar, a Seleção Brasileira terminará empatada com a Suíça como a pior defesa de um anfitrião em todas as Copas - cada qual, com 11 gols contra. Na média, a Suíça é pior - levou 11 em apenas quatro jogos. # Quando começou esta Copa, o placar histórico indicava 210 gols do Brasil contra 206 da Alemanha. Quando começou o jogo das semifinais, a diferença era a mesma: 220 a 216. Quando o mexicano Marco Rodríguez encerrou o jogo, as posições se inverteram: Alemanha 223 x 221 Brasil. # Desde 1950, o Brasil liderava a artilharia na história das Copas. Fim de papo "Se alguém tivesse dito que ganharíamos por 7 a 1, eu não teria acreditado, mas achei que fomos incríveis, é tudo o que posso dizer. Viemos aqui para ser campeões, estamos felizes e aliviados por seguir adiante, mas ainda falta um jogo. Ninguém ganhou a Copa do Mundo numa semifinal". Toni Kroos, protagonista da Alemanha que impôs à Seleção Brasileira o maior vexame em um século de história
segunda-feira, 7 de julho de 2014

É possível ganhar a Copa sem Neymar

Se a gente falar apenas das semifinais, até que o Goldman Sachs não sai de todo mal na foto. Vão se cruzar Brasil x Alemanha, terça, dia 8, em Minas, e Holanda x Argentina, quarta, em São Paulo. A previsão do conglomerado financeiro tinha Espanha, e não Holanda, na lista de semifinalistas. O grau de acerto é, pois, de 75% - índice que nem sempre os bancos alcançam com as aplicações financeiras de seus clientes, tanto que há menos de seis anos o próprio Goldman Sachs quase foi à lona. Na Copa, os erros mais significativos dos oráculos da Wall Street se concentram no caminho entre a fase de grupos e as semifinais. Segundo seus economistas, além de Brasil, Alemanha, Holanda e Argentina, chegariam às oitavas as seleções do Uruguai, da França, da Bélgica, da Colômbia, da Grécia, que realmente chegaram, e mais, Irã, Espanha, Croácia, Itália, Equador, Rússia e Portugal, que se despediram na primeira fase. Os economistas erraram 56% das previsões, portanto. Jogos por eles previstos para as quartas de final: Brasil 3 x 1 Uruguai, França 1 x 2 Alemanha, Espanha 2 x 1 Itália e Argentina 2 x 1 Portugal. O que realmente aconteceu: Brasil 2 x 1 Colômbia, França 0 x 1 Alemanha, Holanda 4 x 3, Costa Rica (nos pênaltis, depois do 0 a 0 em 120 minutos de jogo), Argentina 1 x 0 Bélgica. O índice de acerto dos economistas do Goldman Sachs chega nem a 25%. É indispensável, porém, fazer Justiça aos devotos da econometria. Nós, simples palpiteiros do futebol, também erramos muito, a começar pela inclusão da Espanha em praticamente todas as listas de grandes candidatos ao título. E ao falar tanto de previsões furadas, vamos relembrar mais uma, feita aqui, neste Apito Legal, há mais de dois meses, exatamente na coluna de 22 abril - Neymar faz mais falta do que Pelé. Começava assim: - Nos anos mais vitoriosos do futebol brasileiro, a seleção foi campeã do mundo sem Pelé. Melhor dizendo: quase sem contar com o Rei. Foi em 1962, o ano do bi, conquistado sob a regência de Mané Garrincha. Pelé jogou a primeira partida da Copa, fez até o seu golzinho nos 2 a 0 sobre o México, mas se contundiu no 0 a 0 com a Tchecoslováquia e, substituído por Amarildo, não voltou a atuar na competição. Neymar nem é nem será Pelé, mas terá o Brasil alguma chance de ganhar o hexa se não puder contar com ele? E assim respondia à dúvida levantada no parágrafo de abertura: - Não. Neymar é uma exceção em nossos dias. Não tem parceiros como Djalma Santos, Nilton Santos, Didi e Garrincha. É uma solitária estrela de primeiríssima grandeza na seleção. Thiago Silva, que fará 30 anos em setembro, também é uma estrela do futebol atual, muito provavelmente até teria vaga entre os bicampeões mundiais em campos do Chile, mas ainda joga no time dos mortais. Neymar, se repetir as atuações da Copa das Confederações e for campeão do mundo aos 22 anos, será precoce candidato a conviver no Olimpo com deuses da bola como Pelé, Garrincha e Maradona. E não é que, por uma dessas ironias históricas das quais o futebol é pródigo, o Brasil vai enfrentar a Alemanha nas semifinais sem Neymar e sem Thiago Silva? Estamos perdidos, então? Não, não e não. Desdiz-se o colunista? Evidentemente. É obrigatório reconhecer: sem Neymar e sem Thiago, a Seleção não teria chegado até aqui. No entanto, quem tem olhos para ver, e não apenas ouvidos para escutar o que tanto repetem narradores e comentaristas na tevê, há de recordar que o Brasil já mostrou em dois momentos nesta Copa que pode jogar bola mesmo sem seu maior craque - os últimos 20 minutos dos 4 a 1 sobre Camarões, quando ele já não estava em campo, e quase todo o 2 a 1 sobre a Colômbia, em que ele teve sua mais discreta atuação até ser agredido por Juan Zúñiga. É verdade, que embora não tenha conseguido repetir a atuação esfuziante dos 4 a 0 da estreia contra Portugal, a Alemanha é tecnicamente a melhor seleção desta Copa e ainda tem o melhor banco de reservas. Falta-lhe um Messi ou um Neymar, porém. Thomas Muller é muito, mas não é tudo. A Argentina passou por adversários fracotes ou medianos, nunca com vantagem de mais de um gol, graças a Messi, decisivo como sempre, mas sem o brilho de outras jornadas. E a Holanda, como nenhuma outra seleção da Copa, depende totalmente de Arjen Robben. A bola dá voltas e, por isso, o futebol é tão instigante. Toda a torcida espera que, contra os alemães nas semifinais, mesmo sem Neymar e Thiago, o Brasil jogue como nunca e vença como sempre. Afinal, o futebol "possui a vantagem de não ter um enredo fixo", como lembra o psicanalista Leopold Nosek em artigo publicado neste domingo, dia 6, pela Folha de S.Paulo. "Além de o acerto ser exceção, outras características imitam o cotidiano: o melhor não ganha do pior necessariamente. Nem os bons são recompensados nem os ímpios queimam no inferno". E quanto às finais, tomara que o Goldman Sachs saia muito bem na foto. Afinal, sem se dar ao trabalho de prever o resultado da frustrante disputa pelo terceiro lugar entre Alemanha e Holanda, seus profetas cravaram Brasil 3 x 1 Argentina na briga pelo caneco. Somos todos Goldman Sachs desde criancinhas. Profético? De Neymar, na entrevista coletiva de 11 de junho, véspera da abertura da Copa: "Não quer ser o melhor jogador da Copa, não quero ser o artilheiro, quero ser campeão". Chegou a hora de Fred Mais do que nunca o Brasil precisará de Fred. Ruim com Fred, pior com Jô, reconhecerá o mais ranheta crítico do desempenho da Seleção. E se havia a possibilidade de o Brasil jogar sem um típico camisa 9, como tão bem faz a Alemanha quando joga com Muller no comando do ataque, a possiblidade se acabou no instante em que Neymar foi tirado da Copa. Agora, seja quem for o substituto de Neymar, o Brasil precisa dos gols de Fred. E Felipão gosta de jogar com um centroavante como referência no ataque. Esse, no entanto, é um modelo ofensivo que, no futebol de nossos dias, se justifica cada vez menos, a não ser que o técnico disponha de fenômenos da área como Ronaldo e Romário. O centroavante é uma espécie em extinção, como prenunciavam a Hungria de Hidegkuti em 1954, o Brasil de Tostão em 1970 e as várias Holandas que antecederam o fenômeno Van Basten. Agora, em 2014, Holanda e Alemanha, entre outras, também têm mostrado que mais vale a versatilidade do que e a especialização no arremate a gol. O futebol é criação. A finalização não pode ser uma especialidade. É um fundamento técnico que se deve cobrar de todos que se aproximam do gol adversário. A Seleção atual, no entanto, não se preparou para tal realidade. Fred não é um craque à altura de Romário e Ronaldo, mas é um goleador, sabe jogar com a bola nos pés e, portanto, pode dialogar com Hulk, Oscar e quem mais lhe fizer companhia nas cercanias da área. Tem de se movimentar mais, é claro, mas precisa igualmente que os outros se aproximem dele. Não é solista. É um jogador de equipe, indispensável a esta altura do Mundial, como foi na Copa das Confederações do ano passado, com cinco gols e uma assistência que ajudaram o Brasil a vencer japoneses, mexicanos, italianos, uruguaios e espanhóis. Nós vamos de Fred contra os alemães. E bem que eles poderiam entrar no Mineirão com Klose, que se mostrou no 1 a 0 sobre a França tão ineficaz quando Fred até aqui. Até aqui! Desfalque Outra vítima de lesão muscular pode deixar a Copa e fará muita falta à Argentina contra a Holanda, na semifinal: o craque Di Maria, que demorou a engrenar na competição, mas marcou o gol salvador a dois minutos do final da prorrogação diante dos suíços nas oitavas e fazia sua melhor exibição, contra os belgas nas quartas, quando se contundiu e teve de sair de campo. Números da Fifa Segundo os números da Fifa, relativamente confiáveis, o Brasil cometeu 96 faltas em seus cinco jogos; a Holanda, 94; a Alemanha, 77; e a Argentina, 51. Foram dados 10 cartões amarelos aos brasileiros (portanto, um a cada 9,6 faltas); sete aos holandeses (um a cada 13,4); quatro aos alemães (um a cada 19,25); e cinco aos argentinos (um a cada 10,2). Parece que as faltas cometidas por europeus doem menos. Coincidência? Numa Copa marcada pela relutância dos árbitros em mostrar o cartão amarelo, o Brasil teve dois de seus principais jogadores suspensos por ter recebido o castigo em dose dupla - Luiz Gustavo, primeiro, e agora Thiago Silva. E o cracaço Neymar recebeu o cartão amarelo já na estreia, nos 3 a 1 sobre a Croácia. Já o delicado Juan Zúñiga, que chutou violentamente o joelho de Hulk no fim do primeiro tempo e quase aleijou Neymar no fim do segundo, pode até ganhar o Troféu Fairplay da Fifa. Nenhuma das duas faltas foi marcada e ele voltou para a Colômbia sem um amarelinho sequer. Felipão não acha que seja coincidência. Perigo No sábado, 12, dia da disputa pelo terceiro lugar na Copa, a Colômbia festejará o 23º aniversário de seu craque James Rodríguez. Será que Zúñiga vai à festa? Dois pra lá O Brasil de Luiz Felipe Scolari já despachou dois argentinos nesta Copa - Jorge Sampaoli e seu Chile, José Néstor Pekerman e sua Colômbia. Que venham o terceiro (e o quarto) - Alejandro Sabella e seu Messi. Na rede O Twitter não deixa dúvida: o futebol chegou, enfim, aos Estados Unidos. Minutos depois da comprovação de que Neymar está fora da Copa, duas superestrelas da NBA, Kobe Bryant e LeBron James, fizeram questão de postar mensagens sobre o craque. "A porrada no @neymarjr é um exemplo péssimo e sem classe de como competir", escreveu, assim mesmo, em português, o ala-armador do Los Angeles Lakers. Em inglês, fazendo questão de destacar que o brasileiro é o jogador preferido de seus filhos, o ala do Miami Heat na última temporada registrou: "Odiei ouvir as notícias do Neymar! Que jogador. Tenha uma excelente e rápida recuperação. Volte logo, cara". Dupla imbatível A desclassificação da França de Didier Deschamps nas quartas de final, depois de os EUA de Jurgen Klinsmann se despedirem nas oitavas, garante a permanência do brasileiro Mário Jorge Lobo Zagallo e do alemão Franz Beckenbauer como únicos campeões, em toda a história da Copa do Mundo, como jogador e como técnico. Fim de papo "Ele tem assistido a todos os jogos em casa. Na final, vai estar presente com 113 % de certeza". - Mário Cesar Zagallo, filho do único homem em todo o mundo da bola que venceu quatro vezes a Copa, antes mesmo que a Seleção batesse a Colômbia e se garantisse nas semifinais
Temos dois problemas pela frente: o que a Colômbia está jogando e, mais grave ainda, o que o Brasil não tem jogado. É preciso mudar esta equação para que tudo não acabe na sexta-feira em Fortaleza. A Seleção ainda está devendo uma partida realmente empolgante nesta Copa. Até agora, viveu de Neymar, dos zagueiros Thiago Silva e David Luiz, do volante Luiz Gustavo e só continua viva porque, no mata-mata contra o Chile, o goleiro Júlio César fez três milagres, salvando um chute de Aránguiz aos 19 minutos do segundo tempo do 1 a 1 e os pênaltis cobrados por Pinilla e Alexis Sánchez na decisão vencida por 3 a 2. Em que vestiário se terá perdido aquele futebol instigante e intenso dos últimos jogos do Brasil na Copa das Confederações? O time é o mesmo. No papel. Em campo, há uma distância abissal entre a mobilidade criativa do campeão da Copa das Confederações e a correria infrutífera do aspirante ao hexa mundial. Aquele Brasil compacto, organizado e insistente no ataque que a torcida chegou a vislumbrar em alguns momentos do segundo tempo dos 4 a 1 sobre Camarões na última rodada da fase de grupos deu pequenos sinais de sobrevida até fazer 1 a 0 no Chile, mas se transformou progressivamente num bando apressado e nervoso depois de levar o empate e encontrar dificuldades para virar o placar. O árbitro inglês Howard Webb prejudicou o Brasil, não marcou um pênalti em Hulk, deixou passar em branco sucessivas faltas em Neymar, desconheceu a lei da vantagem em vários lances, mas nada justifica o futebol desarranjado e nervoso de boa parte do segundo tempo e da prorrogação. A Seleção tem de melhorar, e muito, para ultrapassar, nas quartas de final, o bom time da Colômbia, que venceu o Uruguai por 2 a 0 com absoluta autoridade, muita categoria e mais uma ótima exibição do garoto James Rodríguez. "Esta é a Copa do Mundo de melhor nível técnico que já vi" - proclamou o italiano Fabio Capello, que não conseguiu classificar a Rússia para os jogos de mata-mata, mas conhece de dentro do campo e do banco o que é o Mundial, pois, como jogador, fracassou com a Itália em 1974, embora tenha até marcado o seu golzinho antes de se despedir na fase de grupos, e, como treinador, levou a Inglaterra às oitavas em 2010, caindo diante da Alemanha de Joachim Low por 4 a 1. Capello tem razão, embora Brasil x Chile e Costa Rica x Grécia não tenham sido jogos de boa qualidade técnica, talvez porque, como advertiu o alemão Franz Beckenbauer em artigo na Folha de S.Paulo, ainda no sábado, "as coisas não continuarão assim", em referência à animação ofensiva da primeira fase. O homem que, como nosso Zagallo, foi campeão do mundo como jogador e como técnico, previu: "A partir das oitavas, a tática pode prevalecer". Não é por outro motivo que, nos primeiros quatro confrontos das oitavas, a média de gols já caiu - de 2,83 por jogo na primeira fase para 2,25. Mesmo assim, a qualidade técnica é indispensável às seleções que pretendem chegar à decisão do título em 13 de julho. E é algo que o Brasil tem de mostrar urgentemente para que possa chegar lá com a autoridade que Alemanha, Holanda, França e a emergente Colômbia têm mostrado até aqui e a Argentina, menos um pouco, também continua devendo. Quando é mesmo que o futebol brasileiro vai estrear na Copa? A diferença: Arjen Robben Não é pouco o que a Costa Rica fez até agora na Copa. Depois de despachar os campeões do mundo Itália e Inglaterra na fase de grupos, eliminou a Grécia na decisão por pênaltis neste domingo, dia 29, após jogar mais de 45 minutos no 1 a 1 do tempo normal e na prorrogação com apenas dez em campo. Mais não pode querer. Afinal, o adversário das quartas no sábado, em Salvador, será a Holanda. O time de Robben já levou o susto que poderia levar. Bem que o México mereceu vencê-lo até pelo menos os 10 minutos do segundo tempo no confronto em Fortaleza. No entanto, satisfeito com a vantagem por 1 a 0, em gol de Giovani dos Santos aos 3, o técnico Miguel Herrera repetiu o erro do holandês Louis Van Gaal no primeiro tempo e abdicou de jogar. Os mexicanos foram para a defesa e a Holanda, depois de ficar todo o primeiro tempo se defendendo na esperança de um contra-ataque que lhe abrisse o caminho para a vitória, resolveu partir para o ataque. Arjen Robben fez a diferença mais uma vez. Criou as melhores jogadas de ataque, cobrou o escanteio que terminou no gol de empate, marcado por Sneidjer aos 42 minutos, e, já nos descontos, sofreu o pênalti que Huntelaar cobrou para fazer 2 a 1 e despachar o México. A hora é dos verdadeiramente grandes. Exausto "A gente sai cansado de tanto que participou dessa partida" - reclamou Roger Flores depois de comentar na Globo o Itália 0 x 1 Uruguai da primeira fase. Logo ele que nunca se cansou num campo de futebol! Não que corresse muito. Muito pelo contrário... Ranking Quatro de seis seleções colocadas entre as 16 primeiras do ranking da Fifa em junho não conseguiram sobreviver à fase de grupos da Copa: Espanha (primeira da lista), Portugal (quarto), Itália (nona) e Inglaterra (décima). A Ucrânia (16ª) nem sequer veio à Copa. Em compensação, chegaram às oitavas de final a França (17ª colocada no ranking), o México (vigésimo), a Argélia (22ª), a Costa Rica (28ª) e a Nigéria (44ª). Lembranças Antes de embarcar de volta para Portugal, Cristiano Ronaldo tomou as devidas providências para não carregar apenas frustrações na mala. Deu um rolezinho na rua 25 de Março, em São Paulo, e comprou algumas lembrancinhas mais felizes do que a campanha da sua seleção na Copa. Brincadeirinha, né? As andanças de Cristiano Ronaldo são uma bem humorada ação da agência Señores, de São Paulo, que trouxe da Turquia o mais famoso sósia do craque, o advogado Gokmen Akdogan, e o levou para passear pelo Brasil afora. Para ver outras imagens do 'craque português' em ação fora dos campos, clique aqui. Mate, mas não morda Os esportes, especialmente o futebol, são uma linguagem criada pelo homem como forma de codificação e, portanto, de sublimação dos atos de agressividade das eras primitivas e, portanto, é natural que uma infração às regras tão surpreendente quanto as repetidas mordidas do uruguaio Luisito Suárez em seus marcadores seja punida com algum rigor. A Fifa, no entanto, exagerou na dose, somando nove jogos e mais quatro meses de suspensão e uma multa milionária à proibição da presença do craque uruguaio em ambientes do futebol, algo que só encontra paralelo na 'legislação' de algumas ligas esportivas dos Estados Unidos. Não condiz com a cultura do futebol, muito menos com uma competição disputada em campos do Brasil. Proibir Suárez de frequentar estádios, campos de treinamento e concentrações é um exagero que soa absurdo aos brasileiros obrigados a dividir arquibancadas e cadeiras especiais com assassinos que vitimaram dezenas de outros torcedores na última década em jogos domésticos e até internacionais - como chora ainda hoje a família do garoto boliviano Kevin Spada, assassinado por um sinalizador atirado por corintianos no jogo contra o San José, em Oruro, pela Libertadores do ano passado. Nenhum dos assassinos dos últimos dez anos está preso. E muitos, talvez todos, continuam frequentando os estádios, provavelmente até as arenas da Copa. Fora das regras Não se sabe se por conta própria ou por obediência a recomendações dos organizadores, os árbitros praticamente aboliram algumas regras do futebol e não veem ou fazem que não veem nesta Copa: # Jogadores que seguidamente os peitam em protesto contra suas decisões. # Jogadores que ignoram suas marcações e continuam jogando, inclusive chutando a bola para o gol quando eles apitam alguma infração. # Jogadores que, ao tentar alcançar a bola, põem em risco a integridade física do adversário, mesmo sem tocá-lo, ou seja, cometem jogo perigoso. Dentro do jogo Em compensação, é impressionante o número de lances em que os árbitros têm atrapalhado o time que está atacando, colocando-se na trajetória da bola e tocando ou se deixando tocar por ela. Não se veem tantos erros de colocação do árbitro nem em peladas na praia. Antimarketing Exatamente às 15h53 do sábado, dia 28, enquanto rolava a cobrança de pênaltis para decidir se Brasil ou Chile passaria às oitavas de final, uma amiga minha recebeu um SMS da Vivo com a informação de que a conta dela vencerá nesta terça-feira, 1º de julho. A Vivo, como se sabe, é uma das patrocinadoras da Seleção Brasileira. Fim de papo "Neymar é a mais rara das aves na fauna do futebol: um bailarino-artilheiro, um malabarista que esbanja invenção sem jamais perder de vista que, se a arte é bem-vinda no futebol, só costuma virar obra-prima quando a rede balança". - Sérgio Rodrigues, também autor de uma obra-prima, O Drible, em artigo na edição eletrônica de Veja/Placar
terça-feira, 24 de junho de 2014

