Na última sexta-feira, 1, os advogados Luiz Carlos Tiburcio da Silva Junior e sua irmã Rubia Fernanda Casemiro da Silva foram vítimas de um episódio lamentável. Os dois, no exercício da profissão, foram abordados pela PRF – Polícia Rodoviária Federal e, de forma arbitrária, algemados e conduzidos à delegacia.
Ao Migalhas, eles contaram passo a passo como ocorreu a abordagem e salientaram que a cor da pele, já que ambos são negros, pode ter potencializado “o total desprezo” pela figura deles.
Pelo outro lado da história, o SINPRF/SP - Sindicato dos Policiais Rodoviários Federais no Estado de São Paulo emitiu nota de esclarecimento e repúdio dizendo que as imagens foram editadas, refletindo fatos e narrativas "completamente descontextualizadas e longe da verdade".
O sindicato afirmou ainda que os advogados, "a partir do contexto deturpado, já de imediato alardearam os supostos e inexistentes abusos, com o claro intuito de se (auto) promoverem nas mídias sociais".
Entenda o que aconteceu
Na sexta-feira passada, Luiz seguia de sua residência para o município de Pindamonhangaba/SP com a sua noiva Bruna Stefanny Gomes da Silva, também advogada, para um compromisso profissional.
Por volta de nove horas da manhã, ele disse que foi abordado por uma viatura da PRF e parou o veículo. Em seguida, segundo Luiz, os policiais pediram para que ele e sua noiva se virassem para verificarem se estavam com armas. Em seguida, passaram a questionar quem os dois eram, momento em que relataram ser advogados.
Ato contínuo, os agentes teriam indagado se havia arma e drogas no carro e o veículo passou a ser revistado ali mesmo, na rodovia.
Passados cerca de 25 minutos, os policiais informaram que o casal seria conduzido até o posto da PRF e Luiz foi avisado que não poderia mais dirigir seu carro.
Nesse momento, Luiz gravou um vídeo relatando que estava entregando a chave para um dos policiais. A caminho do posto, entrou em contato com os familiares e com a irmã Rubia, também advogada.
Já no posto da PRF, Luiz afirmou que voltaram os questionamentos sobre a sua identidade e sobre a procedência do veículo. De acordo com o advogado, os policiais acusaram o carro de ser um dublê, como se estivesse transitando ilegalmente utilizando os dados de outro veículo.
Foi então que os agentes teriam começado a desmontar o carro. Enquanto isso, Luiz entrou em contato com a concessionária, que passou a nota fiscal de compra do antigo proprietário, nota fiscal de venda e o laudo de transferência.
“Policiais disseram que o documento não valia de nada e prosseguiram no desmonte do veículo. A partir daí começamos a ficar assustados”, pontuou.
Por volta das 11 horas, Rubia chegou ao posto policial, se apresentando como advogada, assim como também chegaram cães farejadores para inspecionar o veículo.
Nesse momento, mais uma vez foram questionados sobre armas e drogas.
“Vocês usaram droga? Vocês utilizaram esse veículo para transportar droga? Tem droga no carro? Onde está a droga?”
Os cães farejadores, entretanto, nada encontraram.
Luiz e sua irmã filmavam a abordagem policial, quando a advogada foi comunicada que não mais poderia continuar registrando as imagens. Em seguida, ela alegou que um policial começou a empurrá-la e persegui-la pelo pátio.
Em seguida, Rubia foi algemada, aos gritos, no vídeo que viralizou pela internet.
“A grande questão dos meus gritos foi por ter dois policiais em cima de mim, mas foi também porque em meu campo de visão eu via outro policial que sacou a arma e verbalizou que daria um tiro no Luiz.”
Luiz também foi algemado e ambos foram conduzidos a uma delegacia, onde passaram bastante tempo aguardando.
As algemas só foram retiradas quando chegou Eduardo Martins Gonçalves, advogado convocado para defendê-los.
Enquanto isso, no posto da PRF, a averiguação no veículo permaneceu e a noiva de Luiz, Bruna, ficou acompanhando. Outros cães farejadores foram até o local e nada encontraram.
Por fim, o veículo só foi apreendido por um licenciamento atrasado.
“Situação humilhante”
Durante a entrevista, Luiz relatou que a situação foi humilhante e constrangedora.
"A todo momento ali estávamos subjulgados."
Rubia, por sua vez, ressaltou que a cor de sua pele pode ter potencializado o “total desprezo” dos agentes policiais.
O advogado que defende os irmãos, Eduardo, afirmou que prerrogativas foram violadas e que a PRF agiu “acima de sua competência”.
“Foi lamentável esse episódio.”
Leonardo Souza Costa, coordenador regional da Comissão de Direitos e Prerrogativas da OAB/SP, que também foi até a delegacia no momento do ocorrido, disse que a Ordem “não vai tolerar nenhum tipo de abuso de autoridade e nenhum tipo de intimidação ao exercício da advocacia."