Sorteio de obra
Migalhas tem a honra de sortear dois exemplares da obra "O Processo de Tiradentes" (240 p.), escrita e gentilmente oferecida por Ricardo Tosto e Paulo Guilherme M. Lopes, do escritório Leite, Tosto e Barros - Advogados Associados.
Sobre a obra :
Essa riqueza histórica desborda para a trajetória de Aleijadinho, epíteto que hoje seria definitiva e politicamente incorreto; a poesia farta de Cláudio Manuel da Costa e Tomás Antônio Gonzaga e toda a cultura que o ouro trouxe, como o primeiro teatro e a primeira casa de Ópera da América do Sul, tudo a contribuir para o movimento nativista que viria a ser o berço da ação política frustrada e que daria início à reação dos poderosos de plantão.
O interrogatório de Tiradentes, os depoimentos colhidos, as interferências políticas da Coroa Portuguesa são trazidos aos dias de hoje com revelações como a que cercou a delação produzida por Silvério dos Reis que, depois de ser premiado pelo serviço prestado, mudou de nome e passou a chamar-se Joaquim Silvério dos Reis Montenegro.
Trata-se de um trabalho elaborado por dois ilustres advogados de São Paulo, bastante agradável de ler; que vem em boa hora trazer informações acerca do processo que culminou com a condenação de Tiradentes, o alferes Joaquim José da Silva Xavier, e seus seguidores pelo crime de Lesa Majestade, em razão da frustrada tentativa de obterem a emancipação da Capitania de Minas Gerais.
A obra, de excepcional qualidade literária, longe de pretender revisar os critérios jurídicos que permearam a Devassa implementada pela Coroa Portuguesa, é um relato objetivo e imparcial do evento, focado, sobretudo, no detalhamento das investigações realizadas, nas inquirições dos réus e das testemunhas arroladas, com fatos intrigantes a respeito da conduta dos personagens envolvidos.
Busca, ainda, pautar os acontecimentos considerando os peculiares aspectos do sistema jurídico vigente à época, em que prevalecia, com todo o seu vigor, a idéia da jurisdição como um direito majestático, o que confere uma perspectiva bastante particular a esse episódio, que constitui, certamente, uma das mais ricas páginas da história do Brasil.
Após situar o momento histórico do levante, com todos os seus componentes políticos, sociais e econômicos, claramente influenciados pelos pensamentos que inspiraram a revolução francesa e a própria independência dos Estados Unidos da América, e deixar clara a visão de que o processo, tal como conduzido, nada mais era do que simples conseqüência dos princípios que informavam o absolutismo monárquico vigente ao final do século XVIII, o texto parte para a transcrição das principais fases do procedimento, entre as quais se sobressaem as diversas inquirições de Tiradentes, deixando para o leitor a tarefa de retirar suas próprias conclusões quanto à importância do movimento para os destinos do País.
Valioso pelo conteúdo, o trabalho é precioso pelo contexto que dá aos eventos da Inconfidência. Mais ainda por proporcionar ao cidadão contemporâneo uma noção histórica do regrário jurídico vigente à época. As informações que servem de cenário para o processo judicial são oferecidas de forma didática e objetiva sem desperdiçar, contudo, a riqueza monumental do resplandecente período em que os fatos se dão. São relatos bem elaborados, de autoria do dr. Ricardo Tosto e do dr. Paulo Guilherme Mendonça Lopes, notáveis juristas dedicados ao estudo do Direito e estudiosos dos valores culturais e jurídicos nacionais.
Uma leitura que se faz obrigatória para todos aqueles interessados em conhecer, com mais detalhes, as particularidades do movimento libertário que marcou a presença das Alterosas no cenário político mundial.
Sobre os autores :
Ricardo Tosto de Oliveira Carvalho, advogado, graduado pelo Mackenzie-SP. Curso de extensão em administração de empresas – FAAP. Inscrito na OAB sob os nos 103.650, 2.372-A e 2.100-A, nas secções de SP, RJ e DF, respectivamente; ex-Presidente da Comissão de Reforma do Judiciário da OAB, secção de SP; Presidente da Comissão de Modernização do Judiciário da OAB, secção de SP; foi um dos 6 brasileiros apontados pelo "Who's Who Legal" ntre os melhores advogados na área de "commercial litigation"/ contencioso do mundo. Membro do IBA (International Bar Association); Membro do Conselho Diretor do Centro de Estudos das Sociedades de Advogados (CESA); Membro do Comitê Diretivo da Associação Alumni IMD (Institute for Management Development – Lausanne – Suíça) no Brasil; Membro fundador do IBEDEP – Instituto Brasileiro de Estudos de Direito Eleitoral e Partidário; foi Assessor da Diretoria Jurídica e Recursos Humanos do Grupo Rede (Caiuá Serviços de Eletricidade, Empresa Elétrica Bragantina, Empresa de Eletricidade Vale Paranapanema); Diretor da Fundação Rede de Previdência Privada e Superintendente Administrativo e Jurídico do Grupo Alusa. É articulista e palestrante, com vários artigos publicados em jornais e revistas especializadas.Atua há mais de 15 anos na área de direito empresarial, especialmente recuperação de créditos, contratos bancários, falências, recuperação judicial, "Acquisition Review" e reestruturação empresarial. Atua, ainda, na área do Direito Internacional e Eleitoral de uma forma geral.