Agora, a Copa é dos grandes

Foi como Louis Van Gaal queria desde que a classificação para as oitavas de final ficou assegurada ainda na segunda rodada da fase de grupos com os 3 a 2 sobre a Austrália: "Se eu pudesse escolher, preferia não enfrentar o Brasil, embora Croácia e México também sejam adversários difíceis" - confessou o treinador holandês em entrevista ao site da FIFA no domingo, dia 22. Nesta segunda, dia 23, a Holanda venceu o bom time do Chile por 2 a 0 em São Paulo e ficou esperando que o Brasil goleasse Camarões por 4 a 1 em Brasília e o México vencesse a Croácia por 3 a 1 no Recife. Agora é problema de Van Gaal encarar o sólido sistema defensivo mexicano e a permanente disposição da equipe comandada por Miguel Herrera para contra-atacar em velocidade, frequentemente em bloco, como tanto gosta de fazer a própria Holanda. Os problemas de Luiz Felipe Scolari são de outra ordem. Antes de tudo, ele precisa encontrar um jeito de fazer a Seleção jogar de forma mais compacta, como se viu nos últimos jogos da Copa das Confederações e se chegou a vislumbrar em alguns momentos do segundo tempo da goleada desta segunda-feira sobre Camarões. Os primeiros 225 minutos do Brasil na Copa do Mundo foram motivo de preocupação permanente para a torcida - e certamente também para o seu treinador. A Costa Rica e outras valentes equipes que nos desculpem, mas, daqui em diante, a Copa do Mundo é para os grandes. A cada rodada, é matar ou morrer. Os coadjuvantes já cumpriram seu papel e irão morrendo de um em um. E o Brasil, cinco vezes campeão e única seleção presente em todas as Copas, vai arriscar a vida contra o Chile, sábado, em Belo Horizonte. Será o primeiro de três exercícios de sobrevivência antes da finalíssima do dia 13 de julho. O que nos dá confiança é o segundo tempo dos 4 a 1 sobre Camarões. Novamente esgarçado entre uma linha de retaguarda e outra de frente, quase sem meio de campo durante todo o primeiro tempo, embora tenha saído com a vantagem de 2 a 1, o Brasil mudou no segundo, com Fernandinho no lugar de Paulinho, ressuscitando o futebol de Oscar e Fred e até se dando ao luxo nos últimos 20 minutos de poupar Neymar, novamente o grande destaque do jogo. Ramires, após substituir Hulk antes da metade da segunda etapa, também ajudou a fazer do Brasil uma equipe mais compacta e fluente. A Seleção ainda enfrenta outros problemas, como a inconstância de Daniel Alves nas ações defensivas, mas Felipão mostrou que tem alternativas para dar mais mobilidade a este time que, em determinados momentos, se posta no campo em linhas rígidas e distantes como se disputasse um jogo de pebolim. E, entre as virtudes da equipe chilena, uma das principais é a movimentação constante dos seus jogadores. Outra é a coragem para buscar sempre o ataque, muitas vezes até de forma temerária. É claro que o Chile vai dosar a ousadia contra o Brasil, mas não deixará de exercitar a vocação ofensiva que foi despertada pelo argentino Marcelo Bielsa e vem sendo retrabalhada, nos últimos anos, por seu compatriota Jorge Sampaoli. Por isso, o Brasil não pode deixar despovoado o meio de campo, como aconteceu nos 3 a 1 sobre a Croácia, se repetiu muitas vezes no 0 a 0 com o México e voltou a acontecer durante quase todo o primeiro tempo dos 4 a 1 sobre Camarões. É mais claro ainda que o Brasil tem de impor ao Chile a condição de pentacampeão do mundo e dono da casa. Por isso, tem de atacar sempre, embora com volúpia controlada para não dar a Vidal, Alexis Sánchez e Vargas os espaços que eles tanto desejam. Está chegando a hora dos verdadeiramente grandes, mas todo cuidado é pouco diante dos emergentes. É o que esta Copa tem mostrado até agora. Marrento Ótimo técnico, Jorge Sampaoli culpou o futebol mostrado pela Holanda pela derrota do Chile no jogo que definiu a ordem de classificação do grupo B: "Foi um jogo mais favorável para eles, porque nós quisemos jogar, a Holanda, não". Em parte, o argentino marrento tem razão: o Chile teve 64% de posse de bola contra 36% da Holanda. Em compensação, os holandeses finalizaram 13 jogadas de ataque, oito delas no gol de Bravo; e os chilenos concluíram apenas sete vezes, umazinha só no gol de Cillessen. Bom para os dois Um empate entre Estados Unidos e Alemanha na quinta, dia 26, classificará as duas seleções para as oitavas de final. Alguém acredita que Joachim Löw e Jurgen Klinsmann colocarão seus times no ataque? Craque merece respeito Antes da Copa, o cientista britânico Stephen Hawking fez uma prece e um deboche, registrados no Fim de Papo da coluna de 2 de junho: "Precisamos de um árbitro europeu. Os árbitros europeus têm mais empatia com o futebol inglês do que com bailarinas como Luis Suárez". Antes de enfrentar o Uruguai, o técnico inglês Roy Hodgson também provocou o goleador Luis Alberto Suárez Díaz: "Você pode ser um grande jogador na sua Liga, mas precisa fazê-lo na Copa do Mundo para ser reconhecido como um dos grandes em todos os tempos". Menos de um mês depois de passar por uma artroscopia no joelho esquerdo, Luisito Suárez fez os dois gols que despacharam os ingleses de volta para casa e mantiveram o Uruguai na Copa pelo menos até a decisão da segunda vaga do Grupo D nesta terça, dia 24, às 13 horas, contra a Itália. O jogo foi apitado pelo europeu Carlos Velasco. É urgente que se traduza Armando Nogueira para o inglês. Assim, Hawking and Hodgson poderão aprender com o craque imortal da crônica esportiva: "Deus castiga quem o craque fustiga". Ele O francês Karim Benzema, com três gols e duas assistências, fora um pênalti perdido, é o rei das estatísticas entre todos os atacantes, mas ninguém jogou mais bola nesta Copa do que o holandês Arjen Robben, também autor de três gols, uma assistência, inúmeras arrancadas do meio do campo até a área adversária e mais de 90% de acerto nos passes. Só não fez gol contra o Chile, mas participou ativamente dos dois. Por enquanto, é o craque da Copa. Hermanos Os três técnicos argentinos que vieram ao Brasil - Alejandro Sabella (Argentina), Jorge Sampaoli (Chile) e José Néstor Pekerman (Colômbia) - estão nas oitavas de final. Felipão, o único A desclassificação da Espanha de Vicente Del Bosque deixa o nosso Felipão como o único treinador que pode igualar nesta Copa o feito do italiano Vittorio Pozzo, duas vezes campeão do mundo, em 1934 e 1938. Nunca houve Copa como esta Aconteça o que acontecer daqui até 13 de julho, esta já é uma Copa como nunca se viu: # Em 36 jogos até agora disputados na fase de grupos, a média de gols é de três por jogo. # No tão badalado grupo da morte, com os campeões mundiais Uruguai, Itália e Inglaterra, a Costa Rica foi a única seleção a se classificar antecipadamente para as oitavas de final. # Pela primeira vez nos últimos anos, se viu o craque Cristiano Ronaldo despenteado num campo de futebol. Foi no Alemanha 4 x 0 Portugal da segunda-feira da semana passada, dia 16. # Atual campeã mundial, a Espanha foi eliminada logo na segunda rodada da fase de grupos, após ser goleada por 5 a 1 pela Holanda na primeira. # A Inglaterra, campeã em 1966, também foi eliminada na segunda rodada. # Depois de marcar apenas um golzinho em duas Copas, o cracaço Messi parece ter desencantado por aqui - fez um na estreia contra a Bósnia e, aos 46 do segundo tempo, garantiu o 1 a 0 para a Argentina contra o Irã. # Miroslav Klose marcou seu 15º gol numa Copa do Mundo apenas um minuto após entrar em campo para ajudar a Alemanha a empatar com Gana por 2 a 2. O goleador alemão, nascido polonês, igualou assim o recorde histórico do nosso fenômeno Ronaldo e passou a ser o terceiro jogador a fazer gols em quatro edições da Copa - 2002, 2006, 2010 e 2014. Antes dele, o feito era exclusividade de Pelé e do também alemão Uwe Seeler, ambos nas edições de 1958, 1962, 1966 e 1970. # A Globo tem atrasado o Jornal Nacional para mostrar, entre outras joias de pequeno valor futebolístico, Japão 0 x 0 Grécia, Honduras 1 x 2 Equador e Nigéria 1 x 0 Bósnia. Só falta aparecer um atacante que marque pelo menos 13 gols nos campos do Brasil, como fez o francês Just Fontaine na Suécia em 1958. Parece fácil Se Juninho Pernambucano tivesse mostrado em campo no Brasileirão de 2013 um quarto do que tem ensinado na tevê aos jogadores que disputam a Copa do Mundo, eu não estaria sofrendo com o nosso, tanto meu quanto dele, Vasco na Segundona. Sumiço Pelo que se viu (ou não se viu) até agora, o Fuleco é mais um animal brasileiro em extinção. Fim de papo "Não há milagres no futebol. Seria mentira dizer que éramos top. Não é verdade, tínhamos muitas limitações. Se não estamos todos no alto nível, não conseguimos ganhar". - Cristiano Ronaldo, antes mesmo de Portugal selar definitivamente sua sorte na Copa do Mundo
segunda-feira, 16 de junho de 2014

A bola está com os meninos do Brasil

Neymar da Silva Santos Júnior fez 22 anos em fevereiro. Oscar dos Santos Emboaba Júnior vai fazer 23 anos em setembro. São os meninos do Brasil, dupla bem capaz de transformar em realidade o sonho do hexa, como já se viu nos 3 a 1 sobre a Croácia na abertura da Copa do Mundo de 2014 e os brasileiros esperam que se volte a ver nesta terça, dia 17, diante dos mexicanos. Se você buscar por 'Neymar' no Google, quase 50 milhões de citações aparecerão em poucos segundos. E você percorrerá páginas e páginas sem se deparar com outro Neymar que não o craque brasileiro da camisa 10. Se você procurar 'Oscar', surgirão mais de 120 milhões de citações, mas somente na página 3 encontrará a primeira referência ao dono da camisa 11 da Seleção. Parece que Neymar é único, mas Oscar pode ser prêmio, arquiteto, humorista, etc. etc. etc. O Google não mede o desempenho em campo, mas reflete o sentimento dos torcedores que fazem do futebol a mais universal manifestação da cultura humana. Herói midiático, tanto quanto craque da bola, Neymar é embalado como xodó por torcedores de todo o mundo. Garoto tímido e avesso à badalação fora de campo, Oscar abriu a Copa mostrando que, lá dentro, é também candidatíssimo ao reconhecimento mundial até o encerramento da finalíssima em 13 de julho. Em votação entre seus internautas, Neymar foi eleito pela FIFA o craque do jogo, mas não se deve dar demasiada importância à voz das arquibancadas - palavrinha aqui usada como mera figura de linguagem, pois arquibancada é porção que já não existe nos modernos estádios da Copa. O craque da estreia foi o polivalente Oscar, que deu as bolas para Neymar empatar o jogo que a Croácia começara vencendo e para Fred ganhar do árbitro japonês o pênalti transformado nos 2 a 1 novamente pelo craque do Barça, e ainda fez de biquinho, relembrando seus tempos de futsal, o terceiro gol do Brasil. E muito mais ainda fez, roubando bolas aos croatas e distribuindo-as aos companheiros, mas já não é tempo de ficar rememorando aqui o que aconteceu no Itaquerão. A hora é de botar a cabeça em Fortaleza e nos mexicanos. Um tanto instável na curta fase de preparação do time, com a cabeça ligada na filha que estava por vir, o garoto pouco carismático teve sempre a confiança de Felipão, como fez questão de proclamar em sua primeira entrevista após a vitória, mas precisava de uma estreia tão auspiciosa para ganhar também os críticos e, por extensão, os torcedores. Será bom para Neymar e, portanto, para a Seleção que Oscar continue jogando o bolão que mostrou nos 3 a 1 sobre a Croácia, pois é nos pés da jovem dupla que nascem os caminhos para os gols e as vitórias. Na Copa em que os velhinhos da Espanha começaram dando vexame, vamos torcedor que os velhinhos do Brasil se mirem no exemplo dos nossos meninos e também brilhem nos gramados de Fortaleza, Brasília, Belo Horizonte, novamente Fortaleza, de novo Belo Horizonte, e Rio! É a rota do hexa. Caçula Além dos destaques nos 3 a 1 sobre a Croácia, a lista dos meninos do Brasil na campanha pelo hexa inclui o reserva Bernard, que ainda fará 22 anos, também em setembro. Exagero Os principais jornais brasileiros deram tanto espaço a Brasil 3 x 1 Croácia em sua primeira página do dia 13 que ficou difícil imaginar como tratarão a eventual conquista do hexa na edição de 14 de julho. Parecidos O Brasil teve dificuldades para vencer a Croácia na quinta, dia 12, e a Argentina também sofreu no domingo, 15, para fazer 2 a 1 na Bósnia. A torcida tranquilizou e ajudou o Brasil no Itaquerão, como fez questão de ressaltar o técnico Luiz Felipe Scolari. E 30 mil argentinos empurraram a Argentina no Maracanã, como fez questão de agradecer o craque Lionel Messi, que não chegou a brilhar em campo, mas garantiu os 2 a 1 em dois lances capitais: a cobrança de falta no gol contra do bósnio Kolasinac e, bem a seu estilo, a arrancada para fazer o segundo. Simpatia é quase vitória Não há seleção mais descontraída e simpática do que a da Holanda nesta Copa do Mundo. E não há seleção mais fechada e mal humorada do que a da Espanha, exceção feita ao zagueiro Piqué, que quebrou a corrente do mau humor dando o próprio casaco a um garoto que invadiu o campo de treino em Curitiba. Não parece justo, então, que sobre ele tenha desabado a fúria dos deuses dos estádios, levando-o à desastrosa atuação que tanto contribuiu para a felicidade de Robben, Van Persie e companhia na festeira Salvador. Os 5 a 1 fizeram a alegria da torcida na Fonte Nova, mas poderiam ter poupado o marido de Shakira. Ruim da cabeça, doente do pé Faltou cabeça aos britânicos para lidar com a torcida desde que Manaus foi escolhida para receber a estreia de sua seleção na Copa. A capital do Amazonas deve aos ingleses boa parte de sua mais vistosa arquitetura, a energia elétrica e até a introdução do futebol no estado. São heranças de quando a Inglaterra sonhava dominar o mundo. Daqueles tempos, sobrou a arrogância travestida em ácidas críticas às condições climáticas e sanitárias da cidade, o que irritou os manauaras e os jogou nos braços dos italianos. Com o reforço da torcida local, a Itália venceu por 2 a 1. E os amazonenses ainda puderam curtir a esdrúxula situação vivia pelos pouco simpáticos ingleses, que ao comemorar o seu golzinho contundiram o fisioterapeuta Gary Lewin, retirado de maca da beira do campo com o tornozelo direito lesionado. Amigos O volante alemão Bastian Schweinsteiger contou a Fabio Victor, em entrevista por e-mail publicada na Folha de S. Paulo do domingo, 15, por que ele e o goleiro Neuer resolveram vestir a camisa e cantar o hino do Bahia: "Queríamos vestir a camisa do time para o qual Dante torce e enviar para ele". E confessou: "Estamos encantados e um pouco surpresos que a mídia e as pessoas no Brasil tenham reagido tão positivamente". Fim de papo "Temos de entender o nível dos rivais que vamos enfrentar. O mundo não gira em torno de nós". - Vicente del Bosque, técnico da Espanha, em entrevista ao jornal Marca, quatro dias antes da derrota para a Holanda
segunda-feira, 9 de junho de 2014

O Brasil é a Seleção ou é o Neymar?

A última vez que o Brasil foi derrotado ao estrear numa Copa do Mundo aconteceu em 1934. Faz 80 anos, portanto. Da década de 30 do século passado para cá, o Brasil empatou os jogos de estreia nas Copas de 1974 e 1978 e venceu todos os demais, incluído o 1 a 0 sobre a Croácia, nosso próximo adversário, em 2006. Nem por isso a estreia em 2014, na quinta-feira, deve ser tratada com despreocupação. Ao apresentar seus 23 escolhidos para as sete batalhas do hexa, Luiz Felipe Scolari foi tentado por vários entrevistadores a analisar as dificuldades de disputar o título com as grandes seleções da atualidade, como Alemanha, Argentina e Espanha, mas resistiu sabiamente: "A seleção a ser batida é a Croácia". Se há uma coisa que nunca rendeu uma Copa ao Brasil é o otimismo antes que a bola comece a rolar. Quatro dos cinco títulos mundiais conquistados pela Seleção foram precedidos da desconfiança generalizada da torcida e da crítica, por vezes cruel, de quase toda a imprensa. A exceção foi o bi no Chile, em 1962. O time era quase o mesmo de 1958. Chegou a hora de mudar isso. Conquistar o hexa em casa significará o inédito encontro entre o otimismo antecipado e a vitória na final de 13 de julho. A história do futebol brasileiro pode ganhar um capítulo realmente inédito. Há razões, não apenas históricas, para o otimismo, embora falte a este time de 2014 uma trindade do porte de Ronaldinho Gaúcho, Ronaldo e Rivaldo, destaques do penta conquistado na Ásia em 2002. Na Seleção atual, craques indiscutíveis, pelo menos até que se encerre o jogo decisivo de 13 de julho, são Neymar e Thiago Silva. Desde que tomou forma, no entanto, o time de Felipão tem ótimo retrospecto em campos brasileiros. São nove vitórias em dez jogos disputados de 2 de junho do ano passado, quando empatou no Rio com a Inglaterra por 2 a 2, até agora, incluídos entre os derrotados mais quatro campeões do mundo - a França, em amistoso, a Itália, o Uruguai e a Espanha, na Copa dos Campeões. Entenda-se, pois, o otimismo dos brasileiros com a nossa Seleção. Se não contamos ainda com tantos supercraques acima de qualquer dúvida, temos alguns candidatos a sair da Copa com o prestígio nas alturas, como o zagueiro David Luiz, o lateral Marcelo, o volante Paulinho, o meia Oscar, se retomar a pegada, e o atacante Hulk. O Brasil também vai depender muito deles, tanto quanto dos veteranos Júlio César e Fred. Antes que a bola comece a rolar na Copa, a grande dúvida é: o Brasil é a Seleção ou é o Neymar? É os dois. No jogo-treino com o Panamá, foi predominantemente Neymar. Contra a Sérvia, foi mais Seleção. Sofreu em equipe. E foi também o Brasil de Fred e Thiago Silva. O 1 a 0 saiu graças a um gol de centroavante, viram alguns. E foi, mas foi sobretudo um gol de time. Um gol a dois, mas um gol de time. Thiago Silva avançou com a bola pela direita, da intermediária olhou rapidamente a posição do pessoal de ataque, enxergou o aceno de Fred pedindo o passe longo até a esquerda da meia-lua, enrolou um pouco para que o centroavante saísse do impedimento e, enfim, fez o lançamento enviesado e perfeito. Fred ajeitou a bola no peito, livrou-se de dois, ainda levou um chega pra lá que o jogou no chão e, mesmo caído, trocou de pé para conscientemente tocá-las para as redes. Um gol assinado por Thiago e Fred. Eles se conhecem. Um gol de time. É disso que o Brasil precisa. Não dá para escolher. O Brasil é a Seleção. O Brasil é Neymar. Já no dia 12 vamos precisar de um time consistente e um craque fulgurante. E do reforço da torcida, claro. Sem tal combinação, o sonho do hexa será um pesadelo. Bruxa? A Espanha já tinha perdido Thiago Alcântara antes mesmo de fechar a lista dos 23 e por pouco não ficou sem Diego Costa. A Alemanha perdeu Marco Reus antes de embarcar para o Brasil. A França não terá Franck Ribéry. O México veio sem Luis Montes. A Itália não pode trazer Montolivo. A Colômbia, sem Falcao Garcia, ficou também sem Aldo Ramirez. E o português Cristiano Ronaldo, eleito o melhor do mundo em 2013, chega baleado para disputar a Copa. Repórteres e analistas têm repetido sem parar que "a bruxa está solta". Para os que ainda acreditam em bruxaria, sugiro ler a entrevista que o fisiologista Turíbio Leite me concedeu antes da Copa de 2006 e foi publicada pelo site NoMínino no dia 12 de junho, exatos oito anos antes de o Brasil estrear em 2014. O grande problema é o calendário do futebol. A conferir Previsão do técnico José Mourinho, no portal Yahoo, sobre as 16 equipes que se classificarão para as oitavas de final: Brasil e México; Espanha e Holanda; Costa do Marfim e Grécia; Itália e Inglaterra; França e Suíça; Argentina e Nigéria; Alemanha e Portugal; Rússia e Bélgica. Beckenbauer x Neymar O alemão Franz Beckenbauer, que divide com o nosso Zagallo a condição de únicos campeões do mundo como jogador e técnico, estreou sua coluna sobre a Copa, na Folha de S. Paulo, com uma grande dúvida sobre Brasil de Felipão: "como uma equipe relativamente jovem conseguirá enfrentar a pressão, que crescerá dia após dia"? O Kaiser chega a dizer: "Mesmo Neymar, que no Barcelona se acostumou ao ritmo de jogo europeu, continua a ser um jogador jovem, de 22 anos, apesar de toda a sua experiência. Quanto a isso, talvez convocar Kaká para a Seleção tivesse sido uma boa ideia. No caso dos demais jogadores brasileiros, não estou certo de que sejam capazes de aguentar a pressão". Dois dias antes da coluna, publicada na quinta-feira, dia 5, Neymar já havia respondido aos que insistem nessa história de pressão: "Além de estar acostumado com pressão desde menino, estar na Copa do Mundo era o meu sonho. Agora chegou o momento! Então, por que eu vou ficar pensando em pressão? O sonho virou realidade. Eu vou desfrutar. Vou ser feliz dentro de campo". Treineiros Metade dos técnicos da Copa vem de apenas cinco países. Quatro são alemães: Joachim Low (Alemanha), Jurgen Klinsmann (EUA), Ottmar Hitzfeld (Suíça) e Volker Finke (Camarões). Três são italianos: Cesare Prandelli (Itália), Alberto Zaccheroni (Japão) e Fabio Capello (Rússia). Outros três são portugueses: Paulo Bento (Portugal), Carlos Queiroz (Irã) e Fernando Santos (Grécia). São também três os argentinos: Alejandro Sabella (Argentina), Jorge Sampaoli (Chile) e José Néstor Pekerman (Colômbia). Embora tenha entregado o comando de sua seleção a um argentino, a Colômbia também terá três treinadores na Copa: Jorge Luis Pinto (Costa Rica), Luis Fernando Suárez (Honduras) e Reinaldo Rueda (Equador). De todos os 16, somente três são candidatos ao título: Joachim Low, Cesare Prandelli e Alejandro Sabella. Na briga pelo caneco, estão também nosso Felipão e o espanhol Vicente del Bosque, que brigarão para igualar o feito do italiano Vittorio Pozzo, único técnico duas vezes campeão do mundo, em 1934 e 1938. Trabalho escravo Na mesma quinta-feira, dia 5, em que o Congresso promulgou a PEC do trabalho escravo, como bem registrou Migalhas, finalmente uma instituição pública do Brasil se deu conta do absurdo que é, hoje em dia, a utilização do chamado 'trabalho voluntário' na Copa do Mundo. A procuradora Carina Rodrigues Bicalho moveu, na 59ª Vara do Trabalho do Rio, ação civil pedindo que todos os selecionados para o programa de trabalho voluntário sejam contratados - com carteira de trabalho assinada. São 14 mil voluntários espalhados pelas 12 cidades-sede da Copa. A ação chega um tanto tarde, mas realmente nada justifica que a FIFA, cuja previsão de lucro com a Copa no Brasil beira os US$ 4 bilhões, utilize voluntários para trabalhos que deveriam ser remunerados. O voluntariado fazia sentido há muito, muito tempo, quando a Copa ainda não era um negócio bilionário. Fim de papo "Só me interesso pela Seleção se joga bem. O patriotismo pelo patriotismo não me pega. O meu patriotismo se chama Flamengo". - Ruy Castro, a quem o futebol só tem dado tristezas ultimamente, como se pode conferir na tabela do Brasileirão, em ótima entrevista a Hugo Daniel Sousa, publicada no jornal português Público em 1º de junho
segunda-feira, 2 de junho de 2014

