Migalhas Quentes

Ouro para o bem de São Paulo

Na movimentada São Paulo é possível ouvir comentários

8/7/2004

 

 

Ouro para o bem de São Paulo

 

 

Existem histórias que jamais foram comprovadas e que se tornaram lendas contadas durante séculos. Existem outras, verídicas, que continuam sendo narradas como se fossem partes da cultura popular. 

 

Na movimentada São Paulo, por exemplo, é possível ouvir comentários sobre a histórica Revolução de 1932 e seus percalços. Um deles, muito famoso, é o que dizem sobre um edifício incrustrado no centro velho da capital paulista.


 

E, essa história, que registra a honestidade e a dedicação dos antigos, é contada hoje em Migalhas.

Amanhã São Paulo relembra 72 anos do início da "Revolução Constitucionalista", movimento armado que marcou a insurgência paulista à Revolução 30.

São Paulo, que em 1932 enfrentou isolado esses quase noventa dias de luta contra as forças getulistas, insuflou sua gente a uma arrecadação de fundos para sustento da Revolução. Foi a inesquecível a campanha de “Ouro para o bem de São Paulo" (campanha aliás que o golpe de 64 tentou sem sucesso reeditar - 32 anos depois como se esgarçou o caráter brasileiro...).

 

Muitos doaram suas alianças de casamento, por não ter nenhuma outra peça de ouro para dar. Outros, mais ricos, chegavam a abrir mão de jóias de grande valor, às vezes cravejadas de pedras preciosas. Os que aderiam à campanha recebiam um certificado (v. abaixo) com a inscrição “Doei ouro para o bem de São Paulo” ou um anel de metal com esta frase gravada.

 

 

Mas o Movimento de 1932 teve seu findar antes da aplicação da maior parte dos recursos arrecadados. E para que o governo central não empalmasse os valores já apurados, o comando das forças paulistas doou os fundos à benemérita Santa Casa de Misericórdia, que com eles construiu – para perpétua memória do fato – um prédio retratando a bandeira paulista, chantado no Largo da Misericórdia, no coração de São Paulo.

 

O edifício registra um dos maiores símbolos da guerra dos paulistas: a Bandeira de São Paulo.

 

O prédio tem 13 andares representando as 13 listras da bandeira paulista. O mastro, representando as alianças doadas, foi decorado com um capacete constitucionalista.

 

E o edifício recebeu o nome de “Ouro para o bem de São Paulo”.

 

 

Bandeira Paulista

 

Bandeira da minha terra,

bandeira das treze listas:

são treze lanças de guerra

cercando o chão dos Paulistas!

 

Prece alternada, responso

entre a cor branca e a cor preta:

velas de Martim Afonso, sotaina do Padre Anchieta!

 

Bandeira de Bandeirantes,

branca e rota de tal sorte,

que entre os rasgões tremulantes

mostrou a sombra da morte.

 

Riscos negros sobre a prata:

são como o rastro sombrio

que na água deixava a chata

das Monções, subindo o rio.

 

Página branca pautada

Por Deus numa hora suprema,

para que, um dia, uma espada

sobre ela escrevesse um poema:

 

Poema do nosso orgulho

(eu vibro quando me lembro)

que vai de nove de Julho

a vinte e oito de Setembro!

 

Mapa de pátria guerreira

traçado pela Vitória:

cada lista é uma trincheira;

Cada trincheira é uma glória!

 

Tiras retas, firmes:

quando o inimigo surge à frente,

são barras de aço guardando

nossa terra e nossa gente.

 

São os dois rápidos brilhos

do trem de ferro que passa:

faixa negra dos seus trilhos,

faixa branca da fumaça.

 

Fuligem das oficinas;

cal que as cidades empoa;

fumo negro das usinas

estirado na garoa!

 

Linhas que avançam; há nelas,

correndo num mesmo fito,

o impulso das paralelas

que procuram o infinito. 

 

Desfile de operários;

é o cafezal alinhado;

são filas de voluntários:

são sulcos do nosso arado!

 

Bandeira que é o nosso espelho!

Bandeira que é a nossa pista!

Que traz no topo vermelho,

O coração do Paulista!

 

Guilherme de Almeida

 

Os migalheiros ao passar por ali, no burburinho da esquina da Rua Direita, haverão de reverenciá-lo, como merece.

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Revolução Constitucionalista de 1932

 

Movimento de insurreição contra o governo provisório de Getúlio Vargas ocorrido de julho a outubro de 1932, em São Paulo. Os insurgentes exigem a convocação da Assembléia Constituinte prometida por Vargas em sua campanha pela Aliança Liberal e na Revolução de 1930. Além dos interesses da oligarquia paulista, a Revolução Constitucionalista tem raízes na tradição liberal democrática de amplas alas da sociedade urbana estadual.

 

Derrotados pela Revolução de 1930, setores da oligarquia paulista defendem a instalação de uma Constituinte com o objetivo de fazer oposição ao governo provisório. Vargas é acusado de retardar a elaboração da nova Constituição. No início de 1932, o Partido Republicano Paulista (PRP) e o Partido Democrático (PD) aliam-se na Frente Única Paulista e lançam campanha pela constitucionalização do país e pelo fim da intervenção federal nos estados. A repercussão popular é grande. As manifestações multiplicam-se e tornam-se mais fortes. No dia 23 de maio de 1932, durante comício no centro da cidade de São Paulo, a polícia reprime os manifestantes, causando a morte de quatro estudantes. Em sua homenagem, o movimento passa a chamar-se MMDC – iniciais de Martins, Miragaia, Dráusio e Camargo, os mortos – e amplia sua base de apoio entre a classe média.

 

Batalhões de voluntários

 

Em 9 de julho começa a rebelião armada, proclamada pelo ex-governador paulista Júlio Prestes e pelo interventor federal Pedro de Toledo, que aderira à campanha constitucionalista. Milhares de voluntários civis são incorporados aos batalhões das forças estaduais. Seu efetivo chega a 40 mil homens, deslocados para as três grandes frentes de combate, nas divisas com Minas Gerais, Paraná e no Vale do Paraíba.

 

 

Os comandantes militares Isidoro Dias Lopes, Bertoldo Klinger e Euclydes Figueiredo, contudo, sabem que as forças federais são superiores. Eles contam com a adesão e o apoio prometidos por outros estados, como Rio Grande do Sul e Minas Gerais. Mas o reforço não chega, e São Paulo é cercado pelas tropas legalistas. Depois de negociações, envolvendo anistia aos rebeldes e facilidades para o exílio dos líderes civis e militares do movimento, os paulistas anunciam sua rendição em 3 de outubro de 1932.

 

Jornais de 1932

 

 

 

 

 

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