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Diário do Nordeste - Trama criminosa com o objetivo de assassinar o promotor de Justiça José Wilson Furtado

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12/6/2007


"Diário do Nordeste"

 

Trama criminosa com o objetivo de assassinar o promotor de Justiça José Wilson Furtado

Faleceu no dia 10/6 o promotor de Justiça José Wilson Furtado. Furtado estava à frente do processo que investiga a morte da adolescente Ana Bruna de Queiroz Braga, assassinada por um grupo de extermínio formado por policiais militares em Fortaleza/CE. O laudo preliminar dos médicos do próprio hospital atestou que Furtado foi vítima de AVC.

Hoje, no entanto, o jornal Diário do Nordeste publica matéria citando uma trama criminosa, articulada dentro de um presídio, com o objetivo de assassinar o promotor. Fato que teria levado Furtado a um quadro de pressão psicológica nos dias que antecederam sua morte.

Veja abaixo as matérias publicadas ontem e hoje no jornal Diário do Nordeste sobre o assunto:

  • 11/6

Morre o promotor do caso Ana Bruna

Morreu, na tarde de ontem, o promotor de Justiça José Wilson Furtado, 60, que representava o MPE junto à Quinta Vara do Júri de Fortaleza. Juntamente com o juiz, Jucid Peixoto do Amaral, Wilson Furtado estava à frente do processo que investiga a morte da adolescente Ana Bruna de Queiroz Braga, assassinada por um grupo de extermínio formado por policiais militares.

O promotor faleceu por volta das 16h no Hospital da Unimed, onde estava internado desde o meio-dia de sábado. Ele estava em casa quando sentiu-se mal e foi levado pelos familiares para a emergência do hospital.

O laudo preliminar dos médicos do próprio hospital atestou que Furtado foi vítima de AVC, do tipo hemorrágico. Contudo, a família levantou a hipótese de um suposto envenenamento. Por conta disso, o corpo do promotor foi encaminhado, ainda ontem à noite, ao IML para a realização de exames toxicológicos.

Saudação

Em entrevista ao Diário do Nordeste, ontem à noite, por telefone, o juiz Jucid Peixoto informou que na última sexta-feira esteve em companhia de Wilson Furtado durante praticamente todo o dia. “Pela manhã, fizemos um Júri. Ele me fez uma longa saudação. Parecia até que estava se despendido”, disse o magistrado emocionado.

À tarde, o promotor permaneceu no Fórum analisando diversos processos nos quais teria que dar parecer ou ofertar a denúncia. “Saímos do Fórum já por volta das seis da noite”, completou Jucid.

Na noite de sexta-feira, o promotor de Justiça seguiu para sua casa, em Parangaba, onde morava só. No sábado, passou a sentir-se mal. Pediu ajuda aos familiares e, então, foi encaminhado ao hospital, onde faleceu ontem. Até por volta das 23h30, o corpo dele permanecia no IML.

O superintendente da Polícia Civil, delegado Luiz Carlos Dantas, confirmou a morte do promotor no hospital. Segundo ele, a própria família de Furtado achou por bem solicitar a necropsia para dirimir dúvidas quando às causas da morte.

“Serão realizados exames toxicológicos e outros procedimentos que se fizerem necessários para que tudo fique devidamente esclarecido”, disse Dantas. Representantes da PGJ estão acompanhando o fato e dando assistência aos familiares.

A assessora de Imprensa da PGJ, jornalista Grazielle Albuquerque, confirmou ao Diário, por volta das 23h, a causa da morte do promotor. Segundo ela, um representante da Procuradoria estava acompanhando o fato e aguardando a liberação do corpo, no IML, para que fosse providenciado o velório na sede daquela instituição (Centro).

Até o fechamento desta edição, o corpo de Wilson Furtado continuava no IML.

Processo polêmico teria provocado 'pressões'

O polêmico processo que apura a morte da adolescente Ana Bruna de Queiroz Braga vinha tendo o acompanhamento do promotor José Wilson Furtado. Ele denunciou os acusados do crime. Também deu parecer favorável à decretação da prisão preventiva dos mesmos. Por conta disso, estaria sofrendo pressões. Para a garantia da instrução criminal, a PGJ designou outros dois promotores para também acompanhar o fato: Alcides Evangelista e José Francisco Filho.