O Brasil ganha (ou perde) o hexa em São Paulo

O futebol brasileiro perdeu na madrugada deste domingo, 1º de junho, uma de suas maiores referências: o potiguar Francisco das Chagas Marinho, conhecido em todo o vasto mundo da bola como Marinho Chagas, cracaço da lateral esquerda e do meio-de-campo que brilhou no Botafogo, no Fluminense, no São Paulo e no New York Cosmos, em companhia de Carlos Alberto Torres, Franz Beckenbauer, Johan Neeskens, Giorgio Chinaglia e Julio César Romero, o Romerito. Com a camisa da Seleção Brasileira, foi eleito o melhor lateral esquerdo da Copa do Mundo de 1974. Ingênuo e brincalhão fora de campo, destro que dava refinadíssimo trato à bola no gramado, Marinho tinha 62 anos e morreu num hospital de João Pessoa, após passar mal num encontro com colecionadores de figurinhas da Copa. Na sexta-feira, dia 30, em entrevista a Kako Marques, no programa Globo Esporte, da TV Cabo Branco, deixou sua última mensagem: "O gol mais importante do Brasil na Copa será marcado pelo povo brasileiro. É o povo que vai dar o hexacampeonato à Seleção". Marinho Chagas nunca foi um exemplo de sensatez, tanto que alimentava com água mineral o radiador do seu primeiro Mustang, mas estava certíssimo ao atribuir à torcida brasileira, como tanto quer Luiz Felipe Scolari, o protagonismo na campanha pela conquista do hexa. A decisão da Copa será no Maracanã em 13 de julho, mas o Brasil disputa o título de 2014 já no dia 12 de junho em São Paulo. "A seleção a ser batida é a Croácia", definiu o próprio Felipão ao convocar os 23 jogadores há quase um mês. E é na abertura da Copa que o Brasil tem de conquistar o Brasil. São Paulo não é uma província futebolística tradicionalmente disposta a tratar bem a Seleção. Muitas vezes por bairrismo, outras por enviesada paixão clubística, quando não por quase atávico mau humor, os torcedores paulistas nunca pouparam a Seleção e seus craques. Em 2012, no emblemático 7 de setembro, quando Mano Menezes ainda era o técnico, o ídolo Neymar foi uma das vítimas preferenciais das vaias de boa parte dos 51.538 pagantes que assistiram no Morumbi ao 1 a 0 sobre a África do Sul. Foi a última vez que o Brasil jogou em São Paulo. De lá para cá, em amistosos ou em jogos da Copa das Confederações, a Seleção foi bem recebida em Belo Horizonte, no Rio, em Porto Alegre, em Brasília, em Fortaleza e em Salvador, algo tão importante para os bons resultados dos últimos tempos quanto a presença da dupla Carlos Alberto Parreira/Luiz Felipe Scolari no comando técnico. Agora, falta à dupla de comandantes, ao craque Neymar e companheiros conquistar o amor de São Paulo. A primeira oportunidade é o amistoso desta sexta, dia 6, contra a Sérvia, novamente no Morumbi. A segunda é a abertura da Copa, no dia 12, contra a Croácia, no... opa! ia dizendo: Itaquerão... na Arena Corinthians. Na terça, 3, certamente os goianos tratarão bem a Seleção no amistoso com o Panamá. São Paulo tem de adotar a Seleção, de preferência já no jogo treino da sexta, com o carinho e o entusiasmo que a torcida dispensou a Neymar e companhia na Copa das Confederações, reservando as poucas vaias da abertura para governantes e cartolas. O Brasil tem de acolher o Brasil, mesmo que 19 de nossos 23 jogadores atuem no exterior e somente o goleiro Victor Leandro Bagy jamais tenha defendido uma equipe de outro país. Marinho tinha toda razão: "É o povo que vai dar o hexacampeonato à Seleção". Econometria... Você acredita em previsões de economistas? Pois o banco de investimentos Goldman Sachs acaba de publicar um extenso relatório, todo em inglês, que coloca o Brasil como superfavorito à conquista do título de campeão mundial em 13 de julho. Segundo os economistas, a Seleção tem 48,5% de chances de chegar ao hexa. Em segundo lugar, aparece a Argentina, com apenas 14,1%. Em 2010, os economistas do Goldman Sachs também previram o Brasil campeão, com 13.76% de chances. Em segundo lugar, estava a Espanha, com 10.46%. No campo, deu Espanha. O Brasil caiu fora nas quartas de final, eliminado pela Holanda, que foi a vice-campeã, mas estava em sexto lugar na lista de favoritos do banco. Em 2006, quem era o favorito? Sempre o Brasil, daquela vez com 12.4% de chances. E, mais uma vez, a Seleção não passou das quartas, abatida pela França, que também foi vice-campeã, embora fosse a quarta colocada entre as equipes apontadas como favoritas. E o pior: a Itália, campeã, era a nona colocada, com apenas 5.3% de chances. Você acredita em previsões de economistas? ... e fé Por aqui, o Itaú desenvolveu "um modelo econométrico considerando os fatores quantificáveis que acredita serem fundamentais para a determinação do sucesso nas Copas do Mundo: 1) a qualidade atual da seleção; 2) a história do desempenho da seleção na copa do mundo; 3) o apoio dos fãs". O estudo, também em inglês, é menos ambicioso, porém. Apenas indica as prováveis semifinais: Brasil x Alemanha e Espanha x Argentina. Talvez os economistas nem desconfiem, mas o empresário Walther Moreira Salles, cujos herdeiros têm boa fatia das ações do Itaú, tratava o futebol com sabedoria bem mais brasileira. Afinal, era botafoguense. Assim, na Copa de 1970, aproveitou o fato de que o caçula João Moreira Salles, então com oito anos, tinha ido ao banheiro no exato momento em que Rivellino empatou o jogo de estreia, que a Tchecoslováquia começara ganhando com um gol de Petras e acabou perdendo por 4 a 1, e o obrigou a ver do banheiro todas as demais partidas do Brasil na Copa. E o Brasil ganhou o tri, você sabe, vencendo os seis jogos. Lição de casa Informa Mônica Bergamo em sua coluna na Folha de S. Paulo do dia 27 de maio, terça-feira: "A investigação do Ministério Público de São Paulo para verificar se houve racismo na escolha de Fernanda Lima e Rodrigo Hilbert para serem os apresentadores do sorteio da Copa deve resultar em uma proposta à FIFA". O promotor Christiano Jorge Santos propõe, segundo a colunista, que "critérios de diversidade racial sejam levados em conta nos próximos eventos do Mundial". O que quer o promotor: "A ideia é que se respeite a proporcionalidade de cada cor na população brasileira". E se a FIFA propuser respeitar a mesma "proporcionalidade" adotada pelo Ministério Público de São Paulo em seus quadros? Copa é coisa de homem? O Lake Villas Charm Hotel, de Amparo, a 130 km de São Paulo, anuncia um Dia dos Namorados com "futebol e romantismo para agradar a todos". E detalha no material de divulgação: "Os homens podem acompanhar a abertura da Copa do Mundo na sala de cinema, com poltronas Lafer, canapés e prosecco. Já as mulheres vão adorar curtir o destino perfeito para proporcionar dias inesquecíveis a dois, com direito a Spa, alta gastronomia e as mais belas paisagens". A força da grana Dois dias antes de anunciar que vai deixar o STF até o fim de junho, Joaquim Barbosa concedeu uma entrevista a Aydano Motta, publicada no Globo de sexta-feira, 30 de maio, em que garante ter sido "o que hoje chamam de segundo atacante", "sempre pela esquerda", "muito rápido", que "chutava com as duas". Aydano quis saber: - O senhor, em algum momento, teve o sonho tão brasileiro de ser jogador? - Não, nunca. Achava que não dava futuro, sempre achei. Os jogadores daquela época não ganhavam dinheiro como os de hoje. Os craques daquela época, quando não são pobres, vivem em situação muito modesta. O ainda presidente do STF tem razão: enquanto muitos jogadores que deram ao Brasil os cinco títulos mundiais morreram ou sobrevivem em meio a grandes dificuldades econômicas, ele pode curtir a precoce aposentadoria integral no apartamento que comprou, há dois anos, em Miami. Tabelinha Manchete do Estadão deste domingo, 1º de junho: "Black Blocs prometem caos na Copa e contam com PCC". Fim de papo "Precisamos de um árbitro europeu. Os árbitros europeus têm mais empatia com o futebol inglês do que com bailarinas como Luis Suárez" - Stephen Hawking, o badalado cientista britânico, revelando-se, em 'estudo' para uma casa de apostas, tão conhecedor dos segredos do mundinho da bola quanto dos grandes mistérios do universo
segunda-feira, 26 de maio de 2014

Agora é pra valer: a Copa está começando

Começa finalmente a Copa que pode entronizar o garoto Neymar na galeria de mitos do futebol brasileiro ao lado de Pelé, Garrincha, Tostão, Romário, Ronaldo e outros craques tão ou quase tão importantes quanto eles na conquista de cinco títulos mundiais, mas menos balados por historiadores, cronistas e fãs. Pode ser também a Copa que custará ao garoto de 22 anos o preço de uma frustração que boa parte do Brasil certamente cobrará a esta Seleção se o hexa lhe escapar em nossos novos estádios. Por enquanto, há uma curiosa contradição de sentimentos nas ruas: os brasileiros estão indignados com os rumos do país, mas parecem tranquilos com o futuro da Seleção que, nesta segunda-feira, 26/5, desembarca na Granja Comary e começa a se preparar para a Copa do Mundo. Nelson Rodrigues adoraria ver esta surpreendente mutação do torcedor. Em 1970, quando a Seleção embarcou para o México, ele escreveu: "O escrete parte hoje. Termina o seu exílio e, se não ouviram bem, repito: o seu exílio era o Brasil". Mais de quatro décadas depois, os sinais se inverteram: as principais estrelas da Seleção vêm do seu dourado exílio europeu para lutar no Brasil pela glória que em nossos velhos campos escapou à geração de monstros sagrados, como Barbosa, Zizinho e Ademir, no meio do século passado. E chegam acarinhadas pela torcida que as embalou na Copa das Confederações e será indispensável reforço na campanha pelo hexa, que começa 17 dias após a apresentação para os treinamentos em Teresópolis. Nunca a Seleção Brasileira se preparou tão pouco para uma Copa do Mundo. E não só a Seleção Brasileira. Ainda neste último fim de semana, o mundo do futebol acompanhou a decisão da Liga dos Campeões da Europa, uma grande festa celebrada em Lisboa para dar o décimo título da competição ao Real Madrid que, em 120 minutos de bola rolando, derrotou o Atlético de Madrid por 4 a 1. O Atlético tem 10 jogadores que vêm disputar a Copa no Brasil; o Real tem 13, inclusive o nosso Marcelo, que entrou no segundo tempo para ajudar a mudar o jogo que se desenhava a favor do Atlético, e ganhou de Felipão o direito a curtir a festa na capital espanhola antes de se apresentar à Seleção. No total, devem vir do futebol europeu dois terços dos 736 jogadores que disputarão a Copa. É um problema para a qualidade técnica dos jogos, pois a imensa maioria chega ao final da temporada europeia fisicamente exaurida e muitos, inclusive estrelas de primeira grandeza como Cristiano Ronaldo, Falcao Garcia, Schweinsteiger, Suarez, Diego Costa e até o nosso Neymar, ainda não estão inteiramente recuperados de graves lesões. Eis uma das grandes preocupações dos fisiologistas, como o professor Turíbio Leite de Barros, que adverte há muito tempo: "No momento em que a Copa do Mundo é realizada, nunca vai ser o palco mais adequado para o desempenho pleno dos grandes artistas. Não há uma seleção que não tenha jogadores importantes com problemas físicos. Este não é o cenário ideal para os grandes espetáculos". Sobre o assunto não se ouve, porém, um pio sequer de um Joseph Blatter ou de um Jérôme Valcke. A FIFA insiste em regular a venda de espetinhos de filé miau nas cercanias dos estádios, mas não regula o calendário mundial do futebol nem dá bola para a saúde dos atletas crescentemente sacrificados pelo acúmulo de jogos. No futebol de hoje, se joga demais e se treina de menos. O resultado são jogos de qualidade técnica cada vez mais baixa, como se viu na milionária final da Liga dos Campeões da Europa e certamente se verá na Copa do Mundo. Os craques, mesmo baleados, que se virem para salvar o espetáculo. É o que o Brasil espera de Neymar. Festa Já tem data a primeira festa da família Scolari na Granja Comary: nesta quinta-feira, dia 29, o pernambucano Anderson Hernanes de Carvalho Viana Lima completa 29 anos. Embora reserva, Hernanes garante que pretende ser um dos protagonistas do Brasil na Copa. É assim que se fala Boa sacada do Globoesporte.com: funcionários das embaixadas dos 31 países que vão disputar com o Brasil o título de campeão do mundo ensinam como se pronuncia o nome de cada um dos seus principais jogadores. Pena que a lista tenha apenas cinco de cada seleção e inclua nomes que não estarão na Copa, como o norte-americano Landon Donovan. Mesmo assim, vale conferir. Quem diria? Dos 23 jogadores chamados pelo técnico Jürgen Klinsmann para a jovem seleção norte-americana que vai enfrentar Alemanha, Portugal e Gana na primeira fase da Copa, 12 atuam no futebol europeu - dos quais, quatro na Inglaterra e quatro na Alemanha. A alma do negócio A edição digital do jornal espanhol El País anuncia: "Antes de entrar em campo o Brasil já é campeão... das propagandas". Faz as contas: "Principais jogadores e treinador da seleção têm seus nomes vinculados a nada menos que 45 marcas. Neymar é o que tem mais patrocínios, 12, e Scolari, o segundo, com 7". E mostra alguns exemplos de campanhas publicitárias com eles. Não vai ter Copa Cerca de 960 mil brasileiros vivem em lugarejos e comunidades que não têm acesso à energia elétrica - informa o repórter Rafael Luiz Azevedo, da Agência Pública. Bola dentro Antes mesmo que a bola comece a rolar nos 12 estádios da Copa, paulistanos e visitantes têm a chance de ver o melhor do futebol em três exposições imperdíveis: No Instituto Tomie Ohtake, Futebol Arte, organizada por Hélio Campos Mello, mescla obras de grandes fotógrafos e pintores. No Centro Cultural São Paulo, As Donas da Bola, organizada por Diógenes Moura, revela a paixão das brasileiras pelo futebol em 110 obras de 11 ótimas fotógrafas. No Sesc Pompéia, Música de Chuteiras, organizada por Marcelo Duarte, mostra canções históricas relacionadas com a Copa do Mundo e até o hino nacional dos 32 países que disputarão a competição de 2014. Fim de papo "Quero que seja com a Argentina para darmos um 'couro' legal neles. Neymar de um lado e Messi do outro seria sensacional". - Zico, escolhendo a final da Copa, em entrevista a Angélica, na TV Globo "Essa Copa é do Brasil, no Brasil. É como fazer um teste de atores na casa de Marlon Brando". - Ricardo Darín, o onipresente ator argentino, em entrevista a Rodrigo Salem, na Folha de S.Paulo do domingo, 25/5.
segunda-feira, 19 de maio de 2014

Felipão não é mais aquele

Não chega a ser um Felipinho Paz & Amor, mas o Luiz Felipe Scolari que receberá na próxima segunda-feira, dia 26, seus 23 escolhidos para a campanha do hexa em quase nada lembra o técnico de gênio forte e comportamento agressivo de outras temporadas. Felipão mudou muito nos últimos tempos. Para melhor. Com a mesma disposição que usava para combater os atacantes em seus tempos de becão no interior gaúcho, sempre utilizando mais força do que técnica, Felipão já desceu a mão em alguns adversários desde que virou treinador há três décadas, fazendo vítimas entre colegas de profissão, jogadores, repórteres e fotógrafos. E, pelo menos publicamente, jamais se arrependeu de botar para quebrar. Talvez até tivesse razão em alguns casos. "Não há apenas um Luiz Felipe Scolari", ensina Ruy Carlos Ostermann, um dos mais brilhantes cronistas esportivos do Brasil e autor de "Felipão, a alma do penta". Bom conhecedor do conterrâneo, no entanto, ele reconhece que, dos muitos contatos do técnico com os jornalistas, "ficou o estereótipo: um homem rude, de frases comandadas por verbos auxiliares, que faz caretas para se antecipar ao sentido do que vai dizer, que vira a cabeça, fecha os olhos, solta os braços, recua o corpo e que parece não ter mais paciência". Em 32 anos como treinador de equipes tão díspares como CSA, Juventude, Brasil de Pelotas, Al-Shabab (da Arábia Saudita), Pelotas, Grêmio, Goiás, Qadsia (do Kuwait), Coritiba, Criciúma, Al-Ahli (também da Arábia Saudita), Júbilo Iwata (do Japão), Palmeiras, Cruzeiro, Chelsea (da Inglaterra) e Bunyodkor (Uzbequistão), e das seleções do Kwait, do Brasil e de Portugal, Felipão acumulou glórias e títulos raros no currículo de qualquer colega - para citar apenas os principais, a Copa do Mundo de 2002, a Copa das Confederações de 2013, as Libertadores de 1995 e 1999, o Campeonato Brasileiro de 1996, as Copas do Brasil de 1991, 1994, 1998 e 2012. E ainda levou a seleção portuguesa à final da Eurocopa de 2004 e às semifinais da Copa do Mundo de 2006. Nos últimos meses de 2012, no entanto, a carreira de Luiz Felipe Scolari parecia apontar para um final inglório. Em setembro, foi demitido pelo Palmeiras, já a caminho do rebaixamento para a Segundona do Brasileirão, o que se confirmaria em dezembro. Para surpresa de muitos, Felipão deu imediatamente a volta por cima e, em 28 de novembro, foi anunciado como o novo técnico da Seleção. De lá para cá, trocou a ranzinzice por frequentes demonstrações de bom humor, adotou uma escalação mais ofensiva na Seleção, com o quarteto Oscar, Hulk, Fred e Neymar à frente dos volantes Luiz Gustavo e Paulinho, devolveu o otimismo à torcida brasileira, ganhou a Copa das Confederações e tem repetido que vai ganhar o hexa. Numa entrevista ao GloboEsporte.com, chegou a dizer que continua quase o mesmo: "Só estou mais velho e careca. Mas nada mudou. Eu queria ser campeão em 2002. Graças a Deus, com o trabalho daquele grupo, conseguimos. E o que eu mais quero agora é ser novamente campeão". Dias depois, porém, admitiu no Globo Repórter: "Agora, a idade vai chegando e a gente vai modificando, principalmente o coração, e me tornei um pouco mais humano, me tornei um pouco mais paciente". Felipão não é mais aquele. A Seleção lhe faz bem, tanto quanto ele parece fazer à Seleção. #vemibra Sensibilizado pela campanha #vemibra (confira o vídeo, que é ótimo), o sueco Zlatan Ibrahimovic está cada vez mais propenso a assistir à Copa do Mundo no Brasil. É o que revelou ao jornalista Grant Wahl, da revista norte-americana Sports Illustrated: "Foi uma campanha legal que eles fizeram. Foi fantástico ver as pessoas envolvidas - grandes atletas como Anderson Silva, Ronaldo, Dani Alves e outros. Eu fiquei muito feliz e isso me motivou muito. Talvez eu faça uma surpresa e apareça". E reafirmou no Twiter: "Brasil! Acho que terei de mudar meus planos de férias". Relembrando: este Apito Legal reestreou em Migalhas com o texto "Está faltando alguém". É sobre a ausência na Copa do artilheiro dos gols bonitos. Se você der um clique logo abaixo desta coluna em outras edições, vai encontrar o texto postado no dia 3 de fevereiro. Mancada Com toda razão, Adilson Barbosa da Silva reclama, em Migalhas dos Leitores, de o Palmeiras não ser sido citado no texto "Londres, capital do nosso futebol" entre os grandes campeões brasileiros que não cederam um jogador sequer à Seleção que vai disputar a Copa. Mancada nossa. Vai ter Copa Somados todos os manifestantes que foram às ruas de São Paulo na quinta-feira, dia 18, não houve público suficiente para bater a média de 14.951 pagantes por jogo do Brasileirão em 2013. E na conta do tal Dia Internacional de Lutas contra a Copa estão incluídos os 8 mil professores e 4 mil sem-teto que, defendendo reivindicações específicas, também ocuparam as ruas da capital paulista. Segundo levantamento do UOL, "os atos contrários à Copa foram realizados em São Paulo, Rio, Belo Horizonte, Brasília, Curitiba, Porto Alegre, Salvador e João Pessoa. A maior manifestação contra a Copa foi realizada na capital paulista, com 1.200 ativistas. Nas demais capitais, os protestos se reduziram a dezenas ou centenas de manifestantes. No total, os atos contrários à Copa reuniram cerca de 2.900 pessoas". No mesmo dia, segundo a repórter Jéssica Alves, em matéria publicada na Folha de S.Paulo, 20 mil cidadãos do Amapá fizeram fila em Macapá para ver de perto a taça da Copa do Mundo. Fim de papo "E os protestos deviam ter sido feitos anos atrás, quando o Brasil foi eleito sede da Copa. Ou seja, até os protestos estão atrasados! Rarará". - José Simão, em sua coluna da sexta-feira, 16 de maio, na Folha de S.Paulo
segunda-feira, 12 de maio de 2014

