Reação
Ministro argentino faz ameaças à Petrobras
O ministro argentino do Planejamento, Julio de Vido, disse ontem que os contratos da Petrobras na Argentina "serão seriamente afetados" se a empresa não realizar os "investimentos necessários" no país. "O Estado vai avançar se não se adaptarem às suas obrigações contratuais", disse o ministro. "Não vamos permitir que o presidente de uma empresa estrangeira, que neste caso é do Estado brasileiro, venha opinar sobre as políticas soberanas da Argentina", acrescentou De Vido.
As declarações do ministro, homem forte do governo do presidente Néstor Kirchner, foram feitas à Radio Diez, a mais ouvida do país. De Vido reagiu depois de ler, nos principais jornais argentinos desta quarta-feira, declarações atribuídas ao presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, que pedia um reajuste nos preços do gás e dos combustíveis líquidos na Argentina.
"Nós não iríamos de jeito nenhum ao Brasil sugerir ao presidente Lula que adote determinada política de preços", disse De Vido à agência oficial Telam.
À noite, a Petrobras Energia, com sede <_st13a_personname productid="em Buenos Aires" w:st="on">em Buenos Aires, divulgou nota informando que as declarações de Gabrielli, "publicadas pela imprensa argentina (...) foram interpretadas de forma equivocada". E acrescentou: "Em nenhum momento (Gabrielli) sinalizou uma redução dos investimentos na Argentina ou desobediência aos compromissos assumidos, e também não deixou de cumprir as políticas internas legitimamente estabelecidas pelo governo argentino."
A nota diz ainda que a empresa respeita as normas locais, emprega 14 mil pessoas na Argentina e pretende manter seus planos de investimentos no país.
Insatisfação
Durante o dia, o ministro argentino afirmou ainda que conversou com o embaixador do Brasil na Argentina, Mauro Vieira, para registrar a insatisfação com o episódio e disse que o ministro das Relações Exteriores, Jorge Taiana, ligaria para o colega Celso Amorim para pedir explicações sobre as palavras de Gabrielli.
Os preços atuais estão congelados ao consumidor e o presidente da Petrobras disse, durante seminário da Reuters no Brasil, que a medida não incentiva os investimentos.
"Acreditamos que o sistema de preços não estimula muito os investimentos", afirmou Gabrielli, no evento. "Achamos que existe necessidade de alterações neste setor, especialmente na área de derivados, mas também de gás natural."
Segundo o presidente da Petrobras, existe uma "preocupação" quanto ao nível das reservas de gás e petróleo na Argentina, que estão em "queda", e obrigam a empresa a intensificar o ritmo da exploração no país.
As observações de Gabrielli levaram o jornal <_st13a_personname productid="La Nación" w:st="on">La Nación a publicar uma reportagem com o título "Petrobras quer preços mais altos".
Eleições
Em um ano de eleições presidenciais, marcadas para outubro, as declarações de Gabrielli tocaram em dois pontos sensíveis da atual política econômica do governo Kirchner: preços e reservas energéticas.
De acordo com diferentes analistas econômicos, com quatro anos seguidos de crescimento, de aproximadamente 9% por ano, a Argentina deveria aumentar seus investimentos na área energética, que estaria trabalhando no limite de sua capacidade.
Durante entrevistas recentes, o ministro De Vido afirmou que as reservas estão em seu "nível normal" e que não haverá problemas de abastecimento, mas insistiu que as empresas devem aumentar seus investimentos na Argentina.
Executivos das empresas estrangeiras no país argumentam que os preços dos combustíveis líquidos estão cerca de 50% mais baixos em relação a outros países, o que dificulta planos de maiores investimentos.
Ao mesmo tempo, a direção da Petrobras Energia (nome da empresa na Argentina) costuma lembrar que a Petrobras lançou, em agosto do ano passado, no Rio de Janeiro, seu plano internacional de investimentos para o período 2007-2011, destinando US$ 2,4 bilhões para o mercado argentino – 85% do total programado para os países do Cone Sul.
Para a direção da empresa, o plano prova que os investimentos estão sendo realizados, como afirmaram, em diferentes ocasiões, o ex-diretor geral executivo da Petrobras Energia, Alberto Guimarães, e seu sucessor, Carlos Fontes.
Atualmente, a Petrobras possui 10% do mercado de petróleo e gás da Argentina, ficando atrás de outras empresas como a Repsol, que domina 50% do setor.
Mas a Petrobras é a primeira empresa integrada da área energética no país. Possui desde a exploração, produção e venda de petróleo, gás e seus derivados à distribuição de eletricidade.
A Petrobras conta, na Argentina, com 750 postos de combustíveis e 30% da empresa de energia elétrica Edesur. A Petrobras Energia é o maior investimento da empresa brasileira no exterior.
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Fonte: BBC Brasil
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