Jornal de Angola
O Jornal de Angola de ontem publicou matéria com o escritor português José Saramago. Ele classifica o impasse em torno dos acordos ortográficos como "guerra do Alecrim e da Manjerona", considerando que a situação se tornou caricata.
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Confira abaixo na íntegra.
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Saramago
Impasse do Acordo Ortográfico é como "guerra do Alecrim e da Manjerona"
O escritor português José Saramago classificou hoje o impasse em torno do acordo ortográfico como "a guerra entre o Alecrim e Manjerona", considerando que a situação se tornou "caricata" e que tem de se cumprir o assinado. "Estiveram à mesa das negociações, discutiu-se o problema, chegou-se a um acordo e assinou-se. E depois não se cumpre, como noutras coisas no nosso país", afirmou Saramago em entrevista à Lusa.
"O acordo existe e passou por umas quantas cabeças de um lado e de outro. Se for preciso, sentem--se outra vez à mesa, puxem das esferográficas e avancem, que isto já se está a tornar caricato", observou.
Considerando não ter autoridade para defender um ponto de vista ou outro sobre a matéria, Saramago rejeitou concepções "puristas" em torno da língua, recordando que "a grande reforma foi em 1911, quando acabaram as consoantes duplas".
"Gosto da minha língua tal qual a escrevo mas não posso impor a 150 milhões de pessoas os meus gostos pessoais. Mas, recordo que aprendi a escrever mãe com 'e', depois mandaram-me escrever com 'i' e depois voltaram a mandar escrever com “e”, quando a mãe era sempre a mesma", disse.
"Deviam preocupar-se, agora, era com as pessoas que não respeitam a língua em vez de falar de pureza. A reforma de 1911 é que foi uma revolução autêntica, quando se reconheceu que a língua na sua expressão ortográfica era bastante confusa, mas resolveu-se tudo sem traumatismo, sem traumas culturais, intelectuais ou psíquicos", insistiu.
Para o Nobel português, é importante decidir o que se quer, frisando que o português "não é condenado à situação do húngaro, fechado em fronteiras de onde não consegue sair".
"Evidentemente que se escrevo a palavra 'objecto', gostava de a escrever com o 'c' entalado lá no meio, mas um brasileiro escreverá sem 'c'. Mas isso é grave? A pronúncia é igual", disse.
Saramago cita os exemplos do Brasil e dos países africanos lusófonos "onde as transformações idiomáticas, ortográficas e semânticas se aceleram" e onde "não continuam a falar o português do Almeida Garrett".
"Temos de acabar - sublinhou - com a ideia de que somos os donos da língua. Os donos da língua são quem a fala, melhor ou pior".
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Fonte: Jornal de Angola
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