quarta-feira, 11 de dezembro de 2024

Arquivo do semana 14/09 à 20/09 de 2020

14
set.segunda-feira
PILULAS

Voltando à ação da Fecomércio, que envolveu dezenas de escritórios de advocacia, vários pontos saltam aos olhos. Primeiro, frise-se que este informativo não está a defender ninguém, e sim o direito das pessoas de se defenderem. E este, como é bem de ver, foi suprimido. Explicamos. O MPF pegou um delator (ou seja, um criminoso) moldou-o a seu modo e ouviu dele o que quis. Há momentos no depoimento de Orlando Diniz, o tal criminoso confesso, em que se percebe claramente um script (de um roteirista de quinta categoria, diga-se). Enfim, o fato é que se nota nítida seletividade. Ok, dirá o leitor. Há mais. Torceu-se a competência para, tanto atrair o foro para a Justiça Federal, como para não deixar ela subir para instâncias superiores. Explicamos novamente. A competência para estas questões de Sesc e Senai é da Justiça estadual, o STF já sumulou isso. Vendo a trapalhada, o MPF quer agora tornar um irrelevante funcionário do TCU como o motivo para atrair a competência (v. matéria na Folha de S.Paulo de hoje, adredemente pautada). Quanto a não deixar a competência subir, isso ficou até vexatório. Diz-se que os advogados foram pagos generosamente para "influenciar" autoridades. Se foi isso, qual o tipo penal? E quem é que contrata um advogado para não influenciar? Ora, os advogados influenciam com argumentos, com a inteligência, com a experiência, com a confiança. Evidentemente que não é isso que está dizendo o MPF nas entrelinhas. De fato, estão sugerindo outra coisa, mas não trazem isso à denúncia, senão teriam que acusar autoridades com foro e perderiam a competência. Aliás, esse é um dos motivos (medo de perder a competência) pelos quais o MPF fez tudo de afogadilho, apresentando uma denúncia atabalhoada, com 510 laudas. E aí chegamos na pior parte do caso, do ponto de vista de defeitos jurídicos insanáveis. O MPF ouviu o delator dizer que pagou para os escritórios. Na sequência, quebrou o sigilo dos advogados e viu que eles tinham efetivamente faturado (com NF e tudo mais) para a Fecomércio. Pronto. Na visão kafkiana, isso é motivo para denunciar. E na visão justiceira, razão para aceitar a denúncia. Ora, que investigação mequetrefe é essa que o acusado não é sequer chamado para apresentar suas razões, e poder mostrar o eventual trabalho feito? Num dos casos, o MPF chega a dizer que o advogado não trabalhou nos processos porque ele não teria aposto sua assinatura, ignorando que hoje o processo é digital, e que o simples lançar do nome já se considera como assinada a petição. Isso tudo sem falar no mais importante, vários advogados não sabiam que havia o engenhoso convênio entre Fecomércio (entidade 100% privada) com o Sesc - Senai. Firmaram contrato com uma entidade privada e agora estão sendo acusados de irregularidade com dinheiro público. Um dos advogados, antes de ser contratado, soube do convênio e exigiu que no contrato constasse expressamente que os recursos que iriam pagá-lo deveriam ser exclusivamente privados. O criminoso não aceitou a cláusula e não se consumou a contratação. Mesmo assim o MPF o incluiu na ação, criando uma nova modalidade de crime: contrato inexistente (na forma tentada). Por fim, como há notícia de outro inquérito no mesmo caso, com valores ainda maiores, e que envolvem outros escritórios, além de instituições e uma fundação, o que parece é que o MPF está procurando fazer uma vindicta com o Judiciário, que nem sempre vem chancelando suas ações. Ações que o MPF acha, ou melhor, tem certeza que são imbuídas de uma verdade divina.

16
set.quarta-feira
PILULAS

Ontem o presidente Bolsonaro sepultou o natimorto Renda Brasil e, de cara, abanou um cartão vermelho diante do ministro da Economia. Guedes, daltônico, viu amarelo no rubro cartão, e tudo fica como dantes. Guedes 1885 No tempo de Machado de Assis já houve um Guedes. Vejamos, ipsis litteris, como escritor, em crônica datada de 19 de julho de 1885, apresenta-nos o Guedes daquele tempo. Para contextualizar, montamos o texto em formato de uma entrevista. Qualquer semelhança é mera coincidência: Migalhas - Você tem conhecimento do que fez ontem Bolsonaro com o ministro da Economia? Machado de Assis - "Conheço um homem que, além de acudir ao doce nome de Guedes, acaba de receber um profundo golpe moral." Migalhas - Estamos a falar da mesma pessoa? Machado de Assis - "Há trinta anos, ou quase, que o Guedes espreita um trimestre de popularidade, um bimestre, um mestre que fosse, para falar a própria linguagem dele. Ultimamente, lá se contentava com uma semana, um dia, e até uma hora, uma só hora de popularidade, de andar falado por salas e esquinas." Migalhas - E o que fez o coitado do Guedes em busca da popularidade? Machado de Assis - "Não se imagina o que este diabo tem feito para ser popular." Migalhas - E como ele resolve esse problema? Machado de Assis - "Se realmente quer popularidade, abra mão de planos complicados." Migalhas - E qual seria a fórmula? Machado de Assis - "A gente não tem remédio senão recorrer à única cultura em que não há concorrência de boa vontade, que é plantar batatas." Contexto O Guedes que menciona Machado de Assis (mandando-o plantar batatas), era um nome genérico para se referir aos patrões do comércio do Rio de Janeiro, os quais eram contra o fechamento do comércio aos domingos e dias santos. A lei determinando o fechamento do comércio, aprovada pela Câmara Municipal, era de autoria do vereador Visconde de Santa Cruz. Em artigo sem assinatura no dia anterior à mencionada crônica, no Diário de Notícias, informa-se que a "classe caixeiral" (dos caixeiros) congratula-se com a Casa de Leis pelo seu procedimento justiceiro e humanitário. (Leia a íntegra do texto clicando aqui ou na imagem abaixo)     (Leia a íntegra do texto clicando aqui ou na imagem abaixo) (Leia a íntegra do texto clicando aqui ou na imagem abaixo)