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Entenda relação de advogado de Flávio Bolsonaro com caso de criança desaparecida em 92

Delegado do caso chegou a pedir prisão de Frederick Wassef por pertencer ao grupo LUS, alvo da investigação.

23/6/2020

A prisão de Fabrício Queiroz, ex-assessor de Flávio Bolsonaro, em investigação que apura esquema na Alerj, trouxe à tona o nome de Frederick Wassef, dono da residência onde Queiroz se escondia.

A mídia chamou a atenção para o fato de Wassef ser ligado à família Bolsonaro e se dizer inclusive advogado do presidente. Com a "fama repentina", repercutiram reportagens que revelariam um suposto passado sombrio do advogado: segundo os jornais, seu nome estaria relacionado a trágico episódio do desaparecimento de crianças em Guaratuba, no litoral do Paraná, em 1992.

Mas será que houve, de fato, participação do advogado nos fatos criminais?

Para responder a esta perguntas, conversamos com dois entendidos do caso: Ivan Mizanzuk, pesquisador e autor de série sobre um dos casos criminais, e o criminalista Figueiredo Basto, que atuou no caso.

O caso Evandro

O desaparecimento de dois meninos entre 6 e 7 anos marcaram o início da década de 90: Leandro Bossi, em fevereiro, e Evandro, em abril. O primeiro nunca mais foi encontrado. O corpo de Evandro foi encontrado dias após seu sumiço, sem as mãos, cabelos e vísceras. À época, acreditava-se que os desaparecimentos estavam relacionados a seitas e rituais satânicos.

É aí que entra o suposto envolvimento de Wassef: ele era um dos integrantes do grupo LUS - Lineamento Universal Superior, ligado a ufologia e religião. O grupo promoveu um encontro em Guaratuba e esteve hospedado no hotel Villa Real na ocasião do desaparecimento do primeiro garoto, que teria ocorrido nas imediações daquele hotel. A mãe de Leandro, o primeiro garoto desaparecido, trabalhava no hotel, onde o menino foi visto pela última vez.

O delegado que investigava o primeiro caso, Luiz Carlos de Oliveira, de fato pediu a prisão dos líderes do grupo LUS - Valentina e seu marido, o argentino Taruggi -, bem como de Frederick Wassef, que pertencia ao grupo e os acompanhava.

A prisão de Wassef, por sua vez, nunca chegou a ser autorizada pela Justiça. Ainda assim, o advogado teria conversado com membros do Ministério Público de forma espontânea.

Na ocasião, explicou, segundo a declaração constante no documento, como se juntou ao Grupo LUS; que viu em uma banca de jornais o livro "Deus - A grande farsa", de autoria da líder Valentina, que conta a experiência dela nos primeiros contatos com seres alienígenas, que vinham a este mundo para trazer respostas ou verdades sobre o mundo em que vivemos.

Ainda de acordo com o depoimento do advogado, o livro revela que Deus não é o criador do Universo, nem seria responsável pelas aflições e sofrimentos que a humanidade passa, "mas sim um ser representante do mau", "que a autora trata Deus escrevendo em letra minúscula bem como em alguns trechos chamando-o de capeta ou besta enfurecida".

Tempos depois, o próprio delegado do caso Leandro teria descartado o envolvimento de Wassef com o desaparecimento dos garotos. No fim das contas, os integrantes do grupo LUS não chegaram a ser acusados formalmente neste caso.

Desfecho

O caso do primeiro garoto, Leandro, nunca foi solucionado. O advogado Figueiredo Basto destaca que, embora os acusados no caso Evandro tenham confessado o desaparecimento do garoto, as autoridades do Paraná não levaram adiante a investigação.

Quanto ao caso Evandro, houve condenações após acusados confessarem o crime. O caso, por sua vez, pode ter reviravoltas. Neste ano, Ivan Mizanzuk revelou áudios que, segundo ele, provam que os então suspeitos pelo desaparecimento e morte de Evandro Ramos Caetano foram torturados para confessar o crime.

Entrevistados

Ivan Mizanzuk é um pequisador de um dos casos e produziu o podcast “O caso Evandro”, do Projeto Humanos, que se assemelha a um documentário em formato de áudio, além de um livro-reportagem ainda não lançado sobre o mesmo tema. Ele conversou com o Migalhas sobre o tema e disponibilizou documentos.

Antônio Augusto Figueiredo Basto atuou no caso Evandro por mais de 20 anos, desde 1993, em defesa de 5 dos 7 acusados. Para ele, o caso Evandro demonstra enorme erro Judiciário. Ele informa que a defesa vai ingressar com revisão criminal para que haja investigação sobre as torturas, além de buscar reverter a condenação de quatro pessoas.

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