Truaru da Cabeceira, comunidade indígena localizada a 65 km de Boa Vista, capital de Roraima. É de lá que saiu a 1ª advogada indígena do Brasil: Joenia Wapichana. Talvez você, leitor, já tenha ouvido falar dela. É que, além de advogada, Joenia Wapichana atualmente ocupa o cargo de deputada Federal.
Até ocupar uma cadeira no Congresso, Joenia trilhou um difícil caminho no mundo jurídico. Nesta reportagem, você conhecerá os entraves da vida profissional de Joenia (e provavelmente na trajetória de muitos outros indígenas) que vão desde a falta de oportunidades até preconceitos por suas origens.
Origens: “tira a cerca, coloca a cerca”
Quando criança, Joenia Wapichana testemunhou a disputa por terras indígenas com fazendeiros em sua comunidade. Ela viu aquele espaço ser palco de confronto: “tira a cerca, coloca a cerca”, relembra.
Também na infância, Wapichana observou como os indígenas tinham dificuldades em acessar espaços para conseguir educação e saúde, especialmente, por causa do preconceito: “quem vem da comunidade indígena, sofre discriminação”, afirmou.
Quando questionada se a sua origem teve influência na escolha do Direito, ela responde que sim: “o que mais me influenciou foi a busca pela Justiça (...) nunca nos reconheciam como uma riqueza cultural, mas como aquele menor, sempre motivo de chacota”.
Cursos jurídicos
Joenia Wapichana estudou Direito na Universidade Federal de Roraima e, quando estudante, notou como o ensino dos direitos dos povos originários é pouquíssimo explorado no conteúdo programático. Ela conta que, desde então, começou a alertar para a necessidade de se incluir o direito constitucional indígena em algum campo da universidade.
“Muitas faculdades não têm essa discussão sequer em seu conteúdo programático.”
Para ela, os estudantes precisam saber que os povos originários têm direitos específicos que se relacionam com políticas públicas adequadas sobre saúde, educação, meio ambiente e economia.
Incluir conteúdos sobre direitos dos povos indígenas nos cursos jurídicos deve ser feito “não porque somos melhores, mas porque temos culturas diferentes”, diz a advogada-deputada.
"O que eu aprendi, ninguém pode tirar."
Preconceito
No exercício da advocacia, Joenia Wapichana já sofreu preconceito: “não acreditavam que eu era uma advogada indígena. Eu precisava mostrar minha carteirinha, enquanto os não-índios nem precisavam fazer isso”. Até hoje, como deputada Federal, ela relata que precisa mostrar o seu broche para provar que sua origem não lhe tira a capacidade de ser advogada e congressista.
Wapichana esclarece que o avanço dos povos originários na educação, no mercado de trabalho, no mundo tecnológico não os faz “menos indígenas”.
Mensagem
Ao final da entrevista, Joenia Wapichana frisou que os desafios não param: é necessário reafirmar a identidade indígena, lutar contra o racismo e, principalmente, influenciar os indígenas nessas demandas.
"Nós queremos, sim, entrar nas universidades, ser advogados, defender o nosso povo."