Paulo Guilherme de Mendonça Lopes é advogado, graduado pelo Mackenzie-SP. Inscrito na OAB sob os nos 98.709 e 2409-A, nas secções de SP e RJ respectivamente; Foi Professor Assistente de Processo Civil na PUC-SP de 1992 a 2006. Ministra cursos e palestras no Brasil, com trabalhos publicados em revistas especializadas. Direito Civil, Comercial, Processual Civil e Consumidor.
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Alcides Benages da Cruz, assessor jurídico da Companhia de Habitação Popular Bandeirantes, de Campinas/SP
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Sandra Falcucci, advogada da Fiat Automóveis S/A, de Belo Horizonte/MG
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Outras informações
Biografia
O movimento
(Imagem da cidade de Tiradentes)
A partir da nomeação de Luís da Cunha Meneses como governador da província, em 1782, ocorreu a marginalização de parte da elite local em detrimento de seu grupo de amigos. O sentimento de revolta atingiu o máximo com a decretação da derrama, uma medida administrativa que permitia a cobrança forçada de impostos atrasados, mesmo que preciso fosse confiscar todo o dinheiro e bens do devedor, a ser executada pelo novo governador das Minas Gerais, Luís Antônio Furtado de Mendonça, 6.º visconde de Barbacena (futuro conde de Barbacena), o que atingiu especialmente as elites mineiras. Isso se fez necessário para se saldar a dívida mineira acumulada, desde 1762, do quinto, que à altura somava 538 arrobas de ouro em impostos atrasados.
Julgamento e sentença
Negando a princípio sua participação, Tiradentes foi o único a, posteriormente, assumir toda a responsabilidade pela Inconfidência, inocentando seus companheiros. Presos, todos os inconfidentes aguardaram durante três anos pela finalização do processo. Alguns foram condenados à morte e outros ao degredo; algumas horas depois, por carta de clemência de D. Maria I, todas as sentenças foram alteradas para degredo, à exceção apenas para Tiradentes, que permaneceu com a pena capital.
("Tiradentes Esquartejado" - Pedro Américo - 1893)
Em parte por ter sido o único a assumir a responsabilidade, em parte, provavelmente, por ser o incofidente de posição social mais baixa, haja vista que todos os outros ou eram mais ricos, ou detinham patente militar superior. Por esse mesmo motivo é que se cogita que Tiradentes seria um dos poucos inconfidentes que não eram maçons.
E assim, numa manhã de sábado, 21 de Abril de 1792,Tiradentes percorreu em procissão as ruas do centro da cidade do Rio de Janeiro, no trajeto entre a cadeia pública e onde fora armado o patíbulo. O governo geral tratou de transformar aquela numa demonstração de força da coroa portuguesa, fazendo verdadeira encenação. A leitura da sentença estendeu-se por dezoito horas, após a qual houve discursos de aclamação à rainha, e o cortejo munido de verdadeira fanfarra e composta por toda a tropa local. Bóris Fausto aponta essa como uma das possíveis causas para a preservação da memória de Tiradentes, argumentando que todo esse espetáculo despertou a ira da população que presenciou o evento. Executado e esquartejado, com seu sangue se lavrou a certidão de que estava cumprida a sentença, tendo sido declarada infame sua memória. Sua cabeça foi erguida em um poste em Vila Rica, os demais restos mortais foram distribuídos ao longo do Caminho Novo: Cebolas, Varginha do Lourenço, Barbacena e Queluz, antiga Carijós, lugares onde fizera seus discursos revolucionários. Arrasaram a casa em que morava, jogando sal ao terreno para que nada lá germinasse, e declararam infames os seus descendentes. Sua cabeça foi rapidamente cooptada e nunca se descobriu seu paradeiro.Legado
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