Londres, capital do nosso futebol

O melhor time do futebol brasileiro é o Chelsea. Tanto é que emplacou quatro jogadores na Seleção convocada por Luiz Felipe Scolari para disputar a Copa do Mundo. É o mesmo número de convocados que atuam em campos do Brasil. Com uma diferença: David Luiz, Oscar, Ramires e Willian, os quatro da equipe londrina, certamente entrarão em campo, mas Jefferson, Victor e Jô, no máximo, verão os jogos do banco de reservas. Fred, titular, é a única exceção entre os convocados que jogam por aqui. E do futebol londrino ainda virá o volante Paulinho, que pode até ter se despedido do Tottenham nos 3 a 0 sobre o Aston Villa neste domingo, Dia das Mães, mas não voltará tão cedo a atuar por uma equipe brasileira. Outros grandes europeus já estão na briga pelo craque que mata de saudades a torcida corinthiana. Não se responsabilize Felipão pela esquisitice geográfica. O melhor do futebol brasileiro atual realmente se divide entre a Inglaterra, a Espanha, a Itália, a Alemanha e a França, os cinco países de onde vêm 16 dos 23 chamados para a Seleção. Viva o futebol europeu, que ainda nos está cedendo um jogador em atividade na Rússia e outro na Ucrânia. Ou seja: 78% da Seleção virão dos campos europeus para disputar o hexa. Esquisito, não é? Mais esquisito ainda é constatar que a lista, pouquíssimo contestada, não tem ninguém do São Paulo, do Corinthians, do Santos, do Flamengo, do Vasco, do Botafogo, do Cruzeiro, do Internacional e do Grêmio, todos campeões brasileiros, mas inclui um jogador do Toronto, time canadense que disputa a MLS - ou Major League Soccer, a liga de futebol dos EUA e do Canadá - sem jamais ter sequer chegado aos play-offs. Também não se responsabilize Felipão por mais esta esquisitice geográfica. Afinal, o Toronto tem, desde 2006 uma média de mais de 20 mil pagantes por jogo na MLS - número que, no último Campeonato Brasileiro, só foi ultrapassado por Cruzeiro, Corinthians, Flamengo e São Paulo. A média de público do Brasileirão de 2013 foi de 14.951 pagantes por jogo. A média da MLS passou dos 18 mil pagantes. É por essas e outras que o Toronto pode contratar Júlio César, o goleiro titular de Felipão. O maior problema do futebol brasileiro não é técnico nem tático, mas gerencial, como mostram os números que vêm sendo cuidadosamente estudados pelo consultor Amir Somoggi nos últimos anos: em 2003, os 20 maiores clubes do Brasil faturaram R$ 652 milhões e gastaram R$ 411 milhões com o futebol; em 2013, a receita total encostou em R$ 3,1 bilhões, mas as despesas com o futebol passaram de R$ 2,2 bilhões. Ou seja: o futebol custava 63% da receita dos grandes clubes em 2003 e levou 73% no ano passado. Pior ainda: a dívida acumulada, que era de R$ 1,1 bilhão em 2003, ultrapassou os R$ 5 bilhões no último exercício. Difícil é saber onde foi parar tanto dinheiro tal é a indigência técnica de quase todos os times da Série A e de todos da Série B. E é nesse período de muito dinheiro ganho e desperdiçado que foram embora dos campos do Brasil 19 dos 23 jogadores chamados por Felipão para a campanha do hexa. Por pura ironia, a nova capital do futebol inglês fica a mais de 300 quilômetros de Londres. É Manchester, que, neste domingo, comemorou o quarto título nacional conquistado pelo City, com direito a maciça invasão do gramado do Etihad Stadium por torcedores enlouquecidos, mas nada agressivos, após os 2 a 0 sobe o West Ham. O time do Fernandinho, volante polivalente convocado para a Copa após um único jogo pelo Brasil sob o comando de Felipão, fechou a Premier League com 86 pontos, quatro a mais do que o Chelsea. Entre eles, com 84 pontos, ficou o Liverpool de Philippe Coutinho e Lucas Leiva, que não estão entre os 23 chamados para a Copa. Manchester City, Liverpool, Chelsea e Arsenal, mais um time de Londres, disputarão em 2015 a Liga dos Campeões da Europa. Everton, também de Liverpool, e Tottenham representarão o futebol inglês na Liga Europa. Dos seis, somente Arsenal e Everton não têm nenhum brasileiro no elenco. Talvez seja o caso de, nas próximas negociações com os europeus, os clubes brasileiros fincarem o pé: só cedem seus jogadores se eles nos cederem seus gerentes. Se a tática não der certo com os grandes da Europa, a gente pode tentar a permuta pelo menos com o Toronto. Neste caso, o prefeito Fernando Haddad tem como ajudar, oferecendo ao colega canadense Rob Ford, mais afeito ao crack do que aos craques, a chance de se inscrever no programa Braços Abertos, destinado aos viciados da Cracolândia. Afinal, parece mais fácil tirar o prefeito de Toronto do crack do que esperar a salvação do futebol brasileiro com seus atuais dirigentes. Craque No domingo anterior à convocação da equipe que vai lutar pelo hexa, Tostão fez a pergunta em sua coluna na Folha de S.Paulo: "Quem serão os 23? Felipão disse que nem Murtosa, seu fiel escudeiro, sabe todos os nomes. Será que alguém vai dar o furo, antes do anúncio oficial?" Na quarta, dia da convocação, Tostão voltou ao tema, bastando-lhe 12 linhas da coluna para mostrar, mais uma vez, que continua a enxergar o futebol com a mesmíssima sensibilidade de seus tempos de incomparável craque dos gramados - e acertou 22 dos 23 nomes que, pouco depois, foram anunciados pelo técnico. Embora já não acompanhe tão de perto o trabalho da Seleção, como fazia nos primeiros anos de cronista, e não concorde com todas as escolhas de Felipão, só não acertou a convocação de Hernanes. Tinha cravado Lucas Leiva. E, mineiramente, começara assim a sua coluna: "Palpito, com grande chance de errar..." Negociando Discretamente, os centroavantes Fred e Jô já falam que, dependendo do desempenho do Brasil na Copa, esperam boas propostas para voltar ao futebol europeu. Ou seja: no mínimo, esperam que Fluminense e Atlético Mineiro lhes paguem mais. Um e outro De Cristiano Ronaldo, em entrevista ao SporTV, na semana passada: "Vejo o Neymar como um grande jogador. Acho que tem demostrado nos últimos tempos que é um jogador de futuro, com uma margem de projeção muito grande. Sua adaptação no Barcelona não foi a melhor, digamos assim, teve alguns problemas no princípio, mas não tenho dúvida nenhuma de que tem potencial para ser um dos melhores jogadores do mundo ou ser o melhor jogador do mundo". De Romário, em entrevista a Marluci Martins, do jornal Extra: "Tomara que o Neymar seja o cara. Mas não sei... Gostaria que ele fosse o craque, com o Brasil campeão. Mas há o Messi e o Cristiano Ronaldo. E o Rooney também pode surpreender." Fim de papo "Eu sou uma pessoa de bem com a vida. Eu torço pela Seleção Brasileira, eu torço para o Brasil dar certo." - Fernando Henrique Cardoso, em entrevista a Roberto D'Ávila, no canal Globo News, na madrugada de domingo, 11 de maio.
segunda-feira, 5 de maio de 2014

A maldição que ameaça Cristiano Ronaldo

Da baladíssima trindade da qual se esperam milagres na Copa do Mundo, Cristiano Ronaldo é o único que já está a fazê-los a esta altura dos campeonatos que se vão decidindo pela Europa afora. Messi vive uma temporada um tanto quanto opaca e Neymar ainda não joga no Barça todo o futebol envolvente e incisivo de seus tempos no Santos. O craque português, eleito o melhor jogador do mundo na última temporada, continua sobrando nesta. É o maior destaque do Real Madrid, finalista da Liga dos Campeões após a dupla vitória, como anfitrião e como visitante, sobre o Bayern de Munique, atual campeão europeu. Após 12 anos sem chegar à final, o Real tentará em Lisboa, no dia 24, seu décimo título da Liga, graças sobretudo ao extraordinário desempenho de Cristiano Ronaldo. Ele atuou em 10 das 12 partidas disputadas pela equipe nesta competição, tendo marcado 16 gols e viabilizado outros quatro em assistências perfeitas para os companheiros. Nunca um jogador alcançara tais números numa única edição da Liga, incluindo os tempos em que ela se chamava Taça dos Clubes Campeões Europeus. Campeão da Europa, campeão mundial de clubes e três vezes campeão inglês pelo Manchester United, campeão espanhol pelo Real, vice-campeão da Eurocopa de 2004 e quarto colocado na Copa do Mundo de 2006 pela seleção portuguesa, goleador polivalente, daqueles que finalizam bem com os dois pés e com a cabeça, quase inalcançável quando dispara em velocidade pelas beiradas do campo, difícil de ser batido no confronto físico com os marcadores, Cristiano Ronaldo não é um mero matador. Tem refinamento de meia, capaz de colocar a bola à feição dos companheiros para que eles também marquem os seus golzinhos. Não é à toa que, em 2013, depois de marcar 69 gols durante o ano, foi eleito pela FIFA o melhor jogador do mundo. Antes, ainda no Manchester, havia conquistado o maior prêmio individual do futebol em 2008. Nos quatro anos seguintes, só deu Messi, que ficou em segundo lugar no ano passado. Ao receber o prêmio na Suíça, há quatro meses, o português foi instado por um repórter a completar a frase: "em 2014, Cristiano Ronaldo será..." Pensou um pouco e tascou: "... o mesmo homem que foi em 2013". Pelo menos dentro do campo, o cracaço continua o mesmo e ainda tem dois canecos para disputar antes da Copa do Mundo - a Liga dos Campeões da Europa, contra o Atlético de Madri; e o Campeonato Espanhol, que voltou a ficar embolado neste final de semana, depois que o Barcelona empatou com o Getafe por 2 a 2, o Atlético foi derrotado pelo Levante por 2 a 0 e o Real, com um gol e uma assistência dele, também empatou com o Valencia por 2 a 2. Autor dos quatro gols que deram as duas vitórias sobre a Suécia na repescagem das eliminatórias europeias e garantiram a presença de Portugal no Brasil, Cristiano Ronaldo chegará aqui com a dura missão de levar a equipe a um lugar verdadeiramente honroso na Copa do Mundo - pelo menos, o quarto lugar que ele já conquistou, em companhia de Luís Figo, em 2006, na Alemanha, ou, melhor ainda, um novo terceiro lugar, como Eusébio conseguiu em 1966, na Inglaterra. Afinal, é com os dois que ele disputa o lugar de número 1 do futebol português em todos os tempos. A mais do que isso os portugueses não aspiram, embora tenham contado com a sorte no desenho da tabela: saindo classificados em segundo lugar no grupo com Alemanha, Gana e EUA, provavelmente pegarão Bélgica ou Rússia nas oitavas. A Bélgica é tida por muitos como a principal candidata a produzir uma grande surpresa na Copa, mas, para os portugueses, o pior viria depois - a Argentina, por exemplo. Portugal sagrar-se campeão seria milagre de uma dimensão que nunca se viu na história das Copas, mas será algo absolutamente natural que Cristiano Ronaldo venha a garantir em campos brasileiros seu terceiro prêmio de melhor jogador do mundo, por mais que a gente torça para que, neste ano, chegue finalmente a vez do nosso Neymar. É verdade, porém, que o melhor jogador do ano anterior não tem dado sorte nas últimas edições da Copa do Mundo: Roberto Baggio, que ganhou o prêmio em 1993, perdeu o pênalti que deu o tetra ao Brasil em 1994; nosso fenômeno Ronaldo, ganhador em 1997, sofreu uma convulsão e sucumbiu a Zidane e companhia na final de 1998; Luís Figo, premiado em 2001, caiu fora na primeira fase em 2002; vencedor em 2005, Ronaldinho Gaúcho nada fez em 2006 e caiu com o Brasil nas quartas de final; e Messi, ungido em 2009, também foi desclassificado nas quartas em 2010. Neymar e companhia devem estar torcendo para que se repita nos campos do Brasil a maldição que persegue os melhores jogadores do mundo desde o milênio passado. Goleiraço Nesta quinta-feira, dia 8, o gaúcho Cláudio André Mergen Taffarel festejará na Turquia, onde trabalha como preparador de goleiros do Galatasaray, seu aniversário de 48 anos. Avesso a piruetas e a saltos espetaculares, sempre bem colocado na pequena área, Taffarel foi um dos destaques da conquista do tetra nos Estados Unidos, em 1994, e do vice mundial em 1998. Em três Copas do Mundo, desde 1990, atuou em 18 jogos, tendo sofrido 15 gols - dois em 1990, três em 1994 e dez em 1998. Foi campeão mundial de juniores em 1985, medalha de prata olímpica em 1988 e bicampeão da Copa América, em 1989 e em 1997. É um dos maiores goleiros da história do futebol brasileiro. Preferência O brasileiro Daniel Alves, que ocupou a primeira página de jornais e portais de todo o mundo após comer parte de uma banana jogada em campo por um torcedor racista na vitória do Barcelona sobre o Villarreal por 3 a 2 no domingo, 27 de abril, já escolheu o melhor adversário para o Brasil nas oitavas de final da Copa do Mundo, como confessou a Galvão Bueno na edição deste domingo, dia 4, da série Na Estrada com Galvão: "Eu prefiro a Holanda. Sou dos que 'quem me deve tem de me pagar'". O lateral não esquece aqueles 2 a 1 que tiraram o Brasil da Copa de 2010 nas quartas de final. A alternativa seria Espanha ou Chile. Fim de papo "Yes, nós temos bananas/ Bananas pra dar e vender" - Braguinha e Alberto Ribeiro, em marchinha gravada em 1937 para o Carnaval de 1938
segunda-feira, 28 de abril de 2014

Não é mole, não

Pergunta feita a Alejandro Sabella em entrevista recente ao site da Fifa: - Você nos disse em uma entrevista anterior, dois anos atrás, que Espanha e Alemanha eram as melhores seleções do momento, mas, antes de completar a resposta, citou também o Brasil. Hoje você voltaria a responder do mesmo modo? Resposta do técnico que vai comandar a seleção argentina na Copa do Mundo: - Hoje colocaria o Brasil no mesmo nível de Espanha e Alemanha. Não fiquei surpreso com o seu rendimento na Copa das Confederações. Aliás, os brasileiros nunca me surpreendem, não é à toa que são pentacampeões. A história mostra que eles sempre foram os melhores. Possuem uma mescla de capacidade física, atlética e técnica enorme. São favoritos, ainda mais sendo os anfitriões. Se você der um clique logo abaixo desta coluna em outras edições e se dispuser a reler "O Brasil de Van Gaal e Maradona", postada em 10 de março, vai ver que Sabella não é o único argentino ilustre do mundo da bola a mostrar encantamento com a Seleção. Está lá o que, pouco antes, dissera Diego Armando Maradona: - Sem dúvida, meu favorito é o Brasil, que já demonstrou sua força na Copa das Confederações. Quando estão devidamente concentrados, os brasileiros são imbatíveis. Estarão sendo sinceros nuestros hermanos ou querem apenas encher retoricamente a bola da Seleção para esvaziá-la de verdade quando e se brasileiros e argentinos se confrontarem - somente na finalíssima do dia 13 de julho se as duas equipes, como se espera, liderarem seus grupos na primeira fase da Copa do Mundo? A dúvida só vai se dissipar depois que muita bola tiver rolado nos campos do Brasil. É claro que o Brasil é candidato ao hexa, candidatíssimo, talvez mesmo o favorito para ganhar o caneco no Maracanã, mas dura será a caminhada para a rapaziada de Felipão depois de tirar croatas, mexicanos e camaroneses da frente. Nas oitavas de final, tendo sido o primeiro do grupo A, o Brasil pegará o segundo do grupo B - Holanda, Espanha ou Chile. Todos, parada dura. Chegando às quartas, o adversário pode ser Itália, Uruguai, Inglaterra ou Colômbia. Nas semifinais, Neymar e companhia correm o risco de se encontrar com a Alemanha. Teoricamente, é mais fácil o caminho da Argentina, que terá Bósnia-Herzegovina, Irã e Nigéria como adversários na primeira fase, provavelmente a França ou a Suíça nas oitavas e a Bélgica ou a Rússia ou Portugal nas quartas, mas poderá pegar Espanha ou Holanda ou Itália ou Uruguai ou Inglaterra nas semifinais. Mole não é, mas o caminho do Brasil até as finais se desenha mais difícil. A possibilidade de encarar, sucessivamente, a Espanha, a Itália e a Alemanha antes da final exige um grau de maturidade a jovem Seleção ainda não teve de mostrar. É verdade que os adversários também estarão pressionados. Enfrentar o Brasil em seu território jamais será fácil. Na semana passada, o espanhol Andrés Iniesta, raro craque do Barcelona que vem jogando bem nesta temporada, abriu o coração sobre a possibilidade de encarar os brasileiros já nas oitavas de final: "Não seria uma grande notícia jogar contra o Brasil. Se isso acontecer, porém, não podemos ter medo. Nossa seleção também é grande e está capacitada a ganhar do Brasil". Para o Brasil, nem a vitória acachapante por 3 a 0 na final da Copa das Confederações serve antecipadamente como tranquilizante para enfrentar o atual campeão do mundo logo nas oitavas. É um jogo de risco, daqueles que às vezes se decidem num único lance, e, portanto, de prognóstico sempre arriscado. "Apesar de haver tendências, no futebol o impossível não existe", como bem lembrou Óscar Washington Tabárez, na semana passada, em entrevista a Denise Mota, da Folha de S. Paulo. Conclusão do técnico uruguaio: "Em uma Copa, a fronteira entre continuar e sair é muito pequena". E é aí que mora o perigo para a Seleção: a fronteira se estreita ainda mais numa sucessão de jogos difíceis. Ou seja: ser hexa não é mole, não. Nem tanto Na sexta-feira, dia 25, de passagem por Belém, a presidente Dilma Rousseff falou sobre a Copa do Mundo: "Nós fazemos a nossa parte. Os estádios estão prontos, os aeroportos estão prontos". No Blog do Planalto, corrigiu-se, jogando para o futuro o que fora tratado como coisa feita: "Quero garantir a todos que faremos a nossa parte, estádios prontos, aeroportos prontos...". Agora, é esperar para ver se os estádios estarão prontos. Os aeroportos, segundo os especialistas, não estarão. Ostentação O cracaço Cristiano Ronaldo vai estrear a sua Flyknit Mercurial Superfly IV, estilosa chuteira de cano alto apresentada pela Nike na semana passada, somente no dia 16 de junho, quando Portugal e Alemanha se enfrentarão em Salvador, mas você pode estrear a sua naquela pelada semanal a partir do dia 12, quando o modelo chegará às lojas especializadas. O luxo tem um precinho salgado: R$ 1.299,90.
terça-feira, 22 de abril de 2014

Neymar faz mais falta do que Pelé

Nos anos mais vitoriosos do futebol brasileiro, a seleção foi campeã do mundo sem Pelé. Melhor dizendo: quase sem contar com o Rei. Foi em 1962, o ano do bi, conquistado sob a regência de Mané Garrincha. Pelé jogou a primeira partida da Copa, fez até o seu golzinho nos 2 a 0 sobre o México, mas se contundiu no 0 a 0 com a Tchecoslováquia e, substituído por Amarildo, não voltou a atuar na competição. Neymar nem é e nem será Pelé, mas terá o Brasil alguma chance de ganhar o hexa se não puder contar com ele? Não. Neymar é uma exceção em nossos dias. Não tem parceiros como Djalma Santos, Nilton Santos, Didi e Garrincha. É uma solitária estrela de primeiríssima grandeza na seleção. Thiago Silva, que fará 30 anos em setembro, também é uma estrela do futebol atual, muito provavelmente até teria vaga entre os bicampeões mundiais em campos do Chile, mas ainda joga no time dos mortais. Neymar, se repetir as atuações da Copa das Confederações e for campeão do mundo aos 22 anos, será precoce candidato a conviver no Olimpo com deuses da bola como Pelé, Garrincha e Maradona. Acontece que, a pouco menos de dois meses da Copa do Mundo, o garoto está baleado, com uma inflamação no pé esquerdo, e provavelmente não mais jogará pelo Barcelona até o final da temporada europeia. Não é o caso mais grave entre contundidos ilustres que podem ficar fora da Copa ou chegar ao Brasil em condições físicas pouco propícias ao rendimento em alto nível, craques como o português Cristiano Ronaldo, o colombiano Falcao Garcia, o belga Hazard, o marfinense Yaya Thouré, o holandês Van Persie e até o alemão Schweinsteiger, que ainda tenta readquirir o ritmo de jogo no Bayern após duas cirurgias e um longo afastamento dos campos. Neymar, porém, é o que mais nos preocupa. As previsões de médicos e preparadores físicos são relativamente boas. Daqui a quatro semanas, no máximo, o camisa 11 do Barça, dono indiscutível da 10 da seleção, estará pronto para se reencontrar com a bola e a ela continuar dando o fino trato que será indispensável requisito para que o sonho do hexa se transforme em realidade no dia 13 de julho. É o que dizem. Vamos torcer para que se concretizem as expectativas dos especialistas. Se eles estiverem certos, Neymar terá lucrado com o descanso forçado, recuperando as forças exauridas pelo excesso de jogos e compromissos nos últimos tempos. Que não se deixe, porém, cair na tentação de aproveitar os dias de tratamento como dias de folga, o que praticamente tirou Romário da Copa de 1990. Tão atrevido quanto folgado, o mais ilustre baixinho da história do futebol brasileiro sofreu uma lesão atuando pelo PSV Eindhoven a alguns meses da Copa e, em pleno tratamento, arrancou por conta própria a bota de gesso que imobilizava o tornozelo esquerdo e foi curtir uma noitada em Milão. A recuperação foi para o beleléu e o Brasil, com Muller no lugar de Romário, caiu fora da Copa nas oitavas de final. Neymar, ainda bem, é muito mais responsável do que foi em seus tempos de gênio da área o combativo deputado de nossos dias. Sorte nossa. Afinal, ele faz mais falta à seleção de hoje do que fazia o Rei Pelé entre o final dos anos 50 e o começo dos anos 70 do século passado. Trate de se cuidar, portanto. A emoção verdadeira Uma história define bem quem foi Luciano do Valle. Nivaldo Prieto conta que eles foram gravar uma chamada da Band sobre a cobertura da Copa e alguém pediu a Luciano que narrasse um gol imaginário. Resposta do narrador cuja morte, no sábado, foi chorada por inúmeras estrelas do esporte brasileiro: "Eu não faço isso. Não consigo fingir que estou narrando um gol. Eu sei narrar o jogo. Se você botar a imagem do gol para narrar, eu narro. A emoção não vem do nada. Você não inventa a emoção de narrar um gol. A emoção vem de dentro". Invasão ianque Eles estão demorando muito para aprender a jogar, mas não se pode dizer que os norte-americanos não gostem de futebol. Nada menos do que 154.412 ingressos da Copa do Mundo de 2014 foram vendidos nos Estados Unidos. Como já tinha acontecido na Alemanha, em 2006, e na África do Sul, em 2010, será norte-americano o segundo maior contingente de torcedores no Brasil, atrás apenas dos anfitriões, que adquiriram 1.041.418 ingressos. É dos Estados Unidos também o recorde de público nos estádios: 3.587.538 torcedores viram os 52 jogos da Copa do Mundo de 1994, média de 68.991 pagantes por jogo. Em segundo lugar, está a Alemanha, que, em 2006, recebeu 3.359.439 torcedores em 64 jogos, média de 52.491 por jogo.
segunda-feira, 14 de abril de 2014

A Copa do Mundo é nossa. E daí?

