Faleceu, nesta segunda-feira, o advogado e professor universitário Bruno Rodrigues de Almeida (OAB/RJ 154.610). Formado pela UERJ (Turma de 2002), era mestre em Direito Internacional e Integração Econômica e doutor em Direito Internacional pela mesma instituição. Era responsável pela disciplina de Direito Privado e chefe do Departamento de Ciências Jurídicas da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro.
Homenagem e preocupação
Em relato comovente, Carmen Tiburcio, professora da UERJ - que conviveu com Bruno desde a graduação até o pós-doutorado -, rendeu homenagem ao profissional, destacando sua "personalidade agregadora", "seriedade, inteligência e competência". Destacando que o falecimento ocorreu, aparentemente, em razão de complicações decorrentes do zika vírus, a advogada também fez um desabafo : "A epidemia causada pelo zika vírus parece preocupar mais à comunidade internacional do que aos nossos governantes, bem como os postos de saúde aos quais Bruno se dirigiu aparentemente não deram maior atenção ao caso pois o liberaram. (...) Não podemos nos calar em memória do Bruno e dos seus sonhos interrompidos. Sem dúvida, estamos vivendo um momento lamentável no nosso país, estado e cidades (RJ e Niterói)."
Confira abaixo a íntegra do texto.
Caros estudantes de direito, amigos e colegas de profissão:
Ontem a nossa pequena comunidade de direito internacional viveu um dia muito triste. Bruno Rodrigues de Almeida faleceu aos 37 anos, aparentemente em razão de complicações decorrentes do zika virus. Na sua despedida, num dia de chuva torrencial, eu, Marilda Rosado, Raphael Vasconcelos e Daniel Gruenbaum, todos professores de direito internacional da UERJ, e Eraldo Silva Junior, nosso doutorando, estivemos com seus familiares, alunos e amigos. Foi de cortar o nosso coração ver a mãe de Bruno acariciando seu corpo sem vida, no seu enterro. Quem é mãe entende o que estou dizendo.
Em primeiro lugar, quero registrar a pessoa maravilhosa que Bruno foi. Conheci-o na graduação da Faculdade de Direito da UERJ, em 1998, época na qual ele cursava o terceiro período, quando ele já se destacava por sua curiosidade e interesse pelo direito internacional. Após sua graduação, fui sua orientadora na dissertação de mestrado no Programa de Pós Graduação em Direito da UERJ, trabalho aprovado com grau máximo (dez com distinção e louvor) por banca composta por mim, e os professores Marilda Rosado (UERJ) e Ricardo Perlingeiro (UFF), em 2008. Posteriormente, ainda sob minha orientação, Bruno redigiu tese de doutorado intitulada "O reconhecimento dos casamentos e parcerias entre pessoas do mesmo sexo no direito transnacional: Pluralismo, dignidade e cosmopolitismo nas famílias contemporâneas". Em banca realizada em 2012, composta por mim, Marilda Rosado, Guilherme Calmon (UERJ), Nadia de Araújo (PUC-RIO) e Marcos Vinicius Torres (UFRJ), Bruno, mais uma vez, foi aprovado com grau máximo (dez com distinção e louvor).
Durante o seu doutorado, antes da defesa, Bruno se submeteu a um concurso para professor na Universidade Federal Rural e foi aprovado, tomando posse em 2011. Portanto, no período pós-faculdade, Bruno não somente obteve os graus de mestre e doutor, sempre com nota máxima, como foi aprovado em concurso público de provas e títulos para lecionar direito internacional privado. Dando continuidade à sua brilhante trajetória, em 2015, Bruno foi admitido no Programa de Pós Graduação em Direito da UERJ, como pós-doutorando, sob a orientação da Professora Marilda Rosado.
Esses dados relatados são objetivos. Eu, como sua orientadora de mestrado e doutorado, que acompanhei sua trajetória, posso também trazer dados subjetivos. Bruno se caracterizava não só pela sua seriedade, inteligência e competência, comprovadas pelos dados objetivos acima descritos, mas também pela sua personalidade agregadora. Ele estava sempre sorrindo, as pessoas tinham prazer em trabalhar na sua companhia e ele conquistava amigos não importa onde estivesse. Essa era uma qualidade rara, genuína no Bruno, que o acompanhou desde sempre e que fazia com que todos se sentissem bem na sua presença amiga e positiva. Bruno também era um realizador, empreendendo sempre ideias e projetos novos, com muita energia e seriedade.
Tudo isso se foi ontem. Do relato do seu pai, além de uma dor sem fim, constatei um total abandono dos cidadãos pelos nossos governantes nas esferas federal, estadual e municipal e pelas autoridades em geral. A epidemia causada pelo zika vírus parece preocupar mais à comunidade internacional do que aos nossos governantes, bem como os postos de saúde aos quais Bruno se dirigiu aparentemente não deram maior atenção ao caso pois o liberaram. Também seu pai relatou as deficiências da emergência e bombeiros que não desempenharam bem o seu papel. Não podemos nos calar em memória do Bruno e dos seus sonhos interrompidos. Sem dúvida, estamos vivendo um momento lamentável no nosso país, estado e cidades (RJ e Niterói).
Rio de Janeiro, 1 de março de 2016
Carmen Tiburcio
Professora Titular de Direito Internacional Privado da UERJ, que teve o privilégio de ser professora do Bruno desde o 3º período da graduação até o pós-doutorado