O Brasil registrou em 2022 o maior número de estupros e estupro de vulnerável da história, com 74.930 vítimas. O número representa uma explosão nos casos de violência sexual, e é o maior número já medido pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública desde 2011. Os dados constam do Anuário Brasileiro de Segurança Pública, documento divulgado nesta quinta-feira, 20, pelo Fórum.
O dado mostra um aumento de 8,2% em relação ao ano de 2021, e corresponde aos casos que foram notificados às autoridades policiais, ou seja, representam apenas uma fração do problema.
Os números aqui apresentados consideram os casos de estupro, que somaram 18.110 vítimas em 2022, e os casos de estupro de vulnerável, com um total de 56.820 vítimas, incremento de 8,6%.
Isto significa dizer que 24,2% das vítimas eram homens e mulheres com mais de 14 anos, e que 75,8% eram incapazes de consentir, fosse pela idade (menores de 14 anos), ou por qualquer outro motivo (deficiência, enfermidade etc.).
A pesquisa ainda revelou que as vítimas negras (pretas e pardas) foram a maior parte em praticamente todas as idades, principalmente na faixa etária dos 11 aos 14 anos, em que representam aproximadamente 59% do total.
- Acesse o anuário.
Subnotificação
O relatório destaca a questão da subnotificação, e que o número pode representar bem menos do que a quantidade real de crimes desse tipo. Uma das hipóteses para o crescimento percebido no gráfico é que estamos diante de um aumento das notificações, já que as vítimas estão mais informadas e empoderadas.
"É inegável o efeito de campanhas como a #PrimeiroAssédio, promovida pela organização Think Olga, que viralizou nas redes sociais em 2015 e resultou em mais de 82 mil compartilhamentos em apenas cinco dias."
No entanto, este argumento precisa ser relativizado quando verificamos o perfil das vítimas. No Brasil, a maioria das vítimas são vulneráveis, com idades entre 0 e 13 anos. "Ou seja, ainda que estas crianças e adolescentes estejam mais informadas sobre o que é o abuso, é difícil crer na hipótese do empoderamento como única explicação para o fenômeno."
Estudos sugerem que o fechamento das escolas em função da pandemia pode ter ampliado a vulnerabilidade das crianças.