A história das Copas mostra que nunca um continente emplacou três campeões seguidos. Aliás, os continentes, neste caso, se limitam à Europa e à América do Sul. Em 19 edições, os europeus levaram dez títulos - quatro para a Itália, três para a Alemanha, um para a Inglaterra, um para a França e um para a Espanha. Os sul-americanos ficaram com nove - cinco do Brasil, dois do Uruguai e dois da Argentina. A 20ª edição, no Brasil, vai empatar a disputa histórica ou alargará a vantagem que os europeus perderam em 1958 e só vieram a recuperar em 2010 com a Espanha? Agora, a Espanha pode ser bi, o que daria à Europa o terceiro título consecutivo, pois a Itália foi a campeã de 2006. Aliás, as duas últimas finais só tiveram equipes europeias - Itália e França em 2006, Espanha e Holanda em 2010. Em toda a história, houve oito finais exclusivamente europeias e apenas duas sul-americanas, a última em 1950, no Maracanã, vencida pelos uruguaios, como os brasileiros estão cansados de lamentar. A decisão do título de 2014 com um novo Brasil x Uruguai só será possível se os dois times fecharem a primeira fase como líder de seus grupos, tarefa nada fácil para os uruguaios, que disputarão as duas vagas nas oitavas com ingleses e italianos. Uma vitória europeia em campos brasileiros seria um desastre para o depauperado futebol sul-americano, progressivamente transformado em simples fornecedor de craques e promessas para mercados mais ricos e mais profissionalizados - não apenas da Europa, mas também da Ásia e, daqui a pouco, até da América do Norte. Ainda bem que a América do Sul tem boas chances de emplacar uma eletrizante decisão regional -Brasil versus Argentina. Ainda bem? Será que os brasileiros preferem o risco de entregar o caneco aos nuestros hermanos do que a uma seleção da Europa? Para os europeus, um inédito êxito na América do Sul reforçaria o predomínio crescente de suas principais competições, em especial a Liga dos Campeões, no mercado bilionário do futebol, isolando cada vez mais o continente como força arrecadadora dos recursos que a FIFA teima em dividir com os clubes - o que, contraditoriamente, pode levar ao esvaziamento progressivo dos torneios entre seleções e, portanto, da própria Copa do Mundo. Não é de hoje que os grandes clubes europeus se insurgem contra as competições que enchem os cofres das federações continentais e da FIFA graças às estrelas que são pagas por eles. Turbinar economicamente a Liga dos Campeões e os principais campeonatos nacionais da Europa é algo que os clubes evidentemente acolherão com alegria. Desfalcá-los durante dois meses a cada duas temporadas para que a FIFA e a Uefa, um pouco menos, arrecadem bilhões com a Copa do Mundo e a Eurocopa é um despropósito que os grandes clubes não vão aceitar para sempre. Esta é uma discussão que nem sequer começou de verdade na América do Sul, onde um obscuro cartola paraguaio ou uruguaio tem mais influência na condução do futebol do que um Corinthians, um Flamengo ou um Boca Juniors. Talvez mais cedo do que se espera, no entanto, os grandes clubes sul-americanos comecem a entender que são os verdadeiros fazedores do futebol, mesmo que as principais estrelas das seleções já não vistam as suas camisas. Até por isso! Neymar é do Barça, claro, mas apenas porque o Santos, embora muito tentasse, não teve cacife econômico para bancar o garoto que nasceu para o mundo da bola na Vila Belmiro. Nós, brasileiros, vamos torcer por uma seleção em que Júlio César também não é flamenguista, Daniel Alves não é do Bahia, David Luiz não é do Vitória, Thiago Silva e Marcelo não são do Fluminense, Luiz Gustavo não é do Corinthians de Alagoas e nem sequer chegou a passar por um grande time do país, Paulinho não é mais do Corinthians, Oscar não é do São Paulo nem do Internacional, Hulk fez apenas dois jogos pelo Vitória no Campeonato Brasileiro, e, de todos os titulares, somente o mineiro Fred, com a camisa do Flu, atua no país. A situação da Argentina não é muito diferente. Quase todo o elenco do treinador Alejandro Sabella atua na Europa, começando pelo craque número 1, Lionel Messi, criado desde criancinha no futebol espanhol. Será que a provável conquista de um décimo título da Copa do Mundo por uma seleção sul-americana ajudaria a atenuar este desequilíbrio de um mercado que se encaminha para consagrar a Europa como uma espécie de Primeira Divisão do futebol mundial, relegando a América do Sul a uma incômoda Segundona? Atenuar, talvez atenue. Difícil é recuperar um mínimo de equilíbrio na briga global enquanto o futebol sul-americano continuar sendo administrado pela cartolagem que há muito assola o continente. Mesmo assim, a gente quer o hexa. E pouco importa de onde vem o adversário da final. Tanto faz bater um vizinho, como a Argentina ou o Uruguai, ou um visitante d'além- mar, como Alemanha ou Itália ou Espanha. O que o Brasil quer é gritar mais uma vez, a sexta em vinte chances: "a Copa do Mundo é nossa". Talvez a gente possa depois reinventar o futebol brasileiro, criando condições econômicas e gerenciais que lhe permitam segurar por aqui as estrelas por ora destinadas a brilhar no bilionário futebol europeu. Será uma tarefa mais difícil do que ganhar a Copa. Literalmente Algumas preciosidades linguísticas flagradas por Clarissa Passos em cardápios bilíngues de bares e restaurantes brasileiros interessados em receber turistas durante a Copa do Mundo e detalhadas por ela no site Buzzfeed: against the brazilian beef significa contra-filé; the american language é a tradução de língua à americana; beer (it barks) é o jeito de pedir uma cerveja em lata. Para pedir um mate, a tradução é direta: kill. E tem loja de suco que erra no sabor em português, mas acerta na tradução: se quiser cocô, o turista deve pedir shit. Padrão Fifa Que botecos e restaurantes populares se valham da tradução automática do Google e derrapem no inglês é curioso, mas aceitável. Difícil de engolir é a agressão à língua portuguesa no site da Fifa, que registra assim uma frase do nosso Zico após visitar o Maracanã: "Está lindo, gostoso de frequentar e a áurea continuará sendo a mesma, novo ou velho. É o Maracanã de sempre". O que disse o maior artilheiro do estádio em todos os tempos, com 333 gols: "Está lindo, gostoso de frequentar e a aura continuará sendo a mesma, novo ou velho. É o Maracanã de sempre".
segunda-feira, 7 de abril de 2014

Não haverá campeão como Zagallo

Como se fossem Quixotes do futebol, dois dos 32 comandantes das seleções que disputarão a Copa têm todo o direito de sonhar o sonho quase impossível de alcançar uma estrela quase inalcançável, repetindo em campos do Brasil os feitos de Mário Jorge Lobo Zagallo e Franz Beckenbauer, únicos campeões do mundo como jogador e como treinador. São o francês Didier Deschamps, capitão da França campeã de 1998, e o alemão Jürgen Klinsmann, atacante da Alemanha campeã de 1990. Que é difícil, é. Beira o impossível. Zebras não pastam na Copa do Mundo. Não importa quão distante o sonho, porém Jürgen Klinsmann pode ser o segundo alemão a ganhar a Copa em dose dupla. Basta dar Estados Unidos na cabeça. Na primeira fase, aliás, Alemanha e EUA se pegam. Para os norte-americanos, mesmo treinados por um antigo craque alemão, será combater o inimigo imbatível. E da primeira fase talvez eles nem passem, permitindo que alemães e os portugueses sigam em frente. Klinsmann já treinou equipes melhores - a seleção alemã e o Bayern de Munique. O próprio Didier Deschamps fez questão de avisar, há poucos dias, que também não se espere tanto da sua França: "Não podemos ter a pretensão de estar entre os favoritos, como são as equipes que estão jogando em alto nível nos últimos quatro ou cinco anos. Vamos para o Brasil pensando em chegar o mais longe que pudermos". E talvez tenha razão. A França pós-Zidane não deu em nada. Depois dos títulos mundial em 1998 e europeu no ano 2000, les Bleus ainda foram vice-campeões do mundo em 2006, mas deram vexame nas Eurocopas de 2008 e 2012 e na Copa de 2010. E sofreram até a repescagem para garantir uma vaga na Copa que terá o Brasil como anfitrião e candidatíssimo ao título. De qualquer maneira, é bem menos difícil imaginar Frank Ribéry do que Clint Dempsey como campeão do mundo. Ponto para Deschamps e sua França, que, pelo menos na primeira fase, terão relativa moleza, enfrentando adversários como a Suíça, o Equador e Honduras, o que lhes dá a chance de sair do grupo E em primeiro lugar para enfrentar nas oitavas a Bósnia ou a Nigéria. Portanto, não é tão difícil que os franceses cheguem às quartas de final. Daí em diante, as coisas se complicarão. Disputar o caneco seria alcançar a estrela inalcançável. Nada indica que Zagallo e Beckenbauer venham a acolher um novo sócio em seu exclusivíssimo clube. E ainda que o sonho impossível de Klinsmann e Deschamps se materialize no Maracanã, a Copa de 2014 será uma grande oportunidade para o Brasil homenagear um dos seus maiores campeões em todos os tempos. Nem Beckenbauer nem Klinsmann nem Deschamps terão feito tanto quanto o nosso Zagallo, brasileiro nascido nas Alagoas, criado no Rio de Janeiro, carioquíssima figura, bicampeão do mundo como jogador, tendo participado de apenas duas Copas e atuado em todos os jogos, campeão como treinador oito anos depois do bi em campo e novamente campeão em 1994, dessa vez como coordenador técnico da seleção comandada por Carlos Alberto Parreira. Os "fracassos" de Zagallo à frente da seleção enriqueceriam o currículo de alguns dos mais badalados treinadores da história do futebol - quarto lugar na Copa de 1974, quando o cracaço Beckenbauer ganhou seu primeiro título, e segundo na Copa de 1998, quando o eficiente volante Deschamps ergueu a taça de campeão do mundo. Meia do América do final dos anos 1940 que se transformou em participativo ponta esquerda do Flamengo na década seguinte até se transferir para o incomparável Botafogo de Garrincha, Didi e Nilton Santos, Mario Jorge Lobo Zagallo tinha treinado apenas os juvenis e os profissionais de General Severiano antes de imprimir sua marca pessoal à seleção tricampeã de 1970 e dar prosseguimento à trajetória de maior vencedor da história das Copas do Mundo. Os brasileiros o amam, mas boa parte da mídia ainda lhe deve o legítimo reconhecimento, como fez questão de lembrar o técnico francês Aimé Jacquet, ainda no Stade de France, logo depois de vencê-lo na decisão de 1998 e vê-lo massacrado pelos jornalistas na entrevista coletiva: "Antes de ouvir qualquer pergunta, quero dizer que eu precisaria de mais uma ou duas vidas para sonhar com as glórias que este senhor já conquistou no futebol". Faz de conta Na semana passada, quatro dias depois da morte do trabalhador Fábio Hamilton da Cruz, o Superintendente Regional do Trabalho e Emprego em São Paulo, Luiz Antonio Medeiros, comentou com o repórter Alex Sabino, da Folha, a situação da Arena Corinthians: "Se esse estádio não fosse da Copa , os auditores teriam feito um auto de infração por trabalho precário e paralisado a obra. Estamos fazendo de conta que não vemos algumas coisas irregulares". E escancarou o jogo sujo: "Isso é trabalho precário. Não vamos nem entrar nesse assunto porque vai atrasar ainda mais a obra. Falei com o ministro e ele deu respaldo. Estamos fazendo de conta que não estamos vendo". No dia seguinte, o ministro do Trabalho, Manoel Dias, negou ter dado respaldo ao correligionário, mas o manteve no emprego. Sem pressa No dia seguinte, nota assinada por José Carlos Freitas, da Promotoria de Justiça de Habitação e Urbanismo da Capital, lembrou que um relatório do Corpo de Bombeiros aponta problemas de segurança na Arena e faz uma série de exigências para a continuação das obras, mas o Ministério Público deixou a solução para esta semana: "A promotoria, em caso de descumprimento ou cumprimento parcial dessas exigências, não descarta a adoção de medidas visando à interdição parcial da arena, mesmo durante a realização da Copa do Mundo 2014. Nessa hipótese, eventuais prejuízos causados aos adquirentes de ingressos, que poderão ser privados do direito de assistir aos respectivos jogos, deverão ser objeto de ações judiciais em face dos organizadores do evento e dos responsáveis pela construção da arena". Fábio Hamilton da Cruz foi o terceiro operário a morrer em serviço no Itaquerão.
segunda-feira, 31 de março de 2014

Guardiola vem aí

Ele não vai comandar nenhuma das 32 seleções, pode se dar o luxo de nem sequer vir ao Brasil, limitando-se a acompanhar da Europa os jogos mais importantes, mas ninguém duvide: Josep Guardiola i Sala exercerá grande influência na Copa do Mundo de 2014. O futebol de duas seleções candidatíssimas ao caneco carrega a marca, muito forte na Espanha e mais discreta na Alemanha, da visão de jogo e do trabalho deste treinador que tudo ganhou com o Barcelona e começa a tudo ganhar com o Bayern de Munique. Há quem não goste do estilo de suas equipes, como o alemão Franz Beckenbauer, um dos maiores craques do futebol em todos os tempos, campeão do mundo como jogador, em 1974, e como técnico, em 1990, glória que apenas nosso Zagallo também alcançou na história das Copas. Presidente de honra do Bayern, Beckenbauer parece se entediar com o futebol de muitos toques que o time pratica sob as ordens de Pep Guardiola ainda mais do que na época do holandês Louis Van Gaal, como fez questão de ressaltar em recente entrevista à Sky Sports: "Provavelmente, terminaremos jogando como o Barcelona e ninguém vai querer nos ver". O mitológico craque alemão prefere o futebol mais incisivo e variado das equipes que mesclam toques curtos, inversões e lançamentos para chegar à área adversária ou, mesmo, arriscar as finalizações de longa distância. O futebol minimalista, que prioriza a posse de bola, pode ter dado todos os títulos importantes ao Barcelona e à Espanha nos últimos anos e até ao seu Bayern nos últimos meses, mas não emociona nem convence Beckenbauer: "Quando os jogadores chegam à linha do gol, voltam a tocar a bola para trás" Depois que Guardiola criticou Schweinsteiger por ter chutado a gol em vez de passar a bola a um companheiro no 1 a 1 com o Arsenal pelas oitavas de final da Liga dos Campeões, o Kaiser chiou: "Minha concepção de futebol é outra. Se tenho a chance de arrematar de fora da área, especialmente contra uma defesa muito fechada, é o que faço". Ex-volante mediano do Barça e da seleção espanhola, hoje reconhecido como um dos principais técnicos do mundo, Pep Guardiola não inventou o futebol de toques que marca a era mais vitoriosa da equipe catalã e transformou a Espanha em bicampeã europeia e campeã mundial. Como técnico do Barcelona, ele simplesmente deu prosseguimento ao trabalho de seus antecessores holandeses, como Frank Rijkaard, Louis van Gaal e Johan Cruyff, apurando o estilo consagrado pelos comentaristas espanhóis como tiqui-taca. Como o Barça é sua base, a seleção espanhola naturalmente importou o modelo ainda nos tempos de Luis Aragonés, reforçando-o crescentemente de lá para cá. A equipe de Vicente del Bosque, atual campeã mundial, tem uma enorme diferença em relação ao timaço que Guardiola comandou na conquista de títulos importantes como os mundiais de clubes de 2009 e 2011, os europeus das temporadas 2008-09 e 2010-11e o tri espanhol de 2008-09, 2009-10 e 2010-11: simplesmente não conta com Lionel Messi, o supercraque que dá contundência ao futebol de toques praticado pelo Barça e espinafrado por Beckenbauer. Talvez por isso, a Espanha tenha sido campeã do mundo em 2010 com uma derrota e seis vitórias, quatro delas por 1 a 0, marcando apenas oito golzinhos em sete jogos, recorde negativo na história das Copas. É o que entedia Beckenbauer e companhia menos ilustre pelo mundo da bola afora. Registre-se, porém, que o Barcelona azeitado por Guardiola é um time muito mais goleador do que a seleção da Espanha, tanto quanto o Bayern reverenciado por Carlos Alberto Parreira em conversa com jornalistas europeus na semana passada: "Um time que tem 81% de domínio sobre um adversário é uma coisa fabulosa, que nunca se tinha visto na história do futebol. É um time que troca mil passes no jogo, que ganhou o Campeonato Alemão com oito rodadas de antecedência. Então, tem alguma coisa diferente nesse time". O alto índice de posse de bola, novidade no Bayern e rotina no Barcelona e na seleção espanhola dos últimos tempos, ajuda as equipes a poupar energia para gastá-la na marcação no campo de ataque e, assim, deixá-las mais perto do gol. Não é incomum que, mesmo tendo muito mais a posse da bola, tanto o Barça quanto o Bayern corram menos quilômetros durante o jogo do que os seus adversários. Quem corre é a bola, como pregavam e praticavam os craques de antigamente e, com certa ironia, fez questão de lembrar o próprio Guardiola após o Barcelona enfiar 4 a 0 no Santos e sagrar-se campeão mundial em 2011: "Tocamos a bola quantas vezes for necessário para chegar ao gol. O Barcelona passa a bola como meu pai falava que vocês, brasileiros, faziam". Graças ao estilo de jogo mais voluntarioso deixado por Jupp Heynckes, o Bayern tem mais variações táticas, vale-se mais das bolas altas, dos dribles e até dos contra-ataques do que os espanhóis, mas também vai incorporando progressivamente o tiqui-taca do regente Guardiola. E assim, depois de ter conquistado o título mundial de clubes de 2013, sagrou-se campeão alemão na semana passada com sete rodadas de antecipação ao chegar à 19ª vitória consecutiva nos 3 a 1 sobre o Hertha Berlin. Agora, depois de empatar no sábado com o Hoffenhein por 3 a 3, prepara-se para o duplo embate com o Manchester United pelas quartas de final da Liga dos Campeões. Em síntese, dois dos melhores times do mundo, que abrigam uma boa porção das seleções da Alemanha e da Espanha, movem-se em campo sob a inspiração deste treinador de apenas 43 anos que, mesmo não vindo ao Brasil, estará presente em muitos jogos da Copa do Mundo de 2014, talvez até na finalíssima de 13 de julho. Pretensão De Miguel Herrera, técnico do México, em entrevista ao site da FIFA: "Jogar um Mundial no Brasil é viajar na história - o Maracanã, os anos 1950, a lembrança de um torneio épico. É fantástico estar onde a festa do futebol impressiona, pois há jogadores muito talentosos no país. Será uma competição sensacional e o México fará uma Copa diferente, sem dúvida nenhuma. Assim como o Brasil um dia fez história no México, por que não fazermos história no Brasil?" Bom presságio Diferentemente do técnico, o escritor Juan Villoro, torcedor do Necaxa, que chegou ao ser o terceiro colocado no Mundial de Clubes disputado no Brasil em 2000 e hoje está na Segunda Divisão do México, não põe muita fé na seleção de seu país contra Neymar e sua turma na Copa do Mundo, segundo revelou recentemente a Sylvia Colombo, da Folha de S. Paulo: "Somos educados e sempre perdemos para os donos da casa. Foi assim na África do Sul, aí será igual".
segunda-feira, 24 de março de 2014

Ensaio de gala para a Copa

Se a sorte não escapar a um ou outro nos próximos dias, estarão todos em gramados do Brasil em junho e julho: Messi, Cristiano Ronaldo, os nossos Neymar, Daniel Alves e Thiago Silva, os alemães Manuel Neuer e Philip Lahm, os espanhóis Sérgio Ramos, Iniesta e Xavi e o francês Franck Ribéry. Da ilustríssima lista, somente Neymar não entrou na seleção de 2013 premiada pela FIFA. Dos 11 melhores de 2013, só não virá ao Brasil o sueco Ibrahimovic. Nos próximos dias, todos, inclusive Ibrahimovic, estarão disputando o mais importante título da temporada que se encerrará pouco antes da Copa do Mundo. Vão competir com outros craques, nascidos em muitos outros países do vasto mundo da bola, como a Bélgica de Hazard, a Colômbia de Falcao García, a Holanda de Robben e van Persie, a Inglaterra de Lampard e Rooney e o Uruguai de Cavani. As quartas de final da Liga dos Campeões da Europa serão um ensaio de gala para os craques que dominarão o Mundial. Dos verdadeiramente grandes, só não estará representada a Itália do performático Balotelli. Vão se cruzar, de 1º a 9 de abril, em jogos de ida e volta, as equipes que vêm dominando a competição desde os jogos da primeira fase: Barcelona x Atlético de Madrid, Real Madrid x Borussia Dortmund, Paris Saint-Germain x Chelsea e Manchester United x Bayern. Dos oito, dois tentarão a conquista do caneco europeu pela primeira vez: Atlético de Madrid e PSG. Chelsea e Borussia, forças em ascensão no continente, vão tentar o seu segundo título. O Manchester ganhou o título três vezes, uma com Cristiano Ronaldo. O Barcelona já foi campeão quatro vezes, três com Messi, a segunda numa final com o Manchester de Cristiano Ronaldo em 2008/09. Na primeira, em 2005/2006, Messi vestia a camisa 30 e era mero figurante do time regido por Ronaldinho Gaúcho, tendo participado de alguns jogos da fase de grupo e das oitavas. O Bayern é penta. O Real Madrid, nove vezes campeão, fez sua última final na temporada 2001/02. Cristiano Ronaldo tem, pois, a chance de conquistar seu segundo título europeu e há outros desafios e ambições pessoais em jogo. O português está a um gol de igualar os 14 marcados pelo argentino em 2011/12, melhor marca de um artilheiro em todas as edições da Liga dos Campeões - dividida com José Altafini, o nosso Mazzola, também autor de 14 gols, pelo Milan, em 1962/63, quando a competição ainda se chamava Taça dos Clubes Campeões Europeus. E agora, a partir das quartas, Cristiano Ronaldo terá cinco jogos para estabelecer um novo recorde de gols numa única temporada, desde que leve o Real Madrid à final de 24 de maio em Lisboa, claro. O argentino pode se tornar o maior artilheiro da história da Liga. Tendo marcado 67 gols até hoje na mais importante competição de clubes do futebol mundial, precisa de mais quatro para igualar a marca de Raúl, que fez 66 em 14 edições com a camisa do Real Madrid e cinco pelo Schalke 04 na temporada 2010/2011. Bastaria a disputa pessoal entre os supercraques do Real e do Barça para ligar o amante do futebol nas próximas emoções da Liga dos Campeões da Europa. A competição reserva, porém, outros atrativos ao torcedor brasileiro, começando pela chance de acompanhar em ação boa parte dos escolhidos por Luiz Felipe Scolari para as batalhas da Copa do Mundo, como David Luiz, Ramires, Oscar e talvez Willian, pelo Chelsea; Daniel Alves, talvez Adriano, e Neymar, pelo Barcelona; Thiago Silva e, quem sabe, Marquinhos, pelo PSG; Dante e talvez Rafinha, pelo Bayern; Marcelo, pelo Real Madrid. E os mais curiosos ainda podem ver o brasileiro Diego Costa, que fez sete gols em cinco jogos do Atlético de Madrid, era pretendido por Felipão, mas preferiu se colocar à disposição da seleção espanhola para disputar a Copa do Mundo. Neymar, principal aposta do Brasil na conquista do hexa, também começa a jogar nas quartas da Liga dos Campeões uma cartada decisiva para a sua carreira no futebol europeu. Além de se firmar de vez como estrela do Barça, o camisa 10 da seleção pode fazer história como o nono jogador sul-americano a acumular os títulos de campeão da Libertadores, que conquistou com o Santos em 2011, e da Liga, que está tentando com o Barça. Seria, assim, o quinto brasileiro na lista que já tem Cafu, Dida, Roque Junior e Ronaldinho Gaúcho, todos campeões do mundo, como Neymar pretende vir a ser em 13 de julho. O Capitão Uma das maiores alegrias que o jornalismo já me deu foi a convivência com Bellini na Copa do Mundo de 1994. Participávamos da mesa redonda comandada por Jô Soares no SBT e, nos voos até Los Angeles para a gravação do programa e em animados jantares após o trabalho, pude curtir longos papos com o Capitão e sua Giselda, apaixonada por cinema. O líder incomparável, reverenciado por Rei Pelé e Garrincha, era um homem tão altivo quanto humilde, que mal se dava conta do mito em que se transformou desde que, em 1958, ergueu aos olhos do mundo a Taça Jules Rimet. Bem antes que ele morresse, na quinta-feira da semana passada, sua discreta elegância já fazia muita falta ao futebol dos nossos dias. Incomparável grandeza Na edição de julho de 2008, cinquenta anos depois do primeiro título mundial conquistado pela Seleção, a revista Brasileiros publicou um texto do incomparável rubro-negro Ruy Castro sobre o vascaíno Hideraldo Luiz Bellini, que vale a pena reproduzir, embora parcialmente: "Em 1962, o Brasil partiu para o Chile a fim de defender seu título de campeão mundial. Os jogadores estavam quatro anos mais velhos, e muita gente boa surgira entre uma Copa e outra. Mas a superstição, a tradição ou seja o que for fizeram com que a então CBD (hoje CBF) resolvesse manter a base do time de 1958. E, com isso, Gilmar, Djalma Santos, Bellini, Nilton Santos, Zito, Didi, Garrincha, Vavá, Pelé e Zagallo embarcaram como titulares. A única modificação era o quarto-zagueiro do Bangu, Zózimo, reserva em 1958, no lugar de Orlando, então jogando na Argentina - acredite ou não, os jogadores que atuavam fora do país não costumavam ser convocados. (A outra alteração seria uma fatalidade: Pelé se contundiria logo no segundo jogo, sendo substituído pelo botafoguense Amarildo.) Como de praxe em todas as partidas da seleção naqueles quatro anos, Bellini seria o capitão. E Mauro, mais uma vez, seu reserva. Mas, então, algo aconteceu. Ao ser informado pelo treinador Aymoré Moreira de que, embora estivesse treinando melhor do que todos, continuaria na reserva, Mauro não se conformou. Já fora reserva de Pinheiro, na Copa de 1954, e de Bellini, em 1958. A Copa de 1962, com ele às vésperas dos 32 anos, seria provavelmente a sua última. Diante de Aymoré, foi calmo, mas firme: desta vez, ou jogava ou preferia voltar para o Brasil. Os dirigentes não esperavam por essa reação. Mas Aymoré, safo à beça, não passou recibo. Emendou de primeira: - Era o que esperávamos ouvir, Mauro. O titular será você. E será também o capitão. Tudo indicava uma crise na seleção. Onde já se vira um jogador se auto-escalar no grito? E nem Bellini se permitiria ser barrado naquelas condições. Muitos pressentiram ali a taça batendo asas. Pois, para surpresa geral, ao se ver despojado da condição de titular e capitão de um time que tinha tudo para ser bicampeão do mundo, Bellini apenas disse: - É justo. Agora é o Mauro. Todos se admiraram. O próprio Mauro se surpreendeu. Quem, além de Bellini, teria essa grandeza?"
segunda-feira, 17 de março de 2014

