Eternamente jovem. Goffredo da Silva Telles Jr. emociona e ensina em entrevista
Assim como nos saudosos tempos de Academia, o ilustre mestre Goffredo da Silva Telles Jr., em entrevista ao jornal Folha S.Paulo, leciona mais uma vez uma brilhante aula, desta vez sobre seus 90 anos. Veja abaixo.
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Goffredo da Silva Telles Junior diz que, em breve, será comum haver pessoas com 130 anos
Aos 90, advogado se diz rejuvenescido
Folha - Como o senhor se sente aos 90 anos?
Goffredo da Silva Telles Junior -É claro que ter 90 anos não é igual a ter 50. As possibilidades e as coisas que eu podia fazer em matéria de concentração e estudo diminuíram com os anos. Mas, no meu caso, devo dizer que não posso reclamar. Tenho dificuldade de locomoção, porém, não tenho doença nenhuma, nenhum órgão meu está comprometido. Ergo minhas mãos para o céu em razão disso.
Folha - A expectativa de vida do brasileiro subiu para 71,7 anos. O que o senhor já fez depois de passar por essa faixa etária?
Telles Junior - Escrevi muitos livros. Inclusive, neste ano, lancei mais uma obra dentro da área jurídica, chamada "Estudos". Só não consigo mais sair muito nem fazer leituras aprofundadas, como as que costumava fazer sobre biologia moderna e física.
Folha - Existe algo que gostaria de ter feito depois dos 71 anos e não pôde?
Telles Junior - Lecionei na USP [Universidade de São Paulo] até os 70 anos e, infelizmente, fui aposentado de forma compulsória, de acordo com a lei. Gostaria de ter continuado a dar aulas no largo São Francisco.
Folha - O senhor acredita que a expectativa do brasileiro deveria ser maior?
Telles Junior - A expectativa de vida depende de muitos fatores, mas principalmente da natureza de cada um. É determinada por fatores biológicos, fatores genéticos. Meu pai viveu até os 92 anos e minha mãe, até os 102. Além disso, é evidente que depende do tipo de vida que a pessoa leva. Mas a medicina fez progressos fantásticos, e penso que haverá sempre a possibilidade de aumentar a vida das pessoas. Acredito que, em breve, será comum pessoas com 120, 130 anos.
Folha - O senhor possui um site (www.goffredotellesjr.adv.br.). Utiliza internet?
Telles Junior - A minha filha Olívia está sempre na internet. A minha secretária e a minha mulher, Maria Eugênia, que tem 26 anos a menos do que eu e também é jurista, utilizam. Mas eu trabalho com um equipamento muito mais evoluído, o lápis.
Folha - Como o senhor se mantém ativo?
Telles Junior - Hoje, por exemplo, um grupo de advogados vem à minha casa para conversar. Os estudantes também vêm muito, sempre me procuram.
Folha - O senhor não se cansa?
Telles Junior - Para ser bastante sincero, eu não me canso nem um pouco. Pelo contrário, sinto-me revigorado, rejuvenescido com essas conversas.
Folha - Como o senhor vê a passagem dos anos?
Telles Junior - Noto claramente que o tempo passa muito rápido. O Brasil tem 500 anos. Desse total, eu vivi praticamente cem, o que é algo extraordinário. Nasci em 1915 e participei de todas as lutas políticas do século 20. Fui deputado constituinte, deputado federal e secretário da Cultura de São Paulo. Li a "Carta aos Brasileiros" [manifesto de crítica à ditadura militar e em defesa dos princípios da democracia], com todos os riscos que se corria naquela época. Participei ativamente da luta pela democracia no país e vivi diversas ditaduras. Também fui soldado na Revolução Constitucionalista de 1932.
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