Visando dar oportunidades equânimes a estudantes de baixa renda, ex-alunos do Largo São Francisco criam projeto de desenvolvimento para alunos de Direito que estejam cursando segundo ou terceiro ano nas arcadas, que tenham bom desempenho escolar e interesse em dedicar-se a atividades acadêmicas. O programa, financiado por doações de recursos privados, sem qualquer vínculo institucional com a Universidade, oferece auxílio financeiro, acompanhado de mentoria ministrada por antigos alunos, curso de inglês e oficinas com profissionais de diferentes carreiras jurídicas.
Os candidatos a participar devem ter como critério principal a renda média familiar mensal de até R$ 1.500,00 por pessoa, mas outros elementos também são levados em conta na hora da escolha, como atender a algum tipo de ação afirmativa, ter ingressado na USP via SISU ou política de cotas, ter boas notas nas disciplinas já cursadas e ter participado de projetos sociais e atividades de pesquisa e extensão.
“A gente resolveu usar como principal critério o mesmo que é utilizado pela Universidade de São Paulo para ofertar outros programas de auxílio, que é a renda per capita. Mas outros critérios de ação afirmativa (que não são determinantes), podem ser usados como desempate, fazendo com que o programa selecione as pessoas mais diversas possíveis”, explica a coordenadora e advogada Marcela Matiuzzo.
Além dos benefícios elencados, o Projeto de Promoção à Dedicação Acadêmica (PPDA) permite com que os estudantes selecionados possam usufruir das disciplinas optativas, programas de extensão e grupos de estudo oferecidos pela Faculdade de Direito da USP, fazendo com que eles desenvolvam habilidades em potencial e sejam melhores profissionais para o mercado.
O advogado e coordenador do projeto Caio Ribeiro explica que a mentoria é desenvolvida obrigatoriamente por dois antigos alunos voluntários, que realizam reuniões mensais com os bolsistas para auxiliá-los em suas rotinas, bem como para orientá-los quanto a planos acadêmicos e profissionais. “Ajuda o bolsista a se sentir pertencente e aproveitar tudo que a Faculdade de Direito e a Universidade de São Paulo tem a oferecer a eles. Conjuntamente ao programa de mentoria, nós também oferecemos reuniões com periodicidade bimestral com profissionais de diversas áreas do direito para conversar com esses estudantes bolsistas”.
O PPDA foi lançado como piloto no ano passado e em 2021 irá beneficiar 10 alunos com auxílio financeiro de R$ 500,00, que vão de abril a dezembro. Mas a novidade deste ano foi a criação de uma bolsa especial focada exclusivamente em pessoas pretas. A ideia surgiu como forma de homenagear um dos fundadores e mentores do projeto, Diogo Sant'Ana, ex-aluno da Faculdade e ex-secretário do governo Dilma, que faleceu dia 31 de dezembro de 2020. São duas bolsas especiais, que terão um valor um pouco acima das demais, poderão ser dadas a alunos de qualquer ano da graduação e tem como lema seguir os princípios que Diogo acreditava para uma sociedade mais justa: superar a pobreza e lutar contra as desigualdades.
O aluno Juan Comamala, de 21 anos, foi um dos bolsistas beneficiados em 2020. Ele conta que desde os 13 anos de idade queria cursar Direito, já sonhando em atuar como membro do Ministério Público. Aos 15 anos, começou a trabalhar e usou seu primeiro salário para se matricular em um curso pré-vestibular, com o objetivo de entrar na São Francisco. Quatro anos depois, esse sonho foi realizado e ele é o primeiro de sua família a ingressar em uma universidade pública. Ter participado do PPDA permitiu com que ele se dedicasse mais aos estudos e, neste ano, ele foi aprovado no programa de iniciação científica em direito público da SBDP e no programa de dupla graduação de uma universidade francesa. “Essas são as duas coisas que eu queria durante a graduação e eu já consegui. E isso só foi possível por causa do PPDA e as habilidades que eu desenvolvi em 2020”, comemora Juan.
Acesse o site do projeto para conhecer a história de outros alunos beneficiados e colaborar com a iniciativa.