O que Messi vem fazer no Brasil?

Ele vai fazer 27 anos no dia 24 de junho, véspera de Nigéria x Argentina, jogo que pode decidir a ordem de classificação das seleções do grupo F para as oitavas de final. Argentino nascido em Rosário, feito cidadão do mundo da bola em campos da Espanha, Lionel Andrés Messi é o mais consagrado craque da atualidade, mas tem muito a perder se não conquistar no Brasil o título de campeão do mundo. Pela terceira vez consecutiva o sonho lhe terá escapado. Aos 27 anos, craques como Bobby Moore, Garrincha, Tostão, Maradona, Zidane, Andrés Iniesta eram campeões do mundo. Pelé era bicampeão e já tinha experimentado, em sua terceira Copa, a decepção de 1966. Ronaldo, reserva na campanha do tetra brasileiro em 1994 e vice-campeão em 1998, não tinha nem 26 anos ainda quando se consagrou como uma das principais estrelas da conquista do penta em 2002. Se for campeão do mundo no Brasil, no entanto, Messi terá ilustre companhia nos almanaques do futebol: Sir Bobby Charlton foi ganhar o título somente em sua terceira Copa, a de 1966, quando já tinha quase 29 anos; Beckenbauer, vice em 1966 e terceiro colocado em 1970, foi campeão em 1974, com 28 anos, quase 29; Romário sagrou-se campeão do mundo em 1994, meio ano depois de festejar o 28º aniversário. Há poucos dias, apresentado pelo portal Yahoo como comentarista contratado para os jogos da Copa, o português José Mourinho ensaiou tirar dos ombros de Messi a obrigação de conquistar, em sua terceira tentativa, o mais importante título do futebol para imediatamente ressalvar: "Não acho que tenha de ganhar com a Argentina para ser ótimo jogador, mas, há sempre um mas..." E desfiou uma curta lista de craques que se consagraram em definitivo ao ganhar o caneco da FIFA para encerrar o papo: "... todos esperam que Messi consiga o mesmo". Eis a verdade. O craque do Barça vai disputar a Copa de 2014 sob pressão. Messi vem ao Brasil um pouco como nosso Gerson de Oliveira Nunes foi ao México em 1970. Embora não tivesse o protagonismo do argentino, o craque brasileiro também se devia o título de campeão do mundo até para dissipar de vez certa desconfiança sobre a capacidade de repetir na seleção o futebol decisivo que sempre mostrara no Flamengo, no Botafogo e no São Paulo. Em 1966, atuou apenas na derrota por 3 a 1 para a Hungria, o suficiente para voltar da Inglaterra com a fama, injusta, de jogador covarde que inventara uma indisposição para não enfrentar Portugal no jogo que tirou o Brasil daquela Copa. Com 29 anos e meio, desmentiu tudo como um dos líderes da campanha do tri e ainda esnobou: "Nunca foi tão fácil ser campeão num campeonato tão difícil". A carga sobre Messi é mais leve, mas não são poucos os argentinos que cobram dele uma série na seleção à altura dos feitos que o vêm transformando no mais importante jogador do Barcelona em todos os tempos - seis vezes campeão espanhol, três vezes campeão europeu, duas vezes campeão do mundo, para ficarmos apenas nos títulos mais importantes do futebol de clubes. Há dois anos, numa capa dedicada ao craque, a revista Time fez a intrigante pergunta: "Lionel Messi é o melhor jogador de futebol do mundo, possivelmente de todos os tempos. Então, por que os seus compatriotas não o amam?" Os números de Messi em duas Copas do Mundo talvez respondam aos intrigados norte-americanos. Na Alemanha, em 2006, quando fez 19 anos, jogou 15 minutos e marcou um gol nos 6 a 0 sobre Sérvia e Montenegro, mais 70 minutos no 0 a 0 com a Holanda e, pelas oitavas de final, 36 minutos nos 2 a 1 sobre o México. A Argentina caiu fora nas quartas, tendo sido derrotada pela Alemanha nos pênaltis após o 1 a 1 em 120 minutos de bola rolando. Em 2010, na África do Sul, Messi participou das vitórias sobre a Nigéria por 1 a 0, sobre a Coreia do Sul por 4 a 1, sobre a Grécia por 2 a 0, todas na fase de grupos, sobre o México por 3 a 1, pelas oitavas, e do desastre diante da Alemanha nas quartas de final, quando a Argentina foi despachada da Copa por 4 a 0. Tendo defendido a Argentina em duas edições, o cracaço que neste domingo se transformou no maior artilheiro da história do Barcelona não fez mais do que um golzinho em oito jogos da Copa do Mundo. A performance não combina com o currículo de Messi e certamente ele tudo fará para conquistar em 13 de julho a única honraria que lhe falta no futebol. Pior adversário a seleção não poderia ter pela frente. Messi é uma ameaça maior ao sonho do hexa do que o timaço da Alemanha, a menos que o peso da cobrança lhe tolha os passos nos campos do Brasil. A cor do futebol De Steve McManaman, meia  inglês que foi bicampeão europeu no início dos anos 2000 com a camisa do Real Madrid e jogou uns poucos minutos na Copa do Mundo de 1998,  em entrevista ao site da FIFA: "O Brasil é o cenário perfeito para a Copa do Mundo. Quando penso nesse torneio, a primeira imagem que me vem à mente é a de Bobby Moore levantando a taça em 1966, é claro, mas a outra coisa de que me lembro instantaneamente é da camisa brasileira - o amarelo!" O preço da paixão Quem estiver interessado em acompanhar Chile x Austrália (dia 13 de junho), Rússia  x Coreia do Sul (dia 17), Nigéria x Bósnia (dia 21) ou Japão x Colômbia (dia 24), todos em Cuiabá, prepare o caixa: a diária média dos hotéis da cidade, no dia dos jogos, é de R$ 1.581,18, segundo levantamento do site de viagens TripAdvisor. Comparando: a diária média cobrada pelos hotéis paulistanos, nos dias de jogos da Copa, será de R$ 586,37.
segunda-feira, 10 de março de 2014

O Brasil de Van Gaal e Maradona

Ele carrega a fama de não gostar muito de jogadores brasileiros. Talvez mais certo seja dizer que ele não gosta muito de trabalhar com jogadores brasileiros. Implicou com Rivaldo no Barcelona, já foi comparado a Hitler por Giovanni, dispensou Lúcio e Zé Roberto do Bayern de Munique, para onde, em compensação, levou o volante Luiz Gustavo, um dos 11 de Felipão no Brasil que pode encarar a sua Holanda já nas oitavas-de-final da Copa do Mundo. Louis Van Gaal aposta, porém, no Brasil hexacampeão mundial, como revelou ao repórter Bruno Côrtes, do SporTV, duas semanas atrás, em Florianópolis: "O Brasil é o favorito. Não só pelo time, mas pelo técnico que tem. Eu vi os jogos da primeira fase da Copa das Confederações e não gostei da seleção brasileira. Nas semifinais e na final, o técnico reconstruiu o time mentalmente. Acredito que eles jogaram como um time e, quando o Brasil joga como equipe, é o favorito". Mais do que a aposta em si, vale destacar o motivo que leva o técnico holandês a apostar na Seleção. Repetindo: "Quando o Brasil joga como equipe, é o favorito". E não é que o Brasil do mestre-sala Neymar fez questão de confirmar, na goleada por 5 a 0 sobre a África do Sul no amistoso da Quarta-feira de Cinzas em Johanesburgo, ter acertado o pé nos quesitos harmonia e evolução em campo? Outros amistosos da semana passada mostraram ainda a derrota da Holanda para a França por 2 a 0, a suada vitória da Alemanha sobre o Chile por 1 a 0, o empate por 0 a 0 da Argentina com a Romênia e mais uma vitória por 1 a 0 da campeã Espanha, dessa vez sobre a Itália. Nesses cinco jogos, desfilaram os principais candidatos ao título que será disputado de 12 de junho a 13 de julho. Amistoso não é Copa, evidentemente, mas os resultados mantêm em alta o otimismo dos torcedores brasileiros. Igualmente ligado nas lições da história, o holandês Van Gaal fez questão de lembrar ao repórter Bruno Côrtes que "nenhum país europeu venceu uma Copa do Mundo disputada na América da Sul", embora considere que a Alemanha possa ser uma grande adversária para o Brasil e para a Argentina em 2014. Meio medíocre das décadas 70 e 80 do século passado, Aloysius Paulus Maria van Gaal maltratou a bola com a camisa de pequenas e médias equipes holandesas, como Royal Antwerp, Telstar, Sparta Roterdã e AZ Alkmaar, antes de se consagrar como técnico de esquadrões como Ajax, Barcelona e Bayern de Munique. É a segunda vez que comanda a seleção holandesa - na primeira, não conseguiu a classificação para a Copa do Mundo de 2002; agora, classificou os atuais vice-campeões do mundo para a Copa com nove vitórias e um empate nos dez jogos das Eliminatórias europeias. O futebol, para ele, é uma obra de conjunto. Mais do que com craques brasileiros, Van Gaal implica com as estrelas que não se entregam completamente ao jogo coletivo que preza acima de tudo e define como a essência do futebol. Ele já contou que, na primeira vez que viu de perto um treino do fantástico Ajax que Rinus Mitchell começava a montar no final dos anos 1960, ficou mais fascinado com o trabalho do técnico do que com as andanças em campo do supercraque Cruyff. A revelação é chave para entender Van Gaal. Numa entrevista ao site da FIFA, no fim do ano passado, ele explicitou sua visão: "É preciso jogar como um time e não como indivíduo. É por isso que sempre volto a meu modo de ver o futebol, e depois penso no time e só então em quais jogadores se encaixam em meu sistema, o 4-3-3, porque sempre jogo com ele. Se um jogador mais jovem conseguir fazer isso, eu o escolho. Se for um jogador mais velho, não me importa; isso não é o fator mais importante". Imodesto, acha que tem uma filosofia de jogo, não apenas uma visão própria do futebol. Na mesma entrevista, ao ser perguntado sobre o que o diferencia de outros técnicos, não titubeou em responder: "Acho que é minha filosofia, porque ela une os jogadores à maneira como treino. Em minha carreira, tive muitos jogadores que ficaram fascinados por essa filosofia. Eles gostam de fazer parte dela porque é ofensiva, técnica e tática. Por isso, podem mostrar suas qualidades mais do que nunca". Van Gaal admira muitos jogadores brasileiros, mas, da mesma forma que está tentando rejuvenescer a sua Holanda para os duros embates contra Espanha, Austrália e Chile na fase de grupos da Copa do Mundo e quem mais vier a partir das oitavas, põe fé no Brasil porque enxergou sinais de que Felipão conseguiu moldar o talento de Neymar e companhia às necessidades coletivas do futebol moderno e, portanto, eles "podem mostrar suas qualidades mais do que nunca". Van Gaal tem companhia ilustre na bancada de apostadores. Há poucos dias, de passagem por Dubai, Diego Armando Maradona também encheu a bola da Seleção: "Sem dúvida, meu favorito é o Brasil, que já demonstrou sua força na Copa das Confederações. Quando estão devidamente concentrados, os brasileiros são imbatíveis". Ou seja: o time que evolui harmonicamente em campo também se destaca no quesito concentração, reforçando a perspectiva de um novo Carnaval no meio do ano. Há vozes dissonantes, porém. Em entrevista à Folha de S. Paulo, o francês Marcel Desailly, campeão do mundo em 1998, discordou do holandês e do argentino: "A Argentina é a primeira seleção que me vem à cabeça como favorita. O Brasil lidou bem com a pressão na Copa das Confederações, mas acho que a Copa do Mundo vai pesar demais sobre seus ombros". Os brasileiros torcem por Van Gaal e Maradona, pelo menos como palpiteiros. O Pai Van Gaal apareceu como grande treinador para o mundo do futebol no Ajax, tendo sido campeão europeu e mundial em 1995 e tricampeão holandês (1994, 1995 e 1996). Foi ainda bi espanhol pelo Barcelona (1998 e 1999), novamente campeão holandês pelo AZ Alkmaar (2009) e alemão pelo Bayern (2010). No ano passado, quando o clube de Munique contratou Pep Guardiola, chegou a se insinuar como mentor da contratação. O presidente do Bayern, Uli Hoeness, negou e disparou: "O problema não é que Louis se ache Deus; ele acha que é o pai de Deus. Antes de o mundo existir, Louis já estava lá". Na final Última pergunta a Luiz Felipe Scolari em entrevista publicada pelo site da Fifa na véspera dos 5 a 0 sobre a África do Sul: "O que você estará fazendo às 16 horas do próximo dia 13 de julho?" Resposta do técnico brasileiro: "Bem, sei que 13 de julho é a final. Então, se começa às 16h, eu estou lá me preparando em campo: já cantei o hino nacional com alegria, fervor e dinamismo, assim como espero que meus jogadores e o público também. E esperando que nós todos no Brasil possamos jogar uma final e ganhar".
segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

E agora, Neymar?

Foi em 2008. Numa conversa com Wagner Ribeiro, o empresário que tinha gerenciado os primeiros passos de Kaká e Robinho no futebol profissional, ouvi: - O melhor ainda está vindo. É um garoto do Santos, de 16 anos, que arma e lança melhor do que o Kaká, dribla mais que o Robinho e, dentro da área, finaliza como o Ronaldo. Sem botar muita fé no papo de vendedor, ótimo vendedor, como é Wagner Ribeiro, resumi meu espanto: - Então, você tem um novo Pelé. Não, não era Pelé, que, aos 16 anos, já estreara na seleção brasileira. Tratava-se, porém, de um dos seus mais ilustres herdeiros, muito provavelmente o maior jogador de futebol criado na Vila Belmiro desde que o Rei deixou os campos. Wagner Ribeiro estava falando de Neymar, que, em 2009, pouco depois de completar 17 anos, estrearia no Santos para conquistar, nos anos seguintes, o tricampeonato paulista, a Copa do Brasil e a Libertadores e, em 2010, com 18 anos, vestiria pela primeira vez a camisa da seleção principal, marcando o primeiro gol nos 2 a 0 sobre os Estados Unidos no amistoso que abriu a era Mano Menezes. De lá pra cá, Neymar consolidou o prestígio de craque, firmou-se como protagonista da seleção, brilhou intensamente na conquista do título da Copa das Confederações em 2013, transferiu-se para o Barcelona, continua encantando o mundo da bola e, dentro ou fora de campo, não esconde jamais o atrevimento típico dos grandes campeões. Numa entrevista publicada na semana passada pelo site da FIFA, ouviu a pergunta: - Para terminar, queríamos que você completasse a seguinte frase: "Em 2014, Neymar será..." Segundo o entrevistador, o garoto pensou um pouco e riu antes de responder: - ... "campeão da Copa do Mundo!" Felipão também se alimenta desta convicção e, pelo que conhece de futebol e viu de perto na Copa das Confederações, certamente sabe que o sonho do hexa passa pelos dribles, pedaladas e arremates imprevisíveis do jovem craque que marcou 27 gols em 47 jogos pela Seleção, sem jamais fugir ao papel de protagonista que, em outras épocas, foi desempenhado por estrelas como Pelé, Garrincha, Romário e Ronaldo. Cuidadoso, como são os grandes capitães, o bicampeão Cafu fez, no entanto, um importante alerta durante uma entrevista ao repórter Rafael Reis, da Folha de. S. Paulo, na semana passada: "Esse Brasil de hoje tem um jogador que pode fazer a diferença, que é o Neymar, mas não pode depender só do que o Neymar vai fazer. As seleções de 1994 e 2002 tinham vários jogadores capazes de definir uma partida, agora contamos exclusivamente com o que o Neymar pode fazer. Esse é o perigo..." Pode ser que o capitão de 2002 esteja certo, mas o futebol coletivo surpreendentemente mostrado na Copa das Confederações dá aos brasileiros a esperança de que Neymar não seja um craque solitário em meio a um bando de pernas-de-pau. Por certo, será o protagonista - talvez até da Copa, se Messi, Iniesta, Lahm, Cristiano Ronaldo, Ribéry e companhia igualmente ilustre não roubarem, em nossa casa, o sonho do hexa. Ao protagonista, se devem juntar coadjuvantes de brilho próprio como Thiago Silva, Marcelo, Paulinho, Oscar... É imprescindível, porém, que Neymar se assuma como protagonista da companhia, algo que faz parte do seu feitio, embora esteja aprendendo no Barcelona de Messi a também fazer o papel de coadjuvante, uma lição de humildade que não teve a chance de exercitar em sua trajetória no Santos e na seleção. Se Neymar não brilhar como estrela de primeiríssima grandeza em junho e julho, muito dificilmente o Brasil ganhará o caneco pela sexta vez. Neymar tem crédito com a torcida, pois jamais se escondeu em campo ou fugiu à responsabilidade de protagonista, mas vive um começo de ano atribulado: após sofrer uma torção no tornozelo direito em 16 de janeiro, ainda está voltando aos poucos a jogar pelo Barcelona; enfrenta uma exaustiva discussão entre sócios e diretores do Barcelona, empresários e cartolas do Santos, e autoridades fazendárias da Espanha sobre os múltiplos e complicados contratos que o levaram da Vila Belmiro ao Camp Nou em 2013; separou-se da namorada Bruna Marquezine. Não é pouco, principalmente para a cabeça de um garoto de 22 anos. É preciso esperar para conferir o quanto os problemas afetarão seu rendimento em campo. Por enquanto, Neymar não parece abalado. "Pelo que vejo, do tempo que passo com ele, acho que está normal", testemunha Gerardo Martino, seu treinador no Barça. Cabe uma ressalva, no entanto, lembra o argentino: "Mas também é verdade que, muitas vezes, nós não exteriorizamos nossos problemas, e muitas vezes você pode se sentir injustiçado. Obviamente, não estamos o tempo todo com o jogador para saber como ele se sente." Já no amistoso com a África do Sul - dia 5 de março, no Estádio Soccer City, em Joanesburgo - Neymar tem de mostrar que os problemas extracampo não afetarão o fino trato com a bola. A pouco mais de três meses da estreia na Copa do Mundo, nada é mais importante para a seleção brasileira do que cuidar da cabeça do craque. Afinal, como ensinava o filósofo Neném Prancha, patrono deste Apito Legal, "no futebol, a cabeça é o terceiro pé". E é por ter cabeça boa que Neymar arma e lança melhor do que Kaká, dribla mais que Robinho e, dentro da área, finaliza como Ronaldo. É mesmo? Na quinta-feira, dia 20, a presidente Dilma Rousseff fez a alegria dos dirigentes colorados ao participar de uma "inauguração extraoficial" do novo Beira-Rio, com direito a bate bola e tabelinha com jogadores como o argentino D'Alessandro, mas não quis conversa com jornalistas. Segundo Giovanni Luigi, presidente do Internacional, no entanto, "ela disse que ficou incrível, muito melhor do que o Beira-Rio que conhecia antes". Só faltava que, após um ano e três meses em obras que custaram mais de R$ 300 milhões, o Beira-Rio estivesse pior, né? A conta é nossa Informação do site Defesanet, que cobriu o Seminário das Seleções organizado pela FIFA, em Florianópolis, na semana passada: "Os investimentos em equipamentos e qualificação de pessoal para a Copa do Mundo de 2014 somam R$ 1,9 bilhão. O total de agentes de segurança e militares envolvidos com o evento é de 150 mil homens. A área de Defesa, que recebeu recursos da ordem de R$ 708 milhões, empregará 20 navios e 60 embarcações de pequeno porte para proteção do espaço marítimo e fluvial, e 48 aeronaves para controle e salvaguarda do espaço aéreo".
segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

E a camisa 9 vai para...

