Patranha, peta, lampana, lenda, loas, maranhão, cascata, conto, conto da carochinha etc. Seja qual for o sinônimo, mentira é mentira.
Aliás, é o que já esclareceu o migalheiro Abílio Neto (Migalhas 1.236)
"Verdades da crise - Ninguém mente, todo mundo fala a verdade aberta-mente: Palocci, veemente-mente; Buratti, isolada-mente; Jeany Mary, sexual-mente; Bob Jeff, artística-mente; Valério, descarada-mente; Delúbio, leviana-mente; Silvinho, compulsiva-mente; Duda Mendonça, criativa-mente; Genuíno, descuecada-mente; Simone Vasconcelos, simulada-mente; Zé Dirceu, mafiosa-mente; Fernanda Karina, cândida-mente; João Paulo Cunha, democrática-mente; José Mentor, impune-mente; Luizinho, professoral-mente; Sandro Mabel, abiscoitada-mente; Bispo Rodrigues, religiosa-mente; Jacinto Lamas, risonha-mente; Edson Palmieri, ameaçada-mente; José Janene, escandalosa-mente; Pedro Correia, obesa-mente; Severino Cavalcante,esperta-mente; Valdemar Costa, marital-mente; Sarney, intelectual-mente; Serra, oportuna-mente; Jorge Bornhausen, disfarçada-mente; ACM, malandra-mente; Gushiken, pensativa-mente; FHC, filosófica-mente; Tarso Genro, displicente-mente; Lula da Silva, completa-mente, inocente-mente e triste-mente. Migalhas também não mente. Esmigalhada-mente."
Diante do volume de inverdades, este poderoso rotativo foi tentar buscar alguma explicação verdadeira.
Tratando da mentira pueril, A. Almeida Jr. e J. B. de O e Costa Jr., no clássico “Lições de Medicina Legal”, explicam que - do ponto de vista forense - mais importante são as mentiras que, por suas conseqüências, podemos qualificar de antissociais. São elas : as mentiras espontâneas, as mentiras sugeridas e as mentiras ensinadas.
No caso de réus adultos, vê-se que na psicologia forense interessa, sobretudo, o estudo das mentiras espontâneas, e dentro delas as “defensivas”. Na peculiaridade de suas aulas nas Arcadas, Costinha contava o caso de um menor que, injustamente acusado do furto de um anel, declarou, quando apertado pela polícia, ter vendido a jóia a um russo da rua Santa Ifigênia.
“Saindo à rua com o agente, apontou o primeiro homem com cabelo vermelho que viu...”
De fato, a mentira não é simplesmente uma carta no jogo político usada ao sabor das conveniências. É também um agir doentio do psiquismo humano.
“A mentira é um dos sintomas de um transtorno grave de personalidade, denominado Transtorno de Personalidade Anti-social”, afirma o psiquiatra Ibiracy de Barros Camargo. Para o especialista, “dificilmente esse indivíduo abandonará o comportamento de mentir: a punição não o afeta e a experiência pouco lhe ensina”.
Nesse contexto, os operadores do Direito, principalmente os causídicos, vêem-se numa penosa situação quando são procurados por clientes que já inventaram uma rocambolesca farsa.
“Embora possa parecer o contrário, a verdade facilita sobremodo a defesa de um acusado. Deverá (o advogado) adotar, se for possível, tese que isente o cliente de responsabilidade, ou postular a solução que mais se coadune com a realidade dos fatos e com as características pessoais do cliente e rigorosamente com o grau de sua culpabilidade, para evitar que os excessos acusatórios sejam absorvidos pela sentença” diz Mariz de Oliveira.
“O cliente, naturalmente, após a exposição das conseqüências, é o senhor da versão a ser dada. Caso conte a verdade ao advogado e, no entanto, manifeste o seu desejo de negá-la no processo, ao advogado cumpre decidir se mesmo nestas condições sente-se à vontade para defendê-lo” assevera dr. Antônio Cláudio Mariz de Oliveira.
Extrai-se, dessa forma, que cumpre ao advogado analisar no caso concreto qual a melhor saída ao cliente.
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Enfim, verdade seja dita: o que seria da verdade se não houvesse a mentira ?
Ps. Esta curta matéria é dedicada à memória da saudosa Velhinha de Taubaté.
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