O processo, que está na fase de ouvida de testemunhas de defesa dos acusados, prosseguirá sua tramitação na Quinta Vara do Júri da Capital, sob a presidência do juiz de Direito, Jucid Peixoto do Amaral. Agora, com o falecimento de Wilson Furtado, outro promotor será designado para dar continuidade ao trabalho do Ministério Público no processo.

Além de atuar no Ministério Público, José Wilson Furtado era um admirador do jornalismo impresso e do rádiojornalismo. Chegou a atuar como colaborador e articulista em jornais locais, entre eles, a (extinta) Tribuna do Ceará). Fez muitos amigos na Imprensa cearense e costumava só dar início ao seu expediente no Fórum depois de ler os editoriais dos jornais do Ceará e do sul do País.

  • 12/6

Trama para matar o promotor

Uma trama criminosa, articulada dentro de um presídio, com o objetivo de assassinar o promotor de Justiça José Wilson Furtado, teria o levado a um quadro de pressão psicológica nos dias que antecederam sua morte.

A revelação foi feita, ontem, ao Diário do Nordeste, por um colega dele, integrante do Ministério Público Estadual. Furtado chegou a ser avisado pessoalmente do fato por outros dois promotores que atuam na área de combate ao crime organizado.

Um detento, que foi posto em liberdade há cerca de duas semanas, teria revelado aos promotores a trama. “Ele ouviu de outros presos os acertos para o crime. Depois que foi solto, ficou incomodado. Não conseguia dormir nem mais sossegar direito e acabou contando a um dos promotores o que estava acontecendo”, disse a fonte, que o Diário do Nordeste prefere preservar para não atrapalhar as investigações.

Pressionado

À frente das investigações que apuram a morte da adolescente Ana Bruna de Queiroz Braga e de outros crimes conexos, Wilson Furtado vinha se sentindo pressionado, conforme ele confidenciou aos colegas mais chegados. Porém, preferiu não expor o fato publicamente.

Há dois meses, ele se debruçava sobre o emaranhado de indícios, pistas, depoimentos e gravações telefônicas que revelaram o envolvimento de um grupo de extermínio em várias mortes, entre elas, a da adolescente Ana Bruna.

No dia 27 de abril, Furtado assinou o documento em que denunciou como autores do assassinato, cinco pessoas: o pistoleiro José Veridiano Fernandes Nogueira, o comerciante João Batista Portela e os policiais militares Raimundo Nonato Soares Pereira (cabo), José Eudásio Nascimento de Sousa (cabo) e Lúcio Antônio de Castro Gomes (soldado).

No dia seguinte (26 de abril), Wilson Furtado aditou (alterou) a denúncia, e incluiu no rol dos acusados o delegado da Polícia Civil, Roberto de Castro. Com parecer favorável do promotor, o juiz de Direito, Jucid Peixoto do Amaral, decretou a prisão de todos os acusados. Os seis estão recolhidos em presídios e na Superintendência da Polícia Civil.

Mais recentemente, Furtado enfrentou outra turbulência nas investigações: foi contra o afastamento do juiz Jucid Peixoto do processo, requerido pelo também promotor José Francisco de Oliveira Filho. O pedido de afastamento teria como motivo a divulgação, pelo juiz, de fitas contendo gravações telefônicas de conversas entre os PMs acusados de integrar o grupo de extermínio. Furtado saiu em defesa do juiz, alegando que as gravações não eram as provas cabais da acusação contra os acusados.

Ontem, por ocasião do velório e sepultamento do promotor, os colegas do Ministério Público, advogados, juizes, delegados de Polícia e serventuários da Justiça foram unânimes em afirmar que uma das características dele era a humildade. “Era um homem preocupado em fazer justiça. Tinha uma dedicação extremada à sua função. Pediu para voltar para a Vara do Júri”, disse o procurador-geral, Manoel Soares.

O IML deverá emitir, em 10 dias, o laudo da necropsia realizada no corpo do promotor. Exame médico atestou morte provocada AVC.

Carreira de 26 anos

Foram 26 anos de profissão dedicados ao Ministério Público do Ceará. José Wilson Furtado ingressou na carreira no dia 26 de março de 1981, quando foi nomeado, pelo Diário Oficial, promotor de Primeira Entrância da Comarca de Araripe.

Passou por diversas comarcas cearenses, entre as quais: Juazeiro do Norte, Pedra Branca, Solonópole, Senador Pompeu, Quixadá, Quixeramobim, Mombaça, Barbalha e Fortaleza. Desde o dia 29 de janeiro de 2004 era o titular do MP na 5ª Vara do Júri da Capital.

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