O Brasil deve muito a Romário o tetra conquistado em 1994 nos Estados Unidos e a Ronaldo o penta em campos da Coreia do Sul e do Japão. E é do feitio de Felipão armar os seus times com um autêntico centroavante, não obrigatoriamente grosso, mas sempre bom finalizador. O modelo de ataque do Barcelona, mais fluido e maleável, não faz a cabeça do nosso técnico, que tem, então, todos os motivos para torcer e, como bom católico, até rezar pelo completo restabelecimento do centroavante Fred até 12 de junho. Fred não é um craque à altura de seus ilustres antecessores, acrescentando-se aos dois campeões citados no parágrafo anterior o também inesquecível Careca, mas é um autêntico centroavante, com a vantagem de saber jogar com a bola nos pés e, portanto, dialogar fluentemente com Neymar, Oscar e companhia. A Copa das Confederações, em meados do ano passado, mostrou o quanto ele pode ser útil à seleção. Se tivesse frequentado mais os campos de treinamento do que as baladas e brigado mais com os zagueiros do que com a balança nos últimos dois anos, Adriano, aquele que já foi imperador da área, seria outra opção para o treinador da seleção, obrigado hoje a pensar em atacantes de menos densidade ofensiva, embora nem sempre de menos qualidade técnica - como o atleticano Jô, o neotricolor Alexandre Pato, o santista Leandro Damião, o palmeirense Alan Kardec...  Hoje, é mais provável que a Arena da Baixada fique pronta para a Copa do que o centroavante do Atlético Paranaense volte a jogar futebol. Felipão aposta, pois, todas as suas fichas em Fred, como apostou em 2002 na recuperação física do fenômeno Ronaldo, apesar da oposição de críticos e palpiteiros de variadas procedências. Acontece que Ronaldo estava empenhado em voltar aos campos depois de gravíssimas lesões e delicadas cirurgias no joelho direito. Fred não enfrentou problemas tão graves, mas vive um difuso quadro de lesões e problemas musculares que o impede, há mais de um ano, de exercer a profissão com alguma frequência. Se atuasse num futebol mais profissional do que o do Rio, em que os grandes clubes não têm sequer um centro de treinamento, talvez Fred já estivesse curado. Como os resultados do Flu dependem mais do departamento jurídico do que dos departamentos técnico e médico, o centroavante pouco tem conseguido atuar. Afinal, o STJD não tem poder de cura. Levantamento feito na semana passada pelo repórter Rodrigo Paradella, do UOL, mostra que, em 2013, Fred jogou apenas 25 partidas pelo Fluminense. O problema, pois, não é de hoje. "Fred tem um longo histórico de lesões nos quase cinco anos de Fluminense", lembra o repórter. "Entrou em campo em 181 partidas de 330 disputadas (pela equipe) desde sua estreia, em março de 2009", registrou Rodrigo Paradella antes dos 4 a 1 de sábado sobre o Boavista, pela oitava rodada do Campeonato Carioca. Foi o quarto jogo de Fred nesta temporada em que o Flu jogou oito vezes. Fora de ritmo, movimentou-se pouco, perdeu uma ou duas chances de gol e ainda chutou um pênalti no poste esquerdo de Getúlio Vargas. Ou seja: de janeiro de 2013 até agora, Fred fez 29 jogos com a camisa tricolor, tendo marcado apenas oito gols, o último no 1 a 1 com o Vitória, em 7 de agosto, pela 12ª rodada do último Brasileirão. Por que diabos, então, Luiz Felipe Scolari tanto o quer com a camisa 9 da seleção na briga pelo hexa? A campanha na Copa das Confederações é uma boa resposta. Fred jogou as cinco partidas, fez cinco gols e uma assistência, ajudou o Brasil a praticar o futebol combativo e fluente que abateu japoneses, mexicanos, italianos, uruguaios e espanhóis. Na entrevista coletiva da semana passada, em que anunciou os 'estrangeiros' convocados para o amistoso contra a África do Sul em março, Felipão abriu o jogo: "Se o jogador for da minha confiança total, se eu achar que ainda posso ter mais alguns dias com A ou com B, vou fazer porque eu preciso ter os jogadores em quem confio plenamente. São alguns que têm algumas características diferenciadas, não só dentro do campo como fora. É importante ter um grupo. Na Copa do Mundo são sete jogos, mais amistosos, mais treinamentos, mais aquela aceitação de quarenta e poucos dias juntos, não é fácil. A gente tem de analisar uma série de circunstâncias e, se precisar, vou esperar". Tradução: não somente para amistosos, mas principalmente para a Copa do Mundo, Felipão vai esperar por Fred até o último minuto. A aposta faz sentido, mas levanta uma grande interrogação: e se Fred não puder jogar a Copa? Em dois minutos Nascido em 3 de outubro de 1983, Frederico Chaves Guedes, mineiro de Teófilo Otoni, foi reserva de Ronaldo e Adriano na Copa de 2006, tendo atuado pouco mais de dois minutos na vitória por 2 a 0 sobre a Áustria, em Munique. Substituiu Adriano aos 43 minutos do segundo tempo e, aos 45, fez o segundo gol brasileiro. Por enquanto, é toda a sua história nas Copas do Mundo. Desde a estreia em 2005, substituindo Robinho num amistoso com a Guatemala, Fred disputou 29 jogos pela seleção e marcou 16 gols - nove em 11 jogos sob o comando de Luiz Felipe Scolari. A Copa da torcida Do secretário-geral Jérôme Valcke, no site da Fifa: "A enorme procura por ingressos, principalmente por parte dos brasileiros, mas também por torcedores do mundo inteiro, apenas reforça o significado, para qualquer amante do futebol, de se vivenciar uma Copa do Mundo no país pentacampeão mundial. Considerando que cerca de 80% das solicitações foram feitas por residentes do país-sede, não há dúvida de que a experiência que os torcedores terão nos estádios será bem brasileira. Isso é uma motivação e tanto. Afinal, todos se lembram da atmosfera fantástica que marcou a Copa das Confederações".
segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

Neymar ou Rivellino?

Um dos maiores jogadores de futebol de todos os tempos foi confrontado por um simpático espectador do Cartão Verde na semana passada: "Rivellino, queria saber se você acha que Neymar é melhor do que você, cara". O craque ensaiou um drible no perguntador: "É outro futebol. Ele é um grande jogador, mas joga totalmente diferente do que eu jogava. É um atacante, eu sempre fui um meia, armador, embora tivesse uma boa chegada. Não vou dizer que eu fui melhor do que o Neymar nem que o Neymar é melhor do que eu. Se jogássemos juntos, seria fantástico". Como grande armador que realmente chegava à área com apetite de goleador, tanto que fez 43 gols em 121 jogos pela Seleção, 144 em 474 jogos pelo Corinthians e 53 em 158 jogos pelo Fluminense, Roberto Rivellino não resistiu a finalizar: "Sinceramente, sinceramente, tinha mais qualidade do que ele". Será? O próprio Riva já disse que, "tecnicamente, Neymar é melhor" do que Messi - o que equivale a reconhecê-lo como o melhor jogador do mundo na atualidade, pelo menos em potencial técnico. Nem por isso o considera um autêntico herdeiro da mais emblemática camisa do futebol brasileiro: "O camisa 10 era o jogador que criava as jogadas, pensava o jogo e marcava gols. Hoje, não temos jogadores com essas características. Neymar é fenomenal, mas é mais um atacante". É verdade, embora se possa lembrar, correndo o risco de cometer uma heresia ao compará-lo aos simples mortais, que Rei Pelé, sinônimo da camisa 10, também não era um armador, mas, sim, um atacante - o atacante, melhor dizendo. Mesmo Rivellino, quase sempre encarregado de organizar o jogo ofensivo de sua equipe, não era o típico armador brasileiro dos anos 1950, 1960 e 1970, alguém como Didi ou Gérson, mais preocupado em criar chances de gol do que em concretizá-las. Riva era um armador de feições próprias, com ímpeto de goleador. Foi o que encantou outro gênio da bola, também camisa 10, o semideus Diego Armando Maradona, que disse, certa vez, em entrevista ao repórter Luciano Junior, da Band: "Eles entravam em campo... Pelé ia para um lado, e eu ia para onde ia Rivellino. Rivellino, para mim, significava tudo o que eu queria ser como jogador de futebol: rebelde; mau, quando tinha de ser mau; goleador, quando tinha de ser goleador; passava a bola como queria, sempre com a canhota. A direita podia estar morta, mas a esquerda fazia de tudo. Cresci, como argentino, idolatrando um brasileiro, que se chamou Rivellino, que se chama Rivellino". Neymar também tem fã ilustre entre mitológicos camisas 10. Logo depois de comandar a Seleção Brasileira na conquista do título da Copa das Confederações, em 2013, foi saudado por Zico em entrevista ao Yahoo! Esporte Interativo: "Como outros grandes camisas 10 da Seleção, fez um gol de gênio como Pelé (contra o Japão), uma bomba de esquerda como Rivellino (na decisão contra a Espanha), um de falta à Zico (contra a Itália)". Neymar, mais do que Rivellino, cabe na receita de craque imortalizada pelo filósofo Neném Prancha: "Jogador bom é que nem sorveteria, tem várias qualidades." Riva quase não cabeceava, pouco usava a perna direita, recusava-se a bater pênalti. É verdade, insistiria Maradona, que "a esquerda fazia de tudo". Aos 22 anos, completados no dia 5, o destro Neymar tem 192 gols como profissional - 11 de cabeça, 40 de pé esquerdo. Não chuta como Rivellino, mas já marcou oito gols em cobranças de falta e outros 35 de pênalti. Rivellino é campeão do mundo, uma das mais fulgurantes estrelas da Seleção que conquistou o tri no México, em 1970. Tinha, então, 24 anos, completados no primeiro dia daquele ano. Neymar, solitária estrela de primeira grandeza da Seleção que tentará o hexa, poderá tirar a dúvida do espectador do Cartão Verde no dia 13 de julho, no Maracanã, de preferência diante da Argentina do mais fantástico admirador do nosso incomparável Roberto Rivellino. Outras Copas Roberto Rivellino, autor de três dos 19 gols brasileiros na conquista do tri em 1970, disputou mais duas Copas do Mundo: em 1974, quando o Brasil ficou em quarto lugar, fez outros três gols; em 1978, quando o Brasil foi o terceiro colocado, contundiu-se na estreia (1 a 1 com a Suécia) e voltou a jogar apenas alguns minutos nos 3 a 1 sobre a Polônia e nos 2 a 1 sobre a Itália, sem marcar nenhum gol. Estreante Neymar da Silva Santos Júnior vai disputar no Brasil a sua primeira Copa do Mundo, pois o técnico Dunga achou que ele ainda era muito verde para convocá-lo em 2010, embora não faltassem torcedores e analistas que quisessem vê-lo em ação na África do Sul. Campeão da Copa das Confederações de 2013, marcou quatro gols em cinco jogos. Vice artilheiro, foi eleito o melhor jogador da competição. Pelo clube Rivellino jogou no Corinthians de 1965 a 1974, tendo sido campeão do Torneio Rio-São Paulo de 1966; foi para o Fluminense em 1975, ganhou o bicampeonato carioca (1975/1976) e transferiu-se para a Arábia Saudita em 1978. Neymar estreou profissionalmente em 2009 e foi tricampeão paulista (2010, 2011 e 2012), campeão da Copa do Brasil (2010) e da Libertadores (2011) pelo Santos; em sua primeira temporada no Barcelona, conquistou o título da Supercopa da Espanha de 2013. Identidade verde Curiosamente, tanto Rivellino quanto Neymar eram torcedores do Palmeiras na infância. Numa entrevista ao Estadão, em 2010, Rivellino abriu o jogo: "Nasci palmeirense, assim fui até a adolescência. Quando jogava salão pelo Banespa, fui convidado para fazer um teste no Palmeiras. Cheguei lá, mas não me deram muita bola. Fiquei chateado e disse que iria jogar no maior rival". Em 2004, numa entrevista ao pesquisador Antônio Venâncio, Neymar já tinha justificado a paixão infantil: "Ah, eu peguei a época em que o Palmeiras sempre foi campeão, do Evair, Rivaldo".
segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

Está faltando alguém

Vai ser bonita a festa em pelo menos 11 dos 12 campos nos quais será jogada a Copa. Todos os oito países campeões do mundo estarão representados no Brasil, reunidos em seis dos oito grupos da primeira fase da competição. Cuiabá será a triste exceção entre os alegres anfitriões espalhados de Norte a Sul do país: não vai receber nenhum jogo da elite do futebol mundial. Os campeões farão a festa da torcida nas outras 11 sedes. Os brasileiros deveriam se dar por satisfeitos com a presença de todo o Primeiro Mundo da bola em seus novos e caríssimos estádios. Quem, no entanto, gosta realmente de futebol e dispensa algum carinho à Copa do Mundo lamentará uma ausência ilustre na lista das 32 seleções que atuarão no Brasil em junho e julho. Não se trata de nenhuma equipe fantástica, como eram a Hungria de 1954 e a Holanda de 1974, mas, sim, de uma seleção de nível médio, que é ligada quase umbilicalmente à história de glórias brasileiras na Copa do Mundo. Estamos falando da Suécia, a adversária goleada por 5 a 2 na final de 1958. Foi o primeiro dos cinco títulos mundiais do mais vitorioso futebol do planeta Terra. Brasil e Suécia se enfrentaram sete vezes na história das Copas, duas delas na campanha do tetra, em 1994, nos Estados Unidos - 1 a 1 na primeira fase, 1 a 0 nas semifinais. Na Copa de 1950, que os brasileiros farão tudo para esquecer nos próximos meses, os suecos vieram e, em 9 de julho, uma semana antes da final, foram impiedosamente tratados no Maracanã, diante de 138.886 torcedores. Com quatro gols de Ademir Menezes, a Seleção os massacrou por inacreditáveis 7 a 1. A Suécia faz, pois, parte da história do Brasil nas Copas do Mundo. É uma pena que o acaso tenha determinado o confronto, na repescagem das eliminatórias europeias, entre a seleção portuguesa de Cristiano Ronaldo e a Suécia de Zlatan Ibrahimovic. E as vitórias por 1 a 0 e 3 a 2, com os gols marcados exclusivamente pelos dois ídolos, garantiram a vinda de Portugal e seu craque marrento, eleito pela FIFA, poucos dias depois, o melhor jogador do mundo em 2013. Portugal não poderia mesmo ficar fora da festa. Era a torcida da maioria dos brasileiros. A Suécia, porém, seria mais benvinda do que muitas seleções, de variados continentes, que aqui estarão sem somar nem futebol nem emoção à Copa. Os suecos serão uma ausência sentida. E não só a equipe. "Uma coisa é certa: uma Copa do Mundo sem mim não vale a pena ser vista" - proclamou o craque Ibrahimovic, ainda mais marrento do que seu adversário lusitano. É um exagero, claro, mas o boquirroto dos gols bonitos fará mesmo falta à maior festa do futebol. E não apenas dentro de campo, embora seja um dos mais criativos e surpreendentes atacantes da atualidade, um matador que cultua o fenômeno Ronaldo como inspiração e é fã declarado do futebol brasileiro, que aprendeu a amar em 1994, naquela Copa em que a Suécia ficou em terceiro lugar. Ibrahimovic, grandalhão de 1m95, ambidestro, filho de um bósnio mulçumano e de uma croata católica, nascido e criado num bairro pobre de Malmoe, ídolo do Ajax, da Juventus, da Internazionale, do Milan, do Barcelona e agora do Paris Saint-Germain, é também imprevisível e provocador fora de campo, sempre disposto a disparar verdades que o bom mocismo dos boleiros atuais insiste em escamotear. Na terra de boquirrotos geniais, como Romário e Edmundo, o sueco Zlatan Ibrahimovic vai fazer falta, talvez mais até do que a simpática seleção de seu país. Confraria O que tem em comum o sueco Zlatan Ibrahimovic com alguns supercraques do futebol, como os brasileiros Pelé, Garrincha, Didi e Falcão, os argentinos Sivori e Maradona, o alemão Fritz Walter, o russo Yashin, o inglês Bobby Charlton e o francês Kopa? Todos são de outubro. Ibrahimovic nasceu em 3 de outubro de 1981. Em branco Campeão nacional pelo Ajax, na Holanda, por Juventus, Inter e Milan, na Itália, pelo Barcelona, na Espanha, e pelo PSG, na França, Ibrahimovic marcou gols por todos eles na Liga dos Campeões da Europa, mas passou em branco nas duas Copas do Mundo que disputou pela Suécia - em 2002, quando jogou apenas 16 minutos, e 2006.
quinta-feira, 8 de julho de 2010

A Copa do Mundo é nossa

"No futebol, a cabeça é o terceiro pé" - ensinava Neném Prancha, perspicaz filósofo da Escola de General Severiano. O Brasil de Dunga falhou em duas jogadas pelo alto e saiu da Copa do Mundo. Nem o holandês Sneijder, baixinho daquele jeito, parecia acreditar no cabeceio que despachou o Brasil para o voo de volta. (Aliás, até hoje, o grandalhão Zidane ainda se surpreende com aqueles dois gols de cabeça que deram à França o título de 1998.) Nosso Marcuse da bola tinha razão ao valorizar o cabeceio, fundamento importante do futebol, mas é preciso parafraseá-lo, trocando cabeça por cachola, se quisermos entender melhor a decepção brasileira - mais uma ! - em Port Elizabeth. Faltou cabeça ao time ou, falando mais explicitamente, faltou massa cinzenta, como ficou sintetizado na patada desferida por Felipe Melo em Robben. A Seleção tinha limitações técnicas, táticas e físicas, como qualquer outra equipe, mas o que determinou realmente a queda nas quartas de final foi a falta de preparo mental. Não é à toa que o presidente da CBF, antes mesmo de anunciar a nova comissão técnica, já anda se perguntando se não é o caso de lhe agregar um psicólogo. Pode ser, mas não basta. A racionalidade é pré-condição de todo o trabalho a ser feito até 2014. Não se pode exigir equilíbrio de um Felipe Melo se chefe e chefetes da Seleção tocam a bola atabalhoadamente durante os quatro anos de preparação para a Copa do Mundo. A nova comissão técnica tem de trabalhar com critérios objetivos, metas e definições estratégicas que nem sempre passam por resultados positivos nos primeiros tempos de preparação da equipe. É o que promete Ricardo Teixeira, mas promessas também não bastam num futebol tão desorganizado como o nosso. O primeiro passo tem de ser dado pelo próprio presidente da CBF ao formular um desenho mais arejado e democrático para a comissão técnica que promete anunciar até o final deste mês com a incumbência principal de renovar radicalmente o elenco da Seleção. Renovar o time não parece problema para quem tem os ainda jovens, embora experimentados, Robinho, Ramires, Thiago Silva e Nilmar, e pode convocar promessas como Pato, Neymar, Ganso, Hernanes, Anderson, Marcelo e tantos outros garotos bons de bola que vêm animando as especulações da mídia. Problema é montar uma comissão técnica capaz de tirar o rendimento máximo dessa rapaziada sem lhe roubar a alegria que sempre acompanhou campeões como Pelé, Garrincha, Didi, Gerson, Tostão, Romário, Ronaldo, Rivaldo e tantos outros craques e não tão craques assim, mas todos felizes cidadãos do país do futebol. Queremos em campo um Brasil feliz e risonho, que volte a tocar a bola com o carinho que lhe devota a Espanha de Iniesta, Xavi e Xabi Alonso e saiba impor o ritmo do jogo como a Holanda de Sneijder e Robben. Em 2014, queremos o hexa. Aliás, corrija-se : exigimos o hexa em 2014. Disputá-lo em casa vai ser uma felicidade ou um peso adicional para a geração desprezada por Dunga em 2010 ? A resposta será dada pela nova comissão técnica, que terá de compensar a inexperiência do novo time. O trabalho começa já, em agosto, no amistoso contra a valente e disciplinada seleção dos Estados Unidos. Neste instante, o que interessa é o redesenho da comissão técnica. Não basta trocar A por B. O organograma tem de ser modernizado. É indispensável um comando profissional. O treinador tem de trabalhar as convocações e o time. Não pode escolher toda a comissão, baixar normas disciplinares, determinar o relacionamento entre jogadores e a mídia, escolher hotéis e voos. Deve ser subordinado a um diretor técnico. E o diretor técnico tem de participar da escolha do treinador. O Brasil dispõe de boas cabeças para coordenar a comissão técnica encarregada de comprovar, em 2014, que a Copa do Mundo é nossa. Parreira e Leonardo, por exemplo, sabem o que é uma Copa do Mundo, conhecem a CBF, têm vasta experiência internacional, sacam virtudes e manias de treineiros e jogadores, relacionam-se bem com os clubes europeus e com a imprensa de todo o mundo. São executivos capazes de modernizar as relações de trabalho na Seleção. Escalar um diretor técnico competente é o primeiro passo para que a Copa do Mundo volte a ser nossa. O que não cabe na cabeça da gente é fazer aqui uma nova festa para espanhóis, holandeses, alemães, uruguaios... ___________________
quinta-feira, 1 de julho de 2010

A próxima vítima

Nenhuma outra seleção desta Copa do Mundo se parece tanto com o Brasil campeão de 1994 quanto a Holanda de Arjen Robben e Wesley Sneijder, pragmaticamente dirigida por Bert Van Marwijk. Claro que Robin Van Persie, embora se ache, não é Romário, mas Sneijder está jogando muito mais do que Raí e/ou Mazinho naqueles tempos e Robben rodopia menos, mas resolve mais do que aquele Zinho. Não são os craques de uma e outra, porém, que fazem esta Holanda de Van Marwijk se parecer com aquele Brasil de Carlos Alberto Parreira. O que une as duas equipes, mais do que a distribuição dos jogadores em campo, é a atitude consciente do primeiro ao último minuto de jogo. A Holanda é um time que está na África do Sul para ganhar a Copa, de jogo em jogo, pacientemente, sem a volúpia ofensiva de outras épocas. Aquele futebol vistoso, alegre, às vezes até irresponsável, da Laranja Mecânica e sucessoras menos talentosas não faz a cabeça desta seleção que mantém os pés no chão mesmo depois dos extraordinários resultados dos últimos tempos. À fantasia sobrepõem-se os resultados. São resultados de meter medo em qualquer adversário : 100% de aproveitamento na Copa, com quatro vitórias em quatro jogos, e 100% de aproveitamento nas eliminatórias, com oito vitórias em oito jogos. A Holanda não sabe o que é perder há 23 jogos. O problema, para eles, é que o Brasil não se amedronta facilmente. Pelo contrário, como mancheteou o jornal espanhol AS após os 3 a 0 no Chile : "O Brasil dá medo". Van Marwijk sabe que é verdade e inveja o Brasil : - O Brasil representa um enorme desafio para nós. É uma equipe muito madura e sólida, que transmite uma forma positiva de arrogância, é quase como se fosse invencível. Falta esse sentimento ao nosso time. Pela primeira vez em uma partida desta Copa, a Holanda não será favorita. O próprio Van Marwijk acha que falta à sua equipe a "forma positiva de arrogância" que seria marca registrada do Brasil. A história do futebol e, em especial, a história das Copas explica por que sobra ao Brasil o que falta à Holanda. É só conferir a lista e os resultados das finais das Copas para entender a diferença. Esqueça-se a história, no entanto, pois jamais se viu em campo uma Holanda como esta que o Brasil vai enfrentar nesta sexta-feira, dia 2, no Estádio Nelson Mandela. É um time que se dá bem com a bola e procura mantê-la aos pés, mas nunca se afoba nem se deslumbra com a vantagem no marcador. Faz o que é preciso para vencer, sem se descuidar da defesa. É um time equilibrado em todas as linhas, sonho de todo treinador. Até chegar às quartas de final, a Holanda de Van Marwijk tem mostrado uma pulsação mais cadenciada do que o Brasil um tanto inconstante de Dunga. Para o bem e para o mal, o Brasil é mais febril. Mais nervosinho, talvez. Certamente, mais sujeito aos humores da Jabulani. Em compensação, o Brasil é muito mais mortal. E sexta é dia de matar ou morrer. Há situações específicas do jogo que devem preocupar o técnico brasileiro - o embate direto entre Robben e Michel Bastos, por exemplo. O holandês não é Garrincha, mas o nosso lateral é a mais completa reencarnação dos Joões que faziam a alegria do mais espetacular ponta direita de todos os tempos. Alguém tem de ajudar Michel Bastos em Port Elizabeth. O Brasil precisa também vigiar Mark Van Bommel, um volante experiente que tem sofrido muitas faltas e cometido poucas, enxerga bem o jogo e faz com qualidade a passagem de bola da defesa para o ataque da Holanda. Marcar Van Bommel é deixar na orfandade o talentoso Sneijder. Fechando os caminhos para Van Bommel, pelo meio, e Robben, pela ponta, o Brasil de Kaká, Robinho e companhia fará da Holanda sua próxima vítima. Afinal, até o comandante Bert Van Marwijk sabe muito bem que, em Copa do Mundo, a Holanda nada, nada, nada e acaba morrendo na praia. Não deve ser diferente em Port Elizabeth, bela cidade à beira do oceano Índico. PS: Infelizmente, Elano continuará desfalcando a Seleção. É uma grande perda, principalmente porque Daniel Alves tem sido mais afoito do que eficiente, preocupado demais em chutar a gol, e o modelo Dunga para as ações ofensivas depende, em boa parte, da movimentação de Elano e Robinho. No futebol, ensinava Gentil Cardoso, "quem pede, tem preferência ; quem se desloca, recebe". Elano se desloca, Daniel Alves pede a bola. Quando o adversário reduz os espaços, Elano ajuda, mas Daniel Alves complica a vida de Robinho e Kaká. ___________________ Confira abaixo a tabela da Copa do Mundo 2010 ______________
segunda-feira, 28 de junho de 2010

O Brasil precisa de Elano, Mr. Kutcher

Você se lembra do tempo em que o único cidadão norte-americano interessado no vaivém da bola numa Copa do Mundo era o alemão Henry Kissinger ? Os tempos mudaram. Nem bem o Brasil tinha acabado de empatar por 0 a 0 com Portugal, sacramentando a passagem para as oitavas de final como primeiro colocado do Grupo, o ator norte-americano Ashton Kutcher deu as costas à sua Demi Moore para postar no Twitter : - Esperava mais do Brasil. Primeiro tuiteiro em todo o mundo a alcançar a marca de um milhão de seguidores, Ashton Kutcher parece realmente preocupado com o ir e vir da bola em campos sul-africanos e, antes mesmo que Donovan & Company fossem mandados de volta para casa pela valente e animada seleção de Gana, já falava em nome dos brasileiros: - Kaká, o Brasil precisa de você! Infelizmente, o gringo está apenas parcialmente certo. Ninguém melhor do que o brasileiro Antonio Maria, em seu blog no UOL, resumiu o parco futebol da Seleção em Durban: - Um 0 a 0 sem Kaká, Robinho, Elano, J. Baptista, Michel Bastos... Kaká, que infelizmente perdeu a oportunidade de confirmar no jogo contra Portugal a evolução física e técnica exibida nos 3 a 1 sobre a Costa do Marfim, é fundamental para o sonho de chegar ao hexa na África. Não basta, porém, a volta de Kaká nesta segunda-feira, Mr. Kutcher. O sr. Maria é que está na pista certa : contra o Chile, o Brasil vai precisar de Kaká, Robinho, Elano, J. Baptista, Michel Bastos... Ou seja : o Brasil tem de mostrar novamente o futebol que chegou a ensaiar contra os marfinenses. Quando tem ou retoma a bola, deve tocá-la de pé em pé, buscar as tabelas e as triangulações pelo meio, insistir nas ultrapassagens pelas laterais até abrir os pequenos espaços para a finalização. De que adianta ter a bola durante 60% do jogo se o time não sabe o que fazer com ela no campo de ataque. Não se dispensa, é claro, o combate incessante no meio de campo, única virtude que não faltou contra os lusitanos. É preciso adicionar qualidade técnica ao aguerrimento para que Brasil recomposto por Kaká, Robinho e Elano mantenha a tradição contra os chilenos - fregueses muito simpáticos que, graças à saudável loucura do argentino Marcelo Bielsa, oferecerão bons espaços para os contragolpes tão bem ensaiados por Dunga. Estará em jogo, no Ellis Park, mais do que a vaga nas quartas de final. Tanto pelo peso histórico como pelos resultados recentes nos confrontos com os chilenos, o Brasil é amplamente favorito. O Chile terá cumprido seu papel na Copa, para surpresa de todo o vasto mundo da bola, se abortar em Johannesburgo a caminhada brasileira rumo ao hexa. O Brasil sonha com muito mais. Sonha com o hexa, claro. Portanto, o Brasil precisa de mais, muito mais bola do que mostrou na sexta-feira, 25, em Durban. Já nesta segunda-feira, Kaká tem de religar as turbinas acionadas contra a Costa do Marfim e compulsoriamente desligadas contra Portugal, Robinho tem de retomar o ritmo e a alegria dos 90 minutos da estreia, Elano tem de voltar ao time como se dele não tivesse saído por obra e desgraça causadas pelo marfinense Tiote. É, o Brasil precisa de Elano, Mr. Kutcher. Foi preciso que ele não pudesse jogar contra os portugueses para que os brasileiros dessem a Elano o que é de Elano. Um jogador sóbrio, mas não modesto, o polivalente camisa 7 joga como volante, meia, ala, ponta e, nesta Copa, ainda deu de fazer os seus golzinhos, um em cada jogo de que participou, sem deixar um minuto sequer de praticar o seu futebol valente, dinâmico e solidário. Não é à toa que, depois dos três primeiros jogos do Brasil na Copa, já não se ouve o barulho dos muitos que exigiam a escalação de Daniel Alves na vaga de Elano. Com a devida licença dos impecáveis Júlio César, Maicon, Lúcio, Juan e até de Kaká, Robinho e Luís Fabiano, que chegaram a luzir em alguns instantes, dá para dizer que, até aqui, o cara do Brasil na Copa é ele, Elano. Onipresente em todo o lado direito do meio de campo e do ataque, Elano tem sido um raro jogador brasileiro capaz tanto de criar como de aproveitar os espaços abertos nas defesas retrancadas. Às vezes, é arco; às vezes, é flecha. O Brasil precisa de Elano, que, na Copa, tem sido uma flecha mortífera. ___________________ Confira abaixo a tabela da Copa do Mundo 2010 ____________________________
quinta-feira, 24 de junho de 2010

Uma festa brasileira, com certeza

É aconselhável a gente esquecer aqueles 6 a 2 de novembro de 2008 e não só porque amistoso é amistoso, Copa é Copa. Aquele Portugal goleado em Brasília jogou com Quim, Bosingwa, Pepe, Paulo Ferreira e Bruno Alves na defesa. Este Portugal que o Brasil vai encarar na sexta-feira, 25, se defende com Eduardo, Miguel, Bruno Alves, Ricardo Carvalho e Fábio Coentrão, ainda não sofreu gol na Copa e só foi vazado uma única vez nos dez últimos jogos. Não há motivo para aflição, porém. Mesmo sem Kaká e talvez sem Elano, provavelmente com Julio Baptista e Daniel Alves, o Brasil tem todas as condições de vencer Portugal com alguma tranquilidade. E nem precisa da vitória. Um simples 0 a 0 assegura o primeiro lugar do Grupo G e também bastará para garantir a sobrevivência de Cristiano Ronaldo e companhia na Copa do Mundo. Cômodo, não ? Acontece que comodidade não é exatamente o que o grupo comandado por Dunga procura na Copa. Ainda bem. A Seleção quer vencer. E precisa vencer. O empate basta matematicamente, mas não é de matemática que se fazem os sonhos brasileiros numa Copa do Mundo. A menos que Dunga imite dom Diego e escale um time majoritariamente reserva, com as vantagens e os riscos consequentes, vencer Portugal será vital para o ânimo do time - e da torcida ! - no restante da caminhada em busca do hexa. A vitória sobre a Costa do Marfim, depois da estreia pouco convincente diante da Coreia do Norte, mostrou uma Seleção capaz de fazer as pazes em campos sul-africanos com o futebol de toques e envolvimento que sempre caracterizou o futebol brasileiro. Finalmente ! Ainda não se tinha visto tal magia nessa nova era Dunga. O estilo aguerrido no meio de campo e a opção preferencial pelos contragolpes mortais continuam, mas a bola de pé em pé, as triangulações e os toques curtos estão de volta. É o novo Brasiiiil do comandante Dunga e sua intrépida tropa. Não é o futebol de encantamento até agora mostrado pelos argentinos, mas é muito mais consistente - sem perder o brilho, jamais. Este Brasil tem tudo para ganhar a Copa, como tão bem definiu o doutor Eduardo Gonçalves de Andrade, mais conhecido como Tostão no mundo da bola : "A Argentina, por ter um repertório maior de jogadas ofensivas, tem mais chance do que o Brasil de golear uma equipe fraca. O Brasil, por ter melhores defensores e um sistema defensivo superior, tem mais chance de vencer a Argentina ou outro adversário mais forte". Curiosamente, a ótima e badalada defesa brasileira cochilou nos minutos finais dos dois primeiros jogos - permitindo o gol de Ji Yun-Nam, aos 42 do segundo tempo nos 2 a 1 sobre a Coreia, e o de Drogba, aos 34 do segundo tempo nos 3 a 1 sobre a Costa do Marfim. Nos dois lances, relaxada com a vantagem brasileira no placar, a defesa bobeou, deixando sem cobertura os zagueiros que saíram de sua posição - Lúcio, no primeiro; Juan, no segundo - para dar combate a outro atacante adversário. É uma desatenção que não se pode repetir nos próximos jogos. O time tem de levar para o campo a concentração e o sentimento aguerrido que marcam as poucas entrevistas de suas principais estrelas e do técnico Dunga. A defesa argentina bobeia às vezes porque é apenas mediana, a defesa brasileira só bobeou até agora por soberba. Nunca é demais lembrar que um jogo de futebol é como os antigos espetáculos do vascaíno Chacrinha - só acaba quando termina. Em sua página no Twitter, Romário fez uma importante recomendação : "Parceiro Dunga, não perca o foco, vamos em frente, faltam cinco jogos !" Ou seja : como milhões de torcedores, o baixinho atrevido quer que Dunga e seus boleiros se preocupem menos com os críticos e mais, cada vez mais, com os adversários. Está chegando aquela hora em que cada jogo é um exercício de matar ou morrer. Daqui para frente, Portugal é o único adversário que não pode matar o Brasil. Mesmo assim, quer estragar a nossa festa, como lembra o volante/meia Tiago, que substitui muito bem o brasileiro Deco na seleção de Carlos Queiroz e não consegue esquecer os 6 a 2 de 2008 : "Nós não queremos esquecer aquela derrota. São jogos diferentes, é claro, mas temos agora a oportunidade de devolver. E queremos ganhar esse jogo, sem dúvida". É bom que eles se animem antes que a bola role no campo já um tanto maltratado do Moses Mabhida, em Durban. Quando rolar a bola, será uma festa brasileira, com certeza. ____________________________ Confira a tabela da Copa do Mundo 2010 - clique aqui. ____________________________
sexta-feira, 18 de junho de 2010

Vale o caneco

A vitória neste domingo, em Johannesburgo, vale a classificação matemática para as oitavas de final - e, dependendo do resultado de Portugal x Coreia do Norte no dia seguinte, pode sacramentar antecipadamente o primeiro lugar do Grupo G. Não é pouco, mas o confronto com a Costa do Marfim vale ainda mais para a Seleção. Vale o caneco. Portanto, vale o hexa. Exagero ? Talvez. Afinal o jogo será no Soccer City, palco da final da Copa, mas decide apenas, se decidir, a ordem de classificação do Grupo B. A final ainda está distante e muita bola terá de rolar em outros campos da África do Sul antes que o Brasil de Robinho e companhia menos animada chegue lá. No entanto, o Brasil precisa mostrar, diante da Costa do Marfim, que tem bola para seguir na briga. Pelo que mostraram no 0 a 0 com Portugal, os marfinenses serão nossos mais difíceis adversários nesta primeira fase da Copa. Não que seu time seja tecnicamente superior ao de Portugal, mas tem uma feição muito menos palatável a este Brasil que, nos 2 a 1 sobre a Coreia do Norte, mostrou mais uma vez enorme dificuldade para furar uma defesa armada na retranca. A Costa do Marfim é uma Coreia do Norte muito, muito melhorada. Se a Seleção sofreu, como sofreu, com a marcação coreana, corre o risco de emperrar diante da organizada defesa marfinense. Em toda a história das Copas, jamais tinha se visto uma seleção africana tão organizada e consciente em seu campo de defesa. E a Costa do Marfim não é só isso. Bem distribuído em campo, fisicamente muito forte, o time tem alguns jogadores habilidosos que driblam bem e insistem nas jogadas individuais. Pior ainda para o Brasil, que será obrigado a procurar insistentemente o ataque: a Costa do Marfim é um time muito veloz. Não sabe ou não gosta de tocar a bola de pé em pé, porém. Todos insistem em conduzi-la, quase não trocam passes curtos, preferem lançamentos e cruzamentos. Este Brasil montado para atacar em contragolpes rápidos vai penar, a menos que faça um gol nos primeiros minutos e obrigue os marfinenses a adiantar a marcação. Enquanto o gol não sair, o Brasil é que terá de tocar a bola de pé em pé, combinando paciência e um mínimo de volúpia ofensiva, algo que ainda não mostrou contra adversários tecnicamente inferiores em toda esta nova era Dunga. E ainda terá de se proteger para não dar a eles a possibilidade do contra-ataque. O futebol de toques da Argentina, da Espanha e até da Alemanha seria uma bela alternativa num jogo em que estarão fechados os caminhos para as arrancadas. São pequenas, no entanto, as chances de que nossos meio de campo e ataque retomem, neste segundo jogo na África do Sul, o padrão de jogo que historicamente caracteriza a escola brasileira. Sem querer amedrontar ninguém, vale insistir: o Brasil vai penar. Só não vamos sofrer se o Brasil tiver reaprendido, nestes dias de treinamento na África, a se impor no campo de ataque diante de adversários mais fracos. Não é o que sugerem antecedentes como os 2 a 1 sobre a Coreia do Norte nesta Copa, o 1 a 0 sobre a África do Sul na Copa das Confederações, os 0 a 0 com Colômbia e Bolívia e o 1 a 1 com o Equador nas Eliminatórias. O Brasil de Dunga costuma se dar bem contra adversários realmente fortes, tanto que já enfiou dois 3 a 0 na Argentina, outros 3 a 0 na Itália, 4 a 0 no Uruguai e 6 a 2 em Portugal. O problema não é pegar a Espanha nas oitavas de final, como temem tantos a esta altura da Copa do Mundo, mas encarar mais uma retranca em jogo que vale a sobrevivência na Copa. Opa, vale a sobrevivência ou vale o caneco ? Vale os dois. Este Brasil que até agora não sabe abrir espaço em defesas fechadas sabe explorar muito bem os espaços que lhe são oferecidos. E, depois da retranca dos marfinenses, devemos ter pela frente seleções que também gostam de atacar e, portanto, abrem espaço ao contragolpe. É tudo o que o Brasil de Dunga quer. O que vale, nesta segunda rodada da Copa, é tirar a Costa do Marfim do caminho. ____________________________ Confira a tabela da Copa do Mundo 2010 - clique aqui. ____________________________
segunda-feira, 14 de junho de 2010

Está chegando a hora dos boleiros

Se fosse alemão ou italiano, como sugerem os sobrenomes Bledorn e Verri, Carlos Caetano seria reverenciado como um dos mais completos volantes do futebol moderno. Afinal, sempre como líder do time e muitas vezes como capitão, Carlos Caetano Bledorn Verri foi campeão sul-americano e mundial de juniores em 1983, campeão da Copa América em 1989 e em 1997, campeão do mundo em 1994, campeão da Copa das Confederações em 1997 - e, em 1984, medalha de prata em Los Angeles, ainda hoje a mais alta honraria olímpica do mais vitorioso futebol de todo o mundo. Tantas conquistas não bastaram para fazer do brasileiríssimo Dunga um ídolo no país que, segundo Tom Jobim, trata o sucesso alheio como ofensa pessoal. Pelo menos na mídia, Dunga ficou marcado como expressão do fracasso brasileiro na Copa de 90, a primeira que disputou e a única em que não chegou à final. A explicação para o descompasso entre tantas glórias com a camisa da Seleção e o parco reconhecimento do país em que vestiu as camisas do Internacional, do Corinthians, do Santos e do Vasco talvez esteja nas palavras de um craque gaúcho, Luis Fernando Veríssimo, fã do volante combativo tanto quanto bom observador das sutilezas do futebol : - Quando mata uma bola, Dunga dá sempre a impressão de que está matando seu antecedente direto, o boi. Desde os tempos de jogador, o conterrâneo do cronista se destacou pela entrega, pela luta, pelo comprometimento com a equipe e com os resultados. Nem por isso se pode esquecer de que Dunga marcava bem, sabia sair com a bola da defesa para o ataque e passava muito bem. Não tinha, porém, o toque de bola refinado que encanta os brasileiros. Foi sempre um guerreiro. Jamais quis ser um artista. Se fosse alemão, teria sido craque. Brasileiro, é tratado como mero carregador de piano. No entanto, sempre soube identificar o(s) artista(s) nos times em que atuou e sempre procurou ajudá-lo(s) em campo a fazer da arte da bola o caminho mais fácil para as vitórias. Romário, por exemplo, já disse muitas vezes o quanto deve ao capitão Dunga a sua atuação exuberante na Copa do Mundo de 1994. "A dungalogia tem suas sutilezas", ensina o especialista Luis Fernando Veríssimo. O Brasil torce agora, nas vésperas de estrear contra a Coreia do Norte na África do Sul, que Dunga não tenha perdido como comandante do time o faro de seus tempos de volante para identificar os jogadores realmente capazes de desequilibrar um jogo de Copa do Mundo. Baixinho atrevido como sempre, Romário aposta nele. Rei Pelé, também. O Brasil vai precisar que Kaká e Robinho façam por nós o que Romário e Pelé já não podem fazer. O apoio de dois dos maiores craques da história do futebol é exceção entre tantos observadores e palpiteiros que, diariamente, desancam o treinador. Uns reclamam de sua lista de convocados, outros não esquecem as camisas espalhafatosas dos primeiros amistosos da Seleção pós-2006, muitos reclamam da rude franqueza de suas entrevistas, quase todos lamentam a busca de resultados sem a preocupação de nos oferecer o futebol bonito, alegre e ofensivo que é mais praticado em nossas lembranças do que nos modernos estádios de uma Copa do Mundo. O Brasil de Dunga joga um futebol de resultados - trombeteiam críticos de Norte a Sul, como se a Copa do Mundo fosse apenas um festival de toques sutis, dribles e tabelinhas e não uma competição em que a vitória vale três pontos e a derrota, a partir das oitavas-de-final, despacha o perdedor de volta para casa. Como a maioria da torcida, ainda silenciosa, Dunga quer ganhar a Copa. Os muito críticos querem festa. Estão quase todos encantados com a bela estreia do garoto Messi, estrela de maior grandeza desta Copa, e a vitória argentina sobre a Nigéria por 1 a 0 graças ao gol bem trabalhado pelo trio Samuel, Heinze e Wolfgang Stark. O padrão festivo do time armado por Maradona, tantas vezes despreocupado na defesa, é o modelo que boa parte da mídia brasileira sugere ao cuidadoso Dunga. Em vão. Dunga quer ganhar a Copa, só pensa em ganhar a Copa, trabalha unicamente para ganhar a Copa. Por isso é que foi escolhido para suceder a Carlos Alberto Parreira após o fiasco da Seleção na Copa da Alemanha. Era uma aposta de risco da CBF. Se desse certo nos jogos de preparação, chegaria à Copa; se não vencesse amistosos e competições preparatórias, seria substituído por um técnico mais experiente. Deu certo. De agosto de 2006 para cá, além de três vitórias indiscutíveis sobre a Argentina (3 a 0 num amistoso em Londres, 3 a 0 na decisão da Copa América na Venezuela e 3 a 1 pelas Eliminatórias lá em Rosário), o Brasil de Dunga venceu África do Sul, Chile, EUA, Gana, Inglaterra, Itália, México, Portugal, Suíça e Uruguai, todos participantes desta Copa do Mundo. Mais importante ainda : a Seleção ganhou os títulos da Copa América e da Copa das Confederações e classificou-se em primeiro lugar e antecipadamente nas Eliminatórias Sul-Americanas. Há razões, pois, para que o mundo da bola enxergue o Brasil, mais uma vez, como principal candidato ao título. Não se trata apenas do reconhecimento universal à hegemonia histórica do Brasil nas Copas do Mundo, em especial dos anos 1950 para cá, mas da observação criteriosa do desempenho da Seleção que Dunga vem montando há quase quatro anos. Dunga garantiu em campo o emprego de técnico da Seleção na Copa do Mundo. Agora, na África do Sul, tem de corroborar, em sete jogos, o favoritismo que todo o mundo da bola ainda atribui ao Brasil. Vai depender cada vez menos dele e de seu fiel escudeiro Jorginho e, como os demais milhões de brasileiros, torcer por Julio César, Maicon, Lúcio, Juan, Michel Bastos, Gilberto Silva, Felipe Melo, Elano, Kaká, Luis Fabiano, Robinho e companhia. Está chegando a hora dos boleiros. A Coreia do Norte que se cuide. E a Argentina também, mas isso já é conversa para mais tarde. ____________________________ Confira a tabela da Copa do Mundo 2010 - clique aqui